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Palestras proferidas no simpósio OS PURITANOS em 1995Joel R. Beeke

PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADASCaixa Postal 1287 10159-970-São Paulo-SP

Ao irmão, amigo e conselheiro, Olin Coleman, grande incentivador daliteratura reformada e puritana.

Aos que batalham pela fé reformada, que desejam ver um dia estabelecidas, nestanação, as antigas doutrinas da graça, uma reforma na igreja brasileira e a prática deuma evangelização bíblica sem adições ou subtrações.

ÍNDICE

Prefácio

1 .A Tocha da Evangelização Acesa no Novo Testamento

2. A Tocha da Evangelização Reacesa pela Reforma

3.A Tocha Levada pelos Puritanos(A Mensagem da Evangelização Puritana)

4.A Tocha Levada pelos Puritanos(O Método da Evangelização Puritana e a Disposição Interna do Coração)

5.A Tocha da Evangelização Passada para Nós

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PREFÁCIO

Após 40 anos no evangelho, defrontei-me com a literatura puritana e reformada. Tal foi oimpacto em minha vida que me senti como alguém que vai reclamar seus supostos direitos e sedepara, para sua surpresa, com a realidade de que estava errado, e que seus direitos eram falsos.Senti-me envergonhado do movimento evangélico superficial, humanista, vivenciado há tantotempo em nosso meio e que não considera a soberania de Deus, mas coloca no homem o poder derealizar.

Ao ler a literatura puritana e reformada os meus olhos foram abertos para ver o caminhoque trilhava. Percebi logo que boa parte do movimento evangélico moderno, mesmo falando dagraça de Deus, não a compreende como ela é apresentada na bíblia. Afirma que, pela graça, todosos homens têm a capacidade de crer e aceitar o evangelho; é uma decisão deles. Por isso Dr. M.Lloyd-Jones afirmou: "Embora comecem com a graça, na seqüência a negam". Percebi que omovimento evangélico moderno fala da Bíblia como a única regra de fé e prática mas nãocompreende o significado de Sola Scriptura, como os reformadores a ensinavam, e era vivida pelospuritanos de forma madura.

Muito do movimento evangélico moderno tem feito acréscimos, adições às Escrituras,como fizeram os judeus na época de Jesus, quando citavam mais de 600 leis que não estavamnaTorah, ou mesmo como a igreja católica romana, com toda sua tradição maligna, que tem levadomilhões de pessoas à condenação, por causa de ensinos apócrifos, antibíblicos, esquecendo-se deque Deus trará maior juízo àqueles que ensinam falsidade (Tiago 3:1). Recentemente um grupo decongressistas questionou um famoso líder americano e professor de missiologia sobre suas práticasna área de batalha espiritual e missões. Sua resposta foi: "É verdade que não está na Bíblia, masfunciona". Creio que é exatamente este pragmatismo religioso, não bíblico, que domina em grandeparte nosso movimento evangélico, nossa prática cristã e especialmente nossa evangelização. Osmétodos evangelísticos não bíblicos, se estão funcionando, são considerados válidos. Será queestamos esquecidos das palavras de Jesus que serão proferidas no dia do juízo contra aqueles queevangelizaram de forma condenável, mesmo que bem sucedidos: "Nunca vos conheci"? (Mat.7:23).

Um dia comecei a ler sobre Pelágio, o herege dos séculos IV e V, que fora tão combatido

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por Agostinho e por fim condenado pelo Concilio de Éfeso. Pelágio não só ficou conhecido pornegar o pecado original, mas especialmente pelas suas idéias do livre--arbítrio fundamental dohomem, que o faz capaz de querer e fazer (até mesmo o bem espiritual). Pelágio pensava a respeitoda graça como sendo apenas uma ajuda externa de Deus, do Espírito Santo, para a alma humana;um tipo de ação que persuade o homem pela razão e o faz usar seu livre-arbítrio, sua capacidade deobedecer ou não a lei de Moisés e os ensinos de Jesus. Para Pelágio, a predestinação divina é algoque opera apenas de acordo com as qualidades das pessoas, as quais Deus prevê que terão. É algobaseado no mérito das pessoas. Dessa forma a fé não é um dom, e sim, uma obra meritória paralevá-las à salvação. Assim, o homem pode tomar uma decisão por Cristo na dependência apenas desua própria vontade, independente de Deus. Ou seja, tudo depende do homem.

Quando tomei conhecimento de tudo isso, comecei aperceber que muita da nossaevangelização é calcada em cima desses princípios, com apenas algumas mudanças(semipelagianismo), como o reconhecimento do pecado original do homem, sua enfermidade moral.Entretanto, continua defendendo que o homem é que dá o primeiro passo em direção a Deus, comsuas próprias forças e, que por isso, Deus o recompensará. Todo o sistema de apelo por decisõesestá baseado nestes princípios, e não foi sem razão que Finney (pelagiano declarado) tenha sido oiniciador desse sistema de convidar pessoas a virem à frente, usando o livre-arbítrio, comodemonstração de fé e conversão. Falar contra estas coisas hoje é provocar a ira de muitos. Osgrande pregadores e missionários batistas, congregacionais e presbiterianos do passado semprecondenaram estes princípios não bíblicos, e a Igreja foi tremendamente abençoada por seremdefensores das antigas doutrinas da graça, defensores de um evangelho centralizado na soberania deDeus, um evangelho que diz ser Deus o iniciador e consumador da nossa fé e da nossa salvação.

Infelizmente o semipelagianismo defendido por Armínio espalha-se no nosso meio e épraticado por quase a totalidade da evangelização moderna. A situação é tão grave que raramente sevêem programas de rádio e televisão, ou mensagens (com raras excessões) que pudessem seraprovados pelos reformadores e puritanos (congregacionais, batistas e presbiterianos) do passado;nossos pais espirituais. Percebo que é algo natural, que vem da natureza humana corrompida, da"sabedoria da carne", como dizia Martinho Lutero, a idéia de que o homem pode exercer fé por simesmo para ser justificado; que pode usar seu livre-arbítrio para ser salvo; que Deus não pediriaalgo de nós (crer, arrepender--se), se nós não pudéssemos realizá-lo. Isto é pensar como Pelágio(esquecem do Salmo 127:1-2; Mat.l6:17; 19:26; Joãol:13; 3:27; 6:44-65). Toda esta visãodoutrinária e prática é incompatível com o pensamento do maior pregador da Inglaterra no séculoXVIII, George Whitefield, que não temia afirmar que o homem natural já nasce arminiano.

Preocupado com esta visão distorcida da evangelização, e a ironia e desprezo da parte demuitos para com o ensino bíblico calvinista, praticado pelos grandes missionários batistas comoWilliam Carey ou congregacionais como Robert Kalley (chamado de "O Lobo Calvinista") epresbiterianos como Ashbel Green Simonton e os grandes pregadores do passado, o projeto OsPuritanos realizou o seu simpósio anual em 1995 sobre o tema da evangelização bíblica e puritana.Para isso foi convidado o Dr. Joel Beeke, pastor reformado em Grand Rapids, Michigan, EstadosUnidos, doutor e mestre, estudioso da história e do ensino reformados desde os nove anos de idade,para abordar este tema tão importante que é a evangelização reformada.

O Dr. Joel Beeke apresenta de forma simples e piedosa, a necessidade da evangelizaçãofundamentada na soberania de Deus, e que enfatize a responsabilidade do homem. Neste aspectoCalvino nos ensina a sermos evangelistas e que a doutrina da eleição não leva à passividade naevangelização; pelo contrário, nos leva à atividade. O autor afirma que nós não somos responsáveispelos resultados da nossa evangelização, e sim, pela fidelidade da mensagem e pelos métodos queusamos. Disso prestaremos conta. Portanto, o que devemos fazer é lançar a semente e esperar noSenhor. Os resultados pertencem a Deus, é verdade, mas temos de ir em busca das ovelhas deCristo. A eleição não exclui os meios pelos quais Deus chama os Seus de forma eficaz. No túmulode David Livingstone está escrito o que o motivou ser missionário na África: "Ainda tenho outrasovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las" (João 10:16). Assim como Jesus veio aomundo em busca de Suas ovelhas e por elas morreu, Livingstone foi à África em busca das ovelhas

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do Senhor.Este livro pode ser um grande orientador de como podemos evangelizar para a glória de

Deus e nos despertar para sermos verdadeiros evangelistas, obedientes a Cristo e ganhadores dealmas. Que possamos levar esta tocha da evangelização como os cristãos primitivos, como osreformadores e puritanos fizeram.

Agradeço a Deus ter conhecido e ouvido o Dr. Joel Beeke; suas palavras eram carregadas deamor, piedade e firmeza doutrinária. Todos nós do Projeto Os Puritanos aprendemos muito com oDr. Beeke sobre o que é ser um evangelista como a Bíblia recomenda.

Caro leitor, aproveite das palavras escritas neste livro e, com a ajuda de Deus, seja umevangelista fiel.

Manoel CanutoCoordenador do Projeto Os Puritanos

1A Tocha da Evangelização Acesa no Novo Testamento

"Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: toda a autoridade me foi dada no céu e naterra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho edo Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado. E eis que estouconvosco todos os dias até à consumação dos séculos." - Mateus 28:18-20

"E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis quese fizeram novas. Ora, tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio deCristo, e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo, reconciliandoconsigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra dareconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse pornosso intermédio. Em nome de Cristo, pois rogamos que vos reconcilieis com Deus. Àquele que nãoconheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fossemos feitos justiça de Deus." - 2Coríntios 5:17-21

IntroduçãoEvangelização Reformada é um tema bastante vasto. Muitas pessoas chegam a negar a sua

existência, pois não crêem que exista tal coisa. Nossa esperança é, por um lado, não exagerar aforça da evangelização reformada, e por outro, não diminuir as suas fraquezas. Este assunto podemelhor ser apresentado através de uma ilustração. Na América existiu um pastor que era um homemde Deus, mas tinha um problema terrível. Gostava de constantemente exagerar nas sua afirmações.Seu conselho se reuniu, e procurou conversar com ele sobre o problema. O pastor estava conscientedesta sua falha e via que precisava de ajuda. Após conversarem, chegaram ao seguinte acordo:quando o pastor, do púlpito, exagerasse em alguma coisa, um dos presbíteros daria uma levetossida. Então o pastor saberia que deveria "maneirar" um pouco nas suas afirmações, pois estariaalém dos limites da realidade. Quando chegou o domingo ele teve a sua chance de ser testado comeste sistema. O pastor começou a pregar sobre Sansão. Descrevia como ele pegara trezentas raposas

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e como amarrou suas caudas. Estava muito envolvido na descrição desta cena e disse que quandoSansão tomou as caudas das raposas para amarrá-las, estas caudas eram do tamanho dos braçosabertos de um homem (ele fez este gesto). Nesta hora o presbítero deu uma tossidinha. O pastor,então diminuiu o gesto na tentativa de dizer que as caudas eram menores, mas mesmo assim aindaexagerava. O presbítero novamente tossiu. Ele diminuiu o tamanho, porém ainda estavaexagerando. Nova tossidinha. O pastor, então, não se contendo, perguntou: "Irmão, afinal de contasqual era o tamanho das caudas das raposas?".

Algumas pessoas dizem que a evangelização reformada não tem "cauda" e outros dizem quesua "cauda" é imensa. Queremos lidar de uma forma bem realista com os pontos fortes e os pontosfracos da evangelização reformada. Focalizaremos alguns princípios neo-testamentários deevangelização. Eles estão de fato no Novo Testamento. Como foi que Calvino construiu em cimadestes princípios a sua própria evangelização, sendo pai da sistematização da verdade reformada etambém da sistematização da evangelização reformada? O que os puritanos têm a nos dizer sobre aevangelização reformada? Como podemos tomar esta tocha da evangelização reformada, hoje, epassá-la adiante às nossas comunidades e à nação?

Definindo a evangelizaçãoO que é a evangelização? Há muitas definições que são dadas. Poderíamos passar muito

tempo só definindo-a. Mas quero dizer algumas coisas. Em primeiro lugar não devemos definir aevangelização nos termos daqueles que vão receber a mensagem. Isso pode nos levar acomprometer a mensagem e a mudá-la. Em segundo lugar, também não devemos definir aevangelização em termos dos seus resultados. Pois dessa forma, você diria que William Carey nãoestava fazendo evangelização nos primeiros anos em que ele esteve na índia, porque por muitosanos ele não viu nenhum convertido. Em terceiro lugar, não devemos definir a evangelização emtermos dos métodos usados. Dessa forma, se pensarmos assim, os fins vão justificar os meios e nósvamos terminar naquilo que é tão comum hoje, a chamada "evangelização pragmática". Essa"evangelização" está mais preocupada com os números do que com a verdade. Nós precisamosdefinir a evangelização em termos do significado da própria palavra.

Evangelização vem de uma palavra grega que significa "boas novas". Assim, poderíamosdefinir a evangelização como sendo a proclamação das boas novas, a proclamação do evangelho.Nele buscamos, pela graça de Deus, a conversão de pecadores. Num sentido mais amplo podemosdizer que inclui a edificação dos filhos de Deus. Inicialmente, a evangelização procura a conversãode pecadores e no sentido mais amplo, procura o discipulado daqueles que já nasceram de novo.Esta palavra grega aqui referida, euaggélion, está registrada 124 vezes no Novo Testamento.Portanto, a Bíblia é um livro evangelístico. Nosso Deus é um Deus evangelístico.

A tocha acesa no Velho TestamentoNa verdade, a tocha da evangelização foi acesa originalmente, no Velho Testamento. Em

primeiro lugar foi acesa pelo próprio Deus na primeira promessa messiânica que Ele deu a Adão eEva, lá no Éden. Vemos isso em Gênesis 3:15: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tuadescendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu Ihe ferirás o calcanhar". Aqui, DeusJeová está agindo como um Deus evangelista. Ele está interceptando Adão e Eva numa relaçãopactuai que eles estavam tendo com satanás e traz para eles a promessa do Messias que haveria devir: a semente da mulher que haveria de esmagar a cabeça da serpente. Assim, Deus acendeu atocha antes mesmo de Adão deixar o paraíso e, ainda lá, Ele revela Seu Filho que haveria de vir. Elepróprio é essa tocha!

Para que nós possamos lançar um bom alicerce, devemos dizer que o próprio Deus é oevangelizador por excelência. Através do Seu próprio Filho, e por meio dEle, o coração de Deusbate de uma forma evangelística. Ele não pode negar-Se a Si mesmo. Dessa forma Deus demonstraque tem os meios para levar avante este projeto evangelístico. Ele leva à frente estas boas novasatravés de todo o Velho Testamento. Através de toda a linhagem de Sete, Noé e de todos ospatriarcas; por sua vez, esses patriarcas passam essa tocha para os filhos de Israel. A nação de Israel

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leva a tocha como quem leva a alma da evangelização. Israel é a alma que conduz à evangelizaçãonos tempos do Velho Testamento, no meio do mundo gentio. Por fim, o último profeta do VelhoTestamento, João Batista, foi privilegiado porque ele levou a tocha da evangelização à era do NovoTestamento.

A tocha acesa no Novo TestamentoLogo que o Novo Testamento se abre, nós encontramos a tocha, a Pessoa do Senhor Jesus

Cristo, que é "as boas novas", o evangelho; Ele é tanto o Salvador quanto a salvação. Quando Cristocomeça a realizar o Seu ministério, bem cedo, ele começa a dar aos Seus discípulos instruções bemespecíficas quanto ao levar a tocha da evangelização. Quando Jesus ressuscitou dos mortos, deu-lhes a grande comissão como vemos em Mateus, capítulo 28. Esta grande comissão pergunta eresponde importantes questões.

Por que e como evangelizamos?A nossa resposta é esta: evangelizamos por compaixão aos homens e mulheres que estão

perecendo. Evangelizamos como Cristo, pois Ele chorou sobre a cidade de Jerusalém e nósdevemos chorar sobre Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e sobre todo o Brasil. Quando vemosmilhões que estão morrendo em nossa volta, estranhos a Cristo, sem Deus e sem esperança nomundo, alienados de Deus, inimigos de Deus, rebeldes como outrora nós também fomos, nossoscorações precisam sangrar; nossos olhos, chorar; nossas orações, subir aos céus e assim seremosmotivados a evangelizar por causa da compaixão.

