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1 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.12. No 2 (2011) Análise das práticas de Gestão do Conhecimento em uma empresa de serviços de assessoria e educação profissional Jacqueline Cavalcante Resumo: Atualmente, a rapidez e a complexidade dispensadas no desenvolvimento dos meios de produção têm exercido influências diversas no que se refere à organização e gerenciamento da produção e do trabalho. O fácil acesso aos meios de produção causado principalmente pela disponibilidade à tecnologia e comunicação está transferindo aos ativos intangíveis a responsabilidade pela diferenciação das organizações. Logo, a busca por iniciativas que tentem gerir esses ativos vem ocupando grande destaque nos cenários acadêmico e empresarial. Assim, o objetivo deste artigo é analisar as práticas de gestão do conhecimento em uma empresa de serviços de assessoria e educação profissional tomando o modelo de Terra (2000) como referência. No tocante à metodologia, a pesquisa pode ser classificada como descritiva e exploratória, sendo quanti-qualitativa a natureza do tratamento dispensada aos dados. Já o estudo de caso escolhido como procedimento técnico para confrontar teoria e realidade. Os resultados revelaram que das sete dimensões analisadas, apenas uma cultura e valores organizacionais merece maior preocupação por parte da empresa. Assim, a presença do compartilhamento de valores que estimulem a comunicação, a confiança e a flexibilidade devem ser mais trabalhados. Por fim, percebeu-se que a GC de forma geral vem sendo direcionada através de práticas e ações nos diversos setores da empresa como também no ambiente externo. Palavras-chave: Conhecimento; práticas de gestão do conhecimento; cultura e valores organizacionais. 1 Introdução O atual cenário de competitividade vem impulsionando as organizações a buscarem novas formas de gerir seus esforços internos. De modo geral, percebe-se que a rapidez e a eficiência promovidas pelos meios tecnológicos possibilitam aos concorrentes descobrir ou até mesmo copiar produtos e serviços expostos no mercado. Dessa forma, o desafio ao aprendizado contínuo que incentive a geração de idéias vem-se destacando como um dos principais alvos a ser perseguido na busca de ativos intangíveis de valor. A crescente necessidade de as empresas descobrirem a cada dia novas formas de se manterem competitivas tem estimulado o conhecimento dentro e fora das fronteiras que delimitam o ambiente organizacional. Desse modo, o capital humano passa a ter um papel valorizado não apenas como indivíduo isolado, mas também como membro de um grupo maior, pois é por meio das interações particulares e em conjunto que o conhecimento ganha forma transformando-se em recursos ou serviços consumíveis. Paralelamente, Bukowitz (2002) afirma que as tecnologias de informação e comunicações estão formando um conjunto de forças que levam o conhecimento para o centro e para o plano. A disponibilidade facilitada aos instrumentos tecnológicos e de comunicação está proporcionando acesso a um grande conjunto de informações que passam a fazer parte do dia-a-dia das organizações. Para que esse conjunto de informações possa ser utilizado de

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  • 1 Qualit@s Revista Eletrnica ISSN 1677 4280 Vol.12. No 2 (2011)

    Anlise das prticas de Gesto do Conhecimento em uma empresa

    de servios de assessoria e educao profissional

    Jacqueline Cavalcante

    Resumo: Atualmente, a rapidez e a complexidade dispensadas no desenvolvimento dos meios

    de produo tm exercido influncias diversas no que se refere organizao e gerenciamento

    da produo e do trabalho. O fcil acesso aos meios de produo causado principalmente pela

    disponibilidade tecnologia e comunicao est transferindo aos ativos intangveis a

    responsabilidade pela diferenciao das organizaes. Logo, a busca por iniciativas que

    tentem gerir esses ativos vem ocupando grande destaque nos cenrios acadmico e

    empresarial. Assim, o objetivo deste artigo analisar as prticas de gesto do conhecimento

    em uma empresa de servios de assessoria e educao profissional tomando o modelo de

    Terra (2000) como referncia. No tocante metodologia, a pesquisa pode ser classificada

    como descritiva e exploratria, sendo quanti-qualitativa a natureza do tratamento dispensada

    aos dados. J o estudo de caso escolhido como procedimento tcnico para confrontar teoria e

    realidade. Os resultados revelaram que das sete dimenses analisadas, apenas uma cultura e valores organizacionais merece maior preocupao por parte da empresa. Assim, a presena do compartilhamento de valores que estimulem a comunicao, a confiana e a flexibilidade

    devem ser mais trabalhados. Por fim, percebeu-se que a GC de forma geral vem sendo

    direcionada atravs de prticas e aes nos diversos setores da empresa como tambm no

    ambiente externo.

    Palavras-chave: Conhecimento; prticas de gesto do conhecimento; cultura e valores

    organizacionais.

    1 Introduo

    O atual cenrio de competitividade vem impulsionando as organizaes a buscarem

    novas formas de gerir seus esforos internos. De modo geral, percebe-se que a rapidez e a

    eficincia promovidas pelos meios tecnolgicos possibilitam aos concorrentes descobrir ou

    at mesmo copiar produtos e servios expostos no mercado. Dessa forma, o desafio ao

    aprendizado contnuo que incentive a gerao de idias vem-se destacando como um dos

    principais alvos a ser perseguido na busca de ativos intangveis de valor.

    A crescente necessidade de as empresas descobrirem a cada dia novas formas de se

    manterem competitivas tem estimulado o conhecimento dentro e fora das fronteiras que

    delimitam o ambiente organizacional. Desse modo, o capital humano passa a ter um papel

    valorizado no apenas como indivduo isolado, mas tambm como membro de um grupo

    maior, pois por meio das interaes particulares e em conjunto que o conhecimento ganha

    forma transformando-se em recursos ou servios consumveis.

    Paralelamente, Bukowitz (2002) afirma que as tecnologias de informao e

    comunicaes esto formando um conjunto de foras que levam o conhecimento para o centro

    e para o plano. A disponibilidade facilitada aos instrumentos tecnolgicos e de comunicao

    est proporcionando acesso a um grande conjunto de informaes que passam a fazer parte do

    dia-a-dia das organizaes. Para que esse conjunto de informaes possa ser utilizado de

  • forma adequada necessrio que as pessoas envolvidas nesse processo estejam preparadas

    para gerir eficazmente essas informaes.

