A história do islamismo na península ibérica

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A história do islamismo na Península Ibérica.

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A história do islamismo na

Península Ibérica.

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É importante primeiramente contextualizar os estudantes deste trabalho sobre a história real do islamismo, desde a sua gênesis, até a introdução de seu povo em Al-Andaluz, a Península Ibérica.

Como surgiu?Quem são os árabes?Quem foi Maomé?Quem é seu Deus?

Antes de tudo...

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A Arábia ou Península Arábica é uma região desértica do Oriente Médio banhada pelo mar Vermelho e pelas águas do oceano Índico. Antes do Islã, a Península Arábica esteve basicamente dividida entre as regiões litorânea e desértica. Os desertos da Arábia eram ocupados por uma série de tribos nômades, que tinham seus integrantes conhecidos como beduínos. Os beduínos não apresentavam unidade política, eram politeístas e sobreviviam das atividades de pastoreio organizadas nos oásis que encontravam no interior da Arábia.

Arábia antes do islamismo. – Há muito tempo...

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ReligiãoEntre 550 a 600 d. C., o templo de Meca,

localizado no centro da província de Hiyaz, esteve habitado por diversos cultos idólatras, as quais haviam se dedicado a população árabe. Sob o aspecto religioso, prestavam adoração a objetos sagrados, forças da natureza e acreditavam na intervenção de espíritos maus. Ao se dirigirem até o litoral, os beduínos aproveitavam da oportunidade para realizarem negócios com os comerciantes das cidades sagradas. Em Meca era praticada a adoração do Deus Lunar supremo era denominado de Hubal que tinha como consorte Deusa Sol. Dessa união, nasceram três filhas estrelas: Al-Lat, Al-Uzza e Manat, que representam também as facetas femininas do Deus Lunar.

Pela cidade de Meca passavam rotas comerciais vindas do Mediterrâneo, do Extremo Oriente e da África oriental negociando especiarias, tecidos finos, ouro, marfim, escravos, cereais, azeite. A base da prosperidade local eram o comércio e o culto associados a seu santuário sagrado.

Al-Uzza, Al-Lat e Monat , deusas da

antiga Arábia.

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A história do islamismo ou islã começou numa caverna na Arábia. Dentro dela, meditava o comerciante Maomé quando, segundo a tradição o arcanjo Gabriel apareceu e o mandou recitar, isto é, falar de coisas divinas. Isso foi por volta do ano 610 d.C. A palavra islã significa submissão a Alá (Deus) e às suas leis. Por esse motivo, os islamitas, também chamados muslims ou muçulmanos, estão submetidos à vontade de Alá, que foi revelada a Maomé pelo anjo e está no livro sagrado, Alcorão ou Corão. Os muçulmanos acreditam que Deus é único e incomparável e o propósito da existência é adorá-Lo. Eles também acreditam que o islã é a versão completa e universal de uma fé primordial que foi revelada em muitas épocas e lugares anteriores, incluindo por meio de Abraão, Moisés e Jesus, que eles consideram profetas.

Como figura política, Maomé unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que se estendeu da Pérsia até à Península Ibérica. Não é considerado pelos muçulmanos como um ser divino, mas sim, um ser humano; contudo, entre os fiéis, ele é visto como um dos mais perfeitos seres humanos. Sua biografia baseia-se nos hadith, uma vasta coleção de orientações e narrações deixadas por ele, que formaram as máximas da tradição muçulmana. Maomé falou abertamente contra a idolatria, isto é, o culto a imagens, e contra os males sociais de seu tempo. Os coraixitas temeram que a nova crença destruísse os ídolos sagrados fizesse Meca perder seu atrativo de santuário religioso. Passaram a combater a nova doutrina e tentaram assassinar seu divulgador. Maomé e seus seguidores tiveram que fugir da cidade, no ano de 622. Quando morreu, o profeta havia unificado a península Arábica sob o lema: "Só há um Deus, e Maomé é seu Profeta" (La illa Allah, Mohammed rasul Allah).

O profeta Maomé.

