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IMORTALIDADEREENCARNAÇÃO

e

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TítuloImortalidade e Reencarnação da Alma– provas científicas das vidas anteriores –

Título originalL'Immortalité et la Réincarnation

AutorGabriel Delanne

TradutorEduardo Amarante

Coordenação e revisãoDulce Leal Abalada

Grafismo, Paginação e Arte finalDiv'Almeida Atelier Gráficowww.divalmeida.com

Ilustração e Técnica da capaGabriela Marques da CostaArte Digital / Assemblage DigitalA Vida após a Vida – [email protected] www.gabrielamarquescosta.wordpress.comwww.facebook.com/home.php?#!/pages/Gabriela-Marques-da-Costa/134735599901538+351 915960299

Impressão e AcabamentoEspaço Gráfico, Lda.www.espacografico.pt

DistribuiçãoG.C.E. – SodilivrosGrupo Coimbra Editora, [email protected]

1ª edição – Outubro 2010

ISBN 978-989-8447-01-2Depósito Legal nº 317127/10

©Apeiron Edições

Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor.

Projecto Apeiron, [email protected]

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apeirone d i ç õ e s

Gabriel Delanne

IMORTALIDADEREENCARNAÇÃO

e

da

provas científicas das vidas anteriores

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A LINGUAGEM SIMBÓLICA DAS ILUSTRAÇÕES DE IMORTALIDADE E REENCARNAÇÃO DA ALMA

Desta pintura salta-nos à vista um conjun-

to de imagens que nos confunde. Um rosto

delineado na forma de um macaco (babuí-

no?) ou de um lobo com olhos hipnóticos se-

mi-humanos, representa simbolicamente a

passagem da alma do reino animal para o

reino humano nas suas formas mais pri-

mitivas: a tribal. Daí a representação do ín-

digena (na contracapa) na sua fase primá-

ria com a ocultação de uma face, sinal das

suas futuras e desconhecidas reencarna-

ções para cumprir o seu destino evolutivo

no género humano. Os olhos conferem o ca-

rácter misterioso próprio do homem, con-

firmando a máxima de que os olhos são o

espelho da alma. No centro da fronte en-

contramos um sinal de onde irradia luz de

tonalidades diáfanas e belas que se espa-

lham ao redor do rosto. Muitos se lem-

brarão desta marca na fronte dos indianos,

o tilak, símbolo do olho espiritual ou do

terceiro olho ou visão, se bem que nas mu-

lheres indianas, este tilak, mais conhecido

como bindi, é utilizado como adorno. To-

davia, neste caso esta forma estilizada, co-

mo que de um embrião, pretende comu-

nicar-nos o carácter atemporal de uma ver-

dade dos inícios da Humanidade: o centro e

a união entre o Macroscosmos (o Universo)

de onde viemos – daí as pinturas se enqua-

drarem num plano de fundo negro com

pontos estelares a indicarem este aspecto –, e o Microscosmos (o homem,

como extensão em miniatura do universo) onde nos encontramos e pro-

curamos responder às grandes questões que marcam o percurso do nosso

destino. As linhas que desse ponto se libertam em luzes multicolores

poderão ter vários significados, desde as linhas com que o mendhi capta

Imortalidade e Reencarnação da Alma

7Apeiron Edições |

Pintura de Gabriela Marques da CostaCapa e Contracapa

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e desenha o destino de cada um, a partir do espaço que nos rodeia, até ao

desenvolvimento do nosso processo evolutivo com a activação progressiva

e consciente do poder do chacra frontal com cores rosadas, com muito

amarelo e azul púrpura culminando no último chacra refulgente, no alto

da cabeça, em forma de leque abundante e multicolor de vibrações. A

presença de um anel luminoso à volta da Terra induz a filiação estreita e

recíproca entre os vários estados evolutivos da Vida que originou o ho-

mem, e a evolução própria do planeta que nos acolheu e nos acompanha

desde há milhões de anos como portal de realização mútua de dois des-

tinos diferentes, mas complementares. A luz branca saliente na auréola

do planeta, em cima da cabeça, simboliza a realização de ambos (Terra e

Homem) no Grande Plano Divino.

