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2. Comportamento de Maciços Rochosos Fraturados e Mecanismos de Ruptura no Processo de Erosão
2.1. Introdução
Os maciços rochosos sob o ponto de vista de sua utilização na engenharia
civil são compostos por um conjunto de blocos originados da rocha intacta, sendo
limitados pelas descontinuidades. Deste modo o comportamento mecânico e
hidráulico de um determinado maciço rochoso é função das propriedades da rocha
intacta, bem como das descontinuidades presentes.
Peironcely, 1978; Menezes, 2004 e outros autores, apontam as
descontinuidades presente nos maciços rochosos, como as que possuem maior
influência no comportamento hidro-mecânico dos maciços rochosos. Como por
exemplo, em problemas de fundação de barragens, o maciço intacto, de um modo
geral, se apresenta menos deformável e permeável que as descontinuidades, sendo
assim, as propriedades mecânicas e hidráulicas serão regidas pelas
descontinuidades.
Além deste fato, as descontinuidades e outras fraturas planares modificam
radicalmente o comportamento da rocha, devido à distribuição aleatória destes,
gerando uma considerável anisotropia nas propriedades do maciço rochoso,
principalmente em anisotropia de resistência.
A caracterização do maciço rochoso não é tão simples, pois estes se
apresentam como um meio descontínuo, anisotrópico e heterogêneo. Como no
caso de se executar uma obra de engenharia em um maciço, este tem suas
condições de equilíbrio alteradas, tanto no estado de tensões quanto nas condições
hidráulicas, fazendo com que a maioria dos problemas tenham seu tratamento de
forma acoplada.
O impacto do jato d’água nos maciços rochosos e sua conseqüente
percolação, através da fissuração em geral existente, uma vez que é muito difícil
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de ter um maciço rochoso intacto, faz gerar problemas de estabilidade devido a
formação de erosões próxima a fundação da barragem, alterando também o
comportamento destes ao longo dos anos.
Entre as causas mais freqüentes de acidentes e incidentes que ocorrem em
barragens, cerca de 56% ( International Comission Of Large Dams, 1983),
ocorrem em decorrência de problemas de erosões internas (Piping) ou a jusante,
problemas de galgamento, em decorrência do má dimensionamento do dissipador
de energia (fator hidráulico) ou do próprio vertedouro, imprópria escolha da cheia
de projeto (fator hidrológico) e/ou falhas operacionais (fator humano ou eletro-
mecânico no caso de barragens com comportas).
Um exemplo de erosão hidrodinâmica é a barragem Malpaso (México),
equipada com um vertedouro de grande forma e uma bacia de dissipação. O
vertedouro Trabalhou de 1967-1969 sem problemas. Em 1970, devido a uma
descarga maior, danos graves foram observados nas lajes de concreto da bacia de
dissipação e também por baixo da fundação de rocha subjacente (Bribiesca &
Viscaíno, 1973). Outros exemplos são em Kariba Zimbabué (Ramos, 1982) ou
Cabora Bassa, em Moçambique (Quintela & Da Cruz, 1982).
Segundo Bollaert 2006, as erosões em fundações de rochas devido à alta
velocidade do impacto dos jatos são governadas pela interação das fases: liquida
(jato de água), fase gasosa (bolhas de ar) e fase sólida (massa rochosa), Ou seja, é
o resultado da interação entre o desenvolvimento da aeração do fluxo turbulento e
a fratura da massa solida.
O fenômeno de erosão a jusante de barragens necessita do conhecimento
das características do fluxo turbulento, para que se possam desenvolver métodos
para quantificar a capacidade erosiva. Similarmente, também é necessário
entender e investigar os mecanismos de falha da rocha a fim de que se possam
desenvolver práticas que avaliem a resistência da rocha a erosão hidrodinâmica.
Bollaert (2002) descreve os principais fenômenos físicos envolvidos na
formação de erosões de rochas fraturadas em piscinas e bacias de dissipação e
destaca a importância de um protótipo em escala tanto das características do fluxo
turbulento quanto das características geomecânicas na boa previsão do fenômeno.
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Apesar da complexidade do fenômeno, a literatura tem apontando uma
variedade de estudos na tentativa de uma melhor compreensão do mesmo. Reinius
(1986) realizou um estudo sobre a erosão de meios fraturados artificiais sujeitos a
um fluxo paralelo à superfície, um exemplo semelhante ao que ocorre em túneis,
canais, e nas paredes laterais das regiões a jusante das bacias de dissipação.
Para o estudo, foram realizadas duas séries de ensaios, em que na primeira
série de ensaios, os blocos eram montados de tal forma a resultarem juntas
praticamente verticais e com um pequeno dente ou degrau entre eles, e a segunda
série onde as inclinações dos blocos e a dimensão desses dentes variaram amplamente
cujo esquema pode ser mais bem entendido na Figura 2.1.
β
k
Figura 2.1 - Esquema dos experimentos de Reinius. (Reinius,1986)
O autor ainda ressalta que a resistência ao destacamento do bloco é função
da forma e do peso deste e das forças cisalhantes entre blocos adjacentes, sendo a
resistência ao cisalhamento das juntas função da abrasividade das superfícies e do
material de preenchimento.
Outro fato observado nos ensaios se deve ao fato de que um possível
mecanismo de instabilização do bloco está ligado à ação da alta velocidade do
fluxo diretamente sobre os dentes e, em seguida passando para o interior do meio,
através das descontinuidades. Este mecanismo é função basicamente da forma e
do grau de embricamento dos blocos.
São apresentados também medidas para atenuar o processo tais como
instalação de tirantes e furos de drenagem e suavização dos degraus entre blocos.
Os resultados obtidos nesse estudo vêm sendo utilizados na prática, na previsão de
pressões hidrodinâmicas a jusante de bacias de dissipação.
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A avaliação do desempenho das estruturas hidráulicas, a observação de
fenômenos naturais em conjunto com estudos experimentais em laboratório e
modelos numéricos e analíticos tem tornado os processos deste fenômeno de
maior entendimento
Um dos principais problemas no desenvolvimento dos métodos para
estudo de erosões em rocha, esta associados ao entendimento dos fenômenos
físicos envolvidos no processo, cuja maioria não pode ser descritos e nem testados
em escala de laboratório.
Neste contexto, o presente capítulo apresenta uma revisão sobre os
aspectos relevantes do comportamento mecânico, hidráulico e hidromecânico dos
maciços rochosos. Sendo em seguida apresentado os principais fenômenos físicos
envolvidos na formação de erosões em maciços rochosos fraturados à jusante de
dissipadores do tipo salto esqui, além de alguns métodos existentes ao estudo do
fenômeno erosivo.
2.2. Comportamento hidráulico de maciços rochosos fraturados
Muitos estudos existentes na literatura (Louis, 1964; Vargas, 1982;
Andrade, 1988 e outros) apontam que o fluxo de fluídos em maciços rochosos é
condicionado principalmente pelas descontinuidades ou pelo sistema de fraturas,
uma vez que a rocha sã de um modo geral apresenta baixa permeabilidade.
