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CORPOCIDADE: ARTE ENQUANTO MICRO-RESISTÊNCIA URBANA Fabiana Dultra Britto Paola Berenstein Jacques RESUMO Partimos de uma crítica à atual espetacularização das cidades e propomos a necessidade de restituir o caráter político do espaço público por meio da valorização da experiência corporal das cidades, apresentando a idéia de corpograa como uma possibilidade de micro resistência a esse processo segregador e apolítico. O espaço público, se reconhecido, por excelência, como locus do conito, inclui agentes e mobiliza agenciamentos muito mais diversos e contraditórios do que se desejaria ou se costuma identicar. Enquanto a arte, se reconhecida como locus da experiência, promove percepções espaço-temporais muito mais complexas do que sugerem os efeitos moralizadores e individualistas normalmente atribuídos à contemplação cenográca. Palavras-chave: cidade; espetacularização; resistência; corpograa. BODYCITY: ART AS URBAN MICRO-RESISTANCE ABSTRACT We start from the critique about the spetacularization of the cities and purpose the necessity of to return the political character of the public space through the valorization of the bodily experience of the cities, presenting the idea of bodygraphy as a possibility of micro-resistance to these apolitical and segregator process. The public space, if recognized by excellence as the conict locus, includes agents and mobilizes agenciaments much more diverse and contradictory than Doutora em Comunicação e Semiótica (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Crítica de dança, professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Dança da Universidade Federal da Bahia. Entre outros projetos, criou e coordenou o mapeamento da dança contemporânea no Brasil realizado pelo Rumos Dança-2000 do Itaú Cultural e organizou o livro resultante: Cartograa da Dança. Publicou recentemente o livro Temporalidade em Dança (Belo Horizonte, FID, 2008). Endereço: Universidade Federal da Bahia. Av Adhemar de Barros s/n – Ondina. CEP: 40170-110 - Salvador, BA – Brasil. E-mail: [email protected] Arquiteta-urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia e vice- coordenadora do PPG-AU/FAUFBA. É autora dos livros: Les favelas de Rio (Paris, l’Harmattan, 2001a); Estética da Ginga (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2001b); Esthétique des favelas (Paris, l’Harmattan, 2003a); co-autora de Maré, vida na favela (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2002) ; organizadora de Apologia da Deriva (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003b), Corps et Décors urbains (Paris, l’Harmattan, 2006), e Corpos e cenários urbanos (Salvador, Edufba, 2006). E-mail: [email protected]

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  • CORPOCIDADE: ARTE ENQUANTO MICRO-RESISTNCIA URBANA

    Fabiana Dultra Britto+Paola Berenstein Jacques++

    RESUMOPartimos de uma crtica atual espetacularizao das cidades e propomos a necessidade de restituir o carter poltico do espao pblico por meio da valorizao da experincia corporal das cidades, apresentando a idia de corpografi a como uma possibilidade de micro resistncia a esse processo segregador e apoltico. O espao pblico, se reconhecido, por excelncia, como locus do confl ito, inclui agentes e mobiliza agenciamentos muito mais diversos e contraditrios do que se desejaria ou se costuma identifi car. Enquanto a arte, se reconhecida como locus da experincia, promove percepes espao-temporais muito mais complexas do que sugerem os efeitos moralizadores e individualistas normalmente atribudos contemplao cenogrfi ca.

    Palavras-chave: cidade; espetacularizao; resistncia; corpografi a.

    BODYCITY: ART AS URBAN MICRO-RESISTANCE

    ABSTRACTWe start from the critique about the spetacularization of the cities and purpose the necessity of to return the political character of the public space through the valorization of the bodily experience of the cities, presenting the idea of bodygraphy as a possibility of micro-resistance to these apolitical and segregator process. The public space, if recognized by excellence as the confl ict locus, includes agents and mobilizes agenciaments much more diverse and contradictory than + Doutora em Comunicao e Semitica (Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo).

    Crtica de dana, professora e coordenadora do Programa de Ps-Graduao em Dana da Universidade Federal da Bahia. Entre outros projetos, criou e coordenou o mapeamento da dana contempornea no Brasil realizado pelo Rumos Dana-2000 do Ita Cultural e organizou o livro resultante: Cartografi a da Dana. Publicou recentemente o livro Temporalidade em Dana (Belo Horizonte, FID, 2008). Endereo: Universidade Federal da Bahia. Av Adhemar de Barros s/n Ondina. CEP: 40170-110 - Salvador, BA Brasil.E-mail: [email protected]

