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    Resenhas

    oLIMPO E O SUJO: UMA HISTRIA DAHIGIENE CORPORAL

    Joseane Maria Parice Bufalo*

    VIGARELLO, Georges. Olimpo eo sujo: Umahistria da higiene corporal. Traduo doFrancs: Monica Stahel. So Paulo: MartinsFontes, 1996, 297 pg.

    Este livro foi escrito com o objetivo demostrar ao leitor que sempre existiram dealguma forma prticas de limpeza corporal.Com o passar dos tempos foram se adicionando

    exigncias, o que implicou emregras. Portanto,VigarelIo afirma que uma histria da limpezacorporal tambm uma histria social.

    Assim, o autor aborda nesta obra asdefinies, os padres e as tcnicas de limpezascorporais entre a Idade Mdia e o sculo XX.Ele se apia na teoria do socilogo alemoNorbert Elias para analisar o processo decivilizao das sociedades ocidentais, a partir de

    uma caracterstica: as transformaes da relaodos seres humanos com seu corpo.

    Nesse sentido, VigarelIo trabalha demaneira cronolgica no livro. Enfatizando comoas normas da limpeza se enunciam e se definemvai relatando e descrevendo cenas do cotidian~de cada poca, de maneira a fazer uma anlisedestes padres por meio destas cenas. Sendoassim, o livro nos aponta de forma clara e

    ilustrativa o que acontece em cada momentohistrico.Esta resenha acompanha a cronologia que

    VigarelIo tece, mostrando como a concepo dobanho passa de uma prtica transgressora parauma prtica da ordem.

    Na Idade Mdia existiam as estufas e osbanhos, os q uais no eram entendidos comoestabelecimentos dehigiene, estes faziam partede prazeres especficos. A histria das estufas

    est ligada ainda a uma outra histria: a dotempo ldico efestivo, ados prazeres edo jogo.Nesse caso, esto envolvidas tambminevitavelmente, ilegalidade e transgress~(p. 34). Portanto, esses locais, pertenciam ao

    mundo do prazer, dito prosaicamente por umdono de estufas alems do sculo XV: gua porfora, vinho por dentro, alegremo-nos (p. 37).

    Sendo assim, a cultura das estufas e dosbanhos no podia ser considerada como a da

    higiene ou ainda, da ordem. No entanto, issono quer dizer que nelas no havia lavagem elimpeza alguma, embora o objetivo fosse aprtica festiva.

    Existia tambm nessa poca, empouqussimos lugares, a prtica privada dobanho, a qual no se compara s estufas. Noentanto, tanto as estufas quanto os banhosdesaparecem pelo motivo do imaginrio da gua

    e asrepresentaes do corpo. Havia um grandetemor de os organismos serem penetrados.Nesse perodo (sc. XV-XVII), se deve

    pensar a ~impeza com excluso de qualquerabluo. E preciso reconhecer uma limpezacorporal, mas que se fazia atravs dos espaos,das roupas de baixo, dos acessrios diversos eassim no o corpo propriamente dito era lavadoou limpo. aroupa-branca que se lava (p. 66).

    Essa limpeza se refere aum sentido socialemdico, pois tanto a roupa como a ausncia dedoena o que indica a higiene corporal.Portanto, estas caractersticas, que passam pelosobjetos, no tratamento com o corpo, trazemconseqncias sociais, haja vista que deixavade existir alimpeza para os mais pobres.

    A limpeza girava em torno da aparncia,importando apenas o que o outro via. Da ofuncionamento de estratgias de iluso como:

    penteados, maquiagens e os prprios perfumesa partir do sculo XVII, os quais alm dadissimulao ou do prazer, traziam tambm apurificao. O perfume apaga tanto quantodissimula (p. 100).

    Apartir dosegundo tero do sculo XVIII,obanho tem uma nova presena. A prtica dagua se transforma. Embora ainda se pensasseque ela penetraria ocorpo, atuando sobre seus

    rgos e suas funes, esse novo interesse se

    * Mestre pela Faculdade de Educao -UNICAMPI1977 - Professora de Educao InfantildaRede Municipal de Campinas

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    traduzia porumgrande nmero de monografiasmdicas a seu respeito, atestando aimportnciado tema, teoricamente. No entanto, na vidacotidiana o banho se integrou de maneiraespecfica, isto , atingindo apenas anobreza eem especial as mulheres. Mais do que nunca

    esse banho quente dos gabinetes da nobreza antes de tudo prtica demulheres (p. 115). Hvrias passagens no livro em que Vigarellorelata a aproximao do banho como sendoprtica feminina.

    Essas prticas refletiram um longo percursoterico e cultural, aps o sculo XVIII, e nofinal deste perodo, obanho comeou a terumpapel explicitamente higinico. acorpo, ento,

    adquire uma imagem nova e o banho umindcio deum cdigo, at ento indito, de suaseficcias corporais. Assim, alimpeza j no sefazia apenas para o olhar.

    a autor faz uma analogia entre as mquinasa vapor e as representaes dos corposhumanos, dizendo que mais ou menosconsciente se passa a codificao das eficciascorporais: a sade supe uma boa energia de

    combusto. C. .) Do banho frio ao banho quente,portanto, tambm foi o imaginrio das energiasque se reconstruiu (p. 191).

    Mas mesmo nessa poca, ainda sequestionava sobre a prtica de o banho serimoral. a pudor estava mais diretamente nodesnudamento dos corpos exigido pelasablues delimpeza e sobretudo nas apalpaesque elas provocam. Portanto, difundir aprtica

    do banho tambm convencer que ela noofende o pudor.Contudo, depois dos terrores da peste, o

    papel do banho se inverteu definitivamente. Agua passou a se desempenhar como ao

    preventiva. Entretanto, os mais pobres e maisexpostos so os que menos obedeciam s regrasdehigiene.

