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GT 11- DIVERSIDADE, PRÁTICAS EDUCATIVAS E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
UNIVERSITÁRIOS SURDOS APRENDEM DIFERENTE DOS OUVINTES
MEDEIROS, Maria Gorete de (UFCG)Universidade Federal de Campina Grande
RESUMO
Graças às políticas públicas relacionadas à Lei da Libras (Lei nº 10.436, de 24/04/2002; Decreto nº 5.626, de 22/12/2005) e ao ensino bilíngue, no Brasil a questão da inclusão escolar dos surdos tem sido mais discutida, pesquisada e estudada, nos níveis de Educação Infantil e Ensino Fundamental, do que na Educação Superior. Mesmo assim, ainda há carência de trabalhos científicos que se atenham às questões inerentes às atitudes metodológicas nas práticas de ensino aos surdos que estão inseridos nas escolas regulares, havendo quase omissão dessas atitudes em relação ao ensino inclusivo nas universidades. O Censo do Ensino Superior informa que de 2003 até 2009 houve um aumento de sete vezes o número de surdos presentes nas universidades brasileiras. Atualmente esse número já deve ter crescido bastante. Quando nas universidades se registra a presença de estudante surdo, é muito comum os docentes aplicarem, predominantemente, uma prática de ensino como se, além da distinção linguística, não houvesse nenhuma diferença entre o modo de aprender dos surdos em relação aos alunos ouvintes. O trabalho de pesquisa que ainda desenvolvo parte da constatação de que os universitários surdos aprendem de jeito diferente dos ouvintes. Constatado isto, ainda pretendo oferecer explicações relacionadas à necessidade dos docentes universitários desenvolverem prática de ensino que também considere as particularidades de modo de aprender do universitário surdo. O objetivo desta comunicação oral é esclarecer como os estudantes universitários surdos divergem dos ouvintes quanto à dinâmica dos esquemas cognitivos, utilizados nas situações de aprendizagem, de acordo com o Ciclo de Aprendizagem Experiencial (CAE). Sob as contribuições de autores como Bisol et al. (2010), Cerqueira (2000) e Kolb (1984), foi realizada a análise das respostas que vinte universitários surdos revelaram durante a aplicação (em Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS) do Teste do Inventário dos Estilos de Aprendizagem (IAE). Partindo da definição de estilos de aprendizagem que combinam a experiência concreta, observação reflexiva, conceitualização abstrata e a tomada de decisões, este instrumento foi criado por David Kolb para possibilitar que o universitário demonstre respostas que evidenciem qual seu estilo de aprendizagem prevalente, o mais ou menos prevalente e o menos prevalente nas situações de aprendizagem. No Brasil, já existem resultados desta pesquisa para universitários ouvintes (Cerqueira, Ibid), mas não existia para universitários surdos, o que caracteriza o resultado hora apresentado como inédito neste país. Este comprova que universitários surdos e ouvintes apresentam trilhas de aprendizagem diferenciadas, quanto à utilização dos esquemas cognitivos em situações de aprendizagem. Mediante isto, concluo que a prática de ensino a universitários surdos junto aos ouvintes precisa ser repensada, para que melhor se adeque ao ensino inclusivo nas universidades.
Palavras chave: Estilos de Aprendizagem, Universitários Surdos, Educação Inclusiva.
1. INTRODUÇÃO
Em razão das políticas públicas relacionadas à Lei da Libras (Lei nº 10.436, de
24/04/2002; Decreto nº 5.626, de 22/12/2005) e ao reconhecimento linguístico da
importância do ensino bilíngue, no Brasil a inclusão escolar dos surdos tem sido mais
intensamente discutida, pesquisada e estudada considerando aspectos linguísticos, culturais e
pedagógicos mais relacionados aos níveis de ensino que correspondem à Educação Infantil e
ao Ensino Fundamental do que ao nível do Ensino Superior. Ainda assim, é notória a carência
de efetivações de trabalhos circunscritos às questões próprias das atitudes metodológicas nas
práticas de ensino aos surdos inseridos nas escolas regulares, havendo quase omissão dessas
atitudes em relação ao ensino inclusivo nas universidades.
