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CAPTULO IVREFLEXES SOBRE A NOVA MUSEOLOGIA5
1 INTRODUOFoi com grande satisfao que aceitei o convite para integrar o
corpo docente do Curso de Especializao do MAE/USP.Acompanhei, durante anos, o esforo dos profissionais dessainstituio no sentido de instalar um Curso de Museologia, dandocontinuidade s aes da Profa. Waldisa Rssia, que, como pioneira,
no estado de So Paulo, iniciou as reflexes em torno da produo doconhecimento na rea da Museologia, no Curso instalado no Institutode Sociologia e Poltica, capacitando vrios profissionais, que, hoje,com empenho e profissionalismo, vm contribuindo, de maneirasignificativa para o enriquecimento da Museologia em nosso Pas.
Quero destacar, em especial, o esforo da Profa. Cristina
Bruno, coordenadora do Curso de Especializao do MAE/USP, que,com entusiasmo e dedicao, tem trilhado caminhos, at certo pontotortuosos, do mundo acadmico abrindo espao para uma relaonecessria com outras reas do conhecimento e, ao mesmo tempo,
produzindo e divulgando o conhecimento construdo em nosso campode atuao. Tenho certeza que o Curso de Museologia recm-instaladona USP ser um espao de reflexo e ao, onde a criatividade, a
iniciativa e o desempenho dos seus professores e alunos seroresponsveis por projetos que, com certeza, contribuiro, em muito,para melhorar a atuao das instituies museolgicas e paraincentivar o desenvolvimento de novos processos museais, tendocomo referencial o patrimnio cultural.
5 Texto preparado para seminrio no Curso de Especializao em Museologia doMuseu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo-MAE/USP,
realizado em setembro de 1999.
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O tema proposto, ou seja, A Nova Museologia, muito memotiva . Considero o Movimento da Nova Museologia um dos
momentos mais significativos da Museologia Contempornea, por seucarter contestador, criativo, transformador, enfim, por ser um vetorno sentido de tornar possvel a execuo de processos museais maisajustados s necessidades dos cidados, em diferentes contextos, pormeio da participao, visando ao desenvolvimento social. Por outrolado, os processos metodolgicos e as tcnicas utilizadas, embora emcontextos os mais diversificados, trouxeram contribuies
significativas para o desenvolvimento da construo do conhecimentona rea da museologia, e, consequentemente, para os museus, bemcomo para o desenvolvimento de processos museais, desenvolvidosfora do espao restrito do museu, como pretendo explicitar no
presente trabalho.
Para a abordagem do tema, buscarei realizar uma reflexo a
partir dos documentos bsicos produzidos pelo ICOM/UNESCO, nosltimos vinte anos, bem como em trabalhos produzidos porprofissionais engajados no Movimento da Nova Museologia. Ressaltoque a estruturao em itens tem somente o objetivo de facilitar, para oleitor, a compreenso do desenvolvimento das idias. Contexto,antecedentes, princpios, metodologia e aplicao do processo emnossa realidade, estaro entrelaados, um complementando o outro,
em um contnuo, de ao e reflexo. Em um primeiro momento, seroenfocados os antecedentes, os alicerces, as inquietaes, o movimentode fora para dentro dos museus e vice-versa. Em seguida, com basenos documentos acima citados, buscarei delinear os princpios bsicose a metodologia, conceituar e apontar alguns aspectos metodolgicosdaNova Museologia.
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Entretanto, necessrio se faz registrar que a classificaoNova Museologia no pode ser evolucionista, pois a realidade social
multidimensional. A prtica da Nova Museologia humana e,consequentemente, no pode ser dissociada de experincias passadas eembrionrias. Nesse sentido, tentarei, com base nas refernciasanalisadas, e na experincia vivida, buscar uma aproximao com anossa realidade e apontar algumas contribuies ao processomuseolgico.
2- CONTEXTUALIZAO E ANTECEDENTESFalar da Nova Museologia falar de conflitos, contradies,
de pocas marcadas por represso e, ao mesmo tempo, por umacentuado processo criativo. Os anos 60 foram marcados pelomovimento artstico-cultural, que destaca o novo, com a participaoda juventude, na recusa aos modelos estabelecidos, prepara o terreno,lana as sementes. O inconformismo com os esquemas comerciais e
com as imposies dos meios de comunicao de massa, a crtica sociedade de consumo, a recusa a modelos anteriores e a busca demaior liberdade temtica ou de linguagem e, ainda, a inteno de
provocar a desacomodao ou a desalienao, culminou com o maiofrancs, que, segundo (Paes,1993, p. 30) foi o momento maior decontestao do autoritarismo da sociedade, naquele momento. OHistoriador Alain Tourrain (1983, p. 85) o considera como as ltimas
jornadas revolucionrias da poca industrial e o prenncio dosmovimentos sociais e das lutas polticas do futuro. Talvez possamosapontar O Maio Francs como um vetor no sentido de lanar as
bases necessrias para se repensar o museu e a sua relao com asociedade, de maneira mais efetiva, por meio de aes concretas.
Comentando sobre o maio de 68, e sobrea reviso do conceitode patrimnio, Ren Rivard (1984, p.2) questiona: seria a primeira
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batalha organizada contra a instituio museal?Salienta o autor quena Frana e em outros pases houve uma contestao macia de todas
as instituies, abalando valores, ameaando posies estabelecidas e,ao mesmo tempo, forando os responsveis dessas instituies a olharcom novos olhos suas aes e a repercusso sobre a sociedade. Nessecontexto, o conceito de patrimnio revisto e ampliado,considerando-se o meio ambiente, o saber e o artefato-o patrimniointegral. Vrios grupos contribuem para essa nova conceituao, comoos ecologistas, os diferentes pases emergentes do colonialismo, que
reivindicam o retorno dos bens pilhados ou expatriados pelassociedades ocidentais, os grupos socialistas ou socializantes quereclamam, em nome do patrimnio coletivo, uma acessibilidade aosmonumentos, s colees dos museus, que antes eram patrimnio
privado ou reservadas aos detentores do saber. Rivard (1984 p.3 )destaca que essa ampliao da noo de patrimnio ter comoconseqncia direta uma reviso dos poderes que assumem a gesto e
a valorizao dos monumentos, stios, museus e de todo lugarconsiderado patrimnio pblico.
Depois do vendaval que foram os anos 60, os anos 70 deramincio gide da fragmentao: desdobramentos da contracultura,movimento underground, punk, misticismo oriental, vida emcomunidades religiosas ou naturalistas, valorizao do individualismo,
expanso do uso das drogas (Habert, 1992, p.74). Percebe-se umpainel de diferentes acontecimentos, de diversos cortes, marcadospelos golpes e pelas revolues, resultado dos investimentos dospases imperialistas, que procuram reagir onda de contestao e slutas revolucionrias da dcada de 60, cuja conseqncia aimplantao das ditaduras militares na Amrica Latina, a ampliao dainterveno na Indochina, o reforo aos governos colonialistas e de
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apartheidna frica e a sustentao da poltica israelense no OrienteMdio.
