221078281 Inibicao Sintoma e Angustia Para Uma Clinica Nodaal Das EstruturasNieves Soria Dafunchio

12
1 Inibição, Sintoma e Angústia Nieves Soria Dafunchio Tradução livre do espanhol: Beatriz Lavieri I. Introdução ao Território das Neuroses Proponho o trabalho deste ano em continuidade com o do ano passado, no qual com alguns de vocês nos dedicamos a trabalhar sobre os confins das psicoses, tratando de abordar, dentro do campo clínico das psicoses, a variedade da estrutura, tentando levá-la ao nó borromeano. Este ano nos dedicaremos ao campo das neuroses, centrando-nos no trípode freudiano da inibição, sintoma e angústia, que é retomado por Lacan desde a perspectiva dos três registros. Parece-me que pode ser muito enriquecedor na hora de dar conta da variedade clínica dentro do campo da neurose, articular ao mesmo tempo os conceitos de inibição sintoma e angústia (que são centrais) com os registros imaginário, simbólico e real, especificando tipos de nós muito distintos nas neuroses. Para isso vamos dedicar algumas das primeiras aulas para abordar os textos, fundamentalmente o texto freudiano “Inibição, Sintoma e Angústia”, e sua leitura por parte de Lacan, fundamentalmente no Seminário X, o Seminário da Angústia, e no Seminário XXII, R.S.I. Com essas primeiras aulas vamos fazer um percurso para chegar ao R.S.I., ao nó borromeano, tal como o propõe Lacan no Seminário XXII, retomando o trípode freudiano de inibição, sintoma e angústia. A de hoje será uma aula do percurso que vamos fazer nesta primeira parte do seminário e, na segunda parte, alguns praticantes de psicanálise vão trazer seus casos e vamos situando essas diferenças no nó nos distintos casos. Para introduzir este primeiro trajeto que vamos fazer, vou começar com a imagem que vocês terão visto por e-mail ou no cartaz que escolhi para anunciar este seminário, que é este quadro de Dalí que se chama “Complexo de Édipo”.

description

psicanalise

Transcript of 221078281 Inibicao Sintoma e Angustia Para Uma Clinica Nodaal Das EstruturasNieves Soria Dafunchio

  • 1

    Inibio, Sintoma e Angstia

    Nieves Soria Dafunchio

    Traduo livre do espanhol: Beatriz Lavieri

    I. Introduo ao Territrio das Neuroses

    Proponho o trabalho deste ano em continuidade com o do ano passado, no qual com alguns

    de vocs nos dedicamos a trabalhar sobre os confins das psicoses, tratando de abordar,

    dentro do campo clnico das psicoses, a variedade da estrutura, tentando lev-la ao n

    borromeano.

    Este ano nos dedicaremos ao campo das neuroses, centrando-nos no trpode freudiano da

    inibio, sintoma e angstia, que retomado por Lacan desde a perspectiva dos trs

    registros. Parece-me que pode ser muito enriquecedor na hora de dar conta da variedade

    clnica dentro do campo da neurose, articular ao mesmo tempo os conceitos de inibio

    sintoma e angstia (que so centrais) com os registros imaginrio, simblico e real,

    especificando tipos de ns muito distintos nas neuroses.

    Para isso vamos dedicar algumas das primeiras aulas para abordar os textos,

    fundamentalmente o texto freudiano Inibio, Sintoma e Angstia, e sua leitura por parte

    de Lacan, fundamentalmente no Seminrio X, o Seminrio da Angstia, e no Seminrio

    XXII, R.S.I. Com essas primeiras aulas vamos fazer um percurso para chegar ao R.S.I., ao n

    borromeano, tal como o prope Lacan no Seminrio XXII, retomando o trpode freudiano de

    inibio, sintoma e angstia.

    A de hoje ser uma aula do percurso que vamos fazer nesta primeira parte do seminrio e,

    na segunda parte, alguns praticantes de psicanlise vo trazer seus casos e vamos situando

    essas diferenas no n nos distintos casos.

    Para introduzir este primeiro trajeto que vamos fazer, vou comear com a imagem que

    vocs tero visto por e-mail ou no cartaz que escolhi para anunciar este seminrio, que

    este quadro de Dal que se chama Complexo de dipo.

  • 2

    Esta pintura foi muito inspiradora para mim, j que uma imagem na qual, por um lado,

    encontramos uma estrutura que tem uma forma difcil de definir, um tanto amorfa, como

    costumam ser as formas de Dal, que tambm est esburacada, tem algumas fissuras, h

    algumas manchas. Parece-me que uma imagem que nos submerge, com toda a fora da

    pintura de Dal, no campo da estrutura neurtica tal como tentaremos abord-la aqui neste

    espao.

