42 - Cinema 44 - Multimédia 46 - Estante 48 - 50 Anos do … · 2013-02-15 · estrela do...

32

Transcript of 42 - Cinema 44 - Multimédia 46 - Estante 48 - 50 Anos do … · 2013-02-15 · estrela do...

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio

CarmoRedação: José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe

Santos, Margarida Duarte, Rui Jorge Martins, SóniaNeves.

Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações

Sociais Diretor: Cónego João Aguiar Campos

Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 000010124457001 82.

Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D -1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax:

218855473. [email protected];www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial:Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08-19 -Renúncia de Bento XVI20-23: Entrevista:Cardeal Saraiva Martins24-35 - A eleição do novo Papa36 - Opinião: D. António Marcelino38 - A semana de: Sónia Neves40 - Espaço Ecclesia: Descobertas da Fé

42 - Cinema44 - Multimédia46 - Estante48 - 50 Anos do Vaticano II50 - Agenda52 - Liturgia54- Ecclesia nos Media55 - Por estes dias56 - Fundação AIS58 - Opinião: João Meneses

Foto da capa: LusaFoto da contra-capa: João Aguiar

2

A renúncia de BentoXVIDocumentos, opinião e análise ao pontificadoque termina a 28 de fevereiro [ver+]

A escolha do novoPapa Pessoas, lugares e palavras do próximoConclave[ver+]

Vaticano IIOpinião de D. António Marcelino,bispo emérito de Aveiro [ver+]

3

O Papa essencial

Octávio CarmoAgência ECCLESIA

Bento XVI surpreendeu meio mundo ao anunciara sua decisão de renunciar ao cargo, um gestoraro que o distancia das opções tomadas porvários dos seus predecessores. O anúncio foiacolhido sem grande contestação e muitoselogios por parte dos mais diretos colaboradoresdo Papa, numa questão particularmente sensívelna história da Igreja Católica ao longo dasúltimas décadas.O tempo é agora para balanços e muitoscomentários se irão publicar por estes dias, peloque neste momento fica o registo para o quemais me marcou neste pontificado: aessencialidade. Bento XVI convidou, sem cessar,ao encontro com Jesus Cristo, à centralidade dafé na vida de todos os dias, ao regresso àsorigens para enfrentar os desafios do mundo dehoje.O Papa alemão escolheu como um dos temascentrais do seu pontificado o combate aorelativismo e mostrou-se sempre muito atento àdescristianização do Velho Continente,necessitado de uma “nova evangelização”, comotinha vindo a defender, mas talvez não seja naprópria Europa que se encontre a forçanecessária para essa renovação. A sua batalhacontra o relativismo não é apenas uma questãoque diga respeito aos católicos, é uma questãode civilização, sobretudo para

4

nós europeus. Esse legado, venhaquem vier, não pode ser perdido.Após quase 500 anos de Papasitalianos, o polaco João Paulo II(eleito em 1978) e o alemão BentoXVI (escolhido em 2005)introduziram um elemento denovidade na escolha do bispo deRoma e é agora de admitir que seabram portas à eleição de um Papavindo de fora da Europa. A AméricaLatina alberga metade dos católicosde todo o mundo e a Igreja temvindo a crescer sustentadamente naÁfrica e na Ásia, ao contrário do queacontece na Europa.Pessoalmente, a minha convicção é,no entanto, que os cardeaisresponsáveis pela eleição do novoPapa – maioritariamente europeus –vão manter uma visão eurocêntricae confiar num homem mais próximodo centro de decisões do Governoeclesial, com a justificação quedesde aqui (leia-se Europa) se vê ese compreende melhor o mundo noseu todo.

5

Raio atinge a cúpula da Basílica deSão Pedro, Vaticano11.02.2013

© Lusa

6

“Com plena liberdade, declaro querenuncio ao ministério de Bispo deRoma, Sucessor de São Pedro, queme foi confiado pela mão dosCardeais em 19 de Abril de 2005.”Papa Bento XVI, Consistório,11/02/13, Vaticano

“O anúncio de resignação deBento XVI, é como um trovão emcéu sereno (…) Tal como asestrelas do céu continuarãoseguramente a brilhar, assimbrilhará sempre entre nós aestrela do pontificado de BentoXVI.” Cardeal Angelo Sodano, RádioVaticano, 11/02/13, Vaticano

"Durante o seu período comoPapa as relações entre a Igreja eo Rabinato chefe nunca foramtão boas e esperamos que sejauma tendência para continuar.Penso que Bento XVI merecemuito crédito pelo avanço dasligações inter-religiosas em todoo mundo entre o judaísmo, ocristianismo e o islamismo".Rabino-mor de Israel, Yona Metzger,em comunicado oficial, 11/02/13,Israel

“É uma decisão de grandelucidez, de grandegenerosidade e que fazhistória porquea partir deste momentoacaba aquele “tabu”que o Papa era intocável.”D. José Policarpo,Cardeal Patriarca de Lisboa,em conferência de imprensa,12/02/13, Lisboa

7

Bento XVI

Renúncia ao pontificado

Caríssimos irmãos,convoquei-vos para este Consistórionão só por causa das trêscanonizações, mas também paravos comunicar uma decisão degrande importância para a vida daIgreja. Depois de ter examinadorepetidamente a minha consciênciadiante de Deus, cheguei à certezade que as minhas forças, devido àidade avançada, já não são idóneaspara exercer adequadamente oministério petrino. Estou bemconsciente de que este ministério,pela sua essência espiritual, deveser cumprido não só com as obras ecom as palavras, mas também eigualmente sofrendo e rezando.Todavia, no mundo de hoje, sujeitoa rápidas mudanças e agitado porquestões de grande relevância paraa vida da fé, para governar a barcade São Pedro e anunciar oEvangelho, é necessário também ovigor quer do corpo quer doespírito; vigor este, que, nos últimosmeses, foi diminuindo de tal modoem mim que tenho de reconhecer aminha incapacidade paraadministrar bem o ministério que mefoi confiado.

Por isso, bem consciente dagravidade deste ato, com plenaliberdade, declaro que renuncio aoministério de Bispo de Roma,Sucessor de São Pedro, que me foiconfiado pela mão dos Cardeais em19 de abril de 2005, pelo que, apartir de 28 de fevereiro de 2013, às20h00, a sede de Roma, a sede deSão Pedro, ficará vacante e deveráser convocado, por aqueles a quemtal compete, o Conclave para aeleição do novo Sumo Pontífice.Caríssimos Irmãos, verdadeiramentede coração vos agradeço por todo oamor e a fadiga com quecarregastes comigo o peso do meuministério, e peço perdão por todosos meus defeitos. Agora confiemos aSanta Igreja à solicitude do seuPastor Supremo, Nosso SenhorJesus Cristo, e peçamos a Maria,sua Mãe Santíssima, que assista,com a sua bondade materna, osPadres Cardeais na eleição do novoSumo Pontífice. Pelo que me dizrespeito, nomeadamente no futuro,quero servir de todo o coração, comuma vida consagrada à oração, aSanta Igreja de Deus.Vaticano, 10 de fevereiro de 2013

8

Queridos irmãos e irmãs,Como sabeis, decidi - obrigado pelavossa amizade - renunciar aoministério que o Senhor me confiouno dia 19 de abril de 2005. Fi-lo emplena liberdade para o bem daIgreja, depois de ter longamenterezado e ter examinado diante deDeus a minha consciência, bemciente da gravidade de tal ato masigualmente ciente de já não sercapaz de desempenhar o ministériopetrino com a força que o mesmoexige.

Anima-me e ilumina-me a certeza deque a Igreja é de Cristo, o Qual nãolhe deixará jamais faltar a suaorientação e a sua solicitude.Agradeço a todos pelo amor e pelaoração com que me tendesacompanhado. Obrigado!Nestes dias, não fáceis para mim,senti quase fisicamente a força daoração que me proporciona o amorda Igreja, a vossa oração. Continuaia rezar por mim, pela Igreja, pelofuturo Papa. O Senhor vos guiará. Vaticano, 13 de fevereiro de 2013

Cronologia 2005-2006

9

Bispos portugueses elogiam BentoXVI Para onde vaiBento XVIapós arenúncia?Num primeiromomento,segundo oVaticano, paraa residênciapontifícia deCastelGandolfo,arredores deRoma. Depois,ficará a residirdentro doEstado doVaticano, numantigomosteiro declausura.

O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou que a decisãode Bento XVI de renunciar ao pontificado, anunciadaesta segunda-feira, “faz história” e acaba com o “tabude que o Papa era intocável”. “É uma decisão degrande lucidez, de grande generosidade”, disse D.José Policarpo, em conferência de imprensa, arespeito da resignação de Bento XVI, a primeira nahistória da Igreja em quase 600 anos.Segundo o presidente da Conferência EpiscopalPortuguesa, os futuros Papas “estarão muito maislivres após este gesto histórico de Bento XVI”, querepresenta um “momento muito significativo” para avida da Igreja.O bispo da Guarda, D. Manuel Felício, considera porsua vez que a resignação de Bento XVI é um “gestoverdadeiramente profético” e indica a “coragem comque toda a Igreja tem de saber percorrer os caminhosnovos”. Numa mensagem enviada à AgênciaECCLESIA, D. Manuel Felício sublinha que o atualpontificado foi “riquíssimo para a Igreja e para omundo”.O bispo português D. Carlos Azevedo, delegado doConselho Pontifício da Cultura (Vaticano), disse que arenúncia ao pontificado é “um gesto surpreendente delucidez”. O responsável da Cúria Romana,coordenador geral da visita que o Papa realizou aPortugal em maio de 2010, fala numa “atitudereveladora da grandeza de alma e liberdade, capaz dereconhecer que a missão de sucessor de Pedro exigemais energia física e anímica”.

