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57 RESUMO A CHINA NA AMÉRICA DO SUL E AS IMPLICAÇÕES GEOPOLÍTICAS DO CONSENSO DO PACÍFICO Recebido em 23 de janeiro de 2011. Aprovado em 23 de fevereiro de 2011. Javier Vadell 1 O artigo analisa as implicações políticas da crescente interdependência econômica entre a República Popular da China (RPC) e os países da América do Sul. Apresentam-se dados sobre o comércio e investimento da RPC na sub-região e destacam-se os avanços diplomáticos em matéria de cooperação bilateral no decorrer do século XXI. Parte-se da questão de se estaríamos perante um padrão de relacionamento que poderia constituir uma renovada relação de cooperação Sul- Sul ou, pelo contrário, um novo tipo de relacionamento Norte-Sul. A nossa hipótese é que a evolução e a dinâmica desse relacionamento se assemelham mais a um sistema ou padrão Norte-Sul com características bem particulares. Denominamos esse padrão de relacionamento de Consenso do Pacífico (CP). Embora no curto prazo o fator China estimule o crescimento da sub-região, o CP traz implicações diferenciadas para o desenvolvimento dos países que possuem um setor industrial importante – ex. Brasil e Argentina – e aqueles que não o possuem – ex. Chile e Peru, que inclusive assinaram tratados de livre comércio com o gigante asiático. O artigo conclui com algumas considerações a respeito das conseqüências que o CP tem no processo de integração sul-americana. PALAVRAS-CHAVE: China; América do Sul; integração; Consenso do Pacífico. I. INTRODUÇÃO América do Sul experimentou, de 2002 a 2010, um crescimento econômico destacável, após os magros resultados das reformas econômicas liberalizantes implementadas nos países da Améri- ca Latina, com maior ou menor radicalidade, na década de 1990. O Consenso de Washington (CW), como modelo e programa político de desenvolvi- mento para a América Latina, fracassou em três pontos fundamentais: em primeiro lugar, nos índi- ces de crescimento e nos indicadores sociais, con- solidando ainda mais a desigualdade social histori- camente presente na região. Em segundo lugar, o fracasso faz-se evidente no colapso institucional e fiscal dos estados dos países da região. Aplicando a receita privatista e de abertura comercial e finan- ceira unilateral, os países endividados da região e com economias débeis ficaram sem respostas pe- rante a crise de finais da década de 1990, com ain- da poucas opções políticas e dependentes de orga- nizações financeiras internacionais – Fundo Mone- tário Internacional (FMI) e Banco Mundial – para obter empréstimos. Em terceiro lugar, o fracasso do CW manifesta-se também no plano ideacional. Sustentado pela ideologia liberal (MORAES, 2001; VADELL, 2002; HARVEY, 2008), esse modelo de desenvolvimento para a América Latina partia do pressuposto que, aplicando o receituário dos dez pontos que Williamson destacou no seu famoso artigo, os países da América Latina iriam finalmen- te não só seguir a trilha correta do capitalismo vito- rioso da Guerra Fria, mas também achar o atalho que os conduziria para o primeiro mundo de uma maneira mais rápida, embora em certos casos do- lorosa. Esse modelo mostrou-se não só pífio como utó- pico. O ano 2001 marca, talvez, o momento sim- bólico de ruptura desse processo na América Lati- na. Em termos mais precisos, 2001 é um ano em que aconteceram algumas mudanças políticas e econômicas no plano global de grande destaque: a crise econômica de 2001 na região é resultado de uma crise do capitalismo global de finais da década de 1990 atingindo de maneira dramática o México, o sudeste asiático, a Turquia e a Rússia. Na região, o caso paradigmático foi a crise Argentina de de- zembro de 2001, país que seguiu a receita neoliberal de maneira radical. No ano de 2001 também acon- teceram os atentados terroristas do grupo Al Qaeda nos Estados Unidos da América (EUA), fato que 1 O autor agradece a colaboração dos alunos de graduação do Curso de Relações Internacionais da Pontifícia Univer- sidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG): Camila Men- donça, Daniele Cardoso e Hugo Markiewicz Fernandes. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 19, n. suplementar, p. 57-79, nov. 2011

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 57-79 NOV. 2011

RESUMO

A CHINA NA AMÉRICA DO SUL E AS IMPLICAÇÕESGEOPOLÍTICAS DO CONSENSO DO PACÍFICO

Recebido em 23 de janeiro de 2011.Aprovado em 23 de fevereiro de 2011.

Javier Vadell1

O artigo analisa as implicações políticas da crescente interdependência econômica entre a República Popular da China(RPC) e os países da América do Sul. Apresentam-se dados sobre o comércio e investimento da RPC na sub-região edestacam-se os avanços diplomáticos em matéria de cooperação bilateral no decorrer do século XXI. Parte-se da questãode se estaríamos perante um padrão de relacionamento que poderia constituir uma renovada relação de cooperação Sul-Sul ou, pelo contrário, um novo tipo de relacionamento Norte-Sul. A nossa hipótese é que a evolução e a dinâmica desserelacionamento se assemelham mais a um sistema ou padrão Norte-Sul com características bem particulares. Denominamosesse padrão de relacionamento de Consenso do Pacífico (CP). Embora no curto prazo o fator China estimule o crescimentoda sub-região, o CP traz implicações diferenciadas para o desenvolvimento dos países que possuem um setor industrialimportante – ex. Brasil e Argentina – e aqueles que não o possuem – ex. Chile e Peru, que inclusive assinaram tratados delivre comércio com o gigante asiático. O artigo conclui com algumas considerações a respeito das conseqüências que o CPtem no processo de integração sul-americana.

PALAVRAS-CHAVE: China; América do Sul; integração; Consenso do Pacífico.

I. INTRODUÇÃO

América do Sul experimentou, de 2002 a 2010,um crescimento econômico destacável, após osmagros resultados das reformas econômicasliberalizantes implementadas nos países da Améri-ca Latina, com maior ou menor radicalidade, nadécada de 1990. O Consenso de Washington (CW),como modelo e programa político de desenvolvi-mento para a América Latina, fracassou em trêspontos fundamentais: em primeiro lugar, nos índi-ces de crescimento e nos indicadores sociais, con-solidando ainda mais a desigualdade social histori-camente presente na região. Em segundo lugar, ofracasso faz-se evidente no colapso institucional efiscal dos estados dos países da região. Aplicandoa receita privatista e de abertura comercial e finan-ceira unilateral, os países endividados da região ecom economias débeis ficaram sem respostas pe-rante a crise de finais da década de 1990, com ain-da poucas opções políticas e dependentes de orga-nizações financeiras internacionais – Fundo Mone-tário Internacional (FMI) e Banco Mundial – para

obter empréstimos. Em terceiro lugar, o fracassodo CW manifesta-se também no plano ideacional.Sustentado pela ideologia liberal (MORAES, 2001;VADELL, 2002; HARVEY, 2008), esse modelo dedesenvolvimento para a América Latina partia dopressuposto que, aplicando o receituário dos dezpontos que Williamson destacou no seu famosoartigo, os países da América Latina iriam finalmen-te não só seguir a trilha correta do capitalismo vito-rioso da Guerra Fria, mas também achar o atalhoque os conduziria para o primeiro mundo de umamaneira mais rápida, embora em certos casos do-lorosa.

Esse modelo mostrou-se não só pífio como utó-pico. O ano 2001 marca, talvez, o momento sim-bólico de ruptura desse processo na América Lati-na. Em termos mais precisos, 2001 é um ano emque aconteceram algumas mudanças políticas eeconômicas no plano global de grande destaque: acrise econômica de 2001 na região é resultado deuma crise do capitalismo global de finais da décadade 1990 atingindo de maneira dramática o México,o sudeste asiático, a Turquia e a Rússia. Na região,o caso paradigmático foi a crise Argentina de de-zembro de 2001, país que seguiu a receita neoliberalde maneira radical. No ano de 2001 também acon-teceram os atentados terroristas do grupo Al Qaedanos Estados Unidos da América (EUA), fato que

1 O autor agradece a colaboração dos alunos de graduaçãodo Curso de Relações Internacionais da Pontifícia Univer-sidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG): Camila Men-donça, Daniele Cardoso e Hugo Markiewicz Fernandes.

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 19, n. suplementar, p. 57-79, nov. 2011

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reconfigurou a política de segurança da superpo-tência e, também, a sua política econômica baseadanos juros baixos (1% ao ano) e de estímulo ao gas-to, que se acelerou ainda mais após as intervençõesarmadas no Afeganistão e Iraque. Em 2001 aconte-ce o ingresso da República Popular da China (RPC)na Organização Mundial do Comércio (OMC) e suacrescente presença no comércio internacional. As-sim, se, por um lado, os EUA começam a priorizargeopoliticamente a região de Oriente Médio e a Rússiae, geoeconomicamente, as relações comerciais e fi-nanceiras com a China e o Sudeste Asiático, é ver-dade que, para a América Latina – mas principal-mente para a América do Sul – surge, em plena criseeconômica, uma nova opção no horizonte: a cres-cente presença da RPC no comércio internacionalcomo compradora de recursos naturais e energéticos,cujos preços, por razões de maior demanda,especulativas e geopolíticas, experimentaram subs-tantivas elevações pelo menos até a crise de 2008.

