Estudo Terminológico das Plantas Medicinais da Comunidade ...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute
CAMPUS UNIVERSITAacuteRIO DE BRAGANCcedilA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA
- PPGLSA
ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO
Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade
Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do
Paraacute - PA
BRAGANCcedilA-PARAacute
2015
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ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO
Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade
Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do
Paraacute - PA
Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do
Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Orientadora Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas
BRAGANCcedilA-PARAacute
2015
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Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFPA
___________________________________________________________________________
Salomatildeo Antonia Edylane Milomes 1978 ndash
Estudo terminoloacutegico das plantas medicinais da comunidade remanescente de
quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do Paraacute - PA Antonia Edylane Milomes Salomatildeo -
2015
Orientadora Raimunda Benedita Cristina Caldas
Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal do Paraacute Campus de Braganccedila
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia Braganccedila 2015
1 Linguagem e Liacutenguas 2 Plantas medicinais -Terminologia 3 Palavras e
expressotildees 4 Quilombos - Santa Luzia do Paraacute(PA) 5 Quilombolas - Santa Luzia do
Paraacute(PA) I Tiacutetulo
CDD 23 ed 4014
___________________________________________________________________________
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ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO
Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade
Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do
Paraacute - PA
Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo
em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do
Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Aacuterea de concentraccedilatildeo Leitura e Traduccedilatildeo Cultural
Aprovada em ______ ______ ______
Conceito _________________________
Parecer Final ______________________
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas (UFPA-Campus de Braganccedila)
Orientadora
________________________________________________
Prof Dr Elias Mauriacutecio da Silva Rodrigues (UFRA-Campus Capanema)
Membro Externo
_________________________________________________
Profordf Drordf Tabita Fernandes da Silva (UFPA-Campus de Braganccedila)
Membro Interno
_________________________________________________
Profordf Drordf Carmen Luacutecia Reis Rodrigues (UFPA-Campus de Castanhal)
Suplente
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Dedico este trabalho ao meu esposo
Haroldo Jorge e minha filha Maria
Lorenna pelo apoio incondicional e
constante incentivo Aos meus familiares e
amigos pela paciecircncia incentivo e
amizade
5
AGRADECIMENTOS
A DEUS
Ele colocou pessoas tatildeo especiais a meu lado sem as quais natildeo conseguiria alcanccedilar e nem
superar as dificuldades dessa caminhada Meu eterno louvor e gratidatildeo ao Senhor de minha
alma Obrigada sempre
Agrave Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas
Por acreditar em mim me mostrar o caminho da ciecircncia por ser exemplo de profissional e de
mulher a qual sempre seraacute modelo na minha vida Muitiacutessimo obrigada
Aos Professores
Profa Dra Raimunda Benedita Cristina Caldas Prof Dr Guumlnter Karl Pressler Profa Dra
Sylvia Maria Trusen Profa Dra Carmen Lucia Reis Rodrigues Profa Dra Tabita Fernandes
da Silva Profa Dra Roberta Alexandrina da Silva Prof Dr Joseacute Guilherme dos Santos
Fernandes Prof Dr Pedro Petit Pentildearrocha Profa Dra Georgina Negratildeo Kalife Cordeiro
Prof Dr Flavio Leonel Abreu da Silveira Prof Dr Luis Junior Costa Saraiva Prof Dr
Salomao Antonio Mufarrej Hage Profa Dra Nilsa Brito Ribeiro Profa Dra Maria do
Perpetuo Socorro Galvatildeo Simotildees pelas contribuiccedilotildees nas disciplinas ministradas e no curso
em geral Obrigada a todos
Ao Prof Dr Elias Mauriacutecio
Pela amizade que transcende ao tempo pelo incentivo e contribuiccedilatildeo para que eu pudesse
realizar esse sonho Meu sincero e especial obrigada
Ao Prof Dr Jair Cecim
Que me fortaleceu e me fez tentar natildeo ser a melhor mas fazer o melhor de mim Obrigada
Agrave senhora Domingas Alves
Suas contribuiccedilotildees foram basilares nesse estudo Sempre disponiacutevel e disposta a ajudar com
seus saberes a senhora me fez enxergar que existe um mundo infinito de conhecimentos que
ultrapassam geraccedilotildees atraveacutes das lutas e das conquistas alcanccediladas pela forccedila de um povo
Muito obrigada por tudo
Agrave senhora Nazareacute Guirard
Que se mostrou incansaacutevel e atenciosa contribuindo significativamente com informaccedilotildees
fundamentais nos trabalhos com as plantas e respeito agrave natureza Sempre obrigada
Aos moradores quilombolas de Pimenteiras
Por me receberem e acolherem na comunidade respeitando e contribuindo espontaneamente
para que o trabalho demonstrasse sua histoacuteria e identidade Todos merecem meu eterno
agradecimento
6
Aos meus pais Zaqueu Alves e Lucia Salomatildeo
A quem amo muito obrigada pelo carinho paciecircncia e incentivo Meu infinito
agradecimento Amo muito vocecircs
Aos meus irmatildeos Joseacute Weliton e Maria Helem
Pela dedicaccedilatildeo e auxiacutelio nos momentos difiacuteceis vividos em nossas vidas Obrigada
Ao meu esposo Haroldo Jorge
Meu amor que sempre acreditou em minha capacidade meu companheiro que se dedicou
espontaneamente a me acompanhar ajudar e me equilibrar nos momentos de dificuldades
Devido ao seu companheirismo amizade paciecircncia compreensatildeo apoio alegria e amor este
trabalho pocircde ser concretizado Obrigada por ter feito do meu sonho o nosso sonho Te amo
Agrave minha pequena e amada filha Maria Lorenna
Sua presenccedila em minha vida trouxe um incentivo a mais para continuar Natildeo eacute por mim mas
por vocecirc meu amor que sempre busco alcanccedilar e ser o melhor Amo vocecirc meu cheirinho
As amigas Alaiacutece Pereira Alcilene Morais Sara do Socorro
Que diretamente fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando Meu
eterno agradecimento pela amizade Valeu meninas
As amigas do Mestrado
Pelos momentos divididos juntos especialmente agrave Myrceia agrave Michelly Adriana Elizabete e
Aldilene que se tornaram verdadeiras amigas e tornaram mais leve meu trabalho Obrigada
por dividir comigo as anguacutestias e alegrias e ouvirem minhas bobagens Foi bom poder contar
com vocecircs
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Por abrir as portas para que eu pudesse realizar este sonho que eacute a minha Dissertaccedilatildeo de
Mestrado Vocecircs proporcionaram-me mais que a busca de conhecimento teacutecnico e cientiacutefico
mas uma liccedilatildeo de vida Ningueacutem vence sozinho OBRIGADA A TODOS
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ldquoHaacute um casamento que ainda natildeo foi feito no Brasil entre o saber
acadecircmico e o saber popular O saber popular nasce da experiecircncia
sofrida dos mil jeitos de sobreviver com poucos recursos O saber
acadecircmico nasce do estudo bebendo de muitas fontes Quando esses
dois saberes se unirem seremos invenciacuteveisrdquo
Leonardo Boff (1938)
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RESUMO
O presente trabalho traz um levantamento dos termos sobre as plantas de uso medicinais
catalogados e utilizados pelos moradores remanescentes de quilombola da comunidade de
Pimenteiras pertencente agrave cidade de Santa Luzia do Paraacute no Estado do Paraacute cujo
procedimento de anaacutelise parte de conhecer as praacuteticas dos saberes no fazer uso das plantas
medicinais nessa comunidade Foram elencados aspectos relacionados com a comunidade
suas origens e seus saberes sobre as plantas medicinais que se tornaram siacutembolo de
identificaccedilatildeo cultural dos moradores quilombolas Assim nosso propoacutesito eacute mostrar que a
linguagem eacute algo que identifica e marca as caracteriacutesticas de um grupo ou de um indiviacuteduo
do mesmo modo que a liacutengua de especialidade sobre as plantas de uso medicinal utilizada
pelos moradores quilombolas revela uma identidade cultural forte desse grupo Os estudos
terminoloacutegicos de Krieger e Finatto (2004) serviram de base para analisarmos os termos e
suas especificidades no contexto particular da linguagem assim como a abordagem
socioterminoloacutegica de Faulstich (1994 1995 1996 2001 2003 2006) propiciou observar
por meio dos termos suas construccedilotildees variaccedilotildees e definiccedilotildees no que concerne ao
conhecimento repassado entre as geraccedilotildees Construiacutemos este trabalho utilizando uma
metodologia com instrumentos usados antes durante e apoacutes a pesquisa para a anaacutelise dos
dados coletados Os recursos da informaacutetica entrevistas transcriccedilotildees de diaacutelogos orais fichas
terminoloacutegicas e registro de imagens foram alguns dos meacutetodos usados na construccedilatildeo do
trabalho Em suma observamos que o saber da cura por meio das plantas medicinais estaacute
preservado na memoacuteria e na liacutengua dos moradores quilombolas da comunidade de
Pimenteiras
Palavras-chave Plantas Medicinais Saber Tradicional Identidade Cultural Terminologia
Socioterminologia Termo
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ABSTRACT
This paper presents a survey of the terms on the medicinal use of plants cataloged and used by
the remaining residents of Pimenteiras community maroon belonging to the city of Santa
Luzia do Paraacute in the state of Para whose analysis procedure of knowing the practices of
knowledge to make use of medicinal plants in this community Aspects of the community
were listed their origins and their knowledge about medicinal plants that have become a
symbol of cultural identification of quilombo residents So our purpose is to show that
language is something that identifies and marks the characteristics of a group or an individual
just as the specialty of language on the medicinal use of plants used by the quilombo residents
reveals a strong cultural identity of this group The terminology studies Krieger and Finatto
(2004) formed the basis for reviewing the terms and their specificities in the particular context
of language as well as socioterminological approach Faulstich (1994 1995 1996 2001
2003 2006) led to observe through terms of their buildings variations and definitions
concerning the knowledge passed on between generations We developed this work using a
methodology tools used before during and after searching for the analysis of the collected
data computers resources interviews oral dialogue transcripts terminology records image
recording these were some of the methods used in the development of the work In short we
see that the knowledge of healing through herbs are preserved in memory and language of the
quilombo residents in Pimenteiras community
Keywords Medicinal Plants Traditional knowledge Cultural identity Terminology
Socioterminology Term
10
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade 33
Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras 33
Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas 34
Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada 35
Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda 36
Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas 37
Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento 37
Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena 44
Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico 44
Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o
funcionamento do organismo 45
Fotografia 11 ndash Salsa dissecada 45
Fotografia 12 ndash Canela dissecada 46
Fotografia 13 ndash Vinagreira dissecada 46
Fotografia 14 ndash Mucuracaacute 95
Fotografia 15 ndash Folha do Mucuracaacute 95
Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti 98
Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti 98
Fotografia 18 ndash Noni 100
Fotografia 19 ndash Folha do Noni 100
Fotografia 20 ndash Pataca 102
Fotografia 21 ndash Folha da Pataca 102
Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata Pasto 105
Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem 105
Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo 108
Fotografia 25 ndash Folha de Vassoura de botatildeo 108
Fotografia 26 ndash Nambu Tutano 110
Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano 110
Fotografia 28 ndash Paratudo 115
Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo 115
Fotografia 30 ndash Gergelim Branco 118
Fotografia 31 ndash Folha do Gergelim Branco 118
Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho 121
Fotografia 33 ndash Folha do Urucum Vermelho 121
Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho 123
Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho 123
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute 96
Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti 98
Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni 100
Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca 103
Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-de-Muquem 105
Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo 108
Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano 110
Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo 112
Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo 115
Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco 118
Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho 121
Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho 123
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SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 PIMENTEIRA OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA 18
21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA 19
211 Remanescentes o que restou 22
212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras 25
22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO 28
221 Ladainha agrave Nossa Senhora do Livramento 31
222 AQUAFAP O desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola
nos saberes das plantas medicinais 39
223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico 42
23
SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM
PIMENTEIRAS 47
231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes 51
232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais 53
233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes 55
234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais 58
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 61
31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL 62
311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular 65
32
A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS
ESPECIALIZADOS 68
321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada 70
33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL 73
331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da
Socioterminologia 76
332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico 79
4 METODOLOGIA 85
41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE
PIMENTEIRAS 86
42 A PESQUISA DE CAMPO 87
43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS
DADOS 89
431 Entrevistas 89
432 Recursos de anaacutelise dos dados 90
433 Termos Catalogados 90
5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE
UM POVO 92
51 MUCURACAacute 94
52 ERVA DE JABUTI 97
53 NONI 100
54 PATACA 102
55 PAU-DE-MUQUEM 104
56 VASSOURA DE BOTAtildeO 107
57 NAMBU TUTANO 109
58 QUEBRA PEDRA ROXO 112
59 PARATUDO 114
13
510 GERGELIM BRANCO 117
511 URUCUM VERMELHO 120
512 ERVA DE PASSARINHO 122
6 CONCLUSAtildeO 127 REFEREcircNCIAS 132 APEcircNDICES 143
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
ldquoSou apenas um escritor Um cultivador Um jardineiro Um florista A minha
felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me
excita quando acabo de as colherrdquo
Joaquim Pessoa (1948)
A liacutengua traz em seu contexto a identidade cultural de um povo A partir desta
questatildeo procuramos discorrer na presente dissertaccedilatildeo sobre o ldquoEstudo Terminoloacutegico das
Plantas Medicinais da Comunidade Remanescente de Quilombola de Pimenteiras em Santa
Luzia do Paraacute ndash PArdquo As experiecircncias vividas em grande parte de minha vida na cidade de
Santa Luzia do Paraacute me fizeram conhecer diversas comunidades proacuteximas agrave regiatildeo
comunidades com caracteriacutesticas fortes que marcam a identidade dos moradores e de toda
sociedade luziense
Por conhecer e vivenciar os saberes e a cultura das comunidades de Santa Luzia do
Paraacute escolhemos particularmente a comunidade de Pimenteiras por ser uma regiatildeo rica em
sua biodiversidade e por querer mostrar os saberes que os moradores quilombolas possuem
sobre a terra suas origens e seus saberes medicinais Contribuiu para o levantamento da
pesquisa a receptividade dos moradores de Pimenteiras que permitiram conhecer melhor sua
cultura diversidade na natureza e seus anseios de conseguir a titularidade da terra quilombola
A comunidade de Pimenteiras fica localizada na regiatildeo rural de Santa Luzia do Paraacute
a cerca de 30 km de distacircncia da cidade em uma estrada sem asfalto com caminho de difiacutecil
acesso o que inviabiliza agrave populaccedilatildeo desta comunidade assistecircncia agraves suas necessidades
baacutesicas Formada por moradores de origem quilombola muitas famiacutelias chegaram a este local
haacute muitos anos tendo saiacutedo da comunidade de Narciacutesea na cidade de Capitatildeo Poccedilo ndash PA em
busca de melhorias para o sustento de suas famiacutelias Pimenteiras eacute uma comunidade cujos
moradores buscam por meio do conhecimento e valorizaccedilatildeo de suas raiacutezes fortalecer seus
viacutenculos com a terra e a natureza a sua volta Deste contato especial com a natureza os
moradores conhecem e utilizam seus saberes na aacuterea da medicina tradicional
O saber da cura por meio da medicina popular continua preservado no falar dos
moradores remanescentes de quilombolas pelas informaccedilotildees sobre a influecircncia negra e
tambeacutem indiacutegena A manipulaccedilatildeo os cuidados com as plantas a forma de cultivo as relaccedilotildees
associativas nos nomes das plantas medicinais vecircm de longas geraccedilotildees que sofreram e
15
sobreviveram com a ajuda da natureza Eacute diante do saber preservado na liacutengua dos moradores
quilombolas que desenvolvemos este estudo sobre os termos das plantas medicinais
Com o intuito de conservar o saber das geraccedilotildees mais antigas um pequeno grupo da
comunidade quilombola registrou amostras de plantas medicinais da regiatildeo em que vivem
cada espeacutecie com os nomes de uso popular que os moradores conhecem pois observamos
que dentre os nomes registrados para uma mesma espeacutecie de planta ocorrem variaccedilotildees na
nomemclatura
Entender como uma comunidade guarda e preserva seus saberes por meio da liacutengua eacute
de suma importacircncia para o andamento deste estudo de cunho popular e cientiacutefico
Compreender como a liacutengua se mistura e se reinventa nos usos de um povo eacute o que mais
chama nossa atenccedilatildeo nos aspectos dos estudos do termo Levando em consideraccedilatildeo que
nenhuma Liacutengua eacute homogecircnea efetivamos um pequeno estudo sobre a liacutengua suas relaccedilotildees e
interferecircncias na sociedade Percebemos que a utilizaccedilatildeo das plantas medicinais eacute uma praacutetica
universal na medicina popular pois eacute o resultado do acuacutemulo de conhecimentos empiacutericos
sobre a accedilatildeo dos vegetais por diversos grupos eacutetnicos
No decorrer dos estudos observamos que haacute diversas expressotildees populares
direcionadas ao uso dos vegetais para a sauacutede tais como ervas caseiras folhas medicinais
vegetais medicinais ervas medicinais e plantas medicinais Estas diferentes expressotildees dos
termos ocorre por questotildees culturais que variam de uma comunidade para outra De modo
particular utilizamos neste trabalho os termos ldquoplantas de uso medicinalrdquo ou ldquoplantas
medicinaisrdquo Por fazer parte do falar de uma comunidade os termos catalogados sobre as
plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras foram analisados no contexto da linguagem
de especialidade que eacute campo de estudo da Terminologia
Dentre as ciecircncias que estudam o leacutexico a Terminologia1 estuda um subconjunto da
liacutengua relacionado a uma aacuterea especiacutefica do conhecimento humano esse subconjunto eacute
composto por signos especializados que chamamos de termos Quando o uso da liacutengua passa
por um processo de transformaccedilatildeo no qual certas palavras adquirem uma significaccedilatildeo dentro
de um domiacutenio de conhecimento particular entre um grupo de falantes que compartilham da
mesma aacuterea de conhecimento essa particularizaccedilatildeo eacute de domiacutenio da linguagem de
especialidade e o termo eacute seu objeto de uso
Eacute nesse contexto que a Terminologia direciona seu olhar ao fator social na anaacutelise
dos dados linguiacutesticos Com isso surge a Socioterminologia como um campo teoacuterico e
1 Haacute uma tendecircncia a convencionar que Terminologiagrafada com T maiuacutesculo eacute indicativa de campo de
conhecimento e com t minuacutesculo eacute referente ao conjunto de termos de uma especialidade (KRIEGER 2004)
16
aplicado que segundo Faulstich (1995) eacute uma releitura da terminologia tradicional que
incorpora aos estudos do termo o aparato social considerando nesse aspecto os fatores de
variaccedilatildeo linguiacutestica Gaudin (1993) tambeacutem edificou seus estudos terminoloacutegicos por meio de
outras aacutereas de conhecimento como a Sociolinguiacutestica e a Sociologia campos amplamente
estudados pela Socioterminologia que observa a dimensatildeo social na comunicaccedilatildeo
especializada sem estar separada dos discursos em que os termos emergem
O estudo do termo diante da perspectiva socioterminoloacutegica traz o registro e anaacutelise
das variantes da linguagem de especialidade De acordo com Faulstich (1995 p 285) ldquoo
princiacutepio subjacente da pesquisa socioterminoloacutegica eacute o registro da(s) variante(s) que leva em
conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico em que os termos circulam []rdquo
Em consideraccedilatildeo ao que foi explanado este trabalho tem o proacuteposito de verificar os
registros dos termos analisando e identificando os usos de domiacutenio dos mesmos sobre as
plantas medicinais que por conseguinte distinguem a comunidade de Pimenteiras Assim
selecionamos como objeto de estudo os termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
que foram catalogadas pelos moradores quilombolas quando criaram o projeto do
Bioenergeacutetico na regiatildeo Muitos dos termos alistados possuem nomenclatura diferenciada em
relaccedilatildeo aos usos comuns da liacutengua Essas particularidades vieram de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo com
o repasse dos saberes entre famiacutelias e amigos principalmente entre as mulheres Sob o prisma
dos pressupostos da Terminologia e da Socioterminologia daremos enfoque no processo de
constituiccedilatildeo do leacutexico semacircntico conceitual dos termos sobre as plantas medicinais de
Pimenteiras observando se este saber especializado sobre as plantas traz traccedilos da identidade
cultural dos moradores quilombolas
Por uma questatildeo didaacutetica nosso trabalho dissertativo foi organizado em cinco
capiacutetulos No primeiro capiacutetulo oferecemos uma visatildeo geral sobre o presente estudo a ser
direcionado para a anaacutelise dos dados registrados nessa dissertaccedilatildeo explicando alguns
conceitos baacutesicos que seratildeo fundamentais para situar a localidade os sujeitos envolvidos no
estudo dos termos relativos agrave comunidade e as plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras
No segundo capiacutetulo apresentamos os aspectos relacionados agrave comunidade de
Pimenteiras suas origens ndash quilombola e da comunidade ndash os remanescentes de Pimenteiras
a cultura religiosa ao lado de suas lutas pela terra Em seguida apresentaremos o trabalho
com o Bioenergeacutetico e o iniacutecio do processo de catalogaccedilatildeo dos termos analisando as relaccedilotildees
entre o saber e o conhecimento para a construccedilatildeo dos sujeitos de saberes Demarca-se
tambeacutem a presenccedila do gecircnero feminino preponderante nas relaccedilotildees com o conhecimento
17
tradicional nesse contexto representado por Domingas Alves do Nascimento como uma
grande personalidade na comunidade e responsaacutevel por buscar sempre ampliar os saberes que
possui sobre as plantas fazendo com que a comunidade de Pimenteiras tenha como identidade
cultural seus saberes preservados e utilizados entre as geraccedilotildees afrodescendentes
No terceiro capiacutetulo expomos a base teoacuterica deste trabalho ancorada nos estudos
Terminoloacutegicos e Socioterminoloacutegicos verificando assim questotildees sobre a importacircncia da
liacutengua na identidade cultural de um povo Em seguida reconhecemos o valor das plantas
medicinais para o conhecimento cientiacutefico e popular como tambeacutem nos aspectos relacionados
agraves ciecircncias do termo tais como a Terminologia e a Socioterminologia fundamentais para
compreendermos a importacircncia da terminologia nos estudos especializados da liacutengua assim
como o estudo do Termo como base para o estudo socioterminoloacutegico
No quarto capiacutetulo abordamos sobre os procedimentos utilizados na pesquisa de
campo na comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras apontando os objetivos
gerais e especiacuteficos do trabalho relatando sobre as entrevistas a catalogaccedilatildeo dos termos sobre
as plantas medicinais os recursos utilizados para o tratamento dos dados e em seguida o
organograma do conhecimento sobre a cultura das plantas medicinais
Todo o processo de estudo percorrido nesta dissertaccedilatildeo culminaraacute no quinto capiacutetulo
no qual apresentamos a anaacutelise Socioterminoloacutegica dos termos de Pimenteiras Nesse
capiacutetulo seguimos algumas etapas na anaacutelise do termo no contexto da variaccedilatildeo terminoloacutegica
observando a linguagem como representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras e os
aspectos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinais Mostramos como os
termos variam de acordo com as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos aleacutem de analisar
se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade medicinal verificando
por meio da definiccedilatildeo de cada termo sua descriccedilatildeo dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber
especializado
Diante das variaccedilotildees dos termos e portanto das diversas definiccedilotildees utilizamos no
processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Enilde Faulstich uma
amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees sobre os termos verificando o aspecto da
funcionalidade do termo dentro da linguagem especializada Com isso observamos que o
conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras eacute a marca de seus
antepassados sua identidade sua histoacuteria de sua linguagem especializada diante da
diversidade na natureza
A partir de agora iniciamos os estudos natildeo apenas dos termos sobre as plantas
medicinais mas sobretudo sobre a histoacuteria de um povo que busca viver e vencer as
18
dificuldades histoacutericas passadas entre as geraccedilotildees para que hoje seus registros sejam
marcados pelas conquistas alcanccediladas e as futuras
