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Ciência em Movimento | Ano XV | Nº 30 | 2013/1
DOI: http://dx.doi.org/10.15602/1983-9480/cmbs.v15n30p91-100
Artigo original
Respire bem e cresça melhor: característicasde um projeto de extensão universitária
Breath well and grow better: charactheristics of a universityextension project
Maíra Seabra de Assumpção¹
Renata Maba Gonçalves²
Letícia Goulart Ferreira²
Yessa do Prado Albuquerque²
Tatiana Godoy Bobbio³
Camila Isabel Santos Schivinski4
RESUMO
Objetivo: o presente estudo teve como finalidade descrever as práticas realizadas no projeto de assistên-
cia fisioterapêutica ambulatorial “Respire bem e cresça melhor” desenvolvido na Universidade do Estado de
Santa Catarina- UDESC em Florianópolis- SC. Metodologia: foram avaliados todos os prontuários das crianças
atendidas pelo projeto, a respeito das principais técnicas utilizadas: higiene brônquica, treino muscular respi-
ratório, exercícios posturais, manobras de reexpansão pulmonar e exercícios estimuladores da respiração nasal.
Todas as técnicas são direcionadas ao tipo de patologia apresentada, ao quadro clínico e sua evolução. Resul-
tados: com o início das atividades em 2010, o projeto já efetuou 386 atendimentos à população, cuja faixa
etária é de 1 a 16 anos de idade. As disfunções cardiorrespiratórias encontradas em nossos pacientes foram:asma, fibrose cística, síndrome do respirador oral, síndrome de Prader-Willi, atelectasia e bronquite. Conclu-
são: o projeto continua em andamento, proporcionando o acesso da comunidade a uma terapêutica especia-
lizada, além da possibilidade de integração acadêmica com os problemas relacionados à saúde infantil.
PALAVRAS-CHAVE
Assistência ambulatorial - Cuidados primários de saúde - Modalidades de fisioterapia - Saúde infantil.
1Fisioterapeuta, Mestranda em Fisioterapia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), colaboradora do pro- jeto “Respire bem e cresça melhor. Florianópolis – SC/Brasil.2Acadêmicas da oitava fase do curso Bacharelado em Fisioterapia da UDESC e bolsistas integrantes do projeto “Respire beme cresça melhor. Florianópolis – SC/Brasil.3Fisioterapeuta, Pós-Doutorada em Motor Neuroscience pela Texas A&M University- EUA. Fisioterapeuta professora da UDESCe colaboradora do projeto “Respire bem e cresça melhor. Florianópolis – SC/Brasil.4 Fisioterapeuta, Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UNICAMP, Professora efetiva do curso de graduação epós-graduação em Fisioterapia da UDESC, e coordenadora do projeto “Respire bem e cresça melhor”. Florianópolis-SC/ Brasil.
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ABSTRACT
Objective: this study aimed to describe the practices performed in the outpatient physiotherapy project
“Breathe well and grow better” developed at the University of the State of Santa Catarina, Florianópolis-SC
UDESC. Methodology: we evaluated the medical l records of all children served by the project, regarding the
main techniques used: bronchial hygiene, respiratory muscle training, postural exercises, maneuvers reexpan-sion pulmonary and nasal breathing exercises stimulators. All techniques are directed to the type of patholo-
gy presented, and the clinical evolution. Results: with the start of activities in 2010, the project has made 386
attendances to the population, whose age range is 1-16 years old. The cardiorespiratory disorders found in
our patients were: asthma, cystic fibrosis, mouth breathing syndrome, Prader-Willi syndrome, atelectasis and
bronchitis. Conclusion: the project is still in progress, providing community access to specialized therapy,
besides the possibility of academic integration with the problems related to child health.
KEYWORDS
Ambulatory care - Primary health care - Physical therapy modalities - Child health.
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Introdução
Apesar das políticas públicas visando à saúde da
criança não serem recentes no Brasil e apresentarem
certo avanço, estas ainda encontram-se em níveis
eticamente inaceitáveis e não atingem de forma sa-
tisfatória toda população (MOREIRA, 2010).Em nosso país, as ações de saúde de caráter uni-
versal, até pouco tempo se limitavam à promoção de
saúde e prevenção de doenças, tendo como priorida-
de campanhas de vacinação e controle de endemias.
