1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO
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SUMÁRIO
RESUMO..........................................................................................................................5
INTRODUÇÃO..................................................................................................................6
1 PERSPECTIVA HISTÓRICA DO ISLAMISMO............................................................10
2 PERSPECTIVA DOUTRINÁRIA DO ISLAMISMO......................................................19
3 AFINIDADES ENTRE ISLAMISMO E CRISTIANISMO E A PERSPECTIVA DE
DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO ENTRE AS TRADIÇÕES...............................................29
3.1 Caminhos para o diálogo entre Cristianismo e Islamismo........................................33
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................45
RESUMO
A presente pesquisa pretende apontar como possível o diálogo inter-religioso
entre cristãos e mulçumanos a partir de pontos convergentes entre essas tradições
religiosas. Esse diálogo deverá favorecer o reconhecimento do que há de verdadeiro
nas duas religiões, proporcionando a aproximação. Será imprescindível em pleno
século 21 marcado por grandes transformações, a valorização da relação dialogal entre
Islamismo e Cristianismo. Dessa forma haverá a possibilidade de coexistir em um
mundo mais fraterno. A pesquisa tem como estrutura destacar a compreensão do
panorama histórico e doutrinário do Islã como fundamental para que cristãos
compreendam as possibilidades de construções de caminhos de respeito mútuo,
tolerância, coexistência pacífica e de diálogo inter-religioso. Verdadeiro.
PALAVRAS-CHAVE: Islamismo, Cristianismo, Diálogo inter-religioso.
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INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tratará de uma abordagem de relacionamento entre
cristãos e muçulmanos sugerindo uma aproximação entre ambos para um possível
diálogo inter-religioso. Para que isso aconteça, será necessária a observância das
afinidades existentes entre Islamismo e Cristianismo, pois haverá a possibilidade de se
perceber no outro, semelhanças. No momento em que as religiões cristãs e islâmicas
buscarem pontos em comum para tornarem o ambiente em que vivem mais fraternos,
então haverá a possibilidade de se construir caminhos que as conduzirão ao diálogo.
Por isso, se faz necessário conhecer a história do Islamismo e sua doutrina e
compreender valores existentes nesta religião. Assim como no Cristianismo, o islã teve
como finalidade levar pessoas a crer na existência de um único Deus através do seu
líder religioso, contribuindo assim para a propagação do monoteísmo.
A pesquisa mostrará que em nome da religião, o cristão e o muçulmano
necessitarão focar-se no exemplo de seus líderes, pois como ocorreu no passado
Maomé e Jesus continuam sendo exemplos de pessoas que mantiveram diálogo com
seus dessemelhantes apesar de qualquer diferença religiosa e social. Maomé por ter
mantido contato com judeus e cristãos em sua época e Jesus por sempre ter estado a
disposição do diálogo e acessível a qualquer pessoa que dele se aproximasse sem
qualquer discriminação. Ambos tiveram como meta, conduzir pessoas à presença de
um único Deus, dedicando-se a Ele. Porém, no início de suas vidas como anunciadores
da mensagem de Deus, não foram compreendidos pelas pessoas de seu convívio,
sendo estas, até seus próprios familiares. No entanto, a convicção desses líderes
religiosos em suas crenças, possibilitou o crescimento tanto do Islamismo como do
Cristianismo. Igualmente tinham em comum a proposta de um caminho de fraternidade,
sendo que este, deverá transpor um simples desejo humano de alcançá-lo para a real
necessidade de uma coexistência pacífica ultrapassando barreiras e sobrepondo-se
aos conflitos ideológicos existentes no contexto atual. È verídico que as diferenças
existem, não há como ocultá-las. Porém de uma maneira sábia, cristãos e muçulmanos
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deverão se posicionar empenhando-se para que prevaleça o amor ao próximo, pois
tanto no Cristianismo como no Islamismo há pontos enriquecedores de aproximação.
A atual pesquisa tem como principal fundamento teórico os seguintes autores:
Michael Coogan1, Ali Kamel2, Muhammad Jaafar Khalil e Omar Nasser Filho3, Hans
Küng4, Charles Caldwell Ryrie5. E a principal obra a ser abordada para conhecimento de
seus textos, O Alcorão6.
O primeiro capítulo apresentará um panorama histórico onde será possível
compreender o surgimento do Islamismo como religião monoteísta sendo este
acontecimento vinculado ao profeta Maomé. A pesquisa abordará algumas questões
relacionadas a vida do profeta e sua influência iniciando-se na Arábia, e se expandindo
à regiões vizinhas, sendo que a maior contribuição de Maomé foi o ensino religioso.
Notar-se-á que essa mudança na crença do povo árabe, que anteriormente era
politeísta, é iniciada pelo profeta do islã assinalando um crescimento da religião
islâmica não somente na península arábica, mas transpondo-se à outros continentes.
Outro ponto a ser abordado será o surgimento de correntes ideológicas dentro do
Islamismo. Não seria essa a pregação de Maomé dentro do islã, pois o mesmo propõe
a unidade do povo, entretanto é inevitável ocorrência da divisão, sendo que, o enfoque
deste acontecimento se dá por causa da luta pela liderança na representatividade da
comunidade islâmica após a morte do profeta. A pesquisa ainda tratará do assunto que
envolve o histórico 11 de Setembro de 2001 e mostrará que não é pela violência que o
Islamismo deseja ser lembrado, pois o Alcorão não aprova a prática do terror, sendo
essas atitudes provenientes de líderes radicais religiosos, pessoas que “em nome de
Deus” e por causa do poder político querem se posicionar diante da sociedade mundial
pela força. Não é essa imagem que o islã quer propagar e sim o conceito de uma
religião que prega a paz, sendo as atitudes terroristas contrárias a proposta do
Islamismo induzindo pessoas a um julgamento errôneo da religião.
1 Religiões. São Paulo: Publifolha, 2007, p.288.22 Sobre o Islã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. p.319.33 Um diálogo sobre o Islã: Curitiba, Criar Edições, 2003. p.167.44 Religiões do Mundo. Em busca dos pontos em Comum. Campinas: Verus Editora, 2004. p.283. 55 A Bíblia anotada. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1991 p.1835.66 Tradução do sentido nobre do Alcorão. Al-Madinah Al-Munauarah. Complexo do Rei Fahd, s.d. p.1065.
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A pesquisa abordará ainda um assunto que causa certa tensão no que diz
respeito a descendência de Ismael, pois segundo a Bíblia, Deus tinha promessas feitas
ao filho primogênito de Abraão de torná-lo uma grande nação. A pesquisa apontará a
possibilidade disso ser verdade, sendo que, os muçulmanos crêem serem da
descendência de Ismael, porém este enfoque será restringido a nação árabe.
O segundo capítulo discorrerá sobre a temática doutrinária onde serão
abordados assuntos ligados à crença islâmica. Uma das tais crenças se referirá a
adoração a um único Deus pelos muçulmanos. O Islamismo anuncia uma mensagem
monoteísta para que os seus seguidores abandonem a idolatria. A pesquisa mostrará a
importância do Alcorão, o livro sagrado no islã, que rege toda a vida do muçulmano
desde questões religiosas até mesmo morais, éticas, sociais e políticas, sendo este
livro revelado ao profeta Maomé de acordo com os escritos alcorânicos. Este capítulo
apontará também os princípios que conduzem o muçulmano a práticas religiosas que o
ajudarão a tornarem-se submissos a Deus e serem melhores consigo mesmos e no
relacionamento para com o próximo. A pesquisa apontará os lugares sagrados e
acessíveis aos muçulmanos, sendo que um dos tais passa a ser igualmente de grande
significância para outras nações. Destacar-se-á também alguns ramos do Islamismo
dentro das questões doutrinárias que influenciam a fé dos muçulmanos, sendo que
apesar destas divisões, todos os fiéis islâmicos compartem do mesmo livro sagrado e
os mesmos centros espirituais. A pesquisa falará ainda sobre a temática feminina, onde
serão abordados alguns direitos das mulheres no islã. Serão apresentadas passagens
do Alcorão sobre o que a religião pensa a respeito da mulher. Se estas disposições não
são observadas por alguns, então contradizem os escritos do Alcorão.
O terceiro capítulo apontará as afinidades existentes entre as religiões
monoteístas, Cristianismo e Islamismo sendo que, através destas semelhanças, haverá
a possibilidade de aproximação entre as religiões. A pesquisa fará notável algumas
similitudes existentes nas duas religiões, ressaltando os elementos de unidade.
Apresentar-se-á também a pessoa de Jesus com atributos especiais tanto no Islamismo
como no Cristianismo. Ambas religiões mantêm respeito e profunda admiração por sua
pessoa. Apesar da representatividade que Jesus tem, sua conotação para os cristãos é
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diferente da conotação para os muçulmanos. No entanto, ele é tratado de forma
especial pelas duas religiões. A pesquisa tratará ainda de assuntos que dizem respeito
ao ato da criação, o pecado da humanidade, dentro do conceito bíblico e o alcorânico.
Partindo da realidade de que a afinidade é algo concreto e que promove a
aproximação, a pesquisa sugerirá um diálogo inter-religioso. No entanto, é necessário
haver condições de coexistência, tolerância e respeito mútuo. A tolerância conduz a
uma coexistência pacífica. O diálogo entre Cristianismo e Islamismo proporcionará um
processo de aprendizagem onde um perceberá o mundo do outro e poderá inserir-se
nele. Para haver diálogo será necessário que cada um venha a despojar-se de posturas
exclusivistas. A busca pela paz deverá ser muito maior que as características próprias
de cada tradição. A pesquisa mostrará que a liderança eclesiástica de ambas religiões
tem dado passo a caminho do diálogo, promovendo encontros onde se estabeleçam
posições que satisfaçam a ambos. Tão somente a partir de propostas de uma melhor
coexistência será possível viver num mundo harmonioso.
A pesquisa mostrará que em pleno século 21 marcado por expressivas
transformações, será necessário valorizar o dessemelhante, pois diante de um mundo
globalizado, a informação só pode ser vista como meio de transpor barreiras com
relação ao próximo respeitando seus valores e compreendendo que por detrás de uma
religião, se encontram pessoas. Será necessário se aproximar delas para compreendê-
las. Só é possível adentrar o mundo do dessemelhante com uma visão construtiva,
através do real conhecimento e não do ponto de vista da mídia que se focaliza em uma
minoria dos que se enquadram numa postura extremista.
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1 PERSPECTIVA HISTÓRICA DO ISLAMISMO
O surgimento do Islamismo está vinculado a vida do profeta Maomé, seu
fundador. Segundo KAMEL (2007, p.63), Maomé nasceu no ano 570 d.C, na cidade de
Meca, um importante centro comercial que situava-se na encruzilhada das rotas de
comércio internacional o qual ligava a África à Ásia e o Golfo Pérsico à Europa, sendo
essa região conhecida hoje como Arábia Saudita. Maomé era filho de uma família de
comerciantes sendo o pai Abdulah bin Abdu L’Muttalib e a mãe Aminah. Ficou órfão aos
6 anos de idade, sendo adotado por seu tio Abu Talib que era mercador. Aos 12 anos,
fez, ao lado do tio, a sua primeira caravana à Síria, onde foi vender e comprar
mercadorias. De acordo com ABDALLA (1998, p.14), através de suas viagens, teve
contato com o Judaísmo e o Cristianismo, religiões essencialmente, monoteístas. Seu
tio não pôde dar condições melhores ao sobrinho, que teve que cuidar de si bem cedo.
