4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel · É possível demonstrar que a potência média...
Transcript of 4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel · É possível demonstrar que a potência média...
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel
O desempenho dos sistemas de comunicações móveis é extremamente
dependente do comportamento do canal de propagação. O percurso entre uma
estação base e um terminal móvel pode apresentar uma condição de visibilidade
entre ambos, ou uma severa obstrução por edificações, relevo ou mesmo
vegetação. Ao contrário das comunicações por meios confinados (fios, cabos, ou
guias de onda), nas quais o canal é estacionário e previsível, o canal rádio-móvel é
extremamente aleatório, de difícil análise.
A abordagem tradicional para modelos de propagação procura prever a
intensidade média de sinal recebida a uma certa distância do transmissor, bem
como a variabilidade da intensidade de sinal dentro de uma pequena região ao
redor do receptor. Os modelos de propagação que predizem a intensidade média
de sinal para uma separação arbitrária entre transmissor e receptor são úteis para a
estimação da área de cobertura do transmissor, e são comumente referidos como
“modelos de propagação de larga escala”. Por outro lado, os modelos que
caracterizam as flutuações rápidas do sinal recebido ao longo de distâncias muito
curtas (da ordem de alguns comprimentos de onda), ou durante pequenos
intervalos de tempo (da ordem de segundos), são chamados de “modelos de
pequena escala” ou “modelos de desvanecimento” [26-27].
O desvanecimento é provocado por interferência entre duas ou mais
“cópias” do sinal transmitido que chegam ao receptor em instantes ligeiramente
diferentes. Estas ondas, conhecidas como componentes por multipercursos, se
combinam na antena receptora, produzindo um sinal resultante que pode
apresentar grandes variações de amplitude e fase, dependendo da distribuição das
intensidades e dos tempos relativos de propagação das ondas recebidas, e também
da largura de faixa do sinal transmitido. Os efeitos mais importantes causados
pelos multipercursos ao canal rádio-móvel são três. Em primeiro lugar, variações
rápidas na intensidade do sinal ao longo de pequenas distâncias percorridas, ou
durante pequenos intervalos de tempo. O segundo efeito é uma modulação de
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 83
freqüência aleatória devido a deslocamentos Doppler variantes nas diferentes
componentes recebidas, em função do movimento relativo entre o receptor e os
diversos espalhadores que originaram os multipercursos. Por fim, os retardos de
propagação dos sinais que chegam ao receptor por múltiplos percursos provocam
um efeito de dispersão temporal (ecos) do sinal original. É importante salientar
que as componentes multipercursos que tanto afetam o canal rádio-móvel, chegam
à antena receptora não só em tempos diferentes, mas também em direções (ou
ângulos) diversos, mesmo quando há condição de visibilidade entre transmissor e
receptor.
Uma das estratégias mais adotadas para a análise dos efeitos de pequena
escala do canal de propagação é a caracterização estatística baseada em medidas.
Em particular, como existe uma relação entre a largura de faixa do sinal
transmitido e os efeitos associados aos multipercursos5, é interessante analisar o
comportamento de propagação de sinais faixa-larga. As sondagens faixa-larga
permitem, portanto, a análise do comportamento de dispersão temporal do canal.
Mais recentemente, com o advento do uso de arranjos de antenas em sistemas de
comunicações móveis, a análise do canal de propagação sujeito aos efeitos dos
multipercursos passou a incluir também os ângulos-de-chegada, e as estatísticas
associadas às variações dos mesmos, ou seja, o comportamento de dispersão
espacial do canal.
Tendo como focos a sondagem faixa-larga do canal de propagação, que
permite a análise da dispersão temporal, e a estimação de AOA, este capítulo
apresenta inicialmente um modelo para o canal rádio-móvel sujeito aos
multipercursos. Em seguida, as principais técnicas de sondagem do canal temporal
são apresentadas. Por fim, a estimação do canal espacial com base em medidas é
discutida.
4.1. Canal de propagação rádio-móvel
Um modelo para caracterizar as variações de pequena escala do canal de
propagação rádio-móvel será apresentado inicialmente. Em particular, deseja-se
5 Os multipercursos têm influência sobre a chamada “largura de faixa de coerência” do
canal, dentro da qual o canal apresenta uma resposta praticamente plana. Quando a largura de faixa do sinal transmitido é maior que a banda de coerência do canal, o sinal sofre o chamado desvanecimento seletivo em freqüência, que resulta em distorção temporal do sinal.