2 PIMENTEIRA2 OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA
ldquoPodemos dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de
identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator
extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo em sirdquo
Michel Pollak (1992)
Desde os primeiros focos de resistecircncia dos africanos contra a escravidatildeo colonial os
estudos sobre os negros constitui assunto relevante principalmente na formaccedilatildeo de
comunidades afrodescendentes mais conhecidas como Quilombos3
No que diz respeito aos afrodescendentes4 a comunidade de Pimenteiras eacute uma das
muitas comunidades formadas por famiacutelias quilombolas os moradores da regiatildeo chegaram haacute
muito tempo da comunidade de Narciacutesea localizada na regiatildeo de Capitatildeo Poccedilo ndash PA
Pesquisas da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares5 apontam que o maior nuacutemero de
associaccedilotildees quilombolas se encontra nas regiotildees do Paraacute e Maranhatildeo chegando a cerca de
100 comunidades existentes nessas aacutereas Sabe-se que natildeo haacute comunidades em isolamento
total existe sempre uma relaccedilatildeo contiacutenua entre os sujeitos e com o meio em que vivem No
caso da comunidade de Pimenteiras isso natildeo eacute diferente proacuteximas agrave regiatildeo existem outras
comunidades que tambeacutem vivenciam a falta de recursos que possam melhorar a vida dos
moradores no campo As comunidades como Broca Piquiaacute Cantam Fuzil natildeo tecircm
2O termo Pimenteira no singular refere-se agraveterra em que vivem os moradores remanescentes de Quilombo
Pimenteiras no plural refere-se agrave comunidade Tabela sobre a comunidade no site
httpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501 3Quilombo eacute o nome dado no Brasil aos locais de refuacutegio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o
periacuteodo colonial e imperial Nesses locais os escravos passavam a viver em liberdade criando novas relaccedilotildees
sociais Muitos quilombos existiram no Brasil e centenas deles ainda existem formando o que hoje eacute chamado de comunidades quilombolas 4Afrodescendente eacute aquele que eacute ou que descende de famiacutelia ou indiviacuteduo vindo do negro africano 5A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares eacute uma entidade puacuteblica brasileira vinculada ao Ministeacuterio da Cultura A entidade
teve seu Estatuto aprovado pelo Decreto nordm 418 de 10 de janeiro de 1992 e tem como missatildeo os preceitos
constitucionais de reforccedilos agrave cidadania agrave identidade agrave accedilatildeo e agrave memoacuteria dos segmentos eacutetnicos dos grupos
formadores da sociedade brasileira aleacutem de fomentar o direito de acesso agrave cultura e agrave indispensaacutevel accedilatildeo do
Estado na preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees afro-brasileiras No artigo 1ordma Lei institui que se promova a
preservaccedilatildeo dos valores culturais sociais e econocircmicos decorrentes da influecircncia negra na formaccedilatildeo da
sociedade brasileira Preocupada com a igualdade racial e com a valorizaccedilatildeo das manifestaccedilotildees de matriz
africana a Palmares formula e implanta poliacuteticas puacuteblicas que potencializam a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra
brasileira nos processos de desenvolvimento do Paiacutes Foi o primeiro oacutergatildeo federal criado para promover a preservaccedilatildeo a proteccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo da cultura negra Pesquisa feita no dia 10012015 as 1155h no site
httpwwwpalmaresgovbr
19
moradores com descendecircncia quilombola mas assim como em Pimenteiras os moradores
natildeo permanecem ldquoestaacuteticosrdquo no tempo todos possuem caracteriacutesticas particulares que
distinguem suas identidades pois a vida eacute dinacircmica
O negro se mostra figura atuante isto estaacute presente nos estudos de Salles (1988 p 67
apud WAGLEY 1977 e GALVAtildeO 1955) que expotildee
Encontraram o negro solidaacuterio com o iacutendio nas vicissitudes sociais Natildeo importa se
negro autecircntico ou se iacutendio autecircntico O passaporte da autenticidade naquele
contexto jaacute havia perdido tocircda ou quase tocircda importacircncia Ambos despojados dos
seus padrotildees culturais quebrados definitivamente amalgamados numa nova cultura
resultante da fusatildeo de trecircs componentes eacutetnicos O processo de desenvolvimento
dessa cultura visto superficialmente eacute pouco acelerado Visto poreacutem em
profundidade mostra-se extremamente ativo Sobretudo no que diz respeito agraves convergecircncias culturais
Visualizando por este acircngulo a figura do negro observaremos no toacutepico seguinte as
origens e significados dos termos Quilombola e Remanescente para que possamos identificar
as marcas de um povo que lutou e alcanccedilou sua liberdade Em seguida verificaremos com
mais sagacidade os estudos de Vicente Salles e Ilka Boaventura Leite sobre o negro
observando sua histoacuteria suas conquistas e as influecircncias do negro no Paraacute e na comunidade
de Pimenteiras em particular
21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA
Iniciamos este assunto com a pergunta que muitos ainda hoje fazem e nem todos
respondem ndash Quem satildeo os negros Entretanto de forma mais profunda responderemos agrave
seguinte pergunta ndash Quem satildeo os Quilombolas
Alguns autores constituem uma anaacutelise do termo e com isso explicam que a palavra
quilombo se refere a um tipo de instituiccedilatildeo sociopoliacutetica militar conhecida na Aacutefrica Central
principalmente na regiatildeo constituiacuteda pela atual Repuacuteblica Democraacutetica do Congo (Zaire) e
Angola conforme expotildee o professor Kabengele Munanga6 (1995) Para ele a expressatildeo
6 KabengeleMunanga eacute Graduado em Antropologia Cultural pela UniversiteacuteOfficielle Du Congo agrave Lubumbashi
(1969) e Doutorado em Ciecircncias Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de Satildeo Paulo (1977)
Atualmente eacute professor titular da Universidade de Satildeo Paulo Tem experiecircncia na aacuterea de Antropologia com ecircnfase em Antropologia das Populaccedilotildees Afro-Brasileiras atuando principalmente nos seguintes temas racismo
identidade identidade negra Aacutefrica e Brasil
20
quilombo vem de ldquoochilombordquo em um dialeto de Angola a professora Leite7 (2000) por sua
vez apresenta que sua etimologia significa ldquobantordquo e exprime ldquoacampamento guerreiro na
florestardquo e foi difundida no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios
decretos e atos visando referir-se agraves integraccedilotildees de apoio muacutetuo criadas pelos ldquorebeldesrdquo ao
sistema escravocrata e agraves suas reaccedilotildees lutas e organizaccedilotildees pelo fim da escravidatildeo no paiacutes
Natildeo obstante esta palavra significou libertaccedilatildeo e conquistas para os libertos alcanccedilando
amplas dimensotildees e conteuacutedos
No decorrer da histoacuteria diversas circunstacircncias envolvendo o negro demonstraram
grandes lutas contra os vaacuterios artifiacutecios de expropriaccedilatildeo de seus corpos bens e direitos Eacute
nesse contexto de servidatildeo do negro diante do homem branco que Salles (1988 p 203) expotildee
O processo tradicional da busca de liberdade consistiu invariavelmente na fuga para
os matos onde os negros se reuniam solidaacuterios entre si e formavam os quilombos
A fuga deve ter sido no comeccedilo soluccedilatildeo bastante difiacutecil e arriscada aleacutem de
empreitada individual Na floresta o negro se achava sozinho Agraves vezes conseguia
chegar a alguma aldeia indiacutegena e por sorte acabava vivendo amistosamente com
os silviacutecolas Bandeava-se desta forma para grupos totalmente estranhos e que com
ele soacute tinha um traccedilo comum o oacutedio ao branco dominador Haacute na crocircnica da
escravidatildeo muitos casos ilustrativos e que destroem o mito da incompatibilidade
eacutetnica
Os negros enfrentaram muitos questionamentos sobre a legitimidade de se acomodar
num lugar cujo espaccedilo pudesse ser organizado conforme suas condiccedilotildees valores e praacuteticas
culturais A repressatildeo ao negro fez com que ele fosse segregado das praacuteticas sociais Hoje esta
exclusatildeo estaacute demonstrada nos censos econocircmicos e nos mais recentes levantamentos
socioeconocircmicos realizados no paiacutes (HASENBALG SILVA 1988) Somente no Brasil apoacutes
a aboliccedilatildeo em 1888 os negros sofrem com a desqualificaccedilatildeo de sua cor sendo ignorados pelo
poder puacuteblico nos lugares em que habitam desprovidos das necessidades baacutesicas de todo ser
humano Eacute diante desta realidade que Leite (2000) expotildee que os descendentes de africanos
nos uacuteltimos vinte anos tecircm procurado se organizar em associaccedilotildees quilombolas
reivindicando o direito agrave permanecircncia e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas
e cultivadas para moradia e sustento da famiacutelia bem como o livre exerciacutecio de suas praacuteticas
crenccedilas e valores apreciados em sua especificidade Diante disto Leite (2000 p 335)
prossegue
7 Ilka Boaventura Leite eacute professora do Departamento e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Antropologia da
Universidade Federal de Santa Catarina fundadora e coordenadora do NUER (Nuacutecleo de Estudos de Identidades
e Relaccedilotildees Intereacutetnicas) Suas pesquisas estatildeo situadas nas aacutereas de teoria antropoloacutegica literatura de viagem
relaccedilotildees intereacutetnicas etnologia afro-brasileira arte e etnicidade Tem publicado artigos sobre literatura de viagens cultura e identidade negra quilombos direitos eacutetnicos poliacuteticas de identidade arte e diaacutespora africana
periacutecias antropoloacutegicas
21
Tudo isto se esclarece quando entra em cena a noccedilatildeo de quilombo como forma de
organizaccedilatildeo de luta de espaccedilo conquistado e mantido atraveacutes de geraccedilotildees O
quilombo entatildeo na atualidade significa para esta parcela da sociedade brasileira
sobretudo um direito a ser reconhecido e natildeo propriamente e apenas um passado a ser rememorado Inaugura uma espeacutecie de demanda ou nova pauta na poliacutetica
nacional afrodescendentes partidos poliacuteticos cientistas e militantes satildeo chamados a
definir o que vem a ser o quilombo e quem satildeo os quilombolas
O simples ato de apropriaccedilatildeo da terra para viver passou a significar um ato de luta e
guerra Assim pensar na questatildeo territorial faz discorrer tambeacutem na definiccedilatildeo sobre o termo
ldquoQuilombordquo ndash que reporta agrave visatildeo distorcida de negros fugitivos ndash e abordar as diferentes
situaccedilotildees que cobriram a existecircncia de Terras de Quilombos no Brasil Para isto Almeida
(1998 p 14) expotildee que eacute necessaacuterio que ldquonos libertemos da definiccedilatildeo arqueoloacutegica associada
ao termo Quilombordquo Segundo o autor as comunidades Quilombolas sempre estabeleceram
uma clara rede de interaccedilatildeo com as sociedades locais contestando o estereoacutetipo do isolamento
geograacutefico A qualidade e intensidade da interaccedilatildeo foi o que possibilitou a construccedilatildeo de uma
configuraccedilatildeo social cuja autonomia tinha tambeacutem suporte nessa dinacircmica de relaccedilotildees sociais
e nas formas de usar e ocupar a terra (ALMEIDA 1988 p 18)
Na conceituaccedilatildeo e significaccedilatildeo da palavra Quilombo Siqueira e Nascimento (1987)
apud Leite (1999 p 15) explicam que no Brasil a tradiccedilatildeo popular apresenta muitas
variaccedilotildees no significado da referida palavra
[] ora associado a um lugar (ldquoquilombo era um estabelecimento singularrdquo) ora a
um povo que vive neste lugar (ldquoas vaacuterias etnias que o compotildeemrdquo) ou a
manifestaccedilotildees populares (ldquofestas de ruardquo) ou ao local de uma praacutetica condenada
pela sociedade (ldquolugar puacuteblico onde se instala uma casa de prostitutasrdquo) ou a um
conflito (uma ldquogrande confusatildeordquo) ou a uma relaccedilatildeo social (ldquouma uniatildeordquo) ou ainda a um sistema econocircmico (ldquolocalizaccedilatildeo fronteiriccedila com relevo e condiccedilotildees climaacuteticas
comuns na maioria dos casosrdquo)
Para Leite (2000) a quantidade de significados faz com que o uso do termo
demonstre uma grande variedade de experiecircncias que generalizam o fenocircmeno enquanto
dimensatildeo poliacutetica de uma formaccedilatildeo social diversa em que evidenciam a persistecircncia das mais
diversas manifestaccedilotildees de resistecircncia e luta que os negros delinearam em toda a nossa
histoacuteria Eacute nesse contexto que Leite (2000 p 338) assim conclui
[] inicia-se a longa etapa de construccedilatildeo da identidade destes grupos seja pela
formalizaccedilatildeo da diferenciaccedilatildeo eacutetnico-cultural no acircmbito local regional e nacional
seja pela consolidaccedilatildeo de um tipo especiacutefico de segregaccedilatildeo social e residencial dos
negros chegando ateacute os dias atuais []
22
A variaccedilatildeo de significados para o termo quilombo traz a construccedilatildeo de um povo que
busca constantemente por seus direitos contudo o que significa o termo remanescente
Verificaremos no toacutepico seguinte especificamente as discussotildees em torno do significado da
palavra ldquoremanescesterdquo no contexto do negro
211 Remanescentes o que restou
No que concerne ao significado do termo remanescente a autora Leite (2000 p 9)
nos apresenta o seguinte contexto
A expressatildeo ldquoremanescente das comunidades de quilombosrdquo que emerge na
Assembleacuteia Constituinte de 1988 eacute tributaacuteria natildeo somente dos pleitos por tiacutetulos
fundiaacuterios mas de uma discussatildeo mais ampla travada nos movimentos negros e
entre parlamentares envolvidos com a luta anti-racista O quilombo eacute trazido
novamente ao debate para fazer frente a um tipo de reivindicaccedilatildeo que agrave eacutepoca alude
a uma ldquodiacutevidardquo que a naccedilatildeo brasileira teria para com os afro-brasileiros em
consequumlecircncia da escravidatildeo natildeo exclusivamente para falar em propriedade
fundiaacuteria
A expressatildeo ldquoremanescenterdquo surge como forma de reinvindicaccedilatildeo por uma eacutepoca em
que a naccedilatildeo brasileira teria certo dever com os afrodescendentes pela grande escravidatildeo e
sofrimento vivido no periacuteodo da aboliccedilatildeo contudo segundo os estudos de Leite (1996 p
341) o termo remete tambeacutem a algo em extinccedilatildeo que estaacute em processo de desaparecimento
Mas foi principalmente porque a expressatildeo natildeo correspondia agrave autodenominaccedilatildeo destes
mesmos grupos e por se tratar de uma identidade ainda a ser politicamente construiacuteda que
tantos questionamentos foram suscitados Eacute nesse impasse da significaccedilatildeo e nomeaccedilatildeo dos
remanescentes de quilombolas que Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia8 (ABA) convocada
pelo Ministeacuterio Puacuteblico reuniu em outubro de 1994 o Grupo de Trabalho sobre Comunidades
Negras Rurais e elaborou um conceito de ldquoremanescente de quilombordquo ficando assim
definido
8A Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia (ABA) eacute a mais antiga das associaccedilotildees cientiacuteficas existentes no paiacutes
na aacuterea das ciecircncias sociais ocupando hoje um papel de destaque na conduccedilatildeo de questotildees relacionadas agraves
poliacuteticas puacuteblicas referentes agrave educaccedilatildeo agrave accedilatildeo social e agrave defesa dos direitos humanos No decorrer de sua
histoacuteria ela tem sido voz atuante em defesa das minorias eacutetnicas dos discriminados e posicionando-se consistentemente contra a injusticcedila social Pesquisado em 11012015 as 2345h no site
httpwwwportalabantorgbrindexphpinstitucionalfeatures
23
[] contemporaneamente portanto o termo natildeo se referia a resiacuteduos arqueoloacutegicos de ocupaccedilatildeo temporal ou de comprovaccedilatildeo bioloacutegica Tratava-se de desfazer a ideacuteia
de isolamento e de populaccedilatildeo homogecircnea ou como decorrente de processos
insurrecionais O documento posicionava-se criticamente em relaccedilatildeo a uma visatildeo
estaacutetica do quilombo evidenciando seu aspecto contemporacircneo organizacional
relacional e dinacircmico bem como a variabilidade das experiecircncias capazes de serem
amplamente abarcadas pela ressemantizaccedilatildeo do quilombo na atualidade Ou seja
mais do que uma realidade inequiacutevoca o quilombo deveria ser pensado como um
conceito que abarca uma experiecircncia historicamente situada na formaccedilatildeo social
brasileira (LEITE 2000 p 341-342)
No que diz respeito aos direitos sobre a terra o Brasil em comparaccedilatildeo com outros
paiacuteses que claramente obtiveram conquistas poliacuteticas e territoriais talvez seja o uacutenico que natildeo
resolveu formalmente a questatildeo dos direitos territoriais das suas comunidades negras
tradicionais O direito agrave terra que as comunidades atribuem eacute vital pois a concepccedilatildeo da terra
enquanto territoacuterio socialmente ocupado eacute a chave para a vida desses grupos Sobre isso
Chagas (2001 p 228) informa que a aplicaccedilatildeo do direito constitucional se daacute tambeacutem
atraveacutes da titulaccedilatildeo dessas aacutereas
[] para estar em consonacircncia com a viabilizaccedilatildeo de um padratildeo de existecircncia que
seja compatiacutevel e que assegure a vida nos seus proacuteprios termos significaria menos
quantificar ou traccedilar meramente um espaccedilo fiacutesico esvaziado de seu sentido social e
mais justamente recuperar a ideacuteia de que estes espaccedilos sociais estatildeo qualificados e
atravessados por redes de relaccedilotildees que postas em curso garantem a proacutepria
permanecircncia do grupo neste territoacuterio
No trecho citado por Chagas (2001) eacute demonstrada a preocupaccedilatildeo no que se refere
aos remanescentes das comunidades dos quilombos que vecircm sofrendo com o processo de
reconhecimento dos direitos assegurados constitucionalmente nota-se o quanto eacute necessaacuterio
um diaacutelogo com as praacuteticas culturais de cada grupo envolvido auxiliando as comunidades no
autorreconhecimento das populaccedilotildees remanescentes de quilombola Eacute a busca pelo direito agrave
terra direito agrave vida no campo de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado
agrave margem da vida em sociedade
Completando este diaacutelogo com Marques (2004) confere-se que o modo de vida dos
povos do campo eacute entendido como uma configuraccedilatildeo bastante dinacircmica e que soacute pode ser
compreendida a partir de sua inserccedilatildeo na sociedade ndash que hoje inclui as relaccedilotildees sociais que
ocupam as comunidades camponesas na sociedade moderna capitalista ndash percebendo a relaccedilatildeo
entre tradiccedilatildeo e modernidade e qual lugar ocupam os povos de vidas tradicionais
Os quilombos reforccedilavam as lutas contra a escravidatildeo mostrando um tipo de
organizaccedilatildeo social mais justa cuja resistecircncia se manifestou de diversas formas entre greves
de fome violecircncia e fugas Segundo Freitas (1982 p 210) essas fugas mais organizadas e
coletivizadas deram origem ao Quilombo dos Palmares
24
O ldquoQuilombo dos Palmaresrdquo foi a manifestaccedilatildeo mais eloquente do discurso anti-
escravista dos negros brasileiros nos quase trecircs seacuteculos da escravidatildeo representando
um marco na resistecircncia negra A resoluccedilatildeo tomada na Serra da Barriga ldquode morrer
antes de aceitar a escravidatildeordquo demonstra a essecircncia da mensagem que os negros de Palmares deixaram Retomando a reflexatildeo hegeliana ldquoO Amo natildeo eacute Amo senatildeo
pelo fato de que possui um Escravo que o reconhece como talrdquo
Freitas (1982 p 43) explana que os escravos que se refugiavam em Palmares apoacutes
algum tempo escondidos nas serras deixaram de viver escondidos e reconquistaram sua
dignidade como seres humanos O autor prossegue expondo
Os escravos plantavam milho feijatildeo mandioca cana-de-accediluacutecar batata legumes Duas semanas antes do plantio preparavam o terreno com grandes queimadas A
preparaccedilatildeo das terras a semeadura e a colheita era realizada de maneira coletiva
Celebravam o teacutermino da colheita com uma semana inteira de festejos em que todos
folgavam danccedilavam comiam e bebiam Mantinham muitos pomares com uma
variedade de aacutervores frutiacuteferas (1982 p 45)
Durante minhas visitas agrave comunidade remanescente de quilombolas de Pimenteiras o
contato com os moradores levantou muitos questionamentos sobre o entendimento e
significaccedilatildeo do termo quilombola Os mais velhos guardam na memoacuteria recordaccedilotildees de um
periacuteodo no qual seus antepassados viveram e sofreram os accediloites do chicote da escravidatildeo os
adolescentes por sua vez vivem o embate entre aceitar ou natildeo a descendecircncia Aceitando
suas origens alcanccedilam direitos reservados aos negros como o direito de cotas nas
universidades jaacute nos momentos em que os sentimentos de exclusatildeo discriminaccedilatildeo e rejeiccedilatildeo
se tornam maiores nos espaccedilos sociais os mais jovens natildeo se veem e natildeo se orgulham de sua
origem afrodescendente
Na anaacutelise do contexto vivido na comunidade o sentimento que se faz presente nos
mais jovens eacute o fato de que ser homem negro significa ser excluiacutedo e discriminado pelos
colegas da escola Muitos relataram situaccedilotildees de desrespeito natildeo apenas pela cor da pele mas
pelo termo ldquoquilombolardquo A respeito da discriminaccedilatildeo racial sobre os quilombolas Leite
(2000 p 349) comenta que
O ato de aquilombar-se ou seja de organizar-se contra qualquer atitude ou sistema
opressivo passa a ser portanto nos dias atuais a chama reacesa para na condiccedilatildeo
contemporacircnea dar sentido estimular fortalecer a luta contra a discriminaccedilatildeo e seus
efeitos Vem agora iluminar uma parte do passado aquele que salta aos olhos pela
enfaacutetica referecircncia contida nas estatiacutesticas onde os negros satildeo a maioria dos socialmente excluiacutedos Quilombo vem a ser portanto o mote principal para se
discutir uma parte da cidadania negada
25
Diante das discussotildees feitas seguiremos abordando sobre os remanescentes de
quilombola da comunidade de Pimenteiras sua localizaccedilatildeo e os problemas sobre a titularidade
da terra que se tornou algo de extrema importacircncia aos moradores dessa regiatildeo
212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras
Eacute importante frisar que na atualidade a dimensatildeo de luta dos homens negros pela
liberdade foi muito importante para que a cultura afrodescendente se desenvolvesse com
maior fruiccedilatildeo Na Amazocircnia a presenccedila do negro eacute assunto desprezado em termos da
importacircncia insignificante que teria essa mesma presenccedila Segundo Salles (1988) a matildeo-de-
obra faacutecil era abundante e era a uacutenica que poderia mobilizar com sucesso imediato a matildeo-de-
obra dos iacutendios9
Nos estudos sobre a Amazocircnia Salles (1988) expotildee sobre a substituiccedilatildeo do iacutendio
pelo negro na lavoura que natildeo foi tatildeo necessaacuteria na regiatildeo como no restante do Brasil a
presenccedila insistente do iacutendio em muitos trabalhos com a terra deu ao negro a possibilidade de
influir profundamente na civilizaccedilatildeo brasileira criando um tipo de economia em que o
indiacutegena teve grande participaccedilatildeo (CHAMBOULEYRON 2006) No entanto os escritos do
autor natildeo abandonam a significaccedilatildeo do negro na Amazocircnia durante o regime da escravidatildeo o
negro deixou sua personalidade sua etnia e sua cultura na constituiccedilatildeo da economia agraacuteria
Diante disso discorrer sobre os quilombolas no cenaacuterio poliacutetico atual eacute conversar
sobre luta poliacutetica uma reflexatildeo cientiacutefica em processo de construccedilatildeo Hoje cerca de trecircs mil
comunidades quilombolas10
vivem natildeo apenas na Amazocircnia mas em todo o territoacuterio
9 Em tempos do descobrimento do Brasil a necessidade de braccedilos para cortar e transportar o pau-brasil para o
litoral fez com que os portugueses impusessem aos iacutendios o trabalho compulsoacuterio Em meados de 1550 a
decisatildeo de incrementar o traacutefico da Aacutefrica para o Brasil tornou a escravidatildeo do negro mais interessante e
econocircmica para a Coroa portuguesa Apesar de ter sido tatildeo forte e cruel a escravidatildeo do negro africano a
escravidatildeo do iacutendio teve pouco conhecimento e historicamente ficou em segundo lugar Pesquisa feita no dia
10022015 as 1001hs no site httpwwwklickeducacaocombrconteudopagina06313POR-1245-9282-00html 10Ateacute hoje natildeo haacute certeza sobre o nuacutemero de comunidades quilombolas existentes no Brasil mas estima-se que
haacute pelo menos trecircs mil em todo o territoacuterio nacional localizadas principalmente nos estados doAmazonas
Alagoas Amapaacute Bahia Cearaacute Maranhatildeo Minas Gerais Paraacute Pernambuco Tocantins e outros Os estados
brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades quilombolas satildeo a Bahia o Maranhatildeo Minas
Gerais e o Paraacute Segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial
(Seppir) e do Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) oacutergatildeos responsaacuteveis pela
identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos quilombolas
existem atualmente mais de setecentas comunidades oficialmente registradas pela Fundaccedilatildeo Palmares do
Ministeacuterio da Cultura e mais de duzentos processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em andamento envolvendo mais
de trezentas comunidades espalhadas por 24 estados brasileiros Retirado do texto de GASPAR Luacutecia Quilombolas Pesquisa Escolar Online Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Recife Disponiacutevel em
lthttpbasiliofundajgovbrpesquisaescolargt Acesso em 15022015 as 1230hs
26
nacional no entanto muitas terras natildeo possuem ainda o reconhecimento devido No estado do
Paraacute segundo dados pesquisados satildeo reconhecidas duzentos e quarenta (240)11
comunidades
remanescentes de Quilombo
As conquistas para alcanccedilar o direito pela titulaccedilatildeo de terra de quilombo vecircm do
cumprimento do Artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias da Constituiccedilatildeo Federal12
cuja redaccedilatildeo expotildee o seguinte ldquoAos remanescentes das comunidades de quilombos que
estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir
lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)
Com a instituiccedilatildeo deste Leopoldo e Morais (2005 p 3) explanam em seu artigo
sobre territorialidade que muitas lutas e manifestaccedilotildees poliacuteticas tecircm apoiado ou desprovido as
comunidades quilombolas do seu direito agrave terra Leopoldo e Morais (2005 p 1) ressaltam que
ldquoos criteacuterios adotados para o reconhecimento das comunidades quilombolas tecircm sido alvo de
constantes criacuteticas entre esses diferentes atoresrdquo Embora pareccedila pertinente equiparar a
questatildeo do direito agraves terras de quilombos com as terras indiacutegenas ambas satildeo semelhantes
apenas quanto aos desafios e embates jaacute visiacuteveis na questatildeo da identificaccedilatildeo e na definiccedilatildeo
dos sujeitos de direito
No diagrama da fronteira eacutetnico-cultural o Brasil esteve sempre marcado pela
preservaccedilatildeo do territoacuterio invadido e ocupado por inuacutemeros conflitos de terra que remontam
aos dias atuais13
Natildeo muito distante de uma realidade de lutas pelos direitos dos negros os