A preocupao em aumentar os nveis de produo ou decomo gerar inverso de capital desloca-se para a necessidade deconfrontar as bases dos mecanismos de dominao, atravs dodesenvolvimento de uma conscincia popular. Sendo assim, odesenvolvimento passa a ser compreendido como um processo globalde organizao de setores populares que se tornaram capazes de
enfrentar o Estado e as coalizes dominantes, implicando umatransformao radical da sociedade. Para tanto, era necessrio ummovimento social organizado que fosse capaz de assumir o controlesobre os processos produtivos da sociedade, o que implicaria umaconscincia social crescente. Para alcanar um nvel desejvel deconscincia social, os autores apontam como ferramentas a educao
popular, cujo suporte fundamental a proposta educativa de Paulo
Freire, e a investigao participativa, como alternativa para ofereceruma nova explicao da realidade. Vrios autores vo se dedicar aosestudos da pesquisa participante e da pesquisa/ao, especialmentenos pases de Terceiro Mundo, assumindo o compromisso do cientistasocial com os diversos grupos populares. (Borda, 1972, Brando,1982,Thiollent,1981, Silva, 1986, 1986, Schutter, 1980, etc.). Os trabalhos
produzidos na Escola de Frankfurt (Horkheimer, Marcuse, Habermas),
do ponto de vista filosfico, vo retomar o conceito de prxispermitindo acelerar os aspectos de vinculao entre teoria e prtica,o que representa uma crtica frontal ao positivismo e,consequentemente, abre perspectivas para a investigao-aoradical (Silva, 1986, p. 31).
Ainda nos anos 70, Paulo Freire era Consultor para Educaodo Conselho Ecumnico das Igrejas, em Genebra, e Hugues de Varine
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estava organizando uma ONG internacional denominada InstitutoEcumnico para o Desenvolvimento dos Povos, que segundo
declarao do prprio Varine ( 1995, p.17 ), Paulo Freire havia sidoconvidado para presid-la. Tambm feito a Paulo Freire convite para
presidir a Mesa-redonda de Santiago do Chile.
Nos ltimos vinte anos o mundo passou por transformaesradicais como a revoluo das comunicaes, os aumentos das
produtividades industrial e agrcola, bem como da urbanizao, alm
do surgimento de novos centros de poder econmico e poltico.Comentando sobre o desenvolvimento, no Mundo Contemporneo,Tenrio (1997, p. 11) registra que esse mesmo desenvolvimento
produziu o aumento da pobreza, da violncia, de doenas e dapoluio ambiental, alm de conflitos religiosos, tnicos, sociais epolticos e que em um espao de tempo muito curto o mundo se viudiante de problemas globais, cujas solues dependem da capacidade
de articulao de um espectro mais amplo de agentes sociais. O autordestaca que a maior novidade na histria recente a crescenteinterveno da sociedade civil, que, de forma organizada, tentaocupar espaos e propor que os aspectos sociais do desenvolvimento
passem ao primeiro plano.
Como registrei na introduo do presente trabalho, a prtica
da Nova Museologia no pode ser dissociada das experinciaspassadas. Nesse sentido, considero que as reflexes em torno do papelsocial dos museus, e, mais especificamente, do seu papel pedaggico eda sua relao com o pblico, foram acontecendo, em um processogradual, provocadas pelas mudanas na sociedade como um todo,refletindo no interior das instituies, como a UNESCO, e o ICOM,como pode ser constatado nos documentos produzidos nos encontrosde 1958, e 1971. O seminrio regional da UNESCO realizado no Rio
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de Janeiro, em 1958 parte de um projeto que tinha como objetivodiscutir, em vrias regies do mundo, a funo que os museus
deveriam cumprir como meio educativo.
Em 1971, realizada a IX Conferncia Geral do ICOM, emParis e Grenoble, com o propsito de discutir o tema : O Museu aServio do Homem, Atualidade e Futuro-o Papel Educativo eCultural. Analisando-se as concluses elaboradas a partir dasreflexes ali realizadas, pode-se identificar vrios avanos em torno
do papel que o museu deve desempenhar na sociedade, sobretudo secompararmos com a Conferncia de 1958, realizada no Rio de Janeiro.Em relao aos aspectos pedaggicos, tema principal da Confernciado Rio de Janeiro, percebe-se, em Grenoble, uma preocupao emavaliar a qualidade dos servios oferecidos, destacando-se que acrescente demanda, havia levado um grande nmero de alunos e
professores aos museus, sem os recursos necessrios ao bom
atendimento, aumentado, consideravelmente o nmero de visitantes,o que tornava invivel a manuteno dos programas com a qualidadeindispensvel ao processo educacional. Outro aspecto que merece sermencionado, ainda em relao s questes pedaggicas, que h uma
preocupao, j quela poca, em transformar a visita guiada em ummomento de aprendizado, estimulando o aluno a comparar, estilosformas, a contextualizar, realizar conexes entre arte e cincia, velho e
novo, entre uma civilizao e outra, chamando-se a ateno para anecessidade de realizao de exposies, com base nainterdisciplinaridade.
Conforme pode ser constatado, nas concluses da IXConferncia do ICOM, os anseios por mudana na instituio museuvieram das mudanas ocorridas na sociedade. Great changes insocite must lead to great changes in museums structure, it was said.Era necessrio, pois redefinir a misso dos museus, seus mtodos de
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exibio das colees e, talvez, quem sabe, buscar um novo modelopara a instituio. Alis, naquele evento, reconhecido um novo
modelo de museu, denominado neighbourhood museum que temcomo objetivo a construo e anlise da histria das comunidades,contribuindo para a identificao da sua identidade, colaborando paraque os cidados se orgulhem da sua identidade cultural, utilizando astcnicas museolgicas para solucionar problemas sociais e urbanos. Omodelo proposto teve como referencial o trabalho desenvolvido peloMuseu de Anacostia, em Nova York, apresentado pelo seu diretor,
Jonh Kinard.
