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INCENTIVO À SUCESSÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR: PROGRAMA SUCESSÃO FAMILIAR NO VALE DO TAQUARI/RS
INCENTIVE FOR SUCCESSION IN FAMILY AGRICULTURE: SUCCESSION PROGRAM FAMILY IN VALE TAQUARI/RS
ResumoA dificuldade de sucessão na agricultura familiar tem se apresentado como um problema na realidade da agricultura. Neste sentido, a Cooperativa X, no Rio Grande do Sul, criou o Programa de Sucessão Familiar visando estimular os jovens a se capacitarem e ficar no meio rural. A presente pesquisa objetiva analisar o Programa Sucessão Familiar, verificando se o programa tem contribuído para a permanência dos jovens na agricultura; e identificar o nível gerencial dos jovens e respectivas unidades de produção agropecuárias. Metodologicamente realizaram-se 43 entrevistas com jovens participantes do Programa, a partir de um roteiro semiestruturado. As entrevistas foram realizadas em 2015, em reuniões com os jovens. Concluiu-se que o programa tem proporcionado, a partir da teoria e da prática, mecanismos que auxiliam os jovens a gerir a propriedade, desenvolvendo dessa forma o interesse pelas atividades agrícolas e pela sucessão, elevando o nível gerencial dos mesmos.Palavras-chave: Propriedade Familiar; Jovens Rurais; Gestão Rural; Transferência de Poder.
AbstractThe difficulty of succession in family farming has emerged as a problem in the reality of agriculture. In this sense, the Cooperative X, in Rio Grande do Sul, created the Family Succession Program to stimulate young people to empower and stay in rural areas. This research aims to analyze the Family Succession Program, ensuring that the program has contributed to the permanence of young people in agriculture; and identify the managerial level of the young people and their agricultural production units. Methodologically they were held 43 interviews with young participants of the program, from a semi-structured script. Interviews were conducted in 2015 in meetings with young people. It was concluded that the program has provided, from the theory and practice, mechanisms that help young people to manage the property, thus developing interest in agricultural activities and the succession, raising the management level of the same.Keywords: Family Property; Rural young people; Rural Management; Power transfer.
1. INTRODUÇÃO
O Estado do Rio Grande do Sul apresenta condições naturais e culturais favoráveis
ao desenvolvimento das cadeias produtivas do leite, suínos e aves (KRABBE et al., 2016).
Na região do Vale do Taquari, especificamente a região onde a presente pesquisa foi
desenvolvida, essas atividades acontecem de forma intensiva e predominante. Como reflexo
da expansão e expressividade econômica e social de tais atividades na referida região, bem
como a partir da necessidade de estratégias de permanência e reprodução desses
agricultores nas referidas atividades, que surgiram as associações de produtores
(BORGMANN; SINDELAR; BARDEN, 2014). Dentre essas associações, se destacam as
cooperativas agropecuárias como a Cooperativa X1, foco da presente análise.
Cabe destacar que o cooperativismo é a união de pessoas com interesses comuns,
sem objetivar unicamente a lucratividade, tendo como principal finalidade libertar o homem
do individualismo. Além disso, as noções de cooperativismo defendem a coletividade e a
solução dos problemas comuns através da união, auxilio mutuo e integração entre pessoas
(OCERGS, 2008).
Apesar da tendência mundial de produção em grande escala e modernas técnicas de
produção, a agricultura familiar continua a sobreviver em várias regiões do país,
principalmente na região sul. Porém, essa não é a realidade de todas as propriedades
familiares e, algumas destas, não têm condições de acompanhar os avanços tecnológicos e
acabam perdendo competitividade, devido ao alto custo de produção e à baixa
produtividade. Contudo, em alguns setores, como é o caso do leiteiro, suinícola e avícola, ou
seja, em atividade em que há integração vertical entre a indústria e a agricultura, o emprego
de novas técnicas e a especialização dos produtores, fazem com que estes alcancem
índices produtivos semelhantes aos de países desenvolvidos (LAUSCHNER, 1980).
A condição mencionada de permanência e reprodução da agricultura familiar com
boas condições financeiras, é uma realidade presente no Vale do Taquari, como já
destacado. Porém, o sucesso dessas propriedades familiares depende, sobretudo, de um
processo sucessório, que desperte o interesse dos jovens em permanecer no campo e dar
continuidade ao negócio familiar com eficiência e eficácia. Dessa forma, ações de
intervenção no sentido de incentivar a permanência destes na agricultura são
imprescindíveis. As ações podem ser por parte do governo ou mesmo a partir dos atores
locais, como as associações e cooperativas. Como o caso da Cooperativa X que atua no
sentido de investir na formação técnica, incentivando a permanência dos jovens na
propriedade para dar sequência nas atividades exercidas pelos seus pais.
Corroborando com a afirmação acima, sob o aspecto da gestão da empresa rural,
destaca-se que o ideal numa família é haver a possibilidade de escolher, dentre os
sucessores, o mais indicado para dar continuidade às atividades praticadas pela empresa
(LANGUIRU, 2013). Lodi (1986) já acrescentava que o pior dos conflitos existentes entre as
empresas familiares acontece na fase de sucessão, resultado quase sempre de problemas
estruturais da família. Essa estrutura familiar e a própria sucessão será determinada em
longo prazo pela maneira como os pais constituíram e educaram a família.
