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517 RBGO - v. 23, n” 8, 2001 RESUMO Objetivo: verificar a associaªo entre o uso de abortivos durante o primeiro trimestre de gestaªo e a ocorrŒncia de defeitos congŒnitos em recØm-nascidos (RN). MØtodos: estudo caso-controle com amostra de 800 nativivos, em maternidade pœblica de Salvador, Bahia, pelo perodo de um ano. Eram selecionados os seis primeiros nascimentos ocorridos em um s dia, sendo feitas consultas aos prontuÆrios para verificaªo do registro de defeitos congŒnitos. Nos casos positivos eram observados os bebŒs afetados e realizada entrevista com as puØrperas para o levantamento de antecedentes gestacionais e genØticos, utilizando questionÆrio como instrumento de coleta de dados. Posteriormente os dados eram inseridos em programa de computador Epi-Info 5.0 para anÆlise estatstica. Resultados: as puØrperas estudadas foram predominantemente de classe socioeconmica baixa (74,8%), sem escolaridade ou apenas 1” grau (61,1%). A taxa geral de defeitos congŒnitos foi de 4,7%. Entre as puØrperas, 16% relataram a ingestªo de substncias abortivas no primeiro trimestre de gestaªo e 10,9% destas tiveram filhos com malformaıes. Nas crianas em que as mªes nªo utilizaram abortivos essa incidŒncia foi 3,6%. Os principais agentes usados como abortifacientes foram os chÆs medicinais e o misoprostol (Cytotec). O alumª (Vermonia baiensis Tol) e o espinho cheiroso (Kanthoxilum shifolium Lam) foram as plantas mais utilizadas inadequadamente, pois nªo apresentam propriedades abortivas, justificando assim a sua ineficÆcia. Conclusªo: o presente estudo evidencia que tentativas de abortamento sªo prÆticas muito usuais em populaıes de baixa renda. Revela ainda que o uso de abortivos provoca um percentual significativo de malformaıes congŒnitas em bebŒs nativivos. PALAVRAS-CHAVE: Abortamento. Malformaıes congŒnitas. Misoprostol. ChÆs medicinais. Trabalhos Originais 23 (8): 517-521, 2001 RBGO Associaªo entre o Uso de Abortifacientes e Defeitos CongŒnitos Association of the Use of Abortifacient Drugs with Congenital Malformations Lilia Maria de Azevedo Moreira 1 , Alba Lima Dias 2 , Hilda Beatriz da Silva Ribeiro 2 , Clarissa Lima Falcªo 1 , Tony Davinson Felcio 1 , Carla Stringuetti 1 e Maria das Dores Ferreira Santos 2 1 Laboratrio de GenØtica Humana e CitogenØtica, Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia 2 Maternidade ClimØrio de Oliveira, Faculdade de Medicina, Universidade Federal da Bahia CorrespondŒncia: Llia Maria de Azevedo Moreira Laboratrio de GenØtica Humana e CitogenØtica Instituto de Biologia UFBA Campus UniversitÆrio de Ondina 40170-110 Salvador BA e-mail: [email protected] Introduªo O aborto Ø um mØtodo muito antigo de con- trole de natalidade, praticado em todas as civiliza- ıes. Embora seja reconhecido em diversos pa- ses, Ø proibido em quase toda a AmØrica Latina, o que nªo impede a sua prÆtica no Brasil, com nœ- mero prximo a meio milhªo por ano, dos quais apenas 5% sªo permitidos pela lei 1 . Entretanto Ø difcil reconhecer a real incidŒncia desta prÆtica. Estimativas feitas com dados do INAMPS sobre abortos incompletos e com estatsticas de clnicas particulares no Sul e Nordeste brasileiros mos- tram que a prÆtica do aborto apresentou um ex- traordinÆrio aumento, de menos de 1 milhªo em 1970 para quase trŒs milhıes em 1985 2 . Entre os recursos abortifacientes mais comumente utili-

