7 Magia Musealidade e Musealização Conhecimento Local e Construção de Sentido No Opô Afonjá

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    www.revistamusear.ufop.br Ano 1 - Nmero 1 - Junho de 2012

    artigos

    Bruno Csar Brulon Soares

    RESUMOA partir da observao da comunidade decandombl do Op Afonj, pde-se perceberempiricamente, em um terreiro musealizado, anatureza mesma de conceitos estudados pelos

    tericos da museologia e do patrimnio como o demusealidade e o de musealizao, no espao emque tradio e conhecimento local so transmitidosentre geraes. A metfora do cu e da Terra,da manifestao do divino na religio, ajuda acompreender a ideia de elevao de um objetodo mundo que ganha o estatuto de patrimnio.Atravs dos processos da memria, que ocorrem nopresente, os objetos de dada realidade social soelevados ao estatuto de coisa sagrada, por meio deum ato mgico. Utilizando o conceito antropolgico

    de Marcel Mauss, possvel pensar a magia comoanloga ao que pode se chamar de musealizao.A musealidade abrange qualidades no-materiaisdo objeto que se pretende musealizar; ela remetea uma discusso da preservao que passa peladicotomia entre vida e morte, e por meio de suaimaterialidade imanente que os mundos sagrado eprofano se encontram no terreiro de candombl enos museus , formando a retrica profundamentehumana atravs da qual o patrimnio pode serobservado em uma microanlise.

    ABSTRACTWith the observation of the candombl communityof Op Afonj, it was possible to empiricallyperceive, in a musealized terreiro, the very natureof concepts studied by the theorists of museology

    and heritage, such as museality and musealization,in a space in which tradition and indigenousknowledge are transmitted among generations.The metaphor of heaven and the Earth, of themanifestation of the divine in religion, helpsto comprehend the idea of the elevation of anobject from the world, gaining the status ofheritage. Throughout the processes of memory,occurring in the present time, objects of a givensocial reality are elevated, receiving the statusof sacred thing by a magical act. Considering

    Marcel Mauss anthropological concept, magiccan be understood as an analogous form of theso-called musealization. Museality refers to thenon-material qualities of the object that is going tobe musealized; it leads to a debate on preservation,and the dichotomy of life and death, and it isthroughout its immanent immateriality that thesacred and the profane worlds are brought together in the terreiro as well as in the museums ,constituting the deeply human rhetoric throughoutwhich heritage can be observed in a microanalysis.

    Bacharel em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO); Mestrado,Programa de Ps-Graduao em Museologia e Patrimnio (UNIRIO/MAST); Doutorando pelo Programade Ps-Graduao em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Membro do ConselhoExecutivo do Comit Internacional de Museologia (ICOFOM) do Conselho Internacional de Museus(ICOM).

    Magia, musealidade e musealizao:

    conhecimento local e construo de

    sentido no Op Afonj

    PALAVRAS-CHAVE: KEY-WORDS:Museu; Museologia; Museum; Museology; Heritage;Patrimnio; Musealidade; Musealizao. Museality; Musealization.

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    No h natureza mais area que aquelado azul celeste. Esta natureza intangvelestende-se dentro de ns assim como existi-mos nela, e a partir dela somos capazes denos ver no mundo, temos a medida exata

    do nosso ser. Percebendo o cu, o humanosente-se inserido no cosmos, e aproxima-seda estrutura do mundo. Vendo-se diante doceleste absoluto, percebe o poder e a fora doeterno, pressupe a incomensurabilidade dodivino (ELIADE, 1996, p. 100).. A transcen-dncia celeste revela-se pela simples tomadade conscincia da altura infinita, e o muitoalto torna-se espontaneamente um atributoda divindade. Para Eliade, a simples contem-plao da abboda celeste suficiente para

    desencadear uma experincia religiosa. Trata--se de uma tomada de conscincia, atravsda qual o humano descobre a si mesmo emrelao ao divino. A conscincia da finitudeaflora diante da percepo da imensido docu, em uma relao em que o humano se va partir do divino. Nesta experincia religio-sa, a relao divina uma relao especficacom o real, que passa pela preservao damemria e a manuteno da tradio. Rela-o que atravessa os indivduos de formas

    variadas, mas que pode, em sua essncia, serobservada nos mais diferentes contextos.A partir da microanlise de um contexto

    religioso possvel revelar a face sagrada domuseu, instncia capaz de realizar a ligaometafrica entre cu e Terra, entre o que sev e o que se imagina existir escondido noreal. Os museus selecionam elementos doreal atravs dos quais o divino ou o intan-gvel, de modo geral vem a se manifestar.Afinal, os deuses manifestam as diferentes

    modalidades do sagrado na prpria estru-tura do mundo (Id., p. 106). Eles habitamo cu, e ns os evocamos na Terra atravsdo simbolismo religioso. E assim o sagradoceleste mantm-se vivo atravs dos smbo-los e ritos que utilizamos para alcanar estelugar muito alto. Ao mesmo tempo infinito

    e transcendente, o cu tocaa terra neste encontro desubjetividades invisveis. No

    limiar de naturezas diversasque o ar espalha em umadana harmoniosa, o olharmal consegue separar ascoisas do mundo. Terra e cuse conjugam neste encontroe a conscincia-de-si do ser a nica coisa capaz de sedestacar nesta percepo datotalidade.

    Na mitologia iorub,

    Obatal separa o cu (orum)da Terra (ai). Na memriado candombl, no inciono havia a proibio de setransitar entre um e outro. Aseparao dos dois mundosfoi, portanto, fruto de umatransgresso, de um rompi-mento de um trato feito comObatal (PRANDI, 2001,p. 514). Antes, qualquer

    um podia passar livrementee sem constrangimento doorum para o aie do aiparao orum. Deuses e huma-nos podiam transitar pelosmesmos espaos. Segundo amitologia, um casal sem fi-lhos procura Obatal implo-rando que lhes desse o filhodesejado. Obatal, relutante,decide dar a criana aos pais,

    mas impe a condio deque o menino jamais cruze afronteira do orum, tendo queviver recluso ao ai.Os paislhe escondem a

    existncia do cu, e omenino cresce na Terra. Umdia, porm, desconfiado, aopercorrer uma plantao quese iniciava no ai e avan-ava para dentro do orum,

    consegue finalmente chegarao cu e imediatamentepreso pelos soldados de Oba-tal. Furioso com a quebrado tabu, Obatal bate comfora no cho com o seubculo, criando, sem querer,

    artigos

    Muitos ali danavam e eram admirados quando nas

    festas em que podiam fazer msica, reviravam os olhos

    e saltavam loucamente pelo barro batido, flutuavam no

    ar, faziam com que seus corpos fossem muitas coisasao mesmo tempo, traziam fogo aos coraes dos

    outros e, nessas horas, eram divindades.

