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1- A Geografia no Brasil e sua breve contextualização.
A produção acadêmica em torno da concepção de Geografia no Brasil
passou por diferentes fases e momentos, gerando reflexões distintas acerca
dos objetos e métodos do fazer geográfico. De certa forma, essas reflexões
influenciaram, e ainda influenciam, muitas das práticas de ensino desta ciência
no âmbito acadêmico e na sua aplicação com a realidade cotidiana.
A Geografia, como importante ciência social e humana, tem por objetivo
estudar as relações entre o processo histórico na formação das sociedades
humanas e o funcionamento da natureza por meio da leitura do lugar, do
território, a partir de sua paisagem. Na busca dessa abordagem relacional,
trabalha com diferentes noções espaciais e temporais, bem como, com os
fenômenos sociais, culturais e naturais característicos de cada paisagem, para
permitir uma compreensão processual e dinâmica de sua constituição, para
identificar e relacionar aquilo que, na paisagem, representa as heranças das
sucessivas relações no tempo entre a sociedade e a natureza em sua
interação.
Buscando apresentar uma breve contextualização da Geografia no
Brasil, é importante considerar que as primeiras tendências desta ciência
nasceram com a fundação da Faculdade de Filosofia da Universidade de São
Paulo e do Departamento de Geografia quando, a partir da década de 1940, a
disciplina Geografia passou a ser ensinada por professores licenciados, com
forte influência da escola francesa de Vidal da La Blache.
Nesta primeira fase de configuração na academia brasileira, essa
Ciência Geográfica era marcada pela explicação objetiva e quantitativa da
realidade que fundamentava a escola francesa de então. Entretanto, foi essa
escola que imprimiu ao pensamento geográfico, no Brasil, o mito da ciência
não politizada, com o argumento da neutralidade do discurso científico. Tinha
como meta abordar as relações do homem com a natureza de forma objetiva,
buscando a formulação de leis gerais de interpretação.
Essa tendência da Geografia e as correntes que dela se desdobraram foram chamadas de Geografia Tradicional. Apesar de valorizar o papel do homem como sujeito histórico, propunha-se, na análise da produção do
espaço geográfico, estudar a relação homem-natureza sem priorizar as relações sociais. Por exemplo, estudava-se a população, mas não a sociedade; os estabelecimentos humanos, mas não as relações sociais; as técnicas e os instrumentos de trabalho, mas não o processo de produção. Ou seja, não se discutia as relações intrínsecas à sociedade, abstraindo assim o homem de seu caráter social. Era baseada, de forma significativa, em estudos empíricos, articulada de forma fragmentada e com forte viés naturalizante. (PCN, 2007, p.03).
Para a aplicação no ensino escolar, essa Geografia ficou traduzida,
muitas das vezes pelo estudo descritivo das paisagens naturais e humanizada,
de forma dissociada do espaço vivido pela sociedade e das relações
contraditórias de produção e organização presentes no espaço.
Os procedimentos didáticos adotados promoviam, principalmente, a
descrição e a memorização dos elementos que compõem as paisagens, sem
esperar que os alunos estabelecessem relações, analogias ou generalizações
– neste caso especifico, o uso do trabalho de campo era uma ferramenta que
estava pautada na elaboração dos conhecimentos geográficos.
Pretendia-se nesta fase, ensinar uma Geografia neutra com pouca ou
talvez nenhuma preocupação para levantar questionamentos críticos presentes
na paisagem e no espaço. Essa perspectiva marcou também a produção dos
livros didáticos até meados da década de 70 e, mesmo hoje em dia, muitos
ainda apresentam em seu corpo idéias, interpretações ou até mesmo
expectativas de aprendizagem defendidas pela Geografia Tradicional.
Portanto, foi no período do pós-guerra (1939/1945), que a realidade
desta ciência no Brasil tornou-se mais complexa: o desenvolvimento do
capitalismo afastou-se cada vez mais da fase concorrencial e penetrou na fase
monopolista do grande capital; a urbanização acentuou-se e as grandes
metrópoles começaram a se constituir até então; os fluxos migratórios tiveram
maior expressividade no país; o espaço agrário sofreu as modificações
estruturais comandadas pela Revolução Verde, em função da industrialização e
da mecanização das atividades agrícolas em várias partes do mundo; a rede
de transportes e de comunicação começaram a se desenvolver, interligando
diferentes realidades locais que passaram a estar articuladas numa rede de
escala mundial. Sendo assim, cada lugar deixou de explicar-se por si mesmo,
passando a conviver com realidades novas e complexas.
Nesta nova realidade vivida pelo Brasil e também por outras áreas do
mundo, os métodos e as teorias da Geografia Tradicional tornaram-se
insuficientes para apreender, entender e explicar esta nova complexidade.
Neste caso, o uso do trabalho de campo, feito através de estudos apenas
empíricos, tornou-se insuficiente.
Agora com esta nova configuração sócio-espacial, era preciso realizar
estudos voltados para a análise das relações locais, regionais e mundiais – que
de certo modo estavam e sempre estiveram interligadas – devendo estar
associados com as mudanças de ordem econômica, social, política e
ideológica que o mundo vivenciava até o presente momento.
