207376
-
Upload
carlos-junior-amorim -
Category
Documents
-
view
19 -
download
0
Transcript of 207376
-
Universidade de Aveiro 2006
Departamento de Qumica
Cndida Manuela Fidalgo Sarabando
O Destino Final dos (resduos de) Metais Pesados: O Caso dos Compostos de Crmio
-
Universidade de Aveiro
2006 Departamento de Qumica
Cndida Manuela Fidalgo Sarabando
O Destino Final dos (resduos de) Metais Pesados: O Caso dos Compostos de Crmio
Dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Ensino de Fsica e Qumica, realizada sob a orientao cientfica da Dra. Teresa Margarida dos Santos e da Dra. Maria Clara Ferreira Magalhes, Professoras Auxiliares do Departamento de Qumica da Universidade de Aveiro.
-
Aos meus Pais, pelo apoio, amor e incentivo que me motivou a ultrapassartodos os desafios
-
o jri
presidente Professora Doutora Luclia Maria Pessoa Tavares dos Santos Professora Associada do Departamento de Fsica da Universidade de Aveiro
vogais Professora Doutora Maria Manuela Silva Nunes Reis Abreu
Professora Catedrtica do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa Professora Doutora Teresa Margarida dos Santos
Professora Auxiliar do Departamento de Qumica da Universidade de Aveiro Professora Doutora Maria Clara Ferreira Magalhes
Professora Auxiliar do Departamento de Qumica da Universidade de Aveiro
-
agradecimentos
Ao apresentar este trabalho no posso deixar de exprimir o meu profundoreconhecimento quelas pessoas e instituies, sem as quais a concluso deste trabalho no teria sido possvel. Em primeiro lugar dirijo esse reconhecimento s Professoras Doutora Teresa Margarida dos Santos e Doutora Maria Clara Ferreira Magalhes, do Departamento de Qumica da Universidade de Aveiro, de quem tive a honra de receber orientao e de cujo saber, empenho e disponibilidade sempre ficareidevedora. Professora Doutora Maria Manuela Abreu, do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa, desejo agradecer as sugestes que permitiram ultrapassar pontos particularmente delicados deste trabalho e o incentivo sempre dado durante a sua realizao. Desejo igualmente destacar o apoio sempre manifestado pela Mestre CelesteAzevedo, do Departamento de Qumica da Universidade de Aveiro. Ao meu marido desejo agradecer a compreenso e a ajuda dada na realizao de algumas actividades laboratoriais. Finalmente pretendo ainda estender o meu reconhecimento a todos quantos, de um modo ou de outro se fizeram colaboradores deste trabalho, e emborano seja possvel, aqui e agora, nome-los, nem por isso os vou esquecer
-
palavras-chave
Crmio, oxidao-reduo, solos, remediao de solos, reaces de superfcie, poluio ambiental.
resumo
A utilizao em larga escala, a nvel industrial, dos chamados metais pesados,acarreta grandes preocupaes a nvel da sade das populaes humanas. O caso do crmio (e seus compostos) um exemplo paradigmtico disso. O crmio um elemento txico e carcinognico, na forma de Cr(VI), mas como Cr(III), se em quantidades vestigiais, tido como essencial, por exemplo, para o metabolismo da glicose e dos lpidos. O Cr(VI) um agente oxidante forte,facilmente reduzido a Cr(III). Os compostos de Cr(III) so considerados cineticamente inertes, podendo, neste estado de oxidao, ser abandonadossem qualquer preocupao acerca do seu real destino final. Sabe-se que, sob certas condies, o Cr(III) pode ser (re)-oxidado a Cr(VI), podendoconduzir a problemas ambientais srios. No entanto, a interaco de ligandos orgnicos, por exemplo libertados por exudados de razes, pode aumentar a formao de espcies de Cr(III) organicamente mveis e disponveis. Face relevncia do tema, afigura-se importante que o Ensino Secundrio proporcione aos alunos, que por ele transitam, uma formao adequada eperspectivada no desenvolvimento de competncias, que lhes permitam compreender melhor os fenmenos que ocorrem no mundo que os rodeia,utilizando saberes de uma forma integrada e multidisciplinar. O trabalho de investigao descrito nesta dissertao processou-se em trs fases: - identificao / contextualizao do tema nos contedos dos programas dosdiferentes graus de ensino; - realizao de actividades experimentais simples para testar as interaces de compostos de crmio com xidos de mangans existentes em solos; - realizao de actividades experimentais para testar as interaces decompostos de crmio com alguns tipos de solos; - planificao e elaborao de protocolos de experincias demonstrativas simples, usando o exemplo da remediao de solos contaminados por metais pesados, que permitam ilustrar os assuntos / problemas e que possamenquadrar / potenciar o ensino / aprendizagem do tema, ou mesmo apenas da oxidao-reduo.
-
keywords
Chromium, oxidation-reduction, soils, soils remediation, surface reactions, environmental pollution.
abstract
The large industrial utilization of chromium compounds, linked to environmentaland human health risks originates heavy concern. Chromium is an essentialelement, as Cr(III), but also a very harmful carcinogenic, as Cr(VI). Hexavalent chromium is a powerful oxidant easily reduced to Cr(III). The fact of Cr(III)being considered kinetically inert originates its environmental abandon without any concern about its real final fate. Under given environmental conditions,Cr(III) can be oxidized to Cr(VI) and, under this form, originate severeenvironmental problems. On the other hand, the interactions of organic ligands presented in soils can increase the Cr(III) solubility. It is important that the Secondary School teaching places real questions to thestudents, which promotes formation that allows them to a better understandingof the world phenomena, applying their knowledge in multidisciplinary and integrated ways. The work developed in order to present this dissertation was divided in threephases:
- identification of the Secondary School contents related with the subjectunder study;
- conception and development of laboratory activities to test interactions of chromium compounds with manganese oxides and some soils with different manganese contents;
- conception of experimental protocols for experiments to be developedby secondary school students, with didactical exploitation of soilscontamination and remediation and other environmental problems.
-
NNDDIICCEE Jri..
Agradecimentos.
Resumo.
Abstract.
ndice.........
1. O Problema em Estudo.
1.1 Introduo..
1.2 A Importncia da Literacia Cientfica na Formao dos Cidados.
1.3 O Movimento CTS como Via para uma Promoo da Literacia Cientfica.
1.4 O Ensino da Qumica na Reorganizao Curricular
1.5 Relevncia do tema em estudo...
1.6 Objectivos do estudo..
1.7 Organizao do estudo...
2. Identificao/contextualizao do tema nos contedos dos programas
dos diferentes graus de ensino..
2.1 Anlise dos programas.
2.1.1 Ensino Bsico
2.1.2 Ensino Secundrio..
2.2 Contextualizao do tema
3. O impacto dos metais pesados no ambiente.
3.1 Desenvolvimento industrial.
3.2 Poluio ambiental...
3.3 Contaminao de solos.
3.4 Mtodos de remediao.
iv
v
vi
vii
viii
1
3
3
7
9
12
14
15
19
21
21
26
31
35
37
38
39
41
viii
-
4. O crmio e seus compostos
4.1 Ocorrncia
4.2 Propriedades fsico qumicas
4.3 Aplicaes.
4.4 Essencialidade e toxicidade..
4.5 Classificao da toxicidade..
4.6 Exposio
4.7 Percurso no meio ambiente
5. O destino do crmio nos solos
5.1 O crmio no ambiente..
5.2 O crmio nos solos..
5.2.1 Reaces de reduo do Cr(VI)
5.2.2 Reaces de oxidao do Cr(III)
6. Estudos de reaces redox envolvendo o crmio.
6.1 Introduo
6.2 Procedimento experimental..
6.2.1 Materiais..
6.2.2 Mtodos de anlise
6.2.2.1 Determinao do pH..
6.2.2.2 Determinao de concentraes totais de ies metlicos
6.2.2.3 Determinao da concentrao de Cr(VI) Mtodo Colorimtrico
6.2.2.4 Planificao das actividades laboratoriais.
6.3 Tratamento estatstico dos resultados
7. Anlise e Interpretao dos resultados obtidos.
7.1 Introduo
7.2 Anlise e interpretao dos resultados
45
47
47
55
58
60
60
61
65
67
69
71
73
79
81
82
82
84
84
85
85
86
96
99
101
101
ix
-
7.2.1 Reaces envolvendo resduos com Cr2O3 + H2O.
7.2.2 Reaces envolvendo apenas xidos de mangans..
7.2.2.1 MnO2 + H2O .
7.2.2.2 Resduo com Cr2O3 + MnO2 + H2O..
7.2.2.3 Soluo aquosa de CrCl36H2O + MnO2
7.2.3 Reaces envolvendo solos .
7.2.3.1 Resduo com Cr2O3 + MnO2/solos + H2O/Ca2+(aq)/Ag+(aq)..
7.2.3.2 Soluo aquosa de CrCl36H2O + MnO2/solos ..
7.2.4 pH das misturas .
7.3 Discusso dos resultados.
7.3.1 xidos de mangans em gua
7.3.2 Reaces envolvendo solues aquosas de CrCl36H2O + MnO2/solos .
7.3.3 Reaces envolvendo resduos com Cr2O3
7.4 Concluses
8. Planificao e elaborao de protocolos de experincias demonstrativas
simples
8.1 Importncia da componente laboratorial no ensino das cincias..
8.2 Elaborao de protocolos de experincias demonstrativas simples.
9. Consideraes/sugestes de aplicao deste trabalho.
9.1 Consideraes
9.2 Sugestes para futuras investigaes..
Referncias.........
Anexos..
Anexo 1 Programa de Fsica e Qumica A - 11 Ano de escolaridade
(Unidade 2)
101
103
103
105
108
111
111
120
122
123
123
124
127
128
133
135
138
151
153
153
155
165
167
x
-
Anexo 2 Programa de Qumica: 12 Ano de escolaridade (Unidade 1)..
Anexo 3 O Filme: Erin Brockovich
Anexo 4 Resultados obtidos e respectivos clculos efectuados.
175
185
187
xi
-
____________________________________________________________________ 11
OO PPRROOBBLLEEMMAA EEMM EESSTTUUDDOO
- 1 -
-
____________________________________________________________________ 11
- 2 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
11.. OO PPRROOBBLLEEMMAA EEMM EESSTTUUDDOO
11..11 IINNTTRROODDUUOO
Neste primeiro captulo contextualizado o estudo em que se baseia o
presente trabalho, de acordo com a sua natureza e os objectivos que se pretendem
alcanar. Para tal, contemplam-se os seguintes aspectos:
- Importncia da Literacia Cientfica na Formao dos Cidados;
- Movimento Cincia-Tecnologia-Sociedade (CTS) como Via para a Promoo da
Literacia Cientfica;
- Ensino da Qumica;
- Relevncia do Tema em Estudo;
- Objectivos do Estudo;
- Organizao do Estudo.