Há outros motivos profundos que nos impelem à evangelização. Mateus, capítulo 28, deixade forma absoluta e clara a grande motivação que é uma ordem de Jesus. Se nós amamos alguém,desejamos agradar-lhe e obedecer-lhe. Se amamos a Cristo queremos obedecer à Sua ordem e fazera Sua vontade. Quando Cristo diz, "ide e ensinai", a Sua ordem em si é a nossa grande motivação.Naturalmente essa grande motivação é uma lição que nos vem através do conceito da soberania deDeus. Sempre fomos uma minoria na tradição reformada e uma outra minoria procura usar asoberania de Deus de uma forma, às vezes, não bíblica. Calvino diria que isso é como um "veneno"que está sobre, o conceito da soberania de Deus. Esta minoria, às vezes, procura diminuir aimportância e o papel da soberania na salvação das pessoas. A ilustração clássica disso é o exemplode William Carey. Quando ele explicou seu chamado para ir para a Índia, um dos que estavamnaquela reunião lhe disse: "Sente-se, jovem, se Deus quer realmente salvar a Índia, Ele pode salvá-la sem a ajuda de William Carey ou de qualquer outro". Esta é uma afirmação terrível. Percebamque aquelas pessoas estavam separando a doutrina da soberania de Deus dos meios através dosquais essa soberania é exercida.

Os meios que Deus usa no exercício da Sua soberania são homens pecadores como nós.Jesus disse: "Ide e ensinai". Jesus não está dizendo que se deixe a evangelização na esfera dasoberania de Seu Pai. Também não está dizendo que devemos ficar apenas em uma sala ensinando.Há pessoas que têm um grande dom de ensinar, mas não saem para levar a mensagem de boasnovas. Por outro lado, uma das grandes calamidades da Igreja hoje, é o fato de igrejas, que têmgrandes alvos evangelísticos, possuirem líderes com tão pouca capacidade de ensino. Da mesmaforma, igrejas que têm muitos com o dom de ensinar, freqüentemente apresentam baixos alvosevangelísticos. Precisamos voltar à ênfase de Jesus, que era a colocação das duas coisas juntas - ir eensinar! Estas duas ações precisam estar juntos. Precisamos ser motivados à evangelizaçãoreformada pela obediência ao nosso Mestre.

Quero citar mais um motivo. Devemos ser impelidos pelo nosso relacionamento com Deus.Paulo diz que se conhecemos a ira de Deus, nós precisamos persuadir os homens, pois ele sabiacomo são os homens e mulheres sem Deus. O apóstolo Paulo foi um deles, mas sabia o quesignificava ser salvo e ter um novo relacionamento com Jesus. Sabia a terrível realidade de umaalienação de Deus; também sabia o poder da reconciliação com Deus. Em 2 Coríntios, . capítulo5,ele fala de uma forma poderosa desta reconciliação. Nos versículos 20-21 ele diz: "De sorte quesomos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome

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de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado, ele o fezpecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus". Paulo estava, pois, motivado poraquela paixão e pelo desejo ardente de agradar a Cristo, como uma criança em profunda reverênciapor seu pai. Como fruto de uma grande apreciação e amor por Cristo.

Todos os diferentes aspectos dos atributos de Deus e o relacionamento daqueles que crêemneles, motivaram Paulo a evangelizar. Ele sempre procurou glorificar a Deus em todas estas coisas:a soberania de Deus, o amor de Deus, a graça de Deus. Esta foi a motivação mais profunda daevangelização de Paulo. Não somente uma compaixão humana, não somente a ordem de Cristo,mas um desejo ardente de glorificar a Deus a quem ele conhecia. Ele tinha absoluta certeza de quequalquer um que cruzasse o caminho de Cristo, um dia estaria perante o julgamento de Deus e teriade responder diante dEle por todo o bem ou mal que fizera no seu corpo, nesta vida.

Quando nós, pastores, ficamos de pé diante da nossa congregação, semana após semana,quão prontos estamos para esquecer que, mesmo que se passem cem anos, se o Senhor demorar avoltar, nenhuma pessoa na nossa congregação vai escapar do julgamento final de Cristo? Em toda anossa evangelização, estamos lidando com almas viventes que poderão estar alienadas de Deus parasempre, ou que irão usufruir da presença gloriosa de Jesus eternamente. Há uma diferença radicalentre estas duas coisas. A grande gloria que Deus recebe na conversão de pecadores motivava Pauloa fazer missões e evangelizar.

A quem evangelizar?A grande comissão responde a uma segunda pergunta. A quem devemos evangelizar?

Mateus nos diz que devemos ir a todas as nações. Ide e ensinai a todas as nações. Há algomaravilhoso neste mandamento para a evangelização reformada, porque o evangelista reformadonão fica apenas vendo a soberania de Deus no ato de eleger, pois este ato não é algo que impede osucesso da evangelização, e sim, algo que o confirma. Quando Cristo nos envia a todas as nações,Ele vai reunir delas, aqueles que vão servi-lo e temê-lo na Sua própria Palavra. Ele vai usar aloucura da pregação para salvar aqueles que devem e precisam crer. Que encorajamentomaravilhoso para nós evangelizarmos, pois onde formos passando no meio desta torrente dedepravação humana, não há nenhuma expectativa em nós ou na semente em si. Algumas sementesvão cair em solo rochoso ou à beira do caminho, e a nossa única esperança de que Deus Se agrade éque Ele venha a usar-nos como barro em Suas mãos para cumprir o Seu propósito de amor esoberania em termos da eleição. Dessa forma, Deus vai atrair pecadores a Si mesmo.

Em Marcos 16:15 ("Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura") a grandecomissão diz algo um pouco diferente. Pregar o evangelho a toda criatura! Mateus disse, "a todas asnações". Marcos particulariza a grande comissão. A ênfase é que o evangelho deve, não só serlevado a todas as nações, mas a todo homem, mulher, moço e moça que habitam nelas. O evangelhoé o oferecimento de Deus aos pecadores. São as boas novas de Cristo e está disponível para todos.São boas novas de que Cristo os está convidando a virem a Ele como estão. As boas novas,entretanto, não consideram que cada pessoa tem força em si mesma para ir a Deus. As boas novasnão afirmam que a pessoa é salva meramente por uma "decisão" por Cristo. A mensagem das boasnovas não é que você vai declarar a cada um que ele está salvo. Não significa contar a cada um, quedefinitivamente Cristo morreu por você, não é simplesmente levar as pessoas a saberem que Cristomorreu por elas. Muitos pregadores pregam assim. Eles dizem: "Jesus morreu por todos e tudo quevocê tem de saber é crer que Ele morreu por você ". O que está errado com isso? No momento emque eu creio que Cristo morreu por cada um, então, eu posso concluir que há uma espécie de acordoque afirma: se Ele morreu por todos, então, morreu também por mim. Os pregadores que pregamassim, persuadem as pessoas a pensarem que estão salvas, mesmo sem ter recebido nenhum toquedo Senhor. Contudo, apenas um assentimento intelectual sem essa bênção da fé salvadora, nãosalva.

Uma fé salvadora pessoal, um arrependimento pessoal, uma convicção pessoal dos pecadose uma rendição diante de Deus de todas as suas justiças que são trapos diante de Deus, sãoingredientes necessários para que você encontre a real salvação. Se você não compreende o que é

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ser um pecador perdido e condenado perante Deus, como pode apreciar a riqueza do evangelho?Dessa forma, a grande comissão nos encoraja a levar o evangelho a todas as nações, ao homemcomo um ser integral. Não leve o evangelho a pressionar apenas a vontade do homem, pois oevangelho afeta a vontade, as afeições, a totalidade do ser humano. Posteriormente veremos comoos reformadores e puritanos praticaram esse tipo de evangelização. Quando eles apresentavam aCristo de uma forma integral para um ser integral, acabavam proclamando todo o conselho de Deus.

Onde iniciar?Finalmente, a grande comissão certamente inclui que o evangelho precisa ser levado de

preferência às ovelhas perdidas da casa de Israel, como lemos em Mateus 10:6. Assim, quandoJesus deu a ordem de evangelizar aos Seus discípulos, Ele começou com Jerusalém e de lá deviamlevar o evangelho a Samaria, Judéia e até os confins da terra. Traduzindo a idéia para os dias dehoje, esta ordem diz que nós não devemos apenas evangelizar os judeus mas devemos começar emnossos lares, em nossas igrejas. Dentro do ministério pastoral devemos enfrentar o fato de quedentro da Igreja de Deus há muitas pessoas que não São verdadeiramente salvas. Talvez tenham atésido batizadas, talvez sejam membros comungantes, vivam uma vida decente, todavia não foramsalvas. Podem até ter um bom conhecimento bíblico e até serem professores de Seminários,pastores, ou presbíteros, mas não são diferentes de Nicodemus que foi um mestre em Israel e noentanto não havia nascido de novo. Jesus diz ainda hoje a cada um de nós e a nossas igrejas: "vocêsprecisam nascer de novo". É possível que nossa a evangelização, às vezes, seja muito fraca porquehá pouca experiência do que significa nascer de novo.

Jesus passou a Sua tocha da evangelização para Seus apóstolos e discípulos e a acendeu deforma maravilhosa no dia de Pentecoste e nas semanas que se seguiram. O mundo precisa sercolocado em chamas por esta tocha da evangelização. No dia de Pentecoste Deus vindicou a Suaprópria Palavra conforme lemos em João 3:16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira quedeu seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna".Milhares de pessoas foram feridas nas suas consciências e foram levadas a um arrependimentoautêntico naquele dia, depositando sua fé em Cristo. Mas a novidade que começou no dia dePentecoste foi disseminada e começou a usar de uma forma poderosa o apóstolo Paulo para levaravante a tocha da evangelização.

Paulo, o evangelistaPaulo foi de modo peculiar qualificado para esta tarefa, talvez mais do que qualquer pessoa

da sua época. Ele entendia tanto a — mentalidade hebraica, quanto a mentalidade helênica. Ele teveum "seminário" de três anos na Arábia, durante o qual Deus o treinou e o moldou para ser oapóstolo dos gentios. A atividade evangelística de Paulo, levando a tocha da evangelização, foi eainda é amplamente expandida hoje. Ele levou o evangelho aos seus irmãos na carne, levou-o até aÁsia, Europa, e pela inspiração do Espírito Santo, trouxe a tocha até nós em suas Epístolas. É muitoimportante tomarmos um pouco da evangelização de Paulo. A evangelização é algo muitoimportante no ministério de Paulo e precisamos nos "agarrar" ao seu padrão de evangelizar. De umacoisa nós não podemos fugir, quando lemos suas cartas: Paulo evangelizava de uma formadoutrinária e teológica. Não evangelizava contando anedotas ou pequenas histórias. Há, hoje,pessoas que afirmam que temos de colocar a doutrina de lado para podermos evangelizar. Pensamque quando evangelizamos não devemos ser didáticos. Paulo rejeitou isso de forma prática. Grandesporções de suas Epístolas estão preocupadas, por exemplo, com a lei. Ele faz com que umaapresentação da lei seja seguida pela apresentação do evangelho e então aplica esta realidade à vidados seus leitores com ensinamentos éticos e experimentais. Esse é o padrão da evangelização dePaulo.

Queremos apresentar aqui algumas ramificações deste padrão de evangelização que Paulousava.

Consciência teísta

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O primeiro resultado do seu padrão evangelístico é: Paulo pressupõe, em todas as suascartas, uma consciência teista em cada pessoa. Na tradição reformada, somos profundamentedevedores a João Calvino e a Cornelius Van Til porque eles estabeleceram o que nós hojechamamos de teologia préssuposicional. Calvino afirma que a semente da religião está em cadahomem. Dessa forma, o pensamento reformado sempre entendeu que cada pessoa no mundo temcerto sentimento de Deus. Este conhecimento nato pode ser muito distorcido, misturado compecado, mas aquela semente, no entanto, está lá. Tanto Calvino quanto Van Til tiram estespressupostos teológicos de Paulo. Paulo argumenta de forma muito clara, por exemplo, na sua cartaaos Romanos e ele parte de uma posição de pressuposição que afirma que, mesmo os pagãos têmalguma consciência de um ser supremo. O que aprendemos disso é o seguinte: nós não devemosgastar muito tempo discutindo com uma pessoa sobre a existência de Deus. Antes, enquantoevangelizamos, pressupomos que, no fundo do coração, eles têm consciência da existência de Deus.Os reformados afirmam que não existe a condição do ateu genuíno. Um ateu é alguém que desejase convencer que não existe Deus. Já tive duas vezes oportunidade de conversar com duas pessoasque afirmavam que eram atéias. No entanto, o que era estranho é que exatamente os dois queriamconversar sobre Deus. Dessa forma estavam querendo se convencer de que Deus não existia.

O que Paulo está dizendo é o seguinte: quando você estiver lidando com uma pessoa quenão crê e fala do seu relacionamento com Deus, o que você precisa fazer é apresentar a Deus, comoestá em Romanos, capítulo primeiro. Você não deve colocar como alvo provar filosoficamente queDeus existe. O que deve ser feito é apelar para a consciência da pessoa. Paulo diz em Romanos,capítulo 1, que esta consciência está apertando, fazendo desaparecer o conhecimento de Deus.Quando nós pregamos o evangelho, evangelizamos pessoas que têm uma consciência teista comoseres humanos.

Mensagem de despertamentoEm segundo lugar, Paulo ensina que nossa mensagem evangelística precisa ser uma

mensagem de despertamento. Quando Paulo dirige-se a alguém que está evangelizando, ele começaa falar a respeito do pecado e da grande necessidade do ser humano. Ele sempre procura construirum sentimento de necessidade por parte da pessoa. Então, seu alvo é a consciência. Esta não é umatarefa fácil e sem o Espírito Santo é uma tarefa impossível, porque é necessário o poder divino, oTodo-poderoso, para quebrar um homem e reduzi -lo a nada. Assim o homem vê o seu pecado eenxerga que não é outra coisa senão um grande pecador e não pode dizer outra coisa senão:

"Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!". Isso é exatamente o que Paulo procura fazerem Romanos, capítulos 1, 2 e 3, trazendo, tanto judeu como gentio, a um sentimento de culpa diantede Deus, para que toda boca seja fechada e todo o mundo seja considerado culpado perante Deus.Por isso, Paulo pregava a lei a fim de trazer o evangelho. Com a evangelização eficaz nós vamoslevar pecadores, pelo Espírito, a serem confrontados face a face com a realidade de um Deus vivo esanto, que Se ira e que executa julgamento; na realidade da maldição da lei que vem contra todosque a transgridem. Precisamos levar pecadores ao Deus do Sinai, ao Deus de Isaías, capítulo 6, parapodermos levá-los ao Deus do Calvário. Nosso alvo, portanto, é levá-los a Cristo e a única maneirade levá-los a Cristo é mostrar a maneira como Cristo Se torna apreciado e válido no coraçãodaqueles que dEle precisam.

Pregar Cristo - a reconciliaçãoFinalmente, Paulo prega não apenas de forma que usa pressupostos, de uma forma que

desperta e aviva, mas prega de forma cristológica. Ele proclama a realidade gloriosa do evangelho.No Novo Testamento, no grego, há uma palavra (paralambanó) que expressa a idéia de receberalguma coisa e passá-la adiante. Todas as vezes que esta palavra é utilizada (paralambanó), elesempre a usa em conexção com Jesus. A sua idéia é a de que Cristo precisa ser recebido pela fé epassado à frente. Ele precisa ser "tradição". Paulo quer fazer a passagem desta "tradição", ou seja,deste evangelho; ele quer passar especialmente a mensagem da reconciliação. Ele está com tal pesona alma, que o amor de Cristo o constrange. Esta reconciliação é absolutamente necessária. Sem ela

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os pecadores estarão alienados no inferno, para sempre, e alienados do Seu criador. Estareconciliação encontra a suarealização na cruz por Cristo, e agora precisa ser realizada no coraçãodos pecadores pelo poder do Espírito Santo. Ele aplica esta reconciliação, advinda da cruz, aoscorações dos pecadores.