Por outro lado, o meio técnico-científico-informacional passou a exercer
forte influência nas pesquisas realizadas no campo da Geografia. Na década
de 1960, sob influência das teorias marxistas, surge uma nova tendência de
teor crítico à Geografia Tradicional, cujo centro de preocupações passa a ser
as relações entre a sociedade, o trabalho e a natureza na produção do espaço
geográfico. Neste momento, os geógrafos passam a estudar a sociedade
através de novas concepções, isto é, procuram estudar a sociedade através
das relações de trabalho e da apropriação humana da natureza para produzir e
distribuir os bens necessários às condições materiais que garantissem os seus
interesses.
Surge, nesta importante fase, uma crítica à Geografia Tradicional, ao
Estado e as classes sociais dominantes, propondo, a partir daí, uma Geografia
das lutas sociais. Num processo quase militante de importantes geógrafos
brasileiros, difunde-se uma nova Geografia denominada Geografia Marxista,
conhecida também pelo título de Geografia Crítica.
Essa nova perspectiva considerava que não basta explicar o mundo, é
preciso transformá-lo. Assim, a Geografia no Brasil e também em outros
países, ganha novos conteúdos políticos que são significativos na formação do
cidadão. As transformações teóricas e metodológicas dessa nova Ciência
Geográfica, baseada numa concepção crítica da realidade sócio-espacial,
tiveram grande influência na produção científica das últimas décadas e estão
presentes até os dias de hoje. É importante frisar que as correntes de
pensamento na área da Geografia Tradicional possuíam uma visão bem
particularizada, trazendo uma idéia de negligenciar a realidade humana.
Tanto a Geografia Tradicional quanto a Geografia Marxista ortodoxa negligenciaram a relação do homem e da sociedade com a natureza em sua dimensão sensível de percepção do mundo: o cientificismo positivista da Geografia Tradicional por negar ao homem a possibilidade de um conhecimento que passasse pela subjetividade do imaginário; o marxismo ortodoxo por tachar de idealismo alienante qualquer explicação subjetiva e afetiva da relação da sociedade com a natureza. (PCN, 2007, p. 4).
No Entanto, com esta nova configuração de Ciência, uma das
características mais importantes da Geografia Crítica é justamente apresentar
abordagens que considerem as dimensões subjetivas e, portanto, singulares
que o ser humano em sociedade estabelece com a natureza. Essas dimensões
são socialmente elaboradas por meio das experiências individuais marcadas
pela cultura na qual se encontram inseridas e resultam em diferentes
percepções do espaço geográfico em sua construção. É, essencialmente, a
busca de explicações mais plurais, que promovam a interseção da Geografia
com outros campos do saber, como a Antropologia, a Sociologia, a Biologia, as
Ciências Políticas, por exemplo. Preocupa-se, de certa forma, com uma
Geografia que não seja apenas centralizada na descrição empírica das
paisagens, tampouco pautada exclusivamente na interpretação política e
econômica do mundo; que possa trabalhar tanto as relações socioculturais da
paisagem como os elementos físicos e biológicos que dela fazem parte,
investigando as múltiplas interações entre eles estabelecidas na constituição
de um espaço, identificado na formação do Espaço Geográfico.
2 – A CONTRIBUIÇÃO DE ALEXANDER VON HUMBOLDT E KARL RITTER
NOS ESTUDOS EMPÍRICOS NA HISTORIA DO PENSAMENTO
GEOGRÁFICO.
A Ciência Geográfica realizada no final do século XIX e início do século
XX, basicamente empírica, centrava sua análise de estudos na observação das
diferentes porções da Terra: as diferentes paisagens do globo. Nesse momento
da história da produção do conhecimento geográfico, os procedimentos
metodológicos utilizados são, basicamente, a observação e a descrição. A
base metodológica deste processo envolvia o uso dos trabalhos de campo,
identificados como atividade de pesquisa empírica, sendo utilizada na coleta de
dados primários (OLIVEIRA, s/d).
Ao estudarmos os primórdios da Ciência Geográfica no Brasil, é
importante considerar suas premissas, onde, desde a formalização da ciência
geográfica, a partir dos pressupostos de Humboldt e Ritter, principalmente
ocorre o que podemos chamar de uma territorialização da Geografia, quando
os conhecimentos relacionados à dinâmica homem-meio (e seus desenlaces
espaciais) passam a assumir características próprias, de acordo com os
interesses políticos e as características socioeconômicas do país que passa a
usufruir desses conhecimentos geográficos (SILVONE e TSUKAMOTO, 2006,
p. 73.).
De acordo com Oliveira (s/d), o trabalho de campo, a partir do século
XIX, atua como elemento importante na definição da disciplina geográfica. Não
que essa prática tivesse surgido nesse período. Entretanto, a nova ciência,
marcadamente influenciada pelo positivismo clássico, desenvolvia seus
estudos a partir do empirismo. A razão e a crença de que todo o conhecimento
dar-se-ia através da observação e da experimentação e que determinavam os
rumos da produção científica desde então.
