A Alomorfia Dos Nomes Agentivos

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Cadernos de ESTUDOS LINGÜÍSTICOS (56.1), Campinas, Jan./Jun. 2014 A ALOMORFIA DOS NOMES AGENTIVOS TERMINADOS EM -DOR/-OR EM PORTUGUÊS MAGNUN ROCHEL MADRUGA 1 IEL/UNICAMP RESUMO: Este trabalho discute a múltipla alomorfia presente na formação de nomes agentivos em português com terminações em dor, or, tor, sor, zor. A alomorfia dos agentivos é uma questão aberta na literatura e os trabalhos desenvolvidos preocuparam-se, prioritariamente, com as questões semânticas e aspectuais. Para tratar da alomorfia em específico, elaborou-se um experimento em que 15 participantes tinham que gerar um novo agentivo a partir de logatomas verbais em suas formas infinitivas e de particípio apresentados em uma sentença. Os resultados sugerem que a formação de nomes agentivos tem como base uma raiz e o tema verbal. Quando -dor é concatenado ao tema verbal o alomorfe –dor é superficializado; quando -dor é adjungido à raiz, este, em função do Princípio do Contorno Obrigatório, superficializa-se como -or. À luz da Morfologia Distribuída, propõe-se que os sufixos alomorfes desse tipo de agentivos em português sejam apenas -dor e -or. Palavras-Chaves: Alomorfia; Agentivos; Morfologia Distribuída. ABSTRACT: This paper discusses multiple allomorphy in agentive nouns, which appears in words ending in dor, or, tor, sor, zor in Portuguese. This allomorphy is an open question in the literature and previous studies have only addressed aspectual and semantic issues. In order to discuss the allomorphy, 15 participants were tested in an experiment. They were supposed to generate a new agentive from verbal nonwords in their infinitive and participle forms presented in a sentence. The results suggest that the formation of agentive nouns is based on a root and on a verbal stem. When -dor is merged to the verbal stem, the alomorph -dor goes to the surface; when -dor is adjoined to the root, it goes to the surface after applying the Obligatory Contour Principle, which generates –or on the surface form. Based on the Distributed Morphology approach, we propose that the allomorphs of such agentive suffixes in Portuguese are just -dor and -or. Keywords: allomorphy, agentives; Distributed Morphology. INTRODUÇÃO Neste trabalho, procuro discutir a múltipla alomorfia presente na formação de nomes agentivos em Português, terminados em dor, or, tor, sor e zor. Com esses sufixos derivacionais, formam-se substantivos como treinador, cantor e transmissor e adjetivos como salvador e enlouquecedor, por exemplo. Há uma discussão na literatura quanto ao status dos alomorfes e, em geral, considera-se 1 Doutorando em Linguística da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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A ALOMORFIA DOS NOMES AGENTIVOSTERMINADOS EM -DOR/-OR EM PORTUGUÊS A ALOMORFIA DOS NOMES AGENTIVOSTERMINADOS EM -DOR/-OR EM PORTUGUÊS A ALOMORFIA DOS NOMES AGENTIVOSTERMINADOS EM -DOR/-OR EM PORTUGUÊS

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  • Cadernos de ESTUDOS LINGSTICOS (56.1), Campinas, Jan./Jun. 2014

    A ALOMORFIA DOS NOMES AGENTIVOSTERMINADOS EM -DOR/-OR EM PORTUGUS

    Magnun RoChel MadRuga1Iel/unICaMP

    RESUMO: Este trabalho discute a mltipla alomorfia presente na formao de nomes agentivos em portugus com terminaes em dor, or, tor, sor, zor. A alomorfia dos agentivos uma questo aberta na literatura e os trabalhos desenvolvidos preocuparam-se, prioritariamente, com as questes semnticas e aspectuais. Para tratar da alomorfia em especfico, elaborou-se um experimento em que 15 participantes tinham que gerar um novo agentivo a partir de logatomas verbais em suas formas infinitivas e de particpio apresentados em uma sentena. Os resultados sugerem que a formao de nomes agentivos tem como base uma raiz e o tema verbal. Quando -dor concatenado ao tema verbal o alomorfe dor superficializado; quando -dor adjungido raiz, este, em funo do Princpio do Contorno Obrigatrio, superficializa-se como -or. luz da Morfologia Distribuda, prope-se que os sufixos alomorfes desse tipo de agentivos em portugus sejam apenas -dor e -or. Palavras-Chaves: Alomorfia; Agentivos; Morfologia Distribuda.

    ABSTRACT: This paper discusses multiple allomorphy in agentive nouns, which appears in words ending in dor, or, tor, sor, zor in Portuguese. This allomorphy is an open question in the literature and previous studies have only addressed aspectual and semantic issues. In order to discuss the allomorphy, 15 participants were tested in an experiment. They were supposed to generate a new agentive from verbal nonwords in their infinitive and participle forms presented in a sentence. The results suggest that the formation of agentive nouns is based on a root and on a verbal stem. When -dor is merged to the verbal stem, the alomorph -dor goes to the surface; when -dor is adjoined to the root, it goes to the surface after applying the Obligatory Contour Principle, which generates or on the surface form. Based on the Distributed Morphology approach, we propose that the allomorphs of such agentive suffixes in Portuguese are just -dor and -or.Keywords: allomorphy, agentives; Distributed Morphology.

    INTRODUO

    Neste trabalho, procuro discutir a mltipla alomorfia presente na formao de nomes agentivos em Portugus, terminados em dor, or, tor, sor e zor. Com esses sufixos derivacionais, formam-se substantivos como treinador, cantor e transmissor e adjetivos como salvador e enlouquecedor, por exemplo. h uma discusso na literatura quanto ao status dos alomorfes e, em geral, considera-se

    1 Doutorando em Lingustica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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    -dor o morfema agentivo (OLIVEIRA, 2007, 2009; SAID ALI, 2001). No h, ainda, nenhum trabalho sobre o portugus que se preocupe em discutir a mltipla alomorfia desses sufixos, a fim de entender como funcionam as formaes de nomes de agente no estgio atual da lngua.

    Entre as principais referncias sobre a formao de agentivos em dor, tor, sor, zor e or esto os trabalhos de Oliveira (2007, 2009). O objetivo dos dois trabalhos da autora, entretanto, compreender a derivao desses nomes do ponto de vista sinttico-semntico e, portanto, no se discute o status da mltipla alomorfia. Segundo a autora, as formaes de nomes agentivos com -dor expressam os agentes dos verbos internos s formaes e denotam eventualidades de nomeao ou designao. Esse sufixo nominal tem origem nas formas do particpio latino -(t)or, -(t)ris/-(s)or, -(s)ris, que, segundo Cunha(1986), adjunge-se apenas a temas verbais, resultando em nomes agentivos, nomes de instrumentos da ao designada pela base, bem como adjetivos agentivos.