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Pode-se considerar que a religião muçulmana começa no ano de 622 quando ocorre a Hégira, fuga de Maomé de Meca, onde suas pregações não eram aceitas, para Medina (Iatrib). Este passou então a ser o ano I do calendário islâmico. A partir desta data a religião de Maomé conheceu uma rápida expansão começando pela tomada da própria Meca. A cidade de Medina, que se converteu ao islamismo, se tornou ponto de partida para o profeta e seus seguidores conquistarem Meca, que se tornou a cidade mais sagrada do Islã. Depois disso, em pouco tempo, toda a Península Arábica já tinha se convertido ao islamismo, bem como parte do Império Bizantino. Logo após a morte do profeta a expansão continuou em duas direções. Uma delas voltada para

o Oriente Médio, a Pérsia e Índia e outra para o Norte da África. O monoteísmo (a crença em um só Deus) serviu como base de

unidade em um mundo de relações complexas e instáveis nas tribos. A nova doutrina e a fé substituíram os laços de parentesco na hora de decidir quem era amigo ou inimigo, quem fazia ou não parte da sociedade. A essa comunidade espiritual denomina-se umma.

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Depois de Maomé seguiu-se uma fase importante da história do Islão. Os califados de Abu Bakr (632-634), de Omar (634-644), de Othmân (644-656), e de Ali (656-661) representaram uma era de notável expansionismo da nova religião. Mas nem tudo eram sucessos. Pois dentro do islamismo surgiu um conflito de enormes proporções que viria a marcar toda a sua história. Foi à divisão entre os partidários de Ali e os coraixitas. A vitória de Mo'awiya sobre o primo e genro de Maomé (pois casara com Fátima, filha do profeta) levou à criação do grupo dos xiitas em oposição aos sunitas.

E a partir dessa intriga que surgiriam os dois maiores ramos do islamismo.

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Sunitas e Xiitas. Sunitas – Hoje, cerca de 90% dos muçulmanos, são sunitas. Os

sunitas, termo que deriva da palavra Sunna – documento sagrado que narra às experiências de Maomé em vida –, assumiram uma visão mais ortodoxa e pragmática do Islã após a morte do profeta. Diferentemente dos xiitas, eles reconhecem a liderança dos primeiros califas que assumiram a liderança da comunidade islâmica após 632, e não apenas Ali, genro e primo do profeta.

Xiitas – Surgiu após o assassinato do quarto sucessor de Maomé, o califa Ali (601-661), também primo e genro do profeta. Como Maomé não indicou um sucessor, os califas – chefes de Estado – assumiram a liderança da comunidade muçulmana. Depois da controversa posse de Ali, porém, uma parte dos muçulmanos – os autodenominados "shiat Ali", ou "partidários de Ali", em tradução livre – passou a defender que a única liderança legítima para o Islã deveria vir da linhagem direta de Maomé.

Em termos de lei, ambas as seitas seguem a Sharia, mas com interpretações diferentes.

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A entrada na Península Ibérica.

Atual cidade de Toledo, Espanha. Entretanto era antigamente a capital do reino visigótico.

A Península Ibérica, chamada de Ibéria pelos gregos antigos e de Hispânia pelos romanos, por milênios foi uma região bastante abatida, tendo sido um dos pontos de confluência entre povos e culturas na Europa: celtas, gregos, cartagineses, romanos, visigodos, fenícios, vândalos, bizantinos, francos, árabes, berberes, eslavos, vikings, etc., foram alguns dos povos que ali passaram. Todavia, após a queda do Império Romano em 476, a Hispânia ainda continuou a manter os costumes romanos, como também a língua latina, mas passou a ser controlada pelas tribos germânicas dos Visigodos.

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No ano de 710 o então rei visigodo Vitiza faleceu, sucedendo-se uma disputa pelo trono entre aqueles que apoiavam o príncipe Áquila II, herdeiro de Vitiza e o pretendente Roderico (as vezes também chamado de Rodrigo). Julian ou Olban o qual era de origem bizantina, e vivia no Magreb, estava apoiando o príncipe Áquila II o qual buscava ajuda militar para derrotar seu adversário, logo, essa ajuda foi buscada do outro lado de Gibraltar, e ainda em 710, Tarik ou Tarif cruzou a entrada do Mediterrâneo com cerca de 400 homens. Todavia, vendo que aquele contingente não seria o suficiente para vencer aquela guerra, Tarik retornou ao Magreb para que no ano seguinte voltasse com um exército. Ainda em 710, Roderico foi proclamado na cidade de Toledo, rei dos visigodos, algo que enfureceu Áquila ainda mais.

