01 Orientações Curriculares Tecnologias de Informação e Comunicação

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PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Orientações Curriculares Tecnologias de Informação e Comunicação PROPOSIÇÕES DE EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM SÃO PAULO 2010

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  • 1ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    PREFEITURA DO MUNICPIO DE SO PAULO

    SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAO

    DIRETORIA DE ORIENTAO TCNICA

    Orientaes Curriculares

    Tecnologias de Informao e Comunicao

    PROPOSIES DE EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM

    SO PAULO

    2010

  • 2 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    So Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educao. Diretoria deOrientao Tcnica. Orientaes curriculares: proposies de expectativas deaprendizagem - Tecnologias de Informao e Comunicao /Secretaria Municipal de Educao So Paulo : SME / DOT, 2010. 124p. : il. Bibliografia

    1.Informtica Educativa I.Programa de OrientaesCurriculares e Proposio de Expectativas de Aprendizagens

    CDD 371.3

    Cdigo da Memria Tcnica: SME - DOT / Sa.024/10

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    Equipe de Produo

    Diretoria de Orientao TcnicaRegina Clia Lico SuzukiDiretora de Orientao Tcnica

    Programa de Informtica EducativaDenise Mortari Gomes Del GrandiLia Cristina Lotito ParaventiRosana Tuma Saade

    Assessoria PedaggicaEduardo Oscar de Campos ChavesAssessor Pedaggico

    CoordenaoLia Cristina Lotito ParaventiAssistente Tcnico Educacional DOTG/Informtica Educativa

    ElaboradoresEduardo Oscar de Campos ChavesLia Cristina Lotito ParaventiDenise Mortari Gomes Del Grandi

    ColaboradoresEquipe de Informtica Educativa das Diretorias Regionais de EducaoAna Maria do Nascimento Pens Mrcia Sotero FilatroCleide Marina Orlando Maria Izilda Almeida BorgesCristina Barroco Massei Fernandes Maria Thereza Dantas de Santana dos SantosEdna de Ftima Santos Giannini Marilza Aparecida Marques LourenoElaine Bernardo de Oliveira Queirs Mezac Roberto Silveira JniorElayne Fernandes Moura Leite Renata de Almeida CarlottiGenilda Paes Ferreira de Paula Rosana RaimondiKarine Mota Pazzo Sandra de AlmeidaLourdes Safra Tnia Regina da Silva de SouzaMarcela de Pina Bergamine Tnia Tadeu

    Programa Nas Ondas do RdioPrograma Nas Ondas do RdioPrograma Nas Ondas do RdioPrograma Nas Ondas do RdioPrograma Nas Ondas do RdioCarlos Alberto Mendes de Lima

    Centro de Multimeios - DOT - SMEProjeto Grfico - Ncleo de Artes GrficasAna Rita da CostaJoseane A. Ferreira

    RevisoSidoni Chamoun

    Agradecimentos

    A todos os educadores que leram, sugeriram e contriburam para a redao final deste documento. Em especialaos Professores Orientadores de Informtica Educativa pelos compromissos assumidos a cada novo desafio.

  • 4 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

  • 5ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Caros Educadores e Educadorasda Rede Municipal de So Paulo

    Apresentar para a Rede Municipal de Ensino da cidade de So Paulo um currculode Tecnologias de Informao e Comunicao , de fato, uma ousadia. Mas porquecontamos com educadores que acreditam que as tecnologias tm um grande potencialinovador e, porque no dizer, transformador da atuao pedaggica, essa construofoi possvel e enriquecedora.

    O currculo que ora apresentamos fruto de quatro anos de trabalho que tem noambiente virtual seu maior diferencial, uma vez que por meio dele que novas relaesinterpessoais acontecem; o protagonismo de alunos e professores tem encontromarcado e as aprendizagens colaborativas so potencializadas.

    Fazer e compartilhar, esses so os objetivos estabelecidos nessas orientaescurriculares de TIC na era da Comunicao, e a internet o espao de atuao.

    a internet que me possibilita conhecer mais de perto nossos alunos eprofessores por meio da publicao de suas histrias de vida, seus anseios equestionamentos. , tambm, pelo twittes que reconheo as prticas do cotidianodas escolas , seus avanos e dificuldades, onde recebo crticas e elogios. nesseespao virtual que nos aproximamos de modo nunca antes experimentado. E essarelao veio para ficar.

    Portanto, o currculo que propomos um currculo que estabelece vnculos, quedevem ocorrer de forma permanente e duradoura, para que seja significativo na vidade cada aluno e de cada educador. Para que isso ocorra precisamos que todos seapropriem da internet como um ambiente de aprendizagem colaborativa que, semdvida alguma, ser a fora motriz para a educao transformadora que almejamos.

    Esperamos que as Proposies de Expectativas de Aprendizagem com asTecnologias Digitais de Informao e Comunicao TDIC, hoje apresentadas, possamser o elemento norteador para as prticas de todos os educadores da rede e assimoferecermos para nossos alunos uma educao que transcenda todos os espaosfsicos escolares.

    Alexandre Alves SchneiderSecretrio Municipal de Educao

  • 6 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Currculo de TIC e o FuturoFalar sobre Currculo de Tecnologias de Informao e Comunicao -TIC e o

    Futuro falar sobre efemeridade.

    As TIC impem um movimento to alucinante e, por vezes, to passageiro, que,num instante, aquilo que era futuro se torna presente e j aponta para algo diferenteque, novamente, fica no futuro. Mas s por pouco tempo... E aquilo que hoje presentese torna passado com incrvel rapidez.

    Mas esse movimento, que passa por nossas vidas de forma rpida e efmera(razo pela qual alguns erroneamente o consideram mera srie de modismos),sutilmente determina novos modos de ser, de conviver, de trabalhar, de divertir-se e deaprender, enfim, novos modos de viver.

    Nesse movimento, o presente e o futuro, o presencial e o virtual, o formal, oinformal, e o no-formal vo se mesclando em novos tempos e espaos, criandonovos ambientes em que as relaes humanas acontecem, se diversificam, se tornammais complexas.

    Antes, para nos comunicar com outra pessoa, caminhvamos, ou, ento,pegvamos uma bicicleta, um bonde, um nibus, um carro ou qualquer outro meio detransporte para chegar at onde essa pessoa estava ou ela precisava recorrer aomesmo processo para chegar at ns.

    Embora possamos ainda andar ou tomar um meio de transporte para noscomunicar, face a face, com uma pessoa, hoje temos outras alternativas: telefonesfixos, telefones celulares, torpedos (SMS), emails, mensagens instantneas(Messenger), bate-papo (chat), frum, Skype, Twitter, Facebook etc. Nestes casos, oespao percorrido virtual. E isso, que parece apenas uma revoluo tecnolgica,est ditando novas formas de convivncia, est construindo agrupamentos culturaisdiferentes e modificando substancialmente a forma das pessoas conviverem e serelacionarem.

    Nesse contexto importante perguntar como esses espaos virtuais, criadospelas TIC, afetam a educao, no s modificando o contexto em que se d a educao,mas tambm criando novos ambientes de aprendizagem, alterando a forma em queas pessoas aprendem, desenvolvendo novos recursos com os quais aprender,

  • 7ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    exigindo, dos professores de nossas escolas, novas formas de trabalhar criando, paraas nossas escolas, um novo tipo de aluno...

    Se, alguns anos atrs, podamos afirmar que a caracterstica fundamental daInternet era ser uma rede mundial que interligava computadores, ela, hoje, sem perderessa caracterstica, muito mais uma rede mundial que interliga pessoas, que colocapessoas em contato com pessoas, que lhes permite criar comunidades virtuais deinteresses afins, e que lhes d acesso s informaes necessrias para que faamaquilo que precisam ou desejam fazer.

    Se hoje temos tecnologias de ponta, temos, tambm, essas tecnologias naspontas dos nossos dedos, na palma de nossas mos, vinte e quatro horas por dia,sete dias por semana, todas as semanas do ano. E se, num determinado momento,cabia escola apenas promover a incluso digital de professores e alunos, hojetambm cabe a ela incorporar esses espaos e tempos virtuais s suas rotinas e,mais ainda, aproveitar melhor o potencial, para a aprendizagem dos alunos, de pessoasque esto fora da escola fsica mas tm algo a contribuir e tm interesse em participar:pessoas da famlia, da comunidade mais prxima, da comunidade estendida... E issotudo sem esquecer que o objetivo final proporcionar aos alunos aprendizagem demelhor qualidade.

    Como ser a escola do futuro? Provavelmente ela ser to inovadora quanto opermitirmos.

    As TIC fortalecem e potencializam cada vez mais as relaes distncia. Aseparao fsica j no necessariamente distancia. Mas ela pode tambm aproximarcada vez mais as pessoas, por focos de interesse. Assim, o importante no tantoimaginar, visionariamente, o que as TIC nos reservam num futuro distante, mas refletirsobre como usaremos as TIC num futuro to prximo que j est irrompendo emnosso presente...

    Diante disso, h algumas perguntas que no querem calar, neste momento emque as TIC j fazem parte do universo de nossas crianas, imersas desde cedo nacultura digital:

    1. Quais as consequncias para os alunos de hoje e de amanh, os nativos digitais,se a escola no construir um currculo que contemple o uso das tecnologias,dos espaos e tempos virtuais que elas tornam possveis, e das formas deconvivncia e relacionamento que eles viabilizam?

  • 8 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    2. Quais sero as novas formas de aprender nesses novos ambientes deaprendizagem, que unem o presente e o futuro, o presencial e o virtual, o formal,o informal, e o no-formal?

    3. Que tipo de atuao, perfil e identidade essas novas formas de aprender exigirodos profissionais da educao?

    4. Como construir um currculo de TIC na educao sem escolarizar ou domesticarseus recursos, seus ambientes virtuais e as formas de convivncia erelacionamento que elas proporcionam?

    Poderamos listar vrias outras questes, mas o que mais urgente,independentemente da resposta que cada um d a essas perguntas, que essasquestes sejam enfrentadas e discutidas. Ser de sua discusso, do dilogo e dacolaborao que ela engendrar que surgiro respostas que nortearo a nossa ao.