    ++ Arquiteta-urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia e vice-coordenadora do PPG-AU/FAUFBA. autora dos livros: Les favelas de Rio (Paris, lHarmattan, 2001a); Esttica da Ginga (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2001b); Esthtique des favelas (Paris, lHarmattan, 2003a); co-autora de Mar, vida na favela (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2002) ; organizadora de Apologia da Deriva (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003b), Corps et Dcors urbains (Paris, lHarmattan, 2006), e Corpos e cenrios urbanos (Salvador, Edufba, 2006).E-mail: [email protected]

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    Fabiana Dultra Britto; Paola Berenstein Jacques

    people would like and are used to identify. While the art, if is recognized as the experience locus, promotes space-temporal perceptions much more complex than the moralized and individualists effects that are normally attributed to the scenography contemplation

    Keywords: city; spetacularization; resistance; bodygraphy.

    1. CANTEIRO DE OBRAS: O ESPAO PBLICO

    Uma das principais refl exes crticas acerca do cotidiano da vida urbana contempornea, tematizada em diferentes campos, refere-se ao processo deno-minado espetacularizao urbana1, em aluso s nefastas consequncias do processo de privatizao dos espaos pblicos pela especulao imobiliria e a consequente gentrifi cao (enobrecimento de reas com expulso da populao mais pobre) das cidades contemporneas. Em tais processos, o ambiente urbano tende a se caracterizar como uma cenografi a e a experincia urbana cotidiana, por sua vez, ento, acaba resumida utilizao e circulao disciplinadas por prin-cpios segregatrios, conservadores e despolitizadores que conferem um sentido mercadolgico, turstico e consumista ao seu modo de operao. A crtica hoje ao processo de espetacularizao urbana j se tornou recorrente no meio acadmico, ao menos no campo da arquitetura e do urbanismo, e este processo est cada vez mais explcito. Escutamos muito falar em cidade-museu, cidade genrica, cida-de-parque-temtico, cidade-shopping, em resumo: cidade-espetculo, no sentido proposto por Guy Debord (1997).

    De to consolidado esse processo, muitos de seus efeitos acabam por tornar-se a prpria lgica organizativa da dinmica urbana, atuando de modo estrutural e no mais apenas circunstancial, na medida em que se desvinculam de sua justifi cativa contextual para generalizarem-se como um padro cultural de pensamento, comportamento e ao.

    Tome-se, por exemplo, um processo corretalo conhecido como turisti-fi cao das cidades que, fortemente ancorado na lgica de consumo tpica dos contextos espetacularizados, generalizou-se como um padro interativo entre pessoas e lugares, que opera, inclusive, em circunstncias sem qualquer apelo propriamente turstico.

    Uma lgica interativa (consumista ou turistizada) que faz parte do cres-cente processo de espetacularizao da cidade, da cultura e do prprio corpo e que, de to consolidada, j se manifesta amplamente impregnada na formulao dos discursos e comportamentos que permeiam e, at mesmo, fundamentam des-de os planejamentos e aes da administrao pblica das cidades at as prprias relaes mais ntimas de seus habitantes.

    O aspecto crucial dessa confi gurao contempornea das cidades, que interessa salientar, o do empobrecimento da experincia urbana dos seus habitantes, cujo espao de participao civil, de produo criativa e vivncia

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    afetiva no apenas est cada vez mais restrito quanto s suas oportunidades de ocorrncia, mas, inclusive, qualitativamente comprometido quanto s suas possibilidades de complexifi cao.

    Embora esse problema j venha sendo tematizado pelos discursos acadmi-cos e da administrao pblica das cidades, ainda carece de enfrentamento apro-priado ao necessrio redimensionamento das responsabilidades e implicaes, de modo, tambm, a combater uma certa tendncia conciliatria das abordagens que, ao pregar a tese da coexistncia pacfi ca entre diferentes identidades acaba por destin-los cada qual ao seu espao prprio de convivncia com iguais, escon-dendo os inevitveis confl itos de interesse e instaurando equilbrios duvidosos.

    O espao pblico, se reconhecido, por excelncia, como locus do confl ito, inclui agentes e mobiliza agenciamentos muito mais diversos e contraditrios do que se desejaria ou se costuma identifi car. Enquanto a arte, se reconhecida como locus da experincia, promove percepes espao-temporais muito mais com-plexas do que sugerem os efeitos moralizadores e individualistas normalmente atribudos contemplao cenogrfi ca.

    Sob esta perspectiva, qualquer abordagem acerca do ambiente urbano que desconsidere sua dimenso pblica nos parece pura especulao como tambm o ser qualquer atuao artstica que desconsidere sua dimenso contextual (cir-cunstancial). exatamente a partir desta constatao que os campos da arquitetu-ra (com os estudos da cidade) e da dana (com os estudos do corpo) demonstram uma possibilidade de interseo criativa e propositiva.