Mais recentemente Tillmann e Grzybovski (2005) destacaram que a tendência
mundial de empresas familiares é desaparecer ao ingressar a terceira geração, ao menos 1Para fins desta pesquisa a Cooperativa estudada será chamada de Cooperativa X, evitando exposição do nome real da mesma.
que desenvolvam estratégias ordenadas de sucessão, que podem causar mudanças
organizacionais profundas. Dentre essas estratégias, destaca-se a valorização no herdeiro-
sucessor das habilidades humanas que possibilitam gerenciar aspectos de relacionamento
familiar no ambiente do trabalho e as estratégias do negócio junto ao mercado. Os autores
destacam ainda, que as estratégias devem iniciar no período em que o sucessor está sendo
preparado para assumir os negócios da família, ou seja, inicia com a escolha do candidato,
e vai até o momento da consolidação da transição, com o afastamento do sucedido.
A sucessão na agricultura familiar apresenta-se contemporaneamente como um
problema na realidade da agricultura, já que muitas famílias não têm encontrado jovens
dispostos a permanecer na agricultura e dar seguimento aos negócios. O problema se
intensifica quando abordadas questões de gênero, ou seja, as mulheres jovens tem menos
propensão a permanecer no campo e, consequentemente, geram um processo de
masculinização e desestímulo aos jovens do sexo masculinos que não conseguem parceiras
para constituir família (ABRAMOVAY, 1998).
Mello et al., (2003), desenvolveram pesquisas no Oeste de Santa Catarina onde
constataram que a agricultura familiar da região começa a enfrentar problemas que não
existiam até o final dos anos 1960. Anteriormente o filho mais novo ficava com a
propriedade dos pais e aos demais filhos eram viabilizados a partir dos meios materiais
necessários para que se reproduzissem enquanto agricultores. Já a partir do final dos anos
70, não se identifica um padrão alternativo claramente definido e legitimado pelos membros
da família, gerando maiores conflitos durante o processo sucessório. Com isso, na maioria
das famílias rurais não existe uma preparação prévia e organizada das questões
relacionadas à sucessão, o que faz com que não se defina previamente quem fica no
estabelecimento dos pais e nem a forma de remuneração dos irmãos que não serão
sucessores. Além disso, é claro um viés de gênero que exclui as filhas da possibilidade de
serem sucessoras. Todo esse contexto ameaça e coloca em risco a reprodução econômica
e social da agricultura familiar (MELLO et al., 2003).
A partir dessa problemática, programas de incentivo à permanência dos jovens no
meio rural e, consequentemente, para sucessores nos negócios da agricultura familiar têm
se mostrado um imperativo urgente. Alguns exemplos nesse sentido já são encontrados no
Rio Grande do Sul, como é o caso do Programa Sucessão Familiar da Cooperativa X que foi
criado em dezembro de 2014, visando a formação gerencial de sucessores da propriedade
rural. O programa é gratuito e oferecido aos jovens cooperados.
Considerando os objetivos do programa “Sucessão Familiar Languiru” questiona-se
de que forma ele tem contribuído para a permanência dos jovens no meio rural. O programa
auxilia a participação dos jovens no processo gerencial da propriedade? O programa
estimula de fato o desejo de permanência na agricultura?
Para investigar essas questões, o objetivo principal da presente pesquisa é analisar
o Programa Sucessão Familiar da Cooperativa X e seus resultados. Como objetivos
secundários têm-se: a) caracterizar o perfil dos jovens participantes do programa de
sucessão familiar e suas respectivas propriedades rurais; b) identificar o nível gerencial dos
jovens e das unidades de produção agropecuárias participantes do projeto de sucessão.
A fim de responder os objetivos do estudo, metodologicamente realizou-se uma
pesquisa com as 43 famílias que participam do Programa de Sucessão Familiar da
Cooperativa X. As entrevistas foram realizadas no primeiro semestre de 2015, em reuniões
específicas do projeto com os jovens, seguindo um roteiro semiestruturado, no qual
continham questões abertas e fechadas.
2 A SUCESSÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR: COMO SE DÁ A PERMANÊNCIA DO JOVEM NO MEIO RURAL?
As dificuldades nos processos de sucessão na agricultura familiar, ou mesmo a
inexistência de sucessores, apresenta-se contemporaneamente como um problema na
realidade, já que muitas famílias não têm encontrado jovens dispostos a dar seguimento nas
atividades realizadas pelos pais. O problema se intensifica quando abordadas questões de
gênero, ou seja, as mulheres jovens tem menos propensão a permanecer no campo que,
consequentemente, gera um processo de masculinização e desestímulo aos jovens do sexo
masculinos que não conseguem parceiras para constituir família (ABRAMOVAY et al.,
1998).
Carneiro (1998) destaca que no contexto de crise da agricultura familiar, bem como
dos processos econômicos recentes, o rural se transforma num local cada vez mais
heterogêneo, diversificado e já não pode ser reconhecido como exclusivamente agrícola.
Nessa realidade, a juventude rural chama a atenção por ser a categoria mais atingida por
essa dinâmica de diluição das fronteiras entre os espaços rurais e urbanos.