    JOOUBALDORIBEIRO- VIVAOPOVOBRASILEIRO

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    uma rachadura no universoe separando para semprecu e Terra, orume ai, de

    forma que os orixs ficaramresidindo no orum, e os sereshumanos confinados ao ai.

    O mundo dos humanosestava separado daqueledos orixs. Mas diz a mito-logia que os orixs tiveramsaudade de suas peripciasentre os humanos (Id., p.526). Foram queixar-se comOlodumare, que acabou

    consentindo que as divinda-des retornassem ao ai, masimps a condio de quepara isso teriam de tomar ocorpo material de seus devo-tos. Oxum ganhara o encargode preparar os mortais parareceberem em seus corpos osorixs.

    Os orixs agora tinhamseus cavalos, podiamretornar com seguranaao Ai, podiam cavalgaro corpo das devotas.Os humanos faziamoferendas aos orixs,convidando-os Terra,aos corpos das ias.Ento os orixs vinhame tomavam seus cavalos.

    E, enquanto os homenstocavam seus tambores,(...) enquanto os homenscantavam e davam vivase aplaudiam, convidan-do todos os humanosiniciados para a roda do

    xir, os orixs danavam,danavam e danavam.(Id., p. 528)

    Este o mito que funda-menta o candombl, presen-te no conhecimento trans-mitido, sempre, oralmente das diversas comunidadesreligiosas. Rica em sua

    mitologia, a religio dos orixs faz a ligaoentre cu e Terra, a partir de ritos que fazemparte da vida cotidiana dos devotos, funda-

    mentados por uma relao com o mundoque transcende a realidade terrestre. Trata-sede uma relao celeste. O Museu aqui podese beneficiar desta alegoria. O candomble sua mitologia abarcam o real atravs deuma sacralidade que lhes imanente quev no profano os caminhos para se alcanaro sagrado. Em alguns casos essa sacralidadepode revelar a essncia mesma da musealida-de, atribuda s coisas do mundo, a partir doencontro entre a matria e o invisvel.

    1. Sobre os usos da memria e aessncia dos museus

    Objetos sagrados, aqueles que fazem aligao entre dois mundos que por algumarazo foram separados, so objetos limina-res que no constituem uma coisa s emsi, mas que representam simultaneamente oser e o no-ser como em um estgio liminar.Estes objetos so postos a representar duascoisas (uma presente e outra ausente) simul-

    taneamente, ligando e re-ligando realidadesdistintas. No contexto particular dos museus,onde tais objetos liminares so produzidos,estes ganham o nome de objetosmusealiza-dos,de patrimnio ou mesmo de objetos dememria, e eles operam na relao simblicaentre algo que se v, e algo que se deseja ver,mas que est ausente.

    impossvel reavermos completamentealgo j esquecido, o que lembra WalterBenjamin (BENJAMIN, 1992, p. 152). E

    talvez, afirma ele, seja bom assim. De fato,o choque da reaquisio do passado seriade tal maneira arrasador para o indivduoque deixaramos, naquele exato instante, decompreender a nossa saudade. De qualquermodo, o esquecido carrega consigo o pesoavassalador do que ir ficar para trs, e porisso, mais uma vez, h uma razo para que seesquea. O lado mais intrigante, porm, doesquecimento, no est na coisa esquecida,mas naquela que levamos adiante, muitas

    vezes por razes as mais desconhecidas. Osegredo que faz qualquer coisa perdurar fazparte de um precioso e constante processode construo e reconstruo realizado portodos ns a partir de nossa experincia doreal. A saudade despertada por cada umadestas coisas duradouras a prova viva da

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    importncia que elas tiveramna constituio de nossasidentidades. O que incessan-

    temente buscamos, portanto,nesta relao com o passado a relao mesma que nosdefine, onde quer que elapossa estar. No entanto,voltar a ela, j no se podemais. Para Benjamin, este um fato irrefutvel: (...)posso sonhar como uma vezaprendi a andar. Mas isso denada me adianta. Hoje sei

    andar; aprender a andar que j no sei. (Ibid.)Os objetos, as coisas do

    mundo, percebidos a partirda experincia, ns queatribumos a eles o poder debuscar, por associao, o pas-sado. E quando essa mem-ria, evocada por eles, im-portante para o coletivo, elesso nomeados objetos de

    memria, ou, simplesmente,patrimnio, mesmo quandoj constituem um patrimnioindividual, j passam peloafeto de algum j afetam,de uma forma ou de outra,o indivduo. Lembremos querecordar quer dizer passarnovamente pelo corao. Eassim, toda lembrana estligada ao nosso mais ntimo

    ser, todo patrimnio brota deuma relao emocional como mundo.

    Nas comunidades dosterreiros de candombl, estarelao com as coisas do pas-sado se d de forma bastantefluida. O que fica preservadona memria est efetivamen-te existindo no presente. Opassado o que j se esque-

    ceu, e no vlido tentarevocar o que j passou. Asrelaes entre cu e Terra,assim como aquelas entre asgeraes, partem do presentevivo. E partindo do conhe-cimento local, da observao

    do terreiro de candomblmusealizado do Op Afonj,que pretendo, no presente

    texto, narrar a natureza mes-ma de conceitos como os demusealizao e musealidade,em suas aplicaes mais pro-fundamente humanas.