Gabriel Delanne

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ÍNDICE

PREÂMBULO À OBRA – RAÍZES PROFUNDAS DA EVOCAÇÃO DOS ESPÍRITOS. AS TRADIÇÕES ANTIGAS E MODERNAS

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – REVISÃO HISTÓRICA SOBRE A TEORIA DAS VIDAS SUCESSIVAS

1. A Antiguidade da crença nas vidas sucessivas

A Índia

2. A Pérsia e a Grécia

3. A Escola Neoplatónica

4. A Judeia

5. Os Romanos

6. O Druidismo

7. A Idade Média

8. Os Tempos Modernos

9. O Inquérito de Calderone

CAPÍTULO II – AS BASES CIENTÍFICAS DA REENCARNAÇÃO. AS PROPRIEDADES DO CORPO ASTRAL

1. A aparição dos vivos

2. As aparições dos defuntos

3. As aparições provocadas

4. As experiências no Instituto Metapsíquico Internacional

5. A necessidade lógica da existência do corpo astral

6. Onde e como o corpo astral pode adquirir as suas propriedades funcionais

CAPÍTULO III – A ALMA ANIMAL. EXPOSIÇÃO DA UNIDADE DAS LEIS DA VIDA EM TODA A ESCALA ORGÂNICA

1. A necessidade da encarnação terrestre

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2. A evolução animal

3. A formação e o desenvolvimento gradual do Espírito

4. A passagem do Princípio Inteligente pela série

animal

CAPÍTULO IV – A INTELIGÊNCIA ANIMAL

1. Os cavalos que fazem cálculo

2. O cão Rolf

3. Lola

4. Zou

CAPÍTULO V – AS FACULDADES SUPRANORMAIS DOS ANIMAIS E O SEU PRINCÍPIO INDIVIDUAL

1. Um caso provável de clarividência

2. Fantasmas percebidos colectivamente pelos humanos e pelos animais

3. Visões de fantasmas humanos longe de qualquer coincidência telepática e percebidos colectivamente pelos homens e pelos animais

4. Visual com precedência do animal sobre o homem

5. A aparição de Palladia, visual, auditiva, colectiva

6. Lugares assombrados

7. Da sobrevivência dos animais

8. A aparição de um cão

9. Visão de fantasmas animais produzida fora de qualquer coincidência telepática e percebida colectivamente por animais e homens

10.Um cão fantasma

11.O cão risonho

12.A Aparição de animais em sessões experimentais

13.As Materializações visíveis de formas de animais

14.Os Nœvi

CAPÍTULO VI – A MEMÓRIA INTEGRAL

1. A memória integral

2. Outros exemplos de ecmnésia

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3. História de Luís V.

4. A memória latente

5. A visão da bola de cristal

6. Criptomnésia

CAPÍTULO VII – AS EXPERIÊNCIAS DA LEMBRANÇA

1. Estudo sobre as sessões em que se produzem pretensas revelações sobre as vidas anteriores do paciente ou dos assistentes

2. Revelação imprevista

3. Romance subliminal ou reminiscência

4. A reencarnação na Inglaterra

5. A reencarnação pode ser provada?

6. As vidas sucessivas

7. A médium Helena Smith

8. Despertar do passado durante o transe

9. Uma lembrança do passado

10.Extracto da Conferência sobre a Reencarnação feita no Congresso Espírita de Liège, em 28 de Agosto de 1928, pelo Dr. Torres

11.Uma expiação

12.Resumo

CAPÍTULO VIII – A HEREDITARIEDADE E AS CRIANÇAS PRODÍGIO

1. As crianças prodígio

2. Os músicos

3. Os pintores

4. Os sábios, os literatos e os poetas

5. Os calculadores

CAPÍTULO IX – ESTUDOS SOBRE A REMINISCÊNCIA

1. O sentimento do déjà vu (do já visto)

2. Visões de lugares desconhecidos durante o sono

da pessoa

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3. As aparições do Espírito dos vivos

