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DEPTARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA / BUREAU DE PROGRAMAS DE INFORMAÇÕES INTERNACIONAIS

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  • DEPTARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA / BUREAU DE PROGRAMAS DE INFORMAES INTERNACIONAIS

  • eJournal USA

    DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA / AGOSTO DE 2008

    VOLUME 13 / NMERO 8

    http://www.america.gov/publications/ejournalusa.html

    Programas de Informaes Internacionais:

    Coordenador Jeremy F. Curtin

    Editor executivo Jonathan Margolis

    Diretor de criao George Clack

    Redator-chefe Richard W. Huckaby

    Editora-gerente Alexandra M. Abboud

    Editora-gerente assistente Charlene Porter

    Gerente de produo Susan L. Doner

    Assistente de gerente de produo Sylvia Scott

    Produtora Web Janine Perry

    Editora de cpias Rosalie Targonski

    Editora de fotografia Maggie Johnson Sliker

    Ilustrao da capa Timothy Brown

    Especialista em referncias Martin Manning

    Revisora do portugus Marlia Arajo

    Capa: Mais de 110 mil menonitas nos Estados Unidos fazem parte do movimento anabatista do cristianismo, cujos seguidores chegaram pela primeira vez aos Estados Unidos vindos da Europa no sculo 17. A famlia Howard, de Sparta, Tennessee, canta hinos em casa (John Partipilo, The Tennessean/ AP Images)

    O Bureau de Programas de Informaes Internacionais do Departamento de Estado dos EUA publica uma revista eletrnica mensal com o logo eJournal USA. Essas revistas analisam as principais questes enfrentadas pelos Estados Unidos e pela comunidade internacional, bem como a sociedade, os valores, o pensamento e as instituies dos EUA.

    A cada ms publicada uma revista nova em ingls, seguida pelas verses em francs, portugus, espanhol e russo. Algumas edies tambm so publicadas em rabe, chins e persa. Cada revista catalogada por volume e por nmero.

    As opinies expressas nas revistas no refletem necessariamente a posio nem as polticas do governo dos EUA. O Departamento de Estado dos EUA no assume responsabilidade pelo contedo nem pela continuidade do acesso aos sites da internet para os quais h links nas revistas; tal responsabilidade cabe nica e exclusivamente s entidades que publicam esses sites. Os artigos, fotografias e ilustraes das revistas podem ser reproduzidos e traduzidos fora dos Estados Unidos, a menos que contenham restries explcitas de direitos autorais, em cujo caso necessrio pedir permisso aos detentores desses direitos mencionados na publicao.

    O Bureau de Programas de Informaes Internacionais mantm os nmeros atuais e os anteriores em vrios formatos no endereo http://www.america.gov/publications/ejournalusa.html. Comentrios so bem-vindos na embaixada dos EUA no seu pas ou nos escritrios editoriais:

    Editor, eJournal USAIIP/PUBJU.S. Department of State301 4th Street, SWWashington, DC 20547United States of AmericaE-mail: [email protected]

  • O primeiro Congresso dos Estados Unidos acrescentou a Primeira Emenda Constituio americana como parte da Declarao de Direitos em 1791, quando as lembranas da Guerra da Independncia ainda eram recentes. Mas o conceito de liberdade religiosa ainda mais antigo do que a prpria nao.

    Mais de um sculo antes, em 1657, cidados de Flushing, Nova Amsterd, colnia holandesa, protestavam contra a perseguio a quakers pelo governador, que havia proibido todas as religies exceto a sua. Eles colocaram suas objees em um documento chamado Protesto de Flushing. Algumas pessoas foram presas por terem protestado, e anos se passaram at que a liberdade de crena chegasse cidade.

    Hoje, em Flushing, Nova York, mais de 200 lugares de culto florescem em alguns poucos quilmetros quadrados, e aqueles bravos cidados da colnia do sculo 17 so lembrados como alguns dos primeiros americanos a se manterem firmes pela liberdade religiosa desfrutada por mais de 300 milhes de americanos no sculo 21.

    Membros de igrejas, templos, sinagogas, mesquitas

    e milhares de outros lugares de orao espalhados pelo pas, de qualquer tamanho, prestam culto com o conhecimento de que o direito de praticar a religio de sua escolha protegido pela Primeira Emenda e tecido na sociedade americana. E os membros da sociedade que preferem no praticar nenhuma religio tambm so igualmente protegidos.

    Mas s vezes, em um pas to diverso quanto os Estados Unidos, pessoas e instituies se chocam, e as fronteiras da liberdade religiosa precisam ser redefinidas. Quando isso acontece, os americanos recorrem Justia e procuram reparao. Ento os tribunais, e at mesmo a Suprema Corte,

    desempenharo seus deveres constitucionais para decidir a melhor maneira de defender princpios fundamentais como a liberdade religiosa, em uma nao em que a populao centuplicou desde que a Primeira Emenda foi redigida.

    Essas decises judiciais influenciam as atividades dirias em escolas, hospitais, locais de trabalho e outros lugares pblicos. O respeito e a tolerncia por muitas crenas so testados, medida que seres humanos imperfeitos tentam adotar o que quase sempre visto nos Estados Unidos como um princpio inviolvel.

    Hoje, esta nao pulsa com a vitalidade de uma nova onda de imigrao e uma qumica cultural nica. Nesses tempos, o princpio da liberdade religiosa provavelmente passar por novos testes, mas os notveis especialistas que discutem essas questes nestas pginas acreditam que as minorias religiosas do sculo 21, e dos prximos sculos, ainda encontraro proteo no compromisso do sculo 18 com o princpio da liberdade de crena.

    Os editores

    Sobre Esta Edio

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    O Congresso no legislar sobre o estabelecimento de uma religio ou proibio de seu livre exerccio...

    Lderes espirituais americanos de diversas crenas se renem nos degraus do Memorial Lincoln em Washington, DC, em cerimnia a favor da paz ecumnica

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  • PAPEL DA CONFIANA SOCIAL

    Cumprindo a promessa de Liberdade reLigiosaDiana L. Eck, autora, a new religious america [uma nova amrica religiosa] medida que os Estados Unidos tornaram-se a sociedade com a maior diversidade religiosa do mundo, pessoas de diferentes crenas ajustam-se a uma diferente realidade georeligiosa.

    Diversidade Religiosa no Perodo da Colonizao AmericanacathErinE L. aLbanEsE, autora, a republic of mind and spirit: a cultural History of american metapHysical religion [uma repblica da mente e do esprito: Histria cultural da religio metafsica americana]A diversidade religiosa dos Estados Unidos remonta ao perodo colonial, e as tradies de tolerncia tm uma longa histria.

    A Demografia da Fbrian J. Grim E DaviD masci, pEsquisaDorEs, Frum pEw sobrE rELiGio E viDa pbLicaCerca de 80% da populao americana crist, mas outras religies do mundo esto aumentando o nmero de seguidores nos EUA.

    A LEI

    Liberdade de Culto e os TribunaisanDrEw c. spiropouLos, DirEtor, cEntro DE EstuDos DE DirEito constitucionaL EstaDuaL E GovErno, FacuLDaDE DE DirEito Da univErsiDaDE Da ciDaDE DE okLahomaCasos hipotticos entre indivduos e governos locais demonstram como os tribunais decidem se as leis violam a liberdade religiosa.

    Clusula de Livre Exerccio da Religio: Decises Importantes da Suprema CorteResumo de mais de um sculo de decises judiciais sobre o significado da liberdade de religio.

    Proteo Liberdade Religiosa Internacional: Consenso Global John v. hanForD iii, EmbaixaDor-GEraL DE LibErDaDE rELiGiosa intErnacionaL, DEpartamEnto DE EstaDo Dos EuaOs Estados Unidos estimulam os governos do mundo a proteger as liberdades religiosas.

    F EM AO

    Equilbrio entre Trabalho e ReligiochristophEr connELL, JornaListaAumentar a diversidade religiosa no local de trabalho tornou-se uma questo polmica.

    O Movimento Inter-ReligiosoGustav niEbuhr, autor, beyond tolerance: searcHing for interfaitH understanding in america [alm da tolerncia: em busca do entendimento inter-religioso nos estados unidos].Grupos religiosos nos Estados Unidos esto superando diferenas e construindo o entendimento.

    Recursos Adicionais

    DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA / AGOSTO DE 2008/ VOLUME 13 / NMERO 8

    http://www.america.gov/publications/ejournals.html

    Liberdade de Crena: Minorias Religiosas nos Estados Unidos

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  • Dois dos princpios fundamentais dos Estados Unidos so a liberdade religiosa e a separao entre Igreja e Estado. Por ocasio da instituio da Repblica, h mais de dois sculos, a maioria esmagadora dos americanos era crist. Entretanto, como documenta a autora deste artigo em seu livro A New Religious America [Uma Nova Amrica Religiosa], daquela poca aos nossos dias os Estados Unidos tornaram-se a sociedade com a maior diversidade religiosa do mundo, especialmente nas ltimas dcadas.

    Diana L. Eck professora de Religio Comparada e Estudos Indianos da Faculdade de Artes e Cincias e membro da Faculdade de Teologia da Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts.

    Aenorme cpula branca de uma mesquita com seus minaretes eleva-se dos milharais nas imediaes de Toledo, em Ohio. Pode-se observ-la ao passar

    pela rodovia interestadual. Um grande templo hindu com elefantes esculpidos em relevo na porta principal ergue-se na encosta de uma colina nos subrbios ocidentais de Nashville, no Tennessee. Na rea rural ao sul de Minepolis, em Minnesota, existe um templo e mosteiro budista cambojano, de teto sugestivo do Sudeste Asitico.

    O cenrio religioso dos Estados Unidos mudou radicalmente nos ltimos 40 anos, uma mudana gradual e ao mesmo tempo gigantesca. Comeou com a nova imigrao, incentivada pela Lei de Imigrao e Naturalizao de 1965, quando pessoas do mundo todo vieram para os Estados Unidos e se tornaram cidados. Com elas vieram tradies religiosas do mundo islmica, hindu, budista, jainista, sique, zoroastriana, africana e afro-caribenha. Os seguidores dessas crenas levaram aos bairros americanos, inicialmente de modo tmido, seus altares e salas de oraes

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    Cumprindo a Promessa de Liberdade ReligiosaDiana L. Eck

    Este templo foi inaugurado perto de Hampton, Minnesota, em 2007, para acolher o crescente nmero de budistas da rea. Cerimnia de consagrao de quatro dias atraiu budistas do mundo todo

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    PAPEL DA CONFIANA SOCIAL

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    que instalaram em lojas, edifcios comerciais, pores e garagens quase invisveis para os demais. Mas desde os anos 1990 sua presena tornou-se evidente. Nem todos os americanos viram a mesquita de Toledo ou o templo de Nashville, mas iro ver locais semelhantes em suas prprias comunidades. Eles so sinais arquitetnicos de uma nova estrutura religiosa nos Estados Unidos.