    O espao pblico e a experincia artstica constituem, assim, aspectos da vida humana cuja dinmica tanto promove quanto resulta dos modos de articu-lao entre corpo e seus ambientes de existncia. Ambiente entendido no pro-priamente como um lugar, mas como um conjunto de condies interativas para o corpo2, permite pensar a prpria universidade como um ambiente apropriado para a formulao e experimentao de hipteses e procedimentos capazes de conferir um novo enquadramento ao problema das relaes atuais entre corpo e cidade, a partir da desejvel articulao entre teoria e arte.

    Sabe-se que a proposta de articular diferentes campos do conheci-mento para engendrar refl exes crticas acerca de casos e situaes de uma dada realidade um exerccio to necessrio quanto delicado: no raras vezes resulta em impropriedades desrespeitosas tanto aos campos invoca-dos quanto prpria situao analisada.

    O exerccio de articulao entre arte e urbanismo, passa, pois, neces-sariamente, pela desterritorializao de alguns dos conceitos mais caros s suas respectivas especifi cidades como o so tempo e espao, corpo e ambiente. Desse modo, podero se esboar novos modos relacionais sug-estivos de novos nexos de sentido, tanto aos conceitos quanto s prprias reas de conhecimento em questo.

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    Nesta perspectiva, possvel pensar o debate entre arte e urbanismo no como um encontro de reas mas como um processo de construo de uma zona de transitividade, baseada na co-operao entre as condies relacionais de cada rea, em busca de conexes que mobilizem experincias re-organizativas de seus respectivos regimes de funcionamento e estados de equilbrio, de modo que favoream a produo de novos sentidos ou, como sugere o fi lsofo Paul Thagard (2000), a instaurao de coerncias.3

    2. AGENCIAMENTO: A CORPOGRAFIA URBANA

    Esse processo de estetizao acrtico e segregador,que faz parte do que se conhece por espetacularizao urbana cidade-espetculo, cidade-cenrio est diretamente relacionado a uma diminuio tanto da participao cidad quanto da prpria experincia corporal das cidades enquanto prtica cotidiana, esttica ou artstica no mundo contemporneo. Partimos da premissa de que o estudo das relaes entre corpo corpo ordinrio, vivido, cotidiano e cidade, poderia nos mostrar alguns caminhos alternativos, desvios, linhas de fuga, micro-polticas ou aes moleculares de resistncia ao processo molar de espetacularizao da cida-de, da arte e do prprio corpo na contemporaneidade. A reduo da ao urbana, ou seja, o empobrecimento da experincia urbana pelo espetculo leva a um em-pobrecimento da corporalidade, os espaos urbanos tornam-se simples cenrios, sem corpo, espaos desencarnados, o que incita refl exo urgente sobre as atuais relaes entre urbanismo e corpo, entre o corpo urbano e o corpo do cidado. Da relao entre o corpo do cidado e um outro corpo urbano podero surgir outras formas de apreenso urbano-corporal e, consequentemente, outras formas de re-fl exo, de relao e de interveno nas artes e nas cidades contemporneas.

    Quais seriam, ento, algumas alternativas ou desvios possveis ao espet-culo urbano? Todas as pistas nos levam questo da experincia ou prtica dos espaos urbanos. Essas alternativas passariam necessariamente pela prpria ex-perincia corporal da cidade. A reduo da ao urbana, ou seja, o empobreci-mento da experincia urbana pelo espetculo leva a uma perda da corporeidade, os espaos urbanos se tornam simples cenrios, sem corpo, espaos desencarna-dos. Os novos espaos pblicos contemporneos, cada vez mais privatizados ou no apropriados, nos levam a repensar as relaes entre urbanismo e corpo, entre o corpo urbano e o corpo do cidado. A cidade no s deixa de ser cenrio mas, mais do que isso, ganha corpo a partir do momento em que ela apropriada, vi-venciada, praticada, ela se torna outro corpo.

    Acreditamos que seja dessa relao entre o corpo do cidado e esse outro corpo urbano poder surgir uma outra forma de apreenso urbana e, consequen-temente, de refl exo e de interveno na cidade contempornea. Partimos da premissa de que o estudo das relaes entre corpo corpo ordinrio, vivido, co-tidiano, ou seja, o corpo enquanto possibilidade de micro resistncia espetacula-rizao, o oposto do corpo mercadoria, imagem ou simulacro, produto da prpria espetacularizao contempornea e cidade, pode nos mostrar alguns caminhos alternativos, desvios, a este processo sofrido pelas cidades contemporneas.