moradores remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras lutam haacute muito
tempo pelo reconhecimento da terra Localizada na regiatildeo rural da cidade de Santa Luzia do
Paraacute14
a comunidade fica situada em local de difiacutecil acesso situaccedilatildeo que piora muito nos
periacuteodos de chuva causando transtornos aos moradores que veem limitadas suas
necessidades humanas baacutesicas
Vejamos abaixo o mapa da Regiatildeo do Guamaacute onde fica localizada a cidade de Santa
Luzia do Paraacute Rodeada por outras cidades como Capanema Oureacutem Capitatildeo Poccedilo Garrafatildeo
do Norte Cachoeira do Piriaacute Nova Esperanccedila do Piriaacute e tambeacutem Terras Indiacutegenas ocupadas
pelos iacutendios Tembeacute a comunidade de Pimenteiras fica no centro da regiatildeo da cidade de Santa
Luzia do Paraacute como mostra a figura
11 Disponiacutevel em httpwwwcpisporgbrcomunidadeshtmli_brasil_pahtml Pesquisado dia 01052013 as
1933 h 12 Pesquisa no site wwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaohtm em 16122014 as 1633hs 13 Atualmente destaca-se a luta do MST ndash Movimento dos Sem Terra no Brasil ndash que constitui um dos maiores
movimentos sociais do paiacutes com 15 anos de existecircncia nos 23 estados da federaccedilatildeo Maiores informaccedilotildees
consultar o site httpwwwmstorgbr 14Santa Luzia do Paraacute eacute uma cidade brasileira localizada no estado do Paraacute na microrregiatildeo do Guamaacute e na
mesorregiatildeo do Nordeste Paraense
27
Mapa 01 ndash Regiatildeo do Guamaacute Cidade de Santa Luzia do Paraacute Comunidade de Pimenteiras
Fonte IBGE15
Com relaccedilatildeo agrave titularidade da terra como Quilombola o processo continua em
tracircmite nos oacutergatildeos responsaacuteveis Os moradores da comunidade de Pimenteiras vivem agrave espera
da validaccedilatildeo do processo de identificaccedilatildeo e reconhecimento de suas origens valorizaccedilatildeo de
sua cultura e direito ao territoacuterio quilombola Segundo relatos dos moradores um dos motivos
para o impasse no processo seria a presenccedila de pecuaristas e agricultores natildeo remanescentes
de quilombo que vivem na regiatildeo e cultivam nas terras Estas pessoas devem ser indenizadas
pelos espaccedilos de terra que possuem a fim de que o direito dos quilombos tenha garantia de
integralidade das terras Logo a seguir encontram-se as informaccedilotildees de forma resumida sobre
o andamento do pedido de reconhecimento da terra em Pimenteiras
Tabela 1 ndash Titulaccedilatildeo da terra da comunidade de Pimenteiras
FICHA RESUMO DO TERRITOacuteRIO
Nome da Terra Pimenteira
Nome da(s) Comunidade(s) Pimenteiras
Municiacutepio Santa Luzia do Paraacute
Unidade da Federaccedilatildeo Paraacute
Populaccedilatildeo 24 famiacutelias
Dimensatildeo Territorial -
Etapa do processo de titulaccedilatildeo Certidatildeo Fundaccedilatildeo Cultural Palmares
Superintendecircncia Responsaacutevel SR 01 Paraacute
Data da Uacuteltima Atualizaccedilatildeo 30052014
Fonte Comissatildeo Proacute-iacutendio de Satildeo Paulo16
15 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150655ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completas
28
Os moradores da comunidade de Pimenteiras sofrem com o processo de
reconhecimento de seus direitos que satildeo assegurados constitucionalmente Para eles
reconhecer a terra eacute importante pois reconhece a existecircncia de uma populaccedilatildeo remanescente
quilombola de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado agrave margem da vida
em sociedade que busca mais do que o direito agrave terra busca o direito agrave vida no campo
Conhecer a cultura de um povo faz com que ele seja reconhecido e valorizado por
suas caracteriacutesticas em particular Diante disso conheceremos no toacutepico seguinte um pouco
da histoacuteria da comunidade de Pimenteiras aleacutem de sua tradicional manifestaccedilatildeo cultural que
eacute a Ladainha a Nossa Senhora do Livramento uma cerimocircnia em agradecimento pelas preces
atendidas do povo daquela comunidade
22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO
Nos encontros ocorridos na comunidade de Pimenteiras nos deparamos com alguns
moradores que haacute pouco tempo natildeo conheciam sua descendecircncia negra e tampouco os
significados que cercam o termo Quilombola Por meio das histoacuterias transmitidas de seus
antepassados e de pesquisadores envolvidos com o Centro de Estudos e Defesa do Negro do
Paraacute (CEDENPA)17
os moradores passaram a se reconhecer como remanescentes de
quilombo de forma orgulhosa no entanto confusos Isto se deve ao fato de que a comunidade
de Pimenteiras vive hoje com o estigma de seus ancestrais escravizados e sem entender seus
reais valores culturais e histoacutericos
Nesse acircmbito Leite (2000 p 339) levanta um questionamento significativo sobre o
termo quilombola Ela explica que
Desde os anos 30 algumas vozes militantes18
defendem fortemente a ideacuteia de
reparaccedilatildeo da aboliccedilatildeo como ldquoum processo inacabadordquo e da ldquodiacutevidardquo em dois
16Disponiacutevel emlthttpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501gt
17O CEDENPA eacute uma Entidade sem fins lucrativos sem viacutenculos poliacutetico-partidaacuterios fundada em 10 de agosto
de 1980 e legalizada em 27 de abril de 1982 que a partir do Estado do Paraacute vem contribuindo no processo de superaccedilatildeo do racismo preconceito e discriminaccedilatildeo que produzem a desigualdades soacutecio raciais de gecircnero e
outras prejudicando sobretudo a populaccedilatildeo negra e indiacutegena em todos os aspectos da sociedade brasileira
Pesquisado em 22062015 as 955hs no site httpwwwcedenpaorgbr
18 Abdias do Nascimento atual senador da Repuacuteblica reescreve suas teses na deacutecada de 80 defendidas desde os
anos 30 quando inicia sua militacircncia O seu quilombismo reivindica uma memoacuteria anterior ao traacutefico e agrave
escravizaccedilatildeo dos africanos Escreve ldquoo quilombismo busca no presente e no futuro e atua por um mundo melhor para os africanos nas Ameacutericasrdquo Resume suas teses do quilombismo em 16 itens O primeiro deles define o
quilombismo como um movimento poliacutetico dos negros brasileiros visando a implantaccedilatildeo de um Estado Nacional
29
planos a herdada dos antigos senhores e a marca que ficou em forma de estigma seus efeitos simboacutelicos geradores de novas situaccedilotildees de exclusatildeo A exclusatildeo como
fato e como siacutembolo Os militantes procuram ver o conceito de quilombo como um
elemento aglutinador capaz de expressar de nortear aquelas pautas consideradas
cruciais agrave mudanccedila de dar sustentaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo da identidade negra ainda
fragmentada pelo modelo de desenvolvimento do Brasil apoacutes a aboliccedilatildeo da
escravatura
O contato com os moradores nos fez refletir sobre os diversos questionamentos a
respeito do entendimento e significaccedilatildeo que as pessoas da regiatildeo tinham sobre a palavra
quilombola Os adolescentes com o conhecimento adquirido na escola relataram que ser
quilombola significava ser negro mas alguns natildeo se consideravam quilombolas porque a pele
natildeo era tatildeo escura Ao refletir sobre isto percebemos que o sentimento presente nos mais
jovens eacute de exclusatildeo ser homem negro significa ser excluiacutedo discriminado e rejeitado pelos
colegas da escola Esse mesmo sentimento ocorre com o termo quilombola que traz para o
contexto atual as marcas de uma eacutepoca de escravidatildeo e de maus tratos contra pessoas de pele
escura Para muitos o sentimento com relaccedilatildeo ao nome Quilombola traz um significado
doloroso Nesse ponto Leite (2000 p 342) salienta
Enquanto uma expressatildeo da identidade grupal o significante ldquonegrordquo vai somando
em seu percurso tudo aquilo que adveacutem de tal experiecircncia ou seja elementos de
inclusatildeo (que mantecircm o grupo unido em estrateacutegias de solidariedade e
reciprocidade) e tambeacutem de segregaccedilatildeo (ou seja a desqualificaccedilatildeo a depreciaccedilatildeo e
a estereotipia) Os sentidos do termo e as experiecircncias nele circunscritas revelam sua ambiguidade por um lado a marginalizaccedilatildeo por outro a forccedila simboacutelica
demonstrada no seu persistente poder aglutinador vindo a configurar ou expressar
uma identidade social e a nortear inclusive poliacuteticas de grupos
De outro modo o conceito negativo sobre a etnia quilombola perpassa tambeacutem pelos
moradores de Pimenteiras que possuem um vasto conhecimento sobre os espaccedilos que
ocupam na regiatildeo com sua rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias geraccedilotildees Os saberes
sobre a natureza satildeo de extrema importacircncia para as diversas aacutereas da ciecircncia conferindo na
forma pela qual pensam classificam e utilizam seus recursos
Contudo o acesso agrave comunidade eacute difiacutecil a uacutenica estrada existente para chegar agrave
comunidade natildeo eacute asfaltada e no trajeto visualizam-se diversas fazendas com gado campos
abertos depois mata fechada com grandes serras que ladeiam a comunidade Durante a
viagem satildeo percorridos aproximadamente 30 quilocircmetros em relevo bastante acidentado
Quilombista inspirado no modelo da Repuacuteblica de Palmares no seacuteculo XVI e em outros quilombos que
existiram e ainda existem Esclarece que natildeo se trata de um modelo segregacionista mas de um movimento que
advoga o poder poliacutetico realmente democraacutetico que implica a presenccedila da maioria afro-brasileira em todos os
niacuteveis desse poder Veja-se Nascimento (1991 21-26 apud Leite 2000 p339 a 340)
30
Ao chegar agrave comunidade percebi que a presenccedila mais forte eacute da natureza na sua
biodiversidade e das terras utilizadas para o cultivo da mandioca feijatildeo e pimenta Existe
tambeacutem o plantio de Murumuru19
cuja produccedilatildeo ocorre devido ao interesse da empresa
Natura20
pela compra do fruto
A comunidade de Pimenteiras possui uma relaccedilatildeo natildeo somente com os
conhecimentos agriacutecolas e o cultivo de plantas mas tambeacutem com os recursos naturais que
estatildeo ligados a estes levando em consideraccedilatildeo as informaccedilotildees sobre a natureza e os valores
de sua cultura e tradiccedilatildeo local A comunidade em estudo tem na mata fechada sua principal
fonte de recursos naturais A variedade de espeacutecies vegetais eacute muito grande ocasionando uma
afinidade dos moradores com a natureza de forma muito forte e antiga
Eacute nesse encontro entre os moradores quilombolas e a natureza que muitos saberes
culturais locais foram e satildeo desenvolvidos sem quaisquer recursos tecnoloacutegicos ou
assistecircncia Esta eacute uma das caracteriacutesticas que marcam a comunidade identificando e
classificando o ambiente em que vivem Eacute uma maneira de auto identificaccedilatildeo e auto definiccedilatildeo
da proacutepria comunidade enquanto grupo social particular que produz saberes sobre a natureza
forjando de maneira inconsciente sua identidade cultural
Mas como se originou a comunidade e o nome Pimenteira Durante as visitas feitas agrave
comunidade as histoacuterias que os moradores contam eacute que haacute muito tempo o pai de Domingas
o senhor Raimundo Cordeiro dos Santos queria fazer as preparaccedilotildees de pais e padrinhos21
para o batizado de uma crianccedila Como na comunidade natildeo havia igreja ou qualquer
representaccedilatildeo religiosa que pudesse ajudar na preparaccedilatildeo ele foi ateacute outra comunidade
chamada Fuzil para falar com o padre chamado Zeacute Doca Devido agrave distacircncia o senhor saiacutea
agraves 2h da madrugada e chegava ao local agraves 5h O padre observando as dificuldades propocircs
que algueacutem da comunidade com certo grau de conhecimento pudesse fazer os ensinamentos
aos moradores
No dia da celebraccedilatildeo do batismo o padre foi ateacute a casa do senhor para batizar a
crianccedila e orientar os moradores a iniciarem as celebraccedilotildees e construir um locar onde
pudessem rezar Assim haacute cerca de 40 anos uma igreja foi construiacuteda no local e os
19 Originaacuterio da Regiatildeo Amazocircnica Ele cresce espontaneamente nas matas do Paraacute Eacute encontrado ao longo dos
rios e em aacutereas inundadas em formaccedilotildees florestais densas ou semiabertas O fruto eacute um coco de coloraccedilatildeo
avermelhada Seu caroccedilo encerra uma amecircndoa dura que fica envolta por uma polpa amarelada comestiacutevel e
levemente adocicada O oacuteleo extraiacutedo da semente de murumuru possui propriedades altamente emolientes 20A Natura eacute um empresa brasileira que trabalha no setor de higiene pessoal perfumaria e cosmeacuteticos e tambeacutem
no segmento da venda direta dos produtos 21 O encontro de preparaccedilatildeo dos pais e padrinhos deve ser uma autecircntica obra de evangelizaccedilatildeo tendo por meta anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para proporcionar o encontro pessoal com Cristo na Comunidade Esses
satildeo preceitos da Igreja Catoacutelica relatados pelo Paacuteroco Elias de Santa Luzia do Paraacute
31
moradores passaram a receber visitas do sacerdote mecircs a mecircs A presenccedila religiosa fez com
que a comunidade de Pimenteiras fosse visualizada e tivesse entatildeo sua origem
Com relaccedilatildeo ao nome Pimenteira o termo surgiu de histoacuterias contadas pelos avocircs do
pai de Domingas trilhando pelos rios e matas da regiatildeo da Narciacutesea eles saiacuteam em busca de
caccedila e pesca formando os ranchos22
na beira do rio Guamaacute Nessas viagens levavam alguns
mantimentos necessaacuterios por passarem muitos dias caccedilando Dentre os alimentos levados a
pimenta natildeo podia faltar Quando retornavam deixavam agrave beira do rio as sementes da
pimenta que traziam elas brotavam e cresciam quando voltavam ao mesmo local de pesca
tinham como referecircncia o peacute de pimenta Assim comeccedilaram a chamar o local de ldquoigarapeacute da
pimentardquo (informaccedilatildeo verbal)23
que com o tempo passou a ser local de moradia para essas
pessoas vindas da Narciacutesea Surgiu assim o nome Pimenteira que deu origem agrave comunidade
remanescente de quilombola
Eacute diante dessa relaccedilatildeo com a natureza que os moradores quilombolas vivem e
reproduzem anualmente o evento cultural ldquoLadainha a Nossa Senhora do Livramentordquo como
ato de feacute agradecimento e preservaccedilatildeo dos fazeres de seus antepassados Eacute o que veremos no
toacutepico seguinte no qual esse momento cultural da comunidade de Pimenteiras seraacute abordado
com maiores detalhes
221 Ladainha a Nossa Senhora do Livramento
Em comemoraccedilatildeo ao ldquoDia da Consciecircncia Negra24
rdquo 20 de novembro os moradores
de Pimenteiras iniciaram um processo de valorizaccedilatildeo e rememoraccedilatildeo de suas crenccedilas
religiosas Segundo relatos dos mais antigos a celebraccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento
veio antes da existecircncia da comunidade de Pimenteiras Nas histoacuterias contadas pela moradora
Domingas tudo comeccedilou com sua avoacute materna a senhora Joana Pornusena dos Santos (in
memoacuteria) que acompanhando o marido no roccedilado presenciou a existecircncia de muitos
perigos O avocirc de Domingas trabalhando na terra solicitou em oraccedilatildeo agrave Senhora do
22 Rancho era o termo popular usado para designar a toca que eles faziam na beira do rio 23A histoacuteria sobre a origem do nome Pimenteira veio dos relatos informais da moradora DomingasTais histoacuterias
natildeo puderam ser transcritas a pedido da moradora 24
O Dia da Consciecircncia Negra eacute uma data celebrada no Brasil no dia 20 de novembro Este dia estaacute incluiacutedo na
semana da Consciecircncia Negra e tem como objetivo um reflexatildeo sobre a introduccedilatildeo dos negros na sociedade
brasileira O dia 20 de novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares data na qual morreu lutando pela liberdade do seu povo no Brasil Pesquisado no site httpwwwsignificadoscombrdia-
da-consciencia-negra
32
Livramento que o protegesse e tambeacutem sua famiacutelia dos acidentes e da morte que aconteciam
no roccedilado Como forma de agradecimento pela graccedila alcanccedilada ao final dos trabalhos com a
terra o avocirc prometeu que celebraria uma cerimocircnia religiosa em homenagem agrave Santa Este
gesto de agradecimento se perpetuou entre as geraccedilotildees e hoje a Ladainha continua preservada
nas matildeos da moradora Domingas
Passada entre as geraccedilotildees da famiacutelia de Domingas a Ladainha possui forte relaccedilatildeo
com o saber das plantas medicinais As flores colocadas sobre altar ou as plantas com cheiro
agradaacutevel usadas durante a cerimocircnia consideradas bentas eram guardadas para serem
utilizadas na forma de chaacutes para a cura das doenccedilas Na Ladainha plantas como manjericatildeo
catinga de mulata canela e hortelatilde satildeo empregadas na cerimocircnia com aacutegua para as pessoas se
benzerem Este ritual natildeo ocorria na eacutepoca da avoacute de Domingas Nas primeiras cerimocircnias a
Ladainha era comemorada com o canto em latim Adolfo era o nome da pessoa que entoava a
oraccedilatildeo sem o uso de livros
Com o passar dos anos ocorreram mudanccedilas como forma de atrair os jovens para a
celebraccedilatildeo Isto fez com que aleacutem da Ladainha do almoccedilo e da presenccedila da imagem da
Senhora do Livramento fosse incluiacuteda uma procissatildeo pela comunidade com o uso de fitas em
volta da imagem o uso da aacutegua com as plantas aromaacuteticas e uma festa como forma da
juventude participar na celebraccedilatildeo Outro aspecto importante que mudou nesses anos foi a
substituiccedilatildeo do canto em latim pela oraccedilatildeo encontrada no livro do Catecismo da Igreja
Catoacutelica que conteacutem a Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento Isto se deve ao fato de que os
jovens natildeo tiveram interesse de aprender a Ladainha em latim No entanto esta possui grande
significaccedilatildeo para a comunidade pois representa a feacute sendo renovada a cada ano Eacute o momento
em que os moradores contam suas histoacuterias e reencontram outras comunidades tambeacutem de
remanescentes de quilombolas eacute o momento em que a comunidade de Pimenteiras eacute
valorizada pela cultura e pelos saberes tradicionais das plantas
Vejamos abaixo algumas imagens da celebraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento
que ocorre anualmente na comunidade de Pimenteiras as quais exibem uma forma de
agradecimento e comemoraccedilatildeo pelas colheitas alcanccediladas durante o ano
33
Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade
Fonte Dados da pesquisa 2014
Ano apoacutes ano todos os moradores se reuacutenem numa grande festa cultural e religiosa
que traz consigo as lutas de um povo que trabalha a terra e marcam profundamente a
identidade da comunidade A data foi escolhida como forma de memorizar as grandes lutas jaacute
vividas pelos negros em prol da liberdade e dos direitos dos afrodescendentes
Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras
Fonte Dados da pesquisa 2014
34
Em comemoraccedilatildeo ao Dia da Consciecircncia Negra outras comunidades quilombolas
satildeo convidadas e prestigiam a comunidade e a Santa reverenciada A comunidade de
Pimenteiras eacute tambeacutem muito conhecida pelo festejo agrave Senhora do Livramento alimentos e
muacutesicas satildeo oferecidos durante o dia e a noite a todos que vecircm para comemorar a data tatildeo
significativa ao povo quilombola
Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas
FonteDados da pesquisa 2014
35
Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada
FonteDados da pesquisa 2014
O povo quilombola eacute um povo alegre que gosta de muacutesica e de danccedila O canto estaacute
sempre presente em seu cotidiano e nas festas da comunidade A cerimocircnia relata a vida as
lutas e a esperanccedila de melhorias para os moradores Eacute atraveacutes da religiosidade que
demonstram todo cuidado e respeito pela terra Na Ladainha a presenccedila da feacute catoacutelica vem
misturada com a forccedila dos tambores e das cordas dos violotildees Eacute nesse conjunto de
movimentos que as histoacuterias de luta de um povo satildeo recontadas sobre a terra a produccedilatildeo
agriacutecola e a identidade dos moradores que transcorrem no festejo
36
Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda
Fonte Dados da pesquisa2014
A festa tradicional eacute resultado de influecircncias negras indiacutegenas e catoacutelicas A
comunidade corteja a Santa do Livramento e as riquezas obtidas durante o ano A fartura estaacute
simbolizada nas oferendas apresentadas durante a celebraccedilatildeo quando satildeo colocados diversos
produtos cultivados na regiatildeo O ritual festivo entrecruza e atravessa ritmos vozes e jogos em
um sistema de imagens da festa popular no qual fim e recomeccedilo dialogam em um estado
coletivo de alegria A festa eacute a passagem do tempo demarcada pela colheita que tem uma
funccedilatildeo renovadora
Durante a cerimocircnia a senhora Libacircnia dos Santos Cunha eacute quem reza e conduz o
cortejo Considerada mais importante que o padre a senhora vem de outra comunidade mas
seu comando direciona o canto da Ladainha A atividade religiosa marca a passagem de
tempo do cultivo da terra significando a oportunidade de reunir pessoas de diversas
comunidades conjugando feacute alegria poliacutetica e reencontros entre familiares e amigos
Enquanto comungam os festejos os moradores discutem tambeacutem o futuro da comunidade
A festa popular eacute demorada e marcada por uma sucessiva e deliciosa comilanccedila
divulgando a abundacircncia e a fartura no ano que passou A celebraccedilatildeo eacute o momento no qual
evocam o poder dos mais velhos legitimam as famiacutelias abrem espaccedilo para os mais novos e
transmitem experiecircncias profundas
37
Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas
Fonte Dados da pesquisa 2014
Os antepassados satildeo lembrados nas praacuteticas cotidianas a famiacutelia eacute evocada na
presenccedila importante da mulher que simboliza o papel de geradora O papel feminino nas
questotildees poliacuteticas reforccedila essa ideia a senhora Domingas direciona junto a outras mulheres
todo o ritual a Nossa Senhora do Livramento aleacutem dos cuidados com a comida e de
participaccedilatildeo nas questotildees poliacuteticas da comunidade
Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento
Fonte Dados da pesquisa 2014
38
Vinda de origem portuguesa a devoccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento surgiu de
uma graccedila alcanccedilada haacute cerca de 50 anos por um agricultor quilombola que invocou o
livramento de todo o mal durante os trabalhos na lavoura A promessa eacute renovada todos os
anos com uma homenagem agrave Santa Tal culto foi tomado e seguido por todos os moradores da
comunidade e hoje comemoram a feacute por meio da graccedila alcanccedilada Logo abaixo segue um
trecho da Ladainha utilizada na celebraccedilatildeo agrave Senhora do Livramento na comunidade de
Pimenteiras A oraccedilatildeo completa se encontra no apecircndice ao final deste trabalho
Ladainha a Nossa Senhora do Livramento (fragmento)
Nossa Senhora do Livramento
Matildee de Deus nossa Matildee
e padroeira de nossa Paroacutequia
Com o olhar confiante vos contemplamos
Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos
Dirigimo-nos a voacutes como filhos
porque necessitamos do vosso auxiacutelio
Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados
apoiados e guiados pela matildeo materna
Renovai-nos espiritualmente
para que saibamos enxergar a vida mais bela
Levantai-nos para caminhar sem medo
nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo
para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna
[]
Nossa Senhora do Livramento
Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da alma
[]
Rogai por noacutes santa Matildee de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos
perpeacutetua sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-
aventurada sempre Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da
eterna alegria Por Cristo Nosso Senhor Ameacutem
Apoacutes verificarmos um pouco da cultura religiosa dos remanescentes de quilombola
de Pimenteira abordaremos no toacutepico seguinte as lutas que os moradores vivenciam e as
muitas conquistas alcanccediladas apoacutes a criaccedilatildeo e fundaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Quilombola dos
Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP)
39
222 AQUAFAP o desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola nos
saberes das plantas medicinais
Sabendo que uma associaccedilatildeo25
eacute uma iniciativa formal ou informal que reuacutene
pessoas fiacutesicas ou outras sociedades legais com objetivos comuns que visam superar as
dificuldades e gerar benefiacutecios para os seus membros a Associaccedilatildeo Quilombola dos
Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP) foi criada pelos moradores da
comunidade no intuito de legalizar e alcanccedilar seus projetos De forma geral qualquer que seja
o tipo ou os objetivos para sua criaccedilatildeo pode-se dizer que a associaccedilatildeo eacute uma forma de
legalizar a uniatildeo de pessoas em torno de seus interesses e que sua constituiccedilatildeo permite
alcanccedilar condiccedilotildees melhores do que os indiviacuteduos teriam isoladamente para a realizaccedilatildeo dos
seus planos Assim toda associaccedilatildeo eacute a forma mais baacutesica para se organizar juridicamente um
grupo de pessoas para a concretizaccedilatildeo de desiacutegnios comuns Seus princiacutepios enquadram-se na
doutrina de que juntos podemos encontrar soluccedilotildees melhores para os conflitos que a vida em
sociedade nos apresenta
Pensando nisso os moradores remanescentes de quilombo conheceram sonharam e
concretizaram o plano de fundar uma entidade que representasse e conseguisse alcanccedilar seus
objetivos de melhoria de vida diante das muitas dificuldades enfrentadas na comunidade ante
o descaso dos governos Historicamente os quilombolas satildeo um grupo que juntos
conseguiram a tatildeo aspirada liberdade hoje essa luta continua na busca de direitos negados no
contexto histoacuterico como se pode conferir a respeito
Quilombo natildeo significou apenas um lugar de refuacutegio de escravos fugidos mas a
organizaccedilatildeo de uma sociedade livre formada de ldquohomens e mulheres que se recusavam viver sob o regime da escravidatildeo e desenvolviam accedilotildees de rebeldia e de
luta contra esse sistemardquo (MUNANGA GOMES 2006)
Considerada como berccedilo dos remanescentes de quilombolas a comunidade Narciacutesea
possui grande nuacutemero de pessoas descendentes de negros Nos relatos contados pela moradora
Domingas sua matildee dona Otiacutelia veio da Narciacutesea muito tempo atraacutes em busca de terras para
o cultivo Apoacutes muitas viagens dona Otiacutelia junto de sua famiacutelia decidiu criar raiacutezes na regiatildeo
25 O significado do termo foi refletido sobre pesquisa feita no site httpwwwasaescorgindexphpa-
associacaoo-que-e-uma-associacao
40
da Pimenteira Depois de sua instalaccedilatildeo representantes do CEDENPA e do MALUNGU26
vieram da Narciacutesea para saber os motivos que levaram a senhora a se mudar da regiatildeo
Segundo relatos os motivos foram o fato de casar e desejar trabalhar na terra para viver
melhor Sabe-se que
Muitas comunidades foram formadas apoacutes a promulgaccedilatildeo da Lei Aacuteurea que
extinguiu a escravidatildeo por uma forte razatildeo era a uacutenica possibilidade do negro
viver em liberdade em um espaccedilo onde sua cultura natildeo era desprezada sendo
possiacutevel por isso preservar a dignidade (MUNANGA GOMES 2006)
