002.10 ir alma_extracto
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IMORTALIDADEREENCARNAÇÃO
e
da
TítuloImortalidade e Reencarnação da Alma– provas científicas das vidas anteriores –
Título originalL'Immortalité et la Réincarnation
AutorGabriel Delanne
TradutorEduardo Amarante
Coordenação e revisãoDulce Leal Abalada
Grafismo, Paginação e Arte finalDiv'Almeida Atelier Gráficowww.divalmeida.com
Ilustração e Técnica da capaGabriela Marques da CostaArte Digital / Assemblage DigitalA Vida após a Vida – [email protected] www.gabrielamarquescosta.wordpress.comwww.facebook.com/home.php?#!/pages/Gabriela-Marques-da-Costa/134735599901538+351 915960299
Impressão e AcabamentoEspaço Gráfico, Lda.www.espacografico.pt
DistribuiçãoG.C.E. – SodilivrosGrupo Coimbra Editora, [email protected]
1ª edição – Outubro 2010
ISBN 978-989-8447-01-2Depósito Legal nº 317127/10
©Apeiron Edições
Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor.
Projecto Apeiron, [email protected]
apeirone d i ç õ e s
Gabriel Delanne
IMORTALIDADEREENCARNAÇÃO
e
da
provas científicas das vidas anteriores
A LINGUAGEM SIMBÓLICA DAS ILUSTRAÇÕES DE IMORTALIDADE E REENCARNAÇÃO DA ALMA
Desta pintura salta-nos à vista um conjun-
to de imagens que nos confunde. Um rosto
delineado na forma de um macaco (babuí-
no?) ou de um lobo com olhos hipnóticos se-
mi-humanos, representa simbolicamente a
passagem da alma do reino animal para o
reino humano nas suas formas mais pri-
mitivas: a tribal. Daí a representação do ín-
digena (na contracapa) na sua fase primá-
ria com a ocultação de uma face, sinal das
suas futuras e desconhecidas reencarna-
ções para cumprir o seu destino evolutivo
no género humano. Os olhos conferem o ca-
rácter misterioso próprio do homem, con-
firmando a máxima de que os olhos são o
espelho da alma. No centro da fronte en-
contramos um sinal de onde irradia luz de
tonalidades diáfanas e belas que se espa-
lham ao redor do rosto. Muitos se lem-
brarão desta marca na fronte dos indianos,
o tilak, símbolo do olho espiritual ou do
terceiro olho ou visão, se bem que nas mu-
lheres indianas, este tilak, mais conhecido
como bindi, é utilizado como adorno. To-
davia, neste caso esta forma estilizada, co-
mo que de um embrião, pretende comu-
nicar-nos o carácter atemporal de uma ver-
dade dos inícios da Humanidade: o centro e
a união entre o Macroscosmos (o Universo)
de onde viemos – daí as pinturas se enqua-
drarem num plano de fundo negro com
pontos estelares a indicarem este aspecto –, e o Microscosmos (o homem,
como extensão em miniatura do universo) onde nos encontramos e pro-
curamos responder às grandes questões que marcam o percurso do nosso
destino. As linhas que desse ponto se libertam em luzes multicolores
poderão ter vários significados, desde as linhas com que o mendhi capta
Imortalidade e Reencarnação da Alma
7Apeiron Edições |
Pintura de Gabriela Marques da CostaCapa e Contracapa
e desenha o destino de cada um, a partir do espaço que nos rodeia, até ao
desenvolvimento do nosso processo evolutivo com a activação progressiva
e consciente do poder do chacra frontal com cores rosadas, com muito
amarelo e azul púrpura culminando no último chacra refulgente, no alto
da cabeça, em forma de leque abundante e multicolor de vibrações. A
presença de um anel luminoso à volta da Terra induz a filiação estreita e
recíproca entre os vários estados evolutivos da Vida que originou o ho-
mem, e a evolução própria do planeta que nos acolheu e nos acompanha
desde há milhões de anos como portal de realização mútua de dois des-
tinos diferentes, mas complementares. A luz branca saliente na auréola
do planeta, em cima da cabeça, simboliza a realização de ambos (Terra e
Homem) no Grande Plano Divino.