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    As relaes, entre o corpo humano e o espao urbano, ainda tem sido bas-tante negligenciada nos estudos urbanos e, principalmente, nos estudos culturais a respeito das cidades. Consideramos que os estudos do corpo infl uenciaram os estudos urbanos e que corpo e cidade se confi guram mutuamente, ou seja, que alm de os corpos fi carem inscritos e contriburem para a formulao do traado de cidades, as memrias das cidades tambm fi cam inscritas e contribuem para a confi gurao de nossos corpos.

    A cidade percebida pelo corpo como conjunto de condies interativas e o corpo expressa a sntese dessa interao descrevendo, em sua corporalidade, o que passamos a chamar de corpografi a urbana.4 A corpografi a seria uma espcie de cartografi a corporal em que no se distinguem o objeto cartografado e sua representao. Uma ideia baseada na hiptese de que a experincia urbana fi ca inscrita, em diversas escalas de temporalidade, no prprio corpo daquele que a experimenta, e dessa forma tambm o defi ne, mesmo que involuntariamente.

    3. CONCLUSES PROSPECTIVAS: ARTE NO ESPAO PBLICO URBANO

    Os atuais projetos urbanos contemporneos, ditos de revitalizao urbana, esto sendo realizados no mundo inteiro de acordo com uma mesma estratgia : ge-nrica, homogeneizadora e consensual. Estes projetos espetaculares transformam os espaos pblicos em cenrios, espaos desencarnados, sem corpo , pura imagem . As cidades cenogrfi cas contemporneas esto cada dia mais pa-dronizadas e uniformizadas. Espaos destitudos de seus confl itos inerentes, dos desacordos e dos desentendimentos, ou seja, so espaos apolticos. Se pensamos, como Jacques Rancire (2005), no desentendimento como categoria fundamental do poltico, nos confl itos e dissensos que caracterizam a vita activa, a vida pblica, estes espaos pblicos transformados em imagens espetaculares so a prpria ne-gao do poltico, ou seja, a negao do prprio carter poltico desses espaos que est, ou deveria estar, na base de qualquer formulao de esfera pblica.

    Chantal Mouffe (2007a) ainda mais radical ao defender a ideia de um modelo agonista, no qual o espao pblico , ao contrrio dessas imagens de espaos pblicos dos spots publicitrios, um eterno campo de batalha no qual enfrentam diferentes projetos, sem possibilidade alguma de conciliao fi nal. Na perspectiva de Mouffe (2007a) no h possibilidade de emergncia de qualquer tipo de consenso no espao pblico. Dentro da proposta agonista, os espaos pblicos so sempre plurais e a confrontao agonista se produz em uma multi-plicidade de superfcies discursivas.

    Enquanto a construo de consensos busca reduzir os confl itos e uma forma ativa de despolitizao, o desentendimento, ou a construo de dissensos, seria uma forma de resistncia. Rancire (1996), mostra que precisamente essa confi gurao consensual que solicita, de diferentes maneiras, a interveno da arte. evidente que no se trata aqui da escultura tradicional na praa pblica (presente nos cartes postais das cidades) ou ,ainda, da arte pblica espetacular, usada para ornar ou embelezar ou ainda tentar criar novos laos em espaos pblicos problemticos, ou seja, uma arte esparadrapo, como diz Henri-Pierre

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    Jeudy (1999), que est servio do espetculo e que promove essas imagens de espaos pacifi cados. Ao contrrio, trata-se da arte que poderia ser vista como uma forma de ao dissensual, de construo de espaos dissensuais ou confl i-tuosos, uma possibilidade de explicitao desses confl itos, ou, ainda, como uma potncia questionadora de consensos estabelecidos e, sobretudo, explicitadora de tenses do/no espao pblico diante dessa atual despolitizao consensual.

    Pode ser de fato interessante pensar a arte como essa fonte explicita-dora ou mantenedora ou at mesmo criadora de tenses no/do espao p-blico. Chantal Mouffe (2007b, p. 5) faz uma proposta semelhante, no que ela chama de Arte Crtica:

    De acordo com a abordagem agonstica, arte crtica a arte que fomenta dissensos, que torna visvel o que o consenso dominante tenta obscurecer e esquecer. Esta constituda por uma srie de prticas artsticas que buscar dar voz queles que foram silenciados pela estrutura da hegemonia existente.

    Essa idia de dar voz aos silenciados precisa ser relativizada para se evitar o perigo do que Jeudy (1999) chama dos usos sociais da arte , muito em voga hoje e que tambm leva a criao de consensos, sobretudo identitrios, o interessante na ideia de Mouffe o fomento de dissensos, no carter poltico do que ela vai chamar de ativismo artstico que, segundo ela, deve ser visto como intervenes contra-hegemnicas com o objetivo de ocupar o espao pblico para perturbar essa imagem tranquilizadora que o espetculo do consenso tenta forjar.

