24-Bacia Do Recôncavo

10
B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 423 Bacia do Recôncavo Olívio Barbosa da Silva 1 , José Maurício Caixeta 2 , Paulo da Silva Milhomem 3 , Marilia Dietzsch Kosin 1 Palavras-chave: Bacia do Recôncavo l Estratigrafia l carta estratigráfica Keywords: Recôncavo Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart 1 Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica e-mail: [email protected] 2 E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Leste/Interpretação 3 Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia introdução A Bacia do Recôncavo localiza-se no Estado da Bahia, Nordeste do Brasil, ocupando uma área de aproximadamente 11.500 km 2 . Seus limites são re- presentados pelo Alto de Aporá, a norte e noroeste; pelo sistema de falhas da Barra, a sul; pela Falha de Maragogipe, a oeste; e pelo sistema de falhas de Salvador, a leste. A configuração estrutural da bacia relaciona-se aos esforços distensionais que resultaram na fragmen- tação do Supercontinente Gondwana durante o Eocretáceo, promovendo a abertura do Oceano Atlân- tico. Sua arquitetura básica é a de um meio-gráben, com falha de borda a leste e orientação geral NE-SW. O mergulho regional das camadas para leste é condi- cionado por falhamentos normais planares com dire- ção preferencial N30°E. Zonas de transferência com orientação N40°W acomodaram taxas de extensão va- riáveis entre diferentes compartimentos da bacia ao longo de sua evolução. Segundo Abrahão e Warme (1990), o campo de tensões responsável pelo rifteamento teria atuado entre o Mesojurássico e o Eocretáceo. histórico As primeiras referências sobre a seção sedimentar preservada na Bacia do Recôncavo da- tam da primeira metade do século XIX, sendo atri- buídas a Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Phyllip von Martius, que descreveram unidades aflorantes na orla da Baía de Todos os Santos. Tam-

description

geology, Bahia, petroleum, oil

Transcript of 24-Bacia Do Recôncavo

  • B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 423

    Bacia do Recncavo

    Olvio Barbosa da Silva1, Jos Maurcio Caixeta2, Paulo da Silva Milhomem3,

    Marilia Dietzsch Kosin1

    Palavras-chave: Bacia do Recncavo l Estratigrafia l carta estratigrfica

    Keywords: Recncavo Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

    1 Unidade de Negcio de Explorao e Produo da Bahia/Explorao/Avaliao de Blocos e Interpretao Geolgica e Geofsica

    e-mail: [email protected] E&P Explorao/Interpretao e Avaliao das Bacias da Costa Leste/Interpretao

    3 Unidade de Negcio de Explorao e Produo da Bahia/Explorao/Sedimentologia e Estratigrafia

    introduo

    A Bacia do Recncavo localiza-se no Estadoda Bahia, Nordeste do Brasil, ocupando uma rea deaproximadamente 11.500 km2. Seus limites so re-presentados pelo Alto de Apor, a norte e noroeste;pelo sistema de falhas da Barra, a sul; pela Falha deMaragogipe, a oeste; e pelo sistema de falhas deSalvador, a leste.

    A configurao estrutural da bacia relaciona-seaos esforos distensionais que resultaram na fragmen-tao do Supercontinente Gondwana durante oEocretceo, promovendo a abertura do Oceano Atln-tico. Sua arquitetura bsica a de um meio-grben,com falha de borda a leste e orientao geral NE-SW.O mergulho regional das camadas para leste condi-cionado por falhamentos normais planares com dire-

    o preferencial N30E. Zonas de transferncia comorientao N40W acomodaram taxas de extenso va-riveis entre diferentes compartimentos da bacia aolongo de sua evoluo. Segundo Abraho e Warme(1990), o campo de tenses responsvel pelo rifteamentoteria atuado entre o Mesojurssico e o Eocretceo.

    histrico

    As primeiras referncias sobre a seosedimentar preservada na Bacia do Recncavo da-tam da primeira metade do sculo XIX, sendo atri-budas a Johann Baptist von Spix e Carl FriedrichPhyllip von Martius, que descreveram unidadesaflorantes na orla da Baa de Todos os Santos. Tam-

  • 424 | Bacia do Recncavo - Silva et al.

    bm no sculo XIX iniciaram-se os estudos de seuregistro fossilfero. J naquela poca indicava-se umaafinidade com estratos wealdenianos e uma prov-vel idade neocomiana.

