05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 HÁ INFLUÊNCIA … · 2014-01-29 · ademais da...

15
IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 HÁ INFLUÊNCIA DO REGISTRO ESCRITO UTILIZADO EM REDES SOCIAIS NAS PRODUÇÕES TEXTUAIS ESCOLARES? Priscila CEBALLOS VASQUES (UEL) Vinicius SCHIOCHETTI (UEL) Sheila OLIVEIRA LIMA (Orientadora) Introdução Devido ao avanço da tecnologia nos últimos tempos, mais precisamente do meio de comunicação conhecido como internet, há um grande número de pessoas que possui acesso diário a ela e que utiliza as redes sociais como meio de comunicação. Desenvolvemos desse modo, uma pesquisa com o intuito de conseguir dados que comprovem uma possível influência do uso da escrita nas redes sociais nas produções textuais realizadas em sala de aula. Para isso, utilizaremos, primeiramente, alguns aportes teóricos que tratam desse tema. Dentre essas pesquisas, estão os nomes de Cordeiro (2012) na definição da rede social Facebook, na defesa da importância da escrita manual e na conceituação da linguagem utilizada em redes sociais como uma variação linguística; Chartier (2009) apontando que muitas vezes o discurso frequente de que os jovens não leem se baseia em uma ideia que só considera leitura o que faz parte do cânone escolar; Geraldi (2003) tratando sobre a questão da leitura enquanto interação; Freitag; Fonseca e Silva (2006) retratando a escrita virtual como uma subclasse da língua padrão e explicando o porquê de tal pensamento. A fim de conseguir suportes relevantes para essa pesquisa e evidenciar se há uma influência da linguagem das redes sociais na escrita escolar, confrontaremos dados obtidos em uma pesquisa realizada em uma turma de nono ano do ensino fundamental de uma escola da cidade de Cambé/PR e outra com a professora da disciplina de língua portuguesa dessa turma, as quais serão abordadas ao longo deste artigo. Fundamentação Teórica

Transcript of 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 HÁ INFLUÊNCIA … · 2014-01-29 · ademais da...

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

HÁ INFLUÊNCIA DO REGISTRO ESCRITO UTILIZADO EM REDES SOCIAIS

NAS PRODUÇÕES TEXTUAIS ESCOLARES?

Priscila CEBALLOS VASQUES (UEL)

Vinicius SCHIOCHETTI (UEL)

Sheila OLIVEIRA LIMA (Orientadora) Introdução

Devido ao avanço da tecnologia nos últimos tempos, mais precisamente do meio de

comunicação conhecido como internet, há um grande número de pessoas que possui acesso

diário a ela e que utiliza as redes sociais como meio de comunicação.

Desenvolvemos desse modo, uma pesquisa com o intuito de conseguir dados que

comprovem uma possível influência do uso da escrita nas redes sociais nas produções

textuais realizadas em sala de aula.

Para isso, utilizaremos, primeiramente, alguns aportes teóricos que tratam desse

tema. Dentre essas pesquisas, estão os nomes de Cordeiro (2012) na definição da rede

social Facebook, na defesa da importância da escrita manual e na conceituação da

linguagem utilizada em redes sociais como uma variação linguística; Chartier (2009)

apontando que muitas vezes o discurso frequente de que os jovens não leem se baseia em

uma ideia que só considera leitura o que faz parte do cânone escolar; Geraldi (2003)

tratando sobre a questão da leitura enquanto interação; Freitag; Fonseca e Silva (2006)

retratando a escrita virtual como uma subclasse da língua padrão e explicando o porquê de

tal pensamento.

A fim de conseguir suportes relevantes para essa pesquisa e evidenciar se há uma

influência da linguagem das redes sociais na escrita escolar, confrontaremos dados obtidos

em uma pesquisa realizada em uma turma de nono ano do ensino fundamental de uma

escola da cidade de Cambé/PR e outra com a professora da disciplina de língua portuguesa

dessa turma, as quais serão abordadas ao longo deste artigo.

