BIOMIDIOLOGIA:

efeitos bioquímicos da exposição a filmes cinematográficos violentos

(registro histórico das Teses de Kenji Toma).1

Flávio Mário de Alcântara Calazans2

Livre-Docente pela UNESP

Doutor pela USP

www.calazans.ppg.br

Biomidiologia: efeitos bioquímicos da exposição a filmes cinematográficos violentos: as

Teses de Kenji Toma.

Resumo:

Documentação histórica comentada de uma das pesquisas precursoras da Biomidiologia; as

teses de Toma estabeleceram a relação entre o hormônio testosterona e impulsos

psicológicos agressivos como resultante de exposição a filme cinematográfico violento.

Toma desenvolveu nova metodologia (após experimento piloto) comparando testes

laboratoriais (exame de sangue) com teste psicológico projetivo (Hand Test) anteriores e

posteriores à exposição ao filme violento, empregando Grupo de Controle, voluntários

(cobaia humana) em amostragem não-probabilística por conveniência.

1 trabalhoenviado para Temas Livres do Intercom 2004.

2 Flávio Mário de Alcântara Calazans , Doutor e Mestre pela USP, Livre-Docente pela Unesp, Professor da Unesp e da Pós-Graduação da faculdade Cásper Líbero, autor do livro propaganda subliminar multimídia, summus editorial, sexta edição e criador da disciplina científica Biomidiologia, www.calazans.ppg.br

Palavras-chave: Biomidiologia, Bioquímica, Cinema, Violência.

Biomediology: the biochemical effects of the exhibition to cinematographic violent movie:

the Theories of Kenji Toma.

Abstract:

A historical documentation commented of one of the precursory researches of

Biomediology; the theories of Toma established the relationship between the hormone

testosterone and psychological aggressive pulses as resulting from exhibition to

cinematographic violent movies.

Toma developed a new methodology (after pilot experiment) comparing laboratorial tests

(blood test) with a psychological projective test (Hand Test) previous and subsequent to the

exhibition to the violent movie, using Group of Control, volunteers (human “guinea pig”)

in sampling no-probabilistic for convenience.

Key words: Biomediology, Biochemistry, Movies, Violence.

1. Introdução.

No momento histórico da construção de um novo paradigma a preocupação

predominante é concernente ao desenvolvimento e testabilidade do modelo a ser falseado

(Popper), o que por vezes poderia levar a certo descaso sobre historiografar os

antecedentes, pesquisas precursoras que levaram a propor-se a base da nova teoria,

pesquisas estas as quais costumam ser esquecidas e posteriormente serão objeto de

exaustivas pesquisas de história para reconstruir cada passo do crescimento do paradigma.

Considerando o paradigma BIOMIDIOLOGIA, iniciado nos primeiros anos do

Século XXI, torna-se necessário documentar as pesquisas que precederam o modelo, ao

passo que, simultaneamente, desenvolvem-se novas hipóteses e metodologias.

Tal procedimento documental facilitará futuros historiadores, mantendo a

memória das pesquisas da Biomidiologia enquanto novo paradigma das Ciências da

Comunicação.

Isto posto, com o objetivo documental de registro histórico e de manter a

memória do paradigma, justifica-se registrar a pesquisa experimental de Kenji Toma, seus

procedimentos metodológicos e sua bibliografia básica, a metodologia é a leitura crítica e

comentada da dissertação de TOMA e de suas publicações posteriores.

2. Biomidiologia: efeitos bioquímicos da exposição a filmes cinematográficos violentos: as

Teses de Kenji Toma.

Basicamente, as teses de Kenji Toma apontam duas correntes teóricas sobre a

influência da mídia:

1) a primeira considera que a mídia ocasiona comportamento imitativo, sendo ator de

difusão e aprendizagem social de violência repetindo o mostrado na mídia (Bandura e

Schooler apud Toma) ;

2) a segunda corrente denomina a mídia como catarse aristotélica, válvula de escape

onde o espectador projetaria sua agressividade diminuindo-a (Luyten apud Toma).

Em sua dissertação de mestrado, página 2, Toma explica que “Calazans (1992)

traz uma abordagem interdisciplinar no estudo da comunicação, mais especificamente a

propaganda subliminar, tendo entre suas bases teóricas os aspectos psicofisiológicos sobre

recepção de mensagens no cérebro”.