    Viana et al. (1971) apresentaram uma exce-lente resenha sobre o histrico dos trabalhos volta-dos ao estudo da bacia, particularmente sob o enfoquede sua estratigrafia. Estes autores diferenciaram umafase inicial como de pioneirismo geolgico e de cu-nho acadmico, na qual pouco se acrescentou nomenclatura estratigrfica. A procura por hidrocar-bonetos e sua posterior descoberta foramdeterminantes para uma mudana de concepo,com a realizao de trabalhos voltados subdivisodo registro sedimentar em unidades estratigrficascom nomenclatura e hierarquia melhor estabelecidas.Nesta etapa, destaca-se a atividade inicial da Divi-so de Geologia e Mineralogia do DepartamentoNacional de Produo Mineral (DNPM) e, sobretu-do, do Conselho Nacional do Petrleo (CNP), duran-te a dcada de 1940.

    Com a criao da Petrobras e a intensificaodos estudos de superfcie, integrados aos dados de sub-superfcie e com a utilizao mais sistemtica dapaleontologia, a evoluo do conhecimento estratigr-fico teve novo impulso. O pice dessa fase consiste naproposta de Viana et al. (1971), cuja grande contribui-o foi a de sistematizar e organizar o conhecimentogeolgico at ento acumulado, estabelecendo colu-nas litoestratigrfica, bioestratigrfica e cronoestratigr-fica independentes, e resgatando os princpios que de-finem cada tipo de unidade, como estabelecido noCdigo Americano de Nomenclatura Estratigrfica.

    A Carta Estratigrfica do Recncavo-Tucanomanteve-se nica at o incio da dcada de 1990,quando Caixeta et al. (1994) apresentaram uma pro-posta diferenciada para a Bacia do Recncavo. Nes-te trabalho, foram incorporadas algumas modifica-es na coluna litoestratigrfica, tendo por base ostrabalhos de Netto e Oliveira (1985) e Aguiar e Mato(1990). As unidades bioestratigrficas e cronoestrati-grficas permaneceram, no entanto, essencialmen-te as mesmas. Sua grande contribuio foi a de pro-mover uma melhor caracterizao das relaes late-rais e cronolgicas entre as diferentes unidades, dandomaior clareza histria de preenchimento da bacia.Em seu trabalho, Caixeta et al. (1994) incorporaramas principais descontinuidades do registro sedimentar,que subsidiaram a definio de seqncias deposici-onais de terceira ordem.

    O presente trabalho reproduz, em grande par-te, a proposta de Caixeta et al. (1994). So aqui

    introduzidas modificaes referentes amplitudeestratigrfica de algumas unidades, bem como me-lhor definidos os limites de suas seqncias depo-sicionais. A abordagem adotada tem como foco areconstituio do preenchimento sedimentar dabacia a partir da caracterizao de suas seqn-cias estratigrficas.

    embasamento

    O embasamento da Bacia do Recncavo representado predominantemente por gnaissesgranulticos arqueanos pertencentes ao BlocoSerrinha, a oeste e norte; aos cintures Itabuna-Sal-vador-Cura, a oeste-sudoeste; e Salvador-Esplanada, a leste-nordeste. Ao norte, ocorrem ain-da rochas metassedimentares de idadeneoproterozica, relacionadas ao Grupo Estncia.

    Conforme Delgado et al. (2003), os gnaissesgranulticos so constitudos por sutes gneas TTG(tonal t ico-trondhjemt ico-granodior t icas )migmatizadas, de idade mesoarqueana a neo-arqueana (3.200-2.900 Ma), intrudidas por granitos,granodioritos e sienitos paleoproterozicos (2.100-1.900 Ma). Estas rochas associam-se a seqnciassupracrustais depositadas em bacias rifte e em am-bientes plataformais de margem passiva, compreen-dendo quartzitos, paragnaisses aluminosos, rochascalciossilicticas, formaes ferrferas, gnaissesmanganesferos e grafitosos e gonditos. So aindadescritas rochas mficas (anfibolitos) interpretadascomo remanescentes de crosta ocenica. Estes ter-renos estiveram submetidos a mltiplos eventosdeformacionais e de metamorfismo desde oArqueano at o Proterozico, quando ocorreu a es-tabilizao do Crton do So Francisco.

