A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

46
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS MODERNAS FERNANDO HEINRICH DE SOUZA A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA PORTO ALEGRE 2012

Transcript of A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Page 1: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULINSTITUTO DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS MODERNAS

FERNANDO HEINRICH DE SOUZA

A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

PORTO ALEGRE2012

Page 2: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

FERNANDO HEINRICH DE SOUZA

A APROPRIAÇÃO DE 'THE TEMPEST' EM AQUA

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de licenciado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Prof. Drª Elaine Barros Indrusiak

PORTO ALEGRE2012

Page 3: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

AGRADECIMENTOS

Agradeço pela viabilização deste trabalho à minha orientadora, Elaine, pois sem a

sua ajuda, este mesmo não teria sido possível. Agradeço a Deus, por permitir, em vários

momentos, as coincidências que possibilitaram a realização deste Trabalho de Conclusão

de Curso. A Lauro Quadrado, pelas aulas da 'Oficina Literatura e Música'. Agradeço à

minha mãe, a pessoa que mais me incentivou a fazer este trabalho. Agradeço ao amigo

Eider, pelos incontáveis momentos em que nós tomamos café no Campus do Vale para

bater um papo. Agradeço ao meu pai, e ao meu irmão Marcelo, principalmente por mostrar

que é possível fazer um TCC, e que me apresentou o Angra, eu meio enxerido, fui ao seu

quarto ouvir que música era aquela, lá em 1995.

Page 4: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

RESUMO:

Este Trabalho de Conclusão demonstra como o álbum Aqua, do grupo de heavy

metal Angra, vem a ser uma apropriação da peça Shakespeariana The Tempest. Por meio da

teoria da Literatura Comparada, analiso as inter-relações existentes entre ambos, utilizando

os conceitos de intertextualidade e interdisciplinaridade, para tratar da ligação literatura e

música, heavy metal e literatura, e Aqua e The Tempest.

Page 5: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

ABSTRACT:

This Final Paper demonstrates how the album Aqua, from the heavy metal group

Angra, is an appropriation of the Shakespearean play The Tempest. By the method of

Comparative Literature theory, I analyse the interelations between both, utilizing the

concepts of intertextuality and interdisciplinarity, to deal with the connection between

literature and music, heavy metal and literature, and Aqua and The Tempest.

Page 6: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................07

1. A LIGAÇÃO ENTRE MÚSICA E LITERATURA............................................10

2. HEAVY METAL E LITERATURA.......................................................................13

3. ANÁLISE DAS LETRAS DE AQUA...................................................................19

4. CONCLUSÕES .....................................................................................................30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................31

REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS.....................................................................................33

ANEXOS.............................................................................................................................35

ANEXO I.............................................................................................................................36

ANEXO II …......................................................................................................................37

Page 7: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

INTRODUÇÃO

Apresento neste Trabalho de Conclusão o álbum Aqua, do grupo brasileiro de

heavy metal Angra, como apropriação da peça de Shakespeare 'The Tempest'. O álbum

apresenta características elementares de um álbum de heavy metal, o que leva a sua

inserção como obra intertextual com elementos literários, neste caso, como apropriação. O

heavy metal sempre teve influências de outras áreas interdisciplinares, na maioria dos

casos inspiração literária. É desde antes dos gregos Aristóteles e Platão a relação entre

literatura e música. Venho aqui demonstrar que Aqua é mais um exemplo desta

interdisciplinaridade.

O heavy metal apresentou ao mundo diversas obras influenciadas pela literatura,

com elementos e conceitos intertextuais, como o épico, o gótico, o mágico, o místico, o

sobrenatural e o maravilhoso. O CD Aqua traz elementos da literatura para dentro de suas

canções, compondo um álbum épico, dentro da tradição do heavy metal, fazendo um

apropriação da peça The Tempest. Para demonstrar isto, vou apresentar uma análise das

letras do álbum Aqua, fazendo uma comparação entre os dois em termos de conteúdo

lírico, contextual e sensorial.

No caso de Aqua, a música tem ligação com a literatura, The Tempest levou à

criação das músicas e das letras do álbum. Os músicos do grupo Angra inspiraram-se na

história de The Tempest e compuseram o álbum conceitual com temática voltada a esta

peça especificamente, de acordo o guitarrista Kiko Loureiro, em entrevista para a revista

de classic rock e heavy metal 'Roadie Crew'. Desenvolvi este trabalho de forma mais

eficiente possível buscando a teoria da literatura comparada como método, usando como

referência além de Carvalhal, outros autores como Paul Scher, que traz um artigo sobre

literatura e música em Interpretations of Literature, e outros teóricos como Afonso

Romano de Sant'Anna, entre outros. Para a realização deste trabalho busquei auxílio no

material de uma entrevista com dois integrantes do Angra na revista sobre heavy metal e

classic rock 'Roadie Crew' de novembro de 2010.¹

As citações da entrevista com o Angra são de ROADIE CREW, heavy metal e classic rock, Ano 13, Nov/10, Nº 142, p. 512-55.

Page 8: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

A ideia de buscar por The Tempest veio naturalmente, após uma série de ligações

que foram acontecendo. Mais ou menos por metade de 2008 apresentou-se na UFRGS, no

ILEA um grupo de teatro encenando A Tempestade. Já após, ao saber do álbum Aqua,

baseado na obra de Shakespeare The Tempest, fui em dezembro de 2010 ao show do grupo

Angra em Porto Alegre, no bar Opinião, no qual a banda tocou cinco músicas do álbum

Aqua, sendo estas as cinco primeiras do CD. Depois li a obra e me detive ao seu estudo,

vindo a estudar sobre intertextualidade posteriormente.

O grupo Angra segue dentro do estilo musical conhecido no Brasil como heavy

metal melódico, trazendo influência de música erudita, desde seu primeiro álbum, beirando

o neoclássico, Angel's Cry, de quando o grupo contava com o vocalista André Matos,

Ricardo Confessori e Luís Mariuti, e em seu segundo CD, Holy Land, que trouxe

elementos folclóricos brasileiros para a sonoridade do grupo e temas como a viagem de

descobrimento da América, e do Brasil, com temas incluindo misticismo, como na canção

“The Shaman”. Depois de alcançar o sucesso dentro do meio nacional e em parte da

Europa e Japão, o grupo veio a se separar em meio a intrigas. Os dois guitarristas, Kiko

Loureiro e Rafael Bittencourt mantiveram o nome Angra e a eles se uniram os músicos

Edu Falaschi, vocalista, Felipe Andreoli, baixista, e Aquiles Priester, baterista. O grupo

gravou um CD chamado Rebirth, e consagrou-se no meio nacional alcançando sucesso

com seu heavy metal melódico. Teve grande êxito com Temple Of Shadows,

CD que conta a história de um cavaleiro da Ordem dos Templários que é dissidente das

Cruzadas. Após gravou um CD que obteve pouca repercussão em 2006, Aurora

Consurgens, e depois deu-se a saída de Aquiles Priester e a volta de Ricardo Confessori

como baterista

Temos em Aqua um trabalho primoroso realizado pelo Angra, em nove letras de

canções inspiradas na obra The Tempest, escritas por quatro dos cinco membros do grupo,

sendo “Arising Thunder”, “Lease Of Life”' e “Spirit Of The Air” escritas por Edu Falaschi;

“Awake From Darkness” e “Hollow” por Felipe Andreoli; “The Rage Of The Waters”,

“Monster In Her Eyes” e “Weakness Of A Man” por Rafael Bittencourt; e “Ashes”

composta por Kiko Loureiro. Ao apropriar-se da obra, o Angra mostra no seu CD a história

de traição que é relatada por Prospero, vítima da ardileza de seu irmão Anthonio, que

usurpou seu ducado, sofrendo a vingança de Próspero no primeiro ato, quando começa a

fúria do mar e dos ventos contra a embarcação em que viaja também o rei Alonso e seu

8

Page 9: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

irmão Sebastian. É quando a natureza ataca com violência a embarcação em que viaja a

nobreza italiana. O caos se faz presente quando o pânico insuflado pelo espírito Ariel, a

mando de Prospero, incendeia o coração e a mente dos navegadores, e toda tripulação

perde o controle sobre si. No contexto brasileiro do grupo Angra, os cinco integrantes

leram a peça e se inspiraram livremente para compor as letras, e para compor também as

melodias que resultaram nas dez canções do álbum Aqua. O álbum apresenta grande

correspondência com as frases e as cenas da peça The Tempest, contendo versos em que

leva trechos de algumas falas selecionadas diretamente da peça. Há no CD claras alusões a

personagens da peça, como sustentadas pela canção “Spirit of The Air”, que trata de Ariel,

na qual o eu lírico, um dos músicos do Angra se põe na posição de Ariel, o 'Espírito do Ar'.

