2º elemento de avaliação História da Idade Média séc. XII - XV trabalho final 2

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2º Elemento de Avaliação História da Idade Média - séculos XII - XV Professora: Maria de Lurdes Rosa José Paulo Nunes Pardim nº 38008

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2º Elemento de Avaliação

História da Idade Média - séculos XII - XV

Professora: Maria de Lurdes Rosa

José Paulo Nunes Pardim nº 38008

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Introdução

Este trabalho consiste em analisar, referir e mostrar quatro documentos cuja temática

gira em torno dos comerciantes do período medieval, entre os séculos XII e XIV.

Técnicas e práticas financeiras que eram mais comumente utilizadas pelos comerciantes

deste período entre as cidades e italianas e depois se estendendo por todo território

europeu. Também poderemos perceber, pela análise dos documentos, como viviam

estes homens pelos diferentes lugares que passavam enquanto exerciam seu modo de

vida.

Estes documentos são: um do século XII e três de diferentes momentos do século XIV.

O primeiro e mais antigo, indica o início do grande impulso comercial, numa

caracterização de como os homens das cidades italianas para, entre outras coisas,

diminuir o prejuízo em caso de algo vir a dar errado nos negócios, agrupavam-se em

sociedades1. O segundo é a prova de como estes comerciantes em diferentes cidades e

por intermédio de representantes, apoiados num sistema financeiro de circulação

monetária, faziam circular valores não apenas entre cidades italianas, mas por toda a

Europa2.

Os dois últimos além de indicarem mais destas práticas financeiras ainda mostram como

os comerciantes tentavam proteger da melhor maneira seus negócios, como mantinham

certas práticas em segredo em prol de sua descendência e família. Também nos dá

mostras de como viviam e seu círculo de relações, chegando até reis no caso de

comerciantes poderosos3.

1 Medieval trade in the Mediterranean world: illustrative documents, New York, Columbia University

Press, 1990, p. 179. 2 Ibid., p. 231.

3 Gene A. Brucker, Two memoirs of Renaissance Florence; the diaries of Buonaccorso Pitti and Gregorio

Dati, New York, Harper & Row, 1967, (Harper torchbooks, TB 1333).

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Tendo como objetos de estudo quatro fontes primárias, vou identificar o contexto

histórico em que estão inseridas no desenvolvimento comercial em que fizeram parte na

Idade Média.

Na primeira uma formação de sociedade entre comerciantes sediados na cidade de

Génova. Vou situar os comentários em torno do momento histórico em que há este tipo

de desenvolvimento comercial muito ainda relacionado com as cruzadas e como os

comerciantes conseguiam entre lucro nos transportes de guerreiros para o Médio

Oriente, potencializavam a viagem e faziam comércio para o retorno a cidade italiana.

A segunda, letra de câmbio, sem dúvida. Nesta vou relatar como eram feitas as

transações, como eram reguladas tipos de práticas financeiras diferentes entre as cidades

para que o negócio fluísse sem uma perda maior para algum dos lados da transação.

Na terceira e quarta como são duas fontes que tratam do mesmo assunto, Livros

Secretos, vou comentar a particularidade de cada um. Para os dois mercadores

florentinos de épocas relativamente próximas, se não a mesma, mostro como o primeiro

está numa clara empresa para um investimento pessoal, um freelancer se podemos dizer

assim. Mostra seus passos e acontecimentos de sua aplicação financeira.

Na quarta um outro negociante florentino, além das preocupações que lhe eram

peculiares em relação as práticas comerciais, é importante salientar como descreve seu

modo de vida e suas relações na corte do rei francês.

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Passo a comentar agora o primeiro documento, com o título de “A Formação de uma

Sociedade Genovesa” datada de 11634.

O texto trata de uma sociedade para transporte marítimo, a princípio para Túnis. Desde

o século XII, já era prática comercial, nas cidades costeiras italianas o transporte de

guerreiros para a terra santa, aproveitavam e faziam negócios para o retorno, seja com

cristão ou até os muçulmanos da região do Médio Oriente e norte de África.

Começa assim, por motivo de mais investimento nos pesados gastos que uma empresa

deste tipo tinha, e também para dividir os prejuízos caso algum infortúnio acontecesse,

como por exemplo naufrágios ou saque dos piratas muçulmanos do Mediterrâneo.

