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Interpretao de Rtulos de Alimentos no Ensino de Qumica

Amanda Porto Neves, Pedro Ivo Canesso Guimares e Fbio MeronAo mesmo tempo em que os preceitos de uma vida saudvel, em uma sociedade altamente sedentria, proporcionaram uma exploso na oferta de industrializados do tipo diet e light, a maioria da populao no tem o hbito de ler uma tabela de rotulagem nutricional. Tendo em vista a importncia do conhecimento qumico na compreenso dessas informaes, buscou-se desenvolver e avaliar um conjunto de atividades didticas, envolvendo a anlise e interpretao da composio qumica de alimentos, na qual foi possvel discutir questes relacionadas a situaes do cotidiano dos estudantes, como o caso da alimentao. rotulagem nutricional, alimentos, contextualizao

Recebido em 13/02/07, aceito em 01/10/08

34 ma caracterstica comum nas como a participao e a capacidade aulas de Qumica a memoride tomada de deciso, pois trazem zao de conceitos, frmulas para a sala de aula discusses de e leis. Com isso, as aulas tornam-se aspectos sociais relevantes, que montonas, o que impede a particiexigem dos alunos posicionamento pao ativa dos estudantes. Muitas crtico quanto a sua soluo. vezes, os contedos ensinados em Dentre os diversos temas contexsala de aula no os fazem refletir tualizadores, destacam-se os alimensobre os fenmetos. Alm de ser um nos vivenciados no elemento motivador, A abordagem de questes dia-a-dia nem cona alimentao um cotidianas atuais ajuda seguem desenvoltema rico conceituala formar cidados ver senso crtico de mente, o que permite qualificados, mais crticos investigao pelo desenvolver conceitos e mais preparados para conhecimento. qumicos, fsicos, bioa vida, para o trabalho e A abordagem de lgicos, entre outros, para o lazer. questes cotidiaproporcionando aos nas atuais ajuda a estudantes compreformar cidados qualificados, mais ender sua importncia, de forma a crticos e mais preparados para a conscientiz-los sobre a necessidade vida, para o trabalho e para o lazer de uma dieta que esteja de acordo (Chassot, 1993). Nesse mbito, Sancom as necessidades dirias. tos e Schnetzler (2000) constataram Segundo Evangelista (1994), a a importncia dos temas qumicos alimentao o processo responsociais, que visam efetivar a contexsvel por atender s necessidades tualizao dos contedos programorgnicas do indivduo, possibilitando ticos. A partir da compreenso de seu crescimento, aumento e manuconceitos cientficos relacionados teno do peso e estatura, assim temtica proposta, tem-se o desencomo aptido para suas atividades de volvimento das habilidades bsicas trabalho e boa disposio espiritual. relativas formao da cidadania, Com essa finalidade, os alimentosQUMICA NOVA NA ESCOLA

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devem conter, em sua composio, nutrientes capazes de suprir as necessidades bsicas no organismo: plstica, energtica e reguladora. A funo energtica ou calrica assegura a manuteno da temperatura corporal e o fornecimento da energia necessria para o organismo realizar suas funes em atividade e em repouso. So fontes de energia glicdios1, lipdios e protenas. A funo plstica ou reparadora mantm os processos orgnicos de crescimento, desenvolvimento e de reparao dos tecidos. So nutrientes plsticos protenas, sais minerais e vitaminas. A funo reguladora favorece e acelera as reaes e atividades biolgicas, tendo como nutrientes protenas, sais minerais e vitaminas. A Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA, 2003) define nutriente como qualquer substncia qumica consumida normalmente como componente de um alimento e que proporciona energia; necessria ou contribua para o crescimento, desenvolvimento e a manuteno da sade e da vida; e cuja carncia possa ocasionar mudanas qumicas ou fisiolgicas caractersticas.Vol. 31 N 1, FEVEREIRO 2009

