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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A ATUALIZAÇÃO DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM OPOSIÇÃO À DESMOTIVAÇÃO Por: Elis Mafalda da Cruz Avelar Costa Orientador Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Brasília 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A ATUALIZAÇÃO DOS PROFESSORES DE

EDUCAÇÃO FÍSICA EM OPOSIÇÃO À

DESMOTIVAÇÃO

Por: Elis Mafalda da Cruz Avelar Costa

Orientador

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Brasília

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A ATUALIZAÇÃO DOS PROFESSORES DE

EDUCAÇÃO FÍSICA EM OPOSIÇÃO À

DESMOTIVAÇÃO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Docência do

Ensino Superior

Por: Elis Mafalda da Cruz Avelar Costa

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AGRADECIMENTOS

....a Deus, o Autor da vida, meus pais

pelo exemplo diário de conduta, caráter

e amor, aos familiares e àqueles que,

em algum momento torceram e

acreditaram em mim......

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos que

conseguem, dia a dia, fazer de sua

profissão um motivo de realização

pessoal.

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RESUMO

O presente trabalho, enquanto parte de estudo em andamento, levanta

questionamento sobre o papel exercido pelo professor de Educação Física,

apresentando pesquisa acerca da motivação do docente em escolas do Distrito

Federal, bem como investigando possíveis fatores que interfiram ou estimulem-

no à atualização profissional. Os resultados parciais demonstram haver uma

descaracterização da disciplina pela atitude assumida pelos professores, de

tratarem a Educação Física como uma disciplina isolada do compromisso

social de transformação do indivíduo. Tentaremos advertir, então, para a

necessidade que se tem de influenciar os professores de Educação Física a

buscarem atualização, quer em cursos e seminários de aperfeiçoamento

profissional, quer em produções científicas da área, visando motivação para

suas práticas docentes.

Palavras chave: Professor - Educação Física - Motivação

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METODOLOGIA

Tendo em vista a preocupação com a motivação, ou ainda a completa

ausência de motivação por parte dos professores de Educação Física em seu

ambiente de trabalho e em sua prática diária, iniciou-se o desenvolvimento

deste trabalho. Primeiramente foi feito um estudo de caso, utilizando como

instrumento, um questionário com 15 professores de Educação Física que

atuam no Ensino Fundamental há pelo menos um ano, em oito escolas da

rede pública (Secretaria de Educação do Distrito Federal) e cinco escolas

particulares , todas situadas nas cidades satélites de Sobradinho e Planaltina -

Distrito Federal.

A idéia inicial era que houvesse acompanhamento das aulas do

professor (a) entrevistado para observação, não da didática utilizada,

tampouco diferenciando as escolas públicas das privadas quanto à espaço

físico, material utilizado ou público alvo, mas para verificação da conduta dos

professores de Educação Física com seus alunos no que diz respeito à

satisfação pessoal, estímulo para lecionar e participação nas atividades com

os alunos, para, enfim, investigar até que ponto o professor estava motivado

para sua prática diária, e para a busca de conhecimentos que otimizassem sua

prática pedagógica.

Embora não tenha sido possível o acompanhamento das aulas devido

alguns dos professores poderem nos atender somente em horários em que

estavam fora da escola ou até nos fins de semana, buscou-se, então, uma

estratégia de investigação onde o professor que pudesse ser questionado

dentro de seu local de trabalho acima especificado, pudesse também ser

observado durante sua aula.

O questionário aplicado teve a participação de cinco professores e três

professoras da rede pública de ensino e quatro professoras e um professor de

escolas particulares. Contou com perguntas abertas e fechadas num total de

quatorze questões, estruturadas de forma a obter dos entrevistados (as) o

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máximo de precisão quanto ao questionamento, sem, contudo, induzi-los a

concordarem com as proposições.

Longe de pensar que se inicia aqui a discussão quanto à motivação do

professor de Educação Física, o enfoque dado é o de investigar que fatores

estão, ou não, interferindo no trabalho e fazendo com que os professores de

Educação Física não busquem atualização na área, que, por conseguinte,

permite a desvalorização do papel do profissional e de sua importância no

ambiente escolar.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I – ESCOLHA PROFISSIONAL- BUSCA POR UM CAMINHO PARA O FUTURO 13 CAPÍTULO II - PAPEL SOCIAL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA 17

CAPÍTULO III - ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL X MOTIVAÇÃO 21

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 32

ÍNDICE 33

FOLHA DE AVALIAÇÃO 34

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INTRODUÇÃO

Todos os dias surgem novos conceitos, novas teses e também novas

linhas de pensamento motivados por novos interesses, debates e testes, num

processo contínuo de atualização. Cada novo conhecimento interfere, em

algum momento e de alguma forma, no anterior consequentemente gerando as

transformações ou adaptações necessárias em seu conteúdo, e, contribuindo

para o desenvolvimento cultural do homem e da sociedade como um todo.

No entanto, percebem-se processos repetidos durante anos, sem que

haja por parte dos que os repassam, qualquer forma de reflexão quanto aos

significados, resultados e aplicabilidade dos mesmos, e que conduzam a

análises do papel exercido por aquele profissional na continuidade do

processo.