4. Reminiscências prováveis das crianças

5. A menina que fala um idioma onde se encontram palavras em francês

6. Reminiscências que parecem provocadas pela visão de certos lugares

7. Visões retrospectivas

8. Um clérigo

9. Curiosa coincidência

10.Reminiscência ou clarividência

CAPÍTULO X – AS RECORDAÇÕES DAS VIDAS ANTERIORES

1. O despertar das recordações

2. O caso de Laura Raynaud

2.1. O que a Sra. Raynaud disse em 1911

a Durville

2.2. O testemunho da princesa Fazyl

2.3. Como a Sra. Raynaud encontrou a sua casa

2.4. Em Génova é encontrada a certidão de óbito que era da Sra. Raynaud

2.5. Extracto da certidão de óbito na Paróquia de S. Francisco de Álvaro em Génova

2.6. Uma paciente do Dr. Durville, a Sra. D'Elphes, completa as provas dadas pela Sra. Raynaud

CAPÍTULO XI – OUTROS FACTOS QUE IMPLICAM A RECORDAÇÃO DAS VIDAS ANTERIORES

CAPÍTULO XII – OS CASOS DE REENCARNAÇÃO ANUNCIADOS ANTECIPADAMENTE

1. Reencarnações anunciadas nas sessões espíritas. Um caso quase pessoal

2. As filhas gémeas do Dr. Samona

3. Alguns reparos

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CAPÍTULO XIII – OBSERVAÇÃO DO CONJUNTO DE ARGUMENTOS QUE MILITAM A FAVOR DA REENCARNAÇÃO

1. A alma é um ser transcendental

2. O corpo astral e as suas propriedades

3. Onde e como o corpo astral pôde adquirir as

suas propriedades?

4. A reencarnação humana e a memória integral

5. A hereditariedade e as crianças prodígio

6. As reminiscências

7. As verdadeiras lembranças das vidas anteriores

8. Avisos de futuras reencarnações

CAPÍTULO XIV – CONCLUSÃO

1. O esquecimento do passado

2. O problema da existência do mal

3. O progresso

4. Consequências morais

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PREÂMBULO À OBRA

RAÍZES PROFUNDAS DA EVOCAÇÃO DOS ESPÍRITOS

AS TRADIÇÕES ANTIGAS E MODERNAS

Muitos de nós pensam que o início e o fim da vida terrestre, o nasci-

mento e a morte, fecham o ciclo humano, ou seja, tudo acaba com o úl-

timo suspiro. Mas será assim que acontece?

Segundo Max Müller as maiores individualidades da humanidade

admitiram a reencarnação. E assim é. Senão vejamos.

A teoria da imortalidade e reencarnação da alma foi há muitos sé-

culos um dos princípios fundamentais de todas as grandes religiões, ex-

cepção ao Islamismo e ao Cristianismo. Ainda que este último tenha tido

originariamente esta concepção, o facto é que esta doutrina filosófica se-

creta apenas era transmitida a poucos, aos que a podiam compreender.

Ao vulgo, ou aos não iniciados, apenas era transmitido o ensinamento

moral, e a consequência disto levou a uma perda da sua dimensão es-

piritual.

A razão por que a Igreja perdeu esta referência, a lei da imortalidade

e da reencarnação, foi devido a uma maioria ignorante que venceu num

dos seus concílios os doutores que sustentavam o Gnosticismo. Fazendo fé

no que nos diz a Bíblia, sobretudo em Mateus 16, 13-14, S. Marcos 8, 27-

-28 e S. Lucas 9, 18-19, esta doutrina não é de todo desconhecida pelo

mestre do Cristianismo, Jesus, que bastas vezes intercalava os seus dis-

cípulos com perguntas e respostas sobre esta verdade. Desde aproxima-

damente o século VI que a Igreja perdeu de vista as doutrinas que sus-

tentavam a existência imortal do homem e a reencarnação das almas.

Esta situação foi consequência da decadência intelectual e moral que

assolou a Europa aquando das invasões bárbaras, mergulhando a hu-

manidade no longo sono da Idade das Trevas. Com a civilidade destes

bárbaros esta verdade, de que a primitiva Religião Cristã era defensora,

ficou enterrada no tempo.

Recuando a tempos antigos verificamos que era corrente a ideia da

imortalidade e a reencarnação do homem entre as tribos aborígenes do

continente americano, os quase extintos Peles Vermelhas. Do Alasca ao

Peru, entre esquimós, indígenas (da Austrália e ilhas da Oceânia), e es-

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pecialmente entre os incas esta crença era transmitida pelos sacerdotes

aos membros das tribos que a aceitavam e respeitavam.

