Estudo Terminológico das Plantas Medicinais da Comunidade ...

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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZÔNIA - PPGLSA ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMÃO Estudo Terminológico das Plantas Medicinais da Comunidade Remanescente de Quilombola de Pimenteiras, Santa Luzia do Pará - PA BRAGANÇA-PARÁ 2015

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Page 1: Estudo Terminológico das Plantas Medicinais da Comunidade ...

0

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

CAMPUS UNIVERSITAacuteRIO DE BRAGANCcedilA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA

- PPGLSA

ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO

Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade

Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do

Paraacute - PA

BRAGANCcedilA-PARAacute

2015

1

ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO

Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade

Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do

Paraacute - PA

Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do

Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Orientadora Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas

BRAGANCcedilA-PARAacute

2015

2

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFPA

___________________________________________________________________________

Salomatildeo Antonia Edylane Milomes 1978 ndash

Estudo terminoloacutegico das plantas medicinais da comunidade remanescente de

quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do Paraacute - PA Antonia Edylane Milomes Salomatildeo -

2015

Orientadora Raimunda Benedita Cristina Caldas

Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal do Paraacute Campus de Braganccedila

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia Braganccedila 2015

1 Linguagem e Liacutenguas 2 Plantas medicinais -Terminologia 3 Palavras e

expressotildees 4 Quilombos - Santa Luzia do Paraacute(PA) 5 Quilombolas - Santa Luzia do

Paraacute(PA) I Tiacutetulo

CDD 23 ed 4014

___________________________________________________________________________

3

ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO

Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade

Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do

Paraacute - PA

Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo

em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do

Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Aacuterea de concentraccedilatildeo Leitura e Traduccedilatildeo Cultural

Aprovada em ______ ______ ______

Conceito _________________________

Parecer Final ______________________

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas (UFPA-Campus de Braganccedila)

Orientadora

________________________________________________

Prof Dr Elias Mauriacutecio da Silva Rodrigues (UFRA-Campus Capanema)

Membro Externo

_________________________________________________

Profordf Drordf Tabita Fernandes da Silva (UFPA-Campus de Braganccedila)

Membro Interno

_________________________________________________

Profordf Drordf Carmen Luacutecia Reis Rodrigues (UFPA-Campus de Castanhal)

Suplente

4

Dedico este trabalho ao meu esposo

Haroldo Jorge e minha filha Maria

Lorenna pelo apoio incondicional e

constante incentivo Aos meus familiares e

amigos pela paciecircncia incentivo e

amizade

5

AGRADECIMENTOS

A DEUS

Ele colocou pessoas tatildeo especiais a meu lado sem as quais natildeo conseguiria alcanccedilar e nem

superar as dificuldades dessa caminhada Meu eterno louvor e gratidatildeo ao Senhor de minha

alma Obrigada sempre

Agrave Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas

Por acreditar em mim me mostrar o caminho da ciecircncia por ser exemplo de profissional e de

mulher a qual sempre seraacute modelo na minha vida Muitiacutessimo obrigada

Aos Professores

Profa Dra Raimunda Benedita Cristina Caldas Prof Dr Guumlnter Karl Pressler Profa Dra

Sylvia Maria Trusen Profa Dra Carmen Lucia Reis Rodrigues Profa Dra Tabita Fernandes

da Silva Profa Dra Roberta Alexandrina da Silva Prof Dr Joseacute Guilherme dos Santos

Fernandes Prof Dr Pedro Petit Pentildearrocha Profa Dra Georgina Negratildeo Kalife Cordeiro

Prof Dr Flavio Leonel Abreu da Silveira Prof Dr Luis Junior Costa Saraiva Prof Dr

Salomao Antonio Mufarrej Hage Profa Dra Nilsa Brito Ribeiro Profa Dra Maria do

Perpetuo Socorro Galvatildeo Simotildees pelas contribuiccedilotildees nas disciplinas ministradas e no curso

em geral Obrigada a todos

Ao Prof Dr Elias Mauriacutecio

Pela amizade que transcende ao tempo pelo incentivo e contribuiccedilatildeo para que eu pudesse

realizar esse sonho Meu sincero e especial obrigada

Ao Prof Dr Jair Cecim

Que me fortaleceu e me fez tentar natildeo ser a melhor mas fazer o melhor de mim Obrigada

Agrave senhora Domingas Alves

Suas contribuiccedilotildees foram basilares nesse estudo Sempre disponiacutevel e disposta a ajudar com

seus saberes a senhora me fez enxergar que existe um mundo infinito de conhecimentos que

ultrapassam geraccedilotildees atraveacutes das lutas e das conquistas alcanccediladas pela forccedila de um povo

Muito obrigada por tudo

Agrave senhora Nazareacute Guirard

Que se mostrou incansaacutevel e atenciosa contribuindo significativamente com informaccedilotildees

fundamentais nos trabalhos com as plantas e respeito agrave natureza Sempre obrigada

Aos moradores quilombolas de Pimenteiras

Por me receberem e acolherem na comunidade respeitando e contribuindo espontaneamente

para que o trabalho demonstrasse sua histoacuteria e identidade Todos merecem meu eterno

agradecimento

6

Aos meus pais Zaqueu Alves e Lucia Salomatildeo

A quem amo muito obrigada pelo carinho paciecircncia e incentivo Meu infinito

agradecimento Amo muito vocecircs

Aos meus irmatildeos Joseacute Weliton e Maria Helem

Pela dedicaccedilatildeo e auxiacutelio nos momentos difiacuteceis vividos em nossas vidas Obrigada

Ao meu esposo Haroldo Jorge

Meu amor que sempre acreditou em minha capacidade meu companheiro que se dedicou

espontaneamente a me acompanhar ajudar e me equilibrar nos momentos de dificuldades

Devido ao seu companheirismo amizade paciecircncia compreensatildeo apoio alegria e amor este

trabalho pocircde ser concretizado Obrigada por ter feito do meu sonho o nosso sonho Te amo

Agrave minha pequena e amada filha Maria Lorenna

Sua presenccedila em minha vida trouxe um incentivo a mais para continuar Natildeo eacute por mim mas

por vocecirc meu amor que sempre busco alcanccedilar e ser o melhor Amo vocecirc meu cheirinho

As amigas Alaiacutece Pereira Alcilene Morais Sara do Socorro

Que diretamente fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando Meu

eterno agradecimento pela amizade Valeu meninas

As amigas do Mestrado

Pelos momentos divididos juntos especialmente agrave Myrceia agrave Michelly Adriana Elizabete e

Aldilene que se tornaram verdadeiras amigas e tornaram mais leve meu trabalho Obrigada

por dividir comigo as anguacutestias e alegrias e ouvirem minhas bobagens Foi bom poder contar

com vocecircs

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Por abrir as portas para que eu pudesse realizar este sonho que eacute a minha Dissertaccedilatildeo de

Mestrado Vocecircs proporcionaram-me mais que a busca de conhecimento teacutecnico e cientiacutefico

mas uma liccedilatildeo de vida Ningueacutem vence sozinho OBRIGADA A TODOS

7

ldquoHaacute um casamento que ainda natildeo foi feito no Brasil entre o saber

acadecircmico e o saber popular O saber popular nasce da experiecircncia

sofrida dos mil jeitos de sobreviver com poucos recursos O saber

acadecircmico nasce do estudo bebendo de muitas fontes Quando esses

dois saberes se unirem seremos invenciacuteveisrdquo

Leonardo Boff (1938)

8

RESUMO

O presente trabalho traz um levantamento dos termos sobre as plantas de uso medicinais

catalogados e utilizados pelos moradores remanescentes de quilombola da comunidade de

Pimenteiras pertencente agrave cidade de Santa Luzia do Paraacute no Estado do Paraacute cujo

procedimento de anaacutelise parte de conhecer as praacuteticas dos saberes no fazer uso das plantas

medicinais nessa comunidade Foram elencados aspectos relacionados com a comunidade

suas origens e seus saberes sobre as plantas medicinais que se tornaram siacutembolo de

identificaccedilatildeo cultural dos moradores quilombolas Assim nosso propoacutesito eacute mostrar que a

linguagem eacute algo que identifica e marca as caracteriacutesticas de um grupo ou de um indiviacuteduo

do mesmo modo que a liacutengua de especialidade sobre as plantas de uso medicinal utilizada

pelos moradores quilombolas revela uma identidade cultural forte desse grupo Os estudos

terminoloacutegicos de Krieger e Finatto (2004) serviram de base para analisarmos os termos e

suas especificidades no contexto particular da linguagem assim como a abordagem

socioterminoloacutegica de Faulstich (1994 1995 1996 2001 2003 2006) propiciou observar

por meio dos termos suas construccedilotildees variaccedilotildees e definiccedilotildees no que concerne ao

conhecimento repassado entre as geraccedilotildees Construiacutemos este trabalho utilizando uma

metodologia com instrumentos usados antes durante e apoacutes a pesquisa para a anaacutelise dos

dados coletados Os recursos da informaacutetica entrevistas transcriccedilotildees de diaacutelogos orais fichas

terminoloacutegicas e registro de imagens foram alguns dos meacutetodos usados na construccedilatildeo do

trabalho Em suma observamos que o saber da cura por meio das plantas medicinais estaacute

preservado na memoacuteria e na liacutengua dos moradores quilombolas da comunidade de

Pimenteiras

Palavras-chave Plantas Medicinais Saber Tradicional Identidade Cultural Terminologia

Socioterminologia Termo

9

ABSTRACT

This paper presents a survey of the terms on the medicinal use of plants cataloged and used by

the remaining residents of Pimenteiras community maroon belonging to the city of Santa

Luzia do Paraacute in the state of Para whose analysis procedure of knowing the practices of

knowledge to make use of medicinal plants in this community Aspects of the community

were listed their origins and their knowledge about medicinal plants that have become a

symbol of cultural identification of quilombo residents So our purpose is to show that

language is something that identifies and marks the characteristics of a group or an individual

just as the specialty of language on the medicinal use of plants used by the quilombo residents

reveals a strong cultural identity of this group The terminology studies Krieger and Finatto

(2004) formed the basis for reviewing the terms and their specificities in the particular context

of language as well as socioterminological approach Faulstich (1994 1995 1996 2001

2003 2006) led to observe through terms of their buildings variations and definitions

concerning the knowledge passed on between generations We developed this work using a

methodology tools used before during and after searching for the analysis of the collected

data computers resources interviews oral dialogue transcripts terminology records image

recording these were some of the methods used in the development of the work In short we

see that the knowledge of healing through herbs are preserved in memory and language of the

quilombo residents in Pimenteiras community

Keywords Medicinal Plants Traditional knowledge Cultural identity Terminology

Socioterminology Term

10

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade 33

Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras 33

Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas 34

Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada 35

Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda 36

Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas 37

Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento 37

Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena 44

Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico 44

Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o

funcionamento do organismo 45

Fotografia 11 ndash Salsa dissecada 45

Fotografia 12 ndash Canela dissecada 46

Fotografia 13 ndash Vinagreira dissecada 46

Fotografia 14 ndash Mucuracaacute 95

Fotografia 15 ndash Folha do Mucuracaacute 95

Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti 98

Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti 98

Fotografia 18 ndash Noni 100

Fotografia 19 ndash Folha do Noni 100

Fotografia 20 ndash Pataca 102

Fotografia 21 ndash Folha da Pataca 102

Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata Pasto 105

Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem 105

Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo 108

Fotografia 25 ndash Folha de Vassoura de botatildeo 108

Fotografia 26 ndash Nambu Tutano 110

Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano 110

Fotografia 28 ndash Paratudo 115

Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo 115

Fotografia 30 ndash Gergelim Branco 118

Fotografia 31 ndash Folha do Gergelim Branco 118

Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho 121

Fotografia 33 ndash Folha do Urucum Vermelho 121

Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho 123

Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho 123

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute 96

Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti 98

Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni 100

Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca 103

Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-de-Muquem 105

Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo 108

Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano 110

Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo 112

Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo 115

Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco 118

Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho 121

Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho 123

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 PIMENTEIRA OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE

QUILOMBOLA 18

21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA 19

211 Remanescentes o que restou 22

212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras 25

22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO 28

221 Ladainha agrave Nossa Senhora do Livramento 31

222 AQUAFAP O desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola

nos saberes das plantas medicinais 39

223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico 42

23

SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM

PIMENTEIRAS 47

231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes 51

232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais 53

233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes 55

234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais 58

3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 61

31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL 62

311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular 65

32

A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS

ESPECIALIZADOS 68

321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada 70

33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL 73

331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da

Socioterminologia 76

332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico 79

4 METODOLOGIA 85

41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE

PIMENTEIRAS 86

42 A PESQUISA DE CAMPO 87

43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS

DADOS 89

431 Entrevistas 89

432 Recursos de anaacutelise dos dados 90

433 Termos Catalogados 90

5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE

UM POVO 92

51 MUCURACAacute 94

52 ERVA DE JABUTI 97

53 NONI 100

54 PATACA 102

55 PAU-DE-MUQUEM 104

56 VASSOURA DE BOTAtildeO 107

57 NAMBU TUTANO 109

58 QUEBRA PEDRA ROXO 112

59 PARATUDO 114

13

510 GERGELIM BRANCO 117

511 URUCUM VERMELHO 120

512 ERVA DE PASSARINHO 122

6 CONCLUSAtildeO 127 REFEREcircNCIAS 132 APEcircNDICES 143

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

ldquoSou apenas um escritor Um cultivador Um jardineiro Um florista A minha

felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me

excita quando acabo de as colherrdquo

Joaquim Pessoa (1948)

A liacutengua traz em seu contexto a identidade cultural de um povo A partir desta

questatildeo procuramos discorrer na presente dissertaccedilatildeo sobre o ldquoEstudo Terminoloacutegico das

Plantas Medicinais da Comunidade Remanescente de Quilombola de Pimenteiras em Santa

Luzia do Paraacute ndash PArdquo As experiecircncias vividas em grande parte de minha vida na cidade de

Santa Luzia do Paraacute me fizeram conhecer diversas comunidades proacuteximas agrave regiatildeo

comunidades com caracteriacutesticas fortes que marcam a identidade dos moradores e de toda

sociedade luziense

Por conhecer e vivenciar os saberes e a cultura das comunidades de Santa Luzia do

Paraacute escolhemos particularmente a comunidade de Pimenteiras por ser uma regiatildeo rica em

sua biodiversidade e por querer mostrar os saberes que os moradores quilombolas possuem

sobre a terra suas origens e seus saberes medicinais Contribuiu para o levantamento da

pesquisa a receptividade dos moradores de Pimenteiras que permitiram conhecer melhor sua

cultura diversidade na natureza e seus anseios de conseguir a titularidade da terra quilombola

A comunidade de Pimenteiras fica localizada na regiatildeo rural de Santa Luzia do Paraacute

a cerca de 30 km de distacircncia da cidade em uma estrada sem asfalto com caminho de difiacutecil

acesso o que inviabiliza agrave populaccedilatildeo desta comunidade assistecircncia agraves suas necessidades

baacutesicas Formada por moradores de origem quilombola muitas famiacutelias chegaram a este local

haacute muitos anos tendo saiacutedo da comunidade de Narciacutesea na cidade de Capitatildeo Poccedilo ndash PA em

busca de melhorias para o sustento de suas famiacutelias Pimenteiras eacute uma comunidade cujos

moradores buscam por meio do conhecimento e valorizaccedilatildeo de suas raiacutezes fortalecer seus

viacutenculos com a terra e a natureza a sua volta Deste contato especial com a natureza os

moradores conhecem e utilizam seus saberes na aacuterea da medicina tradicional

O saber da cura por meio da medicina popular continua preservado no falar dos

moradores remanescentes de quilombolas pelas informaccedilotildees sobre a influecircncia negra e

tambeacutem indiacutegena A manipulaccedilatildeo os cuidados com as plantas a forma de cultivo as relaccedilotildees

associativas nos nomes das plantas medicinais vecircm de longas geraccedilotildees que sofreram e

15

sobreviveram com a ajuda da natureza Eacute diante do saber preservado na liacutengua dos moradores

quilombolas que desenvolvemos este estudo sobre os termos das plantas medicinais

Com o intuito de conservar o saber das geraccedilotildees mais antigas um pequeno grupo da

comunidade quilombola registrou amostras de plantas medicinais da regiatildeo em que vivem

cada espeacutecie com os nomes de uso popular que os moradores conhecem pois observamos

que dentre os nomes registrados para uma mesma espeacutecie de planta ocorrem variaccedilotildees na

nomemclatura

Entender como uma comunidade guarda e preserva seus saberes por meio da liacutengua eacute

de suma importacircncia para o andamento deste estudo de cunho popular e cientiacutefico

Compreender como a liacutengua se mistura e se reinventa nos usos de um povo eacute o que mais

chama nossa atenccedilatildeo nos aspectos dos estudos do termo Levando em consideraccedilatildeo que

nenhuma Liacutengua eacute homogecircnea efetivamos um pequeno estudo sobre a liacutengua suas relaccedilotildees e

interferecircncias na sociedade Percebemos que a utilizaccedilatildeo das plantas medicinais eacute uma praacutetica

universal na medicina popular pois eacute o resultado do acuacutemulo de conhecimentos empiacutericos

sobre a accedilatildeo dos vegetais por diversos grupos eacutetnicos

No decorrer dos estudos observamos que haacute diversas expressotildees populares

direcionadas ao uso dos vegetais para a sauacutede tais como ervas caseiras folhas medicinais

vegetais medicinais ervas medicinais e plantas medicinais Estas diferentes expressotildees dos

termos ocorre por questotildees culturais que variam de uma comunidade para outra De modo

particular utilizamos neste trabalho os termos ldquoplantas de uso medicinalrdquo ou ldquoplantas

medicinaisrdquo Por fazer parte do falar de uma comunidade os termos catalogados sobre as

plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras foram analisados no contexto da linguagem

de especialidade que eacute campo de estudo da Terminologia

Dentre as ciecircncias que estudam o leacutexico a Terminologia1 estuda um subconjunto da

liacutengua relacionado a uma aacuterea especiacutefica do conhecimento humano esse subconjunto eacute

composto por signos especializados que chamamos de termos Quando o uso da liacutengua passa

por um processo de transformaccedilatildeo no qual certas palavras adquirem uma significaccedilatildeo dentro

de um domiacutenio de conhecimento particular entre um grupo de falantes que compartilham da

mesma aacuterea de conhecimento essa particularizaccedilatildeo eacute de domiacutenio da linguagem de

especialidade e o termo eacute seu objeto de uso

Eacute nesse contexto que a Terminologia direciona seu olhar ao fator social na anaacutelise

dos dados linguiacutesticos Com isso surge a Socioterminologia como um campo teoacuterico e

1 Haacute uma tendecircncia a convencionar que Terminologiagrafada com T maiuacutesculo eacute indicativa de campo de

conhecimento e com t minuacutesculo eacute referente ao conjunto de termos de uma especialidade (KRIEGER 2004)

16

aplicado que segundo Faulstich (1995) eacute uma releitura da terminologia tradicional que

incorpora aos estudos do termo o aparato social considerando nesse aspecto os fatores de

variaccedilatildeo linguiacutestica Gaudin (1993) tambeacutem edificou seus estudos terminoloacutegicos por meio de

outras aacutereas de conhecimento como a Sociolinguiacutestica e a Sociologia campos amplamente

estudados pela Socioterminologia que observa a dimensatildeo social na comunicaccedilatildeo

especializada sem estar separada dos discursos em que os termos emergem

O estudo do termo diante da perspectiva socioterminoloacutegica traz o registro e anaacutelise

das variantes da linguagem de especialidade De acordo com Faulstich (1995 p 285) ldquoo

princiacutepio subjacente da pesquisa socioterminoloacutegica eacute o registro da(s) variante(s) que leva em

conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico em que os termos circulam []rdquo

Em consideraccedilatildeo ao que foi explanado este trabalho tem o proacuteposito de verificar os

registros dos termos analisando e identificando os usos de domiacutenio dos mesmos sobre as

plantas medicinais que por conseguinte distinguem a comunidade de Pimenteiras Assim

selecionamos como objeto de estudo os termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

que foram catalogadas pelos moradores quilombolas quando criaram o projeto do

Bioenergeacutetico na regiatildeo Muitos dos termos alistados possuem nomenclatura diferenciada em

relaccedilatildeo aos usos comuns da liacutengua Essas particularidades vieram de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo com

o repasse dos saberes entre famiacutelias e amigos principalmente entre as mulheres Sob o prisma

dos pressupostos da Terminologia e da Socioterminologia daremos enfoque no processo de

constituiccedilatildeo do leacutexico semacircntico conceitual dos termos sobre as plantas medicinais de

Pimenteiras observando se este saber especializado sobre as plantas traz traccedilos da identidade

cultural dos moradores quilombolas

Por uma questatildeo didaacutetica nosso trabalho dissertativo foi organizado em cinco

capiacutetulos No primeiro capiacutetulo oferecemos uma visatildeo geral sobre o presente estudo a ser

direcionado para a anaacutelise dos dados registrados nessa dissertaccedilatildeo explicando alguns

conceitos baacutesicos que seratildeo fundamentais para situar a localidade os sujeitos envolvidos no

estudo dos termos relativos agrave comunidade e as plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras

No segundo capiacutetulo apresentamos os aspectos relacionados agrave comunidade de

Pimenteiras suas origens ndash quilombola e da comunidade ndash os remanescentes de Pimenteiras

a cultura religiosa ao lado de suas lutas pela terra Em seguida apresentaremos o trabalho

com o Bioenergeacutetico e o iniacutecio do processo de catalogaccedilatildeo dos termos analisando as relaccedilotildees

entre o saber e o conhecimento para a construccedilatildeo dos sujeitos de saberes Demarca-se

tambeacutem a presenccedila do gecircnero feminino preponderante nas relaccedilotildees com o conhecimento

17

tradicional nesse contexto representado por Domingas Alves do Nascimento como uma

grande personalidade na comunidade e responsaacutevel por buscar sempre ampliar os saberes que

possui sobre as plantas fazendo com que a comunidade de Pimenteiras tenha como identidade

cultural seus saberes preservados e utilizados entre as geraccedilotildees afrodescendentes

No terceiro capiacutetulo expomos a base teoacuterica deste trabalho ancorada nos estudos

Terminoloacutegicos e Socioterminoloacutegicos verificando assim questotildees sobre a importacircncia da

liacutengua na identidade cultural de um povo Em seguida reconhecemos o valor das plantas

medicinais para o conhecimento cientiacutefico e popular como tambeacutem nos aspectos relacionados

agraves ciecircncias do termo tais como a Terminologia e a Socioterminologia fundamentais para

compreendermos a importacircncia da terminologia nos estudos especializados da liacutengua assim

como o estudo do Termo como base para o estudo socioterminoloacutegico

No quarto capiacutetulo abordamos sobre os procedimentos utilizados na pesquisa de

campo na comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras apontando os objetivos

gerais e especiacuteficos do trabalho relatando sobre as entrevistas a catalogaccedilatildeo dos termos sobre

as plantas medicinais os recursos utilizados para o tratamento dos dados e em seguida o

organograma do conhecimento sobre a cultura das plantas medicinais

Todo o processo de estudo percorrido nesta dissertaccedilatildeo culminaraacute no quinto capiacutetulo

no qual apresentamos a anaacutelise Socioterminoloacutegica dos termos de Pimenteiras Nesse

capiacutetulo seguimos algumas etapas na anaacutelise do termo no contexto da variaccedilatildeo terminoloacutegica

observando a linguagem como representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras e os

aspectos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinais Mostramos como os

termos variam de acordo com as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos aleacutem de analisar

se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade medicinal verificando

por meio da definiccedilatildeo de cada termo sua descriccedilatildeo dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber

especializado

Diante das variaccedilotildees dos termos e portanto das diversas definiccedilotildees utilizamos no

processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Enilde Faulstich uma

amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees sobre os termos verificando o aspecto da

funcionalidade do termo dentro da linguagem especializada Com isso observamos que o

conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras eacute a marca de seus

antepassados sua identidade sua histoacuteria de sua linguagem especializada diante da

diversidade na natureza

A partir de agora iniciamos os estudos natildeo apenas dos termos sobre as plantas

medicinais mas sobretudo sobre a histoacuteria de um povo que busca viver e vencer as

18

dificuldades histoacutericas passadas entre as geraccedilotildees para que hoje seus registros sejam

marcados pelas conquistas alcanccediladas e as futuras

2 PIMENTEIRA2 OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE

QUILOMBOLA

ldquoPodemos dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de

identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator

extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo em sirdquo

Michel Pollak (1992)

Desde os primeiros focos de resistecircncia dos africanos contra a escravidatildeo colonial os

estudos sobre os negros constitui assunto relevante principalmente na formaccedilatildeo de

comunidades afrodescendentes mais conhecidas como Quilombos3

No que diz respeito aos afrodescendentes4 a comunidade de Pimenteiras eacute uma das

muitas comunidades formadas por famiacutelias quilombolas os moradores da regiatildeo chegaram haacute

muito tempo da comunidade de Narciacutesea localizada na regiatildeo de Capitatildeo Poccedilo ndash PA

Pesquisas da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares5 apontam que o maior nuacutemero de

associaccedilotildees quilombolas se encontra nas regiotildees do Paraacute e Maranhatildeo chegando a cerca de

100 comunidades existentes nessas aacutereas Sabe-se que natildeo haacute comunidades em isolamento

total existe sempre uma relaccedilatildeo contiacutenua entre os sujeitos e com o meio em que vivem No

caso da comunidade de Pimenteiras isso natildeo eacute diferente proacuteximas agrave regiatildeo existem outras

comunidades que tambeacutem vivenciam a falta de recursos que possam melhorar a vida dos

moradores no campo As comunidades como Broca Piquiaacute Cantam Fuzil natildeo tecircm

2O termo Pimenteira no singular refere-se agraveterra em que vivem os moradores remanescentes de Quilombo

Pimenteiras no plural refere-se agrave comunidade Tabela sobre a comunidade no site

httpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501 3Quilombo eacute o nome dado no Brasil aos locais de refuacutegio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o

periacuteodo colonial e imperial Nesses locais os escravos passavam a viver em liberdade criando novas relaccedilotildees

sociais Muitos quilombos existiram no Brasil e centenas deles ainda existem formando o que hoje eacute chamado de comunidades quilombolas 4Afrodescendente eacute aquele que eacute ou que descende de famiacutelia ou indiviacuteduo vindo do negro africano 5A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares eacute uma entidade puacuteblica brasileira vinculada ao Ministeacuterio da Cultura A entidade

teve seu Estatuto aprovado pelo Decreto nordm 418 de 10 de janeiro de 1992 e tem como missatildeo os preceitos

constitucionais de reforccedilos agrave cidadania agrave identidade agrave accedilatildeo e agrave memoacuteria dos segmentos eacutetnicos dos grupos

formadores da sociedade brasileira aleacutem de fomentar o direito de acesso agrave cultura e agrave indispensaacutevel accedilatildeo do

Estado na preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees afro-brasileiras No artigo 1ordma Lei institui que se promova a

preservaccedilatildeo dos valores culturais sociais e econocircmicos decorrentes da influecircncia negra na formaccedilatildeo da

sociedade brasileira Preocupada com a igualdade racial e com a valorizaccedilatildeo das manifestaccedilotildees de matriz

africana a Palmares formula e implanta poliacuteticas puacuteblicas que potencializam a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra

brasileira nos processos de desenvolvimento do Paiacutes Foi o primeiro oacutergatildeo federal criado para promover a preservaccedilatildeo a proteccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo da cultura negra Pesquisa feita no dia 10012015 as 1155h no site

httpwwwpalmaresgovbr

19

moradores com descendecircncia quilombola mas assim como em Pimenteiras os moradores

natildeo permanecem ldquoestaacuteticosrdquo no tempo todos possuem caracteriacutesticas particulares que

distinguem suas identidades pois a vida eacute dinacircmica

O negro se mostra figura atuante isto estaacute presente nos estudos de Salles (1988 p 67

apud WAGLEY 1977 e GALVAtildeO 1955) que expotildee

Encontraram o negro solidaacuterio com o iacutendio nas vicissitudes sociais Natildeo importa se

negro autecircntico ou se iacutendio autecircntico O passaporte da autenticidade naquele

contexto jaacute havia perdido tocircda ou quase tocircda importacircncia Ambos despojados dos

seus padrotildees culturais quebrados definitivamente amalgamados numa nova cultura

resultante da fusatildeo de trecircs componentes eacutetnicos O processo de desenvolvimento

dessa cultura visto superficialmente eacute pouco acelerado Visto poreacutem em

profundidade mostra-se extremamente ativo Sobretudo no que diz respeito agraves convergecircncias culturais

Visualizando por este acircngulo a figura do negro observaremos no toacutepico seguinte as

origens e significados dos termos Quilombola e Remanescente para que possamos identificar

as marcas de um povo que lutou e alcanccedilou sua liberdade Em seguida verificaremos com

mais sagacidade os estudos de Vicente Salles e Ilka Boaventura Leite sobre o negro

observando sua histoacuteria suas conquistas e as influecircncias do negro no Paraacute e na comunidade

de Pimenteiras em particular

21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA

Iniciamos este assunto com a pergunta que muitos ainda hoje fazem e nem todos

respondem ndash Quem satildeo os negros Entretanto de forma mais profunda responderemos agrave

seguinte pergunta ndash Quem satildeo os Quilombolas

Alguns autores constituem uma anaacutelise do termo e com isso explicam que a palavra

quilombo se refere a um tipo de instituiccedilatildeo sociopoliacutetica militar conhecida na Aacutefrica Central

principalmente na regiatildeo constituiacuteda pela atual Repuacuteblica Democraacutetica do Congo (Zaire) e

Angola conforme expotildee o professor Kabengele Munanga6 (1995) Para ele a expressatildeo

6 KabengeleMunanga eacute Graduado em Antropologia Cultural pela UniversiteacuteOfficielle Du Congo agrave Lubumbashi

(1969) e Doutorado em Ciecircncias Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de Satildeo Paulo (1977)

Atualmente eacute professor titular da Universidade de Satildeo Paulo Tem experiecircncia na aacuterea de Antropologia com ecircnfase em Antropologia das Populaccedilotildees Afro-Brasileiras atuando principalmente nos seguintes temas racismo

identidade identidade negra Aacutefrica e Brasil

20

quilombo vem de ldquoochilombordquo em um dialeto de Angola a professora Leite7 (2000) por sua

vez apresenta que sua etimologia significa ldquobantordquo e exprime ldquoacampamento guerreiro na

florestardquo e foi difundida no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios

decretos e atos visando referir-se agraves integraccedilotildees de apoio muacutetuo criadas pelos ldquorebeldesrdquo ao

sistema escravocrata e agraves suas reaccedilotildees lutas e organizaccedilotildees pelo fim da escravidatildeo no paiacutes

Natildeo obstante esta palavra significou libertaccedilatildeo e conquistas para os libertos alcanccedilando

amplas dimensotildees e conteuacutedos

No decorrer da histoacuteria diversas circunstacircncias envolvendo o negro demonstraram

grandes lutas contra os vaacuterios artifiacutecios de expropriaccedilatildeo de seus corpos bens e direitos Eacute

nesse contexto de servidatildeo do negro diante do homem branco que Salles (1988 p 203) expotildee

O processo tradicional da busca de liberdade consistiu invariavelmente na fuga para

os matos onde os negros se reuniam solidaacuterios entre si e formavam os quilombos

A fuga deve ter sido no comeccedilo soluccedilatildeo bastante difiacutecil e arriscada aleacutem de

empreitada individual Na floresta o negro se achava sozinho Agraves vezes conseguia

chegar a alguma aldeia indiacutegena e por sorte acabava vivendo amistosamente com

os silviacutecolas Bandeava-se desta forma para grupos totalmente estranhos e que com

ele soacute tinha um traccedilo comum o oacutedio ao branco dominador Haacute na crocircnica da

escravidatildeo muitos casos ilustrativos e que destroem o mito da incompatibilidade

eacutetnica

Os negros enfrentaram muitos questionamentos sobre a legitimidade de se acomodar

num lugar cujo espaccedilo pudesse ser organizado conforme suas condiccedilotildees valores e praacuteticas

culturais A repressatildeo ao negro fez com que ele fosse segregado das praacuteticas sociais Hoje esta

exclusatildeo estaacute demonstrada nos censos econocircmicos e nos mais recentes levantamentos

socioeconocircmicos realizados no paiacutes (HASENBALG SILVA 1988) Somente no Brasil apoacutes

a aboliccedilatildeo em 1888 os negros sofrem com a desqualificaccedilatildeo de sua cor sendo ignorados pelo

poder puacuteblico nos lugares em que habitam desprovidos das necessidades baacutesicas de todo ser

humano Eacute diante desta realidade que Leite (2000) expotildee que os descendentes de africanos

nos uacuteltimos vinte anos tecircm procurado se organizar em associaccedilotildees quilombolas

reivindicando o direito agrave permanecircncia e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas

e cultivadas para moradia e sustento da famiacutelia bem como o livre exerciacutecio de suas praacuteticas

crenccedilas e valores apreciados em sua especificidade Diante disto Leite (2000 p 335)

prossegue

7 Ilka Boaventura Leite eacute professora do Departamento e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Antropologia da

Universidade Federal de Santa Catarina fundadora e coordenadora do NUER (Nuacutecleo de Estudos de Identidades

e Relaccedilotildees Intereacutetnicas) Suas pesquisas estatildeo situadas nas aacutereas de teoria antropoloacutegica literatura de viagem

relaccedilotildees intereacutetnicas etnologia afro-brasileira arte e etnicidade Tem publicado artigos sobre literatura de viagens cultura e identidade negra quilombos direitos eacutetnicos poliacuteticas de identidade arte e diaacutespora africana

periacutecias antropoloacutegicas

21

Tudo isto se esclarece quando entra em cena a noccedilatildeo de quilombo como forma de

organizaccedilatildeo de luta de espaccedilo conquistado e mantido atraveacutes de geraccedilotildees O

quilombo entatildeo na atualidade significa para esta parcela da sociedade brasileira

sobretudo um direito a ser reconhecido e natildeo propriamente e apenas um passado a ser rememorado Inaugura uma espeacutecie de demanda ou nova pauta na poliacutetica

nacional afrodescendentes partidos poliacuteticos cientistas e militantes satildeo chamados a

definir o que vem a ser o quilombo e quem satildeo os quilombolas

O simples ato de apropriaccedilatildeo da terra para viver passou a significar um ato de luta e

guerra Assim pensar na questatildeo territorial faz discorrer tambeacutem na definiccedilatildeo sobre o termo

ldquoQuilombordquo ndash que reporta agrave visatildeo distorcida de negros fugitivos ndash e abordar as diferentes

situaccedilotildees que cobriram a existecircncia de Terras de Quilombos no Brasil Para isto Almeida

(1998 p 14) expotildee que eacute necessaacuterio que ldquonos libertemos da definiccedilatildeo arqueoloacutegica associada

ao termo Quilombordquo Segundo o autor as comunidades Quilombolas sempre estabeleceram

uma clara rede de interaccedilatildeo com as sociedades locais contestando o estereoacutetipo do isolamento

geograacutefico A qualidade e intensidade da interaccedilatildeo foi o que possibilitou a construccedilatildeo de uma

configuraccedilatildeo social cuja autonomia tinha tambeacutem suporte nessa dinacircmica de relaccedilotildees sociais

e nas formas de usar e ocupar a terra (ALMEIDA 1988 p 18)

Na conceituaccedilatildeo e significaccedilatildeo da palavra Quilombo Siqueira e Nascimento (1987)

apud Leite (1999 p 15) explicam que no Brasil a tradiccedilatildeo popular apresenta muitas

variaccedilotildees no significado da referida palavra

[] ora associado a um lugar (ldquoquilombo era um estabelecimento singularrdquo) ora a

um povo que vive neste lugar (ldquoas vaacuterias etnias que o compotildeemrdquo) ou a

manifestaccedilotildees populares (ldquofestas de ruardquo) ou ao local de uma praacutetica condenada

pela sociedade (ldquolugar puacuteblico onde se instala uma casa de prostitutasrdquo) ou a um

conflito (uma ldquogrande confusatildeordquo) ou a uma relaccedilatildeo social (ldquouma uniatildeordquo) ou ainda a um sistema econocircmico (ldquolocalizaccedilatildeo fronteiriccedila com relevo e condiccedilotildees climaacuteticas

comuns na maioria dos casosrdquo)

Para Leite (2000) a quantidade de significados faz com que o uso do termo

demonstre uma grande variedade de experiecircncias que generalizam o fenocircmeno enquanto

dimensatildeo poliacutetica de uma formaccedilatildeo social diversa em que evidenciam a persistecircncia das mais

diversas manifestaccedilotildees de resistecircncia e luta que os negros delinearam em toda a nossa

histoacuteria Eacute nesse contexto que Leite (2000 p 338) assim conclui

[] inicia-se a longa etapa de construccedilatildeo da identidade destes grupos seja pela

formalizaccedilatildeo da diferenciaccedilatildeo eacutetnico-cultural no acircmbito local regional e nacional

seja pela consolidaccedilatildeo de um tipo especiacutefico de segregaccedilatildeo social e residencial dos

negros chegando ateacute os dias atuais []

22

A variaccedilatildeo de significados para o termo quilombo traz a construccedilatildeo de um povo que

busca constantemente por seus direitos contudo o que significa o termo remanescente

Verificaremos no toacutepico seguinte especificamente as discussotildees em torno do significado da

palavra ldquoremanescesterdquo no contexto do negro

211 Remanescentes o que restou

No que concerne ao significado do termo remanescente a autora Leite (2000 p 9)

nos apresenta o seguinte contexto

A expressatildeo ldquoremanescente das comunidades de quilombosrdquo que emerge na

Assembleacuteia Constituinte de 1988 eacute tributaacuteria natildeo somente dos pleitos por tiacutetulos

fundiaacuterios mas de uma discussatildeo mais ampla travada nos movimentos negros e

entre parlamentares envolvidos com a luta anti-racista O quilombo eacute trazido

novamente ao debate para fazer frente a um tipo de reivindicaccedilatildeo que agrave eacutepoca alude

a uma ldquodiacutevidardquo que a naccedilatildeo brasileira teria para com os afro-brasileiros em

consequumlecircncia da escravidatildeo natildeo exclusivamente para falar em propriedade

fundiaacuteria

A expressatildeo ldquoremanescenterdquo surge como forma de reinvindicaccedilatildeo por uma eacutepoca em

que a naccedilatildeo brasileira teria certo dever com os afrodescendentes pela grande escravidatildeo e

sofrimento vivido no periacuteodo da aboliccedilatildeo contudo segundo os estudos de Leite (1996 p

341) o termo remete tambeacutem a algo em extinccedilatildeo que estaacute em processo de desaparecimento

Mas foi principalmente porque a expressatildeo natildeo correspondia agrave autodenominaccedilatildeo destes

mesmos grupos e por se tratar de uma identidade ainda a ser politicamente construiacuteda que

tantos questionamentos foram suscitados Eacute nesse impasse da significaccedilatildeo e nomeaccedilatildeo dos

remanescentes de quilombolas que Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia8 (ABA) convocada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico reuniu em outubro de 1994 o Grupo de Trabalho sobre Comunidades

Negras Rurais e elaborou um conceito de ldquoremanescente de quilombordquo ficando assim

definido

8A Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia (ABA) eacute a mais antiga das associaccedilotildees cientiacuteficas existentes no paiacutes

na aacuterea das ciecircncias sociais ocupando hoje um papel de destaque na conduccedilatildeo de questotildees relacionadas agraves

poliacuteticas puacuteblicas referentes agrave educaccedilatildeo agrave accedilatildeo social e agrave defesa dos direitos humanos No decorrer de sua

histoacuteria ela tem sido voz atuante em defesa das minorias eacutetnicas dos discriminados e posicionando-se consistentemente contra a injusticcedila social Pesquisado em 11012015 as 2345h no site

httpwwwportalabantorgbrindexphpinstitucionalfeatures

23

[] contemporaneamente portanto o termo natildeo se referia a resiacuteduos arqueoloacutegicos de ocupaccedilatildeo temporal ou de comprovaccedilatildeo bioloacutegica Tratava-se de desfazer a ideacuteia

de isolamento e de populaccedilatildeo homogecircnea ou como decorrente de processos

insurrecionais O documento posicionava-se criticamente em relaccedilatildeo a uma visatildeo

estaacutetica do quilombo evidenciando seu aspecto contemporacircneo organizacional

relacional e dinacircmico bem como a variabilidade das experiecircncias capazes de serem

amplamente abarcadas pela ressemantizaccedilatildeo do quilombo na atualidade Ou seja

mais do que uma realidade inequiacutevoca o quilombo deveria ser pensado como um

conceito que abarca uma experiecircncia historicamente situada na formaccedilatildeo social

brasileira (LEITE 2000 p 341-342)

No que diz respeito aos direitos sobre a terra o Brasil em comparaccedilatildeo com outros

paiacuteses que claramente obtiveram conquistas poliacuteticas e territoriais talvez seja o uacutenico que natildeo

resolveu formalmente a questatildeo dos direitos territoriais das suas comunidades negras

tradicionais O direito agrave terra que as comunidades atribuem eacute vital pois a concepccedilatildeo da terra

enquanto territoacuterio socialmente ocupado eacute a chave para a vida desses grupos Sobre isso

Chagas (2001 p 228) informa que a aplicaccedilatildeo do direito constitucional se daacute tambeacutem

atraveacutes da titulaccedilatildeo dessas aacutereas

[] para estar em consonacircncia com a viabilizaccedilatildeo de um padratildeo de existecircncia que

seja compatiacutevel e que assegure a vida nos seus proacuteprios termos significaria menos

quantificar ou traccedilar meramente um espaccedilo fiacutesico esvaziado de seu sentido social e

mais justamente recuperar a ideacuteia de que estes espaccedilos sociais estatildeo qualificados e

atravessados por redes de relaccedilotildees que postas em curso garantem a proacutepria

permanecircncia do grupo neste territoacuterio

No trecho citado por Chagas (2001) eacute demonstrada a preocupaccedilatildeo no que se refere

aos remanescentes das comunidades dos quilombos que vecircm sofrendo com o processo de

reconhecimento dos direitos assegurados constitucionalmente nota-se o quanto eacute necessaacuterio

um diaacutelogo com as praacuteticas culturais de cada grupo envolvido auxiliando as comunidades no

autorreconhecimento das populaccedilotildees remanescentes de quilombola Eacute a busca pelo direito agrave

terra direito agrave vida no campo de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado

agrave margem da vida em sociedade

Completando este diaacutelogo com Marques (2004) confere-se que o modo de vida dos

povos do campo eacute entendido como uma configuraccedilatildeo bastante dinacircmica e que soacute pode ser

compreendida a partir de sua inserccedilatildeo na sociedade ndash que hoje inclui as relaccedilotildees sociais que

ocupam as comunidades camponesas na sociedade moderna capitalista ndash percebendo a relaccedilatildeo

entre tradiccedilatildeo e modernidade e qual lugar ocupam os povos de vidas tradicionais

Os quilombos reforccedilavam as lutas contra a escravidatildeo mostrando um tipo de

organizaccedilatildeo social mais justa cuja resistecircncia se manifestou de diversas formas entre greves

de fome violecircncia e fugas Segundo Freitas (1982 p 210) essas fugas mais organizadas e

coletivizadas deram origem ao Quilombo dos Palmares

24

O ldquoQuilombo dos Palmaresrdquo foi a manifestaccedilatildeo mais eloquente do discurso anti-

escravista dos negros brasileiros nos quase trecircs seacuteculos da escravidatildeo representando

um marco na resistecircncia negra A resoluccedilatildeo tomada na Serra da Barriga ldquode morrer

antes de aceitar a escravidatildeordquo demonstra a essecircncia da mensagem que os negros de Palmares deixaram Retomando a reflexatildeo hegeliana ldquoO Amo natildeo eacute Amo senatildeo

pelo fato de que possui um Escravo que o reconhece como talrdquo

Freitas (1982 p 43) explana que os escravos que se refugiavam em Palmares apoacutes

algum tempo escondidos nas serras deixaram de viver escondidos e reconquistaram sua

dignidade como seres humanos O autor prossegue expondo

Os escravos plantavam milho feijatildeo mandioca cana-de-accediluacutecar batata legumes Duas semanas antes do plantio preparavam o terreno com grandes queimadas A

preparaccedilatildeo das terras a semeadura e a colheita era realizada de maneira coletiva

Celebravam o teacutermino da colheita com uma semana inteira de festejos em que todos

folgavam danccedilavam comiam e bebiam Mantinham muitos pomares com uma

variedade de aacutervores frutiacuteferas (1982 p 45)

Durante minhas visitas agrave comunidade remanescente de quilombolas de Pimenteiras o

contato com os moradores levantou muitos questionamentos sobre o entendimento e

significaccedilatildeo do termo quilombola Os mais velhos guardam na memoacuteria recordaccedilotildees de um

periacuteodo no qual seus antepassados viveram e sofreram os accediloites do chicote da escravidatildeo os

adolescentes por sua vez vivem o embate entre aceitar ou natildeo a descendecircncia Aceitando

suas origens alcanccedilam direitos reservados aos negros como o direito de cotas nas

universidades jaacute nos momentos em que os sentimentos de exclusatildeo discriminaccedilatildeo e rejeiccedilatildeo

se tornam maiores nos espaccedilos sociais os mais jovens natildeo se veem e natildeo se orgulham de sua

origem afrodescendente

Na anaacutelise do contexto vivido na comunidade o sentimento que se faz presente nos

mais jovens eacute o fato de que ser homem negro significa ser excluiacutedo e discriminado pelos

colegas da escola Muitos relataram situaccedilotildees de desrespeito natildeo apenas pela cor da pele mas

pelo termo ldquoquilombolardquo A respeito da discriminaccedilatildeo racial sobre os quilombolas Leite

(2000 p 349) comenta que

O ato de aquilombar-se ou seja de organizar-se contra qualquer atitude ou sistema

opressivo passa a ser portanto nos dias atuais a chama reacesa para na condiccedilatildeo

contemporacircnea dar sentido estimular fortalecer a luta contra a discriminaccedilatildeo e seus

efeitos Vem agora iluminar uma parte do passado aquele que salta aos olhos pela

enfaacutetica referecircncia contida nas estatiacutesticas onde os negros satildeo a maioria dos socialmente excluiacutedos Quilombo vem a ser portanto o mote principal para se

discutir uma parte da cidadania negada

25

Diante das discussotildees feitas seguiremos abordando sobre os remanescentes de

quilombola da comunidade de Pimenteiras sua localizaccedilatildeo e os problemas sobre a titularidade

da terra que se tornou algo de extrema importacircncia aos moradores dessa regiatildeo

212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras

Eacute importante frisar que na atualidade a dimensatildeo de luta dos homens negros pela

liberdade foi muito importante para que a cultura afrodescendente se desenvolvesse com

maior fruiccedilatildeo Na Amazocircnia a presenccedila do negro eacute assunto desprezado em termos da

importacircncia insignificante que teria essa mesma presenccedila Segundo Salles (1988) a matildeo-de-

obra faacutecil era abundante e era a uacutenica que poderia mobilizar com sucesso imediato a matildeo-de-

obra dos iacutendios9

Nos estudos sobre a Amazocircnia Salles (1988) expotildee sobre a substituiccedilatildeo do iacutendio

pelo negro na lavoura que natildeo foi tatildeo necessaacuteria na regiatildeo como no restante do Brasil a

presenccedila insistente do iacutendio em muitos trabalhos com a terra deu ao negro a possibilidade de

influir profundamente na civilizaccedilatildeo brasileira criando um tipo de economia em que o

indiacutegena teve grande participaccedilatildeo (CHAMBOULEYRON 2006) No entanto os escritos do

autor natildeo abandonam a significaccedilatildeo do negro na Amazocircnia durante o regime da escravidatildeo o

negro deixou sua personalidade sua etnia e sua cultura na constituiccedilatildeo da economia agraacuteria

Diante disso discorrer sobre os quilombolas no cenaacuterio poliacutetico atual eacute conversar

sobre luta poliacutetica uma reflexatildeo cientiacutefica em processo de construccedilatildeo Hoje cerca de trecircs mil

comunidades quilombolas10

vivem natildeo apenas na Amazocircnia mas em todo o territoacuterio

9 Em tempos do descobrimento do Brasil a necessidade de braccedilos para cortar e transportar o pau-brasil para o

litoral fez com que os portugueses impusessem aos iacutendios o trabalho compulsoacuterio Em meados de 1550 a

decisatildeo de incrementar o traacutefico da Aacutefrica para o Brasil tornou a escravidatildeo do negro mais interessante e

econocircmica para a Coroa portuguesa Apesar de ter sido tatildeo forte e cruel a escravidatildeo do negro africano a

escravidatildeo do iacutendio teve pouco conhecimento e historicamente ficou em segundo lugar Pesquisa feita no dia

10022015 as 1001hs no site httpwwwklickeducacaocombrconteudopagina06313POR-1245-9282-00html 10Ateacute hoje natildeo haacute certeza sobre o nuacutemero de comunidades quilombolas existentes no Brasil mas estima-se que

haacute pelo menos trecircs mil em todo o territoacuterio nacional localizadas principalmente nos estados doAmazonas

Alagoas Amapaacute Bahia Cearaacute Maranhatildeo Minas Gerais Paraacute Pernambuco Tocantins e outros Os estados

brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades quilombolas satildeo a Bahia o Maranhatildeo Minas

Gerais e o Paraacute Segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial

(Seppir) e do Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) oacutergatildeos responsaacuteveis pela

identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos quilombolas

existem atualmente mais de setecentas comunidades oficialmente registradas pela Fundaccedilatildeo Palmares do

Ministeacuterio da Cultura e mais de duzentos processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em andamento envolvendo mais

de trezentas comunidades espalhadas por 24 estados brasileiros Retirado do texto de GASPAR Luacutecia Quilombolas Pesquisa Escolar Online Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Recife Disponiacutevel em

lthttpbasiliofundajgovbrpesquisaescolargt Acesso em 15022015 as 1230hs

26

nacional no entanto muitas terras natildeo possuem ainda o reconhecimento devido No estado do

Paraacute segundo dados pesquisados satildeo reconhecidas duzentos e quarenta (240)11

comunidades

remanescentes de Quilombo

As conquistas para alcanccedilar o direito pela titulaccedilatildeo de terra de quilombo vecircm do

cumprimento do Artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias da Constituiccedilatildeo Federal12

cuja redaccedilatildeo expotildee o seguinte ldquoAos remanescentes das comunidades de quilombos que

estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir

lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)

Com a instituiccedilatildeo deste Leopoldo e Morais (2005 p 3) explanam em seu artigo

sobre territorialidade que muitas lutas e manifestaccedilotildees poliacuteticas tecircm apoiado ou desprovido as

comunidades quilombolas do seu direito agrave terra Leopoldo e Morais (2005 p 1) ressaltam que

ldquoos criteacuterios adotados para o reconhecimento das comunidades quilombolas tecircm sido alvo de

constantes criacuteticas entre esses diferentes atoresrdquo Embora pareccedila pertinente equiparar a

questatildeo do direito agraves terras de quilombos com as terras indiacutegenas ambas satildeo semelhantes

apenas quanto aos desafios e embates jaacute visiacuteveis na questatildeo da identificaccedilatildeo e na definiccedilatildeo

dos sujeitos de direito

No diagrama da fronteira eacutetnico-cultural o Brasil esteve sempre marcado pela

preservaccedilatildeo do territoacuterio invadido e ocupado por inuacutemeros conflitos de terra que remontam

aos dias atuais13

Natildeo muito distante de uma realidade de lutas pelos direitos dos negros os

moradores remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras lutam haacute muito

tempo pelo reconhecimento da terra Localizada na regiatildeo rural da cidade de Santa Luzia do

Paraacute14

a comunidade fica situada em local de difiacutecil acesso situaccedilatildeo que piora muito nos

periacuteodos de chuva causando transtornos aos moradores que veem limitadas suas

necessidades humanas baacutesicas

Vejamos abaixo o mapa da Regiatildeo do Guamaacute onde fica localizada a cidade de Santa

Luzia do Paraacute Rodeada por outras cidades como Capanema Oureacutem Capitatildeo Poccedilo Garrafatildeo

do Norte Cachoeira do Piriaacute Nova Esperanccedila do Piriaacute e tambeacutem Terras Indiacutegenas ocupadas

pelos iacutendios Tembeacute a comunidade de Pimenteiras fica no centro da regiatildeo da cidade de Santa

Luzia do Paraacute como mostra a figura

11 Disponiacutevel em httpwwwcpisporgbrcomunidadeshtmli_brasil_pahtml Pesquisado dia 01052013 as

1933 h 12 Pesquisa no site wwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaohtm em 16122014 as 1633hs 13 Atualmente destaca-se a luta do MST ndash Movimento dos Sem Terra no Brasil ndash que constitui um dos maiores

movimentos sociais do paiacutes com 15 anos de existecircncia nos 23 estados da federaccedilatildeo Maiores informaccedilotildees

consultar o site httpwwwmstorgbr 14Santa Luzia do Paraacute eacute uma cidade brasileira localizada no estado do Paraacute na microrregiatildeo do Guamaacute e na

mesorregiatildeo do Nordeste Paraense

27

Mapa 01 ndash Regiatildeo do Guamaacute Cidade de Santa Luzia do Paraacute Comunidade de Pimenteiras

Fonte IBGE15

Com relaccedilatildeo agrave titularidade da terra como Quilombola o processo continua em

tracircmite nos oacutergatildeos responsaacuteveis Os moradores da comunidade de Pimenteiras vivem agrave espera

da validaccedilatildeo do processo de identificaccedilatildeo e reconhecimento de suas origens valorizaccedilatildeo de

sua cultura e direito ao territoacuterio quilombola Segundo relatos dos moradores um dos motivos

para o impasse no processo seria a presenccedila de pecuaristas e agricultores natildeo remanescentes

de quilombo que vivem na regiatildeo e cultivam nas terras Estas pessoas devem ser indenizadas

pelos espaccedilos de terra que possuem a fim de que o direito dos quilombos tenha garantia de

integralidade das terras Logo a seguir encontram-se as informaccedilotildees de forma resumida sobre

o andamento do pedido de reconhecimento da terra em Pimenteiras

Tabela 1 ndash Titulaccedilatildeo da terra da comunidade de Pimenteiras

FICHA RESUMO DO TERRITOacuteRIO

Nome da Terra Pimenteira

Nome da(s) Comunidade(s) Pimenteiras

Municiacutepio Santa Luzia do Paraacute

Unidade da Federaccedilatildeo Paraacute

Populaccedilatildeo 24 famiacutelias

Dimensatildeo Territorial -

Etapa do processo de titulaccedilatildeo Certidatildeo Fundaccedilatildeo Cultural Palmares

Superintendecircncia Responsaacutevel SR 01 Paraacute

Data da Uacuteltima Atualizaccedilatildeo 30052014

Fonte Comissatildeo Proacute-iacutendio de Satildeo Paulo16

15 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150655ampsearch=||infogrE1ficos-

informaE7F5es-completas

28

Os moradores da comunidade de Pimenteiras sofrem com o processo de

reconhecimento de seus direitos que satildeo assegurados constitucionalmente Para eles

reconhecer a terra eacute importante pois reconhece a existecircncia de uma populaccedilatildeo remanescente

quilombola de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado agrave margem da vida

em sociedade que busca mais do que o direito agrave terra busca o direito agrave vida no campo

Conhecer a cultura de um povo faz com que ele seja reconhecido e valorizado por

suas caracteriacutesticas em particular Diante disso conheceremos no toacutepico seguinte um pouco

da histoacuteria da comunidade de Pimenteiras aleacutem de sua tradicional manifestaccedilatildeo cultural que

eacute a Ladainha a Nossa Senhora do Livramento uma cerimocircnia em agradecimento pelas preces

atendidas do povo daquela comunidade

22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO

Nos encontros ocorridos na comunidade de Pimenteiras nos deparamos com alguns

moradores que haacute pouco tempo natildeo conheciam sua descendecircncia negra e tampouco os

significados que cercam o termo Quilombola Por meio das histoacuterias transmitidas de seus

antepassados e de pesquisadores envolvidos com o Centro de Estudos e Defesa do Negro do

Paraacute (CEDENPA)17

os moradores passaram a se reconhecer como remanescentes de

quilombo de forma orgulhosa no entanto confusos Isto se deve ao fato de que a comunidade

de Pimenteiras vive hoje com o estigma de seus ancestrais escravizados e sem entender seus

reais valores culturais e histoacutericos

Nesse acircmbito Leite (2000 p 339) levanta um questionamento significativo sobre o

termo quilombola Ela explica que

Desde os anos 30 algumas vozes militantes18

defendem fortemente a ideacuteia de

reparaccedilatildeo da aboliccedilatildeo como ldquoum processo inacabadordquo e da ldquodiacutevidardquo em dois

16Disponiacutevel emlthttpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501gt

17O CEDENPA eacute uma Entidade sem fins lucrativos sem viacutenculos poliacutetico-partidaacuterios fundada em 10 de agosto

de 1980 e legalizada em 27 de abril de 1982 que a partir do Estado do Paraacute vem contribuindo no processo de superaccedilatildeo do racismo preconceito e discriminaccedilatildeo que produzem a desigualdades soacutecio raciais de gecircnero e

outras prejudicando sobretudo a populaccedilatildeo negra e indiacutegena em todos os aspectos da sociedade brasileira

Pesquisado em 22062015 as 955hs no site httpwwwcedenpaorgbr

18 Abdias do Nascimento atual senador da Repuacuteblica reescreve suas teses na deacutecada de 80 defendidas desde os

anos 30 quando inicia sua militacircncia O seu quilombismo reivindica uma memoacuteria anterior ao traacutefico e agrave

escravizaccedilatildeo dos africanos Escreve ldquoo quilombismo busca no presente e no futuro e atua por um mundo melhor para os africanos nas Ameacutericasrdquo Resume suas teses do quilombismo em 16 itens O primeiro deles define o

quilombismo como um movimento poliacutetico dos negros brasileiros visando a implantaccedilatildeo de um Estado Nacional

29

planos a herdada dos antigos senhores e a marca que ficou em forma de estigma seus efeitos simboacutelicos geradores de novas situaccedilotildees de exclusatildeo A exclusatildeo como

fato e como siacutembolo Os militantes procuram ver o conceito de quilombo como um

elemento aglutinador capaz de expressar de nortear aquelas pautas consideradas

cruciais agrave mudanccedila de dar sustentaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo da identidade negra ainda

fragmentada pelo modelo de desenvolvimento do Brasil apoacutes a aboliccedilatildeo da

escravatura

O contato com os moradores nos fez refletir sobre os diversos questionamentos a

respeito do entendimento e significaccedilatildeo que as pessoas da regiatildeo tinham sobre a palavra

quilombola Os adolescentes com o conhecimento adquirido na escola relataram que ser

quilombola significava ser negro mas alguns natildeo se consideravam quilombolas porque a pele

natildeo era tatildeo escura Ao refletir sobre isto percebemos que o sentimento presente nos mais

jovens eacute de exclusatildeo ser homem negro significa ser excluiacutedo discriminado e rejeitado pelos

colegas da escola Esse mesmo sentimento ocorre com o termo quilombola que traz para o

contexto atual as marcas de uma eacutepoca de escravidatildeo e de maus tratos contra pessoas de pele

escura Para muitos o sentimento com relaccedilatildeo ao nome Quilombola traz um significado

doloroso Nesse ponto Leite (2000 p 342) salienta

Enquanto uma expressatildeo da identidade grupal o significante ldquonegrordquo vai somando

em seu percurso tudo aquilo que adveacutem de tal experiecircncia ou seja elementos de

inclusatildeo (que mantecircm o grupo unido em estrateacutegias de solidariedade e

reciprocidade) e tambeacutem de segregaccedilatildeo (ou seja a desqualificaccedilatildeo a depreciaccedilatildeo e

a estereotipia) Os sentidos do termo e as experiecircncias nele circunscritas revelam sua ambiguidade por um lado a marginalizaccedilatildeo por outro a forccedila simboacutelica

demonstrada no seu persistente poder aglutinador vindo a configurar ou expressar

uma identidade social e a nortear inclusive poliacuteticas de grupos

De outro modo o conceito negativo sobre a etnia quilombola perpassa tambeacutem pelos

moradores de Pimenteiras que possuem um vasto conhecimento sobre os espaccedilos que

ocupam na regiatildeo com sua rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias geraccedilotildees Os saberes

sobre a natureza satildeo de extrema importacircncia para as diversas aacutereas da ciecircncia conferindo na

forma pela qual pensam classificam e utilizam seus recursos

Contudo o acesso agrave comunidade eacute difiacutecil a uacutenica estrada existente para chegar agrave

comunidade natildeo eacute asfaltada e no trajeto visualizam-se diversas fazendas com gado campos

abertos depois mata fechada com grandes serras que ladeiam a comunidade Durante a

viagem satildeo percorridos aproximadamente 30 quilocircmetros em relevo bastante acidentado

Quilombista inspirado no modelo da Repuacuteblica de Palmares no seacuteculo XVI e em outros quilombos que

existiram e ainda existem Esclarece que natildeo se trata de um modelo segregacionista mas de um movimento que

advoga o poder poliacutetico realmente democraacutetico que implica a presenccedila da maioria afro-brasileira em todos os

niacuteveis desse poder Veja-se Nascimento (1991 21-26 apud Leite 2000 p339 a 340)

30

Ao chegar agrave comunidade percebi que a presenccedila mais forte eacute da natureza na sua

biodiversidade e das terras utilizadas para o cultivo da mandioca feijatildeo e pimenta Existe

tambeacutem o plantio de Murumuru19

cuja produccedilatildeo ocorre devido ao interesse da empresa

Natura20

pela compra do fruto

A comunidade de Pimenteiras possui uma relaccedilatildeo natildeo somente com os

conhecimentos agriacutecolas e o cultivo de plantas mas tambeacutem com os recursos naturais que

estatildeo ligados a estes levando em consideraccedilatildeo as informaccedilotildees sobre a natureza e os valores

de sua cultura e tradiccedilatildeo local A comunidade em estudo tem na mata fechada sua principal

fonte de recursos naturais A variedade de espeacutecies vegetais eacute muito grande ocasionando uma

afinidade dos moradores com a natureza de forma muito forte e antiga

Eacute nesse encontro entre os moradores quilombolas e a natureza que muitos saberes

culturais locais foram e satildeo desenvolvidos sem quaisquer recursos tecnoloacutegicos ou

assistecircncia Esta eacute uma das caracteriacutesticas que marcam a comunidade identificando e

classificando o ambiente em que vivem Eacute uma maneira de auto identificaccedilatildeo e auto definiccedilatildeo

da proacutepria comunidade enquanto grupo social particular que produz saberes sobre a natureza

forjando de maneira inconsciente sua identidade cultural

Mas como se originou a comunidade e o nome Pimenteira Durante as visitas feitas agrave

comunidade as histoacuterias que os moradores contam eacute que haacute muito tempo o pai de Domingas

o senhor Raimundo Cordeiro dos Santos queria fazer as preparaccedilotildees de pais e padrinhos21

para o batizado de uma crianccedila Como na comunidade natildeo havia igreja ou qualquer

representaccedilatildeo religiosa que pudesse ajudar na preparaccedilatildeo ele foi ateacute outra comunidade

chamada Fuzil para falar com o padre chamado Zeacute Doca Devido agrave distacircncia o senhor saiacutea

agraves 2h da madrugada e chegava ao local agraves 5h O padre observando as dificuldades propocircs

que algueacutem da comunidade com certo grau de conhecimento pudesse fazer os ensinamentos

aos moradores

No dia da celebraccedilatildeo do batismo o padre foi ateacute a casa do senhor para batizar a

crianccedila e orientar os moradores a iniciarem as celebraccedilotildees e construir um locar onde

pudessem rezar Assim haacute cerca de 40 anos uma igreja foi construiacuteda no local e os

19 Originaacuterio da Regiatildeo Amazocircnica Ele cresce espontaneamente nas matas do Paraacute Eacute encontrado ao longo dos

rios e em aacutereas inundadas em formaccedilotildees florestais densas ou semiabertas O fruto eacute um coco de coloraccedilatildeo

avermelhada Seu caroccedilo encerra uma amecircndoa dura que fica envolta por uma polpa amarelada comestiacutevel e

levemente adocicada O oacuteleo extraiacutedo da semente de murumuru possui propriedades altamente emolientes 20A Natura eacute um empresa brasileira que trabalha no setor de higiene pessoal perfumaria e cosmeacuteticos e tambeacutem

no segmento da venda direta dos produtos 21 O encontro de preparaccedilatildeo dos pais e padrinhos deve ser uma autecircntica obra de evangelizaccedilatildeo tendo por meta anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para proporcionar o encontro pessoal com Cristo na Comunidade Esses

satildeo preceitos da Igreja Catoacutelica relatados pelo Paacuteroco Elias de Santa Luzia do Paraacute

31

moradores passaram a receber visitas do sacerdote mecircs a mecircs A presenccedila religiosa fez com

que a comunidade de Pimenteiras fosse visualizada e tivesse entatildeo sua origem

Com relaccedilatildeo ao nome Pimenteira o termo surgiu de histoacuterias contadas pelos avocircs do

pai de Domingas trilhando pelos rios e matas da regiatildeo da Narciacutesea eles saiacuteam em busca de

caccedila e pesca formando os ranchos22

na beira do rio Guamaacute Nessas viagens levavam alguns

mantimentos necessaacuterios por passarem muitos dias caccedilando Dentre os alimentos levados a

pimenta natildeo podia faltar Quando retornavam deixavam agrave beira do rio as sementes da

pimenta que traziam elas brotavam e cresciam quando voltavam ao mesmo local de pesca

tinham como referecircncia o peacute de pimenta Assim comeccedilaram a chamar o local de ldquoigarapeacute da

pimentardquo (informaccedilatildeo verbal)23

que com o tempo passou a ser local de moradia para essas

pessoas vindas da Narciacutesea Surgiu assim o nome Pimenteira que deu origem agrave comunidade

remanescente de quilombola

Eacute diante dessa relaccedilatildeo com a natureza que os moradores quilombolas vivem e

reproduzem anualmente o evento cultural ldquoLadainha a Nossa Senhora do Livramentordquo como

ato de feacute agradecimento e preservaccedilatildeo dos fazeres de seus antepassados Eacute o que veremos no

toacutepico seguinte no qual esse momento cultural da comunidade de Pimenteiras seraacute abordado

com maiores detalhes

221 Ladainha a Nossa Senhora do Livramento

Em comemoraccedilatildeo ao ldquoDia da Consciecircncia Negra24

rdquo 20 de novembro os moradores

de Pimenteiras iniciaram um processo de valorizaccedilatildeo e rememoraccedilatildeo de suas crenccedilas

religiosas Segundo relatos dos mais antigos a celebraccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento

veio antes da existecircncia da comunidade de Pimenteiras Nas histoacuterias contadas pela moradora

Domingas tudo comeccedilou com sua avoacute materna a senhora Joana Pornusena dos Santos (in

memoacuteria) que acompanhando o marido no roccedilado presenciou a existecircncia de muitos

perigos O avocirc de Domingas trabalhando na terra solicitou em oraccedilatildeo agrave Senhora do

22 Rancho era o termo popular usado para designar a toca que eles faziam na beira do rio 23A histoacuteria sobre a origem do nome Pimenteira veio dos relatos informais da moradora DomingasTais histoacuterias

natildeo puderam ser transcritas a pedido da moradora 24

O Dia da Consciecircncia Negra eacute uma data celebrada no Brasil no dia 20 de novembro Este dia estaacute incluiacutedo na

semana da Consciecircncia Negra e tem como objetivo um reflexatildeo sobre a introduccedilatildeo dos negros na sociedade

brasileira O dia 20 de novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares data na qual morreu lutando pela liberdade do seu povo no Brasil Pesquisado no site httpwwwsignificadoscombrdia-

da-consciencia-negra

32

Livramento que o protegesse e tambeacutem sua famiacutelia dos acidentes e da morte que aconteciam

no roccedilado Como forma de agradecimento pela graccedila alcanccedilada ao final dos trabalhos com a

terra o avocirc prometeu que celebraria uma cerimocircnia religiosa em homenagem agrave Santa Este

gesto de agradecimento se perpetuou entre as geraccedilotildees e hoje a Ladainha continua preservada

nas matildeos da moradora Domingas

Passada entre as geraccedilotildees da famiacutelia de Domingas a Ladainha possui forte relaccedilatildeo

com o saber das plantas medicinais As flores colocadas sobre altar ou as plantas com cheiro

agradaacutevel usadas durante a cerimocircnia consideradas bentas eram guardadas para serem

utilizadas na forma de chaacutes para a cura das doenccedilas Na Ladainha plantas como manjericatildeo

catinga de mulata canela e hortelatilde satildeo empregadas na cerimocircnia com aacutegua para as pessoas se

benzerem Este ritual natildeo ocorria na eacutepoca da avoacute de Domingas Nas primeiras cerimocircnias a

Ladainha era comemorada com o canto em latim Adolfo era o nome da pessoa que entoava a

oraccedilatildeo sem o uso de livros

Com o passar dos anos ocorreram mudanccedilas como forma de atrair os jovens para a

celebraccedilatildeo Isto fez com que aleacutem da Ladainha do almoccedilo e da presenccedila da imagem da

Senhora do Livramento fosse incluiacuteda uma procissatildeo pela comunidade com o uso de fitas em

volta da imagem o uso da aacutegua com as plantas aromaacuteticas e uma festa como forma da

juventude participar na celebraccedilatildeo Outro aspecto importante que mudou nesses anos foi a

substituiccedilatildeo do canto em latim pela oraccedilatildeo encontrada no livro do Catecismo da Igreja

Catoacutelica que conteacutem a Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento Isto se deve ao fato de que os

jovens natildeo tiveram interesse de aprender a Ladainha em latim No entanto esta possui grande

significaccedilatildeo para a comunidade pois representa a feacute sendo renovada a cada ano Eacute o momento

em que os moradores contam suas histoacuterias e reencontram outras comunidades tambeacutem de

remanescentes de quilombolas eacute o momento em que a comunidade de Pimenteiras eacute

valorizada pela cultura e pelos saberes tradicionais das plantas

Vejamos abaixo algumas imagens da celebraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento

que ocorre anualmente na comunidade de Pimenteiras as quais exibem uma forma de

agradecimento e comemoraccedilatildeo pelas colheitas alcanccediladas durante o ano

33

Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade

Fonte Dados da pesquisa 2014

Ano apoacutes ano todos os moradores se reuacutenem numa grande festa cultural e religiosa

que traz consigo as lutas de um povo que trabalha a terra e marcam profundamente a

identidade da comunidade A data foi escolhida como forma de memorizar as grandes lutas jaacute

vividas pelos negros em prol da liberdade e dos direitos dos afrodescendentes

Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras

Fonte Dados da pesquisa 2014

34

Em comemoraccedilatildeo ao Dia da Consciecircncia Negra outras comunidades quilombolas

satildeo convidadas e prestigiam a comunidade e a Santa reverenciada A comunidade de

Pimenteiras eacute tambeacutem muito conhecida pelo festejo agrave Senhora do Livramento alimentos e

muacutesicas satildeo oferecidos durante o dia e a noite a todos que vecircm para comemorar a data tatildeo

significativa ao povo quilombola

Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas

FonteDados da pesquisa 2014

35

Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada

FonteDados da pesquisa 2014

O povo quilombola eacute um povo alegre que gosta de muacutesica e de danccedila O canto estaacute

sempre presente em seu cotidiano e nas festas da comunidade A cerimocircnia relata a vida as

lutas e a esperanccedila de melhorias para os moradores Eacute atraveacutes da religiosidade que

demonstram todo cuidado e respeito pela terra Na Ladainha a presenccedila da feacute catoacutelica vem

misturada com a forccedila dos tambores e das cordas dos violotildees Eacute nesse conjunto de

movimentos que as histoacuterias de luta de um povo satildeo recontadas sobre a terra a produccedilatildeo

agriacutecola e a identidade dos moradores que transcorrem no festejo

36

Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda

Fonte Dados da pesquisa2014

A festa tradicional eacute resultado de influecircncias negras indiacutegenas e catoacutelicas A

comunidade corteja a Santa do Livramento e as riquezas obtidas durante o ano A fartura estaacute

simbolizada nas oferendas apresentadas durante a celebraccedilatildeo quando satildeo colocados diversos

produtos cultivados na regiatildeo O ritual festivo entrecruza e atravessa ritmos vozes e jogos em

um sistema de imagens da festa popular no qual fim e recomeccedilo dialogam em um estado

coletivo de alegria A festa eacute a passagem do tempo demarcada pela colheita que tem uma

funccedilatildeo renovadora

Durante a cerimocircnia a senhora Libacircnia dos Santos Cunha eacute quem reza e conduz o

cortejo Considerada mais importante que o padre a senhora vem de outra comunidade mas

seu comando direciona o canto da Ladainha A atividade religiosa marca a passagem de

tempo do cultivo da terra significando a oportunidade de reunir pessoas de diversas

comunidades conjugando feacute alegria poliacutetica e reencontros entre familiares e amigos

Enquanto comungam os festejos os moradores discutem tambeacutem o futuro da comunidade

A festa popular eacute demorada e marcada por uma sucessiva e deliciosa comilanccedila

divulgando a abundacircncia e a fartura no ano que passou A celebraccedilatildeo eacute o momento no qual

evocam o poder dos mais velhos legitimam as famiacutelias abrem espaccedilo para os mais novos e

transmitem experiecircncias profundas

37

Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas

Fonte Dados da pesquisa 2014

Os antepassados satildeo lembrados nas praacuteticas cotidianas a famiacutelia eacute evocada na

presenccedila importante da mulher que simboliza o papel de geradora O papel feminino nas

questotildees poliacuteticas reforccedila essa ideia a senhora Domingas direciona junto a outras mulheres

todo o ritual a Nossa Senhora do Livramento aleacutem dos cuidados com a comida e de

participaccedilatildeo nas questotildees poliacuteticas da comunidade

Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento

Fonte Dados da pesquisa 2014

38

Vinda de origem portuguesa a devoccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento surgiu de

uma graccedila alcanccedilada haacute cerca de 50 anos por um agricultor quilombola que invocou o

livramento de todo o mal durante os trabalhos na lavoura A promessa eacute renovada todos os

anos com uma homenagem agrave Santa Tal culto foi tomado e seguido por todos os moradores da

comunidade e hoje comemoram a feacute por meio da graccedila alcanccedilada Logo abaixo segue um

trecho da Ladainha utilizada na celebraccedilatildeo agrave Senhora do Livramento na comunidade de

Pimenteiras A oraccedilatildeo completa se encontra no apecircndice ao final deste trabalho

Ladainha a Nossa Senhora do Livramento (fragmento)

Nossa Senhora do Livramento

Matildee de Deus nossa Matildee

e padroeira de nossa Paroacutequia

Com o olhar confiante vos contemplamos

Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos

Dirigimo-nos a voacutes como filhos

porque necessitamos do vosso auxiacutelio

Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados

apoiados e guiados pela matildeo materna

Renovai-nos espiritualmente

para que saibamos enxergar a vida mais bela

Levantai-nos para caminhar sem medo

nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo

para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna

[]

Nossa Senhora do Livramento

Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da alma

[]

Rogai por noacutes santa Matildee de Deus

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos

perpeacutetua sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-

aventurada sempre Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da

eterna alegria Por Cristo Nosso Senhor Ameacutem

Apoacutes verificarmos um pouco da cultura religiosa dos remanescentes de quilombola

de Pimenteira abordaremos no toacutepico seguinte as lutas que os moradores vivenciam e as

muitas conquistas alcanccediladas apoacutes a criaccedilatildeo e fundaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Quilombola dos

Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP)

39

222 AQUAFAP o desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola nos

saberes das plantas medicinais

Sabendo que uma associaccedilatildeo25

eacute uma iniciativa formal ou informal que reuacutene

pessoas fiacutesicas ou outras sociedades legais com objetivos comuns que visam superar as

dificuldades e gerar benefiacutecios para os seus membros a Associaccedilatildeo Quilombola dos

Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP) foi criada pelos moradores da

comunidade no intuito de legalizar e alcanccedilar seus projetos De forma geral qualquer que seja

o tipo ou os objetivos para sua criaccedilatildeo pode-se dizer que a associaccedilatildeo eacute uma forma de

legalizar a uniatildeo de pessoas em torno de seus interesses e que sua constituiccedilatildeo permite

alcanccedilar condiccedilotildees melhores do que os indiviacuteduos teriam isoladamente para a realizaccedilatildeo dos

seus planos Assim toda associaccedilatildeo eacute a forma mais baacutesica para se organizar juridicamente um

grupo de pessoas para a concretizaccedilatildeo de desiacutegnios comuns Seus princiacutepios enquadram-se na

doutrina de que juntos podemos encontrar soluccedilotildees melhores para os conflitos que a vida em

sociedade nos apresenta

Pensando nisso os moradores remanescentes de quilombo conheceram sonharam e

concretizaram o plano de fundar uma entidade que representasse e conseguisse alcanccedilar seus

objetivos de melhoria de vida diante das muitas dificuldades enfrentadas na comunidade ante

o descaso dos governos Historicamente os quilombolas satildeo um grupo que juntos

conseguiram a tatildeo aspirada liberdade hoje essa luta continua na busca de direitos negados no

contexto histoacuterico como se pode conferir a respeito

Quilombo natildeo significou apenas um lugar de refuacutegio de escravos fugidos mas a

organizaccedilatildeo de uma sociedade livre formada de ldquohomens e mulheres que se recusavam viver sob o regime da escravidatildeo e desenvolviam accedilotildees de rebeldia e de

luta contra esse sistemardquo (MUNANGA GOMES 2006)

Considerada como berccedilo dos remanescentes de quilombolas a comunidade Narciacutesea

possui grande nuacutemero de pessoas descendentes de negros Nos relatos contados pela moradora

Domingas sua matildee dona Otiacutelia veio da Narciacutesea muito tempo atraacutes em busca de terras para

o cultivo Apoacutes muitas viagens dona Otiacutelia junto de sua famiacutelia decidiu criar raiacutezes na regiatildeo

25 O significado do termo foi refletido sobre pesquisa feita no site httpwwwasaescorgindexphpa-

associacaoo-que-e-uma-associacao

40

da Pimenteira Depois de sua instalaccedilatildeo representantes do CEDENPA e do MALUNGU26

vieram da Narciacutesea para saber os motivos que levaram a senhora a se mudar da regiatildeo

Segundo relatos os motivos foram o fato de casar e desejar trabalhar na terra para viver

melhor Sabe-se que

Muitas comunidades foram formadas apoacutes a promulgaccedilatildeo da Lei Aacuteurea que

extinguiu a escravidatildeo por uma forte razatildeo era a uacutenica possibilidade do negro

viver em liberdade em um espaccedilo onde sua cultura natildeo era desprezada sendo

possiacutevel por isso preservar a dignidade (MUNANGA GOMES 2006)

Muitas pessoas ajudaram os moradores da comunidade de Pimenteiras a conhecer

suas origens Foi com dona Otiacutelia que souberam da remanescecircncia de quilombo jaacute com o

padre Rafael27

os moradores desenvolveram projetos via Pastoral da Igreja mas foi com o

senhor e professor Cardoso28

que os moradores conheceram o que era uma associaccedilatildeo e quais

seus benefiacutecios Orientados por este senhor alguns moradores conseguiram adquirir

documentos de identificaccedilatildeo que natildeo possuiacuteam aleacutem disso foram orientados a fundar uma

associaccedilatildeo quilombola para conseguir melhorias para a comunidade Com a ajuda da senhora

Nazareacute29

os documentos e atas da associaccedilatildeo foram registrados e legalizados

Atraveacutes da legalizaccedilatildeo da associaccedilatildeo os moradores deram iniacutecio agrave titularidade da

terra Representantes do CEDENPA MALUNGU e INCRA visitaram diversas vezes a

comunidade com entrevistas e a verificaccedilatildeo das limitaccedilotildees de terra para o processo de

titularidade Hoje o processo continua em andamento devido aos muitos impasses na regiatildeo

como por exemplo a presenccedila de agricultores natildeo quilombolas com terra na comunidade de

Pimenteiras

Passadas quase duas deacutecadas da publicaccedilatildeo do artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 e quatro anos da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 48872003 que regulamenta o

processo de identificaccedilatildeo reconhecimento demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras

ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombolas atualmente a luta

continua nos acircmbitos juriacutedico e educacional (SILVA 2000)

26A Palavra Malungu vem de origem africana significa COMPANHEIRO Assim lado a lado lutamos pela

garantia de nossos direitos e pelo reconhecimento social dos quilombolas A Coordenaccedilatildeo Estadual das

Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Paraacute foi oficialmente fundada em marccedilo de

2004 como uma organizaccedilatildeo sem fins lucrativos e econocircmicos para representar as comunidades quilombolas do

ParaacutePesquisa no site httpsmalunguparawordpresscom

27 Paacuteroco da cidade de Santa Luzia do Paraacute na deacutecada de 80 28Professor que foi enviado pelo CEDENPA para orientar os moradores de Pimenteiras nos anos 90 29Maria de Nazareacute Reis Ghirard eacute professora engenheira agrocircnoma e representante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Paraacute ndash CEDENPA aleacutem de outros oacutergatildeos direcionados na preservaccedilatildeo da biodiversidade de

comunidades da regiatildeo aleacutem de desenvolver trabalhos de valorizaccedilatildeo da mulher e do negro

41

O dia 03 de dezembro de 2007 eacute a data de abertura da AQUAFAP Muitas

dificuldades ocorreram para conseguir documentar algumas pessoas da comunidade natildeo

ajudaram mas a maioria se empenhou e buscou realizar tal objetivo Desde entatildeo muitos

projetos foram criados dentre os quais o Bioenergeacutetico e os trabalhos com as plantas que

surgiram via associaccedilatildeo

Com o auxiacutelio da professora Nazareacute e o conhecimento jaacute existente sobre as plantas

medicinais os moradores estudaram e trabalharam na comunidade com tal saber Futuramente

os moradores desejam conseguir pela AQUAFAP um projeto de preservaccedilatildeo e

reflorestamento na regiatildeo da Pimenteira direcionado ao Fundo Dema30 poreacutem o impasse

continua na definiccedilatildeo da titularidade da terra Hoje a associaccedilatildeo eacute tida com algo de grande

valor aos moradores da comunidade devido ao grande conhecimento e oportunidades de

melhorias para todos Muitos estatildeo engajados natildeo apenas com a associaccedilatildeo mas tambeacutem com

questotildees da Igreja e principalmente com as plantas medicinais que mesmo tendo paralisado

o trabalho com o Bioenergeacutetico os saberes adquiridos se multiplicam e propagam uma

valorizaccedilatildeo maior dos saberes sobre as plantas

Detentores de um patrimocircnio cultural rico e valoroso poreacutem desconhecido de

muitos as comunidades remanescentes de quilombolas satildeo formadas de grupos

sociais cuja identidade eacutetnica constitui a base de suas vivecircncias cotidianas bem

como das accedilotildees poliacuteticas levadas a feito pelas entidades que lutam pelos seus

direitos (SILVA 2000)

Eacute perante tamanha riqueza de conhecimento que veremos no toacutepico seguinte como o

trabalho com o Bioenergeacutetico deixou intensos saberes sobre as plantas de uso medicinal que

marcaram profundamente a vida dos moradores da Pimenteira e se tornaram uma identidade

para a comunidade e seus moradores

30O Fundo Dema Quilombolas do Paraacute ou Fundo Dema de Apoio agraves Comunidades Quilombolas do Paraacute surgiu

em 2008 numa dinacircmica interativa entre a Coordenaccedilatildeo das Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de

Quilombolos (Malungu) Fase AmazocircniaFundo Dema e Fundaccedilatildeo Ford para a constituiccedilatildeo de uma linha de

accedilatildeo e financiamentos voltada exclusivamente para as comunidades quilombolas do Paraacute Sua criaccedilatildeo respondeu

a uma demanda especiacutefica por entender que essas comunidades demonstram uma dinacircmica emancipatoacuteria uacutenica

aleacutem de se constituiacuterem como um segmento importante das populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia Paraense Tem

por objetivo promover a conquista dos DhESCArsquos (Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais) das comunidades quilombolas e contribuir para a consolidaccedilatildeo da articulaccedilatildeo estadual da Malungu

na conquista e garantia destes direitos Pesquisa no site httpwwwfundodemaorgbr

42

223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico

Buscar a natureza para sanar as enfermidades eacute um procedimento antigo que ateacute os

dias atuais persiste especialmente em comunidade e grupos eacutetnicos distantes dos recursos das

cidades tais como a sauacutede Eacute comum vermos pessoas fazendo uso de plantas medicinais em

rituais religiosos como tambeacutem no tratamento de doenccedilas por vezes eacute o uacutenico recurso

terapecircutico usado Em muitas regiotildees e ateacute mesmo nas grandes cidades as plantas medicinais

satildeo comercializadas em feiras livres comeacutercio popular e nos quintais de nossas casas Em

Beleacutem por exemplo no mercado do Ver-o-Peso temos o banho de cheiro31

que eacute preparado

com o uso de diversas plantas aromaacuteticas e muito procurado pelas pessoas para melhorar

aspectos da vida amor dinheiro e a cura de doenccedilas

Observando a cultura popular quanto agrave eficaacutecia das plantas medicinais percebemos

que haacute uma divulgaccedilatildeo dos valores terapecircuticos das plantas mesmo natildeo tendo informaccedilotildees

das propriedades quiacutemicas Assim pessoas de todo o mundo manteacutem a praacutetica do consumo

fitoteraacutepico validando as informaccedilotildees terapecircuticas que foram acumuladas ao longo dos

seacuteculos sobre as plantas medicinais Segundo Pinheiro (2002 p 16)

a grande procura pelas Terapias Alternativas eacute resultado de vaacuterios aspectos O que

chama mais a atenccedilatildeo eacute que grande parte das pessoas jaacute passou pelo tratamento da

medicina tradicional e natildeo tiveram os resultados que esperavam Mas quando se fala

em Terapia Alternativa no Brasil eacute preciso esclarecer que se trata na maioria dos

casos de praacuteticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina Apenas a

homeopatia e a acupuntura satildeo reconhecidas como especialidades meacutedicas Mas alguns ramos das Terapias Alternativas cobrem aacutereas que a medicina convencional

despreza e que em muitos casos podem ser uma uacutenica e uacutetil complementaccedilatildeo ao

tratamento convencional

Para Levi Strauss (1970 p 51) ldquoquando uma accedilatildeo terapecircutica natildeo alcanccedila o

resultado esperado a feacute e a crenccedila no sistema permanecem pois elas satildeo sempre coletivasrdquo O

que persiste nesses saberes eacute a crenccedila de que haveraacute a melhora ou cura das doenccedilas por meio

dos medicamentos naturais Dentre as praacuteticas alternativas de sauacutede uma muito conhecida eacute a

Bioenergeacutetica32

Esse meacutetodo requer alguns requisitos importantes para seu uso segundo

Barbieri (2008 p 18)

31 As principais plantas usadas para fazer o banho de cheiro segundo seus nomes populares satildeo catinga de mulata

chama abre caminho vindica manjericatildeo manjerona de angola alecrim de angola trevo da sorte trevo do mar japana

branca priprioca aleacutem de oacuteleos de jasmin uirapuru e patchouli 32 Bioenergeacutetica eacute a energia da vida Eacute uma nova teacutecnica de diagnoacutestico e tratamento de doenccedilas baseada na sabedoria do inconsciente humano Esta sabedoria segundo garantem eminentes psicoacutelogos eacute inata e igual para

todos portanto natildeo depende de nenhum estudo mas nos foi infundida por Deus no momento da concepccedilatildeo Eacute

43

O praticante deve ter um bom conhecimento de anatomia e fisiologia para conhecer

os pontos do exame bem como o funcionamento do organismo Ter conhecimento

da energia e de como ela age e reage no organismo conhecer os princiacutepios baacutesicos

da energia e exercitar-se energeticamente treinar com os dedos para ter domiacutenio do campo energeacutetico fazer parceria com um companheiro (a) como o (a) qual

estabelece uma sintonia energeacutetica possibilitando seguranccedila nos testes

O meacutetodo da Bioenergeacutetica originaacuterio do processo de desintoxicaccedilatildeo do corpo pelo

Biosauacutede eacute um procedimento realizado atraveacutes do bioteste ndash ou o teste do anel ndash que revela

problemas de sauacutede presentes no paciente O teste possibilita que a pessoa qualificada tenha

uma visatildeo especiacutefica de todos os pontos a serem cuidados O tratamento eacute feito a base de

plantas medicinais argila alimentaccedilatildeo saudaacutevel e banhos O Biosauacutede ou meacutetodo do

Bioenergeacutetico trata o corpo por completo33

Conhecendo os benefiacutecios que o Bioenergeacutetico pode trazer a senhora Nazareacute propocircs

para os moradores da Pimenteira criar um projeto que pudesse realizar esse trabalho na

comunidade pois alguns moradores jaacute possuiacuteam conhecimento sobre o uso das plantas

medicinais Assim o Bioenergeacutetico foi um dos projetos criados pela AQUAFAP Alguns

ficaram com receio desse trabalho outros moradores receberam bem a proposta e valorizaram

o trabalho que durou em meacutedia um ano

Muitas plantas nativas e caseiras foram cultivadas e catalogadas nesse periacuteodo As

pessoas que foram preparadas por meio do curso de Bioenergeacutetico ficaram cerca de dois anos

estudando pelo CEDENPA eram elas a irmatilde da Domingas Maria Ilene Alves do Nascimento

a senhora Maria Valdenira de Sousa Zacarias e a senhora Maria Zenir dos Santos Castro

Estas pessoas foram a Beleacutem para fazer o curso do Bioenergeacutetico com orientaccedilatildeo da senhora

Nazareacute e adquiriram diversos conhecimentos dentre os quais saber qual doenccedila havia no

corpo de algueacutem

Contudo com o passar dos trabalhos ocorreram desavenccedilas e as pessoas agrave frente do

projeto foram perdendo o interesse e por fim natildeo continuaram em busca de melhorar e

ampliar esse saber e aos poucos pararam de executar o Bioenergeacutetico na comunidade Hoje

um meacutetodo simples que se utiliza apenas dos dedos das matildeos entrelaccediladas em forma de anel feito por duas

pessoas examinadoras Tambeacutem usa uma vareta de metal para encostar na pessoa a ser examinada Pesquisado

no dia 03122014 as 2311hs no site httpwwwjaimebruningcombrbio_saudephp

33 Durante a consulta o paciente eacute submetido ao teste bioenergeacutetico no qual um profissional da equipe faz um

elo usando os dedos polegar e indicador enquanto outro da equipe tambeacutem faz um anel em cada uma de suas

matildeos entrelaccedilando os dedos do outro Com um arame ou metal que conduza corrente um deles vai tocando os

pontos de checagem a matildeo reagiraacute de forma diferente em cada novo toque Quando tocar um oacutergatildeo sadio o imatilde

seraacute mais forte Pesquisado no dia 30072015 as 1734hs no sitehttpwwwcurapelanaturezacombr201103biosaude-desintoxicacao-e-energizacaohtml

44

muitos na comunidade sentem a falta e tem a necessidade de serem tratados por esse saber

mas as pessoas foram instruiacutedas a natildeo transmitirem esse saber para outros e pararam os

trabalhos O local era chamando de ldquoCentro Popular Biosauacutede Pornusenardquo em homenagem agrave

avoacute da senhora Domingas Vejamos abaixo a imagem do local onde antes era realizado o

trabalhado com o bioenergeacutetico e que hoje eacute lugar de encontros para os associados da

AQUAFAP

Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena

Fonte Dados da pesquisa 2013

O centro popular eacute equipado com geladeira armaacuterio fogatildeo mesas e principalmente

o cataacutelogo com as amostras e os nomes das plantas colhidas pelos moradores da comunidade

para a realizaccedilatildeo do trabalho com o Bioenergeacutetico As imagens a seguir satildeo do local onde

ocorriam os trabalhos e tambeacutem a mesa que conteacutem os desenhos da anatomia e fisiologia do

organismo humano

Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico

Fonte Dados da pesquisa 2013

45

Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o funcionamento do organismo

Fonte Dados da pesquisa 2013

O cataacutelogo com amostras das plantas nativas e caseiras da comunidade de

Pimenteiras eacute um acervo rico de informaccedilotildees relacionadas com a biodiversidade da regiatildeo Os

nomes estatildeo escritos de acordo com o saber que os moradores possuem sobre a liacutengua escrita

o que traz maior qualidade nos estudos sobre os termos das plantas escritos pelos moradores

da comunidade quilombola Observemos abaixo algumas plantas dissecadas de forma

tradicional e nomeadas no cataacutelogo

Fotografia 11 ndash Salsa dissecada

Fonte Dados da pesquisa 2013

46

Fotografia 12 ndash Canela dissecada

Fonte Dados da pesquisa 2013

Fotografia 13 ndashVinagreira dissecada

Fonte Dados da pesquisa ano 2013

Observamos que o trabalho com o Bioenergeacutetico proporcionou grande riqueza de

dados os quais objetivamos analisar e conhecer mais profundamente no intuito de contribuir

47

para os estudos cientiacuteficos da Liacutengua por meio dos saberes tradicionais Entretanto o que eacute

conhecimento e o que eacute saber Esse e outros aspectos seratildeo observados no capiacutetulo seguinte

no qual abordaremos as diferenciaccedilotildees entre Conhecimento e Saber

Apontando na comunidade tradicional os sujeitos de saberes bem como a presenccedila

do gecircnero nesses saberes sobre as plantas medicinais incluindo especificamente a detentora

do saber das plantas que eacute a senhora Domingas para finalmente observarmos como tais

saberes constituem a identidade cultural da comunidade quilombola de Pimenteiras

23 SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM PIMENTEIRAS

A partir da compreensatildeo dos saberes como praacuteticas discursivas Michel Foucault

(2009)34

depreende que nesse discurso os termos Saber35

e Conhecimento36

geralmente satildeo

palavras utilizadas no senso comum como sinocircnimas Analisamos que a palavra ldquosaberrdquo

significa ter conhecimento de algo teoacuterico ou praacutetico eacute uma habilidade resultante da

experiecircncia da praacutetica da sabedoria e da cultura O saber eacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito que

sabe e o objeto a ser conhecido eacute um sentimento de seguranccedila que se produz quando se tem

consciecircncia dessa relaccedilatildeo posta em movimento numa dada realidade Jaacute o termo

34 Michel Foucault foi um filoacutesofo historiador das ideias teoacuterico social filoacutelogo e criacutetico literaacuterio Suas teorias abordam a relaccedilatildeo entre poder e conhecimento como eles satildeo usados como uma forma de controle social por

meio de instituiccedilotildees sociais 35Saber - Verbo Transitivo direto transitivo indireto e intransitivo 1conhecer ser ou estar informado ter

conhecimento de 2ter conhecimentos especiacuteficos (teoacutericos ou praacuteticos) 3estar convencido de ter a certeza de

(coisas presentes e futuras) prever pressentir 4ter forccedila meacuterito meio capacidade ou possibilidade de 5ter

habilidade jeito etc para 6poder explicar compreender 7ser capaz de conseguir 8guardar na memoacuteria

decorar 9indagar perguntar 10julgar considerar ter como 11fazer jus a merecer 12ter gosto de lembrar o

sabor de ter sabor ser saacutepido 13soma de conhecimentos adquiridos sabedoria cultura erudiccedilatildeo 14prudecircncia e

sensatez ao agir experiecircncia 15capacidade resultante da experiecircncia praacutetica 36Conhecimento- Substantivo masculino Ato ou efeito de conhecer 1 O ato ou a atividade de conhecer

realizado por meio da razatildeo eou da experiecircncia 11ato ou efeito de apreender intelectualmente de perceber um

fato ou uma verdade cogniccedilatildeo percepccedilatildeo 12Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato estado ou condiccedilatildeo de compreender entendimento 2 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa conhecida 21Derivaccedilatildeo por extensatildeo de

sentido Domiacutenio teoacuterico ou praacutetico de um assunto uma arte uma ciecircncia uma teacutecnica etc competecircncia

experiecircncia praacutetica 3 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia Faculdade de conhecer 4 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido

Intuiccedilatildeo pressentimento ou outra forma de cogniccedilatildeo 5 Fato de reconhecer uma coisa como adrede sabida ou

conhecida reconhecimento 6 Familiaridade (com uma coisa ou uma pessoa) adquirida pela experiecircncia 7

Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Ato ou efeito de estabelecer uma relaccedilatildeo com algueacutem em grau de

intimidade variaacutevel mas ger menor que na amizade 8 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Pessoa com quem se

estabeleceu uma ligeira relaccedilatildeo pessoal ou que pelo menos se sabe de quem se trata 9 Derivaccedilatildeo por extensatildeo

de sentido Uso formal Diacronismo antigo Relaccedilatildeo carnal do homem e da mulher 10 Derivaccedilatildeo por

extensatildeo de sentido Uso formal Diacronismo antigo Noccedilatildeo que cada um tem de sua proacutepria existecircncia e das

pessoas familiares coisas fatos do dia-a-dia consciecircncia lucidez 11 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato ou condiccedilatildeo de estar ciente ou consciente de (algo) 12 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa que se conhece de

que se sabe de que se estaacute informado ciente ou consciente []

48

ldquoconhecimentordquo eacute o ato de conhecer algo por meio da razatildeo ou da experiecircncia eacute portanto o

domiacutenio de um assunto teoacuterico ou praacutetico a ser adquirido (SILVA 2009 p 263)

Observamos que as palavras Saber e Conhecimento sugerem uma relaccedilatildeo do sujeito

com o objeto conhecido ou a ser conhecido Essa relaccedilatildeo do sujeito com o objeto ocorre pela

familiarizaccedilatildeo do sentido com o componente a ser compreendido assim Saber e

Conhecimento satildeo palavras tomadas no dicionaacuterio como sinocircnimas Ambas significam

experiecircncia ciecircncia percepccedilatildeo informaccedilatildeo e ato de conhecer

Entretanto no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras as palavras saber e conhecimento natildeo teratildeo significaccedilatildeo semelhante Isto se

confirma nos estudos de Foucault (1987) sobre a relaccedilatildeo de poder e saber O autor ressalta a

ideia de que na produccedilatildeo dos saberes haacute sempre uma dependecircncia muacutetua entre estas

categorias Para ele natildeo haacute saber sem estar tocado pelas complexas relaccedilotildees de poder mas

essas relaccedilotildees se constituem em conjunto com a produccedilatildeo dos saberes (FREITAS 2005)

Eacute nesse contexto de poder que Foucault diferencia o conceito de saber e de

conhecimento Para o pesquisador o conhecimento eacute a constituiccedilatildeo de discurso sobre classe

de objetos passiacuteveis de se conhecer ou seja cognosciacuteveis que satildeo construiacutedos pelo processo

de racionalizaccedilatildeo identificaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo dos objetos Jaacute o saber segundo o

pesquisador eacute um processo flexiacutevel que sofre mudanccedilas durante o trabalho de conhecer

enquanto o conhecimento eacute carregado e estagnado

Foucault ainda explica que o sujeito cognitivo eacute marcado por sua cultura pelos

aspectos externos e de uma memoacuteria que atravessa o tempo atraveacutes das significaccedilotildees

pensamentos e desejos no acircmbito do conhecimento (ALMEIDA 2012) Com base nesses

estudos compreendemos que os saberes dos moradores da comunidade de Pimenteiras satildeo

construiacutedos constantemente nas relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridos culturalmente

Observamos que a palavra conhecimento eacute uma verdade preacute-construiacuteda linear

imoacutevel independente do contexto no qual seraacute processada No decorrer dos questionamentos

compreendemos que a palavra conhecimento se refere a situaccedilotildees objetivas e teoacutericas que

devidamente sistematizadas datildeo lugar agrave ciecircncia A palavra saber por sua vez pode referir-se

a situaccedilotildees tanto objetivas como subjetivas tanto teoacutericas quanto praacuteticas eacute como se a palavra

conhecimento coubesse dentro da palavra saber e natildeo o contraacuterio

Para nos ajudar na compreensatildeo desses termos citamos Zubiri (1974) que em seus

estudos mostra que o homem tem um modo de experiecircncia com as coisas de uma maneira

simples e uacutenica Eacute um saber que toca no iacutentimo de cada coisa natildeo eacute a percepccedilatildeo de cada uma

de suas caracteriacutesticas eacute uma espeacutecie de sentido do ser Eacute a experiecircncia que temos com o

49

objeto colocando-o no espiacuterito Desta forma Monteil (1985 apud Charlot 2000 p 61) assim

distingue

O conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal ligada agrave atividade de um

sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas como tal eacute intransmissiacutevel estaacute

ldquosob a primazia da subjetividaderdquo Assim como a informaccedilatildeo o saber estaacute ldquosob a

primazia da objetividaderdquo mas eacute uma informaccedilatildeo de que o sujeito se apropria

Desse ponto de vista eacute tambeacutem conhecimento poreacutem desvinculado do ldquoinvoacutelucro

dogmaacutetico no qual a subjetividade tende a instalaacute-lordquo O saber eacute produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos eacute construiacutedo em ldquoquadros metodoloacutegicosrdquo

Pode portanto ldquoentrar na ordem do objetordquo e torna-se entatildeo ldquoum produto

comunicaacutevelrdquo uma ldquoinformaccedilatildeo disponiacutevel para outrem

Saber natildeo eacute soacute entender a veracidade das coisas desde os seus princiacutepios haacute

necessidade de se conquistar realmente a posse da ldquorealidaderdquo Esta posse da ldquorealidaderdquo

permite colocar o conhecimento em accedilatildeo num determinado contexto o que ocasiona a

construccedilatildeo do saber pois natildeo basta apreendermos a ldquoverdade da realidaderdquo (conhecimento) eacute

necessaacuterio construirmos a ldquorealidade da verdaderdquo (saber) (MOTA 2008)

Para Schlanger (1978 apud Charlot 2000) saber e conhecimento mantecircm uma

pertinente relaccedilatildeo de interaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto Para ele a anaacutelise parece pertinente

ao dizer que natildeo haacute ldquosaberrdquo sem relaccedilatildeo entre sujeito e objeto outros sujeitos e outras

realidades A confrontaccedilatildeo pessoal do sujeito apropriado de conhecimentos numa realidade

especiacutefica e singular implica na atividade do sujeito de produzir saberes Schlanger (1978

apud CHARLOT 2000 p 22) expotildee que ldquoO saber eacute uma relaccedilatildeo um produto e um

resultado relaccedilatildeo do sujeito que conhece com seu mundo resultado dessa interaccedilatildeordquo

Enquanto o conhecimento para o pesquisador eacute exatamente a obtenccedilatildeo de uma imagem

cognitiva interna de uma verdade independente de uma realidade estabelecida pela relaccedilatildeo

cognitiva interna e ativa do sujeito sobre o objeto Assim o objeto de conhecimento eacute

qualquer realidade externa ao indiviacuteduo que atraveacutes do ato intelectual torna-se interna

O saber por sua vez necessita de uma relaccedilatildeo natildeo soacute interna do indiviacuteduo sobre o

objeto mas uma relaccedilatildeo entre esse sujeito seu conhecimento e uma dada realidade ou

contexto Por conta disso vemos o saber como o movimento do conhecimento em contato

com um determinado contexto numa dada realidade confrontando suas muacuteltiplas faces

transcendendo o conhecimento jaacute consolidado reinventando-o recriando-o e traduzindo-o

conforme as necessidades imperadas pelas circunstacircncias (SCHLANGER 1978 apud

CHARLOT 2000)

O saber e o conhecimento satildeo formas de relacionamento com a realidade formas de

dizer de pensar de ser e de estar no mundo e com o mundo Eacute com estas explanaccedilotildees sobre o

que individualiza o saber que entenderemos os saberes da comunidade de Pimenteiras

50

saberes de um povo que durante seacuteculos lutou para alcanccedilar sua liberdade seu direito agrave terra e

seu espaccedilo na sociedade Eacute pertinente ao ser humano a sobrevivecircncia por isso para Brandatildeo

(1993 p 20 apud PELAES 2010)

Haacute a necessidade de sobrevivecircncia do homem que cria mecanismos para se adaptar aos desafios da natureza Com isso o homem desenvolve meios de sobrevivecircncia

bens de uso e bens de troca dentro de um cenaacuterio de interaccedilotildees Tais homens atuam

como indiviacuteduos sujeitos do mundo da cultura pessoas que segundo o autor satildeo

agentes culturais e atores sociais convivendo em cenaacuterios da cultura

Em vista da necessidade de sobrevivecircncia os remanescentes de Quilombola da

comunidade de Pimenteiras possuem e utilizam os saberes que foram adquiridos de seus

antepassados sobre a manipulaccedilatildeo das plantas medicinais a fim de alcanccedilar a cura de

doenccedilas Tendo em vista as dificuldades de acesso aos recursos de sauacutede eles buscaram na

natureza as espeacutecies vegetais mais apropriadas para sua alimentaccedilatildeo ou para a cura de seus

males entre as geraccedilotildees

Apesar de muitas plantas serem uacuteteis ao homem existem aquelas que produzem

substacircncias toacutexicas ou venenosas assim eacute preciso saber bem as caracteriacutesticas de cada planta

para poder usaacute-la como remeacutedio Eacute comum se ouvir dizer que o uso das plantas medicinais ldquose

natildeo fizer bem mal natildeo faraacuterdquo poreacutem natildeo eacute bem assim Do ponto de vista cientiacutefico o saber

sobre as plantas ainda eacute um campo pouco estudado e difundido no paiacutes Apesar da riqueza da

flora brasileira os estudos na aacuterea ficam mais restritos agrave antropologia

O uso inadequado das plantas poderaacute trazer efeitos indesejados e por vezes ateacute a

morte do indiviacuteduo Eacute imprescindiacutevel ter conhecimento natildeo somente das plantas mas tambeacutem

das doenccedilas para fazer a seleccedilatildeo correta da planta a ser utilizada de acordo com a forma de

uso a frequecircncia a quantidade a idade e o metabolismo de cada pessoa Enfim os saberes

das plantas e os conhecimentos cientiacuteficos podem juntos contribuir para a sauacutede e bem estar

dos moradores da comunidade de Pimenteiras aleacutem de preservar sua cultura como identidade

cultural de um povo

Da distinccedilatildeo entre saber e conhecimento iremos ao toacutepico seguinte no qual

abordaremos a comunidade tradicional e os sujeitos de saberes sobre as plantas medicinais

Quem satildeo e o que caracteriza as comunidades tradicionais Que aspectos marcam sua

identidade como sujeitos de saberes Ou seja eacute a construccedilatildeo do sujeito atraveacutes do saber

adquirido entre as geraccedilotildees

51

231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes

Entendemos que o conhecimento eacute construiacutedo a partir do acuacutemulo de experiecircncias

vivenciadas no acircmbito fiacutesico e social Nas populaccedilotildees tradicionais37

que satildeo estas

constituiacutedas por grupos comunitaacuterios humanos os quais na sua maioria vivem no meio rural

habitando determinado territoacuterio com seus haacutebitos usos e costumes o conhecimento eacute

construiacutedo a partir da relaccedilatildeo com o meio em que vivem inserindo no ecossistema

preservaccedilatildeo significaccedilatildeo ressignificaccedilatildeo valores e saberes que seratildeo transmitidos de geraccedilatildeo

em geraccedilatildeo por procedimentos educativos tradicionais

Alguns aspectos diferenciam as populaccedilotildees tradicionais das populaccedilotildees natildeo

tradicionais tais como pouca acumulaccedilatildeo de bens apropriaccedilatildeo do espaccedilo natural estrateacutegias

de sobrevivecircncia a partir do conhecimento de fontes naturais adquiridas entre as geraccedilotildees e

vivecircncias com o meio aleacutem da construccedilatildeo de um modo de vida de acordo com os ciclos dos

recursos que a natureza oferece

As comunidades tradicionais se reconhecem como pertencentes a um grupo social

particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de cada grupo Assim

as sociedades tradicionais se apresentam mais homogecircneas do que as comunidades natildeo

tradicionais pois ocupam aacutereas de pouca densidade populacional com atividades agriacutecolas

festas culturais e cultos religiosos que funcionam como fator de aglutinaccedilatildeo social

Estas comunidades desenvolvem seus saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a

natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia de seu grupo Castro (2000 p 169)

compreende que as accedilotildees praticadas pelo homem e os mecanismos de intervenccedilatildeo na natureza

satildeo frutos do acuacutemulo de experiecircncias vivenciadas no meio e de saberes reelaborados no meio

social atraveacutes das geraccedilotildees

Nesse contexto observamos que a comunidade tradicional de Pimenteiras conteacutem

saberes conduzidos entre as geraccedilotildees e preservado de acordo com os costumes culturais que

os moradores quilombolas adquiriram com o passar do tempo tais saberes satildeo denominados

de conhecimento popular

O conhecimento popular agraves vezes denominado senso comum natildeo se distingue do

conhecimento cientiacutefico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto a ser conhecido O

que os diferencia eacute a forma o modo ou o meacutetodo do conhecer (LAKATTOS MARCONI

37 Art 3ordm Decreto nordm 6040 de 7 de fevereiro de 2007 presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva instituiu a Poliacutetica

Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT)

52

1991) Saber que determinada planta necessita de uma quantidade de aacutegua pode ser um

conhecimento verdadeiro e comprovado contudo isso natildeo o torna cientiacutefico Para haver

cientificidade eacute necessaacuterio ir mais aleacutem eacute preciso conhecer a natureza dos vegetais sua

composiccedilatildeo seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espeacutecie

da outra Assim demonstra-se que a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico caminho de acesso ao

conhecimento e agrave verdade e que um mesmo objeto como uma planta um mineral ou uma

comunidade pode ser objeto de estudo tanto para a ciecircncia quanto para o homem comum ou

seja o que caracteriza o conhecimento cientiacutefico do saber popular eacute a forma de observaccedilatildeo

(BUNGE 1974)

Eacute a partir da observaccedilatildeo que os saberes sobre as ervas e plantas foram adquiridos

entre as geraccedilotildees e hoje muitas comunidades tradicionais utilizam os recursos caseiros para

curar e amenizar as doenccedilas Segundo Bunge (1974 p 20) a Ciecircncia aspira pela

racionalidade e objetividade isto soacute eacute atingido de forma muito limitada O conhecimento

popular por sua vez busca o comum o corrente e o espontacircneo de conhecer algo que soacute se

adquire no trato direto com as coisas e com os seres humanos Para o autor o conhecimento

popular caracteriza-se pelo superficial sensitivo subjetivo assistemaacutetico e acriacutetico (ANDER-

EGG 1978)

No campo do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais este eacute um

saber que acompanha o movimento histoacuterico e cultural da humanidade Transmitido

oralmente de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo esses conhecimentos sobre as plantas medicinais

constituiacuteram o alicerce do conhecimento tradicional Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o

saber tradicional sobre as plantas medicinais passou a ser desvalorizado fato que

consequentemente causou a desvalorizaccedilatildeo cultural das comunidades tradicionais que as

utilizavam

Assim valorizar esse conhecimento estaacute intimamente ligado ao fortalecimento

cultural e identitaacuterio de uma dada comunidade Segundo Gallois (2006) o saber tradicional eacute

um conhecimento que deve ser respeitado pois eacute transmitido oralmente entre as geraccedilotildees

com praacuteticas e inovaccedilotildees e natildeo como um simples repositoacuterio de conhecimentos do passado A

praacutetica de uso das plantas medicinais tanto para cura fiacutesica quanto espiritual faz parte das

relaccedilotildees que os moradores da comunidade de Pimenteiras apreenderam ao longo do tempo na

observaccedilatildeo da natureza consigo mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas

de cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita

relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais

53

Conhecer as praacuteticas ancestrais de utilizaccedilatildeo das plantas medicinais ainda existentes

na comunidade de Pimenteiras aleacutem de conduzir a uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do saber

tradicional com o conhecimento cientiacutefico eacute aspecto relevante para fortalecer a identidade de

um povo A comunidade utiliza o saber tradicional sobre as plantas medicinais nas suas

praacuteticas cotidianas cuidando da sauacutede apesar disso ela ainda necessita compreender a

importacircncia deste saber para o fortalecimento da sua identidade cultural e construir um

diaacutelogo entre os saberes existentes na regiatildeo com o conhecimento cientiacutefico

Os saberes existentes sobre as plantas satildeo sem duacutevida uma forte marca na

comunidade de Pimenteiras Sobretudo vale destacar que na grande maioria das famiacutelias tal

saber eacute transmitido pelo gecircnero feminino As mulheres adultas e idosas satildeo as que mais se

destacam no acervo de conhecimento sobre as plantas Com isso observamos que o

conhecimento das plantas medicinais eacute ancestral e natural entre as geraccedilotildees femininas ou

seja as pessoas mais velhas satildeo consideradas as ldquoguardiatildesrdquo dos saberes de cura por meio das

plantas medicinais satildeo elas que conhecem os usos das plantas e perpetuam esse

conhecimento agraves geraccedilotildees posteriores

Em consideraccedilatildeo agraves moradoras quilombolas da comunidade de Pimenteiras que

perpetuaram tatildeo valoroso conhecimento e proporcionaram preservar os saberes das plantas

medicinais trataremos no toacutepico seguinte os aspectos referentes agrave presenccedila do gecircnero

feminino nos saberes sobre a plantas da comunidade de Pimenteiras

232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais

As plantas medicinais sempre fizeram parte da histoacuteria de muitos povos na

antiguidade Muito antes de frequentar as farmaacutecias para buscar o aliacutevio de alguma dor

buscamos em nossos quintais ou nas matas uma determinada planta que por conselho dos

mais velhos poderia resolver o problema Com o passar dos tempos diversos povos

utilizaram as plantas medicinais de diferentes formas Os portugueses quando chegaram ao

Brasil jaacute desfrutavam o poder das plantas medicinais os indiacutegenas por sua vez contribuiacuteram

muito com o conhecimento que jaacute possuiacuteam das plantas usadas como remeacutedio e alimento

Desse modo existem muitas maneiras de empregar as plantas no uso medicinal tais

como chaacutes garrafadas xaropes defumadores e banhos e nessas diferentes formas de uso das

54

plantas a grande diversidade de espeacutecies vegetais na Amazocircnia traz marcas da presenccedila

feminina no domiacutenio dos saberes sobre as plantas Segundo Rodrigues (2008 p 2)

Diante dessa sociodiversidade nos contextos amazocircnicos nosso recorte de apreensatildeo

da realidade busca perceber as afirmaccedilotildees quanto aos papeacuteis sociais empregados a

mulheres e homens no domiacutenio de um saber o das plantas medicinais apreender

diante desse contexto como se apresentam as relaccedilotildees de poder em relaccedilatildeo ao

conhecimento e demonstrar a visatildeo mercadoloacutegica sobre os conhecimentos

tradicionais que se apropria da oacutetica patriarcalista reafirmadora de estereoacutetipos que

naturaliza as relaccedilotildees sociais e portanto como tais aspectos influem diretamente

nas questotildees soacutecio-culturais da sauacutede popularcoletiva e no acircmbito de poliacuteticas

sociais

As plantas medicinais satildeo usadas haacute milecircnios como fonte de cura Apesar de a Idade

Meacutedia ser conhecida como Idade das Trevas foi uma eacutepoca em que a Europa Medieval sofreu

uma forte mudanccedila nos haacutebitos alimentares Nessa eacutepoca os vegetais passaram a ser pouco

consumidos havendo preferecircncia para as carnes patildees e frutas Com isso o conhecimento

sobre as plantas ficou armazenado nas matildeos da Igreja Catoacutelica que utilizava-os apenas para a

medicina e a praacutetica espiritual

As mulheres desse periacuteodo que possuiacutessem certo conhecimento sobre as plantas

medicinais para curar as enfermidades nos familiares eram fortemente rejeitadas julgadas e

condenadas como pecadoras e hereges eram mortas agrave fogueira pois na visatildeo da Igreja quem

tivesse tal conhecimento enganava as leis divinas com rituais que iam contra os seus

preceitos Assim vaacuterias mulheres foram perseguidas e acusadas de bruxaria e por

conseguinte foram assassinadas pela praacutetica de suas crenccedilas e cultura

As mulheres foram em grande nuacutemero acusadas de bruxaria e em consequumlecircncia

desmoralizadas ou tiveram que aceitar como espuacuterios e iliacutecitos os seus saberes

aqueles que compartilhavam com outras mulheres na convivecircncia entre matildees e

filhas uma geraccedilatildeo apoacutes outra (TELLES apud RAGO FUNARI 2008 p81)

Ao observarmos a relaccedilatildeo entre a presenccedila feminina com o saber sobre as plantas

verificamos que a autoridade no conhecimento pode revelar mais que uma praacutetica cultural e

histoacuterica predominante agraves mulheres Esta praacutetica revela um contexto domeacutestico no qual o

trabalho das mulheres eacute revestido pelas relaccedilotildees de poder Em casa o saber o uso e o manejo

das plantas medicinais eacute algo predominante ao gecircnero feminino Essa observaccedilatildeo estaacute

relacionada com as diferenccedilas entre gecircneros e na divisatildeo social e sexual Pelo fato de ser

ldquoobrigadardquo a cuidar dos filhos a mulher tem por extensatildeo a preocupaccedilatildeo maior em saber dos

usos de plantas medicinais por estar diretamente ligada ao sentimento de zelo sauacutede e bem

estar da famiacutelia

55

Nesse contexto as plantas medicinais normalmente satildeo manejadas em quintais

espaccedilo considerado parte do ambiente domeacutestico e feminino assim como o cuidado com os

filhos que natildeo eacute visto como ldquotrabalhordquo Nas observaccedilotildees de Gonccedilalves a accedilatildeo de trabalhar

com as plantas estaacute relacionada ao seguinte conceito ldquoTrata-se da forma como cada cultura

lida com as diferenccedilas entre os sexos alocando a cada um deles determinados atributos e agrave

maneira como estes atributos satildeo valorados socialmenterdquo (GONCcedilALVES 1998 p 51)

Assim pode-se afirmar que eacute comum ao gecircnero feminino conhecer e saber utilizar as

plantas medicinais como forma de prevenccedilatildeo e bem estar proacuteprio e comunitaacuterio Para a

mulher ter propriedade no conhecimento das plantas medicinais estaacute relacionado com o

cuidado aos filhos afinal isto representa o principal motivo para ter aprendido com a matildee a

avoacute a tia ou a vizinha eacute uma ldquoheranccedila de saberrdquo da transmissatildeo frequente entre as geraccedilotildees

e de transmissatildeo entre as mulheres

Como bem menciona Tosi (1998) o fato de que as bruxas eram mulheres que

detinham conhecimentos eram mulheres saacutebias de conhecimentos empiacutericos que praticavam

desde eacutepocas ancestrais demonstra um pouco desse trajeto sobre o saber das plantas

medicinais que passou por geraccedilotildees femininas as quais foram tidas como guardiatildes do saber

Nas comunidades tradicionais as mulheres tambeacutem guardam tais saberes medicinais

das plantas Assim seguiremos no toacutepico seguinte tratando especificamente sobre uma

moradora da comunidade de Pimenteira uma mulher que ateacute os dias atuais traz saberes de

suas ancestrais como forma de perpetuar e preservar um conhecimento que hoje identifica um

povo

233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes

A confianccedila em alcanccedilar a cura de diversas enfermidades do corpo por meio do uso

medicinal de plantas eacute um conhecimento conservado entre as geraccedilotildees femininas na regiatildeo da

Pimenteira Avoacutes matildees filhas e netas constituem um ciacuterculo no qual os saberes tecircm sido

repassados entre as geraccedilotildees

As mulheres da comunidade de Pimenteiras vivem o costume de cuidar da casa

educar os filhos e ajudar os maridos nos trabalhos da roccedila Elas satildeo encarregadas de muitas

atividades dentre as quais o manejo da terra para auxiliar o marido nas atividades da

agricultura eacute bastante comum No entanto o contraacuterio natildeo ocorre ou seja os homens natildeo

56

cuidam dos filhos natildeo preparam as refeiccedilotildees e nem manipulam as plantas para o uso

medicinal

A heranccedila do saber sobre o uso das plantas medicinais eacute puramente feminina devido

aos cuidados que as mulheres quilombolas possuem com os filhos com a casa e com a terra

Rodrigues (2008 p 4) expotildee sobre a importacircncia dos saberes tradicionais guardados pelas

mulheres nas comunidades para a preservaccedilatildeo da cultura de um povo

[] na medida em que o conhecimento da natureza a partir dos conhecimentos

tradicionais sobre o uso de plantas medicinais eacute manipulaacutevel tanto por mulheres e

homens ambos tecircm um reconhecimento de uma cultura proacutexima da natureza que

natildeo os menospreza pelo contraacuterio em suas localidades satildeo considerados

importantes pelo saber que detecircm primordialmente no que tange a sauacutede

coletivapopular []

Os remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras vivem e lutam pelo

direito agrave terra e agrave preservaccedilatildeo dos valores e saberes da regiatildeo Sabemos que cerca de oito

milhotildees de brasileiros fazem parte de comunidades tradicionais dentre as quais uma meacutedia de

dois milhotildees38

correspondem a remanescentes de quilombo De acordo com o Decreto de nordm

604039

de 07 de fevereiro de 2007 os povos e comunidades tradicionais satildeo grupos

culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais possuindo formas proacuteprias de

organizaccedilatildeo social ocupando e usando os recursos naturais como condiccedilatildeo de sobrevivecircncia

da sua reproduccedilatildeo cultural social e religiosa com inovaccedilotildees nas praacuteticas geradas e

transmitidas pela tradiccedilatildeo Nos relatos da senhora Domingas ser quilombola eacute algo

relacionado com a natureza e a terra conforme se pode observar em um trecho transcrito de

sua fala

[] mas ser quilombola acho que eacute ser vem dessa descendecircncia e assim das

(coisas) tradicional as coisas da natureza aprender e viver com a natureza eu

acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre assim vendo os iacutendios porque

os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu acho que ser

quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as

coisas pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende

as coisas com a natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque

aquele tempo dos dos dos negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de

leitura (nada nada) MAS com a natureza eles aprendiam alguma coisa

(informaccedilatildeo verbal)40

38Informaccedilatildeo contida no Centro de documentaccedilatildeo Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES 2008) Site

httpwwwcedefesorgbr

39 Institui a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) 40Depoimento da senhora Domingas transcrito de forma grafemaacutetica em Pimenteiras outubro de 2014

57

Eacute fato que nem todos os moradores fazem uso do conhecimento sobre as plantas mas

os que preservam este saber satildeo referecircncia na comunidade para as demais localidades da

regiatildeo como eacute o caso da senhora Domingas Alves do Nascimento41

Moradora de origem

quilombola ela eacute conhecedora do poder medicinal das plantas vivendo da agricultura e das

vendas dos produtos feitos com as plantas como a garrafada multimistura e pomadas Devido

agrave forte relaccedilatildeo com a terra ela cultiva suas ervas e plantas em casa como meio de

proporcionar a sauacutede de seus familiares e de seu povo A senhora Domingas eacute uma pessoa

desinibida trabalhadora e aacutevida pelo conhecimento medicinal das plantas Na entrevista a

moradora escolheu seu quintal como espaccedilo para conversar o local possui muitas plantas

aacutervores sombra e vento forte De forma acolhedora e sorridente algo marcante em sua

personalidade Domingas demonstrou grande acolhimento e bem estar durante a conversa

pois Apesar de sua pouca escolaridade eacute uma grande contadora de histoacuterias com forccedila e

determinaccedilatildeo no que diz

Domingas luta pelos direitos de seu povo buscando recursos que viabilizem

melhorias para a comunidade sua relaccedilatildeo com a terra veio de seus ancestrais que vieram da

comunidade de Narciacutesea para por suas raiacutezes na comunidade de Pimenteiras42

Durante a

conversa Domingas falou de suas origens sua famiacutelia da Associaccedilatildeo da titulaccedilatildeo da terra de

seu trabalho na lavoura e do saber sobre as plantas Este aspecto eacute o que mais chama a

atenccedilatildeo devido ao grande conhecimento demonstrado a respeito das plantas medicinais

A moradora de Pimenteiras vive na comunidade rural haacute cerca de cinquenta anos

Durante esse tempo muitos saberes de seus antepassados sobre as plantas medicinais foram

repassados Sua avoacute materna ndash senhora Joana Pornusena dos Santos ndash e sua matildee ndash senhora

Otiacutelia Alves do Nascimento ndash eram sabedoras do uso de chaacutes para a cura de males do corpo e

da alma Com o passar dos anos o conhecimento da senhora Domingas sobre as plantas

passou a ser muito importante para a comunidade local e visualizado por cooperativas e

organizaccedilotildees como o CEDENPA e pela Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria43

A partir

41

Em entrevista realizada em 19 de outubro de 2014 a moradora de Pimenteiras Domingas em seu discurso

apresentou saberes de um povo que se manteacutem com os recursos da natureza procurando preservar o ambiente

em que vive Para realizar esta pesquisa foi necessaacuterio registrar a conversa com a senhora Domingas atraveacutes de

fichas com perguntas variadas sobre sua histoacuteria a comunidade e o uso medicinal das plantasDepois foi

indispensaacutevel a gravaccedilatildeo do som e imagem da entrevistada para na sequecircncia analisar seu discurso que foi

transcrito de forma grafemaacutetica Com esse material transcrito fizemosa anaacutelise de um discurso repleto de saberes

de um povo historicamente deixado agrave margem social

42 Pimenteiras possui este nome devido agraves grandes plantaccedilotildees de pimenta existente na eacutepoca dos avocircs de

Domingas 43

A Rede Bragantina reuacutene atualmente vinte e sete organizaccedilotildees membros que trabalham por uma cultura de

sustentabilidade a partir de novas relaccedilotildees econocircmicas afetivas de gecircnero e etnia no sentido da existecircncia

humana Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria Artes amp Sabores tem o objetivo de produzir com respeito agraves

58

desse contexto a moradora foi orientada para aprimorar seus saberes sobre as plantas fazendo

cursos de aproveitamento e utilizaccedilatildeo dos alimentos para a sauacutede

Conhecer mais e aprimorar o conhecimento sobre as plantas medicinais vai ao

encontro dos saberes adquiridos entre as geraccedilotildees de mulheres com quem Domingas

conviveu O trabalho com as plantas eacute muito importante para a moradora a ponto que hoje o

saber sobre as plantas eacute algo que identifica a comunidade de Pimenteiras No toacutepico seguinte

veremos como a comunidade atualmente eacute conhecida pela forte relaccedilatildeo dos moradores com a

terra com as tradiccedilotildees e suas praacuteticas culturais proacuteprias e portanto identitaacuterias

234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais

Tudo aquilo que eacute construiacutedo pelo ser humano incluindo os mitos os siacutembolos os

ritos todas as crenccedilas todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento de um

povo eacute o que marca as especificidades de cada comunidade ou seja sua Cultura A definiccedilatildeo

do conceito de cultura atualmente se tornou difiacutecil pois ela pode ser estudada sob diversos

pontos de vista Eacute necessaacuterio portanto escolher uma perspectiva para poder defini-la

Desse modo analisamos os estudos de Cuche (1999) que descreve o processo

evolutivo como uma questatildeo de adaptaccedilatildeo do homem de acordo com a geneacutetica do meio

ambiente natural para uma adaptaccedilatildeo cultural dos primeiros homens Segundo o pesquisador

a noccedilatildeo de cultura era compreendida no seu sentido amplo e desde seu aparecimento no

seacuteculo XVIII suscitou constantes debates contraditoacuterios com a ideia moderna da cultura da

eacutepoca fazendo oposiccedilatildeo com a noccedilatildeo de sociedade no mesmo campo significativo

Nesse aspecto Cuche (1999 p 10) relata que ldquoA cultura permite ao homem natildeo

somente adaptar-se a seu meio mas tambeacutem adaptar este meio ao proacuteprio homem as suas

necessidades e seus projetos Em suma a cultura torna possiacutevel a transformaccedilatildeo da naturezardquo

Conhecer profundamente a comunidade de Pimenteiras trouxe forte significaccedilatildeo no

campo dos estudos cientiacuteficos e principalmente no campo dos saberes populares pois

permitiu analisar os aspectos culturais que permeiam e identificam a regiatildeo A partir disso

conhecer a cultura de um povo significa conhecer e valorizar a nossa cultura como

autoafirmaccedilatildeo do que somos Examinar como foi formada a palavra o conceito cientiacutefico que

culturas agraves sinergias da natureza valorizando os agroecosistemas locais na perspectiva da seguranccedila alimentar e

desenvolvimento sustentaacutevel Veja o site httpamazoniaemredeblogspotcombr

59

dela depende localizar sua origem e evoluccedilatildeo semacircntica evidenciam assim os laccedilos que

existem entre a histoacuteria da palavra cultura e a histoacuteria das ideias Se pensada como um

conjunto de ideias valores e conhecimentos cultura traz dentro de si em primeiro lugar a

dimensatildeo do passado Muitos conhecimentos foram herdados de outras geraccedilotildees e a cada

tempo que passa mais conhecimento eacute acumulado Eacute extraordinaacuterio como a nossa memoacuteria

fica cada vez mais enriquecida pois o tempo passa e a memoacuteria cresce proporcionalmente

(CUCHE 1999) Logo eacute sensato valorizar a identidade cultural de um povo pois atraveacutes dela

alcanccedilamos as diversas histoacuterias de nossos antepassados (CUCHE 1999)

Frente a tudo que foi explanado compreendemos que a comunidade de Pimenteiras

pode ser definida como comunidade tradicional pois eacute culturalmente diferenciada Assim

nessa construccedilatildeo da identidade coletiva do grupo os siacutembolos os saberes as tradiccedilotildees estatildeo

ligados agrave reproduccedilatildeo cultural social e econocircmica da comunidade que aleacutem de tudo tem

como consequecircncia a proteccedilatildeo da biodiversidade local Ao compreenderem que os recursos

naturais satildeo esgotaacuteveis e valiosos para a sauacutede os moradores da comunidade de Pimenteiras

buscam preservar e proteger os saberes sobre as plantas medicinais a ponto de construir sua

identidade cultural nesse domiacutenio

Eacute assim que a comunidade tradicional de Pimenteiras eacute conhecida e se reconhece

como pertencente a um grupo social particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e

reconstruccedilatildeo de um grupo A comunidade remanescente de quilombola desenvolve seus

saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia

de seu grupo (CASTRO 2000) Por isso eacute necessaacuterio conhecer e respeitar os saberes

preservados na memoacuteria de um povo juntamente com o ambiente natural em que vivem

A valorizaccedilatildeo do conhecimento popular estaacute intimamente ligada ao fortalecimento

cultural e identitaacuterio da comunidade de Pimenteiras que por sua vez faz da praacutetica de uso das

plantas medicinais a simboacutelica relaccedilatildeo que os moradores desenvolveram ao longo do tempo

com a natureza com eles mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas de

cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita

relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais que constituem a identidade

cultural de um povo (BADKE 2008)

Observando os aspectos que marcam a identidade cultural da comunidade de

Pimenteiras passaremos no capiacutetulo seguinte agrave fundamentaccedilatildeo desse estudo sobre os termos

catalogados das plantas medicinais da comunidade analisando a importacircncia do legado de

identidade e cultura popular Para isto seratildeo consideradas as especificidades das plantas

medicinais diante do saber cientiacutefico e da sabedoria tradicional analisados por meio da aacutervore

60

de domiacutenio Em seguida daremos continuidadeaos estudos sobre as ciecircncias do termo e a

terminologia nas especialidades da nomeaccedilatildeo das plantas medicinais Junto a este estudo

abordaremos as particularidades da Terminologia ateacute a Socioterminologia como fundamentos

essenciais para o estudo do termo das plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

61

3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Neste capiacutetulo apresentamos os fundamentos teoacutericos deste trabalho buscando os

conhecimentos sobre Liacutengua Terminologia Socioterminologia e Termo Segundo Perini

(2010 p 01-02) a liacutengua eacute ldquoum sistema programado em nosso ceacuterebro que essencialmente

estabelece uma relaccedilatildeo entre os esquemas mentais que formam nossa compreensatildeo do mundo

e um coacutedigo que os representa de maneira perceptiacutevel aos sentidosrdquo A liacutengua eacute caracterizada

como sistema de grande complexidade que envolve regras leacutexicos expressotildees e clichecircs que

se encontram enraizados na cultura Eacute por meio dela que manifestamos exteriormente nossa

capacidade humana de utilizar a linguagem

A terminologia por sua vez eacute a ciecircncia que ldquotoma o leacutexico especializado ou

temaacutetico que eacute composto pelos termos teacutecnico-cientiacuteficos como seu objeto principal de

estudos e de aplicaccedilotildees Eacute uma aacuterea que recorta do universo leacutexico os termos teacutecnico-

cientiacuteficosrdquo (KRIEGER 2011 p 443) Os estudos terminoloacutegicos atuais tecircm enfatizado a

perspectiva social dos termos assim a Socioterminologia eacute tambeacutem parte de tais estudos da

Terminologia Faulstich (1995) explica que a socioterminologia eacute uma disciplina descritiva

que estuda o termo na perspectiva linguiacutestica da interaccedilatildeo social ldquoeacute a disciplina que se ocupa

da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguumliacutesticas dos termos em diferentes tipos

de situaccedilatildeo de uso da liacutenguardquo (FAULSTICH 1995 p 1)

Para Sager (1998 apud DIAS 2000 p 90) a terminologia tida como teoria ldquoeacute um

conjunto de premissas argumentos e conclusotildees necessaacuterio para explicar o relacionamento

entre conceitos e termos especializadosrdquo Jaacute como praacutetica a terminologia ldquoeacute um conjunto de

meacutetodos e atividades voltado para coleta descriccedilatildeo processamento e apresentaccedilatildeo de termos

como produto eacute um conjunto de termos ou vocabulaacuterio de uma determinada especialidaderdquo

O termo por sua vez apresenta trecircs concepccedilotildees Segundo os estudos de Cabreacute (1995

apud DIAS 2000 p 90) tem-se a concepccedilatildeo linguiacutestica de que os termos satildeo uma forma de

saber ou seja ldquoos termos satildeo o conjunto de signos linguumliacutesticos que constituem um

subconjunto dentro do componente leacutexico da gramaacutetica de determinada pessoardquo No campo da

filosofia o termo eacute uma forma de conhecer em que ldquoa terminologia eacute um conjunto de

unidades cognitivas que representam o conhecimento especializadordquo Finalmente o termo eacute

uma forma de transferir e comunicar pois ldquoa terminologia eacute o conjunto das unidades de

expressatildeo e comunicaccedilatildeo que permitem transferir o pensamento especializadordquo

62

Cada aacuterea de conhecimento aborda seus termos de forma diferente e especializada

Assim na primeira parte desse capiacutetulo apresentaremos algumas compreensotildees sobre a

importacircncia da Liacutengua na identidade cultural dos moradores da comunidade de Pimenteiras

cuja cultura conhecemos por meio da anaacutelise da linguagem especializada sobre as plantas

medicinais No toacutepico seguinte verificaremos os aspectos sobre o conhecimento cientiacutefico e

popular a respeito das plantas de uso medicinal considerando que estas marcam e identificam

a comunidade quilombola Para isto utilizamos um organograma expondo as particularidades

de saber sobre as plantas medicinais no acircmbito cientiacutefico e popular

Na sequecircncia apresentamos a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o saber

popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras trazendo os aspectos

sobre a importacircncia da Terminologia nos estudos especializados da nomeaccedilatildeo Seguimos a

discussatildeo apresentando os pontos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos na linguagem

especializada de grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos Com isso notamos a

importacircncia de analisar a variaccedilatildeo terminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais da

comunidade de Pimenteiras

Em seguida examinamos os assuntos que passaram a ser considerados importantes

nos estudos terminoloacutegicos ndash a liacutengua no social ndash e compreendemos o funcionamento da

linguagem especializada no contexto social da comunidade tendo para isto a contribuiccedilatildeo da

Socioterminologia nos estudos dos termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

Logo depois seguimos com o assunto trazendo discussotildees sobre a necessidade de

valorizar os termos no ambiente discursivo pragmaacutetico e social propondo um diaacutelogo entre

as aacutereas do conhecimento uma vez que por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos eacute possiacutevel

valorizar e popularizar o conhecimento sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

Em seguida apresentamos o foco principal deste estudo o termo Observamos que os

estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais no processo de anaacutelise da natureza e da

descriccedilatildeo das particularidades pertencentes aos termos que eacute a base do estudo Terminoloacutegico

sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL

Ao refletirmos sobre os aspectos da Liacutengua na comunidade remanescente de

quilombola de Pimenteiras observamos que conhecer a liacutengua de um povo eacute tambeacutem

63

conhecer sua identidade Ressaltamos que a liacutengua eacute um sistema complexo e para entendecirc-lo eacute

indispensaacutevel primeiro conhecer o leacutexico pois ele reflete as heranccedilas dialetos marcas sociais

e culturais dos seus falantes Para Coelho e Mesquita (2013 p 25) a liacutengua nasceu da

necessidade de comunicaccedilatildeo entre os homens e ldquopermitiu ao ser humano interagir

verbalmente com o outro exteriorizando seus pensamentos expressando-se comunicando-se

por meio da fala da escrita e de outras formas de linguagemrdquo Segundo as autoras ldquoas

relaccedilotildees sociais estreitaram-se e as ideias a cultura as ideologias e os conhecimentos

puderam ser amplamente difundidosrdquo (COELHO MESQUITA 2013 p 25) A Liacutengua

facilita a comunicaccedilatildeo entre as pessoas e contribui para a realidade que temos hoje marcada

pela troca de conhecimento e disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees pois pessoas de uma localidade

podem conhecer a cultura de outras

A liacutengua envolve todas as accedilotildees e pensamentos humanos e possibilita ao indiviacuteduo

exercer influecircncias ou ser influenciado pelo outro desempenhar seu papel social na

sociedade relacionar-se como os demais participar na construccedilatildeo de conhecimentos

e da cultura (COELHO E MESQUITA 2013 p 25)

No campo da liacutengua percebemos que os moradores quilombolas da comunidade de

Pimenteiras apresentam grande saber sobre o uso medicinal das plantas devido ao vasto

conhecimento que seus antepassados possuiacuteam sobre a flora e a fauna Diante disso ao

nomear as coisas e o meio que os rodeiam os moradores de Pimenteiras formam e expressam

a sua histoacuteria sua cultura sua liacutengua e sua identidade Eacute a liacutengua que ao carregar valores e

ideologias imprime na accedilatildeo de nomear que eacute cercada de escolhas sociais e culturais a marca

de identidade do falante (LEIRO sd) Eacute a partir principalmente dessas concepccedilotildees que se

desenvolve uma reflexatildeo acerca das relaccedilotildees ideoloacutegicas que as denominaccedilotildees de algumas

plantas de uso medicinal podem possuir

O nome natildeo eacute dado de forma aleatoacuteria sempre quer dizer algo nomear eacute uma

relaccedilatildeo complexa com a significaccedilatildeo que denota grande polecircmica e inquietaccedilatildeo entre os

pesquisadores Assim quando pensamos em nomear e no que o nome significaraacute logo

imaginamos alguma qualificaccedilatildeo que sirva para marcar as coisas pessoas e lugares que lhes

sejam exclusivos pois os significados dos nomes organizam e classificam as formas de

perceber a realidade aleacutem de estarem ligados diretamente com a cultura de uma dada

comunidade (MOREIRA 2012)

Coelho e Mesquita (2013) explicam que na liacutengua entram constantemente leacutexicos

novos enquanto que outros caem em desuso devido agrave liacutengua estar sujeita a mudanccedilas O

conhecimento em relaccedilatildeo agraves plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras chama a

64

atenccedilatildeo porque eacute um modo de preservaacute-las jaacute que muitas das plantas utilizadas como

medicamento jaacute se perderam por natildeo existir nada escrito Para Coelho e Mesquita

Os indiviacuteduos satildeo inseridos na teia social por meio da liacutengua Eacute ela quem vai

possibilitar-lhes o contato com a cultura com as ideologias com as identidades

tornando-se um instrumento para que eles possam interagir linguiacutestica e socialmente

com seus semelhantes (2013 p 27)

A liacutengua tem grande importacircncia para a sobrevivecircncia da cultura de uma localidade

visto que eacute atraveacutes dela que se faz a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade (COELHO

MESQUITA 2013)

A transmissatildeo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo do conhecimento sobre o uso das plantas

medicinais na comunidade de Pimenteiras soacute foi possiacutevel graccedilas agrave linguagem oral Apesar

disso muitos jovens deixam de lado o conhecimento sobre as plantas Esse posicionamento

deprecia o saber local e a identidade cultural dos habitantes de Pimenteiras fator que justifica

a persistecircncia de muitos moradores antigos na preservaccedilatildeo deste saber

Desde jaacute compreendemos que a identidade cultural coletiva na qual um grupo

compartilha as mesmas atitudes as mesmas crenccedilas e os mesmos comportamentos formados

no tempo e no espaccedilo eacute forjada pela interaccedilatildeo de segmentos eacutetnicos e sociais Carvalho

(2003 natildeo paginado) aponta trecircs sentidos de identidade cultural

Na percepccedilatildeo objetiva a identidade cultural de um indiviacuteduo ou grupo define-se a

partir de um conjunto de criteacuterios determinantes a origem comum a liacutengua a

cultura a religiatildeo a psicologia coletiva a ligaccedilatildeo a um territoacuterio etc e um grupo

sem estes criteacuterios natildeo pode reivindicar uma identidade cultural autecircntica Na

percepccedilatildeo subjetiva a identidade etnocultural natildeo eacute mais que um sentimento de pertenccedila ou uma identificaccedilatildeo com uma coletividade mais ou menos imaginaacuteria Na

percepccedilatildeo mais lata a identidade de cada indiviacuteduo natildeo se restringe ou circunscreve

agrave identificaccedilatildeo com um grupo determinado mas eacute sim o somatoacuterio de todos os

valores adquiridos ao longo da existecircncia e estaacute em constante construccedilatildeo e

transformaccedilatildeo

Eacute pela coletividade que podemos observar que a comunidade de Pimenteiras busca

preservar sua identidade e conhecimento pelas plantas medicinais por meio dos moradores

mais antigos Mas eacute tambeacutem por meio dos mais jovens que novos saberes satildeo inseridos na

comunidade como forma de renovaccedilatildeo da cultura quilombola e consequentemente da

liacutengua pois segundo Hjelmslev (1975 p 1)

A linguagem eacute o instrumento graccedilas ao qual o homem modela seu pensamento seus

sentimentos suas emoccedilotildees seus esforccedilos sua vontade e seus atos o instrumento

graccedilas ao qual ele influencia e eacute influenciado a base uacuteltima e mais profunda

da sociedade humana

65

Diante disto entendemos que a identidade cultural define cada um de noacutes e

particularmente na comunidade de Pimenteiras eacute o que diferencia e distingue os moradores

da regiatildeo Nesse contexto o conhecimento popular sobre as plantas medicinais eacute algo que traz

a marca de um povo que preserva e utiliza seus saberes Assim apresentamos na seccedilatildeo

seguinte os aspectos relacionados ao conhecimento das plantas medicinais no acircmbito do

conhecimento cientiacutefico e popular utilizando como recurso de melhor visualizaccedilatildeo o

organograma sobre as plantas medicinais

311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular

Ao utilizarmos as plantas para fins diversos relembramos de nossos antepassados

mais distantes que usavam as plantas como recurso para a cura de doenccedilas Sabemos das

inuacutemeras funccedilotildees que elas podem assumir desde alimentaccedilatildeo ateacute o uso em construccedilotildees

vestuaacuterio e como jaacute foi citado para fins medicinais Por muito tempo as antigas civilizaccedilotildees

usufruiacuteram o grande poder que as plantas possuem Segundo relatos de Tomazzoni et al

(2006 natildeo paginado) os hebreus egiacutepcios e assiacuterios cultivavam plantas medicinais desde o

ano 2300 aC adquirindo durante suas expediccedilotildees vaacuterias espeacutecies das quais se produziam

medicamentos para males diversos

Com o passar dos tempos o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais foi

transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e hoje mesmo com o avanccedilo na medicina moderna

muitos ainda utilizam desse saber sobre as plantas no tratamento de doenccedilas Por isso natildeo se

pode deixar agrave margem o conhecimento tradicional sobre as plantas de uso medicinal pois essa

forma de conhecimento faz parte da nossa cultura Construiacutemos e desenvolvemos o

conhecimento em nossas praacuteticas diaacuterias assim denomina Borda (1984 p 48) ldquoconhecimento

praacutetico empiacuterico que ao longo dos seacuteculos tem possibilitado enquanto meios naturais

diretos que as pessoas sobrevivam criem interpretem produzam e trabalhemrdquo

Todas as informaccedilotildees acumuladas ao longo do tempo por uma determinada

comunidade em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas seus valores e sua cultura vivenciada e

experimentada satildeo consideradas em contexto do conhecimento tradicional Sendo variaacutevel e

abalaacutevel o saber popular eacute modificado e reformulado pela comunidade em que estatildeo inseridos

(KOVALSKI et al 2010) Segundo Diegues et al (2000 p 30) o conhecimento tradicional eacute

66

ldquocomo o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural sobrenatural

transmitido oralmente de geraccedilatildeo em geraccedilatildeordquo

Para Dickmann e Dickmann (2008 p 70) ldquoo saber popular eacute entendido como aquele

adquirido nas lutas que natildeo estaacute escrito nos livros aquele que eacute fruto das vaacuterias experiecircncias

vividas e convividas em tempos e espaccedilos diversos na histoacuteria do povordquo O conhecimento

popular estaacute relacionado com o povo com o individual que eacute transmitido entre as geraccedilotildees

por experiecircncias proacuteprias recebe este nome popular por natildeo haver uma explicaccedilatildeo digamos

ldquoloacutegicardquo de como as coisas funcionam de como uma pessoa sabe que tem de ser feito assim

porque viu algueacutem fazendo e deu certo sem saber explicar ldquocientificamenterdquo como funciona

O conhecimento popular seria uma espeacutecie de educaccedilatildeo informal e suas principais

caracteriacutesticas satildeo a superficialidade sensibilidade subjetividade e independecircncia do valor do

conhecimento criacutetico Jaacute o conhecimento tradicional estaacute relacionado com a tradiccedilatildeo de um

grupo envolvendo saberes empiacutericos com praacuteticas crenccedilas e costumes passados de pais para

filhos dentro desse grupo (KOVALSKI et al 2010)

Diante dos conceitos apresentados podemos compreender que a valorizaccedilatildeo dos

conhecimentos tradicionais e populares de um determinado grupo eacute muito importante pois

aleacutem de resgatar os saberes quase esquecidos no tempo proporciona tambeacutem o

fortalecimento e a difusatildeo destes saberes para a sociedade Assim vale citar uma passagem de

Chassot na qual o autor resgata tais saberes e teacutecnicas utilizadas por pessoas simples mas que

possuem um valor inestimaacutevel

[] o pescador solitaacuterio que encontramos em silenciosas meditaccedilotildees sabendo onde

e quando deve jogar a tarrafa tambeacutem tem saberes importantes A lavadeira que

sabe escolher a aacutegua para os lavados tem os segredos para remover manchas mais renitentes ou conhece as melhores horas de sol para o coaro A parteira que os anos

tornaram doutora conhece a influecircncia da lua nos nascimentos e tambeacutem o chaacute que

acalmaraacute as coacutelicas do receacutem nascido A benzedeira natildeo apenas faz rezas maacutegicas

que afastam o mau-olhado ela conhece chaacutes para curar o cobreiro que o

dermatologista diagnostica como herpes-zoster O explorador de aacuteguas que indica o

local propiacutecio para se abrir um poccedilo ante o vergar de sua forquilha de pessegueiro

tem conhecimentos de hidrologia que natildeo podem ser simplesmente rejeitados (2006

p 221)

Outras formas de conhecimento foram por muito tempo ignoradas pelos cientistas

hoje a situaccedilatildeo eacute diferente Para Marconi e Lakatos (2005) ldquo[] a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico

caminho de acesso ao conhecimento e agrave verdaderdquo nos estudos de Posey (1987) e em

pesquisas feitas pelos Etnoecoacutelogos44

e Etnobioacutelogos45

sobre as comunidades tradicionais

44 A Etnoecologia eacute uma nova disciplina hiacutebrida transdisciplinar e poacutes-normal que valoriza os conhecimentos

milenares das comunidades sobre a natureza Para maior conhecimento pesquisar no site

67

observamos que haacute um resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes populares que chamam cada vez

mais a atenccedilatildeo com novas reflexotildees sobre os paradigmas jaacute existentes provocando com isso

resultados positivos para o conhecimento cientiacutefico

O fato eacute que os estudos recentes sobre o conhecimento popular tecircm ganhado

importacircncia para o nosso proacuteprio benefiacutecio Assim Silva (2002 p 26) expotildee que ldquo[] os

estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular tecircm merecido atenccedilatildeo

cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm oferecendo agraves ciecircncias do

homemrdquo

No que concerne ao conhecimento cientiacutefico este eacute consagrado por passar por

inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute ser considerada ciecircncia Nas palavras de Lopes (1999) o

conhecimento cientiacutefico trata-se de

Todo conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por

excelecircncia sem influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e

provado a partir dos dados da experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (1999 p106)

Nas explanaccedilotildees de Cunha (2007) os saberes populares podem acolher com a

mesma intensidade explicaccedilotildees diversas de um mesmo fenocircmeno por um mesmo grupo de

pessoas ou comunidade pois eacute atraveacutes da observaccedilatildeo que as diferenccedilas se fazem tecircnues entre

o conhecimento popular e o cientiacutefico

No que concerne ao conhecimento referente ao mundo vegetal o uso de plantas com

propriedades terapecircuticas vem de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo devido ao contato com o meio ambiente

que as famiacutelias possuiacuteam Segundo Newall (2002) os fatores que influenciam o uso das

plantas com fins terapecircuticos vecircm do baixo niacutevel de vida da populaccedilatildeo junto ao alto custo

dos medicamentos Com isso os saberes acumulados durante seacuteculos satildeo mantidos na praacutetica

fitoteraacutepica

Contudo o uso popular das plantas natildeo eacute suficiente para legitimar sua eficaacutecia e

seguranccedila como medicamento Este uso tem de passar pela experimentaccedilatildeo comprovada

diante dos benefiacutecios que possam conter (BADKE 2008)

No entanto o uso medicinal das plantas eacute uma das praacuteticas mais antigas no trato de

enfermidades no homem e isso proveacutem do conhecimento popular Para Diegues e Arruda

httpwwwantropologiasocialcombra-etnoecologia-uma-ciencia-pos-normal-que-estuda-as-sabedorias-

tradicionaispdf 45 A Etnobiologia eacute o estudo cientiacutefico da dinacircmica de relacionamentos entre as pessoas e seus grupos culturais e o meio ambiente desde o passado ateacute o tempo presente Para maior aprofundamento no assunto visitar o site

httpwwwetnobiologiaorgindexphp

68

(2001) o conhecimento tradicional soacute pode ser interpretado dentro do contexto cultural em

que eacute gerado Entretanto vemos que a modernidade traz novos modos de vida que estatildeo

desvinculados das tradiccedilotildees populares Com as grandes mudanccedilas entre as realidades

culturais o contato com o outro passa a ser visto de forma diferente o outro pode ser

percebido como superior e a cultura de um grupo pode ser desvalorizada omitida negada e

esquecida (CASTELLS 1999)

Na comunidade de Pimenteiras os uacutenicos recursos medicinais vecircm do conhecimento

tradicional do saber das plantas que aleacutem de proporcionar benefiacutecios agrave sauacutede do corpo e

tambeacutem da alma possui um significado cultural para a comunidade No entanto a

continuidade dessas praacuteticas estaacute ameaccedilada por diversos fatores ligados ao dinamismo social

agrave economia e agrave cultura externa

Contudo eacute necessaacuterio indagar qual a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o

saber popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras O que eacute

Terminologia Buscamos no toacutepico seguinte responder tais questionamentos direcionados ao

campo de conhecimento cientiacutefico na seara dos estudos terminoloacutegicos a serem explanados

sobre as plantas medicinais

32A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS ESPECIALIZADOS

Segundo a anaacutelise de Vygotsky (1896-1934) uma palavra que natildeo representa uma

ideia eacute algo morto da mesma forma que uma ideia natildeo incorporada em palavras natildeo passa de

uma sombra Nomear significa pois dar vida ao ser nomeado Haacute muito tempo o homem cria

e utiliza as palavras para nomear conceitos objetos e processos nas diversas aacutereas do

conhecimento Ao nomear as realidades que nos cercam cria-se um universo que passa a ser

desvendado pela linguagem Nessa construccedilatildeo do real a liacutengua revela aspectos que marcam

os sujeitos produzindo distinccedilotildees que particularizam os objetos e identificam os traccedilos da

cultura de um povo

Refletindo sobre os aspectos da linguagem de um povo podemos analisar diferentes

termos utilizados para nomear e particularizar o objeto nomeado Nesse acircmbito os estudos

cientiacuteficos direcionados agrave Terminologia crescem cada vez mais em pesquisas na aacuterea da

linguagem especializada O leacutexico de uma liacutengua eacute uma forma de registrar o conhecimento do

mundo a nossa volta ao darmos nomes agraves coisas identificamos as semelhanccedilas e os traccedilos

69

distintivos que individualizam cada objeto a ser nomeado por meio de estruturas que o

homem cria no mundo atraveacutes das palavras ou termos46

Entretanto agrave medida que vivemos

novas realidades surgem e satildeo criadas ampliando assim o leacutexico com novas dimensotildees

impossiacuteveis de serem registradas e descritas por meio de um dicionaacuterio

Diante dos questionamentos sobre a nomeaccedilatildeo surge como ciecircncia a Terminologia

inicialmente frente agrave necessidade de uma padronizaccedilatildeo da linguagem ou seja de

normatizaccedilatildeo da Liacutengua devido ao grande desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico ocorrido

no decorrer da histoacuteria humana A Terminologia conforme afirma Rondeau eacute a linguagem

especializada que haacute seacuteculos faz parte da linguagem humana

A terminologia natildeo eacute um fenocircmeno recente Com efeito tatildeo longe quanto se

remonte na histoacuteria do homem desde que se manifesta a linguagem nos

encontramos em presenccedila de liacutenguas de especialidade eacute assim que se encontra a

terminologia dos filoacutesofos gregos a liacutengua de negoacutecios dos comerciantes cretas os

vocaacutebulos especializados da arte militar etc (RONDEAU 1984 apud KRIEGER

FINATTO 2004 p 24)

Assim observa-se que na Liacutengua o ato de nomear tem sua forma natural de ser e

por isso segue rigorosamente sua natureza de fazer Os nomes mudam porque sempre se pode

acrescentar ou tirar letras de sua forma Contudo todos os nomes vecircm de acordos ou

convenccedilotildees entre os falantes sendo que em cada grupo social e cultural os nomes variam de

acordo com o que estiver convencionado pelo grupo Deste modo os nomes variam de povo

para povo de falante para falante porque seguem a tradiccedilatildeo natural de se nomear (PLATAtildeO

1973)

O modo como organizamos as nossas relaccedilotildees e comportamentos numa comunidade

especiacutefica pode ser percebido dentro do contexto social em que a linguagem eacute aplicada das

escolhas que fazemos dos nossos valores culturais das nossas normas de comportamento e

ateacute mesmo na nossa proacutepria filosofia de vida Eacute atraveacutes dos estudos terminoloacutegicos que

podemos analisar o modo como cada pessoa cada grupo social cada comunidade molda a

linguagem ao lado de suas bases culturais discursos e objetivo na comunicaccedilatildeo

Perante agraves variantes dentro da Liacutengua a terminologia em todo seu desenvolvimento

e reconhecimento de valor apresenta hoje um estudo sobre a comunicaccedilatildeo especializada

dentro do contexto social no qual privilegia a variaccedilatildeo dos termos como constitutivos do

discurso este estudo recebe o nome de Socioterminologia

46 O termo eacute o elemento linguiacutestico que constitui a expressatildeo lexical dos saberes especializados Eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da produccedilatildeo do saber ou seja a univocidade da comunicaccedilatildeo especializada eacute

favorecida pelo uso dos termos

70

A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma

terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua

aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das

praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis

porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam

entre trabalho e linguagem (GAUDIN 1993 p 216)

Diante das exposiccedilotildees feitas sobre a Terminologia seguiremos no toacutepico abaixo com

os pontos relacionados a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada campo este de

grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos A partir dele observamos qual a

importacircncia de analisar a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras

321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada

Sabendo que o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e coletiva num

processo no qual o sujeito interage com a realidade as pessoas e o ambiente sociocultural

Faulstich (1995 p 281) afirma que no campo da linguagem ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo

no universo da terminologia revelam peculiaridades proacuteprias a serem estudadas pela

disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para a sistematizaccedilatildeo de termos e de

variantesrdquo

Percebendo que a linguagem especializada natildeo eacute uma liacutengua artificial e sim uma

realizaccedilatildeo da liacutengua natural que possui todas as particularidades pertencentes a qualquer

liacutengua viva observou-se que as diferenciaccedilotildees ocorridas na linguagem vecircm da diversidade

dos discursos na liacutengua e na cultura de cada povo No que concerne ao termo linguagem

especializada Finatto explica que

Uso o termo linguagem especializada e natildeo ldquolinguagem de especialidaderdquo por

entender que natildeo haveria uma ldquoposserdquo estrita dessa linguagem pelo usuaacuterio ou pela

aacuterea de saberconhecimento Entendo que eacute a linguagem que se faz diferenciada ela

se altera em alguns de seus formatos pela accedilatildeo dos sujeitos envolvidos e pelas condiccedilotildees pragmaacutetico-linguumliacutesticas e situacionais da comunicaccedilatildeo entre profissionais

(FINATTO 2004 p 342)

Quanto agrave existecircncia de variantes terminoloacutegicas Faulstich (2001 p 22) defende que

dependendo da funccedilatildeo realizada nos contextos o termo pode assumir diversos valores

71

ldquoConsideramos mais uma vez que variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a

comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica faz do termordquo (FAULSTICH

2OO1 p 22)

Faulstich (2001 p 21) explica que a Socioterminologia eacute necessaacuteria para analisar os

termos variantes dentro de uma metodologia particular Para a autora a Socioterminologia jaacute

era prenuacutencio para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de

natureza social Em suas pesquisas em 1995 e em estudos posteriores em 1996 e 1998

apresenta os fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos da variaccedilatildeo em terminologia Contudo eacute

somente em 1999 que a pesquisadora propotildee uma teoria da variaccedilatildeo com base numa nova

proposiccedilatildeo de anaacutelise do termo sob a perspectiva sincrocircnica e diacrocircnica

Segundo a pesquisadora as variantes terminoloacutegicas classificam-se de acordo com

sua natureza linguiacutestica e ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas variantes eacute tarefa da socioterminologia

cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da diversidade de termos que ocorrem nos planos

vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo (FAULSTICH 2006 p 29)

Seguindo um modelo funcionalista que tem como objeto cientiacutefico descrever e

explicar os proacuteprios fenocircmenos linguiacutesticos Faulstich (1996 p 1 apud CRUZ 2013 p 32)

explica que no exame da funcionalidade socioterminoloacutegica no qual a base de dados eacute a

linguagem especializada a variaccedilatildeo social do termo ocorre nos diversos niacuteveis hieraacuterquicos

do discurso cientiacutefico (CRUZ 2013 p 32)

Cruz (2013 p 35) explica que ldquoa variaccedilatildeo ocorre pela accedilatildeo do movimento gradual

do termo no tempo e no espaccedilo provocada pela funccedilatildeo de uma dada variaacutevelrdquo Observando

todos esses aspectos Faulstich (1998 p 13) amplia a tipologia das variantes trazendo assim

as variantes concorrente47

as variantes coocorrentes48

e as variantes competitivas49

Nesse

campo Cruz (2013 p 34) expotildee que

As variantes terminoloacutegicas concorrentes no qual se inscrevem os dois grupos de

tipologias apresentados anteriormente a saber as variantes terminoloacutegicas linguiacutesticas e as variantes terminoloacutegicas de registro as variantes terminoloacutegicas

coocorrentes e as variantes terminoloacutegicas competitivas

Ao compreender as diferentes variaccedilotildees dentro dos diversos discursos da Liacutengua

Cruz (2013) explica que para a construccedilatildeo da Teoria da Variaccedilatildeo em Terminologia Faulstich

47 Tambeacutem chamada de ldquoVariante formalrdquo as variantes concorrentes satildeo aquelas que podem concorrer entre si e

permanecer como tais no estrato ou que podem concorrer para a mudanccedila 48As variantes coocorrentes ou ldquoSinoniacutemias terminoloacutegicasrdquo satildeo aquelas que tecircm duas ou mais denominaccedilotildees

para um mesmo referente 49 ldquoEmpreacutestimos linguiacutesticosrdquo ou variantes competitivas satildeo aquelas que relacionam significados entre itens

lexicais de liacutenguas diferentes quer dizer itens lexicais de uma liacutengua B preenchem lacunas de uma liacutengua A

72

(2001 p 54) levou em conta que a unidade terminoloacutegica o termo ldquopode assumir diferentes

valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha nos contextos de

ocorrecircnciardquo Com efeito o termo seraacute funcional dentro de uma linguagem especializada

porque assumiraacute uma funccedilatildeo especiacutefica de determinado valor de acordo com o contexto de

uso Sob um ponto de vista socioterminoloacutegico Faulstich restaura a ideia de que a variaccedilatildeo eacute

tambeacutem um fenocircmeno terminoloacutegico e que o seu estudo deve ser desenvolvido no acircmbito da

terminologia (CRUZ 2013 p 39-40)

Compreendendo que eacute na linguagem que ocorre frequentemente a variaccedilatildeo

terminoloacutegica no que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais observamos que os

diferentes fatores sociais culturais e histoacutericos interferem na variaccedilatildeo terminoloacutegica

reafirmando um caraacuteter especiacutefico na linguagem de uso dos moradores da regiatildeo de

Pimenteiras Ao estudar as unidades terminoloacutegicas de um determinado domiacutenio Faulstich

(2006 p 27) explica que as condiccedilotildees sociais em que a comunicaccedilatildeo dessas unidades ocorre

seratildeo estudadas pela Socioterminologia

Para falar de terminologia em sentido mais estrito quer dizer de terminologia como

disciplina que sistematiza termos e conceitos eacute preciso falar tambeacutem do discurso de

onde proveacutem Neste caso excetuando o linguajar corriqueiro que como jaacute se disse

apresenta grande quantidade de terminologias usadas no dia-a-dia eacute preciso

considerar que pelo menos trecircs discursos estatildeo na base da produccedilatildeo terminoloacutegica

isso porque nenhum termo eacute usado fora da situaccedilatildeo discursiva em que eacute criado

Assim sendo discursos de diversas naturezas como o cientiacutefico o teacutecnico e o de

vulgarizaccedilatildeo satildeo a fonte natural de onde emergem os termos usados nas

comunicaccedilotildees entre profissionais Muitos desses termos entram vulgarizados no leacutexico comum por meio dos mais diversos recursos como a metaacutefora a elipse a co-

referecircncia entre outros sem por isso perderem o sentido de base Eacute este sentido

que ativa o senso comum e difunde o conceito original

O movimento do termo na linguagem especializada eacute explicado pela

Socioterminologia que tem como base a variaccedilatildeo do termo no campo social que antes era

visto como invariaacutevel Nesse sentido a variaccedilatildeo e as mudanccedilas na sociedade provocam

transformaccedilotildees no termo que eacute gerado usado e modificado

Faulstich (1995 p 7) valoriza a Socioterminologia como uma nova abordagem para

anaacutelise do termo na comunicaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica Contudo adverte que a

Socioterminologia ldquonatildeo eacute de fato uma disciplina derivada da sociolinguiacutestica poreacutem natildeo se

pode negar que eacute a visatildeo mais flexiacutevel da sociedade e da comunidade que conduz os

especialistas em terminologia a esse novo percursordquo Diante disso em sua anaacutelise a

pesquisadora acrescenta que

73

Como ramo da terminologia a socioterminologia eacute um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos

a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da

elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a

sociedade (2006 p 30)

Sabendo que os termos da linguagem especializada estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo seja no

tempo espaccedilo ou na sociedade a variaccedilatildeo nos estudos terminoloacutegicos ndash por exemplo os

termos de uso popular sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras ndash passa a ser

reconhecida como fenocircmeno natural descrita e analisada de forma cientiacutefica pela

Socioterminologia Perceber como os termos sobre as plantas medicinais passam pela

variaccedilatildeo de seus elementos eacute tambeacutem entender a cultura histoacuteria e identidade de um povo

pois eacute por meio do estudo da variaccedilatildeo dos termos de Pimenteiras que compreendemos as

constantes mudanccedilas e evoluccedilotildees que acontecem com os moradores da regiatildeo trazendo assim

o entendimento sobre os domiacutenios de especialidade na Liacutengua que distinguem a trajetoacuteria

identitaacuteria dos quilombolas

Diante do que foi explanado ateacute aqui examinaremos na seccedilatildeo seguinte como as

questotildees ocorridas no acircmbito social passaram a ser consideradas relevantes nos estudos

terminoloacutegicos ou seja a necessidade de compreender o funcionamento da linguagem

especializada no contexto social da comunidade de Pimenteiras tendo a contribuiccedilatildeo da

Socioterminologia nesse estudo sobre os termos das plantas medicinais

33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL

A anaacutelise dos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade

de Pimenteiras por via dos estudos socioterminoloacutegicos se deu a partir da necessidade de

compreender como a liacutengua funciona no contexto na comunidade pois observamos que toda

sociedade se encontra em constante transformaccedilatildeo e com ela a linguagem eacute vista como uma

das mais fortes interventoras nos comportamentos sociais

Sabendo que a Socioterminologia privilegia os aspectos sociais da linguagem de

especialidade e preocupa-se com os aspectos sociais e variacionista da liacutengua ou melhor com

o uso real da linguagem especializada Faulstich apresenta a Socioterminologia como um

ramo da Terminologia que

74

Se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as

circunstacircncias da elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a

terminologia e a sociedade (2006 p 29)

A Socioterminologia se baseia na observaccedilatildeo do funcionamento da linguagem e no

estudo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos termos Com a posiccedilatildeo de disciplina de

caraacuteter teoacuterico e natildeo somente de um meacutetodo analiacutetico aplicado a Socioterminologia contribui

para o desenvolvimento de pesquisas teoacuterico-praacuteticas que levem em conta o termo e suas

variantes Como praacutetica do trabalho terminoloacutegico a Socioterminologia segundo Faulstich

(1995) fundamenta-se na anaacutelise das condiccedilotildees de circulaccedilatildeo do termo no funcionamento da

linguagem Com caraacuteter descritivo a Socioterminologia estuda o termo sob o aspecto da

linguiacutestica na interaccedilatildeo social no qual sua pesquisa deve ter o auxiacutelio dos criteacuterios da

variaccedilatildeo e da mudanccedila dos termos no meio social como tambeacutem dos princiacutepios etnograacuteficos

que trazem os conceitos interacionistas entre os membros da sociedade No contexto da

variaccedilatildeo terminoloacutegica Faulstich (1995) explica que

O termo perde cada vez mais sua caracteriacutestica de entidade uniacutevoca em favor de

uma interpretaccedilatildeo variacionista que considera as diversidades de comunicaccedilatildeo entre

pessoal de direccedilatildeo de setores administrativos de setores de pesquisa de produccedilatildeo e

de comercializaccedilatildeo dentro das empresas o meio mais adequado para a descriccedilatildeo dos

termos cientiacuteficos e teacutecnicos

Essa interpretaccedilatildeo socioterminoacutelogica vem da etnografia que tem por base o caraacuteter

interacionista ou seja o engajamento entre as pessoas e a influecircncia muacutetua de uns para com

os outros no contexto social Faulstich (1995) explica que ao registrar as variaccedilotildees ocorridas

no campo social deve-se levar em conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico

em que os termos circulam

Diante dos conceitos explanados sobre os aspectos da variaccedilatildeo observa-se que a

Socioterminologia focaliza os dados terminoloacutegicos na pluralidade da liacutengua constituindo

normas que evidenciam o uso da variaccedilatildeo Assim Faulstich (2006) expotildee que ldquoas variantes

decorrem de uso em contextos discursivos de diferentes niacuteveis do movimento da liacutengua no

percurso histoacuterico de empreacutestimos de usos regionais entre outras categorias desde que

mantenham o significado implicadordquo

Observamos assim que a Socioterminologia assume um caraacuteter descritivo na

linguagem especializada em uso dando maior ecircnfase agrave comunicaccedilatildeo que traz em seu contexto

manifestaccedilotildees discursivas que necessitam dos elementos da variaccedilatildeo (GAUDIN 1993)

Segundo Barros (2004 p 69) o pesquisador Gaudin (1993) expotildee que eacute fundamental para a

75

Socioterminologia levar em consideraccedilatildeo o uso dos termos e situar a linguagem especializada

em seu contexto social Desse modo ldquoa praacutetica terminoloacutegica eacute inseparaacutevel tanto do

conhecimento do espaccedilo da accedilatildeo onde ela se daacute quanto das praacuteticas de linguagem que visam

modificar ou assegurarrdquo (GAUDIN 1993 p 212 apud BARROS 2004 p 69)

Nas pesquisas de Faulstich (1995) o termo em estudos anteriores deveria ser uma

unidade denotativa sem relaccedilotildees sinoniacutemicas ou polissecircmicas Hoje a praacutetica terminoloacutegica

demonstra que um mesmo conceito poderaacute ser expresso por termos que apresentem variaccedilotildees

sejam elas morfoloacutegicas regionais ou socioprofissionais Eacute este o princiacutepio subjacente agrave

Socioterminologia conforme exposto pela pesquisadora

A socioterminologia eacute portanto um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o

conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na

planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da elaboraccedilatildeo

desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a sociedade

(FAULSTICH 2006)

Nos estudos socioterminoloacutegicos como jaacute foi mencionado a base eacute a anaacutelise das

condiccedilotildees de funcionamento dos termos como elementos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dentro

de um sistema linguiacutestico e socialTais elementos foram adquiridos por meio dos princiacutepios da

sociolinguiacutestica sob a perspectiva da variaccedilatildeo e dos princiacutepios etnograacuteficos que vem da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo social Com caraacuteter descritivo e social a Socioterminologia defende

uma variaccedilatildeo sociodiscursiva na linguagem terminoloacutegica Segundo Faulstich (2001 p 22)

ldquoas variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social

linguumliacutestica e geograacutefica fazem do termordquo Nesse acircmbito a comunicaccedilatildeo deve ser observada in

vivo devido agrave funccedilatildeo do contexto social pragmaacutetico e discursivo no qual os termos circulam

isto se opotildee intensamente ao condicionamento in vitro imposto pela teoria wusteriana

Analisamos assim que a base dos estudos socioterminoloacutegicos estaacute na variaccedilatildeo e na

etnografia de ordem interativa ou seja os termos catalogados sobre as plantas medicinais da

comunidade de Pimenteiras foram analisados nos diferentes niacuteveis sociais e culturais em que

ocorrem Verificamos que na linguagem especializada sobre as plantas medicinais os termos

deixam de ser uma unidade uniacutevoca para serem meditados na interpretaccedilatildeo variacionista em

que a comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade eacute motivada por diferentes termos para

um mesmo conceito ou por vaacuterios conceitos para um mesmo termo

Diante de tais aspectos precisamos conhecer e analisar os contextos sociais

religiosos culturais de gecircnero e da identidade quilombola nos quais a linguagem ocorre

tomando como foco os saberes medicinais sobre as plantas da regiatildeo respeitando e analisando

76

por meio dos estudos socioterminoloacutegicos os termos catalogados pelos moradores sem

interferir no estado natural desse objeto de estudo a fim de garantir a fidelidade dos dados e

dos resultados alcanccedilados na pesquisa de campo A Socioterminologia eacute pois uma ciecircncia

que reconhece a variaccedilatildeo terminoloacutegica

A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma

terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua

aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das

praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis

porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam

entre trabalho e linguagem (GAUDIN apud FAULSTICH 2006 p216)

Compreendendo que a variaccedilatildeo eacute um fator universal da linguagem humana e que

esse mesmo fator tambeacutem estaacute presente na linguagem especializada verificamos em Gaudin

(1993 p 16) que ldquoa socioterminologia pode levar em conta o real do funcionamento da

linguagem e restituir toda sua dimensatildeo social agraves praacuteticas linguageiras concernentesrdquo Apoacutes

essas discussotildees notamos a necessidade de valorizar os termos no ambiente discursivo

pragmaacutetico e social em que satildeo produzidos trazendo um diaacutelogo entre as aacutereas de saber Eacute

por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos que podemos valorizar e divulgar o conhecimento

popular sobre as plantas medicinais dos moradores da comunidade de Pimenteiras assunto

este que apresentamos no toacutepico seguinte

331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da Socioterminologia

Compreendemos que o conhecimento eacute uma expressatildeo utilizada para demonstrar

toda a experiecircncia adquirida ateacute o presente momento na histoacuteria do ser humano Somos a

soma das invenccedilotildees pensamentos criaccedilotildees da mente humana Soacutecrates (470-399 aC apud

PESSANHA 1980) jaacute dizia que o verdadeiro conhecimento vem de dentro de noacutes que natildeo eacute

encontrado apenas nos documentos mas tambeacutem nos processos e nas praacuteticas dos grupos

humanos que por meio das experiecircncias acumuladas entre as geraccedilotildees aumentam a

produtividade e conquista de novas oportunidades de conhecer

Etimologicamente a palavra conhecimento eacute derivada do latim cognitio que

significa ato ou accedilatildeo de aprender Nesse sentido aprender eacute a capacidade de absorvermos

atraveacutes dos sentidos as experiecircncias externas e a partir delas acrescentar novos

77

conhecimentos Na medida em que evoluiacutemos percebemos que o conhecimento eacute o meio que

processa o envolvimento humano com os dados e informaccedilotildees dessa accedilatildeo de conhecer que eacute

tatildeo fundamental a todos noacutes pois que algueacutem deu o conhecimento a um contexto a um

significado a uma interpretaccedilatildeo que refletiu sobre o saber e acrescentou a ele sua proacutepria

sabedoria

A abrangecircncia que o termo ldquoconhecimentordquo possui eacute muito importante para

compreendermos nossa proacutepria vivecircncia de conhecer o mundo que nos rodeia Diante desse

contexto observamos que existem definiccedilotildees diferentes para cada campo do conhecimento

Tomando os estudos de Marcondes (2001) percebemos os seguintes tipos de conhecimento

O Conhecimento Cientiacutefico que vem das leis e sistemas que explicam de modo

racional com base na experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo investigaccedilatildeo e na loacutegica sistemaacutetica do que

esta sendo observado Lopes (1999 p 106) escreve que o conhecimento cientiacutefico eacute ldquotodo

conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por excelecircncia sem

influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e provado a partir dos dados da

experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e experimentaccedilatildeordquo Esta aacuterea do conhecimento eacute

extremamente analiacutetica e objetiva Tendo relaccedilatildeo com a racionalidade suas anaacutelises satildeo

importantes no processo de construccedilatildeo do saber cientiacutefico de forma que suas caracteriacutesticas

se tornam praticamente uma antiacutetese ao conhecimento popular

O Conhecimento Popular ou Empiacuterico tambeacutem conhecido como tradicional tem

relaccedilatildeo com a hereditariedade cultura e senso comum do homem Eacute uma forma de reflexatildeo

passiva acriacutetica e assistemaacutetica que vai aleacutem da subjetividade e superficialidade Estaacute baseado

nas experiecircncias vividas ou observadas pelo homem sem teacutecnicas ou meacutetodos O

conhecimento ocorre pelo uso dos sentidos podendo ser passiacutevel ao erro dedutivo por ter

mais questotildees pessoais do que cientiacuteficas

O Conhecimento Filosoacutefico estaacute relacionado agrave ideias e conceitos que satildeo construiacutedos

pela busca da verdade do mundo atraveacutes da indagaccedilatildeo priorizando assim um olhar sobre a

condiccedilatildeo humana Existem questotildees que somente a capacidade humana de refletir e raciocinar

podem responder assuntos que nem a ciecircncia consegue pois satildeo temas inerentes ao homem

A racionalizaccedilatildeo eacute o principal instrumento de uso com isso pode-se dizer que este

conhecimento eacute reflexivo loacutegico criacutetico racional e subjetivo

O Conhecimento Teoloacutegico por sua vez esta direcionado para conhecer e provar a

existecircncia de Deus e dos textos escritos na Biacuteblia tomando-os como verdades incontestaacuteveis

Obtido atraveacutes das ideias e axiomas da feacute tenta responder as questotildees inerentes ao homem em

relaccedilatildeo agrave sua existecircncia atraveacutes da concepccedilatildeo divina do mundo

78

Perante os tipos de conhecimentos expostos percebemos que em todo lugar que

olhamos o homem eacute capaz de criar meacutetodos de entendimento de tudo aquilo que ele absorve

do ambiente em que vive Assim observamos que na comunidade de Pimenteiras os

moradores quilombolas obtiveram o conhecimento sobre as plantas medicinais por meio do

conhecimento popular atraveacutes da relaccedilatildeo com sua cultura local seus antepassados e com sua

Liacutengua de modo a construir experiecircncias que ateacute hoje comungam com sua identidade

Nesse sentido somos a soma de nossa heranccedila bioloacutegica social e histoacuterica sendo

atraveacutes da linguagem e da cultura que nos constituiacutemos em seres com a capacidade de

conhecer e de adquirir conhecimento Por isso liacutengua eacute mais do que instrumento de

conhecimento ela eacute constitutiva dele Para Matos (2011 p 3) ldquoa liacutengua eacute incubadora da

identidade reproduz significados que se deslocam afetados pela memoacuteria e eacute submetida ao

movimento da ideologia imposto pela histoacuteria estando portanto atrelada a aspetos poliacuteticos e

eacuteticosrdquo

No que concerne agrave Liacutengua analisamos que o conhecimento sobre seu funcionamento

eacute fundamental para noacutes falantes Esse conhecimento estaacute impliacutecito em nosso ser e vem de

uma capacidade que nos permite apreender e dominar a liacutengua que utilizamos O

conhecimento linguiacutestico eacute parte de todos noacutes falantes de uma determinada liacutengua ou seja eacute

parte do nosso saber porque nascemos com essa capacidade

Assim como a liacutengua a Terminologia eacute tambeacutem uma praacutetica cognitiva linguiacutestica e

social Boulanger (2001 p 13 apud Rodrigues 2010 p 33) explica que a Terminologia ldquoeacute

uma praacutetica cognitiva na medida em que repousa sobre o conhecimento eacute uma praacutetica

linguiacutestica devido agrave noccedilatildeo termo ou praacutetica social especializada na medida em que o saber

circula em todas as sociedades humanasrdquo Eacute diante desse conhecimento da linguagem de

especialidade no contexto social que a Socioterminologia surge para identificar e analisar os

saberes especializados na liacutengua

Eacute evidente que o conhecimento cientiacutefico se faz necessaacuterio ao estudo terminoloacutegico

aqui proposto sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras Entretanto o

conhecimento popular transmitido entre as geraccedilotildees quilombolas eacute basilar para esta pesquisa

pois eacute a partir deste saber tradicional que buscamos analisar sob o olhar Socioterminoloacutegico

os elementos relacionados aos termos sobre as plantas medicinais Popularizar e valorizar o

conhecimento tradicional por meio do saber cientiacutefico eacute fundamental para conhecermos as

diversidades em nossa liacutengua como tambeacutem de nossa cultura

Observamos que o conhecimento cientiacutefico eacute aquele que pode ser provado atraveacutes de

inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute que seja incorporado pela ciecircncia Para Marconi e Lakatos

79

(2003 p 75) o conhecimento cientiacutefico ldquo[] eacute transmitido por intermeacutedio de treinamento

apropriado sendo um conhecimento obtido de modo racional conduzido por meio de

procedimentos cientiacuteficosrdquo

Com relaccedilatildeo ao conhecimento popular este por um longo tempo foi ignorado pelos

cientistas Entretanto hoje a situaccedilatildeo eacute diferente pois segundo Posey (1987) eacute por meio do

resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes tradicionais que surgem novas reflexotildees que datildeo grande

importacircncia desses saberes para o nosso proacuteprio benefiacutecio Diante disso Silva (2002 p 26)

argumenta que ldquo[] os estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular

tecircm merecido atenccedilatildeo cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm

oferecendo agraves ciecircncias do homemrdquo

Eacute fato e natildeo desmerecemos que o conhecimento cientiacutefico tecircm um papel muito

importante para a nossa cultura no entanto eacute preciso acolher com a mesma intensidade os

saberes populares para buscarmos compreender e analisar as diferentes culturas e linguagem

especializadas pois ldquo[] o que leva um ao conhecimento cientiacutefico e outro ao vulgar ou

popular eacute a forma de observaccedilatildeordquo (MARCONI LAKATOS 2005 p 76) Para isso a

Socioterminologia como ciecircncia busca analisar e fazer dialogar os diversos aspectos

relacionados agrave linguagem especializada levando em consideraccedilatildeo o acircmbito social em que

circundam os termos sobre os saberes populares das plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras

Diante desse contexto percebemos o quanto eacute importante analisarmos os termos

sobre as plantas medicinais do ponto de vista discursivo no uso concreto da linguagem

teacutecnica com caraacuteter variacionista e como os estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais

nesse processo Eacute por meio de seus meacutetodos de anaacutelise e descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de

variaccedilatildeo no contexto social e linguiacutestico que seguimos no toacutepico seguinte nas discussotildees

sobre o termo base do estudo socioterminoloacutegico

332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico

Segundo os estudos de Krieger e Finatto (2004) o termo eacute o elemento linguiacutestico que

constitui a expressatildeo lexical do saber especializado eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da

produccedilatildeo dos saberes De forma concisa entendemos que a palavra e o termo satildeo unidades

parecidas ao serem descritas por um conjunto de caracteriacutesticas linguiacutesticas sistemaacuteticas

80

referindo-se a um elemento da realidade A palavra ao tomar parte de um acircmbito

especializado eacute considerada um termo e a carga semacircntica confere no aspecto linguiacutestico o

que o diferencia da palavra

O termo caracteriza-se no sentido de que para uma noccedilatildeo dada haacute teoricamente uma uacutenica denominaccedilatildeo Esta caracteriacutestica do termo se funda sobre um postulado

da terminologia o da relaccedilatildeo de univocidade entre denominaccedilatildeo (significante) e

noccedilatildeo (significado relaccedilatildeo do tipo reflexiva) (RONDEAU apud KRIEGER 2004 p

77)

Sendo um objeto de estudo das ciecircncias terminoloacutegicas o termo eacute investigado numa

dimensatildeo pragmaacutetica discursiva e sociolinguiacutestica Faulstich (2006) explica que a teoria da

variaccedilatildeo terminoloacutegica propotildee uma releitura da definiccedilatildeo do objeto de estudo da

Socioterminologia que eacute o termo Para a autora (2006 p 28) ldquouma unidade terminoloacutegica

pode ter ou assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel

desempenha nos contextos de ocorrecircnciardquo

Nos estudos de Rodrigues (2010 p 36) o termo pode ser apreendido como um signo

que encontra funcionalidade na linguagem de especialidade como uma entidade variante que

se apoia nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo social e como um item do leacutexico especializado que

passa por processos de evoluccedilatildeo Desta forma o termo eacute visto como fenocircmeno linguiacutestico

variaacutevel que encontra na terminologia diferentes resultados de uso dos falantes nos diversos

contextos sociais geograacuteficos e linguiacutesticos Diante disso Gouadec (apud KRIEGER 2004 p

77) expotildee que ldquoum termo eacute uma unidade linguiacutestica que designa um conceito um objeto ou

um processo O termo eacute a unidade de designaccedilatildeo de elementos do universo percebido ou

concebido Ele raramente se confunde com a palavra ortograacuteficardquo

Considerando o princiacutepio da variaccedilatildeo em toda a sua dimensatildeo o pesquisador

Rodrigues (2010) acrescenta que o termo passa a ser visualizado como uma unidade lexical

que sofre todas as implicaccedilotildees sistecircmicas e contextuais proacuteprias a qualquer palavra no

contexto comunicativo da liacutengua Para Barros (apud KRIEGER FINATTO 2004) o termo eacute

uma unidade do leacutexico com conteuacutedo especiacutefico dentro de um domiacutenio tambeacutem particular

que pode ser descrito e analisado em diferentes aspectos relacionados ao significante e

significado agraves relaccedilotildees com outros termos e ao ponto de vista sociolinguiacutestico com isso

observamos que haveraacute melhor sustentaccedilatildeo teoacuterica ao trabalho estudado na comunidade de

Pimenteiras

Por ser um objeto de estudo da Socioterminologia Gaudin (1993) lembra que deve

haver uma aproximaccedilatildeo discursiva dos termos pois segundo o pesquisador as unidades

81

terminoloacutegicas devem ser analisadas em sua condiccedilatildeo de produccedilatildeo discursiva e de interaccedilatildeo

entre conhecimentos No que concerne ao conhecimento ele eacute sempre foi e seraacute uma forma

moacutevel de cultura De forma cientiacutefica ou de saber popular o conhecimento humano chega a

cada geraccedilatildeo a cada comunidade com a marca dos tempos povos e lugares por onde passou

Eacute atraveacutes da transferecircncia do conhecimento por meio da Liacutengua que as sociedades se formam

as tradiccedilotildees dos povos sofrem mudanccedilas ou satildeo abolidas em troca de outras Contudo eacute pelo

aparecimento de novos conceitos e pela aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos que outras capacidades

cognitivas se desenvolvem e formam outros conhecimentos

Sabendo que o conhecimento pode tambeacutem ser transmitido por meio da linguagem

verificaremos na anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais os

aspectos relacionados agrave representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras pois

compreendemos que eacute por meio da linguagem que criamos expressamos e designamos os

conceitos e objetos nos diversos campos de conhecimento

Nos estudos de Cruz (2014 p 98) ela expotildee que ldquoos termos satildeo criados e se

desenvolvem em uma liacutengua concreta porque as ideias processos ou objetos que esses termos

designam foram criados pela sociedade que deles se utilizardquo Ela explica que os termos satildeo

resultado de convenccedilotildees ou preferecircncias individuais possuindo relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas

do objeto nomeado Eacute nesse campo que as anaacutelises dessas carateriacutesticas satildeo necessaacuterias para

observar se as denominaccedilotildees satildeo fruto de ideias do conhecimento da aacuterea ou por modismos

(CRUZ 2014)

No campo da linguagem percebemos que os termos sobre as plantas medicinais satildeo

utilizados na comunidade de Pimenteiras atraveacutes da interaccedilatildeo entre a cultura a natureza e as

origens de um povo que transmitiu seus conhecimentos entre as geraccedilotildees por meio da liacutengua

Atraveacutes das concepccedilotildees explanadas sobre a linguagem ldquopodemos dizer que uma terminologia

natildeo se insere em uma liacutengua mas em uma linguagem especiacutefica desenvolvida a partir de um

universo de discurso criado por uma comunidade em um dado campo do saberrdquo (SANTOS

2010 p 06)

Nesse contexto Krieger e Finatto (2004 p75) explicam que ldquoo termo ou unidade

terminoloacutegica eacute simultaneamente elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber e componente

linguiacutestico cujas propriedades favorecem a univocidade da comunicaccedilatildeo especializadardquo

Por ter um caraacuteter natural os termos funcionam como um elemento dos sistemas

linguiacutesticos que estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo sendo esta inerente em qualquer liacutengua a variaccedilatildeo

terminoloacutegica ocorre no acircmbito do uso especializado Nesse sentido Cruz (2012) expotildee que a

82

comunicaccedilatildeo especializada de melhor qualidade eacute construiacuteda a partir do reconhecimento da

naturalidade e inerecircncia da variaccedilatildeo terminoloacutegica como um tipo de variaccedilatildeo linguiacutestica

Na anaacutelise socioterminoloacutegica verificamos alguns aspectos da variaccedilatildeo dos termos

sobre as plantas medicinais de Pimenteiras mostrando como os termos variam de acordo com

as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos observando na linguagem especializada a

naturalidade e inerecircncia presentes nos termos a serem analisados proporcionando a

particularizaccedilatildeo e identidade da comunidade

Por ser uma unidade de conhecimento que estaacute constantemente se relacionando com

seu significado o termo segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos Assim antes de analisar

se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade verificamos que a

definiccedilatildeo deles eacute muito importante para o contexto de uso dos estudos teoacutericos da

Socioterminologia que descreve os termos dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber

especializado Segundo os estudos de Lara (2004 p 93) ldquouma definiccedilatildeo eacute um enunciado que

descreve um conceito permitindo diferenciaacute-lo de outros conceitos associadosrdquo Sager (1990

apud LARA 2004 p 93) expotildee ainda que ldquoa definiccedilatildeo eacute uma explanaccedilatildeo aceita do

significado especializado de itens lexicais cuja ocorrecircncia pode ser documentada em vaacuterias

fontesrdquo Diante disso utilizamos no percurso da anaacutelise dos termos medicinais sobre as

plantas a definiccedilatildeo do saber subjetivo de uma moradora da regiatildeo de Pimenteiras

Nos estudos da definiccedilatildeo terminoloacutegica dos termos Lara (2004 p 94) contribui

expondo que ldquoa definiccedilatildeo terminoloacutegica eacute classificadora hierarquizante estruturante

relaciona-se agrave definiccedilatildeo da coisardquo ou seja a definiccedilatildeo natildeo eacute uacutenica ela varia de acordo com a

fonte escolhida Assim procuramos nos estudos socioterminoloacutegicos trazer a definiccedilatildeo dos

termos sobre as plantas medicinais pois a Socioterminologia ldquoeacute uma disciplina que se ocupa

da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguiacutesticas dos termos em diferentes tipos

de situaccedilatildeo de uso da liacutengua nos diversos niacuteveis e planos hieraacuterquicos do discursordquo (CRUZ

2012 p 100)

Cruz acrescenta que nos estudos de Faulstich (1998) ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas

variantes eacute tarefa da Socioterminologia cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da

diversidade de termos que ocorrem nos planos vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo

Perante a diversidade dos termos e consequentemente da variaccedilatildeo em suas definiccedilotildees

utilizamos no processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Faulstich

(1996) uma amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees tidas sobre os termos a partir

da variaccedilatildeo terminoloacutegica que fundamenta os dados a serem analisados

83

Nos estudos de Cruz (2014 p113) sobre a variaccedilatildeo dos termos a pesquisadora

explica que ldquoo processo de variaccedilatildeo se daacute dentro de um construto teoacuterico em que variaacuteveis

produzem variantes que funcionam nas liacutenguas de acordo com as funccedilotildees que elas venham a

ter no discurso de especialidade ou na liacutengua comumrdquo Nos estudos socioterminoloacutegicos

Faulstich (1995 apud CRUZ 2012) propotildee uma abordagem funcionalista do termo que eacute a

base da pesquisa socioterminoloacutegica defendendo uma estreita relaccedilatildeo entre termo e variaccedilatildeo

Outro postulado defendido por Faulstich (1998 1999) eacute sobre a anaacutelise do termo que deve

ser visto sob duas perspectivas sincrocircnica e diacrocircnica assim ela resume que

Termos satildeo signos que encontram sua funcionalidade nas linguagens de especia-

lidade de acordo com a dinacircmica das liacutenguas satildeo entidades variantes porque fazem

parte de situaccedilotildees comunicativas distintas satildeo itens do leacutexico especializado que

passam por evoluccedilotildees por isso devem ser analisados no plano sincrocircnico e no plano diacrocircnico das liacutenguas (FAULSTICH 1999 p 28)

Outro aspecto importante a ser mencionado eacute com relaccedilatildeo agrave estrutura do termo que

pode se apresentar de forma simples complexa ou composta Esse campo leacutexico-semacircntico e

morfossintaacutetico do termo eacute tomado pelos estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) que

explanam sobre a estrutura simples constituiacuteda de um radical e por estruturas complexas e

compostas em que ocorre a presenccedila de dois ou mais radicais diferenciados pela presenccedila do

hiacutefen nos termos compostos enquanto que nos termos complexos ocorre os processos de

composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo50

ou justaposiccedilatildeo51

das palavras No caso da

comunicaccedilatildeo especializada o que predomina satildeo os termos complexos por poder assumir

diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo

reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico

Quando utilizamos um termo num determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e

permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo internalizadas na liacutengua que por ser um

sistema dinacircmico passa a ser enriquecida por neologismos Assim veremos que os estudos de

Pottier (1978) e de Barros (2007) sobre o termo no que concerne agrave sua estrutura

morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica satildeo caracterizadas como simples compostas ou

complexas

Em presenccedila das concepccedilotildees explanadas sobre o termo observamos que o

conhecimento que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem sobre as plantas

50Aglutinaccedilatildeoconsiste na junccedilatildeo de duas ou mais palavras com o objetivo de formar uma terceira palavra poreacutem

uma delas ou as duas sofreraacute alguma mudanccedila na sua forma ganhando ou perdendo letras fonemas ou

morfemas

51Justaposiccedilatildeo satildeo as palavras apenas justapostas uma ao lado da outra e estando juntas formaratildeo uma terceira

palavra Neste caso as palavras ficam intactas natildeo perdendo nenhum item da sua forma

84

medicinais satildeo as marcas de seus antepassados de sua identidade de sua histoacuteria como

quilombolas satildeo marcas de sua linguagem diante da diversidade na natureza Natildeo usamos a

liacutengua sempre da mesma forma mas adequamos nossa linguagem agrave situaccedilatildeo comunicativa em

que estamos inseridos Assim os usos que fazemos em nossa liacutengua satildeo o reflexo tambeacutem

da nossa proacutepria histoacuteria Nesse contexto damos iniacutecio no capiacutetulo seguinte sobre a

metodologia utilizada para fundamentar esta pesquisa levando em consideraccedilatildeo os objetivos

as etapas da pesquisa as pessoas e as dificuldades encontradas no percurso do trabalho

85

4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos os motivos escolhas e as etapas metodoloacutegicas feitas

durante a pesquisa de campo na comunidade de Pimenteiras As fases para a constituiccedilatildeo

deste trabalho dissertativo tecircm suas bases nos estudos da Socioterminologia com o uso de

instrumentos tecnoloacutegicos antes durante e apoacutes o trabalho de campo Dentre as ferramentas

tecnoloacutegicas empregadas utilizamos diversas entrevistas transcriccedilotildees dos diaacutelogos e registro

de dados sobre os termos medicinais das plantas As ferramentas usadas foram o Software

Transana52

as fichas terminoloacutegicas gravador de voz maacutequina fotograacutefica e questionaacuterios

usados nas entrevistas Eacute fato que muitas dificuldades surgiram no percurso do trabalho

apesar disso a coleta dos dados foi imprescindiacutevel para a pesquisa sobre os termos das plantas

de uso medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras

41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE

PIMENTEIRAS

Realizar uma investigaccedilatildeo baseada na pesquisa de campo supotildee planejar previamente

o curso a seguir na construccedilatildeo do trabalho Eacute fato que o pesquisador encontra diversos

imprevistos que dificultam a pesquisa a ser realizada Compreendendo isso optamos em

conhecer participar e analisar a comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras no

setor das plantas medicinais Observamos que as condiccedilotildees naturais do tempo

influenciarammuito na pesquisa aleacutem da dificuldades encontradas no trajeto ateacute a

comunidade Apesar disso a riqueza em informaccedilotildees a biodiversidade da regiatildeo e o

consentimento dos moradores para a realizaccedilatildeo da pesquisa proporcionaram maior firmeza

para a continuidade do trabalho

Na intenccedilatildeo de fornecer dados confiaacuteveis e de qualidade para esse estudo buscamos

visitar e manter contato contiacutenuo com os moradores da comunidade de Pimenteiras Cada

52 O Transana foi criado por pesquisadores e para pesquisadores a fim de atender as necessidades profissionais

de quem executa entrevistas com trabalhos de campo pode serusado em diversas aacutereas do conhecimento mas

nessa pesquisa de base socioterminoloacutegica nosso estudo eacute constituiacutedo de um corpus de liacutengua oral As vantagens

do software eacute que oferece a visualizaccedilatildeo de vaacuterias janelas como o aacuteudio viacutedeo transcriccedilatildeo base de dados e visualizaccedilatildeo do material a ser transcrito isto proporciona maior seguranccedila e agilidade no processo

86

encontro foi planejado ora com entrevistas gravadas e filmadas ora com registro de fotos e

coleta de dados sobre as plantas Tudo no intuito de conhecer descrever e analisar os dados

com maior seguranccedila e veracidade pois cada ponto foi imprescindiacutevel para a fundamentaccedilatildeo

do trabalho dissertativo

Os dados sobre as plantas de uso medicinal foram organizados por alguns moradores

da regiatildeo durante os trabalhos com o Bioenergeacutetico de acordo com o saber que possuem

Estes dados foram catalogados e analisados dentro do contexto socioterminoloacutegico da

pesquisa em questatildeo Nosso intuito eacute analisar o saber popular sobre os termos catalogados das

plantas de uso medicinal levando em consideraccedilatildeo a linguagem especializada dos termos

medicinais adquiridos pelo repasse entre as geraccedilotildees pela relaccedilatildeo com a natureza e por

saberes conseguidos pelo contato com outros conhecimentos de caraacuteter cientiacutefico sobre o

poder de cura das plantas

A comunidade remanescente de quilombo de Pimenteiras estaacute localizada na regiatildeo

agriacutecola da cidade de Santa Luzia do Paraacute distante 30 km da cidade Hoje cerca de vinte oito

(28) famiacutelias vivem na comunidade sobrevivendo da agricultura criaccedilatildeo de gado e accedilaiacute

Devido agrave sua localizaccedilatildeo em aacuterea rural os moradores de Pimenteiras vivem do plantio e dos

saberes que possuem sobre as plantas medicinais devido agrave distacircncia e dificuldades para

conseguir tratamento meacutedico o saber sobre as plantas de uso medicinal tornou-se recurso

indispensaacutevel no trato das muitas doenccedilas A partir disso alguns moradores quilombolas

trabalharam por algum tempo com o Bioenergeacutetico nesse periacuteodo foram orientados por

representantes do CEDENPA para coletar amostras de plantas no trato medicinal Junto agraves

amostras os moradores escreveram os nomes de cada planta de acordo com o saber que

adquiriram com seus antepassados

Aleacutem da quantidade de conhecimento que a comunidade possui a particularidade

linguiacutestica sobre os nomes de cada planta de uso medicinal eacute muito importante nesse estudo

Por isso foram necessaacuterios diversos encontros com os moradores para conhecer e colher

maiores informaccedilotildees para esse trabalho A comunidade de Pimenteiras estaacute constituiacuteda de

expressivos elementos culturais que vecircm desde a proacutepria descendecircncia quilombola ateacute o

saber que possuem sobre as plantas por meio da valorizaccedilatildeo e fortalecimento de sua memoacuteria

coletiva Seus moradores apesar das inuacutemeras dificuldades e preconceitos vividos buscam

preservar sua identidade e serem reconhecidos pela sociedade pois a interaccedilatildeo participativa

entre os diferentes saberes existentes na comunidade promove um sentimento de

pertencimento diante das diferenccedilas culturais que devem ser respeitadas e apreciadas

87

Entendemos que o conhecimento eacute algo que estaacute em constante construccedilatildeo e

reconstruccedilatildeo e que as influecircncias que vivemos ajustam esse processo Particularmente o

conhecimento dos moradores da comunidade de Pimenteiras estaacute nessa frequecircncia que se

interpotildee entre os saberes vindos de geraccedilotildees passadas combinadas agrave presenccedila de novos

conhecimentos Diante da imensa contribuiccedilatildeo ao conhecimento cientiacutefico eacute respeitaacutevel

buscar conhecer os saberes vindos dos moradores remanescentes de quilombo para que os

mesmos sejam reconhecidos como identidade cultural sobre as plantas

Objetivamos nesse trabalho analisar os termos catalogados sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras sob a perspectiva socioterminoloacutegica dos termos no

contexto da linguagem especializada dos moradores remanescentes de quilombo observando

os aspectos sociais culturais e religiosos em que estatildeo inseridos e assim compreendermos a

identidade do povo da regiatildeo Analisando os termos identificamos que no campo da

Socioterminologia as palavras registradas sobre as plantas medicinais fazem parte do domiacutenio

especializado da liacutengua e expressam uma forte identidade no universo sociocultural dos

moradores quilombolas de Pimenteiras fazendo com que a comunidade adquira traccedilos que

distinguem e identificam sua cultura

Os dados catalogados foram registrados transcritos e definidos de acordo com o

saber de um morador da comunidade de Pimenteiras Na anaacutelise socioterminoloacutegica dos

termos todos foram definidos e estruturados por meio de fichas terminoloacutegicas para melhor

visualizaccedilatildeo das unidades que compotildeem as palavras coletadas junto da definiccedilatildeo

adicionamos as imagens de cada termo nomeado

42 A PESQUISA DE CAMPO

Registrar os termos de uma linguagem especializada requer preservar a legitimidade

que cada indiviacuteduo possui no uso da liacutengua Durante o processo de pesquisa vaacuterias etapas

foram executadas para que as anaacutelises fossem alcanccediladas As pessoas foram muito

importantes para que o estudo se desenvolvesse ao longo desse periacuteodo de anaacutelise

socioterminoloacutegica dos termos

Como criteacuterio de seleccedilatildeo escolhemos uma (01) moradora remanescente de

quilombola da comunidade de Pimenteiras a senhora Domingas Alves do Nascimento pelo

conhecimento popular sobre as plantas medicinais que ela deteacutem e tambeacutem pelo fato de ser

88

uma das pessoas que coletaram amostras das plantas medicinais Aleacutem disso Domingas eacute

uma representante da associaccedilatildeo AQUAFAP que sempre realizar atividades relacionadas a

valorizaccedilatildeo e aos direitos dos moradores de Pimenteiras

No aspecto religioso ela sempre estaacute engajada na cerimocircnia em homenagem agrave Nossa

Senhora do Livramento e mesmo com tantos trabalhos a serem executados na comunidade a

moradora estaacute sempre disposta e atenta para fazer com que a comunidade tenha seus direitos

garantidos e sua cultura e preservada

Durante a pesquisa foram realizadas entrevistas com outras pessoas que forneceram

informaccedilotildees importantes sobre a histoacuteria religiatildeo e cultura dos moradores da comunidade de

Pimenteiras No entanto a moradora Domingas foi incansaacutevel em suas contribuiccedilotildees A partir

dela o interesse em pesquisar sobre os termos catalogados das plantas de uso medicinal se

tornou fascinante

Dona Domingas eacute uma mulher que respeita suas origens e utiliza os saberes

transmitidos por sua matildee e sua avoacute materna a ponto de ser conhecida na regiatildeo como a

ldquosenhora das ervasrdquo aleacutem de trabalhar na agricultura com o marido ela tambeacutem ajuda na

fabricaccedilatildeo de produtos naturais na associaccedilatildeo dos agricultores quilombolas de Santa Luzia do

Paraacute bem como realiza trabalhos relacionados com a comunidade e sua famiacutelia

Devido aos saberes que possui sobre as plantas Domingas recebe grande ajuda de

diversas pessoas que tambeacutem tecircm interesse pela cura atraveacutes das plantas medicinais como eacute o

caso da senhora Maria de Nazareacute Reis uma engenheira agrocircnoma que trabalha no CEDENPA

assessorando os grupos de mulheres associaccedilotildees cooperativas de agricultores rurais e

familiares dentro da Rede Bragantina atraveacutes de cursos direcionados agrave nutriccedilatildeo alimentaccedilatildeo

saudaacutevel agricultura familiar e uso das plantas para cura de doenccedilas como forma de

incentivo aos pequenos trabalhadores rurais sobre a Produccedilatildeo Agroecoloacutegica53

Vale ressaltar que os saberes que a moradora Domingas possui estatildeo preservados em

sua memoacuteria e que esse trabalho procura basicamente conhecer registar e analisar as

palavras no contexto da linguagem especializada sobre as plantas medicinais que satildeo de uso

natildeo apenas da senhora Domingas mas tambeacutem dos moradores quilombolas de Pimenteiras

No que concerne agraves dificuldades enfrentadas no percurso da pesquisa inicialmente o

acesso agrave comunidade foi o que trouxe mais problemas principalmente nos periacuteodos de chuva

Em muitos momentos foi necessaacuterio modificar o percurso a ser seguido e redirecionar novos

53 A agroecologia eacute uma ciecircncia que dialoga com as diversas dimensotildees do conviacutevio humano como a ecologia a

socioeconocircmica a cultura e sociopoliacutetica eacute o conhecimento que vai aleacutem da produccedilatildeo que se insere num sistema de transformaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de uma agricultura socialmente mais justa economicamente viaacutevel e

ecologicamente apropriada

89

planos para que a pesquisa continuasse Eacute fato que esse trabalho natildeo envolve um amplo

levantamento acerca dos conhecimentos e saberes contidos nos moradores de Pimenteiras

contudo essa eacute uma amostra diante das inuacutemeras possibilidades do conhecimento popular a

ser registrado

No percurso da pesquisa diversos instrumentos foram utilizados para registrar cada

elemento relacionado agrave comunidade e aos informantes como gravador de voz maacutequina

fotograacutefica para o registro de imagens fichas com questionaacuterios a serem respondidos pelas

informantes aplicativos para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica das gravaccedilotildees como o Transana e os

termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da regiatildeo elemento esse de grande

importacircncia na pesquisa

Diante das exposiccedilotildees apresentadas ressaltamos que os dados catalogados sobre os

termos das plantas medicinais satildeo a base deste trabalho que busca analisar sob o olhar

socioterminoloacutegico cerca de quarenta e dois (42) termos registrados e preservados por uma

das moradoras da comunidade Na sequecircncia observaremos a maneira como foram tratados

os dados catalogados para essa pesquisa

43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS

Considerando que o meacutetodo desta pesquisa procede de forma qualitativa em que se

analisam os dados catalogados dos termos sobre as plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras sob os estudos da Socioterminologia passaremos a expor os principais

procedimentos que foram utilizados para que os dados da pesquisa fossem registrados e

analisados

431 Entrevistas

No andamento da pesquisa diversas entrevistas formais e informais ocorreram com

as informantes As conversas formais foram registradas seguindo um fichaacuterio contendo

diversas perguntas relacionadas agrave comunidade quilombola e agraves plantas medicinais As

90

entrevistas foram armazenadas atraveacutes da gravaccedilatildeo de voz que posteriormente foi transcrita

de forma Grafemaacutetica54

As perguntas foram especiacuteficas para cada informante de acordo com o campo de

trabalho por eleela desenvolvido Por exemplo com a senhora Domingas foram direcionadas

perguntas sobre a famiacutelia comunidade descendecircncia saberes sobre as plantas e crenccedila nas

mesmas Aleacutem dessa entrevista houve tambeacutem a gravaccedilatildeo com a senhora Domingas sobre

as definiccedilotildees que a moradora possui de cada termo sobre as plantas medicinais A transcriccedilatildeo

com tais definiccedilotildees foi armazenada nas fichas terminoloacutegicas utilizadas para melhor

visualizaccedilatildeo dos dados registrados Todas essas informaccedilotildees estatildeo anexadas neste trabalho

mostrando os pontos relevantes que delineiam o caraacuteter da pesquisa

432 Recursos de anaacutelise dos dados

A transcriccedilatildeo grafemaacutetica foi executada atraveacutes do software Transana versatildeo 21255

gratuita para download que foi desenvolvido para analisar dados audiovisuais Este recurso

foi escolhido para que pudeacutessemos dar o tratamento adequado aos dados orais das gravaccedilotildees

obtidas em entrevistas Em seguida utilizamos por base as normas de transcriccedilatildeo de Koch

(1997) as transcriccedilotildees grafemaacuteticas foram feitas no software Transana devido o programa

permitir a conexatildeo entre o texto transcrito em momentos especiacuteficos do viacutedeo com o aacuteudio da

entrevista

433 Termos Catalogados

Com relaccedilatildeo aos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal pelos

moradores da comunidade quilombola de Pimenteiras usamos o registro das imagens junto

com as fichas terminoloacutegicas com as definiccedilotildees de cada termo Procuramos nesse momento

respeitar a forma escrita de cada termo registrado pelos moradores As amostras das plantas

54 Os dados registrados na Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica estatildeo nos apecircndices deste trabalho 55 Pesquisado em 11 de agosto de 2015 as 2231 hs no site httpwwwtransanaorgdownloadwhatsnewhtm

91

foram dissecadas com o uso de jornais pelos moradores na eacutepoca em que trabalharam com o

Bioenergeacutetico Ateacute hoje esse material estaacute guardado pela moradora Domingas

Durante a pesquisa registramos as imagens das plantas vivas em seu habitat natural

para que pudeacutessemos perceber as caracteriacutesticas de cada uma e consequentemente observar a

relaccedilatildeo com o nome que possuem Ao registrarmos as imagens das plantas outras espeacutecies

foram identificadas pelos moradores como medicinal isto ampliou a quantidade de termos

catalogados e possivelmente outros mais permanecem ocultos na regiatildeo Todos os termos

catalogados estatildeo nos apecircndices com as definiccedilotildees junto de suas respectivas imagens

92

5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE UM POVO

Compreender as pessoas como seres introduzidos em redes de significados pensar

nos sujeitos da maneira como eles se identificam entendendo as particularidades de sua

cultura vivenciando-a acompanhando-os em muitos momentos procurando entender o que

eles fazem e como fazem esse processo foi importante para compreender as distinccedilotildees dos

elementos que compotildeem dentro e fora a comunidade quanto aos saberes sobre as plantas de

uso medicinal observando que tais saberes constituem a identidade cultural dos moradores no

que diz respeito agrave biodiversidade na comunidade de Pimenteiras

Utilizamos uma metodologia vinda da observaccedilatildeo das praacuteticas sociais das

entrevistas com os sujeitos da pesquisa da catalogaccedilatildeo dos dados sobre as plantas e da

transcriccedilatildeo das definiccedilotildees de cada termo que se tornou fundamental para a anaacutelise dos dados

catalogados na comunidade Buscamos natildeo apenas registrar fatos mas analisar a relaccedilatildeo que

os termos possuem dentro dos aspectos sociais apresentando assuntos relacionados agrave religiatildeo

cultura e de identidade proporcionando assim o reconhecimento de conhecimentos

tradicionais preciosos para o estudo cientiacutefico atraveacutes dos saberes de um povo suas lutas sua

natureza e linguagem

Conhecida e reconhecida por sua biodiversidade Pimenteiras eacute identificada pelos

saberes sobre as plantas medicinais Os moradores da comunidade satildeo descendentes de negros

escravos conhecidos como quilombolas e muitos adquiriram de seus antepassados

conhecimentos sobre o uso das plantas para a cura dos males do corpo Assim sendo

procuramos nesse contexto apresentar a anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos da

comunidade de Pimenteiras considerando os aspectos da variaccedilatildeo terminoloacutegica na

linguagem suas motivaccedilotildees no ato de nomear e as relaccedilotildees associativas que geram novas

nomeaccedilotildees e tambeacutem novas variaccedilotildees por conseguinte abordamos os termos sobre as

plantas medicinais com foco na sua estrutura morfossintaacutetica observando que na variaccedilatildeo o

termo pode ou natildeo ser alterado em seu radical formando novas composiccedilotildees sejam elas

simples compostas ou complexas na sequecircncia desses estudos dos termos chegamos agrave

anaacutelise da definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas que de forma

subjetiva procurou descrever cada planta nas suas particularidades

A necessidade sociocultural humana de estabelecer relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

promove a accedilatildeo de transformar o vocabulaacuterio da liacutengua constantemente para o surgimento de

novas palavras Mas de onde vecircm as palavras Compreendendo que as palavras satildeo criadas de

93

forma consciente para dar nome agraves coisas entendemos que com o passar do tempo as

palavras sofrem transformaccedilotildees que trazem tambeacutem a modificaccedilatildeo no sentido Assim a

linguagem eacute o campo no qual o homem exprime seus sentimentos e pensamentos em uma

comunicaccedilatildeo interpessoal ou grupal construindo uma sociedade capaz de desenvolver sua

cultura e saber que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

No que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais analisamos inicialmente

se o domiacutenio estudado pertence apenas ao campo da medicina caseira Segundo a Norma da

ISO 1087 (2000) o domiacutenio eacute decidido como parte do saber cujos limites satildeo definidos

conforme um ponto de vista particular Em seguida acolhemos a definiccedilatildeo descritiva da

moradora Domingas que buscou de acordo com seus saberes definir os termos sobre as

plantas catalogados na regiatildeo de Pimenteiras

Os dados analisados nesse trabalho satildeo constituiacutedos no total de quarenta e dois (42)

termos que foram catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras Diante da quantidade descrita utilizaremos alguns termos em diferentes aspectos

a serem considerados Os elementos presentes na ficha terminoloacutegica de cada termo seratildeo

analisados a partir da definiccedilatildeo descritiva no contexto que a senhora Domingas expocircs sobre

as plantas para isso utilizamos um modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich

(1996) usado pela Universidade de Brasiacutelia (UNB) contendo os elementos constitutivos dos

termos para uma melhor visualizaccedilatildeo dos lexemas e de seus elementos constituintes

analisando junto a isso a variaccedilatildeo de alguns termos que estatildeo relacionados de forma

associativa com certa caracteriacutestica da planta Isso se faz importante para melhor

compreendermos as nomeaccedilotildees e as significaccedilotildees descritas pela moradora nesse processo de

nomeaccedilatildeo relacionado ao conhecimento de mundo dos moradores da comunidade de

Pimenteiras

Com base nos estudos socioterminoloacutegicos explanados nesse trabalho dissertativo

analisamos as particularidades de cada termo demonstrando as definiccedilotildees descritas sobre as

caracteriacutesticas das plantas medicinais de Pimenteiras junto a isso apresentamos as imagens

das plantas registradas durante a pesquisa de campo na comunidade Para cada termo

apresentado utilizamos duas (02) imagens registradas em seu ambiente natural uma com a

imagem integral da planta e a segunda imagem com uma especialidade da planta No total

ocorreu o registro das folhas das plantas Isso se faz importante para tambeacutem verificarmos as

especificidades de cada planta no seu aspecto anatocircmico

Para tratar das questotildees da variaccedilatildeo existente sobre os termos das plantas medicinais

de Pimenteiras tomamos como contexto de anaacutelise somente os termos catalogados sobre as

94

plantas pesquisadas na comunidade por meio da moradora Domingas Com o objetivo de

examinar as variaccedilotildees destes termos foram necessaacuterios diversos encontros para cataloga-los

registrar as imagens das plantas e gravar as definiccedilotildees descritivas pela senhora Domingas

Assim os objetos desse estudo satildeo os termos sobre as plantas medicinais utilizados pelos

moradores da regiatildeo no seu contexto social

A quantidade de termos sobre as plantas medicinais existentes na comunidade eacute

enorme entretanto dado o nuacutemero de termos sobre as plantas medicinais e de suas variantes

na linguagem especializada metodologicamente trabalhamos com um total de quarenta e dois

(42) termos que foram coletados registrados em imagens e definidos em fichas

terminoloacutegicas Pesquisando a origem dessas variantes atribuiacutedas aos termos sobre as plantas

medicinais percebemos que o seu surgimento ocorre das mais variadas formas possiacuteveis O

principal modo de formaccedilatildeo das variantes eacute a partir da associaccedilatildeo relacionada com a forma

tamanho cor e funccedilatildeo das plantas medicinais As formaccedilotildees geradas por relaccedilotildees associativas

satildeo caracteriacutesticas que pertencem naturalmente agrave Terminologia

Assim vejamos uma sequecircncia das anaacutelises dos termos sobre as plantas medicinais

da comunidade de Pimenteiras observando suas imagens como tambeacutem seus elementos

constitutivos na ficha terminoloacutegica de cada termo descrito no contexto da moradora

Domingas Neste capiacutetulo apresentamos doze (12) termos de um total de quarenta e dois (42)

Os demais se encontram nos apecircndices deste trabalho Por meio da ficha terminoloacutegica criada

por Faulstich (1996) contendo a definiccedilatildeo descritiva da moradora Domingas observamos os

aspectos relacionados ao clima origem caracteriacutesticas da espeacutecie formas e utilidade

medicinal de cada planta catalogada Alguns termos apresentaram variantes e nesse acircmbito

compreendemos as relaccedilotildees associativas do nome com as caracteriacutesticas das plantas

Observemos na sequecircncia a anaacutelise dos termos catalogados na comunidade de

Pimenteiras

51 MUCURACAacute

Haacute muito tempo o ser humano cria e utiliza as palavras para expressar designar

conceitos objetos e processos de diferentes campos do conhecimento tudo isso eacute feito por

meio da linguagem A linguagem verbal eacute uma entidade social que possui aspectos materiais e

simboacutelicos que estatildeo ligados agrave consciecircncia e agrave subjetividade humana em que cada falante

95

compartilha seus saberes por meio da liacutengua A liacutengua tem uma estrutura imutaacutevel e apesar

disso estaacute em constante variaccedilatildeo eacute um instrumento que pode causar emancipaccedilatildeo e poder

um objeto do conhecimento em que inuacutemeros modelos teoacutericos surgiram com a pretensatildeo de

descrever e explicar sua essecircncia

Os moradores da comunidade de Pimenteiras demonstram em sua linguagem o

saber de uma cultura rica e distintiva Podemos perceber na anaacutelise dos termos as

particularidades que evidenciam tal grandeza Observemos na anaacutelise do termo ldquoMucuraraacuterdquo

por meio da ficha terminoloacutegica a descriccedilatildeo subjetiva que a moradora quilombola expocircs

sobre cada planta catalogada Vejamos

TERMO 01 ndash ldquoMUCURACAacuterdquo

Fotografia 14 ndash Mucuracaacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 15 ndashFolha do Mucuracaacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

96

Quadro 01 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute

Lx Lexema Mucuracaacute

V Variante Tipi

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Co Contexto eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que pra

espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode

plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal () primeiro tinha aquele

problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do

mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia doseacuteh e pra isso aquela enjoaccedilatildeo aquele

aborrecimento isso taacuteele eacute bem pequenhinho ele eacute uma planta tambeacutem neacuteele eacute

pequeno a folha ele eacute que nem a japana ele eacute do mesmo modelo da japana assim neacuteele eacute pequeno folhinha dele eacute bem escurinha bem escura assim verdinho escuro

afolhinha dele neacuteeacuteh da folha e do pau e da raiz ( )ele eacute grande ele no maacuteximo que

tem eacute trecircs palmo se ele tiver trecircs palmo neacuteele eacute conhecido por dois nomes mucuracaacute

e tipi tipe sim o maranhense praticamente o maranhense soacute conhece po tipi nois

paraense que conhece por mucuracaacute natildeo soacute o nome que mudanum sei tambeim natildeo

tambeim natildeo o cheiro dele tambeim eacute muito forte eacute o cheiro dele um ser cheiro assim

de alho querado e com muitas horas assim tem um alho que a gente quebra com

muitas horas deixa assim e vai cheirar pois assim que eacute o cheiro dele assim um cheiro

forte mucuracaacute mucuracaacutecom cheiro muito forte parece alho usadomuitu forti

Fc Fonte do

Contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas a casca do caule e a raiz

Fu Formas de uso

Usada na forma de chaacutes e para fazer banhos contra febre dor de cabeccedila mal olhado quebrante

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota O termo eacute conhecido como ldquoTipirdquo (falado no Estado do Maranhatildeo)

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Os dados apresentados na ficha terminoloacutegica sobre o termo ldquoMucuracaacuterdquo explanam

as caracteriacutesticas pertencentes agrave espeacutecie em seu contexto social Por ser uma planta de cheiro

forte e marcante eacute utilizada em banhos para as enfermidades do corpo e da alma Conhecida

tambeacutem pela variante ldquoTipirdquo suas utilidades medicinais vatildeo aleacutem dos benefiacutecios agrave sauacutede pois

eacute uma planta usada para afastar problemas espirituais como quebrante e questotildees negativas

contra a alma O fato de cultivar a planta proacutexima agrave casa tem o significado de proteccedilatildeo

espiritual aos moradores da comunidade de Pimenteiras Observemos no contexto apresentado

por Domingas

[] eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que

pra espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode

plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal ( ) primeiro tinha aquele

97

problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia [] (informaccedilatildeo verbal)56

Aleacutem da definiccedilatildeo descritiva do termo ldquoMucuracaacuterdquo utilizamos tambeacutem como

anaacutelise dos termos o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com as

informaccedilotildees especiacuteficas sobre os elementos presentes em cada termo Este formato da ficha

terminoloacutegica eacute importante para melhor visualizaccedilatildeo dos dados analisados pois observamos

cada informaccedilatildeo contida sobre os termos catalogados aleacutem da definiccedilatildeo descrita pela senhora

Domingas Os aspectos pertinentes na ficha satildeo o Lexema (Lx) as Variantes (V) a

Classificaccedilatildeo Gramatical (Cg) o Contexto (Co) a Fonte do Contexto (Fc) as Partes de Uso

(Pu) Formas de Uso (Fu) a Finalidade (Fn) os Dados do Informante (Di) os Dados do

Pesquisador (Dp) Notas (Nt) e a Data da Coleta (Dc)

Observamos que nos estudos atuais da liacutengua o leacutexico estende-se para aleacutem da

Terminologia e chega aos estudos da Sociolinguiacutestica57

e da Etnolinguiacutestica58

pois a liacutengua

de modo geral reflete marcas sociais e culturais dos falantes Assim observemos na

sequecircncia os demais termos e suas anaacutelises identificando as caracteriacutesticas de um povo e de

sua liacutengua

52 ERVA DE JABUTI

Nos estudos do termo sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras o aspecto socioterminoloacutegico eacute muito importante pois o termo pode apresentar

variaccedilotildees por vezes dentro de uma mesma aacuterea de especialidade Esse conceito traz um olhar

novo com perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural a respeito dos termos analisados sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras mostrando as influecircncias da cultura negra na

linguagem No que compete ao aspecto da linguagem Travaglia (2002 p 23) expotildee que ldquoa

linguagem eacute pois um lugar de interaccedilatildeo humana de interaccedilatildeo comunicativa pela produccedilatildeo de

efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e em um

56Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoMucuracaacuterdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015 57Sociolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda as relaccedilotildees entre liacutengua e sociedade e daacute ecircnfase ao caraacuteter

institucional das liacutenguas Eacute o estudo do comportamento linguiacutestico dos membros de uma comunidade e de como

ele eacute determinado pelas relaccedilotildees sociais culturais e econocircmicas existentes

58Etnolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda a relaccedilatildeo da linguagem e a cultura das comunidades A etnologia eacute o estudo antropoloacutegico dos povos e sua cultura analisando sua linguagem e como ela estaacute

relacionada agraves peculiaridades da vida primitiva suas crenccedilas e folclores

98

contexto soacutecio-histoacuterico e ideoloacutegicordquo Observemos as variaccedilotildees ocorrentes com o termo

ldquoErva de Jabutirdquo

TERMO 02 ndash ldquoERVA DE JABUTIrdquo

Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti

Lx Lexema Erva de Jabuti

V Variantes Coraccedilatildeo de Jabuti Coraccedilatildeozinho Comida de Jabuti

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto ela eacute uma planta di todu cantu tantu ambienti abertu ou fechadu ela daacute ela ela eacute

uma planta assim pequenauma erva ( ) ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela

eacute um formatu dum coraccedilatildeu coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu

grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha

neacute ela num eacute dessas avres assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua

dela a folhinha dela tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa

cheia di aacutegua eacute uma folha assim ( ) ela num ela num eacute aquela folha seca assim durinha

fina ela eacute uma folhinha assim bem gordinha cheinha neacute tantu faz a folha comu us

galhinhus dela ela bota uma uma bajizinha uma bajizinha forma dum duma baji di

pimenta du reinu soacute qui eacute bem piquininha eacute naquela forma da baji di pimenta du reinu

sabi neacute cumeacute aquela baginha assim soacute que eacute bem piquininha ( ) bem zititinha porque ela ela eacute uma planta pequena ela tem aqueli formatu da pimenta mais ela eacute miudinha eacute

teacute que ela eacute uma planta nativa tambeacutem ela num eacute assim uma planta cuidada ela eacute

nativa e assim nos quin no quintau ela gosta muitu de nascer im quintal eacuteh sozinha

eacute num precisa cultivar ela eacute ela eacute du quintau ela eacute assim du canteru ela nasce nu

canteru assim ela nascifriu ambiente frio daacute mais com certeza( )

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e os talos da planta

Fu Formas de Usada na forma de chaacutes para Ameba

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti

99

uso

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Os nomes tecircm relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas das plantas nos aspectos da funccedilatildeo e do

formato

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Com o termo ldquoErva de Jabutirdquo observamos que a planta apresenta mais de uma

variaccedilatildeo para a mesma palavra Algumas estatildeo relacionadas com a forma e tamanho daiacute suas

variantes serem conhecidas como ldquoCoraccedilatildeo de Jabutirdquo ou ldquoCoraccedilatildeozinhordquo o termo variante

tambeacutem possui relaccedilatildeo com a funccedilatildeo de servir de alimento para o animal por isso recebe a

terminologia de ldquoComida de Jabutirdquo Podemos perceber como a linguagem especializada

utilizada pelos moradores quilombolas de Pimenteiras apresenta variantes formadas pela

relaccedilatildeo associativa com as caracteriacutesticas descritas sobre as plantas medicinais da regiatildeo

Vejamos no contexto abaixo

[] ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela eacute um formatu dum coraccedilatildeu

coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha neacute ela num eacute dessas avres

assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua dela a folhinha dela

tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa cheia di aacutegua eacute uma

folha assim [](informaccedilatildeo verbal)59

Os termos e suas variantes estatildeo relacionados com a aacuterea de saber dos moradores

quilombolas sobre as plantas medicinais Nesse contexto os saberes de um povo se

manifestam e satildeo preservados na linguagem especializada e por conseguinte marcam os

conhecimentos tradicionais dos moradores de Pimenteiras Nas relaccedilotildees sociais da

comunidade as pessoas vivenciam de forma individual e coletiva sua linguagem Assim

vejamos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo considerado um conhecimento novo para os

moradores de Pimenteiras

59Transcriccedilatildeo Grafematica do termo ldquoErva de Jabutirdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015

100

53 NONI

Para a Terminologia o termo eacute a denominaccedilatildeo de um conceito que tem no

conhecimento especializado uma expressatildeo comunicativa cognitiva e complexa pois natildeo haacute

conhecimento especializado sem uma terminologia Assim Benveniste (1989 p 252) expotildee

que ldquoUma ciecircncia soacute comeccedila a existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e

em que impotildee seus conceitos atraveacutes de sua denominaccedilatildeo Ela natildeo tem outro meio de

estabelecer sua legitimidade senatildeo por especificar seu objeto denominando-o []rdquo Notemos

assim a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo e suas caracteriacutesticas na ficha terminoloacutegica

TERMO 03 ndash ldquoNONIrdquo

Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni

Lx Lexema Noni

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Co Contexto eacutehnoni eacute famoso ele ele cura ocacircncer neacuteentau ele previne ele nem cura como

prenine o cacircncer neacuteeacuteh o suco eacute na garrafada eu praticamente uso na garrafada

toda as minhas guarrafadas eu colo eacute mais natildeo garrafada ele natildeo fica fedorento natildeo

porque na garrafada a gente ponha ele verde e rodela a rodelinha e coloca pra secar e na hora da garrafada a gente tritura ele bem bem miudinho e bota na garrafada

ele natildeo fica natildeo tem gosto de nada agora o suco dele ele ele maduro have maria eacute

muito ruiacute neacute((sorriu)) eacuteh mas ele eacute assim mas na garrafada a gente pode usar ele

ninguei nem percebe se tem ele eacute muito assim ele eacute muito eacute um remeacutedio que ele eacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 19 ndash Folha do Noni Fotografia 18 ndash Noni

101

muito bom e ele ele assim nem tanto cura como previne as doenccedila como eacute bom pra

inflamaccedilatildeo pra infecccedilatildeo eacute muito rui neacuteaiacute a inflamaccedilatildeo ela vira infecccedilatildeo e aiacute eacute muito

bom pra usar ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que

eu conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais

trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute ela eacute uma planta e o fruto dele a

folha dele eacute bem grande bem grande a folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma

lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os frutos dele neacute((sorriu)) pois eacute ((sorriu))

pois eacute eacute soacute usa o fruto e pra isso e um da nunca ouviu falar eacute soacute e o fruto mesmo ela

ela conhece eacuteh que neacutea gente usa neacutea gente usa direito ela ajunta pra mim por

que peacute no meu quintau natildeo tem tambeacutem natildeo natildeo tem natildeo ela sempre a gente leva

daiacute

Fc Fonte

docontexto

A informante

Pu Partes de

uso

Eacute utilizado o fruto e as folhas em sucos e na garrafada

Fu Formas de

uso

Corta as rodelas da fruta colocando para secar e depois triturar para usar na

garrafada serve para curar e prevenir o cacircncer inflamaccedilotildees e infecccedilotildees

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Considerada uma planta nova foi inserida haacute pouco tempo no contexto da comunidade

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoNonirdquo eacute um substantivo masculino que tem como definiccedilatildeo ser uma planta

de fruto e folhas grandes O fruto eacute descrito pela moradora de Pimenteiras com a aparecircncia de

uma ldquolagartardquo Segundo Domingas ldquoo fruto dele a folha dele eacute bem grande bem grande a

folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os

frutos dele neacute ((sorriu))rdquo (informaccedilatildeo verbal)60

A planta eacute novidade para a moradora de Pimenteiras seu saber veio atraveacutes de

cursos por meio da associaccedilatildeo quilombola da comunidade sobre o poder das plantas O Noni

eacute utilizado na garrafada como anti-inflamatoacuterio e tambeacutem como aliado contra o cacircncer Nesse

contexto o conhecimento sobre a planta foi absorvido pelos moradores da regiatildeo e integrado

como parte dos saberes sobre as plantas medicinais Observemos abaixo

[] ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute

novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que eu

conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais

trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute [] (informaccedilatildeo verbal)61

60 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015 61Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

102

O que motiva o surgimento de um termo eacute a necessidade de nomear as novas

descobertas tecnoloacutegicas e cientiacuteficas direcionadas sempre a uma aacuterea especiacutefica do

conhecimento Segundo os estudos de Araujo (2006) o termo tem uma ldquodimensatildeo linguiacutestica

comunicativa e cognitiva e uma estrutura complexardquo O termo adquire uma feiccedilatildeo

terminoloacutegica porque integra um saber especializado ao lado de contextos no campo das

ciecircncias e das teacutecnicas ele tambeacutem possui uma dimensatildeo linguiacutestica por configurar um

comportamento lexical especializado e ainda uma dimensatildeo cognitiva por manifestar seu

conhecimento especializado

Por assim observar o termo eacute parte do componente linguiacutestico como tambeacutem eacute uma

unidade terminoloacutegica e ainda eacute um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saberVejamos

assim o componente linguiacutestico do termo ldquoPatacardquo

54 PATACA

A liacutengua eacute uma estrutura que estaacute sempre em transformaccedilatildeo desse modo a variaccedilatildeo

eacute um elemento muito importante para entendermos a existecircncia de diferenccedilas no modo como

uma liacutengua eacute usada em uma comunidade Assim como o ldquoNonirdquo o termo ldquoPatacardquo eacute um saber

novo para a comunidade de Pimenteiras adquirido por meio das relaccedilotildees sociais Observemos

abaixo sua anaacutelise

TERMO 04 ndash ldquoPATACArdquo

Fotografia 20 ndash Pataca

Fotografia 21 ndash Folha da Pataca

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

103

Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca

Lx Lexema Pataca

Cg Classe Gramatical

Substantivo feminino

Co Contexto eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacuteela me parece que

ela veio da iacutendia parasse neacuteela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de beacuteleacutem

que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta

sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu tenho um

pezinho laacute em casa ela eu natildeo que tamanho que o peacute taacute desse tamanho eu natildeo sei se daacute

grande natildeo eu daacute nunca viacute ela natildeo eacute nem daqui neacutemas ela eacute boa pra remautismo se

buta na de aacutelcool pra passar no lugar que taacute afetado do remautismo foi essa senhora

issi isso isso teacute agora eu eu ainda natildeo procurei pra ela cumo eacute que se usa porque ela

me deu tipo assim uma raiz tipo uma coisa assim nera num sei que era aquilo que ela

me deu ainda falta eu conversar com ela que pra mim procuraraacute cumeacute que se usa se eacute

a folha num era o que eacute eu pensei de ser ou o fruto ou a raiz dela natildeo natildeo natildeo tem natildeo natildeo veio mesmo que pra mim ela eacute recente neacuteeacute soacute folha soacute folha mas ela eacute muito

remeacutedio ela ela veio de longe essa essa pataca noacutes tiremos foto porque ela no meu

quintau neacuteela eacute remeacutedio agente tirou isso isso eacute verdade eacute depois me diz hum hum

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Natildeo sabe ao certo o que utilizar se eacute a folha caule ou fruto

Fu Formas de

uso

Tem a noccedilatildeo de usar com o aacutelcool na regiatildeo que estaacute com reumatismo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A informante recebeu a planta de outra pessoa natildeo sabe como usar poreacutem sabe que

serve contra o reumatismo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Sem saber o valor medicinal da Pataca a moradora traz para o ambiente da

comunidade um novo conhecimento adquirido pelo contato com outras pessoas sobre o uso da

planta que eacute conhecida pela sua importacircncia contra o reumatismo

O termo ldquoPatacardquo eacute considerado um substantivo feminino com uma estrutura

simples devido agrave presenccedila de um uacutenico radical No que concerne ao gecircnero na definiccedilatildeo a

moradora conduz sua fala no feminino referindo-se ao termo como a planta que foi inserida

haacute pouco tempo no contexto da comunidade segundo a senhora Domingas

[] eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacute ela me parece

que ela veio da iacutendia parasse neacute ela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de

beacuteleacutem que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu

tenho um pezinho laacute em casa [] (informaccedilatildeo verbal)62

62Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPatacardquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

104

Somos seres humanos formados pela interaccedilatildeo pelo contato que temos com as

pessoas com o ambiente com a cultura enfim eacute atraveacutes da accedilatildeo de produccedilatildeo da linguagem

que somos constituiacutedos como indiviacuteduos sociais Ao analisarmos os termos das plantas

medicinais catalogadas na comunidade de Pimenteira pretendemos ver como essas unidades

se constituem e que fatores extralinguiacutesticos sociais e culturais interferem e determinam essa

terminologia Barbosa (2001) expotildee que ldquoesse tipo de linguagem usa vocabulaacuterios teacutecnico-

cientiacuteficos e especializados mostrando que eles estatildeo no niacutevel de uma forma natildeo apenas

linguiacutestica mas tambeacutem socioculturalrdquo Assim completa expondo que

Considerando o conjunto de obras lexicograacuteficas e terminoloacutegico-terminograacuteficas

produzidas em eacutepocas mais recentes diriacuteamos que natildeo se tem muita clareza quanto

agraves fronteiras conceptuais denominativas definicionais dos tipos desses textos natildeo

obstante o estaacutegio avanccedilado em que se encontram neste fim de seacuteculo as pesquisas

das ciecircncias da palavra nessas aacutereas natildeo obstante igualmente a existecircncia de

numerosos organismos e obras de normalizaccedilatildeo terminoloacutegica em diferentes paiacuteses

que natildeo conseguiram assegurar para certos conceitos uma terminologia de

Terminologia uniforme e consensual (BARBOSA 2001 p 26)

Analisamos na sequecircncia o termo ldquoPau-de-muquemrdquo que eacute tambeacutem conhecido pelas

variantes ldquoAssa-peixerdquo ou ldquoMata pastordquo

55 PAU-DE-MUQUEM

Diferente da palavra o termo possui sempre relaccedilatildeo com o significado dentro de um

contexto de domiacutenio ou seja estaacute sempre contextualizado em um determinado campo de

conhecimento Nesse contexto seu conteuacutedo especiacutefico encontra-se em uma situaccedilatildeo de uso

particular Krieger (2001 p 69) nos afirma que ldquoo reconhecimento sem duacutevida incontestaacutevel

do componente conceitual na constituiccedilatildeo do fenocircmeno terminoloacutegico responde fortemente

pelas interpretaccedilotildees de que um termo eacute uma unidade de conhecimentordquo

Uma unidade de conhecimento que estaacute em contiacutenuo relacionamento com seu

significado e que segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos (CABREacute 1993) Assim

caracterizamos o termo Contudo que criteacuterios podemos seguir para a seleccedilatildeo dessas unidades

de especialidades Antes de observar se os termos sobre as plantas medicinais pertencem ou

natildeo ao domiacutenio da especialidade percebemos que a definiccedilatildeo de um termo sempre seraacute o

ponto de partida pois os contextos de uso nos estudos teoacutericos da terminologia tornam-se

105

vaacutelidos para descrever e recolher os termos dentro do campo de ocorrecircncia do saber

especializado Observemos entatildeo como ocorre as variaccedilotildees no termo ldquoPau-de-muquemrdquo

TERMO 05 ndash ldquoPAU-DE-MUQUEM

Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-De-Muquem

Lx Lexema Pau-de-muquem

V Variante Assa-peixe ou Mata pasto

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto eacute o mesmo accedilapeixe sim eacute a mesma coisa eacute uma arve eacute uma arve nativa tambeacutem ela

do tempo ela eacute diz que ela eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacutefazer o

lambedor dela o xarope o lambedor eacute a mesma coisa do charope neacuteda folha buta ela pra ferver ferver inteacuter quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua

quando ele reduzir pra meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel

dipreferente o mel pra essas coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar

toamando que eacute pra tosse a irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o

lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo

neacutequando tivesse bem sequinha esfarelava na comida e comia eacute ela disse queeu

num sei tambeacutem isso daiacute ((sorriu)) ela eacute assim ela eacute grande assim ela eacute grande assim

a ponta dela eacute mais larga soacute () diferente da a potinha dela eacute bem larguinha a ponta

dela pra ponta ela eacute mais larga e pro pezinho da folha eacute mais estretinha quase que eacute

pois eacute assim tambeacutem numa moita num nasce soacute uma ave nasce varas varas ela eacute boa

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem

106

de filhar assim a volta dela brolha muita aiacute tambeacutem tem uns que chamam mata pasto

neacute mata pasto tem gente que manca ela gosta de nascer meio do capinzal aiacute ela gosta () eacute tem gente que cha pasta pasto sem mas eacute conhecido mesmo bem por accedila peixe e

pau de muqueacutem nos conhecemos por esse nome lambedor isso eacute pra tosse natildeo natildeo ela

tambeacutem chama de mata pastu porque nasce assim no meio do capim

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas

Fu Formas de

uso

Para tosse fazer o lambedor (ferver as folhas na agua ateacute apurar depois acrescenta o

mel) Para renite (fritar as folhas em oacuteleo triturar e colocar na comida)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Eacute conhecido tambeacutem como assa-peixe ou mata pasto

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando o termo ldquoPau-de-muquemrdquo entendemos que as variantes ldquoAssa-peixerdquo e

ldquoMata pastordquo tambeacutem deveriam ser analisadas no aspecto gramatical com isso observamos

que os termos e suas variantes satildeo sintagmas terminoloacutegicos masculinos Eacute interessante notar

que as variantes apresentam a mesma composiccedilatildeo em sua formaccedilatildeo podendo ser utilizadas no

mesmo contexto Nesse aspecto Faulstich (1999) explica que haacute formalizaccedilatildeo da sinoniacutemia

terminoloacutegica em que as variantes satildeo coocorrentes ou seja ldquorelaciona o sentido de dois ou

mais termos com significados idecircnticos e podem coocorrer em um mesmo contexto sem que

haja alteraccedilatildeo no plano do conteuacutedordquo

No que concerne agrave definiccedilatildeo descrita sobre o termo e suas variaccedilotildees a planta eacute usada

para tosses e renites sendo que para cada situaccedilatildeo o modo de processar eacute particular

Observamos que as distintas formas de nomear a planta medicinal coincidem no preparo para

as diferentes enfermidades a serem tratadas assim expotildee a senhora Domingas

[] eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacute fazer o lambedor dela o xarope o

lambedor eacute a mesma coisa do charope neacute da folha buta ela pra ferver ferver inteacuter

quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua quando ele reduzir pra

meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel dipreferente o mel pra essas

coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar toamando que eacute pra tosse a

irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo neacute quando tivesse bem sequinha

esfarelava na comida e comia eacute ela disse que eu num sei tambeacutem isso daiacute

((sorriu))[] (informaccedilatildeo verbal)63

63Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPau-de-muquemrdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

107

Considerar o termo dentro do ambiente social que as pessoas utilizam a linguagem

esta eacute a base da Socioterminologia que analisa a variaccedilatildeo social do termo antes tido como

invariaacutevel Com isso procuramos examinar como a variaccedilatildeo ocorre dentro das mudanccedilas na

sociedade lugar em que o termo eacute gerado eacute usado eacute modificado Ao falar sobre

Socioterminologia Faulstich (2006 p 27) expotildee que

Para falar de socioterminologia eacute preciso antes de tudo situar a terminologia no

espaccedilo da interaccedilatildeo social No Brasil por exemplo a histoacuteria da terminologia se confunde com a formaccedilatildeo da sociedade brasileira por meio da mistura de falares dos

habitantes naturais da terra e dos que para caacute vieram Vejam-se nos dicionaacuterios

termos da fauna e da flora como indicadores da terminologia indiacutegena no portuguecircs

brasileiro () Assim sendo natildeo eacute novidade dizer que a diversidade da cultura

brasileira aparece refletida na terminologia cotidiana

Um dos maiores aspectos da Socioterminologia exposto por Faulstich (2006) eacute ldquoter

na base da pesquisa a variaccedilatildeo linguiacutestica dos termos no meio social e por consequecircncia

entender a mudanccedila terminoloacutegica como mecanismo resultante da pragmaacutetica discursivardquo

Assim no que diz respeito agraves mudanccedilas no termo a pesquisadora explica que a ldquovariaccedilatildeo

deve levar em consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de comunicaccedilatildeo de uma determinada aacuterea

que dependem das circunstacircncias de emissatildeo dos interlocutores do meio pelo qual se daacute a

comunicaccedilatildeo entre outrosrdquo (FAUSLTICH 2006 apud BLANCO 2010 p 4)

Vejamos na sequecircncia como ocorre a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo

56 VASSOURA DE BOTAtildeO

Nos estudos da linguagem humana os usos de palavras especiacuteficas para situaccedilotildees em

especial vecircm sendo ampliados de acordo com as mudanccedilas de uso da liacutengua tais palavras

recebem as seguintes nomenclaturas leacutexico especializado termo teacutecnico-cientiacutefico termo

unidade lexical terminoloacutegica unidade lexical especializada unidade lexical temaacutetica

unidade de conhecimento unidade de compreensatildeo unidade de significaccedilatildeo especializada ou

vocabulaacuterio (ARAUacuteJO 2006)

Ao utilizarmos os termos com sentido aproximado do objeto nomeado fazemos uma

associaccedilatildeo com certa caracteriacutestica correspondente ao nome dado Nesse contexto ldquoa relaccedilatildeo

associativa eacute uma relaccedilatildeo entre dois conceitos que natildeo pertencem agrave mesma estrutura hieraacuterquica

ainda que sejam proacuteximos do ponto de vista semacircntico ou contextualrdquo (TESAURO 2006 p 11)

108

Nesse acircmbito vejamos a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo cujo nome segundo a

descriccedilatildeo de Domingas possui relaccedilatildeo com a planta nomeada

TERMO 06 ndash ldquoVASSOURA DE BOTAtildeOrdquo

Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo

Lx Lexema Vassoura de botatildeo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto ela eacute boa pra quela eacute verme gearde neacutegearde que eacute do estamagu que eacute de

ameba eacute pra ela que ela eacute bom eacute a gente faz a gente faz tambeacutem tintura piacuteula dela de

vassoura de botatildeoeacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que ela

assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim ao

redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela

agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota outra

aqui ateacute trecircs quatro assim isso hurum isso sim sim eacute isso isso eacute chamo vassoura de

butatildeo eacute a folha com tudo aquilo tudo tudo isso eacute pequeninha eacute isso hurum e tambeacutem eacute

e uma fez noacutes fizemos eacute pumada disseram quera era boa pra ela ela diz antiplamatoacuterio

a gente fez a pumada neacutecatamos tudinho a folhinha butamos pra fritar nu na gordura vegetal e depois transformamos na pomada mas isso aiacute ningueacutem tem dizer

assim ele foi bom porque ningueacutem usou a gente um pouco soacute pra demonstraccedilatildeo isso

foi pela pastoral da crianccedila neacuteaquela pretinha que foi ensinar noacutes a gente fez vaacuterias

mas a gente fez soacute um pouquinho num

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e o botatildeo da flor

Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo Fotografia 25 ndash Folha da Vassoura de botatildeo

Fonte Dado registrado durante a pesquisa Fonte Dado registrado durante a pesquisa

109

Fu Formas de

uso

Usada para vermes amebas no estocircmago atraveacutes de tintura piacutelulas anti-inflamatoacuterio

(ferver as folhas e o botatildeo em gordura vegetal para transformar em pomada)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem aspecto de uma pequena vassoura invertida

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoVassoura de Botatildeordquo eacute um sintagma terminoloacutegico feminino formado pela

composiccedilatildeo de palavras Em sua estrutura o termo apresenta uma complexidade formada pela

presenccedila de dois radicais no acircmbito da definiccedilatildeo do termo verificamos que haacute uma relaccedilatildeo

associativa do nome da planta com a aparecircncia que ela possui como expotildee Domingas

[] vassoura de botatildeo eacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que

ela assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim

ao redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela

agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota

outra aqui ateacute trecircs quatro [] (informaccedilatildeo verbal)64

Com o formato de uma vassoura invertida o termo ldquoVassoura de Botatildeordquo estaacute

relacionado com o aspecto que o objeto nomeado possui Nesse campo de estudo Faulstich

(1999) explica que nas relaccedilotildees associativas haacute uma sequecircncia que estaacute conectada com a

experiecircncia contiacutenua entre o tempo e espaccedilo Assim a ldquounidade terminoloacutegica pode ter ou

pode assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha

nos contextos de ocorrecircnciardquo (FAULSTICH apud CRUZ 2014 sem paginaccedilatildeo)

Vejamos assim algumas plantas que apresentam relaccedilotildees associativas nos seus

nomes quanto agrave forma tamanho cor e funccedilatildeo medicinal como eacute o caso do termo ldquoNambu

Tutanordquo

57 NAMBU TUTANO

Na Liacutengua podemos utilizar as palavras em diferentes relaccedilotildees de sentidos nos mais

diversos contextos Nesse processo denominado polissecircmico encontramos termos que

64

Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

110

possuem formaccedilotildees utilizadas no acircmbito geral de uso da liacutengua assim como termos

especiacuteficos no uso especializado da linguagem

Nesse aspecto verificamos que a comunidade de Pimenteiras apresenta variaccedilotildees

para um mesmo termo sobre as plantas medicinais ocorridas pela relaccedilatildeo associativa com as

caracteriacutesticas pertencentes a cada espeacutecie nomeada Verifiquemos a anaacutelise do termo abaixo

TERMO 07 ndash ldquoNAMBU TUTANOrdquo

Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano

Lx Lexema Nambu Tutano

Va Variante Batata Roxa

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto eacute uma planta eli eacute eli eacute piquininhu eli daacute assim eim forma di cebola di planta

assim qui eli eacute soacute que eli a folha eli natildeu teim caulei natildeu daqui qui eli nasci eli jaacute

nasci as folhas natildeu eli num teim qui a batata a cebola di planta neacute qui eacute assim ela jaacute

vai nascendu a folha duma folha eacute qui neim a cebola duma folha jaacute bota outra folha

dotra folha jaacute vai botandu qui neacute batatinha em baixu eacute natildeu natildeu teim cauli natildeu eacute soacute

folha i batataa folha eacute a folha teim a folha di accedilaizeiru neacute qui eacute assim ai teim as

folinhas qui agarra nu talu du accedilaizeiru eacute daqueli formatu da folha du accedilaizeiru natildeu

natildeu eacute beim compridona eacute assim a folha deli mais ou menus dum palmu qui eacute assim a folinha deli natildeu natildeo sei por que ela eacute abertinha teim a folha di cebola porque a

folha cebola eacute toda eacute inteira comu digu logu eacute rolicinha e ela num ela eacute ela eacute eacute ela eacute

folinha ela eacute folha assim ela eacute abertinha folha aberta folha assim folha aberta folha

qui tem a accedilaizera qui teim a folha dela qui eacute assim agora a dela eacute qui neim aquela

folha di accedilaizeiru assim qui ( )nasci daqueli talu assim pois eacute a folha dela babosa

num teim a babosa qui eacute uma folha aberta neacute eacute folha mais eacute aberta neacute assim qui eacute du

batatatildeu ela num eacute aquela folha inteira folha roliccedila assim ela eacute uma folha aberta natildeo

eacute seca qui nem di accedilaizeru mermu eacute seca mermu eacute usa soacute a batata natildeo

Fotografia 26 ndash Nambu Tutano Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

111

piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute roxinha tambeacuteim batata roxa

porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu

jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute qui neim a cebola capa sobri capa a

capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu

vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu mas ela eacute assim de capinha nambu tutanu

isso daacutei eu conhe caacute a minha voacute i minha matildei tambeacuteim nambu tutanu qui quandu eu mi

criei ela jaacute tinha neacute ( ) issu aqui eacute nambu tutanu porque as veiz quandu aparecia

aquela pessoa doenti crianccedila doenti neacute vai ver nambu tutanu vai arrancar aqueli

pesinhu ali vocirc fazer remeacutediu ai a genti ia arrancar i por issu qui deru u nomi ai eu

achu qui veim dus avocircs delis dus tataravoacute sabi laacute neacute aprendemus com elis eacute eacute mesmu

nomi cebolinha eacute batata roxa nambu tutanu mesmu nomi

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

A raiz em formato de batata

Fu Formas de uso

Chaacutes para diversas doenccedilas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A variante Batata Roxa vem do formato da raiz que parece uma batata em camadas

como cebola na cor roxa

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando o termo ldquoNambu Tutanordquo observamos que possui a variante ldquoBatata

Roxardquo Na anaacutelise por meio da ficha terminoloacutegica na definiccedilatildeo descritiva de cada planta

medicinal verificou-se que os termos e suas variantes tecircm particularidades importantes para

este estudo Desta forma no termo ldquoNambu tutanordquo notou-se que sua variante ldquobatata roxardquo

possui relaccedilatildeo associativa com a forma ou seja a planta apresenta formato de uma batata de

cor roxa por isso a presumiacutevel relaccedilatildeo com a variante do termo Observemos abaixo

[] eacute usa soacute a batata natildeo piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute

roxinha tambeacuteim batata roxa porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a

batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti

comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute

qui neim a cebola capa sobri capa a capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu

mas ela eacute assim de capinha[] (informaccedilatildeo verbal)65

Sabemos que na configuraccedilatildeo atual a Terminologia vai muito aleacutem da elaboraccedilatildeo

de dicionaacuterios na aacuterea Muitos autores consideram o conhecimento nas liacutenguas especializadas

como um rico campo de conhecimento Faulstich (1995) explica que o saber eacute construiacutedo de

forma individual e coletiva num processo no qual o sujeito interage com a realidade as

65Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNambu Tutanordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

