11 - Produtividade Variável - EXPLICATIVO

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    ImportncIa no contexto atualOs indicadores de produtividade na Construo Civil, tanto no Brasil quanto no exterior, tradicionalmente tm sido apresentados atravs de composies individuais para cada servio, sendo que, para cada um deles, indica-se a demanda mdia por materiais e por mo de obra para se executar uma unidade do produto. Por exemplo, no caso da produo de 1 m de revestimento interno de paredes com argamassa, indica a necessidade de 20 litros de argamassa, de 0,60 horas de oficial e de 0,60 horas de ajudante.

    Tal postura, embora de fcil entendimento e aplicao, vinha sendo criticada, nos ltimos anos, em funo da diversidade de tipologias de produtos, de tecnologias utilizveis e das diferentes formas de organizao e gesto dos servios que vm sendo adotadas pelas empresas de Construo. Mais que isso, com o aumento da competio no mercado, as diferenas de desempenho, que j eram uma marca do setor, tornaram-se ainda mais importantes de ser consideradas para garantir o sucesso das empresas. Enfim, a ideia de se adotarem valores mdios de produtividade para um servio signifique talvez uma postura simplificada demais ante as atuais necessidades de entendimento mais aprofundado das atividades de construo. Imagina-se que, para fins de oramento, conhecer os limites, mximos e mnimos, dos desempenhos caractersticos de um servio permitir, quando considerado necessrio pela empresa, um aprimoramento da estimativa dos recursos demandados pelo mesmo; alm disso, o simples conhecimento da faixa de valores que caracteriza o mercado facilitar uma comparao com o conjunto de empresas concorrentes, subsidiando decises de cunho mais estratgico por parte dos gestores.

    conveniente salientar ainda que, alm de permitir uma melhoria no processo de oramentao, uma postura mais analtica pode ser bastante til como subsdio para: o aprimoramento da programao (tanto no nvel de cronogramas fsicos de obras quanto na definio da constituio de equipes de trabalho para um determinado servio); o controle da produtividade; a escolha de tecnologias e de forma de gesto; a poltica de remunerao de operrios e de subcontratados, dentre outros motivos. Enfim, imagina-se que a apresentao do conceito e de valores relativos PRODUTIVIDADE VARIVEL, nesta verso do TCPO, possa contribuir para, paulatinamente, ter-se um instrumento til a diversas fases de empreendimento e indutor de uma maior integrao entre as mesmas.

    DefInIoPara se definir o que seja a j citada produtividade varivel, preciso antes definir produtividade como sendo a eficincia em transformar recursos em produtos (no caso deste manual, os recursos considerados so a mo de obra e os materiais, enquanto os produtos so as partes que constituem a obra em execuo, como, por exemplo, certa poro das armaduras, da alvenaria, do contrapiso etc.). A mensurao de tal produtividade pode ser feita atravs de um indicador que relacione a quantidade de recursos demandados quantidade de produto obtido (por exemplo, a produo de paredes de alvenaria de vedao pode demandar 0,6 horas de pedreiro, 0,3 horas de ajudante e 15 blocos para cada 1 metro quadrado de parede produzida). Se as caractersticas de um servio fossem sempre as mesmas (no caso do exemplo anterior, se todas as paredes tivessem o mesmo tamanho, os componentes de alvenaria fossem exatamente os mesmos, a ferramenta de aplicao da argamassa no se alterasse, o fornecimento de materiais fosse absolutamente infalvel, bem como a transferncia de informaes aos operrios, se no existissem ocorrncias de problemas com o equipamento de transporte vertical, bem como se tivessem condies estveis do clima, entre

    outros aspectos), isto , se no houvesse variaes dos fatores (de contedo e de contexto) que caracterizam o servio, a produtividade seria constante, sendo muito bem representada por um valor mdio. No entanto, tais fatores variam de uma maneira no desprezvel atualmente, o que provoca uma concomitante variao no desprezvel da produtividade.