Em relação à presença de estudantes surdos nos cursos universitários, o Censo do
Ensino Superior informa que no período de 2003 a 2009 foi detectado um aumento de sete
vezes o número de surdos presentes nas universidades brasileiras. Como estamos em 2016, é
estimável que atualmente esta perspectiva tenha aumentado consideravelmente.
Reflexões sobre a inclusão de universitários surdos, como as de Bisol et al. (2010),
informam que, quando há estudante surdo nas universidades, é muito comum o fato dos
docentes aplicarem, predominantemente, uma prática de ensino direcionada pela suposição de
que, além da distinção linguística, não há diferença entre o modo de aprender dos surdos em
relação ao modo como aprendem os universitários ouvintes.
Diante dessa realidade, a grande parte dos surdos que já passaram, ou ainda estão
passando, pela universidade é constituída por aqueles cuja identidade surda contém
características que, em alguns pontos, lhes tornam semelhantes aos ouvintes, tais sejam:
habilidade para realizar leitura labial; captação de algum som pelo uso de aparelhos auditivos;
capacidade de oralizar e de ler e de escrever em língua portuguesa de forma mais aproximada
à estrutura gramatical da língua oral.
Para esses, mesmo com muita dificuldade, a possibilidade de transpor as disciplinas é
maior do que para aqueles que apresentam características surdas mais genuínas. O olhar da
minha pesquisa volta-se mais para o surdo cujas características de identidade Surda (PERLIN,
2000) aproximam-se mais do jeito original de ser surdo, o que evidencia suas diferenças
profundas, em relação ao jeito de ser ouvinte, e faz notória a realidade de que o ensino
universitário precisa considerar as suas diferenças e a elas adaptar o ensino em função de,
também, propiciar ao estudante surdo aprendizagens mais consistentes. Entendo que partindo
da realidade do sujeito originalmente Surdo os resultados da minha pesquisa também
beneficiarão aqueles cuja identidade surda lhes aproxima do jeito de ser do ouvinte.
Daqui para frente, sempre que for feita referência ao universitário surdo enquanto
objeto de investigação do meu trabalho o nome Surdo estará escrito com letra inicial
maiúscula. Esta denominação foi estabelecida pela fonoaudióloga e pesquisadora Maria
Cecília de Moura e revela o sentido de que esse sujeito não somente é referido pela sua
deficiência em relação à capacidade de ouvir, mas, também, pela sua particularidade de falar
com as mãos e ter experiência visual como meio de conhecer o mundo, possibilitando-lhe
cultura própria.
Antes de ressaltar a necessidade de ajustes no ensino universitário, para que também
considere o modo como aprende o Surdo, o trabalho de pesquisa que ainda desenvolvo parte
da constatação de que os universitários Surdos aprendem diferente dos ouvintes. Seus
resultados finais propiciarão benefícios aos professores universitários e aos universitários
Surdos, pois, se àqueles ofertam esclarecimentos propensos à aplicação de ensino adequado
ao jeito dos Surdos aprenderem, indiretamente a estes podem ocasionar melhor aprendizagem,
na medida em que aqueles investirão em iniciativas que redundem na melhor adequação do
ensino aos esquemas utilizados pelos alunos Surdos, nas suas experiências de aprendizagens.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 No âmbito da prática do ensino universitário
Confirmando as informações ofertadas por Bisol et al. (2010) com depoimentos de
universitários Surdos com os quais interagi até agora, afirmo que a academia é um contexto
escolar caracterizado por exigências de patamar muito superior ao das exigências conhecidas
pelo alunado Surdo nos níveis anteriores de ensino e na escola especial para surdos. Isto
acontece não somente porque esse contexto reflete um nível de ensino que contém dinâmicas
diferenciadas e requer maior atitude de iniciativa dos universitários, mas, essencialmente,
porque suas normas, princípios e características são pertencentes ao mundo dos ouvintes e
desconsideram a realidade sociocultural, política e pedagógica dos Surdos.
Colegas de curso, do Surdo, e a grande maioria dos docentes são ouvintes e não
possuem esclarecimentos sobre as particularidades socioculturais nem educacionais dos
Surdos, razão pela qual durante as aulas tanto os colegas como os professores costumam
partilhar ideias que são de senso comum entre ouvintes; são ignorantes a respeito da Língua
de Sinais Brasileira (LIBRAS); esquivam-se dos estudantes Surdos porque com eles têm
dificuldades em estabelecer um relacionamento social e pedagógico que lhes possibilitem
satisfazer as necessidades de relacionamento e de aprendizagem que lhes são específicas.