Com Alexander Von Humboldt e Karl Ritter, a observação empírica da
realidade ganha destaque. Alexander Von Humboldt atualmente considerado
como um dos fundadores da Geografia pretendia realizar uma ciência de
síntese, em que a observação racional é o método de investigação que se
destacava. Através de seu método de observação, estabeleceu a existência de
uma interação entre os mais diversos elementos constituintes da Terra, sendo
que ocorre uma relação de causa e conseqüência entre eles, o principio da
causalidade, conforme comenta De Martonne:
[...] ninguém mostrou de modo mais preciso como o homem depende do solo, do clima, da vegetação, como a vegetação é função dos fenômenos físicos, como estes mesmos dependem uns dos outros. Ademais, Humboldt também foi responsável pela utilização do “principio da geografia geral”, a qual determina que se deve conhecer toda a unidade terrestre a fim de que seja possível estabelecer relações entre as diferentes regiões que a compõe, uma vez que fenômenos verificados em determinada localidade podem ocorrer em outros locais que tenham características físicas semelhantes. (MARTONE 1953, p. 13 apud SILVA, ALVES, LOPES, 2008, p. 12).
Já Karl Ritter, que foi fortemente influenciado pelas idéias de Pestalozzi -
intelectual que tem grande importância nos debates educacionais na passagem
do século XIX para o século XX. Para Pestalozzi, o concreto é a base de todo
o conhecimento e, assim, o aprendizado deve buscar seu material no próprio
meio que envolve o aluno; dessa forma, a contemplação e a representação da
paisagem seriam os procedimentos fundamentais no processo pedagógico.
(MORAES, 2002, p. 140 apud, OLIVEIRA, MACHADO s/d).
Por isso, a busca pelo conhecimento, tanto do ponto de vista científico
como do ponto de vista pedagógico, deveria privilegiar o contato direto com o
objeto sob investigação. Antônio Carlos Robert Moraes afirma que, para Karl
Ritter, a Terra é o palco dos acontecimentos naturais, com ou sem a presença
do homem. Nessa perspectiva, Ritter acreditava que as leis que regem a
natureza devem ser compreendidas através das formas visíveis sobre a
superfície terrestre. (MORAES, 2002, p. 164, apud, OLIVEIRA, MACHADO
s/d).
Opostamente a Humboldt (1769-1859), Karl Ritter (1779-1859)
considerado como geógrafo “de gabinete”, foi outro grande pensador
importante na formação e sistematização da Geografia, apresentando forte
auxílio na instituição desta importante ciência. Neste caso, Ritter buscava
valorizar a utilização de metodologias, e desenvolvia acima de tudo, trabalhos
de cunho pedagógico. Junto a Geografia, foi o precursor do método
comparativo, realizando estudos dos lugares e da individualidade dos mesmos,
estabelecendo comparações entre diferentes povos, culturas, instituições e
sistemas de utilização de recursos, usando para isso, o empirismo como
método de observação. (SILVA, 2008, p. 12).
A formação religiosa de Ritter exerceu relativa influência em seus
estudos, sendo que defendia a teoria de que caberia à Ciência Geográfica
compreender a relação que a divindade exerceria sobre a natureza e seus
elementos constituintes, isto é, a Geografia deveria explicar a individualidade
dos sistemas naturais considerando que Deus teria criado cada lugar com suas
especificidades. Dessa forma, a proposta de estudo de Ritter pode ser
considerada antropocêntrica, por enfatizar o homem como objeto de estudo
dentro da natureza, e regional devido à ênfase dispensada ao estudo da
individualidade regional.
Apesar de não deixarem no campo da ciência geográfica influências
diretas, bem como apresentarem visões antagônicas em alguns aspectos, em
decorrência de suas diferentes formações, Humboldt e Ritter tiveram grande
importância para a consolidação e sistematização do pensamento geográfico
moderno. Além disso, se analisada sua trajetória na área da pesquisa,
percebe-se a importância dos trabalhos de campo realizados por esses
pesquisadores no momento de suas observações e análises empíricas do
espaço. (ibid., p. 12).
Segundo Gomes (1996):
a dupla filiação do discurso geográfico de Humboldt e de Ritter se exprime também na forma através da qual o papel do geógrafo era definido. O geógrafo era um observador da natureza que experimentava ao mesmo tempo um prazer estético, mas também um prazer intelectual de compreender as leis naturais. A palavra contemplação é comum aos dois discursos e parece justificar esta dupla ação do olhar, admirador e curioso. (GOMES, 1996, p. 173 apud SILVA, ALVES E LOPES, 2008)
Assim, o olhar clássico e a realização do trabalho de campo — que
fundamenta as descrições — como forma primeira e essencial da construção
do conhecimento, ao mesmo tempo em que é resultado de um momento
histórico, em que predominam a racionalidade e a objetividade como referência
da produção do saber científico, deixa sua marca de forma inequívoca nos
momentos seguintes da produção do saber geográfico. (OLIVEIRA, s/d).
2 – O uso do Trabalho de Campo na produção Geográfica
É importante considerar que durante muito tempo as viagens se constituíram como o principal processo para o desenvolvimento do conhecimento dos espaços geográficos. Assim, esses conhecimentos serviam de instrumento de poder sobre os demais, visto que os viajantes e expedicionistas detinham informações que serviriam aos interesses de cunho político e econômico, como projetos de conquista e colonização de novos territórios. Entretanto, desde sua origem os trabalhos de campo requerem a utilização da metodologia empirista, a fim de concretizar os objetivos almejados; afinal a experiência sensível possibilita maior facilidade de compreensão de determinados objetos e conceitos geográficos. (SILVA, 2008 p. 13).