    Os americanos sabem, por exemplo, que muitos mdicos residentes, cirurgies e enfermeiros so de origem indiana, mas no pararam para pensar que esses profissionais da sade tm uma vida religiosa, que talvez faam uma pausa durante a manh para rezar em um altar em suas casas, que talvez levem frutas e flores para o templo de Shiva-Vishnu local e talvez faam parte de uma variada populao hindu de mais de 1 milho de pessoas. Estamos plenamente cientes da imigrao latina do Mxico e da Amrica Central e da grande populao de lngua espanhola das nossas cidades, e ainda assim talvez no reconheamos o profundo impacto disso no cristianismo americano, tanto no catlico como no protestante, que vai dos cnticos s comemoraes festivas.

    um vasto pLuraLismo

    Os historiadores dizem que os Estados Unidos sempre foram uma terra de muitas religies. Um pluralismo vasto e estruturado esteve presente entre os povos indgenas mesmo antes de os colonizadores europeus chegarem

    a estas encostas. A ampla diversidade de prticas religiosas nativas continua at hoje, dos piscataway de Maryland at os blackfeet de Montana. As pessoas que atravessaram o Atlntico vindas da Europa tambm tinham diversas tradies religiosas catlicos espanhis e franceses, anglicanos e quakers britnicos, judeus e cristos reformistas alemes uma diversidade que continuou a aumentar no decorrer dos sculos. Muitos africanos trazidos para estas terras com o comrcio de escravos

    eram muulmanos. Os chineses e japoneses que vieram em busca de fortuna nas minas e nos campos do Oeste trouxeram uma mistura de tradies budista, taosta e confuciana. Judeus do Leste Europeu e catlicos irlandeses e italianos tambm chegaram em grande nmero no sculo 19. Imigrantes cristos e muulmanos vieram do Oriente Mdio. Punjabis do noroeste da ndia chegaram na primeira dcada do sculo 20. A maioria era constituda de siques que se estabeleceram na Califrnia, construram os primeiros gurdwaras [locais sique de culto] dos Estados Unidos e casaram-se com mexicanas dando origem a uma rica cultura sique-hispnica. As histrias de todos esses povos so parte importante da histria da imigrao americana.

    Entretanto, os imigrantes das ltimas dcadas expandiram exponencialmente a diversidade da nossa vida religiosa. Vieram budistas de pases como Tailndia, Vietn, Camboja, China e Coria; hindus da ndia, da frica Oriental e de Trinidad; muulmanos da Indonsia, de Bangladesh, do Paquisto, do Oriente Mdio e da Nigria; siques e jainistas da ndia; e zoroastrianos tanto da ndia como do Ir. Imigrantes do Haiti e de Cuba trouxeram tradies afro-caribenhas, misturando imagens e smbolos e catlicos e africanos. Novos imigrantes judeus chegaram da Rssia e da Ucrnia, e a diversidade interna do judasmo americano maior do que nunca. A face do cristianismo americano tambm mudou, com grandes comunidades catlicas latinas, filipinas e vietnamitas; comunidades

    Placas na pequena cidade de Elko, Nevada, direcionam visitantes para vrias igrejas servindo comunidade de menos de 20 mil habitantes

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    pentecostais chinesas, haitianas e brasileiras; presbiterianos coreanos, Mar Thomas da ndia e coptas egpcios. Em todas as cidades desta terra, os quadros de avisos das igrejas divulgam os horrios das reunies de congregaes coreanas ou latinas que se realizam no interior de velhas igrejas urbanas protestantes e catlicas.

    Nas ltimas dcadas, grandes movimentos de pessoas, tanto imigrantes como refugiados, tm remodelado a demografia mundial. Em 2005, os imigrantes no mundo todo somavam mais de 190 milhes, segundo a Organizao Internacional para as Migraes, com cerca de 45 milhes na Amrica do Norte. A imagem global dinmica dos nossos tempos no a do chamado choque de civilizaes, mas a de matizao de civilizaes e pessoas. Assim como o fim da Guerra Fria levou a uma nova situao geopoltica, os movimentos globais de pessoas conduziram a uma nova realidade georeligiosa. Hindus, siques e muulmanos so hoje parte do cenrio religioso da Gr-Bretanha; mesquitas esto estabelecidas em Paris e Lyon, templos budistas em Toronto e gurdwaras siques em Vancouver. Mas em lugar nenhum, mesmo com as atuais migraes em massa, a imensa gama de crenas religiosas to grande quanto nos Estados Unidos. Essa uma nova e impressionante realidade. Uma realidade sem precedentes.

    um desafio da Comunidade

    A nova era de imigrao diferente das eras anteriores em magnitude, complexidade e na prpria dinmica. Muitos dos imigrantes que vm para os Estados Unidos hoje mantm fortes laos com sua terra natal, por meio de viagens, e-mails, celulares e notcias transmitidas por TVs a cabo. Eles conseguem viver aqui e l. No que se tornar a idia e a viso de Estados Unidos com cidados, jovens e velhos, abraando toda essa diversidade? Em quem pensamos quando invocamos as primeiras palavras da nossa Constituio: Ns, o povo dos Estados Unidos da Amrica? Quem esse ns? Isso um desafio de cidadania, certamente, pois envolve a comunidade imaginada da qual julgamos fazer parte. tambm um desafio de f para as pessoas de todas as tradies religiosas que hoje vivem em comunidades de crenas diferentes das suas, no mundo todo e do outro lado da rua.

    Quando os melhores amigos dos nossos filhos so os colegas de classe muulmanos, quando um hindu concorre a uma vaga na comisso escolar, todos ns temos novos interesses pessoais por nossos vizinhos, tanto como cidados quanto como pessoas de f.

    medida que o novo sculo se desenrola, os americanos so desafiados a cumprir a promessa de liberdade religiosa to fundamental prpria idia e imagem de Estados Unidos. A liberdade religiosa sempre originou a diversidade religiosa, e a nossa diversidade nunca foi to impressionante como agora. Isso exigir que reivindiquemos o significado mais profundo dos princpios fundamentais que cultivamos e criemos uma sociedade americana verdadeiramente pluralista, na qual essa grande diversidade no seja apenas tolerada, mas venha a ser a verdadeira origem da nossa fora. Para tanto, todos ns precisaremos conhecer melhor uns aos outros e aprender sobre formas pelas quais os novos americanos expressam o ns e contribuem para a alma e o esprito dos Estados Unidos.

    possvel que os criadores da Constituio e da Declarao de Direitos no tenham vislumbrado o escopo da diversidade religiosa nos Estados Unidos no incio do sculo 21. Mas os princpios que colocaram nesses documentos o no estabelecimento de religio e o livre exerccio da religio forneceram um leme firme no decorrer dos dois ltimos sculos, medida que a nossa diversidade religiosa se expandia. Os Estados Unidos esto comeando a clamar e a afirmar o que os criadores da

    Constituio no imaginaram, mas deram condies nao para adotar.

    A religio nunca um produto acabado, embalado e entregue, que passa intacto de gerao para gerao. Em todas as tradies religiosas, algumas pessoas pensam suas religies dessa forma, insistindo que tudo est contido em seus textos sagrados, doutrinas e rituais. Mas at mesmo uma modesta jornada pela histria comprova que esto enganados. Nossas tradies religiosas so dinmicas e no estticas, mutveis e no rgidas, mais semelhantes aos rios do que aos monumentos. Os Estados Unidos so hoje um lugar estimulante para o estudo da histria dinmica das crenas existentes, medida que o budismo torna-se uma religio distintivamente americana e cristos e judeus

    Muitos dos imigrantes que vm

    para os Estados Unidos hoje

    mantm fortes laos com sua

    terra natal, por meio de viagens,

    e-mails, celulares e notcias

    transmitidas por TVs a cabo.

    Eles conseguem viver aqui e l.

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    encontram budistas e professam sua crena sob nova forma em razo desse encontro ou talvez por chegarem ao entendimento de si prprios como parte das duas tradies. Humanistas, leigos e at ateus devem repensar suas vises de mundo no contexto de uma realidade

    religiosa mais complexa. Com hindus multitestas e budistas no testas, os ateus precisam ser mais especficos sobre o tipo de deus em que no crem.

    Do mesmo modo que nossas tradies religiosas so dinmicas, tambm o a prpria idia de Estados Unidos. O lema da Repblica, E pluribus unum, de muitos, um, no um fato consumado, mas um ideal que os americanos devem reivindicar constantemente. A histria dos muitos povos dos Estados Unidos e a criao de uma nao uma histria sem fim na qual os ideais so constantemente invocados. Nossa pluribus mais evidente que nunca nossas raas e faces, nosso jazz e msica qawwali, nossos tambores haitianos e tablas de Bengali, nossas danas hip-hop e bhangra, nossos mariachis e gamelans, nossos minaretes islmicos e torres de templos hindus, nossos cones de templos mrmons e cpulas douradas de templos siques. Em meio a essa pluralidade, a expresso da nossa unum, nossa unidade, exigir muitas novas vozes, cada uma contribuindo a seu modo.

    Envisioning the new America in the 21st century requires an imaginative leap. It means seeing the religious landscape of United States, from sea to shining sea, in all its beautiful complexity.

    Adaptado do livro A New Religious America [Uma Nova Amrica Religiosa], de Diana L. Eck, publicado pela Harper San Francisco, uma diviso da Harper Collins Publishers, Inc.Copyright 2001, Diana L. Eck. Todos os direitos reservados.

    As opinies expressas neste artigo no refletem necessariamente a posio nem as polticas do governo dos EUA.

    Uma variada multido de hindus participa da inaugurao de um templo em Indianpolis, Indiana

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    O perodo colonial da histria americana foi marcado pelo pluralismo religioso, uma vez que os indgenas americanos, os escravos africanos e os colonizadores europeus praticavam suas diferentes formas de religio. Neste artigo, a autora investiga as razes e o estabelecimento da tolerncia religiosa na poca colonial.

    Catherine L. Albanese autora de Republic of Mind and Spirit: A Cultural History of American Metaphysical Religion [Uma Repblica da Mente e do Esprito: Histria Cultural da Religio Metafsica Americana]. Ela tambm professora da ctedra J.F. Rowny de Religies Comparadas e chefe do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade da Califrnia, em Santa Brbara.

    Trs mitos prevalecem na percepo comum da histria religiosa americana: Primeiro mito: a histria religiosa est relacionada exclusivamente com os europeus.

    Segundo mito: o cristianismo protestante dos imigrantes e colonizadores europeus era monoltico nas primeiras dcadas da nao. Terceiro mito: o pluralismo religioso um desdobramento recente do sculo 20.