    Equipe Gestora de TIC SME/SP

    Lia Cristina Lotito Paraventi

  • 9ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Sumrio

    I. O contexto da educao .....................................................141. A tecnologia ..................................................................................................14

    2. As tecnologias digitais de informao e comunicao .................................16

    3. Mudanas, tecnologia e educao ...............................................................16

    A. A inveno da escrita alfabtica ...............................................................17

    B. A inveno da mquina impressora (tipografia) ......................................18

    C. A inveno da tecnologia digital ...............................................................19

    4. Os nativos digitais ........................................................................................19

    II. O mundo de hoje e o futuro que est irrompendo.......... 241. A realidade das TIC na educao no Brasil ..................................................25

    2. A realidade das TIC na educao no mundo ................................................27

    III. Variedades de trabalho em situao real ..................... 301. As condies reais das escolas brasileiras .................................................30

    2. Uma alternativa criativa ................................................................................30

    IV. Variedades de trabalho sob novas perspectivas ........ 361. A infraestrutura tecnolgica das escolas ......................................................36

    2. A integrao da tecnologia ao trabalho nas vrias reas curriculares ..........37

    3. O portal educacional da escola ....................................................................37

    4. Um computador por aluno ............................................................................38

    V. Onde se situa a SME-SP ....................................................... 421. A atuao da SME-SP na rea de tecnologia na educao .........................42

    2. Exemplos da atuao ...................................................................................43

    A. A arte de contar histrias .........................................................................43

    B. O aluno autor e protagonista ...................................................................46

    C. Nas Ondas do Rdio ............................................................................48

  • 10 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    D. Aluno Monitor ........................................................................................49

    E. Caderno de Orientaes Didticas-Ler e Escrever-Tecnologias na

    Educao ....................................................................................................50

    3. Consideraes .............................................................................................51

    VI. As competncias do sculo 21.......................................... 541. A preocupao com as competncias do sculo 21 ....................................54

    2. As competncias do sculo 21 detalhadas ..................................................55

    A. Competncias pessoais ..........................................................................56

    B. Competncias interpessoais ..................................................................56

    C. Competncias profissionais ...................................................................56

    a. Executivas ...........................................................................................56

    b. Gerenciais ...........................................................................................57

    D. Competncias cognitivas ........................................................................57

    a. Gerais .................................................................................................57

    b. IC .........................................................................................................58

    c. TIC ......................................................................................................58

    3. Pressupostos metodolgicos .......................................................................59

    A. Primeiro pressuposto ..............................................................................59

    B. Segundo pressuposto .............................................................................59

    C. Terceiro pressuposto ..............................................................................59

    D. Quarto pressuposto ................................................................................60

    VII. A distribuio por ano das competncias de IC/TIC.. 62VIII. Uma reflexo final sobre mudanas e a educao escolar .................................................................................. 96

    1. Introduo .....................................................................................................96

    2. A viso da educao .....................................................................................98

    3. A viso da aprendizagem..............................................................................99

    4. Um novo currculo ......................................................................................100

  • 11ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    5. Uma nova metodologia ...............................................................................101

    6. Uma nova forma de avaliar .........................................................................101

    A. A definio operacional das competncias ............................................103

    B. A seleo de indicadores .......................................................................103

    C. A especificao de critrios ..................................................................104

    D. Conceitos ..............................................................................................105

    E. Rubricas e instrumentos .......................................................................105

    F. A avaliao no contexto digital106

    7. Consideraes ......................................................................................... ..106

    IX. A tecnologia e o desenvolvimento profissional do professor .............................................................................. 108

    1. A formao atravs de mentoria .................................................................108

    2. A formao convencional com instrutor ..................................................... 110

    3. A formao em ambientes virtuais colaborativos ....................................... 111

    4. A auto-formao ......................................................................................... 111

    X. O papel da liderana na construo das TIC no currculo ................................................................................ 114XI. A conversa continua ......................................................... 120XII. Bibliografia ......................................................................... 122

    1. Livros e artigos ...........................................................................................122

    2. Sites ...........................................................................................................124

  • 12 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e ComunicaoEM

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  • 13ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Captulo I

  • 14 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    I. O contexto da educao

    1. A tecnologia

    Estamos em 2010 j no final da primeira dcada daquele que, dez anos atrs,chamvamos de Novo Milnio.

    Grandes mudanas se acumularam no mundo nos ltimos 65 anos1. E a tecnologiafoi o grande motor dessas mudanas: a sua fora propulsora. Em especial as novasTecnologias de Informao e Comunicao (TIC), agora digitais2.

    Entre as TIC convencionais, pr-digitais, esto o pergaminho, o papiro, o livromanuscrito, o papel, a tipografia, o livro impresso, a litografia, a fotografia em papel, osom gravado em disco de vinil, o jornal, o cinema em fita celulide, o rdio, a televiso,o vdeo... Tudo isso Tecnologia de Informao e Comunicao, mesmo quando emseu formato convencional, pr-digital3.

    O livro, a fotografia, o som gravado, o jornal, o cinema, o rdio, a televiso, ovdeo, e outras tecnologias convencionais acabaram se tornando tambm digitais ou recebendo similares digitais.

    Dessa forma, quando se fala, por exemplo, em livro, sem se discriminar se manuscrito, impresso ou digital, est se falando em uma categoria genrica, da qual olivro manuscrito, o livro impresso, e o livro digital so espcies: o livro manuscritoe o livro impresso so TIC convencionais, o livro eletrnico, ou e-book, TIC digital.

    1 O ano de 1945, alm de marcar o fim da Segunda Guerra Mundial, representa, no contexto do tema deste texto, um outro marcoespecial: foi o ano em que o primeiro computador eletrnico foi concludo, o ENIAC: Electronic Numeric Integrator And Calculator.Construdo como um esforo de guerra na Universidade de Pensilvnia, em Filadlfia, nos Estados Unidos, ele s foi mostrado aomundo em 14 de Fevereiro do ano seguinte. Sobre o ENIAC vide http://pt.wikipedia.org/wiki/ENIAC [consultado em 30 de Junho de2010].2 Neste texto usa-se o termo tecnologia em sentido bastante amplo para se referir a qualquer coisa que o ser humano invente paratornar sua vida mais fcil ou mais agradvel. O arado, o canho, o automvel, os culos, o violino, a cmera fotogrfica digital, tudoisso tecnologia, nesse sentido amplo tecnologia agrcola (o arado), tecnologia militar (o canho), tecnologia de transporte (oautomvel), tecnologia de percepo (os culos) e tecnologia de informao e comunicao (o violino e a cmera fotogrfica digital).Essas categorias no so exaustivas. O interesse, aqui neste texto, se limita a essa ltima categoria, ou seja, s tecnologias deinformao e comunicao.3 Daqui para frente se usar a expresso Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) para se referir tanto s antigas quantos novas tecnologias dessa rea (Informao e Comunicao). Se o contexto no deixar claro se a referncia s tecnologiasconvencionais ou s tecnologias digitais, isso ser indicado pelo acrscimo do termo antigas ou convencionais, no primeiro caso,e novas ou digitais, no segundo.

  • 15ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Na verdade, se expandirmos um pouco o conceito de tecnologia, de modo queinclua no s instrumentos, equipamentos e produtos tangveis (tecnologia hard), evirmos a tecnologia como tudo aquilo que o ser humano inventa para tornar sua vidamais fcil ou agradvel, a fala humana, o alfabeto, a escrita, os nmeros, a matemtica,a notao musical, as diferentes formas de fazer arte (inclusive literria) etc., tudoisso tecnologia (tecnologia soft), ou seja, Tecnologia de Informao e Comunicao.

    Essas coisas (na realidade, essas tcnicas) so parte da cultura, no danatureza: elas precisaram ser inventadas pelo ser humano, em algum momento desua histria, para tornar sua vida mais fcil ou agradvel.

    Entendendo, assim, a tecnologia de forma ampla, de modo a fazer com que asdiversas artes faam parte dela, ns enriquecemos o conceito de tecnologia, quepassa a abranger no s ferramentas (coisas que nos ajudam a fazer outras coisas)como brinquedos (coisas que servem apenas para nos dar prazer). Tecnologia:ferramentas (tools) e brinquedos (toys). Provavelmente crianas, adolescentes e jovenstm tanto prazer com a tecnologia e facilidade para us-la porque a veem mais comobrinquedo do que como ferramenta. Menos como parte daquilo que nos ajuda a viver emais como parte daquilo que nos d razes para querer viver.

    Antes de prosseguir, interessante enfatizar trs fatos importantes:

    a. As Tecnologias de Informao e Comunicao nem de longe se esgotam nastecnologias mais recentes, digitais;

    b. H milhares de anos as Tecnologias de Informao e Comunicao existem na sua forma convencional, naturalmente;

    c. A educao no-escolar e a escola sempre fizeram uso dessas tecnologias.

    Isso significa que, atualmente, no se trata de discutir se a escola vai ou no vaifazer uso das Tecnologias de Informao e Comunicao, mas, sim, de mostrar queela no pode continuar a usar, de forma natural e predominante, apenas as tecnologiasconvencionais, que lhe serviram to bem no passado: precisa tambm incorporar astecnologias mais recentes, e com a mesma naturalidade que hoje usa as tecnologiasconvencionais.

  • 16 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    2. As tecnologias digitais de informao ecomunicao

    As novas Tecnologias de Informao e Comunicao, as digitais, s surgiram ecomearam a se tornar populares com o trmino da fabricao do primeiro computador,o ENIAC, em 1945.

    sabido e notrio que, a partir de seu surgimento, elas mudaram drasticamentea nossa maneira de viver, trabalhar e nos divertir, e, at mesmo, a nossa forma depensar, agir e aprender.

    Essas mudanas adquiriram um novo ritmo e um novo significado com o usocomercial e a popularizao da Internet, a partir de 1993 (nos Estados Unidos) e 1995(no Brasil). At essas datas a Internet ficava disponvel apenas para o mundo acadmicodas universidades e instituies de pesquisa. S a partir de 1993, ela comeou a seabrir para o mundo, revolucionando a vida de ns todos.

    Assim, as mudanas dos ltimos quinze anos tiveram na Internet, mais do quenos computadores, em si, o seu motor, a sua fora propulsora.

    Atravs da Internet mudamos a forma de aceder informao, de gerenci-la(organiz-la, armazen-la e recuper-la), de analis-la, de apresent-la, de compartilh-la, de coloc-la em uso na tomada de deciso e na soluo de problemas. E atravsda Internet mudamos a forma de nos comunicar uns com os outros, no planointerpessoal e no plano pblico.