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 84
estabelecer um equacionamento básico para analisar a dispersão temporal. A
resposta que permite o tipo de análise desejada é o chamado perfil de potência de
retardos (PDP – Power Delay Profile). Em seguida, o modelo para o canal
temporal é estendido para contemplar o domínio de análise espacial.
4.1.1. Modelo para caracterização da dispersão temporal
As variações de pequena escala de um sinal rádio-móvel podem ser
relacionadas diretamente à resposta ao impulso do canal correspondente. A
resposta ao impulso é uma caracterização faixa-larga do canal, da qual
informações relevantes sobre o mesmo são extraídas, para auxiliar simulações e
análises de diferentes condições de rádio-transmissão. O canal pode ser visto
como um elemento que transforma sinais de entrada em sinais de saída, ou seja,
como um filtro linear. Entretanto, como o comportamento do canal é tipicamente
variante no tempo, as características do filtro equivalente também devem refletir
aquele comportamento.
Para exemplificar a abordagem determinística que modela o canal como um
filtro linear com resposta ao impulso variante no tempo, seja o caso simplificado
de um terminal móvel, que se afasta de uma estação-base a uma velocidade
constante v, sendo r a distância entre ambos. Para uma posição qualquer, o canal
pode ser modelado como um sistema linear invariante no tempo. Entretanto, como
as componentes por multipercursos apresentam retardos de propagação que
variam de acordo com a posição do receptor, a resposta ao impulso do canal deve
ser expressa como função daquela posição. Com isso, a resposta pode ser escrita
como h(r, t). Se x(t) representa o sinal transmitido, então o sinal recebido y(r, t)
em r pode ser expresso como a convolução de x(t) com h(r, t), ou seja:
(4.1) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )∫∞
∞−−=⊗= ττ dtrhxtrhtxtry ,,, τ
Para um sistema causal, h(r, t) = 0 para t < 0, e a eq. (4.1) se reduz a:
(4.2) ( ) ( ) ( )∫ ∞−−=
tdtrhxtry τττ ,,
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 85
Lembrando que uma velocidade constante v foi assumida, a posição pode
ser expressa como r = vt. Com isso, a eq. (4.2) pode ser re-escrita da forma:
(4.3) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )trhtxtvthtxdtvthxtyt
,,, ⊗=⊗=−= ∫ ∞−τττ
Assumindo agora que a velocidade pode ser considerada constante durante
um período curto de tempo (ou ao longo de uma distância curta), e que x(t) e y(t)
representem os sinais realistas passa-faixa transmitido e recebido respectivamente,
a resposta ao impulso do canal pode ser representada por h(t, τ). Esta resposta
caracteriza completamente o canal. A variável t representa a variação com o
tempo devida ao movimento relativo, enquanto τ representa os retardos em
excesso das componentes por multipercursos do canal, para um dado valor de t. O
parâmetro τ pode ser interpretado como um ajuste fino de tempo. A relação entre
os sinais transmitido e recebido e a resposta ao impulso do canal passa a ser
escrita por:
(4.4) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )ττττ ,, thtxdthxty ⊗== ∫∞
∞−
Ainda mantendo a hipótese de sinais realistas, assumindo-se que o canal
seja limitado em largura de faixa, é possível descrevê-lo por sua resposta
complexa em banda básica hb(t, τ), com a entrada e a saída representadas pelas
envoltórias complexas dos sinais transmitido e recebido, respectivamente. A
Figura 14 ilustra essa referida equivalência em banda básica para os sinais em
questão, e o modelo em banda básica é equacionado por:
( ) ( ) ( τ,21 thtxty bbb ⊗= ) (4.5)
onde xb (t) e yb(t) estão relacionados a x(t) e y(t) respectivamente por:
( ) ( ){ }tfjb
cetxtx π2Re= (4.6)
( ) ( ){ }tfjb
cetyty π2Re= (4.7)
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 86
( ) ( ){ }tjb
cethth ωττ ,Re, =
( )τ,21 thb
x(t)
xb(t) yb(t)
y(t)
MODELO PASSA-BANDA
MODELO EM BANDA BÁSICA
( ) ( ){ }( ) ( ) ( )thtxty
etyty tjb
c
⊗== ωRe
( ) ( ) ( )thtxty bbb 21
21
21
⊗=
( ) ( ){ }tjb
cethth ωττ ,Re, =
( )τ,21 thb
x(t)
xb(t) yb(t)
y(t)
MODELO PASSA-BANDA
MODELO EM BANDA BÁSICA
( ) ( ){ }( ) ( ) ( )thtxty
etyty tjb
c
⊗== ωRe
( ) ( ) ( )thtxty bbb 21
21
21
⊗=
Figura 14 Modelo de resposta ao impulso de canal passa-banda e sua equivalente em
banda-básica.
