1. Introdução; sociedade pós industrial
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AS NOVAS TENDÊNCIAS E O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO NAS
BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS DO SÉCULO XXI
SNBU2000 - XI Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias
O bibliotecário na sociedade pós-industrial
27 de abril de 2000, das 16:00 às 18:00 horas
Profª Drª Kira Tarapanoff
Pesquisadora Senior
Universidade de Brasília
SUMÁRIO
RESUMO 4
1. INTRODUÇÃO; SOCIEDADE PÓS INDUSTRIAL 5
2. DESAFIOS PROFISSIONAIS 9
3. NOVOS/VELHOS PAPÉIS 10
3.1 Preservar a informação (ser responsável pela memória e cultura da produção técnica e científica local e institucional) 10
3.1.1 Identidade cultural (preservar a cultura nacional, regional, local, de grupos e individual) 103.1.2 Conteúdos informacionais 123.1.3 Habilidades do bibliotecário 13
3.2 Organizar a informação para uso 143.2.1 Gestão de estoques informacionais 143.2.2 Acesso informacional (em nível nacional, local, para grupos e indivíduos) 143.2.2 Habilidades do bibliotecário 15
3.3 Acessar a informação. Conectar-se a redes, participar de consórcios e variadas formas de cooperação. Planejar a informação. 16
3.3.1 Gestão da informação 163.3.2 Participação em redes 173.3.2 Cooperação; consórcios; bibliotecas híbridas 183.3.3 Habilidades do bibliotecário 19
3.4 Ser empreendedor, personalizar/customizar a informação. Ser consultor e infoempresário. Teletrabalho. 20
3.4.1 Intelectual da informação 203.4.2 Customizar a informação 213.4.3 Information broker 213.4.4 Teletrabalho 233.4.5 Habilidades do bibliotecário 23
3.5 Trabalhar a informação, agregar valor 243.5.1 Imprimir valor à informação 243.5.2 A recuperação da informação 243.5.3 Recuperação da informação e empreendedorismo 253.5.4 Habilidades do bibliotecário 26
3.6 Socializar a informação – preocupar-se com o acesso público à informação, a informação como um patrimônio público (public good). 26
3.6.1Característica das Unidades de informação 263.6.2 Informação como bem público 273.6.3 Vamos preservar as bibliotecas 283.6.4 Habilidades do bibliotecário 29
3.7 Educar para a utilização da informação e para a sociedade da informação 293.7.1 Sociedade da Informação e cultura 293.7.2 Educação para a sociedade da informação 293.7.3 Habilidades do bibliotecário 30
3.8 Valorizar o conceito econômico da informação, participar do e-commerce, oferecendo serviços e produtos exclusivos. 31
3.81. Escassez de recursos 313.8.2 Comércio eletrônico 313.8.3 Habilidades do bibliotecário 32
3.9 Criar, pesquisar e consumir informação 323.9.1 Bibliotecário de apoio, intermediário, facilitador da informação? 323.9.2 Bibliotecário na organização inteligente 333.9.3 O bibliotecário inteligente 333.9.4 Habilidades do bibliotecário 36
4. CONCLUSÕES 37
5. REFERÊNCIAS 38
O bibliotecário na sociedade pós-industrial
Resumo
A sociedade pós-industrial com suas características, entre elas a
globalização e as novas tecnologias, têm propiciado novas oportunidades
para o profissional da informação e, naturalmente, para o bibliotecário das
bibliotecas universitárias.
Debatem-se os conceitos social e econômico da informação. Discutem-se os
papéis sociais do bibliotecário: o de recuperador, preservador e disseminador
da memória e do conhecimento; e o de facilitador do acesso à informação,
centrado nas necessidades informacionais individualizadas. Colocam-se
novas possibilidades de prestação de serviços informacionais.
Conclui-se que a essência das ciências que sustentam a sua profissão, a
Biblioteconomia e a Ciência da Informação e o seu objeto de trabalho – o
ciclo informacional, não foi mudada, embora tenha sido ampliada a sua
abrangência, dinamizada a sua atuação, e até mudado o seu foco principal.
1. Introdução; sociedade pós industrial
Neste trabalho levantamos algumas características e elementos constituintes
da sociedade pós-industrial, apresentando alguns elementos para uma
discussão de como estes fatores estão afetando o conhecimento teórico, os
paradigmas e o mercado de trabalho do profissional bibliotecário, criando
novas oportunidades e, desafiando-o a repensar a sua profissão e a assumir
novos papéis.
O conceito de sociedade pós-industrial diz respeito essencialmente às
mudanças na estrutura social, às transformações que se produzem na vida
econômica e na estrutura profissional, e por fim às novas relações que se
estabelecem entre a teoria e a prática experimental, entre a ciência e a
tecnologia.
Embora esta nova sociedade1 ainda esteja se formando e em evolução,
alguns traços essenciais podem ser identificados:
A passagem da produção de bens para a economia de serviços;
A preeminência da classe dos profissionais e técnicos do conhecimento;
O caráter central do saber teórico, gerador da inovação e das idéias
diretivas nas quais a coletividade se inspira;
A gestão do desenvolvimento técnico e o controle normativo da
tecnologia;
A criação de uma nova tecnologia intelectual (De Masi, 1999, p.33);
O novo modo de desenvolvimento - o informacionalismo ( conforme o
cognomina Castells, ou pós-industrialismo como é chamado por muitos
outros),) como um que altera, mas não substitui o modo predominante da
produção (industrial ou agrícola);
A relação estrutural da globalização e da informacionalização a sistemas
de redes e à flexibilidade (Castells, 1999, p.212-214).
1 Nas diversas abordagens o conceito da nova sociedade identifica-se com o da sociedade pós-industrial, da informação, do conhecimento ou da aprendizagem.
Nesta nova sociedade , e devido à importância do saber teórico, dentre
outras, as universidades, institutos de pesquisa e cultura fazem parte das
instituições básicas que a constituem. O seu recurso fundamental é a
inteligência, o conhecimento, a criatividade, a inovação, as informações. O
setor econômico dominante inclui a produção de idéias e fornecimento de
serviços: transporte, comércio, finanças, seguros, saúde, instrução,
administração, pesquisa científica, cultura, lazer, e tudo o que constitui o
setor terciário.
Dentre as suas metodologias estão as teorias abstratas: modelos,
simulações; analise de sistemas; pesquisa dos problemas; invenção; enfoque
científico dos processos de previsão, de programação, de decisão;
desregulação e descentralização. A sua relação com o tempo e o espaço é
orientada para o futuro, inclui cenários e previsões a longo prazo; o ritmo de
trabalho é escolhido e individualizado, baseado no próprio indivíduo; vida
baseada no lazer; real time ( tempo real), obtenção da informação imediata.
A sua dimensão é transnacional, com conexões telemáticas e televisivas de
todos os lugares.
Muitos são os textos que tratam de aspectos específicos da sociedade pós-
industrial, mas há apenas alguns, não muitos, que tentam descrever sua
globalidade e compreender o seu sentido abrangente. Do ponto de vista
sociológico destacam-se o livro de Bell – The Coming of Post-Industrial
Society, A Terceira Onda (The Third Wave) de Alvin Toffler , A sociedade
pós-industrial (La Société post-industrielle), de Alain Tourraine (De Masi ,
1999), e A Sociedade em Rede (The rise of the network society) de Manuel
Castells.
Embora a expressão – sociedade pós-industrial - já tenha sido usada por
Arthur J. Penty, socialista inglês, que em 1914 organizou uma ontologia
intitulando-a Essays in Post-Industrialism e , em 1917, publicou em Londres
um volume com o título Old Worlds for New: a study of the post-industrial
state , à Bell é atribuída a invenção, ou pelo menos, difusão, desta
expressão. Bell (1977), coloca que dentre as vantagens da sociedade pós-
industrial estão a educação em massa, acesso às informações, lazer,
invenção da natureza, redução da incerteza.