    Segundo Said Ali (2001), os itens terminados em -or, de origem verbal, introduziram-se na lngua portuguesa por via erudita, tendo sido recebidos diretamente do latim, como nas palavras ator, autor, leitor, eleitor, agressor, compositor, professor etc. Para esse autor, o verdadeiro sufixo -or, pois as consoantes /d/, /t/ e /s/ presentes nas formas dos sufixos nominais pertencem originalmente ao particpio passado latino. Oliveira (2009) no discute o status dos alomorfes -tor/-sor/-or e, conforme Said Ali (2001), assume que esses itens passaram diretamente do latim para o portugus sem sofrer alteraes histricas pelas quais passaram as razes desses verbos (OLIVEIRA, 2009, p. 194).

    difcil, porm, apenas a partir dos acontecimentos histricos contingentes lngua determinar as formas por ela escolhidas para figurarem como seus morfemas. Para evitar esse caminho, consequentemente, preciso que se faa uma anlise sincrnica a fim de vislumbrar os tipos de relaes que esse sufixo estabelece em termos de estrutura lingustica, bem como verificar a produtividade de uma forma ou outra em um determinado estado da lngua. Em funo disso, no presente estudo, fao uma discusso acerca do processo de alomorfia desse sufixo, procurando estabelecer generalizaes para a formao de palavras agentivas desse tipo no portugus.

    A questo geral que norteia este trabalho refere-se compreenso do status das consoantes /t, d, s, z/ e sua relao com a mltipla alomorfia dos agentivos. Assim, estabelece-se como objetivo verificar se essas consoantes fazem parte do sufixo, da raiz ou se podem ser concebidas como consoantes epentticas na derivao. Com isso, teremos condies de discutir no s a alomofia, mas tambm o processo derivacional de uma forma geral. O trabalho ser desenvolvido com vistas a responder s seguintes questes: a) a formao de agentivos em -dor, -tor, -sor, -zor e -or se d a partir de qual base?; b) qual a relao que eles estabelecem com a base?; c) como a Morfologia Distribuda pode lidar com a alomorfia dos agentivos em Portugus? A hiptese a ser testada na presente pesquisa de que a mltipla alomorfia do morfema sufixal apenas aparente. A alomorfia, seguindo esta hiptese, ocorreria somente entre -dor e -or; e as consoantes /t/ e /s/ de -tor e -sor fariam parte da raiz e no do sufixo. Nesse sentido, a formao de nomes de agentes relacionar-se-ia, tambm, a um processo alomrfico de raiz.

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    Cadernos de Estudos LingstiCos (56.1) Jan./Jun. 2014Para testar essa hipstese, elaborou-se um experimento cuja tarefa dos

    participantes era gerar um nome agentivo em dor, tor, sor, zor, or a partir de dois estmulos verbais infinitivo e particpio dados em uma sentena. Os resultados parecem sugerir que o alomorfe produtivo em portugus seja, de fato, -dor. Com esses achados, tem-se condies de sugerir uma nova proposta para o problema dessa mltipla alomorfia no estgio atual da lngua portuguesa.

    1. A MLTIPLA ALOMORFIA DOS AGENTIVOS NO PORTUGUS

    No caso dos agentivos do Portugus, a alomorfia sufixal acontece seguindo um paradigma que tem como base o tema verbal. Entretanto, em alguns casos, a base do agentivo parece ser o particpio passado irregular e, em outros, apresenta uma base incerta de derivao.

    Tabela 2: Verbos e Particpio Passado com respectivos agentivos do Portugus

    Infinitivo Particpio Agentivo

    treinar treinado treinador

    contar contado contador

    vender vendido vendedor

    benzer benzido/bento benzedor

    torcer torcido torcedorpolir polido polidor

    instituir institudo instituidor

    Os casos apresentados na Tabela 2 evidenciam que o sufixo agentivo -dor tem como base o tema verbal. Tal aspecto pode ser constatado a partir do que acontece com verbos benzer (regular), torcer e vender, casos em que a forma derivada agentiva apresentou a mesma forma da vogal temtica de segunda conjugao. Caso as formas fossem derivadas do particpio passado, esperar-se-ia encontrar formas como *benzidor, *torcidor, *vendidor para os casos com morfema -dor.

    Para os outros casos das terminaes em tor, sor, zor, or, as relaes entre as terminaes e a base no so regulares, podendo estar ligadas raiz, ao partcipio e at mesmo a uma base incerta. Vejamos o paradigma a seguir:

    Tabela 3: Verbos e Particpio Passado com respectivos agentivos e base

    Infinitivo Particpio Agentivo Base

    pintar pintado pintor raiz

    cantar cantado cantor raiz

    confessar confessado confessor raiz

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    Madruga a formao de nomes agentivos em -Dor/-Or em portugus

    eleger elegido/eleito eleitor particpio irregular

    suspender suspendido/suspenso suspensor particpio irregular

    deter detido detentor incerta

    proteger protegido protetor incerta

    compor composto compositor incerta

    opor oposto opositor incerta

    transmitir transmitido transmissor incerta

    Na Tabela 3, podemos ver que os agentivos formados pelos alomorfes -tor, -sor e -or apresentam diferentes bases. importante notar que em nenhum desses casos a base o tema verbal, tal como acontece com -dor. Ao contrrio, os exemplos apresentam como base a raiz, o particpio irregular e h ainda casos em que no possvel determin-la. Todas essas formas possivelmente foram herdadas do supino latino, cuja terminao era -tum e -sum, que naquela lngua tinham estrutura idntica a dos nomes de ao (SAID ALI, 2001; OLIVEIRA, 2009).

    Tal fato nos permite perseguir a hiptese de o portugus ter herdado essas formas do latim tal como esto dadas sincronicamente, fazendo, entretanto, uma reanlise da base formadora de nomes de agentivo do grupo -tor, -sor e -or. Se assim for, teramos dois grupos bsicos nesse tipo de derivao: o primeiro cuja base o tema verbal, e o segundo tendo como base uma raiz. Esse segundo grupo, mais especfico, seria formado por formas especiais da lngua, no sendo esse tipo de processo derivacional produtivo no estado atual do sistema, o que no obsta, porm, de terem essas formas altas frequncias de uso.

    Antes de testarmos essa hiptese, convm apresentarmos a anlise de Oliveira (2007) para a formao de agentivos com o sufixo -dor, -tor, -sor, -zor, -or a fim de entendermos a necessidade de avanos nos estudos sobre esse tipo de formao de palavras no portugus.