A idéia de reconciliação é uma idéia de troca. Paulo volta a este assunto várias vezes na suateologia. Jesus é aquele que troca de lugar com o pecador carente, em necessidade. O evangelho dizque nós é que merecíamos estar naquela cruz e sermos punidos por nossos pecados. Entretanto oque é glorioso é que Jesus vem e toma o nosso lugar naquela cruz. O apóstolo Paulo diz em 2Cor.5:21: "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemosfeitos justiça de Deus". Cristo toma os nossos pecados, toma para Si próprio a morte que nósmerecíamos e paga o preço plenamente. Ele dá ao pecador a Sua salvação, a Sua santidade, todos osbenefícios gloriosos e, acima de tudo a Sua própria Pessoa . Na reconciliação Cristo faz duas coisaspara cada um dos filhos de Deus, os quais eles jamais poderiam fazer por si próprios. Estas duascoisas são feitas por nós, doutra forma não seríamos salvos.

Em primeiro lugar, a nossa dívida completa precisa ser paga. Pecado é uma coisa tão séria,que traz a morte, conforme nos diz a Bíblia, em Romanos, capítulo 6. Jesus disse que estava prontopara morrer pelos pecadores. Jesus, nesta obediência passiva, suportou a ira de Deus por causados nossos pecados. Paulo diz que Ele Se deu a Si mesmo por Sua Igreja - sofrendo a morte nacruz. A segunda coisa que Ele faz e que nós não podemos fazer, é que Ele, de forma perfeita,obedece à lei em nosso lugar. A lei exige que amemos a Deus sobre todas as coisas e ao próximocomo a nós mesmos. Cristo fez isso, de forma perfeita, por 33 anos. Não por Ele mesmo, maspor aqueles pecadores a quem salvará. Chamamos a isso de Sua obediência ativa e dinâmica, poisdessa forma ele obedeceu a lei. Por Sua obediência ativa e passiva, obedecendo à lei e pagando opreço do pecado, Ele satisfez a justiça de Deus. Dessa forma Deus está reconciliado com o pecador.Ele concede o Seu Espírito para que esse mesmo Espírito opere a Sua salvação na mente e nocoração dos pecadores e o pecador perca todo seu sentimento de justiça rendendo-se inteiramenteao caminho da salvação de Deus, aos pés da cruz. Ao serem assim reconciliados com Deus, lá nacruz, Deus está reconciliado com o homem e o homem com Deus. Através da cruz Deus leva ospecadores a se reconciliarem com Ele mesmo. Percebe que tudo está centralizado na cruz? Oapóstolo Paulo diz que a cruz exige uma vida que produza frutos.

Se você já esteve ali na cruz e já experimentou a reconciliação com Deus, por Jesus Cristo,você já percebeu que deveria estar onde Jesus esteve, percebeu que merecia os cravos nas mãos epés. Você que merecia aquela coroa de espinhos e suas costas sangrando, agora sabe que, ao invésde você, foram seus pecados que foram cravados naquela cruz. Ele experimentou a morte e vocêcompreenderá que Ele permitiu que você, pelos seus pecados, O pregasse na cruz do Calvário,como resultado de um amor puro a pecadores que não são dignos nem merecedores desse amor, porcausa do Seu amor ao Pai, à vontade soberana do Seu Pai. Como você pode viver sem estarfervendo de amor pelo Pai, Filho e Espírito Santo? Acaso você poderia dizer como SamuelRutherford: "Eu não sei qual das três pessoas da Trindade eu mais amo, porém isso eu sei, eu amo atodas três"?

Quando estamos motivados pelo grande amor de um Pai que deu Seu único Filho, e somosmovidos pelo Filho que Se deu a Si mesmo, e somos movidos pelo Espírito Santo que tem apaciência de operar em pecadores tão difíceis como nós, somente podemos caminhar de uma formagostosa e desejosa com este Deus Triúno. Em Colossenses 2:6-7, o apóstolo Paulo diz: "Ora, comorecebeste a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados e edificados, e confirmadosnafé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graça". Para Paulo, a mensagem daevangelização é a mensagem da reconciliação que prega um Cristo completo -mensagem queenvolve o Seu senhorio, envolve ser salvo do pecado e ser salvo para servir. O pecador recebe estasalvação gloriosa, tão -somente pela obra salvadora do Espírito. Justificação pela fé somente, paraaqueles que estão vivendo sem Deus, produz neles o fruto de serem pessoas de Deus.

Vamos, portanto, levar em nossa evangelização todas estas coisas. Como pode a fé despojaro pecador de todo o seu sentimento de justiça? Como pode levá-lo ao Senhor Jesus Cristo? Como a

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fé leva este pecador a viver uma nova vida em Cristo? Assim, percebemos que Cristo é o alfa e oômega de toda a nossa pregação, de toda a nossa evangelização. É somente nEle que temos Shalom,paz. Este foi o grande chamado de Paulo. Este foi seu alvo, que envolve todas as Escrituras, eCristo, para o homem como ser total.

2A Tocha da Evangelização Reacesa pela Reforma

O destaque de CalvinoEntre os reformadores, João Calvino teve um destaque especial. No primeiro capítulo,

falamos daquele pregador que exagerava no tamanho da "cauda da raposa", na história de Sansão.No caso de Calvino, muitas pessoas acham que ele não teve nenhuma "cauda de raposa", no quediz respeito à pregação do evangelho. Com isso querem dizer que ele não teve destaque algum emevangelização. Outros estudiosos, entretanto, dizem que Calvino tinha uma "cauda de raposa" muitogrande, falando de sua evangelização. Chegam a dizer que ele foi o pai teológico de todo omovimento missionário moderno. O ponto de vista de Calvino quanto à evangelização tem sidoobscurecido, especialmente por três tipos de estudiosos:

O primeiro grupo falha porque, ao invés de ler os escritos de Calvino, lê o que outrosescreveram sobre ele. O segundo grupo, quando analisa Calvino, não compreende o contexto noqual Calvino exerceu sua evangelização. O terceiro grupo, que joga também uma luz negativa naevangelização de Calvino, traz seus próprios pressupostos negativos ao ler Calvino e conclui queele não deu ênfase à evangelização. Estes estudiosos, partem da doutrina da eleição e concluemdesta doutrina, que é um ato soberano de Deus, que Calvino negou qualquer ênfase àevangelização, a qualquer esforço evangelístico. Desse modo, para avaliar o verdadeirocalvinismo em relação à evangelização, queremos fazer três coisas. Ao fazer estas três coisas,espero ter o quadro completo da posição de João Calvino quanto à evangelização.

Primeiro vamos dar uma "olhada" rápida na vida de João Calvino. Em segundo lugar vamosolhar seus ensinamentos quanto à evangelização, nos seus próprios escritos (as Institutas, seuscomentários, seus sermões, e suas cartas). Em terceiro lugar olharemos Calvino como umpraticante da evangelização reformada. Vamos analisar isso em quatro círculos concêntricos: no seupróprio pensamento, na cidade de Genebra, na França e no Brasil. Espero que, quando chegarmosao fim, tenhamos uma visão mais correta do pensamento de Calvino sobre a evangelização.

Sua vida

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Primeiramente iniciemos com uma visão rápida da sua vida. Lutero tinha 25 anos de idadequando Calvino nasceu. Em certo sentido, Calvino representa quase que uma segunda geração dereformadores. Ele teve a vantagem de poder usar os escritos de Lutero e de outros pensadoresreformados antes de escrever o seu próprio pensamento. Calvino foi além de Lutero pelo menos emquatro áreas. Em primeiro lugar, em relação à Ceia do Senhor. Calvino negou a presença corporalde Jesus na ordenança, nos elementos da Ceia. Em relação à vida da Igreja, Calvino concluiu queaquilo que não estiver na Bíblia, não deve estar na vida de adoração da Igreja. Lutero admitia que,o que não fosse expressamente condenado na Bíblia, podia ser usado no culto. Calvino estevetambém à frente de Lutero, na maior interrogação que todos eles fizeram. A grande pergunta deMartinho Lutero era esta: como pode um homem ser feito justo perante Deus? Calvino também fezessa pergunta, mas foi além e fez a seguinte indagação: como pode, aquele que já foi declaradojusto pela graça, viver agora uma vida para a glória de Deus? Finalmente, Calvino foi além deLutero porque ele começou a olhar como seria possível evangelizar todos os povos, em toda a terra.

Calvino viu um exemplar da Bíblia pela primeira vez em sua vida quando tinha 14 anos deidade. Era seu desejo, como adolescente, tornar-se um padre, um sacerdote. Ele ficou muitointeressado, enquanto ainda jovem, no debate que estava em andamento entre católicos eprotestantes. Seu pai, no entanto, interrompeu os seus planos, pois teve uma discussão muito sériacom um padre na escola onde Calvino estudava. Isso motivou a retirada dele daquela escola e o seupai o colocou para estudar direito. Aos vinte anos de idade Calvino já tinha se formado emadvocacia. Na Sua providência, Deus usou esse treinamento para que ele pudesse ter umpensamento claro e lógico em sua teologia. Quando Calvino tinha 21 anos seu pai morreu e elematriculou-se novamente numa escola de teologia.

Calvino foi convertido quando tinha entre 24 e 25 anos de idade. Diferentemente de Luteroele falou muito pouco a respeito de si próprio. Em mais de cem volumes escritos, Calvino fala arespeito de si uma ou duas vezes. O lugar onde ele fala com maior detalhe a seu respeito é noprefácio aos seus comentários dos Salmos. Ali ele escreve o seguinte, lembrando os dias de suaconversão: "Eu comecei a entender como se alguém me houvesse trazido uma luz, revelando emque tipo de erro eu tinha estado laborando até então. Eu me tornava cada vez mais sujo, e percebique estava num estado deplorável, mas Deus, por uma conversão súbita, me elevou e me colocoudentro de um paradigma no qual eu me tornava ensinavel, educável. Eu tive de desistir de mimmesmo e entregar-me aos caminhos de Deus". A vida de Calvino mudou completamente de umaforma imediata. Um ano ou dois mais tarde, ele escreveu a primeira edição da sua famosa obra, AsInstitutas. Esse foi o livro mais famoso em termos de teologia reformada que jamais havia sidopublicado. Calvino desenvolveu sua teologia bíblica durante toda a sua vida. A primeira edição dasInstitutas tinha apenas 6 capítulos, com cerca de 120 páginas. A última edição tinha 80 capítulos e1200 páginas.

Calvino deixou a França por causa de uma perseguição em potencial e foi para Basiléia naSuíça. No seu caminho a Basiléia, ele foi interceptado por Guilherme Farei. Farei persuadiuCalvmo a ficar com ele em Genebra para que juntos pudessem reformar a cidade. Eles trabalharamarduamente por três anos e foram rejeitados pelo povo de Genebra, pelo menos pela maioria dopovo e a maioria dos que compunham o Conselho da cidade. Assim, em 1538 ele foi banido dacidade de Genebra por decisão do Conselho daquela cidade. Foi para Estrasburgo onde passou osquatro anos mais silenciosos e quietos de toda sua vida. Lá foi pastor de uma igreja reformada. Em1541 foi chamado de volta a Genebra pela primeira vez. Naturalmente ele rejeitou esse chamado -mas insistiram. Ele escreveu dizendo que jamais voltaria a um lugar de tanta perseguição. Eles ochamaram pela terceira vez. Depois de muita luta Calvino aceitou e escreveu o seguinte: "Quandoconsidero que não estou debaixo da minha própria autoridade, eu quero oferecer o meu coraçãocomo uma vítima a ser morta em sacrifício para o Senhor".

Nos últimos 24 anos de sua vida Calvino trabalhou em Genebra. Os primeiros 15 anos deseu trabalho foram uma batalha contra seus inimigos. Lutou como quem luta contra um inimigoque vem colina abaixo, e ele lutava de baixo para cima. Somente nos últimos nove anos do seuministério a maioria do Conselho da cidade e o povo, estava ao seu lado. Calvino suportou muita

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perseguição. As pessoas jogavam armas e objetos dentro de sua casa e até colocavam o nomeCalvino em seus cachorros. Todavia ele perseverou com a graça de Deus. Foi nos últimos nove anosque a Reforma progrediu de uma forma notável. A Academia de Genebra foi estabelecida porCalvino com a ajuda de seu sucessor, Teodoro de Beza. Nos últimos nove anos da vida de Calvino,1600 jovens foram treinados para o ministério reformado. Muitos deles foram queimados vivos naFrança, mas outros foram espalhados pela Europa divulgando a fé reformada. Alguns deles, comoJohn Knox e Gasper Oliviana, se tornaram famosos.

Calvino trabalhou de forma dedicada e formou um movimento em Genebra que veio ainfluenciar toda a Europa. Ele trabalhou até o último dia da sua vida e com 55 anos de idademorreu. Certo estudioso e pesquisador analisou que 83 diferentes enfermidades estavam "minando"seu corpo. Esta afirmação é uma "cauda de raposa" muito comprida, deste pesquisador. Contudo, oponto é que Calvino, mesmo sofrendo grandes dores, perseverou até o fim. Ele disse àqueles queestavam ao redor do seu leito de morte: "Senhor, eu retenho a minha língua porque sei que isto vemde Ti. Eu estou chorando como um cão. Tu tens me moído e me transformado em pó, mas isto mebasta porque compreendo que é a Tua vontade. Quero oferecer-Te meu corpo e minha alma deforma pronta e sincera". Calvino fez apenas um pedido ao morrer: não colocarem nenhuma na suasepulura, porque dizia que não era digno e merecedor de nenhuma honra, de nenhuma glória. Assimviveu, assim morreu defendendo as doutrinas da graça soberana de Deus. Ele teve suas falhas comoqualquer um de nós. Teve seus erros, mas foi um homem de Deus, salvo pela graça de Cristo

Seu ensinoVejamos, em segundo lugar, seus ensinos sobre a evangelização. Façamos esta pergunta:

será que seus ensinos trazem aquela dinâmica interna que leva os seus leitores e seguidores àevangelização? Nossa resposta é "sim", e bastante. Em todos os seus ensinos Calvino enfatiza auniversalidade do reino de Cristo e a responsabilidade dos crentes em colocarem como alvo aexpansão deste reino. Calvino ensinou que a motivação para isso está no próprio Deus triúno. Todasas três pessoas da santíssima Trindade estão envolvidas na expansão do reino, assim ensinouCalvino. Ele disse: "O Pai, não apenas mandou a Sua vontade para uma parte da terra, mas tambémpara a outra extensão da terra". Sobre Jesus, escreveu que Jesus estende Sua graça sobre todos. Emum sermão sobre o Espírito Santo ele disse que este Espírito deseja alcançar até às extremidades daterra. Ele escreveu: "O triunfo de Cristo será manifesto em todos os lugares da terra". Como podeDeus estender o Seu reino maravilhoso em toda a extensão da terra? A resposta de Calvino conjugaa soberania de Deus e a responsabilidade humana. O trabalho de um evangelista, disse Calvino, é otrabalho de Deus e não do homem. Mas Deus derrama sobre Seu povo a honra e o privilégio deserem usados como o barro na mão do Oleiro. Dessa forma, Calvino chama o povo de Deus decooperadores com Ele. Calvino inclui no seu ensino sobre a soberania de Deus, os meios pelosquais Ele cumpre essa soberania. Esses meios seriam aqueles que crêem e que são usados paraexpansão do reino de Deus. Assim, no ensino de Calvino sobre a evangelização, o esforço humanonunca tem a última palavra, mas Deus Se agrada em usar seres humanos, simples, para levar o Seureino. Esta inter-relação entre soberania e a participação da responsabilidade humana tem pelomenos quatro inferências.