De acordo com importantes teóricos da Ciência geográfica Sauer,
importante geógrafo americano comenta:
Por trás do que estou dizendo está a convicção de que a geografia é primeiramente todo conhecimento que se obtém por meio da observação, aquele que é ordenado pela reflexão e por um novo exame das coisas que as pessoas têm visto, e aquele que a pessoa experimentou a partir de seu contato pessoal a partir da comparação e da síntese. Em outras palavras, a principal formação do geógrafo deveria vir, onde quer que seja possível, pelo trabalho de campo. (SAUER, 2000, p. 146-147).
Abrindo espaço para a análise conceitual, o Trabalho de campo vem a ser
um recurso ensino-aprendizagem que nos últimos anos vêm sendo
revalorizado na Geografia como prática de pesquisa e ensino, enquadrando-se
muitas das vezes numa concepção construtivista onde o pesquisador aprende
com o seu meio de vivência.
Com o intuito de despertar e atrair maior interesse do pesquisador e
principalmente profissionais ligados à área das Geociências, o trabalho de
campo em sua essência vem a ser, uma modalidade que apresenta uma
conotação empírica, dando um caráter ilustrativo ao conhecimento sobre a
ciência geográfica.
De acordo com os fundamentos teóricos de “Suertegaray, no “Colóquio
Discurso Geográfico na Aurora do Século XXI”, (UFSC, 1996), a autora propõe
uma discussão sobre a atual valorização do Trabalho de Campo na Geografia,
sob a ótica da produção do conhecimento.
No seu entendimento (ibid., 1996), o Trabalho de Campo, nos dias
atuais, não pode ser compreendido apenas como coleta de dados e
informações. Necessita ser entendido como “um processo de articulação do
sujeito com a realidade, possibilitando a inserção do sujeito na sociedade,
reconstruindo o mesmo e a sua prática social”. O ato de pesquisar, de “ir a
campo” pressupõe a interação e a vivência com a realidade pesquisada.
Destaca também, que o papel da universidade é fundamental no
desenvolvimento da “práxis do geógrafo” e a necessidade do uso dessa prática
– o trabalho de campo – deva ser construída ao longo de sua formação.
(SUERTEGARAY,1996 apud, BRAUN. 2007, p. 258).
Pois, de acordo com as tendências atuais, é importante saber ler o
mundo para compreender a realidade e entender o contexto em que as
relações sociais se desenvolvem implica não só se ater na percepção das
formas, mas também no significado de cada uma delas.
Entretanto, levando em consideração estes fundamentos, é relevante
conhecer e compreender as características do meio em que se vive e,
consequentemente, o cotidiano; ampliando o entendimento da complexidade
do mundo atual a partir de diversas ferramentas e também através do uso do
trabalho de campo na etapa de construção do conhecimento geográfico.
Sendo assim, é a partir do cotidiano que o pesquisador da ciência
Geográfica, professores e educandos, perceberão que os diversos lugares que
compõem esta importante área de estudos ampliam a dimensão limitada que
às vezes se tem dela. Pois esta compreensão permite a construção de vários
eixos temáticos e sua relação com o mundo.
Partindo do pressuposto de oferecer uma educação geográfica, que
exercite e integre as atividades discutidas em diversos espaços de
conhecimentos, o tema de estudo aqui proposto, deve ser responsável a ponto
de promover a participação cooperativa, a argumentação, e o trabalho de
socialização dos atores sociais envolvidos para a troca de informações e
vivências relacionadas com o desenvolvimento do saber geográfico.
Tentando facilitar o conhecimento em relação aos conteúdos discutidos na
Ciência Geográfica – que de certo modo apresenta uma diversidade de temas
discutidos e que ultrapassam as fronteiras das salas de aula e também dos
gabinetes e laboratórios – ir a campo é produzir uma pesquisa como forma de
confrontar com a realidade apresentada no contexto atual e que está inserida
no Espaço Geográfico.
Entretanto muitos autores valorizam a prática do trabalho de campo na
produção da Ciência Geográfica e sendo assim, é possível entender que nas
suas concepções:
O trabalho de campo, sem dúvida, é fundamental no Estudo do Meio. A geografia está em constante modificação, já que o mundo também apresenta grandes transformações, e o trabalho de campo permite que essas transformações sejam estudadas de forma concreta, pois permite que o aluno concilie as informações contidas nos conteúdos ensinados em sala de aula com a realidade vivida por ele. Trata-se de um instrumento didático que enriquece muito o trabalho do professor, propiciando ao aluno desenvolver uma série de competências, como observar, avaliar, criar hipóteses e levantar sugestões, enfim entender o universo onde vive. Tal atividade pode ser inserida em qualquer série e em outras disciplinas, desde que o professor-pesquisador saiba exatamente quais são seus objetivos e coloque, como prioridade, o aprendizado do aluno, e não simplesmente levar o aluno para um ‘passeio’, fora da sala de aula. (Carmalengo; Torres, 2004, p.220-221 apud Urquiza e Asari 2007, p. 285-286).
De fato, o conceituado Geógrafo americano SAUER, 2000 enfatiza a
seguinte consideração que diz respeito ao um bom uso do trabalho de campo.
O trabalho de campo, bem sucedido pode muito bem resultar de um tema diferente para cada participante (...) O estudante e o professor trocam perguntas e sugestões a partir da cena cambiante e se ocupam de uma forma peripatética de diálogo socrático sobre as qualidades de, e na, paisagem. A locomoção deveria ser lenta, quanto mais lenta melhor, sendo interrompida freqüentemente por paradas demoradas para descanso em pontos panorâmicos ou em pontos que ensejam questões. Caminhar a pé, dormir ao relento, sentar-se à noite no acampamento, observando o sítio em todas as suas estações, estes são meios mais propícios para se
intensificar a experiência, de converter impressões em avaliações e julgamentos. (SAUER, 2000, p. 147).