Atualmente observa-se a formação de políticas públi-
cas de educação da população e de intervenção nas
unidades hospitalares e ambulatoriais (MÉIO et al.,
2005), contudo, essa ainda se faz de forma precária.
Diante desse contexto, programas desenvolvidos
com o objetivo de enfrentamento dessa situaçãotornam-se necessários, especialmente no aspecto da
saúde infantil. Percebe-se um aumento no número
de crianças consideradas de risco que apresentam
alterações no desenvolvimento, em função da inade-
quação de algumas assistências oferecidas, justifi-
cando a implementação de serviços multidisciplina-
res (BARBA et al., 2011).
A fisioterapia ambulatorial, como parte integran-
te desse processo visa estabelecer formas de moni-
torar a criança, viabilizando a avaliação da evolução,
identificação precoce de alterações motoras e postu-
rais, monitorização de agudizações do quadro respi-
ratório e ainda, análise das condições domiciliares.
Nessa linha, foi desenvolvido no ano de 2010, na
Clínica Escola de Fisioterapia do Centro de Ciências da
Saúde e do Esporte (CEFID) da Universidade do Estado
de Santa Catarina- UDESC em Florianópolis, o Projeto
de Extensão Universitária “Respire bem e cresça me-
lhor”. Trata-se de uma ação de extensão que tem co-
mo finalidade oferecer instrução e acompanhamento
fisioterapêutico a crianças com disfunções cardiorres-piratórias, provenientes de creches e pré-escolas, bem
como escolares e adolescentes encaminhados da rede
básica de saúde e de serviços médicos da região.
Portanto, esse artigo tem como objetivo apresen-
tar dados referentes a assistência ambulatorial fisiote-
rapêutica oferecida pelo referido projeto de extensão
universitária, descrevendo a intervenção e o segui-
mento fisioterapêutico da população infantil atendi-
da, desde sua criação até o presente momento.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo descritivo sobre a caracte-
rização dos atendimentos fisioterapêuticos, cuja fon-
te de dados foi à pesquisa realizada nos prontuários
dos pacientes assistidos. Os mesmos ficam armaze-
nados na clínica escola de fisioterapia do CEFID/ UDESC, na qual as atividades do projeto são desen-
volvidas. Além dos dados relacionados ao público
alvo, informações referentes à estrutura da ação fo-
ram obtidas através de consulta no sistema de Infor-
mação e Gestão de Projetos (SigProj / site: http://sig-
proj1.mec.gov.br/), bem como entrevistas com a co-
ordenadora e acadêmicos extensionistas atuantes.
Resultados e Discussão
O projeto de extensão “Respire bem e cresça me-lhor” é parte do programa de extensão Brincando de
Respirar, que conta com mais 2 projetos, “RespiLar”
e “InspirAção”, todos criados para promover orien-
tação e assistência fisioterapêutica à crianças e ado-
lescentes com disfunções respiratórias. A atividade é
coordenada por professoras do curso de graduação
e pós-graduação em fisioterapia da UDESC, e conta
com a participação de acadêmicos e fisioterapeutas.
Tem como proposta oferecer atendimento ambu-
latorial em fisioterapia respiratória pediátrica, para
não só beneficiar o sistema de saúde, devido à redu-
ção da sobrecarga nos níveis secundário e terciário,
mas principalmente para viabilizar o acesso desse
grupo etário a uma terapêutica especializada.
Para comunidade, os objetivos principais do pro-
jeto “Respire bem e cresça melhor” são:
• Garantir assistência fisioterapêutica qualifi-
cada e gratuita a crianças com doenças car-
diorrespiratórias;
• Reduzir o número de consultas médicas, de
hospitalizações e do uso de medicações de-correntes de intercorrências e agudizações
respiratórias pediátricas;
• Melhorar a função pulmonar, a força muscu-
lar e o padrão respiratório de crianças com
pneumopatias e, consequentemente, a qua-
lidade de vida e de crescimento/desenvolvi-
mento das mesmas;
O projeto também visa proporcionar intercâmbio
de conhecimento e tecnologia entre seus participan-
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tes e a comunidade atendida, além de disponibilizar
e capacitar acadêmicos e profissionais para uma atu-
ação qualificada em um campo de trabalho pouco
conhecido do fisioterapeuta. Do ponto de vista do
ensino, o contato discente com esse perfil de pacien-
tes, tipo de assistência e conjunto de patologias, tam-bém facilita o direcionamento pedagógico para de-
senvolver competências e habilidades gerais do fisio-
terapeuta na atenção à saúde infantil, que envolve
ações de prevenção, promoção e proteção da saúde,
e não apenas reabilitação individual e coletiva.