    Rochas metassedimentares de baixo grau com-pem o Grupo Estncia, estando relacionadas a umabacia neoproterozica (750-650 Ma) que se desen-volveu na borda nordeste do Crton do So Francis-co, sob um regime extensional a flexural-termal. Seusdepsitos acumularam-se em uma plataforma rasamista e caracterizam, da base para o topo, as for-maes Juet, Acau e Lagarto. A Formao Juet representada por siliciclsticos de origem litornea(conglomerados, arenitos mdios a grossosretrabalhados por ondas e pelitos). Rochassedimentares carbonticas (dolomitos estromatolticose oolticos, calcarenitos e calcilutitos) com intercala-

  • B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 425

    es de pelitos e nveis de intraclastos constituem aFormao Acau. Arenitos com clastos carbonticosintercalados a pelitos definem a Formao Lagarto.Considera-se que a deposio dessas duas ltimasunidades esteja associada a um ciclo provavelmentetransgressivo. Deformao e metamorfismo soincipientes na Bacia Estncia devido sua posiomarginal em relao tectnica compressiva queestruturou a Faixa de Dobramentos Sergipana.

    SuperseqnciaPaleozica

    Seqncia Permiana

    O Eratema Paleozico representado pelosmembros Pedro e Cazumba da Formao Afligidos.Depositadas sob paleoclima rido e em contexto debacia intracratnica, as associaes faciolgicas quecaracterizam estas unidades ilustram uma tendnciageral regressiva, com transio de uma sedimenta-o marinha rasa, marginal, a bacias evaporticas iso-ladas, ambientes de sabkha continental e, por fim,sistemas lacustres (Aguiar e Mato, 1990). Arenitoscom feies de retrabalhamento por onda, laminitosalgais e evaporitos, principalmente anidrita, caracte-rizam o Membro Pedro. No Membro Cazumba, pre-dominam pelitos e lamitos vermelhos lacustres, comndulos de anidrita na base da seo.

    Dados palinolgicos atribuem uma idadepermiana ao Membro Pedro, que se correlacionacom o Membro Ing da Formao Santa Brgida (Sub-bacia do Tucano Norte) e com as formaes Aracar(Bacia de Sergipe-Alagoas) e Pedra de Fogo (Baciado Parnaba). A idade do Membro Cazumba objetode discusso, contribuindo para tanto a pobreza doregistro fossilfero. Aguiar e Mato (1990) admitem umapossvel extenso dessa unidade ao Trissico, tam-bm com base no resultado de anlises palinolgicas.Ainda segundo estes autores, seu contato com oMembro Boipeba (Formao Aliana) discordantena maior parte do Recncavo, mas consideradotransicional no sudoeste da bacia, o que refora oproblema de posicionamento cronoestratigrfico dointervalo. Adota-se, aqui, a interpretao de Caixetaet al. (1994), que restringem ao Permiano a deposi-o da Formao Afligidos.

    SeqnciasSedimentares

    As seqncias sedimentares relacionadas aopreenchimento da Bacia do Recncavo, propriamen-te dito, compreendem os depsitos acumulados du-rante o processo extensional juro-cretceo e caracte-rizam cinco seqncias deposicionais, relacionadasaos estgios pr-rifte, rifte e ps-rifte. Sua espessuramxima, superior a 6.500 m, verificada no Baixode Camaari (Arago, 1994).

