397 -AGRO ECOLOGIA, SUSTENTABILlDADE E VALORAÇAO...

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Resumos do I Congresso Brasileiro de Agroecologia Rev. Bras. de Agroecologia/nov. 2006 Vol. 1 No.1 1537 397 - AGRO ECO L OG IA, SUSTENTABILlDADE E VALORAÇAO ECO NÓM ICA. JOÃO FERNANDO marques I : GILBERTO ni co lella 1 . RESUMO Este art igo procura de fOfma breve e soonta anali s,", ° papel da vamçiK> económoca na operaóona lizaçoo do conce ito de sus tent ab ili dade. em gera l e da ag roocologia em particula r como forma de ir>COfpora r a degradaçao dos r ec u rsos na tu ra is e dos imp ac tos ambie nt ais na con t abi lidade ambient al. P ara tal. discute in>oia lrnent e as posições das COf rent es da econom ia erológ>:oa e da ooooomia do """" ,.."biente. Em seg uida pr ocura apo nt a< também a impo<t<lncia do de bate entr e ooooomislas e ocólogos Por fim, aprese nt a um a taxonom ia do va l or ooonómico dos roc ur sos ambient a is Pa lavras-<:have contabilidade ambiental. economia do meio am biente. economia ecológica. valor de uso e valor de nao-uso. 1 - INTRODUÇÃO A ag ri cu l tu ra pa ut ada nos preceitos da Revol ução Verde preconiza o aumento da produtividade por m e;o do intenso uso de in sumos químicos, da mecanização. e de variedades com alta prod ut ividade Esta pra tica res ult ou em impactos am bi ent ais econômicos e sociais que a co ntmpõe 005 pr in cipios de uma ag ri cu ltu ra sustentavel Altieri (199B) pondera que a expressão ag ricultu ra sustentavel i r1d ica, um obje ti vo socia l e prod utivo ensejando a adoção de um pad rão tecnológico que não U se de forma preda tÓf ia os recursos natumis e nem modifi que tão ag ressivamente o meio ambiente além de promover a elevação da prod uti vidade dos sistemas ag rícolas e propiciar retornos econômicos adeq uados às met as de redução da pobreza Arg um enta ai r1d a que a agroecok>g ia observada sob a ótica da suste nt abi lidade, procum int eg rar eq uilibradame nt e ob jetivos sociais. econômicos e ambie nt ais No e nt anto. embora de ac eit e, a noção de sustentabili dade airKla ca rece de form as que permitam sua opemciona li zação. Entende-se, po rt a nt o, que a noção de sustent ab ili dade. deve, necessariame nt e ser refi et ida pela cont ab ili dade dos agent es econômicos. para que isto ocorra impõe- se a necessidade de va loração econômi ca dos recursos e impactos ambientais , Emb " PoI _ Alnbio nto. C. ;u Pc". 1 1 :1820-000 J ", ,,,",,, . (S P). E_ M,i 'Emb " PoI _ Alnbio nto, C. ;u Pc". 1 1 :1820-000 J", ,,,iitn . {S P)

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Resumos do I Congresso Brasileiro de Agroecologia

Rev. Bras. de Agroecologia/nov. 2006 Vol. 1 No.1 1537

397 - AGRO ECOLOGIA, SUSTENTABILlDADE E VALORAÇAO ECO NÓM ICA.

JOÃO FERNANDO marques I : GILBERTO nico lella1 .

RESUMO

Este artigo procura de fOfma breve e soonta anali s,", ° papel da vamçiK> económoca na operaóonalizaçoo do conce ito de sustentab ilidade. em geral e da agroocologia em particular como forma de ir>COfpora r a degradaçao dos recursos natu ra is e dos impactos ambientais na contabi lidade ambiental. Para tal. discute in>oia lrnente as posições das COfrentes da economia erológ>:oa e da ooooomia do """" ,.."biente. Em seguida procura aponta< também a impo<t<lncia do debate entre ooooomislas e ocólogos Por fim, apresenta uma taxonomia do va lor ooonómico dos rocursos ambienta is

Pa lavras-<:have contabilidade ambiental. economia do meio ambiente. economia ecológica. valor de uso e valor de nao-uso.