Desde os anos 70 do Século XX o canadense McLuhan descreve as

possibilidades de efeitos biomidiológicos, teses macluhanianas foram retomadas na

releitura nos anos 90 pelo francês Debray, sendo minha pesquisa de Biomidiologia o

resultado de tais hipóteses antecedentes, e o trabalho de TOMA é imprescindível como

documento e registro como precedente, precursor histórico do paradigma Biomidiologia em

construção .

Os estudos a respeito dos problemas causados pela mídia se referem à mensagem como

uma informação no plano das idéias.

Contudo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta a definição de saúde como o

bem estar bio-psico-social.

Deste modo, a interação entre mente e corpo levanta a questão sobre até onde vai a reação

psicológica no corpo físico, quando este está sob efeito da mídia, e quais as possíveis

conseqüências físicas, mentais e sociais a influência das mídias TV e cinema podem trazer.

Lógico que não se poderia ser reducionista ou supersimplificador e atribuir os problemas

sociais ao redor do mundo somente à televisão e ao cinema, visto que ambos são mera fonte

de entretenimento e não estão ao alcance de todos.

Porém, até pouco tempo, crimes tinham basicamente características econômicas, psico-

sociais ou raciais; contudo, uma série de fatos ligados a estas mídias levam-nos a questionar

qual a importância que elas têm, ou melhor, a influência que elas exercem nestes eventos,

podendo citar entre vários casos exemplares já registrados pela Criminologia: os

homicídios ocorridos nos Estados Unidos, baseados em roteiros de filmes como Matrix ou

Assassinos por Natureza, cometidos por adolescentes de boa renda familiar e de famílias

aparentemente bem estruturadas; o caso do maníaco do cinema do Morumbi que cometeu

um crime semelhante ao do vídeo game e que por estranha coincidência começou a

metralhar as pessoas no mesmo momento que atores disparavam armas no filme; além

destes, temos o crime contra o índio Pataxó queimado vivo em Brasília por adolescentes de

classe média alta, há também o caso do Rambo do Rio Grande do Norte etc.

Nos Estados Unidos, principalmente, muitos debates sobre a influência da mídia foram

feitos, tendo sido levado ao tribunal muitos crimes associando-se a mídia como motivadora

(Lande, R. 1993 apud TOMA).

“Subliminares nos filmes de Cinema e na Televisão Poderiam Ter Efeitos

Mensurados Bioquimicamente?

Partindo deste problema, Kenji Toma desenvolveu um trabalho de pesquisa

científica inovador, alta pesquisa, pesquisa de ponta em termos de Brasil, e suas inovações

abriram caminho firmando-se historicamente como precursoras do paradigma da

BIOMIDIOLOGIA.

No estudo exploratório de Toma (2000) foram pesquisados os efeitos fisiológicos dos

filmes violentos com subliminares e seus efeitos na agressividade e o ponto principal foi a

variação fisiológica ocorrida, mesurada por uma inovadora combinação de metodologias

heurísticamente cruzadas consistindo em sofisticadas baterias de testes laboratoriais

bioquímicos e testes psicológicos.

Toma realizou a pesquisa como parte de sua pós-graduação sob a orientação do Médico

Psiquiatra Doutor Paulo Correa Vaz de Araújo.

Consideradas as inúmeras possibilidades de análise que poderiam ser realizadas no corpo

humano. Entre reações galvânicas na pele, eletroencefálicas, variações da pressão arterial,

dos batimentos cardíacos e dos hormônios, muitas seriam as possibilidades. A escolha da

testosterona foi feita por TOMA após uma pesquisa sobre viabilidade prática e correlação

entre o processo biológico e o tema escolhido, no caso era a agressividade resultante de

estímulo midiático, conforme propõe a BIOMIDIOLOGIA.

Toma explica detalhadamente nas justificativas de suas pesquisas que a testosterona

é o hormônio masculino sintetizado pelas células intersticiais (Leydig) do testículo, a partir

do colesterol. Para que este processo ocorra, a hipófise libera ICHS (hormônio estimulante

das células de Leydig), estimulando assim, o testículo na produção de testosterona e esta

estimula o eixo hipotálamo-hipofisário a produzir mais ICSH (Harper, 1982; Brandão, 1991

apud Toma 2000).

A agressividade é encontrada como parte das características de desenvolvimento e

comportamento relacionadas à testosterona (Kandel 1985; Eichelman 1992; Dractu &

Kapezinski, 1996; Kavoussi, 1997; Orengo et al, 1998 apud Toma 2000).

Kandel (1985 apud Toma 2000) relaciona a testosterona com a agressividade,

relatando a experiência com ratos, onde fêmeas foram observadas após receberem

testosterona e demonstraram uma agressividade ofensiva típica dos machos. Além das

pesquisas com ratos, Kandel ainda descreve que macacos machos dominantes têm níveis de

testosterona mais altos que os submissos.