    Assim, a Internet , hoje, a TIC digital, por excelncia. Mais do que o computador,em si, foi a Internet a tecnologia que, dessa vez, operou como agente revolucionrio...

    E ela vai mudar a educao da mesma forma que duas outras TIC que vierammuito antes dela, a escrita alfabtica e o livro impresso, tambm mudaram. isso quevamos mostrar agora.

    3. Mudanas, tecnologia e educao

    Quando mudanas acontecem, especialmente se elas so abrangentes eprofundas, surgem novos desafios. Isso no menos verdade quando se trata daeducao.

  • 17ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    A educao, como sabemos, no acontece no vcuo. Ela sempre se d em umdeterminado contexto histrico, geogrfico, social, cultural, poltico, econmico, etecnolgico. Esse contexto coloca os desafios aos quais a educao formal deveresponder, sob pena de se tornar obsoleta e, no limite, irrelevante. E esse contexto,at certo ponto, condiciona o tipo de resposta que a educao formal pode dar aesses desafios.

    Eis alguns exemplos dessa tese, todos eles relacionados com mudanas naeducao alavancadas pela tecnologia.

    A. A inveno da escrita alfabtica

    O contexto da educao no incio da civilizao urbana, sedentria, naMesopotmia, por volta de dez mil anos antes da Era Crist (digamos, sculo 100AC), era muito diferente do contexto da educao na Grcia, no sculo que precedeu Era Crist (sculo 1 AC), sculo este que testemunhou o surgimento da escritaalfabtica e o apogeu da literatura e da filosofia grega.

    Houve inmeras mudanas importantes nesse perodo de quase cem sculosentre um e outro contexto. Entre elas, a inveno da escrita alfabtica, uma tecnologiaque iria revolucionar a educao.

    Por causa disso, uma educao adequada ao primeiro contexto no seria,necessariamente, adequada ao segundo um contexto no qual a escrita comeava ase tornar importante, permitindo o registro de uma tradio cultural at aquele pontototalmente oral, dependente da memria.

    oportuno registrar que Scrates, o maior educador da Grcia Clssica,combateu o uso da escrita na educao porque, segundo ele, a escrita desestimulavaa memria e dificultava a interao entre mestre e pupilo...

    Tambm oportuno registrar que o exemplo de Scrates nos mostra que umanova tecnologia tende a tornar obsoletas formas de educar que muitos consideramimportantes, e frequentemente impe novas formas de educar nas quais muitos aindano acreditam... Mas a escrita alfabtica havia chegado para ficar e, como ela, asmudanas que ela trouxe para a educao.

  • 18 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    B. A inveno da mquina impressora (tipografia)

    Vamos dar agora um salto sobre quinze sculos de histria ocidental e vir para oano em que o Brasil estava sendo encontrado pelos portugueses. (Esse salto passapor cima de toda a Idade Mdia).

    O contexto da educao na Europa da poca da Renascena e da ReformaProtestante, nos sculos 15 e 16 AD, era muito diferente do contexto da educao daGrcia Clssica (embora, representando, em muitos aspectos, um retorno Antiguidade Greco-Romana Clssica, em protesto contra o suposto obscurantismoda Idade Mdia). Entre as mudanas importantes, estava uma outra tecnologia: amquina impressora, que permitiu a criao da tipografia, que tornou possvel aimpresso e publicao em massa de panfletos e livros.

    Embora muitos educadores houvessem louvado a chegada do livro impresso,outros criticaram o seu uso na educao, por razes muito parecidas s utilizadaspor Scrates, quase dois mil anos antes... Mas tambm o livro impresso havia chegadopara ficar, e em pouco tempo era impensvel uma educao que no fizesse usointensivo dessa tecnologia. Na verdade, o livro impresso tornou possvel o surgimentoda escola moderna e de muitas outras coisas mais.

    Nos sculos 16 e 17 AD surgiram (em grande parte em decorrncia dapopularidade do livro impresso) as Lnguas Modernas e, com elas, as LiteraturasModernas, os Estados Modernos, a Cincia Moderna, a Revoluo Industrial e oIluminismo novas mudanas importantes de contexto, que prenunciaram a RevoluoAmericana, a Revoluo Francesa e a Era Moderna.

    Ainda nos sculos 17 e 18 AD surgiram a educao em massa e a escolamoderna, dividida em classes, com turmas homogeneizadas pela idade dos alunos,com aulas de mesma durao, com currculo padronizado, organizado na forma dedisciplinas acadmicas, com metodologia de ensino cada vez mais uniformizada...

    Muitos, em especial da elite socioeconmica, criticaram essas mudanas epreferiram continuar pagando tutores que proporcionavam uma educaoindividualizada e personalizada para os seus filhos. Mas a educao de massa e aescola modelada na fbrica (que era o cone da civilizao industrial) haviam chegadopara ficar. Para ficar, pelo menos, at agora.

  • 19ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    C. A inveno da tecnologia digital

    O sculo 20 AD viu o advento da Tecnologia Digital, representada pelo computador.Essa tecnologia permitiu que informaes textuais, sonoras e visuais fossem todascodificadas de forma numrica donde a expresso digital (oriunda do Latim digitus,que quer dizer dedo... originalmente, e sempre, se contavam os nmeros nos dedos).Por isso o nosso sistema numrico faz uso de dez dgitos isto , de dez smbolosgrficos com os quais podemos representar qualquer nmero. Mas o sistema numricodo computador mais simples. Usa apenas dois dgitos: 0 e 1. Seu sistema numrico binrio, no decimal. Transformando tudo textos, sons, grficos, imagens emzeros e uns, o computador permite que tudo isso seja processado e armazenadojunto. O computador, com sua tecnologia digital, tornou possvel (entre outras coisas)a multimdia... E tornou possvel um acervo mundial de informaes multimdia: a Internet a maior biblio-midiateca de que se tem registro.

    Como das vezes anteriores, h gente que acha que isso modismo, que, com otempo, passar, e que, por isso, se recusa a aceitar que o contexto da educao maisuma vez mudou e, com isso, a educao vai, mais uma vez, mudar.

    4. Os nativos digitais

    As crianas que nasceram em 1995 esto completando agora, em 2010, aEducao Fundamental. Ser que a escola que lhes oferecemos lhes serviu bemdurante esses nove ou mais anos de mudanas rpidas, amplas, profundas, radicaisem que frequentaram a escola?

    E quanto aos alunos que esto nascendo agora, em 2010? Eles vo concluir suaEducao Fundamental em 2025, daqui a quinze anos. Ser que a escola que temospara lhes oferecer vai lhes servir bem durante os anos em que estiverem na escola?

    Quais as mudanas que teremos nos prximos quinze anos, alavancadas pelatecnologia? Ser que possvel prever?

    A quantidade, a abrangncia, a profundidade e a rapidez das mudanas queocorreram ao nosso redor nos ltimos quinze anos foram fantsticas. No teramosconseguido prever nem uma pequena parte delas em 1995.

  • 20 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Eis algumas das mudanas acontecidas nesse perodo aqui no Brasil:

    Quinze anos atrs no havia Internet comercial, aberta.

    Quinze anos atrs quase ningum sabia, fora de algumas universidades, o queera um email, um site, um endereo eletrnico.

    Quinze anos atrs ningum sabia o que era um blog, porque blogs nem sequerhaviam sido inventados.

    Quinze anos atrs ningum tinha telefone celular.

    Quinze anos atrs, na verdade, pouca gente tinha telefone fixo.

    Quinze anos atrs ningum tinha televiso por assinatura (a cabo ou por satlite),muito menos televiso digital.

    Quinze anos atrs ningum tinha cmera digital.

    Quinze anos atrs ningum ouvia mp3, ningum tinha tocador de mp3, ningumandava com fones nos ouvidos pelas ruas.

    Quinze anos atrs ningum podia colocar seu vdeo caseiro na Internet para omundo inteiro ver.

    Quinze anos atrs ningum tinha leitor de livro eletrnico.

    Quinze anos atrs no havia msicas, fotografias, vdeos e livros em formatodigital na Internet para os usurios baixarem (a fim de ouvir, ver e ler, em seusdispositivos digitais).

    Hoje, mesmo aqui no Brasil, quase todo mundo tem endereo eletrnico, celularno bolso (com acesso Internet, e, alm disso, com cmera digital, tocador de msicadigital, e, em alguns casos, at sintonizador de televiso...) e (quando no temcomputador prprio ou em casa) acesso a computador. Muita gente tem site ou blogou tem uma pgina cheia de fotos, recados, textos e links em um site de rede social.

    Quem iria imaginar tudo isso quinze anos atrs, no incio de 1995?

    E quem conseguir imaginar o que ser o nosso mundo em 2025, quinze anos frente? provvel que os prximos quinze anos nos tragam mudanas, e mudanasmais radicais, do que os ltimos quinze anos nos trouxeram.

    Se os prximos quinze anos trouxerem o mesmo grau de mudanas que osltimos quinze trouxeram, a educao que hoje oferecemos em nossas escolas ser

  • 21ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    ainda mais inadequada em 2025 do que hoje. Se trouxerem mudanas em maiornmero, rapidez, amplitude e intensidade, a educao que hoje oferecemos em nossasescolas ser totalmente anacrnica.

    Isto por uma razo muito simples: a educao que oferecemos hoje muitopouco diferente da que oferecamos em 1995, que, por sua vez, muito pouco diferenteda que oferecamos em 1945, cinquenta anos antes, que por sua vez...

    Isso significa que precisamos mudar a educao que oferecemos em nossasescolas para os nativos digitais - aqueles que nasceram ao longo desses ltimosquinze anos e dos que vierem a nascer nos prximos anos.

  • 22 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e ComunicaoFo

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  • 23ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Captulo II

  • 24 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    II. O mundo de hoje e o futuro queest irrompendo

    Que a escola precisa incorporar as Tecnologias Digitais de Informao eComunicao Educao Bsica no h a menor dvida.

    Essa , hoje, uma questo fechada.

    A questo que permanece aberta como fazer essa incorporao, diante darealidade presente das escolas, dos recursos disponveis para a educao escolar, edo estgio atual da reflexo sobre o assunto, tanto no plano global como aqui no Brasil.