    Superseqncia Pr-Rifte

    Seqncia J20-K05

    A Seqncia J20-K05 rene depsitos relacio-nados ao estgio inicial de flexura da crosta, em res-posta aos esforos distensionais que originaram o sis-tema de riftes do Eocretceo. Esta sedimentao pr-rifte engloba trs grandes ciclos flvio-elicos, repre-sentados, da base para o topo, pelo Membro Boipebada Formao Aliana e pelas formaes Sergi e guaGrande. Transgresses lacustres de carter regionalseparam esses ciclos e so expressas pela sedimenta-o dominantemente peltica que caracteriza o Mem-bro Capianga (Formao Aliana) e a FormaoItaparica. Uma parte do registro, correspondente sformaes Aliana e Sergi (Andar Dom Joo), tem sidorelacionada ao Neojurssico. As formaes Itaparicae gua Grande (Andar Rio da Serra inferior) so deidade eocretcea (Eoberriasiano), como o indicam asanlises micropaleontolgicas.

    Superseqncia Rifte

    O limite entre os estgios pr-rifte e rifte temsido objeto de discusso (Magnavita, 1996; Da Silva,1996). Segundo Ghignone (1979), a configuraoatual da Bacia do Recncavo j se esboava ao tem-po de deposio da Formao Itaparica e mais no-

  • 426 | Bacia do Recncavo - Silva et al.

    tadamente da Formao gua Grande, sugerindo umincipiente controle tectnico. Da Silva (1993, 1996)atribui esta ltima unidade fase rifte. Em sua con-cepo, a discordncia erosiva que a separa da For-mao Itaparica, na poro setentrional da bacia e naSub-bacia do Tucano Sul, estaria relacionada a umrejuvenescimento de relevo, com basculamento parasul, testemunhando uma mudana de regime tectni-co. Caixeta et al. (1994) e Magnavita (1996), dentreoutros autores, relacionam o incio do rifteamento transgresso regional que sobrepe os pelitos lacustresdo Membro Tau fcies elicas presentes no topoda Formao gua Grande. Esta transgresso estariarelacionada no apenas a uma provvel umidificaoclimtica, mas tambm a um incremento nas taxasde subsidncia, com ruptura da crosta ainda sob ativi-dade tectnica moderada. Outra concepo conside-ra que o primeiro aparecimento de conglomeradossintectnicos registre o incio do estgio rifte. A inter-pretao aqui adotada segue a proposta de Caixetaet al. (1994) e Magnavita (1996), posicionando-se olimite entre as fases pr-rifte e rifte na base do Mem-bro Tau. A deposio de conglomerados sintectnicos(Formao Salvador) tem incio apenas no Mesorrioda Serra inicial (Berriasiano), estendendo-se at o Ji-qui (Neobarremiano/Eoaptiano). Esta defasagementre o primeiro registro dos conglomerados de bordae o incio do estgio rifte considerada compatvelcom o tempo necessrio para o soerguimento das om-breiras do rifte e sua posterior eroso para constitui-o de leques aluviais e fandeltas (Magnavita, 1996).

    A seo rifte abrange trs seqncias. As discor-dncias que as limitam esto bem definidas a oeste,no segmento flexural da bacia, naturalmente mais su-jeito aos efeitos de variaes do nvel de base relacio-nadas atividade tectnica e/ou controle climtico. Nosdepocentros, seus limites so dados por concordnciasrelativas, expressando a continuidade da sedimenta-o nesses stios. As associaes de fcies que as ca-racterizam reproduzem um padro de empilhamentoestratigrfico semelhante ao proposto por Lambiase(1990) para bacias rifte progressivamente assoreadas apartir de um estgio inicial de lago profundo.

    Seqncias K10 e K20

    As seqncias K10 e K20 abrangem grandeparte do Andar Rio da Serra, compreendendo rochassedimentares relacionveis s formaes Candeias(membros Tau e Gomo) e Maracangalha. As litofcies