A RPC, potência mundial e ator fundamentaldas novas mudanças geopolíticas e geoestratégicas

no século XXI, tem se tornado um motor econô-mico global, crescendo a uma taxa de mais de9,5%, em média, nas últimas duas décadas (verGráfico 1). Com sua imensa população, seu po-der militar e seu arsenal nuclear, sua crescentenecessidade de recursos energéticos e de diver-sas commodities, produto de seu elevado cresci-mento econômico, que está transformando rapi-damente sua estrutura social, a China tem criadoas condições para sua expansão global, mudandoo cenário geopolítico e geoeconômico. Assim, aclássica visão da interdependência entre o atorestatal China com as potências Ocidentais, queoutrora poderia ser considerada de “vertical”, ouNorte-Sul, está sendo questionada nos dias de hoje– p. ex., a relação RPC-EUA, RPC-União Euro-péia e RPC-Rússia – devido ao peso que a Chinatem nas questões de segurança global e, sobretu-do, na economia internacional. Assim, levando emconsideração essa premissa, fica claro o status daRPC como uma potência global e não como maisuma “potência emergente”.

De tal modo, na geoeconomia global, o cres-cimento da China e sua expansão valorizaram osprodutos produzidos na periferia, fato que aumen-tou o poder de barganha dos países da AméricaLatina e da África na divisão internacional do tra-balho. Por outro lado, na geopolítica internacio-nal, a ascensão da RPC tem criado novas fontesde conflito com os poderes centrais e, podería-mos adicionar, com algumas potências regionais.

A dinâmica conflito-cooperação também está li-gada ao abastecimento dos recursos naturais eenergéticos, que provocou a elevação dos preçosa partir de 2002 e da crescente necessidade des-ses recursos por parte da China para sustentarseu espetacular crescimento (VADELL, 2007;2010). “Isso tem provocado respostas por parteda China no sentido de conformar novas aliançascom o intuito de aproximar o sistema internacio-

FONTE: Bárcena e Rosales (2010) a partir dos dados do National Bureau of Statisticsof China.

GRÁFICO 1 – TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB DA CHINA (%)

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nal para uma ordem multipolar”. Dessa maneira,parte-se da premissa de que a RPC está modifi-cando a balança de poder entre o centro e a peri-feria gerando um conjunto de desdobramentos que,por um lado, podem provocar novas formas decooperação e novas configurações geoeco-nômicas, mas também provocar novas fontes detensões e conflitos geopolíticos (idem).

Por essa mesma razão, questionamos neste tra-balho o tipo de relacionamento que para o olharmenos cauto apresenta-se como uma clássicainterdependência ou cooperação Sul-Sul, como é ocaso da cada vez mais profícua relação entre a RPCe os países da América Latina e da África. Nessesentido, se considerarmos que a RPC projeta-secomo potência econômica e política global no sé-culo XXI, devemos analisar, mais detidamente, otipo e padrão de relacionamento que essa potênciaestá desenvolvendo com os países da América La-tina e a África no novo quadro geopolítico global.Nessa direção, a nossa proposta pretende focar acrescente relação entre a China com os países daAmérica do Sul, a fim de explorar as implicaçõespolíticas regionais derivadas desse estreitamento devínculos econômicos e as conseqüências para apolítica externa do Brasil na região.

É importante mencionar que a crescente pre-sença da RPC na América Latina tem três desdo-bramentos políticos de extrema importância: (i) amudança da relação dos EUA com a região a par-tir da maior presença da China, configurando umaparticular relação triangular de relevância crescen-te na geopolítica hemisférica (TOKATLIAN,2008);(ii) a importância da RPC no impulso do cresci-mento econômico da região a partir de 2001-2002,fator fundamental para entender a recuperaçãoeconômica de muitos países da América do Sulapós o fracasso das políticas econômicasneoliberais e (iii) o papel do Brasil, como líderregional e ator diretamente ligado aos desdobra-mentos positivos e negativos do relacionamentocrescente com a RPC. O fato de a China passar aser o principal parceiro comercial do Brasil em2009, tirando os EUA dessa posição, assinala umnovo cenário geoeconômico, que parece acentu-ar-se após a crise econômica de 2008.

Contudo, por motivo de espaço, nosso artigocentra-se nos pontos ii e iii e as perguntas cen-trais são: quais implicações políticas sub-regio-nais podem-se apontar a partir da crescente

interdependência econômica entre a RPC e ospaíses da América do Sul? Estar-se-ia criando umpadrão de relacionamento que poderia constituiruma renovada relação de cooperação Sul-Sul ou,pelo contrário, um novo tipo de relacionamentoNorte-Sul? Quais implicações essa relação traz parao Brasil e para a integração na América do Sul?Nosso recorte histórico vai de 2001 a 2008, quandoaconteceu a crise financeira global que impactoude maneira dramática as economias dos paísesdesenvolvidos do Ocidente.

O trabalho está dividido em cinco seções alémda introdução. Na segunda parte, abordamos aquestão mais geral da relação entre a RPC e aAmérica Latina, apontando as principais motiva-ções chinesas dessa interdependência crescente.A terceira parte do artigo foca especificamente asrelações comerciais e de investimento entre a RPCe os principais países da América do Sul, media-das por uma ativa diplomacia que se consolida nodecorrer da primeira década do século XXI. Naquarta parte do trabalho, pretendemos definir oconceito: Consenso do Pacífico (CP), com o ob-jetivo de caracterizar esse crescente relacionamen-to de bases fundamentalmente, mas não exclusi-vamente, comerciais, que apresenta mais traçosde uma relação Norte-Sul, do que uma coopera-ção Sul-Sul, embora com características peculia-res. Finalmente, nas conclusões, abordamos al-guns pontos em relação às implicações que o CPteria, no médio prazo, no processo de integraçãosul-americana.

II. A ESTRATÉGIA POLÍTICA DA RPC NOSEU PROCESSO DE EXPANSÃO ECONÔ-MICA GLOBAL: AS IMPLICAÇÕES PARAA AMÉRICA DO SUL NO SÉCULO XXI

As relações econômicas entre a China e ospaíses latino-americanos começam a intensificar-se efetivamente a partir de 2001 e 2002 (VADELL,2007). Esses progressos mostraram-se mais con-sistentes em 2004 e 2005, quando o PresidenteHu Jintao e o Vice-Presidente Zeng Qinhong visi-taram vários países da América do Sul e assina-ram dezenas de acordos comerciais, de investi-mentos e de cooperação em várias áreas. Desdeentão, as autoridades chinesas em muitas oportu-nidades não se cansam de afirmar que a priorida-de do relacionamento com todos os países daAmérica Latina é estritamente de caráter econô-mico. Os dados que apresentaremos confirmam

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essa tendência – ainda que não devamos descar-tar as implicações e fins políticos sempre presen-tes nas relações internacionais.

Se olharmos um pouco a história do séculoXX, e especificamente durante a Guerra Fria,observaremos que o relacionamento da RPC comos países da América Latina esteve marcado pelopragmatismo, independentemente do tinte políti-co dos governos da região. No Chile, o governodemocrático de Salvador Allende estreitou víncu-los e foi o primeiro país latino-americano a reco-nhecer a RPC. Posteriormente, a ditadura dePinochet continuou a estreitar os laços com a RPC,especialmente quando esse governo começou aficar cada vez mais isolado internacionalmente. Omesmo podemos dizer da ditadura argentina dadécada de 1970. Argentina e a China assinaramacordos de comércio e cooperação em 1978 e1980 e o Presidente de facto, Jorge R. Videla, foio primeiro Presidente argentino que visitou a RPC.O compromisso político no âmbito da Organiza-ção das Nações Unidas era o seguinte: a Chinareconheceria e apoiaria as reclamações argentinasde soberania nas ilhas do Atlântico Sul e, em tro-ca, a Argentina reconheceria oficialmente a RPCe Taiwan como província parte deste país.

De fato, as lideranças de extrema direita e asforças armadas da América Latina não viam a Chi-na como um problema de segurança no contextoda Guerra Fria. As relações diplomáticas e comer-ciais foram estimuladas entre os países da regiãopor governos ditatoriais e de direita (DOMÍNGUEZ,et al., 2006, p.6). O alto grau de pragmatismo dorelacionamento consolidou-se durante o período dasreformas na China, na década de 1980. As lideran-ças chinesas, por exemplo, chegaram a denunciarenfaticamente que o grupo guerrilheiro peruanoSendero Luminoso, de inspiração maoísta, era“revisionista e contrarrevolucionário” (ibidem).

A característica pragmática do mútuo relacio-namento atravessa o século XX e aprofunda-seno século XXI, ainda que em um cenário de polí-tica internacional muito diferente, assim como ocontexto da economia global e o papel da RPCnessa conjuntura. A variável comercial hoje é muitomais relevante e crucial no novo estreitamento devínculos, embora a questão “Taiwan” apareça re-correntemente, mas não ao ponto de quebrar opragmatismo. Dessa maneira, consideramos im-portante apontar para quatro objetivos fundamen-tais que a RPC, no processo de estreitamento das

relações com a América Latina e com os paísesda África, persegue.

Em primeiro lugar, a RPC necessita de recur-sos naturais e commodities. Ao passo que a Chinamanteve um crescimento médio de mais de 9%nos últimos 30 anos, esse país passou a dependercada vez mais de recursos energéticos e outrascommodities. Os países dos continentes america-nos e da África, ricos em recursos, apresenta-ram-se como fornecedores quase “naturais” parao gigante asiático, estimulando o comércio queexperimentou um crescimento surpreendente apartir do ano 2001.