Dependia do comércio e viajava em caravanas para as áreas de fronteiras com a
Arábia. Conforme KÜNG (2004, p.258), “mais importante do que o comércio com todas
as suas preciosidades passa a ser para ele, com o correr do tempo, a oração e a
meditação”. Aos 25 anos, Maomé, por indicação do tio, passou a trabalhar para
Khadija, uma viúva, rica comerciante de Meca.
Khadija se apaixonou por ele e propôs casamento. Deu a Maomé seis filhos e o
prestígio dele cresceu muito em Meca. Na concepção de KAMEL (2007, p.71),
Depois da morte de Khadija, Maomé, ao longo de sua vida, casou-se outras dez vezes, uma delas com uma mulher judia, que se converteu ao islã. Tinha também suas concubinas, uma cristã e outra judia. Alguns casamentos foram por afinidade pessoal, outros para proteger viúvas de companheiros e alguns em decorrência de alianças políticas.
Segundo o mesmo autor, no Alcorão, o muçulmano pode obter até quatro
mulheres, porém deve ter eqüidade, do ponto de vista afetivo, sexual e financeiro, em
relação as mesmas para não cair em pecado. Assim estabelece o Alcorão:
E, se temeis não ser eqüitativos para com os órfãos, esposai aos que vos aprazam das mulheres: sejam duas, três ou quatro. E se temeis não ser justos, esposai uma só, ou contentai-vos com as escravas que possuís. Isso é mais adequado, para que não cometais injustiça (Surata 4.3).
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Somente a Maomé era concedido o direito de se casar com mais de quatro
mulheres, o Alcorão afirma:
Ó Profeta! Por certo, tornamos licitas, para ti, tuas mulheres, às quais concedeste seus prêmios; e as escravas que possuís, entre as que Allah te outorgou... se o Profeta deseja esposá-la, sendo isto privilégio, com exclusão dos demais crentes - com efeito, sabemos o que lhes preceituamos em relação a suas mulheres e às escravas que possuem, para que não haja constrangimento sobre ti. E Allah é Perdoador, Misericordiador (Surata 33.50).
Além dessa permissão especial de ter várias mulheres dentro do Islamismo,
Maomé também teve o privilégio de ser considerado o profeta mais importante que
surgiu. Conforme SMITH (1991, p.218),
Seguindo a linhagem de Ismael na Arábia, chegamos, na segunda metade do século VI d.C, até Maomé, o profeta por meio de quem o islamismo alcançou sua forma definitiva, acreditam os muçulmanos. Houve autênticos profetas antes dele, mas ele foi o apogeu; por isso é chamado de “O Selo dos Profetas”. Nenhum profeta genuíno surgirá depois dele.
Segundo COOGAN (2007, p.106), Maomé chamou os seus compatriotas para
um novo modo de vida, sendo que no começo o movimento evoluiu lentamente, e mais
tarde obteve um público maior alcançando toda a Arábia. Maomé dá início ao
monoteísmo, encontrando oposição muito forte em Meca até de sua família e tribo
coraixita à qual pertencia. De acordo com o mesmo autor, tão importante quanto aceitar
a alegação de Maomé de ser um mensageiro de Deus, seria aceitá-lo também como
governante de Meca, algo que a oligarquia dos ricos mercadores de Meca não queria. A
Caaba, local sagrado dos muçulmanos, localizada na cidade de Meca, era centro de
adoração politeísta. De acordo com KÜNG (2004, p.261):
Abraão e seu filho Ismael levantaram a Caaba e purificaram o lugar de culto aos deuses. É preciso contornar por sete vezes aquele antiqüíssimo santuário de Meca e, enquanto isso, saudar, tocar ou mesmo beijar a Pedra Negra, certamente um meteorito basáltico. A Caaba é considerada pelos muçulmanos como um lugar de presença especial de Deus.
Segundo o mesmo autor, ela é o templo primordial erigido por Abraão, os
muçulmanos acreditam ser o local onde Ismael foi levado para ser sacrificado a Deus
em obediência. Segundo o islã, este santuário passou a ser lugar de adoração a um
único Deus, Alá.
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Na compreensão do Islamismo, Maomé começou a pregar o monoteísmo, aos
40 anos de idade, apesar de ser um homem iletrado. Isto se encontra no Alcorão:
Os que seguem o Mensageiro, O Profeta iletrado - que eles encontram escrito junto deles, na Tora e no Evangelho - o qual lhes ordena o que é conveniente e os que coíbe do reprovável, e torna lícitas, para eles, as cousas benignas e torna ilícitas, para eles, as cousas malignas e os livra de seus fardos e dos jugos a eles impostos. Então, os que crêem nele e o amparam e o socorrem e seguem a luz, que foi descida, e está com ele, esses são os bem-aventurados (Surata1 7.157).
Segundo a Tradução do sentido nobre do Alcorão (s.d, p.265), a palavra luz se
refere ao Alcorão. Na visão islâmica, os escritos alcorânicos são revelações
provenientes de Deus ao anjo Gabriel que as apresentava a Maomé quando o visitava.
Conforme ABDALLA (1998, p.8), “E, este, mesmo sendo iletrado, de forma milagrosa,
reteve o ensino transmitido as seus idôneos seguidores, transformando a revelação em
livro”. Esses escritos virão a constituir-se no livro sagrado dos muçulmanos o chamado
Alcorão, palavra que significa “A Leitura”. As tribos árabes seguiam até então uma
religião politeísta. Por causa da pregação de Maomé, de acordo com KÜNG (2004,
p.259), o profeta começou a ser perseguido em Meca e teve que emigrar para a cidade
de Medina no ano de 622.
Este acontecimento é conhecido como Hégira e marca o início do calendário
muçulmano. Em Medina, o profeta foi bem acolhido e reconhecido como líder religioso
e conseguiu unificar e estabelecer a paz entre as tribos árabes. Milhões de
muçulmanos memorizam o Alcorão completo; assim são educados desde cedo. O
profeta do islã era um homem reflexivo que cultivava o hábito da meditação, vigílias
solitárias e jejuns. De acordo com o Alcorão, Maomé foi o primeiro a se islamizar: “Dize:
Tomarei eu por protetor outro que Allah, O Criador dos céus e da terra, enquanto Ele é
quem alimenta e não é alimentado? Por certo, foi-me ordenado ser o primeiro dos que
se islamizam! E não sejas de modo algum, dos idólatras” (Surata 6.14). Segundo
KAMEL (2007, p.75), após a morte do profeta em 632, aos 62 anos, seus seguidores se
espalharam rapidamente pelas regiões vizinhas. Abu Bakr foi o primeiro califa ou
sucessor do profeta (KAMEL, 2007, p.74).
1 Equivale a capítulo segundo (KAMEL, 2007,p.74).
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Maomé tinha unido toda península arábica sob o seu domínio, algo jamais feito
antes. Sua gestão estabelecera as bases de um império brilhante cujo desenvolvimento
se daria ao longo dos quatro séculos seguintes. De acordo com KÜNG (2004, p.263), a
primeira expansão árabe ocorre com muitas conquistas. Enormes regiões passam a ser
muçulmanas: a Síria, antes cristã, com Damasco e Jerusalém; o reino persa
sassânidas, com a Mesopotâmia e o Azerbaijão e, por último, o Egito cristão. Nenhuma
outra religião teve tão grande difusão em tão pouco tempo e de forma tão duradoura
como o islã. Mas a maior contribuição de Maomé foi o ensinamento religioso que dá a
base para tudo o que vem depois (PETERS, 2007, p.122). Maomé trouxe uma visão de
mundo totalmente nova de onde surgiu uma das tradições espirituais mais ricas e
dinâmicas da história. Para os muçulmanos, profecia é um meio pelo qual Deus
comunicou Sua vontade e orientação à humanidade ao longo das eras e o fez por
intermédio de seu profeta. Conforme KHALIL (2003, p.20), o islã não é apenas a
revelação ao derradeiro dos mensageiros, Maomé, mas a todos eles: Adão, Noé,
Abraão, Moisés e Jesus. A palavra islã é árabe, originada de um radical que significa
“paz, solidez, segurança” e também é uma expressão religiosa que se refere ao estado
da alma, significando assim uma atitude interna de obediência inequívoca a Deus,
rendição, submissão, resignação, (COOGAN, 2007, p.90). Muçulmano é aquele que se
submete à vontade de Deus. A misericórdia de Deus não se limita a um lugar, a uma
época, ou a um povo determinado. “Ó homens! Por certo, Nós vos criamos de um varão
e de uma varoa, e vos fizemos como nações e tribos, para que vos conheçais uns aos
outros...” (Surata 49.13).
De acordo com COOGAN (2007, p.99), os séculos XV a XVII viram surgir no
mundo islâmico três impérios enérgicos e bem-sucedidos. Governando de Istambul
(antes Constantinopla, a capital bizantina), os sultões otomanos, no auge de sua
autoridade, controlaram um domínio que abarcava o norte da África, o Oriente Próximo,
a Anatólia e a maior parte do sudeste europeu. A dinastia de xás sefévidas trouxe uma
transformação fundamental com a conversão da sociedade iraniana do Islamismo
sunita para o xiita duodecimano. Na Índia, o império igualmente centralizado da dinastia
mongol foi oficialmente um Estado islâmico, mas resultou sua legitimação do apoio da
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cultura hindu. O período entre o século XVIII e o atual, contudo, testemunhou uma
mutação rápida e freqüentemente árdua no mundo islâmico. Os três, dos otomanos,
sefévidas e mongóis, foram perturbados por problemas internos e pela consternação
dos Estados crescentemente imperialistas da Europa, sobretudo Grã-Bretanha, França
e Rússia. Conforme o mesmo autor, o confronto entre Europa cristã e o mundo islâmico
remonta no mínimo às Cruzadas realizadas pelas forças cristãs latinas, que iniciaram
no século XI, um conflito que levou ao fim determinante do domínio muçulmano na
Espanha em 1492. Mais recentemente, várias fases de imperialismo europeu induziram
à ocupação, na década de 1920, de quase todo o mundo islâmico, do oeste e do norte
da África até as Índias Orientais, atual Indonésia. Movimentos de renovação social e
política ajudaram a assentar as bases de um ressurgimento do islã no século XX.
Segundo COOGAN (2007, p.92), “Em 1923, Kemal Ataturk declara o Estado turco
secular; em 1932 ocorre a criação da Arábia Saudita; em 1947, há a criação do Estado
muçulmano do Paquistão”. Conforme WINTER (2009, p.376), “Após a Primeira Guerra
Mundial, a medida que as novas nações árabes foram alcançando sua independência,
cresceu o sentimento nacionalista e a reafirmação dos valores islâmicos”. Após a
Segunda Guerra Mundial os paises muçulmanos declararam sua independência e
afirmaram sua soberania com: a libertação política dos paises islâmicos da dominação
colonial das décadas de 1950 e 1960 e na década de 1970, os êxitos militares e
econômicos alcançados a partir da guerra árabe-israelense, do embargo do petróleo e
da vitória do aiatolá Khomeini sobre o xá e sobre os Estados Unidos em 1979 (KÜNG,
2004, p.277).