A diluição de fronteira entre o rural e o urbano tem desencadeado no que denomina
de “problema da questão sucessória” na agricultura, que acontece quando a formação de
uma nova geração de agricultores perde a naturalidade com que era vivida até então pelas
famílias e pelos indivíduos envolvidos nos processos sucessórios (CARNEIRO, 1998; 2005).
Assim, neste processo, ajustada com o agravamento da situação da falta de perspectivas
para os que vivem da agricultura, no cenário socioeconômico, os jovens são os mais
afetados.
Segundo Carneiro (2005; 1998), deve-se considerar que os jovens procuram
afirmações para o seu futuro e aspiram à construção de seus projetos, geralmente
vinculados ao desejo de inserção no mundo moderno. Neste sentido, a questão da
sucessão vem passando por mudanças e isso ocorre devido às modificações estruturais na
sociedade em geral, afetando o meio rural e o modo de vida das famílias. Por conseguinte, a
escolha da profissão passa a ser livre, o fato de um jovem ser filho de agricultores não
significa que ele deva ser um agricultor também (SILVESTRO et al., 2001).
Conforme Spanevello (2008), a dinâmica sucessória na agricultura familiar vem
ganhando destaque já que a maioria dos estabelecimentos permitem a instalação de apenas
um filho para evitar a inviabilidade econômica da unidade produtiva. Ou seja, a permanência
dos jovens no campo está atrelada as condições econômicas e sociais oferecidas. A partir
destas condições o agricultor pode ou não contar com os filhos para a sucessão. (BRUMER,
et al., 2000). Tem permanecido no campo aquele que tem espaço para para gerir e viver em
condições semelhantes aos jovens urbanos, com renda e tecologia.
Redin (2009) destaca as tecnologias como fator condicionante para permanência do
jovem no campo, à exemplo das máquinas e equipamentos que facilitem a realização das
atividades agrícolas. Somado a isso, o fortalecimento de grupos locais, pois a organização é
uma forma de buscar conjuntamente alternativas para as dificuldades, além de impulsionar
iniciativas e atividades voltadas para a área de lazer, através de encontros que propiciem
trocas de experiências, jogos recreativos, indo além da socialização.
Também analisando os fatores que motivam a permanência ou a saída dos jovens
do meio rural, Troian et al., (2009; 2011) constataram, em estudo realizado em localidades
agrícolas de Santa Rosa, no estado do Rio Grande do Sul, que permanecem no campo os
jovens que possuem propriedades desenvolvidas e rentáveis, tendo como principal forma de
integração os grupos de jovens vinculados a igreja. Observa-se, portanto, que a presença
de atividades integradoras, que estimulam os jovens em seu trabalho e em atividades de
lazer, fazem com que estes se interessem pelo meio em que vivem, e busquem a
continuidade das atividades rurais.
Neste sentido, segundo Brumer et al., (2000), as perspectivas da permanência dos
filhos na atividade agrícola dependem principalmente das condições internas das famílias,
tanto econômicas quanto sociais. Dentre elas, os autores elencam a viabilidade econômica
da propriedade, a qualificação para a entrada de novos mercados, as estratégias de
obtenção de rendas complementares, a relação entre pais e filhos, a questão de gênero e a
escolha profissional. Esses fatores evidenciam a complexidade na decisão entre ficar ou sair
do meio rural, em dar ou não continuidade nas atividades agrícolas realizadas pelos pais.
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se como qualitativa, tendo como método, o estudo
de caso. A pesquisa qualitativa compreende um conjunto de diferentes técnicas
interpretativas que visam descrever os componentes de um sistema complexo de
significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo
social, reduzindo distâncias entre teoria e dados, bem como entre contexto e ação (PLICK,
2009).
O Estudo de Caso, por sua vez, objetiva analisar a fundo uma unidade de estudo.
Para Godoy (1995) um estudo de caso examina detalhadamente um ambiente, um sujeito,
ou mesmo uma situação em particular.
Como instrumentos de pesquisa foram utilizados a entrevista com roteiro
semiestruturado, composto de questões abertas e fechadas. Também se fez uso da não
participante e de dados secundários provenientes do banco de dados da Cooperativa X,
bem como pesquisa (revisão) bibliográfica.
Para a coleta dos dados, foi elaborado um roteiro de entrevistas baseando-se em
Spanevello (2008)2 e um roteiro de observação. Tais instrumentos foram aplicados durante
três encontros mensais do programa de sucessão e os entrevistados representaram a
totalidade dos participantes no referido Projeto de Sucessão Familiar no primeiro semestre
de 2015, ou seja, 43 jovens. A observação constituiu num instrumento relevante no
processo de coleta de dados empíricos. A partir da observação não participante foi possível
identificar aspectos não contemplados nas entrevistas.
O processo de análise dos dados deu-se mediante a organização, tabulação,
descrição e análise propriamente dita das entrevistas o observações realizadas. Para tanto,
utilizou-se o programa computacional PSPP (Public Social Private Partnership)3.
3.1 Caracterização do Vale do TaquariO Vale do Taquari é composto por 36 municípios, localiza-se em média a 150
quilômetros da capital Porto Alegre. Ocupa uma área de 4.826,7 km² de área (1,79% da
área do RS), onde vivem 348.435 pessoas (3,11% da população do RS) (FEE/RS 2014). A
população da região é composta por diversas etnias, destacando-se as de origem alemã,
italiana e açoriana.
