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Macapá,v.7,n.3,p.57-68,2017Disponívelemhttp://periodicos.unifap.br/index.php/biota
Submetidoem01deDezembrode2016/Aceitoem11deSetembrode2017
ARTIGO
BiotaAmazôniaISSN2179-5746
Diversos grupos sociais apresentamuma intima relação comas plantas entre eles destacam-se os remanescentes dequilombos.Nessesentido,apesquisafoirealizadanacomunidadeTauerá-Açú,inseridanoTerritórioQuilombolaIlhasdeAbaetetuba, tendo como objetivo demonstrar o conhecimento de seus moradores sobre a diversidade das plantasmedicinais.Osdadosetnobotânicos foramobtidosatravésdemétodose técnicasusuaisemetnobotânica.Ouniversoamostral foide34mãesedois especialistas locais.Omaterialbotânico foi coletadoe identificadoe incorporadoaosherbáriosJoãoMurçaPires(MG)eMarleneFreitas(MFS).Utilizou-seoÍndicedeSaliênciaCultural(ISC)paraevidenciarasespécies de maior importância cultural. A diversidade foi calculada utilizando o índice de Shannon-Wiener. Foramregistradas93etnoespécies,dasquais76foramidentificadas,compreendidasem68gênerose34famílias,ondeLamiaceae,FabaceaeeAsteraceaeconstamcomoasmaisrepresentativas.Asplantasmaiscitadasforamhortelã(Menthapulegium),arruda(Rutagraveolens)eboldo(Gymnanthemumamygdalinum).AespéciecommaiorISCfoiMenthapulegium(0,43).OíndicedediversidadedeShannon-Wiener(H'=4,14)foiconsideradoaltoemcomparaçãocomtrabalhosrealizadosemregiões tropicais. A Comunidade quilombola de Tauerá-Açú apresenta um conhecimento vasto e diverso, no entanto,susceptívelamudançaseperdas,proporcionadasprincipalmentepelatransformaçãogradualdomododevidadosjovens.
Palavras-chave:Etnobotânica,remanescentesdequilombos,conhecimento,diversidade,Amazônia.
Severalgroupswerepublishedinanintimaterelationwiththeplantsamongthemstandouttheremnantsofquilombos.Inthissense,theresearchwascarriedintheTauerá-Açucommunity,locatedintheQuilombolaTerritoryoftheAbaetetubaIslands,inordertodemonstratetheknowledgeofitsinhabitantsaboutthediversityofmedicinalplants.Datawereobtainedthroughusualmethodsandtechniquesinethnobotanicalstudies.Thesampleuniversewascomprised34mothersandtwolocalspecialists.ThebotanicalmaterialwascollectedandidentifiedintheherbariaJoãoMurçaPires(MG)andMarleneFreitas(MFS).TheCulturalSalienceIndex(CSI)wasusedtoshowthespeciesofgreaterimportance.Thediversitywascalculated using the Shannon-Wiener index. A total of 93 ethnoespecies were recorded, of which 76 were identified,composedof68generaand34families,whereLamiaceae,FabaceaeandAsteraceaetobemorerepresentative.Themostcitedplantswerementa(Menthapulegium),arruda(Rutagraveolens)andboldo(Gymnanthemumamygdalinum).ThespecieswiththehighestCSIwasMenthapulegium (0.43).Thediversity indexofShannon-Wiener(H'=4.14)wasconsideredhighincomparisonwithworksdoneintropical.ThequilombolacommunityofTauerá-Açúpresentsavastanddiverseknowledge,however,susceptibletochangesandlosses,mainlyduetothegradualtransformationoftheyoungpeople'swayoflife.
Keywords:Ethnobotany;remaindercommunitiesofthequilombos;knowledge;diversity;Amazon.
UseanddiversityofmedicinalplantsinaquilombolacommunityintheEasternAmazon,Abaetetuba,Pará
UsoediversidadedeplantasmedicinaisemumacomunidadequilombolanaAmazôniaOriental,Abaetetuba,Pará
1* 2MariadasGraçasdaSilvaPereira eMárliaCoelho-Ferreira1.Bióloga(InstitutoFederaldeEducação,CiênciaeTecnologiadoPará).MestreemCiênciasBiológicas(UniversidadeFederalRuraldaAmazônia,Brasil).2.Bioquímica(UniversidadeFederaldeOuroPreto).DoutoraemCiênciasBiológicas(UniversidadeFederaldoPará).PesquisadoraTitulardoMuseuParaenseEmílioGoeldi,Brasil.*Autoraparacorrespondência:pereiramariabio@gmail.com
EstaobraestalicenciadasobumaLicençaCreative Commons Attribution 4.0 Internacional
DOI:http://dx.doi.org/10.18561/2179-5746/biotaamazonia.v7n3p57-68
RESUMO
ABSTRACT
IntroduçãoA Etnobotanica e uma ciencia que se ocupa em estudar a
dinamicadasrelaçoesentreoserhumanoeasplantas(ALEXIADES,1996).Oregistroeadocumentaçaodestasrelaçoespropiciamarevitalizaçao do conhecimento dos povos e comunidades quehabitam e manejam os ecossistemas naturais (DIEGUES, 2000;FRAXEetal.,2007).
Osremanescentesdequilombosouquilombolasintegramocomplexo sociocultural da Amazonia brasileira, representadotambemporindıgenas,ribeirinhosecaboclos.Estesmantemumaestreita relaçao comomeioambiente, graçasaoconhecimentointegradodecrençasepraticas,adquiridasdegeraçaoemgeraçao,queconfiguramseusmodosdevidaondeasrelaçoescomunitariastendem a se sobrepor as societarias (LIMA e PEREIRA, 2007;FORLINI;FURTADO,2002).Naosepodeesquecerqueosnativosda regiao, com quem os quilombolas mantiveram relaçoesamigaveis e tambem conflituosas, tiveram uma forte influenciasobreossaberesefazeresdestesgrupos.ComachegadamaciçadosnegrosnaAmazonianoseculoXIX,observou-seafusaodoscomponenteseticosdenegroseındiosresultandoemumanovacultura (SALLES, 1971). Todo esse conhecimento e repassadoatravesdaoralidade,umacaracterısticapropriadascomunidadestradicionais, ja que a grande maioria delas nao possui umatradiçaoescrita(REZENDE;RIBEIRO,2005;MARTINSetal.,2005;DISTASI;HIRUMA-LIMA,2002).
ParaVoeks(2009),ascomunidadesquilombolasdesempenham
umimportantepapelnapreservaçaodastradiçoesetnobotanicasafricanasnocontinenteamericano.Dentreessaspraticasestaousodasplantasmedicinaisnotratamentoecuradedoençasdocorpoedoespırito,queaindahojeperpetuaentreessegrupo(SALESetal.,2009,OLIVEIRAetal.,2015).
Duzentos e vinte e sete territorios de remanescentes dequilombossaoreconhecidosnoParaecorrespondema70%dosregistrados para a regiao Norte (FCP, 2015). Precisamente nomunicıpiodeAbaetetuba,situadonoBaixoTocantins,15territo-riosquilombolasjaforamtitulados,entreelesointitulado“IlhasdeAbaetetuba”,doqualfazemparteascomunidades:AltoeBaixoItacuruça,Campompema,Jenipauba,Acaraqui,IgarapeSaoJoao,Arapapu,Arapapuzinho,RioIpanemaeTauera-Açu.
ApresentepesquisafoirealizadaemTauera-Acu,consideradaacomunidade-mae,ouseja,aquelaquedeuorigemasdemais.Teveporobjetivoregistraroconhecimentoassociadoasplantasmedicinaisnesta localidade,bemcomoverificara importanciaculturaleadiversidadedeconhecimentodosmoradoressobreasespeciesidentificadas.
MaterialeMétodosO municıpio de Abaetetuba pertence a Mesorregiao do
NordesteParaenseeaMicrorregiaodeCameta,estandosuaredemunicipallocalizadaentreascoordenadasgeograficas01º43'24”Se 48º52'54”W (SEPOF, 2016). Abaetetuba e um dos menores
2municıpiosdoPara,com1.611Km deextensaoecercade140.000
habitantes (IBGE, 2016a), distribuídos entre a zona urbana,representadapelasededomunicípio,eazonarural,daqualfazemparteestradaseilhas.Poucomaisde58milhabitantesencontram-senazonaruraldomunicípio,principalmentenaregiãodeilhas(IBGE,2016b).
A cobertura vegetal original, representada pela florestaombrófiladensadeterra firmecomárvoresdegrandeporte,épraticamente inexistente, dando lugar às florestas secundárias,intercaladas com cultivos agrícolas (SEPOF, 2016). A vegetaçãocaracterística destas florestas abrange espécies ombrófilaslatifoliadas,intercaladascompalmeiras,dentreasquaisdespon-tamoaçaí(EuterpeoleraceaMart.)eomiriti(MauritiaflexuosaL.f.)(ALMEIDAetal.,2004).
O “Território Quilombola Ilhas de Abaetetuba” (TQIA),reconhecidopelaFundaçãoCulturalPalmaresem03desetembrode2012,etituladopeloIterpa(InstitutodeTerrasdoPará)eIncra(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), possuimais de 12 mil hectares, onde vivem 1.700 famílias e 7.500pessoasdistribuídasirregularmentepelascomunidadesaolongodosrios,furoseigarapés(NAHUM,2011).
Tauerá-Açú,aáreadeestudo,éumadas10comunidadesquecompõem o TQIA. Por se tratar de um território com váriascomunidades os dados sobre população, economia, educação,entre outros, não são individualizados por comunidades e simunificadosparatodooterritório,porcontadissoasposterioresinformaçõesarespeitodacomunidadedeTauerá-Açú,sãodadosnãooficiaisobtidoscomoPresidenteAssociaçãodaComunidadesRemanescentes de Quilombo das Ilhas de Abaetetuba e deobservaçãonoconvíviocomacomunidade.