Gabriel Delanne
8 Apeiron Edições |
ÍNDICE
PREÂMBULO À OBRA – RAÍZES PROFUNDAS DA EVOCAÇÃO DOS ESPÍRITOS. AS TRADIÇÕES ANTIGAS E MODERNAS
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I – REVISÃO HISTÓRICA SOBRE A TEORIA DAS VIDAS SUCESSIVAS
1. A Antiguidade da crença nas vidas sucessivas
A Índia
2. A Pérsia e a Grécia
3. A Escola Neoplatónica
4. A Judeia
5. Os Romanos
6. O Druidismo
7. A Idade Média
8. Os Tempos Modernos
9. O Inquérito de Calderone
CAPÍTULO II – AS BASES CIENTÍFICAS DA REENCARNAÇÃO. AS PROPRIEDADES DO CORPO ASTRAL
1. A aparição dos vivos
2. As aparições dos defuntos
3. As aparições provocadas
4. As experiências no Instituto Metapsíquico Internacional
5. A necessidade lógica da existência do corpo astral
6. Onde e como o corpo astral pode adquirir as suas propriedades funcionais
CAPÍTULO III – A ALMA ANIMAL. EXPOSIÇÃO DA UNIDADE DAS LEIS DA VIDA EM TODA A ESCALA ORGÂNICA
1. A necessidade da encarnação terrestre
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2. A evolução animal
3. A formação e o desenvolvimento gradual do Espírito
4. A passagem do Princípio Inteligente pela série
animal
CAPÍTULO IV – A INTELIGÊNCIA ANIMAL
1. Os cavalos que fazem cálculo
2. O cão Rolf
3. Lola
4. Zou
CAPÍTULO V – AS FACULDADES SUPRANORMAIS DOS ANIMAIS E O SEU PRINCÍPIO INDIVIDUAL
1. Um caso provável de clarividência
2. Fantasmas percebidos colectivamente pelos humanos e pelos animais
3. Visões de fantasmas humanos longe de qualquer coincidência telepática e percebidos colectivamente pelos homens e pelos animais
4. Visual com precedência do animal sobre o homem
5. A aparição de Palladia, visual, auditiva, colectiva
6. Lugares assombrados
7. Da sobrevivência dos animais
8. A aparição de um cão
9. Visão de fantasmas animais produzida fora de qualquer coincidência telepática e percebida colectivamente por animais e homens
10.Um cão fantasma
11.O cão risonho
12.A Aparição de animais em sessões experimentais
13.As Materializações visíveis de formas de animais
14.Os Nœvi
CAPÍTULO VI – A MEMÓRIA INTEGRAL
1. A memória integral
2. Outros exemplos de ecmnésia
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3. História de Luís V.
4. A memória latente
5. A visão da bola de cristal
6. Criptomnésia
CAPÍTULO VII – AS EXPERIÊNCIAS DA LEMBRANÇA
1. Estudo sobre as sessões em que se produzem pretensas revelações sobre as vidas anteriores do paciente ou dos assistentes
2. Revelação imprevista
3. Romance subliminal ou reminiscência
4. A reencarnação na Inglaterra
5. A reencarnação pode ser provada?
6. As vidas sucessivas
7. A médium Helena Smith
8. Despertar do passado durante o transe
9. Uma lembrança do passado
10.Extracto da Conferência sobre a Reencarnação feita no Congresso Espírita de Liège, em 28 de Agosto de 1928, pelo Dr. Torres
11.Uma expiação
12.Resumo
CAPÍTULO VIII – A HEREDITARIEDADE E AS CRIANÇAS PRODÍGIO
1. As crianças prodígio
2. Os músicos
3. Os pintores
4. Os sábios, os literatos e os poetas
5. Os calculadores
CAPÍTULO IX – ESTUDOS SOBRE A REMINISCÊNCIA
1. O sentimento do déjà vu (do já visto)
2. Visões de lugares desconhecidos durante o sono
da pessoa
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3. As aparições do Espírito dos vivos
4. Reminiscências prováveis das crianças
5. A menina que fala um idioma onde se encontram palavras em francês
6. Reminiscências que parecem provocadas pela visão de certos lugares
7. Visões retrospectivas
8. Um clérigo
9. Curiosa coincidência
10.Reminiscência ou clarividência
CAPÍTULO X – AS RECORDAÇÕES DAS VIDAS ANTERIORES
1. O despertar das recordações
2. O caso de Laura Raynaud
2.1. O que a Sra. Raynaud disse em 1911
a Durville
2.2. O testemunho da princesa Fazyl
2.3. Como a Sra. Raynaud encontrou a sua casa
2.4. Em Génova é encontrada a certidão de óbito que era da Sra. Raynaud
2.5. Extracto da certidão de óbito na Paróquia de S. Francisco de Álvaro em Génova
2.6. Uma paciente do Dr. Durville, a Sra. D'Elphes, completa as provas dadas pela Sra. Raynaud
CAPÍTULO XI – OUTROS FACTOS QUE IMPLICAM A RECORDAÇÃO DAS VIDAS ANTERIORES
CAPÍTULO XII – OS CASOS DE REENCARNAÇÃO ANUNCIADOS ANTECIPADAMENTE
1. Reencarnações anunciadas nas sessões espíritas. Um caso quase pessoal
2. As filhas gémeas do Dr. Samona
3. Alguns reparos
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CAPÍTULO XIII – OBSERVAÇÃO DO CONJUNTO DE ARGUMENTOS QUE MILITAM A FAVOR DA REENCARNAÇÃO
1. A alma é um ser transcendental
2. O corpo astral e as suas propriedades
3. Onde e como o corpo astral pôde adquirir as
suas propriedades?
