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Transcript of 24529_20130304_113855
%HermesFileInfo:B-1:20130304:B1 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO
EconomiaCasa própriaGoverno volta a discutir limite maiorpara uso do FGTS na compra de imóveis
Finanças pessoaisBrasileiros investem maisem ativos no exterior
Fazenda
Freio nos bônusSuíços limitam a remuneraçãodos altos executivos
Ricardo BrandtENVIADO ESPECIALPIRACICABA (SP)Miguel PortelaESPECIAL PARA O ESTADOCASCAVEL (PR)
A os 62 anos de idade,Odair Novello é umdos maiores produ-tores de cana-de-
açúcar de Piracicaba, no inte-rior de São Paulo – uma dasregiões que lideram o merca-do no Estado. Investir em ter-ras agrícolas sempre foi seunegócio. “Em 2006, compreiuma fazenda com o alqueireao preço de R$ 23 mil. Hoje, se
eu colocar para vender por R$ 60mil, R$ 70 mil o alqueire, vendena hora”, conta o fazendeiro.
“É muito difícil achar terrasagrícolas para comprar aqui emPiracicaba. Se achar, encontrapor um preço muito alto”, expli-ca Novello, que em 2012 investiuna compra de uma nova fazendana região, na cidade vizinha deAnhembi. “No ano passado, já pa-guei R$ 58 mil pelo alqueire, emuma propriedade de 130 alquei-res”, conta o produtor rural.
Ao todo, Novello tem 16 pro-priedades agrícolas (próprias earrendadas), num total de 5 milhectares, que a família mantémproduzindo cana-de-açúcar pa-
ra vender para as usinas do gru-po Cosan-Raízen. A alta nos pre-ços e a falta de terras em Piracica-ba na última década foi impulsio-nada pela chegada da montado-ra coreana Hyundai na cidade. Anova fábrica ocupou quase 1,4 mi-
lhão de metros quadrados emuma área antes tomada por plan-tações de cana na zona rural, queagora começa a se tornar urbana,com a chegada das mais de dezfábricas subsidiárias.
“Na região onde se instalou a
Hyundai, o preço do alqueire já éde R$ 150 mil, quando você achaalgo para comprar. Quem temterra por lá, já está vendendo pormetro quadrado, como se fosseárea urbana”, conta o engenhei-ro agrônomo e produtor rural Jo-sé Rodolfo Penatti, um dos dire-tores da Cooperativa de Planta-dores de Cana (Coplacana).
Sem vendedor. A alta dos pre-ços das commodities agrícolas,sobretudo a soja, nos últimosanos, provocou uma valorizaçãorecorde nos preços das terrastambém no Paraná, que até oano passado era o maior produ-tor agrícola do País. Em Casca-vel, no oeste do Estado, o hecta-re disparou e muitos agriculto-res têm dificuldade para expan-dir a área de plantio de grãos emrazão das raras ofertas de venda.
É o caso do agricultor PauloOrso, que tem uma propriedaderural de 150 hectares em Casca-vel. Desse total, 120 hectares são
destinados à produção degrãos, como soja e milho.
“Há dois anos estou tentan-do ampliar a minha área paracultivo de grãos, mas não con-sigo. Tentei permutar área pa-ra facilitar a negociação e tam-bém não deu certo. Há muitaintenção de compra por partedos produtores, mas nin-guém quer vender”, afirma.
A valorização segue o cami-nho da soja, que virou uma es-pécie de “moeda paralela” nasnegociações imobiliárias. Emmédia, um hectare custa oequivalente a mil sacas de so-ja. Com o preço atual, de R$ 55a saca de 60 kg, um hectare saipor R$ 55 mil.
Em áreas mais produtivas,o valor pode atingir duas milsacas de soja. “A moeda usadanos negócios não é o real, masa soja. Como nos últimos doisanos os grãos se valorizaram,a propriedade também se va-lorizou”, afirma Orso.