    A histria da constitui-o do patrimnio culturalest condicionada por umasequncia de rupturas: mu-danas nas crenas coletivase modos de vida, desorgani-

    zaes tcnicas, propagaode novos estilos que subs-tituem os antigos. Toda aconstruo patrimonial se dem um constante processoem que a memria entremeiaconcomitantemente passa-do, presente e futuro, mas apartir de olhares do presenteno ato mesmo em que este vivido e experimentado. Os

    museus abrigam objetos que,em sua maioria, vm de umpassado ou que j tenhamparticipado de processosde mudanas e trocas, naconstituio de um patrim-nio presente. O domnio daidentidade e da memria,o domnio dos museus, odomnio dos mitos, smbolose representaes, que indi-

    cam no presente os cami-nhos j tomados e aquelesque podero se tomar. Esta a base daqueles museus queatuam no desenvolvimentodas populaes e so criadospor elas. Segundo Davallon(DAVALLON, 2002, p. 44),uma das deficincias habi-tuais do patrimnio no seumodo de colocar-se na esfera

    do real , precisamente, ade separar o que diferentedo que continuidade. Aideia mais comum a deque o patrimnio asseguraa continuidade entre aque-les que o produziram, ou o

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    depositaram, e os que soos herdeiros a quem ele foitransmitido. Logo, dificil-

    mente podemos negar que atransmisso constitutiva dopatrimnio; sem ela sequerseria possvel utilizar estetermo.

    A transmisso visaefetivamente uma continui-dade entre os tempos dasgeraes; continuidade fsica(conservao) e continuida-de de status (continuidade

    simblica do objeto do patri-mnio). E somos ns todosaqueles que se afetam dessarelao quedecidimos queedificaes, que paisagens,queritos, discursos ou me-mrias iro receber o estatu-to de patrimnio. A operaoparte do presente para visaros objetos do passado, mes-mo que seja um passado re-

    cente. A questo no comogarantir a continuidade paraevitar uma ruptura, mas defi-nir como ela constituda apartir das rupturas que suce-dem. Trata-se de uma ques-to de deciso, que segue algica da continuidade e daruptura. E nessa interseoentre ruptura e continuidadeque atua o Museu; ele acon-

    tece na relao entre o quefoi e o que no instante(SCHEINER, 1998).

    Diferentes sociedadese culturas tm concepesprprias do tempo e dotranscurso da vida, e tendema organizar de forma pr-pria os acontecimentos e ahistria. Estas diferenas sedo pela prpria constituio

    da memria coletiva de cadagrupo, o que leva impos-sibilidade de se pensar umahistria nica para todoseles. Para Maurice Halbwa-chs, no h dvida de quea histria um conjunto de

    fatos selecionados e fixados que ao longo dealgum tempo ocuparam lugar de destaque namemria dos homens (HALWACHS, 2001,

    p. 45). Por outro lado, existem mltiplas me-mrias coletivas, e esta seria uma das razespara que elas se distanciassem da histria pode-se dizer, na percepo clssica, que sexiste uma histria. (Id., p. 48) Assim, noexistem tempos universais ou nicos, mas asociedade se decompe em uma multiplici-dade de grupos que possuem, cada um, o seuprprio sentido da durao.

    Em sociedades de cultura mtica, emgeral, o tempo circular e a vida concebida

    como uma eterna repetio do que j acon-teceu, em um passado remoto narrado pelomito. No candombl, a ideia de tempo que sepode observar no apenas nas festas e rituais,mas tambm no cotidiano do terreiro, aque est sujeita ao acontecer dos eventos eao sabor da realizao das tarefas (PRANDI,2005, p. 25). O passado recente, nas comu-nidades de candombl, confunde-se com opresente, de forma que os mortos podem par-ticipar da experincia presente dos vivos, en-

    quanto estiverem vivos em suas lembranas.Este museu de memrias,em seu estadomais intangvel, se constri constantementeno cotidiano das pessoas, em suas relaescom os antepassados.

    Hoje estamos em outra instncia daquelaque via nos objetos a certeza de um passadocristalizado: a preservao no est somentedirecionada para o que adquirido e para opassado, uma atitude proposta para ques-tionar o presente, o meio ambiente e a vida

    atual. E, quando falamos em preservao econservao neste novo contexto do museuintegral (UNESCO, 1973, p. 198)2, no uma referncia preservao esttica doobjeto material. Aqui se fala em uma preser-vao ativa e viva, como prprio Museu; a preservao que deixa o objeto musealiza-do permanecer em seu uso, naturalmente,sem que ele perca suas caractersticas e, aomesmo tempo, sem que seja cristalizado eremovido perpetuamente da esfera do social.

    Sendo assim, a preservao a manutenodinmica do que vivido, em ato, e esta abase para se pensar a ao denominada decomunitria nos museus.

    O museu/comunidade/terreiro que aqui seprope estudar deve ser visto como aquele diria Bellaige que nasce do desejo de um

    1Para o autor,pode-se pensar

    em uma his-tria universal,mas jamais em

    uma memriauniversal.

    2 Noode museu,

    proposta pelaDeclarao de

    Santiago, noChile, em 1972,que engloba o

    meio social emque este se vinserido, atri-buindo como

    responsabilida-des museol-gicas algumas

    das responsabi-lidades sociais.

    Esta conceporepresentou

    para os museuse para a refle-

    xo museolgi-ca um convite a

    se perceber associedades ob-

    jetificadas nosmuseus a partirdo conjunto de

    relaes queelas evocam,mais do que

    atravs dos seusprodutos cul-

    turais, naturaise histricos. Da

    mesma formao patrimnio,

    apreendido emsua integrali-

    dade capazde evidenciartodo o corpo

    de relaes queo produziram,

    e os processosdessa produ-

    o.

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    3 Aqui fala-mos em uma

    conservao do

    patrimnio emprocesso, quese d sempre

    no presente, ouseja, uma con-

    servao da-quilo que ainda

    est em usono cotidiano,sujeito s va-

    riaes e trocasque se do emcontato com o

    humano e com

    o meio. o tipode conservao

    que se atribuis lnguas

    faladas, que sopreservadaspor aqueles

    que fazem usodelas e esto

    em constantemutao.

    dado grupo de identificar-seou de reconhecer sua me-mria, face a um assombro

    que brota do confronto como presente (BELLAIGE,1994). somente atravsdesta essncia liminar dosmuseus, que se coloca emprtica a musealizao, quetem como fins ltimos aconservao3e a transmissodo patrimnio dos grupos,daquela parcela do invisvelque se deseja tornar visvel.