Há temas alusivos à tempestade com que começa o primeiro ato, como a canção “The

Rage of The Waters”. Já “Monster in her Eyes” é uma analogia a Caliban, este que tem o

aspecto e as características de um monstro.

A ligação entre a peça de teatro The Tempest e o álbum Aqua pode ser feita através

da literatura comparada, que assim estreita os laços entre música e literatura. De acordo

com Tânia Carvalhal, (2003, p. 74) o intertexto serve como “procedimento indispensável à

investigação das relações entre os diversos textos.” Perceber a ligação tecida entre a

literatura, e suas áreas de confluência de forma a estabelecer base de estudo (corpus) para a

literatura comparada.

9

Page 10: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

A LIGAÇÃO ENTRE MÚSICA E LITERATURA

Aqua apresenta a ligação interdisciplinar da música e da literatura entre si, as letras

compostas para o CD são baseadas na peça de Shakespeare, e o CD, apropriação da peça.

Carvalhal cita Calvin S. Brown e seu livro Music and Literature. A Comparison of the Arts

(1948) como obra decisiva nos estudos de “uma estética da interação das artes”:

“(...) C.S. Brown, ao definir literatura comparada, dirá que ela inclui 'o

estudo de literatura além de fronteiras linguísticas e nacionais e qualquer

estudo de literatura envolvendo, pelo menos, dois diferentes meios de

expressão'”. (CARVALHAL, 2003, p. 39).

A ligação entre música e literatura é recorrente desde antes dos gregos Platão e

Aristóteles, sendo estes os primeiros que chegaram a tratar da literatura e outras artes, e da

inter-relação entre elas. Segundo Scher (1996, p. 238) os primeiros tratados comparativos a

considerarem a literatura e a música como “artes irmãs” vem propriamente de Hildebrande

Jacob e seus intentos por chegar a uma identificação entre as afinidades e correspondências

das suas artes, sob o título de Of the Sister Arts. Em 1800, a estética do Romantismo

rompeu os limites entre literatura e música, e teve um grande impacto nesta inter-relação.

O maior pesquisador a ser considerado como tal ainda hoje é Calvin S. Brown, que

com sua obra “Music and Literature: A Comparison of the Arts”, de 1948. Brown foi o

editor convidado para a edição especial de Comparative Literature (Spring 1970) dedicada

a música e literatura. (SCHER, 1996, p. 240). Segundo Scher, este trecho de Brown pode

ser eficaz para descrever a ligação entre música e literatura nos dias de hoje:

“There is no organization of the work or the workers in the field of musico-

literary relationships. (…) There are no organized or conflicting schools of

thought, as there is no official point of view and no standard methodology.

The entire field of study remains essentially individual and unorganized (pp.

5-6.)” (SCHER, 1996 p. 240.)

Page 11: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Para Scher, música e literatura são duas artes que embora em muitas instâncias

virtualmente inseparáveis, apresentam aparentes correlações que são ilusórias ou, na

melhor das hipóteses, metafórica. Para Scher, há uma tentação aos estudantes de que se

aproximarem da área que liga literatura e música, e, é um engano por parte de muitos

destes por exemplo de utilizarem o cliché de que a música é aproximadamente a arte mais

ligada à literatura. Porém, muitos destes estudantes acreditam que é pequeno o arcabouço

teórico especializado requerido para o estudo desta ligação. Para Scher, o que aguarda

estes estudiosos é “an infinite variety of afinitties, interplays, and analogies as well as

divergencies”. Para ter controle destas complexidades, os estudiosos precisam de uma

sabedoria dos princípios fundamentais, potencialidades criativas, e possibilidades

interpretativas de ambas as artes, música e literatura. Para Scher, não importa o quão

similares literatura e música possam parecer ocasionalmente, elas são apenas análogas,

mas não idênticas. (SCHER, 1996, p. 226). Os paralelos entre as duas artes serão

classificados em três diferentes categorias, música e literatura, literatura na música, e

música na literatura, o caso do qual vamos tratar aqui.

Vamos tratar aqui de um caso de música na literatura, que trata exclusivamente das

obras literárias. Para tanto há os gêneros “word music”, que aborda os casos de técnicas e

estruturas musicais em obras literárias. Para Scher, a unidade de som literária difere

substancialmente da unidade de som musical, sendo assim a palavra individual carrega

uma conotação semântica, onde um tom só não a carrega. A “word music” é uma prática

poética que se ocupa primeiramente à imitação em palavras da qualidade acústica da

música. Para sua análise se utilizam ritmo, acentuação, entonação e timbre, todas

aplicáveis à literatura para criar métodos distintivos eficazes para criar texturas assim

como na música. Também se utiliza técnicas puramente literárias, como a aliteração,

assonância, consonância, e os tipos de rima. Já a “verbal music”, usa temas musicais para

personagens, objetos, e situações, podendo ser em situações repetidas; é o gênero que

vamos utilizar para aplicar a análise do álbum Aqua do grupo Angra, inspirada e composta

com base na peça de Shakespeare The Tempest. Utiliza-se o termo leitmotiv, para este fim.

O termo que denomina este tipo de situação foi cunhado por Wagner, Grundthema. Na

literatura o termo Homérico epitheton ornans funciona como comparação

a uma repetição de uma fórmula verbal, que é recorrentemente utilizada, ligando-a ao

motivo que existente. Quanto a isso, diz Steven Paul Scher:

11

Page 12: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

“(...) The literary leitmotiv - responsibly defined – provides a rare instance

of genuinely reciprocal impact of music and literature: an associative

technique that, as an overall structural principle, can be analogously

employed in dramatic vocal music in instrumental music, and in epic (less

frequently also in dramatic) literature. (SCHER, 1996, p. 233).”

Para Scher, “verbal music” pode ser definida como “any literary presentation

(wether in poetry or prose) of existing or fictitious musical composition: any poetic texture

which has a piece of music as its 'theme'”.

Pode haver restrição da compreensão imediata da obra, por tratar simultaneamente

da apresentação de palavras e música e dificultar a assimilação das linhas individuais.

(SCHER, 1996, p. 233-234). Para estes gêneros a música e a literatura acontecem

conjuntamente, sendo parte de uma performance a ser feita, e apresentando elementos

literários tanto quanto os musicais, de forma que são atividades a serem performadas. A

união das esferas de música e literatura gera uma nova dimensão a ser interpretada

(SCHER, 1996, p. 231).