Preço da terra agrícola subiu 227% emdez anos, quase o dobro da inflaçãoComprar áreas rurais foi investimento mais rentável do que aplicações em dólar, renda fixa, ações e ouro no período entre 2008 e 2012
estadão.com.br
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Os preços das terras agrícolas doPaís tendem a continuar com va-lorização superior à inflação, pre-vê o diretor técnico da consulto-ria Informa Economics/ FNP, Jo-sé Vicente Ferraz. Ele tem dúvi-das, no entanto, se o ritmo dealta dos últimos dez anos serámantido. “Existe um limite depreços da terra que pode inviabi-lizar a produção agrícola.”
De qualquer forma, três fato-
res, na avaliação do especialista,sustentam a perspectiva de con-tinuidade de valorização desseativo. O primeiro fator é que aoferta de terra é finita. Esse as-pecto ganhou força especialmen-te com a legislação mais rigorosasobre desmatamento que res-tringe o uso do solo.
Por outro lado, a perspectiva éde que a demanda por produtosagrícolas aumente vigorosamen-
te, puxada pelo consumo de ali-mentos em países relativamentepobres. A população desses paí-ses está ganhando renda e come-ça a se alimentar melhor. Nesserol, estão os mais populosos eque enfrentam dificuldades deprodução: China e Índia.
O terceiro fator que contribuipara a valorização das terras bra-sileiras, segundo Ferraz, é quepoucos países têm estoque de
terras em condições de produzircom ganhos de produtividade,como o Brasil. “As projeções pa-ra o agronegócio são fantásticas.Isso faz com que as terras brasi-leiras valorizem”, observa.
Recentemente, esse cenário fa-vorável tem atraído para comprade terras destinadas ao agrone-gócio não apenas agricultores epecuaristas, mas também fun-dos de investimentos. “Hoje, os
fundos respondem por 30% daprocura por terras”, conta AtílioBenedini, dono da Benedini Imó-veis, tradicional imobiliária deRibeirão Preto (SP). Ele explicaque os fundos procuram terrasem áreas de fronteira agrícola.
Segundo o corretor, existemgrupos de investidores, sem liga-ção com o agronegócio, que sereúnem e compram terras paraarrendar. Eles recebem um por-centual que gira em torno de 5%ao ano da renda da terra e mais5% da valorização do ativo. “Éum grande negócio.” / M.C.
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Valorização deve continuar, diz consultoria
& NEGÓCIOS
FABIO CONTERNO/ESTADÃO-28/2/2013
FALTA DE VENDEDORTRAVA MERCADOProdutores dizem que não há terras à venda
Busca. Paulo Orso não consegue aumentar área de plantio
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Márcia De Chiara
Puxado pelo aumento das co-tações da dobradinha soja/mi-lho no mercado internacional,o preço médio de um hectarede terra destinado ao agrone-gócio mais que triplicou emdez anos no Brasil, superandode longe a inflação. Além dis-so, em cinco anos, entre 2008e 2012, a terra se valorizounum ritmo mais acelerado queo dólar, aplicações em renda fi-xa, ações e até mesmo o ouro,o “queridinho” dos investido-res em períodos de crise.
Uma pesquisa sobre o merca-do de terras feita pela consulto-
ria Informa Economics/ FNPmostra que, entre o primeiro bi-mestre de 2003 e o último bimes-tre de 2012, o preço médio da ter-ra no Brasil aumentou 227%. Acotação média do hectare, queengloba áreas para agricultura,pecuária e reflorestamento, sal-tou de R$ 2.280 para R$ 7.470.Nesse período, o preço da terrasubiu 12,6% ao ano, quase o do-bro da inflação média anual, de6,4%, medida pelo Índice Geralde Preços - Disponibilidade In-terna (IGP-DI).
Bimensalmente, os preços dasterras são coletados com corre-tores e engenheiros agrônomospela consultoria, que integra o
maior grupo de informações so-bre o agronegócio no mundo. Ascotações da terras se referem apreços pedidos ou a negócios fe-chados no País em 133 regiõesclassificadas com o mesmo tipode terra.
