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setembro/outubro 2005 n18 Fortaleza recebe quarta etapa do Circuito Loterias Caixa www.cpb.org.br Bernardinho relembra Paraol impíada de Atenas b r ica no DF produz cadeiras de rodas a preços ac essíveis Br asileiros trazem medalhas do Aberto Europeu de Atletismo e do Pan da IBSA

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Bernardinho relembra Paraolimpíada de Atenas Fábrica no DF produz cadeiras de rodas a preços acessíveis Fortaleza recebe quarta etapa do Circuito Loterias Caixa s e tem bro / o ut u bro 2 0 0 5 w w w . c p b . o rg . b r Vital Severino Neto Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro É na diversidade de apoio a modalidades distintas que o CPB pretende ampli- ar o leque de conquistas de nossos atletas, oferecendo-lhes o suporte para seu desenvolvimento profissional. Boa leitura!

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setembro/outubro 2005n18

Fortaleza recebe quarta etapa do Circuito Loterias Caixa

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Bernardinho relembraParaolimpíada de Atenas Fábrica no DF produz cadeiras derodas a preços acessíveis Brasileiros trazem medalhas do AbertoEuropeu de Atletismo e do Pan da IBSA

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NO PÓDIO02 Antônio Tenório30 Luiz Algacir43 Antônio Delfino

CULTURA06 Entrevista com Mauricio de Sousa

ESPECIAL09 Aberto Europeu de Atletismo Paraolímpico

Em setembro de 2005 completou-se um ano da gloriosa participação bra-sileira na Paraolimpíada de Atenas, na Grécia. As 33 medalhas ganhas

apontaram para o ineditismo tanto da quantidade como da qualidade da conquista. Afinal, foram 14 ouros, 12 pratas e sete bronzes – feito

que alçou o Brasil à 14ª colocação geral e ao 3º lugar das Américas.

Entre os atletas, o nadador Clodoaldo Silva inscreveu definitiva-mente seu nome no esporte mundial. Em oito finais disputadas nos Jogos de Atenas, venceu seis e ainda levou uma prata. Fora tama-nha eficiência, seu carisma e sua consciência social elevam-no ao status de ídolo, condição que será ratificada agora em novembro com o Prêmio do Comitê Paraolímpico Internacional, que elege Clodoaldo o melhor atleta paraolímpico masculino do mundo.

Como se não bastassem tantas honrarias, Clodoaldo também é Silva, a exemplo do judoca tricampeão paraolímpico Antônio Tenório, do jogador de futebol para cegos, ouro em Atenas, João Batista e de vários outros atletas que enchem o movimento paraolímpico de orgulho e vivacidade. O tema é abordado na matéria de capa e traz curiosidades interessantes acerca das origens desta verdadeira legião de Silvas espalhados pelo país,

assim como de seus maiores expoentes.

A quarta etapa do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação, realizada em Fortaleza, em início de outu-

bro, igualmente merece destaque por evidenciar que o Comitê Paraolímpico Brasileiro mantém um rumo decidido e altivo no sen-

tido de superar, em Pequim-2008, os resultados obtidos em Atenas. Para tanto, o CPB investe ainda na participação de atletas brasileiros

em competições internacionais, como o Aberto Europeu de Atletismo Paraolímpico, ocorrido na Finlândia, no final de agosto, os IV Jogos Pan-

americanos de Deficientes Visuais (IBSA), em setembro, em São Paulo, a Copa América de Bocha Paraolímpica, na Argentina, também em setem-

bro, e o V Mundial de Tiro com Arco, na Itália, em outubro.

É na diversidade de apoio a modalidades distintas que o CPB pretende ampli-ar o leque de conquistas de nossos atletas, oferecendo-lhes o suporte para seu

desenvolvimento profissional.

Boa leitura!

Vital Severino Neto Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro

M a r a c a t u

NOTÍCIAS13 Copa América de Bocha Paraolímpica14 Paraolímpicos no SporTV15 Circuito Loterias Caixa: Fortaleza20 Dança em cadeira de rodas22 Fábrica de cadeira de rodas33 Hipismo brasileiro ganha Fair Play34 IV Jogos Pan-americanos da IBSA

CAPA24 Paraolímpicos da Silva

ADRENALINA40 Ranimiro Lotuffo

OPINIÃO46 Bernardinho

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Há exatas três paraolimpíadas, judocas de todo o mundo tentam, em vão, furar o bloqueio intransponível chamado Antônio Tenório da Silva. Atlanta-1996, Sidney-2000 e Ate- nas-2004 coroam o lutador com a difícil marca de três ouros paraolímpicos. Tamanha superioridade deve-se à disciplina com que encara as cerca de quatro horas diárias de treina-mento e à ambição por novas conquistas. “Antes da próxi-ma paraolimpíada, minha meta é o mundial, em 2006, e o parapan do Rio de Janeiro, em 2007”, afirma resoluto o atleta que, em setembro deste ano, sagrou-se campeão da II Copa do Mundo e também levou o ouro nos IV Jogos Pan-americanos de deficientes visuais.

Por Leandro Ferraz

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Natural de São Bernardo do Campo, em São Paulo, Tenório conheceu o judô aos 7 anos. Foi a maneira encontrada pela família para trabalhar o já então altíssimo nível de energia do ir-requieto garoto. É justamente em uma brincadeira de rua que perde a visão do olho esquerdo. Tinha 13 anos e recebeu uma pedrada arremessada de um estilingue do amigo. Aos 19 adquire uma infecção alérgica no olho direito. Sem relação alguma com o acidente que lhe tirou a primeira vista, a infecção ocasiona descolamento de retina e leva-o à cegueira total. Hoje, aos 34, Antônio Tenório é independente e consciente das adaptações que teve que se acostumar para seguir com sua vida. “Acredito que quem adquire uma

deficiência depois de adulto sofre mais. Fiquei quase um ano sem sair de

casa, deprimido mesmo”,relata.

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Ao mirar o fotógrafo, Tenório mostra percepção incomum.

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Único dos atletas patrocinados pelas Loterias Caixa de uma modalidade diferente das de atletismo e natação, Tenório acompanhou de perto várias atividades de promoção da quarta etapa do Circuito Brasil Paraolímpico, em Fortaleza, no início de outubro. Compôs a mesa do seminário realizado no teatro da Unifor para alunos de educação física, parti- cipou da visita às crianças do projeto Vilas Olímpicas, da Secretaria de Esporte e Juventude do Ceará, marcou presença na demonstração do esporte paraolímpico num shopping da cidade, deu entrevista ao vivo para uma tevê local e ainda assistiu às competições de na-tação. Tanto empenho revela a fibra de um profissional dedicado ao esporte paraolímpico no geral, mas também compromissado com sua modalidade específica. “A cada etapa do circuito das Loterias Caixa surgem novos atletas na natação e no atletismo. Tenho sugerido que o judô seja incluído no próximo ano, pois é um esporte que sempre traz medalhas para o Brasil, tanto em olimpíadas como em paraolimpíadas”, constata Tenório.

O patrocínio trouxe a estabilidade necessária para se dedicar exclusivamente ao judô. Por outro lado, sabe que “vida de atleta é curta”. Diante disso, começa a estender seus tentácu-los para outras áreas. “No momento, tenho alguns convites para atuar na política. Pro-vavelmente, assumirei um cargo de coordenador do paradesporto da cidade de Diadema”, anuncia o atleta, que não descarta trabalhar também com transporte de cargas, ramo no qual seu irmão tem experiência.

Mas que os adversários deste tricampeão paraolímpico não se animem. Antônio Tenório da Silva não pretende pendurar o quimono tão cedo. E estará aguardando um por um em Pequim-2008.

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A rotina de medalhas só reforça a alegria por mais vitórias.

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A seção No pódio desta edição traz os perfis do judoca Antônio Tenório da Silva (págs. 2 a 4), que também está na matéria de capa, do mesatenista Luiz Algacir (págs. 30 a 32) e do

velocista Antônio Delfino (págs. 43 a 45).

Divirta-se!

Turma da Mônica

www.artshopping.com.br

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Um dia, Mauricio de Sousa chegou em casa e começou a prestar atenção nas filhas. Mariângela, a primeira delas, brincava com Mônica, que tentava bater com seu coelho em Magali, uma devoradora de melancias. Inspirado ne-las, Mauricio foi dando vida à Turma da Mônica. Nesse meio tempo, já havia criado outros personagens consa-grados dos quadrinhos brasileiros, como Bidu e Fran-jinha, Piteco, Chico Bento, Penadinho e Cebolinha. Pas-sados mais de 40 anos, o desenhista orgulha-se de ter formado várias gerações. Atento para a representação completa do universo infantil na Turma da Mônica, investiu na criação de personagens com deficiência.

Em 2004, o desenhista trouxe à vida dois novos inte-grantes: Luca, cadeirante, e Dorinha, deficiente visual. Luca é, inclusive, um amante de todos os esportes, prin-cipalmente o basquetebol. Mauricio escolheu o nome Dorinha em homenagem a Dorina Nowil, deficiente visual e criadora da Fundação Dorina Nowil, referência brasileira na área da deficiência. Luca, por sua vez, foi apelidado de “Da Roda” e “Paralaminha”, pois é fã do cantor Herbet Vianna e da banda Paralamas do Sucesso.

Além disso, em 2005, Mauricio lançou a coleção Conheça a Turma, que apresenta os personagens da Turma da Mônica em braille. A proposta da coleção é revelar às crianças com deficiência visual o novo universo criado pelo desenhista.

Mauricio de Sousa conta sobre oprazeroso desafio da inclusão de

personagens com deficiência na Turma da Mônica

Por Patrícia Osandón

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O criador ao lado de uma das suas criaturas.

Trabalho para Mauricio é brincadeira. E vice-versa.

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Mauricio nasceu em Santa Isabel, uma pequena cidade do estado de São Paulo, em outubro de 1935. O talento para as artes vem de berço. Afinal, Antônio Mauricio, seu pai, era barbeiro e poeta. A mãe, Petronilha, poetisa. Mauricio também trabalhou em rádios de interior, onde en-saiou números de canto e dança. Para ajudar no orçamento doméstico, desenhava cartazes e pôsteres. Chegou a trabalhar por cinco anos como repórter policial do jornal Folha da Manhã. Mas seu destino estava mesmo marcado pelos quadrinhos. Passou um bom tempo batalhando para conquistar espaço para suas tirinhas em jornais brasileiros. E, de-pois de muito esforço, teve seu talento reconhecido. Mauricio calcula ter vendido mais de 800 milhões de revistas no Brasil.

Confira a entrevista exclusiva que a Brasil Paraolímpico fez com um dos maiores desenhistas brasileiros de todos os tempos.

BP De onde veio a idéia de criar Dorinha e Luca?MS Crianças com algum tipo de dificuldade fazem parte do nosso dia-a-dia. Hoje, freqüentam as escolas e brincam quando podem nas ruas, nos campinhos, nos pátios dos prédios, nos rios, nas matas. Dependendo de suas dificuldades, aceitam desafios e se superam. Servem de exemplo para os que não têm limitações. Essas crianças, que permearam minha

infância também, não estavam representadas na Turma da Mônica. Era uma falha. Uma “distração” que me preocupava. Afinal, a Turma da Mônica é composta de crianças representativas da multiplici-dade e da universalidade do mundo infantil.

BP O que foi preciso, efetivamente, para inventaros personagens?MS Para se criar um personagem com algum tipo de deficiência, tí-nhamos que estudar o mundo da pessoa com deficiência, seus hábi-tos, suas dificuldades, sua adaptação, seus sentimentos com relação às outras crianças. Tínhamos que mergulhar fundo, também, para nos despirmos de preconceitos. Mesmo inconscientes. E chegar a um consenso, eu e a equipe de roteiristas, quanto à forma de apresentá-los como personagens e no bojo de um roteiro, de uma história com seriedade, respeito, humor e mensagem. Foram necessárias muitas reuniões, debates, estudos e discussões. E assim foram nascendo a Dorinha e o Luca. A receptividade dos personagens tem sido acima da expectativa. Estamos estudando o lançamento de mais um per-sonagem com deficiência, uma menina com síndrome de Down. Já tínhamos o Humberto, que é surdo e não aprendeu a falar, intera-

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gindo há tempos com a turminha, mas que não usamos muito por falta de conheci-

mento do mundo dos surdos. Isso é algo que pretendemos desenvolver também.

BP Com base no fato de Luca ser um amante dos esportes, qual a

sua opinião sobre a prática esportiva, especialmente para crianças

e adolescentes?