    associadas testemunham o contexto lacustre que pre-valecia no incio da fase rifte, quando se definiu oarcabouo estrutural da bacia. A sucesso estratigr-fica observada nos depocentros ilustra um incremen-to batimtrico inicial, resultante de uma umidificaoclimtica associada intensificao da atividadetectnica. Os folhelhos, calcilutitos e arenitosturbidticos do Membro Gomo representam esta faseinicial de aprofundamento, de idade Mesorrio da Ser-ra (Eoberriasiano/Eovalanginiano), quando a Bacia doRecncavo desenvolveu uma fisiografia caracterizadapor reas plataformais relativamente estveis edepocentros com elevadas taxas de subsidncia(Arago, 1994). Ao longo do Neo-Rio da Serra(Eovalangianiano/Eohauteriviano), a atenuao daatividade tectnica e o incremento no aportesedimentar resultaram na reduo dos gradientes de-posicionais, com o progressivo assoreamento dosdepocentros. Neste processo, paleobatimetrias aindarelativamente elevadas mantiveram-se ao tempo dedeposio da Formao Maracangalha acomodandoum grande volume de depsitos relacionados a fluxosgravitacionais (membros Caruau e Pitanga). Estesdepsitos apresentam litofcies indicativas de proces-sos de ressedimentao de frentes deltaicas, constitu-indo, portanto, o equivalente distal dos sistemasdeltaicos que, posteriormente, progradariam ao lon-go da bacia, sob as condies de relativa quiescnciatectnica que caracterizam a base da Seqncia K30.A sobrecarga exercida pelos depsitos gravitacionaisde idade Mesorrio da Serra e Neo-Rio da Serra(Berriasiano/Valanginiano), aliada fisiografia prpriade um meio-grben com blocos basculados em dire-o falha de borda, deu origem argilocinese e aum novo estilo estrutural, representado porfalhamentos lstricos sindeposicionais. A estruturaoe distribuio de reservatrios da prpria FormaoMaracangalha, bem como das formaes Marfim ePojuca, mais jovens, relacionam-se intimamente aodesenvolvimento destas falhas lstricas.

    Na borda flexural, discordncias pontuam o re-gistro associado ao Andar Rio da Serra. O principal des-tes eventos erosivos resulta na omisso de grande par-te do Rio da Serra mdio e da base do Rio da Serrasuperior (Neoberriasiano/Eovalanginiano), constitui olimite entre as Seqncias K10 e K20. Segundo DaSilva e Picarelli (1990), esta discordncia teria origemem um provvel rebaixamento do nvel do lago, asso-ciado a uma mudana climtica. Inverses de polari-dade observadas no compartimento sul da bacia(Cupertino e Bueno, 2005), em idade prxima ao topo

  • B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 427

    do Mesorrio da Serra (Eovalanginiano), sugerem que ofator tectnico seja tambm relevante. Alm de sub-metidas aos processos erosivos ocasionados pelo re-baixamento do nvel de base, reas plataformais teri-am estado sujeitas a bypass de sedimentos para osbaixos adjacentes, respondendo pela deposio con-tempornea de arenitos turbidticos do Membro Gomo.

    Durante o Neo-Rio da Serra (Valanginiano), atransgresso das plataformas, com deposio defolhelhos relacionados Formao Maracangalha,marca a base da Seqncia K20. Para o topo, a ten-dncia regressiva que ento se estabelece est maisbem representada em direo aos baixos regionais,culminando, no Neo-Rio da Serra (Neovalanginiano/Eohauteriviano), com depsitos deltaicos (MembroCatu) relacionados base da Seqncia K30. Estasucesso contnua no observada em reasplataformais, que ao tempo de deposio de grandeparte do Rio da Serra superior estiveram sujeitas aprocessos de eroso e/ou bypass, resultando nadiscordncia que separa as seqncias K20 e K30.Sua origem atribuda a um evento tectnico de ca-rter regional, como indicado pela omisso de seescorrelatas nas bacias do Esprito Santo, Cumuruxatiba,Almada, Camamu, Tucano e Sergipe-Alagoas. Bueno(2001, 2004) relaciona este evento propagaodicrona do sistema de riftes da margem leste, atri-buindo a discordncia impressa nessas bacias aotectonismo que promoveu contemporaneamente oencerramento da fase rifte (breakup) e implantaode crosta ocenica no segmento compreendido entreo norte da Bacia de Pelotas e o sul da Bacia de San-tos. No Recncavo, a margem flexural teria adquiridoestabilidade tectnica aproximadamente a esta po-ca (Cupertino e Bueno, 2005), marcando o encerra-mento da fase de expanso da bacia, em funo dodeslocamento, para leste, dos esforos relacionados abertura do Atlntico Sul.

