10 Grupo identifica rochas de 3 bilhões de anos€¦ · Segundo o psiquiatria Maurício Knobel,...

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Universidade Estadual de Campinas 24 a 30 de junho de 2002 10 PESQUISA ANTONIO ROBERTO FAVA [email protected] epois de quase um ano de intensos estudos, um grupo de professores e alunos do quinto ano de geologia do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp anuncia a identificação de rochas com mais de três bilhões de anos. E mais: foram constatadas evidências consideráveis da presença de núcleos rochosos ainda mais antigos, com 3,6 bilhões de anos, nas cidades baianas de Uauá, Santa Luz e Retirolândia. A informação é do professor Elson Paiva de Oliveira, do Instituto de Geociência da Unicamp. Ele diz que, na verdade, esse é o resultado de pesquisas e trabalhos intensos. Para se chegar ao resultado, foi feito um mapeamento geológico nessas cidades, caracterizadas como uma das regiões mais antigas do Brasil. “Isso possibilita que estudantes do curso de Geologia tenham também a oportunidade de aprender um pouco sobre a história mais antiga do nosso planeta”, observa o professor. Ele adianta ainda que, no Brasil, a rocha mais antiga até então descrita foi localizada no Rio Grande do Norte, e tem aproximadamente 3,45 bilhões de anos. Nesses locais, através de análises de isótopos em zircões, obtidas em laboratórios na Austrália e Estados Unidos, Elson de Oliveira e o ex- doutorando Edson Mello identificaram rochas com 2.983 milhões e 3.085 milhões de anos. Posteriormente, os professores Elson, Asit Choudhuri e o aluno de doutorado Marcelo Juliano estiveram visitando essas cidades, com o propósito de examinar as relações entre rochas tão antigas. Os resultados do achado, segundo Elson, estão sendo submetidos à publicação em revista de circulação internacional e, para fins educativos, a Prefeitura de Retirolândia foi informada sobre a importância da preservação do local e uma placa foi erigida. Elson Oliveira explica que o planeta Terra formou- se há aproximadamente 4,5 bilhões de anos. Entretanto, devido a sua evolução singular, que envolveu a formação e destruição dos oceanos e núcleos continentais formados inicialmente, os registros das rochas mais antigas são identificados em algumas poucas regiões que sobreviveram às destruições posteriores. Atualmente, alguns núcleos com rochas de 3,5 bilhões de anos são encontrados na África do Sul, Austrália, Groelândia, China e América do Norte. A rocha mais antiga de todas, com 4,05 bilhões de anos, denominada Gnaisse Acasta, foi encontrada apenas no noroeste do Canadá. “O mais surpreendente achado do ano passado, motivo de reportagem na importante revista Grupo identifica rochas de 3 bilhões de anos Descoberta de professores e alunos do IG foi feita a partir de mapeamento geológico Nature, foi a descrição de grãos de minerais, com até 4,4 bilhões de anos, encontrados na Austrália, em rochas sedimentares de três bilhões de anos”, explica o professor Elson. Esses grãos revelaram, segundo ele, que nos primeiros 200 milhões de anos da história da Terra já havia água no planeta e algum núcleo de continente, provavelmente bastante pequeno. Para os geólogos, constitui um grande desafio localizar núcleos antigos de continentes e de assoalhos oceânicos, “pois eles nos ajudam a entender como era o nosso planeta nos primeiros bilhões de anos de sua existência”, assinala o professor. Elson Paiva de Oliveira (destaque) e equipe de trabalho: resultado de pesquisas intensas D ISABEL GARDENAL [email protected] Hospital das Clínicas da Unicamp (HC) vem corri- gindo com 100% de eficácia a hiperidrose, uma disfun- ção em que as glândulas sudoríparas produzem suor em quantidades maiores que as necessárias ao con- trole da temperatura corporal. Trata- se de uma cirurgia reparadora – a simpatectomia videotoracoscópica – realizada pela equipe responsável pelo primeiro procedimento em Campinas. Ela resolve definitivamen- te o suor das mãos e axilas, além de acabar, em 80% dos casos, com o suor nos pés. A hiperidrose afeta cerca de 1% da população mundial. Nestes casos, as pessoas ficam principalmente com as mãos, ou pés, ou faces, ou axilas, ou todos ao mesmo tempo, molhados. A correção cirúrgica consiste em efetuar três incisões de cada lado do tórax, de 0,5 a 1 cm, para retirada de três a quatro gânglios da cadeia neurológica simpática. Esta opção tem sido estimulada por empregar incisões pequenas e ser realizada em apenas 1 hora. Tal procedimento é tão eficaz, diz o cirurgião torácico Ricardo Kalaf Mussi, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), que hoje é inadmis- sível essa cirurgia com tórax aberto. “Mas aconselha que a indicação da cirurgia deva ser estritamente escolha do paciente.” De acordo com Kalaf, a experiência confirma que a hiperidrose persiste com métodos alternativos, e o pa- ciente dispende muito dinheiro com pomadas, talcos, medicamentos, bo- tox e eletroestimulação. “Apesar de úteis, seus efeitos são temporários.” A quantidade de suor é controlada pelo sistema nervoso simpático. Seus centros reguladores lembram o for- mato das contas de um rosário, par- tindo dos nervos, que chegam às glândulas sudoríparas da pele, estimulando-as a produzir o suor. Isolamento – Um contato pessoal pode representar uma tortura para quem está com as mãos suadas. Pessoas nesta situação tendem ao isolamento social. Uma psicoterapia direcionada ao caso ameniza o constrangimento, levando o paciente a conviver com o fato. Segundo o psiquiatria Maurício Knobel, professor titular da FCM, esses pacientes apresentam quadro mais grave quando ficam nervosos ou excitados, praticam exercícios ou quando aumenta a temperatura ambiental. Alguns cirurgiões torácicos e derma- tologistas começaram a fazer tentati- vas terapêuticas e a encarar a simpatectomia por vídeo como efi- ciente e única no momento. A maioria dos pacientes que pro- curam os consultórios para solucionar seus problemas é composta de mulheres e com idade acima de 14 anos. A morbidade pela simpatecto- mia varia de 0,1 a 0,2%. “A técnica com HC faz cirurgia que reduz transpiração excessiva O uso de vídeo na cirurgia aumenta em 20 vezes o campo visual do cirurgião e reduz drasticamente eventuais complicações”, defende Kalaf. O cirurgião Ricardo Kalaf Mussi: “Técnica com uso de vídeo reduz risco de complicações” Foto: Divulgação Foto: Neldo Cantanti Foto: Antoninho Perri