Na prática docente, como em qualquer outro ramo profissional, a

satisfação pela atividade está relacionada à importância dada pelo trabalhador

às atividades e afazeres que desenvolve em seu dia a dia no trabalho. Permite

conhecer os aspectos peculiares à instituição educacional como condições de

trabalho, tipo de direção e formas de administração, característica dos alunos,

observação quanto ao acesso ao local de trabalho e disponibilidade de

recursos, oportunidades de crescimento profissional, metas a serem

alcançadas, reconhecimento profissional por meio de benefícios salariais ou

mesmo por meio de títulos, além de contribuir para interferir direta ou

indiretamente no ensino.

Em se falando do professor de Educação Física, buscou-se investigar

possíveis motivos que os levem ao descontentamento profissional e

conseqüente desânimo. Parte, também, da idéia de que os professores de

Educação Física possuem pouco ou nenhum tempo para dedicarem-se às

atividades de atualização profissional devido ao excesso de trabalho, além de

não haver incentivos, quer por parte dos órgãos governamentais, quer de

ordem pessoal, salarial, etc, que os impulsionem a buscar atualização

profissional, divididos muitas vezes entre atividades em mais de uma escola,

clubes, academias e atividades de atendimento esportivo particular (personal

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traineer) podendo inclusive, desenvolver a médio ou longo prazo, problemas de

ordem física, emocional ou psíquica em decorrência de tal sobrecarga

profissional.

As aulas de Educação Física têm se transformado em “recreio” ou em

“momentos de descanso” entre as outras aulas por não haver motivação do

próprio professor em procurar meios de estímulo para si e para suas aulas. A

disciplina não tem sido vista como relevante pelos colegas de trabalho, pela

sociedade e nem pelos alunos que, em muitos casos, vêm na Educação Física

apenas uma forma de extravasar ou, quando muito, aperfeiçoar técnicas desta

ou daquela modalidade esportiva visando uma futura profissionalização no

esporte.

No primeiro capítulo falar-se-á sobre a importância da conscientização

dos jovens quanto a uma escolha profissional acertada, uma vez que dela

dependerá seu futuro profissional e conseqüente satisfação pessoal. Partiu-se

do pressuposto que nessa fase há pouca ou nenhuma informação relevante a

ser considerada, o que gera muitas vezes, o prosseguimento em carreiras com

grau elevado de empregabilidade, altos ganhos salariais, porém em atividades

profissionais desejadas pela família ou pelos pais, e não pelos jovens. E não é

preciso dizer o quão insatisfeitos tornar-se-ão por terem feito escolhas

profissionais equivocadas, baseadas na adequação ao mercado de trabalho,

rentabilidade ou ao sucesso profissional dos outros, e descartando o desejo e

talento pessoal.

No segundo capítulo, a abordagem está no papel do professor, e mais

especificamente, no papel do professor de Educação Física na formação do

indivíduo. Percebe-se a inversão de tarefas uma vez que o professor vê-se

obrigado a participar da educação básica dos indivíduos (orientações de boas

maneiras, noções de respeito, normas de convívio em sociedade, normas

disciplinares, formação de caráter, etc), uma vez que este papel deveria ser

familiar e não escolar. Assim sendo, há um desgaste físico e mental muito

grande que acaba por limitar o tempo para os conteúdos de ordem escolar.

Outro agravante seria o de que professores de Educação Física são

considerados pela sociedade, por colegas de trabalho, direção de escolas e

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próprios alunos apenas como recreador, alguém sem conhecimento de outras

áreas, incapaz de influenciar o indivíduo em sua trajetória escolar ou pessoal,

um sujeito que nunca poderá ser considerado um questionador e tampouco

modificador da educação, pois não exerce a mesma de forma a influenciá-la

de forma positiva.

Por fim, no terceiro capítulo poder-se-á avaliar se toda a insatisfação do

professor de Educação Física se reflete nos baixos salários, na carga horária

excessiva, na locomoção e adaptação às muitas ocupações profissionais - já

que alguns professores se desdobram entre vários empregos em escolas,

clubes e academias de ginástica para garantirem alguma estabilidade

financeira às suas famílias - ou se na falta de atualização profissional, por

insuficiência de tempo, baixa condição financeira, ou ausência de preocupação

quanto ao diferencial que pode vir a ser tal atualização profissional para o

mesmo, para seus alunos, para a instituição educacional em que atua e para o

país, uma vez que melhorando a educação num determinado município,

cidade ou estado, a contribuição dada também é para uma melhoria

abrangente da educação.

Pensar na atualização profissional como solução para a melhoria da

educação é apenas uma das justificativas para a desmotivação que toma conta

dos profissionais e acaba por interferir nas aulas ministradas pelos mesmos.

Mas será esta a grande solução para um problema tão antigo? Terá efeito

realmente abrangente o encontro de tais profissionais com uma educação

preocupada com formação completa do indivíduo? Os profissionais até então

acostumados a simplesmente repassar conteúdos sem qualquer reflexão sobre

importância dos mesmos para a vida dos estudantes estarão dispostos a se

sacrificarem, investirem tempo e parte de suas rendas para formação e

atualização profissional com vistas ao sucesso da educação no país? Este

poderá ser o ponto de partida para alavacar um processo de mudanças na

educação em nosso país?

É preciso, portanto, redescobrir o que pode vir a ser o maior incentivo

para os professores de Educação Física ser verdadeiros professores -

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preocupados com a formação de seus alunos para a vida, e não apenas para

uma competição.