Para isso, o projeto é desenvolvido duas vezes por
semana, com 4 horas de duração, através de ativida-
des que incluem: discussões e estudos de casos, ava-
liação dos pacientes e condução dos atendimentos de
fisioterapia. As sessões são previamente agendadas,de acordo com o diagnóstico e quadro clínico do pa-
ciente, são individuais e com duração de 45 minutos.
As técnicas de fisioterapia respiratória utilizadas
são direcionadas ao tipo de enfermidade pulmonar,
considerando o quadro clínico de cada criança e o
processo de evolução da doença. Sendo as manobras
de higiene brônquica (OBERWALDNER e ZACH, 2000;
POSTIAUX, 2004; CAMPOS et al., 2007; SARMENTOet al., 2007; SANTOS et al., 2009, 2009), o treino
muscular respiratório (HELD, 2008; LIMA, 2008), os
exercícios posturais (MARINS, 2001; PERDIGÃO,
2003), os recursos e técnicas para adequação venti-
latória e reeducação respiratória (CORREA e BÉRZIN,
2007; BARBIEIRO et al., 2007), manejos do Método
Reequilíbrio Tóraco-abdominal (RTA) como os:
apoios íleo-costal, tóraco-abdominal e ginga toráci-
ca (PINHEIRO, 1986) as condutas a serem elencadas.
Com essa proposta, o projeto teve início em 2010e, até o momento (dezembro de 2012), efetuou 386
atendimentos à população (tabela 1).
Tabela 1: Descrição quanto ao diagnóstico, número de sessões e evolução das crianças atendidas pelo projeto “Respire
bem e cresça melhor”.
Pacientes Diagnóstico Clínico Sessões(n) Evolução
A Asma 80 Em atendimento
B Asma 20 Em atendimento
C Síndrome de Prader-Willi 24 Em atendimento
D Bronquite 69 Em atendimentoE Asma 48 Em atendimento
F Atelectasia Lobar 15 Alta
G Síndrome do respirador oral 3 Abandono
H Síndrome do respirador oral + Asma 27 Abandono
I Fibrose cística 42 Transferência
J Fibrose cística 19 Transferência
K Fibrose cística 11 Em atendimento
L Fibrose cística 26 Em atendimento
M Síndrome do respirador oral 8 Em atendimento
TOTAL 386
Tabela 2: Frequência do diagnóstico apresentado pelas crianças atendidas pelo projeto “Respire bem e cresça melhor”.
Diagnóstico Médico n %
Asma 4 30,77
Bronquite 1 7,69
Síndrome Prader-Willi 1 7,69
Atelectasia Lobar 1 7,69
Síndrome do Respirador Oral 3 23,07
Fibrose Cística 4 30,77
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Durante esse período, treze (13) pacientes foram
avaliados e participaram do projeto, sendo sete (7)
do sexo feminino e seis (6) sexo masculino, cuja faixa
etária é de 1 a 16 anos de idade, com média de
7,69+5,43.
Em relação à incidência das patologias, verifica-mos que a asma é a patologia mais frequente no
projeto, seguida da síndrome do respirador oral e da
fibrose cística (tabela 2). Todos os pacientes neces-
sitaram da aplicação de manobras de higiene brôn-
quica, que inclui manobras como vibrocompressão
manual, AFE (aumento do fluxo expiratório), dentre
outras apresentadas na tabela 3, assim como o diag-
nóstico dos pacientes, incidência das patologias e as
técnicas conduzidas em cada situação clínica.