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Murray e cols. (1998) destacam que a energia na dieta vem de trs macronutrientes: lipdios, glicdios e protenas. O termo macronutriente decorre do fato de que a ingesto dessas molculas maior que a dos outros nutrientes, que so chamados micronutrientes, por serem necessrios ao organismo em quantidades menores, como as vitaminas e os sais minerais. Em termos qumicos, o processo de obteno de energia na alimentao engloba duas etapas caractersticas. Na primeira, em meio extracelular, as macromolculas que compem o alimento (principalmente protenas, triacilgliceris e poli e dissacardeos) so hidrolisadas pela ao de enzimas digestivas em molculas menores, no caso aminocidos, cidos graxos e monossacardeos. A segunda etapa, agora em meio intracelular, consiste na oxidao desses compostos menores, tendo como principal produto final o dixido de carbono. Nesse processo oxidativo que ocorre a obteno de energia pela clula (Stryer, 1996; Vieira e cols., 1999). Os alimentos proporcionaram o desenvolvimento de diversas propostas didticas no ensino de Qumica. Destas, podem-se citar os trabalhos desenvolvidos por Lutfi (1988), que relatou os resultados de uma srie de atividades tendo como tema sua conservao, e por Kinalsky e Zanon (1997), que utilizaram, no Ensino Fundamental, o leite como tema organizador de aprendizagens no estudo de substncias e misturas. Dentro da ampla variedade de atividades, no presente trabalho, optou-se por abordar a rotulagem nutricional. Apesar de englobar um conjunto de informaes importantes, que correlacionam aspectos nutricionais e composio qumica, a dificuldade de entendimento dessas informaes impede a correta interpretao dos rtulos.

Tabela 1: Rtulo padro recomendado pela ANVISA. Quantidade por poro Valor Calrico (kcal) Carboidratos (g) Protenas (g) Gorduras totais (g) Gorduras saturadas (g) Gorduras trans (mg) Fibra alimentar (g) Sdio (mg) (no declarar) %VD

Rotulagem nutricionalNo Brasil, a rotulagem nutricional de alimentos embalados regulamentada pela Resoluo n 360 da Agncia Nacional de Vigilncia SaniQUMICA NOVA NA ESCOLA

tria (ANVISA, 2003). Nesse sentido, devem ser declaradas a quantidade por poro e a porcentagem do valor dirio (%VD) dos seguintes componentes: valor energtico (calrico), carboidratos, protenas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans, fibras alimentares e sdio, conforme exemplificado na Tabela 1. Dos nutrientes selecionados para compor os rtulos, constatou-se que, alm dos trs macronutrientes (glicdios, lipdios e protenas), so citados o sdio e as fibras alimentares. Estas consistem em uma classe de compostos no digerveis, que englobam celulose, hemicelulose, lignina, gomas e pectina. O crescente uso de produtos refinados em substituio aos integrais tem acarretado a minimizao da presena de fibras em dietas. Todavia, por sua contribuio ao processo digestivo, nos ltimos anos, tem sido crescente o estmulo ao consumo de fibras alimentares. O sdio o principal e mais abundante eletrlito catinico presente no lquido extracelular do organismo humano, contribuindo para regular a presso osmtica do sangue, plasma e fluidos intracelulares, manter o equilbrio hdrico do organismo e tambm para a transmisso dos impulsos nervosos. Por outro lado, uma ingesto em excesso de sdio um fator de risco para agravar quadros de hipertenso arterial. A preocupao com ingesto de nutrientes principalmente em excesso, acarretam problemas para a sade tambm pode ser constatada no desdobramento dos lipdios que,