    Dentro do contexto descrito, a PRODUTIVIDADE VARIVEL ser aqui tratada, quanto apresentao dos indicadores relativos aos recursos demandados para se fazer uma unidade de produto, atravs da seguinte postura: em lugar de apenas citar um valor mdio histrico, inclui-se (para alguns servios) a apresentao de uma faixa de valores (indicando-se os valores mnimo, mediano e mximo) para o consumo de oficiais, ajudantes e materiais. Tal faixa foi composta com base na observao real do desempenho ocorrido em obras de construo recentes; os valores mximo e mnimo representam os extremos da faixa, representando, obviamente, situaes-limite do banco de dados disponvel (portanto, embora pouco provvel, no se deve considerar impossvel extrapolar tais limites em obras especiais ou em casos que se afastem das caractersticas das obras participantes da pesquisa realizada); o valor mediano representa a regio central do conjunto de dados, isto , representa o desempenho que mais aconteceu nos casos estudados, sendo, portanto, aquele mais provvel de acontecer. No exemplo mostrado a seguir tem-se uma faixa de variao da produtividade para a execuo de frmas de pilar para estrutura de concreto armado; a observao dos fatores a mostrados permite, por comparao, prognosticar que, na sua obra, voc estar mais para o lado esquerdo ou direito da faixa, em funo da presena ou no dos fatores associados a cada uma destas extremidades. Pilares com seo transversal retangular de rea grande tendem a puxar a expectativa de produtividade para o lado esquerdo, isto , gastar-se menos mo de obra por m2 de frma.

    Associados, portanto, s faixas, tm-se vrios fatores que foram considerados responsveis pelos desempenhos variveis, isto , so indicadas as razes que levaram o desempenho a se afastar mais para a esquerda ou para a direita da faixa. Portanto, para se adotar um valor mais ou menos afastado do valor mediano, em direo ao valor mnimo ou ao mximo, seria interessante avaliar-se a previso quanto ocorrncia dos fatores indutores de variao.

    pesquIsas que servIram De suporteOs nmeros apresentados neste manual, quanto produtividade varivel, so frutos de trabalhos de pesquisa coordenados por professores do Departamento de Engenharia de Construo Civil da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo (PCC-USP). Tais trabalhos foram realizados nos ltimos dez anos e podem ser discutidos separadamente quanto aos materiais e mo de obra.

    estuDo Do consumo unItrIo De materIaIsEm 1996 iniciou-se uma grande pesquisa nacional, intitulada Alternativas para a reduo do desperdcio de materiais na construo de edifcios, que, sob a coordenao do PCC-USP (atravs dos Professores Doutores Ubiraci Espinelli Lemes de Souza e Vahan Agopyan), e com o apoio da FINEP Financiadora de Estudos e Pesquisas, Senai-NE, ITQC, e de um grupo de construtoras, reuniu pesquisadores de 16 Universidades brasileiras (USP, UFMG, UFRGS, UFSM, UFSCar, UFES, UEFS, UFBA, UFS, UPE, UFPb, UFRN, UFC, Unifor, UFPI e UEMA) para se estudar um conjunto de aproximadamente cem canteiros de obras brasileiros. Tal trabalho permitiu a elaborao de um diagnstico do consumo de material, respaldado por um banco de dados nunca antes descrito formalmente em trabalhos profissionais ou acadmicos.

    PRODUTIVIDADE VARIVEL

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    O PCC-USP, continuando sua busca por uma ampliao do conhecimento sobre o consumo de materiais, empreendeu outra grande pesquisa, tendo por parceiras a Prefeitura Municipal de Santo Andr e construtoras atuando na regio, em que se tinha, dentre outros objetivos, a misso de ampliao do diagnstico j realizado na pesquisa anterior.

    Mais recentemente, outro trabalho de diagnstico e interveno quanto s perdas de materiais nos canteiros estudou dezenas de canteiros de obras, tendo o PCC-USP coordenado trabalhos envolvendo tambm a UFSCar e a UFG, e novamente com o apoio da Finep e do Sinduscon-SP.

    Este banco de informaes foi ainda ampliado a partir de trabalhos feitos por pesquisadores atuantes no mestrado e doutorado do PCC-USP.

    estuDo Da proDutIvIDaDe Da mo De obraOs dados relativos mo de obra passaram a ser acumulados a partir dos trabalhos realizados pelo Prof. Dr. Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, durante sua permanncia (de 1993 a 1995) na Pennsylvania State University, como pesquisador visitante, trabalhando em parceria com o Prof. Dr. H. Randolph Thomas, daquela Instituio. No entanto, o primeiro grande banco de informaes disponveis diz respeito coleta de campo que fez parte de dois grandes projetos de pesquisa, coordenados pelo PCC-USP atravs do Prof. Ubiraci, e tendo o apoio do SECOVI-SP e de construtoras e fornecedores de materiais da cidade de So Paulo e imediaes.

    O primeiro projeto de pesquisa denominou-se Estudo da produtividade da mo de obra na construo civil frmas, armao, concretagem e alvenaria, preocupando-se, portanto, com os servios que caracterizam a parte mais bruta da obra.