    Um bom exemplo, dessas prticas artsticas, que podem ser vistas como intervenes contra-hegemnicas, foi o que aconteceu durante o encontro Corpocidade: debates em esttica urbana 1 (2008) e, a partir das diversas intervenes urbanas realizadas por artistas nessa ocasio nos es-paos pblicos de Salvador.

    A partir do amadurecimento da ideia de corpografi a como micro-resistn-cia ao empobrecimento da experincia urbana pelo processo citado de espeta-cularizao das cidades, percebemos a necessidade de estender prpria cidade as discusses e experimentaes sobre o tema at ento realizadas no mbito acadmico, e decidimos criar uma oportunidade de encontro entre artistas e espe-cialistas das diversas reas cujo enfoque de atuao profi ssional estivesse relacio-nado com o tema da relao entre corpo e cidade, para possibilitar a confrontao pblica de suas proposies artsticas e tericas.

    Baseadas em tais pressupostos e preocupaes, organizamos o evento Corpocidade: debates em esttica urbana 1 (2008) como uma dessas zonas de transitividade propostas anteriormente, criando situaes em que pudssemos ex-perimentar um padro colaborativo no conciliatrio mas criativo de alternativas, de modo que a articulao entre Arte e Urbanismo e outros campos correlatos como Filosofi a, Psicologia e Histria nos permitisse conduzir suas questes es-pecfi cas por caminhos de construo argumentativa abertos por discusses com-partilhadas, promovendo a expanso de um campo no outro.

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    A ideia de organizar esse encontro foi resultante do compartilhamento das ideias e posturas formuladas por um grupo de professores (alguns dos quais integraram o Comit Cientfi co), a partir de suas experincias de sala de aula sobre questes acerca de esttica urbana. Buscamos, ento, abranger aspectos da multiplicidade desse tema, que vai da esttica do espao urbano (cidade como obra de arte) esttica no espao urbano (obra de arte na ci-dade), passando por consideraes estticas sobre intervenes urbanas, arte pblica, performances, projetos urbanos etc.

    A partir do nosso desafeto s aes isoladas e pontuais como os demais eventos realizados sobre o tema, percebemos a necessidade de pensar este en-contro no mais como um fi m em si mesmo, mas como uma das possveis confi -guraes de um projeto mais abrangente dedicado ao enfrentamento do problema da degradao da experincia pblica das cidades contemporneas por meio de produo crtica continuada e de atuaes prospositivas. A prpria experincia colaborativa de formatao e planejamento do encontro mostrou-se de tal modo enriquecedora dos nossos ideais de interlocuo que decidimos expandir o raio de ao e ressonncia do encontro e criar outros campos alternativos de partici-paco pblica na nossa proposta, abrindo frestas de interferncia no processo de maturao desse debate, por meio de um programa de aes complementares.

    O encontro, ento, inicialmente idealizado como um evento acadmico-ar-tstico com durao limitada a quatro dias (27 a 31/outubro/2008), logo adquiriu dimenses mais abrangentes e passou a ser gerido como uma plataforma de ao: um conjunto de atividades pblicas e aes diretivas destinadas a produzir e divulgar ideias, projetos e experincias de articulaco entre corpo e cidade, de-senvolvidos em diferentes reas do conhecimento e contextos culturais.

    A primeira iniciativa da organizao foi criar um site bilingue www.corpo-cidade.dan.ufba.br que atuasse, por um lado, como arquivo dinmico de materiais diversos acerca do projeto e, por outro, como campo de divulgao/circulao de idias, por meio da publicao de textos, projetos artsticos e urbansticos. Assim surgiu a revista eletrnica [dobra], com periodicidade mensal e cuja editoria en-tregamos para estudantes bolsistas de mestrado em Arquitetura e Urbanismo e Dana, que haviam cursado, em 2007, a disciplina Esttica Urbana, que as autoras lecionaram juntas no Programa de Ps-Graduao em Artes Visuais da UFBA, e cujo enfoque temtico e dinmica laboratorial j se defi niam como opo meto-dolgica de prtica tanto crtica quanto interventiva que se intencionava estender para o contexto do encontro Corpocidade: debates em esttica urbana 1 (2008).

    Desde a criao do site, em fevereiro de 2008 at a realizao do encon-tro, em outubro de 2008, na Escola de Dana da UFBA Salvador/Bahia, foram publicadas cinco edies da revista [dobra], como ao preparatria do prprio evento. A primeira edio foi introdutria da proposta do evento e apresentou suas quatro Sesses Temticas, a composio do comit Cientfi co-Artstico, a dinmica dos trabalhos e as regras de participao. As outras quatro edies

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    tematizavam, separadamente, cada uma das Sesses Temticas, incluindo entre-vistas, artigos, reportagens e imagens encomendadas a colaboradores convidados e ao prprio comit Cientfi co-Artstico do evento.