    Nesse sentido, Davenport e Prusak (1998, p. 7) afirmam: para que a informao se transforme em conhecimento, os seres humanos precisam fazer virtualmente todo o trabalho. Assim, no basta dispor de meios tecnolgicos modernos imprescindvel que as pessoas

    estejam capacitadas a identificar, interpretar e analisar as informaes de forma a atender os

    objetivos organizacionais. Para Pereira (2007), as teorias empresariais permitem as pessoas

    captar, gerenciar, armazenar e permitir uma retroalimentao constante do conhecimento

    atravs da tecnologia, que torna-se aliada na administrao de volumes e formas diversas

    desse recurso organizacional.

    Diante dessas consideraes, o objetivo desse artigo avaliar as prticas de gesto do

    conhecimento em uma empresa de assessoria. Para alcance desse objetivo, foram coletadas e

    posteriormente analisadas as percepes dos funcionrios acerca da gesto do conhecimento

    vigente na organizao.

    O artigo est dividido alm desta introduo em outras cinco sees. Na seo 2, O

    conhecimento nas organizaes, apresentada a definio do que seja conhecimento bem

    como quais suas principais caractersticas. Na seo 3, Gesto do conhecimento nas

    organizaes so apresentados os principais conceitos e caractersticas da GC. Na seo 4

    Prticas de gesto do conhecimento, relacionam-se as atividades do cotidiano organizacional

    as denominadas prticas do conhecimento. Na seo 5, Aspectos metodolgicos, apontam-se

    os instrumentos que interferiro nos resultados obtidos. Na seo 6, Descrio e anlise dos

    resultados, so feitas as interpretaes dos resultados tomando por base o conjunto de

    informaes obtidas. Por fim, a ltima seo, faz-se as recomendaes e observaes finais.

    2 O conhecimento nas organizaes

    O conhecimento est associado criao, construo manuteno e mudana que o

    homem propicia ao ambiente em que atua, utilizando-se de dados e informaes consideradas

    relevantes (COELHO, 2008). Embora o homem seja o principal condutor do conhecimento,

    em geral ele no o faz sozinho, pois age de forma a propiciar compartilhamento com os

    demais indivduos. Assim, o conhecimento organizacional completo adquirido apenas

    quando os indivduos continuam modificando seus conhecimentos atravs da interao com

    outros membros da organizao (NONAKA E TAKEUCHI, 1997).

    Para Fleury (2001) o conhecimento da empresa fruto das interaes que ocorrem no

    ambiente de negcios, sendo desenvolvidas por meio de processos de aprendizagem. Por

    outro lado, este autor acrescenta que o conhecimento tambm pode ser entendido como

    informao associada experincia, intuio e valores. Nessa perspectiva de suma

    importncia que o conhecimento seja facilitado dentro da organizao, uma vez que a partir

    desses recursos intangveis que emergiro novas formas de criar e pensar imprescindveis para

    o sucesso empresarial.

    Nesse sentido, Grant (apud FLEURY, 1996) sinaliza para caractersticas que

    justificam a importncia da utilizao desse ativo para a criao de valor dentro da

    organizao, tais como: 1) transferibilidade: diz respeito a capacidade de o conhecimento

    poder ser transferido no apenas entre as organizaes, mas principalmente dentro; 2)

    capacidade de agregao: diz respeito capacidade de o conhecimento transferido poder ser

    agregado ao recebedor de forma a expandir o conhecimento anteriormente existente; 3)

    apropriabilidade: refere-se habilidade do proprietrio de um recurso receber um retorno

    igual ao valor empregado pelo recurso; 4) especializao na aquisio do conhecimento:

    decorre da idia de que o ser humano possui capacidade limitada para adquirir, processar e

    armazenar todo o conhecimento existente no mundo atual, assim, tornam-se necessrios

  • especialistas na aquisio, armazenagem e no processamento em reas especficas do

    conhecimento; 5) importncia para a produo: parte-se do pressuposto de que os produtos ou

    servios produzidos nada mais so do que o resultado do conhecimento empregado.

    De acordo com Fleury (2001) cada uma dessas caractersticas contribui para a

    definio da estratgia mais adequada para a empresa. Nesse sentido, Davenport e Prusak

    (1998) afirmam que a vantagem do conhecimento sustentvel porque gera retornos

    crescentes e dianteiras continuadas. Assim, ao contrrio dos produtos e bens tangveis que se

    deterioram com o tempo e podem ser facilmente copiados por processos como anlise de

    valor, o conhecimento s tende a aumentar, gerando novas idias e retornos queles que o

    utilizam.

    Embora o conhecimento j esteja sendo percebido como um ativo valioso, muitas

    organizaes ainda no o utilizam como uma ferramenta estratgica. Muitas vezes o

    conhecimento existente entre os indivduos passa despercebido ou simplesmente no

    aproveitado em prol da competitividade da organizao. Compreendendo que o conhecimento

    pode ser gerido como uma ao sistemtica, consciente e planejada (BARONI e TAVARES,

    2008), ao longo do tempo formas de gesto do conhecimento vm sendo introduzidas nas

    organizaes.

    3 Gesto do conhecimento nas organizaes

    A gesto do conhecimento tem tomado espao nas duas ultimas dcadas

    influenciando a competitividade tanto das empresas como dos pases conforme constata Terra

    (2000). Em geral, as aes voltadas gesto do conhecimento se caracterizam por apresentar

    como principal objetivo capacitar as organizaes a atingir resultados por meio de aes que

    visem compartilhar o conhecimento entre os indivduos, como afirmam Davemport e Prusak

    (2003). Nesse sentido, visando um breve entendimento sobre o assunto, os prximos

    pargrafos apresentam alguns conceitos e caractersticas sobre a gesto do conhecimento.