1 - INTRODUÇÃO

A ag ricu ltu ra pa utada nos preceitos da Revol ução Verde preconiza o aumento da

produt ividade por me;o do intenso uso de insumos químicos, da mecanização. e de

variedades com alta produt ividade Esta pratica resultou em impactos ambientais

econômicos e socia is que a contmpõe 005 principios de uma agricu ltu ra sustentavel

Altieri (199B) pondera que a expressão agricultu ra sustentavel ir1d ica, um objeti vo socia l e

produt ivo ensejando a adoção de um padrão tecnológico que não Use de forma

preda tÓfia os recursos natumis e nem modifi que tão agressivamente o meio ambiente

além de promover a elevação da produtividade dos sistemas agrícolas e propiciar

retornos econômicos adeq uados às metas de redução da pobreza Argumenta air1d a que

a agroecok>gia observada sob a ótica da sustentabi lidade, procum integrar

equilibradamente objetivos socia is. econômicos e ambientais

No entanto. embora de am ~o aceite, a noção de sustentabilidade airKla ca rece de

formas que permitam sua opemcionalização. Entende-se, portanto, que a noção de

sustentab ilidade. deve, necessariamente ser refi etida pela contab ilidade dos agentes

econômicos. para que isto ocorra impõe-se a necessidade de va loração econômica dos

recursos e impactos ambientais

, Emb " PoI _ Alnbio nto. C. ;u Pc".1 ~,Cop 1 :1820-000 J", ,,,",,, . (S P). E_M,i ~>rgu "g-ÇnpmHmb" p'- Br ' Emb " PoI _ Alnbio nto, C. ;u Pc".1 ~,Cop 1 :1820-000 J", ,,,iitn . {S P)

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1538 Rev. Bras. de Agroecologia/nov. 2006 Vol. 1 No.1

2 - A VALORAÇÃO ECONOMICA E A SUSTENTABILlDADE

Evoca - se. neste artigo, a necess idade de se es ti mar os va lores econômicos para os

recursos natu ra is e impactos ambien tais ca usados pela agricultu ra como forma de

incorporar os seus respectivos va l()(es aos indicad()(es de susten tabi lidade da proposta

de desenvolvimento rura l baseada na agroecok>gia

Ass im. segundo A ltieri (1998) se a sustentab ilidade é compreendida como a

capacidade de um sistema de manter sua produt ividade quando submetido a estresses e

perturbações, en tão. de acordo com principios básicos de con tabilidade , os sistemas de

produção que danifica m a estrutura do so lo ou exaurem seus nutrientes , matéria orgânica

ou biota são insustentáveis Paro que esta insustentabilidade seja demonstrada t()(na-se

necessário que os valores não expressos pelas planilhas de custo e benefícios dos

agri cu ltores e a contab il idade dos pa íses refi itam com rea lidade ta l situação. Desta f()(ma

se fossem con tabi lizados. a exemplo dos demais recursos ecooomicos ut ilizados ~o

homem, o solo depreciado. o lençd frea ti co contaminado ~o uso de agrotóxicos e de

ferti lizantes industriais. as bacias hidrográfi cas degradadas pela erosão do solo. a saúde

humana deteri()(ada peb uso de agrotóxico, dentre ou tros. a sustentabilidade poderia ser

quant itati vamente determinada. Para que tal procedimento possa ocorrer há necessidade

de que os recursos naturais e impaclos ambientais ten ham seus va lores adeq uadamente

determinados

Como encon trar va l()(es ecooomicos para os impaclos ambientais?