MS Os esportes são brincadeiras com regras, competitivas ou não, que ajudam e

muito no desenvolvimento físico e até mesmo mental das crianças. A ordem, a

disciplina e a busca de superação são indispensáveis para a garotada.

BP Quais os projetos futuros para

Luca e Dorinha?

MS Eles vão continuar interagindo com o resto da

Turma, trazendo, quando possível, algum tipo de

mensagem, mesmo subliminar, sobre a necessidade

da inclusão e dos cuidados para com a população com

algum tipo de deficiência.

BP Como foi a experiência de ter desenhado

a capa da revista Brasil Paraolímpico antes do

glorioso desempenho do Brasil nos Jogos Paraolímpicos

de Atenas?

MS Quando eu via os jogos, não acreditava no que estava assistindo. Maravilhei-me com a per-

formance tanto dos brasileiros quanto dos outros atletas. Fiquei orgulhoso por ter colaborado

com a revista antes da Paraolimpíada.

BP Você teve algum contato mais próximo com alguma pessoa com de-

ficiência?MS: Além de visitas que nossos roteiristas fizeram à Associação de Assistência à Criança Defi-

ciente (AACD), para papos com a criançada cadeirante, tivemos, nos estúdios, conversas com os

atletas paraolímpicos Silvio Luiz, instrutor de escalada, e Cristiano Pacheco, que é halterofilista.

BP Qual a importância de personalidades como você ou até mesmo os

ídolos brasileiros que defenderam o país em Atenas para as pessoas

com deficiência e a sociedade em geral?

MS Todos precisamos de ídolos, valores, modelos. Que podem ser nossos pais,

professores, pessoas que admiramos. Quando realizamos algum trabalho

ou ação que possa servir de exemplo, devemos ficar felizes. E repetir a dose.

Quando pessoas com algum tipo de deficiência quebram as barreiras do im-

possível, melhor ainda. Mostraremos possibilidades e caminhos de realiza-

ção para uma infinidade de pessoas.

BP O que falta para as pessoas com deficiência poderem

exercer sua cidadania na sociedade brasileira?

MS Talvez uma maior conscientização sobre a necessidade de inclusão social.

Consciência de que todos temos os mesmos direitos e que podemos lutar pela

inclusão, tanto no plano pessoal e familiar quanto na sociedade e junto aos

poderes constituídos.

Colaborou Antoniolli

Assessoria & Marketing

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Capa da Brasil Paraolímpico de

agosto de 2004.

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Seleção retorna com 17 medalhas do Aberto Europeu

At l e t i s m o b r a s il e i r o ganhao mun

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Uma dobradinha bem brasileira deu início ao Aberto Eu-ropeu de Atletismo Paraolímpico, em Espoo, na Finlândia, entre os dias 17 e 28 de agosto. No primeiro dia de com-petições, o baiano Ozivan Bonfim e o brasiliense Moisés Vicente, ambos da classe T46 (para amputados ou com comprometimento dos membros superiores), repetiram a tática de ajuda mútua que vinham adotando em outras competições e conquistaram ouro e prata para o Brasil nos 10 mil metros, respectivamente. “Somos amigos den-tro e fora das pistas. Nosso único adversário mesmo é o reló-gio”, afirma Moisés com sabedoria. “Apesar de saber que brigamos pela mesma medalha, também precisamos lembrar que somos companheiros, além de brasileiros competindo jun-tos. Só temos a ganhar com essa parceria”, completa Ozivan.

Por Patrícia OsandónFotos Malafaia Produções

Amigos fora e dentro das pistas, Ozivan (amputado da mão esquerda) e Moisés sempre se ajudam nas competições. Resultado: ouro e prata para o Brasil.

Acima, Roseane dos Santos em ação.

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Pedro César conquis-tou duas pratas, uma nos 200m e outra no revezamento 4 x 100m.

O chefe da delegação no Aberto Europeu, Andrew Parsons, explica que a du-pla formada por Ozivan e Moisés fortalece o grupo brasileiro. “Eles se ajudam na conquista de títulos ao mesmo tempo em que o esporte paraolímpico cresce com isso”, diz. O clima de amizade entre os inte-grantes da seleção brasileira de atletismo é, aliás, um dos pontos mais positivos apontados pelo coordenador técnico da modalidade, Ciro Winckler. “O nosso desempenho na Finlândia confirmou o crescimento e a profis-sionalização do atletismo brasileiro nos últimos anos”, declara Ciro.

A prova da sintonia da equipe brasileira foi a meda-lha de prata no revezamento 4x100m rasos para de-ficientes visuais, a segunda deste tipo conquistada em uma competição internacional – a primeira foi no Pan-americano do México, em 1999. Clayton Pacheco, Hilário Moreira, André Garcia e Pedro César marcaram o tempo de 45s10, ficando atrás apenas do grupo português, que ficou com 44s74. Durante as competições, Clayton ganhou um novo apelido: homem de ferro. Afinal, além do 4x100m, que correu por último, competiu no salto em dis-tância, salto triplo e pentatlo (que reúne cinco pro-vas – salto, lançamento de dardo e disco e 100m e 1500m rasos). “Apesar de não ter ganho meda-lhas nas outras em que competi, a prata do revezamento premiou essa minha verdadeira maratona no Europeu. Foi uma coroação de todo o esforço com os treinamentos”, comemora Clayton, que, apenas neste ano, bateu três vezes o re-corde brasileiro no salto em distância, um no triplo e outro no dardo – este último no Aberto Europeu.

Os desafios para a seleção brasileira começaram bem antes da Finlândia. Até setembro de 2005, fo-ram quatro etapas do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação. A partir dos melhores índices técnicos da primeira fase da com-petição, realizada em Minas Gerais, em junho, fo-ram escolhidos os representantes no Aberto. “Ape-sar de ser um ano pós-paraolímpico, está sendo bastante movimentado, o que é positivo para a modalidade. Participar deste Circuito com calendário fixo é um diferencial para o esporte brasileiro”, aponta Antônio Delfino, da classe T46, que conquistou um ouro nos 100m e uma prata nos 400m, prova na qual precisou enfrentar, além de uma forte febre, o australiano Health Francis. O brasileiro marcou 49s40, o quinto melhor tempo de sua car-reira, e Health, 49s28. O bronze foi para Aleksandr Polishuk, do Azerbaijão. Nos Jogos Paraolímpicos de Atenas, também em um forte confronto, o ouro tinha sido de Delfino, com direito a um recorde mundial (48s46), e a prata do australiano (48s72).

A delegação, composta por 29 integrantes, sendo 16 atletas, cinco atletas-guia, dois técnicos e seis staffs, retornou com 17 meda-lhas: seis ouros, oito pratas e três bronzes, deixando o Brasil em 10º lugar geral e em 3º das Américas, atrás apenas de Estados Unidos e Canadá. O Aberto reuniu cerca de 900 atletas de 47 países de todo o mundo.

O Aberto foi a competição mais importante de 2005 para o atletismo mundial. A principal expectativa dos atletas agora é o Mundial da modalidade, em setembro de 2006, na Holanda. Além disso, há ainda o Parapan-americano de 2007, no Rio de Janeiro, e os Jogos Paraolímpicos de Pequim, em 2008. “Quando chegar o fim do ano, pretendo avaliar com meu técnico, Raimundo Tadeu Martins, o meu desempenho, de forma que eu possa melhorar sempre. Quero chegar com tudo nesse Mundial”,

projeta Delfino.

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O melhor dos melhoresUm brasileiro em especial chamou a atenção dos espectadores do Aberto Europeu de Atletismo Paraolímpico. Odair Ferreira dos Santos (baixa visão) conquistou dois ouros, nos 800m e 5.000m rasos, e uma prata nos 1.500m, tornando-se o principal destaque da equipe que representou o Brasil na competição. Neste bate-bola, Odair conta um pouco sobre o que viveu na Finlândia.

BP Como você avalia sua participação no Aberto?OF Tive um bom desempenho. Eu já tinha conhecimento que enfrentaria provas bastante acirradas, o que aconteceu de fato. A Finlândia serviu como mais uma preparação para os atletas brasileiros, especialmente para acompanharmos como anda o nível dos concorrentes dos outros países, que costuma ser muito forte. Acho que o segredo de qualquer bom esportista é muito treinamento e dedicação.

BP De que forma você encara a atual fase do atletis-mo brasileiro?OF Vejo que as coisas melhoraram bastante depois do bom desempenho do Brasil nos Jogos Paraolímpicos de Atenas. O atletismo brasileiro cresceu bastante nos últimos anos. Tenho a certeza de que poderemos esperar vári-

os resultados positivos no Mundial da Holanda, em 2006.

BP Qual a importância do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico na preparação dos paraolímpicos?

OF Os atletas passaram a ter um calendário fixo de competições com o Circuito. Além disso, os melhores também são premiados pelo seu desempenho. Isso é positivo, uma vez que agora os atletas brasileiros podem treinar com uma perspectiva maior.

Joaquim Cruz prestigia equipe brasileiraUma das presenças mais comentadas pela delegação nacional foi a de Joaquim Cruz, primeiro e único atleta olímpico do país até hoje a ganhar medalha de ouro em prova de pista (Los Angeles, em 1984, nos 800m). Joaquim está iniciando um trabalho de treinamento da equipe paraolímpica dos Estados Unidos. Neste depoimento exclusivo, o corredor conta como tem sido o trabalho com o esporte para pessoas com deficiência.

“A minha experiência na Finlândia com os atletas paraolímpicos foi sensacional. O encontro com os brasileiros foi superinteressante - em toda a minha carreira esportiva, nunca havia visto uma comunidade de atletas e treinadores tão unidos e agradáveis. Para mim, foi uma experiên-cia nova ver tantos brasileiros conquistando medalhas numa única competição de atletismo. Tive também os meus momentos emotivos. No final da competição, cheguei à conclusão de que os desafios maiores estão nas mentes das pessoas e nem tanto nos físicos dos atletas”.

Olhos da conquistaNas pistas, eles são muito mais do que “os olhos do atleta”. Companheiros, confidentes e apoiadores, os atletas-guia estão sempre a postos para guiar os corre-dores com deficiência visual para suas vitórias. “O segredo de tudo é o bom entrosamento e a convivência diária. É uma questão de conhecer quem estou guiando – seus sonhos, alegrias, tristezas e os pontos fortes e fracos”, acredita Cássio Henrique Da-mião, que, além de ser guia, também é treinador do mineiro Carlos Bartô. Apoio que Bartô agradeceu com uma prata nos 1.500m rasos.

“T ive um bom resultado para a minha pri-meira competição internacional. Não tenho nem como descrever o espírito de represen-tar o Brasil em outro país. Para conseguir-mos bons resultados é preciso treinar forte. E é claro que ajuda muito contar com o apoio de um treinador e guia como o Cás-sio”, diz Bartô, de 23 anos. Quem já sabe bem os segredos de um bom atleta-guia é Gerson Knittel, que está no movimento paraolímpico desde 1987. “A relação entre ambos deve ser dotada de muita confiança. Além disso, o guia pre-cisa trabalhar, sempre que possível, outros aspectos, como a auto-estima do corredor, além do companheirismo”, pondera. Em todos esses anos de trabalho, Gerson já guiou diversos atletas do movimento paraolímpico. Atualmente, conduz Maria José Ferreira Alves, a Zezé, para os lu-gares mais altos do pódio. “O Gerson já sabe quando não estou bem e até mesmo nas provas que não terei um bom resultado. A confiança é fundamen-tal”, diz Zezé, que foi eleita a representante da delegação na abertura da competição, quando desfilou ao lado de Antônio Delfino, o porta-bandeira do Brasil. Somente neste Europeu, foram duas medalhas conquistadas por Zezé, prata nos 100m e bronze nos 400m.

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Odair levou dois ouros e uma prata

da competição.

Outro atleta-guia experiente, Jorge Luiz Silva, o Chocolate, conduz

Terezinha Guilhermino

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B om começo

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Medalhistas do EuropeuÁdria Santos (Ouro nos 100m e nos 200m);André Garcia (Bronze nos 100m);

Antônio Delfino (Ouro nos 100m e Prata nos 400m);

Carlos Bartô (Prata nos 1.500m);

Gilson dos Anjos (Bronze nos 1.500m);

Maria José Ferreira Alves (Prata nos 100m eBronze nos 400m);

Moisés Vicente Neto (Prata nos 5.000m e 10.000m);

Pedro César Moraes (Prata nos 200m);

Odair Ferreira (Ouro nos 800m e 5.000m e Prata nos 1.500m);

Ozivan Bonfim (Ouro nos 10.000m).