Foi assim que começaram a formar-se sociedades, que tiveram impulso principalmente

no século XII por várias cidades italianas e com nomes diferentes, como a colleganzia

em Veneza5 que já era colocada em prática desde o século XI e a societas genovesa

6,

esta ultima nossa objeto deste estudo.

É nesse sentido que a partir de Génova, que neste período tinha uma certa vantagem em

relação a Veneza, nomeadamente autonomia comercial no Mar Negro, nas cidades do

Médio Oriente como Jerusalém em muitos de seus bairros, e quase a totalidade da costa

latina incluindo Antioquia, também negociavam com Constantinopla, cidades do norte

de África e sul da França7.

Vale a pena lembrar que junto com os progressos do setor terciário entre os séculos XI

ao XIII, também foram desenvolvidas técnicas de construção e melhoramento das

embarcações aumentando muito a capacidade desses navios8. Mas junto a esse aumento

de capacidade deveriam investir mais na construção naval, e em caso de prejuízo dos

produtos negociáveis, entre estes “produtos” contamos o de escravos pelo Mediterrâneo,

há que se levar em conta naufrágios e saques da pirataria muçulmana.

4 Medieval trade in the Mediterranean world: illustrative documents, p. 179.

5 Gino Luzzatto, Storia Economica di Venezia Dall’XI al XIV Secolo, 1

a, Venezia, Centro Internazionale

Delle Arti e Del Costume, 1961, p. 28. 6 Guy Fourquin, História económica do ocidente medieval, Lisboa, Edições 70, 1981, (Lugar da história,

12), p. 284. 7 Edwin S. Hunt et al., Uma história do comércio na Europa Medieval, 1200-1550, 1a ed, Lisboa, Dom

Quixote, 2000, (Anais, 29), pp. 88 – 89. 8 Guy Fourquin, História económica do ocidente medieval, p. 399.

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Agora, no segundo documento, “O Processo do Crédito: A Letra de Cambio” datada de

13399.

Com o método derivado da técnica de contabilidade assentada em três elementos, ou

tripartidas: o registo de movimento de valores em unidades monetárias, a classificação

por categorias e a verificação10

, sob a tutela de grandes homens de negócio organizados

em bancos, que desde o início deste século XIV, espalhavam seus representantes por

toda a europa desde Florença11

com o objetivo de fazer negócio e estender a influência

de determinados bancos.

Entre os principais bancos estavam a Acciaiuoli, uma companhia de banqueiros

florentinos que eram cabeça de, incluindo este tipo de relação com a letra de câmbio,

estavam também envolvidos nos mais diferentes tipos de práticas comerciais e

financeiras por toda a Europa e Oriente, entre Bizâncio e Terra Santa.

Um exemplo do poderio desta companhia mostra que, desde o princípio do século XIV,

a manutenção de relações estreitas e grandes vantagens que recebeu dos Angevinos

Franceses, mas depois de uma pequenas crise que envolveu invasões a Sicília e o abalo

nas relações com o rei Carlos de Valois de França, voltam as companhias florentinas a

ter vantagem no comercio e práticas comerciais, assim como outras companhias,

nomeadamente os Bardi e os Peruzzi.

São denominadas super-companhias12

estas casas de origem florentinas, que continuam

a expandirem estendendo suas relações entre os negociantes do território onde hoje é

França, Países Baixos e Inglaterra.

É no século XIV que ocorre também a guerra de Chioggia13

, envolvendo principalmente

duas potências marítimas de então, Veneza e Gênova, e também outras menores cidades

mercantis. Esta guerra visava mais a hegemonia do controle do tráfico mercantil pelo

Mediterrâneo desde o Médio Oriente até a saída para o Atlântico. Esta guerra deu

alguma vantagem para Florença em muitas relações comerciais, principalmente para as

companhias bancárias, mediante o risco de se investir em companhias que estavam em

guerra aberta.

9 Medieval trade in the Mediterranean world: illustrative documents, p. 231.

10 Guy Fourquin and Fernanda Barão, História económica do ocidente medieval, p. 406.

11 Edwin S. Hunt et al., Uma história do comércio na Europa Medieval, 1200-1550, p. 93.

12 Ibid.

13 Gino Luzzatto, Storia Economica di Venezia Dall’XI al XIV Secolo, p. 140.

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Na sequência vou tratar de um mesmo assunto mas citando dois comerciantes do século

XIV, são eles Gregório Dati14

e Buonaccorso Pitti15

. O tema será os seus “Livros

secretos”. São diários que acompanhavam estes comerciantes por onde andavam, com

os quais registavam sua prática comercial, assim como inovações de que eram

espectadores pelos lugares onde passavam, e também seu modo de vida e relações.

