A Auto-Imagem Do MST

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  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009

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    A Auto-imagem do MST na Revista sem Terra: a Guerra Simblica

    atravs da Mdia1

    Mrcia Vidal NUNES2

    Antnio Simes MENEZES3

    Andr Gurjo CARVALHO4

    Universidade Federal do Cear, Cear, CE.

    RESUMO

    O objetivo geral deste trabalho aprofundar a anlise das relaes entre os movimentos

    sociais e a mdia, identificando como a mdia produzida pelo MST produz a auto-

    imagem de seus sujeitos, lutas e cenrios sociais. Esta anlise ser feita a partir de um

    veculo especfico produzido pelo MST, a Revista sem Terra, cuja anlise foi realizada no perodo de 2006 a 2007, focalizando, sobretudo, os editoriais e as matrias

    principais em cada uma das edies.

    PALAVRAS-CHAVE: Movimentos sociais; MST; mdia.

    O objetivo geral deste trabalho aprofundar a anlise das relaes entre os

    movimentos sociais e a mdia, identificando como a mdia produzida pelo MST

    constri a auto-imagem de seus sujeitos, lutas e cenrios sociais. Neste artigo, esta

    anlise ser feita a partir de um veculo especfico produzido pelo MST, a Revista sem

    Terra5, cuja anlise foi realizada no perodo de 2006 a 2007, focalizando, sobretudo, os

    editoriais e as matrias principais em cada uma das edies.6

    O Movimento Sem Terra (MST) foi criado em 1984, em Cascavel (PR), com

    representantes de dezesseis Estados. Para o MST, a distribuio de terras no o nico

    objetivo do movimento. A reforma agrria apenas o primeiro passo numa estratgia

    1 Trabalho apresentado no GP Comunicao para Cidadania, IX Encontro dos Grupos/Ncleos de Pesquisas em

    Comunicao, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao 2 Professora do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade Federal do Cear, e-mail:

    [email protected] . 3 Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da UFC, e-mail: [email protected]

    . 4 Pesquisador do Grupo de Estudos Mdia, Cultura e Poltica da UFC, e-mail: [email protected] .

    5 Este artigo um relato parcial da pesquisa intitulada "Mdia Comunitria do MST: anlise do processo de formao

    da auto-imagem do movimento, financiada pelo CNPq, que est sendo desenvolvida por mim em conjunto com a professora Catarina Farias de Oliveira, do PPGCOM da UFC, e com o mestrando Robson da Silva Braga, integrante

    do mesmo Programa, e que pretende analisar toda a mdia produzida pelo prprio MST.

    6 Nmeros 34 a 42.

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    muito mais ampla, que engloba polticas que permitam uma vida digna e de qualidade

    no campo. Alm da reforma agrria, a luta do MST inclui a luta pela democratizao da

    comunicao.

    Movimentos sociais, MST e mdia: a guerra simblica

    A conceituao dos movimentos sociais s pode se realizar, caso se leve em

    conta o contexto poltico, histrico, econommico e social em que eles se desenrolam,

    sob pena de tentarmos adequar explicaes tericas a realidades mltiplas e complexas.

    Assim, a natureza dos movimentos sociais nos Estados Unidos, na Europa e na Amrica

    Latina, ao longo dos tempos, diferenciada, porque fatores especficos marcaram o

    surgimento dos movimentos sociais nestes lugares.

    A anlise de GOHN sobre os movimentos sociais ocorre no campo da poltica.

    Os movimentos sociais so expresses de poder da sociedade civil, e sua existncia,

    independente do tipo de suas demandas, sempre se desenvolve num contexto de

    correlao social. Eles so, portanto, fundamentalmente, processos poltico-sociais

    (1997, p. 251-252):

    Movimentos sociais so aes sciopolticas construdas por

    atores sociais coletivos pertencentes a diferentes classes e

    camadas sociais, articuladas em certos cenrios da conjuntura

    socioeconmica e poltica de um pas, criando um campo poltico

    de fora social na sociedade civil. As aes se estruturam a partir

    de repertrios criados sobre temas e problemas em conflitos,

    litgios e disputas vivenciados pelo grupo na sociedade. Esta

    identidade amalgamada pela fora do princpio da solidariedade

    e construda a partir da base referencial de valores culturais e

    polticos compartilhados pelo grupo, em espaos coletivos no-

    institucionalizados. Os movimentos geram uma srie de

    inovaes nas esferas pblica (estatal e no-estatal) e privada;