Marschark et al. (2005, apud BISOL et al. 2010) assevera que o processo de inclusão
universitária ao sujeito Surdo presume que a estrutura discursiva e a informação transmitida
pelo professor, ouvinte, também precisam ser apropriadas para o conhecimento e os Estilos de
Aprendizagem (EAs, doravante) dos alunos Surdos, mesmo que dentre estes haja
heterogeneidade quanto às competências linguísticas necessárias à interpretação dos textos e
quanto ao nível de preparo para fazer um curso universitário.
Em relação aos ouvintes, Cerqueira (2000) conferiu que na prática de ensino
acadêmico há uma falta de reciprocidade entre modos de aprender e de ensinar. Também falta
oferta de uma diversidade de estratégias de ensino que possibilitem ao universitário alargar
suas próprias estratégias de aprendizagem. A autora afirma que muitos acadêmicos
habilidosos não puderam desenvolver potenciais que teriam sido aumentados caso essa
problemática não fosse tão forte no ensino universitário. Isto significa que, mediante a
massificação do ensinar, do que é ensinado e das didáticas utilizadas na academia, o empenho
da aprendizagem tende a acontecer de modo insatisfatório.
Referindo-se a Mizukami (1996 apud KURI, 2004), Pereira (2005) assevera que,
apesar de o modelo tradicional de ensino não dever ser desconsiderado por representar uma
aquisição do conhecimento, faz-se necessário se estabelecer novas metodologias que atendam
às preferências e necessidades dos alunos, criando as condições que estes precisam para
construir seu próprio conhecimento. Desta maneira o paradigma tradicional não é substituído,
mas é complementado por uma postura professoral na qual quem ensina passa a ser
“provedor” da informação e do conhecimento e passará ao papel de “facilitador” da aprendizagem, tornando-se o guia, o parceiro na busca de informação, aquele que incentiva a ativa participação do aluno, que cria condições de estimulá-lo [...] apresentando aos alunos as novas didáticas e maneiras para se aprender [...] o aluno,
mantendo acesa a curiosidade de aprender mais e incrementar o desejo do conhecimento, sabendo a importância do porquê construir o conhecimento e, principalmente, manifestando entusiasmo para aprender a aprender (PEREIRA, 2005, p. 19).
Sob esse propósito, o conhecimento do EA do aluno pode ser condição relevante para
a definição de estratégias motivadoras de ensino aos alunos. Nessa situação Kuri (2004, p. 77
apud PEREIRA 2005, p. 21) propõe que “à medida que o professor toma consciência de que
cada estudante tem sua própria maneira de aprender e de se relacionar, passa a promover um
ensino orientado por esses parâmetros, utilizando estratégias que promovam um aprendizado
mais eficaz e duradouro”. Assim, a cada professor universitário cabe desenvolver a
consciência de que a sua própria prática e experiência deve ser fonte de inspiração para a
busca de alternativas que enriqueçam suas práticas de ensino em perspectiva de oportunizar
aprendizado cada vez mais consistente.
Considerando a educação universitária inclusiva às pessoas Surdas, é possível dizer
que neste caso existem peculiaridades que tornam essa problemática mais profunda em
“carências”, implicando em necessidades que, para serem satisfeitas, requerem da instituição
posturas radicais. Desta forma, o ensino universitário ao Surdo requer do docente algumas
posturas, decisões e determinações que lhe exigem mais esforço e investidas do que no caso
relacionado ao universitário ouvinte.
São muitas as questões que abarcam a performance acadêmica de universitários
Surdos e elas precisam ser expressivamente pesquisadas, pois mesmos nos países cujo
processo de inclusão se encontra em estágio mais avançado ainda há muito a se buscar em
termos de soluções. De acordo com Martins (2006 apud BISOL et al., 2010), as diretrizes
gerais relacionadas à diferença linguística e à oferta de subsídios metodológicos específicos
como materiais adequados, tecnologias de ensino e serviços de apoio individualizados têm
sido as questões mais enfocadas, mas existem outras que ainda precisam ser desbravadas.