    Por outro lado, no quadro est este objeto que est na frente, que parece ser um tipo de cetro

    com plumas, ao estilo das plumas do pavo real. Proponho imaginar a o emblema do pai

    cado, do pai morto, dipo tendo matado seu pai e dirigindo-se a esse horizonte que se

    encontra no final da pintura.

    E, por outro lado, embaixo desta forma, desta estrutura que se encontra no centro do quadro,

    encontramos um pequeno objeto que est cado, que tambm um objeto difcil de definir,

    um tanto amorfo, que deixa uma sombra inquietante sobre a estrutura; e, por outra parte,

    temos esta figura, que uma figura humana semi-esqueltica, bastante indefinida tambm

    em relao ao sexo, que me parece encarnar, por excelncia, o que seria o sujeito neurtico

    em sua indeterminao, sem rosto e, ainda, no lugar em que deveria estar a cabea, o que h

    um tipo de signo de interrogao, h um vazio, no qual podemos situar a dimenso da

    pergunta.

    Queria transmitir-lhes de alguma maneira o que me causou este quadro de Dal na hora de

    pensar em abordar o campo da neurose, que desde a psicanlise fica definido a partir do

    complexo de dipo freudiano; este campo que, por um lado, parece to conhecido e, por

    outro lado, sempre volta a ser to alheio para ns.

    Escolhi este trpode da inibio, sintoma e angstia, porque considero que ser de utilidade

    para nos introduzir ao n e, nesse sentido, gostaria de expor um tipo de contraponto entre o

    que seria uma primeira vertente no ensino de Lacan, um primeiro tempo em seu ensino, que

    seria o perodo conhecido como o Lacan clssico, o Lacan da lgica do significante, que

    tambm o Lacan que se apoia naqueles textos freudianos nos quais Freud transmite a

    maravilha da descoberta da linguagem e seus efeitos no inconsciente: A Psicopatologia da

    Vida Cotidiana, O Chiste e sua Relao com o Inconsciente, A Interpretao dos

    Sonhos, que so o eixo das referncias freudianas do primeiro Lacan.

    II. A Clnica da Pergunta

    Este primeiro Lacan vai abordar a estrutura, seja neurtica ou psictica, sob a modalidade

    do que ganha forma altura do Seminrio III e da em diante como a clnica da pergunta.

    Esta lgica significante levada a sua mxima formalizao no primeiro Lacan constitui uma

    clnica, e poderamos dizer que o aparato conceitual que melhor desdobra, que melhor

    explora o terreno, o territrio da clnica da pergunta, o grafo da subverso do sujeito que

    vocs podem encontrar no Seminrio V e no escrito Subverso do Sujeito e Dialtica do

    Desejo. Neste texto vocs vo encontrar uma primeira verso do grafo, no qual Lacan vai

    justamente dar forma ao grafo a partir dessa interrogao, dessa pergunta pelo desejo do

    Outro, que a pergunta que anima o sujeito neurtico.

  • 3

    Esta primeira verso do grafo animada por esta pergunta: Che vuoi?, que queres? a

    pergunta que interroga o desejo do Outro. Este grafo do desejo o grafo que vai dar conta e

    que vai tentar desdobrar a estrutura da pergunta pelo desejo do Outro que anima o sujeito

    neurtico.

    Diana Rabinovich abordou em detalhe as consequncias clnicas do grafo em um livrinho

    que se chama Una Clnica de la Pulsin. Las Impulsiones,i onde ela dividia o grafo pela

    metade, situando o lado direito como o lado das perguntas e o esquerdo como o das

    respostas.

    O primeiro marco neste caminho que nos leva abordagem da estrutura neurtica no n o

    grafo do desejo que desdobra a estrutura da pergunta em que consiste a neurose. Aqueles

    que estiveram no seminrio do ano passado recordaro que trabalhamos a questo da

    pergunta nas psicoses tambm, tal como a expe Lacan no Seminrio III, onde situa

    justamente nas psicoses uma pergunta, mas uma pergunta que se faz sem sujeito; ou

    outra possibilidade que expe Lacan que haja uma resposta antes que se possa colocar a

    pergunta na psicose. Estas so as duas alternativas que ele d para distinguir o estatuto da

    pergunta na psicose do estatuto da pergunta na neurose.

    Podemos fazer uma primeira abordagem da estrutura desde o grafo. Na psicose, essa

    estrutura da pergunta de algum modo abortada no primeiro nvel, antes que possa chegar a

    ser colocada pelo sujeito j que a dimenso da pergunta se abre agora [recin, de novo?]

    no piso superior do grafo antes que possa se formular se faz presente a resposta no plano

    imaginrio, no eixo especular.

    Do lado da neurose, por outro lado, a pergunta chega a se formular, mas no a se desdobrar,

    j que o sujeito recorre ao curto-circuito da fantasia como resposta em vez de continuar com

    o percurso que o levaria confrontao com esse buraco enigmtico, do qual a pintura de

    Dal nos d um reflexo.