Nos trabalhos ali apresentados chamam-se a ateno para ofato de que os museus deveriam deixar de atuar como coletores
passivos para se tornarem participantes ativos. Nesse sentido, sugerema realizao de exposies que apresentem os problemas e ascontradies da sociedade, destacando, tambm, as contribuies
culturais das minorias. Enfatizam tambm a necessidade de interaodo museu com o meio onde est inserido, destacando a realizao deprogramas que abordaem os problemas da vida cotidiana, buscando arelizao de atividades conjuntas com sindicatos, cooperativas domeio rural, fbricas, etc. Merece destaque, nesse contexto deinquietaes e busca de avanos, a participao de George HenriRivre, que, segundo Almeida (1996, p. 112), no ps-Guerra,
revolucionou o mundo da museologia ao defender que a populaodeveria se tornar parte integrante da instituio museu e da suaorganizao os consumidores/visitantes sero os prprios atores dasatividades museolgicas, sendo os grandes motores da mudana.
Estavam, assim, lanados os alicerces para que, em Santiago,em 1972, pudessem ser traadas as diretrizes no sentido tornar osmuseus mais prximos dos novos anseios da sociedade, colocando em
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evidncia a prioridade da ao museal no campo da intervenosocial, abrindo, tambm, espao para se repensar a museologia, de
forma global, situando-a entre as cincias sociais. No prximo item,retornaremos Mesa-redonda de Santiago do Chile, analisando o seudocumento bsico, devido a sua importncia, no sentido de delinear as
bases conceituais e filosficas do que se denominou, posteriormente,Moviemento da Nova Museologia.
Vale a pena registrar que tambm em 1972 realizada, em
Estocolmo, a Conferncia da UNESCO sobre Meio AmbienteHumano. Em trabalho apresentado por Berrueta (1996, p. 3 ), noAteli Internacional sobre a Nova Museologia, realizado no Mxico, oautor chama a ateno para o fato de que desde os anos 70 o conceitode ecodesenvolvimento trazia elementos importantes para o atualconceito de desenvolvimento sustentvel, apresentando-se, tambm,como uma alternativa para a ordem econmica internacional,
priorizando modelos locais, baseados em tecnologias apropriadas,com destaque para as zonas rurais, procurando romper com asdependncias tcnica e cultural. Destaca ainda o referido autor que otema da questo ambiental introduzido, com muita fora, desde oincio dos anos 70, por meio de uma reflexo crtica, que condena osesquemas tradicionais do desenvolvimento econmico latino-americamo, provocando a adoo de polticas ambientais nos planos
de desenvolvimento de muitos paises da Amrica Latina. Considereipor bem registrar as preocupaes com o meio ambiente e com odesenvolvimento nesse perodo, pois, como ser analisado no item
posterior, essas tambm sero questes de base da Mesa-Redonda deSantiago.
Os anos 70 e 80 foram, ento, marcadas por trabalhosmuseolgicos inovadores, desenvolvidos em vrios pases, embora
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ainda no houvesse um intercmbio internacional entre os diversosprojetos naquele perodo e o reconhecimento e o apoio necessrios.
Destacaram-se as atividades de George Henri Rivire e de Hugues deVarine, presidentes do Conselho Internacional de Museus, queestabeleciam relaes entre agentes organizadores de diferentes
projetos, em um mesmo pas ou entre pases diferentes.
Nesse novo contexto, no pode deixar de ser destacado osurgimento dos ecomuseus, que foram o produto da insatisfao dos
profissionais da rea de Museologia, em busca de transformaes,tentando afirm-lo, em realidades bastantes diversificadas, comoinstrumento necessrio sociedade: um patrimnio global. Bellaigue (s.1. 19... ) destaca os aspectos abaixo relacionados como princpios
bsicos para constituio de um ecomuseu:
identificar um territrio e seus habitantes; inventariar as possveisnecessidades e seus anseios;
atuar, como os membros da comunidade, considerando-os donosreais do seu passado e atores do presente;
aceitar que no necessria a existncia de uma coleo para queseja instalado o museu. Neste aspecto, a concepo da instituioser no sentido comunidade-museu e no objeto-museu, comoantes se concebia.
A referida autora chama a ateno para o fato de que necessria a definio coerente do territrio de modo a permitir acomunicao entre a populao e o museu, para que o processo deinventrio seja realizado envolvendo todo o patrimnio cultural enatural, e que a gesto administrativa e as aes culturais e educativassejam levadas a cabo atravs da participao dos tcnicos e dosdiversos grupos comunitrios.
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.Os contextos, dos anos de 60 e 70 propiciaram, portanto, uma
avaliao das instituies, provocada pelo movimento social,atingindo organismos como a UNESCO e o ICOM, conforme
pudemos registrar, anteriormente. Entretanto, nem sempre as diretrizese metas registradas nos documentos oficiais se transformam em aesconcretas. O que se observa que, no incio dos anos 80, apesar daexistncia de um bom nmero de ecomuseus, museus comunitrios,museus locais e museus ao ar livre, os profissionais que desenvolviam
aes museolgicas comprometidas com o desenvolvimento social ecom a participao encontram resistncias no sentido de que seus
projetos fossem reconhecidos no universo museolgico. A fala doProf. Mrio Moutinho (1995, p. 26) demonstra as dificuldadessentidas nesse sentido, bem como o descompasso entre o discurso e a
prtica, dos organismos oficiais:
desiludidos com a atitude segregadora do ICOM e emparticular do ICOFOM, claramente manifestada nareunio de Londres, de 1983, rejeitando liminarmente a
prpria existncia de prticas museolgicas noconformes ao quadro estrito da museologia instituda,um grupo de muselogos props-se a reunir, de formaautnoma, representantes de prticas museolgicas
ento em curso, para avaliar, conscientizar e dar formaa uma organizao alternativa para uma museologia quese apresentava igualmente como uma museologiaalternativa.
As aes concretas j realizadas, em diferentes pases,motivaram os profissionais envolvidos para a busca de intercmbio,com o objetivo de discutir as experincias de Ecomuseologia, da Nova
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Lisboa e Paris, onde, gradualmente, foram sendo estruturadas asorganizaes propostas. O Comit Internacional Ecomuseus/ Museus/
Comunitrios, que deveria ter sido criado no quadro do ICOM, nuncao chegou a ser, mas a Federao Internacional de Nova Museologiafoi efetivamente instituda, com o nome de Movimento Internacional
para a Nova Museologia/MINOM, o qual foi, posteriormente,reconhecido pelo ICOM como uma organizao afiliada.
3APROXIMAO COM A REALIDADE BRASILEIRA
A Amrica Latina vive, nos anos 70, uma histria de exliose exilados. Os Estados Unidos, principal potncia imperialistamundial, protagonizam a instalao de ditaduras militares em vrios
pases do continente, como Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Bolvia.O golpe de Pinochet, um ano aps a realizao da Mesa-redonda deSantiago, talvez tenha sido um dos exemplos mais duros. No Brasil,convivemos com contestao, represso, tortura, censura e terrorismo
oficial. Sob o regime da ditadura militar, acelerou-se odesenvolvimento capitalista e consolidou-se a integrao do Brasil aosistema capitalista monopolista internacional, como pas associado
perifrico.