Muitas pessoas ajudaram os moradores da comunidade de Pimenteiras a conhecer
suas origens Foi com dona Otiacutelia que souberam da remanescecircncia de quilombo jaacute com o
padre Rafael27
os moradores desenvolveram projetos via Pastoral da Igreja mas foi com o
senhor e professor Cardoso28
que os moradores conheceram o que era uma associaccedilatildeo e quais
seus benefiacutecios Orientados por este senhor alguns moradores conseguiram adquirir
documentos de identificaccedilatildeo que natildeo possuiacuteam aleacutem disso foram orientados a fundar uma
associaccedilatildeo quilombola para conseguir melhorias para a comunidade Com a ajuda da senhora
Nazareacute29
os documentos e atas da associaccedilatildeo foram registrados e legalizados
Atraveacutes da legalizaccedilatildeo da associaccedilatildeo os moradores deram iniacutecio agrave titularidade da
terra Representantes do CEDENPA MALUNGU e INCRA visitaram diversas vezes a
comunidade com entrevistas e a verificaccedilatildeo das limitaccedilotildees de terra para o processo de
titularidade Hoje o processo continua em andamento devido aos muitos impasses na regiatildeo
como por exemplo a presenccedila de agricultores natildeo quilombolas com terra na comunidade de
Pimenteiras
Passadas quase duas deacutecadas da publicaccedilatildeo do artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal de
1988 e quatro anos da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 48872003 que regulamenta o
processo de identificaccedilatildeo reconhecimento demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombolas atualmente a luta
continua nos acircmbitos juriacutedico e educacional (SILVA 2000)
26A Palavra Malungu vem de origem africana significa COMPANHEIRO Assim lado a lado lutamos pela
garantia de nossos direitos e pelo reconhecimento social dos quilombolas A Coordenaccedilatildeo Estadual das
Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Paraacute foi oficialmente fundada em marccedilo de
2004 como uma organizaccedilatildeo sem fins lucrativos e econocircmicos para representar as comunidades quilombolas do
ParaacutePesquisa no site httpsmalunguparawordpresscom
27 Paacuteroco da cidade de Santa Luzia do Paraacute na deacutecada de 80 28Professor que foi enviado pelo CEDENPA para orientar os moradores de Pimenteiras nos anos 90 29Maria de Nazareacute Reis Ghirard eacute professora engenheira agrocircnoma e representante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Paraacute ndash CEDENPA aleacutem de outros oacutergatildeos direcionados na preservaccedilatildeo da biodiversidade de
comunidades da regiatildeo aleacutem de desenvolver trabalhos de valorizaccedilatildeo da mulher e do negro
41
O dia 03 de dezembro de 2007 eacute a data de abertura da AQUAFAP Muitas
dificuldades ocorreram para conseguir documentar algumas pessoas da comunidade natildeo
ajudaram mas a maioria se empenhou e buscou realizar tal objetivo Desde entatildeo muitos
projetos foram criados dentre os quais o Bioenergeacutetico e os trabalhos com as plantas que
surgiram via associaccedilatildeo
Com o auxiacutelio da professora Nazareacute e o conhecimento jaacute existente sobre as plantas
medicinais os moradores estudaram e trabalharam na comunidade com tal saber Futuramente
os moradores desejam conseguir pela AQUAFAP um projeto de preservaccedilatildeo e
reflorestamento na regiatildeo da Pimenteira direcionado ao Fundo Dema30 poreacutem o impasse
continua na definiccedilatildeo da titularidade da terra Hoje a associaccedilatildeo eacute tida com algo de grande
valor aos moradores da comunidade devido ao grande conhecimento e oportunidades de
melhorias para todos Muitos estatildeo engajados natildeo apenas com a associaccedilatildeo mas tambeacutem com
questotildees da Igreja e principalmente com as plantas medicinais que mesmo tendo paralisado
o trabalho com o Bioenergeacutetico os saberes adquiridos se multiplicam e propagam uma
valorizaccedilatildeo maior dos saberes sobre as plantas
Detentores de um patrimocircnio cultural rico e valoroso poreacutem desconhecido de
muitos as comunidades remanescentes de quilombolas satildeo formadas de grupos
sociais cuja identidade eacutetnica constitui a base de suas vivecircncias cotidianas bem
como das accedilotildees poliacuteticas levadas a feito pelas entidades que lutam pelos seus
direitos (SILVA 2000)
Eacute perante tamanha riqueza de conhecimento que veremos no toacutepico seguinte como o
trabalho com o Bioenergeacutetico deixou intensos saberes sobre as plantas de uso medicinal que
marcaram profundamente a vida dos moradores da Pimenteira e se tornaram uma identidade
para a comunidade e seus moradores
30O Fundo Dema Quilombolas do Paraacute ou Fundo Dema de Apoio agraves Comunidades Quilombolas do Paraacute surgiu
em 2008 numa dinacircmica interativa entre a Coordenaccedilatildeo das Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de
Quilombolos (Malungu) Fase AmazocircniaFundo Dema e Fundaccedilatildeo Ford para a constituiccedilatildeo de uma linha de
accedilatildeo e financiamentos voltada exclusivamente para as comunidades quilombolas do Paraacute Sua criaccedilatildeo respondeu
a uma demanda especiacutefica por entender que essas comunidades demonstram uma dinacircmica emancipatoacuteria uacutenica
aleacutem de se constituiacuterem como um segmento importante das populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia Paraense Tem
por objetivo promover a conquista dos DhESCArsquos (Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais) das comunidades quilombolas e contribuir para a consolidaccedilatildeo da articulaccedilatildeo estadual da Malungu
na conquista e garantia destes direitos Pesquisa no site httpwwwfundodemaorgbr
42
223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico
Buscar a natureza para sanar as enfermidades eacute um procedimento antigo que ateacute os
dias atuais persiste especialmente em comunidade e grupos eacutetnicos distantes dos recursos das
cidades tais como a sauacutede Eacute comum vermos pessoas fazendo uso de plantas medicinais em
rituais religiosos como tambeacutem no tratamento de doenccedilas por vezes eacute o uacutenico recurso
terapecircutico usado Em muitas regiotildees e ateacute mesmo nas grandes cidades as plantas medicinais
satildeo comercializadas em feiras livres comeacutercio popular e nos quintais de nossas casas Em
Beleacutem por exemplo no mercado do Ver-o-Peso temos o banho de cheiro31
que eacute preparado
com o uso de diversas plantas aromaacuteticas e muito procurado pelas pessoas para melhorar
aspectos da vida amor dinheiro e a cura de doenccedilas
Observando a cultura popular quanto agrave eficaacutecia das plantas medicinais percebemos
que haacute uma divulgaccedilatildeo dos valores terapecircuticos das plantas mesmo natildeo tendo informaccedilotildees
das propriedades quiacutemicas Assim pessoas de todo o mundo manteacutem a praacutetica do consumo
fitoteraacutepico validando as informaccedilotildees terapecircuticas que foram acumuladas ao longo dos
seacuteculos sobre as plantas medicinais Segundo Pinheiro (2002 p 16)
a grande procura pelas Terapias Alternativas eacute resultado de vaacuterios aspectos O que
chama mais a atenccedilatildeo eacute que grande parte das pessoas jaacute passou pelo tratamento da
medicina tradicional e natildeo tiveram os resultados que esperavam Mas quando se fala
em Terapia Alternativa no Brasil eacute preciso esclarecer que se trata na maioria dos
casos de praacuteticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina Apenas a
homeopatia e a acupuntura satildeo reconhecidas como especialidades meacutedicas Mas alguns ramos das Terapias Alternativas cobrem aacutereas que a medicina convencional
despreza e que em muitos casos podem ser uma uacutenica e uacutetil complementaccedilatildeo ao
tratamento convencional
Para Levi Strauss (1970 p 51) ldquoquando uma accedilatildeo terapecircutica natildeo alcanccedila o
resultado esperado a feacute e a crenccedila no sistema permanecem pois elas satildeo sempre coletivasrdquo O
que persiste nesses saberes eacute a crenccedila de que haveraacute a melhora ou cura das doenccedilas por meio
dos medicamentos naturais Dentre as praacuteticas alternativas de sauacutede uma muito conhecida eacute a
Bioenergeacutetica32
Esse meacutetodo requer alguns requisitos importantes para seu uso segundo
Barbieri (2008 p 18)
31 As principais plantas usadas para fazer o banho de cheiro segundo seus nomes populares satildeo catinga de mulata
chama abre caminho vindica manjericatildeo manjerona de angola alecrim de angola trevo da sorte trevo do mar japana
branca priprioca aleacutem de oacuteleos de jasmin uirapuru e patchouli 32 Bioenergeacutetica eacute a energia da vida Eacute uma nova teacutecnica de diagnoacutestico e tratamento de doenccedilas baseada na sabedoria do inconsciente humano Esta sabedoria segundo garantem eminentes psicoacutelogos eacute inata e igual para
todos portanto natildeo depende de nenhum estudo mas nos foi infundida por Deus no momento da concepccedilatildeo Eacute
43
O praticante deve ter um bom conhecimento de anatomia e fisiologia para conhecer
os pontos do exame bem como o funcionamento do organismo Ter conhecimento
da energia e de como ela age e reage no organismo conhecer os princiacutepios baacutesicos
da energia e exercitar-se energeticamente treinar com os dedos para ter domiacutenio do campo energeacutetico fazer parceria com um companheiro (a) como o (a) qual
estabelece uma sintonia energeacutetica possibilitando seguranccedila nos testes
O meacutetodo da Bioenergeacutetica originaacuterio do processo de desintoxicaccedilatildeo do corpo pelo
Biosauacutede eacute um procedimento realizado atraveacutes do bioteste ndash ou o teste do anel ndash que revela
problemas de sauacutede presentes no paciente O teste possibilita que a pessoa qualificada tenha
uma visatildeo especiacutefica de todos os pontos a serem cuidados O tratamento eacute feito a base de
plantas medicinais argila alimentaccedilatildeo saudaacutevel e banhos O Biosauacutede ou meacutetodo do
Bioenergeacutetico trata o corpo por completo33
Conhecendo os benefiacutecios que o Bioenergeacutetico pode trazer a senhora Nazareacute propocircs
para os moradores da Pimenteira criar um projeto que pudesse realizar esse trabalho na
comunidade pois alguns moradores jaacute possuiacuteam conhecimento sobre o uso das plantas
medicinais Assim o Bioenergeacutetico foi um dos projetos criados pela AQUAFAP Alguns
ficaram com receio desse trabalho outros moradores receberam bem a proposta e valorizaram
o trabalho que durou em meacutedia um ano
Muitas plantas nativas e caseiras foram cultivadas e catalogadas nesse periacuteodo As
pessoas que foram preparadas por meio do curso de Bioenergeacutetico ficaram cerca de dois anos
estudando pelo CEDENPA eram elas a irmatilde da Domingas Maria Ilene Alves do Nascimento
a senhora Maria Valdenira de Sousa Zacarias e a senhora Maria Zenir dos Santos Castro
Estas pessoas foram a Beleacutem para fazer o curso do Bioenergeacutetico com orientaccedilatildeo da senhora
Nazareacute e adquiriram diversos conhecimentos dentre os quais saber qual doenccedila havia no
corpo de algueacutem
Contudo com o passar dos trabalhos ocorreram desavenccedilas e as pessoas agrave frente do
projeto foram perdendo o interesse e por fim natildeo continuaram em busca de melhorar e
ampliar esse saber e aos poucos pararam de executar o Bioenergeacutetico na comunidade Hoje
um meacutetodo simples que se utiliza apenas dos dedos das matildeos entrelaccediladas em forma de anel feito por duas
pessoas examinadoras Tambeacutem usa uma vareta de metal para encostar na pessoa a ser examinada Pesquisado
no dia 03122014 as 2311hs no site httpwwwjaimebruningcombrbio_saudephp
33 Durante a consulta o paciente eacute submetido ao teste bioenergeacutetico no qual um profissional da equipe faz um
elo usando os dedos polegar e indicador enquanto outro da equipe tambeacutem faz um anel em cada uma de suas
matildeos entrelaccedilando os dedos do outro Com um arame ou metal que conduza corrente um deles vai tocando os
pontos de checagem a matildeo reagiraacute de forma diferente em cada novo toque Quando tocar um oacutergatildeo sadio o imatilde
seraacute mais forte Pesquisado no dia 30072015 as 1734hs no sitehttpwwwcurapelanaturezacombr201103biosaude-desintoxicacao-e-energizacaohtml
44
muitos na comunidade sentem a falta e tem a necessidade de serem tratados por esse saber
mas as pessoas foram instruiacutedas a natildeo transmitirem esse saber para outros e pararam os
trabalhos O local era chamando de ldquoCentro Popular Biosauacutede Pornusenardquo em homenagem agrave
avoacute da senhora Domingas Vejamos abaixo a imagem do local onde antes era realizado o
trabalhado com o bioenergeacutetico e que hoje eacute lugar de encontros para os associados da
AQUAFAP
Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena
Fonte Dados da pesquisa 2013
O centro popular eacute equipado com geladeira armaacuterio fogatildeo mesas e principalmente
o cataacutelogo com as amostras e os nomes das plantas colhidas pelos moradores da comunidade
para a realizaccedilatildeo do trabalho com o Bioenergeacutetico As imagens a seguir satildeo do local onde
ocorriam os trabalhos e tambeacutem a mesa que conteacutem os desenhos da anatomia e fisiologia do
organismo humano
Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico
Fonte Dados da pesquisa 2013
45
Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o funcionamento do organismo
Fonte Dados da pesquisa 2013
O cataacutelogo com amostras das plantas nativas e caseiras da comunidade de
Pimenteiras eacute um acervo rico de informaccedilotildees relacionadas com a biodiversidade da regiatildeo Os
nomes estatildeo escritos de acordo com o saber que os moradores possuem sobre a liacutengua escrita
o que traz maior qualidade nos estudos sobre os termos das plantas escritos pelos moradores
da comunidade quilombola Observemos abaixo algumas plantas dissecadas de forma
tradicional e nomeadas no cataacutelogo
Fotografia 11 ndash Salsa dissecada
Fonte Dados da pesquisa 2013
46
Fotografia 12 ndash Canela dissecada
Fonte Dados da pesquisa 2013
Fotografia 13 ndashVinagreira dissecada
Fonte Dados da pesquisa ano 2013
Observamos que o trabalho com o Bioenergeacutetico proporcionou grande riqueza de
dados os quais objetivamos analisar e conhecer mais profundamente no intuito de contribuir
47
para os estudos cientiacuteficos da Liacutengua por meio dos saberes tradicionais Entretanto o que eacute
conhecimento e o que eacute saber Esse e outros aspectos seratildeo observados no capiacutetulo seguinte
no qual abordaremos as diferenciaccedilotildees entre Conhecimento e Saber
Apontando na comunidade tradicional os sujeitos de saberes bem como a presenccedila
do gecircnero nesses saberes sobre as plantas medicinais incluindo especificamente a detentora
do saber das plantas que eacute a senhora Domingas para finalmente observarmos como tais
saberes constituem a identidade cultural da comunidade quilombola de Pimenteiras
23 SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM PIMENTEIRAS
A partir da compreensatildeo dos saberes como praacuteticas discursivas Michel Foucault
(2009)34
depreende que nesse discurso os termos Saber35
e Conhecimento36
geralmente satildeo
palavras utilizadas no senso comum como sinocircnimas Analisamos que a palavra ldquosaberrdquo
significa ter conhecimento de algo teoacuterico ou praacutetico eacute uma habilidade resultante da
experiecircncia da praacutetica da sabedoria e da cultura O saber eacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito que
sabe e o objeto a ser conhecido eacute um sentimento de seguranccedila que se produz quando se tem
consciecircncia dessa relaccedilatildeo posta em movimento numa dada realidade Jaacute o termo
34 Michel Foucault foi um filoacutesofo historiador das ideias teoacuterico social filoacutelogo e criacutetico literaacuterio Suas teorias abordam a relaccedilatildeo entre poder e conhecimento como eles satildeo usados como uma forma de controle social por
meio de instituiccedilotildees sociais 35Saber - Verbo Transitivo direto transitivo indireto e intransitivo 1conhecer ser ou estar informado ter
conhecimento de 2ter conhecimentos especiacuteficos (teoacutericos ou praacuteticos) 3estar convencido de ter a certeza de
(coisas presentes e futuras) prever pressentir 4ter forccedila meacuterito meio capacidade ou possibilidade de 5ter
habilidade jeito etc para 6poder explicar compreender 7ser capaz de conseguir 8guardar na memoacuteria
decorar 9indagar perguntar 10julgar considerar ter como 11fazer jus a merecer 12ter gosto de lembrar o
sabor de ter sabor ser saacutepido 13soma de conhecimentos adquiridos sabedoria cultura erudiccedilatildeo 14prudecircncia e
sensatez ao agir experiecircncia 15capacidade resultante da experiecircncia praacutetica 36Conhecimento- Substantivo masculino Ato ou efeito de conhecer 1 O ato ou a atividade de conhecer
realizado por meio da razatildeo eou da experiecircncia 11ato ou efeito de apreender intelectualmente de perceber um
fato ou uma verdade cogniccedilatildeo percepccedilatildeo 12Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato estado ou condiccedilatildeo de compreender entendimento 2 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa conhecida 21Derivaccedilatildeo por extensatildeo de
sentido Domiacutenio teoacuterico ou praacutetico de um assunto uma arte uma ciecircncia uma teacutecnica etc competecircncia
experiecircncia praacutetica 3 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia Faculdade de conhecer 4 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido
Intuiccedilatildeo pressentimento ou outra forma de cogniccedilatildeo 5 Fato de reconhecer uma coisa como adrede sabida ou
conhecida reconhecimento 6 Familiaridade (com uma coisa ou uma pessoa) adquirida pela experiecircncia 7
Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Ato ou efeito de estabelecer uma relaccedilatildeo com algueacutem em grau de
intimidade variaacutevel mas ger menor que na amizade 8 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Pessoa com quem se
estabeleceu uma ligeira relaccedilatildeo pessoal ou que pelo menos se sabe de quem se trata 9 Derivaccedilatildeo por extensatildeo
de sentido Uso formal Diacronismo antigo Relaccedilatildeo carnal do homem e da mulher 10 Derivaccedilatildeo por
extensatildeo de sentido Uso formal Diacronismo antigo Noccedilatildeo que cada um tem de sua proacutepria existecircncia e das
pessoas familiares coisas fatos do dia-a-dia consciecircncia lucidez 11 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato ou condiccedilatildeo de estar ciente ou consciente de (algo) 12 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa que se conhece de
que se sabe de que se estaacute informado ciente ou consciente []
48
ldquoconhecimentordquo eacute o ato de conhecer algo por meio da razatildeo ou da experiecircncia eacute portanto o
domiacutenio de um assunto teoacuterico ou praacutetico a ser adquirido (SILVA 2009 p 263)
Observamos que as palavras Saber e Conhecimento sugerem uma relaccedilatildeo do sujeito
com o objeto conhecido ou a ser conhecido Essa relaccedilatildeo do sujeito com o objeto ocorre pela
familiarizaccedilatildeo do sentido com o componente a ser compreendido assim Saber e
Conhecimento satildeo palavras tomadas no dicionaacuterio como sinocircnimas Ambas significam
experiecircncia ciecircncia percepccedilatildeo informaccedilatildeo e ato de conhecer
Entretanto no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras as palavras saber e conhecimento natildeo teratildeo significaccedilatildeo semelhante Isto se
confirma nos estudos de Foucault (1987) sobre a relaccedilatildeo de poder e saber O autor ressalta a
ideia de que na produccedilatildeo dos saberes haacute sempre uma dependecircncia muacutetua entre estas
categorias Para ele natildeo haacute saber sem estar tocado pelas complexas relaccedilotildees de poder mas
essas relaccedilotildees se constituem em conjunto com a produccedilatildeo dos saberes (FREITAS 2005)
Eacute nesse contexto de poder que Foucault diferencia o conceito de saber e de
conhecimento Para o pesquisador o conhecimento eacute a constituiccedilatildeo de discurso sobre classe
de objetos passiacuteveis de se conhecer ou seja cognosciacuteveis que satildeo construiacutedos pelo processo
de racionalizaccedilatildeo identificaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo dos objetos Jaacute o saber segundo o
pesquisador eacute um processo flexiacutevel que sofre mudanccedilas durante o trabalho de conhecer
enquanto o conhecimento eacute carregado e estagnado
Foucault ainda explica que o sujeito cognitivo eacute marcado por sua cultura pelos
aspectos externos e de uma memoacuteria que atravessa o tempo atraveacutes das significaccedilotildees
pensamentos e desejos no acircmbito do conhecimento (ALMEIDA 2012) Com base nesses
estudos compreendemos que os saberes dos moradores da comunidade de Pimenteiras satildeo
construiacutedos constantemente nas relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridos culturalmente
Observamos que a palavra conhecimento eacute uma verdade preacute-construiacuteda linear
imoacutevel independente do contexto no qual seraacute processada No decorrer dos questionamentos
compreendemos que a palavra conhecimento se refere a situaccedilotildees objetivas e teoacutericas que
devidamente sistematizadas datildeo lugar agrave ciecircncia A palavra saber por sua vez pode referir-se
a situaccedilotildees tanto objetivas como subjetivas tanto teoacutericas quanto praacuteticas eacute como se a palavra
conhecimento coubesse dentro da palavra saber e natildeo o contraacuterio
Para nos ajudar na compreensatildeo desses termos citamos Zubiri (1974) que em seus
estudos mostra que o homem tem um modo de experiecircncia com as coisas de uma maneira
simples e uacutenica Eacute um saber que toca no iacutentimo de cada coisa natildeo eacute a percepccedilatildeo de cada uma
de suas caracteriacutesticas eacute uma espeacutecie de sentido do ser Eacute a experiecircncia que temos com o
49
objeto colocando-o no espiacuterito Desta forma Monteil (1985 apud Charlot 2000 p 61) assim
distingue
O conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal ligada agrave atividade de um
sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas como tal eacute intransmissiacutevel estaacute
ldquosob a primazia da subjetividaderdquo Assim como a informaccedilatildeo o saber estaacute ldquosob a
primazia da objetividaderdquo mas eacute uma informaccedilatildeo de que o sujeito se apropria
Desse ponto de vista eacute tambeacutem conhecimento poreacutem desvinculado do ldquoinvoacutelucro
dogmaacutetico no qual a subjetividade tende a instalaacute-lordquo O saber eacute produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos eacute construiacutedo em ldquoquadros metodoloacutegicosrdquo
Pode portanto ldquoentrar na ordem do objetordquo e torna-se entatildeo ldquoum produto
comunicaacutevelrdquo uma ldquoinformaccedilatildeo disponiacutevel para outrem
Saber natildeo eacute soacute entender a veracidade das coisas desde os seus princiacutepios haacute
necessidade de se conquistar realmente a posse da ldquorealidaderdquo Esta posse da ldquorealidaderdquo
permite colocar o conhecimento em accedilatildeo num determinado contexto o que ocasiona a
construccedilatildeo do saber pois natildeo basta apreendermos a ldquoverdade da realidaderdquo (conhecimento) eacute
necessaacuterio construirmos a ldquorealidade da verdaderdquo (saber) (MOTA 2008)
Para Schlanger (1978 apud Charlot 2000) saber e conhecimento mantecircm uma
pertinente relaccedilatildeo de interaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto Para ele a anaacutelise parece pertinente
ao dizer que natildeo haacute ldquosaberrdquo sem relaccedilatildeo entre sujeito e objeto outros sujeitos e outras
realidades A confrontaccedilatildeo pessoal do sujeito apropriado de conhecimentos numa realidade
especiacutefica e singular implica na atividade do sujeito de produzir saberes Schlanger (1978
apud CHARLOT 2000 p 22) expotildee que ldquoO saber eacute uma relaccedilatildeo um produto e um
resultado relaccedilatildeo do sujeito que conhece com seu mundo resultado dessa interaccedilatildeordquo
Enquanto o conhecimento para o pesquisador eacute exatamente a obtenccedilatildeo de uma imagem
cognitiva interna de uma verdade independente de uma realidade estabelecida pela relaccedilatildeo
cognitiva interna e ativa do sujeito sobre o objeto Assim o objeto de conhecimento eacute
qualquer realidade externa ao indiviacuteduo que atraveacutes do ato intelectual torna-se interna
O saber por sua vez necessita de uma relaccedilatildeo natildeo soacute interna do indiviacuteduo sobre o
objeto mas uma relaccedilatildeo entre esse sujeito seu conhecimento e uma dada realidade ou
contexto Por conta disso vemos o saber como o movimento do conhecimento em contato
com um determinado contexto numa dada realidade confrontando suas muacuteltiplas faces
transcendendo o conhecimento jaacute consolidado reinventando-o recriando-o e traduzindo-o
conforme as necessidades imperadas pelas circunstacircncias (SCHLANGER 1978 apud
CHARLOT 2000)
O saber e o conhecimento satildeo formas de relacionamento com a realidade formas de
dizer de pensar de ser e de estar no mundo e com o mundo Eacute com estas explanaccedilotildees sobre o
que individualiza o saber que entenderemos os saberes da comunidade de Pimenteiras
50
saberes de um povo que durante seacuteculos lutou para alcanccedilar sua liberdade seu direito agrave terra e
seu espaccedilo na sociedade Eacute pertinente ao ser humano a sobrevivecircncia por isso para Brandatildeo
(1993 p 20 apud PELAES 2010)
Haacute a necessidade de sobrevivecircncia do homem que cria mecanismos para se adaptar aos desafios da natureza Com isso o homem desenvolve meios de sobrevivecircncia
bens de uso e bens de troca dentro de um cenaacuterio de interaccedilotildees Tais homens atuam
como indiviacuteduos sujeitos do mundo da cultura pessoas que segundo o autor satildeo
agentes culturais e atores sociais convivendo em cenaacuterios da cultura
Em vista da necessidade de sobrevivecircncia os remanescentes de Quilombola da
comunidade de Pimenteiras possuem e utilizam os saberes que foram adquiridos de seus
antepassados sobre a manipulaccedilatildeo das plantas medicinais a fim de alcanccedilar a cura de
doenccedilas Tendo em vista as dificuldades de acesso aos recursos de sauacutede eles buscaram na
natureza as espeacutecies vegetais mais apropriadas para sua alimentaccedilatildeo ou para a cura de seus
males entre as geraccedilotildees
Apesar de muitas plantas serem uacuteteis ao homem existem aquelas que produzem
substacircncias toacutexicas ou venenosas assim eacute preciso saber bem as caracteriacutesticas de cada planta
para poder usaacute-la como remeacutedio Eacute comum se ouvir dizer que o uso das plantas medicinais ldquose
natildeo fizer bem mal natildeo faraacuterdquo poreacutem natildeo eacute bem assim Do ponto de vista cientiacutefico o saber
sobre as plantas ainda eacute um campo pouco estudado e difundido no paiacutes Apesar da riqueza da
flora brasileira os estudos na aacuterea ficam mais restritos agrave antropologia
O uso inadequado das plantas poderaacute trazer efeitos indesejados e por vezes ateacute a
morte do indiviacuteduo Eacute imprescindiacutevel ter conhecimento natildeo somente das plantas mas tambeacutem
das doenccedilas para fazer a seleccedilatildeo correta da planta a ser utilizada de acordo com a forma de
uso a frequecircncia a quantidade a idade e o metabolismo de cada pessoa Enfim os saberes
das plantas e os conhecimentos cientiacuteficos podem juntos contribuir para a sauacutede e bem estar
dos moradores da comunidade de Pimenteiras aleacutem de preservar sua cultura como identidade
cultural de um povo
Da distinccedilatildeo entre saber e conhecimento iremos ao toacutepico seguinte no qual
abordaremos a comunidade tradicional e os sujeitos de saberes sobre as plantas medicinais