4. A reencarnação humana e a memória integral
5. A hereditariedade e as crianças prodígio
6. As reminiscências
7. As verdadeiras lembranças das vidas anteriores
8. Avisos de futuras reencarnações
CAPÍTULO XIV – CONCLUSÃO
1. O esquecimento do passado
2. O problema da existência do mal
3. O progresso
4. Consequências morais
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PREÂMBULO À OBRA
RAÍZES PROFUNDAS DA EVOCAÇÃO DOS ESPÍRITOS
AS TRADIÇÕES ANTIGAS E MODERNAS
Muitos de nós pensam que o início e o fim da vida terrestre, o nasci-
mento e a morte, fecham o ciclo humano, ou seja, tudo acaba com o úl-
timo suspiro. Mas será assim que acontece?
Segundo Max Müller as maiores individualidades da humanidade
admitiram a reencarnação. E assim é. Senão vejamos.
A teoria da imortalidade e reencarnação da alma foi há muitos sé-
culos um dos princípios fundamentais de todas as grandes religiões, ex-
cepção ao Islamismo e ao Cristianismo. Ainda que este último tenha tido
originariamente esta concepção, o facto é que esta doutrina filosófica se-
creta apenas era transmitida a poucos, aos que a podiam compreender.
Ao vulgo, ou aos não iniciados, apenas era transmitido o ensinamento
moral, e a consequência disto levou a uma perda da sua dimensão es-
piritual.
A razão por que a Igreja perdeu esta referência, a lei da imortalidade
e da reencarnação, foi devido a uma maioria ignorante que venceu num
dos seus concílios os doutores que sustentavam o Gnosticismo. Fazendo fé
no que nos diz a Bíblia, sobretudo em Mateus 16, 13-14, S. Marcos 8, 27-
-28 e S. Lucas 9, 18-19, esta doutrina não é de todo desconhecida pelo
mestre do Cristianismo, Jesus, que bastas vezes intercalava os seus dis-
cípulos com perguntas e respostas sobre esta verdade. Desde aproxima-
damente o século VI que a Igreja perdeu de vista as doutrinas que sus-
tentavam a existência imortal do homem e a reencarnação das almas.
Esta situação foi consequência da decadência intelectual e moral que
assolou a Europa aquando das invasões bárbaras, mergulhando a hu-
manidade no longo sono da Idade das Trevas. Com a civilidade destes
bárbaros esta verdade, de que a primitiva Religião Cristã era defensora,
ficou enterrada no tempo.
Recuando a tempos antigos verificamos que era corrente a ideia da
imortalidade e a reencarnação do homem entre as tribos aborígenes do
continente americano, os quase extintos Peles Vermelhas. Do Alasca ao
Peru, entre esquimós, indígenas (da Austrália e ilhas da Oceânia), e es-
Gabriel Delanne
16 | Apeiron Edições
pecialmente entre os incas esta crença era transmitida pelos sacerdotes
aos membros das tribos que a aceitavam e respeitavam.
Na Antiguidade vários pensadores falaram a respeito da crença
imortal da alma e do seu retorno. Nesta época era comum os filósofos
explicarem as respostas dos oráculos – como foram os casos do de
Trepózia, de Amon, de Delfos, de Dodona – a partir da intervenção dos
espíritos.