A populao de 99.901.037 habitantes comea a serpredominantemente urbana 52 milhes na cidade e
quarenta milhes no campo. Metade da populao ativaganha menos que um salrio mnimo e 17,9 milhes soanalfabetos maiores de dez anos. Em 1960, os 5% debrasileiros mais ricos absorviam 27,3% da rendanacional. Em 1970, passam a absorver 36,3%. Os mais
pobres vem reduzida sua participao na renda de27,8% para 13,1%.. o milagre.
( Ribeiro, 1985).
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Precisamente em 1972, ano da Mesa-redonda de Santiago, adespeito dos dados apresentados acima, comemorvamos o
sesquicentenrio da Independncia, entronizando os ossos de Pedro Ino Monumento do Ipiranga, depois de terem sido conduzidos pelas
principais capitais do Pas, comemorvamos a vitria de Fittipaldicomo campeo de Frmula I e assistamos TV colorida, ingressa noPas naquele ano.
No contexto de expanso do parque industrial da cultura,
em que o rendimento de uma poltica cultural se mede pelo aumentodo ndice de consumo e no pelo volume de iniciativas, era necessrioreestruturar os museus para atender aos novos objetivos, dotando-osdas condies necessrias para que viessem a ser visitados pelo maiornmero possvel de pessoas, retirando-os do ostracismo. Os museusesto presentes no processo de controle por meio de comisses,conselhos, etc. Uma poltica museolgica para o Pas tentada, a
partir de 1975, com a reunio dos dirigentes de museus, realizada emRecife, e nas reunies de secretrios de Educao e Cultura dosestados e dos Conselhos Federal e Estadual de Cultura, realizados emBraslia e em Salvador, em 1976. Os anos de 64 a 80 foram prdigosem instalao de museus no Brasil. Foi a grande fase dos memoriais,do culto ao heri. Busca-se, atravs das atividades de preservao,autenticar a nao, enquanto uma realidade nacional. As instituies
so cristalizadas, percebidas como independentes dos indivduos queas concebem.
Nesse contexto, era natural que o documento de Santiago e asiniciativas do Movimento da Nova Museologia permanecessemdesconhecidos ou nas gavetas dos gabinetes. Mais uma vez, poriniciativa individual, os tcnicos, talvez movidos pelas mesmas razesde tantos colegas na Frana, no Canad, em Lisboa, no Mxico, etc,
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falta de conhecimento das ricas experincias construdas nesseprocesso.
Particularmente, estive envolvida, nos ltimos anos, em umprojeto de construo conjunta de um museu didtico-comunitrio,situado no Colgio Estadual Governador Lomanto Jnior, envolvendo
professores, alunos, funcionrios e membros da comunidade do Bairrode Itapu, em Salvador-BA, que tem sido um processo de
participao, ou seja, de conquista dos diversos segmentos envolvidos,
buscando construir, com qualidade formal e qualidade poltica, umaao museolgica comprometida com o exerccio da cidadania e como desenvolvimento social. Temos conscincia que alguns princpiosali adotados foram embasados no conhecimento historicamenteconstrudo, no campo da museologia, e, portanto, considerando as
prticas da Nova Museologia. O constante processo de ao e reflexorealizado, ao longo do caminhar, tem nos permitido avanar bastante
em relao organizao e gesto de museus, e em relao construo do conhecimento, nas reas da museologia e da educao.
4-PRINCPIOSBSICOS E CARACTERIZAONeste item, pontuarei os princpios bsicos norteadores das
aes do Movimento denominado de Nova Museologia, com destaquepara a Mesa-Redonda de Santigo, por ser considerada, pelos prprios
participantes do movimento, como o referencial bsico, analisando,tambm, os registros de alguns profissionais que tiveram umaparticipao ativa, em diferentes contextos. A partir da anliseefetuada, buscarei, tambm, identificar algumas expresses-chave,
buscando uma melhor compreenso do processo-Nova Museologia.
Compreender Santiago, olhar, tambm, para os seusbastidores, ou seja, para a sua preparao. Nesse sentido, me foram de
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extrema utilidade os depoimentos do Prof. Hugues de Varine, quandoda sua participao no Encontro sobre a Museologia Brasileira e o
ICOM: convergncias e desencontros?, realizado em So Paulo, em1995, quando se discutiram os documentos bsicos da MuseologiaContempornea, permitindo fazer mais uma leitura, no sentido demelhor compreender os objetivos daquele evento:
As lies dos bastidores
A escolha dos expositores, todos latino-americanos, cada umcomprometido com a sua realidade, demonstra, por parte dosorganizadores, uma abertura, no sentido de ouvir, de deixar afloraras necessidades concretas daqueles que deveriam tomar para si aresponsabilidade de atuar, refletir e transformar as suas mltiplasrealidades.
A escolha dos temas, abordando questes-chave dodesenvolvimento: educao, meio ambiente e urbanismo. Nonosso entender, uma das maiores lies de Santiago. Enfim,conseguamos enxergar alm dos museus, para compreender,modificar as aes no seu interior e definir um novo conceito demuseu, levando em considerao a totalidade dos problemas dasociedade.
convite ao Prof. Paulo Freire, um dos maiores pedagogos dosnossos tempos, expulso do nosso pas naquela poca, demonstra acoragem dos organizadores do evento, como tambm, em proporum encontro daquele teor em um pas da Amrica Latina, quandoos pases imperialistas procuravam reagir onda de contestao elutas revolucionrias dos anos 60, investindo na implantao deditaduras militares em nosso continente. Com a ausncia do prof.
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Paulo Freire, perderam os participantes, perdeu a museologia, que,com certeza, seria enriquecida com as suas reflexes. Entretanto,
ressalto que, apesar da sua ausncia, os temas mais marcantes dasua obra, ou seja: a conscientizao e a mudana, que levam oeducador e todo profissional a se engajar social e politicamente,comprometido com um projeto de sociedade diferente, estiveram eainda esto presentes, ou melhor, so o cerne das proposies deSantiago.
Em Santiago, dado o pontap inicial para uma aomuseolgica que considera o sistema lingstico empregado pelascomunidades, reconhece que o ser humano move-se em um mundoessencialmente simblico e compreende, tambm, que o cotidiano no apenas um resduo. A vida cotidiana passa a ser considerada entreas mltiplas realidades, como a realidade por excelncia, que no seesgota na presena imediata, mas abarca fenmenos que no esto
presentes aqui eagora, o que significa que a experimentamos emdiferentes graus de aproximao e distncia, espacial e temporal. Acultura e a identidade sero consideradas, pois, fenmenos construdose reconstrudos em processos de interao, em um jogodiferenciador, constrativo, dinmico, concretizado na dinmica dodia-a-dia. O conhecimento da nossa cultura passa, portanto,inevitavelmente, pelo conhecimento de outras; a nossa cultura ser
uma cultura possvel, dentre tantas outras.