    Finalmente, h um terceiro trajeto possvel, que justamente o que habilita a experincia

    analtica, que leva a pergunta a desdobrar-se e a que o sujeito se confronte com este

    significante da falta no Outro, quer dizer, com a castrao, o que implica um atravessamento

  • 4

    do plano da fantasia como nvel de resposta pergunta. Este tema poderia ser bem mais

    desdobrado, mas como no o objetivo deste seminrio nos centrarmos na clnica da

    pergunta, formulo-o rapidamente.

    Ento, no grafo podemos situar, no primeiro nvel, a psicose, no segundo nvel, a neurose e,

    finalmente, no circuito mais amplo, a anlise.

    Trata-se, ento, de um aparato conceitual que est construdo a partir da lgica simblica, da

    lgica do significante, j que a estrutura mnima aqui a estrutura binria prpria do

    significante, S1-S2, e a complexificao dessa estrutura mnima que leva a esse

    desdobramento no grafo.

    E desde a perspectiva do grafo poderamos dizer que o que Lacan vai formular que essa

    pergunta pelo desejo do Outro vai se modalizar na histeria a pergunta vai ser que quer

    uma mulher? a pergunta pelo ser feminino, pelo ser de desejo feminino; e, por outro

    lado, a modalidade obsessiva, que Freud j situa como um dialeto da histeria, como uma

    complexificao superior dessa primeira pergunta sobre o feminino e, ento, vai avanar

    sobre a morte.

    Essas duas modalidades da pergunta no podem ser distinguidas enquanto tais no grafo, no

    podemos fazer uma clnica diferencial da histeria e da obsesso com a estrutura do grafo,

    como tampouco podemos distingui-las da fobia, ainda que possamos nos perguntar que

    acontece com a pergunta na fobia.

    A fobia parece ser o impasse da pergunta. O sujeito fbico um sujeito a quem a angstia o

    impede de formular a pergunta, por isso Lacan vai definir a fobia como placa giratria,

    como um guarda-trilhos. mais um momento lgico da estrutura que um tipo de neurose

    em si mesma. Trata-se de um momento de impasse da estrutura que tambm constitutivo

    do sujeito. Isto algo que Freud assinala, as fobias infantis como constitutivas do sujeito.

    Poderamos dizer que o sujeito se constitui fobicamente.

    Mas h certo ponto de falha da estrutura neurtica na fobia que tambm um pouco difcil

    de abordar desde o grafo. Podemos dizer em princpio que na fobia o sujeito atravessa o

    primeiro nvel, o piso do grafo, o sujeito sai do campo da psicose, mas tem dificuldade para

    construir sua fantasia. Por exemplo, no caso do pequeno Hans, sua fobia e sua anlise

    consistem em toda uma srie de operaes de construo da fantasia.

    Ento, poderamos dizer que este aparato conceitual, que o grafo do desejo, que to

    interessante para dar conta de toda uma srie de questes da estrutura subjetiva e da

    estrutura da experincia analtica enquanto tal, nos permite interrogar acerca da diversidade

    clnica. um aparato que nos permite situar em si mesmo estas diferenas dos tipos clnicos

    dentro das neuroses, que o que vamos tratar de abordar neste seminrio.

    Posteriormente, quando Lacan abre sua abordagem da estrutura concepo topolgica da

    mesma, abre a estrutura para outros dois registros. Este grafo, por outro lado,

    fundamentalmente simblico, lgica do significante pura, uma tentativa de dar conta do

    imaginrio que vai estar neste primeiro nvel e do real que vai estar no ltimo nvel

    desde o simblico. desde a primazia que Lacan atribui ao simblico que neste momento

    de seu ensino ele vai abordar simbolicamente tanto o imaginrio como o real.

  • 5

    III. O Trpode Freudiano

    Mas podemos, no ensino de Lacan, seguir o fio da outra vertente, da vertente que tenta,

    desde o incio, dar autonomia prpria aos registros. Lembrem que o primeiro Lacan escreve

    o estdio do espelho, que uma tentativa de dar conta do registro imaginrio enquanto tal.

    Esse outro Lacan, que na realidade est desde o princpio, mas que parece que consegue

    agora [recin] desdobrar toda sua fora conceitual nos ltimos seminrios, vai se apoiar

    fundamentalmente no texto de Freud: Inibio, Sintoma e Angstia.

    Este outro Lacan, que no se interessa s pela lgica do significante, mas tambm um

    Lacan matemtico que se interessa pelo estatuto real do nmero, encontra neste trpode

    freudiano, neste trs de Freud, algo real da estrutura que verifica em sua experincia como

    analista.

    Teremos mais de uma oportunidade de voltar sobre o texto de Freud. De momento me

    referirei ao que considero central do mesmo para fazer uma introduo ao percurso que

    faremos.

