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#218 EDIÇÃO OÁSIS A ERA DO HUBBLE Telescópio espacial celebra 25 anos de imagens incríveis DINHEIRO E QUOCIENTE COGNITIVO Os efeitos da pobreza sobre o cérebro das crianças A PRÓXIMA EPIDEMIA Ela virá, e não estamos preparados O FASCÍNIO DOS SERES QUE HABITAM AS PROFUNDEZAS OS MAIS BELOS DOS SETE MARES

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#218

EDIÇÃO OÁSIS

A ERA DO HUBBLE Telescópio espacial celebra 25 anos de imagens incríveis

DINHEIRO E QUOCIENTE COGNITIVOOs efeitos da pobreza sobre o cérebro das crianças

A PRÓXIMA EPIDEMIAEla virá, e não estamos preparados O FASCÍNIO DOS SERES QUE

HABITAM AS PROFUNDEZAS

OS MAIS BELOS DOS SETE MARES

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OÁSIS . EDITORIAL

POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

U m dia realmente feliz da minha vida foi quando tirei o PADI, o brevê de mergulhador. Era já um coroa nada enxuto quando decidi realizar um sonho que vinha da infância. Fui para Ilha-

bela, procurei o escritório da Narwhal, fui atendido por uma garota super simpática, Roberta Mori Santalucia, que rapidamente encheu minha bola. Ligou na hora para um instrutor, o Gilberto Gardino Mou-rão – que atende pelo diminutivo de Giba -, e ele não hesitou: Vou atender esse senhor!

Os dois, para mim, valeram por um bilhete premiado. Obrigado Ro-berta e Giba! Aprendi tudo em três dias, e no quarto fui ao canal da Ilha das Cabras buscar o prêmio: meu primeiro mergulho com roupa de borracha, uma porção de lastros de metal grudados no cinturão, um cilindro de ar nas costas. E fiz tudo direitinho, desci dez metros até

EM GALERIA, MOSTRAMOS AS IMAGENS PREMIADAS NO CONCURSO DE FOTOGRAFIAS SUBAQUÁTICAS INSTITUÍDO

PELA ROSENSTIEL SCHOOL OF MARINE AND AMOSFERIC SCIENCE, DE MIAMI, EDIÇÃO 2015. SÃO FOTOS LINDAS,

SURPREENDENTES, DE SERES QUE HABITAM AS PROFUNDEZAS DO MAR

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POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

o fundo, devagar, sob o olhar vigilante do Giba. Lá embaixo, equalizei a respiração e, quando tudo ficou bem sereno, olhei ao redor: o paraí-so! Cardumes de peixes coloridos, uma tartaruga marinha passando despreocupada, algas dançando ao sabor da corrente, uma enorme lesma do mar pastando bem ali na minha frente! E aquela sensação única de ausência de peso, de flutuar no espaço, como fazia quando estava na barriga da mamãe! Gente: quem inventou o mergulho com garrafa deveria ganhar no mínimo um prêmio Nobel.

No próximo week-end vou a Ilhabela. Vou visitar novamente a Na-rwhal. Está na hora de reabastecer minhas energias vitais com algum programa de maravilhas submarinas. Mesmo tendo agora muito mais a forma física de um vovô complacente do que a de um atleta das pro-fundezas...

Enquanto isso, escolhi para nossa matéria de capa uma galeria com as imagens vencedoras do concurso de fotografias subaquáticas instituído pela Rosenstiel School of Marine and Amosferic Science, de Miami. São fotos lindas, surpreendentes, de seres que habitam as profundezas do mar. Mostram um mundo tão fascinante quanto aquele revelado pelo telescópio espacial Hubble, que completa nestes dias 25 anos de produção ininterrupta de imagens do Sistema Solar e do cosmos pro-fundo. Confira.

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FIAOS MAIS BELOS DOS

SETE MARES O fascínio dos seres que habitam as profundezas

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omeçando pelo vencedor absoluto da edição 2015, apresentamos ao leitor uma galeria com as fotos vence-doras das quatro categorias. Trata-se de uma viagem es-petacular à descoberta das criaturas que habitam as profundezas dos mares que recobrem nosso planeta.