    2. l Op Afonj: aconstruo do ax

    fato sabido que osmonumentos mais valiosos,o maior dos patrimnios dacultura negra na Bahia soas pessoas antes das coisas.Ao se tombar um terreiro decandombl, o que se dese-ja preservar em primeiro

    lugar o grupo social quenele vive, se transforma e semanifesta culturalmente pelareligio. As iys, as mes,figuras emblemticas dentrode grande parte destascomu-nidades, so responsveis pelapreservao da memria daslinhagens religiosas descen-dentes de naes africanas(CAMPOS, 2003, p. 7).

    Estas mulheres assegurama ligao das comunidadescom seus ancestrais mticos.Elas educam e conduzem,recriando constantementeos costumes africanos nadispora. A liderana religio-sa liderana comunitria.A me (y), no caso dosgrupos matriarcais, recebe,juntamente com o ttulo de

    ialorix, um cargo herdadodiretamente da velha tradi-o iorub.

    O l Ax Op Afonj,terreiro da nao Queto, foifundado em 1910 por MeAninha (Ob Biyi), em So

    Gonalo do Retiro, no bairrodo Cabula, periferia de Sal-vador osis da cultura con-

    siderada tradicional em meioa uma periferia conturbada.Ao chegar pela primeira vez l ou casa Op Afonjfui recebido por um grupode pessoas que, sem deixarinterromper as atividades docotidiano, no demonstra-ram qualquer desconfortocom a situao particular deserem observados por um

    Outro. Logo que demonstreiminha curiosidade pelo locale pelo trabalho ali desenvol-vido, toda a experincia setornou ainda mais acolhedo-ra. Rapidamente era desper-tada em parte dos moradoreslocais o desejo de mostrar amim sua casa, o ax, que naterminologia local significavaverdadeiramente a integrali-

    dade entre o territrio local,a religio e as relaes queda advinham, incluindoaquelas com a natureza quepermeia o espao. Este, porsua vez, no pode ser defini-do exclusivamente como umespao religioso: um espaoverdadeiramente habitado,onde vive um grupo de maisde 300 pessoas e 20 fam-

    lias. O terreno, tombado em1999 pelo IPHAN, a partirdo esforo e insistncia deMe Stella, abriga a popula-o ativa no candombl doOp Afonj. Orgulhosos porserem patrimnio pblico, osintegrantes da comunidadeafirmam que se no fossepelo ato do tombamentoaquele territrio j no

    existiria em meio aos arre-dores ocupados atualmentepelo processo intermitentede favelizao. O desejo damusealizao contnua dasrelaes no cenrio tombadose v refletido na nfase dada

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    nos discursos comunicao da identidadedo candombl como mecanismo que permiti-ria retirar da marginalidade um coletivo mal

    interpretado pelo senso comum.A escola municipal Eugnia Anna dosSantos que recebera o nome da fundadorado Op Afonj localizada dentro do terrenotombado, recebe as crianas da comunidade,assim como recebe alunos do bairro do Cabu-la e arredores. O trabalho desenvolvido estdiretamente voltado para a religio comofonte de reconhecimento e auto-estima. Ascanes e as histrias de cada orix so ensi-nadas, assim como as crianas tambm tm

    o contato com a natureza atravs do jardimao lado, a horta, onde elas mesmas cultivamas plantas a serem usadas nos rituais. Nesteambiente, cada um cresce interagindo com areligio, com a cultura local, e desde muitocedo j h o sentimento de fazer parte dogrupo. Diferentemente de alguns terreiros decandombl, no Op Afonj, o orix reve-lado no incio da infncia, na construo deuma identidade individual dentro da cole-tividade mas a partir das categorias cons-

    trudas na memria do coletivo. O terreiro,portanto, se espalha para alm dos limites dotombamento, atravs das pessoas que car-regam consigo, na valorizao de si mesmas,o que ali preservado como bem imaterial demaior valor.

    2.1 A experincia museolgica:o espao do terreiro e o lugar damusealizao

    A relao com o passado no Op Afonj

    est marcada, de forma aparente, na cons-tituio do espao fsico e social do terreirode candombl que abriga a comunidade eonde o sentido de comunidade praticado.A alguns passos da escola, a grande cruzfincada ao solo lembra a todos os passanteso culto aos ancestrais. Passado, presente efuturo, ento, se encontram no mesmo cho.Naquele lugar, fora das paredes do pequenomuseu tradicional que guarda alguns objetosrepresentativos da histria do terreiro, que se

    d a experincia museolgica. A concepoemprica de um museu comunitrio, comtodos os seus atributos, est ali presente, semque, entretanto, qualquer tipo de terminolo-gia museolgica seja atribuda ao conjunto.O processo de musealizao no sentido queaqui se prope se manifesta em todas as ins-

    tncias do terreiro. A maiorparte das atividades locaisgira em torno das prticas

    religiosas e da perpetuaoda tradio. Toda a organi-zao comunitria se d deacordo com a preservao damemria.

    Com efeito, ao se pensaro espao a partir de umaabordagem no-geomtricae no exclusivamente fsica,podemos entender a propos-ta de Michel Maffesoli, de

    que o espao s tem senti-do se pode ser vivido comoutros, de perto (MAFFE-SOLI, 1996, p. 262). Parao autor, o espao tempocristalizado, ele estipuladopelas relaes sociais emuma esfera que une naturezae cultura, universo tang-vel e intangvel como possvel perceber no Op

    Afonj e em outros espaosmusealizados por gruposde pessoas, nas prticas deseus cotidianos coletivos.Desta forma, o que define osucesso de museus comuni-trios e a plena vivncia doespao, so as pessoas que ohabitam. Assim, o espao sedifere do lugar, no sentido deo primeiro poder ser pensado

    como um cruzamento demveis, como na concepode Michel de Certeau, que animado pelo conjuntode movimentos que nele sedesdobram, produzidos pelasoperaes que o orientam,circunstanciam e tempora-lizam (CERTEAU, 1994, p.2002). O espao um lugarpraticado, e sob esta tica,

    o mundo s existe porque opartilhamos com outros; poiseste um mundo emocio-nal, mundo afetivo. Esta a lgica que se deve utilizarpara compreender o terreiro.Instncia relacional, o terrei-

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    ro no o territrio onde se pratica o can-dombl, um espao simblico fundado naprtica religiosa; ele se d pelas relaes que

    nele sucedem, e ele palco e altarpara asrepresentaes que o grupo faz de si mesmo.Estas relaes e representaes que se preten-dem transmitir pelo ato mesmo da musea-lizao, so guardadas no discurso e fixadasnas pessoas, fazendo circular no espao o quea comunidade chama de ax.