    H vrios problemas com relao a essa viso da histria religiosa americana. Em primeiro lugar, ela ignora o lugar dos povos indgenas os ndios americanos predecessores

    Diversidade Religiosa no Perodo da Colonizao Americana

    Catherine L. Albanese

    O quadro do sculo 19, Tratado de Penn com os Indgenas, mostra o fundador da colnia da Pensilvnia, o quaker William Penn, estabelecendo relaes de amizade com tribos indgenas americanas em 1682. O quadro do artista Edward Hicks, nascido em uma famlia episcopaliana, mas convertido f quaker

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    dos europeus nestas terras h sculos. Em segundo lugar, ignora tambm o lugar dos africanos que constituam uma grande minoria da populao colonial. Em terceiro lugar, com relao histria europia, importante observar que, embora a populao americana da poca colonial fosse em sua grande maioria protestante, havia catlicos romanos e judeus entre os colonizadores. Por fim, no incio da colonizao dos Estados Unidos, o pluralismo era disseminado mesmo entre os protestantes, tendo sido uma caracterstica importante do cenrio religioso americano. O desenvolvimento do sectarismo na Gr-Bretanha no perodo imediatamente anterior colonizao, bem como a imigrao sectria, especialmente da Alemanha, garantiram uma perspectiva pluralista. Enquanto isso, colonizadores oriundos de outros pases, principalmente da Europa Setentrional, com suas preferncias religiosas particulares, tambm estiveram presentes no incio da colonizao americana. Mesmo com essa breve descrio da real diversidade religiosa no incio da colonizao do pas, podemos muito bem colocar questes sobre como o mito da identidade protestante monoltica teve incio em primeiro lugar. Os primeiros historiadores da experincia religiosa americana eram eles mesmos representantes das principais denominaes protestantes. Eles exerceram a atividade de historiadores no como profissionais, mas a partir de sua posio como religiosos. Assim, somente de maneira gradual o estudo da histria religiosa americana tornou-se profissionalizado

    sendo os protestantes claramente majoritrios na nao at muito recentemente , e no de surpreender que a real diversidade no incio da nao fosse ignorada.

    tradies de povos indgenas e afro-ameriCanos

    Os povos indgenas desenvolveram suas culturas americanas distintas, em naes separadas, durante sculos. Cada nao indgena tinha seu prprio sistema de crenas, cdigos de conduta e prticas cerimoniais que eram, e permanecem at hoje, distintos entre si. (Este material e muito do que segue foi resumido do livro de Catherine L. Albanese, America: Religions and Religion [Estados Unidos: Religies e Religio], 4 edio, Belmont, Califrnia, Wadsworth Publishing,

    2007.) Com cerca de 550 sociedades e lnguas distintas nos Estados Unidos do sculo 17, a cultura indgena americana foi marcada por uma diversidade muito maior do que a maioria de pode cogitar. Mas se examinarmos o que h de comum entre os grupos, os indgenas americanos caracterizavam-se por um forte sentido de continuidade com o mundo sagrado, expresso em crenas, cerimnias e modos de vida que revelavam sua afinidade com a natureza. Consideravam o mundo material a seu redor sagrado e no o separavam de um domnio sobrenatural, a exemplo do que faziam os europeus. Eles tambm enxergavam uma realidade sagrada em estados onricos interiores e encaravam suas vidas interiores e a realidade externa como totalmente fluidas e abertas a transformaes. Os animais sagrados podiam se transformar em pessoas e vice-versa. Nesse contexto, a tica indgena poderia ser descrita como estando em completa harmonia com o mundo natural. Alm disso, os indgenas estavam confortveis em situaes que mais tarde viriam a ser denominadas de pluralidade religiosa. Entre os indgenas americanos, as diferenas religiosas eram observadas, honradas e aceitas. Tribos diferentes prestavam culto a espritos distintos, realizavam cerimnias distintas e observavam prticas particulares.

    Entre os africanos, por sua vez, a religio no desapareceu com o estado de escravido. A maioria deles veio da frica Ocidental e da regio do Congo-Angola e muitos eram mandinga, iorub, ibo, bacongo, jeje e fon. O islamismo

    O padre franciscano Hennepin retratado neste quadro com os indgenas americanos que foram seus guias e companheiros quando explorava os territrios do Alto Meio Oeste no final do sculo 17. Outros padres da ordem franciscana haviam iniciado a construo de misses entre as tribos indgenas cem anos antes

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    foi escolhido como religio por alguns, enquanto outros praticavam vrias e distintas religies africanas tradicionais. Novamente, como aconteceu para os indgenas americanos, certos temas prevaleceram entre essas formas nativas. A comunidade era central, e o mundo sagrado nunca esteve distante, sendo habitado por espritos e divindades que incluam ancestrais venerados. A comunidade sagrada era presidida por um Deus superior, cujo poder era apropriado pelo povo por meio de divindades intermedirias. A adivinhao, o sacrifcio animal, a msica e a dana ao ritmo insistente do tambor , tudo funcionava para criar e expressar o significado espiritual. Nos Estados Unidos, essas idias e prticas religiosas tomaram novos rumos nas comunidades de escravos, nas quais os negros se adaptaram ao cristianismo protestante e tambm incorporaram temas relacionados com sua condio involuntria de servido. Assim, em seu desenvolvimento, o cristianismo negro nunca foi igual sua verso europia branca. Paralelamente a ela, tambm, tradies de magia e cura, freqentemente chamadas de possesso, cresceram e floresceram, misturando-se s crenas e prticas indgenas americanas e, s vezes, atraindo brancos procura de cura ou ajuda material por meio da prtica da magia.

    tradies dos primeiros

    europeus

    Os primeiros europeus presentes na colonizao dos

    Estados Unidos foram os espanhis que, sob o comando de Juan Ponce de Len, chegaram pennsula, a que hoje chamamos Flrida, em 1513. Somente oito anos mais tarde, os padres catlicos romanos estabeleceram misses entre os ndios. Em 1564, os espanhis haviam fundado Santo Agostinho. O mesmo tipo de atividade religiosa ocorria a centenas de quilmetros, nas regies a oeste do novo continente. Antes do fim do sculo 16, os missionrios franciscanos instalaram-se onde hoje se localiza o estado do Novo Mxico, e os jesutas deram incio a uma misso no Arizona no incio do sculo 18. Entre os ingleses, os catlicos vieram com o intuito de colonizao, no de converso dos ndios. De fato, a carta constitucional para dar incio colnia que se tornou Maryland foi entregue a um catlico romano. O rei Charles I, da Inglaterra, concedeu a carta constitucional ao catlico George Calvert, o primeiro lorde de Baltimore. Seu filho, Leonard, chegou em 1634 como primeiro governador da colnia. A colnia de Maryland no permaneceu por muito tempo em mos catlicas, mas sua mera existncia atestou o poder das minorias religiosas no perodo colonial. Nesse nterim, a colnia de quakers da Pensilvnia recebia bem os catlicos, e a colnia de Nova

    York, pelo menos durante parte de sua histria, tambm os tolerou. Houve at mesmo um governador catlico em Nova York de 1682 a 1689, em Thomas Dongan.

    Nova York tambm foi reduto dos primeiros judeus no incio dos Estados Unidos. Eles se estabeleceram no local em 1654 quando ainda se chamava Nova Amsterd (a colnia passou das mos dos holandeses para a dos ingleses em 1664). Esses judeus parte de uma comunidade de refugiados espanhis e portugueses formada aps a expulso dos judeus de suas terras no fim do sculo 15 haviam se instalado inicialmente na Holanda liberal. Mais tarde, mudaram-se para o Nordeste do Brasil no contexto da empreitada colonial holandesa, at que, com a expulso dos holandeses por Portugal, os judeus fugiram para o norte, chegando a Nova Amsterd. L formaram uma diminuta comunidade de sefaraditas, principalmente de comerciantes, sem rabinos. A prtica de casamento com no-judeus na rea significou que vrios deles se misturaram populao local, mas em 1692 conseguiram criar a primeira sinagoga da Amrica do Norte. Alguns dos sefaraditas tambm se estabeleceram em Rhode Island, e outros juntamente com os judeus que comeavam a chegar da Europa Setentrional pontilharam as cidades da Costa Leste com suas pequenas comunidades e congregaes religiosas at o sul de Charleston, na Carolina do Sul.

    Nesse mundo americano de diversidade religiosa dos primeiros tempos, os protestantes mantiveram sua posio de maioria coletivamente. Duas pandemias no incio do sculo 17 dizimaram os povos indgenas no continente norte-americano devastados pelos micrbios trazidos pelos europeus muito mais do que por suas armas. Os outros grupos africanos, catlicos e judeus pertenciam claramente minoria, apesar do grande nmero de africanos em alguns lugares. Pensar nos colonizadores protestantes coletivamente, contradiz, contudo, a situao de diferena religiosa que, na verdade, caracterizou esses imigrantes europeus. Muitos deles exibiam um cristianismo protestante cultural, mas viviam, tambm, em contato com uma srie de crenas e comportamentos metafsicos semelhantes aos dos indgenas e negros recorrendo prtica de magia de curandeiros, a formas astrolgicas de orientao e a formas elitistas de esoterismo (ver Jon Butler, Awash in a Sea of Faith: Christianizing the American People [Imerso num Mar de F: Cristianizando o Povo Americano], Cambridge: Harvard University Press, 1990, e Catherine L. Albanese, A Republic of Mind and Spirit: A Cultural History of American Metaphysical Religion [Uma Repblica da Mente e do Esprito: Histria Cultural da Religio Metafsica Americana], New Haven: Yale University Press, 2007).

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    Alm disso, os colonizadores das duas primeiras colnias, que foram os principais atores nos desdobramentos polticos posteriores, pertenciam a grupos religiosos diferentes. Os habitantes da Virgnia, com sua primeira colnia permanente em Jamestown a partir de 1607, eram oficialmente membros da Igreja da Inglaterra. Seu anglicanismo era to rigoroso que em 1610, e a seguir por quase uma dcada, a lei da Virgnia exigia presena nos cultos de domingo, sob pena de morte a partir da terceira ausncia (no encontramos registros de algum que tenha realmente sido executado). Na Nova Inglaterra, ao contrrio, os colonizadores das colnias de Plymouth (1620) e da Baa de Massachusetts (1630) que mais tarde vieram a se juntar eram puritanos, membros de dois grupos diferentes de reformistas que rejeitavam as prticas da Igreja da Inglaterra. Em Plymouth, os Peregrinos Separatistas que haviam se estabelecido anteriormente na Holanda colocavam-se totalmente margem da igreja inglesa. Na grande colnia da Baa de Massachusetts, os no-separatistas esforaram-se para transformar a Igreja da Inglaterra internamente. Ambos os grupos enfatizavam o papel da converso a um cristianismo puro e verdadeiro, baseado na experincia religiosa pessoal. Ambos foram fortemente influenciados pela teologia calvinista, com sua mensagem da soberania de Deus, do estado de pecado da humanidade e da arbitrariedade da eleio divina glria celestial ou ao fogo eterno do inferno. Ambos tambm admiravam a igreja livre ou reunida que se originara na Reforma Anabatista (Radical) da Europa do sculo 16. Os dois grupos tambm enfatizavam o papel dessa igreja congregacional reunida como mantenedora de um acordo entre o povo e o Deus Todo-Poderoso.