AcomunidadedeTauerá-Açúcontacomumapopulaçãodeaproximadamente600habitantes,vivendonasáreasribeirinhaseno“centro”.Naárearibeirinharesidem80famílias,expostasaumciclodiáriodeenchentesevazantes,ocasionadospelainfluênciadasmarés.Asresidênciaslocais,característicasdepopulaçõesdevárzea,sãofeitasdemadeiraesuspensasapelomenos1,50mdosolo,paraevitarque fiquemsubmersasduranteasmarésaltasdiárias. Esta parcela populacional tem sua renda advindaprincipalmentedapescadocamarão,alémdoplantioeextrativis-modoaçaí(EuterpeoleraceaMart.),vendidodiretamente,oupormeiodeatravessadores,nafeiradacidade.
No“centro”,quecorrespondeaoramalperpendicularàestrada
quedáacessoàsededomunicípio,estãodistribuídas20famílias,cujascasasdealvenariasãoconstruídasemlocaismaiselevadoseprotegidosdasenchentescotidianas.Ascasassãocercadasporgrandesquintaiseinterligadasporestreitoscaminhosabertosdeterrabatida.Apopulaçãodocentrovivebasicamentedaroçademandioca emacaxeira (Manihot esculentaCrantz), cujas raízestuberosas são consumidas sob a forma de farinha ou cozidas,respectivamente. Usualmente a produção de farinha, para asubsistência é um trabalho de cunho familiar, em que todosparticipamemalgumafasedoprocesso.Avendadesteprodutodamandiocaéfeitasemprequeháproduçãoexcedente.
Parainiciarosprocedimentoséticosforamrealizadasreuniõesna comunidade como grupodemães para a apresentaçãodoprojeto de pesquisa, formulação e adequação do Termo deAnuênciaPrévia(TAP),quefoiassinadoporaquelasqueaceitaramcolaborarcomopresenteestudo.
TodososdocumentosexigidospelaM.P.2.186-16/2001,aindaemvigorem2014,foramencaminhadosaoIPHAN(InstitutodoPatrimônioHistóricoeArtísticoNacional),queautorizouoacessoaoconhecimentotradicionalsemacessoaopatrimôniogenéticosoboprocessoden°01492.000102/2015.
O trabalhodecampo foi conduzidodemarçoaoutubrode2015, considerando o cadastro das 100 unidades familiares,fornecido pela Agente Comunitária de Saúde, inicialmentecontatada. A seleção das famílias foi realizada por meio daamostragemprobabilística(ALBUQUERQUEetal.,2010)atravésdosorteiode34unidades(34%dototal).Optou-seportrabalharcomasmães,queemgeraldetêmasnoçõesbásicasdecomotrataros problemas de saúde de suas famílias (COELHO-FERREIRA,2009).Noentanto,visandoaaprofundarasinformaçõesobtidas,doisinformantes-chaveouespecialistaslocaisforamidentificadosatravésdatécnicade“boladeneve”(ALBUQUERQUEetal.,2010)ecompuseramouniversoamostral.
Acoletadedadosenvolveutécnicasemétodosdepesquisasusuaisemetnobotânicae complementaresentre si.Entrevistassemiestruturadas (BERNARD,2006) foramconduzidas juntoàscolaboradoras para obter dados pessoais como: nome, idade,tempodemoradia,deescolaridade,ocupação,etc.Emseguida,foiaplicada a técnica “lista livre” (QUINLAN, 2005), em que seperguntavaàscolaboradoras:Quaisasplantasmedicinaisquevocêconhecee/ouusa?Apartirdalistagerada,foiretomadooroteiroda entrevista semiestruturada para obter dados relativos àsespéciesvegetaislistadasporcadainformante.Duranteacoletadedadosforamfeitasgravaçõesefotografiassemprequeautorizadaspelascolaboradoras,comocomplementoàsinformaçõesdescritasnacadernetadecampo.
Acoletadasamostrasbotânicasaconteceuduranteasentrevis-tas quando as colaboradoras as possuíam em seus quintais, etambémduranteasturnêsguiadas(ALBUQUERQUEetal.,2010)quecontaramcomacolaboraçãodosdoisespecialistaslocais.
Os espécimes vegetais foram herborizados seguindo astécnicasdescritasporMing(1996),eaidentificaçãosedeuporcomparaçãocomacoleçãodoHerbárioMGdoMuseuParaenseEmílioGoeldieconfirmadaporespecialistaseparataxonomistasdainstituição.Adotou-seosistemadeclassificaçãoAPGIII(2009)paraasfamíliasbotânicaseasbasesdedadosdaFloradoBrasil2020 (http://floradobrasil.jbrj.gov.br) e Trópicos do MissouriBotanicalGarden(http://www.tropicos.org/)paraaatualizaçãodos nomes científicos e determinação da origem das plantas,respectivamente.Paraaconfirmaçãodaorigemdasespéciesafri-canas foi consultada a base de dados African Plants Database(http://www.ville-ge.ch/cjb/). Todo material botânico fértil foidepositadonoHerbáriodoMuseuGoeldi(MG).
58BiotaAmazônia
UsoediversidadedeplantasmedicinaisemumacomunidadequilombolanaAmazôniaOriental,Abaetetuba,Pará
Figura 1. Mapa com a localizaçao da comunidade quilombola de Tauera-Açu,Abaetetuba,Para./Figure1.MapwiththelocationofthequilombolacommunityofTauera-Açu,Abaetetuba,Para.
AsespéciesforamclassificadasquantoaohábitoseguindoaterminologiadeIBGE(2012).Foiconsideradaaterminologialocalreferenteàsindicaçõesterapêuticasemododepreparo,porserempróprios desta comunidade tradicional e empregados apenasnaqueleconvíviosocial,devendo,portanto,seremregistrados.
OsdadosqualitativoslevantadosforamsistematizadosemumbancodedadosnoProgramaExcel2013,organizadosemtabelasegráficos,quesubsidiaramaanálisequaliequantitativadosdadosacerca do conhecimento etnobotânico dentro da comunidadeestudada.
Para as análises quantitativas foram utilizados os índicesSaliência Cultural (ISC) e o de diversidade Shannon-Wiener. OíndicedeSaliênciaCultural(ISC),queinferesobreaimportânciaculturaldasetnoespéciesparaumadeterminadacomunidade,foicalculadoapartirdalistalivrecomoauxíliodosoftwareVisualAnthropac-Freelists 4.0 (BORGATTI, 1992). O ISC levou emconsideração,paracadaetnoespéciecitada,aordememquefoilistadaeafrequênciadecitação.Osvaloresdesteíndicevariamde0–1,sendoque,quantomaispróximodeuméovalordoISC,maisimportantes culturalmente a planta é. Segundo Pedrollo et al.(2016)paraserconsideradasaliente,nãobastaaetnoespéciesermencionadapormuitosinformantes,precisatambémserlembra-daantesdasoutras.
Adiversidade foi analisadautilizandoo índicedeShannon-Wiener, proposto por Krebs (1989) e adaptado por Begossi(1996), em que considera apenas uma citação da espécie porinformante,mesmoqueuminterlocutortenhacitadoumaespécieváriasvezes,paraváriosusos.O índicefoicalculadoatravésdoprogramaPC-ORDversão5.0.
Paraseverificarasuficiênciaamostral,foramfeitasascurvasderarefação,utilizandooprogramaPAST,atravésdeumamatrizdepresençaeausência.
ResultadoseDiscussõesAs colaboradoras têm entre 21 e 50 anos, 18 delas (53%)
nasceramemTauerá-Açúe16(47%)vieramdeoutrascomuni-dades do Território quilombola “Ilhas de Abaetetuba”, da áreaurbanadomunicípioedeIgarapé-Mirí,municípiovizinho.
Os especialistas tradicionais são do sexo masculino, comidadesde53e76anos.Ambospraticamareligiãocatólicaeforamreconhecidos na comunidade como detentores de um saberparticularsobreasplantasmedicinais.Umdelesatuaapenasnaindicaçãodasplantaspara fins terapêuticos, enquantoooutro,alémdestepapel, realiza rituaisde curaeé reconhecidocomo“benzedor”.
Deste universo amostral (34mulheres e dois homens), 12consideram-se descendentes de quilombola, cinco seautodenominaramcomotalporteremadquiridoestedireitoaoser casarem com quilombolas, outros 12 afirmaram nãodescenderdetalgrupo,seteapontaramdesconhecimentosobresuasorigens.DeacordocomSantana(2014),essefatoécomumem muitas comunidades negras, por que inconscientementepreferema“inclusão”nasociedadeà“exotização”.
Setentapor centodosparticipantesdeste estudo indicaramintegrantesdafamíliacomoresponsáveispelosaberetnobotânicoque possuem. Há de se atentar para o fato de que osconhecimentosnesta comunidadesãopautadosprincipalmentena oralidade, expressa nas práticas observadas e vivenciadascotidianamente. As mães são as maiores responsáveis pelorepassedessasinformações;emseguidaforammencionadososavóseoutrosparentes.