Quem satildeo e o que caracteriza as comunidades tradicionais Que aspectos marcam sua
identidade como sujeitos de saberes Ou seja eacute a construccedilatildeo do sujeito atraveacutes do saber
adquirido entre as geraccedilotildees
51
231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes
Entendemos que o conhecimento eacute construiacutedo a partir do acuacutemulo de experiecircncias
vivenciadas no acircmbito fiacutesico e social Nas populaccedilotildees tradicionais37
que satildeo estas
constituiacutedas por grupos comunitaacuterios humanos os quais na sua maioria vivem no meio rural
habitando determinado territoacuterio com seus haacutebitos usos e costumes o conhecimento eacute
construiacutedo a partir da relaccedilatildeo com o meio em que vivem inserindo no ecossistema
preservaccedilatildeo significaccedilatildeo ressignificaccedilatildeo valores e saberes que seratildeo transmitidos de geraccedilatildeo
em geraccedilatildeo por procedimentos educativos tradicionais
Alguns aspectos diferenciam as populaccedilotildees tradicionais das populaccedilotildees natildeo
tradicionais tais como pouca acumulaccedilatildeo de bens apropriaccedilatildeo do espaccedilo natural estrateacutegias
de sobrevivecircncia a partir do conhecimento de fontes naturais adquiridas entre as geraccedilotildees e
vivecircncias com o meio aleacutem da construccedilatildeo de um modo de vida de acordo com os ciclos dos
recursos que a natureza oferece
As comunidades tradicionais se reconhecem como pertencentes a um grupo social
particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de cada grupo Assim
as sociedades tradicionais se apresentam mais homogecircneas do que as comunidades natildeo
tradicionais pois ocupam aacutereas de pouca densidade populacional com atividades agriacutecolas
festas culturais e cultos religiosos que funcionam como fator de aglutinaccedilatildeo social
Estas comunidades desenvolvem seus saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a
natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia de seu grupo Castro (2000 p 169)
compreende que as accedilotildees praticadas pelo homem e os mecanismos de intervenccedilatildeo na natureza
satildeo frutos do acuacutemulo de experiecircncias vivenciadas no meio e de saberes reelaborados no meio
social atraveacutes das geraccedilotildees
Nesse contexto observamos que a comunidade tradicional de Pimenteiras conteacutem
saberes conduzidos entre as geraccedilotildees e preservado de acordo com os costumes culturais que
os moradores quilombolas adquiriram com o passar do tempo tais saberes satildeo denominados
de conhecimento popular
O conhecimento popular agraves vezes denominado senso comum natildeo se distingue do
conhecimento cientiacutefico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto a ser conhecido O
que os diferencia eacute a forma o modo ou o meacutetodo do conhecer (LAKATTOS MARCONI
37 Art 3ordm Decreto nordm 6040 de 7 de fevereiro de 2007 presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva instituiu a Poliacutetica
Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT)
52
1991) Saber que determinada planta necessita de uma quantidade de aacutegua pode ser um
conhecimento verdadeiro e comprovado contudo isso natildeo o torna cientiacutefico Para haver
cientificidade eacute necessaacuterio ir mais aleacutem eacute preciso conhecer a natureza dos vegetais sua
composiccedilatildeo seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espeacutecie
da outra Assim demonstra-se que a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico caminho de acesso ao
conhecimento e agrave verdade e que um mesmo objeto como uma planta um mineral ou uma
comunidade pode ser objeto de estudo tanto para a ciecircncia quanto para o homem comum ou
seja o que caracteriza o conhecimento cientiacutefico do saber popular eacute a forma de observaccedilatildeo
(BUNGE 1974)
Eacute a partir da observaccedilatildeo que os saberes sobre as ervas e plantas foram adquiridos
entre as geraccedilotildees e hoje muitas comunidades tradicionais utilizam os recursos caseiros para
curar e amenizar as doenccedilas Segundo Bunge (1974 p 20) a Ciecircncia aspira pela
racionalidade e objetividade isto soacute eacute atingido de forma muito limitada O conhecimento
popular por sua vez busca o comum o corrente e o espontacircneo de conhecer algo que soacute se
adquire no trato direto com as coisas e com os seres humanos Para o autor o conhecimento
popular caracteriza-se pelo superficial sensitivo subjetivo assistemaacutetico e acriacutetico (ANDER-
EGG 1978)
No campo do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais este eacute um
saber que acompanha o movimento histoacuterico e cultural da humanidade Transmitido
oralmente de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo esses conhecimentos sobre as plantas medicinais
constituiacuteram o alicerce do conhecimento tradicional Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o
saber tradicional sobre as plantas medicinais passou a ser desvalorizado fato que
consequentemente causou a desvalorizaccedilatildeo cultural das comunidades tradicionais que as
utilizavam
Assim valorizar esse conhecimento estaacute intimamente ligado ao fortalecimento
cultural e identitaacuterio de uma dada comunidade Segundo Gallois (2006) o saber tradicional eacute
um conhecimento que deve ser respeitado pois eacute transmitido oralmente entre as geraccedilotildees
com praacuteticas e inovaccedilotildees e natildeo como um simples repositoacuterio de conhecimentos do passado A
praacutetica de uso das plantas medicinais tanto para cura fiacutesica quanto espiritual faz parte das
relaccedilotildees que os moradores da comunidade de Pimenteiras apreenderam ao longo do tempo na
observaccedilatildeo da natureza consigo mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas
de cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita
relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais
53
Conhecer as praacuteticas ancestrais de utilizaccedilatildeo das plantas medicinais ainda existentes
na comunidade de Pimenteiras aleacutem de conduzir a uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do saber
tradicional com o conhecimento cientiacutefico eacute aspecto relevante para fortalecer a identidade de
um povo A comunidade utiliza o saber tradicional sobre as plantas medicinais nas suas
praacuteticas cotidianas cuidando da sauacutede apesar disso ela ainda necessita compreender a
importacircncia deste saber para o fortalecimento da sua identidade cultural e construir um
diaacutelogo entre os saberes existentes na regiatildeo com o conhecimento cientiacutefico
Os saberes existentes sobre as plantas satildeo sem duacutevida uma forte marca na
comunidade de Pimenteiras Sobretudo vale destacar que na grande maioria das famiacutelias tal
saber eacute transmitido pelo gecircnero feminino As mulheres adultas e idosas satildeo as que mais se
destacam no acervo de conhecimento sobre as plantas Com isso observamos que o
conhecimento das plantas medicinais eacute ancestral e natural entre as geraccedilotildees femininas ou
seja as pessoas mais velhas satildeo consideradas as ldquoguardiatildesrdquo dos saberes de cura por meio das
plantas medicinais satildeo elas que conhecem os usos das plantas e perpetuam esse
conhecimento agraves geraccedilotildees posteriores
Em consideraccedilatildeo agraves moradoras quilombolas da comunidade de Pimenteiras que
perpetuaram tatildeo valoroso conhecimento e proporcionaram preservar os saberes das plantas
medicinais trataremos no toacutepico seguinte os aspectos referentes agrave presenccedila do gecircnero
feminino nos saberes sobre a plantas da comunidade de Pimenteiras
232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais
As plantas medicinais sempre fizeram parte da histoacuteria de muitos povos na
antiguidade Muito antes de frequentar as farmaacutecias para buscar o aliacutevio de alguma dor
buscamos em nossos quintais ou nas matas uma determinada planta que por conselho dos
mais velhos poderia resolver o problema Com o passar dos tempos diversos povos
utilizaram as plantas medicinais de diferentes formas Os portugueses quando chegaram ao
Brasil jaacute desfrutavam o poder das plantas medicinais os indiacutegenas por sua vez contribuiacuteram
muito com o conhecimento que jaacute possuiacuteam das plantas usadas como remeacutedio e alimento
Desse modo existem muitas maneiras de empregar as plantas no uso medicinal tais
como chaacutes garrafadas xaropes defumadores e banhos e nessas diferentes formas de uso das
54
plantas a grande diversidade de espeacutecies vegetais na Amazocircnia traz marcas da presenccedila
feminina no domiacutenio dos saberes sobre as plantas Segundo Rodrigues (2008 p 2)
Diante dessa sociodiversidade nos contextos amazocircnicos nosso recorte de apreensatildeo
da realidade busca perceber as afirmaccedilotildees quanto aos papeacuteis sociais empregados a
mulheres e homens no domiacutenio de um saber o das plantas medicinais apreender
diante desse contexto como se apresentam as relaccedilotildees de poder em relaccedilatildeo ao
conhecimento e demonstrar a visatildeo mercadoloacutegica sobre os conhecimentos
tradicionais que se apropria da oacutetica patriarcalista reafirmadora de estereoacutetipos que
naturaliza as relaccedilotildees sociais e portanto como tais aspectos influem diretamente
nas questotildees soacutecio-culturais da sauacutede popularcoletiva e no acircmbito de poliacuteticas
sociais
As plantas medicinais satildeo usadas haacute milecircnios como fonte de cura Apesar de a Idade
Meacutedia ser conhecida como Idade das Trevas foi uma eacutepoca em que a Europa Medieval sofreu
uma forte mudanccedila nos haacutebitos alimentares Nessa eacutepoca os vegetais passaram a ser pouco
consumidos havendo preferecircncia para as carnes patildees e frutas Com isso o conhecimento
sobre as plantas ficou armazenado nas matildeos da Igreja Catoacutelica que utilizava-os apenas para a
medicina e a praacutetica espiritual
As mulheres desse periacuteodo que possuiacutessem certo conhecimento sobre as plantas
medicinais para curar as enfermidades nos familiares eram fortemente rejeitadas julgadas e
condenadas como pecadoras e hereges eram mortas agrave fogueira pois na visatildeo da Igreja quem
tivesse tal conhecimento enganava as leis divinas com rituais que iam contra os seus
preceitos Assim vaacuterias mulheres foram perseguidas e acusadas de bruxaria e por
conseguinte foram assassinadas pela praacutetica de suas crenccedilas e cultura
As mulheres foram em grande nuacutemero acusadas de bruxaria e em consequumlecircncia
desmoralizadas ou tiveram que aceitar como espuacuterios e iliacutecitos os seus saberes
aqueles que compartilhavam com outras mulheres na convivecircncia entre matildees e
filhas uma geraccedilatildeo apoacutes outra (TELLES apud RAGO FUNARI 2008 p81)
Ao observarmos a relaccedilatildeo entre a presenccedila feminina com o saber sobre as plantas
verificamos que a autoridade no conhecimento pode revelar mais que uma praacutetica cultural e
histoacuterica predominante agraves mulheres Esta praacutetica revela um contexto domeacutestico no qual o
trabalho das mulheres eacute revestido pelas relaccedilotildees de poder Em casa o saber o uso e o manejo
das plantas medicinais eacute algo predominante ao gecircnero feminino Essa observaccedilatildeo estaacute
relacionada com as diferenccedilas entre gecircneros e na divisatildeo social e sexual Pelo fato de ser
ldquoobrigadardquo a cuidar dos filhos a mulher tem por extensatildeo a preocupaccedilatildeo maior em saber dos
usos de plantas medicinais por estar diretamente ligada ao sentimento de zelo sauacutede e bem
estar da famiacutelia
55
Nesse contexto as plantas medicinais normalmente satildeo manejadas em quintais
espaccedilo considerado parte do ambiente domeacutestico e feminino assim como o cuidado com os
filhos que natildeo eacute visto como ldquotrabalhordquo Nas observaccedilotildees de Gonccedilalves a accedilatildeo de trabalhar
com as plantas estaacute relacionada ao seguinte conceito ldquoTrata-se da forma como cada cultura
lida com as diferenccedilas entre os sexos alocando a cada um deles determinados atributos e agrave
maneira como estes atributos satildeo valorados socialmenterdquo (GONCcedilALVES 1998 p 51)
Assim pode-se afirmar que eacute comum ao gecircnero feminino conhecer e saber utilizar as
plantas medicinais como forma de prevenccedilatildeo e bem estar proacuteprio e comunitaacuterio Para a
mulher ter propriedade no conhecimento das plantas medicinais estaacute relacionado com o
cuidado aos filhos afinal isto representa o principal motivo para ter aprendido com a matildee a
avoacute a tia ou a vizinha eacute uma ldquoheranccedila de saberrdquo da transmissatildeo frequente entre as geraccedilotildees
e de transmissatildeo entre as mulheres
Como bem menciona Tosi (1998) o fato de que as bruxas eram mulheres que
detinham conhecimentos eram mulheres saacutebias de conhecimentos empiacutericos que praticavam
desde eacutepocas ancestrais demonstra um pouco desse trajeto sobre o saber das plantas
medicinais que passou por geraccedilotildees femininas as quais foram tidas como guardiatildes do saber
Nas comunidades tradicionais as mulheres tambeacutem guardam tais saberes medicinais
das plantas Assim seguiremos no toacutepico seguinte tratando especificamente sobre uma
moradora da comunidade de Pimenteira uma mulher que ateacute os dias atuais traz saberes de
suas ancestrais como forma de perpetuar e preservar um conhecimento que hoje identifica um
povo
233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes
A confianccedila em alcanccedilar a cura de diversas enfermidades do corpo por meio do uso
medicinal de plantas eacute um conhecimento conservado entre as geraccedilotildees femininas na regiatildeo da
Pimenteira Avoacutes matildees filhas e netas constituem um ciacuterculo no qual os saberes tecircm sido
repassados entre as geraccedilotildees
As mulheres da comunidade de Pimenteiras vivem o costume de cuidar da casa
educar os filhos e ajudar os maridos nos trabalhos da roccedila Elas satildeo encarregadas de muitas
atividades dentre as quais o manejo da terra para auxiliar o marido nas atividades da
agricultura eacute bastante comum No entanto o contraacuterio natildeo ocorre ou seja os homens natildeo
56
cuidam dos filhos natildeo preparam as refeiccedilotildees e nem manipulam as plantas para o uso
medicinal
A heranccedila do saber sobre o uso das plantas medicinais eacute puramente feminina devido
aos cuidados que as mulheres quilombolas possuem com os filhos com a casa e com a terra
Rodrigues (2008 p 4) expotildee sobre a importacircncia dos saberes tradicionais guardados pelas
mulheres nas comunidades para a preservaccedilatildeo da cultura de um povo
[] na medida em que o conhecimento da natureza a partir dos conhecimentos
tradicionais sobre o uso de plantas medicinais eacute manipulaacutevel tanto por mulheres e
homens ambos tecircm um reconhecimento de uma cultura proacutexima da natureza que
natildeo os menospreza pelo contraacuterio em suas localidades satildeo considerados
importantes pelo saber que detecircm primordialmente no que tange a sauacutede
coletivapopular []
Os remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras vivem e lutam pelo
direito agrave terra e agrave preservaccedilatildeo dos valores e saberes da regiatildeo Sabemos que cerca de oito
milhotildees de brasileiros fazem parte de comunidades tradicionais dentre as quais uma meacutedia de
dois milhotildees38
correspondem a remanescentes de quilombo De acordo com o Decreto de nordm
604039
de 07 de fevereiro de 2007 os povos e comunidades tradicionais satildeo grupos
culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais possuindo formas proacuteprias de
organizaccedilatildeo social ocupando e usando os recursos naturais como condiccedilatildeo de sobrevivecircncia
da sua reproduccedilatildeo cultural social e religiosa com inovaccedilotildees nas praacuteticas geradas e
transmitidas pela tradiccedilatildeo Nos relatos da senhora Domingas ser quilombola eacute algo
relacionado com a natureza e a terra conforme se pode observar em um trecho transcrito de
sua fala
[] mas ser quilombola acho que eacute ser vem dessa descendecircncia e assim das
(coisas) tradicional as coisas da natureza aprender e viver com a natureza eu
acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre assim vendo os iacutendios porque
os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu acho que ser
quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as
coisas pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende
as coisas com a natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque
aquele tempo dos dos dos negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de
leitura (nada nada) MAS com a natureza eles aprendiam alguma coisa
(informaccedilatildeo verbal)40
38Informaccedilatildeo contida no Centro de documentaccedilatildeo Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES 2008) Site
httpwwwcedefesorgbr
39 Institui a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) 40Depoimento da senhora Domingas transcrito de forma grafemaacutetica em Pimenteiras outubro de 2014
57
Eacute fato que nem todos os moradores fazem uso do conhecimento sobre as plantas mas
os que preservam este saber satildeo referecircncia na comunidade para as demais localidades da
regiatildeo como eacute o caso da senhora Domingas Alves do Nascimento41
Moradora de origem
quilombola ela eacute conhecedora do poder medicinal das plantas vivendo da agricultura e das
vendas dos produtos feitos com as plantas como a garrafada multimistura e pomadas Devido
agrave forte relaccedilatildeo com a terra ela cultiva suas ervas e plantas em casa como meio de
proporcionar a sauacutede de seus familiares e de seu povo A senhora Domingas eacute uma pessoa
desinibida trabalhadora e aacutevida pelo conhecimento medicinal das plantas Na entrevista a
moradora escolheu seu quintal como espaccedilo para conversar o local possui muitas plantas
aacutervores sombra e vento forte De forma acolhedora e sorridente algo marcante em sua
personalidade Domingas demonstrou grande acolhimento e bem estar durante a conversa
pois Apesar de sua pouca escolaridade eacute uma grande contadora de histoacuterias com forccedila e
determinaccedilatildeo no que diz
Domingas luta pelos direitos de seu povo buscando recursos que viabilizem
melhorias para a comunidade sua relaccedilatildeo com a terra veio de seus ancestrais que vieram da
comunidade de Narciacutesea para por suas raiacutezes na comunidade de Pimenteiras42
Durante a
conversa Domingas falou de suas origens sua famiacutelia da Associaccedilatildeo da titulaccedilatildeo da terra de
seu trabalho na lavoura e do saber sobre as plantas Este aspecto eacute o que mais chama a
atenccedilatildeo devido ao grande conhecimento demonstrado a respeito das plantas medicinais
A moradora de Pimenteiras vive na comunidade rural haacute cerca de cinquenta anos
Durante esse tempo muitos saberes de seus antepassados sobre as plantas medicinais foram
repassados Sua avoacute materna ndash senhora Joana Pornusena dos Santos ndash e sua matildee ndash senhora
Otiacutelia Alves do Nascimento ndash eram sabedoras do uso de chaacutes para a cura de males do corpo e
da alma Com o passar dos anos o conhecimento da senhora Domingas sobre as plantas
passou a ser muito importante para a comunidade local e visualizado por cooperativas e
organizaccedilotildees como o CEDENPA e pela Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria43
A partir
41
Em entrevista realizada em 19 de outubro de 2014 a moradora de Pimenteiras Domingas em seu discurso
apresentou saberes de um povo que se manteacutem com os recursos da natureza procurando preservar o ambiente
em que vive Para realizar esta pesquisa foi necessaacuterio registrar a conversa com a senhora Domingas atraveacutes de
fichas com perguntas variadas sobre sua histoacuteria a comunidade e o uso medicinal das plantasDepois foi
indispensaacutevel a gravaccedilatildeo do som e imagem da entrevistada para na sequecircncia analisar seu discurso que foi
transcrito de forma grafemaacutetica Com esse material transcrito fizemosa anaacutelise de um discurso repleto de saberes
de um povo historicamente deixado agrave margem social
42 Pimenteiras possui este nome devido agraves grandes plantaccedilotildees de pimenta existente na eacutepoca dos avocircs de
Domingas 43
A Rede Bragantina reuacutene atualmente vinte e sete organizaccedilotildees membros que trabalham por uma cultura de
sustentabilidade a partir de novas relaccedilotildees econocircmicas afetivas de gecircnero e etnia no sentido da existecircncia
humana Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria Artes amp Sabores tem o objetivo de produzir com respeito agraves
58
desse contexto a moradora foi orientada para aprimorar seus saberes sobre as plantas fazendo
cursos de aproveitamento e utilizaccedilatildeo dos alimentos para a sauacutede
Conhecer mais e aprimorar o conhecimento sobre as plantas medicinais vai ao
encontro dos saberes adquiridos entre as geraccedilotildees de mulheres com quem Domingas
conviveu O trabalho com as plantas eacute muito importante para a moradora a ponto que hoje o
saber sobre as plantas eacute algo que identifica a comunidade de Pimenteiras No toacutepico seguinte
veremos como a comunidade atualmente eacute conhecida pela forte relaccedilatildeo dos moradores com a
terra com as tradiccedilotildees e suas praacuteticas culturais proacuteprias e portanto identitaacuterias
234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais
Tudo aquilo que eacute construiacutedo pelo ser humano incluindo os mitos os siacutembolos os
ritos todas as crenccedilas todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento de um
povo eacute o que marca as especificidades de cada comunidade ou seja sua Cultura A definiccedilatildeo
do conceito de cultura atualmente se tornou difiacutecil pois ela pode ser estudada sob diversos
pontos de vista Eacute necessaacuterio portanto escolher uma perspectiva para poder defini-la
Desse modo analisamos os estudos de Cuche (1999) que descreve o processo
evolutivo como uma questatildeo de adaptaccedilatildeo do homem de acordo com a geneacutetica do meio
ambiente natural para uma adaptaccedilatildeo cultural dos primeiros homens Segundo o pesquisador
a noccedilatildeo de cultura era compreendida no seu sentido amplo e desde seu aparecimento no
seacuteculo XVIII suscitou constantes debates contraditoacuterios com a ideia moderna da cultura da
eacutepoca fazendo oposiccedilatildeo com a noccedilatildeo de sociedade no mesmo campo significativo
Nesse aspecto Cuche (1999 p 10) relata que ldquoA cultura permite ao homem natildeo
somente adaptar-se a seu meio mas tambeacutem adaptar este meio ao proacuteprio homem as suas
necessidades e seus projetos Em suma a cultura torna possiacutevel a transformaccedilatildeo da naturezardquo
Conhecer profundamente a comunidade de Pimenteiras trouxe forte significaccedilatildeo no
campo dos estudos cientiacuteficos e principalmente no campo dos saberes populares pois
permitiu analisar os aspectos culturais que permeiam e identificam a regiatildeo A partir disso
conhecer a cultura de um povo significa conhecer e valorizar a nossa cultura como
autoafirmaccedilatildeo do que somos Examinar como foi formada a palavra o conceito cientiacutefico que
culturas agraves sinergias da natureza valorizando os agroecosistemas locais na perspectiva da seguranccedila alimentar e
desenvolvimento sustentaacutevel Veja o site httpamazoniaemredeblogspotcombr
59
dela depende localizar sua origem e evoluccedilatildeo semacircntica evidenciam assim os laccedilos que
existem entre a histoacuteria da palavra cultura e a histoacuteria das ideias Se pensada como um
conjunto de ideias valores e conhecimentos cultura traz dentro de si em primeiro lugar a
dimensatildeo do passado Muitos conhecimentos foram herdados de outras geraccedilotildees e a cada
tempo que passa mais conhecimento eacute acumulado Eacute extraordinaacuterio como a nossa memoacuteria
fica cada vez mais enriquecida pois o tempo passa e a memoacuteria cresce proporcionalmente
(CUCHE 1999) Logo eacute sensato valorizar a identidade cultural de um povo pois atraveacutes dela
alcanccedilamos as diversas histoacuterias de nossos antepassados (CUCHE 1999)
Frente a tudo que foi explanado compreendemos que a comunidade de Pimenteiras
pode ser definida como comunidade tradicional pois eacute culturalmente diferenciada Assim
nessa construccedilatildeo da identidade coletiva do grupo os siacutembolos os saberes as tradiccedilotildees estatildeo
ligados agrave reproduccedilatildeo cultural social e econocircmica da comunidade que aleacutem de tudo tem
como consequecircncia a proteccedilatildeo da biodiversidade local Ao compreenderem que os recursos
naturais satildeo esgotaacuteveis e valiosos para a sauacutede os moradores da comunidade de Pimenteiras
buscam preservar e proteger os saberes sobre as plantas medicinais a ponto de construir sua
identidade cultural nesse domiacutenio
Eacute assim que a comunidade tradicional de Pimenteiras eacute conhecida e se reconhece
como pertencente a um grupo social particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e
reconstruccedilatildeo de um grupo A comunidade remanescente de quilombola desenvolve seus
saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia
de seu grupo (CASTRO 2000) Por isso eacute necessaacuterio conhecer e respeitar os saberes
preservados na memoacuteria de um povo juntamente com o ambiente natural em que vivem
A valorizaccedilatildeo do conhecimento popular estaacute intimamente ligada ao fortalecimento
cultural e identitaacuterio da comunidade de Pimenteiras que por sua vez faz da praacutetica de uso das
plantas medicinais a simboacutelica relaccedilatildeo que os moradores desenvolveram ao longo do tempo
com a natureza com eles mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas de
cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita
relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais que constituem a identidade
cultural de um povo (BADKE 2008)
Observando os aspectos que marcam a identidade cultural da comunidade de
Pimenteiras passaremos no capiacutetulo seguinte agrave fundamentaccedilatildeo desse estudo sobre os termos
catalogados das plantas medicinais da comunidade analisando a importacircncia do legado de
identidade e cultura popular Para isto seratildeo consideradas as especificidades das plantas
medicinais diante do saber cientiacutefico e da sabedoria tradicional analisados por meio da aacutervore
60
de domiacutenio Em seguida daremos continuidadeaos estudos sobre as ciecircncias do termo e a
terminologia nas especialidades da nomeaccedilatildeo das plantas medicinais Junto a este estudo
abordaremos as particularidades da Terminologia ateacute a Socioterminologia como fundamentos
essenciais para o estudo do termo das plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
61
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Neste capiacutetulo apresentamos os fundamentos teoacutericos deste trabalho buscando os
conhecimentos sobre Liacutengua Terminologia Socioterminologia e Termo Segundo Perini
(2010 p 01-02) a liacutengua eacute ldquoum sistema programado em nosso ceacuterebro que essencialmente
estabelece uma relaccedilatildeo entre os esquemas mentais que formam nossa compreensatildeo do mundo
e um coacutedigo que os representa de maneira perceptiacutevel aos sentidosrdquo A liacutengua eacute caracterizada
como sistema de grande complexidade que envolve regras leacutexicos expressotildees e clichecircs que
se encontram enraizados na cultura Eacute por meio dela que manifestamos exteriormente nossa
capacidade humana de utilizar a linguagem
A terminologia por sua vez eacute a ciecircncia que ldquotoma o leacutexico especializado ou
temaacutetico que eacute composto pelos termos teacutecnico-cientiacuteficos como seu objeto principal de
