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Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013 Disponível em: <http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/moncoes> 319 O BRASIL DE LULA DA SILVA: ENTRE O REGIONAL E O GLOBAL. O CASO DA UNASUL CAROLINA SILVA PEDROSO Mestranda do PPGRI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC-SP) Bolsista CAPES E-mail: [email protected] Resumo: Durante o governo Lula da Silva, o Brasil teve uma postura protagônica e assertiva, integrando diversos arranjos regionais e globais. Este trabalho aborda a criação da União Sul-Americana de Nações (UNASUL), a fim contribuir para a reflexão sobre a suposta dualidade brasileira em conferir ênfase à América do Sul, ao mesmo tempo em que almeja ser um ator global. Palavras-chave: política externa brasileira; UNASUL; protagonismo global. Abstract: During Lula da Silva government Brazil had a protagonist and assertive posture, integrating several regional and global arrangements. This paper discusses the creation of the Union of South American Nations (UNASUR), in order to contribute to the reflection on the supposed Brazilian duality giving emphasis to South America, while it aims to be a global player. Keywords: Brazilian foreign policy; UNASUR; global role. Resumen: En el gobierno de Lula da Silva, Brasil ha tenido una postura protagonista y asertiva, haciendo parte de diversos acuerdos regionales y globales. En este trabajo se discute la creación de la Unión de Naciones Suramericanas (UNASUR), con el fin de contribuir a la reflexión sobre la supuesta dualidad brasileña dando énfasis a América del Sur, al mismo tiempo en que aspira a ser un actor global. Palabras-clave: política exterior brasileña; UNASUR; protagonismo global.

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    Disponvel em: 319

    O BRASIL DE LULA DA SILVA: ENTRE O REGIONAL E O GLOBAL. O CASO DA

    UNASUL

    CAROLINA SILVA PEDROSO

    Mestranda do PPGRI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC-SP)

    Bolsista CAPES E-mail: [email protected]

    Resumo: Durante o governo Lula da Silva, o Brasil teve uma postura

    protagnica e assertiva, integrando diversos arranjos regionais e globais. Este

    trabalho aborda a criao da Unio Sul-Americana de Naes (UNASUL), a fim

    contribuir para a reflexo sobre a suposta dualidade brasileira em conferir

    nfase Amrica do Sul, ao mesmo tempo em que almeja ser um ator global.

    Palavras-chave: poltica externa brasileira; UNASUL; protagonismo global.

    Abstract: During Lula da Silva government Brazil had a protagonist and

    assertive posture, integrating several regional and global arrangements. This

    paper discusses the creation of the Union of South American Nations (UNASUR),

    in order to contribute to the reflection on the supposed Brazilian duality giving

    emphasis to South America, while it aims to be a global player.

    Keywords: Brazilian foreign policy; UNASUR; global role.

    Resumen: En el gobierno de Lula da Silva, Brasil ha tenido una postura

    protagonista y asertiva, haciendo parte de diversos acuerdos regionales y

    globales. En este trabajo se discute la creacin de la Unin de Naciones

    Suramericanas (UNASUR), con el fin de contribuir a la reflexin sobre la

    supuesta dualidad brasilea dando nfasis a Amrica del Sur, al mismo tiempo

    en que aspira a ser un actor global.

    Palabras-clave: poltica exterior brasilea; UNASUR; protagonismo global.

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    INTRODUO

    Nos ltimos anos, o Brasil teve destacada atuao internacional e

    demonstrou a vontade de participar das decises e arranjos globais de forma

    mais ativa e autnoma em relao s potncias mundiais. O pas consolidou seu

    perfil pr-ativo ao integrar os BRICS (Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul),

    o frum de dilogo IBAS (ndia, Brasil e frica do Sul), o G20 comercial e

    financeiro e ao buscar a reforma das Naes Unidas e um assento permanente

    em seu Conselho de Segurana. Alm de iniciativas globais, a tentativa de

    fortalecimento de organismos regionais como o Mercosul e o surgimento da

    UNASUL (Unio das Naes Sul-Americanas) e da CELAC (Comunidade de

    Estados Latino-Americanos e do Caribe) tambm demonstram a preocupao

    em manter seu protagonismo regional.

    As mudanas sistmicas desencadeadas desde o fim da ordem bipolar -

    como os ataques de 11 de setembro e a crise financeira de 2008 -, dentre as

    quais se destacam o declnio do poder relativo dos Estados Unidos e a ascenso

    das chamadas economias emergentes, so alguns dos fatores externos que

    facilitaram o maior ativismo brasileiro no cenrio internacional. Do ponto de

    vista interno, o pas tambm passou por processos que alteraram suas

    estruturas de poder, sobretudo aps a eleio de Luis Incio Lula da Silva, em

    que questes sociais e a retomada do crescimento econmico ganharam maior

    espao na agenda poltica.

    A poltica externa brasileira, que tradicionalmente preconiza a autonomia

    como forma de atuao externa, durante os anos Lula ficou marcada pela

    diversificao de parcerias e de instncias para efetivar uma insero mais

    autnoma. Do ponto de vista regional, portanto, preciso considerar esse

    aspecto de nossa diplomacia, porque ele remete ideia de que o pas no

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    deseja estar limitado em sua ao externa por nenhum arranjo que possa lhe

    causar constrangimentos (VIGEVANI et al., 2008).

    O presente estudo visa explorar a aparente dualidade do Brasil ao atuar

    protagonicamente na esfera global, ao mesmo tempo em que investe em

    esquemas de integrao regional. Em outras palavras, pretende-se investigar a

    importncia da Amrica da Sul para o Brasil, a partir da criao da UNASUL, vis-

    -vis a estratgia de insero internacional do pas nos arranjos globais.

    Desta forma, o trabalho est dividido da seguinte maneira: breve

    apresentao dos paradigmas da poltica externa brasileira; linhas-gerais da

    poltica externa do governo Lula, destacando a importncia da Amrica do Sul;

    processo de criao da UNASUL e, finalmente, discusso sobre a atuao

    brasileira nos mbitos regional e global, a fim de problematiz-las e compar-

    las.