Noquetangeosproblemasdesaúdecomunsàsfamíliasforammencionadosgripe,diarreia,virose,febreetosse.Amaioriadasinterlocutoras (73%) afirmou ter os remédios caseiros como
primeira opção para o tratamento destes males. A escolha éjustificada,sobretudopelaeficáciadosremédios,pelaconfiançanosensinamentosdeixadosporpessoaspróximas(mãe,avós,etc),edevidaaprecariedadedosistemapúblicodesaúde.Poucomaisde 20% disseram primeiramente procurar a medicina oficial,representadapelasAgentesComunitáriasdeSaúde (ACS), pelomédicoemsuaúnicavisitamensalepelosserviçosoferecidosnoPosto de Saúde local. A automedicação foi citada por três dasinterlocutoras, enquanto os especialistas locais forammencionados,comoprimeiraopçãoterapêutica,porduaspessoas.
Foramregistradas93etnoespéciesdeusomedicinal,sendo76espéciescientificamenteidentificadaseasdemais-barbatimão,casca-doce, casca-preciosa, espinheira-santa, entre outras - nãopuderamseridentificadasporsetrataremdeplantascompradasemervanários,estabelecimentosemcrescentedesenvolvimentonomunicípio,comopau-de-angolaearumã-de-cheiro.Enquanto64etnoespéciesforamlevantadasatravésdalistalivre,29foramregistradasduranteas turnêsguiadas.Asespécies identificadasestãodistribuídasem68gênerose34famíliasbotânicas,entreasquaissedestacamAsteraceae(10),Lamiaceae(10),Fabaceae(9),Euphorbiaceae(4),Rutaceae(4),Apocynaceae(3),Arecaceae(3)eZingiberaceae (3). Estas famílias são cosmopolitas e/ouamplamentedistribuídas (JUDDetal.,2009), e frequentementeusadas na cura de doenças por comunidades amazônicas(COELHO-FERREIRA,2009;RODRIGUES,2006;VÁSQUEZet al.,2014);alémdeseremfamíliasrepresentativasparaascomuni-dades remanescentes de quilombos como apontam Almeida eBandeira (2010);Nascimento e Conceição (2011) e Silva et al.(2012).
Dentreasespécieslevantadas,hortelã(MenthapulegiumL.),foiamaismencionadacom19citações,seguidadearruda(RutagraveolensL.)(10)eboldo(Gymnanthemumamygdalinum(Delile)Sch.Bip.exWalp.) (10), alémdecatinga-de-mulata (Aeollanthussuaveolens Mart. ex Spreng.) (6). Essas espécies também sãoimportantesemoutrascomunidadesquilombolascomoQuilomboSangrador(MA)(MONTELES;PINHEIRO,2007)eemPedroCubas(SP)(RODRIGUESetal.,2010).
Quantoàorigemdasespéciesmedicinaisidentificadas,46%sãoexóticase54%nativasdoBrasil,sendo95%destas(37sp.)nativas na Amazônia. Em relação a esta última categoria, 15ocorremdeformaespontânea,13sãocultivadasenoveocorremdeambasasformas.
Quarenta e duas das espécies identificadas são comuns aocontinenteafricano,20dasquaissãonativasdeste,comoéocasodeAeollanthussuaveolenseMenthapulegium.Estasduasespéciestiveram seus usos medicinais documentados em trabalhos naNigéria(SOLADOYE;OYESIKU,2008)eAngola(URSOetal.,2016),paísesestes,quecontribuíramparaaformaçãodopovobrasileiro.Outro exemplo de planta nativa africana é Kalanchoe pinnata(Lam.) Pers., endêmica da ilha de Madagascar amplamenteutilizadanooesteafricano(OLIVER-BEVER,1986).
Diversas plantas e animais vieram nos navios negreiros,trazidas pelos escravos, e representavam para estes elementosbásicos de sua cultura, alimentação e cuidados com a saúde(VOEKS,2009).ComachegadaaoBrasil,duranteosprimeirosanosdacolonização,ascircunstânciaseasnecessidadescoletivascertamenteincentivaramapartilhaetrocaintelectualdesaberesentre indígenasenegros, apesardasdiferenças culturais edasbarreiras linguísticas que os separavam (CARNEY, 2013). Nosentido inverso, uma série de culturas americanas tambémchegavaàÁfricaOcidentalefoisendoincorporadanaspráticasmédicasedecultivo,justificandoapresençadeespéciesnativasdaAmazônia,aexemploaQuassiaamaraL.,entreasnaturalizadasafricanas(VOEKS,2009).
59BiotaAmazônia
MariadasGraçasdaSilvaPereiraeMárliaCoelho-Ferreira
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 350
20
40
60
80
100
120
Nºdeespecies
Nºdeinformantes
Estudo Local
ComunidadeQuilomboladeTauera-Açu(PA)
ÍndicedeShannon-Wiener(Basee)
Pereira;Coelho-Ferreira 4,14
4,1
3,89
4,67
SaoJoaodoTupe(AM)
ColoniaCentral(AM)
Barcarena(PA)
Scudelleretal.(2009)
Amorozo(1997)
Asespéciesestãodistribuídasemcincohábitos:erva(48%),árvore (24%), arbusto (15%), liana (7%), palmeira (5%) esubarbusto(1%).Aservas,cultivadasemjiraus,velhasembarca-çõesepaneiros,encontram-sedisponíveisnosquintais,oqueastornabemmaisacessíveis.ParaGuarim-NetoeAmaral(2010)aservas são as mais exploradas devido ao pequeno espaço queocupamnocultivo.Coleyetal.(1985),justificaessapreferência,devido à alta atividade de compostos secundários presentesnestas.
Sessentaequatroetnoespéciesforamregistradaspormeiodatécnica lista livree,portanto, foramconsideradasnaanálisedeSaliênciaCultural.Asespéciesculturalmentemaissalientes,istoé,queapresentaramISCsignificativoforamhortelã(0,43-Menthapulegium),arruda(0,23-Rutagraveolens)eboldo(0,22-Gymnan-themumamygdalinum).
Mentha pulegium é nativa doNorte da África e da Europa.VoekseRashford(2013)sugeremqueaintroduçãodestaespécienoBrasil e emoutras regiõesdaÁfricadeu-sepelas rotasdosportugueses e espanhóis durante a colonização, sendoposteriormente incluída na farmacopeia afro-brasileira. Rutagraveolenséumaespécienativadaregiãodomediterrâneo.Moret(2013)apontaqueestaforaintroduzidanoBrasildevidoaosaltosvaloresdaimportaçãodemedicamentosparaColônia,deformaquecomeçouahaverumforteincentivoeconômicoparaousode
espéciesmedicinaisjáutilizadasnaEuropaeoutraslocais,assiminiciou-sea importaçãodediversasplantasentreelasaarruda(Rutagraveolens),comcustosbemmenores.
Apropósito,Pedrolloetal.(2016)afirmamqueparaentenderos fatores que tornam uma planta mais ou menos salientecognitivamenteenvolveolevantamentodehipóteses.Aindicaçãoterapêuticadasespécies influencianograude importânciadasmesmas para a comunidade; hortelã, por exemplo, recebeuindicaçãodeusoparadiarreiaegripe,eoboldo(Gymnanthemumamygdalinum)éusadonotratamentodeproblemasrelacionadosaosistemagastrointestinalmalesfrequentesentreosmoradoresdeTauerá-Açú.Aversatilidadetambéminterfere,comoéocasodaarruda,quefoiindicadaparadiferentesmalesqueacometemosdiversossistemascorpóreos.Porém,outrofatorcomoafacilidadede acesso, também pode influenciar, já que estas plantas sãocultivadasemquintais.
OíndicedediversidadedeShannonnacomunidadequilom-boladeTauerá-Açú(H'=4,14)écomparadoaosvaloresmaisaltosobtidosporBegossi (1996)paraplantasmedicinais emoutrasregiões tropicais, e equivalentes aos encontrados em estudosrealizadosnaAmazônia(Tabela1).Estevaloré justificadopelaausênciadeespéciesdominantesdentrodouniversodasplantascitadas.Alémdoque,apontaoquãodiversoéoconhecimentodasmãesdacomunidadenoquedizrespeitoàfitofarmacopeialocal.
60BiotaAmazônia
UsoediversidadedeplantasmedicinaisemumacomunidadequilombolanaAmazôniaOriental,Abaetetuba,Pará
Tabela1.ComparaçaodoındicedediversidadedeplantasmedicinaisemestudosetnobotanicosnaAmazonia./Table1.ComparisonofthediversityindexofmedicinalplantsinethnobotanicalstudiesintheAmazon.
Acurvaderarefaçaoapontaumatendenciaparaestabilidade,indicandoqueoesforçodecoletafoisatisfatorioparaocalculodoındicedediversidade(Figura2).
Aocompararadiversidadedeespeciesmedicinaisnativas(H'=3,40)eexoticas(H'=3,58),verificou-sequeambascolaboramdeformaequitativaparaacomposiçaodafitofarmacopeialocal.
Dentreadiversidadedaspartesvegetaisutilizadas,asfolhasentram na composiçao dametade das receitas documentadas,seguidasdacasca(18%),ramosfoliares(12%),sementes(8%),caule(4%),raiz(3%),latex(3%)efruto(2%).Asfolhassaomuitoutilizadas,naoestandosujeitasasazonalidade,comoeocasodosfrutoseflores,alemdoque,acoletadestasnaoprejudicaoespeci-me, ao contrario da retirada de raızes, conforme corrobora
Tugumeetal. (2016)aoatribuirasaltastaxasdeutilizaçaodefolhas a facilidade com que podem ser obtidas em grandesquantidadesemcomparaçaocomoutraspartesdaplanta.ParaJardim e Zoghbi (2008), o uso maior das folhas e ramos naspreparaçoes terapeuticas pode ser explicado pela perenifoliapredominantenasplantasamazonicas.
Acascafoiasegundapartemaisutilizada,citadamajoritaria-menteporumdosespecialistastradicionais,Sr.Damiao,devidoaoamplousodestasnasgarrafadasporelepreparadas.Emgeralnocasodasarvoresamazonicas,ascascasmaisfacilmenteacessadasqueasfolhas(COELHO-FERREIRA,2009;LIMAetal.,2014).