Nesta concepção de análises, a prática de ir ao campo como ferramenta
metodológica de estudos, vem ser um importante instrumento que tem sido
amplamente utilizado pelos Geógrafos, professores e graduandos na etapa de
construção de seus conhecimentos.
Atuando como uma importante ferramenta de pesquisa, o trabalho de
campo torna-se fundamental para o exercício teórico do geógrafo e também
propicia para que estes profissionais, construam um melhor desenvolvimento
de suas atividades, pois através deste meio de pesquisa os fenômenos com os
quais desejam trabalhar podem ser percebidos e analisados de forma mais
precisa e construtiva.
Por ser uma atividade motivadora e atraente, este recurso metodológico,
possibilita uma aproximação dos conceitos teóricos produzidos e aplicados
com a prática cotidiana. Pois de acordo com as idéias de (COPIANI, 2007, p.
30), o trabalho de campo nos estudos da Ciência Geográfica têm importância
vital é nele, que o desenvolvimento de uma série de habilidades/atitudes
envolvidas que seguem um padrão quase ‘artístico’ e ‘engenhoso’ e, por isso,
passam por uma complexidade de serem ensinadas.
Mesmo sendo complexas de serem ensinadas e aprendidas por seus
articuladores, o trabalho de campo orientado e desenvolvido pelos geógrafos,
professores e alunos na sua formação em Ciências Geográficas pode orientar
seus questionamentos sobre as velhas disciplinas, aperfeiçoando novas linhas
teóricas na tentativa de entendimento mais amplo das relações entre
local/global e entre disciplinas escolares científicas e sua própria
transversalidade. (ibid, p. 31).
Numa simples comparação de concepções teóricas a cerca do trabalho de
campo na Geografia, Lima 2004/2005, p.109, demonstra que na chamada
Geografia Tradicional, o trabalho de campo se pautava na observação e na
descrição dos elementos contidos nas paisagens, o que resultava numa prática
de ensino descritiva e numa leitura acrítica sobre o espaço geográfico. Na
Geografia Crítica, porém, destaca-se a importância da preparação e da
contextualização do trabalho de campo, para que possa propiciar ao
observador o interesse pelo estudo do lugar vivido e a compreensão das
contradições espaciais existentes. Nesta perspectiva, o trabalho de campo
também se baseia na observação, permitindo ao aluno um olhar especial sobre
os elementos da paisagem fundamentado numa teorização pré-estabelecida, o
que vem a dar uma independência diante a produção de seus conhecimentos,
fazendo despertar por fim o senso crítico e investigativo.
Partindo deste principio atual, o objeto de estudo identificado pelos
geógrafos a partir das pesquisas de campo, com suas paisagens naturais, seus
lugares individualizados, seus territórios definidos pelos elementos humanos,
guardando os vestígios da história da Terra, torna-se uma situação
problematizadora ideal para atividades prático-teóricas de aprendizagem. É o
local onde, potencialmente, o pesquisador e observador, a procura de soluções
para determinado problema, e a partir daí pode identificar as evidências,
adquirir informações e interpretá-las.
A via pelo trabalho de campo se torna importante à medida que envolve
uma reflexão crítica em sua concepção e realização e, além disso, deve-se
estar atento, durante sua realização, às complexas relações entre as diferentes
escalas de apreensão da realidade. Sendo assim, o método do estudo do meio
através do trabalho de campo, permite maior aproximação com as
preocupações atuais da ciência geográfica, que busca explicar o espaço
geográfico não mais pela relação do homem com o meio físico, mas como
resultante das relações sociais.
Sendo assim, o conhecimento de realidades diferentes, quando cotejadas
com as realidades de pesquisadores e professores em lugares próximos ou
distantes, auxilia no enriquecimento cultural e no posicionamento das pessoas
no movimento das respectivas vidas. (VESENTINI, 2004, p. 262).
A partir desse entendimento, os saberes geográficos estudados e
definidos numa contextualização geral, permite ao pesquisador e também ao
educando compreender melhor o significado da cidadania, dos elementos
sociais e espaciais e assim favorece no exercício de seu direito de interferir na
organização espacial de sua realidade.
Nesse sentido, a utilização do trabalho de campo, como procedimento de
estudos na área de Geografia deve focar as dinâmicas de suas transformações
e não simplesmente a descrição e o estudo de um mundo aparentemente
estático. Isso requer a compreensão da dinâmica entre os processos sociais,
físicos e biológicos inseridos em contextos particulares ou gerais. Neste ponto,
a elaboração desta técnica de pesquisa, pode vir a ser apresentada de forma
variada e diversificada, sendo um instrumento metodológico que não contempla
apenas a observação e coleta de informações, pois permite ao pesquisador a
se inserir na realidade pesquisada integrando seus múltiplos aspectos,
possibilitando a vivência in loco ao que se deseja estudar.
Enfim, a proposta do uso do trabalho de campo como mediador no
processo de construção de conhecimentos junto a Ciência Geográfica é uma
importante etapa desafiadora e instigante, dado que a programação deste tipo
de atividade proposta deve realizar-se mediante um minucioso processo
metodológico que garanta ou assegure a rentabilidade e credibilidade
intelectual, pois contribui para ir além dos pressupostos teóricos e acaba
construindo conceitos geográficos com maior clareza e segurança.