Fundamentação Teórica

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

A interação entre pessoas que não se encontram em um mesmo ambiente físico é

possibilitada por diversos meios de comunicação. Atualmente, um dos mais utilizados é a

Internet, que além de uma infinidade de conteúdos a todos que possuem acesso a ela,

veicula sites que possibilitam a conversa virtual em tempo real. Dentre eles, há os

conhecidos Chats – páginas da internet que promovem a conversa digital entre uma ou mais

pessoas ao mesmo tempo, o que é conhecido por comunicação síncrona –. Outro modelo de

site de entretenimento que proporciona a comunicação são as Redes Sociais, as quais,

ademais da comunicação em tempo real, possibilitam o compartilhamento de imagens,

músicas, vídeos e outros arquivos, além de contar com o “perfil” – onde são listadas

características pessoais do usuário, podendo ou não ser verídicas.

Entre as redes sociais mais utilizadas estão o messenger (msn), twitter e atualmente,

o facebook, que Cordeiro (2012, p. 12) define da seguinte maneira:

O facebook é uma rede de relacionamento que foi criada em 2004 pelo americano Mark Zuckerberge e pelo brasileiro Eduardo Saverin, que

estudaram ciência da computação na Universidade de Harvard. Com a

finalidade de colocar os estudantes em contado uns com os outros, compartilharem fotos e de fazerem novas amizades. (CORDEIRO apud

RABÊLO, 2011).

Esse tipo de site é utilizado, muitas vezes, por adolescentes que estão passando por

um desenvolvimento social e psicológico que pode influenciar nas relações com a família e

amigos. Concomitante a isso, passam por um processo gradual de maior elaboração da

escrita na escola, em cujo processo os professores trabalham com propostas textuais

voltadas ao ensino da norma culta da língua portuguesa.

Ao considerar, que a escrita por meio da internet também é vista como uma

produção textual, podemos perceber que esta vem se maximizando, se pensarmos nela

como um todo, tanto no meio virtual quanto no meio físico. Desse modo, possuindo acesso

à internet, o sujeito comunicar-se-á por meio da escrita com o outro, pelas redes sociais, e

também utilizará esse mecanismo, nas produções escolares. Amparando-nos em

Geraldi(2003) poderíamos até considerar que nesse tipo de comunicação virtual, o jovem

realiza produções textuais, pois segundo ele, “(...) um texto é produto de uma atividade

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

discursiva onde alguém diz algo a alguém.” (GERALDI, 2003, p. 98). E, tendo em vista

que na comunicação virtual ocorre esse tipo de interação, então podemos considerar as

produções escritas em tais meios como textos.

Outra questão importante nessa relação do aluno com o texto escrito diz respeito à

leitura. Atualmente, com o frequente contato de jovens com as redes sociais, poderíamos

afirmar que ocorre também um aumento da leitura, uma vez que, assim, o jovem deixa de

conversar oralmente e passa a fazer isso usando a escrita. Ou seja, por mais que ele não leia

textos longos presentes em livros que são valorizados pela escola, há o contato com a

atividade da leitura. Esse ponto de vista pode ser confirmado com Chartier (2009):

Encontramos ainda o discurso segundo o qual as classes mais

jovens afastam-se da leitura. Sim, se concordamos implicitamente sobre o que deve ser a

leitura. Aqueles que são considerados não leitores lêem, mas lêem coisa

diferente daquilo que o cânone escolar define como uma leitura legítima. (CHARTIER, 2009, p. 103-104).

Ainda nessa perspectiva, em que consideramos que nas conversas on-line há uma

atividade de leitura, nos baseando no que diz Rojo (2009). Podemos considerar esse tipo de

comunicação também como uma prática de letramento.

[...] o termo letramento busca recobrir os usos e práticas sociais de

linguagem que envolvem a escrita de uma ou de outra maneira, sejam eles

valorizados ou não valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos

sociais diversos (família, igreja, trabalho, mídias, escola etc.), numa perspectiva sociológica, antropológica e sociocultural. (ROJO, 2009, p. 98).

No que se refere à escrita cursiva, ela vem apesentando uma diminuição devido à

maior utilização do meio digital, desde documentos oficiais até redações escolares. Há

professores que preferem essa opção, pois ela tornaria mais prática a leitura devido à

ilegibilidade, em alguns casos, da escrita cursiva do discente.

Sobre esse ponto, há teóricos que criticam essa prática devido a consequências que,

segundos suas pesquisas, devem-se à falta da escrita cursiva, como fica evidente na citação

a seguir, de Cordeiro (Cordeiro apud Barrucho, 2012, p. 15).

