A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do...

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A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura Arquitectónica Europeia Filipa Maria Sumares Souteiro Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura Orientador: Prof. João Rosa Vieira Caldas Orientador: Prof.ª Maria Lúcia Bressan Pinheiro Juri: Presidente: Prof. Francisco Manuel Caldeira Pinto Teixeira Bastos Orientador: Prof. João Rosa Vieira Caldas Vogal: Prof.ª Helena Silva Barranha Gomes Julho 2016

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A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a

Cultura Arquitectónica Europeia

Filipa Maria Sumares Souteiro

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Arquitectura

Orientador: Prof. João Rosa Vieira Caldas

Orientador: Prof.ª Maria Lúcia Bressan Pinheiro

Juri:

Presidente: Prof. Francisco Manuel Caldeira Pinto Teixeira Bastos

Orientador: Prof. João Rosa Vieira Caldas

Vogal: Prof.ª Helena Silva Barranha Gomes

Julho 2016

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Para a minha Mãe,

Porque é a minha força.

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I. AGRADECIMENTOS

Agradeço,

Ao meu orientador, o professor João Vieira Caldas, pela sua orientação indispensável, pela sua

exigência e pelo seu apoio.

À professora Maria Lúcia Bressan Pinheiro, que me acompanhou em São Paulo.

À Raquel Galante, à Carolina Gonçalves e ao Hélder Sumares, por serem os meus pilares.

Ao Miguel Martins, pela amizade, partilha e apoio.

Aos meus amigos, pelas constantes palavras de ânimo e incentivo.

Ao meu irmão, Ricardo Souteiro, que é um exemplo em tudo o que faz.

À minha mãe, Inês Sumares, por acreditar em mim e por ter acompanhado todo o meu percurso académico e o meu ano de Intercâmbio, de onde partiu este trabalho.

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II. RESUMO

Esta dissertação é orientada para a temática do habitar e das representações sociais que integram o espaço da casa.

Com o objectivo da análise da origem da tipologia habitacional do proprietário abastado da região de São Paulo nos séculos XVII e XVIII, pretende transmitir um

retrato comparativo entre as casas rurais portuguesas e a casa colonial paulista.

A casa bandeirista, sede de fazenda edificada em torno

da vila de Piratininga em São Paulo, é um tipo característico da arquitectura paulista erigida durante a época colonial aquando da actuação dos bandeirantes pela conquista de

terras e riquezas. Aparenta compreender uma fase de experimentação arquitectónica da colónia portuguesa, harmonizando as formas europeias conhecidas com novos

hábitos sociais. Não se sabe quem projectou, são anónimas e de certo modo populares e o partido arquitectónico adoptado permaneceu praticamente inalterável nos dois

séculos seguintes, reflectindo uma estabilidade social em que as expectativas de ordem cultural se mantiveram imutáveis.

A partir do levantamento arquitectónico da casa bandeirista procede-se à comparação de diferentes modelos arquitectónicos portugueses tipologicamente semelhantes à

casa paulista considerando modos de implantação, identificando o tipo de volumetria que adoptam, as fachadas e a dialéctica existente entre o exterior e o interior da

habitação. Em suma, este estudo pretende formular hipóteses e identificar até que pontoo a arquitectura europeia, nomeadamente a arquitectura portuguesa,

influenciou directa ou indirectamente a produção colonial brasileira.

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Palavras-Chave:

São Paulo Colonial; Casa Bandeirista;

Arquitectura Popular; Casa rural.

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III. ABSTRACT

The main theme of this dissertation is the inhabiting and the social representations that integrate the space of the

house. It is intended to transmit a comparative portrait between the portuguese rural houses and the São Paulo´s colonial house, aiming to analyse the housing typology origin

of the wealthy proprietor of São Paulo during the 17th and 18th centuries.

The bandeirista house, headquarter of the built farm

around Piratininga in São Paulo, is characteristic type of São Paulo´s architecture in colonial times, during the bandeirantes conquest of lands and goods. It appears to

constitute an experimental phase in the colonial Portuguese architecture, harmonizing the famous european shapes with new social habits. Its designer is unknown, the house is

anonymous and popular, and the adopted architectural party remained untouched for following two centuries, reflecting a social stability in which the cultural expectations remained

unchanged. Trying to understand the true scale of the European

influence and clarify the context in which São Paulo of the

17th and 18th centuries became more similar to the portuguese rural architecture, this work aims to identify and characterize the aspects related to the implantation of each

building, the adopted volumetric shapes, the functional distribution of the main-house and its dependencies, its facades, which constitute true characterizing elements, and

the building and material characteristics put to use. The intention is also to comprehend the history of the building, being that the way in which the proprietors inhabited it

contributes to the knowledge of the functional necessities that the program was trying to fill.

To sum up, this study tries to formulate hypotheses and

identify to which extent the european architecture, namely the portuguese architecture, influenced the brazilian colonial production, either directly or indirectly.

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Keywords:

São Paulo Colonial; Bandeirista House;

Popular Architecture; Rural House.

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IV. ÍNDICE GERAL

II. Resumo ……..……………….…………………….………………..……………..… v

III. Abstract ……………………….……..…………….…………….………………… vii

IV. Índice ……………………….…………………….…………..……..…………..… viii

V. Índice de Figuras ………………………….…….…………….…….…..…..…….. x

VI. Glossário ………………………..………….…….…………….…….…..………. xxi

01. Introdução ……………………….……….……….………..…….……………..…… 1

1.1 Objectivos do Trabalho ……………………….……………………….…..… 3

1.2 Objecto de Estudo ……………………….…………………………………… 4

1.3 Metodologia de Trabalho ……………………….…………………………… 5

1.4 Estado da Arte ………………………………….…………………..….……… 6

Brasil …………………………………………….…………………….…………… 6

Portugal ……………………….…………………………………….…………… 10

02. A Casa Bandeirista ……………………………….……….…..……..……..…… 15

2.1 Enquadramento Histórico do Objecto de Estudo em São Paulo … 17

A fundação de São Paulo pelos Jesuítas no século XVI …………..… 17

A sociedade Bandeirista …………………………………………………..… 21

2.2 A Casa Bandeirista em São Paulo ……………..……………………….. 23

O “Programa” ……………………………….…………………………….…… 25

A “Técnica Construtiva” ……………………………………………………… 26

O “Partido Arquitectónico” ……………………………………………….…. 28

A “Comodulação e a Modenatura” ……………………………………..… 32

2.3 Casos de Estudo ………………………………………………….……..… 37

Casa do do Sertanista ……………………………………………….…….… 39

Casa do Bandeirante ……………………………………………………….… 44

Casa do Tatuapé …………………………………………………………….… 49

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IV. ÍNDICE GERAL

03. Arquitectura Popular em Portugal …………………………………..…..…… 55

3.1 Enquadramento da Casa Popular Portuguesa …………..…….……… 57

Caracterização Geográfica das Regiões de Portugal ……….……… 60

3.2 Casos de Estudo ………………………..………………………………….… 63

Tipologias de Habitação em Portugal ………………………………..…… 65

Tipologia A | Casa de Lavoura do Minho ….……………….…………..… 69

Tipologia A | Casa Alpendrada da Murtosa ………………..…………….. 80

04. Considerações Finais ……………………………………………………..…..… 85

4.1 Análise Comparativa ……………………….………………………………… 87

A Arquitectura Bandeirista e a Arquitectura Popular Portuguesa …… 87

A “Esfinge Semi-Decifrada” …………………………………………..… 92

4.2 Conclusão ………………………………..……………………….………….… 96

06. Bibliografia ……………………………………………………………….………… 97

6.1 Bibliografia consultada | Brasil ……………………………….………..….. 99

6.2 Bibliografia consultada | Portugal ………………………………….….… 104

07. Anexos ……………………………………………………………….…….……… 109

Casos de Estudo | São Paulo

Casos de Estudo | Portugal

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V. ÍNDICE DE FIGURAS

02 | A Casa Bandeirista

Fig. 2.01 — Fundação da cidade de São Paulo | Autoria de Antônio Parreira,

1909 ….….….…………………………………………….….…..….….…..….….…..…. 17 Fonte: Acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo, Brasil.

Fig. 2.02 — Mapa de expansão dos jesuítas no Brasil no século XVI

organizado por Serafim Leite ….….….…..….….…..….….…..….….…..….….…. 18 Fonte: (BARRA 2008, p. 41).

Fig. 2.03 — Mapa da capitania de São Paulo de 1750 | Autoria de Francisco T. Colombina ….….….…..….….…..….……………….……….….…..….….……..… 19 Fonte: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart1033415.htm.

Fig. 2.04 — Fragmento do mapa da capitania de São Paulo de 1750 |Autoria de Francisco T. Colombina ….….….…..….….…..….….…..………….………….. 20 Fonte: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart1033415.htm.

Fig. 2.05 — Mapa de São Paulo Pré-Colonial ….….….…..….….…..….…..…. 21 Fonte: (ZANETTINI 2006, p.49).

Fig. 2.06 — Mapa de São Paulo do século XVI ….….….…..…….….….….…. 21 Fonte: (ZANETTINI 2006, p.50).

Fig. 2.07 — Mapa de São Paulo do século XVII e XVIII ……….….….……… 21 Fonte: (ZANETTINI 2006, p. 57).

Fig. 2.08 — Localização da Casa do Bandeirante em relação às vilas e vias

de comunicação da época | Autoria de Paulo Camilher Florençano ….…… 22 Fonte: (FLORENÇANO 1958, p. 18).

Fig. 2.09 — O encontro dos rios Anhangabaú e Tamdanduateí ……………. 22 Fonte: <http://historiadesaopaulo.wordpress.com/fundacao-da-cidade-de-sao-paulo/>.

Fig. 2.10 — Casas Bandeiristas do Município de São Paulo ……………..… 23 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 49).

Fig. 2.11 — Fachada principal do Sítio do Mandu | “Bandeirista” [Antes da Reforma] ……………………………………………………………………………..….. 23 Fonte: (KATINSKY 1976, p. 44).

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V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 2.12 — Planta Térrea | Planta do Sobrado | Corte AA’ do Sítio do Mandu ….. 23 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Armando Rebolo e

Benedito Pacheco de 1945.

Fig. 2.13 — Fachada principal da Chácara do Rosário | “Tradição

Bandeirista” ………………………………………………………………………….….. 24 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 294).

Fig. 2.14 — Planta do Piso Térreo | Planta do Piso Sobradado | Corte AA’ da Chácara do Rosario …….….….…..…….….………………………………………… 24 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Armando Rebolo e

Benedito Pacheco.

Fig. 2.15 — Sítio da Ressaca [Antes do Restauro] | “Bandeirista” ….…… 25 Fonte: (MAYUMI 2008, p.166).

Fig. 2.16 — Planta do piso térreo do Sítio da Ressaca ….….….……….……. 25 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Armando Rebolo e Julio

Katinsky de 1972.

Fig. 2.17 — Sítio do Santo António [Depois do Restauro] | “Tradição Bandeirista” ….….….…..…….……………………………………………………..….. 25 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 294)

Fig. 2.18 — Planta do piso térreo do Sítio do Santo António ….….………… 25 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Luis Saia de 1940.

Fig. 2.19 — Vista para a antiga sala central do Sítio do Santo António [Antes

do restauro] ….….….…..…….………………………………..……………………..… 26 Fonte: (KATINSKY 1976, p.46).

Fig. 2.20 — Vista para a fachada oeste da Chácara do Rosário [Antes do Restauro] ….….….…..…….………………………………..……….………………..… 26 Fonte: (KATINSKY 1976, p.55).

Fig. 2.21 — Alicerce de taipa de uma antiga parede que existia no local no Sítio da Ressaca ….….….…..…….………………………………..……………….… 26 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.22 — Vista do alpendre do Sítio do Calu [Antes do Restauro] …..…. 27 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

Fig. 2.23 — Camadas sucessivas de revestimento sobre a taipa do Sítio da Ressaca [Antes do Restauro] ….….….…..…….….….….…..…….….….……..… 27 Fonte: (MAYUMI 2008, p.185).

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V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 2.24 — Detalhe do esteio da varanda do Sítio do Querubim [Antes da Reforma] ….….…..…….….….….…..…….….….….…..…….….….….…..……….… 28 Fonte: (KATINSKY 1976, p.47).

Fig. 2.25 — Detalhe do beiral do telhado do Sítio do Vassoural ….……..…. 28 Fonte: (KATINSKY 1976, p.54).

Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

Fig. 2.27 — Planta do Piso Térreo | Planta do Sobrado | Corte AA’ do Sítio do Padre Inácio ….….…..…….….….….…..…….….….….…..…….….….….…..… 29 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Acácio Moreira de 1944.

Fig. 2.28 — Vista aérea de 1975 | Vistas para as fachadas oeste e norte do

Sítio de Morrinhos ….….…..…….….….….…..…….….….….…..…….….……..…. 30

Fonte: (MAYUMI 2008, p. 214).

Fig. 2.29 — Planta do Piso Térreo | Planta do Sobrado | Corte AA’ do Sítio

de Morrinhos ….….…..…….….….….…..…….….….….…..…….….….…………… 30

Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Thereza Katinsky de

Katina de 1976,

Fig. 2.30 — Acesso ao sobrado no Sítio do Padre Inácio [Antes da Reforma]…. 31 Fonte: (LEMOS 1999, p.52).

Fig. 2.31 — Detalhe da existência de "tacanha" no Sítio do Calu [Antes da

Reforma] ….….…..…….….….….…..…….….….…….……..…….….….…………… 31

Fonte: (LEMOS 1999, p.48).

Fig. 2.32 — Jardim, lago e mata no lugar da roça do Sítio de Santo António [Depois do Restauro] ….….…..…….….….….…..…….….….…….……..…….….. 31 Fonte: (MAYUMI 2008, p.75).

Fig. 2.33 — Vista da plataforma fronteira em pedra do Sítio Itaim ……….. 32 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.34 — Detalhe do beiral do telhado do Sítio Itaim ….….…..…….….….. 32 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

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V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 2.35 — Detalhe do beiral do telhado do Sítio do Padre Inácio ….…….. 32 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.36 — Detalhe da data gravada na porta do Sítio da Nossa Senhora da Conceição | “1763” [Antes da Restauração] ….….…..…….….………………… 33 Fonte: (KATINSKY 1976, p.57)

Fig. 2.37 — Detalhe da porta do Sítio de Morrinhos | “1702” [Antes do Restauro] … 33 Fonte:(KATINSKY 1976, p. 33)

Fig. 2.38 — Detalhe da janela do Sítio de Morrinhos [Antes do Restauro] ….. 33 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 163)

Fig. 2.39 — Detalhe dos balaustres das janelas do Sítio do Itaim ……….… 34 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.40 — Detalhe dos balaustres das janelas do Sítio do Mandu …….… 34 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.41 — Vista da capela do Sítio do Querubim [Antes do Restauro] …. 35 Fonte: (KATINSKY 1976, p.47).

Fig. 2.42 — Ambiente que ocupava o alpendre descaracterizado do Sítio de Santo António ….….…………….….………….….…………….….….………………. 35 Fonte: <http:\\www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/14.161/4915>.

Fig. 2.43 — Detalhe da coluna do alpendre principal do Sítio do Padre

Inácio…………………………………………………………………………………….… 35 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.44 — Planta de localização dos Casos de Estudo em São Paulo [Escala Não Desconhecida] .….….…..……………………………………….…….. 37 Fonte: Reprodução da autora sobre imagem retirada de maps.google.pt, 2016.

Fig. 2.45 — Fotografia aérea mostrando a implantação da Casa do

Sertanista [Antes do Restauro] ……………………………………………….…….. 39 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 14).

Fig. 2.46 — Vista da fachada sudoeste com o alpendre de serviço Casa do Sertanista ………………………………….………………..………………….……..… 39 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.47 — Vista do alpendre principal da Casa do Sertanista ………………… 39 Fonte:Fotografia da autora, 2015.

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V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 2.48 — Vista do compartimento com escada de acesso ao piso sobradado da Casa do Sertanista ………………………………………………… 39 Fonte: Fotografia de Edison Pacheco de Aquino, 1975.

Fig. 2.49 — Planta de localização da Casa do Sertanista ………………..…… 40 Fonte: Reprodução da autora sobre imagem retirada de maps.google.pt, 2016.

Fig. 2.50 — Planta do Piso Térreo | Planta do Sobrado | Corte AA’ | Corte BB’ da Casa do Sertanista ………………………………………………………..…. 41 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Armando Rebolo e

Rafael Gendler de 1968,

Fig. 2.51 — Vista da fachada sudoeste da Casa do Sertanista [Antes do Restauro]….. 42 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 110).

Fig. 2.52 — Vista da fachada nordeste e sudeste da Casa do Sertanista

[Antes do Restauro] …………………………………………………………………..… 42 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 111).

Fig. 2.53 — Vista do alpendre nordeste da Casa do Sertanista [Antes do Restauro] …………………………………………………………………………..…….. 42 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 111).

Fig. 2.54 — Alpendre sem telhado e sem revestimento nas paredes após etapa de prospecção para as obras de restauro da Casa do Sertanista ….. 42 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 122).

Fig. 2.55 — Face interna da empena sul da Casa do Sertanista …………… 43 Fonte:(MAYUMI 2008, p.124).

Fig. 2.56 — Detalhe das pernas de asnas apoiadas no frechal da parede

concêntrica interna da Casa do Sertanista …………………………………….… 43 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 122).

Fig. 2.57 — Detalhe do beiral do telhado da Casa do Sertanista [Antes do Restauro] ………………………………………………………………………….……… 43 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 37).

Fig. 2.58 — Casa do Bandeirante .….….…..…………………………….……..… 44 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.59 — Vista para o pretório da Casa do Bandeirante …….………….….. 44 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

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V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 2.60 — Vista para a fachada Noroeste da Casa do Bandeirante…….. 44 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.61 — Vista para o alpendre de serviço | Fachada Sudoeste da Casa do Bandeirante .….….…..…………………………………………….…………….……..… 44 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.62 — Vista para a fachada sudeste da Casa do Bandeirante …..…..…. 45 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.63 — Planta de Localização da Casa do Bandeirante …..…………… 45 Fonte: Reprodução da autora sobre imagem retirada de maps.google.pt, 2016.

Fig. 2.64 — Vista da entrada principal da Casa do Bandeirante ….….……. 46 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.65 — Planta do piso térreo da Casa do Bandeirante ….….……….…. 46 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Armando Rebolo e Rafael Gendler de 1954.

Fig. 2.66 — Corte AA’ | Corte BB’ da Casa do Bandeirante ….….………..…. 47 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Armando Rebolo e

Rafael Gendler de 1954.

Fig. 2.67 — Detalhe do capitel da coluna do alpendre principal da Casa do Bandeirante ….….…..…….….….………………………………….….….………..…. 47 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.68 — Detalhe do beiral do telhado da Casa do Bandeirante ……….. 48 Fonte: Fotografia da autora, 2015.

Fig. 2.69 — Respaldo da parede concêntrica interna, onde se vêm os caibros apoiados no frechal | Casa do Bandeirante ………………………..…. 48 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 99).

Fig. 2.70 — Desenho esquemático das extremidades de cada frechal visto

em planta, com ensambladura do tipo “rabo de andorinha” ……….……..…. 48 Fonte: Desenho da autora.

Fig. 2.71 — Fotografia aérea mostrando a implantação do Sítio do Tatuapé [Antes do Restauro] ……………………………………………………….………….… 49 Fonte: (GAGLIARDI 1983, p.11),

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V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 2.72 — Vista para o alpendre nordeste do Sítio do Tatuapé …………..…. 49 Fonte: Walter Fragoni, 2005.

Fig. 2.73 — Vista da fachada noroeste do Sítio do Tatuapé …………………… 49 Fonte: Walter Fragoni, 2005.

Fig. 2.74 — Planta de Localização do Sítio do Tatuapé ……………….…..….. 50 Fonte: Reprodução da autora sobre imagem retirada de maps.google.pt, 2016.

Fig. 2.75 — Planta do Piso Térreo | Planta do Piso Sobradado | Corte AA’ do Sítio do Tatuapé ………………………………………………………………….….…. 52 Fonte; Redesenho da Autora com base no levantamento de Julio Katinsky e Rafael

Gendler de 1972.

Fig. 2.76 — Vista da fachada nordeste do Sítio do Tatuapé [Antes do Restauro] .. 53 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 220).

Fig. 2.77 — Vista da fachada noroeste do Sítio do Tatuapé [Antes do Restauro] …. 53 Fonte: (MAYUMI 2008, p.220).

Fig. 2.78 — Vista da fachada principal do Sítio do Tatuapé [Antes do Restauro] ….. 53 Fonte: (MAYUMI 2008), p. 298.

Fig. 2.79 — Vista do alpendre por ocasião da visita do Departamento Histórico do Sítio do Tatuapé ………………………………………….………….…. 53 Fonte: (GAGLIARDI 1983, p. 76).

Fig. 2.80 — Parede arruinada que revela a existência de pau roliço no interior da taipa do Sítio do Tatuapé ………………………………….…………… 53 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 226).

Fig. 2.82 — Desenho esquemático das forças que actuam na cobertura do Sítio

do Tatuapé ……………………………………………………………………………..… 54 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 221).

Fig. 2.83 — Vista do sobrado do Sítio do Tatuapé ………………………………. 54 Fonte: Acervo DPH/Pres..

Fig. 2.84 — Desenho esquemático do apoio do telhado sobre o frechal do Sítio do Tatuapé ……………………………………………………………..…………………….. 54 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 244).

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V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 2.85 — Detalhe da armação do telhado do Sítio do Tatuapé ….…..….. 54 Fonte: (MAYUMI 2008, p. 205).

03 | Arquitectura Popular Portuguesa

Fig. 3.86 — Mapa esquemático dos tipos de povoamento rural …….….….. 58 Fonte: Redesenho da autora com base no desenho de Mário Moutinho no livro A Arquitectura Popular Portuguesa (1995).

Fig. 3.87 — Imagens de um mesmo edifício em Alcaria Alta, Algarve. Comparação entre fotografia registada nos anos de 1950, aquando da

realização do Inquérito, e uma registada no século XXI …………..…………. 59 Fonte: (FERNANDES 2008)

Fig. 3.88 — Casos de Estudo em Portugal [Escala Não Definida] ……………..… 63 Fonte: Reprodução da autora sobre imagem retirada de maps.google.pt, 2016.

Fonte das imagens: Amaral et al. 1988.

Fig. 3.89 — Casa rural na aldeia de França, Bragança …………………….….. 66 Fonte: (OLIVEIRA & GALHANO 1992)

Fig. 3.90 — Casa rural na aldeia de Castelo, Moncorvo …………………..…… 66 Fonte: (OLIVEIRA & GALHANO 1992)

Fig. 3.91 — Casa rural na aldeia de Felgar, Moncorvo …………………….… 66 Fonte: (OLIVEIRA & GALHANO 1992)

Fig. 3.92 — Exemplo de uma casa típica em Paúl …………………..……..…. 67 Fonte: (AMARAL et al. 1988).

Fig. 3.93 — Exemplo de uma casa típica em Relva ………………………..…. 67 Fonte: (AMARAL et al. 1988).

Fig. 3.94 — Vista interior de um alpendre num edifício público em Assafora ….67 Fonte: (AMARAL et al. 1988).

Fig. 3.95 — Casa Alpendrada na aldeia de Guia, Pombal …….……….……. 68 Fonte: (OLIVEIRA & GALHANO 1992).

Fig. 3.96 — Casa Alpendrada na aldeia de Carriço, Pombal …….…………. 68 Fonte: (OLIVEIRA & GALHANO 1992).

Fig. 3.97 — Espigueiro de uma Casa de Lavoura .…………………………….. 70 Fonte: (AMARAL et al. 1988).

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V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 3.98 — Eira e Sequeiro da Casa de Lavoura em Palmeira, Braga | Vista do Alçado Este ……………………………………………………………………..….. 71 Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Fig. 3.99 — Quarto de Fora a fechar o topo da varanda | Casa de Lavoura em Palmeira, Braga …………………………………………………………………… 71 Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Fig. 3.100 — Vista da varanda e portas de acesso ao Quarto de Fora | Casa

de Lavoura em Palmeira, Braga …………………………………………………… 71 Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Fig. 3.101 — Vista da fachada principal da Casa de Lavoura | Balazar, Guimarães ………………………………………………………………………………. 72 Fonte: (AMARAL et al. 1988).

Fig. 3.102 — Planta do piso sobradado da Casa de Lavoura | Balazar, Guimarães ………………………………………………………………………………. 72 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento feito aquando da realização

do Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa.

Fig. 3.103 — Corte Esquemático de uma casa-tipo de lavoura | Relação

entre interior e exterior através da varanda ………………………….………….. 73 Fonte: (MOTA 2014).

Fig. 3.xx — Corte Esquemático de uma Casa-Tipo de Lavoura | Evacuação do fumo na cozinha ……………………………………………………………….…… 73 Fonte: (MOTA 2014).

Fig. 3.104 — Planta de Localização da Casa de Lavoura 01 | Aldeia de Soutelo ……………………………………………..……….…………………………… 74 Fonte: Reprodução da autora sobre imagem retirada de maps.google.pt, 2016.

Fig. 3.105 — Vista da fachada sudeste da Casa de Lavoura 01 | Aldeia de

Soutelo .….………………………………….………….….…..….….…..….…….…….. 75 Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Fig. 3.106 — Vista do sequeiro da Casa de Lavoura 01 | Aldeia de Soutelo .. 75 Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Fig. 3.107 — Planta de Cobertura da Casa de Lavoura 01 | Aldeia de Soutelo .….………………………………….………….….…..….….…..….…….…..… 75 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Daniel Mota.

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Page 21: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 3.108 — Planta do Piso Térreo e do Piso Sobradado da Casa de Lavoura 01 | Aldeia de Soutelo .….………………………………….……………… 76 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Daniel Mota.

Fig. 3.109 — Planta de Localização da Casa de Lavoura 02 | Aldeia de Soutelo ……………………………………………..……….………………………….… 77 Fonte: Reprodução da autora sobre imagem retirada de maps.google.pt, 2016.

Fig. 3.110 — Vista do Alçado Norte da Casa de Lavoura 02 | Aldeia de

Couto, Soutelo .….………………………………….………….….…..….….…..…….. 77 Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Fig. 3.111 — Vista da fachada sul da Casa de Lavoura 02: Sequeiro, Espigueiro e Eira | Aldeia de Couto, Soutelo .….……………………………….. 78 Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Fig. 3.112 — Planta de Cobertura da Casa de Lavoura 02 | Aldeia de Couto, Soutelo .….………………………………….………….….…..….….…..….…….…….. 78 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Daniel Mota.

Fig. 3.113 — Planta do Piso Térreo e do Piso Sobradado da Casa de

Lavoura 01 | Aldeia de Soutelo .….………………………………….…………..…. 79 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Daniel Mota.

Fig. 3.114 — Planta do Piso Térreo; Planta da Cobertura; Corte Esquemático de uma Casa Alpendrada do Tipo II | Murtosa .….…….……… 81 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Ernesto Oliveira.

Fig. 3.115 — Planta do Piso Térreo; Planta da Cobertura de uma Casa Alpendrada do Tipo II | Murtosa .….…………………..……………………………. 82 Fonte: Redesenho da autora com base no levantamento de Ernesto Oliveira.

Fig. 3.116 — Casa Alpendrada de tipo III em Bestida | Murtosa ……………..……. 83 Fonte: (OLIVEIRA & GALHANO 1992).

Fig. 3.117 — Cala Alpendrada de tipo II em Murtosa …………..……….…..… 83 Fonte: (OLIVEIRA & GALHANO 1992).

Fig. 3.118 — Cala Alpendrada em Murtosa …………………….……….………. 83 Fonte: (OLIVEIRA & GALHANO 1992).

Fig. 3.119 — Detalhe do beiral do telhado de uma Casa-Tipo da Murtosa ……….…… 83 Fonte: (OLIVEIRA & GALHANO 1992).

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Page 22: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

V. ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 3.120 — Vista da Fachada Principal de uma Casa-Tipo da Murtosa …84 Fonte: <http://www.prof2000.pt>.

Fig. 3.121 — Vista da Fachada Principal de uma Casa-Tipo da Murtosa …84 Fonte: <http://www.prof2000.pt>.

04 | Análise Comparativa

Fig. 4.122 — Desenho esquemático da organização espacial das casas bandeiristas apresentadas como casos de estudo.….………………………… 93 Fonte: Redesenho da autora.

Fig. 4.123 — Fundação da cidade de São Paulo | Autoria de Antônio

Parreira, 1909 ….….….…………………………………………….….…..….….……. 94 Fonte: Redesenho da autora.

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Page 23: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).
Page 24: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

VI. GLOSSÁRIO

BATENTES — Encaixe situado de modo a receber a porta ou janela, quando estas

se fecham, permitindo a colocação de um fecho. Termo que define uma porta ou uma janela que trabalha segundo um eixo vertical, situado num dos seus lados.