    Se vocs lerem este texto freudiano, se daro conta imediatamente de que, na realidade,

    mais do que tudo um tratado sobre a angstia. Mas o mais interessante que um tratado

    da angstia que vai terminar sendo definida como angstia de castrao, retificando a

    primeira concepo freudiana da castrao. O que Freud est propondo neste texto, e o disse

    com todas as letras no incio de um dos captulos, que a neurose gira em torno da angstia

    de castrao, de modo que a estrutura neurtica uma resposta angstia de castrao.

    Assim, tanto a inibio como o sintoma vo ser abordados desde a perspectiva da angstia,

    da que Freud diga que a inibio uma deteno de todo movimento com a finalidade de

    evitar o desenvolvimento da angstia, uma soluo contundente e radical ao problema da

    angstia. Produz-se uma deteno no movimento, questo que vai ser retomada por Lacan

    no famoso quadrinho do Seminrio da Angstia, que vamos trabalhar, cujos dois eixos so

    justamente a dificuldade e o movimento. A inibio tende a deter o movimento, o

    desdobramento mesmo da estrutura se detm com a inibio e se consegue expulsar a

    possibilidade da angstia.

    O sintoma neste texto vai ser abordado por Freud como um resultado do desenvolvimento

    da angstia, como sinal da castrao. De modo que quando a angstia funciona como sinal

    da castrao, quando est delimitada, quando est localizada neste funcionamento de sinal

    da castrao, ento promove a formao do sintoma. Neste plano do sintoma,

    diferentemente da inibio, temos certo desenvolvimento da angstia, mas que leva

    formao do sintoma, a qual poderia chegar a desterrar totalmente o desenvolvimento da

    angstia. O exemplo que Freud fornece de sucesso mais radical do sintoma contra a

    angstia o sintoma conversivo, como o sintoma que tem mais xito na evitao da

    angstia, mas sua constituio no alcanada sem o desenvolvimento prvio da angstia.

    O que diferencia ento o sintoma da inibio este primeiro tempo de desenvolvimento da

    angstia e, depois, um segundo tempo, em que o sintoma vem para resolver ou para tentar

    solucionar este problema que lhe coloca a angstia.

    Quando nos detemos no conceito da angstia neste texto a vemos bifurcar-se. Por um lado,

    a angstia como sinal da castrao, que vai ser absolutamente evitada na inibio e qual

    se vai dar um tratamento no sintoma, mas vai haver outra vertente da angstia que vai

  • 6

    atravessar todo o texto, que a angstia que deixa de lado diz Freud as vassalagens do

    eu e da castrao. Nesta vertente, a angstia no se limita a ser um sinal. Trata-se da

    angstia que se manifesta nas neuroses traumticas, que rompe o anteparo [pantalha, defesa]

    do eu e que deixa de funcionar em relao castrao, deixa de estar delimitada como sinal.

    Poderamos qualificar esta vertente da angstia de angstia pura. Angstia pura um termo

    que Lacan vai utilizar no Seminrio da Angstia para se referir justamente ao primeiro

    tempo da angstia do pequeno Hans, quando ele ainda no consegue armar um sintoma com

    ela. Aqui o sujeito est totalmente tomado, arrasado pela angstia. A a angstia toma todo

    o ser do sujeito, no est localizada nem funciona como um sinal. Nestes casos o modo de

    ser do sujeito a angstia.

    Interveno: E no ataque de pnico?

    Nieves: Teria que definir como o ataque de pnico se articula com a estrutura, mas, em

    princpio, poderamos situ-lo como uma irrupo da angstia pura, onde deixam de

    funcionar as vassalagens do eu e da castrao e que, por isso, vivida como angstia de

    morte que tambm a angstia que est em jogo nas neuroses traumticas. Freud faz esta

    distino entre angstia de castrao e angstia de morte. Se bem que logo tente dar conta

    da angstia de morte em termos de castrao, ao mesmo tempo situa claramente um campo

    clnico no qual se manifesta a angstia como pura angstia de morte, desbordando estes

    diques e perdendo a relao com a castrao.

    Nestes casos h algo do narcisismo que se desarma como ocorre efetivamente no ataque

    de pnico e tampouco est localizada a funo da falta. Ento, o sujeito sente que se morre

    essa a experincia do ataque de pnico. Esta tambm pode, eventualmente, ser a

    experincia na neurose traumtica, onde justamente o que se escuta que o sujeito volta a

    viver exatamente igual ao momento do trauma, onde se perde a referncia funo

    retroativa que possibilita a funo da falta.

    Interveno: Para voc a castrao um efeito de localizao da angstia pura?

    Nieves: Se seguimos a lgica do texto de Freud, efetivamente a castrao funciona como a

    possibilidade de fazer a angstia entrar no regime do signo. Quando a angstia funciona

    como sinal acomoda o sujeito a respeito da castrao, em relao falta e, ento, o sujeito

    ou bem se inibe ou bem faz um ato que a soluo no neurtica angstia.