Segundo Filostrato, Apolónio de Tiana teria passado sete dias na
caverna de Trofónio (arquitecto, construtor do oráculo de Delfos) onde o
oráculo lhe ditou um livro inteiro. Vespasiano consultava o de Pafos, na
ilha de Chipre; Trajano o de Heliópolis na Síria e Juliano o de Delos (a
ilha mais pequena de todas as ilhas do Egeu). Lucano, Tácito, Filostrato
evocavam os mortos. Sócrates, Apolónio de Tiana, Fílon e Plotino, tinham
os seus espíritos familiares com quem comunicavam directamente. Por-
fírio afirmava que o seu génio tutelar era de uma hierarquia elevada.
Segundo os testemunhos dos alexandrinos, um dos principais conse-
lheiros de Juliano, Jâmblico, era famoso na ciência dos demónios e dos
deuses, isto é, na arte de invocar os espíritos. Os principais padres da
igreja primitiva, Clemente de Alexandria, Orígenes e S. Gregório de Nisa
e tantos outros vultos eminentes evocavam-nos. Inclusivamente Oríge-
nes, um dos mais sábios doutores da Igreja primitiva, dizia que a cada
um de nós é dada a existência num corpo no qual recebemos a re-
compensa, ou não, dos procedimentos anteriores.
Cícero conta que Ápio comunicava frequentemente com os espíritos e,
segundo Plínio, o antigo, ele evocou o espírito de Homero para se in-
formar da sua pátria e família. Pausânias, à semelhança de muitos pen-
sadores gregos e latinos, evocava os mortos e Periandro, um dos sete
sábios da Grécia, falava com o espírito da sua mulher. Os platónicos, os
pitagóricos e os estóicos comunicavam com os espíritos. Alguns papas da
Igreja Romana como Bento IX, Gregório VI e Gregório VII também da-
vam especial dedicação a esta comunicação.
Flavius Josephus (judeu romanizado, autor das Antiguidades Ju-
daicas – 37-95 a.C.) na Guerra dos Judeus fala-nos da doutrina da
reencarnação adiantando, inclusivamente, que era uma ideia vulgar en-
tre o povo. Entre os Romanos era conhecida e mencionada pelos seus
poetas e na Grécia vários eram os filósofos que a defendiam: Homero;
Tales de Mileto que não admitia seres mortos; Pitágoras que falava das
suas anteriores existências; Empédocles que contava lembrar-se de ter
Imortalidade e Reencarnação da Alma
Apeiron Edições | 17
sido rapaz e rapariga; Virgílio que a defendia como um facto; Juliano, o
apóstata, lembrava-se de ter sido Alexandre da Macedónia, etc.
Na antiga religião do Egipto também vamos encontrar esta doutrina,
se bem que de forma diferente: o macrocosmos era um ser comparável ao
microcosmos humano. Posteriormente, em Alexandria, os neoplatónicos e
os gnósticos também se vão debruçar sobre esta doutrina. Os povos nór-
dicos contam-na nas suas sagas ou lendas e os gauleses difundiram-na
nos seus mitos. Entre os Druidas fazia parte das tradições místicas e
ainda hoje perdura nos povos de origem celta da Irlanda e da Bretanha a
crença do regresso das almas à vida.
Lucano (39-65 d.C., poeta romano) fala de uma mágica da Tessália
em que Erato, a Amável (musa da poesia lírica e uma das nove musas da
mitologia grega, filha de Zeus e de Mnemosine que personifica a me-
mória),”fazia entrar as almas no seu corpo” e foi por ela que Sexto Pom-
peu soube do desfecho da rivalidade entre seu pai e César. Do mesmo
modo, Dante atribui à mesma musa Erato a evocação da alma de Virgílio
pouco depois de este ter morrido. Orfeu também evocou o espírito de
Eurídice. Ulisses interroga o espírito do adivinho Tirésias, o de sua mãe e
outros, por intermédio de Circe. Eneias desce aos infernos para consultar
a sombra (o fantasma) de Anquises. Saul visita a pitonisa do Endor para
falar com Samuel.
O livro escrito por Hermas – escritor cristão e Padre da Igreja – o
Livro do Pastor (escrito entre 88 e 97 d.C. ) contém instruções precisas e
muito claras a serem seguidas nas reuniões dos primeiros cristãos, que
não deixam de ser muito semelhantes às actuais sessões de espiritismo.