Embora normalmente não seja considerado, o fluxo através da rocha intacta pode
vir a ter importância nos casos em que a matriz rochosa possua alta
permeabilidade.
O comportamento do fluxo pela rocha intacta se processa de maneira
semelhante ao fluxo em meios porosos. Esta análise foi amplamente descrita e
estudada por autores como Verruijt (1970) ou Cherry (1979) e não será estudada
neste trabalho.
O comportamento hidráulico vem sendo analisado por diversos
pesquisadores através da realização de experimentos e elaboração de modelos
empíricos e analíticos, onde foi observado que o comportamento de uma
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descontinuidade é fortemente influenciado pelo regime de fluxo, ou melhor, por
suas características hidráulicas e geométricas.
Em 1947 Lomize, pesquisou o comportamento de fluxos de tipo laminar e
turbulentos em descontinuidades artificiais, sendo observada a influência de
diversos fatores tais como: posição, espessura, rugosidade, forma das
descontinuidades e estruturas de suas paredes.
Louis (1969) realizou estudos sobre o comportamento hidráulico das
descontinuidades e obteve o desenvolvimento analítico do processo através da
análise dos dados dos ensaios experimentais tanto em regime laminar quanto para
regime turbulento, sob diferentes condições de contorno, rugosidade das paredes,
aberturas das descontinuidades, gradiente hidráulico, temperatura do fluído e
outros aspectos no intuito de obter equações de fluxo e leis de resistência.
A seguir é apresentada uma tabela com analises de leis de resistência,
desenvolvida por Louis (1969). A mesma demonstra que tanto para o fluxo
paralelo quanto para o fluxo não-paralelo sob o regime laminar a relação vazão
versus gradiente é linear.
Tabela 1 - Compilação de diferentes leis de resistência (Louis,1969). Regime Lei de Resistencia Autor/Ano
Laminar
eR
96=λ Poiseuille, 19xx
Fluxo paralelo λ = −0 316 1 4. /Re Blasuis
k/d ≤ 0.033 Turbulento 12
3 7λ= − log
/
.
k d
Nikuradise
Laminar λ = +96
1 17 1 5
Rk d
e
( / ) . Lomize, 1947
Fluxo não-paralelo λ = +96
1 8 8 1 5
Rk d
e
. ( / ) . Louis, 1969
k/d ≥ 0.033 12 55
1 24λ= − . log
/
.
k d
Lomize
Turbulento 12
1 9λ= − log
/
.
k d
Louis, 1969
Descontinuidades preenchidas
Fluxo em meios porosos - Lei de Darcy
Sharp e Maini (1972), com base em estudos estatísticos e no intuito de
verificar a influência da geometria no comportamento do fluxo, analisaram que
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para juntas paralelas ou não, que apresentam pouca variação da abertura, as
mesmas exibem um extenso regime laminar e uma curta transição até que se torne
turbulento. Ao contrário das juntas irregulares que apresentam uma alta variação
de abertura e exibem uma breve região laminar, acompanhada de uma larga faixa
de transição e conseqüente regime turbulento.
Os mesmos autores, também observaram que as características hidráulicas
de uma fratura são regidas pela rugosidade e pelo estado de tensão normal, onde
as juntas podem fechar ou abrir, ou apenas sofrer esmagamento.
No caso das juntas submetidas a um estado de cisalhamento obtém-se a
dilatância ou a ruptura das asperezas destas, logo se torna evidente que são
geradas modificações nas áreas de contato entre as superfícies das juntas, o que
podem resultar no bloqueio do fluxo.
2.2.1. Aspectos hidráulicos do fenômeno de erosão a jusante de
vertedouros
De um modo geral as barragens necessitam de uma estrutura capaz de
permitir o fluxo de águas excedentes para sua jusante e proporcione o controle
hidráulico (vertedouro), e outra no intuito de dissipação de energia cinética e
restituição ao curso natural do rio proporcionalmente a capacidade de suporte do
leito (dissipador de energia).
Estas estruturas possuem desta forma o objetivo de minimizar os possíveis
efeitos erosivos do escoamento, sendo obrigatório em todas as barragens, o
vertedouro e o dissipador de energia (Novak et al.,2007) como pode ser visto na
Figura 2.2.
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Figura 2.2 - Exemplo de sistema de extravasor da usina hidrelétrica de Itaipu com dissipador de energia e salto esqui (Valetin, 2009).
Há diversos tipos de sistemas extravasores (vertedouro e dissipador), usados
de acordo com o tipo de barragem e o projeto especifico. Segundo Pinto (1983),
os dissipadores de energia podem ser classificados em dois tipos básicos:
Tipo ι) Dissipadores do tipo em que a dissipação de energia (ou parte) se dá
na própria estrutura. Neste tipo incluem-se as bacias, onde a dissipação é realizada
por intermédio do ressalto hidráulico.
Tipo ιι) Já este tipo de dissipadores são aqueles nos quais a dissipação se dá
no maciço rochoso a jusante (ou no leito do rio ou no canal de restituição). Neste
tipo de dissipadores a dissipação é realizada por saltos de esqui e jatos livres e/ou
controlados.
Em barragens e grande queda fundadas em rocha, o descarregador de cheias
mais racional é o salto esqui, pois a energia cinética do escoamento é aproveitada
para o lançamento do jato à distância, de modo que a dissipação se verifique longe
das estruturas do aproveitamento, incluindo o vertedouro. O padrão de
escoamento na zona de impacto do jato e no interior da fossa de erosão pode ser
melhor observado a partir da figura 2.3 abaixo.
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Zona de impacto
Topo rochoso
Rolos
Escoamento junto ao talude
Figura 2.3 - Padrão de escoamento na zona de impacto do jato e no interior da fossa de erosão (Pereira,1993).
Segundo Yuditskii (1963), a ação hidrodinâmica do jato num leito rochoso
depende das características do escoamento, não apenas do ângulo de incidência
deste, altura, velocidade e uniformidade do escoamento, mas também das
condições hidráulicas a jusante como a altura do escoamento e profundidade de
escavação.
Sendo assim, a redução do nível piezométrico a jusante faz gerar um
aumento da pressão no leito rochoso, e o aumento da profundidade de escavação
tendem a diminuir as pressões. Logo conhecendo a altura do descarregador, os
parâmetros do escoamento, e sendo dadas as dimensões limites dos blocos do
fundo, pode-se calcular a profundidade máxima de escavação na zona de
incidência jato.
A ação hidrodinâmica mais intensa faz surgir muitas vezes erosões
apreciáveis, que comprometem a estabilidade da obra. Uma boa alternativa para
diminuir a ação erosiva do jato seria por meio de uma soleira com deflectores,
assim o jato é muito menos uniforme transversalmente, logo a distribuição das
oscilações de pressão no leito é alterada, diminuindo as oscilações de pressão no
bloco e conseqüentemente a ação erosiva.