    2.2 A transmisso do patrimnio eo sentido de museu

    Esta fora, este ax em sua profunda

    intangibilidade pode ser percebido como oprincipal conceito para se comear a com-preender a complexidade da crena mante-nedora da religio de descendncia africananeste contexto. O ax revela a presena daf religiosa em quase todos os aspectos davida cotidiana dos moradores do Op Afonj,podendo ser estudado como um fato socialtotal4, no sentido de integrar a vida banal ou

    profanae a vida sagradaem um s fluxo deforas que abarca, notadamente, o patrim-

    nio afetivo e religioso, tangvel e intangvel. interessante pensar que as ys, her-deiras e portadoras do axno terreiro, sereferem a ele como uma fora material, assimcomo espiritual. Antes mesmo de ter de zelarpela guarda dos templos, altares, ornamentose de todos os objetos sagrados, as mes desanto tm a responsabilidade de preservaro ax, ou todo o resto perde o seu sentido.Para as ialorixs, a relao com o divino faztranscender a vivncia comunitria, cons-

    tri o carisma e estabelece o ax. Quando serelacionam com sua comunidade, as ys jrevelam seu olhar encantado; elas vem ascoisas daqui com os olhos de l (CAMPOS,2003, p. 23). A dinmica do grupo funcionacomo se toda estrutura comunitria fosseperiodicamente substituda por uma novaordem enviada pelo orum vinda do cu acada ascenso de uma ialorix. O centro emtorno do qual existe e se transforma toda acomunidade o tero da me, o ninho de

    onde provm toda a fora, o centro maisntimo da casa a partir do qual a tradio semantm, corpo por onde o poder circula ese propaga. , ento, por meio de um podersustentado na individualidade que se estrutu-ra a comunidade.

    no ritual do candombl que toda indi-

    vidualidade reafirmada,e se constri a autoestimacoletiva, assim como as

    identidades individuais. Noentanto, esta relao espec-fica com o eu se d atra-vs da ancestralidade quedelineia o pertencimento,o merecimento e a partici-pao mas que se resolveem outro plano que no oterrestre. No no ai,masno orum, que as relaes e osdestinos se esclarecem (Id.,

    p. 19). Assim, a crena nosagrado perpassa um conhe-cimento, mas tambm umdesconhecimento. Ao mesmotempo em que os indivduosreverenciam a sua origem,voltando-se para os ances-trais e fazendo deles umafonte de autenticidade e desacralidade, eles buscam res-postas e acreditam que estas

    viro por meio do contatocom o divino. Neste sentido,o objeto sagrado tangvelou intangvel transmitidopelos deuses e retransmitidopelos ancestrais, patrim-nio do Op Afonj, guardadopor um universo ritualizadoe pelos segredos5da religio.

    O candombl uma reli-gio de chamado (peji), e a

    adorao do orix feita nopeji que tambm designaaltar, mas que no sentidoiorub se refere ao lugar emque se renem os que sochamados, espao de encon-tro dos diversos iniciados,onde o sagrado se manifes-ta. O corpo o grandepejiatravs do qual o orix adorado na incorporao

    absoluta, o transe, situaoem que desaparece o adora-dor, permanecendo apenaso adorado (Ibid.). O altardesaparece, resta apenas oorix. Perde-se o corpo eganha-se aquilo que o indivi-

    5 Em diversosmomentos, nodiscurso das li-deranas locaisfoi explicitada a

    dificuldade dese disseminaro candombl no sentido

    de torn-loconhecido e

    logo desmargi-

    naliz-lo semque, entretanto,

    se desvele ossegredos da

    religio.

    artigos

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    dualiza, o orix, que est nono-tempo e no no-espao,mas naquele momento faz

    parte da comunidade, lhed sentido. O patrimnio detodos e de cada um passa aser a prpria pessoa investi-da de sentido no ritual. Osritmos que brotam das figu-ras danantes so ritmos dealguma coisa dentro de cadaum, sangue pulsando, dedosse abrindo, flegos tomados,tudo o que pode ocorrer no

    corpo, tudo a que o espritose entrega (RIBEIRO, 2007,p. 107). O orgulho que se vespelhado em todo gesto,toda martelada de p, todoolhar levantado, todo ombroerguido, todo passo frente,todo agitar de braos e mos,tudo com que se pode exibiraltivez (Ibid.), a se produza musealidade, a est o

    patrimnio vivo.

    3. Magia e musealida-de

    A partir de uma investi-gao da prpria natureza damusealizao, pode-se per-ceber que a elevao de umobjeto da cultura categoriade patrimnio se d comouma espcie de atribuio

    mgica a um objeto determi-nado, ou a um espao a quese atribui valor, fragmentodo mundo que, imediata-mente, ganha o sentido deexcepcionalidade sobre atotalidade ele representa-ae contm todo o resto em si,ou ainda, como no caso doterreiro, representa algo quese v para alm do mundo da

    matria.Como explicitou Ivo

    Maroevi, a musealidadeabrange a maior parte dasqualidades no-materiais doobjeto ou dos conjuntos depatrimnio; ela a caracte-

    rstica de um objeto mate-rial que, inserido em umarealidade,documenta outra

    realidade(MAROEVI,1997). Termo pensado namuseologia por ZbyneckStransky, como qualidadedas coisas musealizadas(apud. BARY; TOMBELEM,1998, p. 229), diz respeito aum estado inicial da muse-alizao, de separao oususpenso (que exigiria, deum certo modo, a extrao

    simblica ou real do con-texto de origem6). Musea-lidade , portanto, o valorno material ou o significadode um objeto que nos d omotivo de sua musealizao(MAROEVI, 1997). Trata--se de uma ressignificaonecessariamente. Museali-zao, segundo Maroevi, o processo que permite aos

    objetos viverem dentro deum contexto museolgico.Pode-se dizer que ela o atode produzir objetos inaliena-dos e inalienveis, que tm afuno de representar o irre-presentvel (GODELIER,2007, p. 85). A museali-zao, assim, nasce com amusealidade, que pode serentendida, sociologicamente,

    como um tipo de consensonos grupos humanos, quelhes confere sentido e lhespermite existir na esfera dosimblico. Logo, a museali-zao opera analogamente aum ato mgico no conceitoantropolgico elaborado porMarcel Mauss.