Em primeiro lugar, dizia Calvino, isso nos chama à oração. Ele disse que o cristão deve orare desejar que Deus reúna, em torno de Si mesmo, igrejas em toda a face da terra. Em segundo lugar,não devemos ficar desanimados pela falta de sinais visíveis de sucesso. Calvino escreve: "O nossoSenhor exercita a fé dos Seus filhos quando Ele não realiza imediatamente as coisas que prometeu.Se Deus passa um dia ou um ano sem proporcionar frutos, não devemos desistir, porém devemosorar mais e não duvidar que Ele está ouvindo a nossa voz, mesmo quando não vemos os frutos" .Em terceiro lugar, Calvino ensinava que devíamos trabalhar diligentemente pela extensão do reinode Cristo sabendo que, no Senhor, nosso trabalho não é vão. Podemos colocar isso de outra forma.A nossa salvação nos obriga a evangelizar. Calvino disse: "Não é suficiente, para qualquer homemocupar-se consigo mesmo. O nosso zelo deve ir além de nós mesmos e atrair outras pessoas aCristo. Precisamos atrair todos os homens à Pessoa de Jesus Cristo com todo nosso esforço". Será

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que isso não é uma indicação do tamanho da "cauda de raposa" do evangelista que era Calvino?Para Calvino, a evangelização não era uma coisa opcional, era parte de sermos cristãos. Em quartolugar, nesse relacionamento entre soberania e responsabilidade humana, Calvino mostra muitosmotivos pelos quais devemos evangelizar. Já consideramos algumas motivações no capítuloanterior, e vou, portanto, apenas relacionar estas sem fazer referência a todas as citações de Calvino,para sermos sucintos.

Nos seus sermões e comentários, Calvino apresenta sete motivos diferentes paraevangelizar:

1. Jesus nos mandou evangelizar.2. Devemos estar motivados pelo exemplo do próprio Deus como evangelista.3. O nosso desejo de manifestar a glória de Deus deve nos motivar a evangelizar.4. Já que o cristão valoriza aquilo que agrada a Deus, e evangelizar agrada a Deus, então

devemos evangelizar.5. É nossa responsabilidade e nosso dever evangelizar.6. Uma forte compaixão pela condição dos pecadores deve motivar-nos a evangelizar.7. Profundamente gratos a Deus pela alegria da nossa própria salvação, nós devemos

evangelizar em amor ao próximo.O cristão, diz Calvino, é aquele que diz assim: "Já que Deus pôde me salvar Ele pode salvar

a qualquer um na face da terra". Calvino disse: "Nada é mais incoerente com a natureza da fé doque aquela mortificação que leva a pessoa a desconsiderar seus semelhantes, e assim, de uma formaerrônea, guardar a luz e a graça de Cristo somente no seu peito". Portanto, Calvino ensinou que aevangelização é a tarefa de todo cristão. Assim, cada cristão deve trabalhar e buscar pecadores paraCristo; essa é a sua tarefa sacerdotal. Cada cristão deve instruir outros no caminho da salvação;essa é a sua tarefa profética. Cada cristão é chamado a discipular outros; essa é a sua tarefa real.Calvino, no entanto, pensou e ensinou que essa tarefa, que é sacerdotal, profética e real, épreferencialmente ligada àqueles que foram chamados e ordenados por Deus para o ministério.Calvino sempre desejou ligar a evangelização com a Igreja. Dessa forma, cristãos que ainda nãotinham conhecimento próprio, completo, não iriam evangelizar de forma correta, agindo como senão devessem prestar contas a ninguém e acabariam ensinando coisas erradas ao povo. O queCalvino jamais fez, foi pegar o novo convertido e dizer que ele estava por "conta própria", e quedevia partir para evangelizar. Esta alerta de Calvino tem feito com que ele receba um "rótulo", daparte de alguns, como se ele fosse contrário à evangelização. Calvino não era contra àevangelização, mas era contra à evangelização errada. Era contrário, por exemplo, à evangelizaçãoindividualista que pudesse levar a um caminho errôneo.

Aspectos práticosVejamos em terceiro lugar, os aspectos práticos de Calvino quanto à evangelização

reformada. Calvino operava a partir do seguinte princípio básico: onde quer que o Senhor abra umaporta, ainda que seja uma pequena brecha, precisamos ver a necessidade de atravessarmos estaabertura para levar a mensagem do Seu reino. Ele diz que não devemos rejeitar qualquer conviteque Deus nos faça. Se porventura Deus nos lança lá fora e fecha a porta, não devemos resistir a Suasoberania tentando abrir uma porta que foi trancada por Deus. Calvino não ensinaria, todavia, quedeveríamos simplesmente deixar de olhar as diferentes oportunidades e seguir aquelas que nósjulgamos ser as melhores. Ele estava simplesmente falando de situações, quando as portas estãocompletamente trancadas. Sem dúvida ele estava pensando, no fundo da sua mente, na suaexperiência em Genebra, quando foi expulso da cidade. Vejamos os quatro círculos onde Calvinoexercitou a sua evangelização. Assim como quando você joga uma pedra dentro de um rio e aspequenas ondas formam aqueles círculos concêntricos, da mesma forma Calvino operou em quatrocírculos concêntricos diferentes.

Círculos concêntricos - áreas de atuaçãoSendo um pastor, ele concentrou em primeiro lugar, o seu esforço evangelístico na sua

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própria congregação. A sua ênfase sobre a conversão como um processo contínuo na vida dapessoa o levou a ver a evangelização como um chamado constante na vida da igreja. ParaCalvino, a evangelização envolve não apenas chamar as pessoas a Jesus, mas também edificá-lasem Jesus. Desta maneira, Calvino foi um destacado evangelista para o seu próprio rebanho. Elepregou 170 vezes por ano. Ele pregava cada domingo de manhã do Velho Testamento e tododomingo, à noite, pregava do Novo Testamento. Nos domingos à tarde pregava dos Salmos. Elepregou ao rebanho de Genebra de forma expositiva, praticamente através de todos os livros daBíblia. Seu sermão, em média, tinha por base 4 a 5 versículos do Velho Testamento, ou 2 a 3 doNovo Testamento. Seu método consistia em pegar uma pequena parte de um versículo, fazer umpouco de exegese e exposição dela, e, então, fazer a aplicação com uma exortação ou um chamado àobediência. Nunca faltavam aplicações nos sermões de Calvino. Ele dizia que os pregadores deviamser como pais. Precisam pegar o pão grande e parti-lo em pedacinhos pequenos para alimentar assuas crianças. Ele trabalhou arduamente na prática da pregação. Mas também "trabalhou" a suacongregação para ensinar-lhe como ouvir um sermão. Ensinou o que eles deveriam buscar numapregação; ensinou em que espírito deveriam vir aos sermões; ensinou o que se esperava dos queestavam ouvindo a mensagem. Disse à sua congregação: "Vocês devem estar participando de formatão ativa no sermão, quanto o pregador mesmo". A sua participação precisa ser construída em cimado viver a mensagem na sua vida diária, quando você mostra o desejo de obedecer à vontade deDeus, sem nenhuma reserva. Quando Calvino falava à sua congregação, falava às pessoas comocrentes. Poucos estudiosos pensam que Calvino admitia que toda a sua congregação era formada depessoas já convertidas. Entretanto não era isso que Calvino acreditava. Quando estudei Calvino porum bom período, fiz uma lista de trinta vezes, nos seus comentários e nove vezes nas Institutas, dequão pouco eram aqueles que realmente tinham recebido e aceito a Palavra na sua própriacongregação. Eis uma citação sua: "Se um sermão é pregado para cem pessoas, mais ou menosvinte vão receber este sermão com fé obediente. O restante receberá o mesmo como se fosseuma coisa sem muito valor".

Calvino se dirigia à sua congregação como a pessoas já crentes porque ele exercitavaa caridade na sua avaliação. A availiação caridosa é que, enquanto o membro da igreja está vivendouma vida externamente reta e ouvindo o evangelho, o pastor não deve julgar essa pessoa de formanegativa, porque somente o Senhor pode olhar por dentro do coração. Gostaria que guardassem oseguinte. Calvino acreditava que a evangelização era evangelizar cada um do seu próprio rebanho eo alvo era edificar os crentes em uma vida cada vez mais santa. Tinha também o alvo deconvencer as consciências dos não regenerados, para que eles pudessem ver a sua culpa do pecado eser conduzidos à liberdade em Jesus Cristo como o único Redentor.

O segundo círculo de evangelização de Calvino, depois da congregação local, era a cidadede Genebra. A pregação foi parte do seu plano de estabelecer o sistema reformado em toda a cidade.No anoemqueelemorreuhaviaumsermãoemcadaigreja,emcada dia da semana. Ele estabeleceu oseu programa de igrejas espalhadaspor toda a cidade, organizando pelo menos três ministérios alémda pregação da Palavra. Um era o ofício de doutores, que era usado especialmente na Academia deGenebra, onde pastores eramtreinados. O outro ministério era o dos presbíteros, que estabeleciama disciplina cristã. O terceiro ministério era o diaconato, que tinha como alvo receber ofertas edistribuir o socorro aos pobres. Sob Calvino, Genebra se tornou um lugar seguro para o refúgio deprotestantes perseguidos em toda a Europa. Calvino estava absolutamente consciente de que omundo europeu estava olhando para Genebra. Ele escreveu a um dos seus amigos o seguinte: "Aminha oração por Genebra é que ela se torne um lugar de empatia em relação à divulgação doevangelho para todo o mundo". E foi exatamente o que aconteceu. Os homens que Calvino treinouforam para a França, Escócia, Inglaterra, Holanda, parte da Alemanha Ocidental, e algunssegmentos da Polônia, Checoslováquia e Hungria. A igreja de Genebra e a própria cidade deGenebra se tornaram mãe e modelo para todo o movimento reformado.

Em círculos mais amplos vemos os esforços missionários de Calvino na França e até mesmono Brasil. Seria fácil para Calvino treinar ministros apenas para a França e esperar que de outrolugar alguém mandasse missionários para outras partes dos mundo. Muitos daqueles que foram

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treinados em Genebra e voltaram à França foram mortos por causa da perseguição. Mas Calvinoperseverou em evangelizar a França apesar de todas as perseguições. Em 1555 havia apenas umaigreja realmente reformada na França. Sete anos mais tarde havia 1500 igrejas reformadasorganizadas na França. A tocha da evangelização reformada foi reacesa através do ministério deCalvino na França e tornou-se um dos exemplos notáveis de missões nacionais de toda a história daIgreja. Eventualmente a Igreja Reformada da França foi forçada a sair. A França chamou osrefugiados da perseguição religiosa de Huguenotes. Estes Huguenotes se espalharam por váriaspartes do mundo e se transformaram numa bênção de Deus onde quer que andaram. Calvino estevetambém envolvido no primeiro esforço missionário além-mar, numa missão que foi mandadaespecificamente para o Brasil. Um homem chamado de Villegaignon sendo um simpatizante domovimento Huguenote, trouxe uma expedição colonizadora em 1555. Quando surgiram algunsproblemas aqui na colônia, numa ilha perto do Rio de Janeiro, Villegaignon voltou-se para osHuguenotes na França pedindo que mandassem melhores colonizadores. Ele mandou uma carta aCalvino, à Igreja de Genebra, pedindo ajuda. Com a aprovação de Calvino, a companhia depastores de Genebra escolheu dois pastores para mandar ao Brasil, junto com onze leigos.Infelizmente o resultado final foi trágico. Villegaignon mudou seu pensamento em relação aCalvino e ao próprio movimento da Reforma.

Em 1558 ele estrangulou e jogou ao mar três desses calvinistas. Os que restaram foramdepois, atacados e destruídos pelos portugueses. Desse modo, essa missão de vida tão curta,terminou. Será que chegou mesmo ao fim? Quando a história dos mártires do Rio de Janeiro foipublicada pela primeira vez nos jornais da Europa, seis anos mais tarde, a sua introdução foi comas seguintes palavras: "É uma terra estranha, distante, e é de certa forma surpreendente para nós,saber que ali alguns mártires morreram. Mas nós veremos um dia os frutos que aquele sangue tãoprecioso produziu". Um dos pais da Igreja primitiva, Tertuliano, disse há tanto tempo atrás: "Osangue dos mátires é a sementeira da Igreja". A Igreja é comparada com a grama, quanto mais secorta, mais ela cresce. Nossa oração para todos os brasileiros é que vocês façam parte deste planode Deus.

ConclusõesQero fazer algumas observações:É muito claro que Calvino tinha o coração abundantemente voltado para a evangelização. A

idéia de que Calvino e o calvinismo não estão voltado para a evangelização e para a expansão doreino de Deus é um pensamento totalmente falso. De fato, percebemos que Calvino se tornouexatamente o oposto disso. A Doutrina da eleição leva à evangelização. Deus, soberanamente, liga aeleição aos meios da graça. Sendo assim, a eleição não é um estímulo à passividade, mas para aatividade.

2. A vida e ministério de Calvino precisam nos encorajar a manter as nossas mãos no aradoe a pensar menos no que os outros pensam a nosso respeito. Calvino trabalhava vinte horas por diapor causa da evangelização. Todavia não é isso o que as pessoas falam sobre ele. Afirmam que elenão era um evangelista. Se ele fosse vivo hoje certamente diria : "Não importa o que os homenspensam de mim, e sim, o que Deus pensa a meu respeito. Um dia eu comparecerei na presençade Deus, não na presença de homens". Isso não quer dizer que devemos passar por cima dosentimento das pessoas, pois devemos trabalhar para que tenhamos uma consciência boa e claradiante dos homens e diante de Deus. Mas nós não vamos cair nessa idéia de evangelizar pensandono que as pessoas pensam sobre a nossa evangelização. O que devemos fazer é olhar para Deus eperguntar o que Ele pensa sobre o que estamos fazendo.

Não conheço bem o que os brasileiros fazem em termos de evangelização, porém sei quevocês não são responsáveis pelos resultados da sua evangelização. Vocês são responsáveis pelamensagem e pelos métodos que usam. Esperem em Deus e em Sua graça soberana na produção dosfrutos, dos resultados. Na China há um bambuzeiro que não cresce nos primeiros quatro anos,mesmo que você cuide bem dele. Contudo, quando no quinto ano ele começa a brotar, em noventadias fica com cinco a seis metros de altura. Você diria que esta árvore cresceu em noventa dias ou

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que ela cresceu potencialmente nos cinco anos? Trabalhem, esperem em Deus, lancem a semente eesperem no Senhor. Os tempos hoje são às vezes desencoraj adores, mas houve tempos maisdesencorajadores antes. Às vezes ficamos prevendo a ruína da Igreja, no entanto o que devemosfazer é planejar a renovação da Igreja. John Flavel, um grande puritano, disse: "Não sepultem aIgreja antes que ela esteja morta". Espero que vocês possam suportar firmes como bons soldados deCristo, estando prontos para serem chamados de loucos por amor a Cristo. Deixem que as suasvidas falem mais alto do que dizem ou pregam. Que Deus nos ajude a sermos verdadeirosevangelistas.

3A Tocha da Evangelização Levada pelos Puritanos

A Mensagem da Evangelização Puritana

A preocupação evangelística puritanaQuais os métodos que os puritanos usaram para comunicar a sua mensagem? Qual a

disposição interior do evangelista puritano?Ao analisarmos a mensagem da evangelização puritana, procuraremos cobrir pelo menos

quatro características e, assim fazendo, procuraremos contrastar a evangelização puritano com aevangelização moderna.

Antes disso, quero, de forma sumária, definir o que entendo por puritano. Estou usando apalavra "puritano" no sentido geral da palavra, que inclui aqueles piedosos ministros e teólogosingleses do século XVI e XVII, que estavam preocupados com uma vida pura de acordo com asdoutrinas da graça soberana de Deus. Eles estavam preocupados com as seguintes áreas:

1. Com a manutenção do ensino das Escrituras e do pensamento reformado sadio.2. Com a necessidade de desenvolver um padrão pessoal de piedade, conforme as

prescrições das Escrituras, que flui do correto entendimento de doutrina, e que dá ênfase àconversão pessoal e se manifesta numa religião experimental resultante do poder transformador doEspírito Santo.