estudos e de aplicaccedilotildees Eacute uma aacuterea que recorta do universo leacutexico os termos teacutecnico-
cientiacuteficosrdquo (KRIEGER 2011 p 443) Os estudos terminoloacutegicos atuais tecircm enfatizado a
perspectiva social dos termos assim a Socioterminologia eacute tambeacutem parte de tais estudos da
Terminologia Faulstich (1995) explica que a socioterminologia eacute uma disciplina descritiva
que estuda o termo na perspectiva linguiacutestica da interaccedilatildeo social ldquoeacute a disciplina que se ocupa
da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguumliacutesticas dos termos em diferentes tipos
de situaccedilatildeo de uso da liacutenguardquo (FAULSTICH 1995 p 1)
Para Sager (1998 apud DIAS 2000 p 90) a terminologia tida como teoria ldquoeacute um
conjunto de premissas argumentos e conclusotildees necessaacuterio para explicar o relacionamento
entre conceitos e termos especializadosrdquo Jaacute como praacutetica a terminologia ldquoeacute um conjunto de
meacutetodos e atividades voltado para coleta descriccedilatildeo processamento e apresentaccedilatildeo de termos
como produto eacute um conjunto de termos ou vocabulaacuterio de uma determinada especialidaderdquo
O termo por sua vez apresenta trecircs concepccedilotildees Segundo os estudos de Cabreacute (1995
apud DIAS 2000 p 90) tem-se a concepccedilatildeo linguiacutestica de que os termos satildeo uma forma de
saber ou seja ldquoos termos satildeo o conjunto de signos linguumliacutesticos que constituem um
subconjunto dentro do componente leacutexico da gramaacutetica de determinada pessoardquo No campo da
filosofia o termo eacute uma forma de conhecer em que ldquoa terminologia eacute um conjunto de
unidades cognitivas que representam o conhecimento especializadordquo Finalmente o termo eacute
uma forma de transferir e comunicar pois ldquoa terminologia eacute o conjunto das unidades de
expressatildeo e comunicaccedilatildeo que permitem transferir o pensamento especializadordquo
62
Cada aacuterea de conhecimento aborda seus termos de forma diferente e especializada
Assim na primeira parte desse capiacutetulo apresentaremos algumas compreensotildees sobre a
importacircncia da Liacutengua na identidade cultural dos moradores da comunidade de Pimenteiras
cuja cultura conhecemos por meio da anaacutelise da linguagem especializada sobre as plantas
medicinais No toacutepico seguinte verificaremos os aspectos sobre o conhecimento cientiacutefico e
popular a respeito das plantas de uso medicinal considerando que estas marcam e identificam
a comunidade quilombola Para isto utilizamos um organograma expondo as particularidades
de saber sobre as plantas medicinais no acircmbito cientiacutefico e popular
Na sequecircncia apresentamos a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o saber
popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras trazendo os aspectos
sobre a importacircncia da Terminologia nos estudos especializados da nomeaccedilatildeo Seguimos a
discussatildeo apresentando os pontos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos na linguagem
especializada de grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos Com isso notamos a
importacircncia de analisar a variaccedilatildeo terminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais da
comunidade de Pimenteiras
Em seguida examinamos os assuntos que passaram a ser considerados importantes
nos estudos terminoloacutegicos ndash a liacutengua no social ndash e compreendemos o funcionamento da
linguagem especializada no contexto social da comunidade tendo para isto a contribuiccedilatildeo da
Socioterminologia nos estudos dos termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
Logo depois seguimos com o assunto trazendo discussotildees sobre a necessidade de
valorizar os termos no ambiente discursivo pragmaacutetico e social propondo um diaacutelogo entre
as aacutereas do conhecimento uma vez que por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos eacute possiacutevel
valorizar e popularizar o conhecimento sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
Em seguida apresentamos o foco principal deste estudo o termo Observamos que os
estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais no processo de anaacutelise da natureza e da
descriccedilatildeo das particularidades pertencentes aos termos que eacute a base do estudo Terminoloacutegico
sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL
Ao refletirmos sobre os aspectos da Liacutengua na comunidade remanescente de
quilombola de Pimenteiras observamos que conhecer a liacutengua de um povo eacute tambeacutem
63
conhecer sua identidade Ressaltamos que a liacutengua eacute um sistema complexo e para entendecirc-lo eacute
indispensaacutevel primeiro conhecer o leacutexico pois ele reflete as heranccedilas dialetos marcas sociais
e culturais dos seus falantes Para Coelho e Mesquita (2013 p 25) a liacutengua nasceu da
necessidade de comunicaccedilatildeo entre os homens e ldquopermitiu ao ser humano interagir
verbalmente com o outro exteriorizando seus pensamentos expressando-se comunicando-se
por meio da fala da escrita e de outras formas de linguagemrdquo Segundo as autoras ldquoas
relaccedilotildees sociais estreitaram-se e as ideias a cultura as ideologias e os conhecimentos
puderam ser amplamente difundidosrdquo (COELHO MESQUITA 2013 p 25) A Liacutengua
facilita a comunicaccedilatildeo entre as pessoas e contribui para a realidade que temos hoje marcada
pela troca de conhecimento e disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees pois pessoas de uma localidade
podem conhecer a cultura de outras
A liacutengua envolve todas as accedilotildees e pensamentos humanos e possibilita ao indiviacuteduo
exercer influecircncias ou ser influenciado pelo outro desempenhar seu papel social na
sociedade relacionar-se como os demais participar na construccedilatildeo de conhecimentos
e da cultura (COELHO E MESQUITA 2013 p 25)
No campo da liacutengua percebemos que os moradores quilombolas da comunidade de
Pimenteiras apresentam grande saber sobre o uso medicinal das plantas devido ao vasto
conhecimento que seus antepassados possuiacuteam sobre a flora e a fauna Diante disso ao
nomear as coisas e o meio que os rodeiam os moradores de Pimenteiras formam e expressam
a sua histoacuteria sua cultura sua liacutengua e sua identidade Eacute a liacutengua que ao carregar valores e
ideologias imprime na accedilatildeo de nomear que eacute cercada de escolhas sociais e culturais a marca
de identidade do falante (LEIRO sd) Eacute a partir principalmente dessas concepccedilotildees que se
desenvolve uma reflexatildeo acerca das relaccedilotildees ideoloacutegicas que as denominaccedilotildees de algumas
plantas de uso medicinal podem possuir
O nome natildeo eacute dado de forma aleatoacuteria sempre quer dizer algo nomear eacute uma
relaccedilatildeo complexa com a significaccedilatildeo que denota grande polecircmica e inquietaccedilatildeo entre os
pesquisadores Assim quando pensamos em nomear e no que o nome significaraacute logo
imaginamos alguma qualificaccedilatildeo que sirva para marcar as coisas pessoas e lugares que lhes
sejam exclusivos pois os significados dos nomes organizam e classificam as formas de
perceber a realidade aleacutem de estarem ligados diretamente com a cultura de uma dada
comunidade (MOREIRA 2012)
Coelho e Mesquita (2013) explicam que na liacutengua entram constantemente leacutexicos
novos enquanto que outros caem em desuso devido agrave liacutengua estar sujeita a mudanccedilas O
conhecimento em relaccedilatildeo agraves plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras chama a
64
atenccedilatildeo porque eacute um modo de preservaacute-las jaacute que muitas das plantas utilizadas como
medicamento jaacute se perderam por natildeo existir nada escrito Para Coelho e Mesquita
Os indiviacuteduos satildeo inseridos na teia social por meio da liacutengua Eacute ela quem vai
possibilitar-lhes o contato com a cultura com as ideologias com as identidades
tornando-se um instrumento para que eles possam interagir linguiacutestica e socialmente
com seus semelhantes (2013 p 27)
A liacutengua tem grande importacircncia para a sobrevivecircncia da cultura de uma localidade
visto que eacute atraveacutes dela que se faz a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade (COELHO
MESQUITA 2013)
A transmissatildeo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo do conhecimento sobre o uso das plantas
medicinais na comunidade de Pimenteiras soacute foi possiacutevel graccedilas agrave linguagem oral Apesar
disso muitos jovens deixam de lado o conhecimento sobre as plantas Esse posicionamento
deprecia o saber local e a identidade cultural dos habitantes de Pimenteiras fator que justifica
a persistecircncia de muitos moradores antigos na preservaccedilatildeo deste saber
Desde jaacute compreendemos que a identidade cultural coletiva na qual um grupo
compartilha as mesmas atitudes as mesmas crenccedilas e os mesmos comportamentos formados
no tempo e no espaccedilo eacute forjada pela interaccedilatildeo de segmentos eacutetnicos e sociais Carvalho
(2003 natildeo paginado) aponta trecircs sentidos de identidade cultural
Na percepccedilatildeo objetiva a identidade cultural de um indiviacuteduo ou grupo define-se a
partir de um conjunto de criteacuterios determinantes a origem comum a liacutengua a
cultura a religiatildeo a psicologia coletiva a ligaccedilatildeo a um territoacuterio etc e um grupo
sem estes criteacuterios natildeo pode reivindicar uma identidade cultural autecircntica Na
percepccedilatildeo subjetiva a identidade etnocultural natildeo eacute mais que um sentimento de pertenccedila ou uma identificaccedilatildeo com uma coletividade mais ou menos imaginaacuteria Na
percepccedilatildeo mais lata a identidade de cada indiviacuteduo natildeo se restringe ou circunscreve
agrave identificaccedilatildeo com um grupo determinado mas eacute sim o somatoacuterio de todos os
valores adquiridos ao longo da existecircncia e estaacute em constante construccedilatildeo e
transformaccedilatildeo
Eacute pela coletividade que podemos observar que a comunidade de Pimenteiras busca
preservar sua identidade e conhecimento pelas plantas medicinais por meio dos moradores
mais antigos Mas eacute tambeacutem por meio dos mais jovens que novos saberes satildeo inseridos na
comunidade como forma de renovaccedilatildeo da cultura quilombola e consequentemente da
liacutengua pois segundo Hjelmslev (1975 p 1)
A linguagem eacute o instrumento graccedilas ao qual o homem modela seu pensamento seus
sentimentos suas emoccedilotildees seus esforccedilos sua vontade e seus atos o instrumento
graccedilas ao qual ele influencia e eacute influenciado a base uacuteltima e mais profunda
da sociedade humana
65
Diante disto entendemos que a identidade cultural define cada um de noacutes e
particularmente na comunidade de Pimenteiras eacute o que diferencia e distingue os moradores
da regiatildeo Nesse contexto o conhecimento popular sobre as plantas medicinais eacute algo que traz
a marca de um povo que preserva e utiliza seus saberes Assim apresentamos na seccedilatildeo
seguinte os aspectos relacionados ao conhecimento das plantas medicinais no acircmbito do
conhecimento cientiacutefico e popular utilizando como recurso de melhor visualizaccedilatildeo o
organograma sobre as plantas medicinais
311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular
Ao utilizarmos as plantas para fins diversos relembramos de nossos antepassados
mais distantes que usavam as plantas como recurso para a cura de doenccedilas Sabemos das
inuacutemeras funccedilotildees que elas podem assumir desde alimentaccedilatildeo ateacute o uso em construccedilotildees
vestuaacuterio e como jaacute foi citado para fins medicinais Por muito tempo as antigas civilizaccedilotildees
usufruiacuteram o grande poder que as plantas possuem Segundo relatos de Tomazzoni et al
(2006 natildeo paginado) os hebreus egiacutepcios e assiacuterios cultivavam plantas medicinais desde o
ano 2300 aC adquirindo durante suas expediccedilotildees vaacuterias espeacutecies das quais se produziam
medicamentos para males diversos
Com o passar dos tempos o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais foi
transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e hoje mesmo com o avanccedilo na medicina moderna
muitos ainda utilizam desse saber sobre as plantas no tratamento de doenccedilas Por isso natildeo se
pode deixar agrave margem o conhecimento tradicional sobre as plantas de uso medicinal pois essa
forma de conhecimento faz parte da nossa cultura Construiacutemos e desenvolvemos o
conhecimento em nossas praacuteticas diaacuterias assim denomina Borda (1984 p 48) ldquoconhecimento
praacutetico empiacuterico que ao longo dos seacuteculos tem possibilitado enquanto meios naturais
diretos que as pessoas sobrevivam criem interpretem produzam e trabalhemrdquo
Todas as informaccedilotildees acumuladas ao longo do tempo por uma determinada
comunidade em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas seus valores e sua cultura vivenciada e
experimentada satildeo consideradas em contexto do conhecimento tradicional Sendo variaacutevel e
abalaacutevel o saber popular eacute modificado e reformulado pela comunidade em que estatildeo inseridos
(KOVALSKI et al 2010) Segundo Diegues et al (2000 p 30) o conhecimento tradicional eacute
66
ldquocomo o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural sobrenatural
transmitido oralmente de geraccedilatildeo em geraccedilatildeordquo
Para Dickmann e Dickmann (2008 p 70) ldquoo saber popular eacute entendido como aquele
adquirido nas lutas que natildeo estaacute escrito nos livros aquele que eacute fruto das vaacuterias experiecircncias
vividas e convividas em tempos e espaccedilos diversos na histoacuteria do povordquo O conhecimento
popular estaacute relacionado com o povo com o individual que eacute transmitido entre as geraccedilotildees
por experiecircncias proacuteprias recebe este nome popular por natildeo haver uma explicaccedilatildeo digamos
ldquoloacutegicardquo de como as coisas funcionam de como uma pessoa sabe que tem de ser feito assim
porque viu algueacutem fazendo e deu certo sem saber explicar ldquocientificamenterdquo como funciona
O conhecimento popular seria uma espeacutecie de educaccedilatildeo informal e suas principais
caracteriacutesticas satildeo a superficialidade sensibilidade subjetividade e independecircncia do valor do
conhecimento criacutetico Jaacute o conhecimento tradicional estaacute relacionado com a tradiccedilatildeo de um
grupo envolvendo saberes empiacutericos com praacuteticas crenccedilas e costumes passados de pais para
filhos dentro desse grupo (KOVALSKI et al 2010)
Diante dos conceitos apresentados podemos compreender que a valorizaccedilatildeo dos
conhecimentos tradicionais e populares de um determinado grupo eacute muito importante pois
aleacutem de resgatar os saberes quase esquecidos no tempo proporciona tambeacutem o
fortalecimento e a difusatildeo destes saberes para a sociedade Assim vale citar uma passagem de
Chassot na qual o autor resgata tais saberes e teacutecnicas utilizadas por pessoas simples mas que
possuem um valor inestimaacutevel
[] o pescador solitaacuterio que encontramos em silenciosas meditaccedilotildees sabendo onde
e quando deve jogar a tarrafa tambeacutem tem saberes importantes A lavadeira que
sabe escolher a aacutegua para os lavados tem os segredos para remover manchas mais renitentes ou conhece as melhores horas de sol para o coaro A parteira que os anos
tornaram doutora conhece a influecircncia da lua nos nascimentos e tambeacutem o chaacute que
acalmaraacute as coacutelicas do receacutem nascido A benzedeira natildeo apenas faz rezas maacutegicas
que afastam o mau-olhado ela conhece chaacutes para curar o cobreiro que o
dermatologista diagnostica como herpes-zoster O explorador de aacuteguas que indica o
local propiacutecio para se abrir um poccedilo ante o vergar de sua forquilha de pessegueiro
tem conhecimentos de hidrologia que natildeo podem ser simplesmente rejeitados (2006
p 221)
Outras formas de conhecimento foram por muito tempo ignoradas pelos cientistas
hoje a situaccedilatildeo eacute diferente Para Marconi e Lakatos (2005) ldquo[] a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico
caminho de acesso ao conhecimento e agrave verdaderdquo nos estudos de Posey (1987) e em
pesquisas feitas pelos Etnoecoacutelogos44
e Etnobioacutelogos45
sobre as comunidades tradicionais
44 A Etnoecologia eacute uma nova disciplina hiacutebrida transdisciplinar e poacutes-normal que valoriza os conhecimentos
milenares das comunidades sobre a natureza Para maior conhecimento pesquisar no site
67
observamos que haacute um resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes populares que chamam cada vez
mais a atenccedilatildeo com novas reflexotildees sobre os paradigmas jaacute existentes provocando com isso
resultados positivos para o conhecimento cientiacutefico
O fato eacute que os estudos recentes sobre o conhecimento popular tecircm ganhado
importacircncia para o nosso proacuteprio benefiacutecio Assim Silva (2002 p 26) expotildee que ldquo[] os
estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular tecircm merecido atenccedilatildeo
cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm oferecendo agraves ciecircncias do
homemrdquo
No que concerne ao conhecimento cientiacutefico este eacute consagrado por passar por
inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute ser considerada ciecircncia Nas palavras de Lopes (1999) o
conhecimento cientiacutefico trata-se de
Todo conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por
excelecircncia sem influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e
provado a partir dos dados da experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (1999 p106)
Nas explanaccedilotildees de Cunha (2007) os saberes populares podem acolher com a
mesma intensidade explicaccedilotildees diversas de um mesmo fenocircmeno por um mesmo grupo de
pessoas ou comunidade pois eacute atraveacutes da observaccedilatildeo que as diferenccedilas se fazem tecircnues entre
o conhecimento popular e o cientiacutefico
No que concerne ao conhecimento referente ao mundo vegetal o uso de plantas com
propriedades terapecircuticas vem de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo devido ao contato com o meio ambiente
que as famiacutelias possuiacuteam Segundo Newall (2002) os fatores que influenciam o uso das
plantas com fins terapecircuticos vecircm do baixo niacutevel de vida da populaccedilatildeo junto ao alto custo
dos medicamentos Com isso os saberes acumulados durante seacuteculos satildeo mantidos na praacutetica
fitoteraacutepica
Contudo o uso popular das plantas natildeo eacute suficiente para legitimar sua eficaacutecia e
seguranccedila como medicamento Este uso tem de passar pela experimentaccedilatildeo comprovada
diante dos benefiacutecios que possam conter (BADKE 2008)
No entanto o uso medicinal das plantas eacute uma das praacuteticas mais antigas no trato de
enfermidades no homem e isso proveacutem do conhecimento popular Para Diegues e Arruda
httpwwwantropologiasocialcombra-etnoecologia-uma-ciencia-pos-normal-que-estuda-as-sabedorias-
tradicionaispdf 45 A Etnobiologia eacute o estudo cientiacutefico da dinacircmica de relacionamentos entre as pessoas e seus grupos culturais e o meio ambiente desde o passado ateacute o tempo presente Para maior aprofundamento no assunto visitar o site
httpwwwetnobiologiaorgindexphp
68
(2001) o conhecimento tradicional soacute pode ser interpretado dentro do contexto cultural em
que eacute gerado Entretanto vemos que a modernidade traz novos modos de vida que estatildeo
desvinculados das tradiccedilotildees populares Com as grandes mudanccedilas entre as realidades
culturais o contato com o outro passa a ser visto de forma diferente o outro pode ser
percebido como superior e a cultura de um grupo pode ser desvalorizada omitida negada e
esquecida (CASTELLS 1999)
Na comunidade de Pimenteiras os uacutenicos recursos medicinais vecircm do conhecimento
tradicional do saber das plantas que aleacutem de proporcionar benefiacutecios agrave sauacutede do corpo e
tambeacutem da alma possui um significado cultural para a comunidade No entanto a
continuidade dessas praacuteticas estaacute ameaccedilada por diversos fatores ligados ao dinamismo social
agrave economia e agrave cultura externa
Contudo eacute necessaacuterio indagar qual a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o
saber popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras O que eacute
Terminologia Buscamos no toacutepico seguinte responder tais questionamentos direcionados ao
campo de conhecimento cientiacutefico na seara dos estudos terminoloacutegicos a serem explanados
sobre as plantas medicinais
32A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS ESPECIALIZADOS
Segundo a anaacutelise de Vygotsky (1896-1934) uma palavra que natildeo representa uma
ideia eacute algo morto da mesma forma que uma ideia natildeo incorporada em palavras natildeo passa de
uma sombra Nomear significa pois dar vida ao ser nomeado Haacute muito tempo o homem cria
e utiliza as palavras para nomear conceitos objetos e processos nas diversas aacutereas do
conhecimento Ao nomear as realidades que nos cercam cria-se um universo que passa a ser
desvendado pela linguagem Nessa construccedilatildeo do real a liacutengua revela aspectos que marcam
os sujeitos produzindo distinccedilotildees que particularizam os objetos e identificam os traccedilos da
cultura de um povo
Refletindo sobre os aspectos da linguagem de um povo podemos analisar diferentes
termos utilizados para nomear e particularizar o objeto nomeado Nesse acircmbito os estudos
cientiacuteficos direcionados agrave Terminologia crescem cada vez mais em pesquisas na aacuterea da
linguagem especializada O leacutexico de uma liacutengua eacute uma forma de registrar o conhecimento do
mundo a nossa volta ao darmos nomes agraves coisas identificamos as semelhanccedilas e os traccedilos
69
distintivos que individualizam cada objeto a ser nomeado por meio de estruturas que o
homem cria no mundo atraveacutes das palavras ou termos46
Entretanto agrave medida que vivemos
novas realidades surgem e satildeo criadas ampliando assim o leacutexico com novas dimensotildees
impossiacuteveis de serem registradas e descritas por meio de um dicionaacuterio
Diante dos questionamentos sobre a nomeaccedilatildeo surge como ciecircncia a Terminologia
inicialmente frente agrave necessidade de uma padronizaccedilatildeo da linguagem ou seja de
normatizaccedilatildeo da Liacutengua devido ao grande desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico ocorrido
no decorrer da histoacuteria humana A Terminologia conforme afirma Rondeau eacute a linguagem
especializada que haacute seacuteculos faz parte da linguagem humana
A terminologia natildeo eacute um fenocircmeno recente Com efeito tatildeo longe quanto se
remonte na histoacuteria do homem desde que se manifesta a linguagem nos
encontramos em presenccedila de liacutenguas de especialidade eacute assim que se encontra a
terminologia dos filoacutesofos gregos a liacutengua de negoacutecios dos comerciantes cretas os
vocaacutebulos especializados da arte militar etc (RONDEAU 1984 apud KRIEGER
FINATTO 2004 p 24)
Assim observa-se que na Liacutengua o ato de nomear tem sua forma natural de ser e
por isso segue rigorosamente sua natureza de fazer Os nomes mudam porque sempre se pode
acrescentar ou tirar letras de sua forma Contudo todos os nomes vecircm de acordos ou
convenccedilotildees entre os falantes sendo que em cada grupo social e cultural os nomes variam de
acordo com o que estiver convencionado pelo grupo Deste modo os nomes variam de povo
para povo de falante para falante porque seguem a tradiccedilatildeo natural de se nomear (PLATAtildeO
1973)
O modo como organizamos as nossas relaccedilotildees e comportamentos numa comunidade
especiacutefica pode ser percebido dentro do contexto social em que a linguagem eacute aplicada das
escolhas que fazemos dos nossos valores culturais das nossas normas de comportamento e
ateacute mesmo na nossa proacutepria filosofia de vida Eacute atraveacutes dos estudos terminoloacutegicos que
podemos analisar o modo como cada pessoa cada grupo social cada comunidade molda a
linguagem ao lado de suas bases culturais discursos e objetivo na comunicaccedilatildeo
Perante agraves variantes dentro da Liacutengua a terminologia em todo seu desenvolvimento
e reconhecimento de valor apresenta hoje um estudo sobre a comunicaccedilatildeo especializada
dentro do contexto social no qual privilegia a variaccedilatildeo dos termos como constitutivos do
discurso este estudo recebe o nome de Socioterminologia
46 O termo eacute o elemento linguiacutestico que constitui a expressatildeo lexical dos saberes especializados Eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da produccedilatildeo do saber ou seja a univocidade da comunicaccedilatildeo especializada eacute
favorecida pelo uso dos termos
70
A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma
terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua
aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das
praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis
porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam
entre trabalho e linguagem (GAUDIN 1993 p 216)
Diante das exposiccedilotildees feitas sobre a Terminologia seguiremos no toacutepico abaixo com
os pontos relacionados a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada campo este de
grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos A partir dele observamos qual a
importacircncia de analisar a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras
321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada
Sabendo que o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e coletiva num
processo no qual o sujeito interage com a realidade as pessoas e o ambiente sociocultural
Faulstich (1995 p 281) afirma que no campo da linguagem ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo
no universo da terminologia revelam peculiaridades proacuteprias a serem estudadas pela
disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para a sistematizaccedilatildeo de termos e de
variantesrdquo
Percebendo que a linguagem especializada natildeo eacute uma liacutengua artificial e sim uma
realizaccedilatildeo da liacutengua natural que possui todas as particularidades pertencentes a qualquer
liacutengua viva observou-se que as diferenciaccedilotildees ocorridas na linguagem vecircm da diversidade
dos discursos na liacutengua e na cultura de cada povo No que concerne ao termo linguagem
especializada Finatto explica que
Uso o termo linguagem especializada e natildeo ldquolinguagem de especialidaderdquo por
entender que natildeo haveria uma ldquoposserdquo estrita dessa linguagem pelo usuaacuterio ou pela
aacuterea de saberconhecimento Entendo que eacute a linguagem que se faz diferenciada ela
se altera em alguns de seus formatos pela accedilatildeo dos sujeitos envolvidos e pelas condiccedilotildees pragmaacutetico-linguumliacutesticas e situacionais da comunicaccedilatildeo entre profissionais
(FINATTO 2004 p 342)
Quanto agrave existecircncia de variantes terminoloacutegicas Faulstich (2001 p 22) defende que
dependendo da funccedilatildeo realizada nos contextos o termo pode assumir diversos valores
71
ldquoConsideramos mais uma vez que variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a
comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica faz do termordquo (FAULSTICH
2OO1 p 22)
Faulstich (2001 p 21) explica que a Socioterminologia eacute necessaacuteria para analisar os
termos variantes dentro de uma metodologia particular Para a autora a Socioterminologia jaacute
era prenuacutencio para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de
natureza social Em suas pesquisas em 1995 e em estudos posteriores em 1996 e 1998