Múltiplos e heterogêneos, complexos e interatuantes são os elementos que
constituem a nova sociedade. Mas dentre os mais importantes estão
seguramente a revolução tecnológica e informática, que graças sobretudo à
telemática e ao fato de o trabalho se tornar uma atividade cada vez mais
intelectual, pôde assim se desmassificar e se desconcentrar no território , até
fazer coincidir o lugar de atividade com o de residência familiar (De Masi,
1999, p.188).
Enquanto que Bell e Toffler relacionam o advento da era pós-industrial a uma
pluralidade de características, nenhuma das quais prioritária e determinante,
para Tourraine o cerne da nova sociedade se encontra na produção científica
e o processo fundamental não é a produção dos bens, mas a programação
da inovação2.
Nesta sociedade a hegemonia é exercida não mais pelos proprietários dos
meios de produção, e sim por aqueles que administram o conhecimento e
que podem planejar a inovação.
Para Castells o ponto inicial para se analisar a mudança da nova economia,
sociedade e cultura é a revolução da tecnologia da informação. Esta
tecnologia viabiliza uma estrutura social associada ao surgimento de um novo
modo de desenvolvimento, o informacionalismo3. No novo modo
informacional de desenvolvimento, a fonte de produtividade acha-se na
tecnologia de geração de conhecimentos, de processamento da informação e
de comunicação de símbolos. Na verdade, conhecimento e informação são
2 Na sociedade pós-industrial o computador pode fornecer infinitas respostas a infinitas perguntas – nós é que não sabemos interrogar. O centro do problema é a ciência e a profundidade da transformação do método científico, isto é, a passagem da descoberta para a invenção, da busca de soluções à busca de questões. Este novo método é possível, porque as informações já podem ser elaboradas ao infinito e porque entendeu-se que, ao contrário do que sustentava Taylor, não existe um único caminho melhor do que todos ((one best way) para resolver cada problema(De Masi, 2000, p.196, 197)3 Informacionalismo – modo de desenvolvimento pós-industrial.
elementos cruciais em todos os modos de desenvolvimento, visto que o
processo produtivo sempre se baseia em algum grau de conhecimento e no
processamento da informação. A estrutura da economia, sociedade e cultura
informacional é a rede4 (Castells, 1999, p.35, 45).
Conhecimento é visto como : um conjunto de declarações organizadas sobre
fatos ou idéias, apresentando um julgamento ponderado ou resultado
experimental que é transmitido a outros por intermédio de algum meio de
comunicação, de alguma forma sistemática ( Bell, 1973, p.175) .
Informação “ são dados que foram organizados e comunicados”(Porat, 1977,
p.2)
O modus operandi da sociedade pós-industrial identifica-se ao da Sociedade
da Informação, que refere-se a um modo de desenvolvimento social e
econômico em que a aquisição, armazenamento, processamento,
valorização, transmissão, distribuição e disseminação de informação
conducente à criação de conhecimentos e à satisfação das necessidades dos
cidadãos e das organizações, desempenham um papel central na atividade
econômica, na criação de riqueza, na definição da qualidade de vida dos
cidadãos e das suas práticas culturais (Livro Verde para a Sociedade da
Informação em Portugal: http:///www.missao-si.mct.pt/livroverde/lvfinal.zip.)
O Programa brasileiro para a Sociedade da Informação foi lançado no Brasil,
no dia 15 de dezembro de 1999, com o os objetivos de:
1. Articular, coordenar e fomentar o desenvolvimento e utilização segura de
serviços avançados de computação, comunicação e informação e suas
aplicações na sociedade, mediante a pesquisa, desenvolvimento e ensino
brasileiros, acelerando a oferta de novos serviços e aplicações na
Internet, de forma a garantir vantagem competitiva e a facilitar a inserção
da indústria e empresa brasileiras no mercado internacional;
4 A Empresa em rede concretiza a cultura da economia informacional/global: transforma sinais em commodities, processando conhecimentos (Castells, 1999, p. 192)
2. Fornecer, desta maneira, subsídios para a definição de uma estratégia
para conceber e estimular a inserção adequada da sociedade brasileira
na Sociedade da Informação (MCT, 1999).
No momento, após a instalação do Grupo de Trabalho para implantação do
programa, estão sendo criados vários GTs temáticos, para a elaboração do
Livro Verde da Sociedade da Informação, dentre os quais o GT de Conteúdos
e Identidade Cultural lançado em fevereiro de 2000, que merece a atenção e
acompanhamento dos bibliotecários no Brasil.
2. Desafios Profissionais
Essas colocações introdutórias nos levam a indagar sobre como os
bibliotecários podem e devem atuar na nova sociedade, criar e administrar a
informação e o conhecimento e planejar a inovação?
Tradicionalmente o papel do bibliotecário tem sido o de apoio à essas
atividades. Qual deve ser o seu papel hoje - o de produtor , empresário,
intermediário ou analista da informação e do conhecimento? Ou de todos
estes juntos? Quais as suas principais responsabilidades sociais?
Segundo Toffler na nova sociedade o produtor é ao mesmo tempo
consumidor, e sugere um novo termo o prosumer. Esta analogia nos leva à
constatação que o saber é cíclico e contínuo, re-começa quando acaba,
necessitando sempre de novas informações para ser reativado e que todos
os que produzem informação e conhecimento também os consomem.
Podemos sugerir algumas linhas para discussão dos papéis e
responsabilidades sociais do profissional da informação bibliotecário na
sociedade pós industrial:
1. Preservar a informação (ser responsável pela memória e cultura da
produção técnica e científica local e institucional);
2. Organizar a informação para uso;
3. Acessar a informação. Estabelecer conexão em redes, participar de
consórcios e variadas formas de cooperação. Planejar a informação;
4. Ser empreendedor ; personalizar/customizar a informação. Ser consultor e
information broker. Prestar os seus serviços de sua casa eletrônica
(“electronic cottage”)
5. Trabalhar a informação, agregar valor. Pesquisar a informação ;
6. Socializar a informação – preocupar-se com o acesso público à
informação, a informação como um patrimônio público (public good);
7. Educar para a utilização da informação e para a sociedade da informação;
8. Valorizar o conceito econômico da informação, participar do e-commerce,
oferecendo serviços e produtos exclusivos;
9. Criar, pesquisar e consumir informação.
É pressuposto deste trabalho é que apesar das mudanças, dos desafios,
das possibilidades profissionais, e das grandes transformações tecnológicas
e espaciais, a essência das ciências que sustentam a profissão do
bibliotecário, a Biblioteconomia e a Ciência da Informação e o seu objeto de
trabalho – o ciclo informacional, não foram mudados. Embora a teoria seja a
mesma ,a prática do bibliotecário, especialmente aquela que se baseia em
todas as facilidades oferecidas pelas novas tecnologias e a globalização,
bem como no método científico da invenção, lhe abre muitos caminhos,
muitas novas possibilidades de prestar serviços informacionais e sugere uma
nova forma de administrá-los.
3. Novos/velhos papéis
3.1 Preservar a informação (ser responsável pela memória e cultura da produção técnica e científica local e institucional)
3.1.1 Identidade cultural (preservar a cultura nacional, regional, local, de grupos e individual)
Um dos principais indicadores do desenvolvimento da sociedade da
informação é a penetrabilidade das tecnologias de informação na vida diária
das pessoas e no funcionamento e transformação da sociedade como um
todo. No caso do Brasil, estima-se que durante o ano 2000 mais de 6 milhões
de brasileiros serão usuários da Internet e que nos próximos cinco anos
poderemos chegar a 30 milhões. Em termos numéricos, estas cifras projetam
o Brasil como um dos grandes mercados nacionais da Internet em nível
mundial, embora esta cifra seja extremamente modesta se comparada ao
total de habitantes no Brasil (4% aproximadamente).
Embora, também em termos relativos, o português tenha presença na
Internet, os números, em termos absolutos, também são modestíssimos.
Sete milhões de internautas utilizam a língua portuguesa na Internet. Esse
número faz com que o português ocupe a sétima posição entre os idiomas
mais utilizados na rede, segundo pesquisa publicada no site espanhol La
Empresa.net. Em primeiro lugar, como já era esperado, encontra-se a língua
inglesa, com mais de 147 milhões de usuários que utilizam esse idioma
quando navegam pela Web. O japonês está em segundo, com cerca de 19
milhões de utilizadores.