Por meio da observação do cérebro de crianças e adultos,

verificou-se que a escrita de próprio punho provoca uma atividade

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

significativa mais intensa que a da digitação na região dedicada ao

processamento das informações armazenadas na memória, o que tem

conexão direta com a elaboração e a expressão de idéias. Provou-se que o ato de escrever desencadeia ligações entre os neurônios na parte do

cérebro que faz o reconhecimento das palavras, contribuindo para a

fluidez da leitura. Dessa forma, com a digitação essa área fica inativa

(BARRUCHO, 2011 p.41).

Podemos observar, então, que a escrita por meios digitais pode não promover os

mesmos benefícios que a escrita manual. Outra questão frequentemente tratada em

discussões na área educacional e que permeiam a preocupação dos pais, se refere à possível

influência que o uso específico da língua portuguesa nas redes sociais promove nas

produções textuais escolares.

Essa preocupação se relaciona diretamente ao fato de a linguagem utilizada pelos

adolescentes nas conversas virtuais apresentarem desvios da norma padrão, em que são

frequentes as abreviações, gírias, expressões específicas desse meio e aspectos da oralidade

e informalidade.

Alguns teóricos tratam essa linguagem das redes socais como uma variação

linguística, como mostrada a seguir:

A internet trouxe muitas mudanças, até mesmo novo vocabulário

usado nas conversas dentro e fora do ambiente virtual. Os ambientes de

comunicação virtual, como as salas de bate-papo, e as redes sociais são caracterizados pelo uso de uma nova variedade da língua portuguesa,

repleta de abreviações, gírias e emoticons (símbolos que representam

sentimentos), sem respeito às normas ortográficas. (CORDEIRO, 2012 p. 14).

Outros, como uma subclasse da língua normativa, como fica evidente na citação que

se segue:

Com base nestas constatações, sugerimos que a modalidade de

língua utilizada nos ambientes virtuais é uma espécie de sub-norma. O

prefixo sub deve ser entendido não com o significado pejorativo, como em subdesenvolvido, mas com o significado de contingência como em

subconjunto. A língua utilizada nos ambientes virtuais é uma sub-norma,

um subconjunto da noma-padrão. A norma padrão e a sub-norma utilizada

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

na internet estão relacionadas de modo unívoco: é preciso dominar a

norma padrão para dominar a sub-norma. (FREITAG; FONSECA E

SILVA, 2006, p.4).

Sem nos posicionarmos a favor de nenhum dos pontos de vista citados acima,

podemos considerar que a linguagem utilizada em redes sociais apresenta um conjunto de

características que se referem somente a ela.

Entre essas características destacamos a presença de abreviações e de vogais

elididas, principalmente devido à agilidade que querem obter no momento da digitação;

além disso, nesse tipo de redes de comunicação, normalmente há limite de caracteres

ocupando um determinado espaço. Como exemplo desse fenômeno há substituições de:

você (vc); não (ñ); cadê (kd); hoje (hj); beijo (bj), que (q), entre outros.

Assim reiterando a questão da leitura, podemos, juntamente com Geraldi (2003),

afirmar que em comunicações virtuais é necessária a produção de textos, onde um escreve e

o outro, com quem este se comunica, tem que, com seus conhecimentos linguísticos,

recuperar o sentido da mensagem emitida. Nesse caso, o leitor deve ter um bom

conhecimento contextual para completar as palavras que são abreviadas, como fica evidente

na citação a seguir:

“Os sentidos produzidos na leitura resultam de duas dimensões

possíveis: uma em que a cooperação do leitor se realiza por sua atenção a seus “deveres filológicos”, isto é, de sua tentativa renhida de recuperar

com a máxima aproximação possível as estratégias usadas na produção e,

com as pistas que as revelam, aproximar-se do sentido que lhe previu o

autor (...)”. (GERALDI, 2003, p. 110).

Outro aspecto da escrita virtual se refere à questão da ausência da pontuação e da

acentuação, por consequência da pouca formalidade que a situação exige. Mais uma

característica que se observa é a presença de elementos não verbais e gráficos completando

essa comunicação, dentre eles existem os emoticons, mais presentes no antigo Messenger e

as caracteretas, que, segundo Ribas et al, (2012), são substituições dos emoticons por

símbolos de pontuação, servindo para realçar as emoções ligadas ao momento e às

mensagens emitidas.