    participam direta ou indiretamente da luta poltica de um pas, e

    contribuem para o desenvolvimento e a transformao da

    sociedade civil e poltica. Estas contribuies so observadas

    quando se realizam anlises de perodos de mdia ou longa

    durao histrica, nos quais se observam os ciclos de protestos

    delineados. Os movimentos participam portanto da mudana

    social histrica de um pas e o carter das transformaes geradas

    poder ser tanto progressista como conservador ou reacionrio,

    dependendo das foras sociopolticas a que esto articulados, em

    suas densas redes; e dos projetos polticos que constroem com

    suas aes. Eles tm como base de suporte entidades e

    organizaes da sociedade civil e polticas, com agendas de

    atuao construdas ao redor de demandas socioeconmicas ou

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    poltico-culturais que abrangem as problemticas conflituosas da

    sociedade onde atuam.

    O MST , atualmente, o maior movimento social popular organizado do Brasil e,

    possivelmente, o maior da Amrica Latina. Ele um movimento agenciador de redes de

    sociabilidade e de participao social no campo (GOHN, 2000, p.105).

    A base de sua atuao no meio rural, junto a trabalhadores

    rurais de origens diversas. Muitos j foram pequenos

    proprietrios, outros eram assalariados segundo vrias

    modalidades de relao de trabalho (usualmente, via relaes

    diretas, sem contrato social) e outros, ainda, so de origem

    urbana, viviam nas periferias das cidades de diferentes regies do

    Brasil.

    Uma das lutas centrais do MST pela democratizao da Comunicao. A mdia

    tradicional tem-se constitudo num dos principais obstculos luta do MST, num

    processo permanente de deslegitimao do movimento e, mais recentemente, de

    contribuio criminalizao do movimento.

    Os meios de comunicao se transformaram no espao privilegiado de

    mediaes pblicas, articulando o pblico com o privado, e a especificidade de seu

    poder se acha precisamente na sua capacidade de construir dispositivos de regulao:

    O campo miditico (e sua crescente concentrao corporativa e

    transnacional) foi transformado em um campo de poder simblico

    subordinado a uma dimenso poltica e econmica, em um campo capaz de definir para todos os pblicos o que devia ser considerado

    importante, a verdade e a objetividade, a visibilidade e a noticiabilidade dos fatos sociais (FERREIRA & VIZER, p.27).

    Na relao com os meios de comunicao, alguns autores estabelecem trs

    categorias: os meios de informao (os tradicionais), os de organizao (aes), e os

    meios que DOWNING (2002) chama radicais:

    No primeiro tipo, os meios funcionam como mediador instrumental entre

    a realidade e o pblico. O meio apresenta a si mesmo (se auto-referencia) como um no poder, um servio que controla um poder paradoxal que se nega, naturalizando-se e identificando-se com a

    realidade, com as situaes e os fatos que referencia.

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    Os meios de organizao respondem a outra lgica: o meio constri

    simbolicamente o sujeito social que representa (por meio do discurso e

    das imagens). A inter-referenciao com o pblico geralmente apela para

    o despertar do interesse e da conscincia. Por ltimo, o meio radical autoreferencia-se como sujeito crtico defensor

    do cidado, defensor dos valores universais da poca dos bens e valores coletivos (VIZER & FERREIRA, 2007).

    Os movimentos sociais (MS) buscam construir e manter meios prprios que

    divulguem suas idias e suas polticas. Desconfiam dos primeiros (os meios de

    comunicao de massa) e compartilham muitas posturas com os meios radicais (VIZER

    & FERREIRA, 2007, p.33-34):

    A organizao procura expandir suas idias e objetivos, conseguir

    legitimidade e reconhecimento pblico. O meio tradicional procura

    mant-los. O meio radical no procura nem um nem outro: no tenta

    convencer, mas fazer pblica sua denncia, intervir no espao pblico com sua verdade.

    Poderamos, ento, caracterizar a mdia produzida pelo MST como mdia de

    organizao mas que apresenta caractersticas da mdia radical, cujo alcance restrito, e

    que se contrape, permanentemente, mdia tradicional, representada pelos meios de

    comunicao de massa de largo alcance social. Trava-se uma guerra simblica

    ininterrupta, em que os militantes do MST tentam consolidar sua imagem

    principalmente atravs dos veculos por eles produzidos, ao que encontram a oposio

    contnua da mdia tradicional, que tenta deslegitimar o movimento, corroborando com

    seu processo de destruio atravs da campanha pela criminalizao.

    Esta guerra simblica to importante quanto a guerra concreta por terra e

    condies dignas de vida no campo. Uma guerra est associada outra e, para continuar

    avanando na concretizao de suas metas, o MST sabe que a democratizao da mdia

    uma batalha decisiva a ser travada, para a conquista de mais apoio dos diversos

    segmentos que compem a sociedade.