3. Com a necessidade de uma vida eclesiástica baseada nas Escrituras, onde o Deus triúno éadorado conforme as determinações de Sua Palavra.

Quando me refiro à evangelização puritana estou focalizando a proclamação que eraefetivada pelos puritanos de todo o conselho de Deus como revelado em Sua Palavra. Percebe-seque a palavra Escritura está presente e inferida nos três itens. Por isso queremos considerar quatrocaracterísticas bem abrangentes da pregação puritana. Dentro de cada característica veremos ocontraste com a evangelização moderna.

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Característica da pregação puritana - contraste com a evangelização modernaEm primeiro lugar, os puritanos, por serem profundamente embasados nas Escrituras

Sagradas, apresentavam sermões extensamente baseados nas Escrituras. Para o puritano, osermão nunca estava só ligado às Escrituras, mas ele saía e crescia de dentro da Palavra de Deus.Para o pregador puritano o texto não estava no sermão, mas o sermão estava no texto. Por isso, umvelho membro de uma igreja puritana poderia dizer: "Ouvir um sermão, para mim, é como estardentro da Bíblia".

Se você abrir um livro de sermões puritanos, encontrará de dez a quinze versículos citadosem cada página, além de encontrar dez a doze referências textuais. Os pastores puritanos sabiamcomo usar suas Bíblias. Eles viviam e respiravam os textos da Palavra de Deus. Eles tinhamcentenas e até milhares de textos das Escrituras memorizados e sabiam como citá-los para osproblemas da alma ou para qualquer outro problema pessoal. Eles usavam as Escrituras de formasábia, não passando por elas de forma superficial, porém trazendo o texto e fazendo-o permanecerde acordo com a doutrina que estava sendo enfocada. Os sermões evangelísticos de hoje muitasvezes são perturbadores, não porque não citem as Escrituras, mas porque o fazem de modorepetitivo, superficial. Quando alguém saía da igreja, após um sermão puritano, nunca esquecia otexto que fora usado, pois aquele texto lhe fora colocado inteiramente aberto, tendo sido levado atéo seu coração.

Hoje, na evangelização moderna, temos toda razão para ficarmos perturbados quandotestemunhamos que há uma seleção muito pequena dos textos bíblicos utilizados, além de textosque são tirados do seu contexto bíblico. Nós pregadores sabemos que podemos citar uma porção detextos sem estarmos sendo bíblicos nestas citações. Uma seqüência de textos intercalados poranedotas não faz, de maneira alguma, com que um sermão seja bíblico em si.

Os puritanos acreditavam fortemente em Sola Scriptura. Você pode procurar nos seusescritos e sermões, qualquer história ou referência pessoal e não as encontrará. Pelo fato depensarem que o púlpito era um lugar de grande importância, este não podia ser degenerado comuma pregação egocêntrica. Eles sabiam que só uma coisa pode salvar pecadores: o Espírito Santoligando-Se à semente incorruptível da Palavra de Deus. Por isso a tarefa deles era exatamente expora Palavra de Deus incorruptível, orando para que o Espírito a aplicasse aos corações dos ouvintes.Se estamos convencidos de que conhecemos bem as nossas Bíblias e abrirmos um livro puritano,logo ficaremos muito humilhados. Eles foram gigantes espirituais nas Escrituras e nós somos anões,pigmeus perante eles. Por isso é muito importante lermos os puritanos. Eles são nossos mentorespara nos ensinar como usar a Bíblia de uma forma pastoral, evangelística e na nossa pregação. Vocêsem dúvida seria um evangelista mais sábio e útil se buscasse mais as Escrituras como faziam ospuritanos. Ame a Palavra de Deus de maneira mais calorosa. Pesquise a Palavra de Deus em suasdevoções pessoais. Busque a bênção de pensar biblicamente, de falar biblicamente, viverbiblicamente e perceberá que sua palavra contém uma autoridade divina. Você não precisarápersuadir as pessoas pela sua personalidade ou por você mesmo, mas a Palavra de Deus é que vaipersuadi-las. A Palavra quando exposta, passo a passo, abre as Escrituras perante nós. Esse é oprimeiro ponto da pregação puritana. Eram profundamente bíblicos.

Em segundo lugar, o pregador puritano era doutrinador. A mensagem puritana não pediadesculpas por apresentar doutrina. O puritano não temia pregar todo o conselho de Deus para opovo. Os puritanos achavam que você não podia contar uma história qualquer, sem que esta tivessedoutrina. Doutrina é simplesmente a apresentação das verdades de Deus trazidas das Escriturasnuma forma que pode ser entendida e que se relaciona com as nossas vidas. Não diluíam suasmensagens com anedotas, humor, histórias triviais e levianas durante a pregação. Eramprofundamente sérios, verdadeiros e austeros no púlpito, pois sabiam que ao chegar ali estariamlidando com verdades eternas e almas eternas. Sentiam a realidade solene do seu chamado divino.Pregavam a verdade de Deus como um homem que está morrendo para homens que estãomorrendo.

Vejamos alguns exemplos:

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1. Quando pregavam a doutrina do pecado tinham a coragem de chamar pecado de pecadomesmo. Eles pregavam o pecado como uma rebelião moral contra Deus, uma rebelião que traz umsentimento de culpa e, se não houver arrependimento e perdão, a conseqüência será a condenaçãoeterna certamente. Pregavam a respeito de pecados específicos; pecados de omissão e pecados decomissão; pecados por palavras e ações; falavam do quanto foi horroroso o nosso pecado originalem Adão e Eva; falavam à congregação que eles tinham um referencial muito ruim e um coraçãomal por natureza; que o homem natural não pode amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximocomo a si mesmo; ensinavam de forma "aberta" que uma reforma, apenas externa na nossa vida,não é suficiente para salvação eterna; a reforma interna produzida pelo Espírito Santo éabsolutamente necessária e por isso pregavam como aquela regeneração podia ser experimentada eentão vivida.

2. Outro exemplo se vê na sua pregação. Pregavam de uma maneira muito forte adoutrina de Deus. A evangelização deles era construída em cima de forte base teísta; pregavamDeus no Seu ser majestoso e em todos os Seus atributos gloriosos. Não só deixavam Deus ser Deus,mas declaravam que Deus é Deus. Os puritanos colocavam Deus em uma posição bem elevada -como deve ser. Quando se aproximavam de Deus em oração não falavam com Ele como quem falacom o vizinho pela janela, ou como um vizinho que pode ajustar seus atributos de acordo com suasnecessidades e desejos pessoais. O puritano sempre exaltou a majestade de Deus e, quando seaproximava de Deus, você podia perceber aquele sentimento profundo de reverência. O Deus que opuritano pregava era o Deus da Bíblia. Talvez um dos versículos mais importantes, na Bíblia, paraum puritano, seria exatamente Gênesis 1:1 - "No princípio, Deus". E de Deus que emanam e sedesdobram todas as coisas neste mundo. Todas as coisas são preparadas, iniciadas,projetadas efeitas para a glória de Deus!

3. A evangelização puritano também proclamava de forma completa e plena a doutrinade Jesus Cristo. Pregavam o Cristo integral para o homem integral. Recusavam-se em separar osbenefícios que advêm de Cristo, da própria Pessoa de Cristo. Um dos grandes puritanos, JosephAlleine, em seu clássico livro originalmente intitulado, An Alarm to the Unconverted (Publicado noBrasil pela PES, como Um Guia Seguro para o Céu), disse que o ser de Cristo integral é aceito poraquele que é realmente convertido. Os verdadeiros convertidos não aceitam apenas as recompensasde Cristo, mas a própria obra de Cristo. Não amam apenas os benefícios de Cristo, e sim também o"fardo" de Cristo ("...tomai sobre vós o meu jugo..."). Amam não só tomar os mandamentos, mastambém, a cruz de Cristo. Por outro lado, o falso convertido recebe Cristo pela "metade". Ele queros privilégios de Cristo, porém não quer se inclinar diante do senhorio de Cristo. Ele divide osofícios de Cristo e os benefícios de Cristo. Esse é o problema dos "crentes" de hoje.

Freqüentemente Jesus tem sido apresentado na evangelização de hoje como alguém que estáaí para satisfazer todas as necessidades e desejos dos homens. Na pregação de hoje, Jesus éapresentado como alguém que não exige que o homem ofereça o seu coração completo e a sua vidacompleta. Quando os puritanos pregavam, instavam com os pecadores a se voltarem para Jesus eavisavam que eles precisavam avaliar o preço de seguir a Jesus, e o preço era perder a sua vida;morrer diariamente por amor a Cristo, negar-se a si mesmo, tomar a cruz e segui-lO. Os puritanostinham horror àquilo que hoje é chamada "a graça barata", porque, na verdade, essa não é umagraça verdadeira. Graça barata significa que eu aceito Jesus na minha própria força; Ele reforma umpouco a minha vida por fora, porém eu continuo agindo com os princípios egocêntricos no meu serinterior. A graça barata me leva a pensar que, por um lado, eu tenho a Jesus, que estou a caminhopara o céu, mas, por outro lado me permite continuar vivendo uma vida mundana. Na verdade, euestou mesmo no meu caminho para o inferno. Os puritanos apresentavam Jesus como um Salvadorcompleto para um pecador completo. Um puritano disse: "O pregador que é o seu melhor amigo, éaquele que vai dizer mais verdades sobre você mesmo". Eles não estavam preocupados em causardano ao amor próprio dos ouvintes das suas congregações. Eles estavam mais preocupados comCristo do que com os ouvintes. Estavam preocupados com a Trindade. O cristão encontra o seu

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amor próprio a medida que ele ama ao Pai que o criou, ao Filho que o restaurou através da cruz, eno amor ao Espírito Santo que mora nele e que faz com que sua alma e seu corpo sejam templo doEspírito Santo.

4. A doutrina puritana expandia e explanava com detalhes a doutrina da santificação. Avida inteira do crente era para ser colocada aos pés de Deus. Ele tinha que trilhar a vereda do Rei nocaminho da justiça. Ele precisava conhecer a vida de uma forma experimental. Precisava conheceressas "irmãs siamesas" que são, a vida e a experiência. Quando o ministro prega sobre santificação,você precisa saber o que está sendo requerido de sua parte. Você não pode entender estas coisassem doutrina e isso nos traz à terceira característica da pregação dos puritanos.

Em terceiro lugar, destacamos que a pregação puritana era experimentalmente prática.A ausência de uma pregação experimental e prática é uma das grandes falhas no culto e naevangelização de hoje. O que significa uma pregação experimental? A palavra experimental vem dapalavra experiência. Em termos de cristianismo, a religião experimental significa que a Palavra deDeus e suas doutrinas precisam ser recebidas não apenas na mente (os puritanos chamavam isso deconhecimento na cabeça, apenas), mas também precisam ser experimentadas e vividas no coração.Isso eles chamavam de "conhecimento do coração". Eles baseavam este tipo de ensinamento, porexemplo, em Provérbios 4:23: "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porquedele procedem as fontes da vida".

Para os puritanos os pensamentos precisam fluir das Escrituras e as experiências do coração,fluem do ensino da doutrina e das Escrituras. Dessa forma, experiência não é alguma coisa mística,separada da Bíblia. Isso eles rejeitavam totalmente! Ao mesmo tempo, eles também rejeitavamcompletamente o tipo de religião que se satisfaz com o conhecimento apenas na cabeça, que é sóracional. Estas doutrinas sobre as quais falamos resumidamente, a doutrina de Deus, de Cristo e dopecado, para os puritanos deviam ser tão reais quanto as cadeiras em que sentamos. Estas doutrinasprecisam ser transformadas numa realidade que queime dentro de minha alma. Elas precisaminfluenciar toda a minha vida, todo o meu estilo de vida. Dessa forma, os puritanos acreditavam emviver, na prática, o que eles experimentavam. Sempre eles traziam suas experiências às Escrituraspara terem a certeza de que estavam sendo totalmente bíblicos - até nas suas experiências. Para ospuritanos doutrina seria algo vazio se não fosse acompanhada pela experiência. Toda experiênciaverdadeira leva a uma experiência pessoal com Cristo. Por isso é necessária a pregação da Pessoade Cristo e esta pregação será honrada pelo Espírito Santo, porque Ele toma estas coisas e as aplicaaos pecadores.

Os puritanos, na sua pregação, incluíam o que chamavam de "marcas de um auto exame".Estas marcas de exame eram os sinais que distinguiam a Igreja do mundo. Distinguiam osverdadeiros crentes daqueles que eram crentes nominais ou apenas por professarem a fé. Ospuritanos faziam distinção entre fé salvadora e fé temporária. Muitos livros têm sido escritos arespeito deste assunto. O mais famoso deles foi escrito por Jonathan Edwards: Afeições Religiosas.Também o livro de João Bunyan, O Peregrino, contém tais marcas. O que nós hoje,desesperadamente precisamos, é de uma volta a este estilo de evangelização reformado-puritanoque sempre está pesquisando e sondando o coração. Os puritanos nunca diziam de uma forma"leviana" que os pecados do povo estavam perdoados, mas pregavam de forma profunda o querealmente o pecado é e como ele tem afetado as pessoas. Eles procuravam tirar do pecador todo oseu sentimento de justiça própria para, então, levá-lo ao Senhor Jesus Cristo.

Alguém disse que a religião da América, hoje, tem 2.000 km de comprimento por 3.500 Kmde largura (essas são as dimensões do país), mas com uma profundidade de mais ou menos 12centímetros, apenas! O problema, em todos os lugares no mundo, hoje, é que a evangelizaçãofreqüentemente começa num lugar errado. Poderíamos dizer muitas coisas sobre as diferenças entrea evangelização moderna e a puritana, em relação à experiência do povo de Deus. Pois bem, queroapenas destacar um ponto e este é a resposta a uma pergunta: quando olhamos atrás para a históriada Igreja, e também na história bíblica, observando as épocas de avivamento verdadeiro, nãoproduzido pelo homem, qual era o elemento evidente naquela época que hoje está claramente

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ausente? Respondemos sem hesitação que é a ausência de profunda convicção de pecado. Este é umgrande problema nos nossos dias.

Convicção de pecadoHoje há muito pouca convicção de pecado entre os não salvos. A maioria dos chamados

"cristãos" contemporâneos, vive de maneira tão descuidada em sua vida, que é muito difícil alguémdiferenciá -los de homens não convertidos. O problema é que freqüentemente o pecado não épregado como pecado para as pessoas; o horror do pecado não é enfatizado às pessoas. Isso nos levaa uma pergunta ainda mais profunda: por que as épocas de avivamento realizado pelo Espírito Santoforam períodos de profunda convicção de pecado? A resposta é que o Espírito Santo, como Jesusnos diz, vem para convencer do pecado, da justiça e do juízo. Assim, o convencimento do pecado éo caminho pelo qual Deus age para abrir espaço no coração do pecador. Quando o homem vê arealidade de Deus e a realidade do pecado contra Deus, ele se humilha até o pó. Só então, ele vaiapreciar o que aquele Deus-homem, Jesus Cristo, fez por nós pecadores. Foi o que aconteceu comIsaías quando ele chegou à presença de Deus: "Ai de mim porque sou um homem de lábiosimpuros..." O mesmo aconteceu com Jó ao chegar à presença de Deus. Por cerca de quarentacapítulos no livro de Jó ele estava mais ou menos se defendendo, estava lutando para entender o queDeus havia feito com ele. Mas ao se sentir na presença de Deus, o Senhor Se tornou tão grande e Jótornou-se tão pequeno, que perdeu todas as suas defesas. Então Jó falou: "Eu te conhecia só deouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza"(Jó 42:5-6). Ele já havia ouvido falar de Deus antes, porém agora ele "viu a Deus", pela fé e perdeutudo que estava do seu lado e se lançou como um pobre pecador, tão somente na misericórdia deDeus. É isso que está faltando na evangelização moderna. Não se vêem pecadores chegando até acruz e clamando como aquele publicano que disse em sua oração: "Ó Deus, tem misericórdia demim pecador".