    O segundo projeto relacionou-se parte de caracterstica mais fina da obra, tendo-se estudado os revestimentos, internos e externos, de argamassa, gesso e cermica, aplicados em paredes e pisos.

    Outros trabalhos mais recentes (em So Paulo, Pernambuco, Bahia, Paran, dentre outras regies) tm aumentado as informaes disponveis.

    Os dados de produtividade da mo de obra foram tambm enriquecidos com vrios trabalhos de pesquisadores participantes dos programas de ps-graduao do PCC-USP. Ainda no caso da mo de obra, vale a pena citar que a metodologia aplicada nos trabalhos citados est sendo usada atualmente em pesquisa de mbito internacional, na qual outros pases esto estimando e procurando entender sua produtividade, o que permitir futuras comparaes entre desempenhos de diferentes pases.

    Cabe finalmente salientar, tanto no caso dos materiais quanto no da mo de obra, a contribuio fundamental de inmeros pesquisadores para a reunio de banco de dados to rico, cuja anlise permite disponibilizar um conjunto de informaes que pode ser considerado grande, em funo das dificuldades que a coleta implica, e pequeno, em face da disposio de ter-se cada vez mais e melhores dados para aumentar nosso conhecimento sobre a produtividade varivel.

    proDutIvIDaDe varIvel para a mo De obra

    Ao se avaliar a produtividade da mo de obra, deve-se ter clara a abrangncia da equipe demandada para que um servio seja executado. Os oficiais so operrios especializados, responsveis pela elaborao do produto final propriamente dito, isto , trata-se do grupo de operrios que realmente agrega valor obra; os ajudantes diretos so aqueles que auxiliam os oficiais nas proximidades do produto que est sendo elaborado, normalmente movimentando os materiais para bem perto dos oficiais e sendo responsveis

    por outras tarefas auxiliares, comandados pelos oficiais; e os ajudantes de apoio, que, normalmente localizados mais distantes dos oficiais, so responsveis pelo suprimento de materiais na frente de trabalho.

    proDutIvIDaDe varIvel para os materIaIs

    O consumo unitrio de materiais pode ser considerado como sendo a soma de uma quantidade teoricamente necessria com outra quantidade, denominada perda (parte evitvel e parte inevitvel), normalmente associada aos processos de produo. Dentro deste contexto, e semelhantemente ao que se viu para a mo de obra, h fatores que fazem o consumo ser maior ou menor numa situao ou em outra; tais fatores podem ser associveis tanto quantidade teoricamente necessria (por exemplo, um maior nmero de andares-tipo permite a reutilizao de um mesmo molde de frmas, o que diminui a quantidade teoricamente necessria de chapas de compensado) quanto s perdas esperadas.

    Em termos da apresentao da produtividade varivel para o caso dos materiais, ter-se- a indicao de faixas de consumo unitrio, indo de um valor mnimo a um mximo, passando-se pelo valor mediano, chegando-se indicao dos fatores que se detectou terem influncia na obteno de consumos mais prximos de um dos extremos da faixa. A figura a seguir ilustra um exemplo de consumo unitrio varivel para o caso de execuo de contrapisos internos de argamassa sobre lajes.

    a utIlIzao Dos InDIcaDores De proDutIvIDaDe varIvel

    Ao longo deste manual ter-se-, semelhantemente ao que ocorria nas verses anteriores do TCPO, a apresentao das composies tradicionais dos servios, em que a produtividade tratada atravs dos seus valores obtidos historicamente pela PINI. Adicionalmente a tais composies, estar-se- indicando as faixas de valores e fatores influenciadores relativos produtividade varivel, para mo de obra direta (oficiais e ajudantes diretos) e para materiais (alm de algumas discusses relativas a equipamentos).

    De posse de tais informaes, o usurio poder continuar adotando o procedimento convencional, de uso das composies tradicionais (produtividade mdia histrica), ou tentar adotar os indicadores escolhidos a partir da faixa proposta (produtividade varivel). No caso da produtividade

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    mdia histrica, as faixas de valores da produtividade varivel podero servir para o usurio ter maior cincia dos eventuais afastamentos esperados com relao aos valores adotados. No caso de se utilizar a produtividade varivel, h que se discutir como escolher o valor mais coerente para o caso particular para o qual est sendo definido. Alguns aspectos devem ser considerados, tais como: o momento da escolha do indicador com relao vida do empreendimento; a utilizao que ser dada ao indicador; o nvel de informaes disponveis para sua definio; entre outros.