A caracterização em banda básica remove as variações de alta freqüência
associadas à portadora, tornando o sinal mais fácil de se manipular analiticamente.
É possível demonstrar que a potência média de um sinal passa-banda ( )tx2 é igual
a ( ) 221 txb , onde a barra sobreposta denota média conjunta para um sinal
estocástico, ou média temporal para um sinal determinístico ou estocástico
ergódico [26].
Uma estratégia muito utilizada na modelagem do canal rádio-móvel é a
discretização do eixo de retardos τ da resposta ao impulso em segmentos iguais
chamados “blocos de retardo em excesso” (excess delay bins), cada bloco com
uma largura ∆τ = τi+1 - τi, com τ0 = 0 representando o retardo do primeiro sinal
que chega ao receptor. Por convenção, têm-se portanto que τi = i∆τ para todo i = 0
a N - 1, onde N representa o número total de componentes multipercursos
igualmente espaçadas, incluindo a primeira. Qualquer quantidade de sinais por
multipercursos recebida no período associado ao i-ésimo bloco é representada por
uma única componente equivalente de retardo τi. Esta técnica de quantização da
escala de retardos determina a resolução do modelo de canal no domínio dos
retardos e ainda indica a largura de faixa de freqüência associada, que é dada por
1/(2∆τ). Ou seja, o modelo pode ser empregado para analisar sinais cuja largura
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 87
de banda seja menor que 1/(2∆τ). Deve-se observar que ao adotar a convenção de
que τ0 = 0, o tempo real de propagação transcorrido para a primeira componente
recebida é descartado. O retardo relativo da i-ésima componente multipercurso
comparado com o da primeira componente é chamado de “retardo em excesso”, e
é dado por τi. O “retardo em excesso máximo” é dado portanto por N∆τ.
Uma vez que o sinal recebido após ter sido modificado por um canal
multipercursos consiste de uma série de réplicas atenuadas, retardadas e defasadas
do sinal transmitido, a resposta ao impulso em banda básica do canal pode ser
expressa como:
(4.8) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )(∑−
=
−=1
0
,,,N
ii
ttjib teetath iic ττδττ τφτω )
)
onde e τ são as amplitudes e retardos reais respectivamente, da i-ésima
componente por multipercursos no instante t. O termo ω na eq. (4.8)
representa o deslocamento de fase devido à propagação no espaço livre da i-ésima
componente, somado a qualquer deslocamento de fase adicional que o canal
provoque. A Figura 15 ilustra o comportamento de um canal multipercursos nos
dois domínios em questão: retardos e tempo.
( τ,tai ( )ti
( ) ( )τφτ ,tt iic +
Figura 15 Exemplo de modelo de resposta ao impulso variante no tempo discretizada
para um canal rádio-móvel.
Assumindo a resposta ao impulso do canal como invariante no tempo, ou
pelo menos durante um curto intervalo de tempo ou ao longo de um pequeno
deslocamento espacial, então a resposta ao impulso do canal pode ser simplificada
para:
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 88
(4.9) ( ) ( )∑−
=
− −=1
0
N
ii
jib
ieah ττδτ θ
onde θi agrega os mecanismos associados aos deslocamentos de fase mencionados
previamente.
A modelagem das variações de pequena escala do canal enunciada até aqui
permite o cálculo do chamado “perfil de potência de retardos” do canal (PDP –
Power Delay Profile), tomando a média espacial de ( ) 2,τthb sobre uma área
específica.