    Para Rossato (2002) a gesto do conhecimento pode ser definida como um processo

    estratgico contnuo e dinmico que tem como objetivo a gesto do capital intangvel da

    empresa e todos os pontos estratgicos a ele relacionados, estimulando a converso do

    conhecimento. Na viso de Malhotra (2005) a GC remete a aspectos crticos da adaptao

    organizacional, sobrevivncia e competncia contra descontnua mudana ambiental. Para o

    autor uma GC dever envolver processos organizacionais em torno de uma eficaz combinao

    de dados e capacidade de transformao das tecnologias de informao ao mesmo tempo em

    que incentiva a criatividade e a capacidade inovadora dos seres humanos.

    Alguns estudiosos preferem definir o termo GC a partir de um paralelo traado

    tomando-se tambm o conceito de gesto da informao. Nesse sentido, para Alvarenga Neto

    (2008) a maior parte do que se chama GC na verdade uma GI; entretanto para o autor a GI

    apenas um dos componentes da GC uma vez que este conceito abrange outros aspectos,

    temas, abordagens e preocupaes como a criao, utilizao e partilha da informao e no

    conhecimento do contexto organizacional. Cianconi (2003), por sua vez, afirma que muitas

    organizaes implantam a GI sob a denominao enganosa de GC. Isso acontece porque esto

    focalizadas apenas no conhecimento explcito e nos aspectos que dizem respeito a sua

    captura, registro e acesso, esquecendo-se daqueles relacionados a criao do conhecimento.

    importante ressaltar que embora o termo gesto do conhecimento j seja bastante

    difundido e de uso corrente nos crculos acadmicos e empresariais, ele vem recebendo

    muitas crticas e contribudo para desvios de interpretao. Von Krogh, Ichijo e Nonaka

    (2001) afirmam que no se gerencia o conhecimento, apenas capacita-se para o conhecimento,

    uma vez que este no pode ser controlado ou se o forem podem ser sufocados por um

    gerenciamento mais intenso. Para Baroni e Tavares (2007), a gesto do conhecimento sendo

  • compreendida como uma ao sistemtica, consciente e planejada aproxima mais o termo da

    realidade.

    Embora haja a percepo de que a gesto do conhecimento um fator importante,

    nem sempre existe um adequado entendimento e proveito de suas potencialidades. Muitas

    vezes isso acontece porque no h uma devida preocupao e, conseqentemente,

    envolvimento sistmico em prol das esferas individuais, coletivas, operacionais e estratgicas

    para a gesto do conhecimento. Ocorre um isolamento entre as partes integrantes da

    organizao, impedindo a interao conjunta necessria a um aproveitamento eficaz dos

    ativos intangveis. Dessa forma, o conhecimento no aproveitado, deixando muitas vezes de

    contribuir para a competitividade da organizao.

    Entende-se que para a existncia da gesto do conhecimento ser possvel algumas

    capacidades organizacionais devem ser estimuladas atravs de prticas contnuas visando a

    descoberta de novas formas de enxergar o desenvolvimento de produtos/servios e processos

    em prol da satisfao ao consumidor. Dessa forma, torna-se necessria a descoberta de

    iniciativas que permitam o aproveitamento adequado das habilidades internas ao mesmo

    tempo em que oportunidades e experincias devam ser adquiridas por meio de fontes

    externas.

    4 Prticas de gesto do conhecimento

    De acordo com Batista (2004) pode-se definir prticas de gesto do conhecimento

    como prticas de gesto organizacional voltadas para a produo, reteno, disseminao,

    compartilhamento e aplicao do conhecimento dentro das organizaes, assim como na

    relao dessas com o mundo exterior. Isto envolve a captura, absoro e retroalimentao de

    todo o conhecimento que possa promover o desenvolvimento organizacional. Para tanto, as

    prticas de gesto do conhecimento devero estar alinhadas a misso, a viso de futuro e as

    estratgias organizacionais (BATISTA, 2004).

    Devenport e Prusak (1998) afirmam que as atividades relacionadas a gesto do

    conhecimento devero conter no seu ciclo as trs etapas: gerao, codificao e transferncia

    de conhecimento. Os autores afirmam que ainda h muito o que ser feito para se transformar o

    conhecimento corporativo em valor corporativo. O intercmbio do conhecimento dever ser

    estimulado e gerido de maneira eficaz visando promover espao ao surgimento da criatividade

    e do aprendizado organizacional.

    Conforme definido por Batista (2004, p.15), consideram-se prticas de gesto do

    conhecimento as atividades que renam as seguintes caractersticas: 1) so executadas

    regularmente; 2) sua finalidade gerir a organizao; 3) baseiam-se em padres de trabalho;

    4) so voltadas para produo, reteno, disseminao, compartilhamento ou aplicao do

    conhecimento dentro das organizaes. Assim, as atividades ligadas a gesto do

    conhecimento so aquelas que de alguma forma tm como objetivo a produo antecipada ou

    posterior de algum ativo a ser utilizado nos demais processos organizacionais.

    Para Choi, Poon e Davis (2008) mais importante que identificar uma prtica de

    trabalho especfica, entender como prticas de trabalho so aplicadas em conjunto com

    outras prticas complementares. Percebe-se que a incidncia de atitudes direcionadoras

    gesto do conhecimento no podem estar retidas em um nico setor, ou em uma atividade

    exclusiva, sendo imprescindvel que as prticas estejam correlacionadas, permeando todo o

    ambiente organizacional. Para tanto, as organizaes devero conciliar diversidade e

    coordenao, desenvolvendo comportamentos de comunicao que permitam aos membros

    ampliar suas idias, acomodando mltiplas interpretaes (CHOO, 1998).

    Como modo de estender o conhecimento junto aqueles que dele necessitam, vm

    sendo estimuladas as chamadas comunidades de prtica. Segundo Wenger e Snyder (apud

  • ALVARENGA NETO, 2008) as comunidades de prticas podem ser entendidas como grupos

    de pessoas ligadas informalmente pelo conhecimento especializado e compartilhado pela

    paixo de um empreendimento em conjunto. Dessa forma, pessoas de diferentes

    especialidades so reunidas em torno do objetivo comum de aprendizado e resoluo de

    problemas, o que contribui para juno maior de esforos e comprometimento. Para Alvarega

    Neto (2005, p.160), a pedra angular consiste na determinao do reconhecimento ou no,

    pelas organizaes do valor do conhecimento gerado pelas comunidades de prtica.