    Para compor a programao dos debates, a organizao do encontro lanou uma chamada de propostas ou respostas que poderiam ser tericas ou artsticas a uma questo previamente colocada: a crtica prospectiva ao processo de espeta-cularizao urbana. Tnhamos tambm, como uma pista a ser seguida, a questo da experincia ou da prtica dos espaos pblicos no cotidiano e, em particular, da prpria experincia corporal destes. Ao buscar um escape dessa hegemonia das imagens consensuais, era evidente que a questo do corpo precisaria ser in-vestigada, em particular as relaes entre corpo e urbanismo, entre corpo urbano e corpo poltico, entre corpo da arte e corpo da cidade. E tnhamos como premissa bsica o entendimento de que o estudo das relaes entre corpo corpo ordinrio, vivido, cotidiano, ou seja, o corpo enquanto possibilidade de micro resistncia espetacularizao, o oposto do corpo mercadoria, imagem ou simulacro, produto da prpria espetacularizao e cidade, poderia nos mostrar alguns desvios a este processo sofrido pelas cidades contemporneas.

    O debate em esttica urbana entre os campos da arte e do urbanismo pro-posto pelo encontro corpocidade, buscou, ainda, articular polticas culturais a territrios urbanos. Pretendeu-se estimular uma discusso acerca dos modos como se processam as noes de corpo, arte, ambincia e cidade nas prticas e discursos produzidos em diferentes campos do conhecimento e, em particular, nas artes visu-ais, dana, arquitetura e urbanismo. Pretendeu-se discutir as diferentes articulaes possveis entre corpo e cidade como estratgia de redesenho das suas condies participativas no processo de formulao da vida pblica em que esto co-impli-cadas. Pretendeu-se instaurar uma arena de debates para a confrontao de ideias e experimentao coletiva de hipteses em formatos tericos e artsticos. Criou-se, para isso, um contexto que atuasse como frum de discusso das proposies ins-critas experimentaes tericas ou artsticas para situ-las em termos tericos e contextualiz-las histrica e politicamente, no confronto entre elas.

    O encontro experimentou o formato de um encontro terico-artstico para discutir as relae entre corpo e cidade a partir da confrontao de ideias que se apresentaram como hipteses (experimentaes) tericas ou artsticas (intervenes urbanas) de resposta s questes propostas pelas quatro sesses temticas do encontro. Formuladas por um grupo de oito professores com atu-ao acadmica em Programas de Ps- Graduao das reas de Arquitetura e Urbanismo, Artes Visuais, Dana, Histria, Filosofi a e Psicologia, cada ST expressou, em suas ementas, diferentes dimenses do tema e sugeriu modos de acesso e de interlocuo especfi cos a seu contexto terico. Para conduzir a seleo dos trabalhos, coordenar as apresentaes das experimentaes e par-ticipar dos debates, cada ST foi coordenada por um Comit que decidimos ca-racterizar como Cientfi co-Artstico composto de dois professores e um artista convidado, de modo a instaurar uma interlocuo acadmico-artstica em todo o processo de construo do perfi l do encontro.

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    Intelectuais, crticos, professores, estudantes, arquitetos, urbanistas, artis-tas plsticos, coregrafos, performers e demais artistas ou tericos interessados no debate proposto pelo encontro foram convidados a participar. Recebemos cen-tenas de propostas de comunicao e de interveno de vrios estados do pas, as-sim como de outros pases, dentre as quais, foram selecionadas 12 intervenes urbanas que foram realizadas em Salvador e 36 comunicaes tericas que foram apresentadas durante a programao de cada uma das quatro Sesses Temticas, que ocuparam, cada uma, um dia do encontro, em debates com a presena de todos os participantes, dos membros do comit e demais convidados. O limi-te de comunicaes visou justamente evitar a sobreposio de apresentaes na programao, para garantir a instaurao de um verdadeiro debate em que cada sesso temtica fosse articulada ao debate mobilizado pelas demais e todos os participantes pudessem participar de todas as discusses de modo a benefi ciarem-se mutuamente com perspectivas diferenciadas mas complementares.