    Mesmo os reformistas puritanos da Baa de Massachusetts, contudo, no eram puros o suficiente para alguns dos novos colonizadores protestantes. Rhode Island, por exemplo, tornou-se o reduto de crentes batistas aps Roger Williams ter fundado a colnia em 1636. Williams havia sido exilado da Baa de Massachusetts quando se tornou cada vez mais claro que ele no considerava seus companheiros puritanos bons o suficiente. Em Rhode Island,

    juntaram-se a ele outros dissidentes religiosos, tais como Anne Hutchison, que alegava estar sob orientao direta do Esprito Santo. Mais para o sul, os protestantes de Nova York incluam os colonizadores holandeses reformados de seus primeiros dias como colnia de Nova Amsterd. Alm disso, outros grupos protestantes europeus calvinistas franceses, luteranos alemes, congregacionalistas da Nova Inglaterra, quakers e batistas instalaram-se l, ainda que a colnia se identificasse oficialmente como anglicana (ver Richard W. Pointer, Protestant Pluralism and the New York Experience: A Study of Eighteenth-Century Religious Diversity [O Pluralismo Protestante e a Experincia de Nova York: : Estudo da Diversidade Religiosa do Sculo 18], [Bloomington: Indiana University Press, 1988). Os nova-iorquinos chegaram a considerar sua diversidade positiva, percebendo seus benefcios polticos e religiosos.

    Em Nova Jersey, por sua vez, os holandeses e outros imigrantes da Europa Setentrional juntaram-se aos habitantes da Nova Inglaterra e aos colonizadores quakers ingleses. Em especial na Pensilvnia, os quakers encontraram refgio seguro e assumiram uma posio de comando durante algum tempo. Uma ideologia de tolerncia predominou aps William Penn tornar a Pensilvnia uma colnia quaker a partir de 1681. Penn, filho de almirante e quaker convertido, obteve direito de propriedade sobre a colnia ao receber um

    Janela de vitrais instalada na Primeira Igreja Batista Africana em Savannah, na Gergia, construda em 1859 por negros livres e escravos. A igreja atual evoluiu de uma congregao organizada em 1788, considerada a mais antiga entre as congregaes afro-americanas nos Estados Unidos

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    grande territrio como pagamento de uma antiga dvida que o duque de York contrara com seu pai. Os quakers, com suas crenas msticas na luz divina presente em tudo, traduziram sua mensagem religiosa em refgio social e poltico para tudo. Na Pensilvnia havia liberdade de culto e respeito aos direitos de conscincia. Surpreendentes eram ainda a preocupao de Penn com os povos indgenas ao estabelecer tratados com eles e sua atitude de evitar a guerra como iniciativa poltica.

    Missionrios ingleses quakers e batistas espalharam-se por todas as partes do Sul americano, e a diversidade religiosa tornou-se uma caracterstica normal do cenrio religioso. Tambm os presbiterianos foram parte importante da mistura, bem como uma srie de outros grupos dissidentes menores. Enquanto isso, os sectrios alemes espalharam-se pela Pensilvnia e por outros lugares menonitas, dunkers e pietistas morvios, entre outros. Onde quer que os que os alemes e escandinavos se estabelecessem, desenvolvia-se tambm uma forte presena luterana, bem como uma representao reformada (calvinista) entre os alemes.Tambm estavam presentes o que poderamos chamar hoje de grupos marginais, como a comunidade Woman in the Wilderness, no muito distante da Pensilvnia irmandade esotrica que praticava uma verso dos elementos pagos, cristos e judeus misturados em sua prpria forma de religio natural.

    a infLunCia dos ressurgimentos

    Com tal mistura de identidades e vises religiosas

    concorrentes entre pessoas que freqentemente tinham inclinao missionria, os ressurgimentos episdios de intensa evangelizao em massa tornaram-se comuns no sculo 18.Essas reunies exaltavam emoes e abalavam convices, de modo que as pessoas comuns se comprometiam com novos grupos religiosos ou retornavam aos antigos. Os historiadores gostam de indicar o perodo do final da dcada de 1730, passando pelas dcadas de 1740 e 1750, como uma poca de ateno especial aos apelos do ressurgimento (ver William G. McLoughlin, Revivals, Awakenings, and Reform: An Essay on Religion and Social Change in America, 1607-1977 [Ressurgimentos, Despertares e Reforma: Ensaio sobre Religio e Mudana Social nos Estados

    Unidos, 1607-1977], Chicago: University of Chicago Press, 1978). Chamado de o Grande Despertar ou, s vezes, de Primeiro Grande Despertar, esse perodo foi dominado pela pregao de duas figuras. A primeira delas foi o pregador itinerante ingls George Whitefield, seguidor de John Wesley (fundador do metodismo), com tendncias calvinistas, que imigrou para as colnias da Amrica do Norte e pregava para arrecadar fundos para um orfanato nas colnias do sul da Gergia. A segunda foi o puritano Jonathan Edwards, considerado o maior telogo dos Estados Unidos, que de seu plpito em Northampton, Massachusetts, reviveu a austera mensagem calvinista de predestinao e condenao para os no escolhidos para a salvao. Esses pregadores do ressurgimento tambm no estavam sozinhos. Nas colnias centrais, por exemplo principalmente Pensilvnia e Nova Jersey os presbiterianos tambm ofereciam sua prpria verso do despertar.

    A linguagem do ressurgimento tornou-se aparentemente a linguagem religiosa dos Estados Unidos. De fato, os historiadores apontam para o papel do ressurgimento na criao e na promoo da dissenso religiosa, ainda que observem seu papel na unio dos colonos no que diz respeito ao compartilhamento de uma base comum. Com relao a isso, uma tese conceituada que explica como a Revoluo Americana tornou-se ideologicamente possvel no final do sculo 18 argumenta que o Grande Despertar teve papel significativo na produo do sentido de identidade comum, o qual seria absolutamente necessrio para iniciar a Revoluo (ver Alan Heimert, Religion and the American Mind: From the Great Awakening to Revolution [Religio e a Mente Americana: do Grande Despertar Revoluo], Cambridge: Harvard University Press, 1966). A despeito da maneira como consideramos esse argumento, fica claro que no final do sculo 18 a diversidade religiosa americana era surpreendentemente aparente, e ela continua a ser uma caracterstica distintiva no cenrio social da nao hoje em dia.

    As opinies expressas neste artigo no refletem necessariamente a posio nem as polticas do governo dos EUA.

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    Nos Estados Unidos coexistem muitos grupos religiosos diferentes, todos usufruindo o direito de seguir suas crenas com a proteo legal da Constituio dos EUA.

    Brian J. Grim, pesquisador snior de Religio e Assuntos Mundiais, e David Masci, pesquisador snior de Religio e Direito, trabalham no Frum Pew sobre Religio e Vida Pblica. O Frum um projeto do Centro de Pesquisa Pew, organizao apartidria localizada em Washington, D.C., que fornece informaes sobre questes, atitudes e tendncias que moldam os Estados Unidos e o mundo.

    Os Estados Unidos so um dos pases de maior diversidade religiosa do mundo inteiro. Na realidade, com adeptos de todas as religies mais importantes do mundo, os Estados Unidos so de fato uma nao de minorias religiosas. Embora o protestantismo continue a ser o ramo do cristianismo predominante nos Estados Unidos, a tradio protestante encontra-se dividida em dezenas de denominaes principais, todas com crenas, prticas religiosas e histricos exclusivos. Alm disso, nos ltimos anos o predomnio do cristianismo protestante nos Estados Unidos tem diminudo. De fato, recente pesquisa

    de opinio pblica efetuada pelo Frum Pew sobre Religio e Vida Pblica revelou que os Estados Unidos esto na iminncia de se tornar um pas de minoria protestante pela primeira vez na sua histria. O nmero de americanos que dizem ser membros de credos protestantes soma agora apenas 51%, bem abaixo dos mais de 60% dos anos 1970 e 1980.

    Os catlicos romanos respondem por cerca de um quarto dos adultos dos EUA, e os membros de outros credos cristos chegam a outros 3,3%. De modo geral, quase 8 em 10 adultos declaram pertencer a diversas formas de cristianismo. Outras religies mundiais incluindo o judasmo, o islamismo, o hinduismo e o budismo tm agora seguidores na ordem de 5% da populao adulta dos EUA. Quase um em cada seis adultos no afiliado a uma religio especfica, uma populao que vem crescendo nas ltimas dcadas.

    A diversidade religiosa dos Estados Unidos impulsionada por vrios fatores, entre eles a imigrao. Essa diversidade reflete tambm as protees livre prtica da religio garantidas pela Constituio dos EUA. No apenas os imigrantes se sentem livres para trazer com eles suas crenas e prticas religiosas, como tambm muitos americanos decidem mudar de afiliao religiosa no mnimo uma vez

    A Demografia da FBrian J. Grim e David Masci

    Reunio na Igreja Presbiteriana de Cristo em Edina, Minnesota

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    na vida. Na realidade, de acordo com pesquisa efetuada em meados de 2007, mais de um quarto dos adultos americanos abandonaram o credo em que foram criados a favor de outra religio ou de nenhuma religio , isso sem contar as mudanas de afiliao de um tipo de protestantismo para outro.

    os direitos reLigiosos nos estados unidos

    A Constituio dos EUA oferece proteo para as minorias religiosas e para as prticas religiosas em geral. Essas garantias esto includas no que so chamadas clusulas de Livre Exerccio e Estabelecimento de Religio da Primeira Emenda da Constituio. A Primeira Emenda, que tambm garante a liberdade de expresso e de reunio, foi promulgada em 1791, junto com as outras nove emendas que compem a Declarao de Direitos.

    Os redatores da Primeira Emenda, particularmente James Madison (arquiteto fundamental da Constituio e quarto presidente dos EUA), tinham plena conscincia de que as diferenas religiosas levaram a sculos de conflitos violentos na Europa. Eles tambm se opuseram s polticas de alguns estados americanos feitas nessa poca para impor restries sobre determinados credos religiosos em favor de igrejas sancionadas ou estabelecidas pelo Estado. Em especial, Madison acreditava que limites sobre a liberdade de culto, junto com as iniciativas do governo para criar uniformidade religiosa, violavam os direitos individuais fundamentais. Ele tambm argumentava que a crena religiosa prosperaria mais em um ambiente em que o governo protegesse a liberdade religiosa das pessoas, mas no apoiasse instituies religiosas. Esses dois objetivos so a base das clusulas da Primeira Emenda sobre religio.

    Mesmo na poca de Madison, no entanto, havia muita discordncia sobre o significado exato das clusulas sobre religio, as quais declaram que o Congresso no legislar sobre o estabelecimento de uma religio ou proibio de seu livre exerccio. Conseqentemente, foi deixado em grande parte aos tribunais determinar o significado exato das clusulas de Estabelecimento e Livre Exerccio de Religio.