    BREVE DISCUSSO CONCEITUAL: PARADIGMAS DA POLTICA EXTERNA

    BRASILEIRA

    Em um texto clssico para o estudo da poltica exterior brasileira, Ejes

    analticos y conflicto de paradigmas en la poltica exterior brasilea, Maria

    Regina Soares de Lima defende a existncia de dois modelos que teriam

    inspirado a conduo da poltica externa do pas: o americanista e o globalista

    (LIMA, 1994). O primeiro seria oriundo da percepo visionria do Baro do Rio

    Branco, de que o eixo de poder mundial estava se deslocando de Londres para

    Washington no incio do sculo XX, e da necessidade que o Brasil teria de se

    aproximar dos Estados Unidos dada essa nova conjuntura. importante

    salientar que a posio defendida por Rio Branco no era de um alinhamento

    automtico aos norte-americanos, mas sim de atrelar os interesses brasileiros a

    uma aliana especial com a potncia hemisfrica. Nas palavras de Clodoaldo

    Bueno tal aproximao no significou alinhamento automtico e serviu aos

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    propsitos polticos do chanceler no plano sub-regional (CERVO e BUENO,

    2011, p. 191). O americanismo teria regido a poltica externa brasileira at a

    dcada de 1960, quando a Poltica Externa Independente (PEI) foi desenvolvida

    no seio da diplomacia, dando origem ao paradigma globalista.

    Com o recrudescimento das tenses causadas pela bipolaridade e o

    maior receio dos Estados Unidos em perder influncia sobre a Amrica Latina

    mediante a revoluo cubana, lideranas do Itamaraty como Afonso Arinos de

    Melo Franco e San Tiago Dantas elaboraram uma poltica externa mais

    pragmtica e autnoma, em que os interesses nacionais deveriam estar acima

    de questes ideolgicas, sem que isso significasse uma rejeio identidade

    ocidental do pas: a poltica externa independente (CERVO e BUENO, 2011).

    Suas principais caractersticas so a viso do mundo sob a perspectiva Norte-Sul

    e no mais Leste-Oeste; incentivo maior participao no sistema internacional;

    diversificao de parcerias comerciais e defesa da no-interveno,

    desarmamento e autodeterminao dos povos.

    De forma sucinta, possvel afirmar que este novo paradigma estava

    lastreado por um conjunto de princpios: Universalizao, Independncia,

    Autonomia e Diversificao. A PEI representaria a face externa do

    desenvolvimento e autonomia preconizados pela Comisso Econmica para

    Amrica Latina e Caribe (CEPAL), cujas ideias, formuladas por intelectuais como

    Raul Prebish e Celso Furtado, influenciaram os governos latino-americanos

    desde os anos 1960, perdendo flego a partir da dcada de 80 com as

    sucessivas crises na regio (LIMA, 1994).

    A referida autora defende que at o perodo militar houve uma

    alternncia entre esses dois paradigmas e sugere que a poltica externa

    contempornea viva um momento de interseco entre eles, j que combina

    elementos de ambos. A explicao para esse fenmeno viria da natureza

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    burocrtica e institucional do Itamaraty que, por suas caractersticas, conseguiu

    assegurar traos de continuidade da poltica externa, mesmo em situaes de

    mudana de regime. A autonomia e a coeso seriam, pois, estas caractersticas

    que garantiriam

    a estabilidade necessria para manter uma certa continuidade na

    poltica externa brasileira ao longo do tempo. Isto se d por duas

    razes, entre outras: por um lado, a autonomia protege a instituio

    de mudanas muito bruscas na sociedade. Por outro lado, a coeso

    garante um certo grau de consenso, indispensvel durabilidade de

    uma poltica. (CHEIBUB, 1984, p. 122-123)

    Dentro desta lgica, que considera a importncia da estrutura burocrtica

    do Itamaraty nas formulaes de poltica externa, Jos Arbilla (2000) ressalta

    que a preocupao em vincular a atuao externa com desenvolvimento

    econmico do pas uma formulao doutrinria do prprio Ministrio das

    Relaes Exteriores, baseado no paradigma globalista, e permanece como um

    fio condutor da atuao externa no pas, mesmo com o enfraquecimento do

    pensamento cepalino no imediato ps-Guerra Fria.

    O governo Collor, por exemplo, sinalizou a inteno de construir

    novamente uma aliana especial com os Estados Unidos, fortemente

    influenciado pelo momento histrico que marcou a derrocada da Unio

    Sovitiva e o fortalecimento do chamado neoliberalismo, alm da prpria

    conjuntura interna de redemocratizao. Por ter sido um perodo curto, em

    decorrncia do processo de impeachment sofrido pelo presidente, e bastante

    particular, seus planos de estabelecer um alinhamento automtico com os

    Estados Unidos no se concretizaram. Apesar de ter havido uma ruptura com o

    modelo econmico desenvolvimentista, que caracterizara o perodo anterior,

    sua poltica externa continuou preocupada com a questo do desenvolvimento

    nacional, porm em sua verso mais liberal (LIMA, 1994; HIRST e PINHEIRO,

    1995; OLIVEIRA, 2005).

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    De uma maneira menos ideolgica e mais distante dos Estados Unidos,

    porm ainda contagiados pelo clima liberal da poca, Itamar Franco e Fernando

    Henrique Cardoso mantiveram alguns dos pilares da PEI (Universalizao,

    Independncia, Autonomia e Diversificao) para buscar novas parcerias e

    acordos, surgindo ento os termos global trader e global player para

    caracterizar a atuao do Brasil. O ex-ministro das Relaes Exteriores, Luis

    Felipe Lampreia, em artigo entitulado A poltica externa do governo FHC:

    continuidade e renovao, assume que a poltica externa brasileira nunca

    deixou de vincular a atuao externa ao desenvolvimento, porm no haveria

    mais espao para a concepo desenvolvimentista e industrialista da economia

    (LAMPREIA, 1998).

    Embora a literatura reconhea que muitas diretrizes da poltica

    econmica tenham sido mantidas, o governo Lula foi caracterizado por ter feito

    um apelo mais enftico ao nacional-desenvolvimentismo, em que o papel do

    Estado na economia foi fortalecido em comparao aos governos anteriores.

    Novamente reforada a ideia de que a poltica externa brasileira est

    fortemente ligada estratgia de desenvolvimento econmico nacional, por

    meio de uma insero autnoma no sistema internacional e de diversificao de

    parcerias.