As técnicas descritas na tabela 3 são rotineira-
mente utilizadas em crianças com doença respirató-
rias e retratadas na literatura (GOMIDE, 2007; LIEBA-
NO et al., 2009). Sobre as técnicas fisioterapêuticas,Liebano et al. (2009) consideram como as principais
técnicas cinesioterapêuticas manuais empregadas
nos casos de acúmulo de secreção a percussão e a
vibração, essa última uma conduta frequentemente
adotada nos atendimentos.
Da mesma opinião que Liebano, no estudo de
Gomide et al. (2007), são descritas como as princi-
Tabela 3: Descrição das condutas conforme os grupos de patologia das crianças atendidas pelo projeto “Respire bem e
cresça melhor”.
GRUPO DESCRIÇÃO DAS CONDUTAS
Asma
MHB: VBM, CAR,TS, AFE, TEF
EP: Alongamentos da musculatura da cervical e da cintura escapular, posturas para
alinhamento associado a exercícios de controle respiratório
MD: inspiração abreviada, freno labial
BronquiteMHB: VBM, VCM, estímulo da tosse, AFE
TRM: Exercícios respiratórios com estímulo diafragmático
Atelectasia Lobar
MHB: VBM,VCM, AFE
EP: posturas para ventilação no lobo afetado
MRP: Inspiração profunda, expiração prolongada, compressão/descompressão abrupta
Síndrome
Prader-Willi
MHB: VBM, VCM, AFE, ET
MRP: compressão/descompressão abrupta
* RTA: apoio íleo-costal
Síndrome do
Respirador Oral
MHB: VM,CAR, TS, AFE, TEF.
TRM: Exercícios respiratórios com estímulo diafragmático
EP: Alongamentos da musculatura da cervical e da cintura escapular posturas para
alinhamento associado à exercícios de controle respiratório
MRP: inspiração profunda, inspiração máxima sustentada, inspiração em tempos
ERN: Exercícios realizados com palito na boca, estimulando a respiração nasal
Fibrose Cística
MHB: VCM, VBM, CAR, TS, AFE, TEF, ET,TS
MRP: Inspiração Profunda, compressão/descompressão abrupta
* RTA: apoio ileo-costal, apoio tóraco-abdominal, ginga torácica
Legenda referente à tabela 3- Descrição das condutas conforme os grupos de patologia das crianças
atendidas pelo projeto “Respire bem e cresça melhor”:
MHB: Manobras de Higiene Brônquica; TMR: Treino Muscular Respiratório; EP: Exercícios Posturais; MD: Ma-nobras Desinsuflativas; MRP: Manobras de Reexpansão Pulmonar; ERN: Estimulação Respiração Nasal; *RTA: Reequilíbrio Tóraco-abdominal. AFE: Aumento do Fluxo Expiratório; TEF: Técnica de Expiração Forçada; VBM:Vibração Manual; VCM: Vibrocompressão Manual; CAR: Ciclo Ativo da Respiração; TS: Tosse Solicitada.
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pais técnicas utilizadas em pacientes com fibrose cís-
tica a tapotagem, percussão cubital, digito-percus-
são ou punho percussão, percussão e vibração me-
cânica. A técnica de expiração forçada (TEF), o “hu-
ffing”, o ciclo ativo da respiração, também tem como
finalidade auxiliar a eliminação de secreções, redu-zindo a obstrução de vias aéreas e suas consequên-
cias, como atelectasias e hiperinsuflação, sendo roti-
neiramente utilizadas em pacientes maiores (SAN-
TOS et al., 2009).
Nos respiradores orais, Held et al. (2008) desta-
cam a importância dos exercícios respiratórios, como
exercícios ativos com o uso de bastão, atividade físi-
ca em esteira ergométrica associada ao padrão res-
piratório abdominal, e permanência do fechamento
da boca durante as atividades.O comprometimento muscular decorrente da
Síndrome de Prader-Willi acarreta na capacidade de
eliminação de secreções e insuficiência ventilatória.
Segundo Segura et al. (2009), nessa patologia, são
indicados exercícios respiratórios (expansão diafrag-
mática de bases e ápices), respiração com lábios se-
miabertos, mudança de ritmo respiratório, inspira-
ção fracionada ou com apneia pós-inspiratória, exer-
cícios de fortalecimento abdominal e o condiciona-
mento cardiorrespiratório.