12

Page 13: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

HEAVY METAL E LITERATURA

Entendo que o heavy metal seja gênero musical capaz de assimilar muitas culturas,

e inclusive de possibilitar meio para uma obra conceitual inspirada em obra literária. O

heavy metal pode ter como característica inclusive elementos trazidos da literatura, em

suas características, sendo a música arte irmã da literatura, já tendo sido ligadas desde

antes da época de Platão e Aristóteles, os filósofos que chegaram a discutir mais

profundamente na Grécia as artes e o belo. O heavy metal tem entre suas características a

priori o gótico, entre os casos que tratam de magia, elfos, fadas, bruxas, entidades mágicas

e até mesmo religiosas; traz também características ligadas à juventude rebelde e seu

desejo por libertação, talvez no universo mágico dos dragões de jogos de RPG Dungeons

& Dragons (D&D). O jornalista Ian Christe cita a interrelação entre D&D e o heavy metal:

“Nas camadas do universo escapista de D&D, os jogadores assumiam os

papéis de vários tipos sociais e étnicos: elfos, guerreiros, magos e bardos. Os

enredos dos jogos geralmente envolviam matar monstros e colecionar

tesouros, ao mesmo tempo em que se perseguia um objetivo heroico maior.

Muito do heavy metal se localizava em um terreno similar, um reino de

masmorras escuras e impenetráveis desertos povoados por batalhas e

adversidades.”(CRISTE, Ian. Heavy metal: A história completa, 2010, p.

92-93).

Estes elementos e o elemento épico são trazidos para dentro da música por grupos

de heavy metal como Iron Maiden, em sua canção “The Rime Of The Ancient Mariner”,

que reconta toda a trajetória da balada do poeta romântico Coleridge, inserindo versos de

certas passagens da obra do mesmo. A canção traz em seus versos a saga do marinheiro

que após amaldiçoado, vê a bonança cair sobre si com a chuva, elemento transformador da

situação e, portanto, épico. Outras bandas, como Blind Guardian, Rhapsody, com os versos

aludindo às batalhas épicas na canção “Forest Of Unicorns”: “So hardy trees let me hear

your words/ About those memories/ Please tell me all about our hold/ And epic battles they

won”, e, Ronnie James Dio, influenciado por escritores góticos, como Walter Scott, e as

Page 14: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

fábulas arturianas, ainda com influencias dos escritores modernos, como Arthur Clarke e

Isaac Asimov trazem elemenos góticos e medievais para o heavy metal. O épico é trazido

das batalhas de “For Whom The Bells Toll”, de Ernest Hemingway, traduzido para a

linguagem do heavy metal pela banda Metallica, em “For Whom The Bells Toll”, em que,

segundo Ian Christe, “James Hetfield parafraseou o escritor Ernest Hemingway para

evocar uma cena de batalha testemunha por um jovem soldado” considerada pelos fãs um

épico do heavy metal, devido à letra que explicita a guerra, e à densidade da música com

seus riffs pesados e música que leva os fãs ao êxtase, unindo-os em uma só motivação,

cantar a letra da música. (CRISTE, Ian, 2010, p. 167).

O termo intertextualidade é difundido desde que foi cunhado por Kristeva, em

1966. Conforme Carvalhal, a intertextualidade é como “um mosaico de citações, como

absorção e transformação de outro texto (...)” se instalando de forma a dar-lhe uma outra

visão. (CARVALHAL, 2003, p. 72). Ela descreve sinteticamente os princípios da teoria de

Kristeva:

“A teoria do texto se fundamenta em três grandes premissas: a primeira, 'que

a linguagem poética é a única infinitude do código', depois, que 'o texto

literário é duplo: escrita/leitura' e finalmente, que o texto literário é 'um feixe

de conexões'.” (CARVALHAL, 2003, p.73).

Ao estudar o CD do Angra, e a história do heavy metal, pude perceber que o heavy

metal é um estilo que tem em sua origem a influência de elementos como o gótico, o

místico e o mágico, vindo a trazer grandes ligações em suas letras com elementos literários

e mitológicos. Há correntes que sofreram influência do épico, e outras do medieval,

trazendo grandes características destes. A música veio em parte pelo descontentamento

com os padrões musicais dos anos 60, com toda a cena da era hippie e do pensamento “paz

e amor” e da a atmosfera tão etérea do flower power. O heavy metal concentrava-se nos

anseios da juventude assolada pela desigualdade social gerada pelo pós-guerra e pela

péssima perspectiva de emprego e pela falta de visão de um futuro mais promissor. Havia

uma visão obscura sobre o progresso.

O princípio do heavy metal deu-se com a banda Black Sabbath, e sua sonoridade

pesada e sombria, trazendo no seu primeiro disco também intitulado Black Sabbath uma

aura de misticismo do gótico em torno da imagem da capa, (uma velha casa e uma mulher

14

Page 15: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

vestida de negro em uma floresta) do dia escolhido para o lançamento, (uma sexta-feira

13) da letra sombria da música “Black Sabbath”, que fala de uma aparição demoníaca,

entre outras. Com o tempo e, o sucesso do grupo, e de seu heavy metal embrionário,

vieram muitos grupos influenciados, por aquela sonoridade e buscando uma imagem

mística e sombria. O grupo Rainbow traz em uma de suas letras influência das histórias de

cavalaria e da Távola Redonda, na canção “Lady of The Lake”, que trata da guardiã da

espada Excalibur, como citado no livro 'The encyclopedia of heavy metal', escrito por

Daniel Buhszpan. Iria influenciar diretamente bandas como Hammerfall. (BUKSZPAN,

Daniel, 2003, p. 85).

Nos anos 80, houve o crescimento do heavy metal como expressão de música

popular. Há nesta época outros casos de intertextualidade, tais como o da canção “Murders

in The Rue Morgue”, do grupo Iron Maiden, influenciada pelo conto de Edgar Alan Poe.

Posteriormente houve ainda muitas mais canções influenciadas pelas obras literárias, como

a já citada “The Rime Of The Ancient Mariner”. Uma das influências literárias mais

recorrentes no heavy metal é o épico.

O épico é um “estilo narrativo através do qual o poeta narra, descreve e exalta fatos

históricos e personagens heróicos.” (SAMUEL, 1985, p. 76). É um elemento intrínseco das

letras de alguns grupos de heavy metal como Rhapsody:

“A song of mighty warriors

of epic bloody fights

while moonlight meets the manor's walls

and I must close my eyes.” (RHAPSODY, Limb Music, 1997)

Esta canção fala das batalhas épicas de guerreiros fantásticos, inspirada diretamente

no épico como conceituado por Samuel. Ian Christe ressalta a característica do mesmo

grupo em trecho de “Heavy Metal: A história completa”:

“O grandiloquente sexteto italiano Rhapsody, cujos integrantes incluíam um

narrador de máscara de borracha, descreve seu som como “um épico

sinfônico de Hollywood metal” - uma aventura madrigal de capas

esvoaçantes, guitarras duelantes e arpejos de sintetizador que procuravam

seguir os passos de O senhor dos anéis na tela grande.” (Christe, 2010, p.

15

Page 16: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

465).

Há casos de intertextualidade também no heavy metal brasileiro, dos quais Aqua é

um exemplo. Para abordar o conceito de intertextualidade, Carvalhal cita Michel Riffaterre

e a expressão “indireção semântica”, que nos mostra que a obra literária não significa

apenas o que ela diz, mas se inserem significados que dialogam com ela, seja pela visão do

escritor, pela do leitor, ou pelo contexto cultural. Riffaterre utiliza a etimologia da palavra

texere para chegar aos termos que designam o método intertextual, “tecer”, “tramar”. Para

Carvalhal, de forma figurada, entrelaçar, reunir, combinar”. (CARVALHAL, 2003, p. 73).

Entre os casos de álbuns brasileiros inspirados em obras literárias de Shakespeare

há ainda Hamlet, baseado na peça, escrito pelo poeta Adriano Villa e gravado por grandes

talentos do heavy metal nacional. Também o grupo de heavy metal Sepultura, famoso

internacionalmente, dedicou-se a apropriação de obras literárias e criou seu CD Dante XXI

inspirado na Divina Comédia, de Dante Alighieri, e posteriormente gravou o CD A-lex,

influenciado pela obra Clockwork Orange, de Anthony Burgess.