No meio rural, sobressai as pequenas e médias propriedades, caracterizando-se
como uma região de agricultura familiar. A região também conta com atividades ligadas à
indústria e ao setor de serviços e comércio, tem como forte característica a produção de
alimentos e praticamente 80% da sua atividade produtiva gira em torno do agronegócio. O
2 “A Dinâmica Sucessória na Agricultura Familiar”
3 O PSPP é considerado um software para análises estatísticas sobre matrizes de dados que consente gerar relatórios tabulados, utilizados na realização de análises descritivas e inferências a respeito de correlações entre variáveis. O programa é uma espécie de substituto gratuito e se assemelha ao SPSS com poucas diferenciações, sendo que não existem prazos de validade, não existe nenhum limite artificial do número de dados ou variáveis nos quais se pode trabalhar (PSPP, 2016).
Vale do Taquari é conhecido pela produção de erva-mate, tabaco, criação de suínos,
frangos, bem como pelos frigoríficos e abate de frangos e suínos. A Figura 1 busca
demonstrar a localização da região em que se desenvolveu a pesquisa.
Figura 01- Mapa do Brasil com destaque para o Rio Grande do Sul e Vale do Taquari
Fonte: Adaptado do google imagens.
3.2. A Cooperativa X e o Programa “Sucessão Familiar”
A Cooperativa X localiza-se Vale do Taquari no estado do Rio Grande do Sul, sendo
a sede no município de Teutônia. É uma das maiores cooperativas da região e desde que foi
fundada, em 1955, tem suas bases na ajuda mútua, esforço, responsabilidade, democracia,
igualdade e solidariedade norteiam o trabalho de todos que fazem parte da organização
(LANGUIRU, 2013).
Atualmente a coperativa atua nos segmentos de aves, suínos, embutidos, laticínios,
rações e varejo. A cooperativa tem ainda a função de interlocutora e extensora das
tecnologias e informações para os agricultores cooperados, bem como presta assistência
técnica. A assistência técnica ocorre a partir da transmissão do conhecimento, visando a
fidelização de seus cooperados.
Quando da realização da pesquisa a cooperativa contava com um quadro social de
aproximadamente 5.900 associados, dos quais, 2.500 produtores de leite, de frango e\ou
suínos. No quadro de funcionários a empresa possuia cerca de 2.500 colaboradores.
Visando envolver os jovens rurais nas atividades ligadas a agropecuária,
capacitando-os para que tenham interesse e competência para se tornarem os sucessores
das propriedades dos pais, a Cooperativa X desenvolve ações especificas para este público,
destacando-se o Programa Sucessão Familiar.
O referido programa iniciou em dezembro de 2014, quando contava com 118
inscritos e tinha como foco a formação gerencial dos jovens a fim de contribuir com a
manutenção das atividades nas propriedades. O programa é dividido em módulos e concilia
teoria e prática. Os encontros aconteceram mensalmente com visitas sistemáticas nas
propriedades e a implementação de sistemas informatizados de gestão.
O programa foi formatado como um curso em que a grade curricular abordou: a) A
produção agropecuária e as características de gestão; b) Tecnologias de informações
gerenciais para a agropecuária; c) Gestão patrimonial, gestão de custos, gestão de
resultados, gestão de projetos, gestão financeira, gestão de pessoas; d) Sucessão rural; e)
Associativismo, cooperativismo e alianças estratégicas. Estas atividades permitem a análise
da realidade econômico-financeira, gestão de custos de produção, gestão do patrimônio,
desenvolvimento de projetos e de planejamento financeiro (BAYER, 2014).
A operacionalização do Programa Sucessão Familiar se deu a partir de visitas às
propriedades geradoras de informações gerenciais, instalação das ferramentas,
levantamento patrimonial, controle e planejamento dos gastos da propriedade, custos por
atividade, receitas e dados da produção por atividade, montagem de projetos, sucessão
familiar na propriedade e avaliação final do projeto.
4 OS JOVENS RURUAIS DO VALE DO TAQUARI: O PAPEL DA GESTÃO NA PERMANÊNCIA NO MEIO RURAL
Nesta seção serão apresentados os principais resultados da pesquisa acerca do
Programa de Sucessão Familiar desenvolvido pela Cooperativa X. Para tanto, se inicia
apresentando o perfil dos jovens entrevistados, em seguida discute-se o nível gerencial dos
jovens e de suas respectivas unidades produtivas. Por fim, apresentam-se as motivações
dos jovens para permanência e saída da agricultura.
4.1 Perfil dos jovens participantes do programa de sucessão familiar
A Cooperativa atua em 24 municípios, dos quais 11 foram abordados pela pesquisa,
sendo que a maioria dos jovens entrevistados é de Teutônia, 11, seguido de oito de
Wesfália, cinco de Estrela e três de Colinas. Em Poço das Antas e Arroio do Meio foram
entrevistados dois jovens de cada; nos municípios de Crissiumal, Imigrante, Cruzeiro do Sul,
Santa Clara do Sul e Bom Retiro do Sul, apenas um jovem de cada localidade.