C

Lançado pela primeira vez em 2005 pela Rosenstiel School of Marine and Atmosferic Science, de Miami, o concurso de fotografias dedicado ao mundo submarino também este ano reuniu milhares de participantes de todo o mundo

POR: EQUIPE OÁSISFOTOS: ROSENSTIEL SCHOOL, MIAMI

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1 O vencedor absoluto da edição 2015 do Concurso é Andrey Shpatak, com este surpreendente retrato de um Chirolophis japonicas, peixe ósseo bastante difuso no Oceano Pacífico.

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2 O prêmio para a melhor macrofotografia foi para Tony Barros, com esta foto de um camarão-dos-crinoides (Periclimenes amboinensis) realizada nas águas da Ilha Siquijor, nas Filipinas.

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3 A segunda melhor macro retrata essa dupla de Priolepis aureoviridis fotografados em águas da Indonésia por Ching Kwan Ng.

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4 Medalha de bronze na categoria macro para esta foto de um Pleurosicya micheli realizada por Mark Fuller ao largo de Eilat, Israel, no Mar Vermelho.

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5 Prêmio de Melhor Grande Angular para esta foto de um cormorão de peito branco (Phalacrocorax lucidus) que nada tran-quilo em meio a um cardume de medusas. Foto tirada por Hani Bader.

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6 Segundo lugar na categoria Grande Angular para este cardume de Plectorhinchus polytaenia fotografado na Indonésia por Filippo Borghi.

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7 Terceiro lugar para a seção Grande Angular para este peixe-escorpião (Pterois volitans) fotografado por Mark Fuller. A foto também foi feita em Eilat, Israel, no Mar Vermelho.

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8 O polvo-de-anéis-azuis (Hapalochlaena lunulata) de Beth Watson foi premiado como melhor retrato de criatura submari-na. A foto foi realizada em águas da Indonésia.

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9 Este exemplar abissal de Macrouridae nezumia ganhou o segundo lugar na categoria Retratos. Foto de Kostas Milonakis.

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10 Terceiro lugar, sempre na categoria Retratos, para esta curiosa dupla de peixes crestados (Scartella cristata). Foto de Judy Townsend.

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11 Laura Rock venceu o primeiro prêmio na categoria Estudantes com esta espetacular fotografia de um grande tubarão--martelo (Sphyrna mokarran) tirada nas Bahamas.

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12 A mesma fotógrafa, Laura Rock, arrebatou também o segundo prêmio na categoria Estudantes com esta sugestiva foto de um tubarão-limão (Negaprion brevirostris).

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13 Uma Pentaceraster cumingi, estrela-do-mar das Galápagos. Ganhou o terceiro lugar na categoria Estudantes. A foto é de Christopher Brown.

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A ERA DO HUBBLETelescópio espacial celebra 25 anos de imagens incríveis

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ormado por cerca de 3 mil estrelas recém nascidas, o cluster (aglomerado de es-trelas) Westerlund2 situa-se no interior de um berçário de estrelas conhecido pelo nome de Gum 29, localizado a 20 mil anos luz de distância, na

constelação de Carina. Embora relativamente

muito jovem em termos astronômicos – “ape-nas” 2 milhões de anos de idade – o cluster Westerlund 2 contem algumas das maiores, mais quentes e brilhantes estrelas de toda a nossa galáxia. As maiores dentre essas estre-las desencadeiam torrentes de luz ultravioleta e ventos estelares ciclônicos que superam em muito os limites da nuvem gasosa de hidrogê-nio que envolve o cluster. Tal fenômeno cria um verdadeiro festival celeste feito de pilares, cordilheiras e vales compostos de gases e luz.

Essa brilhante tapeçaria formada por jovens estrelas flamejantes se assemelha a uma des-mesurada queima de fogos de artifício. Foi por esse seu aspecto festivo que a imagem do Westernlund 2, que abre nossa matéria, foi escolhida pela NASA para ser o emblema co-memorativo do 25o aniversário do Hubble. Lançado em 24 de abril de 1990, o telescópio espacial permanece em órbita e continua a explorar o Sistema Solar e o cosmos. Há um quarto de século ele não para de nos fornecer imagens inacreditáveis das profundezas do cosmos.

“Hubble transformou por completo a nossa visão do universo, revelando a sua beleza ver-dadeira e a riqueza”, disse John Grunsfeld, astronauta e coadministrador do programa Science Mission Directorate, da NASA.