Na noo de museu integral, inicialmente delineada emSantiago, alm da concepo de museu, que leva em considerao atotalidade dos problemas da sociedade, acreditamos, tambm, que ali dado um outro enfoque aos problemas da relao do homem com anatureza, abrindo espao para uma sociologia da natureza e para uma
biologia que no concebe mais a vida como uma qualidade restrita
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aos organismos e no se encerra mais nos processos fsico-qumicos,mas abre-se aos fenmenos sociais. O organismo ento
contextualizado em seu meio, sendo que a prpria idia de meiotambm se transformou: um sistema global de interferncias
biopsicossociais. ecolgico e etolgico.
Nos anos 70, como j foi registrado anteriormente,comeamos a conceder uma importncia concreta ao fato de ohomem ser, ao mesmo tempo, o produto e o criador de sua sociedade e
de sua cultura (Bordenave, 1988,p.7).Portanto, comea-se a delinear,em Santiago, talvez de forma no intencional, o que, no nossoentender, o marco mais significativo da evoluo do processomuseolgico na contemporaneidade: a passagem do sujeito passivo econtemplativo para o sujeito que age e transforma a realidade.
Nessa perspectiva, o preservar substitudo pelo apropriar-se ereapropriar-se do patrimnio cultural, buscando a construo de uma
nova prtica social.
Comentando sobre o essencial, o mais inovador, de Santiago, Huguesde Varine, (1995, p. 18) destaca duas noes bsicas:
a de museu integral, que leva em considerao a totalidade dosproblemas da sociedade;
a de museu, enquanto ao, enquanto instrumento dinmico demudana social.
Alm disso, chama a ateno para o fato de que esquecia-seassim, aquilo que havia se constitudo, durante mais de dois sculos,na mais clara vocao do museu: a misso de coleta e conservao.Chegou-se, em oposio, a um conceito de patrimnio global a sergerenciado no interesse do homem e de todos os homens.
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Que o Museu uma instituio a servio da sociedadena qual parte integrante e que possui em si prprio os
elementos que lhe permitem participar na formao dasconscincias das comunidades a que serve. (UNESCO,1992)
Como resultado do Seminrio de Quebec, os participantes firmaram osseguintes pontos:
Museologia atua com vistas a uma evoluo democrtica dassociedades;
A interveno dos museus no quadro dessa evoluo passa: porum reconhecimento e uma valorizao das identidades e dasculturas de todos os grupos humanos inseridos no seu meioambiente, no quadro da realidade global do mundo; por uma
participao ativa desses grupos no trabalho museolgico; (ogrifo meu)
Existe um movimento, caracterizado por prticas comuns, quepode assumir formas diversas, em funo dos pases e doscontextos, que devero conduzir surgimento de um novo tipo demuseu correspondente a estas novas perspectivas;
Nestas condies, a interdisciplinaridade e a funo socialconduzem a uma mudana do papel e da funo do muselogo, oque implica uma formao nesse sentido.
Comentando sobre os princpios bsicos da NovaMuseologia, Moutinho (1989, p.31) recomenda que ela deve serconsiderada, pelas pessoas integradas nesse processo, como meio
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(agente, instrumento), a par de outros, de desenvolvimento integraldas populaes e com as populaes. Considera que o que h de novo
nas prticas da Nova Museologia a demonstrao da capacidade (ea prtica disso) das populaes se auto-organizarem para gerir o seutempo e o seu futuro. Destaca o referido autor que:
a concepo, o desenrolar e a avaliao dos projetos daNova Museologia dependem sempre de uma percepocorreta das condies histricas e ambientais locais, em
que a interveno se realiza.
Considerando os aspectos acima mencionados, a Museologia,concebida nessa nova perspectiva, tem um papel fundamental noresgate do mundo vivido, descrito por Habermas (citado por Freitag,1990, p.2) e caracterizado como:
... a maneira como os atores percebem e vivenciam suarealidade social. Compe-se da experincia comum atodos os atores, da lngua, das tradies e da cultura
partilhada por eles. Ela representa aquela vida social,cotidiana, na qual se reflete o bvio, aquilo quesempre foi, o inquestionado.
A proposta bsica da Nova Museologia est pautada nodilogo, no argumento em contextos interativos, sendo, portanto, omundo vivido o espao social onde ser realizada a razocomunicativa. De certa forma, a proposta da Nova Museologiasugere uma libertao da razo instrumental a que os museusestavam e, ainda, continuam submetidos, atrelados ao Estado racionallegal, calcado em um sistema jurdico e em uma burocracia efetiva,etc., o que pode ser evidenciado, atravs da poltica de preservao
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paternalista, imposta pelos governos, onde a deciso do que deve serpreservado, a coleta e a guarda das colees esto sempre nas mos
dos mais poderosos.
Os princpios bsicos que norteiam as aes da NovaMuseologia podem, ento, ser resumidos nos seguintes pontos:
reconhecimento das identidades e das culturas de todos os gruposhumanos;
utilizao da memria coletiva como um referencial bsico para oentendimento e a transformao da realidade;
incentivo apropriao e reapropriao do patrimnio, para que aidentidade seja vivida, na pluralidade e na ruptura;
desenvolvimento de aes museolgicas, considerando comoponto de partida a prtica social e no as colees; socializao da funo de preservao; Interpretao da relao entre o homem e o seu meio ambiente e
da influncia da herana cultural e natural na identidade dosindivduos e dos grupos sociais;
ao comunicativa dos tcnicos e dos grupos comunitrios,objetivando o entendimento, a transformao e o desenvolvimentosocial.
Pode-se, ento, identificar, a partir das reflexes acima realizadas,algumas expresses-chave :
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Patrimnio Global ohomem - o meio ambiente - o saber eo artefato. Ou seja, o real, na sua totalidade: cultural, natural, material
e imaterial, em suas dimenses de tempo e espao. Um patrimniocriado, importado ou transmitido. O patrimnio integral.
Museu Integral o museu que tem a nfase no homem -sujeito do ato de conhecer e de transformar o conhecimento e o mundo- na sua relao com o meio, que aborda a totalidade dos problemas dasociedade, tendo como elementos bsicos:
um territrio - limites geogrfcos e afinidades culturais, umtestemunho presente, com todas as suas belezas e contradies,
produto do tempo e do espao territorial. Um patrimnio global ecoletivo.
um patrimnio -o patrimnio global;
e uma populao- habitantes de um territrio que soresponsveis pela organizao e gesto do museu e pela preservao euso do patrimnio, conscientes das suas afinidades e diferenas, bemcomo das relaes de conflito com o seu meio ambiente;
Museologia Ativa - experincias com base nos referenciais daNova Museologia: ecomuseus, museus comunitrios, museus de
vizinhana, etc.