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Universidade Estadual de Campinas24 a 30 de junho de 2002

10

PESQUISA

ANTONIO ROBERTO FAVA

[email protected]

epois de quase um ano de intensos estudos,um grupo de professores e alunos do quintoano de geologia do Instituto de Geociências(IG) da Unicamp anuncia a identificação de

rochas com mais de três bilhões de anos. E mais:foram constatadas evidências consideráveis dapresença de núcleos rochosos ainda mais antigos,com 3,6 bilhões de anos, nas cidades baianas deUauá, Santa Luz e Retirolândia.

A informação é do professor Elson Paiva deOliveira, do Instituto de Geociência da Unicamp.Ele diz que, na verdade, esse é o resultado depesquisas e trabalhos intensos. Para se chegar aoresultado, foi feito um mapeamento geológiconessas cidades, caracterizadas como uma dasregiões mais antigas do Brasil. “Isso possibilita queestudantes do curso de Geologia tenham tambéma oportunidade de aprender um pouco sobre ahistória mais antiga do nosso planeta”, observa oprofessor. Ele adianta ainda que, no Brasil, a rochamais antiga até então descrita foi localizada no RioGrande do Norte, e tem aproximadamente 3,45bilhões de anos.

Nesses locais, através de análises de isótopos emzircões, obtidas em laboratórios na Austrália eEstados Unidos, Elson de Oliveira e o ex-doutorando Edson Mello identificaram rochas com2.983 milhões e 3.085 milhões de anos.Posteriormente, os professores Elson, AsitChoudhuri e o aluno de doutorado Marcelo Julianoestiveram visitando essas cidades, com o propósitode examinar as relações entre rochas tão antigas.

Os resultados do achado, segundo Elson, estãosendo submetidos à publicação em revista decirculação internacional e, para fins educativos, aPrefeitura de Retirolândia foi informada sobre aimportância da preservação do local e uma placafoi erigida.

Elson Oliveira explica que o planeta Terra formou-se há aproximadamente 4,5 bilhões de anos.