Esta formação com o Angra renovado excursionou pelo Brasil para se entrosar

melhor e veio a ter inspiração na obra de Shakespeare The Tempest. O grupo aceitou a

sugestão dada por um fã ao vocalista Edu Falaschi, vendo na peça que traz em seu enredo

“perdão, traição, arrependimento” segundo Kiko Loureiro, oportunidade para o conceito de

seu novo álbum. Aqua não recebeu o nome de The Tempest , por soar óbvio, além de

‘Aqua’ ser o elemento Água em italiano, porque as personagens da peça são italianas. Para

Loureiro, um dos aspectos que tema ver entre a peça e o heavy metal é que “(...) fala de

naufrágio, tempestade, magia, monstros... Os símbolos em si já tinham muito a ver com o

heavy metal. E os sentimentos que estão na peça também tinham muito a ver com a gente

(...)”.

De acordo com Edu Falaschi, “todo mundo começou a pesquisar o tema, comprou

o livro 'A Tempestade', leu... Depois, nos reunimos para fazer um 'brainstorm' e definir

como seria a estrutura do disco e começamos a fazê-lo.” Assim, o processo de elaboração

de Aqua trata-se de uma apropriação da peça de Shakespeare, e de sua representação para

outro código, o musical, letra de música. Segundo Afonso Romano de Sant'Anna há

diferentes graus de apropriação. “(...) A apropriação é de primeiro grau quando é o próprio

objeto que entra em cena; e é de segundo grau, quando ele é representado, traduzido para

um outro código.” (SANT'ANNA, 2006, p. 45).

16

Page 17: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Segundo Kiko Loureiro, a idéia de trabalhar com a obra de um autor do cânone

mundial, Shakespeare, facilitaria para lançar “o disco no mundo inteiro”: “Era perfeito

para amarrar o CD. As músicas são bem diversas, tem desde uma balada Pop até um Speed

Metal, passando por referências étnicas... Então, o tema também tem como função amarrar

um disco tão diverso, dá uma boa unidade para ele.”

Ainda segundo Rogel Samuel, “todo o poema épico é feito de narrativas, descrições

e comparações. Não esqueçamos que trazem as marcas das composições orais e eram

recitados pelos bardos.” (SAMUEL, 1985, p. 77). Desta forma Aqua, mais que inspirado

na peça do bardo inglês Shakespeare, traz uma apropriação da peça em forma de narrativa

épica em letras de canções de heavy metal.

Na canção “Awake from Darkness” o eu lírico, Prospero, não enxergava nada além

de escuridão a sua volta, em elementos como “dor”, “sem vida”, “negror” são

transformados transcendentalmente em “raios de claridade”, “luz”, “fé incontida”, através

de uma mudança na visão de mundo e de uma percepção alternativa de sua realidade. Em

Samuel encontramos referência a Steiger, que associa dentro do épico o pavor ao escuro e

à morte, da obscuridade e da noite, e o triunfo da luz em toda a dimensão. (apud

SAMUEL, 1985, p. 77-78). Assim o Prospero “imagine thoughts on golden rays/ And days

when I'll rise again”, Mestre de seu traçar, ele está desperto da escuridão.

Através de trechos da canção podemos ver a transformação na personagem, em

“When in the blackness I see light/ My soul won't cower/ I contemplate life with helpless

faith/ Staring into a brighter day/ I see the fields which once were black/ Master of my

design I am/ Awake from darkness (…)” (ANGRA, Voice Music, 2010). Kristeva afirma

que “Epic logic is therefore causal, that is, theological; it is a belief in the literal sense of

the word.” (Kristeva, 1980, p. 78). Assim constatamos como Aqua é um CD de heavy

metal baseado em obra literária, associando imagens de criaturas mágicas e do maravilhoso

e elementos épicos. Samuel afirma sobre o épico: “Outra característica importante a se

ressaltar é a presença do maravilhoso: atuação dos deuses e de fatos sobrenaturais que se

interpõem na solução de um problema.” (SAMUEL, 1985, p.79). Também podemos

afirmar que é uma obra com início meio e fim, com uma perspectiva épica. “O peso da

atividade poética é distribuído sobre as diversas partes do poema e não sobre o todo.

Consequentemente suas partes adquirem certa autonomia ( início, meio e fim do poema)”,

17

Page 18: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

conforme apresenta o CD do Angra. (SAMUEL, 1985, p. 78). 18

Page 19: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

ANÁLISE DAS LETRAS DE AQUA

Percebe-se que há uma ligação entre literatura e música em um caso específico da

literatura inglesa com a música heavy metal brasileira. A literatura comparada mostra-se

especificamente a mais apropriada para verificar isto. As bases de estudo de música e

literatura, especificamente, não tem um método exato a ser cumprido em todo âmbito e

quesitos, porém, há meios de se analisar a literatura que está contida nas letras de canções,

baladas, madrigais, e outros estilos, através da análise de seus versos, de seu ritmo, de seus

sons, das figuras poéticas de linguagem, e do âmbito estético da música, analisando o

ritmo, tom, timbre e intensidade. Faremos aqui uma análise centrada no texto, as letras de

música do álbum Aqua, analisando sua apropriação da peça The Tempest de Shakespeare.

Para tanto utilizamos metodologia e referencial teórico característicos dos estudos

literarios (SCHER, 1996, p. 233) examinando a ocorrência de recursos poéticos como

aliteração, assonância, consonância, e de diferentes tipos de rima empregados na

construção poética. Segundo Norma Goldstein “o discurso literário é um discurso

específico, em que a seleção e a combinação das palavras se fazem não apenas pela

significação, mas também por outros critérios, um dos quais, o sonoro.” (GOLDSTEIN,

2004, p. 5). Para Goldstein o próprio estudioso deve seguir seu método de trabalho, mas há

“técnicas de análise que seriam (…) um auxiliar para o trabalho com texto”. É preciso se

tratar de ritmo, vocabulário, categorias gramaticais, organização sintática e figuras de

linguagem, (ou 'elementos poéticos'). (ibid 2004, p. 6).

O ritmo é resultado da alternância de sílabas “acentuadas (fortes) e não acentuadas

(fracas); ou por sílabas constituídas por vogais longas e breves”. Até o início do século XX

as sílabas dos versos eram contadas e desta forma fazia-se a análise dos versos, porém

desde o Modernismo, com o surgimento do verso livre, utiliza-se para a análise critérios da

unidade rítmica. Assim como a vida das pessoas tornou-se mais imprevisível “o ritmo dos

poemas acompanhou o processo: tornou-se mais solto, mais livre, menos simétrico.”

(GOLDSTEIN, 2004, p. 11 - 13).

No caso dos versos livres, por exemplo, não há obrigatoriedade das regras

convencionais para a acentuação, exceto a da acentuação da última sílaba. Uma leitura

diferente de um verso, separando mais as vogais pode alterar o número de sílabas poéticas.

Page 20: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Segundo Goldstein deve-se relacionar a obra com o contexto sociocultural em que ela

foi concebida e produzida, pois a temática do poema é uma forma de “traduzir um modo

de vida, um conjunto de valores, uma visão de mundo.” (GOLDSTEIN, 2004, p. 17).

Havia entre os antigos gregos e latinos um meio para metrificar, que “media” os

versos quantitativamente; segundo Goldstein, “considerava-se alternância entre sílabas

longas e sílabas breves.” As sílabas longas seriam representadas pelo sinal / - / ; e as breves

pelo sinal / U /, que correspondia à metade de uma sílaba longa. Assim o poeta compunha

os segmentos de versos chamados pés. Os principais pés dos sistema quantitativo são:

uma breve e uma longa: / U - / pé jâmbico

uma longa e uma breve: / - U / pé trocaico ou troqueu

duas longas: / - - / pé espondeu

uma longa e duas breves: / - U U / pé dátilo

duas breves e uma longa: / U U - / pé anapesto ou anapéstico (GOLDSTEIN,

2004, P. 18).