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

Além de todos esses elementos citados acima, observamos a tentativa de

aproximação da modalidade oral, na maioria dos casos. Isso ocorre, por exemplo, na

substituição das vogais finais o e e por u e i, respectivamente, em localidades onde isso

ocorre na fala, por exemplo, adoro (adoru) e demais ocorrências.

A partir de tal abordagem, observamos que a linguagem utilizada por adolescentes

em redes sociais apresenta um conjunto de características específicas que a particulariza.

No que se refere ao trabalho em sala aula, a questão é se essa linguagem tão utilizada pelos

alunos, e que foge à norma padrão valorizando a velocidade em detrimento do padrão de

registro, interfere ou não na aprendizagem e na qualidade das produções textuais realizadas

em sala de aula. A fim de responder a essa questão, na parte seguinte deste artigo iremos

expor uma pesquisa realizada com uma turma de nono ano de um colégio localizado no

município de Cambé/PR, composta por duas partes: uma em que os alunos produziram um

pequeno texto e outra em que responderam questões relativas à temática do uso das redes

sociais.

Análise de corpus

Tendo em vista o tema sobre a influência das redes sociais nas produções de textos

em sala de aula, aplicamos uma pesquisa aos alunos do nono ano de um colégio público da

cidade de Cambé – PR, com o objetivo de esclarecer se existe ou não uma possível

interferência na escrita escolar por aquela utilizada em ambientes virtuais.

Em princípio, nessa verificação, foi solicitada uma produção textual em que os

jovens escreviam a respeito da importância da internet em suas vidas. Tal atividade teve,

em nossa investigação, a função de verificar se há ou não a ocorrência de influências do

registro escrito das redes sociais nos textos escolares. Em uma segunda parte, foi pedido

aos alunos que respondessem a questões objetivas contendo perguntas sobre o acesso diário

à internet e, consequentemente, às redes sociais bem como sobre a frequência de seu uso e

se consideram ser influenciados pelo uso da linguagem em redes sociais nas produções

escolares.

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

É importante frisar que antes de aplicar a pesquisa objetiva, em que ficava claro o

tema da influência da linguagem utilizada em redes sociais na escrita, aplicamos a produção

textual. Essa ordem foi seguida para que os alunos ao escreverem, não tentassem mascarar

elementos que possivelmente viessem a ocorrer e, assim, garantir que eles transportassem,

se fosse o caso, características da escrita em redes sociais para a escolar.

Num outro momento, enviamos à professora responsável pela matéria de português

no grupo avaliado algumas questões que abordam como o profissional de letras lida com a

intensa relação de jovens em idade escolar com o universo virtual. Mais a diante, no artigo,

faremos um levantamento das respostas obtidas nas duas pesquisas.

A respeito do formulário entregue aos alunos, a primeira questão é: “Você acessa

diariamente a internet?”. Objetivamos, nesse quesito, identificar se os alunos tinham fácil

acesso à internet e com que frequência eles a utilizavam. Dos vinte e quatro discentes que

responderam ao formulário, vinte e dois responderam que sim, evidenciando, dessa forma,

que eles têm um intenso e fácil contato com a rede.

Na questão de número dois, tínhamos o intuito de verificar quais atividades os

alunos desempenhavam na internet, com as opções: jogos, pesquisas, leituras, músicas,

filmes, vídeos e interação com amigos. Referente a essa questão, verificamos que o maior

número deles se dedica à interação com amigos (23), em segundo lugar, optaram por aceso

a músicas e vídeos (ambos com 21).

Na terceira questão em que pedimos aos alunos que informassem quais redes sociais

eles mais utilizavam, verificamos, que, entre os alunos entrevistados, as mais utilizadas são

o Facebook (23) e o antigo Messenger (18).

A fim de identificar a intensidade do uso de tais meios de comunicação,

perguntamos aos alunos quantas vezes ao dia eles acessam as redes sociais e quantas vezes

na semana. Obtivemos um resultado de que a maioria usa todos os dias da semana e várias

vezes ao dia, dessa forma evidenciando que têm um contato frequente e intenso com as

redes sociais.