Em segundo lugar, a China empreendeu umacruzada diplomática para o reconhecimento da RPC,em detrimento de Taiwan, já que muitos países daAmérica Latina e da África reconhecem Taipei enão Pequim2. O isolamento de Taiwan é um objeti-vo da RPC que se manifesta em sua política global.Contudo, o fato de um país não reconhecer oficial-mente a RPC não implica que não se estabeleçamrelações comerciais. Por trás desse jogo de reco-nhecimento existe toda uma “diplomacia do dólar”,investimentos em áreas de infraestrutura e social eaumento do comércio que envolve uma complexatrama de relações entre as elites dos países em de-senvolvimento com os investidores chineses – deTaiwan ou da RPC (TAYLOR, 2006; 2009;ALDEN, 2007; ELLIS, 2009).

Em terceiro lugar, outro ponto importante queestimula a expansão da RPC para o ‘Sul’ é o apoionos foros e instituições multilaterais. O bom relaci-onamento diplomático com os países do Sul temcomo finalidade ganhar apoio – e votos – nas orga-nizações internacionais e em outros foros diplomá-ticos, mas, principalmente, na Assembléia Geral dasNações Unidas, em que o voto de cada Estado temo mesmo peso (ALDEN, 2007; ELLIS, 2009).

Finalmente, a América Latina apresenta-se comoum potencial grande mercado consumidor de pro-dutos chineses. Após a crise econômica de 2008,os EUA e a União Européia sofreram uma contra-ção econômica importante, de modo que ficou maispatente a necessidade de a RPC diversificar as suasexportações para evitar uma diminuição do cresci-

2 Atualmente, são 13 os países que não reconhecem a RPCna América Latina: Paraguai, na América do Sul; Panamá,Nicarágua, El Salvador, Honduras, Guatemala e Belize, naAmérica Central; República Dominicana, Haiti, St. Kitts eNevis, St. Vincent e as Grenadinas e St. Lucia, no Caribe.

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mento, como expressou o Professor Jiang Shixue:“A expansão para os mercados da América Latinatem sido parte dos objetivos da China de reduzir asua dependência em relação aos Estados Unidos,Japão e a Europa” (JIANG, 2008, P. 46). Os des-dobramentos dessa política manteve aquecido o co-mércio entre RPC e a América Latina, agora comuma entrada cada vez mais expressiva de produtosmanufaturados chineses, o que derivou em doisproblemas que vamos abordar posteriormente: emprimeiro lugar, afetou os setores industriais, princi-palmente de países como o Brasil, a Argentina e oMéxico; em segundo lugar, aumentou o deficitcomercial de muitos países da região em relação àRPC, ainda que em graus diferenciados. SegundoGallagher e Porzecanski (2010), o caso maispreocupante talvez seja o México.

III. A ENTRADA DO DRAGÃO, A RECUPERA-ÇÃO ECONÔMICA E AS IMPLICAÇÕESPARA A AMÉRICA DO SUL

III.1. A explosão do comércio

O substantivo aumento do comércio entre ospaíses da América do Sul e a RPC a partir de 2001deve ser interpretado no contexto das mudançasda economia global e do aumento do comércio da

China com o mundo. Na realidade, em maior oumenor medida, a maior parte dos países da Amé-rica Latina beneficiaram-se com o crescimentodo comércio bilateral com a China a partir de 2002.Várias pesquisas e publicações recentes têm comopreocupação central entender quais os desdobra-mentos políticos e econômicos do crescenteestreitamento comercial – e, em menor medida,de investimentos – entre a China e a América La-tina (BLÁZQUEZ-LIDOY et alii, 2006; ELLIS,2006; ARSON et alii, 2008; GALLAGHER &PORZECANSKI, 2009; 2010; SANTISO, 2009).No entanto, não há estudos específicos das con-seqüências para a América do Sul, como espaçogeo-econômico diferenciado do resto da AméricaLatina. Em outros termos, levando em considera-ção a explosão comercial da China com a Améri-ca Latina, o intercâmbio entre os países da sub-região de México e América Central mostra umcenário e perspectivas diferentes em relação aointercâmbio RPC-América do Sul, em dois senti-dos. Em primeiro lugar, como mostram os gráfi-cos 3 e 4, o comércio da China com a América doSul apresenta-se muito mais equilibrado do que ocomércio entre a China e México-América Cen-tral, que têm um deficit na balança comercial coma China muito preocupante.

GRÁFICO 2 – EXPORTAÇÕES, IMPORTAÇÕES E SALDO COMERCIAL DA AMÉRICA LATINA E O CARIBECOM A RPC (EM MILHÕES DE US$)

FONTE: Bárcena e Rosales (2010), a partir dos dados da Comisión Económica para aAmérica Latina e o Caribe (Cepal).

Exportações ImportaçõesSaldo comercial

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FONTE: Bárcena e Rosales (2010) a partir dos dados da Cepal.

FONTE: Bárcena e Rosales (2010) a partir dos dados da Cepal.

GRÁFICO 3 – EXPORTAÇÕES, IMPORTAÇÕES E SALDO COMERCIAL DA AMÉRICA DO SULCOM A RPC (EM MILHÕES DE US$)

GRÁFICO 4 – EXPORTAÇÕES, IMPORTAÇÕES E SALDO COMERCIAL DO MÉXICO E DAAMÉRICA CENTRAL COM A RPC (EM MILHÕES DE US$)

Em segundo lugar, a explosão das ex-portações latino-americanas, a partir de2002, concentra-se em commodities e re-cursos energéticos e minerais. Emcontrapartida, as importações vindas daRPC estão concentradas em produtos

manufaturados. Por essa razão, os países da Amé-rica do Sul, abundantes em recursos, foram e es-tão sendo os mais favorecidos com o aumentodas exportações. Nessa direção, Gallagher ePorzecanski (2010) realizaram um interessante es-tudo dos impactos diretos e indiretos da relação

Exportações ImportaçõesSaldo comercial

Exportações ImportaçõesSaldo comercial

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econômica entre a RPC e América Latina e apre-sentam um cenário preocupante para a indústriada região. Os autores apontam que os benefíciosdo comércio entre os países da América Latina eChina estão altamente concentrados em poucosestados e setores. Embora os autores tenham comofoco toda a região, eles apontam que, em 2006,dez setores e seis estados representavam 74% detodas as exportações da América Latina para a China

e o 91% de todas as exportações de commoditiesda América Latina para esse país (GALLAGHER& PORZECANSKI, 2010, P. 17). Dos seis paísesdestacados por Gallagher e Porzecanski, só o Mé-xico não pertence à sub-região da América do Sul.Um quadro mais atualizado de 2009 mostra oscinco países – todos da América do Sul – e os oitosetores que dominam o comércio entre a AméricaLatina e a China, como ilustra a Tabela 1.

Levando em consideração os dados apresen-tados, é importante observar na Tabela 2 os paí-ses da América do Sul em separado, para termosuma visão mais detalhada das particularidades da

TABELA 1: – CINCO PAÍSES E OITO SETORES DOMINAM O COMÉRCIO AMÉRICA LATINA E CHINA

Fonte: Gallagher (2010) a partir da base de dados do United Nations Commodity Trade Statistics (Comtrade).

sub-região e observarmos o grau de especializa-ção da produção que o comércio bilateral entre aRPC e os estados da América do Sul implica.

TABELA 2 – CINCO PRINCIPAIS PRODUTOS DE EXPORTAÇÃO À RPC, MÉDIA 2006-2008 (PERCENTAGENSDO TOTAL)

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Em contrapartida, as exportações da Chinapara a América Latina são compostas, fundamen-talmente, por produtos eletrônico e mecânicos.Por essa razão, os países da América do Sul comoo Brasil e a Argentina, que possuem um parqueindustrial considerável, são os mais prejudicadoscom o desenvolvimento dessa especialização co-mercial. As rispidezes derivadas da concorrênciachinesa foram mais visíveis em janeiro de 2005como o fim do Acordo Multifibras, “que garantiaalguns países latino-americanos uma quota nomercado estadunidense e cuja finalização afetousuas exportações têxteis e favoreceu substantiva-mente às da China” . Isso afetou de maneira dra-mática os países membros do Acordo de Livre-Comércio da América Central (Cafta), além doMéxico. Mais precisamente, a sub-região que as-sinou acordos de livre-comércio com os EstadosUnidos. Todavia, é na América do Sul onde existeuma maior complementaridade, embora a recenteentrada de produtos manufaturados chineses afe-te diretamente os setores industriais brasileiros eargentinos. O impacto foi sentido pelas maiores

FONTE: Cepal, a partir da base de dados da Comtrade.

economias do Mercado Comum do Sul (Mercosul)e foi só em agosto de 2010 que ambos paísesesboçaram uma reação conjunta para negociar coma RPC (SIMÃO, 2010). Retomaremos esse pon-to na última seção de nossa análise, prevendo no-vos desdobramentos como resposta à especiali-zação clássica centro-periferia, que estaria confi-gurando-se a partir do comércio entre os paísesda América do Sul e a RPC.

III.2. Os investimentos externos diretos da RPCna América do Sul

Outro ponto importante a ser destacado é ocrescimento dos fluxos de investimento direto(IED) da China para a América do Sul (ver tabela3). Todavia, resulta complicado analisar em deta-lhe algumas cifras extraídas do site do Ministériode Comércio da China, já que os dados indicamque, do fluxo total de investimentos para AméricaLatina em 2007 (US$ 4,902 bilhões), US$ 4,478bilhões foram para paraísos fiscais como as IlhasCaimã e as Ilhas Virgens Britânicas, conforme aTabela 4.

TABELA 3 – INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO CHINA-AMÉRICA LATINA (EM MILHÕES DE US$)

FONTE: Ministério de Comércio da China.