Na Antiguidade vários pensadores falaram a respeito da crença

imortal da alma e do seu retorno. Nesta época era comum os filósofos

explicarem as respostas dos oráculos – como foram os casos do de

Trepózia, de Amon, de Delfos, de Dodona – a partir da intervenção dos

espíritos.

Segundo Filostrato, Apolónio de Tiana teria passado sete dias na

caverna de Trofónio (arquitecto, construtor do oráculo de Delfos) onde o

oráculo lhe ditou um livro inteiro. Vespasiano consultava o de Pafos, na

ilha de Chipre; Trajano o de Heliópolis na Síria e Juliano o de Delos (a

ilha mais pequena de todas as ilhas do Egeu). Lucano, Tácito, Filostrato

evocavam os mortos. Sócrates, Apolónio de Tiana, Fílon e Plotino, tinham

os seus espíritos familiares com quem comunicavam directamente. Por-

fírio afirmava que o seu génio tutelar era de uma hierarquia elevada.

Segundo os testemunhos dos alexandrinos, um dos principais conse-

lheiros de Juliano, Jâmblico, era famoso na ciência dos demónios e dos

deuses, isto é, na arte de invocar os espíritos. Os principais padres da

igreja primitiva, Clemente de Alexandria, Orígenes e S. Gregório de Nisa

e tantos outros vultos eminentes evocavam-nos. Inclusivamente Oríge-

nes, um dos mais sábios doutores da Igreja primitiva, dizia que a cada

um de nós é dada a existência num corpo no qual recebemos a re-

compensa, ou não, dos procedimentos anteriores.

Cícero conta que Ápio comunicava frequentemente com os espíritos e,

segundo Plínio, o antigo, ele evocou o espírito de Homero para se in-

formar da sua pátria e família. Pausânias, à semelhança de muitos pen-

sadores gregos e latinos, evocava os mortos e Periandro, um dos sete

sábios da Grécia, falava com o espírito da sua mulher. Os platónicos, os

pitagóricos e os estóicos comunicavam com os espíritos. Alguns papas da

Igreja Romana como Bento IX, Gregório VI e Gregório VII também da-

vam especial dedicação a esta comunicação.

Flavius Josephus (judeu romanizado, autor das Antiguidades Ju-

daicas – 37-95 a.C.) na Guerra dos Judeus fala-nos da doutrina da

reencarnação adiantando, inclusivamente, que era uma ideia vulgar en-

tre o povo. Entre os Romanos era conhecida e mencionada pelos seus

poetas e na Grécia vários eram os filósofos que a defendiam: Homero;

Tales de Mileto que não admitia seres mortos; Pitágoras que falava das

suas anteriores existências; Empédocles que contava lembrar-se de ter

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Imortalidade e Reencarnação da Alma

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sido rapaz e rapariga; Virgílio que a defendia como um facto; Juliano, o

apóstata, lembrava-se de ter sido Alexandre da Macedónia, etc.

Na antiga religião do Egipto também vamos encontrar esta doutrina,

se bem que de forma diferente: o macrocosmos era um ser comparável ao

microcosmos humano. Posteriormente, em Alexandria, os neoplatónicos e

os gnósticos também se vão debruçar sobre esta doutrina. Os povos nór-

dicos contam-na nas suas sagas ou lendas e os gauleses difundiram-na

nos seus mitos. Entre os Druidas fazia parte das tradições místicas e

ainda hoje perdura nos povos de origem celta da Irlanda e da Bretanha a

crença do regresso das almas à vida.

Lucano (39-65 d.C., poeta romano) fala de uma mágica da Tessália

em que Erato, a Amável (musa da poesia lírica e uma das nove musas da

mitologia grega, filha de Zeus e de Mnemosine que personifica a me-

mória),”fazia entrar as almas no seu corpo” e foi por ela que Sexto Pom-

peu soube do desfecho da rivalidade entre seu pai e César. Do mesmo

modo, Dante atribui à mesma musa Erato a evocação da alma de Virgílio

pouco depois de este ter morrido. Orfeu também evocou o espírito de

Eurídice. Ulisses interroga o espírito do adivinho Tirésias, o de sua mãe e

outros, por intermédio de Circe. Eneias desce aos infernos para consultar

a sombra (o fantasma) de Anquises. Saul visita a pitonisa do Endor para

falar com Samuel.