Equipe do revezamento 4x100m (prata)André Garcia, Clayton Pacheco, Hilário Moreira e Pedro César Moraes.

A velocista Ádria Santos, maior medalhista brasileira de Paraolimpíadas – quatro ouros e oito pratas, começou sua participação no Aberto Europeu com o pé direito. Pou-cos dias antes do início da competição, Ádria já estava na Finlândia competindo no Mundial de Atletismo da IAAF, quando conquistou um ouro nos 200m. Além de ter ganho o título de tricampeã do Mundial, Ádria, que é cega, foi a única brasileira, entre atletas com e sem deficiên-cia, a subir no pódio. No Europeu, foram mais dois ouros nas duas provas em que correu, os 100m e os 200m. “Meus objetivos eram esses mesmos, ser tricampeã e conquistar os ouros no Europeu. Fui para ga-nhar e consegui. Meus focos agora são o Mun-dial, o Parapan e a Paraolimpíada”, enumera.

Ádria com adeterminação de sempre.

Odair com mais um ouro no peito.

Rosinha não trouxe medalhas.

Além da prata nos 400m, Delfino ganhou o ouro nos 100m.

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Por Leandro FerrazFoto Paulo Miranda

Equipe brasileira retorna da Copa América de Bocha Paraolímpica com duas medalhas e muita experiência

Praticada por paralisados cere-brais e pessoas com outros tipos de deficiência, desde que utilizem ca-deira de rodas, a bocha paraolímpi-ca é dividida em quatro categorias – BC1 a BC4, sendo que, nesta úl-tima, o comprometimento motor é menor. O Brasil conquistou a pra-ta na competição por equipes, com a participação de Rafael Gregório, Eduardo Seiboth, Vladimir Morei-ra, Maciel Santos e Eder Noguei-ra. Já na disputa de duplas BC4, Eliseu dos Santos e José Roberto da Silva ficaram com o bronze.

Segundo o técnico da delegação brasileira, Paulo Miranda, a par-ticipação foi bastante positiva, pois, além de pontuar para o ran-king da Associação Internacional de Esportes para Paralisados Ce-rebrais (CP-ISRA), o grupo pôde adquirir vivência competitiva.

“Somente o Maciel, o Vladimir e a Cristiane [Nitek, que não ganhou medalha] tinham participações internacionais anteriores. O resultado foi importante para nossa pre-tensão de chegar à Paraolim-píada de Pequim-2008”,afirma Miranda.

Esporte de origem distante – historiadores remontam sua prática ao Egito e à Gré-cia antiga, por meio de objetos de forma esférica, como pedras redondas – a bocha disseminou-se rapidamente entre os latinos, sendo hoje bastante popular em países como Itália e Espanha.

Na América do Sul, chegou primeiro na Argentina, trazida por imigrantes italianos. Tornou-se oficial como esporte na década de 1930, mas apenas em 1944 o continen-te criou a Confederação Sul-americana de Bochas, à qual o Brasil filiou-se em 1950.

A bocha estreou no programa paraolímpico oficial nos Jogos de Nova Iorque-1984. Antes, porém, na Paraolimpíada de Toronto-1976 (Canadá), o Brasil ganharia sua primeira medalha paraolímpica: prata no lawn bowls, tipo de bocha sobre a grama.

BC1 IndividualBC2 IndividualBC3 IndividualBC4 Individual

Duplas BC3Duplas BC4

Equipes

ArgentinaCanadá

ArgentinaChile

CanadáCanadá

Argentina

CATEGORIA

Quadro de medalhas da Copa América de Bocha ParaolímpicaOURO PRATA BRONZE

ArgentinaArgentinaCanadá

ArgentinaEUA

Argentina

BRASIL

CanadáCanadáCanadáCanadá

Argentina

BRASILCanadá

Com um grupo novato em com-petições internacionais, o Comitê Paraolímpico Brasileiro levou 11 atletas para Mar del Plata, Ar-gentina, para disputar a Copa América de Bocha, de 22 a 29 de setembro. Também participaram da competição EUA, Canadá, Ar-gentina e Chile.

Equipe brasileira de bocha trouxe prata e bronze da Argentina.

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14 Um balanço geral após um ano dos jogos paraolímpicos de Atenas. Esse foi o tema do programa Momento Olímpico, do canal Sportv, que no dia 18 de agosto recebeu os atletas Clodoaldo Silva, Antônio Tenório e André Brasil. Vale ressal-tar que André vinha, até então, competindo em provas nacio-nais na categoria S10 (último nível, que concentra atletas com menor grau de comprometimento físico-motor). Entretanto, para ser considerado atleta paraolímpico, precisava passar por uma classificação internacional, o que ocorreu no dia 20 de setembro, com resultado negativo para André. Porém, o CPB levará o atleta para nova classificação em dezembro deste ano, no Aberto de Natação dos EUA.

O programa do Sportv, apresentado pelo jornalista Marcelo Barreto, contou com a participação do repórter Regis Rösing, que esteve na Grécia no ano passado para cobrir a Paraolim-píada de Atenas.

Entre os assuntos abordados, o reconhecimento da atuação sem precedentes de uma delegação brasileira em paraolim-píadas e a inédita cobertura jornalística que permitiu ao Brasil conhecer os seus novos heróis. Os dois jornalistas revelaram, ainda, que os jogos paraolímpicos de 2004 foram o evento mais marcante de suas carreiras profissionais e uma experiência pessoal única. “Foi um momento divisor de águas no Brasil. Essa última edição dos jogos paraolímpicos fez com que o país verdadeiramente conhecesse o paradesporto. Foi um marco em termos de cobertura de mídia e, para mim, o evento mais significativo da minha carreira”, conta Marcelo Barreto.

Programa do Sportv analisa legado da participação brasileira em Atenas

O jornalista Marcelo Barreto, apresentador do programa, recebe o repórter Regis Rösing e os atletas Clodoaldo Silva, Antônio Tenório e André Brasil.

Clodoaldo Silva, o tubarão paraolímpico de Atenas, com seis ouros e uma prata em oito provas disputadas, falou de sua situação atual. O nadador, que há um ano, antes das competições, tinha que pegar três ônibus para treinar, hoje, com o patrocínio das Loterias Caixa, vive em boas condições. “Minha vida mudou muito. Tudo o que eu tenho devo ao esporte. Faltava visibilidade, o que houve em Atenas. O paradesporto agora está muito profissional. O Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico, que começou este ano, veio se somar a tudo isso”, atesta Clodoaldo.

Nessa avaliação de ano pós-Atenas, o judoca Antonio Tenório revelou seu entusiasmo com a presença da mídia na competição. “Em 96, nos jogos de Atlanta, voltei frustrado porque não tinha mídia. Em 2004, lavei a alma e voltei satisfeito”, comemora Tenório. O judoca, tricampeão paraolímpico, lembrou ainda da importância dos Jogos Pan-americanos do Rio de 2007. “Atualmente, as maiores barreiras que enfrentamos são as arquitetônicas. O Pan de 2007 vai ajudar muito porque o Rio de Janeiro terá que se adequar e as outras cidades poderão tomá-lo como exemplo. E vamos mostrar também que po-demos realizar olimpíadas e paraolimpíadas aqui”.

Por Mariana GenescáFoto Julia Censi

focoMovimento paraolímpico

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Fortaleza de

Sob forte sol e ventos característicos da metrópole litorânea com cerca de 2 milhões de habitantes, atletas de todo o país empenharam-se nas disputas em busca de novas marcas e recordes, em uma competição que já figura como a mais importante do calendário paraolímpico nacional.

Como estratégia para promover o circuito e, ao mesmo tempo, apre-sentar o movimento paraolímpico ao público, foram realizadas algumas atividades com a presença de atletas, como seminário na Universi-

Te r ra d o m a ra c a t u e d e v i o l e i ro s , c a n t a d o r e s e e m b o l a d o r e s , ac i d a d e d e Fo r t a l e z a / C E r e c e b e u , n o i n í c i o d e o u t u b r o , a q u a r t a e t a p a d oC i rc u i t o L o t e r i a s C a i x a B r a s i l Pa r a o l í m p i c o d e A t l e t i s m o e N a t a ç ã o .

dade de Fortaleza, visita ao projeto Vilas Olímpicas, da Secretaria de Esporte e Juventude do Ceará, demonstração do esporte no shopping Benfica e jantar com empresários de casas lotéricas (ver nos quadros).

Na piscina do Clube Náutico, além dos já esperados ouros em todas as provas disputadas por atletas como Clodoaldo Silva, Adriano Lima e Fa-biana Sugimori, dois fatos chamaram a atenção. O primeiro é a paulista

por Leandro Ferrazfotos Mike Ronchi e Rita Camacho

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Na montagem, Fabiana Sugimori “invade” as praias de Fortaleza.

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Atletismo reserva surpresaAs provas de atletismo disputadas na Unifor coroaram, mais uma vez, Odair Ferreira dos Santos (baixa visão), que garantiu o ouro nos 800m e 1.500m rasos. Uma importante realização do corredor este ano foi o oitavo lugar nos 1.500m do Troféu Brasil de Atletismo, em junho – colocação nada modesta, já que foi o único atleta com deficiência a correr a prova. “Apesar do calor e do vento aqui do Ceará, consegui fazer bons tempos. Estou melhorando cada vez mais”, afirma Odair.

Uma dobradinha que tem dado certo tanto no circuito como em outras competições é a de Ozivan Bonfim e Moisés Vicente, que levaram ouro e prata nos 5.000m rasos, em Fortaleza. Os atletas repetiram a técnica utilizada durante o Aberto Europeu de Atletismo Paraolímpico, na Finlândia, em agosto deste ano, quando se ajudaram em todo o percurso da prova dos 10.000m para conseguir ultrapassar os concorrentes. “Foi uma vitória em conjunto. Estamos usando esta estratégia em todas as competições e tem dado certo. É bom para nós e, principalmente, para o Brasil quando estamos competindo internacionalmente”, explica Ozivan, que ganhou outro ouro durante o circuito, nos 10.000m.

Regiane Nunes da Silva, 20 anos, da categoria S13 (baixa visão), que bateu o recorde brasileiro nos 100m livre, com o tempo de 1min29s74, e nos 400m livre, com 7min12s73. “Foi uma briga pessoal. Já tinha batido o recorde em treino, mas sempre fico muito ansiosa nas com-petições. Hoje, entrei determinada para ganhar”, vibra a nadadora após quebrar a marca dos 100m no primeiro dia de competições. Estreante no circuito, Regiane tem glaucoma congênito e nada há cinco anos.

Outro destaque foi a participação dos nadadores argentinos Betiana Ba-sualdo, da classe S2, e Sebastian Ramirez, da S4, a mesma de Clodoaldo Silva. Ao todo, conquistaram sete medalhas, sendo quatro ouros para Betiana (50m, 100m e 200m livre e 50m costas) e um ouro e duas pra-tas para Ramirez (50m costas, 100m peito e 150m medley, respectiva-mente). Atletas de Mar del Plata, eles estavam acompanhados da técnica argentina Maria Emilia di Scala e elogiaram a organização do circuito.

“Na Argentina, não temos competições nacionais com tantos atletas e tão bem organizadas como esta. Estamos muito felizes em competir aqui e espera-mos poder voltar na etapa de Porto Alegre”, diz Betiana.

Danilo Glasser mostra garra

e Edênia Garcia, leveza.

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A surpresa no atletismo ficou por conta da derrota da maior medalhista paraolímpica brasileira, Ádria Santos, para a também mineira Terezinha Guilhermino, nos 100m rasos. Terezinha, que competia na categoria T12 (percepção de vultos), foi reclas-sificada recentemente para T11 (cega). “Fico feliz e honrada de ter ultrapassado a melhor velocista cega do mundo, a Ádria”, comemora Terezinha, que levaria o ouro também nos 200m, desta vez sem a participação de Ádria, que não correu esta prova.

Terezinha (à direita) vence Ádria nos 100m rasos.

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Eles são vencedores só por chegar em Fortaleza. Afinal, foram quatro dias de estrada e desgaste. Mesmo assim, os atletas do Rondônia Clube Paraolímpico (RCP) conquistaram nove medalhas no circuito: duas de ouro, quatro de prata e três de bronze. Nada de novo para o diretor-técnico do RCP, Silvio Roberto Corsino do Carmo. “Participamos de todas as etapas do circuito até agora: Belo Horizonte, Recife, Rio e Fortaleza. Apesar da falta de recursos, inclusive de infra-estrutura para treinamento, conseguimos medalhas nas quatro cidades”, orgulha-se Silvio, que diz ter financiado do próprio bolso parte das pas-sagens de ônibus da delegação.