CIPÓ — Nome genérico de todas as plantas finas e flexíveis que servem para atar.

ESTEIOS — Termo que define escoras de sustentação.

FRECHAL — Viga de madeira onde assentam os barrotes, varas ou caibros dos

telhados em estrutura de madeira.

GONZO — Designação de todo o dispositivo rudimentar que permite a rotação de

uma folha de porta ou janela em torno de um eixo. É formado, basicamente, por um pino, por um espigão (macho) que gira dentro de uma cavidade cilíndrica

chamada cachimbo ou fêmea.

JIRAU — Armação de madeira usada para limpar e cortar a carne.

LANÇO — Segundo Carlos Lemos, um lanço de casas corresponde a uma faixa de

moradia, compreendendo compartimentos encarreirados perpendicularmente ao

alinhamento da rua (LEMOS 1999).

MURO DE ARRIMO — Muro de suporte. Estrutura construída para resistir à pressão

lateral do solo quando há uma mudança desejada na sua elevação que excede o ângulo de repouso do solo.

OCA — Habitação típica dos povos indígenas. Internamente este tipo de habitação

não é compartimentada e existem diversas redes que os índios usam para dormir.

OITÃO — Em construções com telhado de duas águas, representa a porção

triangular por cima do forro. É a parte onde fica o sotão. O termo é muitas vezes

confundido com frontão e empena porque, nos séculos passados, era comum encontrar construções com telhado de duas águas paralelas ao alinhamento do lote.

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Page 25: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

VI. GLOSSÁRIO

PAU-A-PIQUE — Também chamada de taipa de mão. Técnica construtiva em que

as paredes são armadas com madeira ou bambu e preenchidas com barro e fibra. A matéria-prima consiste em trama de madeira ou bambu, cipó ou outro material para amarrar a trama, solo local, água e fibra vegetal, como capim ou palha. O

solo local e água são amassados com os pés e, depois de homogeneizados, são misturados à fibra e a massa é usada para preencher a trama.

PRETÓRIO — Designação atribuída ao alpendre.

RESPALDO — Última fiada de alvenaria, no encontro com a laje de cobertura.

TABATINGA — Vocábulo de origem tupi. Significa argila mole, terra argilosa, branca

ou esbranquiçada.

TACANHAS — Carlos Lemos define como “qualquer puxado feito ao lado da

construção principal” (LEMOS 1976).

TACANIÇA — Remate de topo de um telhado de duas águas, formando

normalmente um triângulo. Funciona como uma pequena água de um telhado.

TAIPA DE PILÃO — Esta técnica consiste em prensar a terra dentro de uma

armação de tábuas denominada de taipais, presas a esteios verticais e

horizontais, que acompanha o crescimento da parede. A terra húmida, disposta em camadas de aproximadamente 0.15m de altura, é socada e prensada com pesados apiloadores. Essas camadas são reduzidas a metade da altura pelo

processo de piloamento. Esta técnica é usada para formar as paredes estruturais, externas e internas, sobrecarregadas com pavimento superior ou com madeiramento do telhado.

TALUDE — Inclinação de um terreno em consequência de uma escavação. Volume

inclinado de terra que altura como muro de arrimo, impedindo o desmoronamento do solo.

TENSOR — Equivalente a tirantes. Vigas horizontais destinada a responder a

tensões de tracção.

TERÇA — Viga de madeira que sustenta os caibros do telhado. Peça paralela à

cumeeira e ao frechal.

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Page 27: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

INTRODUÇÃO

OBJECTIVOS DO TRABALHO

OBJECTO DE ESTUDO

METODOLOGIA DE TRABALHO

ESTADO DA ARTE

Brasil

Portugal

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Page 29: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

01 | INTRODUÇÃO

A presente dissertação, realizada no âmbito do Mestrado Integrado em Arquitectura do Instituto Superior Técnico, pretende fazer uma análise comparativa da arquitectura rural de São Paulo dos séculos XVII e XVIII com aspectos da

arquitectura popular portuguesa, aproveitando a estadia da autora em São Paulo sob o programa de Intercâmbio.

1.1. OBJECTIVOS DO TRABALHO

A presente investigação tem por principal objectivo o estudo da origem da tipologia habitacional rural dos séculos XVII e XVIII nos arredores de São Paulo rural. Numa análise comparativa com tipologias semelhantes em Portugal, com

especial atenção na arquitectura rural, pretende-se identificar e compreender os factores que influenciaram a arquitectura colonial brasileira.

Em meados do século XVII, a sociedade bandeirista estabelece-se no planalto

de Piratininga, actual São Paulo, com uma organização social característica e consequentemente, também a arquitectura encontra uma forma capaz de responder às exigências da época. Os moradores da vila era homens de vida

sedentária, presos uns aos seus ofícios e outros às tarefas de cuidar as suas lavouras. Encontrando-se em plena fase de conquista de território e defesa, os colonos do primeiro século não sonhavam com luxos, o que acabou por definir os

hábitos sociais, familiares e a forma de habitar o espaço. A singularidade do património em estudo reside na sua resposta particular ao

meio em que se insere, à adaptação aos recursos disponíveis à época e à forte

influência provocada pela esfera social, conduzindo assim, à formação de um modelo canónico que subsistiu durante quase dois séculos.

Relacionando uma mesma tipologia implantada em diferentes locais, procura-

se fazer uma interpretação acerca da origem do partido arquitectónico, quem teria sido o seu introdutor em terras paulistas? Quais os hábitos de morar, os espaços de trabalho, evoluções e influências sofridas?

Com a intenção de compreender a verdadeira escala da influência europeia e esclarecer em que contexto São Paulo dos séculos XVII e XVIII se aproximou da arquitectura rural de Portugal, pretende-se identificar e caracterizar os aspectos

relativos à implantação de cada edifício, ao tipo de volumetria que adopta, à distribuição funcional da casa-mãe e suas dependências, às suas fachadas que constituem verdadeiros elementos caracterizadores e às características

construtivas e materiais utilizados. Procura-se também entender a história do edifício, uma vez que a forma como os seus proprietários o habitavam contribui para o conhecimento das necessidades funcionais que o programa procurava

satisfazer.

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Page 30: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

01 | INTRODUÇÃO

1.2. OBJECTO DE ESTUDO

O trabalho apresentado tem como objecto de estudo as tipologias representativas do proprietário abastado de São Paulo, no decorrer dos séculos XVII e XVIII. O interesse dos bandeirantes pela ocupação de terras

conduziu ao desenvolvimento da Vila de Piratininga e, consequentemente, começaram a surgir as primeiras soluções de habitabilidade. As casas bandeiristas manifestam-se como uma das tipologias dominantes da época

colonial e, enquanto sedes de fazenda, eram implantadas no meio rural isolado a uma cota intermédia e nas proximidades de um rio. Esta implantação permitia que a casa tirasse partido de relações de maior intimidade e tivesse uma

perspectiva distante de grande amplitude. A casa tipo, construída em taipa de pilão e madeira, tinha uma planta

rectangular predominantemente subdividida em três secções longitudinais e

três secções transversais com um só piso podendo existir, em alguns casos de estudo, um piso sobradado. Organizadas segundo um eixo de simetria bem definido, expressam um estilo arquitectónico simples mas muito rigoroso quer

construtivamente quer funcionalmente e plasticamente. A fachada principal surge como elemento caracterizador da casa bandeirista apresentando um alpendre ladeado pelo quarto de hóspedes, aberto para o alpendre — pretório

— mas destituído de acesso para o interior da edificação. No lado oposto incorpora a capela, que aparece como elemento integrante em todos os exemplares. O alpendre, característica dominante deste tipo, está separado do

terreno fronteiro por um muro baixo com uma ou duas aberturas de acesso. No muro assentam as colunas que sustentam o frechal do telhado.

No que concerne a organização espacial da casa, ultrapassado o alpendre

dispõe-se uma sala central de grandes dimensões ladeada por vários compartimentos. Este espaço fixa-se como a principal área da casa sendo simultaneamente qualificada como zona de estar e de distribuição e comunica

com todos os compartimentos da habitação. A simplicidade de vida que caracterizava os primeiros colonos reflectiu-se

arquitectonicamente na total sobriedade da casa bandeirista. Em geral, o

pavimento do piso do alpendre, da sala central e das zonas de serviço teriam pavimento em terra batida; o quarto de hóspedes, a capela e os restantes espaços seriam revestidos com madeira. As peças de madeira usadas para

frechais, cumeeiras, etc., não recebiam cuidados especiais. Apenas a madeira de canela-preta dos caibros, cachorros, batentes, balaústres e folhas das portas e janelas tinham um acabamento mais aprimorado. O remate do telhado

era feito por beirais ricamente trabalhados apenas na fachada frontal, não recebendo igual tratamento nas outras faces da casa. Nas janelas eram dispostos gradeamentos verticais de secção quadrada e, nas ombreiras das

janelas e portas, aparecem chanfros específicos para cada casa.

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Page 31: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

01 | INTRODUÇÃO

1.3. METODOLOGIA DE TRABALHO

Adoptando como objecto de estudo as casas bandeiristas e objectivando identificar e esclarecer a influência europeia e em que contexto a arquitectura paulista dos séculos XVII e XVIII se aproximou da arquitectura portuguesa, este

estudo apresenta duas fases de investigação: pesquisa realizada em São Paulo (Brasil) com o estudo e levantamento de exemplares da tipologia em causa e outra fase efectuada em Portugal, na procura de modelos tipologicamente afins, que

possam estar na origem da tipologia habitacional paulista e de potenciais padrões. A investigação compreendeu, em cada fase, três etapas distintas: pesquisa

teórica, trabalho de campo e análise da informação recolhida.

Numa primeira etapa, procedeu-se a uma revisão bibliográfica procurando o enquadramento do tema da casa bandeirista na história colonial, que apoia a abordagem ao trabalho de campo e à selecção de casos de estudo.

No que respeita ao trabalho de campo, iniciou-se com a recolha de informação sobre os exemplares identificados na consulta bibliográfica, no Arquivo Municipal de São Paulo e no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Foram

consultados processos de obra e levantamento fotográfico. Neste âmbito, foram abordados 26 casos de estudo dos quais foram excluídos todos aqueles que não cumpriam os critérios de integridade do edifício, ou seja, que estivessem

adulterados ao nível de organização espacial e material tornando pouco perceptível o estado original, e ainda aqueles cujos vestígios arquitectónicos fossem ilegíveis. Avaliaram-se também os critérios de utilização do espaço através

de observações “in loco”, com o objectivo de definir mapas comportamentais. Numa última etapa, procedeu-se à análise da informação recolhida em que se

fez o levantamento de cada caso de estudo com a elaboração de novas peças

desenhadas com escala e grafia uniforme proporcionando uma clareza gráfica que, juntamente com o levantamento fotográfico, permitiu uma comparação entre os vários casos de estudo. As visitas de campo foram realizadas sempre que

autorizadas e a sua impossibilidade resultou na exclusão de mais casos em análise.

A segunda fase da investigação foi realizada em Portugal e seguiu também as

três etapas descritas anteriormente. Iniciando-se com a procura de tipologias rurais que se constituam como solução familiar da tipologia em estudo, seguindo-se de um levantamento de casos de estudo seleccionados que permitem conhecer

as suas origens e evolução. Com a análise e confronto de um número significativo de casos de estudo,

realizou-se a terceira etapa da investigação que ambiciona encontrar padrões e

tirar conclusões respeitantes à influência da arquitectura portuguesa na casa colonial bandeirista.

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01 | INTRODUÇÃO

1.4. ESTADO DA ARTE

01 | BRASIL No estado da arte do presente trabalho, a explicação científica fez-se

através de três capítulos: considerações sobre a colonização e contextualização histórica da cidade de São Paulo; importância, conceitos e características da tipologia da casa rural dos séculos XVII e XVIII; possíveis

origens e influências da casa bandeirista. A bibliografia consultada incidiu sobre algumas obras de referência do tema;

artigos publicados, em sua maioria, pela revista do Instituto do Património

Histórico e Artístico Nacional e dissertações de mestrado e doutoramento. Esta pesquisa centrou-se em diversas obras que incidiram sobre a caracterização da casa bandeirista e na compreensão do seu contributo para a história da

colonização da cidade de São Paulo. Relativamente à investigação realizada e publicada sobre a casa bandeirista

conclui-se que existe informação significativa acerca da interpretação

programática, partido arquitectónico e técnicas construtivas existindo no entanto, uma lacuna no estudo das origens e influências, que carece de investigação.

Para contextualizar o tema, iniciou-se o estudo de São Paulo colonial dos séculos XVI ao XVIII, procurando esclarecer e compreender a distribuição, transformação e evolução da tipologia habitacional do proprietário abastado de

São Paulo e a forma de como se implantou e desenvolveu no tecido urbano. A leitura de São Paulo: vila cidade metrópole (2004) de Nestor Filho, foi fundamental para a compreensão do desenvolvimento geral da cidade dos

séculos XVI a XXI. A obra demonstra a história da cidade através da sua arquitectura e formas de morar, desde a fundação da vila de Piratininga em 1554 pelos padres jesuítas, até aos dias de hoje, enfatizando a importância da

cidade bandeirista com as suas fronteiras abertas para a entrada e saída daqueles que o desejassem. O artigo “Fundação de São Paulo pelos Jesuítas” de Hélio Viotti, de 1954, publicado pela Revista de Historia da Universidade de

São Paulo, explora a importância dos padres jesuítas portugueses na fundação e desenvolvimento de São Paulo, enfatizando o papel desempenhado pelos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchietta enquanto mestres do Colégio

de Piratininga, em torno do qual se formou uma pequena povoação de índios convertidos, jesuítas e colonizadores, tornando-se assim o berço e marco da cidade.

Também os artigos de Raul Andrade Silva intitulado “São Paulo nos Tempos Coloniais”, de 1955, e “Considerações sobre o Sentido da Colonização” de Fernando Novais, publicado em 1969, permitiram formular algumas conclusões

acerca de São Paulo dos séculos XVI e XVII. Ambos procuram a compreensão dos mecanismos estruturais da história da colonização através do estudo do

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Page 33: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

01 | INTRODUÇÃO

povoamento, economia e sociedade. São Paulo de Piratininga é, frequentemente, retratada como região apática economicamente nos três primeiros séculos de desenvolvimento, não seguindo os moldes económicos da restante colónia. A

autora Ilana Blaj afirma na sua tese de doutoramento — A trama das tensões: o processo de mercantilização de São Paulo colonial: 1681-1721 (1955) — que a espinha dorsal da colonização estaria centrada na propriedade da terra,

escravidão, honrarias e prestígio, tidos pela autora como “fundamentos básicos da sociedade colonial brasileira, com algumas peculiaridades em todas as regiões, quer exportadoras, quer voltadas ao abastecimento interno, como foi o caso de

São Paulo” (BLAJ 1995, p. 299). Na obra procura resgatar o dinamismo interno da vila/cidade de São Paulo no final do século XVII e início do século XVIII, procurando desmistificar mitos acerca de São Paulo colonial, defendendo que

“não se trata de um núcleo isolado, autárquico e, muito menos, de um paulista independente, símbolo de uma <raça de gigantes>. Não pode igualmente ser caracterizada como uma região extremamente pobre voltada apenas para a

subsistência e que teria passado ao largo dos estímulos coloniais” (BLAJ 1995, p. 343) e garantindo ainda, a consolidação uma pequena elite que passou a deter grandes extensões de terra.

Por ser considerada a região mais pobre da colónia portuguesa, aí teve início a atividade dos bandeirantes, que se dispersavam pelo interior do país perseguindo índios e em busca de ouro. Para a compreensão desta temática foi fundamental a

leitura da obra Vida e Obra do Bandeirante, de 1978, em que o autor Alcântara Machado procede a uma intensa investigação no Arquivo Público Paulista. Segundo o autor, a propriedade da terra confere estatuto e distinção ao

proprietário e, através da análise da obra, constatamos que até meados de 1590, muitos dos inventários não registavam mais que braças de terras e escravos. A partir de 1642, observa-se uma evolução, sendo comumente citadas casas nas

roças, animais e alguns bens. No que concerne a questão da habitação, os paulistas começam a erigir pequenas choupanas e, à medida que vão produzindo as suas matérias primas, as casas vão recebendo telhas, tijolos, portas e janelas.

Marcada pela ação dos padres jesuítas que pretendiam cativar os indígenas pela fé e pela acção intelectual; pelos representantes do governo português que promoviam o domínio sobre a região do planalto e sobre os caminhos que

levavam ao interior, e pelos colonos, bandeirantes, que pretendiam a conquista de riquezas e a escravidão dos indígenas, estabelece-se a sociedade bandeirista que foi constituída no planalto em finais do século XVI e subsistiu até meados do

século XVIII. Aquando do processo de expansão e colonização do território, os colonos portugueses depararam-se com condições adversas às esperadas e, encontrando dificuldades em se estabelecer, procuraram soluções de

adaptabilidade. Assim, em meados do século XVII, a sociedade bandeirista encontra uma solução arquitectónica característica capaz de responder às suas necessidades.

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Page 34: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

01 | INTRODUÇÃO

O tema da habitação colonial do século XVII e XVIII é bastante documentado e publicado, estando descritos um grande número de exemplares de casas bandeiristas.

O arquitecto Luis Saia é um dos autores mais significativos no que se refere à casa colonial paulista, desenvolvendo uma intensa investigação em torno do tema. Em a Morada Paulista (1945), Saia defende a tese de mestiçagem como

principal força do período de 1554 a 1611, que originou o mameluco sem o qual “não teria havido nem o bandeirismo, nem a mestiçagem arquitetônica representada por êste tipo de habitação” (SAIA 1945, p. 139). No capítulo

"Notas sobre a arquitetura rural paulista do segundo século", o autor apresenta uma solução arquitectónica característica a partir da análise de doze casas depois “tombadas” pelo SPHAN (atual IPHAN). Apresenta um modelo empírico

da habitação rural dos proprietários abastados da época em estudo, analisando a casa não apenas em planta mas sim em três dimensões.

Também Carlos Lemos se debruça sobre este tema. No livro Casa Paulista

(1999) a arquitectura é a protagonista, no entanto, o autor dedica grande parte da obra aos seus moradores, indagando o seu modo de habitar e percorrer o espaço. Investigando em iconografia antiga, inventários, testamentos e textos

de viajantes procede à análise da casa bandeirista segundo o que considera ser a sua origem, evolução, programa, uso e sistema construtivo. Inicia o seu estudo nas primeiras construções que considera ser produto da miscigenação

da herança ibérica com a experiência indígena, até chegar às novas ideologias arquitectónicas importadas pelo café e pelo ecletismo concluindo que, em meados do século XIX, a arquitectura bandeirista pode ainda ser visível apesar

das adaptações arquitectónicas advindas no decorrer das várias épocas históricas de São Paulo.

Através da análise de diversos autores sobre a casa bandeirista,

confirmamos que a arquitetura colonial paulista dos séculos XVII e XVIII apresenta como constantes: a localização em meio rural isolado e num ponto situado a meia altura da paisagem, a planta rígida em rectângulo, a construção

de grossas paredes de taipa, o telhado de quatro águas, a composição da fachada principal, etc., manifestando uma solidez no programa e na divisão social que a casa impunha.

Neste campo, as obras de Julio Katinsky Casas bandeiristas — nascimento e reconhecimento da arte em São Paulo (1976) e de Luis Saia A casa bandeirista — uma interpretação (1955) são unânimes em considerar que a

evolução das residências acompanhou o ciclo das bandeiras, distinguindo os exemplares “puros” que representam a fase heróica do bandeirismo, dos exemplares “degenerados” que eram sujeitos a incidências estranhas à sua

formação. Concluindo, ainda que o tipo de planta e técnica usadas se apresentavam como soluções de habitabilidade facilmente identificadas em outras partes da colónia e defendem que o partido arquitectónico seria já

conhecido e importado.

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01 | INTRODUÇÃO

Paulo Eduardo Zenettini em Maloqueiros e seus palácios de barro: o cotidiano doméstico na Casa Bandeirista (2006) e Luis Saia na obra citada anteriormente, afirmam que os princípios que norteariam a sociedade colonial transpareceram na

morada paulista. Assente na temática da segregação da mulher, a casa colonial dos séculos XVII e XVIII reflectiu este princípio através da criação de uma faixa intermédia entre a vida pública e o mundo privado, existindo espaços que se

supõe serem destinados a hóspedes no interior da habitação sem comunicação com as dependências familiares. Constatam que mesmo em exemplos mais tardios, o desenho da faixa intermédia permanece inalterado e poderia ser

destinada ao contacto do proprietário com os seus empregados separado das atividades familiares, chamando a atenção da personalidade rígida do bandeirante. A importância da religião na sociedade bandeirista foi, também,

acentuada por estes autores ao enfatizarem a presença em todos as habitações de um oratório ou capela.

A técnica construtiva empregue de taipa de pilão e madeira é constante em

todos os casos de estudo e descrita por diversos autores, mas é na obra Construções de taipa: alguns aspectos do seu emprego e da sua técnica (1946), de Carlos Schimdt, que se obtém uma melhor compreensão do modo e da razão

do seu uso. De facto, desde as primeiras construções até às casas paulistas do final do século XIX, foram usadas duas técnicas: a taipa de pilão, de origem árabe, e a de pau-a-pique. O uso da taipa é mesmo o suporte da tradição construtiva

paulista, como é referido pelo autor Carlos Lemos que revela como esta se articula com outras técnicas, como a madeira, até o ecletismo a substituir pelo tijolo (LEMOS 1999).

A hipótese da morada paulista ser exclusivamente residencial é refutada por diversos autores da bibliografia analisada. A autora Aracy Amaral, em A hispanidade em São Paulo (1981), defende a tese de edificação multifuncional

questionando se os vários compartimentos dispostos lateralmente seriam dormitórios ou se alguns poderiam ser depósitos e oficinas; e se o grande espaço central, elemento tão caracterizador da casa bandeirista, se destinaria apenas à

família ou também seria usado como local de trabalho. Também o autor Paulo Eduardo Zenetti, descreve as casas bandeiristas como “uma complexa peça teatral sendo representada na fronteira do Império Lusitano” (ZANETTINI 2006, p.

11), afirmando que não seria apenas “uma unidade rural unifamiliar” mas que “se aproxima mais de uma edificação multicomponencial e multifuncional, que a um só tempo moldou e foi moldada pela sociedade escravista mercantil” (ZANETTINI

2006, p. 66). Os artigos “A Companhia de Jesus e a Questão da Escravidão de Índios e

Negros” (2012), de José Alves de Souza Junior, e “A Arquitetura dos Jesuítas no

Brasil” (1941), de Lucio Costa, enfatizam a importância dos padres jesuítas portugueses no desenvolvimento da colónia, quer no ensino quer na construção. Defendem que é inquestionável a legitimidade da sua contribuição para a

consolidação da sociedade bandeirista, tendo contribuído para a transmissão da

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01 | INTRODUÇÃO

arquitetura europeia e das doutrinas da arquitectura colonial. A vinculação do tratadismo italiano à arquitectura paulista dos séculos XVII e XVIII é defendida por Luis Saia em Morada Paulista (1945), apontando as semelhanças entre a

planta-tipo bandeirista e a obra palladiana. Na obra A Casa Bandeirista - uma interpretação (1955), Luis Saia defende

que os século XVII e XVIII são um “período de experimentação social e

econômica” e “de adaptação de conceitos medievais às condições específicas desta parte da Colônia Portuguesa. Enquanto se ajustavam as formas europeias à conformidade do desenho aconselhado pelo novo conteúdo da

vida social, também se reajustam a organização do espaço habitável e utilizável, a disposição dos estabelecimentos (aldeias, vilas e fazendas)” (SAIA 1955, p.7). Segundo o autor, o tipo de planta e a técnica construtiva em taipa

também apareceram em outras áreas da colonização ibérica mas apresentando um certo regionalismo.

O tipo de casa em análise tem sido alvo de profundos estudos quanto às

soluções construtivas utilizadas, à formulação de teses acerca das necessidades programáticas e ao modo de habitar o espaço. No entanto, quanto à investigação acerca da sua natureza, dos seus autores, origens e

influências arquitectónicas a investigação tem sido superficial. Não existem estudos que estabeleçam uma ligação fundamentada da arquitectura colonial de São Paulo, Brasil, com a arquitetura europeia, e principalmente com a

arquitetura rural portuguesa.

02 | Portugal A segunda fase da investigação em curso decorre em Portugal. Procurando

estabelecer estudos comparativos entre as casas bandeiristas e casas rurais portuguesas tipologicamente afins, iniciou-se a leitura de obras que

descrevessem a arquitectura popular. Contrariamente à primeira fase, em que se questionou sobre um objecto-tipo previamente definido, nesta fase a pesquisa caminhou do geral para o particular, estando também definida em três

capítulos: estudos etnográficos; conceito, origens e características das tipologias próprias da arquitectura popular portuguesa; considerações e importância da arquitectura de terra enquanto método construtivo adoptado em

diferentes zonas do país. A bibliografia consultada incidiu sobre alguns autores de referência como os

etnógrafos João Leal e Ernesto Veiga de Oliveira, sobre obras que se

debruçam sobre a arquitectura popular e alguns artigos sobre arquitectura em terra.

A pesquisa teve início com o desenvolvimento histórico da etnografia

portuguesa. A leitura de Etnografias Portuguesas (2000), de João Leal, explora a cultura popular de matriz rural e a sua habitação enquadrando-a como “um elemento da economia agrária: isto é, como um instrumento de reprodução da

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01 | INTRODUÇÃO

força de trabalho” (LEAL 2000, p.150). Segundo o etnógrafo a “diferença entre casa sobradada e casa térrea - a casa nortenha a primeira, a segunda a casa do sul - é também uma diferenciação entre duas formas de relacionamento com a

terra e com os seus produtos, intimamente ligada à estrutura da propriedade e a modos de vida rural bem diferenciados” (LEAL 2000, p.210).

No que concerne às características da arquitectura popular portuguesa, o livro

Arquitectura Popular em Portugal (1.ª Edição, 1961) resultante do Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa, coordenado pelo Sindicato Nacional dos Arquitectos, é a investigação mais completa sobre o tema alguma vez realizada.

Procurando registar uma arquitetura em desaparecimento, esta obra constituí-se como uma referência para o ensino da arquitectura em Portugal.

O Inquérito procurou reunir diferentes equipas de arquitetos, destacando-se os

arquitectos Fernando Távora, Keil do Amaral e Nuno Teotónio Pereira, com o objectivo de registar a arquitectura rural portuguesa dividindo o país em seis zonas do país: zona 1 - Minho, Douro Litoral e a Beira Litoral; zona 2 - Trás-os-Montes e

o Alto Douro; zona 3 - Beiras; a zona 4 - Estremadura, Ribatejo e Beira Litoral; zona 5 - Alentejo e a zona 6 - Algarve e o Alentejo Litoral. A análise da informação recolhida era feita de acordo com os materiais de construção, o partido

arquitectónico adoptado e a influência das condições económicas e sociais que conduziram à formação dos aglomerados e da sua arquitectura que surgem como reflexo das condições ambientais. A morfologia, as funções, os materiais e a

estética da arquitectura popular retratadas revelam o fascínio dos arquitectos pela ruralidade que vão encontrando, resultando numa investigação com centenas de fotografias, de desenhos e de levantamentos.

No artigo “A arquitectura rural na cidade do Porto na primeira metade do século XX: Construção de quintas em contexto de expansão urbana”, Nuno Ferreira define arquitectura popular como “aquela que se insere sobretudo em zonas rurais

e está intimamente ligada aos que nela habitam, reflectindo o seu estatuto social e os hábitos de vida, as tradições, bem como a geografia e o clima de uma região. Dentro da arquitectura popular, as quintas, enquanto propriedades rurais, de

recreio ou não, com as suas dependências agrícolas, são as que melhor reflectem estes aspectos” (FERREIRA 2013, p. 2).

O etnógrafo Ernesto Veiga de Oliveira dedica uma parte do seu trabalho ao

estudo da cultura arquitectónica portuguesa. A sua investigação antropológica desenvolveu-se sobretudo segundo três linhas: a análise de um conjunto de tipologias habitacionais urbanas e rurais situadas nos arredores do Porto; o estudo

de formas de arquitectura popular temporária ou transitória como abrigos pastoris e palheiros; a arquitectura de produção, sistemas tradicionais de moagem. No livro Arquitectura Tradicional Portuguesa (1992), que resultou numa recolha dos seus

principais trabalhos dispersos, a arquitectura regional é protagonista e, identificando as diferentes variantes arquitectónicas características de cada zona do país, o autor procede ao levantamento do que considera serem as principais

tipologias habitacionais: “casas térreas e casas de andar ou casas-torres; casas-

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01 | INTRODUÇÃO

bloco e casas de pátio, aberto ou fechado; casas de pedra, granito, xisto ou calcário; (…) e casas de material leve, de taipa, adobo ou tijolo e de madeira” (OLIVERIA 1992; p.17-18).