O primeiro ponto é, portanto, a preservação do idioma e da produção
científica nacional tornandola disponível ao mundo globalizado.
A sociedade da informação desenvolve-se também através da operação de
conteúdos5 sobre a infra-estrutura de conectividade. Portanto, o
desenvolvimento da sociedade da informação no Brasil requer no futuro
próximo um esforço nacional conjugado para aumentar, por um lado, a
penetrabilidade da Internet pari passu com o uso adequado de tecnologias da
informação (incluindo os softwares potentes e amigáveis, com
ergonomicidade) e, por outro lado, o volume de conteúdos brasileiros.
5 Os recursos, produtos e serviços de informação são identificados na Internet com o nome genérico de conteúdos. Em resumo, conteúdo é tudo o que é operado na Internet. Uma das contribuições mais extraordinárias da Internet é permitir que qualquer usuário, em caráter individual ou institucional, possa a vir a ser produtor, intermediário e usuário de conteúdos. Os conteúdos são o meio e o fim da gestão da informação e do conhecimento na sociedade da informação.
Partindo da constatação que a sociedade se organiza em torno de uma
cultura, que é uma maneira de ver o mundo, através de um conjunto de
idéias implícitas e explícitas. O conceito de identidade cultural impõe-se.
3.1.2 Conteúdos informacionais
Dentre os princípios gerais para uma política sobre conteúdos e identidade
cultural, o GT Conteúdos e Identidade Cultural sugeriu em sua primeira
proposta apresentada em 14 de março do ano 2000, as seguintes diretrizes
para promoção de redes de conteúdos nacionais:
1. Valorizar a produção e difusão de registros informacionais de todo tipo em
língua portuguesa, como forma de promover o auto-conhecimento e auto-
estima do povo brasileiro;
2. Propiciar o registro das expressões culturais, artísticas, religiosas e
científicas, em qualquer mídia, também em línguas indígenas, assim como
nas dos povos africanos e de outras nacionalidades que contribuíram para
a nossa formação social, visando preservar e manter vivas as origens da
nação brasileira, em seus aspectos multi-étnicos e multiculturais;
3. Facultar a produção e o uso de conteúdos que reflitam os interesses de
regiões menos desenvolvidas, de áreas periféricas e rurais, como forma
de reduzir as disparidades regionais;
4. Dar oportunidade às minorias étnicas, sociais e políticas para o registro e
difusão de suas manifestações e idéias, como forma de diminuir as
desigualdades sociais.
Linhas de ação do Programa Sociedade da Informação no Brasil, relativas à
Tecnologias da Informação aplicadas à cultura, são as seguintes:
Salvaguarda e valorização do patrimônio por meio da digitalização
sistemática das obras e demais bens culturais, promovendo também a
criação e desenvolvimento de bibliotecas virtuais, privilegiando a
descentralização e dinamismo das comunidades capilarizadas pela
telemática;
Promoção de iniciativas para a salvaguarda e a afirmação da cultura
brasileira, como, por exemplo, a criação do “Museu de Todos os
Museus”(digital) e de uma grande “Enciclopédia Multimídia do Brasil”;
Aproveitamento dos resultados já obtidos pelo GT de Museus Virtuais
(http:www.lids.puc-rio.br/~pp/gtmv/principal/princip.htm) e pelo GT de
Bibliotecas (http://www.cg.org.br/gt/gtbv/gtbv.htm) do Comitê Gestor da
Internet Brasileira, no sentido de se criar uma plataforma inicial de 3 mil
entidades, por meio da qual poderá ser capilarizado todo o território
nacional;
Apoio e promoção de atividades e projetos visando a organizar, reforçar e
circular a informação documental, tanto em sua vertente erudita quanto na
popular;
Implementação de uma “midiateca virtual” suscetível de apoiar o ensino –
desde a rede primária até a universidade – e a pesquisa, oferecendo
recursos adaptados à resolução de problemas gerados em todos os
setores da vida social e científica.
3.1.3 Habilidades do bibliotecário
Cabe ressaltar que a questão dos conteúdos depende da capacidade de
organização de nossas instituições e da parte de nossos profissionais, no
tocante aos seus acervos informacionais. Os conteúdos estarão sempre
sendo produzidos e armazenados de forma descentralizada e dispersa,
exigindo esforço para atraí-los e incorporá-los como serviços e produtos
mediados pela rede de acessos propostos pela sociedade da informação.
Aos bibliotecários é atribuída tal responsabilidade exigindo domínio da
localização, normalização, indexação, padrões, protocolos, utilização de
tecnologias e modernos instrumentos como metadados e marcação de textos
(Cunha, 1999, p.260). Destacam-se neste contexto tanto pelo domínio como
pelas iniciativas de modernização os bibliotecários universitários e os
especializados.
3.2 Organizar a informação para uso
3.2.1 Gestão de estoques informacionais
“Qualquer que seja a sua forma externa a essência de uma biblioteca é uma
coleção de materiais organizados para uso” (McGarry, 1999, p.111). Hoje,
no mundo moderno, onde a gestão da informação6 é uma das principais
atividades do profissional da informação, o seu papel social, conforme
sugerido por Barretto (1999) é também o de gerenciar estoques da
informação, para uso. A disseminação é a segunda vertente da preservação,
para preservar é preciso dar a conhecer e efetivar a sua utilização.
Antes da era digital as coleções e o acesso à elas desenvolviam-se de forma
isolada. Na nova era, esse desenvolvimento será coordenado, haverá
também a necessidade de fazer hiperligações para mapear os recursos
informacionais de outras bibliotecas que possam complementar as falhas e
atender a todas as necessidades de uso (Cunha, 1999, p.259)
3.2.2 Acesso informacional (em nível nacional, local, para grupos e indivíduos)
Os fundamentos da ciência da biblioteca, a Biblioteconomia, baseiam-se na
disponibilização de acervos de documentos para uso, e podem ser
resumidos como se segue:
que a biblioteca existe principalmente para tornar possível o uso, por um
dado público, de suas coleções de documentos;
que os conhecimentos contidos nos documentos e mantidos nas
bibliotecas devem ser transferidos;
que a função social da biblioteca enquanto uma instituição social está,
principalmente, em ser a interface, ou a mediadora entre indivíduos e o
conhecimento que eles necessitam (Miksa, 1991; Oliveira, 1998).
6 Gestão da informação – planejamento, condução e avaliação dos processos de utilização dos recursos de informação necessários para incrementar a efetividade da organização. A criação da informação, aquisição, armazenamento, análise e uso provêem a base intelectual que apoia o crescimento e desenvolvimento da organização inteligente (Choo, 1998, p.198)
As Diretrizes para promoção de Redes de Conteúdos Informacionais
destacam os seguintes pontos relacionados ao acesso informacional:
1. Viabilizar o acesso às fontes de conhecimento, informações e dados
produzidos/registrados pelo Governo, pela Sociedade e pelos indivíduos
que constituem a nação brasileira;
2. Criar canais próprios para os deficientes físicos, analfabetos e cidadãos
de menor poder aquisitivo, para prover a justiça nas oportunidades de
acesso à informação;
3. Promover o acesso à produção artística, cultural e científica produzidas
por nossas instituições, seja mediante a oferta de
metodologias/tecnologias para sua organização seja mediante o
financiamento de projetos prioritários.
O Programa Sociedade da Informação do Brasil tem dentre os seus objetivos
qualitativos globais - o de Educação para a Sociedade da Informação. Este
objetivo desafia o desenvolvimento de um programa de treinamento e
formação para o mundo virtual, desde a preparação de especialistas em
Tecnologias da Informação para projeto, construção, instalação, operação e
manutenção de sistemas e serviços digitais em rede até a popularização em
massa dos elementos essenciais da Sociedade da Informação, essencial
para o acesso de todos ao mundo informatizado e conectado.
3.2.2 Habilidades do bibliotecário
Neste contexto o bibliotecário deve em primeiro lugar educar-se nas
Tecnologias da Informação para ter acesso e participar no processo de
informação globalizada, e em segundo instruir/educar usuários a utilizar a
informação em meio digital e disponível nas redes.