11..22 AA IIMMPPOORRTTNNCCIIAA DDAA LLIITTEERRAACCIIAA CCIIEENNTTFFIICCAA NNAA FFOORRMMAAOO DDOOSS CCIIDDAADDOOSS
O mundo em que vivemos est impregnado de Cincia e de Tecnologia cujos
avanos rpidos se repercutem na nossa vida diria e, consequentemente, na
sociedade, constituindo um desafio para a educao, nomeadamente para a educao
em cincias. Reconhece-se que o ensino das cincias contribui para a literacia
cientfica e tecnolgica dos cidados, que deve ser considerada como um pr-requisito
para uma cidadania responsvel (1).
A Cincia e a Sociedade desenvolvem-se constituindo uma teia de relaes
mltiplas e complexas. A sociedade da informao e do conhecimento em que vivemos
apela compreenso da Cincia, no apenas como corpo de saberes, mas tambm
enquanto instituio social. Questes de natureza cientfica com implicaes sociais
vm praa pblica para discusso e os cidados so chamados a dar a sua opinio. A
literacia cientfica , assim, fundamental para o exerccio pleno da cidadania. O
desenvolvimento de um conjunto de competncias que se revelam em diferentes
domnios, tais como o conhecimento (substantivo, processual ou metodolgico,
- 3 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
epistemolgico), o raciocnio, a comunicao e as atitudes, pois essencial para a
literacia cientfica (2).
hoje cada vez mais partilhada a ideia de que a formao cientfica dos
cidados em sociedades de cariz cientfico/tecnolgico deve incluir trs
componentes, a saber: a educao em Cincia, a educao sobre Cincia e a educao
pela Cincia.
No primeiro caso o que est em causa a dimenso conceptual do currculo, ou
seja o conhecimento em si (conceitos, leis, princpios, teorias), aspecto que tem sido o
mais enfatizado nos programas anteriores. A educao sobre a Cincia tem como
objecto de estudo a natureza da prpria cincia, ou seja, os aspectos metacientficos.
Esta dimenso questiona o estatuto e os propsitos do conhecimento cientfico. Mas,
para que esta reflexo no se dirija apenas sua validade cientfica interna (por
exemplo, mtodos e processos cientficos), fundamental que o currculo escolar se
debruce sobre processos e objectos tcnicos usados no dia-a-dia, que se discutam
problemticas scio-cientficas, que se revele a Cincia como parte do patrimnio
cultural da nossa poca.
A educao pela Cincia tem como meta a dimenso formativa e cultural do
aluno atravs da cincia, revalorizando objectivos de formao pessoal e social
(educao do consumidor, impacto das actividades humanas no ambiente, rigor e
honestidade na ponderao de argumentos, etc.).
Um quadro curricular que contemple esta vertente est de acordo com o
objectivo da concretizao da educao dos jovens para o pleno exerccio da
cidadania democrtica (3).
A educao e, em particular, a educao em cincias passa, pois, a ter uma nova
finalidade: a formao de cidados cientificamente cultos. O objectivo da educao
preparar os indivduos para que possam levar uma vida responsvel, que os realize
pessoalmente. A educao em cincias, matemtica e tecnologia deveria ajudar os
estudantes a desenvolverem os conhecimentos e hbitos mentais de que necessitam
para se tornarem seres humanos compassivos, capazes de pensarem por si prprios e
- 4 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
para enfrentarem a vida. Deveria tambm equip-los para participarem
conscientemente com outros cidados na construo e proteco de uma sociedade
aberta, decente e vital (4).
inegvel o papel relevante da escola na formao dos indivduos. No entanto,
parece ser fundamental que a sociedade esclarea este mesmo papel e,
simultaneamente, d resposta s expectativas e aos desafios que esta escola nos
coloca.
A escola deve ensinar a pensar segundo trs vertentes (5):
- ensinar para pensar, isto , criar condies na escola que conduzam ao total
desenvolvimento cognitivo;
- ensinar a pensar, ou seja, instruir directamente os alunos em competncias e
estratgias de pensamento (clarificar, comparar, analisar, avaliar, inferir, deduzir,
etc.), implementando um ou mais programas para tal;
- ensinar sobre o pensar, isto , ajudar os alunos a tornarem-se conscientes
dos seus prprios progressos cognitivos e do seu uso, nas situaes e problemas da
vida real.
Torna-se necessrio que os professores ensinem como aprender, ao mesmo
tempo que ensinam conhecimentos factuais e processuais. necessrio que a escola
desenvolva nos seus alunos a capacidade de adaptao e de formao autodidacta
(aprender a aprender), promovendo no processo ensino/aprendizagem o
desenvolvimento de todas as capacidades fundamentais formao global da pessoa
no aspecto cognitivo.
Esta perspectiva de ensino enfatiza o estudar para aprender e refuta a viso
redutora do estudar para obter resultados nos testes/exames (5).
Em termos de finalidades, a educao em Cincia dever deixar de enfatizar a
aprendizagem de contedos e de processos, mas antes garantir que tais
aprendizagens sero teis numa perspectiva de aco no sentido de contriburem
para o desenvolvimento pessoal e social dos jovens, num contexto de sociedades
tecnologicamente desenvolvidas que se pretendem abertas e democrticas (6).
- 5 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
Na realidade escolar coexistem vrias perspectivas de ensino, seguidas por
diferentes professores com maior ou menor nfase (6), nomeadamente em:
- ensino por transmisso: perspectiva tradicional orientada para o domnio dos
contedos cientficos;
- ensino por descoberta: perspectiva baseada no pressuposto de que o
conhecimento conceptual resultado da compreenso dos processos do pensamento
cientfico;
- ensino por mudana conceptual: perspectiva baseada na investigao que
surgiu de estudos da cincia cognitiva sobre a aprendizagem e o conhecimento. Nesta
perspectiva, o objectivo ajudar os alunos a mudar as suas explicaes intuitivas
acerca do mundo, ou seja, a incorporarem conceitos cientficos e modos de
pensamento nos seus referenciais pessoais;
- ensino por pesquisa: perspectiva de ensino de forte sentido externalista,
potenciadora de inovao e portadora de uma outra concepo de educao em
cincias nos dias de hoje, com nfase na construo de conceitos, atitudes e valores.
A perspectiva de Ensino Por Pesquisa parece ser a que melhor se articula com
o movimento Cincia Tecnologia Sociedade (CTS), uma vez que nela a aprendizagem
deixa de ser um corpo de conhecimentos ou processos de Cincia e passa a preocupar-
se em garantir aprendizagens teis no quotidiano. Assim, nesta perspectiva de ensino
por pesquisa, assumem particular importncia os seguintes aspectos (6):
- a inter e a transdisciplinaridade, resultante da necessidade de compreender
o mundo na sua globalidade e complexidade;
- a abordagem de situaes problemticas do quotidiano, que possibilitem aos
alunos uma aprendizagem cientfica e tecnolgica que lhes permitam tomar decises
(o que poder ser articulado com o movimento CTS);
- o pluralismo metodolgico, ao nvel das estratgias de trabalho, das quais se
destaca, pela sua relevncia, o trabalho experimental;
- 6 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
- uma avaliao no classificadora, mas formadora e educativa, que envolva
todos os intervenientes no processo de ensino/aprendizagem.
11..33 OO MMOOVVIIMMEENNTTOO CCTTSS CCOOMMOO VVIIAA PPAARRAA UUMMAA PPRROOMMOOOO DDAA LLIITTEERRAACCIIAA CCIIEENNTTFFIICCAA
A reflexo que tem vindo a ser desenvolvida escala internacional, a partir
dos anos 80, sobre as finalidades da educao cientfica dos jovens, levou a que cada
vez mais se acentuem perspectivas culturais sobre o ensino das cincias. O seu
objectivo a compreenso da Cincia e da Tecnologia, das relaes entre uma e outra
e das suas implicaes na Sociedade e, ainda, do modo como os acontecimentos sociais
se repercutem nos prprios objectos de estudo da Cincia e da Tecnologia. Este tipo
de ensino privilegia o conhecimento em aco (por oposio ao conhecimento
discipinar) e conhecido por ensino CTS (CinciaTecnologia-Sociedade) ou CTS-A
(Cincia-Tecnologia-Sociedade-Ambiente), dada a natureza dos problemas ambientais.
Trata-se de uma viso externalista do ensino da Cincia, estruturada em torno de
duas ideias principais (3):
- A compreenso do mundo na sua globalidade e complexidade requer o recurso
interdisciplinaridade, com vista a conciliar as anlises fragmentadas que as
vises analticas dos saberes disciplinares fomentam e fundamentam. As
vises disciplinares sero sempre complementares;
- A aprendizagem de conceitos e processos de importncia fundamental, mas
torna-se o ponto de chegada e no o ponto de partida. A ordem de
apresentao dos conceitos passa a ser a da sua relevncia e a ligao com a
situao-problema em discusso. Escolhem-se situaes-problema do
quotidiano, familiares aos alunos, a partir das quais se organizam estratgias
de ensino e de aprendizagem que reflictam a necessidade de esclarecer
contedos e processos da Cincia e da Tecnologia, bem como das suas inter-
relaes com a Sociedade, proporcionando o desenvolvimento de atitudes e
valores.
- 7 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
A educao CTS pode assumir uma grande variedade de abordagens, mas a
abordagem problemtica tem sido a mais usada nos curricula. Nela utilizam-se
grandes temas-problema da actualidade como contextos relevantes para o
desenvolvimento e aprofundamento dos conceitos (3).
O ensino CTS assume-se como uma forma estruturada de ensinar Cincia e
Tecnologia em contexto de experincia humana, com um esforo de reforma no
sentido de se atingirem nveis aceitveis de literacia cientfica por parte da populao
em geral (7). Nesta forma de ensino o aluno o elemento central no processo de
ensino/aprendizagem, estando integrado em trs ambientes: natural (Cincia),
construdo (Tecnologia) e social (Sociedade). Ento, ensinar numa perspectiva CTS
ensinar sobre fenmenos do meio ambiente natural embebidos em ambientes
tecnolgicos e sociais do prprio aluno, tendo esta perspectiva de ensino as seguintes
consequncias:
- Melhor compreenso de questes sociais ligadas Cincia e Tecnologia;
- Melhoria das atitudes relativamente Cincia, s aulas de Cincias e
prpria aprendizagem;
- Ausncia de efeitos negativos quanto a uma aprendizagem dos contedos
considerados importantes no seio de cada uma das disciplinas cientficas (8).