4.1.2. Modelo para estimação do espectro espacial
No capítulo 3, a estimação do espectro espacial foi apresentada segundo um
modelo (“modelo de arranjo”) no qual apenas variações azimutais eram
consideradas, por simplificação. Seja agora a situação mais genérica ilustrada na
Figura 16, onde um arranjo de antenas é sensibilizado por uma onda que chega em
uma direção definida por dois ângulos: azimute (φ) e elevação (θ). Como no
capítulo anterior, as mesmas hipóteses simplificadoras serão adotadas, ou seja:
arranjo ULA; condição de campo distante; acoplamento mútuo entre as antenas
desprezível; e modelo de decomposição do sinal de chegada discreto e finito.
Figura 16 Modelo de arranjo para uma direção de chegada 3D.
Para um arranjo de M elementos, conforme indicado na Figura 17, que
ilustra a projeção dos AOA no plano azimutal, quando apenas uma onda é
recebida, o campo recebido na i-ésima antena pode ser modelado como:
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 89
(4.10) ( ) ( ) ( )tntutx iii +=
onde
(4.11) ( ) ( ) djkii etstu ∆−=
(4.12) θφ sen cos xd ∆=∆
Figura 17 Projeção dos AOA no plano azimutal para um arranjo ULA de M elementos.
Na eq. (4.10), ui(t) é a versão defasada do sinal transmitido s(t), com relação
ao sinal recebido no elemento de referência (i = 0). A diferença de fase é igual à
constante de propagação k multiplicada pela distância adicional que a frente de
onda precisa percorrer para alcançar a i-ésima antena, dada por i∆d, com ∆d
definido pela eq. (4.12). O ruído aditivo é representado pelo termo ni(t) na eq.
(4.10).
O modelo em questão pode ser descrito mais concisamente por um
equacionamento vetorial. Sejam portanto os vetores de sinal e de ruído x(t) e n(t)
respectivamente, dados por:
(4.13) ( )
( )( )
( )
=
− tx
txtx
t
M 1
1
0
Mx
(4.14) ( )
( )( )
( )
=
− tn
tntn
t
M 1
1
0
Mn
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 90
Pela definição da eq. (4.10), o vetor de dados e o sinal transmitido são
relacionados pela equação:
( ) ( ) ( ) ( )ttst nax += φθ , (4.15)
onde o vetor diretor é dado por: ( φθ ,a )
(4.16) ( )( )
=
∆−−
∆−
dMjk
djk
e
e
1
1
,M
φθa
Para N componentes (N < M), o sinal recebido no i-ésimo elemento passa a
ser dado pelo somatório:
(4.17) ( ) ( )( ) ( )tntutx i
N
n
nii += ∑
−
=
1
0
onde
(4.18) ( )( ) ( ) ndjkin
ni etstu ∆−=
(4.19) nnn xd θφ sen cos ∆=∆
Em notação vetorial, a equação que representa o vetor de sinal é
praticamente a mesma da eq. (4.15), e é dada por:
( ) ( ) ( ) ( )ttt nsAx += φθ , (4.20)
ou alternativamente
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 91
(4.21)
( )( )
( )
( ) ( ) ( )[ ]
( )( )
( )
( )( )
( )1M 1N NM 1M
, , ,
1
1
0
1
1
0
110
1
1
0
××××
+
=
−−
−
− tn
tntn
ts
tsts
tx
txtx
MN
N
M
MML
Mφθφθφθ aaa
onde
(4.22) ( )( )
=
∆−−
∆−
n
n
dMjk
djk
n
e
e
1
1
,M
φθa
Ou seja, ao invés de um vetor diretor que contempla o caráter direcional do caso
de uma única onda incidente sobre o arranjo, tem-se uma “matriz diretora”
composta pela justaposição dos vetores diretores associados às N direções de
chegada. Esta matriz diretora também é conhecida como array manifold.
