· Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar...

21

Click here to load reader

Transcript of  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar...

Page 1:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

EDITORIAL

Caros Colegas,

Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um Ano novo cheio de forças redobradas, todos os colegas se sintam estimulados, durante o período de descanso, a aproveitarem os valiosos conteúdos aqui apresentados, em especial o singelo conto natalino. É curioso observar como todos os países do norte da Europa falam da criança Cristo ou Criança Crística.

Na avaliação do II Congresso, Marit nos apresenta um relato, ponderando a importância do II Congresso de Pedagogia Waldorf de julho, em Ribeirão Preto.

Queremos agradecer a Silvia pelo minucioso relato das atividades e palestras no Congresso em USA. O relato do grupo de trabalho sobre o professor de classe não pode passar despercebido por nós. Da mesma

forma, o artigo científico sobre o cérebro dos jovens é inusitado.Queremos justificar o uso da tradução literal do poema falado pelo palestrante principal do congresso de julho,

transcrito nas palestras do Congresso no Periódico 41. Existem muitas traduções poéticas e cada um pode sentir-se livre para usar a de sua preferência.

Fiquem atentos, pois ainda neste fim de ano, deve sair a programação de cursos de aprofundamento, além daquela já enviada para o mês de janeiro.

A coordenação do Periódico

UM CONTO DE NATAL

Extraído de: Contos Suecos

Meu avô me contou essa história: Há muitos e muitos anos, vivia um médico na beira da floresta ao norte do

nosso país. Ele vivia numa pequena aldeia e cuidava das pessoas de uma grande área. Ele era amado em toda parte, pois era incansável e sempre cortês com todos, em especial com as crianças. Perto de sua aldeia construiu uma casa bonita onde vivia com uma velha senhora, governanta da casa, e o cocheiro, pois ele era solteiro.

Como não havia outro médico na redondeza, ele tinha muito, muito que fazer e assim, no verão ia para cima e para baixo de carruagem e no inverno de trenó para visitar seus pacientes. Ele era um senhor sábio e como não havia farmácia na redondeza, ele também fazia o papel de farmacêutico.

 Mas naquele ano o inverno foi muito rigoroso. O frio intenso, já bem cedo fez congelar os rios; e havia uma grande quantidade de neve, de maneira que as estradas estavam cobertas com vários metros de neve, especialmente nas montanhas. Dessa forma o médico somente podia visitar os seus doentes da planície, pois as montanhas e florestas tornaram-se inacessíveis. Quando ele se aventurava para fora da aldeia, era preciso que ele e o cocheiro se munissem de espingardas, pois o frio e a fome haviam tirado os lobos e ursos de seus esconderijos, que circundavam as propriedades. Inicialmente, aqui e acolá, aparecia ainda um cavaleiro da floresta, mas depois não conseguiam passar mais e o médico teve que interromper as viagens maiores.

Além das montanhas havia uma pequena aldeia e lá uma pequena menina estava doente. A mãe inicialmente tentou todos os remédios caseiros possíveis. Mas quando nada disso adiantou e a febre da criança subia, falou então ao marido: “Você precisa cavalgar até o médico, caso contrário a nossa filha morre, pois em vão tentei todos os remédios. A menina já ficou bem fraca e já está febril há dias.” – “Mulher” – respondeu o homem – “isso é impossível! Você sabe o quanto eu amo a nossa criança, mas as florestas estão tão cheias de neve, que não se pode nem pensar em atravessá-las. E mesmo se pudesse atravessar a cavalo, como poderia trazer aqui o médico com o trenó? Só podemos esperar e ter esperança. Mas a mulher não parou de pedir ao marido que ao menos tentasse obter um bom remédio do médico, que por fim, ele selou o seu cavalo, tomou sua espingarda para cavalgar até a próxima aldeia. Mas mal chegara à floresta, seu cavalo afundou até a barriga na neve e uma matilha de lobos o circundava. Quando quis dar a volta com o cavalo, este resvalou e caiu e, só com dificuldade e sob tiros, foi-lhe possível chegar até sua casa, pois os animais ferozes o perseguiram até quase à soleira da porta.

Page 2:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

Desencorajado e levando seu cavalo que sangrava para o estábulo, chegou em casa. “Mulher”, – disse ele – “eu nem sequer cheguei até dentro da floresta, nem pensar em querer atravessá-la, além disso, já está escurecendo. Então a mulher chorou e foi para o quarto onde estava a filhinha febril. “Mamãe, porque choras?” perguntou a criança. “Ah, papai acabou de voltar para casa” – respondeu a mulher – “pois ele queria buscar remédio do médico para você, mas não foi possível porque há muita neve.” – “Mamãe não chore, se acha que precisamos do médico direi ao Menino Jesus que deve vir hoje à noite. Você mesma disse isso hoje de manhã: à noite virá o Menino Jesus”. – “Mas filhinha, isso é apenas um costume antigo. É mais uma lembrança de que Cristo veio ao mundo como criança”. – “Não”, disse a menina, “estou segura de que se eu pedir, então o Menino Jesus também virá.”

Então a mãe saiu e disse ao marido: “A criança novamente fala no seu estado febril.” Então se apressou a fazer a ceia de natal e pensou consigo mesma: Esta será a última ceia de natal para a nossa filhinha. Mas quando, no meio tempo, deu uma olhadinha para ver a menina, ela estava com as bochechas vermelhas e abanou para a mãe dizendo: “Sabe, agorinha mesmo o Menino Jesus esteve aqui. Parece-se com um menino. Eu logo lhe disse se não poderia mandar o médico para cá e ele de pronto me prometeu que o buscaria”. Então a mãe chamou o pai e a menina teve que contar a história novamente: “O Menino Jesus esteve aqui, parece-se com um menino pequeno e me prometeu que buscaria o médico.” ‘A febre seguramente aumentou’, pensou o pai, ‘pois a criança está delirando’. A mãe, porém, em sua angústia, começou a alimentar alguma esperança.

Já a noite havia caído e na aldeia onde o médico morava as famílias haviam se reunido nas casas, somente o médico estava totalmente sozinho, pois a governanta e o cocheiro foram visitar os seus parentes. Ele estava, nesse exato momento, preparando remédios e mexendo uma pomada, quando bateram à porta. “Entre!”, disse o medico. E entrou um menino pequeno que tirou o boné cumprimentado cordialmente. Seu casaquinho estava cheio de neve e as bochechas vermelhas do frio. “Quem é você, pequeno?” perguntou o médico. “Eu nunca vi você aqui e geralmente conheço todas as crianças da região”. “Estou aqui só no Natal e me mandaram da aldeia do lado porque lá necessitam de sua ajuda”. “Você seguramente quer fazer uma piada comigo, seu pequeno maroto?” retrucou o médico, “você pensa que eu não sei quanta neve tem lá fora e que não é possível passar pela floresta? Você pensa que eu tome a sério que se mande um menino tão pequeno? Os ursos e os lobos logo o dilacerariam se você chegasse na floresta”. “Não”, retrucou o menino, “é totalmente sério. Eu tenho no lado de lá uma irmã doente e ela necessita de sua ajuda. O senhor mesmo disse que não me conhece. E se o senhor não vier a menina, a menina irá morrer”. “Meu caro menino, mesmo que você esteja com razão, eu não poderia ajudá-lo, pois o meu cocheiro está junto com sua família e por preço algum eu o moveria para me levar pela floresta no meio da noite”. “Isso também não é necessário, pois eu mesmo tenho um trenó e o conduzirei. E o senhor também será trazido de volta, com segurança, não se preocupe.” “Mas”, exclamou o médico bem desesperado, “os animais selvagens cairiam sobre nós e deixariam sobrar apenas as nossas botas e botões. O que você logrou uma vez, e sei que Deus protege as crianças especialmente, não lograria uma segunda vez.” – “Mas o senhor não sabe que temos a noite de Natal e que aí os animais não fazem mal a ninguém?” – “Você é um bom menino e eu de bom grado o ajudaria”, disse o médico, “mas o que você fala é apenas uma lenda piedosa que as pessoas contam. Os animais não sabem o que está no calendário. Por mais que gostaria de ajudar a sua irmã, não é possível e não devo expor nem você mesmo a esse perigo, ir agora para casa”. O menino fitou-o longa e seriamente, em seguida perguntou: “O senhor tem medo?” – “Sim.” – “E o senhor não tem confiança em Deus?” Aí o médico respondeu: “Tens razão! Deve acontecer assim como Deus o quiser e se você tem confiança eu não quero me envergonhar diante de você. Espere apenas um instante, quero buscar a minha valise e a espingarda e assim poderemos partir. Tomara que você tenha um bom cavalo!” – “Sim, logo o verá. Quanto à espingarda, pode deixá-la sossegadamente em casa, pois não necessitaremos dela.”