A concepo CTS de ensino das cincias aponta para um ensino que ultrapassa
a meta-aprendizagem de conceitos e de teorias centradas em contedos cannicos. O
ensino tem de conter uma validade cultural, para alm da validade cientfica, para que
contribua para a formao do aluno enquanto cidado (9).
Saber o que se deve ensinar, isto , quais os contedos, impe critrios de
seleco. Entende-se por contedos CTS, alm de conceitos e das teorias das
cincias, os seleccionados com base em interesses, motivaes e necessidades dos
alunos como cidados, para que compreendam questes relativas ao mundo fsico e
tecnolgico (10). So cinco os critrios fundamentais a considerar na seleco de
contedos CTS (11):
- 8 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
- serem directamente aplicveis vida dos alunos;
- serem adequados ao desenvolvimento cognitivo e maturidade social dos
alunos;
- serem temas importantes para os alunos no mundo actual e de previsvel
interesse para o futuro;
- permitirem aos alunos aplicar os seus conhecimentos em contextos distintos
dos contextos escolares convencionais;
- serem temas pelos quais os alunos mostrem interesse e entusiasmo.
Uma estratgia de ensino/aprendizagem que integre a perspectiva CTS deve
englobar trabalho em pequenos grupos, aprendizagem cooperativa, discusses
centradas nos alunos, concretizao da resoluo de problemas e promoo de
debates (11).
As ideias decorrentes das novas finalidades da educao em cincias e sobre
os modos de as alcanar, em que o movimento CTS assume relevncia, assim como as
suas orientaes, constituem um dos possveis entendimentos do que deve ser o
ensino das cincias e, em particular, o ensino da Qumica.
11..44 OO EENNSSIINNOO DDAA QQUUMMIICCAA NNAA RREEOORRGGAANNIIZZAAOO CCUURRRRIICCUULLAARR
As cincias qumicas mudaram substancialmente nos ltimos tempos. Das
divises clssicas em qumica analtica, qumica inorgnica, qumica orgnica, qumica
fsica, qumica terica ou bioqumica evoluiu-se para domnios mais especficos como,
por exemplo, nanotecnologia, cincia dos materiais, qumica computacional. , pois,
neste enquadramento que se pode dizer que os qumicos procuram compreender qual
a relao entre a estrutura e as propriedades fsicas, qumicas e biolgicas das
substncias, sejam elas naturais ou sintticas, com vista a inventar novas substncias
para fins especficos, para o que ser tambm necessrio desenvolver processos de
sntese laboratorial e de produo industrial. Mas a sntese de novas substncias no
ocorre apenas para dar resposta a questes de ordem prtica; tambm se procuram
- 9 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
sintetizar substncias para comprovar/testar teorias. Estimava-se em 1996, por
exemplo, que existiriam 10200 molculas com propriedades de interesse para a
medicina (12).
O interesse pela sntese qumica estende-se tambm s substncias naturais,
com vista a poderem encontrar-se alternativas mais econmicas, ou de mais fcil
acesso. Mas o interesse pela sntese no acontece apenas com molculas, continuando
em progresso a pesquisa com vista sntese de novos tomos.
Em todos os casos de sntese procuram-se mtodos que conjuguem o menor
nmero de passos, a maior eficincia no processo e a produo mnima de produtos
secundrios. A indstria qumica transformadora procura conciliar o aumento de
rendimento dos processos com a reduo de custos dos materiais, da mo-de-obra
e/ou da energia, sem pr em causa a qualidade, a segurana e o impacto ambiental
mnimo. De facto, muitas das matrias-primas usadas, em particular as derivadas do
petrleo, do gs natural e de alguns animais e plantas, esto a ser exploradas e
consumidas a um ritmo muito superior ao da capacidade da sua reposio. Existe
tambm uma preocupao com os intermedirios dos processos qumicos, solventes e
catalisadores, que devem ser no txicos e recuperveis (reciclveis) aps o uso, ou
biodegradveis. Espera-se que, no futuro, seja possvel usar mais matrias-primas
renovveis, tais como o dixido de carbono, alguns sais, alcatro e lamas, que,
actualmente, so consideradas como desperdcios sem valor.
Parece, assim, que o grande desafio das cincias qumicas o de criar novas
molculas e sistemas qumicos, ampliando o universo qumico, e aumentar as
capacidades futuras, em particular no campo da medicina.
Um dos campos que tem vindo a ganhar uma importncia crescente diz respeito
interface da Qumica com a Biologia e a Medicina. Com efeito, entre os maiores
desafios que se podem colocar s cincias qumicas est a inveno de medicamentos
que permitam tratar e at prevenir doenas vitimadoras em grande escala como o
cancro, a doena de Alzheimer, a demncia ou a diabetes, bem como a inveno de
materiais compatveis que permitam substituir partes do prprio organismo. Numa
- 10 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
meta mais longnqua estar a produo de sistemas qumicos organizados capazes de
imitar o funcionamento de clulas biolgicas.
Conhecer a diversidade de materiais naturais uma das grandes aspiraes
dos qumicos a par da capacidade de produzir um material para um fim especfico.
Diz-se, por isso, que a investigao sobre sntese qumica se dirige hoje procura de
processos que viabilizem a construo de molculas para um determinado fim.
Mas as preocupaes dos qumicos tambm se dirigem a uma melhor
compreenso da composio qumica e comportamento de grandes sistemas como rios,
lagos, oceanos, atmosfera e o prprio planeta. Quais so as interaces desses
sistemas entre si e como que os seus efeitos se repercutem na actividade humana e
na prpria constituio e equilbrio do planeta? Preocupamo-nos hoje com a
utilizao de produtos em condies de segurana para ns prprios e para o
ambiente. A segurana ambiental no mais vista apenas como uma preocupao local.
A legislao que regulamenta e fiscaliza as actividades industriais de produo, de
transporte, de armazenamento e de consumo de bens tem por base conhecimento
cientfico/qumico de modo a antecipar, detectar e evitar riscos para as pessoas e
para o ambiente, agora e no futuro.
Para a identificao de fenmenos atmosfricos, reconhecidos como problemas
ambientais escala planetria, foi crucial o contributo das cincias qumicas
(destaque-se a degradao do ozono estratosfrico e o aumento do efeito de estufa).
Associado compreenso das causas de efeitos to indesejados como estes para a
qualidade de vida e segurana do planeta est o desenvolvimento da chamada Qumica
Verde, isto , a concepo de produtos e respectivos processos de produo capazes
de gerir um impacto mnimo sobre o ambiente. Esta (dever ser!) a aspirao de
quem produz conhecimento cientfico-tecnolgico. No topo deste desgnio no podem
deixar de estar os recursos energticos e os processos de obteno de energia. A
procura de alternativas viveis aos combustveis fsseis tem de ser uma preocupao
dos cientistas e as cincias qumicas tm a um papel fundamental.
- 11 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
Mas no domnio da segurana contra ataques militares, terroristas,
criminosos, ou catstrofes naturais e acidentais, que importa desenvolver sistemas de
proteco. No entanto, a complexidade de problemas to vasta que ser sempre
necessria uma abordagem multidisciplinar, de modo que possamos dispor de sistemas
anti-armas nucleares, biolgicas ou qumicas. As cincias qumicas sero sempre um
domnio do conhecimento que no poder ser ignorado (12).
O conhecimento qumico parte fundamental do conhecimento cientfico.
Assim sendo, faz todo o sentido falar de literacia qumica, isto de uma Qumica
para todos, que seja capaz de dotar os cidados de competncias para usarem o
conhecimento qumico em ambientes no escolares, seja no acompanhamento das
descobertas cientficas, na compreenso dos argumentos usados nas controvrsias
sobre a sua aplicao, ou ainda, como consumidores (13).
nesta perspectiva que muitos investigadores em desenvolvimento curricular
vm defendendo que a educao em Cincias deve perseguir ideais de cultura
cientfica dos alunos, por oposio a uma lgica de mera instruo cientfica, que
promovam o desenvolvimento pessoal dos alunos e lhes permitam alcanar uma
participao social esclarecida. O modelo de ensino a usar deve assentar no recurso
inter e transdisciplinaridade dos saberes, abordagem de situaes-problema
retiradas de contextos reais, utilizao de estratgias de trabalho
metodologicamente diversificadas e necessidade de conduzir processos de avaliao
conceptualmente concordantes (12).
11..55 RREELLEEVVNNCCIIAA DDOO TTEEMMAA EEMM EESSTTUUDDOO
luz dos novos programas do Ensino Secundrio, a compreenso do mundo que
nos rodeia, nas mais variadas vertentes, tornou-se uma rea de
explorao/investigao muito rica, tornando-se fcil encontrar temas de estudo
aliciantes.
A utilizao em larga escala, a nvel industrial, dos chamados metais pesados,
acarreta grandes preocupaes a nvel da sade das populaes, para j no falar na
- 12 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
problemtica da sustentabilidade do nosso Planeta. Como a escala de tempo das
transformaes ambientais se est a tornar cada vez mais pequena associada a um
crescimento exponencial dos problemas ambientais, urge uma muito maior
consciencializao sobre este tipo de assuntos. O caso do crmio (e seus compostos)
um exemplo paradigmtico disso.
O crmio um elemento duplo, isto , por um lado est provado como
altamente txico e carcinognico, na forma de Cr(VI), mas como Cr(III), se em
quantidades vestigiais, tido como essencial para o metabolismo da glicose e dos
lpidos. O Cr(VI) um agente oxidante forte, facilmente reduzido a Cr(III), cujos
compostos so considerados cineticamente inertes, podendo, neste estado de
oxidao, ser abandonados, por exemplo em aterros, sem qualquer preocupao
acerca do seu real destino final. No entanto, nos ltimos anos, tem crescido o
interesse em estudar processos de biorremediao/fitorremediao para tratar solos
ou guas contaminados com metais pesados e, em particular, com o crmio. A escolha
do mtodo a utilizar assim dependente da mobilidade, distribuio e especiao
qumica deste elemento em solos e plantas.