A disparada das cotações dasterras provocou uma certa parali-sia nos negócios de compra e ven-da nos mercados com áreas maisvaliosas do País, como em Casca-vel, no Paraná, onde o hectarepara grãos atingiu R$ 36 mil emdezembro último, ou em Rio Ver-de, em Goiás, com a terra parasoja cotada a R$ 24 mil por hecta-re. “Aqui não tem terra para ven-der”, conta o diretor do Sindica-
to Rural de Rio Verde, José Ro-berto Brucceli. Ele conta que,por sorte, dois anos atrás, conse-guiu comprar cerca de 500 hecta-res na região. Pagou R$ 12,4 milpelo hectare. Hoje essa terra valeR$ 20,6 mil. “O preço chegou noteto”, afirma.
A paralisia dos mercados se re-pete nas terras para cana-de-açú-car em Ribeirão Preto (SP), ondeo hectare chegou a valer R$ 32mil em dezembro, com alta de138% em dez anos, segundo aconsultoria. Em Piracicaba (SP),a cotação é ainda mais alta: R$ 41mil o hectare da terra para cana,com elevação de 305% em dezanos. Esse resultado, segundo o
diretor técnico da consultoria eresponsável pela pesquisa, JoséVicente Ferraz, foi influenciadopela ida da montadora sul-corea-na Hyundai e de outras empre-sas para o município.
Regiões. As regiões do Brasilcom as terras que mais se valori-zaram nos últimos dez anos fo-ram a Nordeste e a Norte, apon-ta a pesquisa. No Nordeste, o pre-ço do hectare subiu 13,5% ao anoe atingiu R$ 3.298 em dezembrode 2012; no Norte, a valorizaçãoanual foi de 13,3%, com o hectarevalendo R$ 2.228 no fim do anopassado.
Segundo Ferraz, a grande valo-
rização das terras do Norte e doNordeste está sendo puxada pe-la região do “Mapitoba”, que en-globa área para plantação de mi-lho, soja e algodão de quatro Es-tados: Maranhão, Piauí, Tocan-tins e Bahia. A área foi batizadacom as sílabas iniciais dos Esta-dos. “No Mapitoba, os preços es-tão explodindo”, ressalta.
É exatamente essa região quetem uma das terras agrícolasmais valorizadas do País. EmUruçuí, no Piauí, o preço do hec-tare de alta produtividade subiu15% ao ano desde 2003, ou umtotal de 321%. Segundo Ferraz,trata-se de uma região com rele-vo excepcional para o cultivo desoja e milho. Mas a infraestrutu-ra é um problema. “Se não tives-se problema de infraestrutura, avalorização teria sido aindamaior”, diz Ferraz.
Além das boas condições declima e de topografia, ele ponde-ra que parte da grande valoriza-ção das terras do Norte e do Nor-deste se deve ao fato de o preçonessas regiões ser ainda relativa-mente baixo. Isso explica, porexemplo, porque as terras da re-gião Sul – as mais caras, cujo hec-tare vale, em média, R$ 15 mil –foram as que menos se valoriza-ram em dez anos no País (um au-mento médio de 12,1% ao anonos preços).
� Evolução dos preços das terras no Brasil comparada com a valorização de outros ativos
ESCALADA
INFOGRÁFICO/ESTADÃOFONTE: INFORMA ECONOMICS FNP SOUTH AMERICA
Variação dos preços médios das terras agrícolas e de outros ativos nos últimos 5 anos
Variação acumulada por regiões
VARIAÇÃO ACUMULADA EM PORCENTAGEM
EM PORCENTAGEM
*Em 10 anos
EM PORCENTAGEM
Média dos preços por região* Evolução dos preços no Brasil
NORTE
NORDESTE
SUDESTE
SUL
16.000
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
0
NORTENORDESTE
SUL SUDESTE
CENTRO-OESTE
JAN/FEV 2003 (EM R$)
NOV/DEZ 2012 (EM R$)
2003
JAN./FEV.
SET./OUT.
04 05 06 07 08 09 11 122010 2003
JAN./FEV.
SET./OUT.
04 05 06 07 08 09 11 122010
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
MÉDIA BRASIL
2.2807.470
3.298 930
3.723
12.345
15.020
4.779
2.228
247%
254%
CENTRO-OESTE220%
214%
231%
642
6.363 1.987
AÇÕES
INFLAÇÃO (IGP-DI)
35,89%
-0,07
DÓLAR
14,7
OURO
55,41
CDI
63,9
TERRA
86,9