Por ser uma região basicamente composta por agricultores familiares e com uma
topografia acidentada, a Região do Vale do Taquari adota a diversificação de atividades
produtivas, sendo que os produtores intensificam sua produção integrando duas ou mais
atividades, como pode ser visualizado posteriormente na Figura 02.
A disponibilidade reduzida do fator produtivo terra, faz com que os proprietários,
estrategicamente, passem a investir nas cadeias avícola, suinícola e na atividade leiteira, as
quais são intensivas em capital e mão de obra. A disponibilidade de terras das propriedades
inseridas na pesquisa fica disposta conforme a Figura 2.
Figura 2. Quantidade de terras em ha¹ das propriedades.
até 10 ha¹ 10 a 20 há¹ 20 a 40 há¹ 40 a 60 há¹05
1015202530354045
32,6%
39,5%
20,9%
7,0%
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
Tendo em vista a questão sucessória, buscou-se investigar a composição das
famílias dos jovens entrevistados. A maior parte dos entrevistados, 19 (44%) possui família
composta por três membros. Já 14 entrevistados (32%) têm família composta por quatro
integrantes. Por fim, destaca-se que 10 entrevistados (24%) têm família com cinco ou mais
integrantes, sendo que as famílias maiores geralmente incluem os idosos que ainda estão
presentes no quadro familiar, já que os filhos acabam casando e morando junto com os pais,
podendo conter até sete integrantes na família.
Como exposto anteriormente, a região em questão destaca-se pela intensificação de
três atividades principais: avicultura de corte, suinocultura e bovinocultura de leite. Assim,
evidenciam-se, na Figura 03, as principais atividades agrícolas desenvolvidas e grau de
relevância econômica delas para a propriedade.
Figura 03. Gráfico das atividades agrícolas desenvolvidas e seu grau de relevância econômica
1° lugar 2° lugar 3° lugar0
5
10
15
20
25
30
35
Aves Suínos creche Leite Soja Milho Prestação de serviço
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
A Figura 03 evidencia a expressiva participação da atividade leiteira entre as
atividades desenvolvidas. No entanto, cabe ressaltar que os produtores, na maioria,
conciliam a bovinocultura de leite com suinocultura e avicultura, além das atividades
agrícolas como a produção de milho em grão e silagem, a produção de soja e a prestação
de serviços a terceiros.
4.2 Nível gerencial nas unidades de produção agropecuárias
As propriedades relacionadas aos jovens que fizeram parte da presente pesquisa,
em sua maioria, encontram-se sob o poder gerencial dos pais, os quais ainda tomam as
decisões mais importantes frente ao andamento dos negócios, mas sem desconsiderar a
influência e participação dos jovens. A pesquisa questionou qual a porcentagem de jovem
que auxiliam no gerenciamento da propriedade como um todo, e na tomada de decisões
frente aos negócios. Destaca-se que 38 entrevistados auxiliam no gerenciamento, enquanto
somente cinco jovens mencionaram não auxiliar.
Na realidade analisada a participação dos jovens frente aos negócios rurais
familiares é expressiva. Estes começam participar desde cedo nas ações gerenciais através
do processo sucessório que se dá por meio da transferência de poder de pai para filho. Em
se tratando de idade, é importante preparar os jovens desde cedo para assumir o comando
dos negócios e se tornar sucessor, como destacam Tillmann e Grzybovski (2005).
A Figura 04 apresenta a distribuição dos jovens entrevistados por faixa etária.
Observa-se que a maioria (37%) dos entrevistados encontram-se na faixa etária entre 19 a
22 anos. Porém, a pesquisa apontou que o número de jovens sucessores já atuantes na
gestão das propriedades é maior nas faixas etárias mais avançadas, que vão dos 23 a mais
de 30 anos. Isso ocorre em função dos pais passarem a confiar a gestão da propriedade
aos filhos quando estes demonstram maturidade, adquirida a partir do conhecimento e da
idade mais avançada. A Figura 04 mostra ainda que em cada uma das faixas etárias de 23 a
26 anos; de 27 a 30 anos e mais de 30 anos têm 18,6% dos jovens entrevistados, sendo
que nessa última faixa etária que os jovens são considerados pelos patriarcas mais
preparados para assumirem o negócio familiar.
Figura 04: Faixa etária dos jovens entrevistados.
até 18 anos de 19 a 22 anos de 23 a 26 anos de 27 a 30 anos mais de 30 anos 0
5
10
15
20
25
30
35
40
7,0%
37,2%
18,6% 18,6% 18,6%
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
A escolaridade dos jovens é outro fator determinante no processo sucessório. O
estudo em níveis mais elevados, ao mesmo tempo que é imprescindível para o bom
desempenho dos negócios, muitas vezes pode ser um entrave no processo sucessório.
Destaca-se isto, já que na busca pelo estudo, muitos jovens precisam sair do meio rural e,
depois de formados, a chance de retornarem é menor, pois sonham com oportunidades
melhores no meio urbano, especialmente econômicas.
Segundo Carneiro (1998), a educação escolar é considerada com uma condição
para que o indivíduo se torne alguém na vida, apresentando-se como uma alternativa à
atividade agrícola, como uma espécie de “passaporte”. Isso ocorre com maior
representatividade entre as jovens do sexo feminino, já que as moças são incentivadas, na
maioria das vezes, a buscarem conhecimento através do estudo (ABRAMOVAY et al.,
1998). Para Troian (2014), em grande parte devido à invisibilidade de seu trabalho, as
mulheres tendem a deixar as áreas rurais em maior proporção do que os homens e os
jovens emigram em maior proporção que os adultos.