Há ainda os versos que não apresentam rimas, como os versos brancos, que trazem

preservada, todavia, a métrica dos versos tradicionais. Há os polimétricos, que trazem

versos de tamanhos diferentes, mas preservando as sílabas acentuadas tradicionalmente.

Há ainda os versos livres, que não obedecem a regras de versos quanto à metrificação ou

regularidade de rimas, variando os locais de sua acentuação, mesmo em leituras mais ou

menos pausadas. O verso livre é um dos mais utilizados hoje em dia, sendo seu uso

crescente desde a segunda metade do século XX. (GOLDSTEIN, 2004, 36-37).

Enjambement é onde um verso liga-se a outro para dar continuidade ao seu sentido

na linha do verso seguinte. Ele tende a ser um verso regular, com metrificação e rima, sem

depender do próximo verso senão pelo sentido e pela construção sintática, que há em

vários versos das canções de Aqua

Os versos apresentados nas letras das canções de Aqua são brancos e livres, de pé

jâmbico ou troqueu, Os pés são alternados, por vezes coexistindo na construção da letra e

das suas significações dentro da apropriação da peça 'The Tempest' e também de acordo

com a musicalidade esboçada pelo grupo, já que os músicos do Angra tem por hábito criar

primeiro a música e depois a letra, conforme afirma Kiko Loureiro

A música “Arising Thunder” fala no começo de uma promessa feita por alguém

20

Page 21: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

que traiu o eu lírico, Prospero em The Tempest. Fala também da distância a que Prospero

foi condenado a permanecer, e das correntes postas ao redor de sua vida, e fala da

navegação que o traidor de Prospero fez, e de sua rota em que “navega em paz” para “o

inferno em que irá”.

“Time for your reflection

What's the promise you have made?

Destruction of your pride

And reconstruction of my name

You betrayed me where's your bravery?

Now you face your doom

Your fate will be traced by the spear

That went tearing through” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Os versos 1, 2, 5, 6 e 8 são jâmbicos, e os versos 3, 4 e 7 são troqueus. Aqui o eu

lírico demonstra revolta contra uma pessoa próxima que já não se tem mais confiança, por

qual foi traído. Volta a fúria das guitarras e da bateria e baixo. Tempestade, música à

velocidade tempestuosa. O traidor tem sua rota construída por Prospero, enfeitiçado ele

não pode saber para onde está indo.

“Arising Thunder!

Welcome to me, you fall alone

Stand up and face me in a fight

Drowning in tears deep in the storm

Once again, once again!” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Os versos de “Arising Thunder” são cantados bem encadeados, sendo os do refrão

predominantemente jâmbicos, com exceção do primeiro. Destacam-se bem as pausas nas

acentuações de cada palavra, variando entre pé jâmbico e troqueu. Há grande variação no

número de sílabas poéticas nos diferentes versos. As constantes trocas de pés entre os de

acento jâmbico e troqueu nos diferentes versos podem esboçar os versos tumultuosos da

canção, já que se trata de um heavy metal que alude a uma tempestade.

21

Page 22: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Em “Lease Of Life” quem ganha voz é Ferdinand, e fala de uma moça que veio

para levá-lo através da tempestade, em cantos que ele ouve, como o de Eros, ele quer pedir

a mão da moça, sem saber de onde ela veio. “Virgem como um diamante, preciosa como

uma criança.”

Quando a vê, chegado à ilha, ele viu todo seu passado, e acredita em uma nova

fonte de forças, de energias, um caminho novo para vida, ao lado da moça, Miranda, em

The Tempest.

We've got to believe we'll join our lives

Over the vengeance, treason and lies

We can be one” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Os versos do refrão são jâmbicos. Esta música apresenta estrutura em que o refrão

aparece no final, criando um clima grandioso e apoteótico, em uma sequência de versos

jâmbicos sentimentais e arrebatadores. Segundo Kiko Loureiro, guitarrista do Angra, “essa

música tem uma estrutura, ela tem o ápice no final”. O número de sílabas poéticas entre os

versos varia enormemente, entre 10 a duas sílabas em versos distintos.

“Spirit of The Air” cita Ariel como espírito do ar, e diz de seus poderes para

manipular os ventos e “trazer as velas para uma guerra”. Depois o próprio Ariel é quem

ganha voz, e se prontifica a cumprir os desígnios de Prospero. A canção fala da história de

aprisionamento de Ariel a “Cloven Pine”, a árvore em que Ariel estava preso.

A música intercala as vezes de um narrador e a voz do próprio Ariel, representada

nas vezes do autor da canção, como em: “It's no good to watch the skies/ through someone

else's eyes”.

Violões e violino. A música fala de Ariel, “Spirit of the air”.

“Deep in the ocean mermaids are crying.” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Sereias choram, Ariel soprou as velas para uma guerra. voz terna vira hostil:

“On the island,

Land of the elves of the hills,

Ariel's winds

22

Page 23: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Blow the sail into a war.” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Os versos abaixo variam entre jâmbico e troqueu, compondo o refrão, sendo 1, 2, 3,

e 8 jâmbicos, e 4, 5, 6, e 7 troqueus.

“Groves and standing lakes

Island of dreams where you reside

Spirit Of The Air

Inside your rage

You throw your tricks and spells

And claim for your freedom once denied

It's no good to watch the skies

Through someone else's eyes” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Variação entre jâmbico e troqueu em uma mesma sequência de versos do refrão, os

versos 1, 2, 3 e 8 são jâmbicos, e 4, 5, 6 e7, troqueus, propondo um clima etéreo, em que a

história do espírito do ar, Ariel se encaixa melodicamente com a letra da música. Grande

variação no número de sílabas poéticas, indo de duas a dez em versos distintos. Os termos

'elves of the hills' foi extraído da peça, de um das falas de Prospero, como também o verso

“Groves and standing lakes”, presentes no trecho “Ye elves of hills, brooks, standing lakes,

and groves (...)” (SHAKESPEARE, 2001, p. 86).

A música “Monster In Her Eyes” dá voz a Caliban, e ele conta sua trajetória e

interage em voz com Prospero (ausente), e com Miranda (também ausente). Ele se diz uma

besta, um ser baixo, mas revela que antes de Prospero vir, a ilha era sua, e que Prospero o

tornou seu servo, e ensinou sua língua, negando-lhe a palavra. Ele quer mostrar a Miranda

que não é um monstro: “And no longer I'll be a monster in her eyes.” Mas termina por

confirmar que é apenas um monstro aos olhos dela. Interessante é a menção dos encantos

que a ilha tem aos ouvidos de Caliban, que às vezes pede para sonhar de novo. A variação

entre versos de estilo troqueu e jâmbico é tão grande que torna a canção disforme em seus

versos e suas outras partes, como ponte e refrão. Auxilia a gerar um clima de defeito e

monstruosidade, como pede a canção sobre a personagem Caliban. Versos longos,

chegando a 13 sílabas poéticas “And never again I'll be a monster in your eyes/ And never

23

Page 24: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

again I'll be a monster in her eyes”.

A letra da canção alude a um trecho em que Caliban conversa com Stephano e

Trinculo, e adverte-os que os sons que se escuta na ilha são espíritos comandados por

Prospero reproduzidos abaixo:

“Be not affeard, the isle is full of noises,

Sounds, and sweet airs, that give delight and hurt not:

Sometimes a thousand twangling instruments

Will hum about mine ears; and sometimes voices,

That if I then had wak'd after long sleep,

Will make me sleep again, and then in dreaming,

The clouds methought would open, and show riches

Ready to drop upon me, that when I wak'd

I cried to dream again.” (SHAKESPEARE, The Tempest, 2001, p. 70).

