008 Gilberto Felis 220texto sobre a academia

download 008 Gilberto Felis 220texto sobre a academia

of 1

description

gilberto escreve um texto sobre o homem da academia

Transcript of 008 Gilberto Felis 220texto sobre a academia

  • 8 caros amigos julho 2015

    ACADEMIA

    HOMOLATTES

    Por Gilberto Felisberto Vasconcellos

    O homolattes passa o tempo contando pontinhos, abomina a razo e o estilo

    At Lenin na histria do marxismo foi acusado de no escrever obra terica, e sim panfl eto, plaquete e propaganda. Lembrar que o livro Un Coup de Ds Jamais

    NAbolira Le Hasard, de Stphane Mallarm, foi publicado em plaquete. Dezenas de plaquetes fo-ram escritas pelo nosso Lus da Cmara Cascudo.

    Na atual moldura burocrtica da escrita absolutamente necessrio colocar, sem nenhuma ideia prpria, notas ao calcanhar da pgina. A misria universitria foi escarafunchada por l-varo Vieira Pinho, Darcy Ribeiro, Nelson Wernek Sodr e Maurcio Tragtemberg.

    A universidade no pensa o Pas, no apre-senta roteiro para superar o atraso e o subde-senvolvimento. Depois desses autores a situa-o piorou.

    O jovem professor ingressa brochildo e des-vitalizado na carreira dando por fi nda e ana-crnica a incumbncia de que a universidade deve refl etir sobre o saber necessrio. No h nao, no h povo e muito menos universi-dade nacional. Assim prevalece o cinismo, o que vale o empreguinho, o cargo, o salrio do nada.

    repugnante verifi car que os cursos de ps--graduao seguem a receita do Banco Mun-dial. Este indica os assuntos e os autores do triunfalismo capitalista.

    O candidato que quer ps-graduar-se, ao dar uma olhada na bibliografi a do curso, por pragmatismo no vai querer contrariar o Ban-co Mundial; se o fi zer, leva ferro, no passa, toma pau.

    Na bibliografi a no consta nenhum autor marxista, tambm est banido autor latino--americano. Loucura ouvir falar que a uni-versidade um viveiro adubado de marxismo; ao contrrio, Marx no lido pelos professo-res universitrios.

    Se porventura um dia se fi zer a sociologia dos departamentos na universidade, cuja utili-dade nula, a melanclica constatao que cada professor se v a si mesmo e ao colega como um picareta, um falsrio, um enganador, inclusive achando que no ganha mal pelo que faz. Por isso a tendncia psicolgica irrefrevel os professores se devorarem, cada um tritura

    cano tambm. aquilo que Goethe falava, no apenas da paixo amorosa. Goethe falava em afi nidades eletivas.

    O homolattes abomina a razo e o estilo. O seu passatempo ldico contar os pontinhos tal qual menino fazendo embaixadinha com a bola, a fi m de virar star Neymar Jnior. Resul-ta da o progressivo desaparecimento da funo pblica do intelectual, isto , aquele intelectual que mete o bico em tudo quanto assunto da tribo. Isso acabou, entre outros motivos por causa da caa ao Curriculum Lattes, essa me-donha competio mercantil obtida com artigos ligeiros publicados sob critrio quantitativo e com uma excelncia enigmtica e inescrutvel.

    Publish or perish, publique ou morra. Se porventura o artigo sair em revista indexa-da e empatotada, o que signifi ca conformis-mo e esprito chapa branca, o valor infi nita-mente superior ao do livro, assim como nada vale na apreciao acadmica publicar em Ca-

    ros Amigos ou Revis-ta da Academia Bra-sileira de Letras.

    O atual ministro da cultura, Janine Ri-beiro, tarimbado pro-fessor de fi losofi a, certamente est in-teirado do infortnio cognitivo que enseja a moeda Lattes. Sem

    dvida ocupar lugar de destaque na histria da educao como Ansio Teixeira, se porven-tura ele tiver a audcia de faxinar o legado tu-cano de Paulo Renato.

    O mais ignbil nesta misria mental de cunho onomstico, porquanto deram o nome Lattes a essa geringona, depois que o cientis-ta Csar Lattes havia morrido. Eu o conheci em Campinas, apresentado pelos cineastas Glauber Rocha e Roberto Pires. Tenho certeza de que C-sar Lattes iria identifi car essa safada homena-gem pstuma com tormento e tortura. Curricu-lum Lattes a puta que pariu!

    Gilberto Felisberto Vasconcellos jornalista,socilogo e escritor.

    o outro na estratgia da derrubao, por isso o convvio entre eles difi cilmente gera amizade.

    Em trinta anos de convivncia nos frvolos e impolidos departamentos, ningum torna-se amigo de ningum, diferente do que sucede na cadeia e no leito moribundo de hospital.

    Ludibriados, os alunos supem que existe con-versa inteligente entre os professores. Todavia, dilogo coisa rara de acontecer. Todo mundo est a fi m de rapar fora do campus, ningum se in-teressa pelo que o outro est lendo ou estudando.

    Um dos deplorveis signos da decadncia do professor universitrio cada um zelar pela sua bibliotequinha particular em casa com a patroa e os fi lhos, e no frequentar a biblioteca da uni-versidade.

    difcil deparar com alguma obra signifi ca-tiva produzida no meio universitrio, porque a refl exo a suspeita e a linguagem menospre-zada. Por isso fala-se mal e escreve-se pior ain-da com o lxico burocralpitopi.

    A juventude enga-nada quando ouve fa-lar da palavra imperia-lismo, a qual sumiu do mapa acadmico. Acon-tece que o capitalismo brasileiro no tem uma histria prpria. Sua his-tria a do capitalismo como um todo mundial.

    Ponho minha mo no fogo se esse tal Curriculum Lattes no nas-ceu de algum encontro do Soros com o senador Cristvo Buarque. L de Pernambuco tambm veio o deputado Roberto Freire morrendo de dio da palavra comunismo e a fundou o de-rivativo pepsi-cola da coca-cola chamado PPS. Ambos os pernambucanos querem humanizar o capitalismo, querem mostrar a face humana do capital. Ambos so retricos, superfi ciais e po-liticamente levianos. Para eles a razo de ser do capital satisfazer a necessidade das pessoas, e no expandir-se sem limites. Todo mundo sabe, pelo menos deveria saber, o que Leonel Brizo-la pensava a respeito da atuao de Buarque e Freire. Luiz Incio Lula passou a mo na cabe-a dos dois, no apenas por ser ele pernambu-

    O JOVEM PROFESSOR INGRESSA BROCHILDO E

    DESVITALIZADO NA CARREIRA DANDO POR FINDA E

    ANACRNICA A INCUMBNCIA DE QUE A UNIVERSIDADE DEVE

    REFLETIR SOBRE O SABER NECESSRIO

    008_Gilberto_Felis_220.indd 8 06/07/15 17:27