Com relação à escolaridade, entre os entrevistados, a maioria, sendo 69,8%, está
na busca por uma melhor formação e conhecimento, através do ensino superior. Salienta-se
que a busca por uma formação profissional está relacionada a agricultura, sendo os estudos
direcionados para o desenvolvimento da propriedade, adquirindo conhecimento e
capacitação para darem continuidade, ou mesmo ampliar os negócios agrícolas da família.
Na média brasileira, entre a população urbana de 25 a 34 anos, 52,5% têm ensino médio ou
superior, já no meio rural esse percentual é de apenas 17% (FERNADES, 2011), ou seja, o
caso estudado apresenta uma média superior a média nacional.
Figura 05: Escolaridade dos jovens.
Anafabeto Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Ensino Médio Ensino Superior0
1020304050607080
0% 2,3%9,3%
18,6%
69,8%
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
Também é importante ressaltar que, além do ensino formal via escolas e
universidade, os jovens têm buscado capacitação através de palestras, cursos e
treinamentos oferecidos pela Cooperativa X e demais organizações dos municípios.
Conforme os dados empíricos da pesquisa, a importância destes eventos na formação dos
jovens é alta, pois além de transmitir conhecimento, ter acesso à tecnologia e inovação,
incentiva os jovens na participação das atividades e negócios junto com os pais, à frente dos
comércios voltados às atividades desenvolvidas em cada unidade de produção.
Quanto ao grau de controle das finanças e gerenciamento das atividades
desenvolvidas dentro das propriedades, foi possível observar que tem propriedades que não
fazem anotação alguma referente aos custos das atividades, simplesmente porque não
possuem o hábito de controlar as finanças. Ao mesmo tempo em que se encontraram
propriedades que tem total controle sobre entradas e saídas de dinheiro, o que lhes garante
conhecimento acerca das atividades exercidas, auxiliando na tomada de decisão mais
eficiente.
Neste sentido, o Programa Sucessão Familiar, foi criado como uma forma de
incentivo a gestão e tomada de decisão, uma vez que, segundo Ahlert (2013), proporciona
aos jovens capacitação no processo de gerenciamento, além de disseminação de sistemas
informatizados de gestão de custos, ampliando a visão para os negócios.
Alguns instrumentos podem facilitar no gerenciamento, como é o caso do
computador e do acesso à Internet, de forma a buscar conhecimento e informação, bem
como podem funcionar como ferramentas gerenciais. Dessa forma, auxiliam na identificação
e solução de problemas acerca de irregularidades existentes junto as atividades. O hábito
do uso destes instrumentos nas propriedades estudadas está expresso na Tabela 1.
Tabela 1- Uso do computador e internet pelos jovens no gerenciamento das unidades de produção agropecuárias.
Variáveis Uso do Computador (%) Uso da Internet (%)Nunca 18,6 11,6
Raramente 20,9 14,0Medianamente 18,6 30,2
Com frequência 34,9 34,9Sempre 7,0 9,3
Fonte: Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
Ao analisar a Tabela 1, observa-se que há uma parcela significativa de jovens que
admite usar ambos os instrumentos - computador e internet - com frequência. Considera-se
isso um ponto positivo, já que a partir destes as famílias passam a ter um melhor
conhecimento acerca dos custos das atividades agropecuárias desenvolvidas em suas
propriedades, assim como facilita o acesso a programas de controle e sistemas
informatizados de gestão de custos de produção. Por outro lado, deparou-se com
agricultores que preferem fazer suas anotações relacionadas a custos em um caderno.
Dentre as formas de acesso ou conhecimento das novas tecnologias e novas
atividades produtivas, destacam-se as reuniões técnicas com a Emater, com a Cooperativa
X, entre outras, como pode ser visualizado na Tabela 2.
Tabela 2 - Formas de acesso a novas tecnologias e novas atividades produtivas ou ao conhecimento pelos jovens participantes da pesquisa.
Variáveis Acesso à capacitação (%)
Reuniões técnicas da EMATER 25Reuniões técnicas da cooperativa local 43
Dias de campo 26Excursões, feiras, exposições
agropecuárias 33
Reuniões fora do município com técnicos de outros locais 11
Fonte: Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
Abordando acerca do processo gerencial, os jovens foram questionados acerca da
sua auto análise enquanto administradores da propriedade. Como resultado, 27 (65,5%) dos
jovens se caracterizaram como bons administradores, 13 (32,6%) se consideram medianos,
dois (4,7%) como ótimos e um (2,3%) se autodenominou como ruim administrador.
Ainda analisando o processo gerencial, destaca-se que a maioria, 40 entrevistados,
considera-se entre organizado e medianamente organizado, 22 (51%) e 16 (37%),
respectivamente. Considerando-se pouco organizados deparou-se com três (7%) dos
entrevistados e considerando-se muito organizados deparou-se com penas dois (4%)
jovens. A organização tanto das atividades quanto das finanças é peça fundamental para o
sucesso de qualquer propriedade agrícola.
