1 tipologias textuais
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TIPOLOGIAS TEXTUAIS
Correspondem ao que normalmente se designa por
“tipos de texto”. Cada protótipo textual apresenta um
determinado grupo de características que permitem
identificá-lo como exemplo de determinado modelo.
TIPOLOGIAS TEXTUAIS/PROTÓTIPOS TEXTUAIS
LISTA DAS VÁRIAS TIPOLOGIAS
NarrativoDescritivoArgumentativoExpositivo-explicativoInjuntivo-instrucionalDialogal-conversacionalPreditivoLiterário
NARRATIVO
Caracteriza-se por representar eventos encadeados de forma lógica que se orientam para um desenlace, preenchendo as três categorias da lógica das ações: situação inicial, complicação, resolução.
romance/ novela/ conto/ fábula/ biografia/ diário/ notícia/ reportagem/ crónica/ relato de experiências pessoais/ outro
DESCRITIVO
São uma exposição de diversos aspetos que configuram o objeto/ a pessoa/ o fenómeno atmosférico/ o espaço sobre o qual incide a descrição.
normalmente são apenas segmentos descritivos, inseridos noutros textos: descrição de pessoas, espaços, fenómenos naturais
ARGUMENTATIVO
Caracteriza-se pela expressão de uma opinião que suscita uma contestação, a expressão de argumentos a favor ou contra.
discurso político/ sermão/ debate/ crónica/ publicidade/ críticas/ outro
EXPOSITIVO-EXPLICATIVO
Textos que têm por finalidade expor e
explicar algo.
textos científicos/ textos pedagógicos/ outro
INJUNTIVO-INSTRUCIONAL
Textos que incitam à ação, impõem regras; textos que fornecem instruções. São orientados para um comportamento futuro do destinatário.
instruções de montagem/ receitas/ horóscopos/ provérbios/ slogans
DIALOGAL-CONVERSACIONAL
Presente em textos produzidos por, pelo menos, dois interlocutores que tomam a palavra à vez, constituídos por um número variável de trocas verbais.
diálogo em presença/ conversa telefónica/ entrevista/ discussão/ debate
PREDITIVO
Antecipa ou prevê eventos que podem acontecer ou não; tem como função informar sobre o futuro; o tempo verbal privilegiado é o futuro.
previsão meteorológica, profecias
LITERÁRIO
Representação de mundos fictícios; utilização semântica adequada ao objetivo desejado; utilização estética, retórica e lúdica da língua.
conto, poema
APLICAÇÃO
Integra, agora, os textos abaixo referidos, na tipologia a que pertencem.
INJUNTIVO-
INSTRUCIONAL
“Mas à noite, quando a mãe o deitou e levou a luz, aconteceu uma
coisa extraordinária A mãe dissera-lhe que dormisse, mas ele não tinha
sono. E como não tinha sono, cansado de dar voltas, pôs-se para ali de
olhos abertos. Então reparou que de baixo da cama vinha uma luz que se
estendia pelo soalho. A princípio assustou-se, mas antes de se assustar
muito e de dar algum berro lembrou-se do que poderia ser. E, com efeito,
quando puxou a caixa, que ficara com a tampa mal fechada, e a abriu, a
estrela brilhava como quando a fora apanhar. Tirou-a devagar e todo o
quarto ficou cheio da sua luz. Esteve assim algum tempo com ela nas mãos
até que os olhos lhe começaram a arder com sono e a guardou outra vez na
caixa. Mas no dia seguinte, assim que acordou, foi logo ver se ainda lá
estava. Ela estava lá, realmente. Mas não deitava luz nenhuma.”
In A Estrela, Vergílio Ferreira NARRATIVO
“ Pai – Onde está o meu chapéu de plumas?(…)
Onde está o meu filho?
Filho – Estou aqui, papá.
Pai – Que palavra é essa… “papá”?!
Há mil anos que não a ouvia.
Filho – Inventei-a agora mesmo. E gostei muito de a inventar.”