Por fim, atingindo o objetivo central desta pesquisa, perguntamos aos alunos se eles

consideram que a linguagem utilizada nas redes sociais influencia a produção textual em

sala de aula. Dos vinte e quatro entrevistados, dez afirmaram que há uma influencia, e

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

quatorze, responderam que não. Referente à opinião dos alunos quanto à intensidade dessa

interferência, observa-se que sete alunos, daqueles dez que responderam que sim,

afirmaram que há pouca influência, dois afirmaram ocorrer uma interferência mediana e

um, uma excessiva influência.

De modo geral, analisamos que dentre os alunos que responderam ao questionário, a

maioria possui acesso diário à internet e se conectam intensamente com as redes sociais,

destacando o Facebook. Diante dessa realidade em que jovens em idade escolar têm uma

frequente relação com o meio virtual, comunicando-se pela escrita que não segue a

convenção mais prestigiada pela sociedade, questionamos aos próprios se eles têm certa

preocupação ou se percebem tal prejuízo. Como pode ser observado, a minoria dos alunos

acredita que essa linguagem exerce certa influência na escrita escolar. A partir disso, para

verificar se há ou não essa interferência, examinaremos algumas das redações produzidas

pelos alunos.

Analisando as produções textuais, quanto à qualidade que apresentam, podemos

dividi-las em três grupos, redações boas, redações com problemas e redações com

problemas possivelmente relativos ao registro escrito das redes sociais. A divisão está na

tabela a seguir.

Quantidade de redações Grupo

6 Redações boas

16 Redações com problemas

2 Redações com problemas possivelmente

relativos ao registro escrito das redes

sociais

1 – Levantamento de dados das produções textuais dos alunos.

Antes de analisar esses números, é preciso evidenciar, por meio de exemplos, os

problemas detectados nas redações que serviram de base para essa classificação.

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

Primeiramente, uma redação que foi retirada do primeiro grupo, ou seja, redações que

consideramos boas, ou que apresentaram menor número de problemas.

Redação1

Transcrição:

Internet no dia a dia

A internet é uma ferramenta muito utilizada hoje em dia. Nela podemos encontrar

conteúdos importantes para a nossa aprendizagem e também diversão, e está ao alcance

de todos.

Como se pode observar a redação 1 não apresenta problemas graves de coesão, nem

erros ortográficos ou de pontuação. O aluno consegue comunicar sua ideia, em um texto

conciso e bem formulado. O mesmo, na segunda parte da pesquisa, respondeu que a

linguagem utilizada nas redes sociais não interfere em sua escrita.

A partir de agora, iremos analisar um exemplo de redação que apresenta problema,

mas que não podem ser diretamente relacionados à linguagem utilizada em redes sociais.

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

Redação2

Transcrição:

A Internet na Adolescencia.

Na minha opinião a internet não é tão importante. Para mim ela é mas usada em pesquisas

tem muitas coisas ultil mas também tem varios riscos.

Nesta segunda redação encontramos problemas principalmente de acentuação,

(“adolescência”, “vários” e “útil”). Além disso, há problema de ortografia (em “útil” que é

grafado “ultil” e “mas” que é grafado em lugar de “mais”). Embora o texto não faça

nenhuma afirmação mais consistente sobre a internet, é possível considerar que ele

apresenta uma unidade de sentido, mesmo que seja para abordar o assunto de modo

superficial. Na segunda parte da pesquisa tal aluno afirma que o registro escrito utilizado na

interação com amigos na internet não interfere em sua escrita, assim demonstrando que

acredita em sua capacidade de diferenciar a linguagem em sua situação de uso.

Por fim, analisaremos as redações que apresentam problemas que podem, até certo

ponto, ser relacionados à interferência da linguagem das redes sociais.

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

Redação 3

Transcrição:

Sem ele a vida não tem graça

Eu não consigo ficar 1 dia sem net eu fico o dia intero mechendo no PC a vida ia ser uma

bosta sem a internet não ia ter a menor graça

Nesta redação podem ser evidenciados os seguintes problemas: concordância, uso

de algarismos em lugar do vocábulo por extenso, falta de coesão, presença de abreviações,

erros de ortografia, falta de pontuação e termos de baixo calão, não adequados para a

situação de uso. Nesse caso, os problemas que podem ser relacionados à linguagem

utilizada nas redes sociais são as abreviações e o uso de algarismos em vez do numeral por

extenso, lembrando que em redes sociais, como a rapidez é extremamente necessária, o uso

de tais recursos é frequente e predominante. Outro dado relevante é o uso do vocábulo

“bosta”, em geral, não admitido na escrita formal escolar, mas aceito nos ambientes de

redes sociais.