    A administrao de Lula da Silva no se afastou do princpio

    historicamente assentado para a diplomacia de que a poltica externa

    um instrumento para o desenvolvimento econmico e para a

    conseqente preservao e ampliao da autonomia do pas. H

    mudanas de idias e mesmo de estratgias para lidar com os

    problemas e objetivos que esto colocados pela histria, pela posio

    e pelo destino, mas no essencialmente diferentes dos existentes h

    muito para o Brasil (VIGEVANI e CEPALUNI, 2007, p. 322).

    Para esses autores, portanto, no teria havido uma ruptura na poltica

    externa brasileira com a chegada de Lula da Silva ao poder, mas sim algumas

    alteraes de rumo na diplomacia, sem que isso represente nenhuma quebra

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    dramtica com o que estava estabelecido anteriormente. A seguir sero

    identificadas as linhas-gerais da poltica externa durante os 8 anos do governo

    Lula da Silva.

    LINHAS-GERAIS DA POLTICA EXTERNA BRASILEIRA NOS ANOS LULA DA

    SILVA (2003-2010)

    Nos anos Lula, o Brasil ganhou muito destaque internacional e

    demonstrava maior auto-confiana e determinao em atuar de forma

    inovadora externamente, sob o signo de que a hora do pas finalmente

    chegara, envolvendo-se em episdios de grande repercusso miditica

    (HURRELL, 2010, p. 1, traduo prpria). A negociao com a Bolvia aps a

    nacionalizao do gs (2006), a postura enftica contra o golpe de Estado em

    Honduras (2009), a mediao turco-brasileira sobre o enriquecimento de urnio

    no Ir (2010), o engajamento pelo assento permanente no Conselho de

    Segurana da ONU, dentre muitos outros assuntos, so alguns dos mais

    destacados posicionamentos brasileiros deste perodo.

    Ainda que no haja consenso na literatura, ser adotada neste trabalho a

    perspectiva de que as mudanas sentidas na poltica externa de Lula foram

    muito mais na forma de atuao do que nas diretrizes-gerais da diplomacia

    brasileira, em que

    [...] ao mesmo tempo em que no houve ruptura significativa com

    paradigmas histricos da poltica externa do Brasil, sendo algumas das

    diretrizes desdobramentos e reforos de aes j em curso na

    administrao FHC, houve uma significativa mudana nas nfases

    dadas a certas opes abertas anteriormente poltica externa

    brasileira. Consideramos ambos os governos (FHC e Lula da Silva)

    como representantes de tradies diplomticas brasileiras distintas,

    apresentando diferenas nas aes, nas preferncias e nas crenas,

    buscando resultados especficos muito distintos no que diz respeito

    poltica externa, mas procurando no se afastar de um objetivo

    sempre perseguido: desenvolver economicamente o pas,

    preservando, ao mesmo tempo, certa autonomia poltica (VIGEVANI e

    CEPALUNI, 2007, p. 275).

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    Os autores supracitados defendem que a poltica externa de Fernando

    Henrique Cardoso estava destinada a inserir o Brasil nos arranjos globais

    existentes, pois acreditava que por meio desta participao o pas lograria ter

    uma atuao externa autnoma, o que ficou conhecido por autonomia pela

    participao. Da mesma forma, Lampreia, (1998, p. 11) fala em autonomia pela

    integrao para caracterizar o mesmo perodo e, nesse sentido, integrao

    deve ser entendida como a insero do pas ao global e no necessariamente

    ao regional.

    J a atuao externa do pas sob o governo Lula da Silva teria sido

    caracterizada pelo que se denomina autonomia pela diversificao, que

    significa

    a adeso do pas aos princpios e s normas internacionais por meio

    de alianas Sul-Sul, inclusive regionais, e de acordos com parceiros

    no tradicionais (China, sia-Pacfico, frica, Europa Oriental, Oriente

    Mdio etc.), pois acredita-se que eles reduzem as assimetrias nas

    relaes externas com pases mais poderosos e aumentam a

    capacidade negociadora nacional (VIGEVANI e CEPALUNI, 2007, p.

    283)

    Sua argumentao que tanto a alterao do cenrio de poder interno,

    ocasionada pela histrica vitria de Lula da Silva, como a nova conjuntura

    internacional, que levou as potncias a modificarem sua atuao externa,

    dificultaram a permanncia de uma estratgia de autonomia pela participao,

    como fora possvel ao seu antecessor levar adiante. Assim, tanto a perspectiva

    interna quanto a externa sero elementos analticos centrais para entender a

    insero econmica e poltica do Brasil nos anos Lula da Silva.

    Tendo em vista que a poltica econmica passou a ser cada vez mais um

    instrumento de poltica externa, possvel afirmar que o fato de ter se tornado

    uma das principais economias mundiais tambm garantiu ao pas maior

    visibilidade internacional. Elementos internos como o incentivo s parcerias

    pblico-privadas e a incluso das classes sociais menos favorecidas ao mercado

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    consumidor serviram para reativao da economia, ressaltando a capacidade do

    pas em buscar crescimento econmico e justia social concomitantemente

    (HURRELL, 2010). Por outro lado, a bonana vivida pela Amrica Latina a partir

    dos anos 2000, oriunda do aumento dos preos das commodities e do barril do

    petrleo1, acelerou a substituio dos Estados Unidos pela China como principal

    parceiro comercial do Brasil e diminuiu consideravelmente os impactos da crise

    financeira de 2008 sobre a regio (CARVALHO et al., 2009).

    Do ponto de vista poltico, por sua vez, o protagonismo brasileiro

    tambm foi facilitado pelo fortalecimento da ala mais nacionalista da

    diplomacia, com as nomeaes de Celso Amorim como ministro das Relaes

    Exteriores e de Samuel Pinheiro Guimares como 1 secretrio do Itamaraty, e

    pelo reforo ideolgico2 nas relaes Sul-Sul, posio oriunda da agenda do

    Partido dos Trabalhadores, representada pelo assessor especial da presidncia

    para assuntos internacionais, Marco Aurlio Garcia (NAFALSKI, 2011). Da mesma

    1 O aumento do preo do barril de petrleo um dado relevante para a economia brasileira

    porque, embora no seja rentista, ou seja, no dependa exclusivamente da explorao deste

    produto, ocorreu em um contexto de descoberta de novas reservas na camada pr-sal,

    anunciadas pelo governo como as responsveis pela auto-suficincia energtica do pas, o que

    tambm rendeu destaque internacional ao pas (CARVALHO et al., 2009).