Portugal parece carecer de uma unidade em matéria de arquitectura, não se podendo afirmar a subsistência de uma arquitectura portuguesa mas antes, a existência de uma cultura característica ou típica de cada região. Segundo

Mário Moutinho podemos identificar quatro regiões arquitectónicas: região do Norte com a Casa Minhota e a Casa Serrana; região do Centro Litoral com a Casa de Madeira, Cada Alpendrada, Casa Saloia e Casa Ribatejana; região do

Alentejo com o Monte Alentejano e a Casa de Povoado; e finalmente, a região do Algarve com a Casa de Pescadores e a Casa Rural (MOUTINHO 1995).

Ainda sobre a temática da arquitectura popular, é importante citar o

Inquérito à Habitação Rural realizado por investigadores do Instituto Superior de Agronomia, entre os quais Lima Basto, Henrique de Barros ou Castro Caldas. A obra que pretendia concretizar um levantamento das condições de

habitação dos camponeses para proceder a melhorias que contribuíssem para o desenvolvimento da agricultura portuguesa tornou-se, na realidade, um minucioso repertório da habitação popular baseado em vários casos de estudo.

Os dois inquéritos apresentados anteriormente - Inquérito à Arquitectura Popular e Inquérito à Habitação Rural -, e as investigações de Ernesto Veiga de Oliveira tiveram o seu início por volta de 1960, num Portugal rural, e

apresentam a arquitectura popular com valor patrimonial próprio desvalorizado até então. Apesar de apresentarem claras diferenças de ponto de vista convergiram num mesmo objectivo e defenderam o carácter próprio da

arquitectura popular, permitindo que hoje fosse vista como uma expressão cultural própria.

Como afirma Vitor Ribeiro “só preservamos ou conservamos aquilo a que

damos valor, a que reconhecemos singularidade (…)” (RIBEIRO 2008, p. 14). É através das investigações que resultaram em obras como A Arquitectura Popular dos Açores (2000); A Arquitectura Popular da Madeira (2002) de Victor

Mestre; entre outros, que podemos hoje reconhecer a singularidade da arquitectura rural portuguesa e valorizá-la pelas suas peculiaridades desconhecidas até então.

O artigo “Arquitectos, Engenheiros, Antropólogos: Estudos sobre Arquitectura Popular no século XX Português” de João Leal publicado em 2008 após sua apresentação na Conferência Arquitecto Marques da Silva; confirma

que a arquitectura popular manifesta padrões gerais característicos de cada zona mas afirma que todo o país a casa popular apresenta, como regra, uma planta quadrangular e com linhas claras e muito simples.

O abandono das formas tradicionais da arquitectura, a multiplicação de modelos e a generalização de soluções construtivas conduziu à perda do simbolismo do termo popular. A reflexão recente sobre esta temática

arquitectónica conduziu a um novo estado de espírito acerca do popular na

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01 | INTRODUÇÃO

segunda geração de estudos promovido por arquitectos. A obra de João Vieira Caldas, Casa Rural dos Arredores de Lisboa no século

XVIII (1999), é um bom exemplo deste novo estado de espírito. Procurando a

análise da casa que constitui o centro de uma unidade de lavoura, fez a opção de estudar um género entre a casa nobre e a casa saloia onde as fronteiras entre rural e erudito são de difícil distinção. Procurando distinguir os conceitos de

popular, erudito e vernacular; o autor regista um tipo que é alvo de estudo mas que não pode ser alargado a todas as manifestações de arquitectura popular. Em toda a obra mostra-se mais sensível à história e o diálogo entre erudito e popular

tem como base datas contrapondo-se à visão mais estática dos arquitectos modernos que participaram no Inquérito. Na tese de doutoramento — A Arquitectura Rural do Antigo Regime no Algarve (2007) — o mesmo autor analisa

a casa rural do lavrador abastado através do trabalho das fronteiras entre o popular e o erudito e com a mesma perspectiva histórica.

Num terceiro capítulo, analisa-se o uso da taipa como método construtivo em

Portugal. Os artigos “Taipa e Adobe na etnografia portuguesa” do antropólogo Pedro Prista; o “Adobe Moldado” da arquitecta Maria Fernandes e “Taipa na arquitectura tradicional: técnica construtiva” do arquitecto Miguel Rocha publicados

em 2005 no livro Arquitectura de Terra em Portugal; enfatizam o constante uso da taipa nas habitações portuguesas.

Pedro Prista salienta a falta de interesse etnográfica que esta temática sofreu

nos finais do século XX. Aquela que foi a técnica mais commumente usada e divulgada no país e nas suas colónias era tida pelos investigadores como método pobre e destituído de valor artístico e, por isso, não constituía motivo de interesse

para os etnógrafos. A autora Maria Fernandes no artigo intitulado “A taipa no mundo” publicado em

2013 expõe que o uso de taipa militar na Península Ibérica data do século X,

aquando do período muçulmano, exemplificando-o com as fortificações de Alcácer do Sal, Moura ou Silves no sul de Portugal. No seu texto acentua o papel de Portugal na divulgação desta técnica pelo mundo, enfatizando a sua presença no

Brasil sustenta mesmo que “a existência e disseminação desta técnica monolítica por todo Brasil, incluindo o actual Uruguai vem sem dúvida da influência colonial Portuguesa durante 300 anos, neste vasto território” (FERNANDES 2013, p. 19).

Através da análise das obras de alguns autores é licito pensar que existe uma aproximação entre a casa popular do Minho, a casa alpendrada da Estremadura e a casa bandeirista de São Paulo dos séculos XVII e XVIII, assim como é lícita a

afirmação de Maria Fernandes de que os portugueses poderiam ter sido os principais divulgadores da técnica da taipa de pilão na colónia portuguesa.

Para cumprir o objectivo da presente dissertação é necessário descortinar em

que condições foram edificadas as nossas casas antigas, como os materiais construtivos eram empregues, qual poderia ser o partido arquitectónico e como os seus moradores habitavam e entendiam o espaço.

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A CASA BANDEIRISTA

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DO OBJECTO DE

ESTUDO EM SÃO PAULO

A Fundação de São Paulo pelos Jesuítas no século XVI

A Sociedade Bandeirista

A CASA BANDEIRISTA EM SÃO PAULO

O “Programa”

A “Técnica Construtiva”

O “Partido Arquitectónico”

A “Comodulação e a Modenatura”

CASOS DE ESTUDO

Casa do Sertanista

Casa do Bandeirante

Sítio do Tatuapé

02

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02 | A CASA BANDEIRISTA

2.1. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DO OBJECTO DE ESTUDO EM SÃO PAULO

2.1.1. A FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO PELOS JESUÍTAS NO SÉCULO XVI

A Companhia de Jesus é uma congregação religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris. Incentivados pelo Rei de Portugal, D. João III, os

jesuítas estabelecem-se em Portugal relativamente cedo. Os primeiros missionários jesuítas chegaram ao Brasil através da expedição do primeiro Governador-Geral Tomé de Souza (1549 - 1553), com a função de realizar um processo de catequese e de ensino (BARRA

2008, RINALDI 2013). Os padres jesuítas representavam “a tentativa de se impor à colônia uma nova forma de

vida, isolando o indígena de seu meio social de origem e transportando-o para aldeias,

colégios e missões, dentro dos quais seria possível moldá-lo, catequizando-o e elegendo-o da barbaria para a civilização” (TEIXEIRA 2008, p. 48). A actuação dos jesuítas foi fundamental na colonização do Brasil no decorrer dos séculos XVI e XVII e, como afirmado

por diversos autores, são considerados parte fulcral na fundação do Estado, quer através da educação com a fundação de colégios e missões jesuítas, quer pela fixação das fronteiras nacionais, onde viviam em constante conflito com índios, colonos e bandeirantes.

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F i g . 2 . 0 1 F u n d a ç ã o d a C i d a d e d e S ã o P a u l o , A n t ô n i o P a r r e i r a s | 1 9 0 9 F o n t e : A c e r v o d a P i n a c o t e c a M u n i c i p a l d e S ã o P a u l o , B r a s i l

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02 | A CASA BANDEIRISTA

No reconhecimento do território brasileiro, definiram locais estratégicos para implantarem os colégios e igrejas e, a partir daí, organizavam as missões nas aldeias indígenas. Como Rinan

Rinaldi afirma, o trabalho missionário dos jesuítas assentava segundo dois princípios: “um baseado na convivência, onde os índios eram reunidos e organizados em aldeamentos, e o outro,

baseado na visita, era praticado pelos chamados missionários ambulantes” (RINALDI 2013, p. 34).

Através da formação de aldeamentos e da catequese,

procuravam mudar os hábitos de viver dos indígenas visando romper com os seus costumes e torná-los fiéis à Igreja colonial. Deste modo, os índios catequizados constituíam-se como

verdadeiras armas de defesa da colónia contra as investidas dos possíveis adversários. Dissipando os obstáculos entre colonos e índios, os jesuítas conseguiram desenvolver um projecto colonial

que facilitou a ocupação e colonização do território pela Coroa Portuguesa (LEITE 1937, BARRA 2008).

A acção dos jesuítas em São Paulo constituiu-se como uma

das mais relevantes para a colonização e ocupação do território. Serafim Leite sustenta mesmo que a fundação de São Paulo de Piratininga era uma instituição jesuítica.

Em 1550, o padre Leonardo Nunes visita a aldeia de São Vicente a mando do padre Manuel da Nóbrega. Como primeira acção sobe ao planalto onde viviam alguns portugueses entre os

índios e concentrou-os em “tôrno de uma ermida” (VIOTTI 1954, p. 119) que mandou construir em Santo André, visitando posteriormente outras aldeias de índios com o objectivo de

divulgar os seus planos de catequese. Juntamente com outros líderes formaram a primeira comunidade jesuíta em São Vicente, convocando a vinda de novos jesuítas de Coimbra. O padre

Manuel da Nóbrega aportou em São Vicente em fevereiro de 1553 atraído pela obra orgânica e tenaz de Leonardo Nunes, encontrando “vastos edifícios, onde mais de oitenta pessoas, entre

jesuítas, candidatos à Companhia, alunos indígenas e servidores, desenvolviam as suas atividades para o aperfeiçoamento próprio e o bem da Capitania” (VIOTTI 1954 p. 121).

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F i g . 2 . 0 2 M a p a d e E x p a n s ã o d o s J e s u í t a s n o B r a s i l n o s é c u l o X V I , o r g a n i z a d o p o r S e r a f i m L e i t e . F o n t e : B A R R A 2 0 0 8 ; p . 4 1 .

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02 | A CASA BANDEIRISTA

Com a decisão de catequizar outros índios do planalto, visita a aldeia nova e, após a 1.ª missa de São Paulo de Pirantininga, em 25 de Janeiro de 1554, e auxiliado pelo

padre Afonso Brás, edifica uma pequena casa de jesuítas, com cerca de 14 por 19 passos (aproximadamente 90 m2) que evoluiu mais tarde para colégio com enfermaria,

cozinha e refeitório. Implantado próximo ao rio Tiête, no alto do Inhapuambuçu, colina estratégica na confluência entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, o lugar foi escolhido

pelo clima agradável, pela vegetação do campo, pelas águas limpas e abundantes e, principalmente, pela presença de uma numerosa população indígena que já

convivia com portugueses, pronta para ser catequizada, baptizada e tornada fiel à igreja católica. Em 1556, Manoel da Nóbrega recruta José de Anchieta na capitania de São

Vicente que se torna o primeiro mestre do Colégio de Piratininga. Como primeira ação, transfere para o planalto padres que estudassem gramática e servissem de

intérpretes para a conversão dos índios. O povoamento da região do “pátio do Colégio” teve início em 1560, após a visita do Governador-Geral Mem Sá à Capitania de São

Vicente, ordenando a transferência da população da Vila de Santo André da Borda do Campo, criada por Tomé de Souza em 1533, para os arredores do Colégio de São Paulo

de Piratininga passando a denominar-se Vila de São Paulo. A partir de então inicia-se um ciclo de construções pelos moradores na vila sob a orientação do padre Afonso Brás.

Quando o rei D. José I nomeia Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, para administrar o reino este realizou várias mudanças na Coroa que

afectaram directamente o Brasil e que causaram marcas profundas em Portugal na segunda metade do século XVIII. “As reformas pombalinas tinham por objectivo organizar a

administração, a fim de avançar nos progressos industriais da Coroa, além de adaptar a sua maior colónia, o Brasil, a todos os ditames portugueses” (OLIVEIRA et al., s.d., p. 1).

Neste sentido, a reforma educacional pombalina teve o seu maior destaque com a expulsão dos jesuítas de todo o Império Lusitano. Alegando que a congregação jesuíta não

respeitava o Tratado dos Limites (Portugal e Espanha) e contra a forma, posse e domínio com que mantinham os ind ígenas , são expu lsos em 1759 tendo s ido

posteriormente, reclamados de volta pelo povo que percebe

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F i g . 2 . 0 3 M a p a d a C a p i t a n i a d e S ã o P a u l o d e 1 7 5 0 | A u t o r i a d e F r a n c i s c o T. C o l o m b i n a . F o n t e : B i b l i o t e c a N a c i o n a l D i g i t a l D i s p o n í v e l e m : < h t t p : / / o b j d i g i t a l . b n . b r /a c e r v o _ d i g i t a l / d i v _ c a r t o g r a f i a / c a r t 1 0 3 3 4 1 5 . h t m > [ 1 5 / 0 4 / 2 0 1 6 ] .

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02 | A CASA BANDEIRISTA

o quanto a educação e conversão dos índios tinham sido prejudicadas pela sua ausência (LEITE 1937, LEMOS 1999, FRADE 2007, RINALDI 2013).

O Colégio de Piratininga constituiu-se como o grande núcleo fixador e, com a

necessidade de atrair mais índios para serem usados como mão-de-obra, formou-se uma série de aldeias tais como Itu, Jundiaí, Sorocaba e Santana de Parnaíba, que se tornaram a melhor defesa de São Paulo.

A forte relação entre a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus foi indispensável não apenas na conquista do território mas, principalmente, na integração do indígena habitante do Brasil ao modo de vida europeu do colonizador.

Rinaldi (2013, p. 52) afirma: “dentre as principais funções destes índios aldeados estava o auxílio na defesa do território e servir como de mão-de-obra para os colonos, actuando na construção e reparo de obras civis, nos engenhos, e em todas as actividades básicas para a

sobrevivência do colono. Por conta da escassez de colonos na vasta colônia portuguesa, o índio se tornou indispensável ao português”.

Desde os colégios, igrejas, o contacto com o povo comum, até as cortes e a realeza, os

jesuítas estavam presentes em todo o Império Lusitano. No Brasil manifestaram-se com a mesma força, trazendo sempre consigo as marcas indiscutíveis de seus rigorosos processos de formação e preparação. A arquitectura jesuíta no período colonial é

considerada por alguns autores como a expressão mais erudita da arquitectura colonial brasileira individualizando-se e adquirindo características próprias e superando os padrões europeus (FREYRE 1937).

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F i g . 2 . 0 4 F r a g m e n t o d o M a p a d a C a p i t a n i a d e S ã o P a u l o d e 1 7 5 0 | A u t o r i a d e F r a n c i s c o T. C o l o m b i n a .

N o s m a p a s a p a r e c e m a s p r i n c i p a i s v i l a s e a l d e a m e n t o s , i n t e r l i g a d o s p e l o s c a m i n h o s u t i l i z a d o s p e l o s c o l o n o s .

F o n t e : B i b l i o t e c a N a c i o n a l D i g i t a l D i s p o n í v e l e m : < h t t p : / / o b j d i g i t a l . b n . b r / a c e r v o _ d i g i t a l / d i v _ c a r t o g r a f i a / c a r t 1 0 3 3 4 1 5 . h t m > A c e s s o e m : 1 5 / 0 4 / 2 0 1 6 .

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02 | A CASA BANDEIRISTA

2.1.2. A SOCIEDADE BANDEIRISTA Na conquista da colónia paulista distinguem-se

três grandes grupos: os padres jesuítas que queriam a conversão dos indígenas pela fé e pela

ação intelectual; os representantes do governo português que pretendiam o domínio da região do planalto e dos caminhos que levavam ao interior;

os colonos, bandeirantes, que procuravam riquezas apoiando-se na escravidão dos

indígenas. São Paulo do século XVI fica, então, marcado presença de três personalidades: Martim Afonso de Souza (Vila Viçosa; 1490/1500 - 1571)

responsável pela pr imeira expedição de colonização no Brasil em 1530 e pela formação de Piratininga; Tomé de Sousa (Rates; 1503 - 1579)

primeiro governador-geral do Brasil responsável pela coordenação da colonização, fiscalização das capitanias, apoio da cultura da cana de açúcar e

pela formação da Vila de Santo André; o Padre Manuel da Nóbrega (região do Minho; 1517 - 1570) que acompanhou Tomé de Souza e foi o

responsável pela fundação do Colégio dos Jesuítas no planalto de Piratininga. Francisco de Souza (1540 - 1611), sétimo governado-geral do

Brasil, marca o século XVII com um projeto político/económico: incentivar e organizar a população a percorrer o sertão em busca de ouro

e pedras preciosas (KATINSKY 1976, FILHO 2004, ROSA 2011).

A sociedade bandeirista relaciona-se com o

desenvo lv imen to de uma economia de abastecimento que foi constituída no planalto no século XVII, subsistiu durante o século XVIII,

sendo depois substituída por novos hábitos de morar e trabalhar trazidos pela cultura do café. Os bandeirantes vinham sobretudo em busca de

terras, de metais preciosos e do escravo indígena. Ilana Blaj retrata São Paulo colonial como uma

“sociedade isolada, praticamente autárquica,

autônoma, rebelde, altiva e que teria no bandeirante, predador de indígenas e promotor da

!21

F i g . 2 . 0 5 M a p a d e S ã o P a u l o P r é - C o l o n i a l . F o n t e : Z A N E T T I N I 2 0 0 6 ; p . 4 9 .

F i g . 2 . 0 6 M a p a d e S ã o P a u l o d o s é c u l o X V I . F o n t e : Z A N E T T I N I 2 0 0 6 ; p . 5 0 .

F i g . 2 . 0 7 M a p a d e S ã o P a u l o d o s s é c u l o s X V I I e X V I I I . F o n t e : Z A N E T T I N I 2 0 0 6 ; p . 5 7 .

Page 48: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

expansão territorial, a sua grande expressão” (BLAJ 1995, p.144). Consolidando, no fim do século XVII, um quadro social voltado para a agricultura, uma sociedade estratificada e uma produção hierarquizada,

a sociedade bandeirista vivia em chácaras, sítios e fazendas. No povoado, as residências iniciais eram de permanência transitória uma vez que a maioria de seus moradores mantinha a casa apenas para

tratar de algum negócio ou então para passar domingos e dias de procissão (SALGADO, s.d.).

Durante o processo de expansão e colonização do território, os

colonos portugueses depararam-se com condições adversas e, encontrando dificuldades em estabelecer-se procuraram soluções de adaptabilidade. Assim, “inventam uma solução: o mameluco. O mesmo

mameluco que foi guia da bandeira, o fornecedor de informações e, especialmente, o fornecedor daquela sensibilidade indispensável para intimizar o bandeirante com seu campo de batalha (…) O mesmo

mameluco que foi a mais importante e legítima invenção do fenómeno paulista” (SAIA 1955; pp. 6-7).

O mameluco que conduziu os paulistas ao sertão era um conhecedor dos caminhos e da língua facilitando assim, a entrada dos portugueses. Mais do que a simples definição de filho branco com

índio, o mameluco representa na história colonial aquele que passou para o lado dos portugueses com interesse pessoal, manipulando e sendo, até, o mais cruel para com o indígena. O colono paulista assumiu a sua posição na sociedade dependendo apenas dos recursos disponíveis na sua

esfera social e ambiental, dado que se torna evidente na autonomia social conquistada e no seu crescimento apropriando-se das terras dos índios (SAIA 1955, BRUNO 1977, AMARAL 1981, MAYUMI 2008).

Em meados do século XVII, a sociedade bandeirista estabelece-se com uma organização característica, encontrando também na arquitetura uma forma capaz de responder às suas necessidades. Os moradores da vila já eram então homens de vida sedentária, presos uns aos seus

ofícios e outros às tarefas de cuidar as suas lavouras.

!22

Fig. 2.09 O encontro dos rios Anhangabaú e Tamdanduateí. D i s p o n í v e l e m : < h t t p s : / / h i s t o r i a d e s a o p a u l o . w o r d p r e s s . c o m / f u n d a c a o - d a -c i d a d e - d e - s a o - p a u l o / > [ 0 5 . 0 1 . 2 0 1 6 ] .

Fig. 2.08 Localização da Casa em relação às vilas e vias de comunicação da época | Casa do Badeirante de Paulo Camilher Florença. F o n t e : F L O R E N Ç A ( 1 9 5 8 ) ; p . 1 8 .

Page 49: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

2.2. A CASA BANDEIRISTA EM SÃO PAULO

Casas bandeiristas são as sedes de fazenda edificadas em torno da vila de Piratininga, actual São Paulo, durante os

séculos XVII e XVIII aquando da fixação dos bandeirantes e da consolidação do espaço colonial mercantil.

Compreende uma fase de experimentação arquitectónica

da colónia portuguesa, em que o artífice procurava harmonizar as formas europeias conhecidas com os novos hábitos sociais. Procurando a implantação estratégica da

sede, o programa, os esquemas construtivos e a expressão plástica, a casa bandeirista parece receber influência Palladiana mas adequada aos recursos disponíveis na

colónia, utilizando soluções como o uso da técnica da taipa de pilão e da madeira.

A casa bandeirista é geralmente qualificada como

unidade doméstica familiar no entanto, o programa a que

!23

F i g . 2 . 1 0 C a s a s B a n d e i r i s t a s d o M u n i c í p i o d e S ã o P a u l o . F o n t e : M AY U M I 2 0 0 8 , p . 4 9 .

F i g . 2 . 1 2 P l a n t a d o P i s o T é r r e o | P l a n t a d o s o b r a d o | C o r t e A A’ d o S í t i o d o M a n d u .

R e d e s e n h o d a a u t o r a .

F i g . 2 . 11 F a c h a d a p r i n c i p a l d o S í t i o d o M a n d u [ A n t e s d o R e s t a u r o ) | “ B a n d e i r i s t a ” .

F o t o g r a f i a d e H e r m a n H . G r a e s e r d e 1 9 4 2 . F o n t e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 , p . 4 4 .

Zona de Serviço

Zona de Serviço

Zona de Serviço

Zona de Serviço

Quarto de Hóspede

OratórioAlpendre

SalaServiço Serviço

Alpendre de Serviço

Zona de Serviço Zona de ServiçoSala

Page 50: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

responde parece ser mais que uma residência. Diversos autores afirmam que o universo interior destas fazendas respondiam a inúmeros usos e funções. No decorrer do tempo, o complexo rural

desapareceu e os vestígios arquitectónicos actuais não retratam “os prováveis ≪puxados≫ para cozinha, nem os paióis,nem

senzalas nem ranchos próximos” (AMARAL 1981, p.47). Sem a

possibilidade de ter uma visão completa das habitações do século XVII através dos vestígios arquitectónicos, fica limitada a sua interpretação a testamentos e inventários de antigos proprietários.

Através da sua leitura constata-se que analisar os edifícios-sede apenas como habitações unifamiliares é um erro e “não podem ser encaradas dentro de uma perspetiva unimodal, tampouco como

construções aprisionadas pelo barro estanque, estáticas e inalteradas por séculos a fio” (ZANETTINI 2006, p.152).

Luis Saia e Júlio Katinsky afirmam que a evolução destas

tipologias habitacionais acompanhou o ciclo das bandeiras. Enquanto o primeiro autor distingue os exemplares “puros”, que representam a fase heróica do bandeirismo, dos exemplares

“degenerados”, que eram sujeitos a incidências estranhas à sua formação, o segundo,classifica como “bandeiristas” os exemplares clássicos — Mandu, Tatuapé, Ressaca, etc. (fig 2.13, fig. 2.16) —

e de “tradição bandeirista” os que refletiam numa versão alterada das primeiras versões — Japão, Chácara do Rosário, Quinzinho, etc. (fig. 2.14, 2.17) —. Para o arquiteto Luis Saia, o tipo de planta

e a técnica usada apresentavam-se como soluções de habitabilidade facilmente identificadas em outras partes da colónia, comprovando que o partido arquitectónico seria já conhecido e

importado. No entanto, o autor defende que as casas do Vale de Piratininga refletem uma arquitetura regional, isto é, a peculiaridade do ambiente no programa do “potentado

bandeirista”. De acordo com Lúcio Costa, "quando se estuda qualquer obra

de arquitectura, importa ter primeiro em vista (...) o "programa",

isto é, quais as finalidades dela e as necessidades da natureza funcional a satisfazer; em seguida, a "técnica", quer dizer os materiais e o sistema de construção adoptada; depois, o "partido",

ou seja, de que maneira, com a utilização dessa técnica, foram traduzidas, em termos de arquitectura, as determinações daquele programa; finalmente a “comodulação" e a "modenatura"

entendendo-se por is to as qua l idades p lás t icas do monumento” (COSTA 1941, pp.12-13).

!24

F i g . 2 . 1 3 F a c h a d a p r i n c i p a l d a C h á c a r a d o R o s á r i o | “ Tr a d i ç ã o B a n d e i r i s t a ” .

F o n t e : M AY U M I 2 0 0 8 , p . 2 9 4 .

F i g . 2 . 1 4 P l a n t a d o P i s o T é r r e o | P l a n t a d o s o b r a d o | C o r t e A A’ d a C h á c a r a d o R o s á r i o .

R e d e s e n h o d a a u t o r a .

Zona de Serviço

Quarto Zona de Serviço

Sala

Oratório Alpendre

Page 51: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

2.2.1. O “PROGRAMA”

Definidos os princípios que norteariam a sociedade colonial, também a morada paulista teria que satisfazer uma tríade programática: inteira separação da família e do trabalho;

criação de uma faixa composta de alpendre/capela/quarto de hóspedes — a faixa fronteira —; residência familiar (COSTA 1941, p.12-13).

A população procurava localizar-se nas margens dos rios porque também constituíam caminhos naturais para as

grandes expedições e explorações do interior, para as entradas e saídas das bandeiras e para o intercâmbio destas populações autóctones (SALGADO, s.d.).

A temática da segregação da mulher era tão vincada na sociedade bandeirista que a arquitectura reflectiu-a através da criação de uma faixa intermediária entre a vida pública e

o mundo privado destinada a facilitar a permanência de pessoas de fora e resguardar a intimidade familiar. Em toda a casa roceira colonial teriam de existir alojamentos para

hóspedes no interior da moradia mas isolados das dependências familiares. A área entre os dois mundos seria usada para a permanência de visitantes e escravos

enquanto estivessem assistindo à cerimónia religiosa efetuada no oratório ou na capela (LEMOS 1999, ZANETTINI 2006).

Como já foi mencionado, a hipótese da morada paulista ser exclusivamente residencial é refutada por muitos autores. Aracy Amaral, defende essa tese de edif icação

multifuncional questionando sobre “onde trabalhariam senão na casa, para preservar o equipamento e vigiar a produção de fiação e tecelagem? E onde ocorreria o aproveitamento

do couro, da carne e do trigo senão nas dependências dessa mesma casa ou em anexos dela, e onde o lugar mais seguro senão nas sedes para guardar o material a ser

negociado?” (AMARAL 1981, p.48). Também Afonso Taunay, defende que a casa era palco “para as industrias agrícolas, como da fiação e tecido de algodão e lã, bem como do

fabrico do açúcar nos muitos tachos que constituem o arsenal rural paulista; segundo se vê dos arrolamentos pois nestes não se encontram outras edificações, onde se

pudesse colocar a feitura desses misteres” (MAYUMI 2006).

!25

F i g . 2 . 1 5 S í t i o d a R e s s a c a [ A n t e s d o R e s t a u r o ] | “ B a n d e i r i s t a ” .

F o n t e : M AY U M I 2 0 0 8 , p . 1 6 6 .

F i g . 2 . 1 7 S í t i o S a n t o A n t ó n i o [ D e p o i s d o R e s t a u r o ] | “ Tr a d i ç ã o B a n d e i r i s t a ” .

F o n t e : M AY U M I 2 0 0 8 , p . 2 9 4 .

F i g . 2 . 1 6 P l a n t a d o P i s o T é r r e o d o S í t i o d a R e s s a c a .

R e d e s e n h o d a a u t o r a .

F a i x a F r o n t e i r a

F a i x a d e S e r v i ç o

F i g . 2 . 1 8 P l a n t a d o P i s o T é r r e o d o S í t i o S a n t o A n t ó n i o . R e d e s e n h o d a a u t o r a .