Yuditskir (1963) realizou cerca de 60 ensaios de descarregadores com
deflectores e os valores obtidos mostraram que a utilização de deflectores em salto
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esqui contribui consideravelmente com a diminuição (cerca da metade) tanto das
oscilações da pressão como o seu valor instantâneo do bloco, provando assim que
extremamente conveniente o uso de deflectores na tentativa de conter a ação
erosiva do jato.
A energia proveniente dos jatos é dissipada em três fases:
Fase ι) Esta também é conhecida como a fase aérea do jato, pela resistência
do ar, que reduz o seu alcance.
Fase ιι) Esta também pode ser apresentada como a fase submersa (quando
existe tirante a jusante), devido o processo de difusão do jato, atenuando seu poder
erosivo; esta fase é tão mais eficiente quanto maior for a espessura do colchão de
água existente na fossa.
Fase ιιι) A última fase ocorre no maciço rochoso, após o impacto.
2.3. Comportamento mecânico de maciços rochosos fra turado
Como dito na introdução deste capítulo, os maciços rochosos são
constituídos pela rocha intacta e pelas descontinuidades, ou fraturas neles
presentes, definindo, desta maneira, um meio mecanicamente descontínuo.
Segundo Rocha (1981), a própria rocha intacta não pode ser considerada como
contínua uma vez que esta apresenta fraturas macroscópicas, que se diferenciam
das descontinuidades por não se apresentarem dispostas com regularidade, sendo
normalmente de pequena extensão e de forma irregular.
Deste modo, o comportamento de um determinado maciço rochoso requer
a compreensão dos efeitos isolados não somente da rocha intacta, mas também de
sua descontinuidade, ou seja, o seu comportamento mecânico e hidráulico é
função das características ou propriedades de resistência, deformabilidade e
permeabilidade tanto da rocha intacta quanto das descontinuidades.
Dá se o nome de descontinuidade para qualquer associação geológica que
interrompe uma continuidade física de um meio rochoso. É também a designação
comumente utilizada para juntas, planos de acamamento e xistosidade, zonas de
fraqueza ou de falhas, diacláses, superfícies de estratificação, superfícies de
contato entre formações, superfícies de xistosidade e outros. Em termos práticos
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pode-se designar como descontinuidade qualquer superfície natural em que à
resistência à tração é baixa ou nula (ISRM, 1978; in Santos Oliveira e Alves de
Brito, 1998).
Em geral, ao se aplicar uma tensão normal de compressão, e uma tensão
cisalhante no plano de uma junta, se tem conseqüentemente um campo de
deslocamentos normais e cisalhantes.
A curva de fechamento normal de juntas (Figura 2.4), isso é, tensão
normal versus deslocamento normal devido a tensão normal, foi analisada por
Bandis et al (1983). Este tipo de curva apresenta-se não linear, independente do
tipo de rocha, apresentando forma côncava e com a rigidez normal (tangente à
curva) aumentando proporcionalmente com o carregamento, até o estabelecimento
do fechamento. Outra característica desta curva é o aparecimento de histerese
bastante pronunciada em ciclos de carregamento e descarregamento
(Barton,1986).
Figura 2.4 - Curva de fechamento normal (Barton,1986).
O comportamento mecânico das descontinuidades é fortemente
influenciado por fatores tais como a natureza da rocha matriz, existência e
propriedades do material de preenchimento, presença de água, além da rugosidade
e/ou ondulação das superfícies das descontinuidades.
Este fato foi observado por Barton et al (1985), onde diversos tipos de
descontinuidades com diferentes perfis de rugosidade, submetidas a uma mesma
tensão normal foram ensaiados e constatou-se que as mais rugosas apresentaram
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picos mais pronunciados e maiores dilatâncias. Logo, espera-se que juntas que
apresentam menor rugosidade, menor abertura inicial e maior resistência
produzam menores deslocamentos.
Um dos efeitos mais importantes no comportamento de descontinuidades e
de maciços rochosos é o efeito de dilatância. O efeito de dilatância pode ser visto
ao se aplicar uma tensão cisalhante é perceber um deslocamento normal devido a
esta tensão. Para que ocorra o fenômeno de dilatância é necessário que ocorra um
deslocamento tangencial devido a um esforço cisalhante, ou seja, que as asperezas
de qualquer uma das faces da junta brequem as asperezas da face oposta,
implicando assim em deslocamento normal.
Este efeito foi investigado por Leichnitz em 1985, onde a partir de ensaios
com aplicação de tensão normal constante observou que a dilatância provoca o
aumento da abertura da junta e, sob condições de confinamento, o impedimento
do efeito de dilatância provoca a geração de esforços reativos ao contorno e
conseqüentemente um aumento da tensão normal e na resistência ao cisalhamento
Por outro lado, a curva que relaciona a tensão cisalhante versus
deslocamento cisalhante, também possuem certa não linearidade, sendo que esta
depende da tensão normal de compressão, das características geométricas,
resistências das paredes da juntas e seu estado de alteração. Outro aspecto
fundamental nesta curva é o efeito de escala, que faz variar o comportamento de
frágil a dúctil
Em 1966, Patton através de uma série de ensaios em modelos, constatou
que a medida que o cisalhamento ocorre, as asperezas são desgastadas e o ângulo i
diminui, sendo reduzido a zero quando aquelas estão totalmente gastas ou
cisalhadas.
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τ
τ
σi
σi
τi
τi
i
σ
σ
τ
τ
Deslocamento normalv = u tan i
Deslocamento Cisalhante u
i
Figura 2.5 - Experimentos de Patton sobre o cisalhamento de juntas regulares (Hoek e Bray,1981)
2.3.1. Classificações Geomecânicas
A primeira caracterização geológica em maciços rochosos em obras
subterrâneas visando à qualidade dos mesmos foi realizada por Terzaghi em 1946
(Mello Mendes, 1985), todavia acidentes continuam a ocorrer em função da
subestimação dos profissionais em realizar uma correta caracterização geotécnica
dos maciços rochosos, essa desconsideração muitas das vezes se procede devido
aos fatores custo e tempo, ou por se achar desnecessário tal caracterização.
Uma correta caracterização geotécnica do maciço rochoso é capaz de
permitir a classificação geotécnica do mesmo, ou seja, sua aptidão ou não em uma
obra, permitindo com que os responsáveis definam melhor os processos de
construção, e de um modo bem mais seguro e econômico, evitando eventuais
gastos futuros desnecessários além de terríveis acidentes que podem culminar em
vítimas fatais.
De uma maneira geral as classificações geomecânicas têm surgido como
uma forma simplificada de abordar problemas complexos. Embora muito
utilizadas, elas têm como principal desvantagem a impossibilidade de serem
genéricas, devido à grande variabilidade das propriedades dos maciços rochosos,
tanto em nível regional e local, quanto ao longo do tempo.