10

Para D. Carlos Azevedo, Bento XVI,o “grande intelectual europeu destemomento”, mostrou “grande amor àIgreja a quem serve com ahumildade da natureza humana,sujeita à debilidade física”.O bispo de Leiria-Fátima, D. AntónioMarto, considerou o pedido deresignação de Bento XVI como um“gesto muito digno”, mas diz quenão foi uma completa surpresa.Para o prelado leiriense e antigoaluno de Joseph Ratzinger, numaEuropa “cansada” a Igreja precisade um Papa que traga agora “umacerta vitalidade” que existe noutros

continentes como África e a AméricaLatina.D. António Couto, por sua vez,revelou não ter percebido sinais dequalquer “fragilidade intelectual” emBento XVI quando em outubroesteve no Vaticano para participarno Sínodo para a NovaEvangelização. “O Papa esteve emquase todas as sessões do Sínodosempre com extrema vivacidade,com muito bom humor, muito vivo edinâmico, muito lúcido e claro nassuas intervenções”, afirmou o bispode Lamego à Agência ECCLESIA.

Cronologia 2007-2008

11

Um Papa surpreendente

Francisco SarsfieldCabralRádio Renascença

Como toda a gente, ou quase, fui surpreendidopela notícia de que Bento XVI renuncia no fimdeste mês. Mas este Papa surpreendeu-me logoque assumiu o cargo. Nos anos 60 tinha lido, eapreciado, um livro de J. Ratzinger. Depois perdio contacto com os seus escritos. Contacto queretomei quando, por Ratzinger se ter tornadoPapa, começaram a surgir nas livrariasportuguesas textos dele.A qualidade do pensamento cristão de Ratzingerimpressionou-me. Até porque não foge aosproblemas, vai ao fundo das questões, ainda quefosse mais cómodo contornar alguns obstáculos.A imagem mediática de que Ratzinger era umaespécie de “Grande Inquisidor” foi-sedesvanecendo.A minha admiração pela profundidade da fé deRatzinger cresceu ainda mais com o que eleescreveu e disse quando Papa. As trêsencíclicas que publicou, por exemplo, são textospreciosos, fundamentais para uma fé adulta nomundo de hoje.O grande combate de Ratzniger, antes e depoisde ser Papa, é contra o relativismo. Com oConcílio Vaticano II a Igreja fez as pazes com arazão moderna. Mas, por ironia da história, arazão é hoje desvalorizada pelas tendênciasditas pós-modernas. Que não afectam apenas asesferas teóricas da filosofia e da própria teologia:o relativismo prático, a ideia de que cada um temos valores que lhe agradam, mina a sociedademoderna.Daí a importância que Ratzinger concede à razãoe à herança grega no cristianismo. O que lhepermitiu ser um interlocutor ouvido e respeitado

12

por importantes intelectuais nãocrentes. Para este grande teólogonão agir segundo a razão écontrário à natureza de Deus. Afirmaele que entre o Espírito criador deDeus e a nossa razão há umaverdadeira analogia.Mas este Papa que, pela primeiravez em seis séculos, renuncia aopapado, não é um mero intelectualacadémico. É uma pessoa que atraipela sua simplicidade, pela suatimidez, pela sua humildade. Daíoutras surpresas.Por exemplo, a visita que fez aInglaterra em 2010 (a primeira deum Papa desde 1534) suscitou,antes de

realizada, muitas reacções hostis.Mas Bento XVI conquistou osbritânicos – e não foi com teologia.Foi com a autenticidade da sua fé eo seu amor pelas pessoas. Aliás,meses antes, num anfiteatro doCentro Cultural de Belém, emLisboa, o Papa tinha encantado umvasto auditório maioritariamente nãocrente.Pela minha parte, gostaria que J.Ratzinger, depois de resignar, nossurpreendesse de novo,continuando a escrever e ailuminarmo-nos.(O autor opta por não escreversegundo o Acordo Ortográfico)

13

Gesto histórico marca pontificado QuantosPapasrenunciaramna História?O site'news.va'recorda quenos últimos600 anosnenhum Papatinharesignado,mas nos maisde 260sucessores deSão Pedrocomo bispo deRoma houve“pelo menosquatro” quedeixaram ocargo.

Bento XVI, eleito em abril de 2005, vai concluir opontificado por sua própria iniciativa no próximo dia28, uma renúncia sem precedentes que marca obalanço destes sete anos e dez meses.Joseph Ratzinger realizou 24 viagens ao estrangeiro,incluindo um visita a Portugal, entre 11 e 14 de maiode 2010, com passagens por Lisboa, Fátima e Porto.Bento XVI assinou três encíclicas e presidiu a trêsJornadas Mundiais da Juventude, para além de terconvocado cinco Sínodos de Bispos, um Ano Paulino,um Ano Sacerdotal e um Ano da Fé.Outra obra de grande impacto foi o livro-entrevista«Luz do Mundo», de 2010, resultante de umaconversa com o jornalista alemão Peter Seewald, umregisto que permitiu dar a conhecer Bento XVI e o seupensamento sobre temas centrais para a Igreja e asociedade.O ensinamento papal destacou-se, para além dascríticas ao relativismo e ao secularismo da sociedadeocidental, pela preocupação com as questõesbioéticas – aborto, eutanásia, investigação emembriões – e da família, para além da crise financeirae das questões ecológicas.Ao longo do pontificado, os discursos e intervençõespúblicas do Papa cessante lembraram as vítimas decatástrofes naturais e conflitos armados que atingiramdiversas partes do mundo.A resignação acontece poucos meses após odesfecho do caso ‘vatileaks’, que redundou nojulgamento do ex-mordomo de Bento XVI por furto edivulgação fuga de documentos confidenciais.

14

Outro tema delicado foi a crise quese seguiu à divulgação de casosde abusos sexuais cometidos pormembros do clero ou eminstituições católicas de váriospaíses: o Papa encontrou-se comvítimas em várias viagens, demitiubispos e reformou a legislação daIgreja, neste campo.

O presidente da RepúblicaPortuguesa enviou uma mensagema Bento XVI, após este ter anunciadoa sua renúncia ao pontificado,falando em “sentida emoção”perante este gesto do Papa. “Quero,nesta ocasião, sublinhar aadmiração profunda do Povoportuguês por vossa santidade e porum magistério que constitui exemplode fé e de esperança, na defesa dosvalores universais da tolerância e dapaz”, refere Cavaco Silva.

Cronologia 2009/2010

15

A grande rutura

António MarujoJornalista

A decisão de renúncia do Papa Bento XVI pareceter deixado (quase) todos os crentes com umasensação de contentamento. Porque será isto,depois de, há dez anos, tantos defenderem queJoão Paulo II deveria permanecer no seu postoaté ao fim, mesmo com a tremenda debilidadeque o atingia?Provavelmente, a resposta para esta mudançaestará nessa perceção que todos tínhamos:mesmo se se pode considerar importante que oPapa mostre ser uma pessoa normal, que sofre eenvelhece e morre como outras, o cargo temexigências que, não podendo ser cumpridas, émelhor serem assumidas por quem esteja capaz– sob pena de, não o fazendo, comprometer avida da comunidade eclesial. Foi isso queRatzinger afirmou na declaração de renúncia.Servo dos servos de Deus, como diz um dosseus títulos (talvez o único que se deveria usar),o Papa está, antes de mais, ao serviço dacomunidade dos crentes. Essa foi a noção que oConcílio Vaticano II recuperou para os ministériosda Igreja – todos eles. Por isso, não faz sentidoolhar para o ministério de presbítero, bispo ouPapa como um lugar de poder. Esse foi o erro daIgreja durante séculos e sabemos a que terríveisperversões ele conduziu.Sabemos, aliás tristemente, a que perversõesesse erro continua a conduzir: a Cúria Romana,que o Papa não quis ou não foi capaz detransformar, continua a ser, enquanto

16

estrutura, um grande testemunhoantievangélico e mesquinho de lutapelo poder. As cartas dirigidas aoPapa divulgadas no ano passado,mas também o próprio gesto derenúncia e a homilia da missa deQuarta-feira de Cinzas do próprioBento XVI não têm outro significadosenão esse. O Papa já afirmara, novoo para Portugal, que o pecadomaior em relação à pedofilia estavano interior da própria Igreja. Agora,na homilia de Cinzas, que traduz asua confissão de impossibilidade,Bento XVI reafirma a centralidade daexperiência da comunidade e acrítica implícita à luta pelo poder: “Adimensão comunitária é umelemento essencial na fé e na vidacristã. (...) ‘onde está o seu Deus?’

Esta oração faz-nos refletir sobre aimportância do testemunho de fé eda vida cristã de cada um de nós eda nossa comunidade paramanifestar o rosto da Igreja e comoeste rosto, por vezes, é desfigurado.Penso, em particular, nos golpescontra a unidade da Igreja, nasdivisões do corpo eclesial. Viver aQuaresma com uma mais intensa eevidente comunhão eclesial,superando individualismos erivalidades, é um sinal humilde eprecioso para aqueles que estãolonge da fé ou indiferentes.”Este gesto de Bento XVI ficará paraa história como a afirmação de quea humildade vale muito mais do queo poder. Essa é a grande rutura quepode ajudar a mudar alguma coisadentro da Igreja.

17

De Bento XVI a Joseph Ratzinger Como vai sertratado BentoXVI após arenúncia?O Vaticanorevelou queesta questãoestá a sertratada, com ocontributo dopróprio Papa,estando pordefinir qualserá oestatuto doatual bispo deRoma após odia 28 defevereiro.

Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, nasceu em Marktlam Inn (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927, epassou a sua infância e adolescência em Traunstein,uma pequena localidade perto da Áustria.Nos últimos meses da II Guerra Mundial (1939-1945),foi arrolado nos serviços auxiliares antiaéreos peloregime nazi.Juntamente com o seu irmão Georg, foi ordenadopadre a 29 de junho de 1951; dois anos depois,doutorou-se em teologia com a tese ‘Povo e Casa deDeus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho’.De 1962 a 1965, participou no Concílio Vaticano IIcomo ‘perito’, após ter chegado a Roma comoconsultor teológico do cardeal Joseph Frings,arcebispo de Colónia.A sua atividade científica levou-o a desempenharimportantes cargos ao serviço da ConferênciaEpiscopal Alemã e na Comissão TeológicaInternacional.Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-oarcebispo de Munique e Freising; a 28 de maioseguinte, recebeu a sagração episcopal e escolheucomo lema episcopal «Colaborador da verdade». Omesmo Paulo VI criou-o cardeal, no Consistório de 27de junho de 1977.Em 1978, participou no Conclave, celebrado de 25 a26 de agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-oseu enviado especial ao III Congresso MariológicoInternacional que teve lugar em Guayaquil (Equador)de 16 a 24 de setembro.

18

No mês de outubro desse mesmoano, participou também no Conclaveque elegeu João Paulo II.O Papa polaco nomeou o cardealRatzinger como prefeito daCongregação para a Doutrina da Fée presidente da Pontifícia ComissãoBíblica e da Comissão TeológicaInternacional, em 25 de novembrode 1981.No dia 19 de abril de 2005 foi eleito

como o 265.º Papa, sucedendo aJoão Paulo II; no Dia Mundial doDoente e memória litúrgica de NossaSenhora de Lourdes, anunciou arenúncia ao pontificado, com efeitosa partir do dia 28 deste mês.A 11 de fevereiro de 2013, numencontro com cardeais, Bento XVIapresentou a renúncia aopontificado.

Cronologia 2011 a 2013

19

Um pontificadopara a História Entrevista a D. JoséSaraiva Martins, prefeitoemérito da Congregaçãopara as Causas dosSantos

20

O cardeal português D. JoséSaraiva Martins é um dos seiscardeais-bispos da Igreja Católica e,como tal, estava na primeira fila doconsistório de 11 de fevereiroquando, sem aviso prévio, Bento XVIapresentou a sua renúncia aopontificado, abrindo caminho à suasucessão. Uma decisãosurpreendente que marca a históriadeste Papa, eleito em 2005. Agência ECCLESIA (AE) – Comoqualifica os cerca de oito anos dopontificado de Bento XVI?D. José Saraiva Martins (JSM) –Considero o pontificado de BentoXVI extraordinariamente positivoporque continuou o pontificado deJoão Paulo II e aprofundou, certospontos, do magistério da Igreja nomundo contemporâneo. Isso foimuito útil. Bento XVI falou muitíssimobem sobre a necessidade de sedefender os valores fundamentaisdo homem. AE – Um Papa inovador?JSM – Reafirmou os princípiossempre defendidos pela Igreja.Defende-os com muita coragem.Tocou concretamente, não emabstracto, os problemasfundamentais que afligem asociedade contemporânea: paz,família, justiça…

AE – A visita de Bento XVI aPortugal foi um marco histórico noseu pontificado?JSM – A visita dele a Portugal foiextraordinária. Foi um sucesso. Odirector da Sala de Imprensa doVaticano escreveu uma carta,depois da visita, dizendo que foi avisita que teve maior sucesso nopontificado de Bento XVI. AE –Bento XVI também teve deenfrentar outros menos positivos.JSM – Teve de enfrentar muitosproblemas com grande coragem.Mas esses problemas nãodependiam dele. Exagerou-se muito.Por exemplo, a respeito da pedofiliano clero, a imprensa internacionalfalou desse tema de formaexagerada. Como se o clero fossepedófilo. Costumo dizer: «Quandoum soldado não cumpre o seudever, o exército não é todo mau».Na Igreja há pecadores e não sedeve generalizar, sobretudo, nestecampo tão delicado.

21

AE – Para além do caso dapedofilia, a fuga de documentostambém foi um assunto delicado?JSM – Foi delicado, mas o Papanão sabia nada e não tevenenhuma culpa. Sabe-se, mais oumenos, como aconteceram estascoisas… AE – Ficou surpreendido com estepedido de resignação?JSM – Sim, porque não sabia denada. Ninguém imaginava que ele iarenunciar. AE – Estava presente no consistórioquando foi o anúncio?JSM – Estava presente e muitoperto de Bento XVI. Sou um dos seiscardeais-bispos e estamos muitoperto do Papa. Ele explicou muitobem as razões da sua resignação. AE – A falta de saúde e vigor paragovernar a «barca de Pedro».JSM – Essa é a ideia fundamental.

AE – Ao referir que não tinha essascondições, deixou indicaçõesexplícitas para o seu sucessor. Umhomem mais novo e com saúde?JSM – Com vigor sim, mas maisnovo… Depende o que significa apalavra novo. (Risos). Hoje, ter 60ou 70 anos não é ser velho. A vidahumana prolongou-se muito. AE – O que espera do próximoPapa?JSM – Espero que continue omagistério de Bento XVI. Foi ummagistério muito claro e muito firme.Como antigo professor, é de umaclaridade extraordinária. AE – Este vai ser um Conclavediferente. Por um lado, o Papa estávivo e por outro não existe oambiente de tristeza após a morte...JSM – Isto não é a primeira vez queacontece. O Papa tem todo o direitode renunciar, basta ver o Código deDireito Canónico que fala nessetema.

22

AE – Já ultrapassou o limite deidade (80 anos) e não podeparticipar neste Conclave...JSM – Sim. Mas as normas podemser mudadas de um dia para ooutro. No entanto, todos os cardeaispodem ser votados, mesmo que nãofaçam parte do conclave. Nadaimpede que se vote um cardeal quenão participe no Conclave. AE – Tem algum candidato parasucessor de Bento XVI?

JSM – Essa pergunta deve ser feitaao Espírito Santo (Risos) AE – Será que é desta vez que aIgreja tem um Papa de outrocontinente?JSM – Tudo pode acontecer. OPapa não é preto, nem branco, nemamarelo. AE – Pode ser um português?JSM – Já tivemos um, mas agora é oEspírito Santo que sabe.

23

Quandocomeça oConclave?João Paulo IIdeterminou quedesde o momentoem que a SéApostólica ficarlegitimamentevacante, oscardeais eleitorespresentes devemesperar, durantequinze diascompletos, pelosausentes.Transcorridos,porém, nomáximo, vintedias desde o inícioda Sé vacante,todos os cardeaiseleitorespresentes sãoobrigados aproceder àeleição.

Conclave:Pessoas e lugares daeleiçãoA eleição de um Papa obedece a rituais muitoprecisos, marcados por um clima de silêncio esegredo, previsto ao pormenor na ConstituiçãoApostólica ‘Universi Dominici Gregis’, assinada porJoão Paulo II em 1996.O próximo inicia-se após o dia 28 de fevereiro, quandotem efeito a renúncia ao pontificado anunciadasegunda-feira por Bento XVI, em data a determinarpelas congregações de cardeais que se vão reunir emseguida.No início do conclave, os cardeais vão tomar Deus eos Evangelhos como suas testemunhas numjuramento de “segredo absoluto” sobre todos osprocedimentos que ali irão ter lugar.50 cardeais eleitores (59 a partir do dia 5 de março)foram criados por João Paulo II e participaram naeleição de Bento XVI, Papa que criou os outros 67cardeais com menos de 80 anos.A legislação da Igreja prevê que o Conclave só sepossa iniciar pelo menos 15 dias depois da morte doPapa, mas o caso atual é praticamente inédito: desde1415 que não se verificava uma renúncia aopontificado.No Conclave estarão representados os 5 Continentes:Europa - 61, América Latina - 19, América do Norte -14, África -11, Ásia - 11 e Oceânia - 1.

24

Os países mais representados sãoa Itália (28 cardeais eleitores),Estados Unidos da América (11),Alemanha (6), Brasil, Espanha eÍndia (5 cada), com mais de metadedo total de eleitores.Se um Cardeal tiver recusado entrarno Conclave, não poderá serposteriormente admitido no decorrernos trabalhos, mas o mesmo nãoacontece se um cardeal adoecerdurante o processo da eleição

Além dos cardeais eleitores, estáprevista no Conclave a presença deoutros elementos, “para acudirem àsexigências pessoais e de serviço,conexas com a realização daeleição”. Todas elas são“devidamente advertidas sobre osignificado e a extensão dojuramento a prestar, antes do iníciodas operações para a eleição”, peloque prestam e subscrevem ojuramento de segredo.

25

O queacontece aoanel de BentoXVI?O Anel doPescador (Anuluspiscatoris) fazparte das insígniasoficiais do Papa,sucessor doApóstolo Pedro,pescador daGalileia. O cardealcamerlengo, D.Tarcisio Bertone,tem a missão de odestruir, após arenúncia de BentoXVI, com ummartelo de prata: ogesto tem osignificado desublinhar que noperíodo da SéVacante ninguémpode assumirprerrogativaspróprias do bispode Roma.