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CAPÍTULO I

ESCOLHA PROFISSIONAL –

BUSCA POR UM CAMINHO PARA O FUTURO

Sabe-se que a satisfação pessoal com a escolha profissional é um

ponto importante a ser analisado antes do ingresso em determinado curso

superior visando formação profissional, já que, em muitos casos, quando a

escolha é feita baseada por impulso, na insistência familiar, por conselho de

amigos ou pela indicação de outros, na expectativa de “se dar bem” baseado

no exemplo alheio ou mesmo em interesses puramente lucrativos, o sucesso

não é garantido.

Quando se fala em escolha profissional, e mais especificamente, em

vocação profissional, deve-se ter em mente que os jovens que estão

ingressando em faculdades e universidades pelo país afora não tem

preparação, tampouco informações suficientes de como fazerem suas

escolhas quanto a que área cursar e como escolhê-la, enfim, qual a

importância de se fazer uma escolha de toda uma vida profissional neste

momento. Fatalmente, acabam por formar-se em áreas com as quais, muitas

vezes, não têm afinidade, interesse ou até mesmo o próprio dom, o que

resultará em profissionais despreparados, muitas vezes incapazes no que

fazem, infelizes, insatisfeitos e desmotivados a buscar qualquer atualização

profissional.

A escolha de que curso fazer na faculdade determina, de certa forma,

aquilo que o indivíduo exercerá ao longo de sua vida, e muitas são as

influências neste período. Desde o exemplo de pessoas bem sucedidas neste

ou naquele emprego, como as informações de escassez ou abundância de

profissionais daquela área no mercado de trabalho, o que é mais rentável,

menos trabalhoso, que dará retorno o mais breve possível, e, por último, o que

deveria ser, mas infelizmente não é o quesito mais importante e prioritário: o

que gosta, com o que se identifica, com o que se realiza, com o que sonhou

para sua vida profissional.

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Inevitavelmente, outros interesses surgirão, o que tornará a decisão

mais complicada. Porém, a partir do momento que se tiverem nítidos os

objetivos e fins da escolha, outros caminhos poderão ser admirados e até

mesmo experimentados, pois já houve o entendimento de quanto investimento

deverá ser feito naquilo em que realmente há interesse. Considerar fatores

como empregabilidade, rentabilidade, estabilidade, prazer pessoal (e não

familiar), aptidão, habilidades para a área, etc. devem ser considerados,

porém, não podem ser determinantes, uma vez que essa escolha é pessoal, e

não deve ser transferida para outrem. A idéia é identificar qual pode ser o

caminho para experimentar, o que gosta no seu dia a dia, com o propósito de

satisfação pessoal independente do retorno financeiro ou da facilidade em

estar empregado tão logo tenha se formado numa instituição de ensino

superior.

Bem aventurados são aqueles que, por meio de experiências ao longo

da vida escolar, no lar ou por experiências vivenciadas ainda na juventude,

conseguem desvendar os mistérios da escolha profissional e aproximar-se

daquilo para que foram vocacionados - com a grande vantagem de não

precisarem passar por experiências frustrantes de escolhas mal feitas.

Como base de tudo, vemos a educação, uma vez que, é imprescindível

a passagem de todo indivíduo por ela, não importando o seu objetivo

profissional. É na educação que se inicia a formação intelectual, é onde irão

acontecer as primeiras descobertas pessoais, intelectuais ou afetivas, e

consequentemente os primeiros desafios e problemáticas, ainda que apenas

teoricamente. É também onde poderão surgir os primeiros indícios de afinidade

com esta ou aquela área de conhecimento e que poderá vir a ser uma escolha

profissional mais adiante. A própria educação, embora não seja uma das

áreas mais procuradas para fins financeiros ou de reconhecimento profissional,

ainda é uma escolha daqueles que ainda vêem nela a possibilidade de

formação e transformação de indivíduos, já que vivemos num mundo cada vez

mais violento, sem paz, sem amor. No entanto, quando se trata de escolhas

profissionais ligadas à licenciatura, deve-se ter em mente o que realmente

representa ser um professor. Não importa a área pretendida, se geografia,

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história, matemática, português, língua estrangeira, educação física, mas sim a

importância que deve ser dada a uma área explorada, porém de forma tão

incorreta.

Por educação entende-se ensinar, nortear, orientar, acompanhar, retirar

do indivíduo as potencialidades de que ele é capaz. E, embora essa tarefa

esteja vinculada à escola e aos educadores formados para tal, há também a

importante participação familiar na aquisição de valores de conduta que,

aliados aos conhecimentos técnico-científicos apreendidos na escola,

nortearão a formação do “homem-cidadão” para o exercício de seus direitos e

deveres.

Ora, se o objetivo maior da educação é este, então porque na formação

dos educadores essa finalidade não tem sido claramente definida? Aprende-se

na faculdade de licenciatura - por meio de conhecimentos pedagógicos - a

preparar e ministrar aulas, metodologias diversificadas para fazê-lo, avaliar

conhecimentos obtidos, porém, existe um conflito com a verdadeira finalidade

da formação, uma vez que os discursos quanto a formação dos alunos

integralmente (corpo, intelecto, emoções, etc), se contradizem com os

objetivos da própria formação do educador, muitas vezes em busca de um

meio de sobrevivência, e não da realização de um desejo pessoal, profissional,

ou de seu dom natural.