    Em consonncia s comunidades de prtica, na literatura especfica vem sendo

    propostos diversos modelos de gesto do conhecimento. Entre esses modelos existe o

    proposto por Terra (2000) que ser utilizado como fonte embasora desse artigo. O prximo

    tpico apresenta as caractersticas principais deste modelo.

    4.1 Modelo de Terra (2000): as sete dimenses da gesto do conhecimento

    O modelo de gesto do conhecimento formulado por Terra (2000) composto por

    sete dimenses: fatores estratgicos e o papel da alta administrao; cultura e valores

    organizacinais; estrutura organizacional; administrao de recursos humanos; sistemas de

    informao; mensurao dos resultados e aprendizado com o ambiente. A figura 1 apresenta

    essas dimenses situadas nos planos respectivos.

    Figura 1: Planos e dimenses da gesto do conhecimento

    Fonte: Terra (2000)

    De acordo com Terra (2000) as sete dimenses so assim definidas:

    1 A alta administrao tem o papel de estabelecer a estratgia empresarial bem como as metas a serem perseguidas, apresentando-os aos funcionrios, no se esquecendo

    ainda de direcionar seus esforos ao aprendizado.

    2 - A cultura organizacional dever ser desenvolvida visando inovao,

    experimentao, aprendizado contnuo e comprometimento com os resultados de longo prazo.

  • A otimizao de todas as reas deve ser uma preocupao primordial da alta administrao,

    que dever estimular o carter estratgico em normas formais e informais.

    3 As novas estruturas organizacionais e prticas de organizao do trabalho devero estar baseadas em equipes multidisciplinares com alto grau de autonomia, superando

    os limites inovao, ao aprendizado e gerao de novos conhecimentos impostos pelas

    velhas estruturas hierrquico-burocrticas.

    4 As prticas e polticas de administrao de recursos humanos devero estimular a aquisio de conhecimentos externos e internos empresa, bem como a gerao, difuso e

    ao armazenamento de conhecimentos. No intuito de fazer cumprir esses objetivos so

    estimuladas as seguintes iniciativas: atrao e manuteno de pessoas com habilidades e

    competncias propcias a gerao do conhecimento; incentivo a comportamentos individuais e

    coletivos de aprendizado, fortalecendo as core competencies empresariais; e adoo de

    remunerao associada as competncias individuais, ao desempenho da equipe e da empresa

    no curto e longo prazo.

    5 Os avanos da informtica nas tecnologias de comunicao e nos sistemas de informao esto afetando substancialmente os processos de gerao, difuso e

    armazenamento de conhecimento no ambiente organizacional. Por isso, o contato pessoal e o

    conhecimento ttico devero serem fortalecidos no sentido de propiciar um ambiente de

    elevada confiana, transparencia e colaborao frente a tais avanos tecnolgicos.

    6 A mensurao de resultados sob vrias perspectivas e sua comunicao por toda a organizao devero ser alcanados.

    7- O aprendizado com o ambiente dever ser almejado atravs de alianas com outras

    empresas assim como o estreitamento do relacionamento com clientes.

    Desse modo, adotou-se o modelo referencial das sete dimenses do conhecimento

    proposto por Terra (2000), considerando-se que apresenta uma ampla abordagem, uma vez

    que alm de analisar os nveis da organizao ainda preocupa-se em aborda o ambiente

    externo (parceiros, universidades, fornecedores entre outros) e o modo como os recursos

    devero ser utilizados para uma gesto eficaz do conhecimento.

    5 Aspectos metodolgicos

    De acordo com os objetivos propostos, este artigo pode ser classificado como

    descritivo e exploratrio. Por meio da pesquisa descritiva buscou-se expor as caractersticas

    de determinada populao ou fenmeno ou ainda o estabelecimento de relaes entre as

    variveis (GIL, 2002). A utilizao da pesquisa exploratria surge como alternativa ao estudo

    de conhecimentos ainda em construo, diferindo da leitura exploratria (VERGARA, 2008).

    No que diz respeito aos procedimentos tcnicos, foram utilizados o estudo de caso e

    a pesquisa bibliogrfica. O estudo de caso que consiste no estudo de um ou poucos objetos

    tendo em vista seu amplo e detalhado conhecimento (GIL, 2002) foi realizado na SEACRE,

    empresa de servios de assessoria e educao profissional. No prximo tpico ser delimitada

    de forma mais exaustiva o perfil desta empresa. A pesquisa bibliogrfica pde ser

    contemplada nos tpicos precedentes (referencial terico) e na anlise dos resultados obtidas

    atravs do levantamento dos dados da empresa.

    Para coleta de dados foi utilizado como instrumento de pesquisa o questionrio.

    Respondidos por todos os integrantes da referida empresa, o questionrio alcanou uma

    populao de 10 (dez) indivduos. Uma escala do tipo Likert com os extremos discordo totalmente e concordo totalmente formaram o conjunto de alternativas disponveis para demarcao de opinies dos pesquisados para as questes. Tendo em vista as sete dimenses

    do conhecimento propostas por Terra (2000), o questionrio contemplou 21 (vinte e uma)

    assertivas apresentadas no quadro 02.

  • Dimenses Aferio das Dimenses

    1. Fatores estratgicos e o

    papel da alta administrao

    - H concordncia entre todos os funcionrios sobre

    quais sejam os pontos fortes da empresa

    - A estratgia geral da empresa comunicada para

    todos os nveis organizacionais

    - A alta administrao estabelece, freqentemente,

    metas desafiadoras e um sentido de urgncia para a mudana da

    realidade em direo a uma viso estabelecida

    2. Cultura e valores

    organizacionais

    - Novas idias so valorizadas. H permisso para

    discutir idias bobas - H elevada tolerncia a piadas e bom humor

    - As realizaes importantes so comemoradas

    3. Estruturas organizacionais e

    prticas de organizao do trabalho

    - H um uso constante de equipes adhoc ou

    temporrias, com grande autonomia, dedicadas a projetos

    inovadores

    - A tomada de deciso tomada considerando a

    especialidade de cada profissional, ou seja, quando necessrio

    delegada ao mais baixo escalo possvel

    - Pequenas reorganizaes ocorrem com freqncia,

    de forma natural, para se adaptar s demandas do ambiente

    competitivo.