    2 Sobre a ideologizao da poltica externa brasileira deste perodo, Paulo Roberto de Almeida

    pondera que, embora a cartilha partidria tenha um peso muito importante, um dos principais

    objetivos adotados pelo governo Lula, que era conseguir um assento permanente no Conselho

    de Segurana da ONU, nunca fizera parte do discurso e das pretenses de seu partido. Essa

    posio representa o esforo de convencimento, por parte da diplomacia profissional, em

    destacar tal aspirao na agenda internacional de Lula. Portanto, teria havido um duplo

    movimento: enquanto a nomeao de assessores especiais oriundos do PT teria influenciado no

    relacionamento do Brasil com a Amrica do Sul, sobretudo com outros governos identificados

    como progressistas, houve tambm um esforo da burocracia diplomtica do Itamaraty de

    imposio de alguns temas na agenda. Em suas palavras: Como a pretenso no figurava no

    menu de poltica externa do PT, Lula teve de ser convencido pelo seu ministro de Relaes

    Exteriores de que o Brasil possua grandes chances de ingressar no CSNU (ALMEIDA, 2012, p.

    99). No entanto, a posio mais enftica deste autor est em defender a tese de que foi no

    plano internacional que o governo disps de maior margem de manobra para colocar em

    prtica os ideiais do Partido dos Trabalhadores, j que no campo econmico houve a

    continuao das diretrizes implantadas pelo governo anterior.

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    forma, Jeffrey Cason e Timothy Power (2009) afirmam que o redirecionamento

    da poltica externa brasileira para uma agenda Sul-Sul, que priorizava ao

    entorno regional, ocorreu no s por esses fatores internos, mas tambm por

    condies sistmicas e regionais, que proporcionaram condies materiais e

    ideacionais para que Lula3 pudesse resistir ao neoliberalismo e unilateralidade

    estadunidense com mais vigor que o seu antecessor.

    O principal objetivo da poltica externa no governo Lula era garantir ao

    Brasil o status de potncia, ou seja, ter o poder de influenciar o curso das

    questes globais e capacidade de impor agenda. Duas estratgias teriam sido

    elaboradas e seguidas para alcanar o status desejado no sistema internacional:

    i) atuar como pndulo, aceitando a normatividade dos mecanismos de

    governana global, ao mesmo tempo em que buscava mud-los e ii) ressaltar a

    especificidade da posio e do papel do Brasil. Do ponto de vista identitrio, a

    marca do governo Lula foi usar o acervo diplomtico, que so os princpios da

    poltica externa historicamente construdos pelo Itamaraty, alm de buscar se

    conectar aos pases do Sul, sem nunca negar sua identidade ocidental (HERZ,

    2011).

    No contexto ps-crise de 2008, por exemplo, a estratgia brasileira de

    insero internacional no abandonou a tradio multilateralista de sua

    diplomacia, porm utiliza-a de forma repaginada, dando nfase ao

    desenvolvimento de novos fruns e grupos, ao mesmo tempo em que

    demonstra maior engajamento nas instncias globais de deciso. O pas deixou

    de ter um discurso terceiro-mundista e uma postura defensiva que no aceitava

    negociar. Pelo contrrio, Lula utilizou a negociao como instrumento

    fundamental para obter mudanas no sistema internacional, de forma a torn-lo

    3 A escolha do sujeito Lula e no diplomacia brasileira nesta sentena no foi aleatria e est

    em consonncia com a tese de Jeffrey Cason e Timothy Power (2009) de que a

    presidencializao da poltica externa brasileira atingiu seu auge nos anos Lula da Silva.

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    menos desigual e mais permevel s demandas dos pases perifricos (LIMA,

    2010). Estar disposto a fazer parte dos organismos multilaterais de forma ativa e

    arcar com seus custos perfeitamente compatvel, segundo Andrew Hurrell

    (2010), com o desafio de superar o status quo, ou seja, rejeitar as posies que

    favoreciam os Estados Unidos e as outras potncias, buscando novas formas de

    governana global.

    Outra aposta brasileira foi participar de novos arranjos, como os BRICS,

    envolvendo a Rssia, ndia, China e frica do Sul e o frum de dilogo IBAS,

    composto por Brasil, ndia e frica do Sul. Segundo Chris Alden e Marco

    Antonio Viera (2011), a consolidao deste frum est sujeita ao apoio regional

    que cada um de seus membros deve lograr em suas respectivas regies ou

    zonas de influncia. Sem esse elemento, no seria possvel legitim-lo

    globalmente. Assim, eles destacam uma questo muito importante sobre o

    papel destes pases em suas regies, que a liderana. Ter proeminncia

    regional no significa ser lder; essa ideia coloca em dvida a capacidade dos

    pases do IBAS em construir consensos em suas reas de influncia e tambm

    em serem reconhecidos como porta-vozes do Sul no conflito com o Norte.

    De forma resumida, o ativismo internacional brasileiro pode ser expresso

    pelas seguintes diretrizes: Amrica do Sul como regio-chave para sua projeo

    global; foco no estreitamento da relao com outras potncias emergentes,

    atuando em coalizes de geometria varivel como os BRICS; relativo

    distanciamento de Estados Unidos e Europa; nfase no multilateralismo

    tradicional, mas tambm fazendo parte de novos arranjos globais. Nesse

    sentido, possvel afirmar que what the Lula administration has achieved is to

    help reinforce this new reality and to demonstrate the degree to which Brazil

    has become an increasingly influential player in this new age of global order

    (HURRELL, 2010, p. 8).

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    Na prxima seo, vamos nos concentrar no foco dado Amrica do Sul

    pela poltica externa brasileira, com maior nfase no perodo Lula da Silva,

    destacando as iniciativas que antecederam a UNASUL, bem como os desafios e

    avanos que este organismo engendrou.