Portanto, é importante considerar que este procedimento metodológico
aplicado na Ciência Geográfica deve ser levado como ponto chave na
elaboração de muitas etapas de conhecimento a cerca da Geografia e de
outras ciências humanas e naturais, sendo assim, muito conceituada também
nos ambientes escolares.
3 - A Educação Geográfica: Processo de Ensino/Aprendizagem
Refletir sobre o ensino de Geografia tem sido um motivo significativo para se pensar a Geografia. Afinal, produzir conhecimento geográfico, teorizar sobre ele, e para muitos de nós, tem a finalidade do aprendizado, pois que, envolvidos com o Ensino Básico ou no nível universitário pela formação de professores, esta tem sido uma questão muito presente e necessária. (CALLAI, 1999 apud URQUIZA; ASARI, 2007, p. 289).
Em meio às contradições entre o saber e o fazer, vivemos um período de
significativas transformações da sociedade. Necessitamos de novas formas de
pensar e viver. Precisamos revalorizar o espaço como lugar de vida para
contribuirmos na educação do aluno cidadão (ou educação para a cidadania).
(BRAUN, 2007, p. 252).
Mudanças de toda ordem movimentam a dinâmica espacial no início do
Século XXI, período considerado por muitos teóricos como período da pós-
modernidade. Estas transformações em que o mundo vivencia hoje vêm ser
resultantes das transformações técnico-científicas e informacionais que a
sociedade vivencia através dos fenômenos interligados ao processo de
globalização e que de certa forma descaracterizaram a sociedade ao longo de
seu processo histórico em boa parte do Século XIX e por todo o Século XX.
A configuração desta nova desordem vem a ser proporcionada pelas
transformações em que os modelos sociais sofreram ao longo das Revoluções
Industriais, na análise do geógrafo José Willian Vesentini (1996), destaca a 1ª
revolução Industrial como período em que a força produtiva está inserida nos
valores urbanos do consumo e de uma alfabetização em massa pela escola
pública. A 2ª Revolução Industrial, padronizou, massificou, profissionalizou e
especializou tecnicamente a força de trabalho. A 3ª Revolução industrial é a
(des)ordem do atual momento, especialmente das sociedades que lideram a
chamada revolução tecnocientífica em que o “diploma” e a “utilidade” deixaram
de ser fundamentais, valorizando as idéias, as pesquisas e a criatividade.
O fundamental hoje é a formação da pessoa, é aprender a aprender, é
saber se virar sozinho, saber pensar por conta própria, tomar decisões, ter
criatividade, raciocínio lógico e senso critico bem dosado, pois o fundamental é
a capacidade de iniciativa, de pesquisar e de ter idéias novas, de se atualizar
constantemente, sendo secundárias as informações e os macetes aprendidos
na escola em que a chave para o desenvolvimento tecnológico e do
conhecimento hoje encontra-se num ótimo sistema escolar de aprendizagem.
(VESENTINI, 1996).
É necessário encontramos novos caminhos que levem os educandos e
assim também professores e pesquisadores compreenderem que o
conhecimento e principalmente as experiências geográficas fazem parte de
suas vidas, pois são indispensáveis no momento das tomadas de decisões
importantes, seja em situações pessoais, seja também no nível da coletividade.
Neste caso, como fica a aprendizagem da Ciência Geográfica neste
atual contexto? Afinal qual é o verdadeiro papel da geografia escolar num
mundo de constante interdependência e de entrelaçamento entre os povos,
culturas, tradições e economias? Qual o cruzamento da geografia e da
educação? (BRAUN, 2007, p. 255).
A Geografia, como ciência social, contribui para a formação do ser
humano cidadão ativo e atento das reais transformações que o espaço
geográfico enfrenta cotidianamente. Mas, para que essa contribuição seja
realmente aplicada, é necessário que no ambiente escolar, a educação
geográfica seja produzida de forma atraente e instigadora, chamando a
atenção para o debate e também para novos questionamentos.
Segundo as palavras de (SAUER, 2000, p. 141) a Geografia, como
descrição explicativa da Terra, fixa sua atenção na diversidade de
características da Terra e as compara a partir de sua distribuição. De algum
modo é sempre uma leitura da superfície terrestre. Seguindo ainda seus
fundamentos, Sauer afirma que a vocação geográfica se fundamenta em
observar e pensar sobre o que há na paisagem, no que foi chamado
tecnicamente o conteúdo da superfície terrestre. Por isso os cientistas
geográficos não devem limitar-se ao que é visualmente observável, mas
devendo registrar os detalhes e a composição da cena, fazendo perguntas,
confirmações, itens ou elementos que são novos ou que vem a desaparecer na
realidade espacial observada.
Entretanto, a Geografia trabalhada na sala de aula, levando em conta
como espaço social, representa em seu contexto, um campo plural e
permanente de construção de saberes a partir de interações e representações
que constituem as estruturas de produção de conhecimentos gerais sobre as
sociedades humanas interagindo com o seu meio natural.
Estas interações por fim, incorporam significados gerados pelas
representações e, estas, por sua vez, são reelaboradas pelas novas relações,
criando novos significados, mediatizados pelo discurso de sujeitos situados em
um determinado horizonte social, no caso, o espaço geográfico, da sala de
aula, da escola ou até mesmo da sociedade.