O médico, porém, pensou o que é certo, é certo, juntou as suas coisas e as colocou ao lado dos medicamentos na sua valise, vestiu seu casaco e pendurou a espingarda dupla no ombro. Então disse ao menino: “Podemos partir!” Saíram, portanto da casa e de fato: lá estava o trenó com uma lanterna pendurada. Mas quando o médico avistou o animal de tração, teve que limpar os olhos, pois lá se encontrava um grande alce, muito grande. “Vocês lá do outro lado têm espécies raras de cavalos”. – “Os melhores que se pode desejar para esse tempo”, respondeu o menino. Ajudou, então, o médico a se acomodar no trenó e o cobriu cuidadosamente com um cobertor quente, tomou lugar na boléia e assoviou para o alce. Este, de pronto, se pôs em movimento com grandes passos e puxou o trenó atrás de si como uma pluma. 

Rapidamente se encontravam fora da aldeia e quando o homem viu os olhos brilhantes dos lobos, pegou sua espingarda. No mesmo momento o menino se virou e disse: “Deixe o seu ferro de atirar. O senhor não sabe como lidar com os animais”. O homem obedeceu em tudo e pensou: Este sabe mais do que você próprio. O menino, porém, gritou algo para os lobos e realmente esses animais grandes não fizeram nada a ninguém. Ao contrário, corriam na frente a fim de deixar o caminho mais firme e outros corriam atrás. O alce, contudo, não se importava com eles.

Na floresta, porém, o alce não conseguia mais correr tanto, mas o trenó não parava e assim se chegou bem antes da meia-noite no pequeno povoado. “Aqui está a casa”, disse o menino. “Ide, entretanto, diretamente para a minha irmã doente”. E com isso ajudou o médico a sair do trenó. Este pegou sua valise, bateu à porta e entrou. Aí, sim, o camponês e sua esposa arregalaram os olhos quando viram o médico entrar pela porta adentro! “Mas como o senhor chegou até nós? O senhor sabe que a nossa filhinha está doente?” Exclamou o camponês espantado. “Sim, claro, vocês

Page 3:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

mandaram o seu menino me chamar”, replicou o médico. “E eu preciso dizer: vocês têm um filho bem hábil, e devem ter muita confiança em Deus por permitirem a criança andar de trenó sozinha pela floresta”. – “Como? O quê?”

“Desculpe, deve tratar-se de um engano”, disse o camponês, “pois eu não tenho nenhum filho, a menina doente é a nossa única criança” disse o camponês. “Agora, esse maroto! E para mim, o menino disse que veio por causa de sua irmã doente. Agora, me digam ainda: Como vocês conseguiram domar esse alce grande para que puxe o trenó?” O camponês ficou muito confuso: “Que alce?” E o médico o tomou pela mão e o levou até diante da porta. Lá estava o trenó com o grande e incomum animal de tração, mas do menino não havia mais vestígio. “Esse animal de tração incomum”, disse o camponês, “não pertence a mim e muito menos a alguém da nossa aldeia. O senhor parece querer me passar uma peça?” – “Mais tarde voltaremos a falar sobre isso! Levem-me primeiramente para a doente!” Ela estava sentada na cama e disse: “Mamãe agora mesmo estava aqui o Menino Jesus e disse que o médico já chegou e que logo estarei novamente recuperada. E para o senhor doutor devo dizer que o Menino Jesus infelizmente não tem tempo de levá-lo para casa, mas que o alce também encontra o caminho sozinho e que o senhor doutor não tenha medo”. Agora, pai, mãe e médico se olharam atônitos e o último disse: “Esta é uma história singular”. E o pai: “Sim isso faz a febre”. “Não” disse o médico “aqui algo bem diferente está atuando”. E para a menina: “Agora fique tranqüila, se você teve uma tal visita, seguramente você vai ficar boa”. E deu lhe um remédio, em seguida sentou-se com os pais à mesa.

Quando, na manhã seguinte, olhou para menina, esta não tinha mais febre e o médico podia pensar novamente na sua viagem de regresso. “Estou curioso”, pensou o médico, “como vai ser dessa vez!”

Mal o sol tinha apontado, mesmo assim já era tarde no dia quando se encontrou com os camponeses diante do sítio. “É tão verdadeiro como eu estou vivo! É um alce!” exclamou o camponês. “Ontem acreditei tratar-se de uma rena normal”. E com isso se despediram. Mal o médico sentou no trenó, o alce começou a puxar e tomou o caminho em direção à floresta. O médico, assim sozinho, não se sentiu muito bem, e teria dado muito para o menino da noite anterior estar com ele.

Na beira da floresta esperava novamente uma mantilha de lobos e ele já queria pegar sua espingarda, quando o alce virou a cabeça e disse: “Deixa disso! Eles nada farão a nós”. E quando o trenó alcançou os lobos, o lobo guia falou: “Este é o homem que nesta noite o menino celestial trouxe para o lado de cá e que nós devemos escoltar até a casa dele”. E com isso a matilha se pôs em movimento e novamente parte corria na frente e outros atrás. Inicialmente tudo corria bem, mas num barranco íngreme o trenó virou e o médico caiu para fora. Logo veio correndo um urso, levantou-o cuidadosamente com as suas patas e o carregou de volta para dentro do trenó, que os lobos tinham colocado em pé novamente. “Você se machucou?” ele ainda perguntou. “Não, nada, obrigado” respondeu o médico que de agora em diante não se admirava com mais nada.

Assim foram até a outra beira da floresta onde os animais selvagens se despediram: o alce, porém levou o médico até sua casa. E desde então, assim fala o povo, o nosso médico tornou-se um pouco esquisito. Até se afirmava tê-lo visto na floresta, a falar com os animais selvagens, ursos e lobos e que estes nada lhe faziam, de tal forma que também no inverno, sem perigo, podia ir a toda parte visitar seus enfermos.

(Esse conto foi extraído da coletânea para “O Ensino Religioso” de Günther von Negelein)

PROFESSORES DE CLASSE – SUAS TAREFAS ATUAIS

 

Relato de um grupo de trabalho na conferência de trabalhos em Tübingen

Henning Kullak-Ublick

 

Os professores de classe precisam criar espaços internos e externos que ofereçam oportunidade às crianças de

desenvolvimento de seus próprios instrumentos para encontrar e tomar em suas mãos sua tarefa de vida.O instrumento principal do professor de classe nesse caso é ele próprio: Como ser humano em desenvolvimento

ele atua através de todo o seu ser sobre as crianças igualmente em desenvolvimento. É um caminho de aprendizado em comum que precisa ser estruturado consciente e ativamente pelo adulto para incentivar as crianças ao trabalho próprio. A Antropologia Antroposófica e outras indicações de Rudolf Steiner servem como indicadores para o caminho de

Page 4:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

exercícios, cujas condições são transparentes e compreensíveis, mas que no âmbito da experiência precisa ser conquistado bem individualmente.

Diante desse pano de fundo diversos participantes do grupo de trabalho “Professores de classe – as tarefas atuais”, numa Conferência em Tübingen, constataram que a partir disso não seria possível desenvolver uma maior exigência para a educação. Trata-se muito mais de apoiar, de um lado, a percepção das reais necessidades das crianças, – também as latentes – e de outro lado, de fortalecer a própria capacidade de intuição, para no momento decisivo poder oferecer orientação.

Também foi percebido que muitos professores não dão conta das elevadas exigências da imagem profissional, nem em relação a sua auto-educação, nem do ponto de vista metodológico profissional. Em relação a isso foi apontado que o primeiro pré-requisito para a aquisição de competência profissional seja que eles se entusiasmem pela matéria a ser ensinada. Apenas esse “acalorar-se” pela matéria pode desenvolver interesse e ativação por conta própria no aluno. A contrapartida seria a atenção do professor para as necessidades de matéria que resultam a partir do seu conhecimento do caminho de desenvolvimento atual das crianças.