Entretanto, devido a sua evolução singular, queenvolveu a formação e destruição dos oceanos enúcleos continentais formados inicialmente, osregistros das rochas mais antigas são identificadosem algumas poucas regiões que sobreviveram àsdestruições posteriores. Atualmente, alguns núcleoscom rochas de 3,5 bilhões de anos são encontradosna África do Sul, Austrália, Groelândia, China eAmérica do Norte. A rocha mais antiga de todas, com4,05 bilhões de anos, denominada Gnaisse Acasta,foi encontrada apenas no noroeste do Canadá.

“O mais surpreendente achado do ano passado,motivo de reportagem na importante revista

Grupo identifica rochas de 3 bilhões de anosDescoberta de professores e

alunos do IG foi feita a partir

de mapeamento geológico

Nature, foi a descrição de grãos de minerais, comaté 4,4 bilhões de anos, encontrados na Austrália,em rochas sedimentares de três bilhões de anos”,explica o professor Elson. Esses grãos revelaram,segundo ele, que nos primeiros 200 milhões deanos da história da Terra já havia água no planeta ealgum núcleo de continente, provavelmentebastante pequeno. Para os geólogos, constitui umgrande desafio localizar núcleos antigos decontinentes e de assoalhos oceânicos, “pois elesnos ajudam a entender como era o nosso planetanos primeiros bilhões de anos de sua existência”,assinala o professor.

Elson Paiva de Oliveira (destaque) e equipe de trabalho: resultado de pesquisas intensas

D

ISABEL GARDENAL

[email protected]

Hospital das Clínicas daUnicamp (HC) vem corri-gindo com 100% de eficáciaa hiperidrose, uma disfun-

ção em que as glândulas sudoríparasproduzem suor em quantidadesmaiores que as necessárias ao con-trole da temperatura corporal. Trata-se de uma cirurgia reparadora – asimpatectomia videotoracoscópica –realizada pela equipe responsávelpelo primeiro procedimento emCampinas. Ela resolve definitivamen-te o suor das mãos e axilas, além deacabar, em 80% dos casos, com osuor nos pés.

A hiperidrose afeta cerca de 1% dapopulação mundial. Nestes casos, aspessoas ficam principalmente com asmãos, ou pés, ou faces, ou axilas, outodos ao mesmo tempo, molhados.

A correção cirúrgica consiste emefetuar três incisões de cada lado dotórax, de 0,5 a 1 cm, para retiradade três a quatro gânglios da cadeianeurológica simpática. Esta opçãotem sido estimulada por empregarincisões pequenas e ser realizada emapenas 1 hora.

Tal procedimento é tão eficaz, dizo cirurgião torácico Ricardo KalafMussi, da Faculdade de CiênciasMédicas (FCM), que hoje é inadmis-sível essa cirurgia com tórax aberto.“Mas aconselha que a indicação da

cirurgia deva ser estritamente escolhado paciente.”

De acordo com Kalaf, a experiênciaconfirma que a hiperidrose persistecom métodos alternativos, e o pa-ciente dispende muito dinheiro compomadas, talcos, medicamentos, bo-tox e eletroestimulação. “Apesar deúteis, seus efeitos são temporários.”

A quantidade de suor é controladapelo sistema nervoso simpático. Seuscentros reguladores lembram o for-mato das contas de um rosário, par-tindo dos nervos, que chegam àsglândulas sudoríparas da pele,estimulando-as a produzir o suor.

Isolamento – Um contato pessoalpode representar uma tortura paraquem está com as mãos suadas.Pessoas nesta situação tendem aoisolamento social. Uma psicoterapiadirecionada ao caso ameniza oconstrangimento, levando o pacientea conviver com o fato.

Segundo o psiquiatria MaurícioKnobel, professor titular da FCM, essespacientes apresentam quadro mais gravequando ficam nervosos ou excitados,praticam exercícios ou quando aumentaa temperatura ambiental.

Alguns cirurgiões torácicos e derma-tologistas começaram a fazer tentati-vas terapêuticas e a encarar asimpatectomia por vídeo como efi-ciente e única no momento.

A maioria dos pacientes que pro-curam os consultórios para solucionar

seus problemas é composta demulheres e com idade acima de 14anos. A morbidade pela simpatecto-mia varia de 0,1 a 0,2%. “A técnica com

HC faz cirurgia que reduz transpiração excessiva

O

uso de vídeo na cirurgia aumenta em20 vezes o campo visual do cirurgiãoe reduz drasticamente eventuaiscomplicações”, defende Kalaf.

O cirurgiãoRicardo KalafMussi:“Técnica comuso de vídeoreduzrisco decomplicações”

Foto: Divulgação

Foto: Neldo Cantanti

Foto: Antoninho Perri