112

pessoas e o ambiente sociocultural Isso nos revela que a Socioterminologia jaacute era prenuacutencio

para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de natureza social ou

seja ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo no universo da terminologia revelam peculiaridades

proacuteprias a serem estudadas pela disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para

a sistematizaccedilatildeo de termos e de variantesrdquo (FAULSTICH 1995 p 281)

Na sequecircncia analisemos o termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo

58 QUEBRA PEDRA ROXO

Em seus estudos Faulstich (1995) aborda aspectos relevantes dentre os quais

destaca a diferenccedila entre lexema e termo Para a pesquisadora o lexema eacute ldquouma unidade

lexical do domiacutenio do leacutexico geral da liacutengua um termo eacute tambeacutem uma unidade lexical mas

tiacutepico de variado domiacutenio de vocabulaacuterio cientiacutefico e teacutecnicordquo (FAULSTICH 1995 sem

paginaccedilatildeo) Por ser o lexema uma unidade da liacutengua comum Faulstich explica que ele eacute

portador de conotaccedilotildees psicoloacutegicas e sociais que lhe proporcionam a multiplicaccedilatildeo de

significados e a presenccedila da polissemia que por correspondecircncia daacute lugar agrave sinoniacutemia

Diante do contexto funcional a autora destaca que o ldquolexema delineia seu caraacuteter semacircntico e

lexicograacutefico a partir da estrutura paradigmaacutetica porque satildeo as oposiccedilotildees distintivas que

delimitam a configuraccedilatildeo semacircntica e marcam o valor do lexemardquo (FAULSTICH 1994 p

314)

Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo que o sentido estaacute

relacionado ao nome Durante as pesquisas realizadas natildeo encontramos a espeacutecie na cor roxa

para o registro de imagens mas a informante apresentou sua definiccedilatildeo descritiva de forma

subjetiva para que pudeacutessemos verificar as especificidades do termo na ficha terminoloacutegica

Assim observemos

Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo

Lx Lexema Quebra Pedra Roxo

Va Variante Comer de Rola

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto comecirc di rola essi du roxu eacute porque to dizendu eacute eli eacute soacute um formatu du mermu jeitu

qui eacute u brancu eacute soacute muda a cor eli eacute roxinhu por que teim u brancu i teim roxu essi comecirc di rola noacutes conhecemu assim comecirc di rola roxu u quebra pedra eacute quebra pedra

brancu mas eli eacute soacute um formatu u formatu qui eacute u quebra pedra brancu eacute u roxu

beim piquinininha du tamaninhu eacute du mesmu jeitu mesmu jeitinhu aiacute porque qui

113

eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu du otru neacute soacute qui

adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela trevoada di rolinha qui

levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas bichinhas gosta di taacute aqui

porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u

matu eacute du mermu jeitu du brancu eli daacute por certus tempu quandu chega nu veratildeu eli

eli morri soacute qui eacute assim quandu eli nasci muitu qui nu meu roccediladu jaacute nasceu muitu

assim chega qui eu ficava tomandu di conta assim la quasi num nascia neim um otru

matu era soacute por conta deli mermu laacute porque eacute beim encostadinhu dotru neacute assim um

tipu um canteru laacute quasi num nasci otru matu eu sei qui as bichinha gostavu di taacute laacute si

alimentandu da sementinha da folhinha delis minha voacute nois conhecemus com ela

comecirc di rola assim noacutes comu crianccedila vovoacute u qui eacute issu comeacute u nomi dissu ela era uma

velhinha muita pacienti isso ai eacute comecirc di rola( ) porque assim a rolinha quandu chega

aqui as bichinha num si levantu assim ai comecirc di rola pra qui servi vovoacute issu aqui eacute remeacutediu eacute eacute sim eacute remeacutediu( ) prus rins tambeacuteim neacute qui antis a genti fazia dessi assim

quebra pedra fazia mas noacutes conhecemu mais por comecirc di rola a depois qui era quebra

pedra a eacute remeacutediu pa pa quem teim pedras nu rins podi fazer u chaacute dela i tomar agora

eu jaacute usu comu( ) eu jaacute usu na garrafada jaacute bota na garrafada u brancu porque

nois jaacute tivemu uma uma oficina um treinamentu qui uma mulher vei di macapaacute e diz

qui u u bom mermu eacute u brancu qui eacute u quebra pedra di verdadi assim pru pru pedra nu

rim neacute porque eli jaacute porque nois dizia assim( ) teca porque u nomi dela era teca teca

noacutes dizia qui era u roxu ela dissi natildeu u roxu natildeu teim muita serventia eli servi mas u

brancu porque eacute u quebra pedra di verdadi eacute u brancu porque u nomi deli eacute quebra

pedra mermu eacute essi qui eacute bom aiacute eu dissi olha noacutes usa na garrafada ela dissi podi

usari natildeu teim poblema nenhuma comi tambeacuteim mais eacute assim eacute porque aqueli tempu tinha mais passarinhu noacutes via mais tinha mais du roxu assim nu roccediladu eacute mais du roxu

elas tavu mais ondi tava o quebra pedra du roxinhu eacute

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para problemas nos rins

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dores nos rins

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Conhecido tambeacutem por comer de rola porque os paacutessaros preferem a roxinha que a

branca

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Quanto ao termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo sua variaccedilatildeo ocorre com relaccedilatildeo associativa

com a funccedilatildeo que a planta tem ou seja a planta serve de alimento para certa espeacutecie de

paacutessaro assim o termo eacute tambeacutem chamado pela variante ldquoComer de Rolardquo por ser o alimento

que os paacutessaros ldquorolinhasrdquo preferem

[] aiacute porque qui eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu

du otru neacute soacute qui adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu

di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela

trevoada di rolinha qui levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas

114

bichinhas gosta di taacute aqui porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u matu [] (informaccedilatildeo verbal)66

O termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo tambeacutem possui relaccedilatildeo associativa com sua funccedilatildeo

Na sabedoria popular a planta serve para tirar ldquoquebrarrdquo as pedras nos rins No que se refere

ao termo Faulstich esclarece que ao ser colocado no mundo da linguagem cientiacutefica e

teacutecnica ldquoo termo assume o estatuto de unidade lexical definida e eacute naturalmente uniacutevocardquo

(FAULSTICH 1994 p 315) Ou seja haveria um uacutenico conceito para um termo uacutenico com

uacutenica definiccedilatildeo Entretanto se ocorressem conceitos e definiccedilotildees diferentes para um mesmo

termo Faulstich adverte que ocorreria o que ela denomina posteriormente de variaccedilatildeo

terminoloacutegica ou seja havendo um novo termo um novo conceito com uma nova definiccedilatildeo

ocorreria a variaccedilatildeo No entanto ldquose esse mesmo termo vier a funcionar num outro contexto

como equivalente graacutefico de um jaacute existente mas natildeo equivalente semacircntico propiciaraacute a

homoniacutemia terminoloacutegicardquo (FAULSTICH 1990 sem paginaccedilatildeo)

Observemos na sequecircncia outro termo e sua anaacutelise

59 PARATUDO

Faulstich (1990) chama a atenccedilatildeo para a anaacutelise do termo no discurso pois eacute no

discurso que se estrutura a significaccedilatildeo semacircntica e terminoloacutegica Ela destaca que a natureza

epistemoloacutegica do lexema e do termo se fundamenta no alcance dos objetivos de cada um ou

seja para a lexicologia pertence agrave construccedilatildeo de um modelo de componente do leacutexico da

gramaacutetica jaacute a terminologia devido seu caraacuteter de intersecccedilatildeo com a lexicologia morfologia

e a semacircntica prestigia termos da linguagem cientiacutefica e teacutecnica Assim o limite entre lexema

e termo estaacute amparado nos recursos metodoloacutegicos da lexicologia e da terminologia Para

Faulstich (1994 p 317)

O resultado praacutetico da lexicologia teoacuterica e descritiva serve de ponto de partida para

o trabalho lexicograacutefico na elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios de liacutengua geral o resultado praacutetico da terminologia especializada aplica-se agrave terminografia na constituiccedilatildeo de

dicionaacuterios especializados

66Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

115

Diante desse contexto analisamos que o termo conhecido tambeacutem como sinocircnimo de

unidade terminoloacutegica designa um conceito da linguagem de uso especial Segundo Andrade

(et al 1998 p 191)

Tal como as palavras do leacutexico geral os termos satildeo unidades siacutegnicas distintivas e

significativas ao mesmo tempo apresentando-se de forma tatildeo natural no discurso

especializado quanto as palavras nos discursos que se valem da liacutengua comum

como forma de expressatildeo

Assim observemos que o termo ldquoParatudordquo passou por uma distinccedilatildeo particular

vejamos

TERMO 09 ndash ldquoPARATUDOrdquo

Fotografia 28 ndash Paratudo Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo

Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo

Lx Lexema Paratudo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto eacuteh paratudo paratudo isso eacuteuma aacutervore uma aacutervore bem grande ela eacute uma aacutervore

bem grande ela eacute boa pra febre diprimeiro quando dava aquela febre de malaacuteria era

uma febre muito antiga que chamava por outro nome conhecida por outro neacuteela era

soacute o que curava ela eacute amargo amargo a casca dela a casca a gente usa eacute a casca iai a minha matildee tirava pra gente tomar o chaacute mas pra febre era primeiro lugar eacute febre ama

diprimeiro chamava febre amarela agora a pessoa diz que eacute a mesma malaacuteria o

pessoa digo neacuteera a uacutenica que curava era dava um tipo de febre que dava tudo tipo

de remeacutedio ih num passava aiacute eacute soacute a gente dando tudo heacute cumeccedilava sis maacute que era

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

116

esse tipo dessa febre que dava neacuteporque a malaacuteria eacute assim comeccedila daacute em seguida

aqueles horaacuterios o pessoal jaacute disconfia que a malaacuteria neacutee assim eacute era essa essa tipo

dessa febre iai a mamatildee fazia o chaacute paratudo mas ele eacute uma aacutervore ele eacute nativo ele eacute uma aacutervore muita bem grande bem grandona ela eacute nativa ela daacute em qualquer canto

num carece plantar paratudo eu natildeo sei porque os antigos ( )porque eu acho que

parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque essa febre amarela inha matildee

contava era assim febre muito perigosa diprimeiro neacuteera uma febre muita perigosa

que quase quando dava com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho

que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a

febre aiacute butaru paratudo eu acho neacuteela eacute mais alta tem umas que daacute mais alta no

lugar quela cresce mesmo ela eacute bem alta soacute soacute quela natildeo eacute grossana sempre ela eacute fina

ela natildeo eacute grossa natildeo sempre ela fina natildeo ela eacute bem comprindona mas ela eacute fina soacute a

casca soacute a casca

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Utiliza-se apenas a casca da aacutervore

Fu Formas de

uso

Usada na forma de chaacutes para febre amarela malaacuteria

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo ldquoParatudordquo significa que parava todos os sintomas da febre amarela

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando a classe gramatical do termo ldquoParatudordquo vemos que se trata de um

sintagma terminoloacutegico feminino devido a informante se direcionar ao feminino quando

descreve chamando de aacutervore O termo estaacute escrito na forma agrupada essa junccedilatildeo ocorreu

na liacutengua pelo processo de justaposiccedilatildeo o qual Pottier (1978) chama de composiccedilatildeo

composta Isto provavelmente ocorreu pela significaccedilatildeo que o termo adquiriu nas geraccedilotildees

anteriores pois segundo a definiccedilatildeo de Domingas

[] porque os antigos ( ) porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso

neacute paratudo porque essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito

perigosa diprimeiro neacute era uma febre muita perigosa que quase quando dava

com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram

esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo eu acho neacute[] (informaccedilatildeo verbal)67

Na histoacuteria descrita pela moradora quando seus antepassados adquiriam a febre

amarela ou malaacuteria tinham febres persistentes em horaacuterio programado Dificilmente

conseguiam eliminar seus sintomas a natildeo ser quando utilizavam a planta ldquoParatudordquo ou seja

ldquoparava tudordquo Assim o termo foi absorvido com o poder de parar todos os sintomas das

enfermidades contraiacutedas

67Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

117

[] porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque

essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito perigosa diprimeiro

neacuteera uma febre muita perigosa que quase quando dava com febre amarela que

natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo []

(informaccedilao verbal)68

Nesse contexto Faulstich (1995) considera que as ldquovariantes satildeo resultado dos

diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica fazem

do termordquo assim absorvida como medicamento que trouxe a cura de tudo a cura de todos os

sintomas da febre amarela ou da malaacuteria o termo eacute conhecido e usado na linguagem dos

moradores como planta que cura e para tudo escrito na forma composta

Seguimos na anaacutelise dos termos sobre as plantas medicinais com a anaacutelise

morfoloacutegica de alguns termos apresentando as imagens registradas durante a pesquisa de

campo juntamente com a definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas

utilizando para isso o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com os

elementos constitutivos dos termos para melhor visualizarmos seus dados

Na sequecircncia verifiquemos a anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo

510 GERGELIM BRANCO

A partir das investigaccedilotildees sobre as relaccedilotildees associativas entre os signos linguiacutesticos

surgem teorias em direccedilatildeo ao campo semacircntico que eacute considerado como o universo

linguiacutestico das palavras Em intersecccedilatildeo com o campo conceitual universo das ideias

segundo Robin (1977) o processo de conceptualizaccedilatildeo do mundo exterior chamado de

campo conceptual surge na mente humana pelo deciframento linguiacutestico dos conceitos e

categorias abstratas que eacute parte do campo leacutexico-semacircntico

Notando tais aspectos na estrutura do campo leacutexico-semacircntico e morfossintaacutetico do

termo este apresenta em alguns casos uma estrutura simples complexa ou composta Na

estrutura simples o termo eacute constituiacutedo de apenas um radical jaacute nos termos complexos e

compostos apresentam dois ou mais radicais Nos termos compostos a presenccedila do hiacutefen

diferencia-o do termo complexo ndash que natildeo possui o hiacutefen ndash poreacutem ocorrem processos de

composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras Na comunicaccedilatildeo

68 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

118

especializada o que predomina satildeo os termos complexos por serem capazes de assumir

diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo

reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico

Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo que sua estrutura eacute

composta por dois radicais sem a presenccedila de hiacutefen senatildeo vejamos

TERMO 10 - GERGELIM BRANCO

Fotografia 30 ndash Gergelim Branco Fotografia 31 ndashFolha do Gergelim Branco

Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco

Lx Lexema Gergelim branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Co Contexto eacuteh hurum eacute da eacute a mesma da mesma mesma tipo do mesmo soacute muda a cor eacute eacute da

semente eacute com certeza a arve eacute mesmo jeito vocecirc soacute vai sabe na hora que cai a

sementinha dela neacute ela eacute meacutedia ela eacute eacute plante do rodado ela pela sementinha () no

rosado soacute vai colher ela quando eacute na tempo de colher que a gente vai colher ela bota

pra secar aiacute vira ela bota pra secar ela soacute tem que buta ela pra secar de ponta pra

cima aiacute ela vai ce porque ela vai vai secando e e aqueles aqueles cachopinhas aqueles frutinho dela vatildeo vatildeo abrindo tudinho se ele tever de ponta pra baixo ele vai abrindo e

vai caindo ele tem que que taacute todo tempo neacute e fica guardada quando a gente vira a

pontionha dele pra baixo ele derrama eacute ele e ele eacute eacute a semente olha dhione eacute ela serve

pra um monte de coisa ( ) ela serve pra avece que daacute pra fazer massage ela serve pra

febre ela serve pra diarreia ela serve pra moragia a sementinha ela ser muito varo eacute

vaacuteria coisa que ela natildeo eacute o sumo da sementinha a gente pega bota ela pra esquentar

um pouco eacute raacutepido tem que ser raacutepido porque ela eacute uma sementinha muita graacutegil que

se demorar ela vai queimar esquenta ela quando ela taacute boa ela tem um cheiro assim

tatildeo ela muda de cheiro aiacute tira ela e pisa hoje em dia eacute mais pra mais normal eacuteo

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

119

lotificador neacute bota eacute ti e bota um pouco de aacutegua tira o leite grosso o leite dele sai

uma deliacutecia assim o leite grosso aiacute vocecirc pode se for pruma febre vocecirc pode toma uma ou duas culher vai depender da idade da crianccedila ou do da adulto sei laacute moragia

tambeacutem e pra ai se ai tanto ele serve pra remeacutedio cume ele eacute grande alimentaccedilatildeo ele eacute

alimentaccedilatildeo pra mim eu uso ele cumo alimentaccedilatildeo o gergelim como alimentaccedilatildeo e

porque assim no por remeacutedio ougaque eacute mais o gergelim preto pra remeacutedio pra

remeacutedio mas pra mim tanto faz pra mim tanto faz com certeza agora cumo eu tocirc

dizendo pode usar o preto mas de preferencia o preto de preferencia o preto mas num

tendo o preto o branco tambeacutem serve ele eacute a mesma coisa mas agora comu eu tocirc

dizendo eu uso o gergelim laacute em casa quando eu tenho eu uso pra minha pra mim

tomar meu cafeacute de mnhatilde comu ele eacute muito gostoso quando eu tiver um pouquinho que

agora eu tenho a minha roccedila quando tiver um poquim eu vou trazer um poquim da

paccediloca pra ((sorriu)) ele tem caccedilo eacute () anram sim urum isso eacute neacute pois eacute sim sim hurum

((sorriu)) acho que sim natildeo natildeo sei dizer natildeo mas eu acho que eacute pelo tamanhinho dele neacute que eacute uma semente muito eacute vou tomar poquim eacute isso

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

A sementinha contida na flor eacute usada para diversos problemas de sauacutede e tambeacutem

como alimento

Fu Formas de

uso

A sementinha secada e triturada para retirar o leite serve para derrame cerebral

hemorragias febre diarreia massagens e como alimento

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Segundo a informante o gergelim preto eacute melhor mas ela utiliza tambeacutem o gergelim

branco

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

No termo complexo Gergelim Branco aconteceu a formaccedilatildeo de termos pela

composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja o termo eacute formado por duas ou mais palavras que satildeo

independentes entre si no processo de formaccedilatildeo e que juntas formam um novo significado

uma nova palavra Quanto ao estudo gramatical dos termos complexos eles satildeo formados por

um elemento base que eacute o substantivo e em seguida por outra palavra que demonstra a

qualidade ou especificidade do primeiro podendo ser um adjetivo Por exemplo em

ldquoGergelim Brancordquo o substantivo eacute ldquoGergelimrdquo e ldquoBrancordquo eacute a particularidade na cor que

esse substantivo tem ou seja eacute um adjetivo

Observando as particularidades do termo ldquoGergelim Brancordquo vejamos na sequecircncia

a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo

120

511 URUCUM VERMELHO

Tomando os estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) sobre a estrutura do termo

percebemos que cada um a seu modo explana sobre o mesmo conceito Na explanaccedilatildeo de

Barros (2007 p 399) ela apresenta que

Termo simples unidade terminoloacutegica constituiacuteda por um uacutenico lexema

independente do processo de formaccedilatildeo deste Termo complexo unidade formada

por composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja por um grupo de lexemas e morfemas

gramaticais (palavras nocionais e gramaticais) natildeo ligadas por hiacutefen tambeacutem

independente do processo de formaccedilatildeo dos termos Termo composto unidade

terminoloacutegica formada por dois ou mais lexemas que se encontram em situaccedilatildeo de

natildeo-autonomia representada graficamente pela utilizaccedilatildeo do hiacutefen

Em Pottier (1978) a nomenclatura utilizada eacute lexia69

que eacute a menor unidade

funcional e significativa do discurso seja ele de forma oral ou escrita Para o pesquisador a

lexia nasce da relaccedilatildeo associativa entre seus elementos Quando utilizamos um termo em

determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo

internalizadas na liacutengua que por ser um sistema dinacircmico passa a ser enriquecida com

neologismos Assim no que compete aos estudos de Pottier o pesquisador apresenta como

modelo trecircs tipos de lexias sendo elas simples compostas e complexas (CAMPOS 2007)

As lexias simples70

satildeo conhecidas como a menor unidade lexemaacutetica ou palavra

tradicional que junto de outras lexias simples formam outras unidades lexemaacuteticas

conhecidas como palavras compostas Na lexia complexa ocorre uma sequecircncia de palavras

em grau maior de complexidade chamado de lexicalizaccedilatildeo Esta seria quando um sintagma se

torna uma unidade lexical autocircnoma Consequentemente Genouvrier amp Peytard (1974)

esclarecem melhor as lexias complexas de Pottier expondo em outras palavras que elas satildeo

formadas pelo agrupamento de lexias simples com classes gramaticais diferentes que resultam

em expressotildees generalizadas e estereotipadas (CAMPOS 2007)

Vejamos nesse contexto a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo

69 Lexia eacute nome geral para qualquer unidade lexemaacutetica nos estudo de Pottier (1978)

70 Vale ressaltar que Cabreacute (1993) no aspecto da forma tambeacutem classificou os termos de acordo com os nuacutemeros de morfemas existentes na palavra assim classificava-os em simples para um morfema e complexo para dois ou

mais morfemas Os complexos eram ainda subdivididos em termos derivados e termos compostos

121

TERMO 11 - URUCUM VERMELHO

Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho Fotografia 33 ndashFolha do Urucum Vermelho

Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho

Lx Lexema Urucum Vermelho

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto eacuteh uma planta natildeo ela eacute caseira eacute clima frio a folha eacute grande eacute form e re

redonda formatu dum coraccedilatildeo a semente dela ela coloca a ah o copinho a

caixinha dentro da caixinha tem a semetinha bem redondinha bem miudinha a

sementinha dela a flor eacute um rosiozinho eacuteh rosu claro eacuteh um ela eacute pequena

uma flor meacutedia num eacute grande nau e nem tatildeo (sita) o caule vai depende eacute dumaaa ele sendo bem bem bem velho bem maduro o caule dele eacute assim duma uns dois

palmos di grussura em roda tem tens uns que ate dessa grussura ((fazendo gestos

com as matildeos)) da duas matildeos cheia tem umas que da ateacute trecircs metro vai depender

da tem umas que daacute olha ela ela serve assim ela eacute tempero serve pra

temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol colesterol ela gente pega faz o

vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o vinho e toma em jijum ela linima o

colesterol e soacute da sementi a gente pega semente agente abre a pega a cachopinha

abre ela tira a semeti amassa um pouco com agua ai coa e toma em jejum pra curar o

colesterol

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Usada a sementinha encontrada no ldquocopinhordquo da planta retirar o vinho da semente

Fu Formas de

uso

Serve para dar a cor avermelhada na comida eacute um tempero para o colesterol eacute feito o

vinho da sementinha

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Eacute uma planta medicinal e usada tambeacutem como condimento

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

122

O ldquoUrucum Vermelhordquo eacute uma planta usada nos alimentos e com propriedades

medicinais principalmente relacionadas agrave problemas com o colesterol

[] ela eacute tempero serve pra temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol

colesterol ela gente pega faz o vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o

vinho e toma em jijum ela linima o colesterol e soacute da sementi a gente pega

semente agente abre a pega a cachopinha abre ela tira a semeti amassa um pouco

com agua ai coa e toma em jejum pra curar o colesterol [] (informaccedilatildeo verbal)71

Considerado em sua estrutura como termo complexo o Urucum Vermelho eacute formado

pela composiccedilatildeo sintagmaacutetica de duas palavras independentes entre si Poreacutem juntas formam

uma nova palavra com nova significaccedilatildeo No estudo gramatical do termo Urucum Vermelho

o elemento base eacute o substantivo ldquoUrucumrdquo que vem seguido pelo adjetivo ldquoVermelhordquo

indicativo de uma caracteriacutestica proacutepria da planta Verificando os aspectos da estrutura dos

termos observemos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoErva de Passarinhordquo

512 ERVA DE PASSARINHO

Segundo Cabreacute (1993) os termos compostos satildeo denominados tambeacutem como

sintagmas terminoloacutegicos que podem ser formados por uma construccedilatildeo sintagmaacutetica mais

complexa que pertencem a classe de palavras diversas

Diante das explanaccedilotildees sobre a estrutura do termo notamos que tanto Barros como

Pottier apresentam semelhanccedilas nas explicaccedilotildees No entanto Barros acrescenta ainda que os

termos compostos podem passar pelo processo de aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Nesse sentido

a pesquisadora expotildee que

A composiccedilatildeo eacute a nosso ver um processo que pode marcar a formaccedilatildeo tanto de

termos simples quanto de termos complexos (sintagmaacuteticos) Por esse motivo eacute

temeraacuterio distinguir de modo categoacuterico termos simples complexos e compostos quando se trata dos tradicionais processos de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo sem hiacutefen

(BARROS 2007 p 400)

Com tais fundamentos analisamos os termos sobre as plantas de uso medicinal da

comunidade de Pimenteiras na estrutura morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica de alguns termos

catalogados Observamos que na maioria dos casos natildeo haacute a presenccedila do hiacutefen na

71Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoUrucum Vermelhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

123

composiccedilatildeo dos termos compostos que ocorreram expressivamente atraveacutes do processo de

aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Assim observemos o termo ldquoErva de Passarinhordquo

TERMO 12 - ERVA DE PASSARINHO

Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho

Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho

Lx Lexema Erva de Passarinho

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Co Contexto ela eacute uma erva mermu ( ) ela daacute em cima nus galhu dus pau ( )da outras arvris

eacutena eacuteeacuteh ela eacute rastera ela ela eacute si agarra ali nu galhu neacute dali ela vai vai aumentandu a tendecircncia deli eacute matar ela ( ) ateacute qui as vez quandu ela si ela si

apropria mermu muitu na arvri ela mata a outra arvri ela mataeacute natildeu ela eacute

nativaporque us passarinhu qui eacute assim natildeu sei como eacute neacute mais us passarinhu qui

veim qui faz u cococirc ali dali nasci a sementinha ali nu galhu du pau i dali forma a erva

di passarinhu uns diz qui eacute assim eu natildeu sei porque porque ela eacute nativa ela nasci

assimqui podi ter a sementi i nascieacute porque eacute porque ela nasci ai eu eu vi falar

assim agora eu natildeu sei si tambeacutem nasci ali du limu neacute neacute limu porque ela sempri daacute na

arvri ela num eacute nunca eu vi daacute nu chatildeo eacute ela daacute nu limoeiru ela daacute na cueira ela daacute na

na nu nu na laranjera ela daacute em toda essa arvri assim ela daacuteeacute ela daacute eacuteachu qui eacute

em qualquer momentu qualquer arvri qui ela si apropriar qui ela gostar neacute ela daacute i aiacute

a a ( ) ela tem os galim dela em forma di um cipoacute eacute assim us galhu dela i a folha dela

tambeacuteim ela eacute media uma folha assim tambeacuteim qui ela num uma folha seca natilde eacute uma folha sempri assim cheinhagordinha issuela eacute meacutedia tambeacuteim ela num eacute tatildeu

piquinininha natildeu natildeu eacute daquelas folhau formatu dela eacute assim mermu eacute quasi igual

assim meia compridim meia redonda ela num tem formatu assim di otra coisa naueacute

uma folha eacuteeacute tipu uma folha di jambreru eacute um pocu maior di que essi ai neacutenatildeu

dessi aqui dessi aqui neacutesim issu( ) maior tem umas qui da maior tem umas qui daacute

maior porque ela daacute igualtem veiz qui quandu ela nasci muitu qui ela vai

aumentandu aumentandu assim neacute ai tem vez que porque a minha matildee sempri dizia

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

124

assim oacute bora tirar essa erva di passarinhu porque si natildeo ela vai matar uma laranjera

uma cuiera ela da nu cafezal nu cafeeru tambeacuteim ela da nu limoeru ela daacute ela daacute nu da outra eacute eacute com certezaela mata eacute vai depender di elaa folha a folhaeacute i juntu

com certeza ela neacute uma folha assim num eacute bem redonda mas tambeim num eacute tatildeu

comprida ela eacute uma assim uma folha larga beim largaela tem umas bajezinhas

tambeacuteim ela bota umas bajezinhas bem muiditinhas tambeacuteim uns carocinhusnatildeu eu

da nunca vi si eacute uma erva di passarinhu eu da nunca vi mas diz qui eli si alimenta

daquela sementinhaeacute usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui

chama cansaccedilo neacute que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u

chaacutea minha voacute dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem

toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu

iscondidu pra num saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela

dizia assim oacute a erva di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo

mas quem toma nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para ldquocansaccedilordquo asma

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O chaacute deve ser tomado sem a pessoa saber para que sirva e que planta eacute feito o chaacute

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoErva de Passarinhordquo possui uma estrutura composta por dois radicais

relacionados pelo aspecto da preposiccedilatildeo Sendo uma planta que se hospeda em outras plantas

para viver eacute o alimento preferencial dos paacutessaros daiacute a relaccedilatildeo associativa com a funccedilatildeo que

o nome possui No trato medicinal a planta eacute usada em pessoas com cansaccedilo poreacutem segundo

a crenccedila de seus antepassados a pessoa toma o chaacute sem saber o que eacute nem para que serve O

termo eacute assim descrito pela senhora Domingas

[] usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui chama cansaccedilo neacute

que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u chaacutea minha voacute

dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu iscondidu pra num

saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela dizia assim oacute a erva

di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo mas quem toma

nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute

u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute(informaccedilatildeo verbal)72

Observamos que cada termo possui uma definiccedilatildeo particular a cada planta as formas

de uso os contextos em que ocorre a variaccedilatildeo as relaccedilotildees associativas as crenccedilas em torno

72Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoErva de Passarinhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

125

da cura e as composiccedilotildees formativas dos termos apresentados Alguns termos vieram de

geraccedilotildees passadas outros entraram no contexto da comunidade de Pimenteiras atraveacutes de

novos saberes Diante de tudo que foi exposto eacute importante percebermos que a compreensatildeo

da linguagem de especialidade pode ocorrer com o entendimento de que os termos natildeo satildeo

isolados Segundo Cruz (2014 p 104) os termos ldquonem derivam sua existecircncia apenas de um

arcabouccedilo loacutegico-conceptual mas se manifestam circulam e exercem sua funccedilatildeo em situaccedilatildeo

em uso efetivordquo

Para que o pesquisador possa se familiarizar com seu objeto de pesquisa eacute necessaacuterio

realizar leituras preacutevias sobre o assunto e manter discussotildees com profissionais da regiatildeo

pesquisada Particularmente no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal compreendemos

que durante muitos anos o homem sempre utilizou os recursos naturais para sua sobrevivecircncia

e bem estar na terra e eacute por meio das plantas que surgem os mais diversos produtos

indispensaacuteveis agrave vida humana em todas as eacutepocas

No que concerne ao uso dessas plantas na medicina tradicional hoje os

medicamentos obtidos a partir de substacircncias ativas vindas das plantas satildeo utilizados na

medicina complementar73

Diante disso eacute importante salientar que as populaccedilotildees que vivem

em regiotildees pouco povoadas e com restriccedilatildeo das necessidades fundamentais como sauacutede e

educaccedilatildeo fazem dos recursos naturais os mais utilizados possiacuteveis a fim de garantir os

cuidados necessaacuterios com o bem-estar do corpo e da alma

Culturalmente as praacuteticas com o uso popular de plantas medicinais satildeo uma

realidade em muitas comunidades que as tecircm como alternativa para a conservaccedilatildeo da sauacutede

Entretanto a continuidade desse saber eacute ameaccedilada pela interferecircncia de fatores externos

relacionados ao dinamismo social como a exposiccedilatildeo das comunidades e de sua cultura diante

das facilidades da sociedade moderna a destruiccedilatildeo dos recursos naturais a invasatildeo de novos

elementos culturais que desmotivam a vida tradicional e o conhecimento empiacuterico que eacute

patrimocircnio de valor inestimaacutevel agraves futuras geraccedilotildees Aleacutem disso os estudos cientiacuteficos

direcionados agraves plantas utilizadas pelas comunidades tradicionais satildeo ainda insipientes

(HOEFFEL 2011)

Boa parte do conhecimento popular estaacute mantido em fontes orais isto causa certa

inseguranccedila e desconfianccedila nos dados a serem transcritos Poreacutem o contato direto com os

moradores e seus saberes nos fez crer que as histoacuterias orais satildeo fonte de vida e que de acordo

com a histoacuteria transpotildeem geraccedilotildees e eternizam os novos conhecimentos A verdade eacute que as

73 Uso de medicamentos feitos a partir de substacircncias ativas das plantas isto ocorre em tratamentos de doenccedilas

crocircnicas devido aos efeitos colaterais dos medicamentos potentes

126

ameaccedilas agrave biodiversidade natildeo tem precedentes na histoacuteria da humanidade diversas espeacutecies

nunca estiveram tatildeo ameaccediladas de extinccedilatildeo Junto a isto a cultura dessas comunidades

tambeacutem sofre mudanccedilas constantes que as fazem perder a identidade social que as compotildeem

A perda dos elementos naturais e da cultura identitaacuteria dos conhecimentos

tradicionais empobrece cada vez mais nossa cultura em geral nossa sauacutede e nossos saberes

Diante disso eacute premente que busquemos alcanccedilar esses povos para conhecer registrar e

preservar saberes importantes para a sociedade em geral Nesse contexto a comunidade

remanescente de quilombola de Pimenteiras eacute um exemplo a ser observado por agregar valor

em seus aspectos regionais culturais e de saberes sobre o poder medicinal das plantas Eacute na

comunidade e nos seus moradores que se veem a necessidade de conhecer registrar e

preservar o conhecimento tradicional que fora repassado entre as geraccedilotildees Sabendo disso

buscamos por meio dos estudos socioterminoloacutegicos analisar os termos catalogados sobre as

plantas de uso medicinal da comunidade Tais saberes de grande valor para o conhecimento

cientiacutefico satildeo preservados pelos relatos orais de moradores remanescentes de quilombo

O conhecimento sobre as plantas medicinais pode ser observado pelo trabalho diaacuterio

que os moradores possuem na comunidade com as plantas Esse processo vai desde a

plantaccedilatildeo ateacute a venda dos produtos obtidos por meio da manipulaccedilatildeo das plantas Os cuidados

com o solo a aacutegua o sol os horaacuterios adequados para a colheita das plantas as partes a serem

usadas como as folhas raiz entrecasca flor galhos sementes fruto seiva e tambeacutem o

tratamento dado as plantas para a venda de produtos feitos pelos moradores tais como a

garrafada a multimistura pomadas e oacuteleos tudo eacute parte do contexto de saberes que os

moradores possuem sobre as plantas medicinais

Finalizamos assim observando a forte relaccedilatildeo existente entre os termos sobre as

plantas medicinais com o contexto social no qual estatildeo inseridas com os saberes adquiridos

no passado e no presente com a cultura com a Liacutengua e por conseguinte com a origem

negra que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem marcando assim a

identidade do povo quilombola

127

6 CONCLUSAtildeO

Este trabalho dissertativo se propocircs na anaacutelise dos termos sobre as plantas de uso

medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras ndash PA localizada na

cidade de Santa Luzia do Paraacute na Rodovia BR 316 (Paraacute ndash Maranhatildeo) regiatildeo do Rio Caeteacute

A partir das consideraccedilotildees sobre os termos catalogados pelos moradores quilombolas

pudemos observar e perceber que os saberes transmitidos entre as geraccedilotildees permanecem

fortes no seio da comunidade de forma que todo o conhecimento sobre as plantas medicinais

tem caraacuteter identitaacuterio ao povo de Pimenteiras

Conhecemos cada termo catalogado a fim de perceber as influecircncias da cultura negra

na linguagem popular e especializada sobre as plantas A presenccedila do gecircnero feminino nesse

contexto de conhecimento foi determinante para conseguirmos identificar as espeacutecies coletar

as imagens de cada planta e catalogar os termos sobre as plantas medicinais registrados pelos

moradores

Todos noacutes pensamos falamos lemos e escrevemos as palavras que herdamos em

meio aos saberes coletivos jaacute consolidados no tempo e espaccedilo Por meio da nossa Liacutengua as

palavras satildeo transmitidas e enredadas em significaccedilotildees Eacute atraveacutes dessa heranccedila com os

vocaacutebulos que a liacutengua abrange os saberes coletivos culturais e de significados produzidos

nos contextos de fala Ao nomearmos classificarmos categorizarmos e registrarmos as

experiecircncias vividas noacutes seres humanos criamos palavras e sintaxes ao contarmos e

recontarmos nossas histoacuterias

Por meio da Liacutengua fundamentamos nossa identidade eacute pelas palavras que

organizamos nossas crenccedilas e nomeamos nossos valores um saber que continua em

crescimento e transformaccedilatildeo atraveacutes do conhecimento da linguagem que herdamos e

transmitimos para as geraccedilotildees porvindouras Assim ressaltamos que as definiccedilotildees descritas

sobre os termos analisados sua variaccedilatildeo nos termos na linguagem representada nos saberes

sua motivaccedilatildeo sua estrutura e suas relaccedilotildees associativas constituiram-se relevantes para

percebermos as analogias da liacutengua com a cultura popular transmitida entre as geraccedilotildees

sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

Levando em consideraccedilatildeo que os termos sobre as plantas medicinais fazem parte de

uma especificidade da linguagem e que no caso em especial analisamos o termo na sua

estrutura socioterminoloacutegica entendemos que o conhecimento popular proveniente das

atividades tradicionais dos moradores quilombolas na regiatildeo foi o percurso trilhado para nos

128

conduzir nesse trabalho dissertativo de forma a considerar as abordagens socioterminoloacutegicas

de grandes pesquisadores Os estudos sobre a variaccedilatildeo nos termos sobre as plantas medicinais

tambeacutem foi fundamental para analisarmos cada palavra dentro de um contexto de uso social

histoacuterico e cultural com a finalidade de conhecer e ateacute resgatar os termos no acircmbito

sociocultural no qual estatildeo inseridos

A metodologia utilizada no decorrer do trabalho de campo nos proporcionou melhor

conhecimento sobre a comunidade em estudo pois do ponto de vista etnograacutefico eacute preciso

estar laacute para aprofundarmos sobre os saberes da comunidade e interagirmos in loco para

compreendermos a dinacircmica do trabalho e da vida a partir da qual o homem do campo

constroacutei seus saberes Os dados catalogados sobre as plantas medicinais nos fizeram conhecer

mais profundamente os saberes sobre as plantas que apresentamos no repertoacuterio terminoloacutegico

coletado composto por quarenta e dois (42) termos catalogados com suas respectivas

imagens

Aleacutem dos termos catalogados foi necessaacuterio registrar os dados orais ocorridos

durantes as diversas entrevistas da pesquisa de campo utilizando os recursos computacionais

como o Transana para efetuarmos a transcriccedilatildeo Grafemaacutetica das entrevistas realizadas Isto

foi indispensaacutevel para compreendermos melhor os aspectos que contornam o termo e

tambeacutem para a definiccedilatildeo descritiva de cada termo catalogado pois no contexto discursivo

podemos entender melhor cada palavra e suas significaccedilotildees no estudo socioterminoloacutegico

No percurso desse trabalho buscamos natildeo apenas a interpretaccedilatildeo ou anaacutelise dos

termos catalogados mas tambeacutem observar a construccedilatildeo dos saberes dos moradores como um

aspecto marcante na identidade da comunidade quilombola Essa nova visatildeo sobre os termos

nos trouxe um perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural mostrando as influecircncias da cultura negra na

linguagem de uso particular sobre as plantas medicinais

Eacute por meio da Liacutengua que os moradores quilombolas de Pimenteiras refletem as

caracteriacutesticas da identidade cultural entre a planta e as caracteriacutesticas que especializam cada

espeacutecie mas eacute na variaccedilatildeo da liacutengua que os termos se relacionam com as aacutereas de

conhecimento que os moradores possuem sobre as plantas medicinais O movimento

constante da linguagem atribui o princiacutepio fundamental da liacutengua que eacute a comunicaccedilatildeo

presente no contexto dos saberes de um povo e manifestado na preservaccedilatildeo da linguagem

atraveacutes da valorizaccedilatildeo por seus falantes

Nesse sentido quando associamos o saber especializado ao contexto de campo das

ciecircncias e das teacutecnicas temos no termo uma feiccedilatildeo terminoloacutegica na qual ele assume uma

dimensatildeo linguiacutestica e cognitiva no comportamento lexical especializado e na manifestaccedilatildeo

129

desse conhecimento Notamos assim que o termo eacute parte do componente linguiacutestico de tal

modo como eacute uma unidade terminoloacutegica e um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber

Portanto ao referirmos as plantas de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras

percebemos que o domiacutenio estudado pertence ao campo da medicina caseira como consta na

Norma da ISO 1087 explicando que o domiacutenio eacute definido por um ponto de vista particular no

qual os limites satildeo definidos pelo saber particular da moradora Domingas

Ao verificarmos a definiccedilatildeo descritiva dos termos a senhora Domingas expocircs de

acordo com seus saberes uma relaccedilatildeo associativa entre a planta com o objeto nomeado Nas

explicaccedilotildees de Faulstich (1995 p 36) o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e

coletiva num processo de interaccedilatildeo entre o sujeito a realidade as pessoas e o ambiente

sociocultural revelando que a Socioterminologia eacute desenvolvida no cunho funcionalista de

natureza social Nos casos em que ocorrem caracterizaccedilotildees de conceitos e definiccedilotildees para um

mesmo termo Faulstich lembra que ocorre a variaccedilatildeo terminoloacutegica em que um novo termo

um novo conceito traz uma nova definiccedilatildeo

Com respeito agrave relaccedilatildeo associativa na forma ou na funccedilatildeo das plantas medicinais

esta faz parte da natureza e concepccedilatildeo dos termos estudados Notamos que a estrutura

morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica do termo apresentado tambeacutem como unidade

terminoloacutegica foi explanada por alguns autores tais como Araujo (2006) que verificou os

termos em sua estrutura leacutexico-semacircntica com uma constituiccedilatildeo simples contendo a presenccedila

de apenas um radical e uma composiccedilatildeo composta e complexa quando apresentam dois ou

mais radicais Andrade (1998) por sua vez explica que na estrutura do termo composto temos

a presenccedila do hiacutefen diferenciando-se do termo complexo que natildeo possui o hiacutefen Poreacutem

haveraacute processos de composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras

Com base nos estudos dos autores citados vemos que os termos catalogados sobre as plantas

de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras possuem na sua estrutura formaccedilatildeo simples

com apenas um radical formaccedilatildeo complexa com a presenccedila de mais de um radical e

composta nos quais ocorre o processo de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo

Nossa anaacutelise foi constituiacuteda por doze (12) termos de plantas de uso medicinal

catalogadas pelos moradores quilombolas de Pimenteiras de um total de quarenta e dois (42)

termos As apreciaccedilotildees desses dados da pesquisa passaram por diferentes estudos sobre o

termo levamos em consideraccedilatildeo natildeo apenas as caracteriacutesticas gramaticais que o compotildee

mas principalmente analisamos as definiccedilotildees descritivas da senhora Domingas utilizando

para isso o modelo de ficha terminoloacutegica de Faulstich para melhor visualizaccedilatildeo dos

elementos constitutivos do termo

130

Eacute nessa compreensatildeo sobre o que motiva ou associa a nomeaccedilatildeo dos termos que

vemos a reflexatildeo sobre o conhecimento que os moradores possuem da proacutepria linguagem

suas relaccedilotildees com a natureza as influecircncias e transferecircncia de saberes entre as geraccedilotildees e as

caracteriacutesticas marcantes que tornam a comunidade de Pimenteiras uacutenica em sua identidade

como lugar das plantas medicinais

Perante tudo que foi explanado sobre a pesquisa efetuada na comunidade de

Pimenteiras acreditamos ter dado um grande passo neste estudo fascinante e envolvente sobre

a histoacuteria cultura e saber de um povo um povo que desperta nosso desejo de conhecimento

de buscar outros caminhos nos estudos Socioterminoloacutegicos e em muitos outros estudos

cientiacuteficos que reconheccedilam e valorizem os saberes e cultura da comunidade de Pimenteiras

Os termos analisados neste trabalho dissertativo nos trazem resultados interessantes

quanto agraves influecircncias da cultura negra que por longos periacuteodos da histoacuteria sofreu e ainda

sofre retaliaccedilotildees e preconceito por contra da escravidatildeo pois ainda hoje um preconceito

mascarado sobrevive Brookshau (1983 p 12) expotildee que ldquoo negro mesmo antes de ser

escravizado tinha um defeito que para muitos serviu de justificativa para sua escravidatildeo e esse

defeito era sua corrdquo A cor negra na cultura ocidental sempre teve uma conotaccedilatildeo negativa em

oposiccedilatildeo ao branco que eacute definido com o sentido de limpo e puro A presenccedila dos africanos em

nosso paiacutes contribuiu natildeo soacute na nossa cultura mas tambeacutem na formaccedilatildeo do tipo fiacutesico

brasileiro Somos um povo diversificado na cultura na danccedila no biotipo fiacutesico no sincretismo

religioso nas comidas tiacutepicas na influecircncia indumentaacuteria no gecircnero forte da mulher no uso das

plantas e consequentemente na liacutengua

Tanta influecircncia sucedida do negro contribuiu muito para a formaccedilatildeo da nossa

nacionalidade Segundo o antropoacutelogo Arthur Ramos (1942) eacute inocente e sem base cientiacutefica

querer caracterizar a questatildeo racial no Brasil pois todos noacutes somos formados de contatos

humanos que se processaram no paiacutes que natildeo se limitaram apenas aos grupos de negros

brancos e iacutendios somos derivados deles Nossa liacutengua em especial eacute o reflexo de noacutes mesmos

por manifestarmos e expressarmos nossa proacutepria existecircncia Assim ainda que carregados de

dificuldades e escravidatildeo o negro trouxe-nos a forccedila e riqueza de sua cultura que hoje

podemos dizer eacute um dos pilares da nossa identidade nacional

Diante de tantas riquezas sobre as influecircncias do negro da comunidade de Pimenteiras

esperamos que o estudo em questatildeo seja uacutetil agravequeles que se interessem pelo assunto e queiram

conhecer melhor o universo que envolve essa cultura popular e socioterminoloacutegica das plantas

medicinais da comunidade pois natildeo poderiacuteamos deixar ocultada a sabedoria popular sobre as

plantas medicinais precisaacutevamos conhececirc-la observaacute-la analisaacute-la prestigiaacute-la e repassaacute-la

131

para aqueles que buscam natildeo apenas saber mas sobretudo valorizar a sabedoria tradicional

preservada na linguagem como identidade dos moradores quilombolas de Pimenteiras

132

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Nascimento

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA

CAMPUS DE BRAGANCcedilA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA

FICHA DE ENTREVISTA COM OS MORADORES REMANESCENTES DE

QUILOMBOLA NA COMUNIDADE DA PIMENTEIRA - PA

A) Entrevistado

1Nome

2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino

3 Endereccedilo

4 Idade(anos)

5 Quantas pessoas habitam a casa

6 Naturalidade

7 Ocupaccedilatildeo principal

8 A Principal fonte de renda

9 Escolaridade

10 Vive na comunidade a quanto tempo

11 Seus pais avoacutes jaacute moraram ou moram na comunidade

12 De onde vieram (Cidade - UF)

13 Tipo de habitaccedilatildeo

14 Haacute quanto tempo mora aqui

15 Como era aqui quando a famiacutelia ou vocecirc chegou

16 Qual a sua origem De onde veio

B) Termo Quilombola

1 Como descobriu que tens descendecircncia de Quilombola

2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc

3 Qual o significado de ser Quilombola para sua comunidade

4 Qual sentimento tem pela palavra Quilombola

5 Houve algum tipo de dIscriminaccedilatildeo sobre a descendecircncia Quilombola

6 Reconhecem os direitos que possuem sobre ser Quilombola

7 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre essa Associaccedilatildeo

8 O que acha da comunidade da Pimenteira

9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc

C) Ervas e Plantas Medicinais

1 Faz uso de Plantas Medicinais ( ) Sim ( ) Natildeo

2 Quem passou o conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo de plantas

3 Quando tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda a quem vocecirc recorre

4 Como obteacutem as plantas que utiliza

5 Quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia

6 Quais partes satildeo utilizadas

7 Qual a melhor forma de preparo para cada planta

144

8 Como se usa

D) Dados sobre o manejo do quintal

1 Quais espeacutecies de plantas e ervas cultiva em casa e por quecirc

2 Como denomina o espaccedilo proacuteximo agrave sua casa

3 Quem cuida desse espaccedilo

4 Quais plantas vocecirc tem em seu quintal

5 Vocecirc consome as plantas que cultiva

6 Vocecirc realiza alguma atividade de compra e venda dessas plantas

7 Vocecirc compartilha essas plantas com algueacutem

8 Se vocecirc natildeo as tem onde vocecirc vai procurar

9 O que estaacute faltando em seu quintal

10 O que o quintal representa para vocecirc e para sua famiacutelia

E) Dados sobre o conhecimento e a transmissatildeo do mesmo

1 As plantas que vocecirc tecircm em seu quintal servem para quecirc

( ) alimento ( ) remeacutedio ( ) ritual ndash religioso ( ) decorativo ( ) brincadeira ( ) outros

2 Com quem vocecirc tomou ldquogostordquo por plantas Onde aprendeu o que sabe

3 E vocecirc ensina isso para algueacutem

4 Quais plantas satildeo mais usadas

5 Para que utiliza estas plantas

6 Faz uso de medicamentos das farmaacutecias Sim( ) Natildeo( ) Agraves vezes( ) Nunca( )

7 Quais E por quecirc

8 Possui alguma doenccedila Sim ( ) Natildeo ( )

9 Qual (is)

10 Jaacute ocorreu algum caso de doenccedilas curadas pelo uso das ervas e plantas

11 Vocecirc acredita no poder das ervas e plantas ou nos remeacutedios de farmaacutecia Por quecirc

12 O que eacute a Garrafada

13 Para que serve a Garrafada Quais as propriedades de cura que proporciona

14 Como eacute o preparo da Garrafada E que ervas possuem dentro

15 Com quem aprendeu a fazer a Garrafada e outros remeacutedios caseiros

145

APEcircNDICE B ndash Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Domingas Alves do Nascimento

entrevista do dia 19 de outubro de 2014

L1 data de nascimento

L2 dia vinte e oito (de outubro)

L1 ( )

L2 dia vinte e oito

L1 JAacute aqui a gente pode dizer qual eacute o endereccedilo

L2 pode

L1 ((muitos ruiacutedos de vento)) entatildeo hoje a senhora tem quantos anos

L2 (cinquenta e um) natildeo cinquenta e cinquenta neh

L1 hoje a senhora tem cinquenta

L2 cinquenta

L1 quantas pessoas moram na sua casa

L2 somos seis

L1 seis a senhora eacute paraense qual eacute sua naturalidade

L2 paraense

L1 paraense mesmo qual eacute a sua principal ocupaccedilatildeo (no) trabalho

L2 agricultura

L1 qual a principal fonte de renda com que a senhora ganha dinheiro

L2 ahh (assim) com a minha atividade eacute (arrancar) malva ( ) com a malva ou do accedilaiacute

eacute uma ( ) muito (dessa aiacute) e meus trabalhos de ( ) pra mim mesmo o que eu estou fazendo eacute

esse neh

L1 hum rum

L2 ( ) bastante eacute muito encomendado

L1 e remeacutedio caseiro

L2 remeacutedio caseiro

L1 a senhora tem que escolaridade ateacute que seacuterie a senhora estudou

L2 soacute a primeira

L1 primeira seacuterie

L2 que no meu tempo era muito difiacutecil neh a gente morava aqui aiacute eu daqui com uma

leacutegua quando quando eu comeccedilei a estudar eu tava com QUINZE anos eu com

dezessseis (eu me ajuntei)

L1 hum rum

L2 aiacute pronto meu marido lutou lutou mas eu pra mim foi muita dificuldade eu jaacute sou

dona de famiacutelia ia deixar a minha casa pra mim andar essa distacircncia todinha aiacute eu natildeo quis

ele pelejou pelejou meu sogro natildeo natildeo se eu (tivesse) na casa do papai tudo bem aiacute tava

ruim ele trabalhava me e eu sai eu tinha que sair seis horas da manhatilde que eacute daqui laacute na beira

do rio eacute uma leacutegua de aiacute natildeo tinha como eu preparar o almoccedilo neh chegava de tarde

cansada e aiacute eu natildeo estudei mais ( ) e era muito difiacutecil muito difiacutecil meus irmatildeos

nehnhum soacute tem eu neh meus irmatildeos soacute tem um que tem a quarta seacuterie um ou eacute dois

(por causa da dificuldade)

L1 a senhora vive na comunidade haacute quanto tempo

L2 e eu nasci e me criei aqui assim EU NASCI aqui eu natildeo nascci aqui mas foi aqui

perto neh depois que taacute com

[

L1 entatildeo desde receacutem nascida a senhora mora aqui

L2 hum rum

L1 taacute (palavras dirigidas a terceiros) eacute os pais da senhora (voz de terceiro) ou os

avoacutes eles jaacute moraram ou moram na comunidade eu quer quero que a senhora conte a

trajetoacuteria deles eles jaacute moraram aqui como eacute como foi

146

L2 natildeo assim eacute eles jaacute moraram essa minha matildee eacute falecida soacute meu pai dessas dessa

dessas turmadas soacute meu pai que ainda ainda eacute vivo neh eles assim eles moram ( )

quando eles na juventude deles eles moravam na outra comunidade

L1 (narcisa)

L2 narcisa sim aiacute de laacute eles casaram meus primeiros irmatildeos nasceram laacute e eu jaacute foi

L1 hum rum

L2 ateacute o quarto irmatildeo nasceu laacute ainda do outro lado do rio guamaacute ( ) do outro lado aiacute

quando eu vim de assim laacute a ge era muita gente aiacute eles botavam o (roccedilado) natildeo tinha mais

como o produto neh e naquele tempo natildeo tinha esse negoacutecio de adubo natildeo existia aiacute

por aqui era mato que eles caccedilavam aiacute meu avocirc disque queria vir botar um roccedilado pra caacute aiacute

parece que os vizinhos jaacute ficavam dizendo laacute que a mata tava pouca a capoeira jaacute natildeo dava

muita produccedilatildeo aiacute eles andavam na mata disse que vinham botar um roccedilado pra caacute mas

como era assim a mata natildeo tinha ele foi laacute em oureacutem pegou um papel fez um

requerimento pegou um papel aiacute laacute com a assinatura laacute nesse tempo tinha feito natildeo sei de

quem eacute laacute mais laacute aiacute foi falou para o genro dele era trecircs genro que ele tinha ele soacute

tinha um filho e trecircs filhas nem vi as filhas todas casaram (netinho) jaacute tava pro

prosperando familiacutea aiacute ele chegou laacute e disse bem se vocecircs quiserem botar um roccedilado pra

mata para o (centro) ( ) agora a gente vai porque a gente taacute com a autorizaccedilatildeo na matildeo aiacute

eles vieram botar o primeiro roccedilado aiacute acharam MUIto longe taacute indo e vindo indo e vindo

todo dia neh aiacute eles fizeram um barracatildeo pra eles todos fizeram um barraco aiacute jaacute

traziam a famiacutelia pra ficar mais PERto pra fazer o almoccedilo pra ajudar ((tosse)) pra ajudar

porque a gente trabalha tambeacutem no roccedilado neh aiacute veio vinha primeiro a vovoacute sempre

ficava laacute neh que era a mais velha ficava laacute com os outros netos e vinha as filhas com uns

uns ajudar os maridos aiacute nisso aiacute foram se acostumando se acostumando e a a produccedilatildeo

foi aumentando assim a renda eles gostaram muito do do (canto) aiacute pronto j5aacute foram fazendo

casa pra morar aiacute foi que eles vieram veio veio quatro famiacutelia meu avocirc com os trecircs

filhos que vieram ( ) fizeram o barracatildeo dele laacute a casa laacute depois jaacute foram aumentando

fazendo a sepaccedilatildeo da casa que aquele tempo era no barro neh fazia primeiro era a casa de

palha que eacute eacute esse matinho aiacute oacute tubim pois eacute esse taacute cobriu a casa com esse daiacute mas

eacute uma excelente cobertura que eacute frio que soacute aiacute faziam a tapaccedilatildeo repartida de barro neh

aiacute cada quase jaacute moravam no seu no na na sua propriedade localidade ( ) barracatildeo na

sua casa aiacute daiacute que foram foram chegando os netos foram crescendo foram procurando

familiacutea e foram casando fazendo casa perto que eu tenho dois um primeiro meu

irmatildeo casou fez a casa lacuteperto do papai depois o segundo casou fez perto tambeacutem e a

minha irmatilde que eacute comadre ( ) que eacute a mais velha casou o marido dela tambeacutem natildeo levou

ela para o lugar dele ELE foi pra caacute neh aiacute a famiacutelia foi aumentando a minha matildee taacute

com dez anos jaacute falecida

L1 de onde eles vieram assim a origem dos dos seu pais

L2 a minha matildee ela veio de origem do negro dos escravos neh

L1 natildeo eu digo assim o estado eles satildeo paraenses

L2 eles satildeo paraenses

[

L1 todos eles

L2 todos eles satildeo paraenses

L1 natildeo tem nenhum

[

L2 natildeo natildeo de mistura natildeo que eu saiba natildeo se se tem mas natildeo chegou no

meu conhecimento que a a mamatildee ela contava muita histoacuteria assim a minha voacute muita

histoacuteria assim de quando eles eram crianccedila de quando eles eram ado adolescente jovem

mas eles nunca disseram que era que era de outra assim sempre ( )

L1 e na qual era o tipo de habi de de habitaccedilatildeo que eles tinham que a senhora

147

falou qual era como era a casa

L2 deles

L1 hum rum

L2 era sempre assim dessa palha a cobertura e ao redor era empalhada tambeacutem soacute

que eu natildeo cheguei a conhecer assim empalhada natildeo do barro eu ainda me lembro muito

bem a cobertura tambeacutem agora empalhado da mesma mesma coisa neh que eles

faziam assim mas eu natildeo me lembro natildeo mas a minha matildee contava que era assim

L1 a cobertura era empalhada

L2 a ccobertura era da (albim) e ao redor tambeacutem pra fazer a separaccedilatildeo neh

L1 era albim

L2 da albim tambeacutem era cercado com albim assim feita a separaccedilatildeo sim pelo menos o

quarto da onde dormiam neh

L1 hum rum mas em volta natildeo era barro era assim empalhado neh

[

L2 hum rum era empalhado

era

L1 entatildeo haacute quanto tempo ele eles o seu pai ainda eacute vivo

L2 eacute papai eacute

L1 haacute quanto tempo moram aqui

L2 eu tocirc com aqui neste lugar ou assim

L1 aqui na pimenteira

L2 na pimenteira taacute com umas umas faixa de uns quarenta anos

L1 quarenta

L2 assim quando veio da narcisa logo quando veio da narcisa

L1 sim

L2 ah taacute com seus cinquenta porque mais de cinquenta quase seus sessenta porque eu tocirc

com cinquenta e um e eu jaacute jaacute sou da da aquarta filha que nasceu aqui jaacute soacute que natildeo

era pra esse mesmo lugar neh era aqui o cajueiro mas eacute mesmo ( ) a gente se mudou

quando eles vieram de laacute ( ) laacute papai natildeo gostou muito de laacute porque esse tempo ele criava

umas vacas que era amarrada assim na corda e laacute eacute muita (acidentado) daacute mais de que

aqui neh aiacute tinha um um homem que morava bem ali assim aiacute era muito colega do

papai e aiacute aqui esse tempo um tempo veio uma tinha uma casa que que davam aula era

bem aiacute chamavam o carro da prefeitura aiacute a mulher foi embora a professora foi embora aiacute

ficou desocupada aiacute esse homem cedeu para o papai seu Raimundo laacute na pimenteira ali

adonde perto de onde eu moro uma pertenccedila ao ao terreno de vocecircs por quecirc que natildeo vai

embora pra laacute aiacute foi que noacutes viemos de laacute do cajueiro mas fica aqui proacuteximo neh aiacute

fizemos a abertura aiacute daiacute

[

L1 entatildeo vocecircs satildeo os primeiros moradores aqui

L2 somos meu pai eacute primeiro morador

[

L1 como eles ele conta como era aqui quando a famiacutelia

veio quando vocecircs chegaram aqui como era como era essa aqui essa aacuterea toda

L2 aqui aqui mesmo eu me lembro jaacute quando eu cheguei aqui quando noacutes viemos do cajueiro

pra caacute eu me lembro eu jaacute me alembro eu acho que eu estava com uns sei cinco a seis anos

mas eu jaacute me alembro aqui era todo tudo capoeira que a mata era logo bem aqui

proacuteximo nossos primeiros roccedilados foi muito proacuteximo de qualquer uma crianccedila ia laacute no

roccedilado tirar o milho tirar buscar uma melancia qualquer um que queira era muito perto

a mata era proacutexima isso era capoeira isso aqui tinha soacute um uns caminhinho que os

meninos iam aacutes vezes para o roccedilado um uma coisa era tudo era sombra natildeo tinha

natildeo era natildeo tinha essa abertura aiacute esse garapeacute era a coisa mais linda do mundo era esse

148

garapeacute que a gente toma banho porque era capoeira neh era capoeira era era sombra

aiacute aiacute a gente ia tomava banho quando noacutes era crianccedila noacutes tomava aiacute quando tava um

tempatildeo de chuva assim noacutes jaacute ficava alegre porque sabia que ele ia crescer e noacutes gostava

muito de tomar banho na aacutegua grande e aiacute qundo passava a chuva noacutes pedia pra o papai e pra

mamatildee e noacutes ia tomava muito banho agora natildeo agora natildeo presta pra tomar banho

nenhum porque ( ) daiacute da da daqui da boca dele ateacute quase na cabeceira desse jeito aiacute natildeo

presta mais pra tomar banho

L1 a a sua origem mesmo eacute paraense a senhora veio de laacute a senhora veio da narcisa

aliaacutes a senhora nasceu na narcisa

L2 natildeo natildeo eu jaacute nasci ali no

[

L1 no cajueiro

L2 hum rum

L1 certo veio da narcisa moro morou um tempo no cajueiro e agora

[ [

L2 ( ) no cajueiro e ( ) ( ) porque assim

( ) bem pertinho daqui natildeo daacute dois quilocircmetros daqui laacute

L1 taacute agora vamos eacute ter quando foi que a senhora descobriu que tem uma a

descendecircncia de quilombola

L2 porque a minha voacute di dizia neh a minha voacute contava pra noacutes que ele ela eacute ela vinha

dessa descendecircncia que os avocircs delas AVOcirc da minha avoacute era os escravos

L1 como ela soube como ela como ela sabia disso

L2 porque ( ) contavam pra ela neh a matildee dela contava pra ela aiacute ela a matildee dela jaacute

passava pra ela e ela jaacute passava pra noacutes porque euu ainda me alembro muito da minha voacute ela

mamatildee contava ( ) MAIS era ela que contava que ela dizia que ela os avoacutes dela contavam

que (eram) dqquele tempo de de ficar amarrado de ser accediloitado neh aiacute ela ia

repassando pra noacutes

L1 os avoacutes dela passaram por isso viveram esse periacuteodo

L2 natildeo os avoacutes dela eacute que contavam que os outros ates dele neh

[

L1 antes os antes dele que ( )

L2 an ram eacute isso

L1 entatildeo eacute satildeo os seus tataravoacutes (digamos assim)

L2 isso acho que ism

L1 que viveram essa eacutepoca da escravidatildeo

L2 hum rum

L1 mas essa eacutepoca da escravidatildeo aqui nessa regiatildeo natildeo

L2 natildeo natildeo era aqui

L1 onde

L2 isso aiacute eu natildeo sei dizer adonde era natildeo natildeo me alembro se ela disse mas eu natildeo sei (

) se era na narcisa se era noutro (canto) natildeo sei natildeo ( ) sei que eles eram dessa dessa

dessa descendecircncia mas eu natildeo sei dizer da onde eacute

L1 dona Domingas o que eacute ser quilombola qual o significado dessa palavra pra

senhora

L2 e eu essa eu natildeo entendo muito bem muito bem eu natildeo entendo por isso que eu queria

que o ( ) tivesse aqui que ele entende mais melhor do que eu ele jaacute fez ( ) estudo ele ( ) mais

do que eu neh que ele passou ele passou seis anos assim presidente da associaccedilatildeo parte

que ele tem mais conhecimento mas natildeo ( ) ele taacute pra rua mas ser quilombola acho que eacute

ser vem dessa descendecircncia e assim das (coisas) tradicional as coisas da natureza

aprender e viver com a natureza eu acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre

assim vendo os iacutendios porque os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu

149

acho que ser quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima

da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as coisas

pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende as coisas com a

natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque aquele tempo dos dos dos

negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de leitura (nada nada) MAS com a natureza

eles aprendiam alguma coisa

L1 qual eacute o significado de ser quilombola pra comunidade o que a comunidade

pensa a senhora sabe dizer

L2 natildeo tambeacutem natildeo natildeo sei dizer natildeo ( ) eu eu soacute sei dizer que eacute eacute eacute eacute eacute uma um

tipo que eles quase juntocom o iacutendio com os iacutendios eles descobriram o Brasil neh

porque quem descobriu o Brasil mesmo foi os iacutendios neh e jaacute como aquele pessoal

naquele tempo ele jaacute viviam tambeacutem acho que eles ajudaram os iacutendios descobrir o Brasil

tambeacutem acho que ( ) soacute um soacute sei dizer que os negros ele ele eacute (federal) neh

L1 humrum

L2 ele eacute (federal) ele ele tem todo direito com certeza ele tem o direito (estremo) soacute

que soacute aqui ateacute hoje a gente natildeo tem ( ) ainda o conhecimento de tanto direito que a gente

tem tem muitas coisas ainda escondido por debaixo do tapete que ainda natildeo chega no

conhecimento de muita gente que aacutes vezes ele eacute quilombola ele eacute NEGRO mas ele ainda natildeo

tem conhecimento dele ser negro ele ainda fica dizendo que ele natildeo eacute negro porque pra

tem gente assim que pensa que dizer negro eacute aqueles escravos daquele outro tempo ah

negro jaacute tempo de negro jaacute passou era aquele tempo aiacute natildeo aqui mesmo na minha

comunidade tem gente assim porque ele eacute negro eacute da mesma famiacutelia eacute da mesma mas ele

ainda natildeo pensa dizer que ele eacute negro porque ainda ainda taacute na mente dele que o negro eacute

daquele outro tempo

[

L1 eacute aquele negro escravo

L2 aquele negro escravo aquele negro pobre daqui que natildeo tem nada como ainda tem na

mente deles mas natildeo eacute o negro eacute eacute ele foi muito reconhecido neh e tem muito eacute soacute

que eu eu disse pra o (Isaldo) (Isaldo) tu tem muito mais conhecimento no dia que a Edilene

vir eu precisava que tu tivesse laacute porque eu sei que ele tem MAIS esse conhecimento (tem)

que agora no dia vinte de novembro a gente vai fazer uma atividade aqui neh (ontem eu

fui) dizer pra Nazareacute Nazareacute eu queria que cecirc fosse pra cecirc daacute uma palestra laacute na (tal)

comunidade saber muita gente saber que (eacute negro) e eu quero aprender tambeacutem mais e tem

muita gente que natildeo sabe nem um pouquinho o tanto que eu sei ( ) a gente vai fazer no dia

vinte de novembro eacute a nossa ( ) eacute soacute neh (a santa jaacute veio) aqui em casa aiacute a gente

pensou ia ser era pra ser amanhatilde dia vinte de novem de outubro aiacute eu fiquei pensaando e

disse Isaldo PORQUE porque o Isaldo era presidente era meu irmatildeo mas eu eu me

comunico muito com ele tudo que eu quero fazer eu pergunto pra ele Isaldo porque noacutes

num num faz no dia no dia vinte de novembro que eacute o dia da consciecircncia negra neh

aiacute ele disse natildeo sei natildeo vai ( ) no dia de semana eu digo ( ) meio de semana mas eacute eacute

feriado pra noacutes eacute feriado e po quecirc que a gente natildeo faz aiacute ele disse seraacute que vai daacute algueacutem

digo a gente convida outra comunidade quilombola neh que venham participar junto

com noacutes aiacute fizemos uma reuniatildeo por isso que eu digo que de vez em quando noacutes estamos

reunindo eacute eacute por causa disso neh aiacute fizemos uma reuniatildeo aiacute joguei a proposta aacuteiacute todo

mundo aceitou mas soacute meu marido que natildeo porque ele quer ( ) como eacute que uma pessoa vem

que eacute meio de semana digo vem sim ( ) se falado com o tempo ageitam um carro neh a

gente taacute chamando querendo chamar os ( ) (olha) que eu jaacute passei com o Dinho que eacute

secretaacuterio de cultura neh ele jaacute veio aqui logo quando ele ele ( ) scretaacuterio ele veio aqui

aiacute ele procurou qual era a atividade qual era qual era as (futuras) ( ) dizendo pra ele aiacute

ele disse que quando fosse dessa soacute anda ele queria pra mim participar com bem tempo

antes antes ele queria ele ia (ajudar) da maneira que ele pudesse mas isso aiacute tem

150

fevereiro parece marccedilo (aiacute quando foi) essa semana eu passei com ele ele disse que jaacute

correu atraacutes de umas ( ) pra ajudar neh aiacute tem aquele outro Anderson tambeacutem ele ele

sempre ele liga pra caacute diz que ele quer ajudar tambeacutem ele quer vir aqui ( ) PRA

AJUDAR E A GENTE TAacute VENDO ASSIM REUNINDO PRA VEcirc COMO Eacute QUE

NOacuteS VAMOS FAZER sobre alimentaccedilatildeo porque quando foi ontem noacutes tava nessa

reuniatildeo nessa reuniatildeo vem vaacuteria vem gente de vaacuterias comunidades quilombola porque

vem tipitimga vem (presidente de laacute) vem jacareacutequara ( ) vem da mariana que eacute noutro

municiacutepio mas vem tambeacutem neh ele faz parte da rede bragantina E AIacute EU QUANDO eu

lancei a proposta laacute na reuniatildeo todo mundo (quer vir) pra caacutetipitinga quer vir

jacarequara quer vir ( ) quer vir agora eu jaacute tocirc imaginando eacute alimentaccedilatildeo como eacute que noacutes

vamos fazer pra alimentaccedilatildeo desse povo de querer vir eu quero aiacute jaacute fica pensando neh aiacute

a mulher ( ) dona Maria disse que vir tambeacutem aiacute amanhatilde natildeo ( ) pode ter muita gente

eles disseram que natildeo ia daacute nigueacutem noacutes temos muita gente que quer vir aiacute noacutes vamos pensar

como eacute que noacutes vamos fazer ( ) que eacute o dia da consciecircncia negra tem muita gente aqui que

natildeo sabe ( ) assim neh ( )

[

L1 a senhora me

convida taacute

L2 jaacute taacute convidada ( ) (risos) jaacute taacute convidada a gente tem uns convites ali neh que a gente

preparou uns convites aiacute ficou pra mim sentar na comunidade vecirc como eacute que vai ser pra

gente entregar os convites mas (a senhora) natildeo esqueccedila jaacute anota aiacute (eu lhe aviso) dia vinte de

novembro

L1 vai ser o dia todo

L2 eacute o dia todo porque assim taacute na programaccedilatildeo primeiro porque a gente todo ano faz

a reza neh primeiro uma pequena procissatildeo pega a santinha numa casa se organiza aiacute

vai quando chega na igreja reza tem ano que noacutes reza aqui tem ano que ( ) o pessoal

gostam porque eacute mais ventilosa neh aiacute eles vem aqui aiacute reza daiacute serve o almoccedilo daiacute se

tiver um leilatildeozinho leilatildeo um bingo aiacute a tarde eacute partida de futebol como os meninos tem

essa ajuda aiacute capoeira eles vatildeo paresentar capoeira a Andresa ela disse hoje ah matildee eu vou

ajeitar as meninas pra noacutes apresentar um uma danccedila laacute uma danccedila de (carimboacute) aiacute a gente

taacute vendo assim ( ) ser um dia festivo um dia de todas as atividades se querer outros

gruupos doutra comunidade se tiver um grupo que queira apresentar alguma coisa vai ter

tambeacutem espaccedilo

L1 vou daacute uma ideias depois qual sentimento assim SENTIMENTO sentimento o quecirc

que a senhora sente quando pela palavra por essa por essa palavra que que que fala

quilombola

L2 assim o meu sentimento

L1 hum rum

L2 eu gostar eu gosto ( ) me se se sinto muito bem

L1 se sente

[

L2 ( ) bem com certeza

L1 taacute essa pergunta tambeacutem eacute um pouco jaacute houve algum tipo de des discriminaccedilatildeo

L2 jaacute

L1 sobre a sua descendecircncia sobre a palavra quilombola

[

L2 jaacute

L1 o que foi

L2 eacute agora que natildeo agora jaacute recente que natildeo neh mas antes quando a gente (informava)

( ) a a associaccedilatildeo aqui quilombola quando descubriram porque isso aiacute veio veio assim

descubrir que era que era quilombola porque na narcisa laacute e eacute a a matriz neh como

151

a minha matildee veio pra caacute aiacute laacute formaram a associaccedilatildeo aiacute o meu meu primo ficou dizendo

olha tem mais gente porque assim quilombola eacute assim adonde cecirc tem parente porque

noacutes tem irmatilde no guajaraacute cigano aqui pro pra paragominas (natildeo) ipixuna neh mas a

hora que eles chegar aqui o lugar deles tatildeo aqui aiacute esse subrinho da mamatildee ficou dizendo

olha eu tenho uma tia que ela mora aqui que era aqui na pimenteira ela mora daqui natildeo sei

quantos quilocircmetros se um dia ela vir pra caacute tem lugar dela aqui disse tem com certeza o

lugar dela taacute aqui ela natildeo nasceu aqui aiacute tudo bem quando foi um dia ele veio passear

aqui aiacute ele foi disse pra mamatildee que se ( ) contou laacute a situaccedilatildeo neh aiacute eu disse que tem que

que cecirc tem que cecircs tatildeo pra caacute mas (vocecircs fazem parte laacute da narcisa) o dia que cecirc quirer ir

laacute ai a mamatildee disse natildeo pra laacute eu natildeo vou laacute se um dia elas quererem vir aqui esse pessoal

quererem vir aqui pra gente conversar ( ) conversar a gente conversa aiacute num belo dia de

domingo chegou trecircs umas quatro pessoas ( ) aiacute chamaram a mamatildee e ele perguntaram se

a mamatildee queria ir pra narcisa a mamatildee disse que natildeo aiacute se (mas) a mamatildee fazia parte do

quilomBOLA da da da associaccedilatildeo laacute da narcisica AIacute soacute que (naquele) tempo tinha

celebraccedilatildeo aiacute o (coacutedigo) que ficava com ( ) neh ficava muito na frente assim aiacute ela disse

que aqui natildeo formava porque quilombola eacute uma pessoa eacute negro que sabe contar o que vem

das tradiccedilatildeo de primeiro e esses que tavam na frente assim era era gente branca e sabia

que eles natildeo sabiam natildeo tinham nada com a ver com quilombola ( ) neh aiacute ( ) daqui aiacute o

(chaga) disse eles natildeo disseram aqui pra noacutes disseram laacute pra o chaga ah chaga laacute parece que

vai ser difiacutecil formar uma associaccedilatildeo de quilombola porque laacute quem taacute na frente mais satildeo

os brancos e laacute natildeo tem nada a ver com com negro a gente faz pergunta eles natildeo sabem

nada ( ) mas aiacute no decorrer do tempo a gente foi foi pegando conhecimento (eles vieram

aqui) mas naquele tempo a gente era muito criticado naquele tempo ( ) muito criticado bem

dizer assim ah bora entrar na associaccedilatildeo ( ) ah ( ) entrar na associaccedilatildeo pra ser negro eu

natildeo quero ser negro vocecircs querem ser diziam neh ( ) aacutes vezes assim (minhas

cunhadas) querem ser negro eu natildeo quero ser negro eu natildeo vou entrar na associaccedilatildeo

negoacutecio de ser negro negro neh escravo aiacute eles comeccedilavam assim fazer caccediloagem

diziam pra ser pra ser pobre mais de que era aacutes vezes eles diziam neh ser negro pra ser

pobre mais de que eacute noacutes jaacute somos pobres ainda ser mais pobre ( ) natildeo era assim natildeo aiacute desse

tempo agora agora recente natildeo a gente natildeo vecirc mais essas coisas mas logo no comeccedilo a

gente via dizia que negro era aquele um que andava sujo que andava com a unha suja que

andava com o cabelo sem pentear neh ((risos)) tinha gente que dizia aiacute eu jaacute ouvi muito

agora natildeo agora esses tempos natildeo ouvi mais acho que jaacute chegou no conhecimento neh

aquele que natildeo tinha nada pra comer ((risos))

L1 eacute com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas a senhora conhece reconhece que

vocecircs tem esse direito direitos

L2 eu conheccedilo um pouco

L1 quais

L2 assim a gente tem direito ((pigarreio)) assim numas pro porque assim eu natildeo

sei quase lecirc neh mas do pouquinho que eu sei a gente pega o estatuto aiacute um estatuto que

que foi tirado em on em Beleacutem foi feito um estatuto neh a gente tem vaacuterios direitos a

gente que AINDA NAtildeO CONHECE bem qual eacute os direitos que a gente tem e aiacute quando a

gente faz reuniatildeo sempre eu digo gente a gente tem que pegar aquele estatuto pra gente lecirc pra

gente discubrir qual eacute o tanto direito que a gente tem nos noacutes tem tanto direito mas noacutes veve

escondido laacute noacutes veve ainda natildeo taacute no conhecimento nosso pra saber o tanto direito que

a gente tem porque se a gente descobrir o tanto direito que a gente tem o direito que a gente

tem eacute um direito muito grande neh Eacute MUITO

[

L1 vocecircs tem o estatuto

L2 tem

L1 hum pra comunidade toda

152

L2 isso

L1 quem eacute que que ler esse estatuto fica na matildeo de quem

L2 aqui em casa taacute aqui mas sempre quando eu digo assim olha bora fazer uma reuniatildeo pra

lecirc o estatuto pra todo mundo mas sempre eacute naquela correria mai a gente vai lecirc custa muito

bora cuidar nas outra coisas no que tem fazer aiacute

L1 como vocecircs conseguiram esse estatuto

L2 noacutes noacutes fizemos assim neh da comunidade na comunidade escrevemos o que

era que noacutes queria dentro da comunidade qual era as leis que noacutes ia botar aiacute foram

escrevendo e levaram pra registrar

L1 ah eacute o estatuto

L2 da associaccedilatildeo

L1 da comunidade

L2 da comunidade sim da associaccedilatildeo

L1 ah da asso-ci-a-ccedilatildeo da pimenteira

[ [

L2 da associaccedilatildeo isso hum rum

L1 dos quilombolas da pimenteira

L2 isso

L1 hum natildeo eu digo assim o estatuto que eu falo eacute da da da de quem eacute

quilombola

L2 natildeo

L1 esse a senhora natildeo conhce

[

L2 natildeo natildeo esse daiacute natildeo

L1 hum agora sim existe alguma associaccedilatildeo na comunidade e eu queria que a senhora

falasse da associaccedilatildeocomo foi que veio essa ideia da da associaccedilatildeo como foi que surgiu

como foi que ces criaram por que criaram

L2 eacute eacute essa aiacute comeccedilou a gente a gente tinha jaacute era comunidade neh antes da

associaccedilatildeo era comunidade aiacute veio um um professor da universidade era ateacute cardoso o

nome dele aiacute ele aiacute comeccedilou (entrar) pequenos projetozinho assim pra caacute mas assim

feito jaacute assim pouquinho natildeo era que nem primeiro fez um projeto do duma casa de

farinha atraveacutes do da pastoral da crianccedila natildeo natildeo natildeo existia associaccedilatildeo foi um pequeno

projeto ( ) da pastoral da crianccedila aiacute depois um projeto de nesse tempo da casa de forno

veio um um caititu pra ralar mandioca e um motosserra aiacute depois um pequeno projeto

pro gado mas tudo da pastoral da crianccedila neh a gente faz aquele grupo de mulheres de

pessoas pra pra fazer um grupo e fazer as vaacuterias assinaturas pra ir pra laacute e o projeto vir

mas natildeo era associaccedilatildeo ningueacutem tinha nada de associaccedilatildeo estatuto nem ata nem nada ai

depois veio um zinho de do pimental um pequeno pimental neh umas estaquinhas

assim pra gente formar um (feijoalzinho) aiacute foi esse tempo foi que o professor cardoso

veio comeccedilar ( ) ele era teacutecnico neh pra daacute assistecircncia e aiacute ele comeccedilou a dizer olha porque

vocecircs num num formam uma associaccedilatildeo ( ) (vocecircs devem formar uma associaccedilatildeo) que se

vocecircs formarem uma associaccedilatildeo vocecircs tem vocecircs tem mais forccedila pra puxar as coisas mais

aiacute a gente comeccedilava a perguntar assim nesse tempo o ( ) ele ele era muito bem

introsado aqui com noacutes agora natildeo agora ele separou-se neh teve uma desavenccedila aiacute ele

nunca mais participou de nada aqui aiacute ele a gente comeccedilava a fazer pergunta pra ele

professor como eacute que faz a associaccedilatildeo eacute pra gente formar AIacute ELE comeccedilou a incentivar a

gente olha a gente faz a gente comeccedila a fazer umas pequenas reuniAtildeO na reuniatildeo a

gente depois que jaacute po jaacute tiver um bom conhecimento da reuniatildeo a gente vai escolher

o o presidente o secretaacuterio o tesoureiro aiacute vai daacute uma mensalidade que eacute pra gente

fazer a ATA QUE Eacute PRA REGISTRAR essa ata e a a associaccedilatildeo fica registrada e foi aiacute

que noacutes comeccedilamos neh sentava aiacute bora descutir como eacute que noacutes vai fazer pra noacutes ter

153

ter seguranccedila pra gente ficar mais junto aiacute fundemo a associaccedilatildeo foi aiacute isso aiacute que eu

tocirc dizendo que tem o estatuto desse tempo neh aiacute quem eacute o o presidente tal dia noacutes faz a

reuniatildeo pra escolher o presidente aiacute foi foi meu irmatildeo que foi a primeira vez e eu fiquei

como tesoureira e o ( ) era secretaacuterio e aiacute fomos formando a associaccedilatildeo quando a

gente jaacute tinha conhecimento (do que) era quilombola aiacute aiacute aa Nazareacute com Vicente jaacute tava

muito bem colocado conhecimento neh aiacute eles eles foram ajudando noacutes ateacute agora

ainda ainda somos muito mais que parceiro ( )

[

L1 ela

hoje tem c-n-pj

L2 a nossa comunidade

L1 natildeo a associaccedilatildeo

L2 tem

L1 taacute tudo ok

L2 taacute natildeo isso aiacute que eu digo que taacute atrasado neh ai taacute atrasado ateacute a gente pagava

ficou pagando vaacuterios anos quando foi nessa nessa mudanccedila porque assim na nossa

no nosso estatuto ela ( ) nenhum presidente podia passar quatro anos neh aiacute passou os

quatros anos fizemos a eleiccedilatildeo de NOVO foi ele DE NOVO ( ) assumiu de novo aiacute

depois venceu os quatro anos aiacute comecemos e pensar quem eacute que fica aiacute fica naquela

confusatildeo eu natildeo quero outro tambeacutem ah eu tambeacutem natildeo quero aiacute pronto vamos ( ) duas

vezes por ano duzentos reais pra noacutes pagar laacute anual neh aiacute nisso aiacute fomo esquecendo

fomo esquecendo de de de pagar os nossos deacutebitos aiacute quando EU fizemos a eleiccedilatildeo de

novo aiacute foi eu AIacute PRA noacutes reconhecer essa essa essa ATA da nossa nova diretoria

passou mais de ano essa multa jaacute tava laacute neh passou mais de ano soacute pra reconhecer quando

noacutes fomos reconhecer tivemos dinheiro PRA reconhecer a ata mas natildeo tivemos pra noacutes

pagar a nossa a nossa cnpj laacute na ( ) e nisso aiacute foi indo e aiacute agora eu jaacute corri com esses

documentos pra pra fazer saber pra pra a gente saber quanto eacute que noacutes deve

quanto eacute que a nossa pendecircncia o valor ainda natildeo foi descoberto tem vaacuterias coisas que

a gente eacute uma multazinha dum canto eacute uma multazinha do outro e a gente ainda natildeo

descobriu e hoje temos falta do recurso neh aiacute a gente jaacute ateacute sentou uma vez pra pensar

pra tirar uma madeira neh (vender) pra poder fazer os pagamanetos dessas dessa

dessa desse cnpj ( )

[

L1 haacute quanto tempo a a associaccedilatildeo esxiste desde

quan do dia que ela foi criada

[

L2 eacute eacute isso aiacute ela foi craida em em abril de dois mil e cinco parece que foi em

dois mil e cinco NAtildeO MAS ela foi registrada em dois mil e seis noacutes noacutes formemos dois mil

e conco neh aiacute passou aqueles tempos todo a gente se organizando daqui ela foi registrada

em dois mil e sete uma coisa a gente montar uma coisa a gente faz vaacuterias reuniatildeo neh

daacute certo pra tal dia daacute certo ( ) dia aiacute faz uma reuniatildeo aacutes vezes falta o presidente falta o

o o o secretaacuterio aiacute natildeo taacute bora deixar outro dia aiacute nisso o tempo vai passando mas ela

foi registrada em dois mil e ( )

L1 vocecircs jaacute conseguiram alguma coisa atraveacutes da associaccedilatildeo

L2 jaacute

L1 o que

L2 jaacute jaacute conseguimo um accedilude primeiro essa saber primeiro foi o accedilude neh foi

um projeto esse accedilude foi soacute que foi assim em parceria foi aqui e jacareacutequara porque o

tempo que formou aqui formou jacareacutequara aiacute a gente foi feito um projeto soacute para as duas

comunidades a a aqui aqui foi um accedilude laacute nem sei o que foi esse accedilude a gente ele ( )

fazer fez muito bem cada cada um um um mecircs um dia fica na responsabilidade de um

154

neh pra colocar os tratar dos peixes mas sempre fica aquilo sempre tem um soacutecio que

que natildeo nem liga pra ele tanto faz a gente trabalhar em comunidade negoacutecio de

associaccedilatildeo eacute eacute meio pesado eacute meio difiacutecil carece da gente ter muita paciecircncia aiacute vai com

a gente ia (despescar) o accedilude neh a gente juntava todo mundo iam pra laacute e era uma

danaccedilatildeo de menino sei que pegava os peixes a gente repartia noacutes ainda fomos umas trecircs

vezes ainda em santa luzia ( ) neh aiacute

L1 esse accedilude eacute aqui proacuteximo

L2 natildeo ele fica aqui ele ele secou ele esbandalhou deixa eu contar o restinho dele aiacute neh

quando dava chuva ele a gente tinha que ter um cuidado laacute porque ele tapava a boca do

cano carece da gente taacute limpanndo laacute quando se descuidava ele vazava por cima quando natildeo

ele queria estourar aiacute quando foi num dia fomos pegar peixe quando terminemo de

pegar o peixe que eles terminaram laacute laacute vem o tempatildeo foi chuva que entrou pela noite

chuveu (ainda) aiacute o meu irmatildeo esse (Isaldo) ainda ficou laacute lutando pra tapar neh e gente bora

ficar aqui passar essa chuva aqui porque noacutes natildeo vamos daacute conta desse accedilude ele jaacute tava

muito cheiatildeo mas os outros nem quase se incomodaram estavam mais ( ) neh e ai

ele ainda lutou lutou mas ele natildeo deu conta que quando foi de manhatilde ele amanheceu

estourado ESTOURADO mesmo grande grande que assim aiacute noacutes ainda fizemos vaacuterios

motiratildeo pra noacutes ir laacute manual braccedilal era homem era mulher era menino tentemo tapar

ele mas natildeo firmou quando veiio a chuva ( ) foi manual mesmo neh aiacute natildeo firmou estourou

taacute laacute estourado a gente jaacute pediu vaacuterias vezes assim fazer outro projeto pra gente

(reconseguir) mas ainda natildeo deu certo natildeo aiacute com noacutes com essas pendecircncias que noacutes tem e

agora que noacutes tava noacutes fizemos um projeto que veio um projeto daqui natildeo sei se vocecircs

tinham conhecimento daquele (fundo) ( )

L1 natildeo ( ) fundo

L2 fundo do (dema) neh eu tenho um um projeto que ( ) especificamente com a

indiacutegena e quilombola neh a gente fez mas a teacute hoje a gente natildeo tem seguuranccedila se foi

aprovado por causa dessa tendencia que a associaccedilatildeo taacute pendente

L1 hum rum dema neh

L2 fundo dema

L1 agora seguindo aqui o que a senhora acha da pimenteira da comunidade da

pimenteira

L2 assim que eu acho assim de de de de melhoria de ( )

L1 natildeo o quecirc que a senhora acha assim pensa da comunidade gosta natildeo gosta o quecirc

que a senhora o que pensa daqui

L2 natildeo eu gosto gosto acho bom soacute tem um uma coisa que natildeo que natildeo gosto muito

eacute eacute sobre obediecircncia aqui neh que nem todos aacutes vezes os soacutecios mesmos

desobedecem alguma coisa que a gente aacutes vezes conversa na reuniatildeo anota tudo

bonitinho aiacute a pessoa passa por cima da lei que a gente coloca que nem assim porque

assim aqui eacute eacute noacutes se diz coletivo neh nossa terra eacute coletiva a gente num tempo desse

que eacute o tempo eacute a evocadora do accedilaiacute a gente fica dizendo olha gente pra noacutes ter o maacuteximo

cuidado de com accedilaiacute aquele quando subir naquele naquela aacutervore naquele cacho que taacute

verde a gente ( ) deixa laacute que o outro vem e tira mas ainda tem gente que aacutes vezes soacute taacute

verde ele joga pedra joga no chatildeo aiacute nem ele nem o outro isso aiacute noacutes tem toda nossa

reuniatildeo a gente fala mas ainda natildeo conseguimos isso aiacute eu natildeo gosto disso daiacute natildeo outra eacute eacute

no veneno no garapeacute neh noacutes jaacute lutemos muito jaacute pelejemos bora deixar de botar aqui

botavam timboacute neh no no garapeacute a gente ( ) esse daiacute taacute quase eliminado esse daiacute taacute mais

ou menos natildeo taacute muito neh ainda tem gente que coloca mas vem de outra comunidade

no escuro de noite aiacute bota o pessoal vatildeo laacute eacute soacute peixe morto mas natildeoo eacute da nossa (tem) o

garapeacute aiacute vem gente doutro canto que a gente natildeo sabe nem quem eacute ( ) agora o accedilaiacute eacute da

proacutepria comunidade eacute noacutes mesmos os proacuteprios ( ) satildeo assim noacutes aqui pra noacutes noacutes tira quase

soacute pra tomar aqui dessa desse desse coletivo noacutes tira pra tomar ALGUMAS vezes que a

155

gente vende agora pra vender assim noacutes tem o nosso terreno particular neh que fica haacute

dois quilocircmetros daqui pra vender sempre eles tiram de laacute tempo da colheita de murubru

que a gente vende tambeacutem neh eacute outra outra eacute outra eacute quase que nem o (murumuru)

QUE NEM o accedilaiacute um jaacute vai entra na aacuterea do outro outro jaacute vai disque teve um tempo que

carregaram ateacute o jaacute tinham deixado juntado o outro foi laacute carregou (risos) e a gente

fica dizendo gente bora bora ver a aacuterea eacute grande eu quando porque qaundo foi pra

se cadastrar no murumuru soacute eu e o Isaldo que se cadastremo neh aiacute eu jaacute tava na aacuterea

coletiva que era soacute noacutes depois que todo mundo quase aqui se cadastrou eu natildeo ajunto mais

noacutes ajunta do nosso terreno eu jaacute deixo aqui pra eles porque os outros natildeo tem terreno

particuular soacute eacute eu e o meu irmatildeo que tem outro (outro) terreno particular o resto tudo

tudo atividade deles eacute dentro dessa dessa aacuterea coletiva neh

L2 hum rum

L1 e a gente sempre fica dizendo olha bora escolher uma aacuterea que fique mais perto da

nossa roccedila da nossa casa pra tu ir deixa daquele outro pro outro mas eles sempre eles ainda

ficam entrando na na aacuterea ningueacutem tem terreno de dizer esse aqui eacute o meu mas a gente

deve respeitar neh a aacuterea o que fique mais perto da casa do outro MAS natildeo acontece

isso e eacute uma coisa isso daiacute eu natildeo gosto tambeacutem porque num fica desarespeitando

SOacute QUE num daacute briga natildeo daacute assim confusatildeo mas acuteacuteas vezes ficam dizendo ahh eu

tinha ttal coisa assim e assim quando eu fui olhar rapaz jaacute tinham levado meu cacho de accedilaiacute

foi olhar em tal accedilaiacutezal assim jaacute tinham levado eu passei laacute no no tal accedilaizal assim

assim porque cada qual tem os seus nomes assim passei laacute adonde natildeo sei adonde rapaz

laacute eacute um estrago de accedilaiacute estrago de accedilaiacute que tava cada cacho grande jogado laacute no chatildeo

mesma coisa eacute os ( ) daiacute neh que natildeo eacute bom e eacute gente daqui mesmo proacutepprio satildeo soacutecio

da natildeo eacute doutro canto natildeo da da associaccedilatildeo da comunidade

L1 tens orgulho da comunidade

L2 tenho

L1 por que

L2 porque ela eacute reconhecida ( ) eacute reconhecida ela eacute muito falada nessa comunidade

muito muito mesmo muita gente jaacute jaacute jaacute veio aqui muita gente e atraveacutes da associaccedilatildeo

eu jaacute fui tambeacutem vaacuterios canto fuui muito encontro em Beleacutem jaacute foi no em Acaraacute

municipiacuteo de Acaraacute jaacute fui em Tomeacute accedilu atraveacutes da associaccedilatildeo eacute por isso que eu tenho

orgulho

L1 ok agora a gente vai pra uma outra etapa uma etapa da sua aacuterea faz uso das plantas

medicinais a senhora utiliza tambeacutem

L2 com certeza

L1 quem passou esse conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo das plantas

L2 hum rum

L1 pra senhora

L2 a minha voacute e a minha matildee minha voacute da parte da minha matildee da os meus avoacutes da

parte do meu pai natildeo conheci nenhum agora da parte da minha matildee conheci todos dois

L1 quem tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda quando a senhora tem um

problema de sauacutede eacute e decide procurar ajuda a quem recorre

L2 olha eu mesmo quando a sauacutede problema meu mesmo

[ [

L1 sua sua

L2 eu recorro a eu mesmo ateacute agora graccedilas agrave Deus ainda natildeo ainda natildeo deu deu

recorrer a ningueacutem eu mesmo neh com meus

L1 meacutedico

L2 ateacute agora natildeo ateacute agora eu jaacute fui na matildeo de meacutedico pra cirurgia pra me operar

neh natildeo ter mais

[

156

L1 de que

L2 pra natildeo ter mais

L1 filho

L2 hum rum a minha caccedilula eu eu queria ser operada aiacute foi mas de laacute pra caacute FOI A

UacuteNICA VEZ que ateacute agora tocirc com cinquenta e um anos mas num AacuteS VEZES faccedilo umas

consultinha assim quando a doutora vinha uma uma doutora aiacute ( ) aacutes vezes ela passava um

remeacutedinho mas eu quase nem tomava natildeo chegava assim a tomar

L1 ok como obteacutem as plantas que utilizacomo eacute que a senhora consegue essas plantas

L2 como eacute que eu consigo

L1 hum run

L2 eacute aacutes vezes eacute arrumando com outro colega trocando neh aacutes vezes eu natildeo tenho

daquela daquela planta aacutes vezes eu consigo ( ) troco como a dona Nazareacute a dona

Nazareacute ela ela tem muita planta ela tem muita ela eacute muita chegado neh aiacute a gente se

ela natildeo tem da marca que eu tenho eu jaacute dou daquele que eu tenho ela jaacute me ( ) aquele um

que tem que agora a gente taacute fazendo um monte de mistura natildeo sei se vocecircs tem

conhecimento da ( ) mistura neh

L1 hum rum

L2 aiacute a gente taacute fazendo assim ela laacute ela ela tem a semente de girasol e o farelo MAS

ela tem o farelo do poacute do arroz aqui na na comunidade eu jaacute levo a a a o poacute da casca

da da maca da folha da macaxeira da o gengili aiacute de laacute a gente jaacute faz todo junto jaacute

mistura jaacute eacute uma troca neh que a gente ( ) e aiacute eacute muito bom que ela a dia vinte e sete

vinte e oito de setembro noacutes tava num encontro do alimentaccedilatildeo alternativa aiacute era

um doutora clara ela eacute japonesa do japatildeo e aiacute ela tava dizendo quem come alimento

taacute comendo alimentaccedilatildeo e taacute comendo remeacutedio porque jaacute taacute comendo aquela alimentaccedilatildeo

que jaacute saiu do remeacutedio jaacute taacute ( ) mistura que ela ensinou neh e aiacute ela ficou ensinando

vaacuterias coisas que noacutes temos aqui que a gente deixa se perder aiacute joga fora e ela disse

que enquanto vocecircs tatildeo comendo aquilo vocecircs jaacute estatildeo se prevenindo vocEcircs jaacute tatildeo comendo

remeacutedio num carece vocecircs taacute laacute na farmaacutecia comprando remeacutedio pra vocecircs vocecircs jaacute tatildeo

comendo tatildeo se alimentando e tatildeo e eacute como eacute muita mistura ela ensinou tucupi que ela

ensinou que o tucupi eacute muito bom todo tipo de verdura ela ensinou e a gente a gente taacute

fazendo essa essa experiecircncia com a nazareacute e aiacute taacute dando certo ateacute agora muita mistura

noacutes tamo fazendo ela taacute vendendo MUITO MUITO muito

L1 ok quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia

L2 eacute o elixiparigoacute arruda a catinga de mulata a babosa tambeacutem mastruz

L1 hum rum

L2 corama

L1 hum rum

L2 (risos) vamos correr agora daqui em

L1 parece

L2 essas satildeo as plantas as

[

L1 satildeo as que mais usam neh

L2 hum rum isso natildeo tem aquele amor crescido tambeacutem ( )

L1 quais satildeo as partes da planta ou das ervas que a senhora mais utiliza satildeo utilizadas

L2 eacute eacute assim eacute das eacute as folhas e as casca mas dessa dessa uma que eu tocirc dizendo toda eacute

a folha dessas uma que eu disse agora ( ) pequenas soacute daacute de usar as coisas ( )

[

L1 a

maioria satildeo folhas e cascas

L2 isso

157

APEcircNDICE C ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Maria de Nazareacute

Reis

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA

CAMPUS DE BRAGANCcedilA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA

FICHA DE ENTREVISTA COM A SENHORA NAZAREacute

A) Entrevistado

1Nome

2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino

3 Endereccedilo

4 Idade(anos)

6 Naturalidade

7 Ocupaccedilatildeo principal

8 A Principal fonte de renda

9 Escolaridade

10 Haacute quanto tempo vive em Santa Luzia do Paraacute

11 Tens envolvimento com algum oacutergatildeo filantropia ou associaccedilatildeo Qual

12 Qual a sua origem De onde veio

13 Como conheceu a comunidade de Pimenteiras e haacute quanto tempo

14 Qual seu envolvimento com a comunidade

15 O que pensas da comunidade de Pimenteiras

16 Que significado ou representaccedilatildeo a comunidade de Pimenteiras possui para a senhora e

para o CEDENPA

17 Como estaacute o processo de titularidade da terra de Pimenteiras

18 Quais benefiacutecios a comunidade ganharaacute com a titularidade da terra

19 Na sua visatildeo o que marca a identidade da comunidade

20 Qual sua relaccedilatildeo com a comunidade e com os moradores da regiatildeo

B) Termo Quilombola

1 Como ocorreu o descobrimento sobre a descendecircncia quilombola dos moradores de

Pimenteiras

2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc

3 Na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de que

sejam descendentes de quilombolas

4Nos relatos dos moradores houve algum tipo de discriminaccedilatildeo contra eles sobre a

descendecircncia Quilombola

5 Com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas os moradores reconhecem os direitos que

possuem sobre ser Quilombola

6 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade

7 A senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre

essa Associaccedilatildeo

8 O que acha da comunidade da Pimenteira

9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc

10 Como procede a prova de ser ou natildeo quilombola Tem relaccedilatildeo com preservaccedilatildeo da

cultura para ser reconhecido

158

11 Houve grupos que desistiram do processo de identificaccedilatildeo devido a ausecircncia das

caracteriacutesticas culturais

12 Em Santa Luzia do Paraacute quais comunidades satildeo consideradas quilombolas e quais

possuem a titulaccedilatildeo da terra

13 O que caracteriza um quilombola

14 Qual o significado de reconhecer comunidades quilombolas Suas origens

15 Ser quilombola traz ainda caracteriacutestica de discriminaccedilatildeo Desigualdade racial

16 Quais outros direitos sem ser o da terra satildeo legiacutetimos aos quilombolas

17 Com relaccedilatildeo agraves Universidades quais contribuiccedilotildees podem ter para as comunidades

tradicionais

C) Plantas Medicinais

1 A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) incentiva os uso de medicamentos vindos de

produtos naturais devido a maioria da populaccedilatildeo natildeo ter acesso aos medicamentos de

farmaacutecia Nesse contexto a senhora acha que as ervas satildeo importantes

2 As ervas e as plantas servem para quecirc

3 Na sua concepccedilatildeo porque tantas pessoas satildeo atraiacutedas pela praacutetica de uso medicinal das

plantas

4 A senhora faz uso de chaacutes para o tratamento de doenccedilas

5 Muitos meacutedicos natildeo apoiam o uso de medicamentos caseiros Qual sua opiniatildeo

6 Haacute comunidades que trabalham com o uso das ervas medicinais

7 Como soube do uso das ervas pelos moradores de Pimenteiras

8 Na sua concepccedilatildeo o que marca a identidade da comunidade de Pimenteiras Satildeo as plantas

medicinais Satildeo os remanescentes de quilombolas Haacute outra caracteriacutestica

9 A senhora faz uso das plantas medicinais

10 Sobre a catalogaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinaisqual sua relaccedilatildeo ou influecircncia

nesse contexto

11 Como ocorreu o processo de catalogaccedilatildeo dos termos e por quecirc

12 Haacute moradores da comunidade de Pimenteiras que participam da cooperativa e produccedilatildeo

de medicamentos caseiros Como eacute esse processo

13 A senhora realiza alguma atividade de compra ou venda das plantas e produtos caseiros

14 A senhora conhece algum caso de cura de doenccedila atraveacutes do uso caseiro das plantas

15 Acredita no poder das plantas

16 Quanto aos produtos das farmaacutecias o que pensas

17 O que eacute a garrafada e a multimistura

18 Qual a relaccedilatildeo com a moradora Domingas E os trabalhos que ela mesma produz

19 O que eacute o trabalho com o bioenergeacutetico e porque acabou

20 Qual envolvimento da associaccedilatildeo com as plantas medicinais

21 O trabalho com as plantas medicinais eacute praticado apenas pelas mulheres Os homens natildeo

se envolvem Por quecirc

159

APEcircNDICE D - Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Maria de Nazareacute Reis entrevista

no dia 26 de setembro de 2014

L1 seu nome

L2 Maria de Nazareacute Reis de ( )

L1 data de nascimento

L2 vinte e cinco do sete de mil novecentos e cinquenta e dois

L1 endereccedilo

L2 rua tiradentes sessenta e dois

L1 idade

L2 sessenta e dois

L1 naturalidade

L2 beleacutem do Paraacute Brasil

L1 a sua ocupaccedilatildeo principal

L2 eu sou a minha prof eu sou formada neh como engenehira agrocircnoma e a minha

ocupaccedilatildeo eacute acessoria aos grupos produtivos grupo de mulheres grupos de associaccedilotildees

cooperativas de agricultores familiares dentro da rede bragantina

L1 entatildeo eacute em que trabalha essas ( )

L2 como

L1 em que trabalha

L2 eacute principalmente na aacuterea alimentar na aacuterea de nutriccedilatildeo na aacuterea de ( ) na aacuterea de

organizaccedilatildeo popular na aacuterea de de incentivo a produccedilatildeo (agroecoloacutegica)

L1 haacute quanto tempo mora em santa luzia

L2 santa luzia dois mil e cinco para dois mil e catorze nove anos neh a parti da data que

eu casei fiquei aqui ((risos))

L1 tens contatao com algum oacutergatildeo ou filantropia

L2 sim

L1 qual

L2 oacutergatildeo eacute centro de estudo de defesa do ( ) do Paraacute a filantropia tem obras sociais da

diocese de Braganccedila tem (imenso) neh vaacuterios ((risos)) melhor dizendo natildeo eacute imenso natildeo

vaacuterios

L1 qual a sua origem de onde de onde a senhora veio

L2 eu sou de Beleacutem nasci e me criei em Beleacutem mas desde que me formei sempre

trabalhei em comunidades rurais agricultura familiar (me formei) em mil novecentos e

sessenta e seis

L1 como conheceu a comunidade pimenteira e haacute quanto tempo

L2 eu (queria) nove anos neh quando eu conheci a partir de quando eu vim morar pra caacute

aliaacutes foi ateacute antes de nove anos porque como temos a escola neh a escola de alternacircncia

para os jovens agricultores em dois mil no ano dois mil quando a gente iniciou teve

dois alunos da pimenteira que foram aluno da escola hum e aiacute jaacute cheguei dentro da da

praacutetica da pedagogia da alternacircncia noacutes visitamos as familias desses alunos na comunidade

entatildeo a partir daiacute eu conheci a comunidade

L1 qual eacute o seu envolvimento com a comunidade

L2 como acessoria neh nos grupos produtivos como eu falei que a a associaccedilatildeo ela faz

parte ela integra a rede bragantina da ( ) solidaacuteria e ela dentro dessa integraccedilatildeo a

gente eacute eacute como acessoria dentro do do por ela ser uma comunidade quilombola tem

um uma referecircncia dentro do centro de estudo e defesa do meio do Paraacute que eu

represento aqui na regiatildeo neh entatildeo atraveacutes do sedenpa a gente faz essa acessoria

viabiliza alguns alguns momentos projeta poliacuteticas puacuteblicas que satildeo disponiveis

especiacuteficas para essas comunidades

L1 o que a senhora acha da comunidade de pimenteiras

160

L2 em que sentido

L1 eacute o quecirc que ela o quecirc que a comunidade traz assim na representaccedilatildeo o quecirc que

ela representa assim pro sedenpa o quecirc que ela representa pra senhora assim ela tem algum

significado

L2 olha ela a comunidade ela ela eacute significativa ainda em biodiversidade neh a

gente tem rio tem ainda uma floresa ainda tem modo de produccedilatildeo ((tosse))eacute eacute ainda

tem o modo de produccedilatildeo muito assim pro proacuteximo da produccedilatildeo sustentaacutevel neh entatildeo

eacute muito significativo nesses aspectos que vamos dizer se afinam com o projeto que o

sedenpa defende que a escola ( ) defende neh o projeto de sustentabilidade eacute tendo

como ator e protagonista os agricultores e as agricultoras familiares

L1 entatildeo a senhora tem orgulho da comunidade

L2 sim ela eacute realmente uma comunidade que vale a pena investir o conviacutevio tambeacutem (eu

dou soacute apoio) laacute para eles ((risos))

L1 e como estaacute o processo de titularizaccedilatildeo da terra

L2 o processo taacute em andamento neh ainda nem a gente sabe

[

L1 natildeo finalizou

L2 ainda natildeo finalizou a gente sabe que eacute muito demorado neh e agora no final do mecircs de

agosto a gente enviou uma carta pra associaccedilatildeo noacutes juntos JUNTOS com a associaccedilatildeo

neh a a entregamos uma protocolamos uma carta no incra pra que eles viessem na

comunidade pra dizer em que peacute estaacute o processo porque o asseacutedio sobretudo nessa eacutepoca

de roccedilado muito grande os fazendeiros estatildeo confinante colocam fogo o fogo entra na

mata neh muitas vezes gente da proacutepria comunidade que natildeo tem assim eacute eacute tem a

cabeccedila do opressor neh como Paulo Freire costuma dizer aiacute querem fazer negociaccedilatildeo com

terra ainda bem que a comunidade tem lideranccedilas fortes neh que consegue

enfrentar e freiar mas realmente as titulaccedilatildeo eacute uma uma uma questatildeo assim muito

latente que eacute eacute facilita essas esses desvios neh de de de pessoas da comunidade

querendo vender terra onde confinantes que pretendem de uma form ou de outra tentar

enfraquecer a comunidade expulsar enfim

L1 o que a comunidade vai ganhar com essa titularizaccedilatildeo

L2 eu acho que ganha principalmente a confianccedila neh de de a confianccedila de ser donos

legais da terra e de jaacute se jaacute se sentem donos da terra mas hoje tudo tudo vocecirc tem que

ter papel neh ((risos)) entatildeo eu acho que isso vai ser muito positivo pra eles neh quando

tiver essa titulaccedilatildeo

L1 e o que marca assim a identidade de pimenteira assim na sua visatildeo

L2 na minha visatildeo eacute a

L1 quando fala em pimenteira assim

L2 lembra assim como eu jaacute falei pra vocecirc neh a biodiversidade O USO dessa

biodiversidade neh embora que jaacute tivesse um pouco assim sendo relegada neh

pelos in pelas pessoas do locais devido a essa essa ausecircncia de incentivo ausecircncia de

poliacuteticas puacuteblicas neh agora que comeccedilam despertar pra valorizar o artesanato que essas

pessoas produzem ah o que existe na mata que eles podem ainda taacute utilizando como

pra sua sauacutede pra seu alimento entatildeo isso daacute daacute marca a pimenteira neh e graccedilas agrave deus

a gente taacute conseguindo resgatar com o apoio da rede bragantina do sedenpa da escola

atraveacutes da formaccedilatildeo e de curso e de pessoas que a gente traz aqui eles participam as

mulheres os jovens os adultos isso tem ajudado eles perceberem que eles estatildeo no meio

ainda de uma RIQUEZA neh que ainda tem viabilidade sustentabilidade as

geraccedilotildees que ali nascem enfim

L1 qual eacute a sua relaccedilatildeo com os moradores da comunidade

L2 como assim

L1 como eacute o acontato se tem um contato direto se eacute um contato

161

[ [

L2 olhe eacute o contato a

gente procura sempre canalizar via associaccedilatildeo via lideranccedila por aqui pra natildeo

individualizar eacute a gente cecirc sabe como eacute a as pessoas o ser humano tem tendecircncia a se

aproximar dialogar sentar com aqueles com que eles se afinam aqueles que a gente natildeo

simpatiza a gente nem olha ((risos)) pelo contraacuterio neh entatildeo a gente procura fazer

TER como (ouvir) isso eacute eacute problemaacutetico quando isso acontece neh vocecirc conhece laacute a

comunidade vocecirc sabe que ali tem lideranccedilas que ao longo dos anos sempre ficaram

assim se tipo coman-dan-do a comunidade neh e que inclusive natildeo satildeo natildeo satildeo da do

da da da raiz das pessoas que chegaram laacute natildeo saotilde da da da famiacutelia tronco dos

dos negros neh dos afrodescendentes que eles estatildeo mas que tinham o controle muito

grande era uma celebraccedilatildeo era fazia um fazia outro neh e isso ainda eacute eacute

preocupante neh entatildeo a gente procura ter como referecircncia a associaccedilatildeo a gente natildeo manda

um o convite ou chama fulano presidente ( ) da associaccedilatildeo vem aqui natildeooacute isso aqui eacute

pra associaccedilatildeo AHH ASSOCIACcedilAtildeO entatildeo taacute se referindo ao conjunto das pessoas que estatildeo

ali organizadas neh eacute claro que na comunidade alguns natildeo estatildeo participando da

associaccedilatildeo mas pra noacutes a referecircncia eacute a associaccedilatildeo esses que estatildeo fora olha tatildeo fora por

que querem por sua livre e espontacircnea vontade tambeacutem natildeo eacute obrigado a entrar ateacute

porque foram vocecircs que criaram POREacuteM a referecircncia pra noacutes eacute a associaccedilatildeo eles tem sido

ateacute dificultoso porque infelizmente no oacutergatildeo no no nas no no nos oacutergatildeos puacuteblicos

neh seja do municiacutepio seja do estado muitas vezes se cria essa relaccedilatildeo pessoal pega

aquela lideranccedila neh ahh entatildeo a gente fica sempre batendo olha eacute associaccedilatildeo eacute associaccedilatildeo

mas eacute natildeo eacute faacutecil ((risos))

L1 como descobriu que os moradores de pimenteira eles tem descendecircncia quilombolas

L2 bem a gente em princiacutepio eles contaram a histoacuteria deles neh que eles tem uma eles

satildeo uma parentela da narcisa neh que se desmenbrou e andando nas terras vieram

parar aqui tanto que eles satildeo muito vizinho satildeo parente mesmos neh e depois quando

eles comeccedilaram quando foi instituiacuteda instituiacuteda natildeo quando foi colocada em praacutetica

neh o artigo cento e sessenta e oito da constituiccedilatildeo neh pelo presidente Lula aiacute se

comeccedilou a ver a saber sim noacutes tem uma histoacuteria essa histoacuteria taacute sendo esquecida taacute sendo

relegada neh e o proacuteprio incra neh por vamos dizer assim por uma exigecircncia de

titulaccedilatildeo a proacutepria fundaccedilatildeo palmares eles fizeram neh o levantamento antropoloacutegico na

comunidade entendeu entatildeo eles constataram que realmente eles tem uma um passado

neh que foi dessa desse refuacutegio dos negros neh pras beiras dos rios pras matas pra

criar suas moradias e manter suas suas tradiccedilotildees

L1 o que eacute ser quilombola e qual o significado dessa palavra pra senhora

L2 pra mim neh pra mim o que eacute ser quilombola pra mim oacute pra mim acho que ser

quilombola eacute principalmente conhecer a sua histoacuteria assumir a sua histoacuteria trazer a

sua histoacuteria para o presente neh e colo evidenciar essa histoacuteria seja atraveacutes da das

suas praacuteticas do seu jeito de ser neh

L1 eacute na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de

ser quilombola

L2 com estranheza neh porque ser quilombola como eu falei pra vocecirc eacute assumir sua sua

identidade sua histoacuteria neh entatildeo essa histoacuteria natildeo eacute contada na escola os livros natildeo trazem

isso neh as as figuras que tem no livro eacute sempre a figura da menina loirinha neh natildeo eacute

a figura da pra ensinar o alfabeto Eacute A UVA NAtildeO Eacute O CARAacute que eles conhecem de

LONGOS anos neh e por aiacute vai entatildeo eles receberam assim neh alguns jaacute se apresentam

dizendo eusou fulano de tal moro na comunidade quilombola tal mas eacute alguns neh diz

eu sou fulano de tal moro na pimenteira neh significa que ainda tem um coisa que eles

natildeo natildeo que eles faccedilam de propoacutesito mas que eles ainda num neh conseguem neh

assumir colocar isso AFIRMAR isso significa pra noacutes uma afirmaccedilatildeo que nem todos

162

fazem mas a gente entende porque eles passaram e sofreram toda essa essa histoacuteria

NAtildeO SOacute eles como negro no Brasil sempre teve vergonha de ser negro por uma sociedade

brasileira que neh entre aspas se diz que natildeo eacute racista mas que tem um racismo hoje a

gente taacute vendo neh sendo provocado sendo questionado na sociedade a gente vecirc claramente

neh posiccedilotildees racistas na nossa sociedade

L1 com relaccedilatildeo aos moradores eles relataram algum tipo de descriminaccedilatildeo com relaccedilatildeo

a descendecircncia deles

L2 sim laacute e aqui nas escolas inclusive o caso aqui das escola eles me eacute me

trouxeram conhecimento do caso aiacute noacutes fizemos uma carta pra diretora da escola daqui

pelo sedempa assinamos (porque) o sedempa estadual e mandamos pra diretora pra que

ela tomasse providecircncia porque senatildeo a gente ia ter que tomar providecircncias legais e as

providecircncias legais todo mundo sabe neh que racismo eacute crime neh eu acredito que

depois pelo menos as meninas de laacute em geral isso soacute soacute eacute denunciado por pessoas que jaacute

tem uma uma certa consciecircncia natildeo sei claro que talvez ainda tenha caso de racismo na

escola mas que todo mundo fica calado neh assume aquela aquele aquela aquele

GESTO como normal como uma questatildeo de infecomo ser inferior aiacute num eacute assim

L1 e com relaccedilatildeo aos direitos os moradores reconhecem eles conhecem os seus

direitos como quilombolas

L2 sim aos poucos a a medida que as questotildees vatildeo vatildeo surgindo por exemplo tem uma

questatildeo da terra olha quilombola tem direito a terra legalizada eles conhecem neh a

medida que as poliacuteticas puacuteblicas aproximam do dia a dia do concreto deles eles vatildeo

tomando esse esse conhecimento natildeo eacute dizer que eles cochecem tudo natildeo neh

porque tem coisas que agora por exemplo vestibular das cotas neh que eacute recente quer

desligar ((risos))

((corte de gravaccedilatildeo))

L1 entatildeo voltando a pergunta o que acha eacute com relaccedilatildeo aos moradores como eacute que eles

reconhecem se eles reconhecem a a questatildeo dos direitos possuem sobre ser quilombola

L2 pois eacute como noacutes estaacutevamos eacute colocando neh eacute eles reconhecem a medida que eles vatildeo

sentindo na praacutetica vendo na praacutetica neh seja a questatildeo da terra aacutes vezes eles escutam

na televisatildeo mas como se eles natildeo vatildeo atraacutes ou se eles natildeo se colocam como detentores

daquele direito isso parece que eacute o processo mais demorado neh o exemplo eacute agora o

vestibular das cotas neh que da pimenteira teve soacute um ano que fez uma menina daqui

que ela morava aqui em santa luzia neh ela eacute filha de dona Domingas e agora esse ano

tem uma que taacute fazendo neh aliaacutes que taacute querendo fazer mas ontem ateacute dei uma bronca

um pouco nela porque eles aacutes vezes eles quererm priorizar festa em vez do estudo e a

a no caso da educaccedilatildeo neh que assim mais eacute assim muito fazer cumprir exige

um grau de mobilizaccedilatildeo e ateacute de articulaccedilatildeo no iniacutecio do ano por exemplo a professora da

comunidade laacute do do broca que tem a turma parece que daacute natildeo sei tem algumas turmas

que vatildeo o ocircnibos leva ela para o broca neh esse pessoal tava quarenta e poucos dias

porque natildeo teve transporte aiacute a professora me ligou e disse olha o pessoal da pimenteira

taacute sem aula eles tem direito a educaccedilatildeo ao transporte e eles natildeo tatildeo (vindo) pra aula eu

digo ah eacute liguei mas o que eacute que taacute acontecendo que vocecircs natildeo procuraram natildeo a gente

vai vai vai atraacutes mas eles ficaram de mandar o transporte se natildeo natildeo chegar essa semana

a gente vai sabe muitas vezes eacute uma acomodaccedilatildeo pprincipalmente no caso do da

educaccedilatildeo neh que a gente vecirc natildeo eacute soacute laacute na cidade educaccedilatildeo em santa luzia tem um

tem um retrocesso assim horrivel neh e por ai vai se eles eles sabem que tem o

direito neh alimentaccedilatildeo escolar eles sabem que tem o direito de vender ateacute com com

o valor superior ao neh para os quilombolas dentro do programa nacional da da

alimentaccedilatildeo escolar por lei eles tem direito a um valor mais alto na me na alimentaccedilatildeo

escolar neh mas eles natildeo vatildeo atraacutes quando o gestor fa tem sensibilidade daacute quando

163

natildeo tem diz que tem que ser igual pra todo mundo como eacute que taacute acontecendo agora

entatildeo eacute assim muito muito difacuteacuteicil porque isso exige uma grande mobilizaccedilatildeo

organizaccedilatildeo neh que eacute um processo educativo contiacutenuo o pessoal vem de uma histoacuteria de

de sempre ficar relegado e acha que vai ficar a vida inteira relegado mesmo que tenha

poliacuteticas puacuteblicas que tenham ( ) direito seus neh e que realmente natildeo eacute faacutecil soacute pra eles

soacute pra ilustrar neh ( ) sei que vocecirc vai transcrever a gente taacute numa luta que a gente

ficou desde do da da saiacuteda do prefeito louro a gente ficou com sem receber dos

produtos que a gente entregava para alimentaccedilatildeo escolar neh que ateacute hoje taacute na justiccedila

ainda mas isso a gente tem que ir atraacutes de advogado de um e de outro numa comunidade natildeo

eacute faacutecil se natildeo for acessoria dificilmente eles vatildeo atraacutes disso entatildeo daiacute uma uma questatildeo

assim que natildeo eacute NAtildeO Eacute SOacute que depende dependa soacute deles neh mas que depende de

todos um uma relaccedilatildeo social que eles possam construir e que essa relaccedilatildeo social possa

neh ajudaacute-lo nessa nessa luta por isso que eu perguntei pra vocecirc olha a gente vai

precisar da tua ajuda tem que somar forccedila com a gente nessa histoacuteria porque se natildeo difiacutecil

L1 eacute a senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade

L2 sim

L1 fale um pouco sobre essa associaccedilatildeo

L2 entatildeo a associaccedilatildeo eles tinham algum (embriatildeo) de associaccedilatildeo que natildeo era assim

vamos dizer legalizada entatildeo pra eles darem prosseguimento a que natildeo era tambeacutem

criada como associaccedilatildeo quilombola era associaccedilatildeo que foram assim acho que

incentivadas antes deu chegar aqui ela jaacute tava por laacute com a questatildeo de (FNO) essa coisa toda

neh DEPOIS pra ele se legalizarem como quilombola o tinha um programa em

Beleacutem o programa raiacutezes neh que eles elaboraram mais ou menos com o apoio de advogados

no estatuto padratildeo que pudesse orientar quais os termos que deveriam ter no estatuto

neh que que eacute eacute passariam por um processo legal pra depois ser levado para cartoacuterio

pra um e pra outro entatildeo a nossa contribuiccedilatildeo foi muito nesse sentido de mostrar olha

a resoluccedilatildeo um meia oito da da constituiccedilatildeo resoluccedilatildeo natildeo o artigo um meia oito da

constituiccedilatildeo brasileira ele fala isso e isso alguns desses pontos tem que taacute constando aqui

natildeo citando a a a o decreto o artigo laacute da constituiccedilatildeo mas coisas que tatildeo citam

laacute que satildeo direitos (principalmente) na questatildeo da da dos recursos naturais da da da

venda da terra enfim entatildeo a ajuda foi mais nesse sentido de ajudar eles entenderem a questatildeo

legal neh juridicamente legal pra poder encaminhar registro pra porque depois

esses documentos no caso vatildeo pra incra vatildeo pra interpa quando eacute o caso de terra do estado

vai para fundaccedilatildeo palmares pra poder obter a certificaccedilatildeo entatildeo a contribuiccedilatildeo foi muito

nesse campo mais legal da da legalizaccedilatildeo

L1 hum rum e mais assim como eacute a questatildeo de de provar que eacute quilombola

isso eacute difiacutecil eacute uma situaccedilatildeo que AH eles tem uma caracteriacutestica quilombola ou eles

satildeo quilombolas mas aiacute pra o processo de ( ) eacute muito eacute muito dificil pelo que eu percebo

L2 a titulaccedilatildeo da terra

L1 sim

L2 eacute porque depende do estado neh no sentido mais amplo laacute no caso eacute oacutergatildeo federal a

aacuterea neh

L1 hum rum

L2 as outras comunidades que tem aqui foram aacuterea do estado entatildeo cecirc sabe que o

estado tem uma esfera burocraacutetica muito pesada neh e aiacute vai tem que vir antropoacutelogos pra

fazer a o levantamento histoacuterico da famiacutelia pra vecirc quais foram as histoacuterias enfim pra ter

esse reconhecimento natildeo eacute soacute assumir

L1 aiacute no caso pra pra provar essa questatildeo de quilombola neh com relaccedilatildeo a

preservaccedilatildeo da cultura

L2 hum rum

L1 isso ajuda no sentido do reconhecimento

164

L2 ajuda porque quando eu nunca fiz um levantamento antropoloacutegico ateacute porque natildeo sou

antropoacuteloga mas ( ) eu fiquei sabendo de outras comunidades e tambeacutem ouvindo assim

uma uma pessoa que teve aqui da fundaccedilatildeo palmares eles fazem todo esse traccedilo todo

esse perfil da CULtura dos santos que valorizam das ladainhas que ainda fazem

entendeu entatildeo tudo isso taacute presente na na identificaccedilatildeo neh na identificaccedilatildeo e e

reconhecimento da da comunidade como sendo afrodescendente

L1 hum devido a isso a senhora tem conhecimento de algum grupo que tenha desisitido

do processo de identificaccedilatildeo por perceberem que natildeo tem mais assim essas

caracteriacutesticas

L2 hum natildeo bem aqui natildeo tenho esse conhecimento tem alguns que ainda tatildeo um

(bocado) deles ainda tatildeo na luta pela terra neh mas eles jaacute tem essa identidade assumida

neh eu natildeo tenho natildeo algum que tenha desistido

L1 eacute com relaccedilatildeo a uma fora

L2 ((risos))

L1 mas assim com relaccedilatildeo quilombola quais quais comunidades aqui em santa luzia satildeo

comunidades consideradas quilombolas

L2 pimenteira jacareacutequara tipitinga e trecircs voltas que jaacute estatildeo vamos dizer assm com o

processo praticamente concluiacutedo tipitinga jacareacutequara jaacute com a titulaccedilatildeo neh

L1 jaacute estatildeo com a titulaccedilatildeo

[

L2 jaacute estatildeo intitulados trecircs voltas ainda pendende eacute pimenteira tambeacutem

taacute ainda pendente das que eu sei satildeo essas

L1 o que caracteriza um quilombola hoje

L2 hum hum ((risos)) eacute eacute uma eacute uma mistura neh porque eacute as pessoas vatildeo

incorporando haacutebitos da sociedade (mais geral) porque ele natildeo taacute isolado neh ele taacute no

meio o meio externo influencia comportamento haacutebitos neh entatildeo a a cultura eacute acho

que eacute uma coisa que ajuda mais a identificar os haacutebitos alimentares e a cultura o uso

dos recursos como a gente tava falando entatildeo foi por ai que a gente taacute trabalhando esse

projeto de fortalecimento com as mulheres de valorizaccedilatildeo da cultura eles chegavam

aqui o caraacute por exemplo eacute um alimento que todo mundo tem natildeo eacute soacute em comunidade

quilombolaque tem neh mas as pessoas tinham vergonha de chegar aqui pra oferecer um

quilo de caraacute que eacute um alimento neh

L1 hum rum

L2 as pessoas tinham vergonha de usar um chaacute uma erva (ia) para o posto de sauacutede

neh entatildeo a gente taacute procurando valorizar essa cultura justamente naquilo que doacutei na

barriga ou doacutei no corpo neh pra que eles possam

L1 por que reconhecer quilombos qual eacute o significado de reconhecer essas

comunidades

L2 eu penso que eacute um signi eacute um significado importante para o Brasil neh que a

populaccedilatildeo brasileira eacute foi formada por esse por esse povo que foi trazido pra caacute que

teve toda essa miscigenaccedilatildeo que ainda tem as suas raiacutezes muito assim latente na

religiosidade popular neh embora tenha sido muito quebrada neh com o catolicismo

romano mas que eu acho que eacute importante pra populaccedilatildeo brasileira neh reconhecer a

sua origem a sua histoacuteria a sua cultura mesmo os que tatildeo na cidade satildeo tem uma boa parte

que satildeo negros negros neh entatildeo natildeo pode esquecer essa histoacuteria o povo que esquece

sua histoacuteria ((ruiacutedo)) eacute um povo fadado a ficar mercecirc de qualquer vento neh e hoje a

devido esse processo de de colonizaccedilatildeo pesada que teve natildeo soacute aqui no Brasil mas acho

que no mundo inteiro as pessoas comeccedilam a ateacute um parecircnteses fecha ai teu teu

gravador que natildeo eacute coisa assim da da pesquisa

L1 hum rum

L2 que esses islatilde neh esses grupos mulccedilumanos que tatildeo ( ) eu fiquei assim horrorizada

165

que eles postam assim na internet neh eu ( ) a facebook mas a gente abrir esse mesenger e

aiacute outro dia tava passando aqui na tele na tv Brasil que a gente assisti muito aqui neh e tava

falando que esse povo eles pra eles cultu poliacutetica eacute religiatildeo econocircmia uma coisa soacute

eles natildeo fazem distinccedilatildeo como eacute no Ocidente cultura ocidental natildeo eacute natildeo tem a ideia

desagregada neh entatildeo isso natildeo foi a toa essa desagregaccedilatildeo natildeo foi a toa essa

fragmentaccedilatildeo cultural e hoje esses grupos que satildeo minorias tatildeo procurando

reconstituir isso neh e muitas vezes usando da violecircncia usando da forccedila a gente fica

chocado mas quan-tos anos ele vem sofrendo de neh de colonizaccedilatildeo eu-ropeia

colonizaccedilatildeo dos Estados Unidos massacre e tudo mais aiacute esses grupos hoje estatildeo atraacutes

dessa identidade muitas vezes a pessoa vecirc violencia pela violecircncia natildeo vai atraacutes da

HISTOacuteRIA que que gerou aquela violecircncia neh

L1 a origem

L2 a origem enfim entatildeo acho que tem um pouco tem um paralelo que daacute pra pintar

neh L1 aiacute nesse nesse nesse aspecto a gente chama neh um pouco a questatildeo da

desigualdade racial

L2 eacute

L1 e entatildeo eacute um ponto tambeacutem que traz essa perspectiva do do fato de ser

quilombola tambeacutem ter a margem neh essa essa

L2 hum rum

L1 essa caracteriacutestica neh

L2 isso

L1 nesse aspecto como eacute que a senhora vecirc essa questatildeo da desigualdade mesmo racial

L2 eacute algo assim que ainda vai se passar por um processo histoacuterico que tem um

fundamento principalmente na na educaccedilatildeo neh se noacutes tivermos educaccedilatildeo que possa

eacute eacute comeccedilar a desmistificar essa desigualdade neh esse racismo seja pelo cor seja pela

opccedilatildeo religiosa seja pela opccedilatildeo sexual isso ajuda mas a escola ainda se se esse

debate (natildeo eacute presente) neh aiacute o o debate que vocecirc vecirc o natildeo eacute debate neh a televisatildeo

talvez mostrando (aquele) racismo neh eacute homossexual que foi espancado que foi

mor-to entatildeo um negro que foi preso neh enfim entatildeo ateacute que isso

realmente mude essa configuraccedilatildeo eu acredito que soacute um processo educativo amplo

infelizmente o processo educativo mesmo com toda a discussatildeo que taacute hoje colocada mas

ainda eacute o processo educativo do do do letramento neh o processo em discussatildeo pra

formaccedilatildeo de cidadania entatildeo se natildeo tem esse processo educativo nessa perspectiva do

ser cidadatildeo aiacute ainda temos que passar por muitas geraccedilotildees pra poder chegar uma neh

uma sociedade sem racismo ( ) sem desigualdade

L1 que tipo de outro benefiacutecio eacute legiacutetimo sem ser o da terra

L2 hum rum

L1 pa-ra os quilombolas

L2 aleacutem do da da terra temos a questatildeo da educaccedilatildeo a prioridade em determinadas

questotildees de sauacutede puacuteblica neh tem um um caso que eacute muito muito quase que especiacutefico

embora aconteccedila no ( ) da anemia ( ) neh que eles tem que ter tratamento diferenciado

acesso diferenciado a sauacutede mas talvez muitos por natildeo conhecer natildeo sabem muitas vezes

nem sabe que tem o problema neh que eacute a anemia ( ) entatildeo acho que esses direitos tem

que o direito tambeacutem do do dos terreiros neh os terreiros sempre foram demonizados

e que eacute uma uma expressatildeo da religiosidade neh mas satildeo direitos que natildeo vatildeo ser

faacutecil de serem conquistados porque se vc tem uma comunidade que taacute reconhecida como

quilombola aqui essas pessoas tem relaccedilatildeo de vizinhanccedila que outras comunidades que natildeo

satildeo quilombolas neh entatildeo se elas estatildeo fazendo laacute um terreiro os os que natildeo satildeo

quilombola podem ateacute ir laacute frequentar pedir um chaacute pedir uma uma reza na cabeccedila MAS

noacutes sempre colocar neh como natildeo aquilo ali eles fazem cruz ( ) neh

L1 hum rum ( )

166

L2 penso que eacute isso neh seus direitos

L1 e com relaccedilatildeo ao papel da universidade como se se a senhora vecirc essa contribuiccedilatildeo

da universidade sobre as comunidades tradicionais

L2 ahh o papel da universidade eacute muito importante mas como a gente tava dizendo

a pouco tem a diversidade tambeacutem dentro da universidade neh a universidade em

constituiccedilatildeo de ensino soacute pra te daacute um exemplo acho que ainda tenho ai um caso assim

horrivel de racismo que teve na universidade federal do Paraacute com uma soacute natildeo lembro se ( )

eacute professor de laacute a Cristina Chaves natildeo sei se tu conhece aiacute ela ficou assim tatildeo

chocada mandou carta a gente enfim ( ) nessa hora ( ) mobilizaccedilatildeo vai passando carta um

pra o outro neh eu natildeo sei te relatar assim mais mas foi com o professor ateacute neh

teve tinha uma discussatildeo com os alunos E o professor claramente (externalisou) posiccedilatildeo

de racismo entatildeo a universidade ela taacute formando neh e taacute taacute formando profissionais

mas dentro desses profissionais se esse debate tambeacutem natildeo eacute levado as ppessoas entram laacute

vindo da escola da educaccedilatildeo baacutesica neh sem essa formaccedilatildeo neh entatildeo se ela chega

na universidade e a universidade natildeo procura pelo menos eacute vecirc ou colocar na nessa

questatildeo neh aiacute eacute complicado neh vai continuar o cidadatildeo ou cidadatilde com essas

praacuteticas MUITO IMPORTANTE entatildeo o papel da universidade nesse processo AS COTAS

por exemplo parece que o os uacuteltimos estado deles do sitema de cotas foi aqui o Paraacute neh

e olha que nem ( ) passado mi teve uma menina da narcisa que fez a prova neh ela foi

selecionada que ela eacute ateacute professora na (comunidade) eacute uma moccedila muito aplicada e eles

vem aqui neh a gente foi fez a inscriccedilatildeo da Francisca e tal a Francisca foi selecionada ela

voltou comigo para fazer o negoacutecio da declaraccedilatildeo neh que eu digito claro que natildeo sou eu

que assino quem assina eacute a ( ) ai fizemos a declaraccedilatildeo mandamos no dia que essa menina

foi se inscrever chegou laacute E DEIXA estar que a menina laacute do sedempa da ( ) tinha me

avisado ahh Francisca passou ahh que bom porque aacutes vezes a gente fica sem

comunicaccedilatildeo aqui de internet neh aiacute me disseram a nota que ela tinha tirado ela passou foi

classificada Francisca tu passastes no dia que essa moccedila foi pra Braganccedila fazer a matriacutecula

dela olha chegou laacute natildeo num passou Francisca tu passastes natilde-o arreda o peacute daiacute pelo

amor de deus grande favor que tu vai me fazer tu vai enfrentar esse povo deixa aiacute taacute por

azar nesse dia mal a gente coonseguia mandar mensagem por esses telefones aqui de santa

luzia liguei para a professora Georgina vocecirc conhece neh a professora Georgina olha ( )

eu tocirc em Beleacutem aqui me consultando mas diga pra ( ) nuacutemero ligar liga pra natildeo sei quem

uma hora da tarde eu acho que ele viu que ela ficou laacute e natildeo arredou o peacute encontraram laacute

natildeo sei quem depois que fui saber que natildeo era soacute o caso dela a professora ( ) tava com uma

lista de gente que ela tava tentando resolver por conta de eles inventavam um inventavam

outra pra natildeo matricular sabe eu disse olha ( ) a luta do negro eacute essa pensa que jaacute

acabou a discriminaccedilatildeo a desigualdade tu taacute vendo na praacutetica natildeo abre matildeo fica aiacute noacutes

vamos pertubar enfim eles vatildeo a tua vaga taacute garantida tu passastes menina tu fostes

classificada entendeu sei que graccedilas a deus ela ta laacute na UFPA em braganccedila neh tem

dois do tipitinga tambeacutem que tatildeo laacute tem dois do jacarequara esse ano tem uma turma maior

por por coincidecircncia ((risos)) agora o sedempa e a (malu) conseguiram na casa da

linguagem que eacute da fundaccedilatildeo curro velho professores eles vatildeo fazer trecircs poacutelos de PRE-

paraccedilatildeo e redaccedilatildeo por isso que desculpa por isso que eu te perguntei mas tu jaacute chegasse

((risos)) que eacute a moccedila que eu tocirc esperando ela chega agora meio dia que ela me ligou ontem

disse olha eu vou no ocircnibos das nove eu digo taacute tudo bem ela vai ficar saacutebado e domingo

na escola soacute treinando essa turminha em redaccedilatildeo pra eles fazerem o seletivo mas eu tocirc

dizendo pra eles oacute vocecircs tem que lecirc o ano inteiro vatildeo lendo vatildeo treinando os alunos da

escola que ainda tatildeo fazendo o primeiro do EJA neh eles natildeo satildeo obrigados a fazer mas

a gente taacute ateacute incentivando pra eles verem como eacute a prova neh a fazerem a prova e tudo

haacute uma dificuldade mas tem tem que entatildeo eacute isso neh desculpa que eu falo muito acabo

ateacute me perdendo (natildeo sei se tocirc respondendo o que tu tem)

167

[

L1 natildeo taacute sim

L2 hum ( )

L1 hum rum

L2 mas a desigualadade neh nesse campo aiacute eacute bem presente quando eles vatildeo tentar

(essa) universidade hum se preparem eu digo olhem se preparem pra brigar ((risos)) se

vocecircs natildeo brigarem natildeo vatildeo esperar soacute que o sedempa mande carta que a professora Zeacutelia (

) VOCEcircS TEM tambeacutem que brigar junto gente senatildeo natildeo tem combate

L1 verdade agora a gente vai pra um outra caracteriacutestica da entrevista que eacute com relaccedilatildeo as

ervas e plantas

L2 hum rum

L1 ( ) entatildeo a gente sabe que a organizaccedilatildeo mundial da sauacutede ela ela incentiva o uso

desses produtos neh desses produtos naturais porque a maioria da populaccedilatildeo ela natildeo tem

acesso a medicina de farmaacutecia

L2 hum rum

L1 ai nesse contexto a senhora acha que as ervas elas satildeo importantes

L2 eu digo as ervas e o saber neh num tem como dissociar o saber sobre o uso das

ervas entatildeo acho que eles satildeo satildeo realmente importantes e satildeo eacute muito importante que

a gente faccedila valer esse esforccedilo isso que a gente taacute fazendo VEM fazendo pra que as pessoas

voltem a valorizar porque taacute sendo mui-to ( ) mais comum a pirataria taacute dentro neh

e a apropriaccedilatildeo desses saber tambeacutem tatildeo muito forte a gente tem um exemplo aqui no

municiacutepio na regiatildeo da natura neh que compra desse pessoal (murumuru) neh que a

gente sabe que compra noacutes fizemos em dois mil e dez haacute quatro anos atraacutes um projeto

que se alchama chamava alfabetizaccedilatildeo e negritude pra alfabetizar adultos que ainda

num natildeo sabiam ler nem escrever ainda neh e aiacute foi um projeto pequeno que o sedempa

conseguiu recur-so aiacute veio uma amiga nossa treinamos as monitoras inclusive essa

menina que passou foi umas das treinandas neh e enfim fizemos com muito es-for-ccedilo

neh os recursos era pequeno sabe a menina veio essa professora que tambeacutem eacute uma

professora muito comprometida trabalha em Beleacutem e a gente vinha e ela vinha e taacute

passado recom graccedilas aacute deus conseguimos tem depoimentos assim interessantes de

pessoas que se alfabetizaram neh que hoje CONTInuaram estudar neh tatildeo num MAS

eu digo sempre olha vocecircs tem que abrir o olho a natura nunca deu um laacutepis UM

LAacutePIS pra essas comunidades pra ajudar nesse processo vai laacute tirar os recursos que tem

e pronto neh no nosso caso aqui eacute murumuru mas a gente tem casos por ai que eles estatildeo

mandando o pessoal plantar priprioca (esturaque) sabe agora jaacute tatildeo aqui procurando

outras coisas eu digo olha soacute vou entrar soacute vamos entrar se for pra sentar na mesa e

discutir de igual pra igual se natildeo for eu aconselho vocecircs natildeo irem mas se vocecircs quiserem

ir natildeo posso proibir neh se vocecircs acharem que eacute soacute o olhar do dinheiro vatildeo mas se vocecircs

acharem que tambeacutem passa por um reconhecer aquilo que vocecircs fazem aquilo que vocecircs

tem que vocecircs vocecircs guardaram de geraccedilotildees aiacute a histoacuteria muda neh a histoacuteria muda a

gente senta com eles mas de igual pra igual esse negoacutecio de vir aqui raspar e tudo e natildeo

darem nada de retorno entatildeo natildeo eacute por aiacute ENTAtildeO Eacute IMPORTANTE eacute eacute eacute necessaacuterio

que outros profissionais se engajem no sentido de mostrar a importancia dessas ervas

agora dia vinte e cinco de julho vinte quatro e vinte cinco de julho noacutes fizemos uma oficina

sobre oo uso de fitoteraacutepicos neh aquelas ateacute pra fortalecer o trabalho desse grupo de

mulheres neh e enfim a (bolsa cortou) assim vaacuterios casos sobre isso

L1 as er-vas e as plan-tas elas servem pra que

L2 ah soacute vocecirc perguntando pra elas ((risos)) elas vatildeo te dizer assim um LE-QUE neh

((risos))

L1 um leque ( )

L2 eacute um leque

168

L1 por que tanta gente ela eacute eacute atraiacuteda neh pra essa praacutetica de uso da das plantas das

ervas

L2 aacutes vezes por estar mais proacuteximo aacutes vezes por uma um passar de informaccedilatildeo neh

entre famiacutelias entre parentes vizinhos neh que que comeccedilam a usar a partir dessas

informaccedilotildees acho que a importacircncia eacute por ai

L1 eacute o que a senhora acha do uso de chaacutes no tratamento das doenccedilas

L2 eacute bom neh aacutes vezes as pessoas usam pela indicaccedilatildeo do saber popular agora com a

questatildeo do que taacute sendo colocada da do do ministeacuterio da sauacutede da anvisa neh jaacute

se precisa ter determinados cuidados MAS a gente vecirc que eacute um comeacutercio que soacute cresce

neh olha por exemplo elas fazem aqui a garrafada tem um parece que dois produtos que

elas colocam que natildeo tem aqui e a gente tem que comprar naquelas casas de ervas em

Beleacutem neh entatildeo eu quando vou pra Beleacutem eu docirc esse apoio eu fiquei horrorizada de vecirc o

quanto aumentou o nuacutemero de caso e vendendo essas ervas ali em Beleacutem e uma vez

eu tava laacute esperando que tinha muita gente pra ser atendido aiacute a mulher perguntou mas ( ) a

vendedora que vai receitando ahh minha nossa senhora ((risos)) entatildeo soacute taacute crescendo

esse esse uso dessas plantas neh dessas ervas enfim ( )

[

L1 talvez por isso existem

meacutedicos hoje que natildeo apoiam natildeo dizem que natildeo fa natildeo eacute bom

L2 eacute

L1 no caso desse uso natildeo ser (nada)

[

L2 hum rumdiscriminado algumas vezes a a formaccedilatildeo

deles eacute totalmente elitista neh que dis natildeo reconhece que o saber natildeo eacute soacute o saber

acadecircmico dele neh mas tem que saber o das pessoas neh e tudo isso que dicer de certo

modo vai encontra de encontro neh a a uma praacutetica de dominaccedilatildeo de mais de

quinhentos anos cau-sa is natildeo soacute estranheza mas tambeacutem causa essa divulgaccedilatildeo

contraacuteria neh vocecircs natildeo sei se vocecircs assistiram eu natildeo assistir ateacute porque essa rede

globo eu natildeo assisto embora algumas vezes passe alguma coisa que preste ((risos)) a gente

natildeo pode generalizar neh mas que aquele Bruno Varela neh EU fiquei sabendo

porque eu faccedilo bioenergeacutetico em Beleacutem neh eu durmo em Beleacutem ( ) jaacute faccedilo haacute mais

de quinze anos de bioenergeacutetico eu faccedilo meus exames cliacutenicos neh com o meacutedico

(omeopata) que ele ele vou laacute com plano de sauacutede e faccedilo exames de sangue fezes e urina

porque eles natildeo podem me guardar isso eu tenho que ser o se natildeo tivesse teria que fazer

particular e aiacute nesse dia que eu fui no bioenergeacutetico elas tavam comentando que ele acabou

com a babosa mas colo fez uma propaganda assim horriacutevel neh eu digo meu deus do ceacuteu

um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo que eacute a rede globo tu imagina a repercussatildeo que isso teve

quer dizer que se vocecirc natildeo tem pessoas pra ir contra isso neh aiacute pronto a rede globo que

diz eacute verdade o que ela taacute passando sabe entatildeo taacute por traacutes dele a multinacional que patrocina

a rede globo taacute por traacutes ENes neh eacute uma rede poderosa de de de controle neh

controle econocircmico controle poliacutetico que patrocina tudo isso neh entatildeo natildeo eacute faacutecil

L1 existe outras comunidades que trabalham com o uso de ervas

L2 assim de forma sistemaacutetica aqui na re-gi-atildeo natildeo conheccedilo mas no dia a dia com certeza

que trabalhe e usam ervas PARticiparam desse curso que eu falei pra vocecirc dessa oficina as

outras comunidades que satildeo daiacute de bragantina de ViSEU de augusto cocircrrea natildeo de

viseu e de cachoeira do piriaacute elas estiveram aqui neh aiacute a gente comeccedilou olha bora

comeccedilar botar em praacutetica assim de forma mais estruturada e tudo elas disseram que iatildeo

comeccedilar a fazer aqui na comunidade mesmo neh

L1 hum rum

L2 vecirc se vatildeo

L1 como a senhora soube do uso das ervas pelos moradores da pimenteira

169

L2 a gen-te conversando neh aacutes vezes tatildeo laacute e ahh isso aqui eacute um chaacute aacutes vezes mesmo

chegaram agora ahh isso aqui eacute uma planta Eacute isso aqui eacute uma planta e aiacute ela na conversa

muitas vezes espontacircnea elas vatildeo falando aiacute quando a gente comeccedilou esse trabalho na

pimenteira noacutes dissemos bora fazer do do bioergeacutetico neh bora fazer um

inventaacuterio um (herbaacuterio) do que tem aqui umbora aiacute uma amiga minha de Beleacutem era

bioacuteloga ela tava formada ela natildeo tava trabalhando era uma pessoa muito disponiacutevel neh aiacute

eu falei com ela ela disse ahh ( ) ela veio ficou uns trecircs dias na pimenteira soacute ao redor ela

natildeo andou a comunidade toda ela fez um registro de oitenta plantas plantas medicinais a

gente ateacute tem esse esse herbaacuterio neh digitado tudo direitinho no herbaacuterio a identificaccedilatildeo

das plantas ela anota aiacute elas iatildeo olha isso aqui eacute isso serve pra isso sabe (bons) tempos eacute

sim a gente ficou

L1 na sua concepccedilatildeo a o que marca a identidade da comunidade pimenteira satildeo as

ervas satildeo os quilombolas por que haacute outra caracteriacutestica

L2 eu digo que satildeo a a biodiversidade que tem laacute presente neh e dentro dessa

biodiversidade estatildeo as ervas neh estatildeo as ervas estaacute o accedilaiacute enfim porque eles vivem dessa

biodiversidade acho que isso que marca ainda eacute uma comunidade que tem uma uma

sustentaccedilatildeo ainda muito assim vinculada a biodiversidade que tem laacute e laacute vocecirc tem o

solo tem o rio tem as ervas neh tem a floresta onde eles enfim eacute esse ainda eacute

eacuteclaro que hoje todos oscomunidades tem gente que eacute funcionaacuterio puacuteblico (talvez) laacute

natildeo tenha ningueacutem da comunidade porque a dona neneacutem eacute agente de sauacutede mas ela natildeo eacute da

comunidade tem tem bolsa famiacutelia tem aposentados mas ainda eacute uma comuni que marca eacute

a biodiversidade que ainda eacute muito forte laacute dentro taacute

L1 a senhora faz uso das plantas medicinais

L2 faccedilo lhe mostrar minha receita ( ) de energeacutetico ((riso)) as minhas garrafadas que eu tomo

tambeacutem

L1 eacute qual eacute a sua relaccedilatildeo ou (fluecircncia) nessa catalogaccedilatildeo dos termos quando eu falo

termos eu falo das ervas das plantas

[

L2 das ervas

L1 dos nomes delas neh sobre as plantas (medicinais) pelos moradores

L2 assim eacute

L1 como ocorreu esse processo

L2 ess especifi a gente iniciou como eu falei para vocecirc neh no iniacutecio do trabalho em dois

mil e oito foi o primeiro mandato do governo Lula que teve o projeto a gente comeccedilou a

neh teve o apoio pra fazer isso noacutes comeccedilamos a fazer aiacute o nosso o nosso incentivo o

nosso trabalho PRIMEIRO tentar daacute uma uma visibilidade mas uma visibilidade

assim com certo com certo grau de informaccedilatildeo aiacute por exemplo deixa eu pegar aqui pra te

mostrar a dona Domingas faz laacute a tintura de de de deixa eu pegar aqui ( ) laacute de Beleacutem

(quando a gente sai do serviccedilo compra laacute mesmo) ( ) entatildeo apre uma apresentaccedilatildeo do

produto mesmo que ele seja mas ele taacute numa embalagem adequada ele taacute identificado neh

a garrafada neh aiacute a gente coloca produto fitoteraacutepico artesanal o que tem aqui dentro a

composiccedilatildeo a data que foi fabricada e aqui o nome neh centro popular mil sauacutede das

mulheres da associaccedilatildeo remanescente quilombo da pimenteira coloca os contatos sabe

que as pessoas ligam ou pra dar sugestatildeo ou pra pedir como jaacute aconteceu ( )uma queria

uma garrafada personalizada outra ((risos)) tem todas esses esses detalhes neh entatildeo a

contribuiccedilatildeo eacute nesse sentido pra que esse produto chegue ao consumidor num grau de

confiabilidade pelas informaccedilotildees que tem dizendo quem faz entendeu o endereccedilo pra

contato entatildeo eacute muito assim ali na associaccedilatildeo tem mais das ervas todinha

L1 existem moradores na pimenteira que participam da cooperativa com a produccedilatildeo dos

medicamentos com as ervas como eacute esse processo

L2 tem a aiacute soacute um detalhe neh a associaccedilatildeo neh ( ) na cooperativa neh

170

L1 hum

L2 eacute eles contribuem neh com a aacutes vezes identificando por exemplo tem uma planta

laacute que no iniacutecio desse trabalho a gente identificou que eacute o bacuri e eles disse que eacute bom

pra glaucoma e tambeacutem o meacutedico neh amigo nosso disse realmente essa planta ela tem

esse poder neh e aiacute ela ( ) faz um coliacuterio antigamente assim assim assim soacute que taacute

acabando MEU DEUS do ceacuteu aiacute depois ela ( ) esse morador ELE esse homem ele veio pra caacute

ela taacute aqui na cidade agora ( ) esse homem laacute neh que a gente ( ) no carro levou ateacute laacute de

carro ( ) ele tentar ( ) porque ela disse que ela natildeo sabe ( ) ele sabe neh aiacute ela disse noacutes

temos que ir laacute com esse homem aiacute quem aleacutem de identificar esse capim sabe laacute saber se

esse homem natildeo tem que a gente natildeo pode deixar se perder inclusive viu Edileuza (da

outra vez que tu vir) com a gente eacute assim a gente taacute querendo criar a casa do ( ) ( )

no no no na linguagem ( ) eacute aquele idoso que transmite as histoacuterias ( ) pra outros neh ( )

aiacute a dona Maria do Carmo que tamb5eacutem eacute afrodescendente ela do lado tem uma feacutezinha

fui laacute em ( ) ahh bora fazer o seu Severino que vocecirc conhece neh laacute do do tipitinga ele

tem o sonho de fazer a festa de satildeo miguel que laacute eles fazem (nossa senhora de santana) ( )

religiosidade catolicismo neh aiacute ele disse bora Cilene bora ver o que a gente faz eacute em

setembro soacute que sem ah natildeo eu acho que eacute amanhatilde dia de satildeo miguel vinte e nove neh

amanhatilde natildeo eacute por esses dias vamos fazer noacutes vamos comeccedilar se reunindo os os ( ) a

velharada toda ((risos)) falei assim pra ele mas pra isso tem que ter um carro pra pegar esse

povo pegar laacute na pimenteira pegar num canto pegar no outro pra ir pra o cristo agora

fiquei sabendo que padre (quebrou o feno) aiacute vamos (vecirc) esse pessoal todinho porque

tem que ter um carro pra levar e trazer eles ou ou ( ) a gente pode se ( ) passo laacute na

num no tipitinga ou algo enfim mas o importante eacute reunir essa (velharada) toda pra

ouvir as histoacuterias dele animar natildeo deixar eles assim soacute O IDOSO QUE taacute precisando de

cuidado de ( ) tomar o remeacutedio na hora certa mas que ele se sinta um idoso ainda uacutetil pra

sociedade pra vocecircs pra comunidade neh mas natildeo foi possiacutevel fazer esse ano por conta de

milhares de compromissos neh tudo isso neh quantas vezes tu me ligasse eu tava

acompanhando tambeacutem o trabalho da doutora Kiara Brandatildeo nas comunidades aqui e

mas mas ainda natildeo saiu esse plano da nossa cabeccedila neh de fazer essa ( ) natildeo sei se a

gente vai fazer setembro do ano que vem mas a gente tem que (comeccedilar) ( ) o importante

que a gente comece a pegar esse pessoal e tentar neh o pai da dona Domingas que tava

te falando eacute soacute ela aiacute ela nem participa mas agora ela tem que cuidar dele que ele jaacute taacute

muito idoso e tudo TEM PESSOAS que daqui haacute um tempo pode ser ateacute que a gente faccedila

nossa viagem antes dele mas a gente sabe neh que de repente natildeo vai mais contar com eles

pronto vai embora um patrimocircnio toda uma histoacuteria um saber que ficou pra traz neh e isso

nas comunidades quilombolas eacute importante aacutes vezes o pessoal me perguntA mais tem olha

vatildeo laacute pergunta pros idosos que estatildeo laacute porque eu natildeo tenho (todo) neh eu ajudo eles

na a tentar resgatar essa histoacuteria escrever essa histoacuteria mas eu natildeo tenho todas as

informaccedilotildees ateacute porque eu natildeo faccedilo soacute isso eu tenho MIL compromissos ((risos)) de de

trabalho pra fazer neh entatildeo se vocecirc puder contribuir com a gente nesse aspecto acho que

vai ser bom

L1 com certeza eacute a senhora realiza alguma atividade de compra e venda das plantas

L2 como rede bragantina a gente faz neh a compra dos produtos e a venda no caso

fitofitoteraacutepico e elas produzem a rede bragantina soacute faz a comercializaccedilatildeo neh elas

mesmos traz as ervas elas preparam aiacute o que que a gente faz aqui embalagem neh eacute

identificaccedilatildeo quando a gente quer botar mais informaccedilotildees ou ateacute qualificar mais

aquele material a gente entra em contato com profissionais pra que eles possam ( ) como eacute

o caso desse dessa oficina que teve de fitoteraacutepico neh que (veio) uma farmacecircutica de

Macapaacute neh que ela trabalha no instituto (tumucumar) que eacute tambeacutem no ( ) de Macapaacute e aiacute

soacute que dois ou trecircs dias com a gente foi assim maravilhoso eu saiacute encantadad neh com

muita informaccedilatildeo que ela passou ( ) a contribuiccedilatildeo eacute quando a gente comercializa

171

L1 vocecirc jaacute conhece algum caso assim de doenccedila de cura atraveacutes das ervas

L2 das ervas elas conhecem neh elas me falam de um bocado natildeo sei de se me lembro

agora neh MAS EU praticamente eu me trato com as ervas graccedilas a deus nunca tive uma

doenccedila assim grave neh mas ( ) eu me sinto bem

L1 hum rum

L2 neh o (vicente) tambeacutem mesmo ele sendo europeu ( ) a gente faz junto esse

bioenergeacutetico aiacute a gente toma aqui em casa direto eacute fitoteraacutepico

L1 entatildeo a senhora acredita no poder das ervas e das plantas

L2 sim sim

L1 ma MAS OU ele se igualaria a a questatildeo das farmaacutecias

L2 assim eu num digo acreditar porque acreditar eacute uma questatildeo de feacute neh e isso natildeo eacute

religiatildeo eacute uma eacute um fato neh entatildeo eiu uso e me sinto bem neh eacute natildeo sou muito de ( )

ateacute meu pai neh e-le usava muito ervas acho que se a gente tem na na histoacuteria da gente

na histoacuteria de vida e eu uso e assim a palavra como eu disse acreditar natildeo eacute muito

adequada porque acho que crecirc ou natildeo crecirc eacute uma questatildeo de feacute neh eacute uma questatildeo de ( ) a

gente usa e daacute certo acho que eacute um pouco isso neh esses dias a gente estava aqui com a

doutora Clara Brandatildeo e ela vinha de longos anos falando sobre o uso da multimistura

neh natildeo sei se vocecircs jaacute ouviram neh falar na multimistura AIacute ela tava ano passado ela

veio fez oficina com o grupo esse ano a gente chamou esse grupo foi ateacute quarta feira que

vocecirc disse que chamamos o grupo que teve ano passado e mais outras novatas neh que

ainda natildeo tinham assisitido palestra com ela e aiacute a gente ( ) ano passado deu testemunho se

usaram natildeo usaram tudo natildeo soacute a multimistura mas tudo que elas colocaram em praacutetica a

partir daquilo que olha teve depoimentos assim estarrecedores no sentido assim perplexo

bonito no sentido de que deu certo de que funcionou mudarem o haacutebito alimentar adotaram

multimistura sabe a economia domeacutestica que fizeram que passaram a consumir de uma

certa maneira e de um certo modo foi assim ( ) se perdeu neh ( ) uma oportunidade do

trabalho ((risos))

L1 entatildeo no caso o que eacute a garrafada e o que eacute a multimistura

L2 oacute tem que perguntar pra ela ((risos)) dona Maria taacute logo ali noacutes vamos laacute e tu pegunta pra

ela taacute bom da garrafada a multimistura eacute complemento alimentar de feito a base

de de produtos tem valor nutricional alto disponiacutevel principalmente para os mais pobres

porque agora natildeo principalmente na nossa regiatildeo mas o a a base dela eacute o farelo de arroz

a folha da da macaxeira neh e o gerginlim a folha da macaxeira eacute riquissiacutema em

vitamina A ( ) se tu quiseres eu te mostro

L1 an ram

L2 a o gerginlim eacute riquissiacutemo em caacutelcio neh aiacute quando ( ) olha tem ( ) gerginlim

preto ai eu fui levei laacute pra ela ele eacute mais rico ateacute do que o branco ainda tem todo o

material desse projeto aiacute na ( ) a doutora Clara produziu e a fundaccedilatildeo banco do brasil

publicou (a gente) fez o material infelizmente olha essa aqui eacute a tabela nutricional

tem aboacutebora arroz (colido) (as pessoas acham que pode comprar melhor) ( ) que tanto

ele tem de calcio neh ela compara sempre com o leite da vaca entatildeo ele leva esses trecircs

produtos aqui a vitamina C

L1 hum rum

L2 e a vitamina A que taacute presente em valor altissiacutemo na folha da mandioca neh o calcio

que taacute presente altiacutessimo no gerginlim ferro tambeacutem e ( ) olha que o tanto de ferro que

tem no farelo aleacutem da vitamina do complexo B neh B1 B2 ( ) assim com toda

complexo B neh essas trecircs quando a gente mistura ela eacute basicamente essas trecircs produtos

aqui entatildeo ele eacute complexo alimentar ele natildeo eacute um remeacutedio neh e eacute tem casos

assim do resultado dele que nem tava dizendo a FILHA DELA ela passou numa aiacute que ela

tinha ido ali no postinho aquele que tem ali naquela rua neh ( ) aiacute a gente tava laacute e ele

disse (Leacuteia) tem multimistura tem (quero um pouco) de multimistura eu disse (ela jaacute tava

172

perto) de ter neneacutem a a Geacutessica e agora eu tava (dando) depoimento que a a

doutora Clauacutedia tava falando neh olha trabalho de parto sangramento quem usa multimistura

natildeo tem isso neh e ela disse olha minha filha duas horas de trabalho de parto ela

teve teve sangramento natildeo teve natildeo sei o que natildeo sabe E EU assim ( ) soacute ela

tomou dois meses antes soacute e eu acredito que foi essa mulher que disse neh EU

ACREDITO que foi muito da alimentaccedilatildeo dela que comeccedilou a controlar essa senhora pra te

ter ideia quando eu convidei ela ano passado neh ( ) soacute fala em doenccedila neh aiacute disse

( ) olha a doutora Clauacutedia Brandatildeo vem aqui vai ter uma oficina expliquei neh aiacute ela disse

assim ah eu vou vecirc e comeccedilou a choradeira neh aiacute (eu insisti) taacute bom ( ) eu sei que

realmente vocecirc natildeo pode porque tambeacutem neh (continuei) insistindo eu sei que isso

ano passado neh a ( ) me ligou OI olha ( ) ah que oacutetimo acho que vocecirc natildeo vai se

arrepender e eu vou jaacute laacute a a eacute quarta feira agora neh dois dias atraacutes ela disse que natildeo tinha

se arrenpendido de natildeo ter ido deu o depoimento dela tudo que ela tem o que aconteceu

com a filha dela ateacute convidei ela pra me ajudar a fazer ali no bairro neh pras mulheres

novatas que foram entatildeo assim a multimistura ela tem esse potencial dentro dessa

composiccedilatildeo que ela tem neh e doenccedila degenerativa eu sei ( ) doutora Clara neh setenta e

dois anos com trecircs ou quatro cabelos brancos ((risos)) em toda disposiccedilatildeo soacute tem um

problema no joelho neh que ela anda assim puxando ( ) que de vez em quando ela tem que

taacute sentada mas uma disposiccedilatildeo que nem eu tocirc tendo mais ((risos)) jaacute taacute me fazendo inveja

ontem eu tava uma caco porque essa semana foi assim pesada pra organizar tudo neh ainda

fui com ela pra Beleacutem agora ela fica em Beleacutem ateacute aman ateacute domingo domingo ela jaacute

retorna pra Brasiacutelia que ela mora em Brasiliacutea

L1 ah

L2 que a mistura a multimistura eacute tudo isso aleacutem de produto ela tem que contar neh

como eacute que as pessoas que usam taacute se sentindo e a garrafada vocecirc pergunta pra ela ((risos))

melhor fonte

L1 a garrafada eu conversei com a Domingas

L2 foi

L1 porque ela faz neh ela produz a garrafada pra pra associaccedilatildeo neh

L2 isso

L1 entatildeo na na pimenteira o siacutembolo digamos assim que que trabalha com ervas que

produz que faz esse esse trabalho eacute a a Domingas

L2 a Domingas os outros tambeacutem eacute assim

[

L1 ( ) pessoa

L2 olha eacute isso que eu tava lhe dizendo eles devem usar sim em casa um chaacute um remeacutedio

mas assim jaacute produzindo com certo padratildeo com uma certa orientaccedilatildeo era um grupo de

trecircs quatro neh

L1 hum rum

L2 uma foi pra Paragominas por problemas familiares a outra eu digo que taacute cuidando do

pai mas digo que ela natildeo taacute Nica quando tu puder tu vem natildeo vai ficar de fora ( ) e e a

Irma a outra llaacute que aacutes vezes tem problema de de de desentendimento neh que que

desentedeu mas natildeo ( ) pelo menos eles se falam eles brigam mmas depois se entendem por

llaacute neh aiacute

[

L1 foi foi por causa disso que acabou o bioenergeacutetico na (comunidade)

L2 natildeoeu acho que natildeo natildeo foi por conta disso foi porque eacute a filha dela se interessou

mas assim aacutes vezes ele esse pessoal tem dificuldade de de dar um comando quando eacute

uma coisa assim mas acho que natildeo foi por isso natildeo tatildeo paradas neh quando que

quando o pessoal vai laacute elas fazem pessoal dali da ( ) inclusive eu tocirc incentivando ela

retomar consulta mas soacute que ( ) voltar treinar gente de novo entendeu porque o pessoal

173

vai laacute se consultar o pessoal das (bandeiras)

L1 eu tinha ateacute falado pra ela da irmatilde Edna em Capanema

L2 hum rum

L1 se tinha a possibilidade da irmatilde Edna ir na comunidade falar sobre o projeto

L2 ah que bom vocecirc conseguisse isso ( ) porque elas fizeram com um grupo de Beleacutem

[

L1 ela

diisse que vem sim

L2 vem pois eacute se vocecirc puder trazer vai ser oacutetimo porque eu tocirc insistindo pra ela retomar

porque ela taacute vendendo muita garrafada na redondeza pomada neh que ela fazia

pomada de cabacinha de uma certa maneira quando vinha essa farmacecircutica ela taacute fazendo

de uma outra maneira e tatildeo vendendo assim bastante a pomada de andiroba com cabacinha

L1 e todos estatildeo aqui na na na associaccedilatildeo

[

L2 estatildeo ai na associaccedilatildeo ((risos)) estatildeo ai na associaccedilatildeo

entatildeo a dona Domingas temos que retomar as consultas porque porque tinha que ter um

horaacuterio planejado e aacutes vezes na comunidade elas tinham dificuldade pra marcar um horaacuterio

elas ficavam laacute eu digo oacute mas vocecircs tem que ter paciecircncia tem que habituar o povo neh tem

que treinar as pessoas neh que aacutes vezes tem a ( ) que natildeo esperam satildeo elas que vatildeo ajudar

tem a roupa que taacute laacute no igarapeacute elas que vatildeo lavar ( ) vocecircs fazem um horaacuterio uma vez soacute

por semana neh e vamos tentar vamos retomar porque vocecircs estatildeo com o espaccedilo

construiacutedo TUDO reconstruiacutedo natildeo daacute pra abandonar que natildeo fica bem nem pra vocecircs

nem pra quem patrocinou o ( ) olha a minha cara ateacute eu mas a de vocecircs tambeacutem ((risos))

L1 entatildeo a a o trabalho com as plantas eacute uma caracteristica praticamente da mulher

L2 da mulher

L1 os homens natildeo se envolvem

L2 natildeo se envolvem tem os homens que sabem neh por exemplo laacute em tipitinga tem um que

eacute

L1 nem na produccedilatildeo

L2 aquela aquela tes natildeo natildeo na produccedilatildeo das plantas sim eles conhecem eles

guardam mas eacute mais assim eacute um perfil mesmo da mulher uma especificidade da mulher

no tipitinga tem um um senhor um homem que ele benze ele reza mas eu acho que ele tem

vergonha de se expor ainda natildeo tive tempo de me dedicar laacute com eles e dizer natildeo olha noacutes

vamos laacute o senhor tem que assumir sua sabe seu saber neh o senhor pode ouvir das

pessoas enfim ainda natildeo tive tempo de sentar com ele

L1 no caso no jacarequara natildeo tem neh essa caracteristica de trabalho com as plantas neh

L2 natildeo natildeo tem elas ateacute participavam do encontro soacute que ( ) comunidade e vejam se tem

algueacutem que quer fazer isso e aiacute vocecircs se quiserem a gente taacute aqui pra apoiar pra comeccedilar

a defender os passos tem a o grupo da pimneteira junto com o grupo que taacute na (outra vila)

que jaacute taacute mais adiantado pode ir laacute com vocecircs enfim daacute os primeiros passos SE VOCEcircS

quiserem fazer laacute faccedilam laacute se natildeo aqui tem uma infraestrutura melhor em termos de material

de local de fogatildeo de panela de um e de outro vocecircs podem fazer aqui como ela vem

uma vez na semana ela vem e faz aqui a pomada a garrafada enfim

L1 a dona Domingas vem pra

L2 fazer aqui aacutes vezes ela faz laacute

L1 an ram

L2 mas a grande parte do que eacute vendido aqui que eacute levado pra Beleacutem el vem fazer aqui

que ela ( ) junto com a dona Maria

[

L1 entatildeo ela eacute a

L2 eacute

174

L1 ( ) articulaccedilatildeo

L2 eacute ela eacute articuladora da ( ) dessa produccedilatildeo eacute

L1 ocirc Nazareacute brigada

L2 de nada espero ter atendido neh a sua

L1 com certeza

L2 ( ) aprofundar esse conhecimento aprofndar esse esse saber e principlamente contribuir

com essas comunidades neh com esses povos que precisam mesmo dessa desse apoio

da academia neh que a gente natildeo fique soacute na um trabalho de produccedilatildeo laacute ah taacute

bonito o seu trabalho pesquisa tal mas que isso possa realmente retornar pr essas pessoas neh

e que elsa possam se apropriar cada vez mais com seguranccedila de tudo isso

L1 taacute com certeza

175

APEcircNCICE E ndash Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento

Ladainha a Nossa Senhora

Nossa Senhora do Livramento

Matildee de Deus nossa Matildee

e padroeira de nossa Paroacutequia

Com o olhar confiante vos contemplamos

Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos

Dirigimo-nos a voacutes como filhos

porque necessitamos do vosso auxiacutelio

Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados

apoiados e guiados pela matildeo materna

Renovai-nos espiritualmente

para que saibamos enxergar a vida mais bela

Levantai-nos para caminhar sem medo

nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo

para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna

Nossa querida Matildee

Nossa Senhora do Livramento

abenccediloai-nos e guardai-nos junto de vosso coraccedilatildeo

e conduzi-nos ao coraccedilatildeo eterno e amoroso do Pai Ameacutem

ldquoNossa Senhora do Livramento

Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da almardquo

Senhor tende piedade de noacutes

Jesus Cristo tende piedade de noacutes

Senhor tende piedade de noacutes

Jesus Cristo ouvi-nos

Jesus Cristo atendei-nos

Pai Celeste que sois Deus tende piedade de noacutes

Filho Redentor do mundo que sois Deus tende piedade de noacutes

Espiacuterito Santo que sois Deus tende piedade de noacutes

Santiacutessima Trindade que sois um soacute Deus tende piedade de noacutes

Santa Maria rogai por noacutes

Santa Matildee de Deus

Santa Virgem das virgens

Matildee de Jesus Cristo

Matildee da divina graccedila

Matildee puriacutessima

Matildee castiacutessima

Matildee Imaculada

Matildee intemerata

Matildee amaacutevel

Matildee admiraacutevel

Matildee do bom conselho

176

Matildee do Criador

Matildee do Salvador

Virgem prudentiacutessima

Virgem veneraacutevel

Virgem louvaacutevel

Virgem poderosa

Virgem clemente

Virgem fiel

Espelho de justiccedila

Sede da sabedoria

Causa da nossa alegria

Vaso espiritual

Vaso digno de honra

Vaso insigne de devoccedilatildeo

Rosa miacutestica

Torre de David

Torre de marfim

Casa de ouro

Arca da alianccedila

Porta do Ceacuteu

Estrela da manhatilde

Sauacutede dos enfermos

Refuacutegio dos pecadores

Consoladora dos aflitos

Auxiacutelio dos cristatildeos

Rainha dos Anjos

Rainha dos Patriarcas

Rainha dos Profetas

Rainha dos Apoacutestolos

Rainha dos Maacutertires

Rainha dos Confessores

Rainha das Virgens

Rainha de todos os santos

Rainha concebida sem pecado original

Rainha assunta ao Ceacuteu

Rainha do sacratiacutessimo Rosaacuterio

Rainha da Paz

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo perdoai-nos Senhor

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo ouvi-nos Senhor

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo tende piedade de noacutes

Rogai por noacutes santa Matildee de Deus

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpeacutetua

sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-aventurada sempre

Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da eterna alegria Por

Cristo nosso Senhor Ameacutem

177

APEcircNDICE F ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoAlgodatildeo Roxordquo

Fotografia 36 ndashAlgodatildeo Roxo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 13 ALGODAtildeO ROXO

Lx Lexema Algodatildeo roxo

V Variantes Algodatildeo Branco ou Algodatildeo Preto

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo o algodatildeo rocho ele serve eacute pra () pra moragia pra remautismo tambeacutem faz o chaacute

tintura dele tal de efusatildeo eacute fazer a tintura neacute todo jeito se quiser fazer o chaacute faz a

tintura que usa gotinhas isso e pra moragia eacute tira o sumo da folha pra moragia da folha e uma eacute a haacute aquela dentro da sementinha dela da dentro da sementinha tem tipo

uma lanzinha assim dentro da sementinha pode quebrar a sementinha dela hurum

mas soacute que eacute um pouco maiozinha natildeo porque assim dentro da semente do algodatildeo a

gente tira ele tem dentro da sementinha dele a gente passa passa a sementinha tem

uma uma lanzinha assim tipo uma lanzinha neacute eacute o proacuteprio olho dele eacute o proacuteprio

adonde nasce sim aquilo aliacute eacute bom pra febre ele eacute bom pa pa febre instestinal crianda

do algodatildeo isso tanto faz ele ser o roxo como ser o branco como ser ele eacute bom para

isso tambeacutem febre do algodatildeo ele eacute um ele ele cresce te acho que tiacute trecircs volta de

quatro metros de altura ele ele eacute na terra que se daacute bem ele fica bastante

compundinho assim haacute a folha dele natildeo natildeo eacute aiacute ele tem de trecircs trecircs cor tem o branco

tem um que eacute meio roxinho tem algodatildeo branco algodatildeo roxo algodatildeo preto ((tosse)) da folha da folha da folha eacute ela eacute mais roxeada o algodatildeo branco a folha dele eacute

branca o algodatildeo roxo a folha dele eacute eacute roxeada e o algodatildeo preto ele eacute mas preto eacute

mas escuro hurum isso a folha a folha eacute os frutos eacute eacute soacute mesmo mesmo jeito a flor eacute soacute

um jeito tambeacutem hurum a cor isso isso serve mas o bom eacute o algodatildeo roxo e o algodatildeo

preto que o melhor de todos mas quando natildeo tem esses outros esses uns serve o

algodatildeo branco neacute eacute o chazinho a gente tira aquela sementinha parte a semente dele

dentro da sementinha natildeo tem cumo assim que nem uma lanzinha iai quando parte

bota pra ferver e daacute o chazinho soacute eacute uma febre instestinal daacute no intestino ele eacute ele eacute

uma folha assim o meio dela arendodada e tem trecircs de trecircs bicos grande os bicos

delas satildeo mas eacute eacute trepadeira mas isso eacute natildeo isso eacute uma arve

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

178

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e o algodatildeo que estaacute dentro da semente

Fu Formas de uso

Usada para hemorragias (fazer a efusatildeo com as folhas para tirar a tintura) o mesmo processo serve para reumatismo o algodatildeo dentro da semente eacute usado em chaacutes para

febre intestinal

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Haacute espeacutecies de algodatildeo branco e algodatildeo preto a cor da folha eacute determinante

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

179

APEcircNDICE G ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoArichi de Parigoacuterdquo

Fotografia 37 ndash Arichi de Parigoacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 14 ARICHI DE PARIGOacute

Lx Lexema Arichi de Parigoacute

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacute eacuteh uma planta que ela daacute ela daacute assim ela natildeo daacute muito alta ela daacute quase assim tipo rasteira mas num eacute bem rasteira ela bota muito assim os galhos os galhos cae

assim forma moita a folhinha dela eacute penem folha de canala um mesmo a folhinha de

canela iai ela eacute boa tambeacutem pra fazer tintura pra achar quem natildeo gosta de usar

tintura porque a tintura leva o aacutelcool toda tintura tem que ter o aacutelcool neacute tem que

ter natildeo eacute feita soacute no aacutelcool os que natildeo gostam da tintura usa o chaacute natildeo da folha a

gente pega tira a a tintura a gente pega assim pego o aacutelcool taacute qui e pega a folha

tritura tudinho coloca aqui dentro do aacutelcool com quinzi dias passando quinzi dias o

aacutelcool natildeo vai estrogar aiacute fica muda muda certeza aiacute despois coa brota no seus

vidrinhos pra usar as gotinhas () quando ela estiver com mal estaacute uma comida que faz

mal tiver assim com estomago cheio tem comida neacute ai bota a aacutegua comu o uso da

da farmaacutecia tem tem eacute o caseiro eacute natildeo natildeo sei natildeo eacute isso que eu tava dizendo eacute o

erichi de parigoreacute neacute eacute assim se comeu sentiu que a comida faz mal a assim enpachada conquela mal de gases eacute fazer isso num quiser fazer o chaacute das folhinhas

usa a tintura porque por isso eu em casa uso a tintura porque assim eu eu faccedilo deixo

ali quando taacute no ponto eu cou tudo ajeito tudinho e boto no vidrinho de gotinha neacute

que nos a gente tem vidrinho de gotinha e bota laacute se algueacutem precisar jaacute taacute pronto

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Utilizar as folhas para mal estar no estocircmago

Fu Formas de

uso

Chaacutes da folha tintura (deixa de molho no aacutelcool por 15 dias) para estocircmago

empachado tanto o chaacute como gotas da tintura

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

180

APEcircNDICE H ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoBabosardquo

Fotografia 38 ndashBabosa com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 15 BABOSA

Lx Lexema Babosa

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ((SORRIU)) eacuteh por causa da baba e ela eacute antiflamatoacuterio eacute essa mais eacuteeacute aquela goma

aquela gosma tem neacute a gente pega ela tira aqueles coise assim aquela goma dela

aquela coisa a parte de dentro vocecirc essa pode usa na guarrafada pode usar e no chaacute

fazer chaacute da folha assim se num quiser butar a folha inteira pode tirar essa baba pode

tomar usar em ferimento tiver um ferimento em golpe uma ferimento pode pegar bater

aquiloali butar tipo um plasticozinho aliacute pra disiflamar sim e pode tomar tanto bote

em cima pode tomar eacute ela eacute muito boa pra cabelo tambeacutem neacute pra fazer o cabelo da

gente desenvolver a babosa neacute ela eacute boa tambeacutem eacute pra eacute cacircncer () ela eacute muita boa tambeacutem pra cura o cacircncer a babosa

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Usar a baba da folha para inflamaccedilotildees ferimentos garrafada cacircncer crescimento do

cabelo

Fu Formas de

uso

Utiliza-se a baba em chaacutes garrafada ou direto na aacuterea inflamada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

181

APEcircNDICE I ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoBatatatildeordquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 16 BATATAtildeO Lx Lexema Batatatildeo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Masculino

Df Definiccedilatildeo natildeu eli eacute ambienti fechadu abertu mas eli natildeu eacute di vasueli eacute du chatildeu du chatildeu

assimnatildeu eli eacute eli eacute um cipoacute eli nasci aqui aqui eli cresci ( ) du maracujaacute maracujazeiru eli vai si agarrandu aqui vai tendu matu aqui eli via indu por cima matu i vai indu vai

caminhandu ateacute ondiporque na a a batata deli eacute um batatatildeu eacute uma batata mermu forma duma mandioca forma duma batata doci assim que eacute ai por issu colocaru u nomi

batatatildeoeacute a batatanatildeu nunca vi falar das folha eacute a batata aquela batata a genti vai laacute nu peacute deli i arranca eli cava qui eli qui eli daacute bastanti profundu eli natildeu eacute soacute assim da genti

chegar i puxar tem qui cavar com uma enchada pra tirar a batata eu jaacute vi ateacute uma ateacute dessi tamanhu assim neacute aiacute aquela batata a genti veimem pois eacute ela eu jaacute vi uma ateacute qui a minha

cunhada arrancou era bastanti grandona ela laacute aiacute a genti fatia ela a rodelinha e bota pra secar aiacute depois qui tiver seco a genti bota no liquidificador nu pilatildeu pisa i faz aquela

tapioquinha pra usar eacute ou nu mingau ou qui seja na comida ou si quizer pra fazer arreaccedilatildeu

eacute a genti toma eli mais avutadu neacute faz um chatilde bem forti toma eli faz arreaccedilatildeu mas essi dai eu nunca vi a minha voacute qui dizia que fazia mas eu nunca fez eu mesma neacute mas a minha voacute

dizia qui elis faziam u batatatildeu i quandu a genti taacute com problema nu sangui a genti toma assim us pocu por que eli tantu eli pru sagui da genti eli faz assim normaliza u sangui

da genti si a gente tiver com sangui fraco demais eli aumenta si tiver forti eacute uma erva qui eli normaliza u sangui da genti pra mulher qui taacute graacutevida eacute muitu bom tomar tambeim eli

faz limpeza nu sangui da genti eli faz limpeza nu sangui tem muitu genti assim crianccedila que tem muita assim qualquer coisinha daacute aquelis ferimentus neacute qui aacute a crianccedila tem problema

nu sangui aacute entatildeu eacute muitu bom tomar qui eli faz a limpeza nu sangui eli purifica u sanguitem folha tem flor a folha dela eacute quasi qui neim assim u formatu dum coraccedilatildeu

assim pu pesinhu da folha eacute larguinhu i paacute pontinha da folha eacute beim istreitinhu natildeu ela eacute pequenininha meacutedia ela eacute meacutedia ela eacute menas di qui a folha da vaca menor aiacute natildeu natildeu qui

neim folha de batata qui nem uma folha di bataba neacute batata doci ela eacute daqueli formatu soacute qui sempri a folha da batata eacute trecircs trecircs dedu trecircs sepraccedilatildeu trecircs parti ela eacute soacute uma pu

pesinhu da folha eacute largu paacute pontinha ela eacute estreita a flor delasim a flor dela ela coloca a flor aqui aiacute a flor abri a flor eacute assim uma flor tipu quasi qui nem a flor du maracujaacute

tambeim ela fica uma flor por aqui eu nem sei neim dizer comu eacute qui eacute a flor dela mais ela fica ela abri assim ai fica dentru fica aqueli miolinhu assim ai ela bota aqueli fica tipo a du

girassol assim qui eacute a florzinha dela neacute nu formatu du girassolsim issuela eacute meiu amarelada assim uma cor parda i sempri eli bota flor sempri nu veratildeu tambeacuteim quandu eli

botaela eacute du veratildeu ela nasci aqui nu invernu aiacute ela vai crescendu quandu ela taacute crescendu a batata dela taacute verdi aiacute quandu ela eacute que nem o caraacute quandu ela vai morrendu

eacute qui a batata taacute boa di arrancar nu veratildeu taacuteboa eacute porque nu veratildeu eacute qui ela taacute eacute qui ela ta madura a batata dela qui eacute pra genti arrancar por que nu inverno ela ( )i isso isso seca

as folhas seca e aiacute a batata ta madura boa di arrancar

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

A raiacutez eacute usada para purificar o sangue hemorragias fraqueza

Fu Formas de uso

A raiacutez eacute seca e triturada em poacute para usar como massa em minguaus ou o chaacute bem forte da raiacutez

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome vem do tamanho da raiacutez que eacute no formato de batata com dimensatildeo grande

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

182

APEcircNDICE J ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCapitiuacuterdquo

Fotografia 39 ndashCapitiuacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 17 CAPITIUacute

Lx Lexema Capitiuacute

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo ((sorriu)) o capitiuacute eacute uma arve nativa ela natildeo eacute uma planta ela eacute nativa ela eacute () no

cerrado eacutela a folha dela eacute grande ela eacute quenem a arve do cafeacute eacute grande a folha eacute do

mesmo modelo da folha de cafeacute aiacute pra do de cabeccedila tiver aquela doacute de cabeccedila enjoada

que natildeo passa qualquer doe a cabeccedila do nada tem gente que tem muita doacute de cabeccedila

eu graccedilas a Deus num so muito assim natildeo mas tem gente neacute hocirc minha cabeccedila docirc so

serve com doacute de cabeccedila isso a gente pega ela monte de folha quebratudinho bota pra ferver deixa no cereno quando eacute de manhatilde banha a cabeccedila muito bom pra tirar

aborrecimento aquela dozinha esse outro eacute chaacute mas natildeo eacute pra tomar o chaacute e soacute pra

lavar a cabeccedila eacute o banho de cabeccedila que a gente chama neacute eacute soacute pra isso que eu sei a

serventia eu sei pra isso que noacutes fazia capitiu eacute por assim ele eacute um pitiu num eacute cheiro

so se panha assim e cheirar tu vai dizer que o banho dele vai ficar daquele emo jeito

mas muda o cheiro dele cruacute eacute um jeito mas depois que ferve ele muda o cheiro dele ele

cruacute e pitiuacute jaacute taacute dizendo capitiu eacute assim um cheiro de peixe sei laacute um cheiro assim ele eacute

pitiu mesmo mas o cheiro dele depois de cozinhado ele natildeo fica ele muda pode banhar

a cabeccedila que ele fica assim sempre recedendo o cabelo da gente

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de cabeccedila enjoo e enxaquecas

Fu Formas de

uso

Chaacutes para banhar a cabeccedila (depois de ferver as folhas deixar no sereno da noite lavar a

cabeccedila na manhatilde cedo)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta na forma natural tem cheiro muito forte pitiuacute

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

183

APEcircNDICE L - Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCarrapicho Agudordquo

Fotografia 40 ndashCarrapicho Agudo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 18 CARRAPICHO AGUDO

Lx Lexema Carrapicho Agudo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico masculino

Df Definiccedilatildeo esse um eli tem eli eli cresci assim ateacute um metru i meiu di altura assim eu jaacute vi neacute

mais eli vai ateacute uns certus tempu eli eli si acaba tambeacutem eli num eacute num eacute uma arvri

que permanenci ali por certus tempu natildeo eli eli sempri eli nasci nu periacuteodu da

chuva aiacute quandu vai chegandu u secu eli eli jaacute vai si acabandu eli comeccedila a botar flor

botar as sementinhas daiacute a tendencia deli eacute morrer cai aqueli um pra nascer otru di

novu eli eli eacute nativu tambeacutem neacute eli num fica eli num fica uma arvri eli permaneci doi um ano dois ano soacute uma arvri natildeo eli morri aqueli um nasci otru di novu ele eacute uma

arvri qui eli cresci i eli bota uns galinho ele fica todu espalhadinhu assim os galhu deli

na ponta dos galhu eacute qui eli bota a sementinha deli tipo uma uma esporinha por aqui

tem com certeza qui tem assim por essa nessa invasatildeo neacute eu tenhu certeza tenhu toda

certeza qui tem esse matu eacute a folha deli eacute uma palmazinha eacute eacute assim uma folha

assim aiacute ela eacute toda repartidinha toda repartidinha toda uma samambaia sabi u qui eacute

samambaia ela eacute daqueli formatu di samambaia eacute toda repartidinha isso toda toda

partidinha assim a folhinha dele ( ) bota folha daiacute tem sai pedacim pra todo canto

assim a folha deli a flozinha deli eacute quandu antis deli abrir us carrapichim fica

abertinha eacute amarelinha ( ) u miolim da flor eacute amarelim neacute a depois qui qui ela abri qui

ela fica assim () ela bota florzinha agora assim eacute aquelis carrapichim qui eacute tudu agarradu quandu agenti qui eli taacute maduru agenti passa assim eli jaacute si agarra na ropa

da genti aquela isporinha nu fimzim daqueli coizinha tem aquela esporinha qui si

agarra na genti eacute na folha na flor dela eacute a sementi aquilu eacute a semente u carrapichu

qui agenti chama eacute a sementi neacute qui aqueli qui cai no chatildeu qui nasci otru natildeu eacute da

raiz da avre eacute da raiz eacute da raiz arranca eli aiacute lava rapa alguma qui seji e cuzinha i

faz o chaacute natildeu eli eacute assim qui nem na grussura dum dedu eli ateacute qui eli eacute uma avre

assim quandu assim a terra eacute boa qui eacute uma terra assim bem neacute eli eli daacute um tamanhu

assim dum metru i meio por aiacute assim neacute quandu eacute aquela terrinha meia meia cansada

meia meia batida meia dura assim eli eli cresci pequenu mas eli cresci eu jaacute vi assim

jaacute vai dependecirc da terra ela eacute uma achu qui ela eacute uma erva uma erva ela eacute du fri du

friu porque ateacute quandu chega a eacutepoca du veratildeu ela morri neacute ela nasci ( ) um tempu

dessi du veratildeu qui jaacute si passo u veratildeu laacute vocecirc passava laacute ela tava toda mortinha assim soacute os carrapichim dentro agora com a chuva qui ta dandu ela jaacute ela jaacute caiu agora ela

vai nascer ela ela vai nascer tudim quando aiacute ela crece ali aiacute aiacute quando ir che

chegando o veratildeo eacute eacutepoca qui ela vai morrer di novu qui o carrapichu dela cai nu

chatildeu daiacute ele nasce outro vem outro vem nativa eacute ela eacute nativa

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

184

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Eacute usada a raiz da planta

Fu Formas de

uso

Usada na forma de chaacutes para Icteriacutecia (amarelo da pele nas crianccedilas)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

185

APEcircNDICE M ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCatinga de Mulatardquo

Fotografia 41 ndashCatinga de Mulata com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 19 CATINGA DE MULATA

Lx Lexema Catinga de mulata

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo tem eu acho muita cheirosa eacute catinga de mulata num sei porque mulata eacute uma coisa

que mulata neacute jaacute sabe eacute caatiga de mulata eacute eacute o contraacuterio pra dizer cheiro de mulata

((sorriu)) por mim se fosse eu que fosse colocar num colocar num colocava catinga eacute

ela tem um cheiro forte pois eacute se fosse no meu caso fosse butar nome natildeo ia dizer

catinga a dizer cheiro de mulata mas eacute catinga de mulata eacute eacute pra varas coisas tambeacutem

eacute pra febre doacute de cabeccedila doacute de estamagu isso ela eacute uma planta eacute natildeo ela faz mas natildeo e

muito disiflamatoacuterio que eu tenho conhecimento dele ser desiflamatoacuterio natildeo ela eacute

assim pra bo despachar gases dentro da gente bom pra isso pra doacute de cabeccedila tambeacutem

eacute bom pra tudo isso tambeacutem ela eacute pequena desse modelo catinga de mulata desse

moledo dessa grande ai sim natildeo desse outro laacute come eacute o nome estoraque neacute isso ai manjericatildeo ele eacute pequeno soacute a folhinha dela eacute maiozinha um pouquinho mas

arendondada um pouquinho um poquinho mas eacute esse modelo eacute natildeo mas se tu natildeo

conhece assim se nem conhece a planta num vai conhecer pelo cheiro porque esse

aqui esse aqui eacute mais eacute mais durinho a catinga de mulata ela eacute mais ela eacute mais copada

e mais assim comueacute que eu quero dizer assim eacute mais fraacutegil o galhim dela pra quebrar

ela eacute assim mais ragadinho mais assim eacute delicado sim eacute esse daqui natildeo a gente ve que

ele ele eacute tipo uma madeira tipo assim neacute bem assim mas durinho e a catinga de

mulata ela eacute mas quanto mais ela eacute adubada que ela fi mas ela fica eacute ((sorriu)) eu

acho que porque ela eacute muita dengosa a catinga de mulata ((sorriu))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas caule e raiz satildeo usados para febre dor de cabeccedila no estocircmago

desinflamatoacuterio e gases estomacais

Fu Formas de uso

Chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem cheiro agradaacutevel catinga seria o antocircnimo de cheirosa

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

186

APEcircNDICE N - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCibalenardquo

Fotografia 42 ndashCibalena com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 20 CIBALENA

Lx Lexema Cibalena

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh eacuteh uma planta que nem a cidreira do mesmo modelo da cidreira tudo do um a

cidrera folha os galhos dela ela e brom bom pra febre doacute de cabeccedila tambeacutem neacute que

a cibalena na na farmaacutecia ela nu eacute bom pra febre pra febre pra doacute ela eacute do mesmo

jeito tambeacutem hurum o chaacute o chaacute eacute da folha do mais eacute das folha das folhas das arve ( )

natildeo tambeacutem natildeo

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para dores de cabeccedila febre e dores em geral

Fu Formas de

uso

Chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

187

APEcircNDICE O ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCoraminardquo

Fotografia 43 ndashCoramina com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 21 CORAMINA

Lx Lexema Coramina

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva ela eacute na natildeo ela eacute caseira ela e do frio do frio eacuteh ela essa daiacute

eu natildeo sei dizer muito bem o formato dela eacute e e a minha voacute dizia que era muito pro

problema de coraccedilatildeo tivesse sofrendo do coraccedilatildeo probremas aqueles agonia aquelas coisa fizesse o chaacute dela pra tomar mais soacute que eu natildeo conheccedilo bem essa

planta natildeo jaacute nu sei dizer isso aqui eacute o coramina soacute qui a minha voacute dizia assim o

coramina eacute bom pra quem tem o problema de coraccedilatildeo aquelas ferruaduras num tem

dar umas dor umas ferrruada ela dizia que era muito bom pra soacute sei que eacute bom

pra isso pra coraccedilatildeo olha com certeza

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas para problemas no coraccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes para dores no coraccedilatildeo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

188

APEcircNDICE P ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCrista de Galordquo

Fotografia 44 ndash Crista de Galo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 22 CRISTA DE GALO

Lx Lexema Criacutesta de galo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo esse daiacute eu natildeo vou dizer com garrafa porque eu nunca fez aquilo que eu nunca fez

num tenho assim um uma seguranccedila pra remeacutedio assim eacute eacute assim que os outros diz neacute

coquei ele como remeacutedio porque os outros que me indicaram ele eacute bom pra coraccedilatildeo

que tem problema de coraccedilatildeo coraccedilatildeo de bate acelerado bate num se que ele eacute bom

pra fazer o chaacute da crista da da flor da flor mesmo hurum mas soacute assim foi indicado

por o outra pessoa assim que tambeacutem tem conhecimento neacutew aiacute diz tambeacutem ela eacute que

nem uma criacutesta de galo ela daacute assim () uma os pezinhos dela agora aqui ela faz tipo

um folhinho uma coisa assim neacute espanhadinho e aiacute tem uns peacutenhinhos assim no pezinho da folha tem uns peacutenhinhos isso isso hurum natildeo eu tenho eacute assim que os outro

jaacute me indicou

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Eacute utilizada a flor da planta que tem formato de crista de galo para coraccedilatildeo acelerado

ou problemas do coraccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Pode ser feito o chaacute da flor ou usado na garrafada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

189

APEcircNDICE Q ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoErvatildeordquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 23 ERVAtildeO Lx Lexema Ervatildeo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva nativa eliele eacuteh do baixo do alagadoele nunca da assim no seco

natildeosempre ele daacute no lugar que eacute molhadoumiduclima molhado eacutemas se

tiverela precisa da quele ambiente que esteja molhado que ta assim com aquela

parte da lama daquela agua grossaela natildeu eacuteh da terra seca da terra limpa assime

num so da em aguada na quela agua que esteja misturado com aquela terracom

aquele limu que ela gostaela eacute pequenaela eacute fina tambeacutem assim o caulizim dela ela

sim eacute de quina tem umas quinalzinho a folha dela eacute cumpridinha estreita e ela eacute boa

pra tomar ela nunca fez ela eacute boa pra dor de cabeccedilafazer o chaacutefaz o cha da

folhapega tudim elebota pra cozinhar e deixa no sereno e di manhatilde banha a cabeccedila vai usando assim diretamentetem umas dor de cabeccedila encravadaa minha

cabeccedila nu passa nu sei o queuma dor de cabeccedila enjuada eacuteh fazer isso aiacutenatildeo sei

porque desse nome de ervatildeo natildeo sei porque eacute uma ervaela num eacute tatildeo grande pra ser

ervatildeoela num eacute tao grande ela tem uma florzinha bem pequenininhabem

roxinhabem piquinininhamas eacute folhamais tem um tem que ela tem as florzinhas

bem piquinininha bem roxinha

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e enxaqueca

Fu Formas de

uso

O chaacute das folhas e depois repousando no sereno da noite a cabeccedila eacute lavada com o chaacute

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

190

APEcircNDICE R - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoEucaliptordquo

Fotografia 45 ndashEucalipto com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 24 EUCALIPTO

Lx Lexema Eucaliacutepto

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ele eacute uma arvenha tambeacutem ele natildeo da muito do que eu conheccedilo num sei se tem uns eacute

natildeo ela natildeo eacute muito pequena ela eacute meacutedio ela num eacute muito pequena natildeo ela eacute boa pra

febre a gente usa ela pra febre o chaacute comu eu tocirc dizendo eu assim uso mas as tintutas

eu gosto de fazer mais as tinturas pra febre pode o chaacute isso pode pode fazer o chaacute e

pode usar a tintura pra febre eacute e pra febre eacute natildeo natildeo tambeacutem num sei natildeo nunca viacute flor dela nunca vi soacute soacute folhas compridas bem compridi compridinha comprida assim

com a ponta fina ela eacute estreita ela natildeo eacute largona natildeo ela eacute estreita pezinho da natildeo

((sorriu)) hurum conhece a vinagreira conhece vinagreira () soacute que ela eacute pouco

diferente soacute uma folha da vinagreira dela do eucalipto num tem uma folha aqui que

compara mas ela eacute assim olha assim cabeccedila assim e a ponta dela eacute mais fina o pezinho

dela eacute mais larguim e pontinha dela eacute () ((sorriu))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Utiliza as folhas para febre em geral

Fu Formas de

uso

Chaacutes e tinturas para febre

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a moradora referir-se agrave aacutervore

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

191

APEcircNDICE S ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoGeniporanardquo

Fotografia 46 ndash Geniporana com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 25 GENIPORANA

Lx Lexema Geninporana

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo um noacutes jaacute fazemos tudo isso em ((sorriu)) seraacute que nu taacute adoccedilado ((sorriu)) eacute um uma

arve nativa eacute ( ) e ela eacute tambeacutem assim modelo do cafeacute da arve do cafeacute ( ) eacute a mesma coisa

tambeacutem a folha dele eacute assim isso aiacute ele eacute bom pra picade di inseto cobra de copiatildeo essas coisas neacutew tiar o sumo da do caulhe dele tirar assim tirar aquela casca o entrecasca eacute bom

o entrecasca aquele do de cima ela natildeo natildeo a gente tira o sumo a gente faz assim tira o entrecasca dela daacute uma raspada assim assim meio pra sair tipo uma bucha assim ai bota

uma aacutegua isso ((sorriu)) eacute acho que ((sorriu)) eacute hurum eacute divide ser eacute u acho eacute eu acho metade dessa coisa eacute assim os indiacuteos que descobriu esse nome neacute que os indiacuteos para () eacute

os indiacuteos que que sabe porque esse nome porque assim os meu irmatildeo que eles aprenderam com meu pai porque meu pai tem sangue indiacutegena ele fazia ( ) ( ) aiacute meus irmatildeo eu

aprendia com meus irmatildeo papai ensinava neacute ai ele aprendia ele fazia porque assim vocecirc pega uma vara uma varinha assim vocecirc enrola ele aqui o tanto vocecirc podir natildeo quebra

natildeo fica do mesmo jeito do arco do iacutendio aiacute eu acho que ele tem relaccedilatildeo com os iacutendios que colocaram esse nome tavez neacute porque esse daiacute eu sei assim ele natildeo quebra neacute vocecirc

pega aqui ele num quebra ele eacute ele eacute isso vai depender da grussura dele tambeacutem neacute horriacutevel hurum isso hurum pra cortar o veneno ((sorriu))

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Utilizados a folhas entrecasca e caule para picadas de insetos cobra escorpiatildeo

Fu Formas de

uso

Do caule eacute retirado o sumo (colocado de molho na agua)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

192

APEcircNDICE T ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoHortelanzinhordquo

Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELANZINHO

Lx Lexema Hortelanzinho

V Variante Malvarisco

Cg Classe Gramatical Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo oh hortelanzinho eacute desse eu chamo pra esse hortelam sim porque assim tem

tem uma parinca que eacute hortelam tambeacutem eacute o grande aiacute tem desse pocha entatildeo

hortelam pimenta hortelam roxo e tem o hortelanzinho que eacute o hortelam nenecirc

que eacute o hortelam nenecirc hortelam nenecirc e esse eacute o hortelanzinho que eu chamo porque depois desse daiacute () hortelam sim grande eacute a folha dele grande eacute o

mesmo malvarisco isso eacute sim e tem o hortelam nnecirc eacute o menor de todas isso isso

essa daiacute tanto faz se da outra dessa dai serve para tomar chaacute serve pra butar nu

suco ela serve pode pegar o suco de qualquer coisa de limatildeo sei laacute du que for e

bater uma folhinha dele junto fazer charope eacute e memu coisa de hortelam nenecirc o

nenecirc ele eacute proprio pra nenecirc mesmo crianccedila mesmo eacute do tamanho e da cor

porque o hortelam nenecirc ele eacute branquinho ele num eacute roxinho ele eacute assim natildeo a

folha tudo que nem essa arve que taacute aiacute disse daqui natildeo o hortelazinho ele eacute

roxinho isso ele eacute roxinho o hortelam nenecirc eacute tudo assim eacute folha eacute o galhim dele

eacute tido assim eacute isso o hortelam grande jaacute eacute maior as folha dele eacute tido assim eacute tem

eacute eacute maior a folha dele eacute mais grossa a folha dele eacute bem grossa e serve tambeacutem pra o comu tempero comu por enquanto agora eu tenho hurum eacute neacute o hortelam

grande eacute daquele mesmo modelo o hortelam grande eacute eu acho que num sei natildeo

num sei e num sei dizer cume se tem doutro tipo tipo neacute eu soacute conheccedilo essa

trecircs tipo agora num sei se muda o nome desse mesmo do hortelanzinho eacute a

mesma pimenta num sei natildeo () natildeo

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas nos chaacutes e sucos

Fu Formas de uso Chaacutes xaropes e em sucos

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Tambeacutem conhecido pela variante malvarisco

Dc Data da Coleta 04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

193

APEcircNDICE U ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoHortelatilde Neneacutemrdquo

Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELAtilde NENEacuteM

Lx Lexema HortelatildeNeneacutem

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo porque ele eacuteh mais miudim doque todas do que os outros eacute ela eacute mais a folha dele eacute

do mesmo mesmo formato desse mesmo modelo soacute que ele eacute miudinho ele bran sim soacute

que ele eacute miudinho e eacute jaacute ele eacute roxinho esse daqui eacute roxinho esse um eacute branco tambeacutem

hurum mas ndem eacute natildeo eacute hortelam ela eacute mais pequenininha ele eacute todo assim

branquinho assim essa folha dessa coisa assim ele natildeo eacute roxinho assim natildeo eu tenho

laacute em casa eacute fazer chaacute pra bebe recenacido quando faze gripado tossindo injuado eacute

bom fazer chazinho pra daacute charope eacute isso neacute tosse com certeza eacute mesma coisa hurum eacute eu acho que ela eacute proacutepria pra crianccedila pra bebecirc mesmo pra bebecirc eacuteh quela eacute

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para gripes e tosses em receacutem-nascidos

Fu Formas de

uso

Chaacutes e xaropes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

194

APEcircNDICE V ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoJambu Roxordquo

Fotografia 48 ndashJambu Roxo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 27 JAMBU ROXO

Lx Lexema Jambu roxo

Va Variante Jamburana

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo planta rasteira do molhado de clima uacutemido eacute a mesma coisa que agente comi no

tacaca que faz eh a cor ela eacute nativa de tempu umidu ela serve pra do de

estomagu figadu quando com algum problema no figadu assim cuando consegue

almoccedila e num consegue janta aquilo parece que num desfaz parece todo tempu

cheio eacute problema nu figadu tem de faze o cha eacute de folha de flor com raiz com tudo o

importante eacute lavar bem lavadim e botas pra ferver com tudo e toma o cha a flozinha e amarelinha bem amarelinha mais do que o outro eacute bem amarelinha quase

roxinha eacute um poco menorzinha

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas flor raiz tudo bem lavado

Fu Formas de

uso

Utiliza-se o chaacute para dores no estocircmago problemas de digestatildeo e no fiacutegado

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A cor da flor amarela bem forte diferencia as espeacutecies

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

195

APEcircNDICE X ndash Informaccedilotildees gerais sobre o termo ldquoJenipapordquo

Fotografia 49 ndash Jenipapo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 28 JENIPAPO

Lx Lexema Jenipapo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma arve muita grande nativa tambeacutem ela nativa ela eacute grande tem fruto e do

fruto que a gente faz ela eacute o u o genipapo ele eacute rico em vitamina pra anemia agora que

eacute difiacutecil achar uma gente que diga que gosta num gostei natildeo o cheiro dele eacute muito

forte do fruto dele eacute forte o cheiro aquele cheiro eacute um cheiro forte mesmo assim comu coisa assim tava comu assim um litro de cinquenta e um assim que eacute o cheiro dele tem

gente que num gosta daquele mas ele eacute rico em vitamina pra quem taacute aneacutemico pra ele

eacute muito bom () ele eacute assim deste tamanho laranja isso quando ele taacute verde ele eacute duro

quando cai ele eacute mole ele fica eacute o suco pega ele eacute expreme bota accediluacutecar e pra tomar o

suco dele tirando disso fazer o licor tambeacutem eu uso laacute em casa mas pra fazer licor a

gente bota no aacutelcool no cinquenta e umo aiacute mas eacute mas mas aiacute depois a gente faz uma

garrafa de accediluacutecar diminui e diminui isso aiacute eacute pra bebida isso bebida pra quem gosta

de () o fruto o suco do fruto pra remeacutedio eacute tambeacutem assim ce tiver eacute uma rasgadura

uma qualquer coisa porque num sei se tu jaacute viu crianccedila que fica assim cum umbigo

grande assim a gente coloca o dedo a gente coloca o dedo a gente sente que aquele

que rasgado um vai laacute na arvore do jenipapo a arve dele tando vivo verde tira um tampinho da casca e vai aperta trecircs vezes no imbgo da crianccedila e vai coloca la dentro

tampinho no mesmo canto aiacute aiacute conforme aquele tampinho vai colocando vai sarando

ali ai vai diminuindo a a rasgadura na inbigo isso aiacute eu tenho poque eu fiz pro meu

filho ficar bom hoje ele eacuteh rapaz num tem quem diga o que ele era nunca passei com

meacutedico pra dizer doutor me diga o que eacute o que eacute o que isso nunca natildeo foi isso remeacutedio

que ensinavam natildeo riacute sim tuacute vai laacute um tampim assim neacute vai uma comparaccedilatildeo teacute

mede o tamanho do imbigo aqui e vai mede laacute no no quarto tira o tamanhinho que eacute e

vai aperta trecircs vezes aquele pedacinho de casca no umbigo e vai cola laacute de novo bota

no mesmo cantim deixa laacute ficar coladinho aiacute aquela casca vai cola de nova e colando

aliacute a ela ela assadura vai colando vai diminuindo neacute eu fiz com meu filho me

ensinavam neacute e eu fazia hurum

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de Casca para problemas no umbigo e frutos para bebidas

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

196

uso

Fu Formas de

uso

O fruto maduro eacute usado para fazer licor (accediluacutecar e bebida alcooacutelica) uso da casca para

rasgadura problemas no umbigo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

197

APEcircNDICE Y ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMamatildeordquo

Fotografia 50 ndash Mamatildeo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 29 MAMAtildeO

Lx Lexema Mamatildeo

Cg Classe Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo uh mamatildeo tanto ele eacute vitamina neacute ele eacute rico em vitamina o mamatildeo pra crianccedila pra idoso pra tudo eh como a semente dela eacute muito bom agente faze eh remeacutedio pra

coloca verme cum a sementi dele pega a sementi dele seca bem sequinha assim bem

seguinha agente torra ela bem torradinha ai soca bemai bota um poco demassa de

trigo de farinha de trigo ai da uma misturadinha ai faz um modelo dumas piulinha eh

muito bom prafazer as piulinha pra tomar pra verminose

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

A fruta eacute consumida como alimento e as sementes satildeo trituradas para uso medicinal

Fu Formas de

uso

As sementes satildeo trituradas misturadas com trigo e feitas as piacutelulas contra as vermes

em crianccedilas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

198

APEcircNDICE Z ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMangueirardquo

Fotografia 51 ndash Mangueira com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 30 MANGUEIRA

Lx Lexema Mangueira

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Feminino

Df Definiccedilatildeo a mangueira ela eacute bem grandi eacuteh uma planta tambeacutem ela eacute caseira agora ela eacute

muito boa de nascer todo quase caroccedilo dela nasce neacute e nu clima frio eacuteh num frio eacute folha comprida estreita bem comprida e estreita a semete eacute uma semente bem

grande que que ta que ta dentro do fruto neacute eacute assim um pouco chata a manga eacute a

manga eacuteh tem tem tem flor dela flor ela coloca assim uma assim tipo uma bage

uma coisa assim uma flor assim assim uns pivatildeozim neacute e vai colocando as flor dela

e a flor dela eacute bem piquinhinha as depois o fruto nasce dali da flor ele vai crescendo

eacuteh ela eacute uma arvore bem grandi cauli bem grosso eacute muito grande ela uns cinco

metros acho que ateacute mais de cinco metru ela eacute bem grande noacutes usa ela praa

diarreia quando ta com muita diarreia e eh fazer o cha da do entre casca pra

diarreia e pra tosse tambeacutem fazer o lambedor eacute do entre casca tirar aquele entre

casca do caule por que aquela casca de cima natildeo serve pra nada ai ah madeira

tambeacutem eacute o entre casca ai tira e faz o lambedo ela eacute travosa eacute travosa eacute ela eacute menos travosa que uh uh cajoeiro eacute amarela o cajoeiro eacute vermelho tomu cha

ou entatildeo faz o xarope o lambedo como diz o xarope o xarope eacute um pouco mais

grosso a gente tira o entre casca se tira ele bem limpinho se tiver o cuidado num

carece lavar se sair um sujinhu tem que lavar e bota pra cozinhar as depois que

tira agua que para eacuteh coa ele e colocao mel o accediluacutecar que eacute pra ele ficar assim tipo

dum xarope vai apurando ai tira coloca num vidro bem limpo e fica tomando isso eacute

pra crianccedila quando ta gripadu com tosse o xarope e pra diareacuteia eacute o chaacute faz o cha

dele e toma nois usa

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Para diarreia e tosse eacute usado o entre casca

Fu Formas de

uso

Para diarreia eacute feito o cha do entre casca para tosse e gripe eacute feito o ldquolambedorrdquo o

xarope eacute feito do cozimento do entre casca com o accediluacutecar

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

199

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

200

APEcircNDICE AA ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMaracujaacuterdquo

Fotografia 52 ndash Maracujaacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 31 MARACUJAacute

Lx Lexema Maracujaacute

Cg Classe Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo maracujaacute eacute folha eacute a fruta eacute a flor tudo serve eacute uma planta ela eacute caseira

maracujaacute ela da em todo todo clima mas eacute melhor eacute no frio mais ela da em todos

todo tempo ela sempre ela daacute a folha eacute redonda eacute assim num eacute redonda natildeo

tem trecircs parte a folha dela do maracujaacute ela eacute bem grandi tem trecircs partes trecircs

separaccedilatildeo assim trecircs dedo como nois diz assim ela natildeo eacute redonda trecircs biquinho

tudo junto com certeza eacute uma folha meacutedia e a sementinha dela eacute chatinha eacuteh

dentro do fruto bota o fruto e dentro uma sementinha a folha dela eacute bem grandi

afror dela eacute bem grandi assim eacuteh rouxinha assim aberandu o branco e por

dentro do miolinho eacuteh rouxinho cabeludinho o caule eacute fino eacuteh um cipoacute ela daacute

assim ela eacute grandi por que se ela pegar uma planta sobe inteacute de acordo com a

planta ela vai botando os galhos ai ela vai subindo ela serve pra eacuteh pressatildeo auta ela ela eacute calmante o maracujaacute ela eacute calmante e tanto faz ser a folha

comu a flor Comu uh suco dela a fruta ela eacute calmante qualquer parte se natildeo

tiver o fruto pra genti tomar o suco fazer o chaacute da folha se tiver a fror pode fazer

o chaacute que ela eacute calmante pra quem ta com estressi pra quem ta com falta de sonu

a gente pode usar de tudo aleacutem disso de tem muita vitamina no suco e muita genti que

tem muito estressi muita pressatildeo alta pode usar o chaacute pode usar o suco

diretamente eu digo isso por que eu gosto muito e o chaacute eacute o suco que eu mais gosto

in ateacute agora eu to com cinquenta e dois anos e nunca aumentou minha pressatildeo graccedilas

Deus natildeo tenho pressatildeo alta ah eu gosto muito eacute o suco que eu mais gosto ela da

sempre

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Folhas e flores satildeo usadas como calmantes baixar a pressatildeo alta e diminuir o estresse

Fu Formas de

uso

Os chaacutes das folhas e da flor como o suco do fruto

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a informante referir-se a planta

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

201

APEcircNDICE BB ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMastruzrdquo

Fotografia 53 ndash Mastruz com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 32 MASTRUZ

Lx Lexema Mastruz

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Masculino

Df Definiccedilatildeo olha eli eacute du ele eacute du friumais eli eacute du friu mas eli num eacute aquela aquela qui gosta

muitu du friu eli gosta du friu mais eli gosta tambeim bastanti da quinturadus dois eacute

ele num eacute eli eacute tem a sementinha delinatildeo eli daacute em qualquer ambienti eli daacute nu vasu

eli daacute chatildeo nu abertu nu fechadu nu quintau fora du quintal nu nu como eacutenu vazu em

todu jeitu eli daacute u mastruz eacute em todu jeitu pega eli joga a sementi aqui eli nasci daiacute eli

vai crescer si eli eli tem bastanti duraccedilatildeu eli dura um ano mais di um anu neacute soacute qui eacute

assim cai a sementinha deli tambeacuteim aqueli um jaacute morreu vai ficandu velhu vai

morrendu e u otru jaacute vai nascendu aqui u mastrus eli eli eacute assim eacute na terra qui eli si daacute eacute dificilmenti eli eli si acabar porque nasci a sementinha deli assim eacute bem

pequenininha bem pequenininha mais eli antis daqueli sementinha cair eli jaacute nasci

aqui eli jaacute nasci demais aiela eacute alta muita alta natildeu mas ela daacute por aqui assim ela daacute

ateacute um metru menus dum metru um poquinhu neacute as veiz ela ela bota galinhu tambeacutem

por todu cantu as vezis quandu eacute uma terra boa ela fica bonitanatildeu ela eacute planta

caseira ela num eacute nativa natildeu ela eacute caseiraeacute compridinha a folha dela eacute compridinha

eacute soacute uma folinha i tem uns dedinhus assim qui sai uns biquinhus assim uns

bordadinhus neacute na folinha delaa flor dela eu nunca vi a flor dela bota sementinha a

flor dela eu natildeu sei comu eacute qui eacute neacute tem a sementinha a sementinha eacute agarradinha

tudu ali pela galhu dela pelu nu tronquinhu da folha dela ela jaacute bota aqueli galinhu i eacute

aqueli galinhu jaacute vai botandu a sementinha a sementinha dela eacute bem pequenininha bem uma coisinha muita muidinha mesmu( )mastruz eli tem dois nomi mastruz i erva

santa maria neacuteerva santa maria natildeu noacutes aprendemos assim pelu livru eu conheci por

mastruz mesmu aiacute depois quandu veiu um livru qui era pra gente estudar erva-santa

maria erva santa maria a genti foi ver tava laacute a fotu deli i conhecemus qui eacute o mesmu

mastruz

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para machucados anti-inflamatoacuterio

Fu Formas de

uso

As folhas satildeo amassadas e colocadas no local do ferimento ingerido ou o chaacute das

folhas

Fn Finalidade Medicinal

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

202

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

203

APEcircNDICE CCndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMelatildeo de Satildeo Caetanordquo

Fotografia 54 ndash Melatildeo de Satildeo Caetano com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 33 MELAtildeO SAtildeO CAETANO

Lx Lexema Melatildeo Satildeo Caetano

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Df Definiccedilatildeo esse ai eacuteh nativo eacute uma verele eacuteh um cipozinho beim do tipo uma trepadeira ele vai a donde tem uma arviele se apodera pra ele sobre pra laacute onde tem uma

arvoreele se pega tambeacutem ele eacuteh do clima friodo invernomais no veratildeo ele

sempre somi ele eacuteh nativo tambei ele num eacute uma planta assim ele eacuteh nativo no

roccedilado quando a gente botou no roccedilado pra genti plantar assim gosta de nascer

aiacute ele eacuteh assim ver uma arvore assim ele se apodera pra subir ele eacuteh um

cipozinho bem fininhovive junto com a planta natildeo natildeo ele eacuteh muito durativo

vai vai um certo ponto quando o veratildeo acocha muito ele fracassaeacuteh ele fica

assim bem fraquinhele eacuteh assimo jeito dele e que nem maxixe assimquando

ele taacute pegando o maxixequando agenti planta nu nu geral ele fica que ele rama

assimeacuteh o melau satildeo caetano as folhinha dele eacute pequena menor que a folha de

maxixeredondinha eacute eacuteredondinhaos galinhu delo cipozim eacuteh bem finin me

daacute aquele cipoacute eacuteh bem mais fino que o cipoacute do maracujaacute muito bem mais fininhofininho mesmo eacute eacutehela bota uma florzinha amarelinha soacute uma

florzinha amarela ( ) ai despois o frutinho deleele bota um frutinho pequeninho

eacute eacuteh assim peludinho que nem uns picozinhus quem nem maxixe redondinho

assimtambeacutem meteacute agora num sei dizer se serve pra alguma coisa faz o

remeacutedio da folhaeacuteh o chaacuteeu uso na garrafadaservipra inframaccedilatildeo

tudotodo tipo de inflamaccedilaotildeai eu pego eleeu seco e bem sequinho na

sombra ai eu uso na garrafadana garrafada que eu usopor isso eu digo as

mias garrafadas todo tipo de remeacutedio eu coloco laacuteque serve pra uma

coisaser pra outrao frutuquando ta maduro eacuteh amarelinhuquando ta

verdi parece maxixequando taacute ele amadurece fica amarelinhusimamarelo

melau satildeo caetanonatildeo sei dizer

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas na garrafada para inflamaccedilotildees

Fu Formas de uso O cha das folhas para inflamaccedilotildees e tambeacutem as folhas secas satildeo usadas na

garrafada para todo tipo de inflamaccedilatildeo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Domingas Alves de Sousa 53 anos

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

204

Informante

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Quando a planta esta verde tem aparecircncia de maxixe quando maduro na cor amarela tem aspecto de um melatildeo pequeno

Dc Data da Coleta 04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

205

APEcircNDICE DD ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMortinha Miuacutedardquo

Fotografia 55 ndash Mortinha Miuacuteda com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 34 MORTINHA MIUacuteDA

Lx Lexema Mortinha Miuacuteda

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh ela eacute parente da mortinha peluda porque eacute nativa que nem a outra ela eacute

nativa ela num eacute uma planta que a genti planta ela nasce sozinha ateacute eh eacuteh

uma erva ela eacute nativa ela eacute medicina por isso que eu digo que eacute uma erva

uma erva nativa ela daacute assim ela gosta de todos os climas clima frio clima quente porque laacute perto de casa tem uma arvi eh todo tempo tau so um jeito ser

veratildeo ou seja inverno sempre no inverno ela muda um pouquinho por que claro neacute

num seca mas daacute eacuteh todo clima ela gosta mortinha miuacuteda eacute porque ela eacute bem

piquinininha a folha dela chama mortinha miuacuteda porque ela daacute mortinha folha

mais muidinha que existi eacute ela eacute menor ainda que a erva do jabuti menor ainda

ela eacute uma folhinha ela ela eacuteh meia compridinha ela num eacute bem redondadinha natildeo

ela eacute compridinha a folha dela eacute bem miudinha agora ela sim ela eacute mortinha

porque eacute uma arve tatildeo bonitinha a genti coidando dela ela eacute uma arve bem

bunitinha porque ela daacute meio baixa ela eacute copodinha formatu duma arve de

jambreiro ela toda cheinha tem flor a flor dela eacute bem miudinha miuditinha

(risos) natildeo sei nem bem dizer eacute porque assim bem pequenininha eacute pequenininha a

florzinha dela acho que tem sementi ainda natildeo prestei atenccedilatildeo mais com certeza ela tem sementinha a mortinha miuacuteda eacute lisa a folha dela eacute menor ela eacute

liso eacuteh essa outra mortinha peluda daacute mais alto essa eacute muito baixinha a mortinha

peluda eacute maior a folha eacute maior o olho dela quando ta sim que ela brota o olho

novo eacute bem rosiozinhu da peluda essa uma natildeo eacute toda soacute verdinha la perto da

minha casa tem uma grande dessa arvore dessa arve eu jaacute perguei um filhim dela

assim assim que ela nasce ela brota o filho dela eu tirei plantei bem pertinho de

casa ta bem bonitinho nois aprendemus com a minha avoacute quando uma mulher

ganhava neneacuten neacute que natildeo tinha aquele coiso de trazer pro hospital e tudo elas

fazia o chaacute pra tomar porque a mortinha miuacuteda faz a limpeza do utro da mulher

por dentro da mulher neacute aiacute ela fazia o chaacute aiacute durante assim um eacuteh quinze dias

vinte dias ela ficava fazendo o chaacute soacute natildeo era soacute dela pegava um monte de ervas pegava a mortinha pega gengibre pegava um monte de coisas assim que elas sabiu

e fazia u chaacute e nisso ficavam tomando planta que desinflamasse isso isso ela faziau

soacute soacute que eu faccedilu o chaacute dela ela num eacute tatildeo travoso assim mas ela tem esse poder

de desinflamar a pessoa e eu conheci muito a minha matildee que a minha voacute quando a

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

206

mamatildee teve os filhos que eu jaacute me lembrava que depois de mim ela teve cinco filhos

depois de mim neacute e nesse um eu via ela fazer esses chaacute todo dia ela fazia o chaacute too dia num era o negocio de botar nesse tempo nem existia geladeira nu

exista neacute aiacute a minhacutevoacute era assim quando a minha matildee ganhava filho cada uma

hora que ela ia comer antes da refeiccedilatildeo ela tomava o chaacute de manhatilde meio dia e

de tarde e a noite ela fazia aquele chaacute antes da refeiccedilatildeo feito da folha pegava

assim tipo uns galinho bem fininho tambeacutem ele tirava aquele galinho quebrava

colocava tudinho na panelinha e cozinhava e dava e sempre nois era curiosa e

perguntava voacute pra qui eacute isso pra que servi quando ela tava fazendu uma uma

velinha muita paciente a vovoacute minha filha isso que eacute pra mulher que tem filho tem

que tomar isso tem que tomar isso que eacute remeacutedio pra fazer limpeza nois via ela

fazer soacute do resguardo quando tava de resguardo essa outra mortinha peluda fazia

assim um probrema di di menstruaccedilatildeo neacute qui eu disse naquele dia pega assim

aquelas folhas bem vermelha folha dela novinha eacute bem vermelha enrolava nas folhas colocava embaixo da cinza quando jaacute tivesse mole espremia e tirava aquele

suco aquele caldo e colocava um pouco de cachaccedila e tomava pra normaliza jaacute

conheci por mortinha nunca perguntei ela tinha a mortinha miuacuteda esse nome

de mortinha eacute porque ela eacute bem miudinha tatildeo insensivelsinha ela eacute tatildeo eu

acho essas outras porque todas elas eacute mortinha neacute mortinha de morte ((

risos))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para o poacutes-parto e regular menstruaccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Usar o chaacute para limpeza do uacutetero e diminuir o sangramento na menstruaccedilatildeo tirando o

sumo da folha e misturando na cachaccedila

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo mortinha estaacute relacionado ao tamanho da planta que eacute bem delicada

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

207

APEcircNDICE EE ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMortinha Peludardquo

Fotografia 56 ndash Mortinha Peluda com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 35 MORTINHA PELUDA

Lx Lexema Mortinha Peluda

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Df Definiccedilatildeo natildeu natildeu eacute a morti essa uma eacute a vida num eacute a morti natildeu erraru neacute pra butari a vida

butaru mortinhaeacute mais achu qui eacute ela eacute nativa tambeacuteim ela eacute uma arvri mais jaacute jaacute

bastanti maior eacute uma arvri ela trepa bastanti grandi a arvri dela u cauli dela eu jaacute

vi ate dessa grussura asim neacute teacute dessa grussura assim ela daacute na capueira tambeacuteim

assim numa capueira ela daacute na mata assim eu sei qui ela eacute nativa mais eu nunca vi ela

na mata veju eacute na capueira natildeo menor daacute menor eacute eu jaacute vi menor num sei si ela

teim eacute nativa nativa eacute qualquer clima di qualquer ambienti ela nasci podi ser baxu

podi ser terra seca ela daacute a folhinha dela eacute compridinha tambeacuteim compridinha

larguinha i a flor eu da nunca vi a flor dela eu natildeu sei dizer eu natildeu sei dizer neacute sei qui ela assim u olhu dela assim qui ela brota qui ela taacute renovada u olhu dela assim bas eacute

bem vermelhu u olhu dela assim aquela folha nova eacute beim vermelhinhu beim vermelhu

vermelhu mesmu mortinha peluda porque ela eacute cheiu di pelinhu uma uma us

galhinhu a a os galhu dela assim aquelis galhinhu ( ) eacute cheiu di pelinhu natildeu num eacute a

folha eacute eacute us talinhu us talinhu assim umrum issu natildeu nau nau eacute eacute lisu eacute lisu eacute

paacute folha qui eacute peludinhu eacute teim aquelis pelinhu mais eacute pouquin neacute por issu qui

chamu mortinha porque ela teim varus varus tipu ai pra pra mudar ai butaru mortinha

peluda mortinha( ) qui daacute beim piquininhinha mermu qui a folinha deli eacute qui neim

aqueli mato ali ai teim di otra mortinha qui eacute a vauacutena qui teim aquela qui bota uma

frutinha bem vauacutena qui chama crianccedila gosta di comer daacute muitu nu pastu negociu di

pasto assim di juquira eacute vauacutena a crianccedilada comi qui ela ela daacute qui neim num teim

azeitona essas bicha aqui comeacute nau natildeu eu nunca vi natildeu nunca vi a frutinha dela mas com certeza ela bota porque assim ela ela eacute nativa as veiz genti num vai laacute vecirc

naquela eacutepoca ela ta sim num acompanha ai por issu qui eacute mortinha peluda porque

tocirc dizendu assim tem varus tipu di mortinha i cada uma teim um nomi a mortinha

peluda a mortinha essa outra qui eacute a lisa qui eacute a vauacutena qui eu to dizendu neacute as folha

dela as folha dela satildeo igual eacute eacute muita muita muita folha muita ela eacute uma arvri

assim qui ela daacute qui ela ispalha galinhu pra todu cantu pra todu cantu ela sai galho

dela assim ai( ) i aiacute ela eacute ela eacute uma arvri travosa ela eacute travosa ela presta tantu pra

mulher eacute fazer banhu di assei u neacute ela eacute bom issu travosu sim natildeu num eacute

normau eacute eacute a folha nova dela aquela folha du quandu brota aquela folha nova qui ela

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

208

fica assim beim vermelinha i pra assim mulher quandu taacute na menopausa qui as veiz

passa daacute assim passa du dia da menstruaccedilatildeu dela passa assim por que assim teim mulher quandu taacute im menopausa assim sempri assim passa assim neacute mais dia ai

assim ai minha matildei sempri fazia assim oacute i ensinava pega aquelas folhinha da mortinha

peluda i lava ela beim beim lavadinhu i embrulha numa folha di guarimatilde i bota numa

cinza dibaixu da cinza assim pra quilu assim amulecer natildeu secar pra ficar assim pra

depois qui tiver ali sequinha qui tiver moli qui tiver cozinhadu tira dali espremi i bota

um pocu di cachaccedila i tomaela solta ela ela solta ela depois dela taacute ali neacute com aqueli

suou qui ela ta ali abafadu ela soa ela amoleci ai bota um pocu di cachaccedila i toma

tinha genti qui iacutea na casa da mamatildeie i dizia assim qui tava com essi poblema neacute as

veiz era menopausa i as mulheacute natildeu tinha essi conhecimentu qui era menopausa aiacute elas

ficavu afrontada pensava assim qui jaacute era um comeccedilu di hemorragia issu tudo neacute ( )

conversandu ( ) ai eu aprendi cum a mamatildei quandu foi certus tempus neacute ( ) issu eacute

aiacute um tempu taacute cum mas ou menus um anu i pocu eu tinha uma minha colega tava assim colega da minha minina inte filha da parenti ali du antoniu froz ali neta du

finadu antoniu froz neacute ela procuro ela mando i a dominga eu to passandu mau ela

morava nu broca ela ligo si eu num sabia di um remeacutediu por que ela jaacute tinha tomadu

tanta da garrafada qui a matildei dela tinha feitu i ela tava com essi poblema mais ela eacute

nova mulher du primeiru filhu ela taacute cum vinti dois anus pareci ela taacute cum essi

poblema ichi to seim coragi pra nada si eu num sabia ensinar um remeacutediu eu dissi a (

) natildeu eu natildeu sei ensinar remeacutediu a tua matildei porque a matildei dela trabalha com garrafada

tambeacuteim neacute a a mamatildeie fez uma garrafada pra mim eu fez foi pioraacute apioraacute mais

dominga eu to ateacute com medu i eu num quiria ir negociu di cirurgia eu num quiria di

jeitu nenhum natildeu queru mi consultar ai eu peguei ensinei vou ensinar um remeacutediu qui

a mamatildei ensinava pra mulher ai eu peguei fez uma garrafinha neacute i mandei pra ela mandei u remeacutediu i feiz uma cartinha ensinandu comu ela fazia dissi adriani natildeu vou

fazer aqui porque pra mim fazer aqui tu mora longi ela morava nu broca aiacute eu mandei

pelu carru di alunu ai depois qui eu vi ela dissi dominga graccedilas a deus aqueli remeacutediu

foi em primeiru lugar pra mim seraacute qui feiz beim feiz beim qui ichi eu neim foi neim mi

consultar aqueli remeacutediu ela mi dissi neacute ela fazia assim quandu us otru ensinavu pra

ela neacute ai ela jaacute aprendeu com voacute com a matildei dela e aiacute ela fazia natildeu eacute issu eacute ela fazia

cum eu achu qui ela jaacute aprendeu com a voacute dela cum a matildei ai prontu ela jaacute faziu aqueli

remeacutediu dava certu aiacute elas iam so passandu di voacute passar pra matildee matildei passar pra filhu

filhu jaacute passa prus netu aiacute jaacute vai

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas para problemas com a menstruaccedilao hemorragia e menopausa

Fu Formas de

uso

Utiliza-se a folha embrulhada na folha da guarimatilde esquentando no fogo depois eacute

espremida e colocada na cachaccedila

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Existem vaacuterios tipos de mortinha a planta com a folha lisa eacute chamada Vauacutena

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

209

APEcircNDICE FF ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPata de Vacardquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 36 PATA DE VACA

Lx Lexema Pata de vaca

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh abertu amplu eacute ela eacute eacute mais du friu ela eacute uma forma di pata de vaca memu

ela daacute assim neacute ela assim aiacute ela reparti uma folha ela tem dois divisatildeo uma forma

duma pata di vaca mermu ela eacuteh meacutedia ela natildeu eacuteh tatildeu pequininha mas natildeu eacuteh tatildeu

grandi tambeacutem eacuteh meacutedia eu nunca vi a flo dela porque eu essa arvre laacute diabe laacute nu

nossu setor ela duro pocus tempu ela natildeu duro tantus tempu natildeu ela natildeu chego a bota

flo eacuteh essi um eli num era tatildeu piquininhu mais eli num era tatildeo grossatildeu diabet eli era

porque ela ela foi num era era uma arvri nova porque eacute comu eu contei qui meu irmatildeo elimino ela antis du tempu meu irmatildeu num sei u qui aconteceu or mininu cortaru ela

num chegoacute a si forma eu num sei dize u tamanhu dela a grussura dela i eu diabet da

nunca vi ela im otru cantu pra mim dize oacute isso aqui eu vi essa uma laacute im casa qui foi teacute

um meu colega qui levo pra casa i deu um galhu pa minha irmatilde aiacute ela plantocirc i aiacute ela

tava jaacute um bom tamanhu aiacute agenti num tinha um diabetete di qui ela era assim tatildeo

assim valiosa neacute eli eli chegoacute diabete assim oacute diab aqui eacute remeacutediu mais eli num disse

pra qui era i pra quecirc natildeu naqueli tempu agenti num tinha ainda muita diabetete di

assim fazecirc iab assim essi tipu di trabalhu remeacutediu garrafada essas coisa aiacute ela plantocirc

laacute i soacute sei qui iab sei qui laacute a folha dela eacute assim () i ela ela creceu numa boa altura

agora achu qui aquilu inda nu era u tamanhu dela assim diabetete neacute achu qui ela

inda ia crececirc mais ela eacute meacutedia eacute uma planta eacute ela eacute uma planta eacute meacutedia eacute

meacutedia cum certeza ela eacute uma planta meacutedia natildeu soacute o cauli a folha isso agente usa a folha dela pra remeacutediu i a casca pra fazecirc u chaacute pra diabete neacute () me diabet qui ela eacute

boa pra diabete ela eacute folha i casca

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo utilizadas as folhas e o caule para Diabetes

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome tem relaccedilatildeo com o formato da folha (pata de vaca)

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

210

APEcircNDICE GG ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeacute de Galinhardquo

Fotografia 57ndashPeacute de Galinha com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 37 PEacute DE GALINHA

Lx Lexema Peacute de Galinha

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminologico Feminino

Df Definiccedilatildeo ela eacute uma erva ela eacute uma erva ela eacute nativa ela daacute nu pastu assim neacute tipu um capim

ela eacute um capim( ) soacute qui ela daacute u formatu di um peacute di galinha mermu ela nasci aqui u

pezim deli ali ela ispalha mais naquela a dondi ela espalha ali us pezim eacute qui ela bota

a sementinha uma pequena semetinha tambeacuteim beim piquenininha ela eacute mais ou

menus meiu palmu assim beim miudinha teim sim sim ela bota o caulizinhu qui eacute u

peacute di u formatu di uma perna di galinha mermu u formatinho neacute bota aqueli caulizinhu ai na pontinha deli qui ela espalha u pezinhu aquelas folinha prum ladu i pra otru fica

nu formatu di um peacute di galinha eacute eacute issu eacute nu invernu eacute eim qualquer tempu eacute

qualquer cantu ela daacute achu qui eacute por causa du formatu noacuteis conhecemus tambeacuteim

cum ela neacute cum ela queacute dizer quandu otra pessoa tava com dor di denti ela mandava

fazer u chaacute assim quandu tava com aquela dor di denti assim cum inchaccedilu aiacute ela

mandava fazer u chaacute faz u chaacute du peacute di galinha pra fazia u chaacute esfriava i tomava ali ( )

porque naqueli tempu edilene era difiacutecil assim ah qualquer coisa ir pru hospital

qualquer coisinha aqueli tempu natildeo tinha aacute cecirc eacutesi natildeu tinha aqui era muitu difiacutecil pra

genti vir aqui pra paacute neacute uma consulta uma coisa a minha voacute a minha matildei num foru

acostumada assim qualquer coisinha taacute nu hospital qualquer coisinha sentia uma dor

di cabeccedila ah eu vou pru hospital vou pru hospital di jeitu ninhum num era dessi jeitu natildeu a minha voacute eu conheci ela qui eu tocirc com cinquenta anu cinquenta i dois anu eu

nunca vi ela dizendu assim eu queru ir pru hospital eu tocirc cuma dor di cabeccedila eu tocirc

cuma dor di barriga eu tocirc com uma diarreia eu queru eacute ir pru hospital nunca ouvi

nunca nunca nunca sabi comu eu nunca vi soacute remeacutediu caseru agora fossi na casa

dela neacute ela ( ) uma panelinha di barru qui ela usava panelinha di barru aiacute di manhatilde

ela preparava ela pegava eacute denti di alhu quandu natildeu tinha u denti era casca du alhu

um bucadu di coisa mastruz botava laacute aiacute cozinhava noacuteis chegava laacute qui noacutes era

curiosa neacutevovoacute pra qui eacute issu aqui eacute pra mim beber mais u qui eacute que secirc tem voacute nada

meu filhu issu eacute remeacutediu mermu mi deu na cabeccedila deu fazer as vezis ela dizia assim eu

amanheci assim com uma dozinha nu meu estocircmagu uma coisa um ventu uma coisa

assim quasi naquilu eli si curavu naquilu ela nunca foi eu nunca vi ela num hospital natildeu assim dizendu eu queru ir eu vou mi consultar mi levu pra mi consultar nunca eu

mais saudia era ela quandu adoeceu foi pra morrer velhinha jaacute quandu ela adoeceu

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

211

foi pra morrer i ela foi assim ela caiu aiacute sI bateu neacute ai u titiu ainda ainda quis levar

ela pra consulta pru hospital ela num quiz ir di jeitu nenhum ela dissi qui natildeu adiantava ela ir qui ela sabia qui ela natildeu ficava boa era tempu dela morrer i ela jaacute

tava velha di idadi ela jaacute andava devagarinhu u titiu anda feiz umas consulta assim

pra ela foi consultar i trouxi umas injeccedilatildeo mais ela natildeu ficou boa mermu mais natildeu

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de dente e inchaccedilo na boca

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dores de inchaccedilos nos dentes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem aspecto de um peacute de galinha

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

212

APEcircNDICE HH ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeatildeo Brancordquo

Fotografia 58 ndash Peatildeo Branco com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 38 PEAtildeO BRANCO

Lx Lexema Peatildeo Branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma planta eacute caseira clima tantu faz ela gostalugar que eleela ela gosta

tantu faz eacuteh aela eacute bem resistente inverno veratildeo veratildeo ela eacute resistente ela sim a

folhadela eacute media ela eacute redondafolha dela verdio fruto delaelabota assim

tipohum tipo caixinho ai dentro da da daquele cachu da a sementi neacutebota as

sementinhas e quando a genti pega dentro aquela caixinha tem sementinha delaque

a gente abre o remeacutedio e a sementi dela que eacuteh o remeacutedio ela da o cacho bota o cacho

assimas pontinhas daqueles coisinhus assimbota o fruto ai dentro do fruto

daquelas daquelas cachopinhos parte que taacute a sementinha a sementinha preta dela

ela bemeacuteh a sementi que usa no caso do peau a folha dela eacute remeacutedio prano caso ta com dor de cabeccedila uma ma tontura mucha a folha dela a folha do peatildeo branco

mucha um pouco no fogo passa um pouco de alho e coloca na testa e pra tontura

neacuteminha voacute fazia cuando algueacutem com tontura fazia issoaiacute o leite dele que a genti

corta assim o caule dele sai dele uma aguazinha eacute e tambeacutem muito esse noacutedia se pegar

na roupa da genti tem que ter muito coidadu usar o leitiele aiacute si tiver crianccedila que

tiver ferida na boca antau dor de denti muito celente pra usar o leiti corta o leitizim

dele bota numa esponjinha de algodatildeo e coloca no denti ferida na tambeacutem eacute bom

tambeacutem agenti pega apara o leiti dele bota um pouquim de sal e coloca na boca da

crianccedilaa sementi delea genti pega a semnetinha dele aquela sementi num eacuteh tao

pequenininha ela eacute muito bem maior que a sementi de urucumbem maiora genti pega

elaeh uma crianccedila tiver com tossetiver ehproblema daquela asmaela servi pru bucado de coisas as veis febre as veis fartiu a crianccedila num quer comerse pega ele

assim parte aquele sementinha tem o coidado de tirar a folhinha porque agenti fica

olhando assim agenti percebi a folhinha dele que ta dentro daquela sementinhauma

folhinha dentroassim pra nascer neacuteaquela folhinha assim quando ela ela agenti

parte jaacute percebi a folhinha jaacute ta li aquela folhinha agenti tem que tirar tudinhu na

mimpega uma faca tira tudinhu e pega aquela sementinhaela eacute que nem uma coco

que nem um coquinho assim neacuteaquela massinha ai pega faz umbota ela pra

assarbotaela fica amelinhaai pega pisa pisa e da pra crianccedila pouco tambeacutem

neacutemuito natildeo porque se der muito ele da um acesso de vomito que eacute forte eacutehisso aiacute

eacute remeacutedio mas neacute todo mundo que sabe fazer e eacute difiacutecil de ensinar pro outra pessoa

fazer remeacutedio caseiro tem essa ciecircncia neacutepurque a genti natildeo sabendo fazeragenti

ateacute evita de ensinar pra uma pessoa porque ele natildeo tem costume de fazerele tem

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

213

ciecircncia remeacutedio caseirotem chaacute que a genti pode beber o tanto que fornatildeo ta nem

aimas agortem remeacutedio caseiroo peatildeoo peatildeo eacute muitoa mimha matildee fazia pra nois agenti comeccedila a tossirnois era muito neacuteuins tussindu as veis gripadu ela

tiravaela tirava aquela folhapegava uma pontinha da faca ehmae o que eacute isso

no crianccedila curiosa sabe coma eacute neeh olhe isso eacute afolha que tem que tirar se comer

com essa folha morre ela dizia neacuteeacute veneno essa folha tem que tirar e assava so as

bandinhas ela pegava um espetinhu fazia uns espetinhos bem fininhu botava pra

assar so na quentura despois ela moiacutea assimdava para nois comerquando dava

certo ela misturava com qualquer coisaquando dava certo quando natildeo dava

assim quando nois jaacute era entendidopor meus filhos eu nunca fizeu jaacute comimais

eu nunca fiz nuca cheguei a fazer eu sei fazereu sei preparar do jeito que minha matildee

fazia pra nois nunca dava nunca dava mais de uma sementicom a folhinha muito

coidado com aquela folhinha de dentro da sementi

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e tontura Do caule eacute retirado um leite para dor de dente feridas na boca A semente eacute usada para febres e vocircmitos

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dor de cabeccedila para tontura a folha eacute esquentada com um

alho e colocada na lateral dos olhos O caule tem um leite que eacute retirado para colocar

com um pouco de sal nos casos de dores no dente ou feridas na boca Dentro da

cachopinha da planta tem a sementinha que eacute assada e triturada para acessos de

vocircmitos e febres

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Dentro da sementinha da planta existe uma folhinha bem pequena que deve ser retirada

para o preparo do remeacutedio segundo seu saber a folhinha eacute venenosa por isso nem

todos sabem preparar a medicaccedilatildeo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

214

APEcircNDICE II ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoQuebra Pedra Brancordquo

Fotografia 59 ndash Quebra Pera Branco com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 39 QUEBRA PEDRA BRANCO

Lx Lexema Quebra Pedra Branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminologico Feminino

Df Definiccedilatildeo eacute uma erva uma erva ela eacute ela achu qui pertenci um poquinhu friu um puquinhu

quenti ela tambeacuteim daacute assim ela tambeacuteim daacute nessa eacutepoca assim di natildeu muita chuva

natildeu muitu sol sempri ela ela gosta di daacute i ai tambeacuteim ela ela eacute nativa tambeacuteim ela

nasci assim tambeacuteim pelu quintau nu canteru sozinha ela nasci e ai quandu chega u

veratildeu qui eacute u veratildeu aperta muitu aqueli veratildeu di novembru dezembru ela morri ela si acaba natildeu ela eacute assim num teim u cuminhu di planta u cuminhu di planta jaacute viu u

cuminhu di planta natildeu natildeu sim sim sim () aqueli cuminhu qui a genti planta nu

canteru neacute pois eacute eli eacute daqueli jeitu eacute u formatu da di cuminhu sim sim sim pois eacute

natildeo mais quandu a genti dexa eli crescer eli da sementi eacute eli num cresci porque

quandu chega aquela eacutepoca a genti tem qui arrancar pra planta otru pra genti vender

daqueli jeitu neacute mais deixandu eli sementa i a a quebra pedra eli fica na formatu di

duma arvri di cuminhu di planta i ai eli a folha deli eacute beim muiditinha eli eacute eli eacute uma

avre assim pequeninha tambeacuteim e a a folha deli eacute bem miudititita assim a folhinha

deli mais ou menu eacute a folhinha daacute muita piquinininha tambeacutem mas daacute florzinha

dela beim miudititita ela teim teim teim natildeu natildeu natildeo natildeo eacute uma plantinha

piquinininha mas eacute uma planta eacute qui neim qui neim u cheiru verdi qui nem u cheiru verdi eu nunca vi u cheiru verdi assim di flor neacute mas eu jaacute vi mas eli eacute qui neim u

cheiru verdi assim a avrinha deli ai daacute daacute us galhinhu daacute as folhinhas beim miuditita

assim porque eli distroacutei as pedra di rim neacute achu qui eacute por issu qui u nomi deli eacute

quebra pedra quebra pedra eu aprendi nu livru tambeacuteim nu livru foi qui eu

aprendi issu foi a minha matildei i minha voacute a minha matildei i minha voacute qui muitas dessa

essa daiacute agenti sabia dessi nomi quebra pedra agora natildeu sabia a importacircncia qui eli

tinha mas u nomi a genti jaacute sabia por que ela eacute branquinha a a folha porque teim di

duas marca tem du roxu i teim du branquinhu i u bom eacute o que eacute branquinha

piquininha i branquinha i du roxu eli eacute du mesmu formatu mas soacute qui eli eacute roxinhu

tambeacuteim eacute a folha eacute a folha a raiz i assim a genti arranca ela tudu i lava i bota pra

fazer u chaacute deli completu folha cum raiz cum tudu

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de As folhas satildeo usadas para problemas renais

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

215

uso

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes contra as pedras nos rins e na garrafada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome da planta tem relaccedilatildeo com a funccedilatildeo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

216

APEcircNDICE JJ ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoSalsardquo

Fotografia 60 ndash Salsa com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 40 SALSA Lx Lexema Salsa

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo natildeu a salsa di remeacutediu eacute otra ela eacute du ela tantu faiz pra ela ela gostu du du mais

ela eacute du ambienti mais friu um tempu dessi( ) ela ela podi passar u veratildeu mas ela num

morri mais natildeu ela fica assim meia fraquinha amareladinha mais ela num morri

quandu chega u invernu ela renova tudim ela fica toda renovada e ai a folha dela eacute

bastanti grandi tambeacuteim eacute assim num formatu dum coraccedilatildeu tambeacuteim ela soacute qui ela eacute

mais grandi e eacute eacute um cipoacute tambeacuteim ela eacute cipoacute quandu quandu daacute certu dela subi ela

sobi mais ela eacute du chatildeu du chatildeu eacute du chatildeu natildeu natildeu eacute sobi eacute eacute si ela ver otra otra

planta ela sobi i aqui ela jaacute bota u cipoacute ela jaacute jaacute sobi aqui se der certu prela descer i

ela vai dandu cipoacute i vai dandu raiacutezes nu cipoacute i vai i pegandu vai indu ela num eacute aquela

raiz soacute nu peacute dela natildeu ela vai botaacute nu u cipoacute i vai i vai raizandu issu daiacute eu num sei dizer eu conheccedilu por essi nomi ( ) eacute porque natildeu eacute ela eacute nativa eacute eacute nativa teacute nu

lugar qui ela daacute qui ela nasci eacute difiacutecil ela ateacute si acabar natildeu soacute salsa eacute eacute eacute porque

a du temperu ela eacute qui neim cheiru verdi neacute du mesmu jeitu du cheiru verdi a salsa du

temperu i essa uma natildeu ela eacute um cipoacute ela daacute assim pertu di casa teim uma a genti

luta paacute acabar essi comecirc di rola ocirc ocirc essi que daacute eli daacute mais nu roccediladu eacute elas vatildeu

a salsa teim muitu laacute pertu di casa ela chega nu terreru eu cortu eu arrancu soacute qui ela

eacute difiacutecil dela si acabar ela fica escondidinha ela fica to dizendu nu veratildeu ela fica

amarelada soacute qui ela num si acaba pa dizecirc morreu natildeo noacuteis arranca noacuteis corta ela

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas em alimentos

Fu Formas de

uso

Usam-se as folhas como cheiro verde serve para dar sabor no alimento

Fn Finalidade Tempero

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

217

APEcircNDICE LL ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoVassourinhardquo

Fotografia 61ndashVassourinha com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 41 VASSOURINHA Lx Lexema Vassourinha

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ela eacute nativa ela nasci tambeacuteim nu paacute assim terreru nu quintal sempri a vassorinha

sempri ela gosta mais assim assim du molhadinhu du uacutemidu eacute mais nu veratildeu ela eacute

bastanti resistenti tambeacuteim nu veratildeu eacute com certeza eacute natildeu uma arvrizinha tambeacuteim

uma arvri piquinininha mas ela eacute arvri num eacute rastera natildeu num eacute grama ela eacute formatu

duma vassora bota arvrinha aqui daqui espalha us nasci us galinhhu neacute ela espalha aiacute teim a folha dela eacute qui neim a folha di mastruz ela eacute mais menas mais eacute u mesmu

formatu da folha di mastruz assim eacute uma folinha uma folinha com com um frizadinhu

assim soacute qui pequena eacute menozinha um pocu du qui a folha di mastruz i aiacute a sementinha

dela eacute beim pequenininha tambeacuteim daacute umas bolinha assim umas bolinha qui neim um

pirulituzinhu uma coisa soacute qui eacute beim piquininha neacute aiacute ela bota a sementinha dela

tambeacuteim sim a florzinha dela eacute assim meia roxinha beim piquininha a florzinha dela

bem piquininha assim meia roxinha branquinha assim um roxozinhu claru eu

aprendi com a minha voacute tambeacuteim com us meus tiu inteacute quandu quandu eu tinha um tiu

vinha a ser tiu da mamatildei a genti considerava qui neim avoacute eli eli benzia dor denti aiacute

quandu eli chegava uma pessoa laacute agrave eu vim aqui pra oce benzer meu denti eli taacute

doendu num sei u quecirc eli mandava vai apanhar uma vassorinha um galhinhu di

vassorinha pra mim com aqueli cum aqueli galhinhu di vassorinha qui eli fazia u trabalhu deli assim benzia neacute ai agenti aprendeu aiacute as depois ai tinha veiz qui eli fazia

eu fazia aqueli trabalhu ai depois as veiz eli dizia olha au chegar na tua casa pega

dois dois trecircis pontinhas di folha di vassorinha i pisa com pouquin di sal i coloca

quandu u denti tinha aqueli coisa neacute aquela furadu neacute bota um pouquin di sal i coloca

ai genti fazia era u remeacutediu qui eli mandava i ficava bom ai conheci por vassorinha

porque a vovoacute tambeacuteim dizia qui era era um vassorinha porque eacute eacute pa ensinar crianccedila

pequenu tira um galhu di vassorinha i meti nais costa dessi safadu por qui galhu di

vassorinha num doacutei muitu eacute pra ensinar crianccedila pequena neacute aiacute tinha qui dizer assim

ai tambeacuteim antigamenti ar mulher faziu vassora pra varrer da planta apanhava

dondi tinha muitu neacute apanhavu ela i amarravu assim aqueli fexu aqueli monti i botavu

num cabu di pau i faziu vassora pra varre dondi num natildeu natildeu ela eacute beim ela eacute beim uma uma beim cheinha eacute uma plantinha pequeninha mais ela eacute cheia ela eacute quasi qui

neim u mastruz( ) eacute u mastruz eli espalha mais eli eli eli cresci assim mais grandi eli

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

218

bota mais assim eli fica maioacute a a vassorinha ela eacute um formatu di uma arvri di

jambreru soacute qui eacute piquininha mais eacute naqueli formatinhu qui ela eacute di jambreru nativa eacute pra alergia tambeacuteim eacute banhu fazer u banhu dela qui eacute pra

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de dente

Fu Formas de

uso

Pega-se a folhinha amassa com sal e coloca em cima do dente

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta era usada como vassoura pelas mulheres por ser bem encorpada aleacutem disso

usava para disciplinar as crianccedilas e tambeacutem em rezas pelo tio

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Page 2: Estudo Terminológico das Plantas Medicinais da Comunidade ...