Para produzir essa imagem, o equipamento

F

NASA e ESA-Agência Espacial Europeia comemoram neste momento o 25o aniversário do Telescópio Espacial Hubble com a publicação de imagens que mostram um dos mais extraordinários espetáculos criados pela natureza: um gigantesco cluster (aglomerado de estrelas) chamado Westerlund2

POR: EQUIPE OÁSISFOTOS E VÍDEOS: NASA E ESA

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Near-infrared Wide Field Camera 3, do Hubble, teve de atravessar o véu empoeirado que recobre e protege o ber-çário estelar, até conseguir dar aos astrônomos uma visão clara da densa concentração de estrelas no centro do clus-ter. Ele mede entre 6 e 13 anos-luz de ponta a ponta. Os pontos vermelhos espalhados por toda a paisagem consti-tuem toda uma população de estrelas recém formadas, ain-da envoltas por casulos feitos de gás e poeira. Tratam-se de estrelas pequenas e jovens, com idade entre 1 e 2 milhões de anos, e seu brilho é fraco por ainda não terem dado iní-cio aos ciclos do hidrogênio em seus núcleos. As brilhan-tes estrelas azuladas vistas em toda a imagem são, na sua maioria, estrelas distantes que aparecem ao fundo.

O video abaixo – um dos vários produzidos pela NASA para comemorar o 25o aniversário do Hubble -, fornece uma extraodinária perspectiva tridimensional da nebulosa Gum 29, com o aglomerado estelar Westerlund 2 no seu núcleo. Como se voássemos no espaço, o video primeiro faz o espectador atravessar a região das estrelas distantes, aproximando-se em seguida do canto inferior esquerdo da nebulosa Gum 29. Após passar por uma região de nuvens mais escuras, chega-se a uma area cheia de gás brilhante iluminado pela intensa radiação de estrelas recém-forma-das no interior do cluster Westerlund 2.

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O aglomerado de luzes no centro direita da foto é o cluster Westerlund 2

As 'paisagens' do berçário de estrelas Gum 29

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Veja o vídeo 1 aqui

Pelo fato de o cluster Westerlund 2 ser ainda muito jovem – em termos astronômicos – ele ainda não teve tempo para dispersar profunda-mente suas estrelas no interior do espaço inte-restelar. Tal fato proporcionou aos astrônomos uma excelente oportunidade para reunir infor-mações sobre como funcionam os processos de formação de estrelas no interior de um cluster e o ambiente que possibilita esse fenômeno.

O Telescópio Espacial Hubble é um projeto sur-gido da cooperação entre a NASA e a ESA (Eu-ropean Space Agency). O Goddard Space Flight Center, em Greenbelt, Maryland, é encarregado do gerenciamento do telescópio. O Space Te-lescope Science Institute (STScI) em Baltimore, Maryland, conduz as operações científicas do Hubble.

A Era do Hubble

Nos últimos dias de abril, a NASA liberou ao público o ví-deo “The Age of Hubble” (A Era do Hubble), que oferece-mos abaixo na sua íntegra. É um tanto longo (50 minutos), mas para quem deseja experimentar uma viagem de mara-vilhas ao interior do espaço cósmico, trata-se de uma das melhores coisas já produzidas.

O vídeo – infelizmente ainda sem narração e legendas em português - mostra como um verdadeiro exército de teles-cópios de alta tecnologia, espalhados por diversos países e

continentes e liderados pelo Hubble em órbita no espaço, produziu uma cadeia de descobertas sem precedentes a respeito de como as galáxias se formam, como as estrelas nascem, vivem e morrem, e de como surgiu a vida. Resta a pergunta, que a NASA propõe como nosso maior desafio no momento em que comemora os 25 anos do Hubble: O que estamos aprendendo a respeito do universo e de nós mesmos nesta Era do Hubble?

Veja o vídeo 2 aqui

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O Telescópio Espacial Hubble, há 25 anos em orbita e ainda enviando extraordinárias

fotografias do espaço cósmico

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ICODINHEIRO E

QUOCIENTE COGNITIVOOs efeitos da pobreza sobre o cérebro das crianças

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iver na pobreza parece ter efeitos nocivos para o cérebro. Essa probabi-lidade fica bem evidente a partir das próprias ca-racterísticas anatômicas desse órgão. Tais efeitos têm sido observados por