O destino do crmio nos solos parcialmente dependente do potencial redox e
do pH destes, estando no entanto a presente, na maior parte dos casos, como
Cr(III). Nos solos, em condies redutoras, o Cr(VI) pode ser reduzido a Cr(III) por
espcies inorgnicas aquosas, por transferncia de electres na superfcie de
minerais, por reaces com substncias orgnicas (no-hmicas), como carbo-hidratos
e/ou protenas, e por substncias hmicas. O potencial de reduo Cr(VI)/Cr(III)
dependente do pH, aumentando com a diminuio deste. Em condies aerbicas, esta
reduo tambm se verifica em condies ligeiramente alcalinas, se o solo contiver
substncias orgnicas apropriadas para tal reduo. Nos horizontes mais profundos
do solo, com contedos em matria orgnica muito mais baixos, menor a
probabilidade de esta inibir, por reduo, a mobilidade do crmio na forma de
cromato.
- 13 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
Sob certas condies, o Cr(III) pode ser (re)-oxidado a Cr(VI), podendo
conduzir a problemas ambientais srios, embora este processo parea estar limitado
oxidao pelo O2 e/ou por xidos de mangans presentes nos solos e condicionado
pela baixa solubilidade dos compostos de Cr(III) e consequente baixa disponibilidade
do elemento. No entanto, a interaco de ligandos orgnicos, por exemplo libertados
por exudados de razes, pode aumentar a formao de espcies de Cr(III)
organicamente mveis e disponveis.
Este trabalho ir ser direccionado para o estudo especfico do destino final
dos metais pesados, nos solos, no caso particular dos compostos de crmio.
O tratamento pedaggico do assunto que se tem vindo a explanar pode
afigurar-se complexo, em termos de Ensino/Aprendizagem. No entanto, uma vez que
um tema de clara importncia, que requer uma abordagem cientfica e atraente, pode
vir a traduzir-se na Aprendizagem e na Compreenso de fenmenos que ocorrem no
mundo que nos rodeia.
11..66 OOBBJJEECCTTIIVVOOSS DDOO EESSTTUUDDOO
Definiram-se os seguintes objectivos decorrentes da escolha do tema:
Conhecer alguns problemas ambientais: - riscos associados forte industrializao;
- uso industrial de compostos de metais pesados;
- os resduos industriais;
Compreender o conceito de especiao qumica: - a qumica dos compostos de crmio em soluo;
Perceber como interagem os compostos de crmio com os solos; - as espcies de crmio presentes nos solos;
- as reaces redox nas quais o crmio se pode envolver;
Desenvolver um conjunto de actividades experimentais, a aplicar aos alunos do Ensino Bsico (8 Ano de Escolaridade) e do Ensino Secundrio (12 Ano
de Escolaridade), que permitam compreender as interaces das fases
- 14 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
slidas dos solos com as solues aquosas que contactam com eles (soluo de
solo) e com metais pesados (crmio).
11..77 OORRGGAANNIIZZAAOO DDOO EESSTTUUDDOO
Tendo como campo de actuao o tema seleccionado, a definio do problema e
os objectivos que se pretendem alcanar, o presente estudo foi organizado em cinco
fases, cada uma delas com procedimentos que esto desenvolvidos nos diferentes
captulos deste trabalho e que sucintamente se explanam a seguir:
Fase 1 Reviso de literatura relativa ao tema;
Fase 2 Identificao/contextualizao do tema nos contedos dos Programas
dos diferentes graus de Ensino;
Fase 3 Realizao de actividades experimentais simples para testar as
interaces de compostos de crmio com alguns dos constituintes
modelo inorgnicos dos solos e com amostras de solos reais;
Fase 4 Anlise dos resultados obtidos das experincias referidas no ponto
anterior;
Fase 5 Planificao e elaborao de Protocolos de experincias
demonstrativas simples, com base nas actividades experimentais
referidas no ponto 3, usando exemplos que permitam ilustrar os
assuntos/problemas e que possam enquadrar/potenciar o
Ensino/Aprendizagem do tema;
Fase 6 Consideraes / sugestes de aplicao deste trabalho.
- 15 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
RREEFFEERRNNCCIIAASS
(1) Solomon, J., (11999944), Science Education and Scientific Culture in Britain:
Influences During The Last Ten Years, in Gago, M. (Coord), O Futuro da
Cultura Cientfica, Lisboa: Instituto de Prospectiva, 61-97.
(2) Galvo, C., Neves, A., Freire, A.M., Lopes, A.M.S, Santos, M.C., Vilela, M.C.,
Oliveira, M.T., Pereira, M., (22000011), Cincias Fsicas e Naturais - Orientaes
Curriculares para o 3 ciclo do Ensino Bsico, Lisboa: Ministrio da Educao,
Departamento da Educao Bsica.
(3) Martins, I.P., Costa, J.A., Lopes, J.M.G., Magalhes, M.C., Simes, M.O.,
Simes, T.S., Bello, A., San-Bento, C., Pina, E.P., Caldeira, H., (22000011), Programa
de Fsica e Qumica A 10 Ano, Lisboa: Ministrio da Educao,
Departamento do Ensino Secundrio.
(4) Rutherford, F. J., Ahlgren, A., (11999900), Cincia para Todos, (traduo de
Martins, C.C., 1995), Lisboa: Gradiva - Publicaes.
(5) Cruz, M. N., (11998888), Desenvolvimento das Capacidades Metacognitivas e
Resoluo de Problemas, Gazeta de Fsica, 11, 51-55.
(6) Cachapuz, A., Praia, J., Jorge, M. P., (22000000), Perspectivas de Ensino das
Cincias, Coleco Formao de Professores, Porto: Centro de Estudos de
Educao em Cincia.
(7) Yager, R.E., (11999922), The Status of Science Technology Society. Reform
Efforts Around The World, Arlington: ICASE.
(8) Aikenhead, G., (11999944), STS Education International Perspectives on Reform,
New Work: Teachers College Press, 47-59.
(9) Santos, E., (11999999), Desafios Pedaggicos para o Sculo XXI. Suas Razes em
Foras de Mudana de Natureza Cientfica, Tecnolgica e Social, Lisboa:
Livros Horizonte.
(10) Caamao, A., (11999955), La Education CienciaTecnologiaSociedad: Una
Necesidad en el Diseo del Nuevo Curriculum de Ciencias, Alambique:
Didctica de las Ciencias Experimentales, 3, 4-6.
- 16 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
(11) Membiela, P.I., (11999977), Una Revisin del Movimiento Educativo Ciencia
TecnologaSociedad, Enseanza de las Ciencias, 15, 51 58.
(12) Martins, I.P., Costa, J.A.L., Lopes, J.M.G., Simes, M.O., Claro, P.R., Simes,
T.S., (22000044), Programa de Qumica 12 Ano, Curso Cientfico-Humanstico de
Cincias e Tecnologias, Lisboa: Ministrio da Educao, Direco Geral de
Inovao e de Desenvolvimento Curricular.
(13) Martins, A., Malaquias, I., Martins, D., Sampaio, A., Martins, A., Fiza, E.,
Silva, M., Neves, M., Soares, R., Gavito, P., Valadares, M., Costa, M., Mendes,
M., (22000022), Livro Branco da Fsica e da Qumica, Lisboa: Sociedade Portuguesa
de Qumica, Sociedade Portuguesa de Fsica.
- 17 -
-
______________________________________________________________________O problema em estudo
- 18 -
-
____________________________________________________________________ 22
IIDDEENNTTIIFFIICCAAOO//CCOONNTTEEXXTTUUAALLIIZZAAOO DDOO TTEEMMAA NNOOSS CCOONNTTEEDDOOSS DDOOSS PPRROOGGRRAAMMAASS DDOOSS
DDIIFFEERREENNTTEESS GGRRAAUUSS DDEE EENNSSIINNOO
- 19 -
-
____________________________________________________________________ 22
- 20 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
22.. IIDDEENNTTIIFFIICCAAOO//CCOONNTTEEXXTTUUAALLIIZZAAOO DDOO TTEEMMAA NNOOSS CCOONNTTEEDDOOSS DDOOSS PPRROOGGRRAAMMAASS DDOOSS DDIIFFEERREENNTTEESS GGRRAAUUSS DDEE EENNSSIINNOO
22..11 AANNLLIISSEE DDOOSS PPRROOGGRRAAMMAASS
22..11..11 EEnnssiinnoo BBssiiccoo
No ano lectivo de 2002/2003 os professores e os alunos do 7 ano do Ensino
Bsico enfrentaram alteraes relevantes de currculo, decorrentes da Reorganizao
Curricular. Esta surgiu na sequncia do Projecto de Reflexo Participada Sobre os
Currculos do Ensino Bsico, iniciado no ano lectivo de 1996/1997, o qual possibilitou
um diagnstico da situao do Ensino Bsico. Estava-se perante uma sria dificuldade
em promover o cumprimento da escolaridade obrigatria, verificando-se, ao nvel do
3 ciclo, elevadas taxas de abandono e de insucesso escolar (1).
O Decreto Lei n 6/2001 (2), de 18 de Janeiro, que regulamenta a
Reorganizao Curricular do Ensino Bsico, estabelece os princpios orientadores da
organizao e da gesto curricular deste grau de ensino, bem como da avaliao das
aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currculo nacional, entendido
como o conjunto de aprendizagens e competncias, que integram os conhecimentos, as
capacidades, as atitudes e os valores a desenvolver pelos alunos ao longo do Ensino
Bsico, de acordo com os objectivos consagrados na Lei de Bases do Sistema
Educativo para este nvel de ensino. Dos objectivos do Ensino Bsico podem destacar-
se alguns, pelo contributo que a Qumica pode dar sua consecuo (3):
Assegurar uma formao geral comum a todos o portugueses, que lhes garanta a descoberta e o desenvolvimento dos seus interesses e aptides,
das suas capacidades de raciocnio, memria e esprito crtico, criatividade,
sentido moral e sensibilidade esttica, promovendo a realizao individual em
harmonia com os valores da solidariedade social;
- 21 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
Assegurar que nesta formao sejam equilibradamente inter-relacionados o saber e o saber fazer, a teoria e a prtica, a cultura escolar e a cultura do
quotidiano;
Proporcionar a aquisio de atitudes autnomas, visando a formao de cidados civicamente responsveis e democraticamente intervenientes na
vida comunitria;
Fomentar o gosto por uma constante actualizao de conhecimentos.
A Qumica, como forma de explicar o mundo, pode contribuir para a consecuo
dos objectivos anteriormente citados, na medida em que uma formao geral dos
cidados inclui, necessariamente, conhecimentos bsicos de Qumica, que lhes
permitam a compreenso e a interaco com a Cincia e a Tecnologia que os rodeia.