Capela Sistina,coração do ConclaveA eleição de um novo Papa, após a renúncia de BentoXVI, vai levar os cardeais de todo o mundo à CapelaSistina, espaço que acolhe os Conclaves, seminterrupções, desde 1492.João Paulo II (1920-2005) fez referência particular ao‘Juízo Final’, pintado por Miguel Ângelo na parede doaltar, na Constituição Apostólica ‘Universi DominiciGregis’, sobre a eleição do Papa, quando escreveu:“Disponho que a eleição continue a desenrolar-se naCapela Sistina, onde tudo concorre para avivar aconsciência da presença de Deus, diante do qualdeverá cada um apresentar-se um dia para serjulgado”.Desde as primeiras assembleias cristãs romanas aoscardeais, em 1179, a eleição de um novo Papaaconteceu quase sempre em Roma e, desde 1492, naCapela Sistina.A Capela Sistina deve o seu nome a Sisto IV, Papaentre 1471 e 1484, que promoveu as obras derestauro da antiga Capela Magna a partir de 1477.A Sistina começou por ter elementos do século XV,como as histórias de Moisés e de Cristo, além dosretratos dos Papas, trabalho que foi executado poruma equipa de pintores originalmente formada porPietro Perugino, Sandro Botticelli, DomenicoGhirlandaio e Cosimo Rosselli.

26

A decoração do espaço de 1100metros quadrados foi confiada em1508 a Miguel Ângelo por Júlio II,Papa entre 1503 e 1513.Júlio II, sobrinho do Papa Sisto,decidiu modificar parcialmente adecoração do espaço, entregando atarefa a Miguel Ângelo, que pintou aabóbada e a parte alta das paredescom cerca de 300 figuras: nos novequadros centrais

estão representadas histórias doGénesis, primeiro livro da Bíblia,desde a criação ao dilúvio.De dimensões iguais ao templo dorei Salomão, em Jerusalém – 40,5metros de comprimento, 13,2 delargura e 20,7 de altura -, a capelaque albergou os Conclaves dosúltimos séculos ficou assimconhecida pelos seus frescos detemática bíblica.

27

Quando é queBento XVIoptou pelaresignação?A renúnciaanunciadasegunda-feiraestava tomada hámeses. O porta-voz do Vaticanoadmitiu que ocansaçoprovocado pelaviagem de BentoXVI ao México eCuba, em marçode 2012,constituiu umaetapa de“amadurecimento”na decisão.

O governo da Igreja apósa renúncia do PapaA renúncia de Bento XVI ao pontificado vai levar oscardeais da Igreja Católica a assumirem o seuGoverno, a partir do próximo dia 28, encontrando-se apartir daí nas chamadas “congregações”.Durante a vagatura da Sé Apostólica, o Colégio doscardeais não tem poder ou jurisdição alguma no quese refere às questões da competência do Papa.O período que vai da renúncia do Papa à eleição doseu sucessor (vagatura da Sé Apostólica) estálegislada pelas leis eclesiásticas, em particular pelaConstituição Apostólica “Universi Dominici Gregis”(UDG) de João Paulo II, datada de 22 fevereiro 1996.“Durante a vagatura da Sé Apostólica, o Colégio dosCardeais não tem poder ou jurisdição alguma no quese refere às questões da competência do SumoPontífice, enquanto estava vivo ou no exercício dasfunções do seu ofício; todas essas questões deverãoser exclusivamente reservadas ao futuro Pontífice”, lê-se no número 1 da UDG.O Direito Canónico define que “durante a vagatura outotal impedimento da Sé romana, nada se inove nogoverno da Igreja Universal”, ou seja, enquanto nãose proceder à eleição de um novo Papa, os cardeaisnão podem tomar decisões relevantes para a vida daIgreja, por exemplo a nomeação de bispos.

28

Durante o tempo em que estivervacante a Sé Apostólica, o governoda Igreja está, portanto, confiado aoColégio dos Cardeais, mas somentepara o despacho dos assuntosordinários ou inadiáveis e para apreparação daquilo que énecessário para a eleição do novoPapa.A presidência do período de SéVacante, de acordo com aautoridade prevista pelaConstituição Apostólica “UniversiDominici Gregis”, compete aocardeal camerlengo, D. TarcisioBertone, secretário de Estado doVaticano.Todos os responsáveis dosDicastérios da Cúria Romanacessam o exercício das suasfunções.

Excetuam-se o cardeal camerlengo(D. Tarcisio Bertone), com um papelde chefe interino da Igreja, e openitenciário-mor (D. ManuelMonteiro de Castro), visto que oTribunal da Penitenciaria Apostólicase ocupa de assuntos relacionadoscom o foro interno.Os secretários dos Dicastériosmantêm-se em funções erespondem perante os cardeaisreunidos no Vaticano, que sereúnem quer em congregação geral(todos os cardeais) quer emcongregação particular.A primeira é presidida pelo cardealdecano (D. Angelo Sodano) eresolve as questões maisimportantes; a segunda é formadapelo cardeal camerlengo e por trêscardeais.

29

Onde decorreo Conclave?Em 2005, pelaprimeira vez nahistória, oslugares doConclaveestenderam-se atodo o espaço doVaticano: oalojamento é naCasa de SantaMarta, ascelebraçõeslitúrgicas naCapela de SantaMarta e a eleiçãona Capela Sistina.

Quem vai elegero próximo Papa?117 cardeais de 47 países, incluindo Portugal, estarãoem condições de votar no próximo Papa quando BentoXVI deixar o cargo, a 28 de fevereiro, e o grupo incluicom grande probabilidade o sucessor do alemãoJoseph Ratzinger. Ainda que, em teoria, qualquerhomem batizado e em comunhão com a Igreja Católicapossa ser eleito Papa, há mais de 600 anos que oescolhido é um cardeal: o último pontífice vindo defora do Colégio Cardinalício foi Urbano VI em 1378.Apesar de haver referências anteriores ao título, é noséculo XI que os cardeais passam a ter uma funçãomais próxima do que são hoje.Em 1050, para contrariar as disputas entre váriasfamílias de Roma que queriam dominar o papado, oPapa Leão IX (1049-54) chama vários homens queconsidera capazes de o ajudar a reformar a Igreja.Nove anos depois, Nicolau II decide que o Papa passaa ser eleito apenas pelos cardeais, abandonando devez a tradição de serem o clero e os fiéis a escolher oseu bispo.Um século depois, institui-se o Sacro Colégio,designação abandonada pelo Direito Canónico em1983.

30

Qualquer cardeal é, acima de tudo,um conselheiro específico que podeser consultado em determinadosassuntos quando o Papa o desejar,pessoal ou colegialmente.Paulo VI (1897-1978) fixou em 120 onúmero de cardeais eleitores doPapa e estabeleceu como idadelimite para a possibilidade de votaros 80 anos, disposições que foramconfirmadas por João Paulo II(1920-2005) e Bento XVI que,pontualmente, excederam o númeroestabelecido, derrogando a norma.Cada cardeal é inserido numaordem própria (episcopal,presbiteral ou diaconal), tradiçãoque remonta aos tempos dasprimeiras comunidades cristãs deRoma, em que os cardeais erambispos das igrejas criadas à volta dacidade (suburbicárias) ourepresentavam os párocos e osdiáconos das igrejas locais.Em 1334 havia 20 cardeais, em vez

dos 70 instituídos em 1586 peloPapa Sisto V: esse númeromanteve-se durante quatro séculosaté João XXIII (1958-1963).O atual Papa criou 90 cardeais, 84dos quais ainda vivos (67 eleitores),incluindo o português D. ManuelMonteiro de Castro, penitenciário-mor da Santa Sé, em fevereiro de2012. O Colégio Cardinalício tematualmente membros de 66 países,entre eles Portugal, representadopor D. José Saraiva Martins, prefeitoemérito da Congregação para asCausas dos Santos (com mais de 80anos), D. Manuel Monteiro deCastro e D. José Policarpo, patriarcade Lisboa, estes dois últimos comestatuto de eleitores.O último conclave iniciou-se a 18 deabril de 2005, duas semanas após amorte de João Paulo II, e terminariana tarde do dia 19, com a eleição deBento XVI como 264.° sucessor deSão Pedro, o primeiro Papa daIgreja Católica.

31

Como votamos cardeais?A votaçãoacontece com opreenchimento deum boletimretangular, queapenas trazimpressa amenção ‘Eligo inSummumPontificem’ (elejocomo SumoPontífice) na partesuperior. Oboletim é dobradoem dois e élevado de formavisível ao altar,onde estácolocada umaurna.

Início do Conclave evotaçãoEstá previsto que todos os Cardeais eleitores seencontrem na Basílica de São Pedro para celebrar aMissa votiva ‘pro eligendo Romano Pontifice’ (para aeleição do Papa), sob a presidência do decano doColégio Cardinalício, D. Angelo Sodano. A celebraçãoé aberta a todos os que queiram participar.Mais tarde, os cardeais eleitores reúnem-se na CapelaPaulina do Palácio Apostólico, de onde se dirigem paraa Capela Sistina, em procissão solene, entoando ocanto ‘Veni Creator’, para pedir a assistência doEspírito Santo.A Capela Sistina terá sido anteriormente objetode controlos para apurar a eventual presença demeios audiovisuais destinados a espiar do exterior oque acontecer no processo de eleição.Os cardeais eleitores prestam, em primeiro lugar, ojuramento de segredo sobre tudo o que diz respeito àeleição do Papa e comprometem-se a desempenharfielmente o ‘munus Petrinum’ de pastor da Igrejauniversal em caso de eleição.Terminado o juramento, todas as pessoas estranhas àeleição saem após a ordem ‘Extra Omnes’ (todosfora).Os Conclaves do século XX tiveram uma duraçãosempre inferior a cinco dias e 14 votações.Pela segunda vez na história da Igreja está previstaapenas uma modalidade de votação, ‘per scrutinio’,abolindo modos de eleição anteriormente existentes(por inspiração e por compromisso).

32

«Vatican Insider» - Gráfico com a disposição dos cardeais na Capela Sistina

Para a eleição é requerida umamaioria de dois terços (neste caso,78 votos). No primeiro dia haveráapenas uma votação e, se o Papanão for eleito, terão lugar nos diassubsequentes duas eleições demanhã e outra duas de tarde.Se após três dias não houverconsenso, há um dia de interrupçãopara oração, colóquio entre oseleitores e reflexão espiritual.Prossegue-se, depois, para outrossete escrutínios antes de outrapausa.