TABELA 4 – INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO (IED) (EM MILHÕES DE US$)

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Não obstante, se observarmos o destino dosIEDs chineses poderemos ter uma visão mais pre-cisa sobre a expansão da RPC no subcontinente.Uma recente pesquisa de Scissors (2011), daHeritage Foundation, foi de muita ajuda para pre-cisar o tipo, o montante e o destino dos investi-mentos chineses na América do Sul. Segundo aTabela 5, a sub-região é o destino principal dosIEDs chineses, que podem ser divididos em trêsprincipais categorias, de acordo com seus propó-sitos: a) “orientados aos recursos naturais” (na-tural resource-seeking); b) “orientados ao merca-do” (market-seeking) e c) “orientados à eficiên-

FONTE: o autor, a partir de dados do Ministério do Comércio da China.

cia” (efficiency-seeking). Como mostram as ta-belas 3, 4 e 5, a grande maioria dos IEDs comdestino à América do Sul são orientados à explo-ração de recursos naturais, em setores de grandedemanda da RPC, como cobre, aço, petróleo esoja. Ademais, podemos observar investimentosem infraestrutura ligados a facilitar o escoamentodesses produtos. Segundo os dados dessa pes-quisa, não só os países da América do Sul foramos mais beneficiados com os IEDs oriundos daRPC – como mostra a Tabela 5 –, mas o Brasilaparece como o principal receptor da região e domundo em 2010, segundo os dados totaisSCISSORS (2011).

TABELA 5 – INVESTMENTOS EXTERNOS DIRETOS DA RPC NA AMÉRICA LATINA

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FONTE: Scissors (2011).

Argentina: As companhias estatais chinesas tem interesse no setor petroleiro argentino. A companhiaestatal argentina Energía Argentina Sociedad Anónima (Enarsa) tem mostrado intenção em colaborarcom as companhias chinesas para exploração de petróleo offshore na costa do Atlântico Sul. Ainda em2010, foram ratificados investimentos na ordem de US$ 600 milhões por parte da Companhia Tierradel Fuego Energia e Química, de capital chinês, para a exploração de gás na patagônia argentina(RATIFICAN UMA INVERSIÓN, 2010). Em relação ao setor de minério, os investimentos foram modes-tos, mas em 2005 foi dado um primeiro passo quando uma companhia chinesa comprou a minadesativada de Sierra Grande, na província de Rio Negro. Essa mina contém jazidas de ferro, cobalto eoutros minerais. No setor de infraestrutura, o governo argentino mostrou-se interessado em revitalizare ativar as rotas para o oceano Pacífico por meio da Cordilheira dos Andes. Especificamente, oschineses mostraram interesse nas passagens do Cristo Redentor e de Águas Negras, que seriam asprioridades.

Brasil: O foco dos investimentos tem sido nos setores da mineração do ferro e do aço assim como nopetróleo. A empresa de mineração brasileira de capital privado, Vale do Rio Doce, tem iniciado conver-sas em 2004 com a companhia chinesa Baosteel para a exploração de ferro. Além disso, a mesmaVale tem se aproximado da Monmetals, outra empresa chinesa. Em 2006, a companhia chinesaMetals and Metallurgical Construction Group of China investiu US$ 235 milhões em um acordo com aMineradora Gerdau S.A. No que se refere ao petróleo, a empresa estatal brasileira Petrobrás assinou,desde 2004, vários acordos com as estatais petroleiras chinesas: em 2004 com a Sinopec para aextração de petróleo cru, refinamento e construção de oleodutos no Brasil; em julho de 2005 com aSinochem para vender 12 milhões de barris de petróleo por dia por um montante de US$ 600 milhões;em 2010, a Sinopec também investiu US$ 7,1 bilhões na empresa Repsol no Brasil (HOOK, 2010).Além disso, a RPC investiu US$ 4,8 bilhões para modernizar o sistema de transporte ferroviáriobrasileiro para facilitar o escoamento das exportações.

QUADRO 1 – INVESTIMENTOS MAIS DESTACADOS

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Chile: Em 2006, a companhia chinesa Minmetals e o Banco de Desenvolvimento da China fecharamum acordo com a empresa estatal de cobre chilena Codelco para incrementar sua capacidade produ-tiva com o objetivo de aumentar as exportações para a RPC. A maior parte dos investimentos chinesesfocam-se no setor de mineração.

Peru e Bolívia: os investimentos chineses predominam na área de mineração, infraestrutura e, emmenor medida, no setor petroleiro e de pesca. O mais destacado na área de mineração envolve oconsórcio chinês Shandong Luneng com o Peru e a Bolívia. Em 27 fevereiro de 2006, o Congressoperuano aprovou um importante projeto que envolve um investimento de aproximadamente US$ 2bilhões por parte desse consórcio chinês para reformar o porto de Tacna e US$ 8 bilhões para aconstrução de uma rodovia e um estrada de ferro que conecte a mina de El Mutún, jazida que fica noleste da Bolívia, com o porto de Tacna, na costa do oceano Pacífico.

III.3. Interdependência assimétrica

Embora o relacionamento crescente da RPCcom os países da América do Sul tenha de fatocontribuído para a recuperação econômica da sub-região, esse vínculo é marcadamente assimétrico.Em outros termos, para manterem-se na trilha docrescimento, os países da América do Sul depen-dem mais da RPC do que a China deles.

“A China está entre os três principais sócioscomerciais de vários países latino-americanos. Nãoobstante, devido à assimetria no seu tamanho emrelação aos países latino-americanos, a China émuito mais importante economicamente para Amé-rica Latina do que a região é para a China. Por

FONTE: Ellis (2009) e Gallagher e Porzecanski (2010), atualizados pelo autor.

exemplo, o Brasil, que é o maior exportador daAmérica Latina para a China, ocupa o décimo quartolugar entre seus provedores, representando somente1,5% do total das suas importações, e nenhumoutro país da região figura entre os vinte principaisna fonte de importação” (JENKINS, 2009, p. 2).

Mesmo levando em consideração a AméricaLatina e o Caribe como uma totalidade, ela recebesomente 3% do total das exportações da RPC paraa região e abastece com o 3,8% do total de suasimportações (JENKINS, DUSSEL PETERS &MESQUITA MOREIRA, 2008, p. 237). A China,em contrapartida, é um dos cinco principais des-tinos exportadores de Argentina, Brasil, Chile,Cuba e Peru.

TABELA 6 – LUGAR QUE OCUPA A CHINA EM PAÍSES SELECIONADOS DA AMÉRICA LATINA

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A Tabela 6 mostra o grau de importância que aRPC passou a ter para os países latino-america-nos, sobretudo para os sulamericanos, em umperíodo relativamente curto de oito anos. Estecenário de interdependência assimétrica, se bemse mostrou uma interessante alternativa frente aosrígidos constrangimentos do “Consenso de Wa-shington”, tem que ser levado em consideraçãopara as estratégias políticas de longo prazo.

III.4. A Diplomacia da aproximação na Américado Sul

O estreitamento de vínculos diplomáticos en-

FONTE: Cepal.

tre a RPC e os países da América do Sul, em con-sonância com a bonança comercial, aconteceu em2004, após a visita do Presidente Hu Jintao a cin-co países latino-americanos – Chile, Argentina,Brasil, Venezuela e Cuba –, no marco da reuniãode cúpula da Cooperação Econômica da Ásia e doPacífico (APEC), realizada no Chile. O resultadoda visita do Presidente chinês foi a assinatura de39 acordos comerciais3 e o compromisso de in-vestir US$ 100 bilhões na região nos dez anos se-guintes. O país da região que mais investimentosreceberia seria a Argentina, com um montante deUS$ 20 bilhões (ELLIS, 2005; LANDAU, 2005).

TABELA 7 – NÚMERO DE VISITAS PRESIDÊNCIAS ENTRE A RPC E A AMÉRICA LATINA

FONTE: Bárcena e Rosales (2010) a partir do Governo Central da República Popular da China (PEOPLE’SREPUBLIC OF CHINA, 2011), atualizado pelo autor.NOTAS: * Reunião da APEC;

** Visitas suspensas a causa do terremoto na província chinesa de Qinghai;*** O Presidente Alan Garcia prorrogou a sua visita marcada para finais de abril de 2010;**** A Presidente Cristina F. de Kirchner cancelou a visita oficial a China marcada para janeiro de

2010. A visita foi efetivada em julho de 2010.

3 Os acordos seriam sobre comércio, investimento, avia-ção, tecnologia espacial, turismo e educação.

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Além disso, os maiores sucessos diplomáti-cos da China foram, em primeiro lugar, ter con-seguido o reconhecimento como “economia demercado” no âmbito da Organização Mundial doComércio (OMC), primeiro por parte do Brasil,seguido por outros países incluindo a Argentina,e, em segundo lugar, a assinatura de dois tratadosde livre-comércio com o Chile e com o Peru. Noque se refere ao primeiro ponto, esse reconheci-mento tem implicações jurídicas importantes noâmbito da OMC, além das econômicas e políticas(TORTORIELLO, 2004). Reconhecer a Chinacomo economia de mercado implica dar ao paísas condições de utilizar as regras plenas da OMC,em vez de obrigá-la a sujeitar-se às regras especi-ais para economias que não sejam de mercado.Isto é, eventuais litígios comerciais devem ser le-vados à OMC e evitar que um país aplique repre-sálias comerciais ou medidas antidumping unila-teralmente contra a China. Na prática, isso signi-fica que as possibilidades de utilizar instrumentosde defesa comercial contra a entrada de produtoschineses diminuem e aumentam os empecilhos –ou os custos – para a abertura de painéis contra aChina. A RPC, em troca, concedeu ao Brasil bene-fícios nos setores aeronáutico, no caso da Embraer,e agrícola, na exportação de soja, como afirmou oentão Chanceler brasileiro Celso Amorim(SEVARES, 2006; LAMAS, 2007; VADELL, 2007).