Infanti e Antunes (1986) discutem diversos aspectos relativos ao fenômeno
e apresentam uma classificação simplificada, onde somente o espaçamento entre
descontinuidades e a resistência à compressão uniaxial são considerados.
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Brito (1993) propõe uma classificação, cujos parâmetros são a resistência à
compressão uniaxial da rocha intacta, o padrão estrutural ou compartimentação do
maciço, o espaçamento entre juntas e o tipo, além das condições das
descontinuidades, onde é obtido um valor do coeficiente K a ser utilizado na
expressão para obter a profundidade da fossa.
2.4. Comportamento Acoplado de Maciços Rochosos Fra turados
A execução de uma obra de engenharia gera alterações do estado de tensões
e de condutividade do meio, ocasionando mudanças nas forças de percolação e
conseqüentemente a deformação do meio. Assim é importante que o estudo se
proceda de forma acoplada. Além disso, as variações da condutividade e da
permeabilidade podem afetar a impermeabilização e drenagem das obras.
O estudo do comportamento acoplado, de maneira geral, considera a
análise do processo mecânico, hidráulico, químico e térmico.
O processo mecânico compreende as relações tensões-deformações das
juntas, incluindo a dilatância, cisalhamento, iniciação de fraturas e sua
propagação.
No processo hidráulico é compreendido o transporte de fluidos e fluxo,
enquanto que o processo químico compreende a interação entre o material de
preenchimento e os dispersos além da interação química dos dispersos no fluído.
E já o processo térmico aborda a verificação das alterações nos gradientes de
temperatura.
Em geral, muitos problemas são evidenciados devido à junção destes
efeitos, o que significa que um deles afeta o início e a evolução do outro. Este
assunto é mais bem abordado por Tsang (1990).
A existência de água em maciços rochosos gera ações hidráulicas, e a
alteração do estado de tensão, em que a junta pode abrir ou fechar, ou mesmo
sofrer esmagamento de suas asperezas, alterando as condições de fluxo.
Sharp e Maini (1972) verificaram a influência do estado de tensões na
alteração da condutividade hidráulica das descontinuidades. Sendo observado que
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sob ação de uma tensão normal, a junta sofre abertura ou fechamento, ou até
mesmo o esmagamento de suas asperezas (Figura 2.6)
Já as juntas que estiverem submetidas a um estado de cisalhamento, existe a
probabilidade da ocorrência do efeito de dilatância, ou até mesmo a ruptura das
asperezas da descontinuidade, além da possibilidade da formação de detritos, que
bloqueiam o fluxo. Ambas as situações provocam alteração na condutividade
hidráulica das descontinuidades.
(i) não cisalhada
(ii) cisalhada
Criação de vaziosAumento na abertura
Fechamento Dimunuição na abertura
Deslocamento normaldilatante
DeslocamentoCisalhante
Figura 2.6 - Mudança na abertura de uma descontinuidade devido a um deslocamento cisalhante (Sharp e Maini, 1972).
Makurat et al (1990) também estudaram a influência de esforços cisalhantes
na condutividade hidráulica de descontinuidades. Foram ensaiadas rochas brandas
e duras, com diferentes características de rugosidade, resistência e alteração das
paredes.
Os ensaios de uma maneira geral, constataram que em rochas duras um
pequeno cisalhamento é suficiente para provocar dilatância, com conseqüente
aumento da condutividade. Esse comportamento parece ser devido ao estado de
alteração e à rugosidade das paredes.
Para as rochas brandas observou-se a presença de dilatância, sendo que as
mais rugosas apresentaram aumento na condutividade. A baixa rugosidade, a
alteração das paredes e elevadas tensões normais, tanto para as rochas duras
quanto para as brandas, parecem favorecer o processo de bloqueio de fluxo.
Vargas, 1990 apresenta um resumo das principais características dos
comportamentos mecânico e hidráulicos das descontinuidades:
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i) relação tensão normal vs deslocamento normal bastante não linear,
apresentando também histerese;
ii) relação tensão cisalhante vs deslocamento cisalhante também não linear
e influenciada pelo efeito de escala;
iii) possibilidade de ocorrência de deslocamentos normais associados à
tensões cisalhantes (dilatância);
iv) resistência normalmente descrita por uma envoltória não linear;
v) as características (i) a (iii) têm influência direta na aberturas das
descontinuidades, ou seja, tem efeito pronunciado na sua condutividade
hidráulica;
vi) as características (i) a (iv) têm relação direta com as condições da
superfície de contato das descontinuidades, que podem ser lisas,
rugosas,alteradas ou não ou mesmo preenchidas.
2.5. Mecanismos de Erosão de Maciços Fraturados
A literatura tem apontado como principal responsável pelo desalojamento
dos blocos o efeito das flutuações de pressão. Dependendo do estado de pré-
fraturamento da rocha e da pressão hidrodinâmica flutuante, a erosão pode ser
formada por diferentes maneiras.
O processo de instabilização do bloco devido à propagação dos transientes
hidráulicos envolve inúmeras propriedades mecânicas do maciço rochoso em
questão.
Segundo Yuditsky (1963) a ação hidrodinâmica do jato em um leito rochoso
depende das características do escoamento não só da zona de queda (ângulo de
incidência deste, altura, velocidade, uniformidade do escoamento), mas como
também das características encontradas a jusante, tais como grau de
embricamento, orientação e espaçamento das famílias de juntas (determinando a
forma e o tamanho dos blocos), aliadas a todas as características das
descontinuidades, tais como persistência, rugosidade e resistência das paredes,
existência e propriedades do material de preenchimento e abertura, condicionam o
início e a evolução do referido mecanismo.
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Os mais significantes mecanismos de erosão são a remoção do bloco de
rocha, o fraturamento do maciço rochoso ou de blocos já formados, e a abrasão do
maciço rochoso ou de blocos. Cada um desses processos tem sua própria escala de
tempo de ocorrência, podendo ocorrer instantaneamente ou em longo prazo
Segundo Pereira (1993) o impacto do jato faz gerar uma combinação de
forças sobre o maciço rochoso que varia à medida que a fossa se desenvolve. A
princípio os gradientes de pressão são bastante elevados e o maciço ainda não
erodido deflete o jato. Embora pouco provável para os níveis de pressão
experimentados nesta fase, conforme citado por Vargas (1991), um possível
mecanismo de instabilização seria a ruptura da rocha intacta (Rehbinder,1970).