Se as votações não tiverem êxito,após um período máximo denove dias de escrutínios e “pausasde oração e livre colóquio”, oscardeais eleitores serão convidadospelo camerlengo a darem a suaopinião sobre o modo de proceder.O documento de João Paulo II abriaa hipótese de a eleição ser feita“com a maioria absoluta dossufrágios”, situação que foirevogada por Bento XVI em 2007.

33

Que aconteceaos boletinsde voto?Trêsescrutinadoressorteados noinício do processoabrem cada umdos boletins,lendo o seuconteúdo em vozalta. Os votos sãoperfurados ondeestá escrita apalavra “eligo” epresos num fio.No final darecontagem sãoligados com umnó, colocadosnum recipiente eposteriormentequeimados.

A eleição do PapaQuando ocorre a eleição, resta ao novo eleitoresponder a duas questões: ’Acceptasne eletionem dete canonice factam in Summum Pontificem?’ (aceitas atua eleição, canonicamente feita, para SumoPontífice?) e ‘Quo nomine vis vocari?’ (Como queresser chamado?), naquele que é o último ato formal doConclave.O mestre das cerimónias litúrgicas é chamado,desempenhando funções de notário, e redige umdocumento de aceitação. Dois cerimoniários entram eservem de testemunhas.Após a escolha do nome, os cardeais prestamhomenagem um a um e apresentam a sua obediênciaao novo Papa. O anúncio é feito, em seguida, pelocardeal protodiácono (D. Jean-Louis Tauran) aos fiéis:‘ Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus papam’(Anuncio-vos uma grande alegria: Temos Papa).No início do Cristianismo o eleito usava o seu nome –Lino, Clemente, Telesfóro, Eleutério, Aniceto, conformea procedência dos Papas. A partir de 532 a tradiçãode mudar o nome instalou-se: o eleito chamava-seMercúrio, nome de uma divindade pagã, e adotou onome de um dos apóstolos, passando a chamar-seJoão II.

34

CuriosidadesAté à eleição de João XXIII (1958) os votos dos cardeais eram queimadosapós cada votação. Quando misturados com a palha húmida, o fumo dachaminé da Capela Sistina indicava ao povo da Praça de São Pedro queo Papa ainda não estava eleito. Era o fumo branco que indicava o fim doConclave e a eleição do Papa. Hoje em dia este processo faz-se pelaadição de produtos químicos aos papéis da votação.É histórico o Conclave no Palácio dos Papas em Viterbo, após a morte doPapa Clemente IV. Foi o Conclave mais longo da história da Igreja e tevea duração de 33 meses, de 29 de novembro de 1268 a 1 de setembro de1271, porque os cardeais não chegavam a um acordo para eleger o novoPapa. O Governador da cidade, encarregado de alimentar os cardeais,decidiu, por conselho de São Boaventura, encerrar os cardeais nopalácio. Fechou a porta da sala de reuniões, ficou com a chave,destelhou o local e cortou a remessa de mantimentos. Imediatamentechegaram a um consenso, elegendo o Papa Gregório X (1271-1276) que,para evitar a repetição do acontecimento, estabeleceu normas queregulamentam, basicamente, os Conclaves até hoje.

Este uso consolidou-se e os Papascomeçaram a escolher nomes deApóstolos, de mártires ou outrosPapas, muitas vezes para invocaralgumas das suas características.Nenhum, contudo, voltou a utilizar onome de Pedro, o primeiro Papa,porque este não foi eleito por outroshomens – em 983 o romano Pedro,eleito para o pontificado, mudou o

nome para João e o mesmoaconteceu com o Papa português,João XXI, falecido em 1277.O nome mais escolhidos pelosPapas é João (23 vezes), seguidopor Gregório e Bento (16), Clemente(14), Leão e Inocêncio (13) e Pio(12).O Conclave termina oficialmentecom o assentimento dado pelo Papaeleito à sua eleição.

35

Regresso a fontes renovadoras

D. António MarcelinoBispo emérito de Aveiro

A situação da Igreja em Portugal, dadas as suascapacidades e limitações, necessita, para seubem e para bem da missão e dos seus membros,de um regresso programado ao Vaticano II. 50anos do Concilio assim o lembram erecomendam.Não se trata de mais uma atividade, mas de umexame cuidadoso do que se faz; de um confrontocrítico entre o que se planeia, programa eexecuta, atenta a orientação conciliar; do estudoatualizado das Constituições, Decretos eDeclarações no que toca mais aos problemasque se enfrentam; da presença e da ação daIgreja na sociedade, respeitada a autonomiadesta, e, por fim, do diálogo a que a Igreja échamada.A urgência deste regresso é exigida pelasmudanças culturais que não cessam,reconhecimento da realidade em relação à fé doscrentes e às razões do abandono da Igreja pormuitos batizados, na dificuldade de umapresença missionária significativa e no facto demuitos clérigos e leigos, agora comresponsabilidades pastorais, terem nascidodepois do Concilio. É ainda razão de urgência ofacto de o povo cristão, com a sua riquezaespiritual, continuar a desconhecer o Concílio, talcomo ele próprio o diz.Em 11 de outubro de 2012, Bento XVI disse:“Com o fim de que este impulso interior para

36

a nova evangelização não fiqueapenas num ideal, nem caia naconfusão, é necessário que ela seapoie numa base concreta eprecisa, que são os documentosdo Vaticano II, nos quais encontroua sua expressão. Por isto, insistirepetidamente na necessidade deregressar, por assim dizer, à letrado Concilio, quer dizer, aos seustextos, para encontrar tambémneles o seu autêntico espírito, erepeti que a verdadeira herança doVaticano II se encontra nos seusdocumentos”. Palavrasmotivadoras que não se podemmenosprezar.A tentação de esquecer o Concílio,de lhe passar ao lado, de ointerpretar segundo interessespessoais e de grupos, está entrenós a ganhar força e espaço emgente e meios, onde já se diz que oVaticano II faz parte do passado.Creio que a palavra do Papa e aexperiência pessoal de quem viveas preocupações da missão ocontradizem.Muitas atividades se têmprogramado, na sua maioria combispos e padres. Porém, o retornoao Concilio tem de

ser sinodal, o que implica uma açãocomum com leigos, clérigos econsagrados. Os sínodos diocesanosjá realizados tentaram este caminho,que é preciso continuar.A riqueza do Povo de Deus nãodispensa ninguém de se empenhar, àsua medida, na missãoevangelizadora, e a Igreja não serenova se nela continuar a prevalecera dimensão clerical.

37

(Des)cobrir os dias e atitudes

Sónia Neves, AgênciaECCLESIA

Hoje escrevo num dia muito especial para todosos apaixonados, 14 de fevereiro, dia dosnamorados. Dizem que há dias para tudo e paraagradar a todos, para a publicidade mostrar oque vale e aumentar as compras nas vésperasdeste dia. As montras é só corações, ursinhos,declarações de amor e flores por todo o lado...Mas afinal para que serve este dia? No meuentender pode ser um dia como os outros, comotantos tentam afirmar, mas é muito mais do queisso! Numa sociedade em que se liga tão poucoaos afetos este dia vem recordar que estarenamorado é possível. Só quem o senteverdadeiramente não deixa passar em branco taldata.Quando digo estar enamorado, efetivamentepenso numa cara metade que nos faz feliz, maspode muito ultrapassar essa barreira...Enamorado é viver em namoro, estar a descobrir,ter uma paixão! E neste dia celebra-se a paixão...por outro, pela vida, pela arte, pela música, pelaescrita, pela natureza... Todos somosapaixonados por alguém... Todos nosapaixonámos uma vez, decerto! Mesmo que hojeessa paixão não seja sentida que ao menos sirvapara deixar outros serem felizes, com um simplessorriso e muitas paixões.Pensando em alegria não posso deixar passar afesta do carnaval... Dias de folia em que muitasruas do país se encheram de cor, música ealegria. Num país que tanto sente a crise comoPortugal é

38

de louvar que ainda haja tempo edisposição para a alegria. Pode atéser uma “alegria balofa” de apenasdois ou três dias mas serviudecerto para quem lá esteve, parater dado umas boas gargalhadas,cultivar o espírito da boadisposição e, ao voltar ao cinzentodos dias, tudo possa ser maisleve... E foi de forma leve, mas mostrandouma humildade extraordinária que, no dia mundial do doente, o PapaBento XVI anunciou resignar aoseu cargo. Deixará de ser Papa nodia 28 de fevereiro, pelas 20h,para surpresa de todo o Mundo.Uma decisão que fez “acordar”todos os meios de comunicaçãosocial para dar a notícia, sem igualhá 600 anos, que a Igreja Católicaviverá a Páscoa com um novoPapa. A decisão foi tomada,segundo Bento XVI, por não sesentir com “forças, devido à idadeavançada”. Aos olhos de quem viude perto estes oito anos depontificado ficam momentos deviagem, inclusivé a Portugal, detentativas de aproximação aosfiéis, de novas tecnologias, deensinamento e olhar atento àjuventude.

© Miguel Cupido Os próximos tempos serão de esperae oração pela decisão. Também seráassim o convite da Quaresma que seiniciou esta quarta-feira. Espera eoração podem ser as palavras que,sensivelmente durante 40 dias,servem de bitola à reflexão econversão. Descobertas as atitudesque levam mais longe quem crê equem tem esperança de melhorar acada dia para chegar à alegria daPáscoa.