Diversas vezes, em relação a isso, foi chamada a atenção de que exigências e expectativas demasiadamente altas em relação às capacidades dos professores não só atuam de forma paralisante sobre eles próprios, mas também sobre os alunos. Esse peso seria parcialmente reforçado pelas expectativas dos pais e da sociedade de que a escola deva sanar todos os déficits da civilização moderna.

Isso foi confrontado com o motivo de autenticidade da personalidade do professor: Autenticidade pode ser inspirada por altos ideais, mas não os conduza para ser critério de julgamento, porém os considere como orientação para o próprio desenvolvimento. Isso cria um clima para a aprendizagem mútua que pode levar exigência e realidade a coincidirem, sem com isso perder de vista a meta. O conceito “autoridade amada” necessita, como lastro de ouro, da autenticidade e não se tornar apenas uma fórmula vazia: “autoridade e seguidores” têm como premissa o fato de seguir valer a pena! Mas o que vale ser seguido? Seguramente não é a matéria individualmente, porém o “sempre esforçar-se” – de preferência com humor. Isso é percebido pelo aluno com muita exatidão e atualmente cada vez mais cedo, mesmo nas famílias.

Para todos os pontos de vista mencionados acima foram indicadas as “sete virtudes do professor” dadas por Rudolf Steiner como exercícios práticos:

• Permeia-te com a capacidade da fantasia;• O professor não deve azedar;• Tenha coragem para a verdade;• Tenha interesse no grande e no pequeno;• [..] Seja uma pessoa de iniciativa;• Aguce o teu sentimento de responsabilidade anímica;• Esteja consciente de seus compromissos;

Relacionando com os resultados da pesquisa de W. Helper, entre outros, “Autoridade e Escola: A reconstrução empírica do professor de classe (2007)”, foi discutida a pergunta de como professores de classe podem dar conta do desenvolvimento da autonomia de seus alunos. Para isso foi formulada a tarefa abaixo.

 

“Good practice”

O diálogo tornou-se interessante quando a atenção se voltou a possíveis déficits para exemplos de bom trabalho pedagógico. Particularmente foi relatado:

• Às vezes são justamente as épocas que não caem bem para o professor, as especialmente bem sucedidas, pois aqui a aprendizagem mútua de professor e aluno atua de maneira incentivadora.

• Multiplicidade metodológica (capacidade de fantasia, conforme acima) e a participação das crianças na estruturação da aula elevam a qualidade.

• Nas classes a partir do 6o ano a aprendizagem na vida prática é mais bem sucedida do que o aprender na sala de aula.

• Projetos com um tema central onde há a contribuição de todos os professores de matéria criam novos espaços de iniciativa.

 

Tarefas:

Foi, considerado como mais urgente, instituir nas escolas grupos de supervisão e de interação. Além do mais a pedagogia nas classes do 6o ano para cima, deve ser compartilhada profundamente. O trabalho em conjunto do

Page 5:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

professor de classe e de matéria deveria ser bem mais intensificado e a alfabetização precoce deveria ser avaliada e respondida pedagogicamente.

Como questões a serem pesquisadas com premência, existem as indicações antropológicas de Rudolf Steiner sobre os processos orgânico-etéricos do ser humano considerando os modernos conhecimentos antropológicos e psicológicos e trabalhá-los novamente.

Ainda deveria ser descrita mais detalhadamente a situação dos jovens nos últimos anos do ensino fundamental e nos primeiros anos do ensino médio considerando a sua busca de autonomia de ação. Novas iniciativas de estruturação deveriam ser conhecidas e comentadas.

O trabalho com os pais foi descrito como campo de tarefa urgente para a formação continuada dos professores, a fim de qualificá-los a transmitir a pedagogia Waldorf não dogmaticamente e sim com substância, ou aprender formas frutíferas de trabalho em conjunto com os pais.

A auto-educação prática dos professores deve tornar-se capaz de ser comunicada no meio do colegiado e nas reuniões do âmbito da Federação, por se tratar de uma pré-condição para uma relação viva entre professores e alunos.

Compromissos obrigatórios de assistir mutuamente aulas de colegas entre o colegiado de professores da escola e a obrigação de regularmente fazer cursos de aprofundamento e de formação continuada deveriam ser regulamentados contratualmente em todas as escolas.

Outra situação a ser discutida é a questão dos textos dos boletins (o que cabe e o que não), dos versos de boletins (suas imagens deixam livres ou são moralizantes?)

Finalmente seja registrado que somente professores de classe participaram do grupo de trabalho de 30 pessoas. Uma experiência interessante com diversas e enriquecedoras trocas.

A AVALIAÇÃO DO CONGRESSO

Botucatu, 29 de julho de 2008

Marit Scheibe

Uma retrospectiva do II Congresso Brasil de pedagogia Waldorf em Ribeirão Preto de 20 até 25 de julho de

2008.“Ciências e Arte” foi tema do nosso congresso em Ribeirão Preto, para o qual professores e educadores Waldorf

se reuniram, vindos de todo o Brasil.Ciência e Arte, duas revelações diversas que para a compreensão materialista, hoje é quase impossível reuni-las.

Porém, já para Goethe, era extremamente importante reconduzir essas duas revelações a uma só fonte que é base para as duas.

“Enquanto o pesquisador submerge nas profundezas da realidade a fim de poder expressar em forma de pensamentos as duas mesmas forças impulsionadoras, o artista busca as mesmas potências impulsionadoras para cunhar na sua matéria”. – Assim se expressa Rudolf Steiner: sobre as revelações exteriormente diferenciadas, interiormente fundem-se espontaneamente em uma.

Isso seja dito quanto à importância do tema do congresso.Diversos cursos de aprofundamento e muitas atividades artísticas foram oferecidos, o que a cada dia foi

introduzido através de uma palestra sobre: “O Desenvolvimento do Homem – da criança até o adulto”. Eu me saciei com a linguagem clara e o arco pensamental desenvolvido nas palestras tão especiais de Johannes Kühl, porém, senti que as traduções nem sempre foram fáceis de acompanhar o verdadeiro sentido do palestrante.

No meu curso, desenvolvendo a atividade de madeira para o 9o ano, muito do conteúdo das palestras pôde ser retomado, o que me facilitou na abordagem do trabalho diário.

Os participantes desse curso trabalharam, geralmente, com muito afinco, e percebi, que como eu os estafava ao elevar para a consciência aquilo que acabavam de fazer, eles não queriam mais ouvir – eles queriam trabalhar e aplicar aquilo que já tinham ouvido. Também durante o trabalho surgiam, ou formulavam-se questões às quais eu dava espaço.

Para todos foi uma vivência especial aprontar um móvel, puramente com as mãos. Qual não foi a alegria e espanto (surpresa) quando aplainamos as grandes tábuas com a plaina. A partir da idéia individual, dia após dia, tornou-se realidade e, no final uma participante disse; “Depois de eu ter feito algo tão maravilhoso, não há mais nada de que eu pudesse acreditar que, por alguma razão qualquer, eu não possa levar a cabo. É essa força em si própria que nós transmitimos e entregamos, junto com muitas outras coisas, aos alunos para a vida.

Page 6:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

Foi para mim a primeira vez que pude participar ativamente num grande congresso com o trabalho de madeira para adultos. Pude observar e aprender muitíssimo e espero que os participantes, com a sua “prateleira” e os dias de trabalho que ficaram para trás, mas também ficaram na prateleira, passaram por uma experiência que os deixou fortalecidos.

Uma e outra vez, foram usadas as máquinas pelos participantes, apesar de não ter sido exigido, mas eu achei importante que eles mesmos passassem pela experiência, para no final concluir quanto maior é a alegria e a confiança chegar à meta mais artisticamente com as próprias mãos.

Eu, porém, fiz a mesma experiência que faço com os alunos do 9o ano: enquanto um lixa na máquina, o próximo está esperando na fila sem fazer nada. Pois eu ainda não conheço oficina onde, por exemplo, estejam à disposição 15 lixadeiras.