De acordo com estudos de Yuditskii (1963), a pressão instantânea na
superfície do leito na zona de incidência do jato e a propagação da pressão através
das fendas da rocha, o processo de instabilização pode acontecer do seguinte
modo:
i) Sob a ação de oscilações de pressão intensas na superfície do leito e nas faces
da junta no interior do maciço, este rompe e as fendas propagam-se
compartimentando o maciço em blocos.
ii) No caso das descontinuidades serem persistentes, originalmente ou terem se
tornado a partir de (i), a própria propagação dos transientes pode levar ao
aparecimento de pressões de magnitudes e freqüências capazes de promover o
desalojamento dos blocos. Se a componente vertical de baixo para cima da
pressão instantânea aplicada ao bloco tiver intensidade e período suficientes, o
bloco liberta-se do maciço.
Outro mecanismo que contribui para a evolução do processo é a ação das
correntes de retorno ou recirculação junto às paredes da fossa gerando tensões de
cisalhamento, conforme já mostrado na Figura 3.2.
Uma vez desalojados e devido ao escoamento macroturbulento, e os blocos
começam a recircular dentro da fossa, entrechocando-se e, por efeito de abrasão,
se fragmentando, sendo em um determinado instante expulsos da fossa, podendo
se acumular a jusante, formando as chamadas barras.
A formação destes depósitos a jusante contribui para a estabilização do
processo, uma vez que a altura do colchão de água aumenta e da mesma forma a
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contribuição da fase submersa da dissipação de energia, ou seja, a energia residual
que atinge o maciço rochoso torna-se menor.
O processo prossegue até que seja atingida uma profundidade na qual a
energia do jato não é suficiente para fraturar a rocha ou causar o aparecimento de
gradientes de pressão capazes de desalojar mais blocos. As correntes ascendentes
não possuem, neste caso, energia bastante para remover o material erodido do
fundo da fossa (Akhmedov,1968).
Brito (1993) mostra através de um esquema, o encadeamento das fases do
processo, conforme apresentado na Figura 2.7 abaixo.
DESALOJAMENTO
MOVIMENTAÇÃO
TRANSPORTE
ENTRECHOQUE
BARRA
RETIRADA DA FOSSAPERMANÊNCIA
Figura 2.7 - Encadeamento das fases do processo de erosão (Brito,1993).
Os desalojamentos dos blocos de rocha também podem ocorrer devido à
compressão do ar aprisionado em cavidades no interior do maciço, fato observado
por Trenhaile, que também analisou a existência de outros mecanismos como o
desgaste por cavitação e abrasão, onde as altas velocidades próximas ao leito
rochoso são capazes de causar quedas significativas nas pressões. Se, em um caso
extremo, as pressões atingem o valor da pressão de vapor da água, a rocha se
desagrega pela rápida formação e colapso das bolhas de vapor.
Segundo o estudo recentemente realizado por Bollaert (2002), a erosão da
rocha ocorre em conseqüência de três processos físicos:
1. A remoção do bloco da rocha (devido às pressões de flutuações em juntas
ou devido ao fluxo cisalhante).
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2. O faturamento do bloco de rocha e do maciço rochoso (de forma
repentina ou de forma progressiva com o tempo).
3. A abrasão do maciço rochoso e do bloco de rocha (agentes em longo
tempo).
A importância desses processos não somente depende das características do
fluxo turbulento, mas também da forma e da protusão dos blocos das rochas. Para
reduzir o tamanho do material, o fluxo cisalhante e geralmente predominante.
Quase sempre a forma, a dimensão e o arranjo entre os blocos têm grande
importância na elevação repentina do bloco da fossa de erosão.
2.5.1 Remoção do bloco de rocha por forças ascenden tes ou por
deslocamento do bloco
Como dito anteriormente, a rocha pode falhar pela remoção de blocos
distintos, podendo acontecer verticalmente de forma ascendente, ejetando este
bloco do maciço rochoso, ou pelo deslocamento horizontal, ou por ambos os
movimentos.
Estas são observações importantes, assim como a aplicação do conceito da
tensão cisalhante pode nem sempre explicar o quão grande são os blocos de rocha
que podem ser depreendido do maciço, ou, o quão o fluxo turbulento é capaz de
quebrar os blocos de rocha em pedaços menores.
Segundo Bollaert and Hofland 2004, cada um desses movimentos dos
blocos de rocha irá depender das dimensões, forma e orientação que se encontram
os blocos ao redor da massa rochosa. Estes parâmetros definem diretamente a
relevância e importância das forcas de pressão que são capazes de depreender o
bloco, as quais são explicadas abaixo a partir da Figura 2.8:
42
Figura 2.8 - Remoção do bloco de rocha por forças ascendentes. Fonte: Bollaert and Hofland 2004.
A elevação ou ejeção total do bloco de rocha do maciço rochoso vai
depender das forças estáticas ascendentes (empuxo), das forças verticais quase
instantâneas que é função da protusão do bloco, da velocidade local, e de forças
verticais turbulentas que é função das pressões de flutuação turbulenta.
As forças que levam a ejeção de um bloco de rocha podem ser calculadas
definindo as forças ascendentes de pressão, juntamente com as forças resistentes
definida pela a massa do bloco e por eventuais forcas cisalhantes e forcas de
interligação entre o bloco e o maciço que acopla este bloco.
Segundo Bollaert (2004), quando o balanço do equilíbrio das redes de
força sobre o bloco é positivo, o bloco é submetido a uma rede de forças de
impulsão, onde, baseado na segunda lei de Newton, esta rede de forças de
impulsão é transformada em rede de velocidades ascendentes que agirá no bloco.
Neste contexto, percebe-se que na realidade, o movimento do bloco e as
forças de ascendentes estão altamente correlacionados. Uma atual pesquisa
experimental em andamento no Instituto Federal Suíço de Tecnologia em
Lausanne está tentando entender essa correlação complexa.
Um bloco de rocha artificial foi equipado com sensores de pressão e de
aceleração para detectar a relação direta entre as pressões que atuam sobre e por
baixo do bloco e seus movimentos detalhados. O bloco está sendo impactado por
um jato de ar-água através de um protótipo.
43
Por enquanto, para aplicações práticas, o módulo de calibração de elevação
do bloco mostrou que o bloco pode ser considerado ejetado quando a rede de
deslocamento ascendente do bloco (altura) é superior a 20% da altura total do
bloco (Bollaert, 2004).
2.5.2. Fraturamento do bloco ou do Maciço Rochoso
A Rocha pode sofrer fraturamento devido à fratura súbita ou progressiva da
sua massa ou de blocos de grandes dimensões distintos. Tal fraturamento
hidráulico ocorre principalmente dentro de fraturas pré-existentes, mas pode
também ser iniciado ao longo de uma parte maciça da rocha.
Segundo Bollaert 2006, fraturas súbitas ou frágeis da rocha ocorrem quando
a intensidade da tensão que atua nas bordas das fissuras fechadas (da massa de
rocha), em conseqüência das pressões flutuantes de água no interior das fissuras, é
maior que a tenacidade à fratura da rocha.
As tensões geradas pelas pressões hidrodinâmicas no interior das fissuras
são influenciadas por valores absolutos de pressões hidrodinamica, pela geometria
das fissuras e pela de base estabilizadora da massa de rocha.