39

Descobertas de fé

São muitos os caminhos que podem levar àdescoberta de fé. Pedro Ferreira tem 18 anos esempre estudou num colégio católico mas nãoacreditava em Deus.“Gostava de criticar. Lia muitos livros, viadocumentários e ao conversar com amigos católicosganhava sempre nos meus argumentos”, confessou.Um dia, numa entrevista para a disciplina de filosofia,falou com um padre. “Naquela conversa percebi queafinal sempre tinha acreditado em Deus, tudo faziasentido...”Foi batizado e depois crismado. Hoje é catequista epertence a um grupo de solidariedade da paróquia doEstoril, em Lisboa, onde descobriu a fé que lhe dáconfiança.António José Barbosa tem 47 anos e uma vida de altose baixos, onde a fé se tornou a base da serenidadeque hoje traz no rosto.“Integrei o caminho da droga, fui preso pela primeiravez aos 19 anos, por roubar”, contou.A mãe, cada vez que visitava a prisão rezava pelo TóZé, como todos o conhecem na Brandoa, na Amadora.“Quando saí da prisão, de tanto ouvir a minha mãe, fuia uma das catequeses do caminho neocatecumenal.

40

Ainda estava a consumir droga masnaquele momento em que ouvi aleitura da libertação do povo para oEgito, percebi que o únicoprisioneiro ali era eu e o meu Faraóera a droga”, disse.A partir desse dia Tó Zé tirou ascorrentes do mundo datoxicodependência e seguiu ocaminho da fé. Hoje diz queencontrou “um tesouro” e que JesusCristo fez de si um “homem novo”.Também foi no caminhoneocatecumenal que Paula Touraisdescobriu a fé. Na juventude tinhacuriosidade pela religião, gostavade falar com testemunhas de Jeováe de ouvir uma tia evangélica.Perante um convite para sermadrinha decidiu ser batizada edeixou de ser a “pagãzinha” quetantas vezes lhe tinham chamado.Foi às reuniões do “caminho” e aliencontrou uma forma de descobrir afé e a grande convicção de sercatólica.As opções de vida passam pelafelicidade que tem procurado e,grávida do 8º filho, entende que“tudo se resolve com a força deDeus”.“O tempo é Ele que decide e nós

apenas temos de viver, sendofelizes”, acrescentou.Foi no auge da juventude queMiguel Quadrio decidiu deixar aIgreja, porque “queria ser livre”.Vinte anos após encontros econversas com um amigo sacerdoteda Opus Dei, Miguel decidiuaproximar-se de Deus.“Lia tudo o que o Papa Bento XVI iaescrevendo e apaixonei-me pela suaforma de ver as coisas, pelo valorda verdade. E o primeiro passo foi aconfissão.”Este professor da UniversidadeCatólica sente que a fé e osmomentos de oração o levam a ser“mais e melhor”.Foi em Londres que João daCâmara teve o encontro com a fé.Foi para lá estudar e ficou numaresidência católica. A proximidadecom o capelão e as longasconversas tornaram-se habituais eesclareceu muitas dúvidas.“As conversas eram longas e semfim. Com ele esclareci a minha fé etive o desejo de me batizar”, disse ojovem de 24 anos.As imprevisíveis descobertas defé estarão presentes no programade rádio ECCLESIA, na próximasemana, às 22h45.

41

Bestas do Sul Selvagem

Louisiana, na atualidade. Namargem dum rio cujo dique separadois mundos radicalmentediferentes, Hushpuppy vive com opai em condições depauperadas. Noseio duma comunidade que resisteàs investidas da assistência sociallocal para expropriá-la, garantindo-lhe as condições de salubridadenecessárias, Hushpuppy e o pai sãoquase tudo o que resta um ao outro.Vivem do que pescam no rio e dealgum alimento que o pai,desempregado, doente einvariavelmente alcoolizado, trazquando regressa a casa, o que nemtodos os dias acontece.Quando a doença do pai atinge afase terminal é tempo de encararum futuro para Hushpuppy e paraaquela

comunidade diferente do que todossonharam. O direito àquela terra eàquele modo de vida não éinequívoco.Com apenas seis anos, é tempo deHushpuppy se despedir da infância,enfrentando responsabilidades,assumindo o legado do pai e,inevitavelmente, buscando no sonhoo alento para crescer ‘sozinha’...Aos trinta anos, o realizador novaiorquino Benh Zeitlin destacou-se naúltima edição do Festival deSundance (a meca do cinemaindependente) arrecadando oGrande Prémio do Júri por esta suaprimeira longa metragem, apósquatro prémios em Cannes

42

(incluindo a Menção Honrosa do JúriEcuménico e o prémio FIPRESCI) egalardões vários um pouco por todomundo, a que acrescenta agora acorrida aos Óscares nas categoriasde melhores Realizador eArgumento Adaptado.É, de facto, notável como um aindajovem realizador consegue na suaprimeira grande investidacinematográfica adaptar uma obraque reflete um mundo duro depobreza e exclusão, atrativa aomiserabilismo e à provocaçãopiedosa, dotando-a da poesianarrativa e visual que a peçaoriginal, ‘Juicy and Delicious’, deLucy Alibar, por si só, não alcançou.Tirando o melhor partido dalinguagem cinematográfica paraalcançar um registo onde coexistem,harmoniosamente, o tomdocumental,dramático e onírico. Como setivesse sido criada de raiz paracinema. Capaz de situar o universo que olha

nas suas mais vastas dimensões,onde nem a pobreza material daspersonagens centrais e dacomunidade é legitimada, nem a suariqueza de espírito – resiliência,solidariedade, sentido deidentidade, arreigada defesa do seupatrimónio e, sobretudo, do seusonho - diminuída, Benh Zeitlin revela um assinalável domínio dacâmara e uma excelente capacidadede adaptação do argumento, numaboa medida narrativa, fazendo jusàs palavras da pequena Hushpuppy:‘o universo depende de tudo seencaixar perfeitamente’.Uma história assente em desajusteseconómicos e sociais que encontrana força do espírito daspersonagens, na sensibilidade dorealizador e no notável desempenhoda pequena Quvenzhané Wallis oequilíbrio para a merecidaaclamação de que tem sido alvo.

Margarida Ataíde

43

Lugar Sagrado Online

www.lugarsagrado.comNo passado dia 13 de fevereiroiniciámos mais um tempo depreparação para a Páscoa. AQuaresma convida-nos a alimentara fé com uma escuta mais atenta eprolongada da Palavra de Deus, auma participação efetiva nosSacramentos e, a crescer nacaridade - amor a Deus e aopróximo. Assim, como forma deentrarmos neste tempo precioso dereavivar a fé, esta semanaapresentamos um sítio de oraçãodiária pensado para quem, comotantos de nós, passa grande partedo tempo em frente ao computadore naturalmente tem dificuldade emarranjar um tempo para rezar.O Sacred Space (Lugar Sagrado) éum projecto lançado pelos jesuítasirlandeses na Quaresma de 1997sempre com atualizações diárias ecom as leituras adequadas ao dia,encontrando-se já traduzido em 17idiomas. Apesar de estar anecessitar

de uma atualização ao nível doambiente gráfico e uma melhorotimização para os dispositivosmóveis (smartphones, tablets, etc.),os conteúdos e objetivos a que sepropõe estão bastante actualizados.O que é pedido a cada visitante éque tire dez minutos do seu dia paradedicar à oração e aorelacionamento mais

44

profundo e próximo com Deus.Desta forma, conseguimos terconsciência da Sua presença nanossa vida, através da persecuçãode sete etapas (Oração Introdutória,Presença de Deus, Liberdade,Tomada de consciência, A palavrade Deus, Diálogo e Conclusão),pelas quais somos guiados com umsimples clique do rato. Temos aindadisponível um guia nas etapas demaior dificuldade de reflexão quenos orienta e ajuda para umaoração mais conseguida e profunda.

Apesar de existirem atualmenteoutras propostas de oração virtual,que já foram alvo de análise nesteespaço, fica aqui a sugestão quebem poderá ser continuada paraalém deste forte tempo litúrgico,podendo certamente tornar-se um“vício” diário. Pois sendo verdadeque nos preparamos para a festa daressurreição de Cristo, a Igrejaatravés da liturgia e oração, desejaprincipalmente que nos preparemospara o encontro definitivo com Ele.Como sabemos Deus está em todoo lado e o nosso escritório, oespaço onde na nossa casa temos ocomputador, ou através dodispositivo móvel podem também serlugares adequados paraconversarmos com o nosso Pai.

Fernando Cassola Marques

45

Jesus de Nazaré,a história da fé por Joseph RatzingerO primeiro volume foi lançado em2007 com o título Jesus de Nazaré.O Papa, procura responder àstendências do actual contextocultural, que procuram distanciar oJesus da história do Cristo da fé,quase ignorando as respostas"institucionais" sobre a figura centraldo Cristianismo.