    Embora todos concordem que a Primeira Emenda probe a criao de uma igreja apoiada pelo governo, a concordncia termina essencialmente a. Alguns argumentam, por exemplo, que a Clusula de Estabelecimento impede qualquer envolvimento do governo com religio. Eles acreditam, como escreveu Thomas Jefferson, um dos fundadores dos Estados Unidos, que existe um muro de separao entre a igreja e o Estado. Outros argumentam que o Estado pode apoiar atividades e instituies religiosas desde que isso no favorea uma crena em detrimento de outra. Quando as

    disputas sobre prtica religiosa chegaram ao sistema jurdico, os tribunais traaram uma linha entre esses dois pontos de vista. De modo geral, eles decidiram que o governo pode reconhecer amplamente a religio por exemplo, na moeda e em declaraes e juramentos e pblicos , mas derrubaram leis que parecem promover a religio como o ensino da Bblia em escolas pblicas.

    A clusula de Livre Exerccio tambm foi objeto de muitos debates e de muita discordncia. Embora os tribunais tenham determinado de modo coerente que a clusula protege todas as crenas religiosas, trataram as prticas e atividades religiosas de modo diferente. Em geral, os tribunais

    Entre todos os adultos %

    Crist 78,4 Protestante 51,3 Igrejas evanglicas 26,3 Igrejas da corrente principal 18,1 Igrejas hist. de negros 6,9 Catlica 23,9 Mrmon 1,7 Testemunhas de Jeov 0,7 Ortodoxa 0,6 Outras religies crists 0,3

    Outras religies 4,7 Judaica 1,7 Budista 0,7 Muulmana* 0,6 Hindu 0,4 Outras religies mundiais

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    consideraram que a Primeira Emenda no d s pessoas de f um cheque em branco para ignorar a lei. No entanto, algumas decises dos tribunais concederam excees especiais para grupos religiosos, inclusive para as crenas das minorias. Por exemplo, em 1943 a Suprema Corte dos EUA manteve o direito de testemunhas-de-jeov se recusarem a participar de cerimnias de saudao obrigatria bandeira com base em suas crenas religiosas.

    o panorama reLigioso dos eua

    Nesse contexto legal, uma grande diversidade de expresso religiosa floresceu nos Estados Unidos. No so mantidas estimativas oficiais do nmero de grupos religiosos nos Estados Unidos, porque desde fins dos anos 1950 o Bureau do Censo dos EUA no fez nenhum levantamento dos cidados quanto a crena religiosa ou participao em grupos religiosos. Uma boa fonte de informao sobre religio nos Estados Unidos vem atualmente do Levantamento do Panorama Religioso dos EUA do Frum Pew. Com base em entrevistas com mais de 35 mil adultos, o levantamento detalha a grande diversidade de afiliaes religiosas dos Estados Unidos no incio do sculo 21.

    Grandes grupos religiosos: o levantamento revela que quase 8 em 10 adultos dos Estados Unidos pertencem a uma igreja ou credo cristo. Os membros de igrejas protestantes constituem agora uma escassa maioria (51,3%) da populao adulta. Mas nos Estados Unidos o protestantismo no homogneo; ao contrrio, est dividido em trs tradies religiosas distintas igrejas protestantes evanglicas (26,3% da populao adulta em geral e cerca da metade de todos os protestantes); igrejas protestantes da linha principal (18,1% da populao adulta e mais de um tero de todos

    os protestantes); e igrejas protestantes historicamente afro-americanas (6,9% da populao adulta em geral e um pouco menos de um stimo de todos os protestantes). O protestantismo compreende tambm vrios grupos de denominaes (por exemplo, batista, metodista e pentecostal) que se enquadram em uma ou mais das tradies acima.

    Os catlicos romanos respondem por quase um quarto (23,9%) da populao adulta e por cerca de 3 em cada 10 cristos americanos. Entre a populao adulta nascida no pas, o nmero de protestantes supera muito o de catlicos (55% de protestantes contra 21% de catlicos). Mas entre os adultos nascidos no exterior, o nmero de catlicos supera o de protestantes em uma proporo de quase dois para um (46% de catlicos contra 24% de protestantes).

    Minorias de religies menores: estima-se que a parcela de muulmanos da populao adulta dos EUA seja de 0,6%, de acordo com o levantamento nacional de 2007 do Centro de Pesquisa Pew sobre muulmanos americanos, realizado em rabe, urdu e farsi, alm do ingls. Cerca de dois teros dos muulmanos americanos so imigrantes. Apesar disso, o levantamento descobriu que eles so francamente da corrente principal no que diz respeito a aparncia, valores e atitudes. Na sua esmagadora maioria, os muulmanos americanos acreditam que trabalhar duro compensa, crena que se reflete no fato de a renda e os nveis de educao dos muulmanos americanos geralmente espelharem os do pblico geral americano. Os muulmanos constituem tambm o grupo mais diversificado em termos de raa dos Estados Unidos. Mais de um muulmano em trs branco, cerca de um em quatro negro, um em cinco asitico e quase um em cinco de outras raas.

    Os hindus respondem por aproximadamente 0,4% da populao adulta dos EUA, de acordo com o Levantamento do Panorama Religioso do Frum Pew. Mais de 8 em 10 hindus americanos nasceram no exterior, provenientes quase exclusivamente do Centro-Sul da sia. Quase metade dos hindus dos Estados Unidos possui ps-doutorado, em comparao com apenas cerca de 1 em 10 da populao adulta em geral. Os hindus tm tambm maior probabilidade de obter nveis de renda mais altos do que os dos outros grupos, com mais de 4 em 10 ganhando acima de US $100 mil por ano.

    Os budistas constituem 0,7% dos adultos dos EUA. Contrastando com o islamismo e o hinduismo, nos Estados Unidos o budismo composto basicamente por adeptos nascidos no pas, brancos e convertidos. Somente um em trs budistas americanos descreve sua raa como asitica, e quase trs em quarto budistas se declaram convertidos ao budismo. Um quarto dos budistas possui ps-doutorado, porcentagem muito maior do que entre a populao adulta em geral.

    Devotos da Igreja de Pentecostes no Bronx, Nova York, onde tendncias recentes da imigrao levaram ao estabelecimento de um nmero maior de igrejas evanglicas

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    O levantamento constata que a maioria dos judeus americanos se identifica com um dos trs grupos judeus mais importantes: Reformista (43%), Conservador (31%) e Ortodoxo (10%). Mais de 8 em 10 judeus foram criados como judeus, e cerca de 7 em 10 so casados com algum que compartilha sua f judaica. Mais de um tero dos judeus possui ps-doutorado e eles, como os hindus, tm nvel de renda muito mais elevado que o da populao em geral.

    Grande nmero de americanos pertence a um terceiro ramo importante do cristianismo global a ortodoxia , cujos adeptos respondem agora por 0,6% da populao adulta. Alm disso, o cristianismo americano inclui nmeros razoveis de mrmons e de testemunhas-de-jeov. Os mrmons respondem por 1,7% da populao adulta. Aproximadamente 6 em 10 mrmons tiveram no mnimo alguma instruo universitria, em comparao com metade da populao geral dos EUA. Os mrmons tendem a ter nvel de renda ligeiramente superior mdia, com a maioria (58%) ganhando mais de US $50 mil por ano. Os testemunhas-de-jeov respondem por 0,7% da populao adulta. Mais de dois teros dos testemunhas-de-jeov so convertidos de outro credo ou no eram afiliados a nenhuma religio especfica quando crianas.

    O levantamento revela que 16,1% da populao adulta declara no ser afiliada a nenhuma religio especfica, fazendo dos no-afiliados a quarta maior tradio religiosa nos Estados Unidos. Mas o levantamento tambm mostrou que a populao no afiliada muito diversificada e que simplesmente no seria correto descrever todo esse grupo como no religioso ou secular. De fato, a despeito de sua falta de afiliao a um grupo religioso especfico, grande parte do grupo diz que a religio razoavelmente importante ou muito importante em sua vida.

    Somente 1,6% da populao adulta dos Estados Unidos declara ser atesta, e a probabilidade de os homens afirmarem isso duas vezes maior que a das mulheres. Os adultos mais jovens (abaixo dos 30 anos) tambm tm maior probabilidade de ser ateus do que a populao adulta como um todo.

    Distribuio geogrfica dos grupos religiosos:o levantamento revelou que cada regio dos Estados Unidos exibe um padro diferente de afiliao religiosa. O Meio Oeste, ou a parte central do pas, assemelha-se mais composio religiosa geral de toda a populao. Cerca de um quarto (26%) dos habitantes do Meio Oeste membro de uma igreja protestante evanglica, cerca de um em cinco (22%) membro de uma igreja protestante da linha principal, quase um quarto (24%) catlico e 16% no tm nenhuma afiliao. Essas propores so quase idnticas s constatadas pela pesquisa para o pblico em geral.

    O Nordeste tem mais catlicos (37%) do que outras regies e o menor nmero de pessoas afiliadas a igrejas protestantes evanglicas (13%). Os moradores dessa regio tm muito mais probabilidade de ser judeus (4%) do que as pessoas que vivem em outras regies. Contrastando com isso, exatamente a metade dos membros das igrejas protestantes evanglicas vive no Sul, em comparao com apenas 10% no Nordeste e 17% no Oeste. A vasta maioria dos mrmons (76%) vive no Oeste, com maior concentrao no estado de Utah. O Oeste tambm tem a maior proporo de pessoas no afiliadas a uma religio especfica (21%), inclusive o maior nmero de ateus e agnsticos.

    a reLigio ameriCana: diversifiCada e no dogmtiCa

    Talvez refletindo a grande diversidade religiosa dos Estados Unidos, a maioria dos americanos concorda com a afirmao de que vrias religies no somente a deles podem conduzir vida eterna. Na realidade, o levantamento revelou que a maioria dos americanos tambm no dogmtica quando se trata de interpretar as doutrinas de sua prpria religio. Por exemplo, mais de dois teros de adultos afiliados a uma tradio religiosa concordam que h mais de um modo verdadeiro de interpretar os ensinamentos de seu credo. A falta de dogmatismo na religio americana, combinada com as protees legais concedidas a todos os grupos religiosos, significa que as minorias religiosas provavelmente continuaro a encontrar um lar acolhedor nos Estados Unidos.

    As opinies expressas neste artigo no refletem necessariamente a posio nem as polticas do governo dos EUA

    Em Fort Wayne, Indiana, membros do Templo Budista Mon se renem para uma prece durante celebrao da vida do monje Luang Phot Uttama, falecido em 2006. Os budistas do Mon referiam-se a ele como seu Dalai Lama

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  • eJournal USA 16

    O Congresso no legislar sobre o estabelecimento de uma religio ou proibio de seu livre exerccio...