1

ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO

Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade

Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do

Paraacute - PA

Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do

Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Orientadora Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas

BRAGANCcedilA-PARAacute

2015

2

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFPA

___________________________________________________________________________

Salomatildeo Antonia Edylane Milomes 1978 ndash

Estudo terminoloacutegico das plantas medicinais da comunidade remanescente de

quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do Paraacute - PA Antonia Edylane Milomes Salomatildeo -

2015

Orientadora Raimunda Benedita Cristina Caldas

Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal do Paraacute Campus de Braganccedila

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia Braganccedila 2015

1 Linguagem e Liacutenguas 2 Plantas medicinais -Terminologia 3 Palavras e

expressotildees 4 Quilombos - Santa Luzia do Paraacute(PA) 5 Quilombolas - Santa Luzia do

Paraacute(PA) I Tiacutetulo

CDD 23 ed 4014

___________________________________________________________________________

3

ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO

Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade

Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do

Paraacute - PA

Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo

em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do

Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Aacuterea de concentraccedilatildeo Leitura e Traduccedilatildeo Cultural

Aprovada em ______ ______ ______

Conceito _________________________

Parecer Final ______________________

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas (UFPA-Campus de Braganccedila)

Orientadora

________________________________________________

Prof Dr Elias Mauriacutecio da Silva Rodrigues (UFRA-Campus Capanema)

Membro Externo

_________________________________________________

Profordf Drordf Tabita Fernandes da Silva (UFPA-Campus de Braganccedila)

Membro Interno

_________________________________________________

Profordf Drordf Carmen Luacutecia Reis Rodrigues (UFPA-Campus de Castanhal)

Suplente

4

Dedico este trabalho ao meu esposo

Haroldo Jorge e minha filha Maria

Lorenna pelo apoio incondicional e

constante incentivo Aos meus familiares e

amigos pela paciecircncia incentivo e

amizade

5

AGRADECIMENTOS

A DEUS

Ele colocou pessoas tatildeo especiais a meu lado sem as quais natildeo conseguiria alcanccedilar e nem

superar as dificuldades dessa caminhada Meu eterno louvor e gratidatildeo ao Senhor de minha

alma Obrigada sempre

Agrave Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas

Por acreditar em mim me mostrar o caminho da ciecircncia por ser exemplo de profissional e de

mulher a qual sempre seraacute modelo na minha vida Muitiacutessimo obrigada

Aos Professores

Profa Dra Raimunda Benedita Cristina Caldas Prof Dr Guumlnter Karl Pressler Profa Dra

Sylvia Maria Trusen Profa Dra Carmen Lucia Reis Rodrigues Profa Dra Tabita Fernandes

da Silva Profa Dra Roberta Alexandrina da Silva Prof Dr Joseacute Guilherme dos Santos

Fernandes Prof Dr Pedro Petit Pentildearrocha Profa Dra Georgina Negratildeo Kalife Cordeiro

Prof Dr Flavio Leonel Abreu da Silveira Prof Dr Luis Junior Costa Saraiva Prof Dr

Salomao Antonio Mufarrej Hage Profa Dra Nilsa Brito Ribeiro Profa Dra Maria do

Perpetuo Socorro Galvatildeo Simotildees pelas contribuiccedilotildees nas disciplinas ministradas e no curso

em geral Obrigada a todos

Ao Prof Dr Elias Mauriacutecio

Pela amizade que transcende ao tempo pelo incentivo e contribuiccedilatildeo para que eu pudesse

realizar esse sonho Meu sincero e especial obrigada

Ao Prof Dr Jair Cecim

Que me fortaleceu e me fez tentar natildeo ser a melhor mas fazer o melhor de mim Obrigada

Agrave senhora Domingas Alves

Suas contribuiccedilotildees foram basilares nesse estudo Sempre disponiacutevel e disposta a ajudar com

seus saberes a senhora me fez enxergar que existe um mundo infinito de conhecimentos que

ultrapassam geraccedilotildees atraveacutes das lutas e das conquistas alcanccediladas pela forccedila de um povo

Muito obrigada por tudo

Agrave senhora Nazareacute Guirard

Que se mostrou incansaacutevel e atenciosa contribuindo significativamente com informaccedilotildees

fundamentais nos trabalhos com as plantas e respeito agrave natureza Sempre obrigada

Aos moradores quilombolas de Pimenteiras

Por me receberem e acolherem na comunidade respeitando e contribuindo espontaneamente

para que o trabalho demonstrasse sua histoacuteria e identidade Todos merecem meu eterno

agradecimento

6

Aos meus pais Zaqueu Alves e Lucia Salomatildeo

A quem amo muito obrigada pelo carinho paciecircncia e incentivo Meu infinito

agradecimento Amo muito vocecircs

Aos meus irmatildeos Joseacute Weliton e Maria Helem

Pela dedicaccedilatildeo e auxiacutelio nos momentos difiacuteceis vividos em nossas vidas Obrigada

Ao meu esposo Haroldo Jorge

Meu amor que sempre acreditou em minha capacidade meu companheiro que se dedicou

espontaneamente a me acompanhar ajudar e me equilibrar nos momentos de dificuldades

Devido ao seu companheirismo amizade paciecircncia compreensatildeo apoio alegria e amor este

trabalho pocircde ser concretizado Obrigada por ter feito do meu sonho o nosso sonho Te amo

Agrave minha pequena e amada filha Maria Lorenna

Sua presenccedila em minha vida trouxe um incentivo a mais para continuar Natildeo eacute por mim mas

por vocecirc meu amor que sempre busco alcanccedilar e ser o melhor Amo vocecirc meu cheirinho

As amigas Alaiacutece Pereira Alcilene Morais Sara do Socorro

Que diretamente fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando Meu

eterno agradecimento pela amizade Valeu meninas

As amigas do Mestrado

Pelos momentos divididos juntos especialmente agrave Myrceia agrave Michelly Adriana Elizabete e

Aldilene que se tornaram verdadeiras amigas e tornaram mais leve meu trabalho Obrigada

por dividir comigo as anguacutestias e alegrias e ouvirem minhas bobagens Foi bom poder contar

com vocecircs

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Por abrir as portas para que eu pudesse realizar este sonho que eacute a minha Dissertaccedilatildeo de

Mestrado Vocecircs proporcionaram-me mais que a busca de conhecimento teacutecnico e cientiacutefico

mas uma liccedilatildeo de vida Ningueacutem vence sozinho OBRIGADA A TODOS

7

ldquoHaacute um casamento que ainda natildeo foi feito no Brasil entre o saber

acadecircmico e o saber popular O saber popular nasce da experiecircncia

sofrida dos mil jeitos de sobreviver com poucos recursos O saber

acadecircmico nasce do estudo bebendo de muitas fontes Quando esses

dois saberes se unirem seremos invenciacuteveisrdquo

Leonardo Boff (1938)

8

RESUMO

O presente trabalho traz um levantamento dos termos sobre as plantas de uso medicinais

catalogados e utilizados pelos moradores remanescentes de quilombola da comunidade de

Pimenteiras pertencente agrave cidade de Santa Luzia do Paraacute no Estado do Paraacute cujo

procedimento de anaacutelise parte de conhecer as praacuteticas dos saberes no fazer uso das plantas

medicinais nessa comunidade Foram elencados aspectos relacionados com a comunidade

suas origens e seus saberes sobre as plantas medicinais que se tornaram siacutembolo de

identificaccedilatildeo cultural dos moradores quilombolas Assim nosso propoacutesito eacute mostrar que a

linguagem eacute algo que identifica e marca as caracteriacutesticas de um grupo ou de um indiviacuteduo

do mesmo modo que a liacutengua de especialidade sobre as plantas de uso medicinal utilizada

pelos moradores quilombolas revela uma identidade cultural forte desse grupo Os estudos

terminoloacutegicos de Krieger e Finatto (2004) serviram de base para analisarmos os termos e

suas especificidades no contexto particular da linguagem assim como a abordagem

socioterminoloacutegica de Faulstich (1994 1995 1996 2001 2003 2006) propiciou observar

por meio dos termos suas construccedilotildees variaccedilotildees e definiccedilotildees no que concerne ao

conhecimento repassado entre as geraccedilotildees Construiacutemos este trabalho utilizando uma

metodologia com instrumentos usados antes durante e apoacutes a pesquisa para a anaacutelise dos

dados coletados Os recursos da informaacutetica entrevistas transcriccedilotildees de diaacutelogos orais fichas

terminoloacutegicas e registro de imagens foram alguns dos meacutetodos usados na construccedilatildeo do

trabalho Em suma observamos que o saber da cura por meio das plantas medicinais estaacute

preservado na memoacuteria e na liacutengua dos moradores quilombolas da comunidade de

Pimenteiras

Palavras-chave Plantas Medicinais Saber Tradicional Identidade Cultural Terminologia

Socioterminologia Termo

9

ABSTRACT

This paper presents a survey of the terms on the medicinal use of plants cataloged and used by

the remaining residents of Pimenteiras community maroon belonging to the city of Santa

Luzia do Paraacute in the state of Para whose analysis procedure of knowing the practices of

knowledge to make use of medicinal plants in this community Aspects of the community

were listed their origins and their knowledge about medicinal plants that have become a

symbol of cultural identification of quilombo residents So our purpose is to show that

language is something that identifies and marks the characteristics of a group or an individual

just as the specialty of language on the medicinal use of plants used by the quilombo residents

reveals a strong cultural identity of this group The terminology studies Krieger and Finatto

(2004) formed the basis for reviewing the terms and their specificities in the particular context

of language as well as socioterminological approach Faulstich (1994 1995 1996 2001

2003 2006) led to observe through terms of their buildings variations and definitions

concerning the knowledge passed on between generations We developed this work using a

methodology tools used before during and after searching for the analysis of the collected

data computers resources interviews oral dialogue transcripts terminology records image

recording these were some of the methods used in the development of the work In short we

see that the knowledge of healing through herbs are preserved in memory and language of the

quilombo residents in Pimenteiras community

Keywords Medicinal Plants Traditional knowledge Cultural identity Terminology

Socioterminology Term

10

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade 33

Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras 33

Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas 34

Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada 35

Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda 36

Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas 37

Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento 37

Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena 44

Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico 44

Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o

funcionamento do organismo 45

Fotografia 11 ndash Salsa dissecada 45

Fotografia 12 ndash Canela dissecada 46

Fotografia 13 ndash Vinagreira dissecada 46

Fotografia 14 ndash Mucuracaacute 95

Fotografia 15 ndash Folha do Mucuracaacute 95

Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti 98

Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti 98

Fotografia 18 ndash Noni 100

Fotografia 19 ndash Folha do Noni 100

Fotografia 20 ndash Pataca 102

Fotografia 21 ndash Folha da Pataca 102

Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata Pasto 105

Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem 105

Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo 108

Fotografia 25 ndash Folha de Vassoura de botatildeo 108

Fotografia 26 ndash Nambu Tutano 110

Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano 110

Fotografia 28 ndash Paratudo 115

Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo 115

Fotografia 30 ndash Gergelim Branco 118

Fotografia 31 ndash Folha do Gergelim Branco 118

Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho 121

Fotografia 33 ndash Folha do Urucum Vermelho 121

Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho 123

Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho 123

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute 96

Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti 98

Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni 100

Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca 103

Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-de-Muquem 105

Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo 108

Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano 110

Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo 112

Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo 115

Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco 118

Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho 121

Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho 123

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 PIMENTEIRA OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE

QUILOMBOLA 18

21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA 19

211 Remanescentes o que restou 22

212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras 25

22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO 28

221 Ladainha agrave Nossa Senhora do Livramento 31

222 AQUAFAP O desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola

nos saberes das plantas medicinais 39

223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico 42

23

SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM

PIMENTEIRAS 47

231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes 51

232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais 53

233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes 55

234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais 58

3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 61

31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL 62

311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular 65

32

A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS

ESPECIALIZADOS 68

321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada 70

33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL 73

331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da

Socioterminologia 76

332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico 79

4 METODOLOGIA 85

41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE

PIMENTEIRAS 86

42 A PESQUISA DE CAMPO 87

43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS

DADOS 89

431 Entrevistas 89

432 Recursos de anaacutelise dos dados 90

433 Termos Catalogados 90

5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE

UM POVO 92

51 MUCURACAacute 94

52 ERVA DE JABUTI 97

53 NONI 100

54 PATACA 102

55 PAU-DE-MUQUEM 104

56 VASSOURA DE BOTAtildeO 107

57 NAMBU TUTANO 109

58 QUEBRA PEDRA ROXO 112

59 PARATUDO 114

13

510 GERGELIM BRANCO 117

511 URUCUM VERMELHO 120

512 ERVA DE PASSARINHO 122

6 CONCLUSAtildeO 127 REFEREcircNCIAS 132 APEcircNDICES 143

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

ldquoSou apenas um escritor Um cultivador Um jardineiro Um florista A minha

felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me

excita quando acabo de as colherrdquo

Joaquim Pessoa (1948)

A liacutengua traz em seu contexto a identidade cultural de um povo A partir desta

questatildeo procuramos discorrer na presente dissertaccedilatildeo sobre o ldquoEstudo Terminoloacutegico das

Plantas Medicinais da Comunidade Remanescente de Quilombola de Pimenteiras em Santa

Luzia do Paraacute ndash PArdquo As experiecircncias vividas em grande parte de minha vida na cidade de

Santa Luzia do Paraacute me fizeram conhecer diversas comunidades proacuteximas agrave regiatildeo

comunidades com caracteriacutesticas fortes que marcam a identidade dos moradores e de toda

sociedade luziense

Por conhecer e vivenciar os saberes e a cultura das comunidades de Santa Luzia do

Paraacute escolhemos particularmente a comunidade de Pimenteiras por ser uma regiatildeo rica em

sua biodiversidade e por querer mostrar os saberes que os moradores quilombolas possuem

sobre a terra suas origens e seus saberes medicinais Contribuiu para o levantamento da

pesquisa a receptividade dos moradores de Pimenteiras que permitiram conhecer melhor sua

cultura diversidade na natureza e seus anseios de conseguir a titularidade da terra quilombola

A comunidade de Pimenteiras fica localizada na regiatildeo rural de Santa Luzia do Paraacute

a cerca de 30 km de distacircncia da cidade em uma estrada sem asfalto com caminho de difiacutecil

acesso o que inviabiliza agrave populaccedilatildeo desta comunidade assistecircncia agraves suas necessidades

baacutesicas Formada por moradores de origem quilombola muitas famiacutelias chegaram a este local

haacute muitos anos tendo saiacutedo da comunidade de Narciacutesea na cidade de Capitatildeo Poccedilo ndash PA em

busca de melhorias para o sustento de suas famiacutelias Pimenteiras eacute uma comunidade cujos

moradores buscam por meio do conhecimento e valorizaccedilatildeo de suas raiacutezes fortalecer seus

viacutenculos com a terra e a natureza a sua volta Deste contato especial com a natureza os

moradores conhecem e utilizam seus saberes na aacuterea da medicina tradicional

O saber da cura por meio da medicina popular continua preservado no falar dos

moradores remanescentes de quilombolas pelas informaccedilotildees sobre a influecircncia negra e

tambeacutem indiacutegena A manipulaccedilatildeo os cuidados com as plantas a forma de cultivo as relaccedilotildees

associativas nos nomes das plantas medicinais vecircm de longas geraccedilotildees que sofreram e

15

sobreviveram com a ajuda da natureza Eacute diante do saber preservado na liacutengua dos moradores

quilombolas que desenvolvemos este estudo sobre os termos das plantas medicinais

Com o intuito de conservar o saber das geraccedilotildees mais antigas um pequeno grupo da

comunidade quilombola registrou amostras de plantas medicinais da regiatildeo em que vivem

cada espeacutecie com os nomes de uso popular que os moradores conhecem pois observamos

que dentre os nomes registrados para uma mesma espeacutecie de planta ocorrem variaccedilotildees na

nomemclatura

Entender como uma comunidade guarda e preserva seus saberes por meio da liacutengua eacute

de suma importacircncia para o andamento deste estudo de cunho popular e cientiacutefico

Compreender como a liacutengua se mistura e se reinventa nos usos de um povo eacute o que mais

chama nossa atenccedilatildeo nos aspectos dos estudos do termo Levando em consideraccedilatildeo que

nenhuma Liacutengua eacute homogecircnea efetivamos um pequeno estudo sobre a liacutengua suas relaccedilotildees e

interferecircncias na sociedade Percebemos que a utilizaccedilatildeo das plantas medicinais eacute uma praacutetica

universal na medicina popular pois eacute o resultado do acuacutemulo de conhecimentos empiacutericos

sobre a accedilatildeo dos vegetais por diversos grupos eacutetnicos

No decorrer dos estudos observamos que haacute diversas expressotildees populares

direcionadas ao uso dos vegetais para a sauacutede tais como ervas caseiras folhas medicinais

vegetais medicinais ervas medicinais e plantas medicinais Estas diferentes expressotildees dos

termos ocorre por questotildees culturais que variam de uma comunidade para outra De modo

particular utilizamos neste trabalho os termos ldquoplantas de uso medicinalrdquo ou ldquoplantas

medicinaisrdquo Por fazer parte do falar de uma comunidade os termos catalogados sobre as

plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras foram analisados no contexto da linguagem

de especialidade que eacute campo de estudo da Terminologia

Dentre as ciecircncias que estudam o leacutexico a Terminologia1 estuda um subconjunto da

liacutengua relacionado a uma aacuterea especiacutefica do conhecimento humano esse subconjunto eacute

composto por signos especializados que chamamos de termos Quando o uso da liacutengua passa

por um processo de transformaccedilatildeo no qual certas palavras adquirem uma significaccedilatildeo dentro

de um domiacutenio de conhecimento particular entre um grupo de falantes que compartilham da

mesma aacuterea de conhecimento essa particularizaccedilatildeo eacute de domiacutenio da linguagem de

especialidade e o termo eacute seu objeto de uso

Eacute nesse contexto que a Terminologia direciona seu olhar ao fator social na anaacutelise

dos dados linguiacutesticos Com isso surge a Socioterminologia como um campo teoacuterico e

1 Haacute uma tendecircncia a convencionar que Terminologiagrafada com T maiuacutesculo eacute indicativa de campo de

conhecimento e com t minuacutesculo eacute referente ao conjunto de termos de uma especialidade (KRIEGER 2004)

16

aplicado que segundo Faulstich (1995) eacute uma releitura da terminologia tradicional que

incorpora aos estudos do termo o aparato social considerando nesse aspecto os fatores de

variaccedilatildeo linguiacutestica Gaudin (1993) tambeacutem edificou seus estudos terminoloacutegicos por meio de

outras aacutereas de conhecimento como a Sociolinguiacutestica e a Sociologia campos amplamente

estudados pela Socioterminologia que observa a dimensatildeo social na comunicaccedilatildeo

especializada sem estar separada dos discursos em que os termos emergem

O estudo do termo diante da perspectiva socioterminoloacutegica traz o registro e anaacutelise

das variantes da linguagem de especialidade De acordo com Faulstich (1995 p 285) ldquoo

princiacutepio subjacente da pesquisa socioterminoloacutegica eacute o registro da(s) variante(s) que leva em

conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico em que os termos circulam []rdquo

Em consideraccedilatildeo ao que foi explanado este trabalho tem o proacuteposito de verificar os

registros dos termos analisando e identificando os usos de domiacutenio dos mesmos sobre as

plantas medicinais que por conseguinte distinguem a comunidade de Pimenteiras Assim

selecionamos como objeto de estudo os termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

que foram catalogadas pelos moradores quilombolas quando criaram o projeto do

Bioenergeacutetico na regiatildeo Muitos dos termos alistados possuem nomenclatura diferenciada em

relaccedilatildeo aos usos comuns da liacutengua Essas particularidades vieram de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo com

o repasse dos saberes entre famiacutelias e amigos principalmente entre as mulheres Sob o prisma

dos pressupostos da Terminologia e da Socioterminologia daremos enfoque no processo de

constituiccedilatildeo do leacutexico semacircntico conceitual dos termos sobre as plantas medicinais de

Pimenteiras observando se este saber especializado sobre as plantas traz traccedilos da identidade

cultural dos moradores quilombolas

Por uma questatildeo didaacutetica nosso trabalho dissertativo foi organizado em cinco

capiacutetulos No primeiro capiacutetulo oferecemos uma visatildeo geral sobre o presente estudo a ser

direcionado para a anaacutelise dos dados registrados nessa dissertaccedilatildeo explicando alguns

conceitos baacutesicos que seratildeo fundamentais para situar a localidade os sujeitos envolvidos no

estudo dos termos relativos agrave comunidade e as plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras

No segundo capiacutetulo apresentamos os aspectos relacionados agrave comunidade de

Pimenteiras suas origens ndash quilombola e da comunidade ndash os remanescentes de Pimenteiras

a cultura religiosa ao lado de suas lutas pela terra Em seguida apresentaremos o trabalho

com o Bioenergeacutetico e o iniacutecio do processo de catalogaccedilatildeo dos termos analisando as relaccedilotildees

entre o saber e o conhecimento para a construccedilatildeo dos sujeitos de saberes Demarca-se

tambeacutem a presenccedila do gecircnero feminino preponderante nas relaccedilotildees com o conhecimento

17

tradicional nesse contexto representado por Domingas Alves do Nascimento como uma

grande personalidade na comunidade e responsaacutevel por buscar sempre ampliar os saberes que

possui sobre as plantas fazendo com que a comunidade de Pimenteiras tenha como identidade

cultural seus saberes preservados e utilizados entre as geraccedilotildees afrodescendentes

No terceiro capiacutetulo expomos a base teoacuterica deste trabalho ancorada nos estudos

Terminoloacutegicos e Socioterminoloacutegicos verificando assim questotildees sobre a importacircncia da

liacutengua na identidade cultural de um povo Em seguida reconhecemos o valor das plantas

medicinais para o conhecimento cientiacutefico e popular como tambeacutem nos aspectos relacionados

agraves ciecircncias do termo tais como a Terminologia e a Socioterminologia fundamentais para

compreendermos a importacircncia da terminologia nos estudos especializados da liacutengua assim

como o estudo do Termo como base para o estudo socioterminoloacutegico

No quarto capiacutetulo abordamos sobre os procedimentos utilizados na pesquisa de

campo na comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras apontando os objetivos

gerais e especiacuteficos do trabalho relatando sobre as entrevistas a catalogaccedilatildeo dos termos sobre

as plantas medicinais os recursos utilizados para o tratamento dos dados e em seguida o

organograma do conhecimento sobre a cultura das plantas medicinais

Todo o processo de estudo percorrido nesta dissertaccedilatildeo culminaraacute no quinto capiacutetulo

no qual apresentamos a anaacutelise Socioterminoloacutegica dos termos de Pimenteiras Nesse

capiacutetulo seguimos algumas etapas na anaacutelise do termo no contexto da variaccedilatildeo terminoloacutegica

observando a linguagem como representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras e os

aspectos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinais Mostramos como os

termos variam de acordo com as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos aleacutem de analisar

se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade medicinal verificando

por meio da definiccedilatildeo de cada termo sua descriccedilatildeo dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber

especializado

Diante das variaccedilotildees dos termos e portanto das diversas definiccedilotildees utilizamos no

processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Enilde Faulstich uma

amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees sobre os termos verificando o aspecto da

funcionalidade do termo dentro da linguagem especializada Com isso observamos que o

conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras eacute a marca de seus

antepassados sua identidade sua histoacuteria de sua linguagem especializada diante da

diversidade na natureza

A partir de agora iniciamos os estudos natildeo apenas dos termos sobre as plantas

medicinais mas sobretudo sobre a histoacuteria de um povo que busca viver e vencer as

18

dificuldades histoacutericas passadas entre as geraccedilotildees para que hoje seus registros sejam

marcados pelas conquistas alcanccediladas e as futuras

2 PIMENTEIRA2 OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE

QUILOMBOLA

ldquoPodemos dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de

identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator

extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo em sirdquo

Michel Pollak (1992)

Desde os primeiros focos de resistecircncia dos africanos contra a escravidatildeo colonial os

estudos sobre os negros constitui assunto relevante principalmente na formaccedilatildeo de

comunidades afrodescendentes mais conhecidas como Quilombos3

No que diz respeito aos afrodescendentes4 a comunidade de Pimenteiras eacute uma das

muitas comunidades formadas por famiacutelias quilombolas os moradores da regiatildeo chegaram haacute

muito tempo da comunidade de Narciacutesea localizada na regiatildeo de Capitatildeo Poccedilo ndash PA

Pesquisas da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares5 apontam que o maior nuacutemero de

associaccedilotildees quilombolas se encontra nas regiotildees do Paraacute e Maranhatildeo chegando a cerca de

100 comunidades existentes nessas aacutereas Sabe-se que natildeo haacute comunidades em isolamento

total existe sempre uma relaccedilatildeo contiacutenua entre os sujeitos e com o meio em que vivem No

caso da comunidade de Pimenteiras isso natildeo eacute diferente proacuteximas agrave regiatildeo existem outras

comunidades que tambeacutem vivenciam a falta de recursos que possam melhorar a vida dos

moradores no campo As comunidades como Broca Piquiaacute Cantam Fuzil natildeo tecircm

2O termo Pimenteira no singular refere-se agraveterra em que vivem os moradores remanescentes de Quilombo

Pimenteiras no plural refere-se agrave comunidade Tabela sobre a comunidade no site

httpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501 3Quilombo eacute o nome dado no Brasil aos locais de refuacutegio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o

periacuteodo colonial e imperial Nesses locais os escravos passavam a viver em liberdade criando novas relaccedilotildees

sociais Muitos quilombos existiram no Brasil e centenas deles ainda existem formando o que hoje eacute chamado de comunidades quilombolas 4Afrodescendente eacute aquele que eacute ou que descende de famiacutelia ou indiviacuteduo vindo do negro africano 5A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares eacute uma entidade puacuteblica brasileira vinculada ao Ministeacuterio da Cultura A entidade

teve seu Estatuto aprovado pelo Decreto nordm 418 de 10 de janeiro de 1992 e tem como missatildeo os preceitos

constitucionais de reforccedilos agrave cidadania agrave identidade agrave accedilatildeo e agrave memoacuteria dos segmentos eacutetnicos dos grupos

formadores da sociedade brasileira aleacutem de fomentar o direito de acesso agrave cultura e agrave indispensaacutevel accedilatildeo do

Estado na preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees afro-brasileiras No artigo 1ordma Lei institui que se promova a

preservaccedilatildeo dos valores culturais sociais e econocircmicos decorrentes da influecircncia negra na formaccedilatildeo da

sociedade brasileira Preocupada com a igualdade racial e com a valorizaccedilatildeo das manifestaccedilotildees de matriz

africana a Palmares formula e implanta poliacuteticas puacuteblicas que potencializam a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra

brasileira nos processos de desenvolvimento do Paiacutes Foi o primeiro oacutergatildeo federal criado para promover a preservaccedilatildeo a proteccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo da cultura negra Pesquisa feita no dia 10012015 as 1155h no site

httpwwwpalmaresgovbr

19

moradores com descendecircncia quilombola mas assim como em Pimenteiras os moradores

natildeo permanecem ldquoestaacuteticosrdquo no tempo todos possuem caracteriacutesticas particulares que

distinguem suas identidades pois a vida eacute dinacircmica

O negro se mostra figura atuante isto estaacute presente nos estudos de Salles (1988 p 67

apud WAGLEY 1977 e GALVAtildeO 1955) que expotildee

Encontraram o negro solidaacuterio com o iacutendio nas vicissitudes sociais Natildeo importa se

negro autecircntico ou se iacutendio autecircntico O passaporte da autenticidade naquele

contexto jaacute havia perdido tocircda ou quase tocircda importacircncia Ambos despojados dos

seus padrotildees culturais quebrados definitivamente amalgamados numa nova cultura

resultante da fusatildeo de trecircs componentes eacutetnicos O processo de desenvolvimento

dessa cultura visto superficialmente eacute pouco acelerado Visto poreacutem em

profundidade mostra-se extremamente ativo Sobretudo no que diz respeito agraves convergecircncias culturais

Visualizando por este acircngulo a figura do negro observaremos no toacutepico seguinte as

origens e significados dos termos Quilombola e Remanescente para que possamos identificar

as marcas de um povo que lutou e alcanccedilou sua liberdade Em seguida verificaremos com

mais sagacidade os estudos de Vicente Salles e Ilka Boaventura Leite sobre o negro

observando sua histoacuteria suas conquistas e as influecircncias do negro no Paraacute e na comunidade

de Pimenteiras em particular

21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA

Iniciamos este assunto com a pergunta que muitos ainda hoje fazem e nem todos

respondem ndash Quem satildeo os negros Entretanto de forma mais profunda responderemos agrave

seguinte pergunta ndash Quem satildeo os Quilombolas

Alguns autores constituem uma anaacutelise do termo e com isso explicam que a palavra

quilombo se refere a um tipo de instituiccedilatildeo sociopoliacutetica militar conhecida na Aacutefrica Central

principalmente na regiatildeo constituiacuteda pela atual Repuacuteblica Democraacutetica do Congo (Zaire) e

Angola conforme expotildee o professor Kabengele Munanga6 (1995) Para ele a expressatildeo

6 KabengeleMunanga eacute Graduado em Antropologia Cultural pela UniversiteacuteOfficielle Du Congo agrave Lubumbashi

(1969) e Doutorado em Ciecircncias Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de Satildeo Paulo (1977)

Atualmente eacute professor titular da Universidade de Satildeo Paulo Tem experiecircncia na aacuterea de Antropologia com ecircnfase em Antropologia das Populaccedilotildees Afro-Brasileiras atuando principalmente nos seguintes temas racismo

identidade identidade negra Aacutefrica e Brasil

20

quilombo vem de ldquoochilombordquo em um dialeto de Angola a professora Leite7 (2000) por sua

vez apresenta que sua etimologia significa ldquobantordquo e exprime ldquoacampamento guerreiro na

florestardquo e foi difundida no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios

decretos e atos visando referir-se agraves integraccedilotildees de apoio muacutetuo criadas pelos ldquorebeldesrdquo ao

sistema escravocrata e agraves suas reaccedilotildees lutas e organizaccedilotildees pelo fim da escravidatildeo no paiacutes

Natildeo obstante esta palavra significou libertaccedilatildeo e conquistas para os libertos alcanccedilando

amplas dimensotildees e conteuacutedos

No decorrer da histoacuteria diversas circunstacircncias envolvendo o negro demonstraram

grandes lutas contra os vaacuterios artifiacutecios de expropriaccedilatildeo de seus corpos bens e direitos Eacute

nesse contexto de servidatildeo do negro diante do homem branco que Salles (1988 p 203) expotildee

O processo tradicional da busca de liberdade consistiu invariavelmente na fuga para

os matos onde os negros se reuniam solidaacuterios entre si e formavam os quilombos

A fuga deve ter sido no comeccedilo soluccedilatildeo bastante difiacutecil e arriscada aleacutem de

empreitada individual Na floresta o negro se achava sozinho Agraves vezes conseguia

chegar a alguma aldeia indiacutegena e por sorte acabava vivendo amistosamente com

os silviacutecolas Bandeava-se desta forma para grupos totalmente estranhos e que com

ele soacute tinha um traccedilo comum o oacutedio ao branco dominador Haacute na crocircnica da

escravidatildeo muitos casos ilustrativos e que destroem o mito da incompatibilidade

eacutetnica

Os negros enfrentaram muitos questionamentos sobre a legitimidade de se acomodar

num lugar cujo espaccedilo pudesse ser organizado conforme suas condiccedilotildees valores e praacuteticas

culturais A repressatildeo ao negro fez com que ele fosse segregado das praacuteticas sociais Hoje esta

exclusatildeo estaacute demonstrada nos censos econocircmicos e nos mais recentes levantamentos

socioeconocircmicos realizados no paiacutes (HASENBALG SILVA 1988) Somente no Brasil apoacutes

a aboliccedilatildeo em 1888 os negros sofrem com a desqualificaccedilatildeo de sua cor sendo ignorados pelo

poder puacuteblico nos lugares em que habitam desprovidos das necessidades baacutesicas de todo ser

humano Eacute diante desta realidade que Leite (2000) expotildee que os descendentes de africanos

nos uacuteltimos vinte anos tecircm procurado se organizar em associaccedilotildees quilombolas

reivindicando o direito agrave permanecircncia e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas

e cultivadas para moradia e sustento da famiacutelia bem como o livre exerciacutecio de suas praacuteticas

crenccedilas e valores apreciados em sua especificidade Diante disto Leite (2000 p 335)

prossegue

7 Ilka Boaventura Leite eacute professora do Departamento e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Antropologia da

Universidade Federal de Santa Catarina fundadora e coordenadora do NUER (Nuacutecleo de Estudos de Identidades

e Relaccedilotildees Intereacutetnicas) Suas pesquisas estatildeo situadas nas aacutereas de teoria antropoloacutegica literatura de viagem

relaccedilotildees intereacutetnicas etnologia afro-brasileira arte e etnicidade Tem publicado artigos sobre literatura de viagens cultura e identidade negra quilombos direitos eacutetnicos poliacuteticas de identidade arte e diaacutespora africana

periacutecias antropoloacutegicas

21

Tudo isto se esclarece quando entra em cena a noccedilatildeo de quilombo como forma de

organizaccedilatildeo de luta de espaccedilo conquistado e mantido atraveacutes de geraccedilotildees O

quilombo entatildeo na atualidade significa para esta parcela da sociedade brasileira

sobretudo um direito a ser reconhecido e natildeo propriamente e apenas um passado a ser rememorado Inaugura uma espeacutecie de demanda ou nova pauta na poliacutetica

nacional afrodescendentes partidos poliacuteticos cientistas e militantes satildeo chamados a

definir o que vem a ser o quilombo e quem satildeo os quilombolas

O simples ato de apropriaccedilatildeo da terra para viver passou a significar um ato de luta e

guerra Assim pensar na questatildeo territorial faz discorrer tambeacutem na definiccedilatildeo sobre o termo

ldquoQuilombordquo ndash que reporta agrave visatildeo distorcida de negros fugitivos ndash e abordar as diferentes

situaccedilotildees que cobriram a existecircncia de Terras de Quilombos no Brasil Para isto Almeida

(1998 p 14) expotildee que eacute necessaacuterio que ldquonos libertemos da definiccedilatildeo arqueoloacutegica associada

ao termo Quilombordquo Segundo o autor as comunidades Quilombolas sempre estabeleceram

uma clara rede de interaccedilatildeo com as sociedades locais contestando o estereoacutetipo do isolamento

geograacutefico A qualidade e intensidade da interaccedilatildeo foi o que possibilitou a construccedilatildeo de uma

configuraccedilatildeo social cuja autonomia tinha tambeacutem suporte nessa dinacircmica de relaccedilotildees sociais

e nas formas de usar e ocupar a terra (ALMEIDA 1988 p 18)

Na conceituaccedilatildeo e significaccedilatildeo da palavra Quilombo Siqueira e Nascimento (1987)

apud Leite (1999 p 15) explicam que no Brasil a tradiccedilatildeo popular apresenta muitas

variaccedilotildees no significado da referida palavra

[] ora associado a um lugar (ldquoquilombo era um estabelecimento singularrdquo) ora a

um povo que vive neste lugar (ldquoas vaacuterias etnias que o compotildeemrdquo) ou a

manifestaccedilotildees populares (ldquofestas de ruardquo) ou ao local de uma praacutetica condenada

pela sociedade (ldquolugar puacuteblico onde se instala uma casa de prostitutasrdquo) ou a um

conflito (uma ldquogrande confusatildeordquo) ou a uma relaccedilatildeo social (ldquouma uniatildeordquo) ou ainda a um sistema econocircmico (ldquolocalizaccedilatildeo fronteiriccedila com relevo e condiccedilotildees climaacuteticas

comuns na maioria dos casosrdquo)

Para Leite (2000) a quantidade de significados faz com que o uso do termo

demonstre uma grande variedade de experiecircncias que generalizam o fenocircmeno enquanto

dimensatildeo poliacutetica de uma formaccedilatildeo social diversa em que evidenciam a persistecircncia das mais

diversas manifestaccedilotildees de resistecircncia e luta que os negros delinearam em toda a nossa

histoacuteria Eacute nesse contexto que Leite (2000 p 338) assim conclui

[] inicia-se a longa etapa de construccedilatildeo da identidade destes grupos seja pela

formalizaccedilatildeo da diferenciaccedilatildeo eacutetnico-cultural no acircmbito local regional e nacional

seja pela consolidaccedilatildeo de um tipo especiacutefico de segregaccedilatildeo social e residencial dos

negros chegando ateacute os dias atuais []

22

A variaccedilatildeo de significados para o termo quilombo traz a construccedilatildeo de um povo que

busca constantemente por seus direitos contudo o que significa o termo remanescente

Verificaremos no toacutepico seguinte especificamente as discussotildees em torno do significado da

palavra ldquoremanescesterdquo no contexto do negro

211 Remanescentes o que restou

No que concerne ao significado do termo remanescente a autora Leite (2000 p 9)

nos apresenta o seguinte contexto

A expressatildeo ldquoremanescente das comunidades de quilombosrdquo que emerge na

Assembleacuteia Constituinte de 1988 eacute tributaacuteria natildeo somente dos pleitos por tiacutetulos

fundiaacuterios mas de uma discussatildeo mais ampla travada nos movimentos negros e

entre parlamentares envolvidos com a luta anti-racista O quilombo eacute trazido

novamente ao debate para fazer frente a um tipo de reivindicaccedilatildeo que agrave eacutepoca alude

a uma ldquodiacutevidardquo que a naccedilatildeo brasileira teria para com os afro-brasileiros em

consequumlecircncia da escravidatildeo natildeo exclusivamente para falar em propriedade

fundiaacuteria

A expressatildeo ldquoremanescenterdquo surge como forma de reinvindicaccedilatildeo por uma eacutepoca em

que a naccedilatildeo brasileira teria certo dever com os afrodescendentes pela grande escravidatildeo e

sofrimento vivido no periacuteodo da aboliccedilatildeo contudo segundo os estudos de Leite (1996 p

341) o termo remete tambeacutem a algo em extinccedilatildeo que estaacute em processo de desaparecimento

Mas foi principalmente porque a expressatildeo natildeo correspondia agrave autodenominaccedilatildeo destes

mesmos grupos e por se tratar de uma identidade ainda a ser politicamente construiacuteda que

tantos questionamentos foram suscitados Eacute nesse impasse da significaccedilatildeo e nomeaccedilatildeo dos

remanescentes de quilombolas que Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia8 (ABA) convocada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico reuniu em outubro de 1994 o Grupo de Trabalho sobre Comunidades

Negras Rurais e elaborou um conceito de ldquoremanescente de quilombordquo ficando assim

definido

8A Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia (ABA) eacute a mais antiga das associaccedilotildees cientiacuteficas existentes no paiacutes

na aacuterea das ciecircncias sociais ocupando hoje um papel de destaque na conduccedilatildeo de questotildees relacionadas agraves

poliacuteticas puacuteblicas referentes agrave educaccedilatildeo agrave accedilatildeo social e agrave defesa dos direitos humanos No decorrer de sua

histoacuteria ela tem sido voz atuante em defesa das minorias eacutetnicas dos discriminados e posicionando-se consistentemente contra a injusticcedila social Pesquisado em 11012015 as 2345h no site

httpwwwportalabantorgbrindexphpinstitucionalfeatures

23

[] contemporaneamente portanto o termo natildeo se referia a resiacuteduos arqueoloacutegicos de ocupaccedilatildeo temporal ou de comprovaccedilatildeo bioloacutegica Tratava-se de desfazer a ideacuteia

de isolamento e de populaccedilatildeo homogecircnea ou como decorrente de processos

insurrecionais O documento posicionava-se criticamente em relaccedilatildeo a uma visatildeo

estaacutetica do quilombo evidenciando seu aspecto contemporacircneo organizacional

relacional e dinacircmico bem como a variabilidade das experiecircncias capazes de serem

amplamente abarcadas pela ressemantizaccedilatildeo do quilombo na atualidade Ou seja

mais do que uma realidade inequiacutevoca o quilombo deveria ser pensado como um

conceito que abarca uma experiecircncia historicamente situada na formaccedilatildeo social

brasileira (LEITE 2000 p 341-342)

No que diz respeito aos direitos sobre a terra o Brasil em comparaccedilatildeo com outros

paiacuteses que claramente obtiveram conquistas poliacuteticas e territoriais talvez seja o uacutenico que natildeo

resolveu formalmente a questatildeo dos direitos territoriais das suas comunidades negras

tradicionais O direito agrave terra que as comunidades atribuem eacute vital pois a concepccedilatildeo da terra

enquanto territoacuterio socialmente ocupado eacute a chave para a vida desses grupos Sobre isso

Chagas (2001 p 228) informa que a aplicaccedilatildeo do direito constitucional se daacute tambeacutem

atraveacutes da titulaccedilatildeo dessas aacutereas

[] para estar em consonacircncia com a viabilizaccedilatildeo de um padratildeo de existecircncia que

seja compatiacutevel e que assegure a vida nos seus proacuteprios termos significaria menos

quantificar ou traccedilar meramente um espaccedilo fiacutesico esvaziado de seu sentido social e

mais justamente recuperar a ideacuteia de que estes espaccedilos sociais estatildeo qualificados e

atravessados por redes de relaccedilotildees que postas em curso garantem a proacutepria

permanecircncia do grupo neste territoacuterio

No trecho citado por Chagas (2001) eacute demonstrada a preocupaccedilatildeo no que se refere

aos remanescentes das comunidades dos quilombos que vecircm sofrendo com o processo de

reconhecimento dos direitos assegurados constitucionalmente nota-se o quanto eacute necessaacuterio

um diaacutelogo com as praacuteticas culturais de cada grupo envolvido auxiliando as comunidades no

autorreconhecimento das populaccedilotildees remanescentes de quilombola Eacute a busca pelo direito agrave

terra direito agrave vida no campo de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado

agrave margem da vida em sociedade

Completando este diaacutelogo com Marques (2004) confere-se que o modo de vida dos

povos do campo eacute entendido como uma configuraccedilatildeo bastante dinacircmica e que soacute pode ser

compreendida a partir de sua inserccedilatildeo na sociedade ndash que hoje inclui as relaccedilotildees sociais que

ocupam as comunidades camponesas na sociedade moderna capitalista ndash percebendo a relaccedilatildeo

entre tradiccedilatildeo e modernidade e qual lugar ocupam os povos de vidas tradicionais

Os quilombos reforccedilavam as lutas contra a escravidatildeo mostrando um tipo de

organizaccedilatildeo social mais justa cuja resistecircncia se manifestou de diversas formas entre greves

de fome violecircncia e fugas Segundo Freitas (1982 p 210) essas fugas mais organizadas e

coletivizadas deram origem ao Quilombo dos Palmares

24

O ldquoQuilombo dos Palmaresrdquo foi a manifestaccedilatildeo mais eloquente do discurso anti-

escravista dos negros brasileiros nos quase trecircs seacuteculos da escravidatildeo representando

um marco na resistecircncia negra A resoluccedilatildeo tomada na Serra da Barriga ldquode morrer

antes de aceitar a escravidatildeordquo demonstra a essecircncia da mensagem que os negros de Palmares deixaram Retomando a reflexatildeo hegeliana ldquoO Amo natildeo eacute Amo senatildeo

pelo fato de que possui um Escravo que o reconhece como talrdquo

Freitas (1982 p 43) explana que os escravos que se refugiavam em Palmares apoacutes

algum tempo escondidos nas serras deixaram de viver escondidos e reconquistaram sua

dignidade como seres humanos O autor prossegue expondo

Os escravos plantavam milho feijatildeo mandioca cana-de-accediluacutecar batata legumes Duas semanas antes do plantio preparavam o terreno com grandes queimadas A

preparaccedilatildeo das terras a semeadura e a colheita era realizada de maneira coletiva

Celebravam o teacutermino da colheita com uma semana inteira de festejos em que todos

folgavam danccedilavam comiam e bebiam Mantinham muitos pomares com uma

variedade de aacutervores frutiacuteferas (1982 p 45)

Durante minhas visitas agrave comunidade remanescente de quilombolas de Pimenteiras o

contato com os moradores levantou muitos questionamentos sobre o entendimento e

significaccedilatildeo do termo quilombola Os mais velhos guardam na memoacuteria recordaccedilotildees de um

periacuteodo no qual seus antepassados viveram e sofreram os accediloites do chicote da escravidatildeo os

adolescentes por sua vez vivem o embate entre aceitar ou natildeo a descendecircncia Aceitando

suas origens alcanccedilam direitos reservados aos negros como o direito de cotas nas

universidades jaacute nos momentos em que os sentimentos de exclusatildeo discriminaccedilatildeo e rejeiccedilatildeo

se tornam maiores nos espaccedilos sociais os mais jovens natildeo se veem e natildeo se orgulham de sua

origem afrodescendente

Na anaacutelise do contexto vivido na comunidade o sentimento que se faz presente nos

mais jovens eacute o fato de que ser homem negro significa ser excluiacutedo e discriminado pelos

colegas da escola Muitos relataram situaccedilotildees de desrespeito natildeo apenas pela cor da pele mas

pelo termo ldquoquilombolardquo A respeito da discriminaccedilatildeo racial sobre os quilombolas Leite

(2000 p 349) comenta que

O ato de aquilombar-se ou seja de organizar-se contra qualquer atitude ou sistema

opressivo passa a ser portanto nos dias atuais a chama reacesa para na condiccedilatildeo

contemporacircnea dar sentido estimular fortalecer a luta contra a discriminaccedilatildeo e seus

efeitos Vem agora iluminar uma parte do passado aquele que salta aos olhos pela

enfaacutetica referecircncia contida nas estatiacutesticas onde os negros satildeo a maioria dos socialmente excluiacutedos Quilombo vem a ser portanto o mote principal para se

discutir uma parte da cidadania negada

25

Diante das discussotildees feitas seguiremos abordando sobre os remanescentes de

quilombola da comunidade de Pimenteiras sua localizaccedilatildeo e os problemas sobre a titularidade

da terra que se tornou algo de extrema importacircncia aos moradores dessa regiatildeo

212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras

Eacute importante frisar que na atualidade a dimensatildeo de luta dos homens negros pela

liberdade foi muito importante para que a cultura afrodescendente se desenvolvesse com

maior fruiccedilatildeo Na Amazocircnia a presenccedila do negro eacute assunto desprezado em termos da

importacircncia insignificante que teria essa mesma presenccedila Segundo Salles (1988) a matildeo-de-

obra faacutecil era abundante e era a uacutenica que poderia mobilizar com sucesso imediato a matildeo-de-

obra dos iacutendios9

Nos estudos sobre a Amazocircnia Salles (1988) expotildee sobre a substituiccedilatildeo do iacutendio

pelo negro na lavoura que natildeo foi tatildeo necessaacuteria na regiatildeo como no restante do Brasil a

presenccedila insistente do iacutendio em muitos trabalhos com a terra deu ao negro a possibilidade de

influir profundamente na civilizaccedilatildeo brasileira criando um tipo de economia em que o

indiacutegena teve grande participaccedilatildeo (CHAMBOULEYRON 2006) No entanto os escritos do

autor natildeo abandonam a significaccedilatildeo do negro na Amazocircnia durante o regime da escravidatildeo o

negro deixou sua personalidade sua etnia e sua cultura na constituiccedilatildeo da economia agraacuteria

Diante disso discorrer sobre os quilombolas no cenaacuterio poliacutetico atual eacute conversar

sobre luta poliacutetica uma reflexatildeo cientiacutefica em processo de construccedilatildeo Hoje cerca de trecircs mil

comunidades quilombolas10

vivem natildeo apenas na Amazocircnia mas em todo o territoacuterio

9 Em tempos do descobrimento do Brasil a necessidade de braccedilos para cortar e transportar o pau-brasil para o

litoral fez com que os portugueses impusessem aos iacutendios o trabalho compulsoacuterio Em meados de 1550 a

decisatildeo de incrementar o traacutefico da Aacutefrica para o Brasil tornou a escravidatildeo do negro mais interessante e

econocircmica para a Coroa portuguesa Apesar de ter sido tatildeo forte e cruel a escravidatildeo do negro africano a

escravidatildeo do iacutendio teve pouco conhecimento e historicamente ficou em segundo lugar Pesquisa feita no dia

10022015 as 1001hs no site httpwwwklickeducacaocombrconteudopagina06313POR-1245-9282-00html 10Ateacute hoje natildeo haacute certeza sobre o nuacutemero de comunidades quilombolas existentes no Brasil mas estima-se que

haacute pelo menos trecircs mil em todo o territoacuterio nacional localizadas principalmente nos estados doAmazonas

Alagoas Amapaacute Bahia Cearaacute Maranhatildeo Minas Gerais Paraacute Pernambuco Tocantins e outros Os estados

brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades quilombolas satildeo a Bahia o Maranhatildeo Minas

Gerais e o Paraacute Segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial

(Seppir) e do Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) oacutergatildeos responsaacuteveis pela

identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos quilombolas

existem atualmente mais de setecentas comunidades oficialmente registradas pela Fundaccedilatildeo Palmares do

Ministeacuterio da Cultura e mais de duzentos processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em andamento envolvendo mais

de trezentas comunidades espalhadas por 24 estados brasileiros Retirado do texto de GASPAR Luacutecia Quilombolas Pesquisa Escolar Online Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Recife Disponiacutevel em

lthttpbasiliofundajgovbrpesquisaescolargt Acesso em 15022015 as 1230hs

26

nacional no entanto muitas terras natildeo possuem ainda o reconhecimento devido No estado do

Paraacute segundo dados pesquisados satildeo reconhecidas duzentos e quarenta (240)11

comunidades

remanescentes de Quilombo

As conquistas para alcanccedilar o direito pela titulaccedilatildeo de terra de quilombo vecircm do

cumprimento do Artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias da Constituiccedilatildeo Federal12

cuja redaccedilatildeo expotildee o seguinte ldquoAos remanescentes das comunidades de quilombos que

estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir

lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)

Com a instituiccedilatildeo deste Leopoldo e Morais (2005 p 3) explanam em seu artigo

sobre territorialidade que muitas lutas e manifestaccedilotildees poliacuteticas tecircm apoiado ou desprovido as

comunidades quilombolas do seu direito agrave terra Leopoldo e Morais (2005 p 1) ressaltam que

ldquoos criteacuterios adotados para o reconhecimento das comunidades quilombolas tecircm sido alvo de

constantes criacuteticas entre esses diferentes atoresrdquo Embora pareccedila pertinente equiparar a

questatildeo do direito agraves terras de quilombos com as terras indiacutegenas ambas satildeo semelhantes

apenas quanto aos desafios e embates jaacute visiacuteveis na questatildeo da identificaccedilatildeo e na definiccedilatildeo

dos sujeitos de direito

No diagrama da fronteira eacutetnico-cultural o Brasil esteve sempre marcado pela

preservaccedilatildeo do territoacuterio invadido e ocupado por inuacutemeros conflitos de terra que remontam

aos dias atuais13

Natildeo muito distante de uma realidade de lutas pelos direitos dos negros os

moradores remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras lutam haacute muito

tempo pelo reconhecimento da terra Localizada na regiatildeo rural da cidade de Santa Luzia do

Paraacute14

a comunidade fica situada em local de difiacutecil acesso situaccedilatildeo que piora muito nos

periacuteodos de chuva causando transtornos aos moradores que veem limitadas suas

necessidades humanas baacutesicas

Vejamos abaixo o mapa da Regiatildeo do Guamaacute onde fica localizada a cidade de Santa

Luzia do Paraacute Rodeada por outras cidades como Capanema Oureacutem Capitatildeo Poccedilo Garrafatildeo

do Norte Cachoeira do Piriaacute Nova Esperanccedila do Piriaacute e tambeacutem Terras Indiacutegenas ocupadas

pelos iacutendios Tembeacute a comunidade de Pimenteiras fica no centro da regiatildeo da cidade de Santa

Luzia do Paraacute como mostra a figura

11 Disponiacutevel em httpwwwcpisporgbrcomunidadeshtmli_brasil_pahtml Pesquisado dia 01052013 as

1933 h 12 Pesquisa no site wwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaohtm em 16122014 as 1633hs 13 Atualmente destaca-se a luta do MST ndash Movimento dos Sem Terra no Brasil ndash que constitui um dos maiores

movimentos sociais do paiacutes com 15 anos de existecircncia nos 23 estados da federaccedilatildeo Maiores informaccedilotildees

consultar o site httpwwwmstorgbr 14Santa Luzia do Paraacute eacute uma cidade brasileira localizada no estado do Paraacute na microrregiatildeo do Guamaacute e na

mesorregiatildeo do Nordeste Paraense

27

Mapa 01 ndash Regiatildeo do Guamaacute Cidade de Santa Luzia do Paraacute Comunidade de Pimenteiras

Fonte IBGE15

Com relaccedilatildeo agrave titularidade da terra como Quilombola o processo continua em

tracircmite nos oacutergatildeos responsaacuteveis Os moradores da comunidade de Pimenteiras vivem agrave espera

da validaccedilatildeo do processo de identificaccedilatildeo e reconhecimento de suas origens valorizaccedilatildeo de

sua cultura e direito ao territoacuterio quilombola Segundo relatos dos moradores um dos motivos

para o impasse no processo seria a presenccedila de pecuaristas e agricultores natildeo remanescentes

de quilombo que vivem na regiatildeo e cultivam nas terras Estas pessoas devem ser indenizadas

pelos espaccedilos de terra que possuem a fim de que o direito dos quilombos tenha garantia de

integralidade das terras Logo a seguir encontram-se as informaccedilotildees de forma resumida sobre

o andamento do pedido de reconhecimento da terra em Pimenteiras

Tabela 1 ndash Titulaccedilatildeo da terra da comunidade de Pimenteiras

FICHA RESUMO DO TERRITOacuteRIO

Nome da Terra Pimenteira

Nome da(s) Comunidade(s) Pimenteiras

Municiacutepio Santa Luzia do Paraacute

Unidade da Federaccedilatildeo Paraacute

Populaccedilatildeo 24 famiacutelias

Dimensatildeo Territorial -

Etapa do processo de titulaccedilatildeo Certidatildeo Fundaccedilatildeo Cultural Palmares

Superintendecircncia Responsaacutevel SR 01 Paraacute

Data da Uacuteltima Atualizaccedilatildeo 30052014

Fonte Comissatildeo Proacute-iacutendio de Satildeo Paulo16

15 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150655ampsearch=||infogrE1ficos-

informaE7F5es-completas

28

Os moradores da comunidade de Pimenteiras sofrem com o processo de

reconhecimento de seus direitos que satildeo assegurados constitucionalmente Para eles

reconhecer a terra eacute importante pois reconhece a existecircncia de uma populaccedilatildeo remanescente

quilombola de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado agrave margem da vida

em sociedade que busca mais do que o direito agrave terra busca o direito agrave vida no campo

Conhecer a cultura de um povo faz com que ele seja reconhecido e valorizado por

suas caracteriacutesticas em particular Diante disso conheceremos no toacutepico seguinte um pouco

da histoacuteria da comunidade de Pimenteiras aleacutem de sua tradicional manifestaccedilatildeo cultural que

eacute a Ladainha a Nossa Senhora do Livramento uma cerimocircnia em agradecimento pelas preces

atendidas do povo daquela comunidade

22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO

Nos encontros ocorridos na comunidade de Pimenteiras nos deparamos com alguns

moradores que haacute pouco tempo natildeo conheciam sua descendecircncia negra e tampouco os

significados que cercam o termo Quilombola Por meio das histoacuterias transmitidas de seus

antepassados e de pesquisadores envolvidos com o Centro de Estudos e Defesa do Negro do

Paraacute (CEDENPA)17

os moradores passaram a se reconhecer como remanescentes de

quilombo de forma orgulhosa no entanto confusos Isto se deve ao fato de que a comunidade

de Pimenteiras vive hoje com o estigma de seus ancestrais escravizados e sem entender seus

reais valores culturais e histoacutericos

Nesse acircmbito Leite (2000 p 339) levanta um questionamento significativo sobre o

termo quilombola Ela explica que

Desde os anos 30 algumas vozes militantes18

defendem fortemente a ideacuteia de

reparaccedilatildeo da aboliccedilatildeo como ldquoum processo inacabadordquo e da ldquodiacutevidardquo em dois

16Disponiacutevel emlthttpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501gt

17O CEDENPA eacute uma Entidade sem fins lucrativos sem viacutenculos poliacutetico-partidaacuterios fundada em 10 de agosto

de 1980 e legalizada em 27 de abril de 1982 que a partir do Estado do Paraacute vem contribuindo no processo de superaccedilatildeo do racismo preconceito e discriminaccedilatildeo que produzem a desigualdades soacutecio raciais de gecircnero e

outras prejudicando sobretudo a populaccedilatildeo negra e indiacutegena em todos os aspectos da sociedade brasileira

Pesquisado em 22062015 as 955hs no site httpwwwcedenpaorgbr

18 Abdias do Nascimento atual senador da Repuacuteblica reescreve suas teses na deacutecada de 80 defendidas desde os

anos 30 quando inicia sua militacircncia O seu quilombismo reivindica uma memoacuteria anterior ao traacutefico e agrave

escravizaccedilatildeo dos africanos Escreve ldquoo quilombismo busca no presente e no futuro e atua por um mundo melhor para os africanos nas Ameacutericasrdquo Resume suas teses do quilombismo em 16 itens O primeiro deles define o

quilombismo como um movimento poliacutetico dos negros brasileiros visando a implantaccedilatildeo de um Estado Nacional

29

planos a herdada dos antigos senhores e a marca que ficou em forma de estigma seus efeitos simboacutelicos geradores de novas situaccedilotildees de exclusatildeo A exclusatildeo como

fato e como siacutembolo Os militantes procuram ver o conceito de quilombo como um

elemento aglutinador capaz de expressar de nortear aquelas pautas consideradas

cruciais agrave mudanccedila de dar sustentaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo da identidade negra ainda

fragmentada pelo modelo de desenvolvimento do Brasil apoacutes a aboliccedilatildeo da

escravatura

O contato com os moradores nos fez refletir sobre os diversos questionamentos a

respeito do entendimento e significaccedilatildeo que as pessoas da regiatildeo tinham sobre a palavra

quilombola Os adolescentes com o conhecimento adquirido na escola relataram que ser

quilombola significava ser negro mas alguns natildeo se consideravam quilombolas porque a pele

natildeo era tatildeo escura Ao refletir sobre isto percebemos que o sentimento presente nos mais

jovens eacute de exclusatildeo ser homem negro significa ser excluiacutedo discriminado e rejeitado pelos

colegas da escola Esse mesmo sentimento ocorre com o termo quilombola que traz para o

contexto atual as marcas de uma eacutepoca de escravidatildeo e de maus tratos contra pessoas de pele

escura Para muitos o sentimento com relaccedilatildeo ao nome Quilombola traz um significado

doloroso Nesse ponto Leite (2000 p 342) salienta

Enquanto uma expressatildeo da identidade grupal o significante ldquonegrordquo vai somando

em seu percurso tudo aquilo que adveacutem de tal experiecircncia ou seja elementos de

inclusatildeo (que mantecircm o grupo unido em estrateacutegias de solidariedade e

reciprocidade) e tambeacutem de segregaccedilatildeo (ou seja a desqualificaccedilatildeo a depreciaccedilatildeo e

a estereotipia) Os sentidos do termo e as experiecircncias nele circunscritas revelam sua ambiguidade por um lado a marginalizaccedilatildeo por outro a forccedila simboacutelica

demonstrada no seu persistente poder aglutinador vindo a configurar ou expressar

uma identidade social e a nortear inclusive poliacuteticas de grupos

De outro modo o conceito negativo sobre a etnia quilombola perpassa tambeacutem pelos

moradores de Pimenteiras que possuem um vasto conhecimento sobre os espaccedilos que

ocupam na regiatildeo com sua rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias geraccedilotildees Os saberes

sobre a natureza satildeo de extrema importacircncia para as diversas aacutereas da ciecircncia conferindo na

forma pela qual pensam classificam e utilizam seus recursos

Contudo o acesso agrave comunidade eacute difiacutecil a uacutenica estrada existente para chegar agrave

comunidade natildeo eacute asfaltada e no trajeto visualizam-se diversas fazendas com gado campos

abertos depois mata fechada com grandes serras que ladeiam a comunidade Durante a

viagem satildeo percorridos aproximadamente 30 quilocircmetros em relevo bastante acidentado

Quilombista inspirado no modelo da Repuacuteblica de Palmares no seacuteculo XVI e em outros quilombos que

existiram e ainda existem Esclarece que natildeo se trata de um modelo segregacionista mas de um movimento que

advoga o poder poliacutetico realmente democraacutetico que implica a presenccedila da maioria afro-brasileira em todos os

niacuteveis desse poder Veja-se Nascimento (1991 21-26 apud Leite 2000 p339 a 340)

30

Ao chegar agrave comunidade percebi que a presenccedila mais forte eacute da natureza na sua

biodiversidade e das terras utilizadas para o cultivo da mandioca feijatildeo e pimenta Existe

tambeacutem o plantio de Murumuru19

cuja produccedilatildeo ocorre devido ao interesse da empresa

Natura20

pela compra do fruto

A comunidade de Pimenteiras possui uma relaccedilatildeo natildeo somente com os

conhecimentos agriacutecolas e o cultivo de plantas mas tambeacutem com os recursos naturais que

estatildeo ligados a estes levando em consideraccedilatildeo as informaccedilotildees sobre a natureza e os valores

de sua cultura e tradiccedilatildeo local A comunidade em estudo tem na mata fechada sua principal

fonte de recursos naturais A variedade de espeacutecies vegetais eacute muito grande ocasionando uma

afinidade dos moradores com a natureza de forma muito forte e antiga

Eacute nesse encontro entre os moradores quilombolas e a natureza que muitos saberes

culturais locais foram e satildeo desenvolvidos sem quaisquer recursos tecnoloacutegicos ou

assistecircncia Esta eacute uma das caracteriacutesticas que marcam a comunidade identificando e

classificando o ambiente em que vivem Eacute uma maneira de auto identificaccedilatildeo e auto definiccedilatildeo

da proacutepria comunidade enquanto grupo social particular que produz saberes sobre a natureza

forjando de maneira inconsciente sua identidade cultural

Mas como se originou a comunidade e o nome Pimenteira Durante as visitas feitas agrave

comunidade as histoacuterias que os moradores contam eacute que haacute muito tempo o pai de Domingas

o senhor Raimundo Cordeiro dos Santos queria fazer as preparaccedilotildees de pais e padrinhos21

para o batizado de uma crianccedila Como na comunidade natildeo havia igreja ou qualquer

representaccedilatildeo religiosa que pudesse ajudar na preparaccedilatildeo ele foi ateacute outra comunidade

chamada Fuzil para falar com o padre chamado Zeacute Doca Devido agrave distacircncia o senhor saiacutea

agraves 2h da madrugada e chegava ao local agraves 5h O padre observando as dificuldades propocircs

que algueacutem da comunidade com certo grau de conhecimento pudesse fazer os ensinamentos

aos moradores

No dia da celebraccedilatildeo do batismo o padre foi ateacute a casa do senhor para batizar a

crianccedila e orientar os moradores a iniciarem as celebraccedilotildees e construir um locar onde

pudessem rezar Assim haacute cerca de 40 anos uma igreja foi construiacuteda no local e os

19 Originaacuterio da Regiatildeo Amazocircnica Ele cresce espontaneamente nas matas do Paraacute Eacute encontrado ao longo dos

rios e em aacutereas inundadas em formaccedilotildees florestais densas ou semiabertas O fruto eacute um coco de coloraccedilatildeo

avermelhada Seu caroccedilo encerra uma amecircndoa dura que fica envolta por uma polpa amarelada comestiacutevel e

levemente adocicada O oacuteleo extraiacutedo da semente de murumuru possui propriedades altamente emolientes 20A Natura eacute um empresa brasileira que trabalha no setor de higiene pessoal perfumaria e cosmeacuteticos e tambeacutem

no segmento da venda direta dos produtos 21 O encontro de preparaccedilatildeo dos pais e padrinhos deve ser uma autecircntica obra de evangelizaccedilatildeo tendo por meta anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para proporcionar o encontro pessoal com Cristo na Comunidade Esses

satildeo preceitos da Igreja Catoacutelica relatados pelo Paacuteroco Elias de Santa Luzia do Paraacute

31

moradores passaram a receber visitas do sacerdote mecircs a mecircs A presenccedila religiosa fez com

que a comunidade de Pimenteiras fosse visualizada e tivesse entatildeo sua origem

Com relaccedilatildeo ao nome Pimenteira o termo surgiu de histoacuterias contadas pelos avocircs do

pai de Domingas trilhando pelos rios e matas da regiatildeo da Narciacutesea eles saiacuteam em busca de

caccedila e pesca formando os ranchos22

na beira do rio Guamaacute Nessas viagens levavam alguns

mantimentos necessaacuterios por passarem muitos dias caccedilando Dentre os alimentos levados a

pimenta natildeo podia faltar Quando retornavam deixavam agrave beira do rio as sementes da

pimenta que traziam elas brotavam e cresciam quando voltavam ao mesmo local de pesca

tinham como referecircncia o peacute de pimenta Assim comeccedilaram a chamar o local de ldquoigarapeacute da

pimentardquo (informaccedilatildeo verbal)23

que com o tempo passou a ser local de moradia para essas

pessoas vindas da Narciacutesea Surgiu assim o nome Pimenteira que deu origem agrave comunidade

remanescente de quilombola

Eacute diante dessa relaccedilatildeo com a natureza que os moradores quilombolas vivem e

reproduzem anualmente o evento cultural ldquoLadainha a Nossa Senhora do Livramentordquo como

ato de feacute agradecimento e preservaccedilatildeo dos fazeres de seus antepassados Eacute o que veremos no

toacutepico seguinte no qual esse momento cultural da comunidade de Pimenteiras seraacute abordado

com maiores detalhes

221 Ladainha a Nossa Senhora do Livramento

Em comemoraccedilatildeo ao ldquoDia da Consciecircncia Negra24

rdquo 20 de novembro os moradores

de Pimenteiras iniciaram um processo de valorizaccedilatildeo e rememoraccedilatildeo de suas crenccedilas

religiosas Segundo relatos dos mais antigos a celebraccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento

veio antes da existecircncia da comunidade de Pimenteiras Nas histoacuterias contadas pela moradora

Domingas tudo comeccedilou com sua avoacute materna a senhora Joana Pornusena dos Santos (in

memoacuteria) que acompanhando o marido no roccedilado presenciou a existecircncia de muitos

perigos O avocirc de Domingas trabalhando na terra solicitou em oraccedilatildeo agrave Senhora do

22 Rancho era o termo popular usado para designar a toca que eles faziam na beira do rio 23A histoacuteria sobre a origem do nome Pimenteira veio dos relatos informais da moradora DomingasTais histoacuterias

natildeo puderam ser transcritas a pedido da moradora 24

O Dia da Consciecircncia Negra eacute uma data celebrada no Brasil no dia 20 de novembro Este dia estaacute incluiacutedo na

semana da Consciecircncia Negra e tem como objetivo um reflexatildeo sobre a introduccedilatildeo dos negros na sociedade

brasileira O dia 20 de novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares data na qual morreu lutando pela liberdade do seu povo no Brasil Pesquisado no site httpwwwsignificadoscombrdia-

da-consciencia-negra

32

Livramento que o protegesse e tambeacutem sua famiacutelia dos acidentes e da morte que aconteciam

no roccedilado Como forma de agradecimento pela graccedila alcanccedilada ao final dos trabalhos com a

terra o avocirc prometeu que celebraria uma cerimocircnia religiosa em homenagem agrave Santa Este

gesto de agradecimento se perpetuou entre as geraccedilotildees e hoje a Ladainha continua preservada

nas matildeos da moradora Domingas

Passada entre as geraccedilotildees da famiacutelia de Domingas a Ladainha possui forte relaccedilatildeo

com o saber das plantas medicinais As flores colocadas sobre altar ou as plantas com cheiro

agradaacutevel usadas durante a cerimocircnia consideradas bentas eram guardadas para serem

utilizadas na forma de chaacutes para a cura das doenccedilas Na Ladainha plantas como manjericatildeo

catinga de mulata canela e hortelatilde satildeo empregadas na cerimocircnia com aacutegua para as pessoas se

benzerem Este ritual natildeo ocorria na eacutepoca da avoacute de Domingas Nas primeiras cerimocircnias a

Ladainha era comemorada com o canto em latim Adolfo era o nome da pessoa que entoava a

oraccedilatildeo sem o uso de livros

Com o passar dos anos ocorreram mudanccedilas como forma de atrair os jovens para a

celebraccedilatildeo Isto fez com que aleacutem da Ladainha do almoccedilo e da presenccedila da imagem da

Senhora do Livramento fosse incluiacuteda uma procissatildeo pela comunidade com o uso de fitas em

volta da imagem o uso da aacutegua com as plantas aromaacuteticas e uma festa como forma da

juventude participar na celebraccedilatildeo Outro aspecto importante que mudou nesses anos foi a

substituiccedilatildeo do canto em latim pela oraccedilatildeo encontrada no livro do Catecismo da Igreja

Catoacutelica que conteacutem a Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento Isto se deve ao fato de que os

jovens natildeo tiveram interesse de aprender a Ladainha em latim No entanto esta possui grande

significaccedilatildeo para a comunidade pois representa a feacute sendo renovada a cada ano Eacute o momento

em que os moradores contam suas histoacuterias e reencontram outras comunidades tambeacutem de

remanescentes de quilombolas eacute o momento em que a comunidade de Pimenteiras eacute

valorizada pela cultura e pelos saberes tradicionais das plantas

Vejamos abaixo algumas imagens da celebraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento

que ocorre anualmente na comunidade de Pimenteiras as quais exibem uma forma de

agradecimento e comemoraccedilatildeo pelas colheitas alcanccediladas durante o ano

33

Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade

Fonte Dados da pesquisa 2014

Ano apoacutes ano todos os moradores se reuacutenem numa grande festa cultural e religiosa

que traz consigo as lutas de um povo que trabalha a terra e marcam profundamente a

identidade da comunidade A data foi escolhida como forma de memorizar as grandes lutas jaacute

vividas pelos negros em prol da liberdade e dos direitos dos afrodescendentes

Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras

Fonte Dados da pesquisa 2014

34

Em comemoraccedilatildeo ao Dia da Consciecircncia Negra outras comunidades quilombolas

satildeo convidadas e prestigiam a comunidade e a Santa reverenciada A comunidade de

Pimenteiras eacute tambeacutem muito conhecida pelo festejo agrave Senhora do Livramento alimentos e

muacutesicas satildeo oferecidos durante o dia e a noite a todos que vecircm para comemorar a data tatildeo

significativa ao povo quilombola

Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas

FonteDados da pesquisa 2014

35

Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada

FonteDados da pesquisa 2014

O povo quilombola eacute um povo alegre que gosta de muacutesica e de danccedila O canto estaacute

sempre presente em seu cotidiano e nas festas da comunidade A cerimocircnia relata a vida as

lutas e a esperanccedila de melhorias para os moradores Eacute atraveacutes da religiosidade que

demonstram todo cuidado e respeito pela terra Na Ladainha a presenccedila da feacute catoacutelica vem

misturada com a forccedila dos tambores e das cordas dos violotildees Eacute nesse conjunto de

movimentos que as histoacuterias de luta de um povo satildeo recontadas sobre a terra a produccedilatildeo

agriacutecola e a identidade dos moradores que transcorrem no festejo

36

Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda

Fonte Dados da pesquisa2014

A festa tradicional eacute resultado de influecircncias negras indiacutegenas e catoacutelicas A

comunidade corteja a Santa do Livramento e as riquezas obtidas durante o ano A fartura estaacute

simbolizada nas oferendas apresentadas durante a celebraccedilatildeo quando satildeo colocados diversos

produtos cultivados na regiatildeo O ritual festivo entrecruza e atravessa ritmos vozes e jogos em

um sistema de imagens da festa popular no qual fim e recomeccedilo dialogam em um estado

coletivo de alegria A festa eacute a passagem do tempo demarcada pela colheita que tem uma

funccedilatildeo renovadora

Durante a cerimocircnia a senhora Libacircnia dos Santos Cunha eacute quem reza e conduz o

cortejo Considerada mais importante que o padre a senhora vem de outra comunidade mas

seu comando direciona o canto da Ladainha A atividade religiosa marca a passagem de

tempo do cultivo da terra significando a oportunidade de reunir pessoas de diversas

comunidades conjugando feacute alegria poliacutetica e reencontros entre familiares e amigos

Enquanto comungam os festejos os moradores discutem tambeacutem o futuro da comunidade

A festa popular eacute demorada e marcada por uma sucessiva e deliciosa comilanccedila

divulgando a abundacircncia e a fartura no ano que passou A celebraccedilatildeo eacute o momento no qual

evocam o poder dos mais velhos legitimam as famiacutelias abrem espaccedilo para os mais novos e

transmitem experiecircncias profundas

37

Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas

Fonte Dados da pesquisa 2014

Os antepassados satildeo lembrados nas praacuteticas cotidianas a famiacutelia eacute evocada na

presenccedila importante da mulher que simboliza o papel de geradora O papel feminino nas

questotildees poliacuteticas reforccedila essa ideia a senhora Domingas direciona junto a outras mulheres

todo o ritual a Nossa Senhora do Livramento aleacutem dos cuidados com a comida e de

participaccedilatildeo nas questotildees poliacuteticas da comunidade

Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento

Fonte Dados da pesquisa 2014

38

Vinda de origem portuguesa a devoccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento surgiu de

uma graccedila alcanccedilada haacute cerca de 50 anos por um agricultor quilombola que invocou o

livramento de todo o mal durante os trabalhos na lavoura A promessa eacute renovada todos os

anos com uma homenagem agrave Santa Tal culto foi tomado e seguido por todos os moradores da

comunidade e hoje comemoram a feacute por meio da graccedila alcanccedilada Logo abaixo segue um

trecho da Ladainha utilizada na celebraccedilatildeo agrave Senhora do Livramento na comunidade de

Pimenteiras A oraccedilatildeo completa se encontra no apecircndice ao final deste trabalho

Ladainha a Nossa Senhora do Livramento (fragmento)

Nossa Senhora do Livramento

Matildee de Deus nossa Matildee

e padroeira de nossa Paroacutequia

Com o olhar confiante vos contemplamos

Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos

Dirigimo-nos a voacutes como filhos

porque necessitamos do vosso auxiacutelio

Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados

apoiados e guiados pela matildeo materna

Renovai-nos espiritualmente

para que saibamos enxergar a vida mais bela

Levantai-nos para caminhar sem medo

nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo

para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna

[]

Nossa Senhora do Livramento

Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da alma

[]

Rogai por noacutes santa Matildee de Deus

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos

perpeacutetua sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-

aventurada sempre Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da

eterna alegria Por Cristo Nosso Senhor Ameacutem

Apoacutes verificarmos um pouco da cultura religiosa dos remanescentes de quilombola

de Pimenteira abordaremos no toacutepico seguinte as lutas que os moradores vivenciam e as

muitas conquistas alcanccediladas apoacutes a criaccedilatildeo e fundaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Quilombola dos

Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP)

39

222 AQUAFAP o desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola nos

saberes das plantas medicinais

Sabendo que uma associaccedilatildeo25

eacute uma iniciativa formal ou informal que reuacutene

pessoas fiacutesicas ou outras sociedades legais com objetivos comuns que visam superar as

dificuldades e gerar benefiacutecios para os seus membros a Associaccedilatildeo Quilombola dos

Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP) foi criada pelos moradores da

comunidade no intuito de legalizar e alcanccedilar seus projetos De forma geral qualquer que seja

o tipo ou os objetivos para sua criaccedilatildeo pode-se dizer que a associaccedilatildeo eacute uma forma de

legalizar a uniatildeo de pessoas em torno de seus interesses e que sua constituiccedilatildeo permite

alcanccedilar condiccedilotildees melhores do que os indiviacuteduos teriam isoladamente para a realizaccedilatildeo dos

seus planos Assim toda associaccedilatildeo eacute a forma mais baacutesica para se organizar juridicamente um

grupo de pessoas para a concretizaccedilatildeo de desiacutegnios comuns Seus princiacutepios enquadram-se na

doutrina de que juntos podemos encontrar soluccedilotildees melhores para os conflitos que a vida em

sociedade nos apresenta

Pensando nisso os moradores remanescentes de quilombo conheceram sonharam e

concretizaram o plano de fundar uma entidade que representasse e conseguisse alcanccedilar seus

objetivos de melhoria de vida diante das muitas dificuldades enfrentadas na comunidade ante

o descaso dos governos Historicamente os quilombolas satildeo um grupo que juntos

conseguiram a tatildeo aspirada liberdade hoje essa luta continua na busca de direitos negados no

contexto histoacuterico como se pode conferir a respeito

Quilombo natildeo significou apenas um lugar de refuacutegio de escravos fugidos mas a

organizaccedilatildeo de uma sociedade livre formada de ldquohomens e mulheres que se recusavam viver sob o regime da escravidatildeo e desenvolviam accedilotildees de rebeldia e de

luta contra esse sistemardquo (MUNANGA GOMES 2006)

Considerada como berccedilo dos remanescentes de quilombolas a comunidade Narciacutesea

possui grande nuacutemero de pessoas descendentes de negros Nos relatos contados pela moradora

Domingas sua matildee dona Otiacutelia veio da Narciacutesea muito tempo atraacutes em busca de terras para

o cultivo Apoacutes muitas viagens dona Otiacutelia junto de sua famiacutelia decidiu criar raiacutezes na regiatildeo

25 O significado do termo foi refletido sobre pesquisa feita no site httpwwwasaescorgindexphpa-

associacaoo-que-e-uma-associacao

40

da Pimenteira Depois de sua instalaccedilatildeo representantes do CEDENPA e do MALUNGU26

vieram da Narciacutesea para saber os motivos que levaram a senhora a se mudar da regiatildeo

Segundo relatos os motivos foram o fato de casar e desejar trabalhar na terra para viver

melhor Sabe-se que

Muitas comunidades foram formadas apoacutes a promulgaccedilatildeo da Lei Aacuteurea que

extinguiu a escravidatildeo por uma forte razatildeo era a uacutenica possibilidade do negro

viver em liberdade em um espaccedilo onde sua cultura natildeo era desprezada sendo

possiacutevel por isso preservar a dignidade (MUNANGA GOMES 2006)

Muitas pessoas ajudaram os moradores da comunidade de Pimenteiras a conhecer

suas origens Foi com dona Otiacutelia que souberam da remanescecircncia de quilombo jaacute com o

padre Rafael27

os moradores desenvolveram projetos via Pastoral da Igreja mas foi com o

senhor e professor Cardoso28

que os moradores conheceram o que era uma associaccedilatildeo e quais

seus benefiacutecios Orientados por este senhor alguns moradores conseguiram adquirir

documentos de identificaccedilatildeo que natildeo possuiacuteam aleacutem disso foram orientados a fundar uma

associaccedilatildeo quilombola para conseguir melhorias para a comunidade Com a ajuda da senhora

Nazareacute29

os documentos e atas da associaccedilatildeo foram registrados e legalizados

Atraveacutes da legalizaccedilatildeo da associaccedilatildeo os moradores deram iniacutecio agrave titularidade da

terra Representantes do CEDENPA MALUNGU e INCRA visitaram diversas vezes a

comunidade com entrevistas e a verificaccedilatildeo das limitaccedilotildees de terra para o processo de

titularidade Hoje o processo continua em andamento devido aos muitos impasses na regiatildeo

como por exemplo a presenccedila de agricultores natildeo quilombolas com terra na comunidade de

Pimenteiras

Passadas quase duas deacutecadas da publicaccedilatildeo do artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 e quatro anos da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 48872003 que regulamenta o

processo de identificaccedilatildeo reconhecimento demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras

ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombolas atualmente a luta

continua nos acircmbitos juriacutedico e educacional (SILVA 2000)

26A Palavra Malungu vem de origem africana significa COMPANHEIRO Assim lado a lado lutamos pela

garantia de nossos direitos e pelo reconhecimento social dos quilombolas A Coordenaccedilatildeo Estadual das

Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Paraacute foi oficialmente fundada em marccedilo de

2004 como uma organizaccedilatildeo sem fins lucrativos e econocircmicos para representar as comunidades quilombolas do

ParaacutePesquisa no site httpsmalunguparawordpresscom

27 Paacuteroco da cidade de Santa Luzia do Paraacute na deacutecada de 80 28Professor que foi enviado pelo CEDENPA para orientar os moradores de Pimenteiras nos anos 90 29Maria de Nazareacute Reis Ghirard eacute professora engenheira agrocircnoma e representante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Paraacute ndash CEDENPA aleacutem de outros oacutergatildeos direcionados na preservaccedilatildeo da biodiversidade de

comunidades da regiatildeo aleacutem de desenvolver trabalhos de valorizaccedilatildeo da mulher e do negro

41

O dia 03 de dezembro de 2007 eacute a data de abertura da AQUAFAP Muitas

dificuldades ocorreram para conseguir documentar algumas pessoas da comunidade natildeo

ajudaram mas a maioria se empenhou e buscou realizar tal objetivo Desde entatildeo muitos

projetos foram criados dentre os quais o Bioenergeacutetico e os trabalhos com as plantas que

surgiram via associaccedilatildeo

Com o auxiacutelio da professora Nazareacute e o conhecimento jaacute existente sobre as plantas

medicinais os moradores estudaram e trabalharam na comunidade com tal saber Futuramente

os moradores desejam conseguir pela AQUAFAP um projeto de preservaccedilatildeo e

reflorestamento na regiatildeo da Pimenteira direcionado ao Fundo Dema30 poreacutem o impasse

continua na definiccedilatildeo da titularidade da terra Hoje a associaccedilatildeo eacute tida com algo de grande

valor aos moradores da comunidade devido ao grande conhecimento e oportunidades de

melhorias para todos Muitos estatildeo engajados natildeo apenas com a associaccedilatildeo mas tambeacutem com

questotildees da Igreja e principalmente com as plantas medicinais que mesmo tendo paralisado

o trabalho com o Bioenergeacutetico os saberes adquiridos se multiplicam e propagam uma

valorizaccedilatildeo maior dos saberes sobre as plantas

Detentores de um patrimocircnio cultural rico e valoroso poreacutem desconhecido de

muitos as comunidades remanescentes de quilombolas satildeo formadas de grupos

sociais cuja identidade eacutetnica constitui a base de suas vivecircncias cotidianas bem

como das accedilotildees poliacuteticas levadas a feito pelas entidades que lutam pelos seus

direitos (SILVA 2000)

Eacute perante tamanha riqueza de conhecimento que veremos no toacutepico seguinte como o

trabalho com o Bioenergeacutetico deixou intensos saberes sobre as plantas de uso medicinal que

marcaram profundamente a vida dos moradores da Pimenteira e se tornaram uma identidade

para a comunidade e seus moradores

30O Fundo Dema Quilombolas do Paraacute ou Fundo Dema de Apoio agraves Comunidades Quilombolas do Paraacute surgiu

em 2008 numa dinacircmica interativa entre a Coordenaccedilatildeo das Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de

Quilombolos (Malungu) Fase AmazocircniaFundo Dema e Fundaccedilatildeo Ford para a constituiccedilatildeo de uma linha de

accedilatildeo e financiamentos voltada exclusivamente para as comunidades quilombolas do Paraacute Sua criaccedilatildeo respondeu

a uma demanda especiacutefica por entender que essas comunidades demonstram uma dinacircmica emancipatoacuteria uacutenica

aleacutem de se constituiacuterem como um segmento importante das populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia Paraense Tem

por objetivo promover a conquista dos DhESCArsquos (Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais) das comunidades quilombolas e contribuir para a consolidaccedilatildeo da articulaccedilatildeo estadual da Malungu

na conquista e garantia destes direitos Pesquisa no site httpwwwfundodemaorgbr

42

223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico

Buscar a natureza para sanar as enfermidades eacute um procedimento antigo que ateacute os

dias atuais persiste especialmente em comunidade e grupos eacutetnicos distantes dos recursos das

cidades tais como a sauacutede Eacute comum vermos pessoas fazendo uso de plantas medicinais em

rituais religiosos como tambeacutem no tratamento de doenccedilas por vezes eacute o uacutenico recurso

terapecircutico usado Em muitas regiotildees e ateacute mesmo nas grandes cidades as plantas medicinais

satildeo comercializadas em feiras livres comeacutercio popular e nos quintais de nossas casas Em

Beleacutem por exemplo no mercado do Ver-o-Peso temos o banho de cheiro31

que eacute preparado

com o uso de diversas plantas aromaacuteticas e muito procurado pelas pessoas para melhorar

aspectos da vida amor dinheiro e a cura de doenccedilas

Observando a cultura popular quanto agrave eficaacutecia das plantas medicinais percebemos

que haacute uma divulgaccedilatildeo dos valores terapecircuticos das plantas mesmo natildeo tendo informaccedilotildees

das propriedades quiacutemicas Assim pessoas de todo o mundo manteacutem a praacutetica do consumo

fitoteraacutepico validando as informaccedilotildees terapecircuticas que foram acumuladas ao longo dos

seacuteculos sobre as plantas medicinais Segundo Pinheiro (2002 p 16)

a grande procura pelas Terapias Alternativas eacute resultado de vaacuterios aspectos O que

chama mais a atenccedilatildeo eacute que grande parte das pessoas jaacute passou pelo tratamento da

medicina tradicional e natildeo tiveram os resultados que esperavam Mas quando se fala

em Terapia Alternativa no Brasil eacute preciso esclarecer que se trata na maioria dos

casos de praacuteticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina Apenas a

homeopatia e a acupuntura satildeo reconhecidas como especialidades meacutedicas Mas alguns ramos das Terapias Alternativas cobrem aacutereas que a medicina convencional

despreza e que em muitos casos podem ser uma uacutenica e uacutetil complementaccedilatildeo ao

tratamento convencional

Para Levi Strauss (1970 p 51) ldquoquando uma accedilatildeo terapecircutica natildeo alcanccedila o

resultado esperado a feacute e a crenccedila no sistema permanecem pois elas satildeo sempre coletivasrdquo O

que persiste nesses saberes eacute a crenccedila de que haveraacute a melhora ou cura das doenccedilas por meio

dos medicamentos naturais Dentre as praacuteticas alternativas de sauacutede uma muito conhecida eacute a

Bioenergeacutetica32

Esse meacutetodo requer alguns requisitos importantes para seu uso segundo

Barbieri (2008 p 18)

31 As principais plantas usadas para fazer o banho de cheiro segundo seus nomes populares satildeo catinga de mulata

chama abre caminho vindica manjericatildeo manjerona de angola alecrim de angola trevo da sorte trevo do mar japana

branca priprioca aleacutem de oacuteleos de jasmin uirapuru e patchouli 32 Bioenergeacutetica eacute a energia da vida Eacute uma nova teacutecnica de diagnoacutestico e tratamento de doenccedilas baseada na sabedoria do inconsciente humano Esta sabedoria segundo garantem eminentes psicoacutelogos eacute inata e igual para

todos portanto natildeo depende de nenhum estudo mas nos foi infundida por Deus no momento da concepccedilatildeo Eacute

43

O praticante deve ter um bom conhecimento de anatomia e fisiologia para conhecer

os pontos do exame bem como o funcionamento do organismo Ter conhecimento

da energia e de como ela age e reage no organismo conhecer os princiacutepios baacutesicos

da energia e exercitar-se energeticamente treinar com os dedos para ter domiacutenio do campo energeacutetico fazer parceria com um companheiro (a) como o (a) qual

estabelece uma sintonia energeacutetica possibilitando seguranccedila nos testes

O meacutetodo da Bioenergeacutetica originaacuterio do processo de desintoxicaccedilatildeo do corpo pelo

Biosauacutede eacute um procedimento realizado atraveacutes do bioteste ndash ou o teste do anel ndash que revela

problemas de sauacutede presentes no paciente O teste possibilita que a pessoa qualificada tenha

uma visatildeo especiacutefica de todos os pontos a serem cuidados O tratamento eacute feito a base de

plantas medicinais argila alimentaccedilatildeo saudaacutevel e banhos O Biosauacutede ou meacutetodo do

Bioenergeacutetico trata o corpo por completo33

Conhecendo os benefiacutecios que o Bioenergeacutetico pode trazer a senhora Nazareacute propocircs

para os moradores da Pimenteira criar um projeto que pudesse realizar esse trabalho na

comunidade pois alguns moradores jaacute possuiacuteam conhecimento sobre o uso das plantas

medicinais Assim o Bioenergeacutetico foi um dos projetos criados pela AQUAFAP Alguns

ficaram com receio desse trabalho outros moradores receberam bem a proposta e valorizaram

o trabalho que durou em meacutedia um ano

Muitas plantas nativas e caseiras foram cultivadas e catalogadas nesse periacuteodo As

pessoas que foram preparadas por meio do curso de Bioenergeacutetico ficaram cerca de dois anos

estudando pelo CEDENPA eram elas a irmatilde da Domingas Maria Ilene Alves do Nascimento

a senhora Maria Valdenira de Sousa Zacarias e a senhora Maria Zenir dos Santos Castro

Estas pessoas foram a Beleacutem para fazer o curso do Bioenergeacutetico com orientaccedilatildeo da senhora

Nazareacute e adquiriram diversos conhecimentos dentre os quais saber qual doenccedila havia no

corpo de algueacutem

Contudo com o passar dos trabalhos ocorreram desavenccedilas e as pessoas agrave frente do

projeto foram perdendo o interesse e por fim natildeo continuaram em busca de melhorar e

ampliar esse saber e aos poucos pararam de executar o Bioenergeacutetico na comunidade Hoje

um meacutetodo simples que se utiliza apenas dos dedos das matildeos entrelaccediladas em forma de anel feito por duas

pessoas examinadoras Tambeacutem usa uma vareta de metal para encostar na pessoa a ser examinada Pesquisado

no dia 03122014 as 2311hs no site httpwwwjaimebruningcombrbio_saudephp

33 Durante a consulta o paciente eacute submetido ao teste bioenergeacutetico no qual um profissional da equipe faz um

elo usando os dedos polegar e indicador enquanto outro da equipe tambeacutem faz um anel em cada uma de suas

matildeos entrelaccedilando os dedos do outro Com um arame ou metal que conduza corrente um deles vai tocando os

pontos de checagem a matildeo reagiraacute de forma diferente em cada novo toque Quando tocar um oacutergatildeo sadio o imatilde

seraacute mais forte Pesquisado no dia 30072015 as 1734hs no sitehttpwwwcurapelanaturezacombr201103biosaude-desintoxicacao-e-energizacaohtml

44

muitos na comunidade sentem a falta e tem a necessidade de serem tratados por esse saber

mas as pessoas foram instruiacutedas a natildeo transmitirem esse saber para outros e pararam os

trabalhos O local era chamando de ldquoCentro Popular Biosauacutede Pornusenardquo em homenagem agrave

avoacute da senhora Domingas Vejamos abaixo a imagem do local onde antes era realizado o

trabalhado com o bioenergeacutetico e que hoje eacute lugar de encontros para os associados da

AQUAFAP

Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena

Fonte Dados da pesquisa 2013

O centro popular eacute equipado com geladeira armaacuterio fogatildeo mesas e principalmente

o cataacutelogo com as amostras e os nomes das plantas colhidas pelos moradores da comunidade

para a realizaccedilatildeo do trabalho com o Bioenergeacutetico As imagens a seguir satildeo do local onde

ocorriam os trabalhos e tambeacutem a mesa que conteacutem os desenhos da anatomia e fisiologia do

organismo humano

Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico

Fonte Dados da pesquisa 2013

45

Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o funcionamento do organismo

Fonte Dados da pesquisa 2013

O cataacutelogo com amostras das plantas nativas e caseiras da comunidade de

Pimenteiras eacute um acervo rico de informaccedilotildees relacionadas com a biodiversidade da regiatildeo Os

nomes estatildeo escritos de acordo com o saber que os moradores possuem sobre a liacutengua escrita

o que traz maior qualidade nos estudos sobre os termos das plantas escritos pelos moradores

da comunidade quilombola Observemos abaixo algumas plantas dissecadas de forma

tradicional e nomeadas no cataacutelogo

Fotografia 11 ndash Salsa dissecada

Fonte Dados da pesquisa 2013

46

Fotografia 12 ndash Canela dissecada

Fonte Dados da pesquisa 2013

Fotografia 13 ndashVinagreira dissecada

Fonte Dados da pesquisa ano 2013

Observamos que o trabalho com o Bioenergeacutetico proporcionou grande riqueza de

dados os quais objetivamos analisar e conhecer mais profundamente no intuito de contribuir

47

para os estudos cientiacuteficos da Liacutengua por meio dos saberes tradicionais Entretanto o que eacute

conhecimento e o que eacute saber Esse e outros aspectos seratildeo observados no capiacutetulo seguinte

no qual abordaremos as diferenciaccedilotildees entre Conhecimento e Saber

Apontando na comunidade tradicional os sujeitos de saberes bem como a presenccedila

do gecircnero nesses saberes sobre as plantas medicinais incluindo especificamente a detentora

do saber das plantas que eacute a senhora Domingas para finalmente observarmos como tais

saberes constituem a identidade cultural da comunidade quilombola de Pimenteiras

23 SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM PIMENTEIRAS

A partir da compreensatildeo dos saberes como praacuteticas discursivas Michel Foucault

(2009)34

depreende que nesse discurso os termos Saber35

e Conhecimento36

geralmente satildeo

palavras utilizadas no senso comum como sinocircnimas Analisamos que a palavra ldquosaberrdquo

significa ter conhecimento de algo teoacuterico ou praacutetico eacute uma habilidade resultante da

experiecircncia da praacutetica da sabedoria e da cultura O saber eacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito que

sabe e o objeto a ser conhecido eacute um sentimento de seguranccedila que se produz quando se tem

consciecircncia dessa relaccedilatildeo posta em movimento numa dada realidade Jaacute o termo

34 Michel Foucault foi um filoacutesofo historiador das ideias teoacuterico social filoacutelogo e criacutetico literaacuterio Suas teorias abordam a relaccedilatildeo entre poder e conhecimento como eles satildeo usados como uma forma de controle social por

meio de instituiccedilotildees sociais 35Saber - Verbo Transitivo direto transitivo indireto e intransitivo 1conhecer ser ou estar informado ter

conhecimento de 2ter conhecimentos especiacuteficos (teoacutericos ou praacuteticos) 3estar convencido de ter a certeza de

(coisas presentes e futuras) prever pressentir 4ter forccedila meacuterito meio capacidade ou possibilidade de 5ter

habilidade jeito etc para 6poder explicar compreender 7ser capaz de conseguir 8guardar na memoacuteria

decorar 9indagar perguntar 10julgar considerar ter como 11fazer jus a merecer 12ter gosto de lembrar o

sabor de ter sabor ser saacutepido 13soma de conhecimentos adquiridos sabedoria cultura erudiccedilatildeo 14prudecircncia e

sensatez ao agir experiecircncia 15capacidade resultante da experiecircncia praacutetica 36Conhecimento- Substantivo masculino Ato ou efeito de conhecer 1 O ato ou a atividade de conhecer

realizado por meio da razatildeo eou da experiecircncia 11ato ou efeito de apreender intelectualmente de perceber um

fato ou uma verdade cogniccedilatildeo percepccedilatildeo 12Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato estado ou condiccedilatildeo de compreender entendimento 2 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa conhecida 21Derivaccedilatildeo por extensatildeo de

sentido Domiacutenio teoacuterico ou praacutetico de um assunto uma arte uma ciecircncia uma teacutecnica etc competecircncia

experiecircncia praacutetica 3 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia Faculdade de conhecer 4 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido

Intuiccedilatildeo pressentimento ou outra forma de cogniccedilatildeo 5 Fato de reconhecer uma coisa como adrede sabida ou

conhecida reconhecimento 6 Familiaridade (com uma coisa ou uma pessoa) adquirida pela experiecircncia 7

Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Ato ou efeito de estabelecer uma relaccedilatildeo com algueacutem em grau de

intimidade variaacutevel mas ger menor que na amizade 8 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Pessoa com quem se

estabeleceu uma ligeira relaccedilatildeo pessoal ou que pelo menos se sabe de quem se trata 9 Derivaccedilatildeo por extensatildeo

de sentido Uso formal Diacronismo antigo Relaccedilatildeo carnal do homem e da mulher 10 Derivaccedilatildeo por

extensatildeo de sentido Uso formal Diacronismo antigo Noccedilatildeo que cada um tem de sua proacutepria existecircncia e das

pessoas familiares coisas fatos do dia-a-dia consciecircncia lucidez 11 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato ou condiccedilatildeo de estar ciente ou consciente de (algo) 12 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa que se conhece de

que se sabe de que se estaacute informado ciente ou consciente []

48

ldquoconhecimentordquo eacute o ato de conhecer algo por meio da razatildeo ou da experiecircncia eacute portanto o

domiacutenio de um assunto teoacuterico ou praacutetico a ser adquirido (SILVA 2009 p 263)

Observamos que as palavras Saber e Conhecimento sugerem uma relaccedilatildeo do sujeito

com o objeto conhecido ou a ser conhecido Essa relaccedilatildeo do sujeito com o objeto ocorre pela

familiarizaccedilatildeo do sentido com o componente a ser compreendido assim Saber e

Conhecimento satildeo palavras tomadas no dicionaacuterio como sinocircnimas Ambas significam

experiecircncia ciecircncia percepccedilatildeo informaccedilatildeo e ato de conhecer

Entretanto no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras as palavras saber e conhecimento natildeo teratildeo significaccedilatildeo semelhante Isto se

confirma nos estudos de Foucault (1987) sobre a relaccedilatildeo de poder e saber O autor ressalta a

ideia de que na produccedilatildeo dos saberes haacute sempre uma dependecircncia muacutetua entre estas

categorias Para ele natildeo haacute saber sem estar tocado pelas complexas relaccedilotildees de poder mas

essas relaccedilotildees se constituem em conjunto com a produccedilatildeo dos saberes (FREITAS 2005)

Eacute nesse contexto de poder que Foucault diferencia o conceito de saber e de

conhecimento Para o pesquisador o conhecimento eacute a constituiccedilatildeo de discurso sobre classe

de objetos passiacuteveis de se conhecer ou seja cognosciacuteveis que satildeo construiacutedos pelo processo

de racionalizaccedilatildeo identificaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo dos objetos Jaacute o saber segundo o

pesquisador eacute um processo flexiacutevel que sofre mudanccedilas durante o trabalho de conhecer

enquanto o conhecimento eacute carregado e estagnado

Foucault ainda explica que o sujeito cognitivo eacute marcado por sua cultura pelos

aspectos externos e de uma memoacuteria que atravessa o tempo atraveacutes das significaccedilotildees

pensamentos e desejos no acircmbito do conhecimento (ALMEIDA 2012) Com base nesses

estudos compreendemos que os saberes dos moradores da comunidade de Pimenteiras satildeo

construiacutedos constantemente nas relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridos culturalmente

Observamos que a palavra conhecimento eacute uma verdade preacute-construiacuteda linear

imoacutevel independente do contexto no qual seraacute processada No decorrer dos questionamentos

compreendemos que a palavra conhecimento se refere a situaccedilotildees objetivas e teoacutericas que

devidamente sistematizadas datildeo lugar agrave ciecircncia A palavra saber por sua vez pode referir-se

a situaccedilotildees tanto objetivas como subjetivas tanto teoacutericas quanto praacuteticas eacute como se a palavra

conhecimento coubesse dentro da palavra saber e natildeo o contraacuterio

Para nos ajudar na compreensatildeo desses termos citamos Zubiri (1974) que em seus

estudos mostra que o homem tem um modo de experiecircncia com as coisas de uma maneira

simples e uacutenica Eacute um saber que toca no iacutentimo de cada coisa natildeo eacute a percepccedilatildeo de cada uma

de suas caracteriacutesticas eacute uma espeacutecie de sentido do ser Eacute a experiecircncia que temos com o

49

objeto colocando-o no espiacuterito Desta forma Monteil (1985 apud Charlot 2000 p 61) assim

distingue

O conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal ligada agrave atividade de um

sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas como tal eacute intransmissiacutevel estaacute

ldquosob a primazia da subjetividaderdquo Assim como a informaccedilatildeo o saber estaacute ldquosob a

primazia da objetividaderdquo mas eacute uma informaccedilatildeo de que o sujeito se apropria

Desse ponto de vista eacute tambeacutem conhecimento poreacutem desvinculado do ldquoinvoacutelucro

dogmaacutetico no qual a subjetividade tende a instalaacute-lordquo O saber eacute produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos eacute construiacutedo em ldquoquadros metodoloacutegicosrdquo

Pode portanto ldquoentrar na ordem do objetordquo e torna-se entatildeo ldquoum produto

comunicaacutevelrdquo uma ldquoinformaccedilatildeo disponiacutevel para outrem

Saber natildeo eacute soacute entender a veracidade das coisas desde os seus princiacutepios haacute

necessidade de se conquistar realmente a posse da ldquorealidaderdquo Esta posse da ldquorealidaderdquo

permite colocar o conhecimento em accedilatildeo num determinado contexto o que ocasiona a

construccedilatildeo do saber pois natildeo basta apreendermos a ldquoverdade da realidaderdquo (conhecimento) eacute

necessaacuterio construirmos a ldquorealidade da verdaderdquo (saber) (MOTA 2008)

Para Schlanger (1978 apud Charlot 2000) saber e conhecimento mantecircm uma

pertinente relaccedilatildeo de interaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto Para ele a anaacutelise parece pertinente

ao dizer que natildeo haacute ldquosaberrdquo sem relaccedilatildeo entre sujeito e objeto outros sujeitos e outras

realidades A confrontaccedilatildeo pessoal do sujeito apropriado de conhecimentos numa realidade

especiacutefica e singular implica na atividade do sujeito de produzir saberes Schlanger (1978

apud CHARLOT 2000 p 22) expotildee que ldquoO saber eacute uma relaccedilatildeo um produto e um

resultado relaccedilatildeo do sujeito que conhece com seu mundo resultado dessa interaccedilatildeordquo

Enquanto o conhecimento para o pesquisador eacute exatamente a obtenccedilatildeo de uma imagem

cognitiva interna de uma verdade independente de uma realidade estabelecida pela relaccedilatildeo

cognitiva interna e ativa do sujeito sobre o objeto Assim o objeto de conhecimento eacute

qualquer realidade externa ao indiviacuteduo que atraveacutes do ato intelectual torna-se interna

O saber por sua vez necessita de uma relaccedilatildeo natildeo soacute interna do indiviacuteduo sobre o

objeto mas uma relaccedilatildeo entre esse sujeito seu conhecimento e uma dada realidade ou

contexto Por conta disso vemos o saber como o movimento do conhecimento em contato

com um determinado contexto numa dada realidade confrontando suas muacuteltiplas faces

transcendendo o conhecimento jaacute consolidado reinventando-o recriando-o e traduzindo-o

conforme as necessidades imperadas pelas circunstacircncias (SCHLANGER 1978 apud

CHARLOT 2000)

O saber e o conhecimento satildeo formas de relacionamento com a realidade formas de

dizer de pensar de ser e de estar no mundo e com o mundo Eacute com estas explanaccedilotildees sobre o

que individualiza o saber que entenderemos os saberes da comunidade de Pimenteiras

50

saberes de um povo que durante seacuteculos lutou para alcanccedilar sua liberdade seu direito agrave terra e

seu espaccedilo na sociedade Eacute pertinente ao ser humano a sobrevivecircncia por isso para Brandatildeo

(1993 p 20 apud PELAES 2010)

Haacute a necessidade de sobrevivecircncia do homem que cria mecanismos para se adaptar aos desafios da natureza Com isso o homem desenvolve meios de sobrevivecircncia

bens de uso e bens de troca dentro de um cenaacuterio de interaccedilotildees Tais homens atuam

como indiviacuteduos sujeitos do mundo da cultura pessoas que segundo o autor satildeo

agentes culturais e atores sociais convivendo em cenaacuterios da cultura

Em vista da necessidade de sobrevivecircncia os remanescentes de Quilombola da

comunidade de Pimenteiras possuem e utilizam os saberes que foram adquiridos de seus

antepassados sobre a manipulaccedilatildeo das plantas medicinais a fim de alcanccedilar a cura de

doenccedilas Tendo em vista as dificuldades de acesso aos recursos de sauacutede eles buscaram na

natureza as espeacutecies vegetais mais apropriadas para sua alimentaccedilatildeo ou para a cura de seus

males entre as geraccedilotildees

Apesar de muitas plantas serem uacuteteis ao homem existem aquelas que produzem

substacircncias toacutexicas ou venenosas assim eacute preciso saber bem as caracteriacutesticas de cada planta

para poder usaacute-la como remeacutedio Eacute comum se ouvir dizer que o uso das plantas medicinais ldquose

natildeo fizer bem mal natildeo faraacuterdquo poreacutem natildeo eacute bem assim Do ponto de vista cientiacutefico o saber

sobre as plantas ainda eacute um campo pouco estudado e difundido no paiacutes Apesar da riqueza da

flora brasileira os estudos na aacuterea ficam mais restritos agrave antropologia

O uso inadequado das plantas poderaacute trazer efeitos indesejados e por vezes ateacute a

morte do indiviacuteduo Eacute imprescindiacutevel ter conhecimento natildeo somente das plantas mas tambeacutem

das doenccedilas para fazer a seleccedilatildeo correta da planta a ser utilizada de acordo com a forma de

uso a frequecircncia a quantidade a idade e o metabolismo de cada pessoa Enfim os saberes

das plantas e os conhecimentos cientiacuteficos podem juntos contribuir para a sauacutede e bem estar

dos moradores da comunidade de Pimenteiras aleacutem de preservar sua cultura como identidade

cultural de um povo

Da distinccedilatildeo entre saber e conhecimento iremos ao toacutepico seguinte no qual

abordaremos a comunidade tradicional e os sujeitos de saberes sobre as plantas medicinais

Quem satildeo e o que caracteriza as comunidades tradicionais Que aspectos marcam sua

identidade como sujeitos de saberes Ou seja eacute a construccedilatildeo do sujeito atraveacutes do saber

adquirido entre as geraccedilotildees

51

231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes

Entendemos que o conhecimento eacute construiacutedo a partir do acuacutemulo de experiecircncias

vivenciadas no acircmbito fiacutesico e social Nas populaccedilotildees tradicionais37

que satildeo estas

constituiacutedas por grupos comunitaacuterios humanos os quais na sua maioria vivem no meio rural

habitando determinado territoacuterio com seus haacutebitos usos e costumes o conhecimento eacute

construiacutedo a partir da relaccedilatildeo com o meio em que vivem inserindo no ecossistema

preservaccedilatildeo significaccedilatildeo ressignificaccedilatildeo valores e saberes que seratildeo transmitidos de geraccedilatildeo

em geraccedilatildeo por procedimentos educativos tradicionais

Alguns aspectos diferenciam as populaccedilotildees tradicionais das populaccedilotildees natildeo

tradicionais tais como pouca acumulaccedilatildeo de bens apropriaccedilatildeo do espaccedilo natural estrateacutegias

de sobrevivecircncia a partir do conhecimento de fontes naturais adquiridas entre as geraccedilotildees e

vivecircncias com o meio aleacutem da construccedilatildeo de um modo de vida de acordo com os ciclos dos

recursos que a natureza oferece

As comunidades tradicionais se reconhecem como pertencentes a um grupo social

particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de cada grupo Assim

as sociedades tradicionais se apresentam mais homogecircneas do que as comunidades natildeo

tradicionais pois ocupam aacutereas de pouca densidade populacional com atividades agriacutecolas

festas culturais e cultos religiosos que funcionam como fator de aglutinaccedilatildeo social

Estas comunidades desenvolvem seus saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a

natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia de seu grupo Castro (2000 p 169)

compreende que as accedilotildees praticadas pelo homem e os mecanismos de intervenccedilatildeo na natureza

satildeo frutos do acuacutemulo de experiecircncias vivenciadas no meio e de saberes reelaborados no meio

social atraveacutes das geraccedilotildees

Nesse contexto observamos que a comunidade tradicional de Pimenteiras conteacutem

saberes conduzidos entre as geraccedilotildees e preservado de acordo com os costumes culturais que

os moradores quilombolas adquiriram com o passar do tempo tais saberes satildeo denominados

de conhecimento popular

O conhecimento popular agraves vezes denominado senso comum natildeo se distingue do

conhecimento cientiacutefico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto a ser conhecido O

que os diferencia eacute a forma o modo ou o meacutetodo do conhecer (LAKATTOS MARCONI

37 Art 3ordm Decreto nordm 6040 de 7 de fevereiro de 2007 presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva instituiu a Poliacutetica

Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT)

52

1991) Saber que determinada planta necessita de uma quantidade de aacutegua pode ser um

conhecimento verdadeiro e comprovado contudo isso natildeo o torna cientiacutefico Para haver

cientificidade eacute necessaacuterio ir mais aleacutem eacute preciso conhecer a natureza dos vegetais sua

composiccedilatildeo seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espeacutecie

da outra Assim demonstra-se que a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico caminho de acesso ao

conhecimento e agrave verdade e que um mesmo objeto como uma planta um mineral ou uma

comunidade pode ser objeto de estudo tanto para a ciecircncia quanto para o homem comum ou

seja o que caracteriza o conhecimento cientiacutefico do saber popular eacute a forma de observaccedilatildeo

(BUNGE 1974)

Eacute a partir da observaccedilatildeo que os saberes sobre as ervas e plantas foram adquiridos

entre as geraccedilotildees e hoje muitas comunidades tradicionais utilizam os recursos caseiros para

curar e amenizar as doenccedilas Segundo Bunge (1974 p 20) a Ciecircncia aspira pela

racionalidade e objetividade isto soacute eacute atingido de forma muito limitada O conhecimento

popular por sua vez busca o comum o corrente e o espontacircneo de conhecer algo que soacute se

adquire no trato direto com as coisas e com os seres humanos Para o autor o conhecimento

popular caracteriza-se pelo superficial sensitivo subjetivo assistemaacutetico e acriacutetico (ANDER-

EGG 1978)

No campo do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais este eacute um

saber que acompanha o movimento histoacuterico e cultural da humanidade Transmitido

oralmente de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo esses conhecimentos sobre as plantas medicinais

constituiacuteram o alicerce do conhecimento tradicional Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o

saber tradicional sobre as plantas medicinais passou a ser desvalorizado fato que

consequentemente causou a desvalorizaccedilatildeo cultural das comunidades tradicionais que as

utilizavam

Assim valorizar esse conhecimento estaacute intimamente ligado ao fortalecimento

cultural e identitaacuterio de uma dada comunidade Segundo Gallois (2006) o saber tradicional eacute

um conhecimento que deve ser respeitado pois eacute transmitido oralmente entre as geraccedilotildees

com praacuteticas e inovaccedilotildees e natildeo como um simples repositoacuterio de conhecimentos do passado A

praacutetica de uso das plantas medicinais tanto para cura fiacutesica quanto espiritual faz parte das

relaccedilotildees que os moradores da comunidade de Pimenteiras apreenderam ao longo do tempo na

observaccedilatildeo da natureza consigo mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas

de cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita

relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais

53

Conhecer as praacuteticas ancestrais de utilizaccedilatildeo das plantas medicinais ainda existentes

na comunidade de Pimenteiras aleacutem de conduzir a uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do saber

tradicional com o conhecimento cientiacutefico eacute aspecto relevante para fortalecer a identidade de

um povo A comunidade utiliza o saber tradicional sobre as plantas medicinais nas suas

praacuteticas cotidianas cuidando da sauacutede apesar disso ela ainda necessita compreender a

importacircncia deste saber para o fortalecimento da sua identidade cultural e construir um

diaacutelogo entre os saberes existentes na regiatildeo com o conhecimento cientiacutefico

Os saberes existentes sobre as plantas satildeo sem duacutevida uma forte marca na

comunidade de Pimenteiras Sobretudo vale destacar que na grande maioria das famiacutelias tal

saber eacute transmitido pelo gecircnero feminino As mulheres adultas e idosas satildeo as que mais se

destacam no acervo de conhecimento sobre as plantas Com isso observamos que o

conhecimento das plantas medicinais eacute ancestral e natural entre as geraccedilotildees femininas ou

seja as pessoas mais velhas satildeo consideradas as ldquoguardiatildesrdquo dos saberes de cura por meio das

plantas medicinais satildeo elas que conhecem os usos das plantas e perpetuam esse

conhecimento agraves geraccedilotildees posteriores

Em consideraccedilatildeo agraves moradoras quilombolas da comunidade de Pimenteiras que

perpetuaram tatildeo valoroso conhecimento e proporcionaram preservar os saberes das plantas

medicinais trataremos no toacutepico seguinte os aspectos referentes agrave presenccedila do gecircnero

feminino nos saberes sobre a plantas da comunidade de Pimenteiras

232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais

As plantas medicinais sempre fizeram parte da histoacuteria de muitos povos na

antiguidade Muito antes de frequentar as farmaacutecias para buscar o aliacutevio de alguma dor

buscamos em nossos quintais ou nas matas uma determinada planta que por conselho dos

mais velhos poderia resolver o problema Com o passar dos tempos diversos povos

utilizaram as plantas medicinais de diferentes formas Os portugueses quando chegaram ao

Brasil jaacute desfrutavam o poder das plantas medicinais os indiacutegenas por sua vez contribuiacuteram

muito com o conhecimento que jaacute possuiacuteam das plantas usadas como remeacutedio e alimento

Desse modo existem muitas maneiras de empregar as plantas no uso medicinal tais

como chaacutes garrafadas xaropes defumadores e banhos e nessas diferentes formas de uso das

54

plantas a grande diversidade de espeacutecies vegetais na Amazocircnia traz marcas da presenccedila

feminina no domiacutenio dos saberes sobre as plantas Segundo Rodrigues (2008 p 2)

Diante dessa sociodiversidade nos contextos amazocircnicos nosso recorte de apreensatildeo

da realidade busca perceber as afirmaccedilotildees quanto aos papeacuteis sociais empregados a

mulheres e homens no domiacutenio de um saber o das plantas medicinais apreender

diante desse contexto como se apresentam as relaccedilotildees de poder em relaccedilatildeo ao

conhecimento e demonstrar a visatildeo mercadoloacutegica sobre os conhecimentos

tradicionais que se apropria da oacutetica patriarcalista reafirmadora de estereoacutetipos que

naturaliza as relaccedilotildees sociais e portanto como tais aspectos influem diretamente

nas questotildees soacutecio-culturais da sauacutede popularcoletiva e no acircmbito de poliacuteticas

sociais

As plantas medicinais satildeo usadas haacute milecircnios como fonte de cura Apesar de a Idade

Meacutedia ser conhecida como Idade das Trevas foi uma eacutepoca em que a Europa Medieval sofreu

uma forte mudanccedila nos haacutebitos alimentares Nessa eacutepoca os vegetais passaram a ser pouco

consumidos havendo preferecircncia para as carnes patildees e frutas Com isso o conhecimento

sobre as plantas ficou armazenado nas matildeos da Igreja Catoacutelica que utilizava-os apenas para a

medicina e a praacutetica espiritual

As mulheres desse periacuteodo que possuiacutessem certo conhecimento sobre as plantas

medicinais para curar as enfermidades nos familiares eram fortemente rejeitadas julgadas e

condenadas como pecadoras e hereges eram mortas agrave fogueira pois na visatildeo da Igreja quem

tivesse tal conhecimento enganava as leis divinas com rituais que iam contra os seus

preceitos Assim vaacuterias mulheres foram perseguidas e acusadas de bruxaria e por

conseguinte foram assassinadas pela praacutetica de suas crenccedilas e cultura

As mulheres foram em grande nuacutemero acusadas de bruxaria e em consequumlecircncia

desmoralizadas ou tiveram que aceitar como espuacuterios e iliacutecitos os seus saberes

aqueles que compartilhavam com outras mulheres na convivecircncia entre matildees e

filhas uma geraccedilatildeo apoacutes outra (TELLES apud RAGO FUNARI 2008 p81)

Ao observarmos a relaccedilatildeo entre a presenccedila feminina com o saber sobre as plantas

verificamos que a autoridade no conhecimento pode revelar mais que uma praacutetica cultural e

histoacuterica predominante agraves mulheres Esta praacutetica revela um contexto domeacutestico no qual o

trabalho das mulheres eacute revestido pelas relaccedilotildees de poder Em casa o saber o uso e o manejo

das plantas medicinais eacute algo predominante ao gecircnero feminino Essa observaccedilatildeo estaacute

relacionada com as diferenccedilas entre gecircneros e na divisatildeo social e sexual Pelo fato de ser

ldquoobrigadardquo a cuidar dos filhos a mulher tem por extensatildeo a preocupaccedilatildeo maior em saber dos

usos de plantas medicinais por estar diretamente ligada ao sentimento de zelo sauacutede e bem

estar da famiacutelia

55

Nesse contexto as plantas medicinais normalmente satildeo manejadas em quintais

espaccedilo considerado parte do ambiente domeacutestico e feminino assim como o cuidado com os

filhos que natildeo eacute visto como ldquotrabalhordquo Nas observaccedilotildees de Gonccedilalves a accedilatildeo de trabalhar

com as plantas estaacute relacionada ao seguinte conceito ldquoTrata-se da forma como cada cultura

lida com as diferenccedilas entre os sexos alocando a cada um deles determinados atributos e agrave

maneira como estes atributos satildeo valorados socialmenterdquo (GONCcedilALVES 1998 p 51)

Assim pode-se afirmar que eacute comum ao gecircnero feminino conhecer e saber utilizar as

plantas medicinais como forma de prevenccedilatildeo e bem estar proacuteprio e comunitaacuterio Para a

mulher ter propriedade no conhecimento das plantas medicinais estaacute relacionado com o

cuidado aos filhos afinal isto representa o principal motivo para ter aprendido com a matildee a

avoacute a tia ou a vizinha eacute uma ldquoheranccedila de saberrdquo da transmissatildeo frequente entre as geraccedilotildees

e de transmissatildeo entre as mulheres

Como bem menciona Tosi (1998) o fato de que as bruxas eram mulheres que

detinham conhecimentos eram mulheres saacutebias de conhecimentos empiacutericos que praticavam

desde eacutepocas ancestrais demonstra um pouco desse trajeto sobre o saber das plantas

medicinais que passou por geraccedilotildees femininas as quais foram tidas como guardiatildes do saber

Nas comunidades tradicionais as mulheres tambeacutem guardam tais saberes medicinais

das plantas Assim seguiremos no toacutepico seguinte tratando especificamente sobre uma

moradora da comunidade de Pimenteira uma mulher que ateacute os dias atuais traz saberes de

suas ancestrais como forma de perpetuar e preservar um conhecimento que hoje identifica um

povo

233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes

A confianccedila em alcanccedilar a cura de diversas enfermidades do corpo por meio do uso

medicinal de plantas eacute um conhecimento conservado entre as geraccedilotildees femininas na regiatildeo da

Pimenteira Avoacutes matildees filhas e netas constituem um ciacuterculo no qual os saberes tecircm sido

repassados entre as geraccedilotildees

As mulheres da comunidade de Pimenteiras vivem o costume de cuidar da casa

educar os filhos e ajudar os maridos nos trabalhos da roccedila Elas satildeo encarregadas de muitas

atividades dentre as quais o manejo da terra para auxiliar o marido nas atividades da

agricultura eacute bastante comum No entanto o contraacuterio natildeo ocorre ou seja os homens natildeo

56

cuidam dos filhos natildeo preparam as refeiccedilotildees e nem manipulam as plantas para o uso

medicinal

A heranccedila do saber sobre o uso das plantas medicinais eacute puramente feminina devido

aos cuidados que as mulheres quilombolas possuem com os filhos com a casa e com a terra

Rodrigues (2008 p 4) expotildee sobre a importacircncia dos saberes tradicionais guardados pelas

mulheres nas comunidades para a preservaccedilatildeo da cultura de um povo

[] na medida em que o conhecimento da natureza a partir dos conhecimentos

tradicionais sobre o uso de plantas medicinais eacute manipulaacutevel tanto por mulheres e

homens ambos tecircm um reconhecimento de uma cultura proacutexima da natureza que

natildeo os menospreza pelo contraacuterio em suas localidades satildeo considerados

importantes pelo saber que detecircm primordialmente no que tange a sauacutede

coletivapopular []

Os remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras vivem e lutam pelo

direito agrave terra e agrave preservaccedilatildeo dos valores e saberes da regiatildeo Sabemos que cerca de oito

milhotildees de brasileiros fazem parte de comunidades tradicionais dentre as quais uma meacutedia de

dois milhotildees38

correspondem a remanescentes de quilombo De acordo com o Decreto de nordm

604039

de 07 de fevereiro de 2007 os povos e comunidades tradicionais satildeo grupos

culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais possuindo formas proacuteprias de

organizaccedilatildeo social ocupando e usando os recursos naturais como condiccedilatildeo de sobrevivecircncia

da sua reproduccedilatildeo cultural social e religiosa com inovaccedilotildees nas praacuteticas geradas e

transmitidas pela tradiccedilatildeo Nos relatos da senhora Domingas ser quilombola eacute algo

relacionado com a natureza e a terra conforme se pode observar em um trecho transcrito de

sua fala

[] mas ser quilombola acho que eacute ser vem dessa descendecircncia e assim das

(coisas) tradicional as coisas da natureza aprender e viver com a natureza eu

acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre assim vendo os iacutendios porque

os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu acho que ser

quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as

coisas pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende

as coisas com a natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque

aquele tempo dos dos dos negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de

leitura (nada nada) MAS com a natureza eles aprendiam alguma coisa

(informaccedilatildeo verbal)40

38Informaccedilatildeo contida no Centro de documentaccedilatildeo Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES 2008) Site

httpwwwcedefesorgbr

39 Institui a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) 40Depoimento da senhora Domingas transcrito de forma grafemaacutetica em Pimenteiras outubro de 2014

57

Eacute fato que nem todos os moradores fazem uso do conhecimento sobre as plantas mas

os que preservam este saber satildeo referecircncia na comunidade para as demais localidades da

regiatildeo como eacute o caso da senhora Domingas Alves do Nascimento41

Moradora de origem

quilombola ela eacute conhecedora do poder medicinal das plantas vivendo da agricultura e das

vendas dos produtos feitos com as plantas como a garrafada multimistura e pomadas Devido

agrave forte relaccedilatildeo com a terra ela cultiva suas ervas e plantas em casa como meio de

proporcionar a sauacutede de seus familiares e de seu povo A senhora Domingas eacute uma pessoa

desinibida trabalhadora e aacutevida pelo conhecimento medicinal das plantas Na entrevista a

moradora escolheu seu quintal como espaccedilo para conversar o local possui muitas plantas

aacutervores sombra e vento forte De forma acolhedora e sorridente algo marcante em sua

personalidade Domingas demonstrou grande acolhimento e bem estar durante a conversa

pois Apesar de sua pouca escolaridade eacute uma grande contadora de histoacuterias com forccedila e

determinaccedilatildeo no que diz

Domingas luta pelos direitos de seu povo buscando recursos que viabilizem

melhorias para a comunidade sua relaccedilatildeo com a terra veio de seus ancestrais que vieram da

comunidade de Narciacutesea para por suas raiacutezes na comunidade de Pimenteiras42

Durante a

conversa Domingas falou de suas origens sua famiacutelia da Associaccedilatildeo da titulaccedilatildeo da terra de

seu trabalho na lavoura e do saber sobre as plantas Este aspecto eacute o que mais chama a

atenccedilatildeo devido ao grande conhecimento demonstrado a respeito das plantas medicinais

A moradora de Pimenteiras vive na comunidade rural haacute cerca de cinquenta anos

Durante esse tempo muitos saberes de seus antepassados sobre as plantas medicinais foram

repassados Sua avoacute materna ndash senhora Joana Pornusena dos Santos ndash e sua matildee ndash senhora

Otiacutelia Alves do Nascimento ndash eram sabedoras do uso de chaacutes para a cura de males do corpo e

da alma Com o passar dos anos o conhecimento da senhora Domingas sobre as plantas

passou a ser muito importante para a comunidade local e visualizado por cooperativas e

organizaccedilotildees como o CEDENPA e pela Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria43

A partir

41

Em entrevista realizada em 19 de outubro de 2014 a moradora de Pimenteiras Domingas em seu discurso

apresentou saberes de um povo que se manteacutem com os recursos da natureza procurando preservar o ambiente

em que vive Para realizar esta pesquisa foi necessaacuterio registrar a conversa com a senhora Domingas atraveacutes de

fichas com perguntas variadas sobre sua histoacuteria a comunidade e o uso medicinal das plantasDepois foi

indispensaacutevel a gravaccedilatildeo do som e imagem da entrevistada para na sequecircncia analisar seu discurso que foi

transcrito de forma grafemaacutetica Com esse material transcrito fizemosa anaacutelise de um discurso repleto de saberes

de um povo historicamente deixado agrave margem social

42 Pimenteiras possui este nome devido agraves grandes plantaccedilotildees de pimenta existente na eacutepoca dos avocircs de

Domingas 43

A Rede Bragantina reuacutene atualmente vinte e sete organizaccedilotildees membros que trabalham por uma cultura de

sustentabilidade a partir de novas relaccedilotildees econocircmicas afetivas de gecircnero e etnia no sentido da existecircncia

humana Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria Artes amp Sabores tem o objetivo de produzir com respeito agraves

58

desse contexto a moradora foi orientada para aprimorar seus saberes sobre as plantas fazendo

cursos de aproveitamento e utilizaccedilatildeo dos alimentos para a sauacutede

Conhecer mais e aprimorar o conhecimento sobre as plantas medicinais vai ao

encontro dos saberes adquiridos entre as geraccedilotildees de mulheres com quem Domingas

conviveu O trabalho com as plantas eacute muito importante para a moradora a ponto que hoje o

saber sobre as plantas eacute algo que identifica a comunidade de Pimenteiras No toacutepico seguinte

veremos como a comunidade atualmente eacute conhecida pela forte relaccedilatildeo dos moradores com a

terra com as tradiccedilotildees e suas praacuteticas culturais proacuteprias e portanto identitaacuterias

234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais

Tudo aquilo que eacute construiacutedo pelo ser humano incluindo os mitos os siacutembolos os

ritos todas as crenccedilas todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento de um

povo eacute o que marca as especificidades de cada comunidade ou seja sua Cultura A definiccedilatildeo

do conceito de cultura atualmente se tornou difiacutecil pois ela pode ser estudada sob diversos

pontos de vista Eacute necessaacuterio portanto escolher uma perspectiva para poder defini-la

Desse modo analisamos os estudos de Cuche (1999) que descreve o processo

evolutivo como uma questatildeo de adaptaccedilatildeo do homem de acordo com a geneacutetica do meio

ambiente natural para uma adaptaccedilatildeo cultural dos primeiros homens Segundo o pesquisador

a noccedilatildeo de cultura era compreendida no seu sentido amplo e desde seu aparecimento no

seacuteculo XVIII suscitou constantes debates contraditoacuterios com a ideia moderna da cultura da

eacutepoca fazendo oposiccedilatildeo com a noccedilatildeo de sociedade no mesmo campo significativo

Nesse aspecto Cuche (1999 p 10) relata que ldquoA cultura permite ao homem natildeo

somente adaptar-se a seu meio mas tambeacutem adaptar este meio ao proacuteprio homem as suas

necessidades e seus projetos Em suma a cultura torna possiacutevel a transformaccedilatildeo da naturezardquo

Conhecer profundamente a comunidade de Pimenteiras trouxe forte significaccedilatildeo no

campo dos estudos cientiacuteficos e principalmente no campo dos saberes populares pois

permitiu analisar os aspectos culturais que permeiam e identificam a regiatildeo A partir disso

conhecer a cultura de um povo significa conhecer e valorizar a nossa cultura como

autoafirmaccedilatildeo do que somos Examinar como foi formada a palavra o conceito cientiacutefico que

culturas agraves sinergias da natureza valorizando os agroecosistemas locais na perspectiva da seguranccedila alimentar e

desenvolvimento sustentaacutevel Veja o site httpamazoniaemredeblogspotcombr

59

dela depende localizar sua origem e evoluccedilatildeo semacircntica evidenciam assim os laccedilos que

existem entre a histoacuteria da palavra cultura e a histoacuteria das ideias Se pensada como um

conjunto de ideias valores e conhecimentos cultura traz dentro de si em primeiro lugar a

dimensatildeo do passado Muitos conhecimentos foram herdados de outras geraccedilotildees e a cada

tempo que passa mais conhecimento eacute acumulado Eacute extraordinaacuterio como a nossa memoacuteria

fica cada vez mais enriquecida pois o tempo passa e a memoacuteria cresce proporcionalmente

(CUCHE 1999) Logo eacute sensato valorizar a identidade cultural de um povo pois atraveacutes dela

alcanccedilamos as diversas histoacuterias de nossos antepassados (CUCHE 1999)

Frente a tudo que foi explanado compreendemos que a comunidade de Pimenteiras

pode ser definida como comunidade tradicional pois eacute culturalmente diferenciada Assim

nessa construccedilatildeo da identidade coletiva do grupo os siacutembolos os saberes as tradiccedilotildees estatildeo

ligados agrave reproduccedilatildeo cultural social e econocircmica da comunidade que aleacutem de tudo tem

como consequecircncia a proteccedilatildeo da biodiversidade local Ao compreenderem que os recursos

naturais satildeo esgotaacuteveis e valiosos para a sauacutede os moradores da comunidade de Pimenteiras

buscam preservar e proteger os saberes sobre as plantas medicinais a ponto de construir sua

identidade cultural nesse domiacutenio

Eacute assim que a comunidade tradicional de Pimenteiras eacute conhecida e se reconhece

como pertencente a um grupo social particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e

reconstruccedilatildeo de um grupo A comunidade remanescente de quilombola desenvolve seus

saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia

de seu grupo (CASTRO 2000) Por isso eacute necessaacuterio conhecer e respeitar os saberes

preservados na memoacuteria de um povo juntamente com o ambiente natural em que vivem

A valorizaccedilatildeo do conhecimento popular estaacute intimamente ligada ao fortalecimento

cultural e identitaacuterio da comunidade de Pimenteiras que por sua vez faz da praacutetica de uso das

plantas medicinais a simboacutelica relaccedilatildeo que os moradores desenvolveram ao longo do tempo

com a natureza com eles mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas de

cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita

relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais que constituem a identidade

cultural de um povo (BADKE 2008)

Observando os aspectos que marcam a identidade cultural da comunidade de

Pimenteiras passaremos no capiacutetulo seguinte agrave fundamentaccedilatildeo desse estudo sobre os termos

catalogados das plantas medicinais da comunidade analisando a importacircncia do legado de

identidade e cultura popular Para isto seratildeo consideradas as especificidades das plantas

medicinais diante do saber cientiacutefico e da sabedoria tradicional analisados por meio da aacutervore

60

de domiacutenio Em seguida daremos continuidadeaos estudos sobre as ciecircncias do termo e a

terminologia nas especialidades da nomeaccedilatildeo das plantas medicinais Junto a este estudo

abordaremos as particularidades da Terminologia ateacute a Socioterminologia como fundamentos

essenciais para o estudo do termo das plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

61

3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Neste capiacutetulo apresentamos os fundamentos teoacutericos deste trabalho buscando os

conhecimentos sobre Liacutengua Terminologia Socioterminologia e Termo Segundo Perini

(2010 p 01-02) a liacutengua eacute ldquoum sistema programado em nosso ceacuterebro que essencialmente

estabelece uma relaccedilatildeo entre os esquemas mentais que formam nossa compreensatildeo do mundo

e um coacutedigo que os representa de maneira perceptiacutevel aos sentidosrdquo A liacutengua eacute caracterizada

como sistema de grande complexidade que envolve regras leacutexicos expressotildees e clichecircs que

se encontram enraizados na cultura Eacute por meio dela que manifestamos exteriormente nossa

capacidade humana de utilizar a linguagem

A terminologia por sua vez eacute a ciecircncia que ldquotoma o leacutexico especializado ou

temaacutetico que eacute composto pelos termos teacutecnico-cientiacuteficos como seu objeto principal de

estudos e de aplicaccedilotildees Eacute uma aacuterea que recorta do universo leacutexico os termos teacutecnico-

cientiacuteficosrdquo (KRIEGER 2011 p 443) Os estudos terminoloacutegicos atuais tecircm enfatizado a

perspectiva social dos termos assim a Socioterminologia eacute tambeacutem parte de tais estudos da

Terminologia Faulstich (1995) explica que a socioterminologia eacute uma disciplina descritiva

que estuda o termo na perspectiva linguiacutestica da interaccedilatildeo social ldquoeacute a disciplina que se ocupa

da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguumliacutesticas dos termos em diferentes tipos

de situaccedilatildeo de uso da liacutenguardquo (FAULSTICH 1995 p 1)

Para Sager (1998 apud DIAS 2000 p 90) a terminologia tida como teoria ldquoeacute um

conjunto de premissas argumentos e conclusotildees necessaacuterio para explicar o relacionamento

entre conceitos e termos especializadosrdquo Jaacute como praacutetica a terminologia ldquoeacute um conjunto de

meacutetodos e atividades voltado para coleta descriccedilatildeo processamento e apresentaccedilatildeo de termos

como produto eacute um conjunto de termos ou vocabulaacuterio de uma determinada especialidaderdquo

O termo por sua vez apresenta trecircs concepccedilotildees Segundo os estudos de Cabreacute (1995

apud DIAS 2000 p 90) tem-se a concepccedilatildeo linguiacutestica de que os termos satildeo uma forma de

saber ou seja ldquoos termos satildeo o conjunto de signos linguumliacutesticos que constituem um

subconjunto dentro do componente leacutexico da gramaacutetica de determinada pessoardquo No campo da

filosofia o termo eacute uma forma de conhecer em que ldquoa terminologia eacute um conjunto de

unidades cognitivas que representam o conhecimento especializadordquo Finalmente o termo eacute

uma forma de transferir e comunicar pois ldquoa terminologia eacute o conjunto das unidades de

expressatildeo e comunicaccedilatildeo que permitem transferir o pensamento especializadordquo

62

Cada aacuterea de conhecimento aborda seus termos de forma diferente e especializada

Assim na primeira parte desse capiacutetulo apresentaremos algumas compreensotildees sobre a

importacircncia da Liacutengua na identidade cultural dos moradores da comunidade de Pimenteiras

cuja cultura conhecemos por meio da anaacutelise da linguagem especializada sobre as plantas

medicinais No toacutepico seguinte verificaremos os aspectos sobre o conhecimento cientiacutefico e

popular a respeito das plantas de uso medicinal considerando que estas marcam e identificam

a comunidade quilombola Para isto utilizamos um organograma expondo as particularidades

de saber sobre as plantas medicinais no acircmbito cientiacutefico e popular

Na sequecircncia apresentamos a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o saber

popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras trazendo os aspectos

sobre a importacircncia da Terminologia nos estudos especializados da nomeaccedilatildeo Seguimos a

discussatildeo apresentando os pontos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos na linguagem

especializada de grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos Com isso notamos a

importacircncia de analisar a variaccedilatildeo terminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais da

comunidade de Pimenteiras

Em seguida examinamos os assuntos que passaram a ser considerados importantes

nos estudos terminoloacutegicos ndash a liacutengua no social ndash e compreendemos o funcionamento da

linguagem especializada no contexto social da comunidade tendo para isto a contribuiccedilatildeo da

Socioterminologia nos estudos dos termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

Logo depois seguimos com o assunto trazendo discussotildees sobre a necessidade de

valorizar os termos no ambiente discursivo pragmaacutetico e social propondo um diaacutelogo entre

as aacutereas do conhecimento uma vez que por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos eacute possiacutevel

valorizar e popularizar o conhecimento sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

Em seguida apresentamos o foco principal deste estudo o termo Observamos que os

estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais no processo de anaacutelise da natureza e da

descriccedilatildeo das particularidades pertencentes aos termos que eacute a base do estudo Terminoloacutegico

sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL

Ao refletirmos sobre os aspectos da Liacutengua na comunidade remanescente de

quilombola de Pimenteiras observamos que conhecer a liacutengua de um povo eacute tambeacutem

63

conhecer sua identidade Ressaltamos que a liacutengua eacute um sistema complexo e para entendecirc-lo eacute

indispensaacutevel primeiro conhecer o leacutexico pois ele reflete as heranccedilas dialetos marcas sociais

e culturais dos seus falantes Para Coelho e Mesquita (2013 p 25) a liacutengua nasceu da

necessidade de comunicaccedilatildeo entre os homens e ldquopermitiu ao ser humano interagir

verbalmente com o outro exteriorizando seus pensamentos expressando-se comunicando-se

por meio da fala da escrita e de outras formas de linguagemrdquo Segundo as autoras ldquoas

relaccedilotildees sociais estreitaram-se e as ideias a cultura as ideologias e os conhecimentos

puderam ser amplamente difundidosrdquo (COELHO MESQUITA 2013 p 25) A Liacutengua

facilita a comunicaccedilatildeo entre as pessoas e contribui para a realidade que temos hoje marcada

pela troca de conhecimento e disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees pois pessoas de uma localidade

podem conhecer a cultura de outras

A liacutengua envolve todas as accedilotildees e pensamentos humanos e possibilita ao indiviacuteduo

exercer influecircncias ou ser influenciado pelo outro desempenhar seu papel social na

sociedade relacionar-se como os demais participar na construccedilatildeo de conhecimentos

e da cultura (COELHO E MESQUITA 2013 p 25)

No campo da liacutengua percebemos que os moradores quilombolas da comunidade de

Pimenteiras apresentam grande saber sobre o uso medicinal das plantas devido ao vasto

conhecimento que seus antepassados possuiacuteam sobre a flora e a fauna Diante disso ao

nomear as coisas e o meio que os rodeiam os moradores de Pimenteiras formam e expressam

a sua histoacuteria sua cultura sua liacutengua e sua identidade Eacute a liacutengua que ao carregar valores e

ideologias imprime na accedilatildeo de nomear que eacute cercada de escolhas sociais e culturais a marca

de identidade do falante (LEIRO sd) Eacute a partir principalmente dessas concepccedilotildees que se

desenvolve uma reflexatildeo acerca das relaccedilotildees ideoloacutegicas que as denominaccedilotildees de algumas

plantas de uso medicinal podem possuir

O nome natildeo eacute dado de forma aleatoacuteria sempre quer dizer algo nomear eacute uma

relaccedilatildeo complexa com a significaccedilatildeo que denota grande polecircmica e inquietaccedilatildeo entre os

pesquisadores Assim quando pensamos em nomear e no que o nome significaraacute logo

imaginamos alguma qualificaccedilatildeo que sirva para marcar as coisas pessoas e lugares que lhes

sejam exclusivos pois os significados dos nomes organizam e classificam as formas de

perceber a realidade aleacutem de estarem ligados diretamente com a cultura de uma dada

comunidade (MOREIRA 2012)

Coelho e Mesquita (2013) explicam que na liacutengua entram constantemente leacutexicos

novos enquanto que outros caem em desuso devido agrave liacutengua estar sujeita a mudanccedilas O

conhecimento em relaccedilatildeo agraves plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras chama a

64

atenccedilatildeo porque eacute um modo de preservaacute-las jaacute que muitas das plantas utilizadas como

medicamento jaacute se perderam por natildeo existir nada escrito Para Coelho e Mesquita

Os indiviacuteduos satildeo inseridos na teia social por meio da liacutengua Eacute ela quem vai

possibilitar-lhes o contato com a cultura com as ideologias com as identidades

tornando-se um instrumento para que eles possam interagir linguiacutestica e socialmente

com seus semelhantes (2013 p 27)

A liacutengua tem grande importacircncia para a sobrevivecircncia da cultura de uma localidade

visto que eacute atraveacutes dela que se faz a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade (COELHO

MESQUITA 2013)

A transmissatildeo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo do conhecimento sobre o uso das plantas

medicinais na comunidade de Pimenteiras soacute foi possiacutevel graccedilas agrave linguagem oral Apesar

disso muitos jovens deixam de lado o conhecimento sobre as plantas Esse posicionamento

deprecia o saber local e a identidade cultural dos habitantes de Pimenteiras fator que justifica

a persistecircncia de muitos moradores antigos na preservaccedilatildeo deste saber

Desde jaacute compreendemos que a identidade cultural coletiva na qual um grupo

compartilha as mesmas atitudes as mesmas crenccedilas e os mesmos comportamentos formados

no tempo e no espaccedilo eacute forjada pela interaccedilatildeo de segmentos eacutetnicos e sociais Carvalho

(2003 natildeo paginado) aponta trecircs sentidos de identidade cultural

Na percepccedilatildeo objetiva a identidade cultural de um indiviacuteduo ou grupo define-se a

partir de um conjunto de criteacuterios determinantes a origem comum a liacutengua a

cultura a religiatildeo a psicologia coletiva a ligaccedilatildeo a um territoacuterio etc e um grupo

sem estes criteacuterios natildeo pode reivindicar uma identidade cultural autecircntica Na

percepccedilatildeo subjetiva a identidade etnocultural natildeo eacute mais que um sentimento de pertenccedila ou uma identificaccedilatildeo com uma coletividade mais ou menos imaginaacuteria Na

percepccedilatildeo mais lata a identidade de cada indiviacuteduo natildeo se restringe ou circunscreve

agrave identificaccedilatildeo com um grupo determinado mas eacute sim o somatoacuterio de todos os

valores adquiridos ao longo da existecircncia e estaacute em constante construccedilatildeo e

transformaccedilatildeo

Eacute pela coletividade que podemos observar que a comunidade de Pimenteiras busca

preservar sua identidade e conhecimento pelas plantas medicinais por meio dos moradores

mais antigos Mas eacute tambeacutem por meio dos mais jovens que novos saberes satildeo inseridos na

comunidade como forma de renovaccedilatildeo da cultura quilombola e consequentemente da

liacutengua pois segundo Hjelmslev (1975 p 1)

A linguagem eacute o instrumento graccedilas ao qual o homem modela seu pensamento seus

sentimentos suas emoccedilotildees seus esforccedilos sua vontade e seus atos o instrumento

graccedilas ao qual ele influencia e eacute influenciado a base uacuteltima e mais profunda

da sociedade humana

65

Diante disto entendemos que a identidade cultural define cada um de noacutes e

particularmente na comunidade de Pimenteiras eacute o que diferencia e distingue os moradores

da regiatildeo Nesse contexto o conhecimento popular sobre as plantas medicinais eacute algo que traz

a marca de um povo que preserva e utiliza seus saberes Assim apresentamos na seccedilatildeo

seguinte os aspectos relacionados ao conhecimento das plantas medicinais no acircmbito do

conhecimento cientiacutefico e popular utilizando como recurso de melhor visualizaccedilatildeo o

organograma sobre as plantas medicinais

311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular

Ao utilizarmos as plantas para fins diversos relembramos de nossos antepassados

mais distantes que usavam as plantas como recurso para a cura de doenccedilas Sabemos das

inuacutemeras funccedilotildees que elas podem assumir desde alimentaccedilatildeo ateacute o uso em construccedilotildees

vestuaacuterio e como jaacute foi citado para fins medicinais Por muito tempo as antigas civilizaccedilotildees

usufruiacuteram o grande poder que as plantas possuem Segundo relatos de Tomazzoni et al

(2006 natildeo paginado) os hebreus egiacutepcios e assiacuterios cultivavam plantas medicinais desde o

ano 2300 aC adquirindo durante suas expediccedilotildees vaacuterias espeacutecies das quais se produziam

medicamentos para males diversos

Com o passar dos tempos o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais foi

transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e hoje mesmo com o avanccedilo na medicina moderna

muitos ainda utilizam desse saber sobre as plantas no tratamento de doenccedilas Por isso natildeo se

pode deixar agrave margem o conhecimento tradicional sobre as plantas de uso medicinal pois essa

forma de conhecimento faz parte da nossa cultura Construiacutemos e desenvolvemos o

conhecimento em nossas praacuteticas diaacuterias assim denomina Borda (1984 p 48) ldquoconhecimento

praacutetico empiacuterico que ao longo dos seacuteculos tem possibilitado enquanto meios naturais

diretos que as pessoas sobrevivam criem interpretem produzam e trabalhemrdquo

Todas as informaccedilotildees acumuladas ao longo do tempo por uma determinada

comunidade em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas seus valores e sua cultura vivenciada e

experimentada satildeo consideradas em contexto do conhecimento tradicional Sendo variaacutevel e

abalaacutevel o saber popular eacute modificado e reformulado pela comunidade em que estatildeo inseridos

(KOVALSKI et al 2010) Segundo Diegues et al (2000 p 30) o conhecimento tradicional eacute

66

ldquocomo o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural sobrenatural

transmitido oralmente de geraccedilatildeo em geraccedilatildeordquo

Para Dickmann e Dickmann (2008 p 70) ldquoo saber popular eacute entendido como aquele

adquirido nas lutas que natildeo estaacute escrito nos livros aquele que eacute fruto das vaacuterias experiecircncias

vividas e convividas em tempos e espaccedilos diversos na histoacuteria do povordquo O conhecimento

popular estaacute relacionado com o povo com o individual que eacute transmitido entre as geraccedilotildees

por experiecircncias proacuteprias recebe este nome popular por natildeo haver uma explicaccedilatildeo digamos

ldquoloacutegicardquo de como as coisas funcionam de como uma pessoa sabe que tem de ser feito assim

porque viu algueacutem fazendo e deu certo sem saber explicar ldquocientificamenterdquo como funciona

O conhecimento popular seria uma espeacutecie de educaccedilatildeo informal e suas principais

caracteriacutesticas satildeo a superficialidade sensibilidade subjetividade e independecircncia do valor do

conhecimento criacutetico Jaacute o conhecimento tradicional estaacute relacionado com a tradiccedilatildeo de um

grupo envolvendo saberes empiacutericos com praacuteticas crenccedilas e costumes passados de pais para

filhos dentro desse grupo (KOVALSKI et al 2010)

Diante dos conceitos apresentados podemos compreender que a valorizaccedilatildeo dos

conhecimentos tradicionais e populares de um determinado grupo eacute muito importante pois

aleacutem de resgatar os saberes quase esquecidos no tempo proporciona tambeacutem o

fortalecimento e a difusatildeo destes saberes para a sociedade Assim vale citar uma passagem de

Chassot na qual o autor resgata tais saberes e teacutecnicas utilizadas por pessoas simples mas que

possuem um valor inestimaacutevel

[] o pescador solitaacuterio que encontramos em silenciosas meditaccedilotildees sabendo onde

e quando deve jogar a tarrafa tambeacutem tem saberes importantes A lavadeira que

sabe escolher a aacutegua para os lavados tem os segredos para remover manchas mais renitentes ou conhece as melhores horas de sol para o coaro A parteira que os anos

tornaram doutora conhece a influecircncia da lua nos nascimentos e tambeacutem o chaacute que

acalmaraacute as coacutelicas do receacutem nascido A benzedeira natildeo apenas faz rezas maacutegicas

que afastam o mau-olhado ela conhece chaacutes para curar o cobreiro que o

dermatologista diagnostica como herpes-zoster O explorador de aacuteguas que indica o

local propiacutecio para se abrir um poccedilo ante o vergar de sua forquilha de pessegueiro

tem conhecimentos de hidrologia que natildeo podem ser simplesmente rejeitados (2006

p 221)

Outras formas de conhecimento foram por muito tempo ignoradas pelos cientistas

hoje a situaccedilatildeo eacute diferente Para Marconi e Lakatos (2005) ldquo[] a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico

caminho de acesso ao conhecimento e agrave verdaderdquo nos estudos de Posey (1987) e em

pesquisas feitas pelos Etnoecoacutelogos44

e Etnobioacutelogos45

sobre as comunidades tradicionais

44 A Etnoecologia eacute uma nova disciplina hiacutebrida transdisciplinar e poacutes-normal que valoriza os conhecimentos

milenares das comunidades sobre a natureza Para maior conhecimento pesquisar no site

67

observamos que haacute um resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes populares que chamam cada vez

mais a atenccedilatildeo com novas reflexotildees sobre os paradigmas jaacute existentes provocando com isso

resultados positivos para o conhecimento cientiacutefico

O fato eacute que os estudos recentes sobre o conhecimento popular tecircm ganhado

importacircncia para o nosso proacuteprio benefiacutecio Assim Silva (2002 p 26) expotildee que ldquo[] os

estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular tecircm merecido atenccedilatildeo

cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm oferecendo agraves ciecircncias do

homemrdquo

No que concerne ao conhecimento cientiacutefico este eacute consagrado por passar por

inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute ser considerada ciecircncia Nas palavras de Lopes (1999) o

conhecimento cientiacutefico trata-se de

Todo conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por

excelecircncia sem influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e

provado a partir dos dados da experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (1999 p106)

Nas explanaccedilotildees de Cunha (2007) os saberes populares podem acolher com a

mesma intensidade explicaccedilotildees diversas de um mesmo fenocircmeno por um mesmo grupo de

pessoas ou comunidade pois eacute atraveacutes da observaccedilatildeo que as diferenccedilas se fazem tecircnues entre

o conhecimento popular e o cientiacutefico

No que concerne ao conhecimento referente ao mundo vegetal o uso de plantas com

propriedades terapecircuticas vem de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo devido ao contato com o meio ambiente

que as famiacutelias possuiacuteam Segundo Newall (2002) os fatores que influenciam o uso das

plantas com fins terapecircuticos vecircm do baixo niacutevel de vida da populaccedilatildeo junto ao alto custo

dos medicamentos Com isso os saberes acumulados durante seacuteculos satildeo mantidos na praacutetica

fitoteraacutepica

Contudo o uso popular das plantas natildeo eacute suficiente para legitimar sua eficaacutecia e

seguranccedila como medicamento Este uso tem de passar pela experimentaccedilatildeo comprovada

diante dos benefiacutecios que possam conter (BADKE 2008)

No entanto o uso medicinal das plantas eacute uma das praacuteticas mais antigas no trato de

enfermidades no homem e isso proveacutem do conhecimento popular Para Diegues e Arruda

httpwwwantropologiasocialcombra-etnoecologia-uma-ciencia-pos-normal-que-estuda-as-sabedorias-

tradicionaispdf 45 A Etnobiologia eacute o estudo cientiacutefico da dinacircmica de relacionamentos entre as pessoas e seus grupos culturais e o meio ambiente desde o passado ateacute o tempo presente Para maior aprofundamento no assunto visitar o site

httpwwwetnobiologiaorgindexphp

68

(2001) o conhecimento tradicional soacute pode ser interpretado dentro do contexto cultural em

que eacute gerado Entretanto vemos que a modernidade traz novos modos de vida que estatildeo

desvinculados das tradiccedilotildees populares Com as grandes mudanccedilas entre as realidades

culturais o contato com o outro passa a ser visto de forma diferente o outro pode ser

percebido como superior e a cultura de um grupo pode ser desvalorizada omitida negada e

esquecida (CASTELLS 1999)

Na comunidade de Pimenteiras os uacutenicos recursos medicinais vecircm do conhecimento

tradicional do saber das plantas que aleacutem de proporcionar benefiacutecios agrave sauacutede do corpo e

tambeacutem da alma possui um significado cultural para a comunidade No entanto a

continuidade dessas praacuteticas estaacute ameaccedilada por diversos fatores ligados ao dinamismo social

agrave economia e agrave cultura externa

Contudo eacute necessaacuterio indagar qual a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o

saber popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras O que eacute

Terminologia Buscamos no toacutepico seguinte responder tais questionamentos direcionados ao

campo de conhecimento cientiacutefico na seara dos estudos terminoloacutegicos a serem explanados

sobre as plantas medicinais

32A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS ESPECIALIZADOS

Segundo a anaacutelise de Vygotsky (1896-1934) uma palavra que natildeo representa uma

ideia eacute algo morto da mesma forma que uma ideia natildeo incorporada em palavras natildeo passa de

uma sombra Nomear significa pois dar vida ao ser nomeado Haacute muito tempo o homem cria

e utiliza as palavras para nomear conceitos objetos e processos nas diversas aacutereas do

conhecimento Ao nomear as realidades que nos cercam cria-se um universo que passa a ser

desvendado pela linguagem Nessa construccedilatildeo do real a liacutengua revela aspectos que marcam

os sujeitos produzindo distinccedilotildees que particularizam os objetos e identificam os traccedilos da

cultura de um povo

Refletindo sobre os aspectos da linguagem de um povo podemos analisar diferentes

termos utilizados para nomear e particularizar o objeto nomeado Nesse acircmbito os estudos

cientiacuteficos direcionados agrave Terminologia crescem cada vez mais em pesquisas na aacuterea da

linguagem especializada O leacutexico de uma liacutengua eacute uma forma de registrar o conhecimento do

mundo a nossa volta ao darmos nomes agraves coisas identificamos as semelhanccedilas e os traccedilos

69

distintivos que individualizam cada objeto a ser nomeado por meio de estruturas que o

homem cria no mundo atraveacutes das palavras ou termos46

Entretanto agrave medida que vivemos

novas realidades surgem e satildeo criadas ampliando assim o leacutexico com novas dimensotildees

impossiacuteveis de serem registradas e descritas por meio de um dicionaacuterio

Diante dos questionamentos sobre a nomeaccedilatildeo surge como ciecircncia a Terminologia

inicialmente frente agrave necessidade de uma padronizaccedilatildeo da linguagem ou seja de

normatizaccedilatildeo da Liacutengua devido ao grande desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico ocorrido

no decorrer da histoacuteria humana A Terminologia conforme afirma Rondeau eacute a linguagem

especializada que haacute seacuteculos faz parte da linguagem humana

A terminologia natildeo eacute um fenocircmeno recente Com efeito tatildeo longe quanto se

remonte na histoacuteria do homem desde que se manifesta a linguagem nos

encontramos em presenccedila de liacutenguas de especialidade eacute assim que se encontra a

terminologia dos filoacutesofos gregos a liacutengua de negoacutecios dos comerciantes cretas os

vocaacutebulos especializados da arte militar etc (RONDEAU 1984 apud KRIEGER

FINATTO 2004 p 24)

Assim observa-se que na Liacutengua o ato de nomear tem sua forma natural de ser e

por isso segue rigorosamente sua natureza de fazer Os nomes mudam porque sempre se pode

acrescentar ou tirar letras de sua forma Contudo todos os nomes vecircm de acordos ou

convenccedilotildees entre os falantes sendo que em cada grupo social e cultural os nomes variam de

acordo com o que estiver convencionado pelo grupo Deste modo os nomes variam de povo

para povo de falante para falante porque seguem a tradiccedilatildeo natural de se nomear (PLATAtildeO

1973)

O modo como organizamos as nossas relaccedilotildees e comportamentos numa comunidade

especiacutefica pode ser percebido dentro do contexto social em que a linguagem eacute aplicada das

escolhas que fazemos dos nossos valores culturais das nossas normas de comportamento e

ateacute mesmo na nossa proacutepria filosofia de vida Eacute atraveacutes dos estudos terminoloacutegicos que

podemos analisar o modo como cada pessoa cada grupo social cada comunidade molda a

linguagem ao lado de suas bases culturais discursos e objetivo na comunicaccedilatildeo

Perante agraves variantes dentro da Liacutengua a terminologia em todo seu desenvolvimento

e reconhecimento de valor apresenta hoje um estudo sobre a comunicaccedilatildeo especializada

dentro do contexto social no qual privilegia a variaccedilatildeo dos termos como constitutivos do

discurso este estudo recebe o nome de Socioterminologia

46 O termo eacute o elemento linguiacutestico que constitui a expressatildeo lexical dos saberes especializados Eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da produccedilatildeo do saber ou seja a univocidade da comunicaccedilatildeo especializada eacute

favorecida pelo uso dos termos

70

A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma

terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua

aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das

praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis

porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam

entre trabalho e linguagem (GAUDIN 1993 p 216)

Diante das exposiccedilotildees feitas sobre a Terminologia seguiremos no toacutepico abaixo com

os pontos relacionados a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada campo este de

grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos A partir dele observamos qual a

importacircncia de analisar a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras

321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada

Sabendo que o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e coletiva num

processo no qual o sujeito interage com a realidade as pessoas e o ambiente sociocultural

Faulstich (1995 p 281) afirma que no campo da linguagem ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo

no universo da terminologia revelam peculiaridades proacuteprias a serem estudadas pela

disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para a sistematizaccedilatildeo de termos e de

variantesrdquo

Percebendo que a linguagem especializada natildeo eacute uma liacutengua artificial e sim uma

realizaccedilatildeo da liacutengua natural que possui todas as particularidades pertencentes a qualquer

liacutengua viva observou-se que as diferenciaccedilotildees ocorridas na linguagem vecircm da diversidade

dos discursos na liacutengua e na cultura de cada povo No que concerne ao termo linguagem

especializada Finatto explica que

Uso o termo linguagem especializada e natildeo ldquolinguagem de especialidaderdquo por

entender que natildeo haveria uma ldquoposserdquo estrita dessa linguagem pelo usuaacuterio ou pela

aacuterea de saberconhecimento Entendo que eacute a linguagem que se faz diferenciada ela

se altera em alguns de seus formatos pela accedilatildeo dos sujeitos envolvidos e pelas condiccedilotildees pragmaacutetico-linguumliacutesticas e situacionais da comunicaccedilatildeo entre profissionais

(FINATTO 2004 p 342)

Quanto agrave existecircncia de variantes terminoloacutegicas Faulstich (2001 p 22) defende que

dependendo da funccedilatildeo realizada nos contextos o termo pode assumir diversos valores

71

ldquoConsideramos mais uma vez que variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a

comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica faz do termordquo (FAULSTICH

2OO1 p 22)

Faulstich (2001 p 21) explica que a Socioterminologia eacute necessaacuteria para analisar os

termos variantes dentro de uma metodologia particular Para a autora a Socioterminologia jaacute

era prenuacutencio para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de

natureza social Em suas pesquisas em 1995 e em estudos posteriores em 1996 e 1998

apresenta os fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos da variaccedilatildeo em terminologia Contudo eacute

somente em 1999 que a pesquisadora propotildee uma teoria da variaccedilatildeo com base numa nova

proposiccedilatildeo de anaacutelise do termo sob a perspectiva sincrocircnica e diacrocircnica

Segundo a pesquisadora as variantes terminoloacutegicas classificam-se de acordo com

sua natureza linguiacutestica e ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas variantes eacute tarefa da socioterminologia

cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da diversidade de termos que ocorrem nos planos

vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo (FAULSTICH 2006 p 29)

Seguindo um modelo funcionalista que tem como objeto cientiacutefico descrever e

explicar os proacuteprios fenocircmenos linguiacutesticos Faulstich (1996 p 1 apud CRUZ 2013 p 32)

explica que no exame da funcionalidade socioterminoloacutegica no qual a base de dados eacute a

linguagem especializada a variaccedilatildeo social do termo ocorre nos diversos niacuteveis hieraacuterquicos

do discurso cientiacutefico (CRUZ 2013 p 32)

Cruz (2013 p 35) explica que ldquoa variaccedilatildeo ocorre pela accedilatildeo do movimento gradual

do termo no tempo e no espaccedilo provocada pela funccedilatildeo de uma dada variaacutevelrdquo Observando

todos esses aspectos Faulstich (1998 p 13) amplia a tipologia das variantes trazendo assim

as variantes concorrente47

as variantes coocorrentes48

e as variantes competitivas49

Nesse

campo Cruz (2013 p 34) expotildee que

As variantes terminoloacutegicas concorrentes no qual se inscrevem os dois grupos de

tipologias apresentados anteriormente a saber as variantes terminoloacutegicas linguiacutesticas e as variantes terminoloacutegicas de registro as variantes terminoloacutegicas

coocorrentes e as variantes terminoloacutegicas competitivas

Ao compreender as diferentes variaccedilotildees dentro dos diversos discursos da Liacutengua

Cruz (2013) explica que para a construccedilatildeo da Teoria da Variaccedilatildeo em Terminologia Faulstich

47 Tambeacutem chamada de ldquoVariante formalrdquo as variantes concorrentes satildeo aquelas que podem concorrer entre si e

permanecer como tais no estrato ou que podem concorrer para a mudanccedila 48As variantes coocorrentes ou ldquoSinoniacutemias terminoloacutegicasrdquo satildeo aquelas que tecircm duas ou mais denominaccedilotildees

para um mesmo referente 49 ldquoEmpreacutestimos linguiacutesticosrdquo ou variantes competitivas satildeo aquelas que relacionam significados entre itens

lexicais de liacutenguas diferentes quer dizer itens lexicais de uma liacutengua B preenchem lacunas de uma liacutengua A

72

(2001 p 54) levou em conta que a unidade terminoloacutegica o termo ldquopode assumir diferentes

valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha nos contextos de

ocorrecircnciardquo Com efeito o termo seraacute funcional dentro de uma linguagem especializada

porque assumiraacute uma funccedilatildeo especiacutefica de determinado valor de acordo com o contexto de

uso Sob um ponto de vista socioterminoloacutegico Faulstich restaura a ideia de que a variaccedilatildeo eacute

tambeacutem um fenocircmeno terminoloacutegico e que o seu estudo deve ser desenvolvido no acircmbito da

terminologia (CRUZ 2013 p 39-40)

Compreendendo que eacute na linguagem que ocorre frequentemente a variaccedilatildeo

terminoloacutegica no que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais observamos que os

diferentes fatores sociais culturais e histoacutericos interferem na variaccedilatildeo terminoloacutegica

reafirmando um caraacuteter especiacutefico na linguagem de uso dos moradores da regiatildeo de

Pimenteiras Ao estudar as unidades terminoloacutegicas de um determinado domiacutenio Faulstich

(2006 p 27) explica que as condiccedilotildees sociais em que a comunicaccedilatildeo dessas unidades ocorre

seratildeo estudadas pela Socioterminologia

Para falar de terminologia em sentido mais estrito quer dizer de terminologia como

disciplina que sistematiza termos e conceitos eacute preciso falar tambeacutem do discurso de

onde proveacutem Neste caso excetuando o linguajar corriqueiro que como jaacute se disse

apresenta grande quantidade de terminologias usadas no dia-a-dia eacute preciso

considerar que pelo menos trecircs discursos estatildeo na base da produccedilatildeo terminoloacutegica

isso porque nenhum termo eacute usado fora da situaccedilatildeo discursiva em que eacute criado

Assim sendo discursos de diversas naturezas como o cientiacutefico o teacutecnico e o de

vulgarizaccedilatildeo satildeo a fonte natural de onde emergem os termos usados nas

comunicaccedilotildees entre profissionais Muitos desses termos entram vulgarizados no leacutexico comum por meio dos mais diversos recursos como a metaacutefora a elipse a co-

referecircncia entre outros sem por isso perderem o sentido de base Eacute este sentido

que ativa o senso comum e difunde o conceito original

O movimento do termo na linguagem especializada eacute explicado pela

Socioterminologia que tem como base a variaccedilatildeo do termo no campo social que antes era

visto como invariaacutevel Nesse sentido a variaccedilatildeo e as mudanccedilas na sociedade provocam

transformaccedilotildees no termo que eacute gerado usado e modificado

Faulstich (1995 p 7) valoriza a Socioterminologia como uma nova abordagem para

anaacutelise do termo na comunicaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica Contudo adverte que a

Socioterminologia ldquonatildeo eacute de fato uma disciplina derivada da sociolinguiacutestica poreacutem natildeo se

pode negar que eacute a visatildeo mais flexiacutevel da sociedade e da comunidade que conduz os

especialistas em terminologia a esse novo percursordquo Diante disso em sua anaacutelise a

pesquisadora acrescenta que

73

Como ramo da terminologia a socioterminologia eacute um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos

a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da

elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a

sociedade (2006 p 30)

Sabendo que os termos da linguagem especializada estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo seja no

tempo espaccedilo ou na sociedade a variaccedilatildeo nos estudos terminoloacutegicos ndash por exemplo os

termos de uso popular sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras ndash passa a ser

reconhecida como fenocircmeno natural descrita e analisada de forma cientiacutefica pela

Socioterminologia Perceber como os termos sobre as plantas medicinais passam pela

variaccedilatildeo de seus elementos eacute tambeacutem entender a cultura histoacuteria e identidade de um povo

pois eacute por meio do estudo da variaccedilatildeo dos termos de Pimenteiras que compreendemos as

constantes mudanccedilas e evoluccedilotildees que acontecem com os moradores da regiatildeo trazendo assim

o entendimento sobre os domiacutenios de especialidade na Liacutengua que distinguem a trajetoacuteria

identitaacuteria dos quilombolas

Diante do que foi explanado ateacute aqui examinaremos na seccedilatildeo seguinte como as

questotildees ocorridas no acircmbito social passaram a ser consideradas relevantes nos estudos

terminoloacutegicos ou seja a necessidade de compreender o funcionamento da linguagem

especializada no contexto social da comunidade de Pimenteiras tendo a contribuiccedilatildeo da

Socioterminologia nesse estudo sobre os termos das plantas medicinais

33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL

A anaacutelise dos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade

de Pimenteiras por via dos estudos socioterminoloacutegicos se deu a partir da necessidade de

compreender como a liacutengua funciona no contexto na comunidade pois observamos que toda

sociedade se encontra em constante transformaccedilatildeo e com ela a linguagem eacute vista como uma

das mais fortes interventoras nos comportamentos sociais

Sabendo que a Socioterminologia privilegia os aspectos sociais da linguagem de

especialidade e preocupa-se com os aspectos sociais e variacionista da liacutengua ou melhor com

o uso real da linguagem especializada Faulstich apresenta a Socioterminologia como um

ramo da Terminologia que

74

Se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as

circunstacircncias da elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a

terminologia e a sociedade (2006 p 29)

A Socioterminologia se baseia na observaccedilatildeo do funcionamento da linguagem e no

estudo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos termos Com a posiccedilatildeo de disciplina de

caraacuteter teoacuterico e natildeo somente de um meacutetodo analiacutetico aplicado a Socioterminologia contribui

para o desenvolvimento de pesquisas teoacuterico-praacuteticas que levem em conta o termo e suas

variantes Como praacutetica do trabalho terminoloacutegico a Socioterminologia segundo Faulstich

(1995) fundamenta-se na anaacutelise das condiccedilotildees de circulaccedilatildeo do termo no funcionamento da

linguagem Com caraacuteter descritivo a Socioterminologia estuda o termo sob o aspecto da

linguiacutestica na interaccedilatildeo social no qual sua pesquisa deve ter o auxiacutelio dos criteacuterios da

variaccedilatildeo e da mudanccedila dos termos no meio social como tambeacutem dos princiacutepios etnograacuteficos

que trazem os conceitos interacionistas entre os membros da sociedade No contexto da

variaccedilatildeo terminoloacutegica Faulstich (1995) explica que

O termo perde cada vez mais sua caracteriacutestica de entidade uniacutevoca em favor de

uma interpretaccedilatildeo variacionista que considera as diversidades de comunicaccedilatildeo entre

pessoal de direccedilatildeo de setores administrativos de setores de pesquisa de produccedilatildeo e

de comercializaccedilatildeo dentro das empresas o meio mais adequado para a descriccedilatildeo dos

termos cientiacuteficos e teacutecnicos

Essa interpretaccedilatildeo socioterminoacutelogica vem da etnografia que tem por base o caraacuteter

interacionista ou seja o engajamento entre as pessoas e a influecircncia muacutetua de uns para com

os outros no contexto social Faulstich (1995) explica que ao registrar as variaccedilotildees ocorridas

no campo social deve-se levar em conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico

em que os termos circulam

Diante dos conceitos explanados sobre os aspectos da variaccedilatildeo observa-se que a

Socioterminologia focaliza os dados terminoloacutegicos na pluralidade da liacutengua constituindo

normas que evidenciam o uso da variaccedilatildeo Assim Faulstich (2006) expotildee que ldquoas variantes

decorrem de uso em contextos discursivos de diferentes niacuteveis do movimento da liacutengua no

percurso histoacuterico de empreacutestimos de usos regionais entre outras categorias desde que

mantenham o significado implicadordquo

Observamos assim que a Socioterminologia assume um caraacuteter descritivo na

linguagem especializada em uso dando maior ecircnfase agrave comunicaccedilatildeo que traz em seu contexto

manifestaccedilotildees discursivas que necessitam dos elementos da variaccedilatildeo (GAUDIN 1993)

Segundo Barros (2004 p 69) o pesquisador Gaudin (1993) expotildee que eacute fundamental para a

75

Socioterminologia levar em consideraccedilatildeo o uso dos termos e situar a linguagem especializada

em seu contexto social Desse modo ldquoa praacutetica terminoloacutegica eacute inseparaacutevel tanto do

conhecimento do espaccedilo da accedilatildeo onde ela se daacute quanto das praacuteticas de linguagem que visam

modificar ou assegurarrdquo (GAUDIN 1993 p 212 apud BARROS 2004 p 69)

Nas pesquisas de Faulstich (1995) o termo em estudos anteriores deveria ser uma

unidade denotativa sem relaccedilotildees sinoniacutemicas ou polissecircmicas Hoje a praacutetica terminoloacutegica

demonstra que um mesmo conceito poderaacute ser expresso por termos que apresentem variaccedilotildees

sejam elas morfoloacutegicas regionais ou socioprofissionais Eacute este o princiacutepio subjacente agrave

Socioterminologia conforme exposto pela pesquisadora

A socioterminologia eacute portanto um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o

conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na

planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da elaboraccedilatildeo

desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a sociedade

(FAULSTICH 2006)

Nos estudos socioterminoloacutegicos como jaacute foi mencionado a base eacute a anaacutelise das

condiccedilotildees de funcionamento dos termos como elementos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dentro

de um sistema linguiacutestico e socialTais elementos foram adquiridos por meio dos princiacutepios da

sociolinguiacutestica sob a perspectiva da variaccedilatildeo e dos princiacutepios etnograacuteficos que vem da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo social Com caraacuteter descritivo e social a Socioterminologia defende

uma variaccedilatildeo sociodiscursiva na linguagem terminoloacutegica Segundo Faulstich (2001 p 22)

ldquoas variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social

linguumliacutestica e geograacutefica fazem do termordquo Nesse acircmbito a comunicaccedilatildeo deve ser observada in

vivo devido agrave funccedilatildeo do contexto social pragmaacutetico e discursivo no qual os termos circulam

isto se opotildee intensamente ao condicionamento in vitro imposto pela teoria wusteriana

Analisamos assim que a base dos estudos socioterminoloacutegicos estaacute na variaccedilatildeo e na

etnografia de ordem interativa ou seja os termos catalogados sobre as plantas medicinais da

comunidade de Pimenteiras foram analisados nos diferentes niacuteveis sociais e culturais em que

ocorrem Verificamos que na linguagem especializada sobre as plantas medicinais os termos

deixam de ser uma unidade uniacutevoca para serem meditados na interpretaccedilatildeo variacionista em

que a comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade eacute motivada por diferentes termos para

um mesmo conceito ou por vaacuterios conceitos para um mesmo termo

Diante de tais aspectos precisamos conhecer e analisar os contextos sociais

religiosos culturais de gecircnero e da identidade quilombola nos quais a linguagem ocorre

tomando como foco os saberes medicinais sobre as plantas da regiatildeo respeitando e analisando

76

por meio dos estudos socioterminoloacutegicos os termos catalogados pelos moradores sem

interferir no estado natural desse objeto de estudo a fim de garantir a fidelidade dos dados e

dos resultados alcanccedilados na pesquisa de campo A Socioterminologia eacute pois uma ciecircncia

que reconhece a variaccedilatildeo terminoloacutegica

A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma

terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua

aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das

praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis

porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam

entre trabalho e linguagem (GAUDIN apud FAULSTICH 2006 p216)

Compreendendo que a variaccedilatildeo eacute um fator universal da linguagem humana e que

esse mesmo fator tambeacutem estaacute presente na linguagem especializada verificamos em Gaudin

(1993 p 16) que ldquoa socioterminologia pode levar em conta o real do funcionamento da

linguagem e restituir toda sua dimensatildeo social agraves praacuteticas linguageiras concernentesrdquo Apoacutes

essas discussotildees notamos a necessidade de valorizar os termos no ambiente discursivo

pragmaacutetico e social em que satildeo produzidos trazendo um diaacutelogo entre as aacutereas de saber Eacute

por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos que podemos valorizar e divulgar o conhecimento

popular sobre as plantas medicinais dos moradores da comunidade de Pimenteiras assunto

este que apresentamos no toacutepico seguinte

331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da Socioterminologia

Compreendemos que o conhecimento eacute uma expressatildeo utilizada para demonstrar

toda a experiecircncia adquirida ateacute o presente momento na histoacuteria do ser humano Somos a

soma das invenccedilotildees pensamentos criaccedilotildees da mente humana Soacutecrates (470-399 aC apud

PESSANHA 1980) jaacute dizia que o verdadeiro conhecimento vem de dentro de noacutes que natildeo eacute

encontrado apenas nos documentos mas tambeacutem nos processos e nas praacuteticas dos grupos

humanos que por meio das experiecircncias acumuladas entre as geraccedilotildees aumentam a

produtividade e conquista de novas oportunidades de conhecer

Etimologicamente a palavra conhecimento eacute derivada do latim cognitio que

significa ato ou accedilatildeo de aprender Nesse sentido aprender eacute a capacidade de absorvermos

atraveacutes dos sentidos as experiecircncias externas e a partir delas acrescentar novos

77

conhecimentos Na medida em que evoluiacutemos percebemos que o conhecimento eacute o meio que

processa o envolvimento humano com os dados e informaccedilotildees dessa accedilatildeo de conhecer que eacute

tatildeo fundamental a todos noacutes pois que algueacutem deu o conhecimento a um contexto a um

significado a uma interpretaccedilatildeo que refletiu sobre o saber e acrescentou a ele sua proacutepria

sabedoria

A abrangecircncia que o termo ldquoconhecimentordquo possui eacute muito importante para

compreendermos nossa proacutepria vivecircncia de conhecer o mundo que nos rodeia Diante desse

contexto observamos que existem definiccedilotildees diferentes para cada campo do conhecimento

Tomando os estudos de Marcondes (2001) percebemos os seguintes tipos de conhecimento

O Conhecimento Cientiacutefico que vem das leis e sistemas que explicam de modo

racional com base na experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo investigaccedilatildeo e na loacutegica sistemaacutetica do que

esta sendo observado Lopes (1999 p 106) escreve que o conhecimento cientiacutefico eacute ldquotodo

conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por excelecircncia sem

influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e provado a partir dos dados da

experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e experimentaccedilatildeordquo Esta aacuterea do conhecimento eacute

extremamente analiacutetica e objetiva Tendo relaccedilatildeo com a racionalidade suas anaacutelises satildeo

importantes no processo de construccedilatildeo do saber cientiacutefico de forma que suas caracteriacutesticas

se tornam praticamente uma antiacutetese ao conhecimento popular

O Conhecimento Popular ou Empiacuterico tambeacutem conhecido como tradicional tem

relaccedilatildeo com a hereditariedade cultura e senso comum do homem Eacute uma forma de reflexatildeo

passiva acriacutetica e assistemaacutetica que vai aleacutem da subjetividade e superficialidade Estaacute baseado

nas experiecircncias vividas ou observadas pelo homem sem teacutecnicas ou meacutetodos O

conhecimento ocorre pelo uso dos sentidos podendo ser passiacutevel ao erro dedutivo por ter

mais questotildees pessoais do que cientiacuteficas

O Conhecimento Filosoacutefico estaacute relacionado agrave ideias e conceitos que satildeo construiacutedos

pela busca da verdade do mundo atraveacutes da indagaccedilatildeo priorizando assim um olhar sobre a

condiccedilatildeo humana Existem questotildees que somente a capacidade humana de refletir e raciocinar

podem responder assuntos que nem a ciecircncia consegue pois satildeo temas inerentes ao homem

A racionalizaccedilatildeo eacute o principal instrumento de uso com isso pode-se dizer que este

conhecimento eacute reflexivo loacutegico criacutetico racional e subjetivo

O Conhecimento Teoloacutegico por sua vez esta direcionado para conhecer e provar a

existecircncia de Deus e dos textos escritos na Biacuteblia tomando-os como verdades incontestaacuteveis

Obtido atraveacutes das ideias e axiomas da feacute tenta responder as questotildees inerentes ao homem em

relaccedilatildeo agrave sua existecircncia atraveacutes da concepccedilatildeo divina do mundo

78

Perante os tipos de conhecimentos expostos percebemos que em todo lugar que

olhamos o homem eacute capaz de criar meacutetodos de entendimento de tudo aquilo que ele absorve

do ambiente em que vive Assim observamos que na comunidade de Pimenteiras os

moradores quilombolas obtiveram o conhecimento sobre as plantas medicinais por meio do

conhecimento popular atraveacutes da relaccedilatildeo com sua cultura local seus antepassados e com sua

Liacutengua de modo a construir experiecircncias que ateacute hoje comungam com sua identidade

Nesse sentido somos a soma de nossa heranccedila bioloacutegica social e histoacuterica sendo

atraveacutes da linguagem e da cultura que nos constituiacutemos em seres com a capacidade de

conhecer e de adquirir conhecimento Por isso liacutengua eacute mais do que instrumento de

conhecimento ela eacute constitutiva dele Para Matos (2011 p 3) ldquoa liacutengua eacute incubadora da

identidade reproduz significados que se deslocam afetados pela memoacuteria e eacute submetida ao

movimento da ideologia imposto pela histoacuteria estando portanto atrelada a aspetos poliacuteticos e

eacuteticosrdquo

No que concerne agrave Liacutengua analisamos que o conhecimento sobre seu funcionamento

eacute fundamental para noacutes falantes Esse conhecimento estaacute impliacutecito em nosso ser e vem de

uma capacidade que nos permite apreender e dominar a liacutengua que utilizamos O

conhecimento linguiacutestico eacute parte de todos noacutes falantes de uma determinada liacutengua ou seja eacute

parte do nosso saber porque nascemos com essa capacidade

Assim como a liacutengua a Terminologia eacute tambeacutem uma praacutetica cognitiva linguiacutestica e

social Boulanger (2001 p 13 apud Rodrigues 2010 p 33) explica que a Terminologia ldquoeacute

uma praacutetica cognitiva na medida em que repousa sobre o conhecimento eacute uma praacutetica

linguiacutestica devido agrave noccedilatildeo termo ou praacutetica social especializada na medida em que o saber

circula em todas as sociedades humanasrdquo Eacute diante desse conhecimento da linguagem de

especialidade no contexto social que a Socioterminologia surge para identificar e analisar os

saberes especializados na liacutengua

Eacute evidente que o conhecimento cientiacutefico se faz necessaacuterio ao estudo terminoloacutegico

aqui proposto sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras Entretanto o

conhecimento popular transmitido entre as geraccedilotildees quilombolas eacute basilar para esta pesquisa

pois eacute a partir deste saber tradicional que buscamos analisar sob o olhar Socioterminoloacutegico

os elementos relacionados aos termos sobre as plantas medicinais Popularizar e valorizar o

conhecimento tradicional por meio do saber cientiacutefico eacute fundamental para conhecermos as

diversidades em nossa liacutengua como tambeacutem de nossa cultura

Observamos que o conhecimento cientiacutefico eacute aquele que pode ser provado atraveacutes de

inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute que seja incorporado pela ciecircncia Para Marconi e Lakatos

79

(2003 p 75) o conhecimento cientiacutefico ldquo[] eacute transmitido por intermeacutedio de treinamento

apropriado sendo um conhecimento obtido de modo racional conduzido por meio de

procedimentos cientiacuteficosrdquo

Com relaccedilatildeo ao conhecimento popular este por um longo tempo foi ignorado pelos

cientistas Entretanto hoje a situaccedilatildeo eacute diferente pois segundo Posey (1987) eacute por meio do

resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes tradicionais que surgem novas reflexotildees que datildeo grande

importacircncia desses saberes para o nosso proacuteprio benefiacutecio Diante disso Silva (2002 p 26)

argumenta que ldquo[] os estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular

tecircm merecido atenccedilatildeo cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm

oferecendo agraves ciecircncias do homemrdquo

Eacute fato e natildeo desmerecemos que o conhecimento cientiacutefico tecircm um papel muito

importante para a nossa cultura no entanto eacute preciso acolher com a mesma intensidade os

saberes populares para buscarmos compreender e analisar as diferentes culturas e linguagem

especializadas pois ldquo[] o que leva um ao conhecimento cientiacutefico e outro ao vulgar ou

popular eacute a forma de observaccedilatildeordquo (MARCONI LAKATOS 2005 p 76) Para isso a

Socioterminologia como ciecircncia busca analisar e fazer dialogar os diversos aspectos

relacionados agrave linguagem especializada levando em consideraccedilatildeo o acircmbito social em que

circundam os termos sobre os saberes populares das plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras

Diante desse contexto percebemos o quanto eacute importante analisarmos os termos

sobre as plantas medicinais do ponto de vista discursivo no uso concreto da linguagem

teacutecnica com caraacuteter variacionista e como os estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais

nesse processo Eacute por meio de seus meacutetodos de anaacutelise e descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de

variaccedilatildeo no contexto social e linguiacutestico que seguimos no toacutepico seguinte nas discussotildees

sobre o termo base do estudo socioterminoloacutegico

332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico

Segundo os estudos de Krieger e Finatto (2004) o termo eacute o elemento linguiacutestico que

constitui a expressatildeo lexical do saber especializado eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da

produccedilatildeo dos saberes De forma concisa entendemos que a palavra e o termo satildeo unidades

parecidas ao serem descritas por um conjunto de caracteriacutesticas linguiacutesticas sistemaacuteticas

80

referindo-se a um elemento da realidade A palavra ao tomar parte de um acircmbito

especializado eacute considerada um termo e a carga semacircntica confere no aspecto linguiacutestico o

que o diferencia da palavra

O termo caracteriza-se no sentido de que para uma noccedilatildeo dada haacute teoricamente uma uacutenica denominaccedilatildeo Esta caracteriacutestica do termo se funda sobre um postulado

da terminologia o da relaccedilatildeo de univocidade entre denominaccedilatildeo (significante) e

noccedilatildeo (significado relaccedilatildeo do tipo reflexiva) (RONDEAU apud KRIEGER 2004 p

77)

Sendo um objeto de estudo das ciecircncias terminoloacutegicas o termo eacute investigado numa

dimensatildeo pragmaacutetica discursiva e sociolinguiacutestica Faulstich (2006) explica que a teoria da

variaccedilatildeo terminoloacutegica propotildee uma releitura da definiccedilatildeo do objeto de estudo da

Socioterminologia que eacute o termo Para a autora (2006 p 28) ldquouma unidade terminoloacutegica

pode ter ou assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel

desempenha nos contextos de ocorrecircnciardquo

Nos estudos de Rodrigues (2010 p 36) o termo pode ser apreendido como um signo

que encontra funcionalidade na linguagem de especialidade como uma entidade variante que

se apoia nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo social e como um item do leacutexico especializado que

passa por processos de evoluccedilatildeo Desta forma o termo eacute visto como fenocircmeno linguiacutestico

variaacutevel que encontra na terminologia diferentes resultados de uso dos falantes nos diversos

contextos sociais geograacuteficos e linguiacutesticos Diante disso Gouadec (apud KRIEGER 2004 p

77) expotildee que ldquoum termo eacute uma unidade linguiacutestica que designa um conceito um objeto ou

um processo O termo eacute a unidade de designaccedilatildeo de elementos do universo percebido ou

concebido Ele raramente se confunde com a palavra ortograacuteficardquo

Considerando o princiacutepio da variaccedilatildeo em toda a sua dimensatildeo o pesquisador

Rodrigues (2010) acrescenta que o termo passa a ser visualizado como uma unidade lexical

que sofre todas as implicaccedilotildees sistecircmicas e contextuais proacuteprias a qualquer palavra no

contexto comunicativo da liacutengua Para Barros (apud KRIEGER FINATTO 2004) o termo eacute

uma unidade do leacutexico com conteuacutedo especiacutefico dentro de um domiacutenio tambeacutem particular

que pode ser descrito e analisado em diferentes aspectos relacionados ao significante e

significado agraves relaccedilotildees com outros termos e ao ponto de vista sociolinguiacutestico com isso

observamos que haveraacute melhor sustentaccedilatildeo teoacuterica ao trabalho estudado na comunidade de

Pimenteiras

Por ser um objeto de estudo da Socioterminologia Gaudin (1993) lembra que deve

haver uma aproximaccedilatildeo discursiva dos termos pois segundo o pesquisador as unidades

81

terminoloacutegicas devem ser analisadas em sua condiccedilatildeo de produccedilatildeo discursiva e de interaccedilatildeo

entre conhecimentos No que concerne ao conhecimento ele eacute sempre foi e seraacute uma forma

moacutevel de cultura De forma cientiacutefica ou de saber popular o conhecimento humano chega a

cada geraccedilatildeo a cada comunidade com a marca dos tempos povos e lugares por onde passou

Eacute atraveacutes da transferecircncia do conhecimento por meio da Liacutengua que as sociedades se formam

as tradiccedilotildees dos povos sofrem mudanccedilas ou satildeo abolidas em troca de outras Contudo eacute pelo

aparecimento de novos conceitos e pela aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos que outras capacidades

cognitivas se desenvolvem e formam outros conhecimentos

Sabendo que o conhecimento pode tambeacutem ser transmitido por meio da linguagem

verificaremos na anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais os

aspectos relacionados agrave representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras pois

compreendemos que eacute por meio da linguagem que criamos expressamos e designamos os

conceitos e objetos nos diversos campos de conhecimento

Nos estudos de Cruz (2014 p 98) ela expotildee que ldquoos termos satildeo criados e se

desenvolvem em uma liacutengua concreta porque as ideias processos ou objetos que esses termos

designam foram criados pela sociedade que deles se utilizardquo Ela explica que os termos satildeo

resultado de convenccedilotildees ou preferecircncias individuais possuindo relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas

do objeto nomeado Eacute nesse campo que as anaacutelises dessas carateriacutesticas satildeo necessaacuterias para

observar se as denominaccedilotildees satildeo fruto de ideias do conhecimento da aacuterea ou por modismos

(CRUZ 2014)

No campo da linguagem percebemos que os termos sobre as plantas medicinais satildeo

utilizados na comunidade de Pimenteiras atraveacutes da interaccedilatildeo entre a cultura a natureza e as

origens de um povo que transmitiu seus conhecimentos entre as geraccedilotildees por meio da liacutengua

Atraveacutes das concepccedilotildees explanadas sobre a linguagem ldquopodemos dizer que uma terminologia

natildeo se insere em uma liacutengua mas em uma linguagem especiacutefica desenvolvida a partir de um

universo de discurso criado por uma comunidade em um dado campo do saberrdquo (SANTOS

2010 p 06)

Nesse contexto Krieger e Finatto (2004 p75) explicam que ldquoo termo ou unidade

terminoloacutegica eacute simultaneamente elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber e componente

linguiacutestico cujas propriedades favorecem a univocidade da comunicaccedilatildeo especializadardquo

Por ter um caraacuteter natural os termos funcionam como um elemento dos sistemas

linguiacutesticos que estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo sendo esta inerente em qualquer liacutengua a variaccedilatildeo

terminoloacutegica ocorre no acircmbito do uso especializado Nesse sentido Cruz (2012) expotildee que a

82

comunicaccedilatildeo especializada de melhor qualidade eacute construiacuteda a partir do reconhecimento da

naturalidade e inerecircncia da variaccedilatildeo terminoloacutegica como um tipo de variaccedilatildeo linguiacutestica

Na anaacutelise socioterminoloacutegica verificamos alguns aspectos da variaccedilatildeo dos termos

sobre as plantas medicinais de Pimenteiras mostrando como os termos variam de acordo com

as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos observando na linguagem especializada a

naturalidade e inerecircncia presentes nos termos a serem analisados proporcionando a

particularizaccedilatildeo e identidade da comunidade

Por ser uma unidade de conhecimento que estaacute constantemente se relacionando com

seu significado o termo segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos Assim antes de analisar

se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade verificamos que a

definiccedilatildeo deles eacute muito importante para o contexto de uso dos estudos teoacutericos da

Socioterminologia que descreve os termos dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber

especializado Segundo os estudos de Lara (2004 p 93) ldquouma definiccedilatildeo eacute um enunciado que

descreve um conceito permitindo diferenciaacute-lo de outros conceitos associadosrdquo Sager (1990

apud LARA 2004 p 93) expotildee ainda que ldquoa definiccedilatildeo eacute uma explanaccedilatildeo aceita do

significado especializado de itens lexicais cuja ocorrecircncia pode ser documentada em vaacuterias

fontesrdquo Diante disso utilizamos no percurso da anaacutelise dos termos medicinais sobre as

plantas a definiccedilatildeo do saber subjetivo de uma moradora da regiatildeo de Pimenteiras

Nos estudos da definiccedilatildeo terminoloacutegica dos termos Lara (2004 p 94) contribui

expondo que ldquoa definiccedilatildeo terminoloacutegica eacute classificadora hierarquizante estruturante

relaciona-se agrave definiccedilatildeo da coisardquo ou seja a definiccedilatildeo natildeo eacute uacutenica ela varia de acordo com a

fonte escolhida Assim procuramos nos estudos socioterminoloacutegicos trazer a definiccedilatildeo dos

termos sobre as plantas medicinais pois a Socioterminologia ldquoeacute uma disciplina que se ocupa

da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguiacutesticas dos termos em diferentes tipos

de situaccedilatildeo de uso da liacutengua nos diversos niacuteveis e planos hieraacuterquicos do discursordquo (CRUZ

2012 p 100)

Cruz acrescenta que nos estudos de Faulstich (1998) ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas

variantes eacute tarefa da Socioterminologia cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da

diversidade de termos que ocorrem nos planos vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo

Perante a diversidade dos termos e consequentemente da variaccedilatildeo em suas definiccedilotildees

utilizamos no processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Faulstich

(1996) uma amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees tidas sobre os termos a partir

da variaccedilatildeo terminoloacutegica que fundamenta os dados a serem analisados

83

Nos estudos de Cruz (2014 p113) sobre a variaccedilatildeo dos termos a pesquisadora

explica que ldquoo processo de variaccedilatildeo se daacute dentro de um construto teoacuterico em que variaacuteveis

produzem variantes que funcionam nas liacutenguas de acordo com as funccedilotildees que elas venham a

ter no discurso de especialidade ou na liacutengua comumrdquo Nos estudos socioterminoloacutegicos

Faulstich (1995 apud CRUZ 2012) propotildee uma abordagem funcionalista do termo que eacute a

base da pesquisa socioterminoloacutegica defendendo uma estreita relaccedilatildeo entre termo e variaccedilatildeo

Outro postulado defendido por Faulstich (1998 1999) eacute sobre a anaacutelise do termo que deve

ser visto sob duas perspectivas sincrocircnica e diacrocircnica assim ela resume que

Termos satildeo signos que encontram sua funcionalidade nas linguagens de especia-

lidade de acordo com a dinacircmica das liacutenguas satildeo entidades variantes porque fazem

parte de situaccedilotildees comunicativas distintas satildeo itens do leacutexico especializado que

passam por evoluccedilotildees por isso devem ser analisados no plano sincrocircnico e no plano diacrocircnico das liacutenguas (FAULSTICH 1999 p 28)

Outro aspecto importante a ser mencionado eacute com relaccedilatildeo agrave estrutura do termo que

pode se apresentar de forma simples complexa ou composta Esse campo leacutexico-semacircntico e

morfossintaacutetico do termo eacute tomado pelos estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) que

explanam sobre a estrutura simples constituiacuteda de um radical e por estruturas complexas e

compostas em que ocorre a presenccedila de dois ou mais radicais diferenciados pela presenccedila do

hiacutefen nos termos compostos enquanto que nos termos complexos ocorre os processos de

composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo50

ou justaposiccedilatildeo51

das palavras No caso da

comunicaccedilatildeo especializada o que predomina satildeo os termos complexos por poder assumir

diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo

reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico

Quando utilizamos um termo num determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e

permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo internalizadas na liacutengua que por ser um

sistema dinacircmico passa a ser enriquecida por neologismos Assim veremos que os estudos de

Pottier (1978) e de Barros (2007) sobre o termo no que concerne agrave sua estrutura

morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica satildeo caracterizadas como simples compostas ou

complexas

Em presenccedila das concepccedilotildees explanadas sobre o termo observamos que o

conhecimento que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem sobre as plantas

50Aglutinaccedilatildeoconsiste na junccedilatildeo de duas ou mais palavras com o objetivo de formar uma terceira palavra poreacutem

uma delas ou as duas sofreraacute alguma mudanccedila na sua forma ganhando ou perdendo letras fonemas ou

morfemas

51Justaposiccedilatildeo satildeo as palavras apenas justapostas uma ao lado da outra e estando juntas formaratildeo uma terceira

palavra Neste caso as palavras ficam intactas natildeo perdendo nenhum item da sua forma

84

medicinais satildeo as marcas de seus antepassados de sua identidade de sua histoacuteria como

quilombolas satildeo marcas de sua linguagem diante da diversidade na natureza Natildeo usamos a

liacutengua sempre da mesma forma mas adequamos nossa linguagem agrave situaccedilatildeo comunicativa em

que estamos inseridos Assim os usos que fazemos em nossa liacutengua satildeo o reflexo tambeacutem

da nossa proacutepria histoacuteria Nesse contexto damos iniacutecio no capiacutetulo seguinte sobre a

metodologia utilizada para fundamentar esta pesquisa levando em consideraccedilatildeo os objetivos

as etapas da pesquisa as pessoas e as dificuldades encontradas no percurso do trabalho

85

4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos os motivos escolhas e as etapas metodoloacutegicas feitas

durante a pesquisa de campo na comunidade de Pimenteiras As fases para a constituiccedilatildeo

deste trabalho dissertativo tecircm suas bases nos estudos da Socioterminologia com o uso de

instrumentos tecnoloacutegicos antes durante e apoacutes o trabalho de campo Dentre as ferramentas

tecnoloacutegicas empregadas utilizamos diversas entrevistas transcriccedilotildees dos diaacutelogos e registro

de dados sobre os termos medicinais das plantas As ferramentas usadas foram o Software

Transana52

as fichas terminoloacutegicas gravador de voz maacutequina fotograacutefica e questionaacuterios

usados nas entrevistas Eacute fato que muitas dificuldades surgiram no percurso do trabalho

apesar disso a coleta dos dados foi imprescindiacutevel para a pesquisa sobre os termos das plantas

de uso medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras

41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE

PIMENTEIRAS

Realizar uma investigaccedilatildeo baseada na pesquisa de campo supotildee planejar previamente

o curso a seguir na construccedilatildeo do trabalho Eacute fato que o pesquisador encontra diversos

imprevistos que dificultam a pesquisa a ser realizada Compreendendo isso optamos em

conhecer participar e analisar a comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras no

setor das plantas medicinais Observamos que as condiccedilotildees naturais do tempo

influenciarammuito na pesquisa aleacutem da dificuldades encontradas no trajeto ateacute a

comunidade Apesar disso a riqueza em informaccedilotildees a biodiversidade da regiatildeo e o

consentimento dos moradores para a realizaccedilatildeo da pesquisa proporcionaram maior firmeza

para a continuidade do trabalho

Na intenccedilatildeo de fornecer dados confiaacuteveis e de qualidade para esse estudo buscamos

visitar e manter contato contiacutenuo com os moradores da comunidade de Pimenteiras Cada

52 O Transana foi criado por pesquisadores e para pesquisadores a fim de atender as necessidades profissionais

de quem executa entrevistas com trabalhos de campo pode serusado em diversas aacutereas do conhecimento mas

nessa pesquisa de base socioterminoloacutegica nosso estudo eacute constituiacutedo de um corpus de liacutengua oral As vantagens

do software eacute que oferece a visualizaccedilatildeo de vaacuterias janelas como o aacuteudio viacutedeo transcriccedilatildeo base de dados e visualizaccedilatildeo do material a ser transcrito isto proporciona maior seguranccedila e agilidade no processo

86

encontro foi planejado ora com entrevistas gravadas e filmadas ora com registro de fotos e

coleta de dados sobre as plantas Tudo no intuito de conhecer descrever e analisar os dados

com maior seguranccedila e veracidade pois cada ponto foi imprescindiacutevel para a fundamentaccedilatildeo

do trabalho dissertativo

Os dados sobre as plantas de uso medicinal foram organizados por alguns moradores

da regiatildeo durante os trabalhos com o Bioenergeacutetico de acordo com o saber que possuem

Estes dados foram catalogados e analisados dentro do contexto socioterminoloacutegico da

pesquisa em questatildeo Nosso intuito eacute analisar o saber popular sobre os termos catalogados das

plantas de uso medicinal levando em consideraccedilatildeo a linguagem especializada dos termos

medicinais adquiridos pelo repasse entre as geraccedilotildees pela relaccedilatildeo com a natureza e por

saberes conseguidos pelo contato com outros conhecimentos de caraacuteter cientiacutefico sobre o

poder de cura das plantas

A comunidade remanescente de quilombo de Pimenteiras estaacute localizada na regiatildeo

agriacutecola da cidade de Santa Luzia do Paraacute distante 30 km da cidade Hoje cerca de vinte oito

(28) famiacutelias vivem na comunidade sobrevivendo da agricultura criaccedilatildeo de gado e accedilaiacute

Devido agrave sua localizaccedilatildeo em aacuterea rural os moradores de Pimenteiras vivem do plantio e dos

saberes que possuem sobre as plantas medicinais devido agrave distacircncia e dificuldades para

conseguir tratamento meacutedico o saber sobre as plantas de uso medicinal tornou-se recurso

indispensaacutevel no trato das muitas doenccedilas A partir disso alguns moradores quilombolas

trabalharam por algum tempo com o Bioenergeacutetico nesse periacuteodo foram orientados por

representantes do CEDENPA para coletar amostras de plantas no trato medicinal Junto agraves

amostras os moradores escreveram os nomes de cada planta de acordo com o saber que

adquiriram com seus antepassados

Aleacutem da quantidade de conhecimento que a comunidade possui a particularidade

linguiacutestica sobre os nomes de cada planta de uso medicinal eacute muito importante nesse estudo

Por isso foram necessaacuterios diversos encontros com os moradores para conhecer e colher

maiores informaccedilotildees para esse trabalho A comunidade de Pimenteiras estaacute constituiacuteda de

expressivos elementos culturais que vecircm desde a proacutepria descendecircncia quilombola ateacute o

saber que possuem sobre as plantas por meio da valorizaccedilatildeo e fortalecimento de sua memoacuteria

coletiva Seus moradores apesar das inuacutemeras dificuldades e preconceitos vividos buscam

preservar sua identidade e serem reconhecidos pela sociedade pois a interaccedilatildeo participativa

entre os diferentes saberes existentes na comunidade promove um sentimento de

pertencimento diante das diferenccedilas culturais que devem ser respeitadas e apreciadas

87

Entendemos que o conhecimento eacute algo que estaacute em constante construccedilatildeo e

reconstruccedilatildeo e que as influecircncias que vivemos ajustam esse processo Particularmente o

conhecimento dos moradores da comunidade de Pimenteiras estaacute nessa frequecircncia que se

interpotildee entre os saberes vindos de geraccedilotildees passadas combinadas agrave presenccedila de novos

conhecimentos Diante da imensa contribuiccedilatildeo ao conhecimento cientiacutefico eacute respeitaacutevel

buscar conhecer os saberes vindos dos moradores remanescentes de quilombo para que os

mesmos sejam reconhecidos como identidade cultural sobre as plantas

Objetivamos nesse trabalho analisar os termos catalogados sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras sob a perspectiva socioterminoloacutegica dos termos no

contexto da linguagem especializada dos moradores remanescentes de quilombo observando

os aspectos sociais culturais e religiosos em que estatildeo inseridos e assim compreendermos a

identidade do povo da regiatildeo Analisando os termos identificamos que no campo da

Socioterminologia as palavras registradas sobre as plantas medicinais fazem parte do domiacutenio

especializado da liacutengua e expressam uma forte identidade no universo sociocultural dos

moradores quilombolas de Pimenteiras fazendo com que a comunidade adquira traccedilos que

distinguem e identificam sua cultura

Os dados catalogados foram registrados transcritos e definidos de acordo com o

saber de um morador da comunidade de Pimenteiras Na anaacutelise socioterminoloacutegica dos

termos todos foram definidos e estruturados por meio de fichas terminoloacutegicas para melhor

visualizaccedilatildeo das unidades que compotildeem as palavras coletadas junto da definiccedilatildeo

adicionamos as imagens de cada termo nomeado

42 A PESQUISA DE CAMPO

Registrar os termos de uma linguagem especializada requer preservar a legitimidade

que cada indiviacuteduo possui no uso da liacutengua Durante o processo de pesquisa vaacuterias etapas

foram executadas para que as anaacutelises fossem alcanccediladas As pessoas foram muito

importantes para que o estudo se desenvolvesse ao longo desse periacuteodo de anaacutelise

socioterminoloacutegica dos termos

Como criteacuterio de seleccedilatildeo escolhemos uma (01) moradora remanescente de

quilombola da comunidade de Pimenteiras a senhora Domingas Alves do Nascimento pelo

conhecimento popular sobre as plantas medicinais que ela deteacutem e tambeacutem pelo fato de ser

88

uma das pessoas que coletaram amostras das plantas medicinais Aleacutem disso Domingas eacute

uma representante da associaccedilatildeo AQUAFAP que sempre realizar atividades relacionadas a

valorizaccedilatildeo e aos direitos dos moradores de Pimenteiras

No aspecto religioso ela sempre estaacute engajada na cerimocircnia em homenagem agrave Nossa

Senhora do Livramento e mesmo com tantos trabalhos a serem executados na comunidade a

moradora estaacute sempre disposta e atenta para fazer com que a comunidade tenha seus direitos

garantidos e sua cultura e preservada

Durante a pesquisa foram realizadas entrevistas com outras pessoas que forneceram

informaccedilotildees importantes sobre a histoacuteria religiatildeo e cultura dos moradores da comunidade de

Pimenteiras No entanto a moradora Domingas foi incansaacutevel em suas contribuiccedilotildees A partir

dela o interesse em pesquisar sobre os termos catalogados das plantas de uso medicinal se

tornou fascinante

Dona Domingas eacute uma mulher que respeita suas origens e utiliza os saberes

transmitidos por sua matildee e sua avoacute materna a ponto de ser conhecida na regiatildeo como a

ldquosenhora das ervasrdquo aleacutem de trabalhar na agricultura com o marido ela tambeacutem ajuda na

fabricaccedilatildeo de produtos naturais na associaccedilatildeo dos agricultores quilombolas de Santa Luzia do

Paraacute bem como realiza trabalhos relacionados com a comunidade e sua famiacutelia

Devido aos saberes que possui sobre as plantas Domingas recebe grande ajuda de

diversas pessoas que tambeacutem tecircm interesse pela cura atraveacutes das plantas medicinais como eacute o

caso da senhora Maria de Nazareacute Reis uma engenheira agrocircnoma que trabalha no CEDENPA

assessorando os grupos de mulheres associaccedilotildees cooperativas de agricultores rurais e

familiares dentro da Rede Bragantina atraveacutes de cursos direcionados agrave nutriccedilatildeo alimentaccedilatildeo

saudaacutevel agricultura familiar e uso das plantas para cura de doenccedilas como forma de

incentivo aos pequenos trabalhadores rurais sobre a Produccedilatildeo Agroecoloacutegica53

Vale ressaltar que os saberes que a moradora Domingas possui estatildeo preservados em

sua memoacuteria e que esse trabalho procura basicamente conhecer registar e analisar as

palavras no contexto da linguagem especializada sobre as plantas medicinais que satildeo de uso

natildeo apenas da senhora Domingas mas tambeacutem dos moradores quilombolas de Pimenteiras

No que concerne agraves dificuldades enfrentadas no percurso da pesquisa inicialmente o

acesso agrave comunidade foi o que trouxe mais problemas principalmente nos periacuteodos de chuva

Em muitos momentos foi necessaacuterio modificar o percurso a ser seguido e redirecionar novos

53 A agroecologia eacute uma ciecircncia que dialoga com as diversas dimensotildees do conviacutevio humano como a ecologia a

socioeconocircmica a cultura e sociopoliacutetica eacute o conhecimento que vai aleacutem da produccedilatildeo que se insere num sistema de transformaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de uma agricultura socialmente mais justa economicamente viaacutevel e

ecologicamente apropriada

89

planos para que a pesquisa continuasse Eacute fato que esse trabalho natildeo envolve um amplo

levantamento acerca dos conhecimentos e saberes contidos nos moradores de Pimenteiras

contudo essa eacute uma amostra diante das inuacutemeras possibilidades do conhecimento popular a

ser registrado

No percurso da pesquisa diversos instrumentos foram utilizados para registrar cada

elemento relacionado agrave comunidade e aos informantes como gravador de voz maacutequina

fotograacutefica para o registro de imagens fichas com questionaacuterios a serem respondidos pelas

informantes aplicativos para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica das gravaccedilotildees como o Transana e os

termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da regiatildeo elemento esse de grande

importacircncia na pesquisa

Diante das exposiccedilotildees apresentadas ressaltamos que os dados catalogados sobre os

termos das plantas medicinais satildeo a base deste trabalho que busca analisar sob o olhar

socioterminoloacutegico cerca de quarenta e dois (42) termos registrados e preservados por uma

das moradoras da comunidade Na sequecircncia observaremos a maneira como foram tratados

os dados catalogados para essa pesquisa

43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS

Considerando que o meacutetodo desta pesquisa procede de forma qualitativa em que se

analisam os dados catalogados dos termos sobre as plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras sob os estudos da Socioterminologia passaremos a expor os principais

procedimentos que foram utilizados para que os dados da pesquisa fossem registrados e

analisados

431 Entrevistas

No andamento da pesquisa diversas entrevistas formais e informais ocorreram com

as informantes As conversas formais foram registradas seguindo um fichaacuterio contendo

diversas perguntas relacionadas agrave comunidade quilombola e agraves plantas medicinais As

90

entrevistas foram armazenadas atraveacutes da gravaccedilatildeo de voz que posteriormente foi transcrita

de forma Grafemaacutetica54

As perguntas foram especiacuteficas para cada informante de acordo com o campo de

trabalho por eleela desenvolvido Por exemplo com a senhora Domingas foram direcionadas

perguntas sobre a famiacutelia comunidade descendecircncia saberes sobre as plantas e crenccedila nas

mesmas Aleacutem dessa entrevista houve tambeacutem a gravaccedilatildeo com a senhora Domingas sobre

as definiccedilotildees que a moradora possui de cada termo sobre as plantas medicinais A transcriccedilatildeo

com tais definiccedilotildees foi armazenada nas fichas terminoloacutegicas utilizadas para melhor

visualizaccedilatildeo dos dados registrados Todas essas informaccedilotildees estatildeo anexadas neste trabalho

mostrando os pontos relevantes que delineiam o caraacuteter da pesquisa

432 Recursos de anaacutelise dos dados

A transcriccedilatildeo grafemaacutetica foi executada atraveacutes do software Transana versatildeo 21255

gratuita para download que foi desenvolvido para analisar dados audiovisuais Este recurso

foi escolhido para que pudeacutessemos dar o tratamento adequado aos dados orais das gravaccedilotildees

obtidas em entrevistas Em seguida utilizamos por base as normas de transcriccedilatildeo de Koch

(1997) as transcriccedilotildees grafemaacuteticas foram feitas no software Transana devido o programa

permitir a conexatildeo entre o texto transcrito em momentos especiacuteficos do viacutedeo com o aacuteudio da

entrevista

433 Termos Catalogados

Com relaccedilatildeo aos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal pelos

moradores da comunidade quilombola de Pimenteiras usamos o registro das imagens junto

com as fichas terminoloacutegicas com as definiccedilotildees de cada termo Procuramos nesse momento

respeitar a forma escrita de cada termo registrado pelos moradores As amostras das plantas

54 Os dados registrados na Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica estatildeo nos apecircndices deste trabalho 55 Pesquisado em 11 de agosto de 2015 as 2231 hs no site httpwwwtransanaorgdownloadwhatsnewhtm

91

foram dissecadas com o uso de jornais pelos moradores na eacutepoca em que trabalharam com o

Bioenergeacutetico Ateacute hoje esse material estaacute guardado pela moradora Domingas

Durante a pesquisa registramos as imagens das plantas vivas em seu habitat natural

para que pudeacutessemos perceber as caracteriacutesticas de cada uma e consequentemente observar a

relaccedilatildeo com o nome que possuem Ao registrarmos as imagens das plantas outras espeacutecies

foram identificadas pelos moradores como medicinal isto ampliou a quantidade de termos

catalogados e possivelmente outros mais permanecem ocultos na regiatildeo Todos os termos

catalogados estatildeo nos apecircndices com as definiccedilotildees junto de suas respectivas imagens

92

5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE UM POVO

Compreender as pessoas como seres introduzidos em redes de significados pensar

nos sujeitos da maneira como eles se identificam entendendo as particularidades de sua

cultura vivenciando-a acompanhando-os em muitos momentos procurando entender o que

eles fazem e como fazem esse processo foi importante para compreender as distinccedilotildees dos

elementos que compotildeem dentro e fora a comunidade quanto aos saberes sobre as plantas de

uso medicinal observando que tais saberes constituem a identidade cultural dos moradores no

que diz respeito agrave biodiversidade na comunidade de Pimenteiras

Utilizamos uma metodologia vinda da observaccedilatildeo das praacuteticas sociais das

entrevistas com os sujeitos da pesquisa da catalogaccedilatildeo dos dados sobre as plantas e da

transcriccedilatildeo das definiccedilotildees de cada termo que se tornou fundamental para a anaacutelise dos dados

catalogados na comunidade Buscamos natildeo apenas registrar fatos mas analisar a relaccedilatildeo que

os termos possuem dentro dos aspectos sociais apresentando assuntos relacionados agrave religiatildeo

cultura e de identidade proporcionando assim o reconhecimento de conhecimentos

tradicionais preciosos para o estudo cientiacutefico atraveacutes dos saberes de um povo suas lutas sua

natureza e linguagem

Conhecida e reconhecida por sua biodiversidade Pimenteiras eacute identificada pelos

saberes sobre as plantas medicinais Os moradores da comunidade satildeo descendentes de negros

escravos conhecidos como quilombolas e muitos adquiriram de seus antepassados

conhecimentos sobre o uso das plantas para a cura dos males do corpo Assim sendo

procuramos nesse contexto apresentar a anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos da

comunidade de Pimenteiras considerando os aspectos da variaccedilatildeo terminoloacutegica na

linguagem suas motivaccedilotildees no ato de nomear e as relaccedilotildees associativas que geram novas

nomeaccedilotildees e tambeacutem novas variaccedilotildees por conseguinte abordamos os termos sobre as

plantas medicinais com foco na sua estrutura morfossintaacutetica observando que na variaccedilatildeo o

termo pode ou natildeo ser alterado em seu radical formando novas composiccedilotildees sejam elas

simples compostas ou complexas na sequecircncia desses estudos dos termos chegamos agrave

anaacutelise da definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas que de forma

subjetiva procurou descrever cada planta nas suas particularidades

A necessidade sociocultural humana de estabelecer relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

promove a accedilatildeo de transformar o vocabulaacuterio da liacutengua constantemente para o surgimento de

novas palavras Mas de onde vecircm as palavras Compreendendo que as palavras satildeo criadas de

93

forma consciente para dar nome agraves coisas entendemos que com o passar do tempo as

palavras sofrem transformaccedilotildees que trazem tambeacutem a modificaccedilatildeo no sentido Assim a

linguagem eacute o campo no qual o homem exprime seus sentimentos e pensamentos em uma

comunicaccedilatildeo interpessoal ou grupal construindo uma sociedade capaz de desenvolver sua

cultura e saber que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

No que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais analisamos inicialmente

se o domiacutenio estudado pertence apenas ao campo da medicina caseira Segundo a Norma da

ISO 1087 (2000) o domiacutenio eacute decidido como parte do saber cujos limites satildeo definidos

conforme um ponto de vista particular Em seguida acolhemos a definiccedilatildeo descritiva da

moradora Domingas que buscou de acordo com seus saberes definir os termos sobre as

plantas catalogados na regiatildeo de Pimenteiras

Os dados analisados nesse trabalho satildeo constituiacutedos no total de quarenta e dois (42)

termos que foram catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras Diante da quantidade descrita utilizaremos alguns termos em diferentes aspectos

a serem considerados Os elementos presentes na ficha terminoloacutegica de cada termo seratildeo

analisados a partir da definiccedilatildeo descritiva no contexto que a senhora Domingas expocircs sobre

as plantas para isso utilizamos um modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich

(1996) usado pela Universidade de Brasiacutelia (UNB) contendo os elementos constitutivos dos

termos para uma melhor visualizaccedilatildeo dos lexemas e de seus elementos constituintes

analisando junto a isso a variaccedilatildeo de alguns termos que estatildeo relacionados de forma

associativa com certa caracteriacutestica da planta Isso se faz importante para melhor

compreendermos as nomeaccedilotildees e as significaccedilotildees descritas pela moradora nesse processo de

nomeaccedilatildeo relacionado ao conhecimento de mundo dos moradores da comunidade de

Pimenteiras

Com base nos estudos socioterminoloacutegicos explanados nesse trabalho dissertativo

analisamos as particularidades de cada termo demonstrando as definiccedilotildees descritas sobre as

caracteriacutesticas das plantas medicinais de Pimenteiras junto a isso apresentamos as imagens

das plantas registradas durante a pesquisa de campo na comunidade Para cada termo

apresentado utilizamos duas (02) imagens registradas em seu ambiente natural uma com a

imagem integral da planta e a segunda imagem com uma especialidade da planta No total

ocorreu o registro das folhas das plantas Isso se faz importante para tambeacutem verificarmos as

especificidades de cada planta no seu aspecto anatocircmico

Para tratar das questotildees da variaccedilatildeo existente sobre os termos das plantas medicinais

de Pimenteiras tomamos como contexto de anaacutelise somente os termos catalogados sobre as

94

plantas pesquisadas na comunidade por meio da moradora Domingas Com o objetivo de

examinar as variaccedilotildees destes termos foram necessaacuterios diversos encontros para cataloga-los

registrar as imagens das plantas e gravar as definiccedilotildees descritivas pela senhora Domingas

Assim os objetos desse estudo satildeo os termos sobre as plantas medicinais utilizados pelos

moradores da regiatildeo no seu contexto social

A quantidade de termos sobre as plantas medicinais existentes na comunidade eacute

enorme entretanto dado o nuacutemero de termos sobre as plantas medicinais e de suas variantes

na linguagem especializada metodologicamente trabalhamos com um total de quarenta e dois

(42) termos que foram coletados registrados em imagens e definidos em fichas

terminoloacutegicas Pesquisando a origem dessas variantes atribuiacutedas aos termos sobre as plantas

medicinais percebemos que o seu surgimento ocorre das mais variadas formas possiacuteveis O

principal modo de formaccedilatildeo das variantes eacute a partir da associaccedilatildeo relacionada com a forma

tamanho cor e funccedilatildeo das plantas medicinais As formaccedilotildees geradas por relaccedilotildees associativas

satildeo caracteriacutesticas que pertencem naturalmente agrave Terminologia

Assim vejamos uma sequecircncia das anaacutelises dos termos sobre as plantas medicinais

da comunidade de Pimenteiras observando suas imagens como tambeacutem seus elementos

constitutivos na ficha terminoloacutegica de cada termo descrito no contexto da moradora

Domingas Neste capiacutetulo apresentamos doze (12) termos de um total de quarenta e dois (42)

Os demais se encontram nos apecircndices deste trabalho Por meio da ficha terminoloacutegica criada

por Faulstich (1996) contendo a definiccedilatildeo descritiva da moradora Domingas observamos os

aspectos relacionados ao clima origem caracteriacutesticas da espeacutecie formas e utilidade

medicinal de cada planta catalogada Alguns termos apresentaram variantes e nesse acircmbito

compreendemos as relaccedilotildees associativas do nome com as caracteriacutesticas das plantas

Observemos na sequecircncia a anaacutelise dos termos catalogados na comunidade de

Pimenteiras

51 MUCURACAacute

Haacute muito tempo o ser humano cria e utiliza as palavras para expressar designar

conceitos objetos e processos de diferentes campos do conhecimento tudo isso eacute feito por

meio da linguagem A linguagem verbal eacute uma entidade social que possui aspectos materiais e

simboacutelicos que estatildeo ligados agrave consciecircncia e agrave subjetividade humana em que cada falante

95

compartilha seus saberes por meio da liacutengua A liacutengua tem uma estrutura imutaacutevel e apesar

disso estaacute em constante variaccedilatildeo eacute um instrumento que pode causar emancipaccedilatildeo e poder

um objeto do conhecimento em que inuacutemeros modelos teoacutericos surgiram com a pretensatildeo de

descrever e explicar sua essecircncia

Os moradores da comunidade de Pimenteiras demonstram em sua linguagem o

saber de uma cultura rica e distintiva Podemos perceber na anaacutelise dos termos as

particularidades que evidenciam tal grandeza Observemos na anaacutelise do termo ldquoMucuraraacuterdquo

por meio da ficha terminoloacutegica a descriccedilatildeo subjetiva que a moradora quilombola expocircs

sobre cada planta catalogada Vejamos

TERMO 01 ndash ldquoMUCURACAacuterdquo

Fotografia 14 ndash Mucuracaacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 15 ndashFolha do Mucuracaacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

96

Quadro 01 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute

Lx Lexema Mucuracaacute

V Variante Tipi

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Co Contexto eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que pra

espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode

plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal () primeiro tinha aquele

problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do

mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia doseacuteh e pra isso aquela enjoaccedilatildeo aquele

aborrecimento isso taacuteele eacute bem pequenhinho ele eacute uma planta tambeacutem neacuteele eacute

pequeno a folha ele eacute que nem a japana ele eacute do mesmo modelo da japana assim neacuteele eacute pequeno folhinha dele eacute bem escurinha bem escura assim verdinho escuro

afolhinha dele neacuteeacuteh da folha e do pau e da raiz ( )ele eacute grande ele no maacuteximo que

tem eacute trecircs palmo se ele tiver trecircs palmo neacuteele eacute conhecido por dois nomes mucuracaacute

e tipi tipe sim o maranhense praticamente o maranhense soacute conhece po tipi nois

paraense que conhece por mucuracaacute natildeo soacute o nome que mudanum sei tambeim natildeo

tambeim natildeo o cheiro dele tambeim eacute muito forte eacute o cheiro dele um ser cheiro assim

de alho querado e com muitas horas assim tem um alho que a gente quebra com

muitas horas deixa assim e vai cheirar pois assim que eacute o cheiro dele assim um cheiro

forte mucuracaacute mucuracaacutecom cheiro muito forte parece alho usadomuitu forti

Fc Fonte do

Contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas a casca do caule e a raiz

Fu Formas de uso

Usada na forma de chaacutes e para fazer banhos contra febre dor de cabeccedila mal olhado quebrante

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota O termo eacute conhecido como ldquoTipirdquo (falado no Estado do Maranhatildeo)

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Os dados apresentados na ficha terminoloacutegica sobre o termo ldquoMucuracaacuterdquo explanam

as caracteriacutesticas pertencentes agrave espeacutecie em seu contexto social Por ser uma planta de cheiro

forte e marcante eacute utilizada em banhos para as enfermidades do corpo e da alma Conhecida

tambeacutem pela variante ldquoTipirdquo suas utilidades medicinais vatildeo aleacutem dos benefiacutecios agrave sauacutede pois

eacute uma planta usada para afastar problemas espirituais como quebrante e questotildees negativas

contra a alma O fato de cultivar a planta proacutexima agrave casa tem o significado de proteccedilatildeo

espiritual aos moradores da comunidade de Pimenteiras Observemos no contexto apresentado

por Domingas

[] eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que

pra espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode

plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal ( ) primeiro tinha aquele

97

problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia [] (informaccedilatildeo verbal)56

Aleacutem da definiccedilatildeo descritiva do termo ldquoMucuracaacuterdquo utilizamos tambeacutem como

anaacutelise dos termos o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com as

informaccedilotildees especiacuteficas sobre os elementos presentes em cada termo Este formato da ficha

terminoloacutegica eacute importante para melhor visualizaccedilatildeo dos dados analisados pois observamos

cada informaccedilatildeo contida sobre os termos catalogados aleacutem da definiccedilatildeo descrita pela senhora

Domingas Os aspectos pertinentes na ficha satildeo o Lexema (Lx) as Variantes (V) a

Classificaccedilatildeo Gramatical (Cg) o Contexto (Co) a Fonte do Contexto (Fc) as Partes de Uso

(Pu) Formas de Uso (Fu) a Finalidade (Fn) os Dados do Informante (Di) os Dados do

Pesquisador (Dp) Notas (Nt) e a Data da Coleta (Dc)

Observamos que nos estudos atuais da liacutengua o leacutexico estende-se para aleacutem da

Terminologia e chega aos estudos da Sociolinguiacutestica57

e da Etnolinguiacutestica58

pois a liacutengua

de modo geral reflete marcas sociais e culturais dos falantes Assim observemos na

sequecircncia os demais termos e suas anaacutelises identificando as caracteriacutesticas de um povo e de

sua liacutengua

52 ERVA DE JABUTI

Nos estudos do termo sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras o aspecto socioterminoloacutegico eacute muito importante pois o termo pode apresentar

variaccedilotildees por vezes dentro de uma mesma aacuterea de especialidade Esse conceito traz um olhar

novo com perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural a respeito dos termos analisados sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras mostrando as influecircncias da cultura negra na

linguagem No que compete ao aspecto da linguagem Travaglia (2002 p 23) expotildee que ldquoa

linguagem eacute pois um lugar de interaccedilatildeo humana de interaccedilatildeo comunicativa pela produccedilatildeo de

efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e em um

56Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoMucuracaacuterdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015 57Sociolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda as relaccedilotildees entre liacutengua e sociedade e daacute ecircnfase ao caraacuteter

institucional das liacutenguas Eacute o estudo do comportamento linguiacutestico dos membros de uma comunidade e de como

ele eacute determinado pelas relaccedilotildees sociais culturais e econocircmicas existentes

58Etnolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda a relaccedilatildeo da linguagem e a cultura das comunidades A etnologia eacute o estudo antropoloacutegico dos povos e sua cultura analisando sua linguagem e como ela estaacute

relacionada agraves peculiaridades da vida primitiva suas crenccedilas e folclores

98

contexto soacutecio-histoacuterico e ideoloacutegicordquo Observemos as variaccedilotildees ocorrentes com o termo

ldquoErva de Jabutirdquo

TERMO 02 ndash ldquoERVA DE JABUTIrdquo

Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti

Lx Lexema Erva de Jabuti

V Variantes Coraccedilatildeo de Jabuti Coraccedilatildeozinho Comida de Jabuti

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto ela eacute uma planta di todu cantu tantu ambienti abertu ou fechadu ela daacute ela ela eacute

uma planta assim pequenauma erva ( ) ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela

eacute um formatu dum coraccedilatildeu coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu

grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha

neacute ela num eacute dessas avres assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua

dela a folhinha dela tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa

cheia di aacutegua eacute uma folha assim ( ) ela num ela num eacute aquela folha seca assim durinha

fina ela eacute uma folhinha assim bem gordinha cheinha neacute tantu faz a folha comu us

galhinhus dela ela bota uma uma bajizinha uma bajizinha forma dum duma baji di

pimenta du reinu soacute qui eacute bem piquininha eacute naquela forma da baji di pimenta du reinu

sabi neacute cumeacute aquela baginha assim soacute que eacute bem piquininha ( ) bem zititinha porque ela ela eacute uma planta pequena ela tem aqueli formatu da pimenta mais ela eacute miudinha eacute

teacute que ela eacute uma planta nativa tambeacutem ela num eacute assim uma planta cuidada ela eacute

nativa e assim nos quin no quintau ela gosta muitu de nascer im quintal eacuteh sozinha

eacute num precisa cultivar ela eacute ela eacute du quintau ela eacute assim du canteru ela nasce nu

canteru assim ela nascifriu ambiente frio daacute mais com certeza( )

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e os talos da planta

Fu Formas de Usada na forma de chaacutes para Ameba

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti

99

uso

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Os nomes tecircm relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas das plantas nos aspectos da funccedilatildeo e do

formato

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Com o termo ldquoErva de Jabutirdquo observamos que a planta apresenta mais de uma

variaccedilatildeo para a mesma palavra Algumas estatildeo relacionadas com a forma e tamanho daiacute suas

variantes serem conhecidas como ldquoCoraccedilatildeo de Jabutirdquo ou ldquoCoraccedilatildeozinhordquo o termo variante

tambeacutem possui relaccedilatildeo com a funccedilatildeo de servir de alimento para o animal por isso recebe a

terminologia de ldquoComida de Jabutirdquo Podemos perceber como a linguagem especializada

utilizada pelos moradores quilombolas de Pimenteiras apresenta variantes formadas pela

relaccedilatildeo associativa com as caracteriacutesticas descritas sobre as plantas medicinais da regiatildeo

Vejamos no contexto abaixo

[] ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela eacute um formatu dum coraccedilatildeu

coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha neacute ela num eacute dessas avres

assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua dela a folhinha dela

tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa cheia di aacutegua eacute uma

folha assim [](informaccedilatildeo verbal)59

Os termos e suas variantes estatildeo relacionados com a aacuterea de saber dos moradores

quilombolas sobre as plantas medicinais Nesse contexto os saberes de um povo se

manifestam e satildeo preservados na linguagem especializada e por conseguinte marcam os

conhecimentos tradicionais dos moradores de Pimenteiras Nas relaccedilotildees sociais da

comunidade as pessoas vivenciam de forma individual e coletiva sua linguagem Assim

vejamos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo considerado um conhecimento novo para os

moradores de Pimenteiras

59Transcriccedilatildeo Grafematica do termo ldquoErva de Jabutirdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015

100

53 NONI

Para a Terminologia o termo eacute a denominaccedilatildeo de um conceito que tem no

conhecimento especializado uma expressatildeo comunicativa cognitiva e complexa pois natildeo haacute

conhecimento especializado sem uma terminologia Assim Benveniste (1989 p 252) expotildee

que ldquoUma ciecircncia soacute comeccedila a existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e

em que impotildee seus conceitos atraveacutes de sua denominaccedilatildeo Ela natildeo tem outro meio de

estabelecer sua legitimidade senatildeo por especificar seu objeto denominando-o []rdquo Notemos

assim a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo e suas caracteriacutesticas na ficha terminoloacutegica

TERMO 03 ndash ldquoNONIrdquo

Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni

Lx Lexema Noni

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Co Contexto eacutehnoni eacute famoso ele ele cura ocacircncer neacuteentau ele previne ele nem cura como

prenine o cacircncer neacuteeacuteh o suco eacute na garrafada eu praticamente uso na garrafada

toda as minhas guarrafadas eu colo eacute mais natildeo garrafada ele natildeo fica fedorento natildeo

porque na garrafada a gente ponha ele verde e rodela a rodelinha e coloca pra secar e na hora da garrafada a gente tritura ele bem bem miudinho e bota na garrafada

ele natildeo fica natildeo tem gosto de nada agora o suco dele ele ele maduro have maria eacute

muito ruiacute neacute((sorriu)) eacuteh mas ele eacute assim mas na garrafada a gente pode usar ele

ninguei nem percebe se tem ele eacute muito assim ele eacute muito eacute um remeacutedio que ele eacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 19 ndash Folha do Noni Fotografia 18 ndash Noni

101

muito bom e ele ele assim nem tanto cura como previne as doenccedila como eacute bom pra

inflamaccedilatildeo pra infecccedilatildeo eacute muito rui neacuteaiacute a inflamaccedilatildeo ela vira infecccedilatildeo e aiacute eacute muito

bom pra usar ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que

eu conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais

trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute ela eacute uma planta e o fruto dele a

folha dele eacute bem grande bem grande a folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma

lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os frutos dele neacute((sorriu)) pois eacute ((sorriu))

pois eacute eacute soacute usa o fruto e pra isso e um da nunca ouviu falar eacute soacute e o fruto mesmo ela

ela conhece eacuteh que neacutea gente usa neacutea gente usa direito ela ajunta pra mim por

que peacute no meu quintau natildeo tem tambeacutem natildeo natildeo tem natildeo ela sempre a gente leva

daiacute

Fc Fonte

docontexto

A informante

Pu Partes de

uso

Eacute utilizado o fruto e as folhas em sucos e na garrafada

Fu Formas de

uso

Corta as rodelas da fruta colocando para secar e depois triturar para usar na

garrafada serve para curar e prevenir o cacircncer inflamaccedilotildees e infecccedilotildees

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Considerada uma planta nova foi inserida haacute pouco tempo no contexto da comunidade

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoNonirdquo eacute um substantivo masculino que tem como definiccedilatildeo ser uma planta

de fruto e folhas grandes O fruto eacute descrito pela moradora de Pimenteiras com a aparecircncia de

uma ldquolagartardquo Segundo Domingas ldquoo fruto dele a folha dele eacute bem grande bem grande a

folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os

frutos dele neacute ((sorriu))rdquo (informaccedilatildeo verbal)60

A planta eacute novidade para a moradora de Pimenteiras seu saber veio atraveacutes de

cursos por meio da associaccedilatildeo quilombola da comunidade sobre o poder das plantas O Noni

eacute utilizado na garrafada como anti-inflamatoacuterio e tambeacutem como aliado contra o cacircncer Nesse

contexto o conhecimento sobre a planta foi absorvido pelos moradores da regiatildeo e integrado

como parte dos saberes sobre as plantas medicinais Observemos abaixo

[] ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute

novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que eu

conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais

trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute [] (informaccedilatildeo verbal)61

60 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015 61Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

102

O que motiva o surgimento de um termo eacute a necessidade de nomear as novas

descobertas tecnoloacutegicas e cientiacuteficas direcionadas sempre a uma aacuterea especiacutefica do

conhecimento Segundo os estudos de Araujo (2006) o termo tem uma ldquodimensatildeo linguiacutestica

comunicativa e cognitiva e uma estrutura complexardquo O termo adquire uma feiccedilatildeo

terminoloacutegica porque integra um saber especializado ao lado de contextos no campo das

ciecircncias e das teacutecnicas ele tambeacutem possui uma dimensatildeo linguiacutestica por configurar um

comportamento lexical especializado e ainda uma dimensatildeo cognitiva por manifestar seu

conhecimento especializado

Por assim observar o termo eacute parte do componente linguiacutestico como tambeacutem eacute uma

unidade terminoloacutegica e ainda eacute um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saberVejamos

assim o componente linguiacutestico do termo ldquoPatacardquo

54 PATACA

A liacutengua eacute uma estrutura que estaacute sempre em transformaccedilatildeo desse modo a variaccedilatildeo

eacute um elemento muito importante para entendermos a existecircncia de diferenccedilas no modo como

uma liacutengua eacute usada em uma comunidade Assim como o ldquoNonirdquo o termo ldquoPatacardquo eacute um saber

novo para a comunidade de Pimenteiras adquirido por meio das relaccedilotildees sociais Observemos

abaixo sua anaacutelise

TERMO 04 ndash ldquoPATACArdquo

Fotografia 20 ndash Pataca

Fotografia 21 ndash Folha da Pataca

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

103

Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca

Lx Lexema Pataca

Cg Classe Gramatical

Substantivo feminino

Co Contexto eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacuteela me parece que

ela veio da iacutendia parasse neacuteela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de beacuteleacutem

que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta

sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu tenho um

pezinho laacute em casa ela eu natildeo que tamanho que o peacute taacute desse tamanho eu natildeo sei se daacute

grande natildeo eu daacute nunca viacute ela natildeo eacute nem daqui neacutemas ela eacute boa pra remautismo se

buta na de aacutelcool pra passar no lugar que taacute afetado do remautismo foi essa senhora

issi isso isso teacute agora eu eu ainda natildeo procurei pra ela cumo eacute que se usa porque ela

me deu tipo assim uma raiz tipo uma coisa assim nera num sei que era aquilo que ela

me deu ainda falta eu conversar com ela que pra mim procuraraacute cumeacute que se usa se eacute

a folha num era o que eacute eu pensei de ser ou o fruto ou a raiz dela natildeo natildeo natildeo tem natildeo natildeo veio mesmo que pra mim ela eacute recente neacuteeacute soacute folha soacute folha mas ela eacute muito

remeacutedio ela ela veio de longe essa essa pataca noacutes tiremos foto porque ela no meu

quintau neacuteela eacute remeacutedio agente tirou isso isso eacute verdade eacute depois me diz hum hum

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Natildeo sabe ao certo o que utilizar se eacute a folha caule ou fruto

Fu Formas de

uso

Tem a noccedilatildeo de usar com o aacutelcool na regiatildeo que estaacute com reumatismo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A informante recebeu a planta de outra pessoa natildeo sabe como usar poreacutem sabe que

serve contra o reumatismo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Sem saber o valor medicinal da Pataca a moradora traz para o ambiente da

comunidade um novo conhecimento adquirido pelo contato com outras pessoas sobre o uso da

planta que eacute conhecida pela sua importacircncia contra o reumatismo

O termo ldquoPatacardquo eacute considerado um substantivo feminino com uma estrutura

simples devido agrave presenccedila de um uacutenico radical No que concerne ao gecircnero na definiccedilatildeo a

moradora conduz sua fala no feminino referindo-se ao termo como a planta que foi inserida

haacute pouco tempo no contexto da comunidade segundo a senhora Domingas

[] eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacute ela me parece

que ela veio da iacutendia parasse neacute ela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de

beacuteleacutem que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu

tenho um pezinho laacute em casa [] (informaccedilatildeo verbal)62

62Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPatacardquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

104

Somos seres humanos formados pela interaccedilatildeo pelo contato que temos com as

pessoas com o ambiente com a cultura enfim eacute atraveacutes da accedilatildeo de produccedilatildeo da linguagem

que somos constituiacutedos como indiviacuteduos sociais Ao analisarmos os termos das plantas

medicinais catalogadas na comunidade de Pimenteira pretendemos ver como essas unidades

se constituem e que fatores extralinguiacutesticos sociais e culturais interferem e determinam essa

terminologia Barbosa (2001) expotildee que ldquoesse tipo de linguagem usa vocabulaacuterios teacutecnico-

cientiacuteficos e especializados mostrando que eles estatildeo no niacutevel de uma forma natildeo apenas

linguiacutestica mas tambeacutem socioculturalrdquo Assim completa expondo que

Considerando o conjunto de obras lexicograacuteficas e terminoloacutegico-terminograacuteficas

produzidas em eacutepocas mais recentes diriacuteamos que natildeo se tem muita clareza quanto

agraves fronteiras conceptuais denominativas definicionais dos tipos desses textos natildeo

obstante o estaacutegio avanccedilado em que se encontram neste fim de seacuteculo as pesquisas

das ciecircncias da palavra nessas aacutereas natildeo obstante igualmente a existecircncia de

numerosos organismos e obras de normalizaccedilatildeo terminoloacutegica em diferentes paiacuteses

que natildeo conseguiram assegurar para certos conceitos uma terminologia de

Terminologia uniforme e consensual (BARBOSA 2001 p 26)

Analisamos na sequecircncia o termo ldquoPau-de-muquemrdquo que eacute tambeacutem conhecido pelas

variantes ldquoAssa-peixerdquo ou ldquoMata pastordquo

55 PAU-DE-MUQUEM

Diferente da palavra o termo possui sempre relaccedilatildeo com o significado dentro de um

contexto de domiacutenio ou seja estaacute sempre contextualizado em um determinado campo de

conhecimento Nesse contexto seu conteuacutedo especiacutefico encontra-se em uma situaccedilatildeo de uso

particular Krieger (2001 p 69) nos afirma que ldquoo reconhecimento sem duacutevida incontestaacutevel

do componente conceitual na constituiccedilatildeo do fenocircmeno terminoloacutegico responde fortemente

pelas interpretaccedilotildees de que um termo eacute uma unidade de conhecimentordquo

Uma unidade de conhecimento que estaacute em contiacutenuo relacionamento com seu

significado e que segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos (CABREacute 1993) Assim

caracterizamos o termo Contudo que criteacuterios podemos seguir para a seleccedilatildeo dessas unidades

de especialidades Antes de observar se os termos sobre as plantas medicinais pertencem ou

natildeo ao domiacutenio da especialidade percebemos que a definiccedilatildeo de um termo sempre seraacute o

ponto de partida pois os contextos de uso nos estudos teoacutericos da terminologia tornam-se

105

vaacutelidos para descrever e recolher os termos dentro do campo de ocorrecircncia do saber

especializado Observemos entatildeo como ocorre as variaccedilotildees no termo ldquoPau-de-muquemrdquo

TERMO 05 ndash ldquoPAU-DE-MUQUEM

Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-De-Muquem

Lx Lexema Pau-de-muquem

V Variante Assa-peixe ou Mata pasto

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto eacute o mesmo accedilapeixe sim eacute a mesma coisa eacute uma arve eacute uma arve nativa tambeacutem ela

do tempo ela eacute diz que ela eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacutefazer o

lambedor dela o xarope o lambedor eacute a mesma coisa do charope neacuteda folha buta ela pra ferver ferver inteacuter quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua

quando ele reduzir pra meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel

dipreferente o mel pra essas coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar

toamando que eacute pra tosse a irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o

lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo

neacutequando tivesse bem sequinha esfarelava na comida e comia eacute ela disse queeu

num sei tambeacutem isso daiacute ((sorriu)) ela eacute assim ela eacute grande assim ela eacute grande assim

a ponta dela eacute mais larga soacute () diferente da a potinha dela eacute bem larguinha a ponta

dela pra ponta ela eacute mais larga e pro pezinho da folha eacute mais estretinha quase que eacute

pois eacute assim tambeacutem numa moita num nasce soacute uma ave nasce varas varas ela eacute boa

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem

106

de filhar assim a volta dela brolha muita aiacute tambeacutem tem uns que chamam mata pasto

neacute mata pasto tem gente que manca ela gosta de nascer meio do capinzal aiacute ela gosta () eacute tem gente que cha pasta pasto sem mas eacute conhecido mesmo bem por accedila peixe e

pau de muqueacutem nos conhecemos por esse nome lambedor isso eacute pra tosse natildeo natildeo ela

tambeacutem chama de mata pastu porque nasce assim no meio do capim

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas

Fu Formas de

uso

Para tosse fazer o lambedor (ferver as folhas na agua ateacute apurar depois acrescenta o

mel) Para renite (fritar as folhas em oacuteleo triturar e colocar na comida)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Eacute conhecido tambeacutem como assa-peixe ou mata pasto

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando o termo ldquoPau-de-muquemrdquo entendemos que as variantes ldquoAssa-peixerdquo e

ldquoMata pastordquo tambeacutem deveriam ser analisadas no aspecto gramatical com isso observamos

que os termos e suas variantes satildeo sintagmas terminoloacutegicos masculinos Eacute interessante notar

que as variantes apresentam a mesma composiccedilatildeo em sua formaccedilatildeo podendo ser utilizadas no

mesmo contexto Nesse aspecto Faulstich (1999) explica que haacute formalizaccedilatildeo da sinoniacutemia

terminoloacutegica em que as variantes satildeo coocorrentes ou seja ldquorelaciona o sentido de dois ou

mais termos com significados idecircnticos e podem coocorrer em um mesmo contexto sem que

haja alteraccedilatildeo no plano do conteuacutedordquo

No que concerne agrave definiccedilatildeo descrita sobre o termo e suas variaccedilotildees a planta eacute usada

para tosses e renites sendo que para cada situaccedilatildeo o modo de processar eacute particular

Observamos que as distintas formas de nomear a planta medicinal coincidem no preparo para

as diferentes enfermidades a serem tratadas assim expotildee a senhora Domingas

[] eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacute fazer o lambedor dela o xarope o

lambedor eacute a mesma coisa do charope neacute da folha buta ela pra ferver ferver inteacuter

quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua quando ele reduzir pra

meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel dipreferente o mel pra essas

coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar toamando que eacute pra tosse a

irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo neacute quando tivesse bem sequinha

esfarelava na comida e comia eacute ela disse que eu num sei tambeacutem isso daiacute

((sorriu))[] (informaccedilatildeo verbal)63

63Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPau-de-muquemrdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

107

Considerar o termo dentro do ambiente social que as pessoas utilizam a linguagem

esta eacute a base da Socioterminologia que analisa a variaccedilatildeo social do termo antes tido como

invariaacutevel Com isso procuramos examinar como a variaccedilatildeo ocorre dentro das mudanccedilas na

sociedade lugar em que o termo eacute gerado eacute usado eacute modificado Ao falar sobre

Socioterminologia Faulstich (2006 p 27) expotildee que

Para falar de socioterminologia eacute preciso antes de tudo situar a terminologia no

espaccedilo da interaccedilatildeo social No Brasil por exemplo a histoacuteria da terminologia se confunde com a formaccedilatildeo da sociedade brasileira por meio da mistura de falares dos

habitantes naturais da terra e dos que para caacute vieram Vejam-se nos dicionaacuterios

termos da fauna e da flora como indicadores da terminologia indiacutegena no portuguecircs

brasileiro () Assim sendo natildeo eacute novidade dizer que a diversidade da cultura

brasileira aparece refletida na terminologia cotidiana

Um dos maiores aspectos da Socioterminologia exposto por Faulstich (2006) eacute ldquoter

na base da pesquisa a variaccedilatildeo linguiacutestica dos termos no meio social e por consequecircncia

entender a mudanccedila terminoloacutegica como mecanismo resultante da pragmaacutetica discursivardquo

Assim no que diz respeito agraves mudanccedilas no termo a pesquisadora explica que a ldquovariaccedilatildeo

deve levar em consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de comunicaccedilatildeo de uma determinada aacuterea

que dependem das circunstacircncias de emissatildeo dos interlocutores do meio pelo qual se daacute a

comunicaccedilatildeo entre outrosrdquo (FAUSLTICH 2006 apud BLANCO 2010 p 4)

Vejamos na sequecircncia como ocorre a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo

56 VASSOURA DE BOTAtildeO

Nos estudos da linguagem humana os usos de palavras especiacuteficas para situaccedilotildees em

especial vecircm sendo ampliados de acordo com as mudanccedilas de uso da liacutengua tais palavras

recebem as seguintes nomenclaturas leacutexico especializado termo teacutecnico-cientiacutefico termo

unidade lexical terminoloacutegica unidade lexical especializada unidade lexical temaacutetica

unidade de conhecimento unidade de compreensatildeo unidade de significaccedilatildeo especializada ou

vocabulaacuterio (ARAUacuteJO 2006)

Ao utilizarmos os termos com sentido aproximado do objeto nomeado fazemos uma

associaccedilatildeo com certa caracteriacutestica correspondente ao nome dado Nesse contexto ldquoa relaccedilatildeo

associativa eacute uma relaccedilatildeo entre dois conceitos que natildeo pertencem agrave mesma estrutura hieraacuterquica

ainda que sejam proacuteximos do ponto de vista semacircntico ou contextualrdquo (TESAURO 2006 p 11)

108

Nesse acircmbito vejamos a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo cujo nome segundo a

descriccedilatildeo de Domingas possui relaccedilatildeo com a planta nomeada

TERMO 06 ndash ldquoVASSOURA DE BOTAtildeOrdquo

Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo

Lx Lexema Vassoura de botatildeo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto ela eacute boa pra quela eacute verme gearde neacutegearde que eacute do estamagu que eacute de

ameba eacute pra ela que ela eacute bom eacute a gente faz a gente faz tambeacutem tintura piacuteula dela de

vassoura de botatildeoeacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que ela

assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim ao

redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela

agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota outra

aqui ateacute trecircs quatro assim isso hurum isso sim sim eacute isso isso eacute chamo vassoura de

butatildeo eacute a folha com tudo aquilo tudo tudo isso eacute pequeninha eacute isso hurum e tambeacutem eacute

e uma fez noacutes fizemos eacute pumada disseram quera era boa pra ela ela diz antiplamatoacuterio

a gente fez a pumada neacutecatamos tudinho a folhinha butamos pra fritar nu na gordura vegetal e depois transformamos na pomada mas isso aiacute ningueacutem tem dizer

assim ele foi bom porque ningueacutem usou a gente um pouco soacute pra demonstraccedilatildeo isso

foi pela pastoral da crianccedila neacuteaquela pretinha que foi ensinar noacutes a gente fez vaacuterias

mas a gente fez soacute um pouquinho num

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e o botatildeo da flor

Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo Fotografia 25 ndash Folha da Vassoura de botatildeo

Fonte Dado registrado durante a pesquisa Fonte Dado registrado durante a pesquisa

109

Fu Formas de

uso

Usada para vermes amebas no estocircmago atraveacutes de tintura piacutelulas anti-inflamatoacuterio

(ferver as folhas e o botatildeo em gordura vegetal para transformar em pomada)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem aspecto de uma pequena vassoura invertida

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoVassoura de Botatildeordquo eacute um sintagma terminoloacutegico feminino formado pela

composiccedilatildeo de palavras Em sua estrutura o termo apresenta uma complexidade formada pela

presenccedila de dois radicais no acircmbito da definiccedilatildeo do termo verificamos que haacute uma relaccedilatildeo

associativa do nome da planta com a aparecircncia que ela possui como expotildee Domingas

[] vassoura de botatildeo eacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que

ela assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim

ao redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela

agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota

outra aqui ateacute trecircs quatro [] (informaccedilatildeo verbal)64

Com o formato de uma vassoura invertida o termo ldquoVassoura de Botatildeordquo estaacute

relacionado com o aspecto que o objeto nomeado possui Nesse campo de estudo Faulstich

(1999) explica que nas relaccedilotildees associativas haacute uma sequecircncia que estaacute conectada com a

experiecircncia contiacutenua entre o tempo e espaccedilo Assim a ldquounidade terminoloacutegica pode ter ou

pode assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha

nos contextos de ocorrecircnciardquo (FAULSTICH apud CRUZ 2014 sem paginaccedilatildeo)

Vejamos assim algumas plantas que apresentam relaccedilotildees associativas nos seus

nomes quanto agrave forma tamanho cor e funccedilatildeo medicinal como eacute o caso do termo ldquoNambu

Tutanordquo

57 NAMBU TUTANO

Na Liacutengua podemos utilizar as palavras em diferentes relaccedilotildees de sentidos nos mais

diversos contextos Nesse processo denominado polissecircmico encontramos termos que

64

Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

110

possuem formaccedilotildees utilizadas no acircmbito geral de uso da liacutengua assim como termos

especiacuteficos no uso especializado da linguagem

Nesse aspecto verificamos que a comunidade de Pimenteiras apresenta variaccedilotildees

para um mesmo termo sobre as plantas medicinais ocorridas pela relaccedilatildeo associativa com as

caracteriacutesticas pertencentes a cada espeacutecie nomeada Verifiquemos a anaacutelise do termo abaixo

TERMO 07 ndash ldquoNAMBU TUTANOrdquo

Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano

Lx Lexema Nambu Tutano

Va Variante Batata Roxa

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto eacute uma planta eli eacute eli eacute piquininhu eli daacute assim eim forma di cebola di planta

assim qui eli eacute soacute que eli a folha eli natildeu teim caulei natildeu daqui qui eli nasci eli jaacute

nasci as folhas natildeu eli num teim qui a batata a cebola di planta neacute qui eacute assim ela jaacute

vai nascendu a folha duma folha eacute qui neim a cebola duma folha jaacute bota outra folha

dotra folha jaacute vai botandu qui neacute batatinha em baixu eacute natildeu natildeu teim cauli natildeu eacute soacute

folha i batataa folha eacute a folha teim a folha di accedilaizeiru neacute qui eacute assim ai teim as

folinhas qui agarra nu talu du accedilaizeiru eacute daqueli formatu da folha du accedilaizeiru natildeu

natildeu eacute beim compridona eacute assim a folha deli mais ou menus dum palmu qui eacute assim a folinha deli natildeu natildeo sei por que ela eacute abertinha teim a folha di cebola porque a

folha cebola eacute toda eacute inteira comu digu logu eacute rolicinha e ela num ela eacute ela eacute eacute ela eacute

folinha ela eacute folha assim ela eacute abertinha folha aberta folha assim folha aberta folha

qui tem a accedilaizera qui teim a folha dela qui eacute assim agora a dela eacute qui neim aquela

folha di accedilaizeiru assim qui ( )nasci daqueli talu assim pois eacute a folha dela babosa

num teim a babosa qui eacute uma folha aberta neacute eacute folha mais eacute aberta neacute assim qui eacute du

batatatildeu ela num eacute aquela folha inteira folha roliccedila assim ela eacute uma folha aberta natildeo

eacute seca qui nem di accedilaizeru mermu eacute seca mermu eacute usa soacute a batata natildeo

Fotografia 26 ndash Nambu Tutano Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

111

piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute roxinha tambeacuteim batata roxa

porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu

jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute qui neim a cebola capa sobri capa a

capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu

vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu mas ela eacute assim de capinha nambu tutanu

isso daacutei eu conhe caacute a minha voacute i minha matildei tambeacuteim nambu tutanu qui quandu eu mi

criei ela jaacute tinha neacute ( ) issu aqui eacute nambu tutanu porque as veiz quandu aparecia

aquela pessoa doenti crianccedila doenti neacute vai ver nambu tutanu vai arrancar aqueli

pesinhu ali vocirc fazer remeacutediu ai a genti ia arrancar i por issu qui deru u nomi ai eu

achu qui veim dus avocircs delis dus tataravoacute sabi laacute neacute aprendemus com elis eacute eacute mesmu

nomi cebolinha eacute batata roxa nambu tutanu mesmu nomi

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

A raiz em formato de batata

Fu Formas de uso

Chaacutes para diversas doenccedilas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A variante Batata Roxa vem do formato da raiz que parece uma batata em camadas

como cebola na cor roxa

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando o termo ldquoNambu Tutanordquo observamos que possui a variante ldquoBatata

Roxardquo Na anaacutelise por meio da ficha terminoloacutegica na definiccedilatildeo descritiva de cada planta

medicinal verificou-se que os termos e suas variantes tecircm particularidades importantes para

este estudo Desta forma no termo ldquoNambu tutanordquo notou-se que sua variante ldquobatata roxardquo

possui relaccedilatildeo associativa com a forma ou seja a planta apresenta formato de uma batata de

cor roxa por isso a presumiacutevel relaccedilatildeo com a variante do termo Observemos abaixo

[] eacute usa soacute a batata natildeo piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute

roxinha tambeacuteim batata roxa porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a

batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti

comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute

qui neim a cebola capa sobri capa a capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu

mas ela eacute assim de capinha[] (informaccedilatildeo verbal)65

Sabemos que na configuraccedilatildeo atual a Terminologia vai muito aleacutem da elaboraccedilatildeo

de dicionaacuterios na aacuterea Muitos autores consideram o conhecimento nas liacutenguas especializadas

como um rico campo de conhecimento Faulstich (1995) explica que o saber eacute construiacutedo de

forma individual e coletiva num processo no qual o sujeito interage com a realidade as

65Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNambu Tutanordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

112

pessoas e o ambiente sociocultural Isso nos revela que a Socioterminologia jaacute era prenuacutencio

para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de natureza social ou

seja ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo no universo da terminologia revelam peculiaridades

proacuteprias a serem estudadas pela disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para

a sistematizaccedilatildeo de termos e de variantesrdquo (FAULSTICH 1995 p 281)

Na sequecircncia analisemos o termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo

58 QUEBRA PEDRA ROXO

Em seus estudos Faulstich (1995) aborda aspectos relevantes dentre os quais

destaca a diferenccedila entre lexema e termo Para a pesquisadora o lexema eacute ldquouma unidade

lexical do domiacutenio do leacutexico geral da liacutengua um termo eacute tambeacutem uma unidade lexical mas

tiacutepico de variado domiacutenio de vocabulaacuterio cientiacutefico e teacutecnicordquo (FAULSTICH 1995 sem

paginaccedilatildeo) Por ser o lexema uma unidade da liacutengua comum Faulstich explica que ele eacute

portador de conotaccedilotildees psicoloacutegicas e sociais que lhe proporcionam a multiplicaccedilatildeo de

significados e a presenccedila da polissemia que por correspondecircncia daacute lugar agrave sinoniacutemia

Diante do contexto funcional a autora destaca que o ldquolexema delineia seu caraacuteter semacircntico e

lexicograacutefico a partir da estrutura paradigmaacutetica porque satildeo as oposiccedilotildees distintivas que

delimitam a configuraccedilatildeo semacircntica e marcam o valor do lexemardquo (FAULSTICH 1994 p

314)

Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo que o sentido estaacute

relacionado ao nome Durante as pesquisas realizadas natildeo encontramos a espeacutecie na cor roxa

para o registro de imagens mas a informante apresentou sua definiccedilatildeo descritiva de forma

subjetiva para que pudeacutessemos verificar as especificidades do termo na ficha terminoloacutegica

Assim observemos

Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo

Lx Lexema Quebra Pedra Roxo

Va Variante Comer de Rola

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto comecirc di rola essi du roxu eacute porque to dizendu eacute eli eacute soacute um formatu du mermu jeitu

qui eacute u brancu eacute soacute muda a cor eli eacute roxinhu por que teim u brancu i teim roxu essi comecirc di rola noacutes conhecemu assim comecirc di rola roxu u quebra pedra eacute quebra pedra

brancu mas eli eacute soacute um formatu u formatu qui eacute u quebra pedra brancu eacute u roxu

beim piquinininha du tamaninhu eacute du mesmu jeitu mesmu jeitinhu aiacute porque qui

113

eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu du otru neacute soacute qui

adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela trevoada di rolinha qui

levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas bichinhas gosta di taacute aqui

porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u

matu eacute du mermu jeitu du brancu eli daacute por certus tempu quandu chega nu veratildeu eli

eli morri soacute qui eacute assim quandu eli nasci muitu qui nu meu roccediladu jaacute nasceu muitu

assim chega qui eu ficava tomandu di conta assim la quasi num nascia neim um otru

matu era soacute por conta deli mermu laacute porque eacute beim encostadinhu dotru neacute assim um

tipu um canteru laacute quasi num nasci otru matu eu sei qui as bichinha gostavu di taacute laacute si

alimentandu da sementinha da folhinha delis minha voacute nois conhecemus com ela

comecirc di rola assim noacutes comu crianccedila vovoacute u qui eacute issu comeacute u nomi dissu ela era uma

velhinha muita pacienti isso ai eacute comecirc di rola( ) porque assim a rolinha quandu chega

aqui as bichinha num si levantu assim ai comecirc di rola pra qui servi vovoacute issu aqui eacute remeacutediu eacute eacute sim eacute remeacutediu( ) prus rins tambeacuteim neacute qui antis a genti fazia dessi assim

quebra pedra fazia mas noacutes conhecemu mais por comecirc di rola a depois qui era quebra

pedra a eacute remeacutediu pa pa quem teim pedras nu rins podi fazer u chaacute dela i tomar agora

eu jaacute usu comu( ) eu jaacute usu na garrafada jaacute bota na garrafada u brancu porque

nois jaacute tivemu uma uma oficina um treinamentu qui uma mulher vei di macapaacute e diz

qui u u bom mermu eacute u brancu qui eacute u quebra pedra di verdadi assim pru pru pedra nu

rim neacute porque eli jaacute porque nois dizia assim( ) teca porque u nomi dela era teca teca

noacutes dizia qui era u roxu ela dissi natildeu u roxu natildeu teim muita serventia eli servi mas u

brancu porque eacute u quebra pedra di verdadi eacute u brancu porque u nomi deli eacute quebra

pedra mermu eacute essi qui eacute bom aiacute eu dissi olha noacutes usa na garrafada ela dissi podi

usari natildeu teim poblema nenhuma comi tambeacuteim mais eacute assim eacute porque aqueli tempu tinha mais passarinhu noacutes via mais tinha mais du roxu assim nu roccediladu eacute mais du roxu

elas tavu mais ondi tava o quebra pedra du roxinhu eacute

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para problemas nos rins

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dores nos rins

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Conhecido tambeacutem por comer de rola porque os paacutessaros preferem a roxinha que a

branca

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Quanto ao termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo sua variaccedilatildeo ocorre com relaccedilatildeo associativa

com a funccedilatildeo que a planta tem ou seja a planta serve de alimento para certa espeacutecie de

paacutessaro assim o termo eacute tambeacutem chamado pela variante ldquoComer de Rolardquo por ser o alimento

que os paacutessaros ldquorolinhasrdquo preferem

[] aiacute porque qui eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu

du otru neacute soacute qui adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu

di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela

trevoada di rolinha qui levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas

114

bichinhas gosta di taacute aqui porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u matu [] (informaccedilatildeo verbal)66

O termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo tambeacutem possui relaccedilatildeo associativa com sua funccedilatildeo

Na sabedoria popular a planta serve para tirar ldquoquebrarrdquo as pedras nos rins No que se refere

ao termo Faulstich esclarece que ao ser colocado no mundo da linguagem cientiacutefica e

teacutecnica ldquoo termo assume o estatuto de unidade lexical definida e eacute naturalmente uniacutevocardquo

(FAULSTICH 1994 p 315) Ou seja haveria um uacutenico conceito para um termo uacutenico com

uacutenica definiccedilatildeo Entretanto se ocorressem conceitos e definiccedilotildees diferentes para um mesmo

termo Faulstich adverte que ocorreria o que ela denomina posteriormente de variaccedilatildeo

terminoloacutegica ou seja havendo um novo termo um novo conceito com uma nova definiccedilatildeo

ocorreria a variaccedilatildeo No entanto ldquose esse mesmo termo vier a funcionar num outro contexto

como equivalente graacutefico de um jaacute existente mas natildeo equivalente semacircntico propiciaraacute a

homoniacutemia terminoloacutegicardquo (FAULSTICH 1990 sem paginaccedilatildeo)

Observemos na sequecircncia outro termo e sua anaacutelise

59 PARATUDO

Faulstich (1990) chama a atenccedilatildeo para a anaacutelise do termo no discurso pois eacute no

discurso que se estrutura a significaccedilatildeo semacircntica e terminoloacutegica Ela destaca que a natureza

epistemoloacutegica do lexema e do termo se fundamenta no alcance dos objetivos de cada um ou

seja para a lexicologia pertence agrave construccedilatildeo de um modelo de componente do leacutexico da

gramaacutetica jaacute a terminologia devido seu caraacuteter de intersecccedilatildeo com a lexicologia morfologia

e a semacircntica prestigia termos da linguagem cientiacutefica e teacutecnica Assim o limite entre lexema

e termo estaacute amparado nos recursos metodoloacutegicos da lexicologia e da terminologia Para

Faulstich (1994 p 317)

O resultado praacutetico da lexicologia teoacuterica e descritiva serve de ponto de partida para

o trabalho lexicograacutefico na elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios de liacutengua geral o resultado praacutetico da terminologia especializada aplica-se agrave terminografia na constituiccedilatildeo de

dicionaacuterios especializados

66Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

115

Diante desse contexto analisamos que o termo conhecido tambeacutem como sinocircnimo de

unidade terminoloacutegica designa um conceito da linguagem de uso especial Segundo Andrade

(et al 1998 p 191)

Tal como as palavras do leacutexico geral os termos satildeo unidades siacutegnicas distintivas e

significativas ao mesmo tempo apresentando-se de forma tatildeo natural no discurso

especializado quanto as palavras nos discursos que se valem da liacutengua comum

como forma de expressatildeo

Assim observemos que o termo ldquoParatudordquo passou por uma distinccedilatildeo particular

vejamos

TERMO 09 ndash ldquoPARATUDOrdquo

Fotografia 28 ndash Paratudo Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo

Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo

Lx Lexema Paratudo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto eacuteh paratudo paratudo isso eacuteuma aacutervore uma aacutervore bem grande ela eacute uma aacutervore

bem grande ela eacute boa pra febre diprimeiro quando dava aquela febre de malaacuteria era

uma febre muito antiga que chamava por outro nome conhecida por outro neacuteela era

soacute o que curava ela eacute amargo amargo a casca dela a casca a gente usa eacute a casca iai a minha matildee tirava pra gente tomar o chaacute mas pra febre era primeiro lugar eacute febre ama

diprimeiro chamava febre amarela agora a pessoa diz que eacute a mesma malaacuteria o

pessoa digo neacuteera a uacutenica que curava era dava um tipo de febre que dava tudo tipo

de remeacutedio ih num passava aiacute eacute soacute a gente dando tudo heacute cumeccedilava sis maacute que era

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

116

esse tipo dessa febre que dava neacuteporque a malaacuteria eacute assim comeccedila daacute em seguida

aqueles horaacuterios o pessoal jaacute disconfia que a malaacuteria neacutee assim eacute era essa essa tipo

dessa febre iai a mamatildee fazia o chaacute paratudo mas ele eacute uma aacutervore ele eacute nativo ele eacute uma aacutervore muita bem grande bem grandona ela eacute nativa ela daacute em qualquer canto

num carece plantar paratudo eu natildeo sei porque os antigos ( )porque eu acho que

parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque essa febre amarela inha matildee

contava era assim febre muito perigosa diprimeiro neacuteera uma febre muita perigosa

que quase quando dava com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho

que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a

febre aiacute butaru paratudo eu acho neacuteela eacute mais alta tem umas que daacute mais alta no

lugar quela cresce mesmo ela eacute bem alta soacute soacute quela natildeo eacute grossana sempre ela eacute fina

ela natildeo eacute grossa natildeo sempre ela fina natildeo ela eacute bem comprindona mas ela eacute fina soacute a

casca soacute a casca

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Utiliza-se apenas a casca da aacutervore

Fu Formas de

uso

Usada na forma de chaacutes para febre amarela malaacuteria

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo ldquoParatudordquo significa que parava todos os sintomas da febre amarela

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando a classe gramatical do termo ldquoParatudordquo vemos que se trata de um

sintagma terminoloacutegico feminino devido a informante se direcionar ao feminino quando

descreve chamando de aacutervore O termo estaacute escrito na forma agrupada essa junccedilatildeo ocorreu

na liacutengua pelo processo de justaposiccedilatildeo o qual Pottier (1978) chama de composiccedilatildeo

composta Isto provavelmente ocorreu pela significaccedilatildeo que o termo adquiriu nas geraccedilotildees

anteriores pois segundo a definiccedilatildeo de Domingas

[] porque os antigos ( ) porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso

neacute paratudo porque essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito

perigosa diprimeiro neacute era uma febre muita perigosa que quase quando dava

com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram

esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo eu acho neacute[] (informaccedilatildeo verbal)67

Na histoacuteria descrita pela moradora quando seus antepassados adquiriam a febre

amarela ou malaacuteria tinham febres persistentes em horaacuterio programado Dificilmente

conseguiam eliminar seus sintomas a natildeo ser quando utilizavam a planta ldquoParatudordquo ou seja

ldquoparava tudordquo Assim o termo foi absorvido com o poder de parar todos os sintomas das

enfermidades contraiacutedas

67Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

117

[] porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque

essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito perigosa diprimeiro

neacuteera uma febre muita perigosa que quase quando dava com febre amarela que

natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo []

(informaccedilao verbal)68

Nesse contexto Faulstich (1995) considera que as ldquovariantes satildeo resultado dos

diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica fazem

do termordquo assim absorvida como medicamento que trouxe a cura de tudo a cura de todos os

sintomas da febre amarela ou da malaacuteria o termo eacute conhecido e usado na linguagem dos

moradores como planta que cura e para tudo escrito na forma composta

Seguimos na anaacutelise dos termos sobre as plantas medicinais com a anaacutelise

morfoloacutegica de alguns termos apresentando as imagens registradas durante a pesquisa de

campo juntamente com a definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas

utilizando para isso o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com os

elementos constitutivos dos termos para melhor visualizarmos seus dados

Na sequecircncia verifiquemos a anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo

510 GERGELIM BRANCO

A partir das investigaccedilotildees sobre as relaccedilotildees associativas entre os signos linguiacutesticos

surgem teorias em direccedilatildeo ao campo semacircntico que eacute considerado como o universo

linguiacutestico das palavras Em intersecccedilatildeo com o campo conceitual universo das ideias

segundo Robin (1977) o processo de conceptualizaccedilatildeo do mundo exterior chamado de

campo conceptual surge na mente humana pelo deciframento linguiacutestico dos conceitos e

categorias abstratas que eacute parte do campo leacutexico-semacircntico

Notando tais aspectos na estrutura do campo leacutexico-semacircntico e morfossintaacutetico do

termo este apresenta em alguns casos uma estrutura simples complexa ou composta Na

estrutura simples o termo eacute constituiacutedo de apenas um radical jaacute nos termos complexos e

compostos apresentam dois ou mais radicais Nos termos compostos a presenccedila do hiacutefen

diferencia-o do termo complexo ndash que natildeo possui o hiacutefen ndash poreacutem ocorrem processos de

composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras Na comunicaccedilatildeo

68 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

118

especializada o que predomina satildeo os termos complexos por serem capazes de assumir

diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo

reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico

Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo que sua estrutura eacute

composta por dois radicais sem a presenccedila de hiacutefen senatildeo vejamos

TERMO 10 - GERGELIM BRANCO

Fotografia 30 ndash Gergelim Branco Fotografia 31 ndashFolha do Gergelim Branco

Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco

Lx Lexema Gergelim branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Co Contexto eacuteh hurum eacute da eacute a mesma da mesma mesma tipo do mesmo soacute muda a cor eacute eacute da

semente eacute com certeza a arve eacute mesmo jeito vocecirc soacute vai sabe na hora que cai a

sementinha dela neacute ela eacute meacutedia ela eacute eacute plante do rodado ela pela sementinha () no

rosado soacute vai colher ela quando eacute na tempo de colher que a gente vai colher ela bota

pra secar aiacute vira ela bota pra secar ela soacute tem que buta ela pra secar de ponta pra

cima aiacute ela vai ce porque ela vai vai secando e e aqueles aqueles cachopinhas aqueles frutinho dela vatildeo vatildeo abrindo tudinho se ele tever de ponta pra baixo ele vai abrindo e

vai caindo ele tem que que taacute todo tempo neacute e fica guardada quando a gente vira a

pontionha dele pra baixo ele derrama eacute ele e ele eacute eacute a semente olha dhione eacute ela serve

pra um monte de coisa ( ) ela serve pra avece que daacute pra fazer massage ela serve pra

febre ela serve pra diarreia ela serve pra moragia a sementinha ela ser muito varo eacute

vaacuteria coisa que ela natildeo eacute o sumo da sementinha a gente pega bota ela pra esquentar

um pouco eacute raacutepido tem que ser raacutepido porque ela eacute uma sementinha muita graacutegil que

se demorar ela vai queimar esquenta ela quando ela taacute boa ela tem um cheiro assim

tatildeo ela muda de cheiro aiacute tira ela e pisa hoje em dia eacute mais pra mais normal eacuteo

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

119

lotificador neacute bota eacute ti e bota um pouco de aacutegua tira o leite grosso o leite dele sai

uma deliacutecia assim o leite grosso aiacute vocecirc pode se for pruma febre vocecirc pode toma uma ou duas culher vai depender da idade da crianccedila ou do da adulto sei laacute moragia

tambeacutem e pra ai se ai tanto ele serve pra remeacutedio cume ele eacute grande alimentaccedilatildeo ele eacute

alimentaccedilatildeo pra mim eu uso ele cumo alimentaccedilatildeo o gergelim como alimentaccedilatildeo e

porque assim no por remeacutedio ougaque eacute mais o gergelim preto pra remeacutedio pra

remeacutedio mas pra mim tanto faz pra mim tanto faz com certeza agora cumo eu tocirc

dizendo pode usar o preto mas de preferencia o preto de preferencia o preto mas num

tendo o preto o branco tambeacutem serve ele eacute a mesma coisa mas agora comu eu tocirc

dizendo eu uso o gergelim laacute em casa quando eu tenho eu uso pra minha pra mim

tomar meu cafeacute de mnhatilde comu ele eacute muito gostoso quando eu tiver um pouquinho que

agora eu tenho a minha roccedila quando tiver um poquim eu vou trazer um poquim da

paccediloca pra ((sorriu)) ele tem caccedilo eacute () anram sim urum isso eacute neacute pois eacute sim sim hurum

((sorriu)) acho que sim natildeo natildeo sei dizer natildeo mas eu acho que eacute pelo tamanhinho dele neacute que eacute uma semente muito eacute vou tomar poquim eacute isso

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

A sementinha contida na flor eacute usada para diversos problemas de sauacutede e tambeacutem

como alimento

Fu Formas de

uso

A sementinha secada e triturada para retirar o leite serve para derrame cerebral

hemorragias febre diarreia massagens e como alimento

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Segundo a informante o gergelim preto eacute melhor mas ela utiliza tambeacutem o gergelim

branco

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

No termo complexo Gergelim Branco aconteceu a formaccedilatildeo de termos pela

composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja o termo eacute formado por duas ou mais palavras que satildeo

independentes entre si no processo de formaccedilatildeo e que juntas formam um novo significado

uma nova palavra Quanto ao estudo gramatical dos termos complexos eles satildeo formados por

um elemento base que eacute o substantivo e em seguida por outra palavra que demonstra a

qualidade ou especificidade do primeiro podendo ser um adjetivo Por exemplo em

ldquoGergelim Brancordquo o substantivo eacute ldquoGergelimrdquo e ldquoBrancordquo eacute a particularidade na cor que

esse substantivo tem ou seja eacute um adjetivo

Observando as particularidades do termo ldquoGergelim Brancordquo vejamos na sequecircncia

a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo

120

511 URUCUM VERMELHO

Tomando os estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) sobre a estrutura do termo

percebemos que cada um a seu modo explana sobre o mesmo conceito Na explanaccedilatildeo de

Barros (2007 p 399) ela apresenta que

Termo simples unidade terminoloacutegica constituiacuteda por um uacutenico lexema

independente do processo de formaccedilatildeo deste Termo complexo unidade formada

por composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja por um grupo de lexemas e morfemas

gramaticais (palavras nocionais e gramaticais) natildeo ligadas por hiacutefen tambeacutem

independente do processo de formaccedilatildeo dos termos Termo composto unidade

terminoloacutegica formada por dois ou mais lexemas que se encontram em situaccedilatildeo de

natildeo-autonomia representada graficamente pela utilizaccedilatildeo do hiacutefen

Em Pottier (1978) a nomenclatura utilizada eacute lexia69

que eacute a menor unidade

funcional e significativa do discurso seja ele de forma oral ou escrita Para o pesquisador a

lexia nasce da relaccedilatildeo associativa entre seus elementos Quando utilizamos um termo em

determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo

internalizadas na liacutengua que por ser um sistema dinacircmico passa a ser enriquecida com

neologismos Assim no que compete aos estudos de Pottier o pesquisador apresenta como

modelo trecircs tipos de lexias sendo elas simples compostas e complexas (CAMPOS 2007)

As lexias simples70

satildeo conhecidas como a menor unidade lexemaacutetica ou palavra

tradicional que junto de outras lexias simples formam outras unidades lexemaacuteticas

conhecidas como palavras compostas Na lexia complexa ocorre uma sequecircncia de palavras

em grau maior de complexidade chamado de lexicalizaccedilatildeo Esta seria quando um sintagma se

torna uma unidade lexical autocircnoma Consequentemente Genouvrier amp Peytard (1974)

esclarecem melhor as lexias complexas de Pottier expondo em outras palavras que elas satildeo

formadas pelo agrupamento de lexias simples com classes gramaticais diferentes que resultam

em expressotildees generalizadas e estereotipadas (CAMPOS 2007)

Vejamos nesse contexto a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo

69 Lexia eacute nome geral para qualquer unidade lexemaacutetica nos estudo de Pottier (1978)

70 Vale ressaltar que Cabreacute (1993) no aspecto da forma tambeacutem classificou os termos de acordo com os nuacutemeros de morfemas existentes na palavra assim classificava-os em simples para um morfema e complexo para dois ou

mais morfemas Os complexos eram ainda subdivididos em termos derivados e termos compostos

121

TERMO 11 - URUCUM VERMELHO

Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho Fotografia 33 ndashFolha do Urucum Vermelho

Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho

Lx Lexema Urucum Vermelho

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto eacuteh uma planta natildeo ela eacute caseira eacute clima frio a folha eacute grande eacute form e re

redonda formatu dum coraccedilatildeo a semente dela ela coloca a ah o copinho a

caixinha dentro da caixinha tem a semetinha bem redondinha bem miudinha a

sementinha dela a flor eacute um rosiozinho eacuteh rosu claro eacuteh um ela eacute pequena

uma flor meacutedia num eacute grande nau e nem tatildeo (sita) o caule vai depende eacute dumaaa ele sendo bem bem bem velho bem maduro o caule dele eacute assim duma uns dois

palmos di grussura em roda tem tens uns que ate dessa grussura ((fazendo gestos

com as matildeos)) da duas matildeos cheia tem umas que da ateacute trecircs metro vai depender

da tem umas que daacute olha ela ela serve assim ela eacute tempero serve pra

temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol colesterol ela gente pega faz o

vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o vinho e toma em jijum ela linima o

colesterol e soacute da sementi a gente pega semente agente abre a pega a cachopinha

abre ela tira a semeti amassa um pouco com agua ai coa e toma em jejum pra curar o

colesterol

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Usada a sementinha encontrada no ldquocopinhordquo da planta retirar o vinho da semente

Fu Formas de

uso

Serve para dar a cor avermelhada na comida eacute um tempero para o colesterol eacute feito o

vinho da sementinha

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Eacute uma planta medicinal e usada tambeacutem como condimento

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

122

O ldquoUrucum Vermelhordquo eacute uma planta usada nos alimentos e com propriedades

medicinais principalmente relacionadas agrave problemas com o colesterol

[] ela eacute tempero serve pra temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol

colesterol ela gente pega faz o vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o

vinho e toma em jijum ela linima o colesterol e soacute da sementi a gente pega

semente agente abre a pega a cachopinha abre ela tira a semeti amassa um pouco

com agua ai coa e toma em jejum pra curar o colesterol [] (informaccedilatildeo verbal)71

Considerado em sua estrutura como termo complexo o Urucum Vermelho eacute formado

pela composiccedilatildeo sintagmaacutetica de duas palavras independentes entre si Poreacutem juntas formam

uma nova palavra com nova significaccedilatildeo No estudo gramatical do termo Urucum Vermelho

o elemento base eacute o substantivo ldquoUrucumrdquo que vem seguido pelo adjetivo ldquoVermelhordquo

indicativo de uma caracteriacutestica proacutepria da planta Verificando os aspectos da estrutura dos

termos observemos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoErva de Passarinhordquo

512 ERVA DE PASSARINHO

Segundo Cabreacute (1993) os termos compostos satildeo denominados tambeacutem como

sintagmas terminoloacutegicos que podem ser formados por uma construccedilatildeo sintagmaacutetica mais

complexa que pertencem a classe de palavras diversas

Diante das explanaccedilotildees sobre a estrutura do termo notamos que tanto Barros como

Pottier apresentam semelhanccedilas nas explicaccedilotildees No entanto Barros acrescenta ainda que os

termos compostos podem passar pelo processo de aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Nesse sentido

a pesquisadora expotildee que

A composiccedilatildeo eacute a nosso ver um processo que pode marcar a formaccedilatildeo tanto de

termos simples quanto de termos complexos (sintagmaacuteticos) Por esse motivo eacute

temeraacuterio distinguir de modo categoacuterico termos simples complexos e compostos quando se trata dos tradicionais processos de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo sem hiacutefen

(BARROS 2007 p 400)

Com tais fundamentos analisamos os termos sobre as plantas de uso medicinal da

comunidade de Pimenteiras na estrutura morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica de alguns termos

catalogados Observamos que na maioria dos casos natildeo haacute a presenccedila do hiacutefen na

71Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoUrucum Vermelhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

123

composiccedilatildeo dos termos compostos que ocorreram expressivamente atraveacutes do processo de

aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Assim observemos o termo ldquoErva de Passarinhordquo

TERMO 12 - ERVA DE PASSARINHO

Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho

Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho

Lx Lexema Erva de Passarinho

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Co Contexto ela eacute uma erva mermu ( ) ela daacute em cima nus galhu dus pau ( )da outras arvris

eacutena eacuteeacuteh ela eacute rastera ela ela eacute si agarra ali nu galhu neacute dali ela vai vai aumentandu a tendecircncia deli eacute matar ela ( ) ateacute qui as vez quandu ela si ela si

apropria mermu muitu na arvri ela mata a outra arvri ela mataeacute natildeu ela eacute

nativaporque us passarinhu qui eacute assim natildeu sei como eacute neacute mais us passarinhu qui

veim qui faz u cococirc ali dali nasci a sementinha ali nu galhu du pau i dali forma a erva

di passarinhu uns diz qui eacute assim eu natildeu sei porque porque ela eacute nativa ela nasci

assimqui podi ter a sementi i nascieacute porque eacute porque ela nasci ai eu eu vi falar

assim agora eu natildeu sei si tambeacutem nasci ali du limu neacute neacute limu porque ela sempri daacute na

arvri ela num eacute nunca eu vi daacute nu chatildeo eacute ela daacute nu limoeiru ela daacute na cueira ela daacute na

na nu nu na laranjera ela daacute em toda essa arvri assim ela daacuteeacute ela daacute eacuteachu qui eacute

em qualquer momentu qualquer arvri qui ela si apropriar qui ela gostar neacute ela daacute i aiacute

a a ( ) ela tem os galim dela em forma di um cipoacute eacute assim us galhu dela i a folha dela

tambeacuteim ela eacute media uma folha assim tambeacuteim qui ela num uma folha seca natilde eacute uma folha sempri assim cheinhagordinha issuela eacute meacutedia tambeacuteim ela num eacute tatildeu

piquinininha natildeu natildeu eacute daquelas folhau formatu dela eacute assim mermu eacute quasi igual

assim meia compridim meia redonda ela num tem formatu assim di otra coisa naueacute

uma folha eacuteeacute tipu uma folha di jambreru eacute um pocu maior di que essi ai neacutenatildeu

dessi aqui dessi aqui neacutesim issu( ) maior tem umas qui da maior tem umas qui daacute

maior porque ela daacute igualtem veiz qui quandu ela nasci muitu qui ela vai

aumentandu aumentandu assim neacute ai tem vez que porque a minha matildee sempri dizia

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

124

assim oacute bora tirar essa erva di passarinhu porque si natildeo ela vai matar uma laranjera

uma cuiera ela da nu cafezal nu cafeeru tambeacuteim ela da nu limoeru ela daacute ela daacute nu da outra eacute eacute com certezaela mata eacute vai depender di elaa folha a folhaeacute i juntu

com certeza ela neacute uma folha assim num eacute bem redonda mas tambeim num eacute tatildeu

comprida ela eacute uma assim uma folha larga beim largaela tem umas bajezinhas

tambeacuteim ela bota umas bajezinhas bem muiditinhas tambeacuteim uns carocinhusnatildeu eu

da nunca vi si eacute uma erva di passarinhu eu da nunca vi mas diz qui eli si alimenta

daquela sementinhaeacute usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui

chama cansaccedilo neacute que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u

chaacutea minha voacute dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem

toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu

iscondidu pra num saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela

dizia assim oacute a erva di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo

mas quem toma nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para ldquocansaccedilordquo asma

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O chaacute deve ser tomado sem a pessoa saber para que sirva e que planta eacute feito o chaacute

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoErva de Passarinhordquo possui uma estrutura composta por dois radicais

relacionados pelo aspecto da preposiccedilatildeo Sendo uma planta que se hospeda em outras plantas

para viver eacute o alimento preferencial dos paacutessaros daiacute a relaccedilatildeo associativa com a funccedilatildeo que

o nome possui No trato medicinal a planta eacute usada em pessoas com cansaccedilo poreacutem segundo

a crenccedila de seus antepassados a pessoa toma o chaacute sem saber o que eacute nem para que serve O

termo eacute assim descrito pela senhora Domingas

[] usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui chama cansaccedilo neacute

que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u chaacutea minha voacute

dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu iscondidu pra num

saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela dizia assim oacute a erva

di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo mas quem toma

nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute

u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute(informaccedilatildeo verbal)72

Observamos que cada termo possui uma definiccedilatildeo particular a cada planta as formas

de uso os contextos em que ocorre a variaccedilatildeo as relaccedilotildees associativas as crenccedilas em torno

72Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoErva de Passarinhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

125

da cura e as composiccedilotildees formativas dos termos apresentados Alguns termos vieram de

geraccedilotildees passadas outros entraram no contexto da comunidade de Pimenteiras atraveacutes de

novos saberes Diante de tudo que foi exposto eacute importante percebermos que a compreensatildeo

da linguagem de especialidade pode ocorrer com o entendimento de que os termos natildeo satildeo

isolados Segundo Cruz (2014 p 104) os termos ldquonem derivam sua existecircncia apenas de um

arcabouccedilo loacutegico-conceptual mas se manifestam circulam e exercem sua funccedilatildeo em situaccedilatildeo

em uso efetivordquo

Para que o pesquisador possa se familiarizar com seu objeto de pesquisa eacute necessaacuterio

realizar leituras preacutevias sobre o assunto e manter discussotildees com profissionais da regiatildeo

pesquisada Particularmente no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal compreendemos

que durante muitos anos o homem sempre utilizou os recursos naturais para sua sobrevivecircncia

e bem estar na terra e eacute por meio das plantas que surgem os mais diversos produtos

indispensaacuteveis agrave vida humana em todas as eacutepocas

No que concerne ao uso dessas plantas na medicina tradicional hoje os

medicamentos obtidos a partir de substacircncias ativas vindas das plantas satildeo utilizados na

medicina complementar73

Diante disso eacute importante salientar que as populaccedilotildees que vivem

em regiotildees pouco povoadas e com restriccedilatildeo das necessidades fundamentais como sauacutede e

educaccedilatildeo fazem dos recursos naturais os mais utilizados possiacuteveis a fim de garantir os

cuidados necessaacuterios com o bem-estar do corpo e da alma

Culturalmente as praacuteticas com o uso popular de plantas medicinais satildeo uma

realidade em muitas comunidades que as tecircm como alternativa para a conservaccedilatildeo da sauacutede

Entretanto a continuidade desse saber eacute ameaccedilada pela interferecircncia de fatores externos

relacionados ao dinamismo social como a exposiccedilatildeo das comunidades e de sua cultura diante

das facilidades da sociedade moderna a destruiccedilatildeo dos recursos naturais a invasatildeo de novos

elementos culturais que desmotivam a vida tradicional e o conhecimento empiacuterico que eacute

patrimocircnio de valor inestimaacutevel agraves futuras geraccedilotildees Aleacutem disso os estudos cientiacuteficos

direcionados agraves plantas utilizadas pelas comunidades tradicionais satildeo ainda insipientes

(HOEFFEL 2011)

Boa parte do conhecimento popular estaacute mantido em fontes orais isto causa certa

inseguranccedila e desconfianccedila nos dados a serem transcritos Poreacutem o contato direto com os

moradores e seus saberes nos fez crer que as histoacuterias orais satildeo fonte de vida e que de acordo

com a histoacuteria transpotildeem geraccedilotildees e eternizam os novos conhecimentos A verdade eacute que as

73 Uso de medicamentos feitos a partir de substacircncias ativas das plantas isto ocorre em tratamentos de doenccedilas

crocircnicas devido aos efeitos colaterais dos medicamentos potentes

126

ameaccedilas agrave biodiversidade natildeo tem precedentes na histoacuteria da humanidade diversas espeacutecies

nunca estiveram tatildeo ameaccediladas de extinccedilatildeo Junto a isto a cultura dessas comunidades

tambeacutem sofre mudanccedilas constantes que as fazem perder a identidade social que as compotildeem

A perda dos elementos naturais e da cultura identitaacuteria dos conhecimentos

tradicionais empobrece cada vez mais nossa cultura em geral nossa sauacutede e nossos saberes

Diante disso eacute premente que busquemos alcanccedilar esses povos para conhecer registrar e

preservar saberes importantes para a sociedade em geral Nesse contexto a comunidade

remanescente de quilombola de Pimenteiras eacute um exemplo a ser observado por agregar valor

em seus aspectos regionais culturais e de saberes sobre o poder medicinal das plantas Eacute na

comunidade e nos seus moradores que se veem a necessidade de conhecer registrar e

preservar o conhecimento tradicional que fora repassado entre as geraccedilotildees Sabendo disso

buscamos por meio dos estudos socioterminoloacutegicos analisar os termos catalogados sobre as

plantas de uso medicinal da comunidade Tais saberes de grande valor para o conhecimento

cientiacutefico satildeo preservados pelos relatos orais de moradores remanescentes de quilombo

O conhecimento sobre as plantas medicinais pode ser observado pelo trabalho diaacuterio

que os moradores possuem na comunidade com as plantas Esse processo vai desde a

plantaccedilatildeo ateacute a venda dos produtos obtidos por meio da manipulaccedilatildeo das plantas Os cuidados

com o solo a aacutegua o sol os horaacuterios adequados para a colheita das plantas as partes a serem

usadas como as folhas raiz entrecasca flor galhos sementes fruto seiva e tambeacutem o

tratamento dado as plantas para a venda de produtos feitos pelos moradores tais como a

garrafada a multimistura pomadas e oacuteleos tudo eacute parte do contexto de saberes que os

moradores possuem sobre as plantas medicinais

Finalizamos assim observando a forte relaccedilatildeo existente entre os termos sobre as

plantas medicinais com o contexto social no qual estatildeo inseridas com os saberes adquiridos

no passado e no presente com a cultura com a Liacutengua e por conseguinte com a origem

negra que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem marcando assim a

identidade do povo quilombola

127

6 CONCLUSAtildeO

Este trabalho dissertativo se propocircs na anaacutelise dos termos sobre as plantas de uso

medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras ndash PA localizada na

cidade de Santa Luzia do Paraacute na Rodovia BR 316 (Paraacute ndash Maranhatildeo) regiatildeo do Rio Caeteacute

A partir das consideraccedilotildees sobre os termos catalogados pelos moradores quilombolas

pudemos observar e perceber que os saberes transmitidos entre as geraccedilotildees permanecem

fortes no seio da comunidade de forma que todo o conhecimento sobre as plantas medicinais

tem caraacuteter identitaacuterio ao povo de Pimenteiras

Conhecemos cada termo catalogado a fim de perceber as influecircncias da cultura negra

na linguagem popular e especializada sobre as plantas A presenccedila do gecircnero feminino nesse

contexto de conhecimento foi determinante para conseguirmos identificar as espeacutecies coletar

as imagens de cada planta e catalogar os termos sobre as plantas medicinais registrados pelos

moradores

Todos noacutes pensamos falamos lemos e escrevemos as palavras que herdamos em

meio aos saberes coletivos jaacute consolidados no tempo e espaccedilo Por meio da nossa Liacutengua as

palavras satildeo transmitidas e enredadas em significaccedilotildees Eacute atraveacutes dessa heranccedila com os

vocaacutebulos que a liacutengua abrange os saberes coletivos culturais e de significados produzidos

nos contextos de fala Ao nomearmos classificarmos categorizarmos e registrarmos as

experiecircncias vividas noacutes seres humanos criamos palavras e sintaxes ao contarmos e

recontarmos nossas histoacuterias

Por meio da Liacutengua fundamentamos nossa identidade eacute pelas palavras que

organizamos nossas crenccedilas e nomeamos nossos valores um saber que continua em

crescimento e transformaccedilatildeo atraveacutes do conhecimento da linguagem que herdamos e

transmitimos para as geraccedilotildees porvindouras Assim ressaltamos que as definiccedilotildees descritas

sobre os termos analisados sua variaccedilatildeo nos termos na linguagem representada nos saberes

sua motivaccedilatildeo sua estrutura e suas relaccedilotildees associativas constituiram-se relevantes para

percebermos as analogias da liacutengua com a cultura popular transmitida entre as geraccedilotildees

sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

Levando em consideraccedilatildeo que os termos sobre as plantas medicinais fazem parte de

uma especificidade da linguagem e que no caso em especial analisamos o termo na sua

estrutura socioterminoloacutegica entendemos que o conhecimento popular proveniente das

atividades tradicionais dos moradores quilombolas na regiatildeo foi o percurso trilhado para nos

128

conduzir nesse trabalho dissertativo de forma a considerar as abordagens socioterminoloacutegicas

de grandes pesquisadores Os estudos sobre a variaccedilatildeo nos termos sobre as plantas medicinais

tambeacutem foi fundamental para analisarmos cada palavra dentro de um contexto de uso social

histoacuterico e cultural com a finalidade de conhecer e ateacute resgatar os termos no acircmbito

sociocultural no qual estatildeo inseridos

A metodologia utilizada no decorrer do trabalho de campo nos proporcionou melhor

conhecimento sobre a comunidade em estudo pois do ponto de vista etnograacutefico eacute preciso

estar laacute para aprofundarmos sobre os saberes da comunidade e interagirmos in loco para

compreendermos a dinacircmica do trabalho e da vida a partir da qual o homem do campo

constroacutei seus saberes Os dados catalogados sobre as plantas medicinais nos fizeram conhecer

mais profundamente os saberes sobre as plantas que apresentamos no repertoacuterio terminoloacutegico

coletado composto por quarenta e dois (42) termos catalogados com suas respectivas

imagens

Aleacutem dos termos catalogados foi necessaacuterio registrar os dados orais ocorridos

durantes as diversas entrevistas da pesquisa de campo utilizando os recursos computacionais

como o Transana para efetuarmos a transcriccedilatildeo Grafemaacutetica das entrevistas realizadas Isto

foi indispensaacutevel para compreendermos melhor os aspectos que contornam o termo e

tambeacutem para a definiccedilatildeo descritiva de cada termo catalogado pois no contexto discursivo

podemos entender melhor cada palavra e suas significaccedilotildees no estudo socioterminoloacutegico

No percurso desse trabalho buscamos natildeo apenas a interpretaccedilatildeo ou anaacutelise dos

termos catalogados mas tambeacutem observar a construccedilatildeo dos saberes dos moradores como um

aspecto marcante na identidade da comunidade quilombola Essa nova visatildeo sobre os termos

nos trouxe um perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural mostrando as influecircncias da cultura negra na

linguagem de uso particular sobre as plantas medicinais

Eacute por meio da Liacutengua que os moradores quilombolas de Pimenteiras refletem as

caracteriacutesticas da identidade cultural entre a planta e as caracteriacutesticas que especializam cada

espeacutecie mas eacute na variaccedilatildeo da liacutengua que os termos se relacionam com as aacutereas de

conhecimento que os moradores possuem sobre as plantas medicinais O movimento

constante da linguagem atribui o princiacutepio fundamental da liacutengua que eacute a comunicaccedilatildeo

presente no contexto dos saberes de um povo e manifestado na preservaccedilatildeo da linguagem

atraveacutes da valorizaccedilatildeo por seus falantes

Nesse sentido quando associamos o saber especializado ao contexto de campo das

ciecircncias e das teacutecnicas temos no termo uma feiccedilatildeo terminoloacutegica na qual ele assume uma

dimensatildeo linguiacutestica e cognitiva no comportamento lexical especializado e na manifestaccedilatildeo

129

desse conhecimento Notamos assim que o termo eacute parte do componente linguiacutestico de tal

modo como eacute uma unidade terminoloacutegica e um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber

Portanto ao referirmos as plantas de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras

percebemos que o domiacutenio estudado pertence ao campo da medicina caseira como consta na

Norma da ISO 1087 explicando que o domiacutenio eacute definido por um ponto de vista particular no

qual os limites satildeo definidos pelo saber particular da moradora Domingas

Ao verificarmos a definiccedilatildeo descritiva dos termos a senhora Domingas expocircs de

acordo com seus saberes uma relaccedilatildeo associativa entre a planta com o objeto nomeado Nas

explicaccedilotildees de Faulstich (1995 p 36) o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e

coletiva num processo de interaccedilatildeo entre o sujeito a realidade as pessoas e o ambiente

sociocultural revelando que a Socioterminologia eacute desenvolvida no cunho funcionalista de

natureza social Nos casos em que ocorrem caracterizaccedilotildees de conceitos e definiccedilotildees para um

mesmo termo Faulstich lembra que ocorre a variaccedilatildeo terminoloacutegica em que um novo termo

um novo conceito traz uma nova definiccedilatildeo

Com respeito agrave relaccedilatildeo associativa na forma ou na funccedilatildeo das plantas medicinais

esta faz parte da natureza e concepccedilatildeo dos termos estudados Notamos que a estrutura

morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica do termo apresentado tambeacutem como unidade

terminoloacutegica foi explanada por alguns autores tais como Araujo (2006) que verificou os

termos em sua estrutura leacutexico-semacircntica com uma constituiccedilatildeo simples contendo a presenccedila

de apenas um radical e uma composiccedilatildeo composta e complexa quando apresentam dois ou

mais radicais Andrade (1998) por sua vez explica que na estrutura do termo composto temos

a presenccedila do hiacutefen diferenciando-se do termo complexo que natildeo possui o hiacutefen Poreacutem

haveraacute processos de composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras

Com base nos estudos dos autores citados vemos que os termos catalogados sobre as plantas

de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras possuem na sua estrutura formaccedilatildeo simples

com apenas um radical formaccedilatildeo complexa com a presenccedila de mais de um radical e

composta nos quais ocorre o processo de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo

Nossa anaacutelise foi constituiacuteda por doze (12) termos de plantas de uso medicinal

catalogadas pelos moradores quilombolas de Pimenteiras de um total de quarenta e dois (42)

termos As apreciaccedilotildees desses dados da pesquisa passaram por diferentes estudos sobre o

termo levamos em consideraccedilatildeo natildeo apenas as caracteriacutesticas gramaticais que o compotildee

mas principalmente analisamos as definiccedilotildees descritivas da senhora Domingas utilizando

para isso o modelo de ficha terminoloacutegica de Faulstich para melhor visualizaccedilatildeo dos

elementos constitutivos do termo

130

Eacute nessa compreensatildeo sobre o que motiva ou associa a nomeaccedilatildeo dos termos que

vemos a reflexatildeo sobre o conhecimento que os moradores possuem da proacutepria linguagem

suas relaccedilotildees com a natureza as influecircncias e transferecircncia de saberes entre as geraccedilotildees e as

caracteriacutesticas marcantes que tornam a comunidade de Pimenteiras uacutenica em sua identidade

como lugar das plantas medicinais

Perante tudo que foi explanado sobre a pesquisa efetuada na comunidade de

Pimenteiras acreditamos ter dado um grande passo neste estudo fascinante e envolvente sobre

a histoacuteria cultura e saber de um povo um povo que desperta nosso desejo de conhecimento

de buscar outros caminhos nos estudos Socioterminoloacutegicos e em muitos outros estudos

cientiacuteficos que reconheccedilam e valorizem os saberes e cultura da comunidade de Pimenteiras

Os termos analisados neste trabalho dissertativo nos trazem resultados interessantes

quanto agraves influecircncias da cultura negra que por longos periacuteodos da histoacuteria sofreu e ainda

sofre retaliaccedilotildees e preconceito por contra da escravidatildeo pois ainda hoje um preconceito

mascarado sobrevive Brookshau (1983 p 12) expotildee que ldquoo negro mesmo antes de ser

escravizado tinha um defeito que para muitos serviu de justificativa para sua escravidatildeo e esse

defeito era sua corrdquo A cor negra na cultura ocidental sempre teve uma conotaccedilatildeo negativa em

oposiccedilatildeo ao branco que eacute definido com o sentido de limpo e puro A presenccedila dos africanos em

nosso paiacutes contribuiu natildeo soacute na nossa cultura mas tambeacutem na formaccedilatildeo do tipo fiacutesico

brasileiro Somos um povo diversificado na cultura na danccedila no biotipo fiacutesico no sincretismo

religioso nas comidas tiacutepicas na influecircncia indumentaacuteria no gecircnero forte da mulher no uso das

plantas e consequentemente na liacutengua

Tanta influecircncia sucedida do negro contribuiu muito para a formaccedilatildeo da nossa

nacionalidade Segundo o antropoacutelogo Arthur Ramos (1942) eacute inocente e sem base cientiacutefica

querer caracterizar a questatildeo racial no Brasil pois todos noacutes somos formados de contatos

humanos que se processaram no paiacutes que natildeo se limitaram apenas aos grupos de negros

brancos e iacutendios somos derivados deles Nossa liacutengua em especial eacute o reflexo de noacutes mesmos

por manifestarmos e expressarmos nossa proacutepria existecircncia Assim ainda que carregados de

dificuldades e escravidatildeo o negro trouxe-nos a forccedila e riqueza de sua cultura que hoje

podemos dizer eacute um dos pilares da nossa identidade nacional

Diante de tantas riquezas sobre as influecircncias do negro da comunidade de Pimenteiras

esperamos que o estudo em questatildeo seja uacutetil agravequeles que se interessem pelo assunto e queiram

conhecer melhor o universo que envolve essa cultura popular e socioterminoloacutegica das plantas

medicinais da comunidade pois natildeo poderiacuteamos deixar ocultada a sabedoria popular sobre as

plantas medicinais precisaacutevamos conhececirc-la observaacute-la analisaacute-la prestigiaacute-la e repassaacute-la

131

para aqueles que buscam natildeo apenas saber mas sobretudo valorizar a sabedoria tradicional

preservada na linguagem como identidade dos moradores quilombolas de Pimenteiras

132

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Nascimento

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA

CAMPUS DE BRAGANCcedilA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA

FICHA DE ENTREVISTA COM OS MORADORES REMANESCENTES DE

QUILOMBOLA NA COMUNIDADE DA PIMENTEIRA - PA

A) Entrevistado

1Nome

2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino

3 Endereccedilo

4 Idade(anos)

5 Quantas pessoas habitam a casa

6 Naturalidade

7 Ocupaccedilatildeo principal

8 A Principal fonte de renda

9 Escolaridade

10 Vive na comunidade a quanto tempo

11 Seus pais avoacutes jaacute moraram ou moram na comunidade

12 De onde vieram (Cidade - UF)

13 Tipo de habitaccedilatildeo

14 Haacute quanto tempo mora aqui

15 Como era aqui quando a famiacutelia ou vocecirc chegou

16 Qual a sua origem De onde veio

B) Termo Quilombola

1 Como descobriu que tens descendecircncia de Quilombola

2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc

3 Qual o significado de ser Quilombola para sua comunidade

4 Qual sentimento tem pela palavra Quilombola

5 Houve algum tipo de dIscriminaccedilatildeo sobre a descendecircncia Quilombola

6 Reconhecem os direitos que possuem sobre ser Quilombola

7 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre essa Associaccedilatildeo

8 O que acha da comunidade da Pimenteira

9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc

C) Ervas e Plantas Medicinais

1 Faz uso de Plantas Medicinais ( ) Sim ( ) Natildeo

2 Quem passou o conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo de plantas

3 Quando tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda a quem vocecirc recorre

4 Como obteacutem as plantas que utiliza

5 Quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia

6 Quais partes satildeo utilizadas

7 Qual a melhor forma de preparo para cada planta

144

8 Como se usa

D) Dados sobre o manejo do quintal

1 Quais espeacutecies de plantas e ervas cultiva em casa e por quecirc

2 Como denomina o espaccedilo proacuteximo agrave sua casa

3 Quem cuida desse espaccedilo

4 Quais plantas vocecirc tem em seu quintal

5 Vocecirc consome as plantas que cultiva

6 Vocecirc realiza alguma atividade de compra e venda dessas plantas

7 Vocecirc compartilha essas plantas com algueacutem

8 Se vocecirc natildeo as tem onde vocecirc vai procurar

9 O que estaacute faltando em seu quintal

10 O que o quintal representa para vocecirc e para sua famiacutelia

E) Dados sobre o conhecimento e a transmissatildeo do mesmo

1 As plantas que vocecirc tecircm em seu quintal servem para quecirc

( ) alimento ( ) remeacutedio ( ) ritual ndash religioso ( ) decorativo ( ) brincadeira ( ) outros

2 Com quem vocecirc tomou ldquogostordquo por plantas Onde aprendeu o que sabe

3 E vocecirc ensina isso para algueacutem

4 Quais plantas satildeo mais usadas

5 Para que utiliza estas plantas

6 Faz uso de medicamentos das farmaacutecias Sim( ) Natildeo( ) Agraves vezes( ) Nunca( )

7 Quais E por quecirc

8 Possui alguma doenccedila Sim ( ) Natildeo ( )

9 Qual (is)

10 Jaacute ocorreu algum caso de doenccedilas curadas pelo uso das ervas e plantas

11 Vocecirc acredita no poder das ervas e plantas ou nos remeacutedios de farmaacutecia Por quecirc

12 O que eacute a Garrafada

13 Para que serve a Garrafada Quais as propriedades de cura que proporciona

14 Como eacute o preparo da Garrafada E que ervas possuem dentro

15 Com quem aprendeu a fazer a Garrafada e outros remeacutedios caseiros

145

APEcircNDICE B ndash Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Domingas Alves do Nascimento

entrevista do dia 19 de outubro de 2014

L1 data de nascimento

L2 dia vinte e oito (de outubro)

L1 ( )

L2 dia vinte e oito

L1 JAacute aqui a gente pode dizer qual eacute o endereccedilo

L2 pode

L1 ((muitos ruiacutedos de vento)) entatildeo hoje a senhora tem quantos anos

L2 (cinquenta e um) natildeo cinquenta e cinquenta neh

L1 hoje a senhora tem cinquenta

L2 cinquenta

L1 quantas pessoas moram na sua casa

L2 somos seis

L1 seis a senhora eacute paraense qual eacute sua naturalidade

L2 paraense

L1 paraense mesmo qual eacute a sua principal ocupaccedilatildeo (no) trabalho

L2 agricultura

L1 qual a principal fonte de renda com que a senhora ganha dinheiro

L2 ahh (assim) com a minha atividade eacute (arrancar) malva ( ) com a malva ou do accedilaiacute

eacute uma ( ) muito (dessa aiacute) e meus trabalhos de ( ) pra mim mesmo o que eu estou fazendo eacute

esse neh

L1 hum rum

L2 ( ) bastante eacute muito encomendado

L1 e remeacutedio caseiro

L2 remeacutedio caseiro

L1 a senhora tem que escolaridade ateacute que seacuterie a senhora estudou

L2 soacute a primeira

L1 primeira seacuterie

L2 que no meu tempo era muito difiacutecil neh a gente morava aqui aiacute eu daqui com uma

leacutegua quando quando eu comeccedilei a estudar eu tava com QUINZE anos eu com

dezessseis (eu me ajuntei)

L1 hum rum

L2 aiacute pronto meu marido lutou lutou mas eu pra mim foi muita dificuldade eu jaacute sou

dona de famiacutelia ia deixar a minha casa pra mim andar essa distacircncia todinha aiacute eu natildeo quis

ele pelejou pelejou meu sogro natildeo natildeo se eu (tivesse) na casa do papai tudo bem aiacute tava

ruim ele trabalhava me e eu sai eu tinha que sair seis horas da manhatilde que eacute daqui laacute na beira

do rio eacute uma leacutegua de aiacute natildeo tinha como eu preparar o almoccedilo neh chegava de tarde

cansada e aiacute eu natildeo estudei mais ( ) e era muito difiacutecil muito difiacutecil meus irmatildeos

nehnhum soacute tem eu neh meus irmatildeos soacute tem um que tem a quarta seacuterie um ou eacute dois

(por causa da dificuldade)

L1 a senhora vive na comunidade haacute quanto tempo

L2 e eu nasci e me criei aqui assim EU NASCI aqui eu natildeo nascci aqui mas foi aqui

perto neh depois que taacute com

[

L1 entatildeo desde receacutem nascida a senhora mora aqui

L2 hum rum

L1 taacute (palavras dirigidas a terceiros) eacute os pais da senhora (voz de terceiro) ou os

avoacutes eles jaacute moraram ou moram na comunidade eu quer quero que a senhora conte a

trajetoacuteria deles eles jaacute moraram aqui como eacute como foi

146

L2 natildeo assim eacute eles jaacute moraram essa minha matildee eacute falecida soacute meu pai dessas dessa

dessas turmadas soacute meu pai que ainda ainda eacute vivo neh eles assim eles moram ( )

quando eles na juventude deles eles moravam na outra comunidade

L1 (narcisa)

L2 narcisa sim aiacute de laacute eles casaram meus primeiros irmatildeos nasceram laacute e eu jaacute foi

L1 hum rum

L2 ateacute o quarto irmatildeo nasceu laacute ainda do outro lado do rio guamaacute ( ) do outro lado aiacute

quando eu vim de assim laacute a ge era muita gente aiacute eles botavam o (roccedilado) natildeo tinha mais

como o produto neh e naquele tempo natildeo tinha esse negoacutecio de adubo natildeo existia aiacute

por aqui era mato que eles caccedilavam aiacute meu avocirc disque queria vir botar um roccedilado pra caacute aiacute

parece que os vizinhos jaacute ficavam dizendo laacute que a mata tava pouca a capoeira jaacute natildeo dava

muita produccedilatildeo aiacute eles andavam na mata disse que vinham botar um roccedilado pra caacute mas

como era assim a mata natildeo tinha ele foi laacute em oureacutem pegou um papel fez um

requerimento pegou um papel aiacute laacute com a assinatura laacute nesse tempo tinha feito natildeo sei de

quem eacute laacute mais laacute aiacute foi falou para o genro dele era trecircs genro que ele tinha ele soacute

tinha um filho e trecircs filhas nem vi as filhas todas casaram (netinho) jaacute tava pro

prosperando familiacutea aiacute ele chegou laacute e disse bem se vocecircs quiserem botar um roccedilado pra

mata para o (centro) ( ) agora a gente vai porque a gente taacute com a autorizaccedilatildeo na matildeo aiacute

eles vieram botar o primeiro roccedilado aiacute acharam MUIto longe taacute indo e vindo indo e vindo

todo dia neh aiacute eles fizeram um barracatildeo pra eles todos fizeram um barraco aiacute jaacute

traziam a famiacutelia pra ficar mais PERto pra fazer o almoccedilo pra ajudar ((tosse)) pra ajudar

porque a gente trabalha tambeacutem no roccedilado neh aiacute veio vinha primeiro a vovoacute sempre

ficava laacute neh que era a mais velha ficava laacute com os outros netos e vinha as filhas com uns

uns ajudar os maridos aiacute nisso aiacute foram se acostumando se acostumando e a a produccedilatildeo

foi aumentando assim a renda eles gostaram muito do do (canto) aiacute pronto j5aacute foram fazendo

casa pra morar aiacute foi que eles vieram veio veio quatro famiacutelia meu avocirc com os trecircs

filhos que vieram ( ) fizeram o barracatildeo dele laacute a casa laacute depois jaacute foram aumentando

fazendo a sepaccedilatildeo da casa que aquele tempo era no barro neh fazia primeiro era a casa de

palha que eacute eacute esse matinho aiacute oacute tubim pois eacute esse taacute cobriu a casa com esse daiacute mas

eacute uma excelente cobertura que eacute frio que soacute aiacute faziam a tapaccedilatildeo repartida de barro neh

aiacute cada quase jaacute moravam no seu no na na sua propriedade localidade ( ) barracatildeo na

sua casa aiacute daiacute que foram foram chegando os netos foram crescendo foram procurando

familiacutea e foram casando fazendo casa perto que eu tenho dois um primeiro meu

irmatildeo casou fez a casa lacuteperto do papai depois o segundo casou fez perto tambeacutem e a

minha irmatilde que eacute comadre ( ) que eacute a mais velha casou o marido dela tambeacutem natildeo levou

ela para o lugar dele ELE foi pra caacute neh aiacute a famiacutelia foi aumentando a minha matildee taacute

com dez anos jaacute falecida

L1 de onde eles vieram assim a origem dos dos seu pais

L2 a minha matildee ela veio de origem do negro dos escravos neh

L1 natildeo eu digo assim o estado eles satildeo paraenses

L2 eles satildeo paraenses

[

L1 todos eles

L2 todos eles satildeo paraenses

L1 natildeo tem nenhum

[

L2 natildeo natildeo de mistura natildeo que eu saiba natildeo se se tem mas natildeo chegou no

meu conhecimento que a a mamatildee ela contava muita histoacuteria assim a minha voacute muita

histoacuteria assim de quando eles eram crianccedila de quando eles eram ado adolescente jovem

mas eles nunca disseram que era que era de outra assim sempre ( )

L1 e na qual era o tipo de habi de de habitaccedilatildeo que eles tinham que a senhora

147

falou qual era como era a casa

L2 deles

L1 hum rum

L2 era sempre assim dessa palha a cobertura e ao redor era empalhada tambeacutem soacute

que eu natildeo cheguei a conhecer assim empalhada natildeo do barro eu ainda me lembro muito

bem a cobertura tambeacutem agora empalhado da mesma mesma coisa neh que eles

faziam assim mas eu natildeo me lembro natildeo mas a minha matildee contava que era assim

L1 a cobertura era empalhada

L2 a ccobertura era da (albim) e ao redor tambeacutem pra fazer a separaccedilatildeo neh

L1 era albim

L2 da albim tambeacutem era cercado com albim assim feita a separaccedilatildeo sim pelo menos o

quarto da onde dormiam neh

L1 hum rum mas em volta natildeo era barro era assim empalhado neh

[

L2 hum rum era empalhado

era

L1 entatildeo haacute quanto tempo ele eles o seu pai ainda eacute vivo

L2 eacute papai eacute

L1 haacute quanto tempo moram aqui

L2 eu tocirc com aqui neste lugar ou assim

L1 aqui na pimenteira

L2 na pimenteira taacute com umas umas faixa de uns quarenta anos

L1 quarenta

L2 assim quando veio da narcisa logo quando veio da narcisa

L1 sim

L2 ah taacute com seus cinquenta porque mais de cinquenta quase seus sessenta porque eu tocirc

com cinquenta e um e eu jaacute jaacute sou da da aquarta filha que nasceu aqui jaacute soacute que natildeo

era pra esse mesmo lugar neh era aqui o cajueiro mas eacute mesmo ( ) a gente se mudou

quando eles vieram de laacute ( ) laacute papai natildeo gostou muito de laacute porque esse tempo ele criava

umas vacas que era amarrada assim na corda e laacute eacute muita (acidentado) daacute mais de que

aqui neh aiacute tinha um um homem que morava bem ali assim aiacute era muito colega do

papai e aiacute aqui esse tempo um tempo veio uma tinha uma casa que que davam aula era

bem aiacute chamavam o carro da prefeitura aiacute a mulher foi embora a professora foi embora aiacute

ficou desocupada aiacute esse homem cedeu para o papai seu Raimundo laacute na pimenteira ali

adonde perto de onde eu moro uma pertenccedila ao ao terreno de vocecircs por quecirc que natildeo vai

embora pra laacute aiacute foi que noacutes viemos de laacute do cajueiro mas fica aqui proacuteximo neh aiacute

fizemos a abertura aiacute daiacute

[

L1 entatildeo vocecircs satildeo os primeiros moradores aqui

L2 somos meu pai eacute primeiro morador

[

L1 como eles ele conta como era aqui quando a famiacutelia

veio quando vocecircs chegaram aqui como era como era essa aqui essa aacuterea toda

L2 aqui aqui mesmo eu me lembro jaacute quando eu cheguei aqui quando noacutes viemos do cajueiro

pra caacute eu me lembro eu jaacute me alembro eu acho que eu estava com uns sei cinco a seis anos

mas eu jaacute me alembro aqui era todo tudo capoeira que a mata era logo bem aqui

proacuteximo nossos primeiros roccedilados foi muito proacuteximo de qualquer uma crianccedila ia laacute no

roccedilado tirar o milho tirar buscar uma melancia qualquer um que queira era muito perto

a mata era proacutexima isso era capoeira isso aqui tinha soacute um uns caminhinho que os

meninos iam aacutes vezes para o roccedilado um uma coisa era tudo era sombra natildeo tinha

natildeo era natildeo tinha essa abertura aiacute esse garapeacute era a coisa mais linda do mundo era esse

148

garapeacute que a gente toma banho porque era capoeira neh era capoeira era era sombra

aiacute aiacute a gente ia tomava banho quando noacutes era crianccedila noacutes tomava aiacute quando tava um

tempatildeo de chuva assim noacutes jaacute ficava alegre porque sabia que ele ia crescer e noacutes gostava

muito de tomar banho na aacutegua grande e aiacute qundo passava a chuva noacutes pedia pra o papai e pra

mamatildee e noacutes ia tomava muito banho agora natildeo agora natildeo presta pra tomar banho

nenhum porque ( ) daiacute da da daqui da boca dele ateacute quase na cabeceira desse jeito aiacute natildeo

presta mais pra tomar banho

L1 a a sua origem mesmo eacute paraense a senhora veio de laacute a senhora veio da narcisa

aliaacutes a senhora nasceu na narcisa

L2 natildeo natildeo eu jaacute nasci ali no

[

L1 no cajueiro

L2 hum rum

L1 certo veio da narcisa moro morou um tempo no cajueiro e agora

[ [

L2 ( ) no cajueiro e ( ) ( ) porque assim

( ) bem pertinho daqui natildeo daacute dois quilocircmetros daqui laacute

L1 taacute agora vamos eacute ter quando foi que a senhora descobriu que tem uma a

descendecircncia de quilombola

L2 porque a minha voacute di dizia neh a minha voacute contava pra noacutes que ele ela eacute ela vinha

dessa descendecircncia que os avocircs delas AVOcirc da minha avoacute era os escravos

L1 como ela soube como ela como ela sabia disso

L2 porque ( ) contavam pra ela neh a matildee dela contava pra ela aiacute ela a matildee dela jaacute

passava pra ela e ela jaacute passava pra noacutes porque euu ainda me alembro muito da minha voacute ela

mamatildee contava ( ) MAIS era ela que contava que ela dizia que ela os avoacutes dela contavam

que (eram) dqquele tempo de de ficar amarrado de ser accediloitado neh aiacute ela ia

repassando pra noacutes

L1 os avoacutes dela passaram por isso viveram esse periacuteodo

L2 natildeo os avoacutes dela eacute que contavam que os outros ates dele neh

[

L1 antes os antes dele que ( )

L2 an ram eacute isso

L1 entatildeo eacute satildeo os seus tataravoacutes (digamos assim)

L2 isso acho que ism

L1 que viveram essa eacutepoca da escravidatildeo

L2 hum rum

L1 mas essa eacutepoca da escravidatildeo aqui nessa regiatildeo natildeo

L2 natildeo natildeo era aqui

L1 onde

L2 isso aiacute eu natildeo sei dizer adonde era natildeo natildeo me alembro se ela disse mas eu natildeo sei (

) se era na narcisa se era noutro (canto) natildeo sei natildeo ( ) sei que eles eram dessa dessa

dessa descendecircncia mas eu natildeo sei dizer da onde eacute

L1 dona Domingas o que eacute ser quilombola qual o significado dessa palavra pra

senhora

L2 e eu essa eu natildeo entendo muito bem muito bem eu natildeo entendo por isso que eu queria

que o ( ) tivesse aqui que ele entende mais melhor do que eu ele jaacute fez ( ) estudo ele ( ) mais

do que eu neh que ele passou ele passou seis anos assim presidente da associaccedilatildeo parte

que ele tem mais conhecimento mas natildeo ( ) ele taacute pra rua mas ser quilombola acho que eacute

ser vem dessa descendecircncia e assim das (coisas) tradicional as coisas da natureza

aprender e viver com a natureza eu acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre

assim vendo os iacutendios porque os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu

149

acho que ser quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima

da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as coisas

pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende as coisas com a

natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque aquele tempo dos dos dos

negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de leitura (nada nada) MAS com a natureza

eles aprendiam alguma coisa

L1 qual eacute o significado de ser quilombola pra comunidade o que a comunidade

pensa a senhora sabe dizer

L2 natildeo tambeacutem natildeo natildeo sei dizer natildeo ( ) eu eu soacute sei dizer que eacute eacute eacute eacute eacute uma um

tipo que eles quase juntocom o iacutendio com os iacutendios eles descobriram o Brasil neh

porque quem descobriu o Brasil mesmo foi os iacutendios neh e jaacute como aquele pessoal

naquele tempo ele jaacute viviam tambeacutem acho que eles ajudaram os iacutendios descobrir o Brasil

tambeacutem acho que ( ) soacute um soacute sei dizer que os negros ele ele eacute (federal) neh

L1 humrum

L2 ele eacute (federal) ele ele tem todo direito com certeza ele tem o direito (estremo) soacute

que soacute aqui ateacute hoje a gente natildeo tem ( ) ainda o conhecimento de tanto direito que a gente

tem tem muitas coisas ainda escondido por debaixo do tapete que ainda natildeo chega no

conhecimento de muita gente que aacutes vezes ele eacute quilombola ele eacute NEGRO mas ele ainda natildeo

tem conhecimento dele ser negro ele ainda fica dizendo que ele natildeo eacute negro porque pra

tem gente assim que pensa que dizer negro eacute aqueles escravos daquele outro tempo ah

negro jaacute tempo de negro jaacute passou era aquele tempo aiacute natildeo aqui mesmo na minha

comunidade tem gente assim porque ele eacute negro eacute da mesma famiacutelia eacute da mesma mas ele

ainda natildeo pensa dizer que ele eacute negro porque ainda ainda taacute na mente dele que o negro eacute

daquele outro tempo

[

L1 eacute aquele negro escravo

L2 aquele negro escravo aquele negro pobre daqui que natildeo tem nada como ainda tem na

mente deles mas natildeo eacute o negro eacute eacute ele foi muito reconhecido neh e tem muito eacute soacute

que eu eu disse pra o (Isaldo) (Isaldo) tu tem muito mais conhecimento no dia que a Edilene

vir eu precisava que tu tivesse laacute porque eu sei que ele tem MAIS esse conhecimento (tem)

que agora no dia vinte de novembro a gente vai fazer uma atividade aqui neh (ontem eu

fui) dizer pra Nazareacute Nazareacute eu queria que cecirc fosse pra cecirc daacute uma palestra laacute na (tal)

comunidade saber muita gente saber que (eacute negro) e eu quero aprender tambeacutem mais e tem

muita gente que natildeo sabe nem um pouquinho o tanto que eu sei ( ) a gente vai fazer no dia

vinte de novembro eacute a nossa ( ) eacute soacute neh (a santa jaacute veio) aqui em casa aiacute a gente

pensou ia ser era pra ser amanhatilde dia vinte de novem de outubro aiacute eu fiquei pensaando e

disse Isaldo PORQUE porque o Isaldo era presidente era meu irmatildeo mas eu eu me

comunico muito com ele tudo que eu quero fazer eu pergunto pra ele Isaldo porque noacutes

num num faz no dia no dia vinte de novembro que eacute o dia da consciecircncia negra neh

aiacute ele disse natildeo sei natildeo vai ( ) no dia de semana eu digo ( ) meio de semana mas eacute eacute

feriado pra noacutes eacute feriado e po quecirc que a gente natildeo faz aiacute ele disse seraacute que vai daacute algueacutem

digo a gente convida outra comunidade quilombola neh que venham participar junto

com noacutes aiacute fizemos uma reuniatildeo por isso que eu digo que de vez em quando noacutes estamos

reunindo eacute eacute por causa disso neh aiacute fizemos uma reuniatildeo aiacute joguei a proposta aacuteiacute todo

mundo aceitou mas soacute meu marido que natildeo porque ele quer ( ) como eacute que uma pessoa vem

que eacute meio de semana digo vem sim ( ) se falado com o tempo ageitam um carro neh a

gente taacute chamando querendo chamar os ( ) (olha) que eu jaacute passei com o Dinho que eacute

secretaacuterio de cultura neh ele jaacute veio aqui logo quando ele ele ( ) scretaacuterio ele veio aqui

aiacute ele procurou qual era a atividade qual era qual era as (futuras) ( ) dizendo pra ele aiacute

ele disse que quando fosse dessa soacute anda ele queria pra mim participar com bem tempo

antes antes ele queria ele ia (ajudar) da maneira que ele pudesse mas isso aiacute tem

150

fevereiro parece marccedilo (aiacute quando foi) essa semana eu passei com ele ele disse que jaacute

correu atraacutes de umas ( ) pra ajudar neh aiacute tem aquele outro Anderson tambeacutem ele ele

sempre ele liga pra caacute diz que ele quer ajudar tambeacutem ele quer vir aqui ( ) PRA

AJUDAR E A GENTE TAacute VENDO ASSIM REUNINDO PRA VEcirc COMO Eacute QUE

NOacuteS VAMOS FAZER sobre alimentaccedilatildeo porque quando foi ontem noacutes tava nessa

reuniatildeo nessa reuniatildeo vem vaacuteria vem gente de vaacuterias comunidades quilombola porque

vem tipitimga vem (presidente de laacute) vem jacareacutequara ( ) vem da mariana que eacute noutro

municiacutepio mas vem tambeacutem neh ele faz parte da rede bragantina E AIacute EU QUANDO eu

lancei a proposta laacute na reuniatildeo todo mundo (quer vir) pra caacutetipitinga quer vir

jacarequara quer vir ( ) quer vir agora eu jaacute tocirc imaginando eacute alimentaccedilatildeo como eacute que noacutes

vamos fazer pra alimentaccedilatildeo desse povo de querer vir eu quero aiacute jaacute fica pensando neh aiacute

a mulher ( ) dona Maria disse que vir tambeacutem aiacute amanhatilde natildeo ( ) pode ter muita gente

eles disseram que natildeo ia daacute nigueacutem noacutes temos muita gente que quer vir aiacute noacutes vamos pensar

como eacute que noacutes vamos fazer ( ) que eacute o dia da consciecircncia negra tem muita gente aqui que

natildeo sabe ( ) assim neh ( )

[

L1 a senhora me

convida taacute

L2 jaacute taacute convidada ( ) (risos) jaacute taacute convidada a gente tem uns convites ali neh que a gente

preparou uns convites aiacute ficou pra mim sentar na comunidade vecirc como eacute que vai ser pra

gente entregar os convites mas (a senhora) natildeo esqueccedila jaacute anota aiacute (eu lhe aviso) dia vinte de

novembro

L1 vai ser o dia todo

L2 eacute o dia todo porque assim taacute na programaccedilatildeo primeiro porque a gente todo ano faz

a reza neh primeiro uma pequena procissatildeo pega a santinha numa casa se organiza aiacute

vai quando chega na igreja reza tem ano que noacutes reza aqui tem ano que ( ) o pessoal

gostam porque eacute mais ventilosa neh aiacute eles vem aqui aiacute reza daiacute serve o almoccedilo daiacute se

tiver um leilatildeozinho leilatildeo um bingo aiacute a tarde eacute partida de futebol como os meninos tem

essa ajuda aiacute capoeira eles vatildeo paresentar capoeira a Andresa ela disse hoje ah matildee eu vou

ajeitar as meninas pra noacutes apresentar um uma danccedila laacute uma danccedila de (carimboacute) aiacute a gente

taacute vendo assim ( ) ser um dia festivo um dia de todas as atividades se querer outros

gruupos doutra comunidade se tiver um grupo que queira apresentar alguma coisa vai ter

tambeacutem espaccedilo

L1 vou daacute uma ideias depois qual sentimento assim SENTIMENTO sentimento o quecirc

que a senhora sente quando pela palavra por essa por essa palavra que que que fala

quilombola

L2 assim o meu sentimento

L1 hum rum

L2 eu gostar eu gosto ( ) me se se sinto muito bem

L1 se sente

[

L2 ( ) bem com certeza

L1 taacute essa pergunta tambeacutem eacute um pouco jaacute houve algum tipo de des discriminaccedilatildeo

L2 jaacute

L1 sobre a sua descendecircncia sobre a palavra quilombola

[

L2 jaacute

L1 o que foi

L2 eacute agora que natildeo agora jaacute recente que natildeo neh mas antes quando a gente (informava)

( ) a a associaccedilatildeo aqui quilombola quando descubriram porque isso aiacute veio veio assim

descubrir que era que era quilombola porque na narcisa laacute e eacute a a matriz neh como

151

a minha matildee veio pra caacute aiacute laacute formaram a associaccedilatildeo aiacute o meu meu primo ficou dizendo

olha tem mais gente porque assim quilombola eacute assim adonde cecirc tem parente porque

noacutes tem irmatilde no guajaraacute cigano aqui pro pra paragominas (natildeo) ipixuna neh mas a

hora que eles chegar aqui o lugar deles tatildeo aqui aiacute esse subrinho da mamatildee ficou dizendo

olha eu tenho uma tia que ela mora aqui que era aqui na pimenteira ela mora daqui natildeo sei

quantos quilocircmetros se um dia ela vir pra caacute tem lugar dela aqui disse tem com certeza o

lugar dela taacute aqui ela natildeo nasceu aqui aiacute tudo bem quando foi um dia ele veio passear

aqui aiacute ele foi disse pra mamatildee que se ( ) contou laacute a situaccedilatildeo neh aiacute eu disse que tem que

que cecirc tem que cecircs tatildeo pra caacute mas (vocecircs fazem parte laacute da narcisa) o dia que cecirc quirer ir

laacute ai a mamatildee disse natildeo pra laacute eu natildeo vou laacute se um dia elas quererem vir aqui esse pessoal

quererem vir aqui pra gente conversar ( ) conversar a gente conversa aiacute num belo dia de

domingo chegou trecircs umas quatro pessoas ( ) aiacute chamaram a mamatildee e ele perguntaram se

a mamatildee queria ir pra narcisa a mamatildee disse que natildeo aiacute se (mas) a mamatildee fazia parte do

quilomBOLA da da da associaccedilatildeo laacute da narcisica AIacute soacute que (naquele) tempo tinha

celebraccedilatildeo aiacute o (coacutedigo) que ficava com ( ) neh ficava muito na frente assim aiacute ela disse

que aqui natildeo formava porque quilombola eacute uma pessoa eacute negro que sabe contar o que vem

das tradiccedilatildeo de primeiro e esses que tavam na frente assim era era gente branca e sabia

que eles natildeo sabiam natildeo tinham nada com a ver com quilombola ( ) neh aiacute ( ) daqui aiacute o

(chaga) disse eles natildeo disseram aqui pra noacutes disseram laacute pra o chaga ah chaga laacute parece que

vai ser difiacutecil formar uma associaccedilatildeo de quilombola porque laacute quem taacute na frente mais satildeo

os brancos e laacute natildeo tem nada a ver com com negro a gente faz pergunta eles natildeo sabem

nada ( ) mas aiacute no decorrer do tempo a gente foi foi pegando conhecimento (eles vieram

aqui) mas naquele tempo a gente era muito criticado naquele tempo ( ) muito criticado bem

dizer assim ah bora entrar na associaccedilatildeo ( ) ah ( ) entrar na associaccedilatildeo pra ser negro eu

natildeo quero ser negro vocecircs querem ser diziam neh ( ) aacutes vezes assim (minhas

cunhadas) querem ser negro eu natildeo quero ser negro eu natildeo vou entrar na associaccedilatildeo

negoacutecio de ser negro negro neh escravo aiacute eles comeccedilavam assim fazer caccediloagem

diziam pra ser pra ser pobre mais de que era aacutes vezes eles diziam neh ser negro pra ser

pobre mais de que eacute noacutes jaacute somos pobres ainda ser mais pobre ( ) natildeo era assim natildeo aiacute desse

tempo agora agora recente natildeo a gente natildeo vecirc mais essas coisas mas logo no comeccedilo a

gente via dizia que negro era aquele um que andava sujo que andava com a unha suja que

andava com o cabelo sem pentear neh ((risos)) tinha gente que dizia aiacute eu jaacute ouvi muito

agora natildeo agora esses tempos natildeo ouvi mais acho que jaacute chegou no conhecimento neh

aquele que natildeo tinha nada pra comer ((risos))

L1 eacute com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas a senhora conhece reconhece que

vocecircs tem esse direito direitos

L2 eu conheccedilo um pouco

L1 quais

L2 assim a gente tem direito ((pigarreio)) assim numas pro porque assim eu natildeo

sei quase lecirc neh mas do pouquinho que eu sei a gente pega o estatuto aiacute um estatuto que

que foi tirado em on em Beleacutem foi feito um estatuto neh a gente tem vaacuterios direitos a

gente que AINDA NAtildeO CONHECE bem qual eacute os direitos que a gente tem e aiacute quando a

gente faz reuniatildeo sempre eu digo gente a gente tem que pegar aquele estatuto pra gente lecirc pra

gente discubrir qual eacute o tanto direito que a gente tem nos noacutes tem tanto direito mas noacutes veve

escondido laacute noacutes veve ainda natildeo taacute no conhecimento nosso pra saber o tanto direito que

a gente tem porque se a gente descobrir o tanto direito que a gente tem o direito que a gente

tem eacute um direito muito grande neh Eacute MUITO

[

L1 vocecircs tem o estatuto

L2 tem

L1 hum pra comunidade toda

152

L2 isso

L1 quem eacute que que ler esse estatuto fica na matildeo de quem

L2 aqui em casa taacute aqui mas sempre quando eu digo assim olha bora fazer uma reuniatildeo pra

lecirc o estatuto pra todo mundo mas sempre eacute naquela correria mai a gente vai lecirc custa muito

bora cuidar nas outra coisas no que tem fazer aiacute

L1 como vocecircs conseguiram esse estatuto

L2 noacutes noacutes fizemos assim neh da comunidade na comunidade escrevemos o que

era que noacutes queria dentro da comunidade qual era as leis que noacutes ia botar aiacute foram

escrevendo e levaram pra registrar

L1 ah eacute o estatuto

L2 da associaccedilatildeo

L1 da comunidade

L2 da comunidade sim da associaccedilatildeo

L1 ah da asso-ci-a-ccedilatildeo da pimenteira

[ [

L2 da associaccedilatildeo isso hum rum

L1 dos quilombolas da pimenteira

L2 isso

L1 hum natildeo eu digo assim o estatuto que eu falo eacute da da da de quem eacute

quilombola

L2 natildeo

L1 esse a senhora natildeo conhce

[

L2 natildeo natildeo esse daiacute natildeo

L1 hum agora sim existe alguma associaccedilatildeo na comunidade e eu queria que a senhora

falasse da associaccedilatildeocomo foi que veio essa ideia da da associaccedilatildeo como foi que surgiu

como foi que ces criaram por que criaram

L2 eacute eacute essa aiacute comeccedilou a gente a gente tinha jaacute era comunidade neh antes da

associaccedilatildeo era comunidade aiacute veio um um professor da universidade era ateacute cardoso o

nome dele aiacute ele aiacute comeccedilou (entrar) pequenos projetozinho assim pra caacute mas assim

feito jaacute assim pouquinho natildeo era que nem primeiro fez um projeto do duma casa de

farinha atraveacutes do da pastoral da crianccedila natildeo natildeo natildeo existia associaccedilatildeo foi um pequeno

projeto ( ) da pastoral da crianccedila aiacute depois um projeto de nesse tempo da casa de forno

veio um um caititu pra ralar mandioca e um motosserra aiacute depois um pequeno projeto

pro gado mas tudo da pastoral da crianccedila neh a gente faz aquele grupo de mulheres de

pessoas pra pra fazer um grupo e fazer as vaacuterias assinaturas pra ir pra laacute e o projeto vir

mas natildeo era associaccedilatildeo ningueacutem tinha nada de associaccedilatildeo estatuto nem ata nem nada ai

depois veio um zinho de do pimental um pequeno pimental neh umas estaquinhas

assim pra gente formar um (feijoalzinho) aiacute foi esse tempo foi que o professor cardoso

veio comeccedilar ( ) ele era teacutecnico neh pra daacute assistecircncia e aiacute ele comeccedilou a dizer olha porque

vocecircs num num formam uma associaccedilatildeo ( ) (vocecircs devem formar uma associaccedilatildeo) que se

vocecircs formarem uma associaccedilatildeo vocecircs tem vocecircs tem mais forccedila pra puxar as coisas mais

aiacute a gente comeccedilava a perguntar assim nesse tempo o ( ) ele ele era muito bem

introsado aqui com noacutes agora natildeo agora ele separou-se neh teve uma desavenccedila aiacute ele

nunca mais participou de nada aqui aiacute ele a gente comeccedilava a fazer pergunta pra ele

professor como eacute que faz a associaccedilatildeo eacute pra gente formar AIacute ELE comeccedilou a incentivar a

gente olha a gente faz a gente comeccedila a fazer umas pequenas reuniAtildeO na reuniatildeo a

gente depois que jaacute po jaacute tiver um bom conhecimento da reuniatildeo a gente vai escolher

o o presidente o secretaacuterio o tesoureiro aiacute vai daacute uma mensalidade que eacute pra gente

fazer a ATA QUE Eacute PRA REGISTRAR essa ata e a a associaccedilatildeo fica registrada e foi aiacute

que noacutes comeccedilamos neh sentava aiacute bora descutir como eacute que noacutes vai fazer pra noacutes ter

153

ter seguranccedila pra gente ficar mais junto aiacute fundemo a associaccedilatildeo foi aiacute isso aiacute que eu

tocirc dizendo que tem o estatuto desse tempo neh aiacute quem eacute o o presidente tal dia noacutes faz a

reuniatildeo pra escolher o presidente aiacute foi foi meu irmatildeo que foi a primeira vez e eu fiquei

como tesoureira e o ( ) era secretaacuterio e aiacute fomos formando a associaccedilatildeo quando a

gente jaacute tinha conhecimento (do que) era quilombola aiacute aiacute aa Nazareacute com Vicente jaacute tava

muito bem colocado conhecimento neh aiacute eles eles foram ajudando noacutes ateacute agora

ainda ainda somos muito mais que parceiro ( )

[

L1 ela

hoje tem c-n-pj

L2 a nossa comunidade

L1 natildeo a associaccedilatildeo

L2 tem

L1 taacute tudo ok

L2 taacute natildeo isso aiacute que eu digo que taacute atrasado neh ai taacute atrasado ateacute a gente pagava

ficou pagando vaacuterios anos quando foi nessa nessa mudanccedila porque assim na nossa

no nosso estatuto ela ( ) nenhum presidente podia passar quatro anos neh aiacute passou os

quatros anos fizemos a eleiccedilatildeo de NOVO foi ele DE NOVO ( ) assumiu de novo aiacute

depois venceu os quatro anos aiacute comecemos e pensar quem eacute que fica aiacute fica naquela

confusatildeo eu natildeo quero outro tambeacutem ah eu tambeacutem natildeo quero aiacute pronto vamos ( ) duas

vezes por ano duzentos reais pra noacutes pagar laacute anual neh aiacute nisso aiacute fomo esquecendo

fomo esquecendo de de de pagar os nossos deacutebitos aiacute quando EU fizemos a eleiccedilatildeo de

novo aiacute foi eu AIacute PRA noacutes reconhecer essa essa essa ATA da nossa nova diretoria

passou mais de ano essa multa jaacute tava laacute neh passou mais de ano soacute pra reconhecer quando

noacutes fomos reconhecer tivemos dinheiro PRA reconhecer a ata mas natildeo tivemos pra noacutes

pagar a nossa a nossa cnpj laacute na ( ) e nisso aiacute foi indo e aiacute agora eu jaacute corri com esses

documentos pra pra fazer saber pra pra a gente saber quanto eacute que noacutes deve

quanto eacute que a nossa pendecircncia o valor ainda natildeo foi descoberto tem vaacuterias coisas que

a gente eacute uma multazinha dum canto eacute uma multazinha do outro e a gente ainda natildeo

descobriu e hoje temos falta do recurso neh aiacute a gente jaacute ateacute sentou uma vez pra pensar

pra tirar uma madeira neh (vender) pra poder fazer os pagamanetos dessas dessa

dessa desse cnpj ( )

[

L1 haacute quanto tempo a a associaccedilatildeo esxiste desde

quan do dia que ela foi criada

[

L2 eacute eacute isso aiacute ela foi craida em em abril de dois mil e cinco parece que foi em

dois mil e cinco NAtildeO MAS ela foi registrada em dois mil e seis noacutes noacutes formemos dois mil

e conco neh aiacute passou aqueles tempos todo a gente se organizando daqui ela foi registrada

em dois mil e sete uma coisa a gente montar uma coisa a gente faz vaacuterias reuniatildeo neh

daacute certo pra tal dia daacute certo ( ) dia aiacute faz uma reuniatildeo aacutes vezes falta o presidente falta o

o o o secretaacuterio aiacute natildeo taacute bora deixar outro dia aiacute nisso o tempo vai passando mas ela

foi registrada em dois mil e ( )

L1 vocecircs jaacute conseguiram alguma coisa atraveacutes da associaccedilatildeo

L2 jaacute

L1 o que

L2 jaacute jaacute conseguimo um accedilude primeiro essa saber primeiro foi o accedilude neh foi

um projeto esse accedilude foi soacute que foi assim em parceria foi aqui e jacareacutequara porque o

tempo que formou aqui formou jacareacutequara aiacute a gente foi feito um projeto soacute para as duas

comunidades a a aqui aqui foi um accedilude laacute nem sei o que foi esse accedilude a gente ele ( )

fazer fez muito bem cada cada um um um mecircs um dia fica na responsabilidade de um

154

neh pra colocar os tratar dos peixes mas sempre fica aquilo sempre tem um soacutecio que

que natildeo nem liga pra ele tanto faz a gente trabalhar em comunidade negoacutecio de

associaccedilatildeo eacute eacute meio pesado eacute meio difiacutecil carece da gente ter muita paciecircncia aiacute vai com

a gente ia (despescar) o accedilude neh a gente juntava todo mundo iam pra laacute e era uma

danaccedilatildeo de menino sei que pegava os peixes a gente repartia noacutes ainda fomos umas trecircs

vezes ainda em santa luzia ( ) neh aiacute

L1 esse accedilude eacute aqui proacuteximo

L2 natildeo ele fica aqui ele ele secou ele esbandalhou deixa eu contar o restinho dele aiacute neh

quando dava chuva ele a gente tinha que ter um cuidado laacute porque ele tapava a boca do

cano carece da gente taacute limpanndo laacute quando se descuidava ele vazava por cima quando natildeo

ele queria estourar aiacute quando foi num dia fomos pegar peixe quando terminemo de

pegar o peixe que eles terminaram laacute laacute vem o tempatildeo foi chuva que entrou pela noite

chuveu (ainda) aiacute o meu irmatildeo esse (Isaldo) ainda ficou laacute lutando pra tapar neh e gente bora

ficar aqui passar essa chuva aqui porque noacutes natildeo vamos daacute conta desse accedilude ele jaacute tava

muito cheiatildeo mas os outros nem quase se incomodaram estavam mais ( ) neh e ai

ele ainda lutou lutou mas ele natildeo deu conta que quando foi de manhatilde ele amanheceu

estourado ESTOURADO mesmo grande grande que assim aiacute noacutes ainda fizemos vaacuterios

motiratildeo pra noacutes ir laacute manual braccedilal era homem era mulher era menino tentemo tapar

ele mas natildeo firmou quando veiio a chuva ( ) foi manual mesmo neh aiacute natildeo firmou estourou

taacute laacute estourado a gente jaacute pediu vaacuterias vezes assim fazer outro projeto pra gente

(reconseguir) mas ainda natildeo deu certo natildeo aiacute com noacutes com essas pendecircncias que noacutes tem e

agora que noacutes tava noacutes fizemos um projeto que veio um projeto daqui natildeo sei se vocecircs

tinham conhecimento daquele (fundo) ( )

L1 natildeo ( ) fundo

L2 fundo do (dema) neh eu tenho um um projeto que ( ) especificamente com a

indiacutegena e quilombola neh a gente fez mas a teacute hoje a gente natildeo tem seguuranccedila se foi

aprovado por causa dessa tendencia que a associaccedilatildeo taacute pendente

L1 hum rum dema neh

L2 fundo dema

L1 agora seguindo aqui o que a senhora acha da pimenteira da comunidade da

pimenteira

L2 assim que eu acho assim de de de de melhoria de ( )

L1 natildeo o quecirc que a senhora acha assim pensa da comunidade gosta natildeo gosta o quecirc

que a senhora o que pensa daqui

L2 natildeo eu gosto gosto acho bom soacute tem um uma coisa que natildeo que natildeo gosto muito

eacute eacute sobre obediecircncia aqui neh que nem todos aacutes vezes os soacutecios mesmos

desobedecem alguma coisa que a gente aacutes vezes conversa na reuniatildeo anota tudo

bonitinho aiacute a pessoa passa por cima da lei que a gente coloca que nem assim porque

assim aqui eacute eacute noacutes se diz coletivo neh nossa terra eacute coletiva a gente num tempo desse

que eacute o tempo eacute a evocadora do accedilaiacute a gente fica dizendo olha gente pra noacutes ter o maacuteximo

cuidado de com accedilaiacute aquele quando subir naquele naquela aacutervore naquele cacho que taacute

verde a gente ( ) deixa laacute que o outro vem e tira mas ainda tem gente que aacutes vezes soacute taacute

verde ele joga pedra joga no chatildeo aiacute nem ele nem o outro isso aiacute noacutes tem toda nossa

reuniatildeo a gente fala mas ainda natildeo conseguimos isso aiacute eu natildeo gosto disso daiacute natildeo outra eacute eacute

no veneno no garapeacute neh noacutes jaacute lutemos muito jaacute pelejemos bora deixar de botar aqui

botavam timboacute neh no no garapeacute a gente ( ) esse daiacute taacute quase eliminado esse daiacute taacute mais

ou menos natildeo taacute muito neh ainda tem gente que coloca mas vem de outra comunidade

no escuro de noite aiacute bota o pessoal vatildeo laacute eacute soacute peixe morto mas natildeoo eacute da nossa (tem) o

garapeacute aiacute vem gente doutro canto que a gente natildeo sabe nem quem eacute ( ) agora o accedilaiacute eacute da

proacutepria comunidade eacute noacutes mesmos os proacuteprios ( ) satildeo assim noacutes aqui pra noacutes noacutes tira quase

soacute pra tomar aqui dessa desse desse coletivo noacutes tira pra tomar ALGUMAS vezes que a

155

gente vende agora pra vender assim noacutes tem o nosso terreno particular neh que fica haacute

dois quilocircmetros daqui pra vender sempre eles tiram de laacute tempo da colheita de murubru

que a gente vende tambeacutem neh eacute outra outra eacute outra eacute quase que nem o (murumuru)

QUE NEM o accedilaiacute um jaacute vai entra na aacuterea do outro outro jaacute vai disque teve um tempo que

carregaram ateacute o jaacute tinham deixado juntado o outro foi laacute carregou (risos) e a gente

fica dizendo gente bora bora ver a aacuterea eacute grande eu quando porque qaundo foi pra

se cadastrar no murumuru soacute eu e o Isaldo que se cadastremo neh aiacute eu jaacute tava na aacuterea

coletiva que era soacute noacutes depois que todo mundo quase aqui se cadastrou eu natildeo ajunto mais

noacutes ajunta do nosso terreno eu jaacute deixo aqui pra eles porque os outros natildeo tem terreno

particuular soacute eacute eu e o meu irmatildeo que tem outro (outro) terreno particular o resto tudo

tudo atividade deles eacute dentro dessa dessa aacuterea coletiva neh

L2 hum rum

L1 e a gente sempre fica dizendo olha bora escolher uma aacuterea que fique mais perto da

nossa roccedila da nossa casa pra tu ir deixa daquele outro pro outro mas eles sempre eles ainda

ficam entrando na na aacuterea ningueacutem tem terreno de dizer esse aqui eacute o meu mas a gente

deve respeitar neh a aacuterea o que fique mais perto da casa do outro MAS natildeo acontece

isso e eacute uma coisa isso daiacute eu natildeo gosto tambeacutem porque num fica desarespeitando

SOacute QUE num daacute briga natildeo daacute assim confusatildeo mas acuteacuteas vezes ficam dizendo ahh eu

tinha ttal coisa assim e assim quando eu fui olhar rapaz jaacute tinham levado meu cacho de accedilaiacute

foi olhar em tal accedilaiacutezal assim jaacute tinham levado eu passei laacute no no tal accedilaizal assim

assim porque cada qual tem os seus nomes assim passei laacute adonde natildeo sei adonde rapaz

laacute eacute um estrago de accedilaiacute estrago de accedilaiacute que tava cada cacho grande jogado laacute no chatildeo

mesma coisa eacute os ( ) daiacute neh que natildeo eacute bom e eacute gente daqui mesmo proacutepprio satildeo soacutecio

da natildeo eacute doutro canto natildeo da da associaccedilatildeo da comunidade

L1 tens orgulho da comunidade

L2 tenho

L1 por que

L2 porque ela eacute reconhecida ( ) eacute reconhecida ela eacute muito falada nessa comunidade

muito muito mesmo muita gente jaacute jaacute jaacute veio aqui muita gente e atraveacutes da associaccedilatildeo

eu jaacute fui tambeacutem vaacuterios canto fuui muito encontro em Beleacutem jaacute foi no em Acaraacute

municipiacuteo de Acaraacute jaacute fui em Tomeacute accedilu atraveacutes da associaccedilatildeo eacute por isso que eu tenho

orgulho

L1 ok agora a gente vai pra uma outra etapa uma etapa da sua aacuterea faz uso das plantas

medicinais a senhora utiliza tambeacutem

L2 com certeza

L1 quem passou esse conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo das plantas

L2 hum rum

L1 pra senhora

L2 a minha voacute e a minha matildee minha voacute da parte da minha matildee da os meus avoacutes da

parte do meu pai natildeo conheci nenhum agora da parte da minha matildee conheci todos dois

L1 quem tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda quando a senhora tem um

problema de sauacutede eacute e decide procurar ajuda a quem recorre

L2 olha eu mesmo quando a sauacutede problema meu mesmo

[ [

L1 sua sua

L2 eu recorro a eu mesmo ateacute agora graccedilas agrave Deus ainda natildeo ainda natildeo deu deu

recorrer a ningueacutem eu mesmo neh com meus

L1 meacutedico

L2 ateacute agora natildeo ateacute agora eu jaacute fui na matildeo de meacutedico pra cirurgia pra me operar

neh natildeo ter mais

[

156

L1 de que

L2 pra natildeo ter mais

L1 filho

L2 hum rum a minha caccedilula eu eu queria ser operada aiacute foi mas de laacute pra caacute FOI A

UacuteNICA VEZ que ateacute agora tocirc com cinquenta e um anos mas num AacuteS VEZES faccedilo umas

consultinha assim quando a doutora vinha uma uma doutora aiacute ( ) aacutes vezes ela passava um

remeacutedinho mas eu quase nem tomava natildeo chegava assim a tomar

L1 ok como obteacutem as plantas que utilizacomo eacute que a senhora consegue essas plantas

L2 como eacute que eu consigo

L1 hum run

L2 eacute aacutes vezes eacute arrumando com outro colega trocando neh aacutes vezes eu natildeo tenho

daquela daquela planta aacutes vezes eu consigo ( ) troco como a dona Nazareacute a dona

Nazareacute ela ela tem muita planta ela tem muita ela eacute muita chegado neh aiacute a gente se

ela natildeo tem da marca que eu tenho eu jaacute dou daquele que eu tenho ela jaacute me ( ) aquele um

que tem que agora a gente taacute fazendo um monte de mistura natildeo sei se vocecircs tem

conhecimento da ( ) mistura neh

L1 hum rum

L2 aiacute a gente taacute fazendo assim ela laacute ela ela tem a semente de girasol e o farelo MAS

ela tem o farelo do poacute do arroz aqui na na comunidade eu jaacute levo a a a o poacute da casca

da da maca da folha da macaxeira da o gengili aiacute de laacute a gente jaacute faz todo junto jaacute

mistura jaacute eacute uma troca neh que a gente ( ) e aiacute eacute muito bom que ela a dia vinte e sete

vinte e oito de setembro noacutes tava num encontro do alimentaccedilatildeo alternativa aiacute era

um doutora clara ela eacute japonesa do japatildeo e aiacute ela tava dizendo quem come alimento

taacute comendo alimentaccedilatildeo e taacute comendo remeacutedio porque jaacute taacute comendo aquela alimentaccedilatildeo

que jaacute saiu do remeacutedio jaacute taacute ( ) mistura que ela ensinou neh e aiacute ela ficou ensinando

vaacuterias coisas que noacutes temos aqui que a gente deixa se perder aiacute joga fora e ela disse

que enquanto vocecircs tatildeo comendo aquilo vocecircs jaacute estatildeo se prevenindo vocEcircs jaacute tatildeo comendo

remeacutedio num carece vocecircs taacute laacute na farmaacutecia comprando remeacutedio pra vocecircs vocecircs jaacute tatildeo

comendo tatildeo se alimentando e tatildeo e eacute como eacute muita mistura ela ensinou tucupi que ela

ensinou que o tucupi eacute muito bom todo tipo de verdura ela ensinou e a gente a gente taacute

fazendo essa essa experiecircncia com a nazareacute e aiacute taacute dando certo ateacute agora muita mistura

noacutes tamo fazendo ela taacute vendendo MUITO MUITO muito

L1 ok quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia

L2 eacute o elixiparigoacute arruda a catinga de mulata a babosa tambeacutem mastruz

L1 hum rum

L2 corama

L1 hum rum

L2 (risos) vamos correr agora daqui em

L1 parece

L2 essas satildeo as plantas as

[

L1 satildeo as que mais usam neh

L2 hum rum isso natildeo tem aquele amor crescido tambeacutem ( )

L1 quais satildeo as partes da planta ou das ervas que a senhora mais utiliza satildeo utilizadas

L2 eacute eacute assim eacute das eacute as folhas e as casca mas dessa dessa uma que eu tocirc dizendo toda eacute

a folha dessas uma que eu disse agora ( ) pequenas soacute daacute de usar as coisas ( )

[

L1 a

maioria satildeo folhas e cascas

L2 isso

157

APEcircNDICE C ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Maria de Nazareacute

Reis

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA

CAMPUS DE BRAGANCcedilA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA

FICHA DE ENTREVISTA COM A SENHORA NAZAREacute

A) Entrevistado

1Nome

2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino

3 Endereccedilo

4 Idade(anos)

6 Naturalidade

7 Ocupaccedilatildeo principal

8 A Principal fonte de renda

9 Escolaridade

10 Haacute quanto tempo vive em Santa Luzia do Paraacute

11 Tens envolvimento com algum oacutergatildeo filantropia ou associaccedilatildeo Qual

12 Qual a sua origem De onde veio

13 Como conheceu a comunidade de Pimenteiras e haacute quanto tempo

14 Qual seu envolvimento com a comunidade

15 O que pensas da comunidade de Pimenteiras

16 Que significado ou representaccedilatildeo a comunidade de Pimenteiras possui para a senhora e

para o CEDENPA

17 Como estaacute o processo de titularidade da terra de Pimenteiras

18 Quais benefiacutecios a comunidade ganharaacute com a titularidade da terra

19 Na sua visatildeo o que marca a identidade da comunidade

20 Qual sua relaccedilatildeo com a comunidade e com os moradores da regiatildeo

B) Termo Quilombola

1 Como ocorreu o descobrimento sobre a descendecircncia quilombola dos moradores de

Pimenteiras

2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc

3 Na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de que

sejam descendentes de quilombolas

4Nos relatos dos moradores houve algum tipo de discriminaccedilatildeo contra eles sobre a

descendecircncia Quilombola

5 Com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas os moradores reconhecem os direitos que

possuem sobre ser Quilombola

6 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade

7 A senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre

essa Associaccedilatildeo

8 O que acha da comunidade da Pimenteira

9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc

10 Como procede a prova de ser ou natildeo quilombola Tem relaccedilatildeo com preservaccedilatildeo da

cultura para ser reconhecido

158

11 Houve grupos que desistiram do processo de identificaccedilatildeo devido a ausecircncia das

caracteriacutesticas culturais

12 Em Santa Luzia do Paraacute quais comunidades satildeo consideradas quilombolas e quais

possuem a titulaccedilatildeo da terra

13 O que caracteriza um quilombola

14 Qual o significado de reconhecer comunidades quilombolas Suas origens

15 Ser quilombola traz ainda caracteriacutestica de discriminaccedilatildeo Desigualdade racial

16 Quais outros direitos sem ser o da terra satildeo legiacutetimos aos quilombolas

17 Com relaccedilatildeo agraves Universidades quais contribuiccedilotildees podem ter para as comunidades

tradicionais

C) Plantas Medicinais

1 A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) incentiva os uso de medicamentos vindos de

produtos naturais devido a maioria da populaccedilatildeo natildeo ter acesso aos medicamentos de

farmaacutecia Nesse contexto a senhora acha que as ervas satildeo importantes

2 As ervas e as plantas servem para quecirc

3 Na sua concepccedilatildeo porque tantas pessoas satildeo atraiacutedas pela praacutetica de uso medicinal das

plantas

4 A senhora faz uso de chaacutes para o tratamento de doenccedilas

5 Muitos meacutedicos natildeo apoiam o uso de medicamentos caseiros Qual sua opiniatildeo

6 Haacute comunidades que trabalham com o uso das ervas medicinais

7 Como soube do uso das ervas pelos moradores de Pimenteiras

8 Na sua concepccedilatildeo o que marca a identidade da comunidade de Pimenteiras Satildeo as plantas

medicinais Satildeo os remanescentes de quilombolas Haacute outra caracteriacutestica

9 A senhora faz uso das plantas medicinais

10 Sobre a catalogaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinaisqual sua relaccedilatildeo ou influecircncia

nesse contexto

11 Como ocorreu o processo de catalogaccedilatildeo dos termos e por quecirc

12 Haacute moradores da comunidade de Pimenteiras que participam da cooperativa e produccedilatildeo

de medicamentos caseiros Como eacute esse processo

13 A senhora realiza alguma atividade de compra ou venda das plantas e produtos caseiros

14 A senhora conhece algum caso de cura de doenccedila atraveacutes do uso caseiro das plantas

15 Acredita no poder das plantas

16 Quanto aos produtos das farmaacutecias o que pensas

17 O que eacute a garrafada e a multimistura

18 Qual a relaccedilatildeo com a moradora Domingas E os trabalhos que ela mesma produz

19 O que eacute o trabalho com o bioenergeacutetico e porque acabou

20 Qual envolvimento da associaccedilatildeo com as plantas medicinais

21 O trabalho com as plantas medicinais eacute praticado apenas pelas mulheres Os homens natildeo

se envolvem Por quecirc

159

APEcircNDICE D - Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Maria de Nazareacute Reis entrevista

no dia 26 de setembro de 2014

L1 seu nome

L2 Maria de Nazareacute Reis de ( )

L1 data de nascimento

L2 vinte e cinco do sete de mil novecentos e cinquenta e dois

L1 endereccedilo

L2 rua tiradentes sessenta e dois

L1 idade

L2 sessenta e dois

L1 naturalidade

L2 beleacutem do Paraacute Brasil

L1 a sua ocupaccedilatildeo principal

L2 eu sou a minha prof eu sou formada neh como engenehira agrocircnoma e a minha

ocupaccedilatildeo eacute acessoria aos grupos produtivos grupo de mulheres grupos de associaccedilotildees

cooperativas de agricultores familiares dentro da rede bragantina

L1 entatildeo eacute em que trabalha essas ( )

L2 como

L1 em que trabalha

L2 eacute principalmente na aacuterea alimentar na aacuterea de nutriccedilatildeo na aacuterea de ( ) na aacuterea de

organizaccedilatildeo popular na aacuterea de de incentivo a produccedilatildeo (agroecoloacutegica)

L1 haacute quanto tempo mora em santa luzia

L2 santa luzia dois mil e cinco para dois mil e catorze nove anos neh a parti da data que

eu casei fiquei aqui ((risos))

L1 tens contatao com algum oacutergatildeo ou filantropia

L2 sim

L1 qual

L2 oacutergatildeo eacute centro de estudo de defesa do ( ) do Paraacute a filantropia tem obras sociais da

diocese de Braganccedila tem (imenso) neh vaacuterios ((risos)) melhor dizendo natildeo eacute imenso natildeo

vaacuterios

L1 qual a sua origem de onde de onde a senhora veio

L2 eu sou de Beleacutem nasci e me criei em Beleacutem mas desde que me formei sempre

trabalhei em comunidades rurais agricultura familiar (me formei) em mil novecentos e

sessenta e seis

L1 como conheceu a comunidade pimenteira e haacute quanto tempo

L2 eu (queria) nove anos neh quando eu conheci a partir de quando eu vim morar pra caacute

aliaacutes foi ateacute antes de nove anos porque como temos a escola neh a escola de alternacircncia

para os jovens agricultores em dois mil no ano dois mil quando a gente iniciou teve

dois alunos da pimenteira que foram aluno da escola hum e aiacute jaacute cheguei dentro da da

praacutetica da pedagogia da alternacircncia noacutes visitamos as familias desses alunos na comunidade

entatildeo a partir daiacute eu conheci a comunidade

L1 qual eacute o seu envolvimento com a comunidade

L2 como acessoria neh nos grupos produtivos como eu falei que a a associaccedilatildeo ela faz

parte ela integra a rede bragantina da ( ) solidaacuteria e ela dentro dessa integraccedilatildeo a

gente eacute eacute como acessoria dentro do do por ela ser uma comunidade quilombola tem

um uma referecircncia dentro do centro de estudo e defesa do meio do Paraacute que eu

represento aqui na regiatildeo neh entatildeo atraveacutes do sedenpa a gente faz essa acessoria

viabiliza alguns alguns momentos projeta poliacuteticas puacuteblicas que satildeo disponiveis

especiacuteficas para essas comunidades

L1 o que a senhora acha da comunidade de pimenteiras

160

L2 em que sentido

L1 eacute o quecirc que ela o quecirc que a comunidade traz assim na representaccedilatildeo o quecirc que

ela representa assim pro sedenpa o quecirc que ela representa pra senhora assim ela tem algum

significado

L2 olha ela a comunidade ela ela eacute significativa ainda em biodiversidade neh a

gente tem rio tem ainda uma floresa ainda tem modo de produccedilatildeo ((tosse))eacute eacute ainda

tem o modo de produccedilatildeo muito assim pro proacuteximo da produccedilatildeo sustentaacutevel neh entatildeo

eacute muito significativo nesses aspectos que vamos dizer se afinam com o projeto que o

sedenpa defende que a escola ( ) defende neh o projeto de sustentabilidade eacute tendo

como ator e protagonista os agricultores e as agricultoras familiares

L1 entatildeo a senhora tem orgulho da comunidade

L2 sim ela eacute realmente uma comunidade que vale a pena investir o conviacutevio tambeacutem (eu

dou soacute apoio) laacute para eles ((risos))

L1 e como estaacute o processo de titularizaccedilatildeo da terra

L2 o processo taacute em andamento neh ainda nem a gente sabe

[

L1 natildeo finalizou

L2 ainda natildeo finalizou a gente sabe que eacute muito demorado neh e agora no final do mecircs de

agosto a gente enviou uma carta pra associaccedilatildeo noacutes juntos JUNTOS com a associaccedilatildeo

neh a a entregamos uma protocolamos uma carta no incra pra que eles viessem na

comunidade pra dizer em que peacute estaacute o processo porque o asseacutedio sobretudo nessa eacutepoca

de roccedilado muito grande os fazendeiros estatildeo confinante colocam fogo o fogo entra na

mata neh muitas vezes gente da proacutepria comunidade que natildeo tem assim eacute eacute tem a

cabeccedila do opressor neh como Paulo Freire costuma dizer aiacute querem fazer negociaccedilatildeo com

terra ainda bem que a comunidade tem lideranccedilas fortes neh que consegue

enfrentar e freiar mas realmente as titulaccedilatildeo eacute uma uma uma questatildeo assim muito

latente que eacute eacute facilita essas esses desvios neh de de de pessoas da comunidade

querendo vender terra onde confinantes que pretendem de uma form ou de outra tentar

enfraquecer a comunidade expulsar enfim

L1 o que a comunidade vai ganhar com essa titularizaccedilatildeo

L2 eu acho que ganha principalmente a confianccedila neh de de a confianccedila de ser donos

legais da terra e de jaacute se jaacute se sentem donos da terra mas hoje tudo tudo vocecirc tem que

ter papel neh ((risos)) entatildeo eu acho que isso vai ser muito positivo pra eles neh quando

tiver essa titulaccedilatildeo

L1 e o que marca assim a identidade de pimenteira assim na sua visatildeo

L2 na minha visatildeo eacute a

L1 quando fala em pimenteira assim

L2 lembra assim como eu jaacute falei pra vocecirc neh a biodiversidade O USO dessa

biodiversidade neh embora que jaacute tivesse um pouco assim sendo relegada neh

pelos in pelas pessoas do locais devido a essa essa ausecircncia de incentivo ausecircncia de

poliacuteticas puacuteblicas neh agora que comeccedilam despertar pra valorizar o artesanato que essas

pessoas produzem ah o que existe na mata que eles podem ainda taacute utilizando como

pra sua sauacutede pra seu alimento entatildeo isso daacute daacute marca a pimenteira neh e graccedilas agrave deus

a gente taacute conseguindo resgatar com o apoio da rede bragantina do sedenpa da escola

atraveacutes da formaccedilatildeo e de curso e de pessoas que a gente traz aqui eles participam as

mulheres os jovens os adultos isso tem ajudado eles perceberem que eles estatildeo no meio

ainda de uma RIQUEZA neh que ainda tem viabilidade sustentabilidade as

geraccedilotildees que ali nascem enfim

L1 qual eacute a sua relaccedilatildeo com os moradores da comunidade

L2 como assim

L1 como eacute o acontato se tem um contato direto se eacute um contato

161

[ [

L2 olhe eacute o contato a

gente procura sempre canalizar via associaccedilatildeo via lideranccedila por aqui pra natildeo

individualizar eacute a gente cecirc sabe como eacute a as pessoas o ser humano tem tendecircncia a se

aproximar dialogar sentar com aqueles com que eles se afinam aqueles que a gente natildeo

simpatiza a gente nem olha ((risos)) pelo contraacuterio neh entatildeo a gente procura fazer

TER como (ouvir) isso eacute eacute problemaacutetico quando isso acontece neh vocecirc conhece laacute a

comunidade vocecirc sabe que ali tem lideranccedilas que ao longo dos anos sempre ficaram

assim se tipo coman-dan-do a comunidade neh e que inclusive natildeo satildeo natildeo satildeo da do

da da da raiz das pessoas que chegaram laacute natildeo saotilde da da da famiacutelia tronco dos

dos negros neh dos afrodescendentes que eles estatildeo mas que tinham o controle muito

grande era uma celebraccedilatildeo era fazia um fazia outro neh e isso ainda eacute eacute

preocupante neh entatildeo a gente procura ter como referecircncia a associaccedilatildeo a gente natildeo manda

um o convite ou chama fulano presidente ( ) da associaccedilatildeo vem aqui natildeooacute isso aqui eacute

pra associaccedilatildeo AHH ASSOCIACcedilAtildeO entatildeo taacute se referindo ao conjunto das pessoas que estatildeo

ali organizadas neh eacute claro que na comunidade alguns natildeo estatildeo participando da

associaccedilatildeo mas pra noacutes a referecircncia eacute a associaccedilatildeo esses que estatildeo fora olha tatildeo fora por

que querem por sua livre e espontacircnea vontade tambeacutem natildeo eacute obrigado a entrar ateacute

porque foram vocecircs que criaram POREacuteM a referecircncia pra noacutes eacute a associaccedilatildeo eles tem sido

ateacute dificultoso porque infelizmente no oacutergatildeo no no nas no no nos oacutergatildeos puacuteblicos

neh seja do municiacutepio seja do estado muitas vezes se cria essa relaccedilatildeo pessoal pega

aquela lideranccedila neh ahh entatildeo a gente fica sempre batendo olha eacute associaccedilatildeo eacute associaccedilatildeo

mas eacute natildeo eacute faacutecil ((risos))

L1 como descobriu que os moradores de pimenteira eles tem descendecircncia quilombolas

L2 bem a gente em princiacutepio eles contaram a histoacuteria deles neh que eles tem uma eles

satildeo uma parentela da narcisa neh que se desmenbrou e andando nas terras vieram

parar aqui tanto que eles satildeo muito vizinho satildeo parente mesmos neh e depois quando

eles comeccedilaram quando foi instituiacuteda instituiacuteda natildeo quando foi colocada em praacutetica

neh o artigo cento e sessenta e oito da constituiccedilatildeo neh pelo presidente Lula aiacute se

comeccedilou a ver a saber sim noacutes tem uma histoacuteria essa histoacuteria taacute sendo esquecida taacute sendo

relegada neh e o proacuteprio incra neh por vamos dizer assim por uma exigecircncia de

titulaccedilatildeo a proacutepria fundaccedilatildeo palmares eles fizeram neh o levantamento antropoloacutegico na

comunidade entendeu entatildeo eles constataram que realmente eles tem uma um passado

neh que foi dessa desse refuacutegio dos negros neh pras beiras dos rios pras matas pra

criar suas moradias e manter suas suas tradiccedilotildees

L1 o que eacute ser quilombola e qual o significado dessa palavra pra senhora

L2 pra mim neh pra mim o que eacute ser quilombola pra mim oacute pra mim acho que ser

quilombola eacute principalmente conhecer a sua histoacuteria assumir a sua histoacuteria trazer a

sua histoacuteria para o presente neh e colo evidenciar essa histoacuteria seja atraveacutes da das

suas praacuteticas do seu jeito de ser neh

L1 eacute na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de

ser quilombola

L2 com estranheza neh porque ser quilombola como eu falei pra vocecirc eacute assumir sua sua

identidade sua histoacuteria neh entatildeo essa histoacuteria natildeo eacute contada na escola os livros natildeo trazem

isso neh as as figuras que tem no livro eacute sempre a figura da menina loirinha neh natildeo eacute

a figura da pra ensinar o alfabeto Eacute A UVA NAtildeO Eacute O CARAacute que eles conhecem de

LONGOS anos neh e por aiacute vai entatildeo eles receberam assim neh alguns jaacute se apresentam

dizendo eusou fulano de tal moro na comunidade quilombola tal mas eacute alguns neh diz

eu sou fulano de tal moro na pimenteira neh significa que ainda tem um coisa que eles

natildeo natildeo que eles faccedilam de propoacutesito mas que eles ainda num neh conseguem neh

assumir colocar isso AFIRMAR isso significa pra noacutes uma afirmaccedilatildeo que nem todos

162

fazem mas a gente entende porque eles passaram e sofreram toda essa essa histoacuteria

NAtildeO SOacute eles como negro no Brasil sempre teve vergonha de ser negro por uma sociedade

brasileira que neh entre aspas se diz que natildeo eacute racista mas que tem um racismo hoje a

gente taacute vendo neh sendo provocado sendo questionado na sociedade a gente vecirc claramente

neh posiccedilotildees racistas na nossa sociedade

L1 com relaccedilatildeo aos moradores eles relataram algum tipo de descriminaccedilatildeo com relaccedilatildeo

a descendecircncia deles

L2 sim laacute e aqui nas escolas inclusive o caso aqui das escola eles me eacute me

trouxeram conhecimento do caso aiacute noacutes fizemos uma carta pra diretora da escola daqui

pelo sedempa assinamos (porque) o sedempa estadual e mandamos pra diretora pra que

ela tomasse providecircncia porque senatildeo a gente ia ter que tomar providecircncias legais e as

providecircncias legais todo mundo sabe neh que racismo eacute crime neh eu acredito que

depois pelo menos as meninas de laacute em geral isso soacute soacute eacute denunciado por pessoas que jaacute

tem uma uma certa consciecircncia natildeo sei claro que talvez ainda tenha caso de racismo na

escola mas que todo mundo fica calado neh assume aquela aquele aquela aquele

GESTO como normal como uma questatildeo de infecomo ser inferior aiacute num eacute assim

L1 e com relaccedilatildeo aos direitos os moradores reconhecem eles conhecem os seus

direitos como quilombolas

L2 sim aos poucos a a medida que as questotildees vatildeo vatildeo surgindo por exemplo tem uma

questatildeo da terra olha quilombola tem direito a terra legalizada eles conhecem neh a

medida que as poliacuteticas puacuteblicas aproximam do dia a dia do concreto deles eles vatildeo

tomando esse esse conhecimento natildeo eacute dizer que eles cochecem tudo natildeo neh

porque tem coisas que agora por exemplo vestibular das cotas neh que eacute recente quer

desligar ((risos))

((corte de gravaccedilatildeo))

L1 entatildeo voltando a pergunta o que acha eacute com relaccedilatildeo aos moradores como eacute que eles

reconhecem se eles reconhecem a a questatildeo dos direitos possuem sobre ser quilombola

L2 pois eacute como noacutes estaacutevamos eacute colocando neh eacute eles reconhecem a medida que eles vatildeo

sentindo na praacutetica vendo na praacutetica neh seja a questatildeo da terra aacutes vezes eles escutam

na televisatildeo mas como se eles natildeo vatildeo atraacutes ou se eles natildeo se colocam como detentores

daquele direito isso parece que eacute o processo mais demorado neh o exemplo eacute agora o

vestibular das cotas neh que da pimenteira teve soacute um ano que fez uma menina daqui

que ela morava aqui em santa luzia neh ela eacute filha de dona Domingas e agora esse ano

tem uma que taacute fazendo neh aliaacutes que taacute querendo fazer mas ontem ateacute dei uma bronca

um pouco nela porque eles aacutes vezes eles quererm priorizar festa em vez do estudo e a

a no caso da educaccedilatildeo neh que assim mais eacute assim muito fazer cumprir exige

um grau de mobilizaccedilatildeo e ateacute de articulaccedilatildeo no iniacutecio do ano por exemplo a professora da

comunidade laacute do do broca que tem a turma parece que daacute natildeo sei tem algumas turmas

que vatildeo o ocircnibos leva ela para o broca neh esse pessoal tava quarenta e poucos dias

porque natildeo teve transporte aiacute a professora me ligou e disse olha o pessoal da pimenteira

taacute sem aula eles tem direito a educaccedilatildeo ao transporte e eles natildeo tatildeo (vindo) pra aula eu

digo ah eacute liguei mas o que eacute que taacute acontecendo que vocecircs natildeo procuraram natildeo a gente

vai vai vai atraacutes mas eles ficaram de mandar o transporte se natildeo natildeo chegar essa semana

a gente vai sabe muitas vezes eacute uma acomodaccedilatildeo pprincipalmente no caso do da

educaccedilatildeo neh que a gente vecirc natildeo eacute soacute laacute na cidade educaccedilatildeo em santa luzia tem um

tem um retrocesso assim horrivel neh e por ai vai se eles eles sabem que tem o

direito neh alimentaccedilatildeo escolar eles sabem que tem o direito de vender ateacute com com

o valor superior ao neh para os quilombolas dentro do programa nacional da da

alimentaccedilatildeo escolar por lei eles tem direito a um valor mais alto na me na alimentaccedilatildeo

escolar neh mas eles natildeo vatildeo atraacutes quando o gestor fa tem sensibilidade daacute quando

163

natildeo tem diz que tem que ser igual pra todo mundo como eacute que taacute acontecendo agora

entatildeo eacute assim muito muito difacuteacuteicil porque isso exige uma grande mobilizaccedilatildeo

organizaccedilatildeo neh que eacute um processo educativo contiacutenuo o pessoal vem de uma histoacuteria de

de sempre ficar relegado e acha que vai ficar a vida inteira relegado mesmo que tenha

poliacuteticas puacuteblicas que tenham ( ) direito seus neh e que realmente natildeo eacute faacutecil soacute pra eles

soacute pra ilustrar neh ( ) sei que vocecirc vai transcrever a gente taacute numa luta que a gente

ficou desde do da da saiacuteda do prefeito louro a gente ficou com sem receber dos

produtos que a gente entregava para alimentaccedilatildeo escolar neh que ateacute hoje taacute na justiccedila

ainda mas isso a gente tem que ir atraacutes de advogado de um e de outro numa comunidade natildeo

eacute faacutecil se natildeo for acessoria dificilmente eles vatildeo atraacutes disso entatildeo daiacute uma uma questatildeo

assim que natildeo eacute NAtildeO Eacute SOacute que depende dependa soacute deles neh mas que depende de

todos um uma relaccedilatildeo social que eles possam construir e que essa relaccedilatildeo social possa

neh ajudaacute-lo nessa nessa luta por isso que eu perguntei pra vocecirc olha a gente vai

precisar da tua ajuda tem que somar forccedila com a gente nessa histoacuteria porque se natildeo difiacutecil

L1 eacute a senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade

L2 sim

L1 fale um pouco sobre essa associaccedilatildeo

L2 entatildeo a associaccedilatildeo eles tinham algum (embriatildeo) de associaccedilatildeo que natildeo era assim

vamos dizer legalizada entatildeo pra eles darem prosseguimento a que natildeo era tambeacutem

criada como associaccedilatildeo quilombola era associaccedilatildeo que foram assim acho que

incentivadas antes deu chegar aqui ela jaacute tava por laacute com a questatildeo de (FNO) essa coisa toda

neh DEPOIS pra ele se legalizarem como quilombola o tinha um programa em

Beleacutem o programa raiacutezes neh que eles elaboraram mais ou menos com o apoio de advogados

no estatuto padratildeo que pudesse orientar quais os termos que deveriam ter no estatuto

neh que que eacute eacute passariam por um processo legal pra depois ser levado para cartoacuterio

pra um e pra outro entatildeo a nossa contribuiccedilatildeo foi muito nesse sentido de mostrar olha

a resoluccedilatildeo um meia oito da da constituiccedilatildeo resoluccedilatildeo natildeo o artigo um meia oito da

constituiccedilatildeo brasileira ele fala isso e isso alguns desses pontos tem que taacute constando aqui

natildeo citando a a a o decreto o artigo laacute da constituiccedilatildeo mas coisas que tatildeo citam

laacute que satildeo direitos (principalmente) na questatildeo da da dos recursos naturais da da da

venda da terra enfim entatildeo a ajuda foi mais nesse sentido de ajudar eles entenderem a questatildeo

legal neh juridicamente legal pra poder encaminhar registro pra porque depois

esses documentos no caso vatildeo pra incra vatildeo pra interpa quando eacute o caso de terra do estado

vai para fundaccedilatildeo palmares pra poder obter a certificaccedilatildeo entatildeo a contribuiccedilatildeo foi muito

nesse campo mais legal da da legalizaccedilatildeo

L1 hum rum e mais assim como eacute a questatildeo de de provar que eacute quilombola

isso eacute difiacutecil eacute uma situaccedilatildeo que AH eles tem uma caracteriacutestica quilombola ou eles

satildeo quilombolas mas aiacute pra o processo de ( ) eacute muito eacute muito dificil pelo que eu percebo

L2 a titulaccedilatildeo da terra

L1 sim

L2 eacute porque depende do estado neh no sentido mais amplo laacute no caso eacute oacutergatildeo federal a

aacuterea neh

L1 hum rum

L2 as outras comunidades que tem aqui foram aacuterea do estado entatildeo cecirc sabe que o

estado tem uma esfera burocraacutetica muito pesada neh e aiacute vai tem que vir antropoacutelogos pra

fazer a o levantamento histoacuterico da famiacutelia pra vecirc quais foram as histoacuterias enfim pra ter

esse reconhecimento natildeo eacute soacute assumir

L1 aiacute no caso pra pra provar essa questatildeo de quilombola neh com relaccedilatildeo a

preservaccedilatildeo da cultura

L2 hum rum

L1 isso ajuda no sentido do reconhecimento

164

L2 ajuda porque quando eu nunca fiz um levantamento antropoloacutegico ateacute porque natildeo sou

antropoacuteloga mas ( ) eu fiquei sabendo de outras comunidades e tambeacutem ouvindo assim

uma uma pessoa que teve aqui da fundaccedilatildeo palmares eles fazem todo esse traccedilo todo

esse perfil da CULtura dos santos que valorizam das ladainhas que ainda fazem

entendeu entatildeo tudo isso taacute presente na na identificaccedilatildeo neh na identificaccedilatildeo e e

reconhecimento da da comunidade como sendo afrodescendente

L1 hum devido a isso a senhora tem conhecimento de algum grupo que tenha desisitido

do processo de identificaccedilatildeo por perceberem que natildeo tem mais assim essas

caracteriacutesticas

L2 hum natildeo bem aqui natildeo tenho esse conhecimento tem alguns que ainda tatildeo um

(bocado) deles ainda tatildeo na luta pela terra neh mas eles jaacute tem essa identidade assumida

neh eu natildeo tenho natildeo algum que tenha desistido

L1 eacute com relaccedilatildeo a uma fora

L2 ((risos))

L1 mas assim com relaccedilatildeo quilombola quais quais comunidades aqui em santa luzia satildeo

comunidades consideradas quilombolas

L2 pimenteira jacareacutequara tipitinga e trecircs voltas que jaacute estatildeo vamos dizer assm com o

processo praticamente concluiacutedo tipitinga jacareacutequara jaacute com a titulaccedilatildeo neh

L1 jaacute estatildeo com a titulaccedilatildeo

[

L2 jaacute estatildeo intitulados trecircs voltas ainda pendende eacute pimenteira tambeacutem

taacute ainda pendente das que eu sei satildeo essas

L1 o que caracteriza um quilombola hoje

L2 hum hum ((risos)) eacute eacute uma eacute uma mistura neh porque eacute as pessoas vatildeo

incorporando haacutebitos da sociedade (mais geral) porque ele natildeo taacute isolado neh ele taacute no

meio o meio externo influencia comportamento haacutebitos neh entatildeo a a cultura eacute acho

que eacute uma coisa que ajuda mais a identificar os haacutebitos alimentares e a cultura o uso

dos recursos como a gente tava falando entatildeo foi por ai que a gente taacute trabalhando esse

projeto de fortalecimento com as mulheres de valorizaccedilatildeo da cultura eles chegavam

aqui o caraacute por exemplo eacute um alimento que todo mundo tem natildeo eacute soacute em comunidade

quilombolaque tem neh mas as pessoas tinham vergonha de chegar aqui pra oferecer um

quilo de caraacute que eacute um alimento neh

L1 hum rum

L2 as pessoas tinham vergonha de usar um chaacute uma erva (ia) para o posto de sauacutede

neh entatildeo a gente taacute procurando valorizar essa cultura justamente naquilo que doacutei na

barriga ou doacutei no corpo neh pra que eles possam

L1 por que reconhecer quilombos qual eacute o significado de reconhecer essas

comunidades

L2 eu penso que eacute um signi eacute um significado importante para o Brasil neh que a

populaccedilatildeo brasileira eacute foi formada por esse por esse povo que foi trazido pra caacute que

teve toda essa miscigenaccedilatildeo que ainda tem as suas raiacutezes muito assim latente na

religiosidade popular neh embora tenha sido muito quebrada neh com o catolicismo

romano mas que eu acho que eacute importante pra populaccedilatildeo brasileira neh reconhecer a

sua origem a sua histoacuteria a sua cultura mesmo os que tatildeo na cidade satildeo tem uma boa parte

que satildeo negros negros neh entatildeo natildeo pode esquecer essa histoacuteria o povo que esquece

sua histoacuteria ((ruiacutedo)) eacute um povo fadado a ficar mercecirc de qualquer vento neh e hoje a

devido esse processo de de colonizaccedilatildeo pesada que teve natildeo soacute aqui no Brasil mas acho

que no mundo inteiro as pessoas comeccedilam a ateacute um parecircnteses fecha ai teu teu

gravador que natildeo eacute coisa assim da da pesquisa

L1 hum rum

L2 que esses islatilde neh esses grupos mulccedilumanos que tatildeo ( ) eu fiquei assim horrorizada

165

que eles postam assim na internet neh eu ( ) a facebook mas a gente abrir esse mesenger e

aiacute outro dia tava passando aqui na tele na tv Brasil que a gente assisti muito aqui neh e tava

falando que esse povo eles pra eles cultu poliacutetica eacute religiatildeo econocircmia uma coisa soacute

eles natildeo fazem distinccedilatildeo como eacute no Ocidente cultura ocidental natildeo eacute natildeo tem a ideia

desagregada neh entatildeo isso natildeo foi a toa essa desagregaccedilatildeo natildeo foi a toa essa

fragmentaccedilatildeo cultural e hoje esses grupos que satildeo minorias tatildeo procurando

reconstituir isso neh e muitas vezes usando da violecircncia usando da forccedila a gente fica

chocado mas quan-tos anos ele vem sofrendo de neh de colonizaccedilatildeo eu-ropeia

colonizaccedilatildeo dos Estados Unidos massacre e tudo mais aiacute esses grupos hoje estatildeo atraacutes

dessa identidade muitas vezes a pessoa vecirc violencia pela violecircncia natildeo vai atraacutes da

HISTOacuteRIA que que gerou aquela violecircncia neh

L1 a origem

L2 a origem enfim entatildeo acho que tem um pouco tem um paralelo que daacute pra pintar

neh L1 aiacute nesse nesse nesse aspecto a gente chama neh um pouco a questatildeo da

desigualdade racial

L2 eacute

L1 e entatildeo eacute um ponto tambeacutem que traz essa perspectiva do do fato de ser

quilombola tambeacutem ter a margem neh essa essa

L2 hum rum

L1 essa caracteriacutestica neh

L2 isso

L1 nesse aspecto como eacute que a senhora vecirc essa questatildeo da desigualdade mesmo racial

L2 eacute algo assim que ainda vai se passar por um processo histoacuterico que tem um

fundamento principalmente na na educaccedilatildeo neh se noacutes tivermos educaccedilatildeo que possa

eacute eacute comeccedilar a desmistificar essa desigualdade neh esse racismo seja pelo cor seja pela

opccedilatildeo religiosa seja pela opccedilatildeo sexual isso ajuda mas a escola ainda se se esse

debate (natildeo eacute presente) neh aiacute o o debate que vocecirc vecirc o natildeo eacute debate neh a televisatildeo

talvez mostrando (aquele) racismo neh eacute homossexual que foi espancado que foi

mor-to entatildeo um negro que foi preso neh enfim entatildeo ateacute que isso

realmente mude essa configuraccedilatildeo eu acredito que soacute um processo educativo amplo

infelizmente o processo educativo mesmo com toda a discussatildeo que taacute hoje colocada mas

ainda eacute o processo educativo do do do letramento neh o processo em discussatildeo pra

formaccedilatildeo de cidadania entatildeo se natildeo tem esse processo educativo nessa perspectiva do

ser cidadatildeo aiacute ainda temos que passar por muitas geraccedilotildees pra poder chegar uma neh

uma sociedade sem racismo ( ) sem desigualdade

L1 que tipo de outro benefiacutecio eacute legiacutetimo sem ser o da terra

L2 hum rum

L1 pa-ra os quilombolas

L2 aleacutem do da da terra temos a questatildeo da educaccedilatildeo a prioridade em determinadas

questotildees de sauacutede puacuteblica neh tem um um caso que eacute muito muito quase que especiacutefico

embora aconteccedila no ( ) da anemia ( ) neh que eles tem que ter tratamento diferenciado

acesso diferenciado a sauacutede mas talvez muitos por natildeo conhecer natildeo sabem muitas vezes

nem sabe que tem o problema neh que eacute a anemia ( ) entatildeo acho que esses direitos tem

que o direito tambeacutem do do dos terreiros neh os terreiros sempre foram demonizados

e que eacute uma uma expressatildeo da religiosidade neh mas satildeo direitos que natildeo vatildeo ser

faacutecil de serem conquistados porque se vc tem uma comunidade que taacute reconhecida como

quilombola aqui essas pessoas tem relaccedilatildeo de vizinhanccedila que outras comunidades que natildeo

satildeo quilombolas neh entatildeo se elas estatildeo fazendo laacute um terreiro os os que natildeo satildeo

quilombola podem ateacute ir laacute frequentar pedir um chaacute pedir uma uma reza na cabeccedila MAS

noacutes sempre colocar neh como natildeo aquilo ali eles fazem cruz ( ) neh

L1 hum rum ( )

166

L2 penso que eacute isso neh seus direitos

L1 e com relaccedilatildeo ao papel da universidade como se se a senhora vecirc essa contribuiccedilatildeo

da universidade sobre as comunidades tradicionais

L2 ahh o papel da universidade eacute muito importante mas como a gente tava dizendo

a pouco tem a diversidade tambeacutem dentro da universidade neh a universidade em

constituiccedilatildeo de ensino soacute pra te daacute um exemplo acho que ainda tenho ai um caso assim

horrivel de racismo que teve na universidade federal do Paraacute com uma soacute natildeo lembro se ( )

eacute professor de laacute a Cristina Chaves natildeo sei se tu conhece aiacute ela ficou assim tatildeo

chocada mandou carta a gente enfim ( ) nessa hora ( ) mobilizaccedilatildeo vai passando carta um

pra o outro neh eu natildeo sei te relatar assim mais mas foi com o professor ateacute neh

teve tinha uma discussatildeo com os alunos E o professor claramente (externalisou) posiccedilatildeo

de racismo entatildeo a universidade ela taacute formando neh e taacute taacute formando profissionais

mas dentro desses profissionais se esse debate tambeacutem natildeo eacute levado as ppessoas entram laacute

vindo da escola da educaccedilatildeo baacutesica neh sem essa formaccedilatildeo neh entatildeo se ela chega

na universidade e a universidade natildeo procura pelo menos eacute vecirc ou colocar na nessa

questatildeo neh aiacute eacute complicado neh vai continuar o cidadatildeo ou cidadatilde com essas

praacuteticas MUITO IMPORTANTE entatildeo o papel da universidade nesse processo AS COTAS

por exemplo parece que o os uacuteltimos estado deles do sitema de cotas foi aqui o Paraacute neh

e olha que nem ( ) passado mi teve uma menina da narcisa que fez a prova neh ela foi

selecionada que ela eacute ateacute professora na (comunidade) eacute uma moccedila muito aplicada e eles

vem aqui neh a gente foi fez a inscriccedilatildeo da Francisca e tal a Francisca foi selecionada ela

voltou comigo para fazer o negoacutecio da declaraccedilatildeo neh que eu digito claro que natildeo sou eu

que assino quem assina eacute a ( ) ai fizemos a declaraccedilatildeo mandamos no dia que essa menina

foi se inscrever chegou laacute E DEIXA estar que a menina laacute do sedempa da ( ) tinha me

avisado ahh Francisca passou ahh que bom porque aacutes vezes a gente fica sem

comunicaccedilatildeo aqui de internet neh aiacute me disseram a nota que ela tinha tirado ela passou foi

classificada Francisca tu passastes no dia que essa moccedila foi pra Braganccedila fazer a matriacutecula

dela olha chegou laacute natildeo num passou Francisca tu passastes natilde-o arreda o peacute daiacute pelo

amor de deus grande favor que tu vai me fazer tu vai enfrentar esse povo deixa aiacute taacute por

azar nesse dia mal a gente coonseguia mandar mensagem por esses telefones aqui de santa

luzia liguei para a professora Georgina vocecirc conhece neh a professora Georgina olha ( )

eu tocirc em Beleacutem aqui me consultando mas diga pra ( ) nuacutemero ligar liga pra natildeo sei quem

uma hora da tarde eu acho que ele viu que ela ficou laacute e natildeo arredou o peacute encontraram laacute

natildeo sei quem depois que fui saber que natildeo era soacute o caso dela a professora ( ) tava com uma

lista de gente que ela tava tentando resolver por conta de eles inventavam um inventavam

outra pra natildeo matricular sabe eu disse olha ( ) a luta do negro eacute essa pensa que jaacute

acabou a discriminaccedilatildeo a desigualdade tu taacute vendo na praacutetica natildeo abre matildeo fica aiacute noacutes

vamos pertubar enfim eles vatildeo a tua vaga taacute garantida tu passastes menina tu fostes

classificada entendeu sei que graccedilas a deus ela ta laacute na UFPA em braganccedila neh tem

dois do tipitinga tambeacutem que tatildeo laacute tem dois do jacarequara esse ano tem uma turma maior

por por coincidecircncia ((risos)) agora o sedempa e a (malu) conseguiram na casa da

linguagem que eacute da fundaccedilatildeo curro velho professores eles vatildeo fazer trecircs poacutelos de PRE-

paraccedilatildeo e redaccedilatildeo por isso que desculpa por isso que eu te perguntei mas tu jaacute chegasse

((risos)) que eacute a moccedila que eu tocirc esperando ela chega agora meio dia que ela me ligou ontem

disse olha eu vou no ocircnibos das nove eu digo taacute tudo bem ela vai ficar saacutebado e domingo

na escola soacute treinando essa turminha em redaccedilatildeo pra eles fazerem o seletivo mas eu tocirc

dizendo pra eles oacute vocecircs tem que lecirc o ano inteiro vatildeo lendo vatildeo treinando os alunos da

escola que ainda tatildeo fazendo o primeiro do EJA neh eles natildeo satildeo obrigados a fazer mas

a gente taacute ateacute incentivando pra eles verem como eacute a prova neh a fazerem a prova e tudo

haacute uma dificuldade mas tem tem que entatildeo eacute isso neh desculpa que eu falo muito acabo

ateacute me perdendo (natildeo sei se tocirc respondendo o que tu tem)

167

[

L1 natildeo taacute sim

L2 hum ( )

L1 hum rum

L2 mas a desigualadade neh nesse campo aiacute eacute bem presente quando eles vatildeo tentar

(essa) universidade hum se preparem eu digo olhem se preparem pra brigar ((risos)) se

vocecircs natildeo brigarem natildeo vatildeo esperar soacute que o sedempa mande carta que a professora Zeacutelia (

) VOCEcircS TEM tambeacutem que brigar junto gente senatildeo natildeo tem combate

L1 verdade agora a gente vai pra um outra caracteriacutestica da entrevista que eacute com relaccedilatildeo as

ervas e plantas

L2 hum rum

L1 ( ) entatildeo a gente sabe que a organizaccedilatildeo mundial da sauacutede ela ela incentiva o uso

desses produtos neh desses produtos naturais porque a maioria da populaccedilatildeo ela natildeo tem

acesso a medicina de farmaacutecia

L2 hum rum

L1 ai nesse contexto a senhora acha que as ervas elas satildeo importantes

L2 eu digo as ervas e o saber neh num tem como dissociar o saber sobre o uso das

ervas entatildeo acho que eles satildeo satildeo realmente importantes e satildeo eacute muito importante que

a gente faccedila valer esse esforccedilo isso que a gente taacute fazendo VEM fazendo pra que as pessoas

voltem a valorizar porque taacute sendo mui-to ( ) mais comum a pirataria taacute dentro neh

e a apropriaccedilatildeo desses saber tambeacutem tatildeo muito forte a gente tem um exemplo aqui no

municiacutepio na regiatildeo da natura neh que compra desse pessoal (murumuru) neh que a

gente sabe que compra noacutes fizemos em dois mil e dez haacute quatro anos atraacutes um projeto

que se alchama chamava alfabetizaccedilatildeo e negritude pra alfabetizar adultos que ainda

num natildeo sabiam ler nem escrever ainda neh e aiacute foi um projeto pequeno que o sedempa

conseguiu recur-so aiacute veio uma amiga nossa treinamos as monitoras inclusive essa

menina que passou foi umas das treinandas neh e enfim fizemos com muito es-for-ccedilo

neh os recursos era pequeno sabe a menina veio essa professora que tambeacutem eacute uma

professora muito comprometida trabalha em Beleacutem e a gente vinha e ela vinha e taacute

passado recom graccedilas aacute deus conseguimos tem depoimentos assim interessantes de

pessoas que se alfabetizaram neh que hoje CONTInuaram estudar neh tatildeo num MAS

eu digo sempre olha vocecircs tem que abrir o olho a natura nunca deu um laacutepis UM

LAacutePIS pra essas comunidades pra ajudar nesse processo vai laacute tirar os recursos que tem

e pronto neh no nosso caso aqui eacute murumuru mas a gente tem casos por ai que eles estatildeo

mandando o pessoal plantar priprioca (esturaque) sabe agora jaacute tatildeo aqui procurando

outras coisas eu digo olha soacute vou entrar soacute vamos entrar se for pra sentar na mesa e

discutir de igual pra igual se natildeo for eu aconselho vocecircs natildeo irem mas se vocecircs quiserem

ir natildeo posso proibir neh se vocecircs acharem que eacute soacute o olhar do dinheiro vatildeo mas se vocecircs

acharem que tambeacutem passa por um reconhecer aquilo que vocecircs fazem aquilo que vocecircs

tem que vocecircs vocecircs guardaram de geraccedilotildees aiacute a histoacuteria muda neh a histoacuteria muda a

gente senta com eles mas de igual pra igual esse negoacutecio de vir aqui raspar e tudo e natildeo

darem nada de retorno entatildeo natildeo eacute por aiacute ENTAtildeO Eacute IMPORTANTE eacute eacute eacute necessaacuterio

que outros profissionais se engajem no sentido de mostrar a importancia dessas ervas

agora dia vinte e cinco de julho vinte quatro e vinte cinco de julho noacutes fizemos uma oficina

sobre oo uso de fitoteraacutepicos neh aquelas ateacute pra fortalecer o trabalho desse grupo de

mulheres neh e enfim a (bolsa cortou) assim vaacuterios casos sobre isso

L1 as er-vas e as plan-tas elas servem pra que

L2 ah soacute vocecirc perguntando pra elas ((risos)) elas vatildeo te dizer assim um LE-QUE neh

((risos))

L1 um leque ( )

L2 eacute um leque

168

L1 por que tanta gente ela eacute eacute atraiacuteda neh pra essa praacutetica de uso da das plantas das

ervas

L2 aacutes vezes por estar mais proacuteximo aacutes vezes por uma um passar de informaccedilatildeo neh

entre famiacutelias entre parentes vizinhos neh que que comeccedilam a usar a partir dessas

informaccedilotildees acho que a importacircncia eacute por ai

L1 eacute o que a senhora acha do uso de chaacutes no tratamento das doenccedilas

L2 eacute bom neh aacutes vezes as pessoas usam pela indicaccedilatildeo do saber popular agora com a

questatildeo do que taacute sendo colocada da do do ministeacuterio da sauacutede da anvisa neh jaacute

se precisa ter determinados cuidados MAS a gente vecirc que eacute um comeacutercio que soacute cresce

neh olha por exemplo elas fazem aqui a garrafada tem um parece que dois produtos que

elas colocam que natildeo tem aqui e a gente tem que comprar naquelas casas de ervas em

Beleacutem neh entatildeo eu quando vou pra Beleacutem eu docirc esse apoio eu fiquei horrorizada de vecirc o

quanto aumentou o nuacutemero de caso e vendendo essas ervas ali em Beleacutem e uma vez

eu tava laacute esperando que tinha muita gente pra ser atendido aiacute a mulher perguntou mas ( ) a

vendedora que vai receitando ahh minha nossa senhora ((risos)) entatildeo soacute taacute crescendo

esse esse uso dessas plantas neh dessas ervas enfim ( )

[

L1 talvez por isso existem

meacutedicos hoje que natildeo apoiam natildeo dizem que natildeo fa natildeo eacute bom

L2 eacute

L1 no caso desse uso natildeo ser (nada)

[

L2 hum rumdiscriminado algumas vezes a a formaccedilatildeo

deles eacute totalmente elitista neh que dis natildeo reconhece que o saber natildeo eacute soacute o saber

acadecircmico dele neh mas tem que saber o das pessoas neh e tudo isso que dicer de certo

modo vai encontra de encontro neh a a uma praacutetica de dominaccedilatildeo de mais de

quinhentos anos cau-sa is natildeo soacute estranheza mas tambeacutem causa essa divulgaccedilatildeo

contraacuteria neh vocecircs natildeo sei se vocecircs assistiram eu natildeo assistir ateacute porque essa rede

globo eu natildeo assisto embora algumas vezes passe alguma coisa que preste ((risos)) a gente

natildeo pode generalizar neh mas que aquele Bruno Varela neh EU fiquei sabendo

porque eu faccedilo bioenergeacutetico em Beleacutem neh eu durmo em Beleacutem ( ) jaacute faccedilo haacute mais

de quinze anos de bioenergeacutetico eu faccedilo meus exames cliacutenicos neh com o meacutedico

(omeopata) que ele ele vou laacute com plano de sauacutede e faccedilo exames de sangue fezes e urina

porque eles natildeo podem me guardar isso eu tenho que ser o se natildeo tivesse teria que fazer

particular e aiacute nesse dia que eu fui no bioenergeacutetico elas tavam comentando que ele acabou

com a babosa mas colo fez uma propaganda assim horriacutevel neh eu digo meu deus do ceacuteu

um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo que eacute a rede globo tu imagina a repercussatildeo que isso teve

quer dizer que se vocecirc natildeo tem pessoas pra ir contra isso neh aiacute pronto a rede globo que

diz eacute verdade o que ela taacute passando sabe entatildeo taacute por traacutes dele a multinacional que patrocina

a rede globo taacute por traacutes ENes neh eacute uma rede poderosa de de de controle neh

controle econocircmico controle poliacutetico que patrocina tudo isso neh entatildeo natildeo eacute faacutecil

L1 existe outras comunidades que trabalham com o uso de ervas

L2 assim de forma sistemaacutetica aqui na re-gi-atildeo natildeo conheccedilo mas no dia a dia com certeza

que trabalhe e usam ervas PARticiparam desse curso que eu falei pra vocecirc dessa oficina as

outras comunidades que satildeo daiacute de bragantina de ViSEU de augusto cocircrrea natildeo de

viseu e de cachoeira do piriaacute elas estiveram aqui neh aiacute a gente comeccedilou olha bora

comeccedilar botar em praacutetica assim de forma mais estruturada e tudo elas disseram que iatildeo

comeccedilar a fazer aqui na comunidade mesmo neh

L1 hum rum

L2 vecirc se vatildeo

L1 como a senhora soube do uso das ervas pelos moradores da pimenteira

169

L2 a gen-te conversando neh aacutes vezes tatildeo laacute e ahh isso aqui eacute um chaacute aacutes vezes mesmo

chegaram agora ahh isso aqui eacute uma planta Eacute isso aqui eacute uma planta e aiacute ela na conversa

muitas vezes espontacircnea elas vatildeo falando aiacute quando a gente comeccedilou esse trabalho na

pimenteira noacutes dissemos bora fazer do do bioergeacutetico neh bora fazer um

inventaacuterio um (herbaacuterio) do que tem aqui umbora aiacute uma amiga minha de Beleacutem era

bioacuteloga ela tava formada ela natildeo tava trabalhando era uma pessoa muito disponiacutevel neh aiacute

eu falei com ela ela disse ahh ( ) ela veio ficou uns trecircs dias na pimenteira soacute ao redor ela

natildeo andou a comunidade toda ela fez um registro de oitenta plantas plantas medicinais a

gente ateacute tem esse esse herbaacuterio neh digitado tudo direitinho no herbaacuterio a identificaccedilatildeo

das plantas ela anota aiacute elas iatildeo olha isso aqui eacute isso serve pra isso sabe (bons) tempos eacute

sim a gente ficou

L1 na sua concepccedilatildeo a o que marca a identidade da comunidade pimenteira satildeo as

ervas satildeo os quilombolas por que haacute outra caracteriacutestica

L2 eu digo que satildeo a a biodiversidade que tem laacute presente neh e dentro dessa

biodiversidade estatildeo as ervas neh estatildeo as ervas estaacute o accedilaiacute enfim porque eles vivem dessa

biodiversidade acho que isso que marca ainda eacute uma comunidade que tem uma uma

sustentaccedilatildeo ainda muito assim vinculada a biodiversidade que tem laacute e laacute vocecirc tem o

solo tem o rio tem as ervas neh tem a floresta onde eles enfim eacute esse ainda eacute

eacuteclaro que hoje todos oscomunidades tem gente que eacute funcionaacuterio puacuteblico (talvez) laacute

natildeo tenha ningueacutem da comunidade porque a dona neneacutem eacute agente de sauacutede mas ela natildeo eacute da

comunidade tem tem bolsa famiacutelia tem aposentados mas ainda eacute uma comuni que marca eacute

a biodiversidade que ainda eacute muito forte laacute dentro taacute

L1 a senhora faz uso das plantas medicinais

L2 faccedilo lhe mostrar minha receita ( ) de energeacutetico ((riso)) as minhas garrafadas que eu tomo

tambeacutem

L1 eacute qual eacute a sua relaccedilatildeo ou (fluecircncia) nessa catalogaccedilatildeo dos termos quando eu falo

termos eu falo das ervas das plantas

[

L2 das ervas

L1 dos nomes delas neh sobre as plantas (medicinais) pelos moradores

L2 assim eacute

L1 como ocorreu esse processo

L2 ess especifi a gente iniciou como eu falei para vocecirc neh no iniacutecio do trabalho em dois

mil e oito foi o primeiro mandato do governo Lula que teve o projeto a gente comeccedilou a

neh teve o apoio pra fazer isso noacutes comeccedilamos a fazer aiacute o nosso o nosso incentivo o

nosso trabalho PRIMEIRO tentar daacute uma uma visibilidade mas uma visibilidade

assim com certo com certo grau de informaccedilatildeo aiacute por exemplo deixa eu pegar aqui pra te

mostrar a dona Domingas faz laacute a tintura de de de deixa eu pegar aqui ( ) laacute de Beleacutem

(quando a gente sai do serviccedilo compra laacute mesmo) ( ) entatildeo apre uma apresentaccedilatildeo do

produto mesmo que ele seja mas ele taacute numa embalagem adequada ele taacute identificado neh

a garrafada neh aiacute a gente coloca produto fitoteraacutepico artesanal o que tem aqui dentro a

composiccedilatildeo a data que foi fabricada e aqui o nome neh centro popular mil sauacutede das

mulheres da associaccedilatildeo remanescente quilombo da pimenteira coloca os contatos sabe

que as pessoas ligam ou pra dar sugestatildeo ou pra pedir como jaacute aconteceu ( )uma queria

uma garrafada personalizada outra ((risos)) tem todas esses esses detalhes neh entatildeo a

contribuiccedilatildeo eacute nesse sentido pra que esse produto chegue ao consumidor num grau de

confiabilidade pelas informaccedilotildees que tem dizendo quem faz entendeu o endereccedilo pra

contato entatildeo eacute muito assim ali na associaccedilatildeo tem mais das ervas todinha

L1 existem moradores na pimenteira que participam da cooperativa com a produccedilatildeo dos

medicamentos com as ervas como eacute esse processo

L2 tem a aiacute soacute um detalhe neh a associaccedilatildeo neh ( ) na cooperativa neh

170

L1 hum

L2 eacute eles contribuem neh com a aacutes vezes identificando por exemplo tem uma planta

laacute que no iniacutecio desse trabalho a gente identificou que eacute o bacuri e eles disse que eacute bom

pra glaucoma e tambeacutem o meacutedico neh amigo nosso disse realmente essa planta ela tem

esse poder neh e aiacute ela ( ) faz um coliacuterio antigamente assim assim assim soacute que taacute

acabando MEU DEUS do ceacuteu aiacute depois ela ( ) esse morador ELE esse homem ele veio pra caacute

ela taacute aqui na cidade agora ( ) esse homem laacute neh que a gente ( ) no carro levou ateacute laacute de

carro ( ) ele tentar ( ) porque ela disse que ela natildeo sabe ( ) ele sabe neh aiacute ela disse noacutes

temos que ir laacute com esse homem aiacute quem aleacutem de identificar esse capim sabe laacute saber se

esse homem natildeo tem que a gente natildeo pode deixar se perder inclusive viu Edileuza (da

outra vez que tu vir) com a gente eacute assim a gente taacute querendo criar a casa do ( ) ( )

no no no na linguagem ( ) eacute aquele idoso que transmite as histoacuterias ( ) pra outros neh ( )

aiacute a dona Maria do Carmo que tamb5eacutem eacute afrodescendente ela do lado tem uma feacutezinha

fui laacute em ( ) ahh bora fazer o seu Severino que vocecirc conhece neh laacute do do tipitinga ele

tem o sonho de fazer a festa de satildeo miguel que laacute eles fazem (nossa senhora de santana) ( )

religiosidade catolicismo neh aiacute ele disse bora Cilene bora ver o que a gente faz eacute em

setembro soacute que sem ah natildeo eu acho que eacute amanhatilde dia de satildeo miguel vinte e nove neh

amanhatilde natildeo eacute por esses dias vamos fazer noacutes vamos comeccedilar se reunindo os os ( ) a

velharada toda ((risos)) falei assim pra ele mas pra isso tem que ter um carro pra pegar esse

povo pegar laacute na pimenteira pegar num canto pegar no outro pra ir pra o cristo agora

fiquei sabendo que padre (quebrou o feno) aiacute vamos (vecirc) esse pessoal todinho porque

tem que ter um carro pra levar e trazer eles ou ou ( ) a gente pode se ( ) passo laacute na

num no tipitinga ou algo enfim mas o importante eacute reunir essa (velharada) toda pra

ouvir as histoacuterias dele animar natildeo deixar eles assim soacute O IDOSO QUE taacute precisando de

cuidado de ( ) tomar o remeacutedio na hora certa mas que ele se sinta um idoso ainda uacutetil pra

sociedade pra vocecircs pra comunidade neh mas natildeo foi possiacutevel fazer esse ano por conta de

milhares de compromissos neh tudo isso neh quantas vezes tu me ligasse eu tava

acompanhando tambeacutem o trabalho da doutora Kiara Brandatildeo nas comunidades aqui e

mas mas ainda natildeo saiu esse plano da nossa cabeccedila neh de fazer essa ( ) natildeo sei se a

gente vai fazer setembro do ano que vem mas a gente tem que (comeccedilar) ( ) o importante

que a gente comece a pegar esse pessoal e tentar neh o pai da dona Domingas que tava

te falando eacute soacute ela aiacute ela nem participa mas agora ela tem que cuidar dele que ele jaacute taacute

muito idoso e tudo TEM PESSOAS que daqui haacute um tempo pode ser ateacute que a gente faccedila

nossa viagem antes dele mas a gente sabe neh que de repente natildeo vai mais contar com eles

pronto vai embora um patrimocircnio toda uma histoacuteria um saber que ficou pra traz neh e isso

nas comunidades quilombolas eacute importante aacutes vezes o pessoal me perguntA mais tem olha

vatildeo laacute pergunta pros idosos que estatildeo laacute porque eu natildeo tenho (todo) neh eu ajudo eles

na a tentar resgatar essa histoacuteria escrever essa histoacuteria mas eu natildeo tenho todas as

informaccedilotildees ateacute porque eu natildeo faccedilo soacute isso eu tenho MIL compromissos ((risos)) de de

trabalho pra fazer neh entatildeo se vocecirc puder contribuir com a gente nesse aspecto acho que

vai ser bom

L1 com certeza eacute a senhora realiza alguma atividade de compra e venda das plantas

L2 como rede bragantina a gente faz neh a compra dos produtos e a venda no caso

fitofitoteraacutepico e elas produzem a rede bragantina soacute faz a comercializaccedilatildeo neh elas

mesmos traz as ervas elas preparam aiacute o que que a gente faz aqui embalagem neh eacute

identificaccedilatildeo quando a gente quer botar mais informaccedilotildees ou ateacute qualificar mais

aquele material a gente entra em contato com profissionais pra que eles possam ( ) como eacute

o caso desse dessa oficina que teve de fitoteraacutepico neh que (veio) uma farmacecircutica de

Macapaacute neh que ela trabalha no instituto (tumucumar) que eacute tambeacutem no ( ) de Macapaacute e aiacute

soacute que dois ou trecircs dias com a gente foi assim maravilhoso eu saiacute encantadad neh com

muita informaccedilatildeo que ela passou ( ) a contribuiccedilatildeo eacute quando a gente comercializa

171

L1 vocecirc jaacute conhece algum caso assim de doenccedila de cura atraveacutes das ervas

L2 das ervas elas conhecem neh elas me falam de um bocado natildeo sei de se me lembro

agora neh MAS EU praticamente eu me trato com as ervas graccedilas a deus nunca tive uma

doenccedila assim grave neh mas ( ) eu me sinto bem

L1 hum rum

L2 neh o (vicente) tambeacutem mesmo ele sendo europeu ( ) a gente faz junto esse

bioenergeacutetico aiacute a gente toma aqui em casa direto eacute fitoteraacutepico

L1 entatildeo a senhora acredita no poder das ervas e das plantas

L2 sim sim

L1 ma MAS OU ele se igualaria a a questatildeo das farmaacutecias

L2 assim eu num digo acreditar porque acreditar eacute uma questatildeo de feacute neh e isso natildeo eacute

religiatildeo eacute uma eacute um fato neh entatildeo eiu uso e me sinto bem neh eacute natildeo sou muito de ( )

ateacute meu pai neh e-le usava muito ervas acho que se a gente tem na na histoacuteria da gente

na histoacuteria de vida e eu uso e assim a palavra como eu disse acreditar natildeo eacute muito

adequada porque acho que crecirc ou natildeo crecirc eacute uma questatildeo de feacute neh eacute uma questatildeo de ( ) a

gente usa e daacute certo acho que eacute um pouco isso neh esses dias a gente estava aqui com a

doutora Clara Brandatildeo e ela vinha de longos anos falando sobre o uso da multimistura

neh natildeo sei se vocecircs jaacute ouviram neh falar na multimistura AIacute ela tava ano passado ela

veio fez oficina com o grupo esse ano a gente chamou esse grupo foi ateacute quarta feira que

vocecirc disse que chamamos o grupo que teve ano passado e mais outras novatas neh que

ainda natildeo tinham assisitido palestra com ela e aiacute a gente ( ) ano passado deu testemunho se

usaram natildeo usaram tudo natildeo soacute a multimistura mas tudo que elas colocaram em praacutetica a

partir daquilo que olha teve depoimentos assim estarrecedores no sentido assim perplexo

bonito no sentido de que deu certo de que funcionou mudarem o haacutebito alimentar adotaram

multimistura sabe a economia domeacutestica que fizeram que passaram a consumir de uma

certa maneira e de um certo modo foi assim ( ) se perdeu neh ( ) uma oportunidade do

trabalho ((risos))

L1 entatildeo no caso o que eacute a garrafada e o que eacute a multimistura

L2 oacute tem que perguntar pra ela ((risos)) dona Maria taacute logo ali noacutes vamos laacute e tu pegunta pra

ela taacute bom da garrafada a multimistura eacute complemento alimentar de feito a base

de de produtos tem valor nutricional alto disponiacutevel principalmente para os mais pobres

porque agora natildeo principalmente na nossa regiatildeo mas o a a base dela eacute o farelo de arroz

a folha da da macaxeira neh e o gerginlim a folha da macaxeira eacute riquissiacutema em

vitamina A ( ) se tu quiseres eu te mostro

L1 an ram

L2 a o gerginlim eacute riquissiacutemo em caacutelcio neh aiacute quando ( ) olha tem ( ) gerginlim

preto ai eu fui levei laacute pra ela ele eacute mais rico ateacute do que o branco ainda tem todo o

material desse projeto aiacute na ( ) a doutora Clara produziu e a fundaccedilatildeo banco do brasil

publicou (a gente) fez o material infelizmente olha essa aqui eacute a tabela nutricional

tem aboacutebora arroz (colido) (as pessoas acham que pode comprar melhor) ( ) que tanto

ele tem de calcio neh ela compara sempre com o leite da vaca entatildeo ele leva esses trecircs

produtos aqui a vitamina C

L1 hum rum

L2 e a vitamina A que taacute presente em valor altissiacutemo na folha da mandioca neh o calcio

que taacute presente altiacutessimo no gerginlim ferro tambeacutem e ( ) olha que o tanto de ferro que

tem no farelo aleacutem da vitamina do complexo B neh B1 B2 ( ) assim com toda

complexo B neh essas trecircs quando a gente mistura ela eacute basicamente essas trecircs produtos

aqui entatildeo ele eacute complexo alimentar ele natildeo eacute um remeacutedio neh e eacute tem casos

assim do resultado dele que nem tava dizendo a FILHA DELA ela passou numa aiacute que ela

tinha ido ali no postinho aquele que tem ali naquela rua neh ( ) aiacute a gente tava laacute e ele

disse (Leacuteia) tem multimistura tem (quero um pouco) de multimistura eu disse (ela jaacute tava

172

perto) de ter neneacutem a a Geacutessica e agora eu tava (dando) depoimento que a a

doutora Clauacutedia tava falando neh olha trabalho de parto sangramento quem usa multimistura

natildeo tem isso neh e ela disse olha minha filha duas horas de trabalho de parto ela

teve teve sangramento natildeo teve natildeo sei o que natildeo sabe E EU assim ( ) soacute ela

tomou dois meses antes soacute e eu acredito que foi essa mulher que disse neh EU

ACREDITO que foi muito da alimentaccedilatildeo dela que comeccedilou a controlar essa senhora pra te

ter ideia quando eu convidei ela ano passado neh ( ) soacute fala em doenccedila neh aiacute disse

( ) olha a doutora Clauacutedia Brandatildeo vem aqui vai ter uma oficina expliquei neh aiacute ela disse

assim ah eu vou vecirc e comeccedilou a choradeira neh aiacute (eu insisti) taacute bom ( ) eu sei que

realmente vocecirc natildeo pode porque tambeacutem neh (continuei) insistindo eu sei que isso

ano passado neh a ( ) me ligou OI olha ( ) ah que oacutetimo acho que vocecirc natildeo vai se

arrepender e eu vou jaacute laacute a a eacute quarta feira agora neh dois dias atraacutes ela disse que natildeo tinha

se arrenpendido de natildeo ter ido deu o depoimento dela tudo que ela tem o que aconteceu

com a filha dela ateacute convidei ela pra me ajudar a fazer ali no bairro neh pras mulheres

novatas que foram entatildeo assim a multimistura ela tem esse potencial dentro dessa

composiccedilatildeo que ela tem neh e doenccedila degenerativa eu sei ( ) doutora Clara neh setenta e

dois anos com trecircs ou quatro cabelos brancos ((risos)) em toda disposiccedilatildeo soacute tem um

problema no joelho neh que ela anda assim puxando ( ) que de vez em quando ela tem que

taacute sentada mas uma disposiccedilatildeo que nem eu tocirc tendo mais ((risos)) jaacute taacute me fazendo inveja

ontem eu tava uma caco porque essa semana foi assim pesada pra organizar tudo neh ainda

fui com ela pra Beleacutem agora ela fica em Beleacutem ateacute aman ateacute domingo domingo ela jaacute

retorna pra Brasiacutelia que ela mora em Brasiliacutea

L1 ah

L2 que a mistura a multimistura eacute tudo isso aleacutem de produto ela tem que contar neh

como eacute que as pessoas que usam taacute se sentindo e a garrafada vocecirc pergunta pra ela ((risos))

melhor fonte

L1 a garrafada eu conversei com a Domingas

L2 foi

L1 porque ela faz neh ela produz a garrafada pra pra associaccedilatildeo neh

L2 isso

L1 entatildeo na na pimenteira o siacutembolo digamos assim que que trabalha com ervas que

produz que faz esse esse trabalho eacute a a Domingas

L2 a Domingas os outros tambeacutem eacute assim

[

L1 ( ) pessoa

L2 olha eacute isso que eu tava lhe dizendo eles devem usar sim em casa um chaacute um remeacutedio

mas assim jaacute produzindo com certo padratildeo com uma certa orientaccedilatildeo era um grupo de

trecircs quatro neh

L1 hum rum

L2 uma foi pra Paragominas por problemas familiares a outra eu digo que taacute cuidando do

pai mas digo que ela natildeo taacute Nica quando tu puder tu vem natildeo vai ficar de fora ( ) e e a

Irma a outra llaacute que aacutes vezes tem problema de de de desentendimento neh que que

desentedeu mas natildeo ( ) pelo menos eles se falam eles brigam mmas depois se entendem por

llaacute neh aiacute

[

L1 foi foi por causa disso que acabou o bioenergeacutetico na (comunidade)

L2 natildeoeu acho que natildeo natildeo foi por conta disso foi porque eacute a filha dela se interessou

mas assim aacutes vezes ele esse pessoal tem dificuldade de de dar um comando quando eacute

uma coisa assim mas acho que natildeo foi por isso natildeo tatildeo paradas neh quando que

quando o pessoal vai laacute elas fazem pessoal dali da ( ) inclusive eu tocirc incentivando ela

retomar consulta mas soacute que ( ) voltar treinar gente de novo entendeu porque o pessoal

173

vai laacute se consultar o pessoal das (bandeiras)

L1 eu tinha ateacute falado pra ela da irmatilde Edna em Capanema

L2 hum rum

L1 se tinha a possibilidade da irmatilde Edna ir na comunidade falar sobre o projeto

L2 ah que bom vocecirc conseguisse isso ( ) porque elas fizeram com um grupo de Beleacutem

[

L1 ela

diisse que vem sim

L2 vem pois eacute se vocecirc puder trazer vai ser oacutetimo porque eu tocirc insistindo pra ela retomar

porque ela taacute vendendo muita garrafada na redondeza pomada neh que ela fazia

pomada de cabacinha de uma certa maneira quando vinha essa farmacecircutica ela taacute fazendo

de uma outra maneira e tatildeo vendendo assim bastante a pomada de andiroba com cabacinha

L1 e todos estatildeo aqui na na na associaccedilatildeo

[

L2 estatildeo ai na associaccedilatildeo ((risos)) estatildeo ai na associaccedilatildeo

entatildeo a dona Domingas temos que retomar as consultas porque porque tinha que ter um

horaacuterio planejado e aacutes vezes na comunidade elas tinham dificuldade pra marcar um horaacuterio

elas ficavam laacute eu digo oacute mas vocecircs tem que ter paciecircncia tem que habituar o povo neh tem

que treinar as pessoas neh que aacutes vezes tem a ( ) que natildeo esperam satildeo elas que vatildeo ajudar

tem a roupa que taacute laacute no igarapeacute elas que vatildeo lavar ( ) vocecircs fazem um horaacuterio uma vez soacute

por semana neh e vamos tentar vamos retomar porque vocecircs estatildeo com o espaccedilo

construiacutedo TUDO reconstruiacutedo natildeo daacute pra abandonar que natildeo fica bem nem pra vocecircs

nem pra quem patrocinou o ( ) olha a minha cara ateacute eu mas a de vocecircs tambeacutem ((risos))

L1 entatildeo a a o trabalho com as plantas eacute uma caracteristica praticamente da mulher

L2 da mulher

L1 os homens natildeo se envolvem

L2 natildeo se envolvem tem os homens que sabem neh por exemplo laacute em tipitinga tem um que

eacute

L1 nem na produccedilatildeo

L2 aquela aquela tes natildeo natildeo na produccedilatildeo das plantas sim eles conhecem eles

guardam mas eacute mais assim eacute um perfil mesmo da mulher uma especificidade da mulher

no tipitinga tem um um senhor um homem que ele benze ele reza mas eu acho que ele tem

vergonha de se expor ainda natildeo tive tempo de me dedicar laacute com eles e dizer natildeo olha noacutes

vamos laacute o senhor tem que assumir sua sabe seu saber neh o senhor pode ouvir das

pessoas enfim ainda natildeo tive tempo de sentar com ele

L1 no caso no jacarequara natildeo tem neh essa caracteristica de trabalho com as plantas neh

L2 natildeo natildeo tem elas ateacute participavam do encontro soacute que ( ) comunidade e vejam se tem

algueacutem que quer fazer isso e aiacute vocecircs se quiserem a gente taacute aqui pra apoiar pra comeccedilar

a defender os passos tem a o grupo da pimneteira junto com o grupo que taacute na (outra vila)

que jaacute taacute mais adiantado pode ir laacute com vocecircs enfim daacute os primeiros passos SE VOCEcircS

quiserem fazer laacute faccedilam laacute se natildeo aqui tem uma infraestrutura melhor em termos de material

de local de fogatildeo de panela de um e de outro vocecircs podem fazer aqui como ela vem

uma vez na semana ela vem e faz aqui a pomada a garrafada enfim

L1 a dona Domingas vem pra

L2 fazer aqui aacutes vezes ela faz laacute

L1 an ram

L2 mas a grande parte do que eacute vendido aqui que eacute levado pra Beleacutem el vem fazer aqui

que ela ( ) junto com a dona Maria

[

L1 entatildeo ela eacute a

L2 eacute

174

L1 ( ) articulaccedilatildeo

L2 eacute ela eacute articuladora da ( ) dessa produccedilatildeo eacute

L1 ocirc Nazareacute brigada

L2 de nada espero ter atendido neh a sua

L1 com certeza

L2 ( ) aprofundar esse conhecimento aprofndar esse esse saber e principlamente contribuir

com essas comunidades neh com esses povos que precisam mesmo dessa desse apoio

da academia neh que a gente natildeo fique soacute na um trabalho de produccedilatildeo laacute ah taacute

bonito o seu trabalho pesquisa tal mas que isso possa realmente retornar pr essas pessoas neh

e que elsa possam se apropriar cada vez mais com seguranccedila de tudo isso

L1 taacute com certeza

175

APEcircNCICE E ndash Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento

Ladainha a Nossa Senhora

Nossa Senhora do Livramento

Matildee de Deus nossa Matildee

e padroeira de nossa Paroacutequia

Com o olhar confiante vos contemplamos

Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos

Dirigimo-nos a voacutes como filhos

porque necessitamos do vosso auxiacutelio

Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados

apoiados e guiados pela matildeo materna

Renovai-nos espiritualmente

para que saibamos enxergar a vida mais bela

Levantai-nos para caminhar sem medo

nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo

para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna

Nossa querida Matildee

Nossa Senhora do Livramento

abenccediloai-nos e guardai-nos junto de vosso coraccedilatildeo

e conduzi-nos ao coraccedilatildeo eterno e amoroso do Pai Ameacutem

ldquoNossa Senhora do Livramento

Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da almardquo

Senhor tende piedade de noacutes

Jesus Cristo tende piedade de noacutes

Senhor tende piedade de noacutes

Jesus Cristo ouvi-nos

Jesus Cristo atendei-nos

Pai Celeste que sois Deus tende piedade de noacutes

Filho Redentor do mundo que sois Deus tende piedade de noacutes

Espiacuterito Santo que sois Deus tende piedade de noacutes

Santiacutessima Trindade que sois um soacute Deus tende piedade de noacutes

Santa Maria rogai por noacutes

Santa Matildee de Deus

Santa Virgem das virgens

Matildee de Jesus Cristo

Matildee da divina graccedila

Matildee puriacutessima

Matildee castiacutessima

Matildee Imaculada

Matildee intemerata

Matildee amaacutevel

Matildee admiraacutevel

Matildee do bom conselho

176

Matildee do Criador

Matildee do Salvador

Virgem prudentiacutessima

Virgem veneraacutevel

Virgem louvaacutevel

Virgem poderosa

Virgem clemente

Virgem fiel

Espelho de justiccedila

Sede da sabedoria

Causa da nossa alegria

Vaso espiritual

Vaso digno de honra

Vaso insigne de devoccedilatildeo

Rosa miacutestica

Torre de David

Torre de marfim

Casa de ouro

Arca da alianccedila

Porta do Ceacuteu

Estrela da manhatilde

Sauacutede dos enfermos

Refuacutegio dos pecadores

Consoladora dos aflitos

Auxiacutelio dos cristatildeos

Rainha dos Anjos

Rainha dos Patriarcas

Rainha dos Profetas

Rainha dos Apoacutestolos

Rainha dos Maacutertires

Rainha dos Confessores

Rainha das Virgens

Rainha de todos os santos

Rainha concebida sem pecado original

Rainha assunta ao Ceacuteu

Rainha do sacratiacutessimo Rosaacuterio

Rainha da Paz

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo perdoai-nos Senhor

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo ouvi-nos Senhor

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo tende piedade de noacutes

Rogai por noacutes santa Matildee de Deus

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpeacutetua

sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-aventurada sempre

Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da eterna alegria Por

Cristo nosso Senhor Ameacutem

177

APEcircNDICE F ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoAlgodatildeo Roxordquo

Fotografia 36 ndashAlgodatildeo Roxo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 13 ALGODAtildeO ROXO

Lx Lexema Algodatildeo roxo

V Variantes Algodatildeo Branco ou Algodatildeo Preto

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo o algodatildeo rocho ele serve eacute pra () pra moragia pra remautismo tambeacutem faz o chaacute

tintura dele tal de efusatildeo eacute fazer a tintura neacute todo jeito se quiser fazer o chaacute faz a

tintura que usa gotinhas isso e pra moragia eacute tira o sumo da folha pra moragia da folha e uma eacute a haacute aquela dentro da sementinha dela da dentro da sementinha tem tipo

uma lanzinha assim dentro da sementinha pode quebrar a sementinha dela hurum

mas soacute que eacute um pouco maiozinha natildeo porque assim dentro da semente do algodatildeo a

gente tira ele tem dentro da sementinha dele a gente passa passa a sementinha tem

uma uma lanzinha assim tipo uma lanzinha neacute eacute o proacuteprio olho dele eacute o proacuteprio

adonde nasce sim aquilo aliacute eacute bom pra febre ele eacute bom pa pa febre instestinal crianda

do algodatildeo isso tanto faz ele ser o roxo como ser o branco como ser ele eacute bom para

isso tambeacutem febre do algodatildeo ele eacute um ele ele cresce te acho que tiacute trecircs volta de

quatro metros de altura ele ele eacute na terra que se daacute bem ele fica bastante

compundinho assim haacute a folha dele natildeo natildeo eacute aiacute ele tem de trecircs trecircs cor tem o branco

tem um que eacute meio roxinho tem algodatildeo branco algodatildeo roxo algodatildeo preto ((tosse)) da folha da folha da folha eacute ela eacute mais roxeada o algodatildeo branco a folha dele eacute

branca o algodatildeo roxo a folha dele eacute eacute roxeada e o algodatildeo preto ele eacute mas preto eacute

mas escuro hurum isso a folha a folha eacute os frutos eacute eacute soacute mesmo mesmo jeito a flor eacute soacute

um jeito tambeacutem hurum a cor isso isso serve mas o bom eacute o algodatildeo roxo e o algodatildeo

preto que o melhor de todos mas quando natildeo tem esses outros esses uns serve o

algodatildeo branco neacute eacute o chazinho a gente tira aquela sementinha parte a semente dele

dentro da sementinha natildeo tem cumo assim que nem uma lanzinha iai quando parte

bota pra ferver e daacute o chazinho soacute eacute uma febre instestinal daacute no intestino ele eacute ele eacute

uma folha assim o meio dela arendodada e tem trecircs de trecircs bicos grande os bicos

delas satildeo mas eacute eacute trepadeira mas isso eacute natildeo isso eacute uma arve

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

178

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e o algodatildeo que estaacute dentro da semente

Fu Formas de uso

Usada para hemorragias (fazer a efusatildeo com as folhas para tirar a tintura) o mesmo processo serve para reumatismo o algodatildeo dentro da semente eacute usado em chaacutes para

febre intestinal

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Haacute espeacutecies de algodatildeo branco e algodatildeo preto a cor da folha eacute determinante

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

179

APEcircNDICE G ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoArichi de Parigoacuterdquo

Fotografia 37 ndash Arichi de Parigoacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 14 ARICHI DE PARIGOacute

Lx Lexema Arichi de Parigoacute

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacute eacuteh uma planta que ela daacute ela daacute assim ela natildeo daacute muito alta ela daacute quase assim tipo rasteira mas num eacute bem rasteira ela bota muito assim os galhos os galhos cae

assim forma moita a folhinha dela eacute penem folha de canala um mesmo a folhinha de

canela iai ela eacute boa tambeacutem pra fazer tintura pra achar quem natildeo gosta de usar

tintura porque a tintura leva o aacutelcool toda tintura tem que ter o aacutelcool neacute tem que

ter natildeo eacute feita soacute no aacutelcool os que natildeo gostam da tintura usa o chaacute natildeo da folha a

gente pega tira a a tintura a gente pega assim pego o aacutelcool taacute qui e pega a folha

tritura tudinho coloca aqui dentro do aacutelcool com quinzi dias passando quinzi dias o

aacutelcool natildeo vai estrogar aiacute fica muda muda certeza aiacute despois coa brota no seus

vidrinhos pra usar as gotinhas () quando ela estiver com mal estaacute uma comida que faz

mal tiver assim com estomago cheio tem comida neacute ai bota a aacutegua comu o uso da

da farmaacutecia tem tem eacute o caseiro eacute natildeo natildeo sei natildeo eacute isso que eu tava dizendo eacute o

erichi de parigoreacute neacute eacute assim se comeu sentiu que a comida faz mal a assim enpachada conquela mal de gases eacute fazer isso num quiser fazer o chaacute das folhinhas

usa a tintura porque por isso eu em casa uso a tintura porque assim eu eu faccedilo deixo

ali quando taacute no ponto eu cou tudo ajeito tudinho e boto no vidrinho de gotinha neacute

que nos a gente tem vidrinho de gotinha e bota laacute se algueacutem precisar jaacute taacute pronto

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Utilizar as folhas para mal estar no estocircmago

Fu Formas de

uso

Chaacutes da folha tintura (deixa de molho no aacutelcool por 15 dias) para estocircmago

empachado tanto o chaacute como gotas da tintura

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

180

APEcircNDICE H ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoBabosardquo

Fotografia 38 ndashBabosa com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 15 BABOSA

Lx Lexema Babosa

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ((SORRIU)) eacuteh por causa da baba e ela eacute antiflamatoacuterio eacute essa mais eacuteeacute aquela goma

aquela gosma tem neacute a gente pega ela tira aqueles coise assim aquela goma dela

aquela coisa a parte de dentro vocecirc essa pode usa na guarrafada pode usar e no chaacute

fazer chaacute da folha assim se num quiser butar a folha inteira pode tirar essa baba pode

tomar usar em ferimento tiver um ferimento em golpe uma ferimento pode pegar bater

aquiloali butar tipo um plasticozinho aliacute pra disiflamar sim e pode tomar tanto bote

em cima pode tomar eacute ela eacute muito boa pra cabelo tambeacutem neacute pra fazer o cabelo da

gente desenvolver a babosa neacute ela eacute boa tambeacutem eacute pra eacute cacircncer () ela eacute muita boa tambeacutem pra cura o cacircncer a babosa

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Usar a baba da folha para inflamaccedilotildees ferimentos garrafada cacircncer crescimento do

cabelo

Fu Formas de

uso

Utiliza-se a baba em chaacutes garrafada ou direto na aacuterea inflamada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

181

APEcircNDICE I ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoBatatatildeordquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 16 BATATAtildeO Lx Lexema Batatatildeo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Masculino

Df Definiccedilatildeo natildeu eli eacute ambienti fechadu abertu mas eli natildeu eacute di vasueli eacute du chatildeu du chatildeu

assimnatildeu eli eacute eli eacute um cipoacute eli nasci aqui aqui eli cresci ( ) du maracujaacute maracujazeiru eli vai si agarrandu aqui vai tendu matu aqui eli via indu por cima matu i vai indu vai

caminhandu ateacute ondiporque na a a batata deli eacute um batatatildeu eacute uma batata mermu forma duma mandioca forma duma batata doci assim que eacute ai por issu colocaru u nomi

batatatildeoeacute a batatanatildeu nunca vi falar das folha eacute a batata aquela batata a genti vai laacute nu peacute deli i arranca eli cava qui eli qui eli daacute bastanti profundu eli natildeu eacute soacute assim da genti

chegar i puxar tem qui cavar com uma enchada pra tirar a batata eu jaacute vi ateacute uma ateacute dessi tamanhu assim neacute aiacute aquela batata a genti veimem pois eacute ela eu jaacute vi uma ateacute qui a minha

cunhada arrancou era bastanti grandona ela laacute aiacute a genti fatia ela a rodelinha e bota pra secar aiacute depois qui tiver seco a genti bota no liquidificador nu pilatildeu pisa i faz aquela

tapioquinha pra usar eacute ou nu mingau ou qui seja na comida ou si quizer pra fazer arreaccedilatildeu

eacute a genti toma eli mais avutadu neacute faz um chatilde bem forti toma eli faz arreaccedilatildeu mas essi dai eu nunca vi a minha voacute qui dizia que fazia mas eu nunca fez eu mesma neacute mas a minha voacute

dizia qui elis faziam u batatatildeu i quandu a genti taacute com problema nu sangui a genti toma assim us pocu por que eli tantu eli pru sagui da genti eli faz assim normaliza u sangui

da genti si a gente tiver com sangui fraco demais eli aumenta si tiver forti eacute uma erva qui eli normaliza u sangui da genti pra mulher qui taacute graacutevida eacute muitu bom tomar tambeim eli

faz limpeza nu sangui da genti eli faz limpeza nu sangui tem muitu genti assim crianccedila que tem muita assim qualquer coisinha daacute aquelis ferimentus neacute qui aacute a crianccedila tem problema

nu sangui aacute entatildeu eacute muitu bom tomar qui eli faz a limpeza nu sangui eli purifica u sanguitem folha tem flor a folha dela eacute quasi qui neim assim u formatu dum coraccedilatildeu

assim pu pesinhu da folha eacute larguinhu i paacute pontinha da folha eacute beim istreitinhu natildeu ela eacute pequenininha meacutedia ela eacute meacutedia ela eacute menas di qui a folha da vaca menor aiacute natildeu natildeu qui

neim folha de batata qui nem uma folha di bataba neacute batata doci ela eacute daqueli formatu soacute qui sempri a folha da batata eacute trecircs trecircs dedu trecircs sepraccedilatildeu trecircs parti ela eacute soacute uma pu

pesinhu da folha eacute largu paacute pontinha ela eacute estreita a flor delasim a flor dela ela coloca a flor aqui aiacute a flor abri a flor eacute assim uma flor tipu quasi qui nem a flor du maracujaacute

tambeim ela fica uma flor por aqui eu nem sei neim dizer comu eacute qui eacute a flor dela mais ela fica ela abri assim ai fica dentru fica aqueli miolinhu assim ai ela bota aqueli fica tipo a du

girassol assim qui eacute a florzinha dela neacute nu formatu du girassolsim issuela eacute meiu amarelada assim uma cor parda i sempri eli bota flor sempri nu veratildeu tambeacuteim quandu eli

botaela eacute du veratildeu ela nasci aqui nu invernu aiacute ela vai crescendu quandu ela taacute crescendu a batata dela taacute verdi aiacute quandu ela eacute que nem o caraacute quandu ela vai morrendu

eacute qui a batata taacute boa di arrancar nu veratildeu taacuteboa eacute porque nu veratildeu eacute qui ela taacute eacute qui ela ta madura a batata dela qui eacute pra genti arrancar por que nu inverno ela ( )i isso isso seca

as folhas seca e aiacute a batata ta madura boa di arrancar

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

A raiacutez eacute usada para purificar o sangue hemorragias fraqueza

Fu Formas de uso

A raiacutez eacute seca e triturada em poacute para usar como massa em minguaus ou o chaacute bem forte da raiacutez

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome vem do tamanho da raiacutez que eacute no formato de batata com dimensatildeo grande

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

182

APEcircNDICE J ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCapitiuacuterdquo

Fotografia 39 ndashCapitiuacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 17 CAPITIUacute

Lx Lexema Capitiuacute

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo ((sorriu)) o capitiuacute eacute uma arve nativa ela natildeo eacute uma planta ela eacute nativa ela eacute () no

cerrado eacutela a folha dela eacute grande ela eacute quenem a arve do cafeacute eacute grande a folha eacute do

mesmo modelo da folha de cafeacute aiacute pra do de cabeccedila tiver aquela doacute de cabeccedila enjoada

que natildeo passa qualquer doe a cabeccedila do nada tem gente que tem muita doacute de cabeccedila

eu graccedilas a Deus num so muito assim natildeo mas tem gente neacute hocirc minha cabeccedila docirc so

serve com doacute de cabeccedila isso a gente pega ela monte de folha quebratudinho bota pra ferver deixa no cereno quando eacute de manhatilde banha a cabeccedila muito bom pra tirar

aborrecimento aquela dozinha esse outro eacute chaacute mas natildeo eacute pra tomar o chaacute e soacute pra

lavar a cabeccedila eacute o banho de cabeccedila que a gente chama neacute eacute soacute pra isso que eu sei a

serventia eu sei pra isso que noacutes fazia capitiu eacute por assim ele eacute um pitiu num eacute cheiro

so se panha assim e cheirar tu vai dizer que o banho dele vai ficar daquele emo jeito

mas muda o cheiro dele cruacute eacute um jeito mas depois que ferve ele muda o cheiro dele ele

cruacute e pitiuacute jaacute taacute dizendo capitiu eacute assim um cheiro de peixe sei laacute um cheiro assim ele eacute

pitiu mesmo mas o cheiro dele depois de cozinhado ele natildeo fica ele muda pode banhar

a cabeccedila que ele fica assim sempre recedendo o cabelo da gente

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de cabeccedila enjoo e enxaquecas

Fu Formas de

uso

Chaacutes para banhar a cabeccedila (depois de ferver as folhas deixar no sereno da noite lavar a

cabeccedila na manhatilde cedo)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta na forma natural tem cheiro muito forte pitiuacute

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

183

APEcircNDICE L - Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCarrapicho Agudordquo

Fotografia 40 ndashCarrapicho Agudo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 18 CARRAPICHO AGUDO

Lx Lexema Carrapicho Agudo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico masculino

Df Definiccedilatildeo esse um eli tem eli eli cresci assim ateacute um metru i meiu di altura assim eu jaacute vi neacute

mais eli vai ateacute uns certus tempu eli eli si acaba tambeacutem eli num eacute num eacute uma arvri

que permanenci ali por certus tempu natildeo eli eli sempri eli nasci nu periacuteodu da

chuva aiacute quandu vai chegandu u secu eli eli jaacute vai si acabandu eli comeccedila a botar flor

botar as sementinhas daiacute a tendencia deli eacute morrer cai aqueli um pra nascer otru di

novu eli eli eacute nativu tambeacutem neacute eli num fica eli num fica uma arvri eli permaneci doi um ano dois ano soacute uma arvri natildeo eli morri aqueli um nasci otru di novu ele eacute uma

arvri qui eli cresci i eli bota uns galinho ele fica todu espalhadinhu assim os galhu deli

na ponta dos galhu eacute qui eli bota a sementinha deli tipo uma uma esporinha por aqui

tem com certeza qui tem assim por essa nessa invasatildeo neacute eu tenhu certeza tenhu toda

certeza qui tem esse matu eacute a folha deli eacute uma palmazinha eacute eacute assim uma folha

assim aiacute ela eacute toda repartidinha toda repartidinha toda uma samambaia sabi u qui eacute

samambaia ela eacute daqueli formatu di samambaia eacute toda repartidinha isso toda toda

partidinha assim a folhinha dele ( ) bota folha daiacute tem sai pedacim pra todo canto

assim a folha deli a flozinha deli eacute quandu antis deli abrir us carrapichim fica

abertinha eacute amarelinha ( ) u miolim da flor eacute amarelim neacute a depois qui qui ela abri qui

ela fica assim () ela bota florzinha agora assim eacute aquelis carrapichim qui eacute tudu agarradu quandu agenti qui eli taacute maduru agenti passa assim eli jaacute si agarra na ropa

da genti aquela isporinha nu fimzim daqueli coizinha tem aquela esporinha qui si

agarra na genti eacute na folha na flor dela eacute a sementi aquilu eacute a semente u carrapichu

qui agenti chama eacute a sementi neacute qui aqueli qui cai no chatildeu qui nasci otru natildeu eacute da

raiz da avre eacute da raiz eacute da raiz arranca eli aiacute lava rapa alguma qui seji e cuzinha i

faz o chaacute natildeu eli eacute assim qui nem na grussura dum dedu eli ateacute qui eli eacute uma avre

assim quandu assim a terra eacute boa qui eacute uma terra assim bem neacute eli eli daacute um tamanhu

assim dum metru i meio por aiacute assim neacute quandu eacute aquela terrinha meia meia cansada

meia meia batida meia dura assim eli eli cresci pequenu mas eli cresci eu jaacute vi assim

jaacute vai dependecirc da terra ela eacute uma achu qui ela eacute uma erva uma erva ela eacute du fri du

friu porque ateacute quandu chega a eacutepoca du veratildeu ela morri neacute ela nasci ( ) um tempu

dessi du veratildeu qui jaacute si passo u veratildeu laacute vocecirc passava laacute ela tava toda mortinha assim soacute os carrapichim dentro agora com a chuva qui ta dandu ela jaacute ela jaacute caiu agora ela

vai nascer ela ela vai nascer tudim quando aiacute ela crece ali aiacute aiacute quando ir che

chegando o veratildeo eacute eacutepoca qui ela vai morrer di novu qui o carrapichu dela cai nu

chatildeu daiacute ele nasce outro vem outro vem nativa eacute ela eacute nativa

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

184

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Eacute usada a raiz da planta

Fu Formas de

uso

Usada na forma de chaacutes para Icteriacutecia (amarelo da pele nas crianccedilas)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

185

APEcircNDICE M ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCatinga de Mulatardquo

Fotografia 41 ndashCatinga de Mulata com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 19 CATINGA DE MULATA

Lx Lexema Catinga de mulata

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo tem eu acho muita cheirosa eacute catinga de mulata num sei porque mulata eacute uma coisa

que mulata neacute jaacute sabe eacute caatiga de mulata eacute eacute o contraacuterio pra dizer cheiro de mulata

((sorriu)) por mim se fosse eu que fosse colocar num colocar num colocava catinga eacute

ela tem um cheiro forte pois eacute se fosse no meu caso fosse butar nome natildeo ia dizer

catinga a dizer cheiro de mulata mas eacute catinga de mulata eacute eacute pra varas coisas tambeacutem

eacute pra febre doacute de cabeccedila doacute de estamagu isso ela eacute uma planta eacute natildeo ela faz mas natildeo e

muito disiflamatoacuterio que eu tenho conhecimento dele ser desiflamatoacuterio natildeo ela eacute

assim pra bo despachar gases dentro da gente bom pra isso pra doacute de cabeccedila tambeacutem

eacute bom pra tudo isso tambeacutem ela eacute pequena desse modelo catinga de mulata desse

moledo dessa grande ai sim natildeo desse outro laacute come eacute o nome estoraque neacute isso ai manjericatildeo ele eacute pequeno soacute a folhinha dela eacute maiozinha um pouquinho mas

arendondada um pouquinho um poquinho mas eacute esse modelo eacute natildeo mas se tu natildeo

conhece assim se nem conhece a planta num vai conhecer pelo cheiro porque esse

aqui esse aqui eacute mais eacute mais durinho a catinga de mulata ela eacute mais ela eacute mais copada

e mais assim comueacute que eu quero dizer assim eacute mais fraacutegil o galhim dela pra quebrar

ela eacute assim mais ragadinho mais assim eacute delicado sim eacute esse daqui natildeo a gente ve que

ele ele eacute tipo uma madeira tipo assim neacute bem assim mas durinho e a catinga de

mulata ela eacute mas quanto mais ela eacute adubada que ela fi mas ela fica eacute ((sorriu)) eu

acho que porque ela eacute muita dengosa a catinga de mulata ((sorriu))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas caule e raiz satildeo usados para febre dor de cabeccedila no estocircmago

desinflamatoacuterio e gases estomacais

Fu Formas de uso

Chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem cheiro agradaacutevel catinga seria o antocircnimo de cheirosa

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

186

APEcircNDICE N - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCibalenardquo

Fotografia 42 ndashCibalena com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 20 CIBALENA

Lx Lexema Cibalena

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh eacuteh uma planta que nem a cidreira do mesmo modelo da cidreira tudo do um a

cidrera folha os galhos dela ela e brom bom pra febre doacute de cabeccedila tambeacutem neacute que

a cibalena na na farmaacutecia ela nu eacute bom pra febre pra febre pra doacute ela eacute do mesmo

jeito tambeacutem hurum o chaacute o chaacute eacute da folha do mais eacute das folha das folhas das arve ( )

natildeo tambeacutem natildeo

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para dores de cabeccedila febre e dores em geral

Fu Formas de

uso

Chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

187

APEcircNDICE O ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCoraminardquo

Fotografia 43 ndashCoramina com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 21 CORAMINA

Lx Lexema Coramina

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva ela eacute na natildeo ela eacute caseira ela e do frio do frio eacuteh ela essa daiacute

eu natildeo sei dizer muito bem o formato dela eacute e e a minha voacute dizia que era muito pro

problema de coraccedilatildeo tivesse sofrendo do coraccedilatildeo probremas aqueles agonia aquelas coisa fizesse o chaacute dela pra tomar mais soacute que eu natildeo conheccedilo bem essa

planta natildeo jaacute nu sei dizer isso aqui eacute o coramina soacute qui a minha voacute dizia assim o

coramina eacute bom pra quem tem o problema de coraccedilatildeo aquelas ferruaduras num tem

dar umas dor umas ferrruada ela dizia que era muito bom pra soacute sei que eacute bom

pra isso pra coraccedilatildeo olha com certeza

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas para problemas no coraccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes para dores no coraccedilatildeo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

188

APEcircNDICE P ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCrista de Galordquo

Fotografia 44 ndash Crista de Galo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 22 CRISTA DE GALO

Lx Lexema Criacutesta de galo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo esse daiacute eu natildeo vou dizer com garrafa porque eu nunca fez aquilo que eu nunca fez

num tenho assim um uma seguranccedila pra remeacutedio assim eacute eacute assim que os outros diz neacute

coquei ele como remeacutedio porque os outros que me indicaram ele eacute bom pra coraccedilatildeo

que tem problema de coraccedilatildeo coraccedilatildeo de bate acelerado bate num se que ele eacute bom

pra fazer o chaacute da crista da da flor da flor mesmo hurum mas soacute assim foi indicado

por o outra pessoa assim que tambeacutem tem conhecimento neacutew aiacute diz tambeacutem ela eacute que

nem uma criacutesta de galo ela daacute assim () uma os pezinhos dela agora aqui ela faz tipo

um folhinho uma coisa assim neacute espanhadinho e aiacute tem uns peacutenhinhos assim no pezinho da folha tem uns peacutenhinhos isso isso hurum natildeo eu tenho eacute assim que os outro

jaacute me indicou

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Eacute utilizada a flor da planta que tem formato de crista de galo para coraccedilatildeo acelerado

ou problemas do coraccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Pode ser feito o chaacute da flor ou usado na garrafada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

189

APEcircNDICE Q ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoErvatildeordquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 23 ERVAtildeO Lx Lexema Ervatildeo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva nativa eliele eacuteh do baixo do alagadoele nunca da assim no seco

natildeosempre ele daacute no lugar que eacute molhadoumiduclima molhado eacutemas se

tiverela precisa da quele ambiente que esteja molhado que ta assim com aquela

parte da lama daquela agua grossaela natildeu eacuteh da terra seca da terra limpa assime

num so da em aguada na quela agua que esteja misturado com aquela terracom

aquele limu que ela gostaela eacute pequenaela eacute fina tambeacutem assim o caulizim dela ela

sim eacute de quina tem umas quinalzinho a folha dela eacute cumpridinha estreita e ela eacute boa

pra tomar ela nunca fez ela eacute boa pra dor de cabeccedilafazer o chaacutefaz o cha da

folhapega tudim elebota pra cozinhar e deixa no sereno e di manhatilde banha a cabeccedila vai usando assim diretamentetem umas dor de cabeccedila encravadaa minha

cabeccedila nu passa nu sei o queuma dor de cabeccedila enjuada eacuteh fazer isso aiacutenatildeo sei

porque desse nome de ervatildeo natildeo sei porque eacute uma ervaela num eacute tatildeo grande pra ser

ervatildeoela num eacute tao grande ela tem uma florzinha bem pequenininhabem

roxinhabem piquinininhamas eacute folhamais tem um tem que ela tem as florzinhas

bem piquinininha bem roxinha

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e enxaqueca

Fu Formas de

uso

O chaacute das folhas e depois repousando no sereno da noite a cabeccedila eacute lavada com o chaacute

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

190

APEcircNDICE R - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoEucaliptordquo

Fotografia 45 ndashEucalipto com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 24 EUCALIPTO

Lx Lexema Eucaliacutepto

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ele eacute uma arvenha tambeacutem ele natildeo da muito do que eu conheccedilo num sei se tem uns eacute

natildeo ela natildeo eacute muito pequena ela eacute meacutedio ela num eacute muito pequena natildeo ela eacute boa pra

febre a gente usa ela pra febre o chaacute comu eu tocirc dizendo eu assim uso mas as tintutas

eu gosto de fazer mais as tinturas pra febre pode o chaacute isso pode pode fazer o chaacute e

pode usar a tintura pra febre eacute e pra febre eacute natildeo natildeo tambeacutem num sei natildeo nunca viacute flor dela nunca vi soacute soacute folhas compridas bem compridi compridinha comprida assim

com a ponta fina ela eacute estreita ela natildeo eacute largona natildeo ela eacute estreita pezinho da natildeo

((sorriu)) hurum conhece a vinagreira conhece vinagreira () soacute que ela eacute pouco

diferente soacute uma folha da vinagreira dela do eucalipto num tem uma folha aqui que

compara mas ela eacute assim olha assim cabeccedila assim e a ponta dela eacute mais fina o pezinho

dela eacute mais larguim e pontinha dela eacute () ((sorriu))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Utiliza as folhas para febre em geral

Fu Formas de

uso

Chaacutes e tinturas para febre

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a moradora referir-se agrave aacutervore

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

191

APEcircNDICE S ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoGeniporanardquo

Fotografia 46 ndash Geniporana com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 25 GENIPORANA

Lx Lexema Geninporana

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo um noacutes jaacute fazemos tudo isso em ((sorriu)) seraacute que nu taacute adoccedilado ((sorriu)) eacute um uma

arve nativa eacute ( ) e ela eacute tambeacutem assim modelo do cafeacute da arve do cafeacute ( ) eacute a mesma coisa

tambeacutem a folha dele eacute assim isso aiacute ele eacute bom pra picade di inseto cobra de copiatildeo essas coisas neacutew tiar o sumo da do caulhe dele tirar assim tirar aquela casca o entrecasca eacute bom

o entrecasca aquele do de cima ela natildeo natildeo a gente tira o sumo a gente faz assim tira o entrecasca dela daacute uma raspada assim assim meio pra sair tipo uma bucha assim ai bota

uma aacutegua isso ((sorriu)) eacute acho que ((sorriu)) eacute hurum eacute divide ser eacute u acho eacute eu acho metade dessa coisa eacute assim os indiacuteos que descobriu esse nome neacute que os indiacuteos para () eacute

os indiacuteos que que sabe porque esse nome porque assim os meu irmatildeo que eles aprenderam com meu pai porque meu pai tem sangue indiacutegena ele fazia ( ) ( ) aiacute meus irmatildeo eu

aprendia com meus irmatildeo papai ensinava neacute ai ele aprendia ele fazia porque assim vocecirc pega uma vara uma varinha assim vocecirc enrola ele aqui o tanto vocecirc podir natildeo quebra

natildeo fica do mesmo jeito do arco do iacutendio aiacute eu acho que ele tem relaccedilatildeo com os iacutendios que colocaram esse nome tavez neacute porque esse daiacute eu sei assim ele natildeo quebra neacute vocecirc

pega aqui ele num quebra ele eacute ele eacute isso vai depender da grussura dele tambeacutem neacute horriacutevel hurum isso hurum pra cortar o veneno ((sorriu))

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Utilizados a folhas entrecasca e caule para picadas de insetos cobra escorpiatildeo

Fu Formas de

uso

Do caule eacute retirado o sumo (colocado de molho na agua)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

192

APEcircNDICE T ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoHortelanzinhordquo

Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELANZINHO

Lx Lexema Hortelanzinho

V Variante Malvarisco

Cg Classe Gramatical Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo oh hortelanzinho eacute desse eu chamo pra esse hortelam sim porque assim tem

tem uma parinca que eacute hortelam tambeacutem eacute o grande aiacute tem desse pocha entatildeo

hortelam pimenta hortelam roxo e tem o hortelanzinho que eacute o hortelam nenecirc

que eacute o hortelam nenecirc hortelam nenecirc e esse eacute o hortelanzinho que eu chamo porque depois desse daiacute () hortelam sim grande eacute a folha dele grande eacute o

mesmo malvarisco isso eacute sim e tem o hortelam nnecirc eacute o menor de todas isso isso

essa daiacute tanto faz se da outra dessa dai serve para tomar chaacute serve pra butar nu

suco ela serve pode pegar o suco de qualquer coisa de limatildeo sei laacute du que for e

bater uma folhinha dele junto fazer charope eacute e memu coisa de hortelam nenecirc o

nenecirc ele eacute proprio pra nenecirc mesmo crianccedila mesmo eacute do tamanho e da cor

porque o hortelam nenecirc ele eacute branquinho ele num eacute roxinho ele eacute assim natildeo a

folha tudo que nem essa arve que taacute aiacute disse daqui natildeo o hortelazinho ele eacute

roxinho isso ele eacute roxinho o hortelam nenecirc eacute tudo assim eacute folha eacute o galhim dele

eacute tido assim eacute isso o hortelam grande jaacute eacute maior as folha dele eacute tido assim eacute tem

eacute eacute maior a folha dele eacute mais grossa a folha dele eacute bem grossa e serve tambeacutem pra o comu tempero comu por enquanto agora eu tenho hurum eacute neacute o hortelam

grande eacute daquele mesmo modelo o hortelam grande eacute eu acho que num sei natildeo

num sei e num sei dizer cume se tem doutro tipo tipo neacute eu soacute conheccedilo essa

trecircs tipo agora num sei se muda o nome desse mesmo do hortelanzinho eacute a

mesma pimenta num sei natildeo () natildeo

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas nos chaacutes e sucos

Fu Formas de uso Chaacutes xaropes e em sucos

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Tambeacutem conhecido pela variante malvarisco

Dc Data da Coleta 04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

193

APEcircNDICE U ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoHortelatilde Neneacutemrdquo

Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELAtilde NENEacuteM

Lx Lexema HortelatildeNeneacutem

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo porque ele eacuteh mais miudim doque todas do que os outros eacute ela eacute mais a folha dele eacute

do mesmo mesmo formato desse mesmo modelo soacute que ele eacute miudinho ele bran sim soacute

que ele eacute miudinho e eacute jaacute ele eacute roxinho esse daqui eacute roxinho esse um eacute branco tambeacutem

hurum mas ndem eacute natildeo eacute hortelam ela eacute mais pequenininha ele eacute todo assim

branquinho assim essa folha dessa coisa assim ele natildeo eacute roxinho assim natildeo eu tenho

laacute em casa eacute fazer chaacute pra bebe recenacido quando faze gripado tossindo injuado eacute

bom fazer chazinho pra daacute charope eacute isso neacute tosse com certeza eacute mesma coisa hurum eacute eu acho que ela eacute proacutepria pra crianccedila pra bebecirc mesmo pra bebecirc eacuteh quela eacute

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para gripes e tosses em receacutem-nascidos

Fu Formas de

uso

Chaacutes e xaropes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

194

APEcircNDICE V ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoJambu Roxordquo

Fotografia 48 ndashJambu Roxo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 27 JAMBU ROXO

Lx Lexema Jambu roxo

Va Variante Jamburana

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo planta rasteira do molhado de clima uacutemido eacute a mesma coisa que agente comi no

tacaca que faz eh a cor ela eacute nativa de tempu umidu ela serve pra do de

estomagu figadu quando com algum problema no figadu assim cuando consegue

almoccedila e num consegue janta aquilo parece que num desfaz parece todo tempu

cheio eacute problema nu figadu tem de faze o cha eacute de folha de flor com raiz com tudo o

importante eacute lavar bem lavadim e botas pra ferver com tudo e toma o cha a flozinha e amarelinha bem amarelinha mais do que o outro eacute bem amarelinha quase

roxinha eacute um poco menorzinha

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas flor raiz tudo bem lavado

Fu Formas de

uso

Utiliza-se o chaacute para dores no estocircmago problemas de digestatildeo e no fiacutegado

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A cor da flor amarela bem forte diferencia as espeacutecies

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

195

APEcircNDICE X ndash Informaccedilotildees gerais sobre o termo ldquoJenipapordquo

Fotografia 49 ndash Jenipapo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 28 JENIPAPO

Lx Lexema Jenipapo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma arve muita grande nativa tambeacutem ela nativa ela eacute grande tem fruto e do

fruto que a gente faz ela eacute o u o genipapo ele eacute rico em vitamina pra anemia agora que

eacute difiacutecil achar uma gente que diga que gosta num gostei natildeo o cheiro dele eacute muito

forte do fruto dele eacute forte o cheiro aquele cheiro eacute um cheiro forte mesmo assim comu coisa assim tava comu assim um litro de cinquenta e um assim que eacute o cheiro dele tem

gente que num gosta daquele mas ele eacute rico em vitamina pra quem taacute aneacutemico pra ele

eacute muito bom () ele eacute assim deste tamanho laranja isso quando ele taacute verde ele eacute duro

quando cai ele eacute mole ele fica eacute o suco pega ele eacute expreme bota accediluacutecar e pra tomar o

suco dele tirando disso fazer o licor tambeacutem eu uso laacute em casa mas pra fazer licor a

gente bota no aacutelcool no cinquenta e umo aiacute mas eacute mas mas aiacute depois a gente faz uma

garrafa de accediluacutecar diminui e diminui isso aiacute eacute pra bebida isso bebida pra quem gosta

de () o fruto o suco do fruto pra remeacutedio eacute tambeacutem assim ce tiver eacute uma rasgadura

uma qualquer coisa porque num sei se tu jaacute viu crianccedila que fica assim cum umbigo

grande assim a gente coloca o dedo a gente coloca o dedo a gente sente que aquele

que rasgado um vai laacute na arvore do jenipapo a arve dele tando vivo verde tira um tampinho da casca e vai aperta trecircs vezes no imbgo da crianccedila e vai coloca la dentro

tampinho no mesmo canto aiacute aiacute conforme aquele tampinho vai colocando vai sarando

ali ai vai diminuindo a a rasgadura na inbigo isso aiacute eu tenho poque eu fiz pro meu

filho ficar bom hoje ele eacuteh rapaz num tem quem diga o que ele era nunca passei com

meacutedico pra dizer doutor me diga o que eacute o que eacute o que isso nunca natildeo foi isso remeacutedio

que ensinavam natildeo riacute sim tuacute vai laacute um tampim assim neacute vai uma comparaccedilatildeo teacute

mede o tamanho do imbigo aqui e vai mede laacute no no quarto tira o tamanhinho que eacute e

vai aperta trecircs vezes aquele pedacinho de casca no umbigo e vai cola laacute de novo bota

no mesmo cantim deixa laacute ficar coladinho aiacute aquela casca vai cola de nova e colando

aliacute a ela ela assadura vai colando vai diminuindo neacute eu fiz com meu filho me

ensinavam neacute e eu fazia hurum

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de Casca para problemas no umbigo e frutos para bebidas

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

196

uso

Fu Formas de

uso

O fruto maduro eacute usado para fazer licor (accediluacutecar e bebida alcooacutelica) uso da casca para

rasgadura problemas no umbigo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

197

APEcircNDICE Y ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMamatildeordquo

Fotografia 50 ndash Mamatildeo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 29 MAMAtildeO

Lx Lexema Mamatildeo

Cg Classe Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo uh mamatildeo tanto ele eacute vitamina neacute ele eacute rico em vitamina o mamatildeo pra crianccedila pra idoso pra tudo eh como a semente dela eacute muito bom agente faze eh remeacutedio pra

coloca verme cum a sementi dele pega a sementi dele seca bem sequinha assim bem

seguinha agente torra ela bem torradinha ai soca bemai bota um poco demassa de

trigo de farinha de trigo ai da uma misturadinha ai faz um modelo dumas piulinha eh

muito bom prafazer as piulinha pra tomar pra verminose

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

A fruta eacute consumida como alimento e as sementes satildeo trituradas para uso medicinal

Fu Formas de

uso

As sementes satildeo trituradas misturadas com trigo e feitas as piacutelulas contra as vermes

em crianccedilas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

198

APEcircNDICE Z ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMangueirardquo

Fotografia 51 ndash Mangueira com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 30 MANGUEIRA

Lx Lexema Mangueira

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Feminino

Df Definiccedilatildeo a mangueira ela eacute bem grandi eacuteh uma planta tambeacutem ela eacute caseira agora ela eacute

muito boa de nascer todo quase caroccedilo dela nasce neacute e nu clima frio eacuteh num frio eacute folha comprida estreita bem comprida e estreita a semete eacute uma semente bem

grande que que ta que ta dentro do fruto neacute eacute assim um pouco chata a manga eacute a

manga eacuteh tem tem tem flor dela flor ela coloca assim uma assim tipo uma bage

uma coisa assim uma flor assim assim uns pivatildeozim neacute e vai colocando as flor dela

e a flor dela eacute bem piquinhinha as depois o fruto nasce dali da flor ele vai crescendo

eacuteh ela eacute uma arvore bem grandi cauli bem grosso eacute muito grande ela uns cinco

metros acho que ateacute mais de cinco metru ela eacute bem grande noacutes usa ela praa

diarreia quando ta com muita diarreia e eh fazer o cha da do entre casca pra

diarreia e pra tosse tambeacutem fazer o lambedor eacute do entre casca tirar aquele entre

casca do caule por que aquela casca de cima natildeo serve pra nada ai ah madeira

tambeacutem eacute o entre casca ai tira e faz o lambedo ela eacute travosa eacute travosa eacute ela eacute menos travosa que uh uh cajoeiro eacute amarela o cajoeiro eacute vermelho tomu cha

ou entatildeo faz o xarope o lambedo como diz o xarope o xarope eacute um pouco mais

grosso a gente tira o entre casca se tira ele bem limpinho se tiver o cuidado num

carece lavar se sair um sujinhu tem que lavar e bota pra cozinhar as depois que

tira agua que para eacuteh coa ele e colocao mel o accediluacutecar que eacute pra ele ficar assim tipo

dum xarope vai apurando ai tira coloca num vidro bem limpo e fica tomando isso eacute

pra crianccedila quando ta gripadu com tosse o xarope e pra diareacuteia eacute o chaacute faz o cha

dele e toma nois usa

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Para diarreia e tosse eacute usado o entre casca

Fu Formas de

uso

Para diarreia eacute feito o cha do entre casca para tosse e gripe eacute feito o ldquolambedorrdquo o

xarope eacute feito do cozimento do entre casca com o accediluacutecar

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

199

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

200

APEcircNDICE AA ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMaracujaacuterdquo

Fotografia 52 ndash Maracujaacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 31 MARACUJAacute

Lx Lexema Maracujaacute

Cg Classe Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo maracujaacute eacute folha eacute a fruta eacute a flor tudo serve eacute uma planta ela eacute caseira

maracujaacute ela da em todo todo clima mas eacute melhor eacute no frio mais ela da em todos

todo tempo ela sempre ela daacute a folha eacute redonda eacute assim num eacute redonda natildeo

tem trecircs parte a folha dela do maracujaacute ela eacute bem grandi tem trecircs partes trecircs

separaccedilatildeo assim trecircs dedo como nois diz assim ela natildeo eacute redonda trecircs biquinho

tudo junto com certeza eacute uma folha meacutedia e a sementinha dela eacute chatinha eacuteh

dentro do fruto bota o fruto e dentro uma sementinha a folha dela eacute bem grandi

afror dela eacute bem grandi assim eacuteh rouxinha assim aberandu o branco e por

dentro do miolinho eacuteh rouxinho cabeludinho o caule eacute fino eacuteh um cipoacute ela daacute

assim ela eacute grandi por que se ela pegar uma planta sobe inteacute de acordo com a

planta ela vai botando os galhos ai ela vai subindo ela serve pra eacuteh pressatildeo auta ela ela eacute calmante o maracujaacute ela eacute calmante e tanto faz ser a folha

comu a flor Comu uh suco dela a fruta ela eacute calmante qualquer parte se natildeo

tiver o fruto pra genti tomar o suco fazer o chaacute da folha se tiver a fror pode fazer

o chaacute que ela eacute calmante pra quem ta com estressi pra quem ta com falta de sonu

a gente pode usar de tudo aleacutem disso de tem muita vitamina no suco e muita genti que

tem muito estressi muita pressatildeo alta pode usar o chaacute pode usar o suco

diretamente eu digo isso por que eu gosto muito e o chaacute eacute o suco que eu mais gosto

in ateacute agora eu to com cinquenta e dois anos e nunca aumentou minha pressatildeo graccedilas

Deus natildeo tenho pressatildeo alta ah eu gosto muito eacute o suco que eu mais gosto ela da

sempre

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Folhas e flores satildeo usadas como calmantes baixar a pressatildeo alta e diminuir o estresse

Fu Formas de

uso

Os chaacutes das folhas e da flor como o suco do fruto

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a informante referir-se a planta

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

201

APEcircNDICE BB ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMastruzrdquo

Fotografia 53 ndash Mastruz com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 32 MASTRUZ

Lx Lexema Mastruz

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Masculino

Df Definiccedilatildeo olha eli eacute du ele eacute du friumais eli eacute du friu mas eli num eacute aquela aquela qui gosta

muitu du friu eli gosta du friu mais eli gosta tambeim bastanti da quinturadus dois eacute

ele num eacute eli eacute tem a sementinha delinatildeo eli daacute em qualquer ambienti eli daacute nu vasu

eli daacute chatildeo nu abertu nu fechadu nu quintau fora du quintal nu nu como eacutenu vazu em

todu jeitu eli daacute u mastruz eacute em todu jeitu pega eli joga a sementi aqui eli nasci daiacute eli

vai crescer si eli eli tem bastanti duraccedilatildeu eli dura um ano mais di um anu neacute soacute qui eacute

assim cai a sementinha deli tambeacuteim aqueli um jaacute morreu vai ficandu velhu vai

morrendu e u otru jaacute vai nascendu aqui u mastrus eli eli eacute assim eacute na terra qui eli si daacute eacute dificilmenti eli eli si acabar porque nasci a sementinha deli assim eacute bem

pequenininha bem pequenininha mais eli antis daqueli sementinha cair eli jaacute nasci

aqui eli jaacute nasci demais aiela eacute alta muita alta natildeu mas ela daacute por aqui assim ela daacute

ateacute um metru menus dum metru um poquinhu neacute as veiz ela ela bota galinhu tambeacutem

por todu cantu as vezis quandu eacute uma terra boa ela fica bonitanatildeu ela eacute planta

caseira ela num eacute nativa natildeu ela eacute caseiraeacute compridinha a folha dela eacute compridinha

eacute soacute uma folinha i tem uns dedinhus assim qui sai uns biquinhus assim uns

bordadinhus neacute na folinha delaa flor dela eu nunca vi a flor dela bota sementinha a

flor dela eu natildeu sei comu eacute qui eacute neacute tem a sementinha a sementinha eacute agarradinha

tudu ali pela galhu dela pelu nu tronquinhu da folha dela ela jaacute bota aqueli galinhu i eacute

aqueli galinhu jaacute vai botandu a sementinha a sementinha dela eacute bem pequenininha bem uma coisinha muita muidinha mesmu( )mastruz eli tem dois nomi mastruz i erva

santa maria neacuteerva santa maria natildeu noacutes aprendemos assim pelu livru eu conheci por

mastruz mesmu aiacute depois quandu veiu um livru qui era pra gente estudar erva-santa

maria erva santa maria a genti foi ver tava laacute a fotu deli i conhecemus qui eacute o mesmu

mastruz

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para machucados anti-inflamatoacuterio

Fu Formas de

uso

As folhas satildeo amassadas e colocadas no local do ferimento ingerido ou o chaacute das

folhas

Fn Finalidade Medicinal

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

202

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

203

APEcircNDICE CCndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMelatildeo de Satildeo Caetanordquo

Fotografia 54 ndash Melatildeo de Satildeo Caetano com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 33 MELAtildeO SAtildeO CAETANO

Lx Lexema Melatildeo Satildeo Caetano

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Df Definiccedilatildeo esse ai eacuteh nativo eacute uma verele eacuteh um cipozinho beim do tipo uma trepadeira ele vai a donde tem uma arviele se apodera pra ele sobre pra laacute onde tem uma

arvoreele se pega tambeacutem ele eacuteh do clima friodo invernomais no veratildeo ele

sempre somi ele eacuteh nativo tambei ele num eacute uma planta assim ele eacuteh nativo no

roccedilado quando a gente botou no roccedilado pra genti plantar assim gosta de nascer

aiacute ele eacuteh assim ver uma arvore assim ele se apodera pra subir ele eacuteh um

cipozinho bem fininhovive junto com a planta natildeo natildeo ele eacuteh muito durativo

vai vai um certo ponto quando o veratildeo acocha muito ele fracassaeacuteh ele fica

assim bem fraquinhele eacuteh assimo jeito dele e que nem maxixe assimquando

ele taacute pegando o maxixequando agenti planta nu nu geral ele fica que ele rama

assimeacuteh o melau satildeo caetano as folhinha dele eacute pequena menor que a folha de

maxixeredondinha eacute eacuteredondinhaos galinhu delo cipozim eacuteh bem finin me

daacute aquele cipoacute eacuteh bem mais fino que o cipoacute do maracujaacute muito bem mais fininhofininho mesmo eacute eacutehela bota uma florzinha amarelinha soacute uma

florzinha amarela ( ) ai despois o frutinho deleele bota um frutinho pequeninho

eacute eacuteh assim peludinho que nem uns picozinhus quem nem maxixe redondinho

assimtambeacutem meteacute agora num sei dizer se serve pra alguma coisa faz o

remeacutedio da folhaeacuteh o chaacuteeu uso na garrafadaservipra inframaccedilatildeo

tudotodo tipo de inflamaccedilaotildeai eu pego eleeu seco e bem sequinho na

sombra ai eu uso na garrafadana garrafada que eu usopor isso eu digo as

mias garrafadas todo tipo de remeacutedio eu coloco laacuteque serve pra uma

coisaser pra outrao frutuquando ta maduro eacuteh amarelinhuquando ta

verdi parece maxixequando taacute ele amadurece fica amarelinhusimamarelo

melau satildeo caetanonatildeo sei dizer

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas na garrafada para inflamaccedilotildees

Fu Formas de uso O cha das folhas para inflamaccedilotildees e tambeacutem as folhas secas satildeo usadas na

garrafada para todo tipo de inflamaccedilatildeo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Domingas Alves de Sousa 53 anos

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

204

Informante

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Quando a planta esta verde tem aparecircncia de maxixe quando maduro na cor amarela tem aspecto de um melatildeo pequeno

Dc Data da Coleta 04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

205

APEcircNDICE DD ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMortinha Miuacutedardquo

Fotografia 55 ndash Mortinha Miuacuteda com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 34 MORTINHA MIUacuteDA

Lx Lexema Mortinha Miuacuteda

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh ela eacute parente da mortinha peluda porque eacute nativa que nem a outra ela eacute

nativa ela num eacute uma planta que a genti planta ela nasce sozinha ateacute eh eacuteh

uma erva ela eacute nativa ela eacute medicina por isso que eu digo que eacute uma erva

uma erva nativa ela daacute assim ela gosta de todos os climas clima frio clima quente porque laacute perto de casa tem uma arvi eh todo tempo tau so um jeito ser

veratildeo ou seja inverno sempre no inverno ela muda um pouquinho por que claro neacute

num seca mas daacute eacuteh todo clima ela gosta mortinha miuacuteda eacute porque ela eacute bem

piquinininha a folha dela chama mortinha miuacuteda porque ela daacute mortinha folha

mais muidinha que existi eacute ela eacute menor ainda que a erva do jabuti menor ainda

ela eacute uma folhinha ela ela eacuteh meia compridinha ela num eacute bem redondadinha natildeo

ela eacute compridinha a folha dela eacute bem miudinha agora ela sim ela eacute mortinha

porque eacute uma arve tatildeo bonitinha a genti coidando dela ela eacute uma arve bem

bunitinha porque ela daacute meio baixa ela eacute copodinha formatu duma arve de

jambreiro ela toda cheinha tem flor a flor dela eacute bem miudinha miuditinha

(risos) natildeo sei nem bem dizer eacute porque assim bem pequenininha eacute pequenininha a

florzinha dela acho que tem sementi ainda natildeo prestei atenccedilatildeo mais com certeza ela tem sementinha a mortinha miuacuteda eacute lisa a folha dela eacute menor ela eacute

liso eacuteh essa outra mortinha peluda daacute mais alto essa eacute muito baixinha a mortinha

peluda eacute maior a folha eacute maior o olho dela quando ta sim que ela brota o olho

novo eacute bem rosiozinhu da peluda essa uma natildeo eacute toda soacute verdinha la perto da

minha casa tem uma grande dessa arvore dessa arve eu jaacute perguei um filhim dela

assim assim que ela nasce ela brota o filho dela eu tirei plantei bem pertinho de

casa ta bem bonitinho nois aprendemus com a minha avoacute quando uma mulher

ganhava neneacuten neacute que natildeo tinha aquele coiso de trazer pro hospital e tudo elas

fazia o chaacute pra tomar porque a mortinha miuacuteda faz a limpeza do utro da mulher

por dentro da mulher neacute aiacute ela fazia o chaacute aiacute durante assim um eacuteh quinze dias

vinte dias ela ficava fazendo o chaacute soacute natildeo era soacute dela pegava um monte de ervas pegava a mortinha pega gengibre pegava um monte de coisas assim que elas sabiu

e fazia u chaacute e nisso ficavam tomando planta que desinflamasse isso isso ela faziau

soacute soacute que eu faccedilu o chaacute dela ela num eacute tatildeo travoso assim mas ela tem esse poder

de desinflamar a pessoa e eu conheci muito a minha matildee que a minha voacute quando a

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

206

mamatildee teve os filhos que eu jaacute me lembrava que depois de mim ela teve cinco filhos

depois de mim neacute e nesse um eu via ela fazer esses chaacute todo dia ela fazia o chaacute too dia num era o negocio de botar nesse tempo nem existia geladeira nu

exista neacute aiacute a minhacutevoacute era assim quando a minha matildee ganhava filho cada uma

hora que ela ia comer antes da refeiccedilatildeo ela tomava o chaacute de manhatilde meio dia e

de tarde e a noite ela fazia aquele chaacute antes da refeiccedilatildeo feito da folha pegava

assim tipo uns galinho bem fininho tambeacutem ele tirava aquele galinho quebrava

colocava tudinho na panelinha e cozinhava e dava e sempre nois era curiosa e

perguntava voacute pra qui eacute isso pra que servi quando ela tava fazendu uma uma

velinha muita paciente a vovoacute minha filha isso que eacute pra mulher que tem filho tem

que tomar isso tem que tomar isso que eacute remeacutedio pra fazer limpeza nois via ela

fazer soacute do resguardo quando tava de resguardo essa outra mortinha peluda fazia

assim um probrema di di menstruaccedilatildeo neacute qui eu disse naquele dia pega assim

aquelas folhas bem vermelha folha dela novinha eacute bem vermelha enrolava nas folhas colocava embaixo da cinza quando jaacute tivesse mole espremia e tirava aquele

suco aquele caldo e colocava um pouco de cachaccedila e tomava pra normaliza jaacute

conheci por mortinha nunca perguntei ela tinha a mortinha miuacuteda esse nome

de mortinha eacute porque ela eacute bem miudinha tatildeo insensivelsinha ela eacute tatildeo eu

acho essas outras porque todas elas eacute mortinha neacute mortinha de morte ((

risos))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para o poacutes-parto e regular menstruaccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Usar o chaacute para limpeza do uacutetero e diminuir o sangramento na menstruaccedilatildeo tirando o

sumo da folha e misturando na cachaccedila

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo mortinha estaacute relacionado ao tamanho da planta que eacute bem delicada

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

207

APEcircNDICE EE ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMortinha Peludardquo

Fotografia 56 ndash Mortinha Peluda com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 35 MORTINHA PELUDA

Lx Lexema Mortinha Peluda

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Df Definiccedilatildeo natildeu natildeu eacute a morti essa uma eacute a vida num eacute a morti natildeu erraru neacute pra butari a vida

butaru mortinhaeacute mais achu qui eacute ela eacute nativa tambeacuteim ela eacute uma arvri mais jaacute jaacute

bastanti maior eacute uma arvri ela trepa bastanti grandi a arvri dela u cauli dela eu jaacute

vi ate dessa grussura asim neacute teacute dessa grussura assim ela daacute na capueira tambeacuteim

assim numa capueira ela daacute na mata assim eu sei qui ela eacute nativa mais eu nunca vi ela

na mata veju eacute na capueira natildeo menor daacute menor eacute eu jaacute vi menor num sei si ela

teim eacute nativa nativa eacute qualquer clima di qualquer ambienti ela nasci podi ser baxu

podi ser terra seca ela daacute a folhinha dela eacute compridinha tambeacuteim compridinha

larguinha i a flor eu da nunca vi a flor dela eu natildeu sei dizer eu natildeu sei dizer neacute sei qui ela assim u olhu dela assim qui ela brota qui ela taacute renovada u olhu dela assim bas eacute

bem vermelhu u olhu dela assim aquela folha nova eacute beim vermelhinhu beim vermelhu

vermelhu mesmu mortinha peluda porque ela eacute cheiu di pelinhu uma uma us

galhinhu a a os galhu dela assim aquelis galhinhu ( ) eacute cheiu di pelinhu natildeu num eacute a

folha eacute eacute us talinhu us talinhu assim umrum issu natildeu nau nau eacute eacute lisu eacute lisu eacute

paacute folha qui eacute peludinhu eacute teim aquelis pelinhu mais eacute pouquin neacute por issu qui

chamu mortinha porque ela teim varus varus tipu ai pra pra mudar ai butaru mortinha

peluda mortinha( ) qui daacute beim piquininhinha mermu qui a folinha deli eacute qui neim

aqueli mato ali ai teim di otra mortinha qui eacute a vauacutena qui teim aquela qui bota uma

frutinha bem vauacutena qui chama crianccedila gosta di comer daacute muitu nu pastu negociu di

pasto assim di juquira eacute vauacutena a crianccedilada comi qui ela ela daacute qui neim num teim

azeitona essas bicha aqui comeacute nau natildeu eu nunca vi natildeu nunca vi a frutinha dela mas com certeza ela bota porque assim ela ela eacute nativa as veiz genti num vai laacute vecirc

naquela eacutepoca ela ta sim num acompanha ai por issu qui eacute mortinha peluda porque

tocirc dizendu assim tem varus tipu di mortinha i cada uma teim um nomi a mortinha

peluda a mortinha essa outra qui eacute a lisa qui eacute a vauacutena qui eu to dizendu neacute as folha

dela as folha dela satildeo igual eacute eacute muita muita muita folha muita ela eacute uma arvri

assim qui ela daacute qui ela ispalha galinhu pra todu cantu pra todu cantu ela sai galho

dela assim ai( ) i aiacute ela eacute ela eacute uma arvri travosa ela eacute travosa ela presta tantu pra

mulher eacute fazer banhu di assei u neacute ela eacute bom issu travosu sim natildeu num eacute

normau eacute eacute a folha nova dela aquela folha du quandu brota aquela folha nova qui ela

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

208

fica assim beim vermelinha i pra assim mulher quandu taacute na menopausa qui as veiz

passa daacute assim passa du dia da menstruaccedilatildeu dela passa assim por que assim teim mulher quandu taacute im menopausa assim sempri assim passa assim neacute mais dia ai

assim ai minha matildei sempri fazia assim oacute i ensinava pega aquelas folhinha da mortinha

peluda i lava ela beim beim lavadinhu i embrulha numa folha di guarimatilde i bota numa

cinza dibaixu da cinza assim pra quilu assim amulecer natildeu secar pra ficar assim pra

depois qui tiver ali sequinha qui tiver moli qui tiver cozinhadu tira dali espremi i bota

um pocu di cachaccedila i tomaela solta ela ela solta ela depois dela taacute ali neacute com aqueli

suou qui ela ta ali abafadu ela soa ela amoleci ai bota um pocu di cachaccedila i toma

tinha genti qui iacutea na casa da mamatildeie i dizia assim qui tava com essi poblema neacute as

veiz era menopausa i as mulheacute natildeu tinha essi conhecimentu qui era menopausa aiacute elas

ficavu afrontada pensava assim qui jaacute era um comeccedilu di hemorragia issu tudo neacute ( )

conversandu ( ) ai eu aprendi cum a mamatildei quandu foi certus tempus neacute ( ) issu eacute

aiacute um tempu taacute cum mas ou menus um anu i pocu eu tinha uma minha colega tava assim colega da minha minina inte filha da parenti ali du antoniu froz ali neta du

finadu antoniu froz neacute ela procuro ela mando i a dominga eu to passandu mau ela

morava nu broca ela ligo si eu num sabia di um remeacutediu por que ela jaacute tinha tomadu

tanta da garrafada qui a matildei dela tinha feitu i ela tava com essi poblema mais ela eacute

nova mulher du primeiru filhu ela taacute cum vinti dois anus pareci ela taacute cum essi

poblema ichi to seim coragi pra nada si eu num sabia ensinar um remeacutediu eu dissi a (

) natildeu eu natildeu sei ensinar remeacutediu a tua matildei porque a matildei dela trabalha com garrafada

tambeacuteim neacute a a mamatildeie fez uma garrafada pra mim eu fez foi pioraacute apioraacute mais

dominga eu to ateacute com medu i eu num quiria ir negociu di cirurgia eu num quiria di

jeitu nenhum natildeu queru mi consultar ai eu peguei ensinei vou ensinar um remeacutediu qui

a mamatildei ensinava pra mulher ai eu peguei fez uma garrafinha neacute i mandei pra ela mandei u remeacutediu i feiz uma cartinha ensinandu comu ela fazia dissi adriani natildeu vou

fazer aqui porque pra mim fazer aqui tu mora longi ela morava nu broca aiacute eu mandei

pelu carru di alunu ai depois qui eu vi ela dissi dominga graccedilas a deus aqueli remeacutediu

foi em primeiru lugar pra mim seraacute qui feiz beim feiz beim qui ichi eu neim foi neim mi

consultar aqueli remeacutediu ela mi dissi neacute ela fazia assim quandu us otru ensinavu pra

ela neacute ai ela jaacute aprendeu com voacute com a matildei dela e aiacute ela fazia natildeu eacute issu eacute ela fazia

cum eu achu qui ela jaacute aprendeu com a voacute dela cum a matildei ai prontu ela jaacute faziu aqueli

remeacutediu dava certu aiacute elas iam so passandu di voacute passar pra matildee matildei passar pra filhu

filhu jaacute passa prus netu aiacute jaacute vai

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas para problemas com a menstruaccedilao hemorragia e menopausa

Fu Formas de

uso

Utiliza-se a folha embrulhada na folha da guarimatilde esquentando no fogo depois eacute

espremida e colocada na cachaccedila

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Existem vaacuterios tipos de mortinha a planta com a folha lisa eacute chamada Vauacutena

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

209

APEcircNDICE FF ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPata de Vacardquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 36 PATA DE VACA

Lx Lexema Pata de vaca

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh abertu amplu eacute ela eacute eacute mais du friu ela eacute uma forma di pata de vaca memu

ela daacute assim neacute ela assim aiacute ela reparti uma folha ela tem dois divisatildeo uma forma

duma pata di vaca mermu ela eacuteh meacutedia ela natildeu eacuteh tatildeu pequininha mas natildeu eacuteh tatildeu

grandi tambeacutem eacuteh meacutedia eu nunca vi a flo dela porque eu essa arvre laacute diabe laacute nu

nossu setor ela duro pocus tempu ela natildeu duro tantus tempu natildeu ela natildeu chego a bota

flo eacuteh essi um eli num era tatildeu piquininhu mais eli num era tatildeo grossatildeu diabet eli era

porque ela ela foi num era era uma arvri nova porque eacute comu eu contei qui meu irmatildeo elimino ela antis du tempu meu irmatildeu num sei u qui aconteceu or mininu cortaru ela

num chegoacute a si forma eu num sei dize u tamanhu dela a grussura dela i eu diabet da

nunca vi ela im otru cantu pra mim dize oacute isso aqui eu vi essa uma laacute im casa qui foi teacute

um meu colega qui levo pra casa i deu um galhu pa minha irmatilde aiacute ela plantocirc i aiacute ela

tava jaacute um bom tamanhu aiacute agenti num tinha um diabetete di qui ela era assim tatildeo

assim valiosa neacute eli eli chegoacute diabete assim oacute diab aqui eacute remeacutediu mais eli num disse

pra qui era i pra quecirc natildeu naqueli tempu agenti num tinha ainda muita diabetete di

assim fazecirc iab assim essi tipu di trabalhu remeacutediu garrafada essas coisa aiacute ela plantocirc

laacute i soacute sei qui iab sei qui laacute a folha dela eacute assim () i ela ela creceu numa boa altura

agora achu qui aquilu inda nu era u tamanhu dela assim diabetete neacute achu qui ela

inda ia crececirc mais ela eacute meacutedia eacute uma planta eacute ela eacute uma planta eacute meacutedia eacute

meacutedia cum certeza ela eacute uma planta meacutedia natildeu soacute o cauli a folha isso agente usa a folha dela pra remeacutediu i a casca pra fazecirc u chaacute pra diabete neacute () me diabet qui ela eacute

boa pra diabete ela eacute folha i casca

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo utilizadas as folhas e o caule para Diabetes

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome tem relaccedilatildeo com o formato da folha (pata de vaca)

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

210

APEcircNDICE GG ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeacute de Galinhardquo

Fotografia 57ndashPeacute de Galinha com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 37 PEacute DE GALINHA

Lx Lexema Peacute de Galinha

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminologico Feminino

Df Definiccedilatildeo ela eacute uma erva ela eacute uma erva ela eacute nativa ela daacute nu pastu assim neacute tipu um capim

ela eacute um capim( ) soacute qui ela daacute u formatu di um peacute di galinha mermu ela nasci aqui u

pezim deli ali ela ispalha mais naquela a dondi ela espalha ali us pezim eacute qui ela bota

a sementinha uma pequena semetinha tambeacuteim beim piquenininha ela eacute mais ou

menus meiu palmu assim beim miudinha teim sim sim ela bota o caulizinhu qui eacute u

peacute di u formatu di uma perna di galinha mermu u formatinho neacute bota aqueli caulizinhu ai na pontinha deli qui ela espalha u pezinhu aquelas folinha prum ladu i pra otru fica

nu formatu di um peacute di galinha eacute eacute issu eacute nu invernu eacute eim qualquer tempu eacute

qualquer cantu ela daacute achu qui eacute por causa du formatu noacuteis conhecemus tambeacuteim

cum ela neacute cum ela queacute dizer quandu otra pessoa tava com dor di denti ela mandava

fazer u chaacute assim quandu tava com aquela dor di denti assim cum inchaccedilu aiacute ela

mandava fazer u chaacute faz u chaacute du peacute di galinha pra fazia u chaacute esfriava i tomava ali ( )

porque naqueli tempu edilene era difiacutecil assim ah qualquer coisa ir pru hospital

qualquer coisinha aqueli tempu natildeo tinha aacute cecirc eacutesi natildeu tinha aqui era muitu difiacutecil pra

genti vir aqui pra paacute neacute uma consulta uma coisa a minha voacute a minha matildei num foru

acostumada assim qualquer coisinha taacute nu hospital qualquer coisinha sentia uma dor

di cabeccedila ah eu vou pru hospital vou pru hospital di jeitu ninhum num era dessi jeitu natildeu a minha voacute eu conheci ela qui eu tocirc com cinquenta anu cinquenta i dois anu eu

nunca vi ela dizendu assim eu queru ir pru hospital eu tocirc cuma dor di cabeccedila eu tocirc

cuma dor di barriga eu tocirc com uma diarreia eu queru eacute ir pru hospital nunca ouvi

nunca nunca nunca sabi comu eu nunca vi soacute remeacutediu caseru agora fossi na casa

dela neacute ela ( ) uma panelinha di barru qui ela usava panelinha di barru aiacute di manhatilde

ela preparava ela pegava eacute denti di alhu quandu natildeu tinha u denti era casca du alhu

um bucadu di coisa mastruz botava laacute aiacute cozinhava noacuteis chegava laacute qui noacutes era

curiosa neacutevovoacute pra qui eacute issu aqui eacute pra mim beber mais u qui eacute que secirc tem voacute nada

meu filhu issu eacute remeacutediu mermu mi deu na cabeccedila deu fazer as vezis ela dizia assim eu

amanheci assim com uma dozinha nu meu estocircmagu uma coisa um ventu uma coisa

assim quasi naquilu eli si curavu naquilu ela nunca foi eu nunca vi ela num hospital natildeu assim dizendu eu queru ir eu vou mi consultar mi levu pra mi consultar nunca eu

mais saudia era ela quandu adoeceu foi pra morrer velhinha jaacute quandu ela adoeceu

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

211

foi pra morrer i ela foi assim ela caiu aiacute sI bateu neacute ai u titiu ainda ainda quis levar

ela pra consulta pru hospital ela num quiz ir di jeitu nenhum ela dissi qui natildeu adiantava ela ir qui ela sabia qui ela natildeu ficava boa era tempu dela morrer i ela jaacute

tava velha di idadi ela jaacute andava devagarinhu u titiu anda feiz umas consulta assim

pra ela foi consultar i trouxi umas injeccedilatildeo mais ela natildeu ficou boa mermu mais natildeu

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de dente e inchaccedilo na boca

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dores de inchaccedilos nos dentes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem aspecto de um peacute de galinha

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

212

APEcircNDICE HH ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeatildeo Brancordquo

Fotografia 58 ndash Peatildeo Branco com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 38 PEAtildeO BRANCO

Lx Lexema Peatildeo Branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma planta eacute caseira clima tantu faz ela gostalugar que eleela ela gosta

tantu faz eacuteh aela eacute bem resistente inverno veratildeo veratildeo ela eacute resistente ela sim a

folhadela eacute media ela eacute redondafolha dela verdio fruto delaelabota assim

tipohum tipo caixinho ai dentro da da daquele cachu da a sementi neacutebota as

sementinhas e quando a genti pega dentro aquela caixinha tem sementinha delaque

a gente abre o remeacutedio e a sementi dela que eacuteh o remeacutedio ela da o cacho bota o cacho

assimas pontinhas daqueles coisinhus assimbota o fruto ai dentro do fruto

daquelas daquelas cachopinhos parte que taacute a sementinha a sementinha preta dela

ela bemeacuteh a sementi que usa no caso do peau a folha dela eacute remeacutedio prano caso ta com dor de cabeccedila uma ma tontura mucha a folha dela a folha do peatildeo branco

mucha um pouco no fogo passa um pouco de alho e coloca na testa e pra tontura

neacuteminha voacute fazia cuando algueacutem com tontura fazia issoaiacute o leite dele que a genti

corta assim o caule dele sai dele uma aguazinha eacute e tambeacutem muito esse noacutedia se pegar

na roupa da genti tem que ter muito coidadu usar o leitiele aiacute si tiver crianccedila que

tiver ferida na boca antau dor de denti muito celente pra usar o leiti corta o leitizim

dele bota numa esponjinha de algodatildeo e coloca no denti ferida na tambeacutem eacute bom

tambeacutem agenti pega apara o leiti dele bota um pouquim de sal e coloca na boca da

crianccedilaa sementi delea genti pega a semnetinha dele aquela sementi num eacuteh tao

pequenininha ela eacute muito bem maior que a sementi de urucumbem maiora genti pega

elaeh uma crianccedila tiver com tossetiver ehproblema daquela asmaela servi pru bucado de coisas as veis febre as veis fartiu a crianccedila num quer comerse pega ele

assim parte aquele sementinha tem o coidado de tirar a folhinha porque agenti fica

olhando assim agenti percebi a folhinha dele que ta dentro daquela sementinhauma

folhinha dentroassim pra nascer neacuteaquela folhinha assim quando ela ela agenti

parte jaacute percebi a folhinha jaacute ta li aquela folhinha agenti tem que tirar tudinhu na

mimpega uma faca tira tudinhu e pega aquela sementinhaela eacute que nem uma coco

que nem um coquinho assim neacuteaquela massinha ai pega faz umbota ela pra

assarbotaela fica amelinhaai pega pisa pisa e da pra crianccedila pouco tambeacutem

neacutemuito natildeo porque se der muito ele da um acesso de vomito que eacute forte eacutehisso aiacute

eacute remeacutedio mas neacute todo mundo que sabe fazer e eacute difiacutecil de ensinar pro outra pessoa

fazer remeacutedio caseiro tem essa ciecircncia neacutepurque a genti natildeo sabendo fazeragenti

ateacute evita de ensinar pra uma pessoa porque ele natildeo tem costume de fazerele tem

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

213

ciecircncia remeacutedio caseirotem chaacute que a genti pode beber o tanto que fornatildeo ta nem

aimas agortem remeacutedio caseiroo peatildeoo peatildeo eacute muitoa mimha matildee fazia pra nois agenti comeccedila a tossirnois era muito neacuteuins tussindu as veis gripadu ela

tiravaela tirava aquela folhapegava uma pontinha da faca ehmae o que eacute isso

no crianccedila curiosa sabe coma eacute neeh olhe isso eacute afolha que tem que tirar se comer

com essa folha morre ela dizia neacuteeacute veneno essa folha tem que tirar e assava so as

bandinhas ela pegava um espetinhu fazia uns espetinhos bem fininhu botava pra

assar so na quentura despois ela moiacutea assimdava para nois comerquando dava

certo ela misturava com qualquer coisaquando dava certo quando natildeo dava

assim quando nois jaacute era entendidopor meus filhos eu nunca fizeu jaacute comimais

eu nunca fiz nuca cheguei a fazer eu sei fazereu sei preparar do jeito que minha matildee

fazia pra nois nunca dava nunca dava mais de uma sementicom a folhinha muito

coidado com aquela folhinha de dentro da sementi

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e tontura Do caule eacute retirado um leite para dor de dente feridas na boca A semente eacute usada para febres e vocircmitos

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dor de cabeccedila para tontura a folha eacute esquentada com um

alho e colocada na lateral dos olhos O caule tem um leite que eacute retirado para colocar

com um pouco de sal nos casos de dores no dente ou feridas na boca Dentro da

cachopinha da planta tem a sementinha que eacute assada e triturada para acessos de

vocircmitos e febres

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Dentro da sementinha da planta existe uma folhinha bem pequena que deve ser retirada

para o preparo do remeacutedio segundo seu saber a folhinha eacute venenosa por isso nem

todos sabem preparar a medicaccedilatildeo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

214

APEcircNDICE II ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoQuebra Pedra Brancordquo

Fotografia 59 ndash Quebra Pera Branco com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 39 QUEBRA PEDRA BRANCO

Lx Lexema Quebra Pedra Branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminologico Feminino

Df Definiccedilatildeo eacute uma erva uma erva ela eacute ela achu qui pertenci um poquinhu friu um puquinhu

quenti ela tambeacuteim daacute assim ela tambeacuteim daacute nessa eacutepoca assim di natildeu muita chuva

natildeu muitu sol sempri ela ela gosta di daacute i ai tambeacuteim ela ela eacute nativa tambeacuteim ela

nasci assim tambeacuteim pelu quintau nu canteru sozinha ela nasci e ai quandu chega u

veratildeu qui eacute u veratildeu aperta muitu aqueli veratildeu di novembru dezembru ela morri ela si acaba natildeu ela eacute assim num teim u cuminhu di planta u cuminhu di planta jaacute viu u

cuminhu di planta natildeu natildeu sim sim sim () aqueli cuminhu qui a genti planta nu

canteru neacute pois eacute eli eacute daqueli jeitu eacute u formatu da di cuminhu sim sim sim pois eacute

natildeo mais quandu a genti dexa eli crescer eli da sementi eacute eli num cresci porque

quandu chega aquela eacutepoca a genti tem qui arrancar pra planta otru pra genti vender

daqueli jeitu neacute mais deixandu eli sementa i a a quebra pedra eli fica na formatu di

duma arvri di cuminhu di planta i ai eli a folha deli eacute beim muiditinha eli eacute eli eacute uma

avre assim pequeninha tambeacuteim e a a folha deli eacute bem miudititita assim a folhinha

deli mais ou menu eacute a folhinha daacute muita piquinininha tambeacutem mas daacute florzinha

dela beim miudititita ela teim teim teim natildeu natildeu natildeo natildeo eacute uma plantinha

piquinininha mas eacute uma planta eacute qui neim qui neim u cheiru verdi qui nem u cheiru verdi eu nunca vi u cheiru verdi assim di flor neacute mas eu jaacute vi mas eli eacute qui neim u

cheiru verdi assim a avrinha deli ai daacute daacute us galhinhu daacute as folhinhas beim miuditita

assim porque eli distroacutei as pedra di rim neacute achu qui eacute por issu qui u nomi deli eacute

quebra pedra quebra pedra eu aprendi nu livru tambeacuteim nu livru foi qui eu

aprendi issu foi a minha matildei i minha voacute a minha matildei i minha voacute qui muitas dessa

essa daiacute agenti sabia dessi nomi quebra pedra agora natildeu sabia a importacircncia qui eli

tinha mas u nomi a genti jaacute sabia por que ela eacute branquinha a a folha porque teim di

duas marca tem du roxu i teim du branquinhu i u bom eacute o que eacute branquinha

piquininha i branquinha i du roxu eli eacute du mesmu formatu mas soacute qui eli eacute roxinhu

tambeacuteim eacute a folha eacute a folha a raiz i assim a genti arranca ela tudu i lava i bota pra

fazer u chaacute deli completu folha cum raiz cum tudu

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de As folhas satildeo usadas para problemas renais

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

215

uso

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes contra as pedras nos rins e na garrafada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome da planta tem relaccedilatildeo com a funccedilatildeo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

216

APEcircNDICE JJ ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoSalsardquo

Fotografia 60 ndash Salsa com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 40 SALSA Lx Lexema Salsa

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo natildeu a salsa di remeacutediu eacute otra ela eacute du ela tantu faiz pra ela ela gostu du du mais

ela eacute du ambienti mais friu um tempu dessi( ) ela ela podi passar u veratildeu mas ela num

morri mais natildeu ela fica assim meia fraquinha amareladinha mais ela num morri

quandu chega u invernu ela renova tudim ela fica toda renovada e ai a folha dela eacute

bastanti grandi tambeacuteim eacute assim num formatu dum coraccedilatildeu tambeacuteim ela soacute qui ela eacute

mais grandi e eacute eacute um cipoacute tambeacuteim ela eacute cipoacute quandu quandu daacute certu dela subi ela

sobi mais ela eacute du chatildeu du chatildeu eacute du chatildeu natildeu natildeu eacute sobi eacute eacute si ela ver otra otra

planta ela sobi i aqui ela jaacute bota u cipoacute ela jaacute jaacute sobi aqui se der certu prela descer i

ela vai dandu cipoacute i vai dandu raiacutezes nu cipoacute i vai i pegandu vai indu ela num eacute aquela

raiz soacute nu peacute dela natildeu ela vai botaacute nu u cipoacute i vai i vai raizandu issu daiacute eu num sei dizer eu conheccedilu por essi nomi ( ) eacute porque natildeu eacute ela eacute nativa eacute eacute nativa teacute nu

lugar qui ela daacute qui ela nasci eacute difiacutecil ela ateacute si acabar natildeu soacute salsa eacute eacute eacute porque

a du temperu ela eacute qui neim cheiru verdi neacute du mesmu jeitu du cheiru verdi a salsa du

temperu i essa uma natildeu ela eacute um cipoacute ela daacute assim pertu di casa teim uma a genti

luta paacute acabar essi comecirc di rola ocirc ocirc essi que daacute eli daacute mais nu roccediladu eacute elas vatildeu

a salsa teim muitu laacute pertu di casa ela chega nu terreru eu cortu eu arrancu soacute qui ela

eacute difiacutecil dela si acabar ela fica escondidinha ela fica to dizendu nu veratildeu ela fica

amarelada soacute qui ela num si acaba pa dizecirc morreu natildeo noacuteis arranca noacuteis corta ela

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas em alimentos

Fu Formas de

uso

Usam-se as folhas como cheiro verde serve para dar sabor no alimento

Fn Finalidade Tempero

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

217

APEcircNDICE LL ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoVassourinhardquo

Fotografia 61ndashVassourinha com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 41 VASSOURINHA Lx Lexema Vassourinha

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ela eacute nativa ela nasci tambeacuteim nu paacute assim terreru nu quintal sempri a vassorinha

sempri ela gosta mais assim assim du molhadinhu du uacutemidu eacute mais nu veratildeu ela eacute

bastanti resistenti tambeacuteim nu veratildeu eacute com certeza eacute natildeu uma arvrizinha tambeacuteim

uma arvri piquinininha mas ela eacute arvri num eacute rastera natildeu num eacute grama ela eacute formatu

duma vassora bota arvrinha aqui daqui espalha us nasci us galinhhu neacute ela espalha aiacute teim a folha dela eacute qui neim a folha di mastruz ela eacute mais menas mais eacute u mesmu

formatu da folha di mastruz assim eacute uma folinha uma folinha com com um frizadinhu

assim soacute qui pequena eacute menozinha um pocu du qui a folha di mastruz i aiacute a sementinha

dela eacute beim pequenininha tambeacuteim daacute umas bolinha assim umas bolinha qui neim um

pirulituzinhu uma coisa soacute qui eacute beim piquininha neacute aiacute ela bota a sementinha dela

tambeacuteim sim a florzinha dela eacute assim meia roxinha beim piquininha a florzinha dela

bem piquininha assim meia roxinha branquinha assim um roxozinhu claru eu

aprendi com a minha voacute tambeacuteim com us meus tiu inteacute quandu quandu eu tinha um tiu

vinha a ser tiu da mamatildei a genti considerava qui neim avoacute eli eli benzia dor denti aiacute

quandu eli chegava uma pessoa laacute agrave eu vim aqui pra oce benzer meu denti eli taacute

doendu num sei u quecirc eli mandava vai apanhar uma vassorinha um galhinhu di

vassorinha pra mim com aqueli cum aqueli galhinhu di vassorinha qui eli fazia u trabalhu deli assim benzia neacute ai agenti aprendeu aiacute as depois ai tinha veiz qui eli fazia

eu fazia aqueli trabalhu ai depois as veiz eli dizia olha au chegar na tua casa pega

dois dois trecircis pontinhas di folha di vassorinha i pisa com pouquin di sal i coloca

quandu u denti tinha aqueli coisa neacute aquela furadu neacute bota um pouquin di sal i coloca

ai genti fazia era u remeacutediu qui eli mandava i ficava bom ai conheci por vassorinha

porque a vovoacute tambeacuteim dizia qui era era um vassorinha porque eacute eacute pa ensinar crianccedila

pequenu tira um galhu di vassorinha i meti nais costa dessi safadu por qui galhu di

vassorinha num doacutei muitu eacute pra ensinar crianccedila pequena neacute aiacute tinha qui dizer assim

ai tambeacuteim antigamenti ar mulher faziu vassora pra varrer da planta apanhava

dondi tinha muitu neacute apanhavu ela i amarravu assim aqueli fexu aqueli monti i botavu

num cabu di pau i faziu vassora pra varre dondi num natildeu natildeu ela eacute beim ela eacute beim uma uma beim cheinha eacute uma plantinha pequeninha mais ela eacute cheia ela eacute quasi qui

neim u mastruz( ) eacute u mastruz eli espalha mais eli eli eli cresci assim mais grandi eli

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

218

bota mais assim eli fica maioacute a a vassorinha ela eacute um formatu di uma arvri di

jambreru soacute qui eacute piquininha mais eacute naqueli formatinhu qui ela eacute di jambreru nativa eacute pra alergia tambeacuteim eacute banhu fazer u banhu dela qui eacute pra

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de dente

Fu Formas de

uso

Pega-se a folhinha amassa com sal e coloca em cima do dente

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta era usada como vassoura pelas mulheres por ser bem encorpada aleacutem disso

usava para disciplinar as crianccedilas e tambeacutem em rezas pelo tio

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Page 3: Estudo Terminológico das Plantas Medicinais da Comunidade ...