    2. AGENTIVOS NO PORTUGUS: A ANLISE DE OLIVEIRA (2007, 2009)

    Para Oliveira (2007, 2009), as formaes agentivas em dor, -tor, -sor carregam um contedo durativo e possuem restries semntico-aspectuais impostas pelas razes e pelo morfema nominal. As razes verbais s quais o sufixo se adjunge referem-se a aes-processos e denotam imperfectividade, o que, segundo a autora, seria a razo de essas selecionarem o morfema [+agentivo/causativo] com aspecto durativo. Nas formaes derivadas interagem, portanto, as propriedades semntico-aspectuais da forma verbal e do morfema derivacional (OLIVEIRA, 2007, p.11). O diagrama arbreo apresentado pela autora demonstra tais propriedades desse tipo de derivao.

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    Nos termos da autora, a derivao ocorre da seguinte maneira:

    1) a raiz VEND- entra na derivao e concatenada ao morfema -ER, inserido no ncleo funcional verbalizador v, formando vender, que tem o trao aspectual [+ao-processo]; 2) o morfema -DOR, inserido no ncleo funcional Asp, carrega o trao [+agentivo/causativo] e semanticamente compatvel com o trao semntico [+ao/processo] da raiz; 3) a raiz vender concatena-se ao morfema -dor, que preenche a exigncia semntica de agentividade; 4) na parte fonolgica da derivao, o ncleo funcional nominalizador n atrai a forma [vender + -dor], que se move para incorporar-se a n, formando vendedor, que tem o trao semntico [+agentivo] (OLIVEIRA, 2007, p. 7).

    Em termos sintticos, conforme o estudo de Oliveira (2007), as estruturas derivadas tm signifi cados predizveis a partir dos signifi cados de suas partes, ou seja, denotam neste caso durao da agentividade. Ainda, para ela, a variedade de categorias lexicais revela que a [raiz + morfema verbalizador + -dor/-tor/-sor] acategorial, j que aceita morfemas formadores de nomes (n) e de adjetivos (a). Nesse sentido, a morfologia derivacional seria sinttica e no lexical, embora deva desobedecer s restries semnticas impostas pelas razes e pelos morfemas.

    A anlise de Oliveira (2007) extremamente interessante para que se incorpore a informao semntico-aspectual na derivao. No entanto, a autora apega-se somente a esse aspecto para desenvolver sua anlise. Outro ponto a ser levantado o fato de a autora no considerar a alomorfi a sufi xal e afi rmar que a derivao na formao de agentivos se d com a frmula [raiz + morfema verbalizador + -dor/-tor/-sor]. Embora no seja esse o objetivo de sua pesquisa, tal questionamento necessrio, visto que as formas-base envolvidas em palavras com -tor/-sor (a autora no considera -or como uma outra forma possvel) so totalmente distintas das formas com -dor.

    ntido que as palavras terminadas em tor/-sor, e aqui inclumos -or, tm diferentes bases de derivao e, nesses casos, no tm como base o tema verbal. Se assim de fato for, no possvel fazer a generalizao sugerida por Oliveira (2007); ao contrrio, necessrio rediscutir esse tipo de formao no portugus. Antes disso, porm, considero importante analisar como se d esse

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    tipo de derivao em uma outra lngua latina, o italiano, a fim de investigar se a derivao desse tipo agentivo apresenta a mesma regularidade que o portugus. Para isso, apresento na seo seguinte o trabalho de Tucker (2000), cuja escolha para discusso aqui, dentre os vrios que tratam o tema, deu-se pela metodologia experimental empregada pela autora, a qual, embora diferente da que emprego neste estudo, melhor se relaciona com a anlise que fao. Alm disso, o trabalho da autora, por tratar de uma lngua da mesma famlia do portugus, que envolve, aparentemente, as mesmas questes na formao de agentivos, torna os resultados comparveis e permite se discutir um aspecto que, possivelmente, uma caracterstica das lnguas latinas, nesse caso em especfico, de formao de palavras.

    3. FORMAO DE AGENTIVOS NO ITALIANO

    Tal como acontece no portugus, a formao de nomes de agente no italiano apresenta tambm uma face regular e previsvel e outra irregular e imprevisvel. A tradio dos estudos sobre o italiano considera que esse tipo de formao de palavras resultado da adjuno do sufixo agentivo -ore raiz do particpio do verbo sem a marca final de gnero -o. Para a maioria dos verbos em italiano, o particpio passado fonologicamente previsvel, bem como a formao de agentivos, que segue o seguinte paradigma.

    Tabela 4: Verbos e Particpio Passado com respectivos agentivos e base no italiano

    Infinitivo Particpio Agentivo

    lavorare lavorato lavoratore trabalhar

    acquisire acquisito acquisitore adquirir Fonte: Tucker (2000, p. 7)

    No entanto, alguns dos agentivos so construdos a partir do particpio, como acontece nos exemplos a seguir:

    difundir invadirdiffuso > diffusore invaso > invasore PART AGENT PARTAGENT

    Ainda conforme a autora, outros agentivos parecem aproveitar o contedo fonolgico do infinitivo, como se v abaixo:

    fundir suspender fondere > fonditore sospendere > sospenditore INF AGENT INF AGENT

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    Cadernos de ESTUDOS LINGSTICOS (56.1) Jan./Jun. 2014Vrios estudos tentaram dar conta da formao de agentivos no italiano,

    entre eles, destacam-se Dressler e Thornton (1991), Vogel (1993), Burzio (1998) e Tucker (2000). A maioria afirma serem -ore e -tore os morfemas agentivos. Enquanto -ore adjunge-se ao particpio, o sufixo -tore concatena-se raiz do infinitivo. Vogel (1993) e Burzio (1998) afirmam que a base do agentivo pode ser tanto a raiz do particpio quanto a do infinitivo, enquanto Dressler e Thornton (1991) afirmam ser apenas raiz do infinitivo sem a vogal temtica a fonte para a formao do infinitivo. O estudo de Tucker (2000) difere significativamente dos outros por seus achados e metodologia experimental, e em funo disso ser mais bem detalhado.

    O trabalho de Tucker (2000) tem como objetivo determinar a correta base da derivao de nomes de agente, cujo processo no italiano envolve mltiplos alomorfes. Para isso, a autora realizou um estudo experimental que contou com dois testes, um de produo dos agentivos e outro de aceitabilidade. A tarefa do primeiro teste feito por Tucker consistiu na produo de nomes de agente a partir de verbos com particpio irregular. A lista contendo 107 verbos no infinitivo foi apresentada aos sujeitos; 78 deles eram verbos com particpio irregular e sem agentivos correspondentes; 29 verbos de primeira e terceira conjugao com particpio regular e agentivos totalmente predizveis. Aos participantes, foi pedido que produzissem, para cada infinitivo, a forma agentiva terminada em -ore. Os resultados desse primeiro experimento evidenciaram que a base preferida advm do infinitivo, o qual representou por 62,7% das produes dos participantes. Nomes de agente formados como base no particpio resultaram em apenas 19,6% e, ainda, nos casos em que os falantes produziram agentivos a partir do particpio, 11,7% foram baseados em um agentivo pr-existente, j tambm derivado do particpio e que com ele partilhava certa similaridade fonolgica. Dos 6% restantes, 3,4% corresponderam a formas no derivadas nem do infinitivo nem particpio e 2,6% foram dados ilegveis ou agentivos no terminados em -ore.