    Em relao a essa questo aberta vivemos, basicamente, em tenso entre duassituaes que competem atualmente entre si e que nos puxam, ora para um lado, orapara o outro.

    A primeira, voltando o olhar mais para o presente, enfoca o que pode ser feito,aqui e agora, com os recursos humanos, materiais e financeiros de que o sistemaescolar dispe (ainda que admita que a realidade escolar esteja longe do ideal);

    A segunda, voltando o olhar mais para o futuro, busca trazer as condies reaisda escola de hoje mais prximas de um futuro que se imagina prximo, propondoque trabalhemos, desde j, com uma viso diferente daquilo que a escola, coma ajuda da tecnologia, pode ser e fazer, assim tentando, aos poucos, mudar arealidade atual da escola brasileira.

    Os usos da tecnologia na escola brasileira de hoje, tendo como base no s asituao real da escola, mas, tambm, novas perspectivas, que j se descortinam emalguns lugares do mundo, podem ser caracterizados da seguinte maneira:

    Apoiar (suportar) o que ali j se faz, melhorando a qualidade dos resultados oureduzindo os custos dos processos;

    Estender (suplementar) o que ali se faz, sem, entretanto, romper o paradigmapedaggico vigente.

    Transformar (suplantar) o paradigma pedaggico ali vigente, de modo a permitiro oportuno surgimento de uma nova escola. 4

    4 Esses Trs S (Suportar, Suplementar e Suplantar o que se faz na escola) foram propostos, como categorias para classificaodo uso das TIC na escola, originalmente por George Scharffenberger, da ONG Global World Links, em discusso em evento de umsubgrupo formado por participantes indicados pelo World Economic Forum e pela International Conference on Financing for Developmentof the United Nations, que discutiu o tema Parcerias Pblico-Privadas na rea da Educao. O evento foi realizado em Braslia, DF,em 7-8 de Novembro de 2004.

  • 25ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    No h dvida de que sempre haver mudanas na escola quando a tecnologiapassa a fazer parte dela. A questo se essas mudanas sero feitas dentro doparadigma educacional vigente, sendo caracterizveis como mudanasreformadoras, ou se elas contribuiro para a eventual substituio do paradigma,sendo caracterizveis como mudanas transformadoras. 5

    5 A distino entre mudanas reformadoras e mudanas transformadoras retirada do livro Education Epidemic: TransformingSecondary Schools Through Innovation Networks, de David H. Hargreaves (Demos, Londres, 2003). O texto completo do livro estdisponvel na Internet, em formato .pdf, no seguinte endereo: http://www.demos.co.uk/files/educationepidemic.pdf. (Verificao feitaem 24/5/2010).

    oportuno registrar que as mudanas provocadas por novas tecnologias, mesmoque essas mudanas tenham sido apenas reformadoras, e por mais tnues quepossam parecer hoje, quando se olha para elas em retrospectiva, provocaram severascrticas de educadores. Scrates, o maior educador da Grcia Clssica, combateu,como se viu, o uso da escrita alfabtica na educao - porque, segundo ele, aescrita desestimulava a memria e dificultava a interao entre mestre e pupilo...Educadores da Renascena do sculo 15 tambm criticaram o livro impresso, comargumentos virtualmente idnticos aos de Scrates. Esses crticos tinham certarazo, bom que se diga. Tecnologias de Informao e Comunicao, quandointroduzidas no processo pedaggico, tendem a tornar obsoletas algumas formasde educar que muitos educadores consideram importantes, e frequentementeimpem novas formas de educar nas quais muitos educadores ainda no acreditame com as quais ainda no se sentem confortveis... Mas, como vimos, a escritaalfabtica e o livro impresso, e as mudanas que trouxeram para a educao, nodeixaram de ser usados na educao por causa das crticas, pois haviam chegadopara ficar. O mesmo se pode dizer das TIC, hoje. Elas esto aqui para ficar.

    1. A realidade das TIC na educao no Brasil

    A realidade da maior parte das escolas brasileiras, no que diz respeito ao uso dasTIC digitais na educao, pode ser caracterizada em relao aos seguintes quesitos:

    A quantidade e a configurao dos computadores disponveis para uso naatividade-fim da escola (a aprendizagem dos alunos, para a qual contribui oensino dos professores);

    A natureza e a qualidade do acesso Internet disponvel para essescomputadores na escola;

    O preparo, a capacidade e a disposio dos professores para utilizar oscomputadores e a Internet no processo pedaggico.

  • 26 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Em relao a esses quesitos, e levando em conta todo o territrio nacional, possvel concluir:

    A maioria das escolas brasileiras tem um nmero relativamente reduzido decomputadores (quando comparado ao nmero de alunos a referncia sendoum computador por aluno);

    A configurao desses computadores (em termos de rapidez de processamento,capacidade de memria, espao de armazenamento em disco etc.) em geraldeixa muito a desejar, mesmo em comparao com a mdia do mercado no-escolar;

    Na maior parte dos casos esses computadores esto reunidos apenas emlaboratrios, no ficando distribudos pelos demais ambientes de aprendizagemda escola, como, por exemplo, as salas de aula, a biblioteca, a midiateca, asala ambiente etc.;

    A maioria das escolas tem acesso precrio Internet, o acesso em banda largaconfivel e de alta velocidade quase inexistindo nas escolas pblicas;

    As escolas, no geral, possuem projetos tmidos para o uso das TIC, deixando acargo dos professores a deciso de incorpor-las sua prtica pedaggica oude desenvolver algum tipo de atividade esporadicamente;

    A culpa aqui no dos sistemas escolares ou no apenas deles. Eis o quedisse Silvio Meira sobre a banda larga no Brasil, em artigo na Folha de S. Paulo de27 de maio de 2010, com o ttulo O plano, a banda e a incluso digital: Bandalarga no chega nem metade dos municpios e s existe em cerca de 21% doslares. Como se no bastasse, mais de 54% das nossas conexes de banda largatm velocidades nominais abaixo de um megabit por segundo, o que significa quevdeo pela rede, por aqui, coisa rara. E de m qualidade. O que torna muito difcileducao, sade e negcios pela rede, entre outras tantas coisas que existem eso usadas, como fato consumado, mundo afora. Sem falar que, mesmo para ouso comum da rede, mesmo para o que d para fazer com a rede que se tem, opreo do megabit por segundo brasileiro estratosfrico: aqui, como porcentagemda renda familiar, banda larga custa dez vezes mais do que nos pases maisconectados. Cf. a ntegra do artigo na Folha no endereo http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2705201025.htm. [Consultado em 27/5/2010].Registre-se, por outro lado, que o preo elevado cobrado pelas operadoras se justifica,em parte, pelos altssimos impostos que incidem sobre as telecomunicaes noBrasil, que no isentam nem mesmo a banda larga para escolas.

  • 27ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    As atividades desenvolvidas pelos professores junto aos alunos podem sercaracterizadas de trs formas principais:

    - Ou elas incluem apenas o aprendizado do manejo tcnico da tecnologia em si;

    - Ou elas incluem tambm o domnio de competncias de Informao eComunicao, para as quais as TIC so especialmente relevantes;

    - Ou, ento, elas procuram integrar as TIC aos demais contedos curriculares,cabendo a um professor especialista em Tecnologia na Educao a tarefa debuscar a articulao com os outros professores com vistas efetivao dessaintegrao;

    A escola no prev que os alunos faam uso do portal da instituio parafinalidades pedaggicas (i.e., como um dos ambientes de aprendizagem),quando os alunos esto fora dos horrios escolares e longe dos limites fsicosda escola, ainda que seja lcito esperar que muitos alunos tenham computadoresem casa ou tenham acesso a computadores de LAN Houses ou outrosambientes similares.

    2. A realidade das TIC na educao nomundo

    Iniciativas que buscam romper com o paradigma pedaggico vigente, mas queesto instanciadas apenas em condies hoje ainda excepcionais, tanto no Brasilcomo fora, propem o seguinte (em relao a basicamente os mesmos quesitos vistosna subseo anterior):

    Cada aluno da escola tem seu prprio computador, relativamente bemconfigurado (com acesso wireless, cmera de vdeo etc.), e a instituio noimpe maiores restries ao seu uso, dentro ou fora da sala de aula (cadaaluno podendo at mesmo levar seu computador para casa);

    Os computadores pertencentes escola esto distribudos pelos diferentesambientes de aprendizagem da escola (as salas de aulas, a biblioteca, amidiateca, os laboratrios etc.);

  • 28 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Os computadores dos alunos e os computadores da escola tm pleno acesso rede sem fio da escola e, atravs dela, Internet, podendo, portanto, se comunicaruns com os outros e com computadores externos, sendo o acesso Internetda escola confivel e de banda relativamente alta;

    Embora a escola possua pessoal tcnico especializado na manuteno dainfraestrutura tecnolgica, no h professores especializados no uso daTecnologia na Educao (exceto, talvez, em nvel de Coordenao Pedaggica),sendo responsabilidade de todos os professores da escola a incorporao datecnologia experincia pedaggica dos alunos;

    As atividades desenvolvidas pelos professores junto aos alunos para incorporara tecnologia sua experincia pedaggica esto totalmente integradas aosdemais contedos curriculares, tornando-se, portanto, to natural quanto , hoje,a integrao do livro, do audiovisual, do quadro-negro e do giz, do caderno e dolpis;

    A escola prev que os alunos faam uso do portal da instituio para finalidadespedaggicas (i.e., como um dos ambientes de aprendizagem), mesmo quandoeles esto fora dos horrios escolares e longe dos limites fsicos da escola,ficando o portal caracterizado como parte integrante dos ambientes deaprendizagem da escola e esperando a escola que alunos e professores faampleno uso dele na aprendizagem e no ensino a qualquer momento (anytime) ede qualquer local (anywhere).

  • 29ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Captulo III

  • 30 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    III. Variedades de trabalho emsituao real

    1. As condies reais das escolas brasileiras

    As condies reais das escolas brasileiras podem ser descritas (como, em parte,j foi observado) basicamente da seguinte forma:

    Nmero reduzido de computadores em cada escola e acesso precrio Internet,o que faz com que:

    - O nmero de alunos por computador seja bastante elevado, ficando oscomputadores agrupados em um laboratrio que os alunos frequentam poralgum tempo (no raro menos de uma hora por semana);

    - As atividades que podem ser realizadas com o apoio da Internet so limitadaspela pouca confiabilidade e lentido do acesso Internet;

    O corpo docente, composto majoritariamente de imigrantes digitais, no teve,enquanto crescia, condies de desenvolver familiaridade e intimidade com atecnologia digital sentindo-se (e de fato estando) despreparado, em consequnciadisso, para integrar o computador e a Internet ao cotidiano de seu trabalhopedaggico.