2

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFPA

___________________________________________________________________________

Salomatildeo Antonia Edylane Milomes 1978 ndash

Estudo terminoloacutegico das plantas medicinais da comunidade remanescente de

quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do Paraacute - PA Antonia Edylane Milomes Salomatildeo -

2015

Orientadora Raimunda Benedita Cristina Caldas

Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal do Paraacute Campus de Braganccedila

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia Braganccedila 2015

1 Linguagem e Liacutenguas 2 Plantas medicinais -Terminologia 3 Palavras e

expressotildees 4 Quilombos - Santa Luzia do Paraacute(PA) 5 Quilombolas - Santa Luzia do

Paraacute(PA) I Tiacutetulo

CDD 23 ed 4014

___________________________________________________________________________

3

ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO

Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade

Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do

Paraacute - PA

Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo

em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do

Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Aacuterea de concentraccedilatildeo Leitura e Traduccedilatildeo Cultural

Aprovada em ______ ______ ______

Conceito _________________________

Parecer Final ______________________

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas (UFPA-Campus de Braganccedila)

Orientadora

________________________________________________

Prof Dr Elias Mauriacutecio da Silva Rodrigues (UFRA-Campus Capanema)

Membro Externo

_________________________________________________

Profordf Drordf Tabita Fernandes da Silva (UFPA-Campus de Braganccedila)

Membro Interno

_________________________________________________

Profordf Drordf Carmen Luacutecia Reis Rodrigues (UFPA-Campus de Castanhal)

Suplente

4

Dedico este trabalho ao meu esposo

Haroldo Jorge e minha filha Maria

Lorenna pelo apoio incondicional e

constante incentivo Aos meus familiares e

amigos pela paciecircncia incentivo e

amizade

5

AGRADECIMENTOS

A DEUS

Ele colocou pessoas tatildeo especiais a meu lado sem as quais natildeo conseguiria alcanccedilar e nem

superar as dificuldades dessa caminhada Meu eterno louvor e gratidatildeo ao Senhor de minha

alma Obrigada sempre

Agrave Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas

Por acreditar em mim me mostrar o caminho da ciecircncia por ser exemplo de profissional e de

mulher a qual sempre seraacute modelo na minha vida Muitiacutessimo obrigada

Aos Professores

Profa Dra Raimunda Benedita Cristina Caldas Prof Dr Guumlnter Karl Pressler Profa Dra

Sylvia Maria Trusen Profa Dra Carmen Lucia Reis Rodrigues Profa Dra Tabita Fernandes

da Silva Profa Dra Roberta Alexandrina da Silva Prof Dr Joseacute Guilherme dos Santos

Fernandes Prof Dr Pedro Petit Pentildearrocha Profa Dra Georgina Negratildeo Kalife Cordeiro

Prof Dr Flavio Leonel Abreu da Silveira Prof Dr Luis Junior Costa Saraiva Prof Dr

Salomao Antonio Mufarrej Hage Profa Dra Nilsa Brito Ribeiro Profa Dra Maria do

Perpetuo Socorro Galvatildeo Simotildees pelas contribuiccedilotildees nas disciplinas ministradas e no curso

em geral Obrigada a todos

Ao Prof Dr Elias Mauriacutecio

Pela amizade que transcende ao tempo pelo incentivo e contribuiccedilatildeo para que eu pudesse

realizar esse sonho Meu sincero e especial obrigada

Ao Prof Dr Jair Cecim

Que me fortaleceu e me fez tentar natildeo ser a melhor mas fazer o melhor de mim Obrigada

Agrave senhora Domingas Alves

Suas contribuiccedilotildees foram basilares nesse estudo Sempre disponiacutevel e disposta a ajudar com

seus saberes a senhora me fez enxergar que existe um mundo infinito de conhecimentos que

ultrapassam geraccedilotildees atraveacutes das lutas e das conquistas alcanccediladas pela forccedila de um povo

Muito obrigada por tudo

Agrave senhora Nazareacute Guirard

Que se mostrou incansaacutevel e atenciosa contribuindo significativamente com informaccedilotildees

fundamentais nos trabalhos com as plantas e respeito agrave natureza Sempre obrigada

Aos moradores quilombolas de Pimenteiras

Por me receberem e acolherem na comunidade respeitando e contribuindo espontaneamente

para que o trabalho demonstrasse sua histoacuteria e identidade Todos merecem meu eterno

agradecimento

6

Aos meus pais Zaqueu Alves e Lucia Salomatildeo

A quem amo muito obrigada pelo carinho paciecircncia e incentivo Meu infinito

agradecimento Amo muito vocecircs

Aos meus irmatildeos Joseacute Weliton e Maria Helem

Pela dedicaccedilatildeo e auxiacutelio nos momentos difiacuteceis vividos em nossas vidas Obrigada

Ao meu esposo Haroldo Jorge

Meu amor que sempre acreditou em minha capacidade meu companheiro que se dedicou

espontaneamente a me acompanhar ajudar e me equilibrar nos momentos de dificuldades

Devido ao seu companheirismo amizade paciecircncia compreensatildeo apoio alegria e amor este

trabalho pocircde ser concretizado Obrigada por ter feito do meu sonho o nosso sonho Te amo

Agrave minha pequena e amada filha Maria Lorenna

Sua presenccedila em minha vida trouxe um incentivo a mais para continuar Natildeo eacute por mim mas

por vocecirc meu amor que sempre busco alcanccedilar e ser o melhor Amo vocecirc meu cheirinho

As amigas Alaiacutece Pereira Alcilene Morais Sara do Socorro

Que diretamente fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando Meu

eterno agradecimento pela amizade Valeu meninas

As amigas do Mestrado

Pelos momentos divididos juntos especialmente agrave Myrceia agrave Michelly Adriana Elizabete e

Aldilene que se tornaram verdadeiras amigas e tornaram mais leve meu trabalho Obrigada

por dividir comigo as anguacutestias e alegrias e ouvirem minhas bobagens Foi bom poder contar

com vocecircs

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Por abrir as portas para que eu pudesse realizar este sonho que eacute a minha Dissertaccedilatildeo de

Mestrado Vocecircs proporcionaram-me mais que a busca de conhecimento teacutecnico e cientiacutefico

mas uma liccedilatildeo de vida Ningueacutem vence sozinho OBRIGADA A TODOS

7

ldquoHaacute um casamento que ainda natildeo foi feito no Brasil entre o saber

acadecircmico e o saber popular O saber popular nasce da experiecircncia

sofrida dos mil jeitos de sobreviver com poucos recursos O saber

acadecircmico nasce do estudo bebendo de muitas fontes Quando esses

dois saberes se unirem seremos invenciacuteveisrdquo

Leonardo Boff (1938)

8

RESUMO

O presente trabalho traz um levantamento dos termos sobre as plantas de uso medicinais

catalogados e utilizados pelos moradores remanescentes de quilombola da comunidade de

Pimenteiras pertencente agrave cidade de Santa Luzia do Paraacute no Estado do Paraacute cujo

procedimento de anaacutelise parte de conhecer as praacuteticas dos saberes no fazer uso das plantas

medicinais nessa comunidade Foram elencados aspectos relacionados com a comunidade

suas origens e seus saberes sobre as plantas medicinais que se tornaram siacutembolo de

identificaccedilatildeo cultural dos moradores quilombolas Assim nosso propoacutesito eacute mostrar que a

linguagem eacute algo que identifica e marca as caracteriacutesticas de um grupo ou de um indiviacuteduo

do mesmo modo que a liacutengua de especialidade sobre as plantas de uso medicinal utilizada

pelos moradores quilombolas revela uma identidade cultural forte desse grupo Os estudos

terminoloacutegicos de Krieger e Finatto (2004) serviram de base para analisarmos os termos e

suas especificidades no contexto particular da linguagem assim como a abordagem

socioterminoloacutegica de Faulstich (1994 1995 1996 2001 2003 2006) propiciou observar

por meio dos termos suas construccedilotildees variaccedilotildees e definiccedilotildees no que concerne ao

conhecimento repassado entre as geraccedilotildees Construiacutemos este trabalho utilizando uma

metodologia com instrumentos usados antes durante e apoacutes a pesquisa para a anaacutelise dos

dados coletados Os recursos da informaacutetica entrevistas transcriccedilotildees de diaacutelogos orais fichas

terminoloacutegicas e registro de imagens foram alguns dos meacutetodos usados na construccedilatildeo do

trabalho Em suma observamos que o saber da cura por meio das plantas medicinais estaacute

preservado na memoacuteria e na liacutengua dos moradores quilombolas da comunidade de

Pimenteiras

Palavras-chave Plantas Medicinais Saber Tradicional Identidade Cultural Terminologia

Socioterminologia Termo

9

ABSTRACT

This paper presents a survey of the terms on the medicinal use of plants cataloged and used by

the remaining residents of Pimenteiras community maroon belonging to the city of Santa

Luzia do Paraacute in the state of Para whose analysis procedure of knowing the practices of

knowledge to make use of medicinal plants in this community Aspects of the community

were listed their origins and their knowledge about medicinal plants that have become a

symbol of cultural identification of quilombo residents So our purpose is to show that

language is something that identifies and marks the characteristics of a group or an individual

just as the specialty of language on the medicinal use of plants used by the quilombo residents

reveals a strong cultural identity of this group The terminology studies Krieger and Finatto

(2004) formed the basis for reviewing the terms and their specificities in the particular context

of language as well as socioterminological approach Faulstich (1994 1995 1996 2001

2003 2006) led to observe through terms of their buildings variations and definitions

concerning the knowledge passed on between generations We developed this work using a

methodology tools used before during and after searching for the analysis of the collected

data computers resources interviews oral dialogue transcripts terminology records image

recording these were some of the methods used in the development of the work In short we

see that the knowledge of healing through herbs are preserved in memory and language of the

quilombo residents in Pimenteiras community

Keywords Medicinal Plants Traditional knowledge Cultural identity Terminology

Socioterminology Term

10

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade 33

Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras 33

Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas 34

Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada 35

Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda 36

Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas 37

Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento 37

Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena 44

Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico 44

Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o

funcionamento do organismo 45

Fotografia 11 ndash Salsa dissecada 45

Fotografia 12 ndash Canela dissecada 46

Fotografia 13 ndash Vinagreira dissecada 46

Fotografia 14 ndash Mucuracaacute 95

Fotografia 15 ndash Folha do Mucuracaacute 95

Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti 98

Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti 98

Fotografia 18 ndash Noni 100

Fotografia 19 ndash Folha do Noni 100

Fotografia 20 ndash Pataca 102

Fotografia 21 ndash Folha da Pataca 102

Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata Pasto 105

Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem 105

Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo 108

Fotografia 25 ndash Folha de Vassoura de botatildeo 108

Fotografia 26 ndash Nambu Tutano 110

Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano 110

Fotografia 28 ndash Paratudo 115

Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo 115

Fotografia 30 ndash Gergelim Branco 118

Fotografia 31 ndash Folha do Gergelim Branco 118

Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho 121

Fotografia 33 ndash Folha do Urucum Vermelho 121

Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho 123

Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho 123

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute 96

Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti 98

Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni 100

Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca 103

Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-de-Muquem 105

Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo 108

Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano 110

Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo 112

Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo 115

Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco 118

Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho 121

Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho 123

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 PIMENTEIRA OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE

QUILOMBOLA 18

21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA 19

211 Remanescentes o que restou 22

212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras 25

22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO 28

221 Ladainha agrave Nossa Senhora do Livramento 31

222 AQUAFAP O desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola

nos saberes das plantas medicinais 39

223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico 42

23

SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM

PIMENTEIRAS 47

231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes 51

232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais 53

233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes 55

234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais 58

3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 61

31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL 62

311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular 65

32

A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS

ESPECIALIZADOS 68

321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada 70

33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL 73

331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da

Socioterminologia 76

332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico 79

4 METODOLOGIA 85

41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE

PIMENTEIRAS 86

42 A PESQUISA DE CAMPO 87

43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS

DADOS 89

431 Entrevistas 89

432 Recursos de anaacutelise dos dados 90

433 Termos Catalogados 90

5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE

UM POVO 92

51 MUCURACAacute 94

52 ERVA DE JABUTI 97

53 NONI 100

54 PATACA 102

55 PAU-DE-MUQUEM 104

56 VASSOURA DE BOTAtildeO 107

57 NAMBU TUTANO 109

58 QUEBRA PEDRA ROXO 112

59 PARATUDO 114

13

510 GERGELIM BRANCO 117

511 URUCUM VERMELHO 120

512 ERVA DE PASSARINHO 122

6 CONCLUSAtildeO 127 REFEREcircNCIAS 132 APEcircNDICES 143

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

ldquoSou apenas um escritor Um cultivador Um jardineiro Um florista A minha

felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me

excita quando acabo de as colherrdquo

Joaquim Pessoa (1948)

A liacutengua traz em seu contexto a identidade cultural de um povo A partir desta

questatildeo procuramos discorrer na presente dissertaccedilatildeo sobre o ldquoEstudo Terminoloacutegico das

Plantas Medicinais da Comunidade Remanescente de Quilombola de Pimenteiras em Santa

Luzia do Paraacute ndash PArdquo As experiecircncias vividas em grande parte de minha vida na cidade de

Santa Luzia do Paraacute me fizeram conhecer diversas comunidades proacuteximas agrave regiatildeo

comunidades com caracteriacutesticas fortes que marcam a identidade dos moradores e de toda

sociedade luziense

Por conhecer e vivenciar os saberes e a cultura das comunidades de Santa Luzia do

Paraacute escolhemos particularmente a comunidade de Pimenteiras por ser uma regiatildeo rica em

sua biodiversidade e por querer mostrar os saberes que os moradores quilombolas possuem

sobre a terra suas origens e seus saberes medicinais Contribuiu para o levantamento da

pesquisa a receptividade dos moradores de Pimenteiras que permitiram conhecer melhor sua

cultura diversidade na natureza e seus anseios de conseguir a titularidade da terra quilombola

A comunidade de Pimenteiras fica localizada na regiatildeo rural de Santa Luzia do Paraacute

a cerca de 30 km de distacircncia da cidade em uma estrada sem asfalto com caminho de difiacutecil

acesso o que inviabiliza agrave populaccedilatildeo desta comunidade assistecircncia agraves suas necessidades

baacutesicas Formada por moradores de origem quilombola muitas famiacutelias chegaram a este local

haacute muitos anos tendo saiacutedo da comunidade de Narciacutesea na cidade de Capitatildeo Poccedilo ndash PA em

busca de melhorias para o sustento de suas famiacutelias Pimenteiras eacute uma comunidade cujos

moradores buscam por meio do conhecimento e valorizaccedilatildeo de suas raiacutezes fortalecer seus

viacutenculos com a terra e a natureza a sua volta Deste contato especial com a natureza os

moradores conhecem e utilizam seus saberes na aacuterea da medicina tradicional

O saber da cura por meio da medicina popular continua preservado no falar dos

moradores remanescentes de quilombolas pelas informaccedilotildees sobre a influecircncia negra e

tambeacutem indiacutegena A manipulaccedilatildeo os cuidados com as plantas a forma de cultivo as relaccedilotildees

associativas nos nomes das plantas medicinais vecircm de longas geraccedilotildees que sofreram e

15

sobreviveram com a ajuda da natureza Eacute diante do saber preservado na liacutengua dos moradores

quilombolas que desenvolvemos este estudo sobre os termos das plantas medicinais

Com o intuito de conservar o saber das geraccedilotildees mais antigas um pequeno grupo da

comunidade quilombola registrou amostras de plantas medicinais da regiatildeo em que vivem

cada espeacutecie com os nomes de uso popular que os moradores conhecem pois observamos

que dentre os nomes registrados para uma mesma espeacutecie de planta ocorrem variaccedilotildees na

nomemclatura

Entender como uma comunidade guarda e preserva seus saberes por meio da liacutengua eacute

de suma importacircncia para o andamento deste estudo de cunho popular e cientiacutefico

Compreender como a liacutengua se mistura e se reinventa nos usos de um povo eacute o que mais

chama nossa atenccedilatildeo nos aspectos dos estudos do termo Levando em consideraccedilatildeo que

nenhuma Liacutengua eacute homogecircnea efetivamos um pequeno estudo sobre a liacutengua suas relaccedilotildees e

interferecircncias na sociedade Percebemos que a utilizaccedilatildeo das plantas medicinais eacute uma praacutetica

universal na medicina popular pois eacute o resultado do acuacutemulo de conhecimentos empiacutericos

sobre a accedilatildeo dos vegetais por diversos grupos eacutetnicos

No decorrer dos estudos observamos que haacute diversas expressotildees populares

direcionadas ao uso dos vegetais para a sauacutede tais como ervas caseiras folhas medicinais

vegetais medicinais ervas medicinais e plantas medicinais Estas diferentes expressotildees dos

termos ocorre por questotildees culturais que variam de uma comunidade para outra De modo

particular utilizamos neste trabalho os termos ldquoplantas de uso medicinalrdquo ou ldquoplantas

medicinaisrdquo Por fazer parte do falar de uma comunidade os termos catalogados sobre as

plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras foram analisados no contexto da linguagem

de especialidade que eacute campo de estudo da Terminologia

Dentre as ciecircncias que estudam o leacutexico a Terminologia1 estuda um subconjunto da

liacutengua relacionado a uma aacuterea especiacutefica do conhecimento humano esse subconjunto eacute

composto por signos especializados que chamamos de termos Quando o uso da liacutengua passa

por um processo de transformaccedilatildeo no qual certas palavras adquirem uma significaccedilatildeo dentro

de um domiacutenio de conhecimento particular entre um grupo de falantes que compartilham da

mesma aacuterea de conhecimento essa particularizaccedilatildeo eacute de domiacutenio da linguagem de

especialidade e o termo eacute seu objeto de uso

Eacute nesse contexto que a Terminologia direciona seu olhar ao fator social na anaacutelise

dos dados linguiacutesticos Com isso surge a Socioterminologia como um campo teoacuterico e

1 Haacute uma tendecircncia a convencionar que Terminologiagrafada com T maiuacutesculo eacute indicativa de campo de

conhecimento e com t minuacutesculo eacute referente ao conjunto de termos de uma especialidade (KRIEGER 2004)

16

aplicado que segundo Faulstich (1995) eacute uma releitura da terminologia tradicional que

incorpora aos estudos do termo o aparato social considerando nesse aspecto os fatores de

variaccedilatildeo linguiacutestica Gaudin (1993) tambeacutem edificou seus estudos terminoloacutegicos por meio de

outras aacutereas de conhecimento como a Sociolinguiacutestica e a Sociologia campos amplamente

estudados pela Socioterminologia que observa a dimensatildeo social na comunicaccedilatildeo

especializada sem estar separada dos discursos em que os termos emergem

O estudo do termo diante da perspectiva socioterminoloacutegica traz o registro e anaacutelise

das variantes da linguagem de especialidade De acordo com Faulstich (1995 p 285) ldquoo

princiacutepio subjacente da pesquisa socioterminoloacutegica eacute o registro da(s) variante(s) que leva em

conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico em que os termos circulam []rdquo

Em consideraccedilatildeo ao que foi explanado este trabalho tem o proacuteposito de verificar os

registros dos termos analisando e identificando os usos de domiacutenio dos mesmos sobre as

plantas medicinais que por conseguinte distinguem a comunidade de Pimenteiras Assim

selecionamos como objeto de estudo os termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

que foram catalogadas pelos moradores quilombolas quando criaram o projeto do

Bioenergeacutetico na regiatildeo Muitos dos termos alistados possuem nomenclatura diferenciada em

relaccedilatildeo aos usos comuns da liacutengua Essas particularidades vieram de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo com

o repasse dos saberes entre famiacutelias e amigos principalmente entre as mulheres Sob o prisma

dos pressupostos da Terminologia e da Socioterminologia daremos enfoque no processo de

constituiccedilatildeo do leacutexico semacircntico conceitual dos termos sobre as plantas medicinais de

Pimenteiras observando se este saber especializado sobre as plantas traz traccedilos da identidade

cultural dos moradores quilombolas

Por uma questatildeo didaacutetica nosso trabalho dissertativo foi organizado em cinco

capiacutetulos No primeiro capiacutetulo oferecemos uma visatildeo geral sobre o presente estudo a ser

direcionado para a anaacutelise dos dados registrados nessa dissertaccedilatildeo explicando alguns

conceitos baacutesicos que seratildeo fundamentais para situar a localidade os sujeitos envolvidos no

estudo dos termos relativos agrave comunidade e as plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras

No segundo capiacutetulo apresentamos os aspectos relacionados agrave comunidade de

Pimenteiras suas origens ndash quilombola e da comunidade ndash os remanescentes de Pimenteiras

a cultura religiosa ao lado de suas lutas pela terra Em seguida apresentaremos o trabalho

com o Bioenergeacutetico e o iniacutecio do processo de catalogaccedilatildeo dos termos analisando as relaccedilotildees

entre o saber e o conhecimento para a construccedilatildeo dos sujeitos de saberes Demarca-se

tambeacutem a presenccedila do gecircnero feminino preponderante nas relaccedilotildees com o conhecimento

17

tradicional nesse contexto representado por Domingas Alves do Nascimento como uma

grande personalidade na comunidade e responsaacutevel por buscar sempre ampliar os saberes que

possui sobre as plantas fazendo com que a comunidade de Pimenteiras tenha como identidade

cultural seus saberes preservados e utilizados entre as geraccedilotildees afrodescendentes

No terceiro capiacutetulo expomos a base teoacuterica deste trabalho ancorada nos estudos

Terminoloacutegicos e Socioterminoloacutegicos verificando assim questotildees sobre a importacircncia da

liacutengua na identidade cultural de um povo Em seguida reconhecemos o valor das plantas

medicinais para o conhecimento cientiacutefico e popular como tambeacutem nos aspectos relacionados

agraves ciecircncias do termo tais como a Terminologia e a Socioterminologia fundamentais para

compreendermos a importacircncia da terminologia nos estudos especializados da liacutengua assim

como o estudo do Termo como base para o estudo socioterminoloacutegico

No quarto capiacutetulo abordamos sobre os procedimentos utilizados na pesquisa de

campo na comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras apontando os objetivos

gerais e especiacuteficos do trabalho relatando sobre as entrevistas a catalogaccedilatildeo dos termos sobre

as plantas medicinais os recursos utilizados para o tratamento dos dados e em seguida o

organograma do conhecimento sobre a cultura das plantas medicinais

Todo o processo de estudo percorrido nesta dissertaccedilatildeo culminaraacute no quinto capiacutetulo

no qual apresentamos a anaacutelise Socioterminoloacutegica dos termos de Pimenteiras Nesse

capiacutetulo seguimos algumas etapas na anaacutelise do termo no contexto da variaccedilatildeo terminoloacutegica

observando a linguagem como representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras e os

aspectos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinais Mostramos como os

termos variam de acordo com as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos aleacutem de analisar

se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade medicinal verificando

por meio da definiccedilatildeo de cada termo sua descriccedilatildeo dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber

especializado

Diante das variaccedilotildees dos termos e portanto das diversas definiccedilotildees utilizamos no

processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Enilde Faulstich uma

amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees sobre os termos verificando o aspecto da

funcionalidade do termo dentro da linguagem especializada Com isso observamos que o

conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras eacute a marca de seus

antepassados sua identidade sua histoacuteria de sua linguagem especializada diante da

diversidade na natureza

A partir de agora iniciamos os estudos natildeo apenas dos termos sobre as plantas

medicinais mas sobretudo sobre a histoacuteria de um povo que busca viver e vencer as

18

dificuldades histoacutericas passadas entre as geraccedilotildees para que hoje seus registros sejam

marcados pelas conquistas alcanccediladas e as futuras

2 PIMENTEIRA2 OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE

QUILOMBOLA

ldquoPodemos dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de

identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator

extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo em sirdquo

Michel Pollak (1992)

Desde os primeiros focos de resistecircncia dos africanos contra a escravidatildeo colonial os

estudos sobre os negros constitui assunto relevante principalmente na formaccedilatildeo de

comunidades afrodescendentes mais conhecidas como Quilombos3

No que diz respeito aos afrodescendentes4 a comunidade de Pimenteiras eacute uma das

muitas comunidades formadas por famiacutelias quilombolas os moradores da regiatildeo chegaram haacute

muito tempo da comunidade de Narciacutesea localizada na regiatildeo de Capitatildeo Poccedilo ndash PA

Pesquisas da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares5 apontam que o maior nuacutemero de

associaccedilotildees quilombolas se encontra nas regiotildees do Paraacute e Maranhatildeo chegando a cerca de

100 comunidades existentes nessas aacutereas Sabe-se que natildeo haacute comunidades em isolamento

total existe sempre uma relaccedilatildeo contiacutenua entre os sujeitos e com o meio em que vivem No

caso da comunidade de Pimenteiras isso natildeo eacute diferente proacuteximas agrave regiatildeo existem outras

comunidades que tambeacutem vivenciam a falta de recursos que possam melhorar a vida dos

moradores no campo As comunidades como Broca Piquiaacute Cantam Fuzil natildeo tecircm

2O termo Pimenteira no singular refere-se agraveterra em que vivem os moradores remanescentes de Quilombo

Pimenteiras no plural refere-se agrave comunidade Tabela sobre a comunidade no site

httpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501 3Quilombo eacute o nome dado no Brasil aos locais de refuacutegio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o

periacuteodo colonial e imperial Nesses locais os escravos passavam a viver em liberdade criando novas relaccedilotildees

sociais Muitos quilombos existiram no Brasil e centenas deles ainda existem formando o que hoje eacute chamado de comunidades quilombolas 4Afrodescendente eacute aquele que eacute ou que descende de famiacutelia ou indiviacuteduo vindo do negro africano 5A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares eacute uma entidade puacuteblica brasileira vinculada ao Ministeacuterio da Cultura A entidade

teve seu Estatuto aprovado pelo Decreto nordm 418 de 10 de janeiro de 1992 e tem como missatildeo os preceitos

constitucionais de reforccedilos agrave cidadania agrave identidade agrave accedilatildeo e agrave memoacuteria dos segmentos eacutetnicos dos grupos

formadores da sociedade brasileira aleacutem de fomentar o direito de acesso agrave cultura e agrave indispensaacutevel accedilatildeo do

Estado na preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees afro-brasileiras No artigo 1ordma Lei institui que se promova a

preservaccedilatildeo dos valores culturais sociais e econocircmicos decorrentes da influecircncia negra na formaccedilatildeo da

sociedade brasileira Preocupada com a igualdade racial e com a valorizaccedilatildeo das manifestaccedilotildees de matriz

africana a Palmares formula e implanta poliacuteticas puacuteblicas que potencializam a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra

brasileira nos processos de desenvolvimento do Paiacutes Foi o primeiro oacutergatildeo federal criado para promover a preservaccedilatildeo a proteccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo da cultura negra Pesquisa feita no dia 10012015 as 1155h no site

httpwwwpalmaresgovbr

19

moradores com descendecircncia quilombola mas assim como em Pimenteiras os moradores

natildeo permanecem ldquoestaacuteticosrdquo no tempo todos possuem caracteriacutesticas particulares que

distinguem suas identidades pois a vida eacute dinacircmica

O negro se mostra figura atuante isto estaacute presente nos estudos de Salles (1988 p 67

apud WAGLEY 1977 e GALVAtildeO 1955) que expotildee

Encontraram o negro solidaacuterio com o iacutendio nas vicissitudes sociais Natildeo importa se

negro autecircntico ou se iacutendio autecircntico O passaporte da autenticidade naquele

contexto jaacute havia perdido tocircda ou quase tocircda importacircncia Ambos despojados dos

seus padrotildees culturais quebrados definitivamente amalgamados numa nova cultura

resultante da fusatildeo de trecircs componentes eacutetnicos O processo de desenvolvimento

dessa cultura visto superficialmente eacute pouco acelerado Visto poreacutem em

profundidade mostra-se extremamente ativo Sobretudo no que diz respeito agraves convergecircncias culturais

Visualizando por este acircngulo a figura do negro observaremos no toacutepico seguinte as

origens e significados dos termos Quilombola e Remanescente para que possamos identificar

as marcas de um povo que lutou e alcanccedilou sua liberdade Em seguida verificaremos com

mais sagacidade os estudos de Vicente Salles e Ilka Boaventura Leite sobre o negro

observando sua histoacuteria suas conquistas e as influecircncias do negro no Paraacute e na comunidade

de Pimenteiras em particular

21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA

Iniciamos este assunto com a pergunta que muitos ainda hoje fazem e nem todos

respondem ndash Quem satildeo os negros Entretanto de forma mais profunda responderemos agrave

seguinte pergunta ndash Quem satildeo os Quilombolas

Alguns autores constituem uma anaacutelise do termo e com isso explicam que a palavra

quilombo se refere a um tipo de instituiccedilatildeo sociopoliacutetica militar conhecida na Aacutefrica Central

principalmente na regiatildeo constituiacuteda pela atual Repuacuteblica Democraacutetica do Congo (Zaire) e

Angola conforme expotildee o professor Kabengele Munanga6 (1995) Para ele a expressatildeo

6 KabengeleMunanga eacute Graduado em Antropologia Cultural pela UniversiteacuteOfficielle Du Congo agrave Lubumbashi

(1969) e Doutorado em Ciecircncias Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de Satildeo Paulo (1977)

Atualmente eacute professor titular da Universidade de Satildeo Paulo Tem experiecircncia na aacuterea de Antropologia com ecircnfase em Antropologia das Populaccedilotildees Afro-Brasileiras atuando principalmente nos seguintes temas racismo

identidade identidade negra Aacutefrica e Brasil

20

quilombo vem de ldquoochilombordquo em um dialeto de Angola a professora Leite7 (2000) por sua

vez apresenta que sua etimologia significa ldquobantordquo e exprime ldquoacampamento guerreiro na

florestardquo e foi difundida no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios

decretos e atos visando referir-se agraves integraccedilotildees de apoio muacutetuo criadas pelos ldquorebeldesrdquo ao

sistema escravocrata e agraves suas reaccedilotildees lutas e organizaccedilotildees pelo fim da escravidatildeo no paiacutes

Natildeo obstante esta palavra significou libertaccedilatildeo e conquistas para os libertos alcanccedilando

amplas dimensotildees e conteuacutedos

No decorrer da histoacuteria diversas circunstacircncias envolvendo o negro demonstraram

grandes lutas contra os vaacuterios artifiacutecios de expropriaccedilatildeo de seus corpos bens e direitos Eacute

nesse contexto de servidatildeo do negro diante do homem branco que Salles (1988 p 203) expotildee

O processo tradicional da busca de liberdade consistiu invariavelmente na fuga para

os matos onde os negros se reuniam solidaacuterios entre si e formavam os quilombos

A fuga deve ter sido no comeccedilo soluccedilatildeo bastante difiacutecil e arriscada aleacutem de

empreitada individual Na floresta o negro se achava sozinho Agraves vezes conseguia

chegar a alguma aldeia indiacutegena e por sorte acabava vivendo amistosamente com

os silviacutecolas Bandeava-se desta forma para grupos totalmente estranhos e que com

ele soacute tinha um traccedilo comum o oacutedio ao branco dominador Haacute na crocircnica da

escravidatildeo muitos casos ilustrativos e que destroem o mito da incompatibilidade

eacutetnica

Os negros enfrentaram muitos questionamentos sobre a legitimidade de se acomodar

num lugar cujo espaccedilo pudesse ser organizado conforme suas condiccedilotildees valores e praacuteticas

culturais A repressatildeo ao negro fez com que ele fosse segregado das praacuteticas sociais Hoje esta

exclusatildeo estaacute demonstrada nos censos econocircmicos e nos mais recentes levantamentos

socioeconocircmicos realizados no paiacutes (HASENBALG SILVA 1988) Somente no Brasil apoacutes

a aboliccedilatildeo em 1888 os negros sofrem com a desqualificaccedilatildeo de sua cor sendo ignorados pelo

poder puacuteblico nos lugares em que habitam desprovidos das necessidades baacutesicas de todo ser

humano Eacute diante desta realidade que Leite (2000) expotildee que os descendentes de africanos

nos uacuteltimos vinte anos tecircm procurado se organizar em associaccedilotildees quilombolas

reivindicando o direito agrave permanecircncia e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas

e cultivadas para moradia e sustento da famiacutelia bem como o livre exerciacutecio de suas praacuteticas

crenccedilas e valores apreciados em sua especificidade Diante disto Leite (2000 p 335)

prossegue

7 Ilka Boaventura Leite eacute professora do Departamento e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Antropologia da

Universidade Federal de Santa Catarina fundadora e coordenadora do NUER (Nuacutecleo de Estudos de Identidades

e Relaccedilotildees Intereacutetnicas) Suas pesquisas estatildeo situadas nas aacutereas de teoria antropoloacutegica literatura de viagem

relaccedilotildees intereacutetnicas etnologia afro-brasileira arte e etnicidade Tem publicado artigos sobre literatura de viagens cultura e identidade negra quilombos direitos eacutetnicos poliacuteticas de identidade arte e diaacutespora africana

periacutecias antropoloacutegicas

21

Tudo isto se esclarece quando entra em cena a noccedilatildeo de quilombo como forma de

organizaccedilatildeo de luta de espaccedilo conquistado e mantido atraveacutes de geraccedilotildees O

quilombo entatildeo na atualidade significa para esta parcela da sociedade brasileira

sobretudo um direito a ser reconhecido e natildeo propriamente e apenas um passado a ser rememorado Inaugura uma espeacutecie de demanda ou nova pauta na poliacutetica

nacional afrodescendentes partidos poliacuteticos cientistas e militantes satildeo chamados a

definir o que vem a ser o quilombo e quem satildeo os quilombolas

O simples ato de apropriaccedilatildeo da terra para viver passou a significar um ato de luta e

guerra Assim pensar na questatildeo territorial faz discorrer tambeacutem na definiccedilatildeo sobre o termo

ldquoQuilombordquo ndash que reporta agrave visatildeo distorcida de negros fugitivos ndash e abordar as diferentes

situaccedilotildees que cobriram a existecircncia de Terras de Quilombos no Brasil Para isto Almeida

(1998 p 14) expotildee que eacute necessaacuterio que ldquonos libertemos da definiccedilatildeo arqueoloacutegica associada

ao termo Quilombordquo Segundo o autor as comunidades Quilombolas sempre estabeleceram

uma clara rede de interaccedilatildeo com as sociedades locais contestando o estereoacutetipo do isolamento

geograacutefico A qualidade e intensidade da interaccedilatildeo foi o que possibilitou a construccedilatildeo de uma

configuraccedilatildeo social cuja autonomia tinha tambeacutem suporte nessa dinacircmica de relaccedilotildees sociais

e nas formas de usar e ocupar a terra (ALMEIDA 1988 p 18)

Na conceituaccedilatildeo e significaccedilatildeo da palavra Quilombo Siqueira e Nascimento (1987)

apud Leite (1999 p 15) explicam que no Brasil a tradiccedilatildeo popular apresenta muitas

variaccedilotildees no significado da referida palavra

[] ora associado a um lugar (ldquoquilombo era um estabelecimento singularrdquo) ora a

um povo que vive neste lugar (ldquoas vaacuterias etnias que o compotildeemrdquo) ou a

manifestaccedilotildees populares (ldquofestas de ruardquo) ou ao local de uma praacutetica condenada

pela sociedade (ldquolugar puacuteblico onde se instala uma casa de prostitutasrdquo) ou a um

conflito (uma ldquogrande confusatildeordquo) ou a uma relaccedilatildeo social (ldquouma uniatildeordquo) ou ainda a um sistema econocircmico (ldquolocalizaccedilatildeo fronteiriccedila com relevo e condiccedilotildees climaacuteticas

comuns na maioria dos casosrdquo)

Para Leite (2000) a quantidade de significados faz com que o uso do termo

demonstre uma grande variedade de experiecircncias que generalizam o fenocircmeno enquanto

dimensatildeo poliacutetica de uma formaccedilatildeo social diversa em que evidenciam a persistecircncia das mais

diversas manifestaccedilotildees de resistecircncia e luta que os negros delinearam em toda a nossa

histoacuteria Eacute nesse contexto que Leite (2000 p 338) assim conclui

[] inicia-se a longa etapa de construccedilatildeo da identidade destes grupos seja pela

formalizaccedilatildeo da diferenciaccedilatildeo eacutetnico-cultural no acircmbito local regional e nacional

seja pela consolidaccedilatildeo de um tipo especiacutefico de segregaccedilatildeo social e residencial dos

negros chegando ateacute os dias atuais []

22

A variaccedilatildeo de significados para o termo quilombo traz a construccedilatildeo de um povo que

busca constantemente por seus direitos contudo o que significa o termo remanescente

Verificaremos no toacutepico seguinte especificamente as discussotildees em torno do significado da

palavra ldquoremanescesterdquo no contexto do negro

211 Remanescentes o que restou

No que concerne ao significado do termo remanescente a autora Leite (2000 p 9)

nos apresenta o seguinte contexto

A expressatildeo ldquoremanescente das comunidades de quilombosrdquo que emerge na

Assembleacuteia Constituinte de 1988 eacute tributaacuteria natildeo somente dos pleitos por tiacutetulos

fundiaacuterios mas de uma discussatildeo mais ampla travada nos movimentos negros e

entre parlamentares envolvidos com a luta anti-racista O quilombo eacute trazido

novamente ao debate para fazer frente a um tipo de reivindicaccedilatildeo que agrave eacutepoca alude

a uma ldquodiacutevidardquo que a naccedilatildeo brasileira teria para com os afro-brasileiros em

consequumlecircncia da escravidatildeo natildeo exclusivamente para falar em propriedade

fundiaacuteria

A expressatildeo ldquoremanescenterdquo surge como forma de reinvindicaccedilatildeo por uma eacutepoca em

que a naccedilatildeo brasileira teria certo dever com os afrodescendentes pela grande escravidatildeo e

sofrimento vivido no periacuteodo da aboliccedilatildeo contudo segundo os estudos de Leite (1996 p

341) o termo remete tambeacutem a algo em extinccedilatildeo que estaacute em processo de desaparecimento

Mas foi principalmente porque a expressatildeo natildeo correspondia agrave autodenominaccedilatildeo destes

mesmos grupos e por se tratar de uma identidade ainda a ser politicamente construiacuteda que

tantos questionamentos foram suscitados Eacute nesse impasse da significaccedilatildeo e nomeaccedilatildeo dos

remanescentes de quilombolas que Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia8 (ABA) convocada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico reuniu em outubro de 1994 o Grupo de Trabalho sobre Comunidades

Negras Rurais e elaborou um conceito de ldquoremanescente de quilombordquo ficando assim

definido

8A Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia (ABA) eacute a mais antiga das associaccedilotildees cientiacuteficas existentes no paiacutes

na aacuterea das ciecircncias sociais ocupando hoje um papel de destaque na conduccedilatildeo de questotildees relacionadas agraves

poliacuteticas puacuteblicas referentes agrave educaccedilatildeo agrave accedilatildeo social e agrave defesa dos direitos humanos No decorrer de sua

histoacuteria ela tem sido voz atuante em defesa das minorias eacutetnicas dos discriminados e posicionando-se consistentemente contra a injusticcedila social Pesquisado em 11012015 as 2345h no site

httpwwwportalabantorgbrindexphpinstitucionalfeatures

23

[] contemporaneamente portanto o termo natildeo se referia a resiacuteduos arqueoloacutegicos de ocupaccedilatildeo temporal ou de comprovaccedilatildeo bioloacutegica Tratava-se de desfazer a ideacuteia

de isolamento e de populaccedilatildeo homogecircnea ou como decorrente de processos

insurrecionais O documento posicionava-se criticamente em relaccedilatildeo a uma visatildeo

estaacutetica do quilombo evidenciando seu aspecto contemporacircneo organizacional

relacional e dinacircmico bem como a variabilidade das experiecircncias capazes de serem

amplamente abarcadas pela ressemantizaccedilatildeo do quilombo na atualidade Ou seja

mais do que uma realidade inequiacutevoca o quilombo deveria ser pensado como um

conceito que abarca uma experiecircncia historicamente situada na formaccedilatildeo social

brasileira (LEITE 2000 p 341-342)

No que diz respeito aos direitos sobre a terra o Brasil em comparaccedilatildeo com outros

paiacuteses que claramente obtiveram conquistas poliacuteticas e territoriais talvez seja o uacutenico que natildeo

resolveu formalmente a questatildeo dos direitos territoriais das suas comunidades negras

tradicionais O direito agrave terra que as comunidades atribuem eacute vital pois a concepccedilatildeo da terra

enquanto territoacuterio socialmente ocupado eacute a chave para a vida desses grupos Sobre isso

Chagas (2001 p 228) informa que a aplicaccedilatildeo do direito constitucional se daacute tambeacutem

atraveacutes da titulaccedilatildeo dessas aacutereas

[] para estar em consonacircncia com a viabilizaccedilatildeo de um padratildeo de existecircncia que

seja compatiacutevel e que assegure a vida nos seus proacuteprios termos significaria menos

quantificar ou traccedilar meramente um espaccedilo fiacutesico esvaziado de seu sentido social e

mais justamente recuperar a ideacuteia de que estes espaccedilos sociais estatildeo qualificados e

atravessados por redes de relaccedilotildees que postas em curso garantem a proacutepria

permanecircncia do grupo neste territoacuterio

No trecho citado por Chagas (2001) eacute demonstrada a preocupaccedilatildeo no que se refere

aos remanescentes das comunidades dos quilombos que vecircm sofrendo com o processo de

reconhecimento dos direitos assegurados constitucionalmente nota-se o quanto eacute necessaacuterio

um diaacutelogo com as praacuteticas culturais de cada grupo envolvido auxiliando as comunidades no

autorreconhecimento das populaccedilotildees remanescentes de quilombola Eacute a busca pelo direito agrave

terra direito agrave vida no campo de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado

agrave margem da vida em sociedade

Completando este diaacutelogo com Marques (2004) confere-se que o modo de vida dos

povos do campo eacute entendido como uma configuraccedilatildeo bastante dinacircmica e que soacute pode ser

compreendida a partir de sua inserccedilatildeo na sociedade ndash que hoje inclui as relaccedilotildees sociais que

ocupam as comunidades camponesas na sociedade moderna capitalista ndash percebendo a relaccedilatildeo

entre tradiccedilatildeo e modernidade e qual lugar ocupam os povos de vidas tradicionais

Os quilombos reforccedilavam as lutas contra a escravidatildeo mostrando um tipo de

organizaccedilatildeo social mais justa cuja resistecircncia se manifestou de diversas formas entre greves

de fome violecircncia e fugas Segundo Freitas (1982 p 210) essas fugas mais organizadas e

coletivizadas deram origem ao Quilombo dos Palmares

24

O ldquoQuilombo dos Palmaresrdquo foi a manifestaccedilatildeo mais eloquente do discurso anti-

escravista dos negros brasileiros nos quase trecircs seacuteculos da escravidatildeo representando

um marco na resistecircncia negra A resoluccedilatildeo tomada na Serra da Barriga ldquode morrer

antes de aceitar a escravidatildeordquo demonstra a essecircncia da mensagem que os negros de Palmares deixaram Retomando a reflexatildeo hegeliana ldquoO Amo natildeo eacute Amo senatildeo

pelo fato de que possui um Escravo que o reconhece como talrdquo

Freitas (1982 p 43) explana que os escravos que se refugiavam em Palmares apoacutes

algum tempo escondidos nas serras deixaram de viver escondidos e reconquistaram sua

dignidade como seres humanos O autor prossegue expondo

Os escravos plantavam milho feijatildeo mandioca cana-de-accediluacutecar batata legumes Duas semanas antes do plantio preparavam o terreno com grandes queimadas A

preparaccedilatildeo das terras a semeadura e a colheita era realizada de maneira coletiva

Celebravam o teacutermino da colheita com uma semana inteira de festejos em que todos

folgavam danccedilavam comiam e bebiam Mantinham muitos pomares com uma

variedade de aacutervores frutiacuteferas (1982 p 45)

Durante minhas visitas agrave comunidade remanescente de quilombolas de Pimenteiras o

contato com os moradores levantou muitos questionamentos sobre o entendimento e

significaccedilatildeo do termo quilombola Os mais velhos guardam na memoacuteria recordaccedilotildees de um

periacuteodo no qual seus antepassados viveram e sofreram os accediloites do chicote da escravidatildeo os

adolescentes por sua vez vivem o embate entre aceitar ou natildeo a descendecircncia Aceitando

suas origens alcanccedilam direitos reservados aos negros como o direito de cotas nas

universidades jaacute nos momentos em que os sentimentos de exclusatildeo discriminaccedilatildeo e rejeiccedilatildeo

se tornam maiores nos espaccedilos sociais os mais jovens natildeo se veem e natildeo se orgulham de sua

origem afrodescendente

Na anaacutelise do contexto vivido na comunidade o sentimento que se faz presente nos

mais jovens eacute o fato de que ser homem negro significa ser excluiacutedo e discriminado pelos

colegas da escola Muitos relataram situaccedilotildees de desrespeito natildeo apenas pela cor da pele mas

pelo termo ldquoquilombolardquo A respeito da discriminaccedilatildeo racial sobre os quilombolas Leite

(2000 p 349) comenta que

O ato de aquilombar-se ou seja de organizar-se contra qualquer atitude ou sistema

opressivo passa a ser portanto nos dias atuais a chama reacesa para na condiccedilatildeo

contemporacircnea dar sentido estimular fortalecer a luta contra a discriminaccedilatildeo e seus

efeitos Vem agora iluminar uma parte do passado aquele que salta aos olhos pela

enfaacutetica referecircncia contida nas estatiacutesticas onde os negros satildeo a maioria dos socialmente excluiacutedos Quilombo vem a ser portanto o mote principal para se

discutir uma parte da cidadania negada

25

Diante das discussotildees feitas seguiremos abordando sobre os remanescentes de

quilombola da comunidade de Pimenteiras sua localizaccedilatildeo e os problemas sobre a titularidade

da terra que se tornou algo de extrema importacircncia aos moradores dessa regiatildeo

212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras

Eacute importante frisar que na atualidade a dimensatildeo de luta dos homens negros pela

liberdade foi muito importante para que a cultura afrodescendente se desenvolvesse com

maior fruiccedilatildeo Na Amazocircnia a presenccedila do negro eacute assunto desprezado em termos da

importacircncia insignificante que teria essa mesma presenccedila Segundo Salles (1988) a matildeo-de-

obra faacutecil era abundante e era a uacutenica que poderia mobilizar com sucesso imediato a matildeo-de-

obra dos iacutendios9

Nos estudos sobre a Amazocircnia Salles (1988) expotildee sobre a substituiccedilatildeo do iacutendio

pelo negro na lavoura que natildeo foi tatildeo necessaacuteria na regiatildeo como no restante do Brasil a

presenccedila insistente do iacutendio em muitos trabalhos com a terra deu ao negro a possibilidade de

influir profundamente na civilizaccedilatildeo brasileira criando um tipo de economia em que o

indiacutegena teve grande participaccedilatildeo (CHAMBOULEYRON 2006) No entanto os escritos do

autor natildeo abandonam a significaccedilatildeo do negro na Amazocircnia durante o regime da escravidatildeo o

negro deixou sua personalidade sua etnia e sua cultura na constituiccedilatildeo da economia agraacuteria

Diante disso discorrer sobre os quilombolas no cenaacuterio poliacutetico atual eacute conversar

sobre luta poliacutetica uma reflexatildeo cientiacutefica em processo de construccedilatildeo Hoje cerca de trecircs mil

comunidades quilombolas10

vivem natildeo apenas na Amazocircnia mas em todo o territoacuterio

9 Em tempos do descobrimento do Brasil a necessidade de braccedilos para cortar e transportar o pau-brasil para o

litoral fez com que os portugueses impusessem aos iacutendios o trabalho compulsoacuterio Em meados de 1550 a

decisatildeo de incrementar o traacutefico da Aacutefrica para o Brasil tornou a escravidatildeo do negro mais interessante e

econocircmica para a Coroa portuguesa Apesar de ter sido tatildeo forte e cruel a escravidatildeo do negro africano a

escravidatildeo do iacutendio teve pouco conhecimento e historicamente ficou em segundo lugar Pesquisa feita no dia

10022015 as 1001hs no site httpwwwklickeducacaocombrconteudopagina06313POR-1245-9282-00html 10Ateacute hoje natildeo haacute certeza sobre o nuacutemero de comunidades quilombolas existentes no Brasil mas estima-se que

haacute pelo menos trecircs mil em todo o territoacuterio nacional localizadas principalmente nos estados doAmazonas

Alagoas Amapaacute Bahia Cearaacute Maranhatildeo Minas Gerais Paraacute Pernambuco Tocantins e outros Os estados

brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades quilombolas satildeo a Bahia o Maranhatildeo Minas

Gerais e o Paraacute Segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial

(Seppir) e do Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) oacutergatildeos responsaacuteveis pela

identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos quilombolas

existem atualmente mais de setecentas comunidades oficialmente registradas pela Fundaccedilatildeo Palmares do

Ministeacuterio da Cultura e mais de duzentos processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em andamento envolvendo mais

de trezentas comunidades espalhadas por 24 estados brasileiros Retirado do texto de GASPAR Luacutecia Quilombolas Pesquisa Escolar Online Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Recife Disponiacutevel em

lthttpbasiliofundajgovbrpesquisaescolargt Acesso em 15022015 as 1230hs

26

nacional no entanto muitas terras natildeo possuem ainda o reconhecimento devido No estado do

Paraacute segundo dados pesquisados satildeo reconhecidas duzentos e quarenta (240)11

comunidades

remanescentes de Quilombo

As conquistas para alcanccedilar o direito pela titulaccedilatildeo de terra de quilombo vecircm do

cumprimento do Artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias da Constituiccedilatildeo Federal12

cuja redaccedilatildeo expotildee o seguinte ldquoAos remanescentes das comunidades de quilombos que

estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir

lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)

Com a instituiccedilatildeo deste Leopoldo e Morais (2005 p 3) explanam em seu artigo

sobre territorialidade que muitas lutas e manifestaccedilotildees poliacuteticas tecircm apoiado ou desprovido as

comunidades quilombolas do seu direito agrave terra Leopoldo e Morais (2005 p 1) ressaltam que

ldquoos criteacuterios adotados para o reconhecimento das comunidades quilombolas tecircm sido alvo de

constantes criacuteticas entre esses diferentes atoresrdquo Embora pareccedila pertinente equiparar a

questatildeo do direito agraves terras de quilombos com as terras indiacutegenas ambas satildeo semelhantes

apenas quanto aos desafios e embates jaacute visiacuteveis na questatildeo da identificaccedilatildeo e na definiccedilatildeo

dos sujeitos de direito

No diagrama da fronteira eacutetnico-cultural o Brasil esteve sempre marcado pela

preservaccedilatildeo do territoacuterio invadido e ocupado por inuacutemeros conflitos de terra que remontam

aos dias atuais13

Natildeo muito distante de uma realidade de lutas pelos direitos dos negros os

moradores remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras lutam haacute muito

tempo pelo reconhecimento da terra Localizada na regiatildeo rural da cidade de Santa Luzia do

Paraacute14

a comunidade fica situada em local de difiacutecil acesso situaccedilatildeo que piora muito nos

periacuteodos de chuva causando transtornos aos moradores que veem limitadas suas

necessidades humanas baacutesicas

Vejamos abaixo o mapa da Regiatildeo do Guamaacute onde fica localizada a cidade de Santa

Luzia do Paraacute Rodeada por outras cidades como Capanema Oureacutem Capitatildeo Poccedilo Garrafatildeo

do Norte Cachoeira do Piriaacute Nova Esperanccedila do Piriaacute e tambeacutem Terras Indiacutegenas ocupadas

pelos iacutendios Tembeacute a comunidade de Pimenteiras fica no centro da regiatildeo da cidade de Santa

Luzia do Paraacute como mostra a figura

11 Disponiacutevel em httpwwwcpisporgbrcomunidadeshtmli_brasil_pahtml Pesquisado dia 01052013 as

1933 h 12 Pesquisa no site wwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaohtm em 16122014 as 1633hs 13 Atualmente destaca-se a luta do MST ndash Movimento dos Sem Terra no Brasil ndash que constitui um dos maiores

movimentos sociais do paiacutes com 15 anos de existecircncia nos 23 estados da federaccedilatildeo Maiores informaccedilotildees

consultar o site httpwwwmstorgbr 14Santa Luzia do Paraacute eacute uma cidade brasileira localizada no estado do Paraacute na microrregiatildeo do Guamaacute e na

mesorregiatildeo do Nordeste Paraense

27

Mapa 01 ndash Regiatildeo do Guamaacute Cidade de Santa Luzia do Paraacute Comunidade de Pimenteiras

Fonte IBGE15

Com relaccedilatildeo agrave titularidade da terra como Quilombola o processo continua em

tracircmite nos oacutergatildeos responsaacuteveis Os moradores da comunidade de Pimenteiras vivem agrave espera

da validaccedilatildeo do processo de identificaccedilatildeo e reconhecimento de suas origens valorizaccedilatildeo de

sua cultura e direito ao territoacuterio quilombola Segundo relatos dos moradores um dos motivos

para o impasse no processo seria a presenccedila de pecuaristas e agricultores natildeo remanescentes

de quilombo que vivem na regiatildeo e cultivam nas terras Estas pessoas devem ser indenizadas

pelos espaccedilos de terra que possuem a fim de que o direito dos quilombos tenha garantia de

integralidade das terras Logo a seguir encontram-se as informaccedilotildees de forma resumida sobre

o andamento do pedido de reconhecimento da terra em Pimenteiras

Tabela 1 ndash Titulaccedilatildeo da terra da comunidade de Pimenteiras

FICHA RESUMO DO TERRITOacuteRIO

Nome da Terra Pimenteira

Nome da(s) Comunidade(s) Pimenteiras

Municiacutepio Santa Luzia do Paraacute

Unidade da Federaccedilatildeo Paraacute

Populaccedilatildeo 24 famiacutelias

Dimensatildeo Territorial -

Etapa do processo de titulaccedilatildeo Certidatildeo Fundaccedilatildeo Cultural Palmares

Superintendecircncia Responsaacutevel SR 01 Paraacute

Data da Uacuteltima Atualizaccedilatildeo 30052014

Fonte Comissatildeo Proacute-iacutendio de Satildeo Paulo16

15 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150655ampsearch=||infogrE1ficos-

informaE7F5es-completas

28

Os moradores da comunidade de Pimenteiras sofrem com o processo de

reconhecimento de seus direitos que satildeo assegurados constitucionalmente Para eles

reconhecer a terra eacute importante pois reconhece a existecircncia de uma populaccedilatildeo remanescente

quilombola de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado agrave margem da vida

em sociedade que busca mais do que o direito agrave terra busca o direito agrave vida no campo

Conhecer a cultura de um povo faz com que ele seja reconhecido e valorizado por

suas caracteriacutesticas em particular Diante disso conheceremos no toacutepico seguinte um pouco

da histoacuteria da comunidade de Pimenteiras aleacutem de sua tradicional manifestaccedilatildeo cultural que

eacute a Ladainha a Nossa Senhora do Livramento uma cerimocircnia em agradecimento pelas preces

atendidas do povo daquela comunidade

22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO

Nos encontros ocorridos na comunidade de Pimenteiras nos deparamos com alguns

moradores que haacute pouco tempo natildeo conheciam sua descendecircncia negra e tampouco os

significados que cercam o termo Quilombola Por meio das histoacuterias transmitidas de seus

antepassados e de pesquisadores envolvidos com o Centro de Estudos e Defesa do Negro do

Paraacute (CEDENPA)17

os moradores passaram a se reconhecer como remanescentes de

quilombo de forma orgulhosa no entanto confusos Isto se deve ao fato de que a comunidade

de Pimenteiras vive hoje com o estigma de seus ancestrais escravizados e sem entender seus

reais valores culturais e histoacutericos

Nesse acircmbito Leite (2000 p 339) levanta um questionamento significativo sobre o

termo quilombola Ela explica que

Desde os anos 30 algumas vozes militantes18

defendem fortemente a ideacuteia de

reparaccedilatildeo da aboliccedilatildeo como ldquoum processo inacabadordquo e da ldquodiacutevidardquo em dois

16Disponiacutevel emlthttpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501gt

17O CEDENPA eacute uma Entidade sem fins lucrativos sem viacutenculos poliacutetico-partidaacuterios fundada em 10 de agosto

de 1980 e legalizada em 27 de abril de 1982 que a partir do Estado do Paraacute vem contribuindo no processo de superaccedilatildeo do racismo preconceito e discriminaccedilatildeo que produzem a desigualdades soacutecio raciais de gecircnero e

outras prejudicando sobretudo a populaccedilatildeo negra e indiacutegena em todos os aspectos da sociedade brasileira

Pesquisado em 22062015 as 955hs no site httpwwwcedenpaorgbr

18 Abdias do Nascimento atual senador da Repuacuteblica reescreve suas teses na deacutecada de 80 defendidas desde os

anos 30 quando inicia sua militacircncia O seu quilombismo reivindica uma memoacuteria anterior ao traacutefico e agrave

escravizaccedilatildeo dos africanos Escreve ldquoo quilombismo busca no presente e no futuro e atua por um mundo melhor para os africanos nas Ameacutericasrdquo Resume suas teses do quilombismo em 16 itens O primeiro deles define o

quilombismo como um movimento poliacutetico dos negros brasileiros visando a implantaccedilatildeo de um Estado Nacional

29

planos a herdada dos antigos senhores e a marca que ficou em forma de estigma seus efeitos simboacutelicos geradores de novas situaccedilotildees de exclusatildeo A exclusatildeo como

fato e como siacutembolo Os militantes procuram ver o conceito de quilombo como um

elemento aglutinador capaz de expressar de nortear aquelas pautas consideradas

cruciais agrave mudanccedila de dar sustentaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo da identidade negra ainda

fragmentada pelo modelo de desenvolvimento do Brasil apoacutes a aboliccedilatildeo da

escravatura

O contato com os moradores nos fez refletir sobre os diversos questionamentos a

respeito do entendimento e significaccedilatildeo que as pessoas da regiatildeo tinham sobre a palavra

quilombola Os adolescentes com o conhecimento adquirido na escola relataram que ser

quilombola significava ser negro mas alguns natildeo se consideravam quilombolas porque a pele

natildeo era tatildeo escura Ao refletir sobre isto percebemos que o sentimento presente nos mais

jovens eacute de exclusatildeo ser homem negro significa ser excluiacutedo discriminado e rejeitado pelos

colegas da escola Esse mesmo sentimento ocorre com o termo quilombola que traz para o

contexto atual as marcas de uma eacutepoca de escravidatildeo e de maus tratos contra pessoas de pele

escura Para muitos o sentimento com relaccedilatildeo ao nome Quilombola traz um significado

doloroso Nesse ponto Leite (2000 p 342) salienta

Enquanto uma expressatildeo da identidade grupal o significante ldquonegrordquo vai somando

em seu percurso tudo aquilo que adveacutem de tal experiecircncia ou seja elementos de

inclusatildeo (que mantecircm o grupo unido em estrateacutegias de solidariedade e

reciprocidade) e tambeacutem de segregaccedilatildeo (ou seja a desqualificaccedilatildeo a depreciaccedilatildeo e

a estereotipia) Os sentidos do termo e as experiecircncias nele circunscritas revelam sua ambiguidade por um lado a marginalizaccedilatildeo por outro a forccedila simboacutelica

demonstrada no seu persistente poder aglutinador vindo a configurar ou expressar

uma identidade social e a nortear inclusive poliacuteticas de grupos

De outro modo o conceito negativo sobre a etnia quilombola perpassa tambeacutem pelos

moradores de Pimenteiras que possuem um vasto conhecimento sobre os espaccedilos que

ocupam na regiatildeo com sua rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias geraccedilotildees Os saberes

sobre a natureza satildeo de extrema importacircncia para as diversas aacutereas da ciecircncia conferindo na

forma pela qual pensam classificam e utilizam seus recursos

Contudo o acesso agrave comunidade eacute difiacutecil a uacutenica estrada existente para chegar agrave

comunidade natildeo eacute asfaltada e no trajeto visualizam-se diversas fazendas com gado campos

abertos depois mata fechada com grandes serras que ladeiam a comunidade Durante a

viagem satildeo percorridos aproximadamente 30 quilocircmetros em relevo bastante acidentado

Quilombista inspirado no modelo da Repuacuteblica de Palmares no seacuteculo XVI e em outros quilombos que

existiram e ainda existem Esclarece que natildeo se trata de um modelo segregacionista mas de um movimento que

advoga o poder poliacutetico realmente democraacutetico que implica a presenccedila da maioria afro-brasileira em todos os

niacuteveis desse poder Veja-se Nascimento (1991 21-26 apud Leite 2000 p339 a 340)

30

Ao chegar agrave comunidade percebi que a presenccedila mais forte eacute da natureza na sua

biodiversidade e das terras utilizadas para o cultivo da mandioca feijatildeo e pimenta Existe

tambeacutem o plantio de Murumuru19

cuja produccedilatildeo ocorre devido ao interesse da empresa

Natura20

pela compra do fruto

A comunidade de Pimenteiras possui uma relaccedilatildeo natildeo somente com os

conhecimentos agriacutecolas e o cultivo de plantas mas tambeacutem com os recursos naturais que

estatildeo ligados a estes levando em consideraccedilatildeo as informaccedilotildees sobre a natureza e os valores

de sua cultura e tradiccedilatildeo local A comunidade em estudo tem na mata fechada sua principal

fonte de recursos naturais A variedade de espeacutecies vegetais eacute muito grande ocasionando uma

afinidade dos moradores com a natureza de forma muito forte e antiga

Eacute nesse encontro entre os moradores quilombolas e a natureza que muitos saberes

culturais locais foram e satildeo desenvolvidos sem quaisquer recursos tecnoloacutegicos ou

assistecircncia Esta eacute uma das caracteriacutesticas que marcam a comunidade identificando e

classificando o ambiente em que vivem Eacute uma maneira de auto identificaccedilatildeo e auto definiccedilatildeo

da proacutepria comunidade enquanto grupo social particular que produz saberes sobre a natureza

forjando de maneira inconsciente sua identidade cultural

Mas como se originou a comunidade e o nome Pimenteira Durante as visitas feitas agrave

comunidade as histoacuterias que os moradores contam eacute que haacute muito tempo o pai de Domingas

o senhor Raimundo Cordeiro dos Santos queria fazer as preparaccedilotildees de pais e padrinhos21

para o batizado de uma crianccedila Como na comunidade natildeo havia igreja ou qualquer

representaccedilatildeo religiosa que pudesse ajudar na preparaccedilatildeo ele foi ateacute outra comunidade

chamada Fuzil para falar com o padre chamado Zeacute Doca Devido agrave distacircncia o senhor saiacutea

agraves 2h da madrugada e chegava ao local agraves 5h O padre observando as dificuldades propocircs

que algueacutem da comunidade com certo grau de conhecimento pudesse fazer os ensinamentos

aos moradores

No dia da celebraccedilatildeo do batismo o padre foi ateacute a casa do senhor para batizar a

crianccedila e orientar os moradores a iniciarem as celebraccedilotildees e construir um locar onde

pudessem rezar Assim haacute cerca de 40 anos uma igreja foi construiacuteda no local e os

19 Originaacuterio da Regiatildeo Amazocircnica Ele cresce espontaneamente nas matas do Paraacute Eacute encontrado ao longo dos

rios e em aacutereas inundadas em formaccedilotildees florestais densas ou semiabertas O fruto eacute um coco de coloraccedilatildeo

avermelhada Seu caroccedilo encerra uma amecircndoa dura que fica envolta por uma polpa amarelada comestiacutevel e

levemente adocicada O oacuteleo extraiacutedo da semente de murumuru possui propriedades altamente emolientes 20A Natura eacute um empresa brasileira que trabalha no setor de higiene pessoal perfumaria e cosmeacuteticos e tambeacutem

no segmento da venda direta dos produtos 21 O encontro de preparaccedilatildeo dos pais e padrinhos deve ser uma autecircntica obra de evangelizaccedilatildeo tendo por meta anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para proporcionar o encontro pessoal com Cristo na Comunidade Esses

satildeo preceitos da Igreja Catoacutelica relatados pelo Paacuteroco Elias de Santa Luzia do Paraacute

31

moradores passaram a receber visitas do sacerdote mecircs a mecircs A presenccedila religiosa fez com

que a comunidade de Pimenteiras fosse visualizada e tivesse entatildeo sua origem

Com relaccedilatildeo ao nome Pimenteira o termo surgiu de histoacuterias contadas pelos avocircs do

pai de Domingas trilhando pelos rios e matas da regiatildeo da Narciacutesea eles saiacuteam em busca de

caccedila e pesca formando os ranchos22

na beira do rio Guamaacute Nessas viagens levavam alguns

mantimentos necessaacuterios por passarem muitos dias caccedilando Dentre os alimentos levados a

pimenta natildeo podia faltar Quando retornavam deixavam agrave beira do rio as sementes da

pimenta que traziam elas brotavam e cresciam quando voltavam ao mesmo local de pesca

tinham como referecircncia o peacute de pimenta Assim comeccedilaram a chamar o local de ldquoigarapeacute da

pimentardquo (informaccedilatildeo verbal)23

que com o tempo passou a ser local de moradia para essas

pessoas vindas da Narciacutesea Surgiu assim o nome Pimenteira que deu origem agrave comunidade

remanescente de quilombola

Eacute diante dessa relaccedilatildeo com a natureza que os moradores quilombolas vivem e

reproduzem anualmente o evento cultural ldquoLadainha a Nossa Senhora do Livramentordquo como

ato de feacute agradecimento e preservaccedilatildeo dos fazeres de seus antepassados Eacute o que veremos no

toacutepico seguinte no qual esse momento cultural da comunidade de Pimenteiras seraacute abordado

com maiores detalhes

221 Ladainha a Nossa Senhora do Livramento

Em comemoraccedilatildeo ao ldquoDia da Consciecircncia Negra24

rdquo 20 de novembro os moradores

de Pimenteiras iniciaram um processo de valorizaccedilatildeo e rememoraccedilatildeo de suas crenccedilas

religiosas Segundo relatos dos mais antigos a celebraccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento

veio antes da existecircncia da comunidade de Pimenteiras Nas histoacuterias contadas pela moradora

Domingas tudo comeccedilou com sua avoacute materna a senhora Joana Pornusena dos Santos (in

memoacuteria) que acompanhando o marido no roccedilado presenciou a existecircncia de muitos

perigos O avocirc de Domingas trabalhando na terra solicitou em oraccedilatildeo agrave Senhora do

22 Rancho era o termo popular usado para designar a toca que eles faziam na beira do rio 23A histoacuteria sobre a origem do nome Pimenteira veio dos relatos informais da moradora DomingasTais histoacuterias

natildeo puderam ser transcritas a pedido da moradora 24

O Dia da Consciecircncia Negra eacute uma data celebrada no Brasil no dia 20 de novembro Este dia estaacute incluiacutedo na

semana da Consciecircncia Negra e tem como objetivo um reflexatildeo sobre a introduccedilatildeo dos negros na sociedade

brasileira O dia 20 de novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares data na qual morreu lutando pela liberdade do seu povo no Brasil Pesquisado no site httpwwwsignificadoscombrdia-

da-consciencia-negra

32

Livramento que o protegesse e tambeacutem sua famiacutelia dos acidentes e da morte que aconteciam

no roccedilado Como forma de agradecimento pela graccedila alcanccedilada ao final dos trabalhos com a

terra o avocirc prometeu que celebraria uma cerimocircnia religiosa em homenagem agrave Santa Este

gesto de agradecimento se perpetuou entre as geraccedilotildees e hoje a Ladainha continua preservada

nas matildeos da moradora Domingas

Passada entre as geraccedilotildees da famiacutelia de Domingas a Ladainha possui forte relaccedilatildeo

com o saber das plantas medicinais As flores colocadas sobre altar ou as plantas com cheiro

agradaacutevel usadas durante a cerimocircnia consideradas bentas eram guardadas para serem

utilizadas na forma de chaacutes para a cura das doenccedilas Na Ladainha plantas como manjericatildeo

catinga de mulata canela e hortelatilde satildeo empregadas na cerimocircnia com aacutegua para as pessoas se

benzerem Este ritual natildeo ocorria na eacutepoca da avoacute de Domingas Nas primeiras cerimocircnias a

Ladainha era comemorada com o canto em latim Adolfo era o nome da pessoa que entoava a

oraccedilatildeo sem o uso de livros

Com o passar dos anos ocorreram mudanccedilas como forma de atrair os jovens para a

celebraccedilatildeo Isto fez com que aleacutem da Ladainha do almoccedilo e da presenccedila da imagem da

Senhora do Livramento fosse incluiacuteda uma procissatildeo pela comunidade com o uso de fitas em

volta da imagem o uso da aacutegua com as plantas aromaacuteticas e uma festa como forma da

juventude participar na celebraccedilatildeo Outro aspecto importante que mudou nesses anos foi a

substituiccedilatildeo do canto em latim pela oraccedilatildeo encontrada no livro do Catecismo da Igreja

Catoacutelica que conteacutem a Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento Isto se deve ao fato de que os

jovens natildeo tiveram interesse de aprender a Ladainha em latim No entanto esta possui grande

significaccedilatildeo para a comunidade pois representa a feacute sendo renovada a cada ano Eacute o momento

em que os moradores contam suas histoacuterias e reencontram outras comunidades tambeacutem de

remanescentes de quilombolas eacute o momento em que a comunidade de Pimenteiras eacute

valorizada pela cultura e pelos saberes tradicionais das plantas

Vejamos abaixo algumas imagens da celebraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento

que ocorre anualmente na comunidade de Pimenteiras as quais exibem uma forma de

agradecimento e comemoraccedilatildeo pelas colheitas alcanccediladas durante o ano

33

Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade

Fonte Dados da pesquisa 2014

Ano apoacutes ano todos os moradores se reuacutenem numa grande festa cultural e religiosa

que traz consigo as lutas de um povo que trabalha a terra e marcam profundamente a

identidade da comunidade A data foi escolhida como forma de memorizar as grandes lutas jaacute

vividas pelos negros em prol da liberdade e dos direitos dos afrodescendentes

Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras

Fonte Dados da pesquisa 2014

34

Em comemoraccedilatildeo ao Dia da Consciecircncia Negra outras comunidades quilombolas

satildeo convidadas e prestigiam a comunidade e a Santa reverenciada A comunidade de

Pimenteiras eacute tambeacutem muito conhecida pelo festejo agrave Senhora do Livramento alimentos e

muacutesicas satildeo oferecidos durante o dia e a noite a todos que vecircm para comemorar a data tatildeo

significativa ao povo quilombola

Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas

FonteDados da pesquisa 2014

35

Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada

FonteDados da pesquisa 2014

O povo quilombola eacute um povo alegre que gosta de muacutesica e de danccedila O canto estaacute

sempre presente em seu cotidiano e nas festas da comunidade A cerimocircnia relata a vida as

lutas e a esperanccedila de melhorias para os moradores Eacute atraveacutes da religiosidade que

demonstram todo cuidado e respeito pela terra Na Ladainha a presenccedila da feacute catoacutelica vem

misturada com a forccedila dos tambores e das cordas dos violotildees Eacute nesse conjunto de

movimentos que as histoacuterias de luta de um povo satildeo recontadas sobre a terra a produccedilatildeo

agriacutecola e a identidade dos moradores que transcorrem no festejo

36

Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda

Fonte Dados da pesquisa2014

A festa tradicional eacute resultado de influecircncias negras indiacutegenas e catoacutelicas A

comunidade corteja a Santa do Livramento e as riquezas obtidas durante o ano A fartura estaacute

simbolizada nas oferendas apresentadas durante a celebraccedilatildeo quando satildeo colocados diversos

produtos cultivados na regiatildeo O ritual festivo entrecruza e atravessa ritmos vozes e jogos em

um sistema de imagens da festa popular no qual fim e recomeccedilo dialogam em um estado

coletivo de alegria A festa eacute a passagem do tempo demarcada pela colheita que tem uma

funccedilatildeo renovadora

Durante a cerimocircnia a senhora Libacircnia dos Santos Cunha eacute quem reza e conduz o

cortejo Considerada mais importante que o padre a senhora vem de outra comunidade mas

seu comando direciona o canto da Ladainha A atividade religiosa marca a passagem de

tempo do cultivo da terra significando a oportunidade de reunir pessoas de diversas

comunidades conjugando feacute alegria poliacutetica e reencontros entre familiares e amigos

Enquanto comungam os festejos os moradores discutem tambeacutem o futuro da comunidade

A festa popular eacute demorada e marcada por uma sucessiva e deliciosa comilanccedila

divulgando a abundacircncia e a fartura no ano que passou A celebraccedilatildeo eacute o momento no qual

evocam o poder dos mais velhos legitimam as famiacutelias abrem espaccedilo para os mais novos e

transmitem experiecircncias profundas

37

Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas

Fonte Dados da pesquisa 2014

Os antepassados satildeo lembrados nas praacuteticas cotidianas a famiacutelia eacute evocada na

presenccedila importante da mulher que simboliza o papel de geradora O papel feminino nas

questotildees poliacuteticas reforccedila essa ideia a senhora Domingas direciona junto a outras mulheres

todo o ritual a Nossa Senhora do Livramento aleacutem dos cuidados com a comida e de

participaccedilatildeo nas questotildees poliacuteticas da comunidade

Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento

Fonte Dados da pesquisa 2014

38

Vinda de origem portuguesa a devoccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento surgiu de

uma graccedila alcanccedilada haacute cerca de 50 anos por um agricultor quilombola que invocou o

livramento de todo o mal durante os trabalhos na lavoura A promessa eacute renovada todos os

anos com uma homenagem agrave Santa Tal culto foi tomado e seguido por todos os moradores da

comunidade e hoje comemoram a feacute por meio da graccedila alcanccedilada Logo abaixo segue um

trecho da Ladainha utilizada na celebraccedilatildeo agrave Senhora do Livramento na comunidade de

Pimenteiras A oraccedilatildeo completa se encontra no apecircndice ao final deste trabalho

Ladainha a Nossa Senhora do Livramento (fragmento)

Nossa Senhora do Livramento

Matildee de Deus nossa Matildee

e padroeira de nossa Paroacutequia

Com o olhar confiante vos contemplamos

Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos

Dirigimo-nos a voacutes como filhos

porque necessitamos do vosso auxiacutelio

Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados

apoiados e guiados pela matildeo materna

Renovai-nos espiritualmente

para que saibamos enxergar a vida mais bela

Levantai-nos para caminhar sem medo

nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo

para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna

[]

Nossa Senhora do Livramento

Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da alma

[]

Rogai por noacutes santa Matildee de Deus

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos

perpeacutetua sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-

aventurada sempre Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da

eterna alegria Por Cristo Nosso Senhor Ameacutem

Apoacutes verificarmos um pouco da cultura religiosa dos remanescentes de quilombola

de Pimenteira abordaremos no toacutepico seguinte as lutas que os moradores vivenciam e as

muitas conquistas alcanccediladas apoacutes a criaccedilatildeo e fundaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Quilombola dos

Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP)

39

222 AQUAFAP o desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola nos

saberes das plantas medicinais

Sabendo que uma associaccedilatildeo25

eacute uma iniciativa formal ou informal que reuacutene

pessoas fiacutesicas ou outras sociedades legais com objetivos comuns que visam superar as

dificuldades e gerar benefiacutecios para os seus membros a Associaccedilatildeo Quilombola dos

Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP) foi criada pelos moradores da

comunidade no intuito de legalizar e alcanccedilar seus projetos De forma geral qualquer que seja

o tipo ou os objetivos para sua criaccedilatildeo pode-se dizer que a associaccedilatildeo eacute uma forma de

legalizar a uniatildeo de pessoas em torno de seus interesses e que sua constituiccedilatildeo permite

alcanccedilar condiccedilotildees melhores do que os indiviacuteduos teriam isoladamente para a realizaccedilatildeo dos

seus planos Assim toda associaccedilatildeo eacute a forma mais baacutesica para se organizar juridicamente um

grupo de pessoas para a concretizaccedilatildeo de desiacutegnios comuns Seus princiacutepios enquadram-se na

doutrina de que juntos podemos encontrar soluccedilotildees melhores para os conflitos que a vida em

sociedade nos apresenta

Pensando nisso os moradores remanescentes de quilombo conheceram sonharam e

concretizaram o plano de fundar uma entidade que representasse e conseguisse alcanccedilar seus

objetivos de melhoria de vida diante das muitas dificuldades enfrentadas na comunidade ante

o descaso dos governos Historicamente os quilombolas satildeo um grupo que juntos

conseguiram a tatildeo aspirada liberdade hoje essa luta continua na busca de direitos negados no

contexto histoacuterico como se pode conferir a respeito

Quilombo natildeo significou apenas um lugar de refuacutegio de escravos fugidos mas a

organizaccedilatildeo de uma sociedade livre formada de ldquohomens e mulheres que se recusavam viver sob o regime da escravidatildeo e desenvolviam accedilotildees de rebeldia e de

luta contra esse sistemardquo (MUNANGA GOMES 2006)

Considerada como berccedilo dos remanescentes de quilombolas a comunidade Narciacutesea

possui grande nuacutemero de pessoas descendentes de negros Nos relatos contados pela moradora

Domingas sua matildee dona Otiacutelia veio da Narciacutesea muito tempo atraacutes em busca de terras para

o cultivo Apoacutes muitas viagens dona Otiacutelia junto de sua famiacutelia decidiu criar raiacutezes na regiatildeo

25 O significado do termo foi refletido sobre pesquisa feita no site httpwwwasaescorgindexphpa-

associacaoo-que-e-uma-associacao

40

da Pimenteira Depois de sua instalaccedilatildeo representantes do CEDENPA e do MALUNGU26

vieram da Narciacutesea para saber os motivos que levaram a senhora a se mudar da regiatildeo

Segundo relatos os motivos foram o fato de casar e desejar trabalhar na terra para viver

melhor Sabe-se que

Muitas comunidades foram formadas apoacutes a promulgaccedilatildeo da Lei Aacuteurea que

extinguiu a escravidatildeo por uma forte razatildeo era a uacutenica possibilidade do negro

viver em liberdade em um espaccedilo onde sua cultura natildeo era desprezada sendo

possiacutevel por isso preservar a dignidade (MUNANGA GOMES 2006)

Muitas pessoas ajudaram os moradores da comunidade de Pimenteiras a conhecer

suas origens Foi com dona Otiacutelia que souberam da remanescecircncia de quilombo jaacute com o

padre Rafael27

os moradores desenvolveram projetos via Pastoral da Igreja mas foi com o

senhor e professor Cardoso28

que os moradores conheceram o que era uma associaccedilatildeo e quais

seus benefiacutecios Orientados por este senhor alguns moradores conseguiram adquirir

documentos de identificaccedilatildeo que natildeo possuiacuteam aleacutem disso foram orientados a fundar uma

associaccedilatildeo quilombola para conseguir melhorias para a comunidade Com a ajuda da senhora

Nazareacute29

os documentos e atas da associaccedilatildeo foram registrados e legalizados

Atraveacutes da legalizaccedilatildeo da associaccedilatildeo os moradores deram iniacutecio agrave titularidade da

terra Representantes do CEDENPA MALUNGU e INCRA visitaram diversas vezes a

comunidade com entrevistas e a verificaccedilatildeo das limitaccedilotildees de terra para o processo de

titularidade Hoje o processo continua em andamento devido aos muitos impasses na regiatildeo

como por exemplo a presenccedila de agricultores natildeo quilombolas com terra na comunidade de

Pimenteiras

Passadas quase duas deacutecadas da publicaccedilatildeo do artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 e quatro anos da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 48872003 que regulamenta o

processo de identificaccedilatildeo reconhecimento demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras

ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombolas atualmente a luta

continua nos acircmbitos juriacutedico e educacional (SILVA 2000)

26A Palavra Malungu vem de origem africana significa COMPANHEIRO Assim lado a lado lutamos pela

garantia de nossos direitos e pelo reconhecimento social dos quilombolas A Coordenaccedilatildeo Estadual das

Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Paraacute foi oficialmente fundada em marccedilo de

2004 como uma organizaccedilatildeo sem fins lucrativos e econocircmicos para representar as comunidades quilombolas do

ParaacutePesquisa no site httpsmalunguparawordpresscom

27 Paacuteroco da cidade de Santa Luzia do Paraacute na deacutecada de 80 28Professor que foi enviado pelo CEDENPA para orientar os moradores de Pimenteiras nos anos 90 29Maria de Nazareacute Reis Ghirard eacute professora engenheira agrocircnoma e representante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Paraacute ndash CEDENPA aleacutem de outros oacutergatildeos direcionados na preservaccedilatildeo da biodiversidade de

comunidades da regiatildeo aleacutem de desenvolver trabalhos de valorizaccedilatildeo da mulher e do negro

41

O dia 03 de dezembro de 2007 eacute a data de abertura da AQUAFAP Muitas

dificuldades ocorreram para conseguir documentar algumas pessoas da comunidade natildeo

ajudaram mas a maioria se empenhou e buscou realizar tal objetivo Desde entatildeo muitos

projetos foram criados dentre os quais o Bioenergeacutetico e os trabalhos com as plantas que

surgiram via associaccedilatildeo

Com o auxiacutelio da professora Nazareacute e o conhecimento jaacute existente sobre as plantas

medicinais os moradores estudaram e trabalharam na comunidade com tal saber Futuramente

os moradores desejam conseguir pela AQUAFAP um projeto de preservaccedilatildeo e

reflorestamento na regiatildeo da Pimenteira direcionado ao Fundo Dema30 poreacutem o impasse

continua na definiccedilatildeo da titularidade da terra Hoje a associaccedilatildeo eacute tida com algo de grande

valor aos moradores da comunidade devido ao grande conhecimento e oportunidades de

melhorias para todos Muitos estatildeo engajados natildeo apenas com a associaccedilatildeo mas tambeacutem com

questotildees da Igreja e principalmente com as plantas medicinais que mesmo tendo paralisado

o trabalho com o Bioenergeacutetico os saberes adquiridos se multiplicam e propagam uma

valorizaccedilatildeo maior dos saberes sobre as plantas

Detentores de um patrimocircnio cultural rico e valoroso poreacutem desconhecido de

muitos as comunidades remanescentes de quilombolas satildeo formadas de grupos

sociais cuja identidade eacutetnica constitui a base de suas vivecircncias cotidianas bem

como das accedilotildees poliacuteticas levadas a feito pelas entidades que lutam pelos seus

direitos (SILVA 2000)

Eacute perante tamanha riqueza de conhecimento que veremos no toacutepico seguinte como o

trabalho com o Bioenergeacutetico deixou intensos saberes sobre as plantas de uso medicinal que

marcaram profundamente a vida dos moradores da Pimenteira e se tornaram uma identidade

para a comunidade e seus moradores

30O Fundo Dema Quilombolas do Paraacute ou Fundo Dema de Apoio agraves Comunidades Quilombolas do Paraacute surgiu

em 2008 numa dinacircmica interativa entre a Coordenaccedilatildeo das Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de

Quilombolos (Malungu) Fase AmazocircniaFundo Dema e Fundaccedilatildeo Ford para a constituiccedilatildeo de uma linha de

accedilatildeo e financiamentos voltada exclusivamente para as comunidades quilombolas do Paraacute Sua criaccedilatildeo respondeu

a uma demanda especiacutefica por entender que essas comunidades demonstram uma dinacircmica emancipatoacuteria uacutenica

aleacutem de se constituiacuterem como um segmento importante das populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia Paraense Tem

por objetivo promover a conquista dos DhESCArsquos (Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais) das comunidades quilombolas e contribuir para a consolidaccedilatildeo da articulaccedilatildeo estadual da Malungu

na conquista e garantia destes direitos Pesquisa no site httpwwwfundodemaorgbr

42

223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico

Buscar a natureza para sanar as enfermidades eacute um procedimento antigo que ateacute os

dias atuais persiste especialmente em comunidade e grupos eacutetnicos distantes dos recursos das

cidades tais como a sauacutede Eacute comum vermos pessoas fazendo uso de plantas medicinais em

rituais religiosos como tambeacutem no tratamento de doenccedilas por vezes eacute o uacutenico recurso

terapecircutico usado Em muitas regiotildees e ateacute mesmo nas grandes cidades as plantas medicinais

satildeo comercializadas em feiras livres comeacutercio popular e nos quintais de nossas casas Em

Beleacutem por exemplo no mercado do Ver-o-Peso temos o banho de cheiro31

que eacute preparado

com o uso de diversas plantas aromaacuteticas e muito procurado pelas pessoas para melhorar

aspectos da vida amor dinheiro e a cura de doenccedilas

Observando a cultura popular quanto agrave eficaacutecia das plantas medicinais percebemos

que haacute uma divulgaccedilatildeo dos valores terapecircuticos das plantas mesmo natildeo tendo informaccedilotildees

das propriedades quiacutemicas Assim pessoas de todo o mundo manteacutem a praacutetica do consumo

fitoteraacutepico validando as informaccedilotildees terapecircuticas que foram acumuladas ao longo dos

seacuteculos sobre as plantas medicinais Segundo Pinheiro (2002 p 16)

a grande procura pelas Terapias Alternativas eacute resultado de vaacuterios aspectos O que

chama mais a atenccedilatildeo eacute que grande parte das pessoas jaacute passou pelo tratamento da

medicina tradicional e natildeo tiveram os resultados que esperavam Mas quando se fala

em Terapia Alternativa no Brasil eacute preciso esclarecer que se trata na maioria dos

casos de praacuteticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina Apenas a

homeopatia e a acupuntura satildeo reconhecidas como especialidades meacutedicas Mas alguns ramos das Terapias Alternativas cobrem aacutereas que a medicina convencional

despreza e que em muitos casos podem ser uma uacutenica e uacutetil complementaccedilatildeo ao

tratamento convencional

Para Levi Strauss (1970 p 51) ldquoquando uma accedilatildeo terapecircutica natildeo alcanccedila o

resultado esperado a feacute e a crenccedila no sistema permanecem pois elas satildeo sempre coletivasrdquo O

que persiste nesses saberes eacute a crenccedila de que haveraacute a melhora ou cura das doenccedilas por meio

dos medicamentos naturais Dentre as praacuteticas alternativas de sauacutede uma muito conhecida eacute a

Bioenergeacutetica32

Esse meacutetodo requer alguns requisitos importantes para seu uso segundo

Barbieri (2008 p 18)

31 As principais plantas usadas para fazer o banho de cheiro segundo seus nomes populares satildeo catinga de mulata

chama abre caminho vindica manjericatildeo manjerona de angola alecrim de angola trevo da sorte trevo do mar japana

branca priprioca aleacutem de oacuteleos de jasmin uirapuru e patchouli 32 Bioenergeacutetica eacute a energia da vida Eacute uma nova teacutecnica de diagnoacutestico e tratamento de doenccedilas baseada na sabedoria do inconsciente humano Esta sabedoria segundo garantem eminentes psicoacutelogos eacute inata e igual para

todos portanto natildeo depende de nenhum estudo mas nos foi infundida por Deus no momento da concepccedilatildeo Eacute

43

O praticante deve ter um bom conhecimento de anatomia e fisiologia para conhecer

os pontos do exame bem como o funcionamento do organismo Ter conhecimento

da energia e de como ela age e reage no organismo conhecer os princiacutepios baacutesicos

da energia e exercitar-se energeticamente treinar com os dedos para ter domiacutenio do campo energeacutetico fazer parceria com um companheiro (a) como o (a) qual

estabelece uma sintonia energeacutetica possibilitando seguranccedila nos testes

O meacutetodo da Bioenergeacutetica originaacuterio do processo de desintoxicaccedilatildeo do corpo pelo

Biosauacutede eacute um procedimento realizado atraveacutes do bioteste ndash ou o teste do anel ndash que revela

problemas de sauacutede presentes no paciente O teste possibilita que a pessoa qualificada tenha

uma visatildeo especiacutefica de todos os pontos a serem cuidados O tratamento eacute feito a base de

plantas medicinais argila alimentaccedilatildeo saudaacutevel e banhos O Biosauacutede ou meacutetodo do

Bioenergeacutetico trata o corpo por completo33

Conhecendo os benefiacutecios que o Bioenergeacutetico pode trazer a senhora Nazareacute propocircs

para os moradores da Pimenteira criar um projeto que pudesse realizar esse trabalho na

comunidade pois alguns moradores jaacute possuiacuteam conhecimento sobre o uso das plantas

medicinais Assim o Bioenergeacutetico foi um dos projetos criados pela AQUAFAP Alguns

ficaram com receio desse trabalho outros moradores receberam bem a proposta e valorizaram

o trabalho que durou em meacutedia um ano

Muitas plantas nativas e caseiras foram cultivadas e catalogadas nesse periacuteodo As

pessoas que foram preparadas por meio do curso de Bioenergeacutetico ficaram cerca de dois anos

estudando pelo CEDENPA eram elas a irmatilde da Domingas Maria Ilene Alves do Nascimento

a senhora Maria Valdenira de Sousa Zacarias e a senhora Maria Zenir dos Santos Castro

Estas pessoas foram a Beleacutem para fazer o curso do Bioenergeacutetico com orientaccedilatildeo da senhora

Nazareacute e adquiriram diversos conhecimentos dentre os quais saber qual doenccedila havia no

corpo de algueacutem

Contudo com o passar dos trabalhos ocorreram desavenccedilas e as pessoas agrave frente do

projeto foram perdendo o interesse e por fim natildeo continuaram em busca de melhorar e

ampliar esse saber e aos poucos pararam de executar o Bioenergeacutetico na comunidade Hoje

um meacutetodo simples que se utiliza apenas dos dedos das matildeos entrelaccediladas em forma de anel feito por duas

pessoas examinadoras Tambeacutem usa uma vareta de metal para encostar na pessoa a ser examinada Pesquisado

no dia 03122014 as 2311hs no site httpwwwjaimebruningcombrbio_saudephp

33 Durante a consulta o paciente eacute submetido ao teste bioenergeacutetico no qual um profissional da equipe faz um

elo usando os dedos polegar e indicador enquanto outro da equipe tambeacutem faz um anel em cada uma de suas

matildeos entrelaccedilando os dedos do outro Com um arame ou metal que conduza corrente um deles vai tocando os

pontos de checagem a matildeo reagiraacute de forma diferente em cada novo toque Quando tocar um oacutergatildeo sadio o imatilde

seraacute mais forte Pesquisado no dia 30072015 as 1734hs no sitehttpwwwcurapelanaturezacombr201103biosaude-desintoxicacao-e-energizacaohtml

44

muitos na comunidade sentem a falta e tem a necessidade de serem tratados por esse saber

mas as pessoas foram instruiacutedas a natildeo transmitirem esse saber para outros e pararam os

trabalhos O local era chamando de ldquoCentro Popular Biosauacutede Pornusenardquo em homenagem agrave

avoacute da senhora Domingas Vejamos abaixo a imagem do local onde antes era realizado o

trabalhado com o bioenergeacutetico e que hoje eacute lugar de encontros para os associados da

AQUAFAP

Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena

Fonte Dados da pesquisa 2013

O centro popular eacute equipado com geladeira armaacuterio fogatildeo mesas e principalmente

o cataacutelogo com as amostras e os nomes das plantas colhidas pelos moradores da comunidade

para a realizaccedilatildeo do trabalho com o Bioenergeacutetico As imagens a seguir satildeo do local onde

ocorriam os trabalhos e tambeacutem a mesa que conteacutem os desenhos da anatomia e fisiologia do

organismo humano

Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico

Fonte Dados da pesquisa 2013

45

Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o funcionamento do organismo

Fonte Dados da pesquisa 2013

O cataacutelogo com amostras das plantas nativas e caseiras da comunidade de

Pimenteiras eacute um acervo rico de informaccedilotildees relacionadas com a biodiversidade da regiatildeo Os

nomes estatildeo escritos de acordo com o saber que os moradores possuem sobre a liacutengua escrita

o que traz maior qualidade nos estudos sobre os termos das plantas escritos pelos moradores

da comunidade quilombola Observemos abaixo algumas plantas dissecadas de forma

tradicional e nomeadas no cataacutelogo

Fotografia 11 ndash Salsa dissecada

Fonte Dados da pesquisa 2013

46

Fotografia 12 ndash Canela dissecada

Fonte Dados da pesquisa 2013

Fotografia 13 ndashVinagreira dissecada

Fonte Dados da pesquisa ano 2013

Observamos que o trabalho com o Bioenergeacutetico proporcionou grande riqueza de

dados os quais objetivamos analisar e conhecer mais profundamente no intuito de contribuir

47

para os estudos cientiacuteficos da Liacutengua por meio dos saberes tradicionais Entretanto o que eacute

conhecimento e o que eacute saber Esse e outros aspectos seratildeo observados no capiacutetulo seguinte

no qual abordaremos as diferenciaccedilotildees entre Conhecimento e Saber

Apontando na comunidade tradicional os sujeitos de saberes bem como a presenccedila

do gecircnero nesses saberes sobre as plantas medicinais incluindo especificamente a detentora

do saber das plantas que eacute a senhora Domingas para finalmente observarmos como tais

saberes constituem a identidade cultural da comunidade quilombola de Pimenteiras

23 SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM PIMENTEIRAS

A partir da compreensatildeo dos saberes como praacuteticas discursivas Michel Foucault

(2009)34

depreende que nesse discurso os termos Saber35

e Conhecimento36

geralmente satildeo

palavras utilizadas no senso comum como sinocircnimas Analisamos que a palavra ldquosaberrdquo

significa ter conhecimento de algo teoacuterico ou praacutetico eacute uma habilidade resultante da

experiecircncia da praacutetica da sabedoria e da cultura O saber eacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito que

sabe e o objeto a ser conhecido eacute um sentimento de seguranccedila que se produz quando se tem

consciecircncia dessa relaccedilatildeo posta em movimento numa dada realidade Jaacute o termo

34 Michel Foucault foi um filoacutesofo historiador das ideias teoacuterico social filoacutelogo e criacutetico literaacuterio Suas teorias abordam a relaccedilatildeo entre poder e conhecimento como eles satildeo usados como uma forma de controle social por

meio de instituiccedilotildees sociais 35Saber - Verbo Transitivo direto transitivo indireto e intransitivo 1conhecer ser ou estar informado ter

conhecimento de 2ter conhecimentos especiacuteficos (teoacutericos ou praacuteticos) 3estar convencido de ter a certeza de

(coisas presentes e futuras) prever pressentir 4ter forccedila meacuterito meio capacidade ou possibilidade de 5ter

habilidade jeito etc para 6poder explicar compreender 7ser capaz de conseguir 8guardar na memoacuteria

decorar 9indagar perguntar 10julgar considerar ter como 11fazer jus a merecer 12ter gosto de lembrar o

sabor de ter sabor ser saacutepido 13soma de conhecimentos adquiridos sabedoria cultura erudiccedilatildeo 14prudecircncia e

sensatez ao agir experiecircncia 15capacidade resultante da experiecircncia praacutetica 36Conhecimento- Substantivo masculino Ato ou efeito de conhecer 1 O ato ou a atividade de conhecer

realizado por meio da razatildeo eou da experiecircncia 11ato ou efeito de apreender intelectualmente de perceber um

fato ou uma verdade cogniccedilatildeo percepccedilatildeo 12Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato estado ou condiccedilatildeo de compreender entendimento 2 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa conhecida 21Derivaccedilatildeo por extensatildeo de

sentido Domiacutenio teoacuterico ou praacutetico de um assunto uma arte uma ciecircncia uma teacutecnica etc competecircncia

experiecircncia praacutetica 3 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia Faculdade de conhecer 4 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido

Intuiccedilatildeo pressentimento ou outra forma de cogniccedilatildeo 5 Fato de reconhecer uma coisa como adrede sabida ou

conhecida reconhecimento 6 Familiaridade (com uma coisa ou uma pessoa) adquirida pela experiecircncia 7

Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Ato ou efeito de estabelecer uma relaccedilatildeo com algueacutem em grau de

intimidade variaacutevel mas ger menor que na amizade 8 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Pessoa com quem se

estabeleceu uma ligeira relaccedilatildeo pessoal ou que pelo menos se sabe de quem se trata 9 Derivaccedilatildeo por extensatildeo

de sentido Uso formal Diacronismo antigo Relaccedilatildeo carnal do homem e da mulher 10 Derivaccedilatildeo por

extensatildeo de sentido Uso formal Diacronismo antigo Noccedilatildeo que cada um tem de sua proacutepria existecircncia e das

pessoas familiares coisas fatos do dia-a-dia consciecircncia lucidez 11 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato ou condiccedilatildeo de estar ciente ou consciente de (algo) 12 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa que se conhece de

que se sabe de que se estaacute informado ciente ou consciente []

48

ldquoconhecimentordquo eacute o ato de conhecer algo por meio da razatildeo ou da experiecircncia eacute portanto o

domiacutenio de um assunto teoacuterico ou praacutetico a ser adquirido (SILVA 2009 p 263)

Observamos que as palavras Saber e Conhecimento sugerem uma relaccedilatildeo do sujeito

com o objeto conhecido ou a ser conhecido Essa relaccedilatildeo do sujeito com o objeto ocorre pela

familiarizaccedilatildeo do sentido com o componente a ser compreendido assim Saber e

Conhecimento satildeo palavras tomadas no dicionaacuterio como sinocircnimas Ambas significam

experiecircncia ciecircncia percepccedilatildeo informaccedilatildeo e ato de conhecer

Entretanto no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras as palavras saber e conhecimento natildeo teratildeo significaccedilatildeo semelhante Isto se

confirma nos estudos de Foucault (1987) sobre a relaccedilatildeo de poder e saber O autor ressalta a

ideia de que na produccedilatildeo dos saberes haacute sempre uma dependecircncia muacutetua entre estas

categorias Para ele natildeo haacute saber sem estar tocado pelas complexas relaccedilotildees de poder mas

essas relaccedilotildees se constituem em conjunto com a produccedilatildeo dos saberes (FREITAS 2005)

Eacute nesse contexto de poder que Foucault diferencia o conceito de saber e de

conhecimento Para o pesquisador o conhecimento eacute a constituiccedilatildeo de discurso sobre classe

de objetos passiacuteveis de se conhecer ou seja cognosciacuteveis que satildeo construiacutedos pelo processo

de racionalizaccedilatildeo identificaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo dos objetos Jaacute o saber segundo o

pesquisador eacute um processo flexiacutevel que sofre mudanccedilas durante o trabalho de conhecer

enquanto o conhecimento eacute carregado e estagnado

Foucault ainda explica que o sujeito cognitivo eacute marcado por sua cultura pelos

aspectos externos e de uma memoacuteria que atravessa o tempo atraveacutes das significaccedilotildees

pensamentos e desejos no acircmbito do conhecimento (ALMEIDA 2012) Com base nesses

estudos compreendemos que os saberes dos moradores da comunidade de Pimenteiras satildeo

construiacutedos constantemente nas relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridos culturalmente

Observamos que a palavra conhecimento eacute uma verdade preacute-construiacuteda linear

imoacutevel independente do contexto no qual seraacute processada No decorrer dos questionamentos

compreendemos que a palavra conhecimento se refere a situaccedilotildees objetivas e teoacutericas que

devidamente sistematizadas datildeo lugar agrave ciecircncia A palavra saber por sua vez pode referir-se

a situaccedilotildees tanto objetivas como subjetivas tanto teoacutericas quanto praacuteticas eacute como se a palavra

conhecimento coubesse dentro da palavra saber e natildeo o contraacuterio

Para nos ajudar na compreensatildeo desses termos citamos Zubiri (1974) que em seus

estudos mostra que o homem tem um modo de experiecircncia com as coisas de uma maneira

simples e uacutenica Eacute um saber que toca no iacutentimo de cada coisa natildeo eacute a percepccedilatildeo de cada uma

de suas caracteriacutesticas eacute uma espeacutecie de sentido do ser Eacute a experiecircncia que temos com o

49

objeto colocando-o no espiacuterito Desta forma Monteil (1985 apud Charlot 2000 p 61) assim

distingue

O conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal ligada agrave atividade de um

sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas como tal eacute intransmissiacutevel estaacute

ldquosob a primazia da subjetividaderdquo Assim como a informaccedilatildeo o saber estaacute ldquosob a

primazia da objetividaderdquo mas eacute uma informaccedilatildeo de que o sujeito se apropria

Desse ponto de vista eacute tambeacutem conhecimento poreacutem desvinculado do ldquoinvoacutelucro

dogmaacutetico no qual a subjetividade tende a instalaacute-lordquo O saber eacute produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos eacute construiacutedo em ldquoquadros metodoloacutegicosrdquo

Pode portanto ldquoentrar na ordem do objetordquo e torna-se entatildeo ldquoum produto

comunicaacutevelrdquo uma ldquoinformaccedilatildeo disponiacutevel para outrem

Saber natildeo eacute soacute entender a veracidade das coisas desde os seus princiacutepios haacute

necessidade de se conquistar realmente a posse da ldquorealidaderdquo Esta posse da ldquorealidaderdquo

permite colocar o conhecimento em accedilatildeo num determinado contexto o que ocasiona a

construccedilatildeo do saber pois natildeo basta apreendermos a ldquoverdade da realidaderdquo (conhecimento) eacute

necessaacuterio construirmos a ldquorealidade da verdaderdquo (saber) (MOTA 2008)

Para Schlanger (1978 apud Charlot 2000) saber e conhecimento mantecircm uma

pertinente relaccedilatildeo de interaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto Para ele a anaacutelise parece pertinente

ao dizer que natildeo haacute ldquosaberrdquo sem relaccedilatildeo entre sujeito e objeto outros sujeitos e outras

realidades A confrontaccedilatildeo pessoal do sujeito apropriado de conhecimentos numa realidade

especiacutefica e singular implica na atividade do sujeito de produzir saberes Schlanger (1978

apud CHARLOT 2000 p 22) expotildee que ldquoO saber eacute uma relaccedilatildeo um produto e um

resultado relaccedilatildeo do sujeito que conhece com seu mundo resultado dessa interaccedilatildeordquo

Enquanto o conhecimento para o pesquisador eacute exatamente a obtenccedilatildeo de uma imagem

cognitiva interna de uma verdade independente de uma realidade estabelecida pela relaccedilatildeo

cognitiva interna e ativa do sujeito sobre o objeto Assim o objeto de conhecimento eacute

qualquer realidade externa ao indiviacuteduo que atraveacutes do ato intelectual torna-se interna

O saber por sua vez necessita de uma relaccedilatildeo natildeo soacute interna do indiviacuteduo sobre o

objeto mas uma relaccedilatildeo entre esse sujeito seu conhecimento e uma dada realidade ou

contexto Por conta disso vemos o saber como o movimento do conhecimento em contato

com um determinado contexto numa dada realidade confrontando suas muacuteltiplas faces

transcendendo o conhecimento jaacute consolidado reinventando-o recriando-o e traduzindo-o

conforme as necessidades imperadas pelas circunstacircncias (SCHLANGER 1978 apud

CHARLOT 2000)

O saber e o conhecimento satildeo formas de relacionamento com a realidade formas de

dizer de pensar de ser e de estar no mundo e com o mundo Eacute com estas explanaccedilotildees sobre o

que individualiza o saber que entenderemos os saberes da comunidade de Pimenteiras

50

saberes de um povo que durante seacuteculos lutou para alcanccedilar sua liberdade seu direito agrave terra e

seu espaccedilo na sociedade Eacute pertinente ao ser humano a sobrevivecircncia por isso para Brandatildeo

(1993 p 20 apud PELAES 2010)

Haacute a necessidade de sobrevivecircncia do homem que cria mecanismos para se adaptar aos desafios da natureza Com isso o homem desenvolve meios de sobrevivecircncia

bens de uso e bens de troca dentro de um cenaacuterio de interaccedilotildees Tais homens atuam

como indiviacuteduos sujeitos do mundo da cultura pessoas que segundo o autor satildeo

agentes culturais e atores sociais convivendo em cenaacuterios da cultura

Em vista da necessidade de sobrevivecircncia os remanescentes de Quilombola da

comunidade de Pimenteiras possuem e utilizam os saberes que foram adquiridos de seus

antepassados sobre a manipulaccedilatildeo das plantas medicinais a fim de alcanccedilar a cura de

doenccedilas Tendo em vista as dificuldades de acesso aos recursos de sauacutede eles buscaram na

natureza as espeacutecies vegetais mais apropriadas para sua alimentaccedilatildeo ou para a cura de seus

males entre as geraccedilotildees

Apesar de muitas plantas serem uacuteteis ao homem existem aquelas que produzem

substacircncias toacutexicas ou venenosas assim eacute preciso saber bem as caracteriacutesticas de cada planta

para poder usaacute-la como remeacutedio Eacute comum se ouvir dizer que o uso das plantas medicinais ldquose

natildeo fizer bem mal natildeo faraacuterdquo poreacutem natildeo eacute bem assim Do ponto de vista cientiacutefico o saber

sobre as plantas ainda eacute um campo pouco estudado e difundido no paiacutes Apesar da riqueza da

flora brasileira os estudos na aacuterea ficam mais restritos agrave antropologia

O uso inadequado das plantas poderaacute trazer efeitos indesejados e por vezes ateacute a

morte do indiviacuteduo Eacute imprescindiacutevel ter conhecimento natildeo somente das plantas mas tambeacutem

das doenccedilas para fazer a seleccedilatildeo correta da planta a ser utilizada de acordo com a forma de

uso a frequecircncia a quantidade a idade e o metabolismo de cada pessoa Enfim os saberes

das plantas e os conhecimentos cientiacuteficos podem juntos contribuir para a sauacutede e bem estar

dos moradores da comunidade de Pimenteiras aleacutem de preservar sua cultura como identidade

cultural de um povo

Da distinccedilatildeo entre saber e conhecimento iremos ao toacutepico seguinte no qual

abordaremos a comunidade tradicional e os sujeitos de saberes sobre as plantas medicinais

Quem satildeo e o que caracteriza as comunidades tradicionais Que aspectos marcam sua

identidade como sujeitos de saberes Ou seja eacute a construccedilatildeo do sujeito atraveacutes do saber

adquirido entre as geraccedilotildees

51

231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes

Entendemos que o conhecimento eacute construiacutedo a partir do acuacutemulo de experiecircncias

vivenciadas no acircmbito fiacutesico e social Nas populaccedilotildees tradicionais37

que satildeo estas

constituiacutedas por grupos comunitaacuterios humanos os quais na sua maioria vivem no meio rural

habitando determinado territoacuterio com seus haacutebitos usos e costumes o conhecimento eacute

construiacutedo a partir da relaccedilatildeo com o meio em que vivem inserindo no ecossistema

preservaccedilatildeo significaccedilatildeo ressignificaccedilatildeo valores e saberes que seratildeo transmitidos de geraccedilatildeo

em geraccedilatildeo por procedimentos educativos tradicionais

Alguns aspectos diferenciam as populaccedilotildees tradicionais das populaccedilotildees natildeo

tradicionais tais como pouca acumulaccedilatildeo de bens apropriaccedilatildeo do espaccedilo natural estrateacutegias

de sobrevivecircncia a partir do conhecimento de fontes naturais adquiridas entre as geraccedilotildees e

vivecircncias com o meio aleacutem da construccedilatildeo de um modo de vida de acordo com os ciclos dos

recursos que a natureza oferece

As comunidades tradicionais se reconhecem como pertencentes a um grupo social

particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de cada grupo Assim

as sociedades tradicionais se apresentam mais homogecircneas do que as comunidades natildeo

tradicionais pois ocupam aacutereas de pouca densidade populacional com atividades agriacutecolas

festas culturais e cultos religiosos que funcionam como fator de aglutinaccedilatildeo social

Estas comunidades desenvolvem seus saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a

natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia de seu grupo Castro (2000 p 169)

compreende que as accedilotildees praticadas pelo homem e os mecanismos de intervenccedilatildeo na natureza

satildeo frutos do acuacutemulo de experiecircncias vivenciadas no meio e de saberes reelaborados no meio

social atraveacutes das geraccedilotildees

Nesse contexto observamos que a comunidade tradicional de Pimenteiras conteacutem

saberes conduzidos entre as geraccedilotildees e preservado de acordo com os costumes culturais que

os moradores quilombolas adquiriram com o passar do tempo tais saberes satildeo denominados

de conhecimento popular

O conhecimento popular agraves vezes denominado senso comum natildeo se distingue do

conhecimento cientiacutefico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto a ser conhecido O

que os diferencia eacute a forma o modo ou o meacutetodo do conhecer (LAKATTOS MARCONI

37 Art 3ordm Decreto nordm 6040 de 7 de fevereiro de 2007 presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva instituiu a Poliacutetica

Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT)

52

1991) Saber que determinada planta necessita de uma quantidade de aacutegua pode ser um

conhecimento verdadeiro e comprovado contudo isso natildeo o torna cientiacutefico Para haver

cientificidade eacute necessaacuterio ir mais aleacutem eacute preciso conhecer a natureza dos vegetais sua

composiccedilatildeo seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espeacutecie

da outra Assim demonstra-se que a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico caminho de acesso ao

conhecimento e agrave verdade e que um mesmo objeto como uma planta um mineral ou uma

comunidade pode ser objeto de estudo tanto para a ciecircncia quanto para o homem comum ou

seja o que caracteriza o conhecimento cientiacutefico do saber popular eacute a forma de observaccedilatildeo

(BUNGE 1974)

Eacute a partir da observaccedilatildeo que os saberes sobre as ervas e plantas foram adquiridos

entre as geraccedilotildees e hoje muitas comunidades tradicionais utilizam os recursos caseiros para

curar e amenizar as doenccedilas Segundo Bunge (1974 p 20) a Ciecircncia aspira pela

racionalidade e objetividade isto soacute eacute atingido de forma muito limitada O conhecimento

popular por sua vez busca o comum o corrente e o espontacircneo de conhecer algo que soacute se

adquire no trato direto com as coisas e com os seres humanos Para o autor o conhecimento

popular caracteriza-se pelo superficial sensitivo subjetivo assistemaacutetico e acriacutetico (ANDER-

EGG 1978)

No campo do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais este eacute um

saber que acompanha o movimento histoacuterico e cultural da humanidade Transmitido

oralmente de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo esses conhecimentos sobre as plantas medicinais

constituiacuteram o alicerce do conhecimento tradicional Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o

saber tradicional sobre as plantas medicinais passou a ser desvalorizado fato que

consequentemente causou a desvalorizaccedilatildeo cultural das comunidades tradicionais que as

utilizavam

Assim valorizar esse conhecimento estaacute intimamente ligado ao fortalecimento

cultural e identitaacuterio de uma dada comunidade Segundo Gallois (2006) o saber tradicional eacute

um conhecimento que deve ser respeitado pois eacute transmitido oralmente entre as geraccedilotildees

com praacuteticas e inovaccedilotildees e natildeo como um simples repositoacuterio de conhecimentos do passado A

praacutetica de uso das plantas medicinais tanto para cura fiacutesica quanto espiritual faz parte das

relaccedilotildees que os moradores da comunidade de Pimenteiras apreenderam ao longo do tempo na

observaccedilatildeo da natureza consigo mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas

de cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita

relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais

53

Conhecer as praacuteticas ancestrais de utilizaccedilatildeo das plantas medicinais ainda existentes

na comunidade de Pimenteiras aleacutem de conduzir a uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do saber

tradicional com o conhecimento cientiacutefico eacute aspecto relevante para fortalecer a identidade de

um povo A comunidade utiliza o saber tradicional sobre as plantas medicinais nas suas

praacuteticas cotidianas cuidando da sauacutede apesar disso ela ainda necessita compreender a

importacircncia deste saber para o fortalecimento da sua identidade cultural e construir um

diaacutelogo entre os saberes existentes na regiatildeo com o conhecimento cientiacutefico

Os saberes existentes sobre as plantas satildeo sem duacutevida uma forte marca na

comunidade de Pimenteiras Sobretudo vale destacar que na grande maioria das famiacutelias tal

saber eacute transmitido pelo gecircnero feminino As mulheres adultas e idosas satildeo as que mais se

destacam no acervo de conhecimento sobre as plantas Com isso observamos que o

conhecimento das plantas medicinais eacute ancestral e natural entre as geraccedilotildees femininas ou

seja as pessoas mais velhas satildeo consideradas as ldquoguardiatildesrdquo dos saberes de cura por meio das

plantas medicinais satildeo elas que conhecem os usos das plantas e perpetuam esse

conhecimento agraves geraccedilotildees posteriores

Em consideraccedilatildeo agraves moradoras quilombolas da comunidade de Pimenteiras que

perpetuaram tatildeo valoroso conhecimento e proporcionaram preservar os saberes das plantas

medicinais trataremos no toacutepico seguinte os aspectos referentes agrave presenccedila do gecircnero

feminino nos saberes sobre a plantas da comunidade de Pimenteiras

232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais

As plantas medicinais sempre fizeram parte da histoacuteria de muitos povos na

antiguidade Muito antes de frequentar as farmaacutecias para buscar o aliacutevio de alguma dor

buscamos em nossos quintais ou nas matas uma determinada planta que por conselho dos

mais velhos poderia resolver o problema Com o passar dos tempos diversos povos

utilizaram as plantas medicinais de diferentes formas Os portugueses quando chegaram ao

Brasil jaacute desfrutavam o poder das plantas medicinais os indiacutegenas por sua vez contribuiacuteram

muito com o conhecimento que jaacute possuiacuteam das plantas usadas como remeacutedio e alimento

Desse modo existem muitas maneiras de empregar as plantas no uso medicinal tais

como chaacutes garrafadas xaropes defumadores e banhos e nessas diferentes formas de uso das

54

plantas a grande diversidade de espeacutecies vegetais na Amazocircnia traz marcas da presenccedila

feminina no domiacutenio dos saberes sobre as plantas Segundo Rodrigues (2008 p 2)

Diante dessa sociodiversidade nos contextos amazocircnicos nosso recorte de apreensatildeo

da realidade busca perceber as afirmaccedilotildees quanto aos papeacuteis sociais empregados a

mulheres e homens no domiacutenio de um saber o das plantas medicinais apreender

diante desse contexto como se apresentam as relaccedilotildees de poder em relaccedilatildeo ao

conhecimento e demonstrar a visatildeo mercadoloacutegica sobre os conhecimentos

tradicionais que se apropria da oacutetica patriarcalista reafirmadora de estereoacutetipos que

naturaliza as relaccedilotildees sociais e portanto como tais aspectos influem diretamente

nas questotildees soacutecio-culturais da sauacutede popularcoletiva e no acircmbito de poliacuteticas

sociais

As plantas medicinais satildeo usadas haacute milecircnios como fonte de cura Apesar de a Idade

Meacutedia ser conhecida como Idade das Trevas foi uma eacutepoca em que a Europa Medieval sofreu

uma forte mudanccedila nos haacutebitos alimentares Nessa eacutepoca os vegetais passaram a ser pouco

consumidos havendo preferecircncia para as carnes patildees e frutas Com isso o conhecimento

sobre as plantas ficou armazenado nas matildeos da Igreja Catoacutelica que utilizava-os apenas para a

medicina e a praacutetica espiritual

As mulheres desse periacuteodo que possuiacutessem certo conhecimento sobre as plantas

medicinais para curar as enfermidades nos familiares eram fortemente rejeitadas julgadas e

condenadas como pecadoras e hereges eram mortas agrave fogueira pois na visatildeo da Igreja quem

tivesse tal conhecimento enganava as leis divinas com rituais que iam contra os seus

preceitos Assim vaacuterias mulheres foram perseguidas e acusadas de bruxaria e por

conseguinte foram assassinadas pela praacutetica de suas crenccedilas e cultura

As mulheres foram em grande nuacutemero acusadas de bruxaria e em consequumlecircncia

desmoralizadas ou tiveram que aceitar como espuacuterios e iliacutecitos os seus saberes

aqueles que compartilhavam com outras mulheres na convivecircncia entre matildees e

filhas uma geraccedilatildeo apoacutes outra (TELLES apud RAGO FUNARI 2008 p81)

Ao observarmos a relaccedilatildeo entre a presenccedila feminina com o saber sobre as plantas

verificamos que a autoridade no conhecimento pode revelar mais que uma praacutetica cultural e

histoacuterica predominante agraves mulheres Esta praacutetica revela um contexto domeacutestico no qual o

trabalho das mulheres eacute revestido pelas relaccedilotildees de poder Em casa o saber o uso e o manejo

das plantas medicinais eacute algo predominante ao gecircnero feminino Essa observaccedilatildeo estaacute

relacionada com as diferenccedilas entre gecircneros e na divisatildeo social e sexual Pelo fato de ser

ldquoobrigadardquo a cuidar dos filhos a mulher tem por extensatildeo a preocupaccedilatildeo maior em saber dos

usos de plantas medicinais por estar diretamente ligada ao sentimento de zelo sauacutede e bem

estar da famiacutelia

55

Nesse contexto as plantas medicinais normalmente satildeo manejadas em quintais

espaccedilo considerado parte do ambiente domeacutestico e feminino assim como o cuidado com os

filhos que natildeo eacute visto como ldquotrabalhordquo Nas observaccedilotildees de Gonccedilalves a accedilatildeo de trabalhar

com as plantas estaacute relacionada ao seguinte conceito ldquoTrata-se da forma como cada cultura

lida com as diferenccedilas entre os sexos alocando a cada um deles determinados atributos e agrave

maneira como estes atributos satildeo valorados socialmenterdquo (GONCcedilALVES 1998 p 51)

Assim pode-se afirmar que eacute comum ao gecircnero feminino conhecer e saber utilizar as

plantas medicinais como forma de prevenccedilatildeo e bem estar proacuteprio e comunitaacuterio Para a

mulher ter propriedade no conhecimento das plantas medicinais estaacute relacionado com o

cuidado aos filhos afinal isto representa o principal motivo para ter aprendido com a matildee a

avoacute a tia ou a vizinha eacute uma ldquoheranccedila de saberrdquo da transmissatildeo frequente entre as geraccedilotildees

e de transmissatildeo entre as mulheres

Como bem menciona Tosi (1998) o fato de que as bruxas eram mulheres que

detinham conhecimentos eram mulheres saacutebias de conhecimentos empiacutericos que praticavam

desde eacutepocas ancestrais demonstra um pouco desse trajeto sobre o saber das plantas

medicinais que passou por geraccedilotildees femininas as quais foram tidas como guardiatildes do saber

Nas comunidades tradicionais as mulheres tambeacutem guardam tais saberes medicinais

das plantas Assim seguiremos no toacutepico seguinte tratando especificamente sobre uma

moradora da comunidade de Pimenteira uma mulher que ateacute os dias atuais traz saberes de

suas ancestrais como forma de perpetuar e preservar um conhecimento que hoje identifica um

povo

233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes

A confianccedila em alcanccedilar a cura de diversas enfermidades do corpo por meio do uso

medicinal de plantas eacute um conhecimento conservado entre as geraccedilotildees femininas na regiatildeo da

Pimenteira Avoacutes matildees filhas e netas constituem um ciacuterculo no qual os saberes tecircm sido

repassados entre as geraccedilotildees

As mulheres da comunidade de Pimenteiras vivem o costume de cuidar da casa

educar os filhos e ajudar os maridos nos trabalhos da roccedila Elas satildeo encarregadas de muitas

atividades dentre as quais o manejo da terra para auxiliar o marido nas atividades da

agricultura eacute bastante comum No entanto o contraacuterio natildeo ocorre ou seja os homens natildeo

56

cuidam dos filhos natildeo preparam as refeiccedilotildees e nem manipulam as plantas para o uso

medicinal

A heranccedila do saber sobre o uso das plantas medicinais eacute puramente feminina devido

aos cuidados que as mulheres quilombolas possuem com os filhos com a casa e com a terra

Rodrigues (2008 p 4) expotildee sobre a importacircncia dos saberes tradicionais guardados pelas

mulheres nas comunidades para a preservaccedilatildeo da cultura de um povo

[] na medida em que o conhecimento da natureza a partir dos conhecimentos

tradicionais sobre o uso de plantas medicinais eacute manipulaacutevel tanto por mulheres e

homens ambos tecircm um reconhecimento de uma cultura proacutexima da natureza que

natildeo os menospreza pelo contraacuterio em suas localidades satildeo considerados

importantes pelo saber que detecircm primordialmente no que tange a sauacutede

coletivapopular []

Os remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras vivem e lutam pelo

direito agrave terra e agrave preservaccedilatildeo dos valores e saberes da regiatildeo Sabemos que cerca de oito

milhotildees de brasileiros fazem parte de comunidades tradicionais dentre as quais uma meacutedia de

dois milhotildees38

correspondem a remanescentes de quilombo De acordo com o Decreto de nordm

604039

de 07 de fevereiro de 2007 os povos e comunidades tradicionais satildeo grupos

culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais possuindo formas proacuteprias de

organizaccedilatildeo social ocupando e usando os recursos naturais como condiccedilatildeo de sobrevivecircncia

da sua reproduccedilatildeo cultural social e religiosa com inovaccedilotildees nas praacuteticas geradas e

transmitidas pela tradiccedilatildeo Nos relatos da senhora Domingas ser quilombola eacute algo

relacionado com a natureza e a terra conforme se pode observar em um trecho transcrito de

sua fala

[] mas ser quilombola acho que eacute ser vem dessa descendecircncia e assim das

(coisas) tradicional as coisas da natureza aprender e viver com a natureza eu

acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre assim vendo os iacutendios porque

os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu acho que ser

quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as

coisas pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende

as coisas com a natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque

aquele tempo dos dos dos negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de

leitura (nada nada) MAS com a natureza eles aprendiam alguma coisa

(informaccedilatildeo verbal)40

38Informaccedilatildeo contida no Centro de documentaccedilatildeo Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES 2008) Site

httpwwwcedefesorgbr

39 Institui a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) 40Depoimento da senhora Domingas transcrito de forma grafemaacutetica em Pimenteiras outubro de 2014

57

Eacute fato que nem todos os moradores fazem uso do conhecimento sobre as plantas mas

os que preservam este saber satildeo referecircncia na comunidade para as demais localidades da

regiatildeo como eacute o caso da senhora Domingas Alves do Nascimento41

Moradora de origem

quilombola ela eacute conhecedora do poder medicinal das plantas vivendo da agricultura e das

vendas dos produtos feitos com as plantas como a garrafada multimistura e pomadas Devido

agrave forte relaccedilatildeo com a terra ela cultiva suas ervas e plantas em casa como meio de

proporcionar a sauacutede de seus familiares e de seu povo A senhora Domingas eacute uma pessoa

desinibida trabalhadora e aacutevida pelo conhecimento medicinal das plantas Na entrevista a

moradora escolheu seu quintal como espaccedilo para conversar o local possui muitas plantas

aacutervores sombra e vento forte De forma acolhedora e sorridente algo marcante em sua

personalidade Domingas demonstrou grande acolhimento e bem estar durante a conversa

pois Apesar de sua pouca escolaridade eacute uma grande contadora de histoacuterias com forccedila e

determinaccedilatildeo no que diz

Domingas luta pelos direitos de seu povo buscando recursos que viabilizem

melhorias para a comunidade sua relaccedilatildeo com a terra veio de seus ancestrais que vieram da

comunidade de Narciacutesea para por suas raiacutezes na comunidade de Pimenteiras42

Durante a

conversa Domingas falou de suas origens sua famiacutelia da Associaccedilatildeo da titulaccedilatildeo da terra de

seu trabalho na lavoura e do saber sobre as plantas Este aspecto eacute o que mais chama a

atenccedilatildeo devido ao grande conhecimento demonstrado a respeito das plantas medicinais

A moradora de Pimenteiras vive na comunidade rural haacute cerca de cinquenta anos

Durante esse tempo muitos saberes de seus antepassados sobre as plantas medicinais foram

repassados Sua avoacute materna ndash senhora Joana Pornusena dos Santos ndash e sua matildee ndash senhora

Otiacutelia Alves do Nascimento ndash eram sabedoras do uso de chaacutes para a cura de males do corpo e

da alma Com o passar dos anos o conhecimento da senhora Domingas sobre as plantas

passou a ser muito importante para a comunidade local e visualizado por cooperativas e

organizaccedilotildees como o CEDENPA e pela Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria43

A partir

41

Em entrevista realizada em 19 de outubro de 2014 a moradora de Pimenteiras Domingas em seu discurso

apresentou saberes de um povo que se manteacutem com os recursos da natureza procurando preservar o ambiente

em que vive Para realizar esta pesquisa foi necessaacuterio registrar a conversa com a senhora Domingas atraveacutes de

fichas com perguntas variadas sobre sua histoacuteria a comunidade e o uso medicinal das plantasDepois foi

indispensaacutevel a gravaccedilatildeo do som e imagem da entrevistada para na sequecircncia analisar seu discurso que foi

transcrito de forma grafemaacutetica Com esse material transcrito fizemosa anaacutelise de um discurso repleto de saberes

de um povo historicamente deixado agrave margem social

42 Pimenteiras possui este nome devido agraves grandes plantaccedilotildees de pimenta existente na eacutepoca dos avocircs de

Domingas 43

A Rede Bragantina reuacutene atualmente vinte e sete organizaccedilotildees membros que trabalham por uma cultura de

sustentabilidade a partir de novas relaccedilotildees econocircmicas afetivas de gecircnero e etnia no sentido da existecircncia

humana Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria Artes amp Sabores tem o objetivo de produzir com respeito agraves

58

desse contexto a moradora foi orientada para aprimorar seus saberes sobre as plantas fazendo

cursos de aproveitamento e utilizaccedilatildeo dos alimentos para a sauacutede

Conhecer mais e aprimorar o conhecimento sobre as plantas medicinais vai ao

encontro dos saberes adquiridos entre as geraccedilotildees de mulheres com quem Domingas

conviveu O trabalho com as plantas eacute muito importante para a moradora a ponto que hoje o

saber sobre as plantas eacute algo que identifica a comunidade de Pimenteiras No toacutepico seguinte

veremos como a comunidade atualmente eacute conhecida pela forte relaccedilatildeo dos moradores com a

terra com as tradiccedilotildees e suas praacuteticas culturais proacuteprias e portanto identitaacuterias

234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais

Tudo aquilo que eacute construiacutedo pelo ser humano incluindo os mitos os siacutembolos os

ritos todas as crenccedilas todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento de um

povo eacute o que marca as especificidades de cada comunidade ou seja sua Cultura A definiccedilatildeo

do conceito de cultura atualmente se tornou difiacutecil pois ela pode ser estudada sob diversos

pontos de vista Eacute necessaacuterio portanto escolher uma perspectiva para poder defini-la

Desse modo analisamos os estudos de Cuche (1999) que descreve o processo

evolutivo como uma questatildeo de adaptaccedilatildeo do homem de acordo com a geneacutetica do meio

ambiente natural para uma adaptaccedilatildeo cultural dos primeiros homens Segundo o pesquisador

a noccedilatildeo de cultura era compreendida no seu sentido amplo e desde seu aparecimento no

seacuteculo XVIII suscitou constantes debates contraditoacuterios com a ideia moderna da cultura da

eacutepoca fazendo oposiccedilatildeo com a noccedilatildeo de sociedade no mesmo campo significativo

Nesse aspecto Cuche (1999 p 10) relata que ldquoA cultura permite ao homem natildeo

somente adaptar-se a seu meio mas tambeacutem adaptar este meio ao proacuteprio homem as suas

necessidades e seus projetos Em suma a cultura torna possiacutevel a transformaccedilatildeo da naturezardquo

Conhecer profundamente a comunidade de Pimenteiras trouxe forte significaccedilatildeo no

campo dos estudos cientiacuteficos e principalmente no campo dos saberes populares pois

permitiu analisar os aspectos culturais que permeiam e identificam a regiatildeo A partir disso

conhecer a cultura de um povo significa conhecer e valorizar a nossa cultura como

autoafirmaccedilatildeo do que somos Examinar como foi formada a palavra o conceito cientiacutefico que

culturas agraves sinergias da natureza valorizando os agroecosistemas locais na perspectiva da seguranccedila alimentar e

desenvolvimento sustentaacutevel Veja o site httpamazoniaemredeblogspotcombr

59

dela depende localizar sua origem e evoluccedilatildeo semacircntica evidenciam assim os laccedilos que

existem entre a histoacuteria da palavra cultura e a histoacuteria das ideias Se pensada como um

conjunto de ideias valores e conhecimentos cultura traz dentro de si em primeiro lugar a

dimensatildeo do passado Muitos conhecimentos foram herdados de outras geraccedilotildees e a cada

tempo que passa mais conhecimento eacute acumulado Eacute extraordinaacuterio como a nossa memoacuteria

fica cada vez mais enriquecida pois o tempo passa e a memoacuteria cresce proporcionalmente

(CUCHE 1999) Logo eacute sensato valorizar a identidade cultural de um povo pois atraveacutes dela

alcanccedilamos as diversas histoacuterias de nossos antepassados (CUCHE 1999)

Frente a tudo que foi explanado compreendemos que a comunidade de Pimenteiras

pode ser definida como comunidade tradicional pois eacute culturalmente diferenciada Assim

nessa construccedilatildeo da identidade coletiva do grupo os siacutembolos os saberes as tradiccedilotildees estatildeo

ligados agrave reproduccedilatildeo cultural social e econocircmica da comunidade que aleacutem de tudo tem

como consequecircncia a proteccedilatildeo da biodiversidade local Ao compreenderem que os recursos

naturais satildeo esgotaacuteveis e valiosos para a sauacutede os moradores da comunidade de Pimenteiras

buscam preservar e proteger os saberes sobre as plantas medicinais a ponto de construir sua

identidade cultural nesse domiacutenio

Eacute assim que a comunidade tradicional de Pimenteiras eacute conhecida e se reconhece

como pertencente a um grupo social particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e

reconstruccedilatildeo de um grupo A comunidade remanescente de quilombola desenvolve seus

saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia

de seu grupo (CASTRO 2000) Por isso eacute necessaacuterio conhecer e respeitar os saberes

preservados na memoacuteria de um povo juntamente com o ambiente natural em que vivem

A valorizaccedilatildeo do conhecimento popular estaacute intimamente ligada ao fortalecimento

cultural e identitaacuterio da comunidade de Pimenteiras que por sua vez faz da praacutetica de uso das

plantas medicinais a simboacutelica relaccedilatildeo que os moradores desenvolveram ao longo do tempo

com a natureza com eles mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas de

cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita

relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais que constituem a identidade

cultural de um povo (BADKE 2008)

Observando os aspectos que marcam a identidade cultural da comunidade de

Pimenteiras passaremos no capiacutetulo seguinte agrave fundamentaccedilatildeo desse estudo sobre os termos

catalogados das plantas medicinais da comunidade analisando a importacircncia do legado de

identidade e cultura popular Para isto seratildeo consideradas as especificidades das plantas

medicinais diante do saber cientiacutefico e da sabedoria tradicional analisados por meio da aacutervore

60

de domiacutenio Em seguida daremos continuidadeaos estudos sobre as ciecircncias do termo e a

terminologia nas especialidades da nomeaccedilatildeo das plantas medicinais Junto a este estudo

abordaremos as particularidades da Terminologia ateacute a Socioterminologia como fundamentos

essenciais para o estudo do termo das plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

61

3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Neste capiacutetulo apresentamos os fundamentos teoacutericos deste trabalho buscando os

conhecimentos sobre Liacutengua Terminologia Socioterminologia e Termo Segundo Perini

(2010 p 01-02) a liacutengua eacute ldquoum sistema programado em nosso ceacuterebro que essencialmente

estabelece uma relaccedilatildeo entre os esquemas mentais que formam nossa compreensatildeo do mundo

e um coacutedigo que os representa de maneira perceptiacutevel aos sentidosrdquo A liacutengua eacute caracterizada

como sistema de grande complexidade que envolve regras leacutexicos expressotildees e clichecircs que

se encontram enraizados na cultura Eacute por meio dela que manifestamos exteriormente nossa

capacidade humana de utilizar a linguagem

A terminologia por sua vez eacute a ciecircncia que ldquotoma o leacutexico especializado ou

temaacutetico que eacute composto pelos termos teacutecnico-cientiacuteficos como seu objeto principal de

estudos e de aplicaccedilotildees Eacute uma aacuterea que recorta do universo leacutexico os termos teacutecnico-

cientiacuteficosrdquo (KRIEGER 2011 p 443) Os estudos terminoloacutegicos atuais tecircm enfatizado a

perspectiva social dos termos assim a Socioterminologia eacute tambeacutem parte de tais estudos da

Terminologia Faulstich (1995) explica que a socioterminologia eacute uma disciplina descritiva

que estuda o termo na perspectiva linguiacutestica da interaccedilatildeo social ldquoeacute a disciplina que se ocupa

da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguumliacutesticas dos termos em diferentes tipos

de situaccedilatildeo de uso da liacutenguardquo (FAULSTICH 1995 p 1)

Para Sager (1998 apud DIAS 2000 p 90) a terminologia tida como teoria ldquoeacute um

conjunto de premissas argumentos e conclusotildees necessaacuterio para explicar o relacionamento

entre conceitos e termos especializadosrdquo Jaacute como praacutetica a terminologia ldquoeacute um conjunto de

meacutetodos e atividades voltado para coleta descriccedilatildeo processamento e apresentaccedilatildeo de termos

como produto eacute um conjunto de termos ou vocabulaacuterio de uma determinada especialidaderdquo

O termo por sua vez apresenta trecircs concepccedilotildees Segundo os estudos de Cabreacute (1995

apud DIAS 2000 p 90) tem-se a concepccedilatildeo linguiacutestica de que os termos satildeo uma forma de

saber ou seja ldquoos termos satildeo o conjunto de signos linguumliacutesticos que constituem um

subconjunto dentro do componente leacutexico da gramaacutetica de determinada pessoardquo No campo da

filosofia o termo eacute uma forma de conhecer em que ldquoa terminologia eacute um conjunto de

unidades cognitivas que representam o conhecimento especializadordquo Finalmente o termo eacute

uma forma de transferir e comunicar pois ldquoa terminologia eacute o conjunto das unidades de

expressatildeo e comunicaccedilatildeo que permitem transferir o pensamento especializadordquo

62

Cada aacuterea de conhecimento aborda seus termos de forma diferente e especializada

Assim na primeira parte desse capiacutetulo apresentaremos algumas compreensotildees sobre a

importacircncia da Liacutengua na identidade cultural dos moradores da comunidade de Pimenteiras

cuja cultura conhecemos por meio da anaacutelise da linguagem especializada sobre as plantas

medicinais No toacutepico seguinte verificaremos os aspectos sobre o conhecimento cientiacutefico e

popular a respeito das plantas de uso medicinal considerando que estas marcam e identificam

a comunidade quilombola Para isto utilizamos um organograma expondo as particularidades

de saber sobre as plantas medicinais no acircmbito cientiacutefico e popular

Na sequecircncia apresentamos a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o saber

popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras trazendo os aspectos

sobre a importacircncia da Terminologia nos estudos especializados da nomeaccedilatildeo Seguimos a

discussatildeo apresentando os pontos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos na linguagem

especializada de grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos Com isso notamos a

importacircncia de analisar a variaccedilatildeo terminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais da

comunidade de Pimenteiras

Em seguida examinamos os assuntos que passaram a ser considerados importantes

nos estudos terminoloacutegicos ndash a liacutengua no social ndash e compreendemos o funcionamento da

linguagem especializada no contexto social da comunidade tendo para isto a contribuiccedilatildeo da

Socioterminologia nos estudos dos termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

Logo depois seguimos com o assunto trazendo discussotildees sobre a necessidade de

valorizar os termos no ambiente discursivo pragmaacutetico e social propondo um diaacutelogo entre

as aacutereas do conhecimento uma vez que por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos eacute possiacutevel

valorizar e popularizar o conhecimento sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

Em seguida apresentamos o foco principal deste estudo o termo Observamos que os

estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais no processo de anaacutelise da natureza e da

descriccedilatildeo das particularidades pertencentes aos termos que eacute a base do estudo Terminoloacutegico

sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL

Ao refletirmos sobre os aspectos da Liacutengua na comunidade remanescente de

quilombola de Pimenteiras observamos que conhecer a liacutengua de um povo eacute tambeacutem

63

conhecer sua identidade Ressaltamos que a liacutengua eacute um sistema complexo e para entendecirc-lo eacute

indispensaacutevel primeiro conhecer o leacutexico pois ele reflete as heranccedilas dialetos marcas sociais

e culturais dos seus falantes Para Coelho e Mesquita (2013 p 25) a liacutengua nasceu da

necessidade de comunicaccedilatildeo entre os homens e ldquopermitiu ao ser humano interagir

verbalmente com o outro exteriorizando seus pensamentos expressando-se comunicando-se

por meio da fala da escrita e de outras formas de linguagemrdquo Segundo as autoras ldquoas

relaccedilotildees sociais estreitaram-se e as ideias a cultura as ideologias e os conhecimentos

puderam ser amplamente difundidosrdquo (COELHO MESQUITA 2013 p 25) A Liacutengua

facilita a comunicaccedilatildeo entre as pessoas e contribui para a realidade que temos hoje marcada

pela troca de conhecimento e disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees pois pessoas de uma localidade

podem conhecer a cultura de outras

A liacutengua envolve todas as accedilotildees e pensamentos humanos e possibilita ao indiviacuteduo

exercer influecircncias ou ser influenciado pelo outro desempenhar seu papel social na

sociedade relacionar-se como os demais participar na construccedilatildeo de conhecimentos

e da cultura (COELHO E MESQUITA 2013 p 25)

No campo da liacutengua percebemos que os moradores quilombolas da comunidade de

Pimenteiras apresentam grande saber sobre o uso medicinal das plantas devido ao vasto

conhecimento que seus antepassados possuiacuteam sobre a flora e a fauna Diante disso ao

nomear as coisas e o meio que os rodeiam os moradores de Pimenteiras formam e expressam

a sua histoacuteria sua cultura sua liacutengua e sua identidade Eacute a liacutengua que ao carregar valores e

ideologias imprime na accedilatildeo de nomear que eacute cercada de escolhas sociais e culturais a marca

de identidade do falante (LEIRO sd) Eacute a partir principalmente dessas concepccedilotildees que se

desenvolve uma reflexatildeo acerca das relaccedilotildees ideoloacutegicas que as denominaccedilotildees de algumas

plantas de uso medicinal podem possuir

O nome natildeo eacute dado de forma aleatoacuteria sempre quer dizer algo nomear eacute uma

relaccedilatildeo complexa com a significaccedilatildeo que denota grande polecircmica e inquietaccedilatildeo entre os

pesquisadores Assim quando pensamos em nomear e no que o nome significaraacute logo

imaginamos alguma qualificaccedilatildeo que sirva para marcar as coisas pessoas e lugares que lhes

sejam exclusivos pois os significados dos nomes organizam e classificam as formas de

perceber a realidade aleacutem de estarem ligados diretamente com a cultura de uma dada

comunidade (MOREIRA 2012)

Coelho e Mesquita (2013) explicam que na liacutengua entram constantemente leacutexicos

novos enquanto que outros caem em desuso devido agrave liacutengua estar sujeita a mudanccedilas O

conhecimento em relaccedilatildeo agraves plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras chama a

64

atenccedilatildeo porque eacute um modo de preservaacute-las jaacute que muitas das plantas utilizadas como

medicamento jaacute se perderam por natildeo existir nada escrito Para Coelho e Mesquita

Os indiviacuteduos satildeo inseridos na teia social por meio da liacutengua Eacute ela quem vai

possibilitar-lhes o contato com a cultura com as ideologias com as identidades

tornando-se um instrumento para que eles possam interagir linguiacutestica e socialmente

com seus semelhantes (2013 p 27)

A liacutengua tem grande importacircncia para a sobrevivecircncia da cultura de uma localidade

visto que eacute atraveacutes dela que se faz a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade (COELHO

MESQUITA 2013)

A transmissatildeo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo do conhecimento sobre o uso das plantas

medicinais na comunidade de Pimenteiras soacute foi possiacutevel graccedilas agrave linguagem oral Apesar

disso muitos jovens deixam de lado o conhecimento sobre as plantas Esse posicionamento

deprecia o saber local e a identidade cultural dos habitantes de Pimenteiras fator que justifica

a persistecircncia de muitos moradores antigos na preservaccedilatildeo deste saber

Desde jaacute compreendemos que a identidade cultural coletiva na qual um grupo

compartilha as mesmas atitudes as mesmas crenccedilas e os mesmos comportamentos formados

no tempo e no espaccedilo eacute forjada pela interaccedilatildeo de segmentos eacutetnicos e sociais Carvalho

(2003 natildeo paginado) aponta trecircs sentidos de identidade cultural

Na percepccedilatildeo objetiva a identidade cultural de um indiviacuteduo ou grupo define-se a

partir de um conjunto de criteacuterios determinantes a origem comum a liacutengua a

cultura a religiatildeo a psicologia coletiva a ligaccedilatildeo a um territoacuterio etc e um grupo

sem estes criteacuterios natildeo pode reivindicar uma identidade cultural autecircntica Na

percepccedilatildeo subjetiva a identidade etnocultural natildeo eacute mais que um sentimento de pertenccedila ou uma identificaccedilatildeo com uma coletividade mais ou menos imaginaacuteria Na

percepccedilatildeo mais lata a identidade de cada indiviacuteduo natildeo se restringe ou circunscreve

agrave identificaccedilatildeo com um grupo determinado mas eacute sim o somatoacuterio de todos os

valores adquiridos ao longo da existecircncia e estaacute em constante construccedilatildeo e

transformaccedilatildeo

Eacute pela coletividade que podemos observar que a comunidade de Pimenteiras busca

preservar sua identidade e conhecimento pelas plantas medicinais por meio dos moradores

mais antigos Mas eacute tambeacutem por meio dos mais jovens que novos saberes satildeo inseridos na

comunidade como forma de renovaccedilatildeo da cultura quilombola e consequentemente da

liacutengua pois segundo Hjelmslev (1975 p 1)

A linguagem eacute o instrumento graccedilas ao qual o homem modela seu pensamento seus

sentimentos suas emoccedilotildees seus esforccedilos sua vontade e seus atos o instrumento

graccedilas ao qual ele influencia e eacute influenciado a base uacuteltima e mais profunda

da sociedade humana

65

Diante disto entendemos que a identidade cultural define cada um de noacutes e

particularmente na comunidade de Pimenteiras eacute o que diferencia e distingue os moradores

da regiatildeo Nesse contexto o conhecimento popular sobre as plantas medicinais eacute algo que traz

a marca de um povo que preserva e utiliza seus saberes Assim apresentamos na seccedilatildeo

seguinte os aspectos relacionados ao conhecimento das plantas medicinais no acircmbito do

conhecimento cientiacutefico e popular utilizando como recurso de melhor visualizaccedilatildeo o

organograma sobre as plantas medicinais

311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular

Ao utilizarmos as plantas para fins diversos relembramos de nossos antepassados

mais distantes que usavam as plantas como recurso para a cura de doenccedilas Sabemos das

inuacutemeras funccedilotildees que elas podem assumir desde alimentaccedilatildeo ateacute o uso em construccedilotildees

vestuaacuterio e como jaacute foi citado para fins medicinais Por muito tempo as antigas civilizaccedilotildees

usufruiacuteram o grande poder que as plantas possuem Segundo relatos de Tomazzoni et al

(2006 natildeo paginado) os hebreus egiacutepcios e assiacuterios cultivavam plantas medicinais desde o

ano 2300 aC adquirindo durante suas expediccedilotildees vaacuterias espeacutecies das quais se produziam

medicamentos para males diversos

Com o passar dos tempos o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais foi

transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e hoje mesmo com o avanccedilo na medicina moderna

muitos ainda utilizam desse saber sobre as plantas no tratamento de doenccedilas Por isso natildeo se

pode deixar agrave margem o conhecimento tradicional sobre as plantas de uso medicinal pois essa

forma de conhecimento faz parte da nossa cultura Construiacutemos e desenvolvemos o

conhecimento em nossas praacuteticas diaacuterias assim denomina Borda (1984 p 48) ldquoconhecimento

praacutetico empiacuterico que ao longo dos seacuteculos tem possibilitado enquanto meios naturais

diretos que as pessoas sobrevivam criem interpretem produzam e trabalhemrdquo

Todas as informaccedilotildees acumuladas ao longo do tempo por uma determinada

comunidade em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas seus valores e sua cultura vivenciada e

experimentada satildeo consideradas em contexto do conhecimento tradicional Sendo variaacutevel e

abalaacutevel o saber popular eacute modificado e reformulado pela comunidade em que estatildeo inseridos

(KOVALSKI et al 2010) Segundo Diegues et al (2000 p 30) o conhecimento tradicional eacute

66

ldquocomo o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural sobrenatural

transmitido oralmente de geraccedilatildeo em geraccedilatildeordquo

Para Dickmann e Dickmann (2008 p 70) ldquoo saber popular eacute entendido como aquele

adquirido nas lutas que natildeo estaacute escrito nos livros aquele que eacute fruto das vaacuterias experiecircncias

vividas e convividas em tempos e espaccedilos diversos na histoacuteria do povordquo O conhecimento

popular estaacute relacionado com o povo com o individual que eacute transmitido entre as geraccedilotildees

por experiecircncias proacuteprias recebe este nome popular por natildeo haver uma explicaccedilatildeo digamos

ldquoloacutegicardquo de como as coisas funcionam de como uma pessoa sabe que tem de ser feito assim

porque viu algueacutem fazendo e deu certo sem saber explicar ldquocientificamenterdquo como funciona

O conhecimento popular seria uma espeacutecie de educaccedilatildeo informal e suas principais

caracteriacutesticas satildeo a superficialidade sensibilidade subjetividade e independecircncia do valor do

conhecimento criacutetico Jaacute o conhecimento tradicional estaacute relacionado com a tradiccedilatildeo de um

grupo envolvendo saberes empiacutericos com praacuteticas crenccedilas e costumes passados de pais para

filhos dentro desse grupo (KOVALSKI et al 2010)

Diante dos conceitos apresentados podemos compreender que a valorizaccedilatildeo dos

conhecimentos tradicionais e populares de um determinado grupo eacute muito importante pois

aleacutem de resgatar os saberes quase esquecidos no tempo proporciona tambeacutem o

fortalecimento e a difusatildeo destes saberes para a sociedade Assim vale citar uma passagem de

Chassot na qual o autor resgata tais saberes e teacutecnicas utilizadas por pessoas simples mas que

possuem um valor inestimaacutevel

[] o pescador solitaacuterio que encontramos em silenciosas meditaccedilotildees sabendo onde

e quando deve jogar a tarrafa tambeacutem tem saberes importantes A lavadeira que

sabe escolher a aacutegua para os lavados tem os segredos para remover manchas mais renitentes ou conhece as melhores horas de sol para o coaro A parteira que os anos

tornaram doutora conhece a influecircncia da lua nos nascimentos e tambeacutem o chaacute que

acalmaraacute as coacutelicas do receacutem nascido A benzedeira natildeo apenas faz rezas maacutegicas

que afastam o mau-olhado ela conhece chaacutes para curar o cobreiro que o

dermatologista diagnostica como herpes-zoster O explorador de aacuteguas que indica o

local propiacutecio para se abrir um poccedilo ante o vergar de sua forquilha de pessegueiro

tem conhecimentos de hidrologia que natildeo podem ser simplesmente rejeitados (2006

p 221)

Outras formas de conhecimento foram por muito tempo ignoradas pelos cientistas

hoje a situaccedilatildeo eacute diferente Para Marconi e Lakatos (2005) ldquo[] a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico

caminho de acesso ao conhecimento e agrave verdaderdquo nos estudos de Posey (1987) e em

pesquisas feitas pelos Etnoecoacutelogos44

e Etnobioacutelogos45

sobre as comunidades tradicionais

44 A Etnoecologia eacute uma nova disciplina hiacutebrida transdisciplinar e poacutes-normal que valoriza os conhecimentos

milenares das comunidades sobre a natureza Para maior conhecimento pesquisar no site

67

observamos que haacute um resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes populares que chamam cada vez

mais a atenccedilatildeo com novas reflexotildees sobre os paradigmas jaacute existentes provocando com isso

resultados positivos para o conhecimento cientiacutefico

O fato eacute que os estudos recentes sobre o conhecimento popular tecircm ganhado

importacircncia para o nosso proacuteprio benefiacutecio Assim Silva (2002 p 26) expotildee que ldquo[] os

estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular tecircm merecido atenccedilatildeo

cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm oferecendo agraves ciecircncias do

homemrdquo

No que concerne ao conhecimento cientiacutefico este eacute consagrado por passar por

inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute ser considerada ciecircncia Nas palavras de Lopes (1999) o

conhecimento cientiacutefico trata-se de

Todo conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por

excelecircncia sem influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e

provado a partir dos dados da experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (1999 p106)

Nas explanaccedilotildees de Cunha (2007) os saberes populares podem acolher com a

mesma intensidade explicaccedilotildees diversas de um mesmo fenocircmeno por um mesmo grupo de

pessoas ou comunidade pois eacute atraveacutes da observaccedilatildeo que as diferenccedilas se fazem tecircnues entre

o conhecimento popular e o cientiacutefico

No que concerne ao conhecimento referente ao mundo vegetal o uso de plantas com

propriedades terapecircuticas vem de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo devido ao contato com o meio ambiente

que as famiacutelias possuiacuteam Segundo Newall (2002) os fatores que influenciam o uso das

plantas com fins terapecircuticos vecircm do baixo niacutevel de vida da populaccedilatildeo junto ao alto custo

dos medicamentos Com isso os saberes acumulados durante seacuteculos satildeo mantidos na praacutetica

fitoteraacutepica

Contudo o uso popular das plantas natildeo eacute suficiente para legitimar sua eficaacutecia e

seguranccedila como medicamento Este uso tem de passar pela experimentaccedilatildeo comprovada

diante dos benefiacutecios que possam conter (BADKE 2008)

No entanto o uso medicinal das plantas eacute uma das praacuteticas mais antigas no trato de

enfermidades no homem e isso proveacutem do conhecimento popular Para Diegues e Arruda

httpwwwantropologiasocialcombra-etnoecologia-uma-ciencia-pos-normal-que-estuda-as-sabedorias-

tradicionaispdf 45 A Etnobiologia eacute o estudo cientiacutefico da dinacircmica de relacionamentos entre as pessoas e seus grupos culturais e o meio ambiente desde o passado ateacute o tempo presente Para maior aprofundamento no assunto visitar o site

httpwwwetnobiologiaorgindexphp

68

(2001) o conhecimento tradicional soacute pode ser interpretado dentro do contexto cultural em

que eacute gerado Entretanto vemos que a modernidade traz novos modos de vida que estatildeo

desvinculados das tradiccedilotildees populares Com as grandes mudanccedilas entre as realidades

culturais o contato com o outro passa a ser visto de forma diferente o outro pode ser

percebido como superior e a cultura de um grupo pode ser desvalorizada omitida negada e

esquecida (CASTELLS 1999)

Na comunidade de Pimenteiras os uacutenicos recursos medicinais vecircm do conhecimento

tradicional do saber das plantas que aleacutem de proporcionar benefiacutecios agrave sauacutede do corpo e

tambeacutem da alma possui um significado cultural para a comunidade No entanto a

continuidade dessas praacuteticas estaacute ameaccedilada por diversos fatores ligados ao dinamismo social

agrave economia e agrave cultura externa

Contudo eacute necessaacuterio indagar qual a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o

saber popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras O que eacute

Terminologia Buscamos no toacutepico seguinte responder tais questionamentos direcionados ao

campo de conhecimento cientiacutefico na seara dos estudos terminoloacutegicos a serem explanados

sobre as plantas medicinais

32A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS ESPECIALIZADOS

Segundo a anaacutelise de Vygotsky (1896-1934) uma palavra que natildeo representa uma

ideia eacute algo morto da mesma forma que uma ideia natildeo incorporada em palavras natildeo passa de

uma sombra Nomear significa pois dar vida ao ser nomeado Haacute muito tempo o homem cria

e utiliza as palavras para nomear conceitos objetos e processos nas diversas aacutereas do

conhecimento Ao nomear as realidades que nos cercam cria-se um universo que passa a ser

desvendado pela linguagem Nessa construccedilatildeo do real a liacutengua revela aspectos que marcam

os sujeitos produzindo distinccedilotildees que particularizam os objetos e identificam os traccedilos da

cultura de um povo

Refletindo sobre os aspectos da linguagem de um povo podemos analisar diferentes

termos utilizados para nomear e particularizar o objeto nomeado Nesse acircmbito os estudos

cientiacuteficos direcionados agrave Terminologia crescem cada vez mais em pesquisas na aacuterea da

linguagem especializada O leacutexico de uma liacutengua eacute uma forma de registrar o conhecimento do

mundo a nossa volta ao darmos nomes agraves coisas identificamos as semelhanccedilas e os traccedilos

69

distintivos que individualizam cada objeto a ser nomeado por meio de estruturas que o

homem cria no mundo atraveacutes das palavras ou termos46

Entretanto agrave medida que vivemos

novas realidades surgem e satildeo criadas ampliando assim o leacutexico com novas dimensotildees

impossiacuteveis de serem registradas e descritas por meio de um dicionaacuterio

Diante dos questionamentos sobre a nomeaccedilatildeo surge como ciecircncia a Terminologia

inicialmente frente agrave necessidade de uma padronizaccedilatildeo da linguagem ou seja de

normatizaccedilatildeo da Liacutengua devido ao grande desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico ocorrido

no decorrer da histoacuteria humana A Terminologia conforme afirma Rondeau eacute a linguagem

especializada que haacute seacuteculos faz parte da linguagem humana

A terminologia natildeo eacute um fenocircmeno recente Com efeito tatildeo longe quanto se

remonte na histoacuteria do homem desde que se manifesta a linguagem nos

encontramos em presenccedila de liacutenguas de especialidade eacute assim que se encontra a

terminologia dos filoacutesofos gregos a liacutengua de negoacutecios dos comerciantes cretas os

vocaacutebulos especializados da arte militar etc (RONDEAU 1984 apud KRIEGER

FINATTO 2004 p 24)

Assim observa-se que na Liacutengua o ato de nomear tem sua forma natural de ser e

por isso segue rigorosamente sua natureza de fazer Os nomes mudam porque sempre se pode

acrescentar ou tirar letras de sua forma Contudo todos os nomes vecircm de acordos ou

convenccedilotildees entre os falantes sendo que em cada grupo social e cultural os nomes variam de

acordo com o que estiver convencionado pelo grupo Deste modo os nomes variam de povo

para povo de falante para falante porque seguem a tradiccedilatildeo natural de se nomear (PLATAtildeO

1973)

O modo como organizamos as nossas relaccedilotildees e comportamentos numa comunidade

especiacutefica pode ser percebido dentro do contexto social em que a linguagem eacute aplicada das

escolhas que fazemos dos nossos valores culturais das nossas normas de comportamento e

ateacute mesmo na nossa proacutepria filosofia de vida Eacute atraveacutes dos estudos terminoloacutegicos que

podemos analisar o modo como cada pessoa cada grupo social cada comunidade molda a

linguagem ao lado de suas bases culturais discursos e objetivo na comunicaccedilatildeo

Perante agraves variantes dentro da Liacutengua a terminologia em todo seu desenvolvimento

e reconhecimento de valor apresenta hoje um estudo sobre a comunicaccedilatildeo especializada

dentro do contexto social no qual privilegia a variaccedilatildeo dos termos como constitutivos do

discurso este estudo recebe o nome de Socioterminologia

46 O termo eacute o elemento linguiacutestico que constitui a expressatildeo lexical dos saberes especializados Eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da produccedilatildeo do saber ou seja a univocidade da comunicaccedilatildeo especializada eacute

favorecida pelo uso dos termos

70

A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma

terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua

aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das

praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis

porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam

entre trabalho e linguagem (GAUDIN 1993 p 216)

Diante das exposiccedilotildees feitas sobre a Terminologia seguiremos no toacutepico abaixo com

os pontos relacionados a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada campo este de

grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos A partir dele observamos qual a

importacircncia de analisar a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras

321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada

Sabendo que o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e coletiva num

processo no qual o sujeito interage com a realidade as pessoas e o ambiente sociocultural

Faulstich (1995 p 281) afirma que no campo da linguagem ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo

no universo da terminologia revelam peculiaridades proacuteprias a serem estudadas pela

disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para a sistematizaccedilatildeo de termos e de

variantesrdquo

Percebendo que a linguagem especializada natildeo eacute uma liacutengua artificial e sim uma

realizaccedilatildeo da liacutengua natural que possui todas as particularidades pertencentes a qualquer

liacutengua viva observou-se que as diferenciaccedilotildees ocorridas na linguagem vecircm da diversidade

dos discursos na liacutengua e na cultura de cada povo No que concerne ao termo linguagem

especializada Finatto explica que

Uso o termo linguagem especializada e natildeo ldquolinguagem de especialidaderdquo por

entender que natildeo haveria uma ldquoposserdquo estrita dessa linguagem pelo usuaacuterio ou pela

aacuterea de saberconhecimento Entendo que eacute a linguagem que se faz diferenciada ela

se altera em alguns de seus formatos pela accedilatildeo dos sujeitos envolvidos e pelas condiccedilotildees pragmaacutetico-linguumliacutesticas e situacionais da comunicaccedilatildeo entre profissionais

(FINATTO 2004 p 342)

Quanto agrave existecircncia de variantes terminoloacutegicas Faulstich (2001 p 22) defende que

dependendo da funccedilatildeo realizada nos contextos o termo pode assumir diversos valores

71

ldquoConsideramos mais uma vez que variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a

comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica faz do termordquo (FAULSTICH

2OO1 p 22)

Faulstich (2001 p 21) explica que a Socioterminologia eacute necessaacuteria para analisar os

termos variantes dentro de uma metodologia particular Para a autora a Socioterminologia jaacute

era prenuacutencio para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de

natureza social Em suas pesquisas em 1995 e em estudos posteriores em 1996 e 1998

apresenta os fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos da variaccedilatildeo em terminologia Contudo eacute

somente em 1999 que a pesquisadora propotildee uma teoria da variaccedilatildeo com base numa nova

proposiccedilatildeo de anaacutelise do termo sob a perspectiva sincrocircnica e diacrocircnica

Segundo a pesquisadora as variantes terminoloacutegicas classificam-se de acordo com

sua natureza linguiacutestica e ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas variantes eacute tarefa da socioterminologia

cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da diversidade de termos que ocorrem nos planos

vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo (FAULSTICH 2006 p 29)

Seguindo um modelo funcionalista que tem como objeto cientiacutefico descrever e

explicar os proacuteprios fenocircmenos linguiacutesticos Faulstich (1996 p 1 apud CRUZ 2013 p 32)

explica que no exame da funcionalidade socioterminoloacutegica no qual a base de dados eacute a

linguagem especializada a variaccedilatildeo social do termo ocorre nos diversos niacuteveis hieraacuterquicos

do discurso cientiacutefico (CRUZ 2013 p 32)

Cruz (2013 p 35) explica que ldquoa variaccedilatildeo ocorre pela accedilatildeo do movimento gradual

do termo no tempo e no espaccedilo provocada pela funccedilatildeo de uma dada variaacutevelrdquo Observando

todos esses aspectos Faulstich (1998 p 13) amplia a tipologia das variantes trazendo assim

as variantes concorrente47

as variantes coocorrentes48

e as variantes competitivas49

Nesse

campo Cruz (2013 p 34) expotildee que

As variantes terminoloacutegicas concorrentes no qual se inscrevem os dois grupos de

tipologias apresentados anteriormente a saber as variantes terminoloacutegicas linguiacutesticas e as variantes terminoloacutegicas de registro as variantes terminoloacutegicas

coocorrentes e as variantes terminoloacutegicas competitivas

Ao compreender as diferentes variaccedilotildees dentro dos diversos discursos da Liacutengua

Cruz (2013) explica que para a construccedilatildeo da Teoria da Variaccedilatildeo em Terminologia Faulstich

47 Tambeacutem chamada de ldquoVariante formalrdquo as variantes concorrentes satildeo aquelas que podem concorrer entre si e

permanecer como tais no estrato ou que podem concorrer para a mudanccedila 48As variantes coocorrentes ou ldquoSinoniacutemias terminoloacutegicasrdquo satildeo aquelas que tecircm duas ou mais denominaccedilotildees

para um mesmo referente 49 ldquoEmpreacutestimos linguiacutesticosrdquo ou variantes competitivas satildeo aquelas que relacionam significados entre itens

lexicais de liacutenguas diferentes quer dizer itens lexicais de uma liacutengua B preenchem lacunas de uma liacutengua A

72

(2001 p 54) levou em conta que a unidade terminoloacutegica o termo ldquopode assumir diferentes

valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha nos contextos de

ocorrecircnciardquo Com efeito o termo seraacute funcional dentro de uma linguagem especializada

porque assumiraacute uma funccedilatildeo especiacutefica de determinado valor de acordo com o contexto de

uso Sob um ponto de vista socioterminoloacutegico Faulstich restaura a ideia de que a variaccedilatildeo eacute

tambeacutem um fenocircmeno terminoloacutegico e que o seu estudo deve ser desenvolvido no acircmbito da

terminologia (CRUZ 2013 p 39-40)

Compreendendo que eacute na linguagem que ocorre frequentemente a variaccedilatildeo

terminoloacutegica no que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais observamos que os

diferentes fatores sociais culturais e histoacutericos interferem na variaccedilatildeo terminoloacutegica

reafirmando um caraacuteter especiacutefico na linguagem de uso dos moradores da regiatildeo de

Pimenteiras Ao estudar as unidades terminoloacutegicas de um determinado domiacutenio Faulstich

(2006 p 27) explica que as condiccedilotildees sociais em que a comunicaccedilatildeo dessas unidades ocorre

seratildeo estudadas pela Socioterminologia

Para falar de terminologia em sentido mais estrito quer dizer de terminologia como

disciplina que sistematiza termos e conceitos eacute preciso falar tambeacutem do discurso de

onde proveacutem Neste caso excetuando o linguajar corriqueiro que como jaacute se disse

apresenta grande quantidade de terminologias usadas no dia-a-dia eacute preciso

considerar que pelo menos trecircs discursos estatildeo na base da produccedilatildeo terminoloacutegica

isso porque nenhum termo eacute usado fora da situaccedilatildeo discursiva em que eacute criado

Assim sendo discursos de diversas naturezas como o cientiacutefico o teacutecnico e o de

vulgarizaccedilatildeo satildeo a fonte natural de onde emergem os termos usados nas

comunicaccedilotildees entre profissionais Muitos desses termos entram vulgarizados no leacutexico comum por meio dos mais diversos recursos como a metaacutefora a elipse a co-

referecircncia entre outros sem por isso perderem o sentido de base Eacute este sentido

que ativa o senso comum e difunde o conceito original

O movimento do termo na linguagem especializada eacute explicado pela

Socioterminologia que tem como base a variaccedilatildeo do termo no campo social que antes era

visto como invariaacutevel Nesse sentido a variaccedilatildeo e as mudanccedilas na sociedade provocam

transformaccedilotildees no termo que eacute gerado usado e modificado

Faulstich (1995 p 7) valoriza a Socioterminologia como uma nova abordagem para

anaacutelise do termo na comunicaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica Contudo adverte que a

Socioterminologia ldquonatildeo eacute de fato uma disciplina derivada da sociolinguiacutestica poreacutem natildeo se

pode negar que eacute a visatildeo mais flexiacutevel da sociedade e da comunidade que conduz os

especialistas em terminologia a esse novo percursordquo Diante disso em sua anaacutelise a

pesquisadora acrescenta que

73

Como ramo da terminologia a socioterminologia eacute um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos

a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da

elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a

sociedade (2006 p 30)

Sabendo que os termos da linguagem especializada estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo seja no

tempo espaccedilo ou na sociedade a variaccedilatildeo nos estudos terminoloacutegicos ndash por exemplo os

termos de uso popular sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras ndash passa a ser

reconhecida como fenocircmeno natural descrita e analisada de forma cientiacutefica pela

Socioterminologia Perceber como os termos sobre as plantas medicinais passam pela

variaccedilatildeo de seus elementos eacute tambeacutem entender a cultura histoacuteria e identidade de um povo

pois eacute por meio do estudo da variaccedilatildeo dos termos de Pimenteiras que compreendemos as

constantes mudanccedilas e evoluccedilotildees que acontecem com os moradores da regiatildeo trazendo assim

o entendimento sobre os domiacutenios de especialidade na Liacutengua que distinguem a trajetoacuteria

identitaacuteria dos quilombolas

Diante do que foi explanado ateacute aqui examinaremos na seccedilatildeo seguinte como as

questotildees ocorridas no acircmbito social passaram a ser consideradas relevantes nos estudos

terminoloacutegicos ou seja a necessidade de compreender o funcionamento da linguagem

especializada no contexto social da comunidade de Pimenteiras tendo a contribuiccedilatildeo da

Socioterminologia nesse estudo sobre os termos das plantas medicinais

33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL

A anaacutelise dos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade

de Pimenteiras por via dos estudos socioterminoloacutegicos se deu a partir da necessidade de

compreender como a liacutengua funciona no contexto na comunidade pois observamos que toda

sociedade se encontra em constante transformaccedilatildeo e com ela a linguagem eacute vista como uma

das mais fortes interventoras nos comportamentos sociais

Sabendo que a Socioterminologia privilegia os aspectos sociais da linguagem de

especialidade e preocupa-se com os aspectos sociais e variacionista da liacutengua ou melhor com

o uso real da linguagem especializada Faulstich apresenta a Socioterminologia como um

ramo da Terminologia que

74

Se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as

circunstacircncias da elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a

terminologia e a sociedade (2006 p 29)

A Socioterminologia se baseia na observaccedilatildeo do funcionamento da linguagem e no

estudo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos termos Com a posiccedilatildeo de disciplina de

caraacuteter teoacuterico e natildeo somente de um meacutetodo analiacutetico aplicado a Socioterminologia contribui

para o desenvolvimento de pesquisas teoacuterico-praacuteticas que levem em conta o termo e suas

variantes Como praacutetica do trabalho terminoloacutegico a Socioterminologia segundo Faulstich

(1995) fundamenta-se na anaacutelise das condiccedilotildees de circulaccedilatildeo do termo no funcionamento da

linguagem Com caraacuteter descritivo a Socioterminologia estuda o termo sob o aspecto da

linguiacutestica na interaccedilatildeo social no qual sua pesquisa deve ter o auxiacutelio dos criteacuterios da

variaccedilatildeo e da mudanccedila dos termos no meio social como tambeacutem dos princiacutepios etnograacuteficos

que trazem os conceitos interacionistas entre os membros da sociedade No contexto da

variaccedilatildeo terminoloacutegica Faulstich (1995) explica que

O termo perde cada vez mais sua caracteriacutestica de entidade uniacutevoca em favor de

uma interpretaccedilatildeo variacionista que considera as diversidades de comunicaccedilatildeo entre

pessoal de direccedilatildeo de setores administrativos de setores de pesquisa de produccedilatildeo e

de comercializaccedilatildeo dentro das empresas o meio mais adequado para a descriccedilatildeo dos

termos cientiacuteficos e teacutecnicos

Essa interpretaccedilatildeo socioterminoacutelogica vem da etnografia que tem por base o caraacuteter

interacionista ou seja o engajamento entre as pessoas e a influecircncia muacutetua de uns para com

os outros no contexto social Faulstich (1995) explica que ao registrar as variaccedilotildees ocorridas

no campo social deve-se levar em conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico

em que os termos circulam

Diante dos conceitos explanados sobre os aspectos da variaccedilatildeo observa-se que a

Socioterminologia focaliza os dados terminoloacutegicos na pluralidade da liacutengua constituindo

normas que evidenciam o uso da variaccedilatildeo Assim Faulstich (2006) expotildee que ldquoas variantes

decorrem de uso em contextos discursivos de diferentes niacuteveis do movimento da liacutengua no

percurso histoacuterico de empreacutestimos de usos regionais entre outras categorias desde que

mantenham o significado implicadordquo

Observamos assim que a Socioterminologia assume um caraacuteter descritivo na

linguagem especializada em uso dando maior ecircnfase agrave comunicaccedilatildeo que traz em seu contexto

manifestaccedilotildees discursivas que necessitam dos elementos da variaccedilatildeo (GAUDIN 1993)

Segundo Barros (2004 p 69) o pesquisador Gaudin (1993) expotildee que eacute fundamental para a

75

Socioterminologia levar em consideraccedilatildeo o uso dos termos e situar a linguagem especializada

em seu contexto social Desse modo ldquoa praacutetica terminoloacutegica eacute inseparaacutevel tanto do

conhecimento do espaccedilo da accedilatildeo onde ela se daacute quanto das praacuteticas de linguagem que visam

modificar ou assegurarrdquo (GAUDIN 1993 p 212 apud BARROS 2004 p 69)

Nas pesquisas de Faulstich (1995) o termo em estudos anteriores deveria ser uma

unidade denotativa sem relaccedilotildees sinoniacutemicas ou polissecircmicas Hoje a praacutetica terminoloacutegica

demonstra que um mesmo conceito poderaacute ser expresso por termos que apresentem variaccedilotildees

sejam elas morfoloacutegicas regionais ou socioprofissionais Eacute este o princiacutepio subjacente agrave

Socioterminologia conforme exposto pela pesquisadora

A socioterminologia eacute portanto um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o

conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na

planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da elaboraccedilatildeo

desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a sociedade

(FAULSTICH 2006)

Nos estudos socioterminoloacutegicos como jaacute foi mencionado a base eacute a anaacutelise das

condiccedilotildees de funcionamento dos termos como elementos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dentro

de um sistema linguiacutestico e socialTais elementos foram adquiridos por meio dos princiacutepios da

sociolinguiacutestica sob a perspectiva da variaccedilatildeo e dos princiacutepios etnograacuteficos que vem da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo social Com caraacuteter descritivo e social a Socioterminologia defende

uma variaccedilatildeo sociodiscursiva na linguagem terminoloacutegica Segundo Faulstich (2001 p 22)

ldquoas variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social

linguumliacutestica e geograacutefica fazem do termordquo Nesse acircmbito a comunicaccedilatildeo deve ser observada in

vivo devido agrave funccedilatildeo do contexto social pragmaacutetico e discursivo no qual os termos circulam

isto se opotildee intensamente ao condicionamento in vitro imposto pela teoria wusteriana

Analisamos assim que a base dos estudos socioterminoloacutegicos estaacute na variaccedilatildeo e na

etnografia de ordem interativa ou seja os termos catalogados sobre as plantas medicinais da

comunidade de Pimenteiras foram analisados nos diferentes niacuteveis sociais e culturais em que

ocorrem Verificamos que na linguagem especializada sobre as plantas medicinais os termos

deixam de ser uma unidade uniacutevoca para serem meditados na interpretaccedilatildeo variacionista em

que a comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade eacute motivada por diferentes termos para

um mesmo conceito ou por vaacuterios conceitos para um mesmo termo

Diante de tais aspectos precisamos conhecer e analisar os contextos sociais

religiosos culturais de gecircnero e da identidade quilombola nos quais a linguagem ocorre

tomando como foco os saberes medicinais sobre as plantas da regiatildeo respeitando e analisando

76

por meio dos estudos socioterminoloacutegicos os termos catalogados pelos moradores sem

interferir no estado natural desse objeto de estudo a fim de garantir a fidelidade dos dados e

dos resultados alcanccedilados na pesquisa de campo A Socioterminologia eacute pois uma ciecircncia

que reconhece a variaccedilatildeo terminoloacutegica

A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma

terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua

aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das

praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis

porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam

entre trabalho e linguagem (GAUDIN apud FAULSTICH 2006 p216)

Compreendendo que a variaccedilatildeo eacute um fator universal da linguagem humana e que

esse mesmo fator tambeacutem estaacute presente na linguagem especializada verificamos em Gaudin

(1993 p 16) que ldquoa socioterminologia pode levar em conta o real do funcionamento da

linguagem e restituir toda sua dimensatildeo social agraves praacuteticas linguageiras concernentesrdquo Apoacutes

essas discussotildees notamos a necessidade de valorizar os termos no ambiente discursivo

pragmaacutetico e social em que satildeo produzidos trazendo um diaacutelogo entre as aacutereas de saber Eacute

por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos que podemos valorizar e divulgar o conhecimento

popular sobre as plantas medicinais dos moradores da comunidade de Pimenteiras assunto

este que apresentamos no toacutepico seguinte

331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da Socioterminologia

Compreendemos que o conhecimento eacute uma expressatildeo utilizada para demonstrar

toda a experiecircncia adquirida ateacute o presente momento na histoacuteria do ser humano Somos a

soma das invenccedilotildees pensamentos criaccedilotildees da mente humana Soacutecrates (470-399 aC apud

PESSANHA 1980) jaacute dizia que o verdadeiro conhecimento vem de dentro de noacutes que natildeo eacute

encontrado apenas nos documentos mas tambeacutem nos processos e nas praacuteticas dos grupos

humanos que por meio das experiecircncias acumuladas entre as geraccedilotildees aumentam a

produtividade e conquista de novas oportunidades de conhecer

Etimologicamente a palavra conhecimento eacute derivada do latim cognitio que

significa ato ou accedilatildeo de aprender Nesse sentido aprender eacute a capacidade de absorvermos

atraveacutes dos sentidos as experiecircncias externas e a partir delas acrescentar novos

77

conhecimentos Na medida em que evoluiacutemos percebemos que o conhecimento eacute o meio que

processa o envolvimento humano com os dados e informaccedilotildees dessa accedilatildeo de conhecer que eacute

tatildeo fundamental a todos noacutes pois que algueacutem deu o conhecimento a um contexto a um

significado a uma interpretaccedilatildeo que refletiu sobre o saber e acrescentou a ele sua proacutepria

sabedoria

A abrangecircncia que o termo ldquoconhecimentordquo possui eacute muito importante para

compreendermos nossa proacutepria vivecircncia de conhecer o mundo que nos rodeia Diante desse

contexto observamos que existem definiccedilotildees diferentes para cada campo do conhecimento

Tomando os estudos de Marcondes (2001) percebemos os seguintes tipos de conhecimento

O Conhecimento Cientiacutefico que vem das leis e sistemas que explicam de modo

racional com base na experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo investigaccedilatildeo e na loacutegica sistemaacutetica do que

esta sendo observado Lopes (1999 p 106) escreve que o conhecimento cientiacutefico eacute ldquotodo

conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por excelecircncia sem

influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e provado a partir dos dados da

experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e experimentaccedilatildeordquo Esta aacuterea do conhecimento eacute

extremamente analiacutetica e objetiva Tendo relaccedilatildeo com a racionalidade suas anaacutelises satildeo

importantes no processo de construccedilatildeo do saber cientiacutefico de forma que suas caracteriacutesticas

se tornam praticamente uma antiacutetese ao conhecimento popular

O Conhecimento Popular ou Empiacuterico tambeacutem conhecido como tradicional tem

relaccedilatildeo com a hereditariedade cultura e senso comum do homem Eacute uma forma de reflexatildeo

passiva acriacutetica e assistemaacutetica que vai aleacutem da subjetividade e superficialidade Estaacute baseado

nas experiecircncias vividas ou observadas pelo homem sem teacutecnicas ou meacutetodos O

conhecimento ocorre pelo uso dos sentidos podendo ser passiacutevel ao erro dedutivo por ter

mais questotildees pessoais do que cientiacuteficas

O Conhecimento Filosoacutefico estaacute relacionado agrave ideias e conceitos que satildeo construiacutedos

pela busca da verdade do mundo atraveacutes da indagaccedilatildeo priorizando assim um olhar sobre a

condiccedilatildeo humana Existem questotildees que somente a capacidade humana de refletir e raciocinar

podem responder assuntos que nem a ciecircncia consegue pois satildeo temas inerentes ao homem

A racionalizaccedilatildeo eacute o principal instrumento de uso com isso pode-se dizer que este

conhecimento eacute reflexivo loacutegico criacutetico racional e subjetivo

O Conhecimento Teoloacutegico por sua vez esta direcionado para conhecer e provar a

existecircncia de Deus e dos textos escritos na Biacuteblia tomando-os como verdades incontestaacuteveis

Obtido atraveacutes das ideias e axiomas da feacute tenta responder as questotildees inerentes ao homem em

relaccedilatildeo agrave sua existecircncia atraveacutes da concepccedilatildeo divina do mundo

78

Perante os tipos de conhecimentos expostos percebemos que em todo lugar que

olhamos o homem eacute capaz de criar meacutetodos de entendimento de tudo aquilo que ele absorve

do ambiente em que vive Assim observamos que na comunidade de Pimenteiras os

moradores quilombolas obtiveram o conhecimento sobre as plantas medicinais por meio do

conhecimento popular atraveacutes da relaccedilatildeo com sua cultura local seus antepassados e com sua

Liacutengua de modo a construir experiecircncias que ateacute hoje comungam com sua identidade

Nesse sentido somos a soma de nossa heranccedila bioloacutegica social e histoacuterica sendo

atraveacutes da linguagem e da cultura que nos constituiacutemos em seres com a capacidade de

conhecer e de adquirir conhecimento Por isso liacutengua eacute mais do que instrumento de

conhecimento ela eacute constitutiva dele Para Matos (2011 p 3) ldquoa liacutengua eacute incubadora da

identidade reproduz significados que se deslocam afetados pela memoacuteria e eacute submetida ao

movimento da ideologia imposto pela histoacuteria estando portanto atrelada a aspetos poliacuteticos e

eacuteticosrdquo

No que concerne agrave Liacutengua analisamos que o conhecimento sobre seu funcionamento

eacute fundamental para noacutes falantes Esse conhecimento estaacute impliacutecito em nosso ser e vem de

uma capacidade que nos permite apreender e dominar a liacutengua que utilizamos O

conhecimento linguiacutestico eacute parte de todos noacutes falantes de uma determinada liacutengua ou seja eacute

parte do nosso saber porque nascemos com essa capacidade

Assim como a liacutengua a Terminologia eacute tambeacutem uma praacutetica cognitiva linguiacutestica e

social Boulanger (2001 p 13 apud Rodrigues 2010 p 33) explica que a Terminologia ldquoeacute

uma praacutetica cognitiva na medida em que repousa sobre o conhecimento eacute uma praacutetica

linguiacutestica devido agrave noccedilatildeo termo ou praacutetica social especializada na medida em que o saber

circula em todas as sociedades humanasrdquo Eacute diante desse conhecimento da linguagem de

especialidade no contexto social que a Socioterminologia surge para identificar e analisar os

saberes especializados na liacutengua

Eacute evidente que o conhecimento cientiacutefico se faz necessaacuterio ao estudo terminoloacutegico

aqui proposto sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras Entretanto o

conhecimento popular transmitido entre as geraccedilotildees quilombolas eacute basilar para esta pesquisa

pois eacute a partir deste saber tradicional que buscamos analisar sob o olhar Socioterminoloacutegico

os elementos relacionados aos termos sobre as plantas medicinais Popularizar e valorizar o

conhecimento tradicional por meio do saber cientiacutefico eacute fundamental para conhecermos as

diversidades em nossa liacutengua como tambeacutem de nossa cultura

Observamos que o conhecimento cientiacutefico eacute aquele que pode ser provado atraveacutes de

inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute que seja incorporado pela ciecircncia Para Marconi e Lakatos

79

(2003 p 75) o conhecimento cientiacutefico ldquo[] eacute transmitido por intermeacutedio de treinamento

apropriado sendo um conhecimento obtido de modo racional conduzido por meio de

procedimentos cientiacuteficosrdquo

Com relaccedilatildeo ao conhecimento popular este por um longo tempo foi ignorado pelos

cientistas Entretanto hoje a situaccedilatildeo eacute diferente pois segundo Posey (1987) eacute por meio do

resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes tradicionais que surgem novas reflexotildees que datildeo grande

importacircncia desses saberes para o nosso proacuteprio benefiacutecio Diante disso Silva (2002 p 26)

argumenta que ldquo[] os estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular

tecircm merecido atenccedilatildeo cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm

oferecendo agraves ciecircncias do homemrdquo

Eacute fato e natildeo desmerecemos que o conhecimento cientiacutefico tecircm um papel muito

importante para a nossa cultura no entanto eacute preciso acolher com a mesma intensidade os

saberes populares para buscarmos compreender e analisar as diferentes culturas e linguagem

especializadas pois ldquo[] o que leva um ao conhecimento cientiacutefico e outro ao vulgar ou

popular eacute a forma de observaccedilatildeordquo (MARCONI LAKATOS 2005 p 76) Para isso a

Socioterminologia como ciecircncia busca analisar e fazer dialogar os diversos aspectos

relacionados agrave linguagem especializada levando em consideraccedilatildeo o acircmbito social em que

circundam os termos sobre os saberes populares das plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras

Diante desse contexto percebemos o quanto eacute importante analisarmos os termos

sobre as plantas medicinais do ponto de vista discursivo no uso concreto da linguagem

teacutecnica com caraacuteter variacionista e como os estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais

nesse processo Eacute por meio de seus meacutetodos de anaacutelise e descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de

variaccedilatildeo no contexto social e linguiacutestico que seguimos no toacutepico seguinte nas discussotildees

sobre o termo base do estudo socioterminoloacutegico

332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico

Segundo os estudos de Krieger e Finatto (2004) o termo eacute o elemento linguiacutestico que

constitui a expressatildeo lexical do saber especializado eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da

produccedilatildeo dos saberes De forma concisa entendemos que a palavra e o termo satildeo unidades

parecidas ao serem descritas por um conjunto de caracteriacutesticas linguiacutesticas sistemaacuteticas

80

referindo-se a um elemento da realidade A palavra ao tomar parte de um acircmbito

especializado eacute considerada um termo e a carga semacircntica confere no aspecto linguiacutestico o

que o diferencia da palavra

O termo caracteriza-se no sentido de que para uma noccedilatildeo dada haacute teoricamente uma uacutenica denominaccedilatildeo Esta caracteriacutestica do termo se funda sobre um postulado

da terminologia o da relaccedilatildeo de univocidade entre denominaccedilatildeo (significante) e

noccedilatildeo (significado relaccedilatildeo do tipo reflexiva) (RONDEAU apud KRIEGER 2004 p

77)

Sendo um objeto de estudo das ciecircncias terminoloacutegicas o termo eacute investigado numa

dimensatildeo pragmaacutetica discursiva e sociolinguiacutestica Faulstich (2006) explica que a teoria da

variaccedilatildeo terminoloacutegica propotildee uma releitura da definiccedilatildeo do objeto de estudo da

Socioterminologia que eacute o termo Para a autora (2006 p 28) ldquouma unidade terminoloacutegica

pode ter ou assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel

desempenha nos contextos de ocorrecircnciardquo

Nos estudos de Rodrigues (2010 p 36) o termo pode ser apreendido como um signo

que encontra funcionalidade na linguagem de especialidade como uma entidade variante que

se apoia nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo social e como um item do leacutexico especializado que

passa por processos de evoluccedilatildeo Desta forma o termo eacute visto como fenocircmeno linguiacutestico

variaacutevel que encontra na terminologia diferentes resultados de uso dos falantes nos diversos

contextos sociais geograacuteficos e linguiacutesticos Diante disso Gouadec (apud KRIEGER 2004 p

77) expotildee que ldquoum termo eacute uma unidade linguiacutestica que designa um conceito um objeto ou

um processo O termo eacute a unidade de designaccedilatildeo de elementos do universo percebido ou

concebido Ele raramente se confunde com a palavra ortograacuteficardquo

Considerando o princiacutepio da variaccedilatildeo em toda a sua dimensatildeo o pesquisador

Rodrigues (2010) acrescenta que o termo passa a ser visualizado como uma unidade lexical

que sofre todas as implicaccedilotildees sistecircmicas e contextuais proacuteprias a qualquer palavra no

contexto comunicativo da liacutengua Para Barros (apud KRIEGER FINATTO 2004) o termo eacute

uma unidade do leacutexico com conteuacutedo especiacutefico dentro de um domiacutenio tambeacutem particular

que pode ser descrito e analisado em diferentes aspectos relacionados ao significante e

significado agraves relaccedilotildees com outros termos e ao ponto de vista sociolinguiacutestico com isso

observamos que haveraacute melhor sustentaccedilatildeo teoacuterica ao trabalho estudado na comunidade de

Pimenteiras

Por ser um objeto de estudo da Socioterminologia Gaudin (1993) lembra que deve

haver uma aproximaccedilatildeo discursiva dos termos pois segundo o pesquisador as unidades

81

terminoloacutegicas devem ser analisadas em sua condiccedilatildeo de produccedilatildeo discursiva e de interaccedilatildeo

entre conhecimentos No que concerne ao conhecimento ele eacute sempre foi e seraacute uma forma

moacutevel de cultura De forma cientiacutefica ou de saber popular o conhecimento humano chega a

cada geraccedilatildeo a cada comunidade com a marca dos tempos povos e lugares por onde passou

Eacute atraveacutes da transferecircncia do conhecimento por meio da Liacutengua que as sociedades se formam

as tradiccedilotildees dos povos sofrem mudanccedilas ou satildeo abolidas em troca de outras Contudo eacute pelo

aparecimento de novos conceitos e pela aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos que outras capacidades

cognitivas se desenvolvem e formam outros conhecimentos

Sabendo que o conhecimento pode tambeacutem ser transmitido por meio da linguagem

verificaremos na anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais os

aspectos relacionados agrave representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras pois

compreendemos que eacute por meio da linguagem que criamos expressamos e designamos os

conceitos e objetos nos diversos campos de conhecimento

Nos estudos de Cruz (2014 p 98) ela expotildee que ldquoos termos satildeo criados e se

desenvolvem em uma liacutengua concreta porque as ideias processos ou objetos que esses termos

designam foram criados pela sociedade que deles se utilizardquo Ela explica que os termos satildeo

resultado de convenccedilotildees ou preferecircncias individuais possuindo relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas

do objeto nomeado Eacute nesse campo que as anaacutelises dessas carateriacutesticas satildeo necessaacuterias para

observar se as denominaccedilotildees satildeo fruto de ideias do conhecimento da aacuterea ou por modismos

(CRUZ 2014)

No campo da linguagem percebemos que os termos sobre as plantas medicinais satildeo

utilizados na comunidade de Pimenteiras atraveacutes da interaccedilatildeo entre a cultura a natureza e as

origens de um povo que transmitiu seus conhecimentos entre as geraccedilotildees por meio da liacutengua

Atraveacutes das concepccedilotildees explanadas sobre a linguagem ldquopodemos dizer que uma terminologia

natildeo se insere em uma liacutengua mas em uma linguagem especiacutefica desenvolvida a partir de um

universo de discurso criado por uma comunidade em um dado campo do saberrdquo (SANTOS

2010 p 06)

Nesse contexto Krieger e Finatto (2004 p75) explicam que ldquoo termo ou unidade

terminoloacutegica eacute simultaneamente elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber e componente

linguiacutestico cujas propriedades favorecem a univocidade da comunicaccedilatildeo especializadardquo

Por ter um caraacuteter natural os termos funcionam como um elemento dos sistemas

linguiacutesticos que estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo sendo esta inerente em qualquer liacutengua a variaccedilatildeo

terminoloacutegica ocorre no acircmbito do uso especializado Nesse sentido Cruz (2012) expotildee que a

82

comunicaccedilatildeo especializada de melhor qualidade eacute construiacuteda a partir do reconhecimento da

naturalidade e inerecircncia da variaccedilatildeo terminoloacutegica como um tipo de variaccedilatildeo linguiacutestica

Na anaacutelise socioterminoloacutegica verificamos alguns aspectos da variaccedilatildeo dos termos

sobre as plantas medicinais de Pimenteiras mostrando como os termos variam de acordo com

as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos observando na linguagem especializada a

naturalidade e inerecircncia presentes nos termos a serem analisados proporcionando a

particularizaccedilatildeo e identidade da comunidade

Por ser uma unidade de conhecimento que estaacute constantemente se relacionando com

seu significado o termo segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos Assim antes de analisar

se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade verificamos que a

definiccedilatildeo deles eacute muito importante para o contexto de uso dos estudos teoacutericos da

Socioterminologia que descreve os termos dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber

especializado Segundo os estudos de Lara (2004 p 93) ldquouma definiccedilatildeo eacute um enunciado que

descreve um conceito permitindo diferenciaacute-lo de outros conceitos associadosrdquo Sager (1990

apud LARA 2004 p 93) expotildee ainda que ldquoa definiccedilatildeo eacute uma explanaccedilatildeo aceita do

significado especializado de itens lexicais cuja ocorrecircncia pode ser documentada em vaacuterias

fontesrdquo Diante disso utilizamos no percurso da anaacutelise dos termos medicinais sobre as

plantas a definiccedilatildeo do saber subjetivo de uma moradora da regiatildeo de Pimenteiras

Nos estudos da definiccedilatildeo terminoloacutegica dos termos Lara (2004 p 94) contribui

expondo que ldquoa definiccedilatildeo terminoloacutegica eacute classificadora hierarquizante estruturante

relaciona-se agrave definiccedilatildeo da coisardquo ou seja a definiccedilatildeo natildeo eacute uacutenica ela varia de acordo com a

fonte escolhida Assim procuramos nos estudos socioterminoloacutegicos trazer a definiccedilatildeo dos

termos sobre as plantas medicinais pois a Socioterminologia ldquoeacute uma disciplina que se ocupa

da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguiacutesticas dos termos em diferentes tipos

de situaccedilatildeo de uso da liacutengua nos diversos niacuteveis e planos hieraacuterquicos do discursordquo (CRUZ

2012 p 100)

Cruz acrescenta que nos estudos de Faulstich (1998) ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas

variantes eacute tarefa da Socioterminologia cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da

diversidade de termos que ocorrem nos planos vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo

Perante a diversidade dos termos e consequentemente da variaccedilatildeo em suas definiccedilotildees

utilizamos no processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Faulstich

(1996) uma amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees tidas sobre os termos a partir

da variaccedilatildeo terminoloacutegica que fundamenta os dados a serem analisados

83

Nos estudos de Cruz (2014 p113) sobre a variaccedilatildeo dos termos a pesquisadora

explica que ldquoo processo de variaccedilatildeo se daacute dentro de um construto teoacuterico em que variaacuteveis

produzem variantes que funcionam nas liacutenguas de acordo com as funccedilotildees que elas venham a

ter no discurso de especialidade ou na liacutengua comumrdquo Nos estudos socioterminoloacutegicos

Faulstich (1995 apud CRUZ 2012) propotildee uma abordagem funcionalista do termo que eacute a

base da pesquisa socioterminoloacutegica defendendo uma estreita relaccedilatildeo entre termo e variaccedilatildeo

Outro postulado defendido por Faulstich (1998 1999) eacute sobre a anaacutelise do termo que deve

ser visto sob duas perspectivas sincrocircnica e diacrocircnica assim ela resume que

Termos satildeo signos que encontram sua funcionalidade nas linguagens de especia-

lidade de acordo com a dinacircmica das liacutenguas satildeo entidades variantes porque fazem

parte de situaccedilotildees comunicativas distintas satildeo itens do leacutexico especializado que

passam por evoluccedilotildees por isso devem ser analisados no plano sincrocircnico e no plano diacrocircnico das liacutenguas (FAULSTICH 1999 p 28)

Outro aspecto importante a ser mencionado eacute com relaccedilatildeo agrave estrutura do termo que

pode se apresentar de forma simples complexa ou composta Esse campo leacutexico-semacircntico e

morfossintaacutetico do termo eacute tomado pelos estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) que

explanam sobre a estrutura simples constituiacuteda de um radical e por estruturas complexas e

compostas em que ocorre a presenccedila de dois ou mais radicais diferenciados pela presenccedila do

hiacutefen nos termos compostos enquanto que nos termos complexos ocorre os processos de

composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo50

ou justaposiccedilatildeo51

das palavras No caso da

comunicaccedilatildeo especializada o que predomina satildeo os termos complexos por poder assumir

diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo

reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico

Quando utilizamos um termo num determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e

permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo internalizadas na liacutengua que por ser um

sistema dinacircmico passa a ser enriquecida por neologismos Assim veremos que os estudos de

Pottier (1978) e de Barros (2007) sobre o termo no que concerne agrave sua estrutura

morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica satildeo caracterizadas como simples compostas ou

complexas

Em presenccedila das concepccedilotildees explanadas sobre o termo observamos que o

conhecimento que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem sobre as plantas

50Aglutinaccedilatildeoconsiste na junccedilatildeo de duas ou mais palavras com o objetivo de formar uma terceira palavra poreacutem

uma delas ou as duas sofreraacute alguma mudanccedila na sua forma ganhando ou perdendo letras fonemas ou

morfemas

51Justaposiccedilatildeo satildeo as palavras apenas justapostas uma ao lado da outra e estando juntas formaratildeo uma terceira

palavra Neste caso as palavras ficam intactas natildeo perdendo nenhum item da sua forma

84

medicinais satildeo as marcas de seus antepassados de sua identidade de sua histoacuteria como

quilombolas satildeo marcas de sua linguagem diante da diversidade na natureza Natildeo usamos a

liacutengua sempre da mesma forma mas adequamos nossa linguagem agrave situaccedilatildeo comunicativa em

que estamos inseridos Assim os usos que fazemos em nossa liacutengua satildeo o reflexo tambeacutem

da nossa proacutepria histoacuteria Nesse contexto damos iniacutecio no capiacutetulo seguinte sobre a

metodologia utilizada para fundamentar esta pesquisa levando em consideraccedilatildeo os objetivos

as etapas da pesquisa as pessoas e as dificuldades encontradas no percurso do trabalho

85

4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos os motivos escolhas e as etapas metodoloacutegicas feitas

durante a pesquisa de campo na comunidade de Pimenteiras As fases para a constituiccedilatildeo

deste trabalho dissertativo tecircm suas bases nos estudos da Socioterminologia com o uso de

instrumentos tecnoloacutegicos antes durante e apoacutes o trabalho de campo Dentre as ferramentas

tecnoloacutegicas empregadas utilizamos diversas entrevistas transcriccedilotildees dos diaacutelogos e registro

de dados sobre os termos medicinais das plantas As ferramentas usadas foram o Software

Transana52

as fichas terminoloacutegicas gravador de voz maacutequina fotograacutefica e questionaacuterios

usados nas entrevistas Eacute fato que muitas dificuldades surgiram no percurso do trabalho

apesar disso a coleta dos dados foi imprescindiacutevel para a pesquisa sobre os termos das plantas

de uso medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras

41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE

PIMENTEIRAS

Realizar uma investigaccedilatildeo baseada na pesquisa de campo supotildee planejar previamente

o curso a seguir na construccedilatildeo do trabalho Eacute fato que o pesquisador encontra diversos

imprevistos que dificultam a pesquisa a ser realizada Compreendendo isso optamos em

conhecer participar e analisar a comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras no

setor das plantas medicinais Observamos que as condiccedilotildees naturais do tempo

influenciarammuito na pesquisa aleacutem da dificuldades encontradas no trajeto ateacute a

comunidade Apesar disso a riqueza em informaccedilotildees a biodiversidade da regiatildeo e o

consentimento dos moradores para a realizaccedilatildeo da pesquisa proporcionaram maior firmeza

para a continuidade do trabalho

Na intenccedilatildeo de fornecer dados confiaacuteveis e de qualidade para esse estudo buscamos

visitar e manter contato contiacutenuo com os moradores da comunidade de Pimenteiras Cada

52 O Transana foi criado por pesquisadores e para pesquisadores a fim de atender as necessidades profissionais

de quem executa entrevistas com trabalhos de campo pode serusado em diversas aacutereas do conhecimento mas

nessa pesquisa de base socioterminoloacutegica nosso estudo eacute constituiacutedo de um corpus de liacutengua oral As vantagens

do software eacute que oferece a visualizaccedilatildeo de vaacuterias janelas como o aacuteudio viacutedeo transcriccedilatildeo base de dados e visualizaccedilatildeo do material a ser transcrito isto proporciona maior seguranccedila e agilidade no processo

86

encontro foi planejado ora com entrevistas gravadas e filmadas ora com registro de fotos e

coleta de dados sobre as plantas Tudo no intuito de conhecer descrever e analisar os dados

com maior seguranccedila e veracidade pois cada ponto foi imprescindiacutevel para a fundamentaccedilatildeo

do trabalho dissertativo

Os dados sobre as plantas de uso medicinal foram organizados por alguns moradores

da regiatildeo durante os trabalhos com o Bioenergeacutetico de acordo com o saber que possuem

Estes dados foram catalogados e analisados dentro do contexto socioterminoloacutegico da

pesquisa em questatildeo Nosso intuito eacute analisar o saber popular sobre os termos catalogados das

plantas de uso medicinal levando em consideraccedilatildeo a linguagem especializada dos termos

medicinais adquiridos pelo repasse entre as geraccedilotildees pela relaccedilatildeo com a natureza e por

saberes conseguidos pelo contato com outros conhecimentos de caraacuteter cientiacutefico sobre o

poder de cura das plantas

A comunidade remanescente de quilombo de Pimenteiras estaacute localizada na regiatildeo

agriacutecola da cidade de Santa Luzia do Paraacute distante 30 km da cidade Hoje cerca de vinte oito

(28) famiacutelias vivem na comunidade sobrevivendo da agricultura criaccedilatildeo de gado e accedilaiacute

Devido agrave sua localizaccedilatildeo em aacuterea rural os moradores de Pimenteiras vivem do plantio e dos

saberes que possuem sobre as plantas medicinais devido agrave distacircncia e dificuldades para

conseguir tratamento meacutedico o saber sobre as plantas de uso medicinal tornou-se recurso

indispensaacutevel no trato das muitas doenccedilas A partir disso alguns moradores quilombolas

trabalharam por algum tempo com o Bioenergeacutetico nesse periacuteodo foram orientados por

representantes do CEDENPA para coletar amostras de plantas no trato medicinal Junto agraves

amostras os moradores escreveram os nomes de cada planta de acordo com o saber que

adquiriram com seus antepassados

Aleacutem da quantidade de conhecimento que a comunidade possui a particularidade

linguiacutestica sobre os nomes de cada planta de uso medicinal eacute muito importante nesse estudo

Por isso foram necessaacuterios diversos encontros com os moradores para conhecer e colher

maiores informaccedilotildees para esse trabalho A comunidade de Pimenteiras estaacute constituiacuteda de

expressivos elementos culturais que vecircm desde a proacutepria descendecircncia quilombola ateacute o

saber que possuem sobre as plantas por meio da valorizaccedilatildeo e fortalecimento de sua memoacuteria

coletiva Seus moradores apesar das inuacutemeras dificuldades e preconceitos vividos buscam

preservar sua identidade e serem reconhecidos pela sociedade pois a interaccedilatildeo participativa

entre os diferentes saberes existentes na comunidade promove um sentimento de

pertencimento diante das diferenccedilas culturais que devem ser respeitadas e apreciadas

87

Entendemos que o conhecimento eacute algo que estaacute em constante construccedilatildeo e

reconstruccedilatildeo e que as influecircncias que vivemos ajustam esse processo Particularmente o

conhecimento dos moradores da comunidade de Pimenteiras estaacute nessa frequecircncia que se

interpotildee entre os saberes vindos de geraccedilotildees passadas combinadas agrave presenccedila de novos

conhecimentos Diante da imensa contribuiccedilatildeo ao conhecimento cientiacutefico eacute respeitaacutevel

buscar conhecer os saberes vindos dos moradores remanescentes de quilombo para que os

mesmos sejam reconhecidos como identidade cultural sobre as plantas

Objetivamos nesse trabalho analisar os termos catalogados sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras sob a perspectiva socioterminoloacutegica dos termos no

contexto da linguagem especializada dos moradores remanescentes de quilombo observando

os aspectos sociais culturais e religiosos em que estatildeo inseridos e assim compreendermos a

identidade do povo da regiatildeo Analisando os termos identificamos que no campo da

Socioterminologia as palavras registradas sobre as plantas medicinais fazem parte do domiacutenio

especializado da liacutengua e expressam uma forte identidade no universo sociocultural dos

moradores quilombolas de Pimenteiras fazendo com que a comunidade adquira traccedilos que

distinguem e identificam sua cultura

Os dados catalogados foram registrados transcritos e definidos de acordo com o

saber de um morador da comunidade de Pimenteiras Na anaacutelise socioterminoloacutegica dos

termos todos foram definidos e estruturados por meio de fichas terminoloacutegicas para melhor

visualizaccedilatildeo das unidades que compotildeem as palavras coletadas junto da definiccedilatildeo

adicionamos as imagens de cada termo nomeado

42 A PESQUISA DE CAMPO

Registrar os termos de uma linguagem especializada requer preservar a legitimidade

que cada indiviacuteduo possui no uso da liacutengua Durante o processo de pesquisa vaacuterias etapas

foram executadas para que as anaacutelises fossem alcanccediladas As pessoas foram muito

importantes para que o estudo se desenvolvesse ao longo desse periacuteodo de anaacutelise

socioterminoloacutegica dos termos

Como criteacuterio de seleccedilatildeo escolhemos uma (01) moradora remanescente de

quilombola da comunidade de Pimenteiras a senhora Domingas Alves do Nascimento pelo

conhecimento popular sobre as plantas medicinais que ela deteacutem e tambeacutem pelo fato de ser

88

uma das pessoas que coletaram amostras das plantas medicinais Aleacutem disso Domingas eacute

uma representante da associaccedilatildeo AQUAFAP que sempre realizar atividades relacionadas a

valorizaccedilatildeo e aos direitos dos moradores de Pimenteiras

No aspecto religioso ela sempre estaacute engajada na cerimocircnia em homenagem agrave Nossa

Senhora do Livramento e mesmo com tantos trabalhos a serem executados na comunidade a

moradora estaacute sempre disposta e atenta para fazer com que a comunidade tenha seus direitos

garantidos e sua cultura e preservada

Durante a pesquisa foram realizadas entrevistas com outras pessoas que forneceram

informaccedilotildees importantes sobre a histoacuteria religiatildeo e cultura dos moradores da comunidade de

Pimenteiras No entanto a moradora Domingas foi incansaacutevel em suas contribuiccedilotildees A partir

dela o interesse em pesquisar sobre os termos catalogados das plantas de uso medicinal se

tornou fascinante

Dona Domingas eacute uma mulher que respeita suas origens e utiliza os saberes

transmitidos por sua matildee e sua avoacute materna a ponto de ser conhecida na regiatildeo como a

ldquosenhora das ervasrdquo aleacutem de trabalhar na agricultura com o marido ela tambeacutem ajuda na

fabricaccedilatildeo de produtos naturais na associaccedilatildeo dos agricultores quilombolas de Santa Luzia do

Paraacute bem como realiza trabalhos relacionados com a comunidade e sua famiacutelia

Devido aos saberes que possui sobre as plantas Domingas recebe grande ajuda de

diversas pessoas que tambeacutem tecircm interesse pela cura atraveacutes das plantas medicinais como eacute o

caso da senhora Maria de Nazareacute Reis uma engenheira agrocircnoma que trabalha no CEDENPA

assessorando os grupos de mulheres associaccedilotildees cooperativas de agricultores rurais e

familiares dentro da Rede Bragantina atraveacutes de cursos direcionados agrave nutriccedilatildeo alimentaccedilatildeo

saudaacutevel agricultura familiar e uso das plantas para cura de doenccedilas como forma de

incentivo aos pequenos trabalhadores rurais sobre a Produccedilatildeo Agroecoloacutegica53

Vale ressaltar que os saberes que a moradora Domingas possui estatildeo preservados em

sua memoacuteria e que esse trabalho procura basicamente conhecer registar e analisar as

palavras no contexto da linguagem especializada sobre as plantas medicinais que satildeo de uso

natildeo apenas da senhora Domingas mas tambeacutem dos moradores quilombolas de Pimenteiras

No que concerne agraves dificuldades enfrentadas no percurso da pesquisa inicialmente o

acesso agrave comunidade foi o que trouxe mais problemas principalmente nos periacuteodos de chuva

Em muitos momentos foi necessaacuterio modificar o percurso a ser seguido e redirecionar novos

53 A agroecologia eacute uma ciecircncia que dialoga com as diversas dimensotildees do conviacutevio humano como a ecologia a

socioeconocircmica a cultura e sociopoliacutetica eacute o conhecimento que vai aleacutem da produccedilatildeo que se insere num sistema de transformaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de uma agricultura socialmente mais justa economicamente viaacutevel e

ecologicamente apropriada

89

planos para que a pesquisa continuasse Eacute fato que esse trabalho natildeo envolve um amplo

levantamento acerca dos conhecimentos e saberes contidos nos moradores de Pimenteiras

contudo essa eacute uma amostra diante das inuacutemeras possibilidades do conhecimento popular a

ser registrado

No percurso da pesquisa diversos instrumentos foram utilizados para registrar cada

elemento relacionado agrave comunidade e aos informantes como gravador de voz maacutequina

fotograacutefica para o registro de imagens fichas com questionaacuterios a serem respondidos pelas

informantes aplicativos para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica das gravaccedilotildees como o Transana e os

termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da regiatildeo elemento esse de grande

importacircncia na pesquisa

Diante das exposiccedilotildees apresentadas ressaltamos que os dados catalogados sobre os

termos das plantas medicinais satildeo a base deste trabalho que busca analisar sob o olhar

socioterminoloacutegico cerca de quarenta e dois (42) termos registrados e preservados por uma

das moradoras da comunidade Na sequecircncia observaremos a maneira como foram tratados

os dados catalogados para essa pesquisa

43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS

Considerando que o meacutetodo desta pesquisa procede de forma qualitativa em que se

analisam os dados catalogados dos termos sobre as plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras sob os estudos da Socioterminologia passaremos a expor os principais

procedimentos que foram utilizados para que os dados da pesquisa fossem registrados e

analisados

431 Entrevistas

No andamento da pesquisa diversas entrevistas formais e informais ocorreram com

as informantes As conversas formais foram registradas seguindo um fichaacuterio contendo

diversas perguntas relacionadas agrave comunidade quilombola e agraves plantas medicinais As

90

entrevistas foram armazenadas atraveacutes da gravaccedilatildeo de voz que posteriormente foi transcrita

de forma Grafemaacutetica54

As perguntas foram especiacuteficas para cada informante de acordo com o campo de

trabalho por eleela desenvolvido Por exemplo com a senhora Domingas foram direcionadas

perguntas sobre a famiacutelia comunidade descendecircncia saberes sobre as plantas e crenccedila nas

mesmas Aleacutem dessa entrevista houve tambeacutem a gravaccedilatildeo com a senhora Domingas sobre

as definiccedilotildees que a moradora possui de cada termo sobre as plantas medicinais A transcriccedilatildeo

com tais definiccedilotildees foi armazenada nas fichas terminoloacutegicas utilizadas para melhor

visualizaccedilatildeo dos dados registrados Todas essas informaccedilotildees estatildeo anexadas neste trabalho

mostrando os pontos relevantes que delineiam o caraacuteter da pesquisa

432 Recursos de anaacutelise dos dados

A transcriccedilatildeo grafemaacutetica foi executada atraveacutes do software Transana versatildeo 21255

gratuita para download que foi desenvolvido para analisar dados audiovisuais Este recurso

foi escolhido para que pudeacutessemos dar o tratamento adequado aos dados orais das gravaccedilotildees

obtidas em entrevistas Em seguida utilizamos por base as normas de transcriccedilatildeo de Koch

(1997) as transcriccedilotildees grafemaacuteticas foram feitas no software Transana devido o programa

permitir a conexatildeo entre o texto transcrito em momentos especiacuteficos do viacutedeo com o aacuteudio da

entrevista

433 Termos Catalogados

Com relaccedilatildeo aos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal pelos

moradores da comunidade quilombola de Pimenteiras usamos o registro das imagens junto

com as fichas terminoloacutegicas com as definiccedilotildees de cada termo Procuramos nesse momento

respeitar a forma escrita de cada termo registrado pelos moradores As amostras das plantas

54 Os dados registrados na Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica estatildeo nos apecircndices deste trabalho 55 Pesquisado em 11 de agosto de 2015 as 2231 hs no site httpwwwtransanaorgdownloadwhatsnewhtm

91

foram dissecadas com o uso de jornais pelos moradores na eacutepoca em que trabalharam com o

Bioenergeacutetico Ateacute hoje esse material estaacute guardado pela moradora Domingas

Durante a pesquisa registramos as imagens das plantas vivas em seu habitat natural

para que pudeacutessemos perceber as caracteriacutesticas de cada uma e consequentemente observar a

relaccedilatildeo com o nome que possuem Ao registrarmos as imagens das plantas outras espeacutecies

foram identificadas pelos moradores como medicinal isto ampliou a quantidade de termos

catalogados e possivelmente outros mais permanecem ocultos na regiatildeo Todos os termos

catalogados estatildeo nos apecircndices com as definiccedilotildees junto de suas respectivas imagens

92

5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE UM POVO

Compreender as pessoas como seres introduzidos em redes de significados pensar

nos sujeitos da maneira como eles se identificam entendendo as particularidades de sua

cultura vivenciando-a acompanhando-os em muitos momentos procurando entender o que

eles fazem e como fazem esse processo foi importante para compreender as distinccedilotildees dos

elementos que compotildeem dentro e fora a comunidade quanto aos saberes sobre as plantas de

uso medicinal observando que tais saberes constituem a identidade cultural dos moradores no

que diz respeito agrave biodiversidade na comunidade de Pimenteiras

Utilizamos uma metodologia vinda da observaccedilatildeo das praacuteticas sociais das

entrevistas com os sujeitos da pesquisa da catalogaccedilatildeo dos dados sobre as plantas e da

transcriccedilatildeo das definiccedilotildees de cada termo que se tornou fundamental para a anaacutelise dos dados

catalogados na comunidade Buscamos natildeo apenas registrar fatos mas analisar a relaccedilatildeo que

os termos possuem dentro dos aspectos sociais apresentando assuntos relacionados agrave religiatildeo

cultura e de identidade proporcionando assim o reconhecimento de conhecimentos

tradicionais preciosos para o estudo cientiacutefico atraveacutes dos saberes de um povo suas lutas sua

natureza e linguagem

Conhecida e reconhecida por sua biodiversidade Pimenteiras eacute identificada pelos

saberes sobre as plantas medicinais Os moradores da comunidade satildeo descendentes de negros

escravos conhecidos como quilombolas e muitos adquiriram de seus antepassados

conhecimentos sobre o uso das plantas para a cura dos males do corpo Assim sendo

procuramos nesse contexto apresentar a anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos da

comunidade de Pimenteiras considerando os aspectos da variaccedilatildeo terminoloacutegica na

linguagem suas motivaccedilotildees no ato de nomear e as relaccedilotildees associativas que geram novas

nomeaccedilotildees e tambeacutem novas variaccedilotildees por conseguinte abordamos os termos sobre as

plantas medicinais com foco na sua estrutura morfossintaacutetica observando que na variaccedilatildeo o

termo pode ou natildeo ser alterado em seu radical formando novas composiccedilotildees sejam elas

simples compostas ou complexas na sequecircncia desses estudos dos termos chegamos agrave

anaacutelise da definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas que de forma

subjetiva procurou descrever cada planta nas suas particularidades

A necessidade sociocultural humana de estabelecer relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

promove a accedilatildeo de transformar o vocabulaacuterio da liacutengua constantemente para o surgimento de

novas palavras Mas de onde vecircm as palavras Compreendendo que as palavras satildeo criadas de

93

forma consciente para dar nome agraves coisas entendemos que com o passar do tempo as

palavras sofrem transformaccedilotildees que trazem tambeacutem a modificaccedilatildeo no sentido Assim a

linguagem eacute o campo no qual o homem exprime seus sentimentos e pensamentos em uma

comunicaccedilatildeo interpessoal ou grupal construindo uma sociedade capaz de desenvolver sua

cultura e saber que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

No que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais analisamos inicialmente

se o domiacutenio estudado pertence apenas ao campo da medicina caseira Segundo a Norma da

ISO 1087 (2000) o domiacutenio eacute decidido como parte do saber cujos limites satildeo definidos

conforme um ponto de vista particular Em seguida acolhemos a definiccedilatildeo descritiva da

moradora Domingas que buscou de acordo com seus saberes definir os termos sobre as

plantas catalogados na regiatildeo de Pimenteiras

Os dados analisados nesse trabalho satildeo constituiacutedos no total de quarenta e dois (42)

termos que foram catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras Diante da quantidade descrita utilizaremos alguns termos em diferentes aspectos

a serem considerados Os elementos presentes na ficha terminoloacutegica de cada termo seratildeo

analisados a partir da definiccedilatildeo descritiva no contexto que a senhora Domingas expocircs sobre

as plantas para isso utilizamos um modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich

(1996) usado pela Universidade de Brasiacutelia (UNB) contendo os elementos constitutivos dos

termos para uma melhor visualizaccedilatildeo dos lexemas e de seus elementos constituintes

analisando junto a isso a variaccedilatildeo de alguns termos que estatildeo relacionados de forma

associativa com certa caracteriacutestica da planta Isso se faz importante para melhor

compreendermos as nomeaccedilotildees e as significaccedilotildees descritas pela moradora nesse processo de

nomeaccedilatildeo relacionado ao conhecimento de mundo dos moradores da comunidade de

Pimenteiras

Com base nos estudos socioterminoloacutegicos explanados nesse trabalho dissertativo

analisamos as particularidades de cada termo demonstrando as definiccedilotildees descritas sobre as

caracteriacutesticas das plantas medicinais de Pimenteiras junto a isso apresentamos as imagens

das plantas registradas durante a pesquisa de campo na comunidade Para cada termo

apresentado utilizamos duas (02) imagens registradas em seu ambiente natural uma com a

imagem integral da planta e a segunda imagem com uma especialidade da planta No total

ocorreu o registro das folhas das plantas Isso se faz importante para tambeacutem verificarmos as

especificidades de cada planta no seu aspecto anatocircmico

Para tratar das questotildees da variaccedilatildeo existente sobre os termos das plantas medicinais

de Pimenteiras tomamos como contexto de anaacutelise somente os termos catalogados sobre as

94

plantas pesquisadas na comunidade por meio da moradora Domingas Com o objetivo de

examinar as variaccedilotildees destes termos foram necessaacuterios diversos encontros para cataloga-los

registrar as imagens das plantas e gravar as definiccedilotildees descritivas pela senhora Domingas

Assim os objetos desse estudo satildeo os termos sobre as plantas medicinais utilizados pelos

moradores da regiatildeo no seu contexto social

A quantidade de termos sobre as plantas medicinais existentes na comunidade eacute

enorme entretanto dado o nuacutemero de termos sobre as plantas medicinais e de suas variantes

na linguagem especializada metodologicamente trabalhamos com um total de quarenta e dois

(42) termos que foram coletados registrados em imagens e definidos em fichas

terminoloacutegicas Pesquisando a origem dessas variantes atribuiacutedas aos termos sobre as plantas

medicinais percebemos que o seu surgimento ocorre das mais variadas formas possiacuteveis O

principal modo de formaccedilatildeo das variantes eacute a partir da associaccedilatildeo relacionada com a forma

tamanho cor e funccedilatildeo das plantas medicinais As formaccedilotildees geradas por relaccedilotildees associativas

satildeo caracteriacutesticas que pertencem naturalmente agrave Terminologia

Assim vejamos uma sequecircncia das anaacutelises dos termos sobre as plantas medicinais

da comunidade de Pimenteiras observando suas imagens como tambeacutem seus elementos

constitutivos na ficha terminoloacutegica de cada termo descrito no contexto da moradora

Domingas Neste capiacutetulo apresentamos doze (12) termos de um total de quarenta e dois (42)

Os demais se encontram nos apecircndices deste trabalho Por meio da ficha terminoloacutegica criada

por Faulstich (1996) contendo a definiccedilatildeo descritiva da moradora Domingas observamos os

aspectos relacionados ao clima origem caracteriacutesticas da espeacutecie formas e utilidade

medicinal de cada planta catalogada Alguns termos apresentaram variantes e nesse acircmbito

compreendemos as relaccedilotildees associativas do nome com as caracteriacutesticas das plantas

Observemos na sequecircncia a anaacutelise dos termos catalogados na comunidade de

Pimenteiras

51 MUCURACAacute

Haacute muito tempo o ser humano cria e utiliza as palavras para expressar designar

conceitos objetos e processos de diferentes campos do conhecimento tudo isso eacute feito por

meio da linguagem A linguagem verbal eacute uma entidade social que possui aspectos materiais e

simboacutelicos que estatildeo ligados agrave consciecircncia e agrave subjetividade humana em que cada falante

95

compartilha seus saberes por meio da liacutengua A liacutengua tem uma estrutura imutaacutevel e apesar

disso estaacute em constante variaccedilatildeo eacute um instrumento que pode causar emancipaccedilatildeo e poder

um objeto do conhecimento em que inuacutemeros modelos teoacutericos surgiram com a pretensatildeo de

descrever e explicar sua essecircncia

Os moradores da comunidade de Pimenteiras demonstram em sua linguagem o

saber de uma cultura rica e distintiva Podemos perceber na anaacutelise dos termos as

particularidades que evidenciam tal grandeza Observemos na anaacutelise do termo ldquoMucuraraacuterdquo

por meio da ficha terminoloacutegica a descriccedilatildeo subjetiva que a moradora quilombola expocircs

sobre cada planta catalogada Vejamos

TERMO 01 ndash ldquoMUCURACAacuterdquo

Fotografia 14 ndash Mucuracaacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 15 ndashFolha do Mucuracaacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

96

Quadro 01 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute

Lx Lexema Mucuracaacute

V Variante Tipi

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Co Contexto eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que pra

espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode

plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal () primeiro tinha aquele

problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do

mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia doseacuteh e pra isso aquela enjoaccedilatildeo aquele

aborrecimento isso taacuteele eacute bem pequenhinho ele eacute uma planta tambeacutem neacuteele eacute

pequeno a folha ele eacute que nem a japana ele eacute do mesmo modelo da japana assim neacuteele eacute pequeno folhinha dele eacute bem escurinha bem escura assim verdinho escuro

afolhinha dele neacuteeacuteh da folha e do pau e da raiz ( )ele eacute grande ele no maacuteximo que

tem eacute trecircs palmo se ele tiver trecircs palmo neacuteele eacute conhecido por dois nomes mucuracaacute

e tipi tipe sim o maranhense praticamente o maranhense soacute conhece po tipi nois

paraense que conhece por mucuracaacute natildeo soacute o nome que mudanum sei tambeim natildeo

tambeim natildeo o cheiro dele tambeim eacute muito forte eacute o cheiro dele um ser cheiro assim

de alho querado e com muitas horas assim tem um alho que a gente quebra com

muitas horas deixa assim e vai cheirar pois assim que eacute o cheiro dele assim um cheiro

forte mucuracaacute mucuracaacutecom cheiro muito forte parece alho usadomuitu forti

Fc Fonte do

Contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas a casca do caule e a raiz

Fu Formas de uso

Usada na forma de chaacutes e para fazer banhos contra febre dor de cabeccedila mal olhado quebrante

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota O termo eacute conhecido como ldquoTipirdquo (falado no Estado do Maranhatildeo)

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Os dados apresentados na ficha terminoloacutegica sobre o termo ldquoMucuracaacuterdquo explanam

as caracteriacutesticas pertencentes agrave espeacutecie em seu contexto social Por ser uma planta de cheiro

forte e marcante eacute utilizada em banhos para as enfermidades do corpo e da alma Conhecida

tambeacutem pela variante ldquoTipirdquo suas utilidades medicinais vatildeo aleacutem dos benefiacutecios agrave sauacutede pois

eacute uma planta usada para afastar problemas espirituais como quebrante e questotildees negativas

contra a alma O fato de cultivar a planta proacutexima agrave casa tem o significado de proteccedilatildeo

espiritual aos moradores da comunidade de Pimenteiras Observemos no contexto apresentado

por Domingas

[] eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que

pra espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode

plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal ( ) primeiro tinha aquele

97

problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia [] (informaccedilatildeo verbal)56

Aleacutem da definiccedilatildeo descritiva do termo ldquoMucuracaacuterdquo utilizamos tambeacutem como

anaacutelise dos termos o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com as

informaccedilotildees especiacuteficas sobre os elementos presentes em cada termo Este formato da ficha

terminoloacutegica eacute importante para melhor visualizaccedilatildeo dos dados analisados pois observamos

cada informaccedilatildeo contida sobre os termos catalogados aleacutem da definiccedilatildeo descrita pela senhora

Domingas Os aspectos pertinentes na ficha satildeo o Lexema (Lx) as Variantes (V) a

Classificaccedilatildeo Gramatical (Cg) o Contexto (Co) a Fonte do Contexto (Fc) as Partes de Uso

(Pu) Formas de Uso (Fu) a Finalidade (Fn) os Dados do Informante (Di) os Dados do

Pesquisador (Dp) Notas (Nt) e a Data da Coleta (Dc)

Observamos que nos estudos atuais da liacutengua o leacutexico estende-se para aleacutem da

Terminologia e chega aos estudos da Sociolinguiacutestica57

e da Etnolinguiacutestica58

pois a liacutengua

de modo geral reflete marcas sociais e culturais dos falantes Assim observemos na

sequecircncia os demais termos e suas anaacutelises identificando as caracteriacutesticas de um povo e de

sua liacutengua

52 ERVA DE JABUTI

Nos estudos do termo sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras o aspecto socioterminoloacutegico eacute muito importante pois o termo pode apresentar

variaccedilotildees por vezes dentro de uma mesma aacuterea de especialidade Esse conceito traz um olhar

novo com perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural a respeito dos termos analisados sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras mostrando as influecircncias da cultura negra na

linguagem No que compete ao aspecto da linguagem Travaglia (2002 p 23) expotildee que ldquoa

linguagem eacute pois um lugar de interaccedilatildeo humana de interaccedilatildeo comunicativa pela produccedilatildeo de

efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e em um

56Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoMucuracaacuterdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015 57Sociolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda as relaccedilotildees entre liacutengua e sociedade e daacute ecircnfase ao caraacuteter

institucional das liacutenguas Eacute o estudo do comportamento linguiacutestico dos membros de uma comunidade e de como

ele eacute determinado pelas relaccedilotildees sociais culturais e econocircmicas existentes

58Etnolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda a relaccedilatildeo da linguagem e a cultura das comunidades A etnologia eacute o estudo antropoloacutegico dos povos e sua cultura analisando sua linguagem e como ela estaacute

relacionada agraves peculiaridades da vida primitiva suas crenccedilas e folclores

98

contexto soacutecio-histoacuterico e ideoloacutegicordquo Observemos as variaccedilotildees ocorrentes com o termo

ldquoErva de Jabutirdquo

TERMO 02 ndash ldquoERVA DE JABUTIrdquo

Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti

Lx Lexema Erva de Jabuti

V Variantes Coraccedilatildeo de Jabuti Coraccedilatildeozinho Comida de Jabuti

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto ela eacute uma planta di todu cantu tantu ambienti abertu ou fechadu ela daacute ela ela eacute

uma planta assim pequenauma erva ( ) ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela

eacute um formatu dum coraccedilatildeu coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu

grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha

neacute ela num eacute dessas avres assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua

dela a folhinha dela tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa

cheia di aacutegua eacute uma folha assim ( ) ela num ela num eacute aquela folha seca assim durinha

fina ela eacute uma folhinha assim bem gordinha cheinha neacute tantu faz a folha comu us

galhinhus dela ela bota uma uma bajizinha uma bajizinha forma dum duma baji di

pimenta du reinu soacute qui eacute bem piquininha eacute naquela forma da baji di pimenta du reinu

sabi neacute cumeacute aquela baginha assim soacute que eacute bem piquininha ( ) bem zititinha porque ela ela eacute uma planta pequena ela tem aqueli formatu da pimenta mais ela eacute miudinha eacute

teacute que ela eacute uma planta nativa tambeacutem ela num eacute assim uma planta cuidada ela eacute

nativa e assim nos quin no quintau ela gosta muitu de nascer im quintal eacuteh sozinha

eacute num precisa cultivar ela eacute ela eacute du quintau ela eacute assim du canteru ela nasce nu

canteru assim ela nascifriu ambiente frio daacute mais com certeza( )

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e os talos da planta

Fu Formas de Usada na forma de chaacutes para Ameba

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti

99

uso

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Os nomes tecircm relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas das plantas nos aspectos da funccedilatildeo e do

formato

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Com o termo ldquoErva de Jabutirdquo observamos que a planta apresenta mais de uma

variaccedilatildeo para a mesma palavra Algumas estatildeo relacionadas com a forma e tamanho daiacute suas

variantes serem conhecidas como ldquoCoraccedilatildeo de Jabutirdquo ou ldquoCoraccedilatildeozinhordquo o termo variante

tambeacutem possui relaccedilatildeo com a funccedilatildeo de servir de alimento para o animal por isso recebe a

terminologia de ldquoComida de Jabutirdquo Podemos perceber como a linguagem especializada

utilizada pelos moradores quilombolas de Pimenteiras apresenta variantes formadas pela

relaccedilatildeo associativa com as caracteriacutesticas descritas sobre as plantas medicinais da regiatildeo

Vejamos no contexto abaixo

[] ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela eacute um formatu dum coraccedilatildeu

coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha neacute ela num eacute dessas avres

assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua dela a folhinha dela

tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa cheia di aacutegua eacute uma

folha assim [](informaccedilatildeo verbal)59

Os termos e suas variantes estatildeo relacionados com a aacuterea de saber dos moradores

quilombolas sobre as plantas medicinais Nesse contexto os saberes de um povo se

manifestam e satildeo preservados na linguagem especializada e por conseguinte marcam os

conhecimentos tradicionais dos moradores de Pimenteiras Nas relaccedilotildees sociais da

comunidade as pessoas vivenciam de forma individual e coletiva sua linguagem Assim

vejamos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo considerado um conhecimento novo para os

moradores de Pimenteiras

59Transcriccedilatildeo Grafematica do termo ldquoErva de Jabutirdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015

100

53 NONI

Para a Terminologia o termo eacute a denominaccedilatildeo de um conceito que tem no

conhecimento especializado uma expressatildeo comunicativa cognitiva e complexa pois natildeo haacute

conhecimento especializado sem uma terminologia Assim Benveniste (1989 p 252) expotildee

que ldquoUma ciecircncia soacute comeccedila a existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e

em que impotildee seus conceitos atraveacutes de sua denominaccedilatildeo Ela natildeo tem outro meio de

estabelecer sua legitimidade senatildeo por especificar seu objeto denominando-o []rdquo Notemos

assim a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo e suas caracteriacutesticas na ficha terminoloacutegica

TERMO 03 ndash ldquoNONIrdquo

Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni

Lx Lexema Noni

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Co Contexto eacutehnoni eacute famoso ele ele cura ocacircncer neacuteentau ele previne ele nem cura como

prenine o cacircncer neacuteeacuteh o suco eacute na garrafada eu praticamente uso na garrafada

toda as minhas guarrafadas eu colo eacute mais natildeo garrafada ele natildeo fica fedorento natildeo

porque na garrafada a gente ponha ele verde e rodela a rodelinha e coloca pra secar e na hora da garrafada a gente tritura ele bem bem miudinho e bota na garrafada

ele natildeo fica natildeo tem gosto de nada agora o suco dele ele ele maduro have maria eacute

muito ruiacute neacute((sorriu)) eacuteh mas ele eacute assim mas na garrafada a gente pode usar ele

ninguei nem percebe se tem ele eacute muito assim ele eacute muito eacute um remeacutedio que ele eacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 19 ndash Folha do Noni Fotografia 18 ndash Noni

101

muito bom e ele ele assim nem tanto cura como previne as doenccedila como eacute bom pra

inflamaccedilatildeo pra infecccedilatildeo eacute muito rui neacuteaiacute a inflamaccedilatildeo ela vira infecccedilatildeo e aiacute eacute muito

bom pra usar ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que

eu conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais

trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute ela eacute uma planta e o fruto dele a

folha dele eacute bem grande bem grande a folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma

lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os frutos dele neacute((sorriu)) pois eacute ((sorriu))

pois eacute eacute soacute usa o fruto e pra isso e um da nunca ouviu falar eacute soacute e o fruto mesmo ela

ela conhece eacuteh que neacutea gente usa neacutea gente usa direito ela ajunta pra mim por

que peacute no meu quintau natildeo tem tambeacutem natildeo natildeo tem natildeo ela sempre a gente leva

daiacute

Fc Fonte

docontexto

A informante

Pu Partes de

uso

Eacute utilizado o fruto e as folhas em sucos e na garrafada

Fu Formas de

uso

Corta as rodelas da fruta colocando para secar e depois triturar para usar na

garrafada serve para curar e prevenir o cacircncer inflamaccedilotildees e infecccedilotildees

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Considerada uma planta nova foi inserida haacute pouco tempo no contexto da comunidade

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoNonirdquo eacute um substantivo masculino que tem como definiccedilatildeo ser uma planta

de fruto e folhas grandes O fruto eacute descrito pela moradora de Pimenteiras com a aparecircncia de

uma ldquolagartardquo Segundo Domingas ldquoo fruto dele a folha dele eacute bem grande bem grande a

folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os

frutos dele neacute ((sorriu))rdquo (informaccedilatildeo verbal)60

A planta eacute novidade para a moradora de Pimenteiras seu saber veio atraveacutes de

cursos por meio da associaccedilatildeo quilombola da comunidade sobre o poder das plantas O Noni

eacute utilizado na garrafada como anti-inflamatoacuterio e tambeacutem como aliado contra o cacircncer Nesse

contexto o conhecimento sobre a planta foi absorvido pelos moradores da regiatildeo e integrado

como parte dos saberes sobre as plantas medicinais Observemos abaixo

[] ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute

novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que eu

conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais

trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute [] (informaccedilatildeo verbal)61

60 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015 61Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

102

O que motiva o surgimento de um termo eacute a necessidade de nomear as novas

descobertas tecnoloacutegicas e cientiacuteficas direcionadas sempre a uma aacuterea especiacutefica do

conhecimento Segundo os estudos de Araujo (2006) o termo tem uma ldquodimensatildeo linguiacutestica

comunicativa e cognitiva e uma estrutura complexardquo O termo adquire uma feiccedilatildeo

terminoloacutegica porque integra um saber especializado ao lado de contextos no campo das

ciecircncias e das teacutecnicas ele tambeacutem possui uma dimensatildeo linguiacutestica por configurar um

comportamento lexical especializado e ainda uma dimensatildeo cognitiva por manifestar seu

conhecimento especializado

Por assim observar o termo eacute parte do componente linguiacutestico como tambeacutem eacute uma

unidade terminoloacutegica e ainda eacute um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saberVejamos

assim o componente linguiacutestico do termo ldquoPatacardquo

54 PATACA

A liacutengua eacute uma estrutura que estaacute sempre em transformaccedilatildeo desse modo a variaccedilatildeo

eacute um elemento muito importante para entendermos a existecircncia de diferenccedilas no modo como

uma liacutengua eacute usada em uma comunidade Assim como o ldquoNonirdquo o termo ldquoPatacardquo eacute um saber

novo para a comunidade de Pimenteiras adquirido por meio das relaccedilotildees sociais Observemos

abaixo sua anaacutelise

TERMO 04 ndash ldquoPATACArdquo

Fotografia 20 ndash Pataca

Fotografia 21 ndash Folha da Pataca

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

103

Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca

Lx Lexema Pataca

Cg Classe Gramatical

Substantivo feminino

Co Contexto eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacuteela me parece que

ela veio da iacutendia parasse neacuteela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de beacuteleacutem

que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta

sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu tenho um

pezinho laacute em casa ela eu natildeo que tamanho que o peacute taacute desse tamanho eu natildeo sei se daacute

grande natildeo eu daacute nunca viacute ela natildeo eacute nem daqui neacutemas ela eacute boa pra remautismo se

buta na de aacutelcool pra passar no lugar que taacute afetado do remautismo foi essa senhora

issi isso isso teacute agora eu eu ainda natildeo procurei pra ela cumo eacute que se usa porque ela

me deu tipo assim uma raiz tipo uma coisa assim nera num sei que era aquilo que ela

me deu ainda falta eu conversar com ela que pra mim procuraraacute cumeacute que se usa se eacute

a folha num era o que eacute eu pensei de ser ou o fruto ou a raiz dela natildeo natildeo natildeo tem natildeo natildeo veio mesmo que pra mim ela eacute recente neacuteeacute soacute folha soacute folha mas ela eacute muito

remeacutedio ela ela veio de longe essa essa pataca noacutes tiremos foto porque ela no meu

quintau neacuteela eacute remeacutedio agente tirou isso isso eacute verdade eacute depois me diz hum hum

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Natildeo sabe ao certo o que utilizar se eacute a folha caule ou fruto

Fu Formas de

uso

Tem a noccedilatildeo de usar com o aacutelcool na regiatildeo que estaacute com reumatismo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A informante recebeu a planta de outra pessoa natildeo sabe como usar poreacutem sabe que

serve contra o reumatismo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Sem saber o valor medicinal da Pataca a moradora traz para o ambiente da

comunidade um novo conhecimento adquirido pelo contato com outras pessoas sobre o uso da

planta que eacute conhecida pela sua importacircncia contra o reumatismo

O termo ldquoPatacardquo eacute considerado um substantivo feminino com uma estrutura

simples devido agrave presenccedila de um uacutenico radical No que concerne ao gecircnero na definiccedilatildeo a

moradora conduz sua fala no feminino referindo-se ao termo como a planta que foi inserida

haacute pouco tempo no contexto da comunidade segundo a senhora Domingas

[] eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacute ela me parece

que ela veio da iacutendia parasse neacute ela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de

beacuteleacutem que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu

tenho um pezinho laacute em casa [] (informaccedilatildeo verbal)62

62Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPatacardquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

104

Somos seres humanos formados pela interaccedilatildeo pelo contato que temos com as

pessoas com o ambiente com a cultura enfim eacute atraveacutes da accedilatildeo de produccedilatildeo da linguagem

que somos constituiacutedos como indiviacuteduos sociais Ao analisarmos os termos das plantas

medicinais catalogadas na comunidade de Pimenteira pretendemos ver como essas unidades

se constituem e que fatores extralinguiacutesticos sociais e culturais interferem e determinam essa

terminologia Barbosa (2001) expotildee que ldquoesse tipo de linguagem usa vocabulaacuterios teacutecnico-

cientiacuteficos e especializados mostrando que eles estatildeo no niacutevel de uma forma natildeo apenas

linguiacutestica mas tambeacutem socioculturalrdquo Assim completa expondo que

Considerando o conjunto de obras lexicograacuteficas e terminoloacutegico-terminograacuteficas

produzidas em eacutepocas mais recentes diriacuteamos que natildeo se tem muita clareza quanto

agraves fronteiras conceptuais denominativas definicionais dos tipos desses textos natildeo

obstante o estaacutegio avanccedilado em que se encontram neste fim de seacuteculo as pesquisas

das ciecircncias da palavra nessas aacutereas natildeo obstante igualmente a existecircncia de

numerosos organismos e obras de normalizaccedilatildeo terminoloacutegica em diferentes paiacuteses

que natildeo conseguiram assegurar para certos conceitos uma terminologia de

Terminologia uniforme e consensual (BARBOSA 2001 p 26)

Analisamos na sequecircncia o termo ldquoPau-de-muquemrdquo que eacute tambeacutem conhecido pelas

variantes ldquoAssa-peixerdquo ou ldquoMata pastordquo

55 PAU-DE-MUQUEM

Diferente da palavra o termo possui sempre relaccedilatildeo com o significado dentro de um

contexto de domiacutenio ou seja estaacute sempre contextualizado em um determinado campo de

conhecimento Nesse contexto seu conteuacutedo especiacutefico encontra-se em uma situaccedilatildeo de uso

particular Krieger (2001 p 69) nos afirma que ldquoo reconhecimento sem duacutevida incontestaacutevel

do componente conceitual na constituiccedilatildeo do fenocircmeno terminoloacutegico responde fortemente

pelas interpretaccedilotildees de que um termo eacute uma unidade de conhecimentordquo

Uma unidade de conhecimento que estaacute em contiacutenuo relacionamento com seu

significado e que segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos (CABREacute 1993) Assim

caracterizamos o termo Contudo que criteacuterios podemos seguir para a seleccedilatildeo dessas unidades

de especialidades Antes de observar se os termos sobre as plantas medicinais pertencem ou

natildeo ao domiacutenio da especialidade percebemos que a definiccedilatildeo de um termo sempre seraacute o

ponto de partida pois os contextos de uso nos estudos teoacutericos da terminologia tornam-se

105

vaacutelidos para descrever e recolher os termos dentro do campo de ocorrecircncia do saber

especializado Observemos entatildeo como ocorre as variaccedilotildees no termo ldquoPau-de-muquemrdquo

TERMO 05 ndash ldquoPAU-DE-MUQUEM

Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-De-Muquem

Lx Lexema Pau-de-muquem

V Variante Assa-peixe ou Mata pasto

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto eacute o mesmo accedilapeixe sim eacute a mesma coisa eacute uma arve eacute uma arve nativa tambeacutem ela

do tempo ela eacute diz que ela eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacutefazer o

lambedor dela o xarope o lambedor eacute a mesma coisa do charope neacuteda folha buta ela pra ferver ferver inteacuter quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua

quando ele reduzir pra meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel

dipreferente o mel pra essas coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar

toamando que eacute pra tosse a irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o

lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo

neacutequando tivesse bem sequinha esfarelava na comida e comia eacute ela disse queeu

num sei tambeacutem isso daiacute ((sorriu)) ela eacute assim ela eacute grande assim ela eacute grande assim

a ponta dela eacute mais larga soacute () diferente da a potinha dela eacute bem larguinha a ponta

dela pra ponta ela eacute mais larga e pro pezinho da folha eacute mais estretinha quase que eacute

pois eacute assim tambeacutem numa moita num nasce soacute uma ave nasce varas varas ela eacute boa

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem

106

de filhar assim a volta dela brolha muita aiacute tambeacutem tem uns que chamam mata pasto

neacute mata pasto tem gente que manca ela gosta de nascer meio do capinzal aiacute ela gosta () eacute tem gente que cha pasta pasto sem mas eacute conhecido mesmo bem por accedila peixe e

pau de muqueacutem nos conhecemos por esse nome lambedor isso eacute pra tosse natildeo natildeo ela

tambeacutem chama de mata pastu porque nasce assim no meio do capim

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas

Fu Formas de

uso

Para tosse fazer o lambedor (ferver as folhas na agua ateacute apurar depois acrescenta o

mel) Para renite (fritar as folhas em oacuteleo triturar e colocar na comida)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Eacute conhecido tambeacutem como assa-peixe ou mata pasto

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando o termo ldquoPau-de-muquemrdquo entendemos que as variantes ldquoAssa-peixerdquo e

ldquoMata pastordquo tambeacutem deveriam ser analisadas no aspecto gramatical com isso observamos

que os termos e suas variantes satildeo sintagmas terminoloacutegicos masculinos Eacute interessante notar

que as variantes apresentam a mesma composiccedilatildeo em sua formaccedilatildeo podendo ser utilizadas no

mesmo contexto Nesse aspecto Faulstich (1999) explica que haacute formalizaccedilatildeo da sinoniacutemia

terminoloacutegica em que as variantes satildeo coocorrentes ou seja ldquorelaciona o sentido de dois ou

mais termos com significados idecircnticos e podem coocorrer em um mesmo contexto sem que

haja alteraccedilatildeo no plano do conteuacutedordquo

No que concerne agrave definiccedilatildeo descrita sobre o termo e suas variaccedilotildees a planta eacute usada

para tosses e renites sendo que para cada situaccedilatildeo o modo de processar eacute particular

Observamos que as distintas formas de nomear a planta medicinal coincidem no preparo para

as diferentes enfermidades a serem tratadas assim expotildee a senhora Domingas

[] eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacute fazer o lambedor dela o xarope o

lambedor eacute a mesma coisa do charope neacute da folha buta ela pra ferver ferver inteacuter

quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua quando ele reduzir pra

meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel dipreferente o mel pra essas

coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar toamando que eacute pra tosse a

irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo neacute quando tivesse bem sequinha

esfarelava na comida e comia eacute ela disse que eu num sei tambeacutem isso daiacute

((sorriu))[] (informaccedilatildeo verbal)63

63Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPau-de-muquemrdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

107

Considerar o termo dentro do ambiente social que as pessoas utilizam a linguagem

esta eacute a base da Socioterminologia que analisa a variaccedilatildeo social do termo antes tido como

invariaacutevel Com isso procuramos examinar como a variaccedilatildeo ocorre dentro das mudanccedilas na

sociedade lugar em que o termo eacute gerado eacute usado eacute modificado Ao falar sobre

Socioterminologia Faulstich (2006 p 27) expotildee que

Para falar de socioterminologia eacute preciso antes de tudo situar a terminologia no

espaccedilo da interaccedilatildeo social No Brasil por exemplo a histoacuteria da terminologia se confunde com a formaccedilatildeo da sociedade brasileira por meio da mistura de falares dos

habitantes naturais da terra e dos que para caacute vieram Vejam-se nos dicionaacuterios

termos da fauna e da flora como indicadores da terminologia indiacutegena no portuguecircs

brasileiro () Assim sendo natildeo eacute novidade dizer que a diversidade da cultura

brasileira aparece refletida na terminologia cotidiana

Um dos maiores aspectos da Socioterminologia exposto por Faulstich (2006) eacute ldquoter

na base da pesquisa a variaccedilatildeo linguiacutestica dos termos no meio social e por consequecircncia

entender a mudanccedila terminoloacutegica como mecanismo resultante da pragmaacutetica discursivardquo

Assim no que diz respeito agraves mudanccedilas no termo a pesquisadora explica que a ldquovariaccedilatildeo

deve levar em consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de comunicaccedilatildeo de uma determinada aacuterea

que dependem das circunstacircncias de emissatildeo dos interlocutores do meio pelo qual se daacute a

comunicaccedilatildeo entre outrosrdquo (FAUSLTICH 2006 apud BLANCO 2010 p 4)

Vejamos na sequecircncia como ocorre a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo

56 VASSOURA DE BOTAtildeO

Nos estudos da linguagem humana os usos de palavras especiacuteficas para situaccedilotildees em

especial vecircm sendo ampliados de acordo com as mudanccedilas de uso da liacutengua tais palavras

recebem as seguintes nomenclaturas leacutexico especializado termo teacutecnico-cientiacutefico termo

unidade lexical terminoloacutegica unidade lexical especializada unidade lexical temaacutetica

unidade de conhecimento unidade de compreensatildeo unidade de significaccedilatildeo especializada ou

vocabulaacuterio (ARAUacuteJO 2006)

Ao utilizarmos os termos com sentido aproximado do objeto nomeado fazemos uma

associaccedilatildeo com certa caracteriacutestica correspondente ao nome dado Nesse contexto ldquoa relaccedilatildeo

associativa eacute uma relaccedilatildeo entre dois conceitos que natildeo pertencem agrave mesma estrutura hieraacuterquica

ainda que sejam proacuteximos do ponto de vista semacircntico ou contextualrdquo (TESAURO 2006 p 11)

108

Nesse acircmbito vejamos a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo cujo nome segundo a

descriccedilatildeo de Domingas possui relaccedilatildeo com a planta nomeada

TERMO 06 ndash ldquoVASSOURA DE BOTAtildeOrdquo

Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo

Lx Lexema Vassoura de botatildeo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto ela eacute boa pra quela eacute verme gearde neacutegearde que eacute do estamagu que eacute de

ameba eacute pra ela que ela eacute bom eacute a gente faz a gente faz tambeacutem tintura piacuteula dela de

vassoura de botatildeoeacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que ela

assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim ao

redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela

agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota outra

aqui ateacute trecircs quatro assim isso hurum isso sim sim eacute isso isso eacute chamo vassoura de

butatildeo eacute a folha com tudo aquilo tudo tudo isso eacute pequeninha eacute isso hurum e tambeacutem eacute

e uma fez noacutes fizemos eacute pumada disseram quera era boa pra ela ela diz antiplamatoacuterio

a gente fez a pumada neacutecatamos tudinho a folhinha butamos pra fritar nu na gordura vegetal e depois transformamos na pomada mas isso aiacute ningueacutem tem dizer

assim ele foi bom porque ningueacutem usou a gente um pouco soacute pra demonstraccedilatildeo isso

foi pela pastoral da crianccedila neacuteaquela pretinha que foi ensinar noacutes a gente fez vaacuterias

mas a gente fez soacute um pouquinho num

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e o botatildeo da flor

Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo Fotografia 25 ndash Folha da Vassoura de botatildeo

Fonte Dado registrado durante a pesquisa Fonte Dado registrado durante a pesquisa

109

Fu Formas de

uso

Usada para vermes amebas no estocircmago atraveacutes de tintura piacutelulas anti-inflamatoacuterio

(ferver as folhas e o botatildeo em gordura vegetal para transformar em pomada)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem aspecto de uma pequena vassoura invertida

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoVassoura de Botatildeordquo eacute um sintagma terminoloacutegico feminino formado pela

composiccedilatildeo de palavras Em sua estrutura o termo apresenta uma complexidade formada pela

presenccedila de dois radicais no acircmbito da definiccedilatildeo do termo verificamos que haacute uma relaccedilatildeo

associativa do nome da planta com a aparecircncia que ela possui como expotildee Domingas

[] vassoura de botatildeo eacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que

ela assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim

ao redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela

agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota

outra aqui ateacute trecircs quatro [] (informaccedilatildeo verbal)64

Com o formato de uma vassoura invertida o termo ldquoVassoura de Botatildeordquo estaacute

relacionado com o aspecto que o objeto nomeado possui Nesse campo de estudo Faulstich

(1999) explica que nas relaccedilotildees associativas haacute uma sequecircncia que estaacute conectada com a

experiecircncia contiacutenua entre o tempo e espaccedilo Assim a ldquounidade terminoloacutegica pode ter ou

pode assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha

nos contextos de ocorrecircnciardquo (FAULSTICH apud CRUZ 2014 sem paginaccedilatildeo)

Vejamos assim algumas plantas que apresentam relaccedilotildees associativas nos seus

nomes quanto agrave forma tamanho cor e funccedilatildeo medicinal como eacute o caso do termo ldquoNambu

Tutanordquo

57 NAMBU TUTANO

Na Liacutengua podemos utilizar as palavras em diferentes relaccedilotildees de sentidos nos mais

diversos contextos Nesse processo denominado polissecircmico encontramos termos que

64

Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

110

possuem formaccedilotildees utilizadas no acircmbito geral de uso da liacutengua assim como termos

especiacuteficos no uso especializado da linguagem

Nesse aspecto verificamos que a comunidade de Pimenteiras apresenta variaccedilotildees

para um mesmo termo sobre as plantas medicinais ocorridas pela relaccedilatildeo associativa com as

caracteriacutesticas pertencentes a cada espeacutecie nomeada Verifiquemos a anaacutelise do termo abaixo

TERMO 07 ndash ldquoNAMBU TUTANOrdquo

Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano

Lx Lexema Nambu Tutano

Va Variante Batata Roxa

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto eacute uma planta eli eacute eli eacute piquininhu eli daacute assim eim forma di cebola di planta

assim qui eli eacute soacute que eli a folha eli natildeu teim caulei natildeu daqui qui eli nasci eli jaacute

nasci as folhas natildeu eli num teim qui a batata a cebola di planta neacute qui eacute assim ela jaacute

vai nascendu a folha duma folha eacute qui neim a cebola duma folha jaacute bota outra folha

dotra folha jaacute vai botandu qui neacute batatinha em baixu eacute natildeu natildeu teim cauli natildeu eacute soacute

folha i batataa folha eacute a folha teim a folha di accedilaizeiru neacute qui eacute assim ai teim as

folinhas qui agarra nu talu du accedilaizeiru eacute daqueli formatu da folha du accedilaizeiru natildeu

natildeu eacute beim compridona eacute assim a folha deli mais ou menus dum palmu qui eacute assim a folinha deli natildeu natildeo sei por que ela eacute abertinha teim a folha di cebola porque a

folha cebola eacute toda eacute inteira comu digu logu eacute rolicinha e ela num ela eacute ela eacute eacute ela eacute

folinha ela eacute folha assim ela eacute abertinha folha aberta folha assim folha aberta folha

qui tem a accedilaizera qui teim a folha dela qui eacute assim agora a dela eacute qui neim aquela

folha di accedilaizeiru assim qui ( )nasci daqueli talu assim pois eacute a folha dela babosa

num teim a babosa qui eacute uma folha aberta neacute eacute folha mais eacute aberta neacute assim qui eacute du

batatatildeu ela num eacute aquela folha inteira folha roliccedila assim ela eacute uma folha aberta natildeo

eacute seca qui nem di accedilaizeru mermu eacute seca mermu eacute usa soacute a batata natildeo

Fotografia 26 ndash Nambu Tutano Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

111

piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute roxinha tambeacuteim batata roxa

porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu

jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute qui neim a cebola capa sobri capa a

capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu

vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu mas ela eacute assim de capinha nambu tutanu

isso daacutei eu conhe caacute a minha voacute i minha matildei tambeacuteim nambu tutanu qui quandu eu mi

criei ela jaacute tinha neacute ( ) issu aqui eacute nambu tutanu porque as veiz quandu aparecia

aquela pessoa doenti crianccedila doenti neacute vai ver nambu tutanu vai arrancar aqueli

pesinhu ali vocirc fazer remeacutediu ai a genti ia arrancar i por issu qui deru u nomi ai eu

achu qui veim dus avocircs delis dus tataravoacute sabi laacute neacute aprendemus com elis eacute eacute mesmu

nomi cebolinha eacute batata roxa nambu tutanu mesmu nomi

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

A raiz em formato de batata

Fu Formas de uso

Chaacutes para diversas doenccedilas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A variante Batata Roxa vem do formato da raiz que parece uma batata em camadas

como cebola na cor roxa

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando o termo ldquoNambu Tutanordquo observamos que possui a variante ldquoBatata

Roxardquo Na anaacutelise por meio da ficha terminoloacutegica na definiccedilatildeo descritiva de cada planta

medicinal verificou-se que os termos e suas variantes tecircm particularidades importantes para

este estudo Desta forma no termo ldquoNambu tutanordquo notou-se que sua variante ldquobatata roxardquo

possui relaccedilatildeo associativa com a forma ou seja a planta apresenta formato de uma batata de

cor roxa por isso a presumiacutevel relaccedilatildeo com a variante do termo Observemos abaixo

[] eacute usa soacute a batata natildeo piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute

roxinha tambeacuteim batata roxa porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a

batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti

comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute

qui neim a cebola capa sobri capa a capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu

mas ela eacute assim de capinha[] (informaccedilatildeo verbal)65

Sabemos que na configuraccedilatildeo atual a Terminologia vai muito aleacutem da elaboraccedilatildeo

de dicionaacuterios na aacuterea Muitos autores consideram o conhecimento nas liacutenguas especializadas

como um rico campo de conhecimento Faulstich (1995) explica que o saber eacute construiacutedo de

forma individual e coletiva num processo no qual o sujeito interage com a realidade as

65Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNambu Tutanordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

112

pessoas e o ambiente sociocultural Isso nos revela que a Socioterminologia jaacute era prenuacutencio

para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de natureza social ou

seja ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo no universo da terminologia revelam peculiaridades

proacuteprias a serem estudadas pela disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para

a sistematizaccedilatildeo de termos e de variantesrdquo (FAULSTICH 1995 p 281)

Na sequecircncia analisemos o termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo

58 QUEBRA PEDRA ROXO

Em seus estudos Faulstich (1995) aborda aspectos relevantes dentre os quais

destaca a diferenccedila entre lexema e termo Para a pesquisadora o lexema eacute ldquouma unidade

lexical do domiacutenio do leacutexico geral da liacutengua um termo eacute tambeacutem uma unidade lexical mas

tiacutepico de variado domiacutenio de vocabulaacuterio cientiacutefico e teacutecnicordquo (FAULSTICH 1995 sem

paginaccedilatildeo) Por ser o lexema uma unidade da liacutengua comum Faulstich explica que ele eacute

portador de conotaccedilotildees psicoloacutegicas e sociais que lhe proporcionam a multiplicaccedilatildeo de

significados e a presenccedila da polissemia que por correspondecircncia daacute lugar agrave sinoniacutemia