Equipe de Rondônia enfrenta quatro dias de ônibus para competir

“Com este con-junto de resulta-

dos, buscamos apoio para os

atletas viajarem de avião”, afirma.

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Nos quatro de dias de volta para Rondônia, a bagagem dos atletas ficou mais pesada: foram nove medalhas ao todo.

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ESTUDANTES DA UNIFOR LOTAM AUDITÓRIO DA INSTITUIÇÃO PARA CONHECER O MOVIMENTO PARAOLÍMPICO

Na quarta-feira, 28/9, antes do fim de semana de competições, integrantes do Comitê Paraolímpico Brasileiro, entre coordenadores, técnicos e atletas, estiveram na Uni-versidade de Fortaleza para apresentar o seminário “Brasil Paraolímpico: de Atenas a Pequim”. Os cerca de 200 estudantes presentes puderam aprender um pouco sobre a história e a organização do esporte de alto rendimento para atletas com deficiência.

O judoca Antônio Tenório e o nadador Luís Silva, ambos medalhistas em paraolimpía-das e patrocinados pelas Loterias Caixa, compartilharam suas experiências e respon-deram a perguntas dos alunos. Segundo o coordenador do curso de Educação Física da Unifor, professor Américo Ximenez, o seminário serviu como oportuna comple-mentação acadêmica, já que na grade curricular da universidade existem disciplinas voltadas para a prática de esporte de pessoas com deficiência. “Hoje, no estado do Ceará, 17% da população possui alguma deficiência e temos que ter profis-sionais qualificados para atender a essa demanda”, explica Ximenez.

Na noite de quinta-feira, 29/9, as Loterias Caixa promoveram um jantar com empresários de ca-sas lotéricas de Fortaleza, atletas, o presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, Vital Severino Neto, e autoridades locais, como o secretário de Esportes e Juventude do Ceará, Lúcio Bonfim, e o deputado federal André Figueiredo.

Os convidados foram recebidos em um coquetel com apresentação de danças típicas de vários es-tados brasileiros. Durante o jantar, a atração foi o músico cearense David Valente, de 28 anos, que toca teclado com os pés. O músico, que tem artrogripose, doença congênita que atrofia os músculos e membros superiores, emocionou os pre-sentes, em especial a pernambucana Roseane Ferreira dos Santos, a Rosinha, que chegou a subir no palco e cantar com David.

MÚSICA E DANÇA EM JANTAR PARA EXALTAR O ESPORTE PARAOLÍMPICO

AGUARDANDO FOTO

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Diretor de atividades eportivas da Unifor,Prof. Carlos Augusto de Souza inicia seminário.

Rosinha solta a voz com o músico David Valente.

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CRIANÇAS CEARENSES CONHECEM DE PERTO ESPORTE PARAOLÍMPICO

Cerca de 200 crianças e adolescentes de baixa renda do projeto Vilas Olímpicas, da Secretaria de Esporte e Juventude do Ceará, se divertiram com atletas paraolímpicos na manhã de sexta-feira, 30/9. O judoca ini-ciante Lucas de Oliveira, 12 anos, estava impressionado:

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Ádria Santos, André Garcia, Antônio Delfino, Antônio Tenório, Adriano Lima, Clodoaldo Silva, Fabiana Sugimori, Luís Silva, Roseane dos Santos e Suely Guimarães. A nata do es-porte paraolímpico brasileiro distribuiu autó-grafos e conversou com o público cearense na tarde da sexta-feira, no shopping Benfica.

Também presente à atividade, o atleta e as-sessor da secretaria de esporte e juventude, Humberto Henriques, fez demonstrações de basquetebol em cadeira de rodas.

SHOPPING EM FORTALEZARECEBE ATLETAS

A competição em Fortaleza, quarta etapa do CircuitoLoterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação, reuniu cerca de 400 atletas. O CPB agradece a parceria e o empenho do secretário de esporte e juventude do governo do Ceará, Lúcio Bonfim, e de seu as-sessor, Humberto Henriques. Da mesma forma, exalta o comprometimento do diretor de natação do Clube Náutico, Rui do Ceará Filho, do diretor de atividades esportivas da UNIFOR, Carlos Augusto de Souza (Prof. Carlão), e do vice-reitor de extensão e comuni-dade universitária da UNIFOR, Prof. Randal Martins Pompeu. Cabe ainda parabenizar a atuação do deputado federal pelo Ceará e vice-presidente da comissão de esporte e turismo da Câmara, André Figueiredo, na concretização do evento.As próximas etapas serão em Porto Alegre (19 e 20 de novembro) e São Paulo (17 e 18 de dezembro). Colaboraram Patrícia Osandón e Luciana Pereira.

Com vendas nos olhos, as crianças brincaram de futebol de cegos e receberam o carinho dos atletas.

“Se já é difícil lutar enxergando, imagina não podendo ver nada!”, espan-ta-se referindo-se ao tricampeão Antônio Tenório, que é cego.

Arremessar a bola de uma ca-deira de rodas:

o público passa pela experiência dos paraolímpicos, que compareceram em peso ao evento.

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De um lado, dribles, fintas, manobras arrojadas, contato físico extremo. De outro, passos coreografados, cumpli-cidade nos movimentos orquestrados, criatividade. Em comum, o ritmo intenso de treinamentos e competições e a liberdade para arriscar improvisos. Basicamente, esta é a rotina do paraibano Valdemir Tavares, 22 anos, que divide seu tempo entre duas paixões: o basquete em cadeira de rodas e a dança.

Paralisado dos membros inferiores desde os dois anos de idade, devido à poliomielite, Valdemir locomoveu-se pelo chão até os 12 anos, pois seus pais não tinham dinheiro para comprar uma cadeira de rodas. Porém, o que faltava no campo financeiro transbordava na afetuosidade. “Meus pais sempre se esforçaram muito para eu ter uma boa educação. Todos os dias, minha mãe me levava nos braços até a escola. Na volta para casa, era a mesma coisa”, comenta emocionado.

A relação precoce com o esporte foi importante motivo de socialização. “Participava de todas as brincadeiras com as outras crianças. Sempre fui bem aceito”, declara o atleta. Tamanha exposição valeu a pena. Em uma destas diversões com amigos, quando já contava 16 anos, Valdemir foi abordado pelo motorista da equipe de basquete em cadeira de rodas da Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (Funad), entidade vinculada ao governo do Estado da Paraíba. Aceitou sem hesitar o convite para participar do grupo, onde está até hoje.

Valdemir abraça desafio na dança e acumula títulos nacionaisCerca de dois anos após ter entrado para a equipe da Funad, ele e seus companheiros receberam a visita da dançarina Luciene Rodrigues. Ela trazia a proposta de desenvolver um trabalho esportivo com dança. A re-cepção ao projeto não foi animadora. “Valdemir foi o único que teve ousadia e coragem de querer aprender algo novo”, afirma Luciene. Contudo, no início, ele teve que agüentar muitas brincadeiras, algumas revestidas de preconceito. “Já conquistei esse espaço e acredito que mais da metade do meu time esteja dançando”, diverte-se Valdemir.

Baile de Atleta de basquete em cadeira de rodas, Valdemir Tavares quebra preconceitos e aventura-se na dança

Por Leandro FerrazFotos TV Globo/Renato Rocha Miranda

Versatilidade

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Atleta de basquete em cadeira de rodas, Valdemir Tavares quebra preconceitos e aventura-se na dança

Versatilidade

“Valdemir foi o único que teve ousadia e coragem de querer

aprender algo novo”

“Até agora, está dando para conciliar a dança com o basquete. Torço para que nunca aconteça choque de datas, se não ficarei em maus lençóis”

Álbum de família: os atores da novela, Totia Meirelles e Marcos Frota, a diretora Teresa Lampreia, a dupla Valdemir Tavares e Luciene Rodrigues e a professora de dança em cadeira de rodas, Maria Antonieta.

A também paraibana Luciene, 49 anos, é engenheira química de for-mação, mas dedica-se à dança há 30 anos, sendo 14 à reabilitação. Descobriu a dança competitiva em cadeira de rodas em 2001, através de um projeto da Universidade de Campinas. Entusiasmou-se tanto com o trabalho que, logo em seguida, ajudou a fundar a Confederação Brasileira de Dança em Cadeira de Rodas, da qual é vice-presidente, ao lado da presidente Eliana Lúcia Ferreira, criadora do projeto da Unicamp.

O fato é que a dupla Valdemir e Luciene se afinou e, em três campeonatos nacionais de dança, foi vice em 2002 e bicampeã em 2003 e 2004. “Tínhamos apenas seis meses de treinamento em 2002”, completa Luciene. O próximo confronto nacional será em Juiz de Fora/RJ, de 21 a 26 de novembro de 2005. Quanto ao campeonato mundial de dança em cadeira de rodas, realizado de 23 a 26 de setembro, na Polônia, ainda não foi dessa vez que puderam participar. Apesar de classificados para representar o Brasil na competição, não con-seguiram verba para custear passagens e hospedagem.

Sucesso nas pistas leva par de dançarinos a atuar na novela América, da Rede GloboAtleta da seleção brasileira sub-23 de basquete em cadeira de rodas, Valdemir participou do campeonato nacional da modalidade, em setem-bro, pela seleção do Nordeste. Perdeu a final para São Paulo por 68 x 63, em uma disputa acirrada. Coisas do esporte.

Já no campo da arte, a dupla debutou em horário nobre da Rede Globo. O convite partiu da própria autora da novela América, Gloria Peres, logo após assistir, encantada, à apresentação de ambos na mostra coreográfica de dança de salão do Rio de Janeiro, na Estudantina. A carreira está de vento em popa. “Até agora, está dando para conciliar a dança com o basquete. Torço para que nunca aconteça choque de datas, se não ficarei em maus lençóis”, brinca Valdemir, deixando escapar um ar de preocupação.

Luciene Rodrigues

Valdemir Tavares

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Empregar pessoas com deficiência e produ-zir cadeiras de rodas para suprir a demanda brasileira. Esses são os grandes objetivos da Forte e Leve, fábrica de cadeiras de ro-das instalada no Distrito Federal, que visa à produção de cadeiras esportivas e de uso diário. O projeto foi idealizado pela ONG ICP Cultural, que desde 1999 trabalha em de-fesa da pessoa com deficiência. A verba de instalação veio de financiamento do BNDES.

A fábrica tem dois atrativos sobre os concor-rentes privados: o preço e a confecção realiza-da por pessoas que conhecem as dificuldades enfrentadas. “Eu ando de cadeira de rodas desde os 10 anos. Quando olho para uma pes-soa com deficiência, sei exatamente o que ela precisa para ficar confortável no equipa-mento”, conta Ariosvaldo Silva, o “Parré”,

Linha deMontagem

atleta paraolímpico do atletismo, que também compõe oquadro de funcionários da fábrica.

A melhor cadeira produzida, toda de alumínio, custa aproxi-madamente R$ 800 em valores de hoje, metade do que cos-tuma ser cobrado por outros fabricantes brasileiros. Ao todo, sete funcionários, sendo cinco deficientes, trabalham com carteira assinada nas atividades que resultam em cerca de 150 unidades por mês.

Conforme dados do ICP Cultural, somente em Brasília 700 pessoas estão sem se locomover, presas em casa, por não possuírem uma cadeira de rodas. A fábrica, que funciona desde 9 de junho, surgiu justamente para sanar esse pro-blema. Em caso de comprovação de comprador carente, os preços da compra e da manutenção podem ser negociados.

Projeto inovador de Brasíliaquer facilitar acesso a cadeirasde rodas esportivas e tradicionais.

Por Marcelo WestphalemFotos Marcelo Westphalem

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Diretor-presidente da Ong ICP Cultural, Sueide Miranda.

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A produção em larga escala ainda esbarra na ausên-cia de algumas máquinas. A instituição está pleite-ando junto ao BNDES a compra de três equipamen-tos novos, que agilizarão a construção dos produtos. Interessados em adquirir as cadeiras de rodas, que podem ser feitas sob medida, devem ligar para (61) 3234 0016.