A eq. (4.20) modela o sinal recebido por um arranjo ULA, em função das
direções de chegada das componentes por multipercursos do sinal originalmente
transmitido. A relação entre o sinal transmitido, o canal de propagação e o vetor
de sinal recebido em um arranjo pode ser equacionada como:
(4.23) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )tdthstttstt
nnhx +−=+⊗= ∫ ∞−λτλλτ ,,
onde h(t,τ) é um vetor composto pela resposta ao impulso do canal para cada
elemento do arranjo, e é chamado de “resposta ao impulso de canal vetorial”
(VCIR – Vector Channel Impulse Response). Comparando as eqs. (4.23) e (4.20),
e lembrando que a integral na primeira equação pode ser representada por um
somatório, já que o modelo assume a hipótese de um número finito e discreto de
componentes multipercursos, a VCIR pode ser modelada como:
(4.24) ( ) ( ) ( ) (∑−
=
−=1
0,,
N
iiii tt ττδαφθτ ah )
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 92
com o vetor de sinal associado dado por
(4.25) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )ttstttstN
iiii
N
iii nanax +−=+= ∑∑
−
=
−
=
1
0
1
0,, ταφθφθ
onde e τ são a amplitude complexa e o retardo de percurso da i-ésima
componente. A amplitude complexa dessa componente é função do tempo e pode
ser especializada ainda mais como:
iα i
( ) ( )iitfjii et ψπρα += 2 (4.26)
onde representa o ganho de percurso para a i-ésima componente, fiρ i é o
deslocamento Doppler devido ao movimento relativo entre o transmissor e
espalhadores ao redor, e ψ é um deslocamento de fase fixo. Via de regra, todas
as variáveis do VCIR podem variar com o tempo, com a posição e com a
velocidade do usuário. Entretanto, conforme demonstrado por inúmeros resultados
experimentais, pelo menos localmente dentro de uma área pequena,
correspondente a uma distância de alguns comprimentos de onda, pode-se
considerar as grandezas envolvidas como aproximadamente constantes.
i
Uma simplificação da VCIR pode ser obtida quando os retardos em excesso
das componentes por multipercursos associadas ao canal sejam muito pequenos
comparados ao período do símbolo do sinal original s(t). Neste caso, a
aproximação de canal faixa-estreita τ ≈ pode ser adotada, e o sinal recebido
pode ser simplificado para:
0τi
(4.27) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )tttstttstN
iii nbnax +−=+−= ∑
−
=0
1
00 , ταφθτ
onde
(4.28) ( ) ( ) ( ) ( )∑−
=
==1
0
,N
iii ttt αφθabh
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 93
Ou seja, a VCIR é dada por b(t), que é chamada de “assinatura espacial” do canal
faixa-estreita. Observa-se que b(t) é mais representativo de um canal
multiplicativo que de um canal convolucional. Se o canal for seletivo em
freqüência (faixa-larga), de modo que os retardos sejam da ordem ou excedam a
duração do símbolo, a VCIR mais genérica da eq. (4.24) deve ser usada.
A VCIR propriamente dita não fornece de forma direta informações sobre a
distribuição dos AOAs. Entretanto, a partir de um conjunto de snapshots da
VCIR, o espectro espacial pode ser estimado aplicando-se algoritmos de
estimação clássicos (conformação de fixe, Capon, etc) ou paramétricos (MUSIC,
ESPRIT, etc), como os apresentados no capítulo anterior. Na verdade, para
contemplar a avaliação do espectro espacial 3D, cuja VCIR é dada pela eq. (4.24),
conformações de arranjos mais elaboradas são necessárias para sondar
conjuntamente azimute e elevação, como o arranjo uniforme retangular por
exemplo. Pela mesma razão, os algoritmos de estimação apresentam uma
formulação mais complicada que a associada ao ULA, sendo a complexidade
associada à geometria do arranjo e à dimensão angular adicional, e não ao
princípio por trás de cada método, que permanece o mesmo.
4.2. Técnicas de sondagem do canal banda larga no domínio temporal (retardos)
Dada a importância em se conhecer a estrutura multipercursos do canal
rádio-móvel para se determinar os efeitos de desvanecimento de pequena escala,
diferentes técnicas de sondagem foram desenvolvidas. De modo geral, são três os
princípios mais utilizados. A sondagem por varredura do espectro de freqüência é
um deles. Outro princípio, talvez o mais antigo deles, é o da transmissão de um
pulso temporal de curta duração, que tenta aproximar o efeito da transmissão de
um impulso ideal. A última técnica é a que aproveita as convenientes propriedades
estatísticas de sinais pseudo-aleatórios, cuja autocorrelação apresenta resposta que
se aproxima de um impulso, para realizar a sondagem.