Essa dependência das máquinas – eu quis contornar e, realmente, mesmo o mais curioso por máquinas, no final, teve que concordar, como faz bem chegar à meta a partir de si próprio. Nós não buscamos fazer produtos seriados, nesse caso seria diferente!

Portanto, posso dizer que foram incríveis aulas maravilhosas – muitos participantes voltavam nas pausas ou ao entardecer. Cada participante desenvolveu verdadeiramente uma relação com a sua obra. As bolhas iniciais nas mãos foram tratadas e superadas e a meta do trabalho continuou firme!

Ainda preciso acrescentar que sou muito, muito grata por ter participado do congresso com o trabalho de madeira, de um lado porque aprendi muito através das perguntas que surgiram e, do outro lado, pude tornar consciente para mim o que significa o trabalho de madeira para o aluno e mostrar que nem todo marceneiro formado é o melhor professor de trabalhos de madeira. Do meu ponto de vista é este o grande problema, que encontramos muitos professores fortes e hábeis nesse âmbito, que por sua vez se dedicam pouco à parte pedagógica. Portanto, o que neste caso é o essencial? O trabalho a ser realizado, ou então, aquilo que, indiretamente, trabalhamos no aluno a partir da obra feita? (estruturar, formar) É evidente!

Mais uma vez o meu cordial agradecimento pelo fato de que a atividade de madeira pudesse estar presente.A verdade é que através da grande organização do congresso muito foi realizado. Cada detalhe, tudo foi

lembrado, o colegiado estava coeso, os pais se dispuseram, foi uma obra de muitas e muitas mãos!!Gostei da possibilidade de poder me recolher na “sala vip”. Os rápidos encontros dos responsáveis pelos cursos

na 3a e 5a pareciam-me muito apropriados. Foi gratificante perceber a disposição da organização em estar atenta a tudo. Tudo em tudo, foi uma semana abundante (sobeja), elevada, que nos próximos três anos, a meu ver, no que diz respeito à comida, de maneira alguma, dever-se-ia buscar superar, para não cair no nível de um o congresso burguês.

O DERRETER DA NEVE NO CÉREBRO 

Da sensação na barriga à reflexão ponderada 

Bernd Kalwitz 

A puberdade é para os jovens o período em que os pais se tornam difíceis. Nenhum adulto compreende mais o

que se passa dentro deles e tudo que proporciona alegria é proibido. Com os pais a gente só se incomoda ou a gente se retrai completamente.

A puberdade também é igualmente o tempo onde repentinamente surgem problemas de saúde, 200% mais freqüentes do que há pouco tempo atrás. Muitas dessas dificuldades têm a ver com a falta de controle dos impulsos dos jovens e com o comportamento direcionado pelos sentimentos, às vezes com alto índice de risco. Acidentes, suicídios, homicídios, depressões, abuso de substâncias, inclusive álcool e nicotina, HIV, hepatite C, gravidez indesejada e distúrbios alimentares como anorexia ou bulimia: tudo aumenta de freqüência consideravelmente durante a puberdade. Quase três quartos de todos os fumantes (nos EUA) iniciam o uso da nicotina na idade entre 11 e 17 anos e 60% deles, aos 14. A metade de todos os adultos usuários de drogas ilegais iniciou o abuso entre 15 e 18 anos. Poucas vezes surge um vício de drogas além dos vinte anos de vida. Para muitos desses fenômenos é comprovado que sua freqüência se relaciona indubitavelmente com a puberdade e não com a faixa etária. Isso vale especialmente para a busca de sensações dos jovens, inclusive as conseqüências que emergem disso.

 

Page 7:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

O que torna esse faixa de vida tão dramática? Os jovens durante a puberdade começam a se orientar no mundo de maneira nova e se tornam paulatinamente

mais autônomos. Buscam uma autonomia comportamental e com isso aumenta a importância dos seus parceiros de idade, enquanto a importância dos adultos, cujas regras anteriormente determinavam a vida, diminui sensivelmente. Adultos, na atualidade, estão cada vez menos à disposição nesse nosso mundo, onde aumenta o número de educadores particulares ou com vários trabalhos, assim, os jovens, de qualquer maneira, estão cada vez mais deixados por si só.

Cresce a pressão de rendimento na escola, às vezes também no esporte. Alegrias efêmeras são freqüentemente passadas para trás ou totalmente sacrificadas em benefício de metas a longo alcance. E enquanto os jovens manipulam controvérsias complexas, esse também é o momento em que fisicamente crescem muito, chegaram as perebas (erupções da pele) e eles são abalados por grandes mudanças internas. Mas podemos pressentir um pouco de sua vulnerabilidade olhando para as suas grandes transformações das quais o jovem precisa dar conta.

 Mudanças na alma e no corpo

 Quando inicia a puberdade nós despertamos na nossa vida anímica. Sentimentos, que anteriormente

acompanhavam tudo de forma mais subjacente como situação anímica, agora tomam uma posição central na nossa consciência. Sua coloração fornece a nossa vivência interior, cada vez mais, uma variedade colorida e em algum momento elimina definitivamente a unidade do mundo da fantasia infantil. De agora em diante vivemos em campos de tensão entre alegria e tristeza, de entusiasmo e de desespero. Pela primeira vez nos deparamos com nossos mais altos ideais de vida e também as mais profundas dúvidas sobre nós mesmos. Nós gozamos da atividade pensamental com altas idéias filosóficas e o enlevo erótico germinante, que tudo perpassa com o seu romantismo. Mas vivenciamos também o amargo vazio interior e o desânimo de vida. Oscilamos entre o sentimento altivo da imortalidade e uma profunda saudade da morte.

E não apenas em nosso desenvolvimento anímico começa uma fase totalmente nova com a puberdade. Fisicamente também se pode observar como se modifica a tendência uniforme do crescimento e do amadurecimento dos órgãos até então partindo de um centro interior. Agora começa, como irradiando da circunferência para dentro uma força de diferenciação, atuando em sentido contrário que dissolve tudo o que é uniforme, e leva a contrastes. Polarização é o gesto desse período de desenvolvimento.

Os hormônios sexuais aparecem no sangue e dividem o desenvolvimento humano que se segue na polaridade dos dois sexos. Todos os ritmos biológicos, que também oscilam entre polaridades, precisam ser novamente adequados. Aqui são atingidos, por exemplo, as batidas cardíacas e a respiração, cujas funções necessitam encontrar um equilíbrio totalmente novo. Às vezes isso acontece de forma dramática e não muito raro, pouco antes da puberdade, acontece aos jovens uma morte cardíaca inexplicável. Mesmo o ritmo “biológico” regulador do sono se perde e é necessário ser encontrado de forma nova e freqüentemente surgem distúrbios do sono. Nas meninas, com a entrada da menarca estabelece-se um ritmo totalmente novo, que daqui para frente, por longo tempo, determinam a sua vida.

 

Desenvolvimento do cérebro na puberdade

Como num espelho podemos acompanhar e observar essa mudança radical de desenvolvimento no cérebro. Nessa idade ele é muito mais suscetível à mudanças de forma e muito mais influenciável por interferência do meio ambiente do que se podia imaginar em tempos idos. Sua dinâmica de desenvolvimento nesse período atua como uma repetição dos primeiros anos de vida de uma criança, e assim também mostra fisiologicamente o que Rudolf Steiner repetidamente apontava: “A entrada na puberdade é na esfera da alma semelhante ao nascimento físico.” (R.S. – A Educação da Criança do Ponto de Vista Espiritual)

Enquanto o corpo do jovem ser humano antes da puberdade é acometido mais uma vez por um forte crescimento, que, sobretudo, permite que ele aumente de comprimento, a massa cefálica também aumenta enormemente nessa época. O crescimento começa aproximadamente por volta de 10 anos nas regiões posteriores do grande cérebro que estão ativas, sobretudo, nos estímulos sensoriais e, por volta dos 16 anos, atinge o córtex craniano onde estão representadas as nossas mais elevadas funções cognitivas. Nesse momento o número das sinapses, que determina o grau de enredeamento entre si dos centros do cérebro, aumenta mais uma vez, consideravelmente, semelhante aos primeiros anos da infância.