    A AMRICA DO SUL PARA O BRASIL DE LULA DA SILVA

    A poltica externa brasileira para Amrica do Sul ganhou muito destaque

    nos anos Lula da Silva, tambm por conta das conjunturas internacional e

    nacional que permitiram ao Brasil conferir maior nfase aos vizinhos. A

    construo de um regionalismo ps-liberal4 tambm teria sido facilitada no

    somente pela relativa convergncia ideolgica com os pases vizinhos e pela

    articulao entre eles, gerada pelo rechao ALCA (rea de Livre Comrcio das

    Amricas) na Cpula das Amricas, em Mar del Plata (2005), como tambm pela

    necessidade de buscar novas fontes energticas e de criar investimentos em

    transporte como forma de dinamizar polticas conjuntas na regio (LIMA e

    COUTINHO, 2007).

    Por este motivo, em episdios polmicos envolvendo o Brasil e seus

    vizinhos, como no caso da nacionalizao do gs boliviano, a postura de Lula

    no pode ser vista como somente ideolgica, por conta das afinidades com Evo

    Morales ou outros lderes progressistas, pois algumas afinidades ideolgicas,

    polticas e culturais no tm tido a fora de mudar interesses estruturais

    (VIGEVANI et al., 2008, p. 109). preciso considerar que fazia parte do interesse

    nacional brasileiro que esses pases resolvessem problemas internos, como a

    desigualdade social, assim como a manuteno da estabilidade poltica.

    4 O regionalismo ps-liberal teria devolvido ao Estado um papel central no processo de

    integrao e desenvolvimento, em contraposio ao modelo neoliberal. Andrs Serbin, Laneydi

    Martnez e Haroldo Ramanzini Jnior tambm denominam o regionalismo do sculo XXI de

    ps-hegemnico, ps-comercial e ps-neoliberal (SERBIN et al, 2012).

  • O BRASIL DE LULA DA SILVA: ENTRE O REGIONAL E O GLOBAL. O CASO DA UNASUL

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    331

    Com a finalidade de melhor entender a relao do Brasil com a Amrica

    do Sul no perodo presidencial de Lula da Silva, foi escolhido como caso de

    estudo a Unio Sul-Americana de Naes (UNASUL). Assim, sero apresentados

    os processos que antecederam sua criao, bem como os aspectos-gerais do

    organismo que serviro para a discusso posterior sobre a posio brasileira

    entre o regional e o global.

    Os antecedentes da UNASUL

    Um grande marco nas relaes de Brasil-Amrica do Sul foi a assinatura

    do Tratado de Assuno em 1991, que deu origem ao Mercosul (Mercado

    Comum do Cone Sul) pelos presidentes de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

    importante notar que a gnese deste organismo reside no esquema neoliberal

    dos anos 1990 e nas reformas econmicas que ele previa, que marcaram os

    governos de seus principais artfices: Collor e Menem (MELLO, 2002).

    Monica Hirst e Leticia Pinheiro (1995) apontam que foi no governo Itamar

    Franco que o Mercosul deixou de ser visto somente como um organismo

    liberalizante e ganhou um sentido mais estratgico, o que representaria para

    elas uma maior ateno dada Amrica do Sul pelo Brasil. Henrique Altemani

    Oliveira (2005) tambm acredita que neste perodo foi notvel o esforo para

    fortalecer e consolidar o Mercosul, destacando ainda o surgimento da Iniciativa

    Amaznica e da proposta da rea de Livre Comrcio Sul-Americana (ALCSA),

    feita pelo ento chanceler Celso Amorim. Para o autor teria sido neste momento

    que o regionalismo voltara tona como um dos desafios para a integrao sul-

    americana:

    retomou-se, no Brasil, a perspectiva de que a rea bsica de atuao

    da poltica externa brasileira a Amrica do Sul, sendo um espao que

    procura organizar (apesar de toda preocupao para que no seja

    entendido como liderar). Nesse sentido, a poltica externa brasileira,

    no continente americano, aparenta ter como objetivo prioritrio,

  • CAROLINA SILVA PEDROSO

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    332

    inicialmente a consolidao do Mercosul e, em seguida, o

    estabelecimento da ALCSA. (OLIVEIRA, 2005, p. 233, grifos do autor).

    Nos mandatos de Fernando Henrique Cardoso, Lampreia (1998) tambm

    destaca a importncia da Amrica Latina para que o Brasil alcanasse maior

    projeo internacional e, nesse sentido, priorizava a agenda mercossulina, pois

    via nesta instituio um instrumento eficaz para promover o desenvolvimento

    de seus quatro membros. Por outro lado, apesar de ter havido um maior

    reconhecimento da importncia do Mercosul e inclusive um esforo pessoal do

    presidente em manter um bom relacionamento com a Argentina, isso no teria

    sido suficiente para impedir problemas comerciais e outros desentendimentos

    com o vizinho e parceiro mais importante na regio, pelo menos naquele

    momento. Para Amado Cervo (2002), o desgaste do relacionamento bilateral

    com a Argentina nos anos FHC fez com que o Brasil preferisse um regionalismo

    menos aprofundado, isto , mantendo os arranjos com baixa institucionalidade

    como forma de preservar seus prprios interesses.

    Ainda que faa fortes crticas atuao internacional do Brasil na

    chamada Era Cardoso, Cervo (2002) reconhece que foi neste perodo que

    lanou-se a ideia de Amrica do Sul como um conceito e rea de fortalecimento

    prvio das economias regionais, sob liderana brasileira. A construo de um

    espao sul-americano e autnomo frente aos Estados Unidos, bem como o

    reforo do Mercosul e da ALCSA, foram prioridades do governo, sobretudo no

    final do segundo mandato, em que a crise cambial de 1999 e a conjuntura

    internacional foraram o pas a se reaproximar dos vizinhos.

    No ano 2000, o presidente brasileiro convocou a Primeira Reunio de

    Presidentes da Amrica do Sul em Braslia, cuja declarao reforava a

    necessidade de construir uma agenda comum que impulsionasse a integrao

    fsica da regio, lanando as bases para a IIRSA (Iniciativa para Integrao da

    Infra-Estrutura Regional Sul-Americana). Em 2002, no segundo encontro dos

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    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    333

    mandatrios, ocorrido em Guayaquil, mais uma vez a tnica da reunio girou

    em torno da ideia de constituir um espao sul-americano de cooperao e

    integrao.