    4. Prticas e polticas de

    administrao de recursos humanos

    - H investimento e incentivo ao treinamento e

    desenvolvimento profissional e pessoal dos funcionrios

    - A evoluo dos salrios est associada,

    principalmente, aquisio de competncias e no ao cargo

    ocupado

    - Existe reconhecimento por resultados e

    contribuies conseguidas por funcionrios

    5. Sistemas de informao - A comunicao eficiente em todos os sentidos (de

    cima para baixo, de baixo para cima e entre reas distintas)

    - As informaes so compartilhadas

    - H disciplina, eficincia e incentivo para a

    documentao do conhecimento existente na empresa

    6. Mensurao de resultados - Os resultados auferidos pela empresa so

    reconhecidos como esforo do capital humano

    - Existe uma grande preocupao em medir

    resultados sob vrias perspectivas (financeiras, operacionais,

    estratgicas, aquisio de conhecimento)

    - Os resultados alcanados so do conhecimento de

    todos

    7. Aprendizado com o

    ambiente

    - A empresa tem habilidade na gesto de parcerias

    com outras empresas

    - A empresa aprende muito com os seus clientes.

    Existem vrios mecanismos formais e informais bem

    estabelecidos para essa finalidade

    - O relacionamento com o fornecedor realizado com

    vistas ao ensinamento e aprendizado mtuos

    Quadro 1: Dimenses a aferio das dimenses da GC

    Fonte: Adaptado de Terra (2000)

    Os dados foram submetidos ao tratamento quantitativo e qualitativo, com predomnio

    desta ltima. No tratamento quantitativo houve a inteno de dimensionar o universo

  • pesquisado (COLLIS e HUSSEY, 2005). Por outro lado a abordagem qualitativa foi utilizada

    visando identificar o sentido do comportamento dos atores atravs da interpretao (LIMA,

    1999).

    6 Descrio e anlise dos resultados

    6.1 Caracterizao da empresa

    A empresa Servios de Assessoria e Cursos Empresariais SEACRE surgiu em 2005 a partir da idealizao de um profissional que enxergou na capacitao a possibilidade

    de oferecer cursos empresariais visando o desenvolvimento de determinadas habilidades,

    formando profissionais qualificados ao mercado de trabalho. Dessa forma, nas palavras do

    pioneiro do negcio espera-se atravs das qualificaes ser possvel as empresas e instituies proporcionarem aos profissionais oportunidades de crescimento profissional, alm

    de social e econmico. Como misso, a empresa pretende capacitar e preparar pessoas que tenham o

    interesse e viso de crescimento em diversas reas e projetos de qualquer natureza dentro dos

    trmites da lei, vigente no Brasil. Para alcanar essa misso, a empresa promove o

    desenvolvimento de seis atividades a citar: realizao de palestras para apontar a importncia

    da capacitao profissional, anlise do perfil e encaminhamento de profissionais a cursos

    profissionalizantes, realizao de parcerias com empresas e entidades, cadastramento de

    empresas que possam oferecer treinamento ou empregos, realizao palestras gratuitas aos

    parceiros, e oferta de descontos especiais nos treinamento e cursos para funcionrios e

    familiares.

    O enfoque dos cursos oferecidos na rea de servios sendo ofertados os seguintes

    cursos: gerente comercial, agente de vendas avanado, turismo, hotelaria e aplicativos

    comerciais. A seguir, so apresentados os resultados referentes gesto do conhecimento para

    esta empresa tomando o modelo de Terra (2000) como aporte.

    6.2 Identificao das prticas de gesto do conhecimento na empresa SEACRE

    Dimenso 1 - Fatores estratgicos e o papel da alta administrao.

    Nesta dimenso conforme primeiro item abordado, 100% dos funcionrios

    afirmaram concordar totalmente sobre quais sejam os pontos fortes da empresa.

    Segundo Terra (2000), para se competir no mercado no basta unir esforos em

    busca de pioneirismo e velocidade, igualmente necessrio focalizar algumas competncias-

    chave e reas do conhecimento em busca da obteno dos melhores resultados. O

    direcionamento de esforos em torno de core competences est relacionado a um certo nvel

    de conscientizao sobre quais sejam essas habilidades, pois s a partir desse consenso que

    os indivduos podero tomar decises de forma a usufruir e conseqentemente privilegiar os

    pontos fortes da empresa.

    Ainda relacionado ao tema, Probst et al (2002, p. 40) destacam que uma das tarefas centrais da administrao definir metas para dar orientao aos processos essenciais da

    empresa.. Para essa questo, 90% dos funcionrios concordaram totalmente enquanto 10% concordou parcialmente no que diz respeito comunicao da estratgia geral da empresa a

    todos os nveis organizacionais.

    Dessa forma, percebe-se que na referida empresa dada s pessoas todas as

    instrues sobre qual o objetivo maior da organizao (estratgia), permitindo que haja

    abertura para dvidas e sugestes, caractersticas de um ambiente de aprendizagem.

  • Em relao ao papel da alta administrao no estabelecimento de metas desafiadoras

    alm do estmulo a um sentido de urgncia para a mudana da realidade em direo a uma

    viso estabelecida, 60% dos funcionrios concordaram totalmente, 20% concordaram

    parcialmente e os outros 20% no concordaram nem discordaram no que diz respeito a esta

    assertiva conforme demonstra o grfico 1.

    Grfico 1: A alta administrao e o estabelecimento de metas desafiadoras

    Fonte: Elaborao prpria

    De acordo com Terra (2000), a liderana para a inovao dever ser apoiada pela alta

    administrao, que guiar o esforo em torno de metas ambiciosas. Assim, os lderes so

    possuidores de um papel primordial em torno de metas a alcanar, pois exercem o papel de

    guias ou facilitadores, guiando a organizao em prol de um aprendizado constante.