alm dos teores de gorduras totais, tambm devem ser mencionados em termos de gorduras saturadas e gorduras trans. Enquanto as gorduras saturadas so triacilgliceris formados a partir de cidos graxos saturados, as gorduras trans apresentam em sua composio cidos graxos insaturados com uma ou mais dupla ligao do tipo trans. Nas ltimas dcadas, os cidos graxos saturados, e mais recentemente as gorduras trans, foram identificados como uma possvel causa para o agravamento de doenas cardiovasculares pelo aumento dos nveis de lipoprotena de baixa densidade (LDL) no sangue (Ascherio e Willett, 1997; Costa e cols., 2006). A preocupao recente com as gorduras trans fez com que a ANVISA (2003) as inclui-se como item obrigatrio na rotulagem nutricional. Por outro lado, o mesmo documento que inclui estas revoga a Resoluo n 40 (ANVISA, 2001), de forma que deixou de ser obrigatria a informao dos teores de incluso de colesterol, clcio e ferro nos rtulos de alimentos industrializados. Para o clculo da quantidade de nutriente por poro de alimento, a poro um valor de referncia estabelecido para cada grupo de alimento, sendo definida como a quantidade mdia do alimento que deveria ser consumida por pessoas sadias, maiores de 36 meses, em cada ocasio de consumo, com a finalidade de promover uma alimentao saudvel (ANVISA, 2003, s/p). A porcentagem do valor dirio (%VD) determinada a partir da relao percentual entre a quantidade do nutriente presente em uma determinada poro do alimento e os valores dirios de referncia de nutrientes (VDR), estabelecidos em conjunto pela Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e a Alimentao e a Organizao Mundial da Sade (FAO/ OMS, 2003), que so: valor energtico = 2.000 kcal carboidratos = 300 g protenas = 75 g gorduras totais = 55 g gorduras saturadas = 22 g fibra alimentar = 25 gVol. 31 N 1, FEVEREIRO 2009

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sdio = 2,4 g Como exemplo de clculo da porcentagem do valor dirio (%VD), pode-se interpretar o rtulo de uma embalagem de leite desnatado, indicando que, para carboidratos, a quantidade por poro de 200 mL (um copo) de 10 g e a %VD correspondente 3 %. A quantidade por poro um valor obtido por anlise qumica dos nutrientes do leite. J a %VD obtida calculando-se a que percentual do valor de referncia diria (VDR) dos carboidratos (300 g) a quantidade e carboidratos por poro de leite (10 g) corresponde. Ou seja: 10/300 = x/100, x = 3,333..., que se aproxima para 3. Assim, se a %VD de carboidratos indicada no rtulo do leite considerado 3, isso significa que, se um indivduo beber um copo deste consumir 3% dos carboidratos necessrios sua dieta diria. A quantidade do valor energtico calculada a partir da composio da poro do alimento, empregando-se os seguintes fatores de converso: gorduras = 9 kcal/g etanol = 7 kcal/g carboidratos (exceto poliis) e protenas = 4 kcal/g cidos orgnicos = 3 kcal/g poliis = 2,4 kcal/g polidextroses = 1 kcal/g Alm dessas informaes obriga-

trias, tambm existem informaes de incluso facultativa, tais como: a quantidade de qualquer outro nutriente que se considere importante para manter um bom estado nutricional; vitaminas e minerais quando estiverem presentes em quantidade igual ou maior a 5% da Ingesto Diria Recomendada (IDR) por poro indicada no rtulo, conforme apresentado no Quadro 1.

Atividades desenvolvidasO objetivo deste trabalho apresentar os resultados obtidos a partir de um conjunto de atividades didticas aplicadas em uma turma do 2 ano do Ensino Mdio do Colgio de Aplicao Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ), tendo a rotulagem nutricional como tema contextualizador. A turma era formada por 23 alunos, com idade mdia de 16 anos. As atividades foram desenvolvidas no terceiro bimestre, ao final do tpico de funes da Qumica Orgnica, e visaram correlao dessas funes com os alimentos por meio da anlise de rtulos. A primeira etapa da atividade consistiu em uma aula expositiva (durao de 100 min) ministrada pela aluna-mestre (licencianda em

Qumica sob superviso do professor orientador, que tambm era professor da turma). Nessa aula, buscou-se relacionar os compostos orgnicos com os principais nutrientes presentes nos alimentos (glicdios, protenas e lipdios) e seu papel no organismo. Alm disso, mostrou-se como deve ser constitudo um rtulo, de acordo com as especificaes da ANVISA. Ao final, a turma foi dividida em grupos de quatro ou cinco alunos, que tiveram a tarefa de pesquisar, em supermercados ou em suas prprias casas, rtulos de determinados alimentos. Na semana seguinte, os alunos trouxeram os rtulos pesquisados para a sala de aula, onde foi feito um trabalho de anlise e interpretao do material coletado. O trabalho consistiu de quatro questes que foram respondidas em grupo, sob a superviso do professor da turma e da alunamestre, e teve a durao de 100 min. A anlise dos resultados baseou-se na participao dos alunos (comentrios, questionamentos e crticas) e nas respostas das questes.