Ao longo de 10 capítulos, Bento XVImostra-se atento aos dados dapesquisa moderna sobre Jesus eapresenta o Jesus dos Evangelhoscomo o verdadeiro Jesus histórico,uma figura sensata e convincente aque podemos e devemos fazerreferência com confiança e sobre aqual temos motivos para apoiar anossa fé e a nossa vida cristã. Em 2011 Joseph Ratzinger lança osegundo capítulo com o subtítulo“Da entrada em Jerusalém até àRessurreição”. Bento XVI escreve,neste capítulo, sobre Jesus nosacontecimentos da Semana Santa,desde a Entrada em Jerusalém – emDomingo de Ramos – até à

Ressurreição e Ascensão. É ocentro da Aliança bíblica e o centroda missão de Jesus e da missãoconfiada à Igreja.O terceiro e último livro foi editadoem 2012 e divide-se em quatrocapítulos

46

abordando o arco histórico quecomeça na apresentação dagenealogia de Jesus e termina nasua separação e reencontro com ospais, em Jerusalém, aos 12 anos.Com o lançamento desta triologia,Joseph Ratzinger cumpre o seusonho de escrever sobre JesusCristo – uma obra em três volumesque começou em 2003, ainda antesde ser Papa, e que levou nove anosa concretizar.“Os livros cativaram-me, é umapalavra do nosso Papa, queroapenas aceitar o convite que nosfaz de acompanhar Jesus, nacelebração da Páscoa, aproximar-me, guiado pelo Papa, dessa figuraapaixonante de Jesus Cristo”.D.José Policarpo, Cardeal Patriarcade Lisboa, 11 de Março de 2012“Jesus de Nazaré”, uma obra daautoria de Bento XVI, faz jus àmissão do Papa, como exegeta,mestre,teólogo e pastor da Igreja.D.Manuel Quintas , bispo doAlgarve, 28 de Março de 2011

“Muitas passagens bíblicas, quepareciam sem nexo e do passado,ganharam sentido e vida. A obraoferece um encontro muito pessoaldo leitor com Jesus Cristo, que nãoé apenas uma figura histórica dopassado, mas alguém do presente,porque ressuscitou, está vivo”.D. António Vitalino, bispo de Beja,21 Março 2011

47

De perito conciliar a Paparesignatário

O Papa Bento XVI, que resignou esta segunda-feira,foi um dos peritos do II Concílio do Vaticano, iniciadoem outubro de 1962. Na audiência geral de 10 deoutubro de 2012, Bento XVI recordou essesmomentos: “Eu era um jovem professor de teologiafundamental na Universidade de Bonn, e foi oarcebispo de Colónia, cardeal Frings, para mim umponto de referência humano e sacerdotal, que metrouxe consigo a Roma como seu teólogo consultor;depois, fui também nomeado perito conciliar”.Ao memorar o início do II Concílio do Vaticano, BentoXVI disse, em Castel Gandolfo, na memória do bispoSanto Eusébio de Vercelas, 2 de Agosto de 2012,que “foi um dia maravilhoso aquele 11 de Outubro de1962 quando, com a entrada solene de mais de doismil Padres conciliares na Basílica de São Pedro emRoma, se abriu o Concílio Vaticano II”.“Raras vezes na história foi possível como então,quase «tocar» concretamente a universalidade daIgreja num momento da grande realização da missãode levar o Evangelho a todos os tempos e até aosconfins da terra”, disse o Papa.Cada um dos episcopados aproximou-se do grandeacontecimento eclesial “com ideias diferentes”.Alguns chegaram com uma atitude “mais deexpectativa em relação ao programa que devia serdesenvolvido”, mas “foi o episcopado

48

do centro da Europa – Bélgica,França e Alemanha – que semostrou mais decidido nas ideias”,afirmou Bento XVI.Entre os franceses, foi sobressaindocada vez mais o tema da relaçãoentre a Igreja e o mundo moderno,isto é, o trabalho sobre o chamado«Esquema XIII», do qual nasceudepois a Constituição pastoral sobrea Igreja no mundo contemporâneo.“Atingia-se aqui o ponto daverdadeira expectativa suscitadapelo Concílio”, lembrou o Papa queresigna a 28 deste mês.A Igreja, que na época barroca tinha“em sentido lato plasmado o mundo,a partir do século XIX entrou demodo cada vez mais evidente numarelação negativa com a eramoderna então plenamente iniciada”.“As coisas deviam continuar assim?Não podia a Igreja cumprir um passopositivo nos tempos novos?”questiona o Bento XVI e respondede seguida: “por detrás da vagaexpressão «mundo de hoje»,encontra-se a questão da relaçãocom a era moderna; para aesclarecer, teria sido necessáriodefinir melhor o que

era essencial e constitutivo da eramoderna”. “Isto não foi conseguidono «Esquema XIII», Embora aConstituição pastoral exprima muitoselementos importantes para acompreensão do «mundo» e dêcontribuições relevantes sobre aquestão da ética cristã, no referidoponto não conseguiu oferecer umesclarecimento substancial”,acrescenta o Papa.“Inesperadamente”, o encontro comos grandes temas da era modernanão se dá na Constituição pastoral,mas “em dois documentos menores,cuja importância só pouco a poucose foi manifestando com a receçãodo Concílio”, referiu Bento XVI. Enomeia os dois documentos:Declaração sobre a liberdadereligiosa e a declaração Nostraaetate.No cardeal Frings, Bento XVIconsidera que teve “um «pai» queviveu de modo exemplar esteespírito do Concílio”. “Era umhomem de significativa abertura egrandeza, mas sabia também que sóa fé guia para se fazer ao largo,para aquele horizonte amplo queresta impedido ao espíritopositivista”, concluiu.

49

fevereiro 2013

Dia 15* Porto - Auditório da CasaEpiscopal - III Encontro de artistaspromovido pelo Secretariadodiocesano da Pastoral da Cultura. * Guimarães - Encerramento daexposição «Fernando Távora –Modernidade Permanente». * Guarda - Seia (21h00m) - D.Manuel Felício participa na aberturadas jornadas do conhecimento comconferência subordinada ao tema«Aventura da Fé na construção davida com sentido». * Lisboa - Mafra (Basílica) (21h00m)- Conferência sobre «NossaSenhora de Fátima» para preparara visita da imagem peregrina àvigararia de Mafra.

* Leiria - Cruz da Areia (Auditório doColégio Conciliar de MariaImaculada) - Apresentação do livro«O ensino privado nas décadas de50, 60 e 70 do século XX - Ocontributo das Escolas Católicas»de Jorge Cotovio com sessãopresidida por D. António Marcelino.* Aveiro - Encerramento dasinscrições para a acção deformação do ISCRA sobre «Bioética- horizonte ténue entre a esperançae o desespero».* Aveiro - Primeira catequesequaresmal sobre «Ser discípulo deCristo». * Espanha - Barcelona - Congressointernacional «Cinema e NovaEvangelização». (15 e 16)* Leiria - Fátima (Gondemaria) -Actividade para os jovens davigararia de Ourém que incluí umconcerto com o padre João PauloVaz e a participação da banda«Somos um» do Grupo de Jovensde Fátima. (15 e 16)* Viana do Castelo - Monção (CentroParoquial) - Jornadas Teotonianassubordinadas ao tema: «Atualidadedo Concílio Vaticano II» (15 a 17)

50

* Fátima - Encontro nacional daAssociação de Servitas de NossaSenhora. (15 a 17)Dia 16* Évora - Sessão da «Rota dasIgrejas d´Évora» com análiseexclusiva às igrejas de São Miguelde Machede e de Nossa Senhora deMachede.* Fátima - Peregrinação nacionaldos Missionários da Consolata.* Viana do Castelo - TeatroMunicipal Sá de Miranda (21h30m)-Espectáculo «Coração Solidário»cujas receitas revertem para aCáritas da Diocese de Viana doCastelo. * Leiria - Visita à igreja paroquial daMaceira, Museu Joaquim Correia eigreja paroquial da Marinha Grandepromovida pelo Departamento doPatrimónio Cultural da Diocese deLeiria-Fátima. * Lisboa - Convento de SãoDomingos de Lisboa - Conferênciasobre «Ateísmo: nihilismo oumística» por frei Rui Grácio eintegrada no ciclo «As linguagensda Fé». * Évora - Conselho pastoraldiocesano.* Guarda - Seminário - Acção deformação para catequistas sobre osnovos catecismos.* Guarda - Jornadas sobre o servode Deus, D. João de Oliveira Matos,organizadas pela Liga dos Servosde Jesus.

* Braga - Barcelos - Dia arciprestaldo catequista.* Braga - Sala Emaús - Conselhoarquidiocesano de Pastoral dosJovens.* Algarve - D. Manuel Quintas reunecom os membros do ConselhosPastorais das paróquias da zona deLagos. * Évora - Encontro dos professoresde EMRC.* Beja - Assembleia geral da Cáritasdiocesana de Beja.* Évora - Encontro promovido peloServiço Pastoral a Pessoas comDeficiência. * Porto - Apresentação do projecto«YOUthTRAVEL» do DepartamentoNacional da Pastoral Juvenil.* Viana do Castelo - Barroselas - Retiro de Quaresma para jovensdos 15 aos 18 promovido pelosMissionários Passionistas. * Fátima - Encontro nacional da LigaIntensificadora de Acção Missionária(LIAM) (16 e 17)* Porto - Felgueiras - Jornadas daFé da Vigararia de Felgueiras. (16 e17)* Fátima - Encontro da AcçãoCatólica Rural (ACR) da diocese deSantarém. (16 e 17)

51

Ano C – 1º Domingo da Quaresma

Deixartentaçõespara acolher oamor de Deus

Neste primeiro domingo da Quaresma, a Palavra deDeus faz-nos tomar consciência das tentações quenos impedem de renascer para a vida nova, que évida em Deus. Levados pela palavra de fé que está naboca e no coração de cada um de nós, na beladescrição de Paulo, a recusa das tentações só podeser opção pelos valores do Evangelho.Jesus recusou radicalmente um caminho dematerialismo, de poder, de êxito fácil. O plano de Deusnão passava pelo egoísmo, mas pela partilha; nãopassava pelo autoritarismo, mas pelo serviço; nãopassava por manifestações espetaculares, mas poruma proposta de vida plena, apresentada comsimplicidade e amor.Se Jesus é Filho de Deus, diz-lhe o diabo tentador, Eleé o criador, a Palavra que tudo criou. Daí poder mudaras pedras em pão. Mas Jesus recorda-lhe que overdadeiro alimento é a Palavra de Deus.Se Jesus é Aquele que veio instaurar um Reino novo,diz-lhe o tentador, então tem necessidade de poder eglória. Mas Jesus não tomará o poder pela força,

52

menos ainda afastando-Se do seuPai, o único que merece seradorado. Se Jesus é o Filho deDeus, continua a insistir o tentador,pode manifestar a sua divindadeatravés de prodígios que tudoultrapassam. Mas Jesus veio revelaro verdadeiro rosto de Deus, cujoúnico poder é a força do amor.O caminho de Jesus é o mesmopara todos nós que nos dizemos deCristo. Temos necessidade daPalavra de Deus, a única a darsentido e esperança às nossasvidas, de recentrar sempre averdade da nossa fé em Deus Pai,de acolher sempre de novo o amordo Pai.A Palavra do amor de Deus, queilumina toda a nossa vida com Deuse com os irmãos, é o melhorantídoto para todas as tentações.Só na fé e no amor podemos vencê-las e aderir radicalmente ao únicoSenhor das nossas vidas que éCristo.