F a i x a F r o n t e i r a

F a i x a d e S e r v i ç o

Zona de Serviço Sala Quarto

Quarto de HóspedesAlpendreQuarto de Hóspede

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02 | A CASA BANDEIRISTA

São as áreas destinadas ao trabalho que mais dividem a opinião dos autores. Estes espaços teriam o seu lugar nos edifícios-satélite mas a tese de que a casa principal seria também local de

trabalho é cada vez mais difundida. Assumindo essa proposição como verdadeira, a casa paulista teria sido a moradia de uma família extensa, teria abrigado outras famílias em épocas de crise

e ainda seria ponto de convergência de diversos produtos como escravos, metais preciosos, cereais, etc..

As necessidades a satisfazer da casa muito se relacionavam

com as necessidades das pessoas e com as grandes distâncias que as separavam. A personalidade do bandeirante e a estabilidade da sociedade paulista é demarcada através do

programa monolítico da casa bandeirista

2.2.2. A “TÉCNICA”

Quanto ao sistema estrutural da casa bandeirista, a taipa de pilão foi a técnica adoptada pois permitia o levantamento de edifícios duráveis num sítio onde não era fácil obter pedra e o

transporte da madeira era muito difícil. Divulgada pelo Padre Jesuíta Afonso Brás (LEMOS 1999), a taipa de pilão tornou-se a marca dos paulistas e distinguiu-se como uma técnica que

necessitava de pouca mão-de-obra, durável e resistente a qualquer agressão externa. De acordo com as leituras dos inventários, a casa principal era sempre de taipa de pilão 1

enquanto que os edifícios-satélites eram construções precárias de pau-a-pique1 ou de palha trançada, construções de pouca duração e, talvez por isso, os actuais vestígios arquitectónicos surjam

como edifícios isolados e destituídos dos conjuntos que os caracterizavam (SCHIMDT 1946).

A construção tinha início com a marcação no terreno e sobre

uma plataforma natural ou artificial, montada em alicerces construíam as paredes de taipa de pilão com espessura entre 0,30 a 0,40m, excepção verificada nas casas de sobrado que poderiam

ter espessura ate 0,80m, e com pé-direito de 2,50 a 4,00m aproximadamente.

As paredes são formadas por camadas sucessivas de terra

argilosa distinguindo-se da alvenaria de pedra por apresentarem contornos menos precisos e pela impossibilidade de realizar novas aberturas após o seu acabamento, conferindo-lhe um aspeto

monolítico. De terra húmida calcada com pesados apiloadores,

Ver Glossário.1

!26

F i g . 2 . 2 1 A l i c e r c e d e t a i p a d e u m a a n t i g a p a r e d e q u e e x i s t i a n o l o c a l n o S í t i o d a R e s s a c a .

F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

F i g . 2 . 1 9 Vi s t a p a r a a s a l a c e n t r a l d o S í t i o d e S a n t o A n t ó n i o [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a d e H e r m a n H . G r a e s e r d e 1 9 4 0 . F o n t e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 , p . 4 6 .

F i g . 2 . 2 0 V i s t a p a r a a f a c h a d a o e s t e d a C h á c a r a d o R o s á r i o [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a d e H e r m a n H . G r a e s e r d e 1 9 5 5 . F o n t e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 , p . 5 5 .

Page 53: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

dentro de uma armação de tábuas — taipais — presas a esteios verticais e horizontais, a armação acompanhava o crescimento das paredes preservando os vãos da casa

previamente demarcados. Enquanto as paredes externas são objecto de maior

preocupação construtiva, as divisões internas são de pau-a-

pique e madeira. Também o processo de amarração das paredes recebe um cuidado especial: além da amarração pelas peças longitudinais internas e pelos frechais e 2

tensores2, as paredes internas foram racionalmente d ispostas de modo a que os esforços fossem contrabalançados (COSTA 1941, RODRIGUES 1945, SAIA

1945, MAYUMI 2008). A dificuldade encontrada foi o revestimento das paredes

de taipa. Executado cerca de três meses após a construção

da taipa, procurou-se uma solução com várias camadas: a primeira teria a mesma terra usada na paredes acrescentada de terra mais argilosa e esterco de gado para

evitar posteriores fissuras; nas seguintes acrescentar-se-ia à solução inicial mais areia e, se existisse cal, a última camada já não teria terra e esterco (SCHIMDT 1946).

As condicionantes técnicas determinam o uso do telhado de quatro águas, com formato piramidal. No corpo central da sede, o telhado de duas águas é usado em construções

menores. Com telhas de canudo de argila clara é constituído por pau de cumeeira e duas terças2 presas com tirantes por norma embebidas na taipa. De acordo com o

número de águas das casas bandeiristas a estrutura modificaria-se: de duas águas as cumeeiras apoiavam-se pelas suas extremidades nos oitões2 de pau-a-pique e, para

suportar a trama da cobertura, havia escoras e apoios que também comprometiam as repartições dos compartimentos; quando de quatro águas, assumiria uma estrutura mais

elaborada com a colocação de peças inclinadas num esforço de compressão na cumeeira (LEMOS 1999).

No que diz respeito ao método de execução das portas e

janelas da casa, é usualmente adoptado um dos seguintes métodos: colocam os batentes2 fixados com cunhas2 batidas lateralmente e, entre os batentes, é forçada a entrada da

soleira ou fixam o conjunto, já formado com cunhas batidas,

Ver Glossário.2

!27

F i g . 2 . 2 2 Vi s t a d o a l p e n d r e d o S í t i o d o C a l u [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a d e L u í s S a i a d e 1 9 4 0 . F o n t e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 , p . 3 9 .

F i g . 2 . 2 3 C a m a d a s s u c e s s i v a s d e r e v e s t i m e n t o s o b r e a t a i p a n o S í t i o d a R e s s a c a [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a d e 1 9 7 8 . F o n t e : M AY U M I 2 0 0 8 , p . 1 8 5 .

Page 54: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

entre a parte exterior da armação e a parede. As portas e janelas giram em gonzos de madeira. 3

Durante o século XIX, diversos viajantes descrevem inúmeros

edifícios de taipa no estado de São Paulo. Como cita Carlos Schimdt, o viajante francês Saint-Hilaire descreve as casas coloniais como “construídas de taipa muito sólidas, são todas

brancas e cobertas de telhas côncava, nenhuma delas apresenta grandeza e magnificência, mas há um grande número que, além do andar térreo, tem um segundo andar (…) Os telhados não

avançam desmesuradamente além das casas, mas têm bastante extensão para dar sombra e garantir as paredes contra as chuvas” (SCHIMDT 1946, p. 132).

A taipa de pilão adaptou-se às condições especiais do Planalto de Piratininga e, impostas pelas características da técnica, obtiveram-se soluções firmes e definitivas marcadas pelo

predomínio dos cheios sobre os vazios, não permitindo liberdade de acréscimo ou modificações.

2.2.3. O “PARTIDO ARQUITECTÓNICO”

Em consequência do programa tipo da residência dos fazendeiros, o partido adotado surge com um espírito rigoroso.

Implantar o edifício-sede num meio rural isolado a meia cota e nas proximidades de um rio; a preocupação pelo seu assentamento em plataformas naturais ou artificiais, em terrapleno

delimitado por íngreme talude ou por muro de arrimo3; são constantes em todos os exemplares.

A casa colonial era edificada em paisagens que maximizassem

a visibilidade da envolvente. Carlos Lemos afirma que a implantação se apresentava como uma sede ao redor da qual se dispunham outras construções de carácter funcional, mas não

apresenta qualquer critério para a sua disposição. O que não há dúvida é que estes edifícios de apoio existiam porque são inúmeras as referências a roças de farinha, de milho, de cana,

açúcar e aguardente; a moinhos; a produtos confeccionados com frutas; a criação de gado; (BRUNO 1977) e, apesar de se esperar que alguns trabalhos fossem realizados no âmago da casa, a

verdade é que o espaço interior que conhecemos era insuficiente para a quantidade de trabalho e armazenamento que reconhecemos nos inventários.

Ver Glossário.3

!28

F i g . 2 . 2 4 D e t a l h e d o e s t e i o d a v a r a n d a d o S í t i o d o Q u e r u b i m [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a d e J ú l i o A . Wa k a h a r a d e 1 9 7 2 . A d a p t a d o d e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 ; p . 4 7 .

F i g . 2 . 2 5 D e t a l h e d o B e i r a l d o Te l h a d o d o S í t i o d o Va s s o u r a l .

F o t o g r a f i a d e J ú l i o A . Wa k a h a r a d e 1 9 7 2 . A d a p t a d o d e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 ; p . 5 4 .

Page 55: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

A planta da sede desenvolve-se dentro de um retângulo predominantemente de três lanços e é concebida segundo 4

um eixo de simetria. Forma um esquema bem rígido e

fechado, quer na construção quer plasticamente e funcionalmente.

A intenção de separar o mundo público do privado é

notória quando o visitante se confronta com a fachada frontal e é incentivado a permanecer num alpendre, “uma verdadeira loggia palaciana” (SAIA 1955), ladeado pelo

quarto de hóspedes e pela capela. A sala, da mesma largura que o alpendre, é o espaço da casa que recebe todo o pé-direito como que procurando valorizar o seu carácter social.

Do alpendre acompanhava-se o movimento das pessoas, os eventuais transportes pelos cursos de água e fazia-se o controlo dos escravos, serviçais e negócios (LEMOS 1999).

O quarto de hóspedes, aberto para o pretório4 mas destituído de acesso para o interior da edificação, destaca-se pela sua singularidade. A porta da frente não dá acesso à

zona íntima permitindo que qualquer visitante tenha o direito de passar a noite mas sem interferir com o ambiente da família, demarcando o seu carácter de visitante e não de um

verdadeiro hóspede. A faixa fronteira — quarto de hóspedes/alpendre/capela

— é o alicerce da casa colonial paulista, caracterizando a

soc iedade bandei r is ta e , consequentemente, o comportamento da família colonial.

O arquiteto Luís Saia enfatiza a sua importância

reconhecendo que “é a faixa fronteira a que se apresenta com constância; mesmo quando o porte da construção permite assobradar êste espaço, (…) Quando se trata da

parte reservada à família, surgem variantes, porém na zona da construção destinada ao intercâmbio com o mundo - o lugar de receber e hospedar - ou no espaço reservado aos

ofícios religiosos, a obediência à finalidade programada é mais rígida” (SAIA 1944; p.73).

Após ultrapassado o alpendre, dispõe-se a grande sala.

Dependência importante na casa bandeirista pela sua posição central, as suas dimensões e a sua intenção programática que se satisfaz como zona de estar e como

área de distribuição comunicando com os vários

Ver Glossário.4

!29

F i g . 2 . 2 6 F a c h a d a p r i n c i p a l d o S í t i o d o P a d r e I n á c i o [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o n t e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 , p . 3 9 .

F i g . 2 . 2 7 P l a n t a d o P i s o T é r r e o | P l a n t a d o s o b r a d o | C o r t e A A’ d o S í t i o d o P a d r e I n á c i o .

R e d e s e n h o d a a u t o r a .

Quarto de Hóspedes Alpendre Quarto

QuartoQuarto

Zona de Serviço

Zona de Serviço

Sala

Quarto Sala Quarto

Page 56: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

compartimentos dispostos lateralmente e com a área externa dos fundos - área de serviço. Assim como acontece na sala também os compartimentos, distribuídos lateralmente, constituem-se

verdadeiros enigmas: seriam todos dormitórios ou alguns poderiam ser depósitos e oficinas de trabalho? O mameluco poderá ter influenciado o colono na forma de habitar o quarto e

levado para a casa bandeirista a sua oca ? As suas funções não 5

são de todo conhecidas mas é evidente que não se identificam com os padrões de morar europeus. (AMARAL 1981, LEMOS

1999). Em algumas obras visitadas, a casa encerra nas traseiras com

compartimentos de serviço — Sítio do Padre Inácio (fig. 2.27),

Sítio de Tatuapé (fig. 2.75), etc. — e outras com um alpendre de serviço — Sítio do Mandu (fig. 2.12), Casa do Sertanista (fig. 2.50), etc. — contemplando, por vezes, acesso a um pavimento

superior aproveitado pelo espaço ganho pelo declive do telhado e pelos forros do quarto, os sobrados, que seriam destinados a armazenamento como cereais.

Nos exemplares identificados, verifica-se a preocupação de voltar a fachada frontal para Nordeste, evitando os ventos Sul-Sudoeste, e a fachada posterior é, geralmente, protegida

naturalmente pelo relevo próximo. A lareira, hábito tão intrínseco na vida do português, não existia

no lar brasileiro. A zona de estar foi transferida para a varanda

alpendrada, local onde o bandeirante poderia comer, conversar e fazer a sua sesta nas famosas redes. Esquece o fogo interno e aproveita a fogueira externa do índio. Talvez, nos dias frios de

inverno, reuniria os visitantes na sala central em volta do fogo aceso. A preferência por cobertura de telha vã que permitiria o escoamento da fumo não parece suficiente para justificar a

afirmação e, o alto pé-direito da sala central não permitiu a existência de marcas negras do fumo para colaborar na sua comprovação, mas parece ser uma interpretação plausível dado

pelos estudiosos (SAIA 1945, LEMOS 1976). Há a procura pela extroversão das zonas de serviço o desejo

de as voltar para o exterior participando da vida do quintal.

Extroversão presente no subconsciente do português como herança do velho costume dos mouros de cozinhar ao relento. Outro problema que intriga os autores é a existência de um

compartimento destinado à cozinha no interior da habitação. Um compartimento destinado

Ver Glossário.5

!30

F i g . 2 . 2 8 Vi s t a a é r e a d e 1 9 7 5 , v i s t a p a r a a s f a c h a d a s o e s t e e n o r t e d o S í t i o d e M o r r i n h o s .

F i g . 2 . 2 9 P l a n t a d o P i s o T é r r e o | P l a n t a d o s o b r a d o | C o r t e A A’ d o S í t i o d e M o r r i n h o s .

R e d e s e n h o d a a u t o r a .

Quarto Sala Quarto

Zona de Serviço

Quarto de Hóspedes

Alpendre Oratório

Alpendre Sala

Page 57: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

a esse tipo de actividade não é evidente quer nos vestígios da casa ou ruínas.

A presença de cozinhas exteriores nas casas bandeiristas

são constantes em alguns inventários onde referem a sua localização em construções independentes da casa que pela sua má qualidade construtiva não se preservaram. A partir de

1641, alguns inventários mencionam a existência de tacanhas 6

que poderiam abrigar a cozinha, e outros levantam dúvidas se essas atividades não seriam exercidas no alpendre de serviço.

Analisando alguns desses inventários encontramos as seguintes referências (BRUNO 1977):

- 1655, Maria da Silva descreve “cozinha à parte de dois

lanços, cobertas de telhas e de taipa de pilão”. - 1677, António Ribeiro de Morais enuncia uma casa

“parcialmente assobrada com a cozinha mais um cômodo,

talvez a dispensa e a latrina, tudo de tapa de pilão no quintal. - 1743, Capitão Miguel Ribeiro da Silva, na escritura de

venda ao Padre Euzébio de Barros Leite, enuncia que

“cozinhas de taipa de pilam corre pello quintal”. - 1755, Francisco Soares de Barros escreve “hum hanso de

casa de fazer farinha coberta de telhas”. - 1784, Francisco Furtado, numa doação a Pedro de

Morais, diz que possuía “cozinha fora e seu quintal com mais de 300 braças de terra com o sertão”.

Carlos Lemos defende que a cozinha colonial seria “quase que ao ar livre, começou a personalizar-se foi em torno da trempe, das três pedras formando o triângulo com a fogueira

dentro, em volta do jirau6 e do fumeiro. (...) Usavam o jirau para defumar a carne da caça esporádica. Até, buracos no chão com a comida enterrada e a fogueira por cima, cozinhavam. O

índio, sempre que podia, resistia aos costumes do colonizador e impunha os seus” (LEMOS 1976, p. 70).

Na casa paulista, os quintais posteriores surgem como

áreas de circulação e distribuição de servos. O quintal era sempre cercado com muros de taipa, e poderia ser um jardim de flores ou um grande terreiro onde se plantava feijão, café ou

até mesmo se dançava nas noites de festa.

Ver Glossário.6

!31

F i g . 2 . 3 1 D e t a l h e d a e x i s t ê n c i a d e “ t a c a n h a ” n o S í t i o d o C a l u [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a d e H e r m a n H . G r a e s e r d e 1 9 7 3 . F o n t e : L E M O S 1 9 9 9 , p . 4 8 .

F i g . 2 . 3 2 J a r d i m , l a g o e m a t a n o l u g a r d a r o ç a d o S í t i o d o S a n t o A n t ó n i o [ D e p o i s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a d e 1 9 3 7 . F o n t e : M AY U M I 2 0 0 8 , p . 7 5 .

F i g . 2 . 3 0 A c e s s o a o S o b r a d o d o S í t i o d o P a d r e I n á c i o [ A n t e s d a R e f o r m a ] .

F o t o g r a f i a d e H e r m a n H . G r a e s e r d e 1 9 4 2 . F o n t e : L E M O S 1 9 9 9 , p . 5 2 .

Page 58: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

2.2.4. A “COMODULAÇÃO” E A “MODENATURA” Luís Saia caracteriza a casa bandeirista como “a construção,

que nos projetos de Palladio recebe uma interpretação plástica do tipo greco-romano, em São Paulo volta a soluções primitivas

utilizando a terra socada e a madeira” (SAIA 1945). A sobriedade dos primeiros colonos fazia que se interessassem

pela simplicidade e pelo que era essencial e neste contexto, a

religião tem grande importância. Tinham a grande preocupação de ornamentar o pequeno oratório com o “santo de confiança” e na

restante habitação, mobilavam com “camas, tamboretes, mesas e ainda arcas” (BRUNO 1977). Como já mencionado, o clima da colónia conduziu a uma adaptação do modo de habitar dos

portugueses e desta forma, supõe-se que o calor sentido tenha levado ao uso das famosas redes indígenas ou a sentarem-se sobre esteiras no chão para se refrescarem e, isso, não

estimulavam o aconchego dos interiores nem os arranjos supérfluos (COSTA 1939, PINHO 1940).

Mário de Andrade, após as primeiras visitas às casas

bandeiristas, é de opinião que estas têm uma total ausência de valor artístico. De facto, quando confrontados com a arquitectura bandeirista percebemos que a magnificência da casa assenta na

sua pureza e simplicidade. A plataforma fronteira da morada paulista apresenta um género

de sapata de pedra. Quanto ao pavimento do seu interior divide-se

em terra socada no piso do alpendre, na sala central e nas zonas de serviço e pisos assoalhados nos quartos de dormir, no quarto de hóspedes e na capela. No que concerne ao piso assoalhado

aplicado, era constituído por tábuas fixas sobre vigotas colocadas sobre o chão de terra o que conduziu a um rápido apodrecimento das tábuas. Os compartimentos, que se supõem terem sido os

quartos de dormir, tinham os tectos forrados sendo aproveitado na parte superior, como sotão. Também era comum, a casa ser revestida com uma pintura branca de cal ou de tabatinga (LEMOS 7

1999). Apesar da dificuldade do transporte, o construtor colonial não

dispensava peças de bom lenho em elementos que achava que

deveriam ser valorizados. Assim é corrente o uso de madeira de canela-preta na estrutura dos telhados, sobrados e nos balcões do alpendre. A importância do uso da madeira na sociedade

bandeirista é sublinhada por Carlos Lemos quando afirma que a “época colonial notabiliza-se pelo empirismo e pelo desperdício de

Ver Glossário.7

!32

F i g . 2 . 3 4 D e t a l h e d o b e i r a l d o t e l h a d o d o S í t i o d o I t a i m .

F o o t o g r a f i a d e 2 0 1 5 .

F i g . 2 . 3 3 Vi s t a d a p l a t a f o r m a f r o n t e i r a e m p e d r a d o S í t i o d o I t a i m .

F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

F i g . 2 . 3 5 D e t a l h e d o b e i r a l d o t e l h a d o d o S í t i o d o P a d r e I n á c i o

F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

Page 59: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

material, e a segunda etapa é definida pelo uso racional da madeira“ complementando que “na primeira etapa, as secções das peças em geral são sempre quadradas ou

c i r c u l a r e s ; n a s e g u n d a , a s s e c ç õ e s s ã o retangulares” (LEMOS 1999, p.42).

As peças usadas para frechais, cumeeiras, etc. não

recebiam qualquer tratamento, apenas a madeira de canela-preta dos caibros, cachorros, batentes, balaústres e folhas das portas e janelas recebiam cuidados especiais. O remate

do telhado era feito por beirais ricamente trabalhados apenas na fachada frontal, não recebendo igual tratamento nas outras faces da casa (fig. 2.35).

De acordo com Júlio Katinsky, o prolongamento dos caibros com as pontas decoradas reflecte a influência portuguesa como se comprova em algumas casas das

regiões do norte de Portugal outras recebiam um “encachorramento” como são exemplos a Casa do Padre Inácio e Casa do Bandeirante (KATINSKY 1976).

Nas janelas, eram dispostos gradeamentos verticais de secção quadrada, representando importantes elementos de defesa e de dosagem da quantidade e ângulo da luz que

atravessava para o interior da casa. Nas ombreiras das janelas e portas aparecem chanfros com remates específicos. Algumas vergas ostentam ainda, inscrições ou

datas (fig. 2.36, fig. 2.37). O autor defende que as casas bandeiristas têm

influências do extremo oriente e as de tradição bandeirista

das costas do mediterrâneo. Associa as colunas oitavadas, constantes nas casas como Querubim, Tatuapé, Mandu e Morinhos, a Portugal onde “há inúmeras capelas

alpendradas, no norte de Portugal, com pilares de pedra de secção quadrada na base e no ábaco e com fuste chanfrado resultando uma secção octogonal”. Outra observação feita

pelo autor, é sobre vergas arqueadas que algumas casas têm curvatura muito acentuada aproximando-se de algumas vergas populares portuguesas (KATINSKY 1976).

!33

F i g . 2 . 3 7 D e t a l h e d a P o r t a d o S í t i o d e M o r r i n h o s | “ 1 7 0 2 ” [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o n t e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 , p . 3 3 .

F i g . 2 . 3 6 D e t a l h e d a d a t a g r a v a d a n a p o r t a d o S í t i o d a N o s s a S e n h o r a d a C o n c e i ç ã o | “ 1 7 6 3 ” .

F o t o g r a f i a d e J o s é S a i a d e 1 9 7 2 . F o n t e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 , p . 5 7 .

F i g . 2 . 3 8 D e t a l h e j a n e l a d o S í t i o d e M o r r i n h o s . F o n t e : M AY U M I 2 0 0 8 , p . 1 6 3 .

Page 60: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

Na obra O equipamento da casa bandeirista segundo os antigos inventários e testamento, Ernani Bruno faz uma intensa pesquisa nos inventários disponíveis no Arquivo de São Paulo

e regista o equipamento da moradia paulista colonial. A partir de 1590 aparecem peças de iluminação, como

castiçais feitos de “latão, bronze, estanho, arame”, e, mais

tarde, as lanternas. A existência de tapetes ou alcatifas aparece em menor número começando a ser mais frequente a partir de 1638. As primeiras são de seda da Índia, de rede e de

arraiolos, e é em 1621 que surge uma referência à existência de cortinados de “pano de algodão com suas franjas entremeias e cortinas de canequim e sobrecéu . 8 9

Quanto às peças de mobiliário, enumeram-se mesas, bufetes de cedro, de jacarandá e canela preta como mobiliário básico. As mais numerosas são as arcas, aparecendo,

posteriormente, baús de couro ou de ferro. As peças de descanso mais encontradas são as cadeiras,

que deveriam ser entre duas a oito em cada casa, e, com

menor frequência, os bancos. Para deitar apareciam as catres (entre duas a três peças por habitação), as redes 10

(entre duas a oito peças) e, em menor número, as camas

(BRUNO 1977). Como artigos com maior riqueza surgem os “bufetes de

jacarandá marchetados de marfim, catres torneados à

cabeceira, com sua grade e sub grade, com cortinados vermelhos de cochonilha e colchas com franja de ouro fino (DIAS 1939, p.168).

Tecido de algodão, manufacturado na Índia.8

Dossel ou cobertura de leito; complemento da cama.9

Pequeno leito de lona, dobradiço e portátil.10

!34

F i g . 2 . 3 9 D e t a l h e d o s b a l a ú s t r e s d a j a n e l a d o S í t i o d o I t a i m .

F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

F i g . 2 . 4 0 D e t a l h e d o s b a l a s t r e s d a s j a n e l a s d o S í t i o d o M a n d u .

F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

Page 61: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

A análise dos inventários permite conhecer o que terá sido a evolução da sociedade bandeirista e, o que no início era uma casa muito pobre voltada para a subsistência,

procurou alcançar alguns luxos à medida da sua estabilização. A influência indígena é notória também no campo do mobiliário nomeadamente na presença de uma

grande quantidade de redes na moradia colonial, colocando aos estudiosos questões sobre como seria o modo de habitar os compartimentos destinados ao repouso e levando

a acreditar que num quarto dormiriam várias pessoas. Desde a construção dos alicerces até aos elementos

decorativos usados, a casa mantém características que a

tornam imutável, destacando-se pela sua "absoluta naturalidade do seu modo de ser, a simplicidade do seu aspecto sempre enquadrado pelo bom senso, e a pobreza

dos seus elementos decorativos” (RODRIGUES 1945).

!35

F i g . 2 . 4 1 D e t a l h e d a c o l u n a d o a l p e n d r e p r i n c i p a l d o S í t i o d o P a d r e I n á c i o .

F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

F i g . 2 . 4 2 Vi s t a d a c a p e l a d o S í t i o Q u e r u b i m [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a d e H e r m a n H . G r a e s e r d e 1 9 4 2 . F o n t e : K AT I N S K Y 1 9 7 6 , p . 4 7 .

F i g . 2 . 4 3 A m b i e n t e q u e o c u p a v a o a l p e n d r e d e s c a r a c t e r i z a d o d o S í t i o d e S a n t o A n t ó n i o [ A n t e s d o R e s t a u r o ] . F o n t e : < h t t p : / / w w w . v i t r u v i u s . c o m . b r / r e v i s t a s / r e a d /a r q u i t e x t o s / 1 4 . 1 6 1 / 4 9 1 5 > [ 2 5 . 0 5 . 2 0 1 5 ] .

Page 62: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

2 . 3 . C A S O S D E E S T U D O

!36

1

2

3

1 32

F i g . 2 . 4 4 O r t o f o t o m a p a s d o s C a s o s d e E s t u d o e m S ã o P a u l o [ E s c a l a n . d . ] 1 | C a s a d o S e r t a n i s t a ; 2 | C a s a d o B a n d e i r a n t e ; 3 | S í t i o d o Ta t u a p é .

F o n t e : R e p r o d u ç ã o d a a u t o r a s o b r e i m a g e m r e t i r a d a d e m a p s . g o o g l e . p t , 2 0 1 6 .

Page 63: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).
Page 64: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

2.3.1 | CASA DO SERTANISTA

A Casa do Sertanista ou Sítio do Caxingui é um exemplar da arquitectura rural paulista da época colonial do

século XVII. Apesar de as telhas que compunham ao telhado aquando as obras de reabilitação datarem de 1843, supõem-se que a sua construção tenha sido em meados do

século XVII. A tipologia em estudo representa as moradias dos ricos fazendeiros do século XVII, obedecendo a um esquema fechado e rígido, tanto do ponto de vista da

construtivo quanto à definição arquitectónica, plástica e funcional.

De autor desconhecido, os inventários identificam o

padre jesuíta Belquior de Pontes como o primeiro morador da casa posteriormente adquirida pela família Beu. A documentação conhecida e utilizada no restauro sobre a

casa do Caxingui é muito escassa não existindo mais registos sobre quem habitou na casa. Júlio Katinsky investigou e registou que “os restos pertencentes a Alberto

Christie, que vendeu 22 alqueires de terra ao sr. Alberto Penteado em 1917. Em 1937 seu filho, o sr. Carlos Alberto de Almeida Prado, vendeu o sítio para a Companhia City.

Esta separou pequena área para a praça e a doou à prefeitura, com a condição de restaurar a dita moradia histórica” (KATINSKY 1976, p. 92). Em 1958, a Companhia

City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited doa a propriedade à Prefeitura e, em 1966, iniciaram-se os trabalhos de recuperação do edifício

com o intuito de aí instalar o Museu do Sertanista

!38

F i g . 2 . 4 5 F o t o g r a f i a a é r e a m o s t r a n d o a i m p l a n t a ç ã o [ A n t e d o R e s t a u r o ] . F o t o g r a f i a : E d i s o n P a c h e c o d e A q u i n o , 1 9 7 5 . F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 1 4 .