    A primeira ST do encontro, coordenada por Margareth da Silva Pereira (PROURB/UFRJ) e a colaborao de Regina Helena da Silva (PPGHIS/UFMG) e da artista Daniela Brasil (Bauhaus/Weimar) tratou da questo das CIDADES IMATERIAIS, foi colocada questo a hipertrofi a da dimenso material e visu-al na compreenso do conceito de cidade, que continua a ignorar indivduos ou grupos e a diversidade de suas histrias, memrias e experincias de vida coletiva. Pretendeu-se discutir como a banalizao de elogios ou condenaes implcitas em expresses que vm sendo invocadas hoje como cidades gen-ricas, cidades partidas, cidades em trnsito, cidades sem limites no so inocentes e negligenciam que as cidades so construes plurais, ao mesmo tempo materiais, imateriais, mas, sobretudo, encarnadas, feitas, portanto, de subjetividades, percepes, expectativas, alianas, confl itos que elaboram a pr-pria tessitura social, poltica e cultural em seu modo mais banal, cotidiano e di-nmico de ao. Foi enfatizada a discusso de situaes de nomadismos, exlios, hibridismos ou mestiagens capazes de chamar a ateno para a diversidade de cidades que sempre estiveram presentes na experincia citadina, autorizando expresses culturais arquitetnicas, urbansticas, artsticas que deslocam a pregnncia de um conceito material, construdo, visvel e fechado de cidade que j demonstrou seus limites e as excluses que acarreta.

    Na segunda ST do encontro, coordenada por Glria Ferreira (PPGAV/UFRJ) e a colaborao de Guilherme Bueno (EAVPL/RJ) e do artista Ronald Duarte (RJ), o tema tratado foi a cidade como campo ampliado da arte, a cidade foi discutida como situao da ampliao do campo artstico. Vimos que o inves-timento de diferentes tipos de aes de artistas nas ltimas dcadas estabeleceu uma nova cartografi a simblica da arte na qual se tecem nexos com as situaes histricas, polticas e sociais, bem como com o fl uxo de signifi caes de sua pre-sena no mundo. A relao com a cidade indica, assim, a busca de uma economia de insero da arte nas sociedades e no mundo, redefi nindo a funo, o papel e mesmo o que seria prprio arte nas atuais circunstncias.

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    Fabiana Dultra Britto; Paola Berenstein Jacques

    A terceira ST do encontro, coordenada por Fabiana Dultra Britto (PPG-DAN/UFBA) e a colaborao de Paola Berenstein Jacques (PPGAU/UFBA) e do coregrafo Alejandro Ahmed (Grupo Cena 11/SC) tratou diretamente da ideia de corpografi as urbanas, ou seja, a idia de se explorar o campo de possibilidades das relaes entre corpo e cidade pensando-as como um processo de formulao de um ambiente e o ambiente como conjunto de condies para a continuidade desse processo. Corpo e cidade se relacionam, mesmo que involuntariamente, por meio de toda e qualquer experincia urbana. A cidade lida pelo corpo como conjunto de condies interativas e o corpo expressa a sntese dessa interao descrevendo em sua corporalidade, o que passamos a chamar de corpografi a urbana. Nesta ST investigamos as cartografi as realizadas pelo e no corpo como registros corporais das experincias urbanas, e bucasmos compreender espaos urbanos atravs de diferentes confi guraes corporais.

    A quarta e ltima ST, coordenada por Robert Pechman (IPPUR/UFRJ) ,jun-tamente com Luis Antnio Baptista (PPGPS/UFF) e a videoartista Eliana Kuster (ES), props questionamos sobre os modos de subjetivao na cidade: Como entender os modos de subjetivao do indivduo contemporneo na cidade? Uma cidade, j sabemos, mais do que um simples lugar, mais que um cenrio, trans-cende o palco. Segundo o coordenador da ST:

    A cidade a possibilidade do individuo ser: quanto mais ela introjetada no plano familiar, ntimo, pessoal, quanto mais ela parece estruturar o indivduo no plano familiar, tanto mais ela compe, de fato, o ser urbano. Ora, quem pensa ci-dade no escapa ao socius e se v diante da urbanidade: o verdadeiro ethos de uma cidade. Trata-se, portanto de refl etir/experimentar as derivas urbanas do corpo contemporneo em torno das novas formas de urbanidade, inclusive aquelas capa-zes de negar a prpria cidade. Teramos o qu, ento? Um corpo sem urbanidade, logo, sem cidade, cujo modo de subjetivao escapa completamente ao cho que o pariu? Qual seria ento a equao? Tal corpo, qual cidade? Ou o seu inverso?