Como em outras áreas de conhecimento, observa-se a falha da omissão

de conscientização da importância de profissionais preparados para aquilo em

que estão se formando. Afinal, de que adianta profissionais preparados para as

dificuldades no mercado de trabalho, porém, desinformados quanto à

verdadeira função para qual eles se formaram? Existe um número muito

grande de profissionais conscientes de seu papel e que o fazem com

obstinação, mas o grupo de profissionais que apenas esquentam cadeiras nos

escritórios, clínicas, e até salas de aula muito se aproxima ao dos conscientes.

Senão, que explicação haveria para um médico que atende com impaciência

seus pacientes, um funcionário público ou privado que espera as horas

passarem se ocupando com afazeres que não são os dele, que atende o

público com descaso e mal-humor, um prestador de serviços gerais que se

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julga pouco importante ou se envergonha de suas tarefas e por isso não as faz

com afinco, ou um professor que ao invés de ministrar aulas aos seus alunos,

esclarecer dúvidas, indicar um caminho, indica apenas a página do livro que

devem ler para prepararem-se para as provas? Creio ser este um dos indícios

de que os profissionais não estão satisfeitos com suas escolhas profissionais,

ou que em suas escolhas, não houve preocupação em medir conseqüências.

Ficam, então, os questionamentos: Vale a pena sacrificar o prazer de

fazer o que gosta para usufruir bens materiais que a rentabilidade deste ou

daquele emprego lhe oferece? È mais feliz quem tem os resultados valorizados

pela sociedade, ou quem valoriza aquilo que faz independente da visão dos

outros ou de quanto o pagam para tanto?

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CAPÍTULO II

PAPEL SOCIAL DO PROFESSOR

DE EDUCAÇÃO FÍSICA

“[...] o corpo é pensado como uma matéria indiferente.

Ontologicamente distinto do sujeito, torna-se um objeto à

disposição sobre o qual agir a fim de melhorá-lo, uma matéria-

prima na qual se dilui a identidade pessoal, e não uma raiz de

identidade do homem” (David Le Breton, 2003, pg. 15).

Muito se fala em promoção de saúde na prática de exercícios físicos e

cuidados com a alimentação, porém, o que se tem visto é a simples procura

por corpos perfeitos com o mínimo de esforço, e sem o devido valor à saúde

propriamente dita. Aumenta a tese de maleabilidade do corpo humano em

face de tantos recursos estéticos como modelagens por próteses, implantes de

silicone, lifting, cirurgias plásticas e outros tratamentos de beleza que em nada

aproximam da verdadeira promoção de saúde em questão.

Por outro lado, analisando a crescente procura por mudanças corporais

por meio de artifícios que visam adiar a velhice ou a morte, e a simples

adequação ao senso comum de padrões de beleza impostos pela sociedade

em contraposição à manutenção da saúde, têm contribuído para a procura por

atividades físicas e por profissionais da área. No entanto, será que tem sido

relevante a contribuição dada por estes profissionais de Educação Física no

que diz respeito a romper com este senso?

Preocupados muitas vezes com a ascensão profissional, altos ganhos

salariais, movidos pelo desejo de atuação em áreas que proporcionem

visibilidade (treinadores de atletas em grandes clubes, etc.), ou simplesmente

em suprir necessidades pessoais e familiares, muitos professores de

Educação Física têm se esquecido do motivo que os levou a esta formação.

Muitos tem abandonado suas escolhas profissionais para dedicarem-se a

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atividades mais lucrativas, por vezes muito diferentes e pouco gratificantes no

que diz respeito à realização pessoal. Análises como a de Jocimar Daólio em

“A cultura do corpo” (1995) sobre a relação das atividades que os professores

de Educação Física realizavam na infância como diferenciais na futura escolha

profissional, fortalece a idéia de que os anseios dos professores e a sua

prática profissional posterior não são os mesmos. A motivação que influenciou

sua escolha profissional - a educação - não acompanhou sua conduta diária,

tampouco interferiu na sua futura atuação como profissional.

A educação, de fato, deve ser o desenvolvimento das capacidades e

faculdades humanas. No entanto, percebe-se uma inversão de valores no que

diz respeito à educação, uma vez que a responsabilidade inicial da mesma

deveria ser familiar, no entanto, tem sido transferida para o professor. Apesar

de ser formador de opinião, direcionador de conduta, ética, o professor não

deve ser o único responsável por impor limites, estruturar, moralizar, formar o

caráter ou mesmo desenvolver hábitos de boa criação e respeito em seus

alunos, pois esta tarefa deve ser iniciada no lar. E isto se mostra ainda mais

sério, pois não é mais o dom ou o amor à profissão que os motiva a

prosseguirem em sua prática profissional, mas a coragem, já que a ausência

da família no quesito “educação” é refletida na sociedade e resulta num perigo

potencial para professores e alunos, como se não bastassem a falta de

recursos, condições precárias das instalações, instituições localizadas em

áreas de risco, baixa remuneração, etc.

O resultado, então, é que muitos destes professores que pensaram na

Educação Física como formadora e transformadora, diferencial de outras

práticas docentes pela descaracterização de disciplina puramente formadora,

de cunho intelectual, pela ludicidade, pela facilidade de interação com seus

alunos, pelo teor prazeroso, e tantos outros motivos, têm sido vítimas da

descaracterização acadêmica - que deu lugar à preparação de profissionais

que atendam somente às demandas do mercado de trabalho.

