A Alegria de Ajudar
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24 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 1º de setembro de 2009
(No voluntariado), você aprende a valorizar o que já tem e a perceber que é uma pessoa de sorte”
Márcia Amino, integrante do grupo Viva e Deixe Viver
Levar arte, cultura e um poucode alento a pacientes interna-dos. Esse é o objetivo de doisgrupos de voluntários que ten-
tam humanizar a rotina de hospitaisde todo o país — o Viva e Deixe Viver,de contação de histórias, e o projetoMúsica em Hospitais. Os participan-tes dessas iniciativas encantam crian-ças e adultos, ajudando-os a esquecerpor alguns instantes as dificuldadesque atravessam. E garantem: a satis-fação de ajudar vale mais do que qual-quer pagamento.
O Viva e Deixe Viver desenvolve otrabalho de leitura para crianças in-ternadas em sete estados e no Distri-to Federal. Em Brasília desde 2005, aorganização atua no Hospital Regio-nal da Asa Sul (HRAS). SegundoAdriana Dias, uma das responsáveispelo projeto, a principal motivação éa dificuldade que muitos dos peque-nos pacientes têm para ter acesso alivros. “Nossa ideia é usar o tempoque eles passam no hospital paraamenizar o sofrimento causado peladoença e, ao mesmo tempo, cultivarhábitos de leitura”, diz.
A advogada Márcia Amino, 36anos, conheceu a iniciativa em 2002,quando morava em São Paulo. Ao semudar para Brasília, em 2005, nãoquis abandonar a contação de histó-rias e ajudou a montar a filial do Vivae Deixe Viver na capital. Ela, quesempre gostou de ler, achou no vo-luntariado a possibilidade de enxer-gar as coisas de uma nova maneira.“Você aprende a valorizar o que játem e a perceber que é uma pessoade sorte. Às vezes, vemos pessoascom tão pouco, mas que mesmo as-sim são felizes”, conta. Lidar com arotina dura dos hospitais nunca des-motivou Márcia. “É bem pesado, vo-cê convive com a perda, com doen-tes terminais, e tem de lidar com is-so, trazer um pouco de alegria para opaciente.”
Para ela, mesmo com todas as difi-culdades, o trabalho vale a pena. “Doa-mos tão pouco, apenas duas horas porsemana, e ganhamos tanto”, diz. A re-compensa vem da satisfação de ver
que ela ajudou a diminuir a dor dequem passa por uma situação difícil.“Você aprende a lidar com seus recur-sos, tanto artísticos quanto psicológi-cos, e isso se reflete no seu dia a dia.Você vê que seus problemas não sãotão grandes assim.”
Mães“O sorriso das crianças é a maior re-
compensa”, define Leda Meneses, 48anos, servidora pública e voluntáriana leitura de histórias. Duas vezes porsemana, ela vai ao setor de doenças in-fectocontagiosas do HRAS. “Escolhiesse setor por ser um dos mais caren-tes de voluntários”, explica. “Para mim,foi a possibilidade de sair do meumundo particular e fazer essas pes-soas esquecerem, pelo menos por al-gum tempo, o sofrimento pelo qual es-tão passando.”
Leda conta que é importante res-peitar a vontade do paciente. “Algu-mas crianças estão em uma situaçãomuito estressante e, às vezes, não que-rem ouvir a história. Mas, em geral,quando veem as outras compenetra-das, nos ouvindo, acabam se interes-sando”, revela. As mãe são outras quese beneficiam. “Elas ficam muito sozi-nhas e sofrem muito ao verem seus fi-lhos doentes. Muitas vezes, as perce-bemos mais interessadas do que ascrianças, pois as histórias remetem acoisas boas, à infância”, conta.
Quem tem vontade de participar deprojetos desse tipo deve pensar bemse está disposto a doar seu tempo. Se-gundo Adriana Dias, é importante ovoluntário estar ciente do que esperapor ele. “Não é fácil, lidamos com si-tuações difíceis e, às vezes, imprevisí-veis. Já tivemos casos de piora e com-plicações durante a leitura”, exemplifi-ca. Outro cuidado que deve ser toma-do é não atrapalhar o tratamento. “Hácasos em que os pacientes estão sendomedicados, com equipamentos liga-dos ao corpo. Outras vezes, durante aleitura, chega a hora de algum proce-dimento. O contador tem de se com-portar de maneira que não atrapalhe ofuncionamento do hospital.”
A alegria de ajudar
Voluntários que levam música e literatura para pacientes de hospitais contam como a experiência de fazer bem aos outros é recompensadora
Por isso, os voluntários passam poruma preparação antes de começar otrabalho. O treinamento inclui ofici-nas, palestras e acompanhamento psi-cológico. “Esse preparo é importante,pois dá suporte e melhora o trabalhofeito”, explica Adriana. “O voluntáriotambém tem de estar ciente que nãofazemos assistencialismo. Nosso obje-tivo é levar educação, cultura e diver-são para as crianças”, completa.
OrquestraOutra iniciativa que há seis anos
leva cultura para quem está interna-do é o projeto Música em Hospitais,que transporta uma orquestra decordas para unidades de saúde de to-do o Brasil. Regida pelo médico emaestro Samir Rahme, a Orquestrado Limiar fará sua primeira apresen-tação em Brasília em 9 de setembro,no Hospital de Base, com um con-certo especial em homenagem aoAno da França no Brasil.
O programa, promovido pela Asso-ciação Paulista de Medicina, com oapoio do Ministério da Cultura, já be-neficiou mais de 15 mil pessoas, entrepacientes, médicos, acompanhantes evisitantes. Para Rahme, levar músicaaos hospitais vai além de tornar maishumanizada a rotina das instituições.“Significa oferecer um remédio pode-roso para as almas de todos os partici-pantes”, descreve. Segundo ele, o obje-tivo não é fazer musicoterapia. “Apesarde a música, por si só, já ser terapêuti-ca, nós queremos que as pessoas usemesse momento para repensar suas vi-das e avaliar por que estão ali, no quepodem melhorar.”
O repertório é amplo e vai do barro-co à música popular. “Tocamos músi-cas para as pessoas cantarem junto,outras para elas relaxarem ou simples-mente apreciarem. É essa mistura quefaz o público sempre pedir mais”, con-ta. O médico e músico espera que ainiciativa ajude a despertar o espíritode solidariedade, e que projetos seme-lhantes surjam em outros lugares.“Acredito na arte como elemento trans-formador”, conclui o maestro.
O grupo Viva e Deixe Viver busca criar o hábito da leitura nos pequenos pacientes
A voluntária Leda Meneses conta histórias duas vezes por semana no Hospital Regional da Asa Sul: “O sorriso das crianças é a maior recompensa”
Instrumentistas do projeto Música em Hospitais: remédio para as almas
Breno Fortes/CB/D.A Press
Pérola Byinton/Divulgação - 29/4/09
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