Resultados e discussoNa primeira atividade (aula expositiva), foram apresentados os principais grupos bioqumicos presentes nos alimentos, analisando-se tanto as estruturas gerais (glicdios, protenas e triacilgliceris) quanto compostos especficos, tais como glicose, frutose, sacarose, lactose, vitaminas e colesterol. Essa anlise possibilitou a identificao e correlao com as funes orgnicas estudadas. Durante a aula, os alunos participaram de forma intensa com comentrios e perguntas, demonstrando bastante interesse. A contextualizao foi uma estratgia importante, pois permitiu a correlao entre as molculas analisadas e seu papel na alimentao. Alguns pontos abordados foram: A identificao dos grupamentos funcionais nas estruturas qumica dos alimentos e uma breve introduo sobre a composio dos alimentos. As restries ao uso dos termos carboidrato e acares como sinnimos de glicdios.Vol. 31 N 1, FEVEREIRO 2009

Quadro 1: Valores de ingesto diria (IDR) recomendados para vitaminas e minerais. Vitaminas (IDR) Vitamina A (600 g)1

Vitamina B6 1 (1,3 mg) cido flico 1 (400 g) Vitamina B12 1 (2,4 g) Biotina 1 (30 g) cido pantotnico 1 (5 mg) Vitamina K 1 (65 g) Colina 1 (550 mg) Minerais (IDR) Flor 2 (4 mg) Cobre 2 (900 g) Selnio 1 (34 g) Molibdnio 2 (45 g) Cromo 2 (35 g) Mangans 2 (2,3 mg)

Vitamina D (5 g)1

Vitamina C 1 (45 mg) Vitamina E 1 (10 mg) Tiamina 1 (1,2 mg) Riboflavina (1,3 mg)1

Niacina 1 (16 mg) Clcio (1000 mg)1

Ferro 1 (14 mg) Magnsio1 (260 mg) Zinco 1 (7 mg) Iodo (130 g)1

Fsforo 2 (700 mg)1

FAO/OMS, 2001. 2 INSTITUTE OF MEDICINE, 1999-2001.

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A obteno de energia por meio da oxidao (combusto) de compostos orgnicos e, em contrapartida, a sntese desses compostos, a partir de molculas simples como CO2 e H2O, pelos vegetais na fotossntese. Essa abordagem permitiu associar o valor calrico dos alimentos com a variao de entalpia da reao. A importncia de uma dieta balanceada, favorecendo o consumo de alimentos mais saudveis como, por exemplo, a importncia das vitaminas e a diferenas entre leos e/ou gorduras saturada e insaturada. Ao final da aula, os alunos foram distribudos em grupos e receberam a tarefa de pesquisar rtulos de: Alimentos ricos em protenas, carboidratos (glicdios) e lipdios. Leite integral, semidesnatado e desnatado. Refrigerantes dos tipos tradicional e diet e/ou light. A partir dos comentrios dos estudantes, constatou-se que a ida ao supermercado tornou-se uma atividade motivadora, j que a pesquisa foi realizada num ambiente extraclasse e em grupo, alm de contribuir para aproximar a Qumica do dia-a-dia dos alunos. Na aula seguinte, com os dados trazidos para a sala de aula, foi desenvolvida a atividade de anlise dos rtulos pesquisados. A seguir, ser feita a anlise em funo das respostas das questes trabalhadas durante a aula. A primeira questo visou pesquisa de alimentos ricos em cada um dos principais grupos nutricionais (protenas, glicdios e lipdios), sendo que coube aos alunos escolherem os alimentos de seu interesse. Para definir os alimentos mais ricos nos nutrientes eleitos, os grupos compararam informaes nutricionais dos rtulos de diversos alimentos, de forma que foi considerado como componente preponderante aquele que apresentou maior massa ou percentual de valor dirio de referncia por poro.QUMICA NOVA NA ESCOLA