Em relação à assinatura dos TLCs, a RPC,estimulada por suas necessidades de recursosnaturais e pelo ambiente propício para os negóci-os, firmou acordos com dois países da Américado Sul e, recentemente, com um da América Cen-tral4. Primeiro foi com o Chile em 20065, acordoratificado em 2007. Depois veio o acordo com oPeru em 2009, tratado que foi ratificado em 2010.Esses acontecimentos, além das implicações pu-ramente econômicas, assinalam desdobramentosgeopolíticos regionais de maior complexidade queserão apontados na última seção.

IV. O PERÍODO POSTERIOR AO CONSENSODE WASHINGTON NA AMÉRICA LATINA

O cenário futuro parece ser de continuidade econsolidação das parcerias comerciais entre aChina e os países da América do Sul, principal-

mente aqueles produtores de commodities e re-cursos energéticos. Assim, a crescente presençada RPC na sub-região abriu o leque de oportuni-dades e potencialidades para os países em desen-volvimento ricos em recursos. Esses países, quevinham de duros golpes econômicos, começaram,no decorrer do novo século, a olhar mais para o“Pacífico” do que para o “Atlântico”. O fracassodas reformas neoliberais sustentadas pelo CW e acrise financeira global de 2008 parecem ter rom-pido a possibilidade de receitas unívocas de re-formas para os países do Sul. É nesse cenárioque a RPC surge como principal fator na recupe-ração dos países sul-americanos, como um atorpresente na sub-região e como um desafio paraos projetos de integração regional.

Para caracterizar o que denominamos comoConsenso do Pacífico seria interessante retomara noção de consenso assim como apresentada porWilliamson (1990). O objetivo de Williamson nes-se trabalho é identificar, em primeiro lugar, o quesignifica “reformas econômicas” para Washing-ton, em um contexto de reestruturação da dívidados países latino-americanos e de crise fiscal doEstado. Em segundo lugar, o autor explica que oconceito “Washington” era mais complexo do queo nome da capital dos EUA.

“Washington”, para Williamson, aglutinaria umconjunto de instituições nacionais (dos EUA) e in-ternacionais articuladas por meio de uma ideologiacomum – a ideologia dominante –, sustentadas nosalicerces do poder econômico e político global, nocenário otimista do fim da Guerra Fria. Assim, oCongresso dos EUA, os membros da alta adminis-tração tecnocrática das instituições financeiras in-ternacionais, as agências do governo dos EUA, oBanco Central dos EUA e um conjunto de thinktanks formariam o bloco hegemônico de “Washing-ton”, cujo projeto global condensa-se no populartermo “globalização” (ARRIGHI, 2008). Contudo,deve-se fazer a ressalva de que esse projeto espe-cífico era pensado e aplicado para a América Lati-na, podendo ser estendido para o conjunto dos pa-íses em desenvolvimento de outros continentes, masnunca para os EUA, porque, como lembra o autor,Washington “não pratica sempre o que prega paraos estrangeiros” (WILLIAMSON, 1990, P. 2). Issoindica que o CW não significou uma mecânica im-posição do modelo de mercado ocidental – dospaíses desenvolvidos para os países em desenvol-vimento –, mas a articulação hegemônica de ummodelo de ajuste e de reformas aceleradas que in-

4 A RPC assinou um TLC com a Costa Rica em 2010.5 O conteúdo integral do acordo entre o Chile e a RPCpode ser consultado em Diário Oficial de la Republica deChile (2006).

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cluíam a liberalização comercial e financeira e asprivatizações realizadas em tempo recorde com ointuito de adaptar e disciplinar esses países no “ca-minho certo” da modernidade e do primeiro mun-do. Dessa maneira, o CW é, sobretudo, um espe-cífico padrão de interdependência assimétrica en-tre atores internacionais e transnacionais historica-mente delimitada e mediada por um conjunto deinstituições internacionais. Caracteriza-se como umarelação “Norte-Sul” imbuída da ideologia econômi-ca neoliberal, apresentada como a única via para odesenvolvimento no formato de um pacote de po-líticas para os países em desenvolvimento e subde-senvolvidos.

Os elementos consensuais desse modelo ad-quiriram força depois do fim da Guerra Fria como subseqüente discurso do “fim da história”, ofracasso dos modelos econômicos e políticos au-toritários do “socialismo real” e a perda de confi-ança nas políticas de planejamento estatal abala-das pela crise fiscal do Estado nos países em de-senvolvimento, principalmente depois da crise dadívida externa na década de 1980. O Consenso deWashington foi implementado segundo o receitu-ário, de maneira mais ou menos acabada, por go-vernos em sua maioria eleitos democraticamente,e intermediados pelas instituições financeiras in-ternacionais: FMI e Banco Mundial. Os emprésti-mos e linhas de créditos dessas instituições foramoutorgados aos países condicionados a políticasde ajuste econômico cujos pilares foram: (i) umaampla liberalização financeira; (ii) abertura comer-cial unilateral; (iii) privatização das empresas pú-blicas; (iv) desregulamentação e (v) políticas decorte de gastos e ajuste orçamentário6.

Na virada do milênio, os magros resultadosapos uma década de reformas e uma nova criseeconômica dos países em desenvolvimento esti-mularam uma onda crítica do CW, inclusive poreconomistas do mainstream. Nesse cenário, já noséculo XXI, houve o apelo para a formação denovos e alternativos “consensos”, incluindo o

Consenso de Monterrey, o Consenso deCopenhagen, o Consenso de México e o Consen-so de Buenos Aires7. Segundo Kennedy (2010, P.467), os mal-entendidos, as emendas e os desafi-os enfrentados pelo CW conformaram o cenáriocrítico em que surge, também, a idéia de “Con-senso de Pequim”.

Em 2004, em época de plena recuperação eco-nômica global e de crescimento dos países daAmérica Latina, Joshua Cooper Ramo publicou umpequeno livro intitulado The Beijing Consensus, cujarepercussão foi imediata. A partir dessa obra popu-larizou-se o termo “Consenso de Pequim” paracompreender o estilo ou modelo de desenvolvimentoque a RPC estaria implementando, a partir de umasérie de reformas econômicas. Nas palavras doautor: “China is marking a path for other nationsaround the world who are trying to figure out notsimply how to develop their countries, but also howto fit into the international order in a way that allowsthem to be truly independent, to protect their wayof life and political choices in a world with a singlemassively powerful centre of gravity. I call this newcentre and physics of power and development theBeijing Consensus”8 (RAMO, 2004).

O Consenso de Pequim, na versão de Ramo,estaria baseado, pois, em três características que

7 O Consenso de Monterrey foi promovido pela Organi-zação das Nações Unidas e pelo antigo secretário geral daOMC, Michael Moore, com o objetivo de reduzir a pobre-za. O Consenso de Copenhagen consistia em uma série dequestões feitas a economistas a respeito de dez propostasou passos a seguir para incrementar o bem-estar global. OConsenso de México apontava para as questões de igual-dade de gênero na América Latina e no Caribe. O Consensode Buenos Aires foi um documento assinado em 2003 pe-los presidentes do Brasil e da Argentina, Luiz Inácio Lulada Silva e Nestor Kirchner. Os países líderes do Mercosulcomprometiam-se com a integração e com o desenvolvi-mento de tecnologia, participação conjunta em foros multi-laterais, negociação com a Área de Livre-Comércio dasAméricas (ALCA), meio ambiente e gestão da dívida pú-blica. Ver matéria da revista Foreign Policy (TOO MUCHCONSENSUS, 2004) e o documento do Consenso deBuenos Aires (BRASIL, 2003).8 “A China está desenhando um caminho para outras na-ções ao redor do mundo que estão tentando descobrir nãoapenas como desenvolver seus países, mas também comoencaixar-se na ordem internacional de um modo que ospermita ser verdadeiramente independentes, para protegerseu estilo de vida e suas escolhas políticas em um mundocom um centro de gravidade maciçamente poderoso. Euchamo esse novo centro e física de poder e desenvolvimen-to de o Consenso de Pequim”.

6 Consideramos esses quatro pilares os fundamentais paraentender as reformas liberalizantes. As dez famosas reco-mendações apontadas por Williamson (1990) são: (i) a dis-ciplina fiscal; (ii) a reestruturação do gasto do Estado; (iii)as reformas impositivas; (iv) a liberalização das taxas dejuros; (v) a implementação de uma taxa de câmbio compe-titiva; (vi) a liberalização comercial; (vii) a liberalização dosinvestimentos; (viii) as privatizações; (ix) asdesregulamentações; (x) uma forte proteção aos direitos depropriedade.

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determinariam a maneira como uma nação emdesenvolvimento pode achar o seu lugar na eco-nomia global e a sua própria inserção no sistemainternacional. A primeira característica seria a ino-vação e a constante experimentação. A segundaé a ênfase que a China dá à qualidade de vida –fundamentalmente sustentabilidade e eqüidade –para tratar os assuntos de desenvolvimento, dei-xando em segundo lugar as medições de PIB percapita. A terceira característica está relacionadacom o enfoque da “autodeterminação” (idem),deixando de lado as imposições do Banco Mun-dial e do FMI. Ramo, citando um acadêmicochinês, afirma que o respeito pela autodetermi-nação dos Estados está ligado à resistência aohegemonismo, e isso constitui uma importantedimensão política da expansão econômica chi-nesa. Segundo o autor, “as nações em desenvol-vimento são a principal força para conter ohegemonia e salvaguardar a paz mun-dial”. Em-butida nesse argumento está a estratégia de “re-duzir o status de superpotência absoluta dos EUA,promovendo um mundo multipolar” (RATLIFF,2009), pelo menos no que concerne às relaçõeseconômicas internacionais. Esse é um fator que,em grande medida, faz com que o modelo dePequim se apresente como atrativo para outrasnações em desenvolvimento, o que Ramo deno-mina de “carisma intelectual do Consenso dePequim” (RAMO, 2004).