    When citizens believe that a law violates this principle of the U.S. Constitution, they turn to the courts, constitutionally designated as the guardians of these principles. Citizens will challenge a law for impermissibly establishing a faith or for restricting their free exercise of religious practice. The court must decide whether the laws of the day have strayed from that fundamental principle of religious freedom.

    A revista eJournal USA solicitou a Andrew C. Spiropoulos, professor de Direito e diretor do Centro de Estudos de Direito Constitucional Estadual e Governo da Faculdade de Direito da Universidade da Cidade de Oklahoma, que elaborasse vrios casos jurdicos hipotticos sobre a Clusula de Livre Exerccio e Estabelecimento de Religio. Para cada caso, Spiropoulos criou pessoas e lugares fictcios. Ele imaginou

    um conjunto de fatos, descreveu os respectivos argumentos jurdicos dos querelantes e do governo e fez sugestes sobre como o tribunal provavelmente se pronunciaria em cada caso especfico. As decises so apenas interpretaes de como agiria a Justia, mas so baseadas em decises judiciais reais. Lidos em conjunto, esses cenrios descrevem as linhas imprecisas, mas reais, entre aes governamentais permitidas e proibidas no tocante a assuntos de religio.

    Cenrio 1

    Fatos: William Davis praticante de uma religio amerndia. Um dos sacramentos mais importantes dessa religio exige o uso de um narctico. A posse dessa droga considerada crime grave pela legislao do estado de West Mountain, onde Davis mora. Ao descobrir que ele usava a droga nos cultos religiosos, o patro de Davis o despediu.

    Liberdade de Culto e os TribunaisAndrew C. Spiropoulos

    O prdio da Suprema Corte dos EUA em Washington, DC, tem sido palco de muitas manifestaes sobre interpretaes de leis contemporneas e as protees constitucionais da religio. Com freqncia, esses casos se tornam de tal forma controversos que as multides se renem em frente ao prdio da Suprema Corte para manifestar seus pontos de vista com cartazes, msicas e palavras de ordem

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  • eJournal USA 17

    Como Davis foi demitido por fazer algo ilegal, o estado de West Mountain se recusou a conceder-lhe os benefcios estaduais normalmente concedidos s pessoas que perdem o emprego. Davis processou o estado de West Mountain exigindo receber seus benefcios, porque acreditava que a Constituio dos Estados Unidos no permitia ao estado de West Mountain decidir pela ilegalidade do uso de drogas em cultos religiosos. Argumentao do autor da ao: Davis argumentou que, ao reter seus benefcios, o estado estava limitando de forma equivocada seu direito de exercer livremente sua religio conforme assegurado pela Primeira Emenda da Constituio dos EUA. Segundo ele, a lei citada pelo estado para negar-lhe os benefcios de desemprego uma legislao que criminaliza a posse da droga viola a Constituio ao dificultar, se no impedir, que ele pratique sua religio. Essa lei obriga Davis a infringir as regras da sua crena ou a ser preso por violar a legislao sobre drogas. A Constituio, explica Davis, s permite ao estado impedir que algum pratique sua religio se: (1) o estado tiver razo muito importante e (2) a lei for a nica forma de o estado atingir sua meta. No caso em questo, argumenta Davis, o estado no tem uma boa razo para impedir que ele use a droga durante o culto religioso. Ele no est causando mal a si mesmo nem a outras pessoas; no est usando a droga como as pessoas que abusam da droga por prazer; e nem tem a inteno de vender a droga a ningum. O estado, em outras palavras, no pode provar que essa lei tenha sentido no caso de Davis. Sem que haja uma razo convincente para limitar a liberdade de religio de Davis, a Constituio no permite que o estado lhe imponha uma punio. Argumentao do governo: o estado argumenta que no est retirando o direito de Davis exercer livremente sua religio. A lei proibindo a posse do narctico no se aplica exclusivamente s pessoas religiosas; ela se aplica a todos. O estado diz ter autoridade constitucional para exigir que Davis obedea essa lei da mesma maneira que exige a obedincia de todas as outras pessoas, religiosas ou no. O estado argumenta que no necessita comprovar ter uma razo muito importante para aplicar a lei, e que a lei a nica maneira de atingir aquela meta. A nica coisa necessria mostrar uma razo legtima para a lei, e o estado apresenta uma: ser mais fcil para o governo aplicar a legislao contra o uso ilegal de drogas se no precisar se preocupar em fazer excees para pessoas como Davis, que acreditam ter uma boa razo para violar a lei. Provvel deciso: nesse caso, a Justia provavelmente decidir a favor do estado. O tribunal dever sustentar que, embora a aplicao da lei dificulte ou talvez quase torne

    impossvel a algum praticar sua religio, a Constituio no d a nenhuma pessoa religiosa o direito de desobedecer a lei. Como a lei diz respeito a todos, religiosos ou no, e aplicada de modo imparcial contra todos que a violam, ento o estado pode aplicar a lei pessoa religiosa, desde que consiga apresentar uma razo sensata para tal lei. Em outras palavras, o estado no precisa isentar pessoas religiosas das exigncias de uma legislao imparcial.

    Cenrio 2

    Fatos: a Igreja da Nova Ordem pratica a f utopiana. Sua liturgia inclui o sacrifcio de animais, como a matana de pombos, galinhas, cabritos e carneiros. O sacrifcio de animais uma parte importante dos cultos utopianos, inclusive dos sacramentos, da iniciao de novos membros e sacerdotes, das oraes para os doentes e de uma celebrao anual. Muitos habitantes da cidade de Palm Leaf, onde a igreja deseja se estabelecer, esto preocupados com a prtica de sacrificar animais. Eles consideram essa prtica repugnante e perturbadora e acreditam que poder causar riscos sade pblica. Solicitaram Prefeitura que impedisse a igreja de sacrificar animais. A cidade aprovou uma lei que torna ilegal a matana de animais para uso em rituais e cerimnias, mas no para fins de alimentao, vesturio, esporte, experimentos cientficos e controle de pragas. A igreja processou a Prefeitura a fim de impedir a interferncia em seus servios religiosos. Argumentao da autora da ao: para a igreja, a portaria de Palm Leaf proibindo a matana de animais impede seus membros de exercer o direito garantido pela Constituio de praticar livremente sua religio. Sua argumentao de que a lei no trata igualmente as pessoas religiosas e as no religiosas. Embora aparentemente a portaria se aplique a todos, uma leitura mais atenta revela que ela se aplica exclusivamente s pessoas religiosas. S as pessoas religiosas matam animais como parte de um ritual ou de uma cerimnia, e s esse tipo de matana de animais considerado ilegal. Vrios outros tipos de abate de animais, como matar para comer ou durante a caa esportiva, no so proibidos. Fica claro tambm que a cidade aprovou essa lei com a inteno de impedir as pessoas de praticar a religio utopiana. A portaria s foi adotada em resposta s reclamaes hostis de outros moradores da cidade. A Constituio, no mnimo, exige que o governo no faa discriminao entre cidados religiosos e no religiosos, nem que aja deliberadamente com hostilidade contra alguma religio. No caso de Palm Leaf, uma pessoa pode ser acusada de crime por praticar sua religio, ao passo que outra que cometa o mesmo ato

  • eJournal USA 18

    por razes no religiosas no ser acusada. O governo precisa ter uma razo muito importante para tratar de forma diferente pessoas religiosas e no religiosas. Nesse caso, no h diferena real entre o abate de animais por pessoas religiosas e por outra pessoa qualquer. Argumentao do governo: a Prefeitura argumenta que a lei no visa as pessoas religiosas e nem as trata de forma diferente. A lei se aplica a todos, religiosos ou no, que matem animais como parte de um ritual ou de uma cerimnia, e h muitas cerimnias desse tipo que no so religiosas. Caadores que matam por esporte ou aougueiros que matam por alimento, abatem animais por um motivo prtico, no como parte de alguma cerimnia. Isso diferente de matar por razes cerimoniais, portanto, pode e deve ser tratado de forma diferente pela lei. Uma pessoa no impedida de exercer seu direito constitucional de praticar livremente a religio quando a lei se aplica igualmente a todos, tanto s pessoas religiosas quanto s no religiosas. Isso verdadeiro ainda que a lei dificulte a prtica de alguma religio. Provvel deciso: nesse caso, a Justia provavelmente decidir a favor da Igreja Utopiana. Embora parea que a portaria se aplique a todas as pessoas, independentemente da religio ou da falta de religio, bvio que a lei no trata da mesma maneira as pessoas religiosas e as no religiosas. A lei foi elaborada com a inteno de ser aplicada s pessoas religiosas que matam animais como

    parte de seus cultos, ao passo que isenta todas as pessoas que matam animais por outras razes. Uma pessoa impedida de exercer seu direito de praticar livremente sua religio quando o governo a trata de forma diferente da que trata pessoas no religiosas, a menos que o governo comprove: (1) que h uma razo muito importante para a lei e (2) que a lei absolutamente necessria para atingir aquela meta. Nessa situao, as razes para limitar ou impedir o abate de animais aplicam-se igualmente s pessoas religiosas e s no religiosas. A nica explicao sensata para essa distino a hostilidade do governo contra a religio utopiana.

    Cenrio 3

    Fatos: Michelle Rivers, de 14 anos, acabou de se formar em uma escola pblica de ensino mdio. A escola realiza uma cerimnia para homenagear os formandos. Esses eventos normalmente so muito importantes para os formandos e seus familiares. A escola convidou um pastor para fazer oraes no incio e no fim da cerimnia de formatura de Michelle. As oraes faziam referncia a Deus de uma maneira genrica e no a uma crena religiosa especfica sobre Deus. Os alunos no precisavam rezar nem ficar em p durante as oraes. Os alunos tambm no precisavam participar da cerimnia para se formar. Michelle processou a escola porque acredita

    Diversas comunidades americanas foram campo de batalhas jurdicas sobre a instalao de monumentos em homenagem aos Dez Mandamentos da Bblia. No condado de Lawrence, em Indiana, um grupo de defesa das liberdades civis foi Justia para impedir a instalao de um monumento no gramado do prdio do tribunal. Aqui, trabalhadores retiram o monumento para acatar uma deciso judicial