F i g . 2 . 4 6 V i s t a d a f a c h a d a S u d o e s t e c o m a l p e n d r e d e s e r v i ç o .

F i g . 2 . 4 8 Vi s t a d o a l p e n d r e p r i n c i p a l n a f a c h a d a N o r d e s t e .

F i g . 2 . 4 7 V i s t a d o c o m p a r t i m e n t o q u e t e m a e s c a d a d e a c e s s o a o s o b r a d o . F o t o g r a f i a : E d i s o n P a c h e c o d e A q u i n o , 1 9 7 5 .

Page 65: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

direccionado para a cultura indígena. O Condephaat integrou-a 11

na lista de bens tombados em 1983 e procede a novas obras de conservação e restauro.

Paulo Florençano considerava esta sede da fazenda uma “verdadeira relíquia arquitetônica de fins do século XVII - residência rural (sede de fazenda) que a tradição atribue ter

pertencido ao célebre padre Belchior de Pontes” (em 26-2-1962, processo municipal 21.606/1961).

01 | Implantação e Tipologia de Edificações

A Casa do Sertanista tem a sua localização na Praça Dr. Enio

Barbato, na zona do Caxingui, em São Paulo. Este edifício integra-se, actualmente, num arruamento de moradias e, implantado num grande terreno, evidencia-se pela sua imensa arborização que

protege e isola a casa da malha urbana circundante. A sua fachada principal está voltada a nordeste e é marcada

pela austeridade, regularidade e horizontalidade. O edifício

compreende piso térreo e piso sobradado. Com um formato regular, a planta de forma rectangular

apresenta uma área de aproximadamente 320 m2 ocupa uma

pequena parte do lote e desenha um volume único e maciço.

Conselho de defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Político. 11

!39

F i g . 2 . 4 9 O r t o f o t o m a p a d a C a s a d o S e r t a n i s t a . F o n t e : R e p r o d u ç ã o d a a u t o r a s o b r e i m a g e m r e t i r a d a d e m a p s . g o o g l e . p t , 2 0 1 6 .

Page 66: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

02 | ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL

A planta da casa em estudo aproxima-se de uma simetria biaxial. De forma rectangular de 19.00m

por 16.85m é distribuída por três faixas longitudinais — 4.15m, 8.70m e 4.15m — e três faixas transversais — 4.00m, 7.00m e 4.00m.

A faixa fronteira, característica de todas as casas bandeiristas, era composta pelo alpendre, capela

e quarto de hóspedes. Aquando do processo de reabilitação, as paredes do quarto de hospedes foram demolidas e o alpendre passou a ser delimitado de um dos lados por uma parede.

Ultrapassada a faixa fronteira e imediatamente a seguir ao alpendre dispõe-se a sala, espaço

principal da casa, que comunica com três outros compartimentos e com o alpendre de serviço e apresenta o maior pé-direito com 5.00m. A faixa posterior, além do alpendre de serviço integra dois compartimentos, um dos quais inclui a escada de acesso ao sobrado.

!40

F i g . 2 . 5 0 P l a n t a P i s o T é r r e o ( À E s q u e r d a ) | P l a n t a P i s o S o b r a d a d o ( À D i r e i t a ) | C o r t e A A’ ( À E s q u e r d a ) | C o r t e B B ’ ( À D i r e i t a ) .

R e d e s e n h o d a a u t o r a .

Legenda: 01 | Alpendre ou Pretório 02 | Capela

03 | Antigo Quarto de Hóspedes

04 | Sala 05 | Quarto de Dormir 06 | Alpendre de Serviço

07 | Zona de Serviço

BB

´

BB

AA’ A’A

Page 67: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

03 | CARACTERIZAÇÃO DAS FACHADAS

A percepção das fachadas da Casa do Sertanista é dificultada

por se esconder no meio da arquitectura das moradias habitacionais que a circundam e por se localizar num amplo terreno camuflado por uma intensa vegetação. As quatros

fachadas caracterizam-se pelo seu equilíbrio, rigor e sobriedade distinguindo-se as fachadas nordeste (principal) e sudoeste com uma maior abertura ao mundo exterior. A entrada no edifício é feita

pelo pretório ou alpendre, com grandes aberturas iniciando iniciando a zona social da casa. O pretório é o vão mais complexo, pela existência de dois pilares contíguas a um muro, com cerca de

um metro de altura, e que delimitavam a entrada nesse espaço. As aberturas não apresentam detalhes decorativos, as folhas

das portas e janelas ou são inteiriças ou do tipo saia e camisa.

04 | MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS

A estrutura é constituída por paredes em taipa de pilão com espessura de 0.50m.

Actualmente, a casa está mui to descaracter izada

estruturalmente e, aquando das obras de reabilitação, poucas foram as certezas acerca da sua composição.

Na empena sul foi demolido o oitão que não parecia ser 12

original uma vez que não era de taipa mas antes de alvenaria de t i jo lo. Nesta região o madeiramento do telhado era predominantemente de caibros de paus roliços solidarizados por

cipó12, existindo ainda caibros de secção rectangular; no restante edifício o madeiramento obedecia ao padrão mais erudito das

peças de secção rectangular solidarizadas através de ensambladuras.

Ver Glossário.12

!41

F i g . 2 . 5 2 F a c h a d a n o r d e s t e e s u d e s t e [ A n t e s d o R e s t a u r o ] . F o t o g r a f i a : H e r m a n H . G r a e s e r, 1 9 4 5 .

F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 111 .

F i g . 2 . 5 4 A l p e n d r e d e s t e l h a d o e s e m r e v e s t i m e n t o n a s p a r e d e s a p ó s e t a p a d e p r o s p e c ç ã o [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 1 2 2 .

F i g . 2 . 5 1 F a c h a d a S u d o e s t e c o m t e l h a d o d e t r ê s á g u a s [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a : H e r m a n H . G r a e s e r, 1 9 4 5 . F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 11 0 .

F i g . 2 . 5 3 Vi s t a d o a l p e n d r e N o r d e s t e [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a : H e r m a n H . G r a e s e r, 1 9 4 5 . F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 111 .

Page 68: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

A improvisação da solução construtiva do telhado na região da empena sul e também o facto de o oitão da empena ser de alvenaria de tijolo, devem ter sido alguns dos principais indícios

que levaram Luis Saia a concluir que ali houvera um outro telhado, com outro desenho. No lugar do oitão propôs uma tacaniça , o 13

que resultou num telhado de quatro águas com dupla inclinação,

no entanto, não foi encontrada iconografia que comprovasse esta hipótese.

Ver Glossário.13

!42

F i g . 2 . 5 5 F a c e i n t e r n a d a e m p e n a s u l . N o t a r q u e a p a r e d e e m o i t ã o t e m e s p e s s u r a m e n o r q u e a d a p a r e d e s o b r e a q u a l e l e n a s c e . N o t e - s e c a i b r a m e n t o d e p a u s r o l i ç o s . [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 1 2 4 .

F i g . 2 . 5 6 D e t a l h e d a s p e r n a s d e a s n a s a p o i a d a s n o f r e c h a l d a p a r e d e c o n c ê n t r i c a i n t e r n a . F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 1 2 2 .

F i g . 2 . 5 7 D e t a l h e d o t e l h a d o [ A n t e s d o R e s t a u r o ] . F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 3 7 .

Page 69: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

2.3.2 | CASA DO BANDEIRANTE

A Casa do Bandeirante é um exemplar da arquitectura rural

paulista de proprietários abastados da época colonial no século XVIII. A data de construção ainda não foi precisada. Os investigadores conjecturam que a sua construção tenha decorrido

à volta de 1750, no entanto, as primeiras referências em inventários e testamentos à existência de casas naquele sítio

aparecem em documentos que datam de 1822. A primeira menção a estas terras surge com a doação do sítio

de Antônio Corrêa de Moraes aos seus afilhados Generoso e

Francisco. Em 1843, estes vendem a propriedade a Joaquim de Medeiros tendo sido posteriormente, vendida ao Comendador Luiz Antonio de Souza Barros em 1853. Nessa escritura de venda e

compra aparece com o nome de Rio Abaixo dos Pinheiros e aparecem referências a casas e moendas para cana e pastagens. De acordo com os inventários do Arquivo Municipal de São Paulo,

em 1875 o Comendador e a sua esposa vendem o sítio a Engênio Vieira de Medeiros. Em 1911 é vendido à Companhia Edificadora de Villa América e no mesmo ano, Edouard Fontaine de Laveleye

adquire a propriedade. No ano seguinte, a Companhia City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited compra o imóvel, que posteriormente, em 1944, doa ao município a área

que inclui a edificação. Até 1950 permanece sem definição de uso, tendo sido ocupada por várias famílias que ocuparam a casa até ao início das obras de restauro, em 1954. Germano Graeser

regista o estado do edifício em Março de 1954, observando que a casa estava muito descaracterizada e alguns dos seus elementos originais, como algumas peças de madeira de canela preta que

forravam alguns dos compartimentos, tinham sido removidas (FLORENÇANO 1958, PACCE 1980, MAYUMI 2008).

Em 1953, a Comissão do IV Centenário de São Paulo torna-se

responsável pelo imóvel e promove o seu restauro e, sob a orientação do IPHAN, o arquitecto Luís Saia torna-se responsável da obra. Com a intenção de preservar o traço original da casa, em

1955 é adaptada a museu evocativo da época bandeirista. O Condephaat reconhece-a como património em 1983.

A autora Máura Pacce classifica-a como um “exemplar da

arquitetura rural dos primeiros séculos de colonização, planalto

!43

F i g . 2 . 5 8 C a s a d o b a n d e i r a n t e . F o n t e : F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

F i g . 2 . 5 9 Vi s t a p a r a o p r e t ó r i o | F a c h a d a p r i n c i p a l a N o r d e s t e .

F o n t e : F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

F i g . 2 . 6 0 V i s t a p a r a a f a c h a d a N o r o e s t e . F o n t e : F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

F i g . 2 . 6 1 V i s t a p a r a o a l p e n d r e d e s e r v i ç o | F a c h a d a S u d o e s t e .

F o n t e : F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

Page 70: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

acima, caracteriza-se tipologicamente pela adoção de uma planta padrão (de poucas variações nos remanescentes conhecidos e de origem palaciana, segundo estudiosos);

pelo emprego de taipa de pilão no erguimento de suas paredes estruturais e pela implantação criteriosa, a meia encosta, sobre patamar plano, porém, e próxima a curso

d’água” (PACCE 1980, p. 3).

01 | IMPLANTAÇÃO E TIPOLOGIA DA EDIFICAÇÃO

A Casa do Bandeirante situa-se na Praça Monteiro

Lobato, Butantã, em São Paulo. Implanta-se na malha urbana com a forma rectangular, em planta, no meio de um amplo terreno e sem construções contíguas. Caracteriza-se

por um volume monolítico e maciço e, distinguindo-se pela sua horizontalidade, destaca-se perante as edificações actuais envolventes.

As fachadas apresentam uma hierarquia funcional. A fachada principal, que compõe a faixa fronteira, é voltada a nordeste ao rio Pinheiros. As restantes apresentam uma

visão mais limitada sobre a envolvente. Inserida num ambiente natural, a casa aparece isolada,

introvertida e protegida da malha urbana actual.

!44

F i g . 2 . 6 3 O r t o f o t o m a p a d a C a s a d o B a n d e i r a n t e . F o n t e : R e p r o d u ç ã o d a a u t o r a s o b r e i m a g e m r e t i r a d a d e m a p s . g o o g l e . p t , 2 0 1 6 .

F i g . 2 . 6 2 V i s t a p a r a a f a c h a d a S u d e s t e . F o n t e : F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

Page 71: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

02 | ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL

A Casa do Bandeirante apresenta uma planta com simetria

biaxial. Tem forma rectangular, 20.20m por 17.70m e distribui-se por três faixas longitudinais de dimensões de 4.45m, 6.70m e 4.45m, e três faixas transversais de 3.40m, 11.25m e 3.40m.

Como acontece em todos os exemplares das casas bandeiristas, a faixa fronteira é composta pelo alpendre, capela e quarto de hóspedes com abertura para o alpendre mas destituído

de acesso para o interior da casa. Na faixa central, e adjacente ao alpendre, dispõe-se a sala que

comunica com outros dois compartimentos e com outra sala de

igual dimensão. Estas duas salas, separadas por uma parede possivelmente construção posterior possivelmente, assumem o maior pé-direito da casa com seis metros. A segunda sala

comunica também com outros dois compartimentos laterais e a faixa posterior tem um alpendre, de dimensões iguais ao da faixa fronteira, que comunica com mais dois espaços.

A diferença entre a zona social e privada limita-se à forma das vergas da porta que se apresentam arqueadas e rectas respectivamente.

!45

F i g . 2 . 6 4 Vi s t a d a e n t r a d a p r i n c i p a l . F o n t e : F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

Legenda:

01 | Alpendre ou Pretório 02 | Capela

03 | Quarto de Hóspedes

04 | Sala

05 | Quarto de Dormir

06 | Alpendre de Serviço

07 | Zona de Serviço

F i g . 2 . 6 5 P l a n t a d o P i s o T é r r e o . R e d e s e n h o d a a u t o r a .

Page 72: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

03 | CARACTERIZAÇÃO DAS FACHADAS

As quatro fachadas da casa em estudo apresentam-se com

grande uniformidade e rigor na sua composição. A fachada principal é aquela que expressa maior distinção. O

alpendre individualiza-se por apresentar um muro com um metro de

altura, com uma abertura delimitada por duas colunas com chanfros terminadas numa peça à guisa de capitel onde se apoiam o frechal e o contrafrechal simetricamente dispostos.

Apresenta ainda, duas outras aberturas correspondentes ao quarto de hóspedes e à capela. As restantes fachadas laterais são semelhantes tendo duas aberturas simétricas.

!46

F i g . 2 . 6 6 C o r t e A A ' | C o r t e B B ’ . R e d e s e n h o d a a u t o r a .

F i g . 2 . 6 7 D e t a l h e d o c a p i t e l d a c o l u n a . F o n t e : F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

Page 73: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

04 | MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS

A estrutura da Casa do Bandeirante é em taipa de pilão sendo

constituída com paredes com aproximadamente 0.55m de espessura.

Aquando do processo de reabilitação não apresentava indícios

de instabilidade estrutural apesar de apresentar muitas lacunas e fissuras nas paredes de taipa. As paredes principais, maciços independentes, formam dois rectângulos concêntricos e as

paredes de divisão dos ambientes, situadas entres esses rectângulos, fazem o contraventamento dos maciços.

Construídas sobre alicerces também de taipa, as paredes

suportavam, além do próprio peso, o peso do telhado que era descarregado uniformemente ao longo da sua extensão auxiliado pelos frechais pousados sobre o respaldo do rectângulo externo 14

e interno. Os frechais trabalham à tracção sobre as solicitações laterais dos caibros anulando-as de forma a não serem transmitidas às paredes. Também cada rectângulo formado pelos

frechais trabalha à tracção - anulando desta forma, as cargas provenientes dos caibros - com ajuda de ensambladuras do tipo “rabo de andorinha” nas suas extremidades (fig. 2.70) (MAYUMI

2008). A casa apresenta dois pé-direitos distintos de 4.20m e 5.90m

no alpendre e nas duas salas, respectivamente.

O telhado de quatro águas, com águas de dupla inclinação, tem cumeeira sustentada por caibros amarrados por contra níveis que assentam sobre as paredes.

O que se supõe terem sido os quartos eram forrados de canela preta e as janelas têm gradeamento de madeira. Com uma organização simples são rematadas por um beiral sobre tabuado

formado por cachorros e assente no prolongamento dos caibros.

Ver Glossário.14

!47

F i g . 2 . 6 8 B e i r a l | D e t a l h e d o C a c h o r r o . F o n t e : F o t o g r a f i a d a a u t o r a , 2 0 1 5 .

F i g . 2 . 7 0 D e s e n h o e s q u e m á t i c o d a s e x t r e m i d a d e s d e c a d a f r e c h a l v i s t o e m p l a n t a , c o m e n s a m b l a d u r a d o t i p o “ r a b o d e a n d o r i n h a ” .

R e d e s e n h o d a a u t o r a .

F i g . 2 . 6 9 R e s p a l d o d a p a r e d e c o n c ê n t r i c a i n t e r n a , o n d e s e v ê m o s c a i b r o s a p o i a d o s n o f r e c h a l .

F o t o g r a f i a : D e s c o n h e c i d o , 1 9 5 4 . F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 9 9 .

Page 74: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

2.3.3 | SÍTIO DO TATUAPÉ 15

O Sítio do Tatuapé é um dos exemplos da arquitectura civil do planalto paulista edificado aquando a época colonial,

no século XVII, provavelmente entre 1668 e 1698. A primeira referência à sesmaria das terras da casa data

de 1611 no testamento de Lourenço Gomes Ruxaque onde

enuncia os bens deixados na roça para a viúva Isabel Rodrigues e os seus três filhos. No entanto, não deixa clara a existência de uma casa nessa roça. Em 1668 o padre

Matheus Nunes da Siqueira efectua uma petição de sesmaria no Tatuapé no qual declara possuir “uma fazenda com ermida e curral de gado légua e meia desta villa, na

paragem chamada Tatuapé” (ZANETTINI 2006, p.104), mas também não refere a existência de uma casa. No inventário de Catharina d’Orca, em 1698, aparece a primeira menção

a uma casa num terreno que pertencera ao padre Matheus Nunes de Siqueira, e nomeia o seu marido Mathia Rodrigues da Silva como administrador de seus bens. De

acordo com o inventário e testamento de Ignes Pedrosa de Barros, datado de 1705 e aberto em 1715, constata-se que a casa pertenceu a uma família de elevado nível sócio-

económico devido ao aparecimento de móveis e utensílios que fogem ao contexto da época, existindo também a descrição de uma casa de taipa de pilão de três secções.

Thomé Rodrigues da Silva obtém da Santa Sé autorização para ter capela e, em 1728, é instalada em construção independente da casa, dividido em três compartimentos:

oratório, sacristia e alpendre. A partir de então, existe uma

O Sítio do Tatuapé é inserido no capítulo depois da análise da Casa Bandeirante apesar da sua construção ser 15

anterior. No entanto, é feito dessa forma por representar uma tipologia de “tradição bandeirista", ou seja, aparentar uma organização espacial degenerada da apresentada nos outros casos de estudo.

!48

F i g . 2 . 7 1 F o t o g r a f i a a é r e a m o s t r a n d o a i m p l a n t a ç ã o [ A n t e s d o R e s t a u r o ] .

F o t o g r a f i a : E d i s o n P a c h e c o d e A q u i n o , 1 9 7 5 . F o n t e : G A G L I A R D I ( 1 9 8 3 ) , p . 11 .

F i g . 2 . 7 2 A l p e n d r e N o r d e s t e [ D e p o i s d o R e s t a u r o ] . F o t o g r a f i a : Wa l t e r F r a g o n i , 2 0 0 5 .

F i g . 2 . 7 3 F a c h a d a N o r o e s t e [ D e p o i s d o R e s t a u r o ] , F o t o g r a f i a : Wa l t e r F r a g o n i , 2 0 0 5 .

Page 75: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

lacuna na documentação quanto aos proprietários e à função da propriedade. No testamento do Coronel José Manuel de Sá, datado de 1805, aparecem referências

acerca da casa que indicam como herdeira a sua prima Francisca de Paula Oliveira. Em

1810 esta vende a propriedade ao casal João José de Alvarenga e Anna Francisca da Anunciação e inicia-se o processo de degradação pois a casa ou era alugada ou era mantida fechada. que ou era mantida fechada ou era alugada. A carta da Baronesa da Silva

Gameiro, Julho de 1822, doa o imóvel à sobrinha Dona Antonia Maria Quartim e, em 1877, é adquirida pela família Correa de Albuquerque. A seguinte menção à propriedade data de 1945 quando, após a morte do proprietário Elias Quartim de Albuquerque, a propriedade foi

comprada pela Tecelagem Textilia e tem início o loteamento da área (GAGLIARDI 1983). O IPHAN procede ao seu “tombamento” em 1951 e, entre 1970 a 1980, aos trabalhos de

investigação arqueológica e restauro da casa. Em 1975 é reconhecido o valor patrimonial

pelo Condephaat, sendo aberta a visitas públicas em 1981. O Sítio do Tatuapé é considerado, por alguns autores, como exemplar representante da

fase do início da decadência da arquitectura bandeirista. O arquitecto Luís Saia classificava-

o como exemplar impuro uma vez que “comparecem influências de carácter individualista, como na casa do Padre Matheus Nunes de Siqueira, no Tatuapé (São Paulo), com a capela encostada no corpo da residência, em vez de lhe ser inserida, e a transformação da sala

principal em sala de trabalho” (SAIA 1955, p.129), distinguindo-se do partido arquitectónico apresentado nos outros dois casos de estudo.

01 | IMPLANTAÇÃO E TIPOLOGIA DA EDIFICAÇÃO

!49

F i g . 2 . 7 4 O r t o f o t o m a p a d a S í t i o d o Ta t u a p é . F o n t e : R e p r o d u ç ã o d a a u t o r a s o b r e i m a g e m r e t i r a d a d e m a p s . g o o g l e . p t , 2 0 1 6 .

Page 76: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

O Sítio do Tatuapé situa-se na Rua Guabiru n.º 49, Tatuapé, em São Paulo. A casa bandeirista foi implantada a cerca de 1500m da margem esquerda do rio Tatuapé e foi edificada sobre uma plataforma ligeiramente elevada em

relação às terras circundantes. A edificação é voltada para o quadrante norte procurando, desta forma,

proteger dos rigorosos ventos vindos do sul.

De forma rectangular, em planta, tem uma área de implantação de aproximadamente 349m2 e compreende piso térreo e andar sobradado. Inicialmente situada num amplo terreno é, actualmente, rodeada por vários

edifícios distinguindo-se na malha urbana pelo seu volume maciço, austero e pela orientação diferente das construções envolventes.

Com um formato regular assimétrico, contrariando o que acontece

normalmente nas casas bandeiristas, a planta do edifício ocupa, actualmente, praticamente todo o espaço disponível do lote.

03 | ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL

O Sítio do Tatuapé apresenta um planta rectangular de 21.10m por 16.55m

composta por seis compartimentos divididos em três secções longitudinais — 6.00m, 6.72m e 6.00m — e um segundo piso sobradado com dois compartimentos.

Numa primeira aproximação deparamo-nos com a faixa fronteira que corresponde à zona social da casa. Composta pelo alpendre ladeado pelo quarto de hóspedes — com ligação ao exterior mas destituído de acesso

interior — e com um outro compartimento que se supõe não ser o oratório, tão característico das casas bandeiristas, por haver referências em inventários da sua localização ter sido exterior à casa.

Ultrapassado a zona social, dispõem-se duas salas: duas portas na face nordeste, uma janela e uma porta na face noroeste e uma porta na face sudoeste comunicando com uma galeria destituía de acesso para o exterior, e

outra, que comunica com a primeira sala, com porta e janela na face sudeste. Os investigadores pensam que a primeira sala servisse apenas como local de trabalho uma vez que nas primeiras visitas realizadas à casa existia uma peça

em madeira com um orifício (fig. 2.84) na região central para encaixe de um eixo à altura do pé direito e que indica que provavelmente ali estaria instalada uma máquina (SAIA 1944), no entanto, a segunda sala teria assumido o papel

de espaço centralizador da vida familiar. Esta segunda sala e um compartimento na secção oposta integram escadas

que dão acesso a dois compartimentos no piso sobradado com aberturas para

o exterior nas empenas. A casa encerra tem vários compartimentos de serviço na fachada sudoeste

e só um com acesso ao exterior.

!50

Page 77: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

!51

Legenda: 01 | Alpendre ou Pretório

02 | Quarto de Hóspedes 03 | ???

04 | Sala 05 | Zona de Serviço

F i g . 2 . 7 5 P l a n t a d o P i s o T é r r e o | P l a n t a d o P i s o S o b r a d a d o | C o r t e A A’ . R e d e s e n h o d a a u t o r a .

Page 78: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

02 | CARACTERIZAÇÃO DAS FACHADAS

A casa bandeirista em análise distingue-se na Rua

Guabiju pelo carácter austero, rigor da sua composição e marcação da horizontalidade.

Assim como a casa do Butantã, as fachadas assumem

uma hierarquia funcional consoante o programa a que responde a casa. A uniformidade dos panos das fachadas e a escassez de aberturas causada pela técnica construtiva

empregue reflectem-se em duas empenas simétricas, voltadas a noroeste e sudeste, e numa fachada posterior, orientada a sudoeste, muito semelhante às restantes.

A fachada principal, a nordeste, é o único elemento capaz de quebrar a austeridade apresentando uma maior abertura para o mundo exterior. No seu desenho, ganha

especial destaque a presença do alpendre, encerrado com um muro com cerca de um metro de altura que apresenta apenas uma abertura de acesso ladeada por dois pilares de

secção quadrada. As fachadas são rematadas por um beiral formado pelo

prolongamento dos caibros.

04 | Materiais e Sistemas Construtivos

A estrutura é constituída por paredes mestras em taipa

de pilão com espessura de 0.55m. As paredes das duas salas são em oitão na direcção nordeste - sudoeste formando as duas águas do telhado.

As duas empenas que formam o edifício são contraventadas pelas paredes transversais. As paredes são constituídas por um quadrado interior e rectângulo exterior

concêntricos com respaldo horizontal, e apresenta dois pé-16

direitos distintos no alpendre e nas duas salas com 4.15m e 6.00m, respectivamente.

O telhado de duas águas é constituído por dois panos que cobrem a galeria sudoeste, as duas salas e o alpendre nordeste

A armação do telhado é composta por pau de cumeeira mergulhado na taipa no vértice dos três oitões; duas terças que correm embebidas nas faces internas das paredes

limite das salas e dos frechais que se situam nas faces externas. Sobre essa armação assentam os caibros e ripas

Ver Glossário.16

!52

F i g . 2 . 7 7 F a c h a d a N o r o e s t e [ A n t e s d o R e s t a u r o ] . F o t o g r a f i a : H e r m a n H . G r a e s e r, 1 9 4 5 .

F o n t e : K AT I N S K Y ( 1 9 7 6 ) , p . 3 1 .

F i g . 2 . 7 6 F a c h a d a N o r d e s t e [ A n t e s d o R e s t a u r o ] . F o t o g r a f i a : D e s c o n h e c i d o , 1 9 4 5 .

F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 2 2 0 .

F i g . 2 . 7 8 F a c h a d a [ A n t e s d o R e s t a u r o ] . F o t o g r a f i a : D e s c o n h e c i d o .

F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 2 9 8 .

F i g . 2 . 7 9 V i s t a d a v a r a n d a p o r o c a s i ã o d a V i s t o r i a f e i t a p e l o D e p a r t a m e n t o H i s t ó r i c o .

F o t o g r a f i a : J o s é R e i c h e B u j a r d ã o , 1 9 7 7 . F o n t e : G A G L I A R D I ( 1 9 8 3 ) , P. 7 6 .

Page 79: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

02 | A CASA BANDEIRISTA

que suportam as telhas de canudo, terminando com um beiral com cerca de 0.70m de projecção.

As portas e janelas são em madeira, com folhas de tábuas

ensambladas do tipo saia e camisa, integrando sistema de abertura de gonzos de madeira embebidas na padieira e na soleira das portas e janelas. Os alizares das janelas e portas inseridos

nas paredes têm a largura das ombreiras igual à largura da padieira e soleira ou parapeito. As portas externas são almofadadas com desenhos geométricos e nas janelas, o vão livre

é guarnecido por barras verticais de secção quadrada de 0.04m.

!53

F i g . 2 . 8 4 D e t a l h e d a a r m a ç ã o d o t e l h a d o . P e ç a c o m o r i f í c i o , n o s a l ã o c e n t r a l , r e t i r a d a n o r e s t a u r o d e 1 9 7 9 - 1 9 8 0 .

F o t o g r a f i a : D e s c o n h e c i d o , 1 9 4 5 . F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 2 0 5 .

F i g . 2 . 8 0 P a r e d e a r r u i n a d a , f a c e o p o s t a , d e i x a n d o à m o s t r a p a u r o l i ç o q u e f u n c i o n a c o m o e l e m e n t o e m t r a c ç ã o s o b r e o m a c i ç o .

F o t o g r a f i a : D e s c o n h e c i d o . F o n t e : M AY U M I ( 2 0 0 8 ) , p . 2 2 6 .

F i g . 2 . 8 1 E s q u e m a d e f o r ç a s d a c o b e r t u r a , s o m e n t e c o m f o r ç a s n o r m a i s . O s e s f o r ç o s l a t e r a i s s ã o a n u l a d o s p e l a a r t i c u l a ç ã o d o s c a i b r o s .