O livro escrito por Hermas – escritor cristão e Padre da Igreja – o

Livro do Pastor (escrito entre 88 e 97 d.C. ) contém instruções precisas e

muito claras a serem seguidas nas reuniões dos primeiros cristãos, que

não deixam de ser muito semelhantes às actuais sessões de espiritismo.

Nesse sentido S. Justino apresenta como argumento decisivo em prol

da imortalidade da alma a possibilidade de se poder evocar os mortos. S.

Irineu e Tertuliano afirmam a realidade destes fenómenos e o próprio S.

Jerónimo pronuncia-se também a favor da possível comunicação com os

mortos. Do mesmo modo pensa S. Tomás de Aquino.

Na Idade Média vamos encontrar afamados nomes que defenderam a

imortalidade da alma e a comunicação com o além. É o caso de Roger

Bacon, acusado de magia; Giordano Bruno, que acreditava nesta dou-

trina e por isso foi queimado como sendo herético; Joana d‟Arc, acusada e

queimada por ouvir vozes misteriosas.

Na época moderna do pensamento encontramos Kant que escreve um

livro, pouco comum nos meios filosóficos, Sonhos de um vidente de es-

píritos explicados pelos sonhos da Metafísica, relacionado com a doutrina

que posteriormente nasceu em França nos meados do século XIX. No

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Gabriel Delanne

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campo das artes verificamos que o teatro de Shakespeare é povoado de

fantasmas: Hamlet e Macbeth disso são testemunho; a obra Fausto de

Goethe, poema esotérico inspirado nos prodígios de um taumaturgo do

século XV; Lessing, Victor Hugo, Lamartine, Tolstoi, etc. não tiveram

qualquer problema em afirmar nas suas obras a realidade do mundo in-

visível e a sua contínua acção no mundo visível.

Mas foi sem dúvida na Índia que esta doutrina mais alcançou popu-

laridade e ainda hoje exerce a sua maior influência.

No mundo civilizado a doutrina da Imortalidade e Reencarnação da

alma tomou novos contornos quando no século XIX surgiu o espiritismo (o

contacto com os mortos) com o francês Hippolyte Léon Denizard Rivail

(Alan Kardec). Esta corrente apenas actualiza uma prática comum, mas

esquecida, dos antigos anais religiosos, dos antigos santuários, das crip-

tas dos Himalaias aos hipogeus egípcios, das catacumbas de Roma que a

comunicação com os mortos era a base de toda a liturgia. Inclusive os ma-

gos caldeus (como em épocas mais recentes com os cátaros) que levavam

uma vida de pureza de oração a fim de poderem comunicar com os es-

píritos de uma elevada hierarquia. Os druidas evocavam os espíritos nas

florestas: os elementais da natureza.

Em épocas mais recentes encontramos mencionada a reencarnação

em autores como Goethe, Fichte, Schelling, Lessing, Kipling e o empirista

David Hume refere que a Doutrina da Reencarnação representava o úni-

co aspecto sob o que o filósofo podia ocupar-se da Imortalidade da Alma.

Foi então que alguns cientistas aceitaram em estudar os fenómenos

pensando poderem desmascarar qualquer indício de fraude ou supers-

tição.

Neste contexto surge Reencarnação e Imortalidade – Provas Cientí-

ficas das Vidas Anteriores de Gabriel Delanne. Caracteriza-se por se

desenvolver em torno das experiências realizadas pelo autor nos inícios

do século XX através do método da hipnose. A sua pesquisa incide sobre

casos de fantasmagoria, aparições ou visões no leito da morte, teste-

munhos sobre a continuidade da personalidade após a morte (no sentido

de a pessoa manter a sua forma de ser), do registo de memória que

algumas crianças tinham das suas vidas passadas, o mesmo acontecendo

em adultos, e que o autor comprova indo ao local indicado, identificando a

casa e os familiares, etc. Actualmente, estas concepções já são bem acei-

tes no meio científico. Um caso singular é o de Ian P. Stevenson (1918-

-2007), médico psiquiatra canadiano que ao pesquisar também nesta área

chega às mesmas conclusões de Delanne, porém, sem recorrer ao método

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hipnótico, pois os casos que analisava eram com crianças entre os dois e

os quatro anos – que guardavam lembranças muito precisas e claras do

modo como morreram, sobretudo quando a morte ocorria de forma vio-

lenta –, uma vez que as recordações atenuavam-se e desapareciam nas

idades mais tardias. Mas o que ficou foram os seus testemunhos, os re-

gistos médicos que continham elementos e evidências físicas (como defei-

tos de nascimento, sinais de nascença, etc.) que reforçavam a teoria da

reencarnação. Inclusive, o astrofísico e bem conhecido homem de ciência

Carl Sagan afirmou que o trabalho de Ian era um dos poucos estudos, na

área do paranormal, que merecia ser investigado.