Nessa direção, de acordo com a interpretaçãode Ramo, o Consenso de Pequim seria um mode-lo particular de desenvolvimento que a RPC con-seguiu implementar com relativo sucesso, cujaestratégia estaria sujeita a emulação pelos outrosEstados em desenvolvimento e, implicitamente,teria um forte elemento contra-hegemônico. A in-terpretação de Ramo apresenta uma série de pos-tulados normativos em relação à proposta chinesade desenvolvimento, deixando em um segundoplano as dinâmicas que esse mesmo processoacelerado de crescimento e transformação pro-voca no sistema internacional. Reforçando a ca-racterística da “inovação” e eqüidade, a China ofe-receria às outras nações idéias para seus própriose particulares desafios no que tange ao desenvol-vimento econômico e social.

Assim, a China agiria como uma influênciapositiva, espalhando essa dinâmica em três dire-ções: a primeira, como reação às ideias ultrapas-sadas de Washington sobre o desenvolvimento.

Em segundo lugar, apresentando uma “novafísica”9 que envolveria uma espécie de reação emcadeia de crescimento endógeno, onde quer quefosse copiado. Finalmente, o crescimento econô-mico da China serviria como ímã para alinhar asoutras nações aos interesses econômicos da Chi-na. Segundo Ramo, “for both reasons of nationalpride and security, China wants to project its modelabroad”10 (idem, p. 28).

A caracterização de Ramo, se bem pretendemais descrever o “modelo chinês” de desenvolvi-mento (KENNEDY, 2010) do que um padrão deinterdependência, fica presa a um utopismo ba-seado em um raciocínio de bases fortementenormativas. Essa descrição da potencial imitaçãode processos produtivos e de um modelo de de-senvolvimento específico não nos ajuda na com-preensão das implicações geopolíticas egeoeconômicas – que envolvem a questão do de-senvolvimento – dos países da América Latina eda África que experimentam uma interdependênciacomercial sem precedentes com a RPC. Ramonão consegue enxergar essa nova dinâmica Nor-te-Sul no contexto do capitalismo contemporâ-neo. De fato, a tendência contemporânea de apro-ximação entre a América do Sul e a China estámuito longe de qualquer emulação de modelos dedesenvolvimento. Trata-se, nesses casos, de umacomplementaridade comercial dinamizada pelaexpansão comercial e financeira chinesa, o cres-cimento mundial e a elevação dos preços dascommodities e dos recursos energéticos.

Essa nova relação Norte-Sul, assimétrica ecomplementar, na era posterior ao Consenso deWashington, entre a RPC e algumas regiões emdesenvolvimento, como é o caso dos países da

9 No original: “new physics”. Dirlik faz uma crítica aoargumento de Ramo que, por razões de espaço, não pode-mos aprofundar neste artigo. “The problem is that Ramo’sphysics is a faulty as his political economy and, in the end,the Beijing Consensus appears, more than anything, to bea soles gimmick – selling China to the World, while sellingcertain ideas of Development to the Chinese leadership”(DIRLIK, 2007, p. 2). (“O problema é que a física deRamo é tão faltosa quanto sua economia política e, no fim,o Consenso de Pequim parece, mais do que tudo, ser ape-nas um truque – vender a China para o mundo, enquantovendendo certas idéias de desenvolvimento para a lideran-ça chinesa”).10 “A China, seja por razões de reputação nacional ousegurança, deseja projetar seu próprio modelo para fora”.

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América do Sul – é a que denominamos comoConsenso do Pacífico. O CP não pretende des-crever o funcionamento ou as características deum modelo de desenvolvimento específico, masum tipo de relacionamento Norte-Sul na sua fasecomercial-financeira, cujo desenvolvimento é umaconseqüência direta das transformações globais,da ascensão chinesa e das próprias característi-cas do desenvolvimento da RPC. Para os paísesda América do Sul e da África não se trata deemulação do modelo de desenvolvimento chinês.Esse não é o secreto do crescimento econômicoexperimentado por esses países nos últimos anos,como vários analistas têm apresentado. Eis o pontonevrálgico da nossa questão. Trata-se, pelo con-trário, de novas possibilidades de inserção inter-nacional por parte dos países em desenvolvimen-to, a partir de um comércio complementar com aRPC, que pode acelerar a cristalização de um tipode especialização nos moldes de um sistema cen-tro-periferia e, como conseqüência, o surgimentode um renovado modelo de desenvolvimentocommodity-exportador para os países periféricos.

Se realizarmos um exercício de análiseprospectiva para a América do Sul, resulta muitodifícil pensar em projetos de integração e de estra-tégias de inserção internacional, sem levar em con-sideração o gigante asiático como o mais impor-tante ator extra-regional na região. Como destaca-do, esse relacionamento, sustentado nas trocascomplementares e no comércio internacional, as-semelha-se mais a um tipo de vínculo Norte-Sul doque Sul-Sul, porém muito diferente da divisão in-ternacional do trabalho do século XIX, cujo centroera a Grã-Bretanha, o típico modelo Ocidental cen-tro-periferia. Dessa maneira, com o objetivo deesclarecer a questão, podemos apontar as caracte-rísticas mais salientes desse novo consenso: (i) oCP abre as margens de manobra política para paí-ses em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Oenvolvimento da China na América Latina, mas tam-bém na África, no século XXI, apresenta-se comouma nova opção para os estados do “Sul”, emcontraposição aos constrangimentos rígidos do CW.Seja mediante novas possibilidades de comércio,seja em investimentos na área de infraestrutura ena indústrias extrativas ou com ajudas financeiraspara quitar dívidas externas.

(ii) A interdependência crescente entre a RPCe os países em desenvolvimento não se apresen-ta, no curto prazo, como uma ameaça para osEUA, e isso vale sobretudo para o hemisfério oci-

dental. Não obstante, os Estados Unidos têm sepreocupado com a presença chinesa na região etêm pressionado para deixar clara essa relação.Foi assim que, em abril de 2006, em uma reuniãoem Pequim, o então Subsecretário de Estado parao Hemisfério Ocidental dos EUA, ThomasShannon, o vice-Ministro de Relações Exterioresda China, Dan Bingguo e o Chefe do Departa-mento de Assuntos Latino-Americanos, ZengGang, junto a outros funcionários, assinaram umacordo para criar um mecanismo regular de con-sulta sobre a região (CORNEJO & NAVARROGARCIA, 2010, p. 82). Isso significa que a Chinacomprometeu-se a fazer uma prestação de contasperiódica das suas atividades hemisféricas. Nessesentido, as autoridades chinesas têm reiteradofreqüentemente que o objetivo da RPC é defendero princípio de não intervenção nos assuntos inter-nos de outros países e que o foco do relaciona-mento com os países da América Latina é estrita-mente econômico e não de natureza política. Esseprincípio é o principal argumento chinês no intuitode evitar disputas com a superpotência e manter asredes comerciais e de investimentos. A mesma de-fesa do princípio de “não intervenção em assuntosinternos” está casada com a intenção explícita daChina de não tentar impor ideologia alguma ou pro-mover revoluções. O paradoxo é que a defesa doprincípio de “não intervenção” adotada pela RPCentra em conflito com os interesses dos EUA emalgumas outras regiões, como na África ou na Ásia,nos casos específicos do Sudão e do Irã.

(iii) Em terceiro lugar, a China tem como ob-jetivo manter e promover a estabilidade nas maisdiversas regiões para, dessa maneira, garantir asegurança nos investimentos e os contratos dasrelações comerciais (RATLIFF, 2009).

(iv) Em quarto lugar, a RPC está surgindo comouma nova possibilidade de financiamento para ospaíses com problemas financeiros da América doSul. A diferença mais saliente em relação ao mo-delo de empréstimos das instituições financeirasinternacionais como o FMI e o Banco Mundial éque a RPC não impõe condicionalidades políticasem troca de investimentos e ajuda11. As duas prin-

11 Talvez a única exceção vale para a questão do reconhe-cimento oficial da RPC em detrimento de Taiwan. Contu-do, como expressam Cornejo e Navarro García (2010, p.85) e já foi mencionado anteriormente, o fato que um paísmantenha relações diplomáticas com Taiwan não afeta ne-cessariamente o intercâmbio econômico com a China.

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cipais instituições chinesas de financiamento sãoo Banco Chinês de Desenvolvimento e o Bancode Exportação e Importação Chinês12 que, se-gundo uma pesquisa feita pelo jornal FinancialTimes, emprestaram entre 2009 e 2010 aproxi-madamente US$ 110 bilhões a governos e em-presas de países em desenvolvimento. Isso ul-trapassou o montante de empréstimos do BancoMundial, de meados de 2008 até meados de 2010,que foi de US$ 100,3 bilhões DYER, ANDERLINI& SENDER, 2010) . Ambas as instituições ban-cárias chinesas provêem empréstimos com ta-xas preferenciais e com muitas melhores condi-ções do que os oferecidos pelo Banco Mundial eestão fortemente apoiados pela política oficial dePequim. Nesse ponto, o CP contrasta com a po-lítica das instituições financeiras internacionais,muito ativas com o CW. As ajudas e emprésti-mos chineses, além de serem mais atraentes eco-nomicamente, também o são politicamente. Nãohá cláusulas de condicionalidades envolvidas nosacordos, nem pressão para reformasinstitucionais domésticas. Em termos doFinancial Times, os empréstimos impõem me-nos condições onerosas de transparência (idem).Cabe destacar que, além dessas duas instituições,também o Banco Central da China mostra-semuito ativo oferecendo ajuda financeira. Confi-ante nas possibilidades de ajuda chinesa, porexemplo, o Banco Central da Argentina assinouem 2009 um acordo de cooperação com o Ban-co Central da China13.