Depois dessa grande fase de crescimento chega-se a uma total mudança, inicia-se “o derreter das sinapses” (Synaptic meltdown): provavelmente quase um terço do enredeamento atrofia nos próximos anos. Apenas aquelas dos “caminhos pisoteados” que foram usadas freqüentemente se estabilizam e sobram. Esses enredeamentos duradouros que resistiram, são recobertos por uma camada de mielina que os envolve e isola melhorando sua capacidade de transmissão. Essas capas isolantes de mielina constituem a substância da massa cefálica branca. Durante o processo de

Page 8:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

amadurecimento ela aumenta cada vez mais enquanto a massa cinzenta, o tecido nervoso propriamente dito, de agora em diante geralmente se retrai. Apenas por volta dos meados dos vinte anos essa nova estruturação chega a seu término.

Quão individual é essa reestruturação que transcorre justamente nos centros do cérebro, os quais são importantes para o nosso desenvolvimento individual, têm mostrado pesquisas de gêmeos: Enquanto o escaneamento cerebral de gêmeos univitelinos evidenciava que na região do corpo caloso, que junta os dois hemisférios cerebrais, as imagens sempre continuaram absolutamente idênticas, assim que mesmo leigos pudessem indicar que pertenciam aos gêmeos, no córtex frontal do cérebro e no cerebelo, porém, elas eram tão diferentes individualmente, que ninguém mais podia reconhecer quais das imagens escaneadas eram de gêmeos. Isso permite reconhecer como o amadurecimento em alguns âmbitos aparentemente é regulado geneticamente em outros, porém, depende fundamentalmente de que sejam feitas experiências individuais no momento decisivo.

Jay Giedd da “Nacional Institut of Mental Health” (Instituto Nacional de Saúde Mental), cujo projeto de pesquisa sobre cérebro do adolescente “Teenage Brain”, a quem agradecemos conhecimentos fundamentais sobre o desenvolvimento do cérebro durante a puberdade, resume: “Quando um adolescente executa música ou pratica esporte ou se ocupa com assuntos acadêmicos, são essas as ligações que serão firmemente ancoradas. Mas quando ele se deita no sofá e se entretém com jogos de videogame ou MTV, serão as células aqui usadas e estes enredeamentos que vão sobreviver”.

Especialmente interessante nessa relação é o desenvolvimento do cerebelo, do qual até pouco se acreditava que apenas era importante para a coordenação dos movimentos. Giedd o compara a um “co-processador” pelo fato de ao lado do movimento, ele atuar conjuntamente em muitas outras tarefas do cérebro. “Ele não é essencial para algo determinado, mas torna melhor toda e qualquer atividade”. Tudo que podemos imaginar de atividade pensamental mais elevada: matemática, música, filosofia, tomar decisões, competência social, tudo tem a ver com o cerebelo [...]. Navegar pela vida social complicada do adolescente e conseguir passar sem emborcar, parece ser uma função do cerebelo.

A partir do 13º ano de vida, o jovem ser humano perde, via de regra, anualmente, no fluxo da enorme mudança estrutural, mais de 1% de sua massa cefálica cinzenta. A diminuição maciça das sinapses ainda é reforçada em suas conseqüências através da sensibilidade do cérebro para a transmissão da matéria nervosa como, por exemplo, a dopamina que, ao mesmo tempo, diminui por um terço. Na vida anímica, essa mudança brusca no jovem, às vezes leva a uma difícil crise de identidade. Desperta a consciência, mas a unidade interior desagrega.

Uma série de importantes capacidades cognitivas repentinamente diminui de forma assustadora. A capacidade de reconhecer rostos diminui no decorrer da maturidade sexual de forma evidente, o mesmo acontece com o reconhecer de vozes. Muito menos os jovens são capazes de interpretar corretamente as impressões dos rostos de outras pessoas e através disso julgar adequadamente situações sociais.

Mas também há indícios de que, nessa fase fortemente determinada pelo desenvolvimento do cérebro através de estímulos exteriores, muitas situações traumáticas antigas podem ser ajustadas antes de se fixar definitivamente. Isso pôde ser demonstrado através de experiências com animais, por exemplo, em danos cerebrais que surgiram por forte estresse provocado por vivências de separação ou perdas e interferiram no comportamento até a puberdade. Quando na “puberdade precoce” se organizava um ambiente para os animais de tal forma que pudessem fazer experiências melhores, muitas vezes dissolviam os vestígios traumáticos no cérebro. Se isso igualmente é possível para os homens, até o momento, no entanto, apenas pode ser suposto.

Também a atuação modificada dos próprios transmissores “Botenstoffe” interfere no bem estar do jovem. Pela perda de aproximadamente um terço dos receptores de dopamina no cérebro diminui a ação estimulante dele. O que isso significa para a capacidade de atenção e motivação do adolescente não pode ser suficientemente explicado por nós. Paralelamente a isso aumenta fortemente a sensibilidade dos outros órgãos para diversas substâncias do sistema da noradrenalina, mas também para a alopregnanolona, que nesse período, paradoxalmente, tem efeito estimulante; e que ainda eleva a tendência ao estresse e ao comportamento tipo “pavio curto” nos jovens.

Juntamente com o excesso de cansaço que freqüentemente se apresenta com a mudança do ritmo do sono e com a forte curiosidade e vontade de arriscar nessa idade, tudo isso, eleva a atração por substâncias psico-ativas para jovens. Falta de sono, cansaço na escola, fraqueza de ímpeto para as iniciativas, sobrecarga e fragilidade anímica: um círculo diabólico que predispõe à suscetibilidade a medicamentos para o sono ou para a excitação. E uma vez tomado conhecimento do efeito, é apenas um pequeno passo para, no fim da semana, aumentar a “capacidade produtiva” através do abuso.

 E ainda os hormônios!

 Os hormônios sexuais não só influenciam o amadurecimento das funções sexuais, mas também quase todos os

processos cognitivos, desde o processamento das percepções até a capacidade de lembrar. A percepção de qualidades humanas diferenciadas retrocede a favor do registro de marcos da espécie, as lembranças são envoltas romanticamente e desfiguradas. Com o surgimento dos hormônios no sangue o sexo oposto abruptamente ocupa o cerne dos interesses,

Page 9:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

e o status social no meio do grupo torna-se extremamente importante. Meninas durante a pré-puberdade preferem meninos dominantes, enquanto que essa preferência, a partir de mais ou menos 19 anos, se retrai sensivelmente. Tornar-se bem quisto com o sexo oposto (“dating popularity”) cresce proporcionalmente à capacidade de se impor na guerra (das cabras) das companheiras do sexo.

Enquanto os meninos aproveitam mais a sua agressão corporal entre si e o risco arrojado, nas meninas o papel principal é a agressividade de relacionamento (“relational aggression”) tais como “mobbing” e “bullying”.

É típico para esta idade, os meninos se retraírem sensivelmente. E se num dado momento ainda a voz chega a falhar, tornam-se inseguros até o cerne e escondem seu interior vulnerável progressivamente atrás de uma casca dura. Suas discussões espetaculares passam a se assemelhar a um tinir de armaduras dos cavaleiros que se entrechocam: as armaduras se batem ruidosamente, mas as almas permanecem distanciadas e geralmente são capazes de passar para a ordem do dia sem dano. O seu interior é bem menos participativo do que o das meninas. Portanto os jovens, através disso, dão por hora a impressão de extrovertidos, mas no seu verdadeiro ser interior são muito mais inseguros e sensíveis do que as meninas na mesma idade.

As relações e conflitos delas já são bem mais pessoais e, por esta razão, mais complexas e acintosas, pelo fato de a puberdade surgir um pouco mais cedo, estão mais adiantadas em seu desenvolvimento. A partir de seu centro emocional anímico mais estável elas têm algo nitidamente a mais, para antepor ao processo de diferenciação da puberdade em seu desenvolvimento físico e no seu pensar, do que os meninos. Nessa idade muitas vezes já arriscam substancialmente mais ofensivas pessoais e, com isso, se envolvem em riscos mais íntimos. Devido à sua antecipação no desenvolvimento, muitas vezes não se sentem bem em relação à atuação dos meninos da mesma idade, ainda totalmente inseguros e imaturos e assim buscam abrigo e segurança com outros parceiros mais velhos.