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    que a Constituio no permite a uma escola pblica patrocinar uma orao na cerimnia de formatura. Argumentao da autora da ao: Michelle argumenta que ao patrocinar uma orao, a escola (uma instituio governamental) viola a Primeira Emenda que probe o estabelecimento de uma religio. Para Michelle, o governo pratica uma infrao sempre que suas aes demonstrem endosso a uma religio, ainda que genrica, em detrimento da falta de religio, ou quando oferece qualquer tipo de apoio disseminao de uma religio. Nesse caso, ao patrocinar as oraes durante a cerimnia, o governo favorece a religio e d sinais de disposio de apoi-la. Alm disso, o governo est estabelecendo uma religio ao forar Michele a rezar ou, no mnimo, mostrar respeito a crenas que ela no apia. O governo no pode condicionar a participao de Michelle na cerimnia, um evento importante na sua vida, demonstrao de respeito pela religio. Argumentao do governo: a escola argumenta que Michelle no est sendo forada a demonstrar apoio nem mesmo respeito pela religio. Ela no obrigada a

    participar da cerimnia e, caso participe, no obrigada a rezar nem a ficar em p enquanto os outros rezam. Segundo a escola, no ilegal apoiar ou endossar uma religio. Isso apenas d s pessoas que participam da cerimnia a oportunidade, caso queiram ou acreditem, de expressar sua f religiosa. As escolas e outros rgos do governo oferecem essas oportunidades de orao desde os primrdios da nao, e poucos diriam que essas prticas histricas obriguem as pessoas a ser religiosas ou a fornecer qualquer apoio tangvel religio. Provvel deciso: nesse caso, a Justia provavelmente decidir a favor de Michelle. O governo no pode forar Michelle a escolher entre participar da cerimnia de sua formatura, um evento importante na sua vida, e for-la a expressar respeito por crenas que ela no compartilha. irrealista esperar que Michelle, uma menor de idade, enfrente a desaprovao de seus colegas por se recusar a ficar de p ou a permanecer no recinto para ouvir as oraes durante a cerimnia. Portanto, ela fingir para todos os presentes que est rezando ou no mnimo respeitando a importncia da orao. A Constituio

    Esta exposio no Museu da Liberdade McCormick em Chicago, Illinois, tem como objetivo ajudar os visitantes a entender melhor as liberdades de expresso, religio, imprensa e reunio de que trata a Primeira Emenda. O museu foi inaugurado em 2006, patrocinado pela Fundao McCormick, doado por um ex-editor do jornal Chicago Tribune, Charles McCormick

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    no permite que se force uma religio a uma pessoa no crente. Ademais, o governo no pode usar seus poderes e recursos para disseminar ou encorajar uma crena religiosa. Ao patrocinar uma orao em uma cerimnia pblica, o governo diz aos participantes acreditar que religio uma coisa importante e boa. Quando o governo passa a mensagem que endossa a crena religiosa, ele estabelece religio em violao Constituio.

    Cenrio 4

    Fatos: o prdio do Capitlio estadual em Metropolis, New Hudson, est cercado por uma grande rea de parque de propriedade do estado, com vrios monumentos. Um desses monumentos uma estrutura de pedra de dois metros de altura com a inscrio dos Dez Mandamentos. O monumento est localizado entre o Capitlio, que abriga o legislativo estadual, e o prdio que abriga a Suprema Corte estadual. No monumento h uma inscrio dizendo que ele foi doado ao estado h 40 anos por um grupo de cidados. Henry Mencken, morador de Metropolis, passa freqentemente pelo monumento a caminho do trabalho. Mencken no tem religio e no gosta que um monumento pertencente ao estado e mantido pelo estado expresse apoio a crenas religiosas especficas. Ele processa o estado para que o monumento seja retirado. Argumentao do autor da ao: Mencken argumenta que, ao colocar um monumento com mensagem religiosa em uma propriedade do estado, New Hudson estabelece religio em violao Primeira Emenda. Para ele, qualquer pessoa razovel que passeie pelo parque uma das reas pblicas mais importantes do estado e leia o monumento concluir que o estado de New Hudson apia as crenas religiosas expressas nos Dez Mandamentos. Mencken afirma que a Constituio no permite ao governo usar sua autoridade e seus recursos para endossar ou disseminar crenas religiosas especficas. Ele insiste que o monumento deve ser retirado da propriedade pblica.

    Argumentao do governo: o estado argumenta que nada sobre o monumento reflete esforo do estado para estabelecer uma religio. O monumento no demonstra que New Hudson esteja tentando impor uma religio a seus cidados, nem mesmo que apie a religio. O monumento, localizado em um parque que abriga mais de 30 outros monumentos, apenas indica o fato histrico de que as crenas contidas nos Dez Mandamentos foram muito importantes para as pessoas que fundaram o estado. A maioria das pessoas que passeia pelo parque e l o monumento o considera apenas um dos vrios monumentos que homenageiam alguma coisa importante da histria de New Hudson. Na opinio dessas pessoas o monumento no est passando uma mensagem sobre o que o estado de New Hudson acredita atualmente sobre religio. Nada nesse monumento viola a lei, argumenta o governo, e ele deve permanecer onde est. Provvel deciso: nesse caso, a Justia provavelmente decidir a favor do estado. O monumento no expressa nem a crena nem o apoio a uma religio. Na verdade, o monumento testemunho da importncia da crena religiosa na histria de New Hudson. A maioria das pessoas acredita que o monumento expresse uma mensagem histrica, no religiosa, porque est em uma rea cercada por outros monumentos e marcos que tambm expressam mensagens histricas. claro tambm que a maioria das pessoas que v o monumento no acha que o governo esteja impondo uma mensagem religiosa, pois o monumento est ali h muitos anos sem que houvesse reclamaes. Ele aceito pelas pessoas do estado como parte da sua histria e, portanto, no pode ser visto como uma tentativa do governo de estabelecer religio em violao Constituio.

    As opinies expressas neste artigo no refletem necessariamente a posio nem as polticas do governo dos EUA.

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    Resumo das decises marcantes da Suprema Corte compiladas pelo Frum Pew sobre Religio e Vida Pblica

    Reynolds vs. Estados Unidos (1879) Manteve a condenao bem-sucedida de um mrmon proeminente pela prtica de bigamia em Utah.

    Cantwell vs. Connecticut (1940)Ao anular uma condenao por perturbao da paz, sustentou que a Clusula de Livre Exerccio da Religio se aplica tanto s aes estaduais quanto s federais.

    Distrito da Escola de Minersville vs. Gobitis (1940) Decidiu que a Clusula de Livre Exerccio da Religio no concede s crianas de escolas pblicas o direito de no participar da cerimnia obrigatria de saudao bandeira por motivao religiosa.

    Conselho de Educao da Virgnia Ocidental vs. Barnette (1943) Revogou Gobitis e reconheceu o direito de no participao da cerimnia de saudao bandeira com base no direito de liberdade de expresso e de culto.

    Estados Unidos vs. Ballard (1944) Em um caso envolvendo um curandeiro que afirmava possuir poderes sobrenaturais de cura, decidiu que o governo no pode questionar a veracidade nem a validade da crena religiosa das pessoas, mas livre para examinar se tais crenas so manifestadas com sinceridade.

    Braunfeld vs. Brown (1961) Rejeitou o argumento de empresrios judeus que observavam o Shabat aos sbados e no obedeciam lei que determinava o fechamento do comrcio aos domingos.

    Sherbert vs. Verner (1963) Decidiu que uma poltica de combate ao desemprego da Carolina do Sul, que forava uma empregada a escolher entre o Shabat no sbado (dia sagrado de sua religio) e a elegibilidade para o auxlio-desemprego, violava a Clusula de Livre Exerccio da Religio.

    Wisconsin vs. Yoder (1972) Decidiu que a Clusula de Livre Exerccio da Religio isentava os adolescentes da Antiga Ordem Amish de observar as leis compulsrias de freqncia escolar.

    Universidade Bob Jones vs. Estados Unidos (1983) Rejeitou contestao Primeira Emenda com relao poltica do Departamento da Receita Federal de negar iseno de impostos a instituies educacionais religiosas sem fins lucrativos que mantinham polticas raciais discriminatrias.

    Goldman vs. Weinberger (1986) Decidiu que a Clusula de Livre Exerccio da Religio no isentava um capito judeu da Fora Area da norma que proibia o uso de qualquer pea que cubra a cabea em ambientes internos.

    OLone vs. Comunidade de Shabazz (1987) Decidiu que as consideraes sobre segurana forneciam base razovel para a restrio ao comparecimento de presos a servios religiosos muulmanos.

    Clusula de Livre Exerccio da Religio: Decises Importantes da Suprema Corte

    No incomum ver homens judeus usando o quip no dia-a-dia nos Estados Unidos, nas ruas e em casa. A Suprema Corte dos EUA decidiu, no entanto, que um capito judeu da Fora Area no poderia ficar isento das normas do cdigo de vestimenta que probe o uso de qualquer pea que cubra a cabea em ambientes internos

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    Diviso de Emprego vs. Smith (1990) Sustentou a negao de auxlio-desemprego a dois indgenas americanos conselheiros em reabilitao de drogados que foram demitidos porque ingeriram o alucingeno mescalina como parte de um ritual religioso.

    Igreja de Lukumi Babalu Aye vs. Cidade de Hialeah (1993) Decidiu que as leis da cidade de Hialeah sobre tratamento de animais discriminavam o culto santeriano e suas prticas de sacrifcio de animais.

    Cidade de Boerne vs. Flores (1997) Decidiu que o Congresso no tem poder para substituir o julgamento do Judicirio federal sobre as normas de liberdade religiosa que os estados devem obedecer.

    Locke vs. Davey (2004) Decidiu que um subsdio para o ensino superior do estado de Washington que exclua os que se especializavam em estudos religiosos devocionais era constitucional.

    Cutter vs. Wilkinson (2005)Rejeitou o argumento de que a parte de uma lei federal sobre liberdade religiosa que trata de prisioneiros e outros internos viola a Clusula de Estabelecimento de Religio.

    Gonzales vs. Centro Esprita Beneficente Unio do Vegetal (2006) Decidiu que a RFRA [Lei de Restaurao da Liberdade Religiosa de 1993] protege o direito de uma pequena seita religiosa de importar e usar uma substncia alucingena em seus rituais religiosos.

    Reproduzido com a permisso do Frum Pew sobre Religio e Vida Pblica, www.pewforum.org. Direitos autorais 2007 Centro de Pesquisa Pew.

    As opinies expressas neste artigo no refletem necessariamente a posio nem as polticas do governo dos EUA.

    Alguns itens usados em rituais religiosos dos indgenas americanos incluem a mescalina. A Justia determinou que o uso dessa droga, que de outra maneira seria considerada ilegal, legal no culto indgena

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    A liberdade religiosa considerada um direito humano inviolvel pelas convenes internacionais, e os Estados Unidos se empenham para proteger esses direitos em todo o mundo.

    John Hanford embaixador-geral de Liberdade Religiosa Internacional do Departamento de Estado dos EUA.

    Liberdade religiosa um direito fundamental sacramentado na Primeira Emenda da Constituio dos Estados Unidos e est profundamente enraizada em nossa histria e em nosso carter nacional. importante observar, contudo, que a preocupao dos Estados Unidos com a liberdade religiosa no se limita ao nosso pas. Conscientes de que o direito de crer, praticar e cultuar livremente negado a muitos cidados pelos seus governantes em todo o mundo, os Estados Unidos tm o compromisso de promover e proteger a

    liberdade religiosa em mbito mundial.A liberdade religiosa h muito tempo reconhecida

    como um direito humano inviolvel segundo os tratados e as convenes internacionais, como a Declarao Universal dos Direitos Humanos e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polticos. Com base nesse consenso global, os Estados Unidos trabalham para incentivar todos os governos a cumprir essas obrigaes internacionais comuns sem defender uma abordagem especificamente americana para o problema.