    Para obter vitria na luta pela terra, angariar um nmero maior de simpatizantes

    causa e conquistar o apoio de amplos segmentos da sociedade civil, necessrio

    vencer, primeiramente, a guerra simblica, esta travada com a mdia tradicional que, em

    sua grande maioria, reflete o discurso daqueles que no querem a reforma agrria, nem

    as alteraes das condies de vida no campo, condizentes com os processos de

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    explorao do capital.

    A produo miditica realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

    Terra, atravs do seu setor de Comunicao, visa garantir o acesso da populao do

    campo, nas reas de assentamentos, em sintonia com os interesses do movimento e,

    tambm, publicizar para a sociedade em geral o teor das lutas e dos objetivos do

    movimento, bem como discutir criticamente a realidade em seus diversos mbitos.

    A Revista sem Terra uma publicao bimestral do Movimento dos

    Trabalhadores Rurais sem Terra. A publicao dirigida aos amigos e simpatizantes do

    MST. A tiragem de dez mil exemplares e tambm possvel fazer assinatura da

    revista que circula desde 1998 (VARGAS, 2006, p.60).

    Imagem e auto-imagem: verses diferentes sobre o MST

    As imagens no so sinais ou meros anlogos. Elas correspondem a

    compostos simblicos que fixam noes abstratas em matrias significantes perceptveis

    e comunicveis, pois que se inscrevem em cdigos convencionais partilhados por

    determinadas comunidades (CARVALHO, 1999, p. 51).

    As imagens figurativas, espcies de anlogos perfeitos captados por cmaras de

    fotografia, cinema e TV, longe de apenas presentificar a realidade so poderosos

    instrumentos de simbolizao que extraem sua fora exatamente do efeito-prova ou

    efeito sntese das significaes construdas (CARVALHO, 1999, p. 51).

    nesse sentido que a poltica miditica apropria-se (ou a apropriada?) das

    tcnicas da publicidade: move-se pela pretenso de uma gerncia cientificizada da

    produo de imagens polticas eficazes (caracterstica primeira do marketing poltico)

    (CARVALHO, 1999, p. 53).

    As consideraes de CARVALHO (1999) sobre as imagens polticas que se

    reportam ao campo da poltica miditica nos do a noo precisa de como a mdia

    tradicional trabalha a produo de imagens polticas no s dos profissionais da poltica,

    bem como dos movimentos sociais e de outras manifestaes existentes no mbito da

    sociedade civil. Esta lgica reinante no campo da poltica dissemina-se para o conjunto

    da vida social. A mdia tradicional opera construindo e destruindo imagens de

    personagens pblicos e de movimentos sociais o tempo todo.

    Para GOMES (2004, p. 239-240), no mundo poltico vem se impondo a

    convico de que grande parte da disputa poltica da batalha eleitoral ao jogo poltico

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    normal, incluindo a conquista da hegemonia por partidos ou atores da esfera poltica ou,

    pelo menos, a imposio das pretenses de partidos e atores na esfera pblica

    deliberativa se resolve na forma de uma competio pela construo, controle e

    determinao da imagem dos indivduos, grupos e instituies participantes do jogo

    poltico.

    Nessa arena se resolvem, em grande parte, as preferncias eleitorais,

    organiza-se e/ou mobiliza a sociedade civil ou a comunidade

    internacional, numa ou noutra direo, tranqiliza-se ou se excita a

    opinio pblica ou o mercado financeiro, estabelecem-se ou suprimem-se

    as condies de governabilidade de um partido, grupo ou ator, conquista-

    se ou perde-se credibilidade.

    Formar uma imagem , portanto, reconhecer um conjunto de propriedades como

    caractersticas de determinadas instituies e atores polticos um reconhecimento

    que, a bem da verdade, uma atribuio (GOMES, 2004, p.255).

    A mdia tradicional formata uma imagem do MST que extremamente negativa,

    fortalecendo a ideia de que o movimento no legtimo, que atua de forma ilegal,

    fomentando uma viso unilateral que chega a chamar ateno pelo seu carter parcial.

    Ao mesmo tempo, os militantes do MST prosseguem na sua luta, colocando-se na

    defensiva diante dos ataques incessantes executados pela mdia tradicional.

    Mas qual a imagem que os militantes do MST tm deles mesmos e que pode

    ser reconhecida atravs de sua prpria mdia? Essa imagem pblica do MST a mesma

    que o prprio movimento tem de si mesmo?