Tendo retornado a região do Tânger, de onde o governador Musa ibn Nusair governava, ele viu nessa possibilidade de ajuda espaço para iniciar a expansão do império omíada sobre a Península Ibérica. Logo, no ano de 711 no final do mês de abril, Tarik retornava a Hispânia com um exército de cerca de 7 mil homens, números esses ainda questionáveis hoje.

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Nos idos do século VIII, fazia mais de setenta anos desde a morte do Profeta Mohammed, e daquela época em diante os seus sucessores diretos, chamados de califas, iniciaram a expansão territorial de um "império da fé islâmica". Passado essas mais de sete décadas o então Califado Omíada, com capital em Damasco, na Síria, era dono de um império que se estendia do Afeganistão ao Marrocos, do Uzbequistão ao Iêmen, e agora estava as vésperas de ganhar novos territórios.

Representação do General Tariq

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O rei Roderico estava refugiado com seu exército na cidade de Córdova, enquanto Áquila II montou acampamento próximo a Nova Cartago. Entre 19 e 26 de julho ocorreu o confronto dos dois exércitos na Batalha de Guadalete, próxima ao rio homônimo, nas cercanias de Cádiz, Andaluzia. O exército de Tarik composto na sua maioria de berberes conseguiu subjugar após esses sete dias de conflitos o exército de Roderico, o qual contava com um contingente um pouco maior.

A vitória foi derradeira, pois Roderico foi destronado e faleceu na ocasião. Ainda em 711, as cidades de Toledo e Córdoba foram sitiadas e conquistadas por Tarik. No ano seguinte, o governador Musa chegou a península a frente de um exército de pelo menos 10 mil homens. Ainda naquele ano, Musa conquistou Sevilha e Mérida. Assim se iniciava a invasão e conquista da península pelas forças árabes da Dinastia Omíada. Com a morte do último rei visigodo Roderico, e o rompimento da aliança com o príncipe Áquila, os árabes estavam agora interessados em anexar o Reino Visigodo ao Califado Omíada.

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Al-Andaluz De 711 a 713 quase toda a Península Ibérica, a qual passou a ser chamada pelos árabes de Al-Andalus (etimologia ainda incerta) foi conquistada. Algo bastante interessante e intrigante, pois em cerca de três anos, os domínios árabes se estendiam por mais da metade da península, embora não significasse que na prática todas essas terras estava sujeitas ao domínio Omíada, ainda assim, a rapidez que os exércitos árabes fizeram para conquistar esse território de mais de 584 mil km2 e uma das regiões mais motanhosas do continente europeu, além de dispor de um exército de cerca de 20 mil guerreiros contra uma população de centenas de milhares de habitantes, isso foi algo ímpar na História. Daí como Aziz (1978) chegou a mencionar, houve historiadores que contestaram se a conquista árabe foi um milagre ou uma lenda, devido a forma de como ocorreu.

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Em 730 os muçulmanos tentaram tomar também uma região da França, mas foram impedidos pelo exército de Carlos Martel, entre Tours e Potiers. Depois disso, os muçulmanos não fizeram mais novas conquistas na Europa ocidental. Até o ano de 756, os muçulmanos mantiveram certa unidade política e religiosa sob o comando da dinastia Omíada, de origem árabe, apesar das diferenças tribais. Quando esta dinastia perdeu o poder para os Abássidas, seus líderes fugiram de Damasco, primeiramente para Sevilha e depois para Córdoba, fundando lá um califado e transformando a Península Ibérica também em uma região importante dentro do mundo islâmico.

Em 1031 a dinastia Omíada é extinta por rivalidades entre os diferentes grupos muçulmanos, principalmente árabes e berberes. Seu território é transformado em um conglomerado de “cidades-estados”, chamadas de Taifas. Estas existiram até por volta de 1080 quando ocorre a invasão Almorávida, vinda da África que de certa forma reunificou o território. Posteriormente as regiões muçulmanas da península serão invadidas pelos Almohadas, entre os anos de 1174 e 1184.