Por outro lado, afirmar que essas abreviações são exclusivamente uma influência

das redes sociais na escrita do aluno seria infundado. As abreviações para computador

(“pc”) e para internet (“net”) não são exclusivas da internet, ocorrendo também em outras

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

situações como por exemplo na fala informal de algumas pessoas e mesmo em documentos

escritos que abordam o tema, como revistas especializadas, seções de jornais dedicadas ao

assunto etc.. Tais ocorrências diferem significativamente do que acontece em redes socias

como no caso da abreviação (“vc”) por (você).

Além desses aspectos, foi possível observar que a redação do estudante não

apresentou delimitação entre as orações, isso revela uma escrita em fluxo contínuo, sem

reflexão; o que pode se relacionar com a estruturação de discursos orais sem planejamento.

Considerando que a escrita das redes sociais, muitas vezes, tentando se aproximar da fala,

estrutura-se dessa mesma forma, pode esse fato identificado na redação se relacionar com

uma possível influência dessa escrita.

Esse mesmo aluno nas questões objetivas assume que a linguagem informal

utilizada em bate-papos interfere pouco em sua produção escolar.

Redação 4

Transcrição:

internet

a importancia da internet pra mim é que la eu posso fazer meus trabalhos da escola, se

comunicar com as pessoas e até conhecer e fazer novos amigos.

Na redação 6 destacamos como problemas, o pouco desenvolvimento da ideia que

propusemos, o início de frase com letra minúscula, os erros ortográficos e a ausência de

acentos gráficos. Nessa redação, o problema que poderia ser relacionado à linguagem usada

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

nas redes sociais seria a letra minúscula no inicio da frase, uma vez que, nas redes sociais

os usuários não se preocupam em usar a escrita padrão, e tal regra, na maioria das vezes, é

ignorada. É importante destacar que o mesmo aluno na segunda parte da pesquisa afirma

que a linguagem da internet influencia excessivamente na sua escrita, demonstrando dessa

forma certo rigor em relação a sua redação.

Como demonstrado na tabela de classificação das redações, fica evidente a grande

dificuldade da produção textual em sala de aula em que a maioria das redações apresenta

problemas e alguns deles muito graves. Entretanto, como vimos na análise das redações

destacadas, grande parte dos problemas detectados não podem ser relacionados com a

linguagem das redes sociais, e até aqueles que aparentemente poderiam ser relacionados a

essa linguagem não podem ser relacionados direta e exclusivamente a ela.

Isso feito, relacionamos o questionário objetivo com as respostas apresentadas pela

professora, em que pudemos notar, dessa forma, que ela possui um grande conhecimento da

quantidade de carga horária que seus alunos dedicam ao uso da internet. Ela também possui

familiaridade com os sites e redes sociais mais utilizados por eles.

Como resposta de uma questão, a professora deixou claro que o uso dessa

ferramenta adjacente às redes sociais é interessante, contanto que sejam precavidos de

possíveis sites que apresentam certos riscos. Em uma das redações foi colocada essa

mesma linha de pensamento, considerando que hoje em dia é fundamental alertar aqueles

que usam a internet diariamente, sobre os riscos que ela pode oferecer.

Uma outra pergunta tratou da opinião da professora sobre a ocorrência ou não da

influência da escrita das redes sociais em relação às produções de texto que ela propõe a

seus alunos. A professora respondeu que a internet influencia negativamente nas redações

escolares daqueles que, não por falta de conhecimento, mas sim, por falta de atenção,

acabam transpondo uma específica escrita para suas produções escolares.

Considerando, principalmente, as redações que propusemos aos estudantes do nono

ano, chegamos ao critério de que o convívio rotineiro deles com as redes sociais não gera

uma influência negativa nas produções textuais. Algumas inadequações podem ser frutos de

uma demanda de atividades que não manifestam um significativo interesse deles, e as

propostas de escrita escolar, são, algumas vezes, substituídas por outras formas de

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

atividades, as quais não apresentam o mesmo desafio buscando o senso critico do aluno ao

produzir um texto e também que leva em conta a aprendizagem da língua portuguesa

contextualizada.