    A pesquisa no campo da comunicao popular tem revelado que essas prticas

    se voltam para a construo da auto-imagem dos cenrios e dos sujeitos das classes

    populares (OLIVEIRA & FERREIRA, 2007).

    No se trata de idealizar a comunicao popular, nem

    desconhecer suas ambigidades, mas vale ressaltar que as prticas

    de comunicao popular abordam frequentemente a memria, as

    festividades, as mobilizaes e o destaque dos sujeitos sociais

    desses cenrios com enfoques positivos, contrapondo-se, de certa

    forma, lgica da mdia comercial e apresentando uma outra

    imagem das comunidades populares e dos sujeitos que habitam e

    se mobilizam nesses contextos.

    Essa discusso da auto-imagem trabalhada em pesquisa sobre os movimentos

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    sociais na rede (OLIVEIRA & FERREIRA, 2007): O sentido de auto-imagem est

    associado busca que os movimentos sociais populares tm em difundir uma imagem

    positiva de suas lutas e dos sujeitos que habitam nas comunidades que atuam.

    A viso de ELIAS e SCOTSON (2000), ao realizarem um estudo sobre uma

    comunidade fictcia do interior da Inglaterra, focado em dois grupos de trabalhadores

    com perfis socioeconmicos idnticos, destaca um grupo que se apresenta como

    estabelecido e superior e outro, inferiorizado e discriminado, os outsiders. Os

    estabelecidos se consideram os legtimos representantes das tradies em oposio aos

    outsiders que chegaram depois.

    Para OLIVEIRA7 (2008, p. 3-4), neste caso, a representao econmica no a

    definidora do conflito:

    A oposio se constri a partir da posse da tradio. Embora na

    representao dessa reflexo sobre auto-imagem, as questes

    econmicas permeiem a imagem construda dos atores sociais

    identificados como excludos socialmente, a idia perceber o

    que leva um determinado segmento a focar a construo de sua

    auto-imagem nos meios de comunicao que produzem no

    contexto da comunicao popular. interessante tambm

    procurar identificar como cada movimento constri o foco de sua

    imagem positiva.

    Revista sem Terra: construindo uma auto-imagem positiva

    Trs temticas so recorrentes nos textos analisados na Revista sem Terra, nos

    nmeros 34 a 42, publicados nos anos de 2006 e 2007. Por meio dos editoriais,

    reportagens, entrevistas e ensaios, a revista faz uma anlise conjuntural (poltica e

    econmica) do Brasil, pois acredita que a reforma agrria s ser conquistada com uma

    mudana no modelo de desenvolvimento econmico do pas, alm de ser claro o

    objetivo do movimento de lutar (...)no s pela Reforma Agrria, mas pela construo

    de um projeto popular para o Brasil, baseado na justia social e na dignidade humana8;

    critica a mdia tradicional, ao partir para o confronto direto com a imprensa

    tradicional e acus-la de distorcer os fatos, omitir informaes, entre outras denncias;

    debate a questo agrria, evidenciando os equvocos do governo, ao apoiar o

    7 Projeto de pesquisa intitulado "Mdia Comunitria do MST: anlise do processo de formao da auto-imagem do

    movimento", financiado pelo CNPq, que est sendo desenvolvido por mim em conjunto com a professora Catarina Farias de Oliveira, do PPGCOM da UFC, e com o mestrando Robson da Silva Braga, integrante do mesmo

    Programa, que pretende analisar toda a mdia produzida pelo prprio MST.

    8 Site do MST acessado em 15 de maio de 2009.

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    agronegcio e na tentativa de explicar a importncia da reforma agrria para o

    desenvolvimento do Brasil.

    O exemplar n. 349, de 2006, da Revista sem Terra, realiza uma retomada das

    principais atividades ligadas ao Movimento dos Sem Terra (MST) e ao panorama de

    crise ideolgica e de projetos apontados pelo grupo. Do lado do MST, atravs da

    Coordenao dos Movimentos Sociais, do Frum Nacional pela Reforma Agrria e da

    Assemblia Popular Nacional, respectivamente, o diagnstico do editorial, intitulado A

    construo da nova realidade, marcado pela consolidao do movimento no Brasil

    para alm das pautas especficas de reivindicao, pelo amadurecimento das

    discusses e articulaes dos movimentos em torno da Carta da Terra; e pelo sucesso da

    4 Semana Social Brasileira, realizada pela Confederao Nacional dos Bispos do

    Brasil (CNBB), que uniu milhares de brasileiros e brasileiras na luta por propostas

    concretas de mudanas para o pas.