    Seqncia K30

    A poro inferior da Seqncia K30 registra aexpanso dos sistemas deltaicos ao longo da bacia,com progressivo recuo, para sul, dos stios deposicio-nais eminentemente lacustres, representados pela For-mao Maracangalha. A seo basal, relacionada aoMembro Catu da Formao Marfim, depositou-se emonlap sobre as reas plataformais antes sujeitas ero-so e/ou bypass. Apenas ao final do Neo-Rio da Serra(Eohauteriviano), os arenitos deltaicos dessa unidade

    recobriram tais reas, sobrepondo-se discordantemen-te a sedimentos lacustres da poro basal do Andar Rioda Serra superior (Valanginiano). A fisiografia da baciaassumiu, ento, a geometria de rampa que caracterizao Andar Aratu (Da Silva, 1993), onde ciclos deltaico-lacustres sucessivos (Formao Pojuca) evidenciam umcontexto de reduzido gradiente deposicional e baixastaxas de subsidncia. Pelitos e carbonatos lacustres re-lacionados ao afogamento recorrente do sistema deltaicopossuem expresso comumente regional, constituindoimportantes marcos estratigrficos.

    No incio do Mesoaratu (Neo-Hauteriviano), areativao da Falha de Paranagu (Bueno, 1987),associada a um provvel rebaixamento do nvel debase, sob controle climtico (Caixeta et al. 1991 apudAmorim, 1992), deu origem ao Cnion de Taquipe.A esta poca, e ao longo do Neoaratu, ainda preva-leciam os sistemas deltaicos relacionados Forma-o Pojuca. A poro meridional da bacia (Baixo deCamaari) e o Cnion de Taquipe constituam, noentanto, stios preferenciais para a deposio lacustre(formaes Maracangalha e Taquipe, respectivamen-te), com fluxos gravitacionais associados.

    Para o topo, o predomnio de fcies fluviais(Formao So Sebastio) testemunha a fase finalde assoreamento do rifte, que durante o Jiqui este-ve submetido a um novo ciclo tectnico, com a cria-o e a reativao de falhamentos (Arago, 1994).As maiores taxas de subsidncia so compensadas,no entanto, por elevadas taxas de aporte sedimentar,resultando em uma sucesso estratigrfica de car-ter agradacional, com preservao de espessas se-es fluviais. Conglomerados sintectnicos (Forma-o Salvador) ocorrem ao longo do intervalo, esten-dendo-se ao Andar Jiqui. A representao adotadapara a borda leste, na carta estratigrfica doRecncavo, no contempla esta amplitude estratigr-fica por retratar a extremidade sul da bacia, ondegrande parte da seqncia encontra-se erodida.

    Superseqncia Ps-Rifte

    Seqncia K50

    A Seqncia K50 representada pelos clsticosgrossos (conglomerados e arenitos), folhelhos ecalcrios pertencentes Formao Marizal, de idadeNeo-alagoas (Neo-aptiano). Sua deposio relacio-

  • 428 | Bacia do Recncavo - Silva et al.

    na-se a sistemas aluviais desenvolvidos j no contex-to de uma subsidncia termal, ps-rifte, como indi-cado pela subhorizontalidade dos estratos, que sesobrepem discordantemente a sees estruturadas,relacionadas fase rifte (Da Silva, 1993).

    Seqncias doNegeno

    Seqncias N20 e N50

    No h registro de depsitos neocretceos naBacia do Recncavo. O Negeno ocorre subordina-damente, estando representado pela Formao Sabie pelo Grupo Barreiras, que identificam as Seqnci-as N20 e N50, respectivamente. A Formao Sabicaracteriza-se por folhelhos cinza esverdeados ecalcrios impuros, cuja deposio relaciona-se a umatransgresso marinha de idade miocnica (Petri,1972). Sistemas de leques aluviais pliocnicos carac-terizam o Grupo Barreiras.