2.2 Estilos de Aprendizagem
Estilos de Aprendizagem correspondem às diferentes maneiras pelas quais uma pessoa
percebe, processa, integra e recorda informações. Existem alunos que podem ser denominados
de sujeitos ativos na aprendizagem porque priorizam os EAs em que
primeiro se envolvem totalmente na ação para depois pensar. Por outro lado, existem aqueles
que podem ser denominados de sujeitos teóricos porque percorrem o caminho inverso, na
medida em que, primeiro, se ligam às observações para pensarem de forma sequencial e
ordenada, na perspectiva de analisar e sintetizar a informação.
Dentre os modelos de EAs divulgados, considerei a teoria da aprendizagem
experiencial ou Ciclo de Aprendizagem Experiencial (CAE, doravante) do norte americano
David A. Kolb (nascido em 1939). Este estudioso é um teórico da educação cujos interesses e
publicações atribuem importância à aprendizagem experiencial, e é um dos autores mais
conhecidos e influentes da difusão dessa perspectiva teórica ou escola de aprendizagem.
Após muitos anos de pesquisa, David Kolb, inspirado nos trabalhos de Vygotsky, publica
em 1984 seu estudo sobre modelos de aprendizagem. Este trabalho fornece aos pesquisadores,
importante subsídio tanto para a compreensão como para a explicação do comportamento de
aprendizagem humana. Todo o trabalho de desenvolvimento de seus fundamentos teóricos está
relatado no livro “Experiencial Learning: experience as the source of development”,
publicado em 1984. Kolb utiliza a visão de três autores clássicos no campo da Educação (John
Dewey, Kurt Lewin e Jean Piaget) para ressaltar o crédito do seu argumento em relação à
ideia de que a teoria da aprendizagem experiencial concentra-se numa perspectiva integrada e
holística que combina a experiência, a percepção, a cognição e o comportamento.
De acordo com esse autor, o homem é capaz de aprender a partir de suas experiências.
Este modelo foi denominado de Aprendizagem Experiencial (AE, doravante). No entendimento
de Kolb, por estar inserido em um contexto cultural e mesmo integrado ao meio natural, o homem
pode se empenhar para buscar o aprendizado de algo que lhe faça sentido dentro de vivências já
realizadas. De acordo com Pimentel (2007) a premissa da AE é que todo desenvolvimento
futurológico decorre da aprendizagem atual e que o desenvolvimento já formado é indispensável
para o aprendizado. No entanto, é interessante ressaltar que nem toda experiência resulta em
aprendizado, uma vez que a aprendizagem é, sobretudo, mental. Isto significa que apropriar-se
dos saberes procedentes da experiência requer processos contínuos de ação e reflexão.
Quando a teoria kolbiana afirma que no processo de aprender o conhecimento é criado através
da transformação da experiência, também reconhece que o conhecimento é um processo de
transformação, sendo continuamente criado e recriado. Assim, a aprendizagem transforma a
experiência tanto no seu caráter objetivo quanto no subjetivo. Isto implica dizer que para
compreendermos aprendizagem precisamos compreender a natureza do desenvolvimento, e vice-versa.
É a partir disto que a aprendizagem passa a ser compreendida como um processo social e a
interação entre os conhecimentos prévios, a trajetória e as circunstâncias do ambiente externo
adquirem importância na teoria da AE. Para Kolb, “o processo de aprendizagem advindo da
experiência determina e atualiza o desenvolvimento potencial”. Esta aprendizagem é um processo
social; portanto, o curso de desenvolvimento individual é determinado pelo sistema cultural e social de
conhecimento (Kolb, 1984, p. 133 apud ABREU, SANABIO e MENDONÇA, s/d, p. 10).
Kolb apresenta quatro tipos de EA que perfazem o CAE com quatro estágios. Mostra
que experiências concretas oferecem base para a ocorrência de reflexões e observações que
subsidiam a construção de conceitos abstratos. Por sua vez, estes geram novas implicações
para as ações que podem ser ativamente testadas para a criação de novas experiências.