A Figura 06 mostra, portanto, o gosto dos jovens relacionado ao gerenciamento de
suas unidades produtivas. Ou seja, busca demonstrar se os jovens participantes da
pesquisa visualizam positivamente a tarefa de gerenciar as propriedades rurais, se gostam
de desenvolver essa atividade.
Figura 06: Gosto acerca do gerenciamento da propriedade.
Não gosto Gosto pouco Gosto mais ou menos
Gosto Gosto muito0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
2,3% 2,3%
25,6%
55,8%
14,0%
Fonte: Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
Outra questão que foi abordada no questionário foi acerca do grau de controle
econômico\financeiro das atividades desenvolvidas em cada uma das propriedades
envolvidas, assim como o grau de organização das mesmas, o qual pode ser comparado na
Tabela 3.
Tabela 3- Grau de controle e organização das finanças relacionadas às atividades desenvolvidas nas propriedades dos jovens participantes da pesquisa.
VariáveisControle econômico/financeiro
(%)Organização das finanças
(%)
Nenhum (a) 0 2,3
Baixo (a) 7 2,3
Médio 39,5 30,2
Bom 46,5 58,1
Ótimo (a) 7 7
Fonte: Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
A organização das finanças relacionadas às atividades é ferramenta importante para
que se tenha o controle das mesmas. Ao analisar a Tabela 3, observa-se um percentual
baixo de jovens que admitem ter um bom controle sobre as finanças, ou seja, isso deve
melhorar quando se trata de propriedades com sucessores definidos, e com jovens em
plena participação no programa de sucessão.
Os jovens que se dizem organizados quanto ao controle econômico\financeiro
representam 46% (20 entrevistados), e os que possuem médio controle somam 39% (17
entrevistados) dos jovens. Já no que se refere ao grau de organização perante as finanças,
destaca-se que apenas 7% afirmam serem muito organizados, 58% organizados, e 30% dos
jovens medianamente organizados quanto às finanças relacionadas às atividades
agropecuárias. Por mais que o Programa Sucessão vem dando incentivo, trabalhando na
formação gerencial de sucessores, permitindo uma análise da realidade econômico-
financeira, gestão de custos e do patrimônio e planejamento financeiro, a pesquisa
demonstra que o nível gerencial dos jovens ainda é insuficiente.
No que se refere ao gerenciamento das finanças que envolvem as atividades
desenvolvidas nas propriedades, a pesquisa buscou investigar se os jovens têm
conhecimento sobre os custos e acerca do lucro líquido que cada atividade agropecuária
gera para a propriedade. As respostas a estas perguntas encontram-se na Tabela 4.
Tabela 4- Conhecimento dos jovens sobre o custo e o lucro líquido das atividades agropecuárias desenvolvidas nas propriedades.
Variáveis Custos (%) Lucro líquido (%)
Não sabe 0 0
Tem noção 4,7 4,7
Medianamente 20,9 27,9
Sabe mas tem
dúvidas44,2 41,9
Conhece todos os
custos/lucros30,2 25,6
Fonte: Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
Com base na Tabela 4, pode-se observar certa semelhança de conhecimentos
acerca das variáveis custos e lucros. A semelhança ocorre já que estes fatores estão
diretamente relacionados quando se trata de controle das atividades que competem a uma
propriedade rural. De acordo com a pesquisa, observa-se que 13 (30%) dos jovens afirmam
conhecer todos os custos e lucros das atividades agropecuárias desenvolvidas na
propriedade. Por outro lado, seis (14%) jovens afirmam não conhecer os lucros, ou seja, tem
apenas uma noção ou conhecem medianamente.
A partir dos dados, ou seja, das respostas dos entrevistados, evidencia-se que a
gestão dos custos e lucros, embora venha sendo discutido no Programa Sucessão Familiar,
precisa ser melhor assimilado entre os jovens rurais. A agricultura está cada vez mais
complexa e dinâmica, exigindo dos agricultores conhecimentos que vão além da produção,
como também gerenciais, de mercados, das políticas públicas ente outros.
4.4 Motivações dos jovens para permanência na agricultura
Para que haja a permanência dos jovens no campo, especialmente na agricultura
familiar e para que estes possam dar sequência nas atividades até então exercidas pelos
pais, é fundamental que haja uma preparação que é passada de pai para filho. Também é
fundamental a existência do desejo dos mesmos em assumir o posto de sucessor junto à
propriedade familiar, dando continuidade às atividades e participando constantemente dos
negócios da família.
Baseado nisso, a presente pesquisa buscou conhecer o desejo dos jovens em
permanecer ou sair do meio rural. Os resultados mostram que a maioria, 38 jovens
entrevistados tem interesse em permanecer na agricultura e suceder os pais nas atividades
agrícolas desenvolvidas. Para três jovens perdura a dúvida entre sair ou ficar, embora estes
participem do projeto ofertado pela cooperativa e apresentam relativo interesse pelas
atividades realizadas na propriedade dos pais. Apenas dois jovens não manifestaram desejo
de permanecer na agricultura e serem os sucessores de seus patriarcas.
A pesquisa se preocupou em buscar identificar as motivações dos jovens para
permanência ou saída da agricultura, compreender os principais determinantes para estes
deixarem o meio rural e irem à busca de outra ocupação no meio urbano. Com base nas
respostas das entrevistas realizadas, foi possível identificar que entre as dificuldades para a
permanência dos jovens no meio rural, destaca-se: a) o preço recebido pelo produto, que
nem sempre é “justo” segundo a avaliação dos entrevistados, sendo que justo pra eles seria
o preço que cobrisse os custos de produção e garantisse margem de lucro; b) a dificuldade
em programar e usufruir de férias; c) a impossibilidade de desfrutar de forma plena dos
finais de semana, entre outros.
Ou seja, quando os jovens comparam as atividades rurais com as atividades
urbanas, o que mais se destaca como ponto negativo no meio rural é a dificuldade de
organizar momentos de lazer de forma despreocupada com as atividades agropecuárias, as
quais dependem diariamente e o ano todo do trabalho do agricultor. Neste sentido,
corrobora-se com Troian (2014), quando destaca que para os jovens permanecerem no
meio rural, é necessário oferecer condições para que eles desejem ficar. É necessário:
educação de qualidade voltada à realidade rural, oportunizar condições de acesso a lazer,
cultura, trabalho, geração de renda para que os jovens tenham condições de realizar a
opção de dar continuidade ou adquirir a sua propriedade no meio rural.
Outro fator condicionante para a saída dos jovens é a dificuldade de conseguir
espaço para suas ideias junto à seus patriarcas, participação nas decisões acerca de
atividades agropecuárias e investimentos, bem como autonomia financeira para gastos
pessoais. Os entrevistados afirmam que os pais não dão espaço para novas ideias, não
permitem que os filhos tomem decisões que competem à propriedade e às atividades lá
desenvolvidas. Para Brumer (2004) os jovens se inserem nas atividades da unidade familiar,
geralmente de modo subalterno, pois trabalham lado a lado com os adultos e dependem de
sua boa vontade para a obtenção de recursos para o lazer e a compra de objetos pessoais.
Ainda, de acordo com Weisheimer (2009) os jovens rurais, oriundos da agricultura
familiar, em alguns aspectos, amadurecem socialmente mais cedo que os jovens que se
inserem em outras atividades produtivas devido a certas responsabilidades vinculadas ao
processo de trabalho. Porém, eles tendem a atrasar sua autonomia social em função do
caráter patriarcal que caracteriza esta atividade.
A questão de gênero também implica significativamente nos problemas sucessórios
no campo, já que os estímulos para a permanência no campo são orientados principalmente
para os jovens do sexo masculino, não restando outra opção para as moças a não ser irem
a busca de estudo ou de um emprego na cidade (MENASCHE et al., 1996; ABRAMOVAY et
al., 1998, BRUMER, 2004).
Baseado nessas constatações se investigou o que poderia ser feito para favorecer a
permanência dos jovens e para que as jovens se sentissem atraídas pelo meio rural.
Segundo os entrevistados, uma das alternativas para o desejo de permanência seria o
reconhecimento do importante papel do agricultor na economia.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Programa de Sucessão Familiar objetiva a formação na área técnica e gerencial
dos jovens associados na cooperativa. Na busca por uma melhor formação dos jovens, a
Cooperativa X através do Programa de Sucessão Familiar vem proporcionando
oportunidades e transmitindo conhecimentos os jovens participantes. Dessa forma, pode-se
dizer que o programa contribui para a manutenção das atividades nas propriedades dos
associados, trabalhando com os jovens na prática a partir de programas de software que
auxiliam no controle de entradas e saídas junto à propriedade, o que garante um melhor
controle da produção.
Quanto ao nível gerencial dos jovens, pode-se verificar, além do conhecimento já
existente entre os agricultores em relação às finanças, que eles estão em busca de melhorar
este aspecto junto às propriedades. Visualizou-se ainda, que a busca pelo conhecimento e
capacitação ocorre através da participação em palestras, cursos, viagens e a participação
nos programas ofertados pela cooperativa.
Percebeu-se que o programa tem proporcionado, a partir da teoria e da prática,
mecanismos que auxiliam os jovens a gerir a propriedade, sobretudo as atividades
agropecuárias desenvolvidas. Além do mais, o programa possibilita o aprendizado acerca de
como elaborar e executar projetos viáveis economicamente, trazendo perspectivas de
desenvolvimento para a propriedade, cooperativa, e também para a economia regional
como um todo.
Visualizaram-se as dificuldades que envolvem a transferência de poder de pai para
filho, bem como a falta de incentivo por parte do governo para que haja a permanência
destes jovens no campo. Apesar de dificuldades identificadas, na presente pesquisa, a
maior parte dos jovens entrevistados estão dispostos a dar sequência às atividades
desenvolvidas por seus pais em suas respectivas propriedades rurais.
Por outro lado cabe destacar que entre as motivações para os jovens desejarem sair
do meio rural estão: o excesso de paternalidade, na dificuldade em aceitar ideias novas
propostas pelos mais novos, na resistência pela mudança por parte dos mais velhos, além
da dificuldade de planejar e usufruir de momentos de lazer como as férias e os finais de
semana. Situações semelhantes vêm sendo observadas em outros estudos (ABRAMOVAY
et al., (1998), WASHEIMER, 2004; 2009; TROIAN et al., 2011, entre outros)
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