vários estudos, mas o tema permanece delicado

e é alvo de intensos debates. O fato de que diferenças socioeconômicas, uma renda familiar mais baixa e um grau de instrução inferior dos genitores estejam as-sociadas a disparidades no desenvolvimento cognitivo da criança é coisa bem conhecida por parte dos pesquisadores, e foi evidenciada em numerosas investigações. As crianças nascidas em famílias mais abas-tadas obtêm em média pontuações melhores nos testes que medem o quociente intelectivo, o desenvolvimento da linguagem, a capacida-de de leitura e por aí em diante. Em estudos mais recentes foi também observado que a renda mais alta está associada a uma exten-são maior das áreas cerebrais envolvidas na memória e na linguagem. Mas essas pesqui-sas apresentam também diversos limites. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde foi desenvolvida a maior parte dos estudos, as camadas mais pobres são as de origem étnica não branca-europeia, e tal fato torna difícil separar o fator “pobreza” do fator relativo a eventuais diferenças de origem genética. A pobreza pode influir na anatomia do cérebro? Além disso, renda e educação dos genitores são frequentemente considerados como uma única e mesma coisa, enquanto aquilo que

V

Estudo evidencia a possível associação entre renda familiar e anatomia do cérebro, bem como entre renda e desenvolvimento das capacidades cerebrais: uma advertência a mais para a melhora da alimentação, do papel da escola e das condições gerais de vida para todas as crianças

POR LUIS PELLEGRINI

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influencia o desenvolvimento cognitivo poderia ser tanto o ambiente materialmente mais pobre (sobretudo em ter-mos de má nutrição) quanto outros fatores tais como os estímulos proporcionados pelos genitores, jogos, oportuni-dades de melhor qualidade na educação. Em qualquer dos casos, permanece a pergunta: a “pobreza” pode se traduzir em diferenças efetivas na estrutura do cérebro, antes mes-mo de se manifestar na forma de resultados piores no âm-bito cognitivo? É exatamente isso que os pesquisadores de recente estudo publicado na revista Nature Neuroscience estão procurando verificar. A equipe de neurocientistas chefiada por Kimberly Noble da Columbia University de Nova York e Elizabeth Sowell do Children’s Hospital de Los Angeles submeteu a exames de ressonância magnética 1099 crianças e adolescentes,

entre 3 e 20 anos de idade, em diversas cidades dos Esta-dos Unidos, para medir a extensão da superfície do córtex cerebral. Sabe-se, a partir de grande número de pesquisas, que o córtex cresce durante a infância e a adolescência a partir do amadurecimento da experiência cognitiva pes-soal. Mesmo levando-se em conta as origens étnicas dos vários participantes da pesquisa (as quais implicam em leves diferenças na estrutura do cérebro), ficou claro que o estado socioeconômico resulta associado de maneira sig-nificativa à extensão da superfície do cérebro. Em outras palavras, a superfície do córtex cerebral das crianças das famílias com renda mais baixa – menos de 25 mil dóla-res ao ano – era até 6 por cento menor do que a área das crianças provenientes de famílias com renda superior a 150 mil dólares anuais.

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As diferenças eram mais evidentes nas áreas cerebrais crí-ticas para o desenvolvimento da linguagem, das funções executivas (a atenção, por exemplo) e a memória. Uma outra observação muito interessante é a de que o peso da renda faz-se sentir muito mais no sentido para baixo, onde inclusive um incremento modesto produz um aumento no-tável da área do córtex cerebral, muito maior do que para as rendas mais altas. O nível de educação dos genitores também surgiu associado de maneira significativa à super-fície total do córtex: para cada ano escolar a mais frequen-tado pelo pai e pela mãe observou-se um aumento da área do córtex nas crianças e nos adolescentes.

Mais ricos, mais estímulos

O estudo não explica as razões das correlações observadas entre as diferenças de renda e as características anatô-micas dos cérebros das crianças. Poderia ser o ambiente de vida mais pobre, mais estressante, o fator que influen-cia o desenvolvimento do cérebro, até mesmo antes do nascimento da criança. Ou então poderia simplesmente acontecer que as famílias mais ricas podem proporcionar melhores estímulos cognitivos para seus filhos. Provavel-mente se trata de uma combinação de ambas as coisas. “O cérebro se desenvolve por um longo período, durante toda a infância e adolescência”, declarou Sowell, uma das duas cientistas responsáveis pela pesquisa. De qualquer forma,

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“O ponto mais importante que queremos transmitir não é ‘se você é pobre, seu cérebro vai ser menor e não há nada que possa ser feito sobre isso’. Essa absolutamente não é a mensagem”, garantiu a pesquisadora.