    A ideia de que a Amrica do Sul seria uma condio prvia para

    integrao hemisfrica muito importante, uma vez que foi mantida e

    reforada pelo governo Lula em diversas oportunidades. Assim, desde o

    governo FHC o regionalismo representa a resistncia brasileira em relao

    hegemonia norte-americana na Amrica do Sul, que na poca estava assentada

    na proposta da rea de Livre Comrcio das Amricas (ALCA), derrocada

    definitivamente durante o governo Lula na Cpula de Mar del Plata em 2005.

    Ao insistir no conceito de Amrica do Sul, hierarquizando-o como

    fundamento de um processo de integrao econmica e fsica, a

    diplomacia brasileira vem dando uma contribuio, ainda que no de

    todo reconhecida, ontologia de 12 pases. No se trata de exerccio

    ideolgico de sublimao de nossas mazelas histricas, nem de cabala

    para excluir ou confrontar naes que a geografia no ps em nosso

    espao. Trata-se de um sbrio exerccio de realismo poltico, no no

    tipo conformista, mas pragmtico, criativo, (...) A deciso de lanar

    uma Comunidade Sul-Americana de Naes ousada e comporta

    forte dose de idealismo. Traz tambm grande responsabilidade,

    porque engaja a nossa credibilidade. Por enquanto, , mais que nada,

    uma declarao poltica, ancorada em acordos concretos de comrcio

    e integrao, mas sem dvida um ato de reivindicao de uma

    identidade antes de tudo geogrfica, que nunca deixou de ter vigncia

    por mais globalizado que esteja o mundo (OLIVEIRA, 2005, 250-1

    apud DANESE, 2004).

    Como foi apontado acima, a criao da Comunidade Sul-Americana de

    Naes (CASA) em 2004 foi um grande marco, que d seqncia s iniciativas

    de Fernando Henrique Cardoso em coordenar as aes dos 12 pases da regio.

    Breve descrio da UNASUL: objetivos e principais diretrizes

    Em 2005 a agenda prioritria e o plano de ao da CASA so elaborados

    com os seguintes eixos temticos: a) dilogo poltico; b) integrao fsica; c)

    meio ambiente; d) integrao energtica; e) mecanismos financeiros; f)

  • CAROLINA SILVA PEDROSO

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    334

    promoo da coeso, justia e incluso sociais e g) telecomunicaes (UNASUR,

    2013b). Neste mesmo ano estabelecida uma Comisso Estratgica de

    Reflexo, envolvendo a alta cpula dos governos sul-americanos, a fim de

    analisar o futuro da regio.

    Na reunio seguinte, em Cochabamba, foi publicizado o modelo de

    integrao pensado pelos pases, cujos princpios seriam: Solidariedade e

    Cooperao com vistas eqidade regional; Soberania Territorial e

    Autodeterminao dos Povos; Paz e resoluo pacfica de controvrsias;

    Democracia e Pluralismo que impeam ditaduras e o desrespeito aos direitos

    humanos; Universalidade, Interdependncia e Indivisibilidade dos Direitos

    Humanos e, por fim, Desenvolvimento Sustentvel (UNASUR, 2013b).

    Embora retoricamente o discurso dos pases fosse de convergncia de

    interesses, Guilherme Nafalski (2011, p. 104) revela que a discordncia entre

    Brasil e Venezuela sobre o carter do novo organismo chegou a um momento

    crtico em 2005, conforme descrito a seguir:

    A reunio de 2005, que teve incio em 30 de setembro foi bastante

    tensa. Os presidentes de quatro pases (Colmbia, Guiana, Suriname e

    Uruguai) no compareceram, o da Argentina, Nstor Kirchner, veio ao

    Brasil mas no participou da cpula e vrios presidentes mandaram

    representantes. A tnica do encontro foi a discordncia dos pontos de

    vista brasileiro e venezuelano sobre a funo do organismo e sua

    efetividade. Apoiando sua argumentao em uma contraproposta de

    texto elaborada pelo presidente uruguaio, o presidente venezuelano

    Hugo Chvez inviabilizou a assinatura de uma declarao conjunta. O

    chanceler brasileiro, Celso Amorim, e o presidente Lula rebateram as

    crticas e postergaram um texto definitivo para uma reunio do

    Mercosul. A dissidncia foi importante para redesenhar os propsitos

    de uma comunidade de pases da Amrica do Sul e explicitou a

    dificuldade do governo Lula para manter posicionamento mais firme

    esquerda.

    O bolivarianismo de Chvez, cuja retrica anti-americana e os

    financiamentos feitos com petrodlares permitiu ao lder venezuelano

    consolidar uma rea de influncia ideolgica com Bolvia, Equador e, em certa

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    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    335

    medida, Argentina era um sinal claro de resistncia ao projeto de liderana

    regional brasileiro. No entanto, o Brasil teria demonstrado um poder mais

    atrativo, seja por conta de sua fora econmica como por sua postura mais

    pragmtica, conseguindo sucesso em implementar a Unasul em detrimento da

    ALBA (Aliana Bolivariana para as Amricas). Outro elemento importante foi a

    perda relativa de importncia estratgica da Venezuela, a partir da descoberta

    das reservas do pr-sal brasileiro.

    Assim, foi somente no encontro ocorrido na Venezuela em 2007 que

    decidiu-se mudar o nome de Comunidade Sul-Americana de Naes para Unio

    das Naes Sul-Americanas, estabelecendo un nuevo tiempo histrico

    llamado a traer cambios profundos cuya amplitud abarca toda la estructura

    tradicional del Continente (ZURITA, 2009, p. 273-4).

    Em 2008 foi aprovado o Tratado Constitutivo da UNASUL, cuja vigncia

    foi ratificada por todos os pases em 2011, definindo as metas do organismo,

    dos quais destacam-se: fortalecimento do dilogo poltico entre os membros,

    fomentar o desenvolvimento social e econmico que permita erradicar as

    desigualdades sociais, promoo da integrao fsica e energtica, alm de

    cooperao em reas como Defesa (MRE, 2013).