Vocês vêem o que é realmente o pecado, e quem é Deus? Se assim acontecer seremoslevados à cruz e, quando experimentarmos pela fé a beleza e plenitude de Cristo na cruz, nãoprecisaremos de nenhuma explicação da parte de Deus por aquilo que Ele está fazendo em nossavida. Nós nos inclinamos diante dEle e dizemos que seja feita a Sua vontade. Deus nunca explicou aJó por que Ele fez tudo aquilo com sua vida. Entretanto, veio de Deus o poder para que Jó fossejusto aos Seus olhos.

AvivamentoIsso nos leva a outra questão. Se a falta de convicção de pecado é um problema tão sério,

como pode esse tipo de convicção ser restaurado à Igreja hoje? Novamente aqui a história da Igrejanos dá uma resposta muito clara. O Espírito Santo encontra um homem caído, quebrantado; estehomem chega diante da cruz e encontra a plenitude da salvação em Cristo Jesus, e o Espírito enviaesse tipo de homem para pregar o pecado e a conversão aos outros. Em outras palavras, Deus estálevantando homens que sejam santos, que sejam humildes, homens de oração para usá-los; homensque odeiam o pecado e que amem a Deus; homens que estejam tremendamente convictos danecessidade da salvação de almas; homens que estejam orando sempre por um avivamento bíblico,um avivamento do Espírito Santo. Deus usa este tipo de homem para trazer avivamento. Lembrem-se que o avivamento começa com uma convicção experimental de pecado.

ArrependimentoIsso nos leva a outra questão. Quando Deus Se agrada em levantar esse tipo de homem, será

que alguma coisa específica em sua pregação tem conexão com a convicção de pecado? Creio que aresposta é sim! É esse tipo de homem, que de forma incisiva, se dirige à convicção da consciência,de uma forma bem aguçada. Eles mostram aos pecadores de forma clara a necessidade dearrependimento e o Espírito Santo Se agrada em honrar e abençoar a Sua Palavra quando estehomem prega de forma convincente. O que aconteceu com João Batista quando ele começou apregar com convicção? Os homens começaram a fugir da ira vindoura. O que aconteceu quando

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Pedro pregou com profunda convicção no dia de Pentecoste? O Espírito Santo desceu sobre os queouviam a sua palavra.

Evangelização modernaPor isso minha tese é: a evangelização moderna está se levantando como um obstáculo

frontal, com raras exceções, à verdadeira convicção de pecado, ao arrependimento e ao verdadeiroavivamento. A evangelização moderna tem uma visão superficial de pecado; fala tão pouco de umassunto que a Bíblia tanto menciona. Por que a evangelização moderna fala tão pouco a respeito dopecado? A evangelização moderna tem medo de falar às pessoas as verdades a respeito delasmesmas; tem medo de perdê-las. Ensina que nós não devemos ofender as pessoas, e sim, sempreconquistá -las. A razão humana diz que não vamos ganhar as pessoas se lhes falarmos do pecado. Aevangelização moderna não nega que o homem esteja morto nos seus delitos e pecados; não negaque a Bíblia diz em Romanos 8:7, que a mente carnal está em inimizade contra Deus; não nega queestá escrito em 1 Coríntios, capítulo 2, que o homem natural não aceita, não compreende as coisasde Deus, mas a evangelização moderna diz que textos assim são apenas afirmações doutrinárias.Diz que esses textos são relevantes para os crentes, todavia não seriam relevantes para os nãosalvos. Dizem: "Como podemos ganhar as pessoas se dissermos que elas não podem se salvar a sipróprias?" Concluem, assim, que qualquer ensino que retira da mente dos ouvintes a capacidade deresponder imediatamente ao evangelho, na verdade é alguma coisa que impede a evangelização.

Dessa forma fazem do cristianismo alguma coisa bem simples e fácil. Dizem: "aceite aJesus hoje, é simples, não precisa se preocupar com seus pecados, Ele já lhe perdoou. " Mas elesnão somam aí o que é que significa realmente ser perdoado e quais os frutos de uma vidaverdadeiramente perdoada. Por isso, a evangelização moderna produz cristãos muito superficiais,com uma religiosidade de apenas "12 centímetros" de profundidade. O pastor batista, Erroll Hulse,trabalhou certa vez em uma cruzada evangelística de massa com o Dr. Billy Graham e logo após,teve de escrever um livro intitulado, O Dilema do Pastor, onde esclarece que menos de cinco porcento dos que vinham à frente, no apelo, mostravam frutos subseqüentes em suas vidas. Se formoscomparar por um momento, tudo isso, com o ministério do puritano Richard Baxter, que teve 600pessoas convertidas na pequenina cidade de Kidderminster onde foi pastor, fazendo-o dizer no fimde sua vida que ele não sabia de nenhum que tivesse caído ao longo do caminho, perceberemos quehá uma grande diferença. Há uma diferença entre uma pregação superficial a respeito de Jesus e queignora o pecado, e uma pregação que diz ao pecador que ele não vai saber valorizar a Jesusenquanto não souber claramente o que é pecado. A evangelização moderna põe toda a pressão emcima da vontade do pecador e o pecador precisa tomar uma decisão imediata. Um ato de decisãofeito pelo homem usurpa o papel do Espírito Santo em salvar pecadores.

Evangelização puritanaA evangelização puritana tem uma mensagem bem mais ampla sobre o que é o evangelho. O

dever da fé é enfatizado, mas outros deveres também são ressaltados. Os evangelistas puritanos vãodizer aos seus ouvintes, não salvos, que eles precisam se arrepender, precisam parar de fazer o mal,precisam ser santos como Deus é santo, precisam amar a Deus de todo o coração e precisam entrarpela porta estreita. Tudo isso é enfatizado na evangelização puritana. Noutras palavras,aevangelização puritana apresenta a Bíblia como um todo para confrontar o incrédulo. Contudo,sejamos cuidadosos aqui. Eles não pregavam que o incrédulo tinha capacidade de fazer estas coisas,mas pregavam a seus ouvintes as exigências das Escrituras, sabendo que o Espírito Santo é quemfaz tudo isso para mostrar aos pecadores que eles não podem cumpri-las por sua própria força.

O alvo do puritano era levar a alma não sal va a uma encruzilhada, quando duas estradas secruzam. Uma dessas estradas poderia ser chamada a estrada da necessidade e o pecador realmenteconvencido diria: "Eu preciso ser salvo, salvação é minha necessidade!" A outra estrada poderia serchamada a estrada da impossibilidade. O pecador diria: "Eu não posso ser salvo; eu não consigo sersanto como Deus é santo; não posso ir a Jesus e me dobrar diante dEle por minha própria força".Qual era o alvo do puritano? Era o de levar o pecador a esta encruzilhada e ao chegar lá descobrir

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que precisa ser salvo mas não pode. Dessa forma ele vai clamar ao Deus todo-poderoso: "Faze pormim ó Senhor, o que eu não posso fazer por mim mesmo!". É isso que Paulo faz nos capítulos 1,2 e3 de Romanos; o mesmo fez João Batista quando pregava assim: "Arrependei-vos porque o reino deDeus está próximo". João Batista não começou dizendo: "Eis o Cordeiro de Deus...", porémcomeçou dizendo "arrependei-vos". Quando Jesus começou Seu ministério pastoral, Ele não disse"tome uma decisão por mim", mas também começou dizendo "arrependei-vos porque o reino deDeus é chegado". Como foi que Jesus evangelizou Nicodemus?Ele disse: "você precisa nascer denovo". Como Jesus evangelizou o jovem rico? Ele disse: "Guarde os mandamentos". Por que Jesuslhe disse isso? Ele sabia que o jovem não podia guardar todos os mandamentos no seu coração.Jesus estava colocando como alvo a convicção de pecado.

Os puritanos não faziam na sua evangelização nada que os apóstolos e o próprio SenhorJesus não fizesse. Eles pregavam a lei para que os pecadores se sentissem culpados perante Deus eaí pregavam Cristo, não um Cristo de 12 centímetros de profundidade, e sim, Cristo completo naSua altitude, na Sua amplitude e na Sua profundidade. Pregavam Cristo destacando Seus ofícios,Seus nomes e Seus títulos. Pregavam Sua natureza e Sua Pessoa,pregavam-no plenamente. Isso nosleva a uma conclusão: o que nós estamos precisando desesperadamente é de uma evangelizaçãocentralizada em Deus; uma evangelização centralizada na mensagem; centralizada na Bíblia; nãouma evangelização feita pelo homem, mas uma evangelização onde o Espírito Santo está agindo naPalavra e por meio dela. Para este fim você e eu, como evangelistas, nós mesmos fomos restauradospara um relacionamento mais vital e íntimo com Deus por Jesus Cristo. O que nós precisamosdesesperadamente é de carregadores da tocha, homens e mulheres que estejam em chamas porDeus. Não de homens que estejam em fogo por ensinos não bíblicos, mas de homens inflamadospelo ensino da Palavra de Deus - sim, de homens cheios daquele temor filial a Deus. Você jápercebeu que todas as vezes que Paulo fala a pastores e presbíteros para dar-lhes algum conselho elesempre diz, "Tem cuidado de ti mesmo e depois do rebanho"?

ConclusãoQuerido irmão, se você não odiar o pecado, se você não amar a Deus, se não estiver cheio

do poder de Cristo, não deve ficar surpreso de seu ministério ser tão infrutífero. Se as pessoasperceberem que viver religiosamente não é viver a realidade da nossa vida, elas vão ser levadas adesobedecer as nossas mensagens. Um dos nossos grandes problemas hoje é que a nossa própriacasa não está em ordem. Que Deus nos leve a conhecê-lo de uma forma íntima e pessoal, seguindo-0 de forma incondicional e pregando todo o conselho de Deus.

Queridos amigos, o tempo está curto, muito cedo vamos pregar nosso último sermão, fazer anossa última oração, participar da nossa última conferência, e a única coisa que realmente vai contaré a seguinte: conhecemos realmente a Deus e a Jesus Cristo a quem Ele levou assunto aos céus?Que Deus nos faça portadores da tocha da evangelização puritana em nossa geração.

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4A Tocha da Evangelização Levada pelos Puritanos

O Método da Evangelização Puritana e A Disposição Interna do Coração

Raízes da evangelização modernaA fim de compreendermos estes dois pensamentos (o método da evangelização Puritana e a

disposição interna do coração) precisamos contrastá-los com a evangelização moderna. Só assimpoderemos apreciar o aspecto característico da evangelização puritana. Para isso vamos voltar umpouco ao século XIX para considerarmos as raízes da evangelização moderna.

A evangelização moderna tem as suas raízes nos anos 1820 sob a liderança de CharlesFinney, que freqüentemente é chamado de "o pai" da evangelização moderna. Finney foi criado emNova Iorque e tinha o grau de advogado. Começou sua prática como advogado nos anos de 1820em Nova Iorque. No ano seguinte teve uma experiência religiosa muito profunda e isso oinfluenciou para que deixasse seu escritório de advocacia e se dedicasse inteiramente ao ministério.Foi ordenado pastor presbiteriano em 1824 e por 8 anos liderou eventos e reuniões de avivamentono leste dos E.U.A. Por quatro anos trabalhou como pastor em Nova Iorque e nos últimos quarentaanos de sua vida foi professor na Universidade de Oberlin no estado de Ohio. Através dessasdécadas ele continuou fazendo reuniões de avivamento. Ele inventou aquilo que se chama de "novasmedidas" para avivamento que incluem: (a) reuniões com muita emoção e (b) o banco dos"ansiosos". Eram reuniões evangelísticas caracterizadas por uma atividade intensa, que duravamdois ou três dias e nos quais Finney pregava duas vezes ao dia. O banco dos "ansiosos" era oprimeiro banco da igreja que era deixado vazio para que as pessoas ansiosas pudessem vir e seassentar ali, recebendo uma ministração individual. No final dos seus sermões Finney diria: "Aquiestá o banco dos "ansiosos", se vocês estiverem do lado do Senhor, venham à frente." Hoje aevangelização de massa, é um desenvolvimento das chamadas "novas medidas" dos avivamentos deFinney.

Em suas campanhas evangelísticas, Billy Graham apresenta um estilo polido destas cruzadasfeitas por Finney. Essas chamadas ao altar para que as pessoas venham à frente e confessem JesusCristo, é uma versão moderna do banco dos "ansiosos". Hoje nós estamos tão acostumados com este

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estilo de evangelização moderna, que dificilmente percebemos que é uma inovação na história daIgreja. Com freqüência nos esquecemos de quão distante está da evangelização bíblica. TantoFinney, quanto a evangelização moderna, cometeram alguns erros básicos em diferentes aspectosdas Escrituras. Vamos mencionar quatro áreas em que se afastaram dos princípios bíblicos.

Deficiências da evangelização moderna

1. Aceitação do pelagianismo. Embora certos elementos calvinistas estejam presentes, aevangelização moderna, seguindo a teologia de Fnney, é essencialmente arminiana na suaapresentação do evangelho. Finney era confessadamente um pelagiano (Pelágio foi um herege doséculo IV que sofreu dura oposição de Agostinho). Ele negava que o homem caído fosse incapaz dese arrepender. Dizia que cada pessoa tem a liberdade e a vontade livre de arrepender-se e voltar-separa Deus; que cada pecador pode resistir ao chamado do Espírito Santo, e que este Espírito apenasapresenta-lhe razões pelas quais ele deve ir a Deus. O pecador, entretanto, é livre para aceitar ourejeitar as razões apresentadas. Dessa forma, em última análise, a salvação não é uma obra de Deus,é realmente um trabalho do próprio homem. Finney escreveu o seguinte: "Pecadores vão para oinferno apesar de Deus". Finney negou os cinco pontos do calvinismo, e não subscreveu osensinamentos de Jesus de que o homem precisa nascer de novo, nascer do alto, doutra forma ele nãopode entrar no reino de Deus.

2. Finney e a evangelização moderna colocam uma pressão indevida sobre a vontadehumana. Se a vontade humana, pecadora, é livre, segundo os evangelistas semipelagianos afirmam,apregação é reduzida simplesmente a uma batalha entre a vontade dos ouvintes e a vontade dopregador. O resultado disso é que todos os meios que o pregador puder usar para persuadir os seusouvintes a aceitar a Cristo, acabam se tornando lícitos, mesmo que sejam baseados num excesso deemocionalismo do auditório. O alvo principal nestes casos é mover a vontade do homem, e levá-lo afazer uma decisão imediata. O contrário disso, vemos no ensino de João 1:13: "... os quais nãonasceram do sangue nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus."

3. Finney e a evangelização moderna reduzem o processo de conversão a um espaço curtode tempo. Isso não é bíblico! A Bíblia apresenta a conversão como sendo um processo por vezesdemorado. Entretanto, para a evangelização moderna, a conversão é um processo de mais ou menosdez minutos. Recentemente foi escrito um livro sobre evangelização que faz com que o evangelistacaia em profundo sentimento de culpa, se demorar mais de dez minutos para converter alguém.Chegamos a conclusão que, para muitos evangelistas modernos, a salvação não é mais aqueletrabalho miraculoso, soberano e misterioso do Espírito Santo de Deus, e sim, o trabalho calculávelda ação do homem. Isso é contrário ao que lemos em João 3:8: "O vento sopra onde quer, ouves asua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito ".O que realmente tem acontecido nos últimos 175 anos, é o seguinte: Finney e a evangelizaçãomoderna perderam o sentido de conversão bíblica; perderam o conceito de conversão como umaobra miraculosa; perderam o sentimento daquela dependência total do homem em Deus, na suaconversão.

4. Grande parte dos resultados da evangelização moderna é questionável. Diversosestudos têm provado que a evangelização de massa, utilizado em grande parte nas cruzadas, em queo próprio homem decide a sua salvação, leva, finalmente, a um cristianismo muito superficial, quequase não dá fruto. Isso não quer dizer que não existam certos indivíduos a quem Deus realmenteconverteu em tais tipos de reuniões. A Bíblia diz que Deus pode fazer com que uma vara torta setorne reta. Entretanto, esse fato não nos isenta da responsabilidade em apresentar aos nossosouvintes uma evangelização bíblico e saudável, uma evangelização que tenha uma profundidademaior, uma evangelização que começa, centraliza-se e termina em Deus. É isso que descobrimosquando nos voltamos para o método dos puritanos.