    O editorial10

    analisa a conjuntura condizente com a proposta do MST de lutar

    pela construo de um projeto popular para o Brasil, baseado na justia social e na

    dignidade humana e aproveita para explicar o que o movimento fez, para viabilizar essa

    proposta popular, ou seja, um balano das aes de 2005. O MST no acredita em

    milagre. Sabe que tempo de muita luta, sem deixar de lado a esperana. A mudana

    no vir de gabinetes e palcios, mas do povo organizado e mobilizado. O Movimento

    tem a certeza que o novo projeto para o pas ser fruto da participao popular na

    democratizao da terra, das riquezas e dos meios de comunicao. O MST acredita na

    construo dessa nova realidade.

    Por fim, o movimento considera que a nica sada para o panorama nacional est

    na organizao dos movimentos sociais e no nos poderes pblicos. A esperana de

    solues que viessem dos poderes pblicos seria considerada um milagre, pois a

    democratizao da terra, das riquezas e dos meios de comunicao s poder ser

    possvel com a luta permanente do movimento. essa auto-imagem forte, de resistncia

    e luta, que o MST ratifica de si mesmo no texto deste editorial.

    A entrevista de Igor Felippe Santos com o economista Marcio Pochmann,

    pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da

    Universidade de Campinas (Unicamp), a matria principal desse n.34, publicado em

    9 Correspondente aos meses de janeiro e fevereiro. 10 O editorial assinado pela Secretaria Nacional do MST.

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    2006 e denominada Pas prisioneiro da elite nacional. O gancho da entrevista uma

    pesquisa amplamente divulgada pela grande imprensa, que apresentava a reduo

    sistemtica do ndice de desigualdade no Brasil desde 1993.

    Mais uma vez, fica evidente o confronto simblico que travado por meio das

    pginas da revista. A publicao critica novamente a chamada imprensa tradicional.

    Contudo, usa o discurso da fonte, para fazer essa crtica. A publicao diz que

    segundo o estudioso, a pesquisa foi explorada de forma ideolgica pela imprensa e

    pelo governo. Esse um trecho da resposta do professor seguinte pergunta da

    entrevista pingue-pongue: A grande imprensa e o governo deram bastante destaque aos

    nmeros, mas no foi a renda dos pobres que melhorou significativamente, mas houve

    uma proletarizao da classe mdia?

    Agora, ao contrrio do que ocorria nos editoriais, a revista no questiona o

    discurso da grande imprensa de forma direta. A publicao usa o discurso da fonte. Essa

    estratgia, talvez, seja utilizada pelo fato da entrevista ser um gnero do jornalismo

    informativo, espao em que a opinio explcita do veculo vetada. bvio que essa

    atitude tambm oferece mais credibilidade ao discurso da publicao, pois este

    baseado na opinio de um especialista em Economia. Assim, obtem-se um efeito de

    sentido de objetividade para o discurso da revista.

    A poltica econmica do governo colocada em xeque, pois no consegue

    desenvolver o pas. Ao contrrio do que ocorre na grande imprensa, a publicao

    oferece caminhos para superar os problemas apontados. O processo de

    desaburguesamento da classe mdia e de desproletarizao da classe operria cria a

    oportunidade de unio poltica dos dois grupos em torno de mudanas.

    O editorial do exemplar de n. 3511, O sistema vive da violncia, traz uma

    reflexo sobre a chamada escalada da violncia brasileira, ligada a organizaes

    criminosas, e sobre a cobertura da mdia tradicional sobre as atividades do Primeiro

    Comando da Capital (PCC). A discusso oportuna medida em discute pautas j

    abordadas pela mdia tradicional e que no deixaram de ser comentadas em quase

    nenhum grande meio de comunicao, embora o editorial da Revista sem Terra,

    assinado pelo Conselho Editorial, efetue uma anlise diferente.

    Citando dados sobre a ao da Polcia Militar no mesmo perodo, e concluindo

    que o nmero de 117 mortos corresponde ao de pessoas vtimas, pobres, pretos e

    11 Correspondente aos meses de setembro e outubro de 2006.

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    pardos, o Conselho Editorial atribui a represso seguida pelas aes do PCC como

    uma violncia estrutural e crescente, da qual tambm seramos vtimas. A mesma se

    naturalizou em nosso cotidiano e devido a isso no nos choca o nmero de 794 mil

    assassinatos nos ltimos 25 anos.

    Mais uma vez, mostra a mdia tradicional defendendo idias repressivas.

    (...)leis mais rgidas, construes de presdios, foras policiais mais bem armadas!