Mesmo sendo poss iv~ arg umentar que, eventua lmente, os recursos ambientais

conseguirão. através do tempo, gerar seus próprios mercados não se pode precisar que

tais mercados surg irão antes que o recurso seja extinto ou degradado de forma

i rreparáv~ Diferentemente da destruição do capi tal construído ~o homem a

degradação ambien tal pode, com freqüência torn ar-se irreversíve l e os ativos ambientais

em sua makJria não são substituiveis

Schweitzer (1990) da corren te da economia ambiental argumenta que a valoração

ambiental é essencia l, se pretende que a degradação da grande maioria dos recursos

naturais seja interrompida antes que ultrapasse o limite da irrevers ibilidade. Costanza et

aI. (1 994). pensad()(es da c()(rente da economia ecológ ica. apontam que para preservar o

capi tal natural é necessári o rea li zar avaliações. mu itas vezes difíceis, de forma direta

Os economistas da li nha ecológ ica utili zam o que se convenciooou chamar de

método de base biofísica 00 de anali se de energ ia que avalia os recursos de acordo com

o custo. que por sua vez é determinado em função de quão organizados es tão em r~ação

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ao ambiente. O conce ito <xganizado está int imamente ligado aos requerimentos de

energia na fOfma d ireta de combustíve l e ind ireta através de outras orga nizações que

também utili zam energia na sua produção

Farnworth et ai (19B3). sa lientam que embom aPfesentem alguma discordâ ncia

economistas e ecólogos concorda m sobre a necessidade de se atribuir va lOfes aos

ecossistemas. Os economistas fazem freqüentemente. referência ao mercado com vistas

a estabelecer va lores para os recursos amb1entais. mesmo na situação em que não ex ista

mercado. Por ou tro lado. os ecólogos embora aceitando os valores ass im estimados

fazem referência expl ícita a va lOfes intang íveis, tais como os valores dos ciclos do

carbono e da agua ou as informações contidas nos recursos genéticos. Contudo, é aceito

p<l( ambos que o sistema de mercado não pode se responsab1 lizar por todos os va lores

atribuídos aos recursos ambientais

A proposta que deriva do entend imento entre economistas e ecólogos

contempla, basica mente. valores referentes aos ecossistemas e seu papel como provedor

de bens e serviços através de três conce itos valor I que abrange todos os bens e

serviços amb1 entais transacionados diretamente pelo mercado, sendo o va lor o preço de

mercado do referido bem valor II aq ueles bens e serviços ambientais que. p<X não serem

tm nsaoonados no mercado. não aPfesentam um Pfeço explíci to. p<Xém, os seus va lores

são determ inados atmvés de um mecanismo pol ítico de negociação e acordo: e por

último. valor 111, cuias componentes são excluídos do mecanismo instituciorml de

determinação de valor seja o mercado ou o Pfocesso po lítico

Embora não exista um consenso sobre a terminologia usada para

caracterizar o va lor de bens e serviços ambientais, não se pode nega r que avanços fora m

obtidos na direção de uma taxooomia mais adequada aos valo res econômicos dos bens e

serviços Pfovidos ao homem. pela natureza Ass im, a d istinção entre os va lores que o

ambiente detém por si PfóPfio pode ser divKhda em dois grandes gru pos que inc<xpora m

os chamados va lores de uso e va lores intrínsecos. Os va lores de uso referem-se ao uso

efetivo ou potencia l que o recurso pode prover, enquanto que os valores intrínsecos não

estão associados nem com uso efetivo presente do recurso e nem com as possibilidades

de uso futu ro. O valor intrínseco reflete o va lor que resKJe nos recursos amb1 entais

independentemente de uma relação com os seres humanos. Os valores de existência são

aquel es expressos pelos indivíduos, de tal forma que não são rel aciooados ao uso

presente ou futu ro. Este valor é captado pelas pessoas através de suas Pfeferências na

forma de não·uso do recurso. Esta consideração inclui simpatia e/ou respeito oos dire itos