Duzentasevinteeseispreparaçoesforamdocumentadasparao tratamento e prevençao de doenças: 137 sao receitas comapenasumaplanta;89receitasenvolvemmaisdeumaplantaouassociamplantasaprodutosdeorigensdiversas(Tabela2).Asreceitas abrangem oito diferentes modos de preparo, quecorrespondem asseguintescategorias locais:cha, “fumentaçao”,'banho”,innatura,garrafada,“choque”,xaropeesuco.
Dototaldereceitasdocumentadas,74%saodeusointernoe26%saoempregadasexternamente.
Os chas, classificados em “cozidos” e “abafados” segundo amaneiradepreparo -pordecocçaoou infusao, sao geralmenteingeridos.Taisformasdepreparoforamdocumentadasparavariascomunidades amazonicas (VA� SQUEZ et al., 2014; COELHO-FERREIRA,2009;FREITAS;FERNANDES,2006).
A“fumentaçao” eumamisturadeconsistenciapastosa,emcuja composiçao entram plantas, gordura animal e produtosencontradosemervanariosdacidade.Asplantasdafumentaçaosaoconsideradas“finas”,esclarecidasporDonaAnacomoumtipodeplantaqueagenteprecisatermaiscuidado,porquesenão,podefazermalelevaratéamorte.Arruda,catinga-de-mulata,pluma
Figura2.CurvaderarefaçaodasespeciesmedicinaisdacomunidadequilomboladeTauera-Açu,Abaetetuba,Para./Figure2.CurveofrarefactionofmedicinalspeciesofthequilombolacommunityofTauera-Açu,Abaetetuba,Para.
(Tanacetumsp.),cipó-pucá(Cissusverticillata(L.)Nicolson&C.E.Jarvis)eóleo-elétricodeplanta(PipercallosumRuiz&Pav.)sãoexemplosdeplantasfinas.Todassãomaceradasemumagorduraanimal,quepodeserbanhadejacaré,decarneirooudepatopreto.AestemaceradoéacrescentadaPíluladeJalapaouPílulaContraEstupor,adquiridasnosmencionadoservanários,formandoumaespéciedepomadaescuradecheiroforte.
Asfumentaçõesdevemseraplicadasemmassagensnocorpotodo,duranteotratamentoderamodearoudoençaqueentorta.Deacordocomascolaboradoras,estepreparadoagenosentidoderecuperar osmovimentos perdidos, ocasionados pela paralisia.Em função da gravidade da doença, o tratamento comfumentações pode ser feito em dias seguidos ou alternados,quando o consumo de alimentos “reimosos", como camarão,douradaeporco,éproibido.Segundoumadasentrevistadas,queadministraesseremédioemseuesposo,apessoaqueaplicaessepreparado deve usar luvas, pois a exposição ao vento pode“encarangar”asmãoselevaratéamorte.Outroscuidadosaseremobservadosapósaplicaçãodoremédiodizrespeitoaodoente:estedevepermanecerdentrodeumquarto fechado,depreferênciausandocobertor,protegidodoventoedafriagem.Geralmente,nodiaseguinteàaplicação,oremédioéretiradodocorpopormeiodo “banho de sol”, preparado com folhas de japana (Ayapanatriplinervis (Vahl) R.M. King & H. Rob.), uriza (Pogostemonheyneanus Benth.), trevo (Justicia pectoralis Jacq.), favacão(Ocimum gratissimum L.), pau-de-angola (não identificada), earumã-de-cheiro(nãoidentificada),deixadasemmaceraçãonumabaciacomágua,expostaaosol.Aomeiodia,quandoopreparadojáestiver bem aquecido, é usado para lavar o corpo da pessoadoente. As espécies em questão são ricas em óleos essenciais(MAIA et al., 2000) que se volatilizam rapidamente quandolevados à fervura, fato que explicaria o motivo pelo qual sãosubmetidasaoprocessodescritoacima.
Os “banhos” são macerações aquecidas ao sol, como ditoacima,feitasàtemperaturaambienteouaindadeixadasnosereno.Este dito modo de preparo e uso é comum em comunidadesamazônicas,conformeregistrosfeitosporCoelho-Ferreira(2009),FreitaseFernandes(2006)eAmorozoeGély(1988).Alémdasaromáticas citadas acima, malva-rosa (Pelargonium graveolensL'Hér. ex Aiton), catinga-de-mulata e arruda compõem banhosindicados para problemas espirituais como “mau olhado”. Os“banhos”sãocategorizadospelascolaboradoras,conformeasuafinalidade:“banhoparaficarfeliz”,“banhodeacalmarcriança”e“banhosdedescarga”.Esteúltimo,preparadocomfolhasdepião-roxo(JatrophagossypifoliaL.)eálcool,foiregistradoporOliveira(2015)entremulheresdeumacomunidadequilombolanaBahia,paraasquais têmumasimbologiapurificadoraprovavelmente,porcontadesuaancestralidadeafricana.
Garrafadassãopreparadaspormaceraçãoaquosaoualcóolicaesedestinamatratamentosemlongoprazo.Asreceitasvariamdeacordocomoqueserátratado,eincluemcascaseingredientesdiversoscomoqueijoralado,pódeguaraná,refrigerante,vinhotintoentreoutros.EstetipodepreparaçãofoiregistradoemoutrascomunidadesquilombolasdaBahiaporMotaeDias(2012),edoPiauíporFrancoeBarros(2006);nestaúltima,entretanto,sãopreparadasapenascomasraízes,aocontráriodoregistradonesteestudo onde o principal ingrediente é a casca. De acordo comCamargo(1998),ovinhotintonãoerautilizadonestapreparação,derivadadafórmulada"TriagaBrasílica"cujosingredienteserammantidos em segredo pelos Jesuítas no século XVIII. Nestacomunidade,porém,éhabitualmenteempregadoparaeste fim,assimcomoemMarudá,noestuárioamazônico,conformerelataCoelho-Ferreira (2009).A garrafadapara emagrecer é tambémindicadacontradiabetes,possivelmenteporestaserumadoença,
namaioriadoscasos, ligadaàobesidade.OSr.Damiãoadverteparaoteorextremamenteamargodestapreparação,istodevidoàalta concentração de tanino presente nas cascas de sucuúba(Himatanthusarticulatus(Vahl)Woodson)eacapu(Vouacapouaamericana Aubl.), conformemostrado por Souza Filho e Alves(2000)eLuzetal.(2014).Aindasegundoomesmocolaboradoresta preparação causa muito suor e eliminação de urina. Taisefeitosexplicariamporqueesseremédiolevaàrápidaperdadepeso.
Algumas plantas têm suas folhas ou exsudatos (látex, óleo)utilizadosinnatura,nomenclaturaaquiempregadaparadescreverumaintervençãomínimaquantoaomododepreparo.Nocasodasfolhas, estas podem ser levemente aquecidas ou socadas paraextraçãodaseiva.Essessãoremédiosaplicadosdiretamentenolocal afetado, àmoda de emplastro (ferimentos, erisipele), emfricçãoouemgotejamento(dordeouvido).
“Choque” é a denominação local atribuída às maceraçõesalcoólicascujoveículotantopodeseroálcoolcomoacachaça,aoqual se associam plantas aromáticas, como arruda e uriza.Diferencia-se,portanto,dasgarrafadas,pelomeiolíquidoepelotipodepartesvegetaisutilizadas.Oremédioéaplicadoemfricçãoou massagem local no tratamento de dores de cabeça ereumáticas,podendoserconservadoeusadoporlongosperíodos.Segundo os entrevistados, quanto mais tempo guardada, maisconcentradaeeficazelasetorna.
Os xaropes são decocções empregadas no tratamento dedoençascomoaasmaeverminoses.Nestapreparaçãoéacrescen-tadomelouaçúcar,segundoasentrevistadas,porcontadogostopouco palatável de alguns ingredientes, como por exemplo, aortiga(Plectranthusamboinicus(Lour.)Spreng.),etambémparaadquirir a consistência necessária, por elas denominada como"ponto do xarope". Em casos de inflamação da garganta, otratamentocomxaropedevesercomplementadocomapráticade"curar a garganta” esse procedimento implica emuma pessoaenvolverodedoindicadorcomumpanooualgodãoembebidoemmel ou óleo de copaíba e levá-lo até o interior da gargantaaplicandooremédiodiretamentenolocalinflamado.
Sucossãoobtidosporprocessamentodefolhas,porexemplo,noliquidificador,ingredientesdensoscomoa"massa"dafolhadababosa(Aloevera(L.)Burm.f.),eparaobter-seumsabormaisagradávelsãoadoçadoscomaçúcaroumel,indicadosprincipal-menteparainfecções.
Asplantasmedicinaisforamindicadaspara57problemasdesaúde.Sintomascomoaquelesdadentição,doresemgeral,febreevômitorepresentaram28%daamostratotal.Afebrefoiomaisrecorrentenestacomunidade,provavelmenteporsercomumadiversasdoenças.Asespéciesindicadasparaotratamentodestesintoma são catinga-de-mulata (Aeollanthus suaveolens), uriza(Pogostemonheyneanus),feijão-coandô(Cajanuscajan(L.)Huth),favacão(Ocimumgratissimum),limão(CitrusaurantifoliaSwingle)elaranjadaterra(Citrussp.).Ocombateàfebrepodevariar,deacordocomaintensidadecomqueestasemanifesta,conformerelatouD.AnaFerreira “Remédiomuito forte, quente, não serveparafebrealta,porqueprecisarefrescarosangue.Remédiomuitofortequeimaosangue!Jáafebrebaixa,podetomarumremédioquente.”