Começo por relatar o texto com o título “Uma Página do “Livro Secreto” de um

Mercador Florentino” (1384) cujo autor é Gregório Dati.

São sequências, as quais Gregório Dati descreve como se deu o investimento na

sociedade, e o seu desenvolvimento. É referido como aconteceu o começo desta

sociedade, dado que Gregório não tinha dinheiro para investir, mas mesmo assim pela

particularidade do seu ramo de comércio, produção e venda de seda, negócio este que

contava com um público-alvo nas figuras da burguesia e nobreza, estes produtos saiam

do porto de Pisa rumo a Inglaterra ou ao Oriente16

.

Mostra como em três anos conseguiu pagar o investimento inicial e ainda obteve lucro.

Dos 300 florins de ouro que ficou devendo ao entrar na sociedade, ainda sobraram-lhe

depois de três anos 168 florins de ouro e 7 soldi a fiorino.

Dá mostras, nesta sociedade, como estavam este tipo de prática financeira do fim do

século XIV. Derivado possivelmente da passagem da peste negra em meados deste

século acrescido do grande cisma da Igreja, entre 1378 a 1417. Estes acontecimentos

indicam como estes comerciantes, muitas vezes sem dinheiro, tentavam se introduzir

entre sociedades para mais facilmente conseguirem algum lucro e se protegerem de

algum prejuízo maior.

No segundo documento também vou tratar de um outro livro secreto, nomeadamente “A

Atividade de um Mercador Florentino no Século XIV”, cujo autor é Buonaccorso Pitti.

Diferente de Gregório Dati, Buonaccorso Pitti vem de uma família florentina poderosa.

E derivado a isto poderemos notar na leitura do texto, para onde expande sua influência.

14

Gene A. Brucker, Two memoirs of Renaissance Florence; the diaries of Buonaccorso Pitti and Gregorio Dati, p. 108. 15

Ibid., pp. 44 – 47. 16

Guy Fourquin and Fernanda Barão, História económica do ocidente medieval, p. 388.

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Vivendo entre a corte do rei francês Carlos VI, e em jogos realizados entre França,

Países Baixos e Inglaterra, este comerciante, jogador e apostador, estava atento e fazia

ainda relatos pormenorizados de suas transações financeiras, entre a apreciação de jogos

e passatempo entre nobres.

Mediante o documento é fácil verificar que entre suas viagens conseguiu e tem

representantes comerciais num vastíssimo território, entre a Inglaterra e Florença, de

onde despacha os produtos negociados e envia suas transações “bancárias”.

Durante o grande Cisma do Ocidente, em que Roma e Avignon disputam a hegemonia

do poder da Igreja, Buonaccorso Pitti sabe jogar, para além da diversão, também o jogo

político e comercial de então, circulando entre as potencias, estivessem elas do lado de

Roma ou do lado de Avignon.

Conclusão

Mediante quatro relatos observamos como acorreu o desenvolvimento do comércio

entre os séculos XII ao XIV. Entre a formação de sociedades, principalmente nas

cidades italianas, e as diferentes práticas financeiras aplicadas, conseguimos ter um

panorama geral de como, a partir dos territórios italianos, desenvolveu-se por toda a

Europa, Oriente e Norte de África.

Com a bibliografia de apoio aprovada pela Professora em sala de aula, uma mais

genérica e outra mais específica, deu-se o desenvolvimento desta análise sobre quatro

documentos distintos.

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Brucker, Gene A., Two memoirs of Renaissance Florence; the diaries of Buonaccorso

Pitti and Gregorio Dati, New York, Harper & Row, 1967, (Harper torchbooks, TB

1333).

Fourquin, Guy; Barão, Fernanda, História económica do ocidente medieval, Lisboa,

Edições 70, 1981, (Lugar da história, 12).

Hunt, Edwin S.; Murray, James M.; Costa, Maria de Santos, Uma história do comércio

na Europa Medieval, 1200-1550, 1a ed, Lisboa, Dom Quixote, 2000, (Anais, 29).

Luzzatto, Gino, Storia Economica di Venezia Dall’XI al XIV Secolo, 1a, Venezia,

Centro Internazionale Delle Arti e Del Costume, 1961.

Medieval trade in the Mediterranean world: illustrative documents, New York,

Columbia University Press, 1990, (Records of western civilization).