4.2.1. Sondagem no domínio da freqüência
A Figura 18 apresenta uma configuração bastante utilizada, particularmente
para medidas em ambientes fechados (indoor). Basicamente coloca-se o canal de
propagação (incluindo as respostas das antenas) como o DUT (Device Under Test
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 94
– dispositivo sob teste) de um analisador de rede, que opera no domínio da
freqüência como se sabe. Tendo o espectro à disposição, assume-se que o canal é
invariante ao longo do tempo em que uma varredura é realizada, e aplica-se,
então, a transformada inversa de Fourier. A resposta assim obtida permite
identificar os retardos em excesso de propagação associados ao canal, para a
janela temporal em que a sondagem foi feita.
Analisador de Rede Vetorialcom
Varredura em freqüência
Teste de parâmetro S
TX RX
X(ω)
porta 1 porta 2
Y(ω)
Transformadade
Fourier
S21(ω) α H(ω) = Y(ω)/X(ω)
h(t) = FT-1[H(ω)]
Analisador de Rede Vetorialcom
Varredura em freqüência
Teste de parâmetro S
TX RX
X(ω)
porta 1 porta 2
Y(ω)
Transformadade
Fourier
S21(ω) α H(ω) = Y(ω)/X(ω)
h(t) = FT-1[H(ω)]
Figura 18 Sondagem temporal no domínio da freqüência usando analisador de rede.
Uma das restrições da técnica acima é a limitação de distância, já que as
portas do analisador se conectam com as antenas transmissora e receptora através
de cabos (coaxiais ou fibras óticas). Outra restrição está associada à velocidade de
varredura do analisador na faixa de freqüências escolhida. Durante o tempo que o
analisador executa uma varredura, qualquer modificação que o canal sofra não
consegue ser captada [10, 26].
Outra técnica conhecida no domínio da freqüência é a de transmissão de um
chirp, um pulso modulado linearmente em freqüência, com varredura crescente ou
decrescente.
4.2.2. Sondagem no domínio do tempo
A Figura 19 ilustra o diagrama de uma sonda temporal no domínio do
tempo. Transmitindo um pulso de curta duração, que simula um impulso, e
usando uma simples detecção de envoltória, perfis de potência de retardos são
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 95
facilmente obtidos, sem nenhum processamento de sinal específico. Como se
deseja observar o comportamento ao longo do tempo, pulsos periódicos são
utilizados. A Figura 20 ilustra a relação de compromisso associada à escolha dos
dois períodos envolvidos. O período T1 determina a resolução mínima de
retardos, enquanto que o período T2 determina o retardo máximo para o qual uma
contribuição de eco pode ser resolvida sem ambigüidade. A grande vantagem
desta técnica é a simplicidade. Em contrapartida, por ser banda-larga, a sonda está
muito sujeita a interferência e ruído, impondo a necessidade de transmitir um sinal
com potência relativamente alta.
~
Gerador de pulsos
Largura do pulso = T1
TX RX
Largura1/2T1
detetor
Osciloscópio DigitalResolução = T1
~
Gerador de pulsos
Largura do pulso = T1
TX RX
Largura1/2T1
detetor
Osciloscópio DigitalResolução = T1
Figura 19 Sondagem temporal no domínio do tempo.
T1 – Resolução mínima de ecos
T2 – Retardo máx s/ambiguidade
...T1 – Resolução mínima de ecos
T2 – Retardo máx s/ambiguidade
...
Figura 20 Trem de pulsos utilizado na sondagem temporal no domínio do tempo.