    Do ponto de vista de sua estrutura organizacional, a UNASUL composta

    por conselhos formados por Presidentes, Chanceleres e outros funcionrios da

    alta cpula dos governos. O Conselho de Chefas e Chefes de Estado e de

    Governo a instncia mxima do organismo que , de fato, detentora do poder

    de deciso e atua de forma consensual. Em seguida, o Conselho de Ministras e

    Ministros das Relaes Exteriores responsvel por implementar as decises

    tomadas pelos mandatrios e, em seqncia, seguem os conselhos temticos

    que possuem funo consultiva. Alm destes rgos, a UNASUL ainda conta

  • CAROLINA SILVA PEDROSO

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    336

    com um Conselho de Delegados, uma Secretaria-Geral e com o mecanismo de

    Presidncia Pro-Tempore, exercida por um dos Estados-membros anualmente,

    seguindo a ordem alfabtica (UNASUR, 2013a). Nota-se, pois, que o nvel de

    institucionalizao baixo, uma vez que as grandes decises acabam sendo

    centralizadas nos presidentes e nos seus chanceleres, sem que haja autonomia

    institucional.

    A UNASUL para o Brasil

    Em discurso de posse, Luis Incio Lula da Silva afirmou: a grande

    prioridade da poltica externa durante o meu Governo ser a construo de uma

    Amrica do Sul politicamente estvel, prspera e unida, com base em ideais

    democrticos e de justia social (BRASIL, 2003). Estabilidade poltica e unio

    esto em harmonia com o projeto da Unio das Naes Sul-Americanas e, se

    prosperidade for entendida em seu sentido global, incluindo bem-estar das

    populaes - e no somente seu aspecto puramente econmico - esses trs

    pontos estariam contemplados entre os principais objetivos da referida

    organizao. Da mesma forma, os princpios democrticos e a busca por justia

    social tambm esto presentes no cerne deste novo arranjo poltico sul-

    americano.

    Embora a constituio da UNASUL represente um dos passos necessrios

    consolidao do desejo expresso pelo presidente brasileiro, inclusive pela

    atuao enftica da organizao durante as crises colombo-equatoriana e

    boliviana (2008), a insurreio policial contra Rafael Correa (2010) e o golpe de

    Estado no Paraguai (2012), preciso ponderar que

    Como lder regional, Brasil mantiene una relacin ambivalente con

    UNASUR. En ocasiones pareciera reconocer que asumir un rol de lder

    regional -y asumir los costos polticos y econmicos de este liderazgo-

    es un pre-requisito para convertirse en un lder internacional y en

    otras, el pas acta como un actor internacional nico, sin representar

  • O BRASIL DE LULA DA SILVA: ENTRE O REGIONAL E O GLOBAL. O CASO DA UNASUL

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    337

    (formal e informalmente) a UNASUR y sus socios (SANAHUJA, 2012, p.

    42).

    Sobre este ponto, o documento oficial do Itamaraty que descreve os

    objetivos da UNASUL deixa claro que o dilogo poltico fomentado entre os

    pases deve assegurar um espao no s para a integrao, mas tambm para a

    participao da UNASUL no cenrio internacional (MRE, 2013). A grande

    contradio reside justamente no fato apontado por SANAHUJA (2012) de que

    o Brasil no atua como membro da UNASUL nos foros internacionais, pois

    privilegia seu peso individual quando lhe convm. Esse trao da poltica externa

    brasileira mais uma vez corrobora a tese de que o pas no deseja que nenhum

    arranjo regional possa tolher sua autonomia de ao global.

    Apesar de ser uma organizao muito centrada em aspectos polticos e

    na defesa de princpios-comuns, como foi exposto anteriormente, um de seus

    principais focos est na questo energtica, que em 2007 foi contemplada com

    a criao de um conselho prprio e na infra-estrutura regional, haja vista a

    incorporao da IIRSA ao COSIPLAN (Conselho Sul-americano de Infra-Estrutura

    e Planejamento). Segundo documento oficial,

    el tema de la integracin de la infraestructura fsica desempea un

    papel central en el proceso de integracin suramericana, teniendo en

    cuenta su potencial de crear nuevas perspectivas y sinergias para la

    cooperacin, superar asimetras, promover el desarrollo social y

    econmico y garantizar el bienestar de los pueblos de la regin

    (UNASUR, 2013b, p. 7).

    Interesses brasileiros na integrao fsica e energtica esto ligados

    diretamente sua estratgia de desenvolvimento, com o incentivo dado s

    construtoras nacionais e estatal Petrobras a explorarem os mercados sul-

    americanos (ZIBECHI, 2012). Da mesma forma, a agenda poltica da UNASUL

    contm elementos de grande valia para a diplomacia brasileira, como a questo

    da cooperao regional para a Defesa, representada pela criao do Conselho

    de Defesa Sul-Americano (CDS). No se pode descartar a ideia de que a

  • CAROLINA SILVA PEDROSO

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    338

    Amrica do Sul seria a base de onde o Brasil pode projetar-se globalmente para

    atingir o status almejado, ressaltando seu papel de peacemaker, negociador,

    mediador e construtor de pontes. O fato de a regio no ter grandes disputas

    auxilia na consolidao desta imagem, necessria para lograr o assento no

    Conselho de Segurana da ONU (HERZ, 2011).

    CONSIDERAES FINAIS: BRASIL ENTRE O GLOBAL E O REGIONAL

    A partir da discusso apresentada, fica ntida a vinculao entre o

    desenvolvimento nacional e a poltica externa brasileira, algo que vem

    permeando a ao internacional do pas em vrios governos. Isso no significa,

    todavia, que a poltica exterior tenha se mantido esttica, uma vez que as

    estratgias adotadas por cada presidente foram distintas, seja por fatores

    ideacionais, como conjunturais.

    No caso do governo Lula, foi considerada a perspectiva de que no

    houve grandes rupturas nas linhas de ao externa do pas, no entanto, foi

    ressaltado que a nfase dada Amrica do Sul neste perodo talvez no

    encontre precedentes em nenhum outro momento da histria. Da mesma

    forma, o destaque brasileiro em arranjos globais foi notvel, bem como o

    esforo em atuar de forma autnoma e protagnica.