Contando com mais de 900 milhões de fiéis numa população global de seis bilhões, [...] uma pessoa em cada cinco ou seis pertence a religião islâmica que direciona o pensamento humano e a vida prática com uma riqueza de detalhes que não encontra paralelos no mundo. E a proporção de muçulmanos está aumentando, (SMITH, 1991, p.256).
Segundo GEORGE (1999, p.15), um fator de crescimento do islã é o aumento
natural da população nos paises muçulmanos. O maior número de muçulmanos está no
subcontinente indiano, formado por Índia, Paquistão e Bangladesch. Na concepção de
WINTER (2009, p.376), a nação com maior número de muçulmanos é a República da
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Indonésia, onde mais de 100 milhões de pessoas, ou seja, 90% da população
professam a fé islâmica. De acordo com KÜNG (2004, p.260), ”Maomé colocou toda a
península arábica sob seu controle, fazendo da Arábia o coração do islã”. Atualmente a
maioria da sua população é muçulmana. No século XX a vasta maioria dos
muçulmanos vivia no sul e sudeste Asiático, dentro ou ao leste do Paquistão. Na
concepção de COOGAN (2007, p.91), “Com mais de um bilhão de pessoas, os
muçulmanos são hoje maioria em 50 países e uma minoria considerável em muitos
outros. Na Europa e nas Américas do Norte e do Sul há vibrantes comunidades em
expansão”. A maioria dos muçulmanos vive em regiões como: norte da África, Oriente
Próximo e Ásia. Conforme COOGAN (2007, p.120), “A comunidade islâmica cresce
tanto em regiões onde existe há muito tempo, quanto naquelas em que sua presença é
mais recente, sobretudo, na Europa e na América do Norte”. Na Europa os muçulmanos
formam a maior comunidade religiosa depois dos cristãos, (KÜNG, 2004, p.250).
Dentro da expressiva comunidade muçulmana há uma divisão importante entre
os que se denominam sunitas e xiitas. Segundo SMITH (1991, p.248),”Geograficamente
os xiitas se agrupam no Irã e no Iraque, enquanto os sunitas os flanqueiam pelo oeste
(Oriente Médio, Turquia, África) e pelo leste (em todo subcontinente indiano, que inclui
o Paquistão e Bangladesh, passando pela Malásia e chegando até a Indonésia, onde
há mais muçulmanos do que em todo mundo árabe”. Essa divisão surgiu de lutas pela
liderança após a morte de Maomé, alguém que na ausência do profeta, o representaria
legitimamente como dirigente na comunidade islâmica. De acordo com KAMEL (2007,
p.95), No espaço de 28 anos após a morte de Maomé, ocorre o irremediável: a divisão
do islã. Segundo os sunitas, o profeta jamais indicou quem seria o seu sucessor;
segundo os xiitas, Maomé teria deixado seu primo Ali como sucessor. Conforme o
mesmo autor, com a morte de Ali, essa divisão no islã consolidou-se. Os sunitas, a
maioria naquela época, acreditam que a revelação acabou com a morte de Maomé e o
que deveria ser feito era viver o Alcorão seguindo os ditos do profeta. Segundo
MCCURRY (1999, p.103), “Algumas destas divisões podem ter suas raízes em
questões políticas e lutas pelo poder, outras podem ter raízes étnicas, e algumas
podem ser simplesmente resultado de diferentes maneiras de entender Deus, o Profeta,
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revelação e tradição. Ou podem ser o resultado da combinação de qualquer um
destes”. De acordo com KÜNG ( 2004, p.266), “Depois de grandes lutas contra o
partido xiita, com graves perdas, termina se impondo a família dos omíadas de Meca,
originalmente contrária a Maomé. Com eles o partido majoritário dos sunitas sai
vencedor. Os omíadas transferem a residência do califa para Damasco e fazem da Síria
a potência islâmica predominantemente”. Segundo o mesmo autor, o partido xiita de Ali,
primo e genro de Maomé constituiu-se a minoria dos muçulmanos. No entanto no
Alcorão não há base para nenhuma divisão, mas promove o vínculo uns aos outros e
todos a Deus, assim diz:
E agarrai-vos todos à corda de Allah, e não vos separeis. E lembrai-vos da graça de Allah para convosco, quando éreis inimigos e Ele vos pôs harmonia entre os corações, e vos tornastes irmãos, por Sua graça. E estáveis a beira do abismo do fogo e Ele, deste, vos salvou. Assim, Allah torna evidentes, para vós Seus sinais, para vos guiardes (Surata 3.103).
Outra passagem diz:
E que seja formada de vós uma comunidade, que convoque ao bem, e ordene o conveniente, e coíba o reprovável. E esses são os bem-aventurados. E não sejais como os que se separaram e discreparam, após lhes haverem chegado as evidências. E esses terão formidável castigo (Surata 3.104, 105).
Na concepção de SMITH (1991, p.256), Por longo tempo desde que Maomé
convocou o seu povo para a unidade de Deus, os muçulmanos se apartaram do espírito
do Profeta. Seus líderes são os primeiros a admitir que a prática religiosa foi
repetidamente substituída por uma mera profissão de fé, e que o fervor diminuiu.
Entre os séculos 10 e 11 d.C, uma tendência para o misticismo surgiu entre os
muçulmanos. Esse movimento místico chamado sufismo cresceu rapidamente dentro
do islã, (COOGAN, 2007, p.103). De acordo com SADLER (2001, p.294), “O sufismo se
espalhou por toda a Arábia e Pérsia, chegando até a Índia, Indonésia, África ocidental
e, mais recentemente, aos Estados Unidos”. Dentro do sufismo existe a prática do
dhikr, traduzido por “lembrança” ou “invocação” de Deus e seus nomes pelos
muçulmanos, é realizado através de meditação silenciosa ou cantando serenamente
sendo o dhikr um meio de atingir o êxtase onde o devoto é levado a contemplação de
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Deus. Isso é fundamental para a busca espiritual no sufismo. No Alcorão e nos hadits
do profeta Maomé está a origem do dhikr (COOGAN, 2007, p.103). Os sufis buscavam,
segundo o islã, a purificação para que seus pensamentos permanecessem somente em
Deus, para isso renunciavam a todos os desejos e apegos físicos. Segundo KÜNG
(2004, p.273), No século XIII os sufis, que geralmente exercem uma profissão e
possuem uma família, progrediram à condição de guias mais respeitados do povo, em
lugar dos juristas das escolas. O sufismo aprofunda-se às necessidades religiosas do
povo muçulmano através da poesia, do canto, da música e da festa. O islã está muito
vivo atualmente e é uma poderosa força religiosa no mundo.
Conforme KAMEL (2007, p.227), com o impacto causado ao mundo através do
ataque terrorista às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 11 de Setembro de 2001, na
cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos da América, cujo mandante foi Osama Bin
Laden, o Islamismo passou a ser visto, por não islâmicos, como uma religião violenta.
Na concepção de KAMEL (2007, p.175), Bin Laden pega trechos isolados do Alcorão
unindo o versículo de uma surata a outro versículo de outra surata dando outra
conotação ao Alcorão, criando versículos que não existem, aplicando-os a uma massa
de iletrados, sendo que o efeito dessas informações incita à violência. O Alcorão afirma:
“E combatei, no caminho de Allah, os que vos combatem e não cometais agressão. Por
certo, Allah não ama os agressores” (Surata 2.190). De acordo com a Tradução do
sentido do nobre Alcorão (s.d., p.51), a expressão combater no caminho de Deus quer
dizer lutar pela religião de Deus, para salvar o descrente do julgo da descrença. Não só
para defender o Islã, mas para extinguir a idolatria. Não é pela violência que o
Islamismo deseja ser lembrado, pois o Alcorão, não ensina e tampouco aprova a prática
do terror a seus seguidores. Segundo CALIXTO (2006, p.44), “apesar das batalhas
ocorridas na história do início do Islamismo na forma de Jihad2 (guerra santa), a
expansão da crença não só partiu para uma pregação debaixo dessa logística bélica”.
Alguns líderes radicais religiosos islâmicos têm usado da prática da violência para
impressionar o mundo. De acordo com CALIXTO (2006, p.52), “mais de 90% dos
muçulmanos no mundo não são identificados como extremistas ou terroristas”. Assim
2 “Luta no caminho de Deus, ou seja, trabalhar para atingir uma ordem moral perfeita na sociedade e também na vida individual” (COOGAN, 2007, p. 288).
17
como muitos outros povos, os muçulmanos igualmente aspiram pela paz, e no Alcorão,
buscam diretrizes para viver um caminho pacífico.
De acordo com esta busca pela paz, os muçulmanos também têm como
exemplo para suas vidas, nos escritos de Maomé, personagens que são importantes
para a história do islã e que foram obedientes a Deus e submissos a sua vontade,
sendo que um dos tais é Ismael filho de Abraão, o qual tanto é citado na Bíblia quanto
no Alcorão. Alguns estudiosos acreditam serem os árabes, em sua maioria
muçulmanos, descendentes de Ismael. Segundo MCCURRY (1999, p.45), eles são
descendentes de Ismael. A Bíblia diz: “a sua mão será contra todos, e a mão de todos
contra ele; e habitará fronteiro a todos os seus irmãos” (Gênesis 16.12). De acordo com
RYRIE (1991, p.27), “os descendentes de Ismael viveriam a leste dos demais
descendentes de Abraão, ou ainda que viveriam em constante desafio contra os demais
descendentes de Abraão. Sendo a hostilidade entre árabes e judeus bem conhecida”.
Outra passagem diz: “E os anos da vida de Ismael foram cento e trinta e sete; e morreu,
e foi reunido ao seu povo. Habitaram desde Havilá até Sur, que olha para o Egito como
quem vai para a Assíria. Ele se estabeleceu fronteiro a todos os seus irmãos” (Gênesis
25.17,18). Conforme RYRIE (1991, p.40), “Havilá estava localizada na Arábia central,
ao norte da atual Iêmem, Sur”. A palavra árabe quer dizer gente de terra árida
(ABDALLA, 1998, p.9). Na perspectiva bíblica Deus tinha promessas à Ismael: “ Quanto
a Ismael, eu te ouvirei: abençoa-lo-ei, fa-lo-ei fecundo e o multiplicarei
extraordinariamente; gerará doze príncipes, e dele farei uma grande nação” (Gênesis
17.20).
A Bíblia registra que:
[...] Deus ouviu a voz do menino; e o anjo de Deus chamou Agar desde o céu, e lhe disse: Que há contigo, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino do lugar onde está. Levanta-te, toma o menino e leva-o pela tua mão, porque farei dele uma grande nação. BÍBLIA A.T. RA Gênesis 21.17,18
18
2 PERSPECTIVA DOUTRINÁRIA DO ISLAMISMO
Segundo ABDALLA (1998, p.7), a palavra Allah não é o nome de um deus e sim,
é a palavra árabe para Deus. O Alcorão afirma: Ó vós que credes! Crede em Allah e em
seu mensageiro e no Livro que Ele fez descer sobre seu mensageiro...” (Surata 4.136).
Maomé não veio trazer uma nova divindade, porém afirmar a divindade de Deus contra
a idolatria.
Dizes, Muhammad: “Ó humanos! Por certo, sou, para todos vós, o Mensageiro de Allah de Quem é a soberania dos céus e da terra. Não existe deus senão Ele. Ele dá a vida e dá a morte. Então, crede em Allah e em seu Mensageiro, o Profeta iletrado, que crê em Allah e em Suas palavras, e segui-o, na esperança de vos guiardes (Surata 7.158).