    Em linhas gerais, uma vez que se conheam (ou se tenha confiana quanto sua previso) os fatores que influenciam a produtividade varivel, poder-se-ia fazer um balano quanto maior ou menor presena dos que levam a aumento ou diminuio da produtividade e, com isso, poder escolher um valor mais ou menos afastado do valor mediano em direo a um dos extremos.

    A Figura a seguir ilustra tal tipo de deciso: espera-se que, para o servio que ser executado, na obra A exista uma leve predominncia de fatores que pioram a produtividade; e na obra B, exista uma expectativa de balanceamento entre os fatores que melhoram e os que pioram a produtividade. A Figura sugere a adoo, para o caso da obra A, de um indicador entre o valor mediano e o mximo da faixa; e para a obra B, o valor mediano seria o escolhido.

    Sempre que a quantidade de informaes disponveis for pequena, o que normalmente ocorre nas fases iniciais do empreendimento (por exemplo, durante o estudo de viabilidade), no qual no se tem uma confiabilidade razovel para estimar vrios dos fatores influenciadores da produtividade, pode-se pensar em adotar o valor mediano, j que este representa as situaes de maior ocorrncia no banco de dados. Tal deciso pode ser influenciada pelo tipo de uso a ser dado previso ou aos riscos que se pretende correr; por exemplo, caso se trate de uma proposta a ser feita numa situao em que, embora se queira atribuir valores coerentes, no se queira correr riscos, poder-se-ia escolher os valores mximos das faixas, o

    que significa uma relativa segurana quanto a no se ter, na obra real futura, consumos mais acentuados do que os previstos. No caso contrrio, poder-se-iam escolher valores mais prximos do extremo esquerdo da faixa; sempre que a previso estiver mais prxima dos menores valores das faixas, deve-se, como recomendao geral, investir mais num controle rigoroso para evitar surpresas quanto a desempenhos reais piores que os previstos.

    De qualquer maneira, acredita-se que o uso direto ou indireto da produtividade varivel v criando uma crescente familiaridade com a ocorrncia de desempenhos variveis e com a percepo das causas que determinam tal variao. Tudo isso, certamente, induz o treinamento dos usurios no exerccio constante de entender melhor e, portanto, aumentar seu domnio quanto s variaes da produtividade, o que constitui uma capacidade altamente valorizvel no ambiente mutvel e competitivo em que as empresas de construo vivem.

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    representao Dos fatores que InfluencIam a proDutIvIDaDe Dos servIos.

    Para um grupo de aproximadamente 400 composies de custo, esta nova verso do TCPO inclui variaes de produtividades que sero representadas de acordo com a ilustrao abaixo.6(5 D D DDK W DK ^ Dd ^Z )DWRUHVGHLQIOXrQFLDQRFRQVXPRGHPDWHULDLVHSURGXWLYLGDGHGDPmRGHREUDW^ W

    FyGLJR E W WW D W &D & Yh W W E Eh E EE W Wh h /d dW W W

    FIGURA 1 Introduo TCPO-14

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    Neste exemplo, uma composio de alvenaria estrutural de blocos cermicos, esto organizados trs grupos de fatores que influenciam na produtividade deste servio:

    Oprimeiro,emfontesdecorverde,listamosprincipaisfatoresquetm direta influncia sobre a produtividade da mo de obra necessria para a realizao do servio, no caso, horas de pedreiro e servente.

    O segundo grupo de informaes, em fonte de cor azul, estoorganizados fatores que influenciam no consumo, ou rendimento, do principal insumo utilizado na composio, no caso, os prprios blocos cermicos estruturais.

    Oterceirogrupo,emfontedecorlaranja,listaosfatoresquetminfluncia no consumo da argamassa de assentamento dos tijolos cermicos estruturais.

    No quadro superior, onde est representada a composio de custos propriamente dita, so apresentados trs valores de coeficientes para cada um dos insumos que compem o servio valores mnimos, mdios e mximos , que representam as variaes correspondentes a cada um dos grupos de fatores de influncia organizados logo abaixo.

    Esta nova maneira de representao das composies valiosa porque permite que os oramentistas caracterizem melhor seus oramentos, reproduzindo neles as reais condies de execuo da obra e servios, e tambm porque permitem que os engenheiros de obra ou gestores compreendam de maneira explcita e organizada os principais fatores que influenciam a produtividade da mo de obra ou o consumo de materiais de um determinado servio. Esta informao assim explcita e organizada pode embasar tomadas de decises e a realizao de aes, podendo interferir diretamente na eficincia dos servios planejados.