3.3 Acessar a informação. Conectar-se a redes, participar de consórcios e variadas formas de cooperação. Planejar a informação.
3.3.1 Gestão da informação
De Masi (2000) faz a seguinte colocação - se perguntarmos a um grupo de
pessoas que ciência do século XX mais contribuiu para o progresso humano,
talvez ninguém, nem os entendidos em organização, indicassem a ciência
organizacional. E no entanto, foi o desenvolvimento desta ciência que
possibilitou o fortalecimento de cada atividade, cognitiva e operacional, a um
nível desconhecido em todas as épocas anteriores da história, dentro e fora
dos locais de trabalho. Milhões de homens e mulheres na prática cotidiana,
milhares de especialistas em suas profissões, partindo das grandes
descobertas de Taylor e Ford, revolucionaram o modo com que os seres
humanos organizam seus próprios recursos e aumentam seu rendimento.
Foi o management , a gestão, que introduziu as novas tecnologias nos locais
de trabalho, nas casas, nas diversões. Foi o management que criou as
empresas rede, as multinacionais, os distritos industriais, a globalização da
economia, dos gostos, do consumo.
O conceito de gestão da informação envolve novas e velhas diretrizes
conhecidas pelos bibliotecários. O seu principal objetivo é moldar (harness)
os recursos informacionais da organização e as suas capacidades de
informação para ensiná-la a aprender e adaptar-se às mudanças ambientais.
A criação da informação, aquisição, armazenamento, análise e uso, provêm a
estrutura intelectual que dá suporte ao crescimento e desenvolvimento de
uma organização inteligente adaptada às exigências e novidades da
ambiência.
Conceitualmente a gestão da informação é um conjunto de seis processos
distintos, mas interrelacionados: identificação de necessidades
informacionais, aquisição de informação, organização e armazenagem da
informação, desenvolvimento de produtos informacionais e serviços,
distribuição da informação, e uso da informação . Este processo é cíclico e
deve ser realimentado constantemente (Gestão ambiental em gestão da
informação) ( Choo, 1998, p.198-199).
Fonte: Choo, 1998, p.211
3.3.2 Participação em redes
A Ciência da Informação tem como objeto de estudo a própria informação,
sua movimentação, recuperação e comunicação. Os pressupostos que
norteiam o seu paradigma de propiciar o acesso a informação, são:
que a informação deve ser movimentada e comunicada;
a informação é algo que flui dentro de um sistema;
a informação é algo divisível dentro de unidades feitas em partes num
sistema;
o processo é modelado em termos de fluxo da informação entre dois
pontos através de um canal (Miksa, 1992);
o processo pressupõe a existência de tecnologia apropriada, que hoje
está nas redes.
Necessidadesde informação
Coleta deinformação
Disseminaçãoda informação
Uso dainformação Comportameno
adaptativo
Organização e armazenamentoda informação
Sensemaking- Criação de conhecimento- Tomada de decisão
-Conteúdo relevante-Serviços de valor agregado- Múltiplos canais e formatos de disseminação
- Reunião da Informação é distribuída mas a coordenação é centralizada
-Identificação de quem são os usuários-Entendimento deseu ambiente de usoda informação
- Banco de dados ou sistema de arquivos centralizados- Organizada tanto para facilitar a procura como a visualização
À medida que as redes passam a interligar todas as atividades humanas, o
principal foco das organizações é redirecionado da maximização do valor da
organização para a maximização do valor da rede. A sobrevivência da
organização depende da sobrevivência da rede.(Kelly, 1999).
A tipologia de redes sugere a existência de duas categorias de redes, vistas
sob uma ótica funcional, ou seja redes físicas com função de conexão e
redes com função de provisão de serviços de informação.
Embora as bibliotecas e os bibliotecários brasileiros ainda não estejam
totalmente preparados, é necessário que o país construa rapidamente uma
ampla infra-estrutura de serviços de informação em rede eletrônica que
atenda às expectativas das unidades de informação na função de
compartilhamento de recursos, e as expectativas dos usuários, na função de
ampliação do acesso à informação (Carvalho, 1999, p.3).
As redes bibliográficas, como hoje se conhece, se distinguem de suas
predecessoras pela ênfase no uso de telecomunicações, capacidades
computacionais e contato imediato entre os membros. As grande redes hoje
existentes fornecem processamento distribuído, treinamento, catalogação,
empréstimo interbibliotecário, conversão retrospectiva, oferta compartilhada
de bases de dados e equipamentos (Carvalho, 1999, p.31)
3.3.2 Cooperação; consórcios; bibliotecas híbridas
Dentre os arranjos organizacionais cooperativos estabelecidos pelas
unidades de informação com o objetivo de compartilhar recursos, estão as
redes bibliográficas e de informação, os consórcios, as cooperativas, as
parcerias, a terceirização, os grupos de compras e as bibliotecas híbridas.
Em relação aos consórcios, há ampla difusão deste conceito nos Estados
Unidos e na Europa7. No Brasil, podemos citar o exemplo do consórcio de 7 Na Inglaterra podem ser citados o Consortium of University and Research Libraries (CURL), um consórcio nacional que reúne as maiores e mais importantes bibliotecas universitárias de
bibliotecas de universidades e institutos de pesquisa do Estado de São Paulo
que propõe facilitar o acesso à informação, aumentando o grau de satisfação
dos usuários e minimizar custos de aquisição de periódicos científicos
eletrônicos internacionais por meio de atividades cooperativas (Kryzanowski
& Taruhiu, 1998).
No caso das bibliotecas híbridas, o grande numero de projetos de bibliotecas
eletrônicas, digitais ou virtuais está produzindo uma gama extensiva de
tecnologias alternativas. O desafio é reunir as tecnologias e os novos
desenvolvimentos , mais os produtos e serviços eletrônicos já disponíveis
nas bibliotecas e harmonizar com as funções históricas das bibliotecas
físicas, criando bibliotecas híbridas acessíveis e organizadas8.
3.3.3 Habilidades do bibliotecário
Da habilidade gerencial dependem as mudanças. Sugere-se a adoção plena
da gestão da informação, em especial no seu aspecto de organização voltada
para o aprendizado, e em relação constante com o ambiente. Além de
requererem uma nova postura de planejamento e gestão,, os novos modelos
de serviços baseados no acesso requerem, entre outros, a introdução de
requisitos tecnológicos e técnicos e a participação em arranjos
organizacionais cooperativos em rede. Sugere-se também que o bibliotecário
preocupe-se em fazer estágios e identifique as melhores práticas
internacionais para nivelar-se aos padrões mais modernos de conexão em
redes.
3.4 Ser empreendedor, personalizar/customizar a informação. Ser consultor e infoempresário. Teletrabalho.
pesquisa; e o Consortium of Academic Libraries em Manchester (CALIM), integra as bibliotecas universitárias da cidade de Manchester.8 Mais informação sobre o conceito de aglomerações consultar o site :
http://www.ukoln.ac.uk/dlis/models/clumps /
Para mais informação sobre Bibliotecas Híbridas e Pesquisa consultar:
http://www.ukoln.ac.uk/services/elib/background/pressreleases/summary2.html
3.4.1 Intelectual da informação
Aquilo que chamamos de Revolução da Informação é, na realidade, uma
revolução do conhecimento. A rotinização dos processos não foi possibilitada
por máquinas. O computador é apenas o gatilho que a desencadeou. O
software é a reorganização do trabalho tradicional, baseado em séculos de
experiência, por meio da aplicação do conhecimento e, especialmente, da
análise lógica e sistemática. A chave não é a eletrônica, mas sim a ciência
cognitiva.
A estrutura da sociedade pós industrial, demanda profissionais liberais,
técnicos, cientistas, profissionais da informação, gestores do conhecimento e
da tecno-estrutura. Propicia a expansão das profissões ricas em informação,
como os cargos de administradores, profissionais especializados e técnicos
(Castells, 1999, p.227).
Novas profissões tem aparecido no mercado como o webmaster, um
especialista responsável pelo desenho e manutenção do site da empresa ,
que deve ter uma compreensão completa da cultura Web e que se preocupa
com a forma de disseminação de informações da e sobre a empresa9.