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Estilo direto de pregarQuando nos referimos aos métodos da evangelização puritana, não estamos dizendo que

devemos copiar cada detalhe dos puritanos. Muito da linguagem dos puritanos, por exemplo, estáfora de época. Ainda assim os seus métodos têm muito para nos ensinar. O método puritano foichamado pelos próprios puritanos, e por estudiosos hoje, de o "estilo direto de pregação". Um dospais do puritanismo, William Perkins, escreveu o seguinte: "A nossa pregação precisa ser direta eevidente. É um dito comum entre nós: "este foi um sermão direto." Eu digo que quanto maisincisivo e simples for o sermão, melhor". Um dos grande pregadores puritanos chamado HenrySmith disse o seguinte: "Pregar de uma maneira direta, não é pregar de uma maneira dura ecruel". Também não significa pregar de qualquer forma, sem estudo. Significa pregar o sentidopleno das Escrituras de uma maneira tão clara que o homem mais simples possa entender o queesteja sendo ensinado, como se ele estivesse ouvindo seu próprio nome ser chamado.

Implementando este estilo simples e incisivo de pregação, os puritanos seguem um processode três passos:

(1) Escolhem e estudam seu texto. (2) Fazem uma exegese desse texto, dando o seu sentidobásico, e em seguida coletam do texto duas ou três doutrinas, que fluem dele. (3) Em seguida,aplicam estas doutrinas de uma forma prática ao coração dos seus ouvintes. Dessa forma, a primeiraparte do sermão é exegetica, a segunda parte é doutrinária e a terceira é aplicativa. À quarta parteeles chamavam de "como usar", que é a parte prática do sermão, como usar os ensinos na vidadiária. Eles dividem a aplicação em duas partes, uma para os ouvintes que são salvos, e a outra paraos não salvos. Aplicam a cada indivíduo o que o texto pregado tem a dizer para ele. Dessa forma, oouvinte, ao sair da igreja, sabia com toda clareza o que aquele texto do sermão tinha a dizer a si emparticular.

Vamos focalizar quatro qualidades deste estilo direto de pregar.

1. Usavam um método racional de pregar. Eles pregavam a criaturas racionais.Trabalhavam arduamente para mostrar aos pecadores a loucura de não buscar o Senhor. Elesprocuravam mostrar às suas congregações o aspecto racional de todas as doutrinas da graça. JohnOwen, por exemplo, expunha à sua congregação como a doutrina da eleição era racional e lógica.Eleição é a primeira coisa do lado de Deus, mas é a última coisa que é conhecida do lado daqueleque crê. Eles usavam este tipo de ensino para alcançar a mente e também a consciência. Labutavampara conduzir cada ouvinte a esta conclusão. Seria totalmente ridículo não buscar o Senhor.Ridículo em função do julgamento que há de vir, mas também em termos da maneira como vivemosnesta vida presente.

2. Tinham uma pregação afetuosa, apaixonada. É uma coisa rara nos nossos dias encontrarum pregador que tanto alimenta a mente dos ouvintes com substância bíblica sólida, quanto tambémmova os seus corações, com um calor afetivo. Mas, esta combinação era coisa comum aospregadores puritanos. Falavam com amor e com convicção. Pregavam com uma chamada clara à fée ao arrependimento. Pregavam com paixão o terror do pecado. Pregavam com calor a respeito deJesus Cristo. Derramavam do púlpito suas próprias almas em seus sermões. Eles praticamentedavam suas vidas pelo seu povo. Suplicavam aos seus ouvintes que se reconciliassem com Deus,não porque pensassem que eles podiam se reconciliar com um Deus santo, mas porque eles sabiamque o Deus todo-poderoso usa a loucura da pregação para salvar aqueles que realmente vão crer.Sabiam, pelas Escrituras, que somente o Cristo onipotente podia vivificar um pecadorespiritualmente morto e mortificar a sua pecaminosidade, separá-lo dele mesmo, fazendo -odesejoso de abandonar o seu pecado e voltar-se para Deus e para a salvação completa por Eleoferecida. A pregação puritana apresentava todas estas verdades com paixão.

3. A evangelização puritana era reverente e sóbria. Os

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puritanos geralmente não usavam humor nos seus sermões; não acreditavam em contar históriasengraçadas com a finalidade de levar pessoas ase interessarem por Cristo. O alvo deles eraexatamente o oposto. Eles procuravam fazer as pessoas se tornarem mais sóbrias diante das grandesexigências do Criador e diante do grande juízo que está chegando. Diante da eternidade, Deus édigno de ser adorado; digno por causa dEle mesmo e por causa de Seu Filho.

4. A evangelização puritana se caracterizava por fazer uma análise específica de temasbíblicos. Se um puritano pregasse sobre o inferno, o sermão inteiro seria sobre o inferno. O mesmoaconteceria se pregasse sobre o céu, todo o sermão seria sobre o céu. Noutras palavras, elespregavam o seu texto o tempo todo. Calculavam que assim, após certo período de tempo, teriamcoberto cada assunto principal da Bíblia. Assim, procuravam edificar o seu povo em todo oconselho de Deus, demonstrando sua apreciação por todo o ensinamento das Escrituras. Quero daralguns exemplos. Os títulos que vou dar agora são de um livro de um puritano: "Quantos JáExperimentaram Uma Vida Seriamente Identificada com Deus?"; "Qual o Melhor PreservativoContra a Depressão Espiritual"; "Como Podemos Crescer no Conhecimento de Cristo?"; "O QuePrecisamos Fazer Para Evitar Orgulho Espiritual?"; "Como Devemos Lidar Com Doutrinas QueNão Podemos Compreender Completamente?"; "Como Podemos Conhecer de Uma Forma Melhoro Valor Real da Nossa Alma?". Espero que vocês estejam percebendo quão específicos eram ospuritanos ao pregarem o seu texto bíblico, e como depois de certo período de tempo elesconseguiam falar a respeito de todo o conjunto de verdades espirituais.

Os puritanos reforçavam os seus sermões com uma evangelização catequética. O pastorpuritano típico visitava o lar dos membros da sua igreja pelo menos uma ou duas vezes ao ano. Elescatequizavam cada criança em cada lar e estas crianças também vinham para a aula de catecismona igreja. Eles treinavam os pais em cada família para que também fizessem o estudo do catecismocom suas crianças no culto doméstico. Normalmente levavam 30 a 40 minutos por dia para essaatividade. No domingo à noite davam treinamento aos pais para que pudessem analisar o sermão dodia com as crianças por duas razões: para levar o sermão ao nível de uma criança e também paralevar o pai a lembrar o sermão. Os puritanos tinham como alvo evangelizar a família inteira. Elesnão estavam buscando convertidos de "dez minutos'' ou uma decisão momentânea do coração. Elesprocuravam convertidos que permanecessem convertidos a vida inteira, cujas mentes e coraçõestivessem sido vencidos, tornando-se cativos pela Palavra de Deus.

Disposição interna do evangelista puritanoUm outro ingrediente muito importante na evangelização puritana era a disposição interna

do evangelista.Emprimeiro lugar, ele vivia comum sentimento de dependência do Espírito Santo. O

pregador puritano estava plenamente consciente da sua incapacidade de salvar uma alma e dagrandeza da conversão. Ao mesmo tempo, ele estava convicto que é agradável a Deus usar apregação como o meio principal para salvar os eleitos. O pastor puritano trabalhava no espírito dedependência do Senhor, convicto de que não podia fazer nada por suas próprias forças e que o seutrabalho no Senhor não era vão.

Em segundo lugar, o puritano tinha uma constante disposição interior de orar. Eram grandespregadores porque em primeiro lugar eram grandes suplicantes. Eram pessoas que lutavam comDeus e sabiam muito bem o que significava "agonizar" pedindo a bênção divina sobre a palavra queeles acabavam de pregar. Quero dar uma ilustração com a vida de Robert Murray McCheyne. Eleveio depois dos puritanos, mas em essência era um puritano. Certa vez chegou à igreja ondeMcCheyne havia pastoreado um visitante admirando o edifício, que era muito bonito. O zeladorperguntou-lhe se podia ajudá-lo em alguma coisa. Ele respondeu que sim, pois tinha vindo de longeaté àquela igreja, para ver se conseguia descobrir o grande segredo do ministério de McCheyne(McCheyne foi um pregador escocês que morreu com 29 anos, mas Deus o usou para aconversão de centenas de pessoas). O zelador convidou o visitante para ir com ele pois lhemostraria o "segredo". Levou-o para o escritório de McCheyne, onde, no passado ele costumava

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ficar. Disse-lhe: "Amigo, sente-se atrás daquela escrivaninha e ponha sua cabeça em cima dela;ponha sua mão na sua cabeça e chore... depois venha comigo Posteriormente, os dois voltaram aotemplo e foram ao púlpito. O zelador disse ao visitante: "Agora incline-se sobre este púlpito... estirebem os seus braços... ore... chore... agora você sabe qual era o segredo de Robert MurrayMcCheyne". Não é nenhum choro provocado pelo homem, não é um emocionalismo sem asEscrituras; é, antes, um mover do coração, bíblico, pelo Espírito Santo de Deus. É disso queprecisamos hoje, da ênfase dos puritano em uma mente e um coração voltados para Deus.Reunindo estas duas coisas teremos uma vida que agrada a Deus.

Vida coerenteOs puritanos buscavam uma vida coerente com a Palavra de Deus em qualquer lugar que

estivessem. Um pastor puritano escreveu o seguinte: "A minha oração diária é que eu possa ser tãosanto na minha família, e nos momentos que eu passo sozinho com Deus, como eu pareço serquando eu estou em frente ao meu povo, no púlpito da minha igreja". Os puritanos buscavamsantidade em todas as áreas da sua vida, todavia uma santidade que não era baseada em méritospessoais. Eles sabiam que não possuíam tais méritos. Eles buscavam, uma santidade que era frutodaquilo que Deus fizera por eles. Por isso se destacaram na história da Igreja como inigualáveis navida particular de oração, na perseverança em manter o culto doméstico, nas orações em público, ena pregação.

Perguntamos: será que costumamos orar individualmente como McCheyne e os puritanos?Será que nós, de forma zelosa, até ciumenta, cuidamos de nossa vida de comunhão com Deus? Seráque estamos convictos que parar de vigiar e de orar é estar esperando um desastre espiritual nanossa vida? Será que estamos submissos com nosso coração e mente à disciplina da Palavra deDeus? Será que temos em nossa vida diária aquele mesmo espírito dos puritanos que os tirou domundo, colocando seus corações nas coisas eternas, especialmente no próprio Deus? Será queestamos movidos, como os puritanos, com aquela paixão que eles tinham de glorificar a Deus emagnificar o nome de Jesus Cristo, falando contra o pecado e buscando a santidade? Será que temossede da glória de Deus? Não é suficiente ter livros puritanos nas nossas prateleiras, nem mesmo ésuficiente lê-los. Espero que sejam lidos, pois são amigos maravilhosos e grandes mentoresespirituais. São aquilo que Lutero disse: "Alguns dos meus melhores amigos já morreram há muitotempo, mas eles ainda falam comigo através da página impressa".

Eu sei pessoalmente o que isso significa, pois comecei a ler os puritanos quando tinha noveanos de idade. Costumava ficar até tarde da noite lendo-os. Freqüentemente minha mãe determinavaque eu parasse de ler para dormir. Eu desligava a luz do meu quarto, porém ia para a escada paraobservar a luz que saia por baixo da porta do quarto dos meus pais. Quando ela se apagava, euvoltava ao meu quarto e continuava a ler! Lia com um livro dos puritanos aberto diante de mim e aBíblia aberta, ao lado. Lia devagar, fazendo cinco ou seis orações por cada página que lia.Conferia nas Escrituras cada texto que eles citavam. Os puritanos acabavam me levando sempre devolta à Bíblia - e ela sempre me levava aos puritanos. Muitas vezes estava chorando enquanto lia,um choro de alegria pela salvação plena que se acha em Jesus, mesmo um pecador como eu era eainda sou. Eu chorava com aquele desejo imenso de ser mais santo, de ser mais parecido com Cristoe de ter mais daquela disposição interna dos puritanos. Precisamos desta religião vivenciada poreles. Eles tinham suas falhas, e seus escritos não são a Bíblia, mas eles nos ajudam a entender aBíblia, e a sua piedade vital é um grande exemplo para nós.

ConclusãoDessa forma vamos nos desafiar uns aos outros para crermos no Deus dos puritanos. Quem

tem a coragem de ir além de uma simples leitura dos escritos dos puritanos? De ir além de umaapreciação das idéias dos puritanos e viver uma vida como eles viveram, levando avante aobediência e a santidade a Deus? Embora amemos a Cristo, como os puritanos O amaram, será queestamos servindo a Deus como eles O serviram? O Senhor nos fala em Jeremias 6:16: "Assim diz

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o Senhor: ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bomcaminho; andai por ele e achareis descanso para as vossas almas".

5A Tocha da Evangelização Passada para Nós

"Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus,conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possacompadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança,mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, afim derecebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em

ocasião oportuna. " - Hebreus 4:14-16

Motivos para o desânimoEm Hebreus 4:11-16, o escritor encoraja os cristãos hebreus a carregarem a tocha do

evangelho. Ele os encoraja em meio ao profundo desalento que enfrentavam. Havia muitos motivospara desencorajá-los. Alguns deles haviam sido lançados na prisão por causa do evangelho, outrosestavam perdendo seus empregos, tinham seus bens espoliados, enfim, todos passavam por diasdifíceis. Não estavam apenas sendo grandemente provados em assuntos e coisas superficiais, masestavam sendo desafiados quanto ao cerne da sua religião. Os seus patrícios judeus estavam lhesdizendo que o cristianismo não tinha nada para oferecer e que tinha apenas um "edifício" semcerimoniais, sem rituais, sem Sumo Sacerdotes. Hoje, também há muitas pessoas que nos desafiame nos desencorajam.

Não é fácil ser um evangelista reformado no mundo moderno e secularizado que é o nosso.Há desencorajamento em volta e entre nós todos, que pode tomar conta do nosso coração. Ficamosdesencorajados quando vemos verdades doutrinárias sendo negligenciadas, e, o pior ainda, atérejeitadas. Podemos, também, ficar desencorajados pela perseguição movida por pessoas queestão dentro da igreja, que são nossos irmãos. Às vezes você pode ter algum irmão, companheiro deministério, que se opõe a você. É possível, às vezes, encontrar maior oposição dentro da igreja doque fora dela. Quando você vê todas as técnicas da evangelização moderna invadindo a sua própriaigreja, pode ficar desencorajado, pois pessoas estão clamando por coisas que não são bíblicas. Vocêpode ficar desencorajado quando o crescimento da igreja for pequeno, tanto internamente quantoexternamente. Ficamos desencorajados ao ver tão pouca piedade que venha realmente de Deus e,

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como aumenta o número daqueles que se chamam Seu povo, vivendo vida mundana, cheios deignorância, apatia, indiferença e vivendo um estilo de vida centrado neles mesmos, egocêntricos;não estão lutando com Deus em oração, não levam o culto doméstico avante, não exercitam aquelaexpectativa santa em Deus. Podemos ficar desencorajados em não ver o reino de Deus expandir-seem nossa nação, quando, apesar de todos os nossos esforços, o clima moral e o espiritual estão sedegenerando. Quando não vemos o braço de Deus ser revelado trazendo salvação, estamos sempreinclinados a nos sentar e chorar desencorajados, dizendo como Isaías: "Senhor, quem creu na nossapregação e a quem foi revelado o braço do Senhorl".