Reportando-se a Batista e Silva (2010, p. 3) Abreu, Sanabio e Mendonça (2013) afirmam que este processo representa um círculo de aprendizagem ou espiral onde o aprendiz ‘toca todas as bases’, isto é, um círculo de experiência, reflexão, pensamento e atividade. Experiências concretas ou imediatas conduzem a observações e reflexões. Essas reflexões são então assimiladas (absorvidas e traduzidas) em conceitos abstratos com implicações para a ação, que a pessoa pode ativamente testar e com as quais experimentar o que, por sua vez, habilita a criação de novas experiências (Idem, p. 10).
Assim de acordo com Pimentel (2007), a Teoria do CAE de Kolb abrange um círculo
de quatro estágios que caracterizam o processo de AE, a saber: Experiência Concreta,
Observação Reflexiva; Conceitualização Abstrata e Experimentação Ativa (doravante, estas
serão referidas como EC, OR, CA e EA, respectivamente).
A EC abrange o contato direto com experiências e situações que trazem problemas para
serem solucionados. Neste estágio, as ações e os processos mentais anteriores são utilizados como
matéria prima para as aprendizagens seguintes. A OR relaciona-se ao olhar interior, à reflexão e à
meditação sobre situações vivenciadas e abrange a identificação de elementos, associações e
agrupamentos entre fatos. A CA engloba a comparação entre realidades semelhantes e a formação
de conceitos, abstração úteis para outros elementos da experiência. Caracteriza-se pelo
estabelecimento de sínteses, trocas de opiniões, onde um eixo comum de ideias é estabelecido. A
EA compreende um movimento externo da ação, corresponde à repercussão da aprendizagem,
gerando experiências inéditas. Por isto evolve a aplicação prática dos conhecimentos e processos
assimilados.
Isoladamente, cada um desses quatro estágios não têm muito sentido para a
aprendizagem, mas combinando-se refletem os modos pelos quais as pessoas mobilizam seus
esquemas de aprendizagem. Assim, pela união das duas dimensões opostas, concreto/abstrato
e a do ativo/reflexivo, essas combinações estabelecem quatro modos de gerar conhecimentos,
a saber: pelo fazer (experiência); pelo observar e reflexionar (reflexão); pelo desenvolver de
conceito e generalizações teóricas (conceitualização) e pela experimentação ativa (aplicação).
Desta forma, como assevera Pimentel (2007), dispostas nas dimensões que
caracterizam como processamos e como sentimos a aprendizagem, essas combinações
determinam quatro EAs que definem se o sujeito prefere ter experiências concretas ou se
pensa e raciocina o objeto de pensamento; se prefere observar e reflexionar sobre a
informação ou utilizá-la de uma maneira rápida para poder compreendê-la.
Pela combinação dos quatro estágios (EC, OR, CA e EA) surgem os EAs
denominados de Divergente (EC+OR), Assimilador (CA+OR), Convergente (CA+EA) e
Acomodador (EC+EA). Considerando percepção e processamento (enquanto forma pela qual
fazemos as coisas), é possível afirmar que os alunos divergentes aprendem pelas experiências
concretas (sentindo e observando), os assimiladores pela observação reflexiva (pensando e
observando), os convergentes pela conceitualização abstrata (pensando e fazendo), os
acomodadores pela experiência ativa (sentindo e fazendo).
3 METODOLOGIA
Sujeito Surdo difere do ouvinte tanto porque não ouve como porque desenvolve
potencialidades psicoculturais próprias. Por isto também podem apresentar modos
diferenciados de aprender. Daí porque senti a necessidade de saber se, em relação aos
ouvintes, há, ou não, diferença na trilha de aprendizagem dos universitários surdos.
Na versão de LIBRAS, utilizei o Teste do Inventário dos Estilos de Aprendizagem
(IEA) de Kolb, que Cerqueira (2000) utilizou para detectar os EAs predominantes nos
universitários ouvintes. Apliquei este instrumento a vinte e dois (22) universitários Surdos,
sendo uma parte do Estado da Paraíba e outra do Estado de Pernambuco.
Partindo da definição de EA que combinam a experiência concreta, observação
reflexiva, conceitualização abstrata e a tomada de decisões, o IEA foi criado por David Kolb
para possibilitar que o universitário demonstre respostas que evidenciem qual seu estilo de
aprendizagem prevalente, o mais ou menos prevalente e o menos prevalente nas situações de
aprendizagem. No Brasil, esses resultados não existiam para universitários Surdos, o que
caracteriza o resultado hora apresentado como inédito neste país.