    Seqncia N60

    A Seqncia N60 engloba os sedimentospleistocnicos a holocnicos de praias e aluvies (SPA)que compem a fisiografia atual da Bacia doRecncavo e que recobrem igualmente oembasamento cristalino da borda Leste da bacia.

    refernciasbibliogrficas

    ABRAHO, D.; WARME, J. E. Lacustrine and associateddeposits in a rifted continental margin LowerCretaceous Lagoa feia Formation, Campos Basin, offsho-re Brazil. In: KATZ, B. J. (Ed.) Lacustrine basinexploration: case studies and modern analogs.Tulsa: The American Association of Petroleum Geologists,1990. p. 287-305. (AAPG. Special Publication, 50).

    AGUIAR, G. A.; MATO, L. F. Definio e relaes es-tratigrficas da Formao Afligidos nas bacias do Re-cncavo, Tucano Sul e Camamu, Bahia, Brasil. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36, 1990,Natal. Anais. So Paulo: Sociedade Brasileira deGeologia, 1990. v. 1, p. 157-170.

    AMORIM, J. L. Evoluo do preenchimento doCnion de Taquipe, Neocomiano da Bacia do

    Recncavo, sob o enfoque da Estratigrafia Mo-

    derna. 1992. 114 p. Tese (Mestrado) UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1992.

    ARAGO, M. A. N. F.; PERARO, A. A. Elementos es-truturais do rifte Tucano/Jatob. In: SIMPSIO SOBREO CRETCEO DO BRASIL, 3., 1994, Rio Claro. Bole-tim. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista, 1994.p. 161-165.

    BUENO, G. V. Consideraes sobre a sedimenta-o e origem do paleocanyon de Taquipe, Bacia

    do Recncavo (Brasil). 1987. 132 p. Tese (Mestrado)- Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 1987.

    BUENO, G. V. Discordncia pr-Aratu: marcotectono-isotpico no rifte afro-brasileiro. 2001. 2 v.Tese (Doutorado) Universidade Federal do Rio Gran-de do Sul, Porto Alegre, 2001.

    BUENO, G. V. Diacronismo de eventos no rifte Sul-Atlntico. Boletim de Geocincias da Petrobras, Riode Janeiro, v. 12, n. 2, p. 203-229, maio/nov. 2004.

    CAIXETA, J. M.; BUENO, G. V.; MAGNAVITA, L. V.;FEIJ, F. J. Bacias do Recncavo, Tucano e Jatob.Boletim de Geocincias da Petrobras, Rio de Ja-neiro, v. 8, n. 1, p. 163-172, jan./mar. 1994.

    CUPERTINO, J. A.; BUENO, G. V. Arquitetura das se-qncias estratigrficas desenvolvidas na fase de lagoprofundo no Rifte do Recncavo. Boletim deGeocincias da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 13, n.2, p. 245-267, 2005.

    DELGADO, I. M.; SOUZA, J. D.; SILVA, L. C.; SILVEIRAFILHO, N. C.; SANTOS, R. A.; PEDREIRA, A. J.; GUIMA-RES, J. T.; ANGELIM, L; A. A.; VASCONCELOS, A.M.; GOMES, I. P.; LACERDA FILHO. J. V.; VALENTE, C.

  • B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 429

    R.; PERROTTA, M. M.; HEINEC, C. A. Geotectnicado Escudo Atlntico. In: BIZZI, L. A., SCHOBBENHAUS,C., VIDOTTI, R. M.; GONALVES, J. H. (Eds.) Geolo-gia, tectnica e recursos minerais do Brasil: textos,mapas & SIG. Braslia: Companhia de Pesquisa de Re-cursos Minerais, 2003. p. 227-334.

    GHIGNONE, J. I. Geologia dos sedimentosfanerozicos do Estado da Bahia. In: INDA, H. A. V.(Ed.) Geologia e Recursos Minerais do Estado daBahia: textos bsicos. Salvador: Secretaria das Mi-nas e Energia, 1979. v. 1, p. 24-117.

    MAGNAVITA, L. P. Sobre a implantao da fase sinrifteem riftes continentais. In: CONGRESSO BRASILEIRODE GEOLOGIA, 39, 1996, Salvador. Anais. So Pau-lo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1996. p. 335-338.