Desenvolvimento Comunitrio processo educacional, nosentido de liberar o homem para que seja sujeito da sua prpriahistria. Estou me apropriando do conceito de desenvolvimentocomunitrio emitido por Hugues de Varine (1987, p.29), qual seja: Oconjunto de conceitos, atos, esforos, visando favorecer o avanosocial, cultural, econmico e, em geral, humano, de uma certa
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comunidade, por iniciativa de seus membros tratados, s vezes,individualmente, s vezes coletivamente. O autor destaca os
seguintes conceitos, nos quais o desenvolvimento comunitrio seapoia:
desenvolvimento -compreendido como o senso global e nosomente no aspecto econmico do termo. A conjugao do homem eda sociedade, harmoniosa e harmonizada a partir de uma adesocontnua e de uma constante inovao espiritual e tecnolgica;
quadro comunitrio natural, englobando sucessivamente afamlia, o meio profissional, o bairro ou a aldeia, a cidade, o pas, aregio;
um desenvolvimento pesquisado, escala dessascomunidades sucessivas e simultneas. Foi desejado, concebido,
realizado e criticado, individualmente, e coletivamente por essascomunidades e por seus membros.
Enfim, a Nova Museologia pode ser ento caracterizada comoum movimento, organizado a partir da iniciativa de um grupo de
profissionais, em diferentes pases, aproveitando as brechas, ousejam, as fissuras, dentro do sistema de polticas culturais
institudas, organizando museus, de forma criativa, interagindo com osgrupos sociais, aplicando as aes de pesquisa, preservao ecomunicao, com a participao dos membros de uma comunidade,de acordo com as caractersticas dos diferentes contextos, tendo comoobjetivo principal utilizar o patrimnio cultural, como uminstrurmento para o exerccio da cidadania e para o desenvolvimentosocial.
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5 PROCESSO METODOLGICOAcho que mesmo impossvel definir uma nica metodologia
para a ao museolgica embasada nos princpios da NovaMuseologia, pois os valores vigentes, em cada sociedade e em cadasetor de atuao, podem alterar as propostas metodolgicas. Sendoassim, pode existir uma grande diversidade de processos entre os
pequenos museus comunitrios, entre os ecomuseus, entre os museusdidtico-comunitrios, entre os museus de vizinhana, etc. A partirdos referenciais bsicos, apresentados no item anterior, abordarei as
questes metodolgicas gerais, considerando que, na diversidade, hpontos comuns, e que os mtodos e as tcnicas aplicados, dentro deuma certa coerncia, devem facilitar a consecuo dos objetivos
propostos, ou seja, devem ser coerentes com os princpios adotados.
Percebe-se pois que os processos aplicados aos projetosembasados nos princpio da Nova Museologia so apoiados nas
propostas de educao transformadorae de pesquisa/ao, ou daao/pesquisa, como define Hugues de Varine (1987, p. 101) :
na ao que uma comunidade se forja e se fazreconhecer como fora poltica e entidade social de
forma total. na ao que ela adquire suascaractersticas prprias, que ela existe. Ela porque ela
age, e cada um dos seus membros, participando de umatal ao, far a prova e tomar conscincia de suacapacidade autnoma de pensar e de ser. Assim,apoiando-se uma sobre a outra, comunidade e indivduoafinaro progressivamente sua experincia, seuconhecimento dos obstculos e dos meios, a expressodos objetivos e dos mtodos.
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Os objetivos da ao-transformao da pesquisa-ao podemser identificados nos trabalhos de marxistas como Engles, Rosa de
Luxemburgo, Kausty e nas obras de Marx, que os bocheviques eGramisc fazem avanar neste sculo. Tambm, pode-se considerar quea maneira peculiar adotada pela investigao-ao de conceber acincia e o mundo reincorpora a tradio filosfica atravs dosescritos de pensadores como Gentile, Lucks e a tradio sociolgicanas obras de See, Hilferding, Velen, Mills e outros. Silva ( 1986
p.30). A autora destaca, tambm, que as obras de Freud e Piaget
enriqueceram as reflexes em torno da relao entre a teoria e aprtica.
Michel Thiolent (1986, p.14), define a pesquisa-ao como umtipo de pesquisa social de base emprica, que concebida e realizadaem estreita associao com uma ao ou soluo de um problemacoletivo, no qual, os pesquisadores e os participantes representativos
da situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ouparticipativo. Brando, (1982, p.27 ) comenta que em vez de sepreocupar somente com a explicao dos fenmenos sociais depoisque eles aconteceram, o objetivo da pesquisa-ao de favorecer aaquisio de um conhecimento e de uma conscincia crtica do
processo de transformao pelo qual o grupo que est vivenciando,para que desempenhe de forma cada vez mais lcida e autnoma seu
papel de protagonista e ator social. Resumindo os principais dapesquisa-ao, Thiolent (1986,p.16) apresenta os seguintes aspectos:
h uma explcita interao entre pesquisadores e as pessoasimplicadas na situao investigada;
dessa interao resulta a ordem de prioridade dos problemas aserem pesquisados e das solues a serem encaminhadas sobforma de ao concreta;
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objeto da investigao no constitudo pelas pessoas e sim pelasituao social e pelos problemas de diferentes naturezasencontrados na situao investigada;
objetivo da pesquisa-ao consiste em resolver ou, pelo menos,em esclarecer os problemas da situao observada;
h, durante o processo, um acompanhamento das decises e dasaes e de toda a atividade intencional dos atores da situao;
a pesquisa no se limita a uma forma de ao (risco de ativismo);pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e oconhecimento ou o nvel de conscincia das pessoas e gruposconsiderados.
As concepes de museu integral e de desenvolvimentocomunitrio, analisados no item anterior, esto pautados em umaperspectiva pedaggica que busca a produo do conhecimento, com oobjetivo de aumentar a conscincia e a capacidade de iniciativa dosgrupos, visando transformao. Como na proposta de educaotransformadora, o museu integral constitudo a partir do estudo darealidade vivida pelo grupo e da percepo que o grupo tem dessa
mesma realidade. Percepo esta refletida nas exposies temticas,que abordam os problemas e so o resultado de um processo dereflexo e construo conjunta do grupo, ou seja, tcnicos e membrosda comunidade, ambos se enriquecendo, mutuamente. A declarao deOaxtepec (1984) registra que a participao comunitria evita asdificuldades de comunicao caractersticas do monlogomuseogrfico, empreendido pelo especialista. Almeida (1996, p.112),comenta que o museu, nessa perspectiva, considerado um meio e
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no um fim, destacando que existe uma interao entre ele e o mundoem transformao. um instrumento cultural a servio da populao.