(v) Finalmente, uma característica interessan-te do padrão de relacionamento do CP é a estra-tégia bilateral de negociação, seja nas assinatu-ras dos TLC com três países da região, seja nanegociação com os países membros doMercosul. Foi seguindo esse padrão bilateral quea RPC articulou politicamente o reconhecimentocomo economia de mercado da RPC por partedo Brasil e da Argentina14.

V. CONCLUSÕES: A BIFURCAÇÃO DO CP EALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O FUTU-RO DA INTEGRAÇÃO NA AMÉRICA DOSUL

Uma conseqüência direta dessas transforma-ções geopolíticas e geoeconômicas que envolvema RPC e a América do Sul é a bifurcação do CP,desdobramento diretamente ligado ao impacto di-ferenciado nos diferentes estados da sub-região.É, nesse sentido, que a expansão chinesa apre-sentar-se-á como um dos maiores desafios para oprocesso de integração na América do Sul. Comofoi destacado, a explosão do comércio com a Chinaestá cristalizando a especialização comercial en-tre, por um lado, países produtores de commoditiese de recursos energéticos e, por outro, o produ-tor de manufaturas, nesse caso a própria China.Dessa maneira, observando mais detidamente, oCP tem implicações diferenciadas em países comníveis de desenvolvimento diferentes. Trata-se deuma bifurcação dos impactos, que apresentará suascontradições à medida que essa particular relaçãoNorte-Sul aprofunde-se.

Em primeiro lugar, para os países que não pos-suem um parque industrial importante ou não ex-perimentaram um processo de industrialização nasua trajetória de desenvolvimento, não haverá umimpacto negativo no curto prazo; muito pelo con-trário, a parceria com a RPC está em seu pontomais elevado. Os casos de Chile e do Peru são oexemplo mais destacado. Não obstante, o futurodesses países estará determinado pela nova rela-ção Norte-Sul, uma típica relação centro-periferiana qual prima o aspecto funcional das economiassubdesenvolvidas no mercado mundial baseadasna especialização na produção de commodities ede recursos naturais. Nesse cenário, a China temum peso cada vez mais proeminente nessa dinâ-mica comercial em processo de consolidação. Arelação que o Chile e o Peru têm atualmente coma RPC parece ser uma lua de mel que começounos alvores do século XXI e que parece não terfim, superando, em grande medida, os impactosnegativos da crise financeira global de 2008.

Em segundo lugar, a outra face da moeda sãoos países como a Argentina e o Brasil, os paíseseconomicamente maiores da sub-região, que têmum setor industrial considerável e, além disso,certa responsabilidade na condução e liderança dosprocessos de integração regional na América doSul. Para eles, a realidade tornar-se-á mais com-

12 Em inglês: China Development Bank e China Export-Import Bank, respectivamente.13 Para mais detalhes dessa iniciativa da Argentina, ver:CHINA PONE A DISPOSICIÓN (2009); FIRMAN UNACUERDO (2009).14 O fato de o Paraguai não reconhecer a RPC dificultatambém qualquer tipo de negociação partindo do Mercosulcomo bloco.

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plexa. No Mercosul, por exemplo, os produtosindustrializados oriundos da China ameaçam o se-tor industrial da Argentina e, ao mesmo tempo,ameaçam a indústria brasileira, que perde merca-do no país vizinho, criando atritos entre ambos osparceiros regionais. A titulo de ilustração, vale apena lembrar um recente episódio envolvendo ne-gociações comerciais entre a Argentina e o Brasiljustamente para tentar equacionar esse problema.No dia 26 de março de 2010, em um encontro emBrasília, o Secretário de Comércio Exterior do Bra-sil, Welber Barral, e o subsecretário de Política eGestão Comercial do Ministério da Produção daArgentina, Eduardo Bianchi, acordaram posiçõesem conjunto em face da política comercial da Chi-na para a região (LEO, 2010; SIMÃO, 2010). Asduas maiores economias da região deram o pon-tapé inicial para levar adiante uma iniciativa deintegração das cadeias de produção e uma políticacomercial e de proteção industrial comum em re-lação à China, com uma intenção de promoverprodutos brasileiros e argentinos também de ma-neira conjunta.

Esse acontecimento mostra, em grande me-dida, a preocupação dos setores industriais deambos os países frente à impossibilidade de com-petir com os produtos chineses. Pouco teve quese esperar para uma resposta chinesa. No dia 3 deabril de 2010, a decisão da RPC de frear o ingres-so de óleo de soja de origem argentino por razõessanitárias15 criou uma rispidez nas relações bila-terais (MALESTAR OFICIAL CON CHINA, 2010;EXIGEN SOLUCIONES A LA CRISE, 2010) queestava amadurecendo, não só por meras razõesconjunturais do comércio internacional, mas tam-bém por razões estruturais, que também se re-montam as trajetórias históricas do desenvolvi-mento da Argentina e do Brasil. Ambos os países,mas principalmente o Brasil, conseguiram formarsetores industriais de peso, cujos interesses refle-tem-se na estrutura do Estado e na elaboração daspolíticas públicas e, portanto, na sua política ex-terna. A partir de 2008 e 2009, no meio da criseeconômica, o conflito de interesses latente saltouà luz (OLIVEIRA & PAUL, 2009; RODRÍGUEZ,2009; MOURA E SOUZA, 2010).

Embora, o comércio com a RPC seja uma novaopção para os países do Sul, o CP apresenta im-pactos diferenciados na sub-região e desdobra-mentos geopolíticos da maior importância e com-plexidade para a integração sul-americana. Comofoi destacado, trata-se de uma relação fundamen-talmente, mas não exclusivamente, econômica, naqual a China precisa de estabilidade política regio-nal e de bom relacionamento com os EUA; o vín-culo comercial crescente está baseado, sobretu-do, em uma relação de complementaridade comperigo de cristalizar-se em uma especialização es-tilo centro-periferia; e no âmbito dessa relação, aRPC está implementando, em vários casos, pro-gramas de ajuda e de cooperação – além dos in-vestimentos em infraestrutura que foram citados–, não impondo condicionalidades políticas espe-cíficas de curto prazo. Esse conjunto de políticasconforma o padrão de relacionamento que deno-minamos de Consenso do Pacífico e que se apre-senta como uma variável de extrema relevânciapara compreender os futuros desdobramentos doprocesso de integração sul-americana. Uma dasconseqüências mais destacadas talvez seja o re-forço dos princípios do regionalismo aberto16 nasub-região, o que, em grande medida, conflita coma estratégia de política externa brasileiraimplementada na última década e aprofundada,sobretudo, durante o governo de Luiz Inácio Lulada Silva.

O indício mais destacado do ressurgimento doregionalismo aberto17 na América Latina nasceuda iniciativa do Peru, um dos três países que assi-

15 O óleo de soja de origem argentina teria uma proporçãode resíduo de solvente além da permitida por novas normastécnicas de qualidade incorporadas pela RPC(DELLATORRE, 2010).

16 O “regionalismo aberto” é um modelo de integraçãoregional dominante na década de 1990, preconizado espe-cialmente pela Cepal. A integração sob essa perspectiva éconcebida como “um cimento que favoreça uma economiainternacional mais aberta e transparente, em vez de conver-ter-se em um obstáculo que o impeça, limitando assim asopções de alcance dos países da América Latina e do Caribe.Isso significa que os acordos de integração deveriam tendera eliminar as barreiras aplicáveis à maior parte do comérciode bens e serviços entre os signatários no marco de suaspolíticas de liberalização comercial frente a terceiros, aotempo que se favorece a adesão de novos membros aosacordos” (CEPAL, 1994).17 O regionalismo aberto tem como princípio basilar criarum espaço comercial em uma região específica em conso-nância com o regime multilateral de comércio e que permitaaos países membros assinarem acordos de livre-comérciode maneira individual, modelo que o Chile e o Peru já vêmaplicando.

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naram um TLC com a RPC (PERU, 2010). O“Foro del Arco del Pacífico Latinoamericano” éum acordo que aglutina estados da América doSul, América Central e o México18 com clarosinteresses no estímulo do comércio via oceanopacífico, sem a intenção de ir além de um tratadode livre comércio19. Briceño Ruiz (2010) destacaque o Foro do Arco do Pacífico Latino-america-no (Fapla) surgiu não só para legitimar a políticaexterna comercial de países como Peru ou Chile,mas também como uma resposta às debilidadesda Comunidade Andina de Nações (CAN) e comouma maneira de contrapor-se à proposta “anti-sistêmica” da Alternativa Bolivariana para as Amé-ricas (ALBA)20 liderada por Hugo Chávez. Con-tudo, acreditamos que o Fapla é uma resposta re-gional às transformações econômicas globais e aopapel cada vez mais importante da China e doSudeste Asiático no comércio e nos investimen-

tos na região21. Essas mudanças abriram mais ain-da o leque de opções desses países, fortalecendoainda mais os princípios do regionalismo aberto ecolocando mais um desafio para a liderança brasi-leira nos projetos de integração na América do Sul,seja o Mercosul ou a Unasul.