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517RBGO - v. 23, nº 8, 2001

RESUMOObjetivo: verificar a associação entre o uso de abortivos durante o primeiro trimestre degestação e a ocorrência de defeitos congênitos em recém-nascidos (RN).Métodos: estudo caso-controle com amostra de 800 nativivos, em maternidade pública deSalvador, Bahia, pelo período de um ano. Eram selecionados os seis primeiros nascimentosocorridos em um só dia, sendo feitas consultas aos prontuários para verificação do registrode defeitos congênitos. Nos casos positivos eram observados os bebês afetados e realizadaentrevista com as puérperas para o levantamento de antecedentes gestacionais e genéticos,utilizando questionário como instrumento de coleta de dados. Posteriormente os dados eraminseridos em programa de computador Epi-Info 5.0 para análise estatística.Resultados: as puérperas estudadas foram predominantemente de classe socioeconômicabaixa (74,8%), sem escolaridade ou apenas 1º grau (61,1%). A taxa geral de defeitos congênitosfoi de 4,7%. Entre as puérperas, 16% relataram a ingestão de substâncias abortivas noprimeiro trimestre de gestação e 10,9% destas tiveram filhos com malformações. Nas criançasem que as mães não utilizaram abortivos essa incidência foi 3,6%. Os principais agentesusados como abortifacientes foram os chás medicinais e o misoprostol (Cytotec). O alumã(Vermonia baiensis Tol) e o espinho cheiroso (Kanthoxilum shifolium Lam) foram as plantasmais utilizadas inadequadamente, pois não apresentam propriedades abortivas, justificandoassim a sua ineficácia.Conclusão: o presente estudo evidencia que tentativas de abortamento são práticas muitousuais em populações de baixa renda. Revela ainda que o uso de abortivos provoca umpercentual significativo de malformações congênitas em bebês nativivos.

PALAVRAS-CHAVE: Abortamento. Malformações congênitas. Misoprostol. Chás medicinais.

Trabalhos Originais23 (8): 517-521, 2001RBGO

Associação entre o Uso de Abortifacientese Defeitos Congênitos

Association of the Use of Abortifacient Drugswith Congenital Malformations

Lilia Maria de Azevedo Moreira1, Alba Lima Dias2, Hilda Beatriz da Silva Ribeiro2,Clarissa Lima Falcão1, Tony Davinson Felício1, Carla Stringuetti1 e

Maria das Dores Ferreira Santos2

1 Laboratório de Genética Humana e Citogenética, Institutode Biologia, Universidade Federal da Bahia2 Maternidade Climério de Oliveira, Faculdade de Medicina,Universidade Federal da BahiaCorrespondência:Lília Maria de Azevedo MoreiraLaboratório de Genética Humana e CitogenéticaInstituto de Biologia � UFBACampus Universitário de Ondina40170-110 � Salvador � BAe-mail: [email protected]

IntroduçãoO aborto é um método muito antigo de con-

trole de natalidade, praticado em todas as civiliza-

ções. Embora seja reconhecido em diversos paí-ses, é proibido em quase toda a América Latina, oque não impede a sua prática no Brasil, com nú-mero próximo a meio milhão por ano, dos quaisapenas 5% são permitidos pela lei1. Entretanto édifícil reconhecer a real incidência desta prática.Estimativas feitas com dados do INAMPS sobreabortos incompletos e com estatísticas de clínicasparticulares no Sul e Nordeste brasileiros mos-tram que a prática do aborto apresentou um ex-traordinário aumento, de menos de 1 milhão em1970 para quase três milhões em 19852. Entre osrecursos abortifacientes mais comumente utili-

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zados estão os chás e infusões de plantas medici-nais, além do misoprostol, análogo sintético daprostaglandina E1, comercializado com o nome deCytotec®.

Estudos em maternidades do Rio de Janei-ro, Recife e Fortaleza indicam que percentual sig-nificativo (34-72%) dos abortos incompletos aten-didos são induzidos pelo Cytotec® 3. A suscetibili-dade individual é variável, e em cerca de 7% doscasos o medicamento mostra-se ineficaz naindução da interrupção da gravidez4. Outras com-plicações têm sido ainda destacadas em recém-nascidos expostos intra-útero ao misoprostol. Alémde abortos incompletos pode ocorrer efeitoteratogênico da droga, devido à sua potente açãouterotônica, promovendo um déficit transitório nacirculação fetal que, a depender da intensidade dofenômeno vascular, do seu tempo de atuação e domomento de ocorrência, pode ocasionar um gran-de espectro de anomalias congênitas5-8. Existemtambém controvérsias sobre o efeito abortofacientee teratogênico das ervas medicinais, não apenaspela falta de comprovação científica mas tambémpelas interações com outros remédios e a proce-dência dessas ervas.