Salienta que os membros da comunidade so os principaisresponsveis pela organizao e gesto do museu, e que esse processoreflete a identidade da comunidade. Chama a ateno para o fato deque, em conseqncia, no existem dois museus locais iguais, vistoserem fruto de gentes diferentes. Destaca que, em vez dos objetos, o homem criador/guardador/destruidor de objetos o elemento centralda museologia.
Comentando sobre a importncia da utilizao da pesquisa-participante pelos museus comunitrios, Gonzalez ( s.1. 19...)destaca:
Poderamos assegurar que somente uma concepo queconsidera o museu como um instrumento culturaldinmico de educao popular que criado pela
comunidade e para a comunidade, poderia assumir aimportncia e o valor que constitui a investigaoparticipativa como uma orientao metodolgica, que vna apropriao coletiva do saber, na produo coletivade conhecimentos, a possibilidade de tornar efetivo odireito que os diversos grupos sociais tm para realizar a
preservao autogestiva de sua histria e de sua cultura.
Compreende-se, portanto, que dois conceitos bsicos ecomplementares esto aqui envolvidos: a participao e aautogesto, sem as quais impossvel desempenhar as aesmuseolgicas propostas pelo Movimento da Nova Museologia.Mendona (1987, p. 22) conceitua a participao como a varivel quedefine e indica o que e como algum faz algo, em uma organizao.Afirma que participao envolve uma gama de indagaes
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teleolgicas como: distribuo de poder, autoridade, propriedade,trabalho, mecanismo de coordenao e integrao e processo de
tomada de deciso. Destaca que a autogesto considerada como omeio mais aprefeioado de participao.
Comentando sobre a participao, Demo (1994, p.44) a definecomo a conquista humana principal, tanto no sentido de ser mais doque nunca uma conquista- dada a dificuldade de a realizar de mododesejvel-quanto no sentido de ser a mais humana imaginvel - porque
a forma de realizao humana. Salienta ainda que:
a melhor obra de arte do homem em sua histria,porque a histria que vale a pena aquela participativa,ou seja, com o teor menor possvel de desigualdade, deexplorao ,de mercantilizao, de opresso. No cernedos desejos do homem est a participao, que
sedimenta metas eternas de autogesto, de democracia,de liberdade, de convivncia.
Pode-se identificar a homogeneidade, a coerncia, a auto-organizao e a continuidade nas organizaes autogovernadas.So expressas atravs da realizao dos objetivos, da deliberaosobre os meios de alcanar as metas, execuo das polticas e da
diviso dos benefcios da vida da organizao. So identificadas asseguintes polticas em organizaes de autogesto:
a tomada de deciso o resultado da autoridade delegada de baixopara cima;
a comunicao a caracterstica mais importante, porque o direitode tomar decises uma mera formalidade sem a informaoadequada e atualizada;
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sob a autogesto no h propriedade privada baseada naexplorao do trabalho dos outros;
a meta desenvolver os talentos dos trabalhadores a fim dedesenvolver todo o sistema;
o lder o delegado eleito do grupo, por considerao. O lderfunciona como a expresso viva das necessidades tcnicas e
polticas do grupo.A avaliao um processo contnuo, que acompanha todas as
etapas dos projetos a serem desenvolvidos: diagnstico, planejamento
e operacionalizao. Gonzalez (1990) comentando sobre o processode avaliao nos museus comunitrios, destaca que deve sercompreendida sob os seguintes aspectos:
Permanente e sistmica, j que uma atividade constante, emboraexistam momentos especiais em que necessrio intensifica-la;
Grupal e participativa, porque a avaliao no pode serresponsabilidade individual, pois requer a opinio e as propostas dogrupo de trabalho, em conjunto.
Educativa,porque conhecimento, crtica e autocrtica e porque gerareflexo e compreenso da realidade comunitria.
Comentando sobre a abertura dos museus, para o meio ondeest inserido, buscando a interao com as populaes, Rivard (1984,p.9) salienta que este novo olhar sobre a natureza e sobre o universo produto de um conjunto de mtodos e de tcnicas tomadas deemprstimo a disciplinas bem diferentes. Vrios mtodos e tcnicasencontram-se, interpem-se e se complementam buscando umacompreenso mais global dos fenmenos, no somente na suarespectiva dinmica, mas tambm na dinmica que os ligam e os
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processos museais de museologia ativagestados, ao longo dos anos,contriburam, de modo efetivo, para a ampliao do conceito de
patrimnio, na medida em que o conceitua como a relao do homemcom o meio, ou seja, o real, na sua totalidade: material, imaterial,natural e cultural, em suas dimenses de tempo e espao.Consequentemente, os bens culturais a serem musealizados tambmforam ampliados. Nesse sentido, as aes museolgicas no sero
processadas somente a partir dos objetos, das colees, mas tendocomo referencial o patrimnio global, tornando assim necessria uma
ampla reviso dos mtodos a serem aplicados nas aes de pesquisa,preservao e comunicao, nos diferentes contextos.
Por outro lado, a ampliao do conceito de patrimnio estrelacionada criao de novas categorias de museus, comoecomuseus, museu comunitrio, museu de vinzinhana, etc., que noesto fechados nas paredes de um edifcios, mas realizam as aes
museolgicas em um territrio, com uma populao. Essas novascategorias de museus, abertas a uma populao e a um territrio, irocontribuir, tambm, para que as aes museolgicas possam ser
processadas fora do espao restrito do museu, abrindo assim, amplaspossibilidades para a realizao de novos processos de musealizao .Do ponto de vista metodolgico, foi um vetor a incentivar a busca desolues criativas. A seguir, realizo uma anlise das contribuies dos
novos processos para as aes museolgicas de pesquisa, preservaoe comunicao:
A pesquisa:
Construo do conhecimento, tomando como referencial ocotidiano, qualificado como patrimnio cultural. Este conhecimento construdo na ao museal e para a ao museal, em interao com osdiversos grupos envolvidos, objetivando a construo de uma nova
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prtica social. No se trata, da pesquisa que se esgota na meradescrio e anlise dos objetos. A pesquisa alimenta todas as aes
museolgicas, em processo.