Os versos 2 e 8 são jâmbicos, os demais versos da sequência são troqueus. Na letras

da canção de Aqua, Caliban ganha voz e conta sobre suas impressões vivendo na ilha:

“Please, be not afeard

By this isle's sounds in your ears

When I have waked, after a long sleep

The clouds I was dreaming

I cry to dream of again...” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Os versos acima são jâmbicos, com exceção do verso 5. A música termina com a

mensagem desesperançada de Caliban, que não mais acredita ser livre, que desistiu de

tentar superar sua deformidade e aparência monstruosa, e a música fica mais triste, e

termina em acordes menores:

“All my sacrifice, will be worth the price

Forever I'll say,

My stolen paradise,

Will be worth the price

24

Page 25: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

And no longer I'll be a monster in her eyes,

I'll be a monster in her eyes

I'm just a monster in her eyes” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Os versos acima são troqueus, com exceção do primeiro.

Em “Weakness Of A Man” Prospero vê a situação em que está a tripulação diante do

naufrágio, e está então planejando seu futuro. Ele cita que reinará, e menciona a traição

sofrida por ele há anos atrás, em que ele teve sua confiança destruída.

Atmosfera alegre, solta, voz do cantor empostada de forma serena. Esperança e

melodia bela. Voz suave e terna, mas audaz, vem a melodia mais forte sempre e entra o

segundo verso. Prospero fala de suas sementes plantadas para o amanhã. Ele foi deixado

para trás, traído. A natureza humana o decepcionou e o ardil contra ele acabará como pó, e

irá se insurgir contra seus inimigos. Refrão pesado. Prospero evoca Ariel para trazer pelo

ar toda sua magia. Voz quase falada, é Prospero evocando Ariel. “Bring through the air all

your magic.” (ANGRA, Voice Music, 2010)

A visão em seus sonhos de ira trouxe a vingança. Agora ele vê de outra forma: que

não há amor para todos.

“There is no love for us all.” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Prospero mostra como a trajetória das personagens culmina em uma situação

extrema, em que a traição e o perdão se separam por uma linha tênue. Ele mostra-se um

simples homem, uma pessoa com suas fraquezas:

“Now living has revealed at last all the weakness of a man.” (ANGRA,

Voice Music, 2010)

Em “Ashes” Prospero fala como em um monólogo, com a tripulação talvez, ou com

os ouvintes, como o faz na peça com os espectadores. E assim ele retira seu feitiço. Ele diz

que recomeçará a vida como em sonhos com os olhos abertos.

Ele diz-se surdo e cego até que o dia de acordar chegou. Ele acreditava no mal, e

25

Page 26: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

todo seu mundo na ilha ele criou, e agora é hora de libertar a ilha e partir. Todos os

versos da canção são jâmbicos, mantendo um clima de personalidade, diligência e energia

nas palavras, que vem do autor representando Prospero, personagem principal da peça The

Tempest, que comanda os espíritos da ilha para seguirem suas ordens e efetuarem as mais

diversas ações. Grande variação no número de sílabas poéticas apresentadas entre os

versos, indo de 10 a duas. Há versos compostos por trechos extraídos do original de The

Tempest, como estes:

“Our revels now are ended

We were actors?

We were spirits?

Melted into air” (ANGRA, Voice Music, 2010)

A sequência de versos apresenta apenas jâmbicos. Prospero conta que seus

esquemas estão terminados:

“Forgiveness I embrace

heaven sent hell away

all my life

as a dream

with opened eyes

I'll restart” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Os versos 1 e 5 são troqueus, e 2, 3, 4 e 6 são jâmbicos. E diz que todos que habitavam a ilha eram atores, espíritos, quem derretem no ar ao fim da peça:

“Our revels now are ended. These our actors,

As I foretolt you, were all spirits, and

Are melted into air (...)” (SHAKESPEARE, 2001, p. 80).

Os versos acima intercalam jâmbico e troqueus. O trecho abaixo, da obra The Tempest serve para elucidar a maioria dos versos compostos na canção “Ashes”:

“The cloud-capp'd towers, the gorgeous palaces,

26

Page 27: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

The solemn temples, the great globe itself,

Yea, all which it inherit, shall dissolve,

And, like this unsubstantial pageant faded,

Leave not a rack behind. We are such stuff

As dreams are made on, and our little life

Is rounded with a sleep (...)” (SHAKESPEARE, 2001, p. 80).

Estes versos de The Tempest são troqueus. Os de “Ashes”, abaixo, recriam a

história de Prospero, e seu desencanto com a magia que ele usava em sua ilha, e da

vontade de partir:

“I was blind and deaf

Until the day of wakening came.

I have faith in evil

In his palace of no blame

All this world around me

I created on my own

And now it's time

To free this island and be gone.” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Os versos 1, 3, 4, 5 e 6 são jâmbicos, e 2, 7 e 8 são troqueus. Sua vida como cinzas

em sua mão, ele irá perdoar e prosperar até o fim. E a mágica das estrelas preenche seu

coração como uma chama. Os versos seguintes variam entre troqueu e jâmbico, em

determinada situação. O verso troqueu da sequência pode ter sido construído desta forma,

pois elucida uma imagem na canção, “The magic of stars now filling my heart/ like a

blaze”, quando após uma fala propícia do Prospero, que diz que sua vida está como cinzas

em sua mão e que irá perdoar e prosperar até o fim, a imagem de estrelas que

encantadoramente parecem encher seu coração como uma chama é evocada em um verso

troqueu, que quebra o ritmo da canção, possivelmente proposital, vindo a ressaltar o efeito

de alegoria do verso em questão. Grande variação no número de sílabas poéticas, de 10 a

três, entre os versos.

“All my life like ashes in my hand

I'll forgive and prosper 'till the end

27

Page 28: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

The magic of stars now filling my heart

Like a blaze” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Prospero mostra sua piedade aos seus inimigos, ele irá partir pelo mar. “We are

such a stuff as dreams are made of, set me free.” Próspero pede a liberdade de volta.

(ANGRA, Voice Music, 2010).

Piano melancólico, só. Monólogo, com voz solitária, terna, triste, desesperançosa.

Versos tristes. Segredos revelados; Prospero diz que todos aqueles na sua ilha são atores,

espíritos, derretendo no ar, Prospero replaneja sua vida. Canta triste, emoção de pesar e

melancolia. Base de bateria e guitarra, voz cresce e fica agressiva junto com a base que

ganha distorção nas guitarras. Depois da epopeia de Prospero, ele recomeçará sua vida. Ele

estava surdo e cego até que o dia de acordar veio, ele tinha fé no mal em seu palácio sem

culpa, todo o mundo a sua volta a ilha em que vive, ele criou, agora é hora de libertá-la e

partir.

Atmosfera triste. Quietude, piano, só. Dedilhado de violão. Calma hesitação, tempo

devagar, e voz feminina, narra a visão do Prospero. A voz feminina, que a canção contém,

segundo Edu Falaschi, em entrevista, é a parte da história em que “o personagem se

arrepende do mal que fez, quando ele para e pensa se tudo aquilo valia mesmo a pena”.

“Time, now it's time!

Feels like ashes all my life!

I'll restart.” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Enfim Prospero avisa que irá continuar, que o final será seu recomeço.

“I'1l carry on. Carry on.

This end is my start.” (ANGRA, Voice Music, 2010)

Podemos afirmar que o CD Aqua apresenta em suas estruturas de versos uma

grande variação entre o troqueu e o jâmbico, em parte talvez devido a obra The Tempest

variar também grandemente entre estes dois versos, e não apresentar número fixo de

sílabas poéticas, como Shakespeare fez em outras peças que traziam versos de redondilha

28

Page 29: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

menor jâmbicos. The Tempest é uma exceção, peça em que o autor usou grande número

de versos jâmbicos e troqueu intercaladamente, sendo marcante a presença de versos

decassílabos, sendo caracteristicamente reconhecidos como versos heroicos, trazendo em

Aqua uma narrativa épica. O álbum Aqua também tem suas músicas preponderantemente

em versos de acentuação jâmbicos, mas não exclusivamente. Há talvez uma tentativa de se

aproximar ao estilo shakespeariano em que predominavam os versos jâmbicos, embora há

versos com variação entre duas a treze sílabas poéticas no álbum, não seguindo os

pentassílabos característicos de Shakespeare em outras obras além de The Tempest.