A tenacidade à fratura do maciço rochoso ou do bloco de rocha depende da
composição mineralógica da rocha, da tensão vertical e horizontal encontrada in-
situ no campo, e da resistência à compressão não confinada ou da resistência a
tração do maciço rochoso.
O fraturamento frágil da rocha ocorre de forma instantânea e geralmente
resulta na quebra da massa rochosa, passando a formar blocos distintos, ou em
casos de blocos de rochas já existentes, estes se quebram em pedaços menores.
Segundo Bollaert (2004), o fraturamento frágil ocorre durante picos de
pressão existentes nas fissuras que estão no fundo da bacia de dissipação, sendo
que o tempo necessário para que o fluxo turbulento possa gerar estes eventos é
tipicamente muito curto.
A seguir, o mesmo autor apresenta um resumo sobre o fraturamento da
rocha devido à fratura súbita e progressiva da sua massa rochosa (Figura 2.9).
44
Figura 2.9 - Esquema do fraturamento hidráulico do bloco de rocha. Fonte Bollaert 2004.
Outra forma de fraturamento da rocha ocorre quando as intensidades das
tensões geradas nas bordas das fissuras fechadas não excedam a tenacidade à
fratura da rocha, mas devido à presença contínua de pressões de flutuações no
interior das fissuras durante eventos de médio ou longo prazo, ocorre o
fraturamento da rocha. Este tipo de fraturamento é conhecido como fadiga.
Em conseqüência, as fissuras da rocha geralmente se rompem
progressivamente longitudinalmente, ou seja, em uma única direção, dependendo
do número e da intensidade de ciclos de pressão no interior.
Este tipo de falha é, portanto, dependente do tempo e tem um fim quando a
fissura foi completamente formada, ou seja, quando ela encontra outra fissura já
presente no maciço rochoso.
45
2.5.3. Desgaste do Bloco ou do Maciço Rochoso
O desgaste ou descascamento dos blocos de rocha do maciço rochoso é uma
combinação de forças quase permanentes, e o fraturamento frágil ou por fadiga. O
fenômeno geralmente ocorre a partir de rochas composta de várias camadas finas
quase horizontais, como ocorre em rochas sedimentares.
Segundo Bollaert (2004), as forças desestabilizadoras que agem neste
fenômeno ocorrem em função do fluxo turbulento, e o desvio deste devido a
protusão do bloco ao longo da parte inferior do maciço rochoso. Em
conseqüência do desvio do fluxo, são geradas forças de arraste e forças
ascendentes nas faces expostas do bloco, as quais por sua vez variam de acordo
com a orientação do bloco na região do fluxo, assim como a velocidade do fluxo
quase-permanente nas imediações do bloco, (Figura 2.10).
Além disso, estas forças podem também desenvolver fraturas frágeis ou o
fraturamento por fadiga de uniões entre o bloco e a massa de rocha subjacente.
Em muitos casos, o bloco exposto é destacado, ou quase destacado, e sem precisar
de fraturamento o bloco é ejetado de sua massa rochosa.
Entretanto há casos em que as fraturas precisam de maior fraturamento para
que o bloco seja ejetado. O fraturamento frágil devido forças permanentes é o
mais comum processo. Contudo, nas intermediações do fluxo cisalhante
turbulento ao longo do fundo, pressões de flutuação turbulenta e falhas por fadiga
são também relevantes.
Figura 2.10 - Processo de desgaste do bloco rochoso. Fonte: Bollaert 2004.
46
2.5.4. Abrasão do Maciço Rochoso
O termo abrasão é definido como "desgaste provocado pelo atrito", e o
termo erosão é definido como "trabalho mecânico de desgaste realizado pelas
águas correntes...", (Ferreira,1986).
A abrasão é causada pelo impacto de elementos transportados pela água nas
estruturas hidráulicas de concreto. Quanto mais turbulentos forem os fluxos,
juntamente com as forças de impacto ocasionadas pelos detritos, mais abrangente
será a erosão por abrasão.
Os detritos transportados pelos fluxos d'água variam desde seus tipos até
suas durezas, podendo ser areias, pedras, escombros, cascalhos, restos vegetais,
etc.
A abrasão em rochas pode ocorrer se o fluido que interagi com a rocha é
bastante abrasivo em relação à resistência oferecida pela mesma para causar a
erosão em camada por camada. O processo é reforçado pela superfície da massa
rochosa que está exposta ao intemperismo.
A abrasão em bacias de dissipação pode ocorrer devido a desvios de fluxos
ocasionados por estruturas como blocos dissipadores de energia. O desvio
ocasiona redemoinhos e descargas não simétricas, que juntamente com os
escombros levados pela água, aumentam a deterioração por abrasão.
2.5.5. Resumo dos mecanismos de erosão
Em resumo do que foi abordado anteriormente, a Figura 2.11 apresenta a
seqüência de processos de falhas de um maciço exposto a ações de jatos com altas
velocidades.
Inicialmente há o enfraquecimento da rocha, devido a exposição ao
intemperismo e pelo impacto do fluxo turbulento.
Em seguida, durante situações de fluxos altamentente turbulentos, distintos
blocos de rocha localizados na interface água-rocha podem ser ejetados ou
47
deslocados para jusante, onde podem formar um montículo. Sendo que estes
também podem ser submetidos ao fraturamento frágil ou instantâneo em pequenos
pedaços, seguido pelo deslocamento.
Há durante o processo da ejeção ou fraturamento, o simultâneo desgaste de
blocos de superfícies horizontais que possuem certa protusão, em conseqüência
das forças de arraste e forças ascendentes nas faces expostas do bloco.
Se os blocos não podem ser ejetados ou deslocados em direção a jusante,
instantaneamente fraturado ou desgastado da camada superficial, estes ainda
podem erodir pelo fraturamento progressivo até pequenos pedaços ou ser
"tombado" dentro da piscina de dissipação, até estes se tornarem menores ou se
quebrarem em pedaços que finalmente possam ser ejetados ou deslocados para a
jusante. Este processo é chamado de fratura de fadiga.
Assim, tanto o fraturamento frágil quanto o por fadiga podem motivar a
quebra da massa rochosa formando blocos distintos. Esta ação constitui o inicio
da ejeção do bloco de rocha.
Figura 2.11 - Resumo dos mecanismos de erosão (Bollaert 2002).
48
Vale ressaltar que a relação existente entre os mecanismos anteriormente
descritos e o mecanismo de erosão o qual o presente trabalho propõe, aproxima-se
do mecanismo de erosão por fratura frágil, uma vez que os ensaios propõem a
movimentação do bloco e sua possível ejeção a espécime de forma instantânea, de
forma a distanciar-se dos métodos erosão pelo processo de fraturamento ou
desgaste, devida o bloco se encontrar livre dentro da cavidade da célula
produzida.