4.2.3. Sondagem por compressão de pulsos
Na prática, as técnicas que mais vêm sendo utilizadas ultimamente são as
por compressão de pulsos. A base para sistemas que usam compressão de pulsos
está contida na teoria de sistemas lineares. Sabe-se que, se um ruído branco n(t)
for aplicado à entrada de um sistema linear, como ilustrado na Figura 21, e se a
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 96
saída z(t) for correlacionada com uma réplica retardada da entrada, n(t-τ), então o
resultado da correlação cruzada é proporcional à resposta ao impulso do sistema,
h(t), avaliada no tempo retardado, ou seja:
(4.29) ( ) ( )[ ] ( )thtntzR ∝−τ
h(t)n(t) z(t)h(t)n(t) z(t)
Figura 21 Sistema linear alimentado por ruído branco n(t). A idéia então é gerar seqüências pseudo-aleatórias (PN – Pseudo Noise). Se
n é o número de bits usados para gerar a seqüência PN, e t0 o relógio (clock)
adotado, então a autocorrelação Rs(t) obtida apresenta a forma ilustrada na Figura
22. Observa-se que quanto maior n e menor o relógio, mais a resposta se aproxima
de um impulso.
t2t0
Rs(t)
-1
n-(n+1)t/t0n
t2t0
Rs(t)
-1
n-(n+1)t/t0n
Figura 22 Autocorrelação de uma seqüência PN de n bits e relógio t0.
São duas as principais técnicas usadas para implementar uma sondagem por
compressão de pulsos. A primeira delas é conhecida como “convolução por filtro
casado”, cujo diagrama da estrutura receptora associada está ilustrado na Figura
23. O filtro deve estar casado à seqüência PN usada para sondagem. Observa-se
que não há necessidade de recuperação da seqüência original na recepção, ou seja,
a técnica é assíncrona, operando em tempo real. Entretanto, por operar em tempo
real, a demanda por armazenamento das medidas passa a ser muito grande. Outro
problema diz respeito à imperfeição da resposta do filtro utilizado. Quando
dispositivos SAW (Surface Acoustic Wave – onda acústica de superfície) são
empregados, suas imperfeições no processo de fabricação provocam o surgimento
de lóbulos laterais na saída do filtro, diminuindo a sensibilidade a ecos mais
fracos. Uma alternativa é a filtragem por software, como executado em [10].
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 97
LNA
Oscilador Local cosw0t senw0t
I(t) Q(t)
Oscilador Local cosw0t senw0t
I(t) Q(t)
r(t) v(t)
Filtro Casado
Divisora Híbrida
r(t) v(t)LNA Filtro
CasadoDivisora Híbrida
Figura 23 Diagrama de recepção na compressão de pulsos por convolução por filtro
casado.
A outra técnica usada para implementar uma sondagem por compressão de
pulsos é conhecida como “correlação por varredura de tempo de retardo” (sliding
correlator), cujo diagrama da estrutura receptora associada está ilustrado na
Figura 24. Uma seqüência ligeiramente defasada é gerada junto com a réplica da
seqüência PN original. A correlação cruzada das duas é calculada, e seu máximo
ocorre quando uma “alinha” com a outra. Mais ainda, nos pontos de
“desalinhamento” o filtro espalha ainda mais o sinal em uma banda da ordem da
apresentada pela seqüência PN, minimizando o efeito de interferência. O processo
fornece medidas equivalentes no tempo, atualizadas toda vez que as duas
seqüências estão maximamente correlacionadas. Na verdade ocorre uma dilatação
do tempo, em função da expansão temporal que o correlator impõe. Obviamente,
se o canal se modifica consideravelmente dentro deste intervalo dilatado, esta
técnica não é capaz de acompanhar as variações, diferentemente da técnica
anterior (filtro casado).
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 98
FPBGeradorde Seq PN
HíbridoFPF
FPB
RF FI
Sintet deFreqs
ω0
ω0 - ∆ω
90oAB
A
B
FPBGeradorde Seq PN
HíbridoFPF
FPB
RF FI
Sintet deFreqs
ω0
ω0 - ∆ω
90oAABB
AA
BB
Figura 24 Diagrama de recepção na compressão de pulsos usando um sliding correlator.
4.3. Técnicas de sondagem do canal banda larga no domínio espacial
A sondagem no domínio espacial é realizada normalmente com arranjos de
antenas. Algumas simplificações interessantes reduzem a complexidade e o custo
da configuração, em sacrifício de outros parâmetros de desempenho.