Nestacategoriaencontra-setambémo“ramodear”doençaque foi descrita com sintomas como convulsões, paralisia eenrijecimentomuscular,comtrêspossíveisdiferentescausas,febrealtacomconsequenteconvulsão,choquetérmicoeAVC,entretantooscuidadoseasplantassãoasmesmasindependentesdascausas,sãoelas,arruda(Rutagraveolens),catinga-de-mulata(Aeollanthussuaveolens),pluma(Tanacetumsp.),cipó-pucá(Cissusverticillata)eóleo-elétricodeplanta (Piper callosum)bemsemelhantesaos
61BiotaAmazônia
MariadasGraçasdaSilvaPereiraeMárliaCoelho-Ferreira
descritosporAmorozoeGély(1988),emseuestudocomcaboclosdeBarcarena,Pará.
Os males como dor de barriga, diarreia e problemas deestômago,segundoosinterlocutores,sedevemàmáalimentação,geralmenteregadaamuitagordura,farinhaesal.Estesproblemaspodem ser atribuídos ainda à inexistência de serviços detratamentodeáguaeesgoto,queérecorrenteemdiversascomu-nidades no Brasil, assim como, na maioria das comunidadesamazônicas, e ribeirinhas, em particular. Esta situação vai aoencontro do que Gomes e Bandeira (2012) constataram nacomunidadequilomboladoRasodaCatarinanaBahia,ondeafaltadepolíticaspúblicasvoltadasparaosaneamentobásico,refleteoquadro epidemiológico das comunidades, sendo casos deverminosesediarreiacomunsnessaspopulações.
EmTauerá-Açú,adordebarrigapodesercausadaaindapelaingestãoconcomitantedediversasfrutas,comoesclareceajovementrevistada, Aellen: “dá dor de barriga, quandomisturamuitacoisadotipo:cupuaçu,açaíemanga”.
Sintomas como infecção urinária conhecida como “dor deurina”,cólicamenstrual,corrimentoeciclomenstrualdesregulado- localmente denominado “suspensão”, integram a categoria“doençasdemulher”eabrangeram17%dasindicações.Verônica(Dalbergiasp.),pirarucu(Kallanchoepinnata)ebabosa(Aloevera)são algumas das plantas empregadas no tratamento destasafecções.Quina(Quassiaamara)éumadasplantascomamploespectrodeuso:tratacólicamenstrualesuspensão,assimcomopropiciaoaborto.Muitoemboranãosejamconsideradasdoençasenemsintomas,oabortoeo favorecimentodagravidez forammencionadospelosentrevistados(COELHO-FERREIRA,2009).
Éimportanteaindamencionarasdoençasdecunhoespiritual
(3,4%), embora não estejam entre as mais representativas. Oquebrantoeomauolhado,cujossintomassãovômitoedordecabeça, causados principalmente pela inveja e os olharesadmiradosdealgumaspessoas.Enquantooquebrantoacometeascrianças, os adultos sofrem de mau olhado. As plantas maisindicadas são arruda (Ruta graveolens), catinga-de-mulata(Aeollanthus suaveolens), pião-roxo (Jatropha gossypifolia) emalva-rosa(Pelargoniumgraveolens).
Há ainda os maus espíritos, que para os entrevistadosprovocamsensaçõesdesagradáveis,“umacoisaruim”,combatidoscombanhosde“descarga”,preparadoscomfolhasdepiãoroxoesalvirgem,eempregadosnassegundasequartas-feiras,namarévazante.Asdoençasespirituaissãotratadasporbenzedores,enocasodestacomunidade,peloSr.Damião.Importanteressaltarqueapesardosmoradoresdacomunidadeseguiremareligiãocatólicaou protestante, assim como registrado por Gomes e Bandeira(2012), naBahia, rituais de origemafricana ainda semostramfortementepresentenocotidiano,comoasrezasparaacuradedoenças"espirituais".
Osmalesaquiregistradossãorecorrentesentrecomunidadesamazônicas(AMOROZO;GÉLY,1988;COELHO-FERREIRA,2009;VÁSQUEZetal.,2014)eremanescentesdequilomboemoutrasregiões brasileiras (MONTELES; PINHEIRO, 2007, SALES et al.,2009;GOMES;BANDEIRA,2012).AlmeidaeAlbuquerque(2002)afirmam que os dados obtidos em pesquisas dessa naturezarefletem à maioria dos casos de doenças na população. Nestapesquisa,corroborou-seestaafirmaçãoemconversas informaiscomasagentescomunitáriasdesaúde,ondefoirelatadocomoosproblemasdesaúdemaisrecorrentesnacomunidade:diarreia,gripeedordebarriga.
62BiotaAmazônia
UsoediversidadedeplantasmedicinaisemumacomunidadequilombolanaAmazôniaOriental,Abaetetuba,Pará
Família Nomevernacular Nomecientí�ico Parteutilizada Indicação Mododepreparo
Acanthaceae Trevo JusticiapectoralisJacq. Folha Febre Banho:veruriza
Amaranthaceae MetruzDysphaniaambrosioides(L.)Mosyakin&Clemants
(1)Cha:Poeafolhanavasilhaedeixaferverpodetomarde1a3vezespordia;(2)Cha:Poeafolhanavasilhaedeixaferverpodetomarde1a3vezespordia.
RamosfoliaresVerminose(1);
Gripe(2).
(1)Unguento:versetedores; (2)Cha:Vercana�ixe.
DoremgeraleDordebaque(1);
Infecçaourinaria(2)FolhaAlternantherabrasiliana(L.)
KuntzePenicilinaAmaranthaceae
Xarope:cortaacebolabem“miudinha”efervejuntocommeldeabelhaebebo.
AsmaCauleHymenocallislittoralis(Jacq.)Salisb.
CebolinhaAmaryllidaceae
Cha:veraçaıDiarreiaCascaAnacardiumoccidentaleL.CajuAnacardiaceae
(1)Cha:colocanumapanelaparaferverjuntocomaguaaraizdachicoria;(2)Cha:Fervearaizdachicoriajuntocomafolhadasacaca,podebeberdeduasatresvezesaodia;(3)Cha:verhortela.
Dentiçao(1);Gripe(2);Diarreia(3)
RaizEryngiumfoetidumL.ChicoriaApiaceae
(1)Cha:ferveacascacomagua.Ouinnatura:bebeoleitepuro;(2)Innatura:Colocaacascanaaguaebebetododia;(3)Garrafada:colocanaaguaacascadoacapu,cascadomurure,cascadocarapana,cascadasucuuba,cascadopaudecurupira,nozmoscadaecascadopau-surı. Toma duas colheres tres vezes ao diatomaumpoucomaisnahoradolevantaredodeitar.
Asma(1);U� lcera(2);Emagrecer/Diabetes(3)
Latex/CascaHimatanthusarticulatus(Vahl)Woodson
SucuubaApocynaceae
Cha:colocaacascaprafervercomagua.OuInnatura:bebeoleitepuro.
AsmaLatex/CascaParahancorniafasciculata(Poir.)Benoist
AmapaApocynaceae
Garrafada:versucuubaEmagrecer/DiabetesCascaAspidospermaexcelsumBenth.CarapanaApocynaceae
Cha:verpaririInfecçoesemgeralRaizEuterpesp.AçaıbrancoArecaceae
Cha:verpaririInfecçoesemgeralRaizBactrisgasipaesKunthPupunhaArecaceae
Cha:verpaririInfecçoesemgeralRaizNaoidenti�icadaMucajaArecaceae
(1) Cha: ver quebra-pedra; (2) Cha: verlaranjeira;(3)Cha:vermarupazinho;(4)Cha:fazochacolocanaaguaacascadocaju,araizdoaçaıeasfolhasdohortelaepraferver
Infecçaourinaria(1);Dordebarriga(2);
Murruda(3);Diarreia(4)
RaizEuterpeoleraceaMart.AçaıArecaceae
Tabela2.AspectosetnofarmacologicosdasplantasmedicinaisutilizadasnacomunidadequilomboladeTauera-Açu,Abaetetuba,Para./Table2.EthnopharmacologicalaspectsofmedicinalplantsusedinthequilombolacommunityofTauera-Açu,Abaetetuba,Para.
Mododepreparo
Cont.
63BiotaAmazônia
MariadasGraçasdaSilvaPereiraeMárliaCoelho-Ferreira
Família Nomevernacular Nomecientí�ico Parteutilizada Indicação Mododepreparo
Fumentaçao:socafolhasdecravo,dearruda,de catinga-de-mulata de mulata, de malva-rosa,decipo-puca,deoleo-eletricodeplanta,edepluma,acrescentaabanhadejacare,decarneiro,oudepatopreto,maisapıluladejalapa. Pode fazer tambem o cha com asmesmasplantassemasbanhasetomarcomapılulacontra-estuporouapıluladajalapa.
Dordebarriga(1);Problemasdeestomago(2);
Problemadefıgado(3)
RamodearFolhaCosmossulphureusCav.CravoAsteraceae
Fumentaçao:VercravoRamodearFolhaTanacetumsp.PlumaAsteraceae
(1)Cha:colocaafolhanaaguapraferveretoma junto comElixir paregorico; (2)Cha:fervenaaguaafolhadoboldoepodecolocarjuntoa“batatinha”domarupazinho,raizdoaçaızeiro,folhadeespinheira-santa,desetedores,anadorousicuriju.;(3)Cha:poepraferversoafolhadoboldo.
FolhaGymnanthemumamygdalinum(Delile)Sch.Bip.exWalp.BoldoAsteraceae
Cha:versetedores;ouCha:verboldo.OuCha:Para problemas de estomago ferve a folhacomamorcrescido,oupodeferversoasfolhanaagua.