Algumas escolas, como a Coppe-UFRJ estão oferecendo cursos de
graduação em profissões antes desatendidas, como as do engenheiro da informação, o de engenheiro de infra-estrutura e meio ambiente e
engenheiro de automação e controle. Disciplinas a serem cursadas para o
engenheiro da informação, incluem empreendedorismo, teoria da
aprendizagem e gestão do conhecimento, e ainda inteligência computacional,
banco de dados, redes de computadores, multimídia, sistemas digitais e
outras disciplinas, como interface homem-máquina.
9 Em geral, a maioria das empresas pede pelo menos dois Webmasters – um para as questões técnicas e outro para o conteúdo. O webmaster técnico é responsável pela administração e manutenção do sistema, enquanto que o webmaster do conteúdo é reponsável pela elaboração, entrega e atualização da informação do site (Cutler & Richard, 1995, p.125).
São os cidadãos que terão de decidir, em última análise, se estão dispostos a
aprender novas profissões, a aceitar os desafios da nova sociedade
assumindo os papéis e o comportamento que a mesma exige, descortina e
oportunisa.
Que profissões podem surgir para o bibliotecário, que sejam de cunho de um
intelectual da informação? Pela sua formação sugerimos que, uma das
vertentes seja aquela relacionada à necessidades informacionais dos
usuários e ao seu conhecimento de onde buscar estas informações.
3.4.2 Customizar a informação
A habilidade para discriminar e distinguir documentos relevantes, na massa
de informação disponível nas redes digitais está se tornando cada vez mais
difícil para os profissionais da informação. Há um excesso de oferta
informacional. Há duas formas de lidar com a explosão da informação: filtrar
a informação antes que ela atinja o usuário final; ou customizar a informação
depois que ela chega. A função do bibliotecário está mais do lado da
customização que é uma atividade centrada no usuário e sua demanda
informacional (Berghel, Barleant, Foy and McGuire, 1999, p.505).
3.4.3 Information broker
Pelo seu treinamento e know-how de organizar o conhecimento dentro de
sistemas e estruturas que facilitam o uso produtivo da informação e dos
recursos informacionais o bibliotecário é considerado um especialista da
informação (Choo, 1998, p.212).
Algumas oportunidades para especialistas de informação (information
workers), podem, dentre outras atividades, centrar-se na busca, reunião e
interpretação da informação com valor agregado para as atividades de uma
organização ou de um indivíduo, visando melhor posicionamento no mercado
ou lucro. Neste contexto a busca informacional é um processo de construção
do novos conhecimentos e entendimentos para adicional valor para as
atividades de uma empresa, ou atividade de um indivíduo (Kuhlthau, 1999).
Pode ainda o information broker especializar-se em selecionar informação
personalizada para clientes/usuários com perfil de demanda específico para
pesquisa e/ou especialidades em assuntos de ponta. Este tipo de atividade
difere da tradicional disseminação seletiva da informação no sentido que
busca informação em todos os suportes informacionais e não apenas os
bibliográficos, mas também notícias, gráficos, percentuais, indicadores, etc.,
todo o tipo de dados aos quais pode-se agregar valor para transformá-lo em
informação e conhecimento para o cliente.
O conhecimento de seu cliente é central para um bom serviço personalizado.
Na abordagem de marketing, não é apenas preciso conhecer as
necessidades informacionais , mas antecipar-se à elas, surpreender e
encantar o seu usuário com informação bem selecionada e com valor
agregado.
Um instrumento que pode auxiliar o bibliotecário na busca e seleção de
assuntos pertinentes são os software agents, ou agentes informacionais
inteligentes, robôs que filtram informação, relacionam pessoas com
interesses similares, automatizam comportamento repetitivo e realizam,
quando bem programados, inúmeros outros cruzamentos
informacionais(Maes, Guttman & Moukas, 1999)
Em estudo recente no Brasil, Baptista (1998) concluiu que a terceirização tem
sido o elemento facilitador para atuação empresarial do especialista da
informação. As habilidades necessárias identificadas foram: saber avaliar as
necessidades do cliente, escrever relatórios, saber taxar e vender produtos,
definir a estrutura de negócio, tomar pulso do mercado e desenvolver um
programa de marketing.
3.4.4 Teletrabalho
No contexto da sociedade pós industrial, o local de trabalho não constitui
mais uma variável independente do teorema organizacional e o horário
rigidamente sincronizado não constitui mais uma exigência do trabalhador,
principalmente do trabalho intelectual. Oportuniza-se o teletrabalho.
O local típico de produção, da difusão da informação, inclui electronic cottage
(a casa eletrônica), trabalho domiciliar on-line. O cidadão pode, de sua casa,
servindo-se do telefone, do fax e do microprocessador, desenvolver um
trabalho a pedido de uma empresa ou pessoa, utilizando os seus próprios
recursos computacionais e capacidade de busca.
Inúmeros são os exemplos de teletrabalho na Rede (Internet) como o
desenvolvimento do Linux que envolveu basicamente três características
inerentes ao teletrabalho: cooperação, voluntariado e trabalho intelectual. No
campo da ciência e tecnologia, as bibliotecas virtuais, laboratórios virtuais,
pesquisas e desenvolvimento internacionais, entre outros, são alguns
exemplos acadêmicos de teletrabalho.
3.4.5 Habilidades do bibliotecário
A atividade de informatin broker leva ao empreendedorismo da informação,
para tal além de seu know how do ciclo informacional o bibliotecário
necessitará de bons conhecimentos de máquina (novas tecnologias),
utilização de softwares e conhecimento de uso e busca em fontes
informacionais nacionais e internacionais (Internet, bancos e bases de
dados).
Além da disposição e disciplina para trabalhar num ambiente próprio e
independente do contexto organizacional, o bibliotecário empreendedor deve
ainda adquirir conhecimentos específicos de negócio, dentre eles saber
vender e cobrar pelo seu produto e conhecer muito bem o mercado e o seu
usuário da informação.
3.5 Trabalhar a informação, agregar valor
3.5.1 Imprimir valor à informação
Agregar valor a produtos ou serviços significa imprimir aos mesmos uma
diferenciação que os torna mais atraentes aos olhos dos consumidores, quer
seja em termos de qualidade, rapidez, durabilidade, assistência ou preço.
Podem ser identificadas seis categorias de atividades de valor agregado:
facilidade de uso, redução de informação desnecessária (noise), qualidade,
adaptabilidade (refere-se à habilidade do serviço oferecido ser compatível
com as necessidades do usuário em seu ambiente de trabalho), economia de
tempo e economia de custo (Taylor, 1986).
No que se refere à informação, a agregação de valor excede os métodos
tradicionais de consulta, pesquisa e disponibilização de informação aos
usuários das também tradicionais bibliotecas. As atividades dos
bibliotecários podem incluir: treinamento, consultoria e atendimento a
consultas dos usuários sobre seleção de fontes de informação;
desenvolvimento de estratégias de pesquisa/busca; e avaliação da
informação.
Eles podem participar do planejamento e das atividades decisórias da
organização, onde exerçam o processamento, reunião e coleta de
informações ambientais pertinentes à organização (vigilância informacional)
procurando desenvolver um entendimento íntimo de como a informação é
usada. Devem buscar entender qual o impacto da informação adquirida no
desenvolvimento do indivíduo e da organização (Choo, 1998, p.215)?
3.5.2 A recuperação da informação
Qualidade, valor agregado, precisão, rapidez, nada disto tem significado sem
uma ciência ou disciplina de apoio chamada recuperação da informação.
Esta surgiu com o advento da automação e das novas tecnologias. Esse
novo conceito à Biblioteconomia passou também a ser central à Ciência da
Informação. A recuperação da informação , cunhada por Calvin Mooers
(1951), engloba os aspectos intelectuais da descrição de informações e suas
especificidades para a busca, além de quaisquer sistemas, técnicas ou
máquinas empregados para o desempenho da operação.
As técnicas de recuperação permitem a normalização, a identificação do
conteúdo, a relevância, a precisão e especificidade das informações que
trata. É um trabalho de indexação de extrema importância para identificar
assuntos de interesse. O seu conceito mais intrínseco é o da relevância,
ligado à efetividade. A relevância indica relação (Saracevic, 1999, p.1059).