Os principais alimentos indicaleite est diretamente associado ao dos como ricos em carboidratos teor de lipdios, de forma que para (glicdios) foram os achocolatados aqueles que buscam uma dieta com em p, macarro, leite condensado menor teor de gorduras ou menor e arroz. Os glicdios ou carboidratos contedo energtico, as verses so uma importante fonte de energia semidesnatado e desnatado so as para o organismo, mas tambm so mais indicadas. alguns dos importantes intermediA terceira questo buscou comrios metablicos. Os plementar esse raalimentos indicados ciocnio. Dessa vez, Os alimentos como ricos em proa anlise foi feita em proporcionaram o tenas foram as carrtulos de refrigerandesenvolvimento de nes, alguns cereais tes, comparando-se diversas propostas e o ovo. As protenas a verso tradicional didticas no ensino de so fontes de energia com a light ou diet. Qumica. e de aminocidos Novamente os aluessenciais para o ornos constataram que ganismo. Para lipdios ou gorduras, o valor calrico diminuiu medida foram citados leo de soja, azeite, que se reduziu um componente (carmargarina, manteiga e maionese. boidratos/glicdios). Nesse momento, Alm de serem uma importante fonte fez-se uma abordagem dos termos de energia, os lipdios tambm so diet e light, cuja compreenso de fontes de cidos graxos essenciais extrema importncia para o consumo (no produzidos pelo organismo) e de de forma correta e o posicionamento vitaminas lipossolveis. Alm disso, a crtico dos alunos perante questes gordura aumenta a palatabilidade do que envolvem esses termos. alimento, produzindo uma sensao Diet o termo empregado para de saciedade. designar a retirada de um nutriente A segunda questo abordou a do alimento, sem a necessidade de diferenciao entre os trs tipos reduo do valor energtico. Nesse de leite: integral, semidesnatado e sentido, um alimento diet pode ser desnatado. Tanto nessa questo empregado em dietas especiais com quanto na seguinte, a pesquisa foi direstries, tais como ausncia de sal recionada, pois as questes a serem para um hipertenso ou de acar para propostas na aula seguinte envolviam um diabtico. Por outro lado, o termo a comparao entre a composio light utilizado para indicar a reduo desses alimentos e seus respectivos mnima de 25% em determinado valores calricos. A partir das infornutriente ou valor energtico (Silva e maes nutricionais, foi solicitada Furtado, 2005). uma correlao entre a composio O uso de adoante como substiqumica e o valor calrico de cada tuto do acar (glicdio) tambm foi alimento. Por meio da interpretao discutido. Demonstrou-se que a redudos dados presentes nos rtulos, o de lipdios ou glicdios contribui os alunos chegaram s seguintes para o menor teor do valor calrico, concluses: pois estes so metabolizados pelo O teor de carboidratos (glicdios) organismo. J os adoantes tm a no varia de um leite para o finalidade de manter o gosto doce, outro. no sendo metabolizados ou, nos Os teores de lipdios (gorduras casos em que so metabolizados, totais e saturadas e colesterol) sua concentrao mnima devido diminuem na seguinte ordem: ao alto poder adoante. integral, semidesnatado e desA quarta questo buscou avaliar natado. se os alunos correlacionaram o au Os valores calricos diminuem mento do teor de sdio nos refrigena mesma ordem da reduo rantes light e diet em decorrncia do dos lipdios. fato de que estes se apresentam na A partir dessa anlise, os alunos forma de um sal de sdio (ciclamato concluram que o valor calrico do e sacarina). A partir da anlise dasVol. 31 N 1, FEVEREIRO 2009