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a neurociência está pronta para afirmar que qualquer in-tervenção destinada a melhorar as condições socioeconô-micas ou a enriquecer de estímulos o ambiente onde vive uma criança pode contribuir para que na existência dela ocorra uma grande diferença para melhor, tanto no âmbito escolar quanto em todas as demais situações da vida. O estudo faz questão de lembrar, porém, que a ajuda social e o ensino podem ajudar a superar essas diferenças. “Não é tarde demais para pensar em como usar os recursos que enriquecem o ambiente de desenvolvimento, que em troca ajudam as conexões cerebrais”, comentou Sowell.

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paixonado pela tecnologia, homem de negócios sagaz e, hoje, filantropo patrocinador de vários projetos na área da saúde e educação, Bill Gates mudou o mundo ao conduzir o assombroso sucesso da em-presa Microsoft.A

Em 2014, o mundo evitou uma terrível epidemia global do Ebola, graças a milhares de generosos profissionais de saúde e graças também a muita sorte. Bill Gates sugere que agora é a hora de colocar todas as nossas boas ideias em prática, de planejamento de cenários a treinamento de profissionais de saúde. Como ele diz: “Não há razão para pânico, mas precisamos nos apressar”.

VÍDEO: TED – IDEAS WORTH SPREADINGTRADUÇÃO: LEONARDO SILVAREVISÃO: FERNANDO GONÇALVES

Bill Gates fala no TED

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Vídeo da palestra de Bill Gates ao TED

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Tradução integral da palestra de Bill Gates ao TED

Quando criança, a catástrofe que mais nos preocupava era uma guerra nuclear. Por isso, nós tínhamos um barril como esse em nosso porão, cheio de latas com comida e água. Quando o ataque nuclear ocorresse, devíamos ir para o porão, ficar agachados e nos alimentar do que havia no barril.

Hoje, o maior risco de catástrofe global não é assim. Na verdade, é assim. Se algo matar mais de 10 milhões de pessoas nas próximas décadas, é mais provável que seja um vírus altamente contagioso do que uma guerra. Não mísseis, mas micro-organismos. Bem, um dos motivos disso é que investimos muito em estratégias antinuclea-res, mas investimos muito pouco em um sistema que detenha uma epidemia. Não estamos preparados para uma próxima epidemia.Vejamos o Ebola. Certamente, todos vocês leram sobre o assunto nos jornais, muitos desafios difíceis. Acompanhei cuidadosamente

a situação com ferramentas de análise de caso, que utiliza-mos para acompanhar a erradicação da poliomielite. E, se analisarmos o que aconteceu, a questão não foi que houvesse um sistema que não funcionava muito bem. A questão é que não tínhamos sistema algum. Na verdade, há algumas variá-veis importantes e bem óbvias faltando.

Não tínhamos um grupo de epidemiologistas prontos para agir, que teriam ido, visto o que era a doença, visto o quanto tinha se espalhado. Os relatos de casos chegavam em pa-pel. Demorava muito até que fossem postos on-line e eram extremamente imprecisos. Não tínhamos uma equipe mé-dica pronta para agir. Não tínhamos uma forma de preparar pessoas. Bem, os Médicos Sem Fronteiras fizeram um ótimo trabalho organizando voluntários. Mesmo assim, fomos mui-to mais lentos do que devíamos ter sido para levar os milha-res de profissionais a esses países. E uma grande epidemia exigiria centenas de milhares de profissionais. Não havia ninguém lá para verificar abordagens de tratamento, para avaliar o processo de diagnóstico, para ver que ferramentas deveriam ser usadas. Por exemplo, poderíamos ter colhido sangue de sobreviventes, processado esse sangue e usar o plasma para imunizar outras pessoas, mas isso nunca foi ten-tado.

Então, faltou muita coisa. Coisas assim são realmente um fracasso global. A OMS é financiada para monitorar epide-mias, não para fazer essas coisas. Bem, no cinema, a coisa é bem diferente. Existe um grupo de belos epidemiologistas prontos para agir, e eles vão, resolvem o problema, mas isso é pura produção de Hollywood.

O fracasso de preparação poderia permitir que uma próxima

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Tradução integral da palestra de Bill Gates ao TED

epidemia fosse drasticamente mais devastadora que o Ebola. Ve-jamos a progressão do Ebola ao longo deste ano. Cerca de 10 mil pessoas morreram e quase todas estavam nos três países do oeste da África. Há três razões de o vírus não ter se espalhado mais. A primeira é que houve muito trabalho heroico de profissionais de saúde. Eles encontravam as pessoas e evitavam novos contágios. A segunda é a natureza do vírus. O Ebola não é transmissível pelo ar e, quando se está no estágio contagioso, a maioria dos pacientes fica tão doente que fica acamada. A terceira é que ele não entrou em muitas áreas urbanas, e isso foi simplesmente por sorte. Se tivesse entrado em muito mais áreas urbanas, o número de casos teria sido bem maior.