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
4.1 Como se diferenciam os modos de aprender dos universitários Surdos em relação aos
ouvintes
Seja o aprendiz criança, jovem ou adulto, a aprendizagem experiencial lhe é de suma
importância e serve a diversos tipos de aprendizes. Tanto é assim, que Kolb (1984) descreveu
os quatro tipos de aprendizes e como o CAE ajuda para que cada aluno possa participar de
uma aula no seu jeito mais adequado.
Tanto adultos quanto crianças possuem jeitos diferenciados de aprender. Enquanto
alguns integram os valores pessoais na aprendizagem e preferem saber quais os princípios que
estão por trás do que estão aprendendo, outros integram as próprias experiências na
aprendizagem e se interessam mais pela lógica que há por trás de uma ideia. Enquanto alguns
aprendizes associam rapidamente a teoria com a prática e gostam de resolver problemas,
outros sempre perguntam ‘E se?’ e preferem conectar conceitos com aplicações concretas.
Detectei que existe diferença entre o percurso que os universitários surdos os ouvintes
percorrem no CAE, de acordo com a prioridade revelada por estes dois grupos de estudantes.
Cerqueira (2000) revela qual é a trilha de aprendizagem preferencial dos universitários
ouvintes no Brasil. Na sua obra é evidente o fato de que o resultado da sua pesquisa foi o
mesmo alcançado por Kolb, na oportunidade em que este autor pesquisou a prioridade da
trilha de aprendizagem no CAE de vinte (20) universitários norte-americanos.
Explicando o funcionamento do CAE, com início pela EC, Pimentel (2007) diz que o
prosseguimento da trilha de aprendizagem avança através da observação, sobre as condições
da experiência, sua meta e as ações levantadas. Assim, inicialmente o exemplo proveniente da
experiência em ressalte é compreendido, favorecendo o exame e a seleção de ações aplicáveis
a circunstâncias parecidas, para antecipar novas experiências e imaginar ações admissíveis.
A trilha segue requerendo a descoberta de princípios gerais, sendo nesta etapa que são
levantadas hipóteses explicativas, não somente pertinentes ao exemplo particular, mas de
caráter mais concludente, sendo proveitosas para novas situações de aprendizagem. A seguir,
os conhecimentos e desenvolvimento resultantes podem ser experimentados, pela experiência
ativa, sendo a partir daí que o ciclo se renova de modo ascendente e contínuo. Desta forma, o
CAE envolve primeiro sentir a experiência, depois observá-la reflexivamente, pensar seus
conceitos para fazer, aplicando-os em resoluções de problemas práticos.
Descrevendo como Surdos e ouvintes universitários diferem numa rodada inicial,
enquanto trilha de aprendizagem a ser percorrida no CAE, afirmo que no cumprimento da
etapa inicial deste Ciclo, a maioria dos universitários ouvintes prefere refletir para descobrir a
lógica que há por trás de uma ideia, a partir da pergunta “O quê?”, enquanto a maioria dos
Surdos prefere conectar rapidamente a teoria com a prática, especialmente em resoluções de
problemas, a partir da pergunta “Como?”. Na segunda etapa escolhida por cada desses grupos,
os ouvintes passam a integrar seus valores pessoais nas aprendizagens e preferem descobrir os
princípios que há por trás do que estão aprendendo, partindo da pergunta “Por quê?”. Já os
Surdos firmam conexão dos conceitos com aplicações concretas, a partir da pergunta “E se?”.
Na terceira etapa, os ouvintes dirigem-se para a que foi primeiramente escolhida pelos
Surdos, enquanto estes se dirigem para aquela que foi a segunda escolhida pelos ouvintes.
Como última etapa escolhida numa rodada, os ouvintes rumam para aquela que foi a segunda
escolhida pelos Surdos e estes rumam para a que primeiramente foi escolhida pelos ouvintes.
Nessas dinâmicas, ressalto algumas situações curiosas que me chamam a atenção.