Além de tudo isso, podemos ficar desencorajados por certas motivações dentro de nósmesmos. Talvez tenhamos muito o que fazer e o excesso de trabalho pode nos levar aodesencorajamento, aliado ao fato de podermos estar dando muito aos outros, mas sem tempo demeditar, estudar e receber algo para nós mesmos. Isso pode nos desencorajar também. Ficamos comnossa alma em agonia, como Paulo, por não estarmos vendo muitas pessoas serem conduzidas aJesus Cristo. Assim como aconteceu com Moisés, nossos braços estão pesados na hora daintercessão. Isso pode ficar tão ruim, às vezes, que a nossa própria visão de ministério e deevangelização reformada acaba caindo e se quebrando aos nossos pés. O pessimismo e a nossadúvida podem prevalecer. Podemos tornar-nos exauridos, desiludidos com nosso trabalho e às vezessentir-nos muito sozinhos.

Em 1989foifeitaumapesquisanaAméricasobrecem profissões diferentes. O ponto enfocadoera qual profissão provocava mais solidão. O ministério pastoral foi o segundo lugar dessa lista.Isso revela alguma coisa sobre os tempos modernos que atravessamos. E quando consideramos qualfoi o primeiro lugar na lista não ficamos muito encorajados também. O primeiro lugar da lista foidos guardas-noturnos.

Alguns de nós ficamos desencorajados por causa da nossa falta de espiritualidade.Podemos ficar tão ocupados em evangelizar, que acabamos não nos conhecendo bem e ficamosmuito alienados do próprio Deus. Podemos esquecer o nosso primeiro amor. Poderemos tambémfracassar, cair no engano do nosso coração, perder aquele senso de urgência da necessidade deoração. Por fim, terminamos entristecendo o Espírito Santo de Deus com nossa vida devocional fria.Estamos apenas falando, sem conseguir que nossa oração seja uma oração de fato. Dessa forma, umtipo de fé superficial começa a dominar o nosso coração e descobrimos, para vergonha nossa, que jános tornamos o nosso maior obstáculo.

Jesus, a fonte de encorajamentoPodemos dizer que o desencorajamento é uma infelicidade ocupacional do próprio

ministério. Todavia o escritor de Hebreus tem uma solução para tudo isso. Ele diz aos cristãoshebreus que eles tinham todas as razões necessárias para estarem encorajados, e nuncadesencorajados. Isso acontecia, porque os amigos judeus estavam entendendo mal sua própriareligião. É isso que nos diz no capítulo 4, versículo 14: "Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus,como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão". Apalavra "sumo sacerdote" é precedido como artigo "o",nalíngua original, "como o grande sumosacerdote". Jesus é o Sumo Sacerdote de todos os sumo sacerdotes. O Sumo Sacerdote ao qualtodos os sumo sacerdotes do Velho Testamento estavam ligados. Ali está a fonte de encorajamento:Jesus vive como o grande Sumo Sacerdote. Grande pelo que Ele sacrificou. Ele sacrificou-Se a Simesmo, por pecadores como você e eu; grande, porque o Seu sacrifício é o mérito e a força para asalvação e para a evangelização reformada. Ele é grande ainda pelo motivo do Seu sacrifício, paraquem Ele Se sacrificou. Ele fez um sacrifício para o Seu Pai, para satisfazer a Sua justiça. Ainda égrande pelo direcionamento do Seu sacrifício, por quem Ele Se sacrificou. Por pessoas rebeldes eindignas como você e eu. O escritor está dizendo: "Este sacerdote é o Filho de Deus, todo-poderoso". Ele entrou nos céus. Na língua original, a idéia é "penetrou" nos céus e Se assentou àdireita de Deus Pai. Vocês não precisam de rituais e sacerdotes terrenos, não precisam dos tipos esombras do Velho Testamento, pois têm tudo à direita de Deus Pai, porque Jesus ali vive,intercedendo por vocês. Portanto, "conservemos firmes a nossa confissão" de fé. Quando o autor de

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Hebreus diz "conservemos firmes a nossa confissão", ele chega ao clímax de toda a Epístola. Nesteclímax prático há uma mensagem para nós, hoje. Há quatro encorajamentos aqui que nos devemanimar a levar avante a tocha da evangelização. Todos quatro estão sob um mesmo tema:mantenha-se firme, seguro em Cristo porque Ele lhe está sustentando firme. A iniciativa é dEle.Esta é a grande força da verdadeira evangelização reformada. Esta força nos encoraja em quatroformas:

Segurando firme em Cristo

1. Mantenha firme seu chamado evangelísticoConside que Jesus o está mantendo firme neste chamado. Nosso chamado divino, como

pastores ou crentes individualmente, precisa ser uma grande rocha em cima da qual nósdescansemos, especialmente se você está tendo o chamado de tempo integral. A nossa chamadaoriginal para esse ministério, leva-nos a nos agarrarmos a ele na força de Cristo, mesmo queestejamos inundados em desencorajamento, mesmo ao pensar que o nosso ministério já acabou,mesmo quando tudo rolou de morro abaixo. O que fez João ao ser banido para a ilha de Patmos?Ele estava ficando velho, parecia que seu ministério havia acabado. Será que ele desistiu de tudo?Não, ele se refugiou em Cristo que anda entre os castiçais de ouro da Igreja, que segura as estrelasna Sua mão direita. Você sabe que estrelas são essas? São servos de Deus. João recebeu sua força,porque creu que Jesus segurava firme o seu chamado, mesmo havendo sido banido, e porque olhavapara Jesus que também o segurou firme na Sua mão. Quando Deus nos chama para o ministério detempo integral, Ele dá-nos a graça para continuar nos mantendo fiéis a Ele e à Sua Palavra. Mas anossa força para fazer isso descansa no Seu Filho Jesus Cristo. Quero lembrar-lhes que nós nãosomos responsáveis por falta de fruto no nosso ministério, porém somos responsáveis por negarmosa nós mesmos para que possamos render-nos e o nosso chamado ao serviço do nosso Senhor eMestre, pois Ele é digno. Ele é digno de receber a nossa vida por inteiro. Você percebe que, quandovemos o nosso chamado nessa dimensão, também recebemos mais coragem para render o nossotrabalho também ao Senhor.

Martinho Lutero tinha um hábito de toda noite, nas suas orações, dizer algo mais ou menosassim: "Senhor, eu carreguei o fardo da Tua Igreja hoje e sei que és o Rei dela. O meu corpocansado precisa de um pouco de sono, portanto quero rolar a Igreja, que é Tua, e entregá-la emTuas mãos para, como Rei dela, guardá-la esta noite e permita-me descansar um pouco; amanhãpela manhã, volto a retomar o fardo". Não há mãos melhores para entregarmos a Igreja como umtodo, do que as mãos do Senhor Jesus Cristo. Fique encorajado porque você tem um chamadoextraordinário. Meu pai costumava me dizer, quando eu era um adolescente: "Seu chamado para oministério é um ofício mais importante do que a presidência dos Estados Unidos da América.". Éum chamado excelente, tremendo! Seja encorajado por isso: você nunca terá de acordar pela manhãe dizer que a vida não tem sentido. Você tem um grande propósito, você é marcado por Deus e porisso faça o trabalho dEle! Tome o seu chamado e use-o como seu alimento, a sua comida diária, daqual depende para viver. Se fizer isso, o Senhor vai acrescentar no tempo próprio, a sobremesa e amelhor comida para sua refeição. Fique contente em realizar esse trabalho. Já houve tempo emminha vida em que agarrar o meu chamado original em Jesus Cristo foi a única coisa que sobrou.Quando pensei que tudo era impossível e não podia prosseguir, vi que não podia abandonar aquelachamada porque era uma chamada vinda de Jesus Cristo. Assim, eu caí diante de Cristo como Estercaiu diante do rei Assuero, confessando que se perecesse, pereceria; mas eu não vou perecer,Senhor, e se perecer, perecerei no Teu serviço e a Teus pés. Se Tu me rejeitares, Tu és justo poissou indigno e Tu és digno. Assim Senhor, eu prefiro morrer aos Teus pés e responder ao Teuchamado. O Senhor nunca nos prometeu uma vida fácil mas nos prometeu uma vida abençoada.Posso afirmar que, se você se colocar aos pés do Senhor, como um servo em necessidade, pobre equebrado, sem nada em você mesmo, suplicando, o Senhor não passará por cima do que pede. Elevai usar você e todo o seu quebrantamento, em todo o seu esvaziamento. Segure firme o seuchamado porque Cristo o chamou.

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2. Segure firme em Cristo através da oraçãoCristo nos sustenta firmemente através das Suas orações intercessórias. As orações de Cristo

nunca falham. Elas são sempre respondidas. Ele chama você e a mim a uma vida de oração. EmAtos, capítulo 6, lemos sobre o ofício do diaconato, que foi instituído a fim de que os apóstolospudessem dedicar-se à oração e à pregação da Palavra. Atos 6.4: "...e, quanto a nós, nosconsagraremos à oração e ao ministério da Palavra ". A nossa primeira tarefa é orar. Não ésomente orar a respeito do nosso trabalho, a oração é o nosso trabalho. Há uma diferençaimportante aqui. É minha convicção de que uma das grandes razões para o fracasso daevangelização reformada é a falta de oração secreta. Na América, houve um pastor puritanochamado Thomas Shepard. Certo dia o seu arquiteto lhe trouxe a planta de sua futura casa pastoral.Shepard olhou para aquela planta e disse: "Está faltando uma coisa aqui. Onde está o quarto deoração da minha casa pastoral?". Na casa dos puritanos primitivos havia uma salinha separada, sópara oração. Por causa disso, Shepard escreveu no seu diário: "Eu tive hoje um dos dias mais tristesda minha vida, porque percebi que, quando o meu povo parar de construir quartos de oração, issodemonstrará que estaremos na decadência da América". Você tem um lugarzinho especial ondevocê ora? Você tem intimidade com Deus? Sabe o que significa derramar o seu coração na presençade Deus? Percebe que esta é a grande diferença entre a época da Reforma, dos puritanos e a nossaépoca? Eles eram homens de oração. Uma vez Martinho Lutero disse a Melanchthon: "Tenho tantacoisa para fazer amanhã que terei de acordar mais cedo e orar uma hora a mais do que normalmenteoro". O que fazemos quando estamos muito ocupados? Fazemos orações curtas (talvez) e dizemos:"Estou tão ocupado!". Nós tratamos o Senhor como se Ele fosse nosso cachorrinho de estimação.Nós damos o que sobra do nosso tempo e Ele não tem o primeiro lugar na nossa vida. John Elsh, ogenro de John Knox, costumava passar sete horas por dia em oração. Não estou dizendo quedevemos fazer isso, entretanto se considerarmos como essas pessoas oravam, precisaremos balançarnossa cabeça de vergonha. John Elsh mantinha sempre sua toga ao lado de sua cama por causa dofrio. A sua esposa disse, depois que ele morreu, que seu marido nunca passou uma só noite, durantetodo o seu casamento, sem que se levantasse pelo menos uma vez para orar. Uma noite ela o seguiuquando ele ia para um quarto próximo. Ela estava com receio que ele se resfriasse. Ela escreveua respeito do que ouviu orar: " O Deus, dá-me a Escócia!". Quando a esposa lhe disse que eramelhor voltar para cama, ele respondeu: "Minha querida esposa, eu tenho três mil pessoas na minhaigreja e não posso descansar enquanto cada uma delas não conhecer bem ao Senhor". Precisamosorar e precisamos pedir graça para ter uma vida verdadeira de oração.

3. Segure firme em Cristo para a santificaçãoNossa santificação está em Cristo. É isso que Paulo nos diz em 1 Cor. 1:30: "Mas vós sois

dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, 1redenção." Em Hebreus 2:9-11 nos é dito que Jesus Cristo foi santificado por Seu sofrimento e queEle, por Sua vez, santificica o Seu povo através dos Seus próprios méritos. Esse conceito é crucial.Se tentarmos nos santificar à parte da santificação de Cristo, vamos terminar no legalismo ou vamosnos sentir frustrados e derrotados. Em Cristo está a nossa força. É isso que o escritor prosseguedizendo em Hebreus, capítulo 4, que devemos conservar-nos firmes não apenas em nossa confissãode que Jesus penetrou os céus (v.14), mas, como está no versículo 15, devemos considerar que Elefoi tentado em todas as coisas como nós somos, mas sem pecado. Aí está a nossa força! Todaprovação que atravessamos, Ele já atravessou. Ele foi tentado em todas as áreas. Todas as áreassignifica em todas as coisas. Não há uma só coisa que possa vir sobre você que surpreenderia aCristo. Podemos ler isso em 1 Cor. 10:13. Ali Ele nos diz basicamente que, para cada provação, Eleprove o escape. Assim, Ele vai santificar cada caminho, cada forma como Ele lida conosco. Todosos nossos desencorajamentos, todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus(Rom.8:28). Como os puritanos diziam: "o Senhor não mede nossas aflições segundo nossasfraquezas porém de acordo com nossa força". Fique encorajado e animado, quando Ele permitemuitas aflições sobre você, por que isso significa que Ele está dizendo que você tem "costas largas".

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Ele não vai colocar sobre seus ombros um fardo mais pesado do que você possa suportar. É comoalguém que levanta peso para se exercitar, para se tornar cada vez mais forte. O Senhor exercita oSeu povo em Sua santa academia, em nosso exercício diário de santificação. Assim como o alfaiatecorta o seu terno, assim também o Senhor faz sob medida as nossas aflições. Isso é exatamente oque o escritor diz em Hebreus 12:11: "Toda disciplina, com efeito, no momento não parece sermotivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido porela exercitados, fruto de justiça".

Você poderia perguntar: por que Deus faz isso? Por que Ele nos santifica através daaflição? Por muitas razões. Uma aflição santificadora leva-nos para mais perto de Jesus Cristo.Quando Estêvão ia ser apedrejado, ele elevou os olhos e viu o céu aberto. Uma aflição santificadorafaz com que caminhemos pela fé. Uma aflição santificadora faz com que fiquemos contentes pornão termos nada de nós mesmos. Faz com que nos inclinemos perante o Senhor dizendo: seja feitaa Tua vontade. Uma aflição santificadora também nos conduz à oração. Torna-nos úteis de váriasmaneiras. Por isso o grande pregador batista calvinista, Spurgeon, disse para alguns estudantes deteologia: "Preparem-se, meus irmãos, para se tornarem cada vez mais fracos; preparem-se para seafundarem cada vez mais em vocês mesmos. Preparem-se a vocês mesmos para uma auto -aniquilação e orem a Deus para que Ele apresse o processo". Que oração surpreendente! Orar paraque você se torne nada, para que Deus seja tudo em todos. Isso é que é santificação genuína.

4. Segure firme em Cristo para sua perseverançaJesus é perseverante em relação a você. Se você é um servo de Deus, lembre-se que Ele

"tendo amado os seus, amou-os até o fim". Agora, está à direita de Deus, como está escrito emHebreus 7:25: "...vivendo sempre para interceder por eles"(Seu povo). Ele não parou de sofrer peloSeu povo até o ponto em que esvaziou o cálice de sofrimento; e agora não vai parar de orar pelosSeus até que reúna a todos na glória. Jesus perseverou na Sua humilhação e agora persevera na Suaexaltação. O caminho para que você possa perseverar é através da perseverança de Cristo. Jesusama tanto Seu povo que Ele não permitirá que escapemos do Seu propósito, que é nos levar à glória.Ele não perseverou longamente para agora deixá-lo escapar pelos Seus dedos. Ele diz em João10:28: "Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão eternamente, e ninguém as arrebatará daminha mão". Olhemos mais para Cristo, seguremo -nos firmes nEle, vamos ser encorajados e Elenão irá nos desertar. As coisas podem ficar "pretas" e nossa perplexidade aumentar, pode haverinimigos dentro e fora, mas Ele diz na grande comissão aos verdadeiros evangelistas: "Eis que estouconvosco sempre até a consumação dos séculos". Dessa forma, segure-se firme em Cristo, no seuchamado, nas suas orações, na sua santificação e na sua perseverança porque Ele está segurandofirme em você. Vamos reter firmes a nossa confissão em Cristo Jesus.