Que esta obra contribua de modo a conferir à doutrina da Imorta-

lidade e da Reencarnação da Alma uma base indestrutível demonstrando,

por conseguinte, que é uma parte importante na Grande Lei da Criação

ao realizar a reeducação e a evolução das almas ao longo do seu caminho

evolutivo.

O editor

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“Bem depressa, e o tempo é próximo, se chegará a demonstrar que a

alma humana pode viver, desde esta existência terrena, em comunicação

estreita e indissolúvel com as entidades imateriais do mundo dos

Espíritos. Será compreendido e demonstrado que este mundo age, sem

dúvida, sobre o nosso e comunica-lhe influências profundas de que o

homem actual não tem consciência, mas que mais tarde reconhecerá.

Aqueles que gratuitamente se dão o nome e o realce de sábios riem-se de

tudo o que, inexplicável para o sábio como para o ignorante, coloca ambos

ao mesmo nível. É o que faz com que as histórias de fantasmas sejam

escutadas e bem acolhidas na intimidade, mas impiedosamente

condenadas em público.”

Kant

“Se numa discussão,

um dos muitos que gostaria de saber tudo,

mas se recusa a aprender qualquer coisa,

perguntar-nos a respeito da continuação

da vida após a morte, a resposta

mais adequada e mais correcta é:

„Após a morte você será o que era antes de nascer.‟”

Artur Schopenhauer

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INTRODUÇÃO

A imortalidade – disse Pascal – interessa-nos a tal ponto, e toca-nos

tão profundamente, que é preciso ter perdido todo o senso comum para

ficar indiferente ao seu conhecimento.

A necessidade de perscrutar o nosso destino tem sido a preocupação

de inúmeras gerações, pois as grandes revoluções que transformaram as

sociedades foram feitas por chefes religiosos. Entretanto, nos nossos dias

reina a incerteza na maioria dos nossos contemporâneos, a respeito de

tão importante assunto, porque a Religião perdeu grande parte da sua

autoridade moral e viu diminuir o seu poder sugestivo.

Com os filósofos espiritualistas, a alma, ávida de verdade, erra, ató-

nita, nos obscuros labirintos de uma metafísica abstracta, muitas vezes

contraditória e por vezes incompreensível.

O último século foi notável pelo extraordinário desenvolvimento das

pesquisas psíquicas em todos os ramos da Ciência. Os novos conheci-

mentos que adquirimos revolucionaram as nossas condições de existência

e melhoraram a nossa vida material, em proporções que pareceriam in-

verosímeis aos nossos antepassados. Contudo, acusou-se a Ciência de ter

iludido todas as nossas esperanças porque, se ela triunfa no domínio da

matéria, fica voluntariamente alheia ao que mais nos importa saber, isto

é, se temos, por um lado, uma alma imortal e, em caso afirmativo, em que

se tornará ela depois da morte e, por outro lado, se a alma existe antes do

nascimento.

As descobertas da Astronomia, da Geologia e da Antropologia levan-

taram o véu sobre as nossas origens e, à luz dessas grandiosas revelações

naturais, as ficções religiosas sobre a origem da Terra e do homem

desvaneceram-se, como aconteceu com as lendas, face à História. Por ou-

tro lado, a crítica intensa dos exegetas retirou à Bíblia o seu carácter de

revelação divina, de modo que muitos espíritos sinceros recusam subme-

ter-se, neste momento, à sua autoridade. Essa ruína da fé resulta tam-

bém do antagonismo que existe entre o ensino religioso e a Razão. As

antigas concepções do Céu e do Inferno caducaram, porque já não se

compreende a eternidade do sofrimento como punição de uma existência

que, em relação à imensidade do tempo, é menos de um segundo, assim

como não se concebe a felicidade ociosa e beata, cuja eterna monotonia

seria um verdadeiro suplício.