A primeira delas corresponde à constatação de que, numa rodada de percurso pelas
etapas do CAE, a preferência inicial de aprendizagem dos universitários ouvintes e dos
Surdos revela que tanto um quanto o outro grupo partem da dimensão abstrata, migrando em
direção à dimensão concreta. Mesmo assim, fica explícita a diferença do caráter dessa
escolha, pois os ouvintes preferem refletir (OR) e os Surdos preferem fazer (EA), significando
que os ouvintes iniciam sua trilha de aprendizagem priorizando o raciocínio indutivo,
enquanto os Surdos priorizam a dedução pela aplicação prática das ideias.
A segunda situação corresponde à constatação de que em nenhum momento de uma
mesma rodada há coincidência na escolha de etapa pelos dois grupos; o comportamento
assimilador é prioritário para os ouvintes, este é o menos preferido para os Surdos. Por outro
lado, o comportamento de aprendizagem menos preferido pelos ouvintes (acomodador) é o
segundo mais preferido pelos Surdos.
A terceira situação refere-se à firmeza na preferência dos universitários Surdos. Ao
partirem da dimensão abstrata, mas sob a perspectiva da prática, mantêm seu curso no CAE
cumprindo as duas etapas da dimensão concreta para, finalmente, encerrar a rodada do Ciclo
na dimensão abstrata, mas sob a perspectiva de estabelecer modelos teóricos através da
indução. Isto permite dizer que o universitário Surdo aprende melhor pelas estratégias que
ressaltam a dedução, enquanto o ouvinte aprende melhor pelas que ressaltam a indução.
A quarta situação que ressalto é aquela que caracteriza uma quebra no movimento
circular do CAE por parte dos universitários ouvintes. Ao vivenciarem o estilo convergente de
aprendizagem, estes voltam à dimensão abstrata para vivenciar o modo convergente de
aprender, rumando, novamente, para a dimensão concreta, culminando sua rodada no CAE
pela experiência do estilo acomodador de aprendizagem.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existindo diferença entre a trilha de aprendizagem dos universitários Surdos e a dos
ouvintes, evidencio que, dentre os demais aspectos que precisam ser considerados no processo
de inclusão do Surdo no contexto acadêmico, este é mais um aspecto a ser considerado pelo
docente universitário na perspectiva de adequar o modo como ensina à diversidade que marca
o Surdo, sendo que o desafio é ensinar a estudantes ouvintes e Surdos, juntos numa mesma
sala, de modo que ambos sejam satisfeitos nas diferentes trilhas de aprendizagem que
especificam suas preferências nos jeitos de aprender.
Isto significa dizer que, em havendo essa diferença, é incoerente o professor
universitário que tem aluno Surdo continuar a agir como se este fosse igual ao ouvinte,
precisando apenas de um bom intérprete para lhe assessorar. É por isto que é importante que
ao professor seja esclarecida a forma como o universitário Surdo aprende para que, a partir
desse conhecimento, ele desenvolva habilidades que o torne capaz de promover um ensino
lastreado nesse conhecimento, utilizando estratégias que também impulsionem o estudante
Surdo a um aprendizado mais eficaz.
Sob essa possibilidade, o meu trabalho científico segue seu rumo abrangendo a
elaboração de explicações mais concisas sobre como o universitário Surdo aprende, ao tempo
em que sistematiza orientações interessantes sobre a forma como o docente, do ensino de
nível superior, pode encaminhar seu ensino de maneira que fomente aprendizagens de melhor
qualidade ao conjunto de alunos que abranja sujeitos Surdos e ouvintes numa mesma
disciplina acadêmica.
6 REFERÊNCIAS
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PIMENTEL, A. A teoria da aprendizagem experiencial como alicerce de estudos sobre desenvolvimento profissional.In: Estudos de Psicologia, vol. 12, nº 2, 2007, pp. 159-168. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal – RN.
VERSTEEG-VEDANA, Florentine e VERSTEEG-VEDANA, Henrique. Aprendizagem Experiencial – Por que é tão importante para adultos?. Manifesto 55: Lagoa da Conceição – Florianópolis – SC, (13/08/2016). Disponível em <https://manifesto55.com/aprendizagem-experiencial-por-que-e-tao-importante-para-adultos/ > (Acesso realizado em 20/09/216).