Nesse sentido S. Justino apresenta como argumento decisivo em prol
da imortalidade da alma a possibilidade de se poder evocar os mortos. S.
Irineu e Tertuliano afirmam a realidade destes fenómenos e o próprio S.
Jerónimo pronuncia-se também a favor da possível comunicação com os
mortos. Do mesmo modo pensa S. Tomás de Aquino.
Na Idade Média vamos encontrar afamados nomes que defenderam a
imortalidade da alma e a comunicação com o além. É o caso de Roger
Bacon, acusado de magia; Giordano Bruno, que acreditava nesta dou-
trina e por isso foi queimado como sendo herético; Joana d‟Arc, acusada e
queimada por ouvir vozes misteriosas.
Na época moderna do pensamento encontramos Kant que escreve um
livro, pouco comum nos meios filosóficos, Sonhos de um vidente de es-
píritos explicados pelos sonhos da Metafísica, relacionado com a doutrina
que posteriormente nasceu em França nos meados do século XIX. No
Gabriel Delanne
18 | Apeiron Edições
campo das artes verificamos que o teatro de Shakespeare é povoado de
fantasmas: Hamlet e Macbeth disso são testemunho; a obra Fausto de
Goethe, poema esotérico inspirado nos prodígios de um taumaturgo do
século XV; Lessing, Victor Hugo, Lamartine, Tolstoi, etc. não tiveram
qualquer problema em afirmar nas suas obras a realidade do mundo in-
visível e a sua contínua acção no mundo visível.
Mas foi sem dúvida na Índia que esta doutrina mais alcançou popu-
laridade e ainda hoje exerce a sua maior influência.
No mundo civilizado a doutrina da Imortalidade e Reencarnação da
alma tomou novos contornos quando no século XIX surgiu o espiritismo (o
contacto com os mortos) com o francês Hippolyte Léon Denizard Rivail
(Alan Kardec). Esta corrente apenas actualiza uma prática comum, mas
esquecida, dos antigos anais religiosos, dos antigos santuários, das crip-
tas dos Himalaias aos hipogeus egípcios, das catacumbas de Roma que a
comunicação com os mortos era a base de toda a liturgia. Inclusive os ma-
gos caldeus (como em épocas mais recentes com os cátaros) que levavam
uma vida de pureza de oração a fim de poderem comunicar com os es-
píritos de uma elevada hierarquia. Os druidas evocavam os espíritos nas
florestas: os elementais da natureza.
Em épocas mais recentes encontramos mencionada a reencarnação
em autores como Goethe, Fichte, Schelling, Lessing, Kipling e o empirista
David Hume refere que a Doutrina da Reencarnação representava o úni-
co aspecto sob o que o filósofo podia ocupar-se da Imortalidade da Alma.
Foi então que alguns cientistas aceitaram em estudar os fenómenos
pensando poderem desmascarar qualquer indício de fraude ou supers-
tição.
Neste contexto surge Reencarnação e Imortalidade – Provas Cientí-
ficas das Vidas Anteriores de Gabriel Delanne. Caracteriza-se por se
desenvolver em torno das experiências realizadas pelo autor nos inícios
do século XX através do método da hipnose. A sua pesquisa incide sobre
casos de fantasmagoria, aparições ou visões no leito da morte, teste-
munhos sobre a continuidade da personalidade após a morte (no sentido
de a pessoa manter a sua forma de ser), do registo de memória que
algumas crianças tinham das suas vidas passadas, o mesmo acontecendo
em adultos, e que o autor comprova indo ao local indicado, identificando a
casa e os familiares, etc. Actualmente, estas concepções já são bem acei-
tes no meio científico. Um caso singular é o de Ian P. Stevenson (1918-
-2007), médico psiquiatra canadiano que ao pesquisar também nesta área
chega às mesmas conclusões de Delanne, porém, sem recorrer ao método
Imortalidade e Reencarnação da Alma
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hipnótico, pois os casos que analisava eram com crianças entre os dois e
os quatro anos – que guardavam lembranças muito precisas e claras do
modo como morreram, sobretudo quando a morte ocorria de forma vio-
lenta –, uma vez que as recordações atenuavam-se e desapareciam nas
idades mais tardias. Mas o que ficou foram os seus testemunhos, os re-
gistos médicos que continham elementos e evidências físicas (como defei-
tos de nascimento, sinais de nascença, etc.) que reforçavam a teoria da
reencarnação. Inclusive, o astrofísico e bem conhecido homem de ciência
Carl Sagan afirmou que o trabalho de Ian era um dos poucos estudos, na
área do paranormal, que merecia ser investigado.