Percebe-se que, ao ser tratada como “atividade”, a Educação Física é

encarada como “destituída da sistematização do conhecimento” (Lino

Castellani Filho, 1988, pg. 220), um “fazer pelo fazer”, um praticismo ateórico

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que se vincula muito aos objetivos de formação de mão-de-obra apta para a

produção (forte, resistente e saudável) do que com a socialização dos saberes

pertinentes à cultura corporal humana.

Não são poucas as frases de efeito em discursos acadêmicos que

fortalecem a luta por romper com tal preconceito, porém, no cotidiano, as

ações são contraditórias. Encontramos professores desprendidos de sua

ideologia inicial, em busca de atletas, preocupados com rendimento e não com

a formação do indivíduo, desconsiderando os conhecimentos relativos à

cultura corporal humana - que não se esgotam na simples iniciação e prática

esportiva de cunho físico- biológico.

O desafio maior, então, deve ser o de incentivar os docentes, já

acostumados a transmitir regras e conceitos esportivos, a refletirem e

selecionarem conteúdos que sejam estimulantes tanto para alunos como para

eles próprios, e que possibilitem a mudança de comportamento e visão da

Educação Física nas escolas e na sociedade como um todo, pois se entende

que uma vez desmistificada de valores puramente estéticos, haverá o

conseqüente reconhecimento da importância e verdadeiro papel da Educação

Física para os mesmos.

Embora, há que se considerar que, com as contribuições dos estudos

sobre cultura à Educação Física, pôde-se perceber a mudança no papel do

professor: o que antes ensinava preceitos, regras, mecanismos e técnicas

corporais fazendo com que seus alunos se tornassem máquinas de rendimento

com o fim de obter os melhores resultados nas competições, agora não se

preocupa unicamente com a forma que o aluno realiza determinado movimento

ou com seu rendimento em competições escolares, pois não é a finalidade do

mesmo significante, e sim, considerar toda a “bagagem” de conhecimentos e

tradições que se desenvolveram naturalmente, socialmente, culturalmente.

“O profissional de Educação Física não atua sobre o corpo

ou com o movimento em si, não trabalha com o esporte em si,

não lida com a ginástica em si. Ele trata do ser humano nas suas

manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento

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humano, historicamente definido como jogo, esporte, dança, luta

e ginástica. O que irá definir se uma ação é digna de trato

pedagógico pela Educação Física é a própria consideração e

análise desta expressão na dinâmica cultural específica do

contexto onde se realiza.” (Jocimar Daólio, 2004, pg. 3)

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CAPÍTULO III

ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL

X MOTIVAÇÃO

Vários são os fatores que influenciam o ser humano em suas práticas

diárias, e, indubitavelmente, o maior deles é a motivação.

Como definição de motivação tem-se: “a força ou impulso que leva os

indivíduos a agirem de uma forma específica” (Iain Maitland, 2002, pg. 7). E

embora existam várias teorias acerca da motivação e do que ela representa

para cada indivíduo, uma se destaca pela credibilidade: a “Pirâmide das

necessidades”, de Abraham Moslow. De acordo com esta teoria, os indivíduos

possuem uma hierarquia de necessidades que precisam ser supridas, que vão

das necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, necessidades

sociais, necessidades de auto-estima, e terminam com a necessidade de auto-

realização. Relacionando essas necessidades ao ambiente de trabalho

teríamos salários e benefícios como necessidades biológicas, segurança física

e no trabalho, além de planos de previdência e folgas, como necessidades de

segurança, senso de amizade, companheirismo e prestatividade como

necessidades sociais, elogios por parte de superiores e reconhecimento na

forma de promoções como necessidades de auto-estima e utilização das

habilidades pessoais de maneira ampla em atividades gratificantes como

necessidade de auto-realização. No entanto, essa relação de prioridade pode

variar à medida que um dos aspectos não for atendido de forma a satisfazer

aquela necessidade.

Há fatores que, embora irrelevantes para estimular a motivação, devem

ao menos ser satisfatórios para não se tornarem a causa da desmotivação.

Alguns influenciam tanto o comportamento humano, que permitem maior ou

menor participação em atividades que se relacionem com atenção,

desempenho e aprendizagem.

No tocante à Educação Física, pode-se dizer que depende muito das

aspirações dos alunos para que determinado elemento motivacional tenha uma

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função positiva, e isto por que, a visão que os alunos, em geral, têm da

Educação Física, é a de disciplina que busca o aprimoramento de movimentos

e técnicas para o alto rendimento, ou, numa perspectiva científica

contemporânea, atividade que visa a transformação do corpo em máquina.

“Invólucro de uma presença, arquitetônica de materiais e

funções, o que então fundamenta sua existência não é mais a

irredutibilidade do sentido e do valor, o fato de ser a carne do

homem, mas a permutação dos elementos e as funções que

garantem sua organização. O corpo é declinado em peças

isoladas, e esmigalhado. Estrutura modular cujas peças podem

ser substituídas, mecanismo que sustenta a presença sem lhe ser

fundamentalmente necessária, o corpo é hoje remanejado por

motivos terapêuticos que praticamente não levantam objeções,

mas que também por motivos de conveniência pessoal, às vezes

ainda para perseguir uma utopia técnica de purificação do

homem, de retificação do seu ser no mundo. O corpo encarna a

parte ruim, o rascunho a ser corrigido” (David Le Breton, 2003, pg.

16).