O papel principal que esta Ciência Geográfica configura na atualidade é
permitir uma abertura para os debates em relação às diversas transformações
no qual a sociedade vivencia em seu contexto atual. Nesta perspectiva,
fundamentar uma discussão sobre o ensino/aprendizagem como questão
pedagógica na área da Geografia, nos remete a reflexão não apenas na prática
da sala de aula, mas também da instituição escolar, na elaboração do Projeto
Político Pedagógico (PPP), dos instrumentos didáticos e dos valores que
imperam na sociedade atual.
Diante esta realidade, a Ciência Geográfica possui a importância de
utilizar várias ferramentas para alfabetizar o aluno e o professor pesquisador
espacialmente em suas diversas escalas, a fim de auxiliá-los no entendimento
das noções de espaço, da paisagem, da natureza, do Estado e das
sociedades, levando em conta como conceitos fundamentais para o
entendimento dos arranjos sócio espaciais.
Neste caso, é de extrema importância que o professor-pesquisador
desenvolva um trabalho no qual o educando sinta o prazer em estudar, o
motive e sensibilize na busca de novas informações e verificações de fatos
onde na teoria, por muitas das vezes ficam muito abstratas e difíceis de serem
compreendidas. Assim, os diferentes métodos e ferramentas pedagógicas
utilizados na produção da ciência geográfica - aqui no caso, enfatizando o uso
do trabalho de campo – pretendem mostrar como um “olhar diferente” pode ser
produtivo na construção do conhecimento, despertado num melhor contexto,
novos interesses pela geografia e assim também por outras disciplinas no
ambiente escolar.
A partir das concepções de SILVA, 2008, p. 13, os trabalhos de campo ao
serem realizados, especialmente pelos pesquisadores da Ciência Geográfica,
têm como objetivo proporcionar ao cientista a análise das relações existentes
no espaço geográfico, bem como realizar observações de aspectos fisiológicos,
urbanos, sociais, econômicos e culturais na paisagem de forma empírica,
buscando sempre a interrelação entre fenômenos, chegando a conclusões
diversas. Por ser uma atividade interdisciplinar, que interage diversas
disciplinas e objetos de estudos geográficos, o trabalho de campo pretende
nortear a prática pedagógica e contribuir com os professores-pesquisadores
numa etapa que envolve princípios emocionais e afetivos que envolvem um
relacionamento no cotidiano com seus educandos e consigo mesmo.
Entretanto, o geógrafo da atualidade, assim como professores-
pesquisadores e educandos em seu processo de formação necessitam superar
essa questão, desenvolvendo a capacidade de observar as paisagens de modo
integrado, ou seja, procurando relacionar os aspectos do quadro natural com
os aspectos sociais e não separadamente, limitando a capacidade de
observação. (CAVALCANTI, 2008, p. 06).
Na observação dita científica existe uma intenção no ato de observar,
devendo-se saber de antemão o que se quer observar, deve-se ter um
propósito em mente. O ato de observar é sempre norteado por alguma idéia,
algum problema, ou alguma teoria, ou seja, sobre conhecimentos e
experiências anteriores. Portanto, antes de efetuar qualquer observação é
necessário desenvolver os conhecimentos teóricos, pois são eles que
nortearão no processo de observação. Quando os acadêmicos de Geografia
estão em pesquisa de campo é necessário que já tenham aprendido em sala
de aula os fundamentos teóricos para procederem corretamente o ato da
observação. (ibid., p. 05).
Todavia, a preocupação com o sair da sala de aula, aprender fora dos
muros da escola permite o estudo da questão pedagógica e a valorização do
processo na aprendizagem de Geografia para que, na complexidade do mundo
de hoje, o educando e assim também o próprio pesquisador da ciência
geográfica possa realizar a análise do espaço geográfico, formar raciocínios
geográficos e relacionar as vivências do seu cotidiano com os conceitos
científicos adquiridos sistematicamente nas interações escolares e, assim,
construir o seu próprio conhecimento (BRAUN, 2007, p. 253).
A partir da convicção de que ensinar é criar possibilidades para a
construção do conhecimento dos educandos – pois quem ensina também
aprende – e de que ensina é dar autonomia ao educando, considera-se que
ambos, professor e educandos, se reconstroem e aprimoram-se
continuamente. É interessante criar oportunidades para os educandos darem o
melhor de si. Além disso, faz-se necessário acreditar que toda pessoa
independentemente do seu ritmo e de seu nível de conceito, pode construir
conhecimentos significativos. (URQUIZA, 2007, p. 284).
Junto ao ambiente escolar a Geografia possui um importante papel, por
estar passando por uma modificação de procedimentos metodológicos, na
escola atual, esta ciência vem buscar a não ficar limitada apenas no livro
didático, pois tem se mostrado atuante em utilizar outros recursos que reforçam
seus princípios de ensino-aprendizagem e graças às inovações que a
sociedade vivencia atualmente suas estratégias apresentam-se de forma mais
diversificadas, atraentes e inovadoras.
E buscando ser inovadora com seus princípios metodológicos e ao
mesmo tempo tentando promover uma revalorização de práticas até então
muito utilizadas na construção do conhecimento geográfico, a geografia atual –
identificada no ambiente acadêmico e cientifico - até então vem buscando
resgatar a prática do trabalho de campo como recurso metodológico na
formalização de novos conhecimentos geográficos.