Considerações finais

É frequente ouvir de professores ou outros profissionais da educação que “a

linguagem das redes sociais assassina o português”, ou atrapalha na produção textual em

sala de aula. A própria professora entrevistada afirmou que seus alunos, por falta de

atenção, acabam cometendo inadequações nas produções textuais escolares devido a essa

linguagem das redes sociais.

No entanto, a partir dos resultados obtidos nas redações dos alunos, podemos

concluir que, apesar de haver muitos problemas nas redações, apenas uma pequena parte

pode ser atribuída, e ainda de forma relativizada, às redes sociais. Dessa forma, as

afirmações acerca da influência da linguagem das redes sociais na escola se constitui de

ideias pré-concebidas que se convencionou tomar como verdades.

Essas eventualidades acontecem em ambiente escolar, mas isso pode advir do fato

de um determinado ensino da língua portuguesa não estar sendo totalmente eficiente, uma

vez que não tem proporcionado situações de lida com a escrita suficientes para expandir

essa competência de escrita de seus alunos.

Diante disso, seria interessante abordar em sala de aula a influencia da escrita virtual

nas produções de textos, explicando aos alunos que certas ocorrências não estão

diretamente ligadas à forma como escrevem em um meio, sendo este as redes sociais.

O docente, portanto, poderia alertá-los que uma escrita utilizada em certo contexto,

não deverá, neste caso, ser transposta para outro – produções textuais escolares – como

ficou evidente em uma resposta dada pela professora de língua portuguesa que se referia à

maneira como é tratado esse tema em sala de aula, ou se ele nunca era assunto de suas

aulas. Contestou, dizendo que, sempre, ao aparecerem certos desvios da norma padrão em

redações, ela costuma fazer um levantamento e os conscientiza de que tal linguagem é

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

adequada para certa situação, que é o meio virtual, e não para as produções escritas em

âmbito escolar ou em outros de mesma formalidade.

É preciso reiterar, porém, que, conforme visto, a maior parte dos problemas

observados nos textos produzidos pelos alunos não decorre da transposição do registro das

redes sociais para aquele mais formal, exigido na escola e em outras situações de uso da

escrita. Nesse sentido, há que se considerar que ainda não se pode afirmar que o problema

da produção textual escolar esteja vinculado à frequência dos alunos nas redes sociais nem

ao tipo de escrita que ali adotam.

Cumpre, portanto, refletir o quanto o discurso que responsabiliza as redes pelo mau

uso da escrita pelos jovens em idade escolar não se trata de um mito forjado com a intenção

de, mais uma vez, desviar os olhares das verdadeiras causas da má qualidade do ensino em

nosso país.

Referência

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: conversações com Jean

Lebrun. Tradução de Reginaldo Carmelo Corrêa de Moraes. São Paulo: Imprensa Oficial

do Estado de São Paulo: Editora UNESP, 2009.

CORDEIRO, Georjean Leite. A linguagem utilizada nas redes sociais e a interferência nas

produções realizadas pelos adolescentes na sala de aula. Disponível em:

<http: //www.slideshare.net /BPJCA/a-linguagem-utilizada-nas-redes-sociais-e-a-

interferncia-nas-produes-realizadas-pelos-adolescentes-na-sala-de-aula#btnPrevious>.

Acesso em: 25 out. 2012.

FREITAG, R. M. K.; FONSECA E SILVA, M. Uma análise sociolinguística da língua

utilizada na internet: Implicações para o ensino de língua portuguesa. Revista

Intercâmbio, São Paulo, v. 15, LAEL/PUC-SP, ISSN 1806-275X, 2006.

GERALDI, João Wanderley. Identidades e especifidades do ensino de língua. In:______.

Portos de passagem. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 73-113.

RIBAS, Elisângela. Et al. A influência da linguagem virtual na formal de adolescentes.

Disponível em: <http://www.cinted.ufrgs.br/ciclo9/artigos/8dElisangela.pdf>. Acesso em:

25 out. 2012.

ROJO, Roxane. Letramento(s) Práticas de letramento em diferentes contextos. In:______.

Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2009. p. 94-121.