    LAMBIASE, J. J. A model for tectonic control of lacustrinestratigraphic sequences in continental rift basins. In:KATZ, B. J. (Ed.) Lacustrine basin exploration: casestudies and modern analogs. Tulsa: The AmericanAssociation of Petroleum Geologists, 1990. p. 265-276.(AAPG. Special Publication, 50).

    NETTO, A. S. T.; OLIVEIRA, J. J. O preenchimento dorift-valley na Bacia do Recncavo. Revista Brasilei-ra de Geocincias, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 97-102, 1985.

    PETRI, S. Foraminferos e o ambiente de deposiodos sedimentos do Mioceno do recncavo baiano.Revista Brasileira de Geocincias, So Paulo, v. 2,n. 1, p. 51-67, 1972.

    SILVA, H. T. F. Flooding surfaces, depositionalelements and accumulation rates: characteristicsof the Lower Cretaceous Tectonosequence in theReconcavo Basin, northeast Brazil. 1993. 312 p. Tese(Doutorado) Texas University, Austin, 1993.

    SILVA, H. T. F. Caracterizao do incio da fase sinriftena Bacia do Recncavo, estado da Bahia: discussosobre a formao gua grande e o reconhecimentoda eroso do incio do rifteamento. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE GEOLOGIA, 39., 1996, Salvador.Anais. So Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia,1996, p. 325-328.

    SILVA, H. T. F.; PICARELLI, A. T. Variaes da linha decosta do lago do Recncavo e taxa de acumulaodurante o Andar Rio da Serra, fase rifte. Boletim deGeocincias da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2,p. 205-216, 1990.

    VIANA, C. F.; GAMA JUNIOR, E. G.; SIMES, I. A.;MOURA, J. A.; FONSECA, J. R.; ALVES, R. J. Revisoestratigrfica da Bacia do Recncavo/Tucano. Bole-tim Tcnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 14, n.3-4, p. 157-192, 1971.

  • 430 | Bacia do Recncavo - Silva et al.

    100

    110

    120

    130

    140

    150

    250

    300

    400

    500

    350

    450

    550

    0

    10

    20

    145

    135

    125

    115

    105

    BACIA DO RECNCAVO

    2000

    AFLIGIDOS CAZUMBA

    ALIANA CAPIANGASERGI

    ITAPARICA

    GOMO

    SESM

    ARIA

    MAR

    FIM

    PITA

    NG

    A-CA

    RUA

    U

    SALV

    ADO

    RPO

    JUCA

    TAQU

    IPE

    SOSEBASTIO

    MAR

    ACAN

    GAL

    HA

    BROTAS

    SANT

    O AM

    ARO

    ILHA

    S

    MASSACAR

    MAR. RESTRITO A MARGINAL

    PR-MARIZAL

    C R

    E T

    C

    E O

    ( G

    L I

    C O

    )

    A L

    A G

    O A

    S

    C E N O M A N I A N O

    A Q U I T A N I A N OB U R D I G A L I A N O

    T O R T O N I A N O

    ( N E

    O C

    O M

    I A

    N O

    )

    A L B I A N O

    J I Q U I

    BURACICA

    A R

    A T

    UR

    I O

    D

    A S

    E R

    R A

    D O MJ O O

    M E S S I N I A N O

    A P

    T I A

    N O

    H A

    U T

    E R

    I V

    I A N

    O

    B E R R I- A S I A N O

    T I T H O N I A N O

    V A

    L A

    N-G

    I N

    I A N

    O

    B A R R E -M I A N O

    MaPOCA IDADE NAT

    UREZ

    A D

    ASE

    DIM

    ENTA

    O

    DISCORDNCIASAMBIENTEDEPOSICIONALGEOCRONOLOGIA

    FORMAO MEMBRO

    LITOESTRATIGRAFIA

    NEO

    MESO

    EO

    EO

    NEO

  • B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 431

  • BGP v15 n2 grafica 249BGP v15 n2 grafica 250BGP v15 n2 grafica 251BGP v15 n2 grafica 252BGP v15 n2 grafica 253BGP v15 n2 grafica 254BGP v15 n2 grafica 255BGP v15 n2 grafica 256BGP v15 n2 grafica 257BGP v15 n2 grafica 258