Para os muçulmanos, cujo nome significa, aquele que se submete à vontade de
Deus, Maomé é visto somente como um profeta mensageiro de Deus. Assim como
ocorre em algumas religiões, também no Islamismo os fiéis dão os seus testemunhos
de fé repetindo a fórmula da Shahada3. Este termo significa observar, testemunhar,
reconhecer como verdade, onde declaram sua adoração a Deus e não a Maomé. A
declaração é a seguinte: “Em nome de Allah, o beneficente, o misericordioso, dou
testemunho de que não há outra divindade além de Allah e que Maomé é o seu
mensageiro”. De acordo com KÜNG (2004, p.258), “ninguém se torna realmente
muçulmano só por fazer a profissão de fé”. Porém, na prática, tenta viver a vontade de
Deus. E isso de acordo com o modelo do profeta Maomé.
Segundo o pensamento islâmico, Deus é o autor das revelações e o Alcorão
relata que Maomé as recebeu, e o intermediário entre os dois foi um anjo identificado
como Gabriel. “Dize, Muhammad: Quem é o inimigo de Gabriel o é de Allah, pois, por
certo, foi ele quem o fez descer sobre teu coração, com a permissão de Allah, para
confirmar o que havia antes dele, e para ser orientação e alvíssaras para os crentes”
(Surata 2.97). O Alcorão é aproximadamente do mesmo tamanho que o Novo
Testamento e está dividido em 114 suratas ou capítulos, possui 6.200 versos e 120.000
palavras. Este livro aborda todos os aspectos da vida islâmica, procurando combinar
3 Profissão de fé. (ABDALLA, 1998, p.57).
19
seus ideais religiosos com a questão política, sendo assim, considerado a constituição
do Estado. A lei islâmica procura estabelecer a vontade de Alá na vida humana. Para
os muçulmanos o problema fundamental de todas as pessoas é a limitação como
criaturas: o ser humano é ignorante com relação ao modo certo de viver e incapaz de
continuar sua caminhada neste mundo com apenas seus recursos e pela tendência de
se afastar dos caminhos divinos.
Na concepção de KÜNG (2004, p.257), “o que a Torá é para os judeus e o
Cristo para os cristãos, isso é o Alcorão para os muçulmanos: o caminho, a verdade e a
vida”. Segundo Hans Küng, essa verdade é a fonte original da experiência de Deus e
da piedade e o critério obrigatório da fé, o caminho seria a verdadeira possibilidade de
vencer o mundo, e a vida é o fundamento permanente do direito islâmico. O Alcorão
diz: “E, quando ouvem o que foi descido, para o Mensageiro, tu vês seus olhos se
marejarem de lágrimas, pelo que reconhecem da Verdade. Dizem: Senhor nosso!
Cremos. Então, inscreve-nos entre as testemunhas da verdade (Surata 5.83). Segundo
ABDALLA (1998, p.23), “os muçulmanos dizem que Deus enviou 104 livros, dos quais
quatro são considerados os mais importantes: O livro da Lei de Moisés (Taurah), os
Salmos de Davi (Zalm), o Evangelho de Jesus (Injil), e o Alcorão de Maomé”. Conforme
KÜNG (2004, p.256), os muçulmanos acreditam ser o Alcorão a própria palavra de
Deus e resistem a traduzí-lo. Quando ele é traduzido para as línguas do mundo
muçulmano, como o persa ou o turco, se imprime o texto árabe junto com a tradução,
isso igualmente ocorre com a tradução para a língua portuguesa. O Alcorão, segundo o
islã, foi preservado de mudanças, distorções e erros até o último sinal de pontuação. Os
muçulmanos o tratam com extremo zelo, pois para eles todo seu aspecto é sagrado.
Nunca o colocam no chão e nunca pode tocar uma substância suja. Consideram-no um
livro celeste que sempre esteve com Deus, sendo Sua fala. “É não é admissível que
este Alcorão seja forjado por fora de Allah, mas é a confirmação do que havia antes
dele e aclaração do Livro, indubitável, do Senhor dos mundos” (Surata 10.37).
De acordo com COOGAN (2007, p.95), entre Abraão e Maomé, conforme o
Alcorão, houve muitos outros profetas, dos quais 28 foram escolhidos para propagar a
palavra de Deus; entre os mais importantes estão Noé (Nuh, em árabe), Davi (Dawud),
20
Moisés (Musa) e Jesus (Issa). Por meio dos dois últimos a mensagem divina foi levada
à comunidades de judeus e cristãos, e assim ambas pertencem, como o Islamismo, a
uma tradição abraâmica comum. Os muçulmanos crêem que com o advento de
Maomé, o ciclo de mensageiros proféticos chegou ao seu ápice e final. Na doutrina
islâmica, de acordo com o Alcorão, Maomé foi o último dos profetas.
Por certo, nós te fizemos revelações, Muhammad, como fizemos a Noé e aos profetas, depois dele. E fizemos revelações a Abraão e a Ismael, e a Isaque e a Jacó, e as tribos e a Jesus, e a Jó e a Jonas, e a Aarão e a Salomão; e concedemos os Salmos a Davi (Surata 4.163).
O islã possui preceitos religiosos denominados de Sharia4 onde se definem
suas práticas de vida, com relação ao comportamento, atitudes e alimentação. Segundo
ABDALLA (1998, p.3), “Debaixo de Sharia é proibido a Bíblia, considerado um material
corrompido. Muitos dos muçulmanos convertidos ao Cristianismo são condenados à
morte”. Ela interpreta os ensinos de dois livros islâmicos, o Alcorão e o Hadith ou Suna5.
Na concepção de KÜNG (2004, p.279), embora a Arábia Saudita pertença às Nações
Unidas, não concorda com os padrões internacionais para direitos humanos e vive
através da lei islâmica rígida, negando qualquer estilo de adoração não muçulmana.
Segundo COOGAN (2007, p.114), a Sharia instrui que todo muçulmano deve seguir
cinco princípios: O primeiro de todos é prestarmos testemunho de que não existe outra
divindade além de Deus, e de que Maomé é o seu mensageiro. O Alcorão diz: “Allah
testemunha - e, assim também, os anjos e os dotados de ciência, que não existe deus
senão Ele, que tudo mantém, com eqüidade. Não existe deus senão Ele, o Todo-
Poderoso, o Sábio” (Surata 3.18). O segundo princípio é a prática das orações, o
Alcorão afirma: “Em nome de Allah, o Misericordioso, o Misericordiador. Com efeito,
bem-aventurados os crentes, que são humildes em suas orações, e que dão de ombros
à frivolidade” (Surata 23.1-3). Outra passagem mostra o rito da purificação: “Ó vós que
credes! Quando vos levantardes para a oração, lavai as faces e as mãos até os
cotovelos, e, com as mãos molhadas, roçai as cabeças e lavai os pés até os
tornozelos...” (Surata 5.6). De acordo com KHALIL (2003, p.66),
4 Lei que regula a conduta ritual, código moral.5 Palavras e atos do profeta Maomé a serem seguidas pelos fiéis islâmicos.
21
A prostração na oração muçulmana é a forma mais bela de render culto ao Criador e Benfeitor. Na prostração reconhecemos nossa absoluta dependência de d’Ele, nossa absoluta necessidade d’Ele e Seu absoluto senhorio.
O Alcorão declara: “Por certo, os que recitam o Livro de Allah e cumprem a
oração e despendem, secreta ou manifestamente, do que lhes damos por sustento,
esperam por comércio, que não perecerá” (Surata 35.29). Segundo a Tradução do
sentido do nobre Alcorão (s.d, p.713), “Comércio, aqui, é a troca entre Deus e o
homem. Aquele oferecendo graças, e este praticando o bem. Desta forma, todo crente
verdadeiro almejará esta troca, que é imperecível”. O terceiro princípio é a paga do
tributo social, assim diz os escritos alcorânicos: “Por certo, os que crêem, e fazem boas
obras, e cumprem a oração, e concedem az-zakah, terão seu prêmio junto de seu
Senhor; e nada haverá que temer por eles, e eles não se entristecerão” (Surata 2.277).
Conforme ABDALLA (1998, p.74),
Em árabe AZ-ZAKAT, “significa pagamento, purificação e aumento, uma vez que, mediante o pagamento de uma taxa fixa ao estado, para ser usada em prol dos pobres e necessitados, o doador purifica a alma, ao mesmo tempo que fatalmente terá os seus bens aumentados pelas mercês de Deus”.
O quarto princípio é a peregrinação à casa de Deus em Meca uma vez na vida,
para aqueles que têm condições físicas e financeiras. “E noticia aos homens a
peregrinação. Eles te virão a pé ou montados em todo magro camelo, vindo de cada
desfiladeiro distante” (Surata 22.27). De acordo com KHALIL (2003, p. 67), O Hajj, ou
seja, peregrinação, é uma obrigação que o muçulmano tem, se possuir condições para
tal, de poder pelo menos uma vez na vida visitar a Caaba que se encontra no centro do
santuário em Meca na Arábia Saudita. Os escritos alcorânicos declaram: “Allah fez da
Kaabah, a Casa Sagrada, arrimo para os homens e, assim também, o Mês Sagrado, e
os animais em oferenda e as guirlandas. Isso para que saibais que Allah sabe o que há
nos céus e o que há na terra, e que Allah, de todas as cousas, é Onisciente” (Surata
5.97). Segundo KÜNG (2004, p.261), A “pequena” peregrinação consiste em rodear a
Caaba, porém a “grande” peregrinação ocorre em direção a planície de Arafat, subindo
22
até o monte sagrado Rahma, onde se obtem o perdão dos pecados. O quinto princípio
é o mês de jejum, o Ramadã, desde o nascer ao pôr do sol.
De acordo com o islã, a prática do Ramadã insta os seus fiéis a um ritual onde
a prece islâmica é feita durante cinco vezes ao dia. Assim diz o Alcorão:
Ramadan é o mês em que foi revelado o Alcorão, como orientação para a humanidade e como evidências da orientação do critério de julgar. Então quem de vós presenciar este mês, que jejue; e quem estiver enfermo ou em viagem, que jejue o mesmo número de outros dias. Allah vos deseja a facilidade, e não vos deseja a dificuldade. E fê-lo para que inteireis o número prescrito, e para que magnifiqueis a Allah, porque vos guiou, e para serdes agradecidos (Surata 2.185).
As orações são feitas tendo seu início antes da aurora, ao meio dia, à tarde, no
crepúsculo e ao cair da noite onde os muçulmanos se voltam na direção de Meca, isto
ocorre durante o calendário lunar do Oriente Médio. Segundo COOGAN (2007, p.116),
O estado de pureza ritual exigido dos muçulmanos antes das cinco sessões de prece diárias é conhecido como tahara. Os rituais de purificação acompanham a oração, os ritos da principal peregrinação e atividades como segurar e ler o Alcorão, que um muçulmano não deve realizar sem estar puro.