Diante do contexto funcional a autora destaca que o ldquolexema delineia seu caraacuteter semacircntico e

lexicograacutefico a partir da estrutura paradigmaacutetica porque satildeo as oposiccedilotildees distintivas que

delimitam a configuraccedilatildeo semacircntica e marcam o valor do lexemardquo (FAULSTICH 1994 p

314)

Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo que o sentido estaacute

relacionado ao nome Durante as pesquisas realizadas natildeo encontramos a espeacutecie na cor roxa

para o registro de imagens mas a informante apresentou sua definiccedilatildeo descritiva de forma

subjetiva para que pudeacutessemos verificar as especificidades do termo na ficha terminoloacutegica

Assim observemos

Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo

Lx Lexema Quebra Pedra Roxo

Va Variante Comer de Rola

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto comecirc di rola essi du roxu eacute porque to dizendu eacute eli eacute soacute um formatu du mermu jeitu

qui eacute u brancu eacute soacute muda a cor eli eacute roxinhu por que teim u brancu i teim roxu essi comecirc di rola noacutes conhecemu assim comecirc di rola roxu u quebra pedra eacute quebra pedra

brancu mas eli eacute soacute um formatu u formatu qui eacute u quebra pedra brancu eacute u roxu

beim piquinininha du tamaninhu eacute du mesmu jeitu mesmu jeitinhu aiacute porque qui

113

eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu du otru neacute soacute qui

adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela trevoada di rolinha qui

levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas bichinhas gosta di taacute aqui

porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u

matu eacute du mermu jeitu du brancu eli daacute por certus tempu quandu chega nu veratildeu eli

eli morri soacute qui eacute assim quandu eli nasci muitu qui nu meu roccediladu jaacute nasceu muitu

assim chega qui eu ficava tomandu di conta assim la quasi num nascia neim um otru

matu era soacute por conta deli mermu laacute porque eacute beim encostadinhu dotru neacute assim um

tipu um canteru laacute quasi num nasci otru matu eu sei qui as bichinha gostavu di taacute laacute si

alimentandu da sementinha da folhinha delis minha voacute nois conhecemus com ela

comecirc di rola assim noacutes comu crianccedila vovoacute u qui eacute issu comeacute u nomi dissu ela era uma

velhinha muita pacienti isso ai eacute comecirc di rola( ) porque assim a rolinha quandu chega

aqui as bichinha num si levantu assim ai comecirc di rola pra qui servi vovoacute issu aqui eacute remeacutediu eacute eacute sim eacute remeacutediu( ) prus rins tambeacuteim neacute qui antis a genti fazia dessi assim

quebra pedra fazia mas noacutes conhecemu mais por comecirc di rola a depois qui era quebra

pedra a eacute remeacutediu pa pa quem teim pedras nu rins podi fazer u chaacute dela i tomar agora

eu jaacute usu comu( ) eu jaacute usu na garrafada jaacute bota na garrafada u brancu porque

nois jaacute tivemu uma uma oficina um treinamentu qui uma mulher vei di macapaacute e diz

qui u u bom mermu eacute u brancu qui eacute u quebra pedra di verdadi assim pru pru pedra nu

rim neacute porque eli jaacute porque nois dizia assim( ) teca porque u nomi dela era teca teca

noacutes dizia qui era u roxu ela dissi natildeu u roxu natildeu teim muita serventia eli servi mas u

brancu porque eacute u quebra pedra di verdadi eacute u brancu porque u nomi deli eacute quebra

pedra mermu eacute essi qui eacute bom aiacute eu dissi olha noacutes usa na garrafada ela dissi podi

usari natildeu teim poblema nenhuma comi tambeacuteim mais eacute assim eacute porque aqueli tempu tinha mais passarinhu noacutes via mais tinha mais du roxu assim nu roccediladu eacute mais du roxu

elas tavu mais ondi tava o quebra pedra du roxinhu eacute

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para problemas nos rins

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dores nos rins

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Conhecido tambeacutem por comer de rola porque os paacutessaros preferem a roxinha que a

branca

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Quanto ao termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo sua variaccedilatildeo ocorre com relaccedilatildeo associativa

com a funccedilatildeo que a planta tem ou seja a planta serve de alimento para certa espeacutecie de

paacutessaro assim o termo eacute tambeacutem chamado pela variante ldquoComer de Rolardquo por ser o alimento

que os paacutessaros ldquorolinhasrdquo preferem

[] aiacute porque qui eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu

du otru neacute soacute qui adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu

di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela

trevoada di rolinha qui levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas

114

bichinhas gosta di taacute aqui porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u matu [] (informaccedilatildeo verbal)66

O termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo tambeacutem possui relaccedilatildeo associativa com sua funccedilatildeo

Na sabedoria popular a planta serve para tirar ldquoquebrarrdquo as pedras nos rins No que se refere

ao termo Faulstich esclarece que ao ser colocado no mundo da linguagem cientiacutefica e

teacutecnica ldquoo termo assume o estatuto de unidade lexical definida e eacute naturalmente uniacutevocardquo

(FAULSTICH 1994 p 315) Ou seja haveria um uacutenico conceito para um termo uacutenico com

uacutenica definiccedilatildeo Entretanto se ocorressem conceitos e definiccedilotildees diferentes para um mesmo

termo Faulstich adverte que ocorreria o que ela denomina posteriormente de variaccedilatildeo

terminoloacutegica ou seja havendo um novo termo um novo conceito com uma nova definiccedilatildeo

ocorreria a variaccedilatildeo No entanto ldquose esse mesmo termo vier a funcionar num outro contexto

como equivalente graacutefico de um jaacute existente mas natildeo equivalente semacircntico propiciaraacute a

homoniacutemia terminoloacutegicardquo (FAULSTICH 1990 sem paginaccedilatildeo)

Observemos na sequecircncia outro termo e sua anaacutelise

59 PARATUDO

Faulstich (1990) chama a atenccedilatildeo para a anaacutelise do termo no discurso pois eacute no

discurso que se estrutura a significaccedilatildeo semacircntica e terminoloacutegica Ela destaca que a natureza

epistemoloacutegica do lexema e do termo se fundamenta no alcance dos objetivos de cada um ou

seja para a lexicologia pertence agrave construccedilatildeo de um modelo de componente do leacutexico da

gramaacutetica jaacute a terminologia devido seu caraacuteter de intersecccedilatildeo com a lexicologia morfologia

e a semacircntica prestigia termos da linguagem cientiacutefica e teacutecnica Assim o limite entre lexema

e termo estaacute amparado nos recursos metodoloacutegicos da lexicologia e da terminologia Para

Faulstich (1994 p 317)

O resultado praacutetico da lexicologia teoacuterica e descritiva serve de ponto de partida para

o trabalho lexicograacutefico na elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios de liacutengua geral o resultado praacutetico da terminologia especializada aplica-se agrave terminografia na constituiccedilatildeo de

dicionaacuterios especializados

66Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

115

Diante desse contexto analisamos que o termo conhecido tambeacutem como sinocircnimo de

unidade terminoloacutegica designa um conceito da linguagem de uso especial Segundo Andrade

(et al 1998 p 191)

Tal como as palavras do leacutexico geral os termos satildeo unidades siacutegnicas distintivas e

significativas ao mesmo tempo apresentando-se de forma tatildeo natural no discurso

especializado quanto as palavras nos discursos que se valem da liacutengua comum

como forma de expressatildeo

Assim observemos que o termo ldquoParatudordquo passou por uma distinccedilatildeo particular

vejamos

TERMO 09 ndash ldquoPARATUDOrdquo

Fotografia 28 ndash Paratudo Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo

Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo

Lx Lexema Paratudo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto eacuteh paratudo paratudo isso eacuteuma aacutervore uma aacutervore bem grande ela eacute uma aacutervore

bem grande ela eacute boa pra febre diprimeiro quando dava aquela febre de malaacuteria era

uma febre muito antiga que chamava por outro nome conhecida por outro neacuteela era

soacute o que curava ela eacute amargo amargo a casca dela a casca a gente usa eacute a casca iai a minha matildee tirava pra gente tomar o chaacute mas pra febre era primeiro lugar eacute febre ama

diprimeiro chamava febre amarela agora a pessoa diz que eacute a mesma malaacuteria o

pessoa digo neacuteera a uacutenica que curava era dava um tipo de febre que dava tudo tipo

de remeacutedio ih num passava aiacute eacute soacute a gente dando tudo heacute cumeccedilava sis maacute que era

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

116

esse tipo dessa febre que dava neacuteporque a malaacuteria eacute assim comeccedila daacute em seguida

aqueles horaacuterios o pessoal jaacute disconfia que a malaacuteria neacutee assim eacute era essa essa tipo

dessa febre iai a mamatildee fazia o chaacute paratudo mas ele eacute uma aacutervore ele eacute nativo ele eacute uma aacutervore muita bem grande bem grandona ela eacute nativa ela daacute em qualquer canto

num carece plantar paratudo eu natildeo sei porque os antigos ( )porque eu acho que

parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque essa febre amarela inha matildee

contava era assim febre muito perigosa diprimeiro neacuteera uma febre muita perigosa

que quase quando dava com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho

que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a

febre aiacute butaru paratudo eu acho neacuteela eacute mais alta tem umas que daacute mais alta no

lugar quela cresce mesmo ela eacute bem alta soacute soacute quela natildeo eacute grossana sempre ela eacute fina

ela natildeo eacute grossa natildeo sempre ela fina natildeo ela eacute bem comprindona mas ela eacute fina soacute a

casca soacute a casca

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Utiliza-se apenas a casca da aacutervore

Fu Formas de

uso

Usada na forma de chaacutes para febre amarela malaacuteria

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo ldquoParatudordquo significa que parava todos os sintomas da febre amarela

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando a classe gramatical do termo ldquoParatudordquo vemos que se trata de um

sintagma terminoloacutegico feminino devido a informante se direcionar ao feminino quando

descreve chamando de aacutervore O termo estaacute escrito na forma agrupada essa junccedilatildeo ocorreu

na liacutengua pelo processo de justaposiccedilatildeo o qual Pottier (1978) chama de composiccedilatildeo

composta Isto provavelmente ocorreu pela significaccedilatildeo que o termo adquiriu nas geraccedilotildees

anteriores pois segundo a definiccedilatildeo de Domingas

[] porque os antigos ( ) porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso

neacute paratudo porque essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito

perigosa diprimeiro neacute era uma febre muita perigosa que quase quando dava

com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram

esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo eu acho neacute[] (informaccedilatildeo verbal)67

Na histoacuteria descrita pela moradora quando seus antepassados adquiriam a febre

amarela ou malaacuteria tinham febres persistentes em horaacuterio programado Dificilmente

conseguiam eliminar seus sintomas a natildeo ser quando utilizavam a planta ldquoParatudordquo ou seja

ldquoparava tudordquo Assim o termo foi absorvido com o poder de parar todos os sintomas das

enfermidades contraiacutedas

67Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

117

[] porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque

essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito perigosa diprimeiro

neacuteera uma febre muita perigosa que quase quando dava com febre amarela que

natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo []

(informaccedilao verbal)68

Nesse contexto Faulstich (1995) considera que as ldquovariantes satildeo resultado dos

diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica fazem

do termordquo assim absorvida como medicamento que trouxe a cura de tudo a cura de todos os

sintomas da febre amarela ou da malaacuteria o termo eacute conhecido e usado na linguagem dos

moradores como planta que cura e para tudo escrito na forma composta

Seguimos na anaacutelise dos termos sobre as plantas medicinais com a anaacutelise

morfoloacutegica de alguns termos apresentando as imagens registradas durante a pesquisa de

campo juntamente com a definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas

utilizando para isso o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com os

elementos constitutivos dos termos para melhor visualizarmos seus dados

Na sequecircncia verifiquemos a anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo

510 GERGELIM BRANCO

A partir das investigaccedilotildees sobre as relaccedilotildees associativas entre os signos linguiacutesticos

surgem teorias em direccedilatildeo ao campo semacircntico que eacute considerado como o universo

linguiacutestico das palavras Em intersecccedilatildeo com o campo conceitual universo das ideias

segundo Robin (1977) o processo de conceptualizaccedilatildeo do mundo exterior chamado de

campo conceptual surge na mente humana pelo deciframento linguiacutestico dos conceitos e

categorias abstratas que eacute parte do campo leacutexico-semacircntico

Notando tais aspectos na estrutura do campo leacutexico-semacircntico e morfossintaacutetico do

termo este apresenta em alguns casos uma estrutura simples complexa ou composta Na

estrutura simples o termo eacute constituiacutedo de apenas um radical jaacute nos termos complexos e

compostos apresentam dois ou mais radicais Nos termos compostos a presenccedila do hiacutefen

diferencia-o do termo complexo ndash que natildeo possui o hiacutefen ndash poreacutem ocorrem processos de

composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras Na comunicaccedilatildeo

68 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

118

especializada o que predomina satildeo os termos complexos por serem capazes de assumir

diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo

reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico

Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo que sua estrutura eacute

composta por dois radicais sem a presenccedila de hiacutefen senatildeo vejamos

TERMO 10 - GERGELIM BRANCO

Fotografia 30 ndash Gergelim Branco Fotografia 31 ndashFolha do Gergelim Branco

Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco

Lx Lexema Gergelim branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Co Contexto eacuteh hurum eacute da eacute a mesma da mesma mesma tipo do mesmo soacute muda a cor eacute eacute da

semente eacute com certeza a arve eacute mesmo jeito vocecirc soacute vai sabe na hora que cai a

sementinha dela neacute ela eacute meacutedia ela eacute eacute plante do rodado ela pela sementinha () no

rosado soacute vai colher ela quando eacute na tempo de colher que a gente vai colher ela bota

pra secar aiacute vira ela bota pra secar ela soacute tem que buta ela pra secar de ponta pra

cima aiacute ela vai ce porque ela vai vai secando e e aqueles aqueles cachopinhas aqueles frutinho dela vatildeo vatildeo abrindo tudinho se ele tever de ponta pra baixo ele vai abrindo e

vai caindo ele tem que que taacute todo tempo neacute e fica guardada quando a gente vira a

pontionha dele pra baixo ele derrama eacute ele e ele eacute eacute a semente olha dhione eacute ela serve

pra um monte de coisa ( ) ela serve pra avece que daacute pra fazer massage ela serve pra

febre ela serve pra diarreia ela serve pra moragia a sementinha ela ser muito varo eacute

vaacuteria coisa que ela natildeo eacute o sumo da sementinha a gente pega bota ela pra esquentar

um pouco eacute raacutepido tem que ser raacutepido porque ela eacute uma sementinha muita graacutegil que

se demorar ela vai queimar esquenta ela quando ela taacute boa ela tem um cheiro assim

tatildeo ela muda de cheiro aiacute tira ela e pisa hoje em dia eacute mais pra mais normal eacuteo

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

119

lotificador neacute bota eacute ti e bota um pouco de aacutegua tira o leite grosso o leite dele sai

uma deliacutecia assim o leite grosso aiacute vocecirc pode se for pruma febre vocecirc pode toma uma ou duas culher vai depender da idade da crianccedila ou do da adulto sei laacute moragia

tambeacutem e pra ai se ai tanto ele serve pra remeacutedio cume ele eacute grande alimentaccedilatildeo ele eacute

alimentaccedilatildeo pra mim eu uso ele cumo alimentaccedilatildeo o gergelim como alimentaccedilatildeo e

porque assim no por remeacutedio ougaque eacute mais o gergelim preto pra remeacutedio pra

remeacutedio mas pra mim tanto faz pra mim tanto faz com certeza agora cumo eu tocirc

dizendo pode usar o preto mas de preferencia o preto de preferencia o preto mas num

tendo o preto o branco tambeacutem serve ele eacute a mesma coisa mas agora comu eu tocirc

dizendo eu uso o gergelim laacute em casa quando eu tenho eu uso pra minha pra mim

tomar meu cafeacute de mnhatilde comu ele eacute muito gostoso quando eu tiver um pouquinho que

agora eu tenho a minha roccedila quando tiver um poquim eu vou trazer um poquim da

paccediloca pra ((sorriu)) ele tem caccedilo eacute () anram sim urum isso eacute neacute pois eacute sim sim hurum

((sorriu)) acho que sim natildeo natildeo sei dizer natildeo mas eu acho que eacute pelo tamanhinho dele neacute que eacute uma semente muito eacute vou tomar poquim eacute isso

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

A sementinha contida na flor eacute usada para diversos problemas de sauacutede e tambeacutem

como alimento

Fu Formas de

uso

A sementinha secada e triturada para retirar o leite serve para derrame cerebral

hemorragias febre diarreia massagens e como alimento

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Segundo a informante o gergelim preto eacute melhor mas ela utiliza tambeacutem o gergelim

branco

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

No termo complexo Gergelim Branco aconteceu a formaccedilatildeo de termos pela

composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja o termo eacute formado por duas ou mais palavras que satildeo

independentes entre si no processo de formaccedilatildeo e que juntas formam um novo significado

uma nova palavra Quanto ao estudo gramatical dos termos complexos eles satildeo formados por

um elemento base que eacute o substantivo e em seguida por outra palavra que demonstra a

qualidade ou especificidade do primeiro podendo ser um adjetivo Por exemplo em

ldquoGergelim Brancordquo o substantivo eacute ldquoGergelimrdquo e ldquoBrancordquo eacute a particularidade na cor que

esse substantivo tem ou seja eacute um adjetivo

Observando as particularidades do termo ldquoGergelim Brancordquo vejamos na sequecircncia

a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo

120

511 URUCUM VERMELHO

Tomando os estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) sobre a estrutura do termo

percebemos que cada um a seu modo explana sobre o mesmo conceito Na explanaccedilatildeo de

Barros (2007 p 399) ela apresenta que

Termo simples unidade terminoloacutegica constituiacuteda por um uacutenico lexema

independente do processo de formaccedilatildeo deste Termo complexo unidade formada

por composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja por um grupo de lexemas e morfemas

gramaticais (palavras nocionais e gramaticais) natildeo ligadas por hiacutefen tambeacutem

independente do processo de formaccedilatildeo dos termos Termo composto unidade

terminoloacutegica formada por dois ou mais lexemas que se encontram em situaccedilatildeo de

natildeo-autonomia representada graficamente pela utilizaccedilatildeo do hiacutefen

Em Pottier (1978) a nomenclatura utilizada eacute lexia69

que eacute a menor unidade

funcional e significativa do discurso seja ele de forma oral ou escrita Para o pesquisador a

lexia nasce da relaccedilatildeo associativa entre seus elementos Quando utilizamos um termo em

determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo

internalizadas na liacutengua que por ser um sistema dinacircmico passa a ser enriquecida com

neologismos Assim no que compete aos estudos de Pottier o pesquisador apresenta como

modelo trecircs tipos de lexias sendo elas simples compostas e complexas (CAMPOS 2007)

As lexias simples70

satildeo conhecidas como a menor unidade lexemaacutetica ou palavra

tradicional que junto de outras lexias simples formam outras unidades lexemaacuteticas

conhecidas como palavras compostas Na lexia complexa ocorre uma sequecircncia de palavras

em grau maior de complexidade chamado de lexicalizaccedilatildeo Esta seria quando um sintagma se

torna uma unidade lexical autocircnoma Consequentemente Genouvrier amp Peytard (1974)

esclarecem melhor as lexias complexas de Pottier expondo em outras palavras que elas satildeo

formadas pelo agrupamento de lexias simples com classes gramaticais diferentes que resultam

em expressotildees generalizadas e estereotipadas (CAMPOS 2007)

Vejamos nesse contexto a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo

69 Lexia eacute nome geral para qualquer unidade lexemaacutetica nos estudo de Pottier (1978)

70 Vale ressaltar que Cabreacute (1993) no aspecto da forma tambeacutem classificou os termos de acordo com os nuacutemeros de morfemas existentes na palavra assim classificava-os em simples para um morfema e complexo para dois ou

mais morfemas Os complexos eram ainda subdivididos em termos derivados e termos compostos

121

TERMO 11 - URUCUM VERMELHO

Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho Fotografia 33 ndashFolha do Urucum Vermelho

Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho

Lx Lexema Urucum Vermelho

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto eacuteh uma planta natildeo ela eacute caseira eacute clima frio a folha eacute grande eacute form e re

redonda formatu dum coraccedilatildeo a semente dela ela coloca a ah o copinho a

caixinha dentro da caixinha tem a semetinha bem redondinha bem miudinha a

sementinha dela a flor eacute um rosiozinho eacuteh rosu claro eacuteh um ela eacute pequena

uma flor meacutedia num eacute grande nau e nem tatildeo (sita) o caule vai depende eacute dumaaa ele sendo bem bem bem velho bem maduro o caule dele eacute assim duma uns dois

palmos di grussura em roda tem tens uns que ate dessa grussura ((fazendo gestos

com as matildeos)) da duas matildeos cheia tem umas que da ateacute trecircs metro vai depender

da tem umas que daacute olha ela ela serve assim ela eacute tempero serve pra

temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol colesterol ela gente pega faz o

vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o vinho e toma em jijum ela linima o

colesterol e soacute da sementi a gente pega semente agente abre a pega a cachopinha

abre ela tira a semeti amassa um pouco com agua ai coa e toma em jejum pra curar o

colesterol

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Usada a sementinha encontrada no ldquocopinhordquo da planta retirar o vinho da semente

Fu Formas de

uso

Serve para dar a cor avermelhada na comida eacute um tempero para o colesterol eacute feito o

vinho da sementinha

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Eacute uma planta medicinal e usada tambeacutem como condimento

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

122

O ldquoUrucum Vermelhordquo eacute uma planta usada nos alimentos e com propriedades

medicinais principalmente relacionadas agrave problemas com o colesterol

[] ela eacute tempero serve pra temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol

colesterol ela gente pega faz o vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o

vinho e toma em jijum ela linima o colesterol e soacute da sementi a gente pega

semente agente abre a pega a cachopinha abre ela tira a semeti amassa um pouco

com agua ai coa e toma em jejum pra curar o colesterol [] (informaccedilatildeo verbal)71

Considerado em sua estrutura como termo complexo o Urucum Vermelho eacute formado

pela composiccedilatildeo sintagmaacutetica de duas palavras independentes entre si Poreacutem juntas formam

uma nova palavra com nova significaccedilatildeo No estudo gramatical do termo Urucum Vermelho

o elemento base eacute o substantivo ldquoUrucumrdquo que vem seguido pelo adjetivo ldquoVermelhordquo

indicativo de uma caracteriacutestica proacutepria da planta Verificando os aspectos da estrutura dos

termos observemos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoErva de Passarinhordquo

512 ERVA DE PASSARINHO

Segundo Cabreacute (1993) os termos compostos satildeo denominados tambeacutem como

sintagmas terminoloacutegicos que podem ser formados por uma construccedilatildeo sintagmaacutetica mais

complexa que pertencem a classe de palavras diversas

Diante das explanaccedilotildees sobre a estrutura do termo notamos que tanto Barros como

Pottier apresentam semelhanccedilas nas explicaccedilotildees No entanto Barros acrescenta ainda que os

termos compostos podem passar pelo processo de aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Nesse sentido

a pesquisadora expotildee que

A composiccedilatildeo eacute a nosso ver um processo que pode marcar a formaccedilatildeo tanto de

termos simples quanto de termos complexos (sintagmaacuteticos) Por esse motivo eacute

temeraacuterio distinguir de modo categoacuterico termos simples complexos e compostos quando se trata dos tradicionais processos de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo sem hiacutefen

(BARROS 2007 p 400)

Com tais fundamentos analisamos os termos sobre as plantas de uso medicinal da

comunidade de Pimenteiras na estrutura morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica de alguns termos

catalogados Observamos que na maioria dos casos natildeo haacute a presenccedila do hiacutefen na

71Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoUrucum Vermelhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

123

composiccedilatildeo dos termos compostos que ocorreram expressivamente atraveacutes do processo de

aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Assim observemos o termo ldquoErva de Passarinhordquo

TERMO 12 - ERVA DE PASSARINHO

Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho

Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho

Lx Lexema Erva de Passarinho

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Co Contexto ela eacute uma erva mermu ( ) ela daacute em cima nus galhu dus pau ( )da outras arvris

eacutena eacuteeacuteh ela eacute rastera ela ela eacute si agarra ali nu galhu neacute dali ela vai vai aumentandu a tendecircncia deli eacute matar ela ( ) ateacute qui as vez quandu ela si ela si

apropria mermu muitu na arvri ela mata a outra arvri ela mataeacute natildeu ela eacute

nativaporque us passarinhu qui eacute assim natildeu sei como eacute neacute mais us passarinhu qui

veim qui faz u cococirc ali dali nasci a sementinha ali nu galhu du pau i dali forma a erva

di passarinhu uns diz qui eacute assim eu natildeu sei porque porque ela eacute nativa ela nasci

assimqui podi ter a sementi i nascieacute porque eacute porque ela nasci ai eu eu vi falar

assim agora eu natildeu sei si tambeacutem nasci ali du limu neacute neacute limu porque ela sempri daacute na

arvri ela num eacute nunca eu vi daacute nu chatildeo eacute ela daacute nu limoeiru ela daacute na cueira ela daacute na

na nu nu na laranjera ela daacute em toda essa arvri assim ela daacuteeacute ela daacute eacuteachu qui eacute

em qualquer momentu qualquer arvri qui ela si apropriar qui ela gostar neacute ela daacute i aiacute

a a ( ) ela tem os galim dela em forma di um cipoacute eacute assim us galhu dela i a folha dela

tambeacuteim ela eacute media uma folha assim tambeacuteim qui ela num uma folha seca natilde eacute uma folha sempri assim cheinhagordinha issuela eacute meacutedia tambeacuteim ela num eacute tatildeu

piquinininha natildeu natildeu eacute daquelas folhau formatu dela eacute assim mermu eacute quasi igual

assim meia compridim meia redonda ela num tem formatu assim di otra coisa naueacute

uma folha eacuteeacute tipu uma folha di jambreru eacute um pocu maior di que essi ai neacutenatildeu

dessi aqui dessi aqui neacutesim issu( ) maior tem umas qui da maior tem umas qui daacute

maior porque ela daacute igualtem veiz qui quandu ela nasci muitu qui ela vai

aumentandu aumentandu assim neacute ai tem vez que porque a minha matildee sempri dizia

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

124

assim oacute bora tirar essa erva di passarinhu porque si natildeo ela vai matar uma laranjera

uma cuiera ela da nu cafezal nu cafeeru tambeacuteim ela da nu limoeru ela daacute ela daacute nu da outra eacute eacute com certezaela mata eacute vai depender di elaa folha a folhaeacute i juntu

com certeza ela neacute uma folha assim num eacute bem redonda mas tambeim num eacute tatildeu

comprida ela eacute uma assim uma folha larga beim largaela tem umas bajezinhas

tambeacuteim ela bota umas bajezinhas bem muiditinhas tambeacuteim uns carocinhusnatildeu eu

da nunca vi si eacute uma erva di passarinhu eu da nunca vi mas diz qui eli si alimenta

daquela sementinhaeacute usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui

chama cansaccedilo neacute que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u

chaacutea minha voacute dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem

toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu

iscondidu pra num saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela

dizia assim oacute a erva di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo

mas quem toma nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para ldquocansaccedilordquo asma

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O chaacute deve ser tomado sem a pessoa saber para que sirva e que planta eacute feito o chaacute

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoErva de Passarinhordquo possui uma estrutura composta por dois radicais

relacionados pelo aspecto da preposiccedilatildeo Sendo uma planta que se hospeda em outras plantas

para viver eacute o alimento preferencial dos paacutessaros daiacute a relaccedilatildeo associativa com a funccedilatildeo que

o nome possui No trato medicinal a planta eacute usada em pessoas com cansaccedilo poreacutem segundo

a crenccedila de seus antepassados a pessoa toma o chaacute sem saber o que eacute nem para que serve O

termo eacute assim descrito pela senhora Domingas

[] usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui chama cansaccedilo neacute

que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u chaacutea minha voacute

dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu iscondidu pra num

saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela dizia assim oacute a erva

di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo mas quem toma

nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute

u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute(informaccedilatildeo verbal)72

Observamos que cada termo possui uma definiccedilatildeo particular a cada planta as formas

de uso os contextos em que ocorre a variaccedilatildeo as relaccedilotildees associativas as crenccedilas em torno

72Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoErva de Passarinhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

125

da cura e as composiccedilotildees formativas dos termos apresentados Alguns termos vieram de

geraccedilotildees passadas outros entraram no contexto da comunidade de Pimenteiras atraveacutes de

novos saberes Diante de tudo que foi exposto eacute importante percebermos que a compreensatildeo

da linguagem de especialidade pode ocorrer com o entendimento de que os termos natildeo satildeo

isolados Segundo Cruz (2014 p 104) os termos ldquonem derivam sua existecircncia apenas de um

arcabouccedilo loacutegico-conceptual mas se manifestam circulam e exercem sua funccedilatildeo em situaccedilatildeo

em uso efetivordquo

Para que o pesquisador possa se familiarizar com seu objeto de pesquisa eacute necessaacuterio

realizar leituras preacutevias sobre o assunto e manter discussotildees com profissionais da regiatildeo

pesquisada Particularmente no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal compreendemos

que durante muitos anos o homem sempre utilizou os recursos naturais para sua sobrevivecircncia

e bem estar na terra e eacute por meio das plantas que surgem os mais diversos produtos

indispensaacuteveis agrave vida humana em todas as eacutepocas

No que concerne ao uso dessas plantas na medicina tradicional hoje os

medicamentos obtidos a partir de substacircncias ativas vindas das plantas satildeo utilizados na

medicina complementar73

Diante disso eacute importante salientar que as populaccedilotildees que vivem

em regiotildees pouco povoadas e com restriccedilatildeo das necessidades fundamentais como sauacutede e

educaccedilatildeo fazem dos recursos naturais os mais utilizados possiacuteveis a fim de garantir os

cuidados necessaacuterios com o bem-estar do corpo e da alma

Culturalmente as praacuteticas com o uso popular de plantas medicinais satildeo uma

realidade em muitas comunidades que as tecircm como alternativa para a conservaccedilatildeo da sauacutede

Entretanto a continuidade desse saber eacute ameaccedilada pela interferecircncia de fatores externos

relacionados ao dinamismo social como a exposiccedilatildeo das comunidades e de sua cultura diante

das facilidades da sociedade moderna a destruiccedilatildeo dos recursos naturais a invasatildeo de novos

elementos culturais que desmotivam a vida tradicional e o conhecimento empiacuterico que eacute

patrimocircnio de valor inestimaacutevel agraves futuras geraccedilotildees Aleacutem disso os estudos cientiacuteficos

direcionados agraves plantas utilizadas pelas comunidades tradicionais satildeo ainda insipientes

(HOEFFEL 2011)

Boa parte do conhecimento popular estaacute mantido em fontes orais isto causa certa

inseguranccedila e desconfianccedila nos dados a serem transcritos Poreacutem o contato direto com os

moradores e seus saberes nos fez crer que as histoacuterias orais satildeo fonte de vida e que de acordo

com a histoacuteria transpotildeem geraccedilotildees e eternizam os novos conhecimentos A verdade eacute que as

73 Uso de medicamentos feitos a partir de substacircncias ativas das plantas isto ocorre em tratamentos de doenccedilas

crocircnicas devido aos efeitos colaterais dos medicamentos potentes

126

ameaccedilas agrave biodiversidade natildeo tem precedentes na histoacuteria da humanidade diversas espeacutecies

nunca estiveram tatildeo ameaccediladas de extinccedilatildeo Junto a isto a cultura dessas comunidades

tambeacutem sofre mudanccedilas constantes que as fazem perder a identidade social que as compotildeem

A perda dos elementos naturais e da cultura identitaacuteria dos conhecimentos

tradicionais empobrece cada vez mais nossa cultura em geral nossa sauacutede e nossos saberes

Diante disso eacute premente que busquemos alcanccedilar esses povos para conhecer registrar e

preservar saberes importantes para a sociedade em geral Nesse contexto a comunidade

remanescente de quilombola de Pimenteiras eacute um exemplo a ser observado por agregar valor

em seus aspectos regionais culturais e de saberes sobre o poder medicinal das plantas Eacute na

comunidade e nos seus moradores que se veem a necessidade de conhecer registrar e

preservar o conhecimento tradicional que fora repassado entre as geraccedilotildees Sabendo disso

buscamos por meio dos estudos socioterminoloacutegicos analisar os termos catalogados sobre as

plantas de uso medicinal da comunidade Tais saberes de grande valor para o conhecimento

cientiacutefico satildeo preservados pelos relatos orais de moradores remanescentes de quilombo

O conhecimento sobre as plantas medicinais pode ser observado pelo trabalho diaacuterio

que os moradores possuem na comunidade com as plantas Esse processo vai desde a

plantaccedilatildeo ateacute a venda dos produtos obtidos por meio da manipulaccedilatildeo das plantas Os cuidados

com o solo a aacutegua o sol os horaacuterios adequados para a colheita das plantas as partes a serem

usadas como as folhas raiz entrecasca flor galhos sementes fruto seiva e tambeacutem o

tratamento dado as plantas para a venda de produtos feitos pelos moradores tais como a

garrafada a multimistura pomadas e oacuteleos tudo eacute parte do contexto de saberes que os

moradores possuem sobre as plantas medicinais

Finalizamos assim observando a forte relaccedilatildeo existente entre os termos sobre as

plantas medicinais com o contexto social no qual estatildeo inseridas com os saberes adquiridos

no passado e no presente com a cultura com a Liacutengua e por conseguinte com a origem

negra que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem marcando assim a

identidade do povo quilombola

127

6 CONCLUSAtildeO

Este trabalho dissertativo se propocircs na anaacutelise dos termos sobre as plantas de uso

medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras ndash PA localizada na

cidade de Santa Luzia do Paraacute na Rodovia BR 316 (Paraacute ndash Maranhatildeo) regiatildeo do Rio Caeteacute

A partir das consideraccedilotildees sobre os termos catalogados pelos moradores quilombolas

pudemos observar e perceber que os saberes transmitidos entre as geraccedilotildees permanecem

fortes no seio da comunidade de forma que todo o conhecimento sobre as plantas medicinais

tem caraacuteter identitaacuterio ao povo de Pimenteiras

Conhecemos cada termo catalogado a fim de perceber as influecircncias da cultura negra

na linguagem popular e especializada sobre as plantas A presenccedila do gecircnero feminino nesse

contexto de conhecimento foi determinante para conseguirmos identificar as espeacutecies coletar

as imagens de cada planta e catalogar os termos sobre as plantas medicinais registrados pelos

moradores

Todos noacutes pensamos falamos lemos e escrevemos as palavras que herdamos em

meio aos saberes coletivos jaacute consolidados no tempo e espaccedilo Por meio da nossa Liacutengua as

palavras satildeo transmitidas e enredadas em significaccedilotildees Eacute atraveacutes dessa heranccedila com os

vocaacutebulos que a liacutengua abrange os saberes coletivos culturais e de significados produzidos

nos contextos de fala Ao nomearmos classificarmos categorizarmos e registrarmos as

experiecircncias vividas noacutes seres humanos criamos palavras e sintaxes ao contarmos e

recontarmos nossas histoacuterias

Por meio da Liacutengua fundamentamos nossa identidade eacute pelas palavras que

organizamos nossas crenccedilas e nomeamos nossos valores um saber que continua em

crescimento e transformaccedilatildeo atraveacutes do conhecimento da linguagem que herdamos e

transmitimos para as geraccedilotildees porvindouras Assim ressaltamos que as definiccedilotildees descritas

sobre os termos analisados sua variaccedilatildeo nos termos na linguagem representada nos saberes

sua motivaccedilatildeo sua estrutura e suas relaccedilotildees associativas constituiram-se relevantes para

percebermos as analogias da liacutengua com a cultura popular transmitida entre as geraccedilotildees

sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

Levando em consideraccedilatildeo que os termos sobre as plantas medicinais fazem parte de

uma especificidade da linguagem e que no caso em especial analisamos o termo na sua

estrutura socioterminoloacutegica entendemos que o conhecimento popular proveniente das

atividades tradicionais dos moradores quilombolas na regiatildeo foi o percurso trilhado para nos

128

conduzir nesse trabalho dissertativo de forma a considerar as abordagens socioterminoloacutegicas

de grandes pesquisadores Os estudos sobre a variaccedilatildeo nos termos sobre as plantas medicinais

tambeacutem foi fundamental para analisarmos cada palavra dentro de um contexto de uso social

histoacuterico e cultural com a finalidade de conhecer e ateacute resgatar os termos no acircmbito

sociocultural no qual estatildeo inseridos

A metodologia utilizada no decorrer do trabalho de campo nos proporcionou melhor

conhecimento sobre a comunidade em estudo pois do ponto de vista etnograacutefico eacute preciso

estar laacute para aprofundarmos sobre os saberes da comunidade e interagirmos in loco para

compreendermos a dinacircmica do trabalho e da vida a partir da qual o homem do campo

constroacutei seus saberes Os dados catalogados sobre as plantas medicinais nos fizeram conhecer

mais profundamente os saberes sobre as plantas que apresentamos no repertoacuterio terminoloacutegico

coletado composto por quarenta e dois (42) termos catalogados com suas respectivas

imagens

Aleacutem dos termos catalogados foi necessaacuterio registrar os dados orais ocorridos

durantes as diversas entrevistas da pesquisa de campo utilizando os recursos computacionais

como o Transana para efetuarmos a transcriccedilatildeo Grafemaacutetica das entrevistas realizadas Isto

foi indispensaacutevel para compreendermos melhor os aspectos que contornam o termo e

tambeacutem para a definiccedilatildeo descritiva de cada termo catalogado pois no contexto discursivo

podemos entender melhor cada palavra e suas significaccedilotildees no estudo socioterminoloacutegico

No percurso desse trabalho buscamos natildeo apenas a interpretaccedilatildeo ou anaacutelise dos

termos catalogados mas tambeacutem observar a construccedilatildeo dos saberes dos moradores como um

aspecto marcante na identidade da comunidade quilombola Essa nova visatildeo sobre os termos

nos trouxe um perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural mostrando as influecircncias da cultura negra na

linguagem de uso particular sobre as plantas medicinais

Eacute por meio da Liacutengua que os moradores quilombolas de Pimenteiras refletem as

caracteriacutesticas da identidade cultural entre a planta e as caracteriacutesticas que especializam cada

espeacutecie mas eacute na variaccedilatildeo da liacutengua que os termos se relacionam com as aacutereas de

conhecimento que os moradores possuem sobre as plantas medicinais O movimento

constante da linguagem atribui o princiacutepio fundamental da liacutengua que eacute a comunicaccedilatildeo

presente no contexto dos saberes de um povo e manifestado na preservaccedilatildeo da linguagem

atraveacutes da valorizaccedilatildeo por seus falantes

Nesse sentido quando associamos o saber especializado ao contexto de campo das

ciecircncias e das teacutecnicas temos no termo uma feiccedilatildeo terminoloacutegica na qual ele assume uma

dimensatildeo linguiacutestica e cognitiva no comportamento lexical especializado e na manifestaccedilatildeo

129

desse conhecimento Notamos assim que o termo eacute parte do componente linguiacutestico de tal

modo como eacute uma unidade terminoloacutegica e um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber

Portanto ao referirmos as plantas de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras

percebemos que o domiacutenio estudado pertence ao campo da medicina caseira como consta na

Norma da ISO 1087 explicando que o domiacutenio eacute definido por um ponto de vista particular no

qual os limites satildeo definidos pelo saber particular da moradora Domingas

Ao verificarmos a definiccedilatildeo descritiva dos termos a senhora Domingas expocircs de

acordo com seus saberes uma relaccedilatildeo associativa entre a planta com o objeto nomeado Nas

explicaccedilotildees de Faulstich (1995 p 36) o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e

coletiva num processo de interaccedilatildeo entre o sujeito a realidade as pessoas e o ambiente

sociocultural revelando que a Socioterminologia eacute desenvolvida no cunho funcionalista de

natureza social Nos casos em que ocorrem caracterizaccedilotildees de conceitos e definiccedilotildees para um

mesmo termo Faulstich lembra que ocorre a variaccedilatildeo terminoloacutegica em que um novo termo

um novo conceito traz uma nova definiccedilatildeo

Com respeito agrave relaccedilatildeo associativa na forma ou na funccedilatildeo das plantas medicinais

esta faz parte da natureza e concepccedilatildeo dos termos estudados Notamos que a estrutura

morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica do termo apresentado tambeacutem como unidade

terminoloacutegica foi explanada por alguns autores tais como Araujo (2006) que verificou os

termos em sua estrutura leacutexico-semacircntica com uma constituiccedilatildeo simples contendo a presenccedila

de apenas um radical e uma composiccedilatildeo composta e complexa quando apresentam dois ou

mais radicais Andrade (1998) por sua vez explica que na estrutura do termo composto temos

a presenccedila do hiacutefen diferenciando-se do termo complexo que natildeo possui o hiacutefen Poreacutem

haveraacute processos de composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras

Com base nos estudos dos autores citados vemos que os termos catalogados sobre as plantas

de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras possuem na sua estrutura formaccedilatildeo simples

com apenas um radical formaccedilatildeo complexa com a presenccedila de mais de um radical e

composta nos quais ocorre o processo de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo

Nossa anaacutelise foi constituiacuteda por doze (12) termos de plantas de uso medicinal

catalogadas pelos moradores quilombolas de Pimenteiras de um total de quarenta e dois (42)

termos As apreciaccedilotildees desses dados da pesquisa passaram por diferentes estudos sobre o

termo levamos em consideraccedilatildeo natildeo apenas as caracteriacutesticas gramaticais que o compotildee

mas principalmente analisamos as definiccedilotildees descritivas da senhora Domingas utilizando

para isso o modelo de ficha terminoloacutegica de Faulstich para melhor visualizaccedilatildeo dos

elementos constitutivos do termo

130

Eacute nessa compreensatildeo sobre o que motiva ou associa a nomeaccedilatildeo dos termos que

vemos a reflexatildeo sobre o conhecimento que os moradores possuem da proacutepria linguagem

suas relaccedilotildees com a natureza as influecircncias e transferecircncia de saberes entre as geraccedilotildees e as

caracteriacutesticas marcantes que tornam a comunidade de Pimenteiras uacutenica em sua identidade

como lugar das plantas medicinais

Perante tudo que foi explanado sobre a pesquisa efetuada na comunidade de

Pimenteiras acreditamos ter dado um grande passo neste estudo fascinante e envolvente sobre

a histoacuteria cultura e saber de um povo um povo que desperta nosso desejo de conhecimento

de buscar outros caminhos nos estudos Socioterminoloacutegicos e em muitos outros estudos

cientiacuteficos que reconheccedilam e valorizem os saberes e cultura da comunidade de Pimenteiras

Os termos analisados neste trabalho dissertativo nos trazem resultados interessantes

quanto agraves influecircncias da cultura negra que por longos periacuteodos da histoacuteria sofreu e ainda

sofre retaliaccedilotildees e preconceito por contra da escravidatildeo pois ainda hoje um preconceito

mascarado sobrevive Brookshau (1983 p 12) expotildee que ldquoo negro mesmo antes de ser

escravizado tinha um defeito que para muitos serviu de justificativa para sua escravidatildeo e esse

defeito era sua corrdquo A cor negra na cultura ocidental sempre teve uma conotaccedilatildeo negativa em

oposiccedilatildeo ao branco que eacute definido com o sentido de limpo e puro A presenccedila dos africanos em

nosso paiacutes contribuiu natildeo soacute na nossa cultura mas tambeacutem na formaccedilatildeo do tipo fiacutesico

brasileiro Somos um povo diversificado na cultura na danccedila no biotipo fiacutesico no sincretismo

religioso nas comidas tiacutepicas na influecircncia indumentaacuteria no gecircnero forte da mulher no uso das

plantas e consequentemente na liacutengua

Tanta influecircncia sucedida do negro contribuiu muito para a formaccedilatildeo da nossa

nacionalidade Segundo o antropoacutelogo Arthur Ramos (1942) eacute inocente e sem base cientiacutefica

querer caracterizar a questatildeo racial no Brasil pois todos noacutes somos formados de contatos

humanos que se processaram no paiacutes que natildeo se limitaram apenas aos grupos de negros

brancos e iacutendios somos derivados deles Nossa liacutengua em especial eacute o reflexo de noacutes mesmos

por manifestarmos e expressarmos nossa proacutepria existecircncia Assim ainda que carregados de

dificuldades e escravidatildeo o negro trouxe-nos a forccedila e riqueza de sua cultura que hoje

podemos dizer eacute um dos pilares da nossa identidade nacional

Diante de tantas riquezas sobre as influecircncias do negro da comunidade de Pimenteiras

esperamos que o estudo em questatildeo seja uacutetil agravequeles que se interessem pelo assunto e queiram

conhecer melhor o universo que envolve essa cultura popular e socioterminoloacutegica das plantas

medicinais da comunidade pois natildeo poderiacuteamos deixar ocultada a sabedoria popular sobre as

plantas medicinais precisaacutevamos conhececirc-la observaacute-la analisaacute-la prestigiaacute-la e repassaacute-la

131

para aqueles que buscam natildeo apenas saber mas sobretudo valorizar a sabedoria tradicional

preservada na linguagem como identidade dos moradores quilombolas de Pimenteiras

132

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APEcircNDICE A ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Domingas Alves do

Nascimento

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA

CAMPUS DE BRAGANCcedilA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA

FICHA DE ENTREVISTA COM OS MORADORES REMANESCENTES DE

QUILOMBOLA NA COMUNIDADE DA PIMENTEIRA - PA

A) Entrevistado

1Nome

2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino

3 Endereccedilo

4 Idade(anos)

5 Quantas pessoas habitam a casa

6 Naturalidade

7 Ocupaccedilatildeo principal

8 A Principal fonte de renda

9 Escolaridade

10 Vive na comunidade a quanto tempo

11 Seus pais avoacutes jaacute moraram ou moram na comunidade

12 De onde vieram (Cidade - UF)

13 Tipo de habitaccedilatildeo

14 Haacute quanto tempo mora aqui

15 Como era aqui quando a famiacutelia ou vocecirc chegou

16 Qual a sua origem De onde veio

B) Termo Quilombola

1 Como descobriu que tens descendecircncia de Quilombola

2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc

3 Qual o significado de ser Quilombola para sua comunidade

4 Qual sentimento tem pela palavra Quilombola

5 Houve algum tipo de dIscriminaccedilatildeo sobre a descendecircncia Quilombola

6 Reconhecem os direitos que possuem sobre ser Quilombola

7 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre essa Associaccedilatildeo

8 O que acha da comunidade da Pimenteira

9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc

C) Ervas e Plantas Medicinais

1 Faz uso de Plantas Medicinais ( ) Sim ( ) Natildeo

2 Quem passou o conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo de plantas

3 Quando tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda a quem vocecirc recorre

4 Como obteacutem as plantas que utiliza

5 Quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia

6 Quais partes satildeo utilizadas

7 Qual a melhor forma de preparo para cada planta

144

8 Como se usa

D) Dados sobre o manejo do quintal

1 Quais espeacutecies de plantas e ervas cultiva em casa e por quecirc

2 Como denomina o espaccedilo proacuteximo agrave sua casa

3 Quem cuida desse espaccedilo

4 Quais plantas vocecirc tem em seu quintal

5 Vocecirc consome as plantas que cultiva

6 Vocecirc realiza alguma atividade de compra e venda dessas plantas

7 Vocecirc compartilha essas plantas com algueacutem

8 Se vocecirc natildeo as tem onde vocecirc vai procurar

9 O que estaacute faltando em seu quintal

10 O que o quintal representa para vocecirc e para sua famiacutelia

E) Dados sobre o conhecimento e a transmissatildeo do mesmo

1 As plantas que vocecirc tecircm em seu quintal servem para quecirc

( ) alimento ( ) remeacutedio ( ) ritual ndash religioso ( ) decorativo ( ) brincadeira ( ) outros

2 Com quem vocecirc tomou ldquogostordquo por plantas Onde aprendeu o que sabe

3 E vocecirc ensina isso para algueacutem

4 Quais plantas satildeo mais usadas

5 Para que utiliza estas plantas

6 Faz uso de medicamentos das farmaacutecias Sim( ) Natildeo( ) Agraves vezes( ) Nunca( )

7 Quais E por quecirc

8 Possui alguma doenccedila Sim ( ) Natildeo ( )

9 Qual (is)

10 Jaacute ocorreu algum caso de doenccedilas curadas pelo uso das ervas e plantas

11 Vocecirc acredita no poder das ervas e plantas ou nos remeacutedios de farmaacutecia Por quecirc

12 O que eacute a Garrafada

13 Para que serve a Garrafada Quais as propriedades de cura que proporciona

14 Como eacute o preparo da Garrafada E que ervas possuem dentro

15 Com quem aprendeu a fazer a Garrafada e outros remeacutedios caseiros

145

APEcircNDICE B ndash Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Domingas Alves do Nascimento

entrevista do dia 19 de outubro de 2014

L1 data de nascimento

L2 dia vinte e oito (de outubro)

L1 ( )

L2 dia vinte e oito

L1 JAacute aqui a gente pode dizer qual eacute o endereccedilo

L2 pode

L1 ((muitos ruiacutedos de vento)) entatildeo hoje a senhora tem quantos anos

L2 (cinquenta e um) natildeo cinquenta e cinquenta neh

L1 hoje a senhora tem cinquenta

L2 cinquenta

L1 quantas pessoas moram na sua casa

L2 somos seis

L1 seis a senhora eacute paraense qual eacute sua naturalidade

L2 paraense

L1 paraense mesmo qual eacute a sua principal ocupaccedilatildeo (no) trabalho

L2 agricultura

L1 qual a principal fonte de renda com que a senhora ganha dinheiro

L2 ahh (assim) com a minha atividade eacute (arrancar) malva ( ) com a malva ou do accedilaiacute

eacute uma ( ) muito (dessa aiacute) e meus trabalhos de ( ) pra mim mesmo o que eu estou fazendo eacute

esse neh

L1 hum rum

L2 ( ) bastante eacute muito encomendado

L1 e remeacutedio caseiro

L2 remeacutedio caseiro

L1 a senhora tem que escolaridade ateacute que seacuterie a senhora estudou

L2 soacute a primeira

L1 primeira seacuterie

L2 que no meu tempo era muito difiacutecil neh a gente morava aqui aiacute eu daqui com uma

leacutegua quando quando eu comeccedilei a estudar eu tava com QUINZE anos eu com

dezessseis (eu me ajuntei)

L1 hum rum

L2 aiacute pronto meu marido lutou lutou mas eu pra mim foi muita dificuldade eu jaacute sou

dona de famiacutelia ia deixar a minha casa pra mim andar essa distacircncia todinha aiacute eu natildeo quis

ele pelejou pelejou meu sogro natildeo natildeo se eu (tivesse) na casa do papai tudo bem aiacute tava

ruim ele trabalhava me e eu sai eu tinha que sair seis horas da manhatilde que eacute daqui laacute na beira

do rio eacute uma leacutegua de aiacute natildeo tinha como eu preparar o almoccedilo neh chegava de tarde

cansada e aiacute eu natildeo estudei mais ( ) e era muito difiacutecil muito difiacutecil meus irmatildeos

nehnhum soacute tem eu neh meus irmatildeos soacute tem um que tem a quarta seacuterie um ou eacute dois

(por causa da dificuldade)

L1 a senhora vive na comunidade haacute quanto tempo

L2 e eu nasci e me criei aqui assim EU NASCI aqui eu natildeo nascci aqui mas foi aqui

perto neh depois que taacute com

[

L1 entatildeo desde receacutem nascida a senhora mora aqui

L2 hum rum

L1 taacute (palavras dirigidas a terceiros) eacute os pais da senhora (voz de terceiro) ou os

avoacutes eles jaacute moraram ou moram na comunidade eu quer quero que a senhora conte a

trajetoacuteria deles eles jaacute moraram aqui como eacute como foi

146

L2 natildeo assim eacute eles jaacute moraram essa minha matildee eacute falecida soacute meu pai dessas dessa

dessas turmadas soacute meu pai que ainda ainda eacute vivo neh eles assim eles moram ( )

quando eles na juventude deles eles moravam na outra comunidade

L1 (narcisa)

L2 narcisa sim aiacute de laacute eles casaram meus primeiros irmatildeos nasceram laacute e eu jaacute foi

L1 hum rum

L2 ateacute o quarto irmatildeo nasceu laacute ainda do outro lado do rio guamaacute ( ) do outro lado aiacute

quando eu vim de assim laacute a ge era muita gente aiacute eles botavam o (roccedilado) natildeo tinha mais

como o produto neh e naquele tempo natildeo tinha esse negoacutecio de adubo natildeo existia aiacute

por aqui era mato que eles caccedilavam aiacute meu avocirc disque queria vir botar um roccedilado pra caacute aiacute

parece que os vizinhos jaacute ficavam dizendo laacute que a mata tava pouca a capoeira jaacute natildeo dava

muita produccedilatildeo aiacute eles andavam na mata disse que vinham botar um roccedilado pra caacute mas

como era assim a mata natildeo tinha ele foi laacute em oureacutem pegou um papel fez um

requerimento pegou um papel aiacute laacute com a assinatura laacute nesse tempo tinha feito natildeo sei de

quem eacute laacute mais laacute aiacute foi falou para o genro dele era trecircs genro que ele tinha ele soacute

tinha um filho e trecircs filhas nem vi as filhas todas casaram (netinho) jaacute tava pro

prosperando familiacutea aiacute ele chegou laacute e disse bem se vocecircs quiserem botar um roccedilado pra

mata para o (centro) ( ) agora a gente vai porque a gente taacute com a autorizaccedilatildeo na matildeo aiacute

eles vieram botar o primeiro roccedilado aiacute acharam MUIto longe taacute indo e vindo indo e vindo

todo dia neh aiacute eles fizeram um barracatildeo pra eles todos fizeram um barraco aiacute jaacute

traziam a famiacutelia pra ficar mais PERto pra fazer o almoccedilo pra ajudar ((tosse)) pra ajudar

porque a gente trabalha tambeacutem no roccedilado neh aiacute veio vinha primeiro a vovoacute sempre

ficava laacute neh que era a mais velha ficava laacute com os outros netos e vinha as filhas com uns

uns ajudar os maridos aiacute nisso aiacute foram se acostumando se acostumando e a a produccedilatildeo

foi aumentando assim a renda eles gostaram muito do do (canto) aiacute pronto j5aacute foram fazendo

casa pra morar aiacute foi que eles vieram veio veio quatro famiacutelia meu avocirc com os trecircs

filhos que vieram ( ) fizeram o barracatildeo dele laacute a casa laacute depois jaacute foram aumentando

fazendo a sepaccedilatildeo da casa que aquele tempo era no barro neh fazia primeiro era a casa de

palha que eacute eacute esse matinho aiacute oacute tubim pois eacute esse taacute cobriu a casa com esse daiacute mas

eacute uma excelente cobertura que eacute frio que soacute aiacute faziam a tapaccedilatildeo repartida de barro neh

aiacute cada quase jaacute moravam no seu no na na sua propriedade localidade ( ) barracatildeo na

sua casa aiacute daiacute que foram foram chegando os netos foram crescendo foram procurando

familiacutea e foram casando fazendo casa perto que eu tenho dois um primeiro meu

irmatildeo casou fez a casa lacuteperto do papai depois o segundo casou fez perto tambeacutem e a

minha irmatilde que eacute comadre ( ) que eacute a mais velha casou o marido dela tambeacutem natildeo levou

ela para o lugar dele ELE foi pra caacute neh aiacute a famiacutelia foi aumentando a minha matildee taacute

com dez anos jaacute falecida

L1 de onde eles vieram assim a origem dos dos seu pais

L2 a minha matildee ela veio de origem do negro dos escravos neh

L1 natildeo eu digo assim o estado eles satildeo paraenses

L2 eles satildeo paraenses

[

L1 todos eles

L2 todos eles satildeo paraenses

L1 natildeo tem nenhum

[

L2 natildeo natildeo de mistura natildeo que eu saiba natildeo se se tem mas natildeo chegou no

meu conhecimento que a a mamatildee ela contava muita histoacuteria assim a minha voacute muita

histoacuteria assim de quando eles eram crianccedila de quando eles eram ado adolescente jovem

mas eles nunca disseram que era que era de outra assim sempre ( )

L1 e na qual era o tipo de habi de de habitaccedilatildeo que eles tinham que a senhora

147

falou qual era como era a casa

L2 deles

L1 hum rum

L2 era sempre assim dessa palha a cobertura e ao redor era empalhada tambeacutem soacute

que eu natildeo cheguei a conhecer assim empalhada natildeo do barro eu ainda me lembro muito

bem a cobertura tambeacutem agora empalhado da mesma mesma coisa neh que eles

faziam assim mas eu natildeo me lembro natildeo mas a minha matildee contava que era assim

L1 a cobertura era empalhada

L2 a ccobertura era da (albim) e ao redor tambeacutem pra fazer a separaccedilatildeo neh

L1 era albim

L2 da albim tambeacutem era cercado com albim assim feita a separaccedilatildeo sim pelo menos o

quarto da onde dormiam neh

L1 hum rum mas em volta natildeo era barro era assim empalhado neh

[

L2 hum rum era empalhado

era

L1 entatildeo haacute quanto tempo ele eles o seu pai ainda eacute vivo

L2 eacute papai eacute

L1 haacute quanto tempo moram aqui

L2 eu tocirc com aqui neste lugar ou assim

L1 aqui na pimenteira

L2 na pimenteira taacute com umas umas faixa de uns quarenta anos

L1 quarenta

L2 assim quando veio da narcisa logo quando veio da narcisa

L1 sim

L2 ah taacute com seus cinquenta porque mais de cinquenta quase seus sessenta porque eu tocirc

com cinquenta e um e eu jaacute jaacute sou da da aquarta filha que nasceu aqui jaacute soacute que natildeo

era pra esse mesmo lugar neh era aqui o cajueiro mas eacute mesmo ( ) a gente se mudou

quando eles vieram de laacute ( ) laacute papai natildeo gostou muito de laacute porque esse tempo ele criava

umas vacas que era amarrada assim na corda e laacute eacute muita (acidentado) daacute mais de que

aqui neh aiacute tinha um um homem que morava bem ali assim aiacute era muito colega do

papai e aiacute aqui esse tempo um tempo veio uma tinha uma casa que que davam aula era

bem aiacute chamavam o carro da prefeitura aiacute a mulher foi embora a professora foi embora aiacute

ficou desocupada aiacute esse homem cedeu para o papai seu Raimundo laacute na pimenteira ali

adonde perto de onde eu moro uma pertenccedila ao ao terreno de vocecircs por quecirc que natildeo vai

embora pra laacute aiacute foi que noacutes viemos de laacute do cajueiro mas fica aqui proacuteximo neh aiacute

fizemos a abertura aiacute daiacute

[

L1 entatildeo vocecircs satildeo os primeiros moradores aqui

L2 somos meu pai eacute primeiro morador

[

L1 como eles ele conta como era aqui quando a famiacutelia

veio quando vocecircs chegaram aqui como era como era essa aqui essa aacuterea toda

L2 aqui aqui mesmo eu me lembro jaacute quando eu cheguei aqui quando noacutes viemos do cajueiro

pra caacute eu me lembro eu jaacute me alembro eu acho que eu estava com uns sei cinco a seis anos

mas eu jaacute me alembro aqui era todo tudo capoeira que a mata era logo bem aqui

proacuteximo nossos primeiros roccedilados foi muito proacuteximo de qualquer uma crianccedila ia laacute no

roccedilado tirar o milho tirar buscar uma melancia qualquer um que queira era muito perto

a mata era proacutexima isso era capoeira isso aqui tinha soacute um uns caminhinho que os

meninos iam aacutes vezes para o roccedilado um uma coisa era tudo era sombra natildeo tinha

natildeo era natildeo tinha essa abertura aiacute esse garapeacute era a coisa mais linda do mundo era esse

148

garapeacute que a gente toma banho porque era capoeira neh era capoeira era era sombra

aiacute aiacute a gente ia tomava banho quando noacutes era crianccedila noacutes tomava aiacute quando tava um

tempatildeo de chuva assim noacutes jaacute ficava alegre porque sabia que ele ia crescer e noacutes gostava

muito de tomar banho na aacutegua grande e aiacute qundo passava a chuva noacutes pedia pra o papai e pra

mamatildee e noacutes ia tomava muito banho agora natildeo agora natildeo presta pra tomar banho

nenhum porque ( ) daiacute da da daqui da boca dele ateacute quase na cabeceira desse jeito aiacute natildeo

presta mais pra tomar banho

L1 a a sua origem mesmo eacute paraense a senhora veio de laacute a senhora veio da narcisa

aliaacutes a senhora nasceu na narcisa

L2 natildeo natildeo eu jaacute nasci ali no

[

L1 no cajueiro

L2 hum rum

L1 certo veio da narcisa moro morou um tempo no cajueiro e agora

[ [

L2 ( ) no cajueiro e ( ) ( ) porque assim

( ) bem pertinho daqui natildeo daacute dois quilocircmetros daqui laacute

L1 taacute agora vamos eacute ter quando foi que a senhora descobriu que tem uma a

descendecircncia de quilombola

L2 porque a minha voacute di dizia neh a minha voacute contava pra noacutes que ele ela eacute ela vinha

dessa descendecircncia que os avocircs delas AVOcirc da minha avoacute era os escravos

L1 como ela soube como ela como ela sabia disso

L2 porque ( ) contavam pra ela neh a matildee dela contava pra ela aiacute ela a matildee dela jaacute

passava pra ela e ela jaacute passava pra noacutes porque euu ainda me alembro muito da minha voacute ela

mamatildee contava ( ) MAIS era ela que contava que ela dizia que ela os avoacutes dela contavam

que (eram) dqquele tempo de de ficar amarrado de ser accediloitado neh aiacute ela ia

repassando pra noacutes

L1 os avoacutes dela passaram por isso viveram esse periacuteodo

L2 natildeo os avoacutes dela eacute que contavam que os outros ates dele neh

[

L1 antes os antes dele que ( )

L2 an ram eacute isso

L1 entatildeo eacute satildeo os seus tataravoacutes (digamos assim)

L2 isso acho que ism

L1 que viveram essa eacutepoca da escravidatildeo

L2 hum rum

L1 mas essa eacutepoca da escravidatildeo aqui nessa regiatildeo natildeo

L2 natildeo natildeo era aqui

L1 onde

L2 isso aiacute eu natildeo sei dizer adonde era natildeo natildeo me alembro se ela disse mas eu natildeo sei (

) se era na narcisa se era noutro (canto) natildeo sei natildeo ( ) sei que eles eram dessa dessa

dessa descendecircncia mas eu natildeo sei dizer da onde eacute

L1 dona Domingas o que eacute ser quilombola qual o significado dessa palavra pra

senhora

L2 e eu essa eu natildeo entendo muito bem muito bem eu natildeo entendo por isso que eu queria

que o ( ) tivesse aqui que ele entende mais melhor do que eu ele jaacute fez ( ) estudo ele ( ) mais

do que eu neh que ele passou ele passou seis anos assim presidente da associaccedilatildeo parte

que ele tem mais conhecimento mas natildeo ( ) ele taacute pra rua mas ser quilombola acho que eacute

ser vem dessa descendecircncia e assim das (coisas) tradicional as coisas da natureza

aprender e viver com a natureza eu acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre

assim vendo os iacutendios porque os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu

149

acho que ser quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima

da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as coisas

pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende as coisas com a

natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque aquele tempo dos dos dos

negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de leitura (nada nada) MAS com a natureza

eles aprendiam alguma coisa

L1 qual eacute o significado de ser quilombola pra comunidade o que a comunidade

pensa a senhora sabe dizer

L2 natildeo tambeacutem natildeo natildeo sei dizer natildeo ( ) eu eu soacute sei dizer que eacute eacute eacute eacute eacute uma um

tipo que eles quase juntocom o iacutendio com os iacutendios eles descobriram o Brasil neh

porque quem descobriu o Brasil mesmo foi os iacutendios neh e jaacute como aquele pessoal

naquele tempo ele jaacute viviam tambeacutem acho que eles ajudaram os iacutendios descobrir o Brasil

tambeacutem acho que ( ) soacute um soacute sei dizer que os negros ele ele eacute (federal) neh

L1 humrum

L2 ele eacute (federal) ele ele tem todo direito com certeza ele tem o direito (estremo) soacute

que soacute aqui ateacute hoje a gente natildeo tem ( ) ainda o conhecimento de tanto direito que a gente

tem tem muitas coisas ainda escondido por debaixo do tapete que ainda natildeo chega no

conhecimento de muita gente que aacutes vezes ele eacute quilombola ele eacute NEGRO mas ele ainda natildeo

tem conhecimento dele ser negro ele ainda fica dizendo que ele natildeo eacute negro porque pra

tem gente assim que pensa que dizer negro eacute aqueles escravos daquele outro tempo ah

negro jaacute tempo de negro jaacute passou era aquele tempo aiacute natildeo aqui mesmo na minha

comunidade tem gente assim porque ele eacute negro eacute da mesma famiacutelia eacute da mesma mas ele

ainda natildeo pensa dizer que ele eacute negro porque ainda ainda taacute na mente dele que o negro eacute

daquele outro tempo

[

L1 eacute aquele negro escravo

L2 aquele negro escravo aquele negro pobre daqui que natildeo tem nada como ainda tem na

mente deles mas natildeo eacute o negro eacute eacute ele foi muito reconhecido neh e tem muito eacute soacute

que eu eu disse pra o (Isaldo) (Isaldo) tu tem muito mais conhecimento no dia que a Edilene

vir eu precisava que tu tivesse laacute porque eu sei que ele tem MAIS esse conhecimento (tem)

que agora no dia vinte de novembro a gente vai fazer uma atividade aqui neh (ontem eu

fui) dizer pra Nazareacute Nazareacute eu queria que cecirc fosse pra cecirc daacute uma palestra laacute na (tal)

comunidade saber muita gente saber que (eacute negro) e eu quero aprender tambeacutem mais e tem

muita gente que natildeo sabe nem um pouquinho o tanto que eu sei ( ) a gente vai fazer no dia

vinte de novembro eacute a nossa ( ) eacute soacute neh (a santa jaacute veio) aqui em casa aiacute a gente

pensou ia ser era pra ser amanhatilde dia vinte de novem de outubro aiacute eu fiquei pensaando e

disse Isaldo PORQUE porque o Isaldo era presidente era meu irmatildeo mas eu eu me

comunico muito com ele tudo que eu quero fazer eu pergunto pra ele Isaldo porque noacutes

num num faz no dia no dia vinte de novembro que eacute o dia da consciecircncia negra neh

aiacute ele disse natildeo sei natildeo vai ( ) no dia de semana eu digo ( ) meio de semana mas eacute eacute

feriado pra noacutes eacute feriado e po quecirc que a gente natildeo faz aiacute ele disse seraacute que vai daacute algueacutem

digo a gente convida outra comunidade quilombola neh que venham participar junto

com noacutes aiacute fizemos uma reuniatildeo por isso que eu digo que de vez em quando noacutes estamos

reunindo eacute eacute por causa disso neh aiacute fizemos uma reuniatildeo aiacute joguei a proposta aacuteiacute todo

mundo aceitou mas soacute meu marido que natildeo porque ele quer ( ) como eacute que uma pessoa vem

que eacute meio de semana digo vem sim ( ) se falado com o tempo ageitam um carro neh a

gente taacute chamando querendo chamar os ( ) (olha) que eu jaacute passei com o Dinho que eacute

secretaacuterio de cultura neh ele jaacute veio aqui logo quando ele ele ( ) scretaacuterio ele veio aqui

aiacute ele procurou qual era a atividade qual era qual era as (futuras) ( ) dizendo pra ele aiacute

ele disse que quando fosse dessa soacute anda ele queria pra mim participar com bem tempo

antes antes ele queria ele ia (ajudar) da maneira que ele pudesse mas isso aiacute tem

150

fevereiro parece marccedilo (aiacute quando foi) essa semana eu passei com ele ele disse que jaacute

correu atraacutes de umas ( ) pra ajudar neh aiacute tem aquele outro Anderson tambeacutem ele ele

sempre ele liga pra caacute diz que ele quer ajudar tambeacutem ele quer vir aqui ( ) PRA

AJUDAR E A GENTE TAacute VENDO ASSIM REUNINDO PRA VEcirc COMO Eacute QUE

NOacuteS VAMOS FAZER sobre alimentaccedilatildeo porque quando foi ontem noacutes tava nessa

reuniatildeo nessa reuniatildeo vem vaacuteria vem gente de vaacuterias comunidades quilombola porque

vem tipitimga vem (presidente de laacute) vem jacareacutequara ( ) vem da mariana que eacute noutro

municiacutepio mas vem tambeacutem neh ele faz parte da rede bragantina E AIacute EU QUANDO eu

lancei a proposta laacute na reuniatildeo todo mundo (quer vir) pra caacutetipitinga quer vir

jacarequara quer vir ( ) quer vir agora eu jaacute tocirc imaginando eacute alimentaccedilatildeo como eacute que noacutes

vamos fazer pra alimentaccedilatildeo desse povo de querer vir eu quero aiacute jaacute fica pensando neh aiacute

a mulher ( ) dona Maria disse que vir tambeacutem aiacute amanhatilde natildeo ( ) pode ter muita gente

eles disseram que natildeo ia daacute nigueacutem noacutes temos muita gente que quer vir aiacute noacutes vamos pensar

como eacute que noacutes vamos fazer ( ) que eacute o dia da consciecircncia negra tem muita gente aqui que

natildeo sabe ( ) assim neh ( )

[

L1 a senhora me

convida taacute

L2 jaacute taacute convidada ( ) (risos) jaacute taacute convidada a gente tem uns convites ali neh que a gente

preparou uns convites aiacute ficou pra mim sentar na comunidade vecirc como eacute que vai ser pra

gente entregar os convites mas (a senhora) natildeo esqueccedila jaacute anota aiacute (eu lhe aviso) dia vinte de

novembro

L1 vai ser o dia todo

L2 eacute o dia todo porque assim taacute na programaccedilatildeo primeiro porque a gente todo ano faz

a reza neh primeiro uma pequena procissatildeo pega a santinha numa casa se organiza aiacute

vai quando chega na igreja reza tem ano que noacutes reza aqui tem ano que ( ) o pessoal

gostam porque eacute mais ventilosa neh aiacute eles vem aqui aiacute reza daiacute serve o almoccedilo daiacute se

tiver um leilatildeozinho leilatildeo um bingo aiacute a tarde eacute partida de futebol como os meninos tem

essa ajuda aiacute capoeira eles vatildeo paresentar capoeira a Andresa ela disse hoje ah matildee eu vou

ajeitar as meninas pra noacutes apresentar um uma danccedila laacute uma danccedila de (carimboacute) aiacute a gente

taacute vendo assim ( ) ser um dia festivo um dia de todas as atividades se querer outros

gruupos doutra comunidade se tiver um grupo que queira apresentar alguma coisa vai ter

tambeacutem espaccedilo

L1 vou daacute uma ideias depois qual sentimento assim SENTIMENTO sentimento o quecirc

que a senhora sente quando pela palavra por essa por essa palavra que que que fala

quilombola

L2 assim o meu sentimento

L1 hum rum

L2 eu gostar eu gosto ( ) me se se sinto muito bem

L1 se sente

[

L2 ( ) bem com certeza

L1 taacute essa pergunta tambeacutem eacute um pouco jaacute houve algum tipo de des discriminaccedilatildeo

L2 jaacute

L1 sobre a sua descendecircncia sobre a palavra quilombola

[

L2 jaacute

L1 o que foi

L2 eacute agora que natildeo agora jaacute recente que natildeo neh mas antes quando a gente (informava)

( ) a a associaccedilatildeo aqui quilombola quando descubriram porque isso aiacute veio veio assim

descubrir que era que era quilombola porque na narcisa laacute e eacute a a matriz neh como

151

a minha matildee veio pra caacute aiacute laacute formaram a associaccedilatildeo aiacute o meu meu primo ficou dizendo

olha tem mais gente porque assim quilombola eacute assim adonde cecirc tem parente porque

noacutes tem irmatilde no guajaraacute cigano aqui pro pra paragominas (natildeo) ipixuna neh mas a

hora que eles chegar aqui o lugar deles tatildeo aqui aiacute esse subrinho da mamatildee ficou dizendo

olha eu tenho uma tia que ela mora aqui que era aqui na pimenteira ela mora daqui natildeo sei

quantos quilocircmetros se um dia ela vir pra caacute tem lugar dela aqui disse tem com certeza o

lugar dela taacute aqui ela natildeo nasceu aqui aiacute tudo bem quando foi um dia ele veio passear

aqui aiacute ele foi disse pra mamatildee que se ( ) contou laacute a situaccedilatildeo neh aiacute eu disse que tem que

que cecirc tem que cecircs tatildeo pra caacute mas (vocecircs fazem parte laacute da narcisa) o dia que cecirc quirer ir

laacute ai a mamatildee disse natildeo pra laacute eu natildeo vou laacute se um dia elas quererem vir aqui esse pessoal

quererem vir aqui pra gente conversar ( ) conversar a gente conversa aiacute num belo dia de

domingo chegou trecircs umas quatro pessoas ( ) aiacute chamaram a mamatildee e ele perguntaram se

a mamatildee queria ir pra narcisa a mamatildee disse que natildeo aiacute se (mas) a mamatildee fazia parte do

quilomBOLA da da da associaccedilatildeo laacute da narcisica AIacute soacute que (naquele) tempo tinha

celebraccedilatildeo aiacute o (coacutedigo) que ficava com ( ) neh ficava muito na frente assim aiacute ela disse

que aqui natildeo formava porque quilombola eacute uma pessoa eacute negro que sabe contar o que vem

das tradiccedilatildeo de primeiro e esses que tavam na frente assim era era gente branca e sabia

que eles natildeo sabiam natildeo tinham nada com a ver com quilombola ( ) neh aiacute ( ) daqui aiacute o

(chaga) disse eles natildeo disseram aqui pra noacutes disseram laacute pra o chaga ah chaga laacute parece que

vai ser difiacutecil formar uma associaccedilatildeo de quilombola porque laacute quem taacute na frente mais satildeo

os brancos e laacute natildeo tem nada a ver com com negro a gente faz pergunta eles natildeo sabem

nada ( ) mas aiacute no decorrer do tempo a gente foi foi pegando conhecimento (eles vieram

aqui) mas naquele tempo a gente era muito criticado naquele tempo ( ) muito criticado bem

dizer assim ah bora entrar na associaccedilatildeo ( ) ah ( ) entrar na associaccedilatildeo pra ser negro eu

natildeo quero ser negro vocecircs querem ser diziam neh ( ) aacutes vezes assim (minhas

cunhadas) querem ser negro eu natildeo quero ser negro eu natildeo vou entrar na associaccedilatildeo

negoacutecio de ser negro negro neh escravo aiacute eles comeccedilavam assim fazer caccediloagem

diziam pra ser pra ser pobre mais de que era aacutes vezes eles diziam neh ser negro pra ser

pobre mais de que eacute noacutes jaacute somos pobres ainda ser mais pobre ( ) natildeo era assim natildeo aiacute desse

tempo agora agora recente natildeo a gente natildeo vecirc mais essas coisas mas logo no comeccedilo a

gente via dizia que negro era aquele um que andava sujo que andava com a unha suja que

andava com o cabelo sem pentear neh ((risos)) tinha gente que dizia aiacute eu jaacute ouvi muito

agora natildeo agora esses tempos natildeo ouvi mais acho que jaacute chegou no conhecimento neh

aquele que natildeo tinha nada pra comer ((risos))

L1 eacute com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas a senhora conhece reconhece que

vocecircs tem esse direito direitos

L2 eu conheccedilo um pouco

L1 quais

L2 assim a gente tem direito ((pigarreio)) assim numas pro porque assim eu natildeo

sei quase lecirc neh mas do pouquinho que eu sei a gente pega o estatuto aiacute um estatuto que

que foi tirado em on em Beleacutem foi feito um estatuto neh a gente tem vaacuterios direitos a

gente que AINDA NAtildeO CONHECE bem qual eacute os direitos que a gente tem e aiacute quando a

gente faz reuniatildeo sempre eu digo gente a gente tem que pegar aquele estatuto pra gente lecirc pra

gente discubrir qual eacute o tanto direito que a gente tem nos noacutes tem tanto direito mas noacutes veve

escondido laacute noacutes veve ainda natildeo taacute no conhecimento nosso pra saber o tanto direito que

a gente tem porque se a gente descobrir o tanto direito que a gente tem o direito que a gente

tem eacute um direito muito grande neh Eacute MUITO

[

L1 vocecircs tem o estatuto

L2 tem

L1 hum pra comunidade toda

152

L2 isso

L1 quem eacute que que ler esse estatuto fica na matildeo de quem

L2 aqui em casa taacute aqui mas sempre quando eu digo assim olha bora fazer uma reuniatildeo pra

lecirc o estatuto pra todo mundo mas sempre eacute naquela correria mai a gente vai lecirc custa muito

bora cuidar nas outra coisas no que tem fazer aiacute

L1 como vocecircs conseguiram esse estatuto

L2 noacutes noacutes fizemos assim neh da comunidade na comunidade escrevemos o que

era que noacutes queria dentro da comunidade qual era as leis que noacutes ia botar aiacute foram

escrevendo e levaram pra registrar

L1 ah eacute o estatuto

L2 da associaccedilatildeo

L1 da comunidade

L2 da comunidade sim da associaccedilatildeo

L1 ah da asso-ci-a-ccedilatildeo da pimenteira

[ [

L2 da associaccedilatildeo isso hum rum

L1 dos quilombolas da pimenteira

L2 isso

L1 hum natildeo eu digo assim o estatuto que eu falo eacute da da da de quem eacute

quilombola

L2 natildeo

L1 esse a senhora natildeo conhce

[

L2 natildeo natildeo esse daiacute natildeo

L1 hum agora sim existe alguma associaccedilatildeo na comunidade e eu queria que a senhora

falasse da associaccedilatildeocomo foi que veio essa ideia da da associaccedilatildeo como foi que surgiu

como foi que ces criaram por que criaram

L2 eacute eacute essa aiacute comeccedilou a gente a gente tinha jaacute era comunidade neh antes da

associaccedilatildeo era comunidade aiacute veio um um professor da universidade era ateacute cardoso o

nome dele aiacute ele aiacute comeccedilou (entrar) pequenos projetozinho assim pra caacute mas assim

feito jaacute assim pouquinho natildeo era que nem primeiro fez um projeto do duma casa de

farinha atraveacutes do da pastoral da crianccedila natildeo natildeo natildeo existia associaccedilatildeo foi um pequeno

projeto ( ) da pastoral da crianccedila aiacute depois um projeto de nesse tempo da casa de forno

veio um um caititu pra ralar mandioca e um motosserra aiacute depois um pequeno projeto

pro gado mas tudo da pastoral da crianccedila neh a gente faz aquele grupo de mulheres de

pessoas pra pra fazer um grupo e fazer as vaacuterias assinaturas pra ir pra laacute e o projeto vir

mas natildeo era associaccedilatildeo ningueacutem tinha nada de associaccedilatildeo estatuto nem ata nem nada ai

depois veio um zinho de do pimental um pequeno pimental neh umas estaquinhas

assim pra gente formar um (feijoalzinho) aiacute foi esse tempo foi que o professor cardoso

veio comeccedilar ( ) ele era teacutecnico neh pra daacute assistecircncia e aiacute ele comeccedilou a dizer olha porque

vocecircs num num formam uma associaccedilatildeo ( ) (vocecircs devem formar uma associaccedilatildeo) que se

vocecircs formarem uma associaccedilatildeo vocecircs tem vocecircs tem mais forccedila pra puxar as coisas mais

aiacute a gente comeccedilava a perguntar assim nesse tempo o ( ) ele ele era muito bem

introsado aqui com noacutes agora natildeo agora ele separou-se neh teve uma desavenccedila aiacute ele

nunca mais participou de nada aqui aiacute ele a gente comeccedilava a fazer pergunta pra ele

professor como eacute que faz a associaccedilatildeo eacute pra gente formar AIacute ELE comeccedilou a incentivar a

gente olha a gente faz a gente comeccedila a fazer umas pequenas reuniAtildeO na reuniatildeo a

gente depois que jaacute po jaacute tiver um bom conhecimento da reuniatildeo a gente vai escolher

o o presidente o secretaacuterio o tesoureiro aiacute vai daacute uma mensalidade que eacute pra gente

fazer a ATA QUE Eacute PRA REGISTRAR essa ata e a a associaccedilatildeo fica registrada e foi aiacute

que noacutes comeccedilamos neh sentava aiacute bora descutir como eacute que noacutes vai fazer pra noacutes ter

153

ter seguranccedila pra gente ficar mais junto aiacute fundemo a associaccedilatildeo foi aiacute isso aiacute que eu

tocirc dizendo que tem o estatuto desse tempo neh aiacute quem eacute o o presidente tal dia noacutes faz a

reuniatildeo pra escolher o presidente aiacute foi foi meu irmatildeo que foi a primeira vez e eu fiquei

como tesoureira e o ( ) era secretaacuterio e aiacute fomos formando a associaccedilatildeo quando a

gente jaacute tinha conhecimento (do que) era quilombola aiacute aiacute aa Nazareacute com Vicente jaacute tava

muito bem colocado conhecimento neh aiacute eles eles foram ajudando noacutes ateacute agora

ainda ainda somos muito mais que parceiro ( )

[

L1 ela

hoje tem c-n-pj

L2 a nossa comunidade

L1 natildeo a associaccedilatildeo

L2 tem

L1 taacute tudo ok

L2 taacute natildeo isso aiacute que eu digo que taacute atrasado neh ai taacute atrasado ateacute a gente pagava

ficou pagando vaacuterios anos quando foi nessa nessa mudanccedila porque assim na nossa

no nosso estatuto ela ( ) nenhum presidente podia passar quatro anos neh aiacute passou os

quatros anos fizemos a eleiccedilatildeo de NOVO foi ele DE NOVO ( ) assumiu de novo aiacute

depois venceu os quatro anos aiacute comecemos e pensar quem eacute que fica aiacute fica naquela

confusatildeo eu natildeo quero outro tambeacutem ah eu tambeacutem natildeo quero aiacute pronto vamos ( ) duas

vezes por ano duzentos reais pra noacutes pagar laacute anual neh aiacute nisso aiacute fomo esquecendo

fomo esquecendo de de de pagar os nossos deacutebitos aiacute quando EU fizemos a eleiccedilatildeo de

novo aiacute foi eu AIacute PRA noacutes reconhecer essa essa essa ATA da nossa nova diretoria

passou mais de ano essa multa jaacute tava laacute neh passou mais de ano soacute pra reconhecer quando

noacutes fomos reconhecer tivemos dinheiro PRA reconhecer a ata mas natildeo tivemos pra noacutes

pagar a nossa a nossa cnpj laacute na ( ) e nisso aiacute foi indo e aiacute agora eu jaacute corri com esses

documentos pra pra fazer saber pra pra a gente saber quanto eacute que noacutes deve

quanto eacute que a nossa pendecircncia o valor ainda natildeo foi descoberto tem vaacuterias coisas que

a gente eacute uma multazinha dum canto eacute uma multazinha do outro e a gente ainda natildeo

descobriu e hoje temos falta do recurso neh aiacute a gente jaacute ateacute sentou uma vez pra pensar

pra tirar uma madeira neh (vender) pra poder fazer os pagamanetos dessas dessa

dessa desse cnpj ( )

[

L1 haacute quanto tempo a a associaccedilatildeo esxiste desde

quan do dia que ela foi criada

[

L2 eacute eacute isso aiacute ela foi craida em em abril de dois mil e cinco parece que foi em

dois mil e cinco NAtildeO MAS ela foi registrada em dois mil e seis noacutes noacutes formemos dois mil

e conco neh aiacute passou aqueles tempos todo a gente se organizando daqui ela foi registrada

em dois mil e sete uma coisa a gente montar uma coisa a gente faz vaacuterias reuniatildeo neh

daacute certo pra tal dia daacute certo ( ) dia aiacute faz uma reuniatildeo aacutes vezes falta o presidente falta o

o o o secretaacuterio aiacute natildeo taacute bora deixar outro dia aiacute nisso o tempo vai passando mas ela

foi registrada em dois mil e ( )

L1 vocecircs jaacute conseguiram alguma coisa atraveacutes da associaccedilatildeo

L2 jaacute

L1 o que

L2 jaacute jaacute conseguimo um accedilude primeiro essa saber primeiro foi o accedilude neh foi

um projeto esse accedilude foi soacute que foi assim em parceria foi aqui e jacareacutequara porque o

tempo que formou aqui formou jacareacutequara aiacute a gente foi feito um projeto soacute para as duas

comunidades a a aqui aqui foi um accedilude laacute nem sei o que foi esse accedilude a gente ele ( )

fazer fez muito bem cada cada um um um mecircs um dia fica na responsabilidade de um

154

neh pra colocar os tratar dos peixes mas sempre fica aquilo sempre tem um soacutecio que

que natildeo nem liga pra ele tanto faz a gente trabalhar em comunidade negoacutecio de

associaccedilatildeo eacute eacute meio pesado eacute meio difiacutecil carece da gente ter muita paciecircncia aiacute vai com

a gente ia (despescar) o accedilude neh a gente juntava todo mundo iam pra laacute e era uma

danaccedilatildeo de menino sei que pegava os peixes a gente repartia noacutes ainda fomos umas trecircs

vezes ainda em santa luzia ( ) neh aiacute

L1 esse accedilude eacute aqui proacuteximo

L2 natildeo ele fica aqui ele ele secou ele esbandalhou deixa eu contar o restinho dele aiacute neh

quando dava chuva ele a gente tinha que ter um cuidado laacute porque ele tapava a boca do

cano carece da gente taacute limpanndo laacute quando se descuidava ele vazava por cima quando natildeo

ele queria estourar aiacute quando foi num dia fomos pegar peixe quando terminemo de

pegar o peixe que eles terminaram laacute laacute vem o tempatildeo foi chuva que entrou pela noite

chuveu (ainda) aiacute o meu irmatildeo esse (Isaldo) ainda ficou laacute lutando pra tapar neh e gente bora

ficar aqui passar essa chuva aqui porque noacutes natildeo vamos daacute conta desse accedilude ele jaacute tava

muito cheiatildeo mas os outros nem quase se incomodaram estavam mais ( ) neh e ai

ele ainda lutou lutou mas ele natildeo deu conta que quando foi de manhatilde ele amanheceu

estourado ESTOURADO mesmo grande grande que assim aiacute noacutes ainda fizemos vaacuterios

motiratildeo pra noacutes ir laacute manual braccedilal era homem era mulher era menino tentemo tapar

ele mas natildeo firmou quando veiio a chuva ( ) foi manual mesmo neh aiacute natildeo firmou estourou

taacute laacute estourado a gente jaacute pediu vaacuterias vezes assim fazer outro projeto pra gente

(reconseguir) mas ainda natildeo deu certo natildeo aiacute com noacutes com essas pendecircncias que noacutes tem e

agora que noacutes tava noacutes fizemos um projeto que veio um projeto daqui natildeo sei se vocecircs

tinham conhecimento daquele (fundo) ( )

L1 natildeo ( ) fundo

L2 fundo do (dema) neh eu tenho um um projeto que ( ) especificamente com a

indiacutegena e quilombola neh a gente fez mas a teacute hoje a gente natildeo tem seguuranccedila se foi

aprovado por causa dessa tendencia que a associaccedilatildeo taacute pendente

L1 hum rum dema neh

L2 fundo dema

L1 agora seguindo aqui o que a senhora acha da pimenteira da comunidade da

pimenteira

L2 assim que eu acho assim de de de de melhoria de ( )

L1 natildeo o quecirc que a senhora acha assim pensa da comunidade gosta natildeo gosta o quecirc

que a senhora o que pensa daqui

L2 natildeo eu gosto gosto acho bom soacute tem um uma coisa que natildeo que natildeo gosto muito

eacute eacute sobre obediecircncia aqui neh que nem todos aacutes vezes os soacutecios mesmos

desobedecem alguma coisa que a gente aacutes vezes conversa na reuniatildeo anota tudo

bonitinho aiacute a pessoa passa por cima da lei que a gente coloca que nem assim porque

assim aqui eacute eacute noacutes se diz coletivo neh nossa terra eacute coletiva a gente num tempo desse

que eacute o tempo eacute a evocadora do accedilaiacute a gente fica dizendo olha gente pra noacutes ter o maacuteximo

cuidado de com accedilaiacute aquele quando subir naquele naquela aacutervore naquele cacho que taacute

verde a gente ( ) deixa laacute que o outro vem e tira mas ainda tem gente que aacutes vezes soacute taacute

verde ele joga pedra joga no chatildeo aiacute nem ele nem o outro isso aiacute noacutes tem toda nossa

reuniatildeo a gente fala mas ainda natildeo conseguimos isso aiacute eu natildeo gosto disso daiacute natildeo outra eacute eacute

no veneno no garapeacute neh noacutes jaacute lutemos muito jaacute pelejemos bora deixar de botar aqui

botavam timboacute neh no no garapeacute a gente ( ) esse daiacute taacute quase eliminado esse daiacute taacute mais

ou menos natildeo taacute muito neh ainda tem gente que coloca mas vem de outra comunidade

no escuro de noite aiacute bota o pessoal vatildeo laacute eacute soacute peixe morto mas natildeoo eacute da nossa (tem) o

garapeacute aiacute vem gente doutro canto que a gente natildeo sabe nem quem eacute ( ) agora o accedilaiacute eacute da

proacutepria comunidade eacute noacutes mesmos os proacuteprios ( ) satildeo assim noacutes aqui pra noacutes noacutes tira quase

soacute pra tomar aqui dessa desse desse coletivo noacutes tira pra tomar ALGUMAS vezes que a

155

gente vende agora pra vender assim noacutes tem o nosso terreno particular neh que fica haacute

dois quilocircmetros daqui pra vender sempre eles tiram de laacute tempo da colheita de murubru

que a gente vende tambeacutem neh eacute outra outra eacute outra eacute quase que nem o (murumuru)

QUE NEM o accedilaiacute um jaacute vai entra na aacuterea do outro outro jaacute vai disque teve um tempo que

carregaram ateacute o jaacute tinham deixado juntado o outro foi laacute carregou (risos) e a gente

fica dizendo gente bora bora ver a aacuterea eacute grande eu quando porque qaundo foi pra

se cadastrar no murumuru soacute eu e o Isaldo que se cadastremo neh aiacute eu jaacute tava na aacuterea

coletiva que era soacute noacutes depois que todo mundo quase aqui se cadastrou eu natildeo ajunto mais

noacutes ajunta do nosso terreno eu jaacute deixo aqui pra eles porque os outros natildeo tem terreno

particuular soacute eacute eu e o meu irmatildeo que tem outro (outro) terreno particular o resto tudo

tudo atividade deles eacute dentro dessa dessa aacuterea coletiva neh

L2 hum rum

L1 e a gente sempre fica dizendo olha bora escolher uma aacuterea que fique mais perto da

nossa roccedila da nossa casa pra tu ir deixa daquele outro pro outro mas eles sempre eles ainda

ficam entrando na na aacuterea ningueacutem tem terreno de dizer esse aqui eacute o meu mas a gente

deve respeitar neh a aacuterea o que fique mais perto da casa do outro MAS natildeo acontece

isso e eacute uma coisa isso daiacute eu natildeo gosto tambeacutem porque num fica desarespeitando

SOacute QUE num daacute briga natildeo daacute assim confusatildeo mas acuteacuteas vezes ficam dizendo ahh eu

tinha ttal coisa assim e assim quando eu fui olhar rapaz jaacute tinham levado meu cacho de accedilaiacute

foi olhar em tal accedilaiacutezal assim jaacute tinham levado eu passei laacute no no tal accedilaizal assim

assim porque cada qual tem os seus nomes assim passei laacute adonde natildeo sei adonde rapaz

laacute eacute um estrago de accedilaiacute estrago de accedilaiacute que tava cada cacho grande jogado laacute no chatildeo

mesma coisa eacute os ( ) daiacute neh que natildeo eacute bom e eacute gente daqui mesmo proacutepprio satildeo soacutecio

da natildeo eacute doutro canto natildeo da da associaccedilatildeo da comunidade

L1 tens orgulho da comunidade

L2 tenho

L1 por que

L2 porque ela eacute reconhecida ( ) eacute reconhecida ela eacute muito falada nessa comunidade

muito muito mesmo muita gente jaacute jaacute jaacute veio aqui muita gente e atraveacutes da associaccedilatildeo

eu jaacute fui tambeacutem vaacuterios canto fuui muito encontro em Beleacutem jaacute foi no em Acaraacute

municipiacuteo de Acaraacute jaacute fui em Tomeacute accedilu atraveacutes da associaccedilatildeo eacute por isso que eu tenho

orgulho

L1 ok agora a gente vai pra uma outra etapa uma etapa da sua aacuterea faz uso das plantas

medicinais a senhora utiliza tambeacutem

L2 com certeza

L1 quem passou esse conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo das plantas

L2 hum rum

L1 pra senhora

L2 a minha voacute e a minha matildee minha voacute da parte da minha matildee da os meus avoacutes da

parte do meu pai natildeo conheci nenhum agora da parte da minha matildee conheci todos dois

L1 quem tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda quando a senhora tem um

problema de sauacutede eacute e decide procurar ajuda a quem recorre

L2 olha eu mesmo quando a sauacutede problema meu mesmo

[ [

L1 sua sua

L2 eu recorro a eu mesmo ateacute agora graccedilas agrave Deus ainda natildeo ainda natildeo deu deu

recorrer a ningueacutem eu mesmo neh com meus

L1 meacutedico

L2 ateacute agora natildeo ateacute agora eu jaacute fui na matildeo de meacutedico pra cirurgia pra me operar

neh natildeo ter mais

[

156

L1 de que

L2 pra natildeo ter mais

L1 filho

L2 hum rum a minha caccedilula eu eu queria ser operada aiacute foi mas de laacute pra caacute FOI A

UacuteNICA VEZ que ateacute agora tocirc com cinquenta e um anos mas num AacuteS VEZES faccedilo umas

consultinha assim quando a doutora vinha uma uma doutora aiacute ( ) aacutes vezes ela passava um

remeacutedinho mas eu quase nem tomava natildeo chegava assim a tomar

L1 ok como obteacutem as plantas que utilizacomo eacute que a senhora consegue essas plantas

L2 como eacute que eu consigo

L1 hum run

L2 eacute aacutes vezes eacute arrumando com outro colega trocando neh aacutes vezes eu natildeo tenho

daquela daquela planta aacutes vezes eu consigo ( ) troco como a dona Nazareacute a dona

Nazareacute ela ela tem muita planta ela tem muita ela eacute muita chegado neh aiacute a gente se

ela natildeo tem da marca que eu tenho eu jaacute dou daquele que eu tenho ela jaacute me ( ) aquele um

que tem que agora a gente taacute fazendo um monte de mistura natildeo sei se vocecircs tem

conhecimento da ( ) mistura neh

L1 hum rum

L2 aiacute a gente taacute fazendo assim ela laacute ela ela tem a semente de girasol e o farelo MAS

ela tem o farelo do poacute do arroz aqui na na comunidade eu jaacute levo a a a o poacute da casca

da da maca da folha da macaxeira da o gengili aiacute de laacute a gente jaacute faz todo junto jaacute

mistura jaacute eacute uma troca neh que a gente ( ) e aiacute eacute muito bom que ela a dia vinte e sete

vinte e oito de setembro noacutes tava num encontro do alimentaccedilatildeo alternativa aiacute era

um doutora clara ela eacute japonesa do japatildeo e aiacute ela tava dizendo quem come alimento

taacute comendo alimentaccedilatildeo e taacute comendo remeacutedio porque jaacute taacute comendo aquela alimentaccedilatildeo

que jaacute saiu do remeacutedio jaacute taacute ( ) mistura que ela ensinou neh e aiacute ela ficou ensinando

vaacuterias coisas que noacutes temos aqui que a gente deixa se perder aiacute joga fora e ela disse

que enquanto vocecircs tatildeo comendo aquilo vocecircs jaacute estatildeo se prevenindo vocEcircs jaacute tatildeo comendo

remeacutedio num carece vocecircs taacute laacute na farmaacutecia comprando remeacutedio pra vocecircs vocecircs jaacute tatildeo

comendo tatildeo se alimentando e tatildeo e eacute como eacute muita mistura ela ensinou tucupi que ela

ensinou que o tucupi eacute muito bom todo tipo de verdura ela ensinou e a gente a gente taacute

fazendo essa essa experiecircncia com a nazareacute e aiacute taacute dando certo ateacute agora muita mistura

noacutes tamo fazendo ela taacute vendendo MUITO MUITO muito

L1 ok quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia

L2 eacute o elixiparigoacute arruda a catinga de mulata a babosa tambeacutem mastruz

L1 hum rum

L2 corama

L1 hum rum

L2 (risos) vamos correr agora daqui em

L1 parece

L2 essas satildeo as plantas as

[

L1 satildeo as que mais usam neh

L2 hum rum isso natildeo tem aquele amor crescido tambeacutem ( )

L1 quais satildeo as partes da planta ou das ervas que a senhora mais utiliza satildeo utilizadas

L2 eacute eacute assim eacute das eacute as folhas e as casca mas dessa dessa uma que eu tocirc dizendo toda eacute

a folha dessas uma que eu disse agora ( ) pequenas soacute daacute de usar as coisas ( )

[

L1 a

maioria satildeo folhas e cascas

L2 isso

157

APEcircNDICE C ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Maria de Nazareacute

Reis

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA

CAMPUS DE BRAGANCcedilA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA

FICHA DE ENTREVISTA COM A SENHORA NAZAREacute

A) Entrevistado

1Nome

2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino

3 Endereccedilo

4 Idade(anos)

6 Naturalidade

7 Ocupaccedilatildeo principal

8 A Principal fonte de renda

9 Escolaridade

10 Haacute quanto tempo vive em Santa Luzia do Paraacute

11 Tens envolvimento com algum oacutergatildeo filantropia ou associaccedilatildeo Qual

12 Qual a sua origem De onde veio

13 Como conheceu a comunidade de Pimenteiras e haacute quanto tempo

14 Qual seu envolvimento com a comunidade

15 O que pensas da comunidade de Pimenteiras

16 Que significado ou representaccedilatildeo a comunidade de Pimenteiras possui para a senhora e

para o CEDENPA

17 Como estaacute o processo de titularidade da terra de Pimenteiras

18 Quais benefiacutecios a comunidade ganharaacute com a titularidade da terra

19 Na sua visatildeo o que marca a identidade da comunidade

20 Qual sua relaccedilatildeo com a comunidade e com os moradores da regiatildeo

B) Termo Quilombola

1 Como ocorreu o descobrimento sobre a descendecircncia quilombola dos moradores de

Pimenteiras

2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc

3 Na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de que

sejam descendentes de quilombolas

4Nos relatos dos moradores houve algum tipo de discriminaccedilatildeo contra eles sobre a

descendecircncia Quilombola

5 Com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas os moradores reconhecem os direitos que

possuem sobre ser Quilombola

6 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade

7 A senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre

essa Associaccedilatildeo

8 O que acha da comunidade da Pimenteira

9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc

10 Como procede a prova de ser ou natildeo quilombola Tem relaccedilatildeo com preservaccedilatildeo da

cultura para ser reconhecido

158

11 Houve grupos que desistiram do processo de identificaccedilatildeo devido a ausecircncia das

caracteriacutesticas culturais

12 Em Santa Luzia do Paraacute quais comunidades satildeo consideradas quilombolas e quais

possuem a titulaccedilatildeo da terra

13 O que caracteriza um quilombola

14 Qual o significado de reconhecer comunidades quilombolas Suas origens

15 Ser quilombola traz ainda caracteriacutestica de discriminaccedilatildeo Desigualdade racial

16 Quais outros direitos sem ser o da terra satildeo legiacutetimos aos quilombolas

17 Com relaccedilatildeo agraves Universidades quais contribuiccedilotildees podem ter para as comunidades

tradicionais

C) Plantas Medicinais

1 A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) incentiva os uso de medicamentos vindos de

produtos naturais devido a maioria da populaccedilatildeo natildeo ter acesso aos medicamentos de

farmaacutecia Nesse contexto a senhora acha que as ervas satildeo importantes

2 As ervas e as plantas servem para quecirc

3 Na sua concepccedilatildeo porque tantas pessoas satildeo atraiacutedas pela praacutetica de uso medicinal das

plantas

4 A senhora faz uso de chaacutes para o tratamento de doenccedilas

5 Muitos meacutedicos natildeo apoiam o uso de medicamentos caseiros Qual sua opiniatildeo

6 Haacute comunidades que trabalham com o uso das ervas medicinais

7 Como soube do uso das ervas pelos moradores de Pimenteiras

8 Na sua concepccedilatildeo o que marca a identidade da comunidade de Pimenteiras Satildeo as plantas

medicinais Satildeo os remanescentes de quilombolas Haacute outra caracteriacutestica

9 A senhora faz uso das plantas medicinais

10 Sobre a catalogaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinaisqual sua relaccedilatildeo ou influecircncia

nesse contexto

11 Como ocorreu o processo de catalogaccedilatildeo dos termos e por quecirc

12 Haacute moradores da comunidade de Pimenteiras que participam da cooperativa e produccedilatildeo

de medicamentos caseiros Como eacute esse processo

13 A senhora realiza alguma atividade de compra ou venda das plantas e produtos caseiros

14 A senhora conhece algum caso de cura de doenccedila atraveacutes do uso caseiro das plantas

15 Acredita no poder das plantas

16 Quanto aos produtos das farmaacutecias o que pensas

17 O que eacute a garrafada e a multimistura

18 Qual a relaccedilatildeo com a moradora Domingas E os trabalhos que ela mesma produz

19 O que eacute o trabalho com o bioenergeacutetico e porque acabou

20 Qual envolvimento da associaccedilatildeo com as plantas medicinais

21 O trabalho com as plantas medicinais eacute praticado apenas pelas mulheres Os homens natildeo

se envolvem Por quecirc

159

APEcircNDICE D - Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Maria de Nazareacute Reis entrevista

no dia 26 de setembro de 2014

L1 seu nome

L2 Maria de Nazareacute Reis de ( )

L1 data de nascimento

L2 vinte e cinco do sete de mil novecentos e cinquenta e dois

L1 endereccedilo

L2 rua tiradentes sessenta e dois

L1 idade

L2 sessenta e dois

L1 naturalidade

L2 beleacutem do Paraacute Brasil

L1 a sua ocupaccedilatildeo principal

L2 eu sou a minha prof eu sou formada neh como engenehira agrocircnoma e a minha

ocupaccedilatildeo eacute acessoria aos grupos produtivos grupo de mulheres grupos de associaccedilotildees

cooperativas de agricultores familiares dentro da rede bragantina

L1 entatildeo eacute em que trabalha essas ( )

L2 como

L1 em que trabalha

L2 eacute principalmente na aacuterea alimentar na aacuterea de nutriccedilatildeo na aacuterea de ( ) na aacuterea de

organizaccedilatildeo popular na aacuterea de de incentivo a produccedilatildeo (agroecoloacutegica)

L1 haacute quanto tempo mora em santa luzia

L2 santa luzia dois mil e cinco para dois mil e catorze nove anos neh a parti da data que

eu casei fiquei aqui ((risos))

L1 tens contatao com algum oacutergatildeo ou filantropia

L2 sim

L1 qual

L2 oacutergatildeo eacute centro de estudo de defesa do ( ) do Paraacute a filantropia tem obras sociais da

diocese de Braganccedila tem (imenso) neh vaacuterios ((risos)) melhor dizendo natildeo eacute imenso natildeo

vaacuterios

L1 qual a sua origem de onde de onde a senhora veio

L2 eu sou de Beleacutem nasci e me criei em Beleacutem mas desde que me formei sempre

trabalhei em comunidades rurais agricultura familiar (me formei) em mil novecentos e

sessenta e seis

L1 como conheceu a comunidade pimenteira e haacute quanto tempo

L2 eu (queria) nove anos neh quando eu conheci a partir de quando eu vim morar pra caacute

aliaacutes foi ateacute antes de nove anos porque como temos a escola neh a escola de alternacircncia

para os jovens agricultores em dois mil no ano dois mil quando a gente iniciou teve

dois alunos da pimenteira que foram aluno da escola hum e aiacute jaacute cheguei dentro da da

praacutetica da pedagogia da alternacircncia noacutes visitamos as familias desses alunos na comunidade

entatildeo a partir daiacute eu conheci a comunidade

L1 qual eacute o seu envolvimento com a comunidade

L2 como acessoria neh nos grupos produtivos como eu falei que a a associaccedilatildeo ela faz

parte ela integra a rede bragantina da ( ) solidaacuteria e ela dentro dessa integraccedilatildeo a

gente eacute eacute como acessoria dentro do do por ela ser uma comunidade quilombola tem

um uma referecircncia dentro do centro de estudo e defesa do meio do Paraacute que eu

represento aqui na regiatildeo neh entatildeo atraveacutes do sedenpa a gente faz essa acessoria

viabiliza alguns alguns momentos projeta poliacuteticas puacuteblicas que satildeo disponiveis

especiacuteficas para essas comunidades

L1 o que a senhora acha da comunidade de pimenteiras

160

L2 em que sentido

L1 eacute o quecirc que ela o quecirc que a comunidade traz assim na representaccedilatildeo o quecirc que

ela representa assim pro sedenpa o quecirc que ela representa pra senhora assim ela tem algum

significado

L2 olha ela a comunidade ela ela eacute significativa ainda em biodiversidade neh a

gente tem rio tem ainda uma floresa ainda tem modo de produccedilatildeo ((tosse))eacute eacute ainda

tem o modo de produccedilatildeo muito assim pro proacuteximo da produccedilatildeo sustentaacutevel neh entatildeo

eacute muito significativo nesses aspectos que vamos dizer se afinam com o projeto que o

sedenpa defende que a escola ( ) defende neh o projeto de sustentabilidade eacute tendo

como ator e protagonista os agricultores e as agricultoras familiares

L1 entatildeo a senhora tem orgulho da comunidade

L2 sim ela eacute realmente uma comunidade que vale a pena investir o conviacutevio tambeacutem (eu

dou soacute apoio) laacute para eles ((risos))

L1 e como estaacute o processo de titularizaccedilatildeo da terra

L2 o processo taacute em andamento neh ainda nem a gente sabe

[

L1 natildeo finalizou

L2 ainda natildeo finalizou a gente sabe que eacute muito demorado neh e agora no final do mecircs de

agosto a gente enviou uma carta pra associaccedilatildeo noacutes juntos JUNTOS com a associaccedilatildeo

neh a a entregamos uma protocolamos uma carta no incra pra que eles viessem na

comunidade pra dizer em que peacute estaacute o processo porque o asseacutedio sobretudo nessa eacutepoca

de roccedilado muito grande os fazendeiros estatildeo confinante colocam fogo o fogo entra na

mata neh muitas vezes gente da proacutepria comunidade que natildeo tem assim eacute eacute tem a

cabeccedila do opressor neh como Paulo Freire costuma dizer aiacute querem fazer negociaccedilatildeo com

terra ainda bem que a comunidade tem lideranccedilas fortes neh que consegue

enfrentar e freiar mas realmente as titulaccedilatildeo eacute uma uma uma questatildeo assim muito

latente que eacute eacute facilita essas esses desvios neh de de de pessoas da comunidade

querendo vender terra onde confinantes que pretendem de uma form ou de outra tentar

enfraquecer a comunidade expulsar enfim

L1 o que a comunidade vai ganhar com essa titularizaccedilatildeo

L2 eu acho que ganha principalmente a confianccedila neh de de a confianccedila de ser donos

legais da terra e de jaacute se jaacute se sentem donos da terra mas hoje tudo tudo vocecirc tem que

ter papel neh ((risos)) entatildeo eu acho que isso vai ser muito positivo pra eles neh quando

tiver essa titulaccedilatildeo

L1 e o que marca assim a identidade de pimenteira assim na sua visatildeo

L2 na minha visatildeo eacute a

L1 quando fala em pimenteira assim

L2 lembra assim como eu jaacute falei pra vocecirc neh a biodiversidade O USO dessa

biodiversidade neh embora que jaacute tivesse um pouco assim sendo relegada neh

pelos in pelas pessoas do locais devido a essa essa ausecircncia de incentivo ausecircncia de

poliacuteticas puacuteblicas neh agora que comeccedilam despertar pra valorizar o artesanato que essas

pessoas produzem ah o que existe na mata que eles podem ainda taacute utilizando como

pra sua sauacutede pra seu alimento entatildeo isso daacute daacute marca a pimenteira neh e graccedilas agrave deus

a gente taacute conseguindo resgatar com o apoio da rede bragantina do sedenpa da escola

atraveacutes da formaccedilatildeo e de curso e de pessoas que a gente traz aqui eles participam as

mulheres os jovens os adultos isso tem ajudado eles perceberem que eles estatildeo no meio

ainda de uma RIQUEZA neh que ainda tem viabilidade sustentabilidade as

geraccedilotildees que ali nascem enfim

L1 qual eacute a sua relaccedilatildeo com os moradores da comunidade

L2 como assim

L1 como eacute o acontato se tem um contato direto se eacute um contato

161

[ [

L2 olhe eacute o contato a

gente procura sempre canalizar via associaccedilatildeo via lideranccedila por aqui pra natildeo

individualizar eacute a gente cecirc sabe como eacute a as pessoas o ser humano tem tendecircncia a se

aproximar dialogar sentar com aqueles com que eles se afinam aqueles que a gente natildeo

simpatiza a gente nem olha ((risos)) pelo contraacuterio neh entatildeo a gente procura fazer

TER como (ouvir) isso eacute eacute problemaacutetico quando isso acontece neh vocecirc conhece laacute a

comunidade vocecirc sabe que ali tem lideranccedilas que ao longo dos anos sempre ficaram

assim se tipo coman-dan-do a comunidade neh e que inclusive natildeo satildeo natildeo satildeo da do

da da da raiz das pessoas que chegaram laacute natildeo saotilde da da da famiacutelia tronco dos

dos negros neh dos afrodescendentes que eles estatildeo mas que tinham o controle muito

grande era uma celebraccedilatildeo era fazia um fazia outro neh e isso ainda eacute eacute

preocupante neh entatildeo a gente procura ter como referecircncia a associaccedilatildeo a gente natildeo manda

um o convite ou chama fulano presidente ( ) da associaccedilatildeo vem aqui natildeooacute isso aqui eacute

pra associaccedilatildeo AHH ASSOCIACcedilAtildeO entatildeo taacute se referindo ao conjunto das pessoas que estatildeo

ali organizadas neh eacute claro que na comunidade alguns natildeo estatildeo participando da

associaccedilatildeo mas pra noacutes a referecircncia eacute a associaccedilatildeo esses que estatildeo fora olha tatildeo fora por

que querem por sua livre e espontacircnea vontade tambeacutem natildeo eacute obrigado a entrar ateacute

porque foram vocecircs que criaram POREacuteM a referecircncia pra noacutes eacute a associaccedilatildeo eles tem sido

ateacute dificultoso porque infelizmente no oacutergatildeo no no nas no no nos oacutergatildeos puacuteblicos

neh seja do municiacutepio seja do estado muitas vezes se cria essa relaccedilatildeo pessoal pega

aquela lideranccedila neh ahh entatildeo a gente fica sempre batendo olha eacute associaccedilatildeo eacute associaccedilatildeo

mas eacute natildeo eacute faacutecil ((risos))

L1 como descobriu que os moradores de pimenteira eles tem descendecircncia quilombolas

L2 bem a gente em princiacutepio eles contaram a histoacuteria deles neh que eles tem uma eles

satildeo uma parentela da narcisa neh que se desmenbrou e andando nas terras vieram

parar aqui tanto que eles satildeo muito vizinho satildeo parente mesmos neh e depois quando

eles comeccedilaram quando foi instituiacuteda instituiacuteda natildeo quando foi colocada em praacutetica

neh o artigo cento e sessenta e oito da constituiccedilatildeo neh pelo presidente Lula aiacute se

comeccedilou a ver a saber sim noacutes tem uma histoacuteria essa histoacuteria taacute sendo esquecida taacute sendo

relegada neh e o proacuteprio incra neh por vamos dizer assim por uma exigecircncia de

titulaccedilatildeo a proacutepria fundaccedilatildeo palmares eles fizeram neh o levantamento antropoloacutegico na

comunidade entendeu entatildeo eles constataram que realmente eles tem uma um passado

neh que foi dessa desse refuacutegio dos negros neh pras beiras dos rios pras matas pra

criar suas moradias e manter suas suas tradiccedilotildees

L1 o que eacute ser quilombola e qual o significado dessa palavra pra senhora

L2 pra mim neh pra mim o que eacute ser quilombola pra mim oacute pra mim acho que ser

quilombola eacute principalmente conhecer a sua histoacuteria assumir a sua histoacuteria trazer a

sua histoacuteria para o presente neh e colo evidenciar essa histoacuteria seja atraveacutes da das

suas praacuteticas do seu jeito de ser neh

L1 eacute na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de

ser quilombola

L2 com estranheza neh porque ser quilombola como eu falei pra vocecirc eacute assumir sua sua

identidade sua histoacuteria neh entatildeo essa histoacuteria natildeo eacute contada na escola os livros natildeo trazem

isso neh as as figuras que tem no livro eacute sempre a figura da menina loirinha neh natildeo eacute

a figura da pra ensinar o alfabeto Eacute A UVA NAtildeO Eacute O CARAacute que eles conhecem de

LONGOS anos neh e por aiacute vai entatildeo eles receberam assim neh alguns jaacute se apresentam

dizendo eusou fulano de tal moro na comunidade quilombola tal mas eacute alguns neh diz

eu sou fulano de tal moro na pimenteira neh significa que ainda tem um coisa que eles

natildeo natildeo que eles faccedilam de propoacutesito mas que eles ainda num neh conseguem neh

assumir colocar isso AFIRMAR isso significa pra noacutes uma afirmaccedilatildeo que nem todos

162

fazem mas a gente entende porque eles passaram e sofreram toda essa essa histoacuteria

NAtildeO SOacute eles como negro no Brasil sempre teve vergonha de ser negro por uma sociedade

brasileira que neh entre aspas se diz que natildeo eacute racista mas que tem um racismo hoje a

gente taacute vendo neh sendo provocado sendo questionado na sociedade a gente vecirc claramente

neh posiccedilotildees racistas na nossa sociedade

L1 com relaccedilatildeo aos moradores eles relataram algum tipo de descriminaccedilatildeo com relaccedilatildeo

a descendecircncia deles

L2 sim laacute e aqui nas escolas inclusive o caso aqui das escola eles me eacute me

trouxeram conhecimento do caso aiacute noacutes fizemos uma carta pra diretora da escola daqui

pelo sedempa assinamos (porque) o sedempa estadual e mandamos pra diretora pra que

ela tomasse providecircncia porque senatildeo a gente ia ter que tomar providecircncias legais e as

providecircncias legais todo mundo sabe neh que racismo eacute crime neh eu acredito que

depois pelo menos as meninas de laacute em geral isso soacute soacute eacute denunciado por pessoas que jaacute

tem uma uma certa consciecircncia natildeo sei claro que talvez ainda tenha caso de racismo na

escola mas que todo mundo fica calado neh assume aquela aquele aquela aquele

GESTO como normal como uma questatildeo de infecomo ser inferior aiacute num eacute assim

L1 e com relaccedilatildeo aos direitos os moradores reconhecem eles conhecem os seus

direitos como quilombolas

L2 sim aos poucos a a medida que as questotildees vatildeo vatildeo surgindo por exemplo tem uma

questatildeo da terra olha quilombola tem direito a terra legalizada eles conhecem neh a

medida que as poliacuteticas puacuteblicas aproximam do dia a dia do concreto deles eles vatildeo

tomando esse esse conhecimento natildeo eacute dizer que eles cochecem tudo natildeo neh

porque tem coisas que agora por exemplo vestibular das cotas neh que eacute recente quer

desligar ((risos))

((corte de gravaccedilatildeo))

L1 entatildeo voltando a pergunta o que acha eacute com relaccedilatildeo aos moradores como eacute que eles

reconhecem se eles reconhecem a a questatildeo dos direitos possuem sobre ser quilombola

L2 pois eacute como noacutes estaacutevamos eacute colocando neh eacute eles reconhecem a medida que eles vatildeo

sentindo na praacutetica vendo na praacutetica neh seja a questatildeo da terra aacutes vezes eles escutam

na televisatildeo mas como se eles natildeo vatildeo atraacutes ou se eles natildeo se colocam como detentores

daquele direito isso parece que eacute o processo mais demorado neh o exemplo eacute agora o

vestibular das cotas neh que da pimenteira teve soacute um ano que fez uma menina daqui

que ela morava aqui em santa luzia neh ela eacute filha de dona Domingas e agora esse ano

tem uma que taacute fazendo neh aliaacutes que taacute querendo fazer mas ontem ateacute dei uma bronca

um pouco nela porque eles aacutes vezes eles quererm priorizar festa em vez do estudo e a

a no caso da educaccedilatildeo neh que assim mais eacute assim muito fazer cumprir exige

um grau de mobilizaccedilatildeo e ateacute de articulaccedilatildeo no iniacutecio do ano por exemplo a professora da

comunidade laacute do do broca que tem a turma parece que daacute natildeo sei tem algumas turmas

que vatildeo o ocircnibos leva ela para o broca neh esse pessoal tava quarenta e poucos dias

porque natildeo teve transporte aiacute a professora me ligou e disse olha o pessoal da pimenteira

taacute sem aula eles tem direito a educaccedilatildeo ao transporte e eles natildeo tatildeo (vindo) pra aula eu

digo ah eacute liguei mas o que eacute que taacute acontecendo que vocecircs natildeo procuraram natildeo a gente

vai vai vai atraacutes mas eles ficaram de mandar o transporte se natildeo natildeo chegar essa semana

a gente vai sabe muitas vezes eacute uma acomodaccedilatildeo pprincipalmente no caso do da

educaccedilatildeo neh que a gente vecirc natildeo eacute soacute laacute na cidade educaccedilatildeo em santa luzia tem um

tem um retrocesso assim horrivel neh e por ai vai se eles eles sabem que tem o

direito neh alimentaccedilatildeo escolar eles sabem que tem o direito de vender ateacute com com

o valor superior ao neh para os quilombolas dentro do programa nacional da da

alimentaccedilatildeo escolar por lei eles tem direito a um valor mais alto na me na alimentaccedilatildeo

escolar neh mas eles natildeo vatildeo atraacutes quando o gestor fa tem sensibilidade daacute quando

163

natildeo tem diz que tem que ser igual pra todo mundo como eacute que taacute acontecendo agora

entatildeo eacute assim muito muito difacuteacuteicil porque isso exige uma grande mobilizaccedilatildeo

organizaccedilatildeo neh que eacute um processo educativo contiacutenuo o pessoal vem de uma histoacuteria de

de sempre ficar relegado e acha que vai ficar a vida inteira relegado mesmo que tenha

poliacuteticas puacuteblicas que tenham ( ) direito seus neh e que realmente natildeo eacute faacutecil soacute pra eles

soacute pra ilustrar neh ( ) sei que vocecirc vai transcrever a gente taacute numa luta que a gente

ficou desde do da da saiacuteda do prefeito louro a gente ficou com sem receber dos

produtos que a gente entregava para alimentaccedilatildeo escolar neh que ateacute hoje taacute na justiccedila

ainda mas isso a gente tem que ir atraacutes de advogado de um e de outro numa comunidade natildeo

eacute faacutecil se natildeo for acessoria dificilmente eles vatildeo atraacutes disso entatildeo daiacute uma uma questatildeo

assim que natildeo eacute NAtildeO Eacute SOacute que depende dependa soacute deles neh mas que depende de

todos um uma relaccedilatildeo social que eles possam construir e que essa relaccedilatildeo social possa

neh ajudaacute-lo nessa nessa luta por isso que eu perguntei pra vocecirc olha a gente vai

precisar da tua ajuda tem que somar forccedila com a gente nessa histoacuteria porque se natildeo difiacutecil

L1 eacute a senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade

L2 sim

L1 fale um pouco sobre essa associaccedilatildeo

L2 entatildeo a associaccedilatildeo eles tinham algum (embriatildeo) de associaccedilatildeo que natildeo era assim

vamos dizer legalizada entatildeo pra eles darem prosseguimento a que natildeo era tambeacutem

criada como associaccedilatildeo quilombola era associaccedilatildeo que foram assim acho que

incentivadas antes deu chegar aqui ela jaacute tava por laacute com a questatildeo de (FNO) essa coisa toda

neh DEPOIS pra ele se legalizarem como quilombola o tinha um programa em

Beleacutem o programa raiacutezes neh que eles elaboraram mais ou menos com o apoio de advogados

no estatuto padratildeo que pudesse orientar quais os termos que deveriam ter no estatuto

neh que que eacute eacute passariam por um processo legal pra depois ser levado para cartoacuterio

pra um e pra outro entatildeo a nossa contribuiccedilatildeo foi muito nesse sentido de mostrar olha

a resoluccedilatildeo um meia oito da da constituiccedilatildeo resoluccedilatildeo natildeo o artigo um meia oito da

constituiccedilatildeo brasileira ele fala isso e isso alguns desses pontos tem que taacute constando aqui

natildeo citando a a a o decreto o artigo laacute da constituiccedilatildeo mas coisas que tatildeo citam

laacute que satildeo direitos (principalmente) na questatildeo da da dos recursos naturais da da da

venda da terra enfim entatildeo a ajuda foi mais nesse sentido de ajudar eles entenderem a questatildeo

legal neh juridicamente legal pra poder encaminhar registro pra porque depois

esses documentos no caso vatildeo pra incra vatildeo pra interpa quando eacute o caso de terra do estado

vai para fundaccedilatildeo palmares pra poder obter a certificaccedilatildeo entatildeo a contribuiccedilatildeo foi muito

nesse campo mais legal da da legalizaccedilatildeo

L1 hum rum e mais assim como eacute a questatildeo de de provar que eacute quilombola

isso eacute difiacutecil eacute uma situaccedilatildeo que AH eles tem uma caracteriacutestica quilombola ou eles

satildeo quilombolas mas aiacute pra o processo de ( ) eacute muito eacute muito dificil pelo que eu percebo

L2 a titulaccedilatildeo da terra

L1 sim

L2 eacute porque depende do estado neh no sentido mais amplo laacute no caso eacute oacutergatildeo federal a

aacuterea neh

L1 hum rum

L2 as outras comunidades que tem aqui foram aacuterea do estado entatildeo cecirc sabe que o

estado tem uma esfera burocraacutetica muito pesada neh e aiacute vai tem que vir antropoacutelogos pra

fazer a o levantamento histoacuterico da famiacutelia pra vecirc quais foram as histoacuterias enfim pra ter

esse reconhecimento natildeo eacute soacute assumir

L1 aiacute no caso pra pra provar essa questatildeo de quilombola neh com relaccedilatildeo a

preservaccedilatildeo da cultura

L2 hum rum

L1 isso ajuda no sentido do reconhecimento

164

L2 ajuda porque quando eu nunca fiz um levantamento antropoloacutegico ateacute porque natildeo sou

antropoacuteloga mas ( ) eu fiquei sabendo de outras comunidades e tambeacutem ouvindo assim

uma uma pessoa que teve aqui da fundaccedilatildeo palmares eles fazem todo esse traccedilo todo

esse perfil da CULtura dos santos que valorizam das ladainhas que ainda fazem

entendeu entatildeo tudo isso taacute presente na na identificaccedilatildeo neh na identificaccedilatildeo e e

reconhecimento da da comunidade como sendo afrodescendente

L1 hum devido a isso a senhora tem conhecimento de algum grupo que tenha desisitido

do processo de identificaccedilatildeo por perceberem que natildeo tem mais assim essas

caracteriacutesticas

L2 hum natildeo bem aqui natildeo tenho esse conhecimento tem alguns que ainda tatildeo um

(bocado) deles ainda tatildeo na luta pela terra neh mas eles jaacute tem essa identidade assumida

neh eu natildeo tenho natildeo algum que tenha desistido

L1 eacute com relaccedilatildeo a uma fora

L2 ((risos))

L1 mas assim com relaccedilatildeo quilombola quais quais comunidades aqui em santa luzia satildeo

comunidades consideradas quilombolas

L2 pimenteira jacareacutequara tipitinga e trecircs voltas que jaacute estatildeo vamos dizer assm com o

processo praticamente concluiacutedo tipitinga jacareacutequara jaacute com a titulaccedilatildeo neh

L1 jaacute estatildeo com a titulaccedilatildeo

[

L2 jaacute estatildeo intitulados trecircs voltas ainda pendende eacute pimenteira tambeacutem

taacute ainda pendente das que eu sei satildeo essas

L1 o que caracteriza um quilombola hoje

L2 hum hum ((risos)) eacute eacute uma eacute uma mistura neh porque eacute as pessoas vatildeo

incorporando haacutebitos da sociedade (mais geral) porque ele natildeo taacute isolado neh ele taacute no

meio o meio externo influencia comportamento haacutebitos neh entatildeo a a cultura eacute acho

que eacute uma coisa que ajuda mais a identificar os haacutebitos alimentares e a cultura o uso

dos recursos como a gente tava falando entatildeo foi por ai que a gente taacute trabalhando esse

projeto de fortalecimento com as mulheres de valorizaccedilatildeo da cultura eles chegavam

aqui o caraacute por exemplo eacute um alimento que todo mundo tem natildeo eacute soacute em comunidade

quilombolaque tem neh mas as pessoas tinham vergonha de chegar aqui pra oferecer um

quilo de caraacute que eacute um alimento neh

L1 hum rum

L2 as pessoas tinham vergonha de usar um chaacute uma erva (ia) para o posto de sauacutede

neh entatildeo a gente taacute procurando valorizar essa cultura justamente naquilo que doacutei na

barriga ou doacutei no corpo neh pra que eles possam

L1 por que reconhecer quilombos qual eacute o significado de reconhecer essas

comunidades

L2 eu penso que eacute um signi eacute um significado importante para o Brasil neh que a

populaccedilatildeo brasileira eacute foi formada por esse por esse povo que foi trazido pra caacute que

teve toda essa miscigenaccedilatildeo que ainda tem as suas raiacutezes muito assim latente na

religiosidade popular neh embora tenha sido muito quebrada neh com o catolicismo

romano mas que eu acho que eacute importante pra populaccedilatildeo brasileira neh reconhecer a

sua origem a sua histoacuteria a sua cultura mesmo os que tatildeo na cidade satildeo tem uma boa parte

que satildeo negros negros neh entatildeo natildeo pode esquecer essa histoacuteria o povo que esquece

sua histoacuteria ((ruiacutedo)) eacute um povo fadado a ficar mercecirc de qualquer vento neh e hoje a

devido esse processo de de colonizaccedilatildeo pesada que teve natildeo soacute aqui no Brasil mas acho

que no mundo inteiro as pessoas comeccedilam a ateacute um parecircnteses fecha ai teu teu

gravador que natildeo eacute coisa assim da da pesquisa

L1 hum rum

L2 que esses islatilde neh esses grupos mulccedilumanos que tatildeo ( ) eu fiquei assim horrorizada

165

que eles postam assim na internet neh eu ( ) a facebook mas a gente abrir esse mesenger e

aiacute outro dia tava passando aqui na tele na tv Brasil que a gente assisti muito aqui neh e tava

falando que esse povo eles pra eles cultu poliacutetica eacute religiatildeo econocircmia uma coisa soacute

eles natildeo fazem distinccedilatildeo como eacute no Ocidente cultura ocidental natildeo eacute natildeo tem a ideia

desagregada neh entatildeo isso natildeo foi a toa essa desagregaccedilatildeo natildeo foi a toa essa

fragmentaccedilatildeo cultural e hoje esses grupos que satildeo minorias tatildeo procurando

reconstituir isso neh e muitas vezes usando da violecircncia usando da forccedila a gente fica

chocado mas quan-tos anos ele vem sofrendo de neh de colonizaccedilatildeo eu-ropeia

colonizaccedilatildeo dos Estados Unidos massacre e tudo mais aiacute esses grupos hoje estatildeo atraacutes

dessa identidade muitas vezes a pessoa vecirc violencia pela violecircncia natildeo vai atraacutes da

HISTOacuteRIA que que gerou aquela violecircncia neh

L1 a origem

L2 a origem enfim entatildeo acho que tem um pouco tem um paralelo que daacute pra pintar

neh L1 aiacute nesse nesse nesse aspecto a gente chama neh um pouco a questatildeo da

desigualdade racial

L2 eacute

L1 e entatildeo eacute um ponto tambeacutem que traz essa perspectiva do do fato de ser

quilombola tambeacutem ter a margem neh essa essa

L2 hum rum

L1 essa caracteriacutestica neh

L2 isso

L1 nesse aspecto como eacute que a senhora vecirc essa questatildeo da desigualdade mesmo racial

L2 eacute algo assim que ainda vai se passar por um processo histoacuterico que tem um

fundamento principalmente na na educaccedilatildeo neh se noacutes tivermos educaccedilatildeo que possa

eacute eacute comeccedilar a desmistificar essa desigualdade neh esse racismo seja pelo cor seja pela

opccedilatildeo religiosa seja pela opccedilatildeo sexual isso ajuda mas a escola ainda se se esse

debate (natildeo eacute presente) neh aiacute o o debate que vocecirc vecirc o natildeo eacute debate neh a televisatildeo

talvez mostrando (aquele) racismo neh eacute homossexual que foi espancado que foi

mor-to entatildeo um negro que foi preso neh enfim entatildeo ateacute que isso

realmente mude essa configuraccedilatildeo eu acredito que soacute um processo educativo amplo

infelizmente o processo educativo mesmo com toda a discussatildeo que taacute hoje colocada mas

ainda eacute o processo educativo do do do letramento neh o processo em discussatildeo pra

formaccedilatildeo de cidadania entatildeo se natildeo tem esse processo educativo nessa perspectiva do

ser cidadatildeo aiacute ainda temos que passar por muitas geraccedilotildees pra poder chegar uma neh

uma sociedade sem racismo ( ) sem desigualdade

L1 que tipo de outro benefiacutecio eacute legiacutetimo sem ser o da terra

L2 hum rum

L1 pa-ra os quilombolas

L2 aleacutem do da da terra temos a questatildeo da educaccedilatildeo a prioridade em determinadas

questotildees de sauacutede puacuteblica neh tem um um caso que eacute muito muito quase que especiacutefico

embora aconteccedila no ( ) da anemia ( ) neh que eles tem que ter tratamento diferenciado

acesso diferenciado a sauacutede mas talvez muitos por natildeo conhecer natildeo sabem muitas vezes

nem sabe que tem o problema neh que eacute a anemia ( ) entatildeo acho que esses direitos tem

que o direito tambeacutem do do dos terreiros neh os terreiros sempre foram demonizados

e que eacute uma uma expressatildeo da religiosidade neh mas satildeo direitos que natildeo vatildeo ser

faacutecil de serem conquistados porque se vc tem uma comunidade que taacute reconhecida como

quilombola aqui essas pessoas tem relaccedilatildeo de vizinhanccedila que outras comunidades que natildeo

satildeo quilombolas neh entatildeo se elas estatildeo fazendo laacute um terreiro os os que natildeo satildeo

quilombola podem ateacute ir laacute frequentar pedir um chaacute pedir uma uma reza na cabeccedila MAS

noacutes sempre colocar neh como natildeo aquilo ali eles fazem cruz ( ) neh

L1 hum rum ( )

166

L2 penso que eacute isso neh seus direitos

L1 e com relaccedilatildeo ao papel da universidade como se se a senhora vecirc essa contribuiccedilatildeo

da universidade sobre as comunidades tradicionais

L2 ahh o papel da universidade eacute muito importante mas como a gente tava dizendo

a pouco tem a diversidade tambeacutem dentro da universidade neh a universidade em

constituiccedilatildeo de ensino soacute pra te daacute um exemplo acho que ainda tenho ai um caso assim

horrivel de racismo que teve na universidade federal do Paraacute com uma soacute natildeo lembro se ( )

eacute professor de laacute a Cristina Chaves natildeo sei se tu conhece aiacute ela ficou assim tatildeo

chocada mandou carta a gente enfim ( ) nessa hora ( ) mobilizaccedilatildeo vai passando carta um

pra o outro neh eu natildeo sei te relatar assim mais mas foi com o professor ateacute neh

teve tinha uma discussatildeo com os alunos E o professor claramente (externalisou) posiccedilatildeo

de racismo entatildeo a universidade ela taacute formando neh e taacute taacute formando profissionais

mas dentro desses profissionais se esse debate tambeacutem natildeo eacute levado as ppessoas entram laacute

vindo da escola da educaccedilatildeo baacutesica neh sem essa formaccedilatildeo neh entatildeo se ela chega

na universidade e a universidade natildeo procura pelo menos eacute vecirc ou colocar na nessa

questatildeo neh aiacute eacute complicado neh vai continuar o cidadatildeo ou cidadatilde com essas

praacuteticas MUITO IMPORTANTE entatildeo o papel da universidade nesse processo AS COTAS

por exemplo parece que o os uacuteltimos estado deles do sitema de cotas foi aqui o Paraacute neh

e olha que nem ( ) passado mi teve uma menina da narcisa que fez a prova neh ela foi

selecionada que ela eacute ateacute professora na (comunidade) eacute uma moccedila muito aplicada e eles

vem aqui neh a gente foi fez a inscriccedilatildeo da Francisca e tal a Francisca foi selecionada ela

voltou comigo para fazer o negoacutecio da declaraccedilatildeo neh que eu digito claro que natildeo sou eu

que assino quem assina eacute a ( ) ai fizemos a declaraccedilatildeo mandamos no dia que essa menina

foi se inscrever chegou laacute E DEIXA estar que a menina laacute do sedempa da ( ) tinha me

avisado ahh Francisca passou ahh que bom porque aacutes vezes a gente fica sem

comunicaccedilatildeo aqui de internet neh aiacute me disseram a nota que ela tinha tirado ela passou foi

classificada Francisca tu passastes no dia que essa moccedila foi pra Braganccedila fazer a matriacutecula

dela olha chegou laacute natildeo num passou Francisca tu passastes natilde-o arreda o peacute daiacute pelo

amor de deus grande favor que tu vai me fazer tu vai enfrentar esse povo deixa aiacute taacute por

azar nesse dia mal a gente coonseguia mandar mensagem por esses telefones aqui de santa

luzia liguei para a professora Georgina vocecirc conhece neh a professora Georgina olha ( )

eu tocirc em Beleacutem aqui me consultando mas diga pra ( ) nuacutemero ligar liga pra natildeo sei quem

uma hora da tarde eu acho que ele viu que ela ficou laacute e natildeo arredou o peacute encontraram laacute

natildeo sei quem depois que fui saber que natildeo era soacute o caso dela a professora ( ) tava com uma

lista de gente que ela tava tentando resolver por conta de eles inventavam um inventavam

outra pra natildeo matricular sabe eu disse olha ( ) a luta do negro eacute essa pensa que jaacute

acabou a discriminaccedilatildeo a desigualdade tu taacute vendo na praacutetica natildeo abre matildeo fica aiacute noacutes

vamos pertubar enfim eles vatildeo a tua vaga taacute garantida tu passastes menina tu fostes

classificada entendeu sei que graccedilas a deus ela ta laacute na UFPA em braganccedila neh tem

dois do tipitinga tambeacutem que tatildeo laacute tem dois do jacarequara esse ano tem uma turma maior

por por coincidecircncia ((risos)) agora o sedempa e a (malu) conseguiram na casa da

linguagem que eacute da fundaccedilatildeo curro velho professores eles vatildeo fazer trecircs poacutelos de PRE-

paraccedilatildeo e redaccedilatildeo por isso que desculpa por isso que eu te perguntei mas tu jaacute chegasse

((risos)) que eacute a moccedila que eu tocirc esperando ela chega agora meio dia que ela me ligou ontem

disse olha eu vou no ocircnibos das nove eu digo taacute tudo bem ela vai ficar saacutebado e domingo

na escola soacute treinando essa turminha em redaccedilatildeo pra eles fazerem o seletivo mas eu tocirc

dizendo pra eles oacute vocecircs tem que lecirc o ano inteiro vatildeo lendo vatildeo treinando os alunos da

escola que ainda tatildeo fazendo o primeiro do EJA neh eles natildeo satildeo obrigados a fazer mas

a gente taacute ateacute incentivando pra eles verem como eacute a prova neh a fazerem a prova e tudo

haacute uma dificuldade mas tem tem que entatildeo eacute isso neh desculpa que eu falo muito acabo

ateacute me perdendo (natildeo sei se tocirc respondendo o que tu tem)

167

[

L1 natildeo taacute sim

L2 hum ( )

L1 hum rum

L2 mas a desigualadade neh nesse campo aiacute eacute bem presente quando eles vatildeo tentar

(essa) universidade hum se preparem eu digo olhem se preparem pra brigar ((risos)) se

vocecircs natildeo brigarem natildeo vatildeo esperar soacute que o sedempa mande carta que a professora Zeacutelia (

) VOCEcircS TEM tambeacutem que brigar junto gente senatildeo natildeo tem combate

L1 verdade agora a gente vai pra um outra caracteriacutestica da entrevista que eacute com relaccedilatildeo as

ervas e plantas

L2 hum rum

L1 ( ) entatildeo a gente sabe que a organizaccedilatildeo mundial da sauacutede ela ela incentiva o uso

desses produtos neh desses produtos naturais porque a maioria da populaccedilatildeo ela natildeo tem

acesso a medicina de farmaacutecia

L2 hum rum

L1 ai nesse contexto a senhora acha que as ervas elas satildeo importantes

L2 eu digo as ervas e o saber neh num tem como dissociar o saber sobre o uso das

ervas entatildeo acho que eles satildeo satildeo realmente importantes e satildeo eacute muito importante que

a gente faccedila valer esse esforccedilo isso que a gente taacute fazendo VEM fazendo pra que as pessoas

voltem a valorizar porque taacute sendo mui-to ( ) mais comum a pirataria taacute dentro neh

e a apropriaccedilatildeo desses saber tambeacutem tatildeo muito forte a gente tem um exemplo aqui no

municiacutepio na regiatildeo da natura neh que compra desse pessoal (murumuru) neh que a

gente sabe que compra noacutes fizemos em dois mil e dez haacute quatro anos atraacutes um projeto

que se alchama chamava alfabetizaccedilatildeo e negritude pra alfabetizar adultos que ainda

num natildeo sabiam ler nem escrever ainda neh e aiacute foi um projeto pequeno que o sedempa

conseguiu recur-so aiacute veio uma amiga nossa treinamos as monitoras inclusive essa

menina que passou foi umas das treinandas neh e enfim fizemos com muito es-for-ccedilo

neh os recursos era pequeno sabe a menina veio essa professora que tambeacutem eacute uma

professora muito comprometida trabalha em Beleacutem e a gente vinha e ela vinha e taacute

passado recom graccedilas aacute deus conseguimos tem depoimentos assim interessantes de

pessoas que se alfabetizaram neh que hoje CONTInuaram estudar neh tatildeo num MAS

eu digo sempre olha vocecircs tem que abrir o olho a natura nunca deu um laacutepis UM

LAacutePIS pra essas comunidades pra ajudar nesse processo vai laacute tirar os recursos que tem

e pronto neh no nosso caso aqui eacute murumuru mas a gente tem casos por ai que eles estatildeo

mandando o pessoal plantar priprioca (esturaque) sabe agora jaacute tatildeo aqui procurando

outras coisas eu digo olha soacute vou entrar soacute vamos entrar se for pra sentar na mesa e

discutir de igual pra igual se natildeo for eu aconselho vocecircs natildeo irem mas se vocecircs quiserem

ir natildeo posso proibir neh se vocecircs acharem que eacute soacute o olhar do dinheiro vatildeo mas se vocecircs

acharem que tambeacutem passa por um reconhecer aquilo que vocecircs fazem aquilo que vocecircs

tem que vocecircs vocecircs guardaram de geraccedilotildees aiacute a histoacuteria muda neh a histoacuteria muda a

gente senta com eles mas de igual pra igual esse negoacutecio de vir aqui raspar e tudo e natildeo

darem nada de retorno entatildeo natildeo eacute por aiacute ENTAtildeO Eacute IMPORTANTE eacute eacute eacute necessaacuterio

que outros profissionais se engajem no sentido de mostrar a importancia dessas ervas

agora dia vinte e cinco de julho vinte quatro e vinte cinco de julho noacutes fizemos uma oficina

sobre oo uso de fitoteraacutepicos neh aquelas ateacute pra fortalecer o trabalho desse grupo de

mulheres neh e enfim a (bolsa cortou) assim vaacuterios casos sobre isso

L1 as er-vas e as plan-tas elas servem pra que

L2 ah soacute vocecirc perguntando pra elas ((risos)) elas vatildeo te dizer assim um LE-QUE neh

((risos))

L1 um leque ( )

L2 eacute um leque

168

L1 por que tanta gente ela eacute eacute atraiacuteda neh pra essa praacutetica de uso da das plantas das

ervas

L2 aacutes vezes por estar mais proacuteximo aacutes vezes por uma um passar de informaccedilatildeo neh

entre famiacutelias entre parentes vizinhos neh que que comeccedilam a usar a partir dessas

informaccedilotildees acho que a importacircncia eacute por ai

L1 eacute o que a senhora acha do uso de chaacutes no tratamento das doenccedilas

L2 eacute bom neh aacutes vezes as pessoas usam pela indicaccedilatildeo do saber popular agora com a

questatildeo do que taacute sendo colocada da do do ministeacuterio da sauacutede da anvisa neh jaacute

se precisa ter determinados cuidados MAS a gente vecirc que eacute um comeacutercio que soacute cresce

neh olha por exemplo elas fazem aqui a garrafada tem um parece que dois produtos que

elas colocam que natildeo tem aqui e a gente tem que comprar naquelas casas de ervas em

Beleacutem neh entatildeo eu quando vou pra Beleacutem eu docirc esse apoio eu fiquei horrorizada de vecirc o

quanto aumentou o nuacutemero de caso e vendendo essas ervas ali em Beleacutem e uma vez

eu tava laacute esperando que tinha muita gente pra ser atendido aiacute a mulher perguntou mas ( ) a

vendedora que vai receitando ahh minha nossa senhora ((risos)) entatildeo soacute taacute crescendo

esse esse uso dessas plantas neh dessas ervas enfim ( )

[

L1 talvez por isso existem

meacutedicos hoje que natildeo apoiam natildeo dizem que natildeo fa natildeo eacute bom

L2 eacute

L1 no caso desse uso natildeo ser (nada)

[

L2 hum rumdiscriminado algumas vezes a a formaccedilatildeo

deles eacute totalmente elitista neh que dis natildeo reconhece que o saber natildeo eacute soacute o saber

acadecircmico dele neh mas tem que saber o das pessoas neh e tudo isso que dicer de certo

modo vai encontra de encontro neh a a uma praacutetica de dominaccedilatildeo de mais de

quinhentos anos cau-sa is natildeo soacute estranheza mas tambeacutem causa essa divulgaccedilatildeo

contraacuteria neh vocecircs natildeo sei se vocecircs assistiram eu natildeo assistir ateacute porque essa rede

globo eu natildeo assisto embora algumas vezes passe alguma coisa que preste ((risos)) a gente

natildeo pode generalizar neh mas que aquele Bruno Varela neh EU fiquei sabendo

porque eu faccedilo bioenergeacutetico em Beleacutem neh eu durmo em Beleacutem ( ) jaacute faccedilo haacute mais

de quinze anos de bioenergeacutetico eu faccedilo meus exames cliacutenicos neh com o meacutedico

(omeopata) que ele ele vou laacute com plano de sauacutede e faccedilo exames de sangue fezes e urina

porque eles natildeo podem me guardar isso eu tenho que ser o se natildeo tivesse teria que fazer

particular e aiacute nesse dia que eu fui no bioenergeacutetico elas tavam comentando que ele acabou

com a babosa mas colo fez uma propaganda assim horriacutevel neh eu digo meu deus do ceacuteu

um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo que eacute a rede globo tu imagina a repercussatildeo que isso teve

quer dizer que se vocecirc natildeo tem pessoas pra ir contra isso neh aiacute pronto a rede globo que

diz eacute verdade o que ela taacute passando sabe entatildeo taacute por traacutes dele a multinacional que patrocina

a rede globo taacute por traacutes ENes neh eacute uma rede poderosa de de de controle neh

controle econocircmico controle poliacutetico que patrocina tudo isso neh entatildeo natildeo eacute faacutecil

L1 existe outras comunidades que trabalham com o uso de ervas

L2 assim de forma sistemaacutetica aqui na re-gi-atildeo natildeo conheccedilo mas no dia a dia com certeza

que trabalhe e usam ervas PARticiparam desse curso que eu falei pra vocecirc dessa oficina as

outras comunidades que satildeo daiacute de bragantina de ViSEU de augusto cocircrrea natildeo de

viseu e de cachoeira do piriaacute elas estiveram aqui neh aiacute a gente comeccedilou olha bora

comeccedilar botar em praacutetica assim de forma mais estruturada e tudo elas disseram que iatildeo

comeccedilar a fazer aqui na comunidade mesmo neh

L1 hum rum

L2 vecirc se vatildeo

L1 como a senhora soube do uso das ervas pelos moradores da pimenteira

169

L2 a gen-te conversando neh aacutes vezes tatildeo laacute e ahh isso aqui eacute um chaacute aacutes vezes mesmo

chegaram agora ahh isso aqui eacute uma planta Eacute isso aqui eacute uma planta e aiacute ela na conversa

muitas vezes espontacircnea elas vatildeo falando aiacute quando a gente comeccedilou esse trabalho na

pimenteira noacutes dissemos bora fazer do do bioergeacutetico neh bora fazer um

inventaacuterio um (herbaacuterio) do que tem aqui umbora aiacute uma amiga minha de Beleacutem era

bioacuteloga ela tava formada ela natildeo tava trabalhando era uma pessoa muito disponiacutevel neh aiacute

eu falei com ela ela disse ahh ( ) ela veio ficou uns trecircs dias na pimenteira soacute ao redor ela

natildeo andou a comunidade toda ela fez um registro de oitenta plantas plantas medicinais a

gente ateacute tem esse esse herbaacuterio neh digitado tudo direitinho no herbaacuterio a identificaccedilatildeo

das plantas ela anota aiacute elas iatildeo olha isso aqui eacute isso serve pra isso sabe (bons) tempos eacute

sim a gente ficou

L1 na sua concepccedilatildeo a o que marca a identidade da comunidade pimenteira satildeo as

ervas satildeo os quilombolas por que haacute outra caracteriacutestica

L2 eu digo que satildeo a a biodiversidade que tem laacute presente neh e dentro dessa

biodiversidade estatildeo as ervas neh estatildeo as ervas estaacute o accedilaiacute enfim porque eles vivem dessa

biodiversidade acho que isso que marca ainda eacute uma comunidade que tem uma uma

sustentaccedilatildeo ainda muito assim vinculada a biodiversidade que tem laacute e laacute vocecirc tem o

solo tem o rio tem as ervas neh tem a floresta onde eles enfim eacute esse ainda eacute

eacuteclaro que hoje todos oscomunidades tem gente que eacute funcionaacuterio puacuteblico (talvez) laacute

natildeo tenha ningueacutem da comunidade porque a dona neneacutem eacute agente de sauacutede mas ela natildeo eacute da

comunidade tem tem bolsa famiacutelia tem aposentados mas ainda eacute uma comuni que marca eacute

a biodiversidade que ainda eacute muito forte laacute dentro taacute

L1 a senhora faz uso das plantas medicinais

L2 faccedilo lhe mostrar minha receita ( ) de energeacutetico ((riso)) as minhas garrafadas que eu tomo

tambeacutem

L1 eacute qual eacute a sua relaccedilatildeo ou (fluecircncia) nessa catalogaccedilatildeo dos termos quando eu falo

termos eu falo das ervas das plantas

[

L2 das ervas

L1 dos nomes delas neh sobre as plantas (medicinais) pelos moradores

L2 assim eacute

L1 como ocorreu esse processo

L2 ess especifi a gente iniciou como eu falei para vocecirc neh no iniacutecio do trabalho em dois

mil e oito foi o primeiro mandato do governo Lula que teve o projeto a gente comeccedilou a

neh teve o apoio pra fazer isso noacutes comeccedilamos a fazer aiacute o nosso o nosso incentivo o

nosso trabalho PRIMEIRO tentar daacute uma uma visibilidade mas uma visibilidade

assim com certo com certo grau de informaccedilatildeo aiacute por exemplo deixa eu pegar aqui pra te

mostrar a dona Domingas faz laacute a tintura de de de deixa eu pegar aqui ( ) laacute de Beleacutem

(quando a gente sai do serviccedilo compra laacute mesmo) ( ) entatildeo apre uma apresentaccedilatildeo do

produto mesmo que ele seja mas ele taacute numa embalagem adequada ele taacute identificado neh

a garrafada neh aiacute a gente coloca produto fitoteraacutepico artesanal o que tem aqui dentro a

composiccedilatildeo a data que foi fabricada e aqui o nome neh centro popular mil sauacutede das

mulheres da associaccedilatildeo remanescente quilombo da pimenteira coloca os contatos sabe

que as pessoas ligam ou pra dar sugestatildeo ou pra pedir como jaacute aconteceu ( )uma queria

uma garrafada personalizada outra ((risos)) tem todas esses esses detalhes neh entatildeo a

contribuiccedilatildeo eacute nesse sentido pra que esse produto chegue ao consumidor num grau de

confiabilidade pelas informaccedilotildees que tem dizendo quem faz entendeu o endereccedilo pra

contato entatildeo eacute muito assim ali na associaccedilatildeo tem mais das ervas todinha

L1 existem moradores na pimenteira que participam da cooperativa com a produccedilatildeo dos

medicamentos com as ervas como eacute esse processo

L2 tem a aiacute soacute um detalhe neh a associaccedilatildeo neh ( ) na cooperativa neh

170

L1 hum

L2 eacute eles contribuem neh com a aacutes vezes identificando por exemplo tem uma planta

laacute que no iniacutecio desse trabalho a gente identificou que eacute o bacuri e eles disse que eacute bom

pra glaucoma e tambeacutem o meacutedico neh amigo nosso disse realmente essa planta ela tem

esse poder neh e aiacute ela ( ) faz um coliacuterio antigamente assim assim assim soacute que taacute

acabando MEU DEUS do ceacuteu aiacute depois ela ( ) esse morador ELE esse homem ele veio pra caacute

ela taacute aqui na cidade agora ( ) esse homem laacute neh que a gente ( ) no carro levou ateacute laacute de

carro ( ) ele tentar ( ) porque ela disse que ela natildeo sabe ( ) ele sabe neh aiacute ela disse noacutes

temos que ir laacute com esse homem aiacute quem aleacutem de identificar esse capim sabe laacute saber se

esse homem natildeo tem que a gente natildeo pode deixar se perder inclusive viu Edileuza (da

outra vez que tu vir) com a gente eacute assim a gente taacute querendo criar a casa do ( ) ( )

no no no na linguagem ( ) eacute aquele idoso que transmite as histoacuterias ( ) pra outros neh ( )

aiacute a dona Maria do Carmo que tamb5eacutem eacute afrodescendente ela do lado tem uma feacutezinha

fui laacute em ( ) ahh bora fazer o seu Severino que vocecirc conhece neh laacute do do tipitinga ele

tem o sonho de fazer a festa de satildeo miguel que laacute eles fazem (nossa senhora de santana) ( )

religiosidade catolicismo neh aiacute ele disse bora Cilene bora ver o que a gente faz eacute em

setembro soacute que sem ah natildeo eu acho que eacute amanhatilde dia de satildeo miguel vinte e nove neh

amanhatilde natildeo eacute por esses dias vamos fazer noacutes vamos comeccedilar se reunindo os os ( ) a

velharada toda ((risos)) falei assim pra ele mas pra isso tem que ter um carro pra pegar esse

povo pegar laacute na pimenteira pegar num canto pegar no outro pra ir pra o cristo agora

fiquei sabendo que padre (quebrou o feno) aiacute vamos (vecirc) esse pessoal todinho porque

tem que ter um carro pra levar e trazer eles ou ou ( ) a gente pode se ( ) passo laacute na

num no tipitinga ou algo enfim mas o importante eacute reunir essa (velharada) toda pra

ouvir as histoacuterias dele animar natildeo deixar eles assim soacute O IDOSO QUE taacute precisando de

cuidado de ( ) tomar o remeacutedio na hora certa mas que ele se sinta um idoso ainda uacutetil pra

sociedade pra vocecircs pra comunidade neh mas natildeo foi possiacutevel fazer esse ano por conta de

milhares de compromissos neh tudo isso neh quantas vezes tu me ligasse eu tava

acompanhando tambeacutem o trabalho da doutora Kiara Brandatildeo nas comunidades aqui e

mas mas ainda natildeo saiu esse plano da nossa cabeccedila neh de fazer essa ( ) natildeo sei se a

gente vai fazer setembro do ano que vem mas a gente tem que (comeccedilar) ( ) o importante

que a gente comece a pegar esse pessoal e tentar neh o pai da dona Domingas que tava

te falando eacute soacute ela aiacute ela nem participa mas agora ela tem que cuidar dele que ele jaacute taacute

muito idoso e tudo TEM PESSOAS que daqui haacute um tempo pode ser ateacute que a gente faccedila

nossa viagem antes dele mas a gente sabe neh que de repente natildeo vai mais contar com eles

pronto vai embora um patrimocircnio toda uma histoacuteria um saber que ficou pra traz neh e isso

nas comunidades quilombolas eacute importante aacutes vezes o pessoal me perguntA mais tem olha

vatildeo laacute pergunta pros idosos que estatildeo laacute porque eu natildeo tenho (todo) neh eu ajudo eles

na a tentar resgatar essa histoacuteria escrever essa histoacuteria mas eu natildeo tenho todas as

informaccedilotildees ateacute porque eu natildeo faccedilo soacute isso eu tenho MIL compromissos ((risos)) de de

trabalho pra fazer neh entatildeo se vocecirc puder contribuir com a gente nesse aspecto acho que

vai ser bom

L1 com certeza eacute a senhora realiza alguma atividade de compra e venda das plantas

L2 como rede bragantina a gente faz neh a compra dos produtos e a venda no caso

fitofitoteraacutepico e elas produzem a rede bragantina soacute faz a comercializaccedilatildeo neh elas

mesmos traz as ervas elas preparam aiacute o que que a gente faz aqui embalagem neh eacute

identificaccedilatildeo quando a gente quer botar mais informaccedilotildees ou ateacute qualificar mais

aquele material a gente entra em contato com profissionais pra que eles possam ( ) como eacute

o caso desse dessa oficina que teve de fitoteraacutepico neh que (veio) uma farmacecircutica de

Macapaacute neh que ela trabalha no instituto (tumucumar) que eacute tambeacutem no ( ) de Macapaacute e aiacute

soacute que dois ou trecircs dias com a gente foi assim maravilhoso eu saiacute encantadad neh com

muita informaccedilatildeo que ela passou ( ) a contribuiccedilatildeo eacute quando a gente comercializa

171

L1 vocecirc jaacute conhece algum caso assim de doenccedila de cura atraveacutes das ervas

L2 das ervas elas conhecem neh elas me falam de um bocado natildeo sei de se me lembro

agora neh MAS EU praticamente eu me trato com as ervas graccedilas a deus nunca tive uma

doenccedila assim grave neh mas ( ) eu me sinto bem

L1 hum rum

L2 neh o (vicente) tambeacutem mesmo ele sendo europeu ( ) a gente faz junto esse

bioenergeacutetico aiacute a gente toma aqui em casa direto eacute fitoteraacutepico

L1 entatildeo a senhora acredita no poder das ervas e das plantas

L2 sim sim

L1 ma MAS OU ele se igualaria a a questatildeo das farmaacutecias

L2 assim eu num digo acreditar porque acreditar eacute uma questatildeo de feacute neh e isso natildeo eacute

religiatildeo eacute uma eacute um fato neh entatildeo eiu uso e me sinto bem neh eacute natildeo sou muito de ( )

ateacute meu pai neh e-le usava muito ervas acho que se a gente tem na na histoacuteria da gente

na histoacuteria de vida e eu uso e assim a palavra como eu disse acreditar natildeo eacute muito

adequada porque acho que crecirc ou natildeo crecirc eacute uma questatildeo de feacute neh eacute uma questatildeo de ( ) a

gente usa e daacute certo acho que eacute um pouco isso neh esses dias a gente estava aqui com a

doutora Clara Brandatildeo e ela vinha de longos anos falando sobre o uso da multimistura

neh natildeo sei se vocecircs jaacute ouviram neh falar na multimistura AIacute ela tava ano passado ela

veio fez oficina com o grupo esse ano a gente chamou esse grupo foi ateacute quarta feira que

vocecirc disse que chamamos o grupo que teve ano passado e mais outras novatas neh que

ainda natildeo tinham assisitido palestra com ela e aiacute a gente ( ) ano passado deu testemunho se

usaram natildeo usaram tudo natildeo soacute a multimistura mas tudo que elas colocaram em praacutetica a

partir daquilo que olha teve depoimentos assim estarrecedores no sentido assim perplexo

bonito no sentido de que deu certo de que funcionou mudarem o haacutebito alimentar adotaram

multimistura sabe a economia domeacutestica que fizeram que passaram a consumir de uma

certa maneira e de um certo modo foi assim ( ) se perdeu neh ( ) uma oportunidade do

trabalho ((risos))

L1 entatildeo no caso o que eacute a garrafada e o que eacute a multimistura

L2 oacute tem que perguntar pra ela ((risos)) dona Maria taacute logo ali noacutes vamos laacute e tu pegunta pra

ela taacute bom da garrafada a multimistura eacute complemento alimentar de feito a base

de de produtos tem valor nutricional alto disponiacutevel principalmente para os mais pobres

porque agora natildeo principalmente na nossa regiatildeo mas o a a base dela eacute o farelo de arroz

a folha da da macaxeira neh e o gerginlim a folha da macaxeira eacute riquissiacutema em

vitamina A ( ) se tu quiseres eu te mostro

L1 an ram

L2 a o gerginlim eacute riquissiacutemo em caacutelcio neh aiacute quando ( ) olha tem ( ) gerginlim

preto ai eu fui levei laacute pra ela ele eacute mais rico ateacute do que o branco ainda tem todo o

material desse projeto aiacute na ( ) a doutora Clara produziu e a fundaccedilatildeo banco do brasil

publicou (a gente) fez o material infelizmente olha essa aqui eacute a tabela nutricional

tem aboacutebora arroz (colido) (as pessoas acham que pode comprar melhor) ( ) que tanto

ele tem de calcio neh ela compara sempre com o leite da vaca entatildeo ele leva esses trecircs

produtos aqui a vitamina C

L1 hum rum

L2 e a vitamina A que taacute presente em valor altissiacutemo na folha da mandioca neh o calcio

que taacute presente altiacutessimo no gerginlim ferro tambeacutem e ( ) olha que o tanto de ferro que

tem no farelo aleacutem da vitamina do complexo B neh B1 B2 ( ) assim com toda

complexo B neh essas trecircs quando a gente mistura ela eacute basicamente essas trecircs produtos

aqui entatildeo ele eacute complexo alimentar ele natildeo eacute um remeacutedio neh e eacute tem casos

assim do resultado dele que nem tava dizendo a FILHA DELA ela passou numa aiacute que ela

tinha ido ali no postinho aquele que tem ali naquela rua neh ( ) aiacute a gente tava laacute e ele

disse (Leacuteia) tem multimistura tem (quero um pouco) de multimistura eu disse (ela jaacute tava

172

perto) de ter neneacutem a a Geacutessica e agora eu tava (dando) depoimento que a a

doutora Clauacutedia tava falando neh olha trabalho de parto sangramento quem usa multimistura

natildeo tem isso neh e ela disse olha minha filha duas horas de trabalho de parto ela

teve teve sangramento natildeo teve natildeo sei o que natildeo sabe E EU assim ( ) soacute ela

tomou dois meses antes soacute e eu acredito que foi essa mulher que disse neh EU

ACREDITO que foi muito da alimentaccedilatildeo dela que comeccedilou a controlar essa senhora pra te

ter ideia quando eu convidei ela ano passado neh ( ) soacute fala em doenccedila neh aiacute disse

( ) olha a doutora Clauacutedia Brandatildeo vem aqui vai ter uma oficina expliquei neh aiacute ela disse

assim ah eu vou vecirc e comeccedilou a choradeira neh aiacute (eu insisti) taacute bom ( ) eu sei que

realmente vocecirc natildeo pode porque tambeacutem neh (continuei) insistindo eu sei que isso

ano passado neh a ( ) me ligou OI olha ( ) ah que oacutetimo acho que vocecirc natildeo vai se

arrepender e eu vou jaacute laacute a a eacute quarta feira agora neh dois dias atraacutes ela disse que natildeo tinha

se arrenpendido de natildeo ter ido deu o depoimento dela tudo que ela tem o que aconteceu

com a filha dela ateacute convidei ela pra me ajudar a fazer ali no bairro neh pras mulheres

novatas que foram entatildeo assim a multimistura ela tem esse potencial dentro dessa

composiccedilatildeo que ela tem neh e doenccedila degenerativa eu sei ( ) doutora Clara neh setenta e

dois anos com trecircs ou quatro cabelos brancos ((risos)) em toda disposiccedilatildeo soacute tem um

problema no joelho neh que ela anda assim puxando ( ) que de vez em quando ela tem que

taacute sentada mas uma disposiccedilatildeo que nem eu tocirc tendo mais ((risos)) jaacute taacute me fazendo inveja

ontem eu tava uma caco porque essa semana foi assim pesada pra organizar tudo neh ainda

fui com ela pra Beleacutem agora ela fica em Beleacutem ateacute aman ateacute domingo domingo ela jaacute

retorna pra Brasiacutelia que ela mora em Brasiliacutea

L1 ah

L2 que a mistura a multimistura eacute tudo isso aleacutem de produto ela tem que contar neh

como eacute que as pessoas que usam taacute se sentindo e a garrafada vocecirc pergunta pra ela ((risos))

melhor fonte

L1 a garrafada eu conversei com a Domingas

L2 foi

L1 porque ela faz neh ela produz a garrafada pra pra associaccedilatildeo neh

L2 isso

L1 entatildeo na na pimenteira o siacutembolo digamos assim que que trabalha com ervas que

produz que faz esse esse trabalho eacute a a Domingas

L2 a Domingas os outros tambeacutem eacute assim

[

L1 ( ) pessoa

L2 olha eacute isso que eu tava lhe dizendo eles devem usar sim em casa um chaacute um remeacutedio

mas assim jaacute produzindo com certo padratildeo com uma certa orientaccedilatildeo era um grupo de

trecircs quatro neh

L1 hum rum

L2 uma foi pra Paragominas por problemas familiares a outra eu digo que taacute cuidando do

pai mas digo que ela natildeo taacute Nica quando tu puder tu vem natildeo vai ficar de fora ( ) e e a

Irma a outra llaacute que aacutes vezes tem problema de de de desentendimento neh que que

desentedeu mas natildeo ( ) pelo menos eles se falam eles brigam mmas depois se entendem por

llaacute neh aiacute

[

L1 foi foi por causa disso que acabou o bioenergeacutetico na (comunidade)

L2 natildeoeu acho que natildeo natildeo foi por conta disso foi porque eacute a filha dela se interessou

mas assim aacutes vezes ele esse pessoal tem dificuldade de de dar um comando quando eacute

uma coisa assim mas acho que natildeo foi por isso natildeo tatildeo paradas neh quando que

quando o pessoal vai laacute elas fazem pessoal dali da ( ) inclusive eu tocirc incentivando ela

retomar consulta mas soacute que ( ) voltar treinar gente de novo entendeu porque o pessoal

173

vai laacute se consultar o pessoal das (bandeiras)

L1 eu tinha ateacute falado pra ela da irmatilde Edna em Capanema

L2 hum rum

L1 se tinha a possibilidade da irmatilde Edna ir na comunidade falar sobre o projeto

L2 ah que bom vocecirc conseguisse isso ( ) porque elas fizeram com um grupo de Beleacutem

[

L1 ela

diisse que vem sim

L2 vem pois eacute se vocecirc puder trazer vai ser oacutetimo porque eu tocirc insistindo pra ela retomar

porque ela taacute vendendo muita garrafada na redondeza pomada neh que ela fazia

pomada de cabacinha de uma certa maneira quando vinha essa farmacecircutica ela taacute fazendo

de uma outra maneira e tatildeo vendendo assim bastante a pomada de andiroba com cabacinha

L1 e todos estatildeo aqui na na na associaccedilatildeo

[

L2 estatildeo ai na associaccedilatildeo ((risos)) estatildeo ai na associaccedilatildeo

entatildeo a dona Domingas temos que retomar as consultas porque porque tinha que ter um

horaacuterio planejado e aacutes vezes na comunidade elas tinham dificuldade pra marcar um horaacuterio

elas ficavam laacute eu digo oacute mas vocecircs tem que ter paciecircncia tem que habituar o povo neh tem

que treinar as pessoas neh que aacutes vezes tem a ( ) que natildeo esperam satildeo elas que vatildeo ajudar

tem a roupa que taacute laacute no igarapeacute elas que vatildeo lavar ( ) vocecircs fazem um horaacuterio uma vez soacute

por semana neh e vamos tentar vamos retomar porque vocecircs estatildeo com o espaccedilo

construiacutedo TUDO reconstruiacutedo natildeo daacute pra abandonar que natildeo fica bem nem pra vocecircs

nem pra quem patrocinou o ( ) olha a minha cara ateacute eu mas a de vocecircs tambeacutem ((risos))

L1 entatildeo a a o trabalho com as plantas eacute uma caracteristica praticamente da mulher

L2 da mulher

L1 os homens natildeo se envolvem

L2 natildeo se envolvem tem os homens que sabem neh por exemplo laacute em tipitinga tem um que

eacute

L1 nem na produccedilatildeo

L2 aquela aquela tes natildeo natildeo na produccedilatildeo das plantas sim eles conhecem eles

guardam mas eacute mais assim eacute um perfil mesmo da mulher uma especificidade da mulher

no tipitinga tem um um senhor um homem que ele benze ele reza mas eu acho que ele tem

vergonha de se expor ainda natildeo tive tempo de me dedicar laacute com eles e dizer natildeo olha noacutes

vamos laacute o senhor tem que assumir sua sabe seu saber neh o senhor pode ouvir das

pessoas enfim ainda natildeo tive tempo de sentar com ele

L1 no caso no jacarequara natildeo tem neh essa caracteristica de trabalho com as plantas neh

L2 natildeo natildeo tem elas ateacute participavam do encontro soacute que ( ) comunidade e vejam se tem

algueacutem que quer fazer isso e aiacute vocecircs se quiserem a gente taacute aqui pra apoiar pra comeccedilar

a defender os passos tem a o grupo da pimneteira junto com o grupo que taacute na (outra vila)

que jaacute taacute mais adiantado pode ir laacute com vocecircs enfim daacute os primeiros passos SE VOCEcircS

quiserem fazer laacute faccedilam laacute se natildeo aqui tem uma infraestrutura melhor em termos de material

de local de fogatildeo de panela de um e de outro vocecircs podem fazer aqui como ela vem

uma vez na semana ela vem e faz aqui a pomada a garrafada enfim

L1 a dona Domingas vem pra

L2 fazer aqui aacutes vezes ela faz laacute

L1 an ram

L2 mas a grande parte do que eacute vendido aqui que eacute levado pra Beleacutem el vem fazer aqui

que ela ( ) junto com a dona Maria

[

L1 entatildeo ela eacute a

L2 eacute

174

L1 ( ) articulaccedilatildeo

L2 eacute ela eacute articuladora da ( ) dessa produccedilatildeo eacute

L1 ocirc Nazareacute brigada

L2 de nada espero ter atendido neh a sua

L1 com certeza

L2 ( ) aprofundar esse conhecimento aprofndar esse esse saber e principlamente contribuir

com essas comunidades neh com esses povos que precisam mesmo dessa desse apoio

da academia neh que a gente natildeo fique soacute na um trabalho de produccedilatildeo laacute ah taacute

bonito o seu trabalho pesquisa tal mas que isso possa realmente retornar pr essas pessoas neh

e que elsa possam se apropriar cada vez mais com seguranccedila de tudo isso

L1 taacute com certeza

175

APEcircNCICE E ndash Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento

Ladainha a Nossa Senhora

Nossa Senhora do Livramento

Matildee de Deus nossa Matildee

e padroeira de nossa Paroacutequia

Com o olhar confiante vos contemplamos

Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos

Dirigimo-nos a voacutes como filhos

porque necessitamos do vosso auxiacutelio

Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados

apoiados e guiados pela matildeo materna

Renovai-nos espiritualmente

para que saibamos enxergar a vida mais bela

Levantai-nos para caminhar sem medo

nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo

para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna

Nossa querida Matildee

Nossa Senhora do Livramento

abenccediloai-nos e guardai-nos junto de vosso coraccedilatildeo

e conduzi-nos ao coraccedilatildeo eterno e amoroso do Pai Ameacutem

ldquoNossa Senhora do Livramento

Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da almardquo

Senhor tende piedade de noacutes

Jesus Cristo tende piedade de noacutes

Senhor tende piedade de noacutes

Jesus Cristo ouvi-nos

Jesus Cristo atendei-nos

Pai Celeste que sois Deus tende piedade de noacutes

Filho Redentor do mundo que sois Deus tende piedade de noacutes

Espiacuterito Santo que sois Deus tende piedade de noacutes

Santiacutessima Trindade que sois um soacute Deus tende piedade de noacutes

Santa Maria rogai por noacutes

Santa Matildee de Deus

Santa Virgem das virgens

Matildee de Jesus Cristo

Matildee da divina graccedila

Matildee puriacutessima

Matildee castiacutessima

Matildee Imaculada

Matildee intemerata

Matildee amaacutevel

Matildee admiraacutevel

Matildee do bom conselho

176

Matildee do Criador

Matildee do Salvador

Virgem prudentiacutessima

Virgem veneraacutevel

Virgem louvaacutevel

Virgem poderosa

Virgem clemente

Virgem fiel

Espelho de justiccedila

Sede da sabedoria

Causa da nossa alegria

Vaso espiritual

Vaso digno de honra

Vaso insigne de devoccedilatildeo

Rosa miacutestica

Torre de David

Torre de marfim

Casa de ouro

Arca da alianccedila

Porta do Ceacuteu

Estrela da manhatilde

Sauacutede dos enfermos

Refuacutegio dos pecadores

Consoladora dos aflitos

Auxiacutelio dos cristatildeos

Rainha dos Anjos

Rainha dos Patriarcas

Rainha dos Profetas

Rainha dos Apoacutestolos

Rainha dos Maacutertires

Rainha dos Confessores

Rainha das Virgens

Rainha de todos os santos

Rainha concebida sem pecado original

Rainha assunta ao Ceacuteu

Rainha do sacratiacutessimo Rosaacuterio

Rainha da Paz

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo perdoai-nos Senhor

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo ouvi-nos Senhor

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo tende piedade de noacutes

Rogai por noacutes santa Matildee de Deus

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpeacutetua

sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-aventurada sempre

Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da eterna alegria Por

Cristo nosso Senhor Ameacutem

177

APEcircNDICE F ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoAlgodatildeo Roxordquo

Fotografia 36 ndashAlgodatildeo Roxo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 13 ALGODAtildeO ROXO

Lx Lexema Algodatildeo roxo

V Variantes Algodatildeo Branco ou Algodatildeo Preto

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo o algodatildeo rocho ele serve eacute pra () pra moragia pra remautismo tambeacutem faz o chaacute

tintura dele tal de efusatildeo eacute fazer a tintura neacute todo jeito se quiser fazer o chaacute faz a

tintura que usa gotinhas isso e pra moragia eacute tira o sumo da folha pra moragia da folha e uma eacute a haacute aquela dentro da sementinha dela da dentro da sementinha tem tipo

uma lanzinha assim dentro da sementinha pode quebrar a sementinha dela hurum

mas soacute que eacute um pouco maiozinha natildeo porque assim dentro da semente do algodatildeo a

gente tira ele tem dentro da sementinha dele a gente passa passa a sementinha tem

uma uma lanzinha assim tipo uma lanzinha neacute eacute o proacuteprio olho dele eacute o proacuteprio

adonde nasce sim aquilo aliacute eacute bom pra febre ele eacute bom pa pa febre instestinal crianda

do algodatildeo isso tanto faz ele ser o roxo como ser o branco como ser ele eacute bom para

isso tambeacutem febre do algodatildeo ele eacute um ele ele cresce te acho que tiacute trecircs volta de

quatro metros de altura ele ele eacute na terra que se daacute bem ele fica bastante

compundinho assim haacute a folha dele natildeo natildeo eacute aiacute ele tem de trecircs trecircs cor tem o branco

tem um que eacute meio roxinho tem algodatildeo branco algodatildeo roxo algodatildeo preto ((tosse)) da folha da folha da folha eacute ela eacute mais roxeada o algodatildeo branco a folha dele eacute

branca o algodatildeo roxo a folha dele eacute eacute roxeada e o algodatildeo preto ele eacute mas preto eacute

mas escuro hurum isso a folha a folha eacute os frutos eacute eacute soacute mesmo mesmo jeito a flor eacute soacute

um jeito tambeacutem hurum a cor isso isso serve mas o bom eacute o algodatildeo roxo e o algodatildeo

preto que o melhor de todos mas quando natildeo tem esses outros esses uns serve o

algodatildeo branco neacute eacute o chazinho a gente tira aquela sementinha parte a semente dele

dentro da sementinha natildeo tem cumo assim que nem uma lanzinha iai quando parte

bota pra ferver e daacute o chazinho soacute eacute uma febre instestinal daacute no intestino ele eacute ele eacute

uma folha assim o meio dela arendodada e tem trecircs de trecircs bicos grande os bicos

delas satildeo mas eacute eacute trepadeira mas isso eacute natildeo isso eacute uma arve

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

178

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e o algodatildeo que estaacute dentro da semente

Fu Formas de uso

Usada para hemorragias (fazer a efusatildeo com as folhas para tirar a tintura) o mesmo processo serve para reumatismo o algodatildeo dentro da semente eacute usado em chaacutes para

febre intestinal

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Haacute espeacutecies de algodatildeo branco e algodatildeo preto a cor da folha eacute determinante

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

179

APEcircNDICE G ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoArichi de Parigoacuterdquo

Fotografia 37 ndash Arichi de Parigoacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 14 ARICHI DE PARIGOacute

Lx Lexema Arichi de Parigoacute

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacute eacuteh uma planta que ela daacute ela daacute assim ela natildeo daacute muito alta ela daacute quase assim tipo rasteira mas num eacute bem rasteira ela bota muito assim os galhos os galhos cae

assim forma moita a folhinha dela eacute penem folha de canala um mesmo a folhinha de

canela iai ela eacute boa tambeacutem pra fazer tintura pra achar quem natildeo gosta de usar

tintura porque a tintura leva o aacutelcool toda tintura tem que ter o aacutelcool neacute tem que

ter natildeo eacute feita soacute no aacutelcool os que natildeo gostam da tintura usa o chaacute natildeo da folha a

gente pega tira a a tintura a gente pega assim pego o aacutelcool taacute qui e pega a folha

tritura tudinho coloca aqui dentro do aacutelcool com quinzi dias passando quinzi dias o

aacutelcool natildeo vai estrogar aiacute fica muda muda certeza aiacute despois coa brota no seus

vidrinhos pra usar as gotinhas () quando ela estiver com mal estaacute uma comida que faz

mal tiver assim com estomago cheio tem comida neacute ai bota a aacutegua comu o uso da

da farmaacutecia tem tem eacute o caseiro eacute natildeo natildeo sei natildeo eacute isso que eu tava dizendo eacute o

erichi de parigoreacute neacute eacute assim se comeu sentiu que a comida faz mal a assim enpachada conquela mal de gases eacute fazer isso num quiser fazer o chaacute das folhinhas

usa a tintura porque por isso eu em casa uso a tintura porque assim eu eu faccedilo deixo

ali quando taacute no ponto eu cou tudo ajeito tudinho e boto no vidrinho de gotinha neacute

que nos a gente tem vidrinho de gotinha e bota laacute se algueacutem precisar jaacute taacute pronto

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Utilizar as folhas para mal estar no estocircmago

Fu Formas de

uso

Chaacutes da folha tintura (deixa de molho no aacutelcool por 15 dias) para estocircmago

empachado tanto o chaacute como gotas da tintura

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

180

APEcircNDICE H ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoBabosardquo

Fotografia 38 ndashBabosa com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 15 BABOSA

Lx Lexema Babosa

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ((SORRIU)) eacuteh por causa da baba e ela eacute antiflamatoacuterio eacute essa mais eacuteeacute aquela goma

aquela gosma tem neacute a gente pega ela tira aqueles coise assim aquela goma dela

aquela coisa a parte de dentro vocecirc essa pode usa na guarrafada pode usar e no chaacute

fazer chaacute da folha assim se num quiser butar a folha inteira pode tirar essa baba pode

tomar usar em ferimento tiver um ferimento em golpe uma ferimento pode pegar bater

aquiloali butar tipo um plasticozinho aliacute pra disiflamar sim e pode tomar tanto bote

em cima pode tomar eacute ela eacute muito boa pra cabelo tambeacutem neacute pra fazer o cabelo da

gente desenvolver a babosa neacute ela eacute boa tambeacutem eacute pra eacute cacircncer () ela eacute muita boa tambeacutem pra cura o cacircncer a babosa

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Usar a baba da folha para inflamaccedilotildees ferimentos garrafada cacircncer crescimento do

cabelo

Fu Formas de

uso

Utiliza-se a baba em chaacutes garrafada ou direto na aacuterea inflamada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

181

APEcircNDICE I ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoBatatatildeordquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 16 BATATAtildeO Lx Lexema Batatatildeo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Masculino

Df Definiccedilatildeo natildeu eli eacute ambienti fechadu abertu mas eli natildeu eacute di vasueli eacute du chatildeu du chatildeu

assimnatildeu eli eacute eli eacute um cipoacute eli nasci aqui aqui eli cresci ( ) du maracujaacute maracujazeiru eli vai si agarrandu aqui vai tendu matu aqui eli via indu por cima matu i vai indu vai

caminhandu ateacute ondiporque na a a batata deli eacute um batatatildeu eacute uma batata mermu forma duma mandioca forma duma batata doci assim que eacute ai por issu colocaru u nomi

batatatildeoeacute a batatanatildeu nunca vi falar das folha eacute a batata aquela batata a genti vai laacute nu peacute deli i arranca eli cava qui eli qui eli daacute bastanti profundu eli natildeu eacute soacute assim da genti

chegar i puxar tem qui cavar com uma enchada pra tirar a batata eu jaacute vi ateacute uma ateacute dessi tamanhu assim neacute aiacute aquela batata a genti veimem pois eacute ela eu jaacute vi uma ateacute qui a minha

cunhada arrancou era bastanti grandona ela laacute aiacute a genti fatia ela a rodelinha e bota pra secar aiacute depois qui tiver seco a genti bota no liquidificador nu pilatildeu pisa i faz aquela

tapioquinha pra usar eacute ou nu mingau ou qui seja na comida ou si quizer pra fazer arreaccedilatildeu

eacute a genti toma eli mais avutadu neacute faz um chatilde bem forti toma eli faz arreaccedilatildeu mas essi dai eu nunca vi a minha voacute qui dizia que fazia mas eu nunca fez eu mesma neacute mas a minha voacute

dizia qui elis faziam u batatatildeu i quandu a genti taacute com problema nu sangui a genti toma assim us pocu por que eli tantu eli pru sagui da genti eli faz assim normaliza u sangui

da genti si a gente tiver com sangui fraco demais eli aumenta si tiver forti eacute uma erva qui eli normaliza u sangui da genti pra mulher qui taacute graacutevida eacute muitu bom tomar tambeim eli

faz limpeza nu sangui da genti eli faz limpeza nu sangui tem muitu genti assim crianccedila que tem muita assim qualquer coisinha daacute aquelis ferimentus neacute qui aacute a crianccedila tem problema

nu sangui aacute entatildeu eacute muitu bom tomar qui eli faz a limpeza nu sangui eli purifica u sanguitem folha tem flor a folha dela eacute quasi qui neim assim u formatu dum coraccedilatildeu

assim pu pesinhu da folha eacute larguinhu i paacute pontinha da folha eacute beim istreitinhu natildeu ela eacute pequenininha meacutedia ela eacute meacutedia ela eacute menas di qui a folha da vaca menor aiacute natildeu natildeu qui

neim folha de batata qui nem uma folha di bataba neacute batata doci ela eacute daqueli formatu soacute qui sempri a folha da batata eacute trecircs trecircs dedu trecircs sepraccedilatildeu trecircs parti ela eacute soacute uma pu

pesinhu da folha eacute largu paacute pontinha ela eacute estreita a flor delasim a flor dela ela coloca a flor aqui aiacute a flor abri a flor eacute assim uma flor tipu quasi qui nem a flor du maracujaacute

tambeim ela fica uma flor por aqui eu nem sei neim dizer comu eacute qui eacute a flor dela mais ela fica ela abri assim ai fica dentru fica aqueli miolinhu assim ai ela bota aqueli fica tipo a du

girassol assim qui eacute a florzinha dela neacute nu formatu du girassolsim issuela eacute meiu amarelada assim uma cor parda i sempri eli bota flor sempri nu veratildeu tambeacuteim quandu eli

botaela eacute du veratildeu ela nasci aqui nu invernu aiacute ela vai crescendu quandu ela taacute crescendu a batata dela taacute verdi aiacute quandu ela eacute que nem o caraacute quandu ela vai morrendu

eacute qui a batata taacute boa di arrancar nu veratildeu taacuteboa eacute porque nu veratildeu eacute qui ela taacute eacute qui ela ta madura a batata dela qui eacute pra genti arrancar por que nu inverno ela ( )i isso isso seca

as folhas seca e aiacute a batata ta madura boa di arrancar

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

A raiacutez eacute usada para purificar o sangue hemorragias fraqueza

Fu Formas de uso

A raiacutez eacute seca e triturada em poacute para usar como massa em minguaus ou o chaacute bem forte da raiacutez

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome vem do tamanho da raiacutez que eacute no formato de batata com dimensatildeo grande

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

182

APEcircNDICE J ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCapitiuacuterdquo

Fotografia 39 ndashCapitiuacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 17 CAPITIUacute

Lx Lexema Capitiuacute

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo ((sorriu)) o capitiuacute eacute uma arve nativa ela natildeo eacute uma planta ela eacute nativa ela eacute () no

cerrado eacutela a folha dela eacute grande ela eacute quenem a arve do cafeacute eacute grande a folha eacute do

mesmo modelo da folha de cafeacute aiacute pra do de cabeccedila tiver aquela doacute de cabeccedila enjoada

que natildeo passa qualquer doe a cabeccedila do nada tem gente que tem muita doacute de cabeccedila

eu graccedilas a Deus num so muito assim natildeo mas tem gente neacute hocirc minha cabeccedila docirc so

serve com doacute de cabeccedila isso a gente pega ela monte de folha quebratudinho bota pra ferver deixa no cereno quando eacute de manhatilde banha a cabeccedila muito bom pra tirar

aborrecimento aquela dozinha esse outro eacute chaacute mas natildeo eacute pra tomar o chaacute e soacute pra

lavar a cabeccedila eacute o banho de cabeccedila que a gente chama neacute eacute soacute pra isso que eu sei a

serventia eu sei pra isso que noacutes fazia capitiu eacute por assim ele eacute um pitiu num eacute cheiro

so se panha assim e cheirar tu vai dizer que o banho dele vai ficar daquele emo jeito

mas muda o cheiro dele cruacute eacute um jeito mas depois que ferve ele muda o cheiro dele ele

cruacute e pitiuacute jaacute taacute dizendo capitiu eacute assim um cheiro de peixe sei laacute um cheiro assim ele eacute

pitiu mesmo mas o cheiro dele depois de cozinhado ele natildeo fica ele muda pode banhar

a cabeccedila que ele fica assim sempre recedendo o cabelo da gente

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de cabeccedila enjoo e enxaquecas

Fu Formas de

uso

Chaacutes para banhar a cabeccedila (depois de ferver as folhas deixar no sereno da noite lavar a

cabeccedila na manhatilde cedo)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta na forma natural tem cheiro muito forte pitiuacute

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

183

APEcircNDICE L - Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCarrapicho Agudordquo

Fotografia 40 ndashCarrapicho Agudo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 18 CARRAPICHO AGUDO

Lx Lexema Carrapicho Agudo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico masculino

Df Definiccedilatildeo esse um eli tem eli eli cresci assim ateacute um metru i meiu di altura assim eu jaacute vi neacute

mais eli vai ateacute uns certus tempu eli eli si acaba tambeacutem eli num eacute num eacute uma arvri

que permanenci ali por certus tempu natildeo eli eli sempri eli nasci nu periacuteodu da

chuva aiacute quandu vai chegandu u secu eli eli jaacute vai si acabandu eli comeccedila a botar flor

botar as sementinhas daiacute a tendencia deli eacute morrer cai aqueli um pra nascer otru di

novu eli eli eacute nativu tambeacutem neacute eli num fica eli num fica uma arvri eli permaneci doi um ano dois ano soacute uma arvri natildeo eli morri aqueli um nasci otru di novu ele eacute uma

arvri qui eli cresci i eli bota uns galinho ele fica todu espalhadinhu assim os galhu deli

na ponta dos galhu eacute qui eli bota a sementinha deli tipo uma uma esporinha por aqui

tem com certeza qui tem assim por essa nessa invasatildeo neacute eu tenhu certeza tenhu toda

certeza qui tem esse matu eacute a folha deli eacute uma palmazinha eacute eacute assim uma folha

assim aiacute ela eacute toda repartidinha toda repartidinha toda uma samambaia sabi u qui eacute

samambaia ela eacute daqueli formatu di samambaia eacute toda repartidinha isso toda toda

partidinha assim a folhinha dele ( ) bota folha daiacute tem sai pedacim pra todo canto

assim a folha deli a flozinha deli eacute quandu antis deli abrir us carrapichim fica

abertinha eacute amarelinha ( ) u miolim da flor eacute amarelim neacute a depois qui qui ela abri qui

ela fica assim () ela bota florzinha agora assim eacute aquelis carrapichim qui eacute tudu agarradu quandu agenti qui eli taacute maduru agenti passa assim eli jaacute si agarra na ropa

da genti aquela isporinha nu fimzim daqueli coizinha tem aquela esporinha qui si

agarra na genti eacute na folha na flor dela eacute a sementi aquilu eacute a semente u carrapichu

qui agenti chama eacute a sementi neacute qui aqueli qui cai no chatildeu qui nasci otru natildeu eacute da

raiz da avre eacute da raiz eacute da raiz arranca eli aiacute lava rapa alguma qui seji e cuzinha i

faz o chaacute natildeu eli eacute assim qui nem na grussura dum dedu eli ateacute qui eli eacute uma avre

assim quandu assim a terra eacute boa qui eacute uma terra assim bem neacute eli eli daacute um tamanhu

assim dum metru i meio por aiacute assim neacute quandu eacute aquela terrinha meia meia cansada

meia meia batida meia dura assim eli eli cresci pequenu mas eli cresci eu jaacute vi assim

jaacute vai dependecirc da terra ela eacute uma achu qui ela eacute uma erva uma erva ela eacute du fri du

friu porque ateacute quandu chega a eacutepoca du veratildeu ela morri neacute ela nasci ( ) um tempu

dessi du veratildeu qui jaacute si passo u veratildeu laacute vocecirc passava laacute ela tava toda mortinha assim soacute os carrapichim dentro agora com a chuva qui ta dandu ela jaacute ela jaacute caiu agora ela

vai nascer ela ela vai nascer tudim quando aiacute ela crece ali aiacute aiacute quando ir che

chegando o veratildeo eacute eacutepoca qui ela vai morrer di novu qui o carrapichu dela cai nu

chatildeu daiacute ele nasce outro vem outro vem nativa eacute ela eacute nativa

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

184

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Eacute usada a raiz da planta

Fu Formas de

uso

Usada na forma de chaacutes para Icteriacutecia (amarelo da pele nas crianccedilas)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

185

APEcircNDICE M ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCatinga de Mulatardquo

Fotografia 41 ndashCatinga de Mulata com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 19 CATINGA DE MULATA

Lx Lexema Catinga de mulata

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo tem eu acho muita cheirosa eacute catinga de mulata num sei porque mulata eacute uma coisa

que mulata neacute jaacute sabe eacute caatiga de mulata eacute eacute o contraacuterio pra dizer cheiro de mulata

((sorriu)) por mim se fosse eu que fosse colocar num colocar num colocava catinga eacute

ela tem um cheiro forte pois eacute se fosse no meu caso fosse butar nome natildeo ia dizer

catinga a dizer cheiro de mulata mas eacute catinga de mulata eacute eacute pra varas coisas tambeacutem

eacute pra febre doacute de cabeccedila doacute de estamagu isso ela eacute uma planta eacute natildeo ela faz mas natildeo e

muito disiflamatoacuterio que eu tenho conhecimento dele ser desiflamatoacuterio natildeo ela eacute

assim pra bo despachar gases dentro da gente bom pra isso pra doacute de cabeccedila tambeacutem

eacute bom pra tudo isso tambeacutem ela eacute pequena desse modelo catinga de mulata desse

moledo dessa grande ai sim natildeo desse outro laacute come eacute o nome estoraque neacute isso ai manjericatildeo ele eacute pequeno soacute a folhinha dela eacute maiozinha um pouquinho mas

arendondada um pouquinho um poquinho mas eacute esse modelo eacute natildeo mas se tu natildeo

conhece assim se nem conhece a planta num vai conhecer pelo cheiro porque esse

aqui esse aqui eacute mais eacute mais durinho a catinga de mulata ela eacute mais ela eacute mais copada

e mais assim comueacute que eu quero dizer assim eacute mais fraacutegil o galhim dela pra quebrar

ela eacute assim mais ragadinho mais assim eacute delicado sim eacute esse daqui natildeo a gente ve que

ele ele eacute tipo uma madeira tipo assim neacute bem assim mas durinho e a catinga de

mulata ela eacute mas quanto mais ela eacute adubada que ela fi mas ela fica eacute ((sorriu)) eu

acho que porque ela eacute muita dengosa a catinga de mulata ((sorriu))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas caule e raiz satildeo usados para febre dor de cabeccedila no estocircmago

desinflamatoacuterio e gases estomacais

Fu Formas de uso

Chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem cheiro agradaacutevel catinga seria o antocircnimo de cheirosa

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

186

APEcircNDICE N - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCibalenardquo

Fotografia 42 ndashCibalena com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 20 CIBALENA

Lx Lexema Cibalena

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh eacuteh uma planta que nem a cidreira do mesmo modelo da cidreira tudo do um a

cidrera folha os galhos dela ela e brom bom pra febre doacute de cabeccedila tambeacutem neacute que

a cibalena na na farmaacutecia ela nu eacute bom pra febre pra febre pra doacute ela eacute do mesmo

jeito tambeacutem hurum o chaacute o chaacute eacute da folha do mais eacute das folha das folhas das arve ( )

natildeo tambeacutem natildeo

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para dores de cabeccedila febre e dores em geral

Fu Formas de

uso

Chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

187

APEcircNDICE O ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCoraminardquo

Fotografia 43 ndashCoramina com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 21 CORAMINA

Lx Lexema Coramina

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva ela eacute na natildeo ela eacute caseira ela e do frio do frio eacuteh ela essa daiacute

eu natildeo sei dizer muito bem o formato dela eacute e e a minha voacute dizia que era muito pro

problema de coraccedilatildeo tivesse sofrendo do coraccedilatildeo probremas aqueles agonia aquelas coisa fizesse o chaacute dela pra tomar mais soacute que eu natildeo conheccedilo bem essa

planta natildeo jaacute nu sei dizer isso aqui eacute o coramina soacute qui a minha voacute dizia assim o

coramina eacute bom pra quem tem o problema de coraccedilatildeo aquelas ferruaduras num tem

dar umas dor umas ferrruada ela dizia que era muito bom pra soacute sei que eacute bom

pra isso pra coraccedilatildeo olha com certeza

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas para problemas no coraccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes para dores no coraccedilatildeo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

188

APEcircNDICE P ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCrista de Galordquo

Fotografia 44 ndash Crista de Galo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 22 CRISTA DE GALO

Lx Lexema Criacutesta de galo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo esse daiacute eu natildeo vou dizer com garrafa porque eu nunca fez aquilo que eu nunca fez

num tenho assim um uma seguranccedila pra remeacutedio assim eacute eacute assim que os outros diz neacute

coquei ele como remeacutedio porque os outros que me indicaram ele eacute bom pra coraccedilatildeo

que tem problema de coraccedilatildeo coraccedilatildeo de bate acelerado bate num se que ele eacute bom

pra fazer o chaacute da crista da da flor da flor mesmo hurum mas soacute assim foi indicado

por o outra pessoa assim que tambeacutem tem conhecimento neacutew aiacute diz tambeacutem ela eacute que

nem uma criacutesta de galo ela daacute assim () uma os pezinhos dela agora aqui ela faz tipo

um folhinho uma coisa assim neacute espanhadinho e aiacute tem uns peacutenhinhos assim no pezinho da folha tem uns peacutenhinhos isso isso hurum natildeo eu tenho eacute assim que os outro

jaacute me indicou

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Eacute utilizada a flor da planta que tem formato de crista de galo para coraccedilatildeo acelerado

ou problemas do coraccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Pode ser feito o chaacute da flor ou usado na garrafada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

189

APEcircNDICE Q ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoErvatildeordquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 23 ERVAtildeO Lx Lexema Ervatildeo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva nativa eliele eacuteh do baixo do alagadoele nunca da assim no seco

natildeosempre ele daacute no lugar que eacute molhadoumiduclima molhado eacutemas se

tiverela precisa da quele ambiente que esteja molhado que ta assim com aquela

parte da lama daquela agua grossaela natildeu eacuteh da terra seca da terra limpa assime

num so da em aguada na quela agua que esteja misturado com aquela terracom

aquele limu que ela gostaela eacute pequenaela eacute fina tambeacutem assim o caulizim dela ela

sim eacute de quina tem umas quinalzinho a folha dela eacute cumpridinha estreita e ela eacute boa

pra tomar ela nunca fez ela eacute boa pra dor de cabeccedilafazer o chaacutefaz o cha da

folhapega tudim elebota pra cozinhar e deixa no sereno e di manhatilde banha a cabeccedila vai usando assim diretamentetem umas dor de cabeccedila encravadaa minha

cabeccedila nu passa nu sei o queuma dor de cabeccedila enjuada eacuteh fazer isso aiacutenatildeo sei

porque desse nome de ervatildeo natildeo sei porque eacute uma ervaela num eacute tatildeo grande pra ser

ervatildeoela num eacute tao grande ela tem uma florzinha bem pequenininhabem

roxinhabem piquinininhamas eacute folhamais tem um tem que ela tem as florzinhas

bem piquinininha bem roxinha

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e enxaqueca

Fu Formas de

uso

O chaacute das folhas e depois repousando no sereno da noite a cabeccedila eacute lavada com o chaacute

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

190

APEcircNDICE R - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoEucaliptordquo

Fotografia 45 ndashEucalipto com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 24 EUCALIPTO

Lx Lexema Eucaliacutepto

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ele eacute uma arvenha tambeacutem ele natildeo da muito do que eu conheccedilo num sei se tem uns eacute

natildeo ela natildeo eacute muito pequena ela eacute meacutedio ela num eacute muito pequena natildeo ela eacute boa pra

febre a gente usa ela pra febre o chaacute comu eu tocirc dizendo eu assim uso mas as tintutas

eu gosto de fazer mais as tinturas pra febre pode o chaacute isso pode pode fazer o chaacute e

pode usar a tintura pra febre eacute e pra febre eacute natildeo natildeo tambeacutem num sei natildeo nunca viacute flor dela nunca vi soacute soacute folhas compridas bem compridi compridinha comprida assim

com a ponta fina ela eacute estreita ela natildeo eacute largona natildeo ela eacute estreita pezinho da natildeo

((sorriu)) hurum conhece a vinagreira conhece vinagreira () soacute que ela eacute pouco

diferente soacute uma folha da vinagreira dela do eucalipto num tem uma folha aqui que

compara mas ela eacute assim olha assim cabeccedila assim e a ponta dela eacute mais fina o pezinho

dela eacute mais larguim e pontinha dela eacute () ((sorriu))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Utiliza as folhas para febre em geral

Fu Formas de

uso

Chaacutes e tinturas para febre

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a moradora referir-se agrave aacutervore

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

191

APEcircNDICE S ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoGeniporanardquo

Fotografia 46 ndash Geniporana com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 25 GENIPORANA

Lx Lexema Geninporana

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo um noacutes jaacute fazemos tudo isso em ((sorriu)) seraacute que nu taacute adoccedilado ((sorriu)) eacute um uma

arve nativa eacute ( ) e ela eacute tambeacutem assim modelo do cafeacute da arve do cafeacute ( ) eacute a mesma coisa

tambeacutem a folha dele eacute assim isso aiacute ele eacute bom pra picade di inseto cobra de copiatildeo essas coisas neacutew tiar o sumo da do caulhe dele tirar assim tirar aquela casca o entrecasca eacute bom

o entrecasca aquele do de cima ela natildeo natildeo a gente tira o sumo a gente faz assim tira o entrecasca dela daacute uma raspada assim assim meio pra sair tipo uma bucha assim ai bota

uma aacutegua isso ((sorriu)) eacute acho que ((sorriu)) eacute hurum eacute divide ser eacute u acho eacute eu acho metade dessa coisa eacute assim os indiacuteos que descobriu esse nome neacute que os indiacuteos para () eacute

os indiacuteos que que sabe porque esse nome porque assim os meu irmatildeo que eles aprenderam com meu pai porque meu pai tem sangue indiacutegena ele fazia ( ) ( ) aiacute meus irmatildeo eu

aprendia com meus irmatildeo papai ensinava neacute ai ele aprendia ele fazia porque assim vocecirc pega uma vara uma varinha assim vocecirc enrola ele aqui o tanto vocecirc podir natildeo quebra

natildeo fica do mesmo jeito do arco do iacutendio aiacute eu acho que ele tem relaccedilatildeo com os iacutendios que colocaram esse nome tavez neacute porque esse daiacute eu sei assim ele natildeo quebra neacute vocecirc

pega aqui ele num quebra ele eacute ele eacute isso vai depender da grussura dele tambeacutem neacute horriacutevel hurum isso hurum pra cortar o veneno ((sorriu))

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Utilizados a folhas entrecasca e caule para picadas de insetos cobra escorpiatildeo

Fu Formas de

uso

Do caule eacute retirado o sumo (colocado de molho na agua)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

192

APEcircNDICE T ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoHortelanzinhordquo

Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELANZINHO

Lx Lexema Hortelanzinho

V Variante Malvarisco

Cg Classe Gramatical Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo oh hortelanzinho eacute desse eu chamo pra esse hortelam sim porque assim tem

tem uma parinca que eacute hortelam tambeacutem eacute o grande aiacute tem desse pocha entatildeo

hortelam pimenta hortelam roxo e tem o hortelanzinho que eacute o hortelam nenecirc

que eacute o hortelam nenecirc hortelam nenecirc e esse eacute o hortelanzinho que eu chamo porque depois desse daiacute () hortelam sim grande eacute a folha dele grande eacute o

mesmo malvarisco isso eacute sim e tem o hortelam nnecirc eacute o menor de todas isso isso

essa daiacute tanto faz se da outra dessa dai serve para tomar chaacute serve pra butar nu

suco ela serve pode pegar o suco de qualquer coisa de limatildeo sei laacute du que for e

bater uma folhinha dele junto fazer charope eacute e memu coisa de hortelam nenecirc o

nenecirc ele eacute proprio pra nenecirc mesmo crianccedila mesmo eacute do tamanho e da cor

porque o hortelam nenecirc ele eacute branquinho ele num eacute roxinho ele eacute assim natildeo a

folha tudo que nem essa arve que taacute aiacute disse daqui natildeo o hortelazinho ele eacute

roxinho isso ele eacute roxinho o hortelam nenecirc eacute tudo assim eacute folha eacute o galhim dele

eacute tido assim eacute isso o hortelam grande jaacute eacute maior as folha dele eacute tido assim eacute tem

eacute eacute maior a folha dele eacute mais grossa a folha dele eacute bem grossa e serve tambeacutem pra o comu tempero comu por enquanto agora eu tenho hurum eacute neacute o hortelam

grande eacute daquele mesmo modelo o hortelam grande eacute eu acho que num sei natildeo

num sei e num sei dizer cume se tem doutro tipo tipo neacute eu soacute conheccedilo essa

trecircs tipo agora num sei se muda o nome desse mesmo do hortelanzinho eacute a

mesma pimenta num sei natildeo () natildeo

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas nos chaacutes e sucos

Fu Formas de uso Chaacutes xaropes e em sucos

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Tambeacutem conhecido pela variante malvarisco

Dc Data da Coleta 04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

193

APEcircNDICE U ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoHortelatilde Neneacutemrdquo

Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELAtilde NENEacuteM

Lx Lexema HortelatildeNeneacutem

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo porque ele eacuteh mais miudim doque todas do que os outros eacute ela eacute mais a folha dele eacute

do mesmo mesmo formato desse mesmo modelo soacute que ele eacute miudinho ele bran sim soacute

que ele eacute miudinho e eacute jaacute ele eacute roxinho esse daqui eacute roxinho esse um eacute branco tambeacutem

hurum mas ndem eacute natildeo eacute hortelam ela eacute mais pequenininha ele eacute todo assim

branquinho assim essa folha dessa coisa assim ele natildeo eacute roxinho assim natildeo eu tenho

laacute em casa eacute fazer chaacute pra bebe recenacido quando faze gripado tossindo injuado eacute

bom fazer chazinho pra daacute charope eacute isso neacute tosse com certeza eacute mesma coisa hurum eacute eu acho que ela eacute proacutepria pra crianccedila pra bebecirc mesmo pra bebecirc eacuteh quela eacute

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para gripes e tosses em receacutem-nascidos

Fu Formas de

uso

Chaacutes e xaropes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

194

APEcircNDICE V ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoJambu Roxordquo

Fotografia 48 ndashJambu Roxo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 27 JAMBU ROXO

Lx Lexema Jambu roxo

Va Variante Jamburana

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo planta rasteira do molhado de clima uacutemido eacute a mesma coisa que agente comi no

tacaca que faz eh a cor ela eacute nativa de tempu umidu ela serve pra do de

estomagu figadu quando com algum problema no figadu assim cuando consegue

almoccedila e num consegue janta aquilo parece que num desfaz parece todo tempu

cheio eacute problema nu figadu tem de faze o cha eacute de folha de flor com raiz com tudo o

importante eacute lavar bem lavadim e botas pra ferver com tudo e toma o cha a flozinha e amarelinha bem amarelinha mais do que o outro eacute bem amarelinha quase

roxinha eacute um poco menorzinha

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas flor raiz tudo bem lavado

Fu Formas de

uso

Utiliza-se o chaacute para dores no estocircmago problemas de digestatildeo e no fiacutegado

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A cor da flor amarela bem forte diferencia as espeacutecies

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

195

APEcircNDICE X ndash Informaccedilotildees gerais sobre o termo ldquoJenipapordquo

Fotografia 49 ndash Jenipapo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 28 JENIPAPO

Lx Lexema Jenipapo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma arve muita grande nativa tambeacutem ela nativa ela eacute grande tem fruto e do

fruto que a gente faz ela eacute o u o genipapo ele eacute rico em vitamina pra anemia agora que

eacute difiacutecil achar uma gente que diga que gosta num gostei natildeo o cheiro dele eacute muito

forte do fruto dele eacute forte o cheiro aquele cheiro eacute um cheiro forte mesmo assim comu coisa assim tava comu assim um litro de cinquenta e um assim que eacute o cheiro dele tem

gente que num gosta daquele mas ele eacute rico em vitamina pra quem taacute aneacutemico pra ele

eacute muito bom () ele eacute assim deste tamanho laranja isso quando ele taacute verde ele eacute duro

quando cai ele eacute mole ele fica eacute o suco pega ele eacute expreme bota accediluacutecar e pra tomar o

suco dele tirando disso fazer o licor tambeacutem eu uso laacute em casa mas pra fazer licor a

gente bota no aacutelcool no cinquenta e umo aiacute mas eacute mas mas aiacute depois a gente faz uma

garrafa de accediluacutecar diminui e diminui isso aiacute eacute pra bebida isso bebida pra quem gosta

de () o fruto o suco do fruto pra remeacutedio eacute tambeacutem assim ce tiver eacute uma rasgadura

uma qualquer coisa porque num sei se tu jaacute viu crianccedila que fica assim cum umbigo

grande assim a gente coloca o dedo a gente coloca o dedo a gente sente que aquele

que rasgado um vai laacute na arvore do jenipapo a arve dele tando vivo verde tira um tampinho da casca e vai aperta trecircs vezes no imbgo da crianccedila e vai coloca la dentro

tampinho no mesmo canto aiacute aiacute conforme aquele tampinho vai colocando vai sarando

ali ai vai diminuindo a a rasgadura na inbigo isso aiacute eu tenho poque eu fiz pro meu

filho ficar bom hoje ele eacuteh rapaz num tem quem diga o que ele era nunca passei com

meacutedico pra dizer doutor me diga o que eacute o que eacute o que isso nunca natildeo foi isso remeacutedio

que ensinavam natildeo riacute sim tuacute vai laacute um tampim assim neacute vai uma comparaccedilatildeo teacute

mede o tamanho do imbigo aqui e vai mede laacute no no quarto tira o tamanhinho que eacute e

vai aperta trecircs vezes aquele pedacinho de casca no umbigo e vai cola laacute de novo bota

no mesmo cantim deixa laacute ficar coladinho aiacute aquela casca vai cola de nova e colando

aliacute a ela ela assadura vai colando vai diminuindo neacute eu fiz com meu filho me

ensinavam neacute e eu fazia hurum

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de Casca para problemas no umbigo e frutos para bebidas

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

196

uso

Fu Formas de

uso

O fruto maduro eacute usado para fazer licor (accediluacutecar e bebida alcooacutelica) uso da casca para

rasgadura problemas no umbigo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

197

APEcircNDICE Y ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMamatildeordquo

Fotografia 50 ndash Mamatildeo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 29 MAMAtildeO

Lx Lexema Mamatildeo

Cg Classe Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo uh mamatildeo tanto ele eacute vitamina neacute ele eacute rico em vitamina o mamatildeo pra crianccedila pra idoso pra tudo eh como a semente dela eacute muito bom agente faze eh remeacutedio pra

coloca verme cum a sementi dele pega a sementi dele seca bem sequinha assim bem

seguinha agente torra ela bem torradinha ai soca bemai bota um poco demassa de

trigo de farinha de trigo ai da uma misturadinha ai faz um modelo dumas piulinha eh

muito bom prafazer as piulinha pra tomar pra verminose

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

A fruta eacute consumida como alimento e as sementes satildeo trituradas para uso medicinal

Fu Formas de

uso

As sementes satildeo trituradas misturadas com trigo e feitas as piacutelulas contra as vermes

em crianccedilas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

198

APEcircNDICE Z ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMangueirardquo

Fotografia 51 ndash Mangueira com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 30 MANGUEIRA

Lx Lexema Mangueira

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Feminino

Df Definiccedilatildeo a mangueira ela eacute bem grandi eacuteh uma planta tambeacutem ela eacute caseira agora ela eacute

muito boa de nascer todo quase caroccedilo dela nasce neacute e nu clima frio eacuteh num frio eacute folha comprida estreita bem comprida e estreita a semete eacute uma semente bem

grande que que ta que ta dentro do fruto neacute eacute assim um pouco chata a manga eacute a

manga eacuteh tem tem tem flor dela flor ela coloca assim uma assim tipo uma bage

uma coisa assim uma flor assim assim uns pivatildeozim neacute e vai colocando as flor dela

e a flor dela eacute bem piquinhinha as depois o fruto nasce dali da flor ele vai crescendo

eacuteh ela eacute uma arvore bem grandi cauli bem grosso eacute muito grande ela uns cinco

metros acho que ateacute mais de cinco metru ela eacute bem grande noacutes usa ela praa

diarreia quando ta com muita diarreia e eh fazer o cha da do entre casca pra

diarreia e pra tosse tambeacutem fazer o lambedor eacute do entre casca tirar aquele entre

casca do caule por que aquela casca de cima natildeo serve pra nada ai ah madeira

tambeacutem eacute o entre casca ai tira e faz o lambedo ela eacute travosa eacute travosa eacute ela eacute menos travosa que uh uh cajoeiro eacute amarela o cajoeiro eacute vermelho tomu cha

ou entatildeo faz o xarope o lambedo como diz o xarope o xarope eacute um pouco mais

grosso a gente tira o entre casca se tira ele bem limpinho se tiver o cuidado num

carece lavar se sair um sujinhu tem que lavar e bota pra cozinhar as depois que

tira agua que para eacuteh coa ele e colocao mel o accediluacutecar que eacute pra ele ficar assim tipo

dum xarope vai apurando ai tira coloca num vidro bem limpo e fica tomando isso eacute

pra crianccedila quando ta gripadu com tosse o xarope e pra diareacuteia eacute o chaacute faz o cha

dele e toma nois usa

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Para diarreia e tosse eacute usado o entre casca

Fu Formas de

uso

Para diarreia eacute feito o cha do entre casca para tosse e gripe eacute feito o ldquolambedorrdquo o

xarope eacute feito do cozimento do entre casca com o accediluacutecar

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

199

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

200

APEcircNDICE AA ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMaracujaacuterdquo

Fotografia 52 ndash Maracujaacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 31 MARACUJAacute

Lx Lexema Maracujaacute

Cg Classe Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo maracujaacute eacute folha eacute a fruta eacute a flor tudo serve eacute uma planta ela eacute caseira

maracujaacute ela da em todo todo clima mas eacute melhor eacute no frio mais ela da em todos

todo tempo ela sempre ela daacute a folha eacute redonda eacute assim num eacute redonda natildeo

tem trecircs parte a folha dela do maracujaacute ela eacute bem grandi tem trecircs partes trecircs

separaccedilatildeo assim trecircs dedo como nois diz assim ela natildeo eacute redonda trecircs biquinho

tudo junto com certeza eacute uma folha meacutedia e a sementinha dela eacute chatinha eacuteh

dentro do fruto bota o fruto e dentro uma sementinha a folha dela eacute bem grandi

afror dela eacute bem grandi assim eacuteh rouxinha assim aberandu o branco e por

dentro do miolinho eacuteh rouxinho cabeludinho o caule eacute fino eacuteh um cipoacute ela daacute

assim ela eacute grandi por que se ela pegar uma planta sobe inteacute de acordo com a

planta ela vai botando os galhos ai ela vai subindo ela serve pra eacuteh pressatildeo auta ela ela eacute calmante o maracujaacute ela eacute calmante e tanto faz ser a folha

comu a flor Comu uh suco dela a fruta ela eacute calmante qualquer parte se natildeo

tiver o fruto pra genti tomar o suco fazer o chaacute da folha se tiver a fror pode fazer

o chaacute que ela eacute calmante pra quem ta com estressi pra quem ta com falta de sonu

a gente pode usar de tudo aleacutem disso de tem muita vitamina no suco e muita genti que

tem muito estressi muita pressatildeo alta pode usar o chaacute pode usar o suco

diretamente eu digo isso por que eu gosto muito e o chaacute eacute o suco que eu mais gosto

in ateacute agora eu to com cinquenta e dois anos e nunca aumentou minha pressatildeo graccedilas

Deus natildeo tenho pressatildeo alta ah eu gosto muito eacute o suco que eu mais gosto ela da

sempre

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Folhas e flores satildeo usadas como calmantes baixar a pressatildeo alta e diminuir o estresse

Fu Formas de

uso

Os chaacutes das folhas e da flor como o suco do fruto

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a informante referir-se a planta

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

201

APEcircNDICE BB ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMastruzrdquo

Fotografia 53 ndash Mastruz com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 32 MASTRUZ

Lx Lexema Mastruz

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Masculino

Df Definiccedilatildeo olha eli eacute du ele eacute du friumais eli eacute du friu mas eli num eacute aquela aquela qui gosta

muitu du friu eli gosta du friu mais eli gosta tambeim bastanti da quinturadus dois eacute

ele num eacute eli eacute tem a sementinha delinatildeo eli daacute em qualquer ambienti eli daacute nu vasu

eli daacute chatildeo nu abertu nu fechadu nu quintau fora du quintal nu nu como eacutenu vazu em

todu jeitu eli daacute u mastruz eacute em todu jeitu pega eli joga a sementi aqui eli nasci daiacute eli

vai crescer si eli eli tem bastanti duraccedilatildeu eli dura um ano mais di um anu neacute soacute qui eacute

assim cai a sementinha deli tambeacuteim aqueli um jaacute morreu vai ficandu velhu vai

morrendu e u otru jaacute vai nascendu aqui u mastrus eli eli eacute assim eacute na terra qui eli si daacute eacute dificilmenti eli eli si acabar porque nasci a sementinha deli assim eacute bem

pequenininha bem pequenininha mais eli antis daqueli sementinha cair eli jaacute nasci

aqui eli jaacute nasci demais aiela eacute alta muita alta natildeu mas ela daacute por aqui assim ela daacute

ateacute um metru menus dum metru um poquinhu neacute as veiz ela ela bota galinhu tambeacutem

por todu cantu as vezis quandu eacute uma terra boa ela fica bonitanatildeu ela eacute planta

caseira ela num eacute nativa natildeu ela eacute caseiraeacute compridinha a folha dela eacute compridinha

eacute soacute uma folinha i tem uns dedinhus assim qui sai uns biquinhus assim uns

bordadinhus neacute na folinha delaa flor dela eu nunca vi a flor dela bota sementinha a

flor dela eu natildeu sei comu eacute qui eacute neacute tem a sementinha a sementinha eacute agarradinha

tudu ali pela galhu dela pelu nu tronquinhu da folha dela ela jaacute bota aqueli galinhu i eacute

aqueli galinhu jaacute vai botandu a sementinha a sementinha dela eacute bem pequenininha bem uma coisinha muita muidinha mesmu( )mastruz eli tem dois nomi mastruz i erva

santa maria neacuteerva santa maria natildeu noacutes aprendemos assim pelu livru eu conheci por

mastruz mesmu aiacute depois quandu veiu um livru qui era pra gente estudar erva-santa

maria erva santa maria a genti foi ver tava laacute a fotu deli i conhecemus qui eacute o mesmu

mastruz

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para machucados anti-inflamatoacuterio

Fu Formas de

uso

As folhas satildeo amassadas e colocadas no local do ferimento ingerido ou o chaacute das

folhas

Fn Finalidade Medicinal

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

202

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

203

APEcircNDICE CCndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMelatildeo de Satildeo Caetanordquo

Fotografia 54 ndash Melatildeo de Satildeo Caetano com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 33 MELAtildeO SAtildeO CAETANO

Lx Lexema Melatildeo Satildeo Caetano

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Df Definiccedilatildeo esse ai eacuteh nativo eacute uma verele eacuteh um cipozinho beim do tipo uma trepadeira ele vai a donde tem uma arviele se apodera pra ele sobre pra laacute onde tem uma

arvoreele se pega tambeacutem ele eacuteh do clima friodo invernomais no veratildeo ele

sempre somi ele eacuteh nativo tambei ele num eacute uma planta assim ele eacuteh nativo no

roccedilado quando a gente botou no roccedilado pra genti plantar assim gosta de nascer

aiacute ele eacuteh assim ver uma arvore assim ele se apodera pra subir ele eacuteh um

cipozinho bem fininhovive junto com a planta natildeo natildeo ele eacuteh muito durativo

vai vai um certo ponto quando o veratildeo acocha muito ele fracassaeacuteh ele fica

assim bem fraquinhele eacuteh assimo jeito dele e que nem maxixe assimquando

ele taacute pegando o maxixequando agenti planta nu nu geral ele fica que ele rama

assimeacuteh o melau satildeo caetano as folhinha dele eacute pequena menor que a folha de

maxixeredondinha eacute eacuteredondinhaos galinhu delo cipozim eacuteh bem finin me

daacute aquele cipoacute eacuteh bem mais fino que o cipoacute do maracujaacute muito bem mais fininhofininho mesmo eacute eacutehela bota uma florzinha amarelinha soacute uma

florzinha amarela ( ) ai despois o frutinho deleele bota um frutinho pequeninho

eacute eacuteh assim peludinho que nem uns picozinhus quem nem maxixe redondinho

assimtambeacutem meteacute agora num sei dizer se serve pra alguma coisa faz o

remeacutedio da folhaeacuteh o chaacuteeu uso na garrafadaservipra inframaccedilatildeo

tudotodo tipo de inflamaccedilaotildeai eu pego eleeu seco e bem sequinho na

sombra ai eu uso na garrafadana garrafada que eu usopor isso eu digo as

mias garrafadas todo tipo de remeacutedio eu coloco laacuteque serve pra uma

coisaser pra outrao frutuquando ta maduro eacuteh amarelinhuquando ta

verdi parece maxixequando taacute ele amadurece fica amarelinhusimamarelo

melau satildeo caetanonatildeo sei dizer

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas na garrafada para inflamaccedilotildees

Fu Formas de uso O cha das folhas para inflamaccedilotildees e tambeacutem as folhas secas satildeo usadas na

garrafada para todo tipo de inflamaccedilatildeo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Domingas Alves de Sousa 53 anos

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

204

Informante

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Quando a planta esta verde tem aparecircncia de maxixe quando maduro na cor amarela tem aspecto de um melatildeo pequeno

Dc Data da Coleta 04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

205

APEcircNDICE DD ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMortinha Miuacutedardquo

Fotografia 55 ndash Mortinha Miuacuteda com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 34 MORTINHA MIUacuteDA

Lx Lexema Mortinha Miuacuteda

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh ela eacute parente da mortinha peluda porque eacute nativa que nem a outra ela eacute

nativa ela num eacute uma planta que a genti planta ela nasce sozinha ateacute eh eacuteh

uma erva ela eacute nativa ela eacute medicina por isso que eu digo que eacute uma erva

uma erva nativa ela daacute assim ela gosta de todos os climas clima frio clima quente porque laacute perto de casa tem uma arvi eh todo tempo tau so um jeito ser

veratildeo ou seja inverno sempre no inverno ela muda um pouquinho por que claro neacute

num seca mas daacute eacuteh todo clima ela gosta mortinha miuacuteda eacute porque ela eacute bem

piquinininha a folha dela chama mortinha miuacuteda porque ela daacute mortinha folha

mais muidinha que existi eacute ela eacute menor ainda que a erva do jabuti menor ainda

ela eacute uma folhinha ela ela eacuteh meia compridinha ela num eacute bem redondadinha natildeo

ela eacute compridinha a folha dela eacute bem miudinha agora ela sim ela eacute mortinha

porque eacute uma arve tatildeo bonitinha a genti coidando dela ela eacute uma arve bem

bunitinha porque ela daacute meio baixa ela eacute copodinha formatu duma arve de

jambreiro ela toda cheinha tem flor a flor dela eacute bem miudinha miuditinha

(risos) natildeo sei nem bem dizer eacute porque assim bem pequenininha eacute pequenininha a

florzinha dela acho que tem sementi ainda natildeo prestei atenccedilatildeo mais com certeza ela tem sementinha a mortinha miuacuteda eacute lisa a folha dela eacute menor ela eacute

liso eacuteh essa outra mortinha peluda daacute mais alto essa eacute muito baixinha a mortinha

peluda eacute maior a folha eacute maior o olho dela quando ta sim que ela brota o olho

novo eacute bem rosiozinhu da peluda essa uma natildeo eacute toda soacute verdinha la perto da

minha casa tem uma grande dessa arvore dessa arve eu jaacute perguei um filhim dela

assim assim que ela nasce ela brota o filho dela eu tirei plantei bem pertinho de

casa ta bem bonitinho nois aprendemus com a minha avoacute quando uma mulher

ganhava neneacuten neacute que natildeo tinha aquele coiso de trazer pro hospital e tudo elas

fazia o chaacute pra tomar porque a mortinha miuacuteda faz a limpeza do utro da mulher

por dentro da mulher neacute aiacute ela fazia o chaacute aiacute durante assim um eacuteh quinze dias

vinte dias ela ficava fazendo o chaacute soacute natildeo era soacute dela pegava um monte de ervas pegava a mortinha pega gengibre pegava um monte de coisas assim que elas sabiu

e fazia u chaacute e nisso ficavam tomando planta que desinflamasse isso isso ela faziau

soacute soacute que eu faccedilu o chaacute dela ela num eacute tatildeo travoso assim mas ela tem esse poder

de desinflamar a pessoa e eu conheci muito a minha matildee que a minha voacute quando a

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

206

mamatildee teve os filhos que eu jaacute me lembrava que depois de mim ela teve cinco filhos

depois de mim neacute e nesse um eu via ela fazer esses chaacute todo dia ela fazia o chaacute too dia num era o negocio de botar nesse tempo nem existia geladeira nu

exista neacute aiacute a minhacutevoacute era assim quando a minha matildee ganhava filho cada uma

hora que ela ia comer antes da refeiccedilatildeo ela tomava o chaacute de manhatilde meio dia e

de tarde e a noite ela fazia aquele chaacute antes da refeiccedilatildeo feito da folha pegava

assim tipo uns galinho bem fininho tambeacutem ele tirava aquele galinho quebrava

colocava tudinho na panelinha e cozinhava e dava e sempre nois era curiosa e

perguntava voacute pra qui eacute isso pra que servi quando ela tava fazendu uma uma

velinha muita paciente a vovoacute minha filha isso que eacute pra mulher que tem filho tem

que tomar isso tem que tomar isso que eacute remeacutedio pra fazer limpeza nois via ela

fazer soacute do resguardo quando tava de resguardo essa outra mortinha peluda fazia

assim um probrema di di menstruaccedilatildeo neacute qui eu disse naquele dia pega assim

aquelas folhas bem vermelha folha dela novinha eacute bem vermelha enrolava nas folhas colocava embaixo da cinza quando jaacute tivesse mole espremia e tirava aquele

suco aquele caldo e colocava um pouco de cachaccedila e tomava pra normaliza jaacute

conheci por mortinha nunca perguntei ela tinha a mortinha miuacuteda esse nome

de mortinha eacute porque ela eacute bem miudinha tatildeo insensivelsinha ela eacute tatildeo eu

acho essas outras porque todas elas eacute mortinha neacute mortinha de morte ((

risos))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para o poacutes-parto e regular menstruaccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Usar o chaacute para limpeza do uacutetero e diminuir o sangramento na menstruaccedilatildeo tirando o

sumo da folha e misturando na cachaccedila

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo mortinha estaacute relacionado ao tamanho da planta que eacute bem delicada

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

207

APEcircNDICE EE ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMortinha Peludardquo

Fotografia 56 ndash Mortinha Peluda com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 35 MORTINHA PELUDA

Lx Lexema Mortinha Peluda

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Df Definiccedilatildeo natildeu natildeu eacute a morti essa uma eacute a vida num eacute a morti natildeu erraru neacute pra butari a vida

butaru mortinhaeacute mais achu qui eacute ela eacute nativa tambeacuteim ela eacute uma arvri mais jaacute jaacute

bastanti maior eacute uma arvri ela trepa bastanti grandi a arvri dela u cauli dela eu jaacute

vi ate dessa grussura asim neacute teacute dessa grussura assim ela daacute na capueira tambeacuteim

assim numa capueira ela daacute na mata assim eu sei qui ela eacute nativa mais eu nunca vi ela

na mata veju eacute na capueira natildeo menor daacute menor eacute eu jaacute vi menor num sei si ela

teim eacute nativa nativa eacute qualquer clima di qualquer ambienti ela nasci podi ser baxu

podi ser terra seca ela daacute a folhinha dela eacute compridinha tambeacuteim compridinha

larguinha i a flor eu da nunca vi a flor dela eu natildeu sei dizer eu natildeu sei dizer neacute sei qui ela assim u olhu dela assim qui ela brota qui ela taacute renovada u olhu dela assim bas eacute

bem vermelhu u olhu dela assim aquela folha nova eacute beim vermelhinhu beim vermelhu

vermelhu mesmu mortinha peluda porque ela eacute cheiu di pelinhu uma uma us

galhinhu a a os galhu dela assim aquelis galhinhu ( ) eacute cheiu di pelinhu natildeu num eacute a

folha eacute eacute us talinhu us talinhu assim umrum issu natildeu nau nau eacute eacute lisu eacute lisu eacute

paacute folha qui eacute peludinhu eacute teim aquelis pelinhu mais eacute pouquin neacute por issu qui

chamu mortinha porque ela teim varus varus tipu ai pra pra mudar ai butaru mortinha

peluda mortinha( ) qui daacute beim piquininhinha mermu qui a folinha deli eacute qui neim

aqueli mato ali ai teim di otra mortinha qui eacute a vauacutena qui teim aquela qui bota uma

frutinha bem vauacutena qui chama crianccedila gosta di comer daacute muitu nu pastu negociu di

pasto assim di juquira eacute vauacutena a crianccedilada comi qui ela ela daacute qui neim num teim

azeitona essas bicha aqui comeacute nau natildeu eu nunca vi natildeu nunca vi a frutinha dela mas com certeza ela bota porque assim ela ela eacute nativa as veiz genti num vai laacute vecirc

naquela eacutepoca ela ta sim num acompanha ai por issu qui eacute mortinha peluda porque

tocirc dizendu assim tem varus tipu di mortinha i cada uma teim um nomi a mortinha

peluda a mortinha essa outra qui eacute a lisa qui eacute a vauacutena qui eu to dizendu neacute as folha

dela as folha dela satildeo igual eacute eacute muita muita muita folha muita ela eacute uma arvri

assim qui ela daacute qui ela ispalha galinhu pra todu cantu pra todu cantu ela sai galho

dela assim ai( ) i aiacute ela eacute ela eacute uma arvri travosa ela eacute travosa ela presta tantu pra

mulher eacute fazer banhu di assei u neacute ela eacute bom issu travosu sim natildeu num eacute

normau eacute eacute a folha nova dela aquela folha du quandu brota aquela folha nova qui ela

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

208

fica assim beim vermelinha i pra assim mulher quandu taacute na menopausa qui as veiz

passa daacute assim passa du dia da menstruaccedilatildeu dela passa assim por que assim teim mulher quandu taacute im menopausa assim sempri assim passa assim neacute mais dia ai

assim ai minha matildei sempri fazia assim oacute i ensinava pega aquelas folhinha da mortinha

peluda i lava ela beim beim lavadinhu i embrulha numa folha di guarimatilde i bota numa

cinza dibaixu da cinza assim pra quilu assim amulecer natildeu secar pra ficar assim pra

depois qui tiver ali sequinha qui tiver moli qui tiver cozinhadu tira dali espremi i bota

um pocu di cachaccedila i tomaela solta ela ela solta ela depois dela taacute ali neacute com aqueli

suou qui ela ta ali abafadu ela soa ela amoleci ai bota um pocu di cachaccedila i toma

tinha genti qui iacutea na casa da mamatildeie i dizia assim qui tava com essi poblema neacute as

veiz era menopausa i as mulheacute natildeu tinha essi conhecimentu qui era menopausa aiacute elas

ficavu afrontada pensava assim qui jaacute era um comeccedilu di hemorragia issu tudo neacute ( )

conversandu ( ) ai eu aprendi cum a mamatildei quandu foi certus tempus neacute ( ) issu eacute

aiacute um tempu taacute cum mas ou menus um anu i pocu eu tinha uma minha colega tava assim colega da minha minina inte filha da parenti ali du antoniu froz ali neta du

finadu antoniu froz neacute ela procuro ela mando i a dominga eu to passandu mau ela

morava nu broca ela ligo si eu num sabia di um remeacutediu por que ela jaacute tinha tomadu

tanta da garrafada qui a matildei dela tinha feitu i ela tava com essi poblema mais ela eacute

nova mulher du primeiru filhu ela taacute cum vinti dois anus pareci ela taacute cum essi

poblema ichi to seim coragi pra nada si eu num sabia ensinar um remeacutediu eu dissi a (

) natildeu eu natildeu sei ensinar remeacutediu a tua matildei porque a matildei dela trabalha com garrafada

tambeacuteim neacute a a mamatildeie fez uma garrafada pra mim eu fez foi pioraacute apioraacute mais

dominga eu to ateacute com medu i eu num quiria ir negociu di cirurgia eu num quiria di

jeitu nenhum natildeu queru mi consultar ai eu peguei ensinei vou ensinar um remeacutediu qui

a mamatildei ensinava pra mulher ai eu peguei fez uma garrafinha neacute i mandei pra ela mandei u remeacutediu i feiz uma cartinha ensinandu comu ela fazia dissi adriani natildeu vou

fazer aqui porque pra mim fazer aqui tu mora longi ela morava nu broca aiacute eu mandei

pelu carru di alunu ai depois qui eu vi ela dissi dominga graccedilas a deus aqueli remeacutediu

foi em primeiru lugar pra mim seraacute qui feiz beim feiz beim qui ichi eu neim foi neim mi

consultar aqueli remeacutediu ela mi dissi neacute ela fazia assim quandu us otru ensinavu pra

ela neacute ai ela jaacute aprendeu com voacute com a matildei dela e aiacute ela fazia natildeu eacute issu eacute ela fazia

cum eu achu qui ela jaacute aprendeu com a voacute dela cum a matildei ai prontu ela jaacute faziu aqueli

remeacutediu dava certu aiacute elas iam so passandu di voacute passar pra matildee matildei passar pra filhu

filhu jaacute passa prus netu aiacute jaacute vai

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas para problemas com a menstruaccedilao hemorragia e menopausa

Fu Formas de

uso

Utiliza-se a folha embrulhada na folha da guarimatilde esquentando no fogo depois eacute

espremida e colocada na cachaccedila

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Existem vaacuterios tipos de mortinha a planta com a folha lisa eacute chamada Vauacutena

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

209

APEcircNDICE FF ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPata de Vacardquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 36 PATA DE VACA

Lx Lexema Pata de vaca

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh abertu amplu eacute ela eacute eacute mais du friu ela eacute uma forma di pata de vaca memu

ela daacute assim neacute ela assim aiacute ela reparti uma folha ela tem dois divisatildeo uma forma

duma pata di vaca mermu ela eacuteh meacutedia ela natildeu eacuteh tatildeu pequininha mas natildeu eacuteh tatildeu

grandi tambeacutem eacuteh meacutedia eu nunca vi a flo dela porque eu essa arvre laacute diabe laacute nu

nossu setor ela duro pocus tempu ela natildeu duro tantus tempu natildeu ela natildeu chego a bota

flo eacuteh essi um eli num era tatildeu piquininhu mais eli num era tatildeo grossatildeu diabet eli era

porque ela ela foi num era era uma arvri nova porque eacute comu eu contei qui meu irmatildeo elimino ela antis du tempu meu irmatildeu num sei u qui aconteceu or mininu cortaru ela

num chegoacute a si forma eu num sei dize u tamanhu dela a grussura dela i eu diabet da

nunca vi ela im otru cantu pra mim dize oacute isso aqui eu vi essa uma laacute im casa qui foi teacute

um meu colega qui levo pra casa i deu um galhu pa minha irmatilde aiacute ela plantocirc i aiacute ela

tava jaacute um bom tamanhu aiacute agenti num tinha um diabetete di qui ela era assim tatildeo

assim valiosa neacute eli eli chegoacute diabete assim oacute diab aqui eacute remeacutediu mais eli num disse

pra qui era i pra quecirc natildeu naqueli tempu agenti num tinha ainda muita diabetete di

assim fazecirc iab assim essi tipu di trabalhu remeacutediu garrafada essas coisa aiacute ela plantocirc

laacute i soacute sei qui iab sei qui laacute a folha dela eacute assim () i ela ela creceu numa boa altura

agora achu qui aquilu inda nu era u tamanhu dela assim diabetete neacute achu qui ela

inda ia crececirc mais ela eacute meacutedia eacute uma planta eacute ela eacute uma planta eacute meacutedia eacute

meacutedia cum certeza ela eacute uma planta meacutedia natildeu soacute o cauli a folha isso agente usa a folha dela pra remeacutediu i a casca pra fazecirc u chaacute pra diabete neacute () me diabet qui ela eacute

boa pra diabete ela eacute folha i casca

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo utilizadas as folhas e o caule para Diabetes

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome tem relaccedilatildeo com o formato da folha (pata de vaca)

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

210

APEcircNDICE GG ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeacute de Galinhardquo

Fotografia 57ndashPeacute de Galinha com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 37 PEacute DE GALINHA

Lx Lexema Peacute de Galinha

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminologico Feminino

Df Definiccedilatildeo ela eacute uma erva ela eacute uma erva ela eacute nativa ela daacute nu pastu assim neacute tipu um capim

ela eacute um capim( ) soacute qui ela daacute u formatu di um peacute di galinha mermu ela nasci aqui u

pezim deli ali ela ispalha mais naquela a dondi ela espalha ali us pezim eacute qui ela bota

a sementinha uma pequena semetinha tambeacuteim beim piquenininha ela eacute mais ou

menus meiu palmu assim beim miudinha teim sim sim ela bota o caulizinhu qui eacute u

peacute di u formatu di uma perna di galinha mermu u formatinho neacute bota aqueli caulizinhu ai na pontinha deli qui ela espalha u pezinhu aquelas folinha prum ladu i pra otru fica

nu formatu di um peacute di galinha eacute eacute issu eacute nu invernu eacute eim qualquer tempu eacute

qualquer cantu ela daacute achu qui eacute por causa du formatu noacuteis conhecemus tambeacuteim

cum ela neacute cum ela queacute dizer quandu otra pessoa tava com dor di denti ela mandava

fazer u chaacute assim quandu tava com aquela dor di denti assim cum inchaccedilu aiacute ela

mandava fazer u chaacute faz u chaacute du peacute di galinha pra fazia u chaacute esfriava i tomava ali ( )

porque naqueli tempu edilene era difiacutecil assim ah qualquer coisa ir pru hospital

qualquer coisinha aqueli tempu natildeo tinha aacute cecirc eacutesi natildeu tinha aqui era muitu difiacutecil pra

genti vir aqui pra paacute neacute uma consulta uma coisa a minha voacute a minha matildei num foru

acostumada assim qualquer coisinha taacute nu hospital qualquer coisinha sentia uma dor

di cabeccedila ah eu vou pru hospital vou pru hospital di jeitu ninhum num era dessi jeitu natildeu a minha voacute eu conheci ela qui eu tocirc com cinquenta anu cinquenta i dois anu eu

nunca vi ela dizendu assim eu queru ir pru hospital eu tocirc cuma dor di cabeccedila eu tocirc

cuma dor di barriga eu tocirc com uma diarreia eu queru eacute ir pru hospital nunca ouvi

nunca nunca nunca sabi comu eu nunca vi soacute remeacutediu caseru agora fossi na casa

dela neacute ela ( ) uma panelinha di barru qui ela usava panelinha di barru aiacute di manhatilde

ela preparava ela pegava eacute denti di alhu quandu natildeu tinha u denti era casca du alhu

um bucadu di coisa mastruz botava laacute aiacute cozinhava noacuteis chegava laacute qui noacutes era

curiosa neacutevovoacute pra qui eacute issu aqui eacute pra mim beber mais u qui eacute que secirc tem voacute nada

meu filhu issu eacute remeacutediu mermu mi deu na cabeccedila deu fazer as vezis ela dizia assim eu

amanheci assim com uma dozinha nu meu estocircmagu uma coisa um ventu uma coisa

assim quasi naquilu eli si curavu naquilu ela nunca foi eu nunca vi ela num hospital natildeu assim dizendu eu queru ir eu vou mi consultar mi levu pra mi consultar nunca eu

mais saudia era ela quandu adoeceu foi pra morrer velhinha jaacute quandu ela adoeceu

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

211

foi pra morrer i ela foi assim ela caiu aiacute sI bateu neacute ai u titiu ainda ainda quis levar

ela pra consulta pru hospital ela num quiz ir di jeitu nenhum ela dissi qui natildeu adiantava ela ir qui ela sabia qui ela natildeu ficava boa era tempu dela morrer i ela jaacute

tava velha di idadi ela jaacute andava devagarinhu u titiu anda feiz umas consulta assim

pra ela foi consultar i trouxi umas injeccedilatildeo mais ela natildeu ficou boa mermu mais natildeu

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de dente e inchaccedilo na boca

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dores de inchaccedilos nos dentes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem aspecto de um peacute de galinha

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

212

APEcircNDICE HH ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeatildeo Brancordquo

Fotografia 58 ndash Peatildeo Branco com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 38 PEAtildeO BRANCO

Lx Lexema Peatildeo Branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma planta eacute caseira clima tantu faz ela gostalugar que eleela ela gosta

tantu faz eacuteh aela eacute bem resistente inverno veratildeo veratildeo ela eacute resistente ela sim a

folhadela eacute media ela eacute redondafolha dela verdio fruto delaelabota assim

tipohum tipo caixinho ai dentro da da daquele cachu da a sementi neacutebota as

sementinhas e quando a genti pega dentro aquela caixinha tem sementinha delaque

a gente abre o remeacutedio e a sementi dela que eacuteh o remeacutedio ela da o cacho bota o cacho

assimas pontinhas daqueles coisinhus assimbota o fruto ai dentro do fruto

daquelas daquelas cachopinhos parte que taacute a sementinha a sementinha preta dela

ela bemeacuteh a sementi que usa no caso do peau a folha dela eacute remeacutedio prano caso ta com dor de cabeccedila uma ma tontura mucha a folha dela a folha do peatildeo branco

mucha um pouco no fogo passa um pouco de alho e coloca na testa e pra tontura

neacuteminha voacute fazia cuando algueacutem com tontura fazia issoaiacute o leite dele que a genti

corta assim o caule dele sai dele uma aguazinha eacute e tambeacutem muito esse noacutedia se pegar

na roupa da genti tem que ter muito coidadu usar o leitiele aiacute si tiver crianccedila que

tiver ferida na boca antau dor de denti muito celente pra usar o leiti corta o leitizim

dele bota numa esponjinha de algodatildeo e coloca no denti ferida na tambeacutem eacute bom

tambeacutem agenti pega apara o leiti dele bota um pouquim de sal e coloca na boca da

crianccedilaa sementi delea genti pega a semnetinha dele aquela sementi num eacuteh tao

pequenininha ela eacute muito bem maior que a sementi de urucumbem maiora genti pega

elaeh uma crianccedila tiver com tossetiver ehproblema daquela asmaela servi pru bucado de coisas as veis febre as veis fartiu a crianccedila num quer comerse pega ele

assim parte aquele sementinha tem o coidado de tirar a folhinha porque agenti fica

olhando assim agenti percebi a folhinha dele que ta dentro daquela sementinhauma

folhinha dentroassim pra nascer neacuteaquela folhinha assim quando ela ela agenti

parte jaacute percebi a folhinha jaacute ta li aquela folhinha agenti tem que tirar tudinhu na

mimpega uma faca tira tudinhu e pega aquela sementinhaela eacute que nem uma coco

que nem um coquinho assim neacuteaquela massinha ai pega faz umbota ela pra

assarbotaela fica amelinhaai pega pisa pisa e da pra crianccedila pouco tambeacutem

neacutemuito natildeo porque se der muito ele da um acesso de vomito que eacute forte eacutehisso aiacute

eacute remeacutedio mas neacute todo mundo que sabe fazer e eacute difiacutecil de ensinar pro outra pessoa

fazer remeacutedio caseiro tem essa ciecircncia neacutepurque a genti natildeo sabendo fazeragenti

ateacute evita de ensinar pra uma pessoa porque ele natildeo tem costume de fazerele tem

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

213

ciecircncia remeacutedio caseirotem chaacute que a genti pode beber o tanto que fornatildeo ta nem

aimas agortem remeacutedio caseiroo peatildeoo peatildeo eacute muitoa mimha matildee fazia pra nois agenti comeccedila a tossirnois era muito neacuteuins tussindu as veis gripadu ela

tiravaela tirava aquela folhapegava uma pontinha da faca ehmae o que eacute isso

no crianccedila curiosa sabe coma eacute neeh olhe isso eacute afolha que tem que tirar se comer

com essa folha morre ela dizia neacuteeacute veneno essa folha tem que tirar e assava so as

bandinhas ela pegava um espetinhu fazia uns espetinhos bem fininhu botava pra

assar so na quentura despois ela moiacutea assimdava para nois comerquando dava

certo ela misturava com qualquer coisaquando dava certo quando natildeo dava

assim quando nois jaacute era entendidopor meus filhos eu nunca fizeu jaacute comimais

eu nunca fiz nuca cheguei a fazer eu sei fazereu sei preparar do jeito que minha matildee

fazia pra nois nunca dava nunca dava mais de uma sementicom a folhinha muito

coidado com aquela folhinha de dentro da sementi

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e tontura Do caule eacute retirado um leite para dor de dente feridas na boca A semente eacute usada para febres e vocircmitos

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dor de cabeccedila para tontura a folha eacute esquentada com um

alho e colocada na lateral dos olhos O caule tem um leite que eacute retirado para colocar

com um pouco de sal nos casos de dores no dente ou feridas na boca Dentro da

cachopinha da planta tem a sementinha que eacute assada e triturada para acessos de

vocircmitos e febres

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Dentro da sementinha da planta existe uma folhinha bem pequena que deve ser retirada

para o preparo do remeacutedio segundo seu saber a folhinha eacute venenosa por isso nem

todos sabem preparar a medicaccedilatildeo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

214

APEcircNDICE II ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoQuebra Pedra Brancordquo

Fotografia 59 ndash Quebra Pera Branco com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 39 QUEBRA PEDRA BRANCO

Lx Lexema Quebra Pedra Branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminologico Feminino

Df Definiccedilatildeo eacute uma erva uma erva ela eacute ela achu qui pertenci um poquinhu friu um puquinhu

quenti ela tambeacuteim daacute assim ela tambeacuteim daacute nessa eacutepoca assim di natildeu muita chuva

natildeu muitu sol sempri ela ela gosta di daacute i ai tambeacuteim ela ela eacute nativa tambeacuteim ela

nasci assim tambeacuteim pelu quintau nu canteru sozinha ela nasci e ai quandu chega u

veratildeu qui eacute u veratildeu aperta muitu aqueli veratildeu di novembru dezembru ela morri ela si acaba natildeu ela eacute assim num teim u cuminhu di planta u cuminhu di planta jaacute viu u

cuminhu di planta natildeu natildeu sim sim sim () aqueli cuminhu qui a genti planta nu

canteru neacute pois eacute eli eacute daqueli jeitu eacute u formatu da di cuminhu sim sim sim pois eacute

natildeo mais quandu a genti dexa eli crescer eli da sementi eacute eli num cresci porque

quandu chega aquela eacutepoca a genti tem qui arrancar pra planta otru pra genti vender

daqueli jeitu neacute mais deixandu eli sementa i a a quebra pedra eli fica na formatu di

duma arvri di cuminhu di planta i ai eli a folha deli eacute beim muiditinha eli eacute eli eacute uma

avre assim pequeninha tambeacuteim e a a folha deli eacute bem miudititita assim a folhinha

deli mais ou menu eacute a folhinha daacute muita piquinininha tambeacutem mas daacute florzinha

dela beim miudititita ela teim teim teim natildeu natildeu natildeo natildeo eacute uma plantinha

piquinininha mas eacute uma planta eacute qui neim qui neim u cheiru verdi qui nem u cheiru verdi eu nunca vi u cheiru verdi assim di flor neacute mas eu jaacute vi mas eli eacute qui neim u

cheiru verdi assim a avrinha deli ai daacute daacute us galhinhu daacute as folhinhas beim miuditita

assim porque eli distroacutei as pedra di rim neacute achu qui eacute por issu qui u nomi deli eacute

quebra pedra quebra pedra eu aprendi nu livru tambeacuteim nu livru foi qui eu

aprendi issu foi a minha matildei i minha voacute a minha matildei i minha voacute qui muitas dessa

essa daiacute agenti sabia dessi nomi quebra pedra agora natildeu sabia a importacircncia qui eli

tinha mas u nomi a genti jaacute sabia por que ela eacute branquinha a a folha porque teim di

duas marca tem du roxu i teim du branquinhu i u bom eacute o que eacute branquinha

piquininha i branquinha i du roxu eli eacute du mesmu formatu mas soacute qui eli eacute roxinhu

tambeacuteim eacute a folha eacute a folha a raiz i assim a genti arranca ela tudu i lava i bota pra

fazer u chaacute deli completu folha cum raiz cum tudu

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de As folhas satildeo usadas para problemas renais

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

215

uso

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes contra as pedras nos rins e na garrafada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome da planta tem relaccedilatildeo com a funccedilatildeo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

216

APEcircNDICE JJ ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoSalsardquo

Fotografia 60 ndash Salsa com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 40 SALSA Lx Lexema Salsa

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo natildeu a salsa di remeacutediu eacute otra ela eacute du ela tantu faiz pra ela ela gostu du du mais

ela eacute du ambienti mais friu um tempu dessi( ) ela ela podi passar u veratildeu mas ela num

morri mais natildeu ela fica assim meia fraquinha amareladinha mais ela num morri

quandu chega u invernu ela renova tudim ela fica toda renovada e ai a folha dela eacute

bastanti grandi tambeacuteim eacute assim num formatu dum coraccedilatildeu tambeacuteim ela soacute qui ela eacute

mais grandi e eacute eacute um cipoacute tambeacuteim ela eacute cipoacute quandu quandu daacute certu dela subi ela

sobi mais ela eacute du chatildeu du chatildeu eacute du chatildeu natildeu natildeu eacute sobi eacute eacute si ela ver otra otra

planta ela sobi i aqui ela jaacute bota u cipoacute ela jaacute jaacute sobi aqui se der certu prela descer i

ela vai dandu cipoacute i vai dandu raiacutezes nu cipoacute i vai i pegandu vai indu ela num eacute aquela

raiz soacute nu peacute dela natildeu ela vai botaacute nu u cipoacute i vai i vai raizandu issu daiacute eu num sei dizer eu conheccedilu por essi nomi ( ) eacute porque natildeu eacute ela eacute nativa eacute eacute nativa teacute nu

lugar qui ela daacute qui ela nasci eacute difiacutecil ela ateacute si acabar natildeu soacute salsa eacute eacute eacute porque

a du temperu ela eacute qui neim cheiru verdi neacute du mesmu jeitu du cheiru verdi a salsa du

temperu i essa uma natildeu ela eacute um cipoacute ela daacute assim pertu di casa teim uma a genti

luta paacute acabar essi comecirc di rola ocirc ocirc essi que daacute eli daacute mais nu roccediladu eacute elas vatildeu

a salsa teim muitu laacute pertu di casa ela chega nu terreru eu cortu eu arrancu soacute qui ela

eacute difiacutecil dela si acabar ela fica escondidinha ela fica to dizendu nu veratildeu ela fica

amarelada soacute qui ela num si acaba pa dizecirc morreu natildeo noacuteis arranca noacuteis corta ela

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas em alimentos

Fu Formas de

uso

Usam-se as folhas como cheiro verde serve para dar sabor no alimento

Fn Finalidade Tempero

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

217

APEcircNDICE LL ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoVassourinhardquo

Fotografia 61ndashVassourinha com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 41 VASSOURINHA Lx Lexema Vassourinha

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ela eacute nativa ela nasci tambeacuteim nu paacute assim terreru nu quintal sempri a vassorinha

sempri ela gosta mais assim assim du molhadinhu du uacutemidu eacute mais nu veratildeu ela eacute

bastanti resistenti tambeacuteim nu veratildeu eacute com certeza eacute natildeu uma arvrizinha tambeacuteim

uma arvri piquinininha mas ela eacute arvri num eacute rastera natildeu num eacute grama ela eacute formatu

duma vassora bota arvrinha aqui daqui espalha us nasci us galinhhu neacute ela espalha aiacute teim a folha dela eacute qui neim a folha di mastruz ela eacute mais menas mais eacute u mesmu

formatu da folha di mastruz assim eacute uma folinha uma folinha com com um frizadinhu

assim soacute qui pequena eacute menozinha um pocu du qui a folha di mastruz i aiacute a sementinha

dela eacute beim pequenininha tambeacuteim daacute umas bolinha assim umas bolinha qui neim um

pirulituzinhu uma coisa soacute qui eacute beim piquininha neacute aiacute ela bota a sementinha dela

tambeacuteim sim a florzinha dela eacute assim meia roxinha beim piquininha a florzinha dela

bem piquininha assim meia roxinha branquinha assim um roxozinhu claru eu

aprendi com a minha voacute tambeacuteim com us meus tiu inteacute quandu quandu eu tinha um tiu

vinha a ser tiu da mamatildei a genti considerava qui neim avoacute eli eli benzia dor denti aiacute

quandu eli chegava uma pessoa laacute agrave eu vim aqui pra oce benzer meu denti eli taacute

doendu num sei u quecirc eli mandava vai apanhar uma vassorinha um galhinhu di

vassorinha pra mim com aqueli cum aqueli galhinhu di vassorinha qui eli fazia u trabalhu deli assim benzia neacute ai agenti aprendeu aiacute as depois ai tinha veiz qui eli fazia

eu fazia aqueli trabalhu ai depois as veiz eli dizia olha au chegar na tua casa pega

dois dois trecircis pontinhas di folha di vassorinha i pisa com pouquin di sal i coloca

quandu u denti tinha aqueli coisa neacute aquela furadu neacute bota um pouquin di sal i coloca

ai genti fazia era u remeacutediu qui eli mandava i ficava bom ai conheci por vassorinha

porque a vovoacute tambeacuteim dizia qui era era um vassorinha porque eacute eacute pa ensinar crianccedila

pequenu tira um galhu di vassorinha i meti nais costa dessi safadu por qui galhu di

vassorinha num doacutei muitu eacute pra ensinar crianccedila pequena neacute aiacute tinha qui dizer assim

ai tambeacuteim antigamenti ar mulher faziu vassora pra varrer da planta apanhava

dondi tinha muitu neacute apanhavu ela i amarravu assim aqueli fexu aqueli monti i botavu

num cabu di pau i faziu vassora pra varre dondi num natildeu natildeu ela eacute beim ela eacute beim uma uma beim cheinha eacute uma plantinha pequeninha mais ela eacute cheia ela eacute quasi qui

neim u mastruz( ) eacute u mastruz eli espalha mais eli eli eli cresci assim mais grandi eli

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

218

bota mais assim eli fica maioacute a a vassorinha ela eacute um formatu di uma arvri di

jambreru soacute qui eacute piquininha mais eacute naqueli formatinhu qui ela eacute di jambreru nativa eacute pra alergia tambeacuteim eacute banhu fazer u banhu dela qui eacute pra

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de dente

Fu Formas de

uso

Pega-se a folhinha amassa com sal e coloca em cima do dente

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta era usada como vassoura pelas mulheres por ser bem encorpada aleacutem disso

usava para disciplinar as crianccedilas e tambeacutem em rezas pelo tio

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Page 4: Estudo Terminológico das Plantas Medicinais da Comunidade ...