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Durante mais de 400 anos, a civilização árabe-muçulmana foi a dominante do mundo em termos de filosofia e ciência. A doutrina inicial do islã favorecia a ciência e as artes. Grandes obras da arquitetura como a cúpula da Rocha e a mesquita de Córdoba são os símbolos dessa era de grande prosperidade islâmica. Nas ciências e na filosofia, os árabes se apoderaram da ciência grega traduzida pelos cristãos sírios. Obras de Aristóteles, Ptolomeu e Galeno foram estudadas por essa jovem civilização com muita paixão e liberdade.

Naquela época, a centralização da educação, medicina, filosofia e ciência era indiscutivelmente a sociedade muçulmana, sendo que os abássidas estabeleciam as diretrizes desta filosofia (de valorização do conhecimento) na Casa da Sabedoria, localizada em Bagdá. Neste local, os estudiosos, tivessem origem muçulmana ou não, reuniam-se no intuito de fazer a tradução do conhecimento do mundo todo para o idioma árabe.

Uma grande influência para o movimento de fusão do pensamento do Corão com a ciência e filosofia grega foi a do movimento da escola islâmica de pensamento chamada de Mu’tazila, que permitiu o islã construir uma civilização muito tolerante e aberta ao pensamento antigo. Mas o período mais florescente do islã vai além dessa escola.

Hospitais, escolas, mesquitas e Madrassas( a versão islâmica das universidades) foram construídos pelo império Omíada e Abássida. Grandes nomes surgiram no campo da medicina, filosofia, astronomia, óptica e matemática.

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As influências da cultura árabe na Península Ibérica foram várias: influências na língua, vestimenta, os hábitos, no comportamento, alimentação, arquitetura, na literatura, na ciência, tecnologia, no urbanismo, e nas leis, administração, etc. Durante os séculos da ocupação árabe, fortalezas, portos, casas, pontes, estradas, jardins, palácios e mesquitas foram construídos, no entanto, muito desse legado se perdeu nos séculos após o fim da dominação árabe em Al-Andalus. As mesquitas e alguns palácios e fortalezas foi o que sobrou desse tempo áureo do islão ibérico.

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Os árabes construíram ou transformaram igrejas em mesquitas, erguendo dezenas pela península, embora muitas acabaram sendo destruídas ao longo do tempo ou foram convertidas em igrejas, de qualquer forma, a mais famosa de todas ainda contínua sendo a outrora Grande Mesquita de Córdova, atual Catedral de Córdova, o monumento religioso máximo da arte hispano-mourisca.

Outra influência artística no campo da arquitetura, mas adentrando também a pintura, estava a produção de azulejos. Os árabes admirados com os mosaicos bizantinos, assimilaram para si essa arte e a desenvolveram. Por sua vez, a introduziram em Espanha e Portugal, um legado duradouro de ambas as culturas, principalmente dos portugueses, os quais se tornaram exímios produtores de azulejos.

Pelo fato de não se poder utilizar pinturas ou mosaicos com imagens de pessoas e animais como os bizantinos faziam, os árabes passaram a empregar azulejos para ornamentar o interior das mesquitas e dos palácios, o que levou a adoção de mosaicos chamados de arabescos.

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A população do al-Andalus era muito heterogénea, os moçárabes - (do árabe مستعرب musta'rib, "arabizado") eram cristãos ibéricos que viviam sob o governo muçulmano no Al-Andalus. Os seus descendentes não se converteram ao Islão, mas adotaram elementos da língua e cultura árabe.

E por fim os judeus. Eles geralmente não eram

forçados a se converterem ao islamismo, mas tinham de pagar um imposto caso não o fizessem. Em todas essas regiões, muitos acabaram aderindo à nova religião.

As cidades de Toledo, Mérida, Valência e Lisboa eram importantes centros moçárabes da península. Em Toledo os moçárabes chegaram a encabeçar uma revolta contra o domínio árabe.

A sociedade – Moçárabes.

Cristão e judeu jogando xadrez.