Existem outras práticas de purificação não são exigidas pelo Alcorão, porém
são feitas em algumas culturas no mundo, sendo a circuncisão praticada em meninos e
em alguns lugares em meninas. Conforme COOGAN (2007, p.116), para os meninos
costuma ocorrer aos dez anos ou, em algumas sociedades, quando já é evidente a sua
capacidade de ler o Alcorão. A contestação em torno da circuncisão feminina continua
aumentando dentro e fora do mundo islâmico. Os eruditos muçulmanos divergem
quanto à exigência de circuncisão das mulheres por não ter base no Alcorão ou nos
hadiths e muitos se contrapõem ao rito afirmando ser uma pratica cultural local. Esse
ato é proibido em alguns paises muçulmanos. Na concepção de COOGAN (2007,
p.105), “Os hadiths geraram muitos debates no começo da época medieval, pois ficou
claro para os eruditos que eles freqüentemente refletiam opiniões e posições doutrinais
posteriores à morte de Maomé”. De acordo com COOGAN (2007, p.112),
23
A unidade de fé e prática das culturas que desde a época medieval compõem a comunidade islâmica expressa-se na forma do principal local: a mesquita (em árabe masjid, “lugar de prostração”). Todas elas têm o mesmo projeto básico, mas muitas possuem outros traços que refletem seu contexto cultural.
Segundo KHALIL (2003, p.35), “A própria mesquita é uma instituição ou faz
parte de uma instituição. As atividades que normalmente se levam a cabo são
educativas, de culto, sociais, de beneficência, desportivas ou de entretenimento”. No
Alcorão está escrito: “E para onde quer que saias, volta a face rumo à Mesquita
Sagrada; e por certo, esta é a Verdade de teu Senhor. E Allah não está desatento ao
que fazeis” (Surata 2.149). Conforme COOGAN (2007, p.114), “Embora seja desejável
que todos os muçulmanos se congreguem na mesquita para a prece, isso só é exigido
dos homens, obrigados a participar das orações do meio dia às sextas-feiras”. Mesmo
sendo este lugar de adoração uma bela arquitetura islâmica, ela não é o único espaço
em que os muçulmanos podem orar, sendo assim, sua oração diária pode ser realizada
em um ambiente que lhes proporcione tranqüilidade, longe de distrações. O líder
religioso designado para administração da mesquita é o xeique. Conforme KHALIL
(2003, p.50),
Xeique (sheikh) é uma palavra árabe que significa “ancião” e também é empregada com o significado de chefe ou, no contexto religioso, sacerdote. Ser um xeique religioso constitui em fazer estudos islâmicos em um centro teológico, o que implica em ter um correspondente diploma, que avaliza seus estudos e conduta, que o habilitam, por exemplo, a dirigir uma mesquita em suas tarefas de culto, ensinamento e difusão do Islam.
Segundo KÜNG (2004, p.265), diante do conceito de lugar sagrado além de
Meca e Medina, os muçulmanos consideram Jerusalém como um santuário do Deus de
Abraão, sendo o terceiro lugar mais sagrado do mundo e a protegem como a pupila dos
olhos. De acordo Hans Küng, o islã acredita que debaixo da cúpula dourada do Domo
do Rochedo, seja um lugar onde pode ser lembrado o Deus único de Abraão, sendo um
recinto de oração silenciosa. Nele o profeta Maomé teria ascendido ao céu e onde
acontecerá um dia o juízo final. Precisamente debaixo da cúpula se encontra o
gigantesco e irregular rochedo nu do monte Moriá. Sobre a cidade de Meca o Alcorão
afirma: “E lembrai-vos de quando Abraão disse: “Senhor meu, faze desta uma cidade
24
de segurança e dá dos frutos, por sustento, a seus habitantes, àqueles, dentre eles,
que crêem em Allah e no Derradeiro Dia ...” (Surata 2.126). Conforme a Tradução do
sentido do nobre Alcorão (s.d, p.33),
Referência à cidade de Makkah, a cidade da Paz, que, desde então, tornou-se a Cidade Sagrada, depositária de paz permanente, onde é proibido o derramamento de sangue, a caça ou qualquer violação à vida. É local de prece e veneração.
Na doutrina islâmica é possível destacar duas principais correntes: xiitas e
sunitas. Segundo KHALIL (2003, p.103), “compartem o mesmo livro sagrado, o modelo
profético contido na suna (ou tradição do profeta), os mesmos centros espirituais
(Meca, Medina e Jerusalém)”. De acordo com MCCURRY (1999, p.103), os
muçulmanos se distinguem por meio destas correntes doutrinárias com base em sua
lealdade a certa convicção teológica, podendo ter suas raízes em questões teológicas e
lutas pelo poder, questões étnicas ou resultados de diferentes maneiras de entender
Deus. Os sunitas reconhecem o material escrito, o Alcorão, como autoridade final. Ele
vem em primeiro lugar, depois as coletâneas formais da Suna, caminho bastante
trilhado, dela procede o codinome “sunitas”. Nela se baseiam coisas que Maomé disse
ou fez. Conforme KÜNG (2004, p.266), Mais de 90% dos muçulmanos do mundo são
sunitas, sendo que, a grande maioria dos muçulmanos quer conservar a Suna e os
quatro califas6 legais. Uma das passagens do Alcorão declara:
E inspiramo-lhe: “Ó Davi! Por certo, Nós te fizemos califa na terra; então julga, entre os homens, com a justiça, e não sigas a paixão: senão, descaminhar-te-ia do caminho de Allah”. Por certo, os que se descaminham do caminho de Allah terão veemente castigo, por seu esquecimento do Dia da Conta (Surata 38.26).
Na sucessão política, o estadista Maomé é substituído na comunidade primitiva
pelo califa, porém do ponto de vista religioso, não há qualquer autoridade doutrinal
suprema. Na ausência do Profeta, segundo o islã, permanece o Alcorão como eterna
palavra de Deus sendo o lugar de Maomé ocupado pelo Livro Sagrado dos
muçulmanos como palavra de Deus e a Suna, ambas autoridade religiosa (KÜNG,
2004, p.263). 6 “Sucessor político-religioso do profeta no governo da comunidade” (KÜNG, 2004, p. 263).
25
Os sunitas mantém uma visão ortodoxa do islã. Não existe desacordo entre
muçulmanos sunitas e xiitas sobre as doutrinas básicas do islã, todos pregam a
unidade de Deus e que o Alcorão é um livro celeste. Na concepção de KHALIL (2003,
p. 103), a divisão entre sunitas e xiitas surgiu de lutas pela liderança após a morte de
Maomé. Os xiitas, segundo MCCURRY (1999, p.104), se preocupam com a sucessão
apostólica. Para eles, Ali, primo e genro assassinado de Maomé, foi o seu sucessor. A
palavra xiita significa “facção” ou “partido”. Segundo KÜNG (2004, p.266), “constitui a
minoria, 10% dos muçulmanos (no Irã, Iraque e Líbano)”. Acreditam que Deus jamais
deixará o mundo ficar sem um guia espiritual infalível, o imã, podendo manter a
excelência profética, pois entendem que um intérprete e um guia com autoridade são
necessários para as gerações posteriores. De acordo com a Revista Islâmica
Evidências (2009, p.38), O Iman mantém a preservação das leis e das mensagens
Divinas do desvio de mudança, atendendo às necessidades das pessoas em todas as
épocas, convocando-as para Deus e para se afeiçoarem à religião. O Alcorão exorta:
“Ó vós que credes! Temei a Allah e permanecei com os verídicos” (Surata 9.119). Os
imãs são guias espirituais para os muçulmanos xiitas e dele procede a orientação às
pessoas nas questões espirituais e materiais. Conforme a Revista Islâmica Evidências
(2009, p.38), “Esse alto cargo o Deus Altíssimo concedeu ao Profeta Abraão, após este
percorrer sua jornada profética e missionária, vencendo muitas provas”. Os escritos
alcorânicos afirmam: E lembrai-vos de quando Abraão foi posto à prova por seu
Senhor, com certas palavras, e ele as cumpriu. O Senhor disse: “Por certo, farei de ti
dirigente para os homens...” (Surata 2.124). Os xiitas acreditam que a linha do imanato
permanece infalível aos da descendência de Maomé. Segundo COOGAN (2007,
p.108), “O imã precisa ser descendente direto do profeta Maomé”.
De acordo com KÜNG (2004, p.273), o sufismo, outro ramo do Islamismo
dentro da doutrina islâmica é um movimento místico, porém sem a presença de califas.
No sufismo se busca um ritual de pureza do coração. Neste movimento há um dirigente
espiritual, o xeique. As irmandades sufistas se organizam como ordens religiosas, com
regras, superiores, hábitos monásticos. O sufismo possui uma teologia, práticas e
instituições religiosas próprias. Formam centros com atividades sociocaritativas e
26
missionárias. No século XIII os sufis avançaram à condição de guias respeitados do
povo.
Ainda dentro da questão doutrinária, o islã ensina que os fiéis devem alcançar a
recompensa por sua submissão a Deus tanto neste mundo quanto no além. Na
concepção de COOGAN (2007, p.109) o Islamismo, mesmo se concentrando num
único Deus, tolera a veneração dos santos, onde a crença em indivíduos e linhagens
familiares tem poderes espirituais especiais. Conforme o mesmo autor, os eruditos
religiosos possuem constrangimento com relação a essas crenças. Porém muitos
muçulmanos chegam a venerar essas figuras como parte de suas crenças.
Diante do conceito de igualdade, a doutrina islâmica ensina que o homem
muçulmano e a mulher muçulmana não deve viver uma relação de dessemelhança, o
Alcorão afirma:
Por certo, aos muçulmanos e muçulmanas, e aos crentes e às crentes, e aos devotos e as devotas, e aos verídicos e as verídicas, e aos perseverantes e as perseverantes, e aos humildes e às humildes, aos homens e mulheres que fazem caridade, aos homens e mulheres que jejuam, aos homens e mulheres que guardam a castidade, aos homens e mulheres que se comprometem em louvar a Allah, para todos eles Allah preparou o perdão e uma grande recompensa (Surata 33.35).
Na visão do Alcorão o homem não difere da mulher, nem mesmo no ato de
adoração a Alá. Conforme KHALIL (2003, p.81),
não há dúvida de que a mulher, ao longo da história, sofreu todo o tipo de injustiças e abusos, devido a sua menor força física e a sua bondade e inocência, em geral muito pouco valorizadas, compreendidas e aproveitadas.
No entanto o islã, dentro da concepção igualitária entre homem e mulher diante
dos escritos do Alcorão, reconhece alguns direitos da mulher, tais como: o direito de
estudar, a independência da mulher diante do direito de trabalhar, o direito a herança,
pois segundo o mesmo autor, na época em que viveu Maomé, a mulher na Arábia não
tinha nenhum direito. Segundo KHALIL (2003, p.83),
27
a Sharia anulou o casamento que se realiza sem o consentimento da mulher e estipulou que a esposa é a única proprietária do dote que deve outorgar-lhe o marido. Ademais, deu a mulher o direito ao divórcio e a uma novidade muito mais surpreendente, que foi o direito ao voto.
O Alcorão enfatiza o valor da mulher, como diz: “A quem faz o bem, seja varão
ou varoa, enquanto crente, certamente fá-lo-emos viver vida benigna. E Nós
recompensá-los-emos com prêmio, melhor do que aquilo que faziam” (Surata 16.97).
Se estas disposições não são observadas por alguns, então contradizem o islã.