A crise de identidade dos jovens pode levar o sentimento de si próprio a oscilar entre dois fenômenos polarizados, o “público imaginado” (“imagined audience”) e o sentimento super-elevado de incomparabilidade pessoal (“personal fable”).

Sentem-se constantemente observados, avaliados e provados, e constantemente se produzem como se estivessem num palco. A partir da própria fantasia fazem suas representações sobre a sua atuação em seu público e condicionam o seu comportamento conforme a irradiação que querem alcançar com o seu público (imaginário). Raras vezes têm a sensação de estarem à altura daquilo que vivenciam como exigência do público. Por outro lado estão preenchidos da convicção de serem únicos: tudo o que lhes acontece, assim nunca aconteceu antes a ninguém, seus sentimentos e vivências são tão exclusivos que ninguém os pode compreender.

Nos dois casos existe, subjacente, a tentativa de se orientar numa situação, que não se sabe avaliar bem, através de um gesto egocêntrico. No entanto na representação do público imaginário está contido também o germe do ultrapassar o egocentrismo e desenvolver empatia. Poder se enxergar com os olhos dos outros é o pré-requisito mais importante para as decisões apropriadas e justamente é isso que os jovens precisam aprender novamente a partir da base.

 Decisões arriscadas durante a passagem

 O processo de amadurecimento do cérebro, que começa na parte posterior e com aproximadamente 15 anos

atinge a região frontal do córtex, parece atingir centros do “sistema límbico” onde acontece aquilo que a pesquisa craniana chama de “hot cognition”: a junção das nossas percepções e sentimentos. Dois desses centros são a adenóide, da qual se acaba de descobrir que o seu crescimento no início da puberdade tem muito a ver com a agres sividade dos jovens, e o córtex-singular. Sua parte posterior é um centro importante para tornar-se consciente do próprio estado físico. Se nós nos sentimos bem ou mal, se nós temos borboletas ou um mal-estar na barriga, será aí registrado. A parte anterior direita, suspeita-se que ela regule a transformação de uma sensação física diretamente na intenção comportamental espontânea.

Quando nós espontaneamente nos desviamos de uma situação pelo fato de nos causar dor de barriga ou quando nós atacamos porque sentimos subir o calor da raiva em nós, isso é regulado nesse centro craniano. Os centros localizados mais acima e o próprio córtex têm, contrariamente, reações inibidoras sobre o nosso comportamento. Elas freiam os impulsos que surgem diretamente a partir de um sentimento corporal. Permitem que nós hesitemos quando, por exemplo, queremos praticar uma bobagem a partir de um formigar de bem-estar, e nos fazem pensar uma segunda vez. Mas essas partes só amadurecem bem mais tarde.

Nem sempre nos conscientizamos realmente quão fortemente os nossos sentimentos estão relacionados com a percepção do estado corporal. Quando nós prestamos atenção podemos sentir como sentimentos abafados sobem da nossa barriga, assim como as borboletas agraciantes do estar apaixonado, como o medo aperta o nosso peito, o susto penetra nos membros. Pesquisadores mais antigos até afirmavam que se nós subtraíssemos dos nossos sentimentos a percepção dos estados do nosso corpo praticamente nada sobraria. Mesmo que de forma geral, isto seja exagerado, em princípio é válido para o período da puberdade: aqui a maioria das decisões são tomadas a partir do “sentimento da barriga”. Pois a maturação cerebral nesse período apenas atingiu o sistema límbico. Até que atinge a periferia frontal e finda em meados dos 20 anos, quase uma década ainda se passa.

Page 10:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

Quando um jovem durante a puberdade toma uma decisão, o faz tipicamente a partir do sentimento que espera a posteriori. Quando certa vez ficou com dor de barriga depois de ter conversado com uma menina e essa ter feito troça dele, na próxima vez sentirá, já antes, quando estiver diante da mesma decisão o que passou com a dor de barriga. Ou então quando diante da dominação de seus medos para o primeiro salto de “bungee” e com isso vivenciou o gosto da adrenalina, ele futuramente, antes da decisão de semelhantes ações arriscadas, inconscientemente sempre se lembrará desse sentimento.

Da infância até a juventude os processos decisórios se modificaram quanto à orientação, baseia-se menos em prêmio ou castigo, muito mais pela expectativa do estado físico.

Uma criança que está na intenção de transgredir uma regra dos pais assemelha-se em suas funções físicas a um animal condicionado pelo medo: a tensão aumentada, a atividade acelerada na adenóide dentro do seu cérebro, elevada tensão muscular e freqüência cardíaca. Um jovem nessa situação atua como se tivesse que devorar algo de que certa vez já sentiu enjôo. O significado do “sentir-se mal com isso” se modifica: de “espere seu pai chegar em casa” em “estou sentindo enjôo por causa disso”.

 A reconstrução penosa

Até que decisões possam ser tomadas refletidas e orientadas em longo prazo, demora algum tempo. O córtex cerebral frontal, que Giedd chama de “a região do repensar sobriamente duas vezes” ainda precisa de anos para acompanhar o desenvolvimento a ser acionado, via de regra, em processos decisórios. Somente quando esse processo é encerrado é possível buscar uma modalidade individual atrás das ações dos jovens. Antes, freqüentemente, vivem em sua vida pensamental que está desabrochando, os ideais éticos mais elevados, porém em seu comportamento apenas se encontra aquilo que lhe causa bem-estar pessoal.

A puberdade começa cada vez mais cedo. Seu surgimento durante os últimos trinta anos se antecipou dos treze anos para 11,5, e em um espaço de tempo de um século e meio, até de 16,5 para treze. Até 2010 o prognóstico é de que comece aos 10 anos. Se esse aceleramento da maturidade sexual também é válido para o amadurecimento do cérebro, é antes questionável. A fase que até agora dura 15 anos entre o início da mudança da puberdade e o amadurecimento de tais órgãos do nosso cérebro, que são indispensáveis para uma percepção prudente (“cool cognition”) e para decisões de previsão (“cool reasoning”), portanto provavelmente se torna cada vez mais longa. É a época do comportamento de risco, das decisões loucas – aparentemente sem consciência para as conseqüências – e todas as suas conseqüentes manifestações inclusive os distúrbios afetivos e o abuso de substâncias.

Passando em revista com que diferenciações profundas e inseguranças os jovens têm que dar conta, podemos nos preencher de profunda compaixão e grande respeito e atenuar o incômodo sobre os problemas que nos causam com seu comportamento.

 Como podemos ajudá-los?

Os jovens buscam nesse período, pela primeira vez, a relação com mundo. Rudolf Steiner às vezes dizia que a meta do desenvolvimento da puberdade é a “maturidade terrena”. (Steiner, Rudolf – Curso de Pedagogia Curativa – pal. 25/06/1924).

Nós podemos ajudá-los quando propomos situações onde o mundo, por si só, os corrige em suas atitudes.Quando uma peça da oficina, por exemplo, uma caixa, que eles estão construindo, no final não fecha nos cantos

porque as juntas não se encontram, a própria realidade lhes mostra que cometeram um erro de construção. Não adianta chamar o professor de tolo porque ele não tem noção como eles se sentem, ou então passar a culpa para a caixa.

Porém mais importante ainda é que nós mesmos os encontremos com retidão interior.Se há um sentimento profundo nessa fase, é talvez a solidão interior, o ser incompreendido que o jovem vivencia

dolorosamente (às vezes também transfigurado romanticamente). Com tendências de fusão eles buscam de maneiras diferentes, sempre de novo, fugir da situação, mas não conseguem libertar-se disso. Nós também não podemos aliviá-los por que essa crise de identidade pertence fundamentalmente ao passo de desenvolvimento que estão passando.

Mesmo que os adultos durante a puberdade não permaneçam mais no centro de interesses, a sua presença na vida do jovem é de enorme importância e freqüentemente é procurado intensivamente, mesmo que às vezes em horários inconvencionais. Porém tendo a presença de espírito, mesmo no meio da noite, estar à disposição, tornam-se às vezes momentos extraordinários de encontros profundos com eles.

Nós podemos ajudá-los dando de fora apoio e estrutura a seu mundo anímico que está desmoronando e se diferenciando. Através do encontro pessoal autêntico podemos oferecer-lhes espaços de atrito onde eles vivenciam os seus limites. A nossa clareza incontestável e segura naquilo que nós mesmos consideramos como certo, os ajudam, no meio do tumulto da sua crise de identidade, a encontrar seu próprio ponto de apoio.