apresenta os fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos da variaccedilatildeo em terminologia Contudo eacute
somente em 1999 que a pesquisadora propotildee uma teoria da variaccedilatildeo com base numa nova
proposiccedilatildeo de anaacutelise do termo sob a perspectiva sincrocircnica e diacrocircnica
Segundo a pesquisadora as variantes terminoloacutegicas classificam-se de acordo com
sua natureza linguiacutestica e ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas variantes eacute tarefa da socioterminologia
cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da diversidade de termos que ocorrem nos planos
vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo (FAULSTICH 2006 p 29)
Seguindo um modelo funcionalista que tem como objeto cientiacutefico descrever e
explicar os proacuteprios fenocircmenos linguiacutesticos Faulstich (1996 p 1 apud CRUZ 2013 p 32)
explica que no exame da funcionalidade socioterminoloacutegica no qual a base de dados eacute a
linguagem especializada a variaccedilatildeo social do termo ocorre nos diversos niacuteveis hieraacuterquicos
do discurso cientiacutefico (CRUZ 2013 p 32)
Cruz (2013 p 35) explica que ldquoa variaccedilatildeo ocorre pela accedilatildeo do movimento gradual
do termo no tempo e no espaccedilo provocada pela funccedilatildeo de uma dada variaacutevelrdquo Observando
todos esses aspectos Faulstich (1998 p 13) amplia a tipologia das variantes trazendo assim
as variantes concorrente47
as variantes coocorrentes48
e as variantes competitivas49
Nesse
campo Cruz (2013 p 34) expotildee que
As variantes terminoloacutegicas concorrentes no qual se inscrevem os dois grupos de
tipologias apresentados anteriormente a saber as variantes terminoloacutegicas linguiacutesticas e as variantes terminoloacutegicas de registro as variantes terminoloacutegicas
coocorrentes e as variantes terminoloacutegicas competitivas
Ao compreender as diferentes variaccedilotildees dentro dos diversos discursos da Liacutengua
Cruz (2013) explica que para a construccedilatildeo da Teoria da Variaccedilatildeo em Terminologia Faulstich
47 Tambeacutem chamada de ldquoVariante formalrdquo as variantes concorrentes satildeo aquelas que podem concorrer entre si e
permanecer como tais no estrato ou que podem concorrer para a mudanccedila 48As variantes coocorrentes ou ldquoSinoniacutemias terminoloacutegicasrdquo satildeo aquelas que tecircm duas ou mais denominaccedilotildees
para um mesmo referente 49 ldquoEmpreacutestimos linguiacutesticosrdquo ou variantes competitivas satildeo aquelas que relacionam significados entre itens
lexicais de liacutenguas diferentes quer dizer itens lexicais de uma liacutengua B preenchem lacunas de uma liacutengua A
72
(2001 p 54) levou em conta que a unidade terminoloacutegica o termo ldquopode assumir diferentes
valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha nos contextos de
ocorrecircnciardquo Com efeito o termo seraacute funcional dentro de uma linguagem especializada
porque assumiraacute uma funccedilatildeo especiacutefica de determinado valor de acordo com o contexto de
uso Sob um ponto de vista socioterminoloacutegico Faulstich restaura a ideia de que a variaccedilatildeo eacute
tambeacutem um fenocircmeno terminoloacutegico e que o seu estudo deve ser desenvolvido no acircmbito da
terminologia (CRUZ 2013 p 39-40)
Compreendendo que eacute na linguagem que ocorre frequentemente a variaccedilatildeo
terminoloacutegica no que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais observamos que os
diferentes fatores sociais culturais e histoacutericos interferem na variaccedilatildeo terminoloacutegica
reafirmando um caraacuteter especiacutefico na linguagem de uso dos moradores da regiatildeo de
Pimenteiras Ao estudar as unidades terminoloacutegicas de um determinado domiacutenio Faulstich
(2006 p 27) explica que as condiccedilotildees sociais em que a comunicaccedilatildeo dessas unidades ocorre
seratildeo estudadas pela Socioterminologia
Para falar de terminologia em sentido mais estrito quer dizer de terminologia como
disciplina que sistematiza termos e conceitos eacute preciso falar tambeacutem do discurso de
onde proveacutem Neste caso excetuando o linguajar corriqueiro que como jaacute se disse
apresenta grande quantidade de terminologias usadas no dia-a-dia eacute preciso
considerar que pelo menos trecircs discursos estatildeo na base da produccedilatildeo terminoloacutegica
isso porque nenhum termo eacute usado fora da situaccedilatildeo discursiva em que eacute criado
Assim sendo discursos de diversas naturezas como o cientiacutefico o teacutecnico e o de
vulgarizaccedilatildeo satildeo a fonte natural de onde emergem os termos usados nas
comunicaccedilotildees entre profissionais Muitos desses termos entram vulgarizados no leacutexico comum por meio dos mais diversos recursos como a metaacutefora a elipse a co-
referecircncia entre outros sem por isso perderem o sentido de base Eacute este sentido
que ativa o senso comum e difunde o conceito original
O movimento do termo na linguagem especializada eacute explicado pela
Socioterminologia que tem como base a variaccedilatildeo do termo no campo social que antes era
visto como invariaacutevel Nesse sentido a variaccedilatildeo e as mudanccedilas na sociedade provocam
transformaccedilotildees no termo que eacute gerado usado e modificado
Faulstich (1995 p 7) valoriza a Socioterminologia como uma nova abordagem para
anaacutelise do termo na comunicaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica Contudo adverte que a
Socioterminologia ldquonatildeo eacute de fato uma disciplina derivada da sociolinguiacutestica poreacutem natildeo se
pode negar que eacute a visatildeo mais flexiacutevel da sociedade e da comunidade que conduz os
especialistas em terminologia a esse novo percursordquo Diante disso em sua anaacutelise a
pesquisadora acrescenta que
73
Como ramo da terminologia a socioterminologia eacute um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos
a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da
elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a
sociedade (2006 p 30)
Sabendo que os termos da linguagem especializada estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo seja no
tempo espaccedilo ou na sociedade a variaccedilatildeo nos estudos terminoloacutegicos ndash por exemplo os
termos de uso popular sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras ndash passa a ser
reconhecida como fenocircmeno natural descrita e analisada de forma cientiacutefica pela
Socioterminologia Perceber como os termos sobre as plantas medicinais passam pela
variaccedilatildeo de seus elementos eacute tambeacutem entender a cultura histoacuteria e identidade de um povo
pois eacute por meio do estudo da variaccedilatildeo dos termos de Pimenteiras que compreendemos as
constantes mudanccedilas e evoluccedilotildees que acontecem com os moradores da regiatildeo trazendo assim
o entendimento sobre os domiacutenios de especialidade na Liacutengua que distinguem a trajetoacuteria
identitaacuteria dos quilombolas
Diante do que foi explanado ateacute aqui examinaremos na seccedilatildeo seguinte como as
questotildees ocorridas no acircmbito social passaram a ser consideradas relevantes nos estudos
terminoloacutegicos ou seja a necessidade de compreender o funcionamento da linguagem
especializada no contexto social da comunidade de Pimenteiras tendo a contribuiccedilatildeo da
Socioterminologia nesse estudo sobre os termos das plantas medicinais
33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL
A anaacutelise dos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade
de Pimenteiras por via dos estudos socioterminoloacutegicos se deu a partir da necessidade de
compreender como a liacutengua funciona no contexto na comunidade pois observamos que toda
sociedade se encontra em constante transformaccedilatildeo e com ela a linguagem eacute vista como uma
das mais fortes interventoras nos comportamentos sociais
Sabendo que a Socioterminologia privilegia os aspectos sociais da linguagem de
especialidade e preocupa-se com os aspectos sociais e variacionista da liacutengua ou melhor com
o uso real da linguagem especializada Faulstich apresenta a Socioterminologia como um
ramo da Terminologia que
74
Se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as
circunstacircncias da elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a
terminologia e a sociedade (2006 p 29)
A Socioterminologia se baseia na observaccedilatildeo do funcionamento da linguagem e no
estudo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos termos Com a posiccedilatildeo de disciplina de
caraacuteter teoacuterico e natildeo somente de um meacutetodo analiacutetico aplicado a Socioterminologia contribui
para o desenvolvimento de pesquisas teoacuterico-praacuteticas que levem em conta o termo e suas
variantes Como praacutetica do trabalho terminoloacutegico a Socioterminologia segundo Faulstich
(1995) fundamenta-se na anaacutelise das condiccedilotildees de circulaccedilatildeo do termo no funcionamento da
linguagem Com caraacuteter descritivo a Socioterminologia estuda o termo sob o aspecto da
linguiacutestica na interaccedilatildeo social no qual sua pesquisa deve ter o auxiacutelio dos criteacuterios da
variaccedilatildeo e da mudanccedila dos termos no meio social como tambeacutem dos princiacutepios etnograacuteficos
que trazem os conceitos interacionistas entre os membros da sociedade No contexto da
variaccedilatildeo terminoloacutegica Faulstich (1995) explica que
O termo perde cada vez mais sua caracteriacutestica de entidade uniacutevoca em favor de
uma interpretaccedilatildeo variacionista que considera as diversidades de comunicaccedilatildeo entre
pessoal de direccedilatildeo de setores administrativos de setores de pesquisa de produccedilatildeo e
de comercializaccedilatildeo dentro das empresas o meio mais adequado para a descriccedilatildeo dos
termos cientiacuteficos e teacutecnicos
Essa interpretaccedilatildeo socioterminoacutelogica vem da etnografia que tem por base o caraacuteter
interacionista ou seja o engajamento entre as pessoas e a influecircncia muacutetua de uns para com
os outros no contexto social Faulstich (1995) explica que ao registrar as variaccedilotildees ocorridas
no campo social deve-se levar em conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico
em que os termos circulam
Diante dos conceitos explanados sobre os aspectos da variaccedilatildeo observa-se que a
Socioterminologia focaliza os dados terminoloacutegicos na pluralidade da liacutengua constituindo
normas que evidenciam o uso da variaccedilatildeo Assim Faulstich (2006) expotildee que ldquoas variantes
decorrem de uso em contextos discursivos de diferentes niacuteveis do movimento da liacutengua no
percurso histoacuterico de empreacutestimos de usos regionais entre outras categorias desde que
mantenham o significado implicadordquo
Observamos assim que a Socioterminologia assume um caraacuteter descritivo na
linguagem especializada em uso dando maior ecircnfase agrave comunicaccedilatildeo que traz em seu contexto
manifestaccedilotildees discursivas que necessitam dos elementos da variaccedilatildeo (GAUDIN 1993)
Segundo Barros (2004 p 69) o pesquisador Gaudin (1993) expotildee que eacute fundamental para a
75
Socioterminologia levar em consideraccedilatildeo o uso dos termos e situar a linguagem especializada
em seu contexto social Desse modo ldquoa praacutetica terminoloacutegica eacute inseparaacutevel tanto do
conhecimento do espaccedilo da accedilatildeo onde ela se daacute quanto das praacuteticas de linguagem que visam
modificar ou assegurarrdquo (GAUDIN 1993 p 212 apud BARROS 2004 p 69)
Nas pesquisas de Faulstich (1995) o termo em estudos anteriores deveria ser uma
unidade denotativa sem relaccedilotildees sinoniacutemicas ou polissecircmicas Hoje a praacutetica terminoloacutegica
demonstra que um mesmo conceito poderaacute ser expresso por termos que apresentem variaccedilotildees
sejam elas morfoloacutegicas regionais ou socioprofissionais Eacute este o princiacutepio subjacente agrave
Socioterminologia conforme exposto pela pesquisadora
A socioterminologia eacute portanto um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o
conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na
planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da elaboraccedilatildeo
desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a sociedade
(FAULSTICH 2006)
Nos estudos socioterminoloacutegicos como jaacute foi mencionado a base eacute a anaacutelise das
condiccedilotildees de funcionamento dos termos como elementos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dentro
de um sistema linguiacutestico e socialTais elementos foram adquiridos por meio dos princiacutepios da
sociolinguiacutestica sob a perspectiva da variaccedilatildeo e dos princiacutepios etnograacuteficos que vem da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo social Com caraacuteter descritivo e social a Socioterminologia defende
uma variaccedilatildeo sociodiscursiva na linguagem terminoloacutegica Segundo Faulstich (2001 p 22)
ldquoas variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social
linguumliacutestica e geograacutefica fazem do termordquo Nesse acircmbito a comunicaccedilatildeo deve ser observada in
vivo devido agrave funccedilatildeo do contexto social pragmaacutetico e discursivo no qual os termos circulam
isto se opotildee intensamente ao condicionamento in vitro imposto pela teoria wusteriana
Analisamos assim que a base dos estudos socioterminoloacutegicos estaacute na variaccedilatildeo e na
etnografia de ordem interativa ou seja os termos catalogados sobre as plantas medicinais da
comunidade de Pimenteiras foram analisados nos diferentes niacuteveis sociais e culturais em que
ocorrem Verificamos que na linguagem especializada sobre as plantas medicinais os termos
deixam de ser uma unidade uniacutevoca para serem meditados na interpretaccedilatildeo variacionista em
que a comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade eacute motivada por diferentes termos para
um mesmo conceito ou por vaacuterios conceitos para um mesmo termo
Diante de tais aspectos precisamos conhecer e analisar os contextos sociais
religiosos culturais de gecircnero e da identidade quilombola nos quais a linguagem ocorre
tomando como foco os saberes medicinais sobre as plantas da regiatildeo respeitando e analisando
76
por meio dos estudos socioterminoloacutegicos os termos catalogados pelos moradores sem
interferir no estado natural desse objeto de estudo a fim de garantir a fidelidade dos dados e
dos resultados alcanccedilados na pesquisa de campo A Socioterminologia eacute pois uma ciecircncia
que reconhece a variaccedilatildeo terminoloacutegica
A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma
terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua
aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das
praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis
porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam
entre trabalho e linguagem (GAUDIN apud FAULSTICH 2006 p216)
Compreendendo que a variaccedilatildeo eacute um fator universal da linguagem humana e que
esse mesmo fator tambeacutem estaacute presente na linguagem especializada verificamos em Gaudin
(1993 p 16) que ldquoa socioterminologia pode levar em conta o real do funcionamento da
linguagem e restituir toda sua dimensatildeo social agraves praacuteticas linguageiras concernentesrdquo Apoacutes
essas discussotildees notamos a necessidade de valorizar os termos no ambiente discursivo
pragmaacutetico e social em que satildeo produzidos trazendo um diaacutelogo entre as aacutereas de saber Eacute
por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos que podemos valorizar e divulgar o conhecimento
popular sobre as plantas medicinais dos moradores da comunidade de Pimenteiras assunto
este que apresentamos no toacutepico seguinte
331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da Socioterminologia
Compreendemos que o conhecimento eacute uma expressatildeo utilizada para demonstrar
toda a experiecircncia adquirida ateacute o presente momento na histoacuteria do ser humano Somos a
soma das invenccedilotildees pensamentos criaccedilotildees da mente humana Soacutecrates (470-399 aC apud
PESSANHA 1980) jaacute dizia que o verdadeiro conhecimento vem de dentro de noacutes que natildeo eacute
encontrado apenas nos documentos mas tambeacutem nos processos e nas praacuteticas dos grupos
humanos que por meio das experiecircncias acumuladas entre as geraccedilotildees aumentam a
produtividade e conquista de novas oportunidades de conhecer
Etimologicamente a palavra conhecimento eacute derivada do latim cognitio que
significa ato ou accedilatildeo de aprender Nesse sentido aprender eacute a capacidade de absorvermos
atraveacutes dos sentidos as experiecircncias externas e a partir delas acrescentar novos
77
conhecimentos Na medida em que evoluiacutemos percebemos que o conhecimento eacute o meio que
processa o envolvimento humano com os dados e informaccedilotildees dessa accedilatildeo de conhecer que eacute
tatildeo fundamental a todos noacutes pois que algueacutem deu o conhecimento a um contexto a um
significado a uma interpretaccedilatildeo que refletiu sobre o saber e acrescentou a ele sua proacutepria
sabedoria
A abrangecircncia que o termo ldquoconhecimentordquo possui eacute muito importante para
compreendermos nossa proacutepria vivecircncia de conhecer o mundo que nos rodeia Diante desse
contexto observamos que existem definiccedilotildees diferentes para cada campo do conhecimento
Tomando os estudos de Marcondes (2001) percebemos os seguintes tipos de conhecimento
O Conhecimento Cientiacutefico que vem das leis e sistemas que explicam de modo
racional com base na experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo investigaccedilatildeo e na loacutegica sistemaacutetica do que
esta sendo observado Lopes (1999 p 106) escreve que o conhecimento cientiacutefico eacute ldquotodo
conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por excelecircncia sem
influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e provado a partir dos dados da
experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e experimentaccedilatildeordquo Esta aacuterea do conhecimento eacute
extremamente analiacutetica e objetiva Tendo relaccedilatildeo com a racionalidade suas anaacutelises satildeo
importantes no processo de construccedilatildeo do saber cientiacutefico de forma que suas caracteriacutesticas
se tornam praticamente uma antiacutetese ao conhecimento popular
O Conhecimento Popular ou Empiacuterico tambeacutem conhecido como tradicional tem
relaccedilatildeo com a hereditariedade cultura e senso comum do homem Eacute uma forma de reflexatildeo
passiva acriacutetica e assistemaacutetica que vai aleacutem da subjetividade e superficialidade Estaacute baseado
nas experiecircncias vividas ou observadas pelo homem sem teacutecnicas ou meacutetodos O
conhecimento ocorre pelo uso dos sentidos podendo ser passiacutevel ao erro dedutivo por ter
mais questotildees pessoais do que cientiacuteficas
O Conhecimento Filosoacutefico estaacute relacionado agrave ideias e conceitos que satildeo construiacutedos
pela busca da verdade do mundo atraveacutes da indagaccedilatildeo priorizando assim um olhar sobre a
condiccedilatildeo humana Existem questotildees que somente a capacidade humana de refletir e raciocinar
podem responder assuntos que nem a ciecircncia consegue pois satildeo temas inerentes ao homem
A racionalizaccedilatildeo eacute o principal instrumento de uso com isso pode-se dizer que este
conhecimento eacute reflexivo loacutegico criacutetico racional e subjetivo
O Conhecimento Teoloacutegico por sua vez esta direcionado para conhecer e provar a
existecircncia de Deus e dos textos escritos na Biacuteblia tomando-os como verdades incontestaacuteveis
Obtido atraveacutes das ideias e axiomas da feacute tenta responder as questotildees inerentes ao homem em
relaccedilatildeo agrave sua existecircncia atraveacutes da concepccedilatildeo divina do mundo
78
Perante os tipos de conhecimentos expostos percebemos que em todo lugar que
olhamos o homem eacute capaz de criar meacutetodos de entendimento de tudo aquilo que ele absorve
do ambiente em que vive Assim observamos que na comunidade de Pimenteiras os
moradores quilombolas obtiveram o conhecimento sobre as plantas medicinais por meio do
conhecimento popular atraveacutes da relaccedilatildeo com sua cultura local seus antepassados e com sua
Liacutengua de modo a construir experiecircncias que ateacute hoje comungam com sua identidade
Nesse sentido somos a soma de nossa heranccedila bioloacutegica social e histoacuterica sendo
atraveacutes da linguagem e da cultura que nos constituiacutemos em seres com a capacidade de
conhecer e de adquirir conhecimento Por isso liacutengua eacute mais do que instrumento de
conhecimento ela eacute constitutiva dele Para Matos (2011 p 3) ldquoa liacutengua eacute incubadora da
identidade reproduz significados que se deslocam afetados pela memoacuteria e eacute submetida ao
movimento da ideologia imposto pela histoacuteria estando portanto atrelada a aspetos poliacuteticos e
eacuteticosrdquo
No que concerne agrave Liacutengua analisamos que o conhecimento sobre seu funcionamento
eacute fundamental para noacutes falantes Esse conhecimento estaacute impliacutecito em nosso ser e vem de
uma capacidade que nos permite apreender e dominar a liacutengua que utilizamos O
conhecimento linguiacutestico eacute parte de todos noacutes falantes de uma determinada liacutengua ou seja eacute
parte do nosso saber porque nascemos com essa capacidade
Assim como a liacutengua a Terminologia eacute tambeacutem uma praacutetica cognitiva linguiacutestica e
social Boulanger (2001 p 13 apud Rodrigues 2010 p 33) explica que a Terminologia ldquoeacute
uma praacutetica cognitiva na medida em que repousa sobre o conhecimento eacute uma praacutetica
linguiacutestica devido agrave noccedilatildeo termo ou praacutetica social especializada na medida em que o saber
circula em todas as sociedades humanasrdquo Eacute diante desse conhecimento da linguagem de
especialidade no contexto social que a Socioterminologia surge para identificar e analisar os
saberes especializados na liacutengua
Eacute evidente que o conhecimento cientiacutefico se faz necessaacuterio ao estudo terminoloacutegico
aqui proposto sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras Entretanto o
conhecimento popular transmitido entre as geraccedilotildees quilombolas eacute basilar para esta pesquisa
pois eacute a partir deste saber tradicional que buscamos analisar sob o olhar Socioterminoloacutegico
os elementos relacionados aos termos sobre as plantas medicinais Popularizar e valorizar o
conhecimento tradicional por meio do saber cientiacutefico eacute fundamental para conhecermos as
diversidades em nossa liacutengua como tambeacutem de nossa cultura
Observamos que o conhecimento cientiacutefico eacute aquele que pode ser provado atraveacutes de
inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute que seja incorporado pela ciecircncia Para Marconi e Lakatos
79
(2003 p 75) o conhecimento cientiacutefico ldquo[] eacute transmitido por intermeacutedio de treinamento
apropriado sendo um conhecimento obtido de modo racional conduzido por meio de
procedimentos cientiacuteficosrdquo
Com relaccedilatildeo ao conhecimento popular este por um longo tempo foi ignorado pelos
cientistas Entretanto hoje a situaccedilatildeo eacute diferente pois segundo Posey (1987) eacute por meio do
resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes tradicionais que surgem novas reflexotildees que datildeo grande
importacircncia desses saberes para o nosso proacuteprio benefiacutecio Diante disso Silva (2002 p 26)
argumenta que ldquo[] os estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular
tecircm merecido atenccedilatildeo cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm
oferecendo agraves ciecircncias do homemrdquo
Eacute fato e natildeo desmerecemos que o conhecimento cientiacutefico tecircm um papel muito
importante para a nossa cultura no entanto eacute preciso acolher com a mesma intensidade os
saberes populares para buscarmos compreender e analisar as diferentes culturas e linguagem
especializadas pois ldquo[] o que leva um ao conhecimento cientiacutefico e outro ao vulgar ou
popular eacute a forma de observaccedilatildeordquo (MARCONI LAKATOS 2005 p 76) Para isso a
Socioterminologia como ciecircncia busca analisar e fazer dialogar os diversos aspectos
relacionados agrave linguagem especializada levando em consideraccedilatildeo o acircmbito social em que
circundam os termos sobre os saberes populares das plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras
Diante desse contexto percebemos o quanto eacute importante analisarmos os termos
sobre as plantas medicinais do ponto de vista discursivo no uso concreto da linguagem
teacutecnica com caraacuteter variacionista e como os estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais
nesse processo Eacute por meio de seus meacutetodos de anaacutelise e descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de
variaccedilatildeo no contexto social e linguiacutestico que seguimos no toacutepico seguinte nas discussotildees
sobre o termo base do estudo socioterminoloacutegico
332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico
Segundo os estudos de Krieger e Finatto (2004) o termo eacute o elemento linguiacutestico que
constitui a expressatildeo lexical do saber especializado eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da
produccedilatildeo dos saberes De forma concisa entendemos que a palavra e o termo satildeo unidades
parecidas ao serem descritas por um conjunto de caracteriacutesticas linguiacutesticas sistemaacuteticas
80
referindo-se a um elemento da realidade A palavra ao tomar parte de um acircmbito
especializado eacute considerada um termo e a carga semacircntica confere no aspecto linguiacutestico o
que o diferencia da palavra
O termo caracteriza-se no sentido de que para uma noccedilatildeo dada haacute teoricamente uma uacutenica denominaccedilatildeo Esta caracteriacutestica do termo se funda sobre um postulado
da terminologia o da relaccedilatildeo de univocidade entre denominaccedilatildeo (significante) e
noccedilatildeo (significado relaccedilatildeo do tipo reflexiva) (RONDEAU apud KRIEGER 2004 p
77)
Sendo um objeto de estudo das ciecircncias terminoloacutegicas o termo eacute investigado numa
dimensatildeo pragmaacutetica discursiva e sociolinguiacutestica Faulstich (2006) explica que a teoria da
variaccedilatildeo terminoloacutegica propotildee uma releitura da definiccedilatildeo do objeto de estudo da
Socioterminologia que eacute o termo Para a autora (2006 p 28) ldquouma unidade terminoloacutegica
pode ter ou assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel
desempenha nos contextos de ocorrecircnciardquo
Nos estudos de Rodrigues (2010 p 36) o termo pode ser apreendido como um signo
que encontra funcionalidade na linguagem de especialidade como uma entidade variante que
se apoia nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo social e como um item do leacutexico especializado que
passa por processos de evoluccedilatildeo Desta forma o termo eacute visto como fenocircmeno linguiacutestico
variaacutevel que encontra na terminologia diferentes resultados de uso dos falantes nos diversos
contextos sociais geograacuteficos e linguiacutesticos Diante disso Gouadec (apud KRIEGER 2004 p
77) expotildee que ldquoum termo eacute uma unidade linguiacutestica que designa um conceito um objeto ou
um processo O termo eacute a unidade de designaccedilatildeo de elementos do universo percebido ou
concebido Ele raramente se confunde com a palavra ortograacuteficardquo
Considerando o princiacutepio da variaccedilatildeo em toda a sua dimensatildeo o pesquisador
Rodrigues (2010) acrescenta que o termo passa a ser visualizado como uma unidade lexical