Concluindo, o projeto da globalização não po-derá ser escrito só com as regras de Washington,simplesmente porque a economia global está con-formando-se como um sistema multipolar, no quala RPC tem o papel mais destacado dentre as no-vas potências regionais. A crise econômica de 2008foi o efeito catalisador para a China ocupar espa-ços cada vez mais importantes nas instituiçõesinternacionais e para a sua expansão de investi-mentos nas mais diversas regiões do planeta. ARPC não se apresenta como uma potênciarevisionista ou um poder contra-hegemônico nosistema econômico mundial. O gigante asiáticopretende acelerar a integração da economia glo-bal, mas ao seu modo e a seu ritmo. Isso implicadesenvolver e aumentar as relações comerciais efinanceiras com outras regiões, o que, por suavez, está conformando outra geografia da econo-mia política global. Isso significa que, nessa novaconfiguração, o papel da RPC será o centro – nãoda economia global como uma totalidade onde apreeminência dos EUA, embora diminuída, per-manece – de uma rede global de conexões co-merciais e financeiras que abrange diversas regi-ões, entre as quais a América do Sul é uma delas.

21 A saída da Venezuela da CAN em 2006 acelerou aindamais a crise desse bloco.

18 Peru, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, El Salva-dor, Honduras, Nicarágua e México foram os signatáriosdo acordo.19 “La iniciativa del ARCO-FAPLA – se encuentra emproceso de consolidación como un espacio de diálogo polí-tico y concertación en torno a temas de caráter econômicoy comercial. Los países participantes han reconocido afini-dades no solo por compartir la Cuenca Latinoamericana delPacífico, sino también por La necesidad compartida de for-talecer los vínculos y ampliar La cooperación con los paí-ses de Ásia Pacífico”. Ver o acordo inicial em Foro DelArco del Pacífico Latinoamericano (2008).20 Além da Venezuela, também Bolívia, Cuba e Nicaráguacompõem o bloco.

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Malestar oficial con China por la crisis de la soja:citan al embajador. Clarin, Buenos Aires, 3.abr.Disponível em: http://edant.clarin.com/diario/2010/04/03/elpais/p-02172797.htm. Acessoem: 26.set.2011.

PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA. 2011. TheCentral People’s Government of the People’s

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 57-79 NOV. 2011

Republic of China. Sítio de internet. Disponí-vel em: http://english.gov.cn/. Acesso em:27.set.2011.

PERU. MINCETUR. 2010. Tratado de Libre Co-mercio Perú-China. Disponível em: http://www.capech i .o rg .pe /pdfs / In fo rmes_Finales_TLC_Peru-China.pdf. Acesso em:26.set.2011.

Ratifican una inversión china para explotar Gásen El Sur. 2010. La Nación, Buenos Aires,19.nov. Disponível em: http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1326162. Acessoem: 26.set.2011.

Too Much Consensus. 2004. Foreign Policy, Wa-shington (DC), 1.Sep. Disponível em: http://www.foreignpolicy.com/articles/2004/09/01/too_much_consensus. Acesso em:26.set.2011.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 145-148 NOV. 2011

THE CHINESE CONTINENTAL ECONOMY AND ITS GRAVITATING EFFECT

Diego Pautasso

The present article looks at national development and China’s international positioning. Our goal isto discuss how the formation of a continental economy in China has become a factor of that country’sprojection within the international system, analyzing how the formation of a continental economyproduces a sort of gravitational effect that favors the formulation of a Chinese international strategywithin this conjuncture of systemic transition. We discuss several recurrent analyses of the China’sdevelopment and international position. Our central arguments is that the development of a conti-nental economy and the widening economic capacity that has accompanied it have become a keyinstrument of Chinese foreign policy. In other words, China tends to have a strong gravitationaleffect at the global level which it uses as part of its international strategy. We organize the text in thefollowing manner: first, we discuss the recent evolution of Chinese development, focusing on thechallenges of forming an economy of continental dimension; second, we look at how growing Chineseeconomic abilities imply an increasing gravitational effect on the country at a global level and finally,we argue that Chinese diplomacy uses these prerogatives (economic capacity) to unleash aninternational strategy that, within this situation of systemic transition, allows the country to widenthe scope of its international performance by searching for the routes of lesser resistance.

KEYWORDS: China; Continental Economy; Gravitational Effects.

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CHINA IN SOUTH AMERICA AND THE GEOPOLITICAL IMPLICATIONS OF THE PACIFICCONSENSUS

Javier Vadell

This article analyzes the political implications of the increasing interdependence of the People’sRepublic of China (PRC) and South American countries. We present data on PRC investment andtrade in the region and highlight several points of diplomatic progress in terms of bi-lateral cooperationfor the 21st century. Our starting point is the issue of whether we face a relationship that couldconstitute a new form of South-South cooperation or whether it is more representative of the typicalNorth-South pattern or system – albeit one with its own peculiarities. We refer to this relationshippattern as Pacific Consensus (PC). Although short term, the China factor may stimulate growth inthe region, it also has different implications for the development of countries with an importantindustrial sector – such as Brazil and Argentina – and those that do not – such as Chile and Peru –which have all signed free trade agreements with the Asiatic giant. We conclude with someconsiderations regarding the consequences that the PC has in terms of Latin American integration.

KEYWORDS: China; South America; Integration, Pacific Consensus.

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THE POLITICS OF CHINESE SPACE COOPERATION: STRATEGIC CONTEXT ANDINTERNATIONAL SCOPE

Marco Cepik

This article explains the People’s Republic of China’s policies of international cooperation for spaceexploration activities. In the first place, given the tri-polar power structure of the international systemand the increasing dependence that all countries have on the use of outer space, we can explainChinese motivation for spatial cooperation as unfolding from the search for security, economicdevelopment and legitimacy. Next, we demonstrate the Chinese spatial program’s current state ofdevelopment, with particular attention to image, navigation, communication and data transmissionsatellites, as well as micro and nanosatellites. Given structural incentives, strategic goals and the

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 151-154 NOV. 2011

L’ECONOMIE CONTINENTALE CHINOISE ET SON EFFET GRAVITATIONNEL

Diego Pautasso

L’article aborde le développement national et l’insertion internationale de la Chine. L’objectif, c’estde discuter comment la formation d’une économie continentale en Chine devient un facteur deprojection de ce pays dans le système international, en analysant la manière dont la formation d’uneéconomie continentale produit une espèce d’effet gravitationnel qui favorise la formulation de lastratégie internationale chinoise dans cette conjoncture de transition systémique. L’article estdéveloppé par la discussion, avec des analyses récurrentes, sur le processus de développement etd’insertion internationale de la Chine. Le principal argument soutenu dans l’article est celui selonlequel, le développement de l’économie continentale et l’agrandissement de la capacité économique,deviennent un instrument de la politique extérieure chinoise. Autrement dit, la Chine tend à créer unfort effet gravitationnel à l’échelle mondiale, et à l’utiliser comme partie de sa stratégie internationale.Voici comment l’article est organisé: dans la première partie, nous examinons l’évolution récente dudéveloppement chinois, en soulignant les défis de la formation d’une économie avec des dimensionscontinentales ; dans la deuxième partie, nous traitons du développement de la capacité chinoise etcomment celle-ci implique un effet gravitationnel croissant du pays à l’échelle mondial ; ultimement,nous argumentons que la diplomatie de la Chine utilise ces prérogatives (la capacité économique), pourdéclencher une stratégie internationale qui permet au pays, dans ce cadre de transition systémique,d’élargir son espace de performance internationale, en cherchant les lignes de moindre résistance.

MOTS-CLÉS: la Chine ; l’économie continentale ; l’effet gravitationnel.

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LA CHINE EN AMÉRIQUE DU SUD ET LES IMPLICATIONS GÉOPOLITIQUES DUCONSENSUS DU PACIFIQUE

Javier Vadell

L’article analyse les implications politiques de la croissante interdépendance économique entre laRépublique Populaire de la Chine (RPC) et les pays de l’Amérique du Sud. Des données sur lecommerce et l’investissement de la RPC dans la sous-région sont présentées, et les progrèsdiplomatiques en matière de coopération bilatéral dans le XXI siècle sont soulignés. Premièrement,nous cherchons à savoir si nous sommes devant un modèle de relation qui pourrait constituer unerelation renouvelée de coopération Sud-Sud, ou bien, un nouveau type de relation Nord-Sud. Selonnotre hypothèse, l’évolution et la dynamique de cette relation ressemblent plutôt à un système ou àun modèle Nord-Sud aves des caractéristiques bien particulières. Nous appelons ce modèle derelation, le Consensus du Pacifique (CP). Malgré que le facteur Chine stimule, à court terme, lacroissance de la sous-région, le CP a des implications différenciées pour le développement des paysqui détiennent un secteur industriel important – ex. Le Brésil et l’Argentine – et ceux qui n’en ontpas – ex. le Chili et le Pérou, qui ont même signé des traités de libre commerce avec le géantasiatique. L’article est conclu avec quelques observations sur les conséquences du CP dans leprocessus d’intégration sud-américaine.

MOTS-CLÉS: la Chine ; l’Amérique du Sud ; l’intégration ; le Consensus du Pacifique.

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LA POLITIQUE DE LA COOPÉRATION SPATIALE CHINOISE : LE CONTEXTESTRATÉGIQUE ET L’ATTEINTE INTERNATIONALE

Marco Cepik

L’article explique les politiques de coopération internationale de la République Populaire de la Chine,liées aux activités dans le domaine spatial. Premièrement, en ayant la structure de pouvoir tripolaire