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Os hispanos passaram a chamar de mouros (moro em espanhol) os berberes e os árabes-berberes que eram provenientes do Magreb. A palavra mouro vem do latim maurus (mauri no plural), que por vez deriva do grego máuros. Tais palavras eram usadas para designar os habitantes nativos do que hoje é o Marrocos, Mauritânia e Argélia. A palavra máuros além de ser uma designação para os povos que habitavam o noroeste da África, também era usada no significado de pessoa negra, e tal significado foi mantido pelo latim e as línguas derivadas dele.Por exemplo, em espanhol, a palavra moro originou a palavra moreno, a qual era utilizada para se referir as pessoas negras, já que embora a maioria dos árabes fossem brancos, os berberes eram na maioria negros, e a miscigenação entre os dois, gerou descendentes pardos, mas os quais eram considerados negros pelos hispanos. Ainda hoje, na língua portuguesa e espanhola de forma coloquial, chama-se os negros de morenos.

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Por outro lado, mouro também era uma forma pejorativa de se referir aos árabes-berberes ou aos africanos em geral, pois atuava como uma forma de generalização, na qual classificava tais indivíduos como sendo gente negra e mulçumana. Embora que nem todo africano fosse negro ou muçulmano.

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Outro termo que foi utilizado pelos árabes para se referir a população conquistada era muwallad ("adotado"). Muladi como foi traduzido para o português e espanhol, poderia se referir ao cristão ou judeu que se converteu ao islão, como também passou a adotar a língua árabe e os costumes árabes ou poderia se referir a um individuo que fosse de mãe muçulmana, mas de pai cristão ou judeu, um individuo mestiço, hispano-árabe.

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Moda

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Com a migração árabe, foi introduzido na península o linho, o algodão, a seda, o brocado, e outros tipos de tecidos, assim como, outros tipos de cortes, costuras, peças de roupas e acessórios, mas em geral a população rural manteve sua vestimenta baseada no modelo nacional, por sua vez a população urbana foi quem mais aderiu a moda árabe. Khassa era o termo árabe que designava a elite muladi. Alguns historiadores consideram os khassa como a aristocracia. Embora tal termo também fosse aplicado aos próprios árabes. Logo, foi essa aristocracia quem mais aderiu a moda árabe, de forma a se aproximar cada vez mais da cultura dos conquistadores. A elite passou a fazer uso dos novos tecidos que chegaram a região, os já mencionado algodão, mas principalmente o linho, a seda, o brocado, etc., estes últimos tecidos mais caros e considerados de luxo. Embora a lã, cetim e o couro ainda continuaram a ser usados também por eles. Ainda acerca da moda feminina, o uso de véus diferente do que se pensa, não era algo obrigatório naquele tempo, logo, muitas mulheres muçulmanas necessariamente não o usavam diariamente ou todo o tempo. Por outro lado, as mulheres também usavam lenços para cobrir apenas os cabelos e alguns tipos de chapéus

No caso da vestimenta masculina, era comum o uso de camisas e calças, ambas feitas de linho ou algodão, que por sua vez eram presas por um cinto de couro, de algodão, linho, etc. Sobre esse traje básico usava-se uma saia, uma blusa, túnica ou capa. Essas roupas sobrepostas poderiam ser feitas de seda e poderiam trazer adornos como fios de ouro e bordados. Os homens usavam turbantes, toucas e diferentes tipos de chapéus, todavia dependendo da época não era algo obrigatório o uso de turbantes.

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Higiene e Beleza.

Hammans (Casa de banho).Uma novidade trazida com os árabes foi o retorno dos banhos diários e dos banhos públicos. É costume do islã realizar os ritos de purificação diários. Por exemplo, toda vez que um muçulmano for realizar uma das cinco orações obrigatórias diárias, ele deve está pelo menos com o rosto, as mãos e a boca limpos. Homens e mulheres não se misturavam, pois havia horários específicos para que cada um frequenta-se estes espaços públicos. Normalmente os homens iam de manhã e as mulheres à tarde. No entanto, não significa que não houvesse mulheres ou homens em ambos os horários, havia sim, na presença dos escravos. Como no hammam oferecia-se serviços de massagens, havia escravas e escravos que faziam as massagens. No caso dos escravos, todos eram eunucos.