28
3 AFINIDADES ENTRE ISLAMISMO E CRISTIANISMO E A PERSPECTIVA DE
DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO ENTRE AS TRADIÇÕES
O que caracteriza as duas religiões monoteístas, Cristianismo e Islamismo, é a
crença em um único Deus. O Cristianismo assegura: “E a vida eterna é esta: que te
conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste“ (João
17.3). O Alcorão também afirma não haver outro Deus senão Alá, e Maomé ser o seu
profeta. “O que quer de bom que te alcance é de Allah, e o que quer de mal que te
alcance é de ti mesmo. E te enviamos, Muhammad, como Mensageiro para a
humanidade. E basta Allah por testemunha” (Surata 4.79). Maomé é para o Islamismo o
último portador da mensagem de salvação para quem crer e obedecer.
Nas duas religiões, Cristianismo e Islamismo, Jesus é apresentado como um
grande profeta. Segundo KHALIL (2003, p.19), o Islamismo é a única religião posterior
ao Cristianismo a reverenciar as figuras sagradas de Jesus Cristo e da Virgem Maria.
“Lembra-lhes de quando os anjos disseram: “Ó Maria! Por certo Allah te alvissará um
Verbo, vindo dEle; seu nome é o Messias, Jesus, filho de Maria, sendo honorável na
vida terrena e na Derradeira Vida, e dos achegados a Allah” (Surata 3.45). Para os
cristãos, os muçulmanos consideram Maria, mãe de Jesus, uma mulher muito especial
e tem algumas citações no Alcorão a seu respeito que são similares a citações bíblicas.
O Alcorão afirma: “Ela disse: “Senhor meu! Como hei de ter um filho, enquanto nenhum
homem me tocou?” Ele disse: Assim é! Allah cria o que quer. Quando decreta algo,
apenas, diz-lhe: ‘Sê’, então, é” (Surata 3.47). No islã ela é considerada uma mulher de
uma tão grande pureza e exemplo a ser seguido pelas mulheres muçulmanas. Visando
este aspecto da vida de Maria, seu filho Jesus nasceu de uma virgem por meio de uma
intervenção divina sendo assim considerado um milagre de Deus na explicação
islâmica. De acordo com KAMEL (2007, p.61), “para os muçulmanos, Jesus está acima
dos profetas que o antecederam”. “Desses mensageiros, preferimos uns a outros.
Dentre eles, há aqueles a quem Allah falou; e a alguns deles Ele elevou em escalões; e
concedemos a Jesus, Filho de Maria, as evidências, e amparamo-lo com o Espírito
Sagrado...” (Surata 2.253). Fora Maomé não há outro personagem mais respeitado no
29
Alcorão. Jesus é muito especial no islã, por isso, não é aceita de forma alguma a sua
crucificação, pois um profeta jamais passaria por este ato. Apesar disto, Jesus é
mencionado como um ser ressuscitado. Jesus é o único profeta, na crença islâmica, ao
qual se menciona a dádiva da ressurreição. Nos escritos islâmicos diz: “E que a paz
seja sobre mim, no dia em que nasci, e no dia em que morrer e no dia em que for
ressuscitado, vivo” (Surata 19.33). Na visão da Bíblia, o livro sagrado dos cristãos,
como Filho de Deus, Jesus pagou um alto preço na cruz, mas ressuscitou para salvar a
humanidade da condenação eterna. Apesar de ambas as religiões pronunciarem o
nome de Jesus, tendo isso como uma afinidade, o que as distingue é a importância que
a Sua pessoa tem. O Alcorão faz referências a Jesus como: “o Filho de Maria” (Surata
2.87); “o Messias” (Surata 3.45); “o Verbo de Deus” (Surata 4.171); “o Mensageiro de
Deus” (Surata 3.49); “o Profeta de Deus” (Surata 19.30); “o Servo de Deus” (Surata
19.30); “a Palavra da Verdade” (Surata 19.34); “um Espírito de Deus” (Surata 4.171);
“um filho puro” (Surata 19.19), “um sinal para os homens” (Surata 19.21).
Assim como o islã ressalta a pessoa de Jesus, também enfatiza a crença no
Deus único, Criador do céu e da terra, origem e retorno da vida, em seus profetas, nos
anjos e no dia do juízo final. Alguns desses elementos são comuns as duas religiões
monoteístas. No Alcorão há referência ao que Deus criou, e em umas das passagens
diz: “E, com efeito, criamos os céus e a terra e o que há entre ambos, em seis dias, e
não nos tocou exaustão” (Surata 50.38).
No Antigo Testamento, em Gênesis, Deus disse: “Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança”. “Viu Deus tudo quando fizera, e eis que era
muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia”. (Gênesis 1.26a, 31). Ambas as religiões
consideram a idéia do Deus criador de todas as coisas. Segundo o Alcorão, a origem
do ser humano se deu dessa forma:
E, com efeito, criamos o ser humano da quintessência de barro, em seguida fizemo-lo gota seminal, em lugar estável, seguro. Depois, criamos, da gota seminal, uma aderência, embrião; e criamos, do embrião, ossos; e revestimos os ossos de carne; em seguida, fizemo-lo surgir em criatura outra. Então, Bendito seja Allah, o Melhor dos criadores! (Surata 23.12-14).
É interessante observar que, assim como a Bíblia, o Alcorão enfatiza a ação de
Deus, no entanto a Sua pessoa não está sendo conjugada na primeira pessoa do
30
singular e sim na terceira pessoa do plural. Porém, no Islamismo, Alá, em hipótese
alguma admitiria a presença de Jesus no ato da criação por não compreendê-lo como
divindade.
Com relação ao pecado, o pensamento islâmico, o conceitua como algo
adquirido pelo ser humano quando pratica alguma coisa que não devia. “Então, Adão
recebeu palavras de seu Senhor, e Ele Se voltou para ele, remindo-o. Por certo, Ele é
O Remissório, O Misericordiador” (Surata 2.37). Segundo os textos da Tradução do
sentido do nobre Alcorão (s.d, 11),
Este versículo explicita que Adão foi perdoado. Com isso o Islão demonstra que não reconhece o pecado original, pois vê o pecado como ato individual, exclusivo de quem age incorretamente. O pecado e o arrependimento não podem ser impostos: surgem de dentro do indivíduo. E ninguém deve arcar com os erros dos outros nem se arrepender pelo que o outro fez de mau.
De acordo com o pensamento islâmico, a declaração de que cada um de nós
vem a este mundo carregando um pecado cometido por alguém que nos antecedeu é
negar os atributos de Deus quanto à justiça e à absolvição. Assim diz os escritos
alcorânicos: “Quem se guia se guiará, apenas, em benefício de si mesmo, e quem se
descaminha se descaminhará, apenas, em prejuízo de si mesmo. E nenhuma alma
pecadora arca com o pecado de outra...” (Surata 17.15). Conforme KAMEL (2007,
p.28), “muitos exegetas muçulmanos dizem que, na verdade, a principal culpa pela
expulsão do Paraíso recai sobre o demônio e não sobre Adão”. Na visão islâmica,
Satanás é evidenciado como o culpado por ter instigado o ser humano ao erro. Assim
diz o Alcorão: “E Satã sussurrou-lhes perfídias, para mostrar a ambos o que lhes fora
acobertado de suas partes pudendas, e disse: Vosso Senhor não vos coibiu desta
árvore senão para não serdes dois anjos ou serdes dos eternos” (Surata 7.20).
Segundo o Alcorão, Adão foi proibido de se aproximar da árvore: “E, ó Adão!
Habita, tu e tua mulher, o paraíso; e comei onde ambos quiserdes, e não vos
aproximeis desta árvore; pois, seríeis dos injustos” (Surata 7.19). As histórias tanto
islâmicas como bíblicas se põem um pouco similares diante dos textos relatados,
devido aos personagens e os acontecimentos. As escrituras bíblicas relatam que a
criação de Deus ficou sujeita ao pecado em decorrência da desobediência. Sendo
31
assim ambos, cristãos e muçulmanos crêem na existência do pecado. Na concepção do
Cristianismo, o homem desobedeceu claramente a ordem de Deus, ocorrendo deste
modo, o pecado, e por isso teve que deixar o paraíso, lugar este, tão almejado por
cristãos, muçulmanos.
O que vem a assinalar o Cristianismo e o Islamismo como religiões e tornar-se
mais importante para elas é o fato de que; para cristãos, a Bíblia é a palavra de Deus e
Jesus Cristo é o Messias e Filho de Deus; para o islã o importante é evidenciar o
Alcorão como livro e palavra de Deus. Os muçulmanos também crêem na Torá e no
Evangelho. O Alcorão diz: “E ensinar-lhe-á a Escritura, e a sabedoria, e a Torá, e o
Evangelho” (Surata 3.48). Segundo o Islã, os muçulmanos não poderiam ter nenhum
preconceito contra o que é sagrado nas religiões cristã e judaica. “Ele fez descer sobre
ti o Livro, com a verdade, para confirmar o que havia antes dele. E fizera descer a Torá
e o Evangelho” (Surata 3.3). Segundo AL-ÁMILY (2007, p.11), “É possível que o
muçulmano possa divergir com alguém de seu convívio, com judeus ou cristãos. No
entanto, este muçulmano não pode, absolutamente, difamar o que é sagrado nas
religiões deles”. O Islamismo também reconhece alguns profetas do Cristianismo, como
Abraão, Moisés, Davi e Jesus. É na figura de Abraão que se dá a sustentação do
Islamismo, por causa de Ismael. Contudo, na fé cristã, sua figura é muito importante por
ser reconhecido como o pai da fé. São duas religiões monoteístas contendo muitos
profetas e um só Deus.
De acordo com MCCURRY (1999, p.268), O Alcorão é a afirmação das
Escrituras antecedentes a ele. “E, antes dele, houve o Livro de Moisés, como diretrizes
e misericórdia. E este é um Livro confirmador dos outros, em língua árabe, para
admoestar os que são injustos; e é alvíssaras para os benfeitores” (Surata 46.12). O
Alcorão aceita plenamente como revelados por Deus alguns ensinamentos, como os de
Moisés. Há semelhanças entre a lei Mosaica e o Alcorão, assim como algumas
proibições alimentares presentes em outros livros do Pentateuco, sendo que,
muçulmanos não podem comer carne de porco por considerá-la impura. O Alcorão
proíbe este ato, dizendo: “Ele vos proibiu, apenas, o animal encontrado morto, e o
sangue, e a carne de porco, e o que é imolado com a inovação de outro nome que
32
Allah” (Surata 16.115). No entanto, no Cristianismo, Jesus ensina que, não é o que
entra pela boca que torna o homem impuro, e sim o que sai dela. (Mateus 15.11).
È importante ressaltar que tanto no Cristianismo como o Islamismo há uma
perspectiva de que haverá um fim para todas as coisas. O islã acredita que Jesus irá
voltar, e esse retorno precederá o dia do juízo final, quando os mortos ressuscitarão e,
como os vivos, serão julgados merecendo a vida eterna ou a condenação eterna. De
acordo com KAMEL (2007, p.62), “Este é o sinal que trará Jesus de volta. Ele, chegará
à terra por uma das torres da mesquita de Omíada, em Damasco, na Síria. E em seu
retorno, derrotará o anticristo”. De igual modo, com relação a volta de Jesus na visão do
Cristianismo, esse momento é muito almejado por cristãos.