    Diante dessas condies, importante que se considere a integrao e a inserodas reas do conhecimento no planejamento do uso da tecnologia na educao.

    2. Uma alternativa criativa

    possvel recorrer a uma alternativa bem mais criativa, mas que no envolveainda a total integrao das TIC aos demais contedos curriculares. Trata-se de umaalternativa intermediria, que parte da seguinte constatao:

    Uma coisa so os processos de Informao e Comunicao (IC), e ascompetncias que so necessrias para que possamos lidar com eles de formaeficaz e eficiente no contexto educacional;

  • 31ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Outra coisa so as TIC, que nos ajudam a lidar com a Informao e aComunicao de forma mais eficaz e eficiente do que conseguiramos fazersem elas.

    Entre os processos bsicos que dizem respeito Informao h os seguintes:

    Busca da informao;

    Gerenciamento (organizao, armazenamento e recuperao) da informao;

    Tratamento, anlise e avaliao da informao.

    Entre os processos bsicos que dizem respeito Comunicao h os seguintes:

    Troca ou compartilhamento de informaes entre pessoas;

    Disseminao oral ou escrita de informaes para o grande pblico;

    Discusso e debate da informao.

    Tanto os processos que dizem respeito Informao como aqueles que dizemrespeito Comunicao dependem de tecnologias (convencionais ou digitais). evidente que as TIC convencionais ainda so de grande utilidade na educao.

    No tocante Informao, a busca de informaes textuais pode envolver apesquisa em uma biblioteca, por exemplo, onde os livros esto em formatoconvencional. (Livros manuscritos ou impressos, como vimos, so tecnologia emborano tecnologia digital). A busca de informaes sonoras pode envolver discos ou fitasanalgicos. A busca de informaes visuais pode envolver fotografias impressas oufilmes gravados em mdia analgica.

    No tocante Comunicao, a troca ou o compartilhamento de informaes entrepessoas pode se dar por viva voz (pessoalmente ou em reunies) ou por cartaconvencional, escrita em papel. A disseminao oral de informaes para o grandepblico pode se dar por palestras, conferncias, aulas, comcios, pregaes, em quese usa a viva voz. A publicao de informaes pode prescindir do uso de tecnologiadigital, usando as tipografias convencionais. A discusso e o debate podem se dar aovivo, sem uso de nenhuma outra tecnologia alm da voz humana.

    Concluses importantes:

    Todos esses processos de Informao e Comunicao dependem detecnologias, mas no necessariamente de tecnologias digitais;

    importante diferenciar os processos das tecnologias que lhes do apoio.

  • 32 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Alm disso, todos esses processos so constantemente utilizados na educao,em todos os nveis qualquer que seja a sua modalidade e qualquer que seja a suaorientao terica. So essenciais para a educao. No exagero dizer que, semeles, no h educao.

    Isso nos traz a uma importante concluso: as Tecnologias de Informao eComunicao, digitais ou no, so importantes para a educao, no porque sejamtecnologia, mas porque so Tecnologias de Informao e Comunicao. Estudar astecnologias, sem estudar os processos que tornam as tecnologias importantes,equivale simplesmente a aprender um jogo cuja importncia se esgota em si mesma.

    Hoje as Tecnologias de Informao e Comunicao convencionais co-existemcom as Tecnologias de Informao e Comunicao digitais. Estas iro, em muitasreas, substituir as tecnologias convencionais. O email, por exemplo, j substitui, comvantagens, a carta convencional, escrita em papel. Mas qualquer que seja a tecnologia,convencional ou digital, ela precisa ser estudada junto com os processos de Informaoe Comunicao aos quais apiam e do suporte.

    E os processos de Informao e Comunicao tambm fazem parte do dia-a-diados alunos, dentro e fora da escola. No tocante Informao, os alunos, em sua vidaextra-escolar, tambm buscam informaes, gerenciam as informaes que tm, fazemcom elas comparaes e anlises, e delas inferem concluses. No tocante Comunicao, eles trocam emails, mensagens instantneas e twits com frequncia,criam blogs e at mesmo sites, e discutem e debatem informaes.

    Assim sendo, os professores especialistas em Tecnologia na Educao podemtrabalhar, no Laboratrio de Informtica, esses processos de Informao eComunicao e as tecnologias que lhes do suporte. Isso pode ser feito, sempre quepossvel, em paralelo com a discusso desses processos nas demais reascurriculares.

    Essa alternativa permite que:

    As TIC sejam integradas aos processos de Informao e Comunicao queso o seu fundamento;

    O estudo dos processos de Informao e Comunicao, com as tecnologiasque lhe do suporte, seja integrado a componentes essenciais de todas asdemais reas curriculares;

  • 33ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Haja uma maior articulao entre os professores especialistas em Tecnologiana Educao e os demais professores da escola e estes sejam incentivados aintegrar a tecnologia ao seu prprio trabalho pedaggico, o que ser um passosignificativo em direo s novas perspectivas curriculares;

    Tudo isso seja contextualizado na vida e na experincia do aluno fato quecontribui para uma aprendizagem significativa e duradoura.

    Como se v, essa alternativa permite que se alcancem vrios importantes objetivospedaggicos com uma s abordagem ou um s tipo de ao.

  • 34 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e ComunicaoEM

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  • 35ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Captulo IV

  • 36 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    IV. Variedades de trabalho sobnovas perspectivas

    Entende-se por novas perspectivas as condies e aes que visam atransformar a situao atual em uma situao, evidentemente desejvel, mas queainda est distante da realidade das escolas brasileiras e da maioria das escolas nomundo. Mas isso no quer dizer que no se deva trabalhar na direo dela. Pelocontrrio.

    1. A infraestrutura tecnolgica das escolas

    As tecnologias que esto por vir, e, que, em grande parte, j esto presentes nasociedade, mas ainda no dentro da escola, consomem enormes quantidades deinformao digital (textos, sons, fotografias, vdeos). Para o acesso eficiente a essasinformaes so necessrios meios de transmisso de dados cada vez mais potentes,em termos de capacidade (banda) e velocidade. Por isso, a escola vai precisar depotente infraestrutura de rede, com cabos ou sem fio, e acesso confivel Internet,em banda larga de alta velocidade, que permita o uso de todas as modalidades de TICna escola, dentro e fora da sala de aula. No tocante a equipamentos, computadores(desktops, laptops, notebooks e netbooks) capazes de processar confortavelmentesom e vdeo, vrios tipos de dispositivos que permitam a leitura de textos eletrnicos ea reproduo de sons e imagens (estticas e em movimento), bem como equipamentosde projeo multimdia, cmeras fotogrficas e de vdeo, impressoras em cores etc.

    Dessa forma, a partir do momento em que os alunos contarem comcomputadores para uso prprio na escola (e, talvez, tambm fora dela), eles poderose comunicar, tanto entre si como com os professores, os demais funcionrios daescola, e pessoas externas, usando a infraestrutura de rede e de acesso Internet daescola. E podero ter acesso a sites, a ambientes virtuais de aprendizagem colaborativae portais da prpria escola e externos.

    Adiante, na Seo 3, se falar, especificamente, sobre o portal educacional daescola.

  • 37ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    2. A integrao da tecnologia ao trabalho nasvrias reas curriculares

    Em um contexto assim, o computador passa a ser um recurso pedaggico tocomum e corriqueiro como hoje o livro impresso, e, assim, dever serresponsabilidade de todos os professores da escola a sua incorporao, de formanatural (e no excepcional), experincia pedaggica dos alunos.

    As atividades desenvolvidas pelos professores da escola junto aos alunos serovoltadas para a aprendizagem dos demais contedos curriculares mas a tecnologiaestar presente como:

    Ferramenta de aprendizagem, tanto dos processos de Informao eComunicao (sobre os quais se falar adiante), como dos demais processospedaggicos;

    Mediadora da relao pedaggica professor-aluno e aluno-aluno;

    Estruturadora de novos ambientes de aprendizagem que unem tanto o virtual eo presencial como o formal e o no-formal.

    3. O portal educacional da escola

    Em um contexto como esse, a escola deixa de ser apenas um local fsico que osalunos frequentam algumas horas por dia, nos dias de semana do perodo letivo, parase tornar um ambiente de aprendizagem complexo, com componentes fsicos e virtuais,formais, informais e no-formais, que est disposio dos alunos e dos professoresvinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, todas as semanas do ano.

    O portal educacional da escola provavelmente se tornar, nesse caso, a principalporta de acesso do aluno escola mais importante do que o porto fsico pelo qualele adentra a escola material.

    Se o portal educacional da escola se tornar, pelas suas caractersticas, o principalponto de encontro e permanncia do aluno na Internet, o sucesso pedaggico desseportal estar garantido, pois ser atravs dele que o aluno conduzir a sua

  • 38 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    aprendizagem formal, em interao com professores e colegas, e a sua aprendizageminformal e no-formal, em interao com amigos e contatos externos.6

    Quando isso acontecer, o aluno estar aprendendo a qualquer momento(anytime) e de qualquer local (anywhere), e a escola, com seus componentes fsicose virtuais, formais, informais e no-formais, ter participao decisiva nesseaprendizado.

    4. Um computador por aluno

    A realidade de hoje no mundo empresarial (at em pequenas empresas), nasorganizaes no-governamentais e mesmo em muitos rgos governamentais jcontempla o fato de que os computadores atuais so realmente equipamentos pessoais:cada pessoa que ali trabalha deve ter o seu ( por isso que ele foi apelidado de PC:Personal Computer). Nele ela realiza seu trabalho, e atravs dele que, durante operodo de trabalho, ela se comunica com o mundo externo sejam os contatosprofissionais ou no. Muitas organizaes hoje distribuem laptops, notebooks ounetbooks para as pessoas que nelas trabalham e permitem, e mesmo esperam,que as pessoas levem esses computadores para casa ao final do expediente dirio.