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Nestes banhos além de lavar-se, fazer a barba, cortas as unhas, cortas os cabelos e receber massagem, os homens e mulheres aproveitavam para conversar, relaxar, jogar, se distrair, pois ir aos banhos públicos, era quase como ir hoje a praia ou a um clube no sentido de espaços de lazer. No caso das mulheres havia os tratamentos de beleza. Massagistas, manicures, pedicuras, depiladoras, cabeleireiras, maquiadoras, etc. Nesse aspecto, o hammam também atuava como uma espécie de "salão de beleza", mas lembrando que apenas a elite dispunha desses caprichos da beleza. As mulheres de condições inferiores se arrumavam em casa.

Ainda sobre o quesito beleza, diferente do que hoje é imposto por alguns países muçulmanos onde as mulheres são obrigadas a usarem burcas e outros tipos de véus para ocultar os rostos, assim como, trajar roupas pretas e longas, de forma a ocultar sua beleza, curiosamente na Idade Média isso não era uma tendência e uma prática. Era hábito das mulheres muçulmanas sempre estarem bem arrumadas e belas para os maridos, e no caso das damas da alta sociedade, elas sempre estavam impecáveis. As mulheres árabes medievais se vestiam com roupas coloridas e de diferentes estilos, embora que a sensualidade fosse reservada as dançarinas, prostitutas ou nos momentos privados do casal.

No caso dos homens, o cuidado com os cabelos, as barbas e as unhas também era algo corriqueiro, pois embora fosse moda deixar a barba grande ou os bigodes, dependendo da forma de como eles eram cortados e tratados, era sinal de condição social, pois os ricos dispunha de produtos de beleza para a barba e os cabelos, os quais os pobres não tinham acesso.

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Sexualidade.O caso da sexualidade é bastante

interessante. Tanto no cristianismo, judaísmo e o islamismo naquele tempo, o homossexualismo era considerado um pecado, um tabu, no entanto, havia gente que o praticava, em geral secretamente. Os cronistas árabes de Al-Andalus mencionam histórias de aventuras homossexuais de gays e lésbicas.

Mas é importante ressalvar que o homossexualismo não era algo público, as pessoas que eram homossexuais ou bissexuais se comportavam normalmente como heterossexuais, apenas em locais reservados é que eles tinham suas relações e comportamentos desse gênero. Na prática do dia a dia, os gays e lésbicas eram heterossexuais na convivência pública e particular, apenas nas suas intimidades é que eles agiam conforme sua opção sexual.

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No caso da prostituição por mais que tal prática seja condenada pelas religiões abraâmicas, ela sempre conseguiu se manter viva e ainda hoje existe. Com a chegada dos árabes não foi diferente. Se antes já havia prostíbulos na Ibéria, mesmo com o conservadorismo muçulmano, os prostíbulos se mantiveram principalmente nas cidades. Em alguns casos, era comum tavernas, albergues e hospedarias também disporem de prostitutas. Aziz (1978, p. 210) assinala que a prostituição em Al-Andalus era legalizada, onde por sua vez, as prostitutas pagavam um imposto chamado kharadj.

Outra mudança que surgiu para os hispanos-visigodos foi a legalização da poligamia e o concubinato. O cristianismo e o judaísmo não toleram a bigamia e a poligamia, mas o islamismo a permite, logo, cristãos e judeus que se converteram ao islão passaram a dispor do direito da poligamia e do concubinato, entretanto, havia algumas condições para isso.

Diferente do que se pensa, a maioria dos muçulmanos são monogâmicos, pois para se ter mais de uma esposa é preciso pagar além do dote, ter condições financeiras de manter de forma igualitária ambas as esposas. Logo, normalmente são os homens ricos quem possuem mais de uma esposa e no caso do concubinato o mesmo é válido.

Para se ter um harém, o homem precisava dispor de dinheiro para comprar as escravas do sexo e manter toda a mordomia que elas recebiam. Sendo assim, apenas os muito ricos dispunham de haréns. Quanto mais mulheres um homem dispusesse em seu harém, era sinal de quão rico ele era, pois além de ter que manter em alguns casos dezenas de concubinas, as escravas mais belas custavam caro e dependendo das exigências do futuro dono, elas eram trazidas de longe, o que encarecia ainda mais os custos da viagem e da mercadoria.