4.3.1. Varredura espacial com antena diretiva de alto-ganho
A técnica mais simples, embora menos eficiente, de sondagem do canal
espacial é a por varredura espacial com antena diretiva de alto-ganho [22, 28]. A
Figura 25 ilustra a idéia, que consiste em varrer o domínio angular, passo-a-passo,
com uma antena altamente diretiva, de modo que a cada passo medido, apenas
uma pequena porção do espaço seja captada eficientemente pela antena. Embora
simples, sua grande desvantagem é a baixa resolução que ela proporciona, da
ordem de grandeza da largura de feixe da antena utilizada (tipicamente 10o).
Figura 25 Sondagem espacial por varredura angular com antena diretiva.
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 99
4.3.2. Sondagem com arranjo de antenas
A técnica mais adotada ultimamente é o emprego de arranjos de antenas
para coletar snapshots (“instantâneas”) do VCIR e a partir delas estimar o
espectro espacial. Esta técnica genérica apresenta ainda algumas especializações,
como por exemplo quanto às antenas empregadas. Embora seja de se esperar o
uso de um arranjo de antenas propriamente dito, há situações em que a opção de
arranjo por abertura sintética é vantajosa [6, 28-29]. O uso de arranjos “reais”
acompanha o inconveniente da influência do acoplamento mútuo entre os
elementos nas medidas. Por outro lado, o arranjo por abertura sintética não
acompanha certas variações do canal ao longo do tempo, já que as respostas de
cada posição “virtual” do arranjo são medidas seqüencialmente no tempo.
Outra consideração quanto à sondagem com arranjo de antenas diz respeito
ao número de receptores utilizados. A configuração ideal exige um receptor para
cada elemento do arranjo, o que em termos práticos é um complicador e onerador
de custos. Uma alternativa mais simples e barata é o uso de um único receptor
comutado temporalmente [7]. A contrapartida mais uma vez é a redução da
capacidade de acompanhamento das variações do canal ao longo do tempo.
Quanto ao processamento, recai-se nas possibilidades apresentadas no
capítulo 3, levando-se em conta ainda as considerações previamente discutidas no
sub-capítulo 4.1 quanto à geometria do arranjo e a estimação 3D do canal
espacial. De um lado, há a opção pelos métodos não paramétricos ou clássicos, de
processamento simples e independente de hipóteses quanto ao sinal transmitido,
mas com resolução normalmente baixa em contrapartida. Por outro lado há as
chamadas técnicas de alta-resolução, paramétricas ou “modernas”, que se
aproveitam do conhecimento prévio sobre alguma característica do sinal
transmitido para aumentar a resolução do espectro estimado. Máxima
verossimilhança (NLS), MUSIC e ESPRIT estão entre as técnicas paramétricas
mais conhecidas e empregadas.
4 Sondagem do canal de propagação rádio-móvel 100
4.4. Considerações sobre a sondagem conjunta dos espectros espacial e temporal
Uma abordagem que vem se destacando em trabalhos recentemente
publicados estima cada canal independentemente um do outro, combinando-os
posteriormente [6-7, 28]. Para tal, utiliza-se uma configuração que permita
realizar tanto a sondagem temporal, quanto a sondagem espacial. Este tipo de
sondagem não permite uma estimação ótima no sentido estrito, mas ainda assim
sob as condições normais dos sistemas avaliados, a estimativa tende a ser boa.
Outra abordagem mais complicada que a anterior é a estimação conjunta do
canal espacial-temporal. Dado seu maior esforço computacional exigido, ainda
não é comum encontrar na literatura referências relatando resultados
experimentais deste tipo de estimação, embora esforços para viabilizar esta linha
de ação venham sendo realizados [30].
Assumindo-se a primeira abordagem como a mais usual, uma questão
importante a se detalhar é como combinar as duas respostas de canal. Para a faixa
de freqüência dos sistemas de comunicações pessoais, e considerando-se a
limitação prática que impõe a necessidade do uso de arranjos com número
pequeno de elementos, espera-se que o canal de retardos seja praticamente o
mesmo em todos os elementos do arranjo. Ou seja, a distância entre os elementos
é relativamente tão pequena que não causa mudanças no perfil de potência de
retardos de antena para antena. Na prática, embora isto esteja perto da realidade,
pequenas diferenças podem ser observadas, principalmente se a técnica de
abertura sintética for utilizada, dada a não estacionaridade do canal. Essas
diferenças tendem a se perder no processo de estimação, quanto maior for o
número de snapshots do canal temporal em cada elemento.