Alm disso, o ensino da Qumica pretende desenvolver um conjunto de competncias e
de valores claramente presentes nestes objectivos (1).
Das principais inovaes introduzidas pela Reviso Curricular do Ensino Bsico
assumem particular relevo a gesto do tempo lectivo, a introduo de reas
curriculares no disciplinares rea de Projecto, Estudo Acompanhado, Formao
Cvica - a obrigatoriedade do ensino experimental das cincias, a organizao dos
programas das cincias em torno de temas gerais e, principalmente, a introduo da
ideia de um ensino para o desenvolvimento de competncias a atingir at ao final
deste nvel de ensino. A educao para a cidadania, assim como o aprofundamento da
aprendizagem das lnguas modernas, o desenvolvimento da educao artstica, o
reforo do ncleo central da lngua materna e da Matemtica, a valorizao da
dimenso humana do trabalho e a utilizao das tecnologias de comunicao e
informao, so apontadas como formaes transdisciplinares que, por isso, devem
ser desenvolvidas em todas as componentes do currculo.
Apresenta-se, assim, um conjunto de competncias de carcter geral, a
desenvolver ao longo do Ensino Bsico e, tambm, um outro conjunto de competncias
especficas, que dizem respeito a cada uma das reas disciplinares ou disciplinas.
- 22 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
Competncias gerais:
1. Mobilizar saberes culturais, cientficos e tecnolgicos, para
compreender e para abordar situaes e problemas do quotidiano;
2. Usar, adequadamente, para se expressar, linguagens das diferentes
reas do saber cultural, cientfico e tecnolgico;
3. Usar correctamente a lngua portuguesa para comunicar de forma
adequada e para estruturar pensamento prprio;
4. Usar lnguas estrangeiras para comunicar adequadamente em situaes
do quotidiano e para apropriao de informao;
5. Adoptar metodologias de trabalho e de aprendizagem personalizadas,
adequadas a objectivos visados;
6. Pesquisar, seleccionar e organizar informao para a transformar em
conhecimento mobilizvel;
7. Adoptar estratgias adequadas resoluo de problemas e tomada de
decises;
8. Realizar actividades de forma autnoma, responsvel e criativa;
9. Cooperar com outros em tarefas e projectos comuns;
10. Relacionar harmoniosamente o corpo com o espao, numa perspectiva
pessoal e interpessoal promotora da sade e da qualidade de vida (3).
Se se adoptar uma noo ampla para o termo competncia, esta dever
integrar conhecimentos, capacidades e atitudes que possam ser entendidas como
saber em aco ou em uso. A competncia diz respeito ao processo de activar
recursos (conhecimentos, capacidades, estratgias), em diversos tipos de situaes,
nomeadamente em situaes problemticas. Da que no se possa falar em
competncia sem lhe associar algum grau de autonomia em relao ao uso do saber. A
prpria designao de competncias essenciais procura salientar os saberes que se
consideram fundamentais para todos os cidados, na nossa sociedade actual, tanto a
nvel geral como nas diversas reas do currculo (3). Devem definir-se, do mesmo
modo, as competncias especficas que, para cada disciplina, devero permitir
- 23 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
identificar os saberes que se desenvolvam nos alunos, a compreenso da natureza e
dos processos dessa disciplina, assim como uma atitude positiva face actividade
intelectual e ao trabalho prtico que lhe so inerentes.
Neste novo quadro, a rea disciplinar de Cincias Fsicas e Naturais est
organizada, ao longo dos trs ciclos do Ensino Bsico, em torno de quatro temas (3):
Terra no Espao Terra em Transformao Sustentabilidade na Terra Viver Melhor na Terra
Figura 2.1 Esquema representativo dos quatro temas organizadores do Ensino Bsico (4).
- 24 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
Todos estes temas tm subjacente a ideia estruturante de que Viver melhor
no planeta Terra pressupe uma interveno humana crtica e reflectida, visando um
desenvolvimento sustentvel que, tendo em considerao a interaco Cincia,
Tecnologia, Sociedade e Ambiente, se fundamente em opes de ordem social e tica
e em conhecimento cientfico esclarecido sobre a dinmica das relaes sistmicas
que caracterizam o mundo natural e sobre a influncia dessas relaes na sade
individual e comunitria (3). Assim, todas as aprendizagens devero ser
direccionadas para que os alunos atinjam este grande objectivo.
As Cincias Fsicas e Naturais so apresentadas em dois nveis diferentes, que
se interligam para dar sentido ao currculo de uma forma global (4).
Num primeiro nvel cada um dos temas organizadores desenvolvido atravs
de dois conjuntos de questes de partida: um de abordagem mais geral, que implica,
por vezes, a natureza da Cincia e a do conhecimento cientfico; o outro, de
abordagem mais especfica. Os dois conjuntos de questes relacionam-se com
contedos abordados nas duas disciplinas.
Cada tema e respectivas questes de partida do lugar a dois conjuntos de
contedos, um de Cincias Naturais e outro de Cincias Fsico-Qumicas, que podem
ser lidos de uma forma interdisciplinar.
Num segundo nvel de abordagem, aparecem algumas indicaes de
desenvolvimento dos contedos referidos anteriormente, num conjunto de sugestes
de experincias educativas que procuram integrar vrios aspectos inerentes ao ensino
e aprendizagem dos alunos em cincias. Assim, referem-se exemplos de
experincias educativas conducentes ao desenvolvimento de competncias de
natureza diversa, isto , gerais, transversais e coordenadas, com as inerentes s
Cincias Fsicas e Naturais. Trata-se de propostas que podem ser seguidas, adaptadas
ou substitudas por outras que os professores entendam, de acordo com as
caractersticas dos alunos e contextos educativos (4).
- 25 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
Relativamente relao entre as componentes de Fsica e de Qumica, nesta
reorganizao curricular, a separao j no to evidente como nos programas
anteriores, o que representa um avano importante na evoluo para um currculo
interdisciplinar. Dentro do mesmo tema organizador surgem conceitos de Qumica e
de Fsica, utilizados de forma complementar, para explicar os fenmenos que se
pretende.
No novo quadro, as Cincias Fsico Qumicas e as Cincias Naturais iniciam-se
no 7ano e prolongam-se at ao 9 ano. Alm disso, no h uma distribuio rgida do
tempo lectivo por cada uma das disciplinas ao longo dos trs anos. No entanto, a
nenhuma delas, em cada ano, dever ser atribuda uma carga horria semanal inferior
a 90 minutos.
Saliente-se que a opo pelo termo orientaes curriculares, em vez de
programas, inscreve-se na ideia de flexibilizao curricular, tentando que o currculo
formal possa dar lugar a decises curriculares que impliquem diferentes prticas de
ensino e de aprendizagem (4).
22..11..22 EEnnssiinnoo SSeeccuunnddrriioo
No que respeita ao Ensino Secundrio, este, como ciclo de estudos ps-
obrigatrio, ocupa um lugar determinante na construo do futuro. Um nmero cada
vez maior de jovens tem acesso a este nvel de ensino e necessrio que este lhes
proporcione aprendizagens significativas para uma formao que permita, no s o
prosseguimento de estudos, mas tambm a entrada qualificada no mundo do trabalho.
A democratizao do sistema de ensino portugus e o alargamento da
escolaridade obrigatria levou a uma transformao significativa na populao
escolar. Cada vez mais alunos, provenientes dos diversos meios sociais, econmicos e
culturais, tm hoje acesso ao Ensino Secundrio Ensino de Massas. Assim, os
objectivos do Ensino Secundrio visam desenvolver no indivduo capacidades e
competncias que lhes permitam prosseguir estudos ou ingressar na vida activa.
igualmente fundamental que a reviso curricular assuma frontalmente o dever que lhe
- 26 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
assiste de recuperar atrasos e de contribuir para um nvel de literacia e de cultura
mais elevado dos alunos que frequentam a escola, aproximando-os dos seus colegas de
pases mais desenvolvidos (5).
O Ensino Secundrio tem a durao de trs anos e est organizado de forma
diferenciada, contemplando a existncia de cursos predominantemente orientados
para a vida activa (Cursos Tecnolgicos) e cursos orientados para o prosseguimento
de estudos (Cursos de Carcter Geral).
A disciplina de Fsica e Qumica A uma das trs disciplinas do tronco comum
da componente de formao especfica do Curso Geral de Cincias Naturais e do
Cursos Geral de Cincias e Tecnologias do Ensino Secundrio e d continuidade
disciplina de Cincias Fsico Qumicas, do 3 ciclo do Ensino Bsico. Representa, por
isso, uma via para os alunos aprofundarem conhecimentos relativos Fsica e
Qumica, duas reas estruturantes do conhecimento das cincias experimentais.
uma disciplina bienal (10 e 11 anos), com 4,5 horas por semana, isto , trs sesses
de 90 minutos cada, sendo uma delas exclusivamente de carcter prtico-laboratorial.
A disciplina de Fsica e Qumica A ter, portanto, de ser encarada como uma
via para o crescimento dos alunos e no como o espao curricular onde se
empacotam conhecimentos exclusivamente do domnio cognitivo, com pouca ou
nenhuma ligao sociedade (5).
A componente de Qumica dos 10 e 11 anos procura constituir-se como um
caminho para que os alunos possam alcanar um modo de interpretao do mundo que
os rodeia, naquilo que o constitui hoje, no quanto e como se afasta do que foi no
passado e de possveis cenrios de evoluo futura.
O programa da disciplina de Fsica e Qumica A pretende cobrir, ao longo dos
10 e 11 anos, um conjunto de temas e conceitos de Qumica e de Fsica importantes
para a consolidao, pelos alunos, de um modo de compreender, ainda que simplificado,
alguns fenmenos naturais ou provocados, numa perspectiva de cidadania e que
permita uma escolha consciente de uma carreira futura ligada (ou no) a este estudo.