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Os árabes introduziram em Al-Andalus a chamada dança do ventre, uma dança de origem asiática que existe a milhares de anos, e que acabou sendo adotada pela cultura árabe. A dança do ventre se modificou ao longo dos séculos, logo, não podemos pensar que na Idade Média as mulheres se vestiam igual a hoje em dia. As roupas que elas usavam mudaram com o tempo, assim como, também encurtaram-se.

Um último aspecto ainda a ser comentado sobre a sexualidade, diz respeito ao erotismo. Já foi comentado que as mulheres muçulmanas não precisavam esconder sua beleza, mas havia posturas de como se comportar publicamente, onde elas não poderiam fazer olhares sensuais e gestos com a boca, trajar roupas com decotes, mostrar as pernas e até mesmo os tornozelos, além do fato que as mulheres não andavam sozinhas pelas ruas, normalmente eram acompanhadas de familiares, guardas, ou por escravos.

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Economia.

Sob o governo árabe a economia andaluza cresceu significativamente, pois sob o novo governo, os mercadores hispanos passaram a ter acesso as mercados no norte da África e no Oriente Médio, o que facilitou o intercâmbio de mercadorias. Mas no que tange o campo da economia agropecuária, essa também sofreu mudanças com a inserção de novas culturas. Por mais que o comércio tenha crescido bastante, a principal renda do Estado ainda advinha do setor agropecuário.

Além do fato do mercado urbano (souk) ser o principal ponto de comércio no Al-Andalus árabe, outro fato que conotava a supremacia da cidade sobre o campo, dizia respeito que em algumas cidades passaram a concentrar um grande número de artesãos e outros trabalhadores. As oficinas se espalhavam por cidades como Sevilha, Córdova, Toledo, Saragoça, etc. Eram nessas oficinas que se produziam tecidos, roupas, calçados, chapéus, joias, cerâmicas, utensílios de cozinha, móveis, tapetes, esteiras, ferramentas, talheres, armas, materiais de construção, etc.

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Diferente do que se pensa, a escravidão não foi abolida totalmente da Europa durante a Idade Média. De fato em algumas regiões ela deixou de existir, mas no leste europeu, os povos eslavos a praticaram por séculos; na Escandinávia, ela ainda era praticada, os próprios vikings comercializavam escravos com os eslavos. E no caso de Al-Andalus a situação não foi diferente.

"Outro setor importante da economia omíada: o comércio de escravos. A Espanha, conta em sua população, com uma proporção bastante considerável de escravos dos dois sexos, brancos e negros, de origem européia ou sudanesa. Eles são fornecidos pelas razzias efetuadas em territórios cristãos, pelo trafégo de negros, pela pirataria marítima e pelos mercadores especializados neste gênero de comércio, principalmente judeus". (AZIZ, 1978, p. 77).

O comércio de escravos em Al-Andalus como assinalado por Aziz, não fazia distinção de cor, tanto brancos quanto negros eram escravizados, no entanto, normalmente se escravizava cristãos e pagãos, que posteriormente eram convertidos ao islão.

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O emirado fundado em Córdoba em 15 de maio de 756 faz da Espanha o primeiro Estado muçulmano independente. Até aquela data, todos os muçulmanos estavam submetidos à autoridade direta do califa de Bagdá. Antes de proclamar Córdova como capital de Al-Andalus, os emires da península não possuíam uma capital fixa, por sua vez, alguns chegaram a morar em Córdova, Toledo, Sevilha entre outras cidades. De 756 até 1031 Córdova seria a capital árabe de Al-Andalus, tornando-se a maior e mais próspera cidade da Ibéria e da Europa por vários anos, pois os cronistas árabes relatam que a população da cidade chegou a ultrapassar mais de 100 mil habitantes, um número bastante grande para a Europa, já que em geral as cidades europeias mal chegavam aos 20 mil habitantes.

O Emirado de Córdova.