Preservao:
Consideram-se as seguintes etapas:coleta- o acervo o conjunto dos bens dinmicos, em transformaoem uma comunidade, e no somente uma coleo. Esse acervo
propriedade privada ou coletiva dos indivduos, no adquirida nem
pertence ao museu. Trabalha-se com o acervo institucional, ou seja:material arquivstico e iconogrficos, plantas maquetes, depoimentos etestemunhos, etc., e com o acervo operacional: as reas do tecidourbano socialmente apropriadas como paisagens, estruturas,monumentos, equipamentos, as tcnicas do saber e do saber fazer,com os artefatos, com o meio rural, etc.
classificao e registro o processo documental no se limita aoregistro do acervo. Busca-se , atravs da cultura qualificada,produzir conhecimento, elaborado no processo educativo, pormeio das aes de pesquisa. H uma documentao dos dadoscoletados, que so sistematizados, de acordo com ascaractersticas das diversas realidade que esto sendomusealizadas, formando o banco de dados do museu, referente
realidade local, a partir das aes de pesquisa, por meio daao interativa entre os tcnicos e os grupos envolvidos.Busca-se a qualificao da cultura, da anlise e compreensodo patrimnio cultural na sua dinmica real e no a seleo dedeterminados aspectos para armazenamento e conservao. O
banco de dados o referencial bsico de informao, aberto comunidade, que alimentado, constantemente, pelosdiversos processos, em andamento no museu.
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Os instrumentos utilizados na documentao so criados eadaptados a cada realidade, discutidos com os diversos grupos
envolvidos na ao museolgica e absorvidos pelos mesmos,para a sua aplicao. O processamento do conhecimentoproduzido e sua incluso no banco de dados se d com aparticipao dos componentes do museu, ao mesmo tempo emque os tcnicos participam na elaborao dos instrumentos decoleta de dados, estabelece-se um processo dialgico no qualo muselogo e os demais grupos envolvidos so enriquecidos,
tanto na fase do planejamento como na execuo, havendo,tambm, um aumento da auto-estima de ambos quando o
produto do seu trabalho utilizado para a compreenso darealidade e para a construo de um novo conhecimento,atingindo, assim, os objetivos propostos na ao documental.
Conservao:Busca-se a formao de atitudes preservacionistas.
Estabelece-se um processo no sentido de compreender osobjetivos da preservao, no fazer cotidiano das pessoas. Aconservao , ento, um processo de reflexo para uma aoque se d em um contexto social e no somente a aplicao detcnicas em determinados acervos. Esforos so concentradosna busca da sensibilizao e na formao de conservadores, na
prpria populao, a partir de suas aptides e atitudes.
Comunicao: A comunicao no est restrita exposio. Faz partedo processo museolgico, embora seja importante registrarque sempre fica uma distncia entre o material inerte que exposto e o processo vital que lhe deu origem. Ao contrrio do
procedimento mais usual dos museus, em que a exposio oponto de partida no sentido de estabelecer uma interao como pblico, nesta ao museolgica a exposio , ao mesmo
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tempo, produto de um trabalho interativo, rico, cheio devitalidade, de afetividade, de criatividade e de reflexo, que d
origem ao conhecimento que est sendo exposto e a uma aodialgica de reflexo, estabelecida no processo que antecedeua exposio e durante a montagem, alm de ser ponto de
partida para outra ao de comunicao.
As demais aes museolgicas de pesquisa e preservao, janalisadas anteriormente, tambm so um processo de comunicao,
uma vez que so gestadas por meio de um processo constante deinterao em uma ao pautada no dilogo, levando-se emconsiderao as caractersticas dos grupos envolvidos, e as diversasmaneiras de estar no mundo e de se expressar, por meio de diferenteslinguagens.
interessante ressaltar que as aes museolgicas de
pesquisa, preservao e comunicao esto integradas entre si, aosobjetivos dos diferentes projetos e s caractersticas dos diversosgrupos sociais, em um processo constante de reviso, de adaptao ede renovao.
Com certeza, esse novo caminhar nos conduz, urgentemente, necessidade de se repensar o perfil do profissional muselogo, tanto
no aspecto formal como no aspecto poltico. Nesse sentido, consideroque o Movimento da Nova Museologia fornece dados importantespara se repensar, tanto os currculos dos cursos de museologia como opapel que as universidades devem desempenhar junto sociedade. OMovimento da Nova Museologia foi um impulso necessrio renovao, contribuindo, efetivamente, com o enriquecimento do
processo museolgico e, sobretudo, com um fazer museolgico maisajustado s diversas realidades. Da construo concreta de museu,
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com base na interao e na participao, conseguimos avanartambm em relao aos aspectos terico-metodolgicos da
Museologia.
7 CONSIDERAES FINAISO movimento, e no umaNova Museologia, foi um vetor na
busca de novos caminhos, que, a cada etapa avaliada, descobre-se noter sido encontrado o ideal, mas o possvel. Portanto, O Movimento da
Nova Museologia nos instrumenta para seguir adiante buscando o
desenvolvimento constante da cincia museolgica. necessrio,pois, reconhecer o papel do movimento denominado de NovaMuseologia, sem contudo confund-lo com a Museologia
propriamente dita. Est claro, tambm, que as experincias da NovaMuseologia nos fazem compreender que h formas diferentes deadministrar museus e desenvolver processos museais. Os vriosexemplos construdos nos ltimos 30 anos, e referidos no presente
texto, demonstram a factibilidade e a viabilidade de processos museaisgestados a partir da iniciativa e da participao dos cidados,desmistifica a crena de que h um nico modelo de construir museuse de se trabalhar com o patrimnio cultural.
Enfim, acho que o movimento da Nova Museologia nosapontou os caminhos do respeito diferena e pluralidade, para a
construo de uma museologia que est aberta s mltiplas realidades,ao crescimento do tcnico, que passa a reconhecer seus limites e abre-se para o crescimento conjunto, a partir da interao com ascomunidades, assumindo o seu compromisso social, na busca dacidadania e do desenvolvimento social. No nosso entender, este oseu maior mrito:a sua contemporaneidade.
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Entretanto, necessrio ressaltar que os princpios da NovaMuseologia no so a panacia para a soluo de todos os
problemas dos museus e da Museologia. H, com certeza, muitosaspectos que no sero resolvidos. Por outro lado, preciso estaratento aos disfarces, apropriao do discurso que no foi assimiladode forma consciente, ou seja, na vivncia da construo conjunta, narelao teoria-prtica, na experincia vivida, e utilizado para amanipulao e para o modismo. Da mesma forma, o respeito a outras
prticas museais tambm essencial, pois somente na diversidade
que poderemos fazer escolhas, ter iniciativa e participar. Nessesentido, encerro a minha reflexo, com uma referncia de KenethWalker, citado por Mendona (1987, p.52) :
Tem-se chegado a um ponto que se sabe que aparticipao no uma frmula mgica, mas que requerum trabalho paciente. Nenhuma das formas de
participao que foram aplicadas at agora resolveramcompletamente os problemas. muito possvel que esseproblemas, como tantos outros de relaes humanas,nunca sejam resolvidos de forma definitiva. Maisimportante que buscar solues totais reconhecer quese trata de um processo prolongado de aprendizagem,cuja primeira etapa aprender a aprender.
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