F o n t e : M AY U M I 2 0 0 8 , p . 2 2 1 .

F i g . 2 . 8 3 A p o i o d o t e l h a d o s o b r e o f r e c h a l [ A n t e s d a R e f o r m a ] . .

F i g . 2 . 8 2 Vi s t a s o b r e o S o b r a d o . F o n t e : A c e r v o D P H / P r e s .

Page 80: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03ARQUITECTURA POPULAR

EM PORTUGALE N Q U A D R A M E N T O D A C A S A P O P U L A R

PORTUGUESA

Caracterização Geográfica das Regiões em Portugal

CASOS DE ESTUDO

Tipologias de Habitação Rural

Tipologia A - Casa de Lavoura do Minho

Tipologia B - Casa Alpendrada da Murtosa

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Page 82: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

3.1. ENQUADRAMENTO DA CASA POPULAR PORTUGUESA

A arquitectura popular foi alvo, durante muitos anos, de um profundo desinteresse não lhe sendo reconhecida a sua importância na história da arquitectura portuguesa. Incentivados pelo governo do Estado Novo para a procura de um estilo arquitectónico

nacional, vários arquitectos e investigadores confrontaram-se com esta realidade. O resultado mais completo desta investigação é o Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa que resultou na publicação da Arquitectura Popular Portuguesa, em 1961,

no entanto, as discussões em torno da casa portuguesa já tinham mobilizado historiadores de arte e antropólogos. De facto, além da realização do Inquérito, os anos de 1950 e 1960 foram também marcados pelas pesquisas do antropólogo

Ernesto Veiga de Oliveira posteriormente reunidas na obra Arquitectura Tradicional Portuguesa, em 1992. Com o objectivo de registrar uma arquitectura em desaparecimento aumenta o interesse pelo estudo da arquitectura de cariz popular.

Para a compreensão desta temática importa distinguir os conceitos de: Arquitectura Popular: algo que é edificado e realizado pelo povo não sendo

necessariamente rural nem vernacular. Apresenta-se com uma grande diversidade de

tipos sobre numerosos condicionalismos geográficos, económicos, sociais, históricos e culturais.

Arquitectura Vernacular: compreende as habitações e outras construções dos

povos de uma dada região relacionadas aos seus contextos ambientais e recursos disponíveis. ”O património vernáculo é o meio tradicional e natural pelo qual as comunidades criam o seu habitat. Resulta de um processo evolutivo que inclui,

necessariamente, alterações e uma adaptação constante em resposta aos constrangimentos sociais e ambientais. A sobrevivência desta tradição está ameaçada, em todo o mundo, pela uniformização económica, cultural e arquitectónica

(ICOMOS 1999). Arquitectura Rural: pode ser considerada uma área de estudos capaz de abranger

todos os aspectos relacionados ao ambiente agrícola, fora do perímetro urbano,

voltados directa ou indirectamente para a habitação e para as dependerias relacionadas com a produção agrícola.

A casa popular aparenta uma construção muito humilde mas é nela que assentam

os princípios da mais autêntica prática arquitectónica. Edificada por construtores populares que empregam os materiais locais como se encontram na natureza ou com algum aperfeiçoamento feito de forma arcaica e alheio a conceitos técnicos de ponta,

é a Arquitectura sem Arquitectos. Martins Barata defende que essa afirmação só pode ser verdadeira se

considerarmos que foi feita sem a intervenção formal de profissionais na arte de

projectar porque “só grandes arquitectos, ainda que instintivos, espontâneos e anónimos, conseguem encontrar tão justas relações de cheios e vãos, tão correctas adaptações às exigências do clima e do terreno, tão gracioso e sóbrio uso do

ornamento quando é caso disso, ou tão digno despojamento do supérfluo quando assim deve ser” (BARATA 1984, p. 11).

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Page 83: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

Também o arquitecto Fernando Távora defende a importância da arquitectura popular afirmando que “a casa popular fornecer-nos-à grandes lições porque ela é a mais verdadeira, a mais

funcional e a menos fantasiosa” (TÁVORA 1947), nasce do povo, tornando-se o reflexo das necessidade da vida de pessoas e comunidades e não da vontade de representar um estilo

arquitectónico com formas e pormenores inusitados. Em constante diálogo com a natureza e sem grandes meios de

transformação dos materiais é construída de forma empírica,

podendo ser integrada num universo rural dissociado de estímulos eruditos embora, em alguns casos portugueses, seja muito difícil estabelecer uma fronteira nítida entre as duas. Deste modo, a

arquitectura popular poderá ter recebido influência erudita directa ou indirectamente, no entanto, o popular dos arquitectos modernos defendido no Inquérito será tanto mais popular quanto menos

erudito aparentar (AMARAL et al. 1988; FERREIRA 2013). A reflexão que se pretende fazer é acerca da arquitectura rural

em Portugal, um país de contrastes com múltiplas assimetrias

geográficas e climáticas que originaram o desenvolvimento de uma vasta variedade de manifestações arquitectónicas.

Desta forma, a casa popular manifesta-se como elemento

caracterizador do lugar em que se insere demonstrando as especificidades dos sítios e a cultura dos homens que nele habitam, diferenciando-se regionalmente de acordo com a

utilização dos materiais e das técnicas construtivas. Orlando Ribeiro clarificou os modelos de ocupação do espaço

português numa visão geo-morfológica e territorial distinguindo

uma “Civilização de Granito” típica do Norte, rude e dura, de uma “Civilização de Barro” típica das áreas meridionais e planaltos a sul do Tejo, com o uso de materiais macios e revestidos a cal.

Enquanto a primeira assumia uma ocupação do território que variava entre a forte aglomeração, região de Trás-os-Montes e a total dispersão, região do Minho; a segunda manifestava-se de

forma mais organizada em povoamentos concentrados e interligados como é exemplo a região do Alentejo (FERNANDES 1991). Deste modo, à medida que se percorre o país, é possível

identificar diferentes técnicas e materiais que reflectem os factos culturais num dado território e, também, as suas características geográficas, climatéricas, etc..

A crescente industrialização do país e as vagas de emigração incentivaram uma percentagem significativa da população a querer

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F i g . 3 . 8 6 M a p a | T i p o s d e P o v o a m e n t o R u r a l A d a p t a d o : M O U T I N H O 1 9 9 5

R e d e s e n h o d a A u t o r a .

L e g e n d a : D i s p e r s ã o D i s p e r s ã o O r d e n a d a A g l o m e r a ç ã o e D i s p e r s ã o A g l o m e r a ç ã o C o n c e n t r a ç ã o e m M o n t e

Page 84: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

melhorar as suas condições de vida e a querer dissociar-se do estigma de pobreza associado às casas populares.

Consequentemente, houve o abandono, a descaracterização e a destruição do

património vernacular edificado ao longo de gerações (AMARAL et al. 1988; FERNANDES 2012).

Segundo Ernesto Veiga de Oliveira, a arquitectura tradicional portuguesa

manifesta-se com muitas variantes regionais que podem ser sucintamente generalizadas em “casas térreas e casas de andar, ou casas-torres; casas-bloco e casas de pátio, aberto ou fechado; casas de pedra, granito, xisto ou calcário,

conforme a natureza dos solos e o costume local, e casas de materiais leves, de taipa, adobo ou tijolo (…) e de madeira; coberturas de palha, de materiais vegetais em geral, de telha, artesanal ou de fábrica, de lajes de pedra, e de uma, duas, três ou

quatro águas; casas isoladas, no meio das terras ou bordando os caminhos, nas áreas de povoamento disperso ou com tendência para a disseminação, e casas alinhadas e arruadas umas a seguir às outras nas áreas de povoamento concentrado

ou nos aglomerados urbanos” (OLIVEIRA & GALHANO 1992, pp. 17-18). As casas populares enunciadas apresentam como características comuns a

implantação segundo uma planta quadrangular simples, a coerência e o pragmatismo

na depuração das formas à sua estrita função, a grande singeleza de linhas e de estilo. O local onde se implantam e a forma como se organizam os povoados são reflexo das condições orográficas, económicas e social.

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F i g . 3 . 8 7 I m a g e n s d e u m m e s m o e d i f í c i o e m A l c a r i a A l t a - A l c o u t i m , A l g a r v e | À e s q u e r d a f o t o g r a f i a r e g i s t a d a n o s a n o s d e 1 9 5 0 ( A M A R A L e t a l . 1 9 8 8 ) e à d i r e i t a r e g i s t a d a n o s é c u l o X X I ( F E R N A N D E S 2 0 0 8 ) .

F o n t e : F E R N A N D E S 2 0 1 2 .

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3.1.1. CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS REGIÕES DE PORTUGAL

Para identificar as diferentes tipologias da arquitectura popular são ainda referências fundamentais obras como a Arquitectura Popular Portuguesa e a

Arquitectura Tradicional Portuguesa. A organização deste sub-capítulo, por questões de coerência com as referências base, seguiram o mesmo método de zonamento utilizados nas diversas investigações realizadas. A arquitectura

popular dos Açores e da Madeira também foram alvo de estudo, no entanto, por questões de incompatibilidade arquitectónica com o objecto de estudo em análise e com os objectivos do trabalho, a sua caracterização foi excluída.

De forma genérica o país pode ser dividido em oito zonas: Zona I | Minho - Situada no noroeste é marcada pelas habitações graníticas

sobradadas adaptadas às encostas, com lojas de animais no piso térreo e

habitação no piso superior. A Casa de Lavoura, complementada pelo sequeiro e pelo espigueiro enquanto dependências, aparece como tipologia dominante. “Muito densamente povoado e porque povoada desde sempre” é uma “zona

rica em construções que vão desde o espigueiro simples do Lindoso ao solar senhorial da Ribeira Lima, como da nora de Válega à casa urbana do Porto” (AMARAL et al. 1988, p.3).

Zona II | Trás-os-Montes - Situada no nordeste é marcada pelo povoamento agrupado em aldeias com um espírito comunitário. O tipo de propriedade transmontano é composto por campos abertos sem muros divisórios para o

cultivo de cereais de sequeiro e para a actividade pastoril. A Casa Serrana assume um carácter sóbrio e rude e é construída em granito ou em xisto.

Zona III | Beira Alta e Beira Baixa - Situada no sector interior central é

caracterizada pelas casas de pedra solta com lojas de animais no piso térreo e habitação no superior e pelos alpendres de madeira com escada anexa. A arquitectura beirã aparece “com feições diferentes, decorrentes, em parte

considerável, das características das pedras e das técnicas usadas no seu aproveitamento; com expressões e apuramentos formais de maior ou menor interesse plástico” (Amaral et al. 1988, p.320).

Zona IV | Estremadura - Compreende a área de Aveiro a Setúbal onde se destacam a Casa Palheira, de estrutura de madeira, pela Casa de Taipa de Gândara, térrea e com cozinha e anexos rurais separados da casa, e pela

Casa Saloia de alvenaria calcária, de volume cúbico, torreado e de dois pisos com escada interna ou externa. “Em pormenor e com pequenas excepções, as terras da Estremadura e do Norte do Ribatejo apresentam-nos (…) conjuntos

de casas e prolongamentos que se esbatem pelo campo em assentos isolados (…) De uma casa avista-se sempre a outra, e a paisagem está retalhada pelas culturas e cheia de vida” (Amaral et al. 1988, p.19).

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Page 86: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

Zona V | Alentejo - Caracteriza-se pelo monte descendente da villa romana e pela casa da aldeia caiada. A habitação destaca-se pela presença da chaminé na fachada, pelos vão reduzidos, pelo beiral trabalho e pelas lojas dos animais separadas da casa

ao contrário das zonas anteriores. Ainda no debate da casa popular importa destacar o Monte Alentejano, uma construção que pode ser térrea, modesta e de reduzidas dimensões ajustada às necessidades de lavoura ou apenas destinadas à habitação

ou casas solarengas com dois ou três andares, com terreiro e pátio murado. O uso de materiais e técnicas como a taipa e o tijolo assumem a sua maior expressão nesta região onde “um franco sentido de horizontalidade domina na arquitectura” e “os

telhados de uma ou duas águas conferem à composição geral um grande valor, com a sua cor terrosa” (Amaral et al. 1988, p.178).

Zona VI | Algarve - Caracteriza-se pela casa térrea e caiada que aparenta uma

maior preocupação estética com uma série de pormenores, chaminés mais pequenas e uso da cor nas fachadas. Algumas casas rurais desta zona aparecem casas com abobadilhadas de tijolo e cobertura em açoteia. As casas de serra têm geralmente

coberturas únicas inclinadas e as casas com telhados de tesoura implantadas em meios urbanos. Destaca-se ainda, o uso da estrutura em taipa devido à grande presença de solo argiloso, à economia da sua execução e a sua durabilidade.

Zona VII | Madeira - Caracteriza-se pela transposição de modelos arquitectónicos da área de Lisboa e do Norte Atlântico. Nesta zona destaca-se a presença de tipologias rurais com coberturas de palha com inúmeras variantes regionais. Existe

um tipo de casa popular dominante com planta rectangular, térrea, de pequenas dimensões e cobertura em palha de duas águas muito inclinadas — Casa de Santana.

Zona VIII | Açores - Caracteriza-se pela diversidade tipológica com características próprias em cada ilha. Sucintamente, dentro do tipo geral de casa de pedra pode surgir: a térrea, caiada e com grande chaminé acoplada em Santa Maria; a de janela-

porta-janela, colorida e com diversas variantes em São Miguel; a de desenhos requintados nas molduras dos vãos na Terceira ou Graciosa; a de corpo rudimentar de dois pisos e com fornos interiores sem chaminé no Faial ou no Pico; a alongada e

colorida com faixas caiadas nas Flores; a de negros volumes de dois pisos, com lojas e cozinhas térreas no Corvo (FERNANDES 1991).

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Page 87: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).
Page 88: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

3 . 2 . C A S O S D E E S T U D O

!63

F i g . 2 . 8 8 C a s o s d e E s t u d o e m P o r t u g a l [ E s c a l a n . d . ] . 1 | C a s a S e r r a n a d e Tr á s - o s - M o n t e s ; 2 | C a s a d e L a v o u r a d o M i n h o ; 3 | C a s a B e i r ã ; 4 | C a s a A l p e n d r a d a d a E s t r e m a d u r a .

F o n t e : R e p r o d u ç ã o d a a u t o r a s o b r e i m a g e m r e t i r a d a d e m a p s . g o o g l e . p t , 2 0 1 6 . F o n t e d a s i m a g e n s : A m a r a l e t a l . 1 9 8 8 .

1

12

3

4

2

4

3

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03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

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3.2.1. TIPOLOGIAS DE HABITAÇÃO RURAL Neste sub-capítulo procurou-se um levantamento de tipologias

populares que pudessem constituir de alguma forma fontes comparativas, quer pelas semelhanças quer pelas diferenças, com o

objecto de estudo — Casa Bandeirista. Os critérios de selecção assentaram fundamentalmente em três

tipos: organização espacial das habitações e o seu modo de implantação

com a malha rural, caracterização das fachadas e técnica construtiva utilizada.

Desta forma, destacaram-se quatro tipologias: Casa Serrana, Casa Beirã, Casa de Lavoura do Minho e Casa Alpendrada da Estremadura com especial atenção para a casa popular da Murtosa. As duas últimas

casas rurais serão desenvolvidas enquanto casos de estudo por serem as que mais se aproximam da arquitectura de São Paulo dos séculos XVII e XVIII.

As tipologias identificadas resultam principalmente do estudo bibliográfico analisado com o cruzamento de dados por observação directa e levantamento in loco feito sempre que possível.

01 | CASA SERRANA DE TRÁS-OS-MONTES

A Casa Serrana assume as características típicas da zona do noroeste transmontano. De planta rectangular, com dois pisos funcionalmente distintos, escada exterior de pedra e varanda assemelha-

se à casa minhota mas aparenta um aspecto mais rude, arcaico e pobre. A casa procura adaptar-se ao declive do terreno e, quando este o

permite, é visível entrada para os dois pisos com duas portas cada uma

a seu nível. A escada exterior, encostada à fachada, é de pedra e rematada por um patim que pode dar lugar a soluções de alpendre ou a uma varanda em casas mais evoluídas.

Respeitando a simplicidade exterior, o espaço interior parece não ter grande preocupação programática. Os compartimentos do piso térreo são destinados às lojas para o gado e para outras arrumações

relacionadas à prática agrícola e no piso sobradado está a habitação. A cozinha é considerada o compartimento principal enquanto centro da vida familiar e pode situar-se no piso térreo ou no piso sobradado. A

chaminé não é um elemento característico desta arquitectura popular e, quando existe aparenta uma solução rudimentar.

No que concerne aos materiais de construção utilizados, estes

dividem-se entre granito raramente aparelhado e o xisto empregue sem

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Page 91: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

argamassa ou reboco. Quando aplicado o xisto é sob a forma de pequenas lajes o que implica a utilização de madeira ou granito nas ombreiras, nas padieiras e nos aventais e de grandes blocos

de granito nos cunhais. As paredes exteriores e interiores mostram blocos empilhados sem qualquer preocupação de alinhamento.

Na serra, os telhados são de duas águas e, de acordo com a

localização da casa, podem ser cobertos com: telha caleira, placas de xisto, lousa ou colmo. Independentemente do material empregue na casa rural, “as paredes laterais são rematadas

geralmente por um capeado horizontal, saliente na face exterior, que desempenha o papel de beiral e representa um sistema antigo para assentamento da palha” (OLIVEIRA & GALHANO 1992, p.

132). A cobertura de colmo foi a mais usada nas zonas serranas e a sua protecção contra os ventos era geralmente feita com uma fiada de pedras postas de cutelo sobre as cápeas das empenas

contas as quais se encosta a palha. As fachadas são de grande simplicidade, com poucos vãos e

elementos decorativos e os que existem são pouco trabalhados. A

porta é de um batente emoldurada no lado externo, as janelas são simples portadas de pau e comumente, ladeando estas aberturas, existem pares de cachorros ou de mísulas de pedra. Muito

raramente, encontra-se nichos e inscrições de datas nas paredes. A varanda aparece como elemento constante na arquitectura

destas casas e é um espaço privilegiado de convívio com uma

relação de transição entre a rua e o interior da habitação. Tem reduzido pé-direito e situa-se geralmente na fachada que dá para a rua formando a entrada da casa e pode assentar em paredes

fechadas, colunas, pilares ou cachorros de apoio. Esta tipologia arquitectónica popular não apresenta muitas

tonalidades, as caiações são executadas apenas nas guarnições

das portas e as cores dominantes são as do granito, do xisto ou a da lousa.

02 | CASA BEIRÃ

A Casa Beirã aparenta uma ligação muito íntima entre a casa e

a paisagem. É sempre adaptada às condições orográficas e pode estar situada num espaço muito pequeno ou estender-se pelo terreno.

A casa procura tirar partido dos acentuados declives para ter mais de um piso. A distribuição dos pisos é geralmente organizada da seguinte forma: o piso térreo para os gado, o piso intermédio

!66

F i g . 3 . 9 0 C a s a e m C a s t e l o , M o n c o r v o . F o n t e : O L I V E I R A e t a l . 1 9 9 2 .

F i g . 3 . 9 1 C a s a e m F e l g a r, M o n c o r v o . F o n t e : O L I V E I R A e t a l . 1 9 9 2 .

F i g . 3 . 8 9 C a s a e m C a s t e l o , M o n c o r v o . F o n t e : O L I V E I R A e t a l . 1 9 9 2 .

Page 92: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

para a habitação e o último piso para armazenamento de produtos agrícolas. Integrada nas regiões com invernos rigorosos, as casas rurais expressam grande preocupação

em reduzir as perdas de calor. Neste sentido, não tinham chaminé mas tinham como principal fonte de calor a lareira e a cozinha localizava-se no último piso para que o fumo se

dissipa-se pela telha-vã da cobertura. A arquitectura beirã é caracterizada pelas varandas,

elementos bem orientados entre sul e poente de forma a

aproveitar o máximo de tempo de sol no inverno e protegerem a casa dos ventos dominantes (AMARAL et al. 1988; OLIVEIRA & GALHANO 1992; FERNANDES 2012).

Os materiais utilizados não se resumem apenas ao granito e ao xisto, a madeira era outro material muito abundante e era comumente empregue nos pavimentos dos

pisos, nas janelas, nas portas e nas varandas. As coberturas são predominantemente de telha de canudo e as lajes de xisto e colmo.

De grande simplicidade, a expressão dos edifícios é sóbria, rude e tudo se reduz ao essencial. Estas características assentam sobre “hábitos seculares de estrita

economia e desconforto fazem com que o rural da Beira se contente com soluções construtivas rudimentares, sem preocupações espirituais; aparecem, aqui e além, soluções

que se impõem pela harmonia dos volumes simples, pelos efeitos de claro-escuro, pela riqueza dos paramentos, pela elegância das varandas, pelo lançamento das escadas

e x t e r i o r e s , o u p o r o u t r o s a s p e c t o s m e n o s comuns” (AMARAL et al. 1988, p. 309).

03 | CASA ALPENDRADA DA ESTREMADURA

Na maioria das habitações da Estremadura os alpendres aparecem como elementos constantes da sua arquitectura

rural. Integrados na casa como zona de transição actuavam, no verão, como zona de trocas climatéricas entre o exterior e o interior fresco da casa e, no inverno, funcionavam como

logradouros abrigados do vento do nordeste. A presença do alpendre não se resume às habitações sendo visível também em edificações de cariz público como as igrejas

(AMARAL et al. 1988).

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F i g . 3 . 9 4 Vi s t a i n t e r i o r d e u m a l p e n d r e e m u m e d i f í c i o p ú b l i c o | A s s a f o r a .

F o n t e : A M A R A L e t a l . 1 9 8 8 .

F i g . 3 . 9 3 E x e m p l o d e u m a c a s a t í p i c a e m R e l v a . A d a p t a d o d e : A M A R A L e t a l . 1 9 8 8 .

F i g . 3 . 9 2 E x e m p l o d e u m a c a s a t í p i c a e m P a ú l . A d a p t a d o d e : A M A R A L e t a l . 1 9 8 8 .

Page 93: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

Quanto ao uso dos materiais, estes variam de acordo com os locais em que a casa se insere. Nas habitações da orla interior do pinhal de Leiria os edifícios eram construídos em taipa com vãos

de pequenas dimensão e eram revestidas com cal para proteger os paramentos de taipa. Nas habitações ribatejanas a construção do paramento era também em taipa que depois era caiada de

branco. A particularidade destas últimas tipologias é o pavimento em terra batida regada com aguada de barro para conservar o pavimento (FERNANDES 2012).

No que respeita a habitação, a casa popular é descrita no Inquérito da seguinte forma:

“Nos núcleos compactos, o limite da casa para a rua passa-se

num plano definido, onde as aberturas aparecem como acidentes. A superfície fechada domina. Para além da mancha das janelas, todo o contraste resulta do claro-escuro que o Sol rasante põe

numa ou noutra moldura, no beirado ou no algeroz saliente, no ondulado que a citação frequente emprestas às superfícies. A casa isola-se da rua. Pode galgá-la e viver sobre ela, mas mantém-se

sempre fechada – toda a actividade se passa no interior, no quintal, abrigado por trepadeiras ou latadas (...)

É que as populações do Sul gostam do ar livre, só vivem ou

trabalham em casa quando o não podem fazer no quintal. Gostam de espaços mais definidos, precisam de planos que lhes dêem sombra para o Verão e encosto para as tardes de Inverno, frias e

claras, e, ao mesmo tempo, apreciam a intimidade que a rua lhes nega” (AMARAL et al. 1988, pp. 29-30).

!68

F i g . 3 . 9 6 C a s a A l p e n d r a d a e m C a r r i ç o , P o m b a l . F o n t e : O L I V E I R A e t a l . 1 9 9 2 .

F i g . 3 . 9 7 C a s a A l p e n d r a d a e m C a r r i ç o , P o m b a l . F o n t e : O L I V E I R A e t a l . 1 9 9 2 .

F i g . 3 . 9 5 C a s a A l p e n d r a d a | G u i a , P o m b a l . F o n t e : O L I V E I R A e t a l . 1 9 9 2 .

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03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

3.2.2. TIPOLOGIA A | Casas de Lavoura do Minho

A Casa de Lavoura do Minho é uma tipologia rural característica da zona I, na região do Minho. A casa popular em análise é tida como um

organismo unifamiliar auto-suficiente na produção de alimentos e abastecimento de energia e água assumindo portanto, uma forte ligação ao terreno de cultivo.

“Devido à existência de mais recursos e o facto de estas casas estarem sempre associado uma porção de terreno que era geralmente

suficiente para suportar as pessoas da casa a todos os níveis: alimentar, de energia e água” (MOTA 2014, p. 18), resultou num programa direccionado maioritariamente às exigências agrícolas e não às

necessidades dos seus ocupantes numa dada época. Em outros povoados destas região as habitações foram também, edificadas com o mesmo objectivo mas devido aos recursos disponíveis nessas áreas

eram em geral, mais pobres e simples. A água e a floresta são elementos constantemente associados à casa de lavoura. A floresta era por norma, o principal meio de obtenção de madeira para construção e para a lenha,

principal fonte de energia desta casa. As dependências de lavoura eram “dispostos um pouco a esmo em

torno de um pátio ou recinto fechado situado ao lado” (OLIVEIRA &

GALHANO 1992) da casa e, como construções anexas, existem os sequeiros e os espigueiros e ainda, meios de obtenção de água como poços.

!69

F i g . 3 . 9 8 T í p i c a C a s a d e L a v o u r a d o M i n h o . F o n t e : A M A R A L e t a l . 1 9 8 8 .

Page 95: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

01 | IMPLANTAÇÃO E TIPOLOGIA DE EDIFICAÇÕES

A maioria das casas são implantadas junto ao caminho público

e na área de terreno em que a prática agrícola era insustentável procurando maximizar a potencialidade do terreno.

De volume cúbico e maciço, estende-se na paisagem rural com

uma composição sobradada. Os sequeiros funcionam como sala de trabalho para expôr os

produtos agrícolas ao sol, servindo de apoio à eira que é situada

imediatamente à sua frente para aproveitar a mesma orientação solar. Para cumprir a sua função eram implantadas no quadrante Sul e Oeste de forma a protegerem os produtos da chuva e a

captarem os ganhos de radiação nas horas de maior intensidade. Ligados à casa principal ou separados, surgem com elementos de construção muito simples com muros, pilares e lintéis em pedra,

cobertura em telha sobre suporte de madeira, soalhos, tabiques, portadas e prumos também em madeira. Nas fachadas e portadas do sequeiro e do espigueiro era comum empregarem um ripado de

madeira com o intuito de facilitar a ventilação e renovação do ar para a função que pretendiam desempenhar (AMARAL et al. 1988; MOTA 2014)..

02 | CARACTERIZAÇÃO DAS FACHADAS

As fachadas da Casa de Lavoura revelam-se lineares e de grande simplicidade. Constituem uma hierarquia funcional de

acordo com o programa a que responde a casa. A secção da casa que é destinada também a funções agrícolas e que necessita de maior exposição solar apresenta uma fachada com maior

aprimoramento marcada por uma varanda ou um patim alpendrado, pelos beirais de telha, vãos das janelas e portas, pilares e lintéis e pelo emprego de pedras grandes, aparelhadas

regularmente, com as juntas esquadradas. Esta fachada é também composta por uma escada que dá

acesso à secção habitacional da casa. A escada exterior de pedra,

encostada ou perpendicular à fachada, era rematada por uma varanda totalmente aberta, assente sobre pilares ou colunas e com guardas lavradas ou por um patim alpendrado. Construída de

forma muito cuidada, era o elemento que recebia mais atenção e aprimoramento. A fachada principal revela o reduzido pé direito na habitação e pode ter pilares de granito no piso térreo e prumos de

madeira no segundo piso com sequências iguais ou diferentes.

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F i g . 3 . 9 9 S o u t o d e S a n t a M a r i a , G u i m a r ã e s | C a s a d e L a v o u r a .

F o n t e : A M A R A L e t a l . 1 9 8 8 .

F i g . 3 . 1 0 0 E s p i g u e i r o d e u m c a s a d e L a v o u r a .

F o n t e : A M A R A L e t a l . 1 9 8 8 .

Page 96: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

Do lado oposto, as dependências da habitação mostram “espessas paredes de juntouros” (AMARAL et al. 1988, p. 57), mais sujeitas a intempéries, que se fecham para as tarefas da

cozinha ou actividades de descanso e por isso, esta fachada é orientada para o caminho público e expressam o isolamento, a protecção e a intimidade da vida doméstica através da

delimitação de pequenos vãos associados às janelas dos quartos e de um largo portão de acesso ao quinteiro.

As fachadas dos sequeiros revelam a necessidade de expor

à acção do sol e do vento uma grande parte dos produtos agrícolas. Como consequência da sua função, as aberturas entre as colunas são vedadas por empanadas ou portadas que

“fixadas na aresta superior, são sustidas abertas, por intermédio de cravelhos de madeira, o que permite, em caso de mau tempo, fechar o sequeiro rapidamente” (AMARAL et al.