- 27 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
Deste modo, em cada um dos referidos anos do nvel Secundrio, o programa
estrutura-se em unidades, definidas segundo um tema abrangente com uma forte
dimenso social. O programa de 10 ano, na componente de Qumica, est organizado
em duas Unidades, precedidas de um Mdulo Inicial - Materiais: diversidade e
constituio e estruturadas em torno de um tema:
Unidade 1 Das Estrelas ao tomo; Unidade 2 Na Atmosfera da Terra: Radiao, Matria e Estrutura. O Programa de 11 ano est organizado em duas unidades, centradas em
temticas diferentes:
Unidade 1 Qumica e Indstria: Equilbrios e Desequilbrios; Unidade 2 Da Atmosfera ao Oceano: Solues na Terra e para a Terra. No final do 11 Ano, na componente de Qumica, os alunos devero alcanar
uma viso sobre (5):
a diversidade das substncias existentes (famlias grupos funcionais; estrutura ligao qumica; composio elementos qumicos);
a interpretao qumica da organizao do mundo material (Tabela Peridica dos Elementos Qumicos; estrutura atmica alguns modelos);
a natureza das reaces qumicas que podem ocorrer (reaces de cido base, de precipitao, de oxidao-reduo) e modelos interpretativos
(equilbrio qumico).
Relativamente disciplina de Qumica do 12 ano, esta uma das disciplinas
que integram o plano de estudos da componente de Formao Especfica do Curso
Cientfico-Humanstico de Cincias e Tecnologias do Ensino Secundrio, sendo de
carcter opcional. Trata-se, portanto, de uma disciplina terminal do Ensino
Secundrio, que deve proporcionar uma viso actual de aspectos relevantes do
conhecimento qumico, estruturantes de uma forma cientfica de interpretar o mundo,
e permitir prosseguir para interpretaes mais aprofundadas em estudos de nvel
superior. Desenvolve-se com uma carga semanal de trs aulas de 90 minutos cada,
- 28 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
assumindo uma das sesses semanais o formato de aula prtico-laboratorial, a ser
conduzida num laboratrio equipado para o efeito (6). Para optimizao do
acompanhamento do trabalho dos alunos pelo professor, a turma dever ser
desdobrada conforme o estipulado no Despacho n 13765/2004, de 8 de Junho (7).
A disciplina de Qumica procura inserir-se na orientao cientfico-humanista
do ensino das cincias, a qual tem vindo a ser defendida por um nmero crescente de
investigadores e associaes cientficas de educao em cincia, entendida como
aquela que permite aos alunos compreender fenmenos de cariz cientfico-
tecnolgico, onde a construo do conhecimento enquadrada num leque vasto de
competncias, atitudes e valores importantes e, por isso, teis para o crescimento
pessoal, social e profissional de cada aluno e para a consolidao de princpios
prprios da democracia.
Assume-se que a orientao do ensino da Qumica no 12 ano dever reger-se
por princpios que promovam a literacia cientfica (6):
- Ensinar Qumica como um dos pilares da cultura do mundo moderno;
- Ensinar Qumica para o dia-a-dia;
- Ensinar Qumica como forma de interpretar o mundo;
- Ensinar Qumica para a cidadania;
- Ensinar Qumica para compreender a sua inter-relao com a tecnologia;
- Ensinar Qumica para melhorar atitudes face a esta Cincia;
- Ensinar Qumica por razes estticas;
- Ensinar Qumica para preparar escolhas profissionais.
A disciplina de Qumica tem como finalidade criar condies para que os alunos
que a ela acedam no final do Ensino Secundrio, tal como foi dito anteriormente,
possam alargar o leque de competncias que a disciplina de Fsica e Qumica, e em
particular a componente de Qumica, ter permitido desenvolver. Tomam-se como
referncia competncias que autores contemporneos e organizaes como a OCDE
consideram serem fundamentais para a promoo da literacia cientfica. So trs as
dimenses de competncias a considerar: os saberes, as aces e os valores, as quais,
- 29 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
no caso da Qumica, podero ser as que a seguir se enumeram e que incluem
competncias diversas (6):
A dimenso dos saberes: - de contedo (conhecimento declarativo e conceptual do domnio da Qumica);
- epistemolgicas (viso geral sobre o significado da Cincia, e da Qumica em
particular, como forma de ver o mundo, distinta de outras interpretaes).
A dimenso das aces: - de aprendizagem: capacidade para usar diferentes estratgias de aprendizagem
e modos de construo de conhecimento cientfico;
- sociais: capacidade para cooperar em equipa de forma a recolher dados,
executar procedimentos ou interpretar informao cientfica;
- processuais: capacidade para observar, experimentar, avaliar, interpretar
grficos, mobilizar destrezas matemticas, usar modelos, analisar criticamente
situaes particulares, gerar e testar hipteses;
- comunicativas: capacidade para usar e compreender linguagem cientfica,
registar, ler e argumentar usando informao cientfica.
A dimenso dos valores: - ticas: conhecimento de normas e sua relatividade em contextos locais e ainda
do seu carcter temporal.
O programa de Qumica do 12 Ano est organizado em trs unidades, cada
uma delas sobre um tema prprio, mas todas elas subordinadas temtica geral
Materiais, sua estrutura, aplicaes e implicaes da sua produo e utilizao. Os
temas escolhidos so (6):
Unidade 1 Metais e Ligas Metlicas; Unidade 2 Combustveis, Energia e Ambiente; Unidade 3 Plsticos, Vidros e Novos Materiais.
- 30 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
22..22 CCOONNTTEEXXTTUUAALLIIZZAAOO DDOO TTEEMMAA
Depois de analisados os programas e seus contedos pode concluir-se que o
tema em estudo O Destino Final dos (Resduos de) Metais Pesados: O Caso dos
Compostos de Crmio poder ser abordado nas seguintes unidades:
8 Ano
Tema Organizador - Sustentabilidade na Terra Unidade 2 Reaces Qumicas: Tipos de Reaces Qumicas
Nesta unidade, cujo tema geral so as reaces qumicas, so abordados
diferentes tipos de reaces qumicas, nomeadamente as reaces de cido-base
(escala de pH).
11 Ano
Unidade 2 Da Atmosfera ao Oceano: Solues na Terra e para a Terra Nesta unidade abordado o tema geral da gua e algumas das reaces que
nos permitem afirmar que as solues aquosas naturais so excelentes contextos para
a abordagem e aprofundamento de conceitos qumicos importantes, nomeadamente de
reaces de cido-base, precipitao e oxidao - reduo (8). Os objectos de ensino,
assim como os objectivos de aprendizagem desta unidade de ensino esto descritos
no Anexo 1, representando-se na Figura 2.2 o mapa de conceitos desta unidade.
12 Ano
Unidade 1 Metais e Ligas Metlicas Nesta unidade, cujo tema geral so os metais e as ligas metlicas, so
abordados tpicos como a ligao metlica, as propriedades dos metais, em geral, e
dos metais de transio, em particular, e, entre outros, as reaces de oxidao
reduo que ocorrem na corroso e nas pilhas e na proteco de metais (6). Nesta
unidade tambm se abordam conceitos qumicos aplicveis ao tema em estudo, como
as reaces de complexao, as propriedades cido-base das solues de xidos e
sais e a ligao qumica. Os objectos de ensino, assim como os objectivos de
aprendizagem desta unidade de ensino esto descritos no Anexo 2, representando-se
na Figura 2.3 o mapa de conceitos desta unidade.
- 31 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
Reaces de oxidao-reduo
Figura 2.2 Mapa de conceitos da Unidade 2: Da Atmosfera ao Oceano: Solues na Terra e para a Terra (8).
- 32 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
Reaces
Redox
Figura 2.3 Mapa de conceitos da Unidade 1: Metais e Ligas Metlicas (6).
- 33 -
-
___________Identificao/Contextualizao do tema nos contedos dos programas dos diferentes graus de ensino
RREEFFEERRNNCCIIAASS
(1) Osrio, M.M., (22000055), Ligaes Inter e Intramoleculares: Ensino
/Aprendizagem no Ensino Secundrio, Aveiro: Universidade de Aveiro,
(Dissertao de Mestrado em Ensino de Fsica e Qumica).
(2) Decreto Lei n 6/2001, de 18 de Janeiro, publicado no Dirio da Repblica.
(3) Abrantes, P., (22000011), Currculo Nacional do Ensino Bsico Competncias
Essenciais, Lisboa: Ministrio da Educao, Departamento da Educao Bsica.
(4) Galvo, C., Neves, A., Freire, A.M., Lopes, A.M.S., Santos, M.C., Vilela, M.C.,
Oliveira, M.T., Pereira, M., (22000011), Cincias Fsicas e Naturais - Orientaes
Curriculares para o 3 ciclo do Ensino Bsico, Lisboa: Ministrio da Educao,
Departamento da Educao Bsica.
(5) Martins, I.P., Costa, J.A., Lopes, J.M.G., Magalhes, M.C., Simes, M.O.,
Simes, T.S., Bello, A., San-Bento, C., Pina, E.P., Caldeira, H., (22000011), Programa
de Fsica e Qumica A 10 Ano, Lisboa: Ministrio da Educao,
Departamento do Ensino Secundrio.
(6) Martins, I.P., Costa, J.A.L., Lopes, J.M.G., Simes, M.O., Claro, P.R., Simes,
T.S., (22000044), Programa de Qumica 12 Ano, Curso Cientfico-Humanstico de
Cincias e Tecnologias, Lisboa: Ministrio da Educao, Direco Geral de
Inovao e de Desenvolvimento Curricular.
(7) Despacho n 13765/2004, de 8 de Junho, publicado no Dirio da Repblica.
(8) Martins, I.P., Costa, J.A.L., Lopes, J.M.G., Simes, M.O., Simes, T.S., Bello, A.,
San-Bento, C., Pina, E.P., Caldeira, H., (22000033), Programa de Fsica e Qumica A
11 Ano, Lisboa: Ministrio da Educao, Departamento do Ensino Secundrio.
- 34 -
-
____________________________________________________________________ 33
IIMMPPAACCTTOO DDOOSS MMEETTAAIISS PPEESSAADDOOSS NNOO AAMMBBIIEENNTTEE
- 35 -
-
____________________________________________________________________ 33
- 36 -
-
_________________________________________________________Impacto dos metais pesados no ambiente
33.. IIMMPPAACCTTOO DDOOSS MMEETTAAIISS PPEESSAADDOOSS NNOO AAMMBBIIEENNTTEE
33..11 DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO IINNDDUUSSTTRRIIAALL
Apesar de a Idade dos Metais, que mudou radicalmente a civilizao, se ter
iniciado cerca de 8000 a.C., no se pode apontar uma data definida de incio deste
Perodo e de termo da Idade da Pedra.
A tecnologia do ser humano primitivo foi-se desenvolvendo e,
progressivamente, os metais e as ligas metlicas, transformados em artefactos, cada
vez mais sofisticados, foram sendo marcos da civilizao. O fabrico de armas e de
ferramentas transformou aldeias em cidades, conduziu os povos a guerras pela
conquista de territrios ricos em metais. O ouro e a prata, metais raros, tornaram-se
smbolos da riqueza de civilizaes, tendo sido utilizados no fabrico de moedas e de
jias.