Temos em letras como “Arising Thunder”, “Awake From Darkness”, “Hollow”,

“Weakness Of A Man” e “Ashes” temas que remetem a Prospero, representativos de sua ira,

sua desolação, sua vingança, sua iluminação com o perdão, e sua perda. Temos “Lease Of

Life” representando o romance surgido entre os dois jovens Ferdinand e Miranda, que se

tornariam um casal ao fim da peça; temos a canção “Spirit Of The Air” para elucidar as

peripécias e ardilezas do espírito do ar Ariel; temos “The Rage Of The Waters” para

apresentar a situação de tentativa de tomada de poder e corrupção do ser humano

representada por Sebastian e Antonio, na tentativa contra a vida do rei Alonso; e temos

“Monster In Her Eyes” falando do escravo de Prospero, Caliban, que planeja reaver sua

dignidade. O CD tem fechamento com duas canções que falam sobre Prospero, assim

como na peça suas falas predominam no final. A última canção lembra o monólogo final da

peça, aludindo ao final em que Prospero pede perdão à plateia e prediz seu futuro em que

irá retornar para além do oceano.

29

Page 30: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

CONCLUSÕES

A partir desta análise podemos afirmar que Aqua é uma apropriação da peça The

Tempest, de Shakespeare, sendo uma obra de referência dentro do heavy metal que utiliza

elementos épicos, dentro da tradição do estilo, Aqua mostra-se um trabalho de excepcional

empenho de construção de um CD de música heavy metal composto por versos, tem rimas

poéticas com versos iâmbicos e troqueus, muitos deles compostos, em sua maioria,

decassílabos, caracterizando versos heroicos, marcadamente épicos, tratando-se de uma

narrativa épica em forma de canções. Aqua apresenta-se como obra interdisciplinar,

trazendo a ligação entre música e literatura, com elementos intertextuais trazidos em letras

de música que lidam com o universo de The Tempest, suas personagens, cenas e contextos.

Aqua é assim um álbum brasileiro de heavy metal que apresenta-se como ícone da

tradição do estilo, abrangendo a ligação intertextual com elementos literários, místicos e o

épico, dentro de sua proposta de apropriação de peça teatral. Aqua é uma obra

interdisciplinar, trazendo música e literatura unidas nas suas canções. As letras de Aqua

são criações de versos na sua maioria decassílabos heroicos, épicos, fazendo desta

apropriação de The Tempest uma obra épica dentro do conceito trazido em Samuel, um

“estilo narrativo através do qual o poeta narra, descreve e exalta fatos históricos e

personagens heróicos”. (SAMUEL, 1985, p. 76).

Page 31: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOOM, Harold. Shakespeare : the invention of the human. New York : Riverhead Books,

1998. 745 p..

BRITTO, Jomard Muniz de. Do Modernismo à Bossa Nova. - São Paulo : Ateliê Editorial,

2009, 159 p..

BUKSZPAN, Daniel, The encyclopedia of heavy metal, New York, EUA : Sterling

Publishing Co., Inc. 2003, 300 p..

CANDIDO, Antonio. O Romantismo no Brasil. 2ª ED São Paulo : Humanitas/ FFLCH/SP,

2004, 95 p..

CARVALHAL, Tânia Franco, O Próspero e o Alheio. Ensaios de Literatura Comparada.

São Leopoldo RS Brasil : Editora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2003, 264 p..

CRISTE, Ian. Heavy metal: A história completa, tradução de Milena Durante, Augusto

Zantoz, São Paulo : Arx, 2010, 479 p..

GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos, 13ª Ed. São Paulo : Ática, 2004, 80 p..

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade, tradução Tomaz Tadeu da Silva,

Guaracira Lopes Louro. 10ª ED., Rio de Janeiro : DP&A, 2005, 102 p..

KRISTEVA, Julia. Desire in language: a semiotic approach to literature and art. New

York : Columbia University Press, 1980, 305 p..

MORSE, Richard M.. O espelho de Próspero : cultura e idéias nas Américas. São Paulo :

Companhia das Letras, 1998. 190p..

ROADIE CREW, heavy metal e classic rock, Ano 13, Nov/10, Nº 142, p. 512-55.

Page 32: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

SAMUEL, ROGEL. Manual de teoria literária / [organização de ] Rogel Samuel. 11ª

Ed. Petrópolis : Vozes, 1985. 192 p..

SANT'ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & cia. 7. ed. São Paulo : Ática,

2006. 96 p..

SCHER, Steven Paul, Literature and Music, in Barricelli & Garibaldi. Interpretations of

Literature. New York : The Modern Language Association of America, 1996, 329 p..

SHAKESPEARE, William. The Tempest. London, England : Penguin Books Ltd. 2001,

112 p..

32

Page 33: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

REFERENCIAIS AUDIOVISUAIS

A ÚLTIMA TEMPESTADE. Direção : Peter Greenaway Roteiro: Peter Greenaway. United

Kingdom : Lume Filmes, 1991. 1 DVD (129 min) son. Color. Título Original : Prospero's

Book.

ANGRA. Angel's Cry. São Paulo : Paradoxx Music, 1993. disco sonoro.

ANGRA. Aqua. São Paulo : Voice Music 2010, disco sonoro.

ANGRA. Aurora Consurgens. São Paulo : Paradoxx Music, 2006. disco sonoro.

ANGRA. Holy Land. São Paulo : Paradoxx Music, 1995. disco sonoro.

ANGRA. Rebirth. São Paulo : Paradoxx Music, 2001. disco sonoro.

BLACK SABBATH. Black Sabbath. Rio de Janeiro : Abril Music, 1999. disco sonoro.

IRON MAIDEN. Killers. Guarulhos, SP : EMI, 1998. disco sonoro.

IRON MAIDEN. Powerslave. Guarulhos, SP : EMI, 1998. disco sonoro.

MASTODON. Leviathan. USA : Relapse, 2004. disco sonoro.

METALLICA. Ride The Lightning. São Paulo : Sony Music, 2003. disco sonoro.

RAINBOW. Long Live Rock 'n' Roll. Rio de Janeiro : Polydor, 1978. disco sonoro.

RHAPSODY. Legendary Tales. Buenos Aires : Limb Music, 1997. disco sonoro.

SEPULTURA. A-lex. São Paulo : SPV Records, 2008. disco sonoro.

SEPULTURA. Dante XXI. São Paulo : SPV Records, 2006. disco sonoro.

Page 34: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

WILLIAM SHAKESPEARE'S. Hamlet. São Paulo : Die Hard Records, 2000. disco

sonoro.

34

Page 35: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

ANEXOS

Page 36: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

ANEXO I

Page 37: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

ANEXO II

VIDERUNT TE AQUAE

(Intro)

ARISING THUNDERTime for your reflectionWhat's the promise you have made?Destruction of your prideAnd reconstruction of my nameYou betrayed me where's your bravery?Now you face your doomYour fate will be traced by the spearThat went tearing through

When you hear the winds of revenge

All of the distance and the chainsYou put around my damned soulRight now it's all finishedI'm just building your new worldWhile you navigate in peaceAnd glance at lands you will controlBewitched you cannot see the routeAnd hell where you will go

When you hear the winds of revengeYou will see the goddess cryingand the boats will sink and nowYou play my secret game

Arising Thunder!Welcome to me, you fall aloneStand up and face me in a fightDrowning in tears deep in the stormOnce again, once again!

Page 38: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Go!

Look Out!