3

ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO

Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade

Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do

Paraacute - PA

Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo

em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do

Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Aacuterea de concentraccedilatildeo Leitura e Traduccedilatildeo Cultural

Aprovada em ______ ______ ______

Conceito _________________________

Parecer Final ______________________

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas (UFPA-Campus de Braganccedila)

Orientadora

________________________________________________

Prof Dr Elias Mauriacutecio da Silva Rodrigues (UFRA-Campus Capanema)

Membro Externo

_________________________________________________

Profordf Drordf Tabita Fernandes da Silva (UFPA-Campus de Braganccedila)

Membro Interno

_________________________________________________

Profordf Drordf Carmen Luacutecia Reis Rodrigues (UFPA-Campus de Castanhal)

Suplente

4

Dedico este trabalho ao meu esposo

Haroldo Jorge e minha filha Maria

Lorenna pelo apoio incondicional e

constante incentivo Aos meus familiares e

amigos pela paciecircncia incentivo e

amizade

5

AGRADECIMENTOS

A DEUS

Ele colocou pessoas tatildeo especiais a meu lado sem as quais natildeo conseguiria alcanccedilar e nem

superar as dificuldades dessa caminhada Meu eterno louvor e gratidatildeo ao Senhor de minha

alma Obrigada sempre

Agrave Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas

Por acreditar em mim me mostrar o caminho da ciecircncia por ser exemplo de profissional e de

mulher a qual sempre seraacute modelo na minha vida Muitiacutessimo obrigada

Aos Professores

Profa Dra Raimunda Benedita Cristina Caldas Prof Dr Guumlnter Karl Pressler Profa Dra

Sylvia Maria Trusen Profa Dra Carmen Lucia Reis Rodrigues Profa Dra Tabita Fernandes

da Silva Profa Dra Roberta Alexandrina da Silva Prof Dr Joseacute Guilherme dos Santos

Fernandes Prof Dr Pedro Petit Pentildearrocha Profa Dra Georgina Negratildeo Kalife Cordeiro

Prof Dr Flavio Leonel Abreu da Silveira Prof Dr Luis Junior Costa Saraiva Prof Dr

Salomao Antonio Mufarrej Hage Profa Dra Nilsa Brito Ribeiro Profa Dra Maria do

Perpetuo Socorro Galvatildeo Simotildees pelas contribuiccedilotildees nas disciplinas ministradas e no curso

em geral Obrigada a todos

Ao Prof Dr Elias Mauriacutecio

Pela amizade que transcende ao tempo pelo incentivo e contribuiccedilatildeo para que eu pudesse

realizar esse sonho Meu sincero e especial obrigada

Ao Prof Dr Jair Cecim

Que me fortaleceu e me fez tentar natildeo ser a melhor mas fazer o melhor de mim Obrigada

Agrave senhora Domingas Alves

Suas contribuiccedilotildees foram basilares nesse estudo Sempre disponiacutevel e disposta a ajudar com

seus saberes a senhora me fez enxergar que existe um mundo infinito de conhecimentos que

ultrapassam geraccedilotildees atraveacutes das lutas e das conquistas alcanccediladas pela forccedila de um povo

Muito obrigada por tudo

Agrave senhora Nazareacute Guirard

Que se mostrou incansaacutevel e atenciosa contribuindo significativamente com informaccedilotildees

fundamentais nos trabalhos com as plantas e respeito agrave natureza Sempre obrigada

Aos moradores quilombolas de Pimenteiras

Por me receberem e acolherem na comunidade respeitando e contribuindo espontaneamente

para que o trabalho demonstrasse sua histoacuteria e identidade Todos merecem meu eterno

agradecimento

6

Aos meus pais Zaqueu Alves e Lucia Salomatildeo

A quem amo muito obrigada pelo carinho paciecircncia e incentivo Meu infinito

agradecimento Amo muito vocecircs

Aos meus irmatildeos Joseacute Weliton e Maria Helem

Pela dedicaccedilatildeo e auxiacutelio nos momentos difiacuteceis vividos em nossas vidas Obrigada

Ao meu esposo Haroldo Jorge

Meu amor que sempre acreditou em minha capacidade meu companheiro que se dedicou

espontaneamente a me acompanhar ajudar e me equilibrar nos momentos de dificuldades

Devido ao seu companheirismo amizade paciecircncia compreensatildeo apoio alegria e amor este

trabalho pocircde ser concretizado Obrigada por ter feito do meu sonho o nosso sonho Te amo

Agrave minha pequena e amada filha Maria Lorenna

Sua presenccedila em minha vida trouxe um incentivo a mais para continuar Natildeo eacute por mim mas

por vocecirc meu amor que sempre busco alcanccedilar e ser o melhor Amo vocecirc meu cheirinho

As amigas Alaiacutece Pereira Alcilene Morais Sara do Socorro

Que diretamente fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando Meu

eterno agradecimento pela amizade Valeu meninas

As amigas do Mestrado

Pelos momentos divididos juntos especialmente agrave Myrceia agrave Michelly Adriana Elizabete e

Aldilene que se tornaram verdadeiras amigas e tornaram mais leve meu trabalho Obrigada

por dividir comigo as anguacutestias e alegrias e ouvirem minhas bobagens Foi bom poder contar

com vocecircs

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia

Por abrir as portas para que eu pudesse realizar este sonho que eacute a minha Dissertaccedilatildeo de

Mestrado Vocecircs proporcionaram-me mais que a busca de conhecimento teacutecnico e cientiacutefico

mas uma liccedilatildeo de vida Ningueacutem vence sozinho OBRIGADA A TODOS

7

ldquoHaacute um casamento que ainda natildeo foi feito no Brasil entre o saber

acadecircmico e o saber popular O saber popular nasce da experiecircncia

sofrida dos mil jeitos de sobreviver com poucos recursos O saber

acadecircmico nasce do estudo bebendo de muitas fontes Quando esses

dois saberes se unirem seremos invenciacuteveisrdquo

Leonardo Boff (1938)

8

RESUMO

O presente trabalho traz um levantamento dos termos sobre as plantas de uso medicinais

catalogados e utilizados pelos moradores remanescentes de quilombola da comunidade de

Pimenteiras pertencente agrave cidade de Santa Luzia do Paraacute no Estado do Paraacute cujo

procedimento de anaacutelise parte de conhecer as praacuteticas dos saberes no fazer uso das plantas

medicinais nessa comunidade Foram elencados aspectos relacionados com a comunidade

suas origens e seus saberes sobre as plantas medicinais que se tornaram siacutembolo de

identificaccedilatildeo cultural dos moradores quilombolas Assim nosso propoacutesito eacute mostrar que a

linguagem eacute algo que identifica e marca as caracteriacutesticas de um grupo ou de um indiviacuteduo

do mesmo modo que a liacutengua de especialidade sobre as plantas de uso medicinal utilizada

pelos moradores quilombolas revela uma identidade cultural forte desse grupo Os estudos

terminoloacutegicos de Krieger e Finatto (2004) serviram de base para analisarmos os termos e

suas especificidades no contexto particular da linguagem assim como a abordagem

socioterminoloacutegica de Faulstich (1994 1995 1996 2001 2003 2006) propiciou observar

por meio dos termos suas construccedilotildees variaccedilotildees e definiccedilotildees no que concerne ao

conhecimento repassado entre as geraccedilotildees Construiacutemos este trabalho utilizando uma

metodologia com instrumentos usados antes durante e apoacutes a pesquisa para a anaacutelise dos

dados coletados Os recursos da informaacutetica entrevistas transcriccedilotildees de diaacutelogos orais fichas

terminoloacutegicas e registro de imagens foram alguns dos meacutetodos usados na construccedilatildeo do

trabalho Em suma observamos que o saber da cura por meio das plantas medicinais estaacute

preservado na memoacuteria e na liacutengua dos moradores quilombolas da comunidade de

Pimenteiras

Palavras-chave Plantas Medicinais Saber Tradicional Identidade Cultural Terminologia

Socioterminologia Termo

9

ABSTRACT

This paper presents a survey of the terms on the medicinal use of plants cataloged and used by

the remaining residents of Pimenteiras community maroon belonging to the city of Santa

Luzia do Paraacute in the state of Para whose analysis procedure of knowing the practices of

knowledge to make use of medicinal plants in this community Aspects of the community

were listed their origins and their knowledge about medicinal plants that have become a

symbol of cultural identification of quilombo residents So our purpose is to show that

language is something that identifies and marks the characteristics of a group or an individual

just as the specialty of language on the medicinal use of plants used by the quilombo residents

reveals a strong cultural identity of this group The terminology studies Krieger and Finatto

(2004) formed the basis for reviewing the terms and their specificities in the particular context

of language as well as socioterminological approach Faulstich (1994 1995 1996 2001

2003 2006) led to observe through terms of their buildings variations and definitions

concerning the knowledge passed on between generations We developed this work using a

methodology tools used before during and after searching for the analysis of the collected

data computers resources interviews oral dialogue transcripts terminology records image

recording these were some of the methods used in the development of the work In short we

see that the knowledge of healing through herbs are preserved in memory and language of the

quilombo residents in Pimenteiras community

Keywords Medicinal Plants Traditional knowledge Cultural identity Terminology

Socioterminology Term

10

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade 33

Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras 33

Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas 34

Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada 35

Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda 36

Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas 37

Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento 37

Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena 44

Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico 44

Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o

funcionamento do organismo 45

Fotografia 11 ndash Salsa dissecada 45

Fotografia 12 ndash Canela dissecada 46

Fotografia 13 ndash Vinagreira dissecada 46

Fotografia 14 ndash Mucuracaacute 95

Fotografia 15 ndash Folha do Mucuracaacute 95

Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti 98

Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti 98

Fotografia 18 ndash Noni 100

Fotografia 19 ndash Folha do Noni 100

Fotografia 20 ndash Pataca 102

Fotografia 21 ndash Folha da Pataca 102

Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata Pasto 105

Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem 105

Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo 108

Fotografia 25 ndash Folha de Vassoura de botatildeo 108

Fotografia 26 ndash Nambu Tutano 110

Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano 110

Fotografia 28 ndash Paratudo 115

Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo 115

Fotografia 30 ndash Gergelim Branco 118

Fotografia 31 ndash Folha do Gergelim Branco 118

Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho 121

Fotografia 33 ndash Folha do Urucum Vermelho 121

Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho 123

Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho 123

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute 96

Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti 98

Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni 100

Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca 103

Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-de-Muquem 105

Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo 108

Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano 110

Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo 112

Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo 115

Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco 118

Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho 121

Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho 123

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 PIMENTEIRA OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE

QUILOMBOLA 18

21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA 19

211 Remanescentes o que restou 22

212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras 25

22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO 28

221 Ladainha agrave Nossa Senhora do Livramento 31

222 AQUAFAP O desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola

nos saberes das plantas medicinais 39

223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico 42

23

SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM

PIMENTEIRAS 47

231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes 51

232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais 53

233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes 55

234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais 58

3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 61

31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL 62

311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular 65

32

A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS

ESPECIALIZADOS 68

321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada 70

33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL 73

331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da

Socioterminologia 76

332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico 79

4 METODOLOGIA 85

41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE

PIMENTEIRAS 86

42 A PESQUISA DE CAMPO 87

43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS

DADOS 89

431 Entrevistas 89

432 Recursos de anaacutelise dos dados 90

433 Termos Catalogados 90

5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE

UM POVO 92

51 MUCURACAacute 94

52 ERVA DE JABUTI 97

53 NONI 100

54 PATACA 102

55 PAU-DE-MUQUEM 104

56 VASSOURA DE BOTAtildeO 107

57 NAMBU TUTANO 109

58 QUEBRA PEDRA ROXO 112

59 PARATUDO 114

13

510 GERGELIM BRANCO 117

511 URUCUM VERMELHO 120

512 ERVA DE PASSARINHO 122

6 CONCLUSAtildeO 127 REFEREcircNCIAS 132 APEcircNDICES 143

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

ldquoSou apenas um escritor Um cultivador Um jardineiro Um florista A minha

felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me

excita quando acabo de as colherrdquo

Joaquim Pessoa (1948)

A liacutengua traz em seu contexto a identidade cultural de um povo A partir desta

questatildeo procuramos discorrer na presente dissertaccedilatildeo sobre o ldquoEstudo Terminoloacutegico das

Plantas Medicinais da Comunidade Remanescente de Quilombola de Pimenteiras em Santa

Luzia do Paraacute ndash PArdquo As experiecircncias vividas em grande parte de minha vida na cidade de

Santa Luzia do Paraacute me fizeram conhecer diversas comunidades proacuteximas agrave regiatildeo

comunidades com caracteriacutesticas fortes que marcam a identidade dos moradores e de toda

sociedade luziense

Por conhecer e vivenciar os saberes e a cultura das comunidades de Santa Luzia do

Paraacute escolhemos particularmente a comunidade de Pimenteiras por ser uma regiatildeo rica em

sua biodiversidade e por querer mostrar os saberes que os moradores quilombolas possuem

sobre a terra suas origens e seus saberes medicinais Contribuiu para o levantamento da

pesquisa a receptividade dos moradores de Pimenteiras que permitiram conhecer melhor sua

cultura diversidade na natureza e seus anseios de conseguir a titularidade da terra quilombola

A comunidade de Pimenteiras fica localizada na regiatildeo rural de Santa Luzia do Paraacute

a cerca de 30 km de distacircncia da cidade em uma estrada sem asfalto com caminho de difiacutecil

acesso o que inviabiliza agrave populaccedilatildeo desta comunidade assistecircncia agraves suas necessidades

baacutesicas Formada por moradores de origem quilombola muitas famiacutelias chegaram a este local

haacute muitos anos tendo saiacutedo da comunidade de Narciacutesea na cidade de Capitatildeo Poccedilo ndash PA em

busca de melhorias para o sustento de suas famiacutelias Pimenteiras eacute uma comunidade cujos

moradores buscam por meio do conhecimento e valorizaccedilatildeo de suas raiacutezes fortalecer seus

viacutenculos com a terra e a natureza a sua volta Deste contato especial com a natureza os

moradores conhecem e utilizam seus saberes na aacuterea da medicina tradicional

O saber da cura por meio da medicina popular continua preservado no falar dos

moradores remanescentes de quilombolas pelas informaccedilotildees sobre a influecircncia negra e

tambeacutem indiacutegena A manipulaccedilatildeo os cuidados com as plantas a forma de cultivo as relaccedilotildees

associativas nos nomes das plantas medicinais vecircm de longas geraccedilotildees que sofreram e

15

sobreviveram com a ajuda da natureza Eacute diante do saber preservado na liacutengua dos moradores

quilombolas que desenvolvemos este estudo sobre os termos das plantas medicinais

Com o intuito de conservar o saber das geraccedilotildees mais antigas um pequeno grupo da

comunidade quilombola registrou amostras de plantas medicinais da regiatildeo em que vivem

cada espeacutecie com os nomes de uso popular que os moradores conhecem pois observamos

que dentre os nomes registrados para uma mesma espeacutecie de planta ocorrem variaccedilotildees na

nomemclatura

Entender como uma comunidade guarda e preserva seus saberes por meio da liacutengua eacute

de suma importacircncia para o andamento deste estudo de cunho popular e cientiacutefico

Compreender como a liacutengua se mistura e se reinventa nos usos de um povo eacute o que mais

chama nossa atenccedilatildeo nos aspectos dos estudos do termo Levando em consideraccedilatildeo que

nenhuma Liacutengua eacute homogecircnea efetivamos um pequeno estudo sobre a liacutengua suas relaccedilotildees e

interferecircncias na sociedade Percebemos que a utilizaccedilatildeo das plantas medicinais eacute uma praacutetica

universal na medicina popular pois eacute o resultado do acuacutemulo de conhecimentos empiacutericos

sobre a accedilatildeo dos vegetais por diversos grupos eacutetnicos

No decorrer dos estudos observamos que haacute diversas expressotildees populares

direcionadas ao uso dos vegetais para a sauacutede tais como ervas caseiras folhas medicinais

vegetais medicinais ervas medicinais e plantas medicinais Estas diferentes expressotildees dos

termos ocorre por questotildees culturais que variam de uma comunidade para outra De modo

particular utilizamos neste trabalho os termos ldquoplantas de uso medicinalrdquo ou ldquoplantas

medicinaisrdquo Por fazer parte do falar de uma comunidade os termos catalogados sobre as

plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras foram analisados no contexto da linguagem

de especialidade que eacute campo de estudo da Terminologia

Dentre as ciecircncias que estudam o leacutexico a Terminologia1 estuda um subconjunto da

liacutengua relacionado a uma aacuterea especiacutefica do conhecimento humano esse subconjunto eacute

composto por signos especializados que chamamos de termos Quando o uso da liacutengua passa

por um processo de transformaccedilatildeo no qual certas palavras adquirem uma significaccedilatildeo dentro

de um domiacutenio de conhecimento particular entre um grupo de falantes que compartilham da

mesma aacuterea de conhecimento essa particularizaccedilatildeo eacute de domiacutenio da linguagem de

especialidade e o termo eacute seu objeto de uso

Eacute nesse contexto que a Terminologia direciona seu olhar ao fator social na anaacutelise

dos dados linguiacutesticos Com isso surge a Socioterminologia como um campo teoacuterico e

1 Haacute uma tendecircncia a convencionar que Terminologiagrafada com T maiuacutesculo eacute indicativa de campo de

conhecimento e com t minuacutesculo eacute referente ao conjunto de termos de uma especialidade (KRIEGER 2004)

16

aplicado que segundo Faulstich (1995) eacute uma releitura da terminologia tradicional que

incorpora aos estudos do termo o aparato social considerando nesse aspecto os fatores de

variaccedilatildeo linguiacutestica Gaudin (1993) tambeacutem edificou seus estudos terminoloacutegicos por meio de

outras aacutereas de conhecimento como a Sociolinguiacutestica e a Sociologia campos amplamente

estudados pela Socioterminologia que observa a dimensatildeo social na comunicaccedilatildeo

especializada sem estar separada dos discursos em que os termos emergem

O estudo do termo diante da perspectiva socioterminoloacutegica traz o registro e anaacutelise

das variantes da linguagem de especialidade De acordo com Faulstich (1995 p 285) ldquoo

princiacutepio subjacente da pesquisa socioterminoloacutegica eacute o registro da(s) variante(s) que leva em

conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico em que os termos circulam []rdquo

Em consideraccedilatildeo ao que foi explanado este trabalho tem o proacuteposito de verificar os

registros dos termos analisando e identificando os usos de domiacutenio dos mesmos sobre as

plantas medicinais que por conseguinte distinguem a comunidade de Pimenteiras Assim

selecionamos como objeto de estudo os termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

que foram catalogadas pelos moradores quilombolas quando criaram o projeto do

Bioenergeacutetico na regiatildeo Muitos dos termos alistados possuem nomenclatura diferenciada em

relaccedilatildeo aos usos comuns da liacutengua Essas particularidades vieram de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo com

o repasse dos saberes entre famiacutelias e amigos principalmente entre as mulheres Sob o prisma

dos pressupostos da Terminologia e da Socioterminologia daremos enfoque no processo de

constituiccedilatildeo do leacutexico semacircntico conceitual dos termos sobre as plantas medicinais de

Pimenteiras observando se este saber especializado sobre as plantas traz traccedilos da identidade

cultural dos moradores quilombolas

Por uma questatildeo didaacutetica nosso trabalho dissertativo foi organizado em cinco

capiacutetulos No primeiro capiacutetulo oferecemos uma visatildeo geral sobre o presente estudo a ser

direcionado para a anaacutelise dos dados registrados nessa dissertaccedilatildeo explicando alguns

conceitos baacutesicos que seratildeo fundamentais para situar a localidade os sujeitos envolvidos no

estudo dos termos relativos agrave comunidade e as plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras

No segundo capiacutetulo apresentamos os aspectos relacionados agrave comunidade de

Pimenteiras suas origens ndash quilombola e da comunidade ndash os remanescentes de Pimenteiras

a cultura religiosa ao lado de suas lutas pela terra Em seguida apresentaremos o trabalho

com o Bioenergeacutetico e o iniacutecio do processo de catalogaccedilatildeo dos termos analisando as relaccedilotildees

entre o saber e o conhecimento para a construccedilatildeo dos sujeitos de saberes Demarca-se

tambeacutem a presenccedila do gecircnero feminino preponderante nas relaccedilotildees com o conhecimento

17

tradicional nesse contexto representado por Domingas Alves do Nascimento como uma

grande personalidade na comunidade e responsaacutevel por buscar sempre ampliar os saberes que

possui sobre as plantas fazendo com que a comunidade de Pimenteiras tenha como identidade

cultural seus saberes preservados e utilizados entre as geraccedilotildees afrodescendentes

No terceiro capiacutetulo expomos a base teoacuterica deste trabalho ancorada nos estudos

Terminoloacutegicos e Socioterminoloacutegicos verificando assim questotildees sobre a importacircncia da

liacutengua na identidade cultural de um povo Em seguida reconhecemos o valor das plantas

medicinais para o conhecimento cientiacutefico e popular como tambeacutem nos aspectos relacionados

agraves ciecircncias do termo tais como a Terminologia e a Socioterminologia fundamentais para

compreendermos a importacircncia da terminologia nos estudos especializados da liacutengua assim

como o estudo do Termo como base para o estudo socioterminoloacutegico

No quarto capiacutetulo abordamos sobre os procedimentos utilizados na pesquisa de

campo na comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras apontando os objetivos

gerais e especiacuteficos do trabalho relatando sobre as entrevistas a catalogaccedilatildeo dos termos sobre

as plantas medicinais os recursos utilizados para o tratamento dos dados e em seguida o

organograma do conhecimento sobre a cultura das plantas medicinais

Todo o processo de estudo percorrido nesta dissertaccedilatildeo culminaraacute no quinto capiacutetulo

no qual apresentamos a anaacutelise Socioterminoloacutegica dos termos de Pimenteiras Nesse

capiacutetulo seguimos algumas etapas na anaacutelise do termo no contexto da variaccedilatildeo terminoloacutegica

observando a linguagem como representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras e os

aspectos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinais Mostramos como os

termos variam de acordo com as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos aleacutem de analisar

se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade medicinal verificando

por meio da definiccedilatildeo de cada termo sua descriccedilatildeo dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber

especializado

Diante das variaccedilotildees dos termos e portanto das diversas definiccedilotildees utilizamos no

processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Enilde Faulstich uma

amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees sobre os termos verificando o aspecto da

funcionalidade do termo dentro da linguagem especializada Com isso observamos que o

conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras eacute a marca de seus

antepassados sua identidade sua histoacuteria de sua linguagem especializada diante da

diversidade na natureza

A partir de agora iniciamos os estudos natildeo apenas dos termos sobre as plantas

medicinais mas sobretudo sobre a histoacuteria de um povo que busca viver e vencer as

18

dificuldades histoacutericas passadas entre as geraccedilotildees para que hoje seus registros sejam

marcados pelas conquistas alcanccediladas e as futuras

2 PIMENTEIRA2 OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE

QUILOMBOLA

ldquoPodemos dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de

identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator

extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo em sirdquo

Michel Pollak (1992)

Desde os primeiros focos de resistecircncia dos africanos contra a escravidatildeo colonial os

estudos sobre os negros constitui assunto relevante principalmente na formaccedilatildeo de

comunidades afrodescendentes mais conhecidas como Quilombos3

No que diz respeito aos afrodescendentes4 a comunidade de Pimenteiras eacute uma das

muitas comunidades formadas por famiacutelias quilombolas os moradores da regiatildeo chegaram haacute

muito tempo da comunidade de Narciacutesea localizada na regiatildeo de Capitatildeo Poccedilo ndash PA

Pesquisas da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares5 apontam que o maior nuacutemero de

associaccedilotildees quilombolas se encontra nas regiotildees do Paraacute e Maranhatildeo chegando a cerca de

100 comunidades existentes nessas aacutereas Sabe-se que natildeo haacute comunidades em isolamento

total existe sempre uma relaccedilatildeo contiacutenua entre os sujeitos e com o meio em que vivem No

caso da comunidade de Pimenteiras isso natildeo eacute diferente proacuteximas agrave regiatildeo existem outras

comunidades que tambeacutem vivenciam a falta de recursos que possam melhorar a vida dos

moradores no campo As comunidades como Broca Piquiaacute Cantam Fuzil natildeo tecircm

2O termo Pimenteira no singular refere-se agraveterra em que vivem os moradores remanescentes de Quilombo

Pimenteiras no plural refere-se agrave comunidade Tabela sobre a comunidade no site

httpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501 3Quilombo eacute o nome dado no Brasil aos locais de refuacutegio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o

periacuteodo colonial e imperial Nesses locais os escravos passavam a viver em liberdade criando novas relaccedilotildees

sociais Muitos quilombos existiram no Brasil e centenas deles ainda existem formando o que hoje eacute chamado de comunidades quilombolas 4Afrodescendente eacute aquele que eacute ou que descende de famiacutelia ou indiviacuteduo vindo do negro africano 5A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares eacute uma entidade puacuteblica brasileira vinculada ao Ministeacuterio da Cultura A entidade

teve seu Estatuto aprovado pelo Decreto nordm 418 de 10 de janeiro de 1992 e tem como missatildeo os preceitos

constitucionais de reforccedilos agrave cidadania agrave identidade agrave accedilatildeo e agrave memoacuteria dos segmentos eacutetnicos dos grupos

formadores da sociedade brasileira aleacutem de fomentar o direito de acesso agrave cultura e agrave indispensaacutevel accedilatildeo do

Estado na preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees afro-brasileiras No artigo 1ordma Lei institui que se promova a

preservaccedilatildeo dos valores culturais sociais e econocircmicos decorrentes da influecircncia negra na formaccedilatildeo da

sociedade brasileira Preocupada com a igualdade racial e com a valorizaccedilatildeo das manifestaccedilotildees de matriz

africana a Palmares formula e implanta poliacuteticas puacuteblicas que potencializam a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra

brasileira nos processos de desenvolvimento do Paiacutes Foi o primeiro oacutergatildeo federal criado para promover a preservaccedilatildeo a proteccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo da cultura negra Pesquisa feita no dia 10012015 as 1155h no site

httpwwwpalmaresgovbr

19

moradores com descendecircncia quilombola mas assim como em Pimenteiras os moradores

natildeo permanecem ldquoestaacuteticosrdquo no tempo todos possuem caracteriacutesticas particulares que

distinguem suas identidades pois a vida eacute dinacircmica

O negro se mostra figura atuante isto estaacute presente nos estudos de Salles (1988 p 67

apud WAGLEY 1977 e GALVAtildeO 1955) que expotildee

Encontraram o negro solidaacuterio com o iacutendio nas vicissitudes sociais Natildeo importa se

negro autecircntico ou se iacutendio autecircntico O passaporte da autenticidade naquele

contexto jaacute havia perdido tocircda ou quase tocircda importacircncia Ambos despojados dos

seus padrotildees culturais quebrados definitivamente amalgamados numa nova cultura

resultante da fusatildeo de trecircs componentes eacutetnicos O processo de desenvolvimento

dessa cultura visto superficialmente eacute pouco acelerado Visto poreacutem em

profundidade mostra-se extremamente ativo Sobretudo no que diz respeito agraves convergecircncias culturais

Visualizando por este acircngulo a figura do negro observaremos no toacutepico seguinte as

origens e significados dos termos Quilombola e Remanescente para que possamos identificar

as marcas de um povo que lutou e alcanccedilou sua liberdade Em seguida verificaremos com

mais sagacidade os estudos de Vicente Salles e Ilka Boaventura Leite sobre o negro

observando sua histoacuteria suas conquistas e as influecircncias do negro no Paraacute e na comunidade

de Pimenteiras em particular

21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA

Iniciamos este assunto com a pergunta que muitos ainda hoje fazem e nem todos

respondem ndash Quem satildeo os negros Entretanto de forma mais profunda responderemos agrave

seguinte pergunta ndash Quem satildeo os Quilombolas

Alguns autores constituem uma anaacutelise do termo e com isso explicam que a palavra

quilombo se refere a um tipo de instituiccedilatildeo sociopoliacutetica militar conhecida na Aacutefrica Central

principalmente na regiatildeo constituiacuteda pela atual Repuacuteblica Democraacutetica do Congo (Zaire) e

Angola conforme expotildee o professor Kabengele Munanga6 (1995) Para ele a expressatildeo

6 KabengeleMunanga eacute Graduado em Antropologia Cultural pela UniversiteacuteOfficielle Du Congo agrave Lubumbashi

(1969) e Doutorado em Ciecircncias Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de Satildeo Paulo (1977)

Atualmente eacute professor titular da Universidade de Satildeo Paulo Tem experiecircncia na aacuterea de Antropologia com ecircnfase em Antropologia das Populaccedilotildees Afro-Brasileiras atuando principalmente nos seguintes temas racismo

identidade identidade negra Aacutefrica e Brasil

20

quilombo vem de ldquoochilombordquo em um dialeto de Angola a professora Leite7 (2000) por sua

vez apresenta que sua etimologia significa ldquobantordquo e exprime ldquoacampamento guerreiro na

florestardquo e foi difundida no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios

decretos e atos visando referir-se agraves integraccedilotildees de apoio muacutetuo criadas pelos ldquorebeldesrdquo ao

sistema escravocrata e agraves suas reaccedilotildees lutas e organizaccedilotildees pelo fim da escravidatildeo no paiacutes

Natildeo obstante esta palavra significou libertaccedilatildeo e conquistas para os libertos alcanccedilando

amplas dimensotildees e conteuacutedos

No decorrer da histoacuteria diversas circunstacircncias envolvendo o negro demonstraram

grandes lutas contra os vaacuterios artifiacutecios de expropriaccedilatildeo de seus corpos bens e direitos Eacute

nesse contexto de servidatildeo do negro diante do homem branco que Salles (1988 p 203) expotildee

O processo tradicional da busca de liberdade consistiu invariavelmente na fuga para

os matos onde os negros se reuniam solidaacuterios entre si e formavam os quilombos

A fuga deve ter sido no comeccedilo soluccedilatildeo bastante difiacutecil e arriscada aleacutem de

empreitada individual Na floresta o negro se achava sozinho Agraves vezes conseguia

chegar a alguma aldeia indiacutegena e por sorte acabava vivendo amistosamente com

os silviacutecolas Bandeava-se desta forma para grupos totalmente estranhos e que com

ele soacute tinha um traccedilo comum o oacutedio ao branco dominador Haacute na crocircnica da

escravidatildeo muitos casos ilustrativos e que destroem o mito da incompatibilidade

eacutetnica

Os negros enfrentaram muitos questionamentos sobre a legitimidade de se acomodar

num lugar cujo espaccedilo pudesse ser organizado conforme suas condiccedilotildees valores e praacuteticas

culturais A repressatildeo ao negro fez com que ele fosse segregado das praacuteticas sociais Hoje esta

exclusatildeo estaacute demonstrada nos censos econocircmicos e nos mais recentes levantamentos

socioeconocircmicos realizados no paiacutes (HASENBALG SILVA 1988) Somente no Brasil apoacutes

a aboliccedilatildeo em 1888 os negros sofrem com a desqualificaccedilatildeo de sua cor sendo ignorados pelo

poder puacuteblico nos lugares em que habitam desprovidos das necessidades baacutesicas de todo ser

humano Eacute diante desta realidade que Leite (2000) expotildee que os descendentes de africanos

nos uacuteltimos vinte anos tecircm procurado se organizar em associaccedilotildees quilombolas

reivindicando o direito agrave permanecircncia e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas

e cultivadas para moradia e sustento da famiacutelia bem como o livre exerciacutecio de suas praacuteticas

crenccedilas e valores apreciados em sua especificidade Diante disto Leite (2000 p 335)

prossegue

7 Ilka Boaventura Leite eacute professora do Departamento e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Antropologia da

Universidade Federal de Santa Catarina fundadora e coordenadora do NUER (Nuacutecleo de Estudos de Identidades

e Relaccedilotildees Intereacutetnicas) Suas pesquisas estatildeo situadas nas aacutereas de teoria antropoloacutegica literatura de viagem

relaccedilotildees intereacutetnicas etnologia afro-brasileira arte e etnicidade Tem publicado artigos sobre literatura de viagens cultura e identidade negra quilombos direitos eacutetnicos poliacuteticas de identidade arte e diaacutespora africana

periacutecias antropoloacutegicas

21

Tudo isto se esclarece quando entra em cena a noccedilatildeo de quilombo como forma de

organizaccedilatildeo de luta de espaccedilo conquistado e mantido atraveacutes de geraccedilotildees O

quilombo entatildeo na atualidade significa para esta parcela da sociedade brasileira

sobretudo um direito a ser reconhecido e natildeo propriamente e apenas um passado a ser rememorado Inaugura uma espeacutecie de demanda ou nova pauta na poliacutetica

nacional afrodescendentes partidos poliacuteticos cientistas e militantes satildeo chamados a

definir o que vem a ser o quilombo e quem satildeo os quilombolas

O simples ato de apropriaccedilatildeo da terra para viver passou a significar um ato de luta e

guerra Assim pensar na questatildeo territorial faz discorrer tambeacutem na definiccedilatildeo sobre o termo

ldquoQuilombordquo ndash que reporta agrave visatildeo distorcida de negros fugitivos ndash e abordar as diferentes

situaccedilotildees que cobriram a existecircncia de Terras de Quilombos no Brasil Para isto Almeida

(1998 p 14) expotildee que eacute necessaacuterio que ldquonos libertemos da definiccedilatildeo arqueoloacutegica associada

ao termo Quilombordquo Segundo o autor as comunidades Quilombolas sempre estabeleceram

uma clara rede de interaccedilatildeo com as sociedades locais contestando o estereoacutetipo do isolamento

geograacutefico A qualidade e intensidade da interaccedilatildeo foi o que possibilitou a construccedilatildeo de uma

configuraccedilatildeo social cuja autonomia tinha tambeacutem suporte nessa dinacircmica de relaccedilotildees sociais

e nas formas de usar e ocupar a terra (ALMEIDA 1988 p 18)

Na conceituaccedilatildeo e significaccedilatildeo da palavra Quilombo Siqueira e Nascimento (1987)

apud Leite (1999 p 15) explicam que no Brasil a tradiccedilatildeo popular apresenta muitas

variaccedilotildees no significado da referida palavra

[] ora associado a um lugar (ldquoquilombo era um estabelecimento singularrdquo) ora a

um povo que vive neste lugar (ldquoas vaacuterias etnias que o compotildeemrdquo) ou a

manifestaccedilotildees populares (ldquofestas de ruardquo) ou ao local de uma praacutetica condenada

pela sociedade (ldquolugar puacuteblico onde se instala uma casa de prostitutasrdquo) ou a um

conflito (uma ldquogrande confusatildeordquo) ou a uma relaccedilatildeo social (ldquouma uniatildeordquo) ou ainda a um sistema econocircmico (ldquolocalizaccedilatildeo fronteiriccedila com relevo e condiccedilotildees climaacuteticas

comuns na maioria dos casosrdquo)

Para Leite (2000) a quantidade de significados faz com que o uso do termo

demonstre uma grande variedade de experiecircncias que generalizam o fenocircmeno enquanto

dimensatildeo poliacutetica de uma formaccedilatildeo social diversa em que evidenciam a persistecircncia das mais

diversas manifestaccedilotildees de resistecircncia e luta que os negros delinearam em toda a nossa

histoacuteria Eacute nesse contexto que Leite (2000 p 338) assim conclui

[] inicia-se a longa etapa de construccedilatildeo da identidade destes grupos seja pela

formalizaccedilatildeo da diferenciaccedilatildeo eacutetnico-cultural no acircmbito local regional e nacional

seja pela consolidaccedilatildeo de um tipo especiacutefico de segregaccedilatildeo social e residencial dos

negros chegando ateacute os dias atuais []

22

A variaccedilatildeo de significados para o termo quilombo traz a construccedilatildeo de um povo que

busca constantemente por seus direitos contudo o que significa o termo remanescente

Verificaremos no toacutepico seguinte especificamente as discussotildees em torno do significado da

palavra ldquoremanescesterdquo no contexto do negro

211 Remanescentes o que restou

No que concerne ao significado do termo remanescente a autora Leite (2000 p 9)

nos apresenta o seguinte contexto

A expressatildeo ldquoremanescente das comunidades de quilombosrdquo que emerge na

Assembleacuteia Constituinte de 1988 eacute tributaacuteria natildeo somente dos pleitos por tiacutetulos

fundiaacuterios mas de uma discussatildeo mais ampla travada nos movimentos negros e

entre parlamentares envolvidos com a luta anti-racista O quilombo eacute trazido

novamente ao debate para fazer frente a um tipo de reivindicaccedilatildeo que agrave eacutepoca alude

a uma ldquodiacutevidardquo que a naccedilatildeo brasileira teria para com os afro-brasileiros em

consequumlecircncia da escravidatildeo natildeo exclusivamente para falar em propriedade

fundiaacuteria

A expressatildeo ldquoremanescenterdquo surge como forma de reinvindicaccedilatildeo por uma eacutepoca em

que a naccedilatildeo brasileira teria certo dever com os afrodescendentes pela grande escravidatildeo e

sofrimento vivido no periacuteodo da aboliccedilatildeo contudo segundo os estudos de Leite (1996 p

341) o termo remete tambeacutem a algo em extinccedilatildeo que estaacute em processo de desaparecimento

Mas foi principalmente porque a expressatildeo natildeo correspondia agrave autodenominaccedilatildeo destes

mesmos grupos e por se tratar de uma identidade ainda a ser politicamente construiacuteda que

tantos questionamentos foram suscitados Eacute nesse impasse da significaccedilatildeo e nomeaccedilatildeo dos

remanescentes de quilombolas que Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia8 (ABA) convocada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico reuniu em outubro de 1994 o Grupo de Trabalho sobre Comunidades

Negras Rurais e elaborou um conceito de ldquoremanescente de quilombordquo ficando assim

definido

8A Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia (ABA) eacute a mais antiga das associaccedilotildees cientiacuteficas existentes no paiacutes

na aacuterea das ciecircncias sociais ocupando hoje um papel de destaque na conduccedilatildeo de questotildees relacionadas agraves

poliacuteticas puacuteblicas referentes agrave educaccedilatildeo agrave accedilatildeo social e agrave defesa dos direitos humanos No decorrer de sua

histoacuteria ela tem sido voz atuante em defesa das minorias eacutetnicas dos discriminados e posicionando-se consistentemente contra a injusticcedila social Pesquisado em 11012015 as 2345h no site

httpwwwportalabantorgbrindexphpinstitucionalfeatures

23

[] contemporaneamente portanto o termo natildeo se referia a resiacuteduos arqueoloacutegicos de ocupaccedilatildeo temporal ou de comprovaccedilatildeo bioloacutegica Tratava-se de desfazer a ideacuteia

de isolamento e de populaccedilatildeo homogecircnea ou como decorrente de processos

insurrecionais O documento posicionava-se criticamente em relaccedilatildeo a uma visatildeo

estaacutetica do quilombo evidenciando seu aspecto contemporacircneo organizacional

relacional e dinacircmico bem como a variabilidade das experiecircncias capazes de serem

amplamente abarcadas pela ressemantizaccedilatildeo do quilombo na atualidade Ou seja

mais do que uma realidade inequiacutevoca o quilombo deveria ser pensado como um

conceito que abarca uma experiecircncia historicamente situada na formaccedilatildeo social

brasileira (LEITE 2000 p 341-342)

No que diz respeito aos direitos sobre a terra o Brasil em comparaccedilatildeo com outros

paiacuteses que claramente obtiveram conquistas poliacuteticas e territoriais talvez seja o uacutenico que natildeo

resolveu formalmente a questatildeo dos direitos territoriais das suas comunidades negras

tradicionais O direito agrave terra que as comunidades atribuem eacute vital pois a concepccedilatildeo da terra

enquanto territoacuterio socialmente ocupado eacute a chave para a vida desses grupos Sobre isso

Chagas (2001 p 228) informa que a aplicaccedilatildeo do direito constitucional se daacute tambeacutem

atraveacutes da titulaccedilatildeo dessas aacutereas

[] para estar em consonacircncia com a viabilizaccedilatildeo de um padratildeo de existecircncia que

seja compatiacutevel e que assegure a vida nos seus proacuteprios termos significaria menos

quantificar ou traccedilar meramente um espaccedilo fiacutesico esvaziado de seu sentido social e

mais justamente recuperar a ideacuteia de que estes espaccedilos sociais estatildeo qualificados e

atravessados por redes de relaccedilotildees que postas em curso garantem a proacutepria

permanecircncia do grupo neste territoacuterio

No trecho citado por Chagas (2001) eacute demonstrada a preocupaccedilatildeo no que se refere

aos remanescentes das comunidades dos quilombos que vecircm sofrendo com o processo de

reconhecimento dos direitos assegurados constitucionalmente nota-se o quanto eacute necessaacuterio

um diaacutelogo com as praacuteticas culturais de cada grupo envolvido auxiliando as comunidades no

autorreconhecimento das populaccedilotildees remanescentes de quilombola Eacute a busca pelo direito agrave

terra direito agrave vida no campo de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado

agrave margem da vida em sociedade

Completando este diaacutelogo com Marques (2004) confere-se que o modo de vida dos

povos do campo eacute entendido como uma configuraccedilatildeo bastante dinacircmica e que soacute pode ser

compreendida a partir de sua inserccedilatildeo na sociedade ndash que hoje inclui as relaccedilotildees sociais que

ocupam as comunidades camponesas na sociedade moderna capitalista ndash percebendo a relaccedilatildeo

entre tradiccedilatildeo e modernidade e qual lugar ocupam os povos de vidas tradicionais

Os quilombos reforccedilavam as lutas contra a escravidatildeo mostrando um tipo de

organizaccedilatildeo social mais justa cuja resistecircncia se manifestou de diversas formas entre greves

de fome violecircncia e fugas Segundo Freitas (1982 p 210) essas fugas mais organizadas e

coletivizadas deram origem ao Quilombo dos Palmares

24

O ldquoQuilombo dos Palmaresrdquo foi a manifestaccedilatildeo mais eloquente do discurso anti-

escravista dos negros brasileiros nos quase trecircs seacuteculos da escravidatildeo representando

um marco na resistecircncia negra A resoluccedilatildeo tomada na Serra da Barriga ldquode morrer

antes de aceitar a escravidatildeordquo demonstra a essecircncia da mensagem que os negros de Palmares deixaram Retomando a reflexatildeo hegeliana ldquoO Amo natildeo eacute Amo senatildeo

pelo fato de que possui um Escravo que o reconhece como talrdquo

Freitas (1982 p 43) explana que os escravos que se refugiavam em Palmares apoacutes

algum tempo escondidos nas serras deixaram de viver escondidos e reconquistaram sua

dignidade como seres humanos O autor prossegue expondo

Os escravos plantavam milho feijatildeo mandioca cana-de-accediluacutecar batata legumes Duas semanas antes do plantio preparavam o terreno com grandes queimadas A

preparaccedilatildeo das terras a semeadura e a colheita era realizada de maneira coletiva

Celebravam o teacutermino da colheita com uma semana inteira de festejos em que todos

folgavam danccedilavam comiam e bebiam Mantinham muitos pomares com uma

variedade de aacutervores frutiacuteferas (1982 p 45)

Durante minhas visitas agrave comunidade remanescente de quilombolas de Pimenteiras o

contato com os moradores levantou muitos questionamentos sobre o entendimento e

significaccedilatildeo do termo quilombola Os mais velhos guardam na memoacuteria recordaccedilotildees de um

periacuteodo no qual seus antepassados viveram e sofreram os accediloites do chicote da escravidatildeo os

adolescentes por sua vez vivem o embate entre aceitar ou natildeo a descendecircncia Aceitando

suas origens alcanccedilam direitos reservados aos negros como o direito de cotas nas

universidades jaacute nos momentos em que os sentimentos de exclusatildeo discriminaccedilatildeo e rejeiccedilatildeo

se tornam maiores nos espaccedilos sociais os mais jovens natildeo se veem e natildeo se orgulham de sua

origem afrodescendente

Na anaacutelise do contexto vivido na comunidade o sentimento que se faz presente nos

mais jovens eacute o fato de que ser homem negro significa ser excluiacutedo e discriminado pelos

colegas da escola Muitos relataram situaccedilotildees de desrespeito natildeo apenas pela cor da pele mas

pelo termo ldquoquilombolardquo A respeito da discriminaccedilatildeo racial sobre os quilombolas Leite

(2000 p 349) comenta que

O ato de aquilombar-se ou seja de organizar-se contra qualquer atitude ou sistema

opressivo passa a ser portanto nos dias atuais a chama reacesa para na condiccedilatildeo

contemporacircnea dar sentido estimular fortalecer a luta contra a discriminaccedilatildeo e seus

efeitos Vem agora iluminar uma parte do passado aquele que salta aos olhos pela

enfaacutetica referecircncia contida nas estatiacutesticas onde os negros satildeo a maioria dos socialmente excluiacutedos Quilombo vem a ser portanto o mote principal para se

discutir uma parte da cidadania negada

25

Diante das discussotildees feitas seguiremos abordando sobre os remanescentes de

quilombola da comunidade de Pimenteiras sua localizaccedilatildeo e os problemas sobre a titularidade

da terra que se tornou algo de extrema importacircncia aos moradores dessa regiatildeo

212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras

Eacute importante frisar que na atualidade a dimensatildeo de luta dos homens negros pela

liberdade foi muito importante para que a cultura afrodescendente se desenvolvesse com

maior fruiccedilatildeo Na Amazocircnia a presenccedila do negro eacute assunto desprezado em termos da

importacircncia insignificante que teria essa mesma presenccedila Segundo Salles (1988) a matildeo-de-

obra faacutecil era abundante e era a uacutenica que poderia mobilizar com sucesso imediato a matildeo-de-

obra dos iacutendios9

Nos estudos sobre a Amazocircnia Salles (1988) expotildee sobre a substituiccedilatildeo do iacutendio

pelo negro na lavoura que natildeo foi tatildeo necessaacuteria na regiatildeo como no restante do Brasil a

presenccedila insistente do iacutendio em muitos trabalhos com a terra deu ao negro a possibilidade de

influir profundamente na civilizaccedilatildeo brasileira criando um tipo de economia em que o

indiacutegena teve grande participaccedilatildeo (CHAMBOULEYRON 2006) No entanto os escritos do

autor natildeo abandonam a significaccedilatildeo do negro na Amazocircnia durante o regime da escravidatildeo o

negro deixou sua personalidade sua etnia e sua cultura na constituiccedilatildeo da economia agraacuteria

Diante disso discorrer sobre os quilombolas no cenaacuterio poliacutetico atual eacute conversar

sobre luta poliacutetica uma reflexatildeo cientiacutefica em processo de construccedilatildeo Hoje cerca de trecircs mil

comunidades quilombolas10

vivem natildeo apenas na Amazocircnia mas em todo o territoacuterio

9 Em tempos do descobrimento do Brasil a necessidade de braccedilos para cortar e transportar o pau-brasil para o

litoral fez com que os portugueses impusessem aos iacutendios o trabalho compulsoacuterio Em meados de 1550 a

decisatildeo de incrementar o traacutefico da Aacutefrica para o Brasil tornou a escravidatildeo do negro mais interessante e

econocircmica para a Coroa portuguesa Apesar de ter sido tatildeo forte e cruel a escravidatildeo do negro africano a

escravidatildeo do iacutendio teve pouco conhecimento e historicamente ficou em segundo lugar Pesquisa feita no dia

10022015 as 1001hs no site httpwwwklickeducacaocombrconteudopagina06313POR-1245-9282-00html 10Ateacute hoje natildeo haacute certeza sobre o nuacutemero de comunidades quilombolas existentes no Brasil mas estima-se que

haacute pelo menos trecircs mil em todo o territoacuterio nacional localizadas principalmente nos estados doAmazonas

Alagoas Amapaacute Bahia Cearaacute Maranhatildeo Minas Gerais Paraacute Pernambuco Tocantins e outros Os estados

brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades quilombolas satildeo a Bahia o Maranhatildeo Minas

Gerais e o Paraacute Segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial

(Seppir) e do Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) oacutergatildeos responsaacuteveis pela

identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos quilombolas

existem atualmente mais de setecentas comunidades oficialmente registradas pela Fundaccedilatildeo Palmares do

Ministeacuterio da Cultura e mais de duzentos processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em andamento envolvendo mais

de trezentas comunidades espalhadas por 24 estados brasileiros Retirado do texto de GASPAR Luacutecia Quilombolas Pesquisa Escolar Online Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Recife Disponiacutevel em

lthttpbasiliofundajgovbrpesquisaescolargt Acesso em 15022015 as 1230hs

26

nacional no entanto muitas terras natildeo possuem ainda o reconhecimento devido No estado do

Paraacute segundo dados pesquisados satildeo reconhecidas duzentos e quarenta (240)11

comunidades

remanescentes de Quilombo

As conquistas para alcanccedilar o direito pela titulaccedilatildeo de terra de quilombo vecircm do

cumprimento do Artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias da Constituiccedilatildeo Federal12

cuja redaccedilatildeo expotildee o seguinte ldquoAos remanescentes das comunidades de quilombos que

estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir

lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)

Com a instituiccedilatildeo deste Leopoldo e Morais (2005 p 3) explanam em seu artigo

sobre territorialidade que muitas lutas e manifestaccedilotildees poliacuteticas tecircm apoiado ou desprovido as

comunidades quilombolas do seu direito agrave terra Leopoldo e Morais (2005 p 1) ressaltam que

ldquoos criteacuterios adotados para o reconhecimento das comunidades quilombolas tecircm sido alvo de

constantes criacuteticas entre esses diferentes atoresrdquo Embora pareccedila pertinente equiparar a

questatildeo do direito agraves terras de quilombos com as terras indiacutegenas ambas satildeo semelhantes

apenas quanto aos desafios e embates jaacute visiacuteveis na questatildeo da identificaccedilatildeo e na definiccedilatildeo

dos sujeitos de direito

No diagrama da fronteira eacutetnico-cultural o Brasil esteve sempre marcado pela

preservaccedilatildeo do territoacuterio invadido e ocupado por inuacutemeros conflitos de terra que remontam

aos dias atuais13

Natildeo muito distante de uma realidade de lutas pelos direitos dos negros os

moradores remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras lutam haacute muito

tempo pelo reconhecimento da terra Localizada na regiatildeo rural da cidade de Santa Luzia do

Paraacute14

a comunidade fica situada em local de difiacutecil acesso situaccedilatildeo que piora muito nos

periacuteodos de chuva causando transtornos aos moradores que veem limitadas suas

necessidades humanas baacutesicas

Vejamos abaixo o mapa da Regiatildeo do Guamaacute onde fica localizada a cidade de Santa

Luzia do Paraacute Rodeada por outras cidades como Capanema Oureacutem Capitatildeo Poccedilo Garrafatildeo

do Norte Cachoeira do Piriaacute Nova Esperanccedila do Piriaacute e tambeacutem Terras Indiacutegenas ocupadas

pelos iacutendios Tembeacute a comunidade de Pimenteiras fica no centro da regiatildeo da cidade de Santa

Luzia do Paraacute como mostra a figura

11 Disponiacutevel em httpwwwcpisporgbrcomunidadeshtmli_brasil_pahtml Pesquisado dia 01052013 as

1933 h 12 Pesquisa no site wwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaohtm em 16122014 as 1633hs 13 Atualmente destaca-se a luta do MST ndash Movimento dos Sem Terra no Brasil ndash que constitui um dos maiores

movimentos sociais do paiacutes com 15 anos de existecircncia nos 23 estados da federaccedilatildeo Maiores informaccedilotildees

consultar o site httpwwwmstorgbr 14Santa Luzia do Paraacute eacute uma cidade brasileira localizada no estado do Paraacute na microrregiatildeo do Guamaacute e na

mesorregiatildeo do Nordeste Paraense

27

Mapa 01 ndash Regiatildeo do Guamaacute Cidade de Santa Luzia do Paraacute Comunidade de Pimenteiras

Fonte IBGE15

Com relaccedilatildeo agrave titularidade da terra como Quilombola o processo continua em

tracircmite nos oacutergatildeos responsaacuteveis Os moradores da comunidade de Pimenteiras vivem agrave espera

da validaccedilatildeo do processo de identificaccedilatildeo e reconhecimento de suas origens valorizaccedilatildeo de

sua cultura e direito ao territoacuterio quilombola Segundo relatos dos moradores um dos motivos

para o impasse no processo seria a presenccedila de pecuaristas e agricultores natildeo remanescentes

de quilombo que vivem na regiatildeo e cultivam nas terras Estas pessoas devem ser indenizadas

pelos espaccedilos de terra que possuem a fim de que o direito dos quilombos tenha garantia de

integralidade das terras Logo a seguir encontram-se as informaccedilotildees de forma resumida sobre

o andamento do pedido de reconhecimento da terra em Pimenteiras

Tabela 1 ndash Titulaccedilatildeo da terra da comunidade de Pimenteiras

FICHA RESUMO DO TERRITOacuteRIO

Nome da Terra Pimenteira

Nome da(s) Comunidade(s) Pimenteiras

Municiacutepio Santa Luzia do Paraacute

Unidade da Federaccedilatildeo Paraacute

Populaccedilatildeo 24 famiacutelias

Dimensatildeo Territorial -

Etapa do processo de titulaccedilatildeo Certidatildeo Fundaccedilatildeo Cultural Palmares

Superintendecircncia Responsaacutevel SR 01 Paraacute

Data da Uacuteltima Atualizaccedilatildeo 30052014

Fonte Comissatildeo Proacute-iacutendio de Satildeo Paulo16

15 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150655ampsearch=||infogrE1ficos-

informaE7F5es-completas

28

Os moradores da comunidade de Pimenteiras sofrem com o processo de

reconhecimento de seus direitos que satildeo assegurados constitucionalmente Para eles

reconhecer a terra eacute importante pois reconhece a existecircncia de uma populaccedilatildeo remanescente

quilombola de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado agrave margem da vida

em sociedade que busca mais do que o direito agrave terra busca o direito agrave vida no campo

Conhecer a cultura de um povo faz com que ele seja reconhecido e valorizado por

suas caracteriacutesticas em particular Diante disso conheceremos no toacutepico seguinte um pouco

da histoacuteria da comunidade de Pimenteiras aleacutem de sua tradicional manifestaccedilatildeo cultural que

eacute a Ladainha a Nossa Senhora do Livramento uma cerimocircnia em agradecimento pelas preces

atendidas do povo daquela comunidade

22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO

Nos encontros ocorridos na comunidade de Pimenteiras nos deparamos com alguns

moradores que haacute pouco tempo natildeo conheciam sua descendecircncia negra e tampouco os

significados que cercam o termo Quilombola Por meio das histoacuterias transmitidas de seus

antepassados e de pesquisadores envolvidos com o Centro de Estudos e Defesa do Negro do

Paraacute (CEDENPA)17

os moradores passaram a se reconhecer como remanescentes de

quilombo de forma orgulhosa no entanto confusos Isto se deve ao fato de que a comunidade

de Pimenteiras vive hoje com o estigma de seus ancestrais escravizados e sem entender seus

reais valores culturais e histoacutericos

Nesse acircmbito Leite (2000 p 339) levanta um questionamento significativo sobre o

termo quilombola Ela explica que

Desde os anos 30 algumas vozes militantes18

defendem fortemente a ideacuteia de

reparaccedilatildeo da aboliccedilatildeo como ldquoum processo inacabadordquo e da ldquodiacutevidardquo em dois

16Disponiacutevel emlthttpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501gt

17O CEDENPA eacute uma Entidade sem fins lucrativos sem viacutenculos poliacutetico-partidaacuterios fundada em 10 de agosto

de 1980 e legalizada em 27 de abril de 1982 que a partir do Estado do Paraacute vem contribuindo no processo de superaccedilatildeo do racismo preconceito e discriminaccedilatildeo que produzem a desigualdades soacutecio raciais de gecircnero e

outras prejudicando sobretudo a populaccedilatildeo negra e indiacutegena em todos os aspectos da sociedade brasileira

Pesquisado em 22062015 as 955hs no site httpwwwcedenpaorgbr

18 Abdias do Nascimento atual senador da Repuacuteblica reescreve suas teses na deacutecada de 80 defendidas desde os

anos 30 quando inicia sua militacircncia O seu quilombismo reivindica uma memoacuteria anterior ao traacutefico e agrave

escravizaccedilatildeo dos africanos Escreve ldquoo quilombismo busca no presente e no futuro e atua por um mundo melhor para os africanos nas Ameacutericasrdquo Resume suas teses do quilombismo em 16 itens O primeiro deles define o

quilombismo como um movimento poliacutetico dos negros brasileiros visando a implantaccedilatildeo de um Estado Nacional

29

planos a herdada dos antigos senhores e a marca que ficou em forma de estigma seus efeitos simboacutelicos geradores de novas situaccedilotildees de exclusatildeo A exclusatildeo como

fato e como siacutembolo Os militantes procuram ver o conceito de quilombo como um

elemento aglutinador capaz de expressar de nortear aquelas pautas consideradas

cruciais agrave mudanccedila de dar sustentaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo da identidade negra ainda

fragmentada pelo modelo de desenvolvimento do Brasil apoacutes a aboliccedilatildeo da

escravatura

O contato com os moradores nos fez refletir sobre os diversos questionamentos a

respeito do entendimento e significaccedilatildeo que as pessoas da regiatildeo tinham sobre a palavra

quilombola Os adolescentes com o conhecimento adquirido na escola relataram que ser

quilombola significava ser negro mas alguns natildeo se consideravam quilombolas porque a pele

natildeo era tatildeo escura Ao refletir sobre isto percebemos que o sentimento presente nos mais

jovens eacute de exclusatildeo ser homem negro significa ser excluiacutedo discriminado e rejeitado pelos

colegas da escola Esse mesmo sentimento ocorre com o termo quilombola que traz para o

contexto atual as marcas de uma eacutepoca de escravidatildeo e de maus tratos contra pessoas de pele

escura Para muitos o sentimento com relaccedilatildeo ao nome Quilombola traz um significado

doloroso Nesse ponto Leite (2000 p 342) salienta

Enquanto uma expressatildeo da identidade grupal o significante ldquonegrordquo vai somando

em seu percurso tudo aquilo que adveacutem de tal experiecircncia ou seja elementos de

inclusatildeo (que mantecircm o grupo unido em estrateacutegias de solidariedade e

reciprocidade) e tambeacutem de segregaccedilatildeo (ou seja a desqualificaccedilatildeo a depreciaccedilatildeo e

a estereotipia) Os sentidos do termo e as experiecircncias nele circunscritas revelam sua ambiguidade por um lado a marginalizaccedilatildeo por outro a forccedila simboacutelica

demonstrada no seu persistente poder aglutinador vindo a configurar ou expressar

uma identidade social e a nortear inclusive poliacuteticas de grupos

De outro modo o conceito negativo sobre a etnia quilombola perpassa tambeacutem pelos

moradores de Pimenteiras que possuem um vasto conhecimento sobre os espaccedilos que

ocupam na regiatildeo com sua rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias geraccedilotildees Os saberes

sobre a natureza satildeo de extrema importacircncia para as diversas aacutereas da ciecircncia conferindo na

forma pela qual pensam classificam e utilizam seus recursos

Contudo o acesso agrave comunidade eacute difiacutecil a uacutenica estrada existente para chegar agrave

comunidade natildeo eacute asfaltada e no trajeto visualizam-se diversas fazendas com gado campos

abertos depois mata fechada com grandes serras que ladeiam a comunidade Durante a

viagem satildeo percorridos aproximadamente 30 quilocircmetros em relevo bastante acidentado

Quilombista inspirado no modelo da Repuacuteblica de Palmares no seacuteculo XVI e em outros quilombos que

existiram e ainda existem Esclarece que natildeo se trata de um modelo segregacionista mas de um movimento que

advoga o poder poliacutetico realmente democraacutetico que implica a presenccedila da maioria afro-brasileira em todos os

niacuteveis desse poder Veja-se Nascimento (1991 21-26 apud Leite 2000 p339 a 340)

30

Ao chegar agrave comunidade percebi que a presenccedila mais forte eacute da natureza na sua

biodiversidade e das terras utilizadas para o cultivo da mandioca feijatildeo e pimenta Existe

tambeacutem o plantio de Murumuru19

cuja produccedilatildeo ocorre devido ao interesse da empresa

Natura20

pela compra do fruto

A comunidade de Pimenteiras possui uma relaccedilatildeo natildeo somente com os

conhecimentos agriacutecolas e o cultivo de plantas mas tambeacutem com os recursos naturais que

estatildeo ligados a estes levando em consideraccedilatildeo as informaccedilotildees sobre a natureza e os valores

de sua cultura e tradiccedilatildeo local A comunidade em estudo tem na mata fechada sua principal

fonte de recursos naturais A variedade de espeacutecies vegetais eacute muito grande ocasionando uma

afinidade dos moradores com a natureza de forma muito forte e antiga

Eacute nesse encontro entre os moradores quilombolas e a natureza que muitos saberes

culturais locais foram e satildeo desenvolvidos sem quaisquer recursos tecnoloacutegicos ou

assistecircncia Esta eacute uma das caracteriacutesticas que marcam a comunidade identificando e

classificando o ambiente em que vivem Eacute uma maneira de auto identificaccedilatildeo e auto definiccedilatildeo

da proacutepria comunidade enquanto grupo social particular que produz saberes sobre a natureza

forjando de maneira inconsciente sua identidade cultural

Mas como se originou a comunidade e o nome Pimenteira Durante as visitas feitas agrave

comunidade as histoacuterias que os moradores contam eacute que haacute muito tempo o pai de Domingas

o senhor Raimundo Cordeiro dos Santos queria fazer as preparaccedilotildees de pais e padrinhos21

para o batizado de uma crianccedila Como na comunidade natildeo havia igreja ou qualquer

representaccedilatildeo religiosa que pudesse ajudar na preparaccedilatildeo ele foi ateacute outra comunidade

chamada Fuzil para falar com o padre chamado Zeacute Doca Devido agrave distacircncia o senhor saiacutea

agraves 2h da madrugada e chegava ao local agraves 5h O padre observando as dificuldades propocircs

que algueacutem da comunidade com certo grau de conhecimento pudesse fazer os ensinamentos

aos moradores

No dia da celebraccedilatildeo do batismo o padre foi ateacute a casa do senhor para batizar a

crianccedila e orientar os moradores a iniciarem as celebraccedilotildees e construir um locar onde

pudessem rezar Assim haacute cerca de 40 anos uma igreja foi construiacuteda no local e os

19 Originaacuterio da Regiatildeo Amazocircnica Ele cresce espontaneamente nas matas do Paraacute Eacute encontrado ao longo dos

rios e em aacutereas inundadas em formaccedilotildees florestais densas ou semiabertas O fruto eacute um coco de coloraccedilatildeo

avermelhada Seu caroccedilo encerra uma amecircndoa dura que fica envolta por uma polpa amarelada comestiacutevel e

levemente adocicada O oacuteleo extraiacutedo da semente de murumuru possui propriedades altamente emolientes 20A Natura eacute um empresa brasileira que trabalha no setor de higiene pessoal perfumaria e cosmeacuteticos e tambeacutem

no segmento da venda direta dos produtos 21 O encontro de preparaccedilatildeo dos pais e padrinhos deve ser uma autecircntica obra de evangelizaccedilatildeo tendo por meta anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para proporcionar o encontro pessoal com Cristo na Comunidade Esses

satildeo preceitos da Igreja Catoacutelica relatados pelo Paacuteroco Elias de Santa Luzia do Paraacute

31

moradores passaram a receber visitas do sacerdote mecircs a mecircs A presenccedila religiosa fez com

que a comunidade de Pimenteiras fosse visualizada e tivesse entatildeo sua origem

Com relaccedilatildeo ao nome Pimenteira o termo surgiu de histoacuterias contadas pelos avocircs do

pai de Domingas trilhando pelos rios e matas da regiatildeo da Narciacutesea eles saiacuteam em busca de

caccedila e pesca formando os ranchos22

na beira do rio Guamaacute Nessas viagens levavam alguns

mantimentos necessaacuterios por passarem muitos dias caccedilando Dentre os alimentos levados a

pimenta natildeo podia faltar Quando retornavam deixavam agrave beira do rio as sementes da

pimenta que traziam elas brotavam e cresciam quando voltavam ao mesmo local de pesca

tinham como referecircncia o peacute de pimenta Assim comeccedilaram a chamar o local de ldquoigarapeacute da

pimentardquo (informaccedilatildeo verbal)23

que com o tempo passou a ser local de moradia para essas

pessoas vindas da Narciacutesea Surgiu assim o nome Pimenteira que deu origem agrave comunidade

remanescente de quilombola

Eacute diante dessa relaccedilatildeo com a natureza que os moradores quilombolas vivem e

reproduzem anualmente o evento cultural ldquoLadainha a Nossa Senhora do Livramentordquo como

ato de feacute agradecimento e preservaccedilatildeo dos fazeres de seus antepassados Eacute o que veremos no

toacutepico seguinte no qual esse momento cultural da comunidade de Pimenteiras seraacute abordado

com maiores detalhes

221 Ladainha a Nossa Senhora do Livramento

Em comemoraccedilatildeo ao ldquoDia da Consciecircncia Negra24

rdquo 20 de novembro os moradores

de Pimenteiras iniciaram um processo de valorizaccedilatildeo e rememoraccedilatildeo de suas crenccedilas

religiosas Segundo relatos dos mais antigos a celebraccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento

veio antes da existecircncia da comunidade de Pimenteiras Nas histoacuterias contadas pela moradora

Domingas tudo comeccedilou com sua avoacute materna a senhora Joana Pornusena dos Santos (in

memoacuteria) que acompanhando o marido no roccedilado presenciou a existecircncia de muitos

perigos O avocirc de Domingas trabalhando na terra solicitou em oraccedilatildeo agrave Senhora do

22 Rancho era o termo popular usado para designar a toca que eles faziam na beira do rio 23A histoacuteria sobre a origem do nome Pimenteira veio dos relatos informais da moradora DomingasTais histoacuterias

natildeo puderam ser transcritas a pedido da moradora 24

O Dia da Consciecircncia Negra eacute uma data celebrada no Brasil no dia 20 de novembro Este dia estaacute incluiacutedo na

semana da Consciecircncia Negra e tem como objetivo um reflexatildeo sobre a introduccedilatildeo dos negros na sociedade

brasileira O dia 20 de novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares data na qual morreu lutando pela liberdade do seu povo no Brasil Pesquisado no site httpwwwsignificadoscombrdia-

da-consciencia-negra

32

Livramento que o protegesse e tambeacutem sua famiacutelia dos acidentes e da morte que aconteciam

no roccedilado Como forma de agradecimento pela graccedila alcanccedilada ao final dos trabalhos com a

terra o avocirc prometeu que celebraria uma cerimocircnia religiosa em homenagem agrave Santa Este

gesto de agradecimento se perpetuou entre as geraccedilotildees e hoje a Ladainha continua preservada

nas matildeos da moradora Domingas

Passada entre as geraccedilotildees da famiacutelia de Domingas a Ladainha possui forte relaccedilatildeo

com o saber das plantas medicinais As flores colocadas sobre altar ou as plantas com cheiro

agradaacutevel usadas durante a cerimocircnia consideradas bentas eram guardadas para serem

utilizadas na forma de chaacutes para a cura das doenccedilas Na Ladainha plantas como manjericatildeo

catinga de mulata canela e hortelatilde satildeo empregadas na cerimocircnia com aacutegua para as pessoas se

benzerem Este ritual natildeo ocorria na eacutepoca da avoacute de Domingas Nas primeiras cerimocircnias a

Ladainha era comemorada com o canto em latim Adolfo era o nome da pessoa que entoava a

oraccedilatildeo sem o uso de livros

Com o passar dos anos ocorreram mudanccedilas como forma de atrair os jovens para a

celebraccedilatildeo Isto fez com que aleacutem da Ladainha do almoccedilo e da presenccedila da imagem da

Senhora do Livramento fosse incluiacuteda uma procissatildeo pela comunidade com o uso de fitas em

volta da imagem o uso da aacutegua com as plantas aromaacuteticas e uma festa como forma da

juventude participar na celebraccedilatildeo Outro aspecto importante que mudou nesses anos foi a

substituiccedilatildeo do canto em latim pela oraccedilatildeo encontrada no livro do Catecismo da Igreja

Catoacutelica que conteacutem a Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento Isto se deve ao fato de que os

jovens natildeo tiveram interesse de aprender a Ladainha em latim No entanto esta possui grande

significaccedilatildeo para a comunidade pois representa a feacute sendo renovada a cada ano Eacute o momento

em que os moradores contam suas histoacuterias e reencontram outras comunidades tambeacutem de

remanescentes de quilombolas eacute o momento em que a comunidade de Pimenteiras eacute

valorizada pela cultura e pelos saberes tradicionais das plantas

Vejamos abaixo algumas imagens da celebraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento

que ocorre anualmente na comunidade de Pimenteiras as quais exibem uma forma de

agradecimento e comemoraccedilatildeo pelas colheitas alcanccediladas durante o ano

33

Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade

Fonte Dados da pesquisa 2014

Ano apoacutes ano todos os moradores se reuacutenem numa grande festa cultural e religiosa

que traz consigo as lutas de um povo que trabalha a terra e marcam profundamente a

identidade da comunidade A data foi escolhida como forma de memorizar as grandes lutas jaacute

vividas pelos negros em prol da liberdade e dos direitos dos afrodescendentes

Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras

Fonte Dados da pesquisa 2014

34

Em comemoraccedilatildeo ao Dia da Consciecircncia Negra outras comunidades quilombolas

satildeo convidadas e prestigiam a comunidade e a Santa reverenciada A comunidade de

Pimenteiras eacute tambeacutem muito conhecida pelo festejo agrave Senhora do Livramento alimentos e

muacutesicas satildeo oferecidos durante o dia e a noite a todos que vecircm para comemorar a data tatildeo

significativa ao povo quilombola

Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas

FonteDados da pesquisa 2014

35

Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada

FonteDados da pesquisa 2014

O povo quilombola eacute um povo alegre que gosta de muacutesica e de danccedila O canto estaacute

sempre presente em seu cotidiano e nas festas da comunidade A cerimocircnia relata a vida as

lutas e a esperanccedila de melhorias para os moradores Eacute atraveacutes da religiosidade que

demonstram todo cuidado e respeito pela terra Na Ladainha a presenccedila da feacute catoacutelica vem

misturada com a forccedila dos tambores e das cordas dos violotildees Eacute nesse conjunto de

movimentos que as histoacuterias de luta de um povo satildeo recontadas sobre a terra a produccedilatildeo

agriacutecola e a identidade dos moradores que transcorrem no festejo

36

Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda

Fonte Dados da pesquisa2014

A festa tradicional eacute resultado de influecircncias negras indiacutegenas e catoacutelicas A

comunidade corteja a Santa do Livramento e as riquezas obtidas durante o ano A fartura estaacute

simbolizada nas oferendas apresentadas durante a celebraccedilatildeo quando satildeo colocados diversos

produtos cultivados na regiatildeo O ritual festivo entrecruza e atravessa ritmos vozes e jogos em

um sistema de imagens da festa popular no qual fim e recomeccedilo dialogam em um estado

coletivo de alegria A festa eacute a passagem do tempo demarcada pela colheita que tem uma

funccedilatildeo renovadora

Durante a cerimocircnia a senhora Libacircnia dos Santos Cunha eacute quem reza e conduz o

cortejo Considerada mais importante que o padre a senhora vem de outra comunidade mas

seu comando direciona o canto da Ladainha A atividade religiosa marca a passagem de

tempo do cultivo da terra significando a oportunidade de reunir pessoas de diversas

comunidades conjugando feacute alegria poliacutetica e reencontros entre familiares e amigos

Enquanto comungam os festejos os moradores discutem tambeacutem o futuro da comunidade

A festa popular eacute demorada e marcada por uma sucessiva e deliciosa comilanccedila

divulgando a abundacircncia e a fartura no ano que passou A celebraccedilatildeo eacute o momento no qual

evocam o poder dos mais velhos legitimam as famiacutelias abrem espaccedilo para os mais novos e

transmitem experiecircncias profundas

37

Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas

Fonte Dados da pesquisa 2014

Os antepassados satildeo lembrados nas praacuteticas cotidianas a famiacutelia eacute evocada na

presenccedila importante da mulher que simboliza o papel de geradora O papel feminino nas

questotildees poliacuteticas reforccedila essa ideia a senhora Domingas direciona junto a outras mulheres

todo o ritual a Nossa Senhora do Livramento aleacutem dos cuidados com a comida e de

participaccedilatildeo nas questotildees poliacuteticas da comunidade

Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento

Fonte Dados da pesquisa 2014

38

Vinda de origem portuguesa a devoccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento surgiu de

uma graccedila alcanccedilada haacute cerca de 50 anos por um agricultor quilombola que invocou o

livramento de todo o mal durante os trabalhos na lavoura A promessa eacute renovada todos os

anos com uma homenagem agrave Santa Tal culto foi tomado e seguido por todos os moradores da

comunidade e hoje comemoram a feacute por meio da graccedila alcanccedilada Logo abaixo segue um

trecho da Ladainha utilizada na celebraccedilatildeo agrave Senhora do Livramento na comunidade de

Pimenteiras A oraccedilatildeo completa se encontra no apecircndice ao final deste trabalho

Ladainha a Nossa Senhora do Livramento (fragmento)

Nossa Senhora do Livramento

Matildee de Deus nossa Matildee

e padroeira de nossa Paroacutequia

Com o olhar confiante vos contemplamos

Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos

Dirigimo-nos a voacutes como filhos

porque necessitamos do vosso auxiacutelio

Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados

apoiados e guiados pela matildeo materna

Renovai-nos espiritualmente

para que saibamos enxergar a vida mais bela

Levantai-nos para caminhar sem medo

nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo

para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna

[]

Nossa Senhora do Livramento

Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da alma

[]

Rogai por noacutes santa Matildee de Deus

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos

perpeacutetua sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-

aventurada sempre Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da

eterna alegria Por Cristo Nosso Senhor Ameacutem

Apoacutes verificarmos um pouco da cultura religiosa dos remanescentes de quilombola

de Pimenteira abordaremos no toacutepico seguinte as lutas que os moradores vivenciam e as

muitas conquistas alcanccediladas apoacutes a criaccedilatildeo e fundaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Quilombola dos

Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP)

39

222 AQUAFAP o desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola nos

saberes das plantas medicinais

Sabendo que uma associaccedilatildeo25

eacute uma iniciativa formal ou informal que reuacutene

pessoas fiacutesicas ou outras sociedades legais com objetivos comuns que visam superar as

dificuldades e gerar benefiacutecios para os seus membros a Associaccedilatildeo Quilombola dos

Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP) foi criada pelos moradores da

comunidade no intuito de legalizar e alcanccedilar seus projetos De forma geral qualquer que seja

o tipo ou os objetivos para sua criaccedilatildeo pode-se dizer que a associaccedilatildeo eacute uma forma de

legalizar a uniatildeo de pessoas em torno de seus interesses e que sua constituiccedilatildeo permite

alcanccedilar condiccedilotildees melhores do que os indiviacuteduos teriam isoladamente para a realizaccedilatildeo dos

seus planos Assim toda associaccedilatildeo eacute a forma mais baacutesica para se organizar juridicamente um

grupo de pessoas para a concretizaccedilatildeo de desiacutegnios comuns Seus princiacutepios enquadram-se na

doutrina de que juntos podemos encontrar soluccedilotildees melhores para os conflitos que a vida em

sociedade nos apresenta

Pensando nisso os moradores remanescentes de quilombo conheceram sonharam e

concretizaram o plano de fundar uma entidade que representasse e conseguisse alcanccedilar seus

objetivos de melhoria de vida diante das muitas dificuldades enfrentadas na comunidade ante

o descaso dos governos Historicamente os quilombolas satildeo um grupo que juntos

conseguiram a tatildeo aspirada liberdade hoje essa luta continua na busca de direitos negados no

contexto histoacuterico como se pode conferir a respeito

Quilombo natildeo significou apenas um lugar de refuacutegio de escravos fugidos mas a

organizaccedilatildeo de uma sociedade livre formada de ldquohomens e mulheres que se recusavam viver sob o regime da escravidatildeo e desenvolviam accedilotildees de rebeldia e de

luta contra esse sistemardquo (MUNANGA GOMES 2006)

Considerada como berccedilo dos remanescentes de quilombolas a comunidade Narciacutesea

possui grande nuacutemero de pessoas descendentes de negros Nos relatos contados pela moradora

Domingas sua matildee dona Otiacutelia veio da Narciacutesea muito tempo atraacutes em busca de terras para

o cultivo Apoacutes muitas viagens dona Otiacutelia junto de sua famiacutelia decidiu criar raiacutezes na regiatildeo

25 O significado do termo foi refletido sobre pesquisa feita no site httpwwwasaescorgindexphpa-

associacaoo-que-e-uma-associacao

40

da Pimenteira Depois de sua instalaccedilatildeo representantes do CEDENPA e do MALUNGU26

vieram da Narciacutesea para saber os motivos que levaram a senhora a se mudar da regiatildeo

Segundo relatos os motivos foram o fato de casar e desejar trabalhar na terra para viver

melhor Sabe-se que

Muitas comunidades foram formadas apoacutes a promulgaccedilatildeo da Lei Aacuteurea que

extinguiu a escravidatildeo por uma forte razatildeo era a uacutenica possibilidade do negro

viver em liberdade em um espaccedilo onde sua cultura natildeo era desprezada sendo

possiacutevel por isso preservar a dignidade (MUNANGA GOMES 2006)

Muitas pessoas ajudaram os moradores da comunidade de Pimenteiras a conhecer

suas origens Foi com dona Otiacutelia que souberam da remanescecircncia de quilombo jaacute com o

padre Rafael27

os moradores desenvolveram projetos via Pastoral da Igreja mas foi com o

senhor e professor Cardoso28

que os moradores conheceram o que era uma associaccedilatildeo e quais

seus benefiacutecios Orientados por este senhor alguns moradores conseguiram adquirir

documentos de identificaccedilatildeo que natildeo possuiacuteam aleacutem disso foram orientados a fundar uma

associaccedilatildeo quilombola para conseguir melhorias para a comunidade Com a ajuda da senhora

Nazareacute29

os documentos e atas da associaccedilatildeo foram registrados e legalizados

Atraveacutes da legalizaccedilatildeo da associaccedilatildeo os moradores deram iniacutecio agrave titularidade da

terra Representantes do CEDENPA MALUNGU e INCRA visitaram diversas vezes a

comunidade com entrevistas e a verificaccedilatildeo das limitaccedilotildees de terra para o processo de

titularidade Hoje o processo continua em andamento devido aos muitos impasses na regiatildeo

como por exemplo a presenccedila de agricultores natildeo quilombolas com terra na comunidade de

Pimenteiras

Passadas quase duas deacutecadas da publicaccedilatildeo do artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 e quatro anos da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 48872003 que regulamenta o

processo de identificaccedilatildeo reconhecimento demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras

ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombolas atualmente a luta

continua nos acircmbitos juriacutedico e educacional (SILVA 2000)

26A Palavra Malungu vem de origem africana significa COMPANHEIRO Assim lado a lado lutamos pela

garantia de nossos direitos e pelo reconhecimento social dos quilombolas A Coordenaccedilatildeo Estadual das

Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Paraacute foi oficialmente fundada em marccedilo de

2004 como uma organizaccedilatildeo sem fins lucrativos e econocircmicos para representar as comunidades quilombolas do

ParaacutePesquisa no site httpsmalunguparawordpresscom

27 Paacuteroco da cidade de Santa Luzia do Paraacute na deacutecada de 80 28Professor que foi enviado pelo CEDENPA para orientar os moradores de Pimenteiras nos anos 90 29Maria de Nazareacute Reis Ghirard eacute professora engenheira agrocircnoma e representante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Paraacute ndash CEDENPA aleacutem de outros oacutergatildeos direcionados na preservaccedilatildeo da biodiversidade de

comunidades da regiatildeo aleacutem de desenvolver trabalhos de valorizaccedilatildeo da mulher e do negro

41

O dia 03 de dezembro de 2007 eacute a data de abertura da AQUAFAP Muitas

dificuldades ocorreram para conseguir documentar algumas pessoas da comunidade natildeo

ajudaram mas a maioria se empenhou e buscou realizar tal objetivo Desde entatildeo muitos

projetos foram criados dentre os quais o Bioenergeacutetico e os trabalhos com as plantas que

surgiram via associaccedilatildeo

Com o auxiacutelio da professora Nazareacute e o conhecimento jaacute existente sobre as plantas

medicinais os moradores estudaram e trabalharam na comunidade com tal saber Futuramente

os moradores desejam conseguir pela AQUAFAP um projeto de preservaccedilatildeo e

reflorestamento na regiatildeo da Pimenteira direcionado ao Fundo Dema30 poreacutem o impasse

continua na definiccedilatildeo da titularidade da terra Hoje a associaccedilatildeo eacute tida com algo de grande

valor aos moradores da comunidade devido ao grande conhecimento e oportunidades de

melhorias para todos Muitos estatildeo engajados natildeo apenas com a associaccedilatildeo mas tambeacutem com

questotildees da Igreja e principalmente com as plantas medicinais que mesmo tendo paralisado

o trabalho com o Bioenergeacutetico os saberes adquiridos se multiplicam e propagam uma

valorizaccedilatildeo maior dos saberes sobre as plantas

Detentores de um patrimocircnio cultural rico e valoroso poreacutem desconhecido de

muitos as comunidades remanescentes de quilombolas satildeo formadas de grupos

sociais cuja identidade eacutetnica constitui a base de suas vivecircncias cotidianas bem

como das accedilotildees poliacuteticas levadas a feito pelas entidades que lutam pelos seus

direitos (SILVA 2000)

Eacute perante tamanha riqueza de conhecimento que veremos no toacutepico seguinte como o

trabalho com o Bioenergeacutetico deixou intensos saberes sobre as plantas de uso medicinal que

marcaram profundamente a vida dos moradores da Pimenteira e se tornaram uma identidade

para a comunidade e seus moradores

30O Fundo Dema Quilombolas do Paraacute ou Fundo Dema de Apoio agraves Comunidades Quilombolas do Paraacute surgiu

em 2008 numa dinacircmica interativa entre a Coordenaccedilatildeo das Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de

Quilombolos (Malungu) Fase AmazocircniaFundo Dema e Fundaccedilatildeo Ford para a constituiccedilatildeo de uma linha de

accedilatildeo e financiamentos voltada exclusivamente para as comunidades quilombolas do Paraacute Sua criaccedilatildeo respondeu

a uma demanda especiacutefica por entender que essas comunidades demonstram uma dinacircmica emancipatoacuteria uacutenica

aleacutem de se constituiacuterem como um segmento importante das populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia Paraense Tem

por objetivo promover a conquista dos DhESCArsquos (Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais) das comunidades quilombolas e contribuir para a consolidaccedilatildeo da articulaccedilatildeo estadual da Malungu

na conquista e garantia destes direitos Pesquisa no site httpwwwfundodemaorgbr

42

223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico

Buscar a natureza para sanar as enfermidades eacute um procedimento antigo que ateacute os

dias atuais persiste especialmente em comunidade e grupos eacutetnicos distantes dos recursos das

cidades tais como a sauacutede Eacute comum vermos pessoas fazendo uso de plantas medicinais em

rituais religiosos como tambeacutem no tratamento de doenccedilas por vezes eacute o uacutenico recurso

terapecircutico usado Em muitas regiotildees e ateacute mesmo nas grandes cidades as plantas medicinais

satildeo comercializadas em feiras livres comeacutercio popular e nos quintais de nossas casas Em

Beleacutem por exemplo no mercado do Ver-o-Peso temos o banho de cheiro31

que eacute preparado

com o uso de diversas plantas aromaacuteticas e muito procurado pelas pessoas para melhorar

aspectos da vida amor dinheiro e a cura de doenccedilas

Observando a cultura popular quanto agrave eficaacutecia das plantas medicinais percebemos

que haacute uma divulgaccedilatildeo dos valores terapecircuticos das plantas mesmo natildeo tendo informaccedilotildees

das propriedades quiacutemicas Assim pessoas de todo o mundo manteacutem a praacutetica do consumo

fitoteraacutepico validando as informaccedilotildees terapecircuticas que foram acumuladas ao longo dos

seacuteculos sobre as plantas medicinais Segundo Pinheiro (2002 p 16)

a grande procura pelas Terapias Alternativas eacute resultado de vaacuterios aspectos O que

chama mais a atenccedilatildeo eacute que grande parte das pessoas jaacute passou pelo tratamento da

medicina tradicional e natildeo tiveram os resultados que esperavam Mas quando se fala

em Terapia Alternativa no Brasil eacute preciso esclarecer que se trata na maioria dos

casos de praacuteticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina Apenas a

homeopatia e a acupuntura satildeo reconhecidas como especialidades meacutedicas Mas alguns ramos das Terapias Alternativas cobrem aacutereas que a medicina convencional

despreza e que em muitos casos podem ser uma uacutenica e uacutetil complementaccedilatildeo ao

tratamento convencional

Para Levi Strauss (1970 p 51) ldquoquando uma accedilatildeo terapecircutica natildeo alcanccedila o

resultado esperado a feacute e a crenccedila no sistema permanecem pois elas satildeo sempre coletivasrdquo O

que persiste nesses saberes eacute a crenccedila de que haveraacute a melhora ou cura das doenccedilas por meio

dos medicamentos naturais Dentre as praacuteticas alternativas de sauacutede uma muito conhecida eacute a

Bioenergeacutetica32

Esse meacutetodo requer alguns requisitos importantes para seu uso segundo

Barbieri (2008 p 18)

31 As principais plantas usadas para fazer o banho de cheiro segundo seus nomes populares satildeo catinga de mulata

chama abre caminho vindica manjericatildeo manjerona de angola alecrim de angola trevo da sorte trevo do mar japana

branca priprioca aleacutem de oacuteleos de jasmin uirapuru e patchouli 32 Bioenergeacutetica eacute a energia da vida Eacute uma nova teacutecnica de diagnoacutestico e tratamento de doenccedilas baseada na sabedoria do inconsciente humano Esta sabedoria segundo garantem eminentes psicoacutelogos eacute inata e igual para

todos portanto natildeo depende de nenhum estudo mas nos foi infundida por Deus no momento da concepccedilatildeo Eacute

43

O praticante deve ter um bom conhecimento de anatomia e fisiologia para conhecer

os pontos do exame bem como o funcionamento do organismo Ter conhecimento

da energia e de como ela age e reage no organismo conhecer os princiacutepios baacutesicos

da energia e exercitar-se energeticamente treinar com os dedos para ter domiacutenio do campo energeacutetico fazer parceria com um companheiro (a) como o (a) qual

estabelece uma sintonia energeacutetica possibilitando seguranccedila nos testes

O meacutetodo da Bioenergeacutetica originaacuterio do processo de desintoxicaccedilatildeo do corpo pelo

Biosauacutede eacute um procedimento realizado atraveacutes do bioteste ndash ou o teste do anel ndash que revela

problemas de sauacutede presentes no paciente O teste possibilita que a pessoa qualificada tenha

uma visatildeo especiacutefica de todos os pontos a serem cuidados O tratamento eacute feito a base de

plantas medicinais argila alimentaccedilatildeo saudaacutevel e banhos O Biosauacutede ou meacutetodo do

Bioenergeacutetico trata o corpo por completo33

Conhecendo os benefiacutecios que o Bioenergeacutetico pode trazer a senhora Nazareacute propocircs

para os moradores da Pimenteira criar um projeto que pudesse realizar esse trabalho na

comunidade pois alguns moradores jaacute possuiacuteam conhecimento sobre o uso das plantas

medicinais Assim o Bioenergeacutetico foi um dos projetos criados pela AQUAFAP Alguns

ficaram com receio desse trabalho outros moradores receberam bem a proposta e valorizaram

o trabalho que durou em meacutedia um ano

Muitas plantas nativas e caseiras foram cultivadas e catalogadas nesse periacuteodo As

pessoas que foram preparadas por meio do curso de Bioenergeacutetico ficaram cerca de dois anos

estudando pelo CEDENPA eram elas a irmatilde da Domingas Maria Ilene Alves do Nascimento

a senhora Maria Valdenira de Sousa Zacarias e a senhora Maria Zenir dos Santos Castro

Estas pessoas foram a Beleacutem para fazer o curso do Bioenergeacutetico com orientaccedilatildeo da senhora

Nazareacute e adquiriram diversos conhecimentos dentre os quais saber qual doenccedila havia no

corpo de algueacutem

Contudo com o passar dos trabalhos ocorreram desavenccedilas e as pessoas agrave frente do

projeto foram perdendo o interesse e por fim natildeo continuaram em busca de melhorar e

ampliar esse saber e aos poucos pararam de executar o Bioenergeacutetico na comunidade Hoje

um meacutetodo simples que se utiliza apenas dos dedos das matildeos entrelaccediladas em forma de anel feito por duas

pessoas examinadoras Tambeacutem usa uma vareta de metal para encostar na pessoa a ser examinada Pesquisado

no dia 03122014 as 2311hs no site httpwwwjaimebruningcombrbio_saudephp

33 Durante a consulta o paciente eacute submetido ao teste bioenergeacutetico no qual um profissional da equipe faz um

elo usando os dedos polegar e indicador enquanto outro da equipe tambeacutem faz um anel em cada uma de suas

matildeos entrelaccedilando os dedos do outro Com um arame ou metal que conduza corrente um deles vai tocando os

pontos de checagem a matildeo reagiraacute de forma diferente em cada novo toque Quando tocar um oacutergatildeo sadio o imatilde

seraacute mais forte Pesquisado no dia 30072015 as 1734hs no sitehttpwwwcurapelanaturezacombr201103biosaude-desintoxicacao-e-energizacaohtml

44

muitos na comunidade sentem a falta e tem a necessidade de serem tratados por esse saber

mas as pessoas foram instruiacutedas a natildeo transmitirem esse saber para outros e pararam os

trabalhos O local era chamando de ldquoCentro Popular Biosauacutede Pornusenardquo em homenagem agrave

avoacute da senhora Domingas Vejamos abaixo a imagem do local onde antes era realizado o

trabalhado com o bioenergeacutetico e que hoje eacute lugar de encontros para os associados da

AQUAFAP

Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena

Fonte Dados da pesquisa 2013

O centro popular eacute equipado com geladeira armaacuterio fogatildeo mesas e principalmente

o cataacutelogo com as amostras e os nomes das plantas colhidas pelos moradores da comunidade

para a realizaccedilatildeo do trabalho com o Bioenergeacutetico As imagens a seguir satildeo do local onde

ocorriam os trabalhos e tambeacutem a mesa que conteacutem os desenhos da anatomia e fisiologia do

organismo humano

Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico

Fonte Dados da pesquisa 2013

45

Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o funcionamento do organismo

Fonte Dados da pesquisa 2013

O cataacutelogo com amostras das plantas nativas e caseiras da comunidade de

Pimenteiras eacute um acervo rico de informaccedilotildees relacionadas com a biodiversidade da regiatildeo Os

nomes estatildeo escritos de acordo com o saber que os moradores possuem sobre a liacutengua escrita

o que traz maior qualidade nos estudos sobre os termos das plantas escritos pelos moradores

da comunidade quilombola Observemos abaixo algumas plantas dissecadas de forma

tradicional e nomeadas no cataacutelogo

Fotografia 11 ndash Salsa dissecada

Fonte Dados da pesquisa 2013

46

Fotografia 12 ndash Canela dissecada

Fonte Dados da pesquisa 2013

Fotografia 13 ndashVinagreira dissecada

Fonte Dados da pesquisa ano 2013

Observamos que o trabalho com o Bioenergeacutetico proporcionou grande riqueza de

dados os quais objetivamos analisar e conhecer mais profundamente no intuito de contribuir

47

para os estudos cientiacuteficos da Liacutengua por meio dos saberes tradicionais Entretanto o que eacute

conhecimento e o que eacute saber Esse e outros aspectos seratildeo observados no capiacutetulo seguinte

no qual abordaremos as diferenciaccedilotildees entre Conhecimento e Saber

Apontando na comunidade tradicional os sujeitos de saberes bem como a presenccedila

do gecircnero nesses saberes sobre as plantas medicinais incluindo especificamente a detentora

do saber das plantas que eacute a senhora Domingas para finalmente observarmos como tais

saberes constituem a identidade cultural da comunidade quilombola de Pimenteiras

23 SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM PIMENTEIRAS

A partir da compreensatildeo dos saberes como praacuteticas discursivas Michel Foucault

(2009)34

depreende que nesse discurso os termos Saber35

e Conhecimento36

geralmente satildeo

palavras utilizadas no senso comum como sinocircnimas Analisamos que a palavra ldquosaberrdquo

significa ter conhecimento de algo teoacuterico ou praacutetico eacute uma habilidade resultante da

experiecircncia da praacutetica da sabedoria e da cultura O saber eacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito que

sabe e o objeto a ser conhecido eacute um sentimento de seguranccedila que se produz quando se tem

consciecircncia dessa relaccedilatildeo posta em movimento numa dada realidade Jaacute o termo

34 Michel Foucault foi um filoacutesofo historiador das ideias teoacuterico social filoacutelogo e criacutetico literaacuterio Suas teorias abordam a relaccedilatildeo entre poder e conhecimento como eles satildeo usados como uma forma de controle social por

meio de instituiccedilotildees sociais 35Saber - Verbo Transitivo direto transitivo indireto e intransitivo 1conhecer ser ou estar informado ter

conhecimento de 2ter conhecimentos especiacuteficos (teoacutericos ou praacuteticos) 3estar convencido de ter a certeza de

(coisas presentes e futuras) prever pressentir 4ter forccedila meacuterito meio capacidade ou possibilidade de 5ter

habilidade jeito etc para 6poder explicar compreender 7ser capaz de conseguir 8guardar na memoacuteria

decorar 9indagar perguntar 10julgar considerar ter como 11fazer jus a merecer 12ter gosto de lembrar o

sabor de ter sabor ser saacutepido 13soma de conhecimentos adquiridos sabedoria cultura erudiccedilatildeo 14prudecircncia e

sensatez ao agir experiecircncia 15capacidade resultante da experiecircncia praacutetica 36Conhecimento- Substantivo masculino Ato ou efeito de conhecer 1 O ato ou a atividade de conhecer

realizado por meio da razatildeo eou da experiecircncia 11ato ou efeito de apreender intelectualmente de perceber um

fato ou uma verdade cogniccedilatildeo percepccedilatildeo 12Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato estado ou condiccedilatildeo de compreender entendimento 2 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa conhecida 21Derivaccedilatildeo por extensatildeo de

sentido Domiacutenio teoacuterico ou praacutetico de um assunto uma arte uma ciecircncia uma teacutecnica etc competecircncia

experiecircncia praacutetica 3 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia Faculdade de conhecer 4 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido

Intuiccedilatildeo pressentimento ou outra forma de cogniccedilatildeo 5 Fato de reconhecer uma coisa como adrede sabida ou

conhecida reconhecimento 6 Familiaridade (com uma coisa ou uma pessoa) adquirida pela experiecircncia 7

Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Ato ou efeito de estabelecer uma relaccedilatildeo com algueacutem em grau de

intimidade variaacutevel mas ger menor que na amizade 8 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Pessoa com quem se

estabeleceu uma ligeira relaccedilatildeo pessoal ou que pelo menos se sabe de quem se trata 9 Derivaccedilatildeo por extensatildeo

de sentido Uso formal Diacronismo antigo Relaccedilatildeo carnal do homem e da mulher 10 Derivaccedilatildeo por

extensatildeo de sentido Uso formal Diacronismo antigo Noccedilatildeo que cada um tem de sua proacutepria existecircncia e das

pessoas familiares coisas fatos do dia-a-dia consciecircncia lucidez 11 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato ou condiccedilatildeo de estar ciente ou consciente de (algo) 12 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa que se conhece de

que se sabe de que se estaacute informado ciente ou consciente []

48

ldquoconhecimentordquo eacute o ato de conhecer algo por meio da razatildeo ou da experiecircncia eacute portanto o

domiacutenio de um assunto teoacuterico ou praacutetico a ser adquirido (SILVA 2009 p 263)

Observamos que as palavras Saber e Conhecimento sugerem uma relaccedilatildeo do sujeito

com o objeto conhecido ou a ser conhecido Essa relaccedilatildeo do sujeito com o objeto ocorre pela

familiarizaccedilatildeo do sentido com o componente a ser compreendido assim Saber e

Conhecimento satildeo palavras tomadas no dicionaacuterio como sinocircnimas Ambas significam

experiecircncia ciecircncia percepccedilatildeo informaccedilatildeo e ato de conhecer

Entretanto no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras as palavras saber e conhecimento natildeo teratildeo significaccedilatildeo semelhante Isto se

confirma nos estudos de Foucault (1987) sobre a relaccedilatildeo de poder e saber O autor ressalta a

ideia de que na produccedilatildeo dos saberes haacute sempre uma dependecircncia muacutetua entre estas

categorias Para ele natildeo haacute saber sem estar tocado pelas complexas relaccedilotildees de poder mas

essas relaccedilotildees se constituem em conjunto com a produccedilatildeo dos saberes (FREITAS 2005)

Eacute nesse contexto de poder que Foucault diferencia o conceito de saber e de

conhecimento Para o pesquisador o conhecimento eacute a constituiccedilatildeo de discurso sobre classe

de objetos passiacuteveis de se conhecer ou seja cognosciacuteveis que satildeo construiacutedos pelo processo

de racionalizaccedilatildeo identificaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo dos objetos Jaacute o saber segundo o

pesquisador eacute um processo flexiacutevel que sofre mudanccedilas durante o trabalho de conhecer

enquanto o conhecimento eacute carregado e estagnado

Foucault ainda explica que o sujeito cognitivo eacute marcado por sua cultura pelos

aspectos externos e de uma memoacuteria que atravessa o tempo atraveacutes das significaccedilotildees

pensamentos e desejos no acircmbito do conhecimento (ALMEIDA 2012) Com base nesses

estudos compreendemos que os saberes dos moradores da comunidade de Pimenteiras satildeo

construiacutedos constantemente nas relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridos culturalmente

Observamos que a palavra conhecimento eacute uma verdade preacute-construiacuteda linear

imoacutevel independente do contexto no qual seraacute processada No decorrer dos questionamentos

compreendemos que a palavra conhecimento se refere a situaccedilotildees objetivas e teoacutericas que

devidamente sistematizadas datildeo lugar agrave ciecircncia A palavra saber por sua vez pode referir-se

a situaccedilotildees tanto objetivas como subjetivas tanto teoacutericas quanto praacuteticas eacute como se a palavra

conhecimento coubesse dentro da palavra saber e natildeo o contraacuterio

Para nos ajudar na compreensatildeo desses termos citamos Zubiri (1974) que em seus

estudos mostra que o homem tem um modo de experiecircncia com as coisas de uma maneira

simples e uacutenica Eacute um saber que toca no iacutentimo de cada coisa natildeo eacute a percepccedilatildeo de cada uma

de suas caracteriacutesticas eacute uma espeacutecie de sentido do ser Eacute a experiecircncia que temos com o

49

objeto colocando-o no espiacuterito Desta forma Monteil (1985 apud Charlot 2000 p 61) assim

distingue

O conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal ligada agrave atividade de um

sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas como tal eacute intransmissiacutevel estaacute

ldquosob a primazia da subjetividaderdquo Assim como a informaccedilatildeo o saber estaacute ldquosob a

primazia da objetividaderdquo mas eacute uma informaccedilatildeo de que o sujeito se apropria

Desse ponto de vista eacute tambeacutem conhecimento poreacutem desvinculado do ldquoinvoacutelucro

dogmaacutetico no qual a subjetividade tende a instalaacute-lordquo O saber eacute produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos eacute construiacutedo em ldquoquadros metodoloacutegicosrdquo

Pode portanto ldquoentrar na ordem do objetordquo e torna-se entatildeo ldquoum produto

comunicaacutevelrdquo uma ldquoinformaccedilatildeo disponiacutevel para outrem

Saber natildeo eacute soacute entender a veracidade das coisas desde os seus princiacutepios haacute

necessidade de se conquistar realmente a posse da ldquorealidaderdquo Esta posse da ldquorealidaderdquo

permite colocar o conhecimento em accedilatildeo num determinado contexto o que ocasiona a

construccedilatildeo do saber pois natildeo basta apreendermos a ldquoverdade da realidaderdquo (conhecimento) eacute

necessaacuterio construirmos a ldquorealidade da verdaderdquo (saber) (MOTA 2008)

Para Schlanger (1978 apud Charlot 2000) saber e conhecimento mantecircm uma

pertinente relaccedilatildeo de interaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto Para ele a anaacutelise parece pertinente

ao dizer que natildeo haacute ldquosaberrdquo sem relaccedilatildeo entre sujeito e objeto outros sujeitos e outras

realidades A confrontaccedilatildeo pessoal do sujeito apropriado de conhecimentos numa realidade

especiacutefica e singular implica na atividade do sujeito de produzir saberes Schlanger (1978

apud CHARLOT 2000 p 22) expotildee que ldquoO saber eacute uma relaccedilatildeo um produto e um

resultado relaccedilatildeo do sujeito que conhece com seu mundo resultado dessa interaccedilatildeordquo

Enquanto o conhecimento para o pesquisador eacute exatamente a obtenccedilatildeo de uma imagem

cognitiva interna de uma verdade independente de uma realidade estabelecida pela relaccedilatildeo

cognitiva interna e ativa do sujeito sobre o objeto Assim o objeto de conhecimento eacute

qualquer realidade externa ao indiviacuteduo que atraveacutes do ato intelectual torna-se interna

O saber por sua vez necessita de uma relaccedilatildeo natildeo soacute interna do indiviacuteduo sobre o

objeto mas uma relaccedilatildeo entre esse sujeito seu conhecimento e uma dada realidade ou

contexto Por conta disso vemos o saber como o movimento do conhecimento em contato

com um determinado contexto numa dada realidade confrontando suas muacuteltiplas faces

transcendendo o conhecimento jaacute consolidado reinventando-o recriando-o e traduzindo-o

conforme as necessidades imperadas pelas circunstacircncias (SCHLANGER 1978 apud

CHARLOT 2000)

O saber e o conhecimento satildeo formas de relacionamento com a realidade formas de

dizer de pensar de ser e de estar no mundo e com o mundo Eacute com estas explanaccedilotildees sobre o

que individualiza o saber que entenderemos os saberes da comunidade de Pimenteiras

50

saberes de um povo que durante seacuteculos lutou para alcanccedilar sua liberdade seu direito agrave terra e

seu espaccedilo na sociedade Eacute pertinente ao ser humano a sobrevivecircncia por isso para Brandatildeo

(1993 p 20 apud PELAES 2010)

Haacute a necessidade de sobrevivecircncia do homem que cria mecanismos para se adaptar aos desafios da natureza Com isso o homem desenvolve meios de sobrevivecircncia

bens de uso e bens de troca dentro de um cenaacuterio de interaccedilotildees Tais homens atuam

como indiviacuteduos sujeitos do mundo da cultura pessoas que segundo o autor satildeo

agentes culturais e atores sociais convivendo em cenaacuterios da cultura

Em vista da necessidade de sobrevivecircncia os remanescentes de Quilombola da

comunidade de Pimenteiras possuem e utilizam os saberes que foram adquiridos de seus

antepassados sobre a manipulaccedilatildeo das plantas medicinais a fim de alcanccedilar a cura de

doenccedilas Tendo em vista as dificuldades de acesso aos recursos de sauacutede eles buscaram na

natureza as espeacutecies vegetais mais apropriadas para sua alimentaccedilatildeo ou para a cura de seus

males entre as geraccedilotildees

Apesar de muitas plantas serem uacuteteis ao homem existem aquelas que produzem

substacircncias toacutexicas ou venenosas assim eacute preciso saber bem as caracteriacutesticas de cada planta

para poder usaacute-la como remeacutedio Eacute comum se ouvir dizer que o uso das plantas medicinais ldquose

natildeo fizer bem mal natildeo faraacuterdquo poreacutem natildeo eacute bem assim Do ponto de vista cientiacutefico o saber

sobre as plantas ainda eacute um campo pouco estudado e difundido no paiacutes Apesar da riqueza da

flora brasileira os estudos na aacuterea ficam mais restritos agrave antropologia

O uso inadequado das plantas poderaacute trazer efeitos indesejados e por vezes ateacute a

morte do indiviacuteduo Eacute imprescindiacutevel ter conhecimento natildeo somente das plantas mas tambeacutem

das doenccedilas para fazer a seleccedilatildeo correta da planta a ser utilizada de acordo com a forma de

uso a frequecircncia a quantidade a idade e o metabolismo de cada pessoa Enfim os saberes

das plantas e os conhecimentos cientiacuteficos podem juntos contribuir para a sauacutede e bem estar

dos moradores da comunidade de Pimenteiras aleacutem de preservar sua cultura como identidade

cultural de um povo

Da distinccedilatildeo entre saber e conhecimento iremos ao toacutepico seguinte no qual

abordaremos a comunidade tradicional e os sujeitos de saberes sobre as plantas medicinais

Quem satildeo e o que caracteriza as comunidades tradicionais Que aspectos marcam sua

identidade como sujeitos de saberes Ou seja eacute a construccedilatildeo do sujeito atraveacutes do saber

adquirido entre as geraccedilotildees

51

231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes

Entendemos que o conhecimento eacute construiacutedo a partir do acuacutemulo de experiecircncias

vivenciadas no acircmbito fiacutesico e social Nas populaccedilotildees tradicionais37

que satildeo estas

constituiacutedas por grupos comunitaacuterios humanos os quais na sua maioria vivem no meio rural

habitando determinado territoacuterio com seus haacutebitos usos e costumes o conhecimento eacute

construiacutedo a partir da relaccedilatildeo com o meio em que vivem inserindo no ecossistema

preservaccedilatildeo significaccedilatildeo ressignificaccedilatildeo valores e saberes que seratildeo transmitidos de geraccedilatildeo

em geraccedilatildeo por procedimentos educativos tradicionais

Alguns aspectos diferenciam as populaccedilotildees tradicionais das populaccedilotildees natildeo

tradicionais tais como pouca acumulaccedilatildeo de bens apropriaccedilatildeo do espaccedilo natural estrateacutegias

de sobrevivecircncia a partir do conhecimento de fontes naturais adquiridas entre as geraccedilotildees e

vivecircncias com o meio aleacutem da construccedilatildeo de um modo de vida de acordo com os ciclos dos

recursos que a natureza oferece

As comunidades tradicionais se reconhecem como pertencentes a um grupo social

particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de cada grupo Assim

as sociedades tradicionais se apresentam mais homogecircneas do que as comunidades natildeo

tradicionais pois ocupam aacutereas de pouca densidade populacional com atividades agriacutecolas

festas culturais e cultos religiosos que funcionam como fator de aglutinaccedilatildeo social

Estas comunidades desenvolvem seus saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a

natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia de seu grupo Castro (2000 p 169)

compreende que as accedilotildees praticadas pelo homem e os mecanismos de intervenccedilatildeo na natureza

satildeo frutos do acuacutemulo de experiecircncias vivenciadas no meio e de saberes reelaborados no meio

social atraveacutes das geraccedilotildees

Nesse contexto observamos que a comunidade tradicional de Pimenteiras conteacutem

saberes conduzidos entre as geraccedilotildees e preservado de acordo com os costumes culturais que

os moradores quilombolas adquiriram com o passar do tempo tais saberes satildeo denominados

de conhecimento popular

O conhecimento popular agraves vezes denominado senso comum natildeo se distingue do

conhecimento cientiacutefico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto a ser conhecido O

que os diferencia eacute a forma o modo ou o meacutetodo do conhecer (LAKATTOS MARCONI

37 Art 3ordm Decreto nordm 6040 de 7 de fevereiro de 2007 presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva instituiu a Poliacutetica

Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT)

52

1991) Saber que determinada planta necessita de uma quantidade de aacutegua pode ser um

conhecimento verdadeiro e comprovado contudo isso natildeo o torna cientiacutefico Para haver

cientificidade eacute necessaacuterio ir mais aleacutem eacute preciso conhecer a natureza dos vegetais sua

composiccedilatildeo seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espeacutecie

da outra Assim demonstra-se que a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico caminho de acesso ao

conhecimento e agrave verdade e que um mesmo objeto como uma planta um mineral ou uma

comunidade pode ser objeto de estudo tanto para a ciecircncia quanto para o homem comum ou

seja o que caracteriza o conhecimento cientiacutefico do saber popular eacute a forma de observaccedilatildeo

(BUNGE 1974)

Eacute a partir da observaccedilatildeo que os saberes sobre as ervas e plantas foram adquiridos

entre as geraccedilotildees e hoje muitas comunidades tradicionais utilizam os recursos caseiros para

curar e amenizar as doenccedilas Segundo Bunge (1974 p 20) a Ciecircncia aspira pela

racionalidade e objetividade isto soacute eacute atingido de forma muito limitada O conhecimento

popular por sua vez busca o comum o corrente e o espontacircneo de conhecer algo que soacute se

adquire no trato direto com as coisas e com os seres humanos Para o autor o conhecimento

popular caracteriza-se pelo superficial sensitivo subjetivo assistemaacutetico e acriacutetico (ANDER-

EGG 1978)

No campo do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais este eacute um

saber que acompanha o movimento histoacuterico e cultural da humanidade Transmitido

oralmente de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo esses conhecimentos sobre as plantas medicinais

constituiacuteram o alicerce do conhecimento tradicional Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o

saber tradicional sobre as plantas medicinais passou a ser desvalorizado fato que

consequentemente causou a desvalorizaccedilatildeo cultural das comunidades tradicionais que as

utilizavam

Assim valorizar esse conhecimento estaacute intimamente ligado ao fortalecimento

cultural e identitaacuterio de uma dada comunidade Segundo Gallois (2006) o saber tradicional eacute

um conhecimento que deve ser respeitado pois eacute transmitido oralmente entre as geraccedilotildees

com praacuteticas e inovaccedilotildees e natildeo como um simples repositoacuterio de conhecimentos do passado A

praacutetica de uso das plantas medicinais tanto para cura fiacutesica quanto espiritual faz parte das

relaccedilotildees que os moradores da comunidade de Pimenteiras apreenderam ao longo do tempo na

observaccedilatildeo da natureza consigo mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas

de cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita

relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais

53

Conhecer as praacuteticas ancestrais de utilizaccedilatildeo das plantas medicinais ainda existentes

na comunidade de Pimenteiras aleacutem de conduzir a uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do saber

tradicional com o conhecimento cientiacutefico eacute aspecto relevante para fortalecer a identidade de

um povo A comunidade utiliza o saber tradicional sobre as plantas medicinais nas suas

praacuteticas cotidianas cuidando da sauacutede apesar disso ela ainda necessita compreender a

importacircncia deste saber para o fortalecimento da sua identidade cultural e construir um

diaacutelogo entre os saberes existentes na regiatildeo com o conhecimento cientiacutefico

Os saberes existentes sobre as plantas satildeo sem duacutevida uma forte marca na

comunidade de Pimenteiras Sobretudo vale destacar que na grande maioria das famiacutelias tal

saber eacute transmitido pelo gecircnero feminino As mulheres adultas e idosas satildeo as que mais se

destacam no acervo de conhecimento sobre as plantas Com isso observamos que o

conhecimento das plantas medicinais eacute ancestral e natural entre as geraccedilotildees femininas ou

seja as pessoas mais velhas satildeo consideradas as ldquoguardiatildesrdquo dos saberes de cura por meio das

plantas medicinais satildeo elas que conhecem os usos das plantas e perpetuam esse

conhecimento agraves geraccedilotildees posteriores

Em consideraccedilatildeo agraves moradoras quilombolas da comunidade de Pimenteiras que

perpetuaram tatildeo valoroso conhecimento e proporcionaram preservar os saberes das plantas

medicinais trataremos no toacutepico seguinte os aspectos referentes agrave presenccedila do gecircnero

feminino nos saberes sobre a plantas da comunidade de Pimenteiras

232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais

As plantas medicinais sempre fizeram parte da histoacuteria de muitos povos na

antiguidade Muito antes de frequentar as farmaacutecias para buscar o aliacutevio de alguma dor

buscamos em nossos quintais ou nas matas uma determinada planta que por conselho dos

mais velhos poderia resolver o problema Com o passar dos tempos diversos povos

utilizaram as plantas medicinais de diferentes formas Os portugueses quando chegaram ao

Brasil jaacute desfrutavam o poder das plantas medicinais os indiacutegenas por sua vez contribuiacuteram

muito com o conhecimento que jaacute possuiacuteam das plantas usadas como remeacutedio e alimento

Desse modo existem muitas maneiras de empregar as plantas no uso medicinal tais

como chaacutes garrafadas xaropes defumadores e banhos e nessas diferentes formas de uso das

54

plantas a grande diversidade de espeacutecies vegetais na Amazocircnia traz marcas da presenccedila

feminina no domiacutenio dos saberes sobre as plantas Segundo Rodrigues (2008 p 2)

Diante dessa sociodiversidade nos contextos amazocircnicos nosso recorte de apreensatildeo

da realidade busca perceber as afirmaccedilotildees quanto aos papeacuteis sociais empregados a

mulheres e homens no domiacutenio de um saber o das plantas medicinais apreender

diante desse contexto como se apresentam as relaccedilotildees de poder em relaccedilatildeo ao

conhecimento e demonstrar a visatildeo mercadoloacutegica sobre os conhecimentos

tradicionais que se apropria da oacutetica patriarcalista reafirmadora de estereoacutetipos que

naturaliza as relaccedilotildees sociais e portanto como tais aspectos influem diretamente

nas questotildees soacutecio-culturais da sauacutede popularcoletiva e no acircmbito de poliacuteticas

sociais

As plantas medicinais satildeo usadas haacute milecircnios como fonte de cura Apesar de a Idade

Meacutedia ser conhecida como Idade das Trevas foi uma eacutepoca em que a Europa Medieval sofreu

uma forte mudanccedila nos haacutebitos alimentares Nessa eacutepoca os vegetais passaram a ser pouco

consumidos havendo preferecircncia para as carnes patildees e frutas Com isso o conhecimento

sobre as plantas ficou armazenado nas matildeos da Igreja Catoacutelica que utilizava-os apenas para a

medicina e a praacutetica espiritual

As mulheres desse periacuteodo que possuiacutessem certo conhecimento sobre as plantas

medicinais para curar as enfermidades nos familiares eram fortemente rejeitadas julgadas e

condenadas como pecadoras e hereges eram mortas agrave fogueira pois na visatildeo da Igreja quem

tivesse tal conhecimento enganava as leis divinas com rituais que iam contra os seus

preceitos Assim vaacuterias mulheres foram perseguidas e acusadas de bruxaria e por

conseguinte foram assassinadas pela praacutetica de suas crenccedilas e cultura

As mulheres foram em grande nuacutemero acusadas de bruxaria e em consequumlecircncia

desmoralizadas ou tiveram que aceitar como espuacuterios e iliacutecitos os seus saberes

aqueles que compartilhavam com outras mulheres na convivecircncia entre matildees e

filhas uma geraccedilatildeo apoacutes outra (TELLES apud RAGO FUNARI 2008 p81)

Ao observarmos a relaccedilatildeo entre a presenccedila feminina com o saber sobre as plantas

verificamos que a autoridade no conhecimento pode revelar mais que uma praacutetica cultural e

histoacuterica predominante agraves mulheres Esta praacutetica revela um contexto domeacutestico no qual o

trabalho das mulheres eacute revestido pelas relaccedilotildees de poder Em casa o saber o uso e o manejo

das plantas medicinais eacute algo predominante ao gecircnero feminino Essa observaccedilatildeo estaacute

relacionada com as diferenccedilas entre gecircneros e na divisatildeo social e sexual Pelo fato de ser

ldquoobrigadardquo a cuidar dos filhos a mulher tem por extensatildeo a preocupaccedilatildeo maior em saber dos

usos de plantas medicinais por estar diretamente ligada ao sentimento de zelo sauacutede e bem

estar da famiacutelia

55

Nesse contexto as plantas medicinais normalmente satildeo manejadas em quintais

espaccedilo considerado parte do ambiente domeacutestico e feminino assim como o cuidado com os

filhos que natildeo eacute visto como ldquotrabalhordquo Nas observaccedilotildees de Gonccedilalves a accedilatildeo de trabalhar

com as plantas estaacute relacionada ao seguinte conceito ldquoTrata-se da forma como cada cultura

lida com as diferenccedilas entre os sexos alocando a cada um deles determinados atributos e agrave

maneira como estes atributos satildeo valorados socialmenterdquo (GONCcedilALVES 1998 p 51)

Assim pode-se afirmar que eacute comum ao gecircnero feminino conhecer e saber utilizar as

plantas medicinais como forma de prevenccedilatildeo e bem estar proacuteprio e comunitaacuterio Para a

mulher ter propriedade no conhecimento das plantas medicinais estaacute relacionado com o

cuidado aos filhos afinal isto representa o principal motivo para ter aprendido com a matildee a

avoacute a tia ou a vizinha eacute uma ldquoheranccedila de saberrdquo da transmissatildeo frequente entre as geraccedilotildees

e de transmissatildeo entre as mulheres

Como bem menciona Tosi (1998) o fato de que as bruxas eram mulheres que

detinham conhecimentos eram mulheres saacutebias de conhecimentos empiacutericos que praticavam

desde eacutepocas ancestrais demonstra um pouco desse trajeto sobre o saber das plantas

medicinais que passou por geraccedilotildees femininas as quais foram tidas como guardiatildes do saber

Nas comunidades tradicionais as mulheres tambeacutem guardam tais saberes medicinais

das plantas Assim seguiremos no toacutepico seguinte tratando especificamente sobre uma

moradora da comunidade de Pimenteira uma mulher que ateacute os dias atuais traz saberes de

suas ancestrais como forma de perpetuar e preservar um conhecimento que hoje identifica um

povo

233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes

A confianccedila em alcanccedilar a cura de diversas enfermidades do corpo por meio do uso

medicinal de plantas eacute um conhecimento conservado entre as geraccedilotildees femininas na regiatildeo da

Pimenteira Avoacutes matildees filhas e netas constituem um ciacuterculo no qual os saberes tecircm sido

repassados entre as geraccedilotildees

As mulheres da comunidade de Pimenteiras vivem o costume de cuidar da casa

educar os filhos e ajudar os maridos nos trabalhos da roccedila Elas satildeo encarregadas de muitas

atividades dentre as quais o manejo da terra para auxiliar o marido nas atividades da

agricultura eacute bastante comum No entanto o contraacuterio natildeo ocorre ou seja os homens natildeo

56

cuidam dos filhos natildeo preparam as refeiccedilotildees e nem manipulam as plantas para o uso

medicinal

A heranccedila do saber sobre o uso das plantas medicinais eacute puramente feminina devido

aos cuidados que as mulheres quilombolas possuem com os filhos com a casa e com a terra

Rodrigues (2008 p 4) expotildee sobre a importacircncia dos saberes tradicionais guardados pelas

mulheres nas comunidades para a preservaccedilatildeo da cultura de um povo

[] na medida em que o conhecimento da natureza a partir dos conhecimentos

tradicionais sobre o uso de plantas medicinais eacute manipulaacutevel tanto por mulheres e

homens ambos tecircm um reconhecimento de uma cultura proacutexima da natureza que

natildeo os menospreza pelo contraacuterio em suas localidades satildeo considerados

importantes pelo saber que detecircm primordialmente no que tange a sauacutede

coletivapopular []

Os remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras vivem e lutam pelo

direito agrave terra e agrave preservaccedilatildeo dos valores e saberes da regiatildeo Sabemos que cerca de oito

milhotildees de brasileiros fazem parte de comunidades tradicionais dentre as quais uma meacutedia de

dois milhotildees38

correspondem a remanescentes de quilombo De acordo com o Decreto de nordm

604039

de 07 de fevereiro de 2007 os povos e comunidades tradicionais satildeo grupos

culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais possuindo formas proacuteprias de

organizaccedilatildeo social ocupando e usando os recursos naturais como condiccedilatildeo de sobrevivecircncia

da sua reproduccedilatildeo cultural social e religiosa com inovaccedilotildees nas praacuteticas geradas e

transmitidas pela tradiccedilatildeo Nos relatos da senhora Domingas ser quilombola eacute algo

relacionado com a natureza e a terra conforme se pode observar em um trecho transcrito de

sua fala

[] mas ser quilombola acho que eacute ser vem dessa descendecircncia e assim das

(coisas) tradicional as coisas da natureza aprender e viver com a natureza eu

acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre assim vendo os iacutendios porque

os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu acho que ser

quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as

coisas pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende

as coisas com a natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque

aquele tempo dos dos dos negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de

leitura (nada nada) MAS com a natureza eles aprendiam alguma coisa

(informaccedilatildeo verbal)40

38Informaccedilatildeo contida no Centro de documentaccedilatildeo Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES 2008) Site

httpwwwcedefesorgbr

39 Institui a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) 40Depoimento da senhora Domingas transcrito de forma grafemaacutetica em Pimenteiras outubro de 2014

57

Eacute fato que nem todos os moradores fazem uso do conhecimento sobre as plantas mas

os que preservam este saber satildeo referecircncia na comunidade para as demais localidades da

regiatildeo como eacute o caso da senhora Domingas Alves do Nascimento41

Moradora de origem

quilombola ela eacute conhecedora do poder medicinal das plantas vivendo da agricultura e das

vendas dos produtos feitos com as plantas como a garrafada multimistura e pomadas Devido

agrave forte relaccedilatildeo com a terra ela cultiva suas ervas e plantas em casa como meio de

proporcionar a sauacutede de seus familiares e de seu povo A senhora Domingas eacute uma pessoa

desinibida trabalhadora e aacutevida pelo conhecimento medicinal das plantas Na entrevista a

moradora escolheu seu quintal como espaccedilo para conversar o local possui muitas plantas

aacutervores sombra e vento forte De forma acolhedora e sorridente algo marcante em sua

personalidade Domingas demonstrou grande acolhimento e bem estar durante a conversa

pois Apesar de sua pouca escolaridade eacute uma grande contadora de histoacuterias com forccedila e

determinaccedilatildeo no que diz

Domingas luta pelos direitos de seu povo buscando recursos que viabilizem

melhorias para a comunidade sua relaccedilatildeo com a terra veio de seus ancestrais que vieram da

comunidade de Narciacutesea para por suas raiacutezes na comunidade de Pimenteiras42

Durante a

conversa Domingas falou de suas origens sua famiacutelia da Associaccedilatildeo da titulaccedilatildeo da terra de

seu trabalho na lavoura e do saber sobre as plantas Este aspecto eacute o que mais chama a

atenccedilatildeo devido ao grande conhecimento demonstrado a respeito das plantas medicinais

A moradora de Pimenteiras vive na comunidade rural haacute cerca de cinquenta anos

Durante esse tempo muitos saberes de seus antepassados sobre as plantas medicinais foram

repassados Sua avoacute materna ndash senhora Joana Pornusena dos Santos ndash e sua matildee ndash senhora

Otiacutelia Alves do Nascimento ndash eram sabedoras do uso de chaacutes para a cura de males do corpo e

da alma Com o passar dos anos o conhecimento da senhora Domingas sobre as plantas

passou a ser muito importante para a comunidade local e visualizado por cooperativas e

organizaccedilotildees como o CEDENPA e pela Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria43

A partir

41

Em entrevista realizada em 19 de outubro de 2014 a moradora de Pimenteiras Domingas em seu discurso

apresentou saberes de um povo que se manteacutem com os recursos da natureza procurando preservar o ambiente

em que vive Para realizar esta pesquisa foi necessaacuterio registrar a conversa com a senhora Domingas atraveacutes de

fichas com perguntas variadas sobre sua histoacuteria a comunidade e o uso medicinal das plantasDepois foi

indispensaacutevel a gravaccedilatildeo do som e imagem da entrevistada para na sequecircncia analisar seu discurso que foi

transcrito de forma grafemaacutetica Com esse material transcrito fizemosa anaacutelise de um discurso repleto de saberes

de um povo historicamente deixado agrave margem social

42 Pimenteiras possui este nome devido agraves grandes plantaccedilotildees de pimenta existente na eacutepoca dos avocircs de

Domingas 43

A Rede Bragantina reuacutene atualmente vinte e sete organizaccedilotildees membros que trabalham por uma cultura de

sustentabilidade a partir de novas relaccedilotildees econocircmicas afetivas de gecircnero e etnia no sentido da existecircncia

humana Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria Artes amp Sabores tem o objetivo de produzir com respeito agraves

58

desse contexto a moradora foi orientada para aprimorar seus saberes sobre as plantas fazendo

cursos de aproveitamento e utilizaccedilatildeo dos alimentos para a sauacutede

Conhecer mais e aprimorar o conhecimento sobre as plantas medicinais vai ao

encontro dos saberes adquiridos entre as geraccedilotildees de mulheres com quem Domingas

conviveu O trabalho com as plantas eacute muito importante para a moradora a ponto que hoje o

saber sobre as plantas eacute algo que identifica a comunidade de Pimenteiras No toacutepico seguinte

veremos como a comunidade atualmente eacute conhecida pela forte relaccedilatildeo dos moradores com a

terra com as tradiccedilotildees e suas praacuteticas culturais proacuteprias e portanto identitaacuterias

234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais

Tudo aquilo que eacute construiacutedo pelo ser humano incluindo os mitos os siacutembolos os

ritos todas as crenccedilas todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento de um

povo eacute o que marca as especificidades de cada comunidade ou seja sua Cultura A definiccedilatildeo

do conceito de cultura atualmente se tornou difiacutecil pois ela pode ser estudada sob diversos

pontos de vista Eacute necessaacuterio portanto escolher uma perspectiva para poder defini-la

Desse modo analisamos os estudos de Cuche (1999) que descreve o processo

evolutivo como uma questatildeo de adaptaccedilatildeo do homem de acordo com a geneacutetica do meio

ambiente natural para uma adaptaccedilatildeo cultural dos primeiros homens Segundo o pesquisador

a noccedilatildeo de cultura era compreendida no seu sentido amplo e desde seu aparecimento no

seacuteculo XVIII suscitou constantes debates contraditoacuterios com a ideia moderna da cultura da

eacutepoca fazendo oposiccedilatildeo com a noccedilatildeo de sociedade no mesmo campo significativo

Nesse aspecto Cuche (1999 p 10) relata que ldquoA cultura permite ao homem natildeo

somente adaptar-se a seu meio mas tambeacutem adaptar este meio ao proacuteprio homem as suas

necessidades e seus projetos Em suma a cultura torna possiacutevel a transformaccedilatildeo da naturezardquo

Conhecer profundamente a comunidade de Pimenteiras trouxe forte significaccedilatildeo no

campo dos estudos cientiacuteficos e principalmente no campo dos saberes populares pois

permitiu analisar os aspectos culturais que permeiam e identificam a regiatildeo A partir disso

conhecer a cultura de um povo significa conhecer e valorizar a nossa cultura como

autoafirmaccedilatildeo do que somos Examinar como foi formada a palavra o conceito cientiacutefico que

culturas agraves sinergias da natureza valorizando os agroecosistemas locais na perspectiva da seguranccedila alimentar e

desenvolvimento sustentaacutevel Veja o site httpamazoniaemredeblogspotcombr

59

dela depende localizar sua origem e evoluccedilatildeo semacircntica evidenciam assim os laccedilos que

existem entre a histoacuteria da palavra cultura e a histoacuteria das ideias Se pensada como um

conjunto de ideias valores e conhecimentos cultura traz dentro de si em primeiro lugar a

dimensatildeo do passado Muitos conhecimentos foram herdados de outras geraccedilotildees e a cada

tempo que passa mais conhecimento eacute acumulado Eacute extraordinaacuterio como a nossa memoacuteria

fica cada vez mais enriquecida pois o tempo passa e a memoacuteria cresce proporcionalmente

(CUCHE 1999) Logo eacute sensato valorizar a identidade cultural de um povo pois atraveacutes dela

alcanccedilamos as diversas histoacuterias de nossos antepassados (CUCHE 1999)

Frente a tudo que foi explanado compreendemos que a comunidade de Pimenteiras

pode ser definida como comunidade tradicional pois eacute culturalmente diferenciada Assim

nessa construccedilatildeo da identidade coletiva do grupo os siacutembolos os saberes as tradiccedilotildees estatildeo

ligados agrave reproduccedilatildeo cultural social e econocircmica da comunidade que aleacutem de tudo tem

como consequecircncia a proteccedilatildeo da biodiversidade local Ao compreenderem que os recursos

naturais satildeo esgotaacuteveis e valiosos para a sauacutede os moradores da comunidade de Pimenteiras

buscam preservar e proteger os saberes sobre as plantas medicinais a ponto de construir sua

identidade cultural nesse domiacutenio

Eacute assim que a comunidade tradicional de Pimenteiras eacute conhecida e se reconhece

como pertencente a um grupo social particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e

reconstruccedilatildeo de um grupo A comunidade remanescente de quilombola desenvolve seus

saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia

de seu grupo (CASTRO 2000) Por isso eacute necessaacuterio conhecer e respeitar os saberes

preservados na memoacuteria de um povo juntamente com o ambiente natural em que vivem

A valorizaccedilatildeo do conhecimento popular estaacute intimamente ligada ao fortalecimento

cultural e identitaacuterio da comunidade de Pimenteiras que por sua vez faz da praacutetica de uso das

plantas medicinais a simboacutelica relaccedilatildeo que os moradores desenvolveram ao longo do tempo

com a natureza com eles mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas de

cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita

relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais que constituem a identidade

cultural de um povo (BADKE 2008)

Observando os aspectos que marcam a identidade cultural da comunidade de

Pimenteiras passaremos no capiacutetulo seguinte agrave fundamentaccedilatildeo desse estudo sobre os termos

catalogados das plantas medicinais da comunidade analisando a importacircncia do legado de

identidade e cultura popular Para isto seratildeo consideradas as especificidades das plantas

medicinais diante do saber cientiacutefico e da sabedoria tradicional analisados por meio da aacutervore

60

de domiacutenio Em seguida daremos continuidadeaos estudos sobre as ciecircncias do termo e a

terminologia nas especialidades da nomeaccedilatildeo das plantas medicinais Junto a este estudo

abordaremos as particularidades da Terminologia ateacute a Socioterminologia como fundamentos

essenciais para o estudo do termo das plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

61

3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Neste capiacutetulo apresentamos os fundamentos teoacutericos deste trabalho buscando os

conhecimentos sobre Liacutengua Terminologia Socioterminologia e Termo Segundo Perini

(2010 p 01-02) a liacutengua eacute ldquoum sistema programado em nosso ceacuterebro que essencialmente

estabelece uma relaccedilatildeo entre os esquemas mentais que formam nossa compreensatildeo do mundo

e um coacutedigo que os representa de maneira perceptiacutevel aos sentidosrdquo A liacutengua eacute caracterizada

como sistema de grande complexidade que envolve regras leacutexicos expressotildees e clichecircs que

se encontram enraizados na cultura Eacute por meio dela que manifestamos exteriormente nossa

capacidade humana de utilizar a linguagem

A terminologia por sua vez eacute a ciecircncia que ldquotoma o leacutexico especializado ou

temaacutetico que eacute composto pelos termos teacutecnico-cientiacuteficos como seu objeto principal de

estudos e de aplicaccedilotildees Eacute uma aacuterea que recorta do universo leacutexico os termos teacutecnico-

cientiacuteficosrdquo (KRIEGER 2011 p 443) Os estudos terminoloacutegicos atuais tecircm enfatizado a

perspectiva social dos termos assim a Socioterminologia eacute tambeacutem parte de tais estudos da

Terminologia Faulstich (1995) explica que a socioterminologia eacute uma disciplina descritiva

que estuda o termo na perspectiva linguiacutestica da interaccedilatildeo social ldquoeacute a disciplina que se ocupa

da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguumliacutesticas dos termos em diferentes tipos

de situaccedilatildeo de uso da liacutenguardquo (FAULSTICH 1995 p 1)

Para Sager (1998 apud DIAS 2000 p 90) a terminologia tida como teoria ldquoeacute um

conjunto de premissas argumentos e conclusotildees necessaacuterio para explicar o relacionamento

entre conceitos e termos especializadosrdquo Jaacute como praacutetica a terminologia ldquoeacute um conjunto de

meacutetodos e atividades voltado para coleta descriccedilatildeo processamento e apresentaccedilatildeo de termos

como produto eacute um conjunto de termos ou vocabulaacuterio de uma determinada especialidaderdquo

O termo por sua vez apresenta trecircs concepccedilotildees Segundo os estudos de Cabreacute (1995

apud DIAS 2000 p 90) tem-se a concepccedilatildeo linguiacutestica de que os termos satildeo uma forma de

saber ou seja ldquoos termos satildeo o conjunto de signos linguumliacutesticos que constituem um

subconjunto dentro do componente leacutexico da gramaacutetica de determinada pessoardquo No campo da

filosofia o termo eacute uma forma de conhecer em que ldquoa terminologia eacute um conjunto de

unidades cognitivas que representam o conhecimento especializadordquo Finalmente o termo eacute

uma forma de transferir e comunicar pois ldquoa terminologia eacute o conjunto das unidades de

expressatildeo e comunicaccedilatildeo que permitem transferir o pensamento especializadordquo

62

Cada aacuterea de conhecimento aborda seus termos de forma diferente e especializada

Assim na primeira parte desse capiacutetulo apresentaremos algumas compreensotildees sobre a

importacircncia da Liacutengua na identidade cultural dos moradores da comunidade de Pimenteiras

cuja cultura conhecemos por meio da anaacutelise da linguagem especializada sobre as plantas

medicinais No toacutepico seguinte verificaremos os aspectos sobre o conhecimento cientiacutefico e

popular a respeito das plantas de uso medicinal considerando que estas marcam e identificam

a comunidade quilombola Para isto utilizamos um organograma expondo as particularidades

de saber sobre as plantas medicinais no acircmbito cientiacutefico e popular

Na sequecircncia apresentamos a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o saber

popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras trazendo os aspectos

sobre a importacircncia da Terminologia nos estudos especializados da nomeaccedilatildeo Seguimos a

discussatildeo apresentando os pontos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos na linguagem

especializada de grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos Com isso notamos a

importacircncia de analisar a variaccedilatildeo terminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais da

comunidade de Pimenteiras

Em seguida examinamos os assuntos que passaram a ser considerados importantes

nos estudos terminoloacutegicos ndash a liacutengua no social ndash e compreendemos o funcionamento da

linguagem especializada no contexto social da comunidade tendo para isto a contribuiccedilatildeo da

Socioterminologia nos estudos dos termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

Logo depois seguimos com o assunto trazendo discussotildees sobre a necessidade de

valorizar os termos no ambiente discursivo pragmaacutetico e social propondo um diaacutelogo entre

as aacutereas do conhecimento uma vez que por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos eacute possiacutevel

valorizar e popularizar o conhecimento sobre as plantas medicinais de Pimenteiras

Em seguida apresentamos o foco principal deste estudo o termo Observamos que os

estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais no processo de anaacutelise da natureza e da

descriccedilatildeo das particularidades pertencentes aos termos que eacute a base do estudo Terminoloacutegico

sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL

Ao refletirmos sobre os aspectos da Liacutengua na comunidade remanescente de

quilombola de Pimenteiras observamos que conhecer a liacutengua de um povo eacute tambeacutem

63

conhecer sua identidade Ressaltamos que a liacutengua eacute um sistema complexo e para entendecirc-lo eacute

indispensaacutevel primeiro conhecer o leacutexico pois ele reflete as heranccedilas dialetos marcas sociais

e culturais dos seus falantes Para Coelho e Mesquita (2013 p 25) a liacutengua nasceu da

necessidade de comunicaccedilatildeo entre os homens e ldquopermitiu ao ser humano interagir

verbalmente com o outro exteriorizando seus pensamentos expressando-se comunicando-se

por meio da fala da escrita e de outras formas de linguagemrdquo Segundo as autoras ldquoas

relaccedilotildees sociais estreitaram-se e as ideias a cultura as ideologias e os conhecimentos

puderam ser amplamente difundidosrdquo (COELHO MESQUITA 2013 p 25) A Liacutengua

facilita a comunicaccedilatildeo entre as pessoas e contribui para a realidade que temos hoje marcada

pela troca de conhecimento e disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees pois pessoas de uma localidade

podem conhecer a cultura de outras

A liacutengua envolve todas as accedilotildees e pensamentos humanos e possibilita ao indiviacuteduo

exercer influecircncias ou ser influenciado pelo outro desempenhar seu papel social na

sociedade relacionar-se como os demais participar na construccedilatildeo de conhecimentos

e da cultura (COELHO E MESQUITA 2013 p 25)

No campo da liacutengua percebemos que os moradores quilombolas da comunidade de

Pimenteiras apresentam grande saber sobre o uso medicinal das plantas devido ao vasto

conhecimento que seus antepassados possuiacuteam sobre a flora e a fauna Diante disso ao

nomear as coisas e o meio que os rodeiam os moradores de Pimenteiras formam e expressam

a sua histoacuteria sua cultura sua liacutengua e sua identidade Eacute a liacutengua que ao carregar valores e

ideologias imprime na accedilatildeo de nomear que eacute cercada de escolhas sociais e culturais a marca

de identidade do falante (LEIRO sd) Eacute a partir principalmente dessas concepccedilotildees que se

desenvolve uma reflexatildeo acerca das relaccedilotildees ideoloacutegicas que as denominaccedilotildees de algumas

plantas de uso medicinal podem possuir

O nome natildeo eacute dado de forma aleatoacuteria sempre quer dizer algo nomear eacute uma

relaccedilatildeo complexa com a significaccedilatildeo que denota grande polecircmica e inquietaccedilatildeo entre os

pesquisadores Assim quando pensamos em nomear e no que o nome significaraacute logo

imaginamos alguma qualificaccedilatildeo que sirva para marcar as coisas pessoas e lugares que lhes

sejam exclusivos pois os significados dos nomes organizam e classificam as formas de

perceber a realidade aleacutem de estarem ligados diretamente com a cultura de uma dada

comunidade (MOREIRA 2012)

Coelho e Mesquita (2013) explicam que na liacutengua entram constantemente leacutexicos

novos enquanto que outros caem em desuso devido agrave liacutengua estar sujeita a mudanccedilas O

conhecimento em relaccedilatildeo agraves plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras chama a

64

atenccedilatildeo porque eacute um modo de preservaacute-las jaacute que muitas das plantas utilizadas como

medicamento jaacute se perderam por natildeo existir nada escrito Para Coelho e Mesquita

Os indiviacuteduos satildeo inseridos na teia social por meio da liacutengua Eacute ela quem vai

possibilitar-lhes o contato com a cultura com as ideologias com as identidades

tornando-se um instrumento para que eles possam interagir linguiacutestica e socialmente

com seus semelhantes (2013 p 27)

A liacutengua tem grande importacircncia para a sobrevivecircncia da cultura de uma localidade

visto que eacute atraveacutes dela que se faz a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade (COELHO

MESQUITA 2013)

A transmissatildeo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo do conhecimento sobre o uso das plantas

medicinais na comunidade de Pimenteiras soacute foi possiacutevel graccedilas agrave linguagem oral Apesar

disso muitos jovens deixam de lado o conhecimento sobre as plantas Esse posicionamento

deprecia o saber local e a identidade cultural dos habitantes de Pimenteiras fator que justifica

a persistecircncia de muitos moradores antigos na preservaccedilatildeo deste saber

Desde jaacute compreendemos que a identidade cultural coletiva na qual um grupo

compartilha as mesmas atitudes as mesmas crenccedilas e os mesmos comportamentos formados

no tempo e no espaccedilo eacute forjada pela interaccedilatildeo de segmentos eacutetnicos e sociais Carvalho

(2003 natildeo paginado) aponta trecircs sentidos de identidade cultural

Na percepccedilatildeo objetiva a identidade cultural de um indiviacuteduo ou grupo define-se a

partir de um conjunto de criteacuterios determinantes a origem comum a liacutengua a

cultura a religiatildeo a psicologia coletiva a ligaccedilatildeo a um territoacuterio etc e um grupo

sem estes criteacuterios natildeo pode reivindicar uma identidade cultural autecircntica Na

percepccedilatildeo subjetiva a identidade etnocultural natildeo eacute mais que um sentimento de pertenccedila ou uma identificaccedilatildeo com uma coletividade mais ou menos imaginaacuteria Na

percepccedilatildeo mais lata a identidade de cada indiviacuteduo natildeo se restringe ou circunscreve

agrave identificaccedilatildeo com um grupo determinado mas eacute sim o somatoacuterio de todos os

valores adquiridos ao longo da existecircncia e estaacute em constante construccedilatildeo e

transformaccedilatildeo

Eacute pela coletividade que podemos observar que a comunidade de Pimenteiras busca

preservar sua identidade e conhecimento pelas plantas medicinais por meio dos moradores

mais antigos Mas eacute tambeacutem por meio dos mais jovens que novos saberes satildeo inseridos na

comunidade como forma de renovaccedilatildeo da cultura quilombola e consequentemente da

liacutengua pois segundo Hjelmslev (1975 p 1)

A linguagem eacute o instrumento graccedilas ao qual o homem modela seu pensamento seus

sentimentos suas emoccedilotildees seus esforccedilos sua vontade e seus atos o instrumento

graccedilas ao qual ele influencia e eacute influenciado a base uacuteltima e mais profunda

da sociedade humana

65

Diante disto entendemos que a identidade cultural define cada um de noacutes e

particularmente na comunidade de Pimenteiras eacute o que diferencia e distingue os moradores

da regiatildeo Nesse contexto o conhecimento popular sobre as plantas medicinais eacute algo que traz

a marca de um povo que preserva e utiliza seus saberes Assim apresentamos na seccedilatildeo

seguinte os aspectos relacionados ao conhecimento das plantas medicinais no acircmbito do

conhecimento cientiacutefico e popular utilizando como recurso de melhor visualizaccedilatildeo o

organograma sobre as plantas medicinais

311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular

Ao utilizarmos as plantas para fins diversos relembramos de nossos antepassados

mais distantes que usavam as plantas como recurso para a cura de doenccedilas Sabemos das

inuacutemeras funccedilotildees que elas podem assumir desde alimentaccedilatildeo ateacute o uso em construccedilotildees

vestuaacuterio e como jaacute foi citado para fins medicinais Por muito tempo as antigas civilizaccedilotildees

usufruiacuteram o grande poder que as plantas possuem Segundo relatos de Tomazzoni et al

(2006 natildeo paginado) os hebreus egiacutepcios e assiacuterios cultivavam plantas medicinais desde o

ano 2300 aC adquirindo durante suas expediccedilotildees vaacuterias espeacutecies das quais se produziam

medicamentos para males diversos

Com o passar dos tempos o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais foi

transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e hoje mesmo com o avanccedilo na medicina moderna

muitos ainda utilizam desse saber sobre as plantas no tratamento de doenccedilas Por isso natildeo se

pode deixar agrave margem o conhecimento tradicional sobre as plantas de uso medicinal pois essa

forma de conhecimento faz parte da nossa cultura Construiacutemos e desenvolvemos o

conhecimento em nossas praacuteticas diaacuterias assim denomina Borda (1984 p 48) ldquoconhecimento

praacutetico empiacuterico que ao longo dos seacuteculos tem possibilitado enquanto meios naturais

diretos que as pessoas sobrevivam criem interpretem produzam e trabalhemrdquo

Todas as informaccedilotildees acumuladas ao longo do tempo por uma determinada

comunidade em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas seus valores e sua cultura vivenciada e

experimentada satildeo consideradas em contexto do conhecimento tradicional Sendo variaacutevel e

abalaacutevel o saber popular eacute modificado e reformulado pela comunidade em que estatildeo inseridos

(KOVALSKI et al 2010) Segundo Diegues et al (2000 p 30) o conhecimento tradicional eacute

66

ldquocomo o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural sobrenatural

transmitido oralmente de geraccedilatildeo em geraccedilatildeordquo

Para Dickmann e Dickmann (2008 p 70) ldquoo saber popular eacute entendido como aquele

adquirido nas lutas que natildeo estaacute escrito nos livros aquele que eacute fruto das vaacuterias experiecircncias

vividas e convividas em tempos e espaccedilos diversos na histoacuteria do povordquo O conhecimento

popular estaacute relacionado com o povo com o individual que eacute transmitido entre as geraccedilotildees

por experiecircncias proacuteprias recebe este nome popular por natildeo haver uma explicaccedilatildeo digamos

ldquoloacutegicardquo de como as coisas funcionam de como uma pessoa sabe que tem de ser feito assim

porque viu algueacutem fazendo e deu certo sem saber explicar ldquocientificamenterdquo como funciona

O conhecimento popular seria uma espeacutecie de educaccedilatildeo informal e suas principais

caracteriacutesticas satildeo a superficialidade sensibilidade subjetividade e independecircncia do valor do

conhecimento criacutetico Jaacute o conhecimento tradicional estaacute relacionado com a tradiccedilatildeo de um

grupo envolvendo saberes empiacutericos com praacuteticas crenccedilas e costumes passados de pais para

filhos dentro desse grupo (KOVALSKI et al 2010)

Diante dos conceitos apresentados podemos compreender que a valorizaccedilatildeo dos

conhecimentos tradicionais e populares de um determinado grupo eacute muito importante pois

aleacutem de resgatar os saberes quase esquecidos no tempo proporciona tambeacutem o

fortalecimento e a difusatildeo destes saberes para a sociedade Assim vale citar uma passagem de

Chassot na qual o autor resgata tais saberes e teacutecnicas utilizadas por pessoas simples mas que

possuem um valor inestimaacutevel

[] o pescador solitaacuterio que encontramos em silenciosas meditaccedilotildees sabendo onde

e quando deve jogar a tarrafa tambeacutem tem saberes importantes A lavadeira que

sabe escolher a aacutegua para os lavados tem os segredos para remover manchas mais renitentes ou conhece as melhores horas de sol para o coaro A parteira que os anos

tornaram doutora conhece a influecircncia da lua nos nascimentos e tambeacutem o chaacute que

acalmaraacute as coacutelicas do receacutem nascido A benzedeira natildeo apenas faz rezas maacutegicas

que afastam o mau-olhado ela conhece chaacutes para curar o cobreiro que o

dermatologista diagnostica como herpes-zoster O explorador de aacuteguas que indica o

local propiacutecio para se abrir um poccedilo ante o vergar de sua forquilha de pessegueiro

tem conhecimentos de hidrologia que natildeo podem ser simplesmente rejeitados (2006

p 221)

Outras formas de conhecimento foram por muito tempo ignoradas pelos cientistas

hoje a situaccedilatildeo eacute diferente Para Marconi e Lakatos (2005) ldquo[] a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico

caminho de acesso ao conhecimento e agrave verdaderdquo nos estudos de Posey (1987) e em

pesquisas feitas pelos Etnoecoacutelogos44

e Etnobioacutelogos45

sobre as comunidades tradicionais

44 A Etnoecologia eacute uma nova disciplina hiacutebrida transdisciplinar e poacutes-normal que valoriza os conhecimentos

milenares das comunidades sobre a natureza Para maior conhecimento pesquisar no site

67

observamos que haacute um resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes populares que chamam cada vez

mais a atenccedilatildeo com novas reflexotildees sobre os paradigmas jaacute existentes provocando com isso

resultados positivos para o conhecimento cientiacutefico

O fato eacute que os estudos recentes sobre o conhecimento popular tecircm ganhado

importacircncia para o nosso proacuteprio benefiacutecio Assim Silva (2002 p 26) expotildee que ldquo[] os

estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular tecircm merecido atenccedilatildeo

cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm oferecendo agraves ciecircncias do

homemrdquo

No que concerne ao conhecimento cientiacutefico este eacute consagrado por passar por

inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute ser considerada ciecircncia Nas palavras de Lopes (1999) o

conhecimento cientiacutefico trata-se de

Todo conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por

excelecircncia sem influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e

provado a partir dos dados da experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (1999 p106)

Nas explanaccedilotildees de Cunha (2007) os saberes populares podem acolher com a

mesma intensidade explicaccedilotildees diversas de um mesmo fenocircmeno por um mesmo grupo de

pessoas ou comunidade pois eacute atraveacutes da observaccedilatildeo que as diferenccedilas se fazem tecircnues entre

o conhecimento popular e o cientiacutefico

No que concerne ao conhecimento referente ao mundo vegetal o uso de plantas com

propriedades terapecircuticas vem de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo devido ao contato com o meio ambiente

que as famiacutelias possuiacuteam Segundo Newall (2002) os fatores que influenciam o uso das

plantas com fins terapecircuticos vecircm do baixo niacutevel de vida da populaccedilatildeo junto ao alto custo

dos medicamentos Com isso os saberes acumulados durante seacuteculos satildeo mantidos na praacutetica

fitoteraacutepica

Contudo o uso popular das plantas natildeo eacute suficiente para legitimar sua eficaacutecia e

seguranccedila como medicamento Este uso tem de passar pela experimentaccedilatildeo comprovada

diante dos benefiacutecios que possam conter (BADKE 2008)

No entanto o uso medicinal das plantas eacute uma das praacuteticas mais antigas no trato de

enfermidades no homem e isso proveacutem do conhecimento popular Para Diegues e Arruda

httpwwwantropologiasocialcombra-etnoecologia-uma-ciencia-pos-normal-que-estuda-as-sabedorias-

tradicionaispdf 45 A Etnobiologia eacute o estudo cientiacutefico da dinacircmica de relacionamentos entre as pessoas e seus grupos culturais e o meio ambiente desde o passado ateacute o tempo presente Para maior aprofundamento no assunto visitar o site

httpwwwetnobiologiaorgindexphp

68

(2001) o conhecimento tradicional soacute pode ser interpretado dentro do contexto cultural em

que eacute gerado Entretanto vemos que a modernidade traz novos modos de vida que estatildeo

desvinculados das tradiccedilotildees populares Com as grandes mudanccedilas entre as realidades

culturais o contato com o outro passa a ser visto de forma diferente o outro pode ser

percebido como superior e a cultura de um grupo pode ser desvalorizada omitida negada e

esquecida (CASTELLS 1999)

Na comunidade de Pimenteiras os uacutenicos recursos medicinais vecircm do conhecimento

tradicional do saber das plantas que aleacutem de proporcionar benefiacutecios agrave sauacutede do corpo e

tambeacutem da alma possui um significado cultural para a comunidade No entanto a

continuidade dessas praacuteticas estaacute ameaccedilada por diversos fatores ligados ao dinamismo social

agrave economia e agrave cultura externa

Contudo eacute necessaacuterio indagar qual a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o

saber popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras O que eacute

Terminologia Buscamos no toacutepico seguinte responder tais questionamentos direcionados ao

campo de conhecimento cientiacutefico na seara dos estudos terminoloacutegicos a serem explanados

sobre as plantas medicinais

32A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS ESPECIALIZADOS

Segundo a anaacutelise de Vygotsky (1896-1934) uma palavra que natildeo representa uma

ideia eacute algo morto da mesma forma que uma ideia natildeo incorporada em palavras natildeo passa de

uma sombra Nomear significa pois dar vida ao ser nomeado Haacute muito tempo o homem cria

e utiliza as palavras para nomear conceitos objetos e processos nas diversas aacutereas do

conhecimento Ao nomear as realidades que nos cercam cria-se um universo que passa a ser

desvendado pela linguagem Nessa construccedilatildeo do real a liacutengua revela aspectos que marcam

os sujeitos produzindo distinccedilotildees que particularizam os objetos e identificam os traccedilos da

cultura de um povo

Refletindo sobre os aspectos da linguagem de um povo podemos analisar diferentes

termos utilizados para nomear e particularizar o objeto nomeado Nesse acircmbito os estudos

cientiacuteficos direcionados agrave Terminologia crescem cada vez mais em pesquisas na aacuterea da

linguagem especializada O leacutexico de uma liacutengua eacute uma forma de registrar o conhecimento do

mundo a nossa volta ao darmos nomes agraves coisas identificamos as semelhanccedilas e os traccedilos

69

distintivos que individualizam cada objeto a ser nomeado por meio de estruturas que o

homem cria no mundo atraveacutes das palavras ou termos46

Entretanto agrave medida que vivemos

novas realidades surgem e satildeo criadas ampliando assim o leacutexico com novas dimensotildees

impossiacuteveis de serem registradas e descritas por meio de um dicionaacuterio

Diante dos questionamentos sobre a nomeaccedilatildeo surge como ciecircncia a Terminologia

inicialmente frente agrave necessidade de uma padronizaccedilatildeo da linguagem ou seja de

normatizaccedilatildeo da Liacutengua devido ao grande desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico ocorrido

no decorrer da histoacuteria humana A Terminologia conforme afirma Rondeau eacute a linguagem

especializada que haacute seacuteculos faz parte da linguagem humana

A terminologia natildeo eacute um fenocircmeno recente Com efeito tatildeo longe quanto se

remonte na histoacuteria do homem desde que se manifesta a linguagem nos

encontramos em presenccedila de liacutenguas de especialidade eacute assim que se encontra a

terminologia dos filoacutesofos gregos a liacutengua de negoacutecios dos comerciantes cretas os

vocaacutebulos especializados da arte militar etc (RONDEAU 1984 apud KRIEGER

FINATTO 2004 p 24)

Assim observa-se que na Liacutengua o ato de nomear tem sua forma natural de ser e

por isso segue rigorosamente sua natureza de fazer Os nomes mudam porque sempre se pode

acrescentar ou tirar letras de sua forma Contudo todos os nomes vecircm de acordos ou

convenccedilotildees entre os falantes sendo que em cada grupo social e cultural os nomes variam de

acordo com o que estiver convencionado pelo grupo Deste modo os nomes variam de povo

para povo de falante para falante porque seguem a tradiccedilatildeo natural de se nomear (PLATAtildeO

1973)

O modo como organizamos as nossas relaccedilotildees e comportamentos numa comunidade

especiacutefica pode ser percebido dentro do contexto social em que a linguagem eacute aplicada das

escolhas que fazemos dos nossos valores culturais das nossas normas de comportamento e

ateacute mesmo na nossa proacutepria filosofia de vida Eacute atraveacutes dos estudos terminoloacutegicos que

podemos analisar o modo como cada pessoa cada grupo social cada comunidade molda a

linguagem ao lado de suas bases culturais discursos e objetivo na comunicaccedilatildeo

Perante agraves variantes dentro da Liacutengua a terminologia em todo seu desenvolvimento

e reconhecimento de valor apresenta hoje um estudo sobre a comunicaccedilatildeo especializada

dentro do contexto social no qual privilegia a variaccedilatildeo dos termos como constitutivos do

discurso este estudo recebe o nome de Socioterminologia

46 O termo eacute o elemento linguiacutestico que constitui a expressatildeo lexical dos saberes especializados Eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da produccedilatildeo do saber ou seja a univocidade da comunicaccedilatildeo especializada eacute

favorecida pelo uso dos termos

70

A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma

terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua

aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das

praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis

porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam

entre trabalho e linguagem (GAUDIN 1993 p 216)

Diante das exposiccedilotildees feitas sobre a Terminologia seguiremos no toacutepico abaixo com

os pontos relacionados a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada campo este de

grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos A partir dele observamos qual a

importacircncia de analisar a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras

321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada

Sabendo que o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e coletiva num

processo no qual o sujeito interage com a realidade as pessoas e o ambiente sociocultural

Faulstich (1995 p 281) afirma que no campo da linguagem ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo

no universo da terminologia revelam peculiaridades proacuteprias a serem estudadas pela

disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para a sistematizaccedilatildeo de termos e de

variantesrdquo

Percebendo que a linguagem especializada natildeo eacute uma liacutengua artificial e sim uma

realizaccedilatildeo da liacutengua natural que possui todas as particularidades pertencentes a qualquer

liacutengua viva observou-se que as diferenciaccedilotildees ocorridas na linguagem vecircm da diversidade

dos discursos na liacutengua e na cultura de cada povo No que concerne ao termo linguagem

especializada Finatto explica que

Uso o termo linguagem especializada e natildeo ldquolinguagem de especialidaderdquo por

entender que natildeo haveria uma ldquoposserdquo estrita dessa linguagem pelo usuaacuterio ou pela

aacuterea de saberconhecimento Entendo que eacute a linguagem que se faz diferenciada ela

se altera em alguns de seus formatos pela accedilatildeo dos sujeitos envolvidos e pelas condiccedilotildees pragmaacutetico-linguumliacutesticas e situacionais da comunicaccedilatildeo entre profissionais

(FINATTO 2004 p 342)

Quanto agrave existecircncia de variantes terminoloacutegicas Faulstich (2001 p 22) defende que

dependendo da funccedilatildeo realizada nos contextos o termo pode assumir diversos valores

71

ldquoConsideramos mais uma vez que variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a

comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica faz do termordquo (FAULSTICH

2OO1 p 22)

Faulstich (2001 p 21) explica que a Socioterminologia eacute necessaacuteria para analisar os

termos variantes dentro de uma metodologia particular Para a autora a Socioterminologia jaacute

era prenuacutencio para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de

natureza social Em suas pesquisas em 1995 e em estudos posteriores em 1996 e 1998

apresenta os fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos da variaccedilatildeo em terminologia Contudo eacute

somente em 1999 que a pesquisadora propotildee uma teoria da variaccedilatildeo com base numa nova

proposiccedilatildeo de anaacutelise do termo sob a perspectiva sincrocircnica e diacrocircnica

Segundo a pesquisadora as variantes terminoloacutegicas classificam-se de acordo com

sua natureza linguiacutestica e ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas variantes eacute tarefa da socioterminologia

cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da diversidade de termos que ocorrem nos planos

vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo (FAULSTICH 2006 p 29)

Seguindo um modelo funcionalista que tem como objeto cientiacutefico descrever e

explicar os proacuteprios fenocircmenos linguiacutesticos Faulstich (1996 p 1 apud CRUZ 2013 p 32)

explica que no exame da funcionalidade socioterminoloacutegica no qual a base de dados eacute a

linguagem especializada a variaccedilatildeo social do termo ocorre nos diversos niacuteveis hieraacuterquicos

do discurso cientiacutefico (CRUZ 2013 p 32)

Cruz (2013 p 35) explica que ldquoa variaccedilatildeo ocorre pela accedilatildeo do movimento gradual

do termo no tempo e no espaccedilo provocada pela funccedilatildeo de uma dada variaacutevelrdquo Observando

todos esses aspectos Faulstich (1998 p 13) amplia a tipologia das variantes trazendo assim

as variantes concorrente47

as variantes coocorrentes48

e as variantes competitivas49

Nesse

campo Cruz (2013 p 34) expotildee que

As variantes terminoloacutegicas concorrentes no qual se inscrevem os dois grupos de

tipologias apresentados anteriormente a saber as variantes terminoloacutegicas linguiacutesticas e as variantes terminoloacutegicas de registro as variantes terminoloacutegicas

coocorrentes e as variantes terminoloacutegicas competitivas

Ao compreender as diferentes variaccedilotildees dentro dos diversos discursos da Liacutengua

Cruz (2013) explica que para a construccedilatildeo da Teoria da Variaccedilatildeo em Terminologia Faulstich

47 Tambeacutem chamada de ldquoVariante formalrdquo as variantes concorrentes satildeo aquelas que podem concorrer entre si e

permanecer como tais no estrato ou que podem concorrer para a mudanccedila 48As variantes coocorrentes ou ldquoSinoniacutemias terminoloacutegicasrdquo satildeo aquelas que tecircm duas ou mais denominaccedilotildees

para um mesmo referente 49 ldquoEmpreacutestimos linguiacutesticosrdquo ou variantes competitivas satildeo aquelas que relacionam significados entre itens

lexicais de liacutenguas diferentes quer dizer itens lexicais de uma liacutengua B preenchem lacunas de uma liacutengua A

72

(2001 p 54) levou em conta que a unidade terminoloacutegica o termo ldquopode assumir diferentes

valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha nos contextos de

ocorrecircnciardquo Com efeito o termo seraacute funcional dentro de uma linguagem especializada

porque assumiraacute uma funccedilatildeo especiacutefica de determinado valor de acordo com o contexto de

uso Sob um ponto de vista socioterminoloacutegico Faulstich restaura a ideia de que a variaccedilatildeo eacute

tambeacutem um fenocircmeno terminoloacutegico e que o seu estudo deve ser desenvolvido no acircmbito da

terminologia (CRUZ 2013 p 39-40)

Compreendendo que eacute na linguagem que ocorre frequentemente a variaccedilatildeo

terminoloacutegica no que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais observamos que os

diferentes fatores sociais culturais e histoacutericos interferem na variaccedilatildeo terminoloacutegica

reafirmando um caraacuteter especiacutefico na linguagem de uso dos moradores da regiatildeo de

Pimenteiras Ao estudar as unidades terminoloacutegicas de um determinado domiacutenio Faulstich

(2006 p 27) explica que as condiccedilotildees sociais em que a comunicaccedilatildeo dessas unidades ocorre

seratildeo estudadas pela Socioterminologia

Para falar de terminologia em sentido mais estrito quer dizer de terminologia como

disciplina que sistematiza termos e conceitos eacute preciso falar tambeacutem do discurso de

onde proveacutem Neste caso excetuando o linguajar corriqueiro que como jaacute se disse

apresenta grande quantidade de terminologias usadas no dia-a-dia eacute preciso

considerar que pelo menos trecircs discursos estatildeo na base da produccedilatildeo terminoloacutegica

isso porque nenhum termo eacute usado fora da situaccedilatildeo discursiva em que eacute criado

Assim sendo discursos de diversas naturezas como o cientiacutefico o teacutecnico e o de

vulgarizaccedilatildeo satildeo a fonte natural de onde emergem os termos usados nas

comunicaccedilotildees entre profissionais Muitos desses termos entram vulgarizados no leacutexico comum por meio dos mais diversos recursos como a metaacutefora a elipse a co-

referecircncia entre outros sem por isso perderem o sentido de base Eacute este sentido

que ativa o senso comum e difunde o conceito original

O movimento do termo na linguagem especializada eacute explicado pela

Socioterminologia que tem como base a variaccedilatildeo do termo no campo social que antes era

visto como invariaacutevel Nesse sentido a variaccedilatildeo e as mudanccedilas na sociedade provocam

transformaccedilotildees no termo que eacute gerado usado e modificado

Faulstich (1995 p 7) valoriza a Socioterminologia como uma nova abordagem para

anaacutelise do termo na comunicaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica Contudo adverte que a

Socioterminologia ldquonatildeo eacute de fato uma disciplina derivada da sociolinguiacutestica poreacutem natildeo se

pode negar que eacute a visatildeo mais flexiacutevel da sociedade e da comunidade que conduz os

especialistas em terminologia a esse novo percursordquo Diante disso em sua anaacutelise a

pesquisadora acrescenta que

73

Como ramo da terminologia a socioterminologia eacute um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos

a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da

elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a

sociedade (2006 p 30)

Sabendo que os termos da linguagem especializada estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo seja no

tempo espaccedilo ou na sociedade a variaccedilatildeo nos estudos terminoloacutegicos ndash por exemplo os

termos de uso popular sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras ndash passa a ser

reconhecida como fenocircmeno natural descrita e analisada de forma cientiacutefica pela

Socioterminologia Perceber como os termos sobre as plantas medicinais passam pela

variaccedilatildeo de seus elementos eacute tambeacutem entender a cultura histoacuteria e identidade de um povo

pois eacute por meio do estudo da variaccedilatildeo dos termos de Pimenteiras que compreendemos as

constantes mudanccedilas e evoluccedilotildees que acontecem com os moradores da regiatildeo trazendo assim

o entendimento sobre os domiacutenios de especialidade na Liacutengua que distinguem a trajetoacuteria

identitaacuteria dos quilombolas

Diante do que foi explanado ateacute aqui examinaremos na seccedilatildeo seguinte como as

questotildees ocorridas no acircmbito social passaram a ser consideradas relevantes nos estudos

terminoloacutegicos ou seja a necessidade de compreender o funcionamento da linguagem

especializada no contexto social da comunidade de Pimenteiras tendo a contribuiccedilatildeo da

Socioterminologia nesse estudo sobre os termos das plantas medicinais

33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL

A anaacutelise dos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade

de Pimenteiras por via dos estudos socioterminoloacutegicos se deu a partir da necessidade de

compreender como a liacutengua funciona no contexto na comunidade pois observamos que toda

sociedade se encontra em constante transformaccedilatildeo e com ela a linguagem eacute vista como uma

das mais fortes interventoras nos comportamentos sociais

Sabendo que a Socioterminologia privilegia os aspectos sociais da linguagem de

especialidade e preocupa-se com os aspectos sociais e variacionista da liacutengua ou melhor com

o uso real da linguagem especializada Faulstich apresenta a Socioterminologia como um

ramo da Terminologia que

74

Se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as

circunstacircncias da elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a

terminologia e a sociedade (2006 p 29)

A Socioterminologia se baseia na observaccedilatildeo do funcionamento da linguagem e no

estudo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos termos Com a posiccedilatildeo de disciplina de

caraacuteter teoacuterico e natildeo somente de um meacutetodo analiacutetico aplicado a Socioterminologia contribui

para o desenvolvimento de pesquisas teoacuterico-praacuteticas que levem em conta o termo e suas

variantes Como praacutetica do trabalho terminoloacutegico a Socioterminologia segundo Faulstich

(1995) fundamenta-se na anaacutelise das condiccedilotildees de circulaccedilatildeo do termo no funcionamento da

linguagem Com caraacuteter descritivo a Socioterminologia estuda o termo sob o aspecto da

linguiacutestica na interaccedilatildeo social no qual sua pesquisa deve ter o auxiacutelio dos criteacuterios da

variaccedilatildeo e da mudanccedila dos termos no meio social como tambeacutem dos princiacutepios etnograacuteficos

que trazem os conceitos interacionistas entre os membros da sociedade No contexto da

variaccedilatildeo terminoloacutegica Faulstich (1995) explica que

O termo perde cada vez mais sua caracteriacutestica de entidade uniacutevoca em favor de

uma interpretaccedilatildeo variacionista que considera as diversidades de comunicaccedilatildeo entre

pessoal de direccedilatildeo de setores administrativos de setores de pesquisa de produccedilatildeo e

de comercializaccedilatildeo dentro das empresas o meio mais adequado para a descriccedilatildeo dos

termos cientiacuteficos e teacutecnicos

Essa interpretaccedilatildeo socioterminoacutelogica vem da etnografia que tem por base o caraacuteter

interacionista ou seja o engajamento entre as pessoas e a influecircncia muacutetua de uns para com

os outros no contexto social Faulstich (1995) explica que ao registrar as variaccedilotildees ocorridas

no campo social deve-se levar em conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico

em que os termos circulam

Diante dos conceitos explanados sobre os aspectos da variaccedilatildeo observa-se que a

Socioterminologia focaliza os dados terminoloacutegicos na pluralidade da liacutengua constituindo

normas que evidenciam o uso da variaccedilatildeo Assim Faulstich (2006) expotildee que ldquoas variantes

decorrem de uso em contextos discursivos de diferentes niacuteveis do movimento da liacutengua no

percurso histoacuterico de empreacutestimos de usos regionais entre outras categorias desde que

mantenham o significado implicadordquo

Observamos assim que a Socioterminologia assume um caraacuteter descritivo na

linguagem especializada em uso dando maior ecircnfase agrave comunicaccedilatildeo que traz em seu contexto

manifestaccedilotildees discursivas que necessitam dos elementos da variaccedilatildeo (GAUDIN 1993)

Segundo Barros (2004 p 69) o pesquisador Gaudin (1993) expotildee que eacute fundamental para a

75

Socioterminologia levar em consideraccedilatildeo o uso dos termos e situar a linguagem especializada

em seu contexto social Desse modo ldquoa praacutetica terminoloacutegica eacute inseparaacutevel tanto do

conhecimento do espaccedilo da accedilatildeo onde ela se daacute quanto das praacuteticas de linguagem que visam

modificar ou assegurarrdquo (GAUDIN 1993 p 212 apud BARROS 2004 p 69)

Nas pesquisas de Faulstich (1995) o termo em estudos anteriores deveria ser uma

unidade denotativa sem relaccedilotildees sinoniacutemicas ou polissecircmicas Hoje a praacutetica terminoloacutegica

demonstra que um mesmo conceito poderaacute ser expresso por termos que apresentem variaccedilotildees

sejam elas morfoloacutegicas regionais ou socioprofissionais Eacute este o princiacutepio subjacente agrave

Socioterminologia conforme exposto pela pesquisadora

A socioterminologia eacute portanto um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o

conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na

planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da elaboraccedilatildeo

desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a sociedade

(FAULSTICH 2006)

Nos estudos socioterminoloacutegicos como jaacute foi mencionado a base eacute a anaacutelise das

condiccedilotildees de funcionamento dos termos como elementos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dentro

de um sistema linguiacutestico e socialTais elementos foram adquiridos por meio dos princiacutepios da

sociolinguiacutestica sob a perspectiva da variaccedilatildeo e dos princiacutepios etnograacuteficos que vem da

interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo social Com caraacuteter descritivo e social a Socioterminologia defende

uma variaccedilatildeo sociodiscursiva na linguagem terminoloacutegica Segundo Faulstich (2001 p 22)

ldquoas variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social

linguumliacutestica e geograacutefica fazem do termordquo Nesse acircmbito a comunicaccedilatildeo deve ser observada in

vivo devido agrave funccedilatildeo do contexto social pragmaacutetico e discursivo no qual os termos circulam

isto se opotildee intensamente ao condicionamento in vitro imposto pela teoria wusteriana

Analisamos assim que a base dos estudos socioterminoloacutegicos estaacute na variaccedilatildeo e na

etnografia de ordem interativa ou seja os termos catalogados sobre as plantas medicinais da

comunidade de Pimenteiras foram analisados nos diferentes niacuteveis sociais e culturais em que

ocorrem Verificamos que na linguagem especializada sobre as plantas medicinais os termos

deixam de ser uma unidade uniacutevoca para serem meditados na interpretaccedilatildeo variacionista em

que a comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade eacute motivada por diferentes termos para

um mesmo conceito ou por vaacuterios conceitos para um mesmo termo

Diante de tais aspectos precisamos conhecer e analisar os contextos sociais

religiosos culturais de gecircnero e da identidade quilombola nos quais a linguagem ocorre

tomando como foco os saberes medicinais sobre as plantas da regiatildeo respeitando e analisando

76

por meio dos estudos socioterminoloacutegicos os termos catalogados pelos moradores sem

interferir no estado natural desse objeto de estudo a fim de garantir a fidelidade dos dados e

dos resultados alcanccedilados na pesquisa de campo A Socioterminologia eacute pois uma ciecircncia

que reconhece a variaccedilatildeo terminoloacutegica

A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma

terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua

aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das

praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis

porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam

entre trabalho e linguagem (GAUDIN apud FAULSTICH 2006 p216)

Compreendendo que a variaccedilatildeo eacute um fator universal da linguagem humana e que

esse mesmo fator tambeacutem estaacute presente na linguagem especializada verificamos em Gaudin

(1993 p 16) que ldquoa socioterminologia pode levar em conta o real do funcionamento da

linguagem e restituir toda sua dimensatildeo social agraves praacuteticas linguageiras concernentesrdquo Apoacutes

essas discussotildees notamos a necessidade de valorizar os termos no ambiente discursivo

pragmaacutetico e social em que satildeo produzidos trazendo um diaacutelogo entre as aacutereas de saber Eacute

por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos que podemos valorizar e divulgar o conhecimento

popular sobre as plantas medicinais dos moradores da comunidade de Pimenteiras assunto

este que apresentamos no toacutepico seguinte

331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da Socioterminologia

Compreendemos que o conhecimento eacute uma expressatildeo utilizada para demonstrar

toda a experiecircncia adquirida ateacute o presente momento na histoacuteria do ser humano Somos a

soma das invenccedilotildees pensamentos criaccedilotildees da mente humana Soacutecrates (470-399 aC apud

PESSANHA 1980) jaacute dizia que o verdadeiro conhecimento vem de dentro de noacutes que natildeo eacute

encontrado apenas nos documentos mas tambeacutem nos processos e nas praacuteticas dos grupos

humanos que por meio das experiecircncias acumuladas entre as geraccedilotildees aumentam a

produtividade e conquista de novas oportunidades de conhecer

Etimologicamente a palavra conhecimento eacute derivada do latim cognitio que

significa ato ou accedilatildeo de aprender Nesse sentido aprender eacute a capacidade de absorvermos

atraveacutes dos sentidos as experiecircncias externas e a partir delas acrescentar novos

77

conhecimentos Na medida em que evoluiacutemos percebemos que o conhecimento eacute o meio que

processa o envolvimento humano com os dados e informaccedilotildees dessa accedilatildeo de conhecer que eacute

tatildeo fundamental a todos noacutes pois que algueacutem deu o conhecimento a um contexto a um

significado a uma interpretaccedilatildeo que refletiu sobre o saber e acrescentou a ele sua proacutepria

sabedoria

A abrangecircncia que o termo ldquoconhecimentordquo possui eacute muito importante para

compreendermos nossa proacutepria vivecircncia de conhecer o mundo que nos rodeia Diante desse

contexto observamos que existem definiccedilotildees diferentes para cada campo do conhecimento

Tomando os estudos de Marcondes (2001) percebemos os seguintes tipos de conhecimento

O Conhecimento Cientiacutefico que vem das leis e sistemas que explicam de modo

racional com base na experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo investigaccedilatildeo e na loacutegica sistemaacutetica do que

esta sendo observado Lopes (1999 p 106) escreve que o conhecimento cientiacutefico eacute ldquotodo

conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por excelecircncia sem

influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e provado a partir dos dados da

experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e experimentaccedilatildeordquo Esta aacuterea do conhecimento eacute

extremamente analiacutetica e objetiva Tendo relaccedilatildeo com a racionalidade suas anaacutelises satildeo

importantes no processo de construccedilatildeo do saber cientiacutefico de forma que suas caracteriacutesticas

se tornam praticamente uma antiacutetese ao conhecimento popular

O Conhecimento Popular ou Empiacuterico tambeacutem conhecido como tradicional tem

relaccedilatildeo com a hereditariedade cultura e senso comum do homem Eacute uma forma de reflexatildeo

passiva acriacutetica e assistemaacutetica que vai aleacutem da subjetividade e superficialidade Estaacute baseado

nas experiecircncias vividas ou observadas pelo homem sem teacutecnicas ou meacutetodos O

conhecimento ocorre pelo uso dos sentidos podendo ser passiacutevel ao erro dedutivo por ter

mais questotildees pessoais do que cientiacuteficas

O Conhecimento Filosoacutefico estaacute relacionado agrave ideias e conceitos que satildeo construiacutedos

pela busca da verdade do mundo atraveacutes da indagaccedilatildeo priorizando assim um olhar sobre a

condiccedilatildeo humana Existem questotildees que somente a capacidade humana de refletir e raciocinar

podem responder assuntos que nem a ciecircncia consegue pois satildeo temas inerentes ao homem

A racionalizaccedilatildeo eacute o principal instrumento de uso com isso pode-se dizer que este

conhecimento eacute reflexivo loacutegico criacutetico racional e subjetivo

O Conhecimento Teoloacutegico por sua vez esta direcionado para conhecer e provar a

existecircncia de Deus e dos textos escritos na Biacuteblia tomando-os como verdades incontestaacuteveis

Obtido atraveacutes das ideias e axiomas da feacute tenta responder as questotildees inerentes ao homem em

relaccedilatildeo agrave sua existecircncia atraveacutes da concepccedilatildeo divina do mundo

78

Perante os tipos de conhecimentos expostos percebemos que em todo lugar que

olhamos o homem eacute capaz de criar meacutetodos de entendimento de tudo aquilo que ele absorve

do ambiente em que vive Assim observamos que na comunidade de Pimenteiras os

moradores quilombolas obtiveram o conhecimento sobre as plantas medicinais por meio do

conhecimento popular atraveacutes da relaccedilatildeo com sua cultura local seus antepassados e com sua

Liacutengua de modo a construir experiecircncias que ateacute hoje comungam com sua identidade

Nesse sentido somos a soma de nossa heranccedila bioloacutegica social e histoacuterica sendo

atraveacutes da linguagem e da cultura que nos constituiacutemos em seres com a capacidade de

conhecer e de adquirir conhecimento Por isso liacutengua eacute mais do que instrumento de

conhecimento ela eacute constitutiva dele Para Matos (2011 p 3) ldquoa liacutengua eacute incubadora da

identidade reproduz significados que se deslocam afetados pela memoacuteria e eacute submetida ao

movimento da ideologia imposto pela histoacuteria estando portanto atrelada a aspetos poliacuteticos e

eacuteticosrdquo

No que concerne agrave Liacutengua analisamos que o conhecimento sobre seu funcionamento

eacute fundamental para noacutes falantes Esse conhecimento estaacute impliacutecito em nosso ser e vem de

uma capacidade que nos permite apreender e dominar a liacutengua que utilizamos O

conhecimento linguiacutestico eacute parte de todos noacutes falantes de uma determinada liacutengua ou seja eacute

parte do nosso saber porque nascemos com essa capacidade

Assim como a liacutengua a Terminologia eacute tambeacutem uma praacutetica cognitiva linguiacutestica e

social Boulanger (2001 p 13 apud Rodrigues 2010 p 33) explica que a Terminologia ldquoeacute

uma praacutetica cognitiva na medida em que repousa sobre o conhecimento eacute uma praacutetica

linguiacutestica devido agrave noccedilatildeo termo ou praacutetica social especializada na medida em que o saber

circula em todas as sociedades humanasrdquo Eacute diante desse conhecimento da linguagem de

especialidade no contexto social que a Socioterminologia surge para identificar e analisar os

saberes especializados na liacutengua

Eacute evidente que o conhecimento cientiacutefico se faz necessaacuterio ao estudo terminoloacutegico

aqui proposto sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras Entretanto o

conhecimento popular transmitido entre as geraccedilotildees quilombolas eacute basilar para esta pesquisa

pois eacute a partir deste saber tradicional que buscamos analisar sob o olhar Socioterminoloacutegico

os elementos relacionados aos termos sobre as plantas medicinais Popularizar e valorizar o

conhecimento tradicional por meio do saber cientiacutefico eacute fundamental para conhecermos as

diversidades em nossa liacutengua como tambeacutem de nossa cultura

Observamos que o conhecimento cientiacutefico eacute aquele que pode ser provado atraveacutes de

inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute que seja incorporado pela ciecircncia Para Marconi e Lakatos

79

(2003 p 75) o conhecimento cientiacutefico ldquo[] eacute transmitido por intermeacutedio de treinamento

apropriado sendo um conhecimento obtido de modo racional conduzido por meio de

procedimentos cientiacuteficosrdquo

Com relaccedilatildeo ao conhecimento popular este por um longo tempo foi ignorado pelos

cientistas Entretanto hoje a situaccedilatildeo eacute diferente pois segundo Posey (1987) eacute por meio do

resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes tradicionais que surgem novas reflexotildees que datildeo grande

importacircncia desses saberes para o nosso proacuteprio benefiacutecio Diante disso Silva (2002 p 26)

argumenta que ldquo[] os estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular

tecircm merecido atenccedilatildeo cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm

oferecendo agraves ciecircncias do homemrdquo

Eacute fato e natildeo desmerecemos que o conhecimento cientiacutefico tecircm um papel muito

importante para a nossa cultura no entanto eacute preciso acolher com a mesma intensidade os

saberes populares para buscarmos compreender e analisar as diferentes culturas e linguagem

especializadas pois ldquo[] o que leva um ao conhecimento cientiacutefico e outro ao vulgar ou

popular eacute a forma de observaccedilatildeordquo (MARCONI LAKATOS 2005 p 76) Para isso a

Socioterminologia como ciecircncia busca analisar e fazer dialogar os diversos aspectos

relacionados agrave linguagem especializada levando em consideraccedilatildeo o acircmbito social em que

circundam os termos sobre os saberes populares das plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras

Diante desse contexto percebemos o quanto eacute importante analisarmos os termos

sobre as plantas medicinais do ponto de vista discursivo no uso concreto da linguagem

teacutecnica com caraacuteter variacionista e como os estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais

nesse processo Eacute por meio de seus meacutetodos de anaacutelise e descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de

variaccedilatildeo no contexto social e linguiacutestico que seguimos no toacutepico seguinte nas discussotildees

sobre o termo base do estudo socioterminoloacutegico

332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico

Segundo os estudos de Krieger e Finatto (2004) o termo eacute o elemento linguiacutestico que

constitui a expressatildeo lexical do saber especializado eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da

produccedilatildeo dos saberes De forma concisa entendemos que a palavra e o termo satildeo unidades

parecidas ao serem descritas por um conjunto de caracteriacutesticas linguiacutesticas sistemaacuteticas

80

referindo-se a um elemento da realidade A palavra ao tomar parte de um acircmbito

especializado eacute considerada um termo e a carga semacircntica confere no aspecto linguiacutestico o

que o diferencia da palavra

O termo caracteriza-se no sentido de que para uma noccedilatildeo dada haacute teoricamente uma uacutenica denominaccedilatildeo Esta caracteriacutestica do termo se funda sobre um postulado

da terminologia o da relaccedilatildeo de univocidade entre denominaccedilatildeo (significante) e

noccedilatildeo (significado relaccedilatildeo do tipo reflexiva) (RONDEAU apud KRIEGER 2004 p

77)

Sendo um objeto de estudo das ciecircncias terminoloacutegicas o termo eacute investigado numa

dimensatildeo pragmaacutetica discursiva e sociolinguiacutestica Faulstich (2006) explica que a teoria da

variaccedilatildeo terminoloacutegica propotildee uma releitura da definiccedilatildeo do objeto de estudo da

Socioterminologia que eacute o termo Para a autora (2006 p 28) ldquouma unidade terminoloacutegica

pode ter ou assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel

desempenha nos contextos de ocorrecircnciardquo

Nos estudos de Rodrigues (2010 p 36) o termo pode ser apreendido como um signo

que encontra funcionalidade na linguagem de especialidade como uma entidade variante que

se apoia nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo social e como um item do leacutexico especializado que

passa por processos de evoluccedilatildeo Desta forma o termo eacute visto como fenocircmeno linguiacutestico

variaacutevel que encontra na terminologia diferentes resultados de uso dos falantes nos diversos

contextos sociais geograacuteficos e linguiacutesticos Diante disso Gouadec (apud KRIEGER 2004 p

77) expotildee que ldquoum termo eacute uma unidade linguiacutestica que designa um conceito um objeto ou

um processo O termo eacute a unidade de designaccedilatildeo de elementos do universo percebido ou

concebido Ele raramente se confunde com a palavra ortograacuteficardquo

Considerando o princiacutepio da variaccedilatildeo em toda a sua dimensatildeo o pesquisador

Rodrigues (2010) acrescenta que o termo passa a ser visualizado como uma unidade lexical

que sofre todas as implicaccedilotildees sistecircmicas e contextuais proacuteprias a qualquer palavra no

contexto comunicativo da liacutengua Para Barros (apud KRIEGER FINATTO 2004) o termo eacute

uma unidade do leacutexico com conteuacutedo especiacutefico dentro de um domiacutenio tambeacutem particular

que pode ser descrito e analisado em diferentes aspectos relacionados ao significante e

significado agraves relaccedilotildees com outros termos e ao ponto de vista sociolinguiacutestico com isso

observamos que haveraacute melhor sustentaccedilatildeo teoacuterica ao trabalho estudado na comunidade de

Pimenteiras

Por ser um objeto de estudo da Socioterminologia Gaudin (1993) lembra que deve

haver uma aproximaccedilatildeo discursiva dos termos pois segundo o pesquisador as unidades

81

terminoloacutegicas devem ser analisadas em sua condiccedilatildeo de produccedilatildeo discursiva e de interaccedilatildeo

entre conhecimentos No que concerne ao conhecimento ele eacute sempre foi e seraacute uma forma

moacutevel de cultura De forma cientiacutefica ou de saber popular o conhecimento humano chega a

cada geraccedilatildeo a cada comunidade com a marca dos tempos povos e lugares por onde passou

Eacute atraveacutes da transferecircncia do conhecimento por meio da Liacutengua que as sociedades se formam

as tradiccedilotildees dos povos sofrem mudanccedilas ou satildeo abolidas em troca de outras Contudo eacute pelo

aparecimento de novos conceitos e pela aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos que outras capacidades

cognitivas se desenvolvem e formam outros conhecimentos

Sabendo que o conhecimento pode tambeacutem ser transmitido por meio da linguagem

verificaremos na anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais os

aspectos relacionados agrave representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras pois

compreendemos que eacute por meio da linguagem que criamos expressamos e designamos os

conceitos e objetos nos diversos campos de conhecimento

Nos estudos de Cruz (2014 p 98) ela expotildee que ldquoos termos satildeo criados e se

desenvolvem em uma liacutengua concreta porque as ideias processos ou objetos que esses termos

designam foram criados pela sociedade que deles se utilizardquo Ela explica que os termos satildeo

resultado de convenccedilotildees ou preferecircncias individuais possuindo relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas

do objeto nomeado Eacute nesse campo que as anaacutelises dessas carateriacutesticas satildeo necessaacuterias para

observar se as denominaccedilotildees satildeo fruto de ideias do conhecimento da aacuterea ou por modismos

(CRUZ 2014)

No campo da linguagem percebemos que os termos sobre as plantas medicinais satildeo

utilizados na comunidade de Pimenteiras atraveacutes da interaccedilatildeo entre a cultura a natureza e as

origens de um povo que transmitiu seus conhecimentos entre as geraccedilotildees por meio da liacutengua

Atraveacutes das concepccedilotildees explanadas sobre a linguagem ldquopodemos dizer que uma terminologia

natildeo se insere em uma liacutengua mas em uma linguagem especiacutefica desenvolvida a partir de um

universo de discurso criado por uma comunidade em um dado campo do saberrdquo (SANTOS

2010 p 06)

Nesse contexto Krieger e Finatto (2004 p75) explicam que ldquoo termo ou unidade

terminoloacutegica eacute simultaneamente elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber e componente

linguiacutestico cujas propriedades favorecem a univocidade da comunicaccedilatildeo especializadardquo

Por ter um caraacuteter natural os termos funcionam como um elemento dos sistemas

linguiacutesticos que estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo sendo esta inerente em qualquer liacutengua a variaccedilatildeo

terminoloacutegica ocorre no acircmbito do uso especializado Nesse sentido Cruz (2012) expotildee que a

82

comunicaccedilatildeo especializada de melhor qualidade eacute construiacuteda a partir do reconhecimento da

naturalidade e inerecircncia da variaccedilatildeo terminoloacutegica como um tipo de variaccedilatildeo linguiacutestica

Na anaacutelise socioterminoloacutegica verificamos alguns aspectos da variaccedilatildeo dos termos

sobre as plantas medicinais de Pimenteiras mostrando como os termos variam de acordo com

as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos observando na linguagem especializada a

naturalidade e inerecircncia presentes nos termos a serem analisados proporcionando a

particularizaccedilatildeo e identidade da comunidade

Por ser uma unidade de conhecimento que estaacute constantemente se relacionando com

seu significado o termo segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos Assim antes de analisar

se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade verificamos que a

definiccedilatildeo deles eacute muito importante para o contexto de uso dos estudos teoacutericos da

Socioterminologia que descreve os termos dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber

especializado Segundo os estudos de Lara (2004 p 93) ldquouma definiccedilatildeo eacute um enunciado que

descreve um conceito permitindo diferenciaacute-lo de outros conceitos associadosrdquo Sager (1990

apud LARA 2004 p 93) expotildee ainda que ldquoa definiccedilatildeo eacute uma explanaccedilatildeo aceita do

significado especializado de itens lexicais cuja ocorrecircncia pode ser documentada em vaacuterias

fontesrdquo Diante disso utilizamos no percurso da anaacutelise dos termos medicinais sobre as

plantas a definiccedilatildeo do saber subjetivo de uma moradora da regiatildeo de Pimenteiras

Nos estudos da definiccedilatildeo terminoloacutegica dos termos Lara (2004 p 94) contribui

expondo que ldquoa definiccedilatildeo terminoloacutegica eacute classificadora hierarquizante estruturante

relaciona-se agrave definiccedilatildeo da coisardquo ou seja a definiccedilatildeo natildeo eacute uacutenica ela varia de acordo com a

fonte escolhida Assim procuramos nos estudos socioterminoloacutegicos trazer a definiccedilatildeo dos

termos sobre as plantas medicinais pois a Socioterminologia ldquoeacute uma disciplina que se ocupa

da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguiacutesticas dos termos em diferentes tipos

de situaccedilatildeo de uso da liacutengua nos diversos niacuteveis e planos hieraacuterquicos do discursordquo (CRUZ

2012 p 100)

Cruz acrescenta que nos estudos de Faulstich (1998) ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas

variantes eacute tarefa da Socioterminologia cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da

diversidade de termos que ocorrem nos planos vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo

Perante a diversidade dos termos e consequentemente da variaccedilatildeo em suas definiccedilotildees

utilizamos no processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Faulstich

(1996) uma amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees tidas sobre os termos a partir

da variaccedilatildeo terminoloacutegica que fundamenta os dados a serem analisados

83

Nos estudos de Cruz (2014 p113) sobre a variaccedilatildeo dos termos a pesquisadora

explica que ldquoo processo de variaccedilatildeo se daacute dentro de um construto teoacuterico em que variaacuteveis

produzem variantes que funcionam nas liacutenguas de acordo com as funccedilotildees que elas venham a

ter no discurso de especialidade ou na liacutengua comumrdquo Nos estudos socioterminoloacutegicos

Faulstich (1995 apud CRUZ 2012) propotildee uma abordagem funcionalista do termo que eacute a

base da pesquisa socioterminoloacutegica defendendo uma estreita relaccedilatildeo entre termo e variaccedilatildeo

Outro postulado defendido por Faulstich (1998 1999) eacute sobre a anaacutelise do termo que deve

ser visto sob duas perspectivas sincrocircnica e diacrocircnica assim ela resume que

Termos satildeo signos que encontram sua funcionalidade nas linguagens de especia-

lidade de acordo com a dinacircmica das liacutenguas satildeo entidades variantes porque fazem

parte de situaccedilotildees comunicativas distintas satildeo itens do leacutexico especializado que

passam por evoluccedilotildees por isso devem ser analisados no plano sincrocircnico e no plano diacrocircnico das liacutenguas (FAULSTICH 1999 p 28)

Outro aspecto importante a ser mencionado eacute com relaccedilatildeo agrave estrutura do termo que

pode se apresentar de forma simples complexa ou composta Esse campo leacutexico-semacircntico e

morfossintaacutetico do termo eacute tomado pelos estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) que

explanam sobre a estrutura simples constituiacuteda de um radical e por estruturas complexas e

compostas em que ocorre a presenccedila de dois ou mais radicais diferenciados pela presenccedila do

hiacutefen nos termos compostos enquanto que nos termos complexos ocorre os processos de

composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo50

ou justaposiccedilatildeo51

das palavras No caso da

comunicaccedilatildeo especializada o que predomina satildeo os termos complexos por poder assumir

diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo

reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico

Quando utilizamos um termo num determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e

permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo internalizadas na liacutengua que por ser um

sistema dinacircmico passa a ser enriquecida por neologismos Assim veremos que os estudos de

Pottier (1978) e de Barros (2007) sobre o termo no que concerne agrave sua estrutura

morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica satildeo caracterizadas como simples compostas ou

complexas

Em presenccedila das concepccedilotildees explanadas sobre o termo observamos que o

conhecimento que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem sobre as plantas

50Aglutinaccedilatildeoconsiste na junccedilatildeo de duas ou mais palavras com o objetivo de formar uma terceira palavra poreacutem

uma delas ou as duas sofreraacute alguma mudanccedila na sua forma ganhando ou perdendo letras fonemas ou

morfemas

51Justaposiccedilatildeo satildeo as palavras apenas justapostas uma ao lado da outra e estando juntas formaratildeo uma terceira

palavra Neste caso as palavras ficam intactas natildeo perdendo nenhum item da sua forma

84

medicinais satildeo as marcas de seus antepassados de sua identidade de sua histoacuteria como

quilombolas satildeo marcas de sua linguagem diante da diversidade na natureza Natildeo usamos a

liacutengua sempre da mesma forma mas adequamos nossa linguagem agrave situaccedilatildeo comunicativa em

que estamos inseridos Assim os usos que fazemos em nossa liacutengua satildeo o reflexo tambeacutem

da nossa proacutepria histoacuteria Nesse contexto damos iniacutecio no capiacutetulo seguinte sobre a

metodologia utilizada para fundamentar esta pesquisa levando em consideraccedilatildeo os objetivos

as etapas da pesquisa as pessoas e as dificuldades encontradas no percurso do trabalho

85

4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos os motivos escolhas e as etapas metodoloacutegicas feitas

durante a pesquisa de campo na comunidade de Pimenteiras As fases para a constituiccedilatildeo

deste trabalho dissertativo tecircm suas bases nos estudos da Socioterminologia com o uso de

instrumentos tecnoloacutegicos antes durante e apoacutes o trabalho de campo Dentre as ferramentas

tecnoloacutegicas empregadas utilizamos diversas entrevistas transcriccedilotildees dos diaacutelogos e registro

de dados sobre os termos medicinais das plantas As ferramentas usadas foram o Software

Transana52

as fichas terminoloacutegicas gravador de voz maacutequina fotograacutefica e questionaacuterios

usados nas entrevistas Eacute fato que muitas dificuldades surgiram no percurso do trabalho

apesar disso a coleta dos dados foi imprescindiacutevel para a pesquisa sobre os termos das plantas

de uso medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras

41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE

PIMENTEIRAS

Realizar uma investigaccedilatildeo baseada na pesquisa de campo supotildee planejar previamente

o curso a seguir na construccedilatildeo do trabalho Eacute fato que o pesquisador encontra diversos

imprevistos que dificultam a pesquisa a ser realizada Compreendendo isso optamos em

conhecer participar e analisar a comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras no

setor das plantas medicinais Observamos que as condiccedilotildees naturais do tempo

influenciarammuito na pesquisa aleacutem da dificuldades encontradas no trajeto ateacute a

comunidade Apesar disso a riqueza em informaccedilotildees a biodiversidade da regiatildeo e o

consentimento dos moradores para a realizaccedilatildeo da pesquisa proporcionaram maior firmeza

para a continuidade do trabalho

Na intenccedilatildeo de fornecer dados confiaacuteveis e de qualidade para esse estudo buscamos

visitar e manter contato contiacutenuo com os moradores da comunidade de Pimenteiras Cada

52 O Transana foi criado por pesquisadores e para pesquisadores a fim de atender as necessidades profissionais

de quem executa entrevistas com trabalhos de campo pode serusado em diversas aacutereas do conhecimento mas

nessa pesquisa de base socioterminoloacutegica nosso estudo eacute constituiacutedo de um corpus de liacutengua oral As vantagens

do software eacute que oferece a visualizaccedilatildeo de vaacuterias janelas como o aacuteudio viacutedeo transcriccedilatildeo base de dados e visualizaccedilatildeo do material a ser transcrito isto proporciona maior seguranccedila e agilidade no processo

86

encontro foi planejado ora com entrevistas gravadas e filmadas ora com registro de fotos e

coleta de dados sobre as plantas Tudo no intuito de conhecer descrever e analisar os dados

com maior seguranccedila e veracidade pois cada ponto foi imprescindiacutevel para a fundamentaccedilatildeo

do trabalho dissertativo

Os dados sobre as plantas de uso medicinal foram organizados por alguns moradores

da regiatildeo durante os trabalhos com o Bioenergeacutetico de acordo com o saber que possuem

Estes dados foram catalogados e analisados dentro do contexto socioterminoloacutegico da

pesquisa em questatildeo Nosso intuito eacute analisar o saber popular sobre os termos catalogados das

plantas de uso medicinal levando em consideraccedilatildeo a linguagem especializada dos termos

medicinais adquiridos pelo repasse entre as geraccedilotildees pela relaccedilatildeo com a natureza e por

saberes conseguidos pelo contato com outros conhecimentos de caraacuteter cientiacutefico sobre o

poder de cura das plantas

A comunidade remanescente de quilombo de Pimenteiras estaacute localizada na regiatildeo

agriacutecola da cidade de Santa Luzia do Paraacute distante 30 km da cidade Hoje cerca de vinte oito

(28) famiacutelias vivem na comunidade sobrevivendo da agricultura criaccedilatildeo de gado e accedilaiacute

Devido agrave sua localizaccedilatildeo em aacuterea rural os moradores de Pimenteiras vivem do plantio e dos

saberes que possuem sobre as plantas medicinais devido agrave distacircncia e dificuldades para

conseguir tratamento meacutedico o saber sobre as plantas de uso medicinal tornou-se recurso

indispensaacutevel no trato das muitas doenccedilas A partir disso alguns moradores quilombolas

trabalharam por algum tempo com o Bioenergeacutetico nesse periacuteodo foram orientados por

representantes do CEDENPA para coletar amostras de plantas no trato medicinal Junto agraves

amostras os moradores escreveram os nomes de cada planta de acordo com o saber que

adquiriram com seus antepassados

Aleacutem da quantidade de conhecimento que a comunidade possui a particularidade

linguiacutestica sobre os nomes de cada planta de uso medicinal eacute muito importante nesse estudo

Por isso foram necessaacuterios diversos encontros com os moradores para conhecer e colher

maiores informaccedilotildees para esse trabalho A comunidade de Pimenteiras estaacute constituiacuteda de

expressivos elementos culturais que vecircm desde a proacutepria descendecircncia quilombola ateacute o

saber que possuem sobre as plantas por meio da valorizaccedilatildeo e fortalecimento de sua memoacuteria

coletiva Seus moradores apesar das inuacutemeras dificuldades e preconceitos vividos buscam

preservar sua identidade e serem reconhecidos pela sociedade pois a interaccedilatildeo participativa

entre os diferentes saberes existentes na comunidade promove um sentimento de

pertencimento diante das diferenccedilas culturais que devem ser respeitadas e apreciadas

87

Entendemos que o conhecimento eacute algo que estaacute em constante construccedilatildeo e

reconstruccedilatildeo e que as influecircncias que vivemos ajustam esse processo Particularmente o

conhecimento dos moradores da comunidade de Pimenteiras estaacute nessa frequecircncia que se

interpotildee entre os saberes vindos de geraccedilotildees passadas combinadas agrave presenccedila de novos

conhecimentos Diante da imensa contribuiccedilatildeo ao conhecimento cientiacutefico eacute respeitaacutevel

buscar conhecer os saberes vindos dos moradores remanescentes de quilombo para que os

mesmos sejam reconhecidos como identidade cultural sobre as plantas

Objetivamos nesse trabalho analisar os termos catalogados sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras sob a perspectiva socioterminoloacutegica dos termos no

contexto da linguagem especializada dos moradores remanescentes de quilombo observando

os aspectos sociais culturais e religiosos em que estatildeo inseridos e assim compreendermos a

identidade do povo da regiatildeo Analisando os termos identificamos que no campo da

Socioterminologia as palavras registradas sobre as plantas medicinais fazem parte do domiacutenio

especializado da liacutengua e expressam uma forte identidade no universo sociocultural dos

moradores quilombolas de Pimenteiras fazendo com que a comunidade adquira traccedilos que

distinguem e identificam sua cultura

Os dados catalogados foram registrados transcritos e definidos de acordo com o

saber de um morador da comunidade de Pimenteiras Na anaacutelise socioterminoloacutegica dos

termos todos foram definidos e estruturados por meio de fichas terminoloacutegicas para melhor

visualizaccedilatildeo das unidades que compotildeem as palavras coletadas junto da definiccedilatildeo

adicionamos as imagens de cada termo nomeado

42 A PESQUISA DE CAMPO

Registrar os termos de uma linguagem especializada requer preservar a legitimidade

que cada indiviacuteduo possui no uso da liacutengua Durante o processo de pesquisa vaacuterias etapas

foram executadas para que as anaacutelises fossem alcanccediladas As pessoas foram muito

importantes para que o estudo se desenvolvesse ao longo desse periacuteodo de anaacutelise

socioterminoloacutegica dos termos

Como criteacuterio de seleccedilatildeo escolhemos uma (01) moradora remanescente de

quilombola da comunidade de Pimenteiras a senhora Domingas Alves do Nascimento pelo

conhecimento popular sobre as plantas medicinais que ela deteacutem e tambeacutem pelo fato de ser

88

uma das pessoas que coletaram amostras das plantas medicinais Aleacutem disso Domingas eacute

uma representante da associaccedilatildeo AQUAFAP que sempre realizar atividades relacionadas a

valorizaccedilatildeo e aos direitos dos moradores de Pimenteiras

No aspecto religioso ela sempre estaacute engajada na cerimocircnia em homenagem agrave Nossa

Senhora do Livramento e mesmo com tantos trabalhos a serem executados na comunidade a

moradora estaacute sempre disposta e atenta para fazer com que a comunidade tenha seus direitos

garantidos e sua cultura e preservada

Durante a pesquisa foram realizadas entrevistas com outras pessoas que forneceram

informaccedilotildees importantes sobre a histoacuteria religiatildeo e cultura dos moradores da comunidade de

Pimenteiras No entanto a moradora Domingas foi incansaacutevel em suas contribuiccedilotildees A partir

dela o interesse em pesquisar sobre os termos catalogados das plantas de uso medicinal se

tornou fascinante

Dona Domingas eacute uma mulher que respeita suas origens e utiliza os saberes

transmitidos por sua matildee e sua avoacute materna a ponto de ser conhecida na regiatildeo como a

ldquosenhora das ervasrdquo aleacutem de trabalhar na agricultura com o marido ela tambeacutem ajuda na

fabricaccedilatildeo de produtos naturais na associaccedilatildeo dos agricultores quilombolas de Santa Luzia do

Paraacute bem como realiza trabalhos relacionados com a comunidade e sua famiacutelia

Devido aos saberes que possui sobre as plantas Domingas recebe grande ajuda de

diversas pessoas que tambeacutem tecircm interesse pela cura atraveacutes das plantas medicinais como eacute o

caso da senhora Maria de Nazareacute Reis uma engenheira agrocircnoma que trabalha no CEDENPA

assessorando os grupos de mulheres associaccedilotildees cooperativas de agricultores rurais e

familiares dentro da Rede Bragantina atraveacutes de cursos direcionados agrave nutriccedilatildeo alimentaccedilatildeo

saudaacutevel agricultura familiar e uso das plantas para cura de doenccedilas como forma de

incentivo aos pequenos trabalhadores rurais sobre a Produccedilatildeo Agroecoloacutegica53

Vale ressaltar que os saberes que a moradora Domingas possui estatildeo preservados em

sua memoacuteria e que esse trabalho procura basicamente conhecer registar e analisar as

palavras no contexto da linguagem especializada sobre as plantas medicinais que satildeo de uso

natildeo apenas da senhora Domingas mas tambeacutem dos moradores quilombolas de Pimenteiras

No que concerne agraves dificuldades enfrentadas no percurso da pesquisa inicialmente o

acesso agrave comunidade foi o que trouxe mais problemas principalmente nos periacuteodos de chuva

Em muitos momentos foi necessaacuterio modificar o percurso a ser seguido e redirecionar novos

53 A agroecologia eacute uma ciecircncia que dialoga com as diversas dimensotildees do conviacutevio humano como a ecologia a

socioeconocircmica a cultura e sociopoliacutetica eacute o conhecimento que vai aleacutem da produccedilatildeo que se insere num sistema de transformaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de uma agricultura socialmente mais justa economicamente viaacutevel e

ecologicamente apropriada

89

planos para que a pesquisa continuasse Eacute fato que esse trabalho natildeo envolve um amplo

levantamento acerca dos conhecimentos e saberes contidos nos moradores de Pimenteiras

contudo essa eacute uma amostra diante das inuacutemeras possibilidades do conhecimento popular a

ser registrado

No percurso da pesquisa diversos instrumentos foram utilizados para registrar cada

elemento relacionado agrave comunidade e aos informantes como gravador de voz maacutequina

fotograacutefica para o registro de imagens fichas com questionaacuterios a serem respondidos pelas

informantes aplicativos para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica das gravaccedilotildees como o Transana e os

termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da regiatildeo elemento esse de grande

importacircncia na pesquisa

Diante das exposiccedilotildees apresentadas ressaltamos que os dados catalogados sobre os

termos das plantas medicinais satildeo a base deste trabalho que busca analisar sob o olhar

socioterminoloacutegico cerca de quarenta e dois (42) termos registrados e preservados por uma

das moradoras da comunidade Na sequecircncia observaremos a maneira como foram tratados

os dados catalogados para essa pesquisa

43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS

Considerando que o meacutetodo desta pesquisa procede de forma qualitativa em que se

analisam os dados catalogados dos termos sobre as plantas medicinais da comunidade de

Pimenteiras sob os estudos da Socioterminologia passaremos a expor os principais

procedimentos que foram utilizados para que os dados da pesquisa fossem registrados e

analisados

431 Entrevistas

No andamento da pesquisa diversas entrevistas formais e informais ocorreram com

as informantes As conversas formais foram registradas seguindo um fichaacuterio contendo

diversas perguntas relacionadas agrave comunidade quilombola e agraves plantas medicinais As

90

entrevistas foram armazenadas atraveacutes da gravaccedilatildeo de voz que posteriormente foi transcrita

de forma Grafemaacutetica54

As perguntas foram especiacuteficas para cada informante de acordo com o campo de

trabalho por eleela desenvolvido Por exemplo com a senhora Domingas foram direcionadas

perguntas sobre a famiacutelia comunidade descendecircncia saberes sobre as plantas e crenccedila nas

mesmas Aleacutem dessa entrevista houve tambeacutem a gravaccedilatildeo com a senhora Domingas sobre

as definiccedilotildees que a moradora possui de cada termo sobre as plantas medicinais A transcriccedilatildeo

com tais definiccedilotildees foi armazenada nas fichas terminoloacutegicas utilizadas para melhor

visualizaccedilatildeo dos dados registrados Todas essas informaccedilotildees estatildeo anexadas neste trabalho

mostrando os pontos relevantes que delineiam o caraacuteter da pesquisa

432 Recursos de anaacutelise dos dados

A transcriccedilatildeo grafemaacutetica foi executada atraveacutes do software Transana versatildeo 21255

gratuita para download que foi desenvolvido para analisar dados audiovisuais Este recurso

foi escolhido para que pudeacutessemos dar o tratamento adequado aos dados orais das gravaccedilotildees

obtidas em entrevistas Em seguida utilizamos por base as normas de transcriccedilatildeo de Koch

(1997) as transcriccedilotildees grafemaacuteticas foram feitas no software Transana devido o programa

permitir a conexatildeo entre o texto transcrito em momentos especiacuteficos do viacutedeo com o aacuteudio da

entrevista

433 Termos Catalogados

Com relaccedilatildeo aos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal pelos

moradores da comunidade quilombola de Pimenteiras usamos o registro das imagens junto

com as fichas terminoloacutegicas com as definiccedilotildees de cada termo Procuramos nesse momento

respeitar a forma escrita de cada termo registrado pelos moradores As amostras das plantas

54 Os dados registrados na Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica estatildeo nos apecircndices deste trabalho 55 Pesquisado em 11 de agosto de 2015 as 2231 hs no site httpwwwtransanaorgdownloadwhatsnewhtm

91

foram dissecadas com o uso de jornais pelos moradores na eacutepoca em que trabalharam com o

Bioenergeacutetico Ateacute hoje esse material estaacute guardado pela moradora Domingas

Durante a pesquisa registramos as imagens das plantas vivas em seu habitat natural

para que pudeacutessemos perceber as caracteriacutesticas de cada uma e consequentemente observar a

relaccedilatildeo com o nome que possuem Ao registrarmos as imagens das plantas outras espeacutecies

foram identificadas pelos moradores como medicinal isto ampliou a quantidade de termos

catalogados e possivelmente outros mais permanecem ocultos na regiatildeo Todos os termos

catalogados estatildeo nos apecircndices com as definiccedilotildees junto de suas respectivas imagens

92

5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE UM POVO

Compreender as pessoas como seres introduzidos em redes de significados pensar

nos sujeitos da maneira como eles se identificam entendendo as particularidades de sua

cultura vivenciando-a acompanhando-os em muitos momentos procurando entender o que

eles fazem e como fazem esse processo foi importante para compreender as distinccedilotildees dos

elementos que compotildeem dentro e fora a comunidade quanto aos saberes sobre as plantas de

uso medicinal observando que tais saberes constituem a identidade cultural dos moradores no

que diz respeito agrave biodiversidade na comunidade de Pimenteiras

Utilizamos uma metodologia vinda da observaccedilatildeo das praacuteticas sociais das

entrevistas com os sujeitos da pesquisa da catalogaccedilatildeo dos dados sobre as plantas e da

transcriccedilatildeo das definiccedilotildees de cada termo que se tornou fundamental para a anaacutelise dos dados

catalogados na comunidade Buscamos natildeo apenas registrar fatos mas analisar a relaccedilatildeo que

os termos possuem dentro dos aspectos sociais apresentando assuntos relacionados agrave religiatildeo

cultura e de identidade proporcionando assim o reconhecimento de conhecimentos

tradicionais preciosos para o estudo cientiacutefico atraveacutes dos saberes de um povo suas lutas sua

natureza e linguagem

Conhecida e reconhecida por sua biodiversidade Pimenteiras eacute identificada pelos

saberes sobre as plantas medicinais Os moradores da comunidade satildeo descendentes de negros

escravos conhecidos como quilombolas e muitos adquiriram de seus antepassados

conhecimentos sobre o uso das plantas para a cura dos males do corpo Assim sendo

procuramos nesse contexto apresentar a anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos da

comunidade de Pimenteiras considerando os aspectos da variaccedilatildeo terminoloacutegica na

linguagem suas motivaccedilotildees no ato de nomear e as relaccedilotildees associativas que geram novas

nomeaccedilotildees e tambeacutem novas variaccedilotildees por conseguinte abordamos os termos sobre as

plantas medicinais com foco na sua estrutura morfossintaacutetica observando que na variaccedilatildeo o

termo pode ou natildeo ser alterado em seu radical formando novas composiccedilotildees sejam elas

simples compostas ou complexas na sequecircncia desses estudos dos termos chegamos agrave

anaacutelise da definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas que de forma

subjetiva procurou descrever cada planta nas suas particularidades

A necessidade sociocultural humana de estabelecer relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

promove a accedilatildeo de transformar o vocabulaacuterio da liacutengua constantemente para o surgimento de

novas palavras Mas de onde vecircm as palavras Compreendendo que as palavras satildeo criadas de

93

forma consciente para dar nome agraves coisas entendemos que com o passar do tempo as

palavras sofrem transformaccedilotildees que trazem tambeacutem a modificaccedilatildeo no sentido Assim a

linguagem eacute o campo no qual o homem exprime seus sentimentos e pensamentos em uma

comunicaccedilatildeo interpessoal ou grupal construindo uma sociedade capaz de desenvolver sua

cultura e saber que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

No que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais analisamos inicialmente

se o domiacutenio estudado pertence apenas ao campo da medicina caseira Segundo a Norma da

ISO 1087 (2000) o domiacutenio eacute decidido como parte do saber cujos limites satildeo definidos

conforme um ponto de vista particular Em seguida acolhemos a definiccedilatildeo descritiva da

moradora Domingas que buscou de acordo com seus saberes definir os termos sobre as

plantas catalogados na regiatildeo de Pimenteiras

Os dados analisados nesse trabalho satildeo constituiacutedos no total de quarenta e dois (42)

termos que foram catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras Diante da quantidade descrita utilizaremos alguns termos em diferentes aspectos

a serem considerados Os elementos presentes na ficha terminoloacutegica de cada termo seratildeo

analisados a partir da definiccedilatildeo descritiva no contexto que a senhora Domingas expocircs sobre

as plantas para isso utilizamos um modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich

(1996) usado pela Universidade de Brasiacutelia (UNB) contendo os elementos constitutivos dos

termos para uma melhor visualizaccedilatildeo dos lexemas e de seus elementos constituintes

analisando junto a isso a variaccedilatildeo de alguns termos que estatildeo relacionados de forma

associativa com certa caracteriacutestica da planta Isso se faz importante para melhor

compreendermos as nomeaccedilotildees e as significaccedilotildees descritas pela moradora nesse processo de

nomeaccedilatildeo relacionado ao conhecimento de mundo dos moradores da comunidade de

Pimenteiras

Com base nos estudos socioterminoloacutegicos explanados nesse trabalho dissertativo

analisamos as particularidades de cada termo demonstrando as definiccedilotildees descritas sobre as

caracteriacutesticas das plantas medicinais de Pimenteiras junto a isso apresentamos as imagens

das plantas registradas durante a pesquisa de campo na comunidade Para cada termo

apresentado utilizamos duas (02) imagens registradas em seu ambiente natural uma com a

imagem integral da planta e a segunda imagem com uma especialidade da planta No total

ocorreu o registro das folhas das plantas Isso se faz importante para tambeacutem verificarmos as

especificidades de cada planta no seu aspecto anatocircmico

Para tratar das questotildees da variaccedilatildeo existente sobre os termos das plantas medicinais

de Pimenteiras tomamos como contexto de anaacutelise somente os termos catalogados sobre as

94

plantas pesquisadas na comunidade por meio da moradora Domingas Com o objetivo de

examinar as variaccedilotildees destes termos foram necessaacuterios diversos encontros para cataloga-los

registrar as imagens das plantas e gravar as definiccedilotildees descritivas pela senhora Domingas

Assim os objetos desse estudo satildeo os termos sobre as plantas medicinais utilizados pelos

moradores da regiatildeo no seu contexto social

A quantidade de termos sobre as plantas medicinais existentes na comunidade eacute

enorme entretanto dado o nuacutemero de termos sobre as plantas medicinais e de suas variantes

na linguagem especializada metodologicamente trabalhamos com um total de quarenta e dois

(42) termos que foram coletados registrados em imagens e definidos em fichas

terminoloacutegicas Pesquisando a origem dessas variantes atribuiacutedas aos termos sobre as plantas

medicinais percebemos que o seu surgimento ocorre das mais variadas formas possiacuteveis O

principal modo de formaccedilatildeo das variantes eacute a partir da associaccedilatildeo relacionada com a forma

tamanho cor e funccedilatildeo das plantas medicinais As formaccedilotildees geradas por relaccedilotildees associativas

satildeo caracteriacutesticas que pertencem naturalmente agrave Terminologia

Assim vejamos uma sequecircncia das anaacutelises dos termos sobre as plantas medicinais

da comunidade de Pimenteiras observando suas imagens como tambeacutem seus elementos

constitutivos na ficha terminoloacutegica de cada termo descrito no contexto da moradora

Domingas Neste capiacutetulo apresentamos doze (12) termos de um total de quarenta e dois (42)

Os demais se encontram nos apecircndices deste trabalho Por meio da ficha terminoloacutegica criada

por Faulstich (1996) contendo a definiccedilatildeo descritiva da moradora Domingas observamos os

aspectos relacionados ao clima origem caracteriacutesticas da espeacutecie formas e utilidade

medicinal de cada planta catalogada Alguns termos apresentaram variantes e nesse acircmbito

compreendemos as relaccedilotildees associativas do nome com as caracteriacutesticas das plantas

Observemos na sequecircncia a anaacutelise dos termos catalogados na comunidade de

Pimenteiras

51 MUCURACAacute

Haacute muito tempo o ser humano cria e utiliza as palavras para expressar designar

conceitos objetos e processos de diferentes campos do conhecimento tudo isso eacute feito por

meio da linguagem A linguagem verbal eacute uma entidade social que possui aspectos materiais e

simboacutelicos que estatildeo ligados agrave consciecircncia e agrave subjetividade humana em que cada falante

95

compartilha seus saberes por meio da liacutengua A liacutengua tem uma estrutura imutaacutevel e apesar

disso estaacute em constante variaccedilatildeo eacute um instrumento que pode causar emancipaccedilatildeo e poder

um objeto do conhecimento em que inuacutemeros modelos teoacutericos surgiram com a pretensatildeo de

descrever e explicar sua essecircncia

Os moradores da comunidade de Pimenteiras demonstram em sua linguagem o

saber de uma cultura rica e distintiva Podemos perceber na anaacutelise dos termos as

particularidades que evidenciam tal grandeza Observemos na anaacutelise do termo ldquoMucuraraacuterdquo

por meio da ficha terminoloacutegica a descriccedilatildeo subjetiva que a moradora quilombola expocircs

sobre cada planta catalogada Vejamos

TERMO 01 ndash ldquoMUCURACAacuterdquo

Fotografia 14 ndash Mucuracaacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 15 ndashFolha do Mucuracaacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

96

Quadro 01 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute

Lx Lexema Mucuracaacute

V Variante Tipi

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Co Contexto eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que pra

espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode

plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal () primeiro tinha aquele

problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do

mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia doseacuteh e pra isso aquela enjoaccedilatildeo aquele

aborrecimento isso taacuteele eacute bem pequenhinho ele eacute uma planta tambeacutem neacuteele eacute

pequeno a folha ele eacute que nem a japana ele eacute do mesmo modelo da japana assim neacuteele eacute pequeno folhinha dele eacute bem escurinha bem escura assim verdinho escuro

afolhinha dele neacuteeacuteh da folha e do pau e da raiz ( )ele eacute grande ele no maacuteximo que

tem eacute trecircs palmo se ele tiver trecircs palmo neacuteele eacute conhecido por dois nomes mucuracaacute

e tipi tipe sim o maranhense praticamente o maranhense soacute conhece po tipi nois

paraense que conhece por mucuracaacute natildeo soacute o nome que mudanum sei tambeim natildeo

tambeim natildeo o cheiro dele tambeim eacute muito forte eacute o cheiro dele um ser cheiro assim

de alho querado e com muitas horas assim tem um alho que a gente quebra com

muitas horas deixa assim e vai cheirar pois assim que eacute o cheiro dele assim um cheiro

forte mucuracaacute mucuracaacutecom cheiro muito forte parece alho usadomuitu forti

Fc Fonte do

Contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas a casca do caule e a raiz

Fu Formas de uso

Usada na forma de chaacutes e para fazer banhos contra febre dor de cabeccedila mal olhado quebrante

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota O termo eacute conhecido como ldquoTipirdquo (falado no Estado do Maranhatildeo)

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Os dados apresentados na ficha terminoloacutegica sobre o termo ldquoMucuracaacuterdquo explanam

as caracteriacutesticas pertencentes agrave espeacutecie em seu contexto social Por ser uma planta de cheiro

forte e marcante eacute utilizada em banhos para as enfermidades do corpo e da alma Conhecida

tambeacutem pela variante ldquoTipirdquo suas utilidades medicinais vatildeo aleacutem dos benefiacutecios agrave sauacutede pois

eacute uma planta usada para afastar problemas espirituais como quebrante e questotildees negativas

contra a alma O fato de cultivar a planta proacutexima agrave casa tem o significado de proteccedilatildeo

espiritual aos moradores da comunidade de Pimenteiras Observemos no contexto apresentado

por Domingas

[] eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que

pra espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode

plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal ( ) primeiro tinha aquele

97

problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia [] (informaccedilatildeo verbal)56

Aleacutem da definiccedilatildeo descritiva do termo ldquoMucuracaacuterdquo utilizamos tambeacutem como

anaacutelise dos termos o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com as

informaccedilotildees especiacuteficas sobre os elementos presentes em cada termo Este formato da ficha

terminoloacutegica eacute importante para melhor visualizaccedilatildeo dos dados analisados pois observamos

cada informaccedilatildeo contida sobre os termos catalogados aleacutem da definiccedilatildeo descrita pela senhora

Domingas Os aspectos pertinentes na ficha satildeo o Lexema (Lx) as Variantes (V) a

Classificaccedilatildeo Gramatical (Cg) o Contexto (Co) a Fonte do Contexto (Fc) as Partes de Uso

(Pu) Formas de Uso (Fu) a Finalidade (Fn) os Dados do Informante (Di) os Dados do

Pesquisador (Dp) Notas (Nt) e a Data da Coleta (Dc)

Observamos que nos estudos atuais da liacutengua o leacutexico estende-se para aleacutem da

Terminologia e chega aos estudos da Sociolinguiacutestica57

e da Etnolinguiacutestica58

pois a liacutengua

de modo geral reflete marcas sociais e culturais dos falantes Assim observemos na

sequecircncia os demais termos e suas anaacutelises identificando as caracteriacutesticas de um povo e de

sua liacutengua

52 ERVA DE JABUTI

Nos estudos do termo sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de

Pimenteiras o aspecto socioterminoloacutegico eacute muito importante pois o termo pode apresentar

variaccedilotildees por vezes dentro de uma mesma aacuterea de especialidade Esse conceito traz um olhar

novo com perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural a respeito dos termos analisados sobre as plantas

medicinais da comunidade de Pimenteiras mostrando as influecircncias da cultura negra na

linguagem No que compete ao aspecto da linguagem Travaglia (2002 p 23) expotildee que ldquoa

linguagem eacute pois um lugar de interaccedilatildeo humana de interaccedilatildeo comunicativa pela produccedilatildeo de

efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e em um

56Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoMucuracaacuterdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015 57Sociolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda as relaccedilotildees entre liacutengua e sociedade e daacute ecircnfase ao caraacuteter

institucional das liacutenguas Eacute o estudo do comportamento linguiacutestico dos membros de uma comunidade e de como

ele eacute determinado pelas relaccedilotildees sociais culturais e econocircmicas existentes

58Etnolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda a relaccedilatildeo da linguagem e a cultura das comunidades A etnologia eacute o estudo antropoloacutegico dos povos e sua cultura analisando sua linguagem e como ela estaacute

relacionada agraves peculiaridades da vida primitiva suas crenccedilas e folclores

98

contexto soacutecio-histoacuterico e ideoloacutegicordquo Observemos as variaccedilotildees ocorrentes com o termo

ldquoErva de Jabutirdquo

TERMO 02 ndash ldquoERVA DE JABUTIrdquo

Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti

Lx Lexema Erva de Jabuti

V Variantes Coraccedilatildeo de Jabuti Coraccedilatildeozinho Comida de Jabuti

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto ela eacute uma planta di todu cantu tantu ambienti abertu ou fechadu ela daacute ela ela eacute

uma planta assim pequenauma erva ( ) ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela

eacute um formatu dum coraccedilatildeu coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu

grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha

neacute ela num eacute dessas avres assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua

dela a folhinha dela tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa

cheia di aacutegua eacute uma folha assim ( ) ela num ela num eacute aquela folha seca assim durinha

fina ela eacute uma folhinha assim bem gordinha cheinha neacute tantu faz a folha comu us

galhinhus dela ela bota uma uma bajizinha uma bajizinha forma dum duma baji di

pimenta du reinu soacute qui eacute bem piquininha eacute naquela forma da baji di pimenta du reinu

sabi neacute cumeacute aquela baginha assim soacute que eacute bem piquininha ( ) bem zititinha porque ela ela eacute uma planta pequena ela tem aqueli formatu da pimenta mais ela eacute miudinha eacute

teacute que ela eacute uma planta nativa tambeacutem ela num eacute assim uma planta cuidada ela eacute

nativa e assim nos quin no quintau ela gosta muitu de nascer im quintal eacuteh sozinha

eacute num precisa cultivar ela eacute ela eacute du quintau ela eacute assim du canteru ela nasce nu

canteru assim ela nascifriu ambiente frio daacute mais com certeza( )

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e os talos da planta

Fu Formas de Usada na forma de chaacutes para Ameba

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti

99

uso

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Os nomes tecircm relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas das plantas nos aspectos da funccedilatildeo e do

formato

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Com o termo ldquoErva de Jabutirdquo observamos que a planta apresenta mais de uma

variaccedilatildeo para a mesma palavra Algumas estatildeo relacionadas com a forma e tamanho daiacute suas

variantes serem conhecidas como ldquoCoraccedilatildeo de Jabutirdquo ou ldquoCoraccedilatildeozinhordquo o termo variante

tambeacutem possui relaccedilatildeo com a funccedilatildeo de servir de alimento para o animal por isso recebe a

terminologia de ldquoComida de Jabutirdquo Podemos perceber como a linguagem especializada

utilizada pelos moradores quilombolas de Pimenteiras apresenta variantes formadas pela

relaccedilatildeo associativa com as caracteriacutesticas descritas sobre as plantas medicinais da regiatildeo

Vejamos no contexto abaixo

[] ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela eacute um formatu dum coraccedilatildeu

coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha neacute ela num eacute dessas avres

assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua dela a folhinha dela

tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa cheia di aacutegua eacute uma

folha assim [](informaccedilatildeo verbal)59

Os termos e suas variantes estatildeo relacionados com a aacuterea de saber dos moradores

quilombolas sobre as plantas medicinais Nesse contexto os saberes de um povo se

manifestam e satildeo preservados na linguagem especializada e por conseguinte marcam os

conhecimentos tradicionais dos moradores de Pimenteiras Nas relaccedilotildees sociais da

comunidade as pessoas vivenciam de forma individual e coletiva sua linguagem Assim

vejamos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo considerado um conhecimento novo para os

moradores de Pimenteiras

59Transcriccedilatildeo Grafematica do termo ldquoErva de Jabutirdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015

100

53 NONI

Para a Terminologia o termo eacute a denominaccedilatildeo de um conceito que tem no

conhecimento especializado uma expressatildeo comunicativa cognitiva e complexa pois natildeo haacute

conhecimento especializado sem uma terminologia Assim Benveniste (1989 p 252) expotildee

que ldquoUma ciecircncia soacute comeccedila a existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e

em que impotildee seus conceitos atraveacutes de sua denominaccedilatildeo Ela natildeo tem outro meio de

estabelecer sua legitimidade senatildeo por especificar seu objeto denominando-o []rdquo Notemos

assim a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo e suas caracteriacutesticas na ficha terminoloacutegica

TERMO 03 ndash ldquoNONIrdquo

Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni

Lx Lexema Noni

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Co Contexto eacutehnoni eacute famoso ele ele cura ocacircncer neacuteentau ele previne ele nem cura como

prenine o cacircncer neacuteeacuteh o suco eacute na garrafada eu praticamente uso na garrafada

toda as minhas guarrafadas eu colo eacute mais natildeo garrafada ele natildeo fica fedorento natildeo

porque na garrafada a gente ponha ele verde e rodela a rodelinha e coloca pra secar e na hora da garrafada a gente tritura ele bem bem miudinho e bota na garrafada

ele natildeo fica natildeo tem gosto de nada agora o suco dele ele ele maduro have maria eacute

muito ruiacute neacute((sorriu)) eacuteh mas ele eacute assim mas na garrafada a gente pode usar ele

ninguei nem percebe se tem ele eacute muito assim ele eacute muito eacute um remeacutedio que ele eacute

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 19 ndash Folha do Noni Fotografia 18 ndash Noni

101

muito bom e ele ele assim nem tanto cura como previne as doenccedila como eacute bom pra

inflamaccedilatildeo pra infecccedilatildeo eacute muito rui neacuteaiacute a inflamaccedilatildeo ela vira infecccedilatildeo e aiacute eacute muito

bom pra usar ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que

eu conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais

trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute ela eacute uma planta e o fruto dele a

folha dele eacute bem grande bem grande a folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma

lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os frutos dele neacute((sorriu)) pois eacute ((sorriu))

pois eacute eacute soacute usa o fruto e pra isso e um da nunca ouviu falar eacute soacute e o fruto mesmo ela

ela conhece eacuteh que neacutea gente usa neacutea gente usa direito ela ajunta pra mim por

que peacute no meu quintau natildeo tem tambeacutem natildeo natildeo tem natildeo ela sempre a gente leva

daiacute

Fc Fonte

docontexto

A informante

Pu Partes de

uso

Eacute utilizado o fruto e as folhas em sucos e na garrafada

Fu Formas de

uso

Corta as rodelas da fruta colocando para secar e depois triturar para usar na

garrafada serve para curar e prevenir o cacircncer inflamaccedilotildees e infecccedilotildees

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Considerada uma planta nova foi inserida haacute pouco tempo no contexto da comunidade

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoNonirdquo eacute um substantivo masculino que tem como definiccedilatildeo ser uma planta

de fruto e folhas grandes O fruto eacute descrito pela moradora de Pimenteiras com a aparecircncia de

uma ldquolagartardquo Segundo Domingas ldquoo fruto dele a folha dele eacute bem grande bem grande a

folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os

frutos dele neacute ((sorriu))rdquo (informaccedilatildeo verbal)60

A planta eacute novidade para a moradora de Pimenteiras seu saber veio atraveacutes de

cursos por meio da associaccedilatildeo quilombola da comunidade sobre o poder das plantas O Noni

eacute utilizado na garrafada como anti-inflamatoacuterio e tambeacutem como aliado contra o cacircncer Nesse

contexto o conhecimento sobre a planta foi absorvido pelos moradores da regiatildeo e integrado

como parte dos saberes sobre as plantas medicinais Observemos abaixo

[] ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute

novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que eu

conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais

trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute [] (informaccedilatildeo verbal)61

60 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015 61Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

102

O que motiva o surgimento de um termo eacute a necessidade de nomear as novas

descobertas tecnoloacutegicas e cientiacuteficas direcionadas sempre a uma aacuterea especiacutefica do

conhecimento Segundo os estudos de Araujo (2006) o termo tem uma ldquodimensatildeo linguiacutestica

comunicativa e cognitiva e uma estrutura complexardquo O termo adquire uma feiccedilatildeo

terminoloacutegica porque integra um saber especializado ao lado de contextos no campo das

ciecircncias e das teacutecnicas ele tambeacutem possui uma dimensatildeo linguiacutestica por configurar um

comportamento lexical especializado e ainda uma dimensatildeo cognitiva por manifestar seu

conhecimento especializado

Por assim observar o termo eacute parte do componente linguiacutestico como tambeacutem eacute uma

unidade terminoloacutegica e ainda eacute um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saberVejamos

assim o componente linguiacutestico do termo ldquoPatacardquo

54 PATACA

A liacutengua eacute uma estrutura que estaacute sempre em transformaccedilatildeo desse modo a variaccedilatildeo

eacute um elemento muito importante para entendermos a existecircncia de diferenccedilas no modo como

uma liacutengua eacute usada em uma comunidade Assim como o ldquoNonirdquo o termo ldquoPatacardquo eacute um saber

novo para a comunidade de Pimenteiras adquirido por meio das relaccedilotildees sociais Observemos

abaixo sua anaacutelise

TERMO 04 ndash ldquoPATACArdquo

Fotografia 20 ndash Pataca

Fotografia 21 ndash Folha da Pataca

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

103

Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca

Lx Lexema Pataca

Cg Classe Gramatical

Substantivo feminino

Co Contexto eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacuteela me parece que

ela veio da iacutendia parasse neacuteela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de beacuteleacutem

que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta

sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu tenho um

pezinho laacute em casa ela eu natildeo que tamanho que o peacute taacute desse tamanho eu natildeo sei se daacute

grande natildeo eu daacute nunca viacute ela natildeo eacute nem daqui neacutemas ela eacute boa pra remautismo se

buta na de aacutelcool pra passar no lugar que taacute afetado do remautismo foi essa senhora

issi isso isso teacute agora eu eu ainda natildeo procurei pra ela cumo eacute que se usa porque ela

me deu tipo assim uma raiz tipo uma coisa assim nera num sei que era aquilo que ela

me deu ainda falta eu conversar com ela que pra mim procuraraacute cumeacute que se usa se eacute

a folha num era o que eacute eu pensei de ser ou o fruto ou a raiz dela natildeo natildeo natildeo tem natildeo natildeo veio mesmo que pra mim ela eacute recente neacuteeacute soacute folha soacute folha mas ela eacute muito

remeacutedio ela ela veio de longe essa essa pataca noacutes tiremos foto porque ela no meu

quintau neacuteela eacute remeacutedio agente tirou isso isso eacute verdade eacute depois me diz hum hum

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Natildeo sabe ao certo o que utilizar se eacute a folha caule ou fruto

Fu Formas de

uso

Tem a noccedilatildeo de usar com o aacutelcool na regiatildeo que estaacute com reumatismo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A informante recebeu a planta de outra pessoa natildeo sabe como usar poreacutem sabe que

serve contra o reumatismo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Sem saber o valor medicinal da Pataca a moradora traz para o ambiente da

comunidade um novo conhecimento adquirido pelo contato com outras pessoas sobre o uso da

planta que eacute conhecida pela sua importacircncia contra o reumatismo

O termo ldquoPatacardquo eacute considerado um substantivo feminino com uma estrutura

simples devido agrave presenccedila de um uacutenico radical No que concerne ao gecircnero na definiccedilatildeo a

moradora conduz sua fala no feminino referindo-se ao termo como a planta que foi inserida

haacute pouco tempo no contexto da comunidade segundo a senhora Domingas

[] eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacute ela me parece

que ela veio da iacutendia parasse neacute ela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de

beacuteleacutem que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu

tenho um pezinho laacute em casa [] (informaccedilatildeo verbal)62

62Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPatacardquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

104

Somos seres humanos formados pela interaccedilatildeo pelo contato que temos com as

pessoas com o ambiente com a cultura enfim eacute atraveacutes da accedilatildeo de produccedilatildeo da linguagem

que somos constituiacutedos como indiviacuteduos sociais Ao analisarmos os termos das plantas

medicinais catalogadas na comunidade de Pimenteira pretendemos ver como essas unidades

se constituem e que fatores extralinguiacutesticos sociais e culturais interferem e determinam essa

terminologia Barbosa (2001) expotildee que ldquoesse tipo de linguagem usa vocabulaacuterios teacutecnico-

cientiacuteficos e especializados mostrando que eles estatildeo no niacutevel de uma forma natildeo apenas

linguiacutestica mas tambeacutem socioculturalrdquo Assim completa expondo que

Considerando o conjunto de obras lexicograacuteficas e terminoloacutegico-terminograacuteficas

produzidas em eacutepocas mais recentes diriacuteamos que natildeo se tem muita clareza quanto

agraves fronteiras conceptuais denominativas definicionais dos tipos desses textos natildeo

obstante o estaacutegio avanccedilado em que se encontram neste fim de seacuteculo as pesquisas

das ciecircncias da palavra nessas aacutereas natildeo obstante igualmente a existecircncia de

numerosos organismos e obras de normalizaccedilatildeo terminoloacutegica em diferentes paiacuteses

que natildeo conseguiram assegurar para certos conceitos uma terminologia de

Terminologia uniforme e consensual (BARBOSA 2001 p 26)

Analisamos na sequecircncia o termo ldquoPau-de-muquemrdquo que eacute tambeacutem conhecido pelas

variantes ldquoAssa-peixerdquo ou ldquoMata pastordquo

55 PAU-DE-MUQUEM

Diferente da palavra o termo possui sempre relaccedilatildeo com o significado dentro de um

contexto de domiacutenio ou seja estaacute sempre contextualizado em um determinado campo de

conhecimento Nesse contexto seu conteuacutedo especiacutefico encontra-se em uma situaccedilatildeo de uso

particular Krieger (2001 p 69) nos afirma que ldquoo reconhecimento sem duacutevida incontestaacutevel

do componente conceitual na constituiccedilatildeo do fenocircmeno terminoloacutegico responde fortemente

pelas interpretaccedilotildees de que um termo eacute uma unidade de conhecimentordquo

Uma unidade de conhecimento que estaacute em contiacutenuo relacionamento com seu

significado e que segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos (CABREacute 1993) Assim

caracterizamos o termo Contudo que criteacuterios podemos seguir para a seleccedilatildeo dessas unidades

de especialidades Antes de observar se os termos sobre as plantas medicinais pertencem ou

natildeo ao domiacutenio da especialidade percebemos que a definiccedilatildeo de um termo sempre seraacute o

ponto de partida pois os contextos de uso nos estudos teoacutericos da terminologia tornam-se

105

vaacutelidos para descrever e recolher os termos dentro do campo de ocorrecircncia do saber

especializado Observemos entatildeo como ocorre as variaccedilotildees no termo ldquoPau-de-muquemrdquo

TERMO 05 ndash ldquoPAU-DE-MUQUEM

Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-De-Muquem

Lx Lexema Pau-de-muquem

V Variante Assa-peixe ou Mata pasto

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto eacute o mesmo accedilapeixe sim eacute a mesma coisa eacute uma arve eacute uma arve nativa tambeacutem ela

do tempo ela eacute diz que ela eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacutefazer o

lambedor dela o xarope o lambedor eacute a mesma coisa do charope neacuteda folha buta ela pra ferver ferver inteacuter quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua

quando ele reduzir pra meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel

dipreferente o mel pra essas coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar

toamando que eacute pra tosse a irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o

lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo

neacutequando tivesse bem sequinha esfarelava na comida e comia eacute ela disse queeu

num sei tambeacutem isso daiacute ((sorriu)) ela eacute assim ela eacute grande assim ela eacute grande assim

a ponta dela eacute mais larga soacute () diferente da a potinha dela eacute bem larguinha a ponta

dela pra ponta ela eacute mais larga e pro pezinho da folha eacute mais estretinha quase que eacute

pois eacute assim tambeacutem numa moita num nasce soacute uma ave nasce varas varas ela eacute boa

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem

106

de filhar assim a volta dela brolha muita aiacute tambeacutem tem uns que chamam mata pasto

neacute mata pasto tem gente que manca ela gosta de nascer meio do capinzal aiacute ela gosta () eacute tem gente que cha pasta pasto sem mas eacute conhecido mesmo bem por accedila peixe e

pau de muqueacutem nos conhecemos por esse nome lambedor isso eacute pra tosse natildeo natildeo ela

tambeacutem chama de mata pastu porque nasce assim no meio do capim

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas

Fu Formas de

uso

Para tosse fazer o lambedor (ferver as folhas na agua ateacute apurar depois acrescenta o

mel) Para renite (fritar as folhas em oacuteleo triturar e colocar na comida)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Eacute conhecido tambeacutem como assa-peixe ou mata pasto

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando o termo ldquoPau-de-muquemrdquo entendemos que as variantes ldquoAssa-peixerdquo e

ldquoMata pastordquo tambeacutem deveriam ser analisadas no aspecto gramatical com isso observamos

que os termos e suas variantes satildeo sintagmas terminoloacutegicos masculinos Eacute interessante notar

que as variantes apresentam a mesma composiccedilatildeo em sua formaccedilatildeo podendo ser utilizadas no

mesmo contexto Nesse aspecto Faulstich (1999) explica que haacute formalizaccedilatildeo da sinoniacutemia

terminoloacutegica em que as variantes satildeo coocorrentes ou seja ldquorelaciona o sentido de dois ou

mais termos com significados idecircnticos e podem coocorrer em um mesmo contexto sem que

haja alteraccedilatildeo no plano do conteuacutedordquo

No que concerne agrave definiccedilatildeo descrita sobre o termo e suas variaccedilotildees a planta eacute usada

para tosses e renites sendo que para cada situaccedilatildeo o modo de processar eacute particular

Observamos que as distintas formas de nomear a planta medicinal coincidem no preparo para

as diferentes enfermidades a serem tratadas assim expotildee a senhora Domingas

[] eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacute fazer o lambedor dela o xarope o

lambedor eacute a mesma coisa do charope neacute da folha buta ela pra ferver ferver inteacuter

quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua quando ele reduzir pra

meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel dipreferente o mel pra essas

coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar toamando que eacute pra tosse a

irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo neacute quando tivesse bem sequinha

esfarelava na comida e comia eacute ela disse que eu num sei tambeacutem isso daiacute

((sorriu))[] (informaccedilatildeo verbal)63

63Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPau-de-muquemrdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

107

Considerar o termo dentro do ambiente social que as pessoas utilizam a linguagem

esta eacute a base da Socioterminologia que analisa a variaccedilatildeo social do termo antes tido como

invariaacutevel Com isso procuramos examinar como a variaccedilatildeo ocorre dentro das mudanccedilas na

sociedade lugar em que o termo eacute gerado eacute usado eacute modificado Ao falar sobre

Socioterminologia Faulstich (2006 p 27) expotildee que

Para falar de socioterminologia eacute preciso antes de tudo situar a terminologia no

espaccedilo da interaccedilatildeo social No Brasil por exemplo a histoacuteria da terminologia se confunde com a formaccedilatildeo da sociedade brasileira por meio da mistura de falares dos

habitantes naturais da terra e dos que para caacute vieram Vejam-se nos dicionaacuterios

termos da fauna e da flora como indicadores da terminologia indiacutegena no portuguecircs

brasileiro () Assim sendo natildeo eacute novidade dizer que a diversidade da cultura

brasileira aparece refletida na terminologia cotidiana

Um dos maiores aspectos da Socioterminologia exposto por Faulstich (2006) eacute ldquoter

na base da pesquisa a variaccedilatildeo linguiacutestica dos termos no meio social e por consequecircncia

entender a mudanccedila terminoloacutegica como mecanismo resultante da pragmaacutetica discursivardquo

Assim no que diz respeito agraves mudanccedilas no termo a pesquisadora explica que a ldquovariaccedilatildeo

deve levar em consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de comunicaccedilatildeo de uma determinada aacuterea

que dependem das circunstacircncias de emissatildeo dos interlocutores do meio pelo qual se daacute a

comunicaccedilatildeo entre outrosrdquo (FAUSLTICH 2006 apud BLANCO 2010 p 4)

Vejamos na sequecircncia como ocorre a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo

56 VASSOURA DE BOTAtildeO

Nos estudos da linguagem humana os usos de palavras especiacuteficas para situaccedilotildees em

especial vecircm sendo ampliados de acordo com as mudanccedilas de uso da liacutengua tais palavras

recebem as seguintes nomenclaturas leacutexico especializado termo teacutecnico-cientiacutefico termo

unidade lexical terminoloacutegica unidade lexical especializada unidade lexical temaacutetica

unidade de conhecimento unidade de compreensatildeo unidade de significaccedilatildeo especializada ou

vocabulaacuterio (ARAUacuteJO 2006)

Ao utilizarmos os termos com sentido aproximado do objeto nomeado fazemos uma

associaccedilatildeo com certa caracteriacutestica correspondente ao nome dado Nesse contexto ldquoa relaccedilatildeo

associativa eacute uma relaccedilatildeo entre dois conceitos que natildeo pertencem agrave mesma estrutura hieraacuterquica

ainda que sejam proacuteximos do ponto de vista semacircntico ou contextualrdquo (TESAURO 2006 p 11)

108

Nesse acircmbito vejamos a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo cujo nome segundo a

descriccedilatildeo de Domingas possui relaccedilatildeo com a planta nomeada

TERMO 06 ndash ldquoVASSOURA DE BOTAtildeOrdquo

Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo

Lx Lexema Vassoura de botatildeo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto ela eacute boa pra quela eacute verme gearde neacutegearde que eacute do estamagu que eacute de

ameba eacute pra ela que ela eacute bom eacute a gente faz a gente faz tambeacutem tintura piacuteula dela de

vassoura de botatildeoeacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que ela

assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim ao

redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela

agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota outra

aqui ateacute trecircs quatro assim isso hurum isso sim sim eacute isso isso eacute chamo vassoura de

butatildeo eacute a folha com tudo aquilo tudo tudo isso eacute pequeninha eacute isso hurum e tambeacutem eacute

e uma fez noacutes fizemos eacute pumada disseram quera era boa pra ela ela diz antiplamatoacuterio

a gente fez a pumada neacutecatamos tudinho a folhinha butamos pra fritar nu na gordura vegetal e depois transformamos na pomada mas isso aiacute ningueacutem tem dizer

assim ele foi bom porque ningueacutem usou a gente um pouco soacute pra demonstraccedilatildeo isso

foi pela pastoral da crianccedila neacuteaquela pretinha que foi ensinar noacutes a gente fez vaacuterias

mas a gente fez soacute um pouquinho num

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e o botatildeo da flor

Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo Fotografia 25 ndash Folha da Vassoura de botatildeo

Fonte Dado registrado durante a pesquisa Fonte Dado registrado durante a pesquisa

109

Fu Formas de

uso

Usada para vermes amebas no estocircmago atraveacutes de tintura piacutelulas anti-inflamatoacuterio

(ferver as folhas e o botatildeo em gordura vegetal para transformar em pomada)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem aspecto de uma pequena vassoura invertida

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoVassoura de Botatildeordquo eacute um sintagma terminoloacutegico feminino formado pela

composiccedilatildeo de palavras Em sua estrutura o termo apresenta uma complexidade formada pela

presenccedila de dois radicais no acircmbito da definiccedilatildeo do termo verificamos que haacute uma relaccedilatildeo

associativa do nome da planta com a aparecircncia que ela possui como expotildee Domingas

[] vassoura de botatildeo eacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que

ela assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim

ao redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela

agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota

outra aqui ateacute trecircs quatro [] (informaccedilatildeo verbal)64

Com o formato de uma vassoura invertida o termo ldquoVassoura de Botatildeordquo estaacute

relacionado com o aspecto que o objeto nomeado possui Nesse campo de estudo Faulstich

(1999) explica que nas relaccedilotildees associativas haacute uma sequecircncia que estaacute conectada com a

experiecircncia contiacutenua entre o tempo e espaccedilo Assim a ldquounidade terminoloacutegica pode ter ou

pode assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha

nos contextos de ocorrecircnciardquo (FAULSTICH apud CRUZ 2014 sem paginaccedilatildeo)

Vejamos assim algumas plantas que apresentam relaccedilotildees associativas nos seus

nomes quanto agrave forma tamanho cor e funccedilatildeo medicinal como eacute o caso do termo ldquoNambu

Tutanordquo

57 NAMBU TUTANO

Na Liacutengua podemos utilizar as palavras em diferentes relaccedilotildees de sentidos nos mais

diversos contextos Nesse processo denominado polissecircmico encontramos termos que

64

Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

110

possuem formaccedilotildees utilizadas no acircmbito geral de uso da liacutengua assim como termos

especiacuteficos no uso especializado da linguagem

Nesse aspecto verificamos que a comunidade de Pimenteiras apresenta variaccedilotildees

para um mesmo termo sobre as plantas medicinais ocorridas pela relaccedilatildeo associativa com as

caracteriacutesticas pertencentes a cada espeacutecie nomeada Verifiquemos a anaacutelise do termo abaixo

TERMO 07 ndash ldquoNAMBU TUTANOrdquo

Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano

Lx Lexema Nambu Tutano

Va Variante Batata Roxa

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto eacute uma planta eli eacute eli eacute piquininhu eli daacute assim eim forma di cebola di planta

assim qui eli eacute soacute que eli a folha eli natildeu teim caulei natildeu daqui qui eli nasci eli jaacute

nasci as folhas natildeu eli num teim qui a batata a cebola di planta neacute qui eacute assim ela jaacute

vai nascendu a folha duma folha eacute qui neim a cebola duma folha jaacute bota outra folha

dotra folha jaacute vai botandu qui neacute batatinha em baixu eacute natildeu natildeu teim cauli natildeu eacute soacute

folha i batataa folha eacute a folha teim a folha di accedilaizeiru neacute qui eacute assim ai teim as

folinhas qui agarra nu talu du accedilaizeiru eacute daqueli formatu da folha du accedilaizeiru natildeu

natildeu eacute beim compridona eacute assim a folha deli mais ou menus dum palmu qui eacute assim a folinha deli natildeu natildeo sei por que ela eacute abertinha teim a folha di cebola porque a

folha cebola eacute toda eacute inteira comu digu logu eacute rolicinha e ela num ela eacute ela eacute eacute ela eacute

folinha ela eacute folha assim ela eacute abertinha folha aberta folha assim folha aberta folha

qui tem a accedilaizera qui teim a folha dela qui eacute assim agora a dela eacute qui neim aquela

folha di accedilaizeiru assim qui ( )nasci daqueli talu assim pois eacute a folha dela babosa

num teim a babosa qui eacute uma folha aberta neacute eacute folha mais eacute aberta neacute assim qui eacute du

batatatildeu ela num eacute aquela folha inteira folha roliccedila assim ela eacute uma folha aberta natildeo

eacute seca qui nem di accedilaizeru mermu eacute seca mermu eacute usa soacute a batata natildeo

Fotografia 26 ndash Nambu Tutano Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

111

piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute roxinha tambeacuteim batata roxa

porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu

jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute qui neim a cebola capa sobri capa a

capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu

vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu mas ela eacute assim de capinha nambu tutanu

isso daacutei eu conhe caacute a minha voacute i minha matildei tambeacuteim nambu tutanu qui quandu eu mi

criei ela jaacute tinha neacute ( ) issu aqui eacute nambu tutanu porque as veiz quandu aparecia

aquela pessoa doenti crianccedila doenti neacute vai ver nambu tutanu vai arrancar aqueli

pesinhu ali vocirc fazer remeacutediu ai a genti ia arrancar i por issu qui deru u nomi ai eu

achu qui veim dus avocircs delis dus tataravoacute sabi laacute neacute aprendemus com elis eacute eacute mesmu

nomi cebolinha eacute batata roxa nambu tutanu mesmu nomi

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

A raiz em formato de batata

Fu Formas de uso

Chaacutes para diversas doenccedilas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A variante Batata Roxa vem do formato da raiz que parece uma batata em camadas

como cebola na cor roxa

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando o termo ldquoNambu Tutanordquo observamos que possui a variante ldquoBatata

Roxardquo Na anaacutelise por meio da ficha terminoloacutegica na definiccedilatildeo descritiva de cada planta

medicinal verificou-se que os termos e suas variantes tecircm particularidades importantes para

este estudo Desta forma no termo ldquoNambu tutanordquo notou-se que sua variante ldquobatata roxardquo

possui relaccedilatildeo associativa com a forma ou seja a planta apresenta formato de uma batata de

cor roxa por isso a presumiacutevel relaccedilatildeo com a variante do termo Observemos abaixo

[] eacute usa soacute a batata natildeo piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute

roxinha tambeacuteim batata roxa porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a

batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti

comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute

qui neim a cebola capa sobri capa a capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu

mas ela eacute assim de capinha[] (informaccedilatildeo verbal)65

Sabemos que na configuraccedilatildeo atual a Terminologia vai muito aleacutem da elaboraccedilatildeo

de dicionaacuterios na aacuterea Muitos autores consideram o conhecimento nas liacutenguas especializadas

como um rico campo de conhecimento Faulstich (1995) explica que o saber eacute construiacutedo de

forma individual e coletiva num processo no qual o sujeito interage com a realidade as

65Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNambu Tutanordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

112

pessoas e o ambiente sociocultural Isso nos revela que a Socioterminologia jaacute era prenuacutencio

para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de natureza social ou

seja ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo no universo da terminologia revelam peculiaridades

proacuteprias a serem estudadas pela disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para

a sistematizaccedilatildeo de termos e de variantesrdquo (FAULSTICH 1995 p 281)

Na sequecircncia analisemos o termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo

58 QUEBRA PEDRA ROXO

Em seus estudos Faulstich (1995) aborda aspectos relevantes dentre os quais

destaca a diferenccedila entre lexema e termo Para a pesquisadora o lexema eacute ldquouma unidade

lexical do domiacutenio do leacutexico geral da liacutengua um termo eacute tambeacutem uma unidade lexical mas

tiacutepico de variado domiacutenio de vocabulaacuterio cientiacutefico e teacutecnicordquo (FAULSTICH 1995 sem

paginaccedilatildeo) Por ser o lexema uma unidade da liacutengua comum Faulstich explica que ele eacute

portador de conotaccedilotildees psicoloacutegicas e sociais que lhe proporcionam a multiplicaccedilatildeo de

significados e a presenccedila da polissemia que por correspondecircncia daacute lugar agrave sinoniacutemia

Diante do contexto funcional a autora destaca que o ldquolexema delineia seu caraacuteter semacircntico e

lexicograacutefico a partir da estrutura paradigmaacutetica porque satildeo as oposiccedilotildees distintivas que

delimitam a configuraccedilatildeo semacircntica e marcam o valor do lexemardquo (FAULSTICH 1994 p

314)

Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo que o sentido estaacute

relacionado ao nome Durante as pesquisas realizadas natildeo encontramos a espeacutecie na cor roxa

para o registro de imagens mas a informante apresentou sua definiccedilatildeo descritiva de forma

subjetiva para que pudeacutessemos verificar as especificidades do termo na ficha terminoloacutegica