“Atualmente, o ICP Cultural é responsável pela efetivação em torno de 3 mil empregos de pessoas com deficiência em empresas do DF. Além de ser o melhor processo de inclusão social, a conquista do emprego possibilita o resgate da auto-estima e da cidadania”, explica Sueide Miranda, diretor-presidente da organização que, em conjunto com o projeto da fábrica, atua em diversos outros programas de apoio à popu-lação.

Segundo ele, a fábrica de cadeiras de rodas também tem como foco modelos esportivos. “Hoje, temos nove esportes prati-cados em cadeiras de rodas, mas o acesso a elas ainda está dificultado pelos altos preços praticados pelos fabricantes”, afirma Miranda. Uma cadeira de atletismo importada, por exemplo, custa cerca de US$ 6,5 mil.

As dependências da fábrica são confortáveis e a equipe tra-balha unida. “O local é todo construído para receber traba-lhadores com qualquer tipo de deficiência”, explica Onildo Miranda, gerente. Ele busca fechar alguns convênios para ampliar a produção, e, em breve, selecionar novos fun-cionários. O Ministério do Esporte está entre os cotados para uma parceria.

Os funcionários da fábrica trabalham duro paraatender à demanda.

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SOBRENOME DE MAIOR INCIDÊNCIA NO BRASIL, OS

SILVA TOMAM DE ASSALTO O MOVIMENTO PARAOLÍMPICO

E MOSTRAM A FORÇA INCLUSIVA DO ESPORTE PARA

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Eles estão entranhados na linhagem do povo brasileiro. De origem ainda controversa (ver quadro), porém notadamente

humilde, o fato é que as inúmeras famílias Silva espalhadas pelo país ganham destaque em vários campos da socie-

dade, chegando ao ápice de eleger no último pleito um presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, oriundo das

classes mais baixas, como manda o figurino dos Silva.

No esporte, não é diferente. Ayrton Senna da Silva, tricampeão de Fórmula 1 em 1988, 90 e 91; Leônidas da Silva, o

diamante negro, inventor da bicicleta no futebol; e Ademar Ferreira da Silva, bicampeão de salto triplo nas Olimpía-

das de 1952 (Finlândia) e 1956 (Austrália), são apenas alguns exemplos de um rico mosaico de coragem, persistência

e força, qualidades íntimas à grande massa anônima e trabalhadora que fundamenta a identidade brasileira e ecoa

o nome do país aos quatro cantos do mundo.

Prática ainda recente e com amplas possibilidades de expansão, o esporte paraolímpico também colhe os louros da abun-

dância de Silvas nas modalidades existentes no Brasil. Entre eles, o mais notável é Clodoaldo Silva. Apelidado de tubarão

paraolímpico das águas, encantou o mundo com seis medalhas de ouro e uma de prata em oito provas de natação disputadas

na Paraolimpíada de Atenas-2004. “É importante que outros atletas tenham reconhecimento da mídia”, comenta, solidário,

Clodoaldo. “O esporte paraolímpico não vive só de um ou dois atletas. É preciso garantir uma visibilidade coletiva, com mais

ídolos, a exemplo do esporte olímpico”, ensina, com a modéstia natural de um autêntico Silva.

Superação, igualmente, é a marca registrada de Clodoaldo Silva, potiguar que conhece de perto muitos percalços da vida.

“Hoje, por toda trajetória de sucesso no esporte, posso dar uma condição melhor para minha família”, agradece Clodoaldo,

que tem paralisia cerebral em decorrência da falta de oxigênio no parto.

Mas o impulso de ajudar o próximo não se limita apenas aos parentes. Elaborou um projeto, ainda em fase de captação

de patrocinadores, chamado “Mergulho para o futuro”. O intuito é levar crianças de comunidades carentes, com e sem

deficiências, a praticarem natação. Terão acesso também a aulas de informática e cursos profissionalizantes. Além disso, o

nadador é voluntário assíduo em diversos projetos sociais no Rio Grande do Norte, onde visita escolas e outras instituições

para passar um pouco de sua experiência de vida. “Através do meu exemplo, tento mostrar que tudo é

possível. Basta querer, acreditar, buscar as oportunidades”, enumera Clodoaldo.

Clodoaldo“O esporte paraolímpico não vive só de um ou dois

atletas. É preciso garantir uma visibilidade coletiva,

com mais ídolos, a exemplo do esporte olímpico”

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JoaoFUTEBOL DE CEGOS CONQUISTA PRIMEIRO OURO PARA MODALIDADE COLETIVA A des-peito do excelente resultado na Grécia, ouro contra os arquirrivais argentinos, a equipe de futebol de cinco (para cegos) ressente a falta de patrocina-dores. Quem lamenta é João Batista da Silva, camisa 9 e artilheiro da Paraolimpíada de Atenas, em um

discurso bastante afinado com o de Clodoaldo. “A triste realidade é que não temos apoio externo. As empresas só querem investir em esportes individuais. Já os coletivos, como o futebol – a grande paixão na-cional –, ficam de fora”, joga duro.

Silva de pai e mãe, o craque da seleção ficou cego aos 8 anos devido a um glaucoma. Foi descoberto para o futebol aos 15, em uma competição

na escola. “A gente jogava com a bola coberta por uma sacola plástica para fazer barulho”, lembra. Desesperançoso, João diz considerar-se apenas mais um Silva, “um cidadão co-mum, que paga impostos e mensalão”. Mas, logo a seguir, recupera o brio e se contradiz ao afirmar, cheio de orgulho, que João Silva é conhecido e temido no mun-do do futebol paraolímpico.

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JoaoDETERMINAÇÃO DE UM SILVA MANTÉM REGULARIDADE DE VITÓRIAS NO JUDÔTricampeão paraolímpico de judô (Atlanta-1996, Sid-ney-2000 e Atenas-2004), Antônio Tenório da Silva mantém a hegemonia em sua categoria por tan-tos anos graças à constante garra e dedicação aos treinamentos. O sobrenome Silva também veio dos dois lados, materno e paterno. Já o Tenório, acre-dita ter herdado de uma ligação de sua família com a do lendário deputado Tenório Cavalcanti, político famoso por andar sempre acompanhado de sua fiel Lurdinha, uma metralhadora, e imortalizado no filme “O homem da capa preta”, protagonizado por José Wilker. “Meus pais sempre contavam essa história. Eu nunca pesquisei nossa árvore genealógica para confirmar”, disfarça Antônio.

Historiadores e genealogistas divergem sobre as possíveis origens do sobrenome Silva. Talvez, todas as versões te-nham um pouco de fundamento, o que confirmaria a dis-seminação por meio de diversas raízes distintas.

No Império Romano, o nome seria um apelido para rotular os novos habitantes das cidades vindos da selva, já que, em latim, silva significa selva ou silvícola. Na região da Europa onde hoje é Portugal, o nome teria se popularizado após a invasão ibérica, no século I a.C. Os judeus também podem figurar como colaboradores da expansão da dinastia Silva. Forçados a se converter à religião cristã, a partir de 1497, acabavam assumindo títulos autenticamente lusitanos.

É possível ainda que, na época das grandes navegações, muitos tenham adotado o sobrenome por virem de Silves, cidade natal de Vasco da Gama. A propósito, outros crêem que os portugueses que atravessavam o Atlântico acrescentavam mais um sobrenome: Costa, para os que ficavam no litoral; e Silva para os que se aventuravam rumo ao interior.

Por fim, os escravos teriam sido os maiores propagadores dos Silva no Brasil. Com a abolição, optaram por adotar os sobrenomes de seus antigos senhores. Como a maioria dos escravos era de fazendas do interior, os Silva se alastraram rapidamente.

ORIGEM DO SOBRENOME

Bastante irrequieto na infância, ingressou no judô aos 7 anos, levado pelo pai. Aos 13, porém, acidentou-se com um estilingue e ficou cego do olho esquerdo. Seis anos depois, uma infecção na vista direita causou descolamento de retina, deixando-o totalmente sem visão. “A adaptação ao judô paraolímpico foi rápida, porque eu já conhecia os golpes. Foi só acreditar em mim novamente, perceber que eu era capaz de continuar”, explica o judoca.

É da obstinada determinação que Antônio Tenório da Silva, paulista de São Bernardo do Campo, extrai forças para seguir em frente. “Fico muito orgulhoso de ser mais um Silva no Brasil, no meio de tantos outros que fazem o país crescer”.

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..............Quando tinha 15 anos, o hoje reconhecido mesate-nista Luiz Algacir pensou que sua vida mudaria para sempre. E, de fato, ele tinha razão. Mas o que parecia o fim, quando caiu de uma árvore e ficou paraplégico, foi apenas o começo de toda uma tra-jetória de muitos ouros, pratas e bronzes com o tênis de mesa. “Eu era moleque demais, não con-seguia ficar quieto para nada. Costumo dizer que Deus marca para não perder de vista. Às vezes, me pergunto quem sou e o que represento para o Brasil. Como seria o Luiz se ele andasse? Há um propósi-to em todas as coisas que acontecem no mundo”, acredita.

Até então, Luiz tinha o sonho da maioria dos ado-lescentes: ser jogador de futebol. O fato de o pai jogar no Paraná Clube apenas o incentivava ainda mais. “Tomei uma rasteira do destino de uma hora

para outra e vi os meus objetivos ficando para trás, enquanto estava lá em uma cadeira de rodas. Tranquei-me por um ano e meio em casa, só saía para a fisioterapia”, conta. O sol voltou a brilhar na vida de Luiz somente quando, certo dia, seus amigos o tiraram à força de casa e o incentiva-ram a voltar a viver.

Em 1992, então com 19 anos, conheceu a Asso-ciação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP), onde começou a trabalhar como técnico de telefo-nia. “Até ver pessoas como eu fazendo coisas que nunca imaginaria fazer, percebi o quanto tinha estacionado no tempo. Lembro-me até hoje de um dia quando estava na frente da Associação e che-gou um cadeirante de carro. Quando ele desceu do veículo sozinho, foi como se eu estivesse levando um tapa da vida dizendo ‘acorda!’”, ressalta. Além de trabalhar na ADFP, Algacir também começou a jogar basquetebol, sua outra grande paixão. A

uma competição nacional. A primeira experiência internacional chegou em 95, em Stoke Mandeville, na Inglaterra. Apesar de não ter conquistado medalhas nessa ocasião, Luiz des-taca a importância das competições internacionais, quando tem a oportunidade de conhecer seus adversários.

Mas ainda era muito pouco para ele. Um desbravador dos desafios e de personalidade intensa, basta colocar nas mãos de Luiz uma raquete e uma bolinha para se ver um show de ta-lento e técnica. Também em 95, conquistou a prata no Parapan-americano de Mar del Plata, na Argentina. Com isso, veio a convocação para os Jogos Paraolímpicos de Atlanta, em 96.

“Enlouqueci de vez, afinal eu mal imaginava o que era uma Paraolimpíada”,

confessa Luiz, que ficou com a 9ª colocação geral na competição. Desde então, o curitibano não parou mais. Nos Jogos Mundiais de Stoke Mandeville, na Nova Zelândia, em 1999, con-quistou o 3º lugar em dupla. Em 2000, durante o Open de Tênis de Mesa, em Agrigento, na Itália, foi considerado o melhor jogador do campeonato, quando ficou com a prata. Um ano

insistência da amiga da seleção brasileira, Maria Luíza Passos, para conhecer o tênis de mesa trans-formou as perspectivas de Luiz. “A maioria das pessoas não dá nada pelo tênis de mesa antes de conhecê-lo. Mas quando começa a praticar não quer parar mais”, afirma. Um ano após ter ingressado no tênis de mesa, em 1993, Algacir participou da sua primeira competição na-cional, em Recife. Era também sua primeira viagem de avião. Voltou para Curitiba com três medalhas de prata – nas categorias equipe, individual e open. “Todos me disseram que bastava treinar mais que eu conseguiria chegar onde quisesse”, lembra. Desde 1994, Luiz não perde

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Concentração, raça e garra fazem parte da receita de sucesso de um dos

melhores mesatenistas do mundo“Eu era moleque demais, não conseguia ficar quieto para nada. Costumo dizer que Deus marca para não perder de vista”.

Por Patrícia Osandón

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depois, no Parapan-americano de Tênis de Mesa, na Argentina, ficou com o ouro por equipe e com a prata individual e no open.

Em 2003, no Parapan-americano de Tênis de Mesa, no Brasil, conquistou o ouro individu-al e por equipe e, ainda, uma prata no open, além de ter sido considerado o melhor joga-dor de tênis de mesa da América do Sul de 2001 e 2002. No 1º Campeonato Europeu de Tênis de Mesa Paraolímpico, em 2004, con-quistou o ouro individual. Participou ainda das Paraolimpíadas de Sydney e Atenas, mas não chegou a conquistar medalhas.