2.6. Métodos Existentes para o Estudo do Fenômeno E rosivo
Dentre os métodos que vêm sendo utilizados citam-se os modelos reduzidos,
as equações e métodos empíricos e, mais recentemente, as classificações
geomecânicas e os métodos numéricos. Estes últimos estão ainda restritos ao meio
acadêmico. As principais características desses métodos são discutidas a seguir.
2.6.1. Avaliação das Dimensões da Fossa de Erosão
Embora de enorme importância, a previsão da profundidade e da extensão
da fossa de erosão devidas à incidência de jatos livres ainda é bastante imprecisa,
devido ao elevado número de variáveis envolvidas, tais como: as características
do escoamento e da zona de queda (ângulo de incidência deste, altura, velocidade,
uniformidade do escoamento) mas como também das características encontradas a
jusante, tais como grau de embricamento, orientação e espaçamento das famílias
de juntas (determinando a forma e o tamanho dos blocos), aliadas a todas as
características das descontinuidades, tais como persistência, rugosidade e
resistência das paredes, existência e propriedades do material de preenchimento e
abertura, condicionam o início e a evolução do referido mecanismo.
Pereira (1993) apresenta uma discussão dessas variáveis, constatando
também a importância da regra de operação do vertedouro, principalmente na
formação de fossas assimétricas.
Spurr (1985) apresenta uma metodologia para a avaliação da profundidade e
da largura da fossa, através de equações baseadas no balanço de energia no
49
interior da fossa, que utilizadas em conjunto com o sistema de classificação
proposto e alguma equação empírica escolhida, preveêm a forma da fossa de
erosão.
A avaliação da dimensão das fossas embora não tão precisa, permite dar
margens para a diminuição do impacto dos jatos que partem dos vertedouros e
atingem os maciços a jusante de vertedouros, garantindo assim a estabilidade das
barragens.
2.6.2. Modelos Reduzidos
Os modelos reduzidos vêm sendo utilizados com freqüência em estudos de
regimes e padrões de fluxo nas diversas estruturas hidráulicas, em especial na
engenharia de barragens.
Nos estudos de erosão a jusante de vertedouros, devido principalmente à
dificuldade de se reproduzir nas escalas utilizadas as características de
compartimentação e as propriedades de resistência do maciço, têm se utilizado os
modelos de fundo móvel solto ou com certo grau de coesão. Essa técnica tem
conduzido a estimativas qualitativas da evolução da fossa de erosão. Mesmo
assim, como relata Pereira (1993), têm se obtido bons resultados.
Baseados na eficiência da utilização de modelos de fundações rochosas
constituídos por elementos aglutinados com enchimento das juntas na previsão da
fossa, Yuditskii e Sivolozhskaya (1973) apresentam um estudo sobre a utilização
de outro modelo, mais simples que aquele, constituído por seixos aglutinados. Os
resultados obtidos com os dois modelos mostraram-se bastante semelhantes. O
autor também observou a possibilidade de reprodução de maciços heterogêneos,
compostos de seixos de diversas dimensões, inclusive em análises
tridimensionais.
Pereira (1993) observou que ao longo do processo de erosão, o colchão de
água transforma-se em uma mistura de água, ar trazido pelo jato e pela
turbulência, e material rochoso do leito girando em redemoinhos em torno do jato
e impulsionado pelas correntes secundárias de fluxo
50
Este escoamento, conjugado com a dispersão inicial do jato
(Soloveva,1962), com a geometria dos contornos da fossa em constante mutação e
com o comportamento da rocha sob ação do jato, torna a análise da erosão em
modelos reduzidos muito difícil.
Mais recentemente, estudos de medição das flutuações de pressão
instantâneas no interior da fossa e sua associação com a profundidade de erosão
têm sido realizados, como exemplificado no trabalho de Souza Pinto (1990).
Bollaert (2002) produziu um protótipo para a simulação do impacto do jato
aerado em piscinas de dissipação artificial medindo pressões hidrodinâmicas em
diferentes locais no fundo da bacia de dissipação (Figura 2.12).
Figura 2.12 - Modelo produzido por Bollaert 2002.
O modelo produzido por Bollaert (2002) consiste em uma serie de módulos
que permitem estimar o tempo de desenvolvimento das erosões em rochas
fraturadas (Figura 2.13). Cada um dos módulos representa um particular
mecanismo de faturamento da rocha, e a aplicação pratica destes módulos permite
premeditar em 3D a evolução das erosões em um infinito maciço rochoso de uma
piscina de dissipação. Entre os módulos do modelo estão:
1. Módulo de impulsão dinâmica: expressa a rede de forças ascendentes de
deslocamento e impulsão em blocos de rocha. O módulo é função da densidade,
51
dimensão e forma do bloco de rocha, e depende do tempo de evolução da rede de
abastecimento de forças instantânea sobre o bloco.
2. Módulo compreensivo mecânica da fratura: expressa como as fraturas frageis
ou por fadiga da evoluem com o tempo. O módulo é função de flutuações de
pressão de água nos contornos da fissura, a geometria da fissura, O tipo e
características geomecânicas do maciço rochoso também influem.
3. Módulo quase-permanente de impulsão: expressa o desgaste de camadas finas
de rocha exposta. O módulo é função da espessura da camada, do arranjo
protrusão, forma e dimensões do bloco e das velocidades de fluxo local perto do
fundo da piscina.
Figura 2.13 - Módulos do desenvolvimento da erosão. Fonte Bollaert 2004.
Os módulos 1 e 3 não são dependentes do tempo, mesmo que algum tempo
seja necessário na realidade para que esses processos ocorram. O módulo 2, no
52
entanto, é dependente do tempo e necessita deste tempo para que uma fissura
possa se propagar criando blocos distintos.
As pressões de flutuações registradas no protótipo aproximado no
equipamento experimental são usadas como condições de contorno para cada um
dos módulos. Depois da quebra e elevação das camadas do bloco de rocha, as
condições do fluxo turbulento da piscina de dissipação são re-computadas e as
condições de contorno atualizadas automaticamente para a camada seguinte. Uma
descrição detalhada do modelo pode ser encontrada no Bollaert (2002, 2004) ou
Bollaert e Schleiss (2005).
A aplicação do modelo prevê a formação a erosão com o tempo de
inundação e a profundidade de erosão em cada mecanismo de fratura. Quando
calibrado de acordo com eventos de inundação passado e relatado a formação de
erosão, o modelo pode premeditar a evolução futura da erosão como função de
futuros eventos de fluxo.
As velocidades do impacto do jato estão correlacionadas com os valores do
protótipo aproximado de Bollaert (2004), o que garante uma correta reprodução
de dois predominantes fenômenos físicos que acontece na piscina de dissipação:
1) Aeração da piscina devido ao impacto do jato.
2) pressões turbulentas de flutuação no fundo da piscina.