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ou 00 bem-estar de seres que não o homem, induindo espédes, ecossistemas, areas

flo restais e outros recursos naturais. cujos valores são devidos à s im~es existência do

bem e do serviço ambiental. e não estão relacionados ao seu uso. Ta is vakxes enCOlltra m

um cert o grau de d ificu ldade de conce ituação. embora os economistas ambientais vêm

procurando desenvolver os motivos que levam as pessoas a dar valor a um bem ou

recurso ambiental independentemente, do uso presente 00 futu ro Porém. não resta

dúvida que o conce ito de va lor de existência aproxima economis tas e ecólogos. o que

devem proporcionar ~hor e mais profundo entendimento da questão ambiental Além do

valor de uso efetivo e do va lor de ex istência, o va lor econômico total do ambiente é

composto também do que se cOlwencionou chamar de valor de opção. defin ido corno a

obtenção de um beneficio ambiental potencia l - expressão das preferências e da

d isposição a pagar pela preservação ou manutenção daquele recurso ambiental contra a

possibi lidade de uso presente Porém, provavelmente, em função do traba lho conjunto

com ecólogos e do melhor en tendimento das funções dos ecossistemas natu ra is, os

conceitos de va lor de opção e de va lor de ex istência foram sendo incorporados ao arsenal

da economia do meio ambiente, denotando com isto uma maior e melhor compreensão do

fenômeno e dos problemas do meio ambien te

Diversos métodos de va lornção foram e estão sendo desenvolvidos e

a~ic ados em diversas situações concretas da rea lidade Com base no método do custo

de reposição fez-se o ca lculos das perdas de solo em uma bacia hidrográfi ca loca li zada

no norte do estado de São Paulo mostrando a insustentabi lidade de se manter prá ticas

convencionais que i m~ i cam el evados custos econômicos de reposição de nutrientes com

vistas a manter níve is aceitaveis de produtividade Estes valores estimados em

aproximadamente US$5,5 milhoos/aoo tornam·se insustentáveis, sob a perspectiva

econômica, se cons iderar um período de cap italização de vinte anos de aproximada mente

v inte anos. para a regeneração da camada fért il do soh por exemplo

TAB ELA 1 - Va lor econômico das perdas de solo na bacia do Rio Sa puca i-São Paulo

P<>;á..., 0,0 100'8 IUSl '" 161.616 IZI,l' 1111.',",04

Cálcio • 0,004672 gI6.3J6 2,63 1.41' .211l ".< 492.646,43

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3 - CONCLUSÃO

Nem todos vakxes associados oos recursos am~enta i s são va lorados pelos mecanismos

de mercado. Diversas correntes de pensa mento desenvolveram conce itos sobre os

valores dos bens e recursos ambientais que podem ser mensurados através de métodos

de vabmção apropriados. Estes va lores devem ser inc<xporados :i contabilização de

custos e beneficios como forma de aferição da sustentabilidade A agroecobgia deve

incorpomr como ava liação da sustentabi lidade de suas propostas a va loração dos custos

- danos am~enta i s e degradação dos recursos natu ra is e dos beneficios - rotação de

cu lturas, mel horia da fert ilidade natu ml dos sob s. manutenção da diversidade. melhoria

na saúde dos agricu ltores e CQ(1sumidores. dentre outros Mesmo estudos de valoração

que ca lcu lam as perdas ambientais sob a ótica econômica dos va lores de uso. pelo

método do custo de reposição mostram a i n s u st e nta ~ l dade dos sistemas CQ(1vencionais

de se fazer agricultura

4 - LITERATURA CITADA

ALTIERI M Agrooooiogia a dinâmica produt iva da agricultura sustentavel 1.00 Porto Alegre Ed.UniversidadeiUFRGS. 1998 110p

COSTANZA, R . DAY H E , BARTH OLOMEW J.A Goals agenda and po licy recommendatioos for ecologica l economics In CONSTANZA R . ed Eooiogical economics: the science arid management of sustainabiltiy New York CoI umbia University Press , 1994 p.I -20

FARNWO RTH , E.G , TIDRICK, T.H SMATHERS JUNIOR, W M, JORDAN, C.F A synthesis of ecobgica l arid ecooomic thoory towa rd more complete va luat ioo of tropical moist forests InlemaliollaIJoumalof EllllÍrolllnell laISt(ldies. v.2 1. p.II -28. 1983

SCHWEITZER J. Eoonomics. conserva tb n arld developrnent a perspective from USAID In VIN CENT, J R . CRAWFORD. E.W HOEHN , J P . ed Vahling ellvirolllnelltal belleMs in developing c01mln'es proceed ings East Lansifl<], Mich igan State University, [1 990] p.l -10