ProblemasdeestomagoFolhaMikanialindleyanaDC.SicurijuAsteraceae
(1)Cha: ferveasfolhasdamacelanaaguaetomaquantasvezesselembrar;(2)Cha:poeaaguaparaferveredepoiscolocaasfolhasdamacelaedeixaferverde2a3minutos.
Doremgeral(1);Dordebarriga(2)
FolhaPlucheasagittalis(Lam.)CabreraMacelaAsteraceae
Banho:colocaafolhanaaguaedepoisdeumtempobanhaacriançaque"ta"comquebran-to.
QuebrantoFolhaTithoniadiversifolia(Hemsl.)A.GrayGirassolAsteraceae
(1) Banho: ver uriza; (2) Cha: ver quebra-pedra;(3)Banho:ferveasfolhasdoeucalipto,do limao a tarde e deixa no sereno pelamanha colocanacabeça senao tiver febre.Esfregarafolhajuntoafolhadepataqueira,adicionandoumagotadeaguadecoloniaepoenosol,bebeumavez“bocadanoite”.
Febre(1);Dordeurina(2);Gripe(3)
FolhaAyapanatriplinervis(M.Vahl)R.M.King&H.Rob.
Eucalipto/JapanaAsteraceae
(1)Cha:ferveasfolhasdepariricomacascadaveronicaebeterraba.OuCha:fervesoasfolhasdopariri.(2)Cha:Fazochacomaraizdoaçaıbranco,raizdapupunheira,raizdomucaja, folhasdopariri, folhasde tançage,cascadoaçacu.
Anemia(1);Infecçaoemgeral(2)
FolhaFridericiachica(Bonpl.)L.G.Lohmann
PaririBignoniaceae
Xarope:cortaempedaçospequenosetiraoespinhoecolocaprafervercommeldeabelha.
AsmaCauleCereusjamacaruDC.JamaracaruCactaceae
Cha:cortaacascaempedaçoefervenaagua.DiabetesCascaCalophyllumbrasilienseCambess.JacareubaCalophyllaceae
(1)Cha:ferveacana�ixecomapenicilinaefervenaagua.OuCha:verjucaouCha:verariazinho.OuCha:verquebra-pedra.(2)Cha:verquebra-pedra.
Dordeurina(1);Pedranosrins(2)
CauleCostusspicatus(Jacq.)Sw.Cana�ixeCostaceae
(1) In natura: uma “poqueca” da folha dopirarucuecolocaembaixodacinzadofogaodelenhadepoisespremeosumodafolhaemumavasilhaaıpoeosalamargoeembebeumpanonesselıquidoemcolocaondetadoente;(2)Innatura:colocaafolhadopirarucuemcima de uma panela quente so para elamurchardepoisqueesfriarespremeafolhaepingatresgotasdosumodentrodoouvido;(3)Innatura:murchaafolhanofogocolocaleitedopeitoemcimadafolha"misgalha"noalgodao e pinga nos olhos; (4) Suco: verbabosa; (5) Unguento: corta a folha dopirarucuesocajuntocomoamorcrescidoefazunguentoepoeemcimadocorte.
Izipraeinchaço(1);Dordeouvido(2);
In�lamaçaonosolhos(3);Infecçaourinaria(4);In�lamaçaode
ferimento(5)
FolhaKalanchoepinnata(Lam.)Pers.PirarucuCrassulaceae
(1)Cha:ferveafolhaepingaaguadecoloniajuntoebebe;(2)Cha:fervesoafolhadosaiaonaaguaebebetresvezesaodia.
Gastrite(1);Dordeestomago(2).
FolhaKalanchoebrasiliensisCambess.SaiaodeplantaCrassulaceae
Cha:verquebra-pedra.InfecçaourinariaFolhaRhynchosporapubera(Vahl)Boeckeler
BarbadepacaCyperaceae
Unguento: mistura mamona com cera deHolanda(gorduradecarneiro),passaemtodacosta,nopeitoenagargantaumavezaodia.
DordecabeçaSementeNaoidenti�icadaMamonaEuphorbiaceae
(1)Innatura:esocolocaroleitedeleemcimadeondetaferidoatesarar;(2)Choque:raspaotroncoecolocaessaraspadentrodacachaçaepassanaizipra;(3)Banho:temquefazerumbanhodedescarrego,ferveasfolhasdopiaoroxo, sal virgem e toma o banho na marevazante segunda, quarta e sexta-feira; (4)Banho:misturanaaguaasfolhasdopiaoroxo,caabiemucura-caa.
(1)Cha:ferveafolhadacoramina,dalaran-jeiraedaerva-cidreira;(2)Cha:comasfolhasdacoraminaecomerva-doce.
Ferimento(1);Izipra(2);Mauespirito(3);
Mauolhado(4)Latex/Casca/FolhaJatrophagossypiifoliaL.Piao-roxoEuphorbiaceae
Cansaço(1);Problemascardıacos(2)
RamosfoliaresEuphorbiatithymaloidesL.CoraminaEuphorbiaceae
Cont.
64BiotaAmazônia
UsoediversidadedeplantasmedicinaisemumacomunidadequilombolanaAmazôniaOriental,Abaetetuba,Pará
Família Nomevernacular Nomecientí�ico Parteutilizada Indicação Mododepreparo
Euphorbiaceae Sacaca CrotoncajucaraBenth. Folha Gases Cha:versetedores.
Fabaceae Buiuçu OrmosiacoutinhoiDuckeChoque:cortaacascaesfregaeosumovaiescorrendoigualaumtucupı,misturaelecomacachaçaeusanacabeça.
Cascaeseiva Dordecabeçaefebre
Innatura:vererva-doceInfecçaourinaria
CascaDalbergiasp.VeronicaFabaceae Cha:cortaacascadaveronicaempedacinhoeferveuntocomafolhadopariri
Anemia
HymenaeacourbarilL.JatobaFabaceae (1)Garrafada:verbarbatimao;(2)Garrafada:vererva-doce;(3)Garrafada:vererva-doce.
Casca
Cha:temqueferverumas“bajinhas”(fruto)dejucanaagua,combarbatimaoe"cana"dacana�ixe.
InfecçaourinariaFruto(Bajinha)Libidibiaferrea(Mart.exTul.)L.P.Queiroz
Juca
Cha:verpaririInfecçoesemgeralCascaErythrinafuscaLour.Açacu
(1)Garrafada:verbarbatimao;(2)Garrafada:versucuuba;(3)Garrafada:vererva-doce.
InfecçaoCascaSchnellasp.Escadadejabutı
(1)Banho:verlimao;(2)Banho:veruriza.
InfecçaoSementeCopaíferasp.CobaıbaFabaceae
Innatura:Tiraacascaecolocanaaguaumpoucodafarpa(casca�ibrosa)etomaigualagua.
CurubaFolhaChelonanthusalatus(Aubl.)PullTabacoaranaGentianaceae
Innatura:colocaasementenaaguaedeixaelasoltar oleoao�icagrossoevoce e tomaaquilopareceumoleo.
FolhaPelargoniumgraveolensL'Her.exAiton
Malva-rosa
Banho:esfregaafolhanaaguaedepoispassanocorpodacriançaondeestaa“curuba”.
Geraniaceae(1)Banho:verarruda;(2)Fumentaçao:Vercravo.
Mauolhado(1);Ramodear(2)
Infecçao(1);Reguladoruterino(2);Pra
engravidar(tratamentoconceptivo)(3).
Fabaceae
Fabaceae
Infecçao(1);Emagrecer/Diabetes(2);Regulador
uterino(3)CascaVouacapouaamericanaAubl.AçacuFabaceae
Constipaçao(1);Febre(2)
FolhaCajanuscajan(L.)HuthFeijaocoandoFabaceae
Fabaceae
(1) Cha: ver hortela. Ou Cha: pega a raiz domarupazinhofervenaaguapordoisminutosetampaapanelaedepoistomafrio;(2)Cha:fervearaizdomarupazinhojuntocomadoaçaizeiro.Tomarodiatodonolugardaagua.Oucha:cortaaraizdomarupazinhocomaraizvermelhadoaçaizeiro, folha de magirona- camilitana e o“imbigo”dacastanhaefervetudonaagua.
Diarreia(1);Murruda(2).
BulboEleutherinebulbosa(Mill.)Urb.MarupazinhoIridaceae
(1)Banho:Verarruda;(2)Cha:fervefolhasdacatinga-de-mulatademulataetomacomumcomprimidodeSulfadiazina;(3)Fumenaçao:Vercravo;(4)Cha:ferveasfolhasdacatinga-de-mulata de mulata e toma durante o diatodo,atepassarafebre;(5)Cha:colocoafolhadacatinga-de-mulatademulataprafervernaaguade2a3minutos.Tomarde3vezesaodia,dedoisatresdias;(6)Cha:colocoafolhadacatinga-de-mulata de mulata para ferver aaguade2a3minutos.Tomarde3vezesaodia,dedois a tresdias. Junto commedicamentoparavomito.
Mauolhado(1);Dor(2);Ramodear(3);
Febre(4);Diarreia(5);Vomito(6)
RamosfoliaresAeollanthussuaveolensMart.exSpreng.
Catinga-de-mulataLamiaceae
(1)Banho:socaouferveasfolhascomarumadecheiro,feijao-coando,folhadelaranjadaterra,limao,trevo,japanaefavacao,deixanosereno, tem que fazer hoje para banharamanhademanhacedo;(2)Innatura:socaetiraosumodafolhadaurizaepassanatesta.OuChoque:Verarruda.OuCha:ferveaurizacomarrudaehortela.