3.1 Caminhos para o diálogo entre Cristianismo e Islamismo
O episódio de 11 de Setembro de 2001 fez mudar a história da relação entre
muçulmanos e cristãos. De acordo com CALIXTO (2006, p.31), “o diálogo fechado por
tantos anos entre essas religiões tornou-se emergente, pois se descobriu o quão pouco
se conheciam entre si”. Ambas tiveram que priorizar a ponderação e buscar a
diplomacia para que não se instalasse uma guerra desastrosa para a humanidade. De
forma catastrófica, pela queda dos edifícios do World Trade Center, reiniciou-se a
possibilidade de aproximação. O Cristianismo e Islamismo podem conviver e cooperar
mutuamente se cada um deles se recusar a impor-se ao outro. Uma maneira do cristão
se colocar no meio islâmico é buscando os pontos positivos e em comum para que, a
partir desse princípio, haja meios de coexistência. O Alcorão registra palavras positivas
acerca do Cristianismo, há frases elogiosas sobre Jesus, Maria e os profetas.
Ao longo da história do Islamismo e sua relação com o Cristianismo e assim
reciprocamente, houve conflitos. No entanto, é necessário haver condições de
coexistência, tolerância e respeito mútuo. De acordo com DEMANT (2004, p.353), “A
tolerância e a celebração da diferença já estão embutidas como valores-chave da
modernidade multicultural. Contudo, a tolerância conduz a uma coexistência passiva e,
portanto, suscetível de erosão no caso de fortes tensões”. Então é preciso que cristãos
e muçulmanos se conheçam para que saibam quais são os motivos que os aproximam
33
e as possíveis divergências que os distanciam. Sendo assim, através do diálogo inter-
religioso, se inicia um processo de aprendizagem. Uma ilimitada abertura e disposição
para o diálogo em relação ao outro não excluem o profundo envolvimento com a própria
religião, onde é preciso conhecer como o outro pensa, como funciona seu mundo, e
assim, buscar os elementos identitários que são compatíveis entre Islamismo e
Cristianismo. Na concepção de KHALIL (2003, p.21),
O diálogo, no Islam, significa uma interação entre pessoas, que trocam informações entre si, na busca do aperfeiçoamento do ser humano. Por intermédio do diálogo, o ser humano pode descobrir a realidade dos outros, especialmente quando eles oferecem idéias fundamentadas em sólidos argumentos e razões.
É importante ressaltar que, quanto mais conhecimento da doutrina islâmica,
mais possibilidade de inserir-se ao mundo muçulmano. A grande maioria dos
muçulmanos acredita que o Alcorão é a palavra direta de Deus. Sendo assim, os
cristãos podem iniciar um diálogo religioso com muçulmanos através do seu
conhecimento do Alcorão. O mundo ocidental tem tido grande possibilidade, através da
globalização, de maior conhecimento do Islamismo, pois há a necessidade de
relacionamento político e social. Os meios de comunicação fazem aproximação dos
dois mundos tão distintos. Por isso, a busca do diálogo inter-religioso deve favorecer o
reconhecimento do que há de verdadeiro nas diferentes tradições religiosas. É chegado
o momento em que dois caminhos se cruzam, sendo preciso admitir e respeitar as
diferenças, mas, ao mesmo tempo, ressaltar os elementos de unidade. Portanto, as
religiões devem sair de si e acolher o outro.
O Cristianismo necessariamente deve ter consciência de que é uma religião
dialogal. Jesus Cristo em todo seu ministério ensinou que seus seguidores deveriam
ser como Ele, ir de encontro ao diferente, sendo esta diferença em raça, religião ou
cultura. O Alcorão prega uma cultura de antiviolência e respeito, é contra a guerra, a fim
de salvaguardar a vida, arraigada na ética muçulmana. Assim dizem os escritos:
Por causa disso, prescrevemos aos filhos de Israel que quem mata uma pessoa, sem que esta haja matado outra ou semeado corrupção na terra, será como se matasse todos os homens. E quem lhe dá a vida será como se desse a vida a todos os homens. E, com efeito, Nossos
34
Mensageiros chegaram-lhes com as evidências; em seguida, por certo, muitos deles, depois disso, continuaram entregues a excessos na terra (Surata 5.32).
Diante disso, há que se considerar um ponto importante que aproxima o
Cristianismo do Islamismo: a busca pela paz que deve ser muito maior que as
características próprias de cada tradição, por vezes divergentes.
Somente assim haverá a possibilidade de dialogar e lutar por uma ética
mundial. De acordo com DEMANT (2004, p.354), “há autênticos problemas de
convivências entre o Islã e a modernidade ocidental, mas que existem igualmente
recursos e precedentes de comunicação e coexistência intercivilizacional. Não há
incompatibilidade de antemão”. Segundo Peter Demant, o que leva cada vez mais
muçulmanos a posições que tornam inviável a coexistência das civilizações, é que o
Islamismo lhes proporciona ser o único caminho ainda não testado. Se ambas religiões
querem buscar pontos em comum para tornar o mundo um ambiente mais fraterno,
devem despojar-se do desejo de poder, de posturas exclusivistas e lutar pela
verdadeira unidade. De acordo com o Islamismo, sua doutrina preza pela construção da
justiça, da solidariedade e da paz, bem como o Cristianismo. Nisso é possível
reconhecer grande semelhança.
Para o Islamismo, é difícil considerar um diálogo doutrinal sem haver choques,
sendo que as possíveis trocas com os cristãos são culturais ou éticas. Não há nenhuma
dúvida de que há as opções incondicionais na fé cristã que não podem ser aceitas
pelos mulçumanos, por exemplo, a encarnação de Deus ou a trindade. Cada uma das
religiões tem preservado suas crenças. Na concepção de DEMANT (2004, p.355), “a
conversa com o islã só dará oportunidade à despolarização das tensões se evitarem
armadilhas opostas”. Segundo o mesmo autor, uma delas seria principiar o diálogo por
meio de uma agenda política que se proponha a converter o interlocutor muçulmano, ou
a convencê-lo de alterar o islã, para tornar esta religião mais palatável ao Ocidente.
Seria uma utopia acreditar que os muçulmanos deixariam de crer nos ditos de Maomé
sem que houvesse uma conversão. Cristãos e muçulmanos não podem mais evitar as
diferenças fundamentais que distinguem suas religiões.
35
Sendo assim, a melhor esperança de paz e tolerância genuínas entre o
Cristianismo e o Islamismo é ter uma discussão teológica adequada sobre a essência
de Deus e a natureza da paz e da justiça. Por meio de um compromisso comum com a
verdade e a sabedoria, cristãos e muçulmanos devem ter discussões sólidas que sejam
teologicamente informadas e politicamente francas. Segundo DEMANT (2004, p.354),
“uma política meramente repressiva frente ao fundamentalismo, no melhor dos casos,
apenas o empurrará para a clandestinidade sem modificar o ímpeto de seus
argumentos”. Em decorrência disso, só seria viável dialogar diante da ocorrência de
reformas estruturais, a fim de começar a melhorar o desequilíbrio de forças entre o
Ocidente poderoso e o mundo muçulmano impotente.
De acordo com CALIXTO (2006, p.17), “os islâmicos não são bandos de
extremistas e terroristas. A grande maioria dos diversos ramos islâmicos é constituída
de pessoas pacíficas, comprometidas com sua fé em Allah”. A importância do diálogo
consiste em contrariar aqueles que incitam as novas gerações ao ódio e ao
extremismo. Porém, é necessário que o islã eduque os seus jovens e prepare-os para
viver o respeito mútuo para que, desse modo, se dissipem os conflitos. O que a mídia
mais tem divulgado é o fato de que jovens muçulmanos têm sido preparados para
morrer guerreando em nome do Islamismo. Na concepção de KHALIL (2003, p.117),
“as pessoas que conhecem o islã, que tiveram uma oportunidade de manter contato
com a cultura islâmica e com os muçulmanos, não possuem esta imagem negativa que
costuma difundir-se nos grandes meios de comunicação”. O homem é anterior à
religião; respeitar o homem vem antes do respeitar a religião. E isto é um problema
para o sistema islâmico, que é um conjunto de política e religião, sem possibilidade de
separação. O islã também está presente em todos os momentos da vida do muçulmano
como: no rádio, na televisão, na escola, no cinema, nos noticiários, na música, nos
jornais e todas as matérias ensinadas nas escolas fazem referência a ele. Os
muçulmanos não conseguem ver um ser humano sem religião e sem compromisso com
ela. No entanto, os cristãos entendem que as pessoas têm livre arbítrio para escolher
que religião seguir, sem que o estado interfira na opção religiosa de cada um.
36
Com tanta informação acessível às pessoas e em uma era de constante
transformação, é imprescindível valorizar a relação dialogal entre a religião cristã e
islâmica. Em alguns paises muçulmanos já há abertura para tal. Conforme CALIXTO
(2006, p.47), os países do Oriente mais abertos para esse momento de diálogo são o
Líbano e Jordânia, e o mais fechado é o Irã, no entanto, este tem levantado a voz para
o diálogo. No meio cristão, o catolicismo tem promovido fóruns e reuniões para esse
propósito. O papa João Paulo II foi promotor de aproximação às outras grandes
religiões monoteístas do mundo, assim como o Islamismo. Este papa foi o primeiro
representante da Igreja Católica a entrar descalço em uma mesquita. Essa atitude com
certeza assinalou o relacionamento entre as duas religiões pela humildade
demonstrada por intermédio do papa. Derrubou barreiras, onde pouco a pouco os dois
mundos distintos começaram a se abrir um para o outro. João Paulo II foi a expressão
de um bom Cristianismo, vivido e representado por este líder eclesiástico. De acordo
com KHALIL (2003, p.150),
É em nome de Deus que os muçulmanos esperam ansiosos com seus irmãos cristãos, poder construir juntos, com a ajuda do Altíssimo, o Reino de Deus na terra... Graças a Deus existem muitos cristãos que compartem esta idéia e sentimento. Muçulmanos e cristãos, temos que estar alertas contra as mentes estreitas que podem existir em ambas as fileiras e que não estão a altura do espírito profético da autêntica religiosidade, nem a altura da urgente demanda dos tempos.
Essa agradável atitude do papa João Paulo II demonstrada ao povo
muçulmano, foi relatada no Alcorão, como diz os escritos:
Em verdade, encontrarás, - dentre os homens, - que os judeus e os idólatras são os mais violentos inimigos dos crentes. E, em verdade, encontrarás que os mais próximos aos crentes, em afeição, são os que dizem: ‘Somos cristãos’. Isso, porque há dentre eles clérigos e monges, e porque não se ensoberbecem (Surata 5.82).