Eles buscam não raras vezes bem ofensivamente esses pontos de atrito. Eles procuram um encontro autêntico. E, às vezes não encontrando ninguém que lhes contrapõe uma verdadeira personalidade, atacam e desmontam seu

Page 11:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

opositor até que, ainda encontrem nele o que buscam, ou até tudo estar destruído, no pior caso, também eles próprios. Quanto melhor nos lograr enfrentá-los com uma busca verdadeira, além da nossa própria máscara e nosso símbolo de status, tanto mais podemos ajudá-los alcançar o seu próprio interior. Justamente quando não comungam com nosso interesse, rejeitando-o e se opondo a ele, considerando-nos tolos, ilimitados, é quando eles talvez mais ganham com isso.

Pois a puberdade é o tempo onde os pais se tornam difíceis... O autor: Dr. Méd. Bernd Kalwitz – Ano 1956 – médico escolar da escola Rudolf Steiner de Hamburgo-

Bergstedt; diretor substituto da Escola Técnica Norte, diretor da Fundação de terapêutica social e comunitária em Vogthof em Ammersbek – Hamburgo, DE.

  

ENCONTRANDO AS NECESSIDADES DA CRIANÇA NO MUNDO DE HOJE

Relato da Conferência de Educação Infantil Waldorf que aconteceu em Wilton, USA

Florianópolis, agosto de 2008

Silvia Jensen

Queridas Colegas Jardineiras, Mães, Pais e Amigos

Aqui segue um pequeno relato de como foi minha experiência na conferência de Educação Infantil Waldorf

que aconteceu em Wilton, USA, em agosto de 2008. Teve como titulo “Encontrando as Necessidades da criança no mundo de hoje”.

Como palestrantes principais tivemos a presença de Dra. Michaela, Gloeckler, (residente na Suíça), Dra. Johanna Steegmans (alemã residente nos USA) e Renate Long-Breipohl, Ph.D. (alemã residente na Austrália).

Michaela Gloeckler iniciou nos falando do caminho que o professor deveria cursar para poder estar pleno em sua ação como docente. Ela nos trouxe a imagem do arqueiro que sabendo sua meta, mesmo sendo esta distante, força o arco, e a flecha segue em direção à meta. Temos que ter metas claras e seguir passos para alcançá-las. Através da imagem de uma estrela de 5 pontas, em cada ponta colocou uma qualidade que devemos alcançar.

Começando pelo pé esquerdo do pentagrama está o que ela chama de orientação especifica para cada idade, são os conhecimentos concretos que fundamentam o físico da criança.

No pé direito do pentagrama encontramos o que é relacionado com o especifico no currículo para cada idade. Como vamos ao encontro disto para atender a demanda da criança? Sabemos que a cada idade temos predisposição para aprender algo de novo. Ao encontrar um aborígine australiano ela lhe perguntou o que significava iniciação para ele. Foi lhe respondido que iniciação era aprender algo novo, ensinar à criança algo novo. O currículo é o caminho para isto, passo a passo se avança em direção à meta.

No braço esquerdo do pentagrama foi colocado o grande tema das relações e carmas passados. O que é a Pedagogia Waldorf sem as relações? Nada. Steiner falou da importância dos relacionamentos. Precisamos ser amados pelos alunos e isto se mostra através deles perceberem que nos ocupamos com eles. Onde nossas emoções estão envolvidas estamos envolvidos com intenções.

O que é uma boa relação? Faça esta pergunta no seu grupo de trabalho e verá que numa relação deve haver:

1) Honestidade, transparência, verdade.2) Empatia, que é simpatia com entendimento amoroso.3) Liberdade e respeito.

Como ter estratégias para melhorar uma relação? Dar ao outro o mesmo tempo que nos damos para nos desenvolvermos, para ele cumprir sua jornada. Como

apoiar o outro através de mim para que ele se desenvolva? Como servir o outro?

Page 12:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

No braço direito do pentagrama está o caminho metodológico que nos leva ao cumprimento das metas. Como envolver nosso eu na educação? Através da metodologia. Método em grego quer dizer caminho, que estimula o caminho. Neste sentido foi chamada a atenção ao papel fundamental da arte. Usá-la para atingir nossas metas. Através dela cada criança tem como encontrar seu caminho em direção à meta. Foi contado um exemplo de seu marido que assim que havia terminado sua formação foi dar aulas e mesmo explicando um tema 3 vezes, havia crianças que não entendiam o assunto, até que uma menina falou “professor você repete a explicação todas as vezes de modo igual”. Deste dia em diante ele percebeu que o enfoque para alcançar a meta teria que ser diferente, que o problema não eram as crianças e sim o professor. Foi muito enfatizado e necessidade de observação, perceber, escutar, perguntar-se constantemente. Lembrando que a criança difícil é nosso desafio e o caminho para chegar nela é através da arte. Todos seguimos caminhos individualizados e que isto pertence a nossa época cultural. O meu caminho de pensar é único. C. Morgenstein disse: “Quem procura a verdade tem que caminhar sozinho”.

Por fim a parte da cabeça no pentagrama. Está relacionada com a orientação espiritual. A Pedagogia Waldorf tem uma orientação que vai além de religião e das raças, pois ela está baseada no pensar puro que pertence a cada ser humano. Como receber um pensamento e transformá-lo em palavras e ações? Que pensamentos estou servindo com o meu querer, com o meu dinheiro? O que me inspira na vida apesar das diversidades? A única vez que Steiner assina em nome de Cristo foi quando na escritura da pedra fundamental da primeira Escola Waldorf, com pura intenção e boa vontade. Isto nós queremos confessar. Como atuar em nome de Cristo? Quais os pensamentos que se encaminham para minha vida?

Nos tempos de hoje no deparamos com o mal, e temos que vê-lo dentro de nós e não só dentro do outro. Aceitar este poder dentro de minha natureza e transformá-lo, “o mal nada mais é do que o bem no lugar errado”. Carregamos esta desordem dentro de nós e isto faz parte desta época cultural. Temos que ter confiança que chegará o tempo, a 7ª época cultural, em que vivenciaremos estar no deleito de Deus novamente...

A palestra de Dra. Johanna Steegmans foi relacionada aos sentidos.Ela iniciou falando que o tema tem relação de como o ser humano tece seu corpo para uma nova encarnação. A

decisão de voltar a um corpo na terra é uma tarefa grandiosa, sendo que esta tomada do corpo se dá pelos sentidos que são as portas que recebemos no mundo para dentro de nós.

A criança necessita do adulto para tecer este corpo. Quanto mais experiências ela tiver mais maduro seu corpo se tornará, mais ampliado será seu mundo. Os sentidos têm que ser nutridos. Imaginem o que é uma criança estar totalmente exposta a um som onde ela não pode se proteger?

TATO – tem relação com toda nossa superfície, tudo o que é percebido tem que ser internalizado. Nisto se edifica um sentimento profundo de confiança, confiança que eu existo. Se o tato não for bem explorado a criança não sentirá o corpo como um lugar seguro.

Em certas crianças com distúrbio de comportamento isto se mostra bem evidente, uma simples roupa pode incomodar por demais.

Quão vulnerável que é a criança. Que bom sermos inconscientes para estes sentimentos e sensações senão sentiríamos dor. Certos choros de criança, será que não têm algo de consciente e que deveria estar inconsciente?

Lembrou que o tato também se dá com um olhar, um encontro. Sentimo-nos seguros se conhecemos nossa origem e o tato bem trabalhado nos assegura isso.

VITAL – A superfície dos órgãos internos está sempre ativa e só temos consciência dele quando algo não está bem. É o sinal para reagirmos. Tem relação com nosso conforto. Eu me sinto segura e confortável dentro do meu corpo? Se me sinto confortável eu posso encontrar o outro.