    Esquecem, estes, que nos ltimos anos, o estado de So Paulo construiu 83 novos

    presdios e a populao carcerria passou de 40 mil para 125 mil presos (...).

    O editorial intitulado Tambm queremos o terceiro turno, da edio No 3612,

    ltimo exemplar do ano de 2006, retoma os debates promovidos por meios de

    comunicao durante o segundo turno da campanha eleitoral de 2006. O embate entre os

    dois principais presidenciveis, Lus Incio Lula da Silva e Geraldo Pereira Alckmin,

    gira em torno de uma discusso, assinada pela direo nacional do MST, onde o ponto-

    chave o apoio financeiro dos banqueiros campanha de Lula versus o voto declarado,

    segundo o MST, daqueles para o candidato Alckmin. Nesta mesma eleio, o MST

    declarou expressamente apoio reeleio de Lula contra as foras do atraso, embora

    sempre tenha historicamente se posicionado contra o financiamento de bancos ou o

    pagamento da dvida externa.

    A direo nacional do MST declara que o crescimento econmico e a

    distribuio de renda no campo depende necessariamente da realizao de uma rpida,

    radical e ampla reforma agrria, que democratize o acesso e o uso das terras agrcolas

    em nosso pas, defende o controle social, sem especificar os termos, da mdia e afirma

    que governar fazer luta de classes sim. Portanto, segundo o editorial, o governo

    deve incentivar a mdia alternativa, afastar os lambe-botas e derrotar (com o apoio

    dos movimentos sociais) a burguesia mais uma vez.

    Amrica Latina, preciso avanar o editorial da edio No 3713, da Revista

    sem Terra, pode ser classificado como um artigo de pano de fundo onde o assunto

    principal s aparece no penltimo pargrafo, a morte do ex-presidente chileno Augusto

    Pinochet como sinal mstico, para que a mobilizao popular promova a

    democratizao da poltica, da informao e cultura, da riqueza, das propriedades e

    garantir condies dignas de vida para toda a populao do nosso continente.

    12 Correspondente aos meses de novembro e dezembro de 2006. 13 Correspondente aos meses de janeiro e fevereiro de 2007.

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    11

    Dentro da diviso do texto, so retomados os ltimos 25 anos de histria da

    Amrica Latina, destacando como fatos principais da histria dos pases: a

    predominncia das idias neoliberais, no incio da dcada de 80; a privatizao das

    estatais e a depredao ambiental (paralelamente); o aumento do nmero de pessoas

    abaixo da linha da pobreza (de 120 milhes, em 1980; para 214 milhes, em 2001); e a

    formao de redes continentais ligadas aos movimentos sociais, promovendo a

    articulao e integrao dos mais diversos segmentos sociais da Amrica Latina.

    O artigo conclui defendendo que as ltimas vitrias eleitorais de candidatos

    historicamente ligados esquerda latina so resultado do trabalho dos movimentos

    sociais. Para continuar mantendo a chama acesa desta mudana, que teria sido

    provocada por determinados segmentos sociais, a necessidade principal a de aumentar

    (cada vez mais) o nvel de organizao, mobilizao popular e integrao dos povos

    latino-americanos.

    O MST se auto-projeta atravs de sua capacidade de mobilizao e de sua

    organizao interna, conclamando a todos os povos da Amrica Latina a trilharem o

    mesmo caminho rumo resoluo de seus problemas.

    A entrevista da edio de n. 35, de 2007, intitulada Fora das lutas de massa no

    h o que fazer, a no ser esperar a cooptao, foi realizada com o professor Lcio

    Flvio Rodrigues de Almeida (PUC-SP). De uma forma geral, discute um panorama

    poltico nacional aps a reeleio do presidente Lula e o papel que deve ser realizado

    pelos movimentos sociais frente a presena de Lula no alto escalo do Executivo.

    O impasse que bloqueia as lutas sociais est a. De acordo com o que avalia o

    pesquisador, a filantropia nas lutas de classe por meio de polticas compensatrias,

    assistencialistas constitui o proletariado em pobre. O problema nosso no criar

    carente. transformar a pessoa dita carente em lutadora.

    Tambm so apontadas uma crescente fragmentao no meio dos movimentos

    sociais, com a crescente valorizao da dimenso tnica e de gnero, dificuldade dos

    sindicatos tradicionais em levar adiante as lutas da categoria e falta de um movimento

    que abrigue os desempregados.

    Enquanto crescem, os movimentos sociais devem arrancar polticas sociais,

    estatais, favorveis aos trabalhadores (...) sem se deixar organizar pelo Estado, inclusive

    no que se refere ao padro ideolgico, realizando alianas mais amplas possveis e

    garantindo a independncia de cada movimento.