Além do tênis de mesa, Luiz tem outras paixões, como a mãe, dona Dirce, e a namo-rada, Enemare. Em Curitiba, cidade que é referência nacional na questão da aces-sibilidade para as pessoas com deficiên-cia, Luiz já batalhou muitas vezes para, por exemplo, a construção de banheiros adaptados ou para tornar alguns locais mais acessíveis. “Se não lutarmos, não veremos a realidade mudar. O Brasil precisa acreditar mais nas pessoas com deficiência. Não queremos ajuda, mas sim espaço e condição de ir e vir, enfim, cidadania”, prega, com a mes-ma veemência e força de um saque mortal.

“A Europa e a Ásia são os melhores no tênis de mesa porque viajam mais para competições internacionais, além de Nesse sentido, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Para viajarmos para

a Europa, por exemplo, os custos são muito grandes. É difícil viver do esporte. Mas não deixo de ver e valorizar o quanto estamos crescendo nos últimos anos”, reconhece.

terem um treinamento mais pesado.

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Jogo limpo

Em Atenas, o cavalo Arestote, da amazona francesa Valerie Salles, que era uma das favoritas ao ouro paraolímpico, sofreu um ataque cardíaco e morreu instantes antes da atleta iniciar sua apresentação. Na ocasião, a equipe brasileira de hipismo ofereceu a Valerie e ao seu técnico a égua Charlie Girl, para que ela pudesse competir dois dias depois na prova de Estilo Livre com Música, na mesma categoria do único cavaleiro brasileiro presente na paraolimpíada, Marcos Fer-nandes Alves, o Joca. A amazona francesa aceitou a oferta e comoveu o público ao participar da prova e homenagear seu cavalo Arestote.

Para o subchefe de missão da equipe brasileira, Andrew Parsons, ape-sar de todos estarem concentrados para o primeiro dia de competições, foi inevitável sensibilizarem-se com a dupla desolação da francesa. “Ela tinha grandes condições de conquistar uma medalha. Além disso, perdeu de forma inesperada seu cavalo, um grande companheiro”,

Por Patrícia OsandónFotos Wander Roberto

Ganhadores do Troféu Pierre de Coubertin World TrophyAleksey Nemov, ginástica artística, Rússia . Durante os Jogos Olímpicos de Atenas, na final da competição de ginástica artística, os espectadores não concordaram com os resultados que os juízes deram ao russo Aleksey Nemov, da ginástica artística, e começaram a protestar. O outro ginasta, até então, estava esperando há quinze minutos para iniciar sua performance. Foi então que Aleksey subiu na plataforma onde estava o público e pe-diu silêncio para que a competição pudesse continuar.

Markus Rogan, natação, Áustria . Na final dos 200m costas dos Jogos Olímpicos de Atenas, o nadador Aaron Peirsol foi desqualificado por uma falta técnica. O aus-tríaco Markus Rogan foi declarado vencedor da prova, mesmo sob indagação dos outros nadadores sobre os motivos da desqualificação de Aaron. Depois da decisão dos juízes de lhe dar a medalha de ouro, Rogan declarou em frente às câmeras que a medalha não era sua, mas de Aaron. Rogan foi então homenageado pelo troféu Pierre de Coubertin, além de, no fim de 2004, ter sido escolhido o esportista do ano na Áustria.

relembra.As demais equipes de hipismo congratularam o Brasil por sua generosidade em oferecer a égua, ato que não foi demonstrado por qualquer outro país. A técnica bra-sileira, Marcela Pimentel, sente ainda hoje na pele a repercussão da atitude. “Acabamos abrindo as portas do hipismo internacional para o Brasil”, conta orgulhosa. Segundo Marcela, desde Atenas, o hipismo paraolímpico tem crescido bastante no país, principalmente em Brasília. “Nossa idéia é pre-parar uma equipe competitiva para o mundial da Inglaterra, em 2007, que servirá de seletiva para os Jogos Paraolímpicos de Pequim, em 2008”.

Uma ação imediata de solidariedade, após um triste episódio, colocou a equipe brasileira de hipismo paraolímpico em evi-dência nos Jogos de Atenas-2004. O resultado é que a atitude será reconhecida, no dia 26 de novembro deste ano, na Polônia, com um diploma do Comitê Internacional em prol do Fair Play (CIFP), organização co-fundada pelo Comitê Internacional de Ciência Esportiva e Educação Física (ICSSPE) e a Associação Internacional de Imprensa Esportiva. Os brasileiros concorre-ram ao Troféu Pierre de Coubertin International, conferido a equipes ou atletas por um gesto de fair play, mesmo que tal ati-tude comprometesse a vitória ou o desempenho na competição.

Mais importante prêmio conferido pelo CIFP, o troféu Pierre de Coubertin premia uma equipe ou atleta por um gesto de fair play. Diversos or-ganismos internacionais indicam concorrentes a essa categoria. Os ganhadores do troféu Pierre de Coubertin foram o russo Aleksey Nemov e o austríaco Marcus Rogan.

Equipe brasileira . Andrew Parsons (Subchefe de Missão), Marcela Pimental (Técnica) e Marcos Fer-nandes Alves, o Joca (Cavaleiro).

CIFP . O Comitê Internacional em prol do Fair Play (CIFP) é uma prestigiada organização fundada há mais de 40 anos que anualmente concede diplomas, cartas de congratulações e os troféus mais impor-tantes em três categorias:

Troféu Pierre de Coubertin International Fair Play, conferido a uma equipe ou atleta por um gesto de fair play;

Troféu Jean Borotra International Fair Play, entregue a uma personalidade por uma postura de fair play ao longo de sua carreira esportiva;

Troféu Willi Daume International Fair Play, oferecido a uma personalidade ou organização por promover o fair play.

A amazona francesa Valerie Salles com a égua Charlie Girl, cedida pela equipe brasileira.

O cavaleiro Marcos Alves, o Joca, e a técnica Marcela Pimentel.

Valerie agradece o apoio recebido em Atenas.

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de encher os olhosParticipação

Foram seis dias de muito suor e superação extrema. De 5 a 10 de setembro, a cidade de São Paulo sediou um dos mais importantes eventos esportivos das Américas. Os IV Jogos Pan-Americanos de deficientes visuais da IBSA (Federação Internacional de Esportes para Cegos) reuniram 279 atletas, nas modalidades atletismo, judô, goalball e natação. No mesmo período, foram disputados também a II Copa Mundial de Judô, a V Copa América de Fute-bol e o III Pan-Americano de Xadrez da IBCA (Associação Internacional de Xadrez para Cegos).

Na cerimônia de abertura dos jogos, o iatista e secretário de Esportes, Ju-ventude e Lazer do estado de São Paulo, Lars Grael, destacou a relevância do evento.

Meninas do Brasil arrasam no GoalballUma das grandes revelações do Pan-Americano foi a equipe feminina de goalball do Brasil. No triangular com as duas maiores forças do esporte, Estados Unidos e Canadá, as brasileiras venceram três partidas e empata-ram apenas uma, garantindo presença na final do torneio contra as norte-americanas. O ouro não veio, mas a medalha de prata foi muito comemorada. “Ganhamos das duas melhores equipes do mundo, crescemos muito nos últi-mos tempos”, analisa Cláudia Amorim, artilheira da seleção.

No masculino, uma disputa emocionante com 13 gols marcou a decisão do ouro. O jogo entre EUA e Canadá terminou 7 a 6 para os canadenses, campeões dos IV Jogos Pan-Americanos da IBSA. “Em 2001 perdemos para os americanos. Eles têm um ótimo time e, com muita perseverança, nós vencemos. É um momento incrível para a gente”, afirma o jogador canadense Rob Cristy.

“É uma competição do mais alto nível técnico, difundindo e mostrando o alto rendi-mento do esporte. É uma satisfação muito grande para nós sediá-la”.

Na final do goalball feminino, prevalece a supremacia norte-americana frente a revelação da equipe brasileira.

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de encher os olhosPor Joanna CollaresFotos Luiz Pires

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Brasil domina as competições de judôO judô brasileiro deu um show na II Copa do Mundo de Judô e nos IV Jogos Pan-Americanos. Na primeira competição, o Brasil conquistou seis meda-lhas de ouro, três de prata e uma de bronze e ficou em primeiro lugar. Os medalhistas da Paraolimpíada de Atenas não decepcionaram e ajudaram o país. “É a primeira vez que eu consigo ser campeão de uma Copa do Mundo. É um grande incentivo para mim”, comemora Antônio Tenório, tricampeão paraolímpico. No Pan-Americano, atletas de sete países disputaram as lutas. Os judocas brasileiros garantiram cinco medalhas de ouro.

Atletismo brasileiro fatura 41 medalhasMesmo enfrentando o frio e a chuva da capital paulista, os brasileiros li-deraram as principais provas de atletismo dos IV Jogos Pan-Americanos, conquistando 17 medalhas de ouro, 12 de prata e 12 de bronze.

O grande nome foi Terezinha Guilhermino, de 26 anos, medalha de bronze nas Paraolimpíadas de Atenas, que garantiu três meda-lhas de ouro. Ela confirmou o favoritismo ao vencer os 200m rasos, na ca-tegoria T11 (cega), para a qual acaba de ser reclassificada. “Foi uma conquista importante. Comecei a correr os 200 metros rasos há apenas três meses e sei que posso diminuir ainda mais a minha marca”, vibra a atleta.

Outro destaque foi André Garcia, que venceu, por incríveis dois centésimos de segundo, o americano Royal Mitchel nos 100m rasos. A rivalidade entre ambos é saudável e bastante acirrada. Em agosto, eles participaram de um desafio durante a etapa do Circuito Loterias Caixa, no Rio de Janeiro. A idéia foi realizar um tira-teima em uma distância intermediária (150m), já que, em Atenas, o brasileiro venceu os 200m e Mitchel levou o ouro nos 100m. O resultado deste desafio foi um incomum empate, com o tempo de 16s97.

Com vitória inédita, Argentina é campeã da Copa AméricaBrasil e Argentina fizeram um grande jogo pela final da V Copa América de Futebol para Cegos, evento paralelo ao IV Pan da IBSA. Com a vitória brasileira por 1 a 0 no primeiro jogo e um empate em 1 a 1 no segundo, só a vitória interessava aos ar-gentinos na terceira partida. E foi o que aconteceu: ganharam no tempo normal por 1 a 0, forçando a prorrogação. Com um gol no último minuto, a Argentina sagrou-se campeã e quebrou a invenci-bilidade de 14 anos do Brasil contra os companheiros de continente.

México e Venezuela até que tentaram, mas só deu Brasil na pis-cina do Ginásio Lauro Gomes de Almeida, em São Caetano do Sul. Com 14 medalhas de ouro, 15 de prata e 15 de bronze, o país se destacou como potência Pan-Americana. “Até as Paraolimpíadas de Sidney, em 2000, só existia a Fabiana Sugimori. Eu acho que os resultados do Pan mostram a renovação que estamos tendo”, destaca Carlos Farrenberg, nadador do Brasil que ganhou três medalhas de ouro e bateu o seu próprio recorde brasileiro nos 100 e 400m livre.

O presidente da Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC), David Farias Costa, destacou o empenho de todos para

o sucesso da competição. “Só conseguimos realizar este Pan graças ao comprometimento

dos profissionais envolvidos, dos atletas que vieram e deram o

melhor de si e dos patrocina-dores”, frisa o presidente da ABDC, enti-dade responsável pela organização dos Jogos.

Também presente ao evento, o presi-dente do Comitê Paraolímpico Bra-sileiro (CPB), Vital Severino Neto, que é cego, falou sobre suas impressões. “O esporte para pessoas com deficiência no Brasil, no qual se insere o esporte das pessoas cegas, sofre, a partir de 2000, uma mudança radical e hoje vemos o resultado aqui”.

Consagrado em paraolimpíadas, Antonio Tenório vence sua primeira Copa do Mundo de Judô.

A equipe foi formada há pouco tempo, so-mos um time novo e sem muita experiência. Acho que conseguimos um bom resultado”,

ressalta o jogador Luiz Pereira.

Os meninos do Brasil ficaram em quarto lugar, após perder o bronze para os mexicanos.

Brasil perde invencibilidade paraArgentina no futebol de cegos.