que sofre todas as implicaccedilotildees sistecircmicas e contextuais proacuteprias a qualquer palavra no
contexto comunicativo da liacutengua Para Barros (apud KRIEGER FINATTO 2004) o termo eacute
uma unidade do leacutexico com conteuacutedo especiacutefico dentro de um domiacutenio tambeacutem particular
que pode ser descrito e analisado em diferentes aspectos relacionados ao significante e
significado agraves relaccedilotildees com outros termos e ao ponto de vista sociolinguiacutestico com isso
observamos que haveraacute melhor sustentaccedilatildeo teoacuterica ao trabalho estudado na comunidade de
Pimenteiras
Por ser um objeto de estudo da Socioterminologia Gaudin (1993) lembra que deve
haver uma aproximaccedilatildeo discursiva dos termos pois segundo o pesquisador as unidades
81
terminoloacutegicas devem ser analisadas em sua condiccedilatildeo de produccedilatildeo discursiva e de interaccedilatildeo
entre conhecimentos No que concerne ao conhecimento ele eacute sempre foi e seraacute uma forma
moacutevel de cultura De forma cientiacutefica ou de saber popular o conhecimento humano chega a
cada geraccedilatildeo a cada comunidade com a marca dos tempos povos e lugares por onde passou
Eacute atraveacutes da transferecircncia do conhecimento por meio da Liacutengua que as sociedades se formam
as tradiccedilotildees dos povos sofrem mudanccedilas ou satildeo abolidas em troca de outras Contudo eacute pelo
aparecimento de novos conceitos e pela aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos que outras capacidades
cognitivas se desenvolvem e formam outros conhecimentos
Sabendo que o conhecimento pode tambeacutem ser transmitido por meio da linguagem
verificaremos na anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais os
aspectos relacionados agrave representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras pois
compreendemos que eacute por meio da linguagem que criamos expressamos e designamos os
conceitos e objetos nos diversos campos de conhecimento
Nos estudos de Cruz (2014 p 98) ela expotildee que ldquoos termos satildeo criados e se
desenvolvem em uma liacutengua concreta porque as ideias processos ou objetos que esses termos
designam foram criados pela sociedade que deles se utilizardquo Ela explica que os termos satildeo
resultado de convenccedilotildees ou preferecircncias individuais possuindo relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas
do objeto nomeado Eacute nesse campo que as anaacutelises dessas carateriacutesticas satildeo necessaacuterias para
observar se as denominaccedilotildees satildeo fruto de ideias do conhecimento da aacuterea ou por modismos
(CRUZ 2014)
No campo da linguagem percebemos que os termos sobre as plantas medicinais satildeo
utilizados na comunidade de Pimenteiras atraveacutes da interaccedilatildeo entre a cultura a natureza e as
origens de um povo que transmitiu seus conhecimentos entre as geraccedilotildees por meio da liacutengua
Atraveacutes das concepccedilotildees explanadas sobre a linguagem ldquopodemos dizer que uma terminologia
natildeo se insere em uma liacutengua mas em uma linguagem especiacutefica desenvolvida a partir de um
universo de discurso criado por uma comunidade em um dado campo do saberrdquo (SANTOS
2010 p 06)
Nesse contexto Krieger e Finatto (2004 p75) explicam que ldquoo termo ou unidade
terminoloacutegica eacute simultaneamente elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber e componente
linguiacutestico cujas propriedades favorecem a univocidade da comunicaccedilatildeo especializadardquo
Por ter um caraacuteter natural os termos funcionam como um elemento dos sistemas
linguiacutesticos que estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo sendo esta inerente em qualquer liacutengua a variaccedilatildeo
terminoloacutegica ocorre no acircmbito do uso especializado Nesse sentido Cruz (2012) expotildee que a
82
comunicaccedilatildeo especializada de melhor qualidade eacute construiacuteda a partir do reconhecimento da
naturalidade e inerecircncia da variaccedilatildeo terminoloacutegica como um tipo de variaccedilatildeo linguiacutestica
Na anaacutelise socioterminoloacutegica verificamos alguns aspectos da variaccedilatildeo dos termos
sobre as plantas medicinais de Pimenteiras mostrando como os termos variam de acordo com
as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos observando na linguagem especializada a
naturalidade e inerecircncia presentes nos termos a serem analisados proporcionando a
particularizaccedilatildeo e identidade da comunidade
Por ser uma unidade de conhecimento que estaacute constantemente se relacionando com
seu significado o termo segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos Assim antes de analisar
se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade verificamos que a
definiccedilatildeo deles eacute muito importante para o contexto de uso dos estudos teoacutericos da
Socioterminologia que descreve os termos dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber
especializado Segundo os estudos de Lara (2004 p 93) ldquouma definiccedilatildeo eacute um enunciado que
descreve um conceito permitindo diferenciaacute-lo de outros conceitos associadosrdquo Sager (1990
apud LARA 2004 p 93) expotildee ainda que ldquoa definiccedilatildeo eacute uma explanaccedilatildeo aceita do
significado especializado de itens lexicais cuja ocorrecircncia pode ser documentada em vaacuterias
fontesrdquo Diante disso utilizamos no percurso da anaacutelise dos termos medicinais sobre as
plantas a definiccedilatildeo do saber subjetivo de uma moradora da regiatildeo de Pimenteiras
Nos estudos da definiccedilatildeo terminoloacutegica dos termos Lara (2004 p 94) contribui
expondo que ldquoa definiccedilatildeo terminoloacutegica eacute classificadora hierarquizante estruturante
relaciona-se agrave definiccedilatildeo da coisardquo ou seja a definiccedilatildeo natildeo eacute uacutenica ela varia de acordo com a
fonte escolhida Assim procuramos nos estudos socioterminoloacutegicos trazer a definiccedilatildeo dos
termos sobre as plantas medicinais pois a Socioterminologia ldquoeacute uma disciplina que se ocupa
da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguiacutesticas dos termos em diferentes tipos
de situaccedilatildeo de uso da liacutengua nos diversos niacuteveis e planos hieraacuterquicos do discursordquo (CRUZ
2012 p 100)
Cruz acrescenta que nos estudos de Faulstich (1998) ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas
variantes eacute tarefa da Socioterminologia cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da
diversidade de termos que ocorrem nos planos vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo
Perante a diversidade dos termos e consequentemente da variaccedilatildeo em suas definiccedilotildees
utilizamos no processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Faulstich
(1996) uma amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees tidas sobre os termos a partir
da variaccedilatildeo terminoloacutegica que fundamenta os dados a serem analisados
83
Nos estudos de Cruz (2014 p113) sobre a variaccedilatildeo dos termos a pesquisadora
explica que ldquoo processo de variaccedilatildeo se daacute dentro de um construto teoacuterico em que variaacuteveis
produzem variantes que funcionam nas liacutenguas de acordo com as funccedilotildees que elas venham a
ter no discurso de especialidade ou na liacutengua comumrdquo Nos estudos socioterminoloacutegicos
Faulstich (1995 apud CRUZ 2012) propotildee uma abordagem funcionalista do termo que eacute a
base da pesquisa socioterminoloacutegica defendendo uma estreita relaccedilatildeo entre termo e variaccedilatildeo
Outro postulado defendido por Faulstich (1998 1999) eacute sobre a anaacutelise do termo que deve
ser visto sob duas perspectivas sincrocircnica e diacrocircnica assim ela resume que
Termos satildeo signos que encontram sua funcionalidade nas linguagens de especia-
lidade de acordo com a dinacircmica das liacutenguas satildeo entidades variantes porque fazem
parte de situaccedilotildees comunicativas distintas satildeo itens do leacutexico especializado que
passam por evoluccedilotildees por isso devem ser analisados no plano sincrocircnico e no plano diacrocircnico das liacutenguas (FAULSTICH 1999 p 28)
Outro aspecto importante a ser mencionado eacute com relaccedilatildeo agrave estrutura do termo que
pode se apresentar de forma simples complexa ou composta Esse campo leacutexico-semacircntico e
morfossintaacutetico do termo eacute tomado pelos estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) que
explanam sobre a estrutura simples constituiacuteda de um radical e por estruturas complexas e
compostas em que ocorre a presenccedila de dois ou mais radicais diferenciados pela presenccedila do
hiacutefen nos termos compostos enquanto que nos termos complexos ocorre os processos de
composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo50
ou justaposiccedilatildeo51
das palavras No caso da
comunicaccedilatildeo especializada o que predomina satildeo os termos complexos por poder assumir
diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo
reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico
Quando utilizamos um termo num determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e
permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo internalizadas na liacutengua que por ser um
sistema dinacircmico passa a ser enriquecida por neologismos Assim veremos que os estudos de
Pottier (1978) e de Barros (2007) sobre o termo no que concerne agrave sua estrutura
morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica satildeo caracterizadas como simples compostas ou
complexas
Em presenccedila das concepccedilotildees explanadas sobre o termo observamos que o
conhecimento que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem sobre as plantas
50Aglutinaccedilatildeoconsiste na junccedilatildeo de duas ou mais palavras com o objetivo de formar uma terceira palavra poreacutem
uma delas ou as duas sofreraacute alguma mudanccedila na sua forma ganhando ou perdendo letras fonemas ou
morfemas
51Justaposiccedilatildeo satildeo as palavras apenas justapostas uma ao lado da outra e estando juntas formaratildeo uma terceira
palavra Neste caso as palavras ficam intactas natildeo perdendo nenhum item da sua forma
84
medicinais satildeo as marcas de seus antepassados de sua identidade de sua histoacuteria como
quilombolas satildeo marcas de sua linguagem diante da diversidade na natureza Natildeo usamos a
liacutengua sempre da mesma forma mas adequamos nossa linguagem agrave situaccedilatildeo comunicativa em
que estamos inseridos Assim os usos que fazemos em nossa liacutengua satildeo o reflexo tambeacutem
da nossa proacutepria histoacuteria Nesse contexto damos iniacutecio no capiacutetulo seguinte sobre a
metodologia utilizada para fundamentar esta pesquisa levando em consideraccedilatildeo os objetivos
as etapas da pesquisa as pessoas e as dificuldades encontradas no percurso do trabalho
85
4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo apresentamos os motivos escolhas e as etapas metodoloacutegicas feitas
durante a pesquisa de campo na comunidade de Pimenteiras As fases para a constituiccedilatildeo
deste trabalho dissertativo tecircm suas bases nos estudos da Socioterminologia com o uso de
instrumentos tecnoloacutegicos antes durante e apoacutes o trabalho de campo Dentre as ferramentas
tecnoloacutegicas empregadas utilizamos diversas entrevistas transcriccedilotildees dos diaacutelogos e registro
de dados sobre os termos medicinais das plantas As ferramentas usadas foram o Software
Transana52
as fichas terminoloacutegicas gravador de voz maacutequina fotograacutefica e questionaacuterios
usados nas entrevistas Eacute fato que muitas dificuldades surgiram no percurso do trabalho
apesar disso a coleta dos dados foi imprescindiacutevel para a pesquisa sobre os termos das plantas
de uso medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras
41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE
PIMENTEIRAS
Realizar uma investigaccedilatildeo baseada na pesquisa de campo supotildee planejar previamente
o curso a seguir na construccedilatildeo do trabalho Eacute fato que o pesquisador encontra diversos
imprevistos que dificultam a pesquisa a ser realizada Compreendendo isso optamos em
conhecer participar e analisar a comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras no
setor das plantas medicinais Observamos que as condiccedilotildees naturais do tempo
influenciarammuito na pesquisa aleacutem da dificuldades encontradas no trajeto ateacute a
comunidade Apesar disso a riqueza em informaccedilotildees a biodiversidade da regiatildeo e o
consentimento dos moradores para a realizaccedilatildeo da pesquisa proporcionaram maior firmeza
para a continuidade do trabalho
Na intenccedilatildeo de fornecer dados confiaacuteveis e de qualidade para esse estudo buscamos
visitar e manter contato contiacutenuo com os moradores da comunidade de Pimenteiras Cada
52 O Transana foi criado por pesquisadores e para pesquisadores a fim de atender as necessidades profissionais
de quem executa entrevistas com trabalhos de campo pode serusado em diversas aacutereas do conhecimento mas
nessa pesquisa de base socioterminoloacutegica nosso estudo eacute constituiacutedo de um corpus de liacutengua oral As vantagens
do software eacute que oferece a visualizaccedilatildeo de vaacuterias janelas como o aacuteudio viacutedeo transcriccedilatildeo base de dados e visualizaccedilatildeo do material a ser transcrito isto proporciona maior seguranccedila e agilidade no processo
86
encontro foi planejado ora com entrevistas gravadas e filmadas ora com registro de fotos e
coleta de dados sobre as plantas Tudo no intuito de conhecer descrever e analisar os dados
com maior seguranccedila e veracidade pois cada ponto foi imprescindiacutevel para a fundamentaccedilatildeo
do trabalho dissertativo
Os dados sobre as plantas de uso medicinal foram organizados por alguns moradores
da regiatildeo durante os trabalhos com o Bioenergeacutetico de acordo com o saber que possuem
Estes dados foram catalogados e analisados dentro do contexto socioterminoloacutegico da
pesquisa em questatildeo Nosso intuito eacute analisar o saber popular sobre os termos catalogados das
plantas de uso medicinal levando em consideraccedilatildeo a linguagem especializada dos termos
medicinais adquiridos pelo repasse entre as geraccedilotildees pela relaccedilatildeo com a natureza e por
saberes conseguidos pelo contato com outros conhecimentos de caraacuteter cientiacutefico sobre o
poder de cura das plantas
A comunidade remanescente de quilombo de Pimenteiras estaacute localizada na regiatildeo
agriacutecola da cidade de Santa Luzia do Paraacute distante 30 km da cidade Hoje cerca de vinte oito
(28) famiacutelias vivem na comunidade sobrevivendo da agricultura criaccedilatildeo de gado e accedilaiacute
Devido agrave sua localizaccedilatildeo em aacuterea rural os moradores de Pimenteiras vivem do plantio e dos
saberes que possuem sobre as plantas medicinais devido agrave distacircncia e dificuldades para
conseguir tratamento meacutedico o saber sobre as plantas de uso medicinal tornou-se recurso
indispensaacutevel no trato das muitas doenccedilas A partir disso alguns moradores quilombolas
trabalharam por algum tempo com o Bioenergeacutetico nesse periacuteodo foram orientados por
representantes do CEDENPA para coletar amostras de plantas no trato medicinal Junto agraves
amostras os moradores escreveram os nomes de cada planta de acordo com o saber que
adquiriram com seus antepassados
Aleacutem da quantidade de conhecimento que a comunidade possui a particularidade
linguiacutestica sobre os nomes de cada planta de uso medicinal eacute muito importante nesse estudo
Por isso foram necessaacuterios diversos encontros com os moradores para conhecer e colher
maiores informaccedilotildees para esse trabalho A comunidade de Pimenteiras estaacute constituiacuteda de
expressivos elementos culturais que vecircm desde a proacutepria descendecircncia quilombola ateacute o
saber que possuem sobre as plantas por meio da valorizaccedilatildeo e fortalecimento de sua memoacuteria
coletiva Seus moradores apesar das inuacutemeras dificuldades e preconceitos vividos buscam
preservar sua identidade e serem reconhecidos pela sociedade pois a interaccedilatildeo participativa
entre os diferentes saberes existentes na comunidade promove um sentimento de
pertencimento diante das diferenccedilas culturais que devem ser respeitadas e apreciadas
87
Entendemos que o conhecimento eacute algo que estaacute em constante construccedilatildeo e
reconstruccedilatildeo e que as influecircncias que vivemos ajustam esse processo Particularmente o
conhecimento dos moradores da comunidade de Pimenteiras estaacute nessa frequecircncia que se
interpotildee entre os saberes vindos de geraccedilotildees passadas combinadas agrave presenccedila de novos
conhecimentos Diante da imensa contribuiccedilatildeo ao conhecimento cientiacutefico eacute respeitaacutevel
buscar conhecer os saberes vindos dos moradores remanescentes de quilombo para que os
mesmos sejam reconhecidos como identidade cultural sobre as plantas
Objetivamos nesse trabalho analisar os termos catalogados sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras sob a perspectiva socioterminoloacutegica dos termos no
contexto da linguagem especializada dos moradores remanescentes de quilombo observando
os aspectos sociais culturais e religiosos em que estatildeo inseridos e assim compreendermos a
identidade do povo da regiatildeo Analisando os termos identificamos que no campo da
Socioterminologia as palavras registradas sobre as plantas medicinais fazem parte do domiacutenio
especializado da liacutengua e expressam uma forte identidade no universo sociocultural dos
moradores quilombolas de Pimenteiras fazendo com que a comunidade adquira traccedilos que
distinguem e identificam sua cultura
Os dados catalogados foram registrados transcritos e definidos de acordo com o
saber de um morador da comunidade de Pimenteiras Na anaacutelise socioterminoloacutegica dos
termos todos foram definidos e estruturados por meio de fichas terminoloacutegicas para melhor
visualizaccedilatildeo das unidades que compotildeem as palavras coletadas junto da definiccedilatildeo
adicionamos as imagens de cada termo nomeado
42 A PESQUISA DE CAMPO
Registrar os termos de uma linguagem especializada requer preservar a legitimidade
que cada indiviacuteduo possui no uso da liacutengua Durante o processo de pesquisa vaacuterias etapas
foram executadas para que as anaacutelises fossem alcanccediladas As pessoas foram muito
importantes para que o estudo se desenvolvesse ao longo desse periacuteodo de anaacutelise
socioterminoloacutegica dos termos
Como criteacuterio de seleccedilatildeo escolhemos uma (01) moradora remanescente de
quilombola da comunidade de Pimenteiras a senhora Domingas Alves do Nascimento pelo
conhecimento popular sobre as plantas medicinais que ela deteacutem e tambeacutem pelo fato de ser
88
uma das pessoas que coletaram amostras das plantas medicinais Aleacutem disso Domingas eacute
uma representante da associaccedilatildeo AQUAFAP que sempre realizar atividades relacionadas a
valorizaccedilatildeo e aos direitos dos moradores de Pimenteiras
No aspecto religioso ela sempre estaacute engajada na cerimocircnia em homenagem agrave Nossa
Senhora do Livramento e mesmo com tantos trabalhos a serem executados na comunidade a
moradora estaacute sempre disposta e atenta para fazer com que a comunidade tenha seus direitos
garantidos e sua cultura e preservada
Durante a pesquisa foram realizadas entrevistas com outras pessoas que forneceram
informaccedilotildees importantes sobre a histoacuteria religiatildeo e cultura dos moradores da comunidade de
Pimenteiras No entanto a moradora Domingas foi incansaacutevel em suas contribuiccedilotildees A partir
dela o interesse em pesquisar sobre os termos catalogados das plantas de uso medicinal se
tornou fascinante
Dona Domingas eacute uma mulher que respeita suas origens e utiliza os saberes
transmitidos por sua matildee e sua avoacute materna a ponto de ser conhecida na regiatildeo como a
ldquosenhora das ervasrdquo aleacutem de trabalhar na agricultura com o marido ela tambeacutem ajuda na
fabricaccedilatildeo de produtos naturais na associaccedilatildeo dos agricultores quilombolas de Santa Luzia do
Paraacute bem como realiza trabalhos relacionados com a comunidade e sua famiacutelia
Devido aos saberes que possui sobre as plantas Domingas recebe grande ajuda de
diversas pessoas que tambeacutem tecircm interesse pela cura atraveacutes das plantas medicinais como eacute o
caso da senhora Maria de Nazareacute Reis uma engenheira agrocircnoma que trabalha no CEDENPA
assessorando os grupos de mulheres associaccedilotildees cooperativas de agricultores rurais e
familiares dentro da Rede Bragantina atraveacutes de cursos direcionados agrave nutriccedilatildeo alimentaccedilatildeo
saudaacutevel agricultura familiar e uso das plantas para cura de doenccedilas como forma de
incentivo aos pequenos trabalhadores rurais sobre a Produccedilatildeo Agroecoloacutegica53
Vale ressaltar que os saberes que a moradora Domingas possui estatildeo preservados em
sua memoacuteria e que esse trabalho procura basicamente conhecer registar e analisar as
palavras no contexto da linguagem especializada sobre as plantas medicinais que satildeo de uso
natildeo apenas da senhora Domingas mas tambeacutem dos moradores quilombolas de Pimenteiras
No que concerne agraves dificuldades enfrentadas no percurso da pesquisa inicialmente o
acesso agrave comunidade foi o que trouxe mais problemas principalmente nos periacuteodos de chuva
Em muitos momentos foi necessaacuterio modificar o percurso a ser seguido e redirecionar novos
53 A agroecologia eacute uma ciecircncia que dialoga com as diversas dimensotildees do conviacutevio humano como a ecologia a
socioeconocircmica a cultura e sociopoliacutetica eacute o conhecimento que vai aleacutem da produccedilatildeo que se insere num sistema de transformaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de uma agricultura socialmente mais justa economicamente viaacutevel e
ecologicamente apropriada
89
planos para que a pesquisa continuasse Eacute fato que esse trabalho natildeo envolve um amplo
levantamento acerca dos conhecimentos e saberes contidos nos moradores de Pimenteiras
contudo essa eacute uma amostra diante das inuacutemeras possibilidades do conhecimento popular a
ser registrado
No percurso da pesquisa diversos instrumentos foram utilizados para registrar cada
elemento relacionado agrave comunidade e aos informantes como gravador de voz maacutequina
fotograacutefica para o registro de imagens fichas com questionaacuterios a serem respondidos pelas
informantes aplicativos para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica das gravaccedilotildees como o Transana e os
termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da regiatildeo elemento esse de grande
importacircncia na pesquisa
Diante das exposiccedilotildees apresentadas ressaltamos que os dados catalogados sobre os
termos das plantas medicinais satildeo a base deste trabalho que busca analisar sob o olhar
socioterminoloacutegico cerca de quarenta e dois (42) termos registrados e preservados por uma
das moradoras da comunidade Na sequecircncia observaremos a maneira como foram tratados
os dados catalogados para essa pesquisa
43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS
Considerando que o meacutetodo desta pesquisa procede de forma qualitativa em que se
analisam os dados catalogados dos termos sobre as plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras sob os estudos da Socioterminologia passaremos a expor os principais
procedimentos que foram utilizados para que os dados da pesquisa fossem registrados e
analisados
431 Entrevistas
No andamento da pesquisa diversas entrevistas formais e informais ocorreram com
as informantes As conversas formais foram registradas seguindo um fichaacuterio contendo
diversas perguntas relacionadas agrave comunidade quilombola e agraves plantas medicinais As
90
entrevistas foram armazenadas atraveacutes da gravaccedilatildeo de voz que posteriormente foi transcrita
de forma Grafemaacutetica54
As perguntas foram especiacuteficas para cada informante de acordo com o campo de
trabalho por eleela desenvolvido Por exemplo com a senhora Domingas foram direcionadas
perguntas sobre a famiacutelia comunidade descendecircncia saberes sobre as plantas e crenccedila nas
mesmas Aleacutem dessa entrevista houve tambeacutem a gravaccedilatildeo com a senhora Domingas sobre
as definiccedilotildees que a moradora possui de cada termo sobre as plantas medicinais A transcriccedilatildeo
com tais definiccedilotildees foi armazenada nas fichas terminoloacutegicas utilizadas para melhor
visualizaccedilatildeo dos dados registrados Todas essas informaccedilotildees estatildeo anexadas neste trabalho
mostrando os pontos relevantes que delineiam o caraacuteter da pesquisa
432 Recursos de anaacutelise dos dados
A transcriccedilatildeo grafemaacutetica foi executada atraveacutes do software Transana versatildeo 21255
gratuita para download que foi desenvolvido para analisar dados audiovisuais Este recurso
foi escolhido para que pudeacutessemos dar o tratamento adequado aos dados orais das gravaccedilotildees
obtidas em entrevistas Em seguida utilizamos por base as normas de transcriccedilatildeo de Koch
(1997) as transcriccedilotildees grafemaacuteticas foram feitas no software Transana devido o programa
permitir a conexatildeo entre o texto transcrito em momentos especiacuteficos do viacutedeo com o aacuteudio da
entrevista
433 Termos Catalogados
Com relaccedilatildeo aos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal pelos
moradores da comunidade quilombola de Pimenteiras usamos o registro das imagens junto
com as fichas terminoloacutegicas com as definiccedilotildees de cada termo Procuramos nesse momento
respeitar a forma escrita de cada termo registrado pelos moradores As amostras das plantas
54 Os dados registrados na Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica estatildeo nos apecircndices deste trabalho 55 Pesquisado em 11 de agosto de 2015 as 2231 hs no site httpwwwtransanaorgdownloadwhatsnewhtm
91
foram dissecadas com o uso de jornais pelos moradores na eacutepoca em que trabalharam com o
Bioenergeacutetico Ateacute hoje esse material estaacute guardado pela moradora Domingas
Durante a pesquisa registramos as imagens das plantas vivas em seu habitat natural
para que pudeacutessemos perceber as caracteriacutesticas de cada uma e consequentemente observar a
relaccedilatildeo com o nome que possuem Ao registrarmos as imagens das plantas outras espeacutecies
foram identificadas pelos moradores como medicinal isto ampliou a quantidade de termos
catalogados e possivelmente outros mais permanecem ocultos na regiatildeo Todos os termos
catalogados estatildeo nos apecircndices com as definiccedilotildees junto de suas respectivas imagens
92
5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE UM POVO
Compreender as pessoas como seres introduzidos em redes de significados pensar
nos sujeitos da maneira como eles se identificam entendendo as particularidades de sua
cultura vivenciando-a acompanhando-os em muitos momentos procurando entender o que
eles fazem e como fazem esse processo foi importante para compreender as distinccedilotildees dos
elementos que compotildeem dentro e fora a comunidade quanto aos saberes sobre as plantas de
uso medicinal observando que tais saberes constituem a identidade cultural dos moradores no
que diz respeito agrave biodiversidade na comunidade de Pimenteiras
Utilizamos uma metodologia vinda da observaccedilatildeo das praacuteticas sociais das
entrevistas com os sujeitos da pesquisa da catalogaccedilatildeo dos dados sobre as plantas e da
transcriccedilatildeo das definiