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UMA VISÃODO FUTURO

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Rubens Rodrigues dos SantosRubens Rodrigues dos Santos

UMA VISÃOUMA VISÃODO FUTURDO FUTUROO

Avaliação do que é relevanteAvaliação do que é relevantena passagem do milêniona passagem do milênio

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©1999 de Rubens Rodrigues dos Santos

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Revisão: Dinorah ErenoProdução gráfica: Mirian Cunha

Capa: Ricardo FalcãoIlustrações: André Pessoa

Composição: Jorge Luiz Ricci

Impressão:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Santos, Rubens Rodrigues dos Uma visão do futuro : avaliação do que é relevante na passagem do milênio/Rubens Rodrigues

dos Santos. – São Paulo : Nobel, 1999.

ISBN 85-213-1114-1

1. Ciência - História 2. Civilização - História 3. Homem - Influência na natureza 4. Século 205. Século 21 6. Tecnologia - História I. Título.

99-3823 CDD-909.83

Índice para catálogo sistemático

1. Século 21 : Hipóteses e suposições : Civilização : História 909.83

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO

Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meioseletrônicos ou gravações, sem a permissão, por escrito, do editor. Os infratores serão punidos pela leinº 9.610/98

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

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Para minha esposaAna MariaPara meus filhosCecilia, Regina, Lia e Gabriel

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PREFÁCIO

Este livro é a história e o roteiro intelectual de um profissional esclarecido,Rubens Rodrigues dos Santos. Mais conhecido como jornalista, o autor é umhomem polivalente. Tendo sua formação básica em engenharia, muito cedotransladou-se para o jornalismo convencional e o cinema documentário, dedi-cando a essas atividades grande parte de sua vida. A partir dos meados dadécada de 70, ele encontrou um novo caminho para as suas atividades decidadão, percorrendo o elástico espaço das questões ambientais, sem deixarde abranger em todos os seus trabalhos a realidade socioeconômica do Brasil.Num país de fortes desigualdades regionais, sociais e culturais, é possível en-tender as diferentes faces do mundo real quando se aprende a viajar pelosmais diferentes recantos do território. Quem passa de hotel para hotel deluxo, ou de praia a praia simbólica, certamente não tem tempo nem oportuni-dade de conhecer o Brasil em sua inteireza. Rubens Rodrigues dos Santos,porém, fugindo de uma visão pontualizada, conseguiu ampliar seu acervo deobservações das nossas subculturas regionais, culminando com uma excelen-te visão sobre a multiplicidade de nossas questões relacionadas com o meioambiente, essência da vida na Terra.

Entretanto, enganam-se os que consideram o autor deste livro apenas umjornalista versátil. Ao escrever sobre a evolução científica, social e tecnológicado século XX, emergem de sua personalidade todos os seus atributos intelec-tuais, ou seja, a sua formação de engenheiro, a sua experiência dedocumentarista, o seu espírito de jornalista polivalente, a sua imensa curiosi-dade humana. Sua visão do século e do milênio que entram em saudoso cre-púsculo é das mais seletivas e amplas até agora escritas. E, sobretudo, redigidacom uma linguagem suave e agradabilíssima, do interesse de uma imensagama de leitores. É provável que surjam outros estudos recuperativos do sé-culo que chega ao fim, mas é certo que, pelo seu caráter quase didático, bemcomo pelo seu esforço de síntese e polivalência, este livro de Rubens Rodriguesdos Santos ocupe sempre o destaque que merecem os depoimentos legadospara a posteridade.

Aziz Nacib Ab’Saber Universidade de São Paulo

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APRESENTAÇÃO

As profecias sempre fascinaram o homem. No passado mais distante osestímulos eram as crenças e as superstições, os truques e os malabarismos delinguagem, os dogmas e a ignorância. Mas os avanços do conhecimento aca-baram por privilegiar a astrologia, a alquimia, a numerologia e a escrita.

As religiões e o misticismo desempenharam papel muito importante nes-ses anseios pela descoberta do que está por acontecer. Sacerdotes, adivinhos,profetas, mágicos, videntes e embusteiros sempre tiveram, e ainda têm, o seulugar assegurado entre os que perscrutam o amanhã, olhos postos em símbo-los religiosos, bolas de cristal, sinais cabalísticos, contas, búzios, baralhos, con-figurações bizarras.

Hoje, ciência e tecnologia permitem que se acendam muitas luzes, algu-mas próximas, outras distantes, embora seja ainda determinante a ocorrênciado imponderável e do imprevisto na trajetória da Terra e das espécies animaise vegetais que um acaso físico-químico-biológico, ou uma Decisão Superior,permitiu que aqui elas surgissem. O saber e a consciência talvez se incluamnessa singularidade excepcional, como fundamentos para buscar o possível e oprovável, com base em hipóteses e suposições.

É somente isso que procuramos alcançar neste livro. Não pretendemos pre-ver o futuro, mas tão-somente avaliar o que talvez venha a ocorrer, consideran-do a realidade científica e tecnológica deste final do século XX, que coincidecom o final de mais um milênio da Era Cristã.

Muitos outros finais de séculos e de milênios já se passaram, sem que mu-danças excepcionais tenham ocorrido. Para a espécie humana, muito mais signi-ficativos do que essa passagem do século XX para o século XXI, do segundopara o terceiro milênio, foram outros marcos temporais socioeconômicos,como aqueles representados pela Primeira e pela Segunda Guerras Mundiais,como também o trepidante período de 25 anos que se interpôs entre uma eoutra conflagração. Mencionamos os marcos passados sem a pretensão deavaliá-los como condicionadores da História.

O motivo principal que nos levou a escrever este livro foi o desejo deprestar um depoimento sobre o que presenciamos no decorrer de uma longae densa carreira de engenheiro e jornalista, durante a qual pudemos observar

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o País e o mundo, os recursos naturais, as ações positivas e negativas dassociedades que deles usufruem. Esta é, antes de tudo, uma reportagem sobreo nosso tempo. Aprendemos que o essencial é a relação entre a espécie quedomina todas as outras, o homem, e o meio ambiente que ela transforma,pelo bem (Cristo pregou há 2.000 anos) ou pelo mal (a bomba atômica foidetonada há 50 anos).

É evidente que um livro tão complexo não poderia ser escrito semque se aproveitassem as idéias e as sugestões de outras pessoas. Paraprojetá-lo e redigi-lo entrevistamos cientistas, professores universitários,mestres e doutores de várias especialidades, ao longo de muitos anos.Valemo-nos de informações colhidas em revistas científicas conceitua-das e fornecidas por agências de notícias nacionais e internacionais.Resultou desse trabalho um acervo imenso de idéias e informações, emparte condensadas nestas páginas. Aos que leram os originais e apresen-taram sugestões, os nossos agradecimentos. É evidente que os cientistase técnicos que entrevistamos não são responsáveis pelas conjecturas dopossível e do provável aqui expostas, resultantes da leitura pessoal que oautor faz de um insignificante segmento da vida na Terra.

O essencial nessa busca é a interação entre a espécie humana e o meioambiente em que ela surgiu e evoluiu, até alcançar o estágio atual. Por issoiniciamos este livro com um esboço das nossas origens, apresentado no capí-tulo 1, sem a pretensão de discorrer sobre antropologia.

Em seguida, arrolamos acontecimentos importantes do nosso passa-do mais próximo, não tanto para avaliar a perspectiva histórica, pois nãonos cabe fazer tais incursões, mas para melhor situar o minúsculo seg-mento correspondente à nossa condição atual (a Era Industrial tem 200anos) em face do segmento da nossa espécie (o Homo sapiens teria surgi-do há 100 mil anos), o qual por sua vez também é insignificante compa-rado com os segmentos maiores da Vida (que teria surgido há 3 bilhõesde anos), do Sistema Solar (que teria se formado há 5 bilhões de anos) edo Cosmo (o Big Bang teria ocorrido há 15 bilhões de anos). É o queprocuramos oferecer nos capítulos 2, 3 e 4.

Entramos depois no tema principal deste trabalho, relacionado comhipóteses e suposições cabíveis, sem enveredar pelo terreno incon-sistente das previsões do futuro. Avaliamos a ação do homem, relacio-nada principalmente com a reversão para a atmosfera do imenso vo-lume de carbono que há milênios, graças à clorofila e à fotossíntese,se acumulou em jazidas fósseis (carvão, petróleo e gás natural) nosubsolo da Terra.

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Sobrevivemos durante os dois séculos de luzes e sombras corresponden-tes à Era Industrial, talvez consigamos sobreviver no século XXI, mas háuma probabilidade dúbia de alcançarmos séculos subseqüentes. É importanteinsistir sobre a nossa insignificância e transitoriedade, considerando o passa-do, o presente e o futuro daquilo que é essencial – matéria e energia – numUniverso infinito, sujeito a infinitas transformações.

Não nos é possível abranger o significado do infinito porque somos finitos,como indivíduo e como espécie. Somos finitos e nos baseamos em parâmetrosfinitos, num contexto de espaço infinito, tempo infinito, matéria infinita,energia infinita. Tudo acontecendo de acordo com seus amálgamas e suasdissociações, que também ocorrem em número infinito. Trata-se de umavisão muito pessoal do autor.

Entre concentrações absolutas e expansões incomensuráveis, aqui e ali,talvez se acendam e se apaguem centelhas de vida (não necessariamente se-melhantes à nossa) na Terra como também em infinitos pontos do Cosmo.Durante que parcela do tempo infinito brilhará a nossa centelha finita?Mantê-la acesa por toda a eternidade será impossível, mas cabe-nos contri-buir para que ela se apague honrosa e serenamente.

Para facilitar a identificação dos assuntos que mais possam interessar aoleitor, eles foram apresentados em ordem alfabética, ao longo do capítulo 5.Talvez alguns temas relevantes nos tenham escapado, mas o essencial é pro-vável que esteja neste trabalho, no qual procuramos avaliar a ação do homemna Terra, por enquanto o nosso único lar.

No capítulo 6 ousamos sugerir que o nosso tempo assinala um ponto me-diano entre o princípio e o fim do Sistema Solar.

O Capítulo 7 devolve-nos ao cotidiano das nossas interrogações maiores:afinal, ciência e tecnologia abrangem ou não a moral e a ética?

O autor

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Breve apreciação, feita no final do século XX, do ínfimo seg-mento por nós conhecido do Cosmo infinito, que não conse-guimos entender como tal porque somos finitos e nossa mentedomina unicamente parâmetros finitos. Um convite à admis-são da nossa insignificância e da nossa transitoriedade, antesde ousar uma incursão no século XXI....................................15

Avaliação de um segmento do passado próximo, a Era Indus-trial, para que seja possível chegar mais perto daquilo quesomos considerada a ordem infinita das coisas. A primeirametade desse período começou em 1800, com a invenção damáquina a vapor, e praticamente terminou em 1900, poucoantes de se inventar o motor a explosão e se iniciar a constru-ção em série do automóvel........................................................21

Pausa na passagem da primeira para a segunda metade da EraIndustrial, no entorno do ano 1900. Recuamos no tempo parasaber o que Nostradamus previu há 400 anos. Transcrevemosa única saudação ao novo século, publicada no Brasil dia 1º dejaneiro de 1901, ilustrando-a com reclames reveladores datecnologia na época...................................................................27

Início da segunda metade da Era Industrial em 1900, quando ohomem deixou de se valer somente do carvão para produzirvapor e mover máquinas, passando a utilizar também o petróleoe seus derivados para fazer funcionar os motores a explosão dosautomóveis. A Era Industrial contabiliza 200 anos de grandesavanços da ciência e da tecnologia.............................................43

SUMÁRIO

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O possível e o provável no século XXI, apresentados em ordemalfabética para que se localizem com mais facilidade as hipóte-ses e as suposições que interessam ao leitor, tendo sempreem vista que as mudanças na natureza são geralmente muitolentas, incompatíveis com a condição inerente ao ser humanode passar abruptamente da vida para a morte........................50

Incursão ao longo do possível e do provável no século XXI,advertindo que não está assegurada a sobrevivência da espéciehumana nos séculos subseqüentes. Uma especulação cósmica:estaríamos vivendo no ponto mediano de um segmento tem-poral de 10 bilhões de anos, entre o princípio e o fim do nossoSistema Solar?.............................................................................179

Conclusão da reportagem, assinalando que procuramos resu-mir a trajetória humana para perguntar: por que o homembusca avidamente uma rota de fuga para o Cosmo, sem antesprocurar resolver os graves problemas que ele próprio criouneste planeta generoso, que lhe oferece tudo quanto a suaconstituição átomo-molecular precisa?................................181

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O primeiro bípede ancestral do homem teria vivido no nordesteda África há cerca de 5 milhões de anos. Seria quase um macaco,embora pudesse se erguer nas patas traseiras e caminhar em buscadas folhas e raízes que lhe serviam de alimento e escapar mais rapi-damente dos seus predadores (Australopithecus ramidus , cérebro com410 centímetros cúbicos). Ele seria originário de uma entre váriasespécies de símios, resultado da permanente evolução a que todos osseres vivos estão submetidos, acompanhando as modificações no meioambiente, as ofertas alimentares e a pouco lembrada, mas permanen-te e essencial, ação dos raios ultravioleta do Sol na configuração ge-nética dos organismos.

Tudo leva a crer que há 3 milhões de anos já vagava pela África um bípedenosso precursor hominídeo, ainda muito próximo de um macaco, que percor-ria as savanas, mas subia agilmente nas árvores para colher frutos e brotos,escapar de predadores e descansar (Australopithecus africanus , cérebro com450 centímetros cúbicos).

Há cerca de 2,5 milhões de anos um hominídeo perambulava por todo ocontinente africano, mas dava preferência às regiões mais quentes do nordes-te, menos áridas e com melhores ofertas de folhas, raízes e pequenos animaisque garantiam a sua alimentação. Ele tinha mandíbulas fortes, talvez porquepartisse ossos para aproveitar o tutano (Australopithecus robustus, cérebro com500 centímetros cúbicos).

Para comer o saboroso e nutritivo tutano era preciso quebrar os ossos,bater neles com pedras ou com outros ossos: talvez tenha sido esse o primeiro

CAPÍTULO 1

Breve apreciação, feita no final do século XX, do ínfimo segmento por nós conhecido do Cosmo infinito,

que não conseguimos entender como tal porque somos finitose nossa mente domina unicamente parâmetros finitos.

Um convite à admissão da nossa insignificância e da nossa transitoriedade,

antes de ousar uma incursão no século XXI.

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gesto, ponto de partida da longa série de ações manuais que levariam à fabri-cação de um tosco machado de pedra lascada (Homo habilis, cérebro com 660centímetros cúbicos).

Há aproximadamente 1,7 milhão de anos o nosso ancestral usava cla-vas, machados de pedra e lanças com pontas de ossos aguçados. Alimen-tava-se de frutos, raízes e carne. Dominava o fogo e protegia-se do friocobrindo-se com as peles dos animais que abatia. Fogo, carne e agasalho(Homo erectus, cérebro com 950 centímetros cúbicos). Graças ao domíniodo fogo, hábitos onívoros e abrigo de peles, esse nosso ancestral teria, hácerca de 1,5 milhão de anos, ousado atravessar o estreito de Gibraltar e sedisseminar pela Europa. A geografia da época talvez tivesse facilitado essamigração, num dos períodos glaciais que ocorreram na Terra, o qual teriareduzido a largura dessa passagem marítima porque o nível dos maresseria bem mais baixo, com as águas acumuladas nos continentes sob aforma de calotas de gelo.

Esse Homo erectus já conseguia enfrentar o frio e por isso espalhou-se pelaEuropa. Partiu para a ocupação do mundo no decorrer do milênio seguinte,alcançando a Ásia Menor e a Índia, a China e as grandes ilhas do Pacífico,Austrália e Nova Zelândia. Como erectus e habilis esse nosso ancestral teriafeito uso intensivo da madeira para fabricar armas, abrigos e embarcações.Com elas talvez tenha realizado longas travessias, chegando a ilhas do Pacífi-co, percorrendo as bordas do Mediterrâneo, empreendendo uma aventuraentão audaciosa: acompanhar o litoral oeste do continente americano, desde oestreito de Bering até o extremo sul do Chile, aportando em diferentes latitu-des e penetrando o continente para leste.

Há 100 mil anos, esse nosso ancestral peregrino já se reunia em gruposmaiores nos locais propícios, onde a caça e o peixe abundavam e havia caver-nas para assegurar abrigo. Fabricava armas e utensílios melhores, aproveitan-do pedra, madeira e cerâmica. Sepultava seus mortos. Tinha rudimentos deorganização social, verificando-se no grupo a hegemonia do mais hábil e forte(Homo sapiens, cérebro com 1.330 centímetros cúbicos).

Grupos esparsos na África, Europa, Ásia e Oceania certamente se dife-renciavam à mercê de condições diferentes do meio ambiente, de regimesalimentares próprios, de fatores peculiares a cada grupo e a cada região, sub-metidos sempre à ação dos raios ultravioleta do Sol e de outros fatores queprovocam mutações genéticas.

Alguns grupos diferenciados do Homo sapiens se extinguiram, outrosconseguiram subsistir e se fortalecer, multiplicando-se, embora com pe-quenas alterações: cor branca, amarela ou negra, cabelos pretos ou loiros,lisos ou crespos, olhos escuros ou claros, com forma arredondada ou oblí-qua. Eles já se consolidavam assim há cerca de 50 mil anos. Comosubespécies ou variedades do Homo sapiens? Ou apenas como contingen-tes diferenciados do Homo sapiens?

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Há controvérsias entre os antropólogos quanto à denominação dos gru-pos do Homo sapiens que se espalharam por diferentes ecossistemas de todosos continentes e neles, isolados, adquiriram características próprias. Algunsadmitem considerar esses contingentes migrantes como subespécies do Homosapiens, outros negam o acerto dessa denominação e preferem considerá-lossomente como contingentes diferenciados, variedades do Homo sapiens. Serápreciso, antes de tudo, levar em conta a definição de espécie: conjunto deindivíduos muito semelhantes entre si e aos ancestrais, que se cruzam e pro-duzem descendentes férteis.

Não nos cabe refazer a trajetória de todos os contingentes de nossos ante-passados, mas somente assinalar que um deles dominou todos os outros eacabou se transformando no Homo sapiens sapiens, que se espalhou ainda maispela Terra. Não é nosso propósito discorrer sobre antropologia, mas apenasoferecer termos de comparação para avaliar segmentos do espaço e do temporelativos à espécie que acabou chegando à atualidade, com peculiaridades quehoje caracterizam o chamado homem moderno, com suas múltiplas varieda-des e cruzamentos raciais.

Os cientistas supõem que uma agricultura rudimentar já seria praticadaentre 15 e 10 mil anos atrás, quando o homem enterrava grãos e raízes, viaas plantas crescerem e depois de alguns meses colhia muito mais do quehavia plantado.

Entre 15 e 10 mil anos atrás teriam surgido estruturas socioeconômicasrudimentares na ilha de Creta, nas costas gregas e nas margens orientais doMediterrâneo. Também na Índia e na China os seres humanos cederam àtendência de se reunirem e se organizarem. Na América e na Oceania, osantropólogos assinalam a presença do homem há cerca de 12 mil anos. Épreciso levar em conta não somente os vestígios de passagens e as ocupaçõesocasionais, mas antes de tudo as fixações permanentes de grupos mais nume-rosos, com hierarquias bem definidas, além de atividades econômicas e cultu-rais próprias.

Há cerca de 6 mil anos, entre os rios Tigre e Eufrates, bem como no valedo Rio Nilo, graças à água e ao calor essenciais, formaram-se algumas dessasprimeiras sociedades.

Depois de 3 mil anos essas antigas concentrações humanas já tinhammudado muito. A civilização egípcia estava decadente e os faraós da vigé-sima dinastia não conseguiam governar o país. Na Mesopotâmia e regiõeslimítrofes os povos disputavam a supremacia e ambicionavam o domíniodo centro comercial e cultural mais importante de então, a cidade daBabilônia, dominada finalmente pelos assírios. Os hebreus estabeleceramo regime monárquico e o rei Saul passou a governá-los. Os chineses ex-pandiram-se pela Ásia sob a dinastia Tchen, tribos arianas ocuparam a foze as margens do Rio Ganges. Há evidências de que os maias dominavam apenínsula de Iucatán.

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Há 2 mil anos, início da Era Cristã, muitas regiões, nos cinco continentes,estavam ocupadas e algumas civilizações sobressaíam, tendo como pontos dereferência cidades que até hoje existem, como Roma, Jerusalém, Atenas,Alexandria, Constantinopla (atual Istambul), e outras.

Como ocorreu com a maioria dos contingentes do Homo sapiens, no trans-correr dos últimos 100 mil anos, essas civilizações, em todos os continentes,surgiram, evoluíram, algumas decaíram e desapareceram, outras fortalece-ram-se e subsistiram.

Como ficou claro desde o início deste capítulo, não ousamos discor-rer sobre antropologia e história. Este não é um compêndio científico,apenas uma tentativa de ordenar os acontecimentos e de oferecer umainterpretação pessoal. Buscamos a dimensão real do tempo para neleinserir a irrisória Era Industrial de 200 anos (1800 a 2000), que insisti-mos em chamar também de era do carbono, durante a qual o homempassou a restituir para a atmosfera esse elemento essencial que à custada fotossíntese acumulou-se no subsolo da Terra sob a forma de carvão,petróleo e gás natural.

Desde que o homem começou a cultivar regularmente o solo, hácerca de 10 mil anos, ele se preocupou 10 mil vezes com a alternânciaanual de períodos secos e chuvosos que condicionaram suas colheitas,ano após ano. Nada menos de 100 vezes ele foi dormir num séculopara acordar no século seguinte, passando uma noite como outra qual-quer. Virou de um milênio a outro 10 vezes e tudo transcorreu nor-malmente. Apresentamos comparativamente os números para que arealidade temporal fique ao nosso alcance, compartimentando as par-celas que tentamos destacar.

Em número de anos:

Big Bang............................................................................15 bilhõesFormação do Sistema Solar...............................................5 bilhõesAparecimento da vida na Terra.........................................3 bilhõesAparecimento do nosso primeiro ancestral....................5 milhõesAparecimento do Homo sapiens ...........................................100 milInício da atividade agrícola....................................................10 milPrimeiras civilizações, Egito e Mesopotâmia...........................6 milEra Cristã..................................................................................2 milEra Industrial.............................................................................200

Fica evidente que o período de tempo correspondente à nossa espécienão passa de um segmento infinitamente pequeno na ordem das coisas.

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Posto isso, desejamos finalizar este primeiro capítulo com uma proposiçãoousada. Não há de nossa parte racismo, discriminação religiosa, prevençõescontra etnias e suas culturas.

Desde que os nossos ancestrais deixaram o berço africano e se espalharampelo mundo, foram se diferenciando, aqui e ali, em subespécies (ou contin-gentes diferenciados, ou variedades), sempre com as modificaçõessedimentadas no decorrer de milênios.

Alguns desses grupos se fortaleceram e se tornaram numerosos, graçasàs condições favoráveis encontradas nos ecossistemas onde se estabelece-ram: raízes e folhas comestíveis em abundância, caça e pesca mais fáceis,ausência de predadores, melhores abrigos, facilidade para acender e con-servar o fogo.

Os grupos mais fortes que o acaso privilegiou subsistiram, enquanto osmais fracos desapareceram. Grupos mais fortes exterminaram grupos maisfracos, pois ainda predominava o impulso instintivo da hegemonia grupal.

Saltemos os milênios até a época de hoje. Os ecossistemas sofreram pro-fundas modificações. O essencial para a sobrevivência do homem modernopassou a incluir alimento, abrigo, organização política e administrativa, ca-pacidade de defesa, bem como outros elementos essenciais à vida, comodisponibilidade de energia, acesso à cultura, embasamento científico etecnológico, desenvolvimento industrial e agrícola para gerar empregos.

Talvez haja no mundo atual privilégios e desprivilégios que, em um passa-do longínquo, determinaram o fortalecimento de alguns contingentes huma-nos e a desvitalização de outros.

Faltam-nos séculos para que isso se faça nítido na sociedade humana emultiplicam-se hoje complicadores que não existiam antes, como a moral ea ética inscritas nos nossos códigos de direito, nacionais e internacionais,bem como poderosos preceitos religiosos, determinismos culturais, domí-nios econômicos.

Mas é possível distinguir tênues esboços de contingentes mais fortesque estão sobressaindo para, no futuro, dominarem e reduzirem os con-tingentes mais fracos. Seria algo assim como a seleção natural da qual ohomem não pode inexoravelmente escapar, feita não à custa de benefíciosalimentares, da ausência de predadores, da disponibilidade de um ma-chado de pedra melhor, mas sim à custa dos avanços da ciência e datecnologia, da eficiência das armas guiadas por satélites e raios laser, daimposição econômica feita pelos que dispõem de capitais para investir ede instituições bancárias internacionais capazes de ditar regras de sub-missão. A eliminação de alguns grupos, que chamaremos por analogiade contingentes desprivilegiados do século XXI, não se dará pela elimi-nação biológica dos seus integrantes, mas sim pelo aniquilamentosocioeconômico dos mais fracos.

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No transcorrer dos próximos 100 anos, talvez venhamos a assistir commais nitidez a definição do contingente privilegiado que sobressairá e doscontingentes desprivilegiados que se marginalizarão, em parte atrasando-se irremediavelmente, em parte aniquilando-se pela subnutrição e pela dis-seminação de moléstias.

Desde já é preciso acentuar que o número dos desprivilegiados (cercade 70% de 6 bilhões) aumenta 2,5% ao ano, ao passo que o número dosprivilegiados (cerca de 30% de 6 bilhões) aumenta quando muito 1,5%ao ano. Alguns contingentes privilegiados até diminuem. Haverá no sé-culo XXI aumento da pressão demográfica, que degenerará em invasõesdos países desenvolvidos (privilegiados) pelos povos dos países subde-senvolvidos (desprivilegiados).

Mas deve-se considerar a existência dos mencionados complicadoresque poderão provocar algo assim como uma singularidade na trajetóriada espécie humana e da vida na Terra. O homem moderno, soma de umcontingente privilegiado dominante com vários contingentes desprivilegiadoscondenados à submissão, pode desaparecer completamente se um únicodetentor de poder (e é aí que se evidencia a singularidade) ordenar oinício de um conflito nuclear ou de uma guerra bacteriológica que apa-gue a centelha de vida aqui surgida há cerca de 3 bilhões de anos.

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Há cerca de 500 anos, duas nações representativas da sociedade dos ho-mens, Portugal e Espanha, deliberaram que a elas convinha enfrentar o des-conhecido e estabelecer novas rotas comerciais para o Oriente. Acabaram porconhecer as verdadeiras dimensões da Terra. Cristóvão Colombo descobriu aAmérica, Vasco da Gama contornou a África e chegou à Índia, Pedro ÁlvaresCabral desembarcou em terras do Brasil, Fernão de Magalhães revelou queera possível dar a volta ao mundo.

A energia dos ventos enfunou as velas dos barcos destes audaciosos des-cobridores. Apenas 269 anos depois, a pressão do vapor d’água gerava naInglaterra a energia mecânica necessária para mover teares e acionar bombasque esgotavam água acumulada no fundo das minas de carvão. Iniciava-se aEra Industrial, o período mais significativo para a espécie humana e certa-mente o mais prejudicial à Terra. Os seus dois séculos (de 1800 a 2000) foramintrigantemente decisivos, para o bem ou para o mal. Neles o homem cons-truiu toda a sua estrutura socioeconômica, preponderantemente com base naprodução e no uso da energia obtida pela extração e queima de combustíveisfósseis – carvão, petróleo e gás natural – e de seus derivados obtidos pordestilação fracionada: gasolina, querosene, óleo diesel e óleo combustível.

Em 1769, o inventor inglês James Watt (1736-1819) havia concebido oaproveitamento da pressão do vapor d’água para movimentar bombas eteares. Foi à custa dessa descoberta que, em 1800, trafegou a primeira car-ruagem movida a vapor entre Londres e Plymouth, na Inglaterra. Algunsanos depois, em 1807, o norte-americano Robert Fulton (1765-1815) esta-beleceu a primeira linha de barcos fluviais a vapor entre Nova York e Albany,nos Estados Unidos. George Stephenson (1781-1848) inaugurou em 1830 a

CAPÍTULO 2

Avaliação de um segmento do passado próximo,a Era Industrial, para que seja possível chegar mais pertodaquilo que somos, considerada a ordem infinita das coisas.

A primeira metade desse período começou em 1800,com a invenção da máquina a vapor, e praticamente

terminou em 1900, pouco antes de se inventar o motor aexplosão e se iniciar a construção em série do automóvel.

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primeira estrada de ferro entre Londres e Liverpool. Logo depois, os primei-ros barcos movidos a vapor e a vela atravessaram o Atlântico, ligando Liverpoola Nova York. No Brasil, em 1834, Irineu Evangelista de Souza (1813-1889)inaugurou a primeira linha férrea, ligando o Rio de Janeiro a Petrópolis.

Durante todo o século XIX aperfeiçoaram-se as máquinas a vapor, queimpulsionaram os transportes e a industrialização. Ciência e tecnologia evo-luíram rapidamente também em outros campos, aproveitando alguns impor-tantes avanços do passado: o alemão Johann Gutenberg (1398-1468) haviaaperfeiçoado as composições com tipos móveis feitos usando uma liga dechumbo, estanho e antimônio, além de aprimorar a prensa e a tinta de impres-são, de tal forma a difundir os livros e os folhetos. Em 1656, o astrônomoholandês Christian Huygens (1629-1695) havia inventado o relógio de pêndu-lo. Em 1674, Antoine van Leenwenhoek esmerilhou vidro claro, obteve umasuperfície curva e percebeu que com ela podia ver as coisas aumentadas. Foio início dos microscópios e telescópios. Em 1795, o cervejeiro francês NicolasAppert descobriu que poderia conservar por mais tempo os alimentos fe-chando-os hermeticamente em potes de barro e depois fervendo-os. Em1796, o médico inglês Edward Jenner (1749-1823) já tinha iniciado a vacina-ção contra a varíola, depois de observar que os ordenhadores de vacas ataca-das por essa doença adquiriam imunidade contra ela.

Feito esse rescaldo científico e tecnológico do passado é possível voltar aoinício do século XIX, quando começou a Era Industrial (1800 a 2000).

Em 1831, o cientista inglês Michael Faraday (1791-1867) descobriu que omovimento de um ímã no interior de uma bobina gerava nos fios desta umacorrente elétrica, na verdade um fluxo ordenado de elétrons. O homem con-seguiu assim transformar energia mecânica em energia elétrica. Nos anosseguintes, a descoberta foi aperfeiçoada na Europa e nos Estados Unidos.Construíram-se equipamentos de grande porte que reproduziam em propor-ção maior e mais sofisticada a descoberta de Faraday. Surgiram os geradores(dínamo, turbina de hidrelétrica, turbina de termelétrica), descobriu-se atransmissão da eletricidade por cabos e fios, bem como a reconversão destaenergia elétrica em energia mecânica nos motores. Este foi um dos maioresavanços da ciência e da tecnologia ocorridos entre 1840 e 1890, responsávelpelo grande desenvolvimento socioeconômico da sociedade humana e pelaocorrência de muitas outras descobertas importantes.

Em 1833, foram lançados à venda para o público, nos Estados Unidos, osprimeiros jornais diários, impressos em máquinas planas. No final do séculoXIX, as tiragens foram muito aumentadas, pois foi possível imprimir usandomáquinas rotativas.

Em 1844, o norte-americano Samuel Morse (1791-1872) acionou o pri-meiro aparelho para transmitir mensagens usando seqüências organizadas depontos e traços: estava inventado o telégrafo sem fio. A primeira transmissãofoi feita entre Washington e Baltimore, nos Estados Unidos.

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A verticalização das grandes cidades foi possível graças a um inventoque recebeu o nome de elevador. Em 1854, o norte-americano Elisha Gra-ves Otis (1811-1861) fez uma demonstração pública do seu gabinete quesubia e descia movido a eletricidade.

Essas e outras máquinas somente puderam ser construídas porque estavadisponível no mercado um material de grande resistência, o aço, obtido em1854 pelo inglês Henry Bessemer (1813-1898). Para fabricá-lo, ele injetouoxigênio em ferro derretido para eliminar o excesso de carbono. Na mesmaépoca, nos Estados Unidos, William Kelly já produzia e comercializava o metalassim obtido, oferecendo no mercado trilhos, rodas e vigas de aço.

Havia grande procura de querosene para iluminação em 1859, razão pelaqual o norte-americano Edwin Drake empenhou-se no aperfeiçoamento deuma bomba para tirar petróleo de jazidas existentes no subsolo na Pensilvânia,Estados Unidos. Um empreendedor chamado John D. Rockefeller (1839-1937)tinha o mesmo objetivo e maior capacidade empresarial. Entrou no negócio,ampliou-o e fundou a Standard Oil Trust, que passou a explorar a extração, orefino e a venda de petróleo. No final do século XIX foi inventado o motor aexplosão para automóveis, movido a gasolina, outro subproduto do petróleo.A demanda foi às nuvens e com ela a fortuna de Rockefeller e de todos os queexploravam petróleo.

A conservação de alimentos pelo frio começou a ser feita em 1834, quan-do Jacob Perkins, radicado em Londres, inventou um compressor e o utilizoude maneira engenhosa: um fluido (no início éter) evaporava e para isso absor-via calor de um recipiente fechado. Era depois levado por um duto para foradesse recipiente, onde um compressor o comprimia fazendo com que o fluidodissipasse o calor trazido de dentro do recipiente. Foi assim inventada a gela-deira e a câmara frigorífica. Em 1902, com base no mesmo princípiotermodinâmico, o norte-americano Willis Carrier produziu o primeiro apare-lho de ar refrigerado.

Em 1851, o imigrante alemão radicado nos Estados Unidos Isaac MerrittSinger (1811-1875) mudou os hábitos tradicionais de costurar manualmentee deu um grande impulso às indústrias de roupas. Ele aperfeiçoou e colocouà venda, em prestações suaves, uma máquina de costura que anos antestinha sido inventada pelo alfaiate parisiense Barthélemy Timonnier. A má-quina Singer chegava a dar 200 pontos por minuto, quando a melhor costu-reira manual não passava dos 30.

As ciências humanas deram um grande passo à frente quando CharlesDarwin (1809-1882) publicou, em 1859, a sua obra A origem das espécies, naqual demonstrava que os organismos vivos sofrem mutações que permitemadaptações ao meio ambiente e às condições de vida. Essas adaptações tor-nam-se hereditárias. Assim evoluíram todas as espécies, as que se adaptaramsobreviveram, as que não se adaptaram se extinguiram.

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Em 1864, Louis Pasteur (1822-1895), cientista francês, observou aexistência de microrganismos em todos os lugares, inclusive no ar. Iden-tificou micróbios que provocam a fermentação e as doenças. Inventou apasteurização, que consiste na eliminação desses microrganismos pelafervura em ambiente fechado ou pela brusca alternância da temperaturado produto. O cientista alemão Robert Kock (1843-1910) mostrou, em1876, que microrganismos específicos provocam moléstias determina-das. O bacilo de Kock, por exemplo, é o causador da tuberculose. Pasteure Kock foram os pioneiros da microbiologia, da assepsia e da cura demuitas moléstias infecciosas.

O monge austríaco Gregor Mendel (1822-1884) divulgou em 1866seus estudos sobre a possibilidade de reproduzir as características deuma espécie pelo cruzamento daquelas que as tivessem. Estabeleceuassim as leis básicas da hereditariedade. Sua obra, redescoberta em 1900,serviu de base para que a moderna agricultura selecionasse espécies maisprodutivas. Em 1960, o agrônomo Norman Borlang criou uma espéciede arroz de alta produtividade que salvou da morte pela fome milhõesde pessoas na Ásia. Foi a chamada Revolução Verde. Hoje, essa seleçãopode ser substituída pelas modificações genéticas nas células das plan-tas, aceitas por uns, abominadas por outros. A ciência dará a última pa-lavra neste final de século XX.

Grandes obras, que exigiram a remoção de grandes volumes de terrae pedra, puderam ser realizadas porque Alfred Nobel (1833-1896), quí-mico e industrial sueco, inventou a dinamite, em 1867. Ele atenuou avolatilidade e risco de explosão da nitroglicerina embebendo com elaareia absorvente, que recebeu o nome de dinamite e explode com odeflagrar de uma espoleta.

Ao custo de milhares de vidas e de fabulosa soma de dinheiro, foi inaugu-rado em 1869 o canal de Suez, com 160 quilômetros, que encurtou em 10 milquilômetros a viagem da Europa para o Oriente.

O inventor escocês Alexandre Graham Bell (1847-1922) completou aprimeira ligação telefônica em 1876. Ele havia descoberto que vibrações dosom numa membrana se transformavam em ondas eletromagnéticas quepodiam ser transmitidas por um fio até uma outra membrana que reprodu-zia os impulsos recebidos.

Em 1877, o inventor norte-americano Thomas Alva Edison (1847-1931)ofereceu à venda uma das suas primeiras criações, o fonógrafo, produto daextraordinária fábrica de invenções que esse cientista e técnico instalou, comuma equipe de notáveis colaboradores. Esse aparelho reproduzia vibraçõesgravadas num cilindro sensível a elas. Em 1879, esses precursores testaramum filamento que no vácuo e pela ação da eletricidade ficava incandescente:estava inventada a lâmpada elétrica.

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O seguro social contra a doença e velhice foi instituído pela primeira vezem 1880, na Alemanha, por Otto Bismarck (1815-1898). Na década seguinte,a Inglaterra aprovou uma política de habitação para amparar os pobres. A leide seguridade social, aprovada nos Estados Unidos em 1935, inspirou políti-cas semelhantes em vários países do mundo.

O primeiro sinal de rádio emitido por ondas eletromagnéticas foi transmi-tido por Guglielmo Marconi (1874-1937), em 1895, na Itália, entre um trans-missor e um receptor separados por apenas 2,5 quilômetros. Em 1901, suastransmissões de rádio já atravessavam o Atlântico, da Inglaterra para os Esta-dos Unidos, vencendo uma distância de 3.500 quilômetros. Mais uma inven-ção conseguida à custa da eletricidade descoberta por Faraday.

Os raios X, de grande importância para a medicina, foram descobertosem 1895 pelo físico alemão Wilhelm Röentgen (1845-1923). Usando umaemissão radioativa ele conseguiu sensibilizar uma chapa fotográfica coloca-da atrás do corpo humano que pretendia radiografar. Os tecidos apresen-tam diferentes permeabilidades às emissões radioativas, por isso é possívelobservá-los. No final do século XX, algumas inovações tecnológicas redu-ziram os riscos às exposições aos raios X, entre elas a ressonância magnéti-ca e a tomografia computadorizada, abrindo novas perspectivas para obser-var o interior do corpo humano.

O primeiro automóvel, surgido em meados do século XIX, era triciclo emovido a vapor, mas em 1893 o norte-americano Henry Ford (1863-1947)construiu esse veículo com quatro rodas e impulsionado por motor a explo-são que consumia gasolina. Mais ainda. Esse pioneiro inaugurou, logo noinício do século XX, uma linha de montagem que disciplinava as tarefas epermitia que se construíssem automóveis com maior rapidez e a um customenor. Outras indústrias automotivas surgiram nos Estados Unidos e naEuropa, as carruagens puxadas a cavalos rapidamente cederam lugar aosveículos movidos a motor de gasolina. Surgiram também os motores simplese econômicos que utilizavam óleo diesel, graças ao que o uso de caminhões ede coletivos se generalizou.

Fortaleceram-se as empresas que extraíam petróleo, destilavam-no ecomercializavam seus subprodutos, principalmente gasolina e óleo diesel. Oresidual óleo combustível passou a ser queimado em caldeiras para produzirvapor, movimentar geradores e produzir eletricidade. O petróleo passou aser, então, um dos mais importantes componentes comerciais, industriais epolíticos do mundo.

A espécie humana, que no século XIX já cavava freneticamente o solo paraextrair carvão e dele aproveitar a energia remanescente do Sol, a partir do iníciodo século XX passou a perfurar o solo para ir buscar nas suas profundezastambém o petróleo, igualmente depositário de energia solar fixada à custa daclorofila e da fotossíntese, no decorrer de milênios, em passado remoto.

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O automóvel a gasolina e a extração do petróleo constituem ummarco que divide ao meio a Era Industrial. Na primeira metade, emapenas 100 anos (1800 a 1900), duas ou três gerações da espécie hu-mana desencadearam um guloso processo de extração e queima de car-vão, que acarretou a restituição para a atmosfera da Terra de muitosbilhões de toneladas de carbono acumulados no subsolo durante o longoperíodo carbonífero de 50 milhões de anos, que transcorreu 250 mi-lhões de anos atrás.

Encerrando a trajetória científica e tecnológica do homem modernonos primeiros 100 anos da Era Industrial, cabe acentuar que todos osavanços foram alcançados graças à livre iniciativa de indivíduos privilegia-dos intelectualmente, dotados de espírito de luta, de amor ao trabalho e deinvulgar determinação.

Aos poderes governamentais coube somente a tarefa de preservar a liber-dade de criar e comercializar o fruto do engenho humano.

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A chegada do ano 2000 (o último do século XX) e o início do século XXIe do terceiro milênio (em 1 de janeiro de 2001) excitarão a mente dos mais de6 bilhões de seres humanos que habitam a Terra (a população chegou a 6bilhões em outubro de 1999), embora somente cerca de um terço dessa popu-lação aceite o calendário da Era Cristã. Haverá muita emoção na noite de 31de dezembro de 1999, como também na noite de 31 de dezembro do ano2000. A mídia acompanhará essas passagens e delas se beneficiará. Ocorrerãotranstornos decorrentes de extremismos dúbios provocados por excitaçõesde natureza religiosa e mística. Alguns praticarão atos tresloucados acreditan-do nas profecias que prevêem o fim do mundo provocado por uma tragédiaapocalíptica, outros estarão propensos a admitir que novos tempos, com no-vas posturas morais e éticas, se iniciarão, outros ainda talvez esperem a res-surreição dos mortos e a chegada de um messias. Poucos se conformarãocom a nossa pequenez, com a dimensão pobre do marco temporal por nóserigido entre os séculos XX e XXI, diferente daquele outro distante apenas100 anos que separou o século XIX do século XX.

Não nos será possível recuar muito no tempo para saber como foram asdezenove passagens de século já ocorridas nos 2.000 anos da Era Cristã. JohannGutenberg concebeu o uso de tipos móveis de metal para facilitar a impressãode livros e panfletos somente por volta de 1438. O advento da imprensa comgrandes tiragens, usando máquinas rotativas, começou nos Estados Unidos ena Europa no final do século XIX (o jornal O Estado de S. Paulo de 1 dejaneiro de 1901 foi impresso em uma máquina rotativa Marinoni, como severá adiante). A popularização do rádio ocorreu na década de 30, a televisão

CAPÍTULO 3

Pausa na passagem da primeira para a segunda metade da Era Industrial, no entorno do ano 1900.

Recuamos no tempo para sabero que Nostradamus previu há 400 anos.

Transcrevemos a única saudação ao novo século publicada noBrasil no dia 1º de janeiro de 1901, ilustrando-a

com os reclames da época.

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difundiu-se a partir da década de 50, a Internet surgiu na década de 90. Por-tanto, a chegada de um ano emocionalmente marcado, a passagem de umséculo para outro, de um para outro milênio da Era Cristã, somente serãoconsideradas como acontecimentos invulgares no final do século XX. É pre-ciso desmistificá-las.

Antes do advento da comunicação de massa, ocorrido nas últimas déca-das deste século, a passagem de um ano para outro, o fim de um século e ocomeço do seguinte, a virada do milênio não chegavam a despertar expecta-tivas e as elocubrações de hoje. Os dias e as noites transcorreram comooutros quaisquer.

Mas desde longínquo passado astrólogos, religiosos, videntes, cartoman-tes e adivinhos fizeram previsões do futuro. O mais conhecido, entre todos, éo médico francês Michel de Nostradame (1503-1566), conhecido comoNostradamus, cujas profecias são até hoje lembradas por ter encontrado apoioentre os editores da época, que obtiveram bons lucros imprimindo e venden-do muitos trabalhos de suas diferentes especialidades: ele foi médico, profeta,astrólogo, herbanário, fabricante de cosméticos e de conservas de frutas.

Sua obra, muito vasta, talvez tenha sido ampliada pelos editores seus con-temporâneos e pelos que passaram a ganhar dinheiro reeditando-a e comen-tando-a como bem entenderam depois de sua morte, no decorrer dos séculosXVII, XVIII, XIX e XX. Sobrevida de quatro séculos, portanto uma confir-mação de que a mente humana busca avidamente antever o futuro. Ediçõesrecentes das previsões atribuídas a Nostradamus, com interpretações tão li-vres quanto menos confiáveis, percorrem o longo período que se estende de1544 até este final do século XX.

Transcrevemos os acontecimentos previstos por Nostradamus, segundointerpretação feita pelo autor John Hogue dos seus versos, propositadamentedúbios (Nostradamus e o milênio, Editora Nova Fronteira, edição de 1980):

1989: “Aliança Rússia-Estados Unidos. Apesar de não fornecer dataprecisa, Nostradamus diz claramente que este acordo acontecerá. Ummétodo um tanto quanto nebuloso, o número de versos indica que a aliançaacontecerá em 1989”.

Setembro de 1993: “A grande peste. O profeta traz alguns detalhes sobreuma grande praga que atingirá o homem e se refere a isso como sendo pragade sangue e sêmen. É difícil contestar estas referências, as quais se aplicamcom propriedade à relativamente nova Síndrome de Imunodeficiência Adqui-rida. Segundo Nostradamus, esta praga, a aids, infectará metade do mundoaté a metade da década de 90”.

Meados dos anos 90: “Grandes terremotos atingem a Terra. Nostradamusnos alerta sobre vários tremores que atingem a Terra de forma determinada.Parte deles começa na metade dos anos 90, a partir da costa oeste da Índia, ecresce na direção oeste dos Estados Unidos. A África Oriental se dividirá emtrês partes e Nova York e a Flórida serão inundadas”.

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1995-1999: Rompimento da aliança União Soviética-Estados Unidos. Aaliança entre as duas superpotências não dura muito e provavelmente acabadurante os últimos anos da terceira guerra mundial”.

1997: “Nova York sofre um ataque nuclear”.Julho de 1999: “Última conflagração. Nostradamus localiza o holocausto

no último mês de 1999. Isto será o ápice da guerra de 27 anos que levará àdestruição final do mundo civilizado”.

Páscoa do ano 2000: “Inundação da Inglaterra. Na Páscoa do ano 2000,a Inglaterra, ou pelo menos a região sul desse país, afundará no mar”.

2026-4000: “Era de Aquário. Mil anos de paz. O profeta prediz mil anosde paz, quando o homem passa a fazer parte da comunidade galáctica e atingeuma consciência mais elevada, fundindo ciência e religião. Ele nos adverte,porém, para a possibilidade de acumularmos muito conhecimento e de, nofinal desse período, passarmos a manipular os outros, egoisticamente”.

4000-6000: “Era de Capricórnio. Fase final da Terra. Em suas predições,Nostradamus vê o homem de duas maneiras: destruindo tudo ou transcen-dendo o plano material. No 27 século depois de Cristo, este tema influen-ciará o declínio da Era de Aquário. No ano de 3755, haverá grandes chuvasde meteoros. E, no prefácio a seu filho Caesar, Nostradamus diz que, no anode 3797, a Terra finalmente terá fim”.

6000-8000: “Era de Sagitário. A Era da Verdade. Nostradamus dizque, em última análise, a raça humana sobreviverá à conflagração doPlaneta Terra. Ele afirma que colonizaremos o espaço e nos espalhare-mos pelo universo”.

Não nos será possível conhecer o comportamento dos seres humanos naspassagens de século ocorridas quando os meios de comunicação eram precá-rios. Tampouco poderemos saber como transcorreu a virada do primeiro parao segundo milênio, na noite de 31 de dezembro do ano 1001. A possibilidadede comunicação instantânea para todos os quadrantes do mundo, via jornais,rádios, televisões e Internet, permite prever que a mídia fabricará chegadasretumbantes do ano 2000, em 31 de dezembro de 1999, e do século XXI, nanoite de 31 de dezembro de 2000.

Nada semelhante ocorreu no passado, como nos mostra a escassa docu-mentação disponível. Não houve um cabalístico ano 1900, como é possívelverificar folheando edições do jornal O Estado de S. Paulo próximas a essadata. Na edição de 31 de dezembro de 1900, último dia do século XIX, nãohá referência alguma ao evento. Somente na edição de 1 de janeiro de 1901,passagem do século XIX para o século XX, o jornal se manifestou sobre oassunto, publicando na primeira página extensa matéria intitulada “Umseculo” (sic), que transcrevemos na íntegra, respeitando a ortografia daépoca e pequenos senões de natureza gráfica. Reproduzimos também, dessamesma edição, alguns reclames e informações que nos ajudam a avaliar asociedade dos homens há 100 anos.

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UM SECULO

Hontem, ao dobre da meia-noite, morreu o seculo XIX. São do seculo XX as primei-ras claridades e os primeiros rumores do dia de hoje.

Um dia perfeitamente como os outros. No mundo exterior, todas as coisas se nosapresentam com o mesmo aspecto, que hontem tinham, e na mesma ordem, em que hontemas deixámos : o mesmo sol no mesmo céo, sob o mesmo céo o mesmo espaço, sob o mesmoespaço a mesma terra. Tambem não há mudança alguma no mundo interior : erguemo-noscom as mesmas idéas, os mesmos sentimentos, os mesmos cuidados e as mesmas esperançascom que nos deitámos . . .

Entretanto, não ha ninguem que, por momentos ao menos, não se deixe illudir e nãojulgue que é real a imaginaria divisão do tempo imposta pelo calendario que nos rege :“ deve haver um abysmo entre a noite de hontem e a manhan de hoje ! ” E, ao abrir osolhos do corpo e os do espirito, neste 1.º de janeiro, que só de cem em cem annos se repete,quem se libertará desse instinctivo movimento de amargo espanto que nos assalta quandonos falta, quando não vemos o que esperavamos ? . . .

Entra nisso muito da immensa e inexgottavel vaidade humana, que por qualquerninharia se enfeita, se alvoroça e incha. Poucas gerações assistem á passagem de um seculopara outro seculo... E’ espectaculo de predestinados... E aqui estamos nós, impando, quasia estoirar de soberba, revestindo a nudez diaphana de uma ficção com as roupagens maisvistosas, que a nossa phantasia inflammada póde sonhar, e assistindo, no auge do orgulhoe do desvanecimento, a um facto para o qual não concorreu a minima quantidade do nossoesforço e que, se existe, existe tanto para nós quanto para o infimo vérme da creação !

* * *

Façamos, todavia, como toda a gente. O dia de hoje é da maxima solennidade. A terracomo que suspende, por um instante, o seu giro surdo e invisivel, mas real e eterno, entre asmyriades sem conta dos astros flammejantes. A’ parada do planeta corresponde a dos queo habitam : a humanidade como que suspende tambem a sua marcha através das edades.Ashavero tem emfim mais um minuto de repouso.

Aproveitemol-o, e, como é de praxe até quando um misero anno expira e outro nasce,tentemos dar um grande balanço na nossa vida. Qual é o legado do seculo que morreuao dobre da meia-noite de hontem ? Que nos annunciam as primeiras claridades e os

O ESTADO DE S. PAULO

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primeiros rumores desta madrugada ? O seculo XIX concluiu alguma tarefa ? Comopoderemos definil-a ? O seculo XX começa com algum programma ? Se começa, como ohavemos de lêr ? A humanidade progride ? Não ? . . .

Perguntas formidaveis. Tão altas e tão profundas que não ahi sabio tão sabio que aspossa resolver satisfactoriamente, seja qual fôr a sua força de synthetisar. Tão complexasque um erudito bem erudito precisaria de todos os ponderosos volumes de uma encyclopédiasó para destrinçal-as e classifical-as.

Não commetteremos a insania de nos medirmos peito a peito com ellas nesta pagina levee ephemera de jornal. A penna de um jornalista é alavanca ridiculamente fragil pararemover montanhas desta estatura e foice demasiadamente céga para desbastar florestas tãocerradas e exuberantes. Contentes ficaremos se conseguirmos despertar no espirito de quemnos lê a vontade de saber mais do que sabemos.

* * *

E a primeira difficuldade com que tropeçamos está no calendario que nos rege. A bemdizer, o seculo XIX não começou em 1 de janeiro de 1801. Quem tiver de fixar a suaorigem mais proxima tem de recuar, queira ou não queira, até 1789. Bem sabemos que jácaiu em desuso a paixão romantica por aquella data, grande, luminosa, inextinguivel.

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Hoje, a moda, espalhada no mundo pelo forte egoismo dos inglezes e dos allemães, e pelosnobismo elegante e morbido dos francezes, manda odiar 93 e desdenhar 89. Porém, nósnão nos curvamos á moda, ainda que não desconheçamos quanto a Allemanha e a Ingla-terra contribuiram para aquelle acontecimento culminante dos tempos modernos. E’ certoque a nativa e indomavel independencia do pensamento allemão, e que a energia do bomsenso e da dignidade ingleza, já se tinham revoltado efficazmente contra o claro despotismomaterial e moral em que se havia resolvido e concretisado o sombrio e esparso feudalismo daEdade Média. Mas as liberdades politicas da Inglaterra ainda não tinham atravessado ocanal da Mancha, senão para se reproduzirem, transformadas e ainda vacillantes, naAmerica do Norte, e o pensamento da Allemanha ainda não irradiara, com a sua altivez,nem mesmo para os paizes que lhe ficavam mais proximos. Foi á quéda da Bastilha(deixem passar sem protestos mais esta superstição) que o odioso mundo de outr’ora tremeue cambaleou nos seus alicerces seculares. (E realmente é bom não protestar, porque sefôrmos andando para traz, de protesto em protesto, nem na Roma antiga nos deteremos. Acivilisação grega é anterior á romana e está demonstrado que a historia é uma cadêa defactos, cujos fusis de bronze imperecivel se prendem logicamente uns aos outros). Detenhamo-nos, pois, em 1789, e saudemos nesse anno para sempre memoravel a fonte mais evidentee mais abundante dos males e dos bens, que os seculo XIX nos trouxe e nos deixou.

Mais bens do que males ? Mais males do que bens ?

* * *

Em 1801, a America iniciava apenas a sua existencia de continente livre com arecente victoria dos bravos soldados de Washington. O resto vivia sob o jugo dos hespanhóese dos portuguezes. A Asia era um vasto e longinquo deposito de mercadorias preciosas, epouco mais. Sabia-se vagamente que, ao norte, havia monotonas solidões de gêlo e que, nocentro e ao sul, por traz de enormes muralhas, formigavam cidades de gente feia e immunda,sob pavilhões e minaretes de perfil bizarro. Da Africa conhecia-se o Egypto, e a Oceaniaperpassava, raras vezes, pela imaginação dos estudiosos como um enxame de ilhas semvalor, quasi inaccessiveis.

Em 1801, o universo era a Europa – e a Europa, cujo céo de fogo e fumo repercutiaem todos os horisontes o grito dos soldados francezes fascinados pela estrella de Bonaparte,a Europa era – a guerra. Apenas a Inglaterra, isolada e agachada em sua ilha, protegidapelo seu mar e superiormente dirigida pelo genio dos seus estadistas, apenas a Inglaterra iapouco a pouco se enchendo de dinheiro, que as mil sanguesugas do seu commercio paciente ehabilmente extraiam dos mais distantes reconcavos dos mares sem termo.

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Em 1900, que esplendida e indescriptivel transformação !Hoje, póde-se dizer, não há terra americana presa como escrava á exploração insaciavel

de metropole européa. As colonias hespanholas e a portugueza seguiram logo o exemplo dosseus irmãos do norte e constituiram-se tambem em nações autonomas e soberanas. Os desertospovoaram-se, as mattas abateram-se, as terras incultas cultivaram-se. Os Estados-Unidostomaram, como que por encanto, proporções colossaes e irromperam, fortes entre os fortes, emmeio das potencias do velho mundo assombrado. Mais para cá, olhando para o Pacifico,apertado numa nesga de terra ingrata entre os Andes e a praia, o Chile cresce e prospéra.Nas margens do Prata, flôr pomposa de civilisação apurada, surge a deslumbrante Buenos-Aires. A’ beira do Atlantico, crescemos e prosperamos nós, que seremos amanhan cem mi-lhões de boccas a falar uma lingua, na Europa por tão pouca gente falada que já nem quasise contava entre as linguas vivas. E governa-nos, sem excepção, a Republica, que é de todas asfórmas de governo até hoje adoptadas certamente a menos imperfeita.

Na Asia, a India tenta emancipar-se da Inglaterra ; o Japão educa-se, instrue-se,constitucionalisa-se, arma-se até os dentes, adquire de assalto um logar de honra entre os povosdirectores ; a gente innumeravel da China, até ha pouco inoffensiva e desprezivel, converte-senum sério perigo para a civilisação occidental, e a infatigavel engenharia russa vae apressada-mente riscando, a parallelas de aço, as mudas e desoladas planicies brancas da Siberia.

Cem exploradores heroicos, noutras tantas expedições felizes, desvendam afinal o mysterioimpenetravel dos sertões africanos. Os leões, os elephantes, os hypopotamos descuidadosbatem em retirada. As tribus de negros boçaes resistem, mas os brancos esmagam-nas eanniquilam-nas. Partilha-se o continente abandonado. Injecta-lhe o commercio um novosangue, são e vigoroso. Ao norte, os abyssinios rejeitam para o Mediterraneo uma invasãoarmada da Italia, e, ao sul, as mãos herculeas da Inglaterra ainda não puderam asphixiaras republicas dos boers.

Na Oceania desenvolve-se tanto a Australia que os titulos da sua divida são por muitotempo os mais bem cotados na bolsa de Londres, e a lucta desesperada dos filippinos,primeiro contra os hespanhoes e agóra contra os americanos, vem encher-nos a todos desurpreza, porque ninguem imaginava que aquillo fôsse possivel em paragens tão distantese tão fóra do circulo do nosso estudo e da nossa observação de todos os dias.

E a Europa ? Em 1815, os francezes são definitivamente vencidos. A aguia, que osconduzia, ferida de morte em Waterloo, vae poisar para sempre no rochedo escalvado esolitario de Santa Helena. Desopprimidas as nações corrigem as suas fronteiras – comonuma cidade, que um tufão varreu e assolou, os proprietarios restauram as suas casas,quando o céo se faz claro e o vento cessa de rugir. Depois, o germem liberal e egualitario,que veiu da França na violencia do enxurro das invasões, recomeça a sua incessante evolu-ção. Ao mesmo tempo todo o continente se contamina do espirito pratico dos inglezes. Povosabatidos e subjugados levantam a cerviz e libertam-se, outros succumbem no esforço dareacção suprema, mas ha melhora geral na condição do povo, porque os privilegios sedebilitam e os despotismos ou se amenisam ou desapparecem, excepto na Turquia, cujosultão ainda não quiz abrir as janellas do seu imperio entorpecido pelo opio e pelo Alcorãoaos ares do christianismo. Até na Russia semi-barbara dos czares valentes, mas grosseiros,e das czarinas com favoritos, até na Russia desponta a liberdade para os servos e as

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communas conquistam a sua autonomia. Robustece-se o sentimento de patria. Caminhamuns para os outros, aconchegam-se, unem-se, juram por uma só bandeira, marcham ao somde um só hymno, todos os que falam uma só lingua ou sentem nas veias o calor da mesmaseiva. Reconstrue-se a Germania, enfeixam-se os estados italianos e a Russia attráe osslavos para a orbita da sua influencia e da sua protecção. E, através destas mutaçõespoliticas, conseguidas ás vezes á custa de conflictos terriveis, mas rapidos, a lição inglezanão deixa de fructificar. O commercio expande-se e multiplica-se, nasce a industriafabril, que logo se alastra por todo o mundo, e o continente não é, desde as lobregasentranhas do seu solo, senão uma ampla officina de trabalho constante e productivo.Transbordam os cofres dos ricos. Renovam-se os campos e as cidades, inventam-se confor-tos para as agruras da vida, pede-se ao luxo que consuma e esperdice á vontade. E oscofres opulentos ainda continuam a transbordar. Desloca-se o dinheiro, que sobra, paraa America, para a Asia, para a Africa e para a Oceania. E o operario, que já dásignaes de protesto contra a palpavel injustiça da sorte que lhe coube nesta completarenovação, a quem 1789 ensinou, lettra por lettra, os artigos da Declaração dos Direi-tos do Homem, e a Revolução communicou um irrepremivel sentimento de dignidade

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pessoal e de protesto contra a miseria tradicional, o operario desprende-se do solo ingratoem que nasceu, acompanha o dinheiro e emigra tambem para a America, para a Asia,para a Africa, para a Oceania. O mundo é largo. . . Ha espaço e destino para todos osinfelizes sob os olhares misericordiosos das infinitas estrellas de Deus ! E os governos,que temem os operarios com fome, e desejam engrandecer as suas nações, se os indigenasdas regiões em que elles desembarcam, não os agasalham com carinho e não se submettem áconcorrencia que elles vêm estabelecer, os governos não hesitam e abrem-lhes espaço a tiro decanhão e a coice de carabina.

* * *

Nenhum homem se parece menos com Robinson Crusoë do que o do seculo XIX.Nenhum veiu ao mundo mais apercebido de armas e recursos para ferir com vantagem alucta pela existencia.

Outr’ora, gastavam-se sessenta e setenta dias numa viagem de Lisbôa ao Rio de Janei-ro. Hoje, transpõe-se essa distancia em onze dias. Outr’ora, era uma temeridade projectarsómente uma viagem de Madrid a S. Petersburgo, por terra. Hoje, concebe-se num dia esseprojecto temerario e, tres ou quatro dias depois, está elle realisado. Outr’ora, uma pessôa,que estivesse no Japão, só se podia comunicar com outra, que se achasse na França, pelocorreio, tão lento como o deslise de um navio de véla, tão tropego como o chouto de umamula cançada. Hoje, as communicações fazem-se pelo telegrapho. Tão promptas comoclarões de relampagos. Outr’ora, o som da voz humana extinguia-se a alguns metros dohomem que a emittia. Hoje, a electricidade transmitte-a, clara, distincta, a leguas e leguasde distancia. Outr’ora, as cidades, á noite, eram como que deshabitadas. A tréva aterravaos homens honestos e pacificos e protegia os ladrões e os assassinos. Hoje, é exactamente ánoite que as cidades, salpicadas de luzes, offerecem mais seducções. Outr’ora, mal se escon-dia o sol no poente, retraia-se logo a actividade do homem. Hoje, o homem póde exercel-a,sem interrupção de um minuto, desde o primeiro até o ultimo dia do anno. Outr’ora,receiava-se que o dispendio sempre crescente do carvão viesse afinal a paralizar, numa crisesem remedio, o desenvolvimento das industrias. Hoje, já esses receios se vão apagando. Aagua fria tambem produz força motora, como o fogo.

Não nos referimos a um sem numero de melhoramentos, não tão importantes comoestes, mas relativamente tão uteis como elles, e dos quaes destacaremos, como mais tocantee sympathico, a machina de costurar . . .

Quanta casa sem chefe se refugia, pela maquina de costurar, das torturas da fome oudas miserias e vergonhas da prostituição !

O seculo XIX levou a este ponto o empenho de desembaraçar de todas as peias aenergia humana : ideou rectificar a conformação viciosa do planeta, cortando-lhe osaleijões que se oppunham á prompta circulação de pessôas e mercadorias. E realisou, pormetade, essa empreza de Titans, cortando o isthmo de Suez, misturando aguas queDeus separára . . .

* * *

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Investigou-se sem descanço a zona das sciencias. Classificaram-se as já existentes, crearam-se outras, applicaram-se as positivas ao augmento e ao aperfeiçoamento do patrimoniopopular. Centenas e centenas de officinas abrigam e alimentam milhares e milhares deoperarios, porque, em certo dia, um estudioso, no silencio do seu gabinete, descobriu umanova propriedade, ou um novo valor, num objecto apparentemente destitutido de todo oprestimo. A physica e a chimica – duas fadas – reverdecem com as suas varinhas magicaso campo mais esteril e exgottado.

Foi no seculo XIX que Pasteur nasceu e morreu. A sciencia de curar já não anda ástontas, ou amparada na muleta rude do empyrismo. O seu caminho está illuminado, osseus passos são firmes e autonomos. Os homens ainda morrem, mas morrem em muitomenor quantidade do que morriam. Ha doenças, que antigamente não poupavam o doen-te, e das quaes o medico hoje ri e zomba. Hoje, rasgam-se figados, descobrem-se pulmões esupprimem-se estomagos, tudo impunemente. A ousadia chegou a este extremo : o cirurgiãovae tranquillamente com o seu bisturi até o orgam por excellencia, o orgam sagrado – ocoração. E o coração não pára, o coração continúa a bater.

A hygiene, filha querida da medicina, dominou e venceu os flagellos das epidemias, edeu ao homem, com os seus conselhos, uma segurança que elle não tinha. Ha epidemiasfrequentes e regulares em alguns pontos da terra ? E’ que a gente, que ahi habita, éignorante ou são desidiosos os governos que a dirigem. A Inglaterra não tem lazaretos,

D E P O S I T O S

RUA BOA VISTA, 14RUA DA ESTAÇÃO, 11 -A

E M A U T O M A T O S

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nem obriga a quarentenas os navios que procuram os seus portos. Um homem, que estejaa par da sciencia do seu tempo, póde dormir á beira do mais pestifero paúl do centro daAfrica sem contrair o impaludismo.

E o direito perdeu a sua antiga aspereza. Os codigos já não veem réprobros conscientese incorrigiveis em todos os delinquentes. Abrandaram-se as penas, vão-se eliminando oscalabouços, saneiam-se as prisões.

* * *

Vulgarisaram-se as artes. Em litteratura, o seculo não produziu um Shakspeare,em esculptura um Miguel Angelo, em pintura um Raphael, um Leonardo de Vinci, ouum Rembrandt.

Mas, em litteratura, um Byron, um Dickens e um Carlyle, um Victor Hugo, umLamartine, um Musset, um Balzac e um Zola, um Heine e um Uhland, um Leopardie um Manzoni, um Ibsen e um Tolstoi, um Espronceda e um Garrett compensam bema ausencia daquelle assombro, não só porque, todos junctos, são maiores do que elle,como tambem, e principalmente, porque o seculo lhes abriu sulcos por onde pudéssejorrar livremente a luz dos seus espiritos privilegiados, o que o seculo de Shakspeare nãofez, e os cingiu de uma auréola de gloria universal, que Shakspeare desconheceu. Osseculos anteriores não tinham ao seu dispôr as mil trombetas retumbantes do livro e dosjornaes de largas edições. Assim com os esculptores, que nos compensam da falta de umMiguel Angelo, assim com os pintores, que nos consolam de não ter nascido no nossotempo um mestre como Raphael, como Vinci, como Rembrandt.

E o seculo XIX foi o seculo da musica. Beethoven só por nós foi comprehendido.Wagner é de hontem . . .

* * *

E’ consideravel, pois, o legado do seculo extincto, e, ou a isto se chama progresso, ou nãosabemos o que seja progredir. Daqui se conclue naturalmente que, se puzermos na conchade uma balança os bens deste cyclo, que se encerra, e noutra os males, a dos bens forçosa-mente ha de pesar mais, seja qual fôr o peso dos males, que a torrente benefica arrastouconsigo como calháos entre o limo fertilisante.

Mas, o seculo XIX concluiu alguma tarefa ? Não a iniciou, não a concluiu. E aquiestá o motivo pelo qual tantos espiritos esclarecidos se deixam invadir e enervar pelassombras tristes do pessimismo e tanta gente suspira desanimada por uma época maisrisonha, que ninguem sabe bem se já passou ou se ainda está por vir.

Alguns suppõem que ella não foi, nem será deste mundo condemnado e, partindo ásvezes da mais raza descrença, batem contrictos no peito e dobram os joelhos ante o Deusque desconheciam.

Os doirados sonhos dos candidos revolucionarios de 1789 ainda não se realisaram.Que mundo de coisas puras, mansas e remotas não nos suggerem estes tres sublimes verbos,que os revolucionarios ligavam um ao outro, indissoluvelmente: Liberdade, Egualdade e

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Fraternidade. Tombou, ou transigiu, o absolutismo, que se lhes oppunha de frente ; men-tiu-lhes a monarchia constitucional, e, por fim, a Republica, que os acolheu para fundil-os,de palavras vãs, que eram, em instituições de existencia real, terminou por trail-os tambem.

Fallida a Republica, cravaram-se as esperanças dos sonhadores em systemas que aindanão sairam da região vaga das abstracções. E lá vão elles, socialistas aqui, anarchistas alli,caminho da Terra da Promissão, guiados pela columna de fogo das suas ardentes illusões ealimentando-se – muito contentes – do maná das suas translucidas utopias.

Se o seculo que reponta tem programma, o seu programma é impedir, com toleranciae habeis e opportunas concesões, que esta caravana de visionarios se converta de repen-te, como ameaça, em legião de demonios destruidores... O que é preciso é achar aformula politica que, de uma vez para sempre, torne impossive o tremendo conflictosocial cuja possibilidade é o tormento de todos os que pensam e o pavoroso fantasmadas vigilias dos estadistas.

Poderá o seculo XX com o encargo que o seculo XVIII transmitiu ao seculo XIX eque este lhe transmitte desempenhado apenas em parte ?

Quem o sabe ? Atraz dissemos que a historia é uma cadeia de factos cujos fusis debronze se prendem logicamente uns aos outros. E é o que os melhores livros nos ensinam,e é o que por alguns tão á lettra é comprehendido que se convencem de que não ha grandedifficuldade em adivinhar o que o amanhan nos occulta. A nós parece-nos sómente que éfacil explicar por um antecedente o facto que constitue objecto do nosso estudo. Ha logica atéhoje. Haverá logica amanhan, sem duvida. Mas, o que se nos affigura empreza sobrehumanaé apanhar num só relance de olhos todas as veredas do labyrintho, que é o futuro, e apontarprecisamente aquella que a logica tomará para cumprir a sua missão de soldar uns aosoutros os élos da corrente de que acima falámos. Póde muito a previsão dos sabios, mas azona do imprevisivel é incomparavelmente mais dilatada do que a que se extende sob osraios dos seus olhares.

Zarpa um navio de um porto com rumo a outro porto. Singra já longe de terra,mar banzeiro, ventos de feição. Deve deitar ancora em tal dia. Mas, de subito, brameuma tempestade, que o piloto cauto não previu, quebra-se o leme, e lá vae o barco, átôa, desgovernado, de maroiço em maroiço, até que se abata a cólera dos ventos e dasaguas. E o tempo, que se despende depois em retomar a róta perdida, dava para duasou tres viagens.

A humanidade sáe hoje de um porto para outro porto . . .

* * *

E, agóra, a um seculo, que, apezar de tudo, tantos prodigios operou, que denominaçãohavemos de dar ? Nenhuma. O seculo XIX é e será sempre indenominavel. E não se pódeimaginar signal mais eloquente da sua verdadeira grandeza, da sua funda e vasta agitação,da sua espantosa fecundidade, da complexidade desvairante e, até certo ponto, da cruelincoherencia do seu labor.

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O director de corridas,Augusto de Siqueira Cardoso

JOCKEY-CLUBProjecto de inscripção para a 1Projecto de inscripção para a 1 .. ªª

corrida de 1901,a realisar-secorrida de 1901,a realisar-seem 13 de janeiro no Hippoem 13 de janeiro no Hippo--dromo Paulistano.dromo Paulistano.

PAREO - Criterium - Animaes nacionaes de 3 annos, nacionaes de 1/2 sangue até 4

annos que tenham corrido em S. Paulo sem victoria em 1900 e nacionaes de 1/

2 sangue de qualquer edade que tenham corrido em S. Paulo sem victoria. -

Premios : 600$000 ao 1º e 120$000 ao 2º - 1.000 metros.

PAREO - Progredior (Handicap de 48 a 57 kilos) - Animaes nacionaes - Premios :

800$000 ao 1º e 160$000 ao 2º - 1.700 metros.

PAREO - Jockey-Club - (Handicap) - Animaes de qualquer paiz - Premios : 1:000$000

ao 1º e 200$000 ao 2º - 1.700 metros.

PAREO - Imprensa - Animaes extrangeiros que não tenham ganho grande premio no

Brasil nem collocação no Grande Premio Jockey Club de S. Paulo e nacionaes

- Premio: 700$000 ao 1º e 140$000 ao 2º - 1.700 metros.

PAREO - Combinação - (Handicap para os seguintes animaes: Annizette 54 kilos,

Floresta 54 kilos, Jaguaribe 54 kilos, Hélio 53 kilos, Cusco 51 kilos, Mirandella 49

kilos e America 49 kilos) - Premios : 600$000 ao 1º e 120$000 ao 2º - 1.500

metros.

As inscripções encerram-se terça-feira, 8 de janeiro, ao 1/2 diaem ponto, na secretaria da sociedade, á travessa doCommercio, 6-A, (sobrado), e os forfaits meia hora depois.

AvisoAviso:--:-- De conformidade com o paragrapho unico do art. 18ºdo regulamento, não serão acceitas as propostas quenão vierem acompanhadas da respectiva importancia.

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Não o denominaremos, por certo, o seculo de Victor Hugo, como, em plenoenthusiasmo do romantismo, se requereu em França e nos paizes que a França levapelas mãos, como infantes inconscientes. Hoje, até na França, e até do circulo doshomens de lettras francezes, se ergueriam protestos vehementes contra tal pretenção. Oseculo de Bismarck ? Tal designação tambem é mesquinha. Bismarck é a unificaçãoda Germania que, por sua vez, é só um facto politico capital dos dez ou quinze quenestes cem annos se completaram. Seculo dos Estados-Unidos, se assim oqualificassemos, apanhariamos apenas um dos seus grandes aspectos, que é a forma-ção das novas nacionalidades. Seculo das constituições, seculo do transbordamentoeuropeu e do povoamento dos continentes, seculo do socialismo, seculo do anarchismo,tudo, tudo, seria pallido e deficiente, por mais expressivo que pareça.

O seculo, que expirou ao dobre da meia-noite de hontem, será o seculo XIX,e nada mais.

* * *

Tal foi o único comentário sobre o século que terminou e o novo século,publicado por um jornal fundado em 1875 e que subsiste até hoje. Algunsjornais atravessaram de um século para outro, mas acabaram fechando, ou-tros foram fundados depois de 1 de janeiro de 1901.

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A poderosa mídia de hoje fará da chegada do ano 2000, da passagem doséculo XX para o século XXI e do segundo para o terceiro milênio da EraCristã acontecimentos retumbantes, muito diferentes da modesta saudaçãointitulada “Um seculo” publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 1 de janei-ro de 1901. A população de todo o mundo se empolgará. Não só os cristãos,que estarão comemorando o marco temporal inscrito no seu calendário, mastambém os povos de toda a Terra, que totalizam mais de 6 bilhões de pessoasentre islâmicos, judeus, budistas, xintoístas e adeptos de outras religiões. Cer-ca de 4 bilhões desses crentes serão influenciados pelos poderosos meios decomunicação hoje concentrados, na proporção de 80%, nas mãos de inte-grantes de um contingente de 2 bilhões de cristãos.

Os países considerados ricos, desenvolvidos e industrializados, têm as res-pectivas populações (sem contar o Japão) incluídas nesse contingente cristãode 2 bilhões de pessoas. Os países pobres, subdesenvolvidos, eufemisticamentedenominados países em desenvolvimento, são habitados pelos demais 4 bi-lhões de seres humanos. Tal repartição, reconhece o autor, é aproximada.

Esses 2 bilhões de cristãos (norte-americanos, canadenses, membros daComunidade Européia, australianos, neozelandeses, alguns sul-americanos)usufruem a maior parcela dos recursos naturais, mas poluem a atmosfera, aságuas e o solo da Terra mais do que os 4 bilhões de não cristãos que habitamnações não industrializadas (árabes, asiáticos, africanos, alguns sul-america-nos). Portanto, os grandes usufrutuários do Planeta estão inseridos no grupominoritário cristão: eles consomem 90% dos combustíveis fósseis (carvão epetróleo), 75% das matérias-primas extraídas das jazidas minerais, 70% dos

CAPÍTULO 4

Início da segunda metade da Era Industrial em 1900,quando o homem deixou de se valer somente do carvão

para queimar, produzir vapor e mover máquinas,passando a utilizar também o

petróleo e seus derivados nos motores a explosão. A Era Industrial contabiliza 200 anos de grandes

avanços da ciência e da tecnologia.

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alimentos produzidos no mundo, 80% da água potável usada pela popula-ção mundial, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde. Esta-dos Unidos, Comunidade Européia e Japão consomem 75% da energia pro-duzida no mundo.

O contingente cristão é assim um segmento privilegiado da espécie huma-na, uma razão a mais pela qual a chegada do ano 2000, a passagem do séculoXX para o século XXI e do segundo para o terceiro milênio da Era Cristãassumirão importância maior no âmbito da contagem do tempo que o ho-mem faz há cerca de 10 mil anos, desde que o Sol e a Lua, com suas influên-cias sobre os dias e as noites, os invernos e os verões, as chuvas e as secas, asmarés altas e baixas, passaram a definir parâmetros para sua medida.

Nessa contagem, nada foi mais significativo para a espécie humana e paraa Terra do que a Era Industrial, iniciada em 1800, transcorrida nos séculosXIX e XX, e que se estenderá durante e depois do século XXI. No decorrerdos 200 anos até hoje passados a espécie humana apropriou-se de muito com-bustível fóssil e dele fez uso desabusado para enriquecer algumas nações,algumas empresas e alguns homens, bem como para assegurar trabalho, calore comida para bilhões de pessoas.

Mas é preciso compreender a verdadeira dimensão desse saque. Duzentosanos de intenso consumo das reservas fósseis da Terra representam apenas0,0004% do tempo que elas levaram para se formar, ao longo dos 50 milhõesde anos do período carbonífero.

A Era Industrial foi dividida neste livro em duas metades, 1800 a 1900 e1900 a 2000. Separando-as, a pouco comemorada chegada do século XX, noqual o ser humano prosseguiu na sua busca incessante e sôfrega dos aperfei-çoamentos científicos e tecnológicos que lhe proporcionassem prazer, segu-rança, orgulho, honrarias, aplausos e sobretudo riqueza.

Entre 1890 e 1900 transcorreu o período mais fecundo de um dos maioresinventores de todos os tempos, o norte-americano Thomas Alva Edison,que soube como ninguém tirar partido da eletricidade e da mecânica deprecisão. Ele concebeu a lâmpada elétrica de filamento incandescente, aper-feiçoou a telegrafia, fabricou o gramofone e a máquina de escrever com asua marca original Remington.

Em 1901, o italiano Guglielmo Marconi realizou a primeira transmis-são por rádio, da Europa para os Estados Unidos.

A primeira projeção de cinema ocorreu em 1895, o primeiro filme sonorofoi exibido em 1927, as películas coloridas surgiram em 1952.

Em 1897, o alemão Felix Hoffman conseguiu sintetizar o ácidoacetilsalicílico, que depois seria comercializado pela Bayer com onome de aspirina.

O relógio é uma invenção muito antiga, mas em 1904 o brasileiroSantos Dumont (1873-1933) desenvolveu um modelo apropriado parausar no pulso.

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A Teoria da Relatividade, fundamental para a compreensão do Cosmo epara relacionar massa e energia, foi formulada em 1905 pelo físico alemão AlbertEinstein (1879-1955). Ele instituiu e provou que nada no Universo pode mo-ver-se a uma velocidade maior do que a velocidade da luz no vácuo, 300 milquilômetros por segundo, e que energia e massa se transformam uma na outrade acordo com a equação E = M x V², energia é igual à massa multiplicada peloquadrado da velocidade da luz. Embora dedicado à ciência pura, Einstein jáidentificava o essencial: “O grande problema da humanidade não está no domí-nio da ciência, mas no domínio dos corações e das mentes humanas”.

Em 1908, o brasileiro Santos Dumont realizou em Paris o primeiro vôo comum aparelho mais pesado do que o ar e com propulsão própria, que dispensavao uso de uma catapulta para lançá-lo. Em 1920, já havia nos Estados Unidos ena Europa linhas aéreas regulares para transportar malas de correio. A primeiralinha aérea brasileira para transportar passageiros foi inaugurada pela Varig em1927, ligando Porto Alegre a Pelotas, usando o hidroavião Atlântico, que sobre-voava a baixa altura a Lagoa dos Patos.

Em 1909, o norte-americano Leo Backeland produziu a baquelite, pri-meiro plástico usado largamente para produzir objetos e peças. Surgiramnas décadas seguintes outras combinações químicas com qualidades su-periores e para múltiplos usos derivadas do petróleo, como o poliéster, opolivinil, o poliestireno e outras.

Uma equipe do laboratório de pesquisas aplicadas da General Electric, dosEstados Unidos, realizou em 1928 a primeira transmissão experimental de tele-visão, inaugurando a tão almejada apresentação simultânea de som e imagensem movimento. Em 1937, um sistema eletrônico mais aperfeiçoado, que intro-duziu o uso do tubo de raios catódicos, foi proposto pela BBC de Londres. Apartir da década de 50 a televisão popularizou-se em todo o mundo.

O médico escocês Alexander Fleming (1881-1955) descobriu o primeiroantibiótico, a penicilina, em 1928. Ele observou por acaso que uma cultura dabactéria estafilococos não se desenvolvia numa lâmina coberta de mofo. Aprodução em larga escala ocorreu a partir de 1940, mas cinco anos antes, em1935, o químico alemão Gerhart Darmagt já havia descoberto as proprieda-des bactericidas do composto químico sulfanilamida.

As máquinas elétricas de lavar roupa foram construídas como protótiposno final da década de 20, mas somente em 1930 elas passaram a ser produzi-das e comercializadas em larga escala nos Estados Unidos.

Em 1941, surgiram os primeiros inseticidas da família do DDT, que per-mitiram combater eficazmente os insetos transmissores da malária e outrosque reduziam a produtividade das lavouras. Mas verificou-se posteriormen-te que esse produto químico causava grandes danos ambientais, pois provo-cava a morte também de peixes e pássaros, além de prejudicar a saúde daspessoas. Seu uso foi proibido nos Estados Unidos em 1972, em grandeparte devido à repercussão do corajoso livro Primavera silenciosa, no qual sua

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autora, a bióloga Rachel Carson, denunciou o perigo dos pesticidas usadosindiscriminadamente. Hoje, a engenharia genética já criou plantas transgênicasque resistem ao ataque de insetos nocivos e outras pragas. A ciência está apoucos passos de descobrir uma vacina contra a malária.

Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, os ingleses inventaram umrústico computador, com o objetivo de decifrar os códigos secretos dos ale-mães. Na mesma época, os mesmos ingleses descobriram que podiam emitirmicroondas, que se chocavam com um obstáculo e retornavam ao ponto deemissão, de tal forma a ser possível não só detectar a existência de um objeto,mas conhecer também a distância em que ele se encontrava e o seu formato.Estava inventado o radar.

Em 1945, os norte-americanos desenvolveram e utilizaram a bomba atô-mica, destruindo as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, provocandoa morte de 120 mil pessoas. Eles justificaram esse genocídio alegando que acontinuação da Segunda Guerra Mundial acarretaria mortandade maior, comgrande sacrifício de vidas de norte-americanos e japoneses. Em 1950, os mes-mos norte-americanos aperfeiçoaram a bomba de hidrogênio, muito mais de-vastadora. Logo depois, a União Soviética também desenvolveu artefatos nu-cleares, restabelecendo-se o equilíbrio de forças entre as nações não comunis-tas e a potência comunista. Anos depois, outras nações passaram a dominar afabricação e o lançamento de bombas atômicas, entre elas Inglaterra, França,China, Índia e Paquistão. Não declaradamente possuem artefatos nuclearesIsrael, Japão, Alemanha e Itália. Até o final do século XX, ostensivamente ounão, os países árabes dominarão a tecnologia para fabricar e lançar bombasatômicas. Há o grande risco de escaparem do controle de governos consti-tuídos a fabricação e a detonação desses artefatos nucleares, que poderãoficar de posse de grupos capazes de provocar até mesmo uma guerra atômicae o extermínio das espécies vivas na Terra, com o objetivo de obter dinheiro,defender crenças religiosas, impor posições políticas ou até mesmo confirmarloucas profecias da passagem do milênio.

Pesquisadores dos laboratórios Bell, dos Estados Unidos, produziram em1947 um transistor primitivo. Os circuitos integrados, com placas de silíciogravadas com transistores microscópicos, surgiriam no final dos anos 50. Hoje,eles são o elemento básico dos computadores.

Em 1953, foi colocado à venda nos Estados Unidos um forno de micro-ondas, cujo uso se generalizaria nas décadas seguintes.

O primeiro reator nuclear para produzir eletricidade a partir do calor geradopela fissão de átomos de urânio foi inaugurado em 1956 nos Estados Unidos.

Em 1956, foi inventada a primeira câmara profissional de vídeo para regis-trar imagens em fitas magnéticas, com possibilidade de posteriormente repro-duzi-las. O sistema VHS (Very High Frequency) surgiria em 1970.

Durante toda a década de 50, vários pesquisadores tentaram modificar a con-figuração cromossômica das células. A genética ganhou espaço nos laboratórios

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das universidades dos Estados Unidos, da Europa e da União Soviética. Aespécie humana desvendava os segredos que lhe permitiriam, nos anos 80 e 90,conhecer melhor o extremamente grande e o extremamente pequeno.

A física e a medicina avançaram muito. Cientistas norte-americanos con-seguiram construir o primeiro equipamento emissor de raios laser, baseadonum feixe de luz coerente. Conseguiu-se sintetizar a insulina, o hormônioproduzido pelo pâncreas e cuja falta no organismo acarreta a diabete, que temconseqüências desastrosas sobre todos os tecidos, submetidos a uma irriga-ção sanguínea com elevada taxa de glicose.

A descoberta da pílula anticoncepcional ocorreu em 1966, pelo médiconorte-americano Gregory Pincus (1902-1967). Ele dedicou sua descobertaa Margareth Sanger, que ousou desafiar a moral dos anos 20 contrária aocontrole da natalidade e ao direito da mulher de decidir a respeito de quantosfilhos desejava ter.

A era espacial teve início no dia 4 de outubro de 1957, quando a então UniãoSoviética lançou ao espaço o Sputnik, primeiro satélite artificial da Terra.

No ano seguinte, em 1958, os Estados Unidos colocaram em órbita aoredor da Terra o satélite artificial Explorer I.

Desde a década de 50, alguns países do mundo, tendo à frente os EstadosUnidos e a União Soviética, lançaram-se à conquista do espaço, numa disputaque levou a descobertas surpreendentes.

No dia 20 de julho de 1969 o homem chegou à Lua, a bordo de uma naveprojetada e construída nos Estados Unidos pela NASA (National Aeronauticsand Space Administration), dando continuidade ao programa Apollo. O astro-nauta Neil Armstrong saltou de um frágil módulo lunar que se desconectara domódulo principal em órbita do satélite, seguido de Edwin Aldrin Jr. Fizeramobservações científicas, recolheram amostras do solo lunar e retornaram aomódulo principal em órbita da Lua, no qual permanecera o astronauta MichaelCollins. Em seguida, a nave da missão Apollo 11 empreendeu com êxito suavolta à Terra. As naves Discovery, Endeavour e Galileu foram lançadas pelosEstados Unidos a partir dos anos 80 para explorar o Sistema Solar.

A União Soviética lançou no final da década de 80 a estação orbital Mir,que será desativada depois de 1999, mas substituída por uma outra estaçãoorbital de pesquisas, que já está sendo montada, em módulos, entre o ano de1999 e 2004, a Estação Orbital Internacional (ISS). Trata-se de um projetoresultante da cooperação científica e tecnológica internacional, com os Esta-dos Unidos e a Rússia finalmente unidos para conquistar o espaço, juntamen-te com mais alguns países do mundo.

No transcorrer da década de 90, muitas descobertas importantes noespaço têm ocorrido, feitas à custa do telescópio espacial Hubble, lança-do pelos Estados Unidos em 1990, e de outros telescópios de grandepotência instalados em pontos elevados de algumas montanhas, princi-palmente nos Estados Unidos e no Chile. Um planeta descoberto na

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constelação de Pégaso parece não ser o único, segundo os astrônomos,em condições de ter vida fora do Sistema Solar. Astrofísicos norte-ame-ricanos anunciaram a descoberta de dois outros planetas, nas constela-ções de Virgem e Ursa Maior, com características que permitem supor aexistência de água, atmosfera densa, superfície talvez sólida onde pre-dominariam temperaturas na faixa dos 50 a 100 graus centígrados. (VerVida extraterrestre, capítulo 5, letra V.)

Na última década do século XX, ciência e tecnologia têm progredido muito,antecipando as extraordinárias conquistas que serão feitas no século XXI.

Cientistas norte-americanos conseguiram, em 1990, fabricar uma fibraóptica, um microcanículo de vidro forrado com um material que barra a saídado raio luminoso e o dirige sempre em frente. A rigor, é um fluxo de elétronsdeslocando-se como se fosse um líquido correndo dentro de uma canaliza-ção. Trata-se de surpreendente avanço para as comunicações.

Já se realizara, nos anos 70, a primeira inseminação artificial: um óvulofecundado por um espermatozóide fora do corpo humano fora implantadocom êxito no útero de uma mulher, nascendo daí uma menina chamada LouiseBrown, que completou 20 anos no dia 24 de julho de 1998. A inseminaçãoartificial é hoje prática corriqueira em todo o mundo.

Em 1995, os seres humanos que dispunham de computador e de linha tele-fônica puderam estabelecer contato, via satélite, com outros seres humanosdetentores dessa tecnologia avançada de comunicação denominada Internet.

O cientista escocês Ian Wilnmut anunciou, em 1997, o nascimento doprimeiro ser vivo obtido por clonagem, uma ovelha que recebeu o nome deDolly. Ela é uma cópia fiel de outra ovelha. O processo, em princípio, foi oseguinte: obteve-se um óvulo, célula sexual feminina de uma ovelha. Reti-rou-se o núcleo dessa célula e no seu lugar implantou-se o núcleo de umacélula de outra ovelha, a que deveria ser clonada, na qual estava a configura-ção genética que se pretendia reproduzir. O óvulo foi reimplantado no úte-ro da ovelha da qual ele havia sido retirado, que não passou no processo deuma hospedeira do embrião recebido da outra ovelha que se desejava clonar.Dolly nasceu igualzinha à sua mãe genética e diferente da mãe que a levouno ventre e deu à luz.

Em 1998, o cientista inglês Richard Sees afirmou que estava disposto aclonar seres humanos, o que levantou grande celeuma. Discutiram-se, ar-dorosamente, temas que se estenderam desde a ética do procedimento atésuas possíveis conseqüências no relacionamento entre uma pessoa e o seuclone. Prosseguem as discussões sobre o ser vivo obtido por clonagem:ele é idêntico fisicamente ao seu par genético, mas qual seria o seupsiquismo? Penetrando em terreno da metafísica: corpo igual, mas almaigual ou diferente?

Em 1998, foi anunciada pelo pesquisador norte-americano Judah Folkmana remissão de tumores cancerosos graças ao uso de enzimas que bloqueiam a

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formação de artérias suplementares necessárias para atender à grande quanti-dade de oxigênio e nutrientes exigida pelas formações cancerosas. O tumorfoi assim eliminado por carência de nutrição e oxigenação.

Em 1999, várias combinações de drogas antivirais têm assegurado aestabilização do estado de saúde dos portadores do vírus HIV, que carac-teriza a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, aids. Em alguns cen-tros científicos do mundo estão adiantadas pesquisas feitas com o objeti-vo de produzir uma vacina para evitar o contágio, ou encontrar um medi-camento letal ao vírus, ou ativar de maneira diferenciada e forte o sistemaimunológico do indivíduo infectado.

Em 1999, todos os sinais apontam para o mesmo rumo científico: agenética e a informática. Certamente uma associação de ambas. Com exten-sões para avanços surpreendentes nas comunicações, nas descobertas noCosmo e na exploração do Sistema Solar.

Ciência e tecnologia permitem antever, neste final do século XX,conquistas significativas nas buscas empreendidas pelo ser humano paraproduzir mais e melhor, debelar moléstias, perscrutar o espaço. Masfalta ao homem compreender como é grande a interação das espéciesvivas, inclusive a sua, com a Terra, também ela um organismo vivoque reage às agressões e recompensa sempre quem a preserva. Falta aohomem a consciência de que há limites, de que os frutos precisam sermais bem repartidos, de que o livre arbítrio lhe foi concedido não paradestruir mas para edificar.

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AAbissal..............................................................................................................51ADN.................................................................................................................51Agenda 21........................................................................................................51Agricultura.......................................................................................................51Água.................................................................................................................52Álcool...............................................................................................................54Alimento........................................................................................................... ....54Amazônia.........................................................................................................57Animal..............................................................................................................58Ano-luz.............................................................................................................59Aposentadoria..................................................................................................59Aqüicultura.......................................................................................................59Arma biológica.................................................................................................60Asteróide...........................................................................................................60Atmosfera.........................................................................................................60Automação........................................................................................................62

CAPÍTULO 5

O possível e o provável no século XXI,apresentados em ordem alfabética para que se localizem

com mais facilidade as hipóteses e as suposições,tendo sempre em vista que as mudanças na natureza são

geralmente lentas, incompatíveis com a condição inerente do ser humano de passar abruptamente

da vida para a morte.

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Abissal. Parte profunda dos oceanos, abaixo de 1.000 metros, onde a luzsolar não chega e os organismos animais e vegetais são por isso muito diferen-tes, estranhos, espantosos, enigmáticos, independentes da fotossíntese.

Alguns cientistas afirmam que essas formas de vida seriam as únicas quesobreviveriam a um eventual impacto de asteróide na Terra ou a uma confla-gração mundial com armas nucleares, riscos estes que nos afligirão durantetodo o século XXI. Ver Asteróide.

ADN (DNA, em inglês). Sigla do ácido desoxirribonucléico, um dos áci-dos nucléicos que desempenham um papel genético primordial.

No século XXI, ciência e tecnologia conseguirão interferir amplamente naconfiguração genética das células animais e vegetais, o que representa umagrande esperança de curar moléstias, aumentar a produção de alimentos e atémesmo de oferecer sobrevida aos seres humanos. Ver Genética.

Agenda 21. Registro, com data estipulada, de compromisso assumido. Nocaso trata-se de acordo feito pelos representantes dos países membros daOrganização das Nações Unidas, ONU.

É uma agenda que relaciona as ações prioritárias para sanear o ambientemundial. Contém subsídios que servirão à ONU para elaborar a Carta daTerra, que será promulgada no início do século XXI, por isso seu nome éAgenda 21. Terá a mesma importância que a Declaração dos Direitos Huma-nos. Baseia-se na noção de desenvolvimento sustentável, que não agride oambiente e não esgota os recursos disponíveis. Um dos seus pontos funda-mentais é a reciclagem e pressupõe mudanças profundas dos padrões de pro-dução e consumo, de tal forma que as necessidades das gerações atuais sejamsatisfeitas sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazersuas próprias necessidades. Não tem força jurídica de um tratado e suas dis-posições não precisam ser ratificadas pelos países que a assinaram durante edepois da conferência Rio de Janeiro-92. Ver Desenvolvimento sustentável.

Agricultura. O aproveitamento planejado e dirigido da capacidade bioló-gica de produção de reservas de plantas e animais, com o objetivo do aprovi-sionamento dos homens de alimentos e matérias-primas.

A agricultura começou a ser praticada em diferentes lugares, em dife-rentes épocas, há milhares de anos. Supõem os pesquisadores que osmais antigos cultivos organizados do solo tenham ocorrido por volta de10 mil anos atrás, quando membros da espécie humana começaram aenterrar raízes e grãos para multiplicá-los em períodos climáticos propí-cios. Hoje, graças aos avanços da engenharia genética, à seleção de se-mentes, aos métodos modernos para preparar o solo, semear, protegeras plantas do ataque de pragas, fertilizar, irrigar, colher, transportar earmazenar, um número progressivamente menor de pessoas está em

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condições de produzir quantidades cada vez maiores de alimentos.Poucos alimentarão muitos. Poucos nos campos, muitos nas cidades. Pou-cos proprietários de terras, muitos não proprietários, mas que desejariamsê-lo. No século XXI, aumentarão significativamente os movimentossetoriais para que a terra seja repartida entre maior número de pessoas.Haverá conflitos. Ocorrerão quedas na produção de produtos cujos culti-vos exigem plantios extensivos, com elevada mecanização. Até que ospequenos novos proprietários compreendam a necessidade de se uniremem cooperativas, que possam atuar para produzir muito, coletivamente,em terras de muitos, repartindo proporcionalmente as tarefas, as safras eos lucros. Ver Alimento.

Água. Óxido de hidrogênio, líquido essencial à vida existente em grandequantidade na Terra e até hoje não observado na mesma proporção em ou-tros corpos do Sistema Solar e da Via-Láctea.

No final do século XX, ainda há no mundo muita água potável, masas perspectivas para o transcorrer do século XXI são preocupantes sea Organização das Nações Unidas, que precisa ser prestigiada efortalecida, não agir com rigor para evitar a poluição e o assoreamentode rios, lagos e mares. Vivemos nos continentes (apenas 30% da su-perfície terrestre), por isso não costumamos atribuir a merecida im-portância aos oceanos e mares (70% da superfície terrestre). O volu-me de água na Terra está calculado pelos cientistas em cerca de 2 bi-lhões de quilômetros cúbicos, incluindo a água congelada que cobre oContinente Antártico. Quase 97% da água é salgada (tem cloreto desódio dissolvido). Somente 3% da água é doce e pode ser usada nasatividades essenciais à vida. Mas essa vida, que surgiu na Terra há cer-ca de 3 bilhões de anos, pode desaparecer em poucos séculos se a es-pécie humana, que predominou sobre todas as outras, não souber as-segurar o desenvolvimento sustentável. A grande carga poluidora dosrios, lagos e mares do mundo decorre, antes de tudo, da ação predató-ria de mais de 6 bilhões de seres humanos. Eles lançam diariamente,nos vários ecossistemas onde vivem, cerca de 6 milhões de toneladasde fezes e urina. O lixo é coletado e reciclado em pequena proporção,sendo a maior parte dele jogada nos córregos e em depósitos clandes-tinos. Os efluentes industriais são em grande parte descartados semtratamento algum. Agrotóxicos e pesticidas usados inadequadamentesão dissolvidos pelas chuvas e assim chegam ao lençol freático, aosrios e mares. O solo arado sem cautela é transportado para os cursosd’ água, assoreando-os. De acordo com a Organização Mundial da Saú-de, são convenientemente tratados, depositados ou incinerados, nomundo, somente cerca de 2% dos esgotos, 3% do lixo e 5% dos efluentesindustriais. Essa agressão às águas do Planeta Terra destrói a fauna e a

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flora que nelas vivem, reduzindo a biodiversidade e assim comprome-tendo importantes ciclos de vida. O Brasil, felizmente, é um País privi-legiado no que se refere às suas reservas de água doce, às suas tempe-raturas médias elevadas e raramente inferiores a 0º C nas regiões maisfrias, ao seu extenso litoral com muitas reentrâncias propícias àaqüicultura. Tudo isso leva a crer que no século XXI o Brasil poderávir a ser o fiel da balança da água potável no mundo, como hoje ospaíses árabes são o fiel da balança do petróleo. Nada menos de 46% dopotencial de água potável do mundo se encontra no Brasil, notadamentenas bacias dos rios Amazonas e Paraná. Nossas reservas são imensas.A maior bacia hidrográfica é formada pelo Rio Amazonas e seus tri-butários, abrangendo uma área de 7 milhões de quilômetros quadra-dos. A segunda do mundo é a bacia do Rio Paraná, com 4,3 milhões dequilômetros quadrados. Ambas estão em sua maior parte no Brasil.Quanto ao volume de água, a situação do Brasil também é privilegiada.Somente seis rios do mundo têm volume superior a 25 mil metros cú-bicos por segundo. Em primeiro lugar está o Rio Amazonas, no Brasil,com uma contribuição de 120 mil metros cúbicos por segundo. É evi-dente que estamos consignando vazões médias, pois nos períodos decheia esses números aumentam muito. Essa disponibilidade de águapotável favorecerá muito o Brasil no decorrer do século XXI, mas po-derá talvez nos acarretar alguns problemas, quando esse bem essencialescassear, como decorrência da poluição e do uso perdulário das águasfluviais e lacustres. O Brasil tem, como vemos, as maiores reservas deágua potável do mundo, em boa parte concentradas na pouco povoadaRegião Amazônica. Nossos estadistas precisam ficar atentos, pois essepotencial assumirá grande importância estratégica no próximo século.Seremos visados pela cobiça internacional? Haverá a guerra da água?Precisaremos defender o Rio Amazonas? Mesmo dispondo desse grandepotencial de água potável, o Brasil enfrentará graves problemas nasregiões densamente povoadas, com grande demanda doméstica e in-dustrial. Nas megalópoles de todo o mundo, o abastecimento de águaserá um problema de gravidade crescente, pois será preciso captar águaem mananciais cada vez mais distantes, em muitos casos usurpando odireito de abastecimento de coletividades vizinhas. Haverá conflitos,até que se compreenda a necessidade de administrar as baciashidrográficas, definindo rigorosamente direitos e deveres. Uma legis-lação específica se tornará imprescindível. No caso particular de SãoPaulo, as represas Billings e Guarapiranga deverão ser preservadas e oRio Tietê precisará ser despoluído, para que suas águas possam servirà população e às indústrias. Se isso não chegar a ser feito, o abasteci-mento de água entrará em colapso já na primeira década do séculoXXI. Ver Energia.

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Álcool. Líquido incolor, volátil, combustível, obtido pela fermentaçãode substâncias açucaradas ou amiláceas (cana, beterraba, batata), ou peladestilação da madeira.

A rigor, trata-se de energia do Sol fixada pelas plantas à custa dafotossíntese, reação que se faz graças ao pigmento verde catalisador cha-mado clorofila. Pode ser uma solução alternativa para gerar energia limpae renovável. No Brasil, ao eclodirem as crises do petróleo de 1973 e 1978,foi desenvolvido com êxito o Proálcool, uma ampla convocação tecnológicae financeira para produzir e consumir álcool automotivo, que não exige aadição de produtos antidetonantes, altamente poluidores e prejudiciais àsaúde das pessoas, como o chumbo tetraetila. Os motores de automóveise até de ônibus foram adaptados com sucesso para o consumo de álcooletílico. Mas a queda no preço do petróleo no mercado internacional eoutras peculiaridades conjunturais brasileiras acabaram relegando para se-gundo plano o Proálcool, embora neste final de século XX esse combustí-vel continue à venda nos postos de abastecimento. No decorrer do séculoXXI, as jazidas de petróleo do mundo serão reduzidas como conseqüên-cia do aumento vertiginoso do consumo. Haverá grandes tensões políti-cas, comerciais e militares entre os países que possuem grandes jazidas,como os países árabes, e os países com elevado consumo, entre eles osEstados Unidos, União Européia e Japão. Quanto ao Brasil, é preciso nãoesquecer os transtornos econômicos e financeiros que enfrentamos aoeclodirem as duas crises do petróleo acima referidas, quando os países daOpep elevaram exorbitantemente os preços dessa matéria-prima essen-cial. No decorrer do século XXI, os antagonismos com o Islã se acentua-rão, o equilíbrio político nos países árabes será sempre instável, nossoPaís produzirá somente algo em torno de 70% do petróleo necessário parasuprir suas necessidades. Quando o Oriente Médio detiver tecnologia paraconstruir e lançar uma bomba nuclear (o Paquistão já a possui) o confron-to entre países árabes e os países compradores de petróleo se fará de acor-do com novas equações estratégicas, que apontam para um grande au-mento no preço do petróleo ou uma guerra nuclear de conseqüênciasimprevisíveis. Ver Energia.

Alimento . Substância essencial à vida dos seres animais e vegetais.Mantimento, provisão, base nutritiva de um indivíduo, de uma família ou deuma população. Sua falta acarreta a fome, o enfraquecimento e até a morte.

No final do século XX, de acordo com estimativas da OrganizaçãoMundial da Saúde, três quartas partes da população do mundo não rece-bem diariamente o número de calorias suficientes para que levem umavida saudável e produtiva, ou seja, cerca de 2.500 calorias por dia. Asituação varia muito nas diferentes regiões do mundo, conforme as

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respectivas populações sejam ricas, medianamente ricas, pobres ou pau-pérrimas. Essa caracterização é difícil e relativa, pois numa nação rica hásempre bolsões de pobreza, como nas nações pobres há nítidos núcleosde riqueza. Classificar as 188 nações do mundo, como se fez nasConferências Mundiais patrocinadas pela ONU (Estocolmo-1972 e Riode Janeiro-1992), em países desenvolvidos e países em desenvolvimen-to, não espelha a realidade mundial. Seria mais adequado, neste finaldo século XX, dividir as nações em três grupos, tomando por base onúmero de calorias disponíveis para a maioria (mais de 80%) dos indi-víduos nas respectivas populações: primeiro , os países onde a maioriada população tem ao seu dispor, diariamente, entre 2.500 e 3.500 calo-rias, entre eles Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia,alguns países europeus como França, Espanha, Inglaterra, Alemanha,Áustria, Suíça, Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Portugale Itália; segundo , os países onde a maioria da população tem ao seudispor, diariamente, entre 2.000 e 2.500 calorias, como México, Brasil,Chile, Argentina, Uruguai, Polônia, Hungria e Japão; terceiro , os paísesonde a maioria da população tem ao seu dispor, diariamente, menos de2.000 calorias, todos quantos não se incluem nos dois grupos anteriores.É preciso reafirmar que essa caracterização é muito relativa. Em todasas nações do mundo há grupos bem alimentados e grupos subnutri-dos, a questão é definir a proporcionalidade entre eles. No Brasil, porexemplo, há contigentes cujos integrantes têm ao seu dispor, diaria-mente, 3.000 calorias ou mais, principalmente nas regiões Leste e Sul.No Nordeste e Norte há grupos populacionais que vivem em calami-toso estado de fome crônica, recebendo quando muito 1.500 caloriaspor dia. Na África e na Índia ocorrem situações extremas de carênciaalimentar, agravadas pela falta de água potável para as necessidades mí-nimas de um ser humano. Na África subsaariana ocorrem freqüentementecasos de morte por inanição. Ressalte-se que, em todo o mundo, indiví-duos subnutridos morrem não porque cessem as funções vitais, mas simporque os respectivos organismos enfraquecidos sucumbem facilmentea várias moléstias. A sociedade humana já obteve, no século XX, expres-sivas vitórias ao enfrentar o problema da fome em alguns países do mun-do, desenvolvendo espécies vegetais de alta produtividade, à custa desucessivas seleções e cruzamentos de espécies mais produtivas. É parti-cularmente notável a chamada Revolução Verde conseguida à custa doaperfeiçoamento dos cultivos do arroz, que reduziu muito os problemasalimentares enfrentados pela Índia e por outros países da Ásia. O mes-mo avanço tem sido alcançado em outras culturas de alimentos básicos,como o trigo e a mandioca. Mas não há dúvida alguma de que a humani-dade permanece vulnerável neste final do século XX e assim continuará

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por todo o transcorrer do século XXI. Mudanças climáticas acentuadas,decorrentes da ação predatória do homem sobre o meio ambiente, poderãoreduzir a produção de alimentos. Mas, por outro lado, a ciência e a tecnologiaavançam e estarão a serviço da humanidade ao longo do século XXI paraque benefícios iguais, ou até mesmo maiores do que os da Revolução Verde,sejam alcançados para suprir as necessidades crescentes de alimentos porparte da espécie humana. Não somente de amiláceos, mas também dasindispensáveis proteínas. Essas conquistas científicas e tecnológicas se fa-rão no século XXI, basicamente, à custa da engenharia genética, a despeitodas restrições feitas às plantas transgênicas nesta véspera do ano 2000.A ciência saberá eliminar eventuais efeitos indesejáveis e esses vegetaisgeneticamente modificados oferecerão excepcionais vantagens: alta pro-dutividade, melhor adaptação à qualidade do solo e ao regime de chu-vas, resistência a vírus e bactérias, além de não serem afetados por pro-dutos químicos usados no combate a pragas e predadores. A clonagemde animais será uma prática comum depois do ano 2000, de tal maneiraa se multiplicarem aqueles com características melhores, imunes aosparasitas e às doenças. Novas espécies animais serão incorporadas àscriações mantidas pelo homem. Neste final do século XX, os neozelan-deses criam veados e exportam sua carne como carne de caça para osmercados consumidores de elevado poder aquisitivo da União Européiae dos Estados Unidos. No Brasil, particularmente, essas criações exóti-cas poderão ser desenvolvidas com sucesso no século XXI: jacarés paraaproveitar a carne e o couro, capivaras, pacas e outras espécies animais.Haverá, finalmente, a compreensão, por parte de empreendedoresagropecuários, de que nosso País oferece excelentes condições de tem-peratura para a expansão da aqüicultura em nossos rios, lagos, enseadasmarinhas, represas de hidrelétricas e mesmo em tanques artificiais. Pei-xes, crustáceos e moluscos serão produzidos em larga escala para con-sumo interno e para exportação. Algumas espécies, como o pirarucu,serão cr iadas em lagos da Amazônia , i solados por barragensregularizadoras. As tartarugas serão criadas com aproveitamento totaldas ninhadas, para comercialização da carne e do casco. Cabe ressaltarque essa aplicação intensiva da ciência e da tecnologia deverá ser acom-panhada por modificações normativas no comércio internacional, paraque os benefícios não se restrinjam às populações dos países desenvol-vidos, mas se estendam aos grandes contingentes humanos vitimadospela subnutrição neste final do século XX. Se a grande maioria do povonorte-americano pode consumir hoje 3.500 calorias por dia, não há neces-sidade de empreender esforços para que esse contingente passe a dispordiariamente de 4.000 calorias. Nesta véspera do ano 2000, estudos reali-zados nos Estados Unidos estão apontando para a tendência à obesidade

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em alguns setores da população desse país. Caberá à Organização Mundialda Saúde, bem como a outros organismos socioeconômicos de âmbitointernacional, ordenar o comércio mundial e dirigir os avanços científicos etecnológicos para que nações como a Somália, no outro extremo da escalaglobal da nutrição, deixe de assistir à morte por inanição de seus cidadãos,condenados neste final do século XX a enfrentar carências alimentares quenão chegam a 1.000 calorias por dia por indivíduo. Cerca de 1 bilhão depessoas padece no mundo de desnutrição crônica aguda. Ver Genética.

Amazônia. Região da América do Sul correspondente à grande baciasedimentar por onde correm o Rio Amazonas e seus afluentes, recoberta,em sua maior parte, por floresta equatorial úmida, pequena declividade,com cerca de 7 milhões de quilômetros quadrados, ocupação humana irri-sória, pouco mais de um habitante por quilômetro quadrado.

Neste final de século XX, as atenções do mundo concentram-se naAmazônia, a maior reserva restante da Terra de água doce, de recursosvegetais e animais, de minérios e de energia hidrelétrica ainda não apro-veitada. Cerca de dois terços da superfície do Brasil fazem parte da Ama-zônia. São 5 milhões de quilômetros quadrados, dos 8,4 milhões que per-fazem o nosso território. Nessa imensa região ainda pouco explorada hágrande quantidade de madeiras nobres e a maior concentração de biomassada Terra, 50 mil megawatt por instalar (nos seus bordos) de energia limpa,condições ideais para o desenvolvimento da aqüicultura, imensas jazidasde ouro, ferro, alumínio e manganês, a mais variada biodiversidade domundo. Com tudo isso, neste final de século XX, o que se faz na Amazô-nia? Devasta-se a floresta para formar pastagens, na proporção absurdade 20 mil quilômetros quadrados por ano. Não só a pecuária é responsá-vel por essa destruição. A indústria madeireira tem a sua parcela de culpa,pois adota prática predatória: derruba árvores nobres que levaram maisde 50 anos para crescer sem plano algum de manejo florestal que assegureo replantio e a proteção das mudas jovens. O programa a ser adotado noséculo XXI para a Amazônia precisará estar voltado para o desenvolvi-mento sustentável. Usufruto racional hoje para assegurar o direito de usu-fruto das gerações futuras. Tal orientação, inscrita na Agenda 21 que aOrganização das Nações Unidas promulgará no início do século XXI,é defendida no Brasil e no exterior. Os setores verdadeiramenteconservacionistas opõem-se a um radical isolamento da Amazônia paramantê-la intocada. Restringir o aproveitamento dos seus recursos naturaisrepresentaria uma perda incalculável para o Brasil e para o mundo. Paraconservar a Amazônia e disciplinar o aproveitamento sustentável de suasriquezas será preciso despender muitos recursos e agir com muita sabedo-ria e cautela. Novos caminhos deverão ser encontrados para o manejoflorestal sustentado, de maneira a tirar proveito das madeiras nobres sem

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comprometer os seus estoques, promovendo o replantio, a regeneraçãonatural e a proteção das árvores novas. O potencial energético deverá seraproveitado mediante a construção de usinas hidrelétricas nos bordos dagrande bacia hidrográfica, evitando os declives menores que exigem a inun-dação de extensas áreas de florestas. A piscicultura se expandirá muito,aproveitando o sistema hidrográfico favorável e a tecnologia avançada dahipofisação, de tal maneira a obter alto rendimento das desovas, principal-mente do pirarucu. Na fauna e flora, muito ricas, a ciência irá buscar subs-tâncias que poderão curar muitas moléstias. A redução dos minérios seráfeita nas proximidades das jazidas, usando processos que preservem omeio ambiente, de tal forma a reduzir custos de produção e transporte.Será preciso impor, à custa de legislação específica e de ação rigorosa, osestudos emanados das nossas universidades, prestigiando aqueles já reali-zados por especialistas, como o Projeto Floram, concebido no âmbito daUniversidade de São Paulo. Essa proposta aponta para a interligação devastos ecossistemas preservados em diferentes regiões, pela via de corre-dores também preservados, assegurando a intercomunicação natural deflora e fauna. Algo assim como um sistema de vasos comunicantes davida. Seria benéfico para a economia brasileira que nossos estadistasconcebessem esta oferta às empresas multinacionais: x empregos perma-nentes criados no Brasil representariam x hectares permanentementepreservados na Amazônia. Ver Flor esta.

Animal. Ser vivo organizado, dotado de sensibilidade e movimento, esteem oposição às plantas.

Neste final de século XX, os cientistas admitem que a vida teria surgidona Terra há cerca de 3 bilhões de anos, sob a forma de um ser unicelularvegetal marinho com capacidade de absorver energia solar (clorofila efotossíntese) e de se dividir em dois pela cissiparidade. Essa vida seriao resultado de múltiplas coincidências físico-químico-biológicas ou deuma Decisão Superior. Dessa surpreendente concepção inicial, aindanos oceanos quentes e ricos de nutrientes de então, teriam surgido tam-bém os primeiros seres animais unicelulares, provavelmente há 1 bilhãode anos. Tanto os vegetais unicelulares como os animais unicelulares,por influência do meio ambiente e sob ação dos raios ultravioletamodificadores das configurações cromossômicas, compartimentados nosrespectivos reinos já definidos, se aglomeraram e se tornaram progressi-vamente mais complexos, dando origem a formas marinhas mais avan-çadas de vida vegetal e animal. Há cerca de 600 milhões de anos havianos mares flora e fauna abundantes, que 200 milhões de anos depois seadaptaram a uma vida terrestre nos continentes que então afloravamdos oceanos. Ver Vegetal.

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Ano-luz. Medida usada na astronomia para indicar as distâncias no Cosmo.Um ano-luz é a distância percorrida em um ano pela luz, que se desloca à

velocidade de 300 mil quilômetros por segundo, a maior velocidade possível noUniverso. Então, um ano-luz corresponde a 300 mil quilômetros x 60 segun-dos x 60 minutos x 24 horas x 365 dias, ou seja, 9,4608 trilhões de quilômetros,que geralmente se aproxima para 9,5 trilhões de quilômetros. Ver Distância.

Aposentadoria. Ato jurídico administrativo pelo qual um servidor ouempregado se desliga do serviço ativo, continuando a receber uma remunera-ção, sob o abrigo da lei.

No decorrer do século XXI, as condições para alcançar a aposentadoriaserão cada vez mais rigorosas. De um lado aumentará a longevidade das pes-soas que recebem benefício, de outro o número de pessoas com vida ativa eque contribuem para a previdência social será reduzido. Do equilíbrio entrereceita e despesa previdenciárias dependerá sempre a possibilidade de pagaras aposentadorias. Robotização, informatização, trabalho informal,terceirizações são práticas que se tornam comuns neste final de século XX ese multiplicarão muito no século XXI, exigindo que a sociedade humana acei-te o planejamento familiar e grandes mudanças nas relações entre capital etrabalho. Ver Automação.

Aqüicultura . Tecnologia física e biológica de multiplicar, criar ecomercializar animais aquáticos e plantas aquáticas.

Há milênios a espécie humana retira produtos dos mares, rios e lagos.Também há milênios os homens conhecem os benefícios e a potencialidadeda aqüicultura, a criação de peixes, moluscos e outros animais marinhos, alémde algas, para suprir suas necessidades alimentares. Mas, por ser mais fácil,cômodo e exigir menos investimentos iniciais, o homem usa em maior escalaa pesca, por vezes predatória, deixando de lado a prudente aqüicultura, umdos capítulos mais significativos do desenvolvimento sustentável. A aqüiculturaé prática corrente neste final de século XX, mas não com a amplitude desejá-vel para que sua prodigalidade contribua para atenuar a fome que infelicitamilhões de pessoas em várias partes do mundo. Contudo, ela é uma promessade fartura protéica no século XXI. Contribuir para expandi-la é uma obriga-ção de governos e de entidades mundiais como a Organização das NaçõesUnidas. Países como o Brasil devem incentivá-la aproveitando suas excelentescondições: clima regular e quente, abundância de reentrâncias marítimas cal-mas, águas fluviais e lacustres não poluídas, grandes represas de hidrelétricas,produção agrícola propícia à fabricação de rações protéicas em larga escala.No século XXI, os criadores descobrirão a notável vantagem da aqüiculturasobre a pecuária: esta é bidimensional, os bois vivem e comem no plano dopasto, ao passo que aquela é tridimensional, os peixes vivem e comem emtodo o volume das águas. Ver Alimento.

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Arma biológica . Aquela que usa organismos vivos, substâncias tó-xicas de origem bacteriana, inibidores químicos do crescimento de plan-tas, etc., para matar seres humanos, animais ou plantas.

Será uma das grandes ameaças à humanidade no século XXI. O de-senvolvimento e o uso criminoso de bactérias ou vírus para exterminargrandes contingentes de seres humanos, rebanhos e plantações, comoação bélica de governos ou de grupos terroristas, poderão até mesmodizimar a espécie humana na Terra. Ver Humanidade .

Asteróide. Corpo celeste que gravita ao redor do Sol, com tamanhos quevariam muito, de alguns gramas a muitas toneladas.

Um asteróide ou cometa poderá chocar-se com a Terra no decorrer doséculo XXI, repetindo um fenômeno que já ocorreu milhões de vezes nopassado, nos 5 bilhões de anos que nos separam do início da formação doSistema Solar. No final do século XX, os cientistas já identificaram cerca de150 crateras formadas pelo impacto de asteróides na superfície da Terra, 142nos continentes e 8 no fundo dos mares. A maior delas está no Golfo doMéxico, tem cerca de 500 quilômetros de diâmetro e tudo indica que se for-mou quando um corpo celeste de grandes proporções se chocou com o marnessa região, há cerca de 65 milhões de anos. O impacto teria sido muitoviolento, mudando completamente o relevo, levantando ondas gigantescasque invadiram o continente, provocando a elevação de partículas que for-maram ao redor da Terra uma camada de poeira que obscureceu a luz solarpor muitos anos, reduziu a fotossíntese e extinguiu grande parte da flora.Há cientistas que relacionam essa queda de um asteróide gigantesco com aextinção de espécies como os dinossauros. O governo norte-americano estápreocupado com uma futura possibilidade de um corpo celeste vir a ameaçara Terra. A NASA já foi acionada para estudar o assunto. Os astrônomossupõem que haja no espaço próximo do nosso planeta cerca de 2.000 ObjetosPróximos da Terra (NEOSs, sigla em inglês) com diâmetro superior a 1quilômetro, alguns com até 10 ou 20 quilômetros. Eles são visíveis com oauxílio de telescópios comuns e são permanentemente acompanhados porastrônomos amadores e por profissionais da NASA. A agência espacial ame-ricana tem condições de calcular a órbita desses corpos celestes e prever comantecedência de alguns anos se algum deles está em rota de colisão com aTerra e pode por isso representar uma ameaça à humanidade. Há estudos queprevêem o desvio desses corpos celestes utilizando artefatos nucleares oupossantes sistemas de jato propulsão que seriam a eles acoplados. Ver Cosmo.

Atmosfera. Envoltório gasoso dos astros em geral, camada de ar queenvolve a Terra.

No final do século XX, o homem sabe que os gases por ele emitidosdurante a Era Industrial (1800 a 2000) poluem a atmosfera da Terra e se

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tornam cada vez mais prejudiciais aos ciclos de vida. Monóxido de carbono,dióxido de carbono, gases nítricos e sulfúricos, genericamente chamadosgases de estufa, acumulam-se ao redor da Terra e formam uma camada queimpede parte do calor por ela recebido do Sol de se dissipar no espaço. Essecalor retido está provocando o efeito estufa, ou seja, o aquecimento anor-mal do Planeta. Os gases nocivos são emitidos por todos os equipamentosinventados pelo homem, que hoje funcionam preponderantemente à custada energia obtida pela queima de combustíveis fósseis (carvão e petróleo,com seus derivados, gasolina, óleo diesel e óleo combustível), usados emusinas termelétricas, veículos com motor a explosão, além de embarcações,aeronaves, foguetes e indústrias. É preciso considerar também os gases no-civos decorrentes da queima de matéria orgânica, bem como aqueles ema-nados pelos pântanos e pelo rúmen dos ruminantes, principalmente o metano.O problema tornou-se mais evidente neste final do século XX, razãopela qual foi amplamente debatido nas Conferências Mundiais de MeioAmbiente, patrocinadas pela Organização das Nações Unidas, Esto-colmo-1972 e Rio de Janeiro-1992, além de ser inscrito na Agenda 21.Em 1998, a poluição da atmosfera foi debatida em duas reuniões mundiaisespecialmente convocadas para isso pela ONU, em Kyoto e Buenos Aires.Mas as recomendações práticas não chegaram a ser aceitas por todos.Os países desenvolvidos, tendo à frente os Estados Unidos, maior emis-sor de gases de estufa, temem que compromissos que os obriguem a nãolançar na atmosfera gases poluentes, resultantes da queima de com-bustíveis fósseis em termelétricas e motores de veículos, acabem pre-judicando o seu progresso industrial e baixem o nível de vida de seuscidadãos. Os representantes dos países desenvolvidos mostram-se relu-tantes e exigem que os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil,assumam concomitantemente o compromisso de não aumentar a po-luição, infinitamente menor, que acarretam. De um lado estão os quequerem continuar emitindo gases de estufa para manter os seus índicesde progresso, de outro encontram-se os que desejam ter liberdade de po-luir para alcançar elevados índices desse mesmo progresso. Então, to-dos continuam poluindo a atmosfera e o efeito estufa se agrava, po-dendo ocorrer grandes alterações no clima da Terra: chuvas torrenciais,inundações, secas avassaladoras, incêndios e perdas de safras, invernose verões com temperaturas extremas, tempestades violentas, etc. Cabeassinalar, ainda, os prejuízos acarretados pelas chuvas ácidas. Resíduosde nitrogênio e enxofre contidos em combustíveis fósseis são lançadosna atmosfera e se combinam com a água das nuvens, formando ácidosnítrico e sulfúrico, que se precipitam com as chuvas e prejudicam asplantações. No decorrer do século XXI, haverá muita celeuma em tornodas conseqüências da emissão de gases nocivos para a atmosfera. Soluções

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paliativas serão propostas, como o pagamento pelos países desenvolvidosde quantias que lhes permitam continuar emitindo compostos de carbonoe outros gases. Esse dinheiro, em tese, seria usado para transferir tecnologiaantipoluição para os países em desenvolvimento, ou para reflorestar áreasdegradadas com o intuito de obter mais vegetação, mais fotossíntese, maisabsorção de dióxido de carbono e liberação de oxigênio, que possam com-pensar a desastrada emissão de gases de estufa. Tudo indica que a sociedadedos homens dificilmente chegará a um acordo no que se refere às responsa-bilidades quanto à poluição do ar, a despeito dos esforços que continuarãoa ser feitos pela Organização das Nações Unidas. Os imensos interesseseconômicos e financeiros em jogo suplantarão até mesmo as evidentesameaças à espécie humana. Salvo se a ciência e a tecnologia conseguiremaperfeiçoar filtros e catalisadores capazes de reduzir a níveis próximos dezero as emissões de compostos de carbono, nitrogênio e enxofre. Ou ainda:se predominar amplamente o uso de combustíveis não poluentes, se aprodução economicamente justificável de energia à custa de célulasfotovoltaicas se tornar possível, se a humanidade conseguir aproveitar ocalor do magma terrestre, se, finalmente, no século XXI, a humanidadepuder dispor da energia farta e barata obtida pela fusão nuclear controlada,descartando de vez as usinas termonucleares baseadas na fissão nuclear. Asociedade dos homens pode nutrir essa esperança. Neste final de séculoXX, há projetos em curso que têm em mira alcançar esses benefícios.Termelétricas, veículos e indústrias poderão funcionar à custa de energialimpa e assim preservar o meio ambiente. Ver Energia.

Automação. Sistema automático de controle pelo qual os mecanismosverificam seu próprio funcionamento, efetuando medições e introduzindocorreções ou mudanças sem a interferência do homem.

Cada vez mais, no decorrer do século XXI, a automação será utilizadapara aperfeiçoar os produtos e dispensar mão-de-obra. Continuará, portanto,tendo grande impacto socioeconômico. As relações entre capital e trabalhosofrerão profundas modificações. Nos países industrializados haverá limi-tações máximas rigorosas quanto ao número de horas que um indivíduopoderá trabalhar. O direito de trabalhar será condicionado à prestação deserviços comunitários gratuitos, como ensinar, cuidar de idosos, policiar,servir em hospitais. Ver Emprego.

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Bactéria...............................................................................................................64Big Bang...............................................................................................................64Big Crunch..........................................................................................................64Biodiversidade....................................................................................................65Biologia...............................................................................................................65Bioma.................................................................................................................66Biomassa............................................................................................................66Biosfera...............................................................................................................66Bomba atômica.................................................................................................66Bug do ano 2000..............................................................................................67Buraco Negro....................................................................................................68

BNo final deste século XX,

a espécie humana sobressai entre cerca de 15 milhõesde espécies vivas existentes na Terra, segundo estimativa dos

cientistas que estudam a biosfera e a biodiversidade.Espécies surgem e espécies são extintas continuamente.

A preocupação está no progressivo crescimento donúmero das que desaparecem.

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Bactéria. Microrganismo unicelular que se reproduz por cissiparidade.Ciência e tecnologia poderão dominar, no século XXI, a reprodução de

bactérias e vírus, impedindo que essas formas de vida interfiram na vida devegetais e animais, inclusive na vida da espécie humana. Esse domínio se faráà custa de compostos químicos ou de modificações genéticas. Bactérias gene-ticamente modificadas poderão beneficiar muito a humanidade. Bactérias usa-das como armas serão um perigo permanente para a humanidade nas mãosde governos irresponsáveis ou de terroristas. Ver Arma biológica.

Big Bang. Grande explosão inicial de matéria e energia extremamenteconcentradas.

Neste final de século XX, a maioria dos astrônomos e astrofísicos aceitaa idéia de que o Cosmo teria se originado da expansão súbita de uma grandeconcentração de massa com altíssimo índice de gravidade. Como uma gra-nada que explode e lança fragmentos em todas as direções, esse núcleo lan-çou matéria e energia em todas as direções, sob a forma de galáxias, inclusi-ve a Via-Láctea, onde está o Sistema Solar. O telescópio espacial Hubble,lançado no início da década de 90, permitiu confirmar que as galáxias estãoem expansão, como se expandem os pontos de um balão quando ele é infla-do. De acordo com a opinião de muitos astrônomos e astrofísicos, o BigBang teria ocorrido há cerca de 15 bilhões de anos, número este calculadopela comparação da distância e da velocidade das galáxias que se afastam,todas elas, do assim chamado superponto explosivo inicial. Considerando-se duas galáxias, uma a 10 milhões de anos-luz e outra a 100 milhões deanos-luz (um ano-luz tem 9,5 trilhões de quilômetros), chega-se à conclu-são de que a mais próxima é mais lenta e se afasta a 150 quilômetros porsegundo, ao passo que a galáxia mais distante é mais rápida e se afasta a1.500 quilômetros por segundo. Ambas apresentam a chamada Constantede Hubble de valor igual a 15 (150 dividido por 10 no primeiro caso e 1.500dividido por 100 no segundo). A velocidade maior das mais distantes decor-reria, segundo alguns astrofísicos, da menor atração gravitacional exercidapela mais distante matéria escura. Há divergências neste final do século XXquanto a tais hipóteses, mas em princípio admite-se o que foi apresentadosimplificadamente acima. Ver Cosmo.

Big Crunch. Grande concentração da matéria e energia, que poderia ocor-rer ao se exaurir a força expansiva provocada pelo Big Bang.

Segundo uma hipótese aventada por astrônomos e astrofísicos, haveriaum limite para a expansão das galáxias provocada pelo Big Bang. Uminstante cósmico de parada. Depois um retorno das galáxias, uma implosãode toda a matéria e energia, para se concentrarem naquele ponto inicial degravidade extrema. Essa volta no espaço é chamada de Big Crunch. Tudo se

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repetiria, segundo o que os cientistas chamam de modelo oscilante doUniverso, indefinidamente, em sucessivas expansões e concentrações, su-cessivos Big Bangs e Big Crunchs. A questão é muito controvertida nestavéspera do ano 2000. Ver Cosmo.

Biodiversidade. Variedade de espécies animais e vegetais existentes porunidade de área, que pode ser um micro, médio ou macroecossistema.

A biodiversidade no mundo vem sendo reduzida rapidamente pela açãopredatória do homem, que destrói ou modifica os ecossistemas conformeos seus interesses em obter alimentos, matérias-primas, áreas urbanas, viasde transportes e comunicações, áreas de lazer. No decorrer do século XXI,a biodiversidade se reduzirá ainda mais, mesmo depois de todos os desfal-ques nela perpetrados, principalmente no decorrer da Era Industrial (1800a 2000). No Brasil há ecossistemas que apresentam os mais elevados índi-ces de biodiversidade do mundo, na Amazônia e na Mata Atlântica. Éessencial para a espécie humana estudar todas as espécies de vida animale vegetal existentes na Terra, pois em algumas delas poderão ser identifi-cados princípios ativos com o poder de curar moléstias ou influir no au-mento da produção de alimentos. Uma espécie extinta sem antes ter sidoestudada suscita sempre uma triste interrogação relativa ao que poderiaou não ter sido descoberto em benefício da humanidade. Neste final doséculo XX, ocorre a chamada biopirataria, que consiste na busca clandes-tina de animais e plantas por cientistas de vários países, contratados porlaboratórios estrangeiros para descobrir plantas e animais que possamconter princípios ativos úteis à medicina. Isso ocorre, principalmente, naAmazônia. As representações de alguns países defenderam na Conferên-cia da ONU Rio de Janeiro-1992 o Estatuto da Biodiversidade, segundo oqual os cientistas não podem pesquisar a biodiversidade de um país semautorização das respectivas autoridades. Descoberta uma espécie útil àmedicina, o laboratório estrangeiro responsável pela comercialização doprincípio ativo da planta ou animal seria obrigado a pagar royalties à na-ção de origem do ser vivo utilizado. O Protocolo da Biodiversidade nãofoi unanimemente aceito na Conferência Rio de Janeiro-92, embora cons-te da Agenda 21, a ser promulgada pela ONU no início do século XXI. Émuito difícil coibir a biopirataria, que continuará existindo em países po-bres com elevados índices de biodiversidade. Ver Biosfera.

Biologia. Estudo dos seres vivos, animais e vegetais, como um todo, abran-gendo as leis gerais da vida.

O rumo científico e tecnológico da biologia estará voltado basicamente,no século XXI, para o estudo da genética e dos benefícios que poderão advirdas reorganizações dos genes em células animais e vegetais. Ver Genética.

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Bioma. Conjunto dos seres vivos em um ecossistema.A agressão aos micro, médios e macroecossistemas (respectivamente,

como exemplo, o oco de uma árvore, uma lagoa, o cerrado), perpetradapela espécie que não tem feito jus ao seu predomínio sobre as demais, ohomem, vem reduzindo progressivamente as espécies animais e vegetaisem todos os biomas da Terra. No século XXI, esse saque sobre a vidaprosseguirá. Ver Biodiversidade .

Biomassa. Quantidade de matéria viva, volume ou peso de organismosvegetais e animais.

Geralmente se usa a expressão para apontar uma grande oferta de plantasterrestres ou aquáticas. No século XXI, a biomassa disponível nos mares, for-mada por algas que se desenvolvem muito quando há abundância de nutrientes,luz e calor, desempenhará papel muito importante na alimentação de uma po-pulação que no ano 2000 será superior a 6 bilhões de seres humanos. O Brasil éo país que possui a maior reserva de biomassa da Terra, mas também ela estásendo irresponsavelmente destruída pela espécie humana. Ver Amazônia.

Biosfera. Parte da Terra e de sua atmosfera que pode ter seres vivos.É impossível saber exatamente quantas espécies animais e vegetais

existem na Terra, mas alguns cientistas estimam cautelosamente que essenúmero seria ao redor de 15 milhões. Com a destruição e as modificaçõesdos espaços naturais, decorrentes da ação predatória da espécie quepredominou sobre todas as outras, o homem, esse número diminui de anopara ano. Assim continuará em todo o transcorrer do século XXI. Nanatureza sempre ocorreu a modificação da biodiversidade, umas espéciessão extintas, outras surgem, mas hoje há uma grande preocupação entreos cientistas porque as espécies que desaparecem são em número muitomaior, como conseqüência da degradação do meio ambiente provocadapela espécie humana. A vida na biosfera é assegurada pela fotossíntese,que permite às plantas absorver e fixar a energia proveniente do Sol. Apartir desse fenômeno primordial estabelecem-se todos os ciclos de vidana Terra, abrangendo vegetais e animais, com uma total interdependênciados organismos vivos. Há três elementos básicos na biosfera: energiaproveniente do Sol, água nos oceanos, rios, lagos e atmosfera e interaçãoentre sólidos, líquidos e gases. Ver Biodiversidade.

Bomba atômica. Artefato nuclear produzido para explodir, destruir, matarcivis e militares.

A explosão é conseguida fazendo-se com que um átomo de elementoradioativo, o urânio, absorva um nêutron e por isso se desintegre, liberandogrande quantidade de energia e transformando-se num átomo de plutônio,

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também radioativo. A energia liberada sob a forma de calor, luz e deslo-camento é fantástica e pode ser avaliada pela fórmula proposta por AlbertEinstein: E = MV², onde a energia é igual à massa multiplicada peloquadrado da velocidade da luz. A primeira bomba atômica, experimen-tal, foi detonada por militares norte-americanos no dia 16 de julho de1945 num deserto, nos Estados Unidos. A sua potência destruidora eraequivalente à de 20 mil toneladas de dinamite. A primeira utilização parafins militares deu-se um mês depois para forçar a capitulação das forçasarmadas japonesas na Segunda Guerra Mundial. Essa bomba atômicaexplodiu sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Em seguida, outra bombadestruiu a cidade de Nagasaki. Como conseqüência dessas duas explo-sões morreram cerca de 120 mil pessoas, o Japão capitulou incondicio-nalmente e o mundo entrou na preocupante era atômica. Esse artefatonuclear foi aperfeiçoado e os militares conseguiram torná-lo muito maispossante e destruidor ao desintegrar átomos de hidrogênio em lugar deátomos de urânio. Outros países, além dos Estados Unidos, desenvolve-ram bombas atômicas. Cerca de 50 anos depois da primeira explosão, asforças armadas de várias nações possuem ostensivamente ogivas nucle-ares, que podem ser lançadas por mísseis ou aviões de grande porte:Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França, China, Índia e Paquistão.Não ostensivamente possuem bombas atômicas: Israel, Japão, Itália,Alemanha, países desmembrados da antiga União Soviética, talvez Irã eIraque. Alguns países desenvolveram também a bomba de nêutrons, quedissemina uma carga letal para dizimar todos os organismos vivos semondas de choque que destruam instalações e equipamentos. Durante oséculo XXI, a humanidade enfrentará permanentemente a ameaça deum conflito armado no qual os antagonistas poderão usar bombas nu-cleares. Enfrentará também a ameaça de atos terroristas praticados usan-do bombas atômicas. Provavelmente haverá retaliações. Dependendo dasproporções desses atos insanos a vida na Terra poderá até mesmo desa-parecer, destruída pela radiação espalhada em todo o mundo pelas cor-rentes aéreas. Ver Energia .

Bug do ano 2000. Os dicionários não o consignam. Transtorno decor-rente de interpretação errada em computador. Bug significa inseto eminglês, falha de programação.

Na grande maioria dos computadores, principalmente nos modelos fa-bricados antes da década de 90, a memória está configurada de tal manei-ra a não conseguir reconhecer o ano 2000, já que em sua programação osanos estão registrados somente pelos dois últimos dígitos. O ano de 1999é apenas 99 e o ano 2000 corresponde ao 00. Mas esse duplo zerocorresponderia, nas máquinas programadas para os anos do século XX,

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ao ano 1900. Se os computadores não forem modificados até dezembrode 1999, eles entrarão em colapso e provocarão grandes confusões emtodos os sistemas informatizados do mundo. Tudo indica, segundo rela-tório do senado dos Estados Unidos, divulgado no final de 1999, que operigo já estaria evitado com ordens introduzidas nos programas doscomputadores destinadas a evitar que o duplo zero do ano 2000 sejainterpretado como o duplo zero do ano 1900. Com essa providênciaserão evitados erros que poderiam ir desde uma cobrança equivocada deconta bancária até um engano na contagem regressiva para lançamentode um satélite. Há países nos quais os respectivos governos estão atentose já tomaram providências para evitar o Bug do ano 2000, basicamentediferenciando o duplo zero de 1900. Segundo esse relatório dos senadoresnorte-americanos a situação seria a seguinte. Estados Unidos : efeitosobre a economia será desprezível, o sistema de saúde poderá enfrentarproblemas se os hospitais não modificarem a tempo suas programações,os computadores pessoais talvez deixem a desejar quanto à sua eficiênciaaté serem reparados. Japão: não se observam sinais de mudança nas pro-gramações até mesmo das instituições bancárias. Rússia: tudo indica queo governo está desatento ao problema, com riscos de interrupções noabastecimento de eletricidade em pleno inverno (dezembro de 1999) de-correntes de pane nas usinas termonucleares. Comunidade Européia :os governos estão tomando medidas a tempo, principalmente para evitarproblemas na infra-estrutura de transportes e de abastecimentos essenciaisà população, como energia elétrica, água e gás. Brasil: como nossainformatização é mais recente, o problema está sendo enfrentado commenor dificuldade. A rede bancária evitará o colapso e as indústrias es-tão se adaptando rapidamente neste final de 1999. A Federação das In-dústrias do Estado de São Paulo, FIESP, criou programa destinado aorientar os empresários associados. Enfim, tudo indica que o sistemainformatizado mundial está atento ao problema, o que não descarta, noentanto, a possibilidade de ocorrerem transtornos, fruto de negligênciase de dificuldades financeiras para adotar as providências cabíveis, já co-nhecidas. Ver Computador .

Buraco Negro . Uma estranha ausência de luz onde por todas as ra-zões científicas ela deveria existir.

Neste final de século XX, a natureza desse fenômeno não foi aindaexplicada. O nome surgiu em 1968 para designar posições cósmicas ondea força da gravidade seria tão intensa que atrairia tudo ao seu redor,inclusive a luz, daí a negritude que as peculiarizam. Os buracos negrosnão são explicados teoricamente, mas talvez o sejam no decorrer doséculo XXI. Por enquanto, os astrofísicos especulam que os buracos

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negros poderiam ser as regiões do Cosmo onde a gravidade se concen-traria até chegar a uma tal singularidade que não mais poderia mantercoesão e “explodiria” como mais um Big Bang. No Cosmo haveria, en-tão, infinitos buracos negros sugando matéria e energia, inclusive a luz,concentrando tudo isso para formar infinitos pontos de gravidade infi-nita, preparando infinitos Big Bangs. Trata-se de suposição muito pes-soal do autor. Para que se compreenda melhor, um exemplo próximo denós: o Sol emite luz porque sua massa e sua força de gravidade não sãosuficientes para retê-la. Mas se toda a sua massa, hoje distribuída emuma grande esfera de 700 mil quilômetros de raio, fosse reduzida porcompressão a uma esfera de apenas 3 quilômetros de raio, 233 mil vezesmenor, talvez ele se transformasse num buraco negro, com uma forçade gravidade 233 mil vezes maior, tão intensa que nem a luz escapariadele. Tudo que passasse ao alcance dessa brutal força de gravidade seriapor ela atraído, sugado, para aumentar cada vez mais a massa e a gravi-dade, até atingir um grau tão grande de coesão que somente a singulari-dade de um Big Bang poderia modificar o processo. Ver Big Bang .

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Cadeia alimentar..................................................................................................71Calendário............................................................................................................71Caloria.................................................................................................................72Camada de ozônio..............................................................................................72Câncer..................................................................................................................73Carbono...............................................................................................................73Chuva ácida.........................................................................................................74Cibernética...........................................................................................................74Cidade..................................................................................................................74Civilização...........................................................................................................75Clima...................................................................................................................76Clonagem...........................................................................................................76Clorofila..............................................................................................................77Coletividade........................................................................................................77Cometa................................................................................................................78Computador.......................................................................................................78Conquista do espaço..........................................................................................80Consumo............................................................................................................84Conurbação........................................................................................................84Corrupção...........................................................................................................84Cosmo.................................................................................................................85

CNo final do século XX da Era Cristã,

completam-se 200 anos de Era Industriale de aproveitamento pelo homem da energia do Sol,a qual a clorofila e a fotossíntese permitiram que se

acumulasse nos combustíveis fósseis, cujas jazidas diminuirãomuito no decorrer dos próximos 100 anos. Ainda no

século XXI o homem conseguirá controlar a fusão nuclear.

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CCadeia alimentar. Ciclo de produção e consumo de alimentos e energia

nas relações entre plantas e animais.Uma das ações nocivas do homem neste final de século XX é a facilidade

irresponsável com que ele rompe cadeias alimentares essenciais ao equilí-brio dos ecossistemas. O mesmo continuará ocorrendo no decorrer do sé-culo XXI se não houver uma conscientização da importância desses ciclosque asseguram a sobrevivência das espécies e a preservação da biodiversidade.Um exemplo de cadeias alimentares interrompidas desastradamente é a des-truição dos manguezais, que são o berço da vida de muitas espécies mari-nhas, provocada pelos assoreamentos e pela expansão dos loteamentos àbeira-mar. Microrganismos alimentam pequenos crustáceos (consumidorprimário), que por sua vez servem de alimento para pequenos peixes (con-sumidor secundário), os quais se desenvolvem e vão para águas profundasonde são consumidos e asseguram a sobrevivência de peixes maiores (con-sumidor terciário). Ver Biodiversidade.

Calendário . Sistema de divisão do tempo em que se aplica um con-junto de regras baseadas na astronomia e em convenções próprias, mui-tas delas religiosas, cujo objetivo é fixar a duração do ano civil e de suasdiferentes datas.

O final do século XX é uma época apropriada para tratar do assunto, poishá interpretações que precisam ser mais bem esclarecidas. O ano 2000 é oúltimo ano do século XX. A noite de 31 de dezembro do ano 2000 será apassagem do século XX para o século XXI e do segundo para o terceiromilênio da Era Cristã. O ano 2001 será o primeiro ano do século XXI. Tudoisso de acordo com o calendário gregoriano, aceito por católicos, protestan-tes, cristãos ortodoxos, que somam no mundo cerca de 2 bilhões de crentes.As estatísticas não são confiáveis, mas as que estão disponíveis, neste final deséculo XX, com a humanidade somando mais de 6 bilhões de pessoas nestaTerra de recursos finitos e capacidade limitada de receber dejetos, nos infor-mam que há em números redondos e amplos:

Budistas, confucionistas, xintoístas, hinduístas e taoístas......2,2 bilhõesCatólicos, protestantes, cristãos ortodoxos.............................2,0 bilhõesIslâmicos................................................................................1,2 bilhãoOutras.........................................................................................0,3 bilhãoAteus...........................................................................................0,2 bilhãoJudeus............................................................................................0,1 bilhão

Convém ressaltar mais uma vez que as expectativas pela chegada do ano2000, pela passagem do século XX para o século XXI e pela chegada doterceiro milênio são criadas pelos 2 milhões de pessoas que adotam o calendá-rio cristão. Quando a cristandade estiver comemorando os 2 mil anos do

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Cnascimento de Jesus Cristo, os budistas estarão no ano 2543, os judeus noano 5760, os muçulmanos no ano 1378, os chineses no ano 4699, os india-nos no ano 1922. Há divergências quanto a essa contagem. Para a grandemaioria da humanidade, portanto, para cerca de 4 bilhões de pessoas, a pas-sagem do século XX para o século XXI, na noite de 31 de dezembro do ano2000, será quase insignificante, embora receba influência da poderosa mídiamundial, que retumbantemente saudará essa data. A mídia é acionada tam-bém pelo grande número de pessoas que se impressionaram durante sécu-los com previsões feitas por Nostradamus e outros profetas, videntes e as-trólogos, que entraram para a história como pessoas capazes de prever ofuturo, com datas marcadas para o fim do mundo, para a ocorrência detragédias coletivas ou morte de vultos da política, das artes e das religiões.Tudo indica que haverá também muita decepção quando esses arautos doapocalipse amanhecerem no dia 1 de janeiro do ano 2000 e no dia 1 dejaneiro do ano 2001 sem que nada de excepcional tenha acontecido, comonada mudou nas 1999 passagens de ano e na única virada de milênio jáocorridas na Era Cristã. Ver População.

Caloria. Unidade de medida de energia. Quantidade de calor necessáriapara elevar de 14,5º C a 15,5º C a temperatura de um grama de água, à pressãodo nível do mar.

Os alimentos ingeridos pelo ser humano e por todos os seres vivos trans-formam-se e suprem de calorias os respectivos organismos, para que elespossam viver. Para levar uma vida normal, um homem comum precisa dispordiariamente, em média, de 2.500 calorias. Ele sobrevive com menor númerode calorias, mas seu organismo passa a ter suas funções reduzidas, emagrece,sua força física e sua capacidade mental diminuem. Ver Alimento.

Camada de ozônio. Quantidade desse elemento, formado por três áto-mos de oxigênio, que se estende ao redor da Terra, na estratosfera, acima de12 mil metros. Nessa altitude há quantidade ínfima de oxigênio e preponde-rância de nitrogênio.

Desde o aperfeiçoamento da refrigeração, na década de 20, o homem vemutilizando os compostos clorofluorcarbonos, os CFCs, gases mais leves doque o ar, que permitem retirar o calor de um ambiente fechado (ao se expan-dir dentro de um circuito ele absorve calor) e levá-lo para fora dele (ao sercomprimido ele libera calor). Neste final do século XX, os cientistas observa-ram que a camada de ozônio, que envolve a Terra e absorve grande parte dosraios ultravioleta provenientes do Sol, está diminuindo em grandes extensões.Acima do Pólo Sul ela já desapareceu. Estudos demonstraram que essa redu-ção se deve à ação nociva dos CFCs que escapam dos aparelhos de refrigera-ção e também dos sprays, que os utilizam como propelentes. Mais leves doque o ar, os clorofluorcarbonos sobem para a estratosfera e lá se combinam

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Ccom o ozônio, O3, dele tirando um átomo de oxigênio, para formar O2 e CLO.O uso intenso dos CFCs reduz a camada de ozônio, aumentando por conse-guinte a incidência de raios ultravioleta, que provocam alterações noscromossomos das células animais e vegetais. No homem, a exposição exage-rada aos raios ultravioleta pode provocar o câncer de pele. Em animais, comonas ovelhas dos contrafortes dos Andes, acarreta a perda da visão. Em 1987,a Organização das Nações Unidas promoveu a Conferência de Montreal paradebater o problema e os 167 países participantes assinaram um protocolopelo qual se comprometeram a banir completamente o uso dos CFCs até oano 2001, substituindo esses gases por outros já disponíveis no mercado, quenão afetam a camada de ozônio. Em 1987, o buraco nessa camada protetoratinha cerca de 13 milhões de quilômetros quadrados sobre a Antártida. Algu-mas empresas no Brasil e no mundo já fabricam a chamada “geladeira verde”,que não depende dos gases clorofluorcarbonos para refrigerar o seu interior.O Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Fe-deração das Indústrias do Estado de São Paulo, FIESP, estimula a substitui-ção dos CFCs e oferece orientação para que essa medida saneadora seja to-mada com vantagens para a indústria. Ver Atmosfera.

Câncer. Tumor decorrente do crescimento anormal de células de umtecido, não combatido pelo sistema de defesa do respectivo organismo por-que este não consegue identificar as células que se multiplicam excessiva-mente como corpos estranhos, pois elas têm características externas iguaisàs das demais células.

No final do século XX, estão adiantados os estudos para debelar essa mo-léstia, resultante de modificações genéticas ocorridas em algumas células,provocadas por interferências externas (radiação, substâncias cancerígenascomo o fumo, o álcool e outras drogas) ou internas (acidentes na multiplica-ção natural das células, mais comum nos organismos que já ultrapassaram otempo normal de vida). Logo no princípio do século XXI, a ciência encontra-rá meios eficientes de prevenir e combater essa moléstia. A engenharia gené-tica terá papel preponderante nessa conquista médica. A ação será voltadaantes de tudo para prevenir do que para curar. Mas o combate ao câncer jáiniciado se fará à custa de eficientes bloqueadores do fluxo sanguíneo para otumor, do aumento da atividade do sistema imunológico, bem como do usode vetores capazes de identificar e destruir as células estranhas, poupando ascélulas sadias. Ver Saúde.

Carbono. Elemento químico, cristalino, grafita ou diamante, capaz deformar extensas cadeias de átomos e que constitui muitos compostos orgâ-nicos e inorgânicos.

No século XXI, prosseguirá o grande saque, iniciado pelo homem aodesencadear a Era Industrial (1800 a 2000), dos depósitos de combustíveis

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Cfósseis acumulados no subsolo: carvão, petróleo e gás natural. O carbono éliberado para a atmosfera quando carvão, óleo combustível, diesel, gasolina egás natural são queimados nos motores dos veículos, nas indústrias e nasusinas termelétricas que geram eletricidade. No passado mais distante, essecarbono existia na atmosfera e foi fixado graças à fotossíntese para formartecido lenhoso (carvão) e microrganismos (petróleo). Sua queima libera prin-cipalmente dióxido e monóxido de carbono, que se acumulam na atmosferaimpedindo a dissipação para o espaço de parte do calor gerado pelos raiossolares que chegam à Terra. Ver Efeito estufa.

Chuva ácida. Precipitação atmosférica contaminada principalmente porcompostos de nitrogênio e enxofre provenientes da queima de combustíveisfósseis impregnados desses elementos químicos.

Durante os 200 anos correspondentes à Era Industrial, o problemaagravou-se progressivamente, como conseqüência da emissão para a atmos-fera de gases nítricos e sulfurosos resultantes da queima de carvão im-pregnado de compostos de nitrogênio e enxofre. No século XXI, o pro-blema se acentuará, provocando tensões entre governos das nações quepoluem o ar e provocam chuvas ácidas. Elas prejudicam lavouras,florestamentos e criações de peixes. Ver Alimento.

Cibernética. Ciência que estuda as comunicações e o sistema de controledas coisas animadas e inanimadas, organismos vivos e máquinas.

No final do século XX, a cibernética alcançou alta sofisticação, graças prin-cipalmente à informática. No século XXI, essa atividade humana abrangerácampos cada vez maiores da ciência e da tecnologia, que incluirão o espaçosideral e a intimidade do corpo humano. Naves tripuladas serão enviadas aoplaneta Marte. Mecanismos de tamanho compatível, controlados pormicrocomputadores, poderão ser implantados no corpo humano para realizaras funções de órgãos deficientes ou que foram removidos. Os transplantes deórgãos serão rotineiros, as clonagens garantirão a longevidade corpórea emental. Ver Genética.

Cidade. Complexo demográfico bem definido, formado social e econo-micamente por importante concentração populacional não agrícola.

Neste final do século XX, é bastante nítida a deterioração das condiçõesde vida do ser humano nas grandes cidades, onde se acumulam e agravamcontinuamente problemas relacionados com abastecimento de água e ali-mentos, distribuição de eletricidade e combustível, poluição do ar, drenagemde esgotos e remoção de lixo, trânsito, impermeabilização do solo e conse-qüentes inundações, educação e lazer, violência, transporte coletivo. Tais sãoalguns dos grandes desafios aos administradores dos grandes centros ur-banos. A tendência das autoridades, em alguns desses casos, é penalizar

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Cfinanceiramente os cidadãos, que passam a arcar com impostos e taxas cres-centes, nem sempre aplicadas corretamente, para sanar esses graves proble-mas. Viver nas grandes cidades, por conseguinte, se tornará progressivamentemais dispendioso, difícil e arriscado no transcorrer do século XXI. Serápreciso pagar caro para ocupar o espaço da moradia, para usufruir os serviçospúblicos, para ter segurança, para que o automóvel possa trafegar. Os trans-portes coletivos subterrâneos serão incrementados, com restrições crescentesao tráfego de veículos de superfície. Outro problema das grandes cidades, quese agravará no decorrer do século XXI, tornando-se seriíssimo nos séculos sub-seqüentes, será a deterioração das construções e das grandes estruturas no cor-rer dos anos. Neste final de século XX é nítido o comprometimento de canos,fios, guarnições, portas, janelas, grades de metal, e tudo o mais que se instalouhá 30, 40 ou 50 anos. A qualidade dos materiais evoluiu e melhorou, é certo,mas a umidade e a oxidação continuam fazendo seus estragos. A poluição do aracaba por comprometer até mesmo o concreto armado, sensível aos óxidosnítricos e sulfúricos. A recuperação das grandes estruturas exigirá pesados in-vestimentos. Como será o espaço construído? Tudo será demolido para se apro-veitarem espaços e infra-estrutura? Nas economias ricas a deterioração dos gran-des centros urbanos será contida ou evitada com relativa facilidade. Osgovernantes disporão de recursos para recuperar áreas degradadas, refazer osistema viário, criar oportunidades de lazer e incentivar a vida cultural, abrirparques e oferecer segurança aos cidadãos. Mas nas comunidades remediadasou pobres esses aglomerados se transformarão em concentrações decadentesde pessoas e suas coisas, condenadas ao caos e ao abandono. Por todas essasrazões, no decorrer do século XXI, se acentuará a descentralização urbana. Porum lado, os cidadãos e respectivas famílias procurarão escapar das dificuldadescrescentes, por outro, as próprias autoridades incentivarão as ofertas de mora-dia e trabalho em núcleos-satélites articulados. Haverá uma multiplicação debairros pobres sem planejamento e de loteamentos fechados, onde os morado-res poderão encontrar facilidades de locomoção, abastecimento, lazer, educa-ção, assistência médica e hospitalar, bem como o comércio básico indispensávelpara as necessidades cotidianas. Muitas atividades poderão ser desempenhadasna própria moradia, graças aos avanços da informática e da comunicação comrecursos digitais. Loteamentos fechados para as classes de renda média e baixatambém serão incentivados pelas autoridades, como forma de reduzir proble-mas que hoje afligem os moradores das grandes cidades cujas periferias cresce-ram caoticamente, dificultando assim a manutenção da ordem e o combate àcriminalidade. Ver População.

Civilização. Conjunto de caracteres próprios da vida social, política, eco-nômica e cultural de um país ou região.

O conjunto de mais de 6 bilhões de seres humanos alcançou um estágiodesconcertante, caracterizado pelo eterno conflito entre o bem e o mal. Neste

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Cfinal de século XX, ainda assistimos a numerosas demonstrações dessa in-compatibilidade da ação do homem com o que chamamos de civilização. Aguerra, o terrorismo, o domínio econômico, a discriminação cultural e racialnão condizem com o que se espera da espécie que dominou todas as outras eque se autodenomina homem moderno. No século XXI, tais imperfeiçõesserão frontalmente combatidas pela Organização das Nações Unidas e pe-los seus órgãos adjuntos voltados para a paz, para a preservação do meioambiente, para a justiça social, para a igualdade das condições de vida detodos os povos. A ONU deverá ser progressivamente mais forte, respeitadae ouvida. Caso não o seja, acabará se caracterizando o que comentamos nocapítulo 1 deste livro: o nítido predomínio de um contingente mais forte erico do homem moderno sobre os demais contingentes fracos edesprivilegiados. Ver População.

Clima. Conjunto de condições meteorológicas (temperatura, pressão, ven-tos, umidade e chuvas) típicas do estado médio da atmosfera numa região dasuperfície terrestre.

O clima no mundo é considerado como a média dessas variáveis. No finaldo século XX, os avançados métodos de prever e de medir as condiçõesmeteorológicas estão suscitando muitas controvérsias. Alguns cientistas afir-mam que o clima da Terra está mudando rapidamente como conseqüência dolançamento na atmosfera de gases e partículas, que formam ao redor delauma camada que impede a dispersão para o espaço de parte do calor refletidona superfície terrestre. Ver Efeito estufa.

Clonagem. Produção de um ser vivo geneticamente idêntico a outro.O assunto ganhou grande destaque em 1998, quando foi anunciado que o

cientista escocês Ian Wilnmut conseguira gerar a ovelha Dolly: ele retirou onúcleo (onde estão os genes) do óvulo (célula sexual feminina) de uma ovelha.No lugar desse núcleo implantou o núcleo de uma célula da ovelha que deci-diu clonar. Esse óvulo, com o núcleo substituído, foi reimplantado no úteroda ovelha da qual ele havia sido retirado, transformou-se num embrião e estenuma ovelha idêntica à sua mãe biológica, que cedeu originalmente a configu-ração genética, mas não participou da gestação nem do parto. Neste final doséculo XX, é grande a celeuma em torno dessa iniciativa científica. Há os quea criticam, alegando que a clonagem atenta contra os princípios éticos, outrosapontam os benefícios imensos que talvez decorram da multiplicação de ani-mais com boas características, como a grande produção de leite e a maioroferta de carne. Há também os que sugerem a clonagem de seres humanos.Neste caso os debates são ainda mais acalorados. Uns a abominam, apontan-do-a como uma aberração científica, outros a defendem alegando a possibilida-de de fazermos nascer indivíduos perfeitos e sadios, talvez até mesmo de asse-gurarmos a sobrevida corpórea de seres humanos. O rumo, no século XXI,

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Caponta não só para o transplante de configurações cromossômicas intactas,mas sobretudo para a transferência de configurações manipuladas nas quaisteriam sido substituídos genes defeituosos ou indesejáveis, de tal forma afavorecer ou curar os seres animais e vegetais deles resultantes. Convém assi-nalar, neste final de século XX, que apesar de tantas promessas a clonagemainda é um mergulho no desconhecido. Recentemente, morreu nos EstadosUnidos um bezerro clonado. Perguntam os cientistas, nesta véspera do ano2000, se esse animal não teria nascido já com a idade adulta da mãe biológicacujos cromossomos foram usados na clonagem? Ver Genética.

Clorofila. Pigmento verde das plantas que atua como catalisador e pro-move a fotossíntese sob a ação da luz solar, fixando carbono na planta pelaretenção de gás carbônico e liberando oxigênio e água. É a reação fundamen-tal da vida na Terra.

Desde o advento da agricultura, há cerca de 10 mil anos, a espécie huma-na tem derrubado florestas para construir moradias, fabricar instrumentos,produzir móveis e utensílios, queimar lenha em fogões e lareiras para se aque-cer e cozinhar, dispor de áreas livres para plantar extensas lavouras e manterpastagens. Assim, o homem acabou por devastar 80% das florestas do mun-do e ainda continua derrubando matas na assustadora proporção de milharesde hectares por ano. Com isso reduziu-se a fotossíntese na Terra, que somen-te não teve grande influência na renovação do oxigênio da atmosfera porquea maior parte dele provém da fotossíntese em escala maior que ocorre nagrande quantidade de algas verdes existentes nos oceanos do mundo. No sé-culo XXI, os organismos nacionais e internacionais deverão voltar-se para oproblema fundamental da preservação dos elementos primordiais da vida naTerra, a clorofila e a fotossíntese. Uma clorofila sintética fabricada pelo ho-mem talvez seja usada para recobrir grandes placas de substâncias receptivasonde ocorrerão em larga escala as reações hoje exclusivas dos pigmentos ver-des das células vegetais. A humanidade teria, então, plantas artificiais quepudessem, talvez, tornar salubre a atmosfera terrestre e produzir em largaescala os compostos orgânicos que desejasse. Seria algo assim como a capta-ção triunfal da luz do Sol para que tivéssemos matéria-prima e energia limpaà disposição de uma população que precisará ser corretamente dimensionadae distribuída. Ver População.

Coletividade. Qualidade ou caráter de coletivo, conjunto, agrupamento,agremiação, sociedade.

Coletividades de seres animais ou vegetais. Coletividade humana, que nofinal do século XX já ultrapassa 6 bilhões de indivíduos, em níveissocioeconômicos os mais diferenciados em todo o mundo. No decorrer doséculo XXI, o grande desafio da sociedade dos homens será a redução dosíndices de pobreza absoluta nos quais se atolam bilhões de pessoas em nações

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Csubdesenvolvidas, principalmente da África, América Latina e Ásia. Será pre-ciso reintegrar à estrutura socioeconômica moral e eticamente justa o grandecontingente de indivíduos marginalizados, que o são porque o crescimentodemográfico se fez desordenadamente, autoridades em muitos países agiramfraudulentamente, os recursos naturais e as heranças culturais não favorece-ram o desenvolvimento das respectivas populações. Caberá à Organizaçãodas Nações Unidas e às entidades a ela associadas criar condições para pro-mover essa equiparação socioeconômica. Ver População.

Cometa. Astro de luminosidade fraca, formado por um grupo de partícu-las sólidas com envoltório gasoso, que gira ao redor do Sol em órbitas elípticasmuito alongadas, algumas delas supostamente parabólicas, e em alguns casosaparentemente hiperbólicas.

Cometa, em grego, quer dizer astro com cabeleira. São corpos celestes quevagam pelo Sistema Solar cruzando de tempos em tempos as órbitas elípticasdos planetas, inclusive a da Terra. Eles podem ser eventualmente atraídospela gravidade dos planetas e com eles se chocarem, como ocorreu em 1997com o cometa Shoemaker-Levy, que se chocou com o planeta Júpiter e provo-cou marcas na sua estrutura, observadas pelos astrônomos da Terra. Esseimpacto de cometas também ameaça a Terra e a ele estaremos sujeitos nodecorrer de todo o século XXI, embora a probabilidade de que isso ocorraseja insignificante: uma em 300 milhões, segundo os astrônomos. Há cometasgrandes e pequenos, mais ou menos luminosos. Têm um núcleo chamadocabeça, ao redor do qual há um halo de claridade difusa, que se prolonga eforma a cauda, brilhante e translúcida. Esta é relativamente longa e define adiferença entre o cometa e outros astros. O vento solar impõe a essa caudauma projeção sempre oposta à do Sol. Os astrônomos já identificaram cercade 150 cometas, mas alguns podem nunca ter sido vistos da Terra se suasórbitas forem longas demais e ainda não tiverem passado no nosso campovisual. Um dos maiores cometas já identificados é o Halley, observado em1986, que reaparecerá por aqui somente no ano 2062. Um dos mais recentesprojetos da NASA é enviar uma sonda espacial para recolher fragmentos dacauda e se possível da cabeça de um cometa, para determinar a sua composi-ção, já que alguns cientistas formularam a hipótese de que esses corpos celes-tes são semeadores de vida no Cosmo porque levam sempre nas suas estrutu-ras compostos pré-bióticos. Ver Cosmo.

Computador. Aquele que faz cômputos, que calcula, aparelho eletrônicoque recebe informações, submete-as a um conjunto especificado e predetermi-nado de operações lógicas ou matemáticas e dá o resultado dessas operações.

Na última década do século XX, esse sofisticado equipamento tornou-seum dos mais importantes fatores de progresso da espécie humana, usado emmúltiplas e complexas atividades. No século XXI, haverá uma convergência

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Ctecnológica que integrará cada vez mais os computadores, as redes de trans-missão a cabo, as transmissões por ondas eletromagnéticas, raios laser e fibrasópticas, os satélites e aparelhos de televisão. Nos tamanhos micro e macro.Em duas e três dimensões. Haverá equipamento de pulso com possibilidadede acesso à Internet com miniteclado para transmitir e receber som e imagem.Ou uma parede completa de sala de reuniões que se transforma em prolonga-mento de uma outra sala de reuniões, no outro lado do mundo, tudo em trêsdimensões, som e imagens instantâneos, ambientes distantes uns dos outrostransformados num mesmo ambiente, com personagens também distantesreunidos frente a frente. Um amálgama de computador, Internet e televisão.Essa convergência total já começa a se esboçar neste final de século XX,quando há possantes e médios computadores sendo usados concomitantementecom os PCs, Personal Computers, que são aqueles equipamentos mais simples,ao alcance de um número crescente de pessoas no mundo, que não almejamrealizar com eles tarefas portentosas, mas apenas os serviços caseiros de enviare receber e-mails, navegar pela Internet, escrever e editar textos. Os grandesfabricantes desses computadores (sempre mais simples, sempre mais baratos)experimentam um período de grande prosperidade nesta última década doséculo XX. Eles atendem a uma demanda que não existia e que de repentedespertou o gosto e a necessidade de muita gente. Mas além desses PCs casei-ros há os computadores de porte médio com softs específicos. Por exemplo,um computador usado para controlar o estoque de um supermercado. E háos supercomputadores, como aqueles que no Pentágono informam num ins-tante quantos aviões de combate existem em cada um dos 188 países do mun-do, com suas características e capacidade de combate, podendo inclusive pre-ver a possibilidade de ampliação dessa frota considerando o PIB e outraspeculiaridades socioeconômicas de cada nação. O primeiro computador deuso geral foi construído em 1946, aproveitando os avanços tecnológicosalcançados durante a Segunda Guerra Mundial. Fabricado nos Estados Uni-dos pela ENIAC, ao custo de cerca de 10 milhões de dólares, pesava 30toneladas e funcionava graças a um conjunto de 18 mil válvulas. Neste finalde século XX, 54 anos depois, um PC de pequeno porte usa chips podero-sos em vez de válvulas e é portátil. Não chega a custar US$ 1.000. Vale apena recordar a evolução rápida desses equipamentos. Em 1952, a IBMlançou seu modelo 701, um computador muito mais leve, simples e barato.Em 1960, a AT&T conseguiu conectar o computador ao telefone ao inven-tar o modem. Nascia a Internet. O primeiro PC foi lançado em 1981 pelaIBM. Neste ano de 1999 é oferecido à venda o Pentium III, provido do chipmais aperfeiçoado que já foi usado, capaz de realizar façanhas incríveis, massomente úteis a grandes organizações com difíceis e variadas tarefas a exe-cutar. O simples PC caseiro para a miudeza da informática, que todo mun-do precisa, continuará com o seu lugar assegurado nos lares ao longo dasprimeiras décadas do século XXI. Ele será, no correr dos anos, cada vez

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Cmais leve e portátil, mais barato, mais capaz de ajudar nas tarefas pessoaisdo cidadão comum. Mas em outros patamares, em níveis que atendam acomplexidades extremas, como guiar uma sonda espacial que pousará emMarte, as empresas continuarão oferecendo milagres após milagres no cam-po da informática. Ver Informática.

Conquista do espaço. Usando seus inventos o homem conseguiu vencera força da gravidade, deslocar-se na atmosfera, chegar à Lua e lançar-se rumoao Sistema Solar e ao Cosmo.

Neste final do século XX, a ciência e tecnologia já permitiram ao homemviajar a velocidades superiores à do som, colocar em órbita terrestre satélitespara diferentes usos, enviar sondas para obter informações sobre o SistemaSolar, montar laboratórios de estudos que circulam ao redor da Terra e enviarnaves tripuladas à Lua. Ainda no início do século XXI, tudo indica, o serhumano pisará o solo de Marte. Essa aventura espacial começou em outu-bro de 1957 com os sinais eletrônicos emitidos pelo primeiro satélite artificialda Terra, o Sputnik, lançado ao espaço pela União Soviética. A rigor, os avan-ços desde então alcançados são devidos a uma renhida disputa entre doissistemas políticos, o comunismo soviético e o capitalismo norte-americano,que se empenhavam em demonstrar sua capacidade de espionar do espaço elançar ogivas nucleares num eventual conflito. A União Soviética tambémfoi pioneira, em 1961, quando colocou um satélite tripulado por um astro-nauta em órbita da Terra, a nave Vostok com Iuri Gagárin a bordo. Mas osEstados Unidos não ficaram para trás e logo também colocaram em órbi-ta da Terra uma nave tripulada. Em 1966, uma sonda espacial norte-ame-ricana Surveyor e uma soviética Luna, não tripuladas, conseguiram pousarcom êxito na superfície da Lua e de lá transmitir preciosas informações. Acorrida pela conquista do espaço prosseguiu no bojo da guerra fria entreos Estados Unidos e a União Soviética. Muitos analistas já ousaram for-mular a pergunta que hoje nos fazemos: o homem teria avançado tanto naconquista do espaço se não tivesse se manifestado, em certo momento daHistória, o antagonismo político entre comunismo e capitalismo? A res-posta inclui, certamente, o grande esforço empreendido pelos norte-ameri-canos para enviar uma nave tripulada à Lua e trazê-la de volta à Terra. Essafaçanha ocorreu em 1969 (ver relação completa das missões no texto refe-rente à Lua). A nave Apollo 11 entrou em órbita do nosso satélite e dela sedesprendeu um módulo, que pousou mansamente na superfície da Lua. Doisastronautas que o tripulavam saltaram, recolheram amostras, fizeram medi-ções e tiraram fotografias. Com propulsão própria esse módulo se elevou dasuperfície da Lua, cuja gravidade é apenas um sexto da gravidade da Terra, ese acoplou à nave que permanecera em órbita lunar com um astronauta abordo. A Apollo 11 voltou à Terra e pousou no mar, com os três astronautasa bordo sãos e salvos. Tal foi, segundo especialistas, a mais arrojada missão

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Cespacial até hoje realizada pelo homem, embora outras cinco tenham sidofeitas com igual êxito nos três anos seguintes. A missão Apollo 11 teria custa-do aos Estados Unidos US$ 100 bilhões e ao todo os pousos na Lua exigiramgastos da ordem de US$ 700 bilhões. Esse foi o preço pago pelo contribuintenorte-americano para aumentar o prestígio dos Estados Unidos, trazer daLua algumas amostras que pouco revelaram de importante, tirar fotografias eefetuar medições. Convém destacar o que era mais importante: mostrar paraeventuais antagonistas a grande capacidade científica e tecnológica norte-ame-ricana. Depois desse êxito na corrida espacial e na demonstração de podermilitar, outros sucessos foram alcançados por norte-americanos e soviéticos.Em 1971, a União Soviética colocou em órbita da Terra o laboratório espacialSalyut e em 1973 os Estados Unidos igualaram o feito com o laboratórioSkylab. Em 1975, por fim, deu-se um encontro no espaço, em órbita da Terraa 288 quilômetros de altura, um acoplamento de duas naves, a norte-america-na Apollo e a soviética Soyuz, para um aperto de mãos amigo entre astronau-tas dos Estados Unidos e da União Soviética. No início dos anos 80, os norte-americanos começaram a usar ônibus espaciais, inaugurando com eles os lan-çamentos auxiliados por foguetes e o retorno e a recuperação da nave tripula-da que realizou pesquisas em órbita da Terra. Em 1986, os soviéticos coloca-ram em órbita da Terra o laboratório espacial Mir, que até neste ano de 1999permanece no espaço. Durante 13 anos, essa nave russa ofereceu a astronau-tas e cientistas de muitas nacionalidades um extraordinário campo de estudosespaciais. Não é possível informar quantos engenhos fabricados pelo homemforam até hoje lançados no espaço, entre satélites, naves tripuladas e sondaspara fazer pesquisas no Sistema Solar. Sabe-se que neste final de século XXhá em órbita da Terra cerca de 300 sofisticados equipamentos destinados aosmais variados usos: previsão do tempo, mapeamentos da superfície terrestre,observações astronômicas, espionagem militar, determinação exata de coor-denadas, além daqueles que interessam a todos os povos: os satélites de co-municação para a Internet, para a telefonia e para a transmissão de imagenspara televisão. Estes últimos são colocados a uma altitude de 35.860 metros,para que sigam a rotação da Terra e fiquem imobilizados no espaço em rela-ção às estações situadas em diferentes regiões do mundo. A maioria desses300 satélites que se encontram em órbita neste final de século XX pertence anorte-americanos, russos e ao consórcio internacional Intelsat, que reúne 134países membros, entre eles o Brasil. Nosso país já lançou cinco satélites pró-prios, projetados e construídos no Instituto Tecnológico Aeroespacial deSão José dos Campos, SP. São satélites de comunicação e para coleta dedados meteorológicos. Vale a pena destacar, pela sua importância científicae tecnológica, o satélite portador do telescópio espacial Hubble, lançadopelos Estados Unidos em 1990, que tem permitido vasculhar os confins doUniverso. Neste final do século XX está sendo construído um novo telescó-pio espacial Hubble, muitas vezes mais possante do que aquele que hoje já

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Coferece aos astrônomos e astrofísicos imagens surpreendentes do Cosmo.Ainda neste século XX, a estação orbital russa Mir talvez seja desativada etrazida de volta para a Terra, mas desde 1998 começou a ser montada umanova Estação Orbital Internacional (ISS) muito mais aperfeiçoada, feita devários módulos que se acoplarão no espaço, um por vez, projetada e construídapor um consórcio de 15 países, liderados por Estados Unidos, Rússia, Canadáe Japão. Esse projeto custará US$ 500 bilhões e tem um significado especialpara o congraçamento científico e tecnológico entre os povos da Terra. Em1999, a Rússia já colocou em órbita o primeiro módulo da Estação OrbitalInternacional, que deverá estar completamente montada no ano 2004. Quan-to às sondas lançadas para conhecer melhor o Sol e outros planetas do Siste-ma Solar, cabe assinalar que elas são muitas. Seguem-se algumas. Em 1977, osEstados Unidos lançaram a nave Voyager 1, que sobrevoou Júpiter em 1979,ultrapassou a órbita de Plutão em 1990 e seguiu além, sempre enviando foto-grafias e informações importantes relativas à temperatura (cerca de 170ºCnegativos), presença de asteróides e força do vento solar, constituído por partí-culas atômicas (prótons e elétrons) lançadas pelo Sol a velocidades sur-preendentes. Elas são poucas e microscópicas, por isso não chegam a danifi-car a Voyager 1, que a partir do final do século XX se perderá além do SistemaSolar. Outra etapa da conquista do espaço foi estabelecida pelos Estados Unidosao enviar duas sondas rumo a Marte. A primeira delas foi lançada em 1996 emapeou a superfície do planeta, a segunda foi enviada logo depois com umobjetivo mais ambicioso: fez pousar na superfície de Marte um veículorobotizado movido a energia solar que percorreu alguns quilômetros durantecerca de 30 dias, remetendo fotografias coloridas com grande nitidez, ao mes-mo tempo em que recolhia amostras do solo marciano, analisava-as e enviavaos resultados para os observadores que na Terra recebiam, decodificavam ossinais de rádio e assim os transformavam em informações e imagens. Taisforam as principais iniciativas do homem na conquista do espaço com sondasenviadas rumo aos planetas do Sistema Solar. Quanto ao próprio Sol, cabedestacar a cooperação entre Estados Unidos e Japão para estudá-lo sobvários aspectos, vencendo as grandes dificuldades decorrentes do caloremanado desse corpo celeste. A sonda Ulysses partiu em 1990 em direçãoao Sol para colher informações sobre a atividade solar antes de serconsumida pela temperatura crescente. Um satélite fabricado e lançadopor um consórcio americano, inglês e japonês, Yohkoh (raio de sol emjaponês), entrou em órbita terrestre em 1991 para medir a energia solar eos raios X que são emitidos por material aquecido a milhares de graus.Em 1994, Estados Unidos e Japão lançaram a nave Wind para entrar emórbita distante da Terra (varia entre 30 mil e 1,6 milhão de quilômetros)para estudar o vento solar antes que ele alcance o campo magnético donosso planeta. Em 1999, a NASA lançou uma sonda espacial destinada arecolher material da cauda de cometas com o objetivo de analisá-lo e de saber

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Cse ele poderia ter contribuído para o surgimento de vida na Terra. Neste finalde século XX, a NASA norte-americana e a ESA européia (as duas maioresagências espaciais do mundo) associaram-se para lançar um Telescópio Espa-cial de Nova Geração muito mais possante que o telescópio espacial Hubble,que desde 1990 vasculha o Sistema Solar e o Cosmo. Ele será lançado porvolta de 2007. Essa mesma associação planeja utilizar pequenas sondas espa-ciais telescópicas detentoras de calor e de radiações. A Wire terá como missãomedir as emanações de raios infravermelhos de galáxias distantes onde háestrelas nascendo. A nave Fuse captará a luz ultravioleta e a poeira intergalácticapara estudo. O pequeno telescópio espacial Sirtf medirá a distância o caloremitido pela Terra e outros planetas do Sistema Solar, além de avaliar as ema-nações de raios infravermelhos em várias regiões do Cosmo. A sonda espacialde interferometria Sim será colocada em órbita da Terra com potente telescó-pio (entre o Hubble e o Telescópio Espacial de Nova Geração) para tentarlocalizar e estudar pequenas estrelas que os cientistas supõem existir emórbita próxima do Sol. Por fim, o Observatório Estratosférico para RadiaçãoInfravermelha será montado num avião Boeing 747, que voará a 12 mil metrospara que se estude a composição da atmosfera dos planetas e cometas doSistema Solar. Em 1997, a NASA lançou a sonda espacial Cassini, que passoupor Vênus e neste final do século XX se dirige para outros planetas, sempreenviando preciosas informações. Passará por Júpiter em dezembro de 2000 echegará a Saturno em 2004. Deixará cair de pára-quedas no seu satélite Titãum equipamento precursor de estudos, que enviará informações sobre essecorpo celeste que se presume assemelhar-se a uma Terra primitiva gelada. Ocusto dessa aventura espacial será da ordem de US$ 50 bilhões. A linha edito-rial seguida pelo autor neste livro não prescinde de um comentário no finaldeste segmento que procura apresentar, resumidamente, a conquista do espa-ço pela espécie humana. Esse esforço se originou, como foi explicado, doantagonismo entre dois contingentes do homem moderno, entre duas ideolo-gias antagônicas – comunismo e capitalismo –, entre grupos que estiveram àbeira de um terrificante conflito nuclear enquanto durou a chamada guerrafria. Há, então, algumas colocações a fazer. Os países ricos do mundo gasta-ram centenas de bilhões de dólares para enviar naves cujo objetivo foi co-nhecer melhor o Sistema Solar, colocar dois astronautas na Lua, recolherinformações sobre os planetas, observar corpos celestes distantes da nossanebulosa, a Via-Láctea. Esses imensos recursos foram gastos, principalmente,pelos Estados Unidos, União Soviética (hoje Rússia), alguns países da UniãoEuropéia e Japão. Não mais do que uma meia dúzia das 188 nações domundo empenharam-se nessa gigantesca tarefa, cujos frutos até hoje colhi-dos são discutíveis. Soubemos a constituição do solo lunar, determinamos aprovável composição físico-química e as temperaturas de alguns planetas,estudamos as emissões feitas pelo Sol. Não é possível negar os avançoscientíficos e tecnológicos alcançados. Mas não é possível, também, deixar

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Cde questionar a equação de custo e benefício dessa aventura espacial huma-na. Enquanto seis países ricos despenderam bilhões de dólares para explo-rar, com resultados ínfimos, o Sistema Solar, alguns dos demais 182 paísesdo mundo continuaram enfrentando gravíssimos problemas de nutrição,saúde, educação, inexistência de oportunidades de trabalho. Ver Cosmo.

Consumo. Ato de usar energia, matérias-primas, alimentos, produtosmanufaturados, etc.

Há nos países desenvolvidos sociedades de consumo que vêm desper-tando contraditórias reflexões a respeito dos limites do crescimento nestefinal do século XX. Por um lado, é preciso continuamente multiplicar asfontes de rendimento, aumentar as taxas de emprego, investir dinheiro nossetores privados e públicos. Por outro lado, é preciso incentivar cada vezmais a produção e as vendas, que exigem consumo crescente de energia e dematérias-primas. Seria possível alcançar no século XXI, nesses países de-senvolvidos, um ponto de equilíbrio sustentável, social e economicamentejusto? Ver Economia.

Conurbação. Conjunto formado por uma cidade e seus subúrbios ou porcidades vizinhas cujo crescimento as reuniu em uma trama contínua.

No final do século XX, esse fenômeno urbano se acentuou, como conse-qüência do crescimento de cidades próximas. Um exemplo dele pode serobservado em São Paulo, nas cidades próximas de Santo André, São Bernardoe São Caetano, que formam uma das maiores conurbações do mundo, o cha-mado ABC. Os problemas são os mesmos das grandes cidades, onde massashumanas se concentram para dispor de melhores oportunidades de trabalho,de instrução e de lazer, mas gerando demandas cada vez mais difíceis deatender, nos setores de abastecimento de água potável e alimentos, habitação,transportes, remoção de lixo, combate à criminalidade, educação e lazer. Au-menta a poluição do ar, das águas e do solo. A concentração anormal deindivíduos induz à violência, agravada por antagonismos raciais e religiosos,por profundas desigualdades socioeconômicas. No século XXI, essa tendên-cia concentradora e desestabilizadora se acentuará progressivamente, na me-dida em que a zona rural reduza a oferta de empregos como conseqüência damecanização das lavouras. Ver Cidade.

Corrupção. Ato ou efeito de corromper, pagar ou receber dinheiroindevidamente para obter vantagens materiais ou financeiras.

Neste final de século XX, identifica-se uma verdadeira síndrome da per-versão financeira sub-reptícia, principalmente nos países subdesenvolvidoscom legislação inadequada. Essa é uma das causas maiores da dificuldadeem escapar dessa condição socioeconômica adversa. No decorrer do séculoXXI, haverá uma tendência ao aprimoramento das instituições nos âmbitos

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Cdo Legislativo, Executivo e Judiciário. Tal esforço se observa no Brasil nestavéspera do ano 2000. Os governantes buscam realizar reformas básicas quepermitam à nação equilibrar orçamentos, evitar o desvio de verbas parasetores não essenciais, acabar com o nepotismo e os favorecimentos a em-presas e indivíduos, impedir o usufruto em proveito próprio de posiçõescom poder decisório a respeito de contratações, orçamentos e liberação deverbas. Essa depuração dos costumes políticos e administrativos depende-rá, fundamentalmente, no século XXI, do grau de escolarização e discernimentodos que votam e escolhem seus dirigentes. Uma imprensa livre (jornais, rádiose televisões), bem orientada, será essencial para o aperfeiçoamento das es-truturas sociais, políticas e econômicas. O poder econômico e as oligarquiasterão reduzida a sua influência à medida que se aperfeiçoarem as institui-ções democráticas. Ver Cidade.

Cosmo. Universo, massa e energia em permanente transformação noespaço infinito.

No final do século XX, o homem conseguiu colocar em órbita ao redor daTerra o supertelescópio Hubble, que revela imagens surpreendentes do Cos-mo. Em julho de 1969, o homem esteve na Lua e desde então lançou váriassondas espaciais para coletar informações sobre os planetas do Sistema Solare o Sol. Conseguiu identificar planetas em órbita ao redor de estrelas próxi-mas. Supõem os astrônomos que há no Cosmo cerca de 125 bilhões de galá-xias e na Via-Láctea cerca de 200 bilhões de estrelas. Trata-se, evidentemente,de uma ousada especulação. No século XXI, ciência e tecnologia levarão ohomem muito adiante, desde que sua trajetória não seja interrompida por umimprevisto não de todo impossível: colisão de um asteróide, guerra nuclearmundial, epidemia global de um vírus mortífero sem tempo de adoção demedidas sanitárias cabíveis, crise econômica mundial decorrente da impossi-bilidade de administrar uma população excessiva. Se nada disso ocorrer have-rá grandes avanços: uma nave tripulada pousará em Marte, várias expediçõesvoltarão à Lua, haverá um avançado conhecimento do Cosmo e o homemchegará mais perto do entendimento da dimensão infinita. Não serão desco-bertos indícios de vida semelhante à existente na Terra, mas evidências firmestalvez sejam encontradas de que outros seres inteligentes poderão existir. Vidaorganizada como a nossa, à custa basicamente de cadeias átomo-molecularesde carbono, hidrogênio e oxigênio, ou organizada de maneira diferente, combase em associações átomo-moleculares de outros elementos. Sem descartar,até mesmo, formas de vida que constituam singularidades para nosso raciocí-nio limitado. Ver Sistema Solar.

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Demografia..........................................................................................................87Desenvolvimento sustentável.............................................................................87Desertificação.....................................................................................................88Desmatamento.....................................................................................................89Disco voador.......................................................................................................90Distância.............................................................................................................91Drogas...................................................................................................................91

DNo final do século XX, em outubro de 1999,

a população da Terra chegou aos 6 bilhões de indivíduos,número certamente conflitante com o almejado

desenvolvimento sustentável. Todos os problemas têm suasraízes mergulhadas na incapacidade humana de administrar

a incompatibilidade entre consumo crescente de energia ematérias-primas e os recursos naturais disponíveis no mundo.

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DDemografia. Estudo estatístico das populações, no qual se descrevem as

características de uma coletividade, sua natalidade, migrações e mortalidade.A população da Terra será superior a 6 bilhões de seres humanos no ano

2000 e continuará crescendo no decorrer do século XXI. A cada minutonascem 150 pessoas, 9 mil por hora, 216 mil por dia. Nas duas últimasdécadas observou-se uma nítida redução nas taxas de natalidade média mun-dial, o que atenuou as previsões catastróficas de Malthus e do Clube deRoma, que anteviam o caos porque o crescimento demográfico se faria deacordo com os termos de uma progressão geométrica, ao passo que a pro-dução de alimentos aumentaria de acordo com uma progressão aritmética.Ciência e tecnologia, no entanto, contribuem para que a equação demográficado mundo se altere. A medicina tem assegurado o aumento da média devida das pessoas, que por mais tempo consumirão alimentos, matérias-primas, energia e recursos da previdência social. Por outro lado, os avançosda agricultura mecanizada, a produção de plantas transgênicas, a clonagemde animais abrem perspectivas promissoras quanto ao aumento da produçãode alimentos, a despeito das restrições feitas à manipulação genética. Se aciência e a tecnologia conseguiram tantos avanços, certamente descobrirãomeios de evitar eventuais malefícios. No século XXI, haverá a possibilidadede controlar a natalidade por meio de métodos eficientes e fáceis, talvezaceitos pela Igreja. O planejamento familiar estará ao alcance de todos,inclusive de populações que, neste final de século XX, apresentam altos eindesejáveis índices de crescimento, os quais inviabilizam a oferta de boascondições de vida, sobrecarregam os orçamentos públicos, incentivam amarginalidade e a violência. Alguns estudos apontam para uma provávelestabilização da população mundial por volta do ano 2010, quando a Terrateria cerca de 12 bilhões de habitantes. Essa previsão, no entanto, signifi-cará muito pouco para uma situação de equilíbrio socioeconômico e dejustiça social na Terra se, no decorrer do século XXI, os governos das 188nações do mundo (principalmente os dos países ricos, que formam ochamado Grupo dos 7) não se dispuserem a contribuir decisivamente, soba coordenação da ONU, para reduzir a pobreza absoluta que penalizaa maioria dos povos nesta véspera do ano 2000. Com base – repetimos –no condicionante primordial: o controle da natalidade nos países subde-senvolvidos. Ver População .

Desenvolvimento sustentável. Ato ou efeito de desenvolver-se, adian-tamento, crescimento sem comprometer a natureza.

Trata-se da oportunidade que resta à espécie humana de prolongar (nãoeternizar) a sua existência na Terra. Neste final do século XX são muitos osesforços empreendidos para que o desenvolvimento seja alcançado pela ge-ração atual, mas de tal forma que não sejam comprometidas as condições

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Dde vida das gerações futuras. Antes de tudo, será preciso legar aos queviverem amanhã um meio ambiente não poluído e processos de reciclagem demateriais que poupem energia e matérias-primas. A Organização das Na-ções Unidas está atenta ao problema e promulgará no início do século XXI aAgenda 21, um protocolo com conotação semelhante à da Declaração dosDireitos Humanos, que procurará disciplinar a sociedade dos homens de talforma a assegurar o desenvolvimento sustentável. A Federação das Indústriasdo Estado de São Paulo, FIESP, por intermédio do seu Departamento deMeio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, está em condições deoferecer aos empresários orientação adequada para que suas indústriasalcancem o desenvolvimento sustentável. Ver Agenda 21 .

Desertificação. Uma área ou região transforma-se em deserto pela açãode fatores naturais ou pela interferência do homem.

Muitas regiões da Terra foram na antiguidade recobertas de densas flo-restas e hoje não passam de inóspitos desertos. Uma delas, mais conhecida,é o deserto do Saara. Tudo indica que nesse caso a desertificação ocorreucomo conseqüência de mudanças climáticas decorrentes de causas aindanão bem definidas, que poderiam estar ligadas a variações na atividade doSol, a mudanças na inclinação do eixo da Terra e à ocorrência de períodosglaciais. Tais fenômenos teriam provocado alterações extremas no clima,no decorrer de épocas remotas. Vale a pena assinalar que a configuraçãodo relevo, da cobertura vegetal, do nível dos mares, das redes hidrográficas,enfim, a fisionomia do mundo variou muito no transcorrer dos longosperíodos que nos separam do passado mais distante. Florestas viraramdesertos e vice-versa, regiões continentais foram cobertas pelas águasdo mar, grandes cordilheiras surgiram onde se estendiam planícies,cadeias de montanhas cederam lugar a descampados, calotas de geloavançaram e recuaram muitas vezes. Grandes pressões das placastectônicas provocaram brutais mudanças no relevo. Nossa vida médiade 70 anos, a insignificância da Era Industrial de 200 anos, os irrisórios100 mil anos que nos separam do aparecimento do Homo sapiens não nospermitem vislumbrar a real perspectiva do tempo maior que, para diantee para trás, projeta-se para o infinito. Por essa razão, a fácies da Terra,tantas vezes mudada, foge à nossa compreensão, inclusive no que serefere às desertificações. Trata-se de processos dinâmicos. Neste finaldo século XX e em todo o transcorrer do século XXI, esses fenômenosocorreram e ocorrerão sem que nos seja possível percebê-los com niti-dez porque seu andamento temporal escapa dos padrões médios da vidahumana. Mas a ação do homem é cada vez mais evidente. O deserto daCalifórnia, irrigado, produz muitos alimentos e proporciona aos agricul-tores uma renda de centenas de milhões de dólares por ano. Os desertos

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Dirrigados da Síria produzem trigo para consumo interno e para exportar.O mesmo poderia ser feito extensivamente no Nordeste brasileiro, se nessaregião prevalecessem a integridade e a competência nas instituições públi-cas e privadas. As águas do Rio São Francisco, dos numerosos reservatóriose açudes, não são adequadamente aproveitadas. Criaram-se incentivos fis-cais para a industrialização, mas lamentavelmente esses mesmos estímulosfinanceiros não foram oferecidos aos que expandissem reflorestamentos comespécies vegetais extremamente úteis e resistentes às secas, como o algaroboe as cactáceas geneticamente modificadas para aumentar o seu valor nutriti-vo. Ciência e tecnologia são sistematicamente descartadas para combater osefeitos das secas, enquanto prevalecem a politicagem, os favorecimentos, asirregularidades na aplicação do dinheiro público. Vale a pena descer mais afundo no que ocorre no Nordeste do Brasil, começando pela redefinição dapalavra deserto, que está sempre ligada à ocupação demográfica. Sob esseprisma, o Nordeste brasileiro – em particular o agreste e o sertão, com acobertura vegetal denominada caatinga – é uma região mais desértica doque o Saara. Vejamos. Neste não há moradores e a inclemência ambientalnão chega a comprometer a vida. No Nordeste brasileiro, teimosamenteocupado por refugiados do destino, periodicamente as condições climáticascomprometem a vida. Então, sob essa visão socioeconômica ambiental, aregião periodicamente castigada pelas secas do Nordeste brasileira é maisdesértica do que o Saara, habitado somente nos seus oásis. A presença e aação predadora do homem interferem cada vez mais nos ecossistemas daTerra. Como vimos, elas transformaram o Nordeste brasileiro num dos maisinóspitos desertos do mundo. O mesmo está acontecendo na Amazônia,ameaçada pelas devastações das matas e pelos incêndios periódicos. Essaregião não passa, a rigor, de uma imensa planície sedimentar com solospobres sobre os quais se depositou o húmus resultante da matéria orgânicaproveniente de folhas e troncos acumulados no decorrer de milênios. Essevolume de nutrientes mais a chuva copiosa que a atualidade climática fazcair na região sustentam a exuberante floresta. Sem esta, sem a renovaçãopermanente da cobertura viva, com os desmatamentos e as queimadas este-rilizando a terra, a Floresta Amazônica poderá desaparecer no rescaldo dadesertificação. Em proporções menores podem ser identificados processosde desertificação, mais rápidos, em áreas degradadas de outros Estados doBrasil, particularmente no Rio Grande do Sul. Os solos também morrem. Eo homem pode matá-los cultivando-os desastradamente. Ver Agricultura.

Desmatamento. Desflorestar, derrubar a floresta, cortar as árvores.No passado, grandes civilizações formaram-se em regiões férteis, com

água potável abundante, próximas do mar, junto de grandes florestas, asquais forneceram madeira para construir casas e embarcações, fabricar

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Dutensílios, acender fogo para aquecer e cozinhar. Mas essas florestas foramcortadas sem critério conservacionista algum, extinguindo-se com elas as ci-vilizações que delas dependiam para sobreviver. Neste final do século XX, ascivilizações não dependem tanto de florestas próximas, mas elas são essen-ciais para o equilíbrio de todos os ciclos de vida na Terra, pois interferem noregime de chuvas, na vazão e assoreamento dos rios, na absorção do dióxidode carbono da atmosfera, além de representar um importante componente daeconomia por fornecer madeiras nobres usadas para a fabricação de casas,instrumentos e guarnições. Os reflorestamentos propiciam matéria-primapara as fábricas de papel e celulose. Os desmatamentos de florestas nativasintensificaram-se neste final do século XX e prosseguirão no século XXI,para utilizar a madeira de árvores que levaram cerca de 50 anos para setornarem adultas e úteis, bem como para formar pastagens e estabelecerlavouras. Uma população superior a 6 bilhões de pessoas está na base dessaação predadora, que não seria tão nociva se fosse assegurado o correto manejodas florestas naturais, de tal forma a garantir o plantio e a conservação demudas das espécies derrubadas. Mas as madeireiras não agem de acordocom essa norma conservacionista, nem há leis, fiscalização e penalidadesque possam tornar compulsório o bom procedimento. As derrubadas pros-seguem. Madeireiras asiáticas devastaram as florestas das grande ilhas doOriente, Indonésia, Java e Bornéu. Transferiram-se depois para a Amazôniae passaram a derrubar clandestinamente árvores de grande valor comercial,associadas a madeireiras nacionais ou a chefes indígenas incultos einexperientes, que expõem as reservas de suas tribos ao saque. Em todo omundo, nesta véspera do ano 2000, devasta-se em média, por dia, área deflorestas naturais equivalente a milhares de hectares. Ver Amazônia.

Disco voador. Objeto discóide observado por alguns a mover-se emaltíssima velocidade pela atmosfera terrestre, cuja origem não foi identificada,conjecturando-se que seja fenômeno meteorológico, ou ilusão de óptica, ouengenho de guerra, ou aeronave extraterrestre.

Também conhecido como Objeto Voador Não Identificado, óvni. Du-rante a segunda metade do século XX, multiplicaram-se os relatos de pes-soas que afirmaram ter visto nos céus, em todo o mundo, objetos lumino-sos que se imobilizam ou se deslocam em grande velocidade. Ciência etecnologia não explicam essas aparições, mas alguns cientistas chegam aadmitir que nos 125 bilhões de galáxias que eles supõem existir no Cosmohá grande probabilidade de se encontrar outras formas de vida, talvezcivilizações mais adiantadas que tenham desenvolvido sondas espaciaiscapazes de observar outros mundos, inclusive o nosso. Durante o séculoXXI, tendo como ponto de partida o telescópio espacial Hubble e sofis-ticados equipamentos de radioescuta, a sociedade humana fará intensa

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Dpesquisa no Cosmo e talvez descubra indícios de vida em outros planetasda nossa galáxia, certamente diferentes da vida na Terra. Ou talvez a nossaespécie venha a desaparecer sem que antes tenha descoberto indícios de vidaextraterrestre. Ver Vida extraterrestre.

Distância. Espaço entre duas coisas ou pessoas, intervalo de tempoentre dois momentos.

A medida de distâncias no Cosmo é o ano-luz, que é a distância percorridapela luz em um ano, à velocidade que lhe é própria de 300 mil quilômetros porsegundo. Um ano-luz corresponde a 9,5 trilhões de quilômetros. Essa medidaé mais uma evidência da insignificância e da transitoriedade da espécie humana,que nos propomos ressaltar nas páginas deste livro. A estrela mais próxima denós, o Sol, dista da Terra somente 8,5 minutos-luz, isto é, a luz solar demora8,5 minutos para chegar até nós. A estrela mais próxima do Sistema Solar, aAlfa Centauro, está a uma distância de 4,5 anos-luz. A Via-Láctea é a galáxiaonde se encontra o nosso Sistema Solar, que fica a 30 mil anos-luz do seucentro, em torno do qual giram todos os corpos celestes que dela fazem parte,a uma velocidade de 322 quilômetros por segundo. Somos finitos, como indi-víduo, como civilização e como espécie. Incapazes, portanto, de admitir ma-téria e energia infinitas. Ver Cosmo.

Drogas. Substâncias químicas sintéticas ou de origem vegetal que agu-çam os sentidos e provocam nas pessoas sensações anormais, algumas delascausando dependência.

O tráfico e o consumo de drogas constituem, neste final do século XX,um dos mais graves problemas enfrentados pela humanidade, principalmenteem alguns países com elevado poder aquisitivo. Calculam alguns especialistasque somente o tráfico de cocaína movimenta no mundo, anualmente, cercade US$ 1,5 trilhão. Juntamente com o cigarro, o álcool, o ópio, a morfina eo crack, mais as substâncias que provocam euforia e alucinações, a cocaínaacarreta despesas de muitos bilhões de dólares aos governos de muitospaíses, para combater o narcotráfico e tratar dos dependentes. As estatísticassão alarmantes. Neste final de século XX, ocorrem graves tensões inter-nacionais provocadas pelo tráfico de cocaína entre países que se sentemameaçados pelo aumento do consumo de drogas pelos seus cidadãos epaíses que não conseguem impedir a produção e a exportação em largaescala desses produtos que causam dependência. Há até mesmo o risco deintervenções armadas. Tudo leva a crer, porém, que no século XXI a ciên-cia desenvolverá medicamentos que atuarão no sistema nervoso centralde maneira a bloquear as sensações que provocam a dependência, evitan-do assim os vícios provocados por essas drogas. O problema será atenua-do, ou mesmo resolvido, nesse rumo. Nas vésperas do ano 2000 foi anun-ciada a descoberta, por cientistas franceses, de uma substância chamada

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DBP 897, que age sobre um receptor do cérebro, reduz o desejo de consumircocaína e poderia evitar que ex-viciados em drogas tenham recaídas. Oproduto funciona como a dopamina, substância associada ao prazer e àdependência em relação a drogas. A cocaína aumenta a quantidade dedopamina no cérebro e o BP 897 age como estimulante na ausência dadroga, para ajudar a cortar as crises decorrentes da abstinência. Ao mes-mo tempo que os cientistas desvendam essa possibilidade farmacológica,no entanto, há opiniões favoráveis a ações mais drásticas, que contrariariama moral e a ética, sob a justificativa de que traficantes e usuários já se ante-ciparam na contravenção à moral e à ética. Algumas propostas chegam asugerir que a sociedade humana, numa ação extrema de autopreservação,incentive a descoberta, fabricação e distribuição de um isômero da cocaí-na, idêntico a ela, dificilmente identificável sem minuciosa análise, masletal ao ser humano, para que a decisão de usar essa droga correspondasempre a uma dúvida crucial: gozar ou morrer. Ver População.

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Ecologia.............................................................................................................94Economia.............................................................................................................94Efeito estufa........................................................................................................96Emprego.............................................................................................................97Energia................................................................................................................98Epidemia.............................................................................................................99Era......................................................................................................................100Erosão................................................................................................................101Espaço................................................................................................................101Espécie..............................................................................................................102

EAinda no século XXI, o homem conseguirá produzir energia

farta e barata graças à fusão nuclear controlada,transformando hidrogênio em hélio como

ocorre continuamente no Sol.Para chegar a esse estágio, no entanto, enfrentará cerrada

oposição dos grandes interesses econômicos relacionados coma extração, o refino e a venda do petróleo e de seus derivados.

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EEcologia. Parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o

meio em que vivem, bem como suas recíprocas influências.Essa importante palavra (eco = casa, logia = estudo), que expressa a es-

sência da vida na Terra, foi criada em 1860 pelo cientista alemão Ernst Haeckel.Nessa época, início da Era Industrial (1800 a 2000), pouca importância eraatribuída à interdependência entre os seres vivos e o meio ambiente onde elesse encontram. Mas aos poucos os cientistas começaram a perceber que asobrevivência de todas as espécies, inclusive a nossa, depende da relação queelas mantêm com o ecossistema onde habitam. A compreensão desse relacio-namento fundamental é que acabou por levar a Organização das Nações Unidasa patrocinar as conferências Estocolmo-1972 e Rio de Janeiro-1992, nas quaisrepresentantes da grande maioria das nações do mundo debateram as açõeslesivas provocadas no ecossistema da Terra pela sua população já superior a 6bilhões de habitantes. Ver População.

Economia. A arte de bem administrar a coisa particular ou pública. Ciên-cia que trata dos fenômenos relativos à produção, distribuição, acumulação econsumo dos bens materiais da Terra.

Trata-se de um importante condicionador da vida vegetal e animal. Ele sealtera continuamente ao sabor de variáveis as mais diversas, entre elas, funda-mentalmente, o número de indivíduos que habitam o ecossistema e conso-mem seus estoques de matérias-primas e de alimentos. Neste final de séculoXX, a economia da sociedade humana apresenta nítidos sintomas de deterio-ração. Este não é um compêndio de economia, o autor não é um especialistaem assuntos econômicos, e nada mais deseja além de emitir uma opiniãopessoal. As causas desse transtorno são diversas, basicamente o impacto con-sumidor de mais de 6 bilhões de pessoas, o predomínio de umas sociedadessobre outras, as diferenças muito grandes entre os níveis de bem-estar decontingentes ricos e pobres, o acesso limitado à instrução em muitas naçõesdo mundo, a falta de oportunidades da grande maioria de seres humanos decontar com padrões mínimos de alimentação e saúde, os antagonismosinsanáveis de ordem política e religiosa, a divisão da sociedade humana em188 nações com interesses conflitantes quanto à prática do desenvolvimentosustentável. Este representa a única oportunidade que nos resta de preservara espécie humana no século XXI e talvez durante alguns séculos subseqüen-tes. A tentativa mais recente de bem conduzir a economia mundial fundamen-ta-se na chamada globalização, que submete o comércio e a indústria interna-cionais a regras muito permissivas do liberalismo econômico. Alguns gover-nos aceitaram essa postura extremamente livre de produzir e de vender nopaís e no mundo. Outros dirigentes permanecem apegados a sistemas polí-ticos e econômicos tradicionais. A partir de 1997 ocorreram graves distúr-bios em economias asiáticas, bem como nas economias mexicana, russa e

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Ebrasileira. Uma grande crise mundial já ocorreu na megarrecessão de 1929.Outras crises marcaram as economias de vários países do mundo desdeentão, nos últimos 70 anos desta Era Industrial (1800 a 2000). Mas, nestefinal do século XX, estamos diante de um panorama insólito: de um ladouma situação econômica e financeira excelente nos Estados Unidos, ondetêm raízes 80% dos capitais voláteis (megainvestidores e fundos de pensão)que orbitam a Terra em busca de economias seguras e altamente remunera-doras para nelas pousar e obter lucros altos; de outro, o esboroamento eco-nômico-financeiro em vários países, como Japão, Indonésia, México, Rússiae Brasil. Nestes, os capitais especulativos penetraram, aclamados pelos queviam na sua chegada os melhores presságios de desenvolvimento econômico.Mas os capitais voláteis desses países de repente esvaíram-se aos menoresindícios de instabilidade e ameaça ao seu objetivo único de obter remu-neração alta e segura. Foi assim em todas as nações que não estipularamnormas de permanência mínima e de efetiva contribuição para o desenvol-vimento do país, em troca de elevadas taxas de juros. Talvez não caiba cen-sura a essa volatilidade, mas sim aos países cujas estruturas econômico-financeiro-administrativas estão repletas de falhas de natureza fiscal, orça-mentária e sobretudo moral. No caso do Brasil, ocorrem neste final do sé-culo XX os favoritismos, as discrepâncias salariais absurdas (R$ 136,00 é osalário mínimo, R$ 20 mil, R$ 30 mil, R$ 40 mil são os ganhos de algunsprivilegiados, R$ 14 mil é o teto salarial pretendido), as concessões ilícitaspara obter dinheiro fácil nos estabelecimentos oficiais de crédito, os deslizesnas aplicações das verbas públicas, enfim, a falência moral, política e admi-nistrativa. A raiz dos desatinos está contida neste preceito sistematicamenteignorado: governo pagar e povo pagar são expressões sinônimas, ligadaspelo vínculo nem sempre perceptível dos impostos cobrados da população.Tudo isso assusta e convida a uma reflexão, que acaba por justificar o temordos investidores internacionais que aqui vieram ter, obedientes às nossasleis, mas também desejosos de alcançar renda maior e segura. Pagamos opreço dos nossos desmazelos legislativos, executivos e judiciários, bem comoda nossa improbidade. No século XXI, possivelmente, se alcance uma novaarquitetura econômica e financeira mundial, com um Banco Central Mun-dial gestor da economia das nações que aderirem livremente a um sistemaglobal de fiscalização permanente. Haverá em cada nação um Banco Cen-tral Nacional independente do respectivo governo, estreitamente vinculadoa esse Banco Central Mundial, no qual decisões maiores serão tomadas detal forma a garantir, por um lado, remuneração justa e segura aos grandesinvestidores internacionais, por outro a correta aplicação dos investimentosem benefício do desenvolvimento econômico e social das nações onde elesforem feitos. Haverá um Fundo Monetário Internacional efetivamentesupranacional, poderoso, com autoridade para condicionar todas as ajudas

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Emútuas que existirão no século XXI à adoção de diretrizes econômico-financeiro-administrativas sadias pelos governos que livremente aderirema essa controladoria globalizada. Serão 188 economias, correspondentesaos 188 países do mundo, supervisionadas por uma entidade supranacional,talvez vinculada à Organização das Nações Unidas, com objetivos os maisamplos, mas fundamentados em algumas premissas básicas quecondicionem uma sobrevivência humana digna: desenvolvimento susten-tável, crescimento demográfico controlado, garantia de níveis mínimos desegurança e bem-estar. Ver Globalização.

Efeito estufa. Aquecimento anormal da atmosfera que pode estar provo-cando alterações no clima da Terra.

Nas últimas décadas do século XX, os cientistas têm observado que atemperatura média no mundo está apresentando ligeiras e progressivas eleva-ções, que somaram cerca de 1ºC no decorrer dos últimos 100 anos. O ano de1998 foi o mais quente do século. Ao mesmo tempo, observam-se mudançasacentuadas no clima da Terra. Chuvas torrenciais e inundações. Secas prolon-gadas com grandes prejuízos nas lavouras, incêndios nas matas e desertificações.Invernos muito frios e verões abrasadores. Furacões de grande intensidade.Derretimento dos gelos polares. Neste final de século XX, há opiniões discor-dantes. Alguns cientistas atribuem o aquecimento da Terra às variações detemperatura decorrentes de causas exógenas à Terra, como as periódicas va-riações observadas na atividade solar. Ou talvez variações na inclinação doeixo da Terra. Alternar-se-iam os períodos glaciais e interglaciais. No final deum destes últimos estaríamos, neste século XX, ainda no ramo ascendente dacurva representativa do aquecimento correspondente ao “nosso” períodointerglacial, chamado holoceno. Outros cientistas atribuem o aquecimento daTerra ao que chamam de efeito estufa, provocado pelo homem nesta EraIndustrial. O metano resultante da decomposição de matéria orgânica, bemcomo os gases resultantes da queima de combustíveis fósseis (carvão, petró-leo e gás natural), nas indústrias, termelétricas e veículos, principalmente odióxido de carbono, acumulam-se ao redor da Terra e formam uma camadaque impede a dissipação no espaço de parte do calor do sol refletido na super-fície terrestre. Ocorre, então, o aquecimento anormal da atmosfera. No de-correr do século XXI, a humanidade procurará, a duras penas econômicas epolíticas, impedir que aumentem as emissões de compostos de carbono. Ha-verá conflitos entre os grandes interesses ligados à extração, ao refino e àvenda de derivados do petróleo e os defensores do meio ambiente e do usodas fontes de energia alternativa limpa, que a ciência e a tecnologia já estãocolocando à disposição da humanidade neste final do século XX. Entre elas oálcool, a biomassa, as células fotovoltaicas e até mesmo, mais adiante, a fusãonuclear controlada. Ver Energia.

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EEmprego. Ato de empregar, local onde se exerce regularmente uma

tarefa, cargo, função.Já se esboçam, neste final do século XX, as profundas modificações nas

relações entre empregador e empregado que ocorrerão no decorrer do séculoXXI. Haverá o aumento da vida média dos cidadãos, um número crescen-te de jovens alcançará diariamente a idade de 18 anos sem preparo nemoportunidades para exercer uma profissão, as políticas empresariais esta-rão voltadas para reduções de custos, admitindo menor número de em-pregados, substituindo homens por robôs, simplificando, mecanizando einformatizando os processos de produção. Grandes empresas atuarão cadavez mais lançando mão da terceirização de serviços. Linhas de montagensnão passarão de linhas de controle de qualidade, ao longo das quais haverápontos de entrada de parcelas prontas do produto final, para que estoquese mão-de-obra fiquem sob responsabilidade de fornecedores terceirizados.Haverá cada vez menos vínculos empregatícios e os salários, flutuantes,dependerão cada vez mais da produção, das vendas e da lucratividade.Haverá permanente negociação de salários e benefícios entre o capital e otrabalho, que finalmente entenderão que pressões e disputas são contra-producentes, já que no moderno capitalismo eles não são forças antagôni-cas, mas convergentes. Sucumbirão as empresas que não conseguiremadequar o seu número de funcionários às flutuações do mercado e dosseus faturamentos. As legislações trabalhistas serão mudadas para atendera esse novo relacionamento entre capital e trabalho. Os índices de desem-prego se elevarão e a tradicional semana de seis dias de trabalho assegura-do será substituída pela semana de cinco dias, ou quatro dias, ou três dias.Com a obrigação estipulada por lei de prestar serviços comunitários gratui-tos – ensinar, policiar, cuidar de crianças e idosos, dirigir o trânsito, etc. –para em troca adquirir o direito de trabalhar esses três, quatro ou cincodias por semana. A insegurança e o desconforto na maioria das grandescidades deterioradas do Terceiro Mundo chegarão a tais extremos queempresários e seus empregados se empenharão para que os centros deprodução se transfiram para as proximidades de pequenas cidades do in-terior. A conurbação já mencionada do ABC paulista está se desfazendo,as indústrias não aceitam mais a concentração excessiva de atividades, osoperários reconhecem que seu nível de vida poderia ser mais elevado semos problemas decorrentes desse adensamento demográfico. As pessoassão se conformarão com o que as administrações públicas se vêem nacontingência de cobrar para manter os serviços essenciais e com os des-gastes que sofrem para exercer uma atividade profissional. Elas terãosucumbido aos tributos excessivos, às dificuldades de moradia e de trânsito,às cobranças crescentes e descabidas de impostos e taxas, à violência eà disputa rude de oportunidades e posições. Muitas tarefas passarão aser realizadas no lar, à custa dos avanços da informática e da pequena

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Emecanização. Ocorrerá quase que um retorno à antiga atividade artesanalcaseira, mas sofisticada a ponto de uma família ou um pequeno grupo depessoas realizarem, em casa, peças ou mesmo componentes de produtosfinais como veículos, eletrodomésticos, equipamentos de informática, etc.O capital internacional sairá pelo mundo à cata de mão-de-obra eficientee barata. Nos países ricos e desenvolvidos permanecerão concentrados oscentros de decisão e a essencialidade científica e tecnológica informatizada.Ver Cidade .

Energia. Propriedade de um sistema que lhe permite realizar trabalho.Calorífica, cinética, elétrica, eletromagnética, mecânica, potencial, química,radiante, todas elas transformáveis umas nas outras.

Energia e massa são os elementos fundamentais do Cosmo, transforman-do-se uma em outra, sem acréscimos e sem perdas, de acordo com a equaçãofundamental de Albert Einstein E = M x V², onde energia é igual à massamultiplicada pela velocidade da luz ao quadrado. O essencial para o homem,o ponto de partida, é a energia solar. Um acaso físico-químico-biológico, ouuma Decisão Superior, deu origem à fotossíntese. Essa reação fundamentalpermitiu que a energia do Sol gerasse vida e que ela se armazenasse em teci-dos lenhosos e em microrganismos animais e vegetais. Ocorreram grandesdobramentos na superfície da Terra e o conseqüente sepultamento dessesdepositários da energia solar. Sob grandes pressões, sem contato com a at-mosfera de então, submetido a elevadas temperaturas, o depósito lenhosotransformou-se em carvão e o depósito constituído de microrganismos trans-formou-se em petróleo. E assim a energia do Sol foi armazenada na Terra,potencialmente retida nos combustíveis fósseis durante os 50 milhões de anosdo período carbonífero, que transcorreu há cerca de 250 milhões de anos.Energia que o homem vem usando desbragadamente no decorrer dos irrisó-rios 200 anos da Era Industrial, para aquecer água e obter pressão em caldei-ras, transformando-a depois em energia mecânica para movimentar hélices deembarcações e rodas de locomotivas a vapor. Mais recentemente, ele passou ausar energia do Sol acumulada no petróleo para mover geradores nas usinastermelétricas e pistões nos motores a explosão. A energia do Sol, sob a formade raios ultravioleta, influiu também na configuração genética de todos osseres vivos, inclusive dos nossos antepassados, até surgir o homem moderno.Somos filhos do Sol. Até a energia hidrelétrica provém de uma interferênciasolar, na evaporação da água, na formação das chuvas e dos rios, que se lan-çam nos desníveis onde o homem instalou geradores de eletricidade. Em se-guida, o homem provocou uma reação nuclear rústica, a fissão de átomos deurânio, procurando assim imitar o Sol para produzir calor, aquecer água, mo-vimentar turbinas e gerar eletricidade nas usinas termonucleares. É o estágioem que nos encontramos neste final do século XX: energia do Sol liberadados combustíveis fósseis, energia do Sol aproveitada no ciclo da água que se

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Edesloca e cai, energia do Sol obtida em uma imitação primária do que neleocorre. Para finalmente chegarmos à completa integração com o Sol, ainda noséculo XXI, ao controlarmos a fusão nuclear, para usufruir a energia abun-dante e barata que resulta da transformação contínua de átomos de hidrogê-nio em átomos de hélio. Isso poderá ocorrer nas últimas décadas do séculoXXI, quando a matriz energética do mundo será bem diferente daquelaalcançada pelo homem neste final de século XX, que é a seguinte: energiapoluente produzida à custa da queima de combustíveis fósseis extraídos dejazidas exauríveis, 60%; energia poluente produzida à custa do calor geradopela fissão de átomos de urânio, 20%; energia não poluente produzida emusinas hidrelétricas, 15%; energia de outras fontes, 5%. Trata-se, portanto, deuma matriz energética de alto risco. Quase toda energia é obtida à custa deprodutos extraídos de jazidas exauríveis, provoca emissão de gases que po-luem a atmosfera e gera subprodutos radioativos de longa vida letal, como oplutônio. Quanto ao Brasil, neste final de século XX, sua matriz energéticaé privilegiada. Vejamos: energia não poluente de origem hídrica, 91%; ener-gia poluente obtida à custa da queima de combustíveis fósseis, 7%; energiapoluente obtida à custa do calor gerado pela fissão de átomos de urânio,1%; outras fontes de energia, 1%. Vale a pena destacar a capacidade degerar energia limpa utilizando a biomassa (bagaço) da cana-de-açúcar comocombustível em termelétricas. O potencial energético contido nessa biomassaestaria situado entre 6 e 10 mil megawatt. Ao avaliar o álcool como opçãopara o problema energético que se agravará no século XXI, é preciso aindaconsiderar o benefício ecológico decorrente da ampla fotossíntese que ocorrenos canaviais, que absorvem continuamente o dióxido de carbono daatmosfera, contribuindo assim para que não se agrave o efeito estufa provo-cado pela queima de combustíveis fósseis. Finalizando, convém ressaltar,diante dos investidores de todo o mundo, as vantagens que o Brasil lhesoferece no decorrer do século XXI: 100 mil megawatt de potencial hidrelé-trico ainda por aproveitar, a maior reserva de água potável do Planeta, gran-des extensões de terras férteis para produzir alimentos e combustívelrenovável não poluente. Ver Economia.

Epidemia. Doença que surge repentinamente num lugar e acomete aomesmo tempo numerosas pessoas.

A concentração de pessoas nos grandes centros urbanos, neste final doséculo XX e no transcorrer do século XXI, facilita a propagação de moléstiasepidêmicas como a gripe, além de outras doenças como a aids e estados pato-lógicos como o estresse e as cardiopatias. A grande capacidade de mutação dovírus da gripe dificulta a produção de vacinas específicas para combatê-lo,antes que provoque a morte de muitas pessoas. A chamada Gripe Espanholamatou 20 milhões de seres humanos em 1918, mais do que todas as guerrasjuntas deste século. No Brasil foram 300 mil as vítimas fatais, entre elas o

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Epresidente da República Rodrigues Alves. Em 1958, um vírus diferenciado degripe provocou a Gripe Asiática, assim chamada porque surgiu na China e delá se alastrou para a Europa e América. Em 1967, uma outra configuraçãogenética do mesmo vírus provocou a Gripe de Hong Kong. Segundo médicosinfectologistas, o aparecimento desses vírus ocorre onde há concentrações deseres humanos e animais. Nestes ocorreriam as mutações genéticas e os vírusmodificados infectariam pessoas. A Organização Mundial da Saúde e várioscentros de pesquisas e prevenção existentes no mundo estão atentos à pos-sibilidade de vir a ocorrer uma nova epidemia de gripe. O Centro de Con-trole e Prevenção de Doenças, em Atlanta, Estados Unidos, coordena avigilância epidemiológica dessa grave infecção viral, em conjunto com orga-nizações científicas da Inglaterra, França e Japão. No Brasil, a tarefa é de-sempenhada pelos Institutos Adolfo Lutz (São Paulo), Oswaldo Cruz (Riode Janeiro) e Evandro Chagas (Belém). Os esforços concentram-se na rápi-da identificação do vírus e na produção e distribuição de vacinas específicasque permitam imunizar a população. A epidemia de gripe continua sendouma ameaça, como outras doenças mortíferas como o hantavírus, o ebola eo HIV causador da aids. Cepas diferenciadas de vírus conhecidos, bem comovírus ainda não identificados porque seus nichos continuam intocados, se-rão uma ameaça à humanidade durante todo o século XXI. Mudanças cli-máticas, alterações ecológicas, promiscuidades, estados crônicos de desnu-trição, usos abusivos e inadequados de antibióticos têm provocado o apare-cimento de doenças infecciosas novas ou a reemergência de outras que já sesupunham controladas. Ver Saúde.

Era. Ponto determinado no tempo, que se toma por base para a contagemdos anos. Período, geralmente longo, que principia com um fato marcante oudá origem a nova ordem de coisas. Eras geológicas, períodos geológicos.

Ao escrever este livro tivemos como um dos nosso objetivos desmistificara chegada do ano 2000 e a passagem do século XX para o século XXI da EraCristã. A Terra é vasta, o tempo é longo no sentido do infinito passado e doinfinito futuro. A nossa insignificante Era Industrial de 200 anos é um seg-mento desprezível na história do mundo, a não ser se considerarmos quedurante ela o homem sofregamente desenterra e devolve para a atmosfera ocarbono que clorofila e fotossíntese acumularam à custa da energia do Sol, nodecorrer do período carbonífero (50 milhões de anos) da era paleológica. Aidade que a ciência atribuiu às eras geológicas nos faz sentir a nossa verdadei-ra dimensão: a era arqueozóica transcorreu há 2 bilhões de anos, quando aTerra era algo assim como um caldeirão fervente, atmosfera densa de gasesde carbono, vulcões em permanente erupção, impactos e mais impactos demeteoros. Desde a era arqueozóica ocorreram 20 milhões de passagens deséculo. Dela nos separa um período de tempo equivalente a 1 milhão de vezesa Era Cristã e a 10 milhões de vezes a Era Industrial. Ver Período.

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EErosão. Uma das modalidades de ação da natureza, desgaste da superfície

da Terra que ocorre sob ação das águas, dos ventos e dos gelos.Os agentes naturais sempre esculpiram a superfície da Terra. O vento, a

água das chuvas, o gelo deixam suas marcas. É o que sabemos neste final deséculo XX. Mas nos últimos séculos surgiram agravantes desses processosfísicos naturais, como a derrubada das florestas, o mau uso do solo paraplantar e colher, a exposição às chuvas de grandes extensões de terrenosrevolvidos por máquinas. Tudo isso vem provocando o deslocamento desolo para as baixadas e para os rios, lagos e mares. Há, como conseqüência,grandes alterações no meio ambiente, antes de tudo assoreamentos que com-prometem as atividades do homem, como a navegação, bem como o livredeslocamento de cardumes de peixes na época da desova. Importantesnascedouros naturais, como os mangues, desaparecem sob a areia que nelesse deposita ou sob a terra trazida pelas chuvas de solos recentemente ara-dos, sem o cuidado de acompanhar as curvas de nível. Essa prática danosaprosseguirá durante o século XXI, agravando muito o assoreamento doscursos d’água e dos mares. Ver Agricultura.

Espaço. Extensão onde se encontram o Sistema Solar, as galáxias, a maté-ria escura, enfim, o Universo infinito.

Há o espaço que podemos ver a olho nu, o espaço visível pelos telescópiossituados no alto de grandes montanhas e, neste final de século XX, o espaçoque nos mostra o telescópio espacial Hubble. Ele nos desvenda estrelas egaláxias cada vez mais distantes, para que possamos entender a natureza deoutros mundos. Com radiotelescópios e sensores de calor e outras emissões,o homem perscruta o espaço na esperança de captar sinais que lhe revelemocorrências cósmicas significativas, radiações longínquas emitidas no iníciodos tempos, quando se iniciou a expansão desencadeada pelo Big Bang. Acre-ditam os cosmólogos e astrofísicos que essa radiação de fundo, a rigor umaradiação fóssil, poderá confirmar a teoria que propõe a ocorrência dessa gran-de explosão inicial. Nesta véspera do ano 2000, os equipamentos inventadospelo homem já descobriram alguns planetas em órbita de estrelas perten-centes à nossa galáxia, que é apenas uma entre os 125 bilhões de galáxias queos astrônomos supõem existir no Cosmo. Surpreendentemente, neste final deséculo XX, em 1998, uma forte onda de raios gama e raios X chegou à Terraproveniente da maior explosão de uma estrela já observada pelos cientistas. Ofenômeno, que durou 5 minutos, foi tão intenso que, se sua energia pudesseser absorvida e armazenada, atenderia às necessidades da humanidade por3 bilhões de anos. No insignificante período de tempo de 5 minutos ocorreuum jorro de energia tão forte quanto a que receberemos do Sol nos próximos300 anos. Essa radiação, esmaecida pela distância, não acarretou riscos paraas espécies vivas da Terra, mas outras ocorrências de maior intensidade pode-rão vir a acontecer no futuro, talvez ainda no século XXI, pondo em perigo

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Eesta centelha de vida da qual participamos, entre infinitas centelhas existentesno Cosmo. O astro que originou essa invulgar onda de raios gama e raios X,segundo os astrônomos, foi uma estrela classificada como SGR.1900+14,situada na constelação de Águia, a 20 mil anos-luz da Terra. O diâmetro danossa galáxia, a Via-Láctea, é estimado em 100 mil anos-luz, portanto o fenô-meno acima mencionado ocorreu naquele que pode ser considerado o nossonicho cósmico. A distância do Sistema Solar até o centro da Via-Láctea écalculado em 30 mil anos-luz. A estrela da nossa galáxia mais próxima de nósé a Alfa Centauro, a quatro e meio anos-luz. Um ano-luz equivale a 9,5 trilhõesde quilômetros. A inusitada explosão ocorrida neste final do século XX sedeu, portanto, a uma distância considerável da Terra, mas outros fenômenossemelhantes, alguns com múltiplas conseqüências, poderão ocorrer, conside-rando que o Cosmo é um aglomerado dinâmico de massa e energia em per-manente transformação interativa. A estrela Antares tem 113 milhões de ve-zes o volume do Sol. Na constelação do Cocheiro há uma estrela cujo raioequivale a 3 mil vezes o diâmetro do Sol. Ao olhar para o espaço e fixar umastro é prudente ter sempre em conta que o panorama estelar não é o atual,mas sim aquele que existia há tantos anos-luz quantos corresponderem à dis-tância que nos separa do corpo celeste para o qual olhamos. O astro cujasemissões de raios gama e raios X nos chegaram neste final de século XXexplodiu há 20 mil anos, quando o homem ainda vivia vagando pelo mundo,na idade da pedra lascada. Desde então ocorreram 200 passagens de século e20 dobradas de milênio. Ver Cosmo.

Espécie . Conjunto de indivíduos muito semelhantes entre si e aosancestrais, que se cruzam e produzem descendentes férteis.

Os cientistas supõem que, neste final de século XX, habitem o ecossistemaTerra um número ao redor de 15 milhões de espécies animais e vegetais. Umadelas, o homem moderno, descendente direto do Homo sapiens, que teria surgi-do há cerca de 100 mil anos, predominou sobre as outras, para o bem ou parao mal. Como todas as demais espécies, o homem surgiu, vive e terá o seu fim.Continuamente, novas espécies surgem na Terra, resultantes de mudançasambientais e de alterações genéticas que ocorrem nas células dos seres vivos.Outras espécies se extinguem, vítimas das alterações nos ecossistemas queelas habitam ou dizimadas por predadores. Entre estes devem ser incluídos osvírus e as bactérias. Mas, sem sombra de dúvida, o homem é o maior agenteredutor da biodiversidade, que certamente continuará diminuindo como ostermos de uma progressão geométrica decrescente no decorrer de todo oséculo XXI. Ver Biodiversidade.

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Fauna.................................................................................................................104Fissão.................................................................................................................104Flora....................................................................................................................104Floresta...............................................................................................................105Fotossíntese.......................................................................................................106Fusão nuclear.....................................................................................................106Futuro................................................................................................................106

FNeste final do século XX, fauna e flora estão sendo

dizimadas pela espécie que predominou sobre todas as outras,o homem. No século XXI continuará essa destruição,

provocada antes de tudo pelo crescimento desordenado dapopulação, que no ano 2000 somará mais de 6 bilhões de

pessoas, concentradas perigosamenteem grandes centros urbanos.

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Fauna. Conjunto dos animais próprios de uma região ou de umperíodo geológico.

A espécie humana dominou todas as outras, inclusive as espécies ani-mais. Destruiu muitos ecossistemas onde elas viviam para cultivar o soloe obter pastagem onde pudesse criar em grande escala os bichos que lhesão úteis, como bois, porcos, cabras, galinhas e outros. Por isso, há muitasespécies animais silvestres ameaçadas de extinção, principalmente felinos,paquidermes e pássaros. No final do século XX, ocorrem grandes movi-mentos para preservar espécies da fauna. Criaram-se reservas para mantê-las. Os zoológicos de todo o mundo constituem refúgios cientificamenteorientados para evitar que muitos animais desapareçam. Reservas e zoo-lógicos devem ser prestigiados e ampliados no decorrer do século XXI.Ver Biodiversidade.

Fissão. Ação ou efeito de cindir, fender. Reação nuclear, espontâneaou provocada, em que um núcleo atômico, em geral pesado, se divide emduas partes de massas comparáveis, emitindo nêutrons e liberando grandequantidade de energia.

Trata-se da mais elementar das reações nucleares, entre tantas que ocor-rem no Cosmo continuamente, transformando massa em energia e energiaem massa, sem perda nenhuma, de acordo com a equação fundamental deEinstein, E = M x V². Em meados do século XX, o homem conseguiurealizar a fissão de átomos de urânio enriquecido ao explodir duas bombasatômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Logo depois obteve praticamente afissão de átomos de hidrogênio, com liberação muito maior de energia epoder destruidor incalculável. Chegou-se à fissão de átomos de urânio paraproduzir calor e gerar energia (primeiro cinética e em seguida elétrica) nasusinas termonucleares, mas resta como resíduo o plutônio radioativo comefeito letal de centenas de anos. O homem somente conseguirá dispor deenergia farta e barata no final do século XXI, quando puder controlar afusão de átomos de hidrogênio que se transformam em átomos de hélio, areação que ocorre continuamente no Sol. Ver Energia.

Flora. O conjunto das espécies vegetais de um determinado lugar, con-junto de plantas que servem para um determinado fim.

O primeiro ser vivo da Terra foi uma célula vegetal marinha, supõemos cientistas, surgida há cerca de 3 bilhões de anos. Havia um meioambiente muito diferente do atual, atmosfera carregada de compostosde carbono, nitrogênio e enxofre, temperaturas muito altas, erupções vul-cânicas freqüentes e fortes, muitos impactos de meteoros, descargas elé-tricas. Nesse ecossistema terrificante (para nós, nos padrões atuais) surgiuo primeiro representante da flora, um ser unicelular, mas dotado de uma

F

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capacidade surpreendente: sob a ação da luz solar e tendo como catalisadora clorofila, realizar a fotossíntese, absorver dióxido de carbono e expeliroxigênio e água. Tal foi o milagre da criação. O ambiente mudou, os seresunicelulares uniram-se para formar estruturas vivas mais complexas, estasevoluíram e diversificaram-se até constituírem os reinos vegetal e animalque hoje conhecemos. No segmento mais recente desses 3 bilhões de anos,correspondente aos últimos 100 mil anos, surgiu o Homo sapiens e com ele asmodificações tomaram outro rumo. No insignificante segmento final de 200anos que nos serve de tema básico, a Era Industrial, o homem modernopassou a devastar a flora terrestre para produzir alimentos que pudessematender às exigências dos mais de 6 bilhões de seres humanos que hojepovoam a Terra. Derrubaram-se florestas em todo o mundo para estenderpastagens e lavouras. Tal é o panorama neste final do século XX. Não serámuito diferente no transcorrer do século XXI, embora o homem tenha to-mado consciência dos estragos que fez e da necessidade de reparar seuserros. Grandes áreas são reflorestadas com pinus e eucaliptos para atenderàs demandas de fábricas de papel e celulose. As universidades fazem pro-postas de manutenção de reservas com espécies vegetais e animais ameaçadasde extinção, os governos estão propensos a aceitá-las. Uma das mais sábiassugestões partiu da Universidade de São Paulo: um amplo programaeducativo e de apoio financeiro para que as ruas e praças públicas, em todosos municípios do Brasil, transformem-se em bancos de espécies da floraregional ameaçadas de extinção. Ver Biologia.

Floresta. Formação arbórea densa, na qual as copas se tocam, matafechada.

A destruição das florestas do mundo é uma das grandes preocupaçõesde todos quantos consideram o desenvolvimento sustentável como a únicaoportunidade de preservação da espécie humana no século XXI e nosséculos subseqüentes. Durante milhares de anos, o homem insensatamentederrubou florestas sem medir as conseqüências desse ato, sem replantá-lasna proporção correta para assim proteger o solo, manter os estoques demadeira, alimentar os lençóis freáticos, preservar a fauna silvestre e abiodiversidade, absorver gás carbônico e liberar oxigênio e água na atmosfera.A cada ano, a Terra perde cerca de 15 milhões de hectares de florestas. Deacordo com estimativas da Organização das Nações Unidas – que precisaser prestigiada e fortalecida cada vez mais –, nas duas últimas décadasdeste século XX foram derrubadas ou queimadas florestas nas seguintesporcentagens: Ásia, 70%, América Central, 40%, África, 32%, Américado Sul, 28%. Há elogiáveis esforços para reflorestar na Europa e Américado Norte. As empresas produtoras de papel e celulose contribuem paraessa ação favorável ao desenvolvimento sustentável, plantando pinus e

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eucaliptos em larga escala. Seria preciso, porém, aprovar uma legislação queas incentivasse a manter nessas grandes reservas um determinado porcentualde matas nativas com espécies nobres ameaçadas de extinção, cujo tempode crescimento e utilidade econômica excede o mínimo constante das equa-ções de custo e benefício aceitas pelo empresariado. Ver Amazônia.

Fotossíntese. Formação de substâncias orgânicas mediante a fixação degás carbônico do ar graças à radiação solar, com a participação do pigmentoverde clorofila, que atua como catalisador.

Eis o toque de Deus, ou o mais extraordinário acaso físico-químico-bioló-gico. Com a clorofila e a fotossíntese a vida diversificou-se e expandiu-se emtodos os ecossistemas sólidos, líquidos e gasosos da Terra. Até o limite dabiosfera e das profundezas dos mares. Talvez imitando o que ocorre naimensidão do Cosmo, em infinitas centelhas de vida que surgem e desapare-cem ao sabor das mudanças havidas nos respectivos ambientes. Tal como anossa espécie no meio ambiente da Terra, que neste final de século XX lhe épropício. Como o será no século XXI, como talvez seja em alguns séculossubseqüentes, ao sabor de ocorrências cósmicas fortuitas ou das mudançasprovocadas por uma população que cresce desordenadamente. Ver Clorofila.

Fusão nuclear. Reação nuclear em que núcleos leves reagem para formaroutro mais pesado, com grande desprendimento de energia. Na reação, parteda massa dos núcleos reagentes transforma-se em energia, razão pela qual amassa do núcleo resultante é menor que a soma das massas dos reagentes.

A fusão nuclear, como a que ocorre continuamente no Sol e em outrasestrelas, com grande desprendimento de energia, é a grande esperança dahumanidade de obter energia farta e barata. No Sol, átomos de hidrogêniose fundem, sob altas temperaturas e elevadas pressões, seus núcleos perdemparte da massa que se transforma em energia, restando átomos de hélio. Oproblema que a ciência e a tecnologia resolverão no final do século XXI écontrolar essa fusão nuclear do hidrogênio e mantê-la dominada em usinasatômicas. Ver Energia.

Futuro. Tempo que há de vir. Sorte futura, destino.É o que não se pretende antecipar neste livro. Procuramos, tão-somente,

avaliar o passado e o presente, discorrendo sobre o futuro possível e provávelà luz de hipóteses e suposições, sugeridas pela ciência e pela tecnologianeste final do século XX. Compreendendo sempre a nossa insignificância ea nossa transitoriedade, na condição humana finita, incompatível com a acei-tação de massa e energia infinitas, no tempo infinito. Este não é um com-pêndio científico, mas sim uma reportagem sobre o segmento de tempovivido pelo autor, o que ele viu e sentiu para então escrever o depoimentoque deseja prestar. Ver Apresentação.

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Galáxia...............................................................................................................108Gás natural.......................................................................................................108Gasolina............................................................................................................109Genética............................................................................................................109Glaciação...........................................................................................................110Globalização.....................................................................................................110Guia espacial....................................................................................................112

GO grande avanço do século XXI será o conhecimento do

genoma das espécies animais e vegetais quehabitam a Terra e a descoberta de meios para modificar as

configurações genéticas das células.Com isso será possível prevenir e curar

moléstias, produzir alimentos bons e em grande quantidade,retardar ou mesmo evitar o envelhecimento das pessoas.

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GGaláxia. Sistema estrelar ao qual pertencem o Sol, o Sistema Solar, to-

das as estrelas visíveis individualmente a olho nu, além de bilhões de outrasestrelas, gás e poeiras interestelares, bem como a matéria escura que não épossível ver.

No final do século XX, os cientistas ousam supor que há no Cosmocerca de 125 bilhões de galáxias, algumas maiores outras menores doque a galáxia onde se encontram o Sistema Solar, a Terra, o autor e oleitor deste livro, escrito com o objetivo principal de reafirmar a nossainsignificância e a nossa transitoriedade, considerando que somos finitos(como indivíduos, como espécie, como Planeta) e por isso incapazes deadmitir o infinito de massa, energia, espaço e tempo. Como somos inca-pazes, também, de admitir que a vida é infinita em infinitas galáxias. Noséculo XXI, essa vida no Cosmo talvez seja descoberta, mas nenhumavida será como a nossa, formada por cadeias nas quais predominam átomosde carbono, hidrogênio e oxigênio. Porque há infinitas composições átomo-moleculares, infinitas manifestações da energia, interando-se em processospara nós inimagináveis. A singularidade não é uma excepcionalidade. Ela éregra no Cosmo infinito, onde as dimensões se multiplicam muito alémda primeira, segunda e terceira, extrapolando a reta, o plano e o volume.A nossa galáxia, a Via-Láctea, representa somente a limitada realidadeque nos é dado compreender e perscrutar, embora nos seja difícil admi-ti-lo. Ver Cosmo .

Gás natural. Um dos combustíveis fósseis acumulados no subsolo daTerra durante o período carbonífero, queima quase completamente sem emi-tir grandes quantidades de gases poluentes.

Nas jazidas de carvão e petróleo o gás natural ocupa os espaços supe-riores. Neste final de século XX é usado nas indústrias e nos veículos equi-pados com motor a explosão, pois queima integralmente sem emitir gases epartículas poluentes em quantidade, como ocorre quando se usam carvão,gasolina, diesel e óleo combustível residual. No século XXI, o uso do gásnatural será incrementado. Em 1999, foi inaugurado o gasoduto Bolívia–Brasil para que nosso País possa comprar gás das grandes reservas existen-tes no subsolo dos contrafortes andinos. Aproveitamos o gás natural obtidonas plataformas de perfuração submarina montadas pela Petrobras paraextrair petróleo das jazidas existentes em alguns trechos do nosso litoral.Em 1999, foram descobertas jazidas de gás natural no subsolo da Amazô-nia. Onde há gás natural freqüentemente se encontra petróleo. Automóveise caminhões podem utilizar o gás natural comprimido em cilindros de aço.Há algum risco, é preciso adotar tecnologia especial de segurança, mas émais barato do que o diesel e a gasolina, polui menos a atmosfera e suasreservas são abundantes. Ver Petróleo.

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GGasolina. Mistura de hidrocarbonetos que destila entre 30 e 150ºC e cons-

titui a parte mais volátil do petróleo bruto.É o derivado de petróleo mais usado nos motores a explosão de automó-

veis. Emite monóxido e dióxido de carbono, além de outros gases quandoqueima e por isso polui a atmosfera, principalmente se os motores estiveremdesregulados e não ocorrer a queima completa do combustível. A adição desubstâncias antidetonantes, como o chumbo tetraetila, aumenta os males queos gases acarretam para a saúde das pessoas. No Brasil foi desenvolvido oProálcool, que permitiu, de um lado, produzir álcool etílico hidratado com-bustível não poluente, de outro, construir motores para automóveis compatí-veis com o seu uso. No transcorrer do século XXI, será atribuída grandeimportância ao uso dos combustíveis não poluentes e renováveis, como oálcool etílico hidratado combustível e o álcool anidro combustível para adiçãoà gasolina, que são, a rigor, a energia do Sol acumulada na cana-de-açúcargraças à clorofila e à fotossíntese. Ver Petróleo.

Genética . Estudo da hereditariedade e da variação, semelhanças ediferenças, entre os organismos.

No final do século XX, o estudo da configuração dos genes no interiordas células e a possibilidade de modificá-las ou de transferi-las intactaspara outra célula hospedeira passou a ocupar um lugar de destaque nosestudos de alguns cientistas e nas pesquisas por eles realizadas. A modifi-cação genética em células vegetais permitiu que se obtivessem as plantastransgênicas, com propriedades que dependem dos objetivos que se pre-tende alcançar: maior produtividade, resistência a defensivos agrícolas,vírus ou bactérias, capacidade de sobreviver às secas e aos excessos dechuvas, enfim, os atributos que possam favorecer as atividades produto-ras. No transcorrer do século XXI, a manipulação genética permitirá queo homem evite praticamente todos os transtornos que hoje põem em ris-co as suas lavouras. Alimentos de melhor qualidade e em maior volumeserão obtidos. Restará o problema da justa distribuição dessas conquistasda ciência e da tecnologia, de tal forma que os contingentes subnutridosdo mundo (mais de 1 bilhão numa população de mais de 6 bilhões nestefinal de século XX) possam usufruir essa fartura. A fome no mundo, nes-te final do século XX, depende muito mais da incapacidade das popula-ções subdesenvolvidas de disporem de oportunidades de trabalho paragerar meios de pagamento do que das disponibilidades alimentares dospaíses produtores de carnes e cereais. No que se refere à genética aplicadaaos animais é preciso consignar que, em 1997, o cientista escocês IanWilnmut conseguiu transferir a configuração genética de uma para outracélula de ovelha, implantar esta última no útero de uma ovelha receptorae por fim fazer nascer desta uma ovelha idêntica àquela doadora dos genes.Foi realizada assim a primeira clonagem animal, que no século XXI poderá

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Galterar completamente a pecuária e a reprodução de outros animais. Agenética será, sem dúvida alguma, o ramo da ciência biológica mais im-portante nos 100 anos que transcorrerão após o ano 2000. A clonagemtrará ao homem muitos benefícios, mas suscitará profundas controvérsiasde natureza ética e moral. Ver Clonagem.

Glaciação. Período durante o qual os gelos avançaram além das calotaspolares e chegaram até as regiões tropicais da Terra.

Causas exógenas à Terra, como as variações periódicas na atividade solar,ou mudanças na inclinação do eixo terrestre, têm provocado intensas altera-ções climáticas, alternando-se milhares de anos com temperaturas baixas(glaciações) com milhares de anos com temperaturas relativamente mais altas(interglaciações). Os cientistas encontraram vestígios que permitem supor aocorrência de glaciações no paleozóico superior, há 200 milhões de anos. De-pois disso, elas se alternaram com interglaciações. O auge da última glaciaçãoteria ocorrido há cerca de 50 mil anos, quando as calotas de gelo dos póloschegaram até as regiões hoje temperadas (no interior de São Paulo há ranhu-ras nas rochas provocadas pelo atrito de geleiras). Durante as glaciações onível dos mares baixou porque a água da Terra se acumulou nos continentessob a forma de gelo. Depois a Terra começou novamente a esquentar lenta-mente, as calotas retraíram-se, as florestas ressurgiram, até o final da últimaglaciação, ocorrida ao redor de 15 mil anos atrás, quando começou o chama-do período holoceno de temperaturas mais propícias à vida vegetal e animalhoje existente nas regiões equatoriais, tropicais e naquelas limitadas pelos cír-culos polares ártico e antártico. Os cientistas buscam resposta para esta per-gunta: neste final do século XX, bem como no transcorrer do século XXI, aTerra estaria ainda num processo de aquecimento progressivo corresponden-te ao fim de um período interglacial? Ou o aquecimento médio de cerca de1ºC ocorrido no transcorrer dos últimos 100 anos, com as conseqüentes mu-danças climáticas que hoje observamos, seria o resultado das desbragadasemissões de compostos de carbono na atmosfera, decorrentes da queima decombustíveis fósseis? Avaliando o problema por outro ângulo: o chamadoefeito estufa acabaria por retardar o início de uma nova glaciação? Ou astemperaturas da atual interglaciação (período holoceno) continuarão subin-do, somadas ao aquecimento provocado pelo homem, a ponto de transfor-mar a Terra em algo assim como uma sauna, no decorrer dos séculos XXI esubseqüentes, a ponto de provocar alterações na biodiversidade hoje exis-tente e o desaparecimento de muitas espécies, talvez até mesmo da espéciehumana? Ver Efeito estufa.

Globalização. Diretriz econômica aceita por muitos países do mundo,fundamentada na livre produção e comercialização de produtos primários eindustriais, com um mínimo de barreiras alfandegárias.

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GTrata-se de ação peculiar adotada na última década do século XX por

países ricos e industrializados, bem como por alguns países em nível econô-mico próximo dos países industrializados. O fenômeno que hoje peculiarizaa vida econômica mundial tem raízes culturais que fizeram dos EstadosUnidos a nação mais poderosa do mundo nesta véspera do ano 2000, sim-bolizada pelo espírito empreendedor das famílias anglo-saxãs que desem-barcaram do Mayflower em busca de uma nova pátria para praticar livre-mente as suas crenças, que priorizam o trabalho árduo, a austeridade, apoupança, a acumulação pessoal de riquezas. Espírito muito diferente dalatinidade de portugueses e espanhóis, que buscavam terras novas à cata deouro e prata, de especiarias e pau-brasil, que os enriquecessem rapida-mente. Riqueza obtida do apossamento rude de valores da época, depois oretorno para o bem viver na Europa, onde tinham conservado suas raízes.Sem deixar de fazer algumas concessões para ganhar o céu, erguendo mui-tas igrejas revestidas de ouro, com as sobras do que mandavam para asrespectivas cortes, as quais mantinham perdulariamente o fausto compran-do utilidades oferecidas pela incipiente indústria manufatureira da Inglater-ra. O trabalho e a poupança fizeram dos Estados Unidos a mais sólida eco-nomia da Terra neste final de século XX. Esse país venceu militar e econo-micamente a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Assinou hábeis trata-dos de paz com os adversários. No Oriente submeteu incondicionalmente oJapão. Mantém no âmbito de sua influência política e econômica a Coréiado Sul e Taiwan. Venceu a guerra fria contra a União Soviética, que se des-mantelou. Tutelou economicamente outros países, empunhando numa dasmãos a bandeira da liberdade e do liberalismo econômico, na outra as tenta-ções dos empréstimos e dos investimentos. Em suma, essa nação chegou aofinal do século XX como a maior potência econômica e militar da Terra,geratriz de 80% da disponibilidade financeira mundial representada, diretaou indiretamente, por outra criação estupenda sua, também calcada na filo-sofia que preconiza a acumulação de bens: os fundos de pensão. Esses do-tes do capitalismo liberal, mais competência de gestão, mais habilidade denegociação, mais usufruto de vitórias militares e políticas, acabaram porimpor a ascendência mundial dos Estados Unidos, amparados pelos braçosfortes do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e da sua pode-rosa rede bancária e empresarial. Tudo isso inserido no neo-relacionamentoeconômico das nações chamado globalização. Este não é um compêndio deeconomia e o autor é apenas um observador atento de sua época, sujeito aerros de interpretação, como tantos outros analistas bem-intencionados: nestavéspera do ano 2000 assistimos, concomitamente, à excepcional vitalidadeda economia norte-americana manifestando-se paralelamente com os su-cessivos malogros de parceiros da globalização: Japão, Indonésia, Coréia doSul, Rússia, México e Brasil. Ver Economia.

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GGuia espacial. Sistema que permite saber com grande precisão a lati-

tude, longitude e altitude de qualquer ponto da Terra, bastando para issoestabelecer contato com satélites do sistema GPS.

Uma das mais úteis invenções neste final do século XX foi o Sistemade Posicionamento Global, GPS, concebido pelos norte-americanos comoparte dos seus esforços para suplantar a União Soviética durante a guerrafria. Em 1978, três satélites foram secretamente lançados para que naviosde guerra, forças terrestres e aviões de combate pudessem dispor instan-taneamente da sua posição exata na superfície da Terra. Com o fim daguerra fria, esse sistema, ampliado para 24 satélites, passou a atender àsnecessidades da sociedade civil em todo o mundo. Qualquer pessoa hoje,munida de um receptor GPS, aperta alguns botões e logo o sistema desatélites em órbita imprime no vídeo desse aparelho a latitude, longitude ealtitude em que se encontra o usuário do sistema. As perspectivas desseinvento, no transcorrer do século XXI, são extraordinárias: total seguran-ça no tráfego de aviões, navios e veículos terrestres, todos eles guiadospor satélites para que não colidam. Pouso e decolagem de aeronaves sema interferência dos pilotos, localização imediata de pessoas perdidas ouacidentadas, talvez até mesmo o controle de pessoas cujos movimentosdevam ser monitorados. Entre elas, presos em liberdade condicional eindivíduos considerados perigosos para a sociedade, condenados porsentença judicial a terem os seus passos seguidos à custa de ummicroequipamento implantado no corpo. Ver Conquista do espaço.

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Hidrelétrico.......................................................................................................114Hidrogênio.........................................................................................................114Humanidade......................................................................................................115

HA matriz energética do Brasil, neste final do século XX,

é excepcionalmente limpa e isso deve ser levado emconta pelos investidores internacionais. Dispomos de 60 mil

megawatt instalados de energia hidrelétrica eoutros 100 mil megawatt por instalar em

todo o País, dos quais cerca de 50 mil se encontramnos bordos da Bacia Amazônica.

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Hidrelétrico. Relativo à produção de corrente elétrica por meio daforça hidráulica.

O potencial hidrelétrico disponível no mundo é da ordem de 1 milhãode megawatt, dos quais somente 30% estão aproveitados. A maior usinahidrelétrica em funcionamento, neste final do século XX, a hidrelétrica deItaipu, na fronteira do Brasil com o Paraguai, no Rio Paraná, tem umapotência instalada de 12 mil megawatt e gera por ano 70 milhões demegawatt/hora. Para se ter idéia das vantagens dessa energia limpa, emrelação às demais fontes poluidoras de energia, basta considerar o númerode toneladas de gás carbônico emitidas para a atmosfera terrestre paragerar a mesma energia produzida em Itaipu, por ano: em termelétrica acarvão, 88 milhões, em termelétrica a óleo combustível, 52 milhões, emtermelétrica a gás natural, 40 milhões. Uma usina nuclear, para produzir12 mil megawatt, deixaria como resíduo radioativo, altamente letal, deze-nas de toneladas por ano, de difícil armazenamento ou transformação emmaterial inerte. No século XXI, os índices de poluição decorrentes decada matriz energética, de cada país, serão levados em consideração nasconferências patrocinadas pela Organização das Nações Unidas para ava-liar as responsabilidades quanto à emissão de gases poluentes para a atmos-fera. O Brasil dispõe de 61 mil megawatt instalados de energia hidrelétri-ca, mais 100 mil megawatt por instalar nas bordas da Bacia Amazônica eem outras regiões do País. Uma usina hidrelétrica tem um tempo de vidaútil calculado em 100 anos, em média, dependendo do assoreamento doreservatório. Nossas reservas de combustíveis fósseis são pequenas, nossopouco carvão é de má qualidade, nosso petróleo está em áreas da platafor-ma continental, sob o mar, com um elevado custo de extração, nossas reser-vas de urânio para uso em usinas nucleares são grandes, mas a tecnologianas usinas termonucleares ainda oferece riscos. Caberá aos nossos gover-nos incentivar a utilização do nosso grande potencial hídrico nas primeirasdécadas do século XXI, antes que a ocupação e o custo das terras a sereminundadas inviabilizem os empreendimentos. Ver Energia.

Hidrogênio. Elemento de número atômico 1, gasoso, incolor, combustí-vel, participante de uma série extensa de compostos orgânicos e inorgânicos.

Segundo alguns cientistas, trata-se do elemento primordial e mais abun-dante do Cosmo. A fusão de seus átomos no Sol e nas outras estrelas liberaquantidade incomensurável de energia, dando origem a átomos mais pesa-dos de hélio e na seqüência átomos de elementos pesados para constituirmatéria. Neste final de século XX, pode-se afirmar que as grandes esperan-ças da humanidade depositam-se no uso das imensas reservas ainda exis-tentes de gás natural e na fusão nuclear controlada de átomos de hidrogênio,de tal maneira a se produzir energia com uma equação de custo e benefíciofavorável. Ver Energia.

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Humanidade . A natureza, o gênero humano, o conjunto de sereshumanos.

A espécie humana dominou todas as demais espécies animais e vegetais daTerra, somando neste final de século XX mais de 6 bilhões de pessoas. Suanatureza tem se revelado contraditória, individualmente cultuando muitas vezeso bem, coletivamente muitas vezes praticando o mal. Tudo indica que se tratade uma condição atávica. No passado mais remoto, anterior ao Homo sapiens,que teria surgido há cerca de 100 mil anos, sobreviveram as espécies maisfortes e resistentes, desaparecendo aquelas que não puderam se adaptar. Omesmo teria ocorrido com os muitos contingentes diferenciados surgidos nodecorrer da trajetória evolutiva do Homo sapiens. Neste final do século XX,caracterizados os diferentes contingentes humanos não tanto por alteraçõesfísicas, mas basicamente por peculiaridades econômicas e culturais, a humani-dade continua sendo a mesma, embora se tenha atribuído uma quase nobrezaao se referir ao grande conjunto formado por 188 nações e pelos seres huma-nos que as integram como uma civilização. Considerando somente os exí-guos 200 anos da Era Industrial, vale a pena ressaltar as numerosas distorçõesmorais e éticas praticadas pela humanidade no século XIX, as duas guerrasmundiais por ela deflagradas no século XX, a invenção e o uso dos artefatosnucleares, a recusa dos preceitos básicos relativos ao desenvolvimento sus-tentável, a dominação econômica e política de uns países sobre outros, o cres-cimento demográfico desordenado, o distanciamento das condições de vidaentre os contingentes ricos minoritários e os contingentes pobres majoritá-rios. Neste final de século XX, delineiam-se superioridades e predomínios(militares e econômicos) de alguns contingentes sobre outros, como bem odemonstram os acontecimentos militares no Oriente Médio e nos Bálcãs, ahegemonia econômica e financeira de algumas poucas nações sobre as demaisnações do mundo. No passado, contingentes mais evoluídos do Homo sapiens(melhores clavas, machados de pedra mais afiados, mais força física porquedispunham de mais caça e raízes para se alimentar) sobreviveram ao seu con-temporâneo homem de Neanderthal, que desapareceu. No presente, contin-gentes poderosos do homem moderno (armas nucleares em estoque, fogue-tes teleguiados, navios, aviões e tanques moderníssimos) subjugam contin-gentes mais fracos, mais pobres, menos armados, à revelia da Organizaçãodas Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança. Os códigos de moral eética hoje existentes não inibem os contingentes humanos mais poderosos deatacar, subjugar e aniquilar contingentes humanos mais fracos, exatamentecomo teria ocorrido durante os últimos 100 mil anos. Exatamente como ocor-rerá ao longo de todo o século XXI. Ver Capítulo 1.

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Implante............................................................................................................117Imprensa............................................................................................................117Imunologia........................................................................................................118Informática.......................................................................................................119Internet.............................................................................................................119

IO computador, associado à telefonia e à comunicação via

satélite, oferece neste final do século XX a maisextraordinária oportunidade de intercâmbio de informações

entre os povos do mundo, e noséculo XXI se transformará no instrumento básico

dos negócios, da educação e do lazer. Informática e Internetmoldarão a sociedade do futuro.

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Implante. Enxerto de tecido. Inserção de elementos de material inerte emtecidos intactos de um hospedeiro.

Neste final do século XX, já são dominadas com sucesso várias técnicasde implantes, de dentes, válvulas cardíacas, pele artificial e próteses dediversos materiais. O grande problema enfrentado pela ciência é a rejeiçãoprovocada pelo sistema imunológico do receptor, mas são grandes os avançosna descoberta de medicamentos que bloqueiam essa ação natural defensiva.No século XXI, os implantes serão feitos preponderantemente usando órgãose tecidos extraídos de animais geneticamente preparados para toda e qualquerdemanda de seres humanos. Diminuirão os implantes de materiais inertes,substituídos em muitos casos por peças equivalentes preparadas pelabiotecnologia. Ver Imunologia.

Imprensa. O conjunto dos jornais e publicações congêneres, revistas,boletins. Hoje freqüentemente associada à grande mídia constituída porrádios e televisões.

Acontecimentos como a chegada de um novo ano e a passagem de umséculo para outro repetiram-se muitas vezes no passado, sem que merecessematenção especial por parte do homem. Isso porque os meios de comunicaçãode massa, hoje muito ampliados, influentes e condicionados aos interessescomerciais, praticamente não existiam. Ainda neste ano de 1999, governos eentidades privadas, jornais, rádios e televisões, incluindo a Internet, certamenteparticiparão de grandes eventos para marcar a chegada do ano 2000 (31 dedezembro de 1999) e a passagem do século XX para o XXI (31 de dezembrode 2000) da Era Cristã. Os 2 bilhões de cristãos comemorarão essas datas e amídia por eles dominada despertará grandes emoções até mesmo entre osgrupos que não professam o cristianismo. A rigor, os jornais, rádios e televisõesestarão exibindo e comemorando os notáveis avanços científicos e tecnológicosalcançados no decorrer do século XX e adiantando a estrutura da comunicaçãode massa no século XXI. As tradicionais publicações impressas diárias,entregues aos assinantes todas as manhãs ou vendidas em bancas de jornais,serão obrigadas a se adaptar aos avanços da informática e à transmissão adistância de textos e imagens de alta resolução pela via digital. Grandes rotativascom elevado consumo de papel de imprensa talvez sejam substituídas porequipamentos de transmissão instantânea semelhantes aos faxes, muito maisaperfeiçoados. O assinante de jornal terá à sua disposição uma impressora enela receberá, no momento que escolher, o noticiário que desejar, onde estiver,no escritório ou no lar, nas escolas, nos centros de lazer. Poderá sintonizar,em vídeos e com a dimensão que preferir, textos ou imagens ao vivo e em trêsdimensões, desde a simples informação até o comentário detalhado feito porespecialistas. Haverá uma sofisticada integração entre jornais, rádios etelevisões, a tão esperada multimídia, com ofertas as mais diversas, em todosos momentos do dia e da noite, tratando de temas os mais variados. Os espaços

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serão aqueles que o cliente desejar, desde o telão cinematográfico para umasala de estar até o dispositivo portátil, som e imagem, ou somente som, compossibilidade imediata de obter instantaneamente uma cópia impressa empapel, no tamanho compatível com o equipamento que se tenha à mão. Emsuma, ganhará espaço o jornal impresso, ao lado do assinante, em papel quepoderá ser usado muitas vezes, como hoje se reutilizam fitas para gravação.Haverá rádios e aparelhos de televisão miniaturizados, com imagens e áudiode múltipla escolha, talvez usados como um relógio de pulso, inclusiveoferecendo a hora, a previsão do tempo, índices econômicos e financeirosdo momento, mensagens individuais para o portador. A multimídia seráusada para a alfabetização em massa, para a transmissão de conhecimentosem todos os níveis, para que se ofereçam até mesmo práticas e experiênciasde vida e para que se façam negócios. Haverá equipamentos mecânicosadaptados à mão de um analfabeto para guiar o aprendizado da escrita,coordenados com o áudio que permita ouvir as letras, palavras, sílabas efrases correspondentes, de tal forma a permitir que o indivíduo aprenda aescrever sem o auxílio direto do professor. Ver Jornal.

Imunologia . Estudo químico e bacteriológico dos fenômenos daimunidade e das suas causas.

Em 1796, o médico inglês Edward Jenner descobriu a imunologia aoverificar que os ordenhadores de vacas contaminadas pela varíola bovinaadquiriam resistência à doença. Desde então, as vacinas tornaram-se umaeficiente arma da medicina para combater moléstias infecciosas. Neste finaldo século XX, praticamente toda a humanidade está imunizada contra a varíola,e o vírus dessa moléstia, responsável no passado por grandes mortandades,encontra-se confinado em recipientes hermeticamente fechados em algunspoucos laboratórios do mundo. Esse vírus está, finalmente, à mercê do homeme os cientistas discutem se vale ou não a pena exterminá-lo. Ao mesmo tempo,a imunologia vem sendo usada em pesquisas voltadas para a descoberta devacinas para muitas moléstias que ainda afligem a humanidade, entre elas aaids, a malária e o câncer. Vacinas contra a paralisia infantil, o sarampo, otétano, a gripe e outras doenças já beneficiam a espécie humana. A perspectivaserá animadora no transcorrer do século XXI, durante o qual a medicinaconseguirá avanços significativos no campo da imunologia para vencerfinalmente todos os vírus, bactérias e outros hospedeiros do corpo humano.Persiste, no entanto, o temor de que microrganismos adormecidos emdeterminados nichos, até hoje não perscrutados pelo homem, sejam trazidospara o convívio das espécies animais e vegetais, provocando nelas epidemiasaté então insuspeitadas pelos cientistas. O vírus da aids, supõe-se, teria sidocontraído de macacos (a eles resistentes) por tribos africanas que os comiamno decorrer de ritos sanguinolentos. Por outro lado, teme-se que vírus ebactérias adquiram resistência à ação dos medicamentos, como é o caso que

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ocorre neste final de século XX: o Staphylococus aureus, responsável por gravese mortais infecções, adquire resistência crescente aos antibióticos disponíveis.O bacilo de Koch, causador da tuberculose, torna-se imune aos medicamentosquando o tratamento é interrompido antes da cura completa. Ver Epidemia.

Informática. Ciência do tratamento racional e automático da informação,considerada como suporte dos conhecimentos e comunicações.

Até meados do século XX, a informação era obtida, basicamente, à custade processos eletromecânicos que permitiam separar cartões diferentementeperfurados nas chamadas máquinas Holerite. Cada configuração de furoscorrespondia a uma informação armazenada. Durante a Segunda GuerraMundial, cientistas norte-americanos descobriram que uma pequena placade silício não condutora de eletricidade, o chip (lasca, pequeno fragmento,em inglês), oferecia a possibilidade de nela estampar eletronicamente, emmúltiplos pontos, configurações peculiares de elétrons, isoladas e bemdefinidas. Cada uma delas corresponde a uma informação. Num chip,portanto, é possível armazenar um número imenso de informações. Ocomputador reúne muitos chips e neles armazena informações, que assimficam à disposição do usuário e podem ser organizadas de acordo comarranjos eletrônicos bem definidos, que vêm a ser os programas. Estes seaperfeiçoam cada vez mais e oferecem as informações armazenadas noschips de silício com grande rapidez, exatidão e multiplicidade de opções.No século XXI, a informática estará presente em todas as ações humanas,desde aquelas mais simples, que colocam o conteúdo dos chips à disposiçãode uma dona de casa que deseja organizar uma lista de compras nosupermercado, até aquelas mais complexas, que usam os chips de computadoresaltamente aperfeiçoados para armazenar, interpretar e ordenar o essencial paraque uma nave tripulada possa pousar no planeta Marte. Ver Computador.

Internet. É a intercomunicação global feita graças ao uso concomitantedo computador, das linhas telefônicas, das estações transmissoras e receptorase da rede de satélites de comunicação.

Tudo o que está armazenado num computador ligado ao sistema Internetpoderá estar à disposição de todos quantos estiverem também ligados a ele.Tal é o extraordinário alcance desse sistema global de hipermídia que estámudando rapidamente o mundo e a vida das pessoas neste final do séculoXX. Informação, cultura, ensino, negócios, lazer, aprendizados, entretenimento,promoção pessoal e institucional são alguns dos benefícios que a comunicaçãoaliada à interatividade oferece aos internautas localizados em todas as partesda Terra. A maior biblioteca do mundo, por exemplo, a do Congresso dosEstados Unidos, está armazenada nos programas de seu possante computador,que por sua vez está ligado ao sistema Internet. Qualquer cidadão, de qualquerpaís, que esteja também ligado à Internet poderá receber instantaneamente,

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no seu microcomputador, a informação que desejar da biblioteca doCongresso dos Estados Unidos. Para auxiliar o usuário na busca dos assuntosde seu interesse há sites especializados, muitas vezes indispensáveis, tal aamplitude e diversificação dos assuntos. Se essa grandeza já é um problemano final do século XX, o que esperar no transcorrer de todo o século XXI,quando a Internet se transformar na base de todas as atividades humanas?Os especialistas prevêem avanços surpreendentes na interoperatividade en-tre todas as redes e todos os sistemas. Contando com uma arquiteturadescentralizada, os computadores serão independentes uns dos outros, sejamsimples PCs ou supercomputadores, mas os seus operadores poderãoescolher quais serviços da Internet vão usar e quais deles desejam tornardisponíveis para a comunidade global dos internautas. Assim, será possívelcontrolar remotamente um computador, mandar e receber arquivoscompletos pela rede, transmitir e receber mensagens instantaneamente. Ouso da Internet tende a se tornar corriqueiro como ter em casa umrefrigerador ou um fogão. No ano 2000, 68% dos lares americanos estarãoconectados à rede. O ensino primário, secundário e superior se fundamentarános programas disponíveis na Internet, interativados com a televisão e orádio. Já começaram os testes para o sistema Internet 2, cerca de 300 vezesmais veloz que o atual e com rede utilizando cabos de fibra óptica. Essarede mais potente vai ser usada inicialmente pelas universidades e centrosde pesquisas, mas no futuro estará disponível também para o grande público.O campo de atuação da Internet será ampliado à medida que melhoraremas conexões, prevendo-se que serviços ainda deficitários possam se tornarcomuns. Não será preciso ir a uma locadora de vídeos, bastando conectar-se com as videotecas disponíveis. Todas as conferências, solenidades,encontros sociais poderão ser assistidos em casa com um retorno digitalizadoque permitirá consignar a presença e cumprimentar com a imagem numvídeo os conferencistas, homenageados e aniversariantes. Consultas médicas,diálogos comerciais, conversas familiares, com áudio e vídeo, farão partedo dia-a-dia de todos quantos dispuserem dessa interatividade eletrônicado futuro. Cirurgias poderão ser feitas a distância. Segurança, combate àcriminalidade, identificações instantâneas de viajantes nos aeroportos eportas de fronteira terão seu espaço na Internet. Empresas e governosfundamentarão quase todas as suas at ividades comercia is eadministrativas no uso da informática, das comunicações por satélite eda televisão. Ver Informática .

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Jazida..................................................................................................................122Jornal..................................................................................................................122Júpiter.................................................................................................................123Jurássico.............................................................................................................124

JFica cada vez mais evidente, neste final do século XX,

que as jazidas de matérias-primas são exauríveis e que areciclagem é essencial para que se alcance

o desenvolvimento sustentável.Os combustíveis fósseis serão substituídos por outros

no decorrer do século XXI, entre eles o álcool, renovável e não poluente.

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Jazida. Depósito natural de uma ou mais substâncias úteis, inclusive oscombustíveis fósseis, carvão, petróleo e gás natural.

Em diferentes eras e períodos geológicos formaram-se as jazidas das quaiso homem se utiliza sofregamente, neste final de século XX, para suprir suasnecessidades de energia e de matérias-primas. Somente nas últimas décadas asociedade começou a se preocupar com uma realidade que aponta para aexaustão dessas jazidas e para a necessidade de se adotar o desenvolvimentosustentável, fundamentado no seguinte: as gerações futuras têm o direito deusufruir os mesmos padrões de que gozam as gerações atuais no que se refereao que é essencial à vida. Essa visão conservacionista surgiu e se consolidacada vez mais depois das conferências mundiais patrocinadas pela Organiza-ção das Nações Unidas, Estocolmo-1972 e Rio de Janeiro-1992. Somenteessa entidade internacional, que congrega os 188 países do mundo, investidade autoridade e poder, seria capaz no século XXI de disciplinar o uso dasjazidas de matérias-primas e de combustíveis. Mas essa situação ideal não seráalcançada porque os interesses econômicos, políticos e religiosos são muitodivergentes. As jazidas de petróleo, principal fonte de energia neste final deséculo XX, se reduzirão muito no transcorrer das primeiras décadas do sécu-lo XXI. Ocorrerão graves conflitos entre as nações que possuem grandesjazidas, entre elas os países árabes, e as nações que consomem muito petróleo,como Estados Unidos, União Européia e Japão. Mas, ao mesmo tempo emque as jazidas de petróleo se reduzem, outras fontes de energia serão desen-volvidas e utilizadas, entre elas as jazidas de gás natural. Os potenciais hidre-létricos, a fissão nuclear aperfeiçoada para que se tenha segurança plena, ocalor do magma, a luz solar captada por baterias de células fotovoltaicas sãoopções energéticas para o século XXI, desde que os grandes interesses econô-micos e políticos relacionados com a comercialização do petróleo sejam disci-plinados. Deixamos de mencionar a energia eólica e das marés por considerá-las pouco expressivas em face das grandes necessidades humanas. O futuroaponta para a fusão nuclear. Ver Energia.

Jornal. Gazeta diária, periódico, escrito em que se relatam os aconteci-mentos dia a dia, diário.

Gutenberg deu o primeiro passo. O uso das máquinas planas para impri-mir, no início da Era Industrial (1800 a 2000), permitiu que se lançassem osjornais como hoje os conhecemos. Mas foi a invenção das máquinas rotativas,no final do século XIX, que elevou muito as tiragens e transformou o jornaldiário no mais importante e influente meio de comunicação do século XX.A disseminação do rádio, na década de 30, e da televisão, a partir da décadade 50, influiu muito na economia das empresas jornalísticas e nas opçõesdos consumidores dos produtos oferecidos pela mídia. Mas é evidente, nes-te final de século XX, que haverá sempre uma oferta cativa dos jornaisdiários de grande circulação, constituída principalmente pela informação

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pormenorizada, pelo debate amplo de idéias, pelo comentário comparativodos acontecimentos, pelas opiniões e notícias que devam servir no presentee no futuro como provas documentais inquestionáveis dos fatos, do que sedisse acerca deles e do que se fez para provocá-los ou modificá-los. Mas ojornal precisará se adaptar à convivência com os demais meios de comuni-cação, oferecendo sempre aquilo que televisão, rádio e Internet não pude-rem colocar à disposição da coletividade. Essa particularização do noticiá-rio é essencial para que o jornal possa sobreviver financeiramente, levandoem conta a pulverização das verbas publicitárias, divididas neste final deséculo XX da seguinte maneira no Brasil: televisão, 58%, jornais, 23%, re-vistas, 9%, rádio, 4% e outros, 6%. Em 1999 foram aplicados no Brasilcerca de US$ 9 bilhões em publicidade. Ver Imprensa.

Júpiter. O maior planeta do Sistema Solar, com um diâmetro muitomaior que o da Terra.

Neste final do século XX, é um dos planetas que mais têm despertadocuriosidade entre os astrônomos, com 142.700 quilômetros de diâmetro (aTerra tem 12.757). Em setembro de 1977, a NASA enviou a sonda espacialVoyager 1 para uma longa missão no Sistema Solar que incluiu uma passagempróxima a Júpiter. Ela ocorreu em 1979 e os astrônomos receberam informa-ções preciosas sobre a natureza desse planeta que tem 1.300 vezes o tamanhoda Terra. Ele é formado por um núcleo de gelo coberto por uma camada demilhares de quilômetros de gases gelados. Essa peculiar atmosfera compõe-se basicamente de amônia e metano, as temperaturas seriam ao redor de 130ºCnegativos. Tem doze satélites. Em julho de 1994, as atenções dos astrônomosconcentraram-se no choque, anteriormente previsto, do cometa Shoemaker-Levy com esse gigante, observado atentamente pelo telescópio Hubble, pelostelescópios terrestres e pelo telescópio da sonda espacial Galileu enviada pelaNASA para estudá-lo. A expectativa era grande porque nunca antes fora pos-sível ao homem observar o impacto de um cometa num corpo celeste. Avelocidade com que o Shoemaker-Levy penetrou na camada exterior gasosade Júpiter foi de 220 mil quilômetros por hora. Em poucos segundos frag-mentos do cometa chegaram às camadas internas de gases gelados que estãoa uma temperatura de 130ºC negativos. O impacto teria elevado a temperatu-ra a 7.000ºC positivos. Observou-se a elevação de uma coluna de fogo queultrapassou o envoltório gasoso e surgiu acima dele, revelando uma tempera-tura de 5.000ºC. O calor dissipou-se rapidamente e a temperatura voltou acair para 130ºC negativos. Tal foi, em resumo, o que ocorreu em Júpiter quan-do um cometa com ele colidiu, fenômeno cósmico que não pode ser descarta-do em relação a outros corpos celestes, inclusive a Terra. Cabe, finalmente,um comentário a respeito das iniciativas da espécie humana em relação aJúpiter, no transcorrer do século XXI. Está visto que será impossível iralém do envio de sondas espaciais para estudar esse planeta e seus satélites.

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As peculiaridades físico-químicas já conhecidas, inclusive a temperatura de130ºC negativos, inviabilizam qualquer missão tripulada, mesmo que ciênciae tecnologia, a um custo exorbitante, pudessem oferecer uma oportunidadede alcançar esse planeta. Voltamos a um dos temas básicos deste livro: jus-tificar-se-iam as despesas de centenas de milhões de dólares, pagas por umameia dúzia de países ricos, para tentar uma aventura espacial em Júpiter e nosseus satélites, quando há na Terra grandes contingentes da sua imensa popu-lação de mais de 6 bilhões de seres humanos que em muitas outras naçõespadecem com a falta de alimentos, de assistência médica e hospitalar, desaneamento básico, de oportunidades de trabalho? Ver Asteróide.

Jurássico. Período da história geológica da Terra, da era mesozóica, ocor-rido há 130 milhões de anos.

Durante esse período surgiram os grandes répteis dinossauros que ultra-passaram uma dezena de metros. Surgiram também as primeiras aves, aindameio répteis, com membranas que se transformaram em asas. Já havia passa-do o período carbonífero, que durou 50 milhões de anos, iniciado há 250milhões de anos, quando ocorreu intensa fotossíntese e se formaram grandesdepósitos de madeira que lentamente se transformaram em depósitos de car-vão, bem como grandes depósitos de microrganismos que aos poucos se trans-formaram em jazidas de petróleo. Os 130 milhões de anos que nos separamdo período jurássico correspondem a 650 mil vezes a Era Industrial que nosserve de referência temporal para escrever este livro. Transcorreram desdeentão 130 milhões de passagens de ano e 1,3 milhão de passagens de umséculo para o seguinte. Ver Período.

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Lixo....................................................................................................................126Lua.....................................................................................................................127Luz.....................................................................................................................129

LO lixo produzido por mais de 6 bilhões de seres humanos

neste final de século XX compromete a vida na Terra,principalmente nas grandes cidades.

Na Era Industrial aumentou muito o uso e o descarte demateriais que levam muito tempo para se decompor

no meio ambiente e por isso dificultam o desenvolvimento sustentável.

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Lixo. O que se varre da casa, do jardim, da rua e se joga fora. Entulho,tudo o que não presta e se joga fora.

Um dos grandes problemas do final do século XX é a coleta, remo-ção e destinação do lixo nas áreas urbanas, tanto mais grave e difícil deresolver quanto mais desenvolvido e rico é o país e maior é a cidade.Nesta véspera do ano 2000, calcula-se que um cidadão do chamadoPrimeiro Mundo produz, em média, do nascimento até a morte, cercade 30 toneladas de lixo. Os países que mais produzem lixo domiciliar,por habitante, em quilos por dia, são: Estados Unidos 3,2, Itália 1,5,Holanda 1,3, Japão 1,1, Brasil 1, Grécia 0,8 e Portugal 0,6. No inícioda Era Industrial, a quantidade de lixo por habitante, por dia, não che-gava a 500 gramas nos Estados Unidos e na Europa, quase todo eleconstituído de matéria orgânica e de produtos biodegradáveis. Nestefinal do século XX, o lixo é muito mais volumoso e formado por materiaisque levam muito tempo para se decompor e integrar-se na natureza,arrolados a seguir com o número aproximado de anos que duram: vi-dro (1.000), plástico (100), alumínio (50), ferro (10). Alguns produtoscontêm componentes altamente poluidores, como as pilhas elétricas(ácido e metais pesados), baterias de celular (radioatividade), lâmpa-das elétricas (mercúrio e tungstênio), equipamentos de raios X (radioa-tividade), impressoras de computador (metais pesados e plástico). Noséculo XXI, a destinação do lixo será cada vez mais difícil e dispendiosa,dificultando a vida dos moradores das grandes cidades. A formação deaterros sanitários exige que se inutilizem áreas grandes e próximas dasregiões de coleta, há desprendimento de gases nocivos e infiltraçõesque podem comprometer os lençóis freáticos. Haverá um esforço cres-cente para reduzir o consumo de produtos que não se jambiodegradáveis, usar embalagens biodegradáveis, promover a coletaseletiva do lixo, bem como para que sejam reutilizados refugos quepossam ser introduzidos nas linhas de produção, economizando maté-ria-prima, energia e mão-de-obra. A tendência será sempre no sentidode penalizar financeiramente os fabricantes de produtos que não se-jam biodegradáveis ou reutilizáveis. A incineração do lixo poderia ate-nuar alguns problemas, mas se trata de medida dispendiosa, dado ocusto dos equipamentos e dos combustíveis, além de poluir a atmosfe-ra. A Organização Mundial da Saúde, órgão da Organização das Na-ções Unidas, estima que somente 10% do lixo descartado pela socieda-de humana seja tratado corretamente. Nada menos de 90% dos refu-gos são jogados em terrenos afastados, enterrados inadequadamente,atirados em córregos e rios, ou simplesmente abandonados nas proxi-midades das moradias. O lixo nuclear, resultante da transformação deurânio enriquecido em plutônio radioativo, altamente perigoso para a

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vida na Terra por centenas de anos, exigirá da ciência e tecnologia gran-des esforços para encontrar métodos seguros de reprocessamento earmazenamento. O lixo espacial, constituído por restos de foguetes esatélites desativados, está em órbita ao redor da Terra e representa umrisco crescente de colisão para a conquista do espaço exterior e para amanutenção de satélites. Neste final de século XX, estima-se que hácerca de 10 mil objetos em órbita terrestre. Ver Poluição.

Lua. Satélite natural da Terra, satélite de um planeta qualquer.Em meados do século XX, a sociedade dos homens realizou um grande

sonho alimentado há muito tempo e por muitos considerado impossível:enviar uma nave tripulada à Lua e dela regressar trazendo informaçõespreciosas e amostras para estudos. Os norte-americanos desenvolveramavançada tecnologia aeroespacial e em julho de 1969 conseguiram reali-zar a notável proeza, embora quase nada tenha resultado de prático daconquista feita por três astronautas, a não ser contribuir para o aperfei-çoamento dos meios de conquistar o espaço e alcançar outros corposcelestes. A Lua é um satélite sem vida, alcançá-la e aproveitá-la é tarefacom uma equação de custo e benefício duvidosa. No final do séculoXX, observações feitas por sondas espaciais revelaram que há vestígiosde água congelada no fundo de crateras lunares. Alguns cientistas afir-mam que a Lua talvez possa ser usada no futuro como escala intermediá-ria, dada sua gravidade reduzida, para o lançamento de naves espaciais.Tal uso, porém, é contestado pelos que argumentam apontando os aper-feiçoamentos nos sistemas de propulsão já alcançados nos lançamentosde sondas espaciais e satélites da Terra, feitos diretamente de bases ter-restres usando possantes foguetes. Escapar da gravidade terrestre serátarefa bem mais fácil a partir das plataformas espaciais que estarão naórbita da Terra, bem mais próximas do que a Lua. Mesmo assim, a curio-sidade científica, os interesses militares e as pressões comerciais exercidaspelos construtores de equipamentos e pelos responsáveis por progra-mas que tenham como objetivo a conquista do espaço acabarão por le-var o homem à Lua mais vezes no decorrer do século XXI, em viagensque completarão uma longa série de sucessos. Como se trata do corpoceleste até hoje mais estudado pelo homem e o único pisado por elevárias vezes no século XX, vale a pena consignar a cronologia das viagensà Lua por naves tripuladas e não tripuladas. Mais uma vez convém adver-tir que essas ousadias espaciais da espécie humana não foram o fruto deuma convergência de ações científicas e técnicas altruístas, mas sim o re-sultado de uma acirrada disputa entre duas nações da Terra, os EstadosUnidos e a então União Soviética, que tiveram como objetivo primordialalcançar a hegemonia política e militar.

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1959. União Soviética .......Luna 2...............................somente impacto na Lua1959. União Soviética .......Luna 3............................sonda com envio de sinais1964. Estados Unidos ..........Ranger 7..........................somente impacto na Lua1965. União Soviética .......Zond 3...........................sonda com envio de sinais1966. Estados Unidos ..........Surveyor 1...........................pouso e envio de sinais1966. Estados Unidos ..........Lunar Orbiter 1...............entrou em órbita da Lua1966. União Soviética .......Luna 9.................................pouso e envio de sinais1966. União Soviética .......Luna 12.............................entrou em órbita da Lua1967. Estados Unidos ..........Surveyor 3...........................pouso e envio de sinais1967. Estados Unidos ..........Lunar Orbiter 5...............entrou em órbita da Lua1967. Estados Unidos ..........Surveyor 6...........................pouso e envio de sinais1968. União Soviética .......Zond 5....................................missão de ida e volta1968. Estados Unidos ..........Apollo 8.......................tripulada, em órbita da Lua1969. Estados Unidos ..........Apollo 10.....................tripulada, em órbita da Lua1969. Estados Unidos ..........Apollo 11........TRIPULADA, POUSO NA LUA1969. Estados Unidos ..........Apollo 12...........................tripulada, pouso na Lua1970. Estados Unidos ..........Apollo 13...........................tripulada, missão falhou1971. Estados Unidos ..........Apollo 14...........................tripulada, pouso na Lua1971. Estados Unidos ..........Apollo 15...........................tripulada, pouso na Lua1972. Estados Unidos ..........Apollo 16...........................tripulada, pouso na Lua1972. Estados Unidos ..........Apollo 17...........................tripulada, pouso na Lua1972. União Soviética .......Luna 21...........................pouso, coleta de amostras1973. União Soviética .......Luna 24..............................pouso, amostras e fotos1976. União Soviética .......Luna 29..............................pouso, amostras e fotos1990. Japão ...........................Hiten..................................em órbita, fotos da Lua1994. Estados Unidos ..........Clementine............................órbita, fotos, sensores1998. Estados Unidos ..........Prospector.............................órbita, fotos, sensores1999. Japão ...........................Lunar A................................órbita, fotos, sensores

Como se observa, alcançado o objetivo maior de pousar na Lua e delaregressar trazendo amostras para análise, os programas arrefeceram. Paraisso contribuiu o fim da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética,o que confirma a tese de que a conquista da Lua, e por extensão a conquistado espaço, do Sistema Solar e da nossa galáxia, é antes de tudo uma iniciativahumana com raízes nos antagonismos entre nações da Terra, que gastaramcom as missões acima mencionadas uma soma de dinheiro da ordem deUS$ 500 bilhões, recursos que poderiam ter sido destinados para resolverproblemas agudos da família humana, entre eles a poluição, a ignorância, adesnutrição e a falta de assistência médica para os bilhões de desvalidosexistentes no mundo. A redação deste livro estava no fim, em agosto de1999, quando a agência espacial norte-americana NASA enviou e fez explo-dir numa cratera lunar a nave Lunar Prospector. O objetivo seria levantaruma nuvem de detritos para que análises espectrais feitas por telescópios

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pudessem revelar se há ou não água na Lua. Os interesses declarados pordirigentes da NASA nessa missão seriam obter recursos para financiar ainstalação de uma estação científica permanente e a exploração mineral nosatélite da Terra. Tal iniciativa reforça a tese, defendida neste livro, de que aespécie humana (o seu contingente diferenciado que evolui no rumo doHomo sapiens sapiens) aplica centenas de bilhões de dólares na preparação deuma rota de fuga, deixando para trás praticamente a totalidade do chamadoHomo sapiens, mais de 6 bilhões de seres humanos, na sua grande maioriacondenados à miséria. Tentamos conhecer e semear o nosso Sistema Solar?Mas que conhecimento desejamos obter e que sementes desejamos plantar seum dos nossos primeiros atos é uma violenta e destruidora explosão, semcogitar sequer de que também no Cosmo poderia haver algo assim como umcódigo de direito sobre matéria, energia e as centelhas de vida (semelhantesou não à nossa) que certamente existem no Universo infinito? Ver População.

Luz. Radiação eletromagnética capaz de provocar sensação visual numobservador normal, claridade emitida pelos corpos celestes.

Neste final de século XX sucedem-se as descobertas sobre a natureza, apropagação e o uso de várias formas de luz. Raios laser e transmissões porfibras ópticas são duas delas. Há outras em estágio adiantado de pesquisateórica e prática, que prevêem uma interação da luz com a própria luz e atransmissão através da matéria. No transcorrer do século XXI, muitos avan-ços serão feitos pela ciência e tecnologia no que se refere à natureza da luze a sua relação com matéria e energia, tendo como fundamento a equaçãofundamental de Einstein E = M x V². O Cosmo infinito é insondável e nãonos bastarão os 100 anos seguintes ao ano 2000 para conhecê-lo e descobrirtodas as suas singularidades. Cientistas ousados chegam a admitir configu-rações de átomos que fogem completamente às que hoje nos são familiares,diferentes inclusive daquelas fundamentais para a existência da matéria or-gânica e da vida, como as entendemos e possuímos, com matriz constituídabasicamente de átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Assim, vida noCosmo infinito poderá talvez existir sem as peculiaridades daquilo a quedamos o nome de vida. Talvez vida consubstanciada em arquiteturas áto-mo-moleculares feitas de luz, ou de energia pura, sem relação alguma comas arquiteturas átomo-moleculares que nos são familiares porque delas so-mos formados. Ver Cosmo.

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Magma...............................................................................................................131Malthusianismo................................................................................................131Marte..................................................................................................................132Matéria escura..................................................................................................133Mercúrio............................................................................................................133Metano..............................................................................................................134Monóxido de carbono.....................................................................................134

MA sociedade humana e todas as demais espécies

animais e vegetais da Terra vivem sobre a crosta terrestre,que envolve camadas de magma muito quentes.

Neste final de século XX, não foi ainda atribuído o devidovalor a essa extraordinária potencialidade energética, até hoje

aproveitada em poucas usinas termelétricase em alguns ensaios experimentais.

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Magma. Massa natural fluida, ígnea, de origem profunda, que ao esfriarse solidifica, dando origem à rocha magmática ou lava vulcânica.

No final do século XX, a sociedade dos homens ainda não atribuiu a me-recida importância à imensa fonte de energia térmica existente sob a crostaterrestre, em alguns lugares aflorando nas chamadas regiões vulcânicas. NaIslândia e na Nova Zelândia há usinas que aproveitam o calor do magma paraaquecer água, produzir vapor e gerar energia elétrica. Em Nova York há umaproveitamento singular. Perfurou-se um poço profundo sob os alicerces degrande edifício, dentro do qual há canalização onde circula água. No invernoela vai ao fundo captar calor para distribuí-lo pelos aposentos do edifício. Noverão o sistema hidráulico retira calor dos aposentos e o dissipa no subsolo,nas camadas que ainda conservam as temperaturas baixas remanescentes doinverno. No transcorrer do século XXI, ao escassearem as jazidas de combus-tíveis fósseis e se elevarem os preços do petróleo, ciência e tecnologia desen-volverão processos semelhantes, mas em maior escala, para obter aquecimen-to ou refrigeração, bem como para aproveitar o calor do magma e gerar eletri-cidade em termelétricas. Ver Energia.

Malthusianismo . Teoria econômica formulada pelo economista inglêsMalthus em 1798, segundo a qual existe um determinado nível de populaçãoque garante a renda per capita máxima, de sorte que qualquer aumento ouqueda no número de habitantes baixa a eficiência econômica do país.

A sociedade humana chegaria a uma situação de caos econômico esocial porque a população cresceria de acordo com os índices de umaprogressão geométrica, ao passo que a produção de alimentos aumentariade acordo com os índices de uma progressão aritmética. Os avanços al-cançados com a seleção de espécies para obter outras com produtividademais elevada, bem como a engenharia genética que está criando plantastransgênicas, capazes de se adaptar a qualquer condição ambiental, alémde resistir ao ataque de parasitas e predadores, para produzir mais e me-lhor, alteraram a equação malthusiana. No século XXI, será possível pro-duzir alimentos na quantidade exigida para uma população crescente. Fal-tará, no entanto, organização socioeconômica que assegure a oferta des-ses alimentos abundantes aos contingentes populacionais das nações po-bres, que não contam com fatores de trabalho que lhes permitam gerarrenda para adquiri-los, mantidas as regras comerciais vigentes neste finalde século XX. Há doações de alimentos feitas por países ricos, que osproduzem, para países pobres, onde eles escasseiam. A FoodAdministration Organization, FAO, órgão da Organização das Nações Uni-das, precisará ser mais atuante para criar novas regras comerciais que per-mitam atender às demandas não só dos países nos quais persiste a estag-nação econômica e tecnológica, como também daqueles onde ocorramtranstornos climáticos. Ver Alimento.

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Marte. O quarto planeta em ordem de afastamento do Sol, o único doSistema Solar que tem características parecidas com as da Terra.

Tem um diâmetro de 6.800 quilômetros (a Terra tem 12.757) e está a 228milhões de quilômetros do Sol. Sua rotação é quase a mesma da Terra: 24horas e 37 minutos. Tem atmosfera rarefeita e sua temperatura varia ao redorde 0ºC. Possui dois pequenos satélites: Fobos e Deimos. Tudo indica que,neste final do século XX, as entidades voltadas para a conquista do espaçodefiniram o planeta Marte como o grande objetivo de suas conquistas noséculo XXI. Desde a década de 70, os norte-americanos buscam o conheci-mento desse planeta, usando sondas espaciais, tendo obtido fotografias einformações com as sondas Viking. Em 1996, ocorreram dois lançamentosde naves norte-americanas mais sofisticadas, cujos objetivos se prendemdiretamente ao preparo de uma missão tripulada, que descerá em Marte porvolta do ano 2018, segundo previsões da NASA. Em novembro de 1996,partiu a Mars Global Surveyor. A Mars Pathfinder foi lançada logo depois, emdezembro de 1996. Levaram 10 meses para chegar ao seu destino. Ambasentraram em órbita de Marte, mas com missões diferentes. Em 1998, a MarsPathfinder pousou na superfície do planeta e nela depositou um pequenoveículo robotizado, movido a energia solar, que durante um mês percorreu osolo marciano enviando para os centros aeroespaciais da Terra, nos EstadosUnidos, fotografias coloridas e informações sobre análises de amostras reco-lhidas do solo. A nave Mars Global Surveyor permanece em órbita de Martee periodicamente envia informações aos cientistas da NASA. No princípio de1999, essa agência espacial recebeu informações surpreendentes que revela-ram detalhes do relevo marciano, incluindo montanhas elevadas, calotas pola-res cobertas de gelo, canais sinuosos nos quais poderiam ter corrido rios nopassado. As fotografias coloridas, de grande nitidez, mostraram inclusive ovulcão mais alto até hoje identificado no Sistema Solar, que tem 26 quilôme-tros de altura (três vezes a do Everest) e 600 quilômetros de largura média nabase. Mas a grande curiosidade dos cientistas não foi ainda satisfeita, poisnem as imagens nem as análises físicas e químicas revelaram os menores indí-cios de que tenha havido ou ainda exista vida nesse planeta. Algunspaleontólogos afirmam, em 1999, que encontraram indícios de bactériasfossilizadas em meteoritos recolhidos na Terra que teriam origem em Marte.É oportuno reafirmar, mais uma vez, a linha de pensamento do autor destelivro. Há muitas propostas fantasiosas a respeito de Marte e de outros pla-netas do Sistema Solar. Especula-se sobre a existência passada e presente devida, há sugestões para que se construa uma colônia habitada por sereshumanos, alguns ousados articulistas chegam a apontar esse e outros plane-tas como possíveis fontes de matérias-primas. Tudo isso não passa de idéiasdelirantes de pessoas que buscam notoriedade, de interesses comerciais depoderosas empresas encarregadas de desenvolver projetos espaciais, ou de

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autores de ficção científica alheios à penosa realidade socioeconômica de gran-des contingentes da família humana. Ver Cosmo.

Matéria escura. O conjunto de corpos celestes que não são visíveis por-que não emitem luz.

Um dos maiores desafios para os astrofísicos, no transcorrer do séculoXXI, será estudar a imensa massa invisível existente no Cosmo, que segun-do alguns cientistas chegaria a perfazer 99% da matéria existente no espaçoinfinito. O restante 1% seria constituído pela matéria e energia que conse-guimos ver a olho nu ou com o auxílio de telescópios terrestres ou com otelescópio espacial Hubble. Em outras palavras, supõe-se que a soma detoda a matéria existente nas estrelas e planetas visíveis, em todas as galáxias,chegaria a somente 1% de tudo o que existe no Universo. Os 99% restantesconstituiriam uma interrogação para a ciência, não passando talvez de mas-sa que não brilha ou não reflete a luz das estrelas. Se os astrônomos encon-tram dificuldades para observar e medir a matéria que emite luz na nossagaláxia e em todas as outras do Cosmo (eles ousam especular que há 125bilhões delas no Universo), que dizer do estudo da matéria escura? Diantedos obstáculos cabe a eles somente formular hipóteses. Uma delas é a daalternância das expansões e contrações de um Universo não estável, pulsante.No correr de bilhões de anos, matéria e energia concentrar-se-iam até for-mar um núcleo de gravidade tão intensa a ponto de provocar uma singulari-dade que o faria “explodir” (Big Bang) e lançar “estilhaços” para todas asdireções cósmicas, sob a forma de galáxias e de matéria escura. Estaríamosnuma dessas expansões, “a bordo” da nossa galáxia Via-Láctea, “a bordo”do nosso Sistema Solar, “a bordo” do nosso planeta Terra. As galáxias seexpandiriam, as mais distantes com maior velocidade em relação às maispróximas. Sugerem alguns astrofísicos que a imensa força de gravidade dos“preponderantes” 99% de matéria escura é que determinaria essa variaçãode velocidade do “exíguo” 1% de matéria visível. Estrelas apagando-se, au-mentando a matéria escura, elevando a atração gravitacional, que reduziriaa velocidade das galáxias mais próximas. Mas a expansão esmoreceria echegaria a um limite, definido por uma nova singularidade, e tudo começa-ria a “implodir” (Big Crunch), talvez tudo já “apagado”, tudo somente ma-téria escura, concentrando-se como se os “estilhaços” voltassem para trás,atraídos por forças crescentes de gravidade, unindo-se cada vez mais, atéformarem novamente o núcleo inicial superconcentrado de matéria. Prontopara mais um dos infinitos Big Bangs, que se alternariam com infinitos BigCrunchs. Trata-se de proposta das mais controvertidas. Ver Cosmo.

Mercúrio. Planeta interior, o menor do Sistema Solar e o mais próximodo Sol, o que torna difícil observá-lo.

Até o fim do século XX, o homem não se interessou em explorar

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com sondas espaciais esse planeta porque suas características são muitodesfavoráveis. Na verdade, Mercúrio é o menor planeta do Sistema Solar,uma rocha esférica com 4.800 quilômetros de diâmetro (a Terra tem12.757). Completa uma volta ao redor do Sol em 88 dias e dista dele 58milhões de quilômetros. Tem uma particularidade que intriga os astrôno-mos: mantém sempre a mesma face voltada para o Sol, na qual a tempera-tura chega a 400ºC. A outra face é sempre escura e gelada, com tempera-turas inferiores a 120ºC negativos. Alguns astrônomos perguntam: comoseriam as condições ambientais na faixa que separa essas duas faces? Maisuma vez cabe convidar o leitor a uma reflexão sobre a conquista do Siste-ma Solar pela espécie humana. As condições ambientais em Mercúrio sãode tal forma adversas a organismos animais e vegetais com uma constitui-ção átomo-molecular adaptada ao chamado período holoceno (a realidadeterráquea do “nosso hoje”, com temperatura na faixa de 60ºC negativos a60ºC positivos), que seria absurdo admitir que no século XXI (tambémnos séculos subseqüentes) seres humanos venham a se interessar por esseinsólito planeta. Ver Sistema Solar.

Metano. Gás incolor, um hidrocarboneto de estrutura simples, formadona decomposição da matéria orgânica. Produzido, principalmente, em pânta-nos e no rúmen de animais como os bovinos e outros, criados em númerosuperior a 20 bilhões de cabeças em todo o mundo.

Trata-se de um dos chamados gases de estufa, pois eleva-se na atmosferajuntamente com monóxido e dióxido de carbono, além de outros gases, paracompor a camada que envolve a Terra e provoca o seu aquecimento anormal.Ver Efeito estufa.

Monóxido de carbono. Molécula formada por um átomo de oxigênio eum de carbono, gás venenoso que se desprende, juntamente com outros ga-ses, quando se queimam combustíveis fósseis.

Monóxido e dióxido de carbono são os dois gases que mais se despren-dem dos canos de escapamento dos veículos impulsionados por motores aexplosão que consomem gasolina e óleo diesel. São também os gases expe-lidos em maior quantidade pelas chaminés de indústrias e termelétricas quequeimam carvão, óleo combustível e outros derivados de petróleo. A quei-ma de gás natural é menos poluente. Os gases poluentes gerados pela quei-ma de combustíveis fósseis acumulam-se ao redor da Terra, provocando oseu aquecimento anormal e alterações no clima. A Federação das Indústriasdo Estado de São Paulo, FIESP, por intermédio do seu Departamento deMeio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, está em condições deorientar os empresários para que reduzam em suas indústrias a emissão degases de estufa, inclusive o monóxido de carbono. Ver Efeito estufa.

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Natureza...........................................................................................................136Nebulosa...........................................................................................................136Netuno...............................................................................................................137Nutrição...........................................................................................................137

NO telescópio espacial Hubble foi um dos maiores avanços

científicos do século XX, permitindo ao homemdescobrir e fotografar ocorrências

extraordinárias na nossa galáxia e em nebulosas que estãoalém dela. Graças a esse notável equipamento e aos

seus sucessores mais aperfeiçoados, desvendaremos no século XXI muitos segredos do Universo.

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Natureza. Conjunto de todos os seres que constituem o Universo, forçaativa que estabeleceu e conserva a ordem natural de tudo quanto existe.

Os seres da Terra, animais e vegetais, são estimados pelos cientistasneste final de século XX em cerca de 15 milhões de espécies. Mas trata-sede um número especulativo, pois nem todos os microecossistemas dabiosfera foram até hoje alcançados pelo homem. Permanentemente, háespécies que surgem e espécies que desaparecem. O homem é um agenteimportante nesse processo, pois além de eliminar espécies que não inte-ressam diretamente à sua subsistência e aos seus usos, perturba e destróiecossistemas importantes, interferindo assim na sobrevivência das espéciesanimais e vegetais que neles habitam e no possível surgimento de novasespécies. Essa destruição prosseguirá no decorrer do século XXI, emborase consigne uma reação conservacionista em muitos setores da sociedadehumana, que procura poupar a biodiversidade e algumas espéciesameaçadas de extinção. Uma entidade que merece ser mencionada, pelasua ação em defesa do desenvolvimento sustentável, bem como da faunae flora da Terra, é o Fundo Mundial para a Natureza, WWF (World WildlifeFund), entidade de âmbito internacional, cujo logotipo é um urso panda,espécie quase extinta, mas que lentamente recompõe o seu contingente.No Brasil, destaca-se na defesa da natureza a Fundação SOS Mata Atlân-tica, que se empenha primordialmente na preservação do que resta daflora e fauna na floresta litorânea do Brasil, da qual 95% foi destruída pelaocupação humana nos últimos 500 anos. Ver Biodiversidade.

Nebulosa. Corpos celestes que se apresentam com o aspecto de manchaesbranquiçada e difusa, podendo ser galáctica ou extragaláctica.

Neste final do século XX, a ciência e a tecnologia deram um passoimportante para conhecer melhor os corpos celestes e as suas aglomera-ções, ao colocar em órbita da Terra o telescópio espacial Hubble. Sucessi-vamente, no decorrer deste ano de 1999, novas revelações são divulgadassobre ocorrências extraordinárias na nossa galáxia, a Via-Láctea, bem comosobre a existência de corpos celestes antes ignorados, como planetas gi-rando em órbita ao redor de estrelas, algumas delas maiores do que o Sol,especulando-se sobre a possibilidade de neles existir vida. Uma descobertarecente está sendo cuidadosamente investigada, pois os astrônomos con-sideram o planeta observado como sendo o que maior probabilidadeapresenta de conter vida, entre os cerca de 20 outros corpos celestessemelhantes até hoje identificados. Ele foi observado na Via-Láctea, acerca de 300 mil trilhões de quilômetros da Terra. Seu volume seria quatrovezes maior do que o do nosso Planeta e giraria ao redor do seu sol se-guindo uma órbita elíptica que definiria estações quentes e frias, comtemperaturas que variariam entre 0 e 100ºC. Se existir água nesse planeta

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ela poderá permanecer no estado líquido, favorecendo assim o desenvol-vimento de alguma forma de vida. No decorrer do século XXI, muitasoutras descobertas como essa serão feitas na nossa galáxia e fora dela. Seé assim na Via-Láctea, especulam os astronômos, o que esperar da reali-dade físico-químico-biológica nos demais 125 bilhões de galáxias que aciência hoje especula existir? O que haverá nas infinitas galáxias que anossa condição finita não consegue abranger? Ver Vida extraterrestre.

Netuno . O penúltimo planeta do Sistema Solar, muito distante daTerra e muito frio.

É o quarto planeta em tamanho, com 45 mil quilômetros de diâmetro (aTerra tem 12.775). Neste final de século XX, não tem despertado muitointeresse de estudo para os pesquisadores do espaço dadas as suas condi-ções ambientais adversas. Calcula-se que a temperatura em sua superfícieseja de cerca de 170ºC negativos. Está a uma distância de 4 bilhões e 500milhões de quilômetros do Sol. Seu período de translação ao redor do Solequivale a 165 anos terrestres, pouco menos dos 200 anos da Era Industrialque tomamos como um dos parâmetros ao escrever este livro. Sua rotaçãose faz a cada 15 horas e 45 minutos. Ao seu redor giram dois satélites, Tritãoe Nereida. Vale a pena voltar, neste segmento, ao ponto de vista cautelosodo autor no que se refere às aventuras espaciais do ser humano no decorrerdo século XXI. Ciência e tecnologia avançam celeremente, mas nada nosacena com a possibilidade de realizarmos as extravagantes incursões extra-terrestres previstas por alguns autores de ficção científica. É prudente levarem conta que o principal estímulo para as pesquisas e realizações da NASA,a guerra fria entre Estados Unidos e a ex-União Soviética, já não existemais. O Congresso dos Estados Unidos tem se mostrado relutante ao apro-var verbas para essa agência espacial. A Rússia está com a sua economiadesarvorada e mal suporta os compromissos já assumidos de participar doprojeto internacional de montar uma nova estação em órbita da Terra. OJapão enfrenta dificuldades de ordem econômica e financeira. Os países daComunidade Européia demonstram a tendência de canalizar seus recursospara programas de cunho social. Enfim – perguntam cientistas em númerocada vez maior –, o que vamos fazer em Netuno, ou mesmo em Marte, ouem qualquer outro planeta do Sistema Solar, se temos tantos problemasgraves a resolver aqui na Terra? Ver Sistema Solar .

Nutrição. Sustento, alimento, nutrimento, o que é essencial ingerir paramanter a vida.

No final do século XX, há grandes contingentes de seres humanos quenão conseguem alcançar índices de nutrição adequados a uma vida saudável.Não somente no que se refere às 2.500 calorias diárias recomendadas pela

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Organização Mundial da Saúde, mas também no que toca à qualidade ediversificação do que é ingerido, importantes para evitar a monotonia ali-mentar e assegurar ao organismo todos os micronutrientes indispensáveisao seu bom funcionamento. Observam-se hoje tendências contraditóriase indesejáveis em países cuja população usufrui elevada média calóricaalimentar, como nos Estados Unidos e em alguns países da ComunidadeEuropéia, nos quais contingentes que chegam a ingerir por dia mais de3.000 calorias apresentam tendência à obesidade e evidentes sintomas dedesnutrição. Submissão a apelos comerciais, falta de informação, hábitosde consumo ditados pelas condições de vida e trabalho, tais são algunsdos fatores que estão contribuindo para essas distorções. Por outro lado,neste final do século XX, reconhece-se que o organismo humano passoumilênios adaptando-se a determinados padrões nutritivos, para deles seafastar abruptamente no decorrer dos últimos 100 anos, desde que se pas-sou a refrigerar o leite e impedir a formação de lactobacilos, brunir grãose eliminar películas com propriedades nutritivas essenciais, não comer frutassecas com seus microrganismos benéficos, substituir o azeite de oliva nãorefinado por óleos refinados e com aditivos impróprios, enfim, desde que asociedade substituiu os alimentos naturais pelos alimentos industrializa-dos. No século XXI, os alimentos transgênicos desempenharão papel pre-ponderante na nutrição do homem, depois que a ciência demonstrar cabal-mente que está em condições de eliminar eventuais (ainda não comprova-dos) efeitos prejudiciais ao meio ambiente e ao organismo do ser humano.Ver Alimento.

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Oceano..............................................................................................................140ONG................................................................................................................140ONU.................................................................................................................141Oxidação...........................................................................................................141Ozônio..............................................................................................................141

OA vida teria surgido há 3 bilhões de anos nos oceanos e estesainda desempenham papel fundamental na conservação de

todas as espécies animais e vegetais, embora o homemos ameace com poluição, assoreamento e pesca predatória.

Os mares do mundo oferecem o extraordináriopotencial da aqüicultura,

uma das esperanças para o século XXI.

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Oceano. A vasta extensão de águas salgadas que cobre a maior parte daTerra, berço da vida, fonte de alimento e de oxigênio.

No decorrer do século XXI, a espécie humana decidirá o destino dosoceanos, que cobrem cerca de 70% da superfície da Terra, e assim estarádecidindo o seu próprio destino. Esse imenso volume de água torna nossoPlaneta único no Sistema Solar, talvez pouco igualado na Via-Láctea, possi-velmente sem muitos semelhantes a ele nos 125 bilhões de galáxias que al-guns cientistas chegam hoje a especular que existam no Cosmo. Como tantasoutras espécies, no passado e no futuro, a espécie humana surgiu, vive o seg-mento temporal presente e depois desaparecerá no ecossistema da Terra, ondeos oceanos constituem a parcela primordial. Antes de tudo porque as algasverdes espalhadas por todos os mares do mundo são responsáveis por cercade 90% da fotossíntese realizada na Terra. É possível afirmar, portanto, quenosso ar está no mar. Mesmo assim, o homem o agride permanentemente.Cerca de 80% de toda a poluição marinha tem origem em fontes criadas emterra pela ação humana: esgotos sem tratamento, efluentes industriais, resí-duos tóxicos ou radioativos, pesticidas mal aplicados e que se dissolvem naságuas das chuvas, solo transportado de campos de cultura que provocaassoreamentos. O homem exagera a capacidade autodepuradora dos ocea-nos, por isso eles estão ameaçados por mais de 6 bilhões de pessoas queainda não se de deram conta de que a possibilidade de estender um poucomais (não para sempre) a existência da espécie Homo sapiens depende deuma ação favorável ao desenvolvimento sustentável. Um dos seus manda-mentos básicos é evitar a pesca predatória, prática comum neste final doséculo XX, quando navios-fábrica percorrem os mares do mundo atrain-do cardumes com sofisticados sonares, recolhendo todos os peixes, inclu-sive filhotes, com redes de malha fina, capturando por sucção outras for-mas de vida marinha para transformá-las em pasta comestível protéica ouem adubo. Tudo isso é feito para evitar investimento e beneficiar-se doimediatismo comercial, quando está provado que a aqüicultura poderiaatender às demandas de produtos marinhos e proporcionar bons lucros. Épreciso que as atividades preservacionistas se voltem para os manguezais,berçários mais importantes da vida marinha, para os bancos de coral epara as florestas de algas onde proliferam tantos seres animais e vegetaisúteis à sociedade dos homens. Ver Aqüicultura.

ONG. Organização Não Governamental.A partir da Primeira Conferência Mundial da ONU sobre meio ambiente,

Estocolmo-1972, a sociedade dos homens começou a se preocupar maiscom a preservação do Planeta Terra. Os governos de várias nações consti-tuíram entidades oficiais para estudar o assunto e definir açõespreservacionistas. A sociedade também passou a constituir grupos privados

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com o mesmo objetivo, que passaram a ser chamados de ONGs, Organiza-ções Não Governamentais. Depois da Segunda Conferência Mundial da ONUsobre meio ambiente, a Rio de Janeiro-1992, esses grupos se multiplicaramno mundo todo. Há ONGs de âmbito internacional, como o World WildlifeFund, WWF, no Brasil chamado Fundo Mundial para a Natureza, e ONGs deâmbito nacional, como a SOS Mata Atlântica, que se empenha pela preserva-ção da fauna e flora da floresta litorânea brasileira, devastada na proporção de95% nos últimos 500 anos. Ver Floresta.

ONU. Organização das Nações Unidas.Entidade de âmbito internacional, com sede em Nova York, que congrega

as 188 nações da Terra. Foi criada com o objetivo de estudar e orientar aproblemática mundial, buscando a paz, a concórdia, a eqüidade socioeconômica,a preservação dos direitos do homem. Lamentavelmente, no seu meio séculode existência, a ONU ainda não conseguiu uma efetiva influência para que ospovos alcancem os objetivos inscritos nos seus códigos. Mas ela representa,antes de tudo, uma esperança de que a humanidade, no decorrer do séculoXXI, evolua no rumo do desenvolvimento sustentável, da prosperidade e dajustiça social. Ver Alimento.

Oxidação. Ato ou efeito de oxidar-se, oxigenação, fixação de oxigênio emum corpo.

A atmosfera da Terra caracteriza-se pela presença de oxigênio, fonte devida de animais e vegetais, mas também causa da oxidação e morte de todasas espécies animais e vegetais. Neste final de século XX, observa-se uma con-tínua deterioração de todas as obras concebidas pelo homem, conforme seuscomponentes sejam mais ou menos sujeitos à oxidação. Surge daí o conceitode materiais biodegradáveis. Matéria orgânica desaparece em pouco tempodecomposta por microrganismos. Papel, papelão e tecidos levam um poucomais de tempo, mas também se decompõem. O ferro é oxidado e corroído, oaço inoxidável resiste mais ao ataque contínuo do oxigênio. O plástico e ou-tros materiais similares são nocivos ao meio ambiente porque não sãobiodegradáveis. No século XXI, haverá uma preocupação muito grande comtrês importantes aspectos: processo industrial que não cause danos ao meioambiente, produtos que sejam biodegradáveis depois de esgotada a sua vidaútil e materiais facilmente recicláveis. Ver Poluição.

Ozônio. Gás azul pálido, muito oxidante e reativo, que é uma variedadealotrópica do oxigênio.

O ozônio é mais leve do que o ar e forma ao redor da Terra, na estra-tosfera, uma camada que tem a propriedade de reter parte dos raiosultravioleta provenientes do Sol, que por isso chegam à biosfera bastante

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atenuados. Os raios ultravioleta interferem no cromossomo das célulasanimais e vegetais. Segundo opinião de alguns cientistas, essa capaci-dade de modificar a configuração cromossômica desempenhou papel fun-damental no aparecimento e na evolução da vida na Terra. Mas quandoos raios ultravioleta incidem em excesso, a sua ação sobre as células éacentuada demais e chega a ser lesiva. Grande exposição aos raiosultravioleta provoca no homem alterações celulares que acabam degene-rando em câncer de pele. O mesmo acontece com outros animais. En-tão, a camada de ozônio que protege a Terra é essencial para a vida. Masela está ameaçada. Gases usados pelo homem em aparelhos de refrigera-ção e nos sprays, os clorofluorcarbono, CFCs, são mais leves do que o are sobem para a estratosfera quando escapam de seus recipientes. Láem cima esses gases reagem com o ozônio da camada protetora e adestroem, pois formam o composto inerte ClO, com liberação de doisátomos de oxigênio. Há necessidade, portanto, de banir o uso dos CFCsou de substituí-los por outros gases que não provoquem esse dano nacamada de ozônio. Esses compostos alternativos já foram identificadospela ciência e estão à venda. Sob os auspícios da Organização das Na-ções Unidas, representantes dos países industrializados reuniram-se emMontreal, no Canadá, no início da década de 90, e assinaram um com-promisso de banir de vez o uso dos gases clorofluorcarbono até o ano2001. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, FIESP, porintermédio do seu Departamento de Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável, está em condições de orientar os empresários para que subs-tituam nos seus produtos os gases clorofluorcarbono por outros gasescom as mesmas propriedades. Ver Camada de ozônio.

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Período...............................................................................................................144Pesca....................................................................................................................145Petróleo...............................................................................................................146Plutão..................................................................................................................146Poluição.............................................................................................................147População..........................................................................................................148Proálcool...........................................................................................................149

PA população humana cresceu desordenadamente e chegou a

6 bilhões de indivíduos em outubro de 1999.Alguns demógrafos otimistas apontam para o índice médio de

crescimento em declínio, mas o que realmentepreocupa é que o contingente pobre de 70% da humanidade

cresce 2,5% ao ano e o contingente não pobre de 30%cresce quando muito 1,5% ao ano.

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Período. O tempo transcorrido entre duas datas ou dois fatos mais oumenos marcantes, em geologia e biologia a divisão de cada uma das eras.

A história geológica da Terra é importante para que se possa alcançar umdos objetivos deste livro, que é atribuir a verdadeira dimensão à chegada doano 2000 e do século XXI da Era Cristã. Vale a pena, para isso, ofereceralgumas informações sobre o nosso longínquo passado, que se revela naspáginas escritas nas rochas pelas águas, pelos gelos e pelos ventos, quandodefiniram as sucessivas fisionomias do planeta, com as vidas animais e vege-tais que lhes foram peculiares. A era arqueozóica é a mais antiga e correspondeao período arqueano, entre 2 bilhões e 1 bilhão de anos atrás. As eras e osrespectivos períodos foram os seguintes:

Eras Início há n de anos Períodos

Arqueozóica.................................2 bilhões........................................ArqueanoProterozóica.................................1 bilhão.....................................Algonquiano 600 milhões.................................Pré-CambrianoPaleozóica.................................500 milhões.....................................Cambriano 400 milhões..................................Ordoviciano 350 milhões........................................Silusiano 300 milhões.....................................Devoniano 250 milhões...................................Carbonífero 200 milhões.......................................PermianoMesozóica................................160 milhões..........................................Triásico 130 milhões.........................................Jurássico 100 milhões.........................................CretáceoCenozóica...................................70 milhões......................................Paleoceno 50 milhões..........................................Eoceno 30 milhões......................................Oligoceno 15 milhões ........................................Mioceno 1 milhão......................................... PliocenoNeozóica...................................100 mil .............................................Plistoceno

atual............................................Holoceno

A era arqueozóica é a mais longa e a menos conhecida, mas segundo al-guns arqueólogos já haveria organismos vivos unicelulares. Um único e imen-so continente chamado Pangéia existiria na Terra, ocupando cerca de um ter-ço de sua superfície. Os outros dois terços seriam recobertos por águas con-tínuas e muito diferentes das atuais, talvez um caldo espesso e quente carrega-do de produtos químicos pré-bióticos, como álcoois e ácidos orgânicos, alémde compostos aromáticos. Eles permaneceriam ora no estado líquido, oravolatilizando-se e passando a uma atmosfera também muito diferente daatual, densa, cortada por freqüentes descargas elétricas de alta potência,

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tumultuada por furacões permanentes, atingida com intensidade pelos raiosultravioleta vindos do Sol. Sucediam-se os impactos de muitos asteróides ecometas. Tal seria a terrificante (para nós, não para as primeiras célulasvivas) era arqueozóica. Os geólogos supõem que na era proterozóica o grandee único continente Pangéia ainda existia flutuando sobre o magma, mascom rachaduras que antecipavam a sua divisão em várias partes. Na erapaleozóica, a vida evoluíra nos oceanos e passara para a terra dos continen-tes, já separados uns dos outros, mas ainda próximos. Restam fósseis dessaera, quando a vida se repartira em dois reinos, o animal e o vegetal. Na eramesozóica, os continentes já se distanciavam como grandes massas separa-das por mares que se ampliavam cada vez mais, a vida terrestre e marítimase diversificara e evoluíra muito, sobressaíam nas paisagens de então répteisgigantescos, a flora começara a assemelhar-se à atual, os continentes mos-travam-se com um desenho parecido com o de hoje. Na era cenozóica, aatividade vulcânica ainda intensa projetou montanhas que subsistem até onosso tempo, entre elas as cordilheiras do Himalaia e dos Andes, os Alpes eas Montanhas Rochosas. Os répteis gigantescos começam a se tornar raros,cedendo lugar aos mamíferos. Na era neozóica, também chamadaantropozóica (antropos, homem em grego), os mamíferos gigantes começama desaparecer, dando lugar a mamíferos de menor porte, entre eles oshominídeos. Corresponde ao período plistoceno, iniciado há cerca de 100mil anos, quando teria surgido o Homo sapiens. Eis o esboço das eras e dosseus períodos, que perfazem a fácies dos últimos 2 bilhões de anos da Terrae da Vida. O “nosso” segmento é nitidamente desprezível: 100 mil anos,que correspondem, arredondando, a 500 vezes a Era Industrial de 200 anos.Nele ocorreram 100 mil passagens de um ano para o outro, 1.000 mudançasde século, 100 dobradas de milênio. Ver Era.

Pesca. Ato ou prática de pescar, pescaria, tirar o peixe da água.A vida surgiu nos oceanos há cerca de 3 bilhões de anos, calculam os

biólogos, e a vida poderá desaparecer como conseqüência da morte dosoceanos, ocasionada pela sua poluição e pela pesca predatória, advertem osoceanógrafos neste final de século XX. Entre 1946 e 1970, a captura de recur-sos pesqueiros no mundo aumentou cerca de 6% ao ano, saque esse quecorrespondeu a um aumento de 18 para 60 milhões de toneladas por ano. Em1989, o homem capturou nos oceanos 87 milhões de toneladas de peixes eoutros animais marinhos. Em 1995, esse número elevou-se para 92 milhõesde toneladas. Evidentemente, um usufruto não sustentável. De um lado, pra-tica-se essa pesca predatória, com o uso de sonares para atrair os cardumes,de redes de malha fina que não poupam os filhotes, de sugadores de todos osorganismos vivos para transformá-los em comida ou adubo. De outro lado,há a sistemática poluição dos oceanos pelos esgotos não tratados, efluentesindustriais, pesticidas e substâncias radioativas. Em 1982, a sociedade huma-na percebeu o risco que corria e, sob o patrocínio da Organização das Nações

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Unidas, foi assinado o Protocolo do Direito do Mar, que marcou o fim daera de liberdade total de exploração dos oceanos que até então fora a nor-ma. A pesca da baleia foi proibida e limitou-se a coleta de outras espéciesameaçadas de extinção, entre elas o bacalhau, o atum e o esturjão. No séculoXXI, esse disciplinamento precisará ser mais rigoroso, mas somente com aexpansão da aqüicultura o homem se aproximará do desenvolvimento sus-tentável. Ver Aqüicultura.

Petróleo . Combustível líquido natural constituído quase só dehidrocarbonetos, que se encontra preenchendo vazios e poros de rochassedimentares, formando depósitos muito extensos.

Na segunda metade da Era Industrial (1800 a 2000), essa matéria-primapassou a ter grande importância econômica, comercial e política, estando suasjazidas na raiz de muitos conflitos diplomáticos e militares. Trata-se de umcombustível fóssil acumulado durante os 50 milhões de anos do períodocarbonífero, que o homem consome intensivamente há 100 anos, desde queele inventou o motor a explosão. As jazidas de petróleo no mundo são gran-des, ainda não totalmente dimensionadas, mas alguns cientistas calculam queelas começarão a escassear já na segunda década do século XXI, entre 2010 e2020, se o consumo continuar crescendo no ritmo atual. Não haverá faltarepentina dessa matéria-prima essencial, mas se farão sentir gradualmente,num crescendo, os sintomas peculiares à escassez de qualquer produto. Au-mentos de preço, acirramento pela disputa das jazidas, antagonismos redo-brados entre os grandes produtores e os grandes consumidores de petróleo,cujo abastecimento é considerado por todos os governos como questão bási-ca de segurança nacional. Uma grande atividade diplomática se desenvolveráno mundo, procurando equilibrar produção, consumo e comércio, mas nemsempre os estadistas e homens de negócios terão êxito. Certamente, no séculoXXI, será usada a força das armas para garantir o fornecimento de petróleo,manter no poder dirigentes dóceis de países produtores, depor chefes de Es-tado que se mostrem hesitantes ou contrários ao livre comércio que beneficieas grandes potências consumidoras dessa matéria-prima. Neste final de sécu-lo XX, já é possível identificar os contornos dessas crises em potencial entrepaíses que possuem grandes reservas de petróleo e países cuja prosperidade ebem-estar das respectivas populações estão condicionados ao elevado consu-mo de petróleo. Há razões de sobra, portanto, para que a sociedade brasileirapreserve e amplie as conquistas relacionadas com o Proálcool. Ver Energia.

Plutão. É o planeta mais distante do Sol, do qual dista cerca de 6 bilhõesde quilômetros.

Alguns o chamam de fim do mundo por estar tão longe do Sol. É omenor dos planetas, com provavelmente 6 mil quilômetros de diâmetro (aTerra tem 12.757). A comunidade científica já questionou se esse corpo ce-

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leste deveria ser assim classificado ou mereceria ser considerado somente comoum grande asteróide, pois sua massa é cerca de um sexto da massa da Lua.Neste final de século XX, o telescópio espacial Hubble tem permitido aosastrônomos conhecer melhor esse distante corpo celeste. Seu único satélite,Caronte, não passaria de uma bola de gases congelados a uma temperatura decerca de 170ºC negativos. Para dar uma volta completa ao redor do Sol, Plutãoleva 248 anos. Isso significa, considerando o termo de comparação adotadocomo tema central deste livro, a Era Industrial, que neste período de 200 anos(1800 a 2000) o longínquo planeta ainda não completou o “seu” ano detranslação. A sonda espacial Voyager enviada pelos norte-americanos em 1977para conhecer melhor os planetas do Sistema Solar passou por Plutão em1990, enviou fotografias e informações, confirmou a existência de Caronte edepois prosseguiu rumo ao espaço pouco conhecido da nossa galáxia. Deveser descartada qualquer possibilidade de vir o homem a interessar-se, no sé-culo XXI e nos subseqüentes, pelo envio de uma missão tripulada a essedistante corpo celeste. Ver Conquista do espaço.

Poluição. Ato de sujar, corromper, prejudicando a saúde e a vida de ho-mens, animais e vegetais.

Com o aumento da população da Terra e a multiplicação dos inventos dohomem, no decorrer da Era Industrial (1800 a 2000), compostos nocivosforam sendo lançados em volume crescente na atmosfera, nos rios, nos ocea-nos e também no solo. Neste final de século XX, monóxido e dióxido decarbono, resultantes da desenfreada queima de combustíveis fósseis (car-vão, petróleo e gás natural), são expelidos pelas indústrias e veículos, po-luindo a atmosfera. A despeito dos esforços empreendidos pela Organiza-ção das Nações Unidas para estabilizar ou mesmo reduzir as emissões, serámuito difícil alcançar esse objetivo no decorrer do século XXI. Os paísesindustrializados não abdicam do direito de poluir, temendo que as restri-ções ao uso do petróleo (hoje a principal fonte de energia e o maior agentepoluidor da atmosfera) comprometam o desenvolvimento econômico e onível de vida das respectivas populações. Por outro lado, os países não in-dustrializados, mas que aspiram sê-lo, não admitem restrições que possamameaçar sua meta de se desenvolver, à custa também da energia proporcio-nada pelo petróleo, e de assim assegurar melhores condições de vida para suaspopulações. Tal é o impasse, decorrente do egoísmo próprio do ser humano,que dificultará todas as tentativas que serão feitas no decorrer do século XXIem prol da aceitação do desenvolvimento sustentável, que asseguraria às ge-rações do futuro, no mínimo, as condições ambientais que desfrutam as gera-ções de hoje. Outros gases nocivos são também lançados irresponsavelmentena atmosfera, entre eles nítricos e sulfúricos, que se combinam com a águadas nuvens e provocam as chuvas ácidas. No que se refere à poluição dos riose oceanos, predomina a mesma visão imediatista acima mencionada quandodiscorremos sobre a poluição da atmosfera. De acordo com a Organização

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Mundial da Saúde, apenas 3% dos esgotos do mundo são tratados. Os efluentesindustriais também são lançados nas águas de rios e mares, na proporção de95% sem tratamento algum, segundo avaliação da mesma OMS. A poluiçãopelo lixo é outra ameaça à espécie humana no decorrer do século XXI. Segun-do estimativas da Organização Mundial da Saúde, mais de 400 milhões detoneladas de lixo são descartados anualmente pela sociedade humana e trata-dos não adequadamente. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo,FIESP, por intermédio do seu Departamento de Meio Ambiente e Desenvol-vimento Sustentável, está em condições de orientar os empresários a respeitodo tratamento adequado do lixo e dos efluentes industriais. Ver Lixo.

População. O conjunto de habitantes de um território, cidade, paísou da Terra.

A sociedade humana levou 50 mil anos para chegar ao primeiro bilhão deindivíduos, mas somente 130 anos para chegar ao segundo bilhão. Chegamosà população mundial de 6 bilhões de seres humanos em outubro de 1999,vivendo à custa de fontes limitadas de energia e matérias-primas. A Organiza-ção das Nações Unidas patrocinou duas conferências mundiais sobre popula-ção, uma em Bucareste (1976), outra em Istambul (1996). Os representantesdas nações do mundo nelas reunidas discutiram amplamente os problemasdecorrentes do aumento da população da Terra, da sua distribuiçãodesordenada, do crescimento diferenciado em países ricos e países pobres, daprática de métodos anticoncepcionais. O tema é amplo e a rigor condiciona opadrão de vida e até mesmo a sobrevivência da espécie humana, que usufruiem escala crescente uma natureza com disponibilidades limitadas. O homemocupa o lugar de animais e vegetais, destrói os respectivos ecossistemas, eli-mina as espécies que não interessam diretamente à sua subsistência. Ele é ogrande redutor da biodiversidade. O Homo sapiens surgiu há 100 mil anos. Há10 mil anos o Homo sapiens já se espalhara pelos cinco continentes e seusmúltiplos contingentes somavam no mundo, segundo supõem alguns cien-tistas, cerca de 5 milhões de indivíduos. No início da Era Cristã, há 2 mil anos,a estimativa aponta para 300 milhões de pessoas. Nessa época, a medicina eraincipiente e a alimentação por vezes escasseava ou não continha os indispen-sáveis nutrientes. Moléstias alastravam-se facilmente e avassaladoras epide-mias contribuíam para conter o crescimento populacional, entre elas o cólera,a varíola e a peste bubônica. No tempo de Cristo, a vida média do ser humanoseria da ordem de 27 anos, assim permanecendo até ao redor do ano 1000.Passaram-se alguns séculos, chegou-se ao ano 1750 e a população do mundoalcançou cerca de 800 milhões de indivíduos. Ao se iniciar a Era Industrial(1800 a 2000) calcula-se que havia cerca de 1 bilhão de seres humanos habi-tando a Terra. A ciência e a tecnologia avançaram, a medicina se aperfeiçoou.Descobriram-se a vacinação e a assepsia, a oferta de alimentos cresceu, avida média do ser humano talvez beirasse os 40 anos por volta do ano 1800.A população da Terra cresceu e em 1930 alcançou o segundo bilhão de

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pessoas. A partir de então descobriram-se os antibióticos, sintetizaram-seas vitaminas, aperfeiçoaram-se a prevenção e o tratamento das moléstias. Ele-vou-se a produção de alimentos e as safras puderam ser armazenadas etransportadas em grandes volumes e a grandes distâncias, regularizando-se asua distribuição. Neste final de século XX, somos mais de 6 bilhões de sereshumanos, vivendo à custa de recursos naturais limitados, de plantações e pas-tagens feitas em terrenos antes ocupados por florestas e animais silvestres,necessitando de grande quantidade de água potável, poluindo rios e oceanoscom um volume de fezes e urina que chega diariamente a 6 milhões de tone-ladas. Os estudiosos do problema demográfico propõem várias projeções decrescimento no decorrer do século XXI. Alguns estimam que no ano 2010 apopulação chegará a 12 bilhões de pessoas, que seria, segundo eles, o númeromáximo de indivíduos que a Terra poderá suportar, assim mesmo se essecontingente for contido nos limites do desenvolvimento sustentável e admi-nistrado com eficiência, sob a égide de uma entidade internacional como aOrganização das Nações Unidas, com autoridade efetiva de decidir sobreassuntos que condicionem a sobrevivência e o bem-estar da humanidade,entre eles, primordialmente, a adoção de práticas favoráveis ao desenvolvi-mento sustentável. Ver Energia.

Proálcool. Programa Nacional do Álcool, desenvolvido pelo governo doBrasil para substituir o uso da gasolina e do óleo diesel pelo álcool etílicohidratado combustível.

Perto do fim do século XX, na década de 70, os países da Organização dosPaíses Produtores de Petróleo, Opep, deliberaram forçar a alta do preço dobarril de petróleo no mercado internacional e para isso reduziram a produção.A conseqüência foi um grande transtorno econômico nos países cujo desen-volvimento dependia de petróleo importado dos países árabes. Um deles foi oBrasil, que na época importava cerca de 70% do petróleo que consumia. Ogoverno brasileiro, então, criou o Proálcool. Os produtores de cana-de-açúcarmobilizaram-se e estenderam suas plantações, as usinas produtoras de álcoolaperfeiçoaram-se e elevaram muito sua produção. Por outro lado, os fabrican-tes de veículos conseguiram adaptar os motores ao consumo desse combustí-vel. Nos anos 80, a quase totalidade da frota brasileira de automóveis consu-mia álcool etílico hidratado combustível, a ponto de precisarmos exportargasolina, pois as demais frações da destilação do petróleo (óleo diesel e óleocombustível) não puderam ser substituídas. Mas o Proálcool teve o mérito dedemonstrar que um combustível renovável pode substituir um derivado dopetróleo não renovável, com a vantagem de não poluir o meio ambiente por-que não emite gases compostos de carbono e dispensa o uso de substânciasantidetonantes altamente tóxicas como o chumbo tetraetila. Manobras de na-tureza política e econômica, feitas aberta ou veladamente pelos governos depaíses que são grandes consumidores de petróleo (tendo à frente os EstadosUnidos, a União Européia e o Japão), conseguiram desmantelar a Opep e o

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preço do petróleo voltou a cair. Nas vésperas do ano 2000, há desarmoniaentre os países produtores do Oriente Médio, e o barril de petróleo estácustando tão pouco que vale a pena importá-lo. Por outro lado, a produçãobrasileira de petróleo aumentou e corresponde a cerca de 70% das nossasnecessidades. Mas as ameaças de escassez e de conseqüente aumento de pre-ços continuam assombrando os países industrializados, o Brasil particular-mente, que ainda depende muito da importação e tem uma duvidosa equaçãode custo e benefício na caríssima prospecção e extração em suas jazidassituadas preponderantemente na plataforma continental marítima, em águasprofundas. O Islã avança e a sustentação de governos árabes dóceis aos gran-des consumidores de petróleo pode falhar a qualquer momento, principal-mente quando governantes agressivos dispuserem de armas nucleares ebacteriológicas para colocar na mesa de negociações quando se discutir opreço do petróleo no mundo. O Proálcool continua válido, portanto, comoalternativa econômica, ecológica e de segurança nacional, pois foi o únicoprograma de energia alternativa que se mostrou viável. Os recursos para o seudesenvolvimento foram gerados pelo próprio setor alcooleiro, graças aos re-colhimentos resultantes do diferencial de preço pago pelo governo ao produ-tor e o valor recebido pelo governo do comprador internacional do açúcarexportado na década de 70. Desde o início do programa, até 1997, a econo-mia de divisas feita pelo Brasil, deixando de importar petróleo, teria sido daordem de 45 bilhões de dólares. A certa altura do desenvolvimento doProálcool, os diferenciais acima aludidos chegaram a US$ 1.000 por toneladaexportada, em benefício do governo. Na verdade, o álcool etílico hidratadocombustível (AEHC) é aquele usado comumente nos veículos com motor aálcool, enquanto o álcool etílico anidro combustível (AEAC) é o álcooladicionado à gasolina. A rigor, o álcool jamais pôde ou poderia competir como petróleo enquanto combustível puro, mas é sem dúvida alguma o melhoroxigenante da gasolina. Tal qualidade é hoje reconhecida internacionalmente,tanto assim que os próprios Estados Unidos mantêm um programa favorávelao uso do álcool anidro na proporção de até 85% em volume na mistura coma gasolina. No Brasil, divulgou-se amplamente que o Proálcool teria sidobeneficiado perdulariamente pelo governo federal. Não é verdade. Os fa-mosos “subsídios” do álcool jamais chegaram alocados às distribuidoras decombustíveis. De acordo com o resultado de estudos econômicos pormeno-rizados, esses “subsídios” são angariados à custa do Fundo de Unificação dePreços do Álcool (FUPA), semelhante ao Fundo de Unificação de Preços(FUP) da gasolina, diesel e demais derivados. Esses fundos destinam-se aassegurar a equivalência de preços em todo o território nacional. Conclui-seque a ajuda do governo era recebida pelo setor de distribuição de combustí-veis e não pelo setor produtivo. Por razões de segurança nacional e de preser-vação do nosso desenvolvimento sustentado o Brasil não pode prescindir doProálcool. Ver Petróleo.

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Qualidade..........................................................................................................152Quaternária........................................................................................................152Queda................................................................................................................153

QEm fins do século XX, adquirem excepcional importânciapara a preservação da natureza os certificados de qualidade

ISO 14.000, também chamados de selo verde,outorgados aos produtos em cuja linha de fabricação não

ocorreram danos ao meio ambiente. Eles poderão contribuir para que a humanidade se

aproxime do desenvolvimento sustentável.

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Qualidade. Numa escala de valores, o que permite avaliar e, portanto,aprovar, aceitar ou recusar qualquer coisa.

Os assuntos relativos à preservação do meio ambiente, da qual a hu-manidade depende para sobreviver, são levados a sério por alguns setoresneste final de século XX. Nos países desenvolvidos, dos quais dependemais de 80% do comércio internacional, os consumidores estão exigindo,ao importar, um certificado de garantia indicando que a fabricação doproduto não provocou danos ao meio ambiente. Uma entidade não gover-namental com sede em Genebra, Suíça, International Organization forStandartization, que tem como sigla ISO, definiu padrões internacionaispara produtos, processos e sistemas, entre eles as normas da série ISO14.000, que certificam a produção realizada respeitando a natureza emtodas as suas fases. O atestado inclui a verificação de que o produtorconta com Gerenciamento Ambiental atento a todos os segmentos doprocesso de produção, de tal forma a ser observada a legislaçãoconservacionista do país e as normas internacionais de qualidade e preser-vação do meio ambiente. No decorrer do século XXI, tais cuidados e con-dicionamentos se multiplicarão. Não só a qualidade dos produtos ofereci-dos no mercado internacional será avaliada antes da realizacão de um ne-gócio, mas também o seu custo ecológico. Nada será exportado sem ocertificado da categoria ISO 14.000. Em todos os países haverá entidadescredenciadas para realizar as vistorias e outorgar esse documento. NoBrasil, uma delas é a Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT,sociedade sem fins lucrativos considerada de utilidade pública. Empresasbrasileiras estão atentas à necessidade de preservar o meio ambiente nestefinal de século XX. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo,FIESP, mantém o seu Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvi-mento Sustentável, que orienta o empresariado, divulga normaspreservacionistas, premia os programas industriais que tenham como ob-jetivo respeitar a natureza, no rumo do desenvolvimento sustentável, opon-do-se aos extremismos ambientalistas descabidos. Ver Economia .

Quaternária. Era quaternária, ou neozóica, com os períodos plistocenoe holoceno.

Abrange os últimos 100 mil anos, sendo portanto a nossa era, ou eraatual, quando surgiu o Homo sapiens, talvez no nordeste da África comosupõem os antropólogos e arqueólogos. Tudo indica que nas savanas africa-nas conviveram os últimos mamíferos gigantes (preguiças, antropóides, pa-quidermes, maiores do que os de hoje) com várias subespécies de hominídeos.Uma delas conseguiu sobrepor-se às demais e sobreviver, dando origem aoHomo sapiens. Durante os 100 mil anos da era quaternária teriam ocorridoquatro glaciações e numa delas o estreito de Bering, com o nível rebaixado

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e as águas congeladas, permitiu a passagem de grupos do Homo sapiens daÁsia para a América do Norte. O nível dos mares baixou cerca de 100 metros(a água se acumulou sob a forma de gelo sobre os continentes) constituindoespessas calotas de gelo que avançaram até as regiões tropicais. Há ranhurasprovocadas pelo atrito dos gelos sobre rochas em regiões do Estado do Paraná,no Brasil, e até nas costas do Mediterrâneo. Durante a era quaternária vive-ram na Europa criaturas muito parecidas com o homem, talvez contingentesdiferenciados do Homo sapiens, como o homem de Neanderthal, que habitouas cavernas da Alemanha e acabou extinto. Ver Período.

Queda. Ato ou efeito de cair, acidente, baixa de valor, batida de meteoro.Durante o século XXI, há a possibilidade de algum corpo celeste colidir

com a Terra. Seria a queda de um meteoro ou o choque de um cometa. Empassado remoto, antes da era arqueozóica (2 bilhões de anos atrás) e mesmodurante ela, essas quedas de corpos celestes eram freqüentes, pois a matériado Sistema Solar continuava fragmentada, em órbita, mas aglomerando-se.Formaram-se assim os planetas. Os astrônomos consideram cada vez maisespaçadas as probabilidades de que essas quedas venham a ocorrer, maselas evidentemente existem e poderiam extinguir a vida na Terra, como te-ria ocorrido há 65 milhões de anos, quando um asteróide caiu na região doGolfo do México e talvez tenha acarretado o desaparecimento dosdinossauros. Ver Asteróide.

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Radiação.............................................................................................................155Reciclagem.........................................................................................................155Reflorestamento...............................................................................................156

RA sociedade dos homens, nestas vésperas do século XXI,

já começa a entender a necessidade de reciclar osmateriais, pois ela habita um planeta de recursos limitados.

Com a coleta seletiva de lixo e posterior reciclagem detudo quanto puder ser reaproveitado,

economizam-se matérias-primas e energia,além de preservar o meio ambiente.

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Radiação. Ato ou efeito de radiar, energia que se propaga de um pontoa outro do espaço ou num meio material.

De acordo com a teoria da relatividade, concebida em 1905 porAlbert Einstein, há no Cosmo uma interação entre energia, massa etodas as formas de radiação, sendo uma delas a luz. No final do séculoXX, tais proposições são aceitas e a ciência e a tecnologia buscam tirarpartido dos intercambiamentos já teoricamente provados e obter be-nefícios para a humanidade. Tudo indica que no século XXI progredi-rão muito os estudos teóricos e práticos para que seja possível apro-veitar essa interação entre matéria, energia e luz (energia radiante),disponíveis na Terra sob diversas formas, nos três estados da matéria,sólido, líquido e gasoso, na luz com diferentes comprimentos de onda,nas radiações de elétrons livres ou orientados segundo fluxos peculia-res. O quarto estado da matéria oferecerá, no século XXI, amplo es-pectro de oportunidades, pois traduz a reação peculiar ao Sol (6.000ºCna superfície, talvez 20 milhões no núcleo), onde continuamente áto-mos de hidrogênio se transformam em átomos de hélio (fissão sobpressão altíssima se faz como fusão) com grande desprendimento devárias formas de energia. Cabe-nos descobrir como controlar essa fu-são nuclear e como fazê-lo de acordo com uma equação de custo ebenefício favorável. O quinto estado da matéria, que poderia ser cha-mado de antiplasma, está em fase muito incipiente de estudos, os quaistambém se aprofundarão muito no transcorrer do século XXI. Ocorrequando prótons e elétrons quase se imobilizam como decorrência detemperaturas baixíssimas, próximas do zero absoluto, que correspondea 273ºC negativos. Assim imobilizados, como antiplasma, os átomosagem como a luz, quando no outro extremo, a milhões de graus positi-vos, no estado de plasma, os átomos agem como energia. Então, luz,massa, energia interam-se ao longo de uma escala de temperaturas quevão do zero absoluto (273ºC negativos) até as elevadíssimas tempera-turas ditas plasmáticas que ocorrem, sob grandes pressões, no interiordo Sol e nas demais estrelas da Via-Láctea, possivelmente nas infinitasestrelas existentes no Universo. Ver Cosmo.

Reciclagem. Reaproveitamento de materiais descartados, coletando-ose introduzindo-os em determinadas fases do processo de produção.

A maioria dos materiais descartados pela sociedade dos homens podeser reciclada. Alguns oferecem vantagens quando reaproveitados, comuma equação de custo e benefício favorável, mas outros não chegam ater a sua reciclagem economicamente justificada. Neste final de séculoXX, o número de materiais reciclados já é elevado e no século XXI o

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reaproveitamento será até mesmo compulsório. O vidro descartado,por exemplo, seja como cacos de garrafa ou pedaços de vidraças parti-das, contém em potencial parcela das matérias-primas básicas e da ener-gia que foram usadas para fundir os ingredientes e levá-los ao estágiofinal. Aproveitando esses fragmentos, portanto, é possível economizarmatérias-primas e energia da natureza, além de proporcionar econo-mia no processo de fabricação. O mesmo ocorre com outros materiaisreciclados, como papel e papelão, metais, tecidos, plásticos, até mesmoa madeira. Variam, evidentemente, os potenciais de matérias-primas eenergia reaproveitados em cada um deles. A matéria orgânica pode tam-bém ser reaproveitada e transformada em adubo. Em suma, no séculoXXI serão ampliados os programas de reciclagem de materiais, de tra-tamento da água servida para reaproveitá-la, de economia de matérias-primas e energia. Haverá nas embalagens, à vista dos consumidores,selos indicativos dessas economias que beneficiem a poupança dos re-cursos disponíveis na Terra. A Federação das Indústrias do Estado deSão Paulo, FIESP, por intermédio do seu Departamento de Meio Am-biente e Desenvolvimento Sustentável, está em condições de orientaros empresários para que adotem a reciclagem como meio de economi-zar matérias-primas e energia. Ver Energia .

Reflorestamento. Plantar árvores para formar florestas em lugar onde sederrubou uma floresta natural.

Desde a mais remota antiguidade, o homem se serviu das árvores.Para nelas viver a salvo de predadores, alimentar-se dos seus frutos edescansar à sua sombra, usando sua madeira para os mais variadosfins, desde acender fogo para se aquecer e cozinhar até construir abri-gos, utensílios caseiros e ferramentas de trabalho. Também para fa-bricar o seu berço e o seu caixão. Por isso, a existência de grandesflorestas condicionou a história das comunidades. O homem destruiu-as,e ainda destrói as matas remanescentes, para à sua custa consolidar oque, audaciosamente, chama de civil ização. Tal foi o maior dosholocaustos perpetrados nos séculos passados. No século XX, a de-vastação continua, mas já se identifica uma conscientização de que épreciso defender as florestas e replantar grande parte daquelas queforam destruídas. Mesmo assim, a cada ano, o mundo perde cerca de15 milhões de hectares de florestas naturais, onde elas ainda existem,na África, nas ilhas do Pacífico e na Amazônia. A Mata Atlântica brasi-leira, ecossistema litorâneo típico com altos índices de biodiversidade,foi 95% destruída pelos colonizadores no decorrer de 500 anos. Os ani-mais silvestres e plantas nativas também desaparecem com a derrubada

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das matas naturais, perdendo-se assim espécies da flora e fauna quetalvez tivessem para oferecer à ciência princípios ativos capazes decurar moléstias graves. No decorrer do século XX, muitos paísesreflorestaram grandes áreas de terras antes ocupadas por matas na ti-vas com espécies apropriadas para a fabricação de papel e celulose:pinus e eucalipto. Nos países nórdicos, onde há grandes áreas re-florestadas, as temperaturas baixas retardam o crescimento das es-pécies, a ponto de uma árvore ser considerada adulta e pronta parauso industrial com idade superior a 15 anos. No Brasil, onde háuma temperatura média elevada, as árvores podem ser utilizadas naindústria de papel e celulose com cerca de 7 anos. Daí o potencialoferecido pelo nosso País para os reflorestamentos industriais, quenão devem substituir florestas nativas nem ser implantados em re-giões com solo e clima impróprios. Também o replantio de madei-ras nobres, derrubadas em larga escala na Amazônia neste final deséculo XX, precisa ser levado a sério pelas autoridades. A últimagrande floresta equatorial e tropical do mundo não deve ficar comoum santuário intocado, mas pode muito bem ser aproveitada e pre-servada racionalmente. Ver Flora.

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Saturno.............................................................................................................159Saúde.................................................................................................................159Sistema Solar.....................................................................................................160Sociedade...........................................................................................................162Sol.......................................................................................................................162

SUma das grandes ambições humanas,

neste final do século XX, é conhecer o Cosmo,determinar a nossa origem e o nosso destino, perscrutar a

nossa galáxia em busca de sinais de vida, seguiralém e conhecer algo sobre os 125 bilhões de galáxias que os

cientistas supõem existir. Nelas há infinitos segredos,mas a nossa espécie talvez se extinga antes de desvendá-los.

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Saturno. O segundo planeta em volume do Sistema Solar, com diâmetronove vezes maior que o da Terra.

Preponderantemente gasoso como Júpiter, Urano e Netuno, tem umadensidade oito vezes menor que a da Terra. Diferencia-se dos demaisplanetas do Sistema Solar por possuir ao seu redor três anéis, todos nomesmo plano, constituídos provavelmente de blocos de gelo, peque-nos asteróides e poeira cósmica. Está a 1 bilhão e 430 milhões de qui-lômetros do Sol. Saturno leva 29 anos para completar uma volta aoredor do Sol e sua rotação corresponde a cerca de 10 horas. Seu diâ-metro é de 120 mil quilômetros (a Terra tem 12.757). Sua temperaturamédia é de 170ºC negativos. Tem nove satélites, um dos quais, Titã, émaior do que a nossa Lua. Em 1977, a NASA lançou a sonda espacialVoyager 1 para obter informações sobre o Sistema Solar. Ela passoupróxima a Saturno em 1988. Foram enviadas fotografias coloridas degrande nitidez e informações pormenorizadas sobre o planeta, seusanéis e satélites. No decorrer do século XXI, dificilmente o homem seinteressará pela exploração desse planeta e de seus satélites, distantes,inóspitos, excessivamente frios. Ver Conquista do espaço .

Saúde. Estado caracterizado pela harmonia das funções orgânicas, fí-sicas e mentais do indivíduo.

A saúde da população mundial, neste final do século XX, apresentaníveis diferenciados conforme os contingentes populacionais sejam ri-cos, menos ricos ou pobres. Há estados sanitários de verdadeira calami-dade, decorrentes da total inexistência de saneamento básico, de estadoscrônicos de subnutrição e de disseminação de moléstias graves. Então,avaliar a saúde do ser humano é, antes de tudo, medir a situação econô-mica e financeira em cada uma das 188 nações do mundo. Nesta vésperado ano 2000, ciência e tecnologia avançam rapidamente e novas desco-bertas estão prestes a ser anunciadas para alterar o quadro de mortespor ano divulgado pela Organização Mundial de Saúde: doenças infec-ciosas e causadas por parasitas, 32%; doenças do sistema circulatório,19%; câncer, 12%; acidentes e causas externas, 8%; outros, 29%. Den-tro de pouco tempo serão descobertas vacinas contra malária, mal deChagas, esquistossomose e leishmaniose. O câncer e a aids deixarão deceifar vidas, as doenças cardíacas serão raras graças ao uso de medica-mentos preventivos da arter iosclerose e de outros processosdegenerativos. As descobertas no campo da genética permitirão preve-nir ou curar quase todas as moléstias, introduzindo nas células genesque determinem a produção de enzimas agressivas aos microrganismosinvasores ou estimulantes do sistema imunológico. Quando isso não for

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possível, a mesma manipulação genética colocará à disposição da medi-cina órgãos de animais clonados que possam ser transplantados paraseres humanos sem o risco da rejeição. As intervenções cirúrgicasinvasivas serão reduzidas ao mínimo, preferindo-se na maioria dos ca-sos aquelas feitas com o auxílio de sondas mecânicas e visuais, com osprocedimentos intracorpóreos orientados pelas imagens que o cirurgiãovê projetadas num vídeo. Os transplantes de membros se tornarão co-muns. As avaliações do feto no início da gestação permitirão que seevite o nascimento de crianças portadoras de anomalias resultantes dedefeitos genéticos. Todos esses procedimentos, no entanto, como foidito acima, dependerão do nível econômico-financeiro dos pacientes.Nas sociedades ricas haverá um notável avanço para resguardar a saúde,nas sociedades pobres o sofrimento e a morte continuarão definindo otriste destino da grande maioria dos seres humanos. Ver Epidemia .

Sistema Solar. Conjunto de planetas, asteróides, satélites, cometas, me-teoros e poeira cósmica que gravitam ao redor do Sol.

O século XXI levará o homem em dois rumos divergentes, o infinitodo Cosmo e a intimidade da matéria, da energia e da luz. Haverá um gran-de esforço científico e tecnológico para desvendar o que não se sabe doSistema Solar, principalmente dos planetas mais próximos de nós, Vênuse Marte, com ênfase maior para este último. A grande interrogação estárelacionada com a possibilidade de existir ou ter existido vida, semelhanteou diferente da nossa, fora da Terra, quando as condições ambientais nes-ses corpos celestes talvez tenham se aproximado daquelas que hoje carac-terizam nosso Planeta, ou seja, água abundante, atmosfera com oxigênio,temperatura que varia entre os extremos de 60ºC negativos (montanhasda Antártida) e 60ºC positivos (deserto de Gobi). Neste final de séculoXX, ainda não foram identificados quaisquer sinais de vida no SistemaSolar, tampouco em qualquer outro astro fora dele, onde as pesquisas sãoevidentemente muito mais difíceis. Marte será o alvo preferido dos cien-tistas no decorrer do século XXI. Um pequeno robô já pousou nesse pla-neta e enviou informações preciosas que incluíram até mesmo fotografiascoloridas, mas nada foi revelado que pudesse justificar a suposição de quelá tenha havido, ou haja atualmente, o menor resquício de vida. No prin-cípio do século XXI, impulsionado pela sua irresistível curiosidade (alta-mente espicaçada pelos interesses comerciais da indústria aeroespacial), ohomem fará com que uma nave tripulada pouse em Marte, numa aventuracaríssima e tão inócua como foi a ida do homem à Lua na década de 60.Muitos cientistas e técnicos questionam a equação de custo e benefício des-sa obsessão humana pelo conhecimento do que poderá haver no Sistema

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Solar, quando são sobejamente conhecidos e não enfrentados problemasgraves existentes aqui na Terra, relacionados com a fome crônica de mui-tos milhões de seres humanos, com a poluição ambiental, com a dilapidaçãode recursos naturais, com os conflitos decorrentes de antagonismos denatureza econômica, política e religiosa. Neste capítulo vale a pena ofere-cer informações sobre uma das mais ousadas investidas do homem noSistema Solar: o lançamento pela NASA da sonda espacial Voyager 1, emsetembro de 1977, para alcançar e estudar Júpiter e Saturno, e da Voyager 2,em agosto de 1977, para alcançar e estudar Urano e Netuno. Esta últimaé mais lenta. Ambas acabarão se perdendo além do Sistema Solar, cumpri-das as respectivas missões. Acompanhemos a Voyager 1: setembro de1977. Um foguete Tritan-Centauro da NASA lançou essa sonda espacialrumo a Júpiter e Saturno. Fora do campo gravitacional da Terra iniciousua longa viagem a uma velocidade de 62 mil quilômetros por hora. Pesacerca de 700 quilos. É dotada de reator termonuclear que fornece calorpara evitar o congelamento (temperatura externa é de 170ºC negativos) eenergia elétrica para que o computador de bordo processe e envie sinais,que serão decodificados na Terra para gerar imagens e informações. Se-tembro de 1979 . Dois anos depois de lançada, a Voyager 1 passou pró-xima de Júpiter, a 780 milhões de quilômetros da Terra. Obteve fotogra-fias e fez medições. Revelou que também esse planeta, o maior do Siste-ma Solar, tem ao seu redor um difuso anel de poeira, não percebidopelas observações feitas por telescópio da Terra (ver Júpiter). Setembrode 1980. Três anos depois de lançada, a Voyager 1 passou próxima deSaturno, a cerca de 1 bilhão de quilômetros da Terra. Obteve fotografiase fez medições. Revelou que os anéis de Saturno são três, formados porblocos de gelo, asteróides e poeira. Supõem os astrofísicos que, ao longode milênios, esse anéis darão origem a outros satélites (ver Saturno). Fe-vereiro de 1990. Treze anos depois de lançada, a Voyager 1 passou pró-xima de Plutão, a cerca de 6 bilhões de quilômetros da Terra. Obtevefotografias e fez medições (ver Plutão). Em julho de 1999, a Voyager 1 jáultrapassou a órbita de Plutão e atravessa uma região onde só existe ochamado “vento solar”, constituído de prótons e elétrons lançados peloSol. Continuará indefinidamente viajando pelo Cosmo, até ser atraídapara a órbita de algum distante corpo celeste ou ser tragada por umburaco negro. Leva mensagens gravadas em vários idiomas, músicas,informações sobre a Terra de onde procede, bem como a frase “paz efelicidade a todos”, uma ironia, já que em nosso mundo paz e felicidadesão cada vez mais difíceis de encontrar. É cabível questionar a qualidadeda semente que a espécie humana tenta desvairadamente plantar em ou-tros mundos. Ver Conquista do espaço .

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Sociedade. Agrupamento de seres que vivem em estado gregário, con-junto de pessoas que vivem em certa faixa de tempo e de espaço, seguindonormas comuns, unidas pelo sentimento de consciência do grupo.

No século XX, a sociedade dos homens já domina todas as demaissociedades de seres animais e vegetais. Está extremamente diferenciada,constituindo a rigor numerosos grupamentos sociais marcados por ca-racterísticas próprias, raciais, religiosas, culturais, psíquicas e econômi-cas. Há no mundo uma divisão política que teoricamente define 188 na-ções, mas esse número está longe de espelhar a real compartimentação dasociedade humana. Há etnias inconformadas com o espaço geopolítico noqual estão inseridas, minorias culturais colidindo com os governos sob osquais são obrigadas a se manter, religiosidades intransigentes chocando-se na disputa das opções individuais e de grupos, nacionalismos desloca-dos atuando em configurações políticas que não são as suas. Enfim, asociedade dos homens é profundamente desarmoniosa neste final de sé-culo XX e assim continuará no transcorrer de todo o século XXI, com osconfrontos agravados pelo aumento das pressões demográficas e dos des-níveis socioeconômicos. Uma das peculiaridades do próximo século seráo fechamento rigoroso das fronteiras dos países ricos e politicamente es-tabilizados, para não sucumbir às permanentes investidas de indivíduosou grupos em fuga de países pobres e com perspectivas limitadas ou nulasde desenvolvimento econômico. Ver População.

Sol. Centro do Sistema Solar, estrela-mãe em torno da qual giram aTerra e os demais planetas.

A dimensão temporal do século XXI é infinitamente pequena quan-do comparada com a idade do Sol, portanto nada leva a crer que algumacoisa se modificará nos próximos 100 anos. A intensidade da luz solar, afotossíntese, a influência dos raios ultravioleta nos cromossomos paraque a evolução e a diversificação das espécies prossigam, em nada serãoalteradas. O Sol surgiu, de acordo com a teoria atualmente aceita porastrofísicos, como decorrência da singularidade cósmica do Big Bang,ocorrida há cerca de 15 bilhões de anos. Desde então, transladou-se acom-panhando a expansão de matéria e energia espaço afora, primeiro comoum aglomerado indefinido de matéria e energia, no decorrer de bilhõesde anos, depois já como uma esfera rodopiante e incandescente, comforça de gravidade bastante intensa para atrair um enxame de corposrelativamente menos volumosos, que passaram a orbitá-lo, talvez disci-plinados na configuração de um anel. Há cerca de 5 bilhões de anos essamassa fragmentada que gravitava ao redor do Sol foi-se aglomerando, atése formarem os planetas, um dos quais é a Terra, cuja massa é 350 vezes

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menor do que a da estrela que lhe fornece luz e calor, resultantes dareação nuclear que nela ocorre: átomos de hidrogênio em contínua fu-são transformam-se em átomos de hélio com grande liberação de ener-gia. Os cientistas supõem que há no Sol hidrogênio suficiente para queessa reação prossiga por mais 5 bilhões de anos, pelo menos, com umpotencial energético que nos faz sentir, também nesta comparação, anossa insignificância e a nossa transitoriedade: algo da ordem de 1.000bilhões de bilhões de megawatt. Trata-se, evidentemente, de uma ousa-da especulação, como aquela outra que calcula em 125 bilhões o númerode galáxias existentes no Cosmo e em 200 bilhões o número de estrelasexistentes na Via-Láctea. A maior usina hidrelétrica do mundo, Itaipu,tem um potencial de 12 mil megawatt. A reação nuclear que ocorre per-manentemente no Sol provoca a cada segundo a fusão nuclear de 657milhões de toneladas de hidrogênio, que se transformam em 652 mi-lhões de toneladas de hélio, com transformação em energia dessa dife-rença de 5 milhões de toneladas. Com isso, o combustível hidrogênio sereduz a cada segundo. Calculam os astrofísicos que essa progressiva perdafará com que as características dessa “usina nuclear”, para nós incomen-surável, se alterem nos próximos 5 bilhões de anos. A proporção dehélio terá aumentado muito em relação à de hidrogênio. O hélio passaráa se fundir, por sua vez, com seus átomos dando origem a átomos deelementos mais pesados, com liberação de energia maior ainda do que aque resulta da fusão de átomos de hidrogênio em átomos de hélio. OSol, então, aumentará de volume muitas vezes e calcinará os seus plane-tas mais próximos, Mercúrio e Vênus. As condições ambientais na Terrase tornarão incompatíveis com a vida como ela hoje existe: temperaturaambiente da ordem de 500ºC, os oceanos terão se evaporado, a atmosfe-ra terá se perdido no espaço. Tudo indica que o nosso Planeta será, den-tro de aproximadamente 5 bilhões de anos, nada mais do que uma rochaesférica superaquecida solta no espaço. Alguns astrofísicos supõem queessas alterações no Sol reduzirão a sua força de gravidade e por isso osplanetas dele se afastarão. A Terra, então, seria uma rocha esférica con-gelada solta no espaço. Ver Cosmo.

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Telescópio.........................................................................................................165Televisão............................................................................................................165Terra..................................................................................................................166Transporte.........................................................................................................167

TA televisão, o grande invento que colocou som e imagem aoalcance da sociedade, interferirá nela de duas maneiras, no

decorrer do século XXI: pode educar e entreter,mas pode também mergulhá-la na banalidade e na

deterioração da vida social e econômica. A televisão educativa terá aplicações múltiplas, voltadas

para o ensino em todos os níveis.

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Telescópio. Instrumento óptico para a observação de objetos longínquos,constituído de uma objetiva e uma ocular, ou de um conjunto bem mais com-plexo de lentes, espelhos, prismas, sistemas mecânicos e eletrônicos.

Nesta última década do século XX, os astrônomos têm se deslumbradocom as imagens recebidas do telescópio espacial Hubble, que permaneceem órbita da Terra sob controle de cientistas da NASA. Esse sofisticadoequipamento pode ser dirigido para qualquer ponto do espaço e enviar si-nais eletrônicos para os computadores a ele conectados, que os decodificame obtêm imagens coloridas de grande nitidez. Está em construção um teles-cópio espacial com uma potência muito maior do que a do Hubble atual eque deverá estar em órbita da Terra no ano 2007. O homem poderá, então,perscrutar o Cosmo mais longe ainda, na sua tentativa de conhecer melhora origem do Universo, o Sistema Solar, a Via-Láctea e outras galáxias. EsseTelescópio Espacial de Nova Geração (sigla em inglês NGST) é um ambi-cioso projeto conjunto da NASA norte-americana (National Aeronauticsand Space Administration) e da agência da Comunidade Européia ESA(European Space Agency). Estima-se que o custo desse supertelescópioNGST chegue a US$ 5 bilhões a preços de hoje. Essa associação de esfor-ços, que inclui também as agências espaciais da Rússia e do Japão, ofereceráamplas oportunidades aos cientistas para que ampliem os conhecimentosque têm do Cosmo no decorrer do século XXI. Ver Conquista do espaço.

Televisão. Transmissão e recepção de imagens e sons.É preciso considerar esse importante meio de comunicação audiovisual

do século XX sob dois aspectos: o técnico-científico e o qualitativo. De-corrido cerca de meio século da popularização e ampla disseminação desseinvento, sustentado por tecnologia analógica, já se concretizam avanços sig-nificativos para que a televisão passe a transmitir em várias outras modali-dades, por meio da tecnologia digital. Além dos modelos convencionais aber-tos VHF (Very High Frequency) e UHF (Ultra High Frequency), já existemos serviços de televisão paga por assinatura, em UHF e MMDS (Multiplepoint, Multiple channel, Direct Service). São múltiplos canais distribuídos amúltiplos pontos, que oferecem programas especializados aos telespectadoresassinantes. Os serviços de transmissão de som e imagem por cabo tambémoferecem muitas alternativas ao telespectador, com elevada qualidade técni-ca, incluindo a possibilidade de transmissão simultânea de todos os canaisabertos. A utilização de satélites permitiu a estruturação de redes de emis-soras com coberturas nacionais e internacionais. No século XXI, os avan-ços serão surpreendentes. O advento da tecnologia digital determinará ofim da comunicação unidirecional pela televisão. A integração tecnológicado aparelho de televisão com o computador consolidará o amálgama dosom e da imagem com a oferta global. A interatividade será plena e inteli-gente, e o telespectador poderá dispor de um agente virtual que organizaráe selecionará todas as suas opções, que incluirão interferências na grade de

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programação das emissoras de televisão ou em bancos de informações eimagens de qualquer natureza. O replay de uma cena, de um take ou de umprograma inteiro dependerá apenas do desejo do telespectador. A seleção ecompra de produtos (em supermercados, shoppings, agências de automóveis,agências de viagens, corretoras de imóveis) também se viabilizarão pelo mes-mo sistema integrado televisão-Internet. Essa interatividade será ilimitada,incluindo o relacionamento pessoal, interpessoal e intersetorial, com alcancetambém das áreas educativas, empresariais, administrativas, econômicas, mé-dicas e farmacêuticas. Ciência e tecnologia avançadas estarão à disposição detodos. Em cores e em três dimensões. Quanto ao aspecto qualitativo, a televi-são ainda não foi compreendida, neste final de século XX, como a grandeopção entre o bem e o mal para definir o rumo da sociedade dos homens. Atéhoje predomina a influência nociva, geradora da violência desbragada, do con-vite aos vícios, da pornografia, da banalização do que é sublime no amor e nosexo. No Brasil, o poder concedente dos canais de televisão não se tem empe-nhado em vetar tais inconveniências. Além disso, as entidades governamen-tais veiculam comunicados, como matéria paga de alto custo, nas televisõesparticulares, mas não incluem nos planos de mídia as televisões educativas,privando-as assim de importantes fontes de recursos. Os proprietários e diri-gentes de alguns canais particulares de televisão, por seu lado, transmitemprogramações impróprias a uma boa formação para cidadãos, cedendosempre a interesses comerciais. Sob o argumento de que a liberdade decomunicação deve ser preservada, setores governamentais e donos de redesparticulares de televisão estão contribuindo, neste final de século XX, paraa deterioração psicossocial da coletividade. Há exceções notáveis, fruto dacompreensão altruísta do governo do Estado de São Paulo e de empresasprivadas, como é o caso da Fundação Padre Anchieta, Rádio e TelevisãoCultura de São Paulo, bem como de televisões educativas de outros esta-dos. O futuro pertence a entidades nobres como essas, que aos poucosse consolidam e sobem na preferência dos telespectadores cansados deperder a civilidade assistindo a programações impróprias. Neste final deséculo XX, algumas emissoras de televisão não hesitam em prejudicar asociedade em troca do que lhes pagam anunciantes ávidos de vender aqualquer custo os seus produtos. Há empresas privadas, no entanto, quecompreendem o problema e inserem nas programações das televisõeseducativas mensagens pagas, a título de apoio cultural, como permite alegislação em vigor. Ver Internet .

Terra. O terceiro planeta do Sistema Solar, pela ordem de afastamentodo Sol, com movimento de rotação (23 horas, 56 minutos e 4 segundos) ede translação em torno do Sol (365,3 dias).

A Terra é, na verdade, o personagem principal deste livro, presente emtodos os capítulos e em todos os comentários. O assunto é vasto e nãopode, evidentemente, ser tratado na sua plenitude neste segmento. Vamos

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ater-nos ao essencial. O mais importante a ressaltar é a predominância daespécie humana sobre todas as demais espécies animais e vegetais da Terra,subjugando todas elas aos seus interesses hegemônicos. Neste final de séculoXX, está evidente que o homem não compreendeu alguns conceitos funda-mentais, como o do desenvolvimento sustentável. Ele não se conformou coma necessidade de viver em adequada interação com o organismo vivo que ohospeda, a Terra. Sendo assim, não é possível lançar hipóteses e fazer suposi-ções otimistas para o século XXI, considerando a desordem que impera entreos seres humanos que a habitam. As ameaças, as disputas, as discórdias e aslutas compõem hoje o cotidiano da sociedade dos homens. Os recursosusados para matar suplantam muito aqueles destinados para reduzir o analfa-betismo, a fome e as doenças de grandes contingentes da humanidade. Oadequado gerenciamento da Terra talvez pudesse ser alcançado por umaOrganização das Nações Unidas efetivamente poderosa e eficiente, mas issonão é o que se prevê neste limiar do século XXI. A grande crise que ameaçao contingente de mais de 6 bilhões de pessoas dependentes da Terra decor-re, fundamentalmente, da desobediência aos códigos estabelecidos pela ONUe da recusa, por parte das 188 nações que dela participam, de aceitá-la comoautoridade maior. Ver Sociedade.

Transporte. Ato, efeito ou operação de transportar, transposição,transportamento.

A invenção da máquina a vapor marcou o início do século XIX, o uso domotor a explosão marcou o início do século XX, a montagem de uma EstaçãoOrbital Internacional marca o início do século XXI. Cinco sistemas detransportes foram desenvolvidos pelo homem: aéreo, marítimo, fluvial, ter-restre e espacial. Os elementos determinantes da evolução desses meios delocomoção dependem de três fatores: equação de custo e benefício (aeronave,navio, trem, automóvel, caminhão), tentativa de hegemonia militar de umasnações sobre outras (foguetes e mísseis) e a curiosidade científica somada ainteresses comerciais da indústria aeroespacial (satélites, naves tripuladas, son-das espaciais). No decorrer do século XXI, continuarão a ser aperfeiçoadas asaeronaves para uso militar, cujo poder destruidor, precisão para atingir osalvos e capacidade de passar despercebidas alcançarão alto nível de eficiência.As aeronaves civis terão aumentada a sua capacidade de transportar passagei-ros e cargas, mas até um limite determinado pela infra-estrutura aeroportuáriadisponível e pela equação de custo e benefício que leve em conta o preço doequipamento, o gasto de combustível e o volume e peso transportados. Nãose deve perder de vista que o uso comercial do supersônico Concorde foisuspenso porque os custos excediam o montante pago pelos passageiros earrecadado com o pequeno volume de carga que podia transportar. Aero-naves para pouso e decolagem verticais não oferecerão vantagens quecompensem o seu elevado custo de operação. Foguetes intercontinentaisnão atenderão igualmente às necessidades crescentes de transportar mais

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passageiros e cargas a custos acessíveis à grande massa de usuários, situadospreponderantemente nas classes de poder aquisitivo médio, nunca na cada vezmais exígua classe de alto poder aquisitivo. Mesmo assim, os interesses comer-ciais das empresas que projetam e constroem aeronaves não deixam de acenarcom projetos destituídos de compatibilidade com as equações de custo e bene-fício. A NASA estuda aeronaves muitas vezes mais velozes do que o Concorde,entre elas o X-43 (12 mil km/h), o X-33 (15 mil km/h) e o X-37 (30 mil km/h).Para impressionar os congressistas norte-americanos e assim conseguir a libera-ção de recursos, os dirigentes dessa entidade (útil e audaciosa, masfreqüentemente irrealista) adiantam que essas aeronaves poderão estar servin-do o público entre os anos 2000 e 2005, para transportar passageiros entreEstados Unidos e Europa em cerca de 10 minutos. Seria uma desumanidadegastar tanto dinheiro para fazê-lo, quando na Somália crianças morrem de fome.Os trens de alta velocidade são dispendiosos e sua manutenção é difícil, nãopodendo concorrer com as linhas aéreas nos percursos mais longos. Algunsserão instalados para percorrer distâncias limitadas a cerca de 400 quilômetros.Eles não atenderão às justificativas fundamentais da existência das estradas deferro: transportar grandes cargas a grandes distâncias. O transporterodoferroviário intermodal terá notável incremento: cavalos mecânicos comcarretas portadoras de contêineres em coordenação com vagões abertos tam-bém portadores de contêineres. A mesma busca de fretes baixos intensificará ouso de hidrovias, bem como do transporte marítimo de cabotagem e de longocurso, sempre associando chatas, trens e navios pela intermodalidade alcançadacom o uso de contêineres. Os navios alcançaram, neste final de século XX, olimite da sua tonelagem de deslocamento. Estarão sempre condicionados à pro-fundidade dos portos que os recebem, muitos deles crescentemente assoreados.Os superpetroleiros serão descartados, pois a redução do custo de transporteda unidade de volume não será compensada pelas restrições impostas pelo cala-do, pela dificuldade de manobra e sobretudo pelos riscos que acarretam aomeio ambiente no caso de sofrerem graves acidentes. Os automóveis e cami-nhões continuarão sendo aperfeiçoados, com seus motores a gasolina ou dieselmunidos de eficientes dispositivos antipoluição. Será incrementado o uso de gásnatural como combustível. O álcool etílico hidratado combustível será nova-mente consumido em larga escala quando os preços do petróleo sofrerem alta,decorrente da escassez das jazidas ou de transtornos políticos nos países que oextraem e o exportam em larga escala. Os motores elétricos para automóveis seviabilizarão, principalmente quando conjuntos de células fotovoltaicas foreminstalados para produzir a eletricidade necessária para carregar as baterias doautomóvel de uso familiar ou do utilitário para entrega de cargas leves. Haverásistemas de uso alternativo, gasolina ou diesel quando exigida maior potênciado motor, eletricidade para o tráfego em vias planas ou em descidas. O trans-porte no espaço se aperfeiçoará muito, não para levar passageiros e cargas emlarga escala a longas distâncias, mas unicamente para lançar estações orbitais,naves tripuladas e sondas exploratórias do Sistema Solar. Ver Petróleo.

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Ultravioleta........................................................................................................170União.................................................................................................................170Universo............................................................................................................171Urano.................................................................................................................171Urbanismo.........................................................................................................172

UO conceito de desenvolvimento sustentável, essencial para que

a sociedade dos homens não enfrente o caos social,econômico e administrativo no decorrer do século XXI,

depende primordialmente da uniãodas 188 nações da Terra sob a jurisdição

de uma Organização das Nações Unidas fortalecida,respeitada e atuante.

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Ultravioleta. Radiação eletromagnética de comprimento de onda talque não é captada pelo olho humano, situada entre 40 e 4.000 micra.

Os cientistas estão atribuindo muita importância, neste final de séculoXX, aos raios ultravioleta emitidos pelo Sol. Eles chegam à Terra comintensidade, mas são em grande parte absorvidos pela camada de ozônioque envolve nosso Planeta. Daí a importância de preservar esse envoltórioprotetor, pois os raios ultravioleta agem diretamente na configuração ge-nética das células animais e vegetais, provocando mutações. Excesso deraios solares, incidências de raios ultravioleta não atenuadas pela camadade ozônio, podem provocar degeneração celular e o câncer de pele nohomem. Em regiões próximas do círculo polar antártico (o buraco na ca-mada de ozônio ocorre sobre o Hemisfério Sul) há excesso de raiosultravioleta, que chegam a provocar a cegueira em animais. Mas, por ou-tro lado, alguns cientistas atribuem aos raios ultravioleta e à sua interfe-rência na configuração genética das células um papel fundamental no apa-recimento da vida na Terra e na evolução das espécies vegetais e animais,inclusive na evolução dos hominídeos que acabaram dando origem aohomem moderno. Ver Camada de ozônio.

União. Ato ou efeito de unir-se, junção, ligação entre indivíduosou nações.

A desunião e os antagonismos que se observam neste final de séculoXX entre contingentes humanos, étnica e culturalmente diferenciados,são os mesmos existentes entre grupos de Homo sapiens que vagarampelos cinco continentes nos últimos 100 mil anos. O instinto agressorainda predomina. Guardadas, evidentemente, as proporções dos atos dopassado e do presente, a selvageria é a mesma: um golpe de machado depedra para abrir a cabeça de um invasor do reduto equivale, em tese, aum aperto de botão para detonar um artefato nuclear e matar 120 milinimigos. Tal é a triste constatação nesta véspera do século XXI, duranteo qual pesarão sobre a sociedade dos homens, irresponsavelmente am-pliada para mais de 6 bilhões de indivíduos, repartidos em 188 nações,grandes ameaças decorrentes de antagonismos políticos e religiosos, na-cionalismos extremados, desigualdades econômicas e financeiras. Ummundo só é hoje uma utopia, embora se façam grandes esforços paraisso na Organização das Nações Unidas e nos órgãos que lhe são subor-dinados. Talvez um contingente do homem moderno (o G7, Grupo dos7, as sete nações mais ricas da Terra, não seria um embrião?) sobressaiano decorrer dos próximos séculos, sobrepondo-se aos demais contin-gentes. Estes, no entanto, não poderão ser eliminados para que subsistasomente aquele grupo marcado pela excepcionalidade, como antigamente

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os mais aptos conseguiam extinguir os menos capazes e mais fracos. Nãoé possível esperar que no futuro a espécie humana venha a ser constituídana sua totalidade de algo assim como o Homo sapiens, sapiens. Os contin-gentes humanos, hoje, estão condenados a seguir juntos, na promiscui-dade dos mais capazes e dos menos capazes, para um destino marcadopelas incertezas e interrogações. Ver Capítulo 2.

Universo. O conjunto de tudo quanto existe, incluindo toda a matéria eenergia disseminadas no espaço.

Até o final do século XX, a espécie humana apenas tateou o que lheestá próximo, especulando que há 125 bilhões de galáxias no Cosmo e 200bilhões de estrelas na Via-Láctea, sem condições de admitir que existerealmente um número infinito delas no espaço infinito, proposição defen-dida pelo autor deste livro, que insiste no reconhecimento da nossa insig-nificância e da nossa transitoriedade. O homem foi à Lua, enviou sondasespaciais para estudar o Sol e os planetas do Sistema Solar. Com o te-lescópio espacial Hubble perscrutou algumas estrelas de nossa galáxia etentou olhar o mais longe possível para sabermos o que teria ocorridologo após o Big Bang. Conseguiu obter fotografias espetaculares desupernovas, de pares de estrelas, de colisões de galáxias, até mesmo desurpreendentes vórtices luminosos com pontos escuros no centro, quesugerem a existência dos chamados buracos negros. Avidamente buscousinais de vida, passada ou presente, na Lua e em Marte. Tudo isso é muitopouco diante da imensidão do Universo infinito. Ver Cosmo.

Urano. O sexto planeta do Sistema Solar pela ordem de afastamento doSol, historicamente o primeiro descoberto pelo homem.

Neste final de século XX, o homem tem demonstrado um interessesecundário pelo planeta Urano, o terceiro em tamanho, com 53 mil qui-lômetros de diâmetro (a Terra tem 12.757 quilômetros). Tudo indicaque as prioridades dos cientistas no século XXI serão o retorno à Lua ea ida ao planeta Marte, considerando que as condições em Urano sãoadversas, com temperaturas de 170ºC negativos e atmosfera de compos-tos de carbono. Está a 2 bilhões e 870 milhões de quilômetros do Sol esua translação ao redor dele se completa em 84 anos. A rotação leva 10horas e 40 minutos. Tem cinco satéllites: Titânia, Oberon, Ariel, Umbriele Miranda. A NASA lançou em setembro de 1977 a sonda espacialVoyager 1 para explorar o Sistema Solar. Ela passou quatro anos depoispor Urano, enviando fotografias e informações preciosas sobre esse pla-neta e seus satélites, todos eles congelados e impróprios à vida como aconhecemos. Ver Conquista do espaço .

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Urbanismo. Ciência e técnica de planejamento, desenho, construção, re-forma, melhoramento e embelezamento das cidades.

Por mais que o homem procure humanizar as cidades no final doséculo XX, ele esbarra em problemas graves, que dificultam o seu traba-lho. A raiz dessa impossibilidade está no crescimento desordenado daspopulações, no êxodo para os grandes centros urbanos, na falta de re-cursos para dotar as cidades da infra-estrutura básica necessária ou demelhorá-las quando os pontos de saturação se tornam evidentes. As co-letividades ricas minoritárias têm como arrecadar dinheiro para humanizaras cidades e tradição no seu tratamento, transformando-as em centrosurbanos com razoáveis condições de vida para o homem. Mas as comu-nidades pobres estão condenadas a assistir, inermes, à deterioração ur-bana, que se manifesta pela inexistência de saneamento básico, abasteci-mento deficiente de água e energia elétrica, dificuldades para supri-lasde gêneros alimentícios, trânsito caótico, deterioração das edificações,subemprego, transgressões de toda ordem e aumento da violência. Essasituação preocupante se estenderá por todo o século XXI nas grandescidades, principalmente naquelas que cresceram desordenadamente, semplanejamento nos países subdesenvolvidos, eufemisticamente chamadosde países em desenvolvimento, que perfazem 90% das 188 nações domundo. De acordo com estatísticas da ONU, as 10 maiores cidades domundo nesta véspera do ano 2000, incluindo as regiões metropolitanas,em milhões de habitantes, são: Tóquio (27,8), Bombaim (18), São Paulo(17,8), Xangai (17), Nova York (16,6), Cidade do México (16,3), Pequim(14,2), Jacarta (14), Lagos (13,5), Los Angeles (13). De todas elas, so-mente Nova York e Los Angeles têm condições econômicas e financei-ras para evitar o caos urbano. Ver Cidade .

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Vegetal................................................................................................................174Vênus.................................................................................................................174Viagem no tempo.............................................................................................174Via-Láctea.........................................................................................................175Vida....................................................................................................................176Vida extraterrestre............................................................................................176Violência...........................................................................................................178

VNo século XXI, o homem prosseguirá na sua busca sôfrega

de sinais de vida que possam existir no Sistema Solarou no Cosmo, onde certamente há infinitas centelhas de vida,

não necessariamente com a mesma configuraçãoátomo-molecular da vida existente na Terra. Talvez a espécie

humana desapareça antes de conseguir saber se háou não vida extraterrestre.

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Vegetal. Relativo ou pertencente às plantas, procedente de uma planta.Os cientistas supõem que a vida surgiu há cerca de 3 bilhões de anos,

quando uma Decisão Superior ou uma coincidência físico-químico-biológicajuntou compostos pré-bióticos, entre eles os aldeídos, que assim deram ori-gem a uma célula vegetal. Para isso teriam contribuído os raios ultravioleta eas descargas elétricas. Tal é a hipótese aceita neste final de século XX. Trêspeculiaridades marcaram essa célula primordial surgida nos mares de então:presença de clorofila, ocorrência da fotossíntese, com absorção de gás carbônicoe liberação de oxigênio e água, e capacidade de se duplicar por cissiparidade.No decorrer de 3 bilhões de anos, o reino vegetal espalhou-se por todos osoceanos e continentes do mundo, desenvolvendo-se mais nas regiões quentesequatoriais e tropicais e praticamente extinguindo-se nas regiões polares. Abiodiversidade vegetal excede, segundo os biólogos, a biodiversidade animal.A ação do homem tem sido nociva principalmente ao reino vegetal. As flores-tas são devastadas para a retirada de madeiras nobres e para que o solo sejausado para plantar e formar pastagens. Esse aproveitamento do solo é essen-cial para produzir comida e alimentar mais de 6 bilhões de seres humanos,mas é preciso que se assegure o manejo correto das florestas para que asespécies úteis não se extingam. O solo deve ser preparado de tal modo aevitar erosão, perda de húmus e assoreamentos. Ver Agricultura.

Vênus. O mais brilhante dos planetas do Sistema Solar, com diâmetroaproximadamente igual ao da Terra.

Até o final do século XX, esse planeta, o segundo mais próximo doSol, não tem despertado muito interesse entre os astrônomos. Eles consi-deram o meio ambiente de Vênus impróprio à existência de vida. Estácircundado por densas camadas de nuvens de dióxido de carbono, queretêm boa parte do intenso calor recebido do Sol, o que eleva a tempera-tura na sua superfície a cerca de 300ºC. Não há, portanto, a menor possi-bilidade de existir nele água em estado líquido, condição essencial paraque exista vida como a nossa. Sua distância do Sol é de 108 milhões dequilômetros e tem um diâmetro de 12.300 quilômetros (a Terra tem 12.757).Gasta 35 dias para girar sobre si mesmo e 225 dias para dar uma volta emtorno do Sol. Vênus evidencia-se por uma particularidade ainda nãoexplicada pelos astrofísicos: seu movimento de rotação é o único, entretodos os planetas, que se faz no sentido dos ponteiros de um relógio,enquanto todos os outros demais giram ao contrário. Ver Sistema Solar.

Viagem no tempo. Ato de ir de um a outro lugar relativamente afastado,não no espaço mas no tempo que se escoa.

Neste final do século XX , esse tema é considerado como ficção científica.Assim permanecerá, certamente, no transcorrer do século XXI. Mas as eras eos seus períodos, desde a longínqua era arqueozóica (há 2 bilhões de anos) até

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a nossa insignificante Era Industrial (os últimos 200 anos), nos desvendam umaprogressão geométrica desconcertante, com uma multiplicação científica etecnológica que desafia qualquer previsão. Porventura Galileu Galilei (1564-1642) poderia ter previsto, há tão pouco tempo, que o telescópio Hubble esta-ria desvendando os confins do Universo ao se aproximar o ano 2000? Atual-mente, já se especula que gravidade e movimento alteram o ritmo do tempo.Os astronautas de nossos dias não teriam colocado um pé no futuro ao sedeslocarem em órbita da Terra a 40 mil quilômetros por hora e a uma alturade 300 quilômetros? Há cientistas que se manifestam a respeito dos retarda-mentos de tempo em relação à gravidade. Nas naves que estão em órbita daTerra, quando um astronauta completar 1 bilhão de segundos no espaço, eleteria se deslocado 1 segundo a mais (ficaria mais velho) do que as pessoas quepermaneceram na Terra. Em astros de gravidade maior essa diferença nãochegaria a ser desprezível. Num planeta com gravidade igual à do Sol a dife-rença seria de 1 minuto por ano. Não nos cabe penetrar a fundo em assuntotão complexo, mas somente assinalar o possível e o provável: se estamos separa-dos de Galileu cerca de 400 anos, o que poderemos vir a projetar, construir etalvez “viajar no tempo” dentro de 400 anos? Ver Cosmo.

Via-Láctea. Denominação da nossa galáxia, onde se encontram o SistemaSolar e a Terra.

No decorrer do século XXI, o homem não conseguirá ir muito mais longedo que já foi neste final do século XX na conquista do Sistema Solar. Poderávoltar à Lua e colocará provavelmente os pés em Marte. Sondas espaciaissofisticadas lhe trarão novas e surpreendentes informações sobre os outrosplanetas e os seus satélites. Com o auxílio do telescópio espacial Hubble, oscientistas observam os astros da Via-Láctea e de outras galáxias do Cosmo, natentativa de vislumbrar o alvorecer do Universo. Ver e analisar matéria e ener-gia tão distantes seria, segundo alguns astrofísicos, ver e analisar matéria eenergia na configuração que elas tinham ao ocorrer o Big Bang, há cerca de 15bilhões de anos. A presença do homem nos 100 anos seguintes ao ano 2000estará, tudo indica, limitada ao Sistema Solar. Uma nave tripulada seráenviada a Marte, ao custo de US$ 500 bilhões, para confirmar ou não a exis-tência de bactérias fossilizadas que lá teriam vivido há bilhões de anos, quan-do esse planeta oferecia um meio ambiente talvez próximo daquele que hojeexiste na Terra. Mas a exploração da Via-Láctea não poderia ser abrangenteno próximo século, pois a nossa galáxia tem um diâmetro de 100 mil anos-luz,incompatível com os padrões de espaço e tempo peculiares a nós nesseperíodo de um século. A Estação Orbital Internacional, que estará comple-tamente montada em órbita da Terra na primeira década do século XXI,bem como o telescópio espacial Hubble II, que estará em órbita ainda noano 2007, permitirão que se aprofundem os conhecimentos que hoje temosda nossa galáxia e das estrelas e planetas nela existentes. A busca de vida na

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Via-Láctea e fora dela prosseguirá no transcorrer de todo o século XXI, utili-zando observações telescópicas, sistemas de radioescuta, receptores de ondaseletromagnéticas e análises espectrais da luz captada. Alguns estudiosos espe-ram encontrá-la, mas reconhecem que as probabilidades são irrisórias de queela apresente semelhanças com a vida que hoje existe na Terra. Para que issoocorresse seria preciso contar com um número muito grande de coincidên-cias, descartadas pelas leis da probabilidade: condições ambientais semelhan-tes, superposição exata dos períodos evolutivos da vida, rumos idênticos naevolução das espécies. Segundo a maioria dos astrônomos e astrofísicos, apossibilidade de identificarmos vida como a nossa no Sistema Solar e foradele é a mesma de encontrarmos duas impressões digitais idênticas nos maisde 6 bilhões de habitantes da Terra. Ver Cosmo.

Vida. Conjunto de propriedades e qualidades graças às quais animais eplantas, ao contrário dos organismos mortos ou da matéria bruta, se man-têm em contínua atividade, manifestada em funções orgânicas tais como ometabolismo, o crescimento, a reação a estímulos, a adaptação ao meio, areprodução e outras.

A avaliação de todas essas funções orgânicas próprias da vida, como aentendemos neste final de século XX, permite concluir como seria difícilencontrá-la, igual à nossa, em outros astros do Sistema Solar. Mas na nossagaláxia, que teria, segundo especulam os astrônomos, 200 bilhões de estre-las, talvez se tenham desenvolvido algumas formas de vida em planetas quegirem ao redor de tantos “sóis”. As probabilidades aumentam muito seadmitirmos como plausível a também especulativa suposição dos astrôno-mos de que há no Universo algo em torno de 125 bilhões de galáxias. Masse ousarmos considerar o Cosmo infinito, com infinitas galáxias, como pro-pomos nas páginas deste livro (somos finitos, por isso não conseguimosconceber o infinito), haveria também infinitas formas de vida. Neste finalde século XX há astrofísicos que ousam propor que “o Universo é finito etem um volume em quilômetros cúbicos expresso pelo algarismo 3 seguidode 72 zeros”. Trata-se, evidentemente, de uma ingênua e descabida especu-lação. Por outro lado, há cientistas e teólogos que já admitem a existência deinfinitas centelhas de vida surgindo e desaparecendo, continuamente, noCosmo infinito. Ver Vida extraterrestre.

Vida extraterrestre. Seres como os nossos animais e vegetais, ou de ou-tra natureza desconhecida, que talvez possam existir fora da Terra, no Siste-ma Solar, na Via-Láctea ou no Cosmo infinito.

Neste final de século XX, alguns astrofísicos ousam supor, com uma dosede desconcertante pretensão matemática, que há no Cosmo cerca de 125 bi-lhões de galáxias e que há na Via-Láctea cerca de 200 bilhões de estrelas.Nessas galáxias (mais propriamente, nas infinitas galáxias do Cosmo infinito,

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segundo a visão pessoal do autor deste livro) haveria infinitas centelhas devida, não necessariamente semelhantes à nossa centelha. Talvez não nosseja possível encontrá-las. Talvez a humanidade desapareça antes de desco-bri-las. Mas durante a última década deste século XX, principalmente nosanos 1998 e 1999, os estudos de astrônomos e astrofísicos se acentuaramna busca de indícios de vida fora da Terra. Até hoje, a evidência mais fortenão passou de um suposto fóssil de bactéria encontrado num fragmento demeteorito que teria se desprendido de Marte, saltado para a órbita da Terrae aqui caído. Nenhum indício de vida presente ou passada foi encontrado naLua pelas missões Apollo ou em Marte pelo robô Pathfinder. Os astrôno-mos e astrofísicos continuam perscrutando o espaço com seus possantestelescópios terrestres e com o extraordinário telescópio espacial Hubble, naesperança de encontrar sistemas solares com planetas cujas condiçõesambientais sejam semelhantes às da Terra. Trata-se de uma busca difícil,pois as distâncias são imensas e os nossos equipamentos ainda inadequadospara observar e analisar corpos celestes do tamanho da Terra, dela separa-dos por dezenas de anos-luz. Em 1998, foi descoberto na constelação dePégaso um planeta que talvez ofereça condições ambientais para a existên-cia de vida. Dois outros planetas com as mesmas características foram des-cobertos nas constelações Virgem e Ursa Maior. Ao todo, cerca de 20 pla-netas semelhantes já foram pressentidos (tal é a palavra apropriada) pelosastrônomos na Via-Láctea, fora do Sistema Solar, com remotas possibilida-des de apresentarem características essenciais à vida que existe na Terra:água em estado líquido, atmosfera com oxigênio, temperaturas na faixa dos60ºC negativos a 60ºC positivos. Em abril de 1999, porém, durante a reda-ção deste livro, eis que os cientistas anunciaram extraordinárias descober-tas, que abrem uma nova era na astronomia, justamente no limiar do ano2000 e do século XXI. Pesquisadores, astrônomos e astrofísicos descobri-ram um sistema planetário triplo a 44 anos-luz do Sistema Solar: três plane-tas em órbita da estrela Upsilon da constelação de Andrômeda, que tem 1,3vezes a massa do Sol. O primeiro planeta, mais próximo de Upsilon deAndrômeda, tem 238 vezes o tamanho da Terra e está tão próximo do seu“sol” que seu ano corresponde a somente quatro dias terrestres. É a rigoruma imensa bola incandescente de rocha a milhares de graus centígrados,girando a uma distância que corresponde a apenas um sexto da que separaMercúrio do Sol. O segundo planeta é imenso, com o dobro da massa deJúpiter e 636 vezes a da Terra, mas também muito próximo de Upsilon daconstelação de Andrômeda, um pouco mais do que a distância de Vênus aoSol. Trata-se, também, de um gigante tórrido, com uma superfície ondepersistem temperaturas de milhares de graus centígrados. O terceiroplaneta é igualmente colossal, com massa correspondente a quatro vezes àde Júpiter. Ela sozinha equivale à soma das massas de todos os planetas doSistema Solar. Está a uma distância de Upsilon da constelação de Andrômeda

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um pouco maior da que separa Marte do Sol, com temperaturas que talvezestejam na faixa de 0ºC a 100ºC negativos. Presumem os astrofísicos que aconstituição desses três grandes planetas seja predominantemente gasosa.Haveria vida em algum deles ou em algum satélite que os circundam, aindanão conhecidos? Vida como a nossa ou diferente dela? Seja qual for a respos-ta, essa extraordinária descoberta, feita no apagar das luzes do século XX, nosremete a uma especulação fantástica: na Via-Láctea haveria cerca de 200 bi-lhões de estrelas, no Cosmo haveria 125 bilhões de galáxias (segundo supõemalguns ousados astrônomos), perfazendo um total da ordem de 25 quintilhõesde estrelas, com probabilidades de existirem sistemas solares com vários pla-netas, com múltiplos satélites, sem vida ou com vida. Neste caso, muito pro-vavelmente, com uma constituição átomo-molecular-biológica diferente danossa. A rigor, neste final de século XX, começamos a descortinar o infinito,com a indagação que muitos relegam a plano secundário, mas que é realmentea mais importante de todas quantas nos fazemos: a espécie humana sobrevi-verá para saber se há ou não há vida extraterrestre? Ver Cosmo.

Violência. Qualidade de violento, constrangimento físico ou moral ob-tido pelo uso da força. Ato abusivo praticado por indivíduos, grupo de pes-soas ou nações.

Neste final de século XX, a coletividade assiste, estarrecida, ao aumentovertiginoso da violência. Jovens, inexplicavelmente, levam armas e bombaspara a escola e exterminam colegas e professores. Mata-se facilmente nasdiscussões de trânsito, os assaltos incluem quase sempre vítimas fatais. Onúmero de jovens assassinos, menores de idade, aumenta sempre. Tem-se aimpressão de que escorre sangue dos noticiários dos jornais, rádios e televi-sões. O século e o milênio terminam sob o espectro macabro da violência.No século XXI, esse quadro assustador se agravará, pois uma das causas dotranstorno social está no aumento da miséria, na desagregação da família,nos transtornos sociais e também na própria mídia, principalmente na tele-visão, que hipocritamente divulga campanhas de desarmamento e apela paraa concórdia e a paz, mas ao mesmo tempo fatura alto com a publicidadeinserida nos intervalos de filmes e programas repletos de cenas de extremaviolência, com efeitos especiais que mostram explosões, muito fogo, tiros eassassinatos, assaltos, erotismo, estupros. As autoridades e os políticos bra-sileiros, do Executivo, Legislativo e Judiciário, silenciam, pois temem con-trariar a mídia poderosa. As comunidades pobres são mais expostas a essabrutalidade: elas têm livre visão de tudo quanto é oferecido na TV, o que ébonito, gostoso, excitante; não têm recursos para comprar o que é bonito,gostoso, excitante; mas têm verdadeiras aulas de como obter o que é bonito,gostoso, excitante pela via transversa da violência e do crime. Ver Televisão.

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Este capítulo reafirma o que procuramos realçar ao longo desta reporta-gem: a insignificância e a transitoriedade da espécie humana, diante do possívele do provável que talvez aconteçam no transcorrer do século XXI.

O homem pouco mudou desde que sua espécie surgiu há cerca de 100 milanos: que nos confirmem ou desmintam as explosões de Hiroshima e Nagasaki,os recentes conflitos nos Bálcãs, limpezas étnicas de um lado, ações militaresviolentíssimas de outro, à revelia da Organização das Nações Unidas.

Com a mesma irrelutância revelada no passado ao exterminar contingen-tes concorrentes e culturalmente diferenciados, vulneráveis por não disporemde clavas e machados de pedra tão bons quanto os dos seus rivais contempo-râneos (o contingente que viria a ser o homem moderno), as poderosas na-ções de hoje talvez submetam e até mesmo aniquilem nações pobres, desnu-tridas, doentes e indefesas, vulneráveis porque não dispõem de riqueza e po-der, não possuem as melhores armas, entre elas computadores, satélites, mís-seis teleguiados e ogivas nucleares.

O futuro mais distante apontaria, então, para a sobrevivência dos contin-gentes (nações) mais fortes e para a extinção dos contingentes (nações) maisfracos. Novamente perguntamos: o G7, os sete países mais ricos do mundo,não seria um embrião?

Esse prognóstico poderia ser modificado se na trajetória do homem mo-derno espalhado pelo mundo (a probabilidade é maior dada a grande popula-ção, superior a 6 bilhões) sobrevier uma singularidade como tantas que serepetem no infinito, onde interagem continuamente matéria infinita e energiainfinita, existentes no Cosmo infinito: o gesto consciente ou inconsciente de

CAPITULO 6

Incursão ao longo do possível e do provável no século XXI,advertindo que não está assegurada a sobrevivência da

espécie humana nos séculos subseqüentes.Uma especulação cósmica: estaríamos

vivendo no ponto mediano de um segmento temporal de10 bilhões de anos, entre o

princípio e o fim do nosso Sistema Solar?

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um indivíduo, ou de um pequeno grupo deles, que deflagre um conflito nu-clear ou uma guerra bacteriológica que ponha fim à vida na Terra.

A espécie humana estará, então, extinta, mas a fisionomia do Planeta conti-nuará mudando ao longo dos bilhões de anos que ainda terá por diante. Asglaciações se repetirão e no correr delas os gelos voltarão a cobrir a maior parte dasuperfície terrestre com calotas que chegarão até latitudes tropicais, extinguindo amaioria das espécies animais e vegetais sobreviventes da hecatombe nuclear. Co-metas e asteróides colidirão com a superfície terrestre de tempos em tempos,alterando, a cada impacto, as condições ambientais e a biodiversidade. O movi-mento das placas tectônicas continuará e em suas bordas o vulcanismo fará nas-cer novas ilhas e altas cordilheiras. A extensão dos oceanos se modificará: o Medi-terrâneo deverá desaparecer e o Atlântico será tão amplo quanto o Pacífico, se-gundo prevêem alguns geólogos. As grandes ilhas do Pacífico talvez se aproxi-mem do Japão e formem com a Austrália um novo continente. As cordilheirasdos Andes e do Himalaia continuarão se elevando, mas provavelmente o seu pesose tornará excessivo e elas acabem por naufragar no magma líquido que há sob acrosta terrestre. O atrito da grande massa de água dos oceanos, por inércia, redu-zirá a velocidade de rotação da Terra e os astrofísicos prevêem que os dias e asnoites se tornarão 0,002 segundo mais longos em cada século. A Lua se afastaráda Terra, percorrendo uma órbita que estará 4 centímetros por ano mais distantede nós. Mas essa não será a única modificação que ocorrerá no céu. O Sol aumen-tará de volume à medida que o seu combustível hidrogênio se transforme emhélio e este passe também a se fundir para dar origem a átomos mais pesados,numa reação nuclear que gera mais calor. Essa expansão do Sol será tão grandeque o seu halo alcançará os planetas Mercúrio e Vênus, talvez a Terra,calcinando-os. Há teorias que não aceitam esse fim tórrido para os planetas, em-bora nada mais importe considerar, pois eles não passarão de esferas de rocha,mortas, sem água e sem atmosfera, derretendo-se a uma temperatura de 30 milgraus centígrados. Outra teoria sugere que o Sol perderia gradativamente a suamassa e seu poder gravitacional que mantêm os planetas em órbita. Todos eles seafastariam, perdendo-se no espaço como grandes asteróides cujo fim seria o mes-mo de toda a matéria escura e de todas as estrelas do Universo: ser atraídos esugados por um buraco negro. Tal seria, segundo alguns astrofísicos, o destino doSistema Solar dentro de 5 bilhões de anos.

Retrocedendo no tempo e, concomitantemente, antecipando o que tal-vez venha a ocorrer, no bojo de uma ousada especulação cósmica de nossaexclusiva responsabilidade: a espécie humana estaria vivendo hoje no pontomediano de um período de 10 bilhões de anos. Há 5 bilhões de anos teriasurgido o Sistema Solar, que estaria condenado a desaparecer dentro deoutros 5 bilhões de anos.

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Chegamos ao fim deste trabalho: uma reportagem apresentada sob a for-ma de livro. Ela não teve a pretensão de prever o futuro, mas tão-somente decomentar o possível e o provável no século XXI, tomando por base a realidadecientífica e tecnológica existente no apagar das luzes do século XX.

Fixamo-nos em alguns aspectos que julgamos essenciais para a socieda-de dos homens, uma centelha de vida entre infinitas centelhas de vida exis-tentes no Cosmo.

Insistimos muito na insignificância da nossa espécie e na dimensão irrisó-ria da Era Industrial (1800 a 2000), que se prolongará além do ano 2000. Foie será a era do carbono, durante a qual a espécie humana, no seu momentoevolutivo atual, priorizou o desenterramento da energia do Sol que clorofila efotossíntese acumularam no subsolo da Terra durante os 50 milhões de anosdo período carbonífero, que transcorreu há 250 milhões de anos.

Gostaríamos que algumas repetições de temas e conceitos fossem tidascomo insistência, ênfase decorrente de nossas preocupações maiores.

Reafirmamos que ciência e tecnologia surpreenderão o mundo no séculoXXI com descobertas e ousadias extraordinárias, principalmente nos camposda informática, da genética e da exploração espacial.

A mídia hoje, na véspera do ano 2000, faz referências a uma moradiacompletamente automatizada e informatizada, suprema maravilha do séculoXXI. Um supercomputador caseiro conectado a todos os cômodos, sistemasdigitais de comunicação local e via satélite, equipamentos eletrodomésticossofisticados, tudo a serviço do morador sem que este precise sequer apertarbotões, bastando ordenar. Tal seria a casa do futuro.

CAPÍTULO 7

Conclusão da reportagem, assinalando que procuramosresumir a trajetória humana para perguntar:

por que o homem busca avidamente uma rota defuga para o Cosmo, sem antes procurar resolver os graves

problemas que ele próprio criou nesta planeta generoso, que lhe oferece tudo quanto a sua constituição

átomo-molecular precisa?

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Mas quanto custará este engenho e a quantos indivíduos da popula-ção mundial superior a 6 bilhões ele poderá servir? Será ele uma inicia-tiva honrosa para a humanidade na esteira reluzente da ciência e datecnologia do século XXI?

No transcorrer do próximo segmento temporal de 100 anos assistire-mos a outras surpreendentes conquistas, entre elas as caríssimas aven-turas espaciais, ao preço de muitas centenas de bilhões de dólares. Elasse justificariam quando mais de 50% da população do mundo ainda nãosabe ler e escrever, 70% é subnutrida, 90% não dispõe de saneamentobásico e de assistência médica e hospitalar?

Afinal, ciência e tecnologia abrangem ou não a moral e a ética? O sécu-lo XXI transcorrerá sem que se leve em conta o que é essencial para agrande família humana, privilegiando os grandes interesses econômicosda indústria aeroespacial que nos condenam a partir rumo ao espaço nabusca de um novo lar? Destinado a acolher meia dúzia de astronautas?

Certamente não será por razões humanitárias, pois nunca será possí-vel transferir mais de 6 bilhões de seres humanos, quando estes nãomais puderem viver neste planeta Terra exaurido.

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BIBLIOGRAFIA

AGÊNCIAS:

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PERIÓDICOS:

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