Natação do Brasil vence o Pan da IBSA

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Trio brasileiro no pódio do atletismo: Terezinha Guilhermino, Maria José, a Zezé, e Vera Lúcia Silva.

Fabiana Sugimori comanda atuação vitoriosa do Brasil nas piscinas.

Concentração e técnica na disputa de xadrez.

Cuba domina o Pan de XadrezOs brasileiros eram maioria, mas não conseguiram evitar a vitória de Cuba. Ao todo, foram 12 jogadores do Brasil, dois cubanos, um venezuelano e um peruano participantes do III Pan-americano de Xadrez para cegos da IBCA. No primeiro dia, a vitória foi do cubano Carlos Larduet. Nas rodadas seguintes, Brasil e Cuba se revezaram na liderança. Ao final da sexta e última rodada, Cuba confirmou o seu favoritismo e levou ouro e prata para casa, com Norlis Ramon Tamayo e Carlos Larduet, respectivamente. O brasileiro melhor colo-cado foi Roberto Carlos Hengles, que ficou com o bronze.As adaptações mais importantes do xadrez para cegos estão na con-fecção do tabuleiro, que possui orifícios para encaixe das peças, além de um relevo que diferencia as brancas das pretas. A partida é toda nar-rada pelos jogadores, através de um alfabeto fonético combinado com os números correspondentes.

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Brasileiro de basquete em cadeira de rodasdefine seleção para disputar Copa AméricaEm uma final disputada cesta a cesta até os últimos segundos, a seleção de São Paulo II venceu a seleção do Nordeste e conquistou o 1º Campeonato Bra-sileiro de Seleções de Basquete em Cadeira de Rodas. Durante a competição, que ocorreu de 7 a 11 de setembro, a comissão técnica da Seleção Brasileira analisou o desempenho dos atletas e escolheu os 12 melhores jogadores para disputar a Copa América, em novembro. Esta competição será classificatória para o mundial da Holanda, em julho de 2006.

Paraolímpicos brasileiros participamda Maratona de Chicago

O V Campeonato Brasileiro de Futebol de Sete, realizado no Rio de Janeiro, nos dias 10 e 11 de setembro, teve como campeã a equipe do Pantanal “A”, que em-placou o goleiro menos vazado da competição, Marcão, e também o artilheiro, Luciano Rocha, com 15 gols.

Os vencedores receberam o troféu “Fabiano Peixoto”, em homenagem ao atleta da seleção brasileira de futebol de paralisados cerebrais, falecido no início de setembro. A medalha de prata ficou com a Andef, do Rio de Janeiro. O estado do Mato Grosso do Sul ainda conquistou a medalha de bronze com a seleção Pantanal “B”.

Jordan no topoMuita garra e determinação levaram o brasiliense Carlos Santos, o “Jordan”, a garantir mais um título, ao sagrar-se bicampeão do 6º Vitória Open de Tênis em Cadeira de Rodas, em 11 de setembro. Na final, o atleta, que começou a praticar esse esporte em 2001, venceu o santista Gilmar Pires por 2X0 (6/2 e 6/3). Com esse resultado, Jordan – apelido que ganhou pela admiração ao ex-astro norte-americano de basquete – manteve-se em primeiro lugar no ranking brasileiro da modalidade.

Fernando Aranha, cadeirante, e Paulo Almeida, andante, foram os únicos atletas paraolímpicos brasileiros que participaram da e-dição 2005 da Maratona de Chicago, em 9 de setembro. Depois de muito aquecimento e um bom trabalho de hidratação, eles entra-ram na pista e conquistaram bons resultados, superando a baixa temperatura local, que ficou em torno de 7º. Paulo cruzou a linha de chegada com o tempo de 3h36m01, ficando com o primeiro lu-gar da categoria amputado. Fernando fez a prova em 2h13m27, conquistando a 10ª posição.

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oAs partidas foram observadas pela Comissão Técnica da Seleção Brasileira

Carlos Jordan defende o primeiro lugar no ranking.

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Clodoaldo é o melhor do mundoO Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) elegeu Clodoaldo Silva o melhor atleta paraolímpico masculino do planeta.

A entrega do troféu ocorrerá durante um jantar de gala no dia 19 de novembro, em Bei-jing, China. Além de reconhecer os melhores atletas do mundo, o Iº Prêmio do Esporte Paraolímpico, promovido pelo IPC, irá premiar áreas da mídia e da ciência esportiva.

Esta é a segunda vez que o tubarão paraolímpico concorre a um prêmio mundial em 2005. A primeira foi a indicação para o Laureus (Oscar Mundial do Esporte), em maio, quando perdeu para a velocista em cadeira de rodas Chantel Petitclerc, do Canadá. Em início de setembro, o nadador recebeu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a medalha da Ordem de Rio Branco, em cerimônia no Palácio do Itamaraty.

O brasileiro Manoel Parreira Júnior é a primeira pessoa com deficiência do mundo a se formar no curso da SWAT americana. Ele perdeu o braço há 19 anos em um acidente de treinamento com bomba. No último dia 17 de setembro, foi um dos poucos que conseguiu o certificado de conclusão, em cerimônia realizada na Polícia Civil de São Paulo. A SWAT abriu, inicialmente, 80 vagas para 487 candidatos, mas somente 30 conseguiram chegar ao final.

Manoel não teve privilégios. Ele, como qualquer outro inscrito, foi obrigado a correr, na-dar, fazer rapel e tiro em movimento, entre outras atividades. Saiu-se bem em todas as etapas. “Pensei em desistir no penúltimo dia, pois não me sentia bem fisicamente para a prova de tiro com carabina calibre 12, mas, graças ao incentivo dos colegas, consegui executar a série de 28 tiros sem um erro sequer”, conta Manuel, o mais novo oficial de elite da corporação americana.

Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência: 21 de setembro. Uma data para ser praticada todos os dias, pois cerca de 24,6 milhões de brasileiros, segundo o Censo 2000, enfrentam várias batalhas pela inclusão social em seu cotidiano. São dificuldades como falta de acessibilidade nas cidades, ausência de vagas no mercado de trabalho e discriminação. O esporte tem um papel fundamental na militância em favor das pessoas com deficiên-cia. O desempenho de nossos atletas em Atenas, com 33 medalhas, mostra o quanto os paraolímpicos brasileiros podem ser eficientes. Através do respeito, da tolerância e do diálogo, o preconceito pode ser vencido.

Tiro com arco no alvo dos brasileirosEntre os dias 26 de setembro e 4 de outubro, o CPB levou dois representantes brasileiros para o V Mundial de Tiro com Arco, disputado em Massa, na Itália.

Sem experiência na modalidade, já que não é tradicional no país, o carioca Paulo Emílio Pereira e o potiguar Francisco das Chagas Dantas não conquistaram medalhas, mas voltaram da Europa satisfeitos.

Segundo o vice-presidente do CPB, Francisco Avelino, o nível técnico da competição foi bastante elevado. “Nossos arqueiros aprenderam muito e devem passar esse co-nhecimento para os demais competidores brasileiros”, afirma Avelino, que acompanhou a delegação no mundial.

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A distância do alvo impressiona, masnão mete medo nos competidores.

Clodoaldo durante premiação do Laureus, em maio.

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Aos 44 anos e recuperado de um grave acidente, Ranimiro Lotuffo nem pensa em abandonar a adrenalina

Por Marcelo WestphalemFotos Zoom Produções

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Mesmo após o acidente que lhe custou a perna, o céu é o limite para Ranimiro.

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“Perigoso é ficar enferrujando em casa!”. Inspirado nesse lema, o ex-modelo Ranimiro Lotuffo supera seus limites, praticando vários tipos de esporte de aventura. Ele já experimentou rapel, rafting, escalada, asa-delta, mas seu preferido é o parapente, modalidade na qual foi competidor por vários anos.

A prática de todos esses esportes de natureza é um de-safio, especialmente para ele que perdeu a perna em 1995. Ao disputar uma competição de parapente realizada em Andradas-MG, pousou com seu equipamento em cima de uma rede de alta tensão e recebeu fortes choques, que obrigaram os médicos a amputar o membro inferior di-reito, pouco abaixo da linha da cintura.

O acidente representou um tremendo susto para a família. Ranimiro era modelo com sólida carreira internacional, tendo desfilado e fotografado para grandes marcas, como

Christian Dior, Giorgio Armani e Jan Paul Gaultier. Ele trabal-hou no Japão, França, Itália, entre outros países. Para um homem

considerado símbolo sexual, a perda da perna poderia ser ainda mais difícil de ser encarada.

O processo de adaptação foi lento, mas Ranimiro se recuperou bem. Ele conseguiu administrar todas as mudanças e, hoje, afirma levar

uma vida normal. “O preconceito maior vem de dentro de nós mesmos”, ensina. Em 1998, a marca brasileira M.Officer convidou o aven-

tureiro para desfilar no São Paulo Fashion Week. Ele aceitou imediatamente.

O primeiro desfile era de uma coleção de inverno e o modelo usou apenas calças compridas. Mas, em 2000, no segundo São Paulo Fashion

Week, a coleção era de verão e Ranimiro desfilou de bermuda, causando burburinho entre o público presente. O caso repercutiu em

todo o Brasil. Os meios de comunicação discutiram amplamente sua participação e a maioria das pessoas achou a proposta desafiadora

e muito bem-vinda. Depois dessas duas campanhas, Ranimiro deixou as passarelas em segundo plano e foi trabalhar em atividades

ligadas à mídia.

“O preconceito maior vem de dentro de nós mesmos”

Ranimiro em ensaio fotográfico para uma grife masculina, em desfile e

em uma de suas aventuras.

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Ranimiro teve uma infância feliz, passada com os pais e mais dois irmãos em uma fazenda de

Botucatu, interior de São Paulo, e só iniciou sua carreira de modelo em 1986, tendo trabalhado

por três anos no Brasil com essa profissão. Seu pai era criador de frangos e o, desde cedo, jo-

vem grandalhão ajudava-o nas tarefas diárias. A paixão pela natureza fortaleceu-se neste con-

vívio intenso com a fauna e a flora locais. Mas o contato com os esportes de natureza só acon-

teceu quando já morava na Europa, a convite de um sul-africano apaixonado por asa-delta.

Seu primeiro vôo foi na Iugoslávia. Ranimiro gostou e foi des-

pertando seu lado aventureiro. Pouco tempo depois, conheceu o

parapente, que o atraiu pela facilidade de transporte. Resolveu

voltar para o Brasil, trazendo a representação de uma marca de pa-

rapente italiana. Começou a competir na modalidade e não parou

até sofrer o acidente. Após a recuperação, voltou com força total

e, até hoje, continua se aventurando em vários esportes. “Nunca

diga que você não é capaz antes de ter tentado”, afirma o atleta.

Atualmente, é dono de uma produtora multimídia e tem como

grande objetivo um programa de televisão que mostrará as be-

lezas do Brasil em um canal de TV paga. A idéia ainda aguarda

tramitação no Ministério do Turismo. Ranimiro também atua

como palestrante em temas relacionados a motivação e superação.

“Nunca diga que você não é capaz antes de ter tentado”

Seja em escalada ou de bicicleta, o que vale éexplorar novos horizontes.

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Antônio Delfino, dono de três medalhas paraolímpicas,

é um dos maiores expoentes do atletismo no Brasil.

Antônio Delfino começou a dar seus primeiros passos

no atletismo paraolímpico no final de 1999 e, em

menos de seis meses, já era um dos representantes

brasileiros nos Jogos Paraolímpicos de Sidney.

Para a surpresa de todos e até mesmo dele, o atleta

conquistou a medalha de prata nos 400 metros, classe

T46, destinada a atletas com comprometimento ou

amputação dos membros superiores. “Foi tudo muito

rápido. Em poucos meses comecei a correr competi-

tivamente e logo depois já estava em Sidney. Consegui

trazer uma medalha de prata que não esperava. Talvez

tenha sido uma das maiores emoções da minha vida”,

conta Delfino, que teve parte de seu braço direito

amputado após um acidente de trabalho no campo,

onde era lavrador.

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Por Paulo MacCulloch

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Seu sorriso tímido esconde um atleta extrema-mente compenetrado e focado. Ele, que é um dos maiores ícones do atletismo paraolímpico, se define como um obcecado por vitórias. O profissionalismo, com que muitos atletas so-nham, ele já conquistou e agora pode dedicar-se apenas à luta por medalhas. “Quero ganhar tudo o que competir. Tenho consciência de que não será fácil, mas sei que posso. Darei sem-pre o meu melhor e espero, com isso, poder trazer mais medalhas paraolímpicas”, revela.