O ferro, utilizado pela primeira vez no Mediterrneo Oriental, cerca de 1500
anos a.C., somente 900 anos mais tarde deu incio sua Era na Europa Ocidental e na
China. Rapidamente se descobriu que era possvel endurecer o ferro aquecendo-o em
contacto com o carvo e mergulhando-o, ainda quente, em gua: o ao fez assim a sua
primeira apario. No se pode falar de ao como um nico material, j que existem
vrias ligas de ferro e carbono, que so designadas genericamente por ao, com uma
grande variedade de outras substncias incorporadas.
Os metais foram, assim, progressivamente extrados da crosta terrestre,
transformados e utilizados, de tal forma que nos impossvel pensar na vida
quotidiana sem metais, quer eles sejam usados na sua forma pura, ou em ligas, ou na
constituio de sais. De acordo com as propriedades de cada um destes materiais, os
seus usos so incomensurveis e nas reas mais diversificadas: na conduo de
corrente elctrica, em joalharia, no fabrico de utenslios domsticos, de mobilirio,
de armas, na aeronutica, na construo civil, como supercondutores, em
computadores, nos transportes, em clulas fotoelctricas, em aplicaes biomdicas e
- 37 -
-
_________________________________________________________Impacto dos metais pesados no ambiente
cirrgicas, na actual produo dos chamados metais com memria de forma e dos
compsitos de matriz metlica (1).
No entanto, o uso em larga escala dos materiais metlicos acarreta problemas
para a humanidade. Por um lado, a escassez dos recursos naturais, que torna
premente a necessidade da sua reciclagem e revalorizao; por outro lado, as
consequncias nefastas da sua degradao, quer para a sociedade em geral, quer para
o ambiente em particular, atravs da deteriorao da qualidade da gua, do ar e do
solo, que obrigam ao tratamento e proteco dos materiais de forma a inviabilizar a
corroso que deles apangio (2,3).
33..22 PPOOLLUUIIOO AAMMBBIIEENNTTAALL
A poluio um dos problemas ambientais mais srios, sendo uma ameaa
sade pblica da Humanidade, bem como ao ecossistema global. Como tal, torna-se
necessrio um conhecimento profundo desta questo, no sentido da sua minimizao
para cada problema em particular (4).
O destino dos metais pesados no ambiente tem recebido, ao longo das ltimas
dcadas, um interesse crescente por parte dos cientistas das diversas reas. Esta
preocupao est associada crescente produo mundial e aos usos comuns e,
consequentemente, ao aumento das emisses para o ambiente, o que resulta num
perigo crescente para a sade humana e de outros seres vivos, sujeitos a elevadas
concentraes de metais no ar, na gua e nos alimentos. Indubitavelmente, uma das
foras impulsionadoras para o progresso da luta contra a poluio ambiental foi um
conhecimento crescente do impacto ambiental dos metais pesados.
Uma vez presentes nos solos, no ar ou nas guas, seja por ocorrncia natural
ou por aco antrpica (3,5,6), os metais pesados, quer os essenciais ou os no-
essenciais para os organismos vivos, podem entrar na cadeia alimentar e, ao atingirem
concentraes elevadas nas plantas, animais e Homem, causar problemas de
toxicidade, que podem culminar com a morte.
- 38 -
-
_________________________________________________________Impacto dos metais pesados no ambiente
O reconhecimento dos riscos ambientais, a par com a evoluo de tcnicas
analticas e o acesso a instrumentao avanada, levou a um rpido desenvolvimento
da investigao nesta rea (5).
Com vista a diminuir a poluio do ambiente com metais pesados, torna-se
necessrio implementar medidas concretas e especficas. Algumas tecnologias
disponveis para a remoo de ies de metais pesados de solues aquosas so a
precipitao, a troca inica, a coagulao e as biorremediao e soro/adsoro. A
adsoro em substrato slido a tcnica mais utilizada, devido sua elevada
eficincia, fcil manuseamento e eficincia de custos, bem como da disponibilidade
dos diferentes adsorventes (3).
Os metais, provenientes de efluentes domsticos e industriais, depois de
sujeitos ao tratamento de resduos, podem seguir vrios caminhos - ser depositados
em aterros desenhados para o efeito, onde persistem, no sendo biodegradados ou
ser reciclados na indstria.
Os metais pesados podem ainda provir de processos de lixiviao de solos e
sedimentos contaminados, escombreiras, e, tambm neste caso, podem seguir vrios
caminhos, nomeadamente ser adsorvidos nas fases slidas do solo, ou mobilizados, sob
forma particulada ou dissolvidos, para os rios, lagos e guas subterrneas, que so
importantes fontes de gua potvel. A exposio aos metais pesados por ingesto de
gua (particularmente em locais em que a gua reutilizada) e de alimentos, pode
levar acumulao de metais em animais, plantas e seres humanos. Este fenmeno
pode mesmo levar extino, ou alterao do tipo de plantas e dos animais (7).
33..33 CCOONNTTAAMMIINNAAOO DDEE SSOOLLOOSS
- Metais pesados
A contaminao por metais pesados pode afectar todos os ambientes. No
entanto, os seus efeitos so muito mais duradouros nos solos, devido adsoro
relativamente forte de muitos metais pesados pelas vrias fases slidas dos solos,
como as substncias hmicas, e outro material particulado existente nos solos (4).
- 39 -
-
_________________________________________________________Impacto dos metais pesados no ambiente
A contaminao com metais pesados aumentou dramaticamente desde a
revoluo industrial e, em particular, a poluio dos solos com metais como o cdmio, o
chumbo, o crmio, etc., sendo este um problema preocupante. Apesar destes
elementos se encontrarem em quantidades vestigiais nos solos (rochas, minerais) a
contaminao destes provm no s de fontes naturais (erupes vulcnicas,
redistribuio por aco elica ou hdrica) mas, sobretudo, da poluio antrpica,
nomeadamente da industrial (principalmente da indstria qumica e mineira), da
agrcola (rega com guas poludas, uso de fertilizantes, estrumes contaminados, lamas
e pesticidas), da incinerao de resduos, da combusto de combustveis fsseis e do
trfico automvel (4,5,8-11). Verificou-se, por exemplo, que os nveis de chumbo nos
solos e na vegetao aumentaram consideravelmente devido ao trfico automvel, isto
ao uso de combustveis contendo chumbo e utilizao exaustiva de combustveis
fsseis (2).
A reteno dos metais pelos solos tem sido um importante campo de
investigao nos ltimos anos, tendo sido desenvolvidos vrios modelos matemticos,
com o objectivo de prever a especiao qumica dos metais nas guas naturais, alm
de modelos mecansticos, destinados a quantificar a reteno dos metais pelos
constituintes do solo (orgnicos e minerais) (12).
A acumulao e a persistncia de metais pesados nas camadas superficiais do
solo, a sua disponibilidade e potencial toxicidade so as principais razes para ser
conduzida investigao intensiva nesta rea. As concentraes totais de metais nos
solos tm grande interesse, mas tambm a sua especiao qumica e caractersticas
microscpicas, que permitem ter um melhor conhecimento sobre a solubilidade e a
disponibilidade dos elementos (5).
O comportamento dos metais nos solos e os efeitos biolgicos causados pela
sua presena em concentraes elevadas so fortemente determinados pelos
processos de libertao do metal a partir da fase slida para a soluo do solo, bem
como pelos factores que influenciam as formas qumicas dos metais na soluo do solo.
- 40 -
-
_________________________________________________________Impacto dos metais pesados no ambiente
A disponibilidade das espcies metlicas presentes na soluo do solo e no
especificamente ligadas s fases slidas, mais do que elevadas quantidades de metais
na fase slida, provoca efeitos biolgicos adversos na biota do solo e controla a
absoro de metais pelas plantas superiores e a sua entrada na cadeia alimentar (5).
A toxicidade dos metais existentes nos solos influenciada quer pelas suas
concentraes totais, quer pelos factores inerentes ao solo, que determinam a
disponibilidade daqueles. Por outro lado, os microorganismos do solo e as plantas
superiores afectam o comportamento dos metais nos solos e a sua especiao, isto ,
no s a sua natureza qumica como tambm o seu comportamento biolgico, com
vrios mecanismos bioqumicos envolvidos (5).
33..44 MMTTOODDOOSS DDEE RREEMMEEDDIIAAOO
H algumas dcadas os problemas ambientais no eram considerados
prioritrios, ao contrrio do que sucede nos dias de hoje. Por exemplo, actualmente,
tm sido usadas algumas espcies de fungos, lquenes e plantas superiores, para
detectar a deposio, acumulao e distribuio da poluio com metais, devido sua
elevada capacidade para os acumular (2).
Os resduos de extraco de metais que contm grandes quantidades destes,
podem facilmente contaminar os solos locais, as guas subterrneas e as guas
superficiais por lixiviao e pela eroso provocada pela gua e pelo vento. Devido aos
efeitos txicos dos metais pesados, a maioria das plantas no consegue sobreviver
nestes ambientes e, em algumas reas, foram tambm destrudas paisagens com valor
ecolgico. Torna-se necessrio remediar estas reas contaminadas, particularmente
em reas de explorao mineira (6).
Apesar de alguns mtodos usados para remediar solos contaminados, como a
separao mecnica/pirometalrgica ou o tratamento qumico, serem eficientes,
estes so normalmente dispendiosos, muito trabalhosos e alteram completamente
todas as caractersticas dos solos (13).
- 41 -
-
_________________________________________________________Impacto dos metais pesados no ambiente
A fitorremediao uma tecnologia relativamente nova, que consiste no uso de
plantas para extrair metais pesados e outros ies como por exemplo o io nitrato,
sendo uma alternativa atractiva s tecnologias convencionais, devido ao baixo custo
para implementao e manuteno dos sistemas. Esta tecnologia aplicada de forma
intensiva nas estaes de tratamento de guas residuais, para melhorar a qualidade
da gua que lanada no ambiente.
Recentemente, o progresso no desenvolvimento tecnolgico da fitorremediao
tem conduzido manipulao gentica de plantas para facilitar a absoro de metais
pesados pelas plantas e a sua adaptao a concentraes elevadas de certos metais.
Assim, esta tcnica apresenta um enorme potencial para se tornar uma alternativa
efectiva, amiga do ambiente e barata, relativamente a outras tcnicas de remediao
(13-16).