3.5.3 Recuperação da informação e empreendedorismo
Centrada na recuperação da informação, uma indústria de informação, on
line, emergiu nos anos 70 , crescendo passou a ser a aplicação mais
disseminada de qualquer sistema informacional no mundo (Hahn, 1966).
Na década de 80, a indústria comercial da informação baseada na
recuperação da informação, tornou-se lucrativa obtendo grande sucesso.
Muitos pesquisadores em recuperação da informação tornaram-se
empresários de recuperação da informação. Esses empresários
desenvolveram uma variedade de procedimentos de recuperação da
informação voltados para o mercado e baseados em algoritmos, aplicáveis à
escala de grandes arquivos, múltiplas aplicações e/ou várias tecnologias
avançadas. Tornou-se a indústria do conhecimento, no seu sentido mais puro
(Saracevic, 1999, p. 1058).
É preciso enfatizar, no entanto, que o World Wide Web 10, que emergiu na
primeira metade dos anos 90 não se utiliza dos princípios científicos da
recuperação da informação. A recuperação da informação da web, toda ela
comercial, voltada para o lucro, que se propõe a fornecer , segundo a sua
propaganda, mecanismos de busca para encontrar informações relevantes11
para os usuários, sob demanda, está se desenvolvendo e prosperando fora
da área.
10 WWW – ou W3, aplicativo da Internet. É um sistema de menus e hipermídia. Em português denomina-se teia mundial (Cavalcanti, 1996, p.119-120).11 Os pioneiros da ciência da informação desenvolveram processos e sistemas de recuperação da informação, nos anos 50, e definiram como seu objetivo principal a recuperação da informação relevante . Questiona-se, no entanto, a relevância da recuperação na web , por esta não utilizar os princípios científicos da recuperação da informação (Saracevic, 1999, p.1058)
3.5.4 Habilidades do bibliotecário
Principalmente de analista de conteúdos, indexador, selecionador de
palavras chaves relevantes. Atualmente centenas de termos de indexação
podem ser incluídos em diversos níveis de representação nos acervos
digitalizados. Em alguns casos, com o auxílio de modernos programas de
indexação, pode-se fazer a varredura de todas as palavras do texto, mas sem
perder de vista a questão da relevância e da precisão. Mas a recuperação vai
além dos dados textuais , hoje é possível recuperam imagens, vídeo, áudio,
músicas inteiras podem ser recuperadas e ouvidas.
Como se deve indexar a videoconferência? Como atribuir pontos de acesso
temático a um documento/programa que é realizado ao vivo, via Internet?
(Cunha, 1999, p.261)
O que o bibliotecário pode fazer para organizar a informação na Rede? Quem
assessorou os desenvolvedores do Yahoo?
3.6 Socializar a informação – preocupar-se com o acesso público à informação, a informação como um patrimônio público (public good).
3.6.1 Característica das Unidades de informação
As unidades de informação12 (bibliotecas, centros e sistemas de informação
e de documentação) são organizações sociais sem fins lucrativos, cuja
característica como unidade de negócio é a prestação de serviços, para os
indivíduos e a sociedade, de forma tangível (produtos impressos), ou
intangível (prestação de serviços personalizados, pessoais, e hoje, cada vez
mais, de forma virtual – em linha, pela Internet).
No entanto, em especial nas duas últimas décadas, as unidades de
informação têm sofrido redução orçamentária, tanto no Brasil como no
exterior, e têm sido submetidas à competição por recursos/insumos de toda
a espécie, em especial por recursos financeiros (Young, 1994, p.110). A
12 Unidade de informação – instituições voltadas para a aquisição, processamento, armazenamento e disseminação de Informações.
pergunta que as unidades informacionais têm se feito é: o que fazer quando
as fontes tradicionais de fomento diminuem os seus repasses? Formas
cooperativas para a maximização de recursos são estudadas, mas também
aflora a possibilidade de cobrança da prestação diferenciada de serviços e
produtos internacionais. E neste caso, deve-se cobrar por serviços
informacionais? Como cobrar, quando cobrar, quanto cobrar?
3.6.2 Informação como bem público
Assuntos complexos como livre acesso à informação, barreiras para o livre
acesso à informação pública, e cobrança direta por serviços bibliotecários
com valor agregado têm provocado discussão e debate entre as profissionais
da informação. O posicionamento tradicional é que os serviços bibliotecários
são um bem público (domínio público) e que o acesso livre à informação é
um direito fundamental de cada cidadão numa sociedade democrática. Este
posicionamento esposa uma visível preocupação com a finalidade e a justiça
social.
A questão principal em debate é o foco na definição do que é bem público,
em instituições de serviço (público). A importante distinção entre informação
como bem público e informação como bem econômico (commodity), está na
diferença entre a informação a serviço da equidade social e aquela que
oferece um portfolio 13de serviços, representando vários graus de eficiência, a
preço compatível de mercado competitivo.
Aqueles que vêem a informação como um bem público enfatizam a natureza
econômica única da informação. A informação tem características
econômicas atípicas que a distinguem de ativos (commodities) mais
tangíveis, a informação pode se expandir, é completa, capaz de ser
substituída, transportável, difusa e pode ser compartilhada. Como um
produto/mercadoria, a informação não se deprecia e é disponível livremente,
tem um valor que cresce com a reutilização e a sua apresentação em outra
forma (re-embalagem), e é extremamente difícil de controlar. Desta forma, o
argumento do bem público, mantém que o acesso amplo à informação resulta 13 Portfolio – seus componentes são os negócios e produtos que constituem a empresa.
num uso crescente que beneficia a sociedade como um todo, e não apenas
partes desta sociedade (Young, 1994, p.108)
3.6.3 Vamos preservar as bibliotecas
Argumenta-se também que a crença que toda a informação estará disponível
para todos na Internet, de qualquer lugar, a qualquer momento, é baseada
num pressuposto marxista equivocado a respeito da natureza humana. Nada
é inteiramente livre e problemas de direitos autorais devem ser resolvidos,
nos seus aspectos de o que pode ser digitalizado ( o que é de domínio
público) e quem pode ter acesso à esses materiais14. O problema de
compatibilizar interesses conflitantes de propriedade intelectual de um lado, e
o acesso livre e igual do outro, impõe restrições de onde se pode consultar
os materiais produzidos.
A biblioteca tradicional, a de quatro paredes, é a única que pode
disponibilizar livremente os materiais com direitos de autor reservados. Neste
argumento a biblioteca tradicional é vista como o único lugar no qual os
leitores podem consultar livremente não somente os materiais com direitos
autorais reservados, mas também bases de dados (site-licensed) que não
podem ser utilizadas de qualquer lugar, por qualquer pessoa no espaço
virtual. Enquanto a natureza humana não mudar e os direitos autorais do
ciberespaço não estiverem resolvidos a biblioteca tradicional será o lugar
onde qualquer cidadão poderá ter livre acesso à qualquer obra com
copyright (Mann, 1999)
3.6.4 Habilidades do bibliotecário
14 Segundo (GANDELMAN, 1997) “Os direitos autorais continuam a ter sua vigência no mundo on line da mesma maneira que no mundo físico. A transformação das obras intelectuais para bits em nada altera os direitos das obras originalmente fixadas em suportes físicos, como já referido anteriormente. ... O direito de reproduzir uma obra é exclusivo de seu titular, inclusive o direito de reproduzi-la eletronicamente em uns e zeros ( para serem lidos por computadores). E se alguém armazena de forma permanente, no seu computador, material protegido pelo direito autoral, uma nova cópia é feita, necessitando a mesma, portanto, de uma autorização expressa do respectivo titular.
Todas as habilidades tradicionais do bibliotecário centradas no ciclo
informacional, mas em especial as centradas no usuário, na informação
utilitária e na informação para a cidadania.
3.7 Educar para a utilização da informação e para a sociedade da informação
3.7.1 Sociedade da Informação e cultura
Não haverá sociedade da informação sem cultura informacional.