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009

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    O destaque a esse discurso reflete a prpria postura do MST que trava suas lutas,

    procurando se articular com questes mais gerais e que tem como uma de suas

    bandeiras a unio de vrios movimentos sociais, para a obteno de condies dignas de

    vida.

    O editorial Combatividade das mulheres contra o imperialismo, da Revista

    Sem Terra n.3814

    , rene dois acontecimentos do 8 de maro, dia internacional da

    mulher, em diferentes perspectivas, propores e opinies num nico texto e a visita do

    ento presidente norte-americano George W. Bush a pases latino americanos, como o

    Brasil, Uruguai, Colmbia, Guatemala e Mxico e a memorvel luta promovida,

    principalmente, pelas companheiras da Via Campesina. De um lado, Bush,

    individualmente, avaliado como mentiroso, hipcrita e isolado politicamente; do

    outro, as mulheres, coletivamente, da Via Campesina, ligada ao Movimento dos Sem

    Terra (MST), so vistas como batalhadoras, justas e misericordiosa com a situao do

    Brasil.

    Aqui, a imagem que os militantes do MST tm das mulheres que atuam no

    movimento Via Campesina, onde as mulheres do MST esto includas, extremamente

    positiva, o que ajuda a reforar a combatividade do movimento junto sociedade.

    Reforma agrria, acadmicos e corujas, editorial da edio 3915 da Revista

    sem Terra, cumpre a funo de avaliar a repercusso da Jornada Nacional de Luta

    pela Reforma Agrria, contra a impunidade dos crimes cometidos pelo latifndio, que

    acontece anualmente, no dia 17 de Abril. O editorial considera como legal as marchas,

    atos polticos em rgos pblicos, ocupaes de latifndios, fechamento de rodovias e

    liberaes de pedgios baseado na lei de 2002 [que] determina o 17 de abril como o

    Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrria. Assim, lutar pela Reforma Agrria lei.

    (sic)

    Assim, mais uma vez os camponeses so vistos como mrtires e guerreiros,

    enquanto aqueles que se opem ao Movimento dos Sem Terra, sejam imprensa

    (burguesa), polticos (pobres de retrica e contedo) ou acadmicos (cheios de

    empfia e prepotncia), so unidos pelo ttulo de inimigos da Reforma Agrria. Ou

    seja, embora as movimentaes do visceral reacionarismo fossem conhecidas, no ano

    de 2007 trouxeram como novidade os acadmicos autoconfinados em gabinetes com ar

    14 Corresponde a maro e abril de 2007. 15 Correspondente aos meses de maio e junho de 2007.

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    condicionado. O ponto central deste editorial ser um embate metafrico do

    conhecimento entre as universidades e o campo (corujas).

    Mais uma vez, ataca a imprensa sinal claro da luta simblica travada com a

    mdia tradicional. Multiplicaram-se os editoriais na imprensa, exigindo providncias

    do governo para coibir e reprimir as mobilizaes.

    O quadragsimo editorial16

    da Revista sem Terra, O 5 Congresso Nacional

    do MST, traz como pontos principais a realizao do 5 Congresso Nacional do MST e

    os posicionamentos, a partir da dcada de 90, do movimento. Enquanto o Congresso

    qualificado como um sucesso, por reunir mais de 17.500 participantes, o movimento

    recebe congratulaes por sinalizar estar num novo estgio na luta pela Reforma

    Agrria e pelas transformaes sociais e polticas em nosso pas.

    Entre os principais xitos lembrados pelo movimento esto: a consolidao do

    movimento no territrio nacional, a construo de uma identidade prpria, a priorizao

    na formao poltica, a garantia de acesso educao em diversos nveis nos

    assentamentos, a autonomia poltica e partidria, a construo de unidades das

    organizaes camponesas e a unio a movimentos sociais que defendem um projeto

    popular para o Brasil que assegure justia social e soberania frente aos pases

    imperialistas.

    A entrevista O monocultivo do eucalipto gera um verdadeiro cataclismo, de

    Beatriz Pasqualino e Nina Fideles com o ambientalista uruguaio Ricardo Carrere,

    publicada na Revista sem Terra no 41

    17, traz como objetivo de fundo a informao e a

    denncia da destruio ambiental realizada por grandes empresas de celulose.