    Assim, h que se rever o papel da alta direo frente a sua principal funo, qual seja,

    exercer papel de liderana, estimulando e motivando os indivduos em torno de objetivos que

    tragam benefcios comuns a todos os envolvidos.

    Dimenso 2 - Cultura e valores organizacionais

    No tocante a esta dimenso, 20% dos funcionrios discordaram parcialmente e 80%

    discordaram totalmente com relao a valorizao de novas idias assim como a permisso

    para a discusso de idias bobas. De acordo com Prost et al (2002), a liberdade s pessoas para discusso de idias

    novas condio fundamental para a inovao. Dessa forma, a valorizao de novas idias,

    mesmo que a primeira vista paream bobas, contribui para criao de um clima de entrosamento e confiana entre funcionrios e a organizao. Ademais, idias que

    inicialmente paream sem sentido podem acabar se revelando como pontap para o

    surgimento de novas e diferentes abordagens acerca de processos, produtos ou servios. De

    acordo com tais argumentos necessrio que a empresa reveja esse aspecto de forma a

    permitir uma maior abertura a espontaneidade dos seus funcionrios.

    Em relao tolerncia a piadas e bom humor, 10% dos funcionrios concordaram

    totalmente, 10% discordaram parcialmente e 80% discordaram totalmente quanto a essa

    tolerncia como mostra o grfico 2.

  • Grfico 2: Tolerncia a piadas e bom humor

    Fonte: Elaborao prpria

    Na viso de Davenport e Prusak (2003), em empresas aonde as pessoas tm

    oportunidade de pensar, aprender e conversar umas com as outras o potencial de novas idias

    praticamente infinito. A tolerncia para planos quebra a rigidez de um sistema imediatista,

    que est estritamente focado em procedimentos de curto prazo. A presena do humor, por sua

    vez, rompe com o clima estritamente formal que muitas vezes separa funcionrios e alta

    gerncia, criando uma descontrao que propcia a conversao entre os indivduos,

    socializando conhecimentos e contribuindo para o surgimento de novas idias.

    Para a empresa Seacre, percebe-se que a cultura e o entrosamento entre os indivduos

    no so estimulados, dando preferncia ao aspecto srio e contido das relaes. Isso poder

    contribuir para o baixo ndice de troca de experincias e conhecimentos, pois muitas vezes

    esses fatores so descobertos em momentos de descontrao e elaborao de planos informais.

    Seguindo essa linha, imprescindvel que as realizaes importantes sejam

    comemoradas, caracterizando a recompensa pela mudana efetuada. Nesse quesito, 90% dos

    funcionrios concordaram totalmente e 10% concordaram parcialmente em existir essa

    comemorao. Dessa forma, os funcionrios passam a enxergar que a realizao de idias

    novas no se trata de um exerccio qualquer ou rotineiro, mas sim, algo que impacta de forma

    benfica toda organizao, necessitando, portanto, de ser comemorada.

    Dimenso 3 - Estruturas organizacionais e prticas de organizao do trabalho

    Quanto ao uso constante de equipes adhoc ou temporrias, com grande autonomia,

    dedicadas a projetos inovadores, 90% dos funcionrios concordaram totalmente e 10% no

    concordaram nem discordaram. Percebe-se que equipes do tipo fora-tarefa totalmente dedicadas a projetos especficos podem contribuir sobremaneira para a gerao de novos

    conhecimentos empresa. A dedicao exclusiva e a autonomia para o gerenciamento de

    novos empreendimentos favorecem a busca por novas solues, focalizando energias em

    torno de objetivos comuns na referida empresa.

    No que diz respeito delegao da tomada de decises considerando os nveis mais

    baixos bem como a especialidade de cada profissional, apresentadas no grfico 3, 80% dos

    funcionrios concordaram totalmente e 20% concordaram parcialmente em haver esta

    preocupao por parte da empresa.

  • Grfico 3: Delegao da tomada de deciso a nveis mais baixos da hierarquia

    Fonte: Elaborao prpria

    Nesse quesito, Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que no nvel individual, os

    membros devem ter a liberdade para agir de forma autnoma conforme as circunstncias,

    contribuindo ento para introduo de oportunidades inesperadas para a empresa alm de

    possibilitar a automotivao aos indivduos criao de novos conhecimentos. A confiana e

    liberdade aos indivduos a tomada de deciso agiliza as respostas requeridas, proporcionando

    ainda habilidades e enriquecimento de conhecimentos por parte daqueles que tomam decises.

    Referente s adaptaes do ambiente interno da empresa, 90% dos funcionrios

    concordaram totalmente e 10% no concordaram nem discordaram em haver pequenas

    reorganizaes freqentes no ambiente interno da empresa para se adaptar as demandas do

    ambiente competitivo. Essas adaptaes podem ser analisadas a luz de Probst et al (2002) que

    afirmam ser imprescindvel s empresas concentrar esforos nas necessidades presentes

    estando ao mesmo tempo prontas para mudar. Assim, percebe-se que a empresa utiliza-se de

    um meio termo cumpridor com as funes e urgncias cotidianas ao mesmo tempo em que

    focado o futuro muitas vezes exigvel por medidas e adaptaes no presente.

    Dimenso 4 Prticas e polticas de administrao de recursos humanos Indagados quanto a existir investimento e incentivo ao treinamento e

    desenvolvimento profissional e pessoal dos funcionrios, 80% dos funcionrios concordaram

    totalmente, 10% concordaram parcialmente e os outros 10% no concordaram nem

    discordaram. Terra (2000) salienta que a principal funo dos gerentes o desenvolvimento

    dos seus funcionrios. Assim, os gerentes devem ser responsveis por prover recursos

    adequados (tempo e dinheiro), criando ambientes que estimulem e promovam valores

    relacionados ao crescimento pessoal e ao trabalho on the job (TERRA, 2000). Para a empresa

    Seacre, percebe-se que h uma preocupao quanto a potencializao do desenvolvimento

    pessoal e profissional do funcionrio.