    No segundo experimento, os participantes julgaram a boa formao dos nomes agentivos. Foi feito, ento, um teste de aceitabilidade em que os verbos no infinitivo foram apresentados aos sujeitos seguidos de duas ou mais formas agentivas admissveis no italiano. A partir disso, eles julgaram a sua boa formao em uma escala de 1 a 7, sendo que o valor 1 indicava que a forma era completamente inaceitvel e 7 completamente aceitvel, ou seja, uma total m-formao ou total boa formao. Nesse teste, foram usados 87 verbos no infinitivo, todos com particpio irregular, porm, 61 deles sem agentivos atestados e 26 com agentivos j existentes. No julgamento da aceitabilidade, os agentivos com scores mais altos foram aqueles derivados do infinitivo. Esses obtiveram uma mdia de 4,87 na escala, enquanto os derivados do particpio apresentaram mdia de 2,89. Os agentivos que tambm obtiveram melhor avaliao na aceitabilidade foram aqueles que no possuam ambiguidade com a base, ou seja, os que possuam similaridade com apenas uma forma, ou infinitivo ou o particpio.

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    MadRuga A formao de nomes Agentivos em -Dor/-Or em portugus

    Os resultados obtidos pela autora indicaram que a base principal para formao dos agentivos terminados em -ore no italiano o tema verbal. Segundo ela, o tema verbal a correta base para a derivao desse tipo de agentivo e o uso aparente de outras bases feito de forma analgica, seja para agentivos gerados a partir de verbos com os quais partilham certa similaridade fonolgica seja para formas derivadas lexicalizadas que possuem bases no-infinitivas.

    Com base nos achados de Tucker (2000), desenvolveu-se uma metodologia experimental semelhante neste trabalho a fim de compararmos, posteriormente, os resultados do portugus e do italiano. Na seo seguinte, discorro sobre o mtodo.

    4. MTODO

    4.1. Experimento

    Utilizamos no experimento 48 logatomas, todos trisslabos, que seguiram a estrutura da formao verbal e foram, portanto, divididos quanto sua conjugao. Para cada paradigma de conjugao foram criados 8 verbos, os quais foram divididos em dois grandes grupos (Grupos I e II). No Grupo I, figuram os novos verbos e seus respectivos particpios regulares, enquanto o Grupo II formado pelos novos verbos e seus particpios irregulares. Essa diviso resultou em 48 (8 x 3 x 2 = 48) estmulos para cada grupo. Ao total, o experimento contou com 96 estmulos (8 novos verbos x 3 conjugaes x 2 grupos x 2 particpios). Embora tenha-se trabalhado com um grupo controle para que os participantes no captassem o objetivo do exeperimento, faltou ainda um outro grupo de distratores, de modo a diminuir qualquer possibilidade de generalizao desse tipo. Esse um problema metodolgico que poder ser resolvido apenas em um trabalho prximo.

    Os logatomas verbais criados para o experimento foram todos trisslabos e seguiram a estrutura /CVC.CV.C+[ar, er, ir]/ . A primeira slaba foi fixada em CVC para que evitssemos uma densa vizinhana lexical (NEWMAN et al, 1997; TALER et al, 2010). Assim, evita-se que o participante faa associaes entre um verbo real da lngua, como poderia acontecer, por exemplo, com o verbo carregar e seu agentivo carregador; se por ventura, o estmulo fosse carremar, o falante poderia, por associao lgica, gerar carremador. Considerando que estrutura /CV.CV.CV/ altamente frequente em portugus, poderamos obter resultados enviesados pela associao do logatoma com uma verdadeira palavra da lngua.

    Na seleo dos estmulos, controlou-se a consoante final da raiz. Assim, dos oito verbos de cada conjugao, quatro sempre apresentavam as consoantes /t, d, s, z/ no final da raiz. Os outros quatro falsos verbos tiveram a funo de grupo controle. A incorporao dessa varivel pareceu interessante porque, conforme constatamos no portugus, muitos dos agentivos terminados em tor, sor e or esto adjungidos a uma raiz cuja consoante da borda direita sempre uma coronal, como nos exemplos (a), (b) e (c):

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    Cadernos de ESTUDOS LINGSTICOS (56.1) Jan./Jun. 2014(a) (b) (c)can[t]- > cantor transmi[t]- > transmi[s]or revi[z]- > revizor RAIZ AGENT RAIZ AGENT RAIZ AGENT Sendo assim, a presena dessa varivel foi pertinente para que investigssemos

    o papel da consoante final da raiz. Os estmulos foram apresentados aos participantes em sentenas como as que seguem:

    (a) O ato de atirar almofadas para cima chamado de genfetar. Joo Mrcio tem genfetado todos os dias quando chega em casa. Poderamos dizer que ele um [resposta do participante].

    (b) Paulo, de trs anos, tem genfetado todo dia quando chega em sua creche. Ele gosta de genfetar porque acha divertido. Ele um timo [resposta do participante]. O experimento baseia-se, portanto, no processo de generalizao implicacional,

    que se caracteriza pela induo de uma regra geral a partir de uma implicao lgica entre dois conjuntos (HAMILTON, 1994; IDESTAM-ALMQUIST, 1995). Com esse tipo de experimento, temos condies de investigar qual base utilizada para a formao dos agentivos, o infinitivo, particpio ou a raiz.

    No experimento, como os participantes tinham acesso s duas formas verbais, foi preciso controlar a ordem2 de apario do infinitivo e do particpio. Desse modo, para cada grupo, em 48 sentenas, a ordem de apario dos logatomas foi Infinitivo-Particpio e nas outras 48 a ordem foi Particpio-Infinitivo . Os estmulos foram aleatorizados na elaborao do experimento, mas no puderam ser aleatorizados por participante, dadas as condies da plataforma experimental utilizada.

    4.2. Materiais

    O experimento foi elaborado na plataforma Online Pesquisa3 e foi disponibilizado, via internet, para os participantes. A elaborao do experimento seguiu o padro utilizado por Nevins e Rodrigues (2012).