Este estudo teve o objetivo de investigar afreqüência do uso de chás, infusões e medicamen-tos na gestação, em grupos amostrais de puérpe-ras e sua associação com defeitos congênitos.

Pacientes e MétodosPara a validação da hipótese sobre a asso-

ciação entre o uso gestacional de abortivos e aocorrência de anomalias congênitas maiores emenores, foi realizado estudo caso-controle, emamostra hospitalar. Para tanto foram seleciona-dos 800 nativivos entre os seis primeiros nasci-mentos, em dias alternados, em maternidadeuniversitária de Salvador, Bahia, entre agosto de1994 e julho de 1995. A coleta de dados foi inicia-da após a aprovação do Comitê de Ética e Pesqui-sa da instituição.

Nos casos de bebês portadores de defeitoscongênitos, eram consultados prontuários e fei-tas entrevistas com as puérperas com o preen-chimento de questionário, após a obtenção de con-sentimento informado.

Por meio deste procedimento eramcoletadas informações referentes ao estado ge-ral de saúde, grupo racial, escolaridade, moradia,renda, planejamento familiar, tentativas de abor-tamento, uso de abortifacientes e história de dis-

Moreira et al Abortifacientes e defeitos congênitos

túrbios genéticos.Paralelamente à investigação na materni-

dade, foram coletadas nos diversos erveiros da ci-dade amostras das ervas indicadas pelas puérpe-ras terem sido utilizadas nas tentativas infrutífe-ras de abortamento. A partir destas amostras foirealizada classificação sistemática com finalida-de de verificar se a denominação popular e a utili-zação terapêutica correspondiam às referidas naliteratura9-11.

Os dados referentes à caracterizaçãosociocultural, tentativas de abortamento e presen-ça de defeitos congênitos foram processados emcomputador IBM, analisados por meio do progra-ma Epi-Info 5.0 e submetidos à análise estatísticautilizando o teste do χ2 com nível de significânciade 5% (p<0,05) para as comparações.

ResultadosA caracterização socioeconômica e cultural

das puérperas mostrou que 74,8% delas provinhamde classe socioeconômica baixa, sem rendimen-tos próprios ou recebendo até um salário mínimopor mês. Quanto à instrução apresentada, 61,1%tinham 1º grau incompleto ou eram analfabetas.A faixa etária modal era 19 a 30 anos e o grupoétnico prevalente, mulato ou negro.

Entre as mães entrevistadas, 52,3% referi-ram gravidez não-planejada e 16% destas realiza-ram tentativas de abortamento no primeiro tri-mestre da gravidez. Na Figura 1 é mostrada a dis-tribuição dos agentes utilizados nas tentativas deaborto: 78 puérperas usaram chás ou infusões e38, o misoprostol, geralmente na dosagem de 4comprimidos, sendo 2 via oral e 2, vaginal. Outrosmedicamentos e meios não-especificados foramutilizados por 12 puérperas.

0

20

40

60

80

100

Chás Misoprostol Outrosmedicamentos

Meios nãoespecif icados

Núm

ero

de p

uérp

eras

Figura 1 - Distribuição das puérperas de acordo com a utilização de abortivos no primeirotrimestre.

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Defeitos congênitos ocorreram em 38 dosrecém-nascidos (4,7%) e em 14 desses casos foiregistrado uso gestacional de abortivos. Para acomparação entre as malformações em criançascom exposição a abortivos (10,9% ou 14:128) e ogrupo negativo para o uso dessas substâncias(3,6% ou 24:672), foi construída a Tabela 1 e feitoo cálculo do χ2. Tendo em vista o χ2 = 12,89; G.L. =1; p<0,05, as diferenças entre os dois grupos fo-ram consideradas significativas, evidenciando aassociação entre malformações congênitas em re-cém-nascidos e uso de abortivos no primeiro tri-mestre da gestação.