Segundo KHALIL (2003, p.149), Saiid Khatami, presidente da república islâmica
do Irã e presidente da Organização dos Países Islâmicos, visitou o papa João Paulo II
em março de 1999 no Vaticano. Ambos instituíram uma comissão conjunta para
aprofundar o diálogo e a aproximação. Por causa desses acontecimentos, construiu-se
uma ponte de ligação entre ambas as religiões. Em 13 de Outubro de 2007, 138
37
intelectuais muçulmanos de 43 países se reuniram pela primeira vez desde os tempos
do Profeta para declarar o solo comum entre Cristianismo e Islamismo, enviando ao
papa Bento XVI uma carta de convite ao diálogo. Entre os signatários do documento
estão representadas as grandes tradições islâmicas, sunitas e xiitas, bem como as
outras menores. Intitulado “Uma palavra comum entre nós e vocês”, o documento
afirma que os princípios comuns dos muçulmanos e cristãos de amar a um só Deus e
amar ao próximo oferecem o tipo de terreno comum entre as duas religiões que é
necessário para se ter respeito, tolerância e compreensão mútuas. Os signatários
adotaram uma corrente central e uma posição tradicional do Islamismo de respeito às
Escrituras cristãs. Uma palavra em Comum entre Nós pode não apenas dar um ponto
de partida para cooperação e coordenação internacional como ainda o faz no solo
teológico mais sólido possível: os ensinamentos do Alcorão e do Profeta e os
mandamentos descritos por Jesus Cristo na Bíblia. Por fim, a despeito de suas
diferenças, Islamismo e Cristianismo não apenas partilham a mesma Origem Divina e a
mesma hereditariedade abraâmica, como também os dois maiores mandamentos7 O
Alcorão afirma: “E não discutais com os seguidores do Livro senão da melhor maneira -
exceto com os que, dentre eles, são injustos - e dizei: Cremos no que foi descido para
nós e no que fora descido para vós; e nosso Deus e vosso Deus é Um só. E para ele
somos moslimes” (Surata 29.46). De acordo com a Tradução do sentido nobre do
Alcorão (s.d, p.650), o termo, seguidores do Livro, se refere a judeus e cristãos. Do
ponto de vista teológico, isto omite diferenças elementares entre o Deus cristão e o
Deus muçulmano.
No Cristianismo, é visto como um Deus é um ser relacional e encarnado. Na
teologia cristã, especificamente no Novo Testamento fala-se em Deus como uma única
divindade com três pessoas igualmente divinas sendo: Pai, Filho e Espírito Santo.
Segundo CALIXTO (2006, p.101), para um diálogo produtivo, é fundamental que os
muçulmanos compreendam que cristãos não adoram três deuses. É importante que
conheçam seriamente a teologia da Trindade, desenvolvida sob a perspectiva da
essência divina presente em Deus, na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O
7 Disponível em: <http://www.acommonword.com/index.php?lang=en&page=downloads> acesso em: 23/10/ 2009
38
Cristianismo em hipótese alguma pregou a existência de três deuses. Os muçulmanos
precisam entender que a Bíblia jamais foi adulterada e que seus escritos são mais do
que confiáveis, são sagrados. Para se desenvolver diálogo do ponto de vista teológico
também é importante manter literalmente o foco em Jesus.The Qur'an mentions Jesus
approximately 95 times. O Alcorão menciona Seu nome cerca de 95 vezes. Christians,
therefore, have a natural bridge to discuss the core of our faith, the person and ministry
of Jesus. Os cristãos, portanto, têm uma ponte natural para discutir o cerne de sua fé, a
pessoa e o ministério de Jesus.
39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos objetivos desta pesquisa foi mostrar a importância de se construir
caminhos para que haja diálogo inter-religioso entre cristãos e muçulmanos, através de
pontos convergentes que promovam a aproximação. Para tanto, isso só é possível
através da compreensão do outro, o sistema em que vive, seus valores, sua maneira de
perceber o mundo e se inserir nele. Demonstrou-se ainda que tem havido interesse da
parte do Cristianismo e Islamismo em promover uma aproximação entre ambas
religiões, pois as mesmas anelam por uma convivência pacífica, onde através do
respeito, da tolerância, é possível conviver e cooperar mutuamente. Procurou-se
demonstrar nesta pesquisa que se cristãos e muçulmanos, querem buscar pontos em
comum para tornar o mundo um ambiente mais fraterno, devem despojar-se do desejo
de poder, de posturas exclusivistas e lutar pela verdadeira unidade.
Uma maneira que a pesquisa apresentou do cristão se tornar participante do
meio islâmico foi buscando caminhos de afinidade e a partir desse princípio,
evidenciou-se ser admissível haver meios de coexistência. Foi possível avaliar a
postura dos líderes de cada religião, onde se percebeu que Jesus foi um líder acessível
ao diálogo apesar de qualquer diferença religiosa e social. Em decorrência disso, o
Cristianismo é uma religião dialogal e seus seguidores devem estar inseridos nesta
proposta. Maomé, no islã, foi um homem que manteve contato com judeus e cristãos
em sua época e o Alcorão faz referência a eles. Foi possível perceber que a mensagem
desses dois líderes alcançou seus dessemelhantes, pois ambos acreditaram que
através de suas convicções poderiam contribuir para se construir um mundo fraternal.
A pesquisa mostrou que em pleno século 21 marcado por expressivas
transformações, líderes cristãos e muçulmanos tem dado passos em direção ao
diálogo, promovendo encontros para tratar do relacionamento entre Cristianismo e
Islamismo onde se estabeleçam posições que satisfaçam a ambos e venham a transpor
40
barreiras com relação ao próximo respeitando seus valores e compreendendo que por
detrás de uma religião, se encontram pessoas.
Procurou-se demonstrar no primeiro capítulo um panorama histórico onde foi
possível compreender o surgimento do Islamismo como religião monoteísta sendo este
acontecimento vinculado ao profeta Maomé. A pesquisa abordou algumas questões
relacionadas a vida do profeta e sua influência sendo iniciada na Arábia, e se
expandindo à regiões vizinhas onde a maior contribuição de Maomé foi o ensino
religioso. Notou-se que essa mudança na crença do povo árabe, que anteriormente era
politeísta, foi iniciada pelo profeta do islã assinalando um crescimento da religião
islâmica não somente na península arábica, mas transpondo-se à outros continentes. A
pesquisa tratou também do surgimento de correntes ideológicas dentro do Islamismo.
Maomé não pregou divisões no islã, pois o mesmo propôs a unidade do povo,
entretanto foi inevitável a ocorrência da divisão, sendo que, o enfoque deste
acontecimento se deu por causa da luta pela liderança na representatividade da
comunidade islâmica após a morte do profeta. A pesquisa ainda abordou o assunto que
envolve o histórico 11 de Setembro de 2001 e mostrou que não é pela violência que o
Islamismo deseja ser lembrado, pois o Alcorão não aprova a prática do terror, sendo
essas atitudes provenientes de líderes radicais religiosos, pessoas que “em nome de
Deus” e por causa do poder político querem se posicionar diante da sociedade mundial
pela força. Não é essa imagem que o islã quer propagar e sim o conceito de uma
religião que sempre pregou a paz, sendo as atitudes terroristas contrárias a proposta do
Islamismo induzindo pessoas a um julgamento errôneo da religião.
A pesquisa abordou ainda um assunto que causa certa tensão no que diz
respeito a descendência de Ismael, pois segundo a Bíblia, Deus tinha promessas feitas
ao filho primogênito de Abraão de torná-lo uma grande nação. A mesma apontou a
possibilidade disso ser verdade, sendo que, os muçulmanos crêem serem da
descendência de Ismael, porém este enfoque foi restringido a nação árabe.
O segundo capítulo discorreu sobre a temática doutrinária onde foram
abordados assuntos ligados à crença islâmica. Uma das tais crenças se referiu a
adoração a um único Deus pelos muçulmanos. O Islamismo anunciou uma mensagem
41
monoteísta para que os seus seguidores abandonassem a idolatria. A pesquisa
mostrou a importância do Alcorão, o livro sagrado no islã, que rege toda a vida do
muçulmano desde questões religiosas até mesmo morais, éticas, sociais e políticas,
sendo este livro revelado ao profeta Maomé de acordo com os escritos alcorânicos.
Este capítulo apontou também os princípios que conduzem o muçulmano a práticas
religiosas ajudando-o a tornarem-se submissos a Deus sendo melhores consigo
mesmos e no relacionamento para com o próximo. Ainda apontou-se, nesta pesquisa,
os lugares sagrados e acessíveis aos muçulmanos, sendo que um dos tais passou a
ser igualmente de grande significância para outras nações. Destacou-se também
alguns ramos do Islamismo dentro das questões doutrinárias que influenciaram a fé dos
muçulmanos, sendo que apesar destas divisões, todos os fiéis islâmicos
compartilharam do mesmo livro sagrado e os mesmos centros espirituais. A pesquisa
abordou também sobre a temática feminina, onde foram vistos alguns direitos das
mulheres no islã. Foram apresentadas passagens do Alcorão sobre o que a religião
pensa a respeito da mulher. Se estas disposições não são observadas por alguns,
então contradizem os escritos do Alcorão.
O terceiro capítulo apontou as afinidades existentes entre as religiões
monoteístas, Cristianismo e Islamismo sendo que, através destas semelhanças, houve
a possibilidade de aproximação entre as religiões. A pesquisa fez notáveis algumas
similitudes existentes nas duas religiões, ressaltando os elementos de unidade.
Apresentou-se também a pessoa de Jesus com atributos especiais tanto no Islamismo
como no Cristianismo. Ambas religiões mantiveram respeito e profunda admiração por
sua pessoa. Apesar da representatividade que Jesus tem, sua conotação para os
cristãos é diferente da conotação para os muçulmanos. No entanto, ele é tratado de
forma especial pelas duas religiões. A pesquisa tratou ainda de assuntos que dizem
respeito ao ato da criação, o pecado da humanidade, dentro do conceito bíblico e o
alcorânico.
Partindo da realidade de que a afinidade é algo concreto e que promove a
aproximação, a pesquisa sugeriu um diálogo inter-religioso. No entanto, é necessário
haver condições de coexistência, tolerância e respeito mútuo. A tolerância conduz a
42
uma coexistência pacífica. O diálogo entre Cristianismo e Islamismo proporciona um
processo de aprendizagem onde um percebe o mundo do outro e pode inserir-se nele.
Para haver diálogo é necessário que cada um venha a despojar-se de posturas
exclusivistas. A busca pela paz deve ser muito maior que as características próprias de
cada tradição. A pesquisa mostrou que a liderança eclesiástica de ambas religiões tem
dado passo a caminho do diálogo, promovendo encontros onde se estabeleçam
posições que satisfaçam a ambos. Tão somente a partir de propostas de uma melhor
coexistência é possível viver num mundo harmonioso.
A pesquisadora compreendeu a importância de se caminhar em direção ao
diálogo em um século marcado por expressivas transformações, onde é necessário
valorizar o dessemelhante, pois diante de um mundo globalizado, a informação só pode
ser vista como meio de transpor barreiras com relação ao próximo respeitando seus
valores. É necessário se aproximar das pessoas para compreendê-las e ter uma visão
construtiva do outro através do real conhecimento e não do ponto de vista da mídia que
se focaliza em uma minoria dos que se enquadram numa postura extremista.
Tendo em vista os assuntos tratados, a pesquisadora tem a consciência de que
nem tudo foi abordado. Pois a mesma se limitou a alguns temas que considera serem
necessários para a atualidade. No entanto é importante aprofundar-se em questões
relacionadas a mulher e seu papel ao longo da história do islã. Outro tema que poderia
ser desenvolvido é a questão da veneração de santos, a crença em indivíduos e
linhagens familiares para poder compreender melhor a raiz dessa prática efetuada por
alguns no islã. Também considera importante a aquisição de mais informações acerca
da vida de Ismael e sua descendência, pois seguramente existem outros
acontecimentos que podem contribuir para o enriquecimento da pesquisa. Este assunto
é de grande importância não só para islâmicos como para cristãos. No entanto, o que
foi apontado nesta pesquisa é de grande relevância.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Periódicos
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