    4.3. Participantes

    Completaram esse experimento 15 sujeitos4, sendo 9 do sexo masculino e 6 do sexo feminino. Quanto escolaridade, 3 participantes reportaram possuir

    2 A importncia de se considerar a ordem dos novos verbos e particpios na sentena crucial para se investigar um possvel efeito de priming. o conceito de priming refere-se ativao de partes de representaes particulares ou de associaes na memria antes de se desempenhar uma ao ou tarefa (BUSNELLO, 2007). Priming pode ser considerado um efeito em que se observa a influncia de um evento anterior (prime) sobre o desempenho em uma situao posterior (alvo) (BLANK, 2013).

    3 O endereo eletrnico do site https://www.onlinepesquisa.com/4 No total, 75 sujeitos participaram da pesquisa, porm, como nem todos os participantes

    completaram o experimento, decidi utilizar somente os dados daqueles que o finalizaram.

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    MadRuga A formao de nomes Agentivos em -Dor/-Or em portugus

    o ensino mdio completo, 4 possuam ensino superior incompleto, 6 tinham superior completo e 2 deles cursavam ps-graduao. O nico critrio de excluso considerado foi o participante ser estudante de cursos na rea da Linguagem, como Letras ou Lingustica.

    4.4. Anlise Estatstica

    A anlise estatstica dos dados foi realizada atravs do software R, verso 3.0.2 (R CORE TEAM, 2013). Para todas as interaes entre as variveis, os dados foram analisados com um teste de Qui-Quadrado, corrigido, quando necessrio, pela correo de continuidade de Yates e pelo Teste Exato de Fisher. Alm disso, adicionou-se uma medida de tamanho de efeito para que pudssemos verificar a fora de associao entre as variveis. A medida utilizada o V de Cramer, que se expressa em uma escala de 0 a 1. Para que a associao seja considerada aceitvel, o valor de V deve ser igual ou maior a 0,20. Em casos de tabelas de contigncia 2x2, o V de Cramer equivale ao Coeficiente Phi, que varia entre -1 e 1; neste caso, valores entre -0,3 e +0,3 so consideradas associaes muito fracas ou inexistentes.

    5. DESCRIO E ANLISE DOS RESULTADOS

    Com o experimento suprarreportado, objetivo investigar o modo como os falantes de portugus constroem os nomes agentivos terminados com o morfema -dor/-tor/-sor/-zor/-or. Ao melhor entendermos o funcionamento da formao do agentivo, teremos condies de entender como esses alomorfes se relacionam com a base a que se adjugem.

    A fim de analisarmos esse processo derivativo, consideramos os seguintes fatores apresentados de (a) a (g). Os parentses referem-se s siglas utilizadas nos grficos.

    a) base do agentivo: raiz (R), infinitivo (I) ou particpio (P);

    b) ordem dos logatomas verbais: Particpio (P) Infinitivo (I) ou Infinitivo (I) Particpio (P);

    c) terminao da raiz: coronal (C) ou outra (O);

    d) conjugao verbal: primeira (1), segunda (2) ou terceira (3) conjugaes;

    e) tipo de particpio: particpio irregular (I) ou regular (R);

    f) escolaridade: ensino mdio (EM), superior incompleto (SI), superior completo (SC) ou ps-graduao (PG); e

    g) gnero: masculino (M) ou feminino (F).

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    Cadernos de ESTUDOS LINGSTICOS (56.1) Jan./Jun. 2014Tabela 5: Frequncia Relativa das Respostas dos Participantes

    Na Tabela 5, apresentam-se as frequncias relativas das respostas dos participantes. As clulas com trao significam que no houve nenhuma ocorrncia para aquela combinao. As categorias Outro Morfema e Outra Classe foram inseridas porque, em alguns casos, os participantes utilizaram um outro morfema agentivo ou mesmo outro morfema no lugar de derivaes em -dor e -or. A categoria Outra Classe foi utilizada para etiquetar as formas em que o participante utilizou uma outra categoria nominal, como um adjetivo no agentivo, por exemplo. Ao total, foram 898 respostas, porm, para a anlise estatstica, foram utilizados 438 dados. Essa diminuio se d pelo fato de que a combinao de alguns nveis no obteve nenhuma ocorrncia e, tambm, porque foram eliminadas da anlise as ocorrncias dos nveis Outra Classee Outro Morfema.

    No que se refere associao com a base5, a forma de base escolhida majoritariamente o infinitivo6, quando o morfema -dor; enquanto o alomorfe -or adjunge-se preferencialmente a uma raiz. O teste de Qui-Quadrado reportou uma associao significativa entre o agentivo e o tipo de base a que ele se adjunge (2= 235,25, gl = 1, p < 0,001, = 0,74, N=438). No grfico mosaico, podemos perceber a distribuio dos agentivos em funco da base.

    Inf Incerta NSA Part Raiz Cor Outra 1 2 3DOR 0,56 0,07 0,01 0,05 0,02 0,34 0,38 0,3 0,21 0,2OutraClasse - - 0,13 - - 0,06 0,07 0,03 0,05 0,05OutroMorfema - - 0,1 - - 0,06 0,04 0,04 0,04 0,03OR 0,01 - - - 0,4 0,04 0,01 0,01 0,02 0,03EM PG SC SI F M Irreg Reg I-P P-IDOR 0,11 0,12 0,28 0,21 0,2 0,51 0,32 0,39 0,4 0,31OutraClasse 0,02 - 0,1 0,01 0,07 0,07 0,06 0,07 0,07 0,06OutroMorfema 0,03 0,01 0,04 0,03 0,04 0,06 0,04 0,06 0,06 0,05OR 0,01 - 0,02 0,02 0,01 0,04 0,04 0,02 0,02 0,03N = 898

    TerminaoBase Conjugao

    Escolaridade Genero TipoDeParticpio Ordem

    5 Como todas as formas com -tor e -sor -zor, em nossos dados, sempre ocorreram adjungidos raiz com terminao coronal /t, d, s, z/ decidiu-se reportar apenas como -or cujo status ser discutido adiante.

    6O particpio foi excludo da anlise, pois no houve ocorrncias com -or.

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    MadRuga A formao de nomes Agentivos em -Dor/-Or em portugus

    Figura 1: grfi cos mosaicos para frequncia absoluta dos morfemas agentivosem funo da Base (painel direito) e da Terminaao da Raiz (painel esquerdo).

    Como podemos verifi car na Tabela 5 e tambm no grfi co mosaico acima, o morfema -dor empregado com qualquer tipo de consoante na borda direita da raiz. O mesmo, entretanto, no acontece para -or, que preferencialmente se anexa a uma raiz coronal. Como possvel depreender do painel direito da Figura 1, as terminaes -or associaram-se de forma expressiva s razes, enquanto as formaes -dor preservaram as vogais temticas. Essa relao da terminao da raiz com os morfemas agentivos foi signifi cativa (2= 17,91, gl = 1, p < 0,001, = -0,21, N=438).