    A situao das escolas um pouco diferente, porque os alunos, emborafrequentem a instituio, no trabalham ali. Mesmo assim, h, hoje, um movimentoglobal iniciado por Nicholas Negroponte e apoiado por educadores em geral (e porvirtualmente todas as empresas da rea de informtica) no sentido de prover cadaaluno da Educao Bsica com um computador (laptop, notebook ou netbook). Omovimento iniciado por Negroponte, One Laptop per Child OLPC (batizado no Brasilde Um Computador por Aluno UCA), ganha momento, embora o netbook que eleprojetou no seja o mais popular. Quase todos os fabricantes de computadoreslanaram modelos de netbooks, cujo preo, hoje, ainda no chegou a cem dlares,mas est bem mais perto desse montante do que jamais se imaginou possvel (estando,hoje, na casa dos trezentos dlares). medida que a demanda cresce, o preo baixa aumentando a demanda ainda mais. Algo que, h cinco anos, parecia impossvel, a

    6 Algumas escolas pretendem que seus portais educacionais se tornem o principal ponto de referncia na Internet tambm para ex-alunos, para que estes possam manter contato com a escola e, at mesmo, recorrer a ela quando necessitarem ou desejarem formaoprofissional continuada.

  • 39ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    saber, colocar um computador nas mos de cada aluno das escolas de EducaoBsica, j aparece como uma possibilidade concreta no horizonte das escolas 7.

    Quando isso acontecer, restaro a definio de regras para o uso dessesequipamentos nas escolas (e se podero lev-los para casa ao final do dia) e a questodo que fazer com os computadores do ponto de vista pedaggico.

    Os limites em que a primeira dessas questes dever ser decidida so:

    De um lado, o uso irrestrito do computador, fora e dentro da sala de aula;

    De outro lado, o uso controlado do computador (do tipo s se usa o computadorquando o professor autorizar e para fazer o que ele determinar).

    So conhecidos casos em que, em ambientes de um computador por aluno, aescola fixou regras do tipo:

    Na sala de aula, a ateno fala do professor tem primazia sobre outras atividades.Assim sendo, se os alunos estiverem usando o computador em algum trabalho oualguma atividade, e o professor comear a falar, eles devem baixar a tampa do notebookpara um ngulo de 45 graus, para que o que est na tela no atrapalhe a ateno quetodo aluno deve sempre prestar ao professor. 8

    Esse tipo de recomendao no se coaduna bem com a postura inovadora postura centrada nos alunos, em que estes so ativos e protagonistas, i.e., atoresprincipais de sua prpria aprendizagem.

    Por outro lado, o protagonismo estudantil, aliado ao uso irrestrito do computadorfora e dentro da sala de aula, vai exigir do professor postura e metodologia diferentesdaquelas vigentes no paradigma atual. O perfil e o ofcio do professor certamente iroser redefinidos no processo.

    Para comear, o professor precisar ter muita autoconfiana e segurana de si edo seu papel (sem mencionar competncia e conhecimento em sua rea de atuao)para poder lidar eficaz e eficientemente com um grupo de alunos em que a atenoestar principalmente voltada para a tela dos seus computadores pessoais. Se um

    7 Sugere o bom senso que esses netbooks destinados a uso pelos alunos sejam to prximos quanto possvel, tanto em termos dehardware como de software (a incluso o Sistema Operacional), dos computadores que eles usam ou venham a usar, em casa, em LANHouses, ou, oportunamente, no mundo do trabalho. No parece recomendvel que os alunos aprendam a usar o computador na escolaem um ambiente de hardware e software e venham a utiliz-lo, fora da escola, em ambiente diverso.8 Esse texto, na forma em que se encontra, no uma citao: uma montagem com base em vrios textos analisados.

  • 40 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    aluno questiona, com base em pesquisa feita na hora na Internet, uma informao queo professor fornece, o tipo de atitude que o professor assume e a maneira em queresponde manifestao do aluno sero decisivos na manuteno de sua autoridade moral ou outra sobre a classe.

    EMEF Cacilda Becker - Foto Lilian Borges

  • 41ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Captulo V

  • 42 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    V. Onde se situa a SME-SPA SME-SP, por meio de seus programas e projetos, j vem executando uma srie

    de aes na rea de Tecnologia na Educao, como se pode verificar no portal dainstituio, na seo dedicada ao programa de Informtica Educativa 9, e ao programaNas Ondas do Rdio10, que j apontam novas perspectivas de insero das TIC nocurrculo.

    1. A atuao da SME-SP na rea de tecnologiana educao

    Em termos de Estrutura Fsica, esta a situao da SME-SP no momento,conforme se pode ver no Portal da SME-SP:

    Todas as unidades educacionais da rede esto equipadas com computadores econexo internet. As Escolas Municipais de Ensino Fundamental, Ensino Mdio,Educao Especial e os Centros Integrados de Educao de Jovens e Adultos possuemlaboratrios de informtica com vinte e um computadores, Internet, webcams, projetormultimdia, impressoras e softwares. 11

    Quanto ao tempo que os alunos passam nos Laboratrios de Informtica, eis oque informa o Portal:

    Os alunos do Ensino Fundamental e Mdio tm uma aula de Informtica Educativasemanal no horrio regular de aulas e contam com a regncia de ProfessoresOrientadores de Informtica Educativa (POIE). O programa [de Informtica Educativa]tambm prev horrios de pesquisa no laboratrio de informtica, fora do horrio regularde aula, alm de promover a formao permanente de educadores e estudantes emcursos semipresenciais, oficinas e projetos desenvolvidos em ambientes virtuais deaprendizagem colaborativa, voltados para a comunicao, pesquisa e publicao nainternet, autoria e protagonismo. 12

    9 Confira-se http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/ie/Default.aspx (consultado em 24/05/2010).10 Confira-se http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/anonimo/educom/nasondas.aspx (consultado em 26/6/2010).11 Vide http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/ie/AnonimoSistema/MenuTexto.aspx?MenuID=18&MenuIDAberto=12.12 Idem, Ibidem.

  • 43ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Na subseo dedicada Linha do Tempo 13 no portal da Secretaria pode-seconstatar que o foco do trabalho, na rea de incorporao da tecnologia ao trabalhopedaggico da escola, est, cronologicamente, em seu quarto foco, a saber 14:

    Incluso Digital (A Familiarizao com o Computador e a Internet)

    Alfabetizao Digital (A Leitura e a Escrita nas Linguagens Digitais)

    Letramento Digital (A Busca da Informao, a Comunicao e a Disseminaode Informaes na Era Digital )

    Competncias do Sculo 21 (Viso Geral, com foco nas Competncias deInformao e Comunicao e Suas Tecnologias)

    A nfase tem sido colocada, nos ltimos tempos, no desenvolvimento, por partede professores e alunos, de competncias de Informao e Comunicao para asquais a tecnologia tem se mostrado essencial.

    A seguir discutiremos algumas dessas competncias, a ttulo de exemplo.

    2. Exemplos da atuao

    A. A arte de contar histrias

    Uma dessas competncias contar histrias.

    Nossa identidade pessoal definida por nossas memrias e nossas memriasrefletem as histrias que somos capazes de contar: sobre ns mesmos, sobre nossosparentes e amigos, sobre nossos amores, sobre nosso trabalho, sobre a cidade ou opas em que vivemos enfim, sobre as experincias e os relacionamentos que temos,as ideias que pensamos, as emoes que sentimos, os sonhos que sonhamos, osprojetos que criamos para tentar transformar nossos sonhos em realidade.

    Gabriel Garcia Mrquez usa como mote de sua autobiografia uma frase instigante:Nossa vida no aquela que vivemos, mas, sim, aquela que lembramos, e como alembramos, para poder contar sua histria 15.

    13 Vide http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/ie/AnonimoSistema/MenuTexto.aspx?MenuID=15.14 Os focos introduzidos mais recentemente naturalmente no invalidam ou mesmo cancelam os anteriores, apenas acrescentando-se a eles.15 Vivir para Contarla (Grupo Editorial Norma, Bogot, 2002).

  • 44 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Colocando tudo isso num resumo: nossa identidade pessoal definida pelashistrias que somos capazes de contar.

    Mas no apenas nossa identidade pessoal que definida pelas histrias quesomos capazes de contar: nossa identidade cultural e mesmo tnica ou nacionaltambm definida pelas histrias que somos capazes de contar sobre as coisas queimportam em nossa cultura, sobre os eventos e personagens que ajudaram a construira nossa histria. A nossa lngua parte essencial de nossa identidade cultural-tnica-nacional e nossas histrias so sempre construdas na lngua que adotamos comonossa...

    Assim, nossa identidade, tanto no plano individual como no plano cultural, tnico,e nacional, est profundamente misturada com nossa capacidade de contar histrias.

    Por muito tempo o contar histrias foi uma atividade tipicamente oral: as histrias,reais ou inventadas, eram contadas de viva voz, de um para outro, em pequenosgrupos.

    Com o surgimento da escrita, apareceu, ao lado do contar histrias oralmente, ocontar histrias por escrito e, com isso, sugiram tanto a histria, propriamente dita,ou seja, relatos de eventos que se acredita terem de fato acontecido, como a literatura,ou seja, relatos de eventos imaginados (fico).

    Com o aparecimento da impresso de tipos mveis, por volta de 1450, tornou-sepossvel tambm o aparecimento eventual do jornalismo que um contar histriascorrentes, da atualidade. 16

    O sculo XX, porm, foi o sculo do audiovisual. A fotografia foi inventada antes,mas o cinema e a televiso so tpicos do sculo XX. verdade que o cinema comeoumudo mas continha pequenos textos e dilogos. Em meados do sculo XX surgiu ocomputador e, mais para o final do sculo, multimdia: o audiovisual por excelncia.

    Assim, o contar histrias, no sculo XX, passou a ser no mais baseadoexclusivamente na palavra, oral ou escrita (embora a palavra continue extremamenteimportante): as imagens passaram a ser ingredientes indispensveis das nossashistrias - e agora ns no somente ouvimos e lemos histrias, mas assistimos suarepresentao audiovisual. Apesar do fato de que a histria, o jornalismo e a literatura

    16 Sobre a relao entre histria-jornalismo e literatura, vide o interessantssimo livro de Mario Vargas Llosa, La Verdad de las Mentiras(Alfaguara, Buenos Aires, 2002 2 ed). A mentira , naturalmente, a fico, a literatura.