    Referente evoluo dos salrios e sua ligao com a aquisio de competncias,

    70% dos respondentes concordaram totalmente, 10% concordaram parcialmente, 10% no

    concordaram nem discordaram e os outros 10% discordaram parcialmente conforme mostra o

    grfico 4.

  • Grfico 4: Evoluo dos salrios associada aquisio de competncias

    Fonte: Elaborao prpria

    Segundo Chiavenato (2004, p. 325): a remunerao fixa privilegia a homogeneizao e padronizao dos salrios, facilita o alcance do equilbrio interno e externo

    da remunerao e permite o controle centralizado dos salrios atravs de um rgo de

    administrao salarial. Alm disso, cria uma estabilidade para as pessoas que passam a trabalhar em funo do tempo. Hoje, percebe-se que essas vantagens no asseguram o futuro,

    pois a remunerao fixa e permanente no motiva as pessoas a um desempenho melhor, j que

    muitas vezes os salrios so iguais e os desempenhos desiguais (CHIAVENATO, 2004).

    Pode-se inferir que em geral a evoluo dos salrios est associada a aquisio de

    competncias, o que revela uma valorizao queles que contribuem para o aumento do

    conhecimento da empresa. Assim, tal atitude deve ser continuamente estimulada visando no

    sentido de tornar essa perspectiva cada vez mais condizente com o desenvolvimento e

    contribuio dos funcionrios a empresa.

    Sobre o reconhecimento por resultados e contribuies, todos os funcionrios

    concordaram totalmente com a existncia desse tipo de reconhecimento.

    O estabelecimento de esquemas de premiao e reconhecimento por resultados

    estimula o esforo individual ou grupal, j que assegura alguma recompensa aqueles que se

    envolvem na criao de novos conhecimentos. Dessa forma, a organizao garante o devido

    respeito por no se apoderar de forma imprpria dos resultados auferidos, garantindo alm

    disso o reconhecimento a essas contribuies.

    Dimenso 5 Sistemas de informao No que corresponde a eficincia da comunicao, 80% dos funcionrios

    concordaram totalmente e 20% concordaram parcialmente afirmando que ela ocorre em todos

    os sentidos (de cima para baixo, de baixo para cima e entre reas distintas). Sobre isso, Probst

    et al (2002) afirmam que a comunicao entre indivduos detentores de conhecimento

    fundamental para comparao de idias e experincias de cada pessoa com as das outras

    pessoas. Em razo dessa percepo, fundamental que os indivduos exeram a comunicao

    em todos os sentidos na estrutura organizacional. Assim, imprescindvel que a comunicao

    seja adquirida no momento certo e conforme especificao idealizada. Para a empresa, a

    comunicao ocorre majoritariamente em todas as direes, facilitando a perpetuao do

    conhecimento.

    O acesso a informao um fator primordial para tomada de decises e aprendizado

    a produo de novas idias. Referente ao compartilhamento das informaes, 80% dos

    funcionaram concordaram totalmente e 20% concordaram parcialmente conforme atesta o

    grfico 5.

  • Grfico 5: Existncia de compartilhamento de informaes

    Fonte: Elaborao prpria

    Nesse ponto, Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que o compartilhamento de um

    conceito por um indivduo ou por um grupo favorece a criao do conhecimento

    organizacional, mesmo que a princpio no seja explcita a necessidade do conceito

    imediatamente. Acrescente-se a necessidade de se rever a poltica de conscientizao dos

    funcionrios no sentido de apresentar os benefcios do compartilhamento e aprendizado

    conjunto das informaes disponveis. Mais uma vez, a empresa estudada revela promover o

    compartilhamento das informaes entre as pessoas.

    No tocante a existncia do conhecimento dentro da organizao, pode-se afirmar que

    muito desse conhecimento totalmente dependente da mente humana e da sua capacidade de

    abstrao diante de fatos especficos. Sobre este assunto, Probst et al (2002) afirmam que em

    reas-chave, a exemplo do conhecimento sobre clientes, deve haver um esforo para

    selecionar e documentar eficientemente o conhecimento. Assim, para que haja a

    disseminao desse tipo de conhecimento para todos os todos os setores da empresa

    necessrio que haja incentivo a documentao do conhecimento e know-how existente na

    empresa.

    Indagados sobre a existncia de disciplina, eficincia e incentivo para a

    documentao do conhecimento existente na empresa, 90% dos funcionrios concordaram

    totalmente enquanto 10% nem concordaram nem discordaram. Nesse quesito, a empresa mais

    uma vez revela estar atenta a aes e artefatos que permeiam artefatos necessrios a um

    ambiente propcio ao conhecimento.

    Dimenso 6 Mensurao de resultados Relacionando os resultados auferidos pela empresa ao esforo do capital humano,

    90% dos funcionrios concordaram totalmente enquanto os outros 10% no concordaram nem

    discordaram com essa assertiva. Percebe-se que a o reconhecimento do esforo dos indivduos

    aos resultados alcanados contribuem para proporcionar confiana e motivao aos membros

    da empresa, criando um ambiente saudvel a criao do conhecimento.

    A despeito da preocupao em se medir resultados sob vrias perspectivas, 100% dos

    funcionrios concordaram totalmente com a existncia dessa preocupao. Esse um ponto

    positivo, que contribui para estimular os funcionrios a se mostrarem e fazerem uso dos seus

    recursos intelectuais, buscando formas variadas para medio desses esforos.

    Nesse sentido, Terra (2000) salienta que as empresas que se engajam na

    contabilizao do capital intelectual, passam igualmente a questionar seus processos de

    trabalho, cultura, estratgias de comunicao, emprego de sistemas de informao e polticas

    de administrao de recursos humanos. Para o autor, o monitoramento dessas variveis levar

  • as empresas a desenvolverem prticas mais condizentes ao aprendizado, incentivo a

    criatividade, inovao e gerao de conhecimento organizacional.