    A conjugao dos novos verbos tambm foi uma varivel signifi cativa (2= 24,41, gl = 2, p < 0,001, V=0,24, N=438) na formao dos nomes agentivos. Os agentivos em -dor, embora distribudos quase simetricamente nas trs conjugaes, apresentando uma pequena tendncia primeira conjugao. O contrrio acontece com -or, cuja associao preferencialmente as da segunda e terceira conjugaes.

    Figura 2: grfi cos mosaicos para frequncia absoluta dos morfemas agentivos emfuno da Conjugao (painel direito) e do Tipo de Particpio (painel esquerdo).

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    Cadernos de ESTUDOS LINGSTICOS (56.1) Jan./Jun. 2014A varivel tipo de particpio tambm se mostrou signifi cativa (2= 6,67, gl=

    1, , = -0,13, p = 0,009). Os substantivos agentivos terminados em -dor, como se pode inferir do grfi co, tm uma distribuio quase simtrica para as sentenas do experimento com particpios regulares e irregulares. Isso signifi ca, portanto, que, para as derivaes em -dor, a existncia de um particpio regular ou irregular no relevante, o que confi rma a constatao anterior sobre a relao entre o morfema agentivo e a sua base. O alomorfe -or, entretanto, foi sensvel ao particpio nos estmulos, e adjungiu-se raiz quando a sentena do experimento apresentou um particpio irregular. Esse dado refl ete o comportamento real da lngua, como se pode verifi car na Tabela 3, em que os agentivos em -tor e -sor tm como base um particpio irregular. A diferena aqui que a base no um partcipio irregular, mas a existncia de um particpio irregular na sentena, o que nos permite verifi car que a experincia do falante com lngua um fator de extrema relevncia. Isso ainda corroborado, quando se testa a varivel escolaridade, visto que -or aparece majoritariamente nas respostas dos participantes com nvel superior completo e incompleto.

    A varivel escolaridade mostrou-se signifi cativa ( 2= 11.79, df = 3, p = 0,008, V=0,16, N=438). A partir disso, ento, podemos verifi car que -dor distribui-se consideravelmente entre os quatro grupos (Ensino Mdio, Superior Incompleto, Superior Completo e Ps-Graduao). J o alomorfe -or apresenta uma distribuio muito maior nos grupos Superior Completo e Superior Incompleto, conforme podemos ver no grfi co abaixo:

    Figura 3: grfi co mosaico para frequncia absoluta dosmorfemas agentivos em funo da Escolaridade.

    A ordem dos logatomas verbais e particpios na sentena, PI ou IP, no foi signifi cativa ( 2= 1,82, gl = 1, p = 0,17, N= 438). Assim, pode-se dizer que um possvel efeito de priming no se mostrou relevante, ou seja, a informao mais recente dada na sentena no infl uenciou os participantes em suas resposta-alvo. E assim como a ordem, o gnero dos participantes tambm no foi uma varivel signifi cativa ( 2 = 3,27, gl = 1, p = 0,07, N=438).

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    MadRuga A formao de nomes Agentivos em -Dor/-Or em portugus

    Em suma, as variveis significativas e com forte associao so base, terminao da raiz e conjugao. As variveis tipo de particpio e escolaridade, embora tenham apresentado significativas associaes com a formao de agentivos, a fora de associao no foi forte, ficando entre valores fracos e muito fracos. No caso da escolaridade, uma das razes para isso pode ser o desequilbrio na distribuio dos sujeitos entre as categorias. Quanto ao tipo de particpio, a associao muito fraca esperada, tendo em vista que os alomorfes -dor e -or, segundo nossa hiptese, adjugem-se ao tema verbal e raiz respectivamente. Sendo assim, o tipo de partcipio no seria relevante para a seleo da alomorfe.

    Com base nesses resultados do experimento, na prxima seo, analiso os achados desta pesquisa sob o escopo da Morfologia Distribuda, com especial ateno proposta de Arad (2003). Esses resultados parecem ir ao encontro da proposta de Marantz (2000) e Arad (2003), segundo a qual formao de palavras pode ser formada de dois modos bsicos: (i) a partir de uma raiz e (ii) a partir de uma palavra, ou seja, de uma raiz j concatenada a um ncleo formador de palavra.

    Procuro, alm de discutir, propor um modelo de derivao que diminui o nmero de sufixos alomorfes para apenas dois: -dor e -or.

    6. DISCUSSO E PROPOSTA LUz DA MORFOLOGIA DISTRIBUDA

    Atravs de um trabalho experimental, tentei demonstrar a relao que se estabelece entre o sufixo e as diferentes bases s quais ele se adjunge. Assim, foi possvel constatar que, quando -dor concatenado ao tema verbal, este se superficializa como alomorfe -dor. Quando o morfema -dor adjungido raiz, o almorfe -or passa estrutura de superfcie aps a aplicao do Princpio do Contorno Obrigatrio (McCarthy, 1986). esta proposta ser mais bem discutida no escopo da Morfologia Distribuda na seo que segue.

    6.1. Uma proposta para os agentivos em -dor e -or no Portugus

    A Teoria da Morfologia Distribuda (HALLE & MARANTZ, 1993, 1994; HALLE, 1997; MARANTZ, 1997, 2000) uma teoria de arquitetura da gramtica que possui como principais as seguintes caractersticas: a insero tardia, que a insero de material fonolgico aps a derivao sinttica; a subespecificao dos itens de vocabulrio, ou seja, as estruturas fonolgicas no necessitam de especificao, somente os morfemas, ns terminais da estrutura sinttica, so totalmente especificados; e estrutura sinttica hierrquica em toda derivao, a estrutura da derivao a mesma para processos sintticos e morfolgicos e apresenta os mesmos tipos de constituintes.

    Alm disso, antes de tudo, preciso notar a diferena quanto especificao fonolgica dos morfemas abstratos (tambm chamados de f-morfemas) e da raiz (l-morfemas), aspecto tal que ser importante para se compreender

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    Cadernos de ESTUDOS LINGSTICOS (56.1) Jan./Jun. 2014a proposta aqui empregada. Para Embick e Noyer (2001, 2004), o contedo de um morfema abstrato ativo na sintaxe consiste de traos gramaticais e semnticos, ou seja, no h especificao quanto ao contedo fonolgico. O morfema abstrato composto exclusivamente de traos no-fonticos, tais como [agente] ou [plural], por exemplo, que s recebero contedo fonolgico aps a derivao sinttica. Para esses autores, a raiz, por outro lado, constituda de representaes fonolgicas e nelas incluem-se itens como PAT- ou PINT-, por exemplo, que nada mais so que sequncias de feixes de traos fonolgicos e, em alguns casos, de traos diacrticos (distintivos) no-fonolgicos, como os traos de classe, ou de ndices abstratos para distinguir os homfonos (EMBICK E HALLE 2004b, p. 2).