Que esta obra contribua de modo a conferir à doutrina da Imorta-
lidade e da Reencarnação da Alma uma base indestrutível demonstrando,
por conseguinte, que é uma parte importante na Grande Lei da Criação
ao realizar a reeducação e a evolução das almas ao longo do seu caminho
evolutivo.
O editor
Imortalidade e Reencarnação da Alma
Apeiron Edições | 21
“Bem depressa, e o tempo é próximo, se chegará a demonstrar que a
alma humana pode viver, desde esta existência terrena, em comunicação
estreita e indissolúvel com as entidades imateriais do mundo dos
Espíritos. Será compreendido e demonstrado que este mundo age, sem
dúvida, sobre o nosso e comunica-lhe influências profundas de que o
homem actual não tem consciência, mas que mais tarde reconhecerá.
Aqueles que gratuitamente se dão o nome e o realce de sábios riem-se de
tudo o que, inexplicável para o sábio como para o ignorante, coloca ambos
ao mesmo nível. É o que faz com que as histórias de fantasmas sejam
escutadas e bem acolhidas na intimidade, mas impiedosamente
condenadas em público.”
Kant
“Se numa discussão,
um dos muitos que gostaria de saber tudo,
mas se recusa a aprender qualquer coisa,
perguntar-nos a respeito da continuação
da vida após a morte, a resposta
mais adequada e mais correcta é:
„Após a morte você será o que era antes de nascer.‟”
Artur Schopenhauer
Imortalidade e Reencarnação da Alma
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INTRODUÇÃO
A imortalidade – disse Pascal – interessa-nos a tal ponto, e toca-nos
tão profundamente, que é preciso ter perdido todo o senso comum para
ficar indiferente ao seu conhecimento.
A necessidade de perscrutar o nosso destino tem sido a preocupação
de inúmeras gerações, pois as grandes revoluções que transformaram as
sociedades foram feitas por chefes religiosos. Entretanto, nos nossos dias
reina a incerteza na maioria dos nossos contemporâneos, a respeito de
tão importante assunto, porque a Religião perdeu grande parte da sua
autoridade moral e viu diminuir o seu poder sugestivo.
Com os filósofos espiritualistas, a alma, ávida de verdade, erra, ató-
nita, nos obscuros labirintos de uma metafísica abstracta, muitas vezes
contraditória e por vezes incompreensível.
O último século foi notável pelo extraordinário desenvolvimento das
pesquisas psíquicas em todos os ramos da Ciência. Os novos conheci-
mentos que adquirimos revolucionaram as nossas condições de existência
e melhoraram a nossa vida material, em proporções que pareceriam in-
verosímeis aos nossos antepassados. Contudo, acusou-se a Ciência de ter
iludido todas as nossas esperanças porque, se ela triunfa no domínio da
matéria, fica voluntariamente alheia ao que mais nos importa saber, isto
é, se temos, por um lado, uma alma imortal e, em caso afirmativo, em que
se tornará ela depois da morte e, por outro lado, se a alma existe antes do
nascimento.
As descobertas da Astronomia, da Geologia e da Antropologia levan-
taram o véu sobre as nossas origens e, à luz dessas grandiosas revelações
naturais, as ficções religiosas sobre a origem da Terra e do homem
desvaneceram-se, como aconteceu com as lendas, face à História. Por ou-
tro lado, a crítica intensa dos exegetas retirou à Bíblia o seu carácter de
revelação divina, de modo que muitos espíritos sinceros recusam subme-
ter-se, neste momento, à sua autoridade. Essa ruína da fé resulta tam-
bém do antagonismo que existe entre o ensino religioso e a Razão. As
antigas concepções do Céu e do Inferno caducaram, porque já não se
compreende a eternidade do sofrimento como punição de uma existência
que, em relação à imensidade do tempo, é menos de um segundo, assim
como não se concebe a felicidade ociosa e beata, cuja eterna monotonia
seria um verdadeiro suplício.