Assim observemos

Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo

Lx Lexema Quebra Pedra Roxo

Va Variante Comer de Rola

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Co Contexto comecirc di rola essi du roxu eacute porque to dizendu eacute eli eacute soacute um formatu du mermu jeitu

qui eacute u brancu eacute soacute muda a cor eli eacute roxinhu por que teim u brancu i teim roxu essi comecirc di rola noacutes conhecemu assim comecirc di rola roxu u quebra pedra eacute quebra pedra

brancu mas eli eacute soacute um formatu u formatu qui eacute u quebra pedra brancu eacute u roxu

beim piquinininha du tamaninhu eacute du mesmu jeitu mesmu jeitinhu aiacute porque qui

113

eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu du otru neacute soacute qui

adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela trevoada di rolinha qui

levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas bichinhas gosta di taacute aqui

porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u

matu eacute du mermu jeitu du brancu eli daacute por certus tempu quandu chega nu veratildeu eli

eli morri soacute qui eacute assim quandu eli nasci muitu qui nu meu roccediladu jaacute nasceu muitu

assim chega qui eu ficava tomandu di conta assim la quasi num nascia neim um otru

matu era soacute por conta deli mermu laacute porque eacute beim encostadinhu dotru neacute assim um

tipu um canteru laacute quasi num nasci otru matu eu sei qui as bichinha gostavu di taacute laacute si

alimentandu da sementinha da folhinha delis minha voacute nois conhecemus com ela

comecirc di rola assim noacutes comu crianccedila vovoacute u qui eacute issu comeacute u nomi dissu ela era uma

velhinha muita pacienti isso ai eacute comecirc di rola( ) porque assim a rolinha quandu chega

aqui as bichinha num si levantu assim ai comecirc di rola pra qui servi vovoacute issu aqui eacute remeacutediu eacute eacute sim eacute remeacutediu( ) prus rins tambeacuteim neacute qui antis a genti fazia dessi assim

quebra pedra fazia mas noacutes conhecemu mais por comecirc di rola a depois qui era quebra

pedra a eacute remeacutediu pa pa quem teim pedras nu rins podi fazer u chaacute dela i tomar agora

eu jaacute usu comu( ) eu jaacute usu na garrafada jaacute bota na garrafada u brancu porque

nois jaacute tivemu uma uma oficina um treinamentu qui uma mulher vei di macapaacute e diz

qui u u bom mermu eacute u brancu qui eacute u quebra pedra di verdadi assim pru pru pedra nu

rim neacute porque eli jaacute porque nois dizia assim( ) teca porque u nomi dela era teca teca

noacutes dizia qui era u roxu ela dissi natildeu u roxu natildeu teim muita serventia eli servi mas u

brancu porque eacute u quebra pedra di verdadi eacute u brancu porque u nomi deli eacute quebra

pedra mermu eacute essi qui eacute bom aiacute eu dissi olha noacutes usa na garrafada ela dissi podi

usari natildeu teim poblema nenhuma comi tambeacuteim mais eacute assim eacute porque aqueli tempu tinha mais passarinhu noacutes via mais tinha mais du roxu assim nu roccediladu eacute mais du roxu

elas tavu mais ondi tava o quebra pedra du roxinhu eacute

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para problemas nos rins

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dores nos rins

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Conhecido tambeacutem por comer de rola porque os paacutessaros preferem a roxinha que a

branca

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Quanto ao termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo sua variaccedilatildeo ocorre com relaccedilatildeo associativa

com a funccedilatildeo que a planta tem ou seja a planta serve de alimento para certa espeacutecie de

paacutessaro assim o termo eacute tambeacutem chamado pela variante ldquoComer de Rolardquo por ser o alimento

que os paacutessaros ldquorolinhasrdquo preferem

[] aiacute porque qui eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu

du otru neacute soacute qui adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu

di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela

trevoada di rolinha qui levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas

114

bichinhas gosta di taacute aqui porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u matu [] (informaccedilatildeo verbal)66

O termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo tambeacutem possui relaccedilatildeo associativa com sua funccedilatildeo

Na sabedoria popular a planta serve para tirar ldquoquebrarrdquo as pedras nos rins No que se refere

ao termo Faulstich esclarece que ao ser colocado no mundo da linguagem cientiacutefica e

teacutecnica ldquoo termo assume o estatuto de unidade lexical definida e eacute naturalmente uniacutevocardquo

(FAULSTICH 1994 p 315) Ou seja haveria um uacutenico conceito para um termo uacutenico com

uacutenica definiccedilatildeo Entretanto se ocorressem conceitos e definiccedilotildees diferentes para um mesmo

termo Faulstich adverte que ocorreria o que ela denomina posteriormente de variaccedilatildeo

terminoloacutegica ou seja havendo um novo termo um novo conceito com uma nova definiccedilatildeo

ocorreria a variaccedilatildeo No entanto ldquose esse mesmo termo vier a funcionar num outro contexto

como equivalente graacutefico de um jaacute existente mas natildeo equivalente semacircntico propiciaraacute a

homoniacutemia terminoloacutegicardquo (FAULSTICH 1990 sem paginaccedilatildeo)

Observemos na sequecircncia outro termo e sua anaacutelise

59 PARATUDO

Faulstich (1990) chama a atenccedilatildeo para a anaacutelise do termo no discurso pois eacute no

discurso que se estrutura a significaccedilatildeo semacircntica e terminoloacutegica Ela destaca que a natureza

epistemoloacutegica do lexema e do termo se fundamenta no alcance dos objetivos de cada um ou

seja para a lexicologia pertence agrave construccedilatildeo de um modelo de componente do leacutexico da

gramaacutetica jaacute a terminologia devido seu caraacuteter de intersecccedilatildeo com a lexicologia morfologia

e a semacircntica prestigia termos da linguagem cientiacutefica e teacutecnica Assim o limite entre lexema

e termo estaacute amparado nos recursos metodoloacutegicos da lexicologia e da terminologia Para

Faulstich (1994 p 317)

O resultado praacutetico da lexicologia teoacuterica e descritiva serve de ponto de partida para

o trabalho lexicograacutefico na elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios de liacutengua geral o resultado praacutetico da terminologia especializada aplica-se agrave terminografia na constituiccedilatildeo de

dicionaacuterios especializados

66Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

115

Diante desse contexto analisamos que o termo conhecido tambeacutem como sinocircnimo de

unidade terminoloacutegica designa um conceito da linguagem de uso especial Segundo Andrade

(et al 1998 p 191)

Tal como as palavras do leacutexico geral os termos satildeo unidades siacutegnicas distintivas e

significativas ao mesmo tempo apresentando-se de forma tatildeo natural no discurso

especializado quanto as palavras nos discursos que se valem da liacutengua comum

como forma de expressatildeo

Assim observemos que o termo ldquoParatudordquo passou por uma distinccedilatildeo particular

vejamos

TERMO 09 ndash ldquoPARATUDOrdquo

Fotografia 28 ndash Paratudo Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo

Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo

Lx Lexema Paratudo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto eacuteh paratudo paratudo isso eacuteuma aacutervore uma aacutervore bem grande ela eacute uma aacutervore

bem grande ela eacute boa pra febre diprimeiro quando dava aquela febre de malaacuteria era

uma febre muito antiga que chamava por outro nome conhecida por outro neacuteela era

soacute o que curava ela eacute amargo amargo a casca dela a casca a gente usa eacute a casca iai a minha matildee tirava pra gente tomar o chaacute mas pra febre era primeiro lugar eacute febre ama

diprimeiro chamava febre amarela agora a pessoa diz que eacute a mesma malaacuteria o

pessoa digo neacuteera a uacutenica que curava era dava um tipo de febre que dava tudo tipo

de remeacutedio ih num passava aiacute eacute soacute a gente dando tudo heacute cumeccedilava sis maacute que era

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

116

esse tipo dessa febre que dava neacuteporque a malaacuteria eacute assim comeccedila daacute em seguida

aqueles horaacuterios o pessoal jaacute disconfia que a malaacuteria neacutee assim eacute era essa essa tipo

dessa febre iai a mamatildee fazia o chaacute paratudo mas ele eacute uma aacutervore ele eacute nativo ele eacute uma aacutervore muita bem grande bem grandona ela eacute nativa ela daacute em qualquer canto

num carece plantar paratudo eu natildeo sei porque os antigos ( )porque eu acho que

parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque essa febre amarela inha matildee

contava era assim febre muito perigosa diprimeiro neacuteera uma febre muita perigosa

que quase quando dava com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho

que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a

febre aiacute butaru paratudo eu acho neacuteela eacute mais alta tem umas que daacute mais alta no

lugar quela cresce mesmo ela eacute bem alta soacute soacute quela natildeo eacute grossana sempre ela eacute fina

ela natildeo eacute grossa natildeo sempre ela fina natildeo ela eacute bem comprindona mas ela eacute fina soacute a

casca soacute a casca

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Utiliza-se apenas a casca da aacutervore

Fu Formas de

uso

Usada na forma de chaacutes para febre amarela malaacuteria

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo ldquoParatudordquo significa que parava todos os sintomas da febre amarela

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Analisando a classe gramatical do termo ldquoParatudordquo vemos que se trata de um

sintagma terminoloacutegico feminino devido a informante se direcionar ao feminino quando

descreve chamando de aacutervore O termo estaacute escrito na forma agrupada essa junccedilatildeo ocorreu

na liacutengua pelo processo de justaposiccedilatildeo o qual Pottier (1978) chama de composiccedilatildeo

composta Isto provavelmente ocorreu pela significaccedilatildeo que o termo adquiriu nas geraccedilotildees

anteriores pois segundo a definiccedilatildeo de Domingas

[] porque os antigos ( ) porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso

neacute paratudo porque essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito

perigosa diprimeiro neacute era uma febre muita perigosa que quase quando dava

com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram

esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo eu acho neacute[] (informaccedilatildeo verbal)67

Na histoacuteria descrita pela moradora quando seus antepassados adquiriam a febre

amarela ou malaacuteria tinham febres persistentes em horaacuterio programado Dificilmente

conseguiam eliminar seus sintomas a natildeo ser quando utilizavam a planta ldquoParatudordquo ou seja

ldquoparava tudordquo Assim o termo foi absorvido com o poder de parar todos os sintomas das

enfermidades contraiacutedas

67Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

117

[] porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque

essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito perigosa diprimeiro

neacuteera uma febre muita perigosa que quase quando dava com febre amarela que

natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo []

(informaccedilao verbal)68

Nesse contexto Faulstich (1995) considera que as ldquovariantes satildeo resultado dos

diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica fazem

do termordquo assim absorvida como medicamento que trouxe a cura de tudo a cura de todos os

sintomas da febre amarela ou da malaacuteria o termo eacute conhecido e usado na linguagem dos

moradores como planta que cura e para tudo escrito na forma composta

Seguimos na anaacutelise dos termos sobre as plantas medicinais com a anaacutelise

morfoloacutegica de alguns termos apresentando as imagens registradas durante a pesquisa de

campo juntamente com a definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas

utilizando para isso o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com os

elementos constitutivos dos termos para melhor visualizarmos seus dados

Na sequecircncia verifiquemos a anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo

510 GERGELIM BRANCO

A partir das investigaccedilotildees sobre as relaccedilotildees associativas entre os signos linguiacutesticos

surgem teorias em direccedilatildeo ao campo semacircntico que eacute considerado como o universo

linguiacutestico das palavras Em intersecccedilatildeo com o campo conceitual universo das ideias

segundo Robin (1977) o processo de conceptualizaccedilatildeo do mundo exterior chamado de

campo conceptual surge na mente humana pelo deciframento linguiacutestico dos conceitos e

categorias abstratas que eacute parte do campo leacutexico-semacircntico

Notando tais aspectos na estrutura do campo leacutexico-semacircntico e morfossintaacutetico do

termo este apresenta em alguns casos uma estrutura simples complexa ou composta Na

estrutura simples o termo eacute constituiacutedo de apenas um radical jaacute nos termos complexos e

compostos apresentam dois ou mais radicais Nos termos compostos a presenccedila do hiacutefen

diferencia-o do termo complexo ndash que natildeo possui o hiacutefen ndash poreacutem ocorrem processos de

composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras Na comunicaccedilatildeo

68 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

118

especializada o que predomina satildeo os termos complexos por serem capazes de assumir

diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo

reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico

Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo que sua estrutura eacute

composta por dois radicais sem a presenccedila de hiacutefen senatildeo vejamos

TERMO 10 - GERGELIM BRANCO

Fotografia 30 ndash Gergelim Branco Fotografia 31 ndashFolha do Gergelim Branco

Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco

Lx Lexema Gergelim branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Co Contexto eacuteh hurum eacute da eacute a mesma da mesma mesma tipo do mesmo soacute muda a cor eacute eacute da

semente eacute com certeza a arve eacute mesmo jeito vocecirc soacute vai sabe na hora que cai a

sementinha dela neacute ela eacute meacutedia ela eacute eacute plante do rodado ela pela sementinha () no

rosado soacute vai colher ela quando eacute na tempo de colher que a gente vai colher ela bota

pra secar aiacute vira ela bota pra secar ela soacute tem que buta ela pra secar de ponta pra

cima aiacute ela vai ce porque ela vai vai secando e e aqueles aqueles cachopinhas aqueles frutinho dela vatildeo vatildeo abrindo tudinho se ele tever de ponta pra baixo ele vai abrindo e

vai caindo ele tem que que taacute todo tempo neacute e fica guardada quando a gente vira a

pontionha dele pra baixo ele derrama eacute ele e ele eacute eacute a semente olha dhione eacute ela serve

pra um monte de coisa ( ) ela serve pra avece que daacute pra fazer massage ela serve pra

febre ela serve pra diarreia ela serve pra moragia a sementinha ela ser muito varo eacute

vaacuteria coisa que ela natildeo eacute o sumo da sementinha a gente pega bota ela pra esquentar

um pouco eacute raacutepido tem que ser raacutepido porque ela eacute uma sementinha muita graacutegil que

se demorar ela vai queimar esquenta ela quando ela taacute boa ela tem um cheiro assim

tatildeo ela muda de cheiro aiacute tira ela e pisa hoje em dia eacute mais pra mais normal eacuteo

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

119

lotificador neacute bota eacute ti e bota um pouco de aacutegua tira o leite grosso o leite dele sai

uma deliacutecia assim o leite grosso aiacute vocecirc pode se for pruma febre vocecirc pode toma uma ou duas culher vai depender da idade da crianccedila ou do da adulto sei laacute moragia

tambeacutem e pra ai se ai tanto ele serve pra remeacutedio cume ele eacute grande alimentaccedilatildeo ele eacute

alimentaccedilatildeo pra mim eu uso ele cumo alimentaccedilatildeo o gergelim como alimentaccedilatildeo e

porque assim no por remeacutedio ougaque eacute mais o gergelim preto pra remeacutedio pra

remeacutedio mas pra mim tanto faz pra mim tanto faz com certeza agora cumo eu tocirc

dizendo pode usar o preto mas de preferencia o preto de preferencia o preto mas num

tendo o preto o branco tambeacutem serve ele eacute a mesma coisa mas agora comu eu tocirc

dizendo eu uso o gergelim laacute em casa quando eu tenho eu uso pra minha pra mim

tomar meu cafeacute de mnhatilde comu ele eacute muito gostoso quando eu tiver um pouquinho que

agora eu tenho a minha roccedila quando tiver um poquim eu vou trazer um poquim da

paccediloca pra ((sorriu)) ele tem caccedilo eacute () anram sim urum isso eacute neacute pois eacute sim sim hurum

((sorriu)) acho que sim natildeo natildeo sei dizer natildeo mas eu acho que eacute pelo tamanhinho dele neacute que eacute uma semente muito eacute vou tomar poquim eacute isso

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

A sementinha contida na flor eacute usada para diversos problemas de sauacutede e tambeacutem

como alimento

Fu Formas de

uso

A sementinha secada e triturada para retirar o leite serve para derrame cerebral

hemorragias febre diarreia massagens e como alimento

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Segundo a informante o gergelim preto eacute melhor mas ela utiliza tambeacutem o gergelim

branco

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

No termo complexo Gergelim Branco aconteceu a formaccedilatildeo de termos pela

composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja o termo eacute formado por duas ou mais palavras que satildeo

independentes entre si no processo de formaccedilatildeo e que juntas formam um novo significado

uma nova palavra Quanto ao estudo gramatical dos termos complexos eles satildeo formados por

um elemento base que eacute o substantivo e em seguida por outra palavra que demonstra a

qualidade ou especificidade do primeiro podendo ser um adjetivo Por exemplo em

ldquoGergelim Brancordquo o substantivo eacute ldquoGergelimrdquo e ldquoBrancordquo eacute a particularidade na cor que

esse substantivo tem ou seja eacute um adjetivo

Observando as particularidades do termo ldquoGergelim Brancordquo vejamos na sequecircncia

a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo

120

511 URUCUM VERMELHO

Tomando os estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) sobre a estrutura do termo

percebemos que cada um a seu modo explana sobre o mesmo conceito Na explanaccedilatildeo de

Barros (2007 p 399) ela apresenta que

Termo simples unidade terminoloacutegica constituiacuteda por um uacutenico lexema

independente do processo de formaccedilatildeo deste Termo complexo unidade formada

por composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja por um grupo de lexemas e morfemas

gramaticais (palavras nocionais e gramaticais) natildeo ligadas por hiacutefen tambeacutem

independente do processo de formaccedilatildeo dos termos Termo composto unidade

terminoloacutegica formada por dois ou mais lexemas que se encontram em situaccedilatildeo de

natildeo-autonomia representada graficamente pela utilizaccedilatildeo do hiacutefen

Em Pottier (1978) a nomenclatura utilizada eacute lexia69

que eacute a menor unidade

funcional e significativa do discurso seja ele de forma oral ou escrita Para o pesquisador a

lexia nasce da relaccedilatildeo associativa entre seus elementos Quando utilizamos um termo em

determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo

internalizadas na liacutengua que por ser um sistema dinacircmico passa a ser enriquecida com

neologismos Assim no que compete aos estudos de Pottier o pesquisador apresenta como

modelo trecircs tipos de lexias sendo elas simples compostas e complexas (CAMPOS 2007)

As lexias simples70

satildeo conhecidas como a menor unidade lexemaacutetica ou palavra

tradicional que junto de outras lexias simples formam outras unidades lexemaacuteticas

conhecidas como palavras compostas Na lexia complexa ocorre uma sequecircncia de palavras

em grau maior de complexidade chamado de lexicalizaccedilatildeo Esta seria quando um sintagma se

torna uma unidade lexical autocircnoma Consequentemente Genouvrier amp Peytard (1974)

esclarecem melhor as lexias complexas de Pottier expondo em outras palavras que elas satildeo

formadas pelo agrupamento de lexias simples com classes gramaticais diferentes que resultam

em expressotildees generalizadas e estereotipadas (CAMPOS 2007)

Vejamos nesse contexto a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo

69 Lexia eacute nome geral para qualquer unidade lexemaacutetica nos estudo de Pottier (1978)

70 Vale ressaltar que Cabreacute (1993) no aspecto da forma tambeacutem classificou os termos de acordo com os nuacutemeros de morfemas existentes na palavra assim classificava-os em simples para um morfema e complexo para dois ou

mais morfemas Os complexos eram ainda subdivididos em termos derivados e termos compostos

121

TERMO 11 - URUCUM VERMELHO

Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho Fotografia 33 ndashFolha do Urucum Vermelho

Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho

Lx Lexema Urucum Vermelho

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Co Contexto eacuteh uma planta natildeo ela eacute caseira eacute clima frio a folha eacute grande eacute form e re

redonda formatu dum coraccedilatildeo a semente dela ela coloca a ah o copinho a

caixinha dentro da caixinha tem a semetinha bem redondinha bem miudinha a

sementinha dela a flor eacute um rosiozinho eacuteh rosu claro eacuteh um ela eacute pequena

uma flor meacutedia num eacute grande nau e nem tatildeo (sita) o caule vai depende eacute dumaaa ele sendo bem bem bem velho bem maduro o caule dele eacute assim duma uns dois

palmos di grussura em roda tem tens uns que ate dessa grussura ((fazendo gestos

com as matildeos)) da duas matildeos cheia tem umas que da ateacute trecircs metro vai depender

da tem umas que daacute olha ela ela serve assim ela eacute tempero serve pra

temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol colesterol ela gente pega faz o

vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o vinho e toma em jijum ela linima o

colesterol e soacute da sementi a gente pega semente agente abre a pega a cachopinha

abre ela tira a semeti amassa um pouco com agua ai coa e toma em jejum pra curar o

colesterol

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

Usada a sementinha encontrada no ldquocopinhordquo da planta retirar o vinho da semente

Fu Formas de

uso

Serve para dar a cor avermelhada na comida eacute um tempero para o colesterol eacute feito o

vinho da sementinha

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Eacute uma planta medicinal e usada tambeacutem como condimento

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

122

O ldquoUrucum Vermelhordquo eacute uma planta usada nos alimentos e com propriedades

medicinais principalmente relacionadas agrave problemas com o colesterol

[] ela eacute tempero serve pra temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol

colesterol ela gente pega faz o vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o

vinho e toma em jijum ela linima o colesterol e soacute da sementi a gente pega

semente agente abre a pega a cachopinha abre ela tira a semeti amassa um pouco

com agua ai coa e toma em jejum pra curar o colesterol [] (informaccedilatildeo verbal)71

Considerado em sua estrutura como termo complexo o Urucum Vermelho eacute formado

pela composiccedilatildeo sintagmaacutetica de duas palavras independentes entre si Poreacutem juntas formam

uma nova palavra com nova significaccedilatildeo No estudo gramatical do termo Urucum Vermelho

o elemento base eacute o substantivo ldquoUrucumrdquo que vem seguido pelo adjetivo ldquoVermelhordquo

indicativo de uma caracteriacutestica proacutepria da planta Verificando os aspectos da estrutura dos

termos observemos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoErva de Passarinhordquo

512 ERVA DE PASSARINHO

Segundo Cabreacute (1993) os termos compostos satildeo denominados tambeacutem como

sintagmas terminoloacutegicos que podem ser formados por uma construccedilatildeo sintagmaacutetica mais

complexa que pertencem a classe de palavras diversas

Diante das explanaccedilotildees sobre a estrutura do termo notamos que tanto Barros como

Pottier apresentam semelhanccedilas nas explicaccedilotildees No entanto Barros acrescenta ainda que os

termos compostos podem passar pelo processo de aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Nesse sentido

a pesquisadora expotildee que

A composiccedilatildeo eacute a nosso ver um processo que pode marcar a formaccedilatildeo tanto de

termos simples quanto de termos complexos (sintagmaacuteticos) Por esse motivo eacute

temeraacuterio distinguir de modo categoacuterico termos simples complexos e compostos quando se trata dos tradicionais processos de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo sem hiacutefen

(BARROS 2007 p 400)

Com tais fundamentos analisamos os termos sobre as plantas de uso medicinal da

comunidade de Pimenteiras na estrutura morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica de alguns termos

catalogados Observamos que na maioria dos casos natildeo haacute a presenccedila do hiacutefen na

71Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoUrucum Vermelhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

123

composiccedilatildeo dos termos compostos que ocorreram expressivamente atraveacutes do processo de

aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Assim observemos o termo ldquoErva de Passarinhordquo

TERMO 12 - ERVA DE PASSARINHO

Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho

Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho

Lx Lexema Erva de Passarinho

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Co Contexto ela eacute uma erva mermu ( ) ela daacute em cima nus galhu dus pau ( )da outras arvris

eacutena eacuteeacuteh ela eacute rastera ela ela eacute si agarra ali nu galhu neacute dali ela vai vai aumentandu a tendecircncia deli eacute matar ela ( ) ateacute qui as vez quandu ela si ela si

apropria mermu muitu na arvri ela mata a outra arvri ela mataeacute natildeu ela eacute

nativaporque us passarinhu qui eacute assim natildeu sei como eacute neacute mais us passarinhu qui

veim qui faz u cococirc ali dali nasci a sementinha ali nu galhu du pau i dali forma a erva

di passarinhu uns diz qui eacute assim eu natildeu sei porque porque ela eacute nativa ela nasci

assimqui podi ter a sementi i nascieacute porque eacute porque ela nasci ai eu eu vi falar

assim agora eu natildeu sei si tambeacutem nasci ali du limu neacute neacute limu porque ela sempri daacute na

arvri ela num eacute nunca eu vi daacute nu chatildeo eacute ela daacute nu limoeiru ela daacute na cueira ela daacute na

na nu nu na laranjera ela daacute em toda essa arvri assim ela daacuteeacute ela daacute eacuteachu qui eacute

em qualquer momentu qualquer arvri qui ela si apropriar qui ela gostar neacute ela daacute i aiacute

a a ( ) ela tem os galim dela em forma di um cipoacute eacute assim us galhu dela i a folha dela

tambeacuteim ela eacute media uma folha assim tambeacuteim qui ela num uma folha seca natilde eacute uma folha sempri assim cheinhagordinha issuela eacute meacutedia tambeacuteim ela num eacute tatildeu

piquinininha natildeu natildeu eacute daquelas folhau formatu dela eacute assim mermu eacute quasi igual

assim meia compridim meia redonda ela num tem formatu assim di otra coisa naueacute

uma folha eacuteeacute tipu uma folha di jambreru eacute um pocu maior di que essi ai neacutenatildeu

dessi aqui dessi aqui neacutesim issu( ) maior tem umas qui da maior tem umas qui daacute

maior porque ela daacute igualtem veiz qui quandu ela nasci muitu qui ela vai

aumentandu aumentandu assim neacute ai tem vez que porque a minha matildee sempri dizia

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

124

assim oacute bora tirar essa erva di passarinhu porque si natildeo ela vai matar uma laranjera

uma cuiera ela da nu cafezal nu cafeeru tambeacuteim ela da nu limoeru ela daacute ela daacute nu da outra eacute eacute com certezaela mata eacute vai depender di elaa folha a folhaeacute i juntu

com certeza ela neacute uma folha assim num eacute bem redonda mas tambeim num eacute tatildeu

comprida ela eacute uma assim uma folha larga beim largaela tem umas bajezinhas

tambeacuteim ela bota umas bajezinhas bem muiditinhas tambeacuteim uns carocinhusnatildeu eu

da nunca vi si eacute uma erva di passarinhu eu da nunca vi mas diz qui eli si alimenta

daquela sementinhaeacute usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui

chama cansaccedilo neacute que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u

chaacutea minha voacute dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem

toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu

iscondidu pra num saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela

dizia assim oacute a erva di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo

mas quem toma nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute

Fc Fonte do

contexto

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para ldquocansaccedilordquo asma

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O chaacute deve ser tomado sem a pessoa saber para que sirva e que planta eacute feito o chaacute

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014

O termo ldquoErva de Passarinhordquo possui uma estrutura composta por dois radicais

relacionados pelo aspecto da preposiccedilatildeo Sendo uma planta que se hospeda em outras plantas

para viver eacute o alimento preferencial dos paacutessaros daiacute a relaccedilatildeo associativa com a funccedilatildeo que

o nome possui No trato medicinal a planta eacute usada em pessoas com cansaccedilo poreacutem segundo

a crenccedila de seus antepassados a pessoa toma o chaacute sem saber o que eacute nem para que serve O

termo eacute assim descrito pela senhora Domingas

[] usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui chama cansaccedilo neacute

que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u chaacutea minha voacute

dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu iscondidu pra num

saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela dizia assim oacute a erva

di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo mas quem toma

nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute

u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute(informaccedilatildeo verbal)72

Observamos que cada termo possui uma definiccedilatildeo particular a cada planta as formas

de uso os contextos em que ocorre a variaccedilatildeo as relaccedilotildees associativas as crenccedilas em torno

72Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoErva de Passarinhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015

125

da cura e as composiccedilotildees formativas dos termos apresentados Alguns termos vieram de

geraccedilotildees passadas outros entraram no contexto da comunidade de Pimenteiras atraveacutes de

novos saberes Diante de tudo que foi exposto eacute importante percebermos que a compreensatildeo

da linguagem de especialidade pode ocorrer com o entendimento de que os termos natildeo satildeo

isolados Segundo Cruz (2014 p 104) os termos ldquonem derivam sua existecircncia apenas de um

arcabouccedilo loacutegico-conceptual mas se manifestam circulam e exercem sua funccedilatildeo em situaccedilatildeo

em uso efetivordquo

Para que o pesquisador possa se familiarizar com seu objeto de pesquisa eacute necessaacuterio

realizar leituras preacutevias sobre o assunto e manter discussotildees com profissionais da regiatildeo

pesquisada Particularmente no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal compreendemos

que durante muitos anos o homem sempre utilizou os recursos naturais para sua sobrevivecircncia

e bem estar na terra e eacute por meio das plantas que surgem os mais diversos produtos

indispensaacuteveis agrave vida humana em todas as eacutepocas

No que concerne ao uso dessas plantas na medicina tradicional hoje os

medicamentos obtidos a partir de substacircncias ativas vindas das plantas satildeo utilizados na

medicina complementar73

Diante disso eacute importante salientar que as populaccedilotildees que vivem

em regiotildees pouco povoadas e com restriccedilatildeo das necessidades fundamentais como sauacutede e

educaccedilatildeo fazem dos recursos naturais os mais utilizados possiacuteveis a fim de garantir os

cuidados necessaacuterios com o bem-estar do corpo e da alma

Culturalmente as praacuteticas com o uso popular de plantas medicinais satildeo uma

realidade em muitas comunidades que as tecircm como alternativa para a conservaccedilatildeo da sauacutede

Entretanto a continuidade desse saber eacute ameaccedilada pela interferecircncia de fatores externos

relacionados ao dinamismo social como a exposiccedilatildeo das comunidades e de sua cultura diante

das facilidades da sociedade moderna a destruiccedilatildeo dos recursos naturais a invasatildeo de novos

elementos culturais que desmotivam a vida tradicional e o conhecimento empiacuterico que eacute

patrimocircnio de valor inestimaacutevel agraves futuras geraccedilotildees Aleacutem disso os estudos cientiacuteficos

direcionados agraves plantas utilizadas pelas comunidades tradicionais satildeo ainda insipientes

(HOEFFEL 2011)

Boa parte do conhecimento popular estaacute mantido em fontes orais isto causa certa

inseguranccedila e desconfianccedila nos dados a serem transcritos Poreacutem o contato direto com os

moradores e seus saberes nos fez crer que as histoacuterias orais satildeo fonte de vida e que de acordo

com a histoacuteria transpotildeem geraccedilotildees e eternizam os novos conhecimentos A verdade eacute que as

73 Uso de medicamentos feitos a partir de substacircncias ativas das plantas isto ocorre em tratamentos de doenccedilas

crocircnicas devido aos efeitos colaterais dos medicamentos potentes

126

ameaccedilas agrave biodiversidade natildeo tem precedentes na histoacuteria da humanidade diversas espeacutecies

nunca estiveram tatildeo ameaccediladas de extinccedilatildeo Junto a isto a cultura dessas comunidades

tambeacutem sofre mudanccedilas constantes que as fazem perder a identidade social que as compotildeem

A perda dos elementos naturais e da cultura identitaacuteria dos conhecimentos

tradicionais empobrece cada vez mais nossa cultura em geral nossa sauacutede e nossos saberes

Diante disso eacute premente que busquemos alcanccedilar esses povos para conhecer registrar e

preservar saberes importantes para a sociedade em geral Nesse contexto a comunidade

remanescente de quilombola de Pimenteiras eacute um exemplo a ser observado por agregar valor

em seus aspectos regionais culturais e de saberes sobre o poder medicinal das plantas Eacute na

comunidade e nos seus moradores que se veem a necessidade de conhecer registrar e

preservar o conhecimento tradicional que fora repassado entre as geraccedilotildees Sabendo disso

buscamos por meio dos estudos socioterminoloacutegicos analisar os termos catalogados sobre as

plantas de uso medicinal da comunidade Tais saberes de grande valor para o conhecimento

cientiacutefico satildeo preservados pelos relatos orais de moradores remanescentes de quilombo

O conhecimento sobre as plantas medicinais pode ser observado pelo trabalho diaacuterio

que os moradores possuem na comunidade com as plantas Esse processo vai desde a

plantaccedilatildeo ateacute a venda dos produtos obtidos por meio da manipulaccedilatildeo das plantas Os cuidados

com o solo a aacutegua o sol os horaacuterios adequados para a colheita das plantas as partes a serem

usadas como as folhas raiz entrecasca flor galhos sementes fruto seiva e tambeacutem o

tratamento dado as plantas para a venda de produtos feitos pelos moradores tais como a

garrafada a multimistura pomadas e oacuteleos tudo eacute parte do contexto de saberes que os

moradores possuem sobre as plantas medicinais

Finalizamos assim observando a forte relaccedilatildeo existente entre os termos sobre as

plantas medicinais com o contexto social no qual estatildeo inseridas com os saberes adquiridos

no passado e no presente com a cultura com a Liacutengua e por conseguinte com a origem

negra que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem marcando assim a

identidade do povo quilombola

127

6 CONCLUSAtildeO

Este trabalho dissertativo se propocircs na anaacutelise dos termos sobre as plantas de uso

medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras ndash PA localizada na

cidade de Santa Luzia do Paraacute na Rodovia BR 316 (Paraacute ndash Maranhatildeo) regiatildeo do Rio Caeteacute

A partir das consideraccedilotildees sobre os termos catalogados pelos moradores quilombolas

pudemos observar e perceber que os saberes transmitidos entre as geraccedilotildees permanecem

fortes no seio da comunidade de forma que todo o conhecimento sobre as plantas medicinais

tem caraacuteter identitaacuterio ao povo de Pimenteiras

Conhecemos cada termo catalogado a fim de perceber as influecircncias da cultura negra

na linguagem popular e especializada sobre as plantas A presenccedila do gecircnero feminino nesse

contexto de conhecimento foi determinante para conseguirmos identificar as espeacutecies coletar

as imagens de cada planta e catalogar os termos sobre as plantas medicinais registrados pelos

moradores

Todos noacutes pensamos falamos lemos e escrevemos as palavras que herdamos em

meio aos saberes coletivos jaacute consolidados no tempo e espaccedilo Por meio da nossa Liacutengua as

palavras satildeo transmitidas e enredadas em significaccedilotildees Eacute atraveacutes dessa heranccedila com os

vocaacutebulos que a liacutengua abrange os saberes coletivos culturais e de significados produzidos

nos contextos de fala Ao nomearmos classificarmos categorizarmos e registrarmos as

experiecircncias vividas noacutes seres humanos criamos palavras e sintaxes ao contarmos e

recontarmos nossas histoacuterias

Por meio da Liacutengua fundamentamos nossa identidade eacute pelas palavras que

organizamos nossas crenccedilas e nomeamos nossos valores um saber que continua em

crescimento e transformaccedilatildeo atraveacutes do conhecimento da linguagem que herdamos e

transmitimos para as geraccedilotildees porvindouras Assim ressaltamos que as definiccedilotildees descritas

sobre os termos analisados sua variaccedilatildeo nos termos na linguagem representada nos saberes

sua motivaccedilatildeo sua estrutura e suas relaccedilotildees associativas constituiram-se relevantes para

percebermos as analogias da liacutengua com a cultura popular transmitida entre as geraccedilotildees

sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras

Levando em consideraccedilatildeo que os termos sobre as plantas medicinais fazem parte de

uma especificidade da linguagem e que no caso em especial analisamos o termo na sua

estrutura socioterminoloacutegica entendemos que o conhecimento popular proveniente das

atividades tradicionais dos moradores quilombolas na regiatildeo foi o percurso trilhado para nos

128

conduzir nesse trabalho dissertativo de forma a considerar as abordagens socioterminoloacutegicas

de grandes pesquisadores Os estudos sobre a variaccedilatildeo nos termos sobre as plantas medicinais

tambeacutem foi fundamental para analisarmos cada palavra dentro de um contexto de uso social

histoacuterico e cultural com a finalidade de conhecer e ateacute resgatar os termos no acircmbito

sociocultural no qual estatildeo inseridos

A metodologia utilizada no decorrer do trabalho de campo nos proporcionou melhor

conhecimento sobre a comunidade em estudo pois do ponto de vista etnograacutefico eacute preciso

estar laacute para aprofundarmos sobre os saberes da comunidade e interagirmos in loco para

compreendermos a dinacircmica do trabalho e da vida a partir da qual o homem do campo

constroacutei seus saberes Os dados catalogados sobre as plantas medicinais nos fizeram conhecer

mais profundamente os saberes sobre as plantas que apresentamos no repertoacuterio terminoloacutegico

coletado composto por quarenta e dois (42) termos catalogados com suas respectivas

imagens

Aleacutem dos termos catalogados foi necessaacuterio registrar os dados orais ocorridos

durantes as diversas entrevistas da pesquisa de campo utilizando os recursos computacionais

como o Transana para efetuarmos a transcriccedilatildeo Grafemaacutetica das entrevistas realizadas Isto

foi indispensaacutevel para compreendermos melhor os aspectos que contornam o termo e

tambeacutem para a definiccedilatildeo descritiva de cada termo catalogado pois no contexto discursivo

podemos entender melhor cada palavra e suas significaccedilotildees no estudo socioterminoloacutegico

No percurso desse trabalho buscamos natildeo apenas a interpretaccedilatildeo ou anaacutelise dos

termos catalogados mas tambeacutem observar a construccedilatildeo dos saberes dos moradores como um

aspecto marcante na identidade da comunidade quilombola Essa nova visatildeo sobre os termos

nos trouxe um perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural mostrando as influecircncias da cultura negra na

linguagem de uso particular sobre as plantas medicinais

Eacute por meio da Liacutengua que os moradores quilombolas de Pimenteiras refletem as

caracteriacutesticas da identidade cultural entre a planta e as caracteriacutesticas que especializam cada

espeacutecie mas eacute na variaccedilatildeo da liacutengua que os termos se relacionam com as aacutereas de

conhecimento que os moradores possuem sobre as plantas medicinais O movimento

constante da linguagem atribui o princiacutepio fundamental da liacutengua que eacute a comunicaccedilatildeo

presente no contexto dos saberes de um povo e manifestado na preservaccedilatildeo da linguagem

atraveacutes da valorizaccedilatildeo por seus falantes

Nesse sentido quando associamos o saber especializado ao contexto de campo das

ciecircncias e das teacutecnicas temos no termo uma feiccedilatildeo terminoloacutegica na qual ele assume uma

dimensatildeo linguiacutestica e cognitiva no comportamento lexical especializado e na manifestaccedilatildeo

129

desse conhecimento Notamos assim que o termo eacute parte do componente linguiacutestico de tal

modo como eacute uma unidade terminoloacutegica e um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber

Portanto ao referirmos as plantas de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras

percebemos que o domiacutenio estudado pertence ao campo da medicina caseira como consta na

Norma da ISO 1087 explicando que o domiacutenio eacute definido por um ponto de vista particular no

qual os limites satildeo definidos pelo saber particular da moradora Domingas

Ao verificarmos a definiccedilatildeo descritiva dos termos a senhora Domingas expocircs de

acordo com seus saberes uma relaccedilatildeo associativa entre a planta com o objeto nomeado Nas

explicaccedilotildees de Faulstich (1995 p 36) o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e

coletiva num processo de interaccedilatildeo entre o sujeito a realidade as pessoas e o ambiente

sociocultural revelando que a Socioterminologia eacute desenvolvida no cunho funcionalista de

natureza social Nos casos em que ocorrem caracterizaccedilotildees de conceitos e definiccedilotildees para um

mesmo termo Faulstich lembra que ocorre a variaccedilatildeo terminoloacutegica em que um novo termo

um novo conceito traz uma nova definiccedilatildeo

Com respeito agrave relaccedilatildeo associativa na forma ou na funccedilatildeo das plantas medicinais

esta faz parte da natureza e concepccedilatildeo dos termos estudados Notamos que a estrutura

morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica do termo apresentado tambeacutem como unidade

terminoloacutegica foi explanada por alguns autores tais como Araujo (2006) que verificou os

termos em sua estrutura leacutexico-semacircntica com uma constituiccedilatildeo simples contendo a presenccedila

de apenas um radical e uma composiccedilatildeo composta e complexa quando apresentam dois ou

mais radicais Andrade (1998) por sua vez explica que na estrutura do termo composto temos

a presenccedila do hiacutefen diferenciando-se do termo complexo que natildeo possui o hiacutefen Poreacutem

haveraacute processos de composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras

Com base nos estudos dos autores citados vemos que os termos catalogados sobre as plantas

de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras possuem na sua estrutura formaccedilatildeo simples

com apenas um radical formaccedilatildeo complexa com a presenccedila de mais de um radical e

composta nos quais ocorre o processo de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo

Nossa anaacutelise foi constituiacuteda por doze (12) termos de plantas de uso medicinal

catalogadas pelos moradores quilombolas de Pimenteiras de um total de quarenta e dois (42)

termos As apreciaccedilotildees desses dados da pesquisa passaram por diferentes estudos sobre o

termo levamos em consideraccedilatildeo natildeo apenas as caracteriacutesticas gramaticais que o compotildee

mas principalmente analisamos as definiccedilotildees descritivas da senhora Domingas utilizando

para isso o modelo de ficha terminoloacutegica de Faulstich para melhor visualizaccedilatildeo dos

elementos constitutivos do termo

130

Eacute nessa compreensatildeo sobre o que motiva ou associa a nomeaccedilatildeo dos termos que

vemos a reflexatildeo sobre o conhecimento que os moradores possuem da proacutepria linguagem

suas relaccedilotildees com a natureza as influecircncias e transferecircncia de saberes entre as geraccedilotildees e as

caracteriacutesticas marcantes que tornam a comunidade de Pimenteiras uacutenica em sua identidade

como lugar das plantas medicinais

Perante tudo que foi explanado sobre a pesquisa efetuada na comunidade de

Pimenteiras acreditamos ter dado um grande passo neste estudo fascinante e envolvente sobre

a histoacuteria cultura e saber de um povo um povo que desperta nosso desejo de conhecimento

de buscar outros caminhos nos estudos Socioterminoloacutegicos e em muitos outros estudos

cientiacuteficos que reconheccedilam e valorizem os saberes e cultura da comunidade de Pimenteiras

Os termos analisados neste trabalho dissertativo nos trazem resultados interessantes

quanto agraves influecircncias da cultura negra que por longos periacuteodos da histoacuteria sofreu e ainda

sofre retaliaccedilotildees e preconceito por contra da escravidatildeo pois ainda hoje um preconceito

mascarado sobrevive Brookshau (1983 p 12) expotildee que ldquoo negro mesmo antes de ser

escravizado tinha um defeito que para muitos serviu de justificativa para sua escravidatildeo e esse

defeito era sua corrdquo A cor negra na cultura ocidental sempre teve uma conotaccedilatildeo negativa em

oposiccedilatildeo ao branco que eacute definido com o sentido de limpo e puro A presenccedila dos africanos em

nosso paiacutes contribuiu natildeo soacute na nossa cultura mas tambeacutem na formaccedilatildeo do tipo fiacutesico

brasileiro Somos um povo diversificado na cultura na danccedila no biotipo fiacutesico no sincretismo

religioso nas comidas tiacutepicas na influecircncia indumentaacuteria no gecircnero forte da mulher no uso das

plantas e consequentemente na liacutengua

Tanta influecircncia sucedida do negro contribuiu muito para a formaccedilatildeo da nossa

nacionalidade Segundo o antropoacutelogo Arthur Ramos (1942) eacute inocente e sem base cientiacutefica

querer caracterizar a questatildeo racial no Brasil pois todos noacutes somos formados de contatos

humanos que se processaram no paiacutes que natildeo se limitaram apenas aos grupos de negros

brancos e iacutendios somos derivados deles Nossa liacutengua em especial eacute o reflexo de noacutes mesmos

por manifestarmos e expressarmos nossa proacutepria existecircncia Assim ainda que carregados de

dificuldades e escravidatildeo o negro trouxe-nos a forccedila e riqueza de sua cultura que hoje

podemos dizer eacute um dos pilares da nossa identidade nacional

Diante de tantas riquezas sobre as influecircncias do negro da comunidade de Pimenteiras

esperamos que o estudo em questatildeo seja uacutetil agravequeles que se interessem pelo assunto e queiram

conhecer melhor o universo que envolve essa cultura popular e socioterminoloacutegica das plantas

medicinais da comunidade pois natildeo poderiacuteamos deixar ocultada a sabedoria popular sobre as

plantas medicinais precisaacutevamos conhececirc-la observaacute-la analisaacute-la prestigiaacute-la e repassaacute-la

131

para aqueles que buscam natildeo apenas saber mas sobretudo valorizar a sabedoria tradicional

preservada na linguagem como identidade dos moradores quilombolas de Pimenteiras

132

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143

APEcircNDICE A ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Domingas Alves do

Nascimento

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA

CAMPUS DE BRAGANCcedilA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA

FICHA DE ENTREVISTA COM OS MORADORES REMANESCENTES DE

QUILOMBOLA NA COMUNIDADE DA PIMENTEIRA - PA

A) Entrevistado

1Nome

2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino

3 Endereccedilo

4 Idade(anos)

5 Quantas pessoas habitam a casa

6 Naturalidade

7 Ocupaccedilatildeo principal

8 A Principal fonte de renda

9 Escolaridade

10 Vive na comunidade a quanto tempo

11 Seus pais avoacutes jaacute moraram ou moram na comunidade

12 De onde vieram (Cidade - UF)

13 Tipo de habitaccedilatildeo

14 Haacute quanto tempo mora aqui

15 Como era aqui quando a famiacutelia ou vocecirc chegou

16 Qual a sua origem De onde veio

B) Termo Quilombola

1 Como descobriu que tens descendecircncia de Quilombola

2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc

3 Qual o significado de ser Quilombola para sua comunidade

4 Qual sentimento tem pela palavra Quilombola

5 Houve algum tipo de dIscriminaccedilatildeo sobre a descendecircncia Quilombola

6 Reconhecem os direitos que possuem sobre ser Quilombola

7 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre essa Associaccedilatildeo

8 O que acha da comunidade da Pimenteira

9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc

C) Ervas e Plantas Medicinais

1 Faz uso de Plantas Medicinais ( ) Sim ( ) Natildeo

2 Quem passou o conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo de plantas

3 Quando tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda a quem vocecirc recorre

4 Como obteacutem as plantas que utiliza

5 Quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia

6 Quais partes satildeo utilizadas

7 Qual a melhor forma de preparo para cada planta

144

8 Como se usa

D) Dados sobre o manejo do quintal

1 Quais espeacutecies de plantas e ervas cultiva em casa e por quecirc

2 Como denomina o espaccedilo proacuteximo agrave sua casa

3 Quem cuida desse espaccedilo

4 Quais plantas vocecirc tem em seu quintal

5 Vocecirc consome as plantas que cultiva

6 Vocecirc realiza alguma atividade de compra e venda dessas plantas

7 Vocecirc compartilha essas plantas com algueacutem

8 Se vocecirc natildeo as tem onde vocecirc vai procurar

9 O que estaacute faltando em seu quintal

10 O que o quintal representa para vocecirc e para sua famiacutelia

E) Dados sobre o conhecimento e a transmissatildeo do mesmo

1 As plantas que vocecirc tecircm em seu quintal servem para quecirc

( ) alimento ( ) remeacutedio ( ) ritual ndash religioso ( ) decorativo ( ) brincadeira ( ) outros

2 Com quem vocecirc tomou ldquogostordquo por plantas Onde aprendeu o que sabe

3 E vocecirc ensina isso para algueacutem

4 Quais plantas satildeo mais usadas

5 Para que utiliza estas plantas

6 Faz uso de medicamentos das farmaacutecias Sim( ) Natildeo( ) Agraves vezes( ) Nunca( )

7 Quais E por quecirc

8 Possui alguma doenccedila Sim ( ) Natildeo ( )

9 Qual (is)

10 Jaacute ocorreu algum caso de doenccedilas curadas pelo uso das ervas e plantas

11 Vocecirc acredita no poder das ervas e plantas ou nos remeacutedios de farmaacutecia Por quecirc

12 O que eacute a Garrafada

13 Para que serve a Garrafada Quais as propriedades de cura que proporciona

14 Como eacute o preparo da Garrafada E que ervas possuem dentro

15 Com quem aprendeu a fazer a Garrafada e outros remeacutedios caseiros

145

APEcircNDICE B ndash Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Domingas Alves do Nascimento

entrevista do dia 19 de outubro de 2014

L1 data de nascimento

L2 dia vinte e oito (de outubro)

L1 ( )

L2 dia vinte e oito

L1 JAacute aqui a gente pode dizer qual eacute o endereccedilo

L2 pode

L1 ((muitos ruiacutedos de vento)) entatildeo hoje a senhora tem quantos anos

L2 (cinquenta e um) natildeo cinquenta e cinquenta neh

L1 hoje a senhora tem cinquenta

L2 cinquenta

L1 quantas pessoas moram na sua casa

L2 somos seis

L1 seis a senhora eacute paraense qual eacute sua naturalidade

L2 paraense

L1 paraense mesmo qual eacute a sua principal ocupaccedilatildeo (no) trabalho

L2 agricultura

L1 qual a principal fonte de renda com que a senhora ganha dinheiro

L2 ahh (assim) com a minha atividade eacute (arrancar) malva ( ) com a malva ou do accedilaiacute

eacute uma ( ) muito (dessa aiacute) e meus trabalhos de ( ) pra mim mesmo o que eu estou fazendo eacute

esse neh

L1 hum rum

L2 ( ) bastante eacute muito encomendado

L1 e remeacutedio caseiro

L2 remeacutedio caseiro

L1 a senhora tem que escolaridade ateacute que seacuterie a senhora estudou

L2 soacute a primeira

L1 primeira seacuterie

L2 que no meu tempo era muito difiacutecil neh a gente morava aqui aiacute eu daqui com uma

leacutegua quando quando eu comeccedilei a estudar eu tava com QUINZE anos eu com

dezessseis (eu me ajuntei)

L1 hum rum

L2 aiacute pronto meu marido lutou lutou mas eu pra mim foi muita dificuldade eu jaacute sou

dona de famiacutelia ia deixar a minha casa pra mim andar essa distacircncia todinha aiacute eu natildeo quis

ele pelejou pelejou meu sogro natildeo natildeo se eu (tivesse) na casa do papai tudo bem aiacute tava

ruim ele trabalhava me e eu sai eu tinha que sair seis horas da manhatilde que eacute daqui laacute na beira

do rio eacute uma leacutegua de aiacute natildeo tinha como eu preparar o almoccedilo neh chegava de tarde

cansada e aiacute eu natildeo estudei mais ( ) e era muito difiacutecil muito difiacutecil meus irmatildeos

nehnhum soacute tem eu neh meus irmatildeos soacute tem um que tem a quarta seacuterie um ou eacute dois

(por causa da dificuldade)

L1 a senhora vive na comunidade haacute quanto tempo

L2 e eu nasci e me criei aqui assim EU NASCI aqui eu natildeo nascci aqui mas foi aqui

perto neh depois que taacute com

[

L1 entatildeo desde receacutem nascida a senhora mora aqui

L2 hum rum

L1 taacute (palavras dirigidas a terceiros) eacute os pais da senhora (voz de terceiro) ou os

avoacutes eles jaacute moraram ou moram na comunidade eu quer quero que a senhora conte a

trajetoacuteria deles eles jaacute moraram aqui como eacute como foi

146

L2 natildeo assim eacute eles jaacute moraram essa minha matildee eacute falecida soacute meu pai dessas dessa

dessas turmadas soacute meu pai que ainda ainda eacute vivo neh eles assim eles moram ( )

quando eles na juventude deles eles moravam na outra comunidade

L1 (narcisa)

L2 narcisa sim aiacute de laacute eles casaram meus primeiros irmatildeos nasceram laacute e eu jaacute foi

L1 hum rum

L2 ateacute o quarto irmatildeo nasceu laacute ainda do outro lado do rio guamaacute ( ) do outro lado aiacute

quando eu vim de assim laacute a ge era muita gente aiacute eles botavam o (roccedilado) natildeo tinha mais

como o produto neh e naquele tempo natildeo tinha esse negoacutecio de adubo natildeo existia aiacute

por aqui era mato que eles caccedilavam aiacute meu avocirc disque queria vir botar um roccedilado pra caacute aiacute

parece que os vizinhos jaacute ficavam dizendo laacute que a mata tava pouca a capoeira jaacute natildeo dava

muita produccedilatildeo aiacute eles andavam na mata disse que vinham botar um roccedilado pra caacute mas

como era assim a mata natildeo tinha ele foi laacute em oureacutem pegou um papel fez um

requerimento pegou um papel aiacute laacute com a assinatura laacute nesse tempo tinha feito natildeo sei de

quem eacute laacute mais laacute aiacute foi falou para o genro dele era trecircs genro que ele tinha ele soacute

tinha um filho e trecircs filhas nem vi as filhas todas casaram (netinho) jaacute tava pro

prosperando familiacutea aiacute ele chegou laacute e disse bem se vocecircs quiserem botar um roccedilado pra

mata para o (centro) ( ) agora a gente vai porque a gente taacute com a autorizaccedilatildeo na matildeo aiacute

eles vieram botar o primeiro roccedilado aiacute acharam MUIto longe taacute indo e vindo indo e vindo

todo dia neh aiacute eles fizeram um barracatildeo pra eles todos fizeram um barraco aiacute jaacute

traziam a famiacutelia pra ficar mais PERto pra fazer o almoccedilo pra ajudar ((tosse)) pra ajudar

porque a gente trabalha tambeacutem no roccedilado neh aiacute veio vinha primeiro a vovoacute sempre

ficava laacute neh que era a mais velha ficava laacute com os outros netos e vinha as filhas com uns

uns ajudar os maridos aiacute nisso aiacute foram se acostumando se acostumando e a a produccedilatildeo

foi aumentando assim a renda eles gostaram muito do do (canto) aiacute pronto j5aacute foram fazendo

casa pra morar aiacute foi que eles vieram veio veio quatro famiacutelia meu avocirc com os trecircs

filhos que vieram ( ) fizeram o barracatildeo dele laacute a casa laacute depois jaacute foram aumentando

fazendo a sepaccedilatildeo da casa que aquele tempo era no barro neh fazia primeiro era a casa de

palha que eacute eacute esse matinho aiacute oacute tubim pois eacute esse taacute cobriu a casa com esse daiacute mas

eacute uma excelente cobertura que eacute frio que soacute aiacute faziam a tapaccedilatildeo repartida de barro neh

aiacute cada quase jaacute moravam no seu no na na sua propriedade localidade ( ) barracatildeo na

sua casa aiacute daiacute que foram foram chegando os netos foram crescendo foram procurando

familiacutea e foram casando fazendo casa perto que eu tenho dois um primeiro meu

irmatildeo casou fez a casa lacuteperto do papai depois o segundo casou fez perto tambeacutem e a

minha irmatilde que eacute comadre ( ) que eacute a mais velha casou o marido dela tambeacutem natildeo levou

ela para o lugar dele ELE foi pra caacute neh aiacute a famiacutelia foi aumentando a minha matildee taacute

com dez anos jaacute falecida

L1 de onde eles vieram assim a origem dos dos seu pais

L2 a minha matildee ela veio de origem do negro dos escravos neh

L1 natildeo eu digo assim o estado eles satildeo paraenses

L2 eles satildeo paraenses

[

L1 todos eles

L2 todos eles satildeo paraenses

L1 natildeo tem nenhum

[

L2 natildeo natildeo de mistura natildeo que eu saiba natildeo se se tem mas natildeo chegou no

meu conhecimento que a a mamatildee ela contava muita histoacuteria assim a minha voacute muita

histoacuteria assim de quando eles eram crianccedila de quando eles eram ado adolescente jovem

mas eles nunca disseram que era que era de outra assim sempre ( )

L1 e na qual era o tipo de habi de de habitaccedilatildeo que eles tinham que a senhora

147

falou qual era como era a casa

L2 deles

L1 hum rum

L2 era sempre assim dessa palha a cobertura e ao redor era empalhada tambeacutem soacute

que eu natildeo cheguei a conhecer assim empalhada natildeo do barro eu ainda me lembro muito

bem a cobertura tambeacutem agora empalhado da mesma mesma coisa neh que eles

faziam assim mas eu natildeo me lembro natildeo mas a minha matildee contava que era assim

L1 a cobertura era empalhada

L2 a ccobertura era da (albim) e ao redor tambeacutem pra fazer a separaccedilatildeo neh

L1 era albim

L2 da albim tambeacutem era cercado com albim assim feita a separaccedilatildeo sim pelo menos o

quarto da onde dormiam neh

L1 hum rum mas em volta natildeo era barro era assim empalhado neh

[

L2 hum rum era empalhado

era

L1 entatildeo haacute quanto tempo ele eles o seu pai ainda eacute vivo

L2 eacute papai eacute

L1 haacute quanto tempo moram aqui

L2 eu tocirc com aqui neste lugar ou assim

L1 aqui na pimenteira

L2 na pimenteira taacute com umas umas faixa de uns quarenta anos

L1 quarenta

L2 assim quando veio da narcisa logo quando veio da narcisa

L1 sim

L2 ah taacute com seus cinquenta porque mais de cinquenta quase seus sessenta porque eu tocirc

com cinquenta e um e eu jaacute jaacute sou da da aquarta filha que nasceu aqui jaacute soacute que natildeo

era pra esse mesmo lugar neh era aqui o cajueiro mas eacute mesmo ( ) a gente se mudou

quando eles vieram de laacute ( ) laacute papai natildeo gostou muito de laacute porque esse tempo ele criava

umas vacas que era amarrada assim na corda e laacute eacute muita (acidentado) daacute mais de que

aqui neh aiacute tinha um um homem que morava bem ali assim aiacute era muito colega do

papai e aiacute aqui esse tempo um tempo veio uma tinha uma casa que que davam aula era

bem aiacute chamavam o carro da prefeitura aiacute a mulher foi embora a professora foi embora aiacute

ficou desocupada aiacute esse homem cedeu para o papai seu Raimundo laacute na pimenteira ali

adonde perto de onde eu moro uma pertenccedila ao ao terreno de vocecircs por quecirc que natildeo vai

embora pra laacute aiacute foi que noacutes viemos de laacute do cajueiro mas fica aqui proacuteximo neh aiacute

fizemos a abertura aiacute daiacute

[

L1 entatildeo vocecircs satildeo os primeiros moradores aqui

L2 somos meu pai eacute primeiro morador

[

L1 como eles ele conta como era aqui quando a famiacutelia

veio quando vocecircs chegaram aqui como era como era essa aqui essa aacuterea toda

L2 aqui aqui mesmo eu me lembro jaacute quando eu cheguei aqui quando noacutes viemos do cajueiro

pra caacute eu me lembro eu jaacute me alembro eu acho que eu estava com uns sei cinco a seis anos

mas eu jaacute me alembro aqui era todo tudo capoeira que a mata era logo bem aqui

proacuteximo nossos primeiros roccedilados foi muito proacuteximo de qualquer uma crianccedila ia laacute no

roccedilado tirar o milho tirar buscar uma melancia qualquer um que queira era muito perto

a mata era proacutexima isso era capoeira isso aqui tinha soacute um uns caminhinho que os

meninos iam aacutes vezes para o roccedilado um uma coisa era tudo era sombra natildeo tinha

natildeo era natildeo tinha essa abertura aiacute esse garapeacute era a coisa mais linda do mundo era esse

148

garapeacute que a gente toma banho porque era capoeira neh era capoeira era era sombra

aiacute aiacute a gente ia tomava banho quando noacutes era crianccedila noacutes tomava aiacute quando tava um

tempatildeo de chuva assim noacutes jaacute ficava alegre porque sabia que ele ia crescer e noacutes gostava

muito de tomar banho na aacutegua grande e aiacute qundo passava a chuva noacutes pedia pra o papai e pra

mamatildee e noacutes ia tomava muito banho agora natildeo agora natildeo presta pra tomar banho

nenhum porque ( ) daiacute da da daqui da boca dele ateacute quase na cabeceira desse jeito aiacute natildeo

presta mais pra tomar banho

L1 a a sua origem mesmo eacute paraense a senhora veio de laacute a senhora veio da narcisa

aliaacutes a senhora nasceu na narcisa

L2 natildeo natildeo eu jaacute nasci ali no

[

L1 no cajueiro

L2 hum rum

L1 certo veio da narcisa moro morou um tempo no cajueiro e agora

[ [

L2 ( ) no cajueiro e ( ) ( ) porque assim

( ) bem pertinho daqui natildeo daacute dois quilocircmetros daqui laacute

L1 taacute agora vamos eacute ter quando foi que a senhora descobriu que tem uma a

descendecircncia de quilombola

L2 porque a minha voacute di dizia neh a minha voacute contava pra noacutes que ele ela eacute ela vinha

dessa descendecircncia que os avocircs delas AVOcirc da minha avoacute era os escravos

L1 como ela soube como ela como ela sabia disso

L2 porque ( ) contavam pra ela neh a matildee dela contava pra ela aiacute ela a matildee dela jaacute

passava pra ela e ela jaacute passava pra noacutes porque euu ainda me alembro muito da minha voacute ela

mamatildee contava ( ) MAIS era ela que contava que ela dizia que ela os avoacutes dela contavam

que (eram) dqquele tempo de de ficar amarrado de ser accediloitado neh aiacute ela ia

repassando pra noacutes

L1 os avoacutes dela passaram por isso viveram esse periacuteodo

L2 natildeo os avoacutes dela eacute que contavam que os outros ates dele neh

[

L1 antes os antes dele que ( )

L2 an ram eacute isso

L1 entatildeo eacute satildeo os seus tataravoacutes (digamos assim)

L2 isso acho que ism

L1 que viveram essa eacutepoca da escravidatildeo

L2 hum rum

L1 mas essa eacutepoca da escravidatildeo aqui nessa regiatildeo natildeo

L2 natildeo natildeo era aqui

L1 onde

L2 isso aiacute eu natildeo sei dizer adonde era natildeo natildeo me alembro se ela disse mas eu natildeo sei (

) se era na narcisa se era noutro (canto) natildeo sei natildeo ( ) sei que eles eram dessa dessa

dessa descendecircncia mas eu natildeo sei dizer da onde eacute

L1 dona Domingas o que eacute ser quilombola qual o significado dessa palavra pra

senhora

L2 e eu essa eu natildeo entendo muito bem muito bem eu natildeo entendo por isso que eu queria

que o ( ) tivesse aqui que ele entende mais melhor do que eu ele jaacute fez ( ) estudo ele ( ) mais

do que eu neh que ele passou ele passou seis anos assim presidente da associaccedilatildeo parte

que ele tem mais conhecimento mas natildeo ( ) ele taacute pra rua mas ser quilombola acho que eacute

ser vem dessa descendecircncia e assim das (coisas) tradicional as coisas da natureza

aprender e viver com a natureza eu acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre

assim vendo os iacutendios porque os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu

149

acho que ser quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima

da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as coisas

pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende as coisas com a

natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque aquele tempo dos dos dos

negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de leitura (nada nada) MAS com a natureza

eles aprendiam alguma coisa

L1 qual eacute o significado de ser quilombola pra comunidade o que a comunidade

pensa a senhora sabe dizer

L2 natildeo tambeacutem natildeo natildeo sei dizer natildeo ( ) eu eu soacute sei dizer que eacute eacute eacute eacute eacute uma um

tipo que eles quase juntocom o iacutendio com os iacutendios eles descobriram o Brasil neh

porque quem descobriu o Brasil mesmo foi os iacutendios neh e jaacute como aquele pessoal

naquele tempo ele jaacute viviam tambeacutem acho que eles ajudaram os iacutendios descobrir o Brasil

tambeacutem acho que ( ) soacute um soacute sei dizer que os negros ele ele eacute (federal) neh

L1 humrum

L2 ele eacute (federal) ele ele tem todo direito com certeza ele tem o direito (estremo) soacute

que soacute aqui ateacute hoje a gente natildeo tem ( ) ainda o conhecimento de tanto direito que a gente

tem tem muitas coisas ainda escondido por debaixo do tapete que ainda natildeo chega no

conhecimento de muita gente que aacutes vezes ele eacute quilombola ele eacute NEGRO mas ele ainda natildeo

tem conhecimento dele ser negro ele ainda fica dizendo que ele natildeo eacute negro porque pra

tem gente assim que pensa que dizer negro eacute aqueles escravos daquele outro tempo ah

negro jaacute tempo de negro jaacute passou era aquele tempo aiacute natildeo aqui mesmo na minha

comunidade tem gente assim porque ele eacute negro eacute da mesma famiacutelia eacute da mesma mas ele

ainda natildeo pensa dizer que ele eacute negro porque ainda ainda taacute na mente dele que o negro eacute

daquele outro tempo

[

L1 eacute aquele negro escravo

L2 aquele negro escravo aquele negro pobre daqui que natildeo tem nada como ainda tem na

mente deles mas natildeo eacute o negro eacute eacute ele foi muito reconhecido neh e tem muito eacute soacute

que eu eu disse pra o (Isaldo) (Isaldo) tu tem muito mais conhecimento no dia que a Edilene

vir eu precisava que tu tivesse laacute porque eu sei que ele tem MAIS esse conhecimento (tem)

que agora no dia vinte de novembro a gente vai fazer uma atividade aqui neh (ontem eu

fui) dizer pra Nazareacute Nazareacute eu queria que cecirc fosse pra cecirc daacute uma palestra laacute na (tal)

comunidade saber muita gente saber que (eacute negro) e eu quero aprender tambeacutem mais e tem

muita gente que natildeo sabe nem um pouquinho o tanto que eu sei ( ) a gente vai fazer no dia

vinte de novembro eacute a nossa ( ) eacute soacute neh (a santa jaacute veio) aqui em casa aiacute a gente

pensou ia ser era pra ser amanhatilde dia vinte de novem de outubro aiacute eu fiquei pensaando e

disse Isaldo PORQUE porque o Isaldo era presidente era meu irmatildeo mas eu eu me

comunico muito com ele tudo que eu quero fazer eu pergunto pra ele Isaldo porque noacutes

num num faz no dia no dia vinte de novembro que eacute o dia da consciecircncia negra neh

aiacute ele disse natildeo sei natildeo vai ( ) no dia de semana eu digo ( ) meio de semana mas eacute eacute

feriado pra noacutes eacute feriado e po quecirc que a gente natildeo faz aiacute ele disse seraacute que vai daacute algueacutem

digo a gente convida outra comunidade quilombola neh que venham participar junto

com noacutes aiacute fizemos uma reuniatildeo por isso que eu digo que de vez em quando noacutes estamos

reunindo eacute eacute por causa disso neh aiacute fizemos uma reuniatildeo aiacute joguei a proposta aacuteiacute todo

mundo aceitou mas soacute meu marido que natildeo porque ele quer ( ) como eacute que uma pessoa vem

que eacute meio de semana digo vem sim ( ) se falado com o tempo ageitam um carro neh a

gente taacute chamando querendo chamar os ( ) (olha) que eu jaacute passei com o Dinho que eacute

secretaacuterio de cultura neh ele jaacute veio aqui logo quando ele ele ( ) scretaacuterio ele veio aqui

aiacute ele procurou qual era a atividade qual era qual era as (futuras) ( ) dizendo pra ele aiacute

ele disse que quando fosse dessa soacute anda ele queria pra mim participar com bem tempo

antes antes ele queria ele ia (ajudar) da maneira que ele pudesse mas isso aiacute tem

150

fevereiro parece marccedilo (aiacute quando foi) essa semana eu passei com ele ele disse que jaacute

correu atraacutes de umas ( ) pra ajudar neh aiacute tem aquele outro Anderson tambeacutem ele ele

sempre ele liga pra caacute diz que ele quer ajudar tambeacutem ele quer vir aqui ( ) PRA

AJUDAR E A GENTE TAacute VENDO ASSIM REUNINDO PRA VEcirc COMO Eacute QUE

NOacuteS VAMOS FAZER sobre alimentaccedilatildeo porque quando foi ontem noacutes tava nessa

reuniatildeo nessa reuniatildeo vem vaacuteria vem gente de vaacuterias comunidades quilombola porque

vem tipitimga vem (presidente de laacute) vem jacareacutequara ( ) vem da mariana que eacute noutro

municiacutepio mas vem tambeacutem neh ele faz parte da rede bragantina E AIacute EU QUANDO eu

lancei a proposta laacute na reuniatildeo todo mundo (quer vir) pra caacutetipitinga quer vir

jacarequara quer vir ( ) quer vir agora eu jaacute tocirc imaginando eacute alimentaccedilatildeo como eacute que noacutes

vamos fazer pra alimentaccedilatildeo desse povo de querer vir eu quero aiacute jaacute fica pensando neh aiacute

a mulher ( ) dona Maria disse que vir tambeacutem aiacute amanhatilde natildeo ( ) pode ter muita gente

eles disseram que natildeo ia daacute nigueacutem noacutes temos muita gente que quer vir aiacute noacutes vamos pensar

como eacute que noacutes vamos fazer ( ) que eacute o dia da consciecircncia negra tem muita gente aqui que

natildeo sabe ( ) assim neh ( )

[

L1 a senhora me

convida taacute

L2 jaacute taacute convidada ( ) (risos) jaacute taacute convidada a gente tem uns convites ali neh que a gente

preparou uns convites aiacute ficou pra mim sentar na comunidade vecirc como eacute que vai ser pra

gente entregar os convites mas (a senhora) natildeo esqueccedila jaacute anota aiacute (eu lhe aviso) dia vinte de

novembro

L1 vai ser o dia todo

L2 eacute o dia todo porque assim taacute na programaccedilatildeo primeiro porque a gente todo ano faz

a reza neh primeiro uma pequena procissatildeo pega a santinha numa casa se organiza aiacute

vai quando chega na igreja reza tem ano que noacutes reza aqui tem ano que ( ) o pessoal

gostam porque eacute mais ventilosa neh aiacute eles vem aqui aiacute reza daiacute serve o almoccedilo daiacute se

tiver um leilatildeozinho leilatildeo um bingo aiacute a tarde eacute partida de futebol como os meninos tem

essa ajuda aiacute capoeira eles vatildeo paresentar capoeira a Andresa ela disse hoje ah matildee eu vou

ajeitar as meninas pra noacutes apresentar um uma danccedila laacute uma danccedila de (carimboacute) aiacute a gente

taacute vendo assim ( ) ser um dia festivo um dia de todas as atividades se querer outros

gruupos doutra comunidade se tiver um grupo que queira apresentar alguma coisa vai ter

tambeacutem espaccedilo

L1 vou daacute uma ideias depois qual sentimento assim SENTIMENTO sentimento o quecirc

que a senhora sente quando pela palavra por essa por essa palavra que que que fala

quilombola

L2 assim o meu sentimento

L1 hum rum

L2 eu gostar eu gosto ( ) me se se sinto muito bem

L1 se sente

[

L2 ( ) bem com certeza

L1 taacute essa pergunta tambeacutem eacute um pouco jaacute houve algum tipo de des discriminaccedilatildeo

L2 jaacute

L1 sobre a sua descendecircncia sobre a palavra quilombola

[

L2 jaacute

L1 o que foi

L2 eacute agora que natildeo agora jaacute recente que natildeo neh mas antes quando a gente (informava)

( ) a a associaccedilatildeo aqui quilombola quando descubriram porque isso aiacute veio veio assim

descubrir que era que era quilombola porque na narcisa laacute e eacute a a matriz neh como

151

a minha matildee veio pra caacute aiacute laacute formaram a associaccedilatildeo aiacute o meu meu primo ficou dizendo

olha tem mais gente porque assim quilombola eacute assim adonde cecirc tem parente porque

noacutes tem irmatilde no guajaraacute cigano aqui pro pra paragominas (natildeo) ipixuna neh mas a

hora que eles chegar aqui o lugar deles tatildeo aqui aiacute esse subrinho da mamatildee ficou dizendo

olha eu tenho uma tia que ela mora aqui que era aqui na pimenteira ela mora daqui natildeo sei

quantos quilocircmetros se um dia ela vir pra caacute tem lugar dela aqui disse tem com certeza o

lugar dela taacute aqui ela natildeo nasceu aqui aiacute tudo bem quando foi um dia ele veio passear

aqui aiacute ele foi disse pra mamatildee que se ( ) contou laacute a situaccedilatildeo neh aiacute eu disse que tem que

que cecirc tem que cecircs tatildeo pra caacute mas (vocecircs fazem parte laacute da narcisa) o dia que cecirc quirer ir

laacute ai a mamatildee disse natildeo pra laacute eu natildeo vou laacute se um dia elas quererem vir aqui esse pessoal

quererem vir aqui pra gente conversar ( ) conversar a gente conversa aiacute num belo dia de

domingo chegou trecircs umas quatro pessoas ( ) aiacute chamaram a mamatildee e ele perguntaram se

a mamatildee queria ir pra narcisa a mamatildee disse que natildeo aiacute se (mas) a mamatildee fazia parte do

quilomBOLA da da da associaccedilatildeo laacute da narcisica AIacute soacute que (naquele) tempo tinha

celebraccedilatildeo aiacute o (coacutedigo) que ficava com ( ) neh ficava muito na frente assim aiacute ela disse

que aqui natildeo formava porque quilombola eacute uma pessoa eacute negro que sabe contar o que vem

das tradiccedilatildeo de primeiro e esses que tavam na frente assim era era gente branca e sabia

que eles natildeo sabiam natildeo tinham nada com a ver com quilombola ( ) neh aiacute ( ) daqui aiacute o

(chaga) disse eles natildeo disseram aqui pra noacutes disseram laacute pra o chaga ah chaga laacute parece que

vai ser difiacutecil formar uma associaccedilatildeo de quilombola porque laacute quem taacute na frente mais satildeo

os brancos e laacute natildeo tem nada a ver com com negro a gente faz pergunta eles natildeo sabem

nada ( ) mas aiacute no decorrer do tempo a gente foi foi pegando conhecimento (eles vieram

aqui) mas naquele tempo a gente era muito criticado naquele tempo ( ) muito criticado bem

dizer assim ah bora entrar na associaccedilatildeo ( ) ah ( ) entrar na associaccedilatildeo pra ser negro eu

natildeo quero ser negro vocecircs querem ser diziam neh ( ) aacutes vezes assim (minhas

cunhadas) querem ser negro eu natildeo quero ser negro eu natildeo vou entrar na associaccedilatildeo

negoacutecio de ser negro negro neh escravo aiacute eles comeccedilavam assim fazer caccediloagem

diziam pra ser pra ser pobre mais de que era aacutes vezes eles diziam neh ser negro pra ser

pobre mais de que eacute noacutes jaacute somos pobres ainda ser mais pobre ( ) natildeo era assim natildeo aiacute desse

tempo agora agora recente natildeo a gente natildeo vecirc mais essas coisas mas logo no comeccedilo a

gente via dizia que negro era aquele um que andava sujo que andava com a unha suja que

andava com o cabelo sem pentear neh ((risos)) tinha gente que dizia aiacute eu jaacute ouvi muito

agora natildeo agora esses tempos natildeo ouvi mais acho que jaacute chegou no conhecimento neh

aquele que natildeo tinha nada pra comer ((risos))

L1 eacute com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas a senhora conhece reconhece que

vocecircs tem esse direito direitos

L2 eu conheccedilo um pouco

L1 quais

L2 assim a gente tem direito ((pigarreio)) assim numas pro porque assim eu natildeo

sei quase lecirc neh mas do pouquinho que eu sei a gente pega o estatuto aiacute um estatuto que

que foi tirado em on em Beleacutem foi feito um estatuto neh a gente tem vaacuterios direitos a

gente que AINDA NAtildeO CONHECE bem qual eacute os direitos que a gente tem e aiacute quando a

gente faz reuniatildeo sempre eu digo gente a gente tem que pegar aquele estatuto pra gente lecirc pra

gente discubrir qual eacute o tanto direito que a gente tem nos noacutes tem tanto direito mas noacutes veve

escondido laacute noacutes veve ainda natildeo taacute no conhecimento nosso pra saber o tanto direito que

a gente tem porque se a gente descobrir o tanto direito que a gente tem o direito que a gente

tem eacute um direito muito grande neh Eacute MUITO

[

L1 vocecircs tem o estatuto

L2 tem

L1 hum pra comunidade toda

152

L2 isso

L1 quem eacute que que ler esse estatuto fica na matildeo de quem

L2 aqui em casa taacute aqui mas sempre quando eu digo assim olha bora fazer uma reuniatildeo pra

lecirc o estatuto pra todo mundo mas sempre eacute naquela correria mai a gente vai lecirc custa muito

bora cuidar nas outra coisas no que tem fazer aiacute

L1 como vocecircs conseguiram esse estatuto

L2 noacutes noacutes fizemos assim neh da comunidade na comunidade escrevemos o que

era que noacutes queria dentro da comunidade qual era as leis que noacutes ia botar aiacute foram

escrevendo e levaram pra registrar

L1 ah eacute o estatuto

L2 da associaccedilatildeo

L1 da comunidade

L2 da comunidade sim da associaccedilatildeo

L1 ah da asso-ci-a-ccedilatildeo da pimenteira

[ [

L2 da associaccedilatildeo isso hum rum

L1 dos quilombolas da pimenteira

L2 isso

L1 hum natildeo eu digo assim o estatuto que eu falo eacute da da da de quem eacute

quilombola

L2 natildeo

L1 esse a senhora natildeo conhce

[

L2 natildeo natildeo esse daiacute natildeo

L1 hum agora sim existe alguma associaccedilatildeo na comunidade e eu queria que a senhora

falasse da associaccedilatildeocomo foi que veio essa ideia da da associaccedilatildeo como foi que surgiu

como foi que ces criaram por que criaram

L2 eacute eacute essa aiacute comeccedilou a gente a gente tinha jaacute era comunidade neh antes da

associaccedilatildeo era comunidade aiacute veio um um professor da universidade era ateacute cardoso o

nome dele aiacute ele aiacute comeccedilou (entrar) pequenos projetozinho assim pra caacute mas assim

feito jaacute assim pouquinho natildeo era que nem primeiro fez um projeto do duma casa de

farinha atraveacutes do da pastoral da crianccedila natildeo natildeo natildeo existia associaccedilatildeo foi um pequeno

projeto ( ) da pastoral da crianccedila aiacute depois um projeto de nesse tempo da casa de forno

veio um um caititu pra ralar mandioca e um motosserra aiacute depois um pequeno projeto

pro gado mas tudo da pastoral da crianccedila neh a gente faz aquele grupo de mulheres de

pessoas pra pra fazer um grupo e fazer as vaacuterias assinaturas pra ir pra laacute e o projeto vir

mas natildeo era associaccedilatildeo ningueacutem tinha nada de associaccedilatildeo estatuto nem ata nem nada ai

depois veio um zinho de do pimental um pequeno pimental neh umas estaquinhas

assim pra gente formar um (feijoalzinho) aiacute foi esse tempo foi que o professor cardoso

veio comeccedilar ( ) ele era teacutecnico neh pra daacute assistecircncia e aiacute ele comeccedilou a dizer olha porque

vocecircs num num formam uma associaccedilatildeo ( ) (vocecircs devem formar uma associaccedilatildeo) que se

vocecircs formarem uma associaccedilatildeo vocecircs tem vocecircs tem mais forccedila pra puxar as coisas mais

aiacute a gente comeccedilava a perguntar assim nesse tempo o ( ) ele ele era muito bem

introsado aqui com noacutes agora natildeo agora ele separou-se neh teve uma desavenccedila aiacute ele

nunca mais participou de nada aqui aiacute ele a gente comeccedilava a fazer pergunta pra ele

professor como eacute que faz a associaccedilatildeo eacute pra gente formar AIacute ELE comeccedilou a incentivar a

gente olha a gente faz a gente comeccedila a fazer umas pequenas reuniAtildeO na reuniatildeo a

gente depois que jaacute po jaacute tiver um bom conhecimento da reuniatildeo a gente vai escolher

o o presidente o secretaacuterio o tesoureiro aiacute vai daacute uma mensalidade que eacute pra gente

fazer a ATA QUE Eacute PRA REGISTRAR essa ata e a a associaccedilatildeo fica registrada e foi aiacute

que noacutes comeccedilamos neh sentava aiacute bora descutir como eacute que noacutes vai fazer pra noacutes ter

153

ter seguranccedila pra gente ficar mais junto aiacute fundemo a associaccedilatildeo foi aiacute isso aiacute que eu

tocirc dizendo que tem o estatuto desse tempo neh aiacute quem eacute o o presidente tal dia noacutes faz a

reuniatildeo pra escolher o presidente aiacute foi foi meu irmatildeo que foi a primeira vez e eu fiquei

como tesoureira e o ( ) era secretaacuterio e aiacute fomos formando a associaccedilatildeo quando a

gente jaacute tinha conhecimento (do que) era quilombola aiacute aiacute aa Nazareacute com Vicente jaacute tava

muito bem colocado conhecimento neh aiacute eles eles foram ajudando noacutes ateacute agora

ainda ainda somos muito mais que parceiro ( )

[

L1 ela

hoje tem c-n-pj

L2 a nossa comunidade

L1 natildeo a associaccedilatildeo

L2 tem

L1 taacute tudo ok

L2 taacute natildeo isso aiacute que eu digo que taacute atrasado neh ai taacute atrasado ateacute a gente pagava

ficou pagando vaacuterios anos quando foi nessa nessa mudanccedila porque assim na nossa

no nosso estatuto ela ( ) nenhum presidente podia passar quatro anos neh aiacute passou os

quatros anos fizemos a eleiccedilatildeo de NOVO foi ele DE NOVO ( ) assumiu de novo aiacute

depois venceu os quatro anos aiacute comecemos e pensar quem eacute que fica aiacute fica naquela

confusatildeo eu natildeo quero outro tambeacutem ah eu tambeacutem natildeo quero aiacute pronto vamos ( ) duas

vezes por ano duzentos reais pra noacutes pagar laacute anual neh aiacute nisso aiacute fomo esquecendo

fomo esquecendo de de de pagar os nossos deacutebitos aiacute quando EU fizemos a eleiccedilatildeo de

novo aiacute foi eu AIacute PRA noacutes reconhecer essa essa essa ATA da nossa nova diretoria

passou mais de ano essa multa jaacute tava laacute neh passou mais de ano soacute pra reconhecer quando

noacutes fomos reconhecer tivemos dinheiro PRA reconhecer a ata mas natildeo tivemos pra noacutes

pagar a nossa a nossa cnpj laacute na ( ) e nisso aiacute foi indo e aiacute agora eu jaacute corri com esses

documentos pra pra fazer saber pra pra a gente saber quanto eacute que noacutes deve

quanto eacute que a nossa pendecircncia o valor ainda natildeo foi descoberto tem vaacuterias coisas que

a gente eacute uma multazinha dum canto eacute uma multazinha do outro e a gente ainda natildeo

descobriu e hoje temos falta do recurso neh aiacute a gente jaacute ateacute sentou uma vez pra pensar

pra tirar uma madeira neh (vender) pra poder fazer os pagamanetos dessas dessa

dessa desse cnpj ( )

[

L1 haacute quanto tempo a a associaccedilatildeo esxiste desde

quan do dia que ela foi criada

[

L2 eacute eacute isso aiacute ela foi craida em em abril de dois mil e cinco parece que foi em

dois mil e cinco NAtildeO MAS ela foi registrada em dois mil e seis noacutes noacutes formemos dois mil

e conco neh aiacute passou aqueles tempos todo a gente se organizando daqui ela foi registrada

em dois mil e sete uma coisa a gente montar uma coisa a gente faz vaacuterias reuniatildeo neh

daacute certo pra tal dia daacute certo ( ) dia aiacute faz uma reuniatildeo aacutes vezes falta o presidente falta o

o o o secretaacuterio aiacute natildeo taacute bora deixar outro dia aiacute nisso o tempo vai passando mas ela

foi registrada em dois mil e ( )

L1 vocecircs jaacute conseguiram alguma coisa atraveacutes da associaccedilatildeo

L2 jaacute

L1 o que

L2 jaacute jaacute conseguimo um accedilude primeiro essa saber primeiro foi o accedilude neh foi

um projeto esse accedilude foi soacute que foi assim em parceria foi aqui e jacareacutequara porque o

tempo que formou aqui formou jacareacutequara aiacute a gente foi feito um projeto soacute para as duas

comunidades a a aqui aqui foi um accedilude laacute nem sei o que foi esse accedilude a gente ele ( )

fazer fez muito bem cada cada um um um mecircs um dia fica na responsabilidade de um

154

neh pra colocar os tratar dos peixes mas sempre fica aquilo sempre tem um soacutecio que

que natildeo nem liga pra ele tanto faz a gente trabalhar em comunidade negoacutecio de

associaccedilatildeo eacute eacute meio pesado eacute meio difiacutecil carece da gente ter muita paciecircncia aiacute vai com

a gente ia (despescar) o accedilude neh a gente juntava todo mundo iam pra laacute e era uma

danaccedilatildeo de menino sei que pegava os peixes a gente repartia noacutes ainda fomos umas trecircs

vezes ainda em santa luzia ( ) neh aiacute

L1 esse accedilude eacute aqui proacuteximo

L2 natildeo ele fica aqui ele ele secou ele esbandalhou deixa eu contar o restinho dele aiacute neh

quando dava chuva ele a gente tinha que ter um cuidado laacute porque ele tapava a boca do

cano carece da gente taacute limpanndo laacute quando se descuidava ele vazava por cima quando natildeo

ele queria estourar aiacute quando foi num dia fomos pegar peixe quando terminemo de

pegar o peixe que eles terminaram laacute laacute vem o tempatildeo foi chuva que entrou pela noite

chuveu (ainda) aiacute o meu irmatildeo esse (Isaldo) ainda ficou laacute lutando pra tapar neh e gente bora

ficar aqui passar essa chuva aqui porque noacutes natildeo vamos daacute conta desse accedilude ele jaacute tava

muito cheiatildeo mas os outros nem quase se incomodaram estavam mais ( ) neh e ai

ele ainda lutou lutou mas ele natildeo deu conta que quando foi de manhatilde ele amanheceu

estourado ESTOURADO mesmo grande grande que assim aiacute noacutes ainda fizemos vaacuterios

motiratildeo pra noacutes ir laacute manual braccedilal era homem era mulher era menino tentemo tapar

ele mas natildeo firmou quando veiio a chuva ( ) foi manual mesmo neh aiacute natildeo firmou estourou

taacute laacute estourado a gente jaacute pediu vaacuterias vezes assim fazer outro projeto pra gente

(reconseguir) mas ainda natildeo deu certo natildeo aiacute com noacutes com essas pendecircncias que noacutes tem e

agora que noacutes tava noacutes fizemos um projeto que veio um projeto daqui natildeo sei se vocecircs

tinham conhecimento daquele (fundo) ( )

L1 natildeo ( ) fundo

L2 fundo do (dema) neh eu tenho um um projeto que ( ) especificamente com a

indiacutegena e quilombola neh a gente fez mas a teacute hoje a gente natildeo tem seguuranccedila se foi

aprovado por causa dessa tendencia que a associaccedilatildeo taacute pendente

L1 hum rum dema neh

L2 fundo dema

L1 agora seguindo aqui o que a senhora acha da pimenteira da comunidade da

pimenteira

L2 assim que eu acho assim de de de de melhoria de ( )

L1 natildeo o quecirc que a senhora acha assim pensa da comunidade gosta natildeo gosta o quecirc

que a senhora o que pensa daqui

L2 natildeo eu gosto gosto acho bom soacute tem um uma coisa que natildeo que natildeo gosto muito

eacute eacute sobre obediecircncia aqui neh que nem todos aacutes vezes os soacutecios mesmos

desobedecem alguma coisa que a gente aacutes vezes conversa na reuniatildeo anota tudo

bonitinho aiacute a pessoa passa por cima da lei que a gente coloca que nem assim porque

assim aqui eacute eacute noacutes se diz coletivo neh nossa terra eacute coletiva a gente num tempo desse

que eacute o tempo eacute a evocadora do accedilaiacute a gente fica dizendo olha gente pra noacutes ter o maacuteximo

cuidado de com accedilaiacute aquele quando subir naquele naquela aacutervore naquele cacho que taacute

verde a gente ( ) deixa laacute que o outro vem e tira mas ainda tem gente que aacutes vezes soacute taacute

verde ele joga pedra joga no chatildeo aiacute nem ele nem o outro isso aiacute noacutes tem toda nossa

reuniatildeo a gente fala mas ainda natildeo conseguimos isso aiacute eu natildeo gosto disso daiacute natildeo outra eacute eacute

no veneno no garapeacute neh noacutes jaacute lutemos muito jaacute pelejemos bora deixar de botar aqui

botavam timboacute neh no no garapeacute a gente ( ) esse daiacute taacute quase eliminado esse daiacute taacute mais

ou menos natildeo taacute muito neh ainda tem gente que coloca mas vem de outra comunidade

no escuro de noite aiacute bota o pessoal vatildeo laacute eacute soacute peixe morto mas natildeoo eacute da nossa (tem) o

garapeacute aiacute vem gente doutro canto que a gente natildeo sabe nem quem eacute ( ) agora o accedilaiacute eacute da

proacutepria comunidade eacute noacutes mesmos os proacuteprios ( ) satildeo assim noacutes aqui pra noacutes noacutes tira quase

soacute pra tomar aqui dessa desse desse coletivo noacutes tira pra tomar ALGUMAS vezes que a

155

gente vende agora pra vender assim noacutes tem o nosso terreno particular neh que fica haacute

dois quilocircmetros daqui pra vender sempre eles tiram de laacute tempo da colheita de murubru

que a gente vende tambeacutem neh eacute outra outra eacute outra eacute quase que nem o (murumuru)

QUE NEM o accedilaiacute um jaacute vai entra na aacuterea do outro outro jaacute vai disque teve um tempo que

carregaram ateacute o jaacute tinham deixado juntado o outro foi laacute carregou (risos) e a gente

fica dizendo gente bora bora ver a aacuterea eacute grande eu quando porque qaundo foi pra

se cadastrar no murumuru soacute eu e o Isaldo que se cadastremo neh aiacute eu jaacute tava na aacuterea

coletiva que era soacute noacutes depois que todo mundo quase aqui se cadastrou eu natildeo ajunto mais

noacutes ajunta do nosso terreno eu jaacute deixo aqui pra eles porque os outros natildeo tem terreno

particuular soacute eacute eu e o meu irmatildeo que tem outro (outro) terreno particular o resto tudo

tudo atividade deles eacute dentro dessa dessa aacuterea coletiva neh

L2 hum rum

L1 e a gente sempre fica dizendo olha bora escolher uma aacuterea que fique mais perto da

nossa roccedila da nossa casa pra tu ir deixa daquele outro pro outro mas eles sempre eles ainda

ficam entrando na na aacuterea ningueacutem tem terreno de dizer esse aqui eacute o meu mas a gente

deve respeitar neh a aacuterea o que fique mais perto da casa do outro MAS natildeo acontece

isso e eacute uma coisa isso daiacute eu natildeo gosto tambeacutem porque num fica desarespeitando

SOacute QUE num daacute briga natildeo daacute assim confusatildeo mas acuteacuteas vezes ficam dizendo ahh eu

tinha ttal coisa assim e assim quando eu fui olhar rapaz jaacute tinham levado meu cacho de accedilaiacute

foi olhar em tal accedilaiacutezal assim jaacute tinham levado eu passei laacute no no tal accedilaizal assim

assim porque cada qual tem os seus nomes assim passei laacute adonde natildeo sei adonde rapaz

laacute eacute um estrago de accedilaiacute estrago de accedilaiacute que tava cada cacho grande jogado laacute no chatildeo

mesma coisa eacute os ( ) daiacute neh que natildeo eacute bom e eacute gente daqui mesmo proacutepprio satildeo soacutecio

da natildeo eacute doutro canto natildeo da da associaccedilatildeo da comunidade

L1 tens orgulho da comunidade

L2 tenho

L1 por que

L2 porque ela eacute reconhecida ( ) eacute reconhecida ela eacute muito falada nessa comunidade

muito muito mesmo muita gente jaacute jaacute jaacute veio aqui muita gente e atraveacutes da associaccedilatildeo

eu jaacute fui tambeacutem vaacuterios canto fuui muito encontro em Beleacutem jaacute foi no em Acaraacute

municipiacuteo de Acaraacute jaacute fui em Tomeacute accedilu atraveacutes da associaccedilatildeo eacute por isso que eu tenho

orgulho

L1 ok agora a gente vai pra uma outra etapa uma etapa da sua aacuterea faz uso das plantas

medicinais a senhora utiliza tambeacutem

L2 com certeza

L1 quem passou esse conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo das plantas

L2 hum rum

L1 pra senhora

L2 a minha voacute e a minha matildee minha voacute da parte da minha matildee da os meus avoacutes da

parte do meu pai natildeo conheci nenhum agora da parte da minha matildee conheci todos dois

L1 quem tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda quando a senhora tem um

problema de sauacutede eacute e decide procurar ajuda a quem recorre

L2 olha eu mesmo quando a sauacutede problema meu mesmo

[ [

L1 sua sua

L2 eu recorro a eu mesmo ateacute agora graccedilas agrave Deus ainda natildeo ainda natildeo deu deu

recorrer a ningueacutem eu mesmo neh com meus

L1 meacutedico

L2 ateacute agora natildeo ateacute agora eu jaacute fui na matildeo de meacutedico pra cirurgia pra me operar

neh natildeo ter mais

[

156

L1 de que

L2 pra natildeo ter mais

L1 filho

L2 hum rum a minha caccedilula eu eu queria ser operada aiacute foi mas de laacute pra caacute FOI A

UacuteNICA VEZ que ateacute agora tocirc com cinquenta e um anos mas num AacuteS VEZES faccedilo umas

consultinha assim quando a doutora vinha uma uma doutora aiacute ( ) aacutes vezes ela passava um

remeacutedinho mas eu quase nem tomava natildeo chegava assim a tomar

L1 ok como obteacutem as plantas que utilizacomo eacute que a senhora consegue essas plantas

L2 como eacute que eu consigo

L1 hum run

L2 eacute aacutes vezes eacute arrumando com outro colega trocando neh aacutes vezes eu natildeo tenho

daquela daquela planta aacutes vezes eu consigo ( ) troco como a dona Nazareacute a dona

Nazareacute ela ela tem muita planta ela tem muita ela eacute muita chegado neh aiacute a gente se

ela natildeo tem da marca que eu tenho eu jaacute dou daquele que eu tenho ela jaacute me ( ) aquele um

que tem que agora a gente taacute fazendo um monte de mistura natildeo sei se vocecircs tem

conhecimento da ( ) mistura neh

L1 hum rum

L2 aiacute a gente taacute fazendo assim ela laacute ela ela tem a semente de girasol e o farelo MAS

ela tem o farelo do poacute do arroz aqui na na comunidade eu jaacute levo a a a o poacute da casca

da da maca da folha da macaxeira da o gengili aiacute de laacute a gente jaacute faz todo junto jaacute

mistura jaacute eacute uma troca neh que a gente ( ) e aiacute eacute muito bom que ela a dia vinte e sete

vinte e oito de setembro noacutes tava num encontro do alimentaccedilatildeo alternativa aiacute era

um doutora clara ela eacute japonesa do japatildeo e aiacute ela tava dizendo quem come alimento

taacute comendo alimentaccedilatildeo e taacute comendo remeacutedio porque jaacute taacute comendo aquela alimentaccedilatildeo

que jaacute saiu do remeacutedio jaacute taacute ( ) mistura que ela ensinou neh e aiacute ela ficou ensinando

vaacuterias coisas que noacutes temos aqui que a gente deixa se perder aiacute joga fora e ela disse

que enquanto vocecircs tatildeo comendo aquilo vocecircs jaacute estatildeo se prevenindo vocEcircs jaacute tatildeo comendo

remeacutedio num carece vocecircs taacute laacute na farmaacutecia comprando remeacutedio pra vocecircs vocecircs jaacute tatildeo

comendo tatildeo se alimentando e tatildeo e eacute como eacute muita mistura ela ensinou tucupi que ela

ensinou que o tucupi eacute muito bom todo tipo de verdura ela ensinou e a gente a gente taacute

fazendo essa essa experiecircncia com a nazareacute e aiacute taacute dando certo ateacute agora muita mistura

noacutes tamo fazendo ela taacute vendendo MUITO MUITO muito

L1 ok quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia

L2 eacute o elixiparigoacute arruda a catinga de mulata a babosa tambeacutem mastruz

L1 hum rum

L2 corama

L1 hum rum

L2 (risos) vamos correr agora daqui em

L1 parece

L2 essas satildeo as plantas as

[

L1 satildeo as que mais usam neh

L2 hum rum isso natildeo tem aquele amor crescido tambeacutem ( )

L1 quais satildeo as partes da planta ou das ervas que a senhora mais utiliza satildeo utilizadas

L2 eacute eacute assim eacute das eacute as folhas e as casca mas dessa dessa uma que eu tocirc dizendo toda eacute

a folha dessas uma que eu disse agora ( ) pequenas soacute daacute de usar as coisas ( )

[

L1 a

maioria satildeo folhas e cascas

L2 isso

157

APEcircNDICE C ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Maria de Nazareacute

Reis

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA

CAMPUS DE BRAGANCcedilA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA

FICHA DE ENTREVISTA COM A SENHORA NAZAREacute

A) Entrevistado

1Nome

2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino

3 Endereccedilo

4 Idade(anos)

6 Naturalidade

7 Ocupaccedilatildeo principal

8 A Principal fonte de renda

9 Escolaridade

10 Haacute quanto tempo vive em Santa Luzia do Paraacute

11 Tens envolvimento com algum oacutergatildeo filantropia ou associaccedilatildeo Qual

12 Qual a sua origem De onde veio

13 Como conheceu a comunidade de Pimenteiras e haacute quanto tempo

14 Qual seu envolvimento com a comunidade

15 O que pensas da comunidade de Pimenteiras

16 Que significado ou representaccedilatildeo a comunidade de Pimenteiras possui para a senhora e

para o CEDENPA

17 Como estaacute o processo de titularidade da terra de Pimenteiras

18 Quais benefiacutecios a comunidade ganharaacute com a titularidade da terra

19 Na sua visatildeo o que marca a identidade da comunidade

20 Qual sua relaccedilatildeo com a comunidade e com os moradores da regiatildeo

B) Termo Quilombola

1 Como ocorreu o descobrimento sobre a descendecircncia quilombola dos moradores de

Pimenteiras

2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc

3 Na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de que

sejam descendentes de quilombolas

4Nos relatos dos moradores houve algum tipo de discriminaccedilatildeo contra eles sobre a

descendecircncia Quilombola

5 Com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas os moradores reconhecem os direitos que

possuem sobre ser Quilombola

6 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade

7 A senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre

essa Associaccedilatildeo

8 O que acha da comunidade da Pimenteira

9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc

10 Como procede a prova de ser ou natildeo quilombola Tem relaccedilatildeo com preservaccedilatildeo da

cultura para ser reconhecido

158

11 Houve grupos que desistiram do processo de identificaccedilatildeo devido a ausecircncia das

caracteriacutesticas culturais

12 Em Santa Luzia do Paraacute quais comunidades satildeo consideradas quilombolas e quais

possuem a titulaccedilatildeo da terra

13 O que caracteriza um quilombola

14 Qual o significado de reconhecer comunidades quilombolas Suas origens

15 Ser quilombola traz ainda caracteriacutestica de discriminaccedilatildeo Desigualdade racial

16 Quais outros direitos sem ser o da terra satildeo legiacutetimos aos quilombolas

17 Com relaccedilatildeo agraves Universidades quais contribuiccedilotildees podem ter para as comunidades

tradicionais

C) Plantas Medicinais

1 A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) incentiva os uso de medicamentos vindos de

produtos naturais devido a maioria da populaccedilatildeo natildeo ter acesso aos medicamentos de

farmaacutecia Nesse contexto a senhora acha que as ervas satildeo importantes

2 As ervas e as plantas servem para quecirc

3 Na sua concepccedilatildeo porque tantas pessoas satildeo atraiacutedas pela praacutetica de uso medicinal das

plantas

4 A senhora faz uso de chaacutes para o tratamento de doenccedilas

5 Muitos meacutedicos natildeo apoiam o uso de medicamentos caseiros Qual sua opiniatildeo

6 Haacute comunidades que trabalham com o uso das ervas medicinais

7 Como soube do uso das ervas pelos moradores de Pimenteiras

8 Na sua concepccedilatildeo o que marca a identidade da comunidade de Pimenteiras Satildeo as plantas

medicinais Satildeo os remanescentes de quilombolas Haacute outra caracteriacutestica

9 A senhora faz uso das plantas medicinais

10 Sobre a catalogaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinaisqual sua relaccedilatildeo ou influecircncia

nesse contexto

11 Como ocorreu o processo de catalogaccedilatildeo dos termos e por quecirc

12 Haacute moradores da comunidade de Pimenteiras que participam da cooperativa e produccedilatildeo

de medicamentos caseiros Como eacute esse processo

13 A senhora realiza alguma atividade de compra ou venda das plantas e produtos caseiros

14 A senhora conhece algum caso de cura de doenccedila atraveacutes do uso caseiro das plantas

15 Acredita no poder das plantas

16 Quanto aos produtos das farmaacutecias o que pensas

17 O que eacute a garrafada e a multimistura

18 Qual a relaccedilatildeo com a moradora Domingas E os trabalhos que ela mesma produz

19 O que eacute o trabalho com o bioenergeacutetico e porque acabou

20 Qual envolvimento da associaccedilatildeo com as plantas medicinais

21 O trabalho com as plantas medicinais eacute praticado apenas pelas mulheres Os homens natildeo

se envolvem Por quecirc

159

APEcircNDICE D - Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Maria de Nazareacute Reis entrevista

no dia 26 de setembro de 2014

L1 seu nome

L2 Maria de Nazareacute Reis de ( )

L1 data de nascimento

L2 vinte e cinco do sete de mil novecentos e cinquenta e dois

L1 endereccedilo

L2 rua tiradentes sessenta e dois

L1 idade

L2 sessenta e dois

L1 naturalidade

L2 beleacutem do Paraacute Brasil

L1 a sua ocupaccedilatildeo principal

L2 eu sou a minha prof eu sou formada neh como engenehira agrocircnoma e a minha

ocupaccedilatildeo eacute acessoria aos grupos produtivos grupo de mulheres grupos de associaccedilotildees

cooperativas de agricultores familiares dentro da rede bragantina

L1 entatildeo eacute em que trabalha essas ( )

L2 como

L1 em que trabalha

L2 eacute principalmente na aacuterea alimentar na aacuterea de nutriccedilatildeo na aacuterea de ( ) na aacuterea de

organizaccedilatildeo popular na aacuterea de de incentivo a produccedilatildeo (agroecoloacutegica)

L1 haacute quanto tempo mora em santa luzia

L2 santa luzia dois mil e cinco para dois mil e catorze nove anos neh a parti da data que

eu casei fiquei aqui ((risos))

L1 tens contatao com algum oacutergatildeo ou filantropia

L2 sim

L1 qual

L2 oacutergatildeo eacute centro de estudo de defesa do ( ) do Paraacute a filantropia tem obras sociais da

diocese de Braganccedila tem (imenso) neh vaacuterios ((risos)) melhor dizendo natildeo eacute imenso natildeo

vaacuterios

L1 qual a sua origem de onde de onde a senhora veio

L2 eu sou de Beleacutem nasci e me criei em Beleacutem mas desde que me formei sempre

trabalhei em comunidades rurais agricultura familiar (me formei) em mil novecentos e

sessenta e seis

L1 como conheceu a comunidade pimenteira e haacute quanto tempo

L2 eu (queria) nove anos neh quando eu conheci a partir de quando eu vim morar pra caacute

aliaacutes foi ateacute antes de nove anos porque como temos a escola neh a escola de alternacircncia

para os jovens agricultores em dois mil no ano dois mil quando a gente iniciou teve

dois alunos da pimenteira que foram aluno da escola hum e aiacute jaacute cheguei dentro da da

praacutetica da pedagogia da alternacircncia noacutes visitamos as familias desses alunos na comunidade

entatildeo a partir daiacute eu conheci a comunidade

L1 qual eacute o seu envolvimento com a comunidade

L2 como acessoria neh nos grupos produtivos como eu falei que a a associaccedilatildeo ela faz

parte ela integra a rede bragantina da ( ) solidaacuteria e ela dentro dessa integraccedilatildeo a

gente eacute eacute como acessoria dentro do do por ela ser uma comunidade quilombola tem

um uma referecircncia dentro do centro de estudo e defesa do meio do Paraacute que eu

represento aqui na regiatildeo neh entatildeo atraveacutes do sedenpa a gente faz essa acessoria

viabiliza alguns alguns momentos projeta poliacuteticas puacuteblicas que satildeo disponiveis

especiacuteficas para essas comunidades

L1 o que a senhora acha da comunidade de pimenteiras

160

L2 em que sentido

L1 eacute o quecirc que ela o quecirc que a comunidade traz assim na representaccedilatildeo o quecirc que

ela representa assim pro sedenpa o quecirc que ela representa pra senhora assim ela tem algum

significado

L2 olha ela a comunidade ela ela eacute significativa ainda em biodiversidade neh a

gente tem rio tem ainda uma floresa ainda tem modo de produccedilatildeo ((tosse))eacute eacute ainda

tem o modo de produccedilatildeo muito assim pro proacuteximo da produccedilatildeo sustentaacutevel neh entatildeo

eacute muito significativo nesses aspectos que vamos dizer se afinam com o projeto que o

sedenpa defende que a escola ( ) defende neh o projeto de sustentabilidade eacute tendo

como ator e protagonista os agricultores e as agricultoras familiares

L1 entatildeo a senhora tem orgulho da comunidade

L2 sim ela eacute realmente uma comunidade que vale a pena investir o conviacutevio tambeacutem (eu

dou soacute apoio) laacute para eles ((risos))

L1 e como estaacute o processo de titularizaccedilatildeo da terra

L2 o processo taacute em andamento neh ainda nem a gente sabe

[

L1 natildeo finalizou

L2 ainda natildeo finalizou a gente sabe que eacute muito demorado neh e agora no final do mecircs de

agosto a gente enviou uma carta pra associaccedilatildeo noacutes juntos JUNTOS com a associaccedilatildeo

neh a a entregamos uma protocolamos uma carta no incra pra que eles viessem na

comunidade pra dizer em que peacute estaacute o processo porque o asseacutedio sobretudo nessa eacutepoca

de roccedilado muito grande os fazendeiros estatildeo confinante colocam fogo o fogo entra na

mata neh muitas vezes gente da proacutepria comunidade que natildeo tem assim eacute eacute tem a

cabeccedila do opressor neh como Paulo Freire costuma dizer aiacute querem fazer negociaccedilatildeo com

terra ainda bem que a comunidade tem lideranccedilas fortes neh que consegue

enfrentar e freiar mas realmente as titulaccedilatildeo eacute uma uma uma questatildeo assim muito

latente que eacute eacute facilita essas esses desvios neh de de de pessoas da comunidade

querendo vender terra onde confinantes que pretendem de uma form ou de outra tentar

enfraquecer a comunidade expulsar enfim

L1 o que a comunidade vai ganhar com essa titularizaccedilatildeo

L2 eu acho que ganha principalmente a confianccedila neh de de a confianccedila de ser donos

legais da terra e de jaacute se jaacute se sentem donos da terra mas hoje tudo tudo vocecirc tem que

ter papel neh ((risos)) entatildeo eu acho que isso vai ser muito positivo pra eles neh quando

tiver essa titulaccedilatildeo

L1 e o que marca assim a identidade de pimenteira assim na sua visatildeo

L2 na minha visatildeo eacute a

L1 quando fala em pimenteira assim

L2 lembra assim como eu jaacute falei pra vocecirc neh a biodiversidade O USO dessa

biodiversidade neh embora que jaacute tivesse um pouco assim sendo relegada neh

pelos in pelas pessoas do locais devido a essa essa ausecircncia de incentivo ausecircncia de

poliacuteticas puacuteblicas neh agora que comeccedilam despertar pra valorizar o artesanato que essas

pessoas produzem ah o que existe na mata que eles podem ainda taacute utilizando como

pra sua sauacutede pra seu alimento entatildeo isso daacute daacute marca a pimenteira neh e graccedilas agrave deus

a gente taacute conseguindo resgatar com o apoio da rede bragantina do sedenpa da escola

atraveacutes da formaccedilatildeo e de curso e de pessoas que a gente traz aqui eles participam as

mulheres os jovens os adultos isso tem ajudado eles perceberem que eles estatildeo no meio

ainda de uma RIQUEZA neh que ainda tem viabilidade sustentabilidade as

geraccedilotildees que ali nascem enfim

L1 qual eacute a sua relaccedilatildeo com os moradores da comunidade

L2 como assim

L1 como eacute o acontato se tem um contato direto se eacute um contato

161

[ [

L2 olhe eacute o contato a

gente procura sempre canalizar via associaccedilatildeo via lideranccedila por aqui pra natildeo

individualizar eacute a gente cecirc sabe como eacute a as pessoas o ser humano tem tendecircncia a se

aproximar dialogar sentar com aqueles com que eles se afinam aqueles que a gente natildeo

simpatiza a gente nem olha ((risos)) pelo contraacuterio neh entatildeo a gente procura fazer

TER como (ouvir) isso eacute eacute problemaacutetico quando isso acontece neh vocecirc conhece laacute a

comunidade vocecirc sabe que ali tem lideranccedilas que ao longo dos anos sempre ficaram

assim se tipo coman-dan-do a comunidade neh e que inclusive natildeo satildeo natildeo satildeo da do

da da da raiz das pessoas que chegaram laacute natildeo saotilde da da da famiacutelia tronco dos

dos negros neh dos afrodescendentes que eles estatildeo mas que tinham o controle muito

grande era uma celebraccedilatildeo era fazia um fazia outro neh e isso ainda eacute eacute

preocupante neh entatildeo a gente procura ter como referecircncia a associaccedilatildeo a gente natildeo manda

um o convite ou chama fulano presidente ( ) da associaccedilatildeo vem aqui natildeooacute isso aqui eacute

pra associaccedilatildeo AHH ASSOCIACcedilAtildeO entatildeo taacute se referindo ao conjunto das pessoas que estatildeo

ali organizadas neh eacute claro que na comunidade alguns natildeo estatildeo participando da

associaccedilatildeo mas pra noacutes a referecircncia eacute a associaccedilatildeo esses que estatildeo fora olha tatildeo fora por

que querem por sua livre e espontacircnea vontade tambeacutem natildeo eacute obrigado a entrar ateacute

porque foram vocecircs que criaram POREacuteM a referecircncia pra noacutes eacute a associaccedilatildeo eles tem sido

ateacute dificultoso porque infelizmente no oacutergatildeo no no nas no no nos oacutergatildeos puacuteblicos

neh seja do municiacutepio seja do estado muitas vezes se cria essa relaccedilatildeo pessoal pega

aquela lideranccedila neh ahh entatildeo a gente fica sempre batendo olha eacute associaccedilatildeo eacute associaccedilatildeo

mas eacute natildeo eacute faacutecil ((risos))

L1 como descobriu que os moradores de pimenteira eles tem descendecircncia quilombolas

L2 bem a gente em princiacutepio eles contaram a histoacuteria deles neh que eles tem uma eles

satildeo uma parentela da narcisa neh que se desmenbrou e andando nas terras vieram

parar aqui tanto que eles satildeo muito vizinho satildeo parente mesmos neh e depois quando

eles comeccedilaram quando foi instituiacuteda instituiacuteda natildeo quando foi colocada em praacutetica

neh o artigo cento e sessenta e oito da constituiccedilatildeo neh pelo presidente Lula aiacute se

comeccedilou a ver a saber sim noacutes tem uma histoacuteria essa histoacuteria taacute sendo esquecida taacute sendo

relegada neh e o proacuteprio incra neh por vamos dizer assim por uma exigecircncia de

titulaccedilatildeo a proacutepria fundaccedilatildeo palmares eles fizeram neh o levantamento antropoloacutegico na

comunidade entendeu entatildeo eles constataram que realmente eles tem uma um passado

neh que foi dessa desse refuacutegio dos negros neh pras beiras dos rios pras matas pra

criar suas moradias e manter suas suas tradiccedilotildees

L1 o que eacute ser quilombola e qual o significado dessa palavra pra senhora

L2 pra mim neh pra mim o que eacute ser quilombola pra mim oacute pra mim acho que ser

quilombola eacute principalmente conhecer a sua histoacuteria assumir a sua histoacuteria trazer a

sua histoacuteria para o presente neh e colo evidenciar essa histoacuteria seja atraveacutes da das

suas praacuteticas do seu jeito de ser neh

L1 eacute na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de

ser quilombola

L2 com estranheza neh porque ser quilombola como eu falei pra vocecirc eacute assumir sua sua

identidade sua histoacuteria neh entatildeo essa histoacuteria natildeo eacute contada na escola os livros natildeo trazem

isso neh as as figuras que tem no livro eacute sempre a figura da menina loirinha neh natildeo eacute

a figura da pra ensinar o alfabeto Eacute A UVA NAtildeO Eacute O CARAacute que eles conhecem de

LONGOS anos neh e por aiacute vai entatildeo eles receberam assim neh alguns jaacute se apresentam

dizendo eusou fulano de tal moro na comunidade quilombola tal mas eacute alguns neh diz

eu sou fulano de tal moro na pimenteira neh significa que ainda tem um coisa que eles

natildeo natildeo que eles faccedilam de propoacutesito mas que eles ainda num neh conseguem neh

assumir colocar isso AFIRMAR isso significa pra noacutes uma afirmaccedilatildeo que nem todos

162

fazem mas a gente entende porque eles passaram e sofreram toda essa essa histoacuteria

NAtildeO SOacute eles como negro no Brasil sempre teve vergonha de ser negro por uma sociedade

brasileira que neh entre aspas se diz que natildeo eacute racista mas que tem um racismo hoje a

gente taacute vendo neh sendo provocado sendo questionado na sociedade a gente vecirc claramente

neh posiccedilotildees racistas na nossa sociedade

L1 com relaccedilatildeo aos moradores eles relataram algum tipo de descriminaccedilatildeo com relaccedilatildeo

a descendecircncia deles

L2 sim laacute e aqui nas escolas inclusive o caso aqui das escola eles me eacute me

trouxeram conhecimento do caso aiacute noacutes fizemos uma carta pra diretora da escola daqui

pelo sedempa assinamos (porque) o sedempa estadual e mandamos pra diretora pra que

ela tomasse providecircncia porque senatildeo a gente ia ter que tomar providecircncias legais e as

providecircncias legais todo mundo sabe neh que racismo eacute crime neh eu acredito que

depois pelo menos as meninas de laacute em geral isso soacute soacute eacute denunciado por pessoas que jaacute

tem uma uma certa consciecircncia natildeo sei claro que talvez ainda tenha caso de racismo na

escola mas que todo mundo fica calado neh assume aquela aquele aquela aquele

GESTO como normal como uma questatildeo de infecomo ser inferior aiacute num eacute assim

L1 e com relaccedilatildeo aos direitos os moradores reconhecem eles conhecem os seus

direitos como quilombolas

L2 sim aos poucos a a medida que as questotildees vatildeo vatildeo surgindo por exemplo tem uma

questatildeo da terra olha quilombola tem direito a terra legalizada eles conhecem neh a

medida que as poliacuteticas puacuteblicas aproximam do dia a dia do concreto deles eles vatildeo

tomando esse esse conhecimento natildeo eacute dizer que eles cochecem tudo natildeo neh

porque tem coisas que agora por exemplo vestibular das cotas neh que eacute recente quer

desligar ((risos))

((corte de gravaccedilatildeo))

L1 entatildeo voltando a pergunta o que acha eacute com relaccedilatildeo aos moradores como eacute que eles

reconhecem se eles reconhecem a a questatildeo dos direitos possuem sobre ser quilombola

L2 pois eacute como noacutes estaacutevamos eacute colocando neh eacute eles reconhecem a medida que eles vatildeo

sentindo na praacutetica vendo na praacutetica neh seja a questatildeo da terra aacutes vezes eles escutam

na televisatildeo mas como se eles natildeo vatildeo atraacutes ou se eles natildeo se colocam como detentores

daquele direito isso parece que eacute o processo mais demorado neh o exemplo eacute agora o

vestibular das cotas neh que da pimenteira teve soacute um ano que fez uma menina daqui

que ela morava aqui em santa luzia neh ela eacute filha de dona Domingas e agora esse ano

tem uma que taacute fazendo neh aliaacutes que taacute querendo fazer mas ontem ateacute dei uma bronca

um pouco nela porque eles aacutes vezes eles quererm priorizar festa em vez do estudo e a

a no caso da educaccedilatildeo neh que assim mais eacute assim muito fazer cumprir exige

um grau de mobilizaccedilatildeo e ateacute de articulaccedilatildeo no iniacutecio do ano por exemplo a professora da

comunidade laacute do do broca que tem a turma parece que daacute natildeo sei tem algumas turmas

que vatildeo o ocircnibos leva ela para o broca neh esse pessoal tava quarenta e poucos dias

porque natildeo teve transporte aiacute a professora me ligou e disse olha o pessoal da pimenteira

taacute sem aula eles tem direito a educaccedilatildeo ao transporte e eles natildeo tatildeo (vindo) pra aula eu

digo ah eacute liguei mas o que eacute que taacute acontecendo que vocecircs natildeo procuraram natildeo a gente

vai vai vai atraacutes mas eles ficaram de mandar o transporte se natildeo natildeo chegar essa semana

a gente vai sabe muitas vezes eacute uma acomodaccedilatildeo pprincipalmente no caso do da

educaccedilatildeo neh que a gente vecirc natildeo eacute soacute laacute na cidade educaccedilatildeo em santa luzia tem um

tem um retrocesso assim horrivel neh e por ai vai se eles eles sabem que tem o

direito neh alimentaccedilatildeo escolar eles sabem que tem o direito de vender ateacute com com

o valor superior ao neh para os quilombolas dentro do programa nacional da da

alimentaccedilatildeo escolar por lei eles tem direito a um valor mais alto na me na alimentaccedilatildeo

escolar neh mas eles natildeo vatildeo atraacutes quando o gestor fa tem sensibilidade daacute quando

163

natildeo tem diz que tem que ser igual pra todo mundo como eacute que taacute acontecendo agora

entatildeo eacute assim muito muito difacuteacuteicil porque isso exige uma grande mobilizaccedilatildeo

organizaccedilatildeo neh que eacute um processo educativo contiacutenuo o pessoal vem de uma histoacuteria de

de sempre ficar relegado e acha que vai ficar a vida inteira relegado mesmo que tenha

poliacuteticas puacuteblicas que tenham ( ) direito seus neh e que realmente natildeo eacute faacutecil soacute pra eles

soacute pra ilustrar neh ( ) sei que vocecirc vai transcrever a gente taacute numa luta que a gente

ficou desde do da da saiacuteda do prefeito louro a gente ficou com sem receber dos

produtos que a gente entregava para alimentaccedilatildeo escolar neh que ateacute hoje taacute na justiccedila

ainda mas isso a gente tem que ir atraacutes de advogado de um e de outro numa comunidade natildeo

eacute faacutecil se natildeo for acessoria dificilmente eles vatildeo atraacutes disso entatildeo daiacute uma uma questatildeo

assim que natildeo eacute NAtildeO Eacute SOacute que depende dependa soacute deles neh mas que depende de

todos um uma relaccedilatildeo social que eles possam construir e que essa relaccedilatildeo social possa

neh ajudaacute-lo nessa nessa luta por isso que eu perguntei pra vocecirc olha a gente vai

precisar da tua ajuda tem que somar forccedila com a gente nessa histoacuteria porque se natildeo difiacutecil

L1 eacute a senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade

L2 sim

L1 fale um pouco sobre essa associaccedilatildeo

L2 entatildeo a associaccedilatildeo eles tinham algum (embriatildeo) de associaccedilatildeo que natildeo era assim

vamos dizer legalizada entatildeo pra eles darem prosseguimento a que natildeo era tambeacutem

criada como associaccedilatildeo quilombola era associaccedilatildeo que foram assim acho que

incentivadas antes deu chegar aqui ela jaacute tava por laacute com a questatildeo de (FNO) essa coisa toda

neh DEPOIS pra ele se legalizarem como quilombola o tinha um programa em

Beleacutem o programa raiacutezes neh que eles elaboraram mais ou menos com o apoio de advogados

no estatuto padratildeo que pudesse orientar quais os termos que deveriam ter no estatuto

neh que que eacute eacute passariam por um processo legal pra depois ser levado para cartoacuterio

pra um e pra outro entatildeo a nossa contribuiccedilatildeo foi muito nesse sentido de mostrar olha

a resoluccedilatildeo um meia oito da da constituiccedilatildeo resoluccedilatildeo natildeo o artigo um meia oito da

constituiccedilatildeo brasileira ele fala isso e isso alguns desses pontos tem que taacute constando aqui

natildeo citando a a a o decreto o artigo laacute da constituiccedilatildeo mas coisas que tatildeo citam

laacute que satildeo direitos (principalmente) na questatildeo da da dos recursos naturais da da da

venda da terra enfim entatildeo a ajuda foi mais nesse sentido de ajudar eles entenderem a questatildeo

legal neh juridicamente legal pra poder encaminhar registro pra porque depois

esses documentos no caso vatildeo pra incra vatildeo pra interpa quando eacute o caso de terra do estado

vai para fundaccedilatildeo palmares pra poder obter a certificaccedilatildeo entatildeo a contribuiccedilatildeo foi muito

nesse campo mais legal da da legalizaccedilatildeo

L1 hum rum e mais assim como eacute a questatildeo de de provar que eacute quilombola

isso eacute difiacutecil eacute uma situaccedilatildeo que AH eles tem uma caracteriacutestica quilombola ou eles

satildeo quilombolas mas aiacute pra o processo de ( ) eacute muito eacute muito dificil pelo que eu percebo

L2 a titulaccedilatildeo da terra

L1 sim

L2 eacute porque depende do estado neh no sentido mais amplo laacute no caso eacute oacutergatildeo federal a

aacuterea neh

L1 hum rum

L2 as outras comunidades que tem aqui foram aacuterea do estado entatildeo cecirc sabe que o

estado tem uma esfera burocraacutetica muito pesada neh e aiacute vai tem que vir antropoacutelogos pra

fazer a o levantamento histoacuterico da famiacutelia pra vecirc quais foram as histoacuterias enfim pra ter

esse reconhecimento natildeo eacute soacute assumir

L1 aiacute no caso pra pra provar essa questatildeo de quilombola neh com relaccedilatildeo a

preservaccedilatildeo da cultura

L2 hum rum

L1 isso ajuda no sentido do reconhecimento

164

L2 ajuda porque quando eu nunca fiz um levantamento antropoloacutegico ateacute porque natildeo sou

antropoacuteloga mas ( ) eu fiquei sabendo de outras comunidades e tambeacutem ouvindo assim

uma uma pessoa que teve aqui da fundaccedilatildeo palmares eles fazem todo esse traccedilo todo

esse perfil da CULtura dos santos que valorizam das ladainhas que ainda fazem

entendeu entatildeo tudo isso taacute presente na na identificaccedilatildeo neh na identificaccedilatildeo e e

reconhecimento da da comunidade como sendo afrodescendente

L1 hum devido a isso a senhora tem conhecimento de algum grupo que tenha desisitido

do processo de identificaccedilatildeo por perceberem que natildeo tem mais assim essas

caracteriacutesticas

L2 hum natildeo bem aqui natildeo tenho esse conhecimento tem alguns que ainda tatildeo um

(bocado) deles ainda tatildeo na luta pela terra neh mas eles jaacute tem essa identidade assumida

neh eu natildeo tenho natildeo algum que tenha desistido

L1 eacute com relaccedilatildeo a uma fora

L2 ((risos))

L1 mas assim com relaccedilatildeo quilombola quais quais comunidades aqui em santa luzia satildeo

comunidades consideradas quilombolas

L2 pimenteira jacareacutequara tipitinga e trecircs voltas que jaacute estatildeo vamos dizer assm com o

processo praticamente concluiacutedo tipitinga jacareacutequara jaacute com a titulaccedilatildeo neh

L1 jaacute estatildeo com a titulaccedilatildeo

[

L2 jaacute estatildeo intitulados trecircs voltas ainda pendende eacute pimenteira tambeacutem

taacute ainda pendente das que eu sei satildeo essas

L1 o que caracteriza um quilombola hoje

L2 hum hum ((risos)) eacute eacute uma eacute uma mistura neh porque eacute as pessoas vatildeo

incorporando haacutebitos da sociedade (mais geral) porque ele natildeo taacute isolado neh ele taacute no

meio o meio externo influencia comportamento haacutebitos neh entatildeo a a cultura eacute acho

que eacute uma coisa que ajuda mais a identificar os haacutebitos alimentares e a cultura o uso

dos recursos como a gente tava falando entatildeo foi por ai que a gente taacute trabalhando esse

projeto de fortalecimento com as mulheres de valorizaccedilatildeo da cultura eles chegavam

aqui o caraacute por exemplo eacute um alimento que todo mundo tem natildeo eacute soacute em comunidade

quilombolaque tem neh mas as pessoas tinham vergonha de chegar aqui pra oferecer um

quilo de caraacute que eacute um alimento neh

L1 hum rum

L2 as pessoas tinham vergonha de usar um chaacute uma erva (ia) para o posto de sauacutede

neh entatildeo a gente taacute procurando valorizar essa cultura justamente naquilo que doacutei na

barriga ou doacutei no corpo neh pra que eles possam

L1 por que reconhecer quilombos qual eacute o significado de reconhecer essas

comunidades

L2 eu penso que eacute um signi eacute um significado importante para o Brasil neh que a

populaccedilatildeo brasileira eacute foi formada por esse por esse povo que foi trazido pra caacute que

teve toda essa miscigenaccedilatildeo que ainda tem as suas raiacutezes muito assim latente na

religiosidade popular neh embora tenha sido muito quebrada neh com o catolicismo

romano mas que eu acho que eacute importante pra populaccedilatildeo brasileira neh reconhecer a

sua origem a sua histoacuteria a sua cultura mesmo os que tatildeo na cidade satildeo tem uma boa parte

que satildeo negros negros neh entatildeo natildeo pode esquecer essa histoacuteria o povo que esquece

sua histoacuteria ((ruiacutedo)) eacute um povo fadado a ficar mercecirc de qualquer vento neh e hoje a

devido esse processo de de colonizaccedilatildeo pesada que teve natildeo soacute aqui no Brasil mas acho

que no mundo inteiro as pessoas comeccedilam a ateacute um parecircnteses fecha ai teu teu

gravador que natildeo eacute coisa assim da da pesquisa

L1 hum rum

L2 que esses islatilde neh esses grupos mulccedilumanos que tatildeo ( ) eu fiquei assim horrorizada

165

que eles postam assim na internet neh eu ( ) a facebook mas a gente abrir esse mesenger e

aiacute outro dia tava passando aqui na tele na tv Brasil que a gente assisti muito aqui neh e tava

falando que esse povo eles pra eles cultu poliacutetica eacute religiatildeo econocircmia uma coisa soacute

eles natildeo fazem distinccedilatildeo como eacute no Ocidente cultura ocidental natildeo eacute natildeo tem a ideia

desagregada neh entatildeo isso natildeo foi a toa essa desagregaccedilatildeo natildeo foi a toa essa

fragmentaccedilatildeo cultural e hoje esses grupos que satildeo minorias tatildeo procurando

reconstituir isso neh e muitas vezes usando da violecircncia usando da forccedila a gente fica

chocado mas quan-tos anos ele vem sofrendo de neh de colonizaccedilatildeo eu-ropeia

colonizaccedilatildeo dos Estados Unidos massacre e tudo mais aiacute esses grupos hoje estatildeo atraacutes

dessa identidade muitas vezes a pessoa vecirc violencia pela violecircncia natildeo vai atraacutes da

HISTOacuteRIA que que gerou aquela violecircncia neh

L1 a origem

L2 a origem enfim entatildeo acho que tem um pouco tem um paralelo que daacute pra pintar

neh L1 aiacute nesse nesse nesse aspecto a gente chama neh um pouco a questatildeo da

desigualdade racial

L2 eacute

L1 e entatildeo eacute um ponto tambeacutem que traz essa perspectiva do do fato de ser

quilombola tambeacutem ter a margem neh essa essa

L2 hum rum

L1 essa caracteriacutestica neh

L2 isso

L1 nesse aspecto como eacute que a senhora vecirc essa questatildeo da desigualdade mesmo racial

L2 eacute algo assim que ainda vai se passar por um processo histoacuterico que tem um

fundamento principalmente na na educaccedilatildeo neh se noacutes tivermos educaccedilatildeo que possa

eacute eacute comeccedilar a desmistificar essa desigualdade neh esse racismo seja pelo cor seja pela

opccedilatildeo religiosa seja pela opccedilatildeo sexual isso ajuda mas a escola ainda se se esse

debate (natildeo eacute presente) neh aiacute o o debate que vocecirc vecirc o natildeo eacute debate neh a televisatildeo

talvez mostrando (aquele) racismo neh eacute homossexual que foi espancado que foi

mor-to entatildeo um negro que foi preso neh enfim entatildeo ateacute que isso

realmente mude essa configuraccedilatildeo eu acredito que soacute um processo educativo amplo

infelizmente o processo educativo mesmo com toda a discussatildeo que taacute hoje colocada mas

ainda eacute o processo educativo do do do letramento neh o processo em discussatildeo pra

formaccedilatildeo de cidadania entatildeo se natildeo tem esse processo educativo nessa perspectiva do

ser cidadatildeo aiacute ainda temos que passar por muitas geraccedilotildees pra poder chegar uma neh

uma sociedade sem racismo ( ) sem desigualdade

L1 que tipo de outro benefiacutecio eacute legiacutetimo sem ser o da terra

L2 hum rum

L1 pa-ra os quilombolas

L2 aleacutem do da da terra temos a questatildeo da educaccedilatildeo a prioridade em determinadas

questotildees de sauacutede puacuteblica neh tem um um caso que eacute muito muito quase que especiacutefico

embora aconteccedila no ( ) da anemia ( ) neh que eles tem que ter tratamento diferenciado

acesso diferenciado a sauacutede mas talvez muitos por natildeo conhecer natildeo sabem muitas vezes

nem sabe que tem o problema neh que eacute a anemia ( ) entatildeo acho que esses direitos tem

que o direito tambeacutem do do dos terreiros neh os terreiros sempre foram demonizados

e que eacute uma uma expressatildeo da religiosidade neh mas satildeo direitos que natildeo vatildeo ser

faacutecil de serem conquistados porque se vc tem uma comunidade que taacute reconhecida como

quilombola aqui essas pessoas tem relaccedilatildeo de vizinhanccedila que outras comunidades que natildeo

satildeo quilombolas neh entatildeo se elas estatildeo fazendo laacute um terreiro os os que natildeo satildeo

quilombola podem ateacute ir laacute frequentar pedir um chaacute pedir uma uma reza na cabeccedila MAS

noacutes sempre colocar neh como natildeo aquilo ali eles fazem cruz ( ) neh

L1 hum rum ( )

166

L2 penso que eacute isso neh seus direitos

L1 e com relaccedilatildeo ao papel da universidade como se se a senhora vecirc essa contribuiccedilatildeo

da universidade sobre as comunidades tradicionais

L2 ahh o papel da universidade eacute muito importante mas como a gente tava dizendo

a pouco tem a diversidade tambeacutem dentro da universidade neh a universidade em

constituiccedilatildeo de ensino soacute pra te daacute um exemplo acho que ainda tenho ai um caso assim

horrivel de racismo que teve na universidade federal do Paraacute com uma soacute natildeo lembro se ( )

eacute professor de laacute a Cristina Chaves natildeo sei se tu conhece aiacute ela ficou assim tatildeo

chocada mandou carta a gente enfim ( ) nessa hora ( ) mobilizaccedilatildeo vai passando carta um

pra o outro neh eu natildeo sei te relatar assim mais mas foi com o professor ateacute neh

teve tinha uma discussatildeo com os alunos E o professor claramente (externalisou) posiccedilatildeo

de racismo entatildeo a universidade ela taacute formando neh e taacute taacute formando profissionais

mas dentro desses profissionais se esse debate tambeacutem natildeo eacute levado as ppessoas entram laacute

vindo da escola da educaccedilatildeo baacutesica neh sem essa formaccedilatildeo neh entatildeo se ela chega

na universidade e a universidade natildeo procura pelo menos eacute vecirc ou colocar na nessa

questatildeo neh aiacute eacute complicado neh vai continuar o cidadatildeo ou cidadatilde com essas

praacuteticas MUITO IMPORTANTE entatildeo o papel da universidade nesse processo AS COTAS

por exemplo parece que o os uacuteltimos estado deles do sitema de cotas foi aqui o Paraacute neh

e olha que nem ( ) passado mi teve uma menina da narcisa que fez a prova neh ela foi

selecionada que ela eacute ateacute professora na (comunidade) eacute uma moccedila muito aplicada e eles

vem aqui neh a gente foi fez a inscriccedilatildeo da Francisca e tal a Francisca foi selecionada ela

voltou comigo para fazer o negoacutecio da declaraccedilatildeo neh que eu digito claro que natildeo sou eu

que assino quem assina eacute a ( ) ai fizemos a declaraccedilatildeo mandamos no dia que essa menina

foi se inscrever chegou laacute E DEIXA estar que a menina laacute do sedempa da ( ) tinha me

avisado ahh Francisca passou ahh que bom porque aacutes vezes a gente fica sem

comunicaccedilatildeo aqui de internet neh aiacute me disseram a nota que ela tinha tirado ela passou foi

classificada Francisca tu passastes no dia que essa moccedila foi pra Braganccedila fazer a matriacutecula

dela olha chegou laacute natildeo num passou Francisca tu passastes natilde-o arreda o peacute daiacute pelo

amor de deus grande favor que tu vai me fazer tu vai enfrentar esse povo deixa aiacute taacute por

azar nesse dia mal a gente coonseguia mandar mensagem por esses telefones aqui de santa

luzia liguei para a professora Georgina vocecirc conhece neh a professora Georgina olha ( )

eu tocirc em Beleacutem aqui me consultando mas diga pra ( ) nuacutemero ligar liga pra natildeo sei quem

uma hora da tarde eu acho que ele viu que ela ficou laacute e natildeo arredou o peacute encontraram laacute

natildeo sei quem depois que fui saber que natildeo era soacute o caso dela a professora ( ) tava com uma

lista de gente que ela tava tentando resolver por conta de eles inventavam um inventavam

outra pra natildeo matricular sabe eu disse olha ( ) a luta do negro eacute essa pensa que jaacute

acabou a discriminaccedilatildeo a desigualdade tu taacute vendo na praacutetica natildeo abre matildeo fica aiacute noacutes

vamos pertubar enfim eles vatildeo a tua vaga taacute garantida tu passastes menina tu fostes

classificada entendeu sei que graccedilas a deus ela ta laacute na UFPA em braganccedila neh tem

dois do tipitinga tambeacutem que tatildeo laacute tem dois do jacarequara esse ano tem uma turma maior

por por coincidecircncia ((risos)) agora o sedempa e a (malu) conseguiram na casa da

linguagem que eacute da fundaccedilatildeo curro velho professores eles vatildeo fazer trecircs poacutelos de PRE-

paraccedilatildeo e redaccedilatildeo por isso que desculpa por isso que eu te perguntei mas tu jaacute chegasse

((risos)) que eacute a moccedila que eu tocirc esperando ela chega agora meio dia que ela me ligou ontem

disse olha eu vou no ocircnibos das nove eu digo taacute tudo bem ela vai ficar saacutebado e domingo

na escola soacute treinando essa turminha em redaccedilatildeo pra eles fazerem o seletivo mas eu tocirc

dizendo pra eles oacute vocecircs tem que lecirc o ano inteiro vatildeo lendo vatildeo treinando os alunos da

escola que ainda tatildeo fazendo o primeiro do EJA neh eles natildeo satildeo obrigados a fazer mas

a gente taacute ateacute incentivando pra eles verem como eacute a prova neh a fazerem a prova e tudo

haacute uma dificuldade mas tem tem que entatildeo eacute isso neh desculpa que eu falo muito acabo

ateacute me perdendo (natildeo sei se tocirc respondendo o que tu tem)

167

[

L1 natildeo taacute sim

L2 hum ( )

L1 hum rum

L2 mas a desigualadade neh nesse campo aiacute eacute bem presente quando eles vatildeo tentar

(essa) universidade hum se preparem eu digo olhem se preparem pra brigar ((risos)) se

vocecircs natildeo brigarem natildeo vatildeo esperar soacute que o sedempa mande carta que a professora Zeacutelia (

) VOCEcircS TEM tambeacutem que brigar junto gente senatildeo natildeo tem combate

L1 verdade agora a gente vai pra um outra caracteriacutestica da entrevista que eacute com relaccedilatildeo as

ervas e plantas

L2 hum rum

L1 ( ) entatildeo a gente sabe que a organizaccedilatildeo mundial da sauacutede ela ela incentiva o uso

desses produtos neh desses produtos naturais porque a maioria da populaccedilatildeo ela natildeo tem

acesso a medicina de farmaacutecia

L2 hum rum

L1 ai nesse contexto a senhora acha que as ervas elas satildeo importantes

L2 eu digo as ervas e o saber neh num tem como dissociar o saber sobre o uso das

ervas entatildeo acho que eles satildeo satildeo realmente importantes e satildeo eacute muito importante que

a gente faccedila valer esse esforccedilo isso que a gente taacute fazendo VEM fazendo pra que as pessoas

voltem a valorizar porque taacute sendo mui-to ( ) mais comum a pirataria taacute dentro neh

e a apropriaccedilatildeo desses saber tambeacutem tatildeo muito forte a gente tem um exemplo aqui no

municiacutepio na regiatildeo da natura neh que compra desse pessoal (murumuru) neh que a

gente sabe que compra noacutes fizemos em dois mil e dez haacute quatro anos atraacutes um projeto

que se alchama chamava alfabetizaccedilatildeo e negritude pra alfabetizar adultos que ainda

num natildeo sabiam ler nem escrever ainda neh e aiacute foi um projeto pequeno que o sedempa

conseguiu recur-so aiacute veio uma amiga nossa treinamos as monitoras inclusive essa

menina que passou foi umas das treinandas neh e enfim fizemos com muito es-for-ccedilo

neh os recursos era pequeno sabe a menina veio essa professora que tambeacutem eacute uma

professora muito comprometida trabalha em Beleacutem e a gente vinha e ela vinha e taacute

passado recom graccedilas aacute deus conseguimos tem depoimentos assim interessantes de

pessoas que se alfabetizaram neh que hoje CONTInuaram estudar neh tatildeo num MAS

eu digo sempre olha vocecircs tem que abrir o olho a natura nunca deu um laacutepis UM

LAacutePIS pra essas comunidades pra ajudar nesse processo vai laacute tirar os recursos que tem

e pronto neh no nosso caso aqui eacute murumuru mas a gente tem casos por ai que eles estatildeo

mandando o pessoal plantar priprioca (esturaque) sabe agora jaacute tatildeo aqui procurando

outras coisas eu digo olha soacute vou entrar soacute vamos entrar se for pra sentar na mesa e

discutir de igual pra igual se natildeo for eu aconselho vocecircs natildeo irem mas se vocecircs quiserem

ir natildeo posso proibir neh se vocecircs acharem que eacute soacute o olhar do dinheiro vatildeo mas se vocecircs

acharem que tambeacutem passa por um reconhecer aquilo que vocecircs fazem aquilo que vocecircs

tem que vocecircs vocecircs guardaram de geraccedilotildees aiacute a histoacuteria muda neh a histoacuteria muda a

gente senta com eles mas de igual pra igual esse negoacutecio de vir aqui raspar e tudo e natildeo

darem nada de retorno entatildeo natildeo eacute por aiacute ENTAtildeO Eacute IMPORTANTE eacute eacute eacute necessaacuterio

que outros profissionais se engajem no sentido de mostrar a importancia dessas ervas

agora dia vinte e cinco de julho vinte quatro e vinte cinco de julho noacutes fizemos uma oficina

sobre oo uso de fitoteraacutepicos neh aquelas ateacute pra fortalecer o trabalho desse grupo de

mulheres neh e enfim a (bolsa cortou) assim vaacuterios casos sobre isso

L1 as er-vas e as plan-tas elas servem pra que

L2 ah soacute vocecirc perguntando pra elas ((risos)) elas vatildeo te dizer assim um LE-QUE neh

((risos))

L1 um leque ( )

L2 eacute um leque

168

L1 por que tanta gente ela eacute eacute atraiacuteda neh pra essa praacutetica de uso da das plantas das

ervas

L2 aacutes vezes por estar mais proacuteximo aacutes vezes por uma um passar de informaccedilatildeo neh

entre famiacutelias entre parentes vizinhos neh que que comeccedilam a usar a partir dessas

informaccedilotildees acho que a importacircncia eacute por ai

L1 eacute o que a senhora acha do uso de chaacutes no tratamento das doenccedilas

L2 eacute bom neh aacutes vezes as pessoas usam pela indicaccedilatildeo do saber popular agora com a

questatildeo do que taacute sendo colocada da do do ministeacuterio da sauacutede da anvisa neh jaacute

se precisa ter determinados cuidados MAS a gente vecirc que eacute um comeacutercio que soacute cresce

neh olha por exemplo elas fazem aqui a garrafada tem um parece que dois produtos que

elas colocam que natildeo tem aqui e a gente tem que comprar naquelas casas de ervas em

Beleacutem neh entatildeo eu quando vou pra Beleacutem eu docirc esse apoio eu fiquei horrorizada de vecirc o

quanto aumentou o nuacutemero de caso e vendendo essas ervas ali em Beleacutem e uma vez

eu tava laacute esperando que tinha muita gente pra ser atendido aiacute a mulher perguntou mas ( ) a

vendedora que vai receitando ahh minha nossa senhora ((risos)) entatildeo soacute taacute crescendo

esse esse uso dessas plantas neh dessas ervas enfim ( )

[

L1 talvez por isso existem

meacutedicos hoje que natildeo apoiam natildeo dizem que natildeo fa natildeo eacute bom

L2 eacute

L1 no caso desse uso natildeo ser (nada)

[

L2 hum rumdiscriminado algumas vezes a a formaccedilatildeo

deles eacute totalmente elitista neh que dis natildeo reconhece que o saber natildeo eacute soacute o saber

acadecircmico dele neh mas tem que saber o das pessoas neh e tudo isso que dicer de certo

modo vai encontra de encontro neh a a uma praacutetica de dominaccedilatildeo de mais de

quinhentos anos cau-sa is natildeo soacute estranheza mas tambeacutem causa essa divulgaccedilatildeo

contraacuteria neh vocecircs natildeo sei se vocecircs assistiram eu natildeo assistir ateacute porque essa rede

globo eu natildeo assisto embora algumas vezes passe alguma coisa que preste ((risos)) a gente

natildeo pode generalizar neh mas que aquele Bruno Varela neh EU fiquei sabendo

porque eu faccedilo bioenergeacutetico em Beleacutem neh eu durmo em Beleacutem ( ) jaacute faccedilo haacute mais

de quinze anos de bioenergeacutetico eu faccedilo meus exames cliacutenicos neh com o meacutedico

(omeopata) que ele ele vou laacute com plano de sauacutede e faccedilo exames de sangue fezes e urina

porque eles natildeo podem me guardar isso eu tenho que ser o se natildeo tivesse teria que fazer

particular e aiacute nesse dia que eu fui no bioenergeacutetico elas tavam comentando que ele acabou

com a babosa mas colo fez uma propaganda assim horriacutevel neh eu digo meu deus do ceacuteu

um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo que eacute a rede globo tu imagina a repercussatildeo que isso teve

quer dizer que se vocecirc natildeo tem pessoas pra ir contra isso neh aiacute pronto a rede globo que

diz eacute verdade o que ela taacute passando sabe entatildeo taacute por traacutes dele a multinacional que patrocina

a rede globo taacute por traacutes ENes neh eacute uma rede poderosa de de de controle neh

controle econocircmico controle poliacutetico que patrocina tudo isso neh entatildeo natildeo eacute faacutecil

L1 existe outras comunidades que trabalham com o uso de ervas

L2 assim de forma sistemaacutetica aqui na re-gi-atildeo natildeo conheccedilo mas no dia a dia com certeza

que trabalhe e usam ervas PARticiparam desse curso que eu falei pra vocecirc dessa oficina as

outras comunidades que satildeo daiacute de bragantina de ViSEU de augusto cocircrrea natildeo de

viseu e de cachoeira do piriaacute elas estiveram aqui neh aiacute a gente comeccedilou olha bora

comeccedilar botar em praacutetica assim de forma mais estruturada e tudo elas disseram que iatildeo

comeccedilar a fazer aqui na comunidade mesmo neh

L1 hum rum

L2 vecirc se vatildeo

L1 como a senhora soube do uso das ervas pelos moradores da pimenteira

169

L2 a gen-te conversando neh aacutes vezes tatildeo laacute e ahh isso aqui eacute um chaacute aacutes vezes mesmo

chegaram agora ahh isso aqui eacute uma planta Eacute isso aqui eacute uma planta e aiacute ela na conversa

muitas vezes espontacircnea elas vatildeo falando aiacute quando a gente comeccedilou esse trabalho na

pimenteira noacutes dissemos bora fazer do do bioergeacutetico neh bora fazer um

inventaacuterio um (herbaacuterio) do que tem aqui umbora aiacute uma amiga minha de Beleacutem era

bioacuteloga ela tava formada ela natildeo tava trabalhando era uma pessoa muito disponiacutevel neh aiacute

eu falei com ela ela disse ahh ( ) ela veio ficou uns trecircs dias na pimenteira soacute ao redor ela

natildeo andou a comunidade toda ela fez um registro de oitenta plantas plantas medicinais a

gente ateacute tem esse esse herbaacuterio neh digitado tudo direitinho no herbaacuterio a identificaccedilatildeo

das plantas ela anota aiacute elas iatildeo olha isso aqui eacute isso serve pra isso sabe (bons) tempos eacute

sim a gente ficou

L1 na sua concepccedilatildeo a o que marca a identidade da comunidade pimenteira satildeo as

ervas satildeo os quilombolas por que haacute outra caracteriacutestica

L2 eu digo que satildeo a a biodiversidade que tem laacute presente neh e dentro dessa

biodiversidade estatildeo as ervas neh estatildeo as ervas estaacute o accedilaiacute enfim porque eles vivem dessa

biodiversidade acho que isso que marca ainda eacute uma comunidade que tem uma uma

sustentaccedilatildeo ainda muito assim vinculada a biodiversidade que tem laacute e laacute vocecirc tem o

solo tem o rio tem as ervas neh tem a floresta onde eles enfim eacute esse ainda eacute

eacuteclaro que hoje todos oscomunidades tem gente que eacute funcionaacuterio puacuteblico (talvez) laacute

natildeo tenha ningueacutem da comunidade porque a dona neneacutem eacute agente de sauacutede mas ela natildeo eacute da

comunidade tem tem bolsa famiacutelia tem aposentados mas ainda eacute uma comuni que marca eacute

a biodiversidade que ainda eacute muito forte laacute dentro taacute

L1 a senhora faz uso das plantas medicinais

L2 faccedilo lhe mostrar minha receita ( ) de energeacutetico ((riso)) as minhas garrafadas que eu tomo

tambeacutem

L1 eacute qual eacute a sua relaccedilatildeo ou (fluecircncia) nessa catalogaccedilatildeo dos termos quando eu falo

termos eu falo das ervas das plantas

[

L2 das ervas

L1 dos nomes delas neh sobre as plantas (medicinais) pelos moradores

L2 assim eacute

L1 como ocorreu esse processo

L2 ess especifi a gente iniciou como eu falei para vocecirc neh no iniacutecio do trabalho em dois

mil e oito foi o primeiro mandato do governo Lula que teve o projeto a gente comeccedilou a

neh teve o apoio pra fazer isso noacutes comeccedilamos a fazer aiacute o nosso o nosso incentivo o

nosso trabalho PRIMEIRO tentar daacute uma uma visibilidade mas uma visibilidade

assim com certo com certo grau de informaccedilatildeo aiacute por exemplo deixa eu pegar aqui pra te

mostrar a dona Domingas faz laacute a tintura de de de deixa eu pegar aqui ( ) laacute de Beleacutem

(quando a gente sai do serviccedilo compra laacute mesmo) ( ) entatildeo apre uma apresentaccedilatildeo do

produto mesmo que ele seja mas ele taacute numa embalagem adequada ele taacute identificado neh

a garrafada neh aiacute a gente coloca produto fitoteraacutepico artesanal o que tem aqui dentro a

composiccedilatildeo a data que foi fabricada e aqui o nome neh centro popular mil sauacutede das

mulheres da associaccedilatildeo remanescente quilombo da pimenteira coloca os contatos sabe

que as pessoas ligam ou pra dar sugestatildeo ou pra pedir como jaacute aconteceu ( )uma queria

uma garrafada personalizada outra ((risos)) tem todas esses esses detalhes neh entatildeo a

contribuiccedilatildeo eacute nesse sentido pra que esse produto chegue ao consumidor num grau de

confiabilidade pelas informaccedilotildees que tem dizendo quem faz entendeu o endereccedilo pra

contato entatildeo eacute muito assim ali na associaccedilatildeo tem mais das ervas todinha

L1 existem moradores na pimenteira que participam da cooperativa com a produccedilatildeo dos

medicamentos com as ervas como eacute esse processo

L2 tem a aiacute soacute um detalhe neh a associaccedilatildeo neh ( ) na cooperativa neh

170

L1 hum

L2 eacute eles contribuem neh com a aacutes vezes identificando por exemplo tem uma planta

laacute que no iniacutecio desse trabalho a gente identificou que eacute o bacuri e eles disse que eacute bom

pra glaucoma e tambeacutem o meacutedico neh amigo nosso disse realmente essa planta ela tem

esse poder neh e aiacute ela ( ) faz um coliacuterio antigamente assim assim assim soacute que taacute

acabando MEU DEUS do ceacuteu aiacute depois ela ( ) esse morador ELE esse homem ele veio pra caacute

ela taacute aqui na cidade agora ( ) esse homem laacute neh que a gente ( ) no carro levou ateacute laacute de

carro ( ) ele tentar ( ) porque ela disse que ela natildeo sabe ( ) ele sabe neh aiacute ela disse noacutes

temos que ir laacute com esse homem aiacute quem aleacutem de identificar esse capim sabe laacute saber se

esse homem natildeo tem que a gente natildeo pode deixar se perder inclusive viu Edileuza (da

outra vez que tu vir) com a gente eacute assim a gente taacute querendo criar a casa do ( ) ( )

no no no na linguagem ( ) eacute aquele idoso que transmite as histoacuterias ( ) pra outros neh ( )

aiacute a dona Maria do Carmo que tamb5eacutem eacute afrodescendente ela do lado tem uma feacutezinha

fui laacute em ( ) ahh bora fazer o seu Severino que vocecirc conhece neh laacute do do tipitinga ele

tem o sonho de fazer a festa de satildeo miguel que laacute eles fazem (nossa senhora de santana) ( )

religiosidade catolicismo neh aiacute ele disse bora Cilene bora ver o que a gente faz eacute em

setembro soacute que sem ah natildeo eu acho que eacute amanhatilde dia de satildeo miguel vinte e nove neh

amanhatilde natildeo eacute por esses dias vamos fazer noacutes vamos comeccedilar se reunindo os os ( ) a

velharada toda ((risos)) falei assim pra ele mas pra isso tem que ter um carro pra pegar esse

povo pegar laacute na pimenteira pegar num canto pegar no outro pra ir pra o cristo agora

fiquei sabendo que padre (quebrou o feno) aiacute vamos (vecirc) esse pessoal todinho porque

tem que ter um carro pra levar e trazer eles ou ou ( ) a gente pode se ( ) passo laacute na

num no tipitinga ou algo enfim mas o importante eacute reunir essa (velharada) toda pra

ouvir as histoacuterias dele animar natildeo deixar eles assim soacute O IDOSO QUE taacute precisando de

cuidado de ( ) tomar o remeacutedio na hora certa mas que ele se sinta um idoso ainda uacutetil pra

sociedade pra vocecircs pra comunidade neh mas natildeo foi possiacutevel fazer esse ano por conta de

milhares de compromissos neh tudo isso neh quantas vezes tu me ligasse eu tava

acompanhando tambeacutem o trabalho da doutora Kiara Brandatildeo nas comunidades aqui e

mas mas ainda natildeo saiu esse plano da nossa cabeccedila neh de fazer essa ( ) natildeo sei se a

gente vai fazer setembro do ano que vem mas a gente tem que (comeccedilar) ( ) o importante

que a gente comece a pegar esse pessoal e tentar neh o pai da dona Domingas que tava

te falando eacute soacute ela aiacute ela nem participa mas agora ela tem que cuidar dele que ele jaacute taacute

muito idoso e tudo TEM PESSOAS que daqui haacute um tempo pode ser ateacute que a gente faccedila

nossa viagem antes dele mas a gente sabe neh que de repente natildeo vai mais contar com eles

pronto vai embora um patrimocircnio toda uma histoacuteria um saber que ficou pra traz neh e isso

nas comunidades quilombolas eacute importante aacutes vezes o pessoal me perguntA mais tem olha

vatildeo laacute pergunta pros idosos que estatildeo laacute porque eu natildeo tenho (todo) neh eu ajudo eles

na a tentar resgatar essa histoacuteria escrever essa histoacuteria mas eu natildeo tenho todas as

informaccedilotildees ateacute porque eu natildeo faccedilo soacute isso eu tenho MIL compromissos ((risos)) de de

trabalho pra fazer neh entatildeo se vocecirc puder contribuir com a gente nesse aspecto acho que

vai ser bom

L1 com certeza eacute a senhora realiza alguma atividade de compra e venda das plantas

L2 como rede bragantina a gente faz neh a compra dos produtos e a venda no caso

fitofitoteraacutepico e elas produzem a rede bragantina soacute faz a comercializaccedilatildeo neh elas

mesmos traz as ervas elas preparam aiacute o que que a gente faz aqui embalagem neh eacute

identificaccedilatildeo quando a gente quer botar mais informaccedilotildees ou ateacute qualificar mais

aquele material a gente entra em contato com profissionais pra que eles possam ( ) como eacute

o caso desse dessa oficina que teve de fitoteraacutepico neh que (veio) uma farmacecircutica de

Macapaacute neh que ela trabalha no instituto (tumucumar) que eacute tambeacutem no ( ) de Macapaacute e aiacute

soacute que dois ou trecircs dias com a gente foi assim maravilhoso eu saiacute encantadad neh com

muita informaccedilatildeo que ela passou ( ) a contribuiccedilatildeo eacute quando a gente comercializa

171

L1 vocecirc jaacute conhece algum caso assim de doenccedila de cura atraveacutes das ervas

L2 das ervas elas conhecem neh elas me falam de um bocado natildeo sei de se me lembro

agora neh MAS EU praticamente eu me trato com as ervas graccedilas a deus nunca tive uma

doenccedila assim grave neh mas ( ) eu me sinto bem

L1 hum rum

L2 neh o (vicente) tambeacutem mesmo ele sendo europeu ( ) a gente faz junto esse

bioenergeacutetico aiacute a gente toma aqui em casa direto eacute fitoteraacutepico

L1 entatildeo a senhora acredita no poder das ervas e das plantas

L2 sim sim

L1 ma MAS OU ele se igualaria a a questatildeo das farmaacutecias

L2 assim eu num digo acreditar porque acreditar eacute uma questatildeo de feacute neh e isso natildeo eacute

religiatildeo eacute uma eacute um fato neh entatildeo eiu uso e me sinto bem neh eacute natildeo sou muito de ( )

ateacute meu pai neh e-le usava muito ervas acho que se a gente tem na na histoacuteria da gente

na histoacuteria de vida e eu uso e assim a palavra como eu disse acreditar natildeo eacute muito

adequada porque acho que crecirc ou natildeo crecirc eacute uma questatildeo de feacute neh eacute uma questatildeo de ( ) a

gente usa e daacute certo acho que eacute um pouco isso neh esses dias a gente estava aqui com a

doutora Clara Brandatildeo e ela vinha de longos anos falando sobre o uso da multimistura

neh natildeo sei se vocecircs jaacute ouviram neh falar na multimistura AIacute ela tava ano passado ela

veio fez oficina com o grupo esse ano a gente chamou esse grupo foi ateacute quarta feira que

vocecirc disse que chamamos o grupo que teve ano passado e mais outras novatas neh que

ainda natildeo tinham assisitido palestra com ela e aiacute a gente ( ) ano passado deu testemunho se

usaram natildeo usaram tudo natildeo soacute a multimistura mas tudo que elas colocaram em praacutetica a

partir daquilo que olha teve depoimentos assim estarrecedores no sentido assim perplexo

bonito no sentido de que deu certo de que funcionou mudarem o haacutebito alimentar adotaram

multimistura sabe a economia domeacutestica que fizeram que passaram a consumir de uma

certa maneira e de um certo modo foi assim ( ) se perdeu neh ( ) uma oportunidade do

trabalho ((risos))

L1 entatildeo no caso o que eacute a garrafada e o que eacute a multimistura

L2 oacute tem que perguntar pra ela ((risos)) dona Maria taacute logo ali noacutes vamos laacute e tu pegunta pra

ela taacute bom da garrafada a multimistura eacute complemento alimentar de feito a base

de de produtos tem valor nutricional alto disponiacutevel principalmente para os mais pobres

porque agora natildeo principalmente na nossa regiatildeo mas o a a base dela eacute o farelo de arroz

a folha da da macaxeira neh e o gerginlim a folha da macaxeira eacute riquissiacutema em

vitamina A ( ) se tu quiseres eu te mostro

L1 an ram

L2 a o gerginlim eacute riquissiacutemo em caacutelcio neh aiacute quando ( ) olha tem ( ) gerginlim

preto ai eu fui levei laacute pra ela ele eacute mais rico ateacute do que o branco ainda tem todo o

material desse projeto aiacute na ( ) a doutora Clara produziu e a fundaccedilatildeo banco do brasil

publicou (a gente) fez o material infelizmente olha essa aqui eacute a tabela nutricional

tem aboacutebora arroz (colido) (as pessoas acham que pode comprar melhor) ( ) que tanto

ele tem de calcio neh ela compara sempre com o leite da vaca entatildeo ele leva esses trecircs

produtos aqui a vitamina C

L1 hum rum

L2 e a vitamina A que taacute presente em valor altissiacutemo na folha da mandioca neh o calcio

que taacute presente altiacutessimo no gerginlim ferro tambeacutem e ( ) olha que o tanto de ferro que

tem no farelo aleacutem da vitamina do complexo B neh B1 B2 ( ) assim com toda

complexo B neh essas trecircs quando a gente mistura ela eacute basicamente essas trecircs produtos

aqui entatildeo ele eacute complexo alimentar ele natildeo eacute um remeacutedio neh e eacute tem casos

assim do resultado dele que nem tava dizendo a FILHA DELA ela passou numa aiacute que ela

tinha ido ali no postinho aquele que tem ali naquela rua neh ( ) aiacute a gente tava laacute e ele

disse (Leacuteia) tem multimistura tem (quero um pouco) de multimistura eu disse (ela jaacute tava

172

perto) de ter neneacutem a a Geacutessica e agora eu tava (dando) depoimento que a a

doutora Clauacutedia tava falando neh olha trabalho de parto sangramento quem usa multimistura

natildeo tem isso neh e ela disse olha minha filha duas horas de trabalho de parto ela

teve teve sangramento natildeo teve natildeo sei o que natildeo sabe E EU assim ( ) soacute ela

tomou dois meses antes soacute e eu acredito que foi essa mulher que disse neh EU

ACREDITO que foi muito da alimentaccedilatildeo dela que comeccedilou a controlar essa senhora pra te

ter ideia quando eu convidei ela ano passado neh ( ) soacute fala em doenccedila neh aiacute disse

( ) olha a doutora Clauacutedia Brandatildeo vem aqui vai ter uma oficina expliquei neh aiacute ela disse

assim ah eu vou vecirc e comeccedilou a choradeira neh aiacute (eu insisti) taacute bom ( ) eu sei que

realmente vocecirc natildeo pode porque tambeacutem neh (continuei) insistindo eu sei que isso

ano passado neh a ( ) me ligou OI olha ( ) ah que oacutetimo acho que vocecirc natildeo vai se

arrepender e eu vou jaacute laacute a a eacute quarta feira agora neh dois dias atraacutes ela disse que natildeo tinha

se arrenpendido de natildeo ter ido deu o depoimento dela tudo que ela tem o que aconteceu

com a filha dela ateacute convidei ela pra me ajudar a fazer ali no bairro neh pras mulheres

novatas que foram entatildeo assim a multimistura ela tem esse potencial dentro dessa

composiccedilatildeo que ela tem neh e doenccedila degenerativa eu sei ( ) doutora Clara neh setenta e

dois anos com trecircs ou quatro cabelos brancos ((risos)) em toda disposiccedilatildeo soacute tem um

problema no joelho neh que ela anda assim puxando ( ) que de vez em quando ela tem que

taacute sentada mas uma disposiccedilatildeo que nem eu tocirc tendo mais ((risos)) jaacute taacute me fazendo inveja

ontem eu tava uma caco porque essa semana foi assim pesada pra organizar tudo neh ainda

fui com ela pra Beleacutem agora ela fica em Beleacutem ateacute aman ateacute domingo domingo ela jaacute

retorna pra Brasiacutelia que ela mora em Brasiliacutea

L1 ah

L2 que a mistura a multimistura eacute tudo isso aleacutem de produto ela tem que contar neh

como eacute que as pessoas que usam taacute se sentindo e a garrafada vocecirc pergunta pra ela ((risos))

melhor fonte

L1 a garrafada eu conversei com a Domingas

L2 foi

L1 porque ela faz neh ela produz a garrafada pra pra associaccedilatildeo neh

L2 isso

L1 entatildeo na na pimenteira o siacutembolo digamos assim que que trabalha com ervas que

produz que faz esse esse trabalho eacute a a Domingas

L2 a Domingas os outros tambeacutem eacute assim

[

L1 ( ) pessoa

L2 olha eacute isso que eu tava lhe dizendo eles devem usar sim em casa um chaacute um remeacutedio

mas assim jaacute produzindo com certo padratildeo com uma certa orientaccedilatildeo era um grupo de

trecircs quatro neh

L1 hum rum

L2 uma foi pra Paragominas por problemas familiares a outra eu digo que taacute cuidando do

pai mas digo que ela natildeo taacute Nica quando tu puder tu vem natildeo vai ficar de fora ( ) e e a

Irma a outra llaacute que aacutes vezes tem problema de de de desentendimento neh que que

desentedeu mas natildeo ( ) pelo menos eles se falam eles brigam mmas depois se entendem por

llaacute neh aiacute

[

L1 foi foi por causa disso que acabou o bioenergeacutetico na (comunidade)

L2 natildeoeu acho que natildeo natildeo foi por conta disso foi porque eacute a filha dela se interessou

mas assim aacutes vezes ele esse pessoal tem dificuldade de de dar um comando quando eacute

uma coisa assim mas acho que natildeo foi por isso natildeo tatildeo paradas neh quando que

quando o pessoal vai laacute elas fazem pessoal dali da ( ) inclusive eu tocirc incentivando ela

retomar consulta mas soacute que ( ) voltar treinar gente de novo entendeu porque o pessoal

173

vai laacute se consultar o pessoal das (bandeiras)

L1 eu tinha ateacute falado pra ela da irmatilde Edna em Capanema

L2 hum rum

L1 se tinha a possibilidade da irmatilde Edna ir na comunidade falar sobre o projeto

L2 ah que bom vocecirc conseguisse isso ( ) porque elas fizeram com um grupo de Beleacutem

[

L1 ela

diisse que vem sim

L2 vem pois eacute se vocecirc puder trazer vai ser oacutetimo porque eu tocirc insistindo pra ela retomar

porque ela taacute vendendo muita garrafada na redondeza pomada neh que ela fazia

pomada de cabacinha de uma certa maneira quando vinha essa farmacecircutica ela taacute fazendo

de uma outra maneira e tatildeo vendendo assim bastante a pomada de andiroba com cabacinha

L1 e todos estatildeo aqui na na na associaccedilatildeo

[

L2 estatildeo ai na associaccedilatildeo ((risos)) estatildeo ai na associaccedilatildeo

entatildeo a dona Domingas temos que retomar as consultas porque porque tinha que ter um

horaacuterio planejado e aacutes vezes na comunidade elas tinham dificuldade pra marcar um horaacuterio

elas ficavam laacute eu digo oacute mas vocecircs tem que ter paciecircncia tem que habituar o povo neh tem

que treinar as pessoas neh que aacutes vezes tem a ( ) que natildeo esperam satildeo elas que vatildeo ajudar

tem a roupa que taacute laacute no igarapeacute elas que vatildeo lavar ( ) vocecircs fazem um horaacuterio uma vez soacute

por semana neh e vamos tentar vamos retomar porque vocecircs estatildeo com o espaccedilo

construiacutedo TUDO reconstruiacutedo natildeo daacute pra abandonar que natildeo fica bem nem pra vocecircs

nem pra quem patrocinou o ( ) olha a minha cara ateacute eu mas a de vocecircs tambeacutem ((risos))

L1 entatildeo a a o trabalho com as plantas eacute uma caracteristica praticamente da mulher

L2 da mulher

L1 os homens natildeo se envolvem

L2 natildeo se envolvem tem os homens que sabem neh por exemplo laacute em tipitinga tem um que

eacute

L1 nem na produccedilatildeo

L2 aquela aquela tes natildeo natildeo na produccedilatildeo das plantas sim eles conhecem eles

guardam mas eacute mais assim eacute um perfil mesmo da mulher uma especificidade da mulher

no tipitinga tem um um senhor um homem que ele benze ele reza mas eu acho que ele tem

vergonha de se expor ainda natildeo tive tempo de me dedicar laacute com eles e dizer natildeo olha noacutes

vamos laacute o senhor tem que assumir sua sabe seu saber neh o senhor pode ouvir das

pessoas enfim ainda natildeo tive tempo de sentar com ele

L1 no caso no jacarequara natildeo tem neh essa caracteristica de trabalho com as plantas neh

L2 natildeo natildeo tem elas ateacute participavam do encontro soacute que ( ) comunidade e vejam se tem

algueacutem que quer fazer isso e aiacute vocecircs se quiserem a gente taacute aqui pra apoiar pra comeccedilar

a defender os passos tem a o grupo da pimneteira junto com o grupo que taacute na (outra vila)

que jaacute taacute mais adiantado pode ir laacute com vocecircs enfim daacute os primeiros passos SE VOCEcircS

quiserem fazer laacute faccedilam laacute se natildeo aqui tem uma infraestrutura melhor em termos de material

de local de fogatildeo de panela de um e de outro vocecircs podem fazer aqui como ela vem

uma vez na semana ela vem e faz aqui a pomada a garrafada enfim

L1 a dona Domingas vem pra

L2 fazer aqui aacutes vezes ela faz laacute

L1 an ram

L2 mas a grande parte do que eacute vendido aqui que eacute levado pra Beleacutem el vem fazer aqui

que ela ( ) junto com a dona Maria

[

L1 entatildeo ela eacute a

L2 eacute

174

L1 ( ) articulaccedilatildeo

L2 eacute ela eacute articuladora da ( ) dessa produccedilatildeo eacute

L1 ocirc Nazareacute brigada

L2 de nada espero ter atendido neh a sua

L1 com certeza

L2 ( ) aprofundar esse conhecimento aprofndar esse esse saber e principlamente contribuir

com essas comunidades neh com esses povos que precisam mesmo dessa desse apoio

da academia neh que a gente natildeo fique soacute na um trabalho de produccedilatildeo laacute ah taacute

bonito o seu trabalho pesquisa tal mas que isso possa realmente retornar pr essas pessoas neh

e que elsa possam se apropriar cada vez mais com seguranccedila de tudo isso

L1 taacute com certeza

175

APEcircNCICE E ndash Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento

Ladainha a Nossa Senhora

Nossa Senhora do Livramento

Matildee de Deus nossa Matildee

e padroeira de nossa Paroacutequia

Com o olhar confiante vos contemplamos

Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos

Dirigimo-nos a voacutes como filhos

porque necessitamos do vosso auxiacutelio

Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados

apoiados e guiados pela matildeo materna

Renovai-nos espiritualmente

para que saibamos enxergar a vida mais bela

Levantai-nos para caminhar sem medo

nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo

para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna

Nossa querida Matildee

Nossa Senhora do Livramento

abenccediloai-nos e guardai-nos junto de vosso coraccedilatildeo

e conduzi-nos ao coraccedilatildeo eterno e amoroso do Pai Ameacutem

ldquoNossa Senhora do Livramento

Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da almardquo

Senhor tende piedade de noacutes

Jesus Cristo tende piedade de noacutes

Senhor tende piedade de noacutes

Jesus Cristo ouvi-nos

Jesus Cristo atendei-nos

Pai Celeste que sois Deus tende piedade de noacutes

Filho Redentor do mundo que sois Deus tende piedade de noacutes

Espiacuterito Santo que sois Deus tende piedade de noacutes

Santiacutessima Trindade que sois um soacute Deus tende piedade de noacutes

Santa Maria rogai por noacutes

Santa Matildee de Deus

Santa Virgem das virgens

Matildee de Jesus Cristo

Matildee da divina graccedila

Matildee puriacutessima

Matildee castiacutessima

Matildee Imaculada

Matildee intemerata

Matildee amaacutevel

Matildee admiraacutevel

Matildee do bom conselho

176

Matildee do Criador

Matildee do Salvador

Virgem prudentiacutessima

Virgem veneraacutevel

Virgem louvaacutevel

Virgem poderosa

Virgem clemente

Virgem fiel

Espelho de justiccedila

Sede da sabedoria

Causa da nossa alegria

Vaso espiritual

Vaso digno de honra

Vaso insigne de devoccedilatildeo

Rosa miacutestica

Torre de David

Torre de marfim

Casa de ouro

Arca da alianccedila

Porta do Ceacuteu

Estrela da manhatilde

Sauacutede dos enfermos

Refuacutegio dos pecadores

Consoladora dos aflitos

Auxiacutelio dos cristatildeos

Rainha dos Anjos

Rainha dos Patriarcas

Rainha dos Profetas

Rainha dos Apoacutestolos

Rainha dos Maacutertires

Rainha dos Confessores

Rainha das Virgens

Rainha de todos os santos

Rainha concebida sem pecado original

Rainha assunta ao Ceacuteu

Rainha do sacratiacutessimo Rosaacuterio

Rainha da Paz

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo perdoai-nos Senhor

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo ouvi-nos Senhor

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo tende piedade de noacutes

Rogai por noacutes santa Matildee de Deus

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpeacutetua

sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-aventurada sempre

Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da eterna alegria Por

Cristo nosso Senhor Ameacutem

177

APEcircNDICE F ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoAlgodatildeo Roxordquo

Fotografia 36 ndashAlgodatildeo Roxo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 13 ALGODAtildeO ROXO

Lx Lexema Algodatildeo roxo

V Variantes Algodatildeo Branco ou Algodatildeo Preto

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo o algodatildeo rocho ele serve eacute pra () pra moragia pra remautismo tambeacutem faz o chaacute

tintura dele tal de efusatildeo eacute fazer a tintura neacute todo jeito se quiser fazer o chaacute faz a

tintura que usa gotinhas isso e pra moragia eacute tira o sumo da folha pra moragia da folha e uma eacute a haacute aquela dentro da sementinha dela da dentro da sementinha tem tipo

uma lanzinha assim dentro da sementinha pode quebrar a sementinha dela hurum

mas soacute que eacute um pouco maiozinha natildeo porque assim dentro da semente do algodatildeo a

gente tira ele tem dentro da sementinha dele a gente passa passa a sementinha tem

uma uma lanzinha assim tipo uma lanzinha neacute eacute o proacuteprio olho dele eacute o proacuteprio

adonde nasce sim aquilo aliacute eacute bom pra febre ele eacute bom pa pa febre instestinal crianda

do algodatildeo isso tanto faz ele ser o roxo como ser o branco como ser ele eacute bom para

isso tambeacutem febre do algodatildeo ele eacute um ele ele cresce te acho que tiacute trecircs volta de

quatro metros de altura ele ele eacute na terra que se daacute bem ele fica bastante

compundinho assim haacute a folha dele natildeo natildeo eacute aiacute ele tem de trecircs trecircs cor tem o branco

tem um que eacute meio roxinho tem algodatildeo branco algodatildeo roxo algodatildeo preto ((tosse)) da folha da folha da folha eacute ela eacute mais roxeada o algodatildeo branco a folha dele eacute

branca o algodatildeo roxo a folha dele eacute eacute roxeada e o algodatildeo preto ele eacute mas preto eacute

mas escuro hurum isso a folha a folha eacute os frutos eacute eacute soacute mesmo mesmo jeito a flor eacute soacute

um jeito tambeacutem hurum a cor isso isso serve mas o bom eacute o algodatildeo roxo e o algodatildeo

preto que o melhor de todos mas quando natildeo tem esses outros esses uns serve o

algodatildeo branco neacute eacute o chazinho a gente tira aquela sementinha parte a semente dele

dentro da sementinha natildeo tem cumo assim que nem uma lanzinha iai quando parte

bota pra ferver e daacute o chazinho soacute eacute uma febre instestinal daacute no intestino ele eacute ele eacute

uma folha assim o meio dela arendodada e tem trecircs de trecircs bicos grande os bicos

delas satildeo mas eacute eacute trepadeira mas isso eacute natildeo isso eacute uma arve

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

178

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas e o algodatildeo que estaacute dentro da semente

Fu Formas de uso

Usada para hemorragias (fazer a efusatildeo com as folhas para tirar a tintura) o mesmo processo serve para reumatismo o algodatildeo dentro da semente eacute usado em chaacutes para

febre intestinal

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Haacute espeacutecies de algodatildeo branco e algodatildeo preto a cor da folha eacute determinante

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

179

APEcircNDICE G ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoArichi de Parigoacuterdquo

Fotografia 37 ndash Arichi de Parigoacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 14 ARICHI DE PARIGOacute

Lx Lexema Arichi de Parigoacute

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacute eacuteh uma planta que ela daacute ela daacute assim ela natildeo daacute muito alta ela daacute quase assim tipo rasteira mas num eacute bem rasteira ela bota muito assim os galhos os galhos cae

assim forma moita a folhinha dela eacute penem folha de canala um mesmo a folhinha de

canela iai ela eacute boa tambeacutem pra fazer tintura pra achar quem natildeo gosta de usar

tintura porque a tintura leva o aacutelcool toda tintura tem que ter o aacutelcool neacute tem que

ter natildeo eacute feita soacute no aacutelcool os que natildeo gostam da tintura usa o chaacute natildeo da folha a

gente pega tira a a tintura a gente pega assim pego o aacutelcool taacute qui e pega a folha

tritura tudinho coloca aqui dentro do aacutelcool com quinzi dias passando quinzi dias o

aacutelcool natildeo vai estrogar aiacute fica muda muda certeza aiacute despois coa brota no seus

vidrinhos pra usar as gotinhas () quando ela estiver com mal estaacute uma comida que faz

mal tiver assim com estomago cheio tem comida neacute ai bota a aacutegua comu o uso da

da farmaacutecia tem tem eacute o caseiro eacute natildeo natildeo sei natildeo eacute isso que eu tava dizendo eacute o

erichi de parigoreacute neacute eacute assim se comeu sentiu que a comida faz mal a assim enpachada conquela mal de gases eacute fazer isso num quiser fazer o chaacute das folhinhas

usa a tintura porque por isso eu em casa uso a tintura porque assim eu eu faccedilo deixo

ali quando taacute no ponto eu cou tudo ajeito tudinho e boto no vidrinho de gotinha neacute

que nos a gente tem vidrinho de gotinha e bota laacute se algueacutem precisar jaacute taacute pronto

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Utilizar as folhas para mal estar no estocircmago

Fu Formas de

uso

Chaacutes da folha tintura (deixa de molho no aacutelcool por 15 dias) para estocircmago

empachado tanto o chaacute como gotas da tintura

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

180

APEcircNDICE H ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoBabosardquo

Fotografia 38 ndashBabosa com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 15 BABOSA

Lx Lexema Babosa

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ((SORRIU)) eacuteh por causa da baba e ela eacute antiflamatoacuterio eacute essa mais eacuteeacute aquela goma

aquela gosma tem neacute a gente pega ela tira aqueles coise assim aquela goma dela

aquela coisa a parte de dentro vocecirc essa pode usa na guarrafada pode usar e no chaacute

fazer chaacute da folha assim se num quiser butar a folha inteira pode tirar essa baba pode

tomar usar em ferimento tiver um ferimento em golpe uma ferimento pode pegar bater

aquiloali butar tipo um plasticozinho aliacute pra disiflamar sim e pode tomar tanto bote

em cima pode tomar eacute ela eacute muito boa pra cabelo tambeacutem neacute pra fazer o cabelo da

gente desenvolver a babosa neacute ela eacute boa tambeacutem eacute pra eacute cacircncer () ela eacute muita boa tambeacutem pra cura o cacircncer a babosa

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Usar a baba da folha para inflamaccedilotildees ferimentos garrafada cacircncer crescimento do

cabelo

Fu Formas de

uso

Utiliza-se a baba em chaacutes garrafada ou direto na aacuterea inflamada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

181

APEcircNDICE I ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoBatatatildeordquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 16 BATATAtildeO Lx Lexema Batatatildeo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Masculino

Df Definiccedilatildeo natildeu eli eacute ambienti fechadu abertu mas eli natildeu eacute di vasueli eacute du chatildeu du chatildeu

assimnatildeu eli eacute eli eacute um cipoacute eli nasci aqui aqui eli cresci ( ) du maracujaacute maracujazeiru eli vai si agarrandu aqui vai tendu matu aqui eli via indu por cima matu i vai indu vai

caminhandu ateacute ondiporque na a a batata deli eacute um batatatildeu eacute uma batata mermu forma duma mandioca forma duma batata doci assim que eacute ai por issu colocaru u nomi

batatatildeoeacute a batatanatildeu nunca vi falar das folha eacute a batata aquela batata a genti vai laacute nu peacute deli i arranca eli cava qui eli qui eli daacute bastanti profundu eli natildeu eacute soacute assim da genti

chegar i puxar tem qui cavar com uma enchada pra tirar a batata eu jaacute vi ateacute uma ateacute dessi tamanhu assim neacute aiacute aquela batata a genti veimem pois eacute ela eu jaacute vi uma ateacute qui a minha

cunhada arrancou era bastanti grandona ela laacute aiacute a genti fatia ela a rodelinha e bota pra secar aiacute depois qui tiver seco a genti bota no liquidificador nu pilatildeu pisa i faz aquela

tapioquinha pra usar eacute ou nu mingau ou qui seja na comida ou si quizer pra fazer arreaccedilatildeu

eacute a genti toma eli mais avutadu neacute faz um chatilde bem forti toma eli faz arreaccedilatildeu mas essi dai eu nunca vi a minha voacute qui dizia que fazia mas eu nunca fez eu mesma neacute mas a minha voacute

dizia qui elis faziam u batatatildeu i quandu a genti taacute com problema nu sangui a genti toma assim us pocu por que eli tantu eli pru sagui da genti eli faz assim normaliza u sangui

da genti si a gente tiver com sangui fraco demais eli aumenta si tiver forti eacute uma erva qui eli normaliza u sangui da genti pra mulher qui taacute graacutevida eacute muitu bom tomar tambeim eli

faz limpeza nu sangui da genti eli faz limpeza nu sangui tem muitu genti assim crianccedila que tem muita assim qualquer coisinha daacute aquelis ferimentus neacute qui aacute a crianccedila tem problema

nu sangui aacute entatildeu eacute muitu bom tomar qui eli faz a limpeza nu sangui eli purifica u sanguitem folha tem flor a folha dela eacute quasi qui neim assim u formatu dum coraccedilatildeu

assim pu pesinhu da folha eacute larguinhu i paacute pontinha da folha eacute beim istreitinhu natildeu ela eacute pequenininha meacutedia ela eacute meacutedia ela eacute menas di qui a folha da vaca menor aiacute natildeu natildeu qui

neim folha de batata qui nem uma folha di bataba neacute batata doci ela eacute daqueli formatu soacute qui sempri a folha da batata eacute trecircs trecircs dedu trecircs sepraccedilatildeu trecircs parti ela eacute soacute uma pu

pesinhu da folha eacute largu paacute pontinha ela eacute estreita a flor delasim a flor dela ela coloca a flor aqui aiacute a flor abri a flor eacute assim uma flor tipu quasi qui nem a flor du maracujaacute

tambeim ela fica uma flor por aqui eu nem sei neim dizer comu eacute qui eacute a flor dela mais ela fica ela abri assim ai fica dentru fica aqueli miolinhu assim ai ela bota aqueli fica tipo a du

girassol assim qui eacute a florzinha dela neacute nu formatu du girassolsim issuela eacute meiu amarelada assim uma cor parda i sempri eli bota flor sempri nu veratildeu tambeacuteim quandu eli

botaela eacute du veratildeu ela nasci aqui nu invernu aiacute ela vai crescendu quandu ela taacute crescendu a batata dela taacute verdi aiacute quandu ela eacute que nem o caraacute quandu ela vai morrendu

eacute qui a batata taacute boa di arrancar nu veratildeu taacuteboa eacute porque nu veratildeu eacute qui ela taacute eacute qui ela ta madura a batata dela qui eacute pra genti arrancar por que nu inverno ela ( )i isso isso seca

as folhas seca e aiacute a batata ta madura boa di arrancar

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

A raiacutez eacute usada para purificar o sangue hemorragias fraqueza

Fu Formas de uso

A raiacutez eacute seca e triturada em poacute para usar como massa em minguaus ou o chaacute bem forte da raiacutez

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome vem do tamanho da raiacutez que eacute no formato de batata com dimensatildeo grande

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

182

APEcircNDICE J ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCapitiuacuterdquo

Fotografia 39 ndashCapitiuacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 17 CAPITIUacute

Lx Lexema Capitiuacute

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo ((sorriu)) o capitiuacute eacute uma arve nativa ela natildeo eacute uma planta ela eacute nativa ela eacute () no

cerrado eacutela a folha dela eacute grande ela eacute quenem a arve do cafeacute eacute grande a folha eacute do

mesmo modelo da folha de cafeacute aiacute pra do de cabeccedila tiver aquela doacute de cabeccedila enjoada

que natildeo passa qualquer doe a cabeccedila do nada tem gente que tem muita doacute de cabeccedila

eu graccedilas a Deus num so muito assim natildeo mas tem gente neacute hocirc minha cabeccedila docirc so

serve com doacute de cabeccedila isso a gente pega ela monte de folha quebratudinho bota pra ferver deixa no cereno quando eacute de manhatilde banha a cabeccedila muito bom pra tirar

aborrecimento aquela dozinha esse outro eacute chaacute mas natildeo eacute pra tomar o chaacute e soacute pra

lavar a cabeccedila eacute o banho de cabeccedila que a gente chama neacute eacute soacute pra isso que eu sei a

serventia eu sei pra isso que noacutes fazia capitiu eacute por assim ele eacute um pitiu num eacute cheiro

so se panha assim e cheirar tu vai dizer que o banho dele vai ficar daquele emo jeito

mas muda o cheiro dele cruacute eacute um jeito mas depois que ferve ele muda o cheiro dele ele

cruacute e pitiuacute jaacute taacute dizendo capitiu eacute assim um cheiro de peixe sei laacute um cheiro assim ele eacute

pitiu mesmo mas o cheiro dele depois de cozinhado ele natildeo fica ele muda pode banhar

a cabeccedila que ele fica assim sempre recedendo o cabelo da gente

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de cabeccedila enjoo e enxaquecas

Fu Formas de

uso

Chaacutes para banhar a cabeccedila (depois de ferver as folhas deixar no sereno da noite lavar a

cabeccedila na manhatilde cedo)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta na forma natural tem cheiro muito forte pitiuacute

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

183

APEcircNDICE L - Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCarrapicho Agudordquo

Fotografia 40 ndashCarrapicho Agudo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 18 CARRAPICHO AGUDO

Lx Lexema Carrapicho Agudo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico masculino

Df Definiccedilatildeo esse um eli tem eli eli cresci assim ateacute um metru i meiu di altura assim eu jaacute vi neacute

mais eli vai ateacute uns certus tempu eli eli si acaba tambeacutem eli num eacute num eacute uma arvri

que permanenci ali por certus tempu natildeo eli eli sempri eli nasci nu periacuteodu da

chuva aiacute quandu vai chegandu u secu eli eli jaacute vai si acabandu eli comeccedila a botar flor

botar as sementinhas daiacute a tendencia deli eacute morrer cai aqueli um pra nascer otru di

novu eli eli eacute nativu tambeacutem neacute eli num fica eli num fica uma arvri eli permaneci doi um ano dois ano soacute uma arvri natildeo eli morri aqueli um nasci otru di novu ele eacute uma

arvri qui eli cresci i eli bota uns galinho ele fica todu espalhadinhu assim os galhu deli

na ponta dos galhu eacute qui eli bota a sementinha deli tipo uma uma esporinha por aqui

tem com certeza qui tem assim por essa nessa invasatildeo neacute eu tenhu certeza tenhu toda

certeza qui tem esse matu eacute a folha deli eacute uma palmazinha eacute eacute assim uma folha

assim aiacute ela eacute toda repartidinha toda repartidinha toda uma samambaia sabi u qui eacute

samambaia ela eacute daqueli formatu di samambaia eacute toda repartidinha isso toda toda

partidinha assim a folhinha dele ( ) bota folha daiacute tem sai pedacim pra todo canto

assim a folha deli a flozinha deli eacute quandu antis deli abrir us carrapichim fica

abertinha eacute amarelinha ( ) u miolim da flor eacute amarelim neacute a depois qui qui ela abri qui

ela fica assim () ela bota florzinha agora assim eacute aquelis carrapichim qui eacute tudu agarradu quandu agenti qui eli taacute maduru agenti passa assim eli jaacute si agarra na ropa

da genti aquela isporinha nu fimzim daqueli coizinha tem aquela esporinha qui si

agarra na genti eacute na folha na flor dela eacute a sementi aquilu eacute a semente u carrapichu

qui agenti chama eacute a sementi neacute qui aqueli qui cai no chatildeu qui nasci otru natildeu eacute da

raiz da avre eacute da raiz eacute da raiz arranca eli aiacute lava rapa alguma qui seji e cuzinha i

faz o chaacute natildeu eli eacute assim qui nem na grussura dum dedu eli ateacute qui eli eacute uma avre

assim quandu assim a terra eacute boa qui eacute uma terra assim bem neacute eli eli daacute um tamanhu

assim dum metru i meio por aiacute assim neacute quandu eacute aquela terrinha meia meia cansada

meia meia batida meia dura assim eli eli cresci pequenu mas eli cresci eu jaacute vi assim

jaacute vai dependecirc da terra ela eacute uma achu qui ela eacute uma erva uma erva ela eacute du fri du

friu porque ateacute quandu chega a eacutepoca du veratildeu ela morri neacute ela nasci ( ) um tempu

dessi du veratildeu qui jaacute si passo u veratildeu laacute vocecirc passava laacute ela tava toda mortinha assim soacute os carrapichim dentro agora com a chuva qui ta dandu ela jaacute ela jaacute caiu agora ela

vai nascer ela ela vai nascer tudim quando aiacute ela crece ali aiacute aiacute quando ir che

chegando o veratildeo eacute eacutepoca qui ela vai morrer di novu qui o carrapichu dela cai nu

chatildeu daiacute ele nasce outro vem outro vem nativa eacute ela eacute nativa

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

184

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Eacute usada a raiz da planta

Fu Formas de

uso

Usada na forma de chaacutes para Icteriacutecia (amarelo da pele nas crianccedilas)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

185

APEcircNDICE M ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCatinga de Mulatardquo

Fotografia 41 ndashCatinga de Mulata com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 19 CATINGA DE MULATA

Lx Lexema Catinga de mulata

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo tem eu acho muita cheirosa eacute catinga de mulata num sei porque mulata eacute uma coisa

que mulata neacute jaacute sabe eacute caatiga de mulata eacute eacute o contraacuterio pra dizer cheiro de mulata

((sorriu)) por mim se fosse eu que fosse colocar num colocar num colocava catinga eacute

ela tem um cheiro forte pois eacute se fosse no meu caso fosse butar nome natildeo ia dizer

catinga a dizer cheiro de mulata mas eacute catinga de mulata eacute eacute pra varas coisas tambeacutem

eacute pra febre doacute de cabeccedila doacute de estamagu isso ela eacute uma planta eacute natildeo ela faz mas natildeo e

muito disiflamatoacuterio que eu tenho conhecimento dele ser desiflamatoacuterio natildeo ela eacute

assim pra bo despachar gases dentro da gente bom pra isso pra doacute de cabeccedila tambeacutem

eacute bom pra tudo isso tambeacutem ela eacute pequena desse modelo catinga de mulata desse

moledo dessa grande ai sim natildeo desse outro laacute come eacute o nome estoraque neacute isso ai manjericatildeo ele eacute pequeno soacute a folhinha dela eacute maiozinha um pouquinho mas

arendondada um pouquinho um poquinho mas eacute esse modelo eacute natildeo mas se tu natildeo

conhece assim se nem conhece a planta num vai conhecer pelo cheiro porque esse

aqui esse aqui eacute mais eacute mais durinho a catinga de mulata ela eacute mais ela eacute mais copada

e mais assim comueacute que eu quero dizer assim eacute mais fraacutegil o galhim dela pra quebrar

ela eacute assim mais ragadinho mais assim eacute delicado sim eacute esse daqui natildeo a gente ve que

ele ele eacute tipo uma madeira tipo assim neacute bem assim mas durinho e a catinga de

mulata ela eacute mas quanto mais ela eacute adubada que ela fi mas ela fica eacute ((sorriu)) eu

acho que porque ela eacute muita dengosa a catinga de mulata ((sorriu))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas caule e raiz satildeo usados para febre dor de cabeccedila no estocircmago

desinflamatoacuterio e gases estomacais

Fu Formas de uso

Chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem cheiro agradaacutevel catinga seria o antocircnimo de cheirosa

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

186

APEcircNDICE N - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCibalenardquo

Fotografia 42 ndashCibalena com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 20 CIBALENA

Lx Lexema Cibalena

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh eacuteh uma planta que nem a cidreira do mesmo modelo da cidreira tudo do um a

cidrera folha os galhos dela ela e brom bom pra febre doacute de cabeccedila tambeacutem neacute que

a cibalena na na farmaacutecia ela nu eacute bom pra febre pra febre pra doacute ela eacute do mesmo

jeito tambeacutem hurum o chaacute o chaacute eacute da folha do mais eacute das folha das folhas das arve ( )

natildeo tambeacutem natildeo

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para dores de cabeccedila febre e dores em geral

Fu Formas de

uso

Chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

187

APEcircNDICE O ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCoraminardquo

Fotografia 43 ndashCoramina com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 21 CORAMINA

Lx Lexema Coramina

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva ela eacute na natildeo ela eacute caseira ela e do frio do frio eacuteh ela essa daiacute

eu natildeo sei dizer muito bem o formato dela eacute e e a minha voacute dizia que era muito pro

problema de coraccedilatildeo tivesse sofrendo do coraccedilatildeo probremas aqueles agonia aquelas coisa fizesse o chaacute dela pra tomar mais soacute que eu natildeo conheccedilo bem essa

planta natildeo jaacute nu sei dizer isso aqui eacute o coramina soacute qui a minha voacute dizia assim o

coramina eacute bom pra quem tem o problema de coraccedilatildeo aquelas ferruaduras num tem

dar umas dor umas ferrruada ela dizia que era muito bom pra soacute sei que eacute bom

pra isso pra coraccedilatildeo olha com certeza

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas para problemas no coraccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes para dores no coraccedilatildeo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

188

APEcircNDICE P ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCrista de Galordquo

Fotografia 44 ndash Crista de Galo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 22 CRISTA DE GALO

Lx Lexema Criacutesta de galo

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo esse daiacute eu natildeo vou dizer com garrafa porque eu nunca fez aquilo que eu nunca fez

num tenho assim um uma seguranccedila pra remeacutedio assim eacute eacute assim que os outros diz neacute

coquei ele como remeacutedio porque os outros que me indicaram ele eacute bom pra coraccedilatildeo

que tem problema de coraccedilatildeo coraccedilatildeo de bate acelerado bate num se que ele eacute bom

pra fazer o chaacute da crista da da flor da flor mesmo hurum mas soacute assim foi indicado

por o outra pessoa assim que tambeacutem tem conhecimento neacutew aiacute diz tambeacutem ela eacute que

nem uma criacutesta de galo ela daacute assim () uma os pezinhos dela agora aqui ela faz tipo

um folhinho uma coisa assim neacute espanhadinho e aiacute tem uns peacutenhinhos assim no pezinho da folha tem uns peacutenhinhos isso isso hurum natildeo eu tenho eacute assim que os outro

jaacute me indicou

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Eacute utilizada a flor da planta que tem formato de crista de galo para coraccedilatildeo acelerado

ou problemas do coraccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Pode ser feito o chaacute da flor ou usado na garrafada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

189

APEcircNDICE Q ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoErvatildeordquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 23 ERVAtildeO Lx Lexema Ervatildeo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva nativa eliele eacuteh do baixo do alagadoele nunca da assim no seco

natildeosempre ele daacute no lugar que eacute molhadoumiduclima molhado eacutemas se

tiverela precisa da quele ambiente que esteja molhado que ta assim com aquela

parte da lama daquela agua grossaela natildeu eacuteh da terra seca da terra limpa assime

num so da em aguada na quela agua que esteja misturado com aquela terracom

aquele limu que ela gostaela eacute pequenaela eacute fina tambeacutem assim o caulizim dela ela

sim eacute de quina tem umas quinalzinho a folha dela eacute cumpridinha estreita e ela eacute boa

pra tomar ela nunca fez ela eacute boa pra dor de cabeccedilafazer o chaacutefaz o cha da

folhapega tudim elebota pra cozinhar e deixa no sereno e di manhatilde banha a cabeccedila vai usando assim diretamentetem umas dor de cabeccedila encravadaa minha

cabeccedila nu passa nu sei o queuma dor de cabeccedila enjuada eacuteh fazer isso aiacutenatildeo sei

porque desse nome de ervatildeo natildeo sei porque eacute uma ervaela num eacute tatildeo grande pra ser

ervatildeoela num eacute tao grande ela tem uma florzinha bem pequenininhabem

roxinhabem piquinininhamas eacute folhamais tem um tem que ela tem as florzinhas

bem piquinininha bem roxinha

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e enxaqueca

Fu Formas de

uso

O chaacute das folhas e depois repousando no sereno da noite a cabeccedila eacute lavada com o chaacute

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

190

APEcircNDICE R - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoEucaliptordquo

Fotografia 45 ndashEucalipto com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 24 EUCALIPTO

Lx Lexema Eucaliacutepto

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ele eacute uma arvenha tambeacutem ele natildeo da muito do que eu conheccedilo num sei se tem uns eacute

natildeo ela natildeo eacute muito pequena ela eacute meacutedio ela num eacute muito pequena natildeo ela eacute boa pra

febre a gente usa ela pra febre o chaacute comu eu tocirc dizendo eu assim uso mas as tintutas

eu gosto de fazer mais as tinturas pra febre pode o chaacute isso pode pode fazer o chaacute e

pode usar a tintura pra febre eacute e pra febre eacute natildeo natildeo tambeacutem num sei natildeo nunca viacute flor dela nunca vi soacute soacute folhas compridas bem compridi compridinha comprida assim

com a ponta fina ela eacute estreita ela natildeo eacute largona natildeo ela eacute estreita pezinho da natildeo

((sorriu)) hurum conhece a vinagreira conhece vinagreira () soacute que ela eacute pouco

diferente soacute uma folha da vinagreira dela do eucalipto num tem uma folha aqui que

compara mas ela eacute assim olha assim cabeccedila assim e a ponta dela eacute mais fina o pezinho

dela eacute mais larguim e pontinha dela eacute () ((sorriu))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Utiliza as folhas para febre em geral

Fu Formas de

uso

Chaacutes e tinturas para febre

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a moradora referir-se agrave aacutervore

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

191

APEcircNDICE S ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoGeniporanardquo

Fotografia 46 ndash Geniporana com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 25 GENIPORANA

Lx Lexema Geninporana

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo um noacutes jaacute fazemos tudo isso em ((sorriu)) seraacute que nu taacute adoccedilado ((sorriu)) eacute um uma

arve nativa eacute ( ) e ela eacute tambeacutem assim modelo do cafeacute da arve do cafeacute ( ) eacute a mesma coisa

tambeacutem a folha dele eacute assim isso aiacute ele eacute bom pra picade di inseto cobra de copiatildeo essas coisas neacutew tiar o sumo da do caulhe dele tirar assim tirar aquela casca o entrecasca eacute bom

o entrecasca aquele do de cima ela natildeo natildeo a gente tira o sumo a gente faz assim tira o entrecasca dela daacute uma raspada assim assim meio pra sair tipo uma bucha assim ai bota

uma aacutegua isso ((sorriu)) eacute acho que ((sorriu)) eacute hurum eacute divide ser eacute u acho eacute eu acho metade dessa coisa eacute assim os indiacuteos que descobriu esse nome neacute que os indiacuteos para () eacute

os indiacuteos que que sabe porque esse nome porque assim os meu irmatildeo que eles aprenderam com meu pai porque meu pai tem sangue indiacutegena ele fazia ( ) ( ) aiacute meus irmatildeo eu

aprendia com meus irmatildeo papai ensinava neacute ai ele aprendia ele fazia porque assim vocecirc pega uma vara uma varinha assim vocecirc enrola ele aqui o tanto vocecirc podir natildeo quebra

natildeo fica do mesmo jeito do arco do iacutendio aiacute eu acho que ele tem relaccedilatildeo com os iacutendios que colocaram esse nome tavez neacute porque esse daiacute eu sei assim ele natildeo quebra neacute vocecirc

pega aqui ele num quebra ele eacute ele eacute isso vai depender da grussura dele tambeacutem neacute horriacutevel hurum isso hurum pra cortar o veneno ((sorriu))

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Utilizados a folhas entrecasca e caule para picadas de insetos cobra escorpiatildeo

Fu Formas de

uso

Do caule eacute retirado o sumo (colocado de molho na agua)

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

192

APEcircNDICE T ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoHortelanzinhordquo

Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELANZINHO

Lx Lexema Hortelanzinho

V Variante Malvarisco

Cg Classe Gramatical Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo oh hortelanzinho eacute desse eu chamo pra esse hortelam sim porque assim tem

tem uma parinca que eacute hortelam tambeacutem eacute o grande aiacute tem desse pocha entatildeo

hortelam pimenta hortelam roxo e tem o hortelanzinho que eacute o hortelam nenecirc

que eacute o hortelam nenecirc hortelam nenecirc e esse eacute o hortelanzinho que eu chamo porque depois desse daiacute () hortelam sim grande eacute a folha dele grande eacute o

mesmo malvarisco isso eacute sim e tem o hortelam nnecirc eacute o menor de todas isso isso

essa daiacute tanto faz se da outra dessa dai serve para tomar chaacute serve pra butar nu

suco ela serve pode pegar o suco de qualquer coisa de limatildeo sei laacute du que for e

bater uma folhinha dele junto fazer charope eacute e memu coisa de hortelam nenecirc o

nenecirc ele eacute proprio pra nenecirc mesmo crianccedila mesmo eacute do tamanho e da cor

porque o hortelam nenecirc ele eacute branquinho ele num eacute roxinho ele eacute assim natildeo a

folha tudo que nem essa arve que taacute aiacute disse daqui natildeo o hortelazinho ele eacute

roxinho isso ele eacute roxinho o hortelam nenecirc eacute tudo assim eacute folha eacute o galhim dele

eacute tido assim eacute isso o hortelam grande jaacute eacute maior as folha dele eacute tido assim eacute tem

eacute eacute maior a folha dele eacute mais grossa a folha dele eacute bem grossa e serve tambeacutem pra o comu tempero comu por enquanto agora eu tenho hurum eacute neacute o hortelam

grande eacute daquele mesmo modelo o hortelam grande eacute eu acho que num sei natildeo

num sei e num sei dizer cume se tem doutro tipo tipo neacute eu soacute conheccedilo essa

trecircs tipo agora num sei se muda o nome desse mesmo do hortelanzinho eacute a

mesma pimenta num sei natildeo () natildeo

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas nos chaacutes e sucos

Fu Formas de uso Chaacutes xaropes e em sucos

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Tambeacutem conhecido pela variante malvarisco

Dc Data da Coleta 04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

193

APEcircNDICE U ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoHortelatilde Neneacutemrdquo

Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELAtilde NENEacuteM

Lx Lexema HortelatildeNeneacutem

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo porque ele eacuteh mais miudim doque todas do que os outros eacute ela eacute mais a folha dele eacute

do mesmo mesmo formato desse mesmo modelo soacute que ele eacute miudinho ele bran sim soacute

que ele eacute miudinho e eacute jaacute ele eacute roxinho esse daqui eacute roxinho esse um eacute branco tambeacutem

hurum mas ndem eacute natildeo eacute hortelam ela eacute mais pequenininha ele eacute todo assim

branquinho assim essa folha dessa coisa assim ele natildeo eacute roxinho assim natildeo eu tenho

laacute em casa eacute fazer chaacute pra bebe recenacido quando faze gripado tossindo injuado eacute

bom fazer chazinho pra daacute charope eacute isso neacute tosse com certeza eacute mesma coisa hurum eacute eu acho que ela eacute proacutepria pra crianccedila pra bebecirc mesmo pra bebecirc eacuteh quela eacute

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para gripes e tosses em receacutem-nascidos

Fu Formas de

uso

Chaacutes e xaropes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

194

APEcircNDICE V ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoJambu Roxordquo

Fotografia 48 ndashJambu Roxo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 27 JAMBU ROXO

Lx Lexema Jambu roxo

Va Variante Jamburana

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo planta rasteira do molhado de clima uacutemido eacute a mesma coisa que agente comi no

tacaca que faz eh a cor ela eacute nativa de tempu umidu ela serve pra do de

estomagu figadu quando com algum problema no figadu assim cuando consegue

almoccedila e num consegue janta aquilo parece que num desfaz parece todo tempu

cheio eacute problema nu figadu tem de faze o cha eacute de folha de flor com raiz com tudo o

importante eacute lavar bem lavadim e botas pra ferver com tudo e toma o cha a flozinha e amarelinha bem amarelinha mais do que o outro eacute bem amarelinha quase

roxinha eacute um poco menorzinha

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo usadas as folhas flor raiz tudo bem lavado

Fu Formas de

uso

Utiliza-se o chaacute para dores no estocircmago problemas de digestatildeo e no fiacutegado

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A cor da flor amarela bem forte diferencia as espeacutecies

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

195

APEcircNDICE X ndash Informaccedilotildees gerais sobre o termo ldquoJenipapordquo

Fotografia 49 ndash Jenipapo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 28 JENIPAPO

Lx Lexema Jenipapo

Cg Classe

Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma arve muita grande nativa tambeacutem ela nativa ela eacute grande tem fruto e do

fruto que a gente faz ela eacute o u o genipapo ele eacute rico em vitamina pra anemia agora que

eacute difiacutecil achar uma gente que diga que gosta num gostei natildeo o cheiro dele eacute muito

forte do fruto dele eacute forte o cheiro aquele cheiro eacute um cheiro forte mesmo assim comu coisa assim tava comu assim um litro de cinquenta e um assim que eacute o cheiro dele tem

gente que num gosta daquele mas ele eacute rico em vitamina pra quem taacute aneacutemico pra ele

eacute muito bom () ele eacute assim deste tamanho laranja isso quando ele taacute verde ele eacute duro

quando cai ele eacute mole ele fica eacute o suco pega ele eacute expreme bota accediluacutecar e pra tomar o

suco dele tirando disso fazer o licor tambeacutem eu uso laacute em casa mas pra fazer licor a

gente bota no aacutelcool no cinquenta e umo aiacute mas eacute mas mas aiacute depois a gente faz uma

garrafa de accediluacutecar diminui e diminui isso aiacute eacute pra bebida isso bebida pra quem gosta

de () o fruto o suco do fruto pra remeacutedio eacute tambeacutem assim ce tiver eacute uma rasgadura

uma qualquer coisa porque num sei se tu jaacute viu crianccedila que fica assim cum umbigo

grande assim a gente coloca o dedo a gente coloca o dedo a gente sente que aquele

que rasgado um vai laacute na arvore do jenipapo a arve dele tando vivo verde tira um tampinho da casca e vai aperta trecircs vezes no imbgo da crianccedila e vai coloca la dentro

tampinho no mesmo canto aiacute aiacute conforme aquele tampinho vai colocando vai sarando

ali ai vai diminuindo a a rasgadura na inbigo isso aiacute eu tenho poque eu fiz pro meu

filho ficar bom hoje ele eacuteh rapaz num tem quem diga o que ele era nunca passei com

meacutedico pra dizer doutor me diga o que eacute o que eacute o que isso nunca natildeo foi isso remeacutedio

que ensinavam natildeo riacute sim tuacute vai laacute um tampim assim neacute vai uma comparaccedilatildeo teacute

mede o tamanho do imbigo aqui e vai mede laacute no no quarto tira o tamanhinho que eacute e

vai aperta trecircs vezes aquele pedacinho de casca no umbigo e vai cola laacute de novo bota

no mesmo cantim deixa laacute ficar coladinho aiacute aquela casca vai cola de nova e colando

aliacute a ela ela assadura vai colando vai diminuindo neacute eu fiz com meu filho me

ensinavam neacute e eu fazia hurum

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de Casca para problemas no umbigo e frutos para bebidas

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

196

uso

Fu Formas de

uso

O fruto maduro eacute usado para fazer licor (accediluacutecar e bebida alcooacutelica) uso da casca para

rasgadura problemas no umbigo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

197

APEcircNDICE Y ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMamatildeordquo

Fotografia 50 ndash Mamatildeo com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 29 MAMAtildeO

Lx Lexema Mamatildeo

Cg Classe Gramatical

Substantivo masculino

Df Definiccedilatildeo uh mamatildeo tanto ele eacute vitamina neacute ele eacute rico em vitamina o mamatildeo pra crianccedila pra idoso pra tudo eh como a semente dela eacute muito bom agente faze eh remeacutedio pra

coloca verme cum a sementi dele pega a sementi dele seca bem sequinha assim bem

seguinha agente torra ela bem torradinha ai soca bemai bota um poco demassa de

trigo de farinha de trigo ai da uma misturadinha ai faz um modelo dumas piulinha eh

muito bom prafazer as piulinha pra tomar pra verminose

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

A fruta eacute consumida como alimento e as sementes satildeo trituradas para uso medicinal

Fu Formas de

uso

As sementes satildeo trituradas misturadas com trigo e feitas as piacutelulas contra as vermes

em crianccedilas

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

198

APEcircNDICE Z ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMangueirardquo

Fotografia 51 ndash Mangueira com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 30 MANGUEIRA

Lx Lexema Mangueira

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Feminino

Df Definiccedilatildeo a mangueira ela eacute bem grandi eacuteh uma planta tambeacutem ela eacute caseira agora ela eacute

muito boa de nascer todo quase caroccedilo dela nasce neacute e nu clima frio eacuteh num frio eacute folha comprida estreita bem comprida e estreita a semete eacute uma semente bem

grande que que ta que ta dentro do fruto neacute eacute assim um pouco chata a manga eacute a

manga eacuteh tem tem tem flor dela flor ela coloca assim uma assim tipo uma bage

uma coisa assim uma flor assim assim uns pivatildeozim neacute e vai colocando as flor dela

e a flor dela eacute bem piquinhinha as depois o fruto nasce dali da flor ele vai crescendo

eacuteh ela eacute uma arvore bem grandi cauli bem grosso eacute muito grande ela uns cinco

metros acho que ateacute mais de cinco metru ela eacute bem grande noacutes usa ela praa

diarreia quando ta com muita diarreia e eh fazer o cha da do entre casca pra

diarreia e pra tosse tambeacutem fazer o lambedor eacute do entre casca tirar aquele entre

casca do caule por que aquela casca de cima natildeo serve pra nada ai ah madeira

tambeacutem eacute o entre casca ai tira e faz o lambedo ela eacute travosa eacute travosa eacute ela eacute menos travosa que uh uh cajoeiro eacute amarela o cajoeiro eacute vermelho tomu cha

ou entatildeo faz o xarope o lambedo como diz o xarope o xarope eacute um pouco mais

grosso a gente tira o entre casca se tira ele bem limpinho se tiver o cuidado num

carece lavar se sair um sujinhu tem que lavar e bota pra cozinhar as depois que

tira agua que para eacuteh coa ele e colocao mel o accediluacutecar que eacute pra ele ficar assim tipo

dum xarope vai apurando ai tira coloca num vidro bem limpo e fica tomando isso eacute

pra crianccedila quando ta gripadu com tosse o xarope e pra diareacuteia eacute o chaacute faz o cha

dele e toma nois usa

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Para diarreia e tosse eacute usado o entre casca

Fu Formas de

uso

Para diarreia eacute feito o cha do entre casca para tosse e gripe eacute feito o ldquolambedorrdquo o

xarope eacute feito do cozimento do entre casca com o accediluacutecar

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

199

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

200

APEcircNDICE AA ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMaracujaacuterdquo

Fotografia 52 ndash Maracujaacute com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 31 MARACUJAacute

Lx Lexema Maracujaacute

Cg Classe Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo maracujaacute eacute folha eacute a fruta eacute a flor tudo serve eacute uma planta ela eacute caseira

maracujaacute ela da em todo todo clima mas eacute melhor eacute no frio mais ela da em todos

todo tempo ela sempre ela daacute a folha eacute redonda eacute assim num eacute redonda natildeo

tem trecircs parte a folha dela do maracujaacute ela eacute bem grandi tem trecircs partes trecircs

separaccedilatildeo assim trecircs dedo como nois diz assim ela natildeo eacute redonda trecircs biquinho

tudo junto com certeza eacute uma folha meacutedia e a sementinha dela eacute chatinha eacuteh

dentro do fruto bota o fruto e dentro uma sementinha a folha dela eacute bem grandi

afror dela eacute bem grandi assim eacuteh rouxinha assim aberandu o branco e por

dentro do miolinho eacuteh rouxinho cabeludinho o caule eacute fino eacuteh um cipoacute ela daacute

assim ela eacute grandi por que se ela pegar uma planta sobe inteacute de acordo com a

planta ela vai botando os galhos ai ela vai subindo ela serve pra eacuteh pressatildeo auta ela ela eacute calmante o maracujaacute ela eacute calmante e tanto faz ser a folha

comu a flor Comu uh suco dela a fruta ela eacute calmante qualquer parte se natildeo

tiver o fruto pra genti tomar o suco fazer o chaacute da folha se tiver a fror pode fazer

o chaacute que ela eacute calmante pra quem ta com estressi pra quem ta com falta de sonu

a gente pode usar de tudo aleacutem disso de tem muita vitamina no suco e muita genti que

tem muito estressi muita pressatildeo alta pode usar o chaacute pode usar o suco

diretamente eu digo isso por que eu gosto muito e o chaacute eacute o suco que eu mais gosto

in ateacute agora eu to com cinquenta e dois anos e nunca aumentou minha pressatildeo graccedilas

Deus natildeo tenho pressatildeo alta ah eu gosto muito eacute o suco que eu mais gosto ela da

sempre

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

Folhas e flores satildeo usadas como calmantes baixar a pressatildeo alta e diminuir o estresse

Fu Formas de

uso

Os chaacutes das folhas e da flor como o suco do fruto

Fn Finalidade Medicinal e Alimento

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a informante referir-se a planta

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

201

APEcircNDICE BB ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMastruzrdquo

Fotografia 53 ndash Mastruz com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 32 MASTRUZ

Lx Lexema Mastruz

Cg Classe

Gramatical

Substantivo Masculino

Df Definiccedilatildeo olha eli eacute du ele eacute du friumais eli eacute du friu mas eli num eacute aquela aquela qui gosta

muitu du friu eli gosta du friu mais eli gosta tambeim bastanti da quinturadus dois eacute

ele num eacute eli eacute tem a sementinha delinatildeo eli daacute em qualquer ambienti eli daacute nu vasu

eli daacute chatildeo nu abertu nu fechadu nu quintau fora du quintal nu nu como eacutenu vazu em

todu jeitu eli daacute u mastruz eacute em todu jeitu pega eli joga a sementi aqui eli nasci daiacute eli

vai crescer si eli eli tem bastanti duraccedilatildeu eli dura um ano mais di um anu neacute soacute qui eacute

assim cai a sementinha deli tambeacuteim aqueli um jaacute morreu vai ficandu velhu vai

morrendu e u otru jaacute vai nascendu aqui u mastrus eli eli eacute assim eacute na terra qui eli si daacute eacute dificilmenti eli eli si acabar porque nasci a sementinha deli assim eacute bem

pequenininha bem pequenininha mais eli antis daqueli sementinha cair eli jaacute nasci

aqui eli jaacute nasci demais aiela eacute alta muita alta natildeu mas ela daacute por aqui assim ela daacute

ateacute um metru menus dum metru um poquinhu neacute as veiz ela ela bota galinhu tambeacutem

por todu cantu as vezis quandu eacute uma terra boa ela fica bonitanatildeu ela eacute planta

caseira ela num eacute nativa natildeu ela eacute caseiraeacute compridinha a folha dela eacute compridinha

eacute soacute uma folinha i tem uns dedinhus assim qui sai uns biquinhus assim uns

bordadinhus neacute na folinha delaa flor dela eu nunca vi a flor dela bota sementinha a

flor dela eu natildeu sei comu eacute qui eacute neacute tem a sementinha a sementinha eacute agarradinha

tudu ali pela galhu dela pelu nu tronquinhu da folha dela ela jaacute bota aqueli galinhu i eacute

aqueli galinhu jaacute vai botandu a sementinha a sementinha dela eacute bem pequenininha bem uma coisinha muita muidinha mesmu( )mastruz eli tem dois nomi mastruz i erva

santa maria neacuteerva santa maria natildeu noacutes aprendemos assim pelu livru eu conheci por

mastruz mesmu aiacute depois quandu veiu um livru qui era pra gente estudar erva-santa

maria erva santa maria a genti foi ver tava laacute a fotu deli i conhecemus qui eacute o mesmu

mastruz

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para machucados anti-inflamatoacuterio

Fu Formas de

uso

As folhas satildeo amassadas e colocadas no local do ferimento ingerido ou o chaacute das

folhas

Fn Finalidade Medicinal

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

202

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

203

APEcircNDICE CCndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMelatildeo de Satildeo Caetanordquo

Fotografia 54 ndash Melatildeo de Satildeo Caetano com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 33 MELAtildeO SAtildeO CAETANO

Lx Lexema Melatildeo Satildeo Caetano

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Masculino

Df Definiccedilatildeo esse ai eacuteh nativo eacute uma verele eacuteh um cipozinho beim do tipo uma trepadeira ele vai a donde tem uma arviele se apodera pra ele sobre pra laacute onde tem uma

arvoreele se pega tambeacutem ele eacuteh do clima friodo invernomais no veratildeo ele

sempre somi ele eacuteh nativo tambei ele num eacute uma planta assim ele eacuteh nativo no

roccedilado quando a gente botou no roccedilado pra genti plantar assim gosta de nascer

aiacute ele eacuteh assim ver uma arvore assim ele se apodera pra subir ele eacuteh um

cipozinho bem fininhovive junto com a planta natildeo natildeo ele eacuteh muito durativo

vai vai um certo ponto quando o veratildeo acocha muito ele fracassaeacuteh ele fica

assim bem fraquinhele eacuteh assimo jeito dele e que nem maxixe assimquando

ele taacute pegando o maxixequando agenti planta nu nu geral ele fica que ele rama

assimeacuteh o melau satildeo caetano as folhinha dele eacute pequena menor que a folha de

maxixeredondinha eacute eacuteredondinhaos galinhu delo cipozim eacuteh bem finin me

daacute aquele cipoacute eacuteh bem mais fino que o cipoacute do maracujaacute muito bem mais fininhofininho mesmo eacute eacutehela bota uma florzinha amarelinha soacute uma

florzinha amarela ( ) ai despois o frutinho deleele bota um frutinho pequeninho

eacute eacuteh assim peludinho que nem uns picozinhus quem nem maxixe redondinho

assimtambeacutem meteacute agora num sei dizer se serve pra alguma coisa faz o

remeacutedio da folhaeacuteh o chaacuteeu uso na garrafadaservipra inframaccedilatildeo

tudotodo tipo de inflamaccedilaotildeai eu pego eleeu seco e bem sequinho na

sombra ai eu uso na garrafadana garrafada que eu usopor isso eu digo as

mias garrafadas todo tipo de remeacutedio eu coloco laacuteque serve pra uma

coisaser pra outrao frutuquando ta maduro eacuteh amarelinhuquando ta

verdi parece maxixequando taacute ele amadurece fica amarelinhusimamarelo

melau satildeo caetanonatildeo sei dizer

Fd Fonte de Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas na garrafada para inflamaccedilotildees

Fu Formas de uso O cha das folhas para inflamaccedilotildees e tambeacutem as folhas secas satildeo usadas na

garrafada para todo tipo de inflamaccedilatildeo

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Domingas Alves de Sousa 53 anos

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

204

Informante

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash

PPGLSA)

Nt Nota Quando a planta esta verde tem aparecircncia de maxixe quando maduro na cor amarela tem aspecto de um melatildeo pequeno

Dc Data da Coleta 04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

205

APEcircNDICE DD ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMortinha Miuacutedardquo

Fotografia 55 ndash Mortinha Miuacuteda com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 34 MORTINHA MIUacuteDA

Lx Lexema Mortinha Miuacuteda

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh ela eacute parente da mortinha peluda porque eacute nativa que nem a outra ela eacute

nativa ela num eacute uma planta que a genti planta ela nasce sozinha ateacute eh eacuteh

uma erva ela eacute nativa ela eacute medicina por isso que eu digo que eacute uma erva

uma erva nativa ela daacute assim ela gosta de todos os climas clima frio clima quente porque laacute perto de casa tem uma arvi eh todo tempo tau so um jeito ser

veratildeo ou seja inverno sempre no inverno ela muda um pouquinho por que claro neacute

num seca mas daacute eacuteh todo clima ela gosta mortinha miuacuteda eacute porque ela eacute bem

piquinininha a folha dela chama mortinha miuacuteda porque ela daacute mortinha folha

mais muidinha que existi eacute ela eacute menor ainda que a erva do jabuti menor ainda

ela eacute uma folhinha ela ela eacuteh meia compridinha ela num eacute bem redondadinha natildeo

ela eacute compridinha a folha dela eacute bem miudinha agora ela sim ela eacute mortinha

porque eacute uma arve tatildeo bonitinha a genti coidando dela ela eacute uma arve bem

bunitinha porque ela daacute meio baixa ela eacute copodinha formatu duma arve de

jambreiro ela toda cheinha tem flor a flor dela eacute bem miudinha miuditinha

(risos) natildeo sei nem bem dizer eacute porque assim bem pequenininha eacute pequenininha a

florzinha dela acho que tem sementi ainda natildeo prestei atenccedilatildeo mais com certeza ela tem sementinha a mortinha miuacuteda eacute lisa a folha dela eacute menor ela eacute

liso eacuteh essa outra mortinha peluda daacute mais alto essa eacute muito baixinha a mortinha

peluda eacute maior a folha eacute maior o olho dela quando ta sim que ela brota o olho

novo eacute bem rosiozinhu da peluda essa uma natildeo eacute toda soacute verdinha la perto da

minha casa tem uma grande dessa arvore dessa arve eu jaacute perguei um filhim dela

assim assim que ela nasce ela brota o filho dela eu tirei plantei bem pertinho de

casa ta bem bonitinho nois aprendemus com a minha avoacute quando uma mulher

ganhava neneacuten neacute que natildeo tinha aquele coiso de trazer pro hospital e tudo elas

fazia o chaacute pra tomar porque a mortinha miuacuteda faz a limpeza do utro da mulher

por dentro da mulher neacute aiacute ela fazia o chaacute aiacute durante assim um eacuteh quinze dias

vinte dias ela ficava fazendo o chaacute soacute natildeo era soacute dela pegava um monte de ervas pegava a mortinha pega gengibre pegava um monte de coisas assim que elas sabiu

e fazia u chaacute e nisso ficavam tomando planta que desinflamasse isso isso ela faziau

soacute soacute que eu faccedilu o chaacute dela ela num eacute tatildeo travoso assim mas ela tem esse poder

de desinflamar a pessoa e eu conheci muito a minha matildee que a minha voacute quando a

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

206

mamatildee teve os filhos que eu jaacute me lembrava que depois de mim ela teve cinco filhos

depois de mim neacute e nesse um eu via ela fazer esses chaacute todo dia ela fazia o chaacute too dia num era o negocio de botar nesse tempo nem existia geladeira nu

exista neacute aiacute a minhacutevoacute era assim quando a minha matildee ganhava filho cada uma

hora que ela ia comer antes da refeiccedilatildeo ela tomava o chaacute de manhatilde meio dia e

de tarde e a noite ela fazia aquele chaacute antes da refeiccedilatildeo feito da folha pegava

assim tipo uns galinho bem fininho tambeacutem ele tirava aquele galinho quebrava

colocava tudinho na panelinha e cozinhava e dava e sempre nois era curiosa e

perguntava voacute pra qui eacute isso pra que servi quando ela tava fazendu uma uma

velinha muita paciente a vovoacute minha filha isso que eacute pra mulher que tem filho tem

que tomar isso tem que tomar isso que eacute remeacutedio pra fazer limpeza nois via ela

fazer soacute do resguardo quando tava de resguardo essa outra mortinha peluda fazia

assim um probrema di di menstruaccedilatildeo neacute qui eu disse naquele dia pega assim

aquelas folhas bem vermelha folha dela novinha eacute bem vermelha enrolava nas folhas colocava embaixo da cinza quando jaacute tivesse mole espremia e tirava aquele

suco aquele caldo e colocava um pouco de cachaccedila e tomava pra normaliza jaacute

conheci por mortinha nunca perguntei ela tinha a mortinha miuacuteda esse nome

de mortinha eacute porque ela eacute bem miudinha tatildeo insensivelsinha ela eacute tatildeo eu

acho essas outras porque todas elas eacute mortinha neacute mortinha de morte ((

risos))

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo utilizadas para o poacutes-parto e regular menstruaccedilatildeo

Fu Formas de

uso

Usar o chaacute para limpeza do uacutetero e diminuir o sangramento na menstruaccedilatildeo tirando o

sumo da folha e misturando na cachaccedila

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O termo mortinha estaacute relacionado ao tamanho da planta que eacute bem delicada

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

207

APEcircNDICE EE ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMortinha Peludardquo

Fotografia 56 ndash Mortinha Peluda com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 35 MORTINHA PELUDA

Lx Lexema Mortinha Peluda

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Df Definiccedilatildeo natildeu natildeu eacute a morti essa uma eacute a vida num eacute a morti natildeu erraru neacute pra butari a vida

butaru mortinhaeacute mais achu qui eacute ela eacute nativa tambeacuteim ela eacute uma arvri mais jaacute jaacute

bastanti maior eacute uma arvri ela trepa bastanti grandi a arvri dela u cauli dela eu jaacute

vi ate dessa grussura asim neacute teacute dessa grussura assim ela daacute na capueira tambeacuteim

assim numa capueira ela daacute na mata assim eu sei qui ela eacute nativa mais eu nunca vi ela

na mata veju eacute na capueira natildeo menor daacute menor eacute eu jaacute vi menor num sei si ela

teim eacute nativa nativa eacute qualquer clima di qualquer ambienti ela nasci podi ser baxu

podi ser terra seca ela daacute a folhinha dela eacute compridinha tambeacuteim compridinha

larguinha i a flor eu da nunca vi a flor dela eu natildeu sei dizer eu natildeu sei dizer neacute sei qui ela assim u olhu dela assim qui ela brota qui ela taacute renovada u olhu dela assim bas eacute

bem vermelhu u olhu dela assim aquela folha nova eacute beim vermelhinhu beim vermelhu

vermelhu mesmu mortinha peluda porque ela eacute cheiu di pelinhu uma uma us

galhinhu a a os galhu dela assim aquelis galhinhu ( ) eacute cheiu di pelinhu natildeu num eacute a

folha eacute eacute us talinhu us talinhu assim umrum issu natildeu nau nau eacute eacute lisu eacute lisu eacute

paacute folha qui eacute peludinhu eacute teim aquelis pelinhu mais eacute pouquin neacute por issu qui

chamu mortinha porque ela teim varus varus tipu ai pra pra mudar ai butaru mortinha

peluda mortinha( ) qui daacute beim piquininhinha mermu qui a folinha deli eacute qui neim

aqueli mato ali ai teim di otra mortinha qui eacute a vauacutena qui teim aquela qui bota uma

frutinha bem vauacutena qui chama crianccedila gosta di comer daacute muitu nu pastu negociu di

pasto assim di juquira eacute vauacutena a crianccedilada comi qui ela ela daacute qui neim num teim

azeitona essas bicha aqui comeacute nau natildeu eu nunca vi natildeu nunca vi a frutinha dela mas com certeza ela bota porque assim ela ela eacute nativa as veiz genti num vai laacute vecirc

naquela eacutepoca ela ta sim num acompanha ai por issu qui eacute mortinha peluda porque

tocirc dizendu assim tem varus tipu di mortinha i cada uma teim um nomi a mortinha

peluda a mortinha essa outra qui eacute a lisa qui eacute a vauacutena qui eu to dizendu neacute as folha

dela as folha dela satildeo igual eacute eacute muita muita muita folha muita ela eacute uma arvri

assim qui ela daacute qui ela ispalha galinhu pra todu cantu pra todu cantu ela sai galho

dela assim ai( ) i aiacute ela eacute ela eacute uma arvri travosa ela eacute travosa ela presta tantu pra

mulher eacute fazer banhu di assei u neacute ela eacute bom issu travosu sim natildeu num eacute

normau eacute eacute a folha nova dela aquela folha du quandu brota aquela folha nova qui ela

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

208

fica assim beim vermelinha i pra assim mulher quandu taacute na menopausa qui as veiz

passa daacute assim passa du dia da menstruaccedilatildeu dela passa assim por que assim teim mulher quandu taacute im menopausa assim sempri assim passa assim neacute mais dia ai

assim ai minha matildei sempri fazia assim oacute i ensinava pega aquelas folhinha da mortinha

peluda i lava ela beim beim lavadinhu i embrulha numa folha di guarimatilde i bota numa

cinza dibaixu da cinza assim pra quilu assim amulecer natildeu secar pra ficar assim pra

depois qui tiver ali sequinha qui tiver moli qui tiver cozinhadu tira dali espremi i bota

um pocu di cachaccedila i tomaela solta ela ela solta ela depois dela taacute ali neacute com aqueli

suou qui ela ta ali abafadu ela soa ela amoleci ai bota um pocu di cachaccedila i toma

tinha genti qui iacutea na casa da mamatildeie i dizia assim qui tava com essi poblema neacute as

veiz era menopausa i as mulheacute natildeu tinha essi conhecimentu qui era menopausa aiacute elas

ficavu afrontada pensava assim qui jaacute era um comeccedilu di hemorragia issu tudo neacute ( )

conversandu ( ) ai eu aprendi cum a mamatildei quandu foi certus tempus neacute ( ) issu eacute

aiacute um tempu taacute cum mas ou menus um anu i pocu eu tinha uma minha colega tava assim colega da minha minina inte filha da parenti ali du antoniu froz ali neta du

finadu antoniu froz neacute ela procuro ela mando i a dominga eu to passandu mau ela

morava nu broca ela ligo si eu num sabia di um remeacutediu por que ela jaacute tinha tomadu

tanta da garrafada qui a matildei dela tinha feitu i ela tava com essi poblema mais ela eacute

nova mulher du primeiru filhu ela taacute cum vinti dois anus pareci ela taacute cum essi

poblema ichi to seim coragi pra nada si eu num sabia ensinar um remeacutediu eu dissi a (

) natildeu eu natildeu sei ensinar remeacutediu a tua matildei porque a matildei dela trabalha com garrafada

tambeacuteim neacute a a mamatildeie fez uma garrafada pra mim eu fez foi pioraacute apioraacute mais

dominga eu to ateacute com medu i eu num quiria ir negociu di cirurgia eu num quiria di

jeitu nenhum natildeu queru mi consultar ai eu peguei ensinei vou ensinar um remeacutediu qui

a mamatildei ensinava pra mulher ai eu peguei fez uma garrafinha neacute i mandei pra ela mandei u remeacutediu i feiz uma cartinha ensinandu comu ela fazia dissi adriani natildeu vou

fazer aqui porque pra mim fazer aqui tu mora longi ela morava nu broca aiacute eu mandei

pelu carru di alunu ai depois qui eu vi ela dissi dominga graccedilas a deus aqueli remeacutediu

foi em primeiru lugar pra mim seraacute qui feiz beim feiz beim qui ichi eu neim foi neim mi

consultar aqueli remeacutediu ela mi dissi neacute ela fazia assim quandu us otru ensinavu pra

ela neacute ai ela jaacute aprendeu com voacute com a matildei dela e aiacute ela fazia natildeu eacute issu eacute ela fazia

cum eu achu qui ela jaacute aprendeu com a voacute dela cum a matildei ai prontu ela jaacute faziu aqueli

remeacutediu dava certu aiacute elas iam so passandu di voacute passar pra matildee matildei passar pra filhu

filhu jaacute passa prus netu aiacute jaacute vai

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas para problemas com a menstruaccedilao hemorragia e menopausa

Fu Formas de

uso

Utiliza-se a folha embrulhada na folha da guarimatilde esquentando no fogo depois eacute

espremida e colocada na cachaccedila

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Existem vaacuterios tipos de mortinha a planta com a folha lisa eacute chamada Vauacutena

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

209

APEcircNDICE FF ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPata de Vacardquo

[natildeo haacute registro da imagem]

FICHA TERMINOLOacuteGICA 36 PATA DE VACA

Lx Lexema Pata de vaca

Cg Classe

Gramatical

Sintagma terminoloacutegico feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh abertu amplu eacute ela eacute eacute mais du friu ela eacute uma forma di pata de vaca memu

ela daacute assim neacute ela assim aiacute ela reparti uma folha ela tem dois divisatildeo uma forma

duma pata di vaca mermu ela eacuteh meacutedia ela natildeu eacuteh tatildeu pequininha mas natildeu eacuteh tatildeu

grandi tambeacutem eacuteh meacutedia eu nunca vi a flo dela porque eu essa arvre laacute diabe laacute nu

nossu setor ela duro pocus tempu ela natildeu duro tantus tempu natildeu ela natildeu chego a bota

flo eacuteh essi um eli num era tatildeu piquininhu mais eli num era tatildeo grossatildeu diabet eli era

porque ela ela foi num era era uma arvri nova porque eacute comu eu contei qui meu irmatildeo elimino ela antis du tempu meu irmatildeu num sei u qui aconteceu or mininu cortaru ela

num chegoacute a si forma eu num sei dize u tamanhu dela a grussura dela i eu diabet da

nunca vi ela im otru cantu pra mim dize oacute isso aqui eu vi essa uma laacute im casa qui foi teacute

um meu colega qui levo pra casa i deu um galhu pa minha irmatilde aiacute ela plantocirc i aiacute ela

tava jaacute um bom tamanhu aiacute agenti num tinha um diabetete di qui ela era assim tatildeo

assim valiosa neacute eli eli chegoacute diabete assim oacute diab aqui eacute remeacutediu mais eli num disse

pra qui era i pra quecirc natildeu naqueli tempu agenti num tinha ainda muita diabetete di

assim fazecirc iab assim essi tipu di trabalhu remeacutediu garrafada essas coisa aiacute ela plantocirc

laacute i soacute sei qui iab sei qui laacute a folha dela eacute assim () i ela ela creceu numa boa altura

agora achu qui aquilu inda nu era u tamanhu dela assim diabetete neacute achu qui ela

inda ia crececirc mais ela eacute meacutedia eacute uma planta eacute ela eacute uma planta eacute meacutedia eacute

meacutedia cum certeza ela eacute uma planta meacutedia natildeu soacute o cauli a folha isso agente usa a folha dela pra remeacutediu i a casca pra fazecirc u chaacute pra diabete neacute () me diabet qui ela eacute

boa pra diabete ela eacute folha i casca

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

Satildeo utilizadas as folhas e o caule para Diabetes

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome tem relaccedilatildeo com o formato da folha (pata de vaca)

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

210

APEcircNDICE GG ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeacute de Galinhardquo

Fotografia 57ndashPeacute de Galinha com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 37 PEacute DE GALINHA

Lx Lexema Peacute de Galinha

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminologico Feminino

Df Definiccedilatildeo ela eacute uma erva ela eacute uma erva ela eacute nativa ela daacute nu pastu assim neacute tipu um capim

ela eacute um capim( ) soacute qui ela daacute u formatu di um peacute di galinha mermu ela nasci aqui u

pezim deli ali ela ispalha mais naquela a dondi ela espalha ali us pezim eacute qui ela bota

a sementinha uma pequena semetinha tambeacuteim beim piquenininha ela eacute mais ou

menus meiu palmu assim beim miudinha teim sim sim ela bota o caulizinhu qui eacute u

peacute di u formatu di uma perna di galinha mermu u formatinho neacute bota aqueli caulizinhu ai na pontinha deli qui ela espalha u pezinhu aquelas folinha prum ladu i pra otru fica

nu formatu di um peacute di galinha eacute eacute issu eacute nu invernu eacute eim qualquer tempu eacute

qualquer cantu ela daacute achu qui eacute por causa du formatu noacuteis conhecemus tambeacuteim

cum ela neacute cum ela queacute dizer quandu otra pessoa tava com dor di denti ela mandava

fazer u chaacute assim quandu tava com aquela dor di denti assim cum inchaccedilu aiacute ela

mandava fazer u chaacute faz u chaacute du peacute di galinha pra fazia u chaacute esfriava i tomava ali ( )

porque naqueli tempu edilene era difiacutecil assim ah qualquer coisa ir pru hospital

qualquer coisinha aqueli tempu natildeo tinha aacute cecirc eacutesi natildeu tinha aqui era muitu difiacutecil pra

genti vir aqui pra paacute neacute uma consulta uma coisa a minha voacute a minha matildei num foru

acostumada assim qualquer coisinha taacute nu hospital qualquer coisinha sentia uma dor

di cabeccedila ah eu vou pru hospital vou pru hospital di jeitu ninhum num era dessi jeitu natildeu a minha voacute eu conheci ela qui eu tocirc com cinquenta anu cinquenta i dois anu eu

nunca vi ela dizendu assim eu queru ir pru hospital eu tocirc cuma dor di cabeccedila eu tocirc

cuma dor di barriga eu tocirc com uma diarreia eu queru eacute ir pru hospital nunca ouvi

nunca nunca nunca sabi comu eu nunca vi soacute remeacutediu caseru agora fossi na casa

dela neacute ela ( ) uma panelinha di barru qui ela usava panelinha di barru aiacute di manhatilde

ela preparava ela pegava eacute denti di alhu quandu natildeu tinha u denti era casca du alhu

um bucadu di coisa mastruz botava laacute aiacute cozinhava noacuteis chegava laacute qui noacutes era

curiosa neacutevovoacute pra qui eacute issu aqui eacute pra mim beber mais u qui eacute que secirc tem voacute nada

meu filhu issu eacute remeacutediu mermu mi deu na cabeccedila deu fazer as vezis ela dizia assim eu

amanheci assim com uma dozinha nu meu estocircmagu uma coisa um ventu uma coisa

assim quasi naquilu eli si curavu naquilu ela nunca foi eu nunca vi ela num hospital natildeu assim dizendu eu queru ir eu vou mi consultar mi levu pra mi consultar nunca eu

mais saudia era ela quandu adoeceu foi pra morrer velhinha jaacute quandu ela adoeceu

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

211

foi pra morrer i ela foi assim ela caiu aiacute sI bateu neacute ai u titiu ainda ainda quis levar

ela pra consulta pru hospital ela num quiz ir di jeitu nenhum ela dissi qui natildeu adiantava ela ir qui ela sabia qui ela natildeu ficava boa era tempu dela morrer i ela jaacute

tava velha di idadi ela jaacute andava devagarinhu u titiu anda feiz umas consulta assim

pra ela foi consultar i trouxi umas injeccedilatildeo mais ela natildeu ficou boa mermu mais natildeu

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de dente e inchaccedilo na boca

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dores de inchaccedilos nos dentes

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta tem aspecto de um peacute de galinha

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

212

APEcircNDICE HH ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeatildeo Brancordquo

Fotografia 58 ndash Peatildeo Branco com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 38 PEAtildeO BRANCO

Lx Lexema Peatildeo Branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminoloacutegico Feminino

Df Definiccedilatildeo eacuteh uma planta eacute caseira clima tantu faz ela gostalugar que eleela ela gosta

tantu faz eacuteh aela eacute bem resistente inverno veratildeo veratildeo ela eacute resistente ela sim a

folhadela eacute media ela eacute redondafolha dela verdio fruto delaelabota assim

tipohum tipo caixinho ai dentro da da daquele cachu da a sementi neacutebota as

sementinhas e quando a genti pega dentro aquela caixinha tem sementinha delaque

a gente abre o remeacutedio e a sementi dela que eacuteh o remeacutedio ela da o cacho bota o cacho

assimas pontinhas daqueles coisinhus assimbota o fruto ai dentro do fruto

daquelas daquelas cachopinhos parte que taacute a sementinha a sementinha preta dela

ela bemeacuteh a sementi que usa no caso do peau a folha dela eacute remeacutedio prano caso ta com dor de cabeccedila uma ma tontura mucha a folha dela a folha do peatildeo branco

mucha um pouco no fogo passa um pouco de alho e coloca na testa e pra tontura

neacuteminha voacute fazia cuando algueacutem com tontura fazia issoaiacute o leite dele que a genti

corta assim o caule dele sai dele uma aguazinha eacute e tambeacutem muito esse noacutedia se pegar

na roupa da genti tem que ter muito coidadu usar o leitiele aiacute si tiver crianccedila que

tiver ferida na boca antau dor de denti muito celente pra usar o leiti corta o leitizim

dele bota numa esponjinha de algodatildeo e coloca no denti ferida na tambeacutem eacute bom

tambeacutem agenti pega apara o leiti dele bota um pouquim de sal e coloca na boca da

crianccedilaa sementi delea genti pega a semnetinha dele aquela sementi num eacuteh tao

pequenininha ela eacute muito bem maior que a sementi de urucumbem maiora genti pega

elaeh uma crianccedila tiver com tossetiver ehproblema daquela asmaela servi pru bucado de coisas as veis febre as veis fartiu a crianccedila num quer comerse pega ele

assim parte aquele sementinha tem o coidado de tirar a folhinha porque agenti fica

olhando assim agenti percebi a folhinha dele que ta dentro daquela sementinhauma

folhinha dentroassim pra nascer neacuteaquela folhinha assim quando ela ela agenti

parte jaacute percebi a folhinha jaacute ta li aquela folhinha agenti tem que tirar tudinhu na

mimpega uma faca tira tudinhu e pega aquela sementinhaela eacute que nem uma coco

que nem um coquinho assim neacuteaquela massinha ai pega faz umbota ela pra

assarbotaela fica amelinhaai pega pisa pisa e da pra crianccedila pouco tambeacutem

neacutemuito natildeo porque se der muito ele da um acesso de vomito que eacute forte eacutehisso aiacute

eacute remeacutedio mas neacute todo mundo que sabe fazer e eacute difiacutecil de ensinar pro outra pessoa

fazer remeacutedio caseiro tem essa ciecircncia neacutepurque a genti natildeo sabendo fazeragenti

ateacute evita de ensinar pra uma pessoa porque ele natildeo tem costume de fazerele tem

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

213

ciecircncia remeacutedio caseirotem chaacute que a genti pode beber o tanto que fornatildeo ta nem

aimas agortem remeacutedio caseiroo peatildeoo peatildeo eacute muitoa mimha matildee fazia pra nois agenti comeccedila a tossirnois era muito neacuteuins tussindu as veis gripadu ela

tiravaela tirava aquela folhapegava uma pontinha da faca ehmae o que eacute isso

no crianccedila curiosa sabe coma eacute neeh olhe isso eacute afolha que tem que tirar se comer

com essa folha morre ela dizia neacuteeacute veneno essa folha tem que tirar e assava so as

bandinhas ela pegava um espetinhu fazia uns espetinhos bem fininhu botava pra

assar so na quentura despois ela moiacutea assimdava para nois comerquando dava

certo ela misturava com qualquer coisaquando dava certo quando natildeo dava

assim quando nois jaacute era entendidopor meus filhos eu nunca fizeu jaacute comimais

eu nunca fiz nuca cheguei a fazer eu sei fazereu sei preparar do jeito que minha matildee

fazia pra nois nunca dava nunca dava mais de uma sementicom a folhinha muito

coidado com aquela folhinha de dentro da sementi

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de uso

As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e tontura Do caule eacute retirado um leite para dor de dente feridas na boca A semente eacute usada para febres e vocircmitos

Fu Formas de

uso

Faz-se o chaacute das folhas para dor de cabeccedila para tontura a folha eacute esquentada com um

alho e colocada na lateral dos olhos O caule tem um leite que eacute retirado para colocar

com um pouco de sal nos casos de dores no dente ou feridas na boca Dentro da

cachopinha da planta tem a sementinha que eacute assada e triturada para acessos de

vocircmitos e febres

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota Dentro da sementinha da planta existe uma folhinha bem pequena que deve ser retirada

para o preparo do remeacutedio segundo seu saber a folhinha eacute venenosa por isso nem

todos sabem preparar a medicaccedilatildeo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

214

APEcircNDICE II ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoQuebra Pedra Brancordquo

Fotografia 59 ndash Quebra Pera Branco com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 39 QUEBRA PEDRA BRANCO

Lx Lexema Quebra Pedra Branco

Cg Classe

Gramatical

Sintagma Terminologico Feminino

Df Definiccedilatildeo eacute uma erva uma erva ela eacute ela achu qui pertenci um poquinhu friu um puquinhu

quenti ela tambeacuteim daacute assim ela tambeacuteim daacute nessa eacutepoca assim di natildeu muita chuva

natildeu muitu sol sempri ela ela gosta di daacute i ai tambeacuteim ela ela eacute nativa tambeacuteim ela

nasci assim tambeacuteim pelu quintau nu canteru sozinha ela nasci e ai quandu chega u

veratildeu qui eacute u veratildeu aperta muitu aqueli veratildeu di novembru dezembru ela morri ela si acaba natildeu ela eacute assim num teim u cuminhu di planta u cuminhu di planta jaacute viu u

cuminhu di planta natildeu natildeu sim sim sim () aqueli cuminhu qui a genti planta nu

canteru neacute pois eacute eli eacute daqueli jeitu eacute u formatu da di cuminhu sim sim sim pois eacute

natildeo mais quandu a genti dexa eli crescer eli da sementi eacute eli num cresci porque

quandu chega aquela eacutepoca a genti tem qui arrancar pra planta otru pra genti vender

daqueli jeitu neacute mais deixandu eli sementa i a a quebra pedra eli fica na formatu di

duma arvri di cuminhu di planta i ai eli a folha deli eacute beim muiditinha eli eacute eli eacute uma

avre assim pequeninha tambeacuteim e a a folha deli eacute bem miudititita assim a folhinha

deli mais ou menu eacute a folhinha daacute muita piquinininha tambeacutem mas daacute florzinha

dela beim miudititita ela teim teim teim natildeu natildeu natildeo natildeo eacute uma plantinha

piquinininha mas eacute uma planta eacute qui neim qui neim u cheiru verdi qui nem u cheiru verdi eu nunca vi u cheiru verdi assim di flor neacute mas eu jaacute vi mas eli eacute qui neim u

cheiru verdi assim a avrinha deli ai daacute daacute us galhinhu daacute as folhinhas beim miuditita

assim porque eli distroacutei as pedra di rim neacute achu qui eacute por issu qui u nomi deli eacute

quebra pedra quebra pedra eu aprendi nu livru tambeacuteim nu livru foi qui eu

aprendi issu foi a minha matildei i minha voacute a minha matildei i minha voacute qui muitas dessa

essa daiacute agenti sabia dessi nomi quebra pedra agora natildeu sabia a importacircncia qui eli

tinha mas u nomi a genti jaacute sabia por que ela eacute branquinha a a folha porque teim di

duas marca tem du roxu i teim du branquinhu i u bom eacute o que eacute branquinha

piquininha i branquinha i du roxu eli eacute du mesmu formatu mas soacute qui eli eacute roxinhu

tambeacuteim eacute a folha eacute a folha a raiz i assim a genti arranca ela tudu i lava i bota pra

fazer u chaacute deli completu folha cum raiz cum tudu

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de As folhas satildeo usadas para problemas renais

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

215

uso

Fu Formas de

uso

Na forma de chaacutes contra as pedras nos rins e na garrafada

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota O nome da planta tem relaccedilatildeo com a funccedilatildeo

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

216

APEcircNDICE JJ ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoSalsardquo

Fotografia 60 ndash Salsa com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 40 SALSA Lx Lexema Salsa

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo natildeu a salsa di remeacutediu eacute otra ela eacute du ela tantu faiz pra ela ela gostu du du mais

ela eacute du ambienti mais friu um tempu dessi( ) ela ela podi passar u veratildeu mas ela num

morri mais natildeu ela fica assim meia fraquinha amareladinha mais ela num morri

quandu chega u invernu ela renova tudim ela fica toda renovada e ai a folha dela eacute

bastanti grandi tambeacuteim eacute assim num formatu dum coraccedilatildeu tambeacuteim ela soacute qui ela eacute

mais grandi e eacute eacute um cipoacute tambeacuteim ela eacute cipoacute quandu quandu daacute certu dela subi ela

sobi mais ela eacute du chatildeu du chatildeu eacute du chatildeu natildeu natildeu eacute sobi eacute eacute si ela ver otra otra

planta ela sobi i aqui ela jaacute bota u cipoacute ela jaacute jaacute sobi aqui se der certu prela descer i

ela vai dandu cipoacute i vai dandu raiacutezes nu cipoacute i vai i pegandu vai indu ela num eacute aquela

raiz soacute nu peacute dela natildeu ela vai botaacute nu u cipoacute i vai i vai raizandu issu daiacute eu num sei dizer eu conheccedilu por essi nomi ( ) eacute porque natildeu eacute ela eacute nativa eacute eacute nativa teacute nu

lugar qui ela daacute qui ela nasci eacute difiacutecil ela ateacute si acabar natildeu soacute salsa eacute eacute eacute porque

a du temperu ela eacute qui neim cheiru verdi neacute du mesmu jeitu du cheiru verdi a salsa du

temperu i essa uma natildeu ela eacute um cipoacute ela daacute assim pertu di casa teim uma a genti

luta paacute acabar essi comecirc di rola ocirc ocirc essi que daacute eli daacute mais nu roccediladu eacute elas vatildeu

a salsa teim muitu laacute pertu di casa ela chega nu terreru eu cortu eu arrancu soacute qui ela

eacute difiacutecil dela si acabar ela fica escondidinha ela fica to dizendu nu veratildeu ela fica

amarelada soacute qui ela num si acaba pa dizecirc morreu natildeo noacuteis arranca noacuteis corta ela

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas em alimentos

Fu Formas de

uso

Usam-se as folhas como cheiro verde serve para dar sabor no alimento

Fn Finalidade Tempero

Di Dados do Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

217

APEcircNDICE LL ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoVassourinhardquo

Fotografia 61ndashVassourinha com detalhe da folha

FICHA TERMINOLOacuteGICA 41 VASSOURINHA Lx Lexema Vassourinha

Cg Classe

Gramatical

Substantivo feminino

Df Definiccedilatildeo ela eacute nativa ela nasci tambeacuteim nu paacute assim terreru nu quintal sempri a vassorinha

sempri ela gosta mais assim assim du molhadinhu du uacutemidu eacute mais nu veratildeu ela eacute

bastanti resistenti tambeacuteim nu veratildeu eacute com certeza eacute natildeu uma arvrizinha tambeacuteim

uma arvri piquinininha mas ela eacute arvri num eacute rastera natildeu num eacute grama ela eacute formatu

duma vassora bota arvrinha aqui daqui espalha us nasci us galinhhu neacute ela espalha aiacute teim a folha dela eacute qui neim a folha di mastruz ela eacute mais menas mais eacute u mesmu

formatu da folha di mastruz assim eacute uma folinha uma folinha com com um frizadinhu

assim soacute qui pequena eacute menozinha um pocu du qui a folha di mastruz i aiacute a sementinha

dela eacute beim pequenininha tambeacuteim daacute umas bolinha assim umas bolinha qui neim um

pirulituzinhu uma coisa soacute qui eacute beim piquininha neacute aiacute ela bota a sementinha dela

tambeacuteim sim a florzinha dela eacute assim meia roxinha beim piquininha a florzinha dela

bem piquininha assim meia roxinha branquinha assim um roxozinhu claru eu

aprendi com a minha voacute tambeacuteim com us meus tiu inteacute quandu quandu eu tinha um tiu

vinha a ser tiu da mamatildei a genti considerava qui neim avoacute eli eli benzia dor denti aiacute

quandu eli chegava uma pessoa laacute agrave eu vim aqui pra oce benzer meu denti eli taacute

doendu num sei u quecirc eli mandava vai apanhar uma vassorinha um galhinhu di

vassorinha pra mim com aqueli cum aqueli galhinhu di vassorinha qui eli fazia u trabalhu deli assim benzia neacute ai agenti aprendeu aiacute as depois ai tinha veiz qui eli fazia

eu fazia aqueli trabalhu ai depois as veiz eli dizia olha au chegar na tua casa pega

dois dois trecircis pontinhas di folha di vassorinha i pisa com pouquin di sal i coloca

quandu u denti tinha aqueli coisa neacute aquela furadu neacute bota um pouquin di sal i coloca

ai genti fazia era u remeacutediu qui eli mandava i ficava bom ai conheci por vassorinha

porque a vovoacute tambeacuteim dizia qui era era um vassorinha porque eacute eacute pa ensinar crianccedila

pequenu tira um galhu di vassorinha i meti nais costa dessi safadu por qui galhu di

vassorinha num doacutei muitu eacute pra ensinar crianccedila pequena neacute aiacute tinha qui dizer assim

ai tambeacuteim antigamenti ar mulher faziu vassora pra varrer da planta apanhava

dondi tinha muitu neacute apanhavu ela i amarravu assim aqueli fexu aqueli monti i botavu

num cabu di pau i faziu vassora pra varre dondi num natildeu natildeu ela eacute beim ela eacute beim uma uma beim cheinha eacute uma plantinha pequeninha mais ela eacute cheia ela eacute quasi qui

neim u mastruz( ) eacute u mastruz eli espalha mais eli eli eli cresci assim mais grandi eli

Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014

218

bota mais assim eli fica maioacute a a vassorinha ela eacute um formatu di uma arvri di

jambreru soacute qui eacute piquininha mais eacute naqueli formatinhu qui ela eacute di jambreru nativa eacute pra alergia tambeacuteim eacute banhu fazer u banhu dela qui eacute pra

Fd Fonte de

Definiccedilatildeo

A informante

Pu Partes de

uso

As folhas satildeo usadas para dor de dente

Fu Formas de

uso

Pega-se a folhinha amassa com sal e coloca em cima do dente

Fn Finalidade Medicinal

Di Dados do

Informante

Domingas Alves de Sousa 53 anos

Dp Dados do

Pesquisador

SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)

Nt Nota A planta era usada como vassoura pelas mulheres por ser bem encorpada aleacutem disso

usava para disciplinar as crianccedilas e tambeacutem em rezas pelo tio

Dc Data da

Coleta

04022014

Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014

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