Crianças que não ouvem podem estar desconfortáveis em seu corpo, não tendo assim espaço para o outro.MOVIMENTO – Por si só ele é um milagre. Ter noção do todo do corpo, nos movemos numa totalidade. Ele é

apoiado pelo sentido do equilíbrio.O caminho de uma encarnação vem de algo muito amplo até chegar na pequenez de um corpo. Foi falado muito

do autismo. Ele é um passo além do individualismo, é você muito dentro de si mesmo. O autista se sente muito só. Nós também nos sentimos sós, mas temos a chance de uma hora encontrar o outro. A criança quando pequena tem a necessidade de encontrar a face da mãe. Foi feito um estudo e mostrou-se que o que nos faz resistentes a muitas dificuldades na vida é ter encontrado uma face amorosa nos primeiros seis meses de vida. Segundo ela, nesta face da mãe, há uma memória de onde a criança veio.

OLFATO – Somos atacados o tempo todo e a criança não tem como se defender. Às vezes tem criança que se recusa a entrar em certos ambientes, checar se ela não está tendo um problema com o olfato. Isto pode estar lhe trazendo memória de algo desagradável e lhe acarreta medo. Por que nos tornamos tão sensíveis e irritadiços quando cansados? A criança lida com isto constantemente. O que acontece para elas hoje ao encarnar e encontrar um mundo com as forças etéricas tão transformadas? Imaginem o que elas recebem através de suas janelas?

AUDIAÇÃO – Também está comprometida. Quando se fala, se ouve. Como a criança poderá falar se o sentido da audição está afetado?

Page 13:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

VISÃO – Tem se tornado um grande problema hoje. Sentidos são apenas passagens e não deveriam estar conscientes, e esta consciência se expressa em dor. O estado do medo não é a origem de tudo? A dor, o grito a agitação tudo está relacionado com os sentidos.

No dia seguinte, Johanna nos contou que teve insônia na noite anterior pois havia muito barulho no hotel e caiu na tentação de ligar a TV, o que a causou um distúrbio enorme, e já não sabendo se poderia dar a palestra no dia seguinte, resolveu seu problema do modo que ela diz ser extremamente eficaz. Leu uma palestra de Steiner e na força de suas palavras encontrou conforto e adormeceu. Com esta experiência veio a sua mente o que acontece com nossas crianças, com suas famílias que estão expostas a tanto conteúdo desnecessário, estão entupidas de imagens que grudam em suas almas e não contribuem em nada para o desenvolvimento. Sugeriu perguntar aos pais o que eles sentem à noite quando desligam a TV.

Voltando ao tema do dia anterior, ela chamou atenção para não ficarmos fixados em diagnósticos e sim observar cada criança A observação leva à intuição. Muitos médicos já perderam esta qualidade e se apóiam somente no diagnóstico. O vazio pode levar a uma solução, acreditem nisto.

A atitude do adulto com a criança desprotegida ou sofrida deve ser a atitude de arcanjo Rafael “Eu sei que você está com dor” e sentir em nós o arcanjo Michael “Eu posso ajudar você a superar isto”.

Foi muito enfatizado a leitura do curso de Pedagogia Curativa, é um livro difícil mas muito bom para nós educadores.

Foi trabalhado o tema dos primeiros três anos da criança quando esta ainda está sob a proteção das hierarquias; e habilidades como andar, falar e pensar, que são puramente humanas, surgem.

Para estas habilidades se concretizarem não poderíamos ter outra consciência a não ser a do sonho pois senão seria um processo muito doído e envolvendo simpatias e antipatias o que levaria a um não aprendizado. Onde mais na vida se vê tanta vontade, tentativas e esforço para o aprender? Olhem para uma criança pequena aprendendo a andar.

A criança necessita sim ter ao seu redor um adulto consciente.Com que consciência permeamos nosso trabalho? Isto é antroposofia em prática e é isto que a criança percebe.Na embriologia há um momento, bem no inicio da gestação, em que há um esticar da espinha dorsal e é isto que

nos diferencia dos animais. Aprender a andar é um relembrar deste momento.Quanto à laringe, ela vai se formando e sendo exercitada já no primeiro ano de vida quando a criança fala “m”,

“br”. Com as consoantes expressamos o mundo e com as vogais os sentimentos que vivem dentro de nós.Uma vez que haja conexão entre as palavras surgem os pensamentos.Como ela está aprendendo a conhecer o mundo, o que é grande deveria ser pesado e muitas bolas grande são

levíssimas e isto trás um desapontamento para este ser.Por volta dos 3 anos as hierarquias se afastam pois nosso corpo não resistiria a esta tão forte presença por mais

tempo e a criança começa a falar, “não”, “eu”.A religião de criança nos primeiros anos é o ambiente que a circunda, somos nós, nosso corpo. Portanto,temos

que ser muito cuidadosos com o ambiente, pois é o fundamento da criança. Ela falou que após os 3 anos, a criança nos perdoa, podemos disfarçar, mas antes disto não tem volta o que fizermos.

Levantou-se também a questão da importância dos limites, que ao receberam aumentam sua resistência . O adulto é que deve saber o que é bom para ela. Por volta dos 6 anos as forças etéricas se libertam, e as forças da TV continuam a ser maléficas e nos convidou a comparar os fantoches com a TV. Fantoche é magia no lugar certo.

Encerrou dizendo que é nesta época de Jardim de Infância que se aprende tudo para a vida.Das conversas que tive com colegas, das mini-sessões que participei ficou claro que cada vez mais cedo na vida

está havendo procura para orientação antroposófica quanto a educação das crianças. Mães, cujos filhos têm 3 semanas de vida já pedem para ingressar em grupos de apoio à infância, à maternidade, pois a necessidade de ter um social é muito grande. Estes grupos se encontram uma ou duas vezes por semana, onde estão presentes, os pais, as crianças (no caso bebês) e um educador ou orientador. É um momento de observação da criança, de troca de experiências, de esclarecimentos sobre o desenvolvimento da criança. O encontro tem a duração de uma hora e meia a duas horas. O belo destes encontros é que através deles, pessoas se encontram e formam uma rede mútua de ajuda.

Outro tema bem “quente” é quanto ao ingresso de crianças com menos de 6 anos na escola. É unânime depois de tantas pesquisas feitas, que a criança de 6 anos ainda tem que ter o direito de brincar. Segundo Dra. Renate Long-Breipohl o brincar livre sem direção do adulto está se extinguindo e o resgate disto tem que ser uma meta na nossa educação. Ela está desenvolvendo uma belíssima pesquisa sobre o brincar, separando este em 6 qualidades distintas. Relaciona estas qualidades com as 3 dimensões espaciais. Este material está em minhas mãos e penso traduzi-lo e difundi-lo para ampliar nosso horizontes com relação a isto.

Já posso adiantar que foi chamada bem nossa atenção para o quanto julgamos o brincar infantil, que temos pouca tolerância para com as crianças mais agitadas, que perambulam pela sala parecendo meio “perdidas”.

Que o brincar da criança é potencializado se o adulto que está ao redor dela tiver contato com o artístico... (foi lembrado que remendar roupa não é arte), tem que ser algo que por si não seja útil que nos preencha, que nos coloque em movimento.

Como está o ambiente que oferecemos à criança? Ele tem elementos que fomentem o brincar criativo?

Page 14:  · Web viewEditorial Caros Colegas, Com a presente edição encerramos o projeto de 2008 para dar continuidade no próximo ano, e esperamos que, além de terem um feliz Natal e um

Tive a oportunidade de estar perto da fotógrafa que ilustra o tema do brincar e ver muitas fotos ilustrando o brincar e seus arquétipos.

Dra. Renate também deu duas palestras sobre as qualidades, virtudes, e arquétipos relacionados com o Zodíaco e o brincar infantil e o desenvolvimento do educador. Posso até fazer um esboço do tema, mas foram muitos elementos e não sei se saberia ser fiel ao conteúdo apresentado.

Tivemos noite cultural, com a apresentação de marionetes feitos de seda, uma peça japonesa e outra de índios norte-americanos, foi muito lindo! Enfim, foi uma grande oportunidade para mim. Tive contato com excelentes livros que a bom tempo espero venham ser de acesso ao nosso movimento de educação infantil.

Agradeço a todos que fizeram este momento se tornar possível, e em breve penso ter mais material em mãos para passar para vocês.

Um abraço.

Se alguém se sentir com vontade de conversar sobre o texto é só me escrever. Se o texto apresentar erros de português peço desculpa.