When you hear the winds of revengeYou will see the goddess cryingand the boats will sink and nowYou play my secret game

Arising Thunder!Welcome to me, you fall aloneStand up and face me in a fightDrowning in tears deep in the storm

Once again.Push!Once again!

AWAKE FROM DARKNESS

Out in the dark I roamOnward to meet my fateTime's an illusion todayAway from all I knowA frail that is filled with painFeeling the lifeless taste aheadI wish for no more than air

Flashes of clearness cross my eyesDisclosing powerThe tides will hurry my returnNow in the blackness I see lightI will not cowerI contemplate life with helpless faithMaster of my design I amAwake from darkness

Pages of wisdom turnMind over matter reignsmy fear won't lead me astray

I seek the quiet nightOver the crushing wavesI imagine thoughts on golden raysAnd days when I'll rise again

Flashes of clearness cross my eyesDisclosing powerThe tides will hurry my returnNow in the blackness I see light

35

Page 39: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

I will not cower

I contemplate life with helpless faithMaster of my design I amAwake from darkness I amAwake from darkness

A broken dignityAn upsurge soon to beWithin these books I find my hopeAnd liberty

Flashes of clearness cross my eyesRevealing powerThe tides will hurry my returnWhen in the blackness I see lightMy soul won't cowerI contemplate life with helpless faithStaring into a brighter dayI see the fields which once were blackMaster of my design I amAwake from darkness I amAwake from darkness

LEASE OF LIFE

Where you come from?I hear an angel songIt seems to be a callEro's chant of loveTake me through the storm

When you came fromFar it took so longSpirit brought me lifeA passion at first sightLend thy hand, my heart

Nymphs dance around the isleA phantom screams and haunt me all the timeThen you come!Like an angel from the skiesPrincess of my dreams,I wonder why you are goneSomeday you'll return

36

Page 40: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Where do you come from?Faraway? Beyond?Virgin as a diamondPrecious like a childLend thy hand, my heart

We've got to believe we'll join our livesOver the vengeance, treason and liesWe can be oneWe can restart

Forgive my mistakes-Time will tell-Forgive my mistakes

Someday!

Since I arrived on this shore

I've seen all my past (someday)A new force come from the sourceA new lease of life

THE RAGE OF THE WATERS

Rise of the TidesBreaking the HushFar in the distance it's heardWatery eyes, feelings disturbedFace the troubled waters

Soaking the earth, kissing the sandYour feelings seem to overflowRunning in streams, out of controlA wave is on its wayIt will collide against your soulWhen your fears are all tumbling in disorderIn the ocean of new emotions

In the rage of the watersWild surgingTransformations

37

Page 41: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Molding our livesIt's the age of the watersStirring up the patterns of our minds

So long, it took me to learnSurging waves can take all your hopeBut when the torment ends, comes the calmThere's no reason to despair, no!

In the rage of the watersWild surgingTransformationsMolding our livesIt's the age of the watersStirring up the patterns of our minds

In the rage of the watersWhere the tides are turningFeelings are runningMolding our livesIt's the age of the watersBoiling the fears we've kept insideChanging the direction of mankind

SPIRIT OF THE AIR

Deep in the ocean, mermaids are cryingOh LordKing of the thunder, magic surrounds youOh Lord

On the island,Land of the elves of the hills,Ariel's windsBlow the sails into a war

Before you can say "Spirit! Come and go!"My LordI'll bring the tempest, I won't even questionI'll be gone in a trip of a toe

Inside your rage

38

Page 42: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Now I'm trapped againCloven pine was my prison for a decade

Groves and standing lakesIsland of dreams where you resideSpirit Of The AirYou throw your tricks and spellsAnd claim for your freedom once deniedIt's no good to watch the skiesThrough someone else's eyes

I'm a soul of freedomLord of wisdomA creature of natureI drag'em to the ocean

Groves and standing lakesIsland of dreams where you resideSpirit Of The AirYou throw your tricks and spellsAnd claim for your freedom once deniedIt's no good to watch the skiesThrough someone else's eyes

HOLLOW

Enchanted by fierce desireSouls consumed with haunting fireAn empty guaranteeA stolen freedom

Deceptive illusions riseTake the chance to mend your prideBeen tortured and humbledNever again

Lost in a maze of soundsClarity escapesThe whispers chase you away

Numb and unaware

39

Page 43: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Hollow, the world where you belongLies you have believed for far too longLaid low, life has come undoneNothing stays the same, for time is all you ownAll you own

Under a cold dead skyIn the sea you'll learn what you must beStretch for hell as you seek revengeBear the scars of your inhuman rage

Lost in a maze of soundsClarity escapesThe whispers chase you awayNumb and unaware

Hollow, the world where you belongLies you have believed for far too longLaid low, life has come undoneNothing stays the sameFor time is all you ownEmpty spirit, hollow soul

A MONSTER IN HER EYES

I always was a lower beingNot much, I'm just a beastYou might think I'm the lowest of the lowBut there is something you should know.

Long before you cameYou'd have found me here,And never begged for your helpThis old land will be mine once againAnd all my sacrifice will be worth the priceAnd never again I'll be a monster in your eyes

You took my freedom:And shaped it into your servant,You taught me your tongue,Denying me the word.

40

Page 44: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Lord O' mine for so long,Now comes the time to regainMy land and Miranda will seeAll my sacrifice, will be worth the priceAnd never again I'll be a monster in her eyesI'll be a monster in your eyes

Please, be not afeardBy this isle's sounds in your earsWhen I have waked, after a long sleepThe clouds I was dreamingI cry to dream of again...

Lord O' mine for so long,Now comes the time to regainMy land and Miranda will see

All my sacrifice, will be worth the priceForever I'll say,My stolen paradise,Will be worth the priceAnd no longer I'll be a monster in her eyes,I'll be a monster in her eyesI'm just a monster in her eyes

WEAKNESS OF A MAN

By the shore, on an islandI can hear, our sea of sorrowWith no harm with no disgraceI am planting the seeds of tomorrow

In my circle I will reignI was left behind betrayed,Oh yeah!

Dark backward, abyss of timeRight in front of my eyesEvil nature destroyed my trustAll their scheming will end up as dust

41

Page 45: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

In my circle I will reignI will rise against my enemies

Now come away to your masterBring though the air all your magic

I'll bless and curse you till the endSet your whole self aflame

Foolish visions in my angry dreamsBringing vengeance to my shoreNow my wisdom shows a different sceneThere is not love for us all.

All this time my mind was in the pastFurious footprints in this sandNow living has revealed at lastAll the weakness of a man

Turbulent tidesAll the waters seem so roughKeep your faith because the calm will return

I've been longing for this tide to turnBringing vengeance to my shoreTime has passed and this is what I've learnedThere is not love for us all

All this time my mind was in the pastAngry footprints in this sandNow living has revealed at lastAll the weakness of a man

ASHES

Our revels now are endedWe were actors?We were spirits?Melted into airNow I lift my spell.

42

Page 46: A APROPRIAÇÃO DE THE 'TEMPEST' EM AQUA

Forgiveness I embraceHeaven sent hell awayAll my lifeAs a dreamWith open eyesI'll restart.

I was blind and deafUntil the day of wakening came.I have faith in evilIn his palace of no blameAll this world around meI created on my ownAnd now it's timeTo free this island and be gone.

All my life like ashes in my handI'll forgive and prosper 'till the endThe magic of stars now filling my heartLike a blaze

Time, now it's time!Feels like ashes all my life!I'll restart

I was blind and deafUntil the day of wakening cameI had faith in evilIn his palace of no blameAll this world around meI created on my ownAnd now it's timeTo free this island and be gone.

Lie at mercy all my enemiesI'll forgive and leave across the seaWe are such a stuff as dreams are made onSet me freeI'll carry on! Carry on!This end is my startWe are such stuff as dreams are made onAnd I'm gone

43