1988, p. 58). As fachadas são rematadas por um beiral formado pelo

prolongamento do caibro.

03 | ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL

No que concerne a organização interna, a casa rural aparenta uma grande simplicidade tal como acontece com as suas formas exteriores. Composta por dois pisos em que o piso

térreo era destinado para o gado e armazenamento dos produtos agrícolas e o piso sobradado era composto pelos quartos e por vezes, a sala. A cozinha podia situar-se no piso

térreo ou no piso superior sendo também comum encontrar-se a meia altura do piso das lojas. Na Casa de Lavoura a cozinha é tida como o espaço principal da casa, o “local onde decorre

toda a vida de relação da família, onde se cozinha, se come e se reúnem as pessoas depois do trabalho” (OLIVEIRA & GALHANO 1992, p. 42) e onde existem as duas peças

principais da casa minhota: a lareira e o forno. Como consequência da inexistência da chaminé, as paredes e tecto aparecem com uma cor negra proveniente do fumo que era

escoado apenas pela telha-vã da cobertura.

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F i g . 3 . 1 0 1 E i r a e S e q u e i r o d a C a s a d e L a v o u r a | V i s t a d o A l ç a d o E s t e .

P a l m e i r a , B r a g a .

F i g . 3 . 1 0 2 Q u a r t o d e F o r a a f e c h a r o t o p o d a v a r a n d a .

P a l m e i r a , B r a g a .

F i g . 3 . 1 0 3 Vi s t a d a v a r a n d a e p o r t a s d e a c e s s o a o Q u a r t o d e F o r a .

P a l m e i r a , B r a g a .

Page 97: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

A varanda, orientada a sul ou sudeste, constituía um elemento importante desta casa rural. Considerada, simultaneamente, zona de estar e de circulação, é a área de trabalho que comunica com

todos os compartimentos da casa e a dependência que partilha do espaço exterior e interior participando na vida da casa e do quinteiro. A varanda é aberta e larga, de pedra ou de madeira e

situa-se na fachada mais comprida da casa coberta por uma das águas do telhado e assente em prumos de madeira ou colunas.

Geralmente, ao lado do alpendre, existia ainda o quarto de fora

que tinha as paredes exteriores em pedra e uma parede em tabique a fazer a separação com a varanda.

A lareira era a principal fonte de calor da casa e por esse

motivo a localização da cozinha era pensada de forma a contribuir para o aquecimento dos quartos. Também o calor gerado pelos animais que se guardavam no piso térreo era aproveitado para

este fim.

04 | MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS

A zona do Minho é caracterizada pela grande afluência de pedra granítica ou de xisto reflectindo-se na sua arquitectura. O

material mais usado na construção destas casas é a pedra granítica, visível em todas as paredes portantes das casas, nos sequeiros, nos espigueiros e nos muros que delimitam as

propriedades. Por norma, são empregues sem qualquer preocupação estética apenas são mais trabalhadas as pedras usadas para cunhais, padieiras e ombreiras.

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F i g . 3 . 1 0 5 P l a n t a d o p i s o s o b r a d a d o d a c a s a d e L a v o u r a | B a l a z a r, G u i m a r ã e s .

R e d e s e n h o d a A u t o r a . L e v a n t a m e n t o : A M A R A L e t a l . 1 9 8 8 .

Legenda:

01 | Eira

02 | Telheiro do Portão

03 | Palheiro

04 | Cozinha

05 | Casinha

06 | Sala

07 | Quarto

F i g . 3 . 1 0 4 B a l a z a r, G u i m a r ã e s | C a s a d e L a v o u r a . F o n t e : A M A R A L e t a l . 1 9 8 8 .

Page 98: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

A madeira é também o material característico da casa popular em análise e o tipo de madeira usado depende do

poder económico da família. Geralmente, é empregue o carvalho para os barrotes que suportam o soalho em madeira de pinho e nos barrotes que são apoiados nas

vigas de castanho para suporte do piso ou da cobertura. Este material é usado também nas portas, nas janelas e nos engenhos para retirar água dos poços (MOTA 2014).

O telhado assimétrico da casa de lavoura e do sequeiro é por norma de quatro e duas águas, respectivamente. Coberto de telha canudo assenta a sua cumeeira no mesmo

eixo do corpo dos quartos e o beirado descai sobre a varanda o que permite proteger os elementos de madeira que integram a fachada.

O pavimento da cozinha podia ser em terra batida ou de pedra quando se situa no piso térreo e, quando no piso sob radado é soa lhada . Os qua r tos apa recem

frequentemente, com tectos estucados ou forrados a madeira.

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F i g . 3 . 1 0 6 C o r t e E s q u e m á t i c o d e u m a c a s a - t i p o d e l a v o u r a | R e l a ç ã o e n t r e i n t e r i o r e e x t e r i o r a t r a v é s d a v a r a n d a .

D e s t a q u e p a r a a c o n s t r u ç ã o d a c a s a s o b r e a f l o r a m e n t o r o c h o s o . A d a p t a d o d e : M o t a 2 0 1 4 .

F i g . 3 . 1 0 7 C o r t e E s q u e m a t i z o d e u m a C a s a -T i p o d e L a v o u r a | E v a c u a ç ã o d o f u m o n a c o z i n h a .

A d a p t a d o d e : M O TA 2 0 1 4 .

Page 99: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

CASO DE ESTUDO 01 | COUTO, SOTELO

A casa de lavoura em análise localiza-se na aldeia Soutelo, concelho de Braga, num meio rural isolado. Implantada em uma grande extensão de terreno é contígua a

um caminho público, actual Rua do Giestal, e próximo a um curso de água, o rio Homem.

De planta rectangular não uniforme de 27.00m por 24.10m, está orientada de

acordo com o eixo nordeste-sudoeste e desenvolve-se em dois pisos: piso térreo os compartimentos destinados à actividade agrícola e à cozinha; e no andar sobradado, os compartimentos destinados à habitação.

A área habitacional da casa assume uma área bruta de, aproximadamente, 121 m2 o que significa que apenas 23% da casa de lavoura foi pensada para os moradores. De planta rectangular de 11.10m por 10.90m, apresenta-se simétrica em relação a um

eixo paralelo ao comprimento e à largura. Quanto à organização interna da casa, as zonas de vida familiar e social situam-se

no piso térreo com a cozinha e uma pequena sala; e no piso superior a sala, os

quatro quartos, outra cozinha e a varanda que é utilizada também como sequeiro. Da cozinha, com aberturas para o alpendre exterior na fachada sudoeste, acede-se directamente ao pátio. Os quartos e a sala apresentam aberturas para nordeste e

sudeste e a sala comunica directamente com a varanda. O pátio, que comunica com todos os compartimentos das lojas, é o espaço que

procura a protecção da chuva, vento e sol e para isso, é coberto e delimitado com

muros proporcionando uma zona de protecção e vigilância dos animais. O sistema estrutural é constituída por paredes portantes com 0.50m de espessura,

de alvenaria de pedra granítica e sem qualquer tipo de revestimento, deixando à vista

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F i g . 3 . 1 0 8 O r t o f o t o m a p a d a C a s a d e L a v o u r a | A l d e i a d e S o u t e l o . F o n t e : R e p r o d u ç ã o d a a u t o r a s o b r e i m a g e m r e t i r a d a d e m a p s . g o o g l e . p t , 2 0 1 6 .

Page 100: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

pedras irregulares. Este tipo de acabamento é visível nos panos exteriores e interiores de todas as paredes que delimitam a cozinhas e as lojas. Os quartos são divididos por paredes de

tabique e as paredes exteriores são rebocadas apenas no pano interior.

O telhado da casa é revestido em telha de canudo assente em

uma estrutura de madeira. Na cozinha há o uso da telha-vã para permitir que o fumo seja escoado e o tecto dos quartos e sala recebe um forro de madeira.

O pátio, que comunica com todos os compartimentos das lojas, é o espaço que procura a protecção da chuva, vento e sol e para isso, é coberto e delimitado com muros proporcionando uma zona

de protecção e vigilância dos animais. O telhado da casa era revestido em telha de canudo assente

em uma estrutura de madeira. Na cozinha há o uso da telha-vã

para permitir que o fumo seja escoado e o tecto dos quartos e sala recebe um forro de madeira.

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F i g . 3 . 1 0 9 Vi s t a d a f a c h a d a s u d e s t e .

F i g . 3 . 11 0 Vi s t a d o S e q u e i r o .

F i g . 3 . 111 P l a n t a d e C o b e r t u r a . R e d e s e n h o d a A u t o r a .

L e v a n t a m e n t o d e D a n i e l M o t a , 2 0 1 4 .

Page 101: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

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F i g . 3 . 11 2 P l a n t a d o P i s o T é r r e o ( e m c i m a ) e d o P i s o S o b r a d a d o ( e m b a i x o ) . R e d e s e n h o d a A u t o r a . L e v a n t a m e n t o d e D a n i e l M o t a , 2 0 1 4 .

Legenda: 01 | Eira

02 | Espigueiro 03 | Pátio

04 | Corte 05 | Cozinha 06 | Loja

07 | Adega 08 | Quarto 09 | Sala

10 | Varanda

Page 102: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

CASO DE ESTUDO 02 | COUTO, SOUTELO

A casa de lavoura em análise localiza-se na aldeia de Soutelo, no concelho de Braga. Assim como no caso anterior, é implantada em uma grande extensão de

terreno e contígua a um caminho público, actual nacional 101, e próximo a um curso de água, o rio Homem.

De planta assimétrica e irregular inscreve-se num rectângulo de 30.70m por

26.80m não uniforme orientado segundo o eixo nordeste-sudoeste. A casa rural desenvolve-se também em dois pisos: no piso térreo encontram-se os compartimentos destinados à actividade agrícola e à cozinha; e no andar sobradado,

os compartimentos destinados à habitação. A secção habitacional, no piso sobradado, é de planta rectangular com 19.50m por

11.50m com uma área de, aproximadamente, 152 m2, o que significa que apenas

10% da casa é para uso exclusivo dos moradores.

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F i g . 3 . 11 3 O r t o f o t o m a p a d a C a s a d e L a v o u r a | A l d e i a d e S o u t e l o . F o n t e : R e p r o d u ç ã o d a a u t o r a s o b r e i m a g e m r e t i r a d a d e m a p s . g o o g l e . p t , 2 0 1 6

F i g . 3 . 11 4 V i s t a d o A l ç a d o

Page 103: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

Quanto à organização espacial da casa, o pátio surge como elemento particular, desenhada como o cruzamento entre a casa pátio e a casa sequeiro, tem uma parte

organizada em função do pátio e outra em função do sequeiro. As cortes dos animais e a cozinha têm comunicação directa com o pátio e a loja, situada no piso térreo, comunica com a eira. Sobre a loja ficam os quartos, a sala e a varanda.

Assim como no caso de estudo anterior, a cozinha é o espaço principal da casa, com a lareira encostada à parede oeste. Também o pátio é um espaço que procura a protecção da chuva, vento e sol e para responder à sua função de zona de abrigo é coberto e delimitado

com muros proporcionando uma zona de protecção e vigilância dos animais. Na fachada sul situa-se a varanda usada como sequeiro, de grandes dimensões, e, à sua frente, situa-se a eira e o espigueiro.

Actualmente muito descaracterizada em relação ao seu estado original, a construção inicial empregava a pedra e a madeira como materiais principais. No exterior, as paredes eram rebocadas deixando à vista os cunhais e as orlas das janelas, exceptuando-se a

fachada norte, virada para o pátio, que não recebia qualquer tipo de acabamento deixando a pedra à vista. Quanto à cobertura era feita de telha de canudo na parte coberta do pátio e nas cortes dos animais e de telha-vã de canudo na cozinha.

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F i g . 3 . 11 5 A l ç a d o S u l | S e q u e i r o , E s p i g u e i r o e E i r a .

F i g . 3 . 11 6 P l a n t a d e C o b e r t u r a . R e d e s e n h o d a A u t o r a .

L e v a n t a m e n t o d e D a n i e l M o t a , 2 0 1 4 .

Page 104: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

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F i g . 3 . 11 7 P l a n t a d o P i s o T é r r e o ( e m c i m a ) e d o P i s o S o b r a d a d o ( e m b a i x o ) . R e d e s e n h o d a A u t o r a . L e v a n t a m e n t o d e D a n i e l M o t a , 2 0 1 4 .

Legenda:

01 | Eira

02 | Espigueiro

03 | Sequeiro

04 | Loja

05 | Sala

06 | Cozinha

07 | Corte

08 | Coberto

10 | Quarto

Page 105: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

3.2.3. TIPOLOGIA B | Casa Alpendrada da Murtosa

A análise da tipologia da casa alpendrada tem como principal objecto de estudo as casas da Murtosa identificadas por Ernesto Oliveira e Fernando Galhano aquando da investigação sobre a arquitectura tradicional portuguesa. No entanto, esta tipologia de

arquitectura popular aparece em diversas zonas do país como são exemplos as Casas de Leiria e as casas na Maia.

Segundo os autores, estas casas rurais têm certos pormenores característicos que

merecem ser alvo de análise “não só pela beleza e interesse de alguns desses pormenores, mas também pela sua perfeita integração na paisagem natural e humana local e pelas grandes afinidades estruturais que apresentam com outras que

se podem considerar o tipo de casa corrente na região” (OLIVEIRA & GALHANO 1992, p. 205).

Os autores apresentam a casa sob a forma de três tipos:

Tipo I - De corpo térreo rectangular é composto pela cozinha, pela sala e pelo alpendre ladeado por dois quartos de pequenas dimensões. O telhado de quatro águas é dividido em duas águas pequenas, de forma triangular, nas fachadas de topo

e duas maiores, nas fachadas largas. Estas últimas prolongam-se com menor inclinação de forma a cobrir o alpendre e os dois quartos. A cobertura culmina num beiral horizontal sobre o corpo principal e inclinado nas fachadas laterais.

Tipo II - Distinguem-se das casas de tipo I por um acrescento, na parte posterior da casa, de um corpo simétrico e semelhante ao corpo frontal. A casa de planta quadrangular é dividida em três faixas: a primeira é composta pela varanda ladeada

pelos dois quartos; a segunda que corresponde ao corpo principal da casa com a sala contígua a uma sala de arrumos - despensa ou sala do meio; e por uma última, uma semelhante à primeira, que integra a cozinha e alcovas. O telhado é rematado por um

prolongamento das duas águas maiores que cobre os corpos da frente e da retaguarda, resultando num beiral horizontal sobre o corpo principal e inclinado nas fachadas laterais.

Tipo III - Resulta de uma ampliação das casas de tipo I e é formado por um corpo principal semelhante, acrescido, de um dos lados do alpendre, por um volume rectangular composto por sala e alcova. Desta forma, a fachada deste novo elemento

é contígua à fachada do alpendre mas é mais alta. Os diferentes tipos descritos traduzem as condições naturais da região adaptando-

se as condições orográficas e climáticas bem como às formas básicas da vida local.

As casas de tipo I e II são geralmente de pescadores e as de tipo III eram de lavradores que teriam uma construção tanto mais rica consoante o nível económico dos moradores. As habitações mais antigas desta zona seriam as casas de alpendre

de tipo I (AMARAL et al. 1988, OLIVEIRA & GALHANO 1992).

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Page 106: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

01 | IMPLANTAÇÃO E TIPOLOGIA DE EDIFICAÇÕES

As Casas da Murtosa são quase sempre implantadas num

terreno de pequenas dimensões, contíguas a um caminho público e sem comunicação directa com as terras de cultivo que as envolvem. A localização das casas e das suas dependências de

lavoura são condicionadas pela forma do terreno onde são construídas sendo por norma, implantadas no limite norte da propriedade de forma a aproveitar a luz solar em toda a extensão

da casa com a fachada do alpendre orientada a sul (OLIVEIRA & GALHANO 1992). A fachada posterior é orientada para terrenos alheios ou para caminhos públicos.

O volume, de planta rectangular, nem sempre está alinhado com o caminho público aparentando uma falta de ordem nos arruamentos. O acesso à casa é feito pelo quinteiro — terreno

junto ao caminho público. No quinteiro situam-se as dependências agrícolas que integram o conjunto.

03 | ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL

A organização interna da casa alpendrada já foi sucintamente descrita anteriormente, não existindo muitas alterações significativas cabe aqui descrever as funções a que se destinam

os espaços que as integram. Os alpendres, ex-líbris da casa popular em análise,

manifestam-se com proporções harmoniosas e é a verdadeira

entrada da casa. Situa-se contíguo à eira e está sempre separado parcialmente através do poial, exceptuando as casas mais pobres onde esta separação é apenas feita por esteios de granito ou

prumos de madeira. Com a principal função de recolher os cereais que secam na eira podem ser fechados por “esteiras de tábua ou empanadas de madeira”(OLIVEIRA & GALHANO 1992, p. 210)

presos às colunas. Do alpendre entra-se directamente para a sala e para a cozinha não existindo comunicação com os quartos que o ladeiam. Devido à sua orientação, oferecem excelentes

logradouros no inverno isolados e abrigados do vento de nordeste. A cozinha é frequentemente usada como espaço de trabalho e

não apenas como zona social. A sua iluminação é geralmente feita

por um postigo na retaguarda e um grande número de casas não tem chaminé. No entanto, a chaminé parece ser um elemento tradicional desta tipologia e, quando existe, “a sua saia, que

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Legenda:

01 | Alpendre

02 | Quarto

03 | Sala

04 | Despensa

05 | Alcova

F i g . 3 . 11 8 P l a n t a d o P i s o T é r r o | P l a n t a d a C o b e r t u r a | C o r t e A A’ . [ C a s a d o T i p o I I ] .

D e s e n h o s E s q u e m á t i c o s . R e d e s e n h o d a A u t o r a .

L e v a n t a m e n t o d e O L I V E I R A & G A L H A N O .

Page 107: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

estreita para cima, é feita de adobos mindões pousados numa trave que apoiam um extremo da parede mestra e outro num pião ou prumo de madeira; exteriormente, ela termina por um capuz de telha ou tijolo com fendas naturais” (OLIVEIRA & GALHANO

1992, p. 210). A lareira situa-se sempre a um canto da cozinha, é construída em barro e fica ligeiramente mais alta que o nível do chão.

Os quartos e alcovas têm pequenas janelas, voltadas para a eira, de guilhotina

com portadas interiores. Comunicam com a sala e com a cozinha e a despensa raramente têm ligação directa com o alpendre.

A sala é a dependência de maior importância sendo o único compartimento com

maior preocupação decorativa. Com comunicação directa para a cozinha, para os quartos e para o alpendre, tem também uma janela na fachada lateral e um postigo para a retaguarda nas casa do tipo I e, nas casas do tipo III, vêem-se frequentemente

nichos embutidos nos muros designados de cantareiras ou copeiras. A despensa ou sala do meio aparece frequentemente nas casas de tipo II e III. A

divisão de passagem da sala para a cozinha constitui um espaço de arrumação

importante em que se guarda toda a espécie de objectos necessários às actividade de lavoura.

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F i g . 3 . 11 9 P l a n t a d o P i s o T é r r e o | P l a n t a d e C o b e r t u r a . D e s e n h o s E s q u e m á t i c o s d a C a s a d o T i p o I I I .

R e d e s e n h o d a A u t o r a . L e v a n t a m e n t o d e O L I V E I R A & G A L H A N O 1 9 9 2 .

Legenda:

01 | Alpendre 02 | Quarto 03 | Sala

04 | Alcova 05 | Despensa

06 | Cozinha

Page 108: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

02 | CARACTERIZAÇÃO DAS FACHADAS

As fachadas desta tipologia rural mostram um pé-direito

reduzido e demarcam a horizontalidade que caracteriza a casa e integra-a nas linhas dominantes da paisagem.

O grande destaque na fachada principal é o alpendre.

Orientada a sul, a fachada adquire um grande valor plástico quer pela composição aprimorada dos seus elementos quer pela escolha dos materiais empregados (OLIVEIRA & GALHANO

1992). Apresenta um pé-direito reduzido e invariavelmente tem um pequeno muro baixo — o poial — no qual assentam as colunas que sustentam o frechal do telhado com uma ou duas aberturas de

passagem a um ou aos dois lados. As restantes fachadas, muito maciças, revelam uma

introversão para o mundo exterior e são assinaladas pelos

pequenos vãos dos quartos situados ao lado do alpendre, pela janela da sala das paredes laterais, nas casas de tipo I e tipo II, e por duas grandes janelas da nova sala nas casas de tipo III.

O telhado é sempre rematado pelo típico beirado à portuguesa.

04 | MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS

No que concerne às técnicas construtivas, as paredes mestras são de adobe intercalado com pedra de forma a conferir maior

resistência. As divisórias internas são do mesmo material usado nas paredes mestras mas com secções mais delgadas. Todas as paredes são revestidas com argamassas de cal e areia que no

pano exterior quer no interior (AMARAL et al. 1988). As colunas que caracterizam o alpendre são feitas de tijoleiras

revestidas de argamassa amarela com capiteis de formas

variadas. O telhado de telha caleira, é de quatro águas dividido em duas

pequenas — meias-rodas — em forma triangular nas fachadas de

topo e duas maiores, nas fachadas largas. As traves e o barrotamento do telhado — os ares — são de madeira de castanho e o resto do madeiramento de pinho. Os caibros são

compostos de duas peças: uma que vai do cume até à parede mestra divisória em que se fixa o frechal — a terça —; e outra que faz o prolongamento da primeira até ao frechal das paredes

exteriores. Sobre os caibros é pregado um forro — guarda-pó — em que assenta a telha caleira. O beiral é formado por capas e canudos e é assente em uma gro.ssa cornija (OLIVEIRA &

GALHANO 1992)

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F i g . 3 . 1 2 0 C a s a d e T i p o I I e m M u r t o s a . F o n t e : O L I V E I R A & G A L H A N O 1 9 9 2 .

F i g . 3 . 1 2 2 C a s a A l p e n d r a d a e m B e s t i d a , M u r t o s a .

F o n t e : O L I V E I R A e t a l . 1 9 9 2 .

F i g . 3 . 1 2 1 C a s a A l p e n d r a d a e m M u r t o s a . F o n t e : O L I V E I R A & G A L H A N O 1 9 9 2 .

Page 109: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

03 | ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL

Após o beiral, estas casas apresentam cimalhas de perfil muito recortado com vários frisos e cunhais salientes.

Os quartos e salas são forrados e nos quartos pequenos,

situados ao lado do alpendre, o tecto é inclinado acompanhando a água do telhado e o pavimento seria em terra batida sobre o qual se punha uma camada de junco. A cozinha é de telha-vã e o

pavimento era também, em terra batida. No alpendre o pavimento era por norma, ladrilhado com tijoleiras ou lajeado com uma pedra acizentada e o tecto era forrado por cima dos caibros (AMARAL et

al. 1988; OLIVEIRA & GALHANO 1992). As portas e janelas têm alizares mas os postigos da retaguarda

não têm qualquer ornamento. Estes elementos são commumente

caiados a branco. As portas exteriores são de uma só folha, com dobradiças feitas em tacos de madeira e embutidas na parede e as portas interiores têm tranquetas ou taramelas de madeira.

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F i g . 3 . 1 2 4 F a c h a d a P r i n c i p a l d e u m a C a s a - T i p o d a M u r t o s a . F o n t e : w w w. p r o f 2 0 0 0 . p t [ 2 0 / 0 4 / 2 0 1 6 ] .

F i g . 3 . x x D e t a l h e d a F a c h a d a P r i n c i p a l d e u m a C a s a - T i p o . F o n t e : w w w. p r o f 2 0 0 0 . p t [ 2 0 / 0 4 / 2 0 1 6 ] .

F i g . 3 . 1 2 3 D e t a l h e d o B e i r a l d o Te l h a d o d e u m a C a s a - T i p o d a M u r t o s a .

F o n t e : w w w. p r o f 2 0 0 0 . p t [ 2 0 / 0 4 / 2 0 1 6 ] .

Page 110: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04CONSIDERAÇÕES FINAIS

ANÁLISE COMPARATIVA

A Arquitectura Bandeirista e a Arquitectura Popular Portuguesa

A “Esfinge Semi-Decifrada”

CONCLUSÃO

Page 111: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).
Page 112: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1. ANÁLISE COMPARATIVA

4.1.1. A ARQUITECTURA BANDEIRISTA E A ARQUITECTURA POPULAR PORTUGUESA

No Estado de São Paulo, parte significativa dos exemplares desta tipologia está concentrada em áreas bastantes especificas das cidades. Implantadas num meio rural isolado e à margem de um rio, os seus proprietários procuraram

construir a casa numa paisagem que maximizasse a visibilidade da envolvente. As casas do início do século XVII mostram uma arquitectura muito regular com

eixos de s imetr ia bem def in idos, assist indo-se a uma progressiva

“degradação” (SAIA 1955) deste estilo arquitectónico à medida que se caminha para o século XVIII. De facto, nas casas mais tardias a regularidade da planta com espaços contidos num rectângulo ou quadrado perfeito, elemento tão

característico da primeira fase desta tipologia, começa a desvanecer, no entanto, isso não se reflecte nas suas fachadas.

No caso de Portugal, não se pode afirmar a existência de um modelo

arquitectónico nacional mas antes a subsistência de uma arquitectura popular marcada por variantes regionais. No entanto, todas as diferentes tipologias têm em comum a localização em ambientes rurais isolados e a forte ligação ao

terreno. A expressão arquitectónica destas casas é bastante condicionada pelos factores geográficos e climáticos, pelos recursos disponíveis no ambiente em que se inserem e pelas condições sócio-económicas dos seus moradores que se

reflectem na organização da planta, na expressão das fachadas e nos cuidados decorativos que a casa recebe.

Aqui não é tão explicita a definição de um modelo arquitectónico como

acontece em São Paulo. No entanto, é possível estabelecer algumas comparações entre as várias manifestações da arquitectura popular portuguesa e a morada paulista dos séculos XVII e XVIII.

Um ponto comum aos dois locais de estudo é o papel determinante que tomam os proprietários e os seus percursos de vida na construção destas casas. Independentemente do maior ou menor estatuto social dos seus ocupantes, o

programa da casa revela uma maior preocupação em responder às exigências do trabalho de campo do que propriamente ao conforto dos seus moradores.

As duas tipologias apresentadas como casos de estudo no capítulo “A Arquitectura

Popular em Portugal” — Casa de Lavoura do Minho e Casa Alpendrada da Murtosa —, são aquelas que considero que mais se aproximam da casa bandeirista. No entanto, para a análise comparativa será abordado, sempre que seja oportuno, outras

casas rurais características das diferentes regiões que compõem o país. No que concerne ao modo de implantação, nenhum dos locais — São Paulo e

Portugal — parece ter uma regra em comum no modo de como estas habitações se

inserem na malha urbana ou rural, no entanto, as questões topográficas são factores condicionantes em ambos os casos.

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Page 113: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

As casas bandeiristas apresentam soluções de implantação consensuais que as distinguem da malha urbana actual através do carácter monolítico e maciço que as caracterizam. A solução comum é a implantação com a forma rectangular em planta e

sem construções contíguas como são exemplos os casos de estudo da Casa do

Bandeirante e da Casa do Sertanista. O terceiro caso de estudo — Sítio do Tatuapé — contraria a ideia aqui representada mas importa salientar que o seu modo de

implantação actual deveu-se ao crescimento da cidade de São Paulo e em nada retrata o seu aspecto aquando da sua construção no século XVII. Quanto à orientação destas casas, esta é também condicionada por factores climáticos e

geográficos. Neste sentido, procurando a protecção dos ventos a fachada principal era geralmente orientada a nordeste e, sempre que possível, a um rio sendo raras as que apresentam diferente orientação.

Por outro lado, em Portugal, a maioria das casas rurais são implantadas num terreno, contíguas ao caminho público e, como já considerado de tradição lusitana, a fachada principal corresponde ao alinhamento da rua. Esta última afirmação é

provada nos casos de estudo das Casas de Lavoura do Minho e das Casas Alpendradas da Murtosa como também, na maioria das manifestações arquitectónicas de outras regiões. As duas tipologias apresentadas como casos de

estudo, têm em comum a orientação no quadrante sul e oeste procurando captar os ganhos de radiação de maior intensidade e proteger-se do vento dominante e deste modo, cumprir as suas actividades de lavoura.