    Neste trabalho, seguimos a proposta de Arad (2003). Para a autora, h dois modos de formao de palavra, derivados, consequentemente, na sintaxe. O primeiro, que a autora chama de root-level, consiste na derivao de palavras a partir de razes, sem material funcional; o segundo, word-level, a derivaao de palavras a partir de palavras, isto , a partir de razes j categorizadas por algum ncleo. Segunda a autora, um ncleo X pode adjungir-se a uma raiz ou a uma palavra j existente (substantivo, verbo, adjetivo). Assim, se um ncleo X adjungir-se a uma raiz, ele colaborar para a atribuio de uma interpretao para essa raiz. Se adjungido a uma palavra, nada acontecer, j que a interpretao da palavra foi fixada pelo ncleo logo abaixo na estrutura e no pela raiz (ARAD, p.738, 2003).

    a. b.

    Os nossos dados parecem exibir esse comportamento. Como vimos, os alomorfes -dor e -or apresentaram derivaes distintas, o que sugere que o processo derivacional possui diferentes estruturas. Com nossa proposta, conseguimos diminuir o nmero de alomorfes formadores de nomes de agentes no portugus de quatro para apenas dois, tais sejam: -dor e -or. Nesse sentindo, propomos que a formao de nomes de agentes esteja dividida em dois grupos, , o grupo -dor e o das derivaes em -or. a formao dessas palavras seguem as seguintes derivaes representadas atravs de esquemas rboreos:

    x

    x

    n, v, a...

    n, v, a...

    x

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    MadRuga A formao de nomes Agentivos em -Dor/-Or em portugus

    a) Grupo -DOR

    Nesses casos, o sufixo -dor no pode se adjungir raiz, pois o siginificado desta j foi determinado quando houve a afixao da vogal temtica verbal. A ele, est acessvel apenas o ltimo ncleo verbalizador e no a raiz. As derivaes sufixais em -dor so, portanto, word-level. Segundo Arad (2003), as formaes de palavras a partir de palavra consistem da concatenao de um afixo a uma j ento palavra, ou seja, a uma unidade lingustica categorizada; a interpretao j est fixada em um dado ambiente. Esse tipo de formao, segundo a autora, , semanticamente, transparente e produtiva. De fato, o que parece acontecer no portugus, tendo em vista que -dor o morfema mais produtivo nesse tipo de derivao. Conforme os dados de nosso experimento, -dor o principal afixo, o mais produtivo e tem como base o tema verbal.

    Procendendo anlise de -or, assumimos que a formao dos nomes de agente com esse alomorfe root-level. Desse modo, assume-se, consequentemte, que as bases no apresentam categoria gramatical, sendo a categorizao feita pelo ncleo que com ela ir ser concatenado, que, no caso do agentivos, ser sempre um nome. Em outras palavras, pode-se dizer que as razes so categorias neutras e adquirem categoria morfossinttica quando a elas for adjungido um ncleo categorizador (MARANTZ, 1997; EMBICK, 2000).

    Nesse sentido, para o grupo -or, teramos a seguinte situao:

    b) Grupo -OR

    No exemplo acima, consideramos que a raiz /pint-/ torna-se nome. Consequentemente, uma palavra, uma vez que concatenada com um ncleo nominalizador. O morfema [+ agente] -dor adjunge-se diretamente raiz /pint-/. A existncia de pintor bloqueia a formao de *pintador, que agramatical. Segundo Embick e Marantz (2008), o bloqueio acontece quando algumas formas tornam-se agramaticais pela existncia de outra forma; essa competio tem lugar no nvel da palavra, expresso ou frase. Assim, a existncia de pintor bloqueia o sistema de gerar *pintador, j que as duas palavras teriam o mesmo significado.

    treinador n- [ ]

    -dor-

    - a -

    treina - v[ ]

    trein - x[ ]

    pintor n- [ ]

    -dor-pint - x[ ]

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    Cadernos de ESTUDOS LINGSTICOS (56.1) Jan./Jun. 2014Vale ressaltar que na Morfologia Distribuda, h apenas contedo fonolgico

    na raiz, ou seja, o que vai contecanar-se raiz o conjunto de traos que caracterizam o morfema. Neste caso, o trao [+agentivo] estar especificado. O morfema s ganha forma fonolgica quando passa para o mdulo da fonologia, situao em que as regras de reajustamento fonolgico podem operar. Assim, quando dor passa para o spell-out concatenado com a raiz, uma estrututa fonlgica no licenciada na lngua ajustada por OCP, cuja ao, neste caso, probe coronais adjacentes. A derivao teria os seguintes passos:

    1) No componente morfolgico, a raiz print concatena-se com o morfema [+ agentivo];

    2) No mdulo fonolgico, o morfema ganha contedo e realiza-se como -dor, surgindo ento a forma no-licenciada *pintdor. Alm de receber acento, a palavra precisa satisfazer OCP, que proibir sequncias *[cor]-[cor]. Aps a aplicao de OCP, surge ento a forma pintor, que sofrer Spell-Out.

    A prevalncia da consoante da raiz e no a do sufixo pode estar relacionada manuteno da identidade da raiz sobre a identidade do sufixo. Beckman (1998), numa abordagem otimalista, afirma que os morfemas de raiz exibem comportamento privilegiado quando em situaes de alternncia do contedo fonolgico. Isto , a preservao da raiz mais bem aceita nas lnguas que a preservao do contedo dos afixos. A autora afirma que esse tipo de preservao de estrutura de um morfema em detrimento de outro um dos efeitos do que chamou de Fidelidade Posicional.

    Duas questes se colocam a partir da proposta que esboo neste texto: 1) Se de fato o portugus apresenta apenas os alomorfes -dor e -or (e no, -dor, -tor, -sor, -zor e -or), como a proposta lida com palavras como protetor e detentor, cujo /t/ no est presente na raiz, por exemplo?; 2) Como explicar a alta produtividade de -dor se as derivaes em -or apresentam estruturas menos complexas e, supostamente, mais econmicas?