Febre(1);Dordecabeça(2)
FolhaPogostemonheyneanusBenth.UrizaLamiaceae
(1)Cha:ferveasfolhasjuntocomchamaetomadeduasaatresvezesadia;(2)Innatura:veruriza;(3)Cha:ferverasfolhasdohortelaeosgalhostambemmisturacomaplantachamaecom sulfadiazina;(4) Cha: ferve as folhas dohortelaeosgalhoscolocanochaplantascomocatinga-de-mulatademulata,marupazinho,ouraiz da chicoria, pode tomar com o elixirparegoricooucomImosec.OuCha:veraçaı;(5)Cha: ferve so as folhasdehortela e tomanolugardaagua;(6)Cha:afolhadehortelaeosgalinhostambemfervejuntocomaplantasete-dorpodetomarjuntocomochaIbuprofeno.
Dordevento(1);Dordecabeça(2);Dentiçao(3);Diarreia(4);Gripe(5);Dordebarriga(6)
RamosfoliaresMenthapulegiumL.HortelaLamiaceae
(1)Choque:temquecolocarnacachaçaafolhadaortigaea�lor(bractease�lor)dovindicaa;(2)Innatura:murchaafolhadaortiganofogodepoisesfregananaocomosefosseenrolarafolha e poe onde estiver inchado ou com aizipra;(3)Cha:Poeparaferverafolhaetomoocha; (4)Cha: Ferve a folha com agua,meldeabelha e alho e toma duas vezes ao dia; (5)Xarope:Colocoaçucar,alho,meiodelimaoeafolha da hortela do maranhao quando elamurchanapanelaecolocodentrodeumvidrotemquetomarumacolherquatrovezesaodia.
Dordecabeça(1);Izipra/inchaço(2);Dornoestomago(3);Gripe(4);Expectorante(5)
FolhaPlectranthusamboinicus(Lour.)Spreng.
Ortigacheirosa/Ortiga/Horteladomaranhao
Lamiaceae
Cont.
65BiotaAmazônia
MariadasGraçasdaSilvaPereiraeMárliaCoelho-Ferreira
Família Nomevernacular Nomecientí�ico Parteutilizada Indicação Mododepreparo
Banho:Esfregaafolhanaaguaedeixanosolpara�icarcheirosoedepoisbanhaacriança.
Murruda
GalhoOriganummajoranaL.MagironabrancaLamiaceae
(1)Cha:ferveasfolhasdoanadoredesete-doresearaizdoaçaizeiro;(2)Cha:fazochacomasfolhasdoanadorecoaetomacomapılulaanadoroudoril;(3)Cha:colocanofogopraferverafolhadoanador,dosetedoredoboldo;(4)Cha:ferveasfolhasdoanadorpor15minutosetomatresvezesaodia.
FolhaPlectranthusbarbatusAndrewsAnadorLamiaceae
Cha:vermarupazinhoRamosfoliaresOriganumvulgareL.MagironacamilitanaLamiaceae
(1)Cha:coloconofogoafolhadosetedorescomadesacacaedesicurijuoufazochasocomsetedores;(2)Cha:fervoafolhadosetedores e depois de pronto pingo extratohepatico;(3)Cha:colocaasfolhaprafervernaaguaecolocoatroveramemgotaoufaçoochaso com as folhas do sete dor; (4) Cha: veranadorouCha:verboldo;(5)Cha:verarruda.OuCha:verhortela; (6)Unguento:unguentocomafolhadosetedoresmurchadanofogoefolhadepenicilinaecolocaazeitedeandiroba,cera de Holanda (gordura de carneiro); (7)Cha:fervesoafolhadosetedoretoma.
FolhaPlectranthusneochilusSchltr.Sete-doresLamiaceae
Banho:veruriza.FebreRamosfoliaresOcimumgratissimumL.FavacaoLamiaceae
Cha:poeasfolhaprafervernaaguaebebeatealiviaro"sofrer"
DorFolhaTetradeniariparia(Hochst.)CoddMirraLamiaceae
Cha:ferveafolhacomagua,maspodemisturarcomleite.
PressaobaixaRamosfoliaresCinnamomumverumJ.Pres.CanelaLauraceae
(1)Innatura:Verpirarucu;(2)Cha:verquebra-pedra.
FolhaGossypiumarboreumL.
QuebrapedraPhyllantaceae
Cha: corto a casca bem "miudinho" e ferve,adulto tomapuroepra criançamistura comleite.
VerminoseCascaFicussp.
MucuracaaPhytolacaceae
(1)Cha:ferveasfolhasdoquebrapedraea"cana"dacana�ixenaagua;(2)Cha:ferveochacomcana�ixeasfolhasdabarbadepaca,quebra-pedra,japana,folhadealgodao,raizdoaçaıebarbatimao.
Pedranosrins(1);Infecçaourinaria(2)
RamosfoliaresPhyllanthusniruriL.
O� leoeletricodeplantaPiperaceae
Cha:colocoaguaeafolhajuntopraferver.AsmaFolhaPetiveriaalliaceaL.
Fumenaçao:Vercravo.RamodearFolha
Folha/Ritidoma/Latex
(1)Cha:verpariri;(2)Cha:ferveasfolhasdatançagenaaguaetomatresvezesnodia.
Infecçaoemgeral(1);Gripe(2)
FolhaPataqueira Banho:verJapana.
(1)Banho:verlimao;(2)Cha:esfregaafolhanamaoecolocaparaferveraaguaoupodeesperaraaguaferveredepoiscolocarafolhadentroetoma.
Constipaçao(1);Pressaoalta(2)
Cont.
Tiraraborrecimentodecriança
Dordebarriga(1);Colicamenstrual(2);
Problemasdeestomago(3);Dores
emgeral(4)
Gases(1);Problemasnofıgado(2);Colica
menstrual(3);Problemadeestomago(4);Dordebarriga(5);Doresemgeral/Doresdebaque
(6);Diarreia(7)
(1)Garrafada:vererva-doce; (2)Garrafada:mistura com vinho ou refrigerante, queijoralado, caroço do abacate seco ralado, nozmoscada,podeguaranaeovodecodorna.
Praengravidar(1);Engordar(2)
SementePerseaamericanaMill.AbacateLauraceae
In�lamaçaonosolhos(1);Dordeurina(2)
AlgodaoMalvaceae
CaxingubaMoraceae
PipercallosumRuiz&Pav.
(1)Cha:ferveafolhaparagastrite;(2)Choque:eu raspo o "tronco" e esses pedacinho delecoloconacachaçaparaizipra;(3)Innatura:olatex e colocado em cima do ferimento prasarar.
Gastrite(1);Izipra(2);Cicatrizaçao(3)
Peperomiapellucida(L.)KunthComidadejabutiPiperaceae
FolhaPlantagomajorL.TançagePlantaginaceae
Conobeascoparioides(Cham.&Schltdl.)Benth.
GripePlantaginaceae
FolhaCymbopogoncitratus(DC.)StapfCapimmarinhoPoaceae
(1)Cha:esfregaafolhanaaguaecolocapraferver;(2)Banho:verlimao.
PressaoBaixa(1);Constipaçao(2)
FolhaCymbopogonnardus(L.)RendleCapimsantoPoaceae
(1)Innatura:bateasfolhasepoeoleiteondeestaferido.OuUnguento:verpirarucu;(2)Cha:colocanofogoasfolhasdoamor-crescidocomerva-cidreiraeagua;(3)Cha:versicuriju.
In�lamaçaodeferimento(1);Dor(2);Problemanoestomago
(3)
FolhaPortulacapilosaL.AmorcrescidoPortulacaceae
(1)Fumentaçoes:Vercravo;(2)Banho:bateasfolhasdaarrudaparatirarosumoepoenaagua para banhar a cabeça, so pelamanha,poisocorpoesta frio.Depoisdeduashoraslavacomaguanormal.OuCha:Ferveaarrudaepoeumpingodeaguadecolonia.Tomaatepassar a dor. Ou choque: soca as folhas dearruda com uriza e mistura em cachaça ecanfora.Podecolocardemanhaedetarde;(3)Banho:esfregaaarrudanaaguacomasfolhasde malva-rosa e de catinga-de-mulata demulataebanhaacabeça.E� bomfazertodososdias. Ou: Coloca uma palma (ramo foliar)dentrodocabelo;(4)Cha:ferveasfolhasdearruda,hortelaesetedores.Tomatresvezesaodiaate�icarmelhor;(5)Ferveasfolhasdaarrudaedahortela,depoiscoa.Tomaumavezaodiaatemelhorar.
Ramodear(1);Dordecabeça(2);Mauolhado(3);Dordebarriga(4);Dordegarganta(5)
RamosfoliaresRutagraveolensL.ArrudaRutaceae
66BiotaAmazônia
UsoediversidadedeplantasmedicinaisemumacomunidadequilombolanaAmazôniaOriental,Abaetetuba,Pará
Família Nomevernacular Nomecientí�ico Parteutilizada Indicação Mododepreparo
Rutaceae Limao Folha/Fruto
(1) Xarope: assa o limao na brasa depoisespremeelenomeldeabelhaepoealho;(2)Banho: para constipaçao coloca a folha dolimao coloca, folha laranja da terra, capimmarinho,capimsanto,efeijao-coandocolocapara ferver e depois deixa no sereno parabanhar a cabeçademanha; (3)Banho:Veruriza;(4)Innatura:espremeumlimaocomaguaeaçucarebebeumaveznodia.
Tosse(1);Constipaçao(2);Febre(constipaçao)
(3);In�lamaçaonagarganta(4)
Cont.