(Excerto de À Beira do Lago dos Encantos, Mª Alberta Meneres)
DIALOGAL-CONVERSACIONAL
Canários Gloster
Ao contrário de outras antigas espécies de canários cuja origem é motivo de muita especulação, a origem dos Glosters está muito bem documentada. O desenvolvimento desta espécie é relativamente recente, data de 1925. O nome de Mrs. Rogerson de Cheltenham em Gloucestershire ficara para sempre associado à criação e desenvolvimento desta raça. Mrs. Rogerson foi a primeira criadora a expor este pequeno espécime, com poupa, numa exposição em 1925 no Crystal Palace em Inglaterra. Na altura, este exemplar foi analisado pelos juízes que consideraram que o pássaro em causa apresentava diferenças face ao standard atual dos pássaros de poupa e que tinha potencial para evoluir como uma raça distinta.
In “Arca de Noé”, por Miguel Ângelo Soares
EXPOSITIVO-EXPLICATIVO
“Era um vidrinho, aquela Vanessa. De cabelos loirinhos e
magrinha, cara de enjoada, passou o ano a inventar mentiras, a
fazer queixinhas, a chorar a meio dos testes por não saber uma
pergunta, sempre com muitas dores de cabeça… Não comia na
cantina porque a comida fazia-lhe mal… A Venessa era muito
boa aluna, tocava piano, fazia poemas, tinha explicações de
inglês.”
In “Os Heróis do 6º F”, António Mota
DESCRITIVO
“Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efetivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.”
(Palavras de José Saramago, na Suécia, quando recebeu o Prémio Nobel)
ARGUMENTATIVO
INSTRUÇÕES PARA SUBIR UMA ESCADA
de
Júlio Cortazar
"Ninguém terá deixado de observar que frequentemente o chão se
dobra de maneira que uma parte sobe em ângulo reto com o plano do
chão, e logo a parte seguinte se coloca paralela a este plano, para dar
lugar a uma nova perpendicular, comportamento que se repete em
espiral ou em linha quebrada até alturas extremamente variáveis.
Abaixando-se e pondo a mão esquerda numa das partes verticais, e
a direita na horizontal correspondente, fica-se na posse momentânea
de um degrau ou escalão. Cada um desses degraus, formados, como se
vê, por dois elementos, situa-se um pouco mais acima e mais adiante
do anterior, princípio que dá sentido à escada, já que qualquer outra
combinação produziria formas talvez mais bonitas ou pitorescas, mas
incapazes de transportar as pessoas de um rés-do-chão ao primeiro
andar.
As escadas sobem-se de frente, pois de costas ou de lado tornam-
se particularmente incómodas. A atitude natural consiste em manter-se
em pé, os braços dependurados sem esforço, a cabeça erguida, embora
não tanto que os olhos deixem de ver os degraus imediatamente
superiores ao que se está pisando, e respirando lenta e regularmente.
Para subir uma escada começa-se por levantar aquela parte do
corpo situada em baixo à direita, quase sempre envolvida em couro ou
camurça, e que salvo algumas exceções cabe exatamente no degrau.
Colocando no primeiro degrau essa parte, que para simplificar
chamaremos de pé, recolhe-se a parte correspondente do lado
esquerdo (também chamada pé, mas que não se deve confundir com o
pé já mencionado), e levando-se à altura do pé faz-se seguir até colocá-
la no segundo degrau, e assim neste descansará o pé, e no primeiro
descansará o pé. (Os primeiros degraus são sempre os mais difíceis, até
se adquirir a coordenação necessária. A coincidência de nomes entre o
pé e o pé torna difícil a explicação. Deve-se ter um cuidado especial em
não levantar ao mesmo tempo o pé e o pé.).
Chegando dessa maneira ao segundo degrau, basta repetir
alternadamente os movimentos até chegar ao fim da escada. Pode-se
sair dela com facilidade, com um ligeiro golpe de calcanhar que a fixa
no seu lugar, do qual não se moverá até o momento da descida. "
de "Historias de Cronopios y de Famas"