    No obstante o contexto favorvel integrao, este fator no teria sido

    suficiente para mitigar muitas das dificuldades existentes para a consolidao

    desse processo. As assimetrias intra-bloco, por exemplo, dificultaram no s

    uma integrao plena, como tambm o reconhecimento da liderana regional

    brasileira, por conta do temor ou das ameaas que sua presena sucita em seus

    vizinhos. Os sinais de suspeita em relao ao Brasil persistem por parte dos

    pases sul-americanos, resultando na no aceitao automtica de sua liderana

    (VIGEVANI et. al, 2008).

  • O BRASIL DE LULA DA SILVA: ENTRE O REGIONAL E O GLOBAL. O CASO DA UNASUL

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    339

    Por outro lado, suas atitudes assertivas regional e globalmente fazem

    com que aumente a admirao e o respeito dos pases menores em relao ao

    Brasil. Estabilidade macroeconmica e o fortalecimento da democracia serviriam

    de credenciais frente aos seus rivais mais estridentes na regio, como

    Argentina e Venezuela. Ademais, o pas tambm teria investido no uso

    estratgico de recursos materiais, simblicos e em contrapartidas aos parceiros,

    visando o reconhecimento de sua liderana regional, a partir do conceito de

    solidariedade pragmtica (ALDEN & VIEIRA, 2011, p. 516, traduo prpria).

    Embora tenha buscado mitigar os efeitos negativos da integrao para os

    scios menores, a fim de equacionar o problema das assimetrias, as medidas

    governamentais no tiveram o xito esperado pela incapacidade de superar as

    debilidades estruturais da regio. Talvez por isso o governo Lula tenha definido

    como interesse nacional brasileiro o desenvolvimento dos pases vizinhos,

    garantindo-lhes apoio em seus projetos, uma vez que por si s o Brasil no

    conseguiria dirimir os abismos existentes regionalmente (VIGEVANI et al., 2008).

    O problema dos custos da integrao, por sua vez, j estava latente

    desde o governo Fernando Henrique, quando a nfase na Amrica do Sul

    voltara tona com a convocao da primeira reunio de Presidentes da Amrica

    do Sul em Braslia (2000). Todavia, no governo seguinte ele ganhou uma

    relevncia maior, sobremaneira aps a criao da Comunidade Sul-Americana

    de Naes (CASA) em 2004, que depois se converteria na Unio das Naes Sul-

    Americanas (UNASUL), em que o papel do Brasil como o principal artfice do

    processo de integrao requeria uma ao mais engajada, voltou com mais

    intensidade.

    Desde ento, portanto, um dos desafios da diplomacia brasileira era

    compatibilizar as pretenses universalistas sem descuidar das relaes com os

  • CAROLINA SILVA PEDROSO

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    340

    vizinhos sul-americanos, tornando-se um legado para o governo seguinte. A

    ambigidade do Brasil como ator regional ou global j existia, ou seja, no havia

    uma posio nica e fechada sobre a forma como o pas deveria se inserir

    internacionalmente, se em foros regionais ou globais (NAFALSKI, 2011).

    O Brasil demonstra que no quer estar comprometido em nenhum

    acordo que possa, de alguma forma, constranger sua ao externa autnoma,

    considerando que o grande objetivo de sua poltica externa alcanar o status

    de potncia (HERZ, 2011). Esse posicionamento acaba sendo prejudicial para a

    integrao na Amrica do Sul porque como maior pas, seja em termos

    geogrficos, econmicos ou demogrficos, ele teria que ser o paymaster, ou

    seja, o ator que arca com os custos e compensaes para os scios minoritrios.

    Em um cenrio de grandes assimetrias entre os membros, trata-se, pois, de uma

    postura essencial para o xito do processo. No caso especfico da UNASUL, sua

    estrutura pouco institucionalizada e a nfase na integrao energtica, fsica e

    em matria de Defesa demonstram que o carter do organismo, embora tenha

    havido sempre um dilogo consensual entre seus membros, privilegia as

    necessidades do Brasil em termos de desenvolvimento e de no estar atrelado a

    nenhum esquema de maneira to rgida. Da mesma forma, porm, o sucesso do

    organismo depende da vontade brasileira em levar adiante suas formulaes e,

    portanto, arcar com os custos necessrios para que os pases menores possam

    incorpor-las.

    A despeito de seu engajamento global, nota-se que o esforo

    empreendido neste mbito no impede que o pas tambm se envolva em

    arranjos regionais. Como sugerem Alden e Vieira (2011), sem o reconhecimento

    da liderana em seu entorno regional, por meio de uma integrao mais efetiva

    entre os pases, as chamadas potncias emergentes ou mdias, como o Brasil,

    no lograro legitimar seus novos arranjos. Assim, o sucesso dos BRICS e do

  • O BRASIL DE LULA DA SILVA: ENTRE O REGIONAL E O GLOBAL. O CASO DA UNASUL

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    341

    IBAS estaria condicionado capacidade de seus membros de conseguirem o

    apoio poltico em suas respectivas regies, o que tambm serve de incentivo

    para o aprofundamento dos processos integracionistas j em curso. Logo, a

    aparente dualidade do Brasil em almejar ser um ator global, ao mesmo tempo

    em que no abre mo de construir sua liderana regional, s se constitui em

    contradio se pensada em termos de comprometimento que pode afetar sua

    autonomia.

    Em suma, a equao autonomia versus engajamento regional e global

    tem sido de difcil resoluo e requer um exerccio diplomtico de flexibilidade e

    negociao. Nesse sentido, o Brasil no escolhe claramente se sua insero ser

    feita global ou regionalmente, buscando compatibilizar seus interesses e temas

    em cada um destes esquemas, conforme as circunstncias. Por enquanto, tem

    sido possvel ao pas manter essa postura de aparente dualidade, porm

    medida em que sua importncia regional e global aumentarem, sero exigidas

    maiores responsabilidades e, portanto, atitudes mais enfticas que,

    provavelmente, comprometero sua autonomia. o preo a se pagar mediante

    o esperado status de potncia. Resta saber se o Brasil estar disposto a pag-lo.

  • CAROLINA SILVA PEDROSO

    Mones: Revista de Relaes Internacionais da UFGD, Dourados, v.2. n.3, jan./jun., 2013

    Disponvel em:

    342

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    Recebido em 15.05.2013

    Aprovado em 22.07.2013