    A relao entre angstia e ato tambm desdobrada por Freud neste texto, e retomada por

    Lacan. Existe uma possibilidade no neurtica de enfrentar a angstia, que com algum ato

    que nos ponha em relao com nosso desejo. Isso o interessante da angstia quando

    funciona como sinal, que o sujeito em vez de inibir-se covardemente, ou de armar um

    sintoma, pode atuar em conformidade com seu desejo.

    Ento, por um lado, temos a angstia que funciona como sinal da castrao no eu e, por

    outro, esta outra angstia que perde as vassalagens do eu e da castrao, que inclusive

    produz certo desarmamento do narcisismo, que diz Freud pura reproduo do trauma,

    na qual falta esta segunda volta que localiza que seria justamente a funo da castrao no

    funcionamento propriamente neurtico da estrutura.

  • 7

    IV. A Primeira Volta Lacaniana

    Lacan vai retomar este texto em vrias oportunidades. A primeira oportunidade o

    Seminrio da Angstia. A primeira aula dedicada a este texto de Freud Inibio,

    Sintoma e Angstia. Lacan comea a construo de seu esquema, que tridico,

    diferentemente do grafo, em que constam dois lados. Trata-se de um quadro de dupla

    entrada na qual Lacan distingue trs nveis, e em cada um deles vai situar estes termos.

    O que ele vai colocar que a inibio opera no campo do movimento, quer dizer, o que faz

    a inibio deter um funcionamento. Se vocs forem ao texto de Freud, vo encontrar

    exemplos nos quais o sujeito deixa de poder realizar alguma funo, por exemplo, tocar

    piano, cozinhar. Finalmente, Freud formula a questo da inibio como podendo se

    generalizar a todas as funes, e vai dizer quando termina o primeiro pargrafo dedicado

    inibio que o estudo da inibio vai permitir aos psicanalistas explicar a depresso e a

    melancolia como inibies generalizadas. De modo que quando esta funo da inibio

    levada a sua mxima potncia, se transforma em depresso e, no caso mais extremo, em

    melancolia. Nesses casos se detm todo movimento na estrutura.

    Nesta via da deteno do movimento, Lacan vai distinguir mais dois escales, que so o

    impedimento e o embarao [embarazo]. Depois vamos v-los mais em detalhe, mas o que

    tem de interessante neste quadro que, por exemplo, o impedimento tem em comum com a

    inibio que se trata de algo que se detm, onde o sujeito est impedido de realizar

    determinada ao, mas no exatamente o mesmo que a inibio, porque se joga no plano

    do sintoma, de modo que j temos a certo entrecruzamento entre inibio e sintoma.

    O mesmo ocorre com o termo embarazo que Lacan toma explicitamente do termo

    espanhol, que lhe interessa especialmente, porque tem esta significao da mulher que leva

    uma criana em seu ventre, que no se encontra na lngua francesa no termo embarras, o

    qual no utilizado para o estado de gravidez da mulher em francs. Por isso usa o termo

    embarazo do espanhol, porque d conta desse estado de certa deteno no plano do

    movimento, mas que vai ficar mais ligado angstia. O sujeito que est embarazado,

    poderamos dizer que est um pouquinho angustiado, h algo com que no sabe muito bem

    o que fazer, est em situao embarazosa, e h certa angstia.

    Depois temos o outro eixo, que o eixo do movimento. Lacan vai situar em primeiro lugar a

    emoo, e em segundo lugar a turbao [perturbao, comoo, desassossego, inquietao

    confuso, alvoroo, exaltao, rebulio, grande impacto, desordem]. Tanto a flecha do

    movimento como a da dificuldade parte da inibio. Para Lacan tampouco casual que a

    primeira seja a inibio, por isso vamos seguir o seminrio com esta ordem: inibio,

    sintoma e angstia. Vamos fazer umas aulas de introduo geral, mas quando formos aos

    casos vamos seguir essa mesma ordem.

  • 8

    Aqui vai situar a emoo, que vai estar em sintonia com o sintoma e a turbao que um

    fenmeno mais angustiante. E posteriormente, na aula 6, vai acrescentar o acting-out, e a

    passagem ao ato, que abordaremos mais adiante.

    Ento, aqui temos um esquema tridico, 3 ao quadrado que d 9, so 9 classificadores

    [casilleros], e j abrem para um movimento que no binrio, que no se reduz lgica do

    significante. O que est em jogo a o trs e no o dois. Vemos como do grafo do sujeito a

    este esquema se opera uma passagem do dois ao trs para dar conta da estrutura e para

    comear a definir certos fenmenos no campo das neuroses, que em sua diversidade e em

    sua complexidade no so abordveis desde a estruturao dualista.

    V. Do Dois ao Trs

    este trs que de alguma maneira vai levando Lacan at o Seminrio 22, R.S.I., que um

    seminrio no qual Lacan aborda a estrutura como um n borromeano, tomando estes trs

    nomes freudianos inibio, sintoma e angstia como as trs nominaes constitutivas do

    n.