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estruturas qumicas desses adoantes, os estudantes compreenderam a presena do sdio na composio desses alimentos. Em complemento, foi possvel discutir a precauo sobre o consumo de alimentos e bebidas com alto teor de sdio que, por se encontrar em forma inica, facilmente absorvido pelo organismo e pode representar um risco para pessoas que apresentam quadro de presso alta. O fato de as atividades terem sido realizadas em grupo propiciou a socializao destas, fato que estimulou a participao dos alunos e a manifestao de sua criatividade, possibilitando uma atitude empreendedora, oposta passividade imposta no sistema tradicional de ensino. A participao ativa dos alunos nas atividades propostas contribuiu de forma positiva no processo de formao da cidadania, com a valorizao da capacidade de tomada de decises criticamente e do carter investigativo, importante para a construo do conhecimento e a formao do pensamento e das atitudes. Considerando-se que a cidadania conquistada mediante um processo de participao social, cabe a escola contribuir nesse processo de formao, provendo subsdios para que o aluno compreenda sua realidade e participe dos debates e das decises que permeiam a sociedade na qual ele est inserido. Por fim, cabe destacar a importncia da participao da aluna-mestre na elaborao e no desenvolvimento com os estudantes das atividades propostas. A metodologia adotada um caminho para uma concepo de ensino diferente da tradicional, proporcionando a formao de uma nova gerao de educadores em Qumica. A rotulagem nutricional integra a poltica de alimentao e nutrio desenvolvida pela ANVISA com o propsito de promover prticas alimentares mais saudveis. Dessa forma, necessrio que os cidados saibam interpretar os rtulos dos alimentos, para que as informaes neles contidas possam servir para a tomada de deciso sobre o tipoQUMICA NOVA NA ESCOLA

de alimentao mais adequada aos objetivos e s necessidades de cada um. Entretanto, preciso salientar que as informaes presentes nos rtulos so um importante instrumento de comparao entre marcas e verses, mas que por si s no necessariamente probem o consumo de um alimento, pois a dieta balanceada deve ser composta de vrios alimentos. Nesse sentido, a composio da dieta de um indivduo e sua relao com suas necessidades de energia e as necessidades especiais de crescimento, reparo ou resposta ao estresse esto entre as variveis importantes para a manuteno da sade ou do aparecimento de doenas. Dessa forma, uma dieta equilibrada aquela que atende s necessidades de calorias, lipdios, carboidratos (glicdios), protenas, sais minerais e vitaminas.

Entretanto, nem todos os glicdios tm sabor doce e existem substncias com sabor doce que no so glicdios.Amanda Porto Neves ([email protected]), licenciada em Qumica pela UERJ, ex-bolsista do programa de iniciao cientfica (CNPq/PIBIC/SR-2/ UERJ), mestre em Qumica pela UFF, doutoranda em Qumica pela UFF. Pedro Ivo Canesso Guimares ([email protected]), qumico industrial pela UFF, licenciado em Qumica pela UERJ, doutor em Cincia e Tecnologia de Polmeros pelo IMA/UFRJ, docente do Instituto de Qumica da UERJ. Fbio Meron ([email protected]), engenheiro qumico e licenciado em Qumica pela UERJ, doutor em Cincias em Engenharia Qumica pela COPPE/ UFRJ, docente do Instituto de Qumica da UERJ e do Instituto de Aplicao Fernando Rodrigues da Silveira (CAP/UERJ).

RefernciasANVISA. Resoluo de Diretoria Colegiada n 40: Aprova o regulamento tcnico para rotulagem nutricional obrigatria de alimentos e bebidas embalados, constante do anexo desta Resoluo. Braslia, 21 de maro de 2001. Disponvel em: . Acesso em jul. 2008. _____. Resoluo de Diretoria Colegiada n 360: Aprova regulamento tcnico sobre rotulagem nutricional de alimentos embalados, tornando obrigatria a rotulagem nutricional. Braslia, 23 de dezembro de 2003. Disponvel em: < http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct. php?id=9059&word>. Acesso em jul. 2008. ASCHERIO, A.; WILLETT, W.C. Health effects of trans fatty acids. The American Journal of Clinical Nutrition, n. 66S, p. 1006S-1010S, 1997. CHASSOT, A.I. Catalisando transformaes na educao. 3 ed. Iju: Uniju, 1993. COSTA, A.G.V.; BRESSAN, J. e SABARENSE, C.M. cidos graxos trans: alimentos e efeitos na sade. Archivos Latinoamericanos de Nutricin, v. 56, n. 1, p. 12-21, 2006. EVANGELISTA, J. Tecnologia de alimentos. 2 ed. So Paulo: Atheneu, 1994. FAO/OMS. Diet, nutrition and prevention of chronic diseases. WHO Technical Report Series 916 Geneva, 2003. ______. Human vitamin and mineral requirements. In: Report 7 Joint FAO/ OMS Expert Consultation: Bangkok, Thailand, 2001.