CitrusaurantifoliaSwingle
(1)Cha:colocaasfolhasdesalva,delaranjeirae a raiz do açaızeiro para ferver na agua etomaatepassar;(2)Cha:vercoramina;(3)Banho:paragripeamassaafolhanaaguaedeixanoserenousanacabeçademanha.
Dordebarriga(1);Cansaço(2);Gripe(3)
FolhaCitrussp.LaranjeiraRutaceae
(1)Banho:veruriza;(2)Banho:verlimao.Febre(1);
Constipaçao(2)FolhaCitrussp.LaranjadaTerraRutaceae
(1)Suco:socaasfolhasnaaguaetomadema-drugada,tambempodemisturacomcachaçaaoinvesdeagua;(2)Cha:rasgaafolhaaomeioefervenaaguaetomaduasvezesaodia;(3)Cha:ferveasfolhasdequinacombrecodelue.Temquetomardemadrugadaporqueouteroesta limpo; (4) Banho: folhas de quina combrecodeluenaaguafria.Tomaumavezaodia.
Abortiva(1);Colicamenstrual(2);Suspensao(3);Paludismo(4)
FolhaQuassiaamaraL.QuinaSimaroubaceae
(1)Cha:Poespraferverasfolhasdeervacidre-iraeadoçacomaçucar;(2)Cha:vercoramina;(3)Cha:deixaa folha secarno sol edepoisfervenaagua,podetomarocomprimidoparapressaojunto.
Insonia(1);Cansaço(2);Pressaoalta(3)
FolhaLippiaalba(Mill.)N.E.Br.exP.Wilson
ErvacidreiraVerbenaceae
Fumenaçao:Vercravo.RamodearFolhaCissusverticillata(L.)Nicolson&C.E.Jarvis
Pucadeplantas/CipopucaVitaceae
(1)Suco:abreafolhaetiraaquelamassadedentro,batenoliquidi�icador,colocapirarucujuntoetomadeduasatresvezesaodia;(2)Innatura: para cicatrizaçao coloca a folha paramurcharnofogoetiraaresinaecolocasobreoferimentooupodesoabrirafolhaeraspararesinaecolocardiretamentesobreoferimen-to.Ou:Podenaolevaraofogoecolocararesinafresca no ferimento; (3) Suco: abre a folharetira aquela gosma de dentro e coloca noliquidi�icadorebatecommeldeabelha,etomaduasvezesaodiapodetomartodososdias.
Infecçaourinaria(1);Cicatrizaçao(2);Problemasdeestomago(3)
Folha(mucilagem)Aloevera(L.)Burm.f.BabosaXanthorrhoeaceae
Choque:Ralaaraizdogengibremisturanoalcoolpoecanforaepassanolocaldador.
ReumatismoRaizZingiberof�icinaleRoscoeGengibreZingiberaceae
Choque:verortigaDordecabeçaAlpiniapurpurata(Vieill.)K.Schum.
Folhae�lorVindicaZingiberaceae
(1)Banho:deixonaaguaabatatinhaempeda-cinho e depois banha principalmente gravi-das;(2)Cha:cortaabatatinha(raiz)efervenaagua.
Inchaço(1);Abumina(2)
RaizHedychiumcoronariumJ.KoenigBorboletaZingiberaceae
(1)Cha:ferveasfolhasemisturacomcincogotas de buscopam para criança e 12 praadulto.Tomatresvezesaodia;(2)Cha:colocaasfolhanaaguaedepoisnofogoemisturacomametadedeumaAAS;(3)Cha:verhorte-la;(4)Cha:verhortela.
Dordebarriga(1);Febredecriança(2);Dentiçao(3);Gases(4)
FolhaNaoidenti�icadaChamaIndeterminada
(1) In natura: agua pedaços da casca deveronica e erva-doce. Toma feito agua. Podetomarsemprepraprevenir; (2)Cha: ferveasfolhas com o marupazinho (bulbo) e �icatomandofeitoaguaatemelhorar;(3)Garrafada:comdoislitrosdevinhoacascadojatoba,cascadomurure, cascadoacapu, cascadoce,cascapreciosa, aroeira do Para, barbatimao, nozmoscada,pausurı,queijo ralado,ervadoceeseisovosdecodorna;(4)Cha:vercoramina;(5)Cha:colocapraferveracascadomururecomerva doce e toma antes de dormir; (6)Garrafada:colocanorefrigeranteounovinhoacasca do barbatimao, do jatoba, casca doce,casca preciosa, aroeira do Para, seis ovos decodorna, caroço de abacate seco ralado, umacolherdeerva-doce,1colherdequeijoralado,umacolherdepodeguarana.
Infecçaourinaria(1);Gases(2);Reguladoruterino(3);Problemas
cardıa cos(4);Nervos/disfunçaoeretil(5);Praengravidar(Tratamento
conceptivo)(6)
FolhaNaoidenti�icadaErva-doceIndeterminada
Cha:Bate a "batatinha" e poe na aguapraferverjuntocoma"cana"docana�ixe.
DordeurinaRaiz(batatinha)Naoidenti�icadaAriazinhoIndeterminada
Cha:verchicoria.GripeRamosfoliaresNaocoletadaManjericaoesturaqueIndeterminada
Cha:verboldo.ProblemadeestomagoFolhaNaoidenti�icadaEspinheirasantaIndeterminada
Cha:ferviaafolhanaaguaejuntotinhaquecuraragargantacommeldeabelha.
SarampoFolhaNaocoletadaSabugueiroIndeterminada
67BiotaAmazônia
MariadasGraçasdaSilvaPereiraeMárliaCoelho-Ferreira
Família Nomevernacular Nomecientí�ico Parteutilizada Indicação Mododepreparo
CascaNaoidenti�icadaBarbatimaoIndeterminada
(1)Cha:Verjuca.OuCha:verquebra-pedra;(2)Garrafada:misturacomvinhoourefrigeranteacascadareforcina,cascadobarbatimao,cascadomurure,cascadojatobaecascadoacapu;(3)Garrafada:vererva-doce;(4)Garrafada:vererva-doce.
Infecçaourinaria(1);Infecçao(2);Regulador
uterino(3);Paraengravidar(4)
(1)Cha:ferveasfolhasetomacomparaceta-mol;(2)Cha:verlaranjeira.
Dor(1);Dordebarriga(2)
FolhaNaocoletadaSalvaIndeterminada
Banho:colocaaraiznaaguaebanhaapessoacomfebre.
FebreRaizNaoidenti�icadaBancaesteioIndeterminada
Garrafada:verbarbatimao.InfecçaoCascaNaoidenti�icadaReforcinaIndeterminada
(1)Garrafada:verbarbatimao;(2)Garrafada:vererva-doce;(3)Garrafada:versucuuba;(4)Cha:vererva-doce.
Infecçao(1);Reguladoruterino(2);
Emagrecer/Diabetes(3);Nervos/disfunçao
eretil(4)
CascaNaoidenti�icadaMurureIndeterminada
Garrafada:versucuubaEmagrecer/DiabetesCascaNaoidenti�icadaPaudoCurupiraIndeterminada
(1)Garrafada:versucuuba;(2)Garrafada:vererva-doce.
Emagrecer/Diabetes(1);Reguladoruterino
(2)CascaNaoidenti�icadaPauSurıIndeterminada
(1)Garrafada:vererva-doce;(2)Garrafada:vererva-doce.
Praengravidar(1);Reguladoruterino(2)
CascaNaoidenti�icadaCascadoceIndeterminada
(1)Garrafada:vererva-doce;(2)Garrafada:vererva-doce.
Praengravidar(1);Reguladoruterino(2)
CascaNaoidenti�icadaCascapreciosaIndeterminada
(1)Garrafada:vererva-doce;(2)Garrafada:vererva-doce.
Praengravidar(1);Reguladoruterino(2)
CascaNaoidenti�icadaAroeiradoParaIndeterminada
ConclusãoApesquisamostrouaspectosdosconhecimentosepraticas
relacionados as plantas de uso terapeutico na comunidadequilombolaTauera-Açu.Emesmosetratandoemumapesquisarealizadacomumuniversoamostralformadoemsuamaioriapormulheres,foramelencadasplantascomosmaisdiversosusosnamedicina tradicional, o que demonstra que estas mulheresapresentamumconhecimentoamploediverso.Quantoaosespe-cialistastradicionais,ressalta-seorelevantepapelqueassumemjuntoaestacomunidade,pelosreconhecidossaberesacumuladossobreasplantasmedicinaisdasmatasdeterra firmeevarzea.Ademais, as trocas de conhecimentos e recursos entre elescontribuem para o enriquecimento e manutençao do desteimportanteacervodaculturaquilombola.
Adiversidadedeplantasmedicinaisconhecidaseutilizadaspara a cura e prevençao de doenças, pelos moradores dacomunidadedeTauera-Açuealtaemrelaçaoaestudosrealizados,alemdo que, nao houve especies dominantes na comunidade;PelaanalisedoIn� dicedeSalienciaCultural,foipossıvelconstataroalto numero de especies de origem africana ocupando asprimeiras posiçoes no rank do ISC, e que a flora introduzidaafricananaosocontribuiuparaacomposiçaodafitofarmacopeialocal,comotambemtemumaimportanciaculturalsignificativaparaacomunidade.
Espera-se que o registro e a documentaçao dos saberesetnobotanicos relacionados a medicina tradicional em Tauera-Açu,sejaapreendidoporestacomunidadequilombola,comoumacontribuiçaoapreservaçaodamemoriacoletivaevalorizaçaodamedicina tradicional dentro da comunidade. Demaneiramaisampla, os saberes aqui documentados podem contribuir parasubsidiar polıticas de saude, cultural e ambiental voltadas aosterritoriosquilombolas.
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