Daí pensar-se que os professores de Educação Física precisam alterar

a realidade de suas aulas de modo a colocá-la como disciplina importante

muito mais pela contribuição que pode dar para melhoria e manutenção da

qualidade de vida, do que pelo alto rendimento esportivo ou pela visão de

estética.

Mas será que, observando a conduta dos professores de Educação

Física em suas práticas, não encontraremos a perpetuação destas idéias? A

busca por embasamento científico para a compreensão da área tem sido

objeto de anseio e estudo dos professores de Educação Física? Se não, qual

motivo tem afastado os professores da busca por aperfeiçoamento e

atualização profissional, e os feito preocuparem-se unicamente com o

desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo de seus alunos, ou a formação e

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desenvolvimento de habilidades físicas e técnicas para determinada

modalidade esportiva?

Percebe-se que, diferente de outras áreas, o professor de Educação

Física já inicia sua carreira profissional antes mesmo da conclusão de sua

graduação, visto haver espaço no mercado de trabalho de academias e clubes

para os estagiários (por vezes despreparados), com salários mais baixos (lucro

para as instituições), porém, mesmas cargas horárias e responsabilidades

exigidas de um profissional formado. E, embora a Educação Física tenha vivido

um processo de crescimento científico substancial e enriquecedor nas décadas

de 80 e 90, com as contribuições de João Batista Freire, Coletivo de Autores,

Elenor Kunz, Valter Bracht e Mauro Betti, isto não resultou numa melhoria na

atuação do profissional, sendo repetidas as mesmas rotinas de aulas nas

escolas.

O questionário realizado com professores de escolas públicas e

particulares de Sobradinho e Planaltina - Distrito Federal remeteu-nos a um

problema: a falta de atualização do professor como um dos agentes

desmotivantes para a prática profissional. E as causas vão desde o

afunilamento do mercado de trabalho, baixos salários e precariedade de

recursos materiais, à falta de tempo pela carga horária excessiva, incentivo e

valorização da profissão pela sociedade na forma de reconhecimento e

prestígio.

Encontramos professores que buscavam especialização na forma de

cursos de pós-graduação, extensão e outros, mas com outra finalidade, que

não a preocupação com o ensino. Determinado professor de escola pública,

quando questionado acerca de motivação para o envolvimento no processo de

educação do aluno em âmbito geral, desabafou:

“[...] é de pouca ou nenhuma valia a contribuição dada, já

que com tantos profissionais picaretas nas escolas, preocupar-se

com essa discussão e querer mudança, não implica em nenhum

reconhecimento por parte da direção da escola, ou dos órgãos

governamentais, que incentive o professor a buscar o

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conhecimento como fonte de motivação para suas práticas

docentes. Pelo contrário, pois é visto, a partir daí, no ambiente de

trabalho, como aquele que quer ser destaque, o bajulador, etc.”

O relato nos atentou para outro fator significante na motivação do

professor de Educação Física - a acomodação ao ambiente de trabalho. A

estabilidade advinda do emprego público, onde o trabalhador foi submetido a

um concurso, aprovado, e enfrentou um estágio probatório, favorece que

profissionais da área de educação, incluindo os professores de Educação

Física, entrem num processo de conformação tal, que não exista nenhum

interesse em aprofundar em conhecimentos, o que não ocorre em empresas

privadas, onde não há este tipo de estabilidade.

Professores de escolas particulares não são mais nem menos

preocupados com o processo educacional que os professores de escolas

públicas. O que existe é a cobrança por atualização de conhecimentos,

desempenho e altos rendimentos (mesmos pré-requisitos exigidos dos alunos),

não em busca da melhorai do ensino, mas de profissionais que atendam às

expectativas dos pais em relação a escola. E, quando não atendem, os

profissionais são “dispensados” da escola. Daí perceber-se o porquê dos

professores de escolas particulares estarem à frente na busca por atualização

profissional - para atender ao mercado de trabalho.

Esta preocupação, os professores de escolas públicas não têm, pois

acreditam não haver necessidade de aprimoramento do conhecimento, já que

não serão dispensados se não corresponderem aos anseios dos pais e

comunidade em geral, como também não receberão benefícios profissionais se

o fizerem (progressão na carreira, ganhos salariais, etc), e, por último, não há

nenhuma cobrança por parte das Regionais de Ensino ou dos órgãos

responsáveis pela Educação no país, para que busquem esta atualização.

Ora, mas se a atualização profissional está condicionada ao

reconhecimento, ou a algum tipo de “prêmio”, o enfoque não está na

educação, e sim, na realização pessoal e material.

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A importância do estudo para um professor, independente de sua área

de atuação, representa, muitas vezes, a sua permanência no mercado de

trabalho. Mais do que preocupado com aperfeiçoamento ou em refletir sobre a

melhor metodologia de trabalho a ser aplicada em suas aulas, o professor de

Educação Física está em busca de espaço no mercado de trabalho que lhe

propicie melhores salários, o fim de tarefas extra- escolares como correção de

provas, trabalhos ou a própria elaboração de projetos e material para suas

aulas, que acaba por lhe tomar o tempo com a família e/ou para o lazer. E,

antes de tudo, a qualidade de vida do professor deve ser colocada como um

dos elementos fundamentais para que ele tenha disposição e dinamismo -

exigências do convívio com os alunos.