Consideraes finaisA contextualizao demonstrou ser um recurso importante na busca por um ensino de Qumica que contribua para a formao de cidados cada vez mais crticos e bem informados. A pesquisa de rtulos nutricionais somada ao trabalho em grupo na sala de aula, envolvendo a anlise e interpretao desses rtulos, comps uma atividade didtica extremamente rica, que favoreceu a motivao, a investigao, a tomada de deciso e a socializao das atividades.

Nota1. Os termos carboidratos e acares tambm so comumente empregados como sinnimos de glicdios. Cabe destacar que o termo carboidrato originou-se da frmula mnima da maior parte dos glicdios: CH 2O. Todavia, a elucidao da frmula estrutural desse grupo de substncias indicou que se tratava de compostos carbonlicos poli-hidroxilados e no de carbono hidratado. Mesmo assim, a legislao brasileira recomenda o uso do termo carboidrato para essa classe de substncias. Da mesma forma, o termo acar est associado ao gosto doce de muitos glicdios.

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INSTITUTE OF MEDICINE. Food and Nutrition Board. Dietary Reference Intakes. National Academic Press: Washington D.C, 1999-2001. KINALSTKI, A.C. e ZANON, L.D. O leite como tema organizador de aprendizagem de qumica no ensino fundamental. Qumica Nova na Escola, n. 6, p. 15-19, 1997. LUTFI, M. Cotidiano e educao em qumica. Iju: Uniju, 1988.

MURRAY, R.K; GRANNER, D.K. e MAYES, P Harper: bioqumica ilustrada. .A. 8 ed. So Paulo: Atheneu, 1998. SANTOS, W.L.P e SCHNETZLER, R.P . . Educao em qumica: compromisso com a cidadania. 2 ed. Iju: Uniju, 2000. SILVA, R.M.G. e FURTADO, S.T.F. Diet ou light: Qual a Diferena? Qumica Nova na Escola, n. 21, p. 14-16, 2005. STRYER, L. Bioqumica. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.

VIEIRA, E.C.; GAZZINELLI, G. e MARESGUIA, M. Bioqumica celular e biologia molecular. 2 ed. So Paulo: Atheneu, 1999.

Para saber maisCHASSOT, A; VENQUIARUTO, D. e DALLAGO, R.M. De olho nos rtulos: compreendendo a unidade caloria. Qumica Nova na Escola, n. 21, p. 10-13, 2005.

Abstract: Interpretation of nutritional label in chemical teaching. At the same time that healthy life, in a highly sedentary society, provided an increase in diet and light food industrialized, a great part of the population doesnt have the custom of reading a nutritional label. Due the importance of the chemical knowledge to understand this information, it was developed a group of didactic activities involving interpretation of chemical composition of food, that allowed the discussion questions involving quotidian situations. Keywords: nutritional label, food, contextualization.

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VIII Congresso Internacional sobre Investigao em Didtica das CinciasO VIII Congresso Internacional sobre Investigao em Didtica das Cincias ser realizado em Barcelona, de 07 a 11 de setembro de 2009, com o tema Ensino de Cincias em um mundo em transformao. O evento abordar principalmente os seguintes temas: - Ensino de Cincias e sociedade; - Cincias e Ensino de Cincias; - Ensino de Cincias e currculo; - Ensino de Cincias em sala de aula. O objetivo principal do evento refletir, debater e decidir sobre como proporcionar, aos alunos e populao em general, um grau de competncia cientfica que lhes ajude a tomar decises de maneira consciente e racional, levando em considerao os envolvimentos sociais. As discusses sero em torno de conferncias, mesas-redondas, simpsios e apresentaes de trabalhos de pesquisa. As inscries sero realizadas at 15 de julho de 2009. Contato pelo endereo-e: [email protected] Informaes adicionais: http://ensciencias.uab.es/congreso2009 Luciana Caixeta Barboza (editoria QNEsc)QUMICA NOVA NA ESCOLA Interpretao de Rtulos de Alimentos no Ensino de Qumica Vol. 31 N 1, FEVEREIRO 2009