2.6.3. Equações e Métodos Empíricos
A utilização de equações e métodos empíricos para a previsão da
profundidade de erosão provocada por jatos efluentes de vertedouros têm sido
propostos com base em resultados experimentais e observações de protótipos.
Mason e Arumugam (1985) apresentam uma compilação de diversas dessas
equações, que foram divididas em cinco grupos, conforme as características
principais de cada uma.
Nas equações do primeiro grupo, a profundidade da fossa, (D), é expressa
em termos da diferença entre os níveis de água no reservatório e a jusante, (H), a
53
vazão específica no ponto de impacto, (q), e, em alguns casos, um diâmetro
característico dos blocos do maciço, (d), normalmente (d50) ou (d90). As
equações têm, em geral, a forma:
D Kq H
d
x y
z=
(3.1)
Onde, K, x, y, z são constantes empíricas.
Infanti e Antunes (1986) apresentam as principais equações desse grupo.
As expressões do segundo grupo consideram além dos parâmetros do grupo
I, a profundidade de água a jusante.
Fórmulas bastante simplificadas, onde a profundidade é avaliada como
sendo um múltiplo da largura do jato ou uma fração do desnível (H), constituem o
grupo III.
As fórmulas dos autores russos, precursores no estudo do fenômeno de
erosão a jusante de vertedouros, geralmente mais complexas, formam o grupo IV.
O grupo V ficou reservado às expressões onde o tempo é considerado.
Baseados na comparação entre valores previstos com as fórmulas e
observados nos protótipos, os autores concluíram que as equações do grupo I eram
as mais adequadas, e propuseram, a partir de uma análise estatística, a seguinte
expressão:
D Kq H h
g d
x y w
v z=
(3.2)
Onde, (g) é a aceleração da gravidade e os coeficientes (K), (x) e (y)
passaram a ser função do desnível (H).
Baseado no estudo experimental sobre as pressões desenvolvidas na
superfície do leito na zona de incidência do jato e sobre a propagação destas
através das descontinuidades, Yuditskii (1963) apresenta um método empírico
para a previsão da profundidade da fossa, ressaltando, entre outros aspectos, a
54
importância da orientação dos blocos em relação à direção de incidência do jato e
dos valores de abertura críticos, onde ocorreriam valores máximos de pressão.
A principal hipótese admitida pelo autor no desenvolvimento do método foi
a consideração de que o mecanismo de instabilização predominante era aquele
devido à propagação dos transientes hidráulicos. Estudo semelhante, considerando
os efeitos de abrasão como predominantes, é apresentado por Vyzgo (1954).
É importante salientar que, quando considerado, nas expressões e métodos
citados, todo o comportamento hidro-mecânico do maciço rochoso é traduzido por
um único parâmetro: o diâmetro característico, caracterizando o tamanho do bloco
unitário.
2.6.4. Métodos Numéricos
O nível atual de desenvolvimento dos métodos numéricos tem permitido a
modelagem de fenômenos complexos, que há até bem pouco tempo eram
abordados utilizando-se métodos empíricos e mesmo técnicas numéricas, só que
bem simplificadas.
Em especial no que diz respeito à modelagem numérica do fenômeno de
erosão de maciços rochosos, a literatura traz um número muito reduzido de
trabalhos, sendo os existentes restritos ao meio acadêmico.
Andrade (1988) apresenta uma metodologia simplificada para o tratamento
do fenômeno, onde se admite que o fluxo, que só ocorre pelas descontinuidades, e
se processa a velocidades relativamente altas de tal forma que as pressões
causadas pelo impacto do jato são transmitidas instantaneamente às
descontinuidades.
No trabalho de Andrade (1993) os valores instantâneos de pressão atuantes
no leito rochoso, o alcance e a largura do jato foram determinados segundo a
teoria de Hartung e Hausler (1973). De posse desses valores são executadas
análises de fluxo através do Método dos Elementos Finitos.
Uma vez atingida a condição de regime permanente, verifica-se o equilíbrio
estático dos blocos sujeitos ao peso próprio, coluna de água e subpressões
originadas pelo fluxo. Esse processo prossegue até que nenhum bloco se torne
55
instável. Os resultados obtidos com esta metodologia foram comparados a alguns
dados reais de protótipos e mostraram uma boa concordância.
Vargas (1991) apresenta uma proposta de metodologia mais completa para o
tratamento numérico do problema, onde a influência de diversos aspectos tais
como características das descontinuidades e possibilidade de ocorrência de fluxo
hidrodinâmico pelas descontinuidades, pode ser investigada.
Simões (1994) apresenta a formulação, por elementos finitos, do problema
hidráulico, envolvendo fluxo hidrodinâmico e propagação de ondas elásticas pelas
descontinuidades. Sendo investigada a influência da compressibilidade e inércia
da água e da compressibilidade das fraturas, isto é, a taxa de variação do volume
da descontinuidade no tempo, na resposta de um sistema de descontinuidades
sujeito à ações de origem hidrodinâmica.
Além disso, o mesmo autor procedeu à implementação do acoplamento
Hidrodinâmico-Mecânico, através da utilização do Método dos Blocos Discretos
para a simulação do problema mecânico, sendo este caracterizado por mecanismos
de deformação não lineares, tais como deslizamentos, separações e grandes
rotações.
2.7. Efeitos de Escala da Erosão em Rocha
As três fases que governam a erosão da rocha são a altura do jato na piscina
de dissipação (fase liquida), a aeração do jato e a piscina de dissipação (fase
gasosa), e finalmente a massa rochosa (fase solida). Cada fase obedece a
diferentes leis de similitude. A fase liquida é geralmente baseada na similitude de
Froude, focando o correto modelamento da taxa inercial das forças gravitacionais.
O diâmetro do jato que impacta a piscina, por exemplo, é altamente
influenciada pela aceleração gravitacional, a qual resulta na concentração de ar do
jato. A entrada de ar depende do número de Reynolds e de Weber. A característica
da aeração dos jatos livres é detectada pela influência de duas forças opostas: A
tensão superficial que tende manter a jato unido e caracterizado pelo numero de
Weber, enquanto que a intensidade de turbulência inicial do jato tenta manter o
jato disperso é descrito pelo número de Reynolds.
56
Finalmente, o faturamento e a resistência da fase solidam é baseada pela
gravidade e pela mecânica das fraturas. O ultimo enfoque é que as tensões
atuantes na massa rochosa são diretamente dependentes da dimensão e geometria
de fissuras e tensões in-situ da massa rochosa no campo. Logo, não há escala de
modelos que possam satisfazer todos os critérios de similitude. Assim, a
prioridade pode ser dada a uma instalação experimental que possua as
propriedades do protótipo
Segundo Bollaert (2004), o comportamento turbulento e pressões de
flutuação da mistura ar-água impactando as rochas não podem ser corretamente
reproduzidas em escalas de laboratório menores que 1;10. Também a propagação
destas pressões dentro das juntas que separam os blocos do maciço rochoso,
também não permitem efeitos de escala.