7diario de estagio

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20 de novembro

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Diários de Estágio:

(Observação)

20 de Novembro de 2009

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Foi com muito agrado e satisfação

que me dirigi para a escola primária, onde

iria leccionar, com a minha colega

Margarida. As crianças, turbulentas e

agitadas, esperavam no pátio, pela

professora, para mais um dia de aulas.

Estávamos curiosas porque este era

um dia especial, em que iríamos assistir, pela primeira vez, a uma “aula de Sexta-feira”.

Neste dia da semana realiza-se o Conselho de Turma, algo que para mim e para a minha

colega se revelava de extrema novidade.

A aula iniciou-se com normalidade, os alunos iniciaram as suas tarefas e,

posteriormente, a professora registou a data no quadro e o Plano Diário: 1- Tarefas; 2-

T.E.A; 3- Avaliação do PIT; 4- Resolver Problemas; 5- Conselho de Turma e 6-

Balanço do Dia.

Ao iniciarmos a aula, a professora alertou os alunos para a reformulação do

Horário, proposta que já tinha feito a professora Cooperante. Esta alteração veio

possibilitar a observação do início do Trabalho de Projecto e, consequentemente, o

nosso maior envolvimento neste âmbito, já que teríamos de elaborar os ficheiros do

Estudo do Meio.

Posteriormente cada um dos alunos começou a trabalhar no seu PIT e cada uma

de nós foi trabalhar com dois alunos que apresentavam algumas dificuldades. A nossa

tarefa como orientadoras e facilitadoras do processo ensino / aprendizagem dos alunos

já se começa a elevar. Passámos de simples observadoras a auxiliares da educação, bem

como do desenvolvimento daquelas crianças. Neste momento, a professora relembrou

aos alunos que teriam apenas uma hora para finalizar o PIT e que, em seguida,

proceder-se-ia à avaliação do mesmo.

As crianças trabalharam muito bem. Foi muito agradável olhar à minha volta e

observar aquelas crianças concentradas no seu pequeno mundo a trabalhar. As duas

crianças que orientei, apresentavam algumas dificuldades na Matemática, portanto

auxiliei-as na realização de uma ficha desta área curricular. Qual não foi o meu espanto,

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sem excluir o meu orgulho, ao verificar que uma das crianças recorreu a uma ficha de

Matemática por mim elaborada. Senti um misto de bem-estar e felicidade, pois

constatei que já existe um “pedacinho” de reconhecimento, embora inconsciente, do

meu trabalho e da minha dedicação naquela turma.

Finalizado o Tempo de Estudo Autónomo, a professora pediu a cada um dos

alunos que avaliasse o seu PIT. No mesmo espaço existe um campo dedicado à auto-

avaliação dos alunos e, imediatamente a seguir, às sugestões do professor.

Posteriormente, a professora pediu aos alunos que regressassem aos seus

lugares, para iniciarem a avaliação colectiva dos PIT’s. Eis que os Presidentes começam

a colocar, individualmente, algumas questões, entre as quais: Qual foi a tua tarefa?

Cumpriste bem a tua tarefa? Cumpriste o plano? Trabalhaste bem?

Existiram casos em que alguns alunos estiveram muito bem, ao longo da

semana, outros que nem por isso. Curioso foi o facto de apesar de não conseguirem

cumprir o plano, os alunos que trabalham bem, receberam igualmente um elogio, por

parte da professora e dos demais colegas.

Algo que me sensibilizou, foi o facto de apesar de um dos alunos da turma, que

apresenta alguns problemas sócio-comportamentais e afectivos (e que, por conseguinte,

rejeita executar a maior parte das tarefas e envolve-se, com alguma regularidade em

conflitos com os demais colegas), não ter executado o plano previsto para a semana,

mas até ter trabalhado bem e ter realizado muitos exercícios fora do habitual, revelando

trabalho, dedicação e um bom desempenho. Como reconhecimento do trabalho

desenvolvido por este aluno, uma colega sugeriu que a turma o presenteasse com uma

salva de palmas. Este momento foi de facto muito comovente e, inevitavelmente, deixe-

me levar pelas emoções.

Após o intervalo, os alunos estavam muito inquietos e agitados. A professora

titular da turma iniciou a etapa número quatro do Plano Diário, Resolver Problemas. Os

alunos criaram em grupo uma situação problemática relacionada sobre o Outono. O

objectivo era enviá-lo para a turma com que estão a fazer correspondência. Após a

criação da situação problemática, passou-se à resolução do mesmo no quadro, por um

aluno.