Então, de uma próxima vez, talvez não tenhamos tanta sorte. Pode haver um vírus que deixe o paciente aparentemente bem no estágio contagioso, a ponto de ele conseguir viajar de avião ou ir ao mer-cado. A fonte do vírus poderia ser uma epidemia natural como o Ebola, ou poderia ser bioterrorismo. Então, há coisas que poderiam tornar as coisas literalmente mil vezes piores.

Na verdade, vejamos um modelo de um vírus espalhado pelo ar, como o da gripe espanhola, em 1918.Vejamos o que acontece-ria: ele se espalharia pelo mundo muito, muito rapidamente. Pode-mos ver que mais de 30 milhões de pessoas morreriam da epide-mia. Então, esse é um problema sério, deveríamos nos preocupar, mas, na verdade, podemos criar um sistema de reação muito bom. Temos a vantagem de toda a ciência e tecnologia de que fala-mos aqui. Temos telefones celulares para coletar informações das pessoas e divulgar informações para elas. Temos mapas de satélite em que podemos ver onde as pessoas estão e aonde vão. Temos avanços na biologia, que mudariam drasticamente o tempo de resposta para analisarmos um patógeno e sermos capazes de criar vacinas e medicamentos compatíveis com ele. Podemos ter ferra-

mentas, mas elas precisam ser colocadas num sistema geral de saúde global, e precisamos de preparação.Acho que as melhores lições sobre como nos prepararmos são, mais uma vez, o que fazemos para a guerra. Soldados ficam preparados para agir a qualquer momento. Temos reservistas que podem nos representar em grande número. A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) tem uma unidade móvel que pode entrar em ação com muita rapidez e faz vários testes de guerra para saber: as pessoas estão treina-das? Eles entendem sobre combustível, logística e as mesmas frequências de rádio? Então, eles ficam totalmente prontos para agir. Esses são os tipos de coisas com as quais precisa-mos lidar numa epidemia.

Quais são as peças principais? Primeiro, precisamos de siste-mas de saúde fortes em países pobres, onde mães possam

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Tradução integral da palestra de Bill Gates ao TED

dar à luz em segurança e crianças tenham acesso a todas as vaci-nas, mas onde também veremos o surto logo no início. Precisamos de um corpo médico a postos: muitas pessoas com treinamento e experiência são necessárias, que estejam prontas para agir, com expertise. E precisamos juntar esses profissionais da saúde aos militares, lançando mão da capacidade militar de se mover rápi-do, de fazer logística e de tornar áreas seguras. Precisamos realizar simulações, testes de germes e não de guerra, para vermos onde estão as falhas. A última vez em que um teste assim foi realizado nos EUA foi em 2001, e o resultado não foi muito bom. Até agora, o resultado é: germes, 1; pessoas, 0. Por fim, precisamos de muita P&D avançada na área de vacinação e de diagnóstico. Há algumas grandes descobertas, como o vírus adeno-associado, que poderiam agir de forma bem rápida.

Não sei exatamente quanto isso custaria, em termos de or-çamento, mas tenho certeza de que seria algo bem modesto, comparado aos possíveis danos. O Banco Mundial estima que, se tivermos uma epidemia global de gripe, a riqueza glo-bal cairá em mais de 3 trilhões de dólares e teríamos milhões e milhões de mortes. Esses investimentos oferecem benefí-cios significativos, que vão além de apenas preparação para a epidemia. Cuidados básicos de saúde, P&D, coisas assim reduziriam a imparcialidade da saúde global e tornariam o mundo mais justo e mais seguro.

Então, acho que essa deveria, com certeza, ser uma priorida-de. Não é preciso entrar em pânico. Não precisamos acumu-lar latas de espaguete, nem ficar em porões, mas precisamos nos apressar, porque o tempo não está ao nosso lado.Na verdade, se há algo de positivo na epidemia de Ebola, é que ela pode servir de sinal, de aviso, para que nos prepare-mos. Se começarmos agora, talvez fiquemos preparados para a próxima epidemia.Obrigado.

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