    Ali Lacan vai propor que o n borromeano se constitui por trs nomeaes: a nomeao do

    imaginrio que vai ser a inibio a nomeao do simblico que vai ser o sintoma e a

    nomeao do real que vai ser a angstia. Quer dizer, Lacan vai propor que o n do ser

    falante se constitui nestas trs operaes, e cada uma delas cumpre uma funo de

    enodamento na estrutura e de constituio do n borromeano enquanto tal.

    Para trabalhar a questo do n borromeano enquanto tal, vou voltar a lhes propor o mesmo

    texto que lhes propus o ano passado para comear, que o texto de Fabin Schejtman

    chamado Acerca de los Nudos, que est publicado em um livro que se chama Las Dos

    Clnicas de Lacanii, e que me parece que d de um modo muito claro as bases mnimas para

    entender o que vamos abordar como n borromeano. O que este texto de Schejtman tem de

    interessante que em sua leitura do ltimo Lacan prope uma distino muito clara entre o

    n borromeano como n neurtico e o n no borromeano como o n na psicose. Trata-se

    de uma distino que no evidente lendo Lacan, mas que considero fundamental para

    poder avanar na clnica dos ns.

    No Seminrio R.S.I. Lacan vai abordar a estrutura do n como n borromeano, e o que vai

    terminar colocando que esse n borromeano de trs enquanto tal no existe. Trata-se da

    estrutura do ser falante como uma relao borromeana entre trs nominaes: uma

    imaginria, uma simblica e uma real, que est sempre falhada, e a particularidade que

    assume essa falha, assim como a reparao dessa falha, o que vai dar conta dos distintos

    tipos clnicos.

    Referir-nos ao enodamento borromeano supe a funo de mediao, que o que vamos

    nos centrar este ano. Assim como o ano passado nos centramos na interpenetrao entre os

    registros, este ano vamos trabalhar em torno da funo da mediao. O prprio da estrutura

    neurtica que cada um dos trs registros est relacionado com algum outro pela mediao

    de um terceiro. Ento, por exemplo, imaginrio e simblico na neurose se relacionam via o

    real, real e simblico se relacionam via o imaginrio, e assim os trs.

  • 9

    A funo de nomeao em Lacan a funo de enodamento. Para Lacan, o nome enoda,

    uma funo que enoda os registros, da a importncia que lhe d no incio de seu ensino ao

    Nome do Pai como funo de nomeao por excelncia.

    O ttulo deste seminrio, R.S.I., e hrsie que quer dizer heresia so homofnicos. Este

    seminrio ento a heresia lacaniana ao dogma do pai na psicanlise, ao se propor abordar a

    estrutura por essas nomeaes, tentando prescindir da nomeao paterna, coisa que no vai

    conseguir. Mas, finalmente, o que vai dizer que inibio, sintoma e angstia so nomes do

    pai. Proporei a vocs abordar desde a as trs vertentes do pai: a vertente imaginria, a

    vertente simblica e a real, seu particular enodamento ou desenodamento em cada tipo de

    neurose, e finalmente seus efeitos.

    VI. A Segunda Volta Lacaniana

    Nesta colocao que Lacan vai fazer do n R.S.I., vai tomar o texto de Freud novamente e

    vai dizer que a nomeao do imaginrio a inibio, j que a inibio o que detm o

    funcionamento simblico da estrutura. O simblico o que prprio do ser falante, j que

    somos seres de linguagem, viemos ao mundo imersos na linguagem, imersos no simblico.

    A linguagem, o simblico, pode ser uma reta infinita. E, o que que detm? O que que lhe

    pe um limite? O que que funciona como ponto? A nomeao imaginria, o sentido. Na

    cadeia significante o sentido imaginrio, o que detm o deslocamento metonmico. Da,

    o fundamental da inibio, necessrio que em algum momento o simblico pare, se

    detenha, para constituir a estrutura neurtica. O imaginrio, ento, detm o desdobramento

    do simblico e permite fechar o crculo do simblico, em relao aos outros dois, [para] que

    no seja uma reta aberta ao infinito. Por isso, Lacan comea pela inibio, como Freud,

    porque diz que somos seres de linguagem, estamos imersos na linguagem, e a primeira

    nomeao, o primeiro limite que encontramos o imaginrio.

    por isto que, para Freud, a primeira operao que se realiza na constituio do ser falante

    o narcisismo. Chega-se em um estado catico, fragmentrio, autoertico e a primeira

    nomeao, a primeira funo de enodamento, a primeira funo de constituio, vai ser uma

    funo imaginria: a constituio do eu, do narcisismo, que vai inibir esse caos originrio

    do autoerotismo.