As plantas utilizadas como chás e infusõesabortivas são apresentadas na Tabela 2, com a clas-sificação sistemática, freqüência de utilização epropriedades abortivas. As Tabelas 3 e 4 relacio-nam os abortifacientes utilizados com a ocorrên-

Moreira et al Abortifacientes e defeitos congênitos

Tabela 1 - Distribuição de malformações nos recém-nascidos, de acordo com a exposiçãogestacional a substâncias abortivas.

Abortivos

ExpostosNão-expostosTotal

Malformações

14 (a)24 (c)

38 (n3)

Semmalformações

14 (b)648 (d)

762 (n4)

Total

128 (n1)672 (n2)800 (N)

χ2 = (ad - bc) 2 N χ2 = 12,89; G.L. = 1; p<0,05 n1.n2.n3.n4

Tabela 2 - Tipos de ervas mais freqüentemente utilizadas como abortifacientes pelas puérperas, listadas de acordo com a freqüência do uso e efeito abortivo na medicina popular.

Nome popular

AlumãEspinho cheirosoCravoTapete ou capim de OxaláMilomiQuina-verdadeiraMelão de cercaHortelã (Poepo)RomãQuitocoAroeiraArruda

Nome científico

Vermonia baiensis Tol.Xanthoxilium rhoifolium Lam.Caryophylust aromaticus L.Flectranthus amboinicus Luer.Aristolechia triloata L.Cinchona calysaya Wild *Mentha pulegium L.Punica granatum L.Pluchea quitoco D.C.Schinus aroeira VeelRuta graveolens L.

Freqüência de utilização (%)

50,916,39,17,33,61,81,81,81,81,81,81,8

Propriedades abortivas

----*+*++--+

* Não caracterizado na literatura9,11.

cia e natureza de anomalias congênitas observa-das nos recém-nascidos. Embora defeitos de mem-bros/extremidades tenham sido verificados emcrianças com história de exposição gestacional dechás e/ou misoprostol, esta associação não foi sig-nificativa.

Tabela 3 � Associação entre a exposição a abortivos durante a gravidez e a presença de anomalias congênitas em nativivos (n = 800)*.

Anomalias congênitasAbortifacientes

Sem uso de abortivoUso de abortivos

ChásMisoprostolOutros medicamentosMeios não-especificados

Total

Ausência deanomalias

n %

648 81,0114 14,2

7434 2 4

762 95,2

Presença deanomalias

n %

24 3,014 1,7

4442

38 4,7

Total

n %

672 84,0128 16,0

783866

800 100

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Moreira et al Abortifacientes e defeitos congênitos

Tabela 4 � Caracterização de diferentes anomalias congênitas em nativivos em função da exposição gestacional a abortivos (n = 800)*.

Anomalias congênitasAbortifacientes

Sem uso de abortivoUso de abortivos

ChásMisoprostolOutros medicamentosMeios não-especificados

Total

Faciais

2101003

Membros/extremidades

6 5 2 3 0 011

Internos

8 4 1 0 2 112

Genitais

8 4 1 0 2 112

Totaln %

24 3,014 1,7

4 (0,5)4 (0,5)4 (0,5)2 (0,2)

38 4,7

Tipos

DiscussãoDesde a década de 1960, com a caracteriza-

ção da focomelia em crianças nascidas de mãesque fizeram uso gestacional da talidomida12, aingestão de drogas tem sido considerada um fatorde risco para o desenvolvimento de defeitos con-gênitos. Cabral et al.13 observam que a utilizaçãode fármacos e análogos durante a gravidez é umaprática freqüente que pode trazer conseqüênciasadversas à saúde do feto e do recém-nascido.

Este estudo evidencia a dimensão da práti-ca do aborto em mulheres de baixa renda, comregistro de tentativas em 16% de nascidos vivos.Os agentes utilizados não mostraram entretantoassociações estatisticamente significantes coma ocorrência de diferentes anomalias congênitas.Não foram verificados casos de seqüência deMoebius, hidrocefalia ou defeitos de extremidades,malformações que têm sido observadas em casosde uso gestacional do misoprostol.

Em relação a este agente, a possibilidade deuma ação teratogênica é ainda objeto de contro-vérsias. Alguns estudos revelam a presença dequadro semelhante de anomalias de extremida-des e/ou seqüência de Moebius5,6,8,14-16. O EstudoColaborativo Latino-Americano de MalformaçõesCongênitas (ECLAMC)17, entretanto, avalia comcautela esta associação, embora reconheça o efei-to de altas doses do medicamento nos casos deaparente defeito de disrupção vascular.