    Entendendo a magiacomo forma primeira do

    pensamento humano, Maussafirma que, como fenme-no que compreende agen-tes, atos e representaes(MAUSS, 2005, p. 55), amagia como um todo e osritos mgicos em geral so fa-

    6 Stranskyenfatiza que

    preciso queo contexto deonde o objeto

    foi retirado sejadocumentado

    j que h aseparao deelementos

    para que possahaver a resti-

    tuio. Sem adocumentaoacompanhan-

    do-a, a coisaselecionadano pode setornar uma

    musealia (ob-jeto de museu).

    (STRANSKY,1995 apud

    BARY, TOBE-LEM, 1998). E

    nesta perspecti-va musealidadee musealizaoesto ligadas ao

    registro comoforma legal de

    conferir valor aum bem (ou de

    traduo do

    artigos

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    tos da tradio. Ou seja, atosque no se repetem, no somgicos. E, da mesma forma,

    atos cuja eficcia todo umgrupo no cr, tambm noo so. O autor ainda apontaque, sendo a simpatia carac-terstica necessria e sufi-ciente da magia7, os ritosmgicos so simpticos e osritos simpticos so mgi-cos. Sendo assim, de acordocom Mauss, na simpatia, aparte est para o todo assim

    como a imagem para a coisarepresentada (Ibid.) em umprocesso que muito se asse-melha aquele que chama-sehoje de musealizao.

    O mistrio tambm estpresente na magia. Como ca-racterstica fundamental dascerimnias mgicas mencio-nada por Mauss, estas nocostumam ocorrer no templo

    ou no altar domstico, masgeralmente nos bosques, lon-ge das habitaes, na noiteou na sombra (Id., p. 60).Mesmo lcito, o ato mgicose esconde: mesmo quan-do obrigado a agir diantedo pblico, o mgico buscaevadir-se; seu gesto se fazfurtivo, sua fala indistinta(Ibid.). E assim, o isolamen-

    to aqui, como o segredo, um sinal quase perfeitoda natureza ntima do ritomgico; o ato e o ator socercados de mistrio. Essemistrio, constitutivo do atomgico, onde quer que eleocorra, pode ser explicadocomo um desconhecimentocomum entre o mgico eseu cliente, e no a mesma

    coisa que a simples cumpli-cidade no secreto (FAVRET--SAADA, 2007, p. 46). Todotipo de magia se sustenta poraquilo que no se permitesaber. Por isso no h razopara que o membro de um

    valor simblicoj existenteem estatutopatrimonial

    reconhecidopor lei).

    7 A simpatiasendo aquilo

    que prev quesemelhantes

    produzemsemelhantes, da

    mesma formaque coisas que

    j estiveram emcontato con-tinuam a agir

    umas sobre asoutras (MAUSS,2005, p.50).

    grupo definido pela religio ou pela ma-gia da musealizao esteja interessadopelo projeto de desvelar aquilo que s pode

    subsistir velado, em nome do qual ele deveriarenunciar aos benefcios simblicos de dispo-sitivos to preciosos (Ibid.). As sombras, as-sim, fazem parte do objeto mgico que umobjeto liminar. Desta forma, o acesso ao atomgico como testemunha, como ator, oucomo mero observador confere certo valorsimblico ao indivduo no grupo, j que estetambm passa a fazer parte dos dois mundos.No Op Afonj, as crianas, a partir do mo-mento em que lhes permitido participar de

    festas que antes lhes eram secretas, adquiremum novo estatuto na comunidade do terreiroe at mesmo entre seus familiares.

    Assim, do mesmo modo pelo qual o mgi-co atua, a experincia museal atribui valor nadialtica do mistrio e da revelao. E nestesentido que objetos so elevados, isolados,valorizados, revestidos de magia, e se tornampatrimnio categoria mgica que os per-mite transcender a realidade e os remetem aum real remoto, imaginado e idealizado, que

    legitima o seu grande poder.Esta concepo da magia descende daformulao de Tylor (TYLOR, 1913) sobre oanimismo, que entende a necessidade men-tal humana de atribuir almas s coisas domundo como se fossem semelhantes aos pr-prios homens. A alma, segundo Tylor, comocausa da vida e do pensamento, capacidadede penetrar em outros corpos, de humanos,animais e objetos, a base da diferenciaoentre material e imaterial, de forma que o

    que h hoje, na religio e tambm nas cin-cias, no deixa de ser um carter animista,que passa por uma afirmao de ideias, quetendem a ser reificadas e objetificadas de ma-neira que o que nasce como ideia, ou concei-to, perde gradativamente o estatuto de ideiae se torna coisa. No seria este semelhanteao processo que forma os patrimnios e qued sentido aos objetos dos museus?