Delfino é patrocinado pelas Loterias Caixa. E seus resultados são a prova de que o apoio ao paradesporto pode render bons frutos: em sua primeira competição, a Paraolimpíada de Sid-ney (2000), ele ganhou a medalha de prata nos 400m. Em Atenas (2004), foi ouro nos 200m e nos 400m e, nesta última prova, que-brou o recorde mundial - que era dele próprio, embora seja especialista nos 100m e 200m.

Música, leitura ou uma cochilada. Esses são alguns rituais de concentração para conter a ansiedade que muitos esportistas utilizam, mas não é o caso de Delfino. Sem nenhuma preparação especial, ele apenas pensa em tudo

Como todo grande atleta, Antônio Delfino tem um ídolo: Joaquim Cruz. O fundista, medalha de ouro nos 800m, nas Olimpíadas de Los Angeles, é um exemplo de sucesso que o velocista segue.

o que antecedeu aquele momento para se manter calmo. “Não faço nada demais. Quan-do acordo, penso em tudo que devo fazer para vencer. Um dos motivos de treinar tanto é para me manter calmo nessas horas”, avalia.

Para ele, sua vida mudou em 1991, quando saiu da pequena cidade de Redenção, no Pi-auí, onde nasceu, e foi para Brasília com a intenção de ampliar os horizontes. Lá, tor-nou-se funcionário público e começou a vida esportiva através do professor Ulisses Araújo, presidente do CETEF – seu primeiro incen-tivador. Logo depois conheceu Raimundo Tadeu Martins, que é seu treinador até hoje e a quem credita grande parte de seu rendi-mento. “Se não tivesse saído de Redenção, provavelmente não seria o que sou hoje. Acredito que minha vida seria muito mais difícil. Mas graças a Deus tudo deu certo e hoje não tenho do que reclamar”, analisa.

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Além de ganhar dois ouros em Atenas, Delfino bateu o

recorde mundial nos 400 m.

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“Não faço nada demais. Quando acordo, penso em tudo que devo fazer para vencer. Um dos motivos de treinar tanto é para me manter calmo nessas horas”.

Funcionário público na capital federal, onde mora com a esposa e os sete filhos, o velocista tem na família um porto seguro. Apesar de viajar muito devido às competições, ele volta com fôlego reno-vado para sua intensa rotina de pai de família. “Tento dar o melhor para meus filhos. Quero dar tudo o que não tive condição de ter”, afirma o atleta, que revela o que os filhos mais sentem falta quan-do ele está fora. “Eles sempre pedem para eu trazer lembranças das cidades onde estou. Quando falo com as crianças ao telefone, elas nunca esquecem de fazer seus pedidos. Coisa de criança”, ressalta.

“Tento dar o melhor para eles. Quero dar tudo o que não tive condição de ter”.A conquista da medalha nos 400m na Paraolimpíada de

Sidney não foi fácil, mas talvez um fato inusitado ocorrido dias antes da prova possa ter contribuído positivamente para o feito de Antônio Delfino. O atleta caminhava pela vila paraolímpica quando achou um par de sapatilhas no chão. Ele tinha, é claro, um par de tênis, mas não eram tão especiais quanto as sapatilhas que acabara de encontrar. Além do mais, pensou, poderia ser um sinal. Ao olhar com mais atenção percebeu que eram dois números menores do que seu pé. Mesmo assim levou o calçado a um sapa-teiro para tentar alargá-lo um pouco. Ainda não ficando o ideal, Delfino resolveu competir com elas. “Algo me dizia que tinha que correr com elas. Pedi pro sapateiro colocar no molde do meu pé para não apertar muito”, revela.

Já na pista, minutos antes da final, ele olhou a sua volta. Vários atletas calçando as melhores sapatilhas de com-petição do mundo. Eram as marcas mais famosas. E Delfino com uma que tinha acabado de achar. “Foi uma ótima de-cisão, já que, com ela, consegui o segundo lugar”, relem-bra animadamente o atleta, que hoje, apesar das boas lembranças, já não tem mais aquele par de sapatilhas.

P assadas Aper tadas

Mesmo feliz, Antônio Delfino sente falta de uma coisa: estudo. Ele tem muita vontade de cursar uma faculdade de Educação Física ou Administração. “Com a experiência que obtive nesses anos de atletismo, acho que posso fazer algum bem para o esporte. Quando parar de correr, pretendo entrar para a universidade, só não resolvi o curso, se o de Administração ou de Educação Física”, finaliza.

Sempre que pode, Delfino visita projetos sociais.

Viajar já virou rotina.

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SUPERANDO L I M I T E S

Bernardinhotécnico da seleção masculina de vôlei

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O ano de 2004 foi certamente um ano especial. Anos olímpicos são sempre especiais para todos que vivem e amam o esporte.

Conquistamos a nossa medalha de ouro após 4 anos de muitas vitórias e trabalho árduo e vimos ainda os campeões Torben Grael, Marcelo Ferreira e Robert Sheid no iatismo, bem

como Ricardo e Emannuel ganhando as suas medalhas de ouro na praia. Várias outras medalhas vieram e deixamos Atenas depois da emocionante atuação de Vanderlei Cor-deiro de Lima, que, mesmo com aquele episódio “trágico”, conseguiu seguir em frente e conquistar um bronze muito dourado na maratona.

Cheguei ao Brasil imaginando ter vivido as maiores emoções esportivas de minha vida. Então, sou surpreendido, nos poucos dias de descanso, com fantásticas transmissões dos Jogos Paraolímpicos. Confesso que eu e, creio, tantos brasileiros admirávamos aqueles atletas especiais pelo seu esforço e capacidade de superação e, muitas vezes, esses sentimentos vinham misturados com “piedade”. Mas, ao acompanhar diaria-mente as mais diversas competições, os vários programas sobre atletas e equipes

especiais, tornei-me absolutamente um torcedor, um entusiasmado fã, que passou a sentir apenas a ansiedade pelos bons resultados de seus

ídolos atletas especiais.

Assistindo às façanhas de Clodoaldo, Tenório, Ádria, os campeões do futebol para deficientes visuais e tantos outros, fui tomado

por absoluto sentimento de admiração pelo esforço e capacidade destes atletas.

Equipes de atletas que são, parecem mais “time” do que muitos outros. Exemplos de foco, de preparação, capacidade desenvolvida. Acredito

que todos nós vivemos esses momentos de transição de nossos senti-mentos. Hoje, os vemos como todos querem ser vistos, como atletas.

Vivem as dificuldades que muitos atletas, especiais ou não, vivem, apenas com um obstáculo a mais, pois praticam seus esportes em um país onde as

estruturas para pessoas especiais é tão deficiente.

A todos os atletas e técnicos que colecionaram medalhas e grandes resultados na Paraolimpíada de Atenas, os meus agradecimentos pela inspiração, pelo

exemplo e por todas as alegrias que trouxeram para todos nós brasileiros.

Guto

Nun

esSí

lvio

Ávila

/ CB

V

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Agenda

Direto da Câmara

Agradecemos o envio da revista Brasil Paraolímpico ao gabinete do deputado fe-deral Vanderlei Assis, e fazemos votos de que o padrão editorial mantenha o nível de qualidade que alcançou.

Alessandro Rocha Fonseca, assessor de im-prensa parlamentar

Futebol de olho

Recebemos e agradecemos a revista n. 17, “Brasil Paraolímpico”. Aproveitamos e parabenizamos pelo excelente material, escrito e impresso. Com votos de contí-nuo sucesso, apresentamos saudações esportivas.

Milton Mattani, presidente da Confede-ração Brasileira de Futebol de 7 - Society

Recebemos a nova revista Brasil Paraolímpico. Parabéns pela mesma, muito bem feita e com ótimas matérias. Paulo Roberto Antunes. Presidente da Fe-deração Paulista de Futebol de 7 - Society

Elogio do meio

Gostaria de parabenizar a equipe da Brasil Paraolímpico e o CPB pela última edição da revista. É muito bom poder des-frutar de um veículo que trata do esporte paraolímpico com tanta singularidade e eficiência. É um exemplo a ser seguido por estudantes e profissionais de comu-nicação que cobrem a área. Em especial, parabenizo a Assessoria de Comunicação do CPB pelo empenho e pela dedicação demonstrados ao lidar com os atletas com deficiência. As fotos, matérias, comentári-os estão excelentes. Continuem assim!

Frederico Schlottfeldt, jornalista

E nome da Ong Esporte Sem Fronteiras, de Campos (RJ), dou os parabéns ao CPB pela nova fase no setor de comunicação. O investimento e a seriedade com que é tra-balhada a divulgação dos feitos de nossos deficientes eficientes ficou evidente na úl-tima edição desta revista. Projeto gráfico moderno, fotos bem exploradas e textos diretos. Um verdadeiro show.

Cahê Mota, assessor de imprensaOng Esportes Sem Fronteiras

LOCAL

Confira o calendário de competições até o final de 2005

Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação – 5ª etapa Brasil / Porto Alegre

Cartas para esta seção no endereço eletrônico [email protected]. Os textos poderão ser editados em razão do tamanho ou para facilitar a compreensão.

De 8 a 10 de dezembro deste ano, 20 atletas irão representar o Brasil no Aberto de Natação Paraolímpica dos EUA, a ser realizado em Minneapo-lis/Minnesota. Os critérios para escolha dos atletas foram estabelecidos de acordo com o desempenho nas quatro primeiras etapas do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico, competição criada este ano pelo CPB.

EVENTO DATA

Brasil / São Paulo

EUA / Minneapolis

18 a 20/11

16 a 18/12

06 a 10/12

Uma das mais importantes competições deste ano para a na-tação paraolímpica, o Aberto dos EUA representa uma prévia para o Mundial da África do Sul, que será disputado de 27 de novem-bro a 9 de dezembro de 2006, quando serão conhecidos os nada-dores que participarão da próxima Paraolimpíada, em Pequim-2008.

Atletas também têm voz

Gostaria de parabenizar o CPB pelas matérias que têm saído na revista, com muito conteúdo e um novo layout, e principalmente pelo corpo de jornalis-tas que a compõem.

Luiz Algacir, atleta de tênis de mesa

Brasil / Rio Claro – SP 11 a 14/11VI Congresso Brasileiro deAtividade Motora Adaptada

Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação – 6ª etapa

Aberto de Natação dosEstados Unidos do IPC

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Publicação bimestral do CPB5.000 exemplares

PresidenteVital Severino Neto

Vice-presidente AdministrativoFrancisco de Assis Avelino

Vice-presidente FinanceiroSérgio Gatto

Assessora Especial para AssuntosPolítico-Administrativos

Ana Carla Thiago

Assessor Especial paraAssuntos Corporativos e deComunicação e Marketing

Renausto Alves Amanajás

Secretário GeralAndrew Parsons

Assessor Especial para AssuntosTécnico-Esportivos e Científicos

Vanilton Senatore

Diretor de Finanças e ContabilidadeCarlos José Vieira de Souza

Diretor de Administraçãoe Patrimônio

Carlos José Vieira de Souza (interino)

Editor-ChefeMarcos Malafaia

JornalistasLeandro Ferraz e Patrícia Osandón

Jornalistas ColaboradoresMariana Genescá, Luciana Pereira,

Joanna Collares e Paulo Mac Culloch

EstagiárioMarcelo Westphalem

Execução GráficaGráfica Brasil

www.graficabrasil.com.br

Endereço Sede CPBSBN Qd. 2 - Bl. F - Lt. 12

Ed. Via Capital - 14o andar - Brasília/DFCEP: 70 040-020

Fone: 55 61 3031 3030Fax: 55 61 3031 3023

E-mail: [email protected]

Site: www.cpb.org.br

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Loterias CAIXACircuito Brasil Paraolímpico.Não perca as próximas etapas:

19 e 20/11 – Porto Alegre 17 e 18/12 – São Paulo

Venha torcer pelos nossos atletas no Loterias CAIXA CircuitoBrasil Paraolímpico, etapa Porto Alegre. O evento será

realizado nos dias 19 e 20/11 na PUC – Rio Grande do Sul.Fique atento também para a sexta, e última, etapa em São Paulo

nos dias 17 e 18 de dezembro. O esporte brasileiro conta com asua torcida. A sua presença é muito importante para o Brasil.

Aposte no Brasil Paraolímpico. Aposte nas Loterias CAIXA.

Antônio DelfinoOuro nos 200 e 400 metros nosJogos Paraolímpicos de Atenas 2004

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