    Segunda nomeao: a nomeao do simblico. A nomeao do simblico no o mesmo

    que o simblico, seno que Lacan vai dizer que justamente o Nome do Pai. esta funo

    que faz com que algo, se desdobre no campo do significante, algo, um significante, a funo

    do significante Mestre, do S1 que ordena, o S1 que tambm media entre imaginrio e real,

    que pe um nome nas coisas diz Lacan sobre o final do seminrio.

    Nestes seminrios, no XXII, com sua heresia, depois no XXIII, quando aborda a obra do

    escritor James Joyce, muito imbudo de sua prpria formao jesuta, e inspirado por ele,

    Lacan vai ter como referncia permanente a Bblia para falar das origens e da constituio

    da estrutura e do n do ser falante. Ento, a nomeao do simblico referida ao momento

    no qual Ado pe nome nas coisas. A nomeao do simblico como mediao entre

    imaginrio e real, abotoando imaginrio e real com um nome. A coisa, essa coisa que ao

    mesmo tempo uma imagem, vai estar mediada por um nome.

  • 10

    Mas Lacan vai distinguir esse momento no qual Ado nomeia os animais do momento da

    criao, momento prvio em que estar em jogo uma nomeao do real. Vai dizer que

    colocar nomes nas coisas uma nomeao simblica, mas h outra nomeao, que quando

    esse buraco que esse Deus da Bblia que diz Eu sou o que sou, que puro sem sentido,

    que puro S1 que no remete a um S2, porque no diz Eu sou tal coisa, mas Eu sou o

    que sou, um S1 que remete a si mesmo, ou em todo caso remete a um objeto a: Sou o

    que sou, essa coisa, isso. Lacan coloca que essa funo de nomeao um buraco que

    cospe um nome.

    A nomeao do real fica situada, ento, nesse momento angustiante, no qual algo surge do

    nada, no qual um buraco cospe um nome. Como pode um nome sair do buraco? Em outra

    via, a pergunta que se fazem os cientistas: que havia antes do Big Bang? Que foi que

    explodiu no Big Bang? Era um nada que explodiu? Mas, como pode explodir um nada?

    Interveno: Freud diz que o recalque primrio uma operao de contrainvestimento, e

    que o contrainvestimento o modo de operao da fobia. Eu queria te perguntar se voc

    considera isso como uma nomeao imaginria, ou como uma nomeao real.

    Nieves: Lacan situa o recalque primrio como nomeao do real. Trata-se de um ponto que

    no imaginrio em nada, que fica totalmente fora do sentido. Deus no diz nada, um

    nome puro, e nesse sentido fica totalmente fora do sentido. um buraco que cospe um

    nome. Parece-me importante estabelecer a diferena entre recalque primrio e secundrio, e

    entre nomeao real e simblica.

    Na nomeao real estamos no plano do recalque primrio, e tambm da identificao

    primria, que o momento de incorporao do pai, que um momento no qual h uma

    primeira operao efetiva do sujeito que funciona segundo Freud por introjeo, e que vai

    dar lugar a uma identificao que vai ser primeira; as outras identificaes vo ser

    secundrias em relao a ela. Isto est no captulo VII de Psicologa de las Massas y

    Anlisis del Yoiii, onde Freud vai dar conta de como as identificaes que do lugar ao

    sintoma so secundrias, so segundas em relao a esta identificao primria que de

    outra ordem, que anterior a toda relao de objeto, e onde se trata justamente do que com

    Lacan podemos chamar a admisso no simblico do Nome do Pai. De modo que h um

    primeiro momento no qual se produz essa primeira nomeao que a constituio do Nome

    do Pai como um significante real, que vai ter um valor real no simblico. E depois h um

    momento segundo no qual esta funo vai operando distintas nomeaes, distintos

    sintomas. O que produz esta nomeao real angstia, porque no liga nada.

    Nesse sentido Lacan vai seguir o texto freudiano e vai dizer que o que liga o significante, o

    que liga representaes, o sintoma, a nomeao do simblico, que situamos na relao S1-

    S2. Enquanto que a angstia a nomeao do real, um S1 puro, esse Deus que diz Eu sou

    o que sou e cospe um nome, fora de sentido.

    A nomeao do real uma nomeao difcil de apreender, justamente porque no podemos

    abord-la nem em termos imaginrios, nem em termos simblicos, por isso estas metforas

    do que havia antes do Big Bang interrogam algo [que] surge do nada, ou como vai dizer

    Lacan, algo que passa a ex-sistir algo que lanado fora desse buraco. A Lacan diz Deus

    cospe o nome. Um nome cuspido por esse buraco que Deus, lanado ex-sistncia,

    lanado fora, comea a se sustentar fora.

  • 11

    Lacan situar a ex-sistncia no registro do real, e o buraco no registro do simblico. Desde a

    perspectiva de Inibio, Sintoma e Angstia, proponho a vocs situar a nomeao do

    simblico em relao com a funo de castrao, que localiza e media entre imaginrio e

    real; e o imaginrio como consistncia, como o que une, o que mantm junto diz Lacan.