A taxa de malformações congênitas de 4,7%observada neste estudo é da mesma ordem que asverificadas nos diversos estudos de monitorização dedefeitos congênitos18-21. A maior proporção de malfor-mações em crianças expostas a abortivos apoia a hi-pótese de efeito teratogênico dessas substâncias.

De acordo com o Inventário de Plantas Medi-cinais do Estado da Bahia9, entre as plantas que aspuérperas indicaram terem utilizado como abortivos,apenas a quina verdadeira, hortelã e romã apresen-tam esta propriedade, justificando a ineficácia do

uso da maioria dos chás relacionados.Em relação à arruda, Approbato et al.11 ob-

servam que o seu uso mais freqüente e popular écomo emenargoga, provocando a menstruação eaumentando o fluxo; entretanto, em doses maio-res atua como abortivo. Quer10 chama atenção paraa sua toxicidade, capaz de acarretar conseqüênci-as graves como a morte.

Farias et al.1, em estudo sobre os condicio-nantes socioeconômicos e culturais do aborto pro-vocado, verificaram que alumã e tapete de oxalácorrespondem a cerca de 30% dos chás ou infusõesutilizados nesta prática e enfatizam a dificuldadeem se atribuir aos chás um efeito causal na etiologiado abortamento provocado, não apenas pela falta deconhecimento das propriedades quimioterápicasdas plantas, como também pela associação comoutros fatores. Deve ser ainda levado em conta quea sensibilidade individual aos referidos agentes ea ausência de efeitos abortivos ou teratogênicospode também refletir uma combinação genotípicamenos suscetível no binômio mãe/filho.

Apoiando este ponto de vista, Clarijo22 obser-va que vários fatores, tais como a absorção, meta-bolismo e distribuição maternos, transferênciaplacentária e metabolismo fetal, interferem nasuscetibilidade a um teratógeno potencial e sãocaracterísticas únicas para cada par mãe/filho emfunção da heterogeneidade genética.

SUMMARYPurpose: to verify the association of the use of abortifacientdrugs during the first 3 months of gestation with theoccurrence of congenital malformations in live births.Patients and Methods: population-based case-control studythrough selection of the first six live births on a day, over theperiod of a year, at a public maternity in Salvador, Bahia,with a total of 800 cases. Studies were performed throughinvestigation of birth records in the search of congenitalmalformation data, observation of selected malformed

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newborns, followed by interview with the mothers forcollection of anamnesis data, by application of aquestionnaire. Later on data were statistically evaluated byEpi-Info 5.0 software.Results: puerperae came from a low socialeconomic class(74.8%), without any or almost any schooling (61.1%). Thegeneral percentage of birth defects was estimated at 4.7%.Out of 800 puerperae, 16% reported abortifacient drug intakeduring the first 3 months of gestation and 10.9% of them hadmalformed babies. This incidence was 3.6% in children whosemothers denied the intake of any abortifacient drugs. Agentsmost commonly taken in those unsuccessful abortive attemptswere misoprostol (Cytotec) and herbs, specially �alumã�(Vermonia baiensis Tol) and �espinho cheiroso� (Kanthoxilumshifolium Lam), which, according to the literature, do notreally have any abortive effect.Conclusion: the study revealed the extension of intentionalmiscarriage in a low income population and showed thatthe occurrence of birth defects could be related to gestationalexposure to misoprostol and herbal medicine intake.

KEY WORDS: Miscarriage. Congenital defects. Misoprostol.Herbal medicines.

Moreira et al Abortifacientes e defeitos congênitos

Agradecimentos

Os autores manifestam o seu agradecimento àProfª Lenise Silva Guedes, Curadora do Herbário Prof.Alexandre Leal Costa, pela classificação sistemáticadas plantas utilizadas como chás medicinais; à ProfªSonia Moura Costa pela tradução do resumo; ao biólo-go Fábio Alexandre Gusmão pela leitura e sugestõesna análise estatística, ao Sr. Aloisio Lisboa Mota peladigitação e formatação do texto e aos pacientes, mé-dicos e equipe técnica da Maternidade Climério de Oli-veira pela participação e apoio a esta investigação.

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