    A divulgao da mensurao dos resultados, por sua vez, deve se estendida a todos

    na organizao. Dessa forma, os envolvidos podero enxergar quais os aspectos que devem

    ser melhorados, comparando o desempenho atual com o desempenho requerido. Questionados

    quanto a essa assertiva, 90% dos funcionrios concordaram totalmente e 10% concordaram

    parcialmente. Dessa forma, h um reforo no estmulo aos funcionrios em alcanar

    resultados a partir da exposio dos seus pensamentos e idias.

    Dimenso 7 Aprendizado com o ambiente A gesto de parcerias com outras empresas precisa ser cuidadosamente planejada e

    monitorada (TERRA, 2000). Dessa forma, devem ser estudados os seguintes aspectos: tipos

    de acordo; entendimento da cultura do potencial parceiro; intercmbio e treinamento cruzado

    de funcionrios; necessidade de recursos; benefcios e objetivos a serem atingidos, entre

    outros (TERRA, 2000). No tocante a esse item o resultado, apresentado no grfico 6, foi que

    90% dos funcionrios concordaram totalmente e os outros 10% no concordaram nem

    discordaram.

    Grfico 6: A empresa tem habilidade na gesto de parcerias com outras empresas

    Fonte: Elaborao prpria

    Dessa forma, a habilidade de gesto com outras empresas parceiras poder contribuir

    para troca de experincias, utilizao comum de recursos e estruturas bem como capacitao e

    treinamentos em que haja afinidade e interesse. Todos esses fatores contribuem para alavancar

    conhecimento para a organizao.

    No quesito referente ao aprendizado da empresa com os seus clientes atravs de

    mecanismos formais e informais, 100% dos funcionrios concordaram totalmente afirmando

    que esta habilidade est presente na empresa. Esse resultado mostra que a empresa aprende

    com seus clientes, estando sempre atenta a desejos e mudanas necessrias. Ademais,

    empresas que visem a capacitao ao conhecimento necessitam de habilidades para ter acesso

    ao conhecimento e as crenas de seus consumidores (PROBST et al, 2002).

    Referente ao relacionamento com o fornecedor visando o ensinamento e aprendizado

    mtuos, 90% dos funcionrios concordaram totalmente e 10% concordaram parcialmente com

    tal assertiva. A instrumentalizao desse tipo de relao alm de possibilitar o descobrimento

    de novas idias, tambm permite o compartilhamento de recursos e at mesmo insero de

    novos ativos intelectuais (indivduos) em seus processos internos enriquecendo a organizao.

    Nesse sentido, Nonaka e Takeuchi (2000) destacam que uma empresa criadora do

    conhecimento no pode operar em um sistema fechado, mas precisa operar em um sistema

    aberto no qual dever existir um intercmbio constante com o ambiente externo.

  • A seguir visualiza-se o grfico 7, o qual apresenta as mdias para cada uma das

    questes formuladas com relao s respectivas categorias. No eixo das abscissas encontram-

    se as categorias e no eixo das ordenadas as mdias correspondentes.

    Grfico 7: Mdia das sete dimenses da GC do modelo de Terra (2000)

    Fonte: Elaborao prpria

    Ao analisar o grfico, destacam-se as dimenses 6 e 7 que obtiveram mdia de 4,9,

    muito prxima da mdia mxima de 5, significando a presena de grande preocupao com a

    mensurao dos resultados bem como desejo de formao de alianas e relacionamentos com

    o meio exterior. Por outro lado, a dimenso 2 obteve a menor mdia, 2,53, fruto do baixo

    ndice de concordncia para discusso de idias bobas ao mesmo tempo em que h pouca tolerncia a piadas e humor. Logo, a presena de um ambiente que estimule a discusso de

    idias e a criao de um clima de confiana e permisso para errar precisam ser melhor explorados por parte da alta administrao da empresa. Por fim, afirma-se que, a exceo da

    dimenso 2, a empresa gerencia muito bem as demais dimenses do conhecimento,

    direcionando seus esforos em torno da criao e usufruto do conhecimento nas esferas

    internas e externas.

    7 Consideraes finais

    A gesto do conhecimento est cada vez mais presente no palco de discusses

    acadmicas e empresariais. O reconhecimento do seu valor inerente a atual fase denominada

    Era do Conhecimento ou da Informao. Assim, a busca por prticas organizacionais que

    estimulem um ambiente propcio facilitao do conhecimento tem sido uma constante nos

    dias atuais.

    Para este estudo, a GC na empresa estudada foi percebida atravs da lente de Terra

    (2000) que prope um modelo de sete dimenses para analisar essa gesto. A partir da

    aplicao deste modelo foi possvel perceber que em geral as aes condizentes com o

    modelo de GC adotado esto presentes e so valorizadas no cotidiano da empresa.

    No tocante a dimenso cultura e valores organizacionais a presena do

    compartilhamento de valores que estimulem a comunicao, a confiana e a flexibilidade

    devem ser mais trabalhados. Para este assunto, Zanella (2005) destaca ser imprescindvel o

    incentivo a uma cultura criativa que valorize o talento, estimule a gerao de idias e a

    coragem para assumir riscos. Para a autora, esta inovao deve estar presente em todos os

  • nveis organizacionais, inserida nas aes dirias, na prtica administrativa, nas estratgias,

    objetivos e metas da organizao.

    Diante de todas as consideraes apresentadas, pode-se afirmar que a GC um

    processo gradual e contnuo, devendo, portanto, estar presente em aes e prticas do dia-a-

    dia perante todos os nveis organizacionais alm do ambiente externo. Assim, a identificao

    de aes condizentes com a GC atravs de um dado modelo permite enxergar de forma

    especfica os pontos que precisam ser melhorados nessa gesto.

    Para a empresa estudada, percebeu-se que a GC de forma geral vem sendo

    direcionada atravs de prticas e aes que envolvem objetivos interna e externamente.

    Reconhecendo ser a GC um processo em constante construo e interligado nos mais diversos

    setores, processos e atividades empresariais, prope-se a conjugao de foras para melhoria

    de aspectos ligados a busca por uma cultura do conhecimento ao mesmo tempo em que so

    desprendidas energias para continuidade dos atuais prticas.

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