A casa colonial em São Paulo é tida como habitação unifamiliar, no entanto, a hipótese de ter sido multifuncional também parece válida. Um facto é a existência de construções anexas que serviam de apoio à casa principal mas, no que respeita a

disposição destas construções no terreno não se podem ter certezas. Estas dependências de lavoura também eram constantes nas casas populares portuguesas como é visível nas casas do Minho onde os sequeiros e espigueiros são ligadas à

casa ou dispostos em torno de um pátio. Talvez se possa afirmar que o que mais aproxima os casos de estudo

apresentados em São Paulo, no Minho e na Murtosa seja o seu desenvolvimento em

planta e a sua organização interior directamente condicionados pelo programa a que responde ou seja, as casas bandeiristas e as casas da Murtosa reflectem um uso maioritariamente habitacional e as casas de lavoura do Minho são pensadas mais

para a actividade agrícola. Nas casas de lavoura a organização interna é distribuída por dois pisos: o piso

térreo destinado a animais e o piso sobradado para habitação. Esta composição da

casa em dois pisos também existe em algumas das casas coloniais de São Paulo em análise, no entanto, ao contrário do que acontece na casa de lavoura, supõe-se que o sobrado se destinasse ao armazenamento de produtos agrícolas e não tivesse o uso

de habitação pois o pé-direito reduzido não permitiria. A análise comparativa entre a casa do Minho e a casa de São Paulo restringir-se-á

à secção habitacional da primeira tipologia. No primeiro caso de estudo apresentado

a habitação insere-se numa planta planta rectangular perfeita composta pela varanda

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Page 114: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

— usada como sequeiro — pela sala e pelo quarto. Também aqui a planta parece responder segundo um eixo biaxial e a varanda, que ocupa quase 50% da área habitacional, é um elemento de grande importância nesta casa rural. O segundo caso

analisado também é composto por dois pisos que se destinam às mesmas funções que o caso de estudo anterior. A varanda do piso sobradado ganha destaque pelas grandes dimensões que corresponde um pouco mais de 50% da área habitacional e

reflecte a importância que este espaço tem na casa de lavoura. Em ambos os casos a varanda aparece como o elemento principal da casa pelas

funções a que responde enquanto zona de trabalho, de convívio e também, como

zona de distribuição uma vez que é o espaço que comunica com todos os compartimentos do sobrado. Tal como nas casas bandeiristas, a varanda pode ser ladeada por dois outros compartimentos com ligação directa.

O esquema tipológico da casa alpendrada da Murtosa é o que mais se aproxima da moradia paulista. Genericamente inserida em terrenos de dimensões reduzidas a planta apresenta-se bastante regular e de certo modo, aproxima-se de uma simetria

biaxial. A planta desta casa é marcada pelo alpendre que se manifesta com proporções harmoniosas. Assim como acontece na moradia paulista, este espaço, que constitui a entrada principal da casa, é ladeado por dois compartimentos, no

entanto, ao contrário da primeira, estes não têm ligação com o alpendre. A casa parece ter uma separação entre o mundo público e privado através de uma faixa social e de outra mais resguardada para a intimidade da família, essa separação

verifica-se também na casa colonial paulista dos séculos XVII e XVIII. As casas bandeiristas desenvolvem-se em torno de uma grande sala, que

desenrola um papel estruturante na sua configuração implantando-se numa posição

central de forma normalmente rectangular e no qual todos os compartimentos comunicam. As casas populares analisadas, em parte, por não se regerem segundo um elemento necessariamente central, que organiza e estrutura a sua distribuição

interior, vão se desenvolver em diversas formas. Quanto à comparação das fachadas dos casos de estudo de São Paulo e de

Portugal, estas têm em comum o carácter maciço e monolítico que atribuem à casa.

A fachada principal da casa colonial de São Paulo é a única que expressa maior abertura com o mundo exterior através da existência de grandes aberturas. Desenhada pelo grande vão rectangular do alpendre e pelas colunas, podendo ter ou

não um pequeno muro, define a entrada principal da casa. Este alçado tem por norma, mais duas aberturas que correspondem às janelas do quarto de hóspedes e da capela, uma de cada lado do vão do alpendre.

Em Portugal, a tipologia estudada pelos investigadores Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano — Casa da Murtosa — expressa o mesmo desenho de fachada com grande vão, colunas e pequeno muro e, assim como acontece na casa paulista,

as restantes apresentam-se bastante fechadas podendo ter duas ou três aberturas de pequenas dimensões.

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Page 115: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fachada principal da casa de lavoura distingue-se da casa colonial, no entanto, as principais directrizes estão implantadas: existência de um grande vão com colunas ou pilares.

Poderia o alpendre, elemento tão característico da casa colonial paulista, responder também ao mesmo programa que a varanda da casa popular do Minho? Será que foi pensado como uma adaptação das varandas e alpendres predominantes

nas diferentes manifestações arquitectónicas populares? O uso do alpendre em Portugal é bastante comum não só em habitações mas também em edifícios de cariz público. Também a varanda representa um elemento arquitectónico muito constante

nas casas populares das regiões de Trás-os-Montes e Beira-Alta. Embora nas últimas duas regiões o alpendre apareça exterior à fachada, ao contrário do que acontece na casa de lavoura, quer o alpendre quer a varanda tem uma relação de transição entre

o exterior e o interior e constituem-se espaços privilegiados de convívio e de trabalho. Nos dois locais em estudo, as fachadas reflectem uma tentativa de regularidade e

de rigidez das casas impostas por limitações construtivas ou talvez, por opção

arquitectónica para evidenciar a diferença entre público e privado. Uma característica comum na maioria das casa populares portuguesas são as fachadas que correspondem às secções da casa que respondem a um programa mais social ou

que se destinam à actividade agrícola, como no caso das casas de lavoura, apresentam uma maior extroversão para o exterior e as que delimitam a habitação propriamente dita expressam uma noção de intimidade para o ambiente familiar.

Estas fachadas, e a sua ornamentação, são o espelho não só da época em que foram erguidas mas também das maneiras de construir desse tempo. As fachadas das casas coloniais paulistas reflectem a simplicidade do modo de vida dos colonos

sendo, este reflexo, também visível nas casas populares portuguesas em que as fachadas revelam a humildade e sobriedade do modo de vida dos seus moradores.

Na casa alpendrada da Murtosa o telhado é geralmente, de quatro águas dividido

em duas pequenas nas fachadas laterais e duas maiores na fachada principal e posterior assemelhando-se à casa bandeirista. Também a secção habitacional da casa de lavoura do Minho integra um telhado de quatro águas e, embora com maior

declive, apresentam características semelhantes à tipologia de São Paulo. Nas três tipologias mencionadas o beiral é formado pelo prolongamento dos caibros.

A divulgação da técnica de taipa de pilão na colónia teria ocorrido através dos

portugueses e, embora tenha sido utilizada em muitas áreas da colónia em habitações, igrejas, muralhas, etc., só conseguiu consolidar-se em São Paulo, Goiás e Minas Gerais. Enquanto cidade colonial, São Paulo foi toda construída em taipa e

as casas bandeiristas são produto dessa constante arquitectónica. Esta técnica foi utilizada durante três séculos “desde os primórdios da colonização, no século XVI, até à época da efervescência da economia cafeeiro, no século XVIII” (FERNANDEZ

2005, p. 92). A adopção de uma mesma técnica construtiva denominado hoje como a “taipa paulista” foi condicionada pela ausência de outros materiais construtivos nas proximidades, pela dificuldade de acesso e transporte e pela escassez de mão-de-

obra especializada, no entanto, importa aqui salientar a acção dos portugueses na

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Page 116: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

divulgação e ensino desta técnica aos escravos de origem indígena. Aquando da vinda do Governado-Geral Tomé de Souza, foi lhe recomendado — através do Regimento Almeirim — “que construísse como uma <fortaleza forte> a nova capital da

América Portuguesa” propondo que “a fizesse de terra e de madeira que melhor fosse possível” (MENDONÇA 2005, p. 91).

Em Portugal, a taipa é característica sobretudo de todo o sul do país aparecendo

com preponderância na zona meridional do Alentejo onde há menos chuva e onde a madeira e a pedra são menos frequentes. Também no Algarve esta técnica já seria corrente antes da “chegada nos romanos e continua sê-lo depois de estes terem

dominado o território algarvio” (CALDAS 2007, p. 168) e a presença islâmica terá fomentado o seu uso. Esta forma de erigir enquadra-se no campo da construção popular, onde o factor económico era sempre mais importante, se não preponderante.

Comumente associada a “memórias de pobreza”, o seu uso é também alargada a classes sociais com maior poder económico como atestam algumas casas senhoriais do sul (ROCHA 2005).

Em todo o país é possível encontrar casas populares de taipa como são exemplos os Montes Alentejano, algumas casas alpendradas da região da Estremadura e, também, nas casas serranas de Trás-os-Montes. A respeito desta última região,

importa justificar que as casas predominantes eram construídas em alvenaria de pedra pela enorme abundância deste material, no entanto, investigações recentes revelaram que a construção de paredes estruturais em terra, embora com menos uso,

era também uma característica arquitectónica desta região (FERNANDES 2013). O processo de construção consistia sucintamente, na execução de grandes blocos

de terra moldado in situ dentro de cofragens amovíeis — taipais — e compactadas

com pisões. O processo de construção desta técnica nas casas portuguesas seguia as mesmas etapas e métodos que a construção bandeirista parece receber.

O conhecimento do uso desta técnica em Portugal datar antes da ocupação

Romana, a predominância de casas populares portuguesas construídas em taipa e as semelhanças quanto ao método construtivo nos dois países conduzem à suposição que terão sido os portugueses os principais promotores desta técnica em terras

paulistas.

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Page 117: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1.2. A “ESFINGE SEMI-DECIFRADA”

O debate sobre quem terá sido o principal promotor da arquitectura bandeirista tem sido estimulado por diversos autores e a cada novo estudo surge uma nova

teoria. Carlos Lemos expõe o que considero ser a melhor interpretação da casa colonial paulista quando a define como uma “esfinge semi-decifrada” (LEMOS 1999, p.21). De facto, muito se conhece da moradia de São Paulo dos séculos XVII e XVIII

mas, no que se refere a saber quem terão sido os seus introdutores em terras paulistas, quais as influências na sua arquitectura e quais terão sido os hábitos de

morar, as investigações realizadas até então sugerem hipóteses mas não apresentam conclusões.

Cada autor propõe uma nova tese, interpretando o que considera ser a origem da

casa bandeirista. Facto é que quando comparado com a arquitectura da restante colónia portuguesa, a casa colonial paulista não surge com a mesma grandiosidade e esplendor.

Aracy Amaral defende que teriam sido os castelhanos os principais agentes, afirmando que o emprego de detalhes construtivos comuns como os “pilares lavrados em madeira, cachorros de beiras entalhados e frequentemente balaústres de janelas

em madeira” (AMARAL 1981, p. 31) são de tradição espanhola. De acordo com a autora, a casa paulista indica mão castelhana pela certeza com que estabelece a regularidade da planta com a divisão dos espaços contidos dentro de um rectângulo

ou de um quadrado perfeito. Como anteriormente mencionado, a vinculação do tratadismo italiano à arquitetura

paulista é defendida pelos autores Carlos Lemos e Luis Saia sugerindo que o

palladianismo poderá ter sido a base da arquitectura bandeirista. “Será que o vazio central terá tido influência da arquitetura classicizante pós-

renascentistas, via tratadistas? Quem seriam os agentes culturais? Engenheiros ou

arquitetos militares e os padres jesuítas?” (SAIA 1955). Analisando a história dos jesuítas no Brasil, é inquestionável a legitimidade da sua

contribuição na consolidação da sociedade bandeirista contribuindo também para as

doutrinas da arquitetura colonial. Chegados no início do século XVI preocuparam-se em ensinar e realizar obras de várias especialidades influenciados pelos métodos de Portugal, Espanha, Itália, França, etc.; ensinando e adaptando os modelos que teriam

feito parte da sua formação (NETO 1968). Desta forma, é importante fazer uma breve análise comparativa entre a

arquitectura bandeirista e a arquitectura Palladiana.

No tratado de Andrea Palladio (1508-1580), I Quattro Libri dellArchitettura, do

século XVI, o autor adopta o conceito de beleza conseguido através de uma relação do todo com as partes.

A definição de beleza para Palladio aproxima-se, portanto, do conceito de simetria. Embora o termo não seja citado no tratado é notório na leitura dos seus textos e na observação dos seus desenhos.

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Page 118: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

A composição da casa di villa é composta por seis partes: sala central; compartimentos laterais — stanze; galeria — loggia; escada interna e externa; nível semienterrado; celeiro.

No centro da composição está o espaço principal da residência, a sala, circundada pelos restantes compartimentos, destinados ao proprietário da casa. Nas laterais, também estão

as escadarias de acesso ao nível semi-enterrado, destinado para serviços, ao mezanino, reservado para depósitos, ou ainda ao segundo andar, destinado aos quartos de dormir.

Ao longo deste texto serão apresentados alguns pressupostos Palladianos retiradas do seu tratado que serão exemplificados com desenhos da casa bandeirista para deste

modo, tentar perceber a influência italiana na arquitectura colonial paulista dos séculos XVII e XVIII.

01 | Sala (fig. 4.122):

Além destes, todas as casas bem projetadas têm, no centro e nas partes mais bonitas, lugares aos quais todos os outros

correspondem e podem ser alcançados. Estes lugares são popularmente conhecidos como entradas no piso inferior e salas no piso superior. As entradas são como espaços

públicos e servem como lugar onde ficam aqueles que esperam que o patrão saia de casa para saudá-los e logo negociar; são a primeira parte à qual se tem acesso ao

entrar na casa. As salas servem para festas, banquetes, casamentos, entretenimentos e para encenar comédias; por isso, esses espaços devem ser muito maiores do que os

outros e devem ter uma forma tão espaçosa quanto possível, de modo que muitas pessoas possam-se reunir confortavelmente e observar. Eu costumo não exceder no

comprimento das salas dois quadrados derivados da largura, pois quanto mais a forma se aproximar da largura, mais louvável e prática será (Palladio, 1997, Livro I, cap.

XXI, p. 85, tradução da autora) . 1

“En outre, toutes les maisons bien ordonnées ont dans leurs parties principales des lieux où tous les autres 1

regardent et se rapportent. Ces lieux, au rez-de-chaussée, s'appellent ordinairement entrée et, dans les étages, on les nomme salles. Ce son comme des lieux publics, les entrées servent de retraite à ceux qui attendent que le maître sorte pour lui parler ou pour traiter avec lui de quelque affaire, et sont, après lesloges, le premier endroit de la maison qui se présente à ceux qui ypénètrent. Les salles peuvent servir à toutes sortes de cérémonies, à banqueter, à donner la comédie, à faire des noces, et d'autres passetemps semblables. Pour cette raison, on les fait beaucoup plus grandes et d'une forme plus spacieuse que le reste, afin d'y recevoir plus de monde et leur donner davantage de commodité de voir ce qui s'y passe” (PALLADIO 1997, Livro I, cap. XXI, p. 85).

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F i g . 4 . 1 2 2 D e s e n h o s E s q u e m á t i c o s d a o r g a n i z a ç ã o e s p a c i a l d a s c a s a s b a n d e i r i s t a s : 1 . C a s a d o S e r t a n i s t a ; 2 . C a s a d o B a n d e i r a n t e ; 3 . S í t i o d o Ta t u a p é .

Page 119: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

02 | Compartimentos — Stanze (fig. 4.122):

Os quartos devem ser distribuídos em ambos os lados da entrada e da sala, deve-se assegurar que os da direita sejam iguais aos da

esquerda e a eles correspondam, para que o edifício seja o mesmo de um e de outro lado (Palladio, 1997, Livro I, cap. XXI, p.85, tradução da autora) . 2

Sobre os compartimentos laterais, dispostos em faixas longitudinais e transversais, afirma ainda que devem ser multifuncionais: quartos de dormir, escritórios, salas privativas,

escadarias, etc.. Com poucas excepções, havia três compartimentos em cada lado da sala.

03 | Vãos (fig. 4.xx):

As janelas do lado direito devem corresponder às do lado esquerdo, e aquelas acima diretamente sobre as que estão

abaixo, também as portas devem estar diretamente umas sobre as outras, e o vazio sobre o vazio, o sólido sobre o sólido, e todos de frente um para o outro, de modo que, estando em uma

extremidade da casa, se possa emoldurar a outra (Palladio, 1997, Livro I, cap. XXV, p. 91, tradução da autora) . 3

03 | Galeria — Loggia (fig. 4.123):

As loggias são geralmente construídas na parte frontal e posterior da casa. Se construídas no centro, há apenas uma e, se nas

laterais, duas. Têm muitos usos, como passear, realizar refeições, além de outros passatempos. São feitas maiores ou menores, dependendo do tamanho e da função do edifício, mas a maior

parte não apresenta dimensões de largura inferior a dez pés ou superior a vinte (Palladio, 1997, Livro I, cap. XXI, p. 85, tradução da autora) . 4

“Les chambres doivent être de part et d'autre de l'entrée et de la salle, et il faut prendre garde que celles de la 2

main droite répondent et soient égales à celles du côté gauche, afin que le bâtiment soit tout pareil d'un côté et d'autre, et que les murs portent également le faix de la couverture” (PALLADIO 1997, Livro I, cap. XXI, p. 85).

Il faut aussi que les fenêtres qui sont à main droite correspondent à celles de la main gauche, et que celles de 3

dessus tombent à plomb sur celles de dessous. Les portes doivent aussi se trouver directement les unes au-dessus des autres, afin que partout le vide rencontre le vide et que le plein repose sur le plein. De plus, les portes doivent être situées sur un même alignement, pour que, d'une seule oeillade, on puisse regarder le logis d'un bout à l'autre, ce qui apporte de la gaieté et de la fraîcheur durant le temps des chaleurs, et d'autres commodités (PALLADIO 1997, Livro I, cap. XXV, p. 91).

“On place ordinairement les loges sur les façades de devant et de derrière; lorsque l'on n'en veut faire qu'une 4

seule, elle doit être au milieu, mais si on en fait deux, on les met au-dessus des ailes. Ces loges peuvent servir à diver usages: s'y promener, y prendre les repas et autres choses semblebles. Eles se font on plus grandes ou plus petites, selon la commodité ou l'étendue du bâtiment, mais il faudra leur donner pour le moins dix pieds de largeur et vingt pour le plus” (PALLADIO 1997, Livro I, cap. XXI, p. 85).

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F i g . 4 . 1 2 3 A l ç a d o s d a s C a s a s B a n d e i r i s t a s : 1 . C a s a d o S e r t a n i s t a ; 2 . C a s a d o B a n d e i r a n t e ; 3 . S í t i o d o Ta t u a p é .

Page 120: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

A loggia ou pórtico é um espaço de grande importância para a villa, por ser o primeiro lugar de acesso à casa. Através desta se faz a distribuição ao interior da casa e podia ser um lugar para passar e fazer as refeições. Proporcionava a

presença do espaço exterior dentro da edificação e, em alguns casos, conectava-se ao jardim.

Um edifício também terá decoro se as partes corresponderem ao todo, de modo

que, em grandes edifícios, haverá grandes membros; em pequenos, pequenos membros; em médios, membros de tamanho médio; certamente seria desagradável e inadequado se a sala e os compartimentos de um edifício muito grande fossem

pequenos e, por outro lado, se dois ou três compartimentos de um edifício pequeno o ocupassem por inteiro (Palladio, 1997, Livro 2, cap. I, p. 115, tradução da autora) . 5

Adequada à escala e aos recursos disponíveis na sua esfera, a planta rege-se de

acordo com um e/ou dois eixos de simetria bem definidos e desenvolve-se em torno de uma sala no qual convergem todos os espaços. Esta sala, acedida pelo alpendre que aparenta ser uma verdadeira loggia, constitui-se como o espaço central da casa

que é simultaneamente zona de estar, de trabalho e de comunicação. Os compartimentos dispostos nos lados das salas bem como os vãos que compõem as suas fachadas assumem igual posição e dimensão. Embora não aparente a

magnificência da villa, a casa bandeirista parece ser portadora do conceito de beleza dado por Palladio.

“Il faut encore observer cette convenance, que chaque membre du bâtiment ait du rapport avec tout le reste, de 5

sorte que dans les grans édifices on voie de grandes parties, de petites dans les petites, et de médiocres dans les médiocres, parce qu'il y aurait sans doute à redire si dans um grand bâtiment toutes les salles et toutes les chambres se trouvaient petites, et de même si dans un petit, deux ou trois grandes chambre en occupaient toute l’etendue” (PALLADIO 1997, Livro 2, cap. I, p. 115).

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Page 121: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

04 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.2. CONCLUSÃO

Com a presente dissertação procurou-se estabelecer uma relação comparativa entre o modelo da habitação de São Paulo colonial dos séculos XVII e XVIII e a habitação popular portuguesa.

Tendo como base os contextos históricos estudaram-se os aspectos que aproximam ou afastam os exemplares das tipologias nos dois locais. Neste sentido, os costumes hábitos e tradições de quem trabalha e se dedica à lavoura e às suas habitações

correspondentes, torna-se parte integrante do estudo. Os portugueses retomaram antigos hábitos, com o objectivo de se adaptarem à nova esfera social e ambiental. Os colonos teriam cedido aos costumes indígenas e, adaptando-se às condições dos

trópicos, fizeram improvisações procurando adaptar os modelos europeus à nova realidade.

Ao contrario do que acontece em São Paulo, em Portugal não existiu um modelo

tipológico característico e, portanto, as casas populares adquirem configurações condicionadas pelos factores geográficos, climáticos, orográficos, etc., da região em que se inserem

Talvez o paralelismo mais significativo aqui encontrado seja a composição das fachadas destas casas. Em todas as casas estudadas, quer em São Paulo quer em Portugal, a fachada principal corresponde sempre à secção mais social da casa sendo

por isso, a que estabelece maior ligação com o exterior. A faixa fronteira, tão característica da casa bandeirista, é constante em algumas

igrejas medievais europeias, nas capelas quinhentistas da Península Ibérica e em casas

populares portuguesas como é notória na Casa da Murtosa. Esta tipologia popular apresenta uma fachada muito idêntica à casa paulista e, marcada pelo grande vão do alpendre e pelas colunas, constitui a entrada principal da casa.

Também com a varanda, típica da casa de lavoura do Minho, podemos estabelecer algumas comparações. A sua posição interior à fachada e comumente ladeada por dois compartimentos aparenta semelhanças com a faixa social da casa bandeirista. Embora

se insira na casa com proporções diferentes das apresentadas pelo alpendre da moradia paulista, as directrizes estão implantadas no desenho da fachada com a existência de um vão com grandes dimensões complementado com colunas ou pilares.

Da análise comparativa, é lícito afirmar que a casa alpendrada da Murtosa é aquela que mais se aproxima da casa bandeirista quer pela sua organização espacial, quer pela caracterização das suas fachadas quer ainda, pelos métodos construtivos utilizados

como por exemplo a estrutura do telhado que em muito se aproxima da tipologia de São Paulo. Assim como também é lícito afirmar, que o objecto de estudo tem influência do tratadismo italiano como sustentado por diversos autores.

A casa bandeirista parece ser um produto de várias nações, como Nilo Garcia afirma “O homem das bandeiras é fruto original da união dos três elementos apontados” — portugueses, índios e espanhóis -—, sendo a religião e as condições locais “o habitat em

que se forjou o banditismo, tornando realidade a singularidade do homem” (AMARAL 1981, p. 5).

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Page 122: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

05BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA | BRASIL

Livros e Artigos

Dissertações

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA | PORTUGAL

Livros e Artigos

Dissertações

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05 | BIBLIOGRAFIA

6.1. BIBLIOGRAFIA | BRASIL

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TEIXEIRA, Gabriela de Barros & Margarida da Cunha Belém (????) “Diálogos de Edificação: Técnicas Tradicionais de Construção”, CRAT - Centro Regional de Artes

Tradicionais, Lisboa: Casa das Artes.

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Page 132: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

05 | BIBLIOGRAFIA

II. DISSERTAÇÕES

FERNANDES, Jorge Emanuel Pereira (2012) O Contributo da Arquitectura Vernacular

Portuguesa para a Sustentabilidade dos Edifícios, Dissertação de Mestrado - Escola de Engenharia. Guimarães: Universidade do Minho. Disponível em: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/24769 >; [25/04/2016].

CALDAS, João Vieira (2007) A Arquitectura Rural do Antigo Regime no Algarve, Dissertação de Doutoramento - Instituto Superior Técnico. Lisboa: Universidade de Lisboa.

MOTA, Fernando Daniel Valente da (2014) Monitorização e validação de sistemas construtivos da arquitetura vernácula - reinterpretação da autossuficiência de uma casa de lavoura do Minho , Dissertação de Mestrado - Escola de Arquitectura.

G u i m a r ã e s : U n i v e r s i d a d e d o M i n h o . D i s p o n í v e l e m : < h t t p : / /repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/30518>; [25/04/2016].

OLIVEIRA, Inês Filipe dos Santos (2011) A fotografia no inquérito da arquitectura

popular em Portugal, Tese de Mestrado – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Coimbra: Universidade de Coimbra. Disponível em: <https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/16666> [07/04/2016].

TELES, Sílvia (2013) Habitar a Paisagem Alentejana - A Particularidade do Monte, Tese de Mestrado – Escola de Artes: Departamento de Arquitectura, Évora: Universidade de Évora. Disponível em: <http://dspace.uevora.pt/rdpc/handle/

10174/12238?locale=pt> [07/04/2016].

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Page 134: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).
Page 135: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).
Page 136: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

07I. CASA DO SERTANISTA

Page 137: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

07I. CASA DO SERTANISTA

CORTE AA’

ALÇADO NORDESTE

ALÇADO NORDOESTE

ALÇADO SUDESTE

ALÇADO SUDOESTE

[ESCALA 1:250]

Page 138: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

07I. CASA DO SERTANISTA

CORTE AA’

ALÇADO NORDESTE

ALÇADO NORDOESTE

ALÇADO SUDESTE

ALÇADO SUDOESTE

[ESCALA 1:250]

A n e x o 7 . 1 . 2 — P l a n t a d o P i s o T é r r e o d a C a s a d o B a n d e i r a n t e .

F o n t e : PA C C E ( 1 9 8 0 ) .

A n e x o 7 . 1 . 3 — P l a n t a d o P i s o T é r r e o | C o r t e A A’ | C o r t e B B ’ . F o n t e : K AT I N S K Y ( 1 9 7 6 ) .

Page 139: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

07II. CASA DO BANDEIRANTE

PLANTA DO PISO TÉRREO

PLANTA DO PISO SOBRADADO

CORTE AA’

[ESCALA 1:250]

Page 140: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

07II. CASA DO BANDEIRANTE

PLANTA DO PISO TÉRREO

PLANTA DO PISO SOBRADADO

CORTE AA’

[ESCALA 1:250]

07II. CASA DO BANDEIRANTE

CORTE BB’

ALÇADO NORDESTE

ALÇADO SUDOESTE

ALÇADO SUDESTE

ALÇADO NOROESTE

[ESCALA 1:250]

Page 141: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

A n e x o 7 . 1 . 4 — P l a n t a d o P i s o T é r r e o | P l a n t a d o S o b r a d o | C o r t e A A’ | C o r t e B B ’ | A l ç a d o s . F o n t e : K AT I N S K Y ( 1 9 7 6 ) .

Page 142: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

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Page 143: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

07CORTE AA’

ALÇADO NORDESTE

ALÇADO SUDOESTE

ALÇADO SUDESTE

ALÇADO NOROESTE

[ESCALA 1:250]

Page 144: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

A n e x o 7 . 1 . 5 — P l a n t a d o P i s o T é r r e o . F o n t e : K AT I N S K Y ( 1 9 7 6 ) .

Page 145: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

A n e x o 7 . 1 . 6 — P l a n t a d o P i s o T é r r e o | C o r t e A A’ | C o r t e B B ’ | A l ç a d o s . F o n t e : K AT I N S K Y ( 1 9 7 6 ) .

Page 146: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

A n e x o 7 . 1 . 7 — P l a n t a d o P i s o T é r r e o | P l a n t a d o S o b r a d o | C o r t e A A’ | C o r t e B B ’ . F o n t e : K AT I N S K Y ( 1 9 7 6 ) .

Page 147: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

A n e x o 7 . 1 . 8 — P l a n t a d o P i s o T é r r e o | P l a n t a d o S o b r a d o . F o n t e : K AT I N S K Y ( 1 9 7 6 ) .

Page 148: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).
Page 149: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

A n e x o 7 . 2 — P l a n t a d o T i p o I | P l a n t a d o T i p o I I | P l a n t a d o T i p o I I I . F o n t e : O L I V E I R A & G A L H A N O ( 1 9 9 2 ) .

Page 150: A Casa Rural Paulista dos Séculos XVII e XVIII e a Cultura ......Fig. 2.26 — Fachada principal do Sítio do Padre Inácio [Antes do Restauro]… 29 Fonte: (KATINSKY 1976, p.39).

A n e x o 7 . 2 — P l a n t a d e u m t i p o d a C a s a d a M u r t a s F o n t e : O L I V E I R A & G A L H A N O ( 1 9 9 2 ) .