Encontramos professores que atuam em outras áreas ligadas à

Educação Física (clubes, academias de ginástica e natação, arbitragem em

jogos, etc.) paralelamente à prática docente nas escolas para complementação

de renda, e, muitas vezes, não percebem o mal que o acúmulo de atividades

pode lhe acarretar num futuro próximo. Não percebem, também, estarem

privando a si próprios e às suas famílias do lazer.

“[...] nos fins de semana eu atuo como árbitra de futebol de

campo e considero esta atividade tão prazerosa, que é o meu

lazer semanal. E como não tenho, muitas vezes, tempo para

dedicar à minha família, levo todos comigo aos jogos, e eles se

divertem também!”

O lazer familiar é prejudicado pela falta de tempo, e em muitos casos, o

profissional que atua com o corpo e sobre o corpo, numa busca de

conscientização quanto à importância da atividade física, se vê impossibilitado

de realizar atividades esportivas pelo acúmulo de atividades profissionais, e

conseqüente cansaço físico e mental.

“[...] sinto-me culpado, às vezes, por não atender às

expectativas de minha família dando atenção e tempo; procuro

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realizar, então, no tempo que disponho aquilo que sei que para

eles é importante, como ir a um shopping, cinema, etc., mesmo

que eu mesmo esteja sem ânimo algum para tanto.”

“[...] eu sei que dedico pouco tempo aos meus filhos pela

rotina de trabalho, mas é por pouco tempo... Se estou me

sacrificando agora, é em função da qualidade de vida que quero

dar a eles.”

Observando os depoimentos dos professores, pôde-se perceber que a

rotina das aulas também é responsável pelo desânimo e desmotivação.

“[...] há um estresse físico e mental pela sobrecarga

corporal! Temos que carregar material para cima e para baixo,

pegar e levar alunos da sala de aula para a quadra e vice-versa,

gritar o tempo todo para que eles nos ouçam na quadra, enfrentar

um sol escaldante, e, na maioria das vezes, não tem nem como

matar a sede porque a escola está sem água.”

A deficiência de materiais esportivos cedidos pelo governo através da

Secretaria de Educação do DF é tanta que, quando muito, suprem a carência

em apenas uma modalidade esportiva. E como se não bastasse, ainda temos

a dificuldade em se encontrar locais onde se possa praticar algum esporte, já

que nem todas as escolas possuem quadra poli esportiva, ou quando a

possuem, é para dividi-la com mais de um professor ao mesmo tempo ou

compartilhada pela comunidade local que, muitas vezes, utiliza violência verbal

com alunos e professor para tanto, tem sido uma queixa grave dos professores

de escolas públicas.

“[...] como a escola não tem quadra própria, temos que

usar a da comunidade; uma vez, tive que sair da escola

escondida no banco de trás do carro de um colega porque um

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malandro me ameaçou quando quis defender meus alunos. No

que depender de mim, nunca mais dou aula lá fora na quadra, e

os alunos serão obrigados a ter aulas no pátio ou em ambientes

fechados para não correrem risco de vida.”

“[...] o trabalho do professor de Educação Física, diferente

do que pensam nossos colegas de escola, não é tão simples, fácil

ou prazeroso! Passar horas e horas num campo de futebol

improvisado onde, na época de seca ninguém agüenta a poeira, e

na época de chuva é pura lama, não tem nada de encantador!

Quem me dera poder ministrar minhas aulas numa sala de aula

confortável, com os alunos sentados à minha frente, sem precisar

gritar para que me ouçam, ter ao meu alcance água filtrada,

enfim, as mordomias que professores de outras áreas têm seria o

céu! Isso sem contar com a falta de recursos materiais; quando

temos bola, falta a bomba para enchê-las, quando temos bomba,

a bola já furou. As escolas públicas do Distrito Federal, no geral,

não dispõem de material para as práticas esportivas, e se o

professor não tiver jogo de cintura para trabalhar sem material,

vai fazer o quê? Tirar do bolso, nem sempre dá! Resta fazer

campanhas na própria escola (bingo, rifa ou outros) pra arrecadar

fundos e comprar o material essencial.”

Não menos importante, é o desconhecimento, pelos próprios colegas de

profissão e direção da escola, sobre qual seja a real função do professor de

Educação Física, e essa forma errônea de vê-lo, é transmitida e muitas vezes

cobrada pelos vários envolvidos com o processo educativo. De forma geral,

pode-se dizer que a vivência, expectativa e entendimento da disciplina

Educação Física, se restringe ao conteúdo ESPORTE, passando por

elementos como campeonatos, brincadeiras, lazer e recreação. Encontramos

colegas de profissão que creditam importância ao trabalho do professor de

Educação Física somente quando esses estão organizando campeonatos ou

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eventos na escola, e não quando estão em suas práticas diárias de aulas, ou

participando de discussões e/ou construções de pensamentos nos vários

âmbitos do contexto escolar. Não há participação dos professores de

Educação Física em projetos escolares, na definição do Projeto Pedagógico da

escola, e, concordando com Ângelo de Souza Vargas,

“[...] na escola, o professor de Educação Física,

geralmente, é aquele elemento despojado, simpático, alegre,

liberto de tensões. Um elemento que não cria problemas para a

instituição. E isso não deve causar surpresa nem espanto: como

criar problemas se ele não participa de maneira ativa da rotina

escolar? Ele é um turista, um visitante, um E.T. Na discussão de

conteúdos das disciplinas e das metas a serem traçadas para o

período letivo, ele não é convidado a participar. No conselho de

classe, ele é o elemento que pode passar despercebido, que

pode entrar mudo e sair calado e, quando opina, é sobre os

problemas de disciplina comportamental dos alunos, e nada

mais.” (Vargas, 1990, p. 59)