Há ainda os altos níveis de testosterona relacionados a criminosos violentos em

relação aos que cometeram delitos não-violentos, e o acompanhamento de crianças

agressivas com alto índice de testosterona salivar. Foram encontrados na população

carcerária que cometera crimes violentos, níveis maiores de testosterona do que em relação

a população carcerária presa por crimes não-violentos (Kavoussi, 1997 apud Toma 2000).

Kavoussi associa também o alto índice de testosterona salivar em crianças agressivas, ou

que apresentam problemas de delinqüência após alguns anos de acompanhamento.

Nelson (1993 apud Toma 2000) descreve um aumento de testosterona em estudantes

universitários após uma partida de tênis com um prêmio de duzentos dólares aos

vencedores, foi constatado um nível maior de testosterona nos vencedores em comparação

aos perdedores. Neste mesmo estudo o autor mostra que criminosos alcoólatras têm alta

concentração de testosterona no fluido cérebro-espinhal.

Orengo et alii (1998 apud Toma 2000) associaram um alto índice de agressividade

em idosos com demência ao nível também elevado de testosterona.

Toma (2000) em seu trabalho de Mestrado em Psicologia da Saúde sobre psicofisiologia

subliminar, sob a orientação do Médico Psiquiatra Doutor Paulo Correa Vaz de Araújo,

Toma objetivou mensurar a taxa de testosterona dos indivíduos para se obter respostas de

modificação fisiológica que possa ser associada aos índices de agressividade dos sujeitos da

pesquisa.

Toma explica que este hormônio está diretamente ligado à agressividade e agressão, sua

mensuração serviu de ponto de referência para variação fisiológica que pudesse alterar o

psicológico ou que pudesse ter sido alterada por ele. Neste estudo de caso foi mensurado

também o nível de agressividade dos indivíduos através de um teste psicológico (Hand

Test) e houve uma corroboração entre os testes psicológicos e os testes de testosterona, o

que torna plausíveis as hipóteses biomidiáticas e confere mais um ângulo de abordagem

científica à BIOMIDIOLOGIA: a pesquisa corroborada com testes laboratoriais

bioquímicos, do qual esta tese de Toma é o principal precedente.

Foi realizado criteriosamente um EXPERIMENTO PILOTO de teste do Hand-Test

(projetivo) como instrumento para pré e pós aplicabilidade em um mesmo experimento,

com dez voluntários de ambos os sexos com idades entre 18 e 21 anos; todos cientes de

participar como cobaia humana em experimento científico e assinaram autorização de

consentimento, com sigilo dos dados todos foram numerados estavam a psicóloga

responsável pelo teste não tendo acesso às identidades resguarda o experimento de

influências extra-teste; a amostragem do universo passa por três etapas: teste, exibição do

filme, segundo teste.

O filme escolhido foi ASSASSINOS POR NATUREZA (Natural Born Killers, de Oliver

Stone) por seu conteúdo violento e contexto urbano que facilita identificação com menor

distanciamento psico-social, um casal cometeu crimes dizendo-se inspirado no casal de

personagens do filme na época da estréia.

Não houve resposta repetida em nenhum dos sujeitos sonados, validando o teste para

continuidade.

Indivíduos reprimidos com medo da própria agressividade poderiam auto-inibir respostas,

contudo, mesmo tal tipo psicológico recalcado não poderia falsificar a reação bioquímica,

daí o teste cruzando ambos fatores, psico-bioquímicos, resultantes de exposição à mídia

(Biomidiologia).

No EXPERIMENTO FINAL nove voluntários do gênero masculino entre 18 e 22 anos,

amostragem não-probabilística por conveniência, todos cientes de participar como cobaia

humana em experimento científico e assinaram autorização de consentimento, com sigilo

dos dados todos foram numerados, submetidos antes e depois ao Hand Test e avaliados pela

psicóloga, técnicos habilitados do laboratório LAB HORMON efetuaram a coleta de

sangue antes e depois em cada indivíduo numerado, os sujeitos foram divididos

aleatoriamente em dois grupos de três elementos: (GA) -exposto ao filme violento e (GB) –

grupo de controle exposto a filme romântico.

Eticamente, todos foram avisados de que seriam expostos a produto cinematográfico da

indústria cultural com conteúdo de violência explícita (existente no mercado, não trazendo

risco diferente do qual já se encontram expostos na sociedade), tinham liberdade de desistir

a qualquer momento do experimento.