    No final do sculo XVIII, foram iniciadosatos de higiene para alterar o espao pblico.

    Ento comeou a se pensar em banhospopulares e estes eram vistos antes de tudocomo uma medida para melhorar o espao.

    Pensava-se nos banhos populares comosendo diferentes dos nobres. a que importava

    era que se fizesse uma limpeza das r uas, dosespaos coletivos. a uso da gua era pensadonessa poca para corrigir o aremais importanteainda era arelao entre osalubre e oinsalubre.

    As normas, hmuito tempo aplicadas pelaselites, comeam a ter um papel nas instituies

    destinadas massa. Uma limpeza j antigacomea a existir como se a prtica "pensada"para o povo devesse implicar uma defasagem eumtempo de latncia (p. 167).

    a banho seinstalou lentamente nas prticasda elite, bem no final do sculo XVIII, o queanunciava ocaminho que seria desenvolvido nosculo XIX.

    Em meados dosculo XIX foram tomadas

    medidas concretas para corrigir a falta delimpeza indigente. Assim, se transformavam osespaos pblicos e apedagogia se prolongavana norma imposta aos instrumentos e aosespaos. a planejamento urbano passou a serem funo do consumo de gua, a qual setornou, como nunca o foi, um problema deestratgia coletiva, para impedir a doena etrazer asade.

    No sculo XIX ahigiene passou a ocuparum lugar indito, a ser umadisciplina especficadentro da medicina. Mesmo j no final dosculo XVIII, o mdico se aproximou dopoltico, desempenhando um papel nadisposio das cidades e de diversos locaispblicos.

    As disparidades socIaIs Ja no severificavam apenas entre o banho e as ablues

    parciais, mas tambm entre vrios tipos debanhos.Nesse perodo, diferente do sculo XVIII,

    o banho no significava tratar apenas do corpo,mas sobretudo de no subverter a ordem. Haviaumamoralizao da limpeza: o objetivo no eraoutro seno transformar os costumes dos maisdesfavorecidos.

    a autor afirma que, quanto higiene, aresposta antes de tudo pedaggica, num

    sentido "catequizante". A sujeira era tratadacomo sendo um efeito da preguia,contrariamente do que se pensava at o sculoXVIII, quando o banho era visto como umaprtica do cio.

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    Criou-se um manual de higiene, o qual setornou um texto de estudo. Assim,sucessivamente em todas as instnciaseducacionais se trabalhou com o princpio deensinar o outro, adequando-o, disciplinando-opois um povo amigo da limpeza logo o ser da

    ordem e da disciplina (p. 216).No final do sculo XIX a gua ganhou uma

    legitimidade cientfica que nunca mais foiultrapassada e o banho adquiriu um espao que totalmente privatizado.

    Como se pode ver, o banho tem duascaractersticas bsicas no decorrer dos tempos:prazer e higiene. Como afirma Vigarello, estesdois caracteres parecem no poder caminhar

    juntos, ou isto ou aquilo. Na Idade Mdia,quando se banhava, significava tempo do cio,da preguia. Contrariamente, no sculo XVIII,a cincia legitimava a limpeza do corpo pormeio do banho, moralizando-o.

    Desse modo, com o banho fazendo parte dacincia que no falta verdade (p. 253), deveser transformado o costume de quem quer queseja, pois a limpeza no s um instrumento da

    sade, mas tambm um instrumento da moral.A histria do banho mostra que o que estem jogo a intimidade das pessoas com ocorpo. Assim, mesmo depois de aceito comoprtica social, ele sempre foi pensado comcuidados. No incio era coletivo, posteriormentefoi se individualizando para todas as classessociais, mas com restries.

    Assim, como podemos perceber, h vrias

    maneiras e entendimentos sobre o banho. Noentanto, interessante frisar que enquanto eleera visto como ilegal, transgressor, eraconsiderado como uma prtica principalmentedas mulheres.

    Somente quando se pensa na alterao doshbitos das pessoas, que se modifica o espaopblico para atingir a todos, principalmente ospobres e a o banho deixa de ser transgressorpara ser da "ordem".

    Desse modo, vejo esta obra como sendobastante pertinente, pois vem revelar prticascotidianas sobre o tema, trazendo tonasignificados morais, sociais e polticos, aoabordar a questo da higienizao do espao

    pblico pelo Estado, a fim de atingir as classessociais mais pobres.

    Portanto, esta obra uma refernciabibliogrfica interessante para as diferentesreas do conhecimento e seus estudos referentesao espao pblico e privado, que no caso desse

    livro, tem como tema o banho com as categoriasdisciplina e transgresso.

    CRIANAS COMO VOC: UMAEMOCIONANTE CELEBRAO DAINF NCIA NO MUNDO

    KINDERSLEY, Barnabas e Anabel. Crianas

    como voc: Uma emocionante celebrao da

    infncia no mundo. So Paulo: tica/UNICEF,1996,79 pp.

    o livro em apreo, de autoria dosfotgrafos Barnabas e Anabel Kindersley, patrocinado pelo UNICEF. Traduzido porMrio Vil ela Filho do original Children Just

    Like Me, sugere j no ttulo emoo e aventura,ao mesmo tempo em que instigante, intrigantee provocativo.

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    de-conta, da fantasia e da felicidade ...Esta publicao tem como principal teor demensagem imediata o apelo emocional atravs