Fazendo um paralelo com as técnicas utilizadas
no projeto de extensão e o que a literatura traz a
respeito do tema, a revisão de Abreu et al. (2007)
cita diversos autores que destacam que a fisioterapia
respiratória pode atuar tanto na prevenção quanto
no tratamento das doenças respiratórias e, para isso,
se utiliza de diversas técnicas e procedimentos tera-
pêuticos, tanto em nível ambulatorial quanto hospi-
talar.Os autores destacam as técnicas voltadas para
a desobstrução brônquica como: vibração torácica,
compressão torácica, percussão, tapotagem, tosse,AFE. Também mencionam os padrões ventilatórios
desobstrutivos, pois estes proporcionam o aumento
de fluxo expiratório, como o uso do freno labial, ins-
piração abreviada, expiração prolongada.
Outro método utilizado durante os atendimentos
das crianças é o Reequilíbrio tóraco-abdominal (RTA),
cujos apoios apresentam como principal objetivo
oferecer um bom padrão de respiração, evitando si-
tuações de desconforto respiratório intenso, como a
fadiga muscular respiratória, além de trabalharem o
aumento no fluxo aéreo e, consequentemente, a de-
sobstrução brônquica (LIMA, 2007).
As principais afecções clínicas que envolvem a
faixa pediátrica foi analisada por Oliveira et al. (2010).
Os autores pesquisaram os dados disponibilizadosno Sistema de Internações Hospitalares (SIH-SUS) e
verificaram as principais causas de hospita lização de
crianças brasileiras, de zero a quatro anos, no perío-
do de 1998 a 2007. Na comparação da média entre
as regiões do Brasil, o Sul configurou como a região
na qual as doenças do aparelho respiratório são as
mais frequentes (44.2±3.7). Isso justifica a demanda
crescente de crianças para o projeto, além de sua
importância na região.
Conforme dados ainda do DATASUS, as principaisdoenças do aparelho respiratório são pneumonias,
bronquite aguda, bronquiolite aguda, asma e infec-
ções das vias aéreas superiores. Apesar de cada uma
das afecções (broncopatias, pneumopatias, transtor-
nos respiratórios e infecções) ter sintomas específi-
cos, todas elas acarretam em quadros comuns de
tosse, obstrução nasal, dores no peito e de garganta,
garganta irritada, dificuldade respiratória ao repou-
so e dispnéia (FONSECA e VASCONCELOS, 2011).
Além da aplicação das técnicas propriamente di-
ta, outra estratégias devem fazer parte de um acom-
panhamento fisioterapêutico diante dessas enfermi-
dades respiratórias. Nesse sentido, importante rela-
tar que a atividade de orientação e treinamento de-
senvolvida pelo projeto “InspirAção”, ocorreu conco-
mitante a ação aqui. O “InspirAção” proporcionou
palestras e discussões com os pais e pacientes do
projeto “Respire bem e cresça melhor”, sobre temas
relacionados aos cuidados respiratórios, manejo e
prevenção de crises, prática de atividade física e exer-
cícios terapêuticos, dentre outros temas (figura 1).Essa estratégia educativa, direcionada aos pais/
responsáveis, cuidadores, escolares e adolescentes
pneumopatas, tem o intuito de informar e conscien-
tizar essa comunidade sobre diferentes aspectos do
quadro respiratório das crianças, assim contribuindo
no processo de recuperação.
Considerando que a clínica escola de fisioterapia
do CEFID/UDESC configura hoje como um centro de
ensino, pesquisa e extensão que atende a população
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de todo estado de Santa Catarina, sua importância
no cenário assistencial da região é grande. A maioria
dos pacientes assistidos pela clínica é proveniente da
grande Florianópolis, em função de sua localização
e da parceria formada entre o departamento de fi-
sioterapia e a secretaria municipal de saúde de Flo-rianópolis (RELATÓRIO UDESC, 2011). Sendo assim,
a oferta desse tipo de terapêutica para comunidade
aspira contribuir com o sistema de saúde da cidade,
especificamente na área de saúde da criança. Além
disso, esta é uma proposta pioneira de assistência
fisioterapêutica direcionada à população pediátrica
na atenção primária, promovida por uma universida-
de pública do estado de Santa Catarina.