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O Califado de Córdova.No ano de 929, o então emir Abd al-Rahman III (891-961) assumiu o título de califa, passando a ser o chefe político, militar e religioso supremo de Al-Andalus. Se antes o emirado de Córdova ainda possuía ligações políticas com o Califado Abássida, agora o Califado de Córdova era oficialmente um Estado independente. As relações com os Abássidas ainda se manteriam, mas não da condição de província para império, mas agora de Estado para Estado.

Algumas das principais reformas e decisões feitas pelo califa Abd al-Rahman III estiveram segundo Giordani (1976, p. 109-110):• Respeitar os direitos dos moçárabes e encerrar a perseguição aos mesmos;• Por fim as revoltas de grupos oposicionistas radicais e separatistas. Em 933, a cidade de

Toledo foi invadida, e os últimos rebeldes foram derrotados.• Para evitar conspirações e traições palacianas, o califa passou a se manter cercado

apenas das pessoas mais leais que possuía, além de formar uma guarda real composta de escravos eslavos, fortemente submissos e leais a sua autoridade.

• Ordenou a construção de bibliotecas, banhos públicos, mesquitas, casas, estradas, pontes, etc. A cidade de Córdova cresceu muito durante seu reinado, tornando-se a segunda maior cidade da Europa, ficando atrás apenas de Constantinopla (atual Istambul), capital do Império Bizantino.

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Emirado de Granada.

Durante a Reconquista, estados muçulmanos caíram um por um para reinos cristãos invasores do norte. As principais cidades de Córdoba, Sevilha e Toledo caíram nos anos 1.000 até os anos de 1.200. Os Murabitun e Muwwahidun (Almorávida e Almóada), movimentos do norte da África, ajudaram a retardar a força cristã, mas a desunião entre os muçulmanos levou à perda contínua de terra. Um estado muçulmano – Granada – foi capaz de escapar da conquista dos cristãos nos anos 1.200. Após a queda de Córdoba em 1.236, os governantes do emirado de Granada assinaram um acordo especial com o Reino de Castela, um dos mais poderosos reinos cristãos. Granada tinha concordado em se tornar um estado tributário para Castela. Isso significava que eles foram autorizados a permanecerem independentes como o Emirado de Granada, mas em troca de não serem invadidos por Castela, eles tiveram que pagar uma quantia anual (geralmente em ouro) à monarquia castelhana.

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A retomada cristã dos territórios perdidos para os muçulmanos começa logo após sua perda, com a expansão do reino de Astúrias entre 739 e 757, mas estas batalhas não podiam ainda ser caracterizadas como guerra de reconquista, pois eram batalhas eventuais que nem sempre tinham como intenção a conquista definitiva do território. O pequeno reino cristão das Astúrias — formado por Asturos, Cântabros e Hispano-Godos — conseguiu, em 754, expulsar definitivamente os muçulmanos para o sul do Douro. De fato, foi no sul de Portugal que o Islã deixou marcas profundas, comparáveis à contribuição da presença romana na estrutura do que, mais tarde, seria a civilização portuguesa.

As constantes lutas internas, além das cíclicas tentativas de fragmentação do estado islâmico peninsular, contribuíram para o avanço cristão que, lentamente, foi empurrando os muçulmanos para sul. A luta entre cristãos e muçulmanos arrastou-se, com avanços e recuos, ao longo de seis séculos, sendo o Algarves acrescentado ao território português em 1249, no reinado de Afonso III.

Consequentemente, vários reinos cristãos surgiram das derrotas mouras, como o Condado Portucalense, o Reino de Aragão, o Reino de Castela, o Reino de Navarra e o Reino de Leão.

A reconquista.

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O mais precoce foi Portugal, o qual logrou sua reconquista em 1147, com a reconquista da cidade de Lisboa e em 1187, com a formação do Condado Portucalense, no noroeste da Península.A conquista da cidade de Faro abriu caminho para o repovoamento da região Sul e consolidou a dinastia de Borgonha, a qual governou o primeiro Estado Nacional europeu até 1383.No século XV, as campanhas militares patrocinadas pela união conjugal dos reis Fernando de Aragão e Isabel Castela consolidaram o processo de reconquista, culminando na expulsão completa dos invasores muçulmanos em 1492, com a retomada do reino de Granada e na unificação da Espanha como Estado Nacional.

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Fontes