    Haveria muito que comentar acerca dos trabalhos tericos e artsticos apre-sentados, bem como da prpria dinmica de debates que se instaurou ao longo dos quatro dias do encontro, contudo, pretende-se faz-lo em outra oportunidade. O que importa salientar aqui que todas as propostas de intervenes urbanas en-viadas pelos artistas e selecionadas (pelo comit artstico do encontro), direta ou indiretamente, exploravam, explicitavam ou criavam essas tenses no/do espao pblico contemporneo no prprio espao pblico local a cidade de Salvador. E a articulao promovida entre as intervenes artsticas realizadas durante o encontro e os debates dirios mobilizados pelas Sesses Temticas, permitiu uma anlise crtica das situaes problematizadas pelos artistas e pelos propositores tericos a partir da prpria experincia vivida pelos participantes, organizadores e habitantes da cidade nas instncias de montagem e execuo das propostas de interveno. O acompanhamento participativo desse processo explicitou justa-mente o aspecto aqui tratado como foco de preocupao: a tendncia crescente de eliminao ou pacifi cao de confl itos, em curso nos projetos de espaos pblicos contemporneos, e o papel da arte contra-hegemnica enquanto possibilidade de micro-resistncia a este processo.

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    Corpocidade: arte enquanto micro-resistncia urbana

    NOTAS1 possvel se falar em processos urbanos distintos, como culturalizao, patrimonializao, museifi cao, musealisao, estetizao, turistifi cao, gentrifi cao, mas estes fazem parte de um mesmo processo contemporneo e mais vasto chamado de espetacularizao urbana. Este processo, por sua vez, est diretamente relacionado com as novas estratgias de marketing, ou mesmo o que podemos chamar hoje de branding urbano (construo de marcas) dos projetos ditos de revitalizao urbana que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporneas de modo a lhes garantir um lugar na nova geopoltica das redes globalizadas de cidades tursticas e culturais. Na lgica contempornea de consumo cultural massifi cado, a cultura concebida como uma simples imagem de marca ou grife de entretenimento, a ser consumida rapidamente. Com relao s cidades, ocorre algo semelhante: a competio, principalmente por turistas e investimentos estrangeiros, acirrada e os polticos, com apoio dos empreendedores do setor privado, se empenham para melhor construir e vender a imagem de marca, ou o logotipo, de suas cidades cenogrfi cas, cada dia mais padronizadas e uniformizadas. Uma longa discusso sobre o tema pode ser encontrada em Espetacularizao urbana contempornea (JACQUES, 2004).

    2 Uma discusso dedicada ao modo como corpo e ambiente se relacionam encontra-se publicada no nmero Especial da revista Cadernos do PPGAU/UFBA, Paisagens do Corpo, Salvador, 2008. Disponvel para download em: http://www.laboratoriourbano.ufba.br/pagina.php?idPagina=5

    3 Paul Thagard (2000), defi ne coerncia como a mxima satisfao de mltiplas restries, Esta idia permite pensar a instaurao de coerncias como uma resultante da reorganizao dos sistemas que, envolvidos em processo co-evolutivo, precisam satisfazer as mltiplas restrices impostas pelas confi guraes dos sistemas e sub-sistemas (ambientes) com que interagem. Ver BRITTO, Fabiana Dultra: Temporalidade em Dana: parmetros para uma histria contempornea Tese de Doutorado defendida em 2002 e publicada pelo FID Editorial, Belo Horizonte, 2008.

    4 A 1 verso do texto Corpografi as Urbanas com nfase na idia do corpo enquanto resistncia foi publicado no Cadernos do PPG-AU especial Resistncias em espaos opacos, Salvador, 2007. Um desenvolvimento dessas idias com nfase na idia da corpo enquanto fentipo extendido em co-autoria com Fabiana Britto (Programa de Ps-Graduao em Dana da UFBA) foi publicado no Cadernos do PPG-AU especial Paisagens do corpo, Salvador, 2008. Essas so publicaes dos resultados de pesquisa do projeto CAPES-COFECUB Territrios Urbanos e Polticas Culturais. Trata-se do terceiro e ltimo nmero especial resultante das atividades deste acordo, o primeiro Territrios Urbanos e Polticas Culturais foi publicado em 2004 e o segundo, Resistncias em Espaos Opacos, em 2007. Se no primeiro nmero os textos tratam principalmente da crtica culturalizao, estetizao e espetacularizao das cidades, no segundo os artigos j buscam algumas alternativas a estes processos contemporneos, principalmente em aes culturais de resistncia urbana. Foi neste contexto de busca de aes moleculares de resistncia ao processo molar de espetacularizao - da cidade, da arte e do prprio corpo na contemporaneidade, que surgiu a urgncia de uma refl exo conjunta entre os campos da Arquitetura e Urbanismo e da Dana - sobre as atuais relaes entre cidade e corpo, entre o corpo urbano e o corpo do cidado.

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    Fabiana Dultra Britto; Paola Berenstein Jacques

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    Recebido em: junho de 2009Aceito em: agosto de 2009