Importante mencionar o cenário da saúde hoje,
no qual a atenção à saúde da criança é alvo de pre-ocupação de profissionais, gestores e políticos, e re-
presenta um campo prioritário de investimentos
dentro dos cuidados à saúde da população. Isso tem
provocado inúmeras transformações nas diretrizes
das políticas de saúde voltadas à população infantil
(NOVACZYK et al., 2008), mas apesar desse contexto,
garantir assistência fisioterapêutica não tem sido fo-
co das discussões. Isso fica evidente no estudo de
Rizzetti e Trevisan (2008), no qual foram listadas as
políticas para a atenção à criança, que foram implan-
tadas a nível federal. Não há registro de nenhuma
ação promotora de saúde destinada ao tratamento
ou assistência fisioterapêutica.
Dessa forma, se faz cada vez mais necessário e
importante que as universidades também se envol-vam com essas questões. Não assumindo a respon-
sabilidade de gerar soluções, mas realizando ações
de extensão para amenizar os problemas referentes
a essa esfera.
Nesse ponto, Neuwald et al. (2005) relatam que
a difusão científica vem sendo apontada como fer-
ramenta, e até mesmo como um movimento social,
com a capacidade de estimular e fortalecer o exercí-
cio da cidadania e da melhoria da saúde das popu-
lações. Nessa linha, os programas de extensão, aquino caso envolvendo a fisioterapia pediátrica, quando
expandidos também para atividades voltadas à aten-
ção primária contribuem com esse processo.
Alguns autores têm demonstrado que esforço
conjunto e uma visão integrada da saúde, não só nos
seus aspectos orgânicos, mas também psicoafetivos
e sociais proporcionam a todas as crianças, particu-
larmente àquelas com necessidades especiais, subsí-
dios necessários para alcançarem seu potencial de
Figura 1: Material ilustrativo distribuído para divulgação de palestras realizadas no projeto InspirAção, em parceria com o
projeto Respire bem e cresça melhor, ambos oferecidos pelo curso de fisioterapia da Universidade do Estado de Santa Ca-
tarina, através do Programa Brincando de Respirar.
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crescimento e desenvolvimento de maneira satisfa-
tória (FIGUEIRA et al., 2003). Considerando que a
inserção do atendimento fisioterapêutico em progra-
mas de extensão é tida como um procedimento de
melhoria do serviço de saúde, ações como essa po-
dem interferir, positivamente, na qualidade de vidada criança, conforme rege o estatuto da criança e do
adolescente (BRASIL, LEIS e DECRETOS, 1990). E por
isso, devem ser divulgadas e estimuladas.
Reforçando o exposto, Marães et al. (2010) des-
tacam que projetos pedagógicos em universidades
tem como foco o sujeito aprendiz, buscando assegu-
rar ao graduando uma formação integral, que man-
tenha uma relação orgânica entre ensino, pesquisa
e extensão. As universidades não devem se restringir
apenas a transmissão de informações e valores indi-viduais, mas sim coletivos, assim como os espaços
destinados aos projetos não devem servir apenas pa-
ra a aquisição de habilidades profissionais, mas que
sejam vistos como um meio de integração com a
comunidade (QUIMELLI, 2006).
Diante do exposto, fica evidente que o ofereci-
mento de projetos de assistência fisioterapêutica de
caráter primário, como o “Respire bem e cresça me-
lhor” aqui caracterizado, corrobora com a necessida-de de saúde preventiva e terapêutica que pacientes
pediátricos com disfunções cardiorrespiratórias de-
manda, além de facilitar o acesso da comunidade e
da população infantil a esse tipo de procedimento.
Conclusões
O presente artigo apresentou as ações realizadas
pelo projeto de extensão “Respire bem e cresça me-
lhor”, desenvolvido na UDESC, desde sua implantação
até o presente momento. O projeto continua em an-
damento, prestando assistência ao público infantil,garantindo o acesso da comunidade a esse tipo de
terapêutica e, ainda, viabilizando a relação acadêmica
com facetas das políticas de saúde da criança.
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