    Mas para a magia funcionar, no sentidode fazer patrimnios, os quadros da mem-

    ria so ligados e religados aos contextos dopresente. O objeto, por exemplo, retirado deseu contexto histrico precisa ser ressignifica-do para que seja musealizado, j que o senti-do da musealizao sempre construdo nopresente, a partir dos mltiplos olhares quedirecionamos ao passado ou a outros mundos

    artigos

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    ocultos. Ao longo desse processo a museali-dade encaminhar a descoberta de estmulospara a associao e a conotao. Promover

    uma compreenso integral dos valores do pa-trimnio, produzindo uma substncia quepode ser comunicada s pessoas de diferen-tes geraes. Tradicionalmente apoiada nascoisas materiais, a musealizao est voltadaa uma ao de produo coletiva de sentidos.Assim ela assume um papel proeminente naconstituio de uma memria patrimonial.Mais do que produzir patrimnios, ela osinsere em narrativas especficas, cria contex-tos e formula falas. O objeto mgico, atravs

    do museu, pe em prtica a sua magia. O queo torna convincente o prprio resultadode sua ao sobre aqueles que se permitemengajar na performance do mgico.

    4. Vida, morte e musealizaoCom seu sopro, Oi atia com furor as

    chamas da forja de Ogum que precisava dearmas para a guerra, e o sopro distante deOi reavivava a forja fria. Segundo a mito-logia dos orixs, Oi que mais tarde seria

    chamada de Ians, ao se tornar me de novefilhos , com um sopro que atravessava todaa terra e arrastava consigo p, folhas e tudo omais pelo caminho (PRANDI, 2001, p. 304),criou o vento, e quando este ficava to forteque a tudo destrua, criou tambm a tempes-tade. Na tentativa de manter a chama acesa,Oi destrua o caminho por onde seu sopropassava. Talvez o seu dilema tenha contri-budo para que fosse nomeada rainha dosespritos dos mortos, condutora dos eguns

    para o outro mundo, responsvel por gerar aponte entre Terra e cu.O vento furioso, smbolo de uma cle-

    ra pura (BACHELARD, 2001, p. 231), daclera sem objeto e sem pretexto, a tudo tocacom seu poder de destruio. Mas, na gann-cia de destruir sem razo, o vento d ao sera fora da criao. V-se aqui nesta alegoria,que o destruir caminho para criar. Vida emorte do forma ao ato da musealizao que um ato sempre inacabado. Descobrimos,

    enfim, que a espontaneidade da criao noexistiria sem o sopro destrutivo de Oi.

    Para Merleau-Ponty, a vida nada mais do que a morte anulada, j que se acreditaser obrigado a explicar por um princpioestranho tudo o que nela ultrapassa a simplessoma de suas condies necessrias (MER-

    LEAU-PONTY, 2003, p. 87).No candombl, vida e mortefazem parte de um ciclo que

    sempre se repete a crian-a que nasce o velho queretorna (PRANDI, 2005, p.53). Vida e morte se alter-nam e se complementam.Este o ciclo que liga ai aqui como instncia ondese d o contato dos vivos e anatureza , e o orum mun-do sobrenatural onde estoos orixs, outras divindades

    e os espritos ancestrais. Noh julgamento aps a morte,e os espritos retornam vida no ai,to logo poss-vel. O melhor dos mundos aquele em que se vive, o ai,pois nesta mitologia o bom viver. Assim, o emi, soprovital, o que permite quea vida se manifeste. Repre-sentado pela respirao,

    ele deixa a materialidadedo corpo no momento damorte. Detentor deste soprovital, de uma espcie de emiprprio, o Museu despertaa vida nas coisas e no ocontrrio.

    A preservao do patri-mnio tem origem, ondequer que tenha sido postaem prtica desta forma pela

    primeira vez, da vontadehumana de marcar a suapermanncia. caractersti-co de qualquer grupo huma-no querer se fazer presente,mesmo antes de ter a suafinitude evidenciada. Estatendncia se justifica naideia defendida por Scheinerda incessante busca huma-na da permanncia, que faz

    com que o ser humano tenteiludir a finitude j que esta a forma que encontra parase fazer presente mesmoaps a morte. nesta relaocom a temporalidade quese fundamenta a noo de

    artigos

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    Apenas a morte nos

    devolve essncia douniverso: deixamos deser entes para integrar--nos ao mundo. esta anossa angstia primor-dial, da qual procuramosescapar pela imerso nacotidianidade: saber quenosso Ser morrer sozi-nho, pois a morte nopode ser partilhada, nem

    evitada. E para escapara essa angstia que con-tinuamente elaboramosrepresentaes da per-manncia. (SCHEINER,2004, p. 33)

    Aqui a ideia destrutivado fim liga-se preservao.Trabalhando o conceito depatrimnio ligado noo

    da morte ou da sua nega-o atravs da preservaocristalizadora Scheinerlembra que, neste caso, elapode ser interpretada tam-bm como transformao,e no apenas como fim. Aesfera patrimonial consti-tuda por uma forte tendn-cia de se enganar a morte,como se fosse possvel fazer

    parar o tempo, ou impedir amatria de movimentar-se noespao (Id. p. 78). A autoraconstata que o registro ouinscrio de alguma coisacomo bem patrimonial, oato de tombamento, poderiacorresponder a um ritual demorte inicitica (Id. p. 84)por meio do qual a referncias existe de fato na instncia

    patrimonial. como se obem deixasse de existir nomundo real, perdendo suavida til, e deixasse de estarem constante interao coma sociedade a que pertence,abandonando a realidade

    para fazer parte de um mundo sagrado einalcanvel pelos mortais. Lembro aqui quea morte pode significar a passagem para uma

    suposta eternidade, na qual tudo se mantmcomo referencial. O que seria morte, ento,para as coisas que temos como patrimnio,, na verdade, uma passagem da existnciaprofana, para uma outra vida na esfera dosagrado.

    Podemos ainda falar de uma museali-zao da vida que no teme a perda, masa enfrenta bravamente. Para Cury (CURY,1999), o Museu-poeta aquele que possuium olhar museolgico capaz de perce-

    ber o valor dos objetos ao selecion-los eao preserv-los. O olhar museolgico ocritrio potico do museu para reconhecera poesia espalhada nas coisas. O museu nocoleta coisas, ele coleta a poesia que est ne-las. Sendo assim, este olhar museolgicoque v alm das prprias coisas, que define amusealizao. Para Cury, a proximidade entreos sentidos expostos faz com que o uso maiscomum do termo musealizao correspon-da ao processo global que parte da aquisio,

    chegando comunicao: o processo demusealizao englobaria, e ao mesmo tempose concluiria, na comunicao museolgica.No caso dos museus de territrio e, espe-cialmente, dos ecomuseus8, ela se d a cadadia, de forma contnua, desenvolvendo-sejuntamente com a comunidade e o territrio.Entretanto, as novas ideias da museologia,relativas ao patrimnio e musealizao dequalquer objeto representativo da relaodo humano com o real, estimulam a crena

    de que tudo pode ser musealizado. O museupode ser visto como o lugar consagrado detodos os grandes valores culturais, como jafirmava Jeudy.