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Finalmente chegou o momento tão aguardado e desejado por mim: o Conselho

de turma. Inicialmente a professora disse aos alunos que iriam dar início à sessão e que,

por tal, cada um teria de ocupar o seu lugar habitual. Neste momento do dia, foi muito

interessante verificar que os alunos, sem mais demora, logo se organizaram num

círculo, para dar início ao pequeno debate democrático deste pequeno sistema

regulador.

O Conselho de Turma iniciou-se da seguinte forma: a professora procedeu à

leitura da acta do Conselho de Turma precedente, visto que compete à professora titular

da turma, neste caso específico à professora Mónica, redigir o referido documento, onde

constam os actos/situações ocorrentes e as respectivas soluções / resoluções para os

problemas. A esta compete, ainda, ler e abrir o Diário de Turma.

Confirma-se, então, que este documento, tal como diz Inácia Santana, funciona

como um instrumento colectivo de pilotagem e um instrumento de democracia, de

representação de direitos e opiniões, sugestões e principalmente de livre expressão. O

Diário de Turma representa, na minha opinião e com base no que foi observado, a

ilustração dos juízos, sentimentos e crenças de uma criança, com a devida transparência.

O Diário de turma está dividido

por quadro colunas: “não gostei, gostei,

fizemos e quero fazer”, conforme a

sugestão de Sérgio Niza (1991), que nos

diz: “o Diário de Turma é constituído

por quatro colunas de escrita. Duas

delas recolhem as ocorrências significativas (…) poderão ser inscritas sob forma de

juízo positivo de “gosto”, “concordo”,“acho bem”, por exemplo. As ocorrências

negativas poderão exprimir-se pelos contrários (…) Destinando-se por isso, a servir de

dispositivos colectivos de avaliação qualitativa das actividades escolares e dos

comportamentos sociais delas decorrem. (…) As outras duas colunas complementares

destinar-se-ão a recolher, uma delas, “sugestões” para enriquecimento do trabalho ou

para novas ideias e projectos e a outra, a inscreve “realizações” que se tenham

distinguido, ao longo da semana.”

A professora Mónica começou pela avaliação da coluna “não gostei”. À medida

que a professora apresentava o Diário, os alunos que quisessem intervir teriam que

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manifestar esta sua vontade, levantando o dedo no ar para, depois, proceder à exposição

da sua opinião, após a confirmação do Presidente.

A professora Mónica elucidou-nos que o objectivo da leitura do Diário é “para

ouvir, perceber e também reflectir sobre o que se passa com a turma”.

“Gostaria, porém, de recordar um nível de desempenho funcional do Diário

com relevo estratégico mais directo. Como meio estratégico do modelo pedagógico é

antes de mais o Termómetro Moral da Turma, na medida em que nos permite ler em

perfil temporal como se desenrola o clima emocional, de relações e de valores de um

grupo. (…) Instrumento de gestão de conflitos”. (Sérgio Niza 1991)

A professora Curricular da Turma em questão, continuou a ler o Diário, desta

feita para ajuizar as colunas do “Gostei”, “Fizemos” e “ Quero Fazer”. Convém

salientar que eu e a Margarida também preenchemos estes parâmetros. A nossa

Cooperante explicou-nos que ao fazê-lo, estaríamos a contribuir para a motivação dos

alunos.

Após a leitura do Diário, a professora perguntou aos presentes se queriam

acrescentar mais alguma coisa. Foi a partir desta experiência que me apercebi da

importância da criação momentos que permitam a exposição de ideias, sugestões ou até

mesmo queixumes dos alunos. Reflecti, igualmente, sobre situações pontuais que

ocorrem e das injustiças que, por vezes, cometemos. Por exemplo, numa situação

vulgar, em que um aluno nos faz uma queixa de um outro, temos a tendência,

conscientemente ou inscientemente, para repreender este último aluno, sem sequer ouvir

o tem para dizer. No Conselho de Turma, podemos contornar estas situações de outra

maneira, oferecendo aos agentes em questão a oportunidade de se manifestarem e

resolver os conflitos de forma mais racional e democrática. Não podemos, contudo,

descurar o facto de que, por vezes, as crianças são más, também mentem e que, sem

nos apercebermos, podemos estar a ser cúmplices dessas mentiras.