    Nos casos de palavras que apresentam uma base incerta de derivao, como as palavras protetor, por exemplo, a proposta que defendemos que essas palavras possuem alomorfia de raiz (EMBICK & MARANTZ, 2008, MARANTZ, 2008). Vejamos:

    * - [ ]prote edor n

    protetor n- [ ]

    protet x prote- [ ] -

    - dor -

    - e -- dor -

    prote e v- [ ]

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    MadRuga A formao de nomes Agentivos em -Dor/-Or em portugus

    A existncia do alomorfe -or d-se apenas na superfcie e determinada pela raiz a que ele se adjunge, que tambm uma raiz alomrfica. Consideramos que tanto /proteZ-/ quanto /protet-/ so razes reais. A concatenao de /protet-/ com o morfema -dor resultado do efeito de bloqueio de protegedor e , nesse sentido, uma relao arbitrria. Conforme Embick e Marantz (2008), a alomorfia de um ncelo [n] em nosso caso, o morfema agentivo anexado raiz, determinada pelas propriedades da raiz, o que no acontece com este mesmo ncleo que se adjunge a um domnio mais alto na estrutura, como o caso de -dor. Para este, a relao de localidade com outro ncleo [x] e no com a raiz; sendo assim, sua alomorfia no pode ser por ela determinada.

    O fato de -or surgir apenas quando adjungido a uma raiz com termino em consoante coronal confirmado pelo experimento, conforme j reportamos. O alomorfe -or s foi realizado quando o falante considerou como base da derivao a raiz terminada com as consoantes /t, d, s, z/. Conforme Arad (2003), esse tipo de formao de palavras a partir da raiz tende a exibir idiossincrasias e , tambm, no produtivo porque a relao entre o ncleo categorizador e a raiz uma relao arbitrria.

    Com isso, conseguimos explicar a segunda questo, ou seja, a alta produtividade de -dor. O fato de nomes em -dor serem formados a partir de palavras (nos termos de Arad, word-level) permite que seus significados sejam mais predizveis, ao contrrio do nomes em -or, cujos significados so determinados pela sua relao arbitrria com a raiz. A estrutura das formaes em -or, por si s, nada revela, se no entendermos a relao que a raiz faz com as derivaces a partir dela e com os alomorfes. Essa arbitrariedade expressa na relao entra a raiz e o alomorfe -or pode ser bem visualizada atravs das derivaes em -dor, que apareceram mesmo quando a raiz terminava com as coronais /t, d, s, z/. Quando o morfema empregado -dor, este no tem mais acesso raiz e, portanto, a estrutura fonolgica no representa qualquer impasse.

    Assumindo que somente a raiz possui contedo fonolgico especificado, a hiptese de uma restrio fonolgica para a derivao dos agentivos em or parece ser plausvel e no configura um problema para a anlise. A raiz, apesar de ser livre quanto ao seu contedo, sujeita a condies de licenciamento dadas por seus licenciadores (os morfemas abstratos ou f-morfemas) com os quais mantm relaes estruturais, muitas vezes, arbitrrias.

    A relao entre as estruturas propostas na anlise e os resultados experimentais permitem confirmar que as formaes word-level so mais produtivas nas lnguas (Arad, 2003). Esse tipo de estrutura permite previsibilidade semntica, visto que seu contedo j est fixado quando um novo afixo se adjunge, como o caso do -dor no portugus. Os achados experimentais desse estudo, apesar de serem inciais, instigam a discusso sobre o status do que se considera mltipla alormofia no s no portugus como em lnguas da mesma famlia, que apresentam formaes de agentivos semelhantes, como, por exemplo, o italiano, discutido neste trabalho, e at mesmo o espanhol.

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    Cadernos de ESTUDOS LINGSTICOS (56.1) Jan./Jun. 20147. CONSIDERAES FINAIS

    No presente estudo, procurei discutir a formao de agentivos terminados em -dor, -tor, -sor, -zor e -or. Embora a discusso que aqui fao seja apenas uma aproximao inicial com o problema da alomorfia nesse tipo de formao de palavras, procurei propor uma alternativa para a alomorfia desses sufixos no processo de derivao. A proposta reduziu de quatro alomorfes para apenas dois: -dor e -or e considera que o morfema seja, de fato, -dor. A anlise realizada neste trabalho uma tentativa de deixar mais econmica e preditiva a formao de nomes de agente em portugus. Para isso, utilizei o quadro terico da Morfologia Distribuda (HALLE & MARANTZ, 1993, MARANTZ, 2000 e trabalhos subsequentes), especialmente, o trabalho desenvolvido por Arad (2003).

    Com o experimento empregado, sugeri que a derivao diferente para casos em -dor e -or. No primeiro grupo, a derivao feita a partir de uma palavra, que, nessa situao, sempre a forma infinitiva do verbo, ou seja, o tema verbal. No segundo, a derivao feita a partir da raiz, situao em que o morfema -dor concatenado raiz diretamente, sem passar por uma categorizao. Argumento, seguindo Marantz (2000) e Arad (2003), que a alomorfia ocorre somente entre -dor e -or, sendo as consoantes /t/ e /s/ de -tor e -sor parte da raiz e no do sufixo. O morfema produtivo -dor cuja base o tema verbal e, portanto, o portugus segue a mesma tendncia do italiano para a formao de nomes agentivos (cf. Tucker, 2000). A diferena crucial desta proposta para a de Tucker (2000) reside no fato de que, ainda, para o italiano a autora considera a mltipla alormorfia, enquanto nesta proposta, considero que no portugus a mltipla alomorfia apenas aparente. Caso no fosse, esperar-se-iam derivaes em -tor e -sor com razes, que no apresentassem uma consoante coronal em sua borda direita.

    Parece que a alternativa mais preditiva manter duas razes e dois alomorfes. Assim, tem-se apenas dois alomorfes com base em derivaces distintas: a raiz, para -or, e para -dor, o tema verbal. No primeiro caso, o alomorfe -or resultante na superfcie fruto da operao do OCP no componente fonolgico, que um fenmeno operante nas lnguas naturais. Portanto, uma anlise como esta parece no comprometer a naturalidade da proposta.

    Com o presente estudo, espero ter dado um passo incial compreenso dos nomes agentivos em -dor e -or. A anlise ora apresentada, claro, tem carter inicial e necessita consequentemente de mais testes para que se possa afirmar com maior acurcia o modo como os falantes de portugus derivam nomes agentivos com os sufixos aqui investigados. Seria interessante ainda que se fizesse uma discusso sobre o funcionamento desses agentivos em corpus de lngua falada e escrita para que, assim, se pudesse investigar o fenmeno em situaes menos controladas.

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    MadRuga A formao de nomes Agentivos em -Dor/-Or em portugus

    8. AGRADECIMENTOS

    Agradeo ao CNPq pela bolsa de doutorado concedida, processo nmero 140280/2012-0. Agradeo tambm aos participantes desta pesquisa e aos professores Filomena Sandalo, Luiz Carlos Schwindt e Andrew Nevins, cujas sugestes foram imprenscidveis para o aprimoramento das anlises aqui apresentadas. Agradeo tambm aos meus colegas que contriburam com revises e sugestes nas vrias verses deste texto, so eles: Carina Fragozo, Cristina Prim, Diego Jiquilin, Fernanda Reis, Ivana Pereira Ivo e Maria Luisa Freitas.

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