    Mas ento, o que o museu, quandodesejamos preservar elementos de nossacultura que antes no eram pensados comomusealizveis? O que acontece quandodesejamos musealizar territrios, valoresculturais locais e comunidades? Entre a re-constituio autntica e a produo de um

    artifcio absoluto, as escolhas estratgicas seopem, e a arqueonostalgia como diriaJeudy (JEUDY, 1990, p. 176) chamada ase sobrepor aos mltiplos jogos de memriado futuro9. Stransky, no mbito desta crticacontempornea musealizao, lembra que otermo museificar passa a ser usado para dar

    8 Instituiomuseal que

    associa apreservao

    do patrimniocultural e do

    patrimnionatural no

    contexto socialde uma comu-

    nidade, tendocomo principal

    bem preserva-do no cotidianoa memria das

    pessoas. En-tendido como

    laboratrio,conservatrioe escola por

    Georges-HenriRivire, um

    dos tericosdo termo na

    dcada de 1980,o ecomuseu

    tambm podeser pensado

    como espelhoou representa-o em que a

    comunidade sev e constri

    a sua auto-

    artigos

    patrimnio:

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    sentido pejorativo ao ato emsi (STRANSKY, apud BARY& TOMBELEM, 1998)10.

    Perceber os museus e ospatrimnios como fazendoparte de um s movimentode mudana, em estado ina-cabado, significa pens-losinseridos em uma realidadeconstituda de constantesperdas que levam criao.O desapego pela perma-nncia chega aos museusjunto com o sopro de Oi.

    Destri-se completamente ocaminho at o destino, masa chama acesa na forja deOgum no se deixa apagar.O candombl, religio queevoca um universo encanta-do que transcende a materia-lidade do real e toca profun-damente os sentidos dos seusfiis, lana ao mundo umolhar prprio, que muito se

    assemelha em intensidadee em poder, quele lanadopelo museu sobre as coisasque caracterizam a relaodo humano com o meio. Aoevocar o invisvel, o candom-bl remete origem indivi-dual das pessoas e produzuma experincia mgica quedefine o papel de cada umna comunidade religiosa. A

    preservao desta experin-cia, e dos ritos e mitos que aconstituem, faz do terreiroum espao de memria, umpatrimnio e um museu.

    -estima a partirdo reconhe-

    cimento de sino patrimnio

    local. Paramuitos autores,

    o ecomuseurefora e amplia

    as diversasformas de ativi-dade museol-gica relativiza

    significativa-mente o que seentendia antespor musealiza-o, dando-lhe

    um sentido

    prolongado acrescentando--lhes grande

    abertura. (SOA-RES, 2008).

    9 O termoarqueonostal-

    gia se refere aonostlgico olhar

    que se voltaexclusivamentepara o passado

    longnquo.

    10No tica detal crtica, v.

    BAUDRILLARD,1991.

    5. Museu: morada dosdeuses

    O cu a morada dosdeuses; , segundo Eliade(ELIADE, 1996, p. 101),

    onde chegam alguns privi-legiados, mediante ritos deascenso. Para l se elevamas almas dos mortos, e omuito alto , portanto,uma dimenso inacessvel aohumano como tal, perten-

    artigos

    cendo aos seres sobre-humanos. Aquele quese eleva deixa de ser humano e passa a fazerparte da condio divina. O subir ao altar

    o abandono da condio humana para sealcanar o cu.Exu o orix sempre presente no mo-

    mento em que cu e Terra se encontram. Oculto dos demais orixs depende dele, que o mensageiro (PRANDI, 2001, p. 20). Sema presena de Exu, orixs e humanos no po-dem se comunicar. Sem sua participao noexiste movimento, no existe mudana ouqualquer tipo de troca entre os dois mundos. a sua voz e a sua fala que permitem este

    encontro. E, a partir do momento em que asportas se vem todas abertas, tanto no orumcomo no ai, inicia-se a dana mgica que ca-racteriza o momento em que o terreiro se fazaltar e se aproxima do cu. neste momentoque se d a verdadeira ligao religare com o divino. O que antes era o muito altoagora toca a Terra de forma avassaladora,percorre o interior dos seres, manifesta o sa-grado intangvel na matria do corpo huma-no. Neste instante, tudo o que importa est

    ali manifestado, tudo que se pode perceberpela experincia do divino na individualidadedo prprio corpo. O Museu tambm assim semanifesta. O que o constitui a prpria forade sua presena. Como o orix que desce aTerra, o Museu se manifesta na presena, e oque vale a sua forma no agora.

    Tudo nos eleva, tudo nos levanta, mesmoquando descemos (...) Essa mocidade da

    leveza no ser a marca dessa fora con-fiante que nos vai fazer deixar a terra, quenos faz acreditar que vamos subir natu-ralmente aos cus, com o vento, com umsopro, levados diretamente pela impressode felicidade inefvel? (Id., p. 33)

    Com efeito, a musealizao o meio peloqual o Museu se manifesta no instante dopresente. Ela d sentido s coisas do mundo,

    aquelas que queremos ter mais perto, guarda-das, para que no corram a risco da distn-cia, mas que, ao mesmo tempo, so aproxi-madas do cu, onde a finitude da matriaterrestre no pode chegar. E nessa dicotomiaentre o prximo e o que est muito dis-tante, entre vida e morte, cu e Terra, to

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    artigos

    caracterstica da preservao do patrimnio pois este conjuga em si matriae no-matria, presena e ausncia museus e patrimnios se recriam, pois acada momento recriado o seu objeto, a sua essncia, o indivduo humano,

    que se renova tambm neste eterno tocar de cu e Terra.

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    75Revista Musear

    Junho 2012

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