A fitorremediao pode ocorrer atravs de vrios mecanismos dos quais se
referem os seguintes:
Fitoextraco - absoro e acumulao de metais pesados nos tecidos das
plantas. Os contaminantes podem ser absorvidos e armazenados pelas razes e/ou
serem transportados e acumulados nas partes areas das plantas. Esta tcnica
utiliza plantas chamadas hiperacumuladoras capazes de armazenar altas
concentraes de metais.
Fitoestabilizao imobilizao de contaminantes orgnicos ou inorgnicos
presentes nos solos, por incorporao nos tecidos celulares das plantas ou no
hmus do solo, precipitao na forma de sais pouco solveis, que podem ser
incorporados na matriz do solo. Este procedimento tem como objectivo evitar a
mobilizao dos contaminantes e limitar a sua difuso no solo, atravs do
crescimento de uma cobertura vegetal, bem adaptada contaminao dos solos.
Rizofiltrao - absoro, concentrao e/ou precipitao de contaminantes
presentes em meios aquosos, particularmente de metais pesados, atravs do
- 42 -
-
_________________________________________________________Impacto dos metais pesados no ambiente
sistema radicular de plantas, pela acumulao do elemento nos tecidos das razes
das plantas que crescem em guas contaminadas (17).
Actualmente, tm sido desenvolvidas tcnicas de remediao de solos
recorrendo a tratamento qumico que conserva as caractersticas dos solos, no qual se
promove a imobilizao dos metais in situ atravs de mecanismos de quelao, de
reduo e/ou de oxidao, e de formao de fases slidas muito pouco solveis (15).
RREEFFEERRNNCCIIAASS
(1) Martins, I.P., Costa, J.A.L., Lopes, J.M.G., Simes, M.O., Claro, P.R., Simes,
T.S., (22000044), Programa de Qumica 12 Ano, Curso Cientfico-Humanstico de
Cincias e Tecnologias, Lisboa: Ministrio da Educao, Direco Geral de
Inovao e de Desenvolvimento Curricular.
(2) eliK, A., (22000055), Determining the heavy metal pollution in Denizli (Turkey) by
using Robinio pseudo-acacia L., Environment International, 31, 105112.
(3) Saxena, S., DSouza, S.F., (22000066), Heavy metal pollution abatement using
rock phosphate mineral, Environment International, 32, 199202.
(4) Alloway, B.J., Ayres, D.C., (11999933), Chemical Principles of Environmental
Pollution, Glasgow: Blackie Academic & Professional. (5) Weber, J., Karczewska, A., (22000044), Biogeochemical processes and the role of
heavy metals in the soil environment, Geoderma, 122, 105107.
(6) Wei, S., Zhou, Q., Wang, X., (22000055), Identification of weed plants excluding
the uptake of heavy metals, Environment International, 31, 829834.
(7) Mulligan, C. N., Yong, R. N., Gibbs, B. F., (22000011), Remediation technologies for
metal-contaminated soils and groundwater: an evaluation, Engineering
Geology, 60, 193207.
(8) Alloway, B. J., (11999900), The origins of heavy metals in soils. In: Heavy Metals in
Soils, New York: Wiley, Blackie Academic & Professional, 2939.
- 43 -
-
_________________________________________________________Impacto dos metais pesados no ambiente
(9) Capitelli, F., Colao, F., Provenzano, M.R., Fantoni, R., Brunetti, G., Senesi, N.,
(22000022), Determination of heavy metals in soils by Laser Induced Breakdown
Spectroscopy-LIBS, Geoderma, 106, 4562.
(10) Cancs, B., Ponthieu, M., Castrec-Rouelle, M., Aubry, E., Benedetti, M.F.,
(22000033), Metal ions speciation in a soil and its solution: experimental data and
model results, Geoderma, 113, 341355.
(11) Bielicka, A., Bojanowska, I., Wisniewski, A., (22000055), Two faces of Chromium
Pollutant and Bioelement, Polish Journal of Environmental Studies, 14, 510.
(12) Evans, L.J., (11998899), Chemistry of metal retention by soils, Environmental
Science and Technology, 23, 1046-1056.
(13) Gardea-Torresdey, J.L., Peralta-Videa, J.R., Rosa, G., Parsons, J.G., (22000055),
Phytoremediation of heavy metals and study of the metal coordination by X-
ray absorption spectroscopy, Coordination Chemistry Reviews, 249, 1797
1810.
(14) Aldrich, M.V., Gardea-Torresdey, J.L., Peralta-Videa, J.R., Parsons, J.G.,
(22000033), Uptake and Reduction of Cr(VI) to Cr(III) by Mesquite (Prosopis
spp.): Chromate Plant Interaction in Hydroponics and Solid Media Studied
Using XAS, Environmental Science and Technology, 37, 18591864.
(15) Oste, L.A., Lexmond, T.M., Riemsdijk, W.H.V., (22000022), Metal Immobilization in
Soils Using Synthetic Zeolites, Journal of Environmental Quality, 31, 813-
821.
(16) Lasat, M.M., (22000022), Phytoextraction of Toxic Metals: A Review of Biological
Mechanisms, Journal of Environmental Quality, 31, 109120.
(17) Zayed, A.M., Terry, N., (22000033), Chromium in the environment: factors
affecting biological remediation, Plant and Soil, 249, 139156.
- 44 -
-
____________________________________________________________________ 44
OO CCRRMMIIOO EE SSEEUUSS CCOOMMPPOOSSTTOOSS
- 45 -
-
____________________________________________________________________ 44
- 46 -
-
___________________________________________________________________O crmio e seus compostos
Figura 4.1 Crocote (1)
44.. OO CCRRMMIIOO EE SSEEUUSS CCOOMMPPOOSSTTOOSS
44..11 OOCCOORRRRNNCCIIAA
A descoberta do crmio est associada s minas Beresof da Sibria, fontes de
ouro, cobre, prata e chumbo desde 1752. Os mineiros estavam familiarizados com um
mineral vermelho que se encontrava em pequenas quantidades a acompanhar o minrio
de chumbo. Johann Gottlob Lehmann investigou este mineral, conhecido como crocote
(Figura 4.1) e, em 1766, descobriu que originava uma soluo verde-esmeralda quando
dissolvido em cido muritico (cido clordrico). Lehmann morreu no ano seguinte,
quando um destilador contendo arsnio rebentou devido a sobre-aquecimento, mas em
1797 o qumico francs Nicolas Louis Vauquelin,
observou a beleza, raridade e aspecto semelhante ao
ouro deste mineral e, com base em vrias anlises
qumicas contraditrias, se empenhou na determinao
da composio correcta da crocoite. Aqueceu crocoite
pulverizada (PbCrO4) com duas partes de cinzas
alcalinas, obtendo uma soluo amarela. Esta soluo
formava um bonito precipitado vermelho com um sal de
mercrio e um precipitado amarelo com chumbo. Adicionando cloreto de estanho,
aquela soluo tornava-se verde. Em 1798 precipitou o chumbo com cido clordrico,
secou o slido verde e, depois, cozinhou-o durante meia hora num cadinho em brasa.
Sobre arrefecimento, formaram-se agulhas metlicas cinzentas, pesando um tero do
peso original. Devido grande variedade de cores dos seus compostos, deu a este
novo elemento o nome de crmio, que provm da palavra grega chroma () (2,3).
44..22 PPRROOPPRRIIEEDDAADDEESS FFSSIICCOO QQUUMMIICCAASS
O crmio um elemento de transio que pertence ao grupo VIB e com massa
atmica relativa 51,996. A configurao electrnica do crmio elementar no estado
fundamental 1s2 2s22p6 3s23p6 3d54s1.
- 47 -
-
___________________________________________________________________O crmio e seus compostos
O metal apresenta um brilho reluzente branco quando polido, resistente
corroso, algo frgil quando puro, mas extremamente duro quando usado como
componente de ligas metlicas.
A qumica redox do crmio muito rica, envolvendo estados de oxidao desde
-2 a +6, dos quais os mais comuns so o 0, +3 e +6. O crmio elementar no ocorre
naturalmente na Terra (3), encontrando-se normalmente na sua forma metlica em
ligas com outros metais, como o nquel, o ferro e o cobalto. Apesar do crmio
elementar, Cr(0), ser estvel oxidao pelo oxignio atmosfrico nas condies
ambientais, alguns processos a temperaturas elevadas, como a soldadura ou a
exposio a produtos qumicos corrosivos, conduzem formao de espcies em
estados de oxidao superior, Cr(III) e Cr(VI) (4). O Cr(VI) produzido
essencialmente pelo homem, embora exista na crocoite (3). O crmio trivalente a
forma de crmio predominante na Natureza (5), presente, por exemplo, na
ferrocromite (FeCr2O4), a fonte mais importante deste metal.
Os dois estados de oxidao mais estveis no ambiente, Cr(III) e Cr(VI), alm
de carga diferente, tm propriedades fsicoqumicas, reactividade qumica e
bioqumica/inorgnica diferentes. A toxicidade, mobilidade e disponibilidade do
crmio dependem fundamentalmente do seu estado de oxidao e da forma qumica
em que se encontra.
Os compostos de Cr(VI) so, em geral, muito solveis, mveis e biodisponveis,
quando comparados com as espcies de Cr(III), moderadamente solveis. Assim, mais
do que saber a quantidade de crmio total, torna-se necessrio ter um conhecimento
detalhado de cada uma das espcies, para avaliar, de forma apropriada, os efeitos
fisiolgicos e toxicolgicos do crmio, as suas transformaes qumicas nas guas, nos
solos e na atmosfera, bem como a sua distribuio e transporte no ambiente (6).
As alteraes no estado de oxidao so reguladas pelos respectivos
potenciais de reduo (Tabela 4.1) (3). O crmio trivalente o estado de oxidao
mais estvel (Figura 4.2), sendo necessria uma energia considervel para o converter
para estados de oxidao mais baixos ou mais elevados (6).
- 48 -
-
___________________________________________________________________O crmio e seus compostos
Tabela 4.1 Reaces redox e respectivos potenciais de reduo das espcies de crmio (3).
Reaco E0 (V) Alterao
2-Cr2O7 + H2O + 2e- 2CrO43- + 2H+ VI V 0,55 2- +Cr2O7 + 6H + 4e- 2CrO2 + 3H2O VI IV 0,95 2- +Cr2O7 + 14H + 6e- 2Cr3+ + 7H2O VI III 1,38
CrO43- + + 4H + e-