- Trabalhos de campo e suas características.
O trabalho de campo na produção da Ciência Geográfica segundo
KAYSER, 1985 é realizado por pesquisadores científicos ou não. Para ele as
pesquisas de campo têm grande abrangência, o que a diferencia em si por
seus objetos, métodos e doutrinas.
O estudo do meio – assim também encontrado em outras fontes de
pesquisas – e também aqui sendo identificado pelos Trabalhos de Campo, é
uma técnica de observação, estudos, análise e descrição que a Ciência
Geográfica busca desenvolver para identificar as reais transformações visíveis
ou até mesmo invisíveis presentes no espaço geográfico. Sendo assim, é uma
técnica de estudos que viabiliza a efetivação de análises das relações
estabelecidas no espaço geográfico, bem como proporciona observações de
aspectos fisiológicos, urbanos, sociais, econômicos e culturais na paisagem de
modo sensível, buscando analisar a interrelação desses fenômenos, questões
e aspectos, para se alcançar as possíveis e diferentes considerações que
compõem o saber geográfico. (SILVA, 2008, p. 18).
Segundo SUERTEGARAY, 2001 apresenta a ideia do trabalho de campo
de forma mais ampla, identificando como um instrumento de análise geográfica
que permite o reconhecimento do objeto e que, fazendo parte de um método de
investigação, permite a inserção do pesquisador no movimento da sociedade
como um todo.
Numa caracterização geral, este procedimento metodológico apresenta
diversas estruturas de produção e que buscam valorizar etapas de construção
de conhecimentos que são capazes de permitir. Segundo MONBEIG, 1957
apud URQUIZA, ASARI, 2007, p. 296, os trabalhos de campo numa visão
metodológica e pedagógica vêm a identificar os seguintes objetivos:
- desenvolver a capacidade de observação;
- favorecer a aquisição de conceitos geográficos;
- adquirir as noções geográficas;
- conhecer um vocabulário geográfico;
- aprender as primeiras noções de cartografia;
- permitir uma visão ampla da realidade;
- propiciar a comparação através das semelhanças e diferenças entre as
diversas áreas;
- desenvolver o espírito crítico e curiosidade científica;
- fomentar a motivação intrínseca, abrindo caminho a imaginação criativa
dos alunos;
A partir destes objetivos identificados, foi possível observar que os
trabalhos de campo ou estudos do meio, viveram inúmeras transformações ao
longo de seu processo metodológico, enquadrando-se assim por apresentar
diferentes formas de preparação e de aplicação junto a Ciência Geográfica e
muitas das vezes aplicadas também, ao ambiente escolar.
De acordo com Compiani e Carneiro (1993), relatando as idéias
defendidas por Carneiro e Campanha (1979) apud Bello e Melo (2006), surge a
preocupação de classificar os papéis didáticos nos trabalhos de campo através
das seguintes características:
● Atividades ilustrativas: o objetivo principal é ilustrar o conteúdo
apresentado em sala de aula; o professor é o centro da atividade, o aluno o
espectador, é o tipo mais usual da atividade;
● Atividades indutivas: o professor orienta a seqüência dos processos
de observação e interpretação; o ensino é dirigido e semi-dirigido, os alunos
avançam na direção em que o professor estabelece;
● Atividades motivadoras: visam motivar os alunos a estudarem um
determinado tema, geralmente são aplicadas a alunos sem conhecimento
prévio do tema abordado; é uma aprendizagem muito mais vivencial do que
informativa, que permite despertar a curiosidade dos alunos, e incentivar a
observação e o futuro aprofundamento;
● Atividades treinadoras: o objetivo central é treinar o uso de
documentos e instrumentos, as técnicas de coleta de dados e amostras para
análise e observação sistemática da natureza; a aprendizagem é seqüencial,
em graus de complexidade crescente; esta categoria é ao mesmo tempo
formativa, informativa e ilustra os conhecimentos prévios;
● Atividades investigativas: propiciam aos alunos resolver um
determinado problema ou formular um ou vários problemas teórico-práticos
diferentes; os alunos decidem de maneira autônoma os passos de
investigação; as etapas do trabalho compreendem elaboração de hipóteses a
serem pesquisadas, estruturação da seqüência de observações e
interpretações, decisões de estratégias para validá-las, avaliação da
necessidade de recorrer a leituras, discussão das reflexões e conclusões;
O Trabalho de campo identificado sob diferentes estruturas e funções na
etapa de construção de conhecimentos apresenta-se como melhor estratégia
para que os pesquisadores, professores e alunos consigam fazer a associação
entre teoria e prática e a realidade. Seja qual for sua terminologia, tais como
instrumento, técnica, método ou meio, o trabalho de campo pode ser definido
como uma atividade pedagógica que proporciona a construção do
conhecimento em ambiente externo à sala de aula. (URQUIZA, 2007, p. 298)
Portanto, segundo o autor ibid, 2007, a percepção, o contato, o registro, a
descrição, a representação, a análise, a reflexão crítica e a elaboração
conceitual de uma dada realidade estudada - lembrando que os objetos de
análise espacial são extremamente diversificados - fazem parte de um
processo intelectual mais amplo que só somam na concretização de
experiências que promovam a observação no ambiente escolar e fora dele.
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