    Dentro deste panorama, o especialista conclui afirmando que se a ofensiva do

    capital internacional avanou nos ltimos anos, os movimentos sociais tambm

    evoluram, destruindo plantaes de eucaliptos e viveiros. Ainda somos fracos, mas em

    termos futebolsticos, h 10 anos estvamos perdendo o jogo por 5 a 0; hoje digo que

    chegamos a estar em 5 a 4 e que podemos empatar. Continuamos perdendo, sem dvida,

    mas no como antes.

    Pistolagem, a arma do agronegcio, o editorial da edio n.4218 da Revista

    sem Terra relembra a terceira ocupao, no ento ltimo dia 21 de outubro, da Via

    Campesina no campo experimental da transnacional Syngenta Seeds. Alm de citar o

    16 Correspondente aos meses de julho e agosto de 2007. 17 Correspondente aos meses de setembro e outubro de 2007. 18 Correspondente aos meses de novembro e dezembro de 2007.

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    assassinato do sem terra Valmir Mota de Oliveira, o Keno, e a leso corporal grave de

    outros cinco integrantes por 45 integrantes da NF Segurana, o texto considera que o

    envio de dinheiro ao exterior similar sangria realizada no perodo colonial e a ao

    criminosa da Syngenta se iguala, em seus objetivos, s prticas de violncia contra os

    trabalhadores cometidas pelos senhores escravocratas e oligarquias rurais dos tempos

    passados.

    Mas essa violncia contra os trabalhadores no um fenmeno novo, este o

    ngulo de fechamento do editorial. A partir deste ponto, a Revista sem Terra rene

    num escopo de 500 anos de Histria do Brasil pela sangria para o exterior da riqueza

    produzida em nosso pas assegurada a ferro-e-fogo e com a conivncia do Estado

    brasileiro. Relaciona, assim, a violncia fsica ao modelo de desenvolvimento

    econmico e o envio de quase US$ 38 bilhes de transnacionais pobreza do Brasil.

    Defende a expulso da Syngenta e assegura que uma real mudana s ser atingida nos

    termos de modelo econmico defendido pelo movimento.

    Mais uma vez, critica o agronegcio e a mdia. Os meios de comunicao,

    entidades patronais e setores do Poder Judicirio e policial local, em conluio com o

    latifndio, respaldam, instigam ou promovem a violncia contra os trabalhadores

    rurais.

    CONCLUSES

    Este trabalho um relato parcial de uma pesquisa mais ampla, que est

    estudando a produo da auto-imagem do MST atravs da mdia executada pelo prprio

    movimento. Aqui, apresentamos as concluses preliminares da anlise da Revista sem

    Terra, dos nmeros 34 a 42, publicados nos anos 2006 e 2007, com foco nos editoriais

    e matrias principais publicadas nestas edies.

    Os temas recorrentes em todas as publicaes estudadas, nos editoriais e nas

    matrias principais, foram a anlise conjuntural (poltica e econmica) do Brasil, a

    crtica a mdia tradicional e o debate sobre a questo agrria. Ao destacarem estes

    temas, de certa forma, os militantes do MST, vo, ao mesmo tempo, formatando a

    prpria imagem que fazem de si mesmos.

    Eles s acreditam na fora dos movimentos sociais organizados, para obter a

    concretizao de seus objetivos. Esperam pouco ou nada dos poderes pblicos. Isso

    revela uma auto-imagem extremamente positiva de seu prprio movimento e altamente

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009

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    ambiciosa, porque junto distribuio de terras e a melhoria das condies de vida no

    campo, o movimento luta pela democratizao da comunicao e por uma vida mais

    digna para todos.

    Esta auto-imagem que projeta uma auto-estima muito consistente ao movimento

    e a linguagem utilizada nos formatos analisados nos nmeros estudados, impregnada

    pelas posturas ideolgicas e pelo uso de expresses consagradas entre a esquerda

    poltica, no contribui, para aproximar o movimento do conjunto da sociedade. S

    refora a viso estigmatizante difundida pela mdia tradicional.

    Sem deixar de lado a necessidade de reforar os objetivos do movimento e sem

    prejuzo ao seu carter consistente, evidenciado numa auto-imagem que projeta uma

    forte auto-estima, talvez fosse interessante pensar em formas alternativas de tornar as

    lutas do MST, que interessam a toda a sociedade brasileira, mais atraentes a todos. Para

    se contrapor imagem negativa propagada pela mdia tradicional, o MST necessita mais

    do que s permanecer na defensiva, rebatendo as crticas com outras crticas. O ideal

    seria sensibilizar os diversos segmentos sociais para a conexo entre as diferentes lutas

    sociais, que se travam em trincheiras diferenciadas, nessa guerra simblica contra a

    mdia tradicional, mas que tm em comum a busca por uma sociedade mais justa para

    todos.

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