Isto que chamamos sociedade da informação só existirá quando houver para
ela uma cultura correspondente. A cultura informacional é mais que o
conhecimento e a sensibilização da sociedade para o uso da informação, ou
ainda a habilidade dos indivíduos ou grupos de fazer o melhor uso possível
da informação. É também mais que o resultado mecânico de uma simples
acumulação de tecnologias, tem ainda como componente a “alfabetização em
informação” (Menou, 1996).
3.7.2 Educação para a sociedade da informação
Educar a si próprios e educar aos outros para a sociedade da informação, é
um dos grandes desafios para o profissional bibliotecário e um passo
importante para a formação da cultura informacional na sociedade.
Permitir a todos o acesso a informação é crucial para o desenvolvimento
individual e coletivo do cidadão, e o caminho a ser percorrido para capacitar o
cidadão ao uso crítico da informação é uma tarefa que as escolas, as
universidades e todos os tipos de bibliotecas, públicas, universitárias e
outras, devem assumir. Preparar os cidadãos para a sociedade da
informação constitui tarefa prioritária para o governo, as organizações e seus
profissionais.
O governo propõe em sua área de atuação Governo e Cidadania aumentar a
transparência das ações de governo, melhorando e ampliando a prestação
de serviços diretamente ao cidadão (CCT, 1999, p.41). Outro projeto
importante, o projeto Agência Cidadão, patrocinado pela Finep, se propõe a
oferecer um serviço voltado para o cidadão, que pretende fornecer
informações importantes e úteis para o seu dia-a-dia sobre documentos
pessoais, educação, saúde, direitos, trabalho e mostrar como e onde fazer,
para que serve, quanto custa, quando será, etc.
Outro passo importante é a alfabetização em tecnologias da informação, e
também a extensão à infoaprendizagem. A biblioteca do futuro, dentre outras
atividades, deve propiciar a interface de treinamento entre o usuário e as
ferramentas da meta-informação, e tornar-se ponto focal de uma
comunidade (real e virtual) de conhecimento, centro cultural e ponto de
referência para encontros de comunidades de cibernautas 15 (Allen & Retzlaff,
1998).
A tecnologia da informação pode ser usada como veículo para ajudar a
eliminar desigualdades sociais e econômicas. As ferramentas das tecnologias
da informação e suas aplicações podem oferecer oportunidades que
transcendem barreiras de raça, gênero, deficiência, idade, capacidade
financeira e lugar. O acesso à tecnologia da informação em ambientes
educacionais, é um pré-requisito para construir a base de habilidades que
possibilitará aos nossos profissionais atuar de forma produtiva na sociedade
da informação do novo século.
3.7.3 Habilidades do bibliotecário
Além das atuações já pontuadas nos itens acima, a biblioteca e os seus
profissionais, também podem atuar como centro e agentes de apoio aos
programas de educação à distância do sistema educacional formal e da
comunidade, desenvolvendo um papel educacional, comunitário e integrador
(Persons, 1998).
3.8 Valorizar o conceito econômico da informação, participar do e-commerce, oferecendo serviços e produtos exclusivos.
15 Cibernauta – expressão nova que caracteriza os usuários dos serviços já existentes, como produto das tecnologias da comunicação e informação (Cavalcanti, 1996, p.106)
3.81. Escassez de recursos
O outro lado da moeda é equilibrar o enfoque social com o enfoque
econômico. A escassez de recursos é uma das vertentes que tem mudado
a postura das unidades Informacionais em termos administrativos,
organizacionais e como unidades de negócio, que vêem hoje, a informação
oferecida como um bem econômico, que pode ser vendida em forma física ou
na forma de comércio eletrônico e não apenas como um benefício cultural ou
social, suprindo lacunas para o crescimento individual dos cidadãos, que,
acredita-se, o mercado por si só nunca supriria de forma adequada.
3.8.2 Comércio eletrônico
O comércio eletrônico – ou seja, a emergência explosiva da Internet como
importante (e, talvez, com o tempo, o mais importante) canal mundial de
distribuição de bens, serviços e surpreendentemente, empregos na área
administrativa e gerencial, inclusive oferece inúmeros serviços de
infoempresários. É ela que está provocando transformações profundas na
economia nos mercados e nas estruturas de indústrias inteiras; nos
produtos, serviços e em seus fluxos; na segmentação, nos valores e no
comportamento dos consumidores; nos mercados de trabalho e de emprego.
Mas talvez seja ainda maior o impacto exercido sobre a sociedade, a política
e, sobretudo, sobre a visão que temos do mundo e de nós mesmos.
O comércio eletrônico que mais cresce nos Estados Unidos ocupa uma área
que, até agora, nem sequer era comércio propriamente dito: o de empregos
para funcionários administrativos, gerentes e executivos. Quase metade das
maiores empresas do mundo hoje contrata por meio de Web sites. E cerca de
2,5 milhões de administrativos e gerentes (dois terços dos quais não são
engenheiros ou profissionais da área da informática) têm seus currículos na
Internet e buscam emprego por meio dela. O resultado é um mercado de
trabalho completamente novo.
Isso ilustra outro efeito importante do comércio eletrônico. Canis de
distribuição novos mudam a identidade dos clientes e compradores. Eles
modificam não apenas a maneira como os fregueses compram, mas também
o que compram. Transformam o comportamento dos consumidores, os
padrões de poupança , a estrutura da indústrias, em suma, a economia por
inteiro.
O comércio eletrônico é visto como o produto mais visível do teletrabalho,
pois é um novo raciocínio sobre trabalho e emprego na sociedade da
informação.
3.8.3 Habilidades do bibliotecário
Saber cobrar por serviços, quando e quanto. Ter espírito empreendedor.
Entrar no “jogo” da Internet e da Sociedade da Informação.
3.9 Criar, pesquisar e consumir informação
3.9.1 Bibliotecário de apoio, intermediário, facilitador da informação?
O bibliotecário e o especialista da informação, que trabalham em
organizações e centros de informação, foram sempre vistos como parte do
staff de apoio, trabalhando quietamente nos bastidos, à margem das funções
mais importantes das organizações ou empresas. Mas o fato de que este
profissional possui as habilidades que são muito necessárias para
efetivamente adquirir, organizar e distribuir informação, as organizações
(inteligentes) não podem se dar ao luxo de prescindir de sua contribuição e
participação em atividades estratégicas (Choo, 1998, p.215).
Os bibliotecários, especialistas em informação, devem quebrar essas
barreiras e refazer/inovar as suas funções na empresa, agir de forma mais
agressiva antecipando-se às necessidades e fornecendo informações para a
organização se conhecer melhor e à sua ambiência. Devem ser também os
primeiros a fazerem uso de modernas tecnologias de informação e de
software informacional que facilite a recuperação e disseminação da
informação. A sua função globalizada é a de estabelecer conexões com
aqueles que detêm a informação, e os que as querem (Davenport & Prusak,
1993, p.408)
3.9.2 Bibliotecário na organização inteligente
A organização inteligente entende que a descoberta e o uso do conhecimento
pode ser melhor atingidos se fizer uma parceria estratégica informacional
entre aqueles na organização ,que criam e usam a informação, os
especialistas da informação e os especialistas em tecnologia informacional.
Esta sinergia coletiva é necessária para tecer uma rede de informações
estruturadas e não estruturadas, internas e externas, correntes e históricas, e
informações orientadas para o futuro: para criar instrumentos e métodos para
acessar e selecionar a melhor informação disponível; desenhar arquiteturas
informacionais baseadas num entendimento profundo das necessidades
informacionais e de comunicação de seus clientes; e integrar os processos
informacionais da organização, formando uma plataforma para o aprendizado
e desenvolvimento organizacional (Choo, 1998, p.217).
Sair da posição de apoio e de intermediador da informação para a de criador,
agregador de valor e consumidor da informação este é o passo a ser dado
pelo bibliotecário. A melhor forma de fazê-lo é através da inovação e da
educação continuada.
3.9.3 O bibliotecário inteligente
As universidades devem assumir a responsabilidade pela formação,
atualização e adaptação dos profissionais de biblioteconomia aos novos
meios de tornar disponível a informação e aos novos ambientes
organizacionais voltadas para o aprendizado, a criação de conhecimento e à
inovação, onde esse deverá assumir papéis mais pró-ativos.