    Em 1998, o Congresso dos EUA aprovou por unanimidade a Lei sobre Liberdade Religiosa Internacional. Essa lei reforou o que historicamente tem sido uma prioridade da poltica externa americana e forneceu novas ferramentas para a defesa e a proteo de liberdade religiosa. Dessa forma, os Estados Unidos promovem a liberdade religiosa para todas as crenas,

    Proteo Liberdade Religiosa Internacional: Consenso Global

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    John V. Hanford III, embaixador-geral de Liberdade Religiosa, ao divulgar a pesquisa anual sobre liberdade religiosa conduzida pelo Departamento de Estado dos EUA

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    incentivando o cumprimento das normas internacionais, condenando violaes da liberdade religiosa e apoiando a liberdade religiosa como um direito fundamental para todas as pessoas.

    A lei de 1998 criou a posio de embaixador-geral de Liberdade Religiosa Internacional, bem como o Escritrio de Liberdade Religiosa Internacional no Departamento de Estado dos EUA. Juntos, monitoramos a perseguio e a discriminao religiosa no mundo todo e desenvolvemos polticas e programas para promover a liberdade religiosa. Realizamos isso trabalhando com as embaixadas dos EUA, autoridades estrangeiras e grupos religiosos e de direitos humanos para discutir aes tomadas por governos que impeam os cidados de praticar suas crenas livremente.

    Uma ferramenta importante o Relatrio Anual sobre Liberdade Religiosa Internacional requisitado pelo Congresso. Esse documento resume a situao da liberdade religiosa em mais de 195 pases a cada ano e contm mais de 800 pginas. O relatrio de 2008 ser publicado em setembro. Os relatrios deste ano e do ano passado podem ser encontrados em http://www.state.gov/g/drl/irf/, bem como em muitos sites de embaixadas dos EUA, onde est traduzido no idioma local.

    O escritrio tambm presta muita ateno ao tratamento dado a grupos religiosos minoritrios.

    Incentivamos os pases a cessar a discriminao contra comunidades de f minoritrias e a dar permisso para que se registrem e operem livremente em pases como Rssia, Turcomenisto, Egito, Indonsia e Paquisto. No Iraque, o escritrio tem defendido maior incluso das minorias religiosas no processo poltico e temos conclamado os governos da sia, da Europa e de outros lugares a respeitar as liberdades religiosas de suas populaes muulmanas minoritrias.

    Durante a publicao do Relatrio Anual sobre Liberdade Religiosa Internacional de 2007, foi oportuno ocorrer a celebrao simultnea de feriados religiosos de duas crenas diferentes nos Estados Unidos. Os muulmanos que celebravam o Ramad e os judeus que celebravam o Rosh Hashan lembraram aos americanos nossa prezada tradio de realizar cultos livre e respeitosamente.

    Como disse a secretria de Estado, Condoleezza Rice, naquela ocasio: Por meio de nossas relaes bilaterais, nosso trabalho em fruns internacionais e nossas muitas constantes discusses sobre essa questo com pessoas em todo o mundo, os Estados Unidos continuaro a promover a liberdade religiosa, a nutrir a tolerncia e a construir um mundo mais pacfico para pessoas de todas as crenas.

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    A Lei dos Direitos Civis de 1964 muito conhecida por proibir a segregao racial em escolas e lugares pblicos nos Estados Unidos. Mas foi tambm uma lei histrica para proteger trabalhadores contra o preconceito, inclusive a discriminao contra indivduos devido s suas crenas religiosas. Trabalhadores cuja f se choca com polticas trabalhistas que violam os princpios de sua religio encontram proteo na lei.

    Christopher Connell um experiente jornalista de Washington que escreve extensamente sobre questes de polticas pblicas.

    No Aeroporto Internacional de St. Paul-Minepolis, motoristas de txi muulmanos imigrantes da Somlia arriscam seus empregos e a ira do pblico por se recusar a transportar viajantes que chegam das frias com bebidas alcolicas das lojas duty-free.

    Em um caf Starbucks em Hillsboro, no Oregon, uma barista argumenta que foi demitida no devido a atrasos, mas por usar um colar da religio wicca.

    Em Nova Jersey, a refinaria de petrleo ConocoPhilips foi levada barra dos tribunais pela Comisso de Oportunidades Iguais de Trabalho (EEOC) por se negar a conciliar o horrio de um encanador cristo para ele no perder a missa nas manhs de domingo.

    E em Phoenix, Arizona, aps uma batalha judicial de seis anos, um jri federal condenou a locadora de carros lamo a pagar indenizao de US$ 250 mil por ter demitido uma representante de vendas muulmana da Somlia por usar vu durante o Ramad.

    Com a populao dos EUA tornando-se cada vez mais diversificada, mais trabalhadores esto exigindo o direito de exercer sua liberdade de religio no trabalho. Por lei, eles tm o direito a ter seus horrios adaptados na medida do possvel. s vezes, encontram resistncia de colegas ou patres. Porm, em um nmero cada vez maior de aes judiciais, os empregados tm o rgo responsvel pelo cumprimento da lei, a EEOC, do seu lado.

    E muitas empresas descobrem que questo de bom senso comercial fazer essas adaptaes.

    Equilbrio entre Trabalho e ReligioChristopher Connell

    Taxista muulmano do Paquisto reza durante seu turno na cidade de Nova York

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    uma Lei Com base na iguaLdade e no respeito

    Luke Visconti, scio e co-fundador da revista DiversityInc, acredita que as adaptaes religiosas so apenas um modo de tratar seres humanos com respeito e igualdade para ter um ambiente de trabalho produtivo e harmonioso. No se faz isso por ser politicamente correto; e sim para aumentar a produtividade e a margem de lucro.

    Um benefcio adicional para muitas empresas americanas importantes estarem, ao mesmo tempo, aprendendo a lidar com clientes que so tambm muulmanos ou judeus ou cristos ou de qualquer outra religio que esto adaptando na fora de trabalho, disse Visconti.

    Empresas como a Texas Instruments Inc. criaram salas de tranqilidade nas fbricas para os trabalhadores rezarem, e algumas criaram locais para lavar os ps onde os empregados muulmanos podem realizar as ablues exigidas por sua crena antes de rezar. A Ford Motor Co. e outras incentivaram ou em alguns casos, toleraram a criao de grupos de afinidade de empregados com determinada orientao religiosa, cujos membros se renem para preces ou conversas.

    Quando a IBM reforou a segurana aps os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, uma muulmana recm-contratada teve medo de perder o emprego porque se recusava a tirar uma foto sem o vu para um crach de identificao. Mas a gigante dos servios de informtica conciliou a situao emitindo dois crachs de identificao, um mostrando somente os olhos,

    para usar em pblico, e outro com foto sem vu a que somente as guardas femininas tinham acesso.

    Segundo Georgette F. Bennet, presidente e fundadora do Centro Tanenbaum para o Entendimento Inter-Religioso, essas pessoas se tornam empregados muito fiis nesse processo. No so pessoas que vo embora logo, pois foram tratadas com respeito e ningum fez com que se sentissem cidados de segunda classe.

    O ttulo VII da Lei dos Direitos Civis de 1964 probe discriminao trabalhista com base em raa, cor, religio, sexo ou origem nacional. Inicialmente a EEOC declarou que os empregadores deveriam acomodar as prticas religiosas dos empregados

    a menos que isso causasse graves inconvenientes para a conduo dos negcios. Em 1972, o Congresso procurou reforar a lei exigindo adaptaes razoveis que no impusessem grandes dificuldades. Mas a Suprema Corte dos EUA afrouxou as protees em 1977 quando determinou no caso Linhas Areas Trans World versus Hardison que qualquer coisa alm de um custo mnimo para o empregador era uma grande dificuldade. Grupos religiosos, inclusive os adventistas do stimo dia e os judeus ortodoxos ambos estritos guardadores do sbado , fizeram presso durante anos para reforar a lei, mas sem sucesso.

    Ainda assim, um nmero cada vez maior de executivos de empresas e gerentes de recursos humanos (RH) est adotando o princpio de que os trabalhadores americanos tm o direito de viver segundo sua f no local de trabalho, assim como fora dele. Essa uma questo crucial no setor de RH, de acordo com Eric Peterson, gerente de Diversidade e Iniciativas de Incluso da Sociedade para a Administrao de Recursos Humanos.

    As pessoas no esto necessariamente buscando a liberdade de fazer proselitismo ou a liberdade de converter colegas, disse Peterson, ex-gerente de Aprendizagem da Diversidade da empresa de consultoria Booz Allen Hamilton Inc. Elas querem somente viver e trabalhar segundo os princpios de sua crena religiosa. Isso pode ser um desafio, em especial para no-cristos, cuja religio exige que se vistam, se apresentem, se comportem de certas formas que no so necessariamente incentivadas pelo local de trabalho, afirmou. Quase sempre, a resoluo desse problema no envolve muito

    Susan McDuffie, esquerda, diretora da Comisso de Oportunidades Iguais de Trabalho do distrito de So Francisco, ouve os advogados do pessoal da EEOC discutir um processo em coletiva de imprensa. O volume de casos da comisso cresceu nos ltimos anos, medida que aumentou a diversidade religiosa nos locais de trabalho dos EUA

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    dinheiro. apenas uma questo de abrir a mente e dizer: Ok, de que outra forma poderamos resolver isso sem ser seguindo o padro cristo geralmente aceito de agir?

    A lei contra a discriminao religiosa no local de trabalho aplica-se a todas as empresas americanas com 15 ou mais empregados. Em julho de 2008, a EEOC divulgou um novo manual de conformidade de 94 pginas com dezenas de exemplos especficos em que os empregadores devem conciliar as necessidades e crenas religiosas dos trabalhadores.

    uma rea que todos tm medo de tocar porque as pessoas se sentem desconfortveis com o assunto da religio. Tradicionalmente, gostamos de pensar na religio como algo que se deixa do lado de fora do escritrio, mas na verdade isso no pode e no feito, declarou Bennet.

    Casos desafiadores de disCriminao

    Desde o incio da dcada de 1990, quando a imigrao causou o aumento da diversidade cultural e religiosa nos Estados Unidos, as queixas EEOC sobre discriminao religiosa dobraram para 2.880 em 2007. Casos de discriminao por raa e gnero continuam a ser bem mais comuns (respondem por dois teros do volume de casos da EEOC), mas se mantiveram estveis durante a dcada passada, enquanto queixas sobre preconceito religioso aumentaram de 2,1% para 3,5% do total de acusaes. Aps os atentados de 11 de setembro, a EEOC

    colocou nfase especial na salvaguarda d