“ Na dinâmica da Turma, os elementos mais instáveis e impulsivos aprenderão

a regular a sua “passagem a acto”, na sua tensão agressiva, na medida em que se

habituem a passar a escrito as ocorrências que só serão debatidas e analisadas

posteriormente e a “frio”, o que resulta em treino de descentração, fundamental para o

desenvolvimento afectivo e para o progresso intelectual. O Diário torna-se assim um

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verdadeiro canalizador emocional na medida em que ajuda a instaurar “habitus” de

nacionalização e formalização (…)” (Sérgio Niza, 1991).

Neste dia, a sugestão que os alunos me fizeram na semana passada, em relação à

formação do clube de dança, foi apresentada no Conselho de Turma, visto que tanto os

alunos como eu, coloca-mos a sugestão/proposta no Diário de Turma, foi também

apresentada pela professora, que a considerou bastante interessante e criativa. Então,

concordou em ajudar-nos, tendo disponibilizado 15 minutos semanais, à quarta-feira,

para realizarmos esta actividade.

Finda a aula, despedimo-nos dos alunos e da professora, contudo voltaríamos à

escola, no final da tarde, para assistir a uma reunião de pais. Esta foi outra novidade do

dia e mais uma grande etapa da nossa vida.

Mal entrámos na escola, por volta das 18 horas, apercebemo-nos do aglomerado

de Encarregados de Educação que se tinham juntado no pátio. Subitamente, apoderou-se

de mim um nervoso miudinho e inevitavelmente comecei a pensar como encararia o

facto de estar em frente dos pais, cada vez mais exigentes, e quais as expectativas que

teriam em relação a nós.

Os objectivos da reunião seriam:

- Apresentação das professoras estagiárias;

- Informação do âmbito da gripe A;

- Entrega de declarações a preencher;

- Planificação semanal das actividades realizadas na sala de aula;

- O Plano Individual de Trabalho;

- O Caderno de Escrita Livre;

- O Projecto de matemática “Matemática e a Cidadania”;

- Listas de Verificação (colectiva e individual);

- Ver trabalhos da turma (livrinho, projectos)

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- Ver registos fotográficos da visita de estudo, jogo do banqueiro e da participação

de familiares na sala de aula;

- Data de entrega da avaliação dia 19/12/2009 á tarde;

- Verificar quem pretende comprar as t-shirts com o nome da escola;

- Debate e esclarecimento de dúvidas.

Achei muito interessante a decisão da professora, a de fazer-se acompanhar de

alguns alunos, para que fossem eles próprios a dar a conhecer aos Encarregados de

Educação alguns pontos a tratar na reunião, como por exemplo o Plano Semanal, o

Plano Diário e as distintas disciplinas (de que tratavam e as actividades que pretendiam

a levar a cabo).

A professora iniciou a reunião

apresentando-nos aos pais. Foi neste instante

que comecei a aperceber-me da realidade

que me espera. Fiquei extremamente

nervosa e não sabia o que dizer ou o que

fazer. Esta situação foi um pouco asfixiante,

pois é necessário ter muita coragem e

manter a postura para estar diante dos pais, ainda mais apresentando uma metodologia

diferente do habitual, em que as críticas tendem a ser superiores aos elogios.

Na minha opinião a professora titular mostrou dedicação e profissionalismo,

tudo estava organizado ao mais ínfimo

pormenor. Apresentou aos pais, sem ocultar

absolutamente nada, o trabalho que os filhos

realizavam em sala de aula. Levou os trabalhos

que realizaram no Trabalho de Projecto e

mostrou fotografias de actividades realizadas.

Aconteceu, ainda, uma situação caricata.

Quando a professora mostrou fotos do pai do Lourenço, tendo-o apresentado como

columbófilo, um Encarregado de Educação percebeu que a professora o tinha chamado

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de pedófilo, situação que, perante breves momentos de tensão, contribuiu um momento

de descontracção entre os presentes.

A reunião decorreu de forma exímia, os pais dos “nossos” alunos despediram-se

com extrema simpatia, tendo, porém ficando a professora na sala com os pais de uma

aluna.

Sexta-feira, apesar de um dia bastante tenso e repleto de novas emoções, foi

igualmente deveras produtivo. Presenciei a observação do Conselho de Turma e

participei na reunião de Encarregados de Educação, que me elucidou bastante em

termos de perspectivas para o futuro.