    Cada uma dessas nomeaes que so constitutivas do n ao mesmo tempo participam de

    cada um dos trs registros, de modo que cada registro tem sua consistncia, seu buraco e, ao

    mesmo tempo, ex-siste aos outros dois. Isto nos possibilita referncias tais como o

    imaginrio do real, o simblico do imaginrio, etc.; por isso vamos trabalhar no somente

    com o n, mas tambm com os trs registros, tal como os abordamos em alguns lugares,

    como se fossem conjuntos ou crculos de Euler, e onde tambm se vai fazendo diferentes

    localizaes em distintos espaos que vo nos permitir distinguir verses das neuroses em

    funo do registro que prevalece na apresentao da estrutura.

    Interveno: Acerca da distino das nomeaes entre nome prprio como nome lanado

    desde esse buraco e os nomes das coisas.

    Nieves: Esse nome prprio, que o nome lanado por esse buraco, ao mesmo tempo

    possibilitado pelo Nome do Pai, da as dificuldades nas quais muitas vezes o psictico se

    encontra quando tem que assumir o prprio nome. Efetivamente, nessa operao se trata de

    uma nomeao do real, pela qual se constitui o sujeito como nome prprio, que h que

    distinguir dos sintomas que seriam essas nomeaes que podem ir ao mesmo tempo

    variando na estrutura. E se poderia dizer que o real o que volta sempre ao mesmo lugar,

    o que no se pode mudar ainda quando se queira.

    Lacan diz em algum lugar que o neurtico quer se esquecer de seu nome prprio, que quer

    ser um sem nome, mas sempre vai voltar a encontrar com seu nome prprio, que o que

    volta ao mesmo lugar, o mais real da estrutura. Essas outras nomeaes, que so os

    sintomas, podem mudar, podem cair e podem vir outras nomeaes, mas o que vai estar

    sempre no mesmo lugar vai ser o nome prprio.

    Finalmente Lacan vai se dar conta em R.S.I. que no existe o n borromeano de trs no ser

    falante. O ser falante uma estrutura falida, falhada, como assinalou em vrias

    oportunidades, particularmente em O Mal Estar na Cultura, onde faz referncia a um

    desregramento fundamental no ser falante. Lacan traduzir isso nestes termos: A relao

    sexual no existe. H algo que no anda no ser falante, que faz que as coisas no se

    acomodem, que faz que a relao sujeito-objeto, homem-mulher, no se acomode, e isso

    que no anda vai se manifestar como lapsos no n.

    O n borromeano de trs no existe e, ento, ou surgem outros tipos de enodamentos que

    so o que vimos o ano passado, no borromeanos, que vo dar lugar diversidade das

    psicoses ou bem vai vir um quarto para enodar esses trs que esto soltos, para enod-los

    borromeanamente. Mas a questo interessante de RSI que esse quarto pode ser em si

    mesmo imaginrio, simblico ou real, o que vai dar lugar aos diferentes tipos de neurose.

    Proponho a vocs a princpio abordar a histeria como uma estrutura borromeana enodada

    simbolicamente, a neurose obsessiva como uma estrutura borromeana enodada

    imaginariamente, e a fobia como uma estrutura enodada pelo registro do real, quer dizer,

    pela angstia, que no enoda muito, da que na fobia no se termina de captar a estrutura.

  • 12

    E o que vai expor Lacan em RSI que esse quarto n pode duplicar algum dos trs registros.

    O quarto que enoda pode duplicar o imaginrio, duplicar o real ou duplicar o simblico, e

    isto vai dar distintos efeitos na estrutura. No o mesmo uma estrutura por mais que seja

    neurtica e borromeana que esteja enodada pelo imaginrio, inibida, na qual o

    funcionamento da estrutura seja a inibio, que seja o sintoma, ou que seja a angstia. E,

    ento, isso o que tambm vai nos permitir trabalhar depois nos casos que veremos e, na

    direo da cura, saber por onde entrar. Porque no se vai entrar na estrutura desde a

    interveno analtica da mesma maneira, j que os registros se apresentam de maneira

    diferente quando a estrutura est nomeada pela inibio, pelo sintoma ou pela angstia.

    Aula de 3 de abril de 2008

    i Rabinovich, Diana. Uma clnica de la pulsin. Las impulsiones. Ed. Manantial. Buenos Aires, 1989. ii Scfhejtman, F. Acweca de los Nudos, em Mazzuca, R., Schejtman, F., Zlotnik, M., Las dos clnicas de

    Lacan. Buenos Aires, 2001. Ed. Tres Haches. iii Freud, S. Psicologa de las massa y anlisis del yo. Em Obras Completas. Cap. 7 Ed. Amorrortu. Tomo

    XVIII. Buenos Aires, 1986.