A Analogia Do Bem e Do Sol Na República

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Roteiro de Leitura: Análise sobre a analogia do Bem e do Sol na República, de Platão.

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Análise acerca da passagem da República de Platão

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Universidade Federal de So Carlos

Roteiro de Leitura:Anlise sobre a analogia do Bem e do Sol

na Repblica, de Plato.Anlise sobre a Analogia entre o Bem e o Sol O presente texto traz como objetivo a abordagem, ainda que com brevidade, sobre a Analogia do Bem e do Sol, tema presente na obra Repblica, de Plato.

Presente no livro VI da Repblica, a analogia do Bem e do Sol nos aparece pelo dilogo contado por Plato entre Scrates e Adimanto. Ambos trazem um longo debate sobre as questes de interesse cidade, e como peculiar nos dilogos platnicos, a conversa em boa parte se d por questes levantadas por Scrates, e atestadas por seus interlocutores (na parte que cabe a este texto destacar, Adimanto esse interlocutor que participa do dilogo).

Para Scrates (segundo a letra de Plato), o estudo mais importante o da ideia do bem, e atravs dele as aes se tornam teis aos homens. No dilogo isso aparece em 505a, quando Scrates responde a pergunta de Adimanto sobre qual seria o estudo mais importante, e que objeto atribui a ele.Em diante, a definio dessa ideia de bem melhor tratada, comeando pela crtica socrtica ao pensamento dos que concebem coisas mltiplas como boas. Em 505d-e Scrates critica a conseqncia de julgarem o belo ou o justo de acordo com sua aparncia, o que faz com que refiram a essas qualidades definies mltiplas que no traduzem a ideia nica por traz dessas qualidades, esta ideia, denominada em 507b como essncia, tem um papel fundamental no decorrer do dilogo. Scrates busca exatamente essa essncia do bem em sua explicao, ou o que pode ser chamado tambm de Verdade, ou Conhecimento do bem.

O discurso socrtico atribui uma distino entre coisas mltiplas e idias, que consiste na diferente percepo que se tem sobre elas. Quanto s coisas mltiplas, podemos v-las atravs de nossa percepo sensvel - nesse caso, a viso; J as ideias so passveis de percepo apenas em pensamento, ou percepo inteligvel, no sendo notadas atravs da viso. Plato pe assim no discurso de Scrates no s uma distino entre idias e coisas mltiplas, mas tambm a distino de dois campos distintos de percepo. Uma das coisas que se v e outra das coisas que se pensa.

A analogia entre o Bem e o Sol parte desse ponto se tomarmos como incio para ela a questo dos rgos que respondem por cada percepo. Em 507c-d, Scrates comenta sobre viso, audio e os demais sentidos, mas lana nesse ponto a necessidade de um terceiro elemento para que acontea a percepo das coisas sensveis: a luz. Segundo Monique Dixsaut, em seu comentrio sobre os livros VI e VII da Repblica, (...) a luz o elemento de ligao necessrio para que o olho veja e para que o visvel seja visto. (DIXSAUT, 2000, p.89). Assim, da mesma forma como viso no bastam apenas o olho (como rgo responsvel) e as coisas visveis (como objetos para tal sentido), ao conhecimento no bastam a alma e os objetos a conhecer. Encontra-se em ambos a necessidade de um elo de ligao (idem, p.89), sendo este elo, no caso do conhecimento, a verdade.

A analogia aproxima os termos Bem e Sol no sentido em que servem ambos para uma funo respectivamente semelhante. Para cada caso a qual lhes competem, so eles os produtores do elo necessrio para que as faculdades (viso e conhecimento) percebam e reconheam os objetos a que se destinam. A relao do Bem com a inteligncia e as coisas inteligveis a mesma que o Sol possui com a viso e os objetos visveis.

Em outras palavras, mais prximas letra de Plato, esto traados na descrio de Scrates dois mundos e duas faculdades para reconhecer os objetos de cada qual destes mundos. Para cada uma delas necessria uma luz que ilumine estes objetos. Formando a seguinte relao:

Mundo inteligvel inteligncia (alma) objetos inteligveis Bem Verdade

Mundo visvel viso objetos visveis- Sol Luz

O que encerra a parte da analogia no dilogo qual essa anlise pretendia tratar, a preocupao que o personagem Scrates tem em separar a ideia de bem da verdade e da cincia. Presente em 508e do livro VI da Repblica, a fala de Scrates nos diz:

(...) a ideia do bem que confere verdade ao que est sendo conhecido e capacidade ao que conhece. Deves pens-la como causa da cincia e da verdade, (...) mas, embora a cincia e a verdade sejam belas, (...) a ideia do bem no se confunde com elas e as supera em beleza. Assim como no se confunde o Sol com a viso, ou os objetos visveis, a relao do bem quanto verdade, apenas de semelhana, sendo que o bem produz a verdade que ilumina os objetos inteligveis, e permite a inteligncia (alma) a descobri-los.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

PLATO. A Repblica. LIVROS VI e VII. Traduo de Anna Lia A. A. Prado. So Paulo: Martins Fontes, 2006.

DIXSAUT, Monique. Repblica, livros VI e VII. Lisboa : Editorial Didtica, 2000.