Nesse sentido, sabe bem sintonizarcom algumas palavras damensagem do Papa para estaQuaresma: «Toda a vida cristãconsiste em responder ao amor deDeus. A primeira resposta éprecisamente a fé comoacolhimento, cheio de admiração egratidão, de uma iniciativa divinainaudita que nos precede e solicita;e o sim da fé assinala o início deuma luminosa história de amizadecom o Senhor, que enche e dásentido pleno a toda a nossa vida.Quando damos espaço ao amor deDeus, tornamo-nos semelhantes aEle, participantes da sua própriacaridade».Que isso aconteça com maisintensidade nestes 40 dias deperegrinação quaresmal: deixartentações para acolher o amor deDeus!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

53

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00Transmissão damissa

11h00 - Transmissãoda missa da paróquiade Santo Andrião(Odivelas)12h15 - 8º Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h30Domingo, dia 17 - Entrevistacom o sociólogo AdrianoMoreira sobre a resignaçãodo Papa Bento XVI. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 18 -Entrevista. Apresentação daCasa da Esperançapelo padre António FernandoTerça-feira, dia 19 -Informação e entrevista com opadre Manuel Morujão, portavoz da Conferência EpiscopalPortuguesa, sobre o pontificado de Bento XVI.Quarta-feira, dia 20 - Informação e entrevista com opadre Manuel Morujão, porta voz da ConferênciaEpiscopal Portuguesa, sobre o pontificado de BentoXVI.Quinta-feira, dia 21 - Informação e rubrica "O Passadodo Presente", com D. Manuel ClementeSexta-feira, dia 22 - Apresentação da liturgia pelopadre João Lourenço e frei José Nunes Antena 1Domingo, dia 17, 06h00 - Cidadela Arco-Íris,Movimento dos FocolaresSegunda a sexta-feira, de 18 a 22 de fevereiro 22h45| - Descobertas de fé

54

A Quaresma é um tempo oportuno para recriar a vidaespiritual, pela oração e participação em iniciativasformativas. A maioria segue modelos consagrados.Outras procuram novas linguagens e novos meiospara chegar a um número crescente de públicos. Ascatequeses quaresmais proferidas por D. JoséPolicarpo, por exemplo, são transmitidas num canalpor cabo. A Faculdade de Teologia da Universidade CatólicaPortuguesa inicia, neste sábado, o curso deespiritualidade cristã. Em causa não está a frequênciaesporádica de qualquer semana de estudo ou aconquista de um grau académico, antes o atingir dohorizonte tantas vezes procurado por quem é crente:ter capacidade para dar razões da própria fé. Cada encontro do Papa Bento XVI decorrerá comosendo o último. Neste Domingo, a mensagemdominical durante a oração mariana do Angelus serámuito mais do que uma comunicação a partir da janelado Palácio Apostólico. Depois, estão previstos maisdois encontros com os peregrinos presentes em Romae com todo o mundo através dos media: a oração doangelus do dia 24 e a audiência geral do dia 27 deFevereiro. Nunca como nestes dias o “estar em retiro” seránotícia. De facto, durante a próxima semana, muitasvezes iremos ler, ver ou ouvir essa “novidade”: o Papaestá em retiro. Nos dias em que se procuramescrutinar todas as palavras e gestos de Bento XVI,ele permanecerá em silêncio e no isolamento daoração. E assim continuará, por vontade própria…

55

Obrigado, Santo Padre Bento XVI

Com uma humildade surpreendente– “peço perdão por todos os meusdefeitos” – e agradecendo “todo oamor e fadiga com que carregastescomigo o peso do meu ministério”, oPapa Bento XVI anunciou a suarenúncia ao pontificado da IgrejaCatólica. Foi no passado dia 11 deFevereiro. Desde então, como quepor magia, o mundo passou a olharpara este homem de aspecto frágil,sorriso tímido e bondoso, com umrespeito invulgar. Profundamenteinteligente, Bento XVI revelou-setambém profundamente corajoso. AFundação AIS – em cujo pontificadofoi promovida a Fundação deDireito Pontifício – não pode deixarde testemunhar o enorme carinhocom que o Santo Padreacompanhou a sua missão. Temsido sempre assim desde o primeirodia: Pio XII, João XXIII, Paulo VI,João Paulo II e agora Bento XVI.

© Lusa

56

Estes gigantes da Igreja apoiarame incentivaram este projectosonhado e concretizado peloPadre Werenfried van Straaten,que a história já classifica como“gigante da caridade”. Os tempossão de incerteza. Nunca, comoagora, o mundo pareceu tão hostilpara com os Cristãos, por causado islamismo militante, do ateísmocastrador e até do capitalismoselvagem e sufocante. Que melhorforma de agradecer os oito anosde pontificado de Bento XVI do quecontinuar a obra que ele tantasvezes abençoou? Este é o desafioque queremos e vamos honrar!www.fundacao-ais.pt

© Lusa

Um dos projectos de maior sucesso da FundaçãoAIS é o pequeno catecismo Eu Creio, que foiaprovado precisamente pelo então CardealRatzinger, Prefeito da Congregação para aDoutrina da Fé. Distribuído em dezanove línguas,em todos os continentes, este pequeno catecismojá ultrapassou os 3 milhões de exemplares.

57

Das virtudes do skate

João WengoroviusMeneses

Tem-se dito que a actual crise é uma excelenteoportunidade para questionar os modos de vidae (re)descobrir os prazeres mais simples egenuínos. De agora em diante, e por diversasrazões, seremos forçados a adoptar modos devida mais criativos, frugais e sustentáveis, o queconstituirá um novo paradigma de relação decada um consigo próprio, com os outros e com ohabitat.Ao longo da história, há inúmeros exemplos demudanças ou invenções induzidas por crises,havendo uma, com cerca de meio século,especialmente singular – a invenção do skate.Foi na sequência de uma “crise” de ondas naCalifórnia que os surfistas criaram umaalternativa imune ao estado do mar – o skate.Mais tarde, no início da década de setenta, enovamente na Califórnia, uma longa seca (outracrise) forçou os proprietários de piscinas a deixá-las vazias, abrindo espaço à descobertaadicional de que o skate não tinha de se cingir àsruas, podendo também praticar-se no interior depiscinas vazias, com toda a emoção e velocidadeassociadas (naquela época, as piscinas tinhamformatos propícios pois eram “arredondadas”).O skate veio permitir uma expansão criativa nomodo como nos relacionamos com o espaço.Uma simples tábua com quatro rodas, altamenteacessível e capaz de se adaptar quase aqualquer meio, foi o suficiente para queocorresse uma explosão de alegria e sentimentode liberdade nas ruas, em muitos casos emlocais suburbanos e desoladores.

58

O seu bailado ondulante, deslizante,por vezes “levitante” (de tão leve atábua), era verdadeiramentedisruptivo face aos modos habituaisde relação com o espaço. Ao fazercom que uma rampa tenha deixadode ser apenas uma rampa, umapiscina apenas uma piscina, umcorrimão apenas um corrimão ou umbanco apenas um banco, o skatealargou a realidade, “surrealizou” oespaço. No fundo, julgo que a suamá fama se deverá mais a essa“radicalidade” do que aocomportamento inadequado dealguns skaters (estemais relacionado com a suajuventude) ou ao facto dos skatespoderem contribuir para algumdesgaste material do habitat

(é consensual que, com certasregras, o espaço público deve ser omais vivido possível). De qualquermodo, e como tantas vezesacontece, o estigma abriu espaço àafirmação de uma subcultura, o quereforçou ainda mais o preconceito.Em 2002, convicto de que o skatecombina um conjunto de virtudesinteressantes e invulgares, e já com92 anos de idade, Edmund Bacon(arquitecto e ex-mayor da cidade)atravessou o “LOVE Park” deFiladélfia de skate, em protestocontra a sua proibição naquelelocal. Por vezes penso nesse gesto,nesse espírito livre, e é como se eupróprio atravessasse o “LOVE Park”de skate.

59

Crer com os outrosEssencialmente, a fé ésempre também um acreditarjunto com os outros.Ninguém pode crer sozinho.Recebemos a fé, diz-nosPaulo, através da escuta. E aescuta é um processo querequer o estar juntos demodo espiritual e físico.Somente na grandecomunhão dos fiéis de todosos tempos que encontrarama Cristo e foram encontradospor Ele, posso crer. O fatode poder crer devo-o, antesde mais nada, a Deus que Sedirige a mim e, por assimdizer, «acende» a minha fé.Mas, de um modo muitoconcreto, devo a minha féàqueles que vivem ao meuredor e que acreditaramantes de mim e acreditamjuntamente comigo. Estegrande «com», sem o qualnão pode haver qualquer fépessoal, é a Igreja.

(Bento XVI, em Erfurt,23 de setembro de 2011)

60