  • 45ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    esto mais fortes do que nunca, no se concebe, hoje, uma histria sem fotografias edocumentrios, um jornalismo exclusivamente impresso, ou uma fico que no sejatraduzvel para um filme, uma minissrie, uma novela...

    Crianas adoram ouvir histrias. Conta outra, o que sempre pedem... Gostamtambm de contar histrias. E no resta dvida de que adoram tecnologia. Assim, evidente que gostam de histrias audiovisuais construdas e transmitidas com o auxlioda tecnologia: o sucesso da televiso est a para comprovar isso. 17

    Em todo lugar em que se discute, atualmente, essa questo, o maior desafioest em fazer algo criativo e inovador com a tecnologia que efetivamente ajude aspessoas a aprender melhor com ela.

    O essencial, disse uma vez Bill Gates 18, no a tecnologia: o que fazemoscom ela. Traduzido para a educao, isso significa que o essencial no aprender ausar a tecnologia, mas usar a tecnologia para aprender.

    Durante muito tempo o contar histrias audiovisuais s pode ser feito porprofissionais com acesso complexa e cara tecnologia do cinema e da televiso.Hoje, porm, com a popularizao da cmera digital e com o aparecimento de softwaresque nos permitem criar e contar histrias digitais de forma relativamente simples evirtualmente sem custos, qualquer um pode construir e contar uma histria digital dequalidade pessoal ou no, verdica ou inventada com extrema facilidade e grandepoder de comunicao e mesmo persuaso.

    Isso quer dizer que a tecnologia digital j pode ser aproveitada, de forma criativae inovadora, para tornar o processo pedaggico mais engajante. Todo mundo temhistrias para contar: seja sobre si mesmo, seja sobre seus parentes e amigos, sobresua famlia, seus animais favoritos, sua comunidade, sua cidade, seu pas... Oaprendizado de temas relacionados linguagem, geografia e histria pode assumiruma nova dimenso, tornando-se contextualizado na experincia de vida e nosinteresses dos alunos.

    E esse foi um dos trabalhos feitos pela SME-SP que, centrado na competnciade contar histrias, procurou ir alm do paradigma pedaggico vigente em que o

    17 Vide nesse contexto o artigo de Eduardo Chaves A Tecnologia e os Paradigmas na Educao: O Paradigma Letrado entre oParadigma Oral e o Paradigma Audio-Visual, em Mdia, Educao e Leitura, organizado por Maria Ins Ghilardi Lucena, com ostrabalhos apresentados no Encontro sobre Mdia, Educao e Leitura, que se realizou durante o 12 Congresso de Leitura (COLE),Campinas, SP, 1999.18 Global Leaders Forum, Microsoft Corporation, Maio de 2004.

  • 46 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    professor atribui a tarefa ao aluno. Nesse caso, os alunos levaram a propostadesafiadora aos professores para que contassem suas histrias e as publicassem naInternet. Um projeto de protagonismo de alunos e professores.19

    B. O aluno autor e protagonista

    Antes da era digital, tornar-se um autor publicado e lido por um nmero significativode pessoas era muito difcil. Publicar um ensaio, um artigo, uma crnica, ou um poema,numa revista ou num jornal, no era coisa fcil: os critrios editoriais eram (continuamsendo) estreitos e estritos. Publicar um livro, ento, nem se fale. Poucos eram os queconseguiam faz-lo. Criar um programa de rdio era perto do impossvel para ummortal comum criar uma rdio inteira, mais do que impossvel.

    A Internet mudou tudo isso.

    Hoje, por um custo razovel, qualquer pessoa que tenha algo a dizer pode criarum site, ou, talvez, mais facilmente, um blog, e ali publicar seus poemas, suas crnicas,seus artigos, seus ensaios. Pode, tambm, caso escreva um livro, disponibiliz-lo emformato eletrnico em seu prprio site ou em seu blog.

    Assim, o processo de publicao de textos prprios se simplificouconsideravelmente, pois foram eliminadas importantes barreiras de entrada ao mercadoeditorial por parte de novos autores que, na Internet, podem adquirir a visibilidadenecessria que, oportunamente, lhes permita entrar em crculos mais restritos.

    Mas a Internet tambm facilitou a manifestao do leitor comum sobre matriaspublicadas em meios de comunicao convencionais. As revistas e os jornaisconvencionais (em papel) em geral publicam um nmero pequeno de cartas dos leitoresopinando sobre matrias publicadas em edies anteriores. O percentual do nmerode cartas publicadas, nas verses impressas das publicaes, em relao ao nmerode cartas enviadas redao , em regra, baixssimo. Nas edies online das revistase dos jornais, distribudas pela Internet, possvel, porm, sem maiores dificuldades,tcnicas ou financeiras, publicar todas as cartas recebidas pela redao (com exceodaquelas que tiverem contedo admitidamente imprprio). Assim, a voz do leitor podeser ouvida de forma muito mais incisiva do que na era pr-digital.

    19 Vide http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/ie/AnonimoSistema/MenuTexto.aspx?MenuID=24&MenuIDAberto=11

  • 47ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Blogs publicados por jornalistas famosos, polticos, artistas, esportistas, ou outraspessoas bem conhecidas, em geral recebem, para cada matria publicada, centenas,quando no milhares, de respostas, comentrios ou crticas. O assunto sobre o qualse postou a matria , assim, submetido a um crivo crtico significativo por parte dosleitores. A matria do blogueiro pode ser interessante, mas tambm podem suscitarinteresse (s vezes at maior) os comentrios e as crticas dos leitores.

    Desta forma, a Internet democratizou o acesso ao mercado editorial (textos, aindaque ilustrados) e tambm proporcionou a entrada de imagens estticas ou em movimento.

    Escrever um poema, uma crnica, um artigo ou um ensaio no algo que todomundo consiga fazer. O processo exige um certo nvel de experincia e criatividade,para no falar no esforo ( difcil escrever um artigo ou um ensaio em poucos minutos).Este no o caso, entretanto, com fotografias e vdeos. Aqui, qualquer um literalmente,qualquer um que tenha uma cmera digital pode produzir dezenas de fotos e algunsvdeos em tempo muito curto.

    No tocante publicao de fotografias, no exagero dizer que nunca antes seviu tanta fotografia publicada como hoje e o local de publicao a Internet. A facilidadecom que se publica uma fotografia digital na Internet (em sites dedicados aocompartilhamento de fotografias ou em blogs e outros tipos de sites), aliada onipresena das cmeras fotogrficas digitais, autnomas ou em telefones celulares,fez com que a Internet fosse literalmente inundada por fotografias de todos os tipos algumas muito pessoais outras de interesse genrico, e algumas de excelentequalidade competindo bem com a produo de fotgrafos profissionais.

    Algum tempo atrs muitas dessas fotos no teriam sido tiradas, porque asmquinas fotogrficas convencionais, alm de caras, requeriam filmes e os custos deaquisio e revelao eram elevados. Isso tudo foi mudado. Uma cmera fotogrficadigital de preo bastante acessvel permite que se tirem milhares de fotografias semnenhum custo adicional e a facilidade com que se tem acesso gratuito a sites decompartilhamento de fotografias ou a blogs torna a publicao dessas fotos (paraacesso geral ou restrito) quase irresistvel.

    O mesmo se deu na rea de vdeos amadores ou caseiros. Antigamente, sealgum gravasse algo interessante com uma cmera de vdeo ou mesmo fotogrfica,podia mostrar o seu vdeo a uns poucos amigos. Hoje, pode publicar o seu vdeo emsites de compartilhamento de vdeos e conseguir que centenas e mesmo milhares depessoas, de todos os cantos do mundo, vejam a sua produo.

  • 48 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Quanto ao material oral (msicas, entrevistas, aulas, pregaes, declamaode poemas etc.) e ao prprio rdio como meio de comunicao, a prxima seodiscutir a questo.

    Em resumo: a Internet no s ofereceu aos seus usurios oportunidades atento inexistentes de acesso informao, permitindo-lhes que se tornassemconsumidores de quantidades e gneros de informao sem precedentes, comotambm lhes proporcionou a oportunidade de se tornarem produtores de informaonuma escala indita. Atualmente, nada impede que algum com talento e motivao(e mesmo alguns em que a motivao vem desacompanhada) se torne um autor dematerial textual e visual e, como se ver, de material sonoro tambm.

    A SME-SP tem possibilitado que essas questes sejam trabalhadas com osalunos nos Laboratrios de Informtica das escolas municipais e esse umassunto que engaja os alunos e os motiva a trabalhar, fazendo produes individuaisou coletivas, e publicando-as na Internet, em ambientes especialmente construdospara esse fim. Assim, a SME-SP amplia as oportunidades de protagonismo juvenilna rea de autoria, levando as produes dos alunos para o pblico leitor que estalm dos muros da escola.

    C. Nas Ondas do Rdio

    Em atendimento Lei Educom a SME-SP instituiu o programa,Nas Ondas doRdio20, que forma professores para desenvolverem as competncias necessriasna criao de programas de rdio e at mesmo na criao de uma rdio da escolapela Internet (web radio).

    Isso no quer dizer que os professores aprendem simplesmente a enfileirar umasrie de msicas em formato mp3 para construir um programa musical que pode sertransmitido por uma rdio, na Web ou no. Eles aprendem como diferentes formas decomunicao podem ser usadas no estmulo ao aprendizado de crianas e jovens.Sua formao possui mdulos sobre edio digital, sonoplastia e criao de rdios naWeb. Cada escola pode procurar sua prpria vocao nessa rea, escolhendo o quequer aprender para usar a programao, a criao e o gerenciamento de uma emissorade rdio como parte da formao pedaggica dos alunos.

    20 Vide http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/anonimo/educom/educomunicacao.aspx?MenuID=145&MenuIDAberto=58. [Consultadoem 25/5/2010].

  • 49ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Um subproduto do programa que , quando h a criao de uma emissora derdio na Web, a comunidade circundante passa a se interessar mais pela escola e oque l se passa.

    Esse programa da SME-SP contribui tambm para que talentos locais (da escolaou da comunidade) possam emergir, gravando msicas, declamaes, mensagensde edificao, anlises polticas, comentrios esportivos, sketches humorsticos etc.,para incluso na programao da rdio.

    Ainda podemos destacar que esse trabalho tem por base o protagonismo infanto-juvenil. Quem constri a programao so os alunos. O papel do professor o demediador, aquele que deve estar atento, acompanhando o processo de criao, parafazer boas intervenes, inclusive no que se refere s competncias de leitura e escrita.