O filme teve de ser inédito para todos, pois no experimento piloto os que já tinham assistido

o filme não registraram reação no Hand Test, filme: “South Central, o bairro proibido” com

contexto urbano.

De acordo com os resultados apresentados neste trabalho, 100% dos indivíduos (cobaia

humana) registraram MODIFICAÇÕES de nível de testosterona e de predisposição à

agressividade.

As dosagens de testosterona tenderam a corroborar com os índices de agressividade no

Hand Test; os sujeitos que tiveram um aumento de agressividade reagiram fisiologicamente

de forma a aumentar também o nível de testosterona e vice-versa, mas não foi estabelecida

a mesma proporção como constante (utilizou-se um grupo de controle -GB, isto é, um

grupo não sujeito às mensagens subliminares violentas com o qual poder-se-ia comparar os

resultados, o que é básico quando se faz ciências sociais aplicadas à populações, quando se

faz um experimento usa-se dois grupos similares sujeitos às mesmíssimas condições exceto

à variável isolada que se quer estudar, no caso a relação entre agressividade psico-

bioquímica e exposição à estímulo violento midiático, antecedendo o que seria depois o

paradigma da Biomidiologia).

Kenji Toma ponderadamente propõe que futuras pesquisas empreguem estudos

estratificados com amostragens mais amplas, o que demandará amplas equipes treinadas e

qualificadas, mais extensivo cronograma, instalações de exibição maiores e melhor

equipadas e um orçamento com custos proporcionalmente elevados, incluindo exames

laboratoriais em toda a amostragem de cobaias humanas anteriores e posteriores a

exposição, repetindo o experimento científico aqui documentado.

3. Considerações Finais.

A pesquisa de Kenji Toma, levada a cabo com toda a ética e cuidados metodológicos ,

realizada dentro de curso de pós-graduação de reconhecida Universidade paulista,

apresenta-se como precedente teórico do paradigma da BIOMIDIOLOGIA.

Deste modo, o registro e resgate histórico desta pesquisa é imprescindível para documentar

as origens do paradigma em construção da Biomidiologia.

Futuras pesquisas poderão falsear as hipóteses de Kenji Toma ou referendar os resultados

repetindo o experimento e atendendo às recomendações do pioneiro Toma sobre

estratificação com amostragem mais ampla.

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anais e cdrom do congresso e na internet em http://www.utexas.edu/coc/rtf/brazil_us/brasilprogram.htm ___.“"Biomidiologia: Nova Teoria da Comunicação unindo "Communication" e "Environment" [Naturwissensaften (Bio) e Gemienenwissensaften (Midiologia)]."” paper aprovado pelo comitê científico internacional para ser apresentado no “World Congress on Engineering and Technology Education –WCETE” sob número 529 publicado nos programas , anais e cdrom do congresso http://www.copec.org.br/wcete2004, ___. Propaganda Subliminar Multimídia . 6a .edição. São Paulo, Summus, 1998. ( Coleção novas buscas em comunicação, v.42) ISBN 85-323-0411-7. ___. “Biomidiologia aplicada ao Pokemón” .In: Encontros culturais Portugal-Japão-Brasil, editora Manole, São Paulo, 2002, ISBN 85-204-1759-0, páginas 69 a 122). http://www.ekac.org/calazans.prico.html http://www.ekac.org/COMUNICACOES.CALAZANS.pdf. (*) Flávio Calazans é Doutor pela ECA USP e Livre -Docente pela UNESP, autor do livro em SEXTA edição "Propaganda Subliminar Multimídia" da Summus Editorial e do website http://www.calazans.ppg.br professor da Cásper Líbero e da UNESP-Campus do bairro Ipiranga-SP-SP (São Paulo-Capital) A BIOMIDIOLOGIA é um neologismo de propriedade intelectual de Flávio Mário de Alcântara Calazans ; BIOMIDIOLOGIA foi registrada na Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura aos 16 de janeiro de 2002, registro 249.607, livro 444, folha 267 como descoberta científica de Flávio Mário de Alcântara Calazans. Lançamento do livro: calazans . Ecologia e biomidiologia. São Paulo: Plêiade Editorial, 2002, ISBN 85-85795-59, (capa: off set, 4 cores, papel cartão suprema 250 g/m2, Plastificada, Miolo: 160 páginas, papel offset 75 g/m2, grampeado, colado e refilado), lançado no XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – intercom 2002 dia 3 de setembro, terça feira, no Hall G do piso 4 às 13 horas, publicado na página 40 do programa, livro na mesa número 52.