É difícil aceitar que exista tal desvalorização da disciplina e do professor

de Educação Física no âmbito escolar, mas o comodismo não auxilia na

reversão deste quadro. Percebe-se a total despreocupação dos profissionais

de Educação Física em modificar suas aulas, repetindo seus conteúdos em

formas de ensino já ultrapassadas, metódicas, repetindo, inclusive suas

avaliações de um ano para outro. A falta de uma consciência crítica sobre a

situação da disciplina e do profissional de Educação Física deve ser alvo de

ações mobilizadoras, que vão desde a participação do professor de Educação

Física nos projetos pedagógicos da escola, atualização profissional e

responsabilidade social com a formação de indivíduos atuantes e críticos, até a

participação em debates em que priorizem a interferência nesta realidade, de

maneira a construírem-se os pilares de uma Educação Física comprometida

com a estruturação de uma sociedade que intervenha a seu favor.

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E os profissionais que um dia sonharam com o ensino de uma

Educação Física inovadora com, por exemplo, a Abordagem Plural defendida

por Jocimar Daólio (2004), encarando o movimento humano enquanto técnica

corporal construída culturalmente e definida pelas características de

determinado grupo social, analisando todo gesto como sendo uma técnica

corporal por ser uma técnica cultural, trabalhando para que as diferenças entre

os alunos sejam percebidas, e seus movimentos e expressões valorizados,

independente do modelo considerado “certo” ou “errado”, e, principalmente,

considerando que os alunos são diferentes e que, numa aula, para alcançar

todos os alunos, deve-se levar em conta estas diferenças, sentir-se-ão

completamente motivados a prosseguirem, por estarem contribuindo, com sua

prática pedagógica, para a construção da “humanidade de todos”, na tomada

de consciência de seu papel enquanto ser real, comprometido primeiramente

com a sua própria existência.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como finalidade a discussão sobre os motivos

que, para os professores de Educação Física de escolas públicas e privadas

do Distrito Federal, sejam significantes a ponto de levarem ao desânimo e à

desmotivação.

Uma vez feita a escolha da graduação, dever-se-ia ter me mente,

mesmo antes ou durante a formação, das dificuldades pertinentes à profissão

tais como precariedade de materiais nas escolas para desenvolvimento de

suas atividades docentes, bem como da baixa remuneração e desvalorização

do professor de Educação Física pela sociedade e mesmo pelos colegas de

trabalho. Aspectos como estes podem, muitas vezes, ser relevantes na hora

da escolha profissional desde que não determinem que se siga por um

caminho profissional visando apenas o lucro e desconsiderando a satisfação

pessoal. E no quesito satisfação os profissionais de Educação Física tem se

deparado também com a procura por seus serviços muito mais ligada à

estética corporal do que aos benefícios da prática esportiva para a saúde, o

que torna desmotivante sua atuação na sociedade. E, embora não deva ser

determinante, a insatisfação destes profissionais pode ser vista na atuação dos

mesmos em aulas desmotivadas, nem um pouco interessantes do ponto de

vista criativo, um “fazer por fazer”, para cumprir horário e receber salário no

final do mês, e não para formação de cidadãos conscientes, produtivos,

humanos – verdadeira razão da educação como um todo. E este compromisso

com uma educação de verdade não pode estar, em hipótese alguma,

condicionada a ganhos salariais, a reconhecimento por parte do governo ou

instituições educacionais, nem tampouco na expectativa de que se houvesse

tempo ou condições financeiras para formação continuada na forma de

atualização profissional tudo seria diferente; a hora é agora, o momento é este,

e não se pode culpar ou delegar as nossas responsabilidades à fatores

externos, alheios. Desculpas nunca poderão ocupar o espaço das soluções.

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Os questionamentos no que se refere à procura por soluções para a

desmotivação na busca por conhecimento em atualização profissional foram

levantados sem, contudo, desconsiderar que outros, em maior ou menor

intensidade, possam ser analisados como objeto de estudos futuros. Espera-se

que haja aprofundamento no estudo do tema com maior grau de

fundamentação científica.

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BIBLIOGRAFIA

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Associados, Campinas, SP, 2002.

DAÓLIO, Jocimar, Da cultura do corpo, Papirus, Campinas, SP, 1995.

DAÓLIO, Jocimar, Educação Física e o Conceito de Cultura, Autores

Associados (Coleção Polêmicas do nosso tempo), Campinas, SP, 2004.

FREIRE, Paulo, Educação de corpo inteiro - Teoria e Prática da Educação

Física, 4 ed., São Paulo, 1994.

LE BRETON, David, Adeus ao corpo: Antropologia e Sociedade, Papirus,

Campinas SP, 2003.

LE BRETON, David, A sociologia do corpo, Editora Vozes, Petrópolis, RJ,

2003.

MAITLAND, Iain, Como motivar pessoas, Nobel, São Paulo, 2002.

MAUSS, Marcel, Sociologia e Antropologia, Cosac Naify, São Paulo, 2003.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

Escolha profissional - busca por um caminho para o futuro 13

CAPÍTULO II

Papel social do professor de Educação Física 17

CAPÍTULO III

Atualização profissional x Motivação 21

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA CITADA 32

ÍNDICE 33

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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