    D. Aluno Monitor

    O programa Aluno Monitor visa a estimular a participao de alunos interessadose preparados em atividades de monitoria na rea da aplicao da tecnologia aoprocesso pedaggico.

    O objetivo do programa permitir e incentivar o protagonismo juvenil e envolver oaluno protagonista em atividades de apoio e orientao na rea de tecnologia aplicada educao, em colaborao com os professores da escola. Ele tambm apia oprofessor responsvel pelo Laboratrio de Informtica no gerenciamento do laboratrioe participa das atividades pedaggicas ali realizadas, ajudando seus colegas.

    No exerccio de sua funo o monitor no aluno, nem professor. Ele contribui deforma decisiva com seus conhecimentos de tecnologia para fazer a ligao entre osalunos da escola e os projetos de aprendizagem. Com esse papel, o aluno monitortorna-se o elo entre o professor responsvel pelo Laboratrio de Informtica, os demaisprofessores da escola e os alunos, contribuindo assim para a incluso da escola nacultura digital e o desenvolvimento de habilidades para pesquisar, comunicar e publicarna Internet.

    O aluno monitor se envolve, tambm, nos diversos programas da rea deTecnologia e Educao, como, por exemplo, Nas Ondas do Rdio, em que ele podeparticipar da definio da programao da rdio da escola e da elaborao dos diversos

  • 50 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    programas a serem transmitidos por ela. Em outros projetos, ele pode se envolver naredao do jornal, do blog ou at mesmo do site da escola.

    Alm disso, o trabalho do aluno monitor implica o seu relacionamento constantecom professores e colegas, ajudando-o a desenvolver competncias na rea derelaes interpessoais (aprender a conviver).

    O trabalho do aluno monitor feito fora do seu horrio regular de aulas, colaborando,assim, para a maior permanncia do aluno na escola.

    Para poder exercer a funo de aluno monitor, os alunos recebem formaoespecfica.

    E. Caderno de Orientaes Didticas - Ler e Escrever -Tecnologias na Educao

    O Caderno de Orientaes Didticas Ler e Escrever Tecnologias na Educao uma proposta que visa a contribuir para o desenvolvimento de aes que articulemo projeto pedaggico, a construo do currculo e a aprendizagem significativa decontedos necessrios para o manuseio e a utilizao de ferramentas e recursostecnolgicos.

    Ele tem por princpio que as propostas devem atender em todos os anos e Ciclosos princpios de letramento digital: pesquisar, gerenciar e analisar a informao,comunicar e publicar o que ele produz na Internet. O Caderno envolve alunos eProfessores Orientadores de Informtica Educativa, em ambientes virtuais interativose colaborativos, no trabalho de preparar usurios competentes e autnomos datecnologia.

    Trata-se de um referencial prtico-metodolgico que busca o planejamento, aelaborao do plano de aula, o registro, a avaliao pautada nos objetivos propostosem cada atividade e nas etapas a serem desenvolvidas que considerem o ANTES: oque o aluno j sabe sobre o tema e recursos a serem utilizados; o DURANTE: asaes a serem realizadas que atendam aos objetivos propostos; e o DEPOIS: aavaliao das aprendizagens tanto em relao aos contedos quanto s habilidadesdesenvolvidas no manuseio dos recursos tecnolgicos.

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    Sendo um referencial, o Caderno no deve ser algo estanque. Pelo contrrio,deve imprimir um movimento dinmico aos fazeres, devendo ser objeto de anliseconstante, avaliao e reorganizao que tenha como objetivo o atendimento de todasas necessidades emergentes dos projetos propostos21.

    3. Consideraes

    Este captulo mostrou que a SME-SP, por meio de seus programas e projetos,vem fazendo considerveis progressos em direo a mudanas que visam ir alm doparadigma vigente em relao ao uso das TIC no universo educacional.

    O que falta, agora, um plano curricular na rea de IC/TIC que inclua, integre ecomplemente os esforos j feitos.

    isso que ser discutido no captulo seguinte.

    21 Vide http://educarede.info/poie/livro/livro.html

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  • 53ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    Captulo VI

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    VI. As competncias do sculo 21

    1. A preocupao com as competncias dosculo 21

    H inmeras instituies e vrios consrcios de instituies trabalhando com aquesto das Competncias do Sculo 21 - quarto foco, iniciado em 2010, do trabalhoda SME-SP.

    Talvez o mais antigo e conhecido consrcio seja o chamado Partnership for 21st-Century Skills 22. Um mais recente, patrocinado por algumas das maiores empresasde tecnologia do planeta (Microsoft, Intel e CISCO), se chama The Assessment andTeaching of 21st-Century Skills23.

    Vrias instituies de nvel internacional, como a United Nations Educational,Scientific and Cultural Organization UNESCO 24, a Organization for EconomicCooperation and Development OECD 25, esta responsvel pelo mais famosoinstrumento de avaliao da aprendizagem aplicado em mltiplos pases, o Programmefor International Student Assessment PISA 26, e a International Society for Technologyin Education ISTE 27, esto trabalhando na seleo das Competncias do Sculo 21,em sua definio operacional, na metodologia recomendvel para desenvolv-las ena forma de avaliar o seu desenvolvimento.

    H consenso entre essas organizaes de que as formas de viver, conviver,trabalhar, divertir-se e aprender foram dramaticamente transformadas nos ltimos anos e que a rea de Informao e Comunicao, com, naturalmente, as suas tecnologias,teve papel preponderante nessas transformaes (tendo sido sua maior fora motriz).

    Tambm h consenso entre essas organizaes de que essas mudanas nosobrigam a considerar mudanas substantivas na forma de ver a educao e a

    22 Vide http://www.21stcenturyskills.org/. [Consultado em 25/05/2010].23 Vide http://www.atc21s.org/. [Consultado em 25/05/2010].24 Vide http://www.unesco.org/. [Consultado em 25/05/2010].25 Vide. http://www.oecd.org/. [Consultado em 25/05/2010].26 Vide http://www.pisa.oecd.org/. [Consultado em 25/05/2010].27 Vide http://www.iste.org/. [Consultado em 25/05/2010].

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    aprendizagem, e, dentro da organizao escolar, principalmente o currculo (o queaprender?), a metodologia da aprendizagem (como aprender?) e as formas de avaliara aprendizagem (como verificar que se aprendeu?).

    2. As competncias do sculo 21 detalhadas

    Numa tentativa de listar as chamadas Competncias do Sculo 21 e de organiz-las de forma a que possam ser facilmente referenciadas, fornecemos, a seguir, umalista ordenada, que parte de macrocompetncias (primeiro nvel), desdobra-se emcompetncias (segundo nvel) e pode ainda ser desdobrada em habilidades (terceironvel e nveis subsequentes).

    Para a classificao em nvel mais alto das competncias - macrocompetncias,vamos seguir a sugesto da UNESCO e dividi-las em:

    Competncias Pessoais (Aprender a Ser)

    Competncias Interpessoais (Aprender a Conviver)

    Competncias Profissionais ou Executivo-Gerenciais (Aprender a Fazer)

    Competncias Cognitivas (Aprender a Conhecer) 28

    As competncias necessrias para construir um Currculo de IC/TIC se situamdentro do quarto bloco de competncias, as chamadas Competncias Cognitivas,relacionadas ao Aprender a Conhecer.

    Aqui est a lista detalhada de competncias dentro de cada uma dasmacrocompetncias. Essa lista at certo ponto arbitrria, tanto nas competnciasespecficas que inclui (e deixa fora) como no local escolhido para encaixar essascompetncias. Em alguns casos, uma competncia especfica poderia ser encaixadaabaixo de mais de uma macrocompetncia.

    28 A sugesto da UNESCO est contida no Relatrio da Comisso Internacional sobre a Educao no Sculo XXI para aOrganizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (United Nations Educational, Scientific and CulturalOrganization - UNESCO), do qual formam o ncleo principal. O Relatrio, elaborado por uma comisso de quinze membros, sob acoordenao de Jacques Delors, foi publicado na forma de livro com o ttulo Learning: The Treasure Within (UNESCO, Paris, 1996).Esse livro foi traduzido para o Portugus sob o ttulo Educao: Um Tesouro a Descobrir (UNESCO, MEC, Cortez Editora, SoPaulo, 1997, 2 edio 1999). A traduo de Jos Carlos Eufrzio.

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    Mesmo assim, a tentativa de selecionar as competncias e organiz-las abaixodas quatro macrocompetncias propostas pela UNESCO til na tarefa de construocurricular.

    A. Competncias pessoais Tomar decises

    Solucionar problemas

    Responder perguntas

    Criar e inovar

    Refletir e pensar criticamente

    Imaginar e desenvolver a sensibilidade

    Exercer flexibilidade, adaptabilidade e resilincia

    B. Competncias interpessoais Respeitar o outro e seus direitos

    Negociar fins e meios

    Resolver divergncias e conflitos

    Colaborar, trabalhar e aprender em equipe

    Liderar

    C. Competncias profissionaisa. Executivas Construir viso

    Definir objetivos e metas

    Escolher estratgias e tticas

    Planejar atividades

    Organizar ambiente

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    Coordenar pessoal

    - Comunicar

    - Motivar

    - Liderar

    Monitorar

    Avaliar

    b. Gerenciais Gerenciar o Tempo

    Gerenciar Finanas

    Gerenciar Materiais

    Gerenciar Pessoal

    Gerenciar Informaes

    Gerenciar Comunicaes

    D. Competncias cognitivasa. Gerais Puramente Cognitivas

    - Perceber

    - Pensar

    - Imaginar

    - Raciocinar

    Cognitivas, mas aplicadas ao sentimento e ao

    - Sentir Emoes

    - Decidir

    - Planejar

    - Agir

  • 58 ORIENTAES CURRICULARES Tecnologias de Informao e Comunicao

    b. IC Competncias Relacionadas Informao

    - Buscar / pesquisar informao

    - Gerenciar informao (organizar, armazenar, recuperar)

    - Tratar, analisar e avaliar informao

    Competncias Relacionadas Comunicao

    - Compartilhar e trocar informaes entre pessoas

    - Disseminar informaes ao pblico em geral

    - Discutir, debater e criticar informaes

    Competncias Relacionadas Aplicao da In