Cursos como por exemplo o de Inteligência Competitiva poderiam ser
ministrados.
Inteligência competitiva, pode ser entendida, como o resultado da análise de
informações e dados coletados, que irá embasar decisões;
ou
estrutura de redes ativas baseada em fatores críticos de sucesso16 para a
organização;
ou ainda
Processo sistemático de coleta, tratamento, análise e disseminação da
informação sobre atividades de concorrentes, tecnologias e tendências dos
negócios, visando subsidiar a tomada de decisão e atingir as metas
estratégicas da empresa (Gilda Massari Coleho, 2000).
É feita a distinção entre dado (valor sem significado); informação (dado com
significado) e conhecimento (informação estruturada e contextualizada). O
conhecimento (ou inteligência) é o elemento habilitador da decisão. O
processo de Inteligência Competitiva é que da a visão geral consistente, a
partir das informações. O conceito pode ser ilustrado como uma pirâmide em
três camadas (da base para o topo) : fontes, análise e sistema de inteligência
(Fuld, 1995).
A Inteligência Competitiva, quando aplicada ao sistema administrativo, ou ao
planejamento estratégico, ou ainda à coleta de informações para tomada de
decisão empresarial, pode gerar uma série de produtos com sucessivo grau
de valor agregado. Começa no nível mais baixo, com uma base de dados de
informação bruta. A partir desta base de dados, boletins de notícias são
produzidos e distribuídos aos indivíduos na organização. O próximo nível
pode ser representado, por exemplo, pelos perfis da concorrência que são
preparados de forma resumida ou detalhada. A seguir podem vir os relatórios
de impacto estratégico, nos quais começa-se a agregar valor à informação. É 16 Fatores Críticos de Sucesso - são aquelas características, condições, ou variáveis que quando adequadamente sustentadas, mantidas ou gerenciadas podem ter impacto significativo sobre o sucesso da posição competitividade de uma organização dentro de um segmento industrial específico (como dentro da indústria da informação) (Leidecker & Bruno, 1984). São variáveis que a gerência pode influenciar através de suas decisões e que podem afetar significativamente a posição competitiva da organização ou ainda de vários segmentos de uma indústria. O conceito de fatores críticos de sucesso pode ser aplicado a três níveis de análise : organizacional, específico daquele segmento (ramo industrial ou área de atuação), e ambiental econômico, sócio-político). Em número limitado de áreas nas quais os resultados, se forem satisfatórios, irão assegurar um desempenho competitivo de sucesso para a organização. Os FCS são os meios que garantem a realização dos objetivos da organização.
neste nível que a inteligência realmente começa a ser formada porque o
impacto potencial é determinado com base nas notícias. Mais valor ainda é
agregado no nível seguinte que consiste numa análise mais minuciosa da
situação. A hierarquia é encabeçada com resumos mensais de inteligência e
resumos especiais direcionados para a alta gerência (Tyson, 1997)
A Inteligência Competitiva se utiliza de um conjunto de medidas do
planejamento estratégico que inclui a identificação de melhores práticas,
análise de pontos fortes e fracos do mercado e estudo de tendências
(oportunidades, ameaças). Utiliza-se de métodos como a informetria e a
bibliometria, técnicas como a de Delphus, benchmarking, cenários, e outras,
com o objetivo de assegurar um melhor posicionamento no ambiente . Nas
indústrias e no setor produtivo este melhor posicionamento significará
vantagem competitiva frente aos concorrentes.
Em organizações não governamentais ou ainda, sem fins lucrativos, a
inteligência competitiva assume um papel mais próximo à inteligência
cooperativa, fazendo jus ao objetivo dessas organizações, qual seja, o
desenvolvimento de trabalhos voltados para o bem público. Algumas destas
entidades atuam nas áreas de informação e educação, outras são
operacionais e se envolvem com projetos técnicos na área do
desenvolvimento, sem nenhum objetivo de geração de lucros. As bibliotecas,
que são tradicionalmente organizações sem fins lucrativos, se inserem nesta
categoria e devem utilizar a inteligência competitiva e/ou cooperativa para se
posicionarem com alguma vantagem no mercado, aproximando-se de forma
mais personalizada de seu cliente/usuário, ocupando um espaço, que está
cada vez mais tomado por empresas privadas e comerciais.
3.9.4 Habilidades do bibliotecário
O bibliotecário, dentro da organização ou agindo como infoempresário pode e
deve utilizar a abordagem e as técnicas da inteligência competitiva para
agregar valor à informação que coleta, analisa, interpreta e cria, focado nos
interesses de seu cliente, ou na missão da organização que serve. Com este
instrumento ele reverte a sua postura passiva para uma postura mais
dinâmica de analista, especialista de fato, agregador de valor e criador de
informações.
Disciplinas relacionadas à esta prática devem ser cursadas como aquelas
elencadas no Curso de Especialização em Inteligência Competitiva ,
oferecido pelo MCT/INT, IBICT e UFRJ, e que são:
Planejamento Estratégico, Estratégias Competitivas, Cenários;
Sistemas de Inteligência Competitiva – um conjunto de três disciplinas que
cobre desde os conceitos e as fases do processo até a coleta e
disseminação e a construção de um sistema de inteligência competitiva
com ênfase no planejamento; e Sistema de Inteligência de Marketing;
Sistemas de Comunicação e Informação que inclui: Sistemas de
Comunicação, Redes e Sistemas de Informação, Fontes e Acesso à
Informação;
Gestão do Conhecimento – inclui Gestão de Bases de Dados, Data
Mining, Data Warehousing. Neste conjunto de disciplinas são cobertas as
leis e possibilidades de aplicação das técnicas informétricas e
bibliométricas conhecidas pelos bibliotecários.
Técnicas de Análise e Prospecção – inclui Análise de Oportunidades
Tecnológicas, Benchmarking, e Análise Concorrencial.
Outras disciplinas podem ser escolhidas por eleição do bibliotecário para
fundamentar e ampliar a sua formação, inclusive todas aquelas relacionadas
às novas tecnologias, à teoria organizacional, à gestão da informação e do
conhecimento, de comunicação, do aprendizado, e muitas mais à sua
escolha.
4. Conclusões
O que se espera hoje do bibliotecário é a criação e gerenciamento de
informações e oferta de serviços e produtos com valor agregado e em tempo
real. Suas atividades baseiam-se hoje em acervos fixos e dados,
informações, sons e imagens contidos em bases de dados e nos estoques
informacionais digitalizados e disponíveis em redes e na Internet.
Habilidades que se esperam dele são: domínio das tecnologias de imagem,
reconhecimento de caracteres óticos, linguagens Markup, catalogação e
metadados, tecnologia de indexação e de bases de dados, desenho de
interfaces com o usuário, programação, tecnologia de rede (web), e
gerenciamento de projetos (Tennant, 1999, p.39). E também trabalho com a
informação, interpretando dados, transformando-os em conhecimento com
valor agregado para a tomada de decisões na organização, ou para atender
necessidades informacionais de pesquisadores, e ainda de qualquer tipo de
usuário.
Espera-se também do bibliotecário uma atitude profissional pró-ativa que o
posicione com destaque, como especialista da informação que é, e como
empresário , no contexto da Sociedade da Informação. Espera-se dele
também uma atitude de vigilância com o bem (informacional) público e com o
desenvolvimento e disseminação dos conteúdos informacionais através das
redes.
Percebe-se, na Sociedade da Informação, que a atividade informacional está
presente em todos os ambientes organizacionais e não apenas nas
bibliotecas, abrindo campo para inúmeras profissões da informação, mas
com um core comum, o ciclo informacional.
Finalizando, os perfis profissionais que podem ser detectados hoje, incluem
muitas características do profissional tradicional, mas também muitos outras
que emergem das inúmeras possibilidades que as modernas tecnologias, as
redes, a web, e a Internet têm propiciado, em especial o que tange à
recuperação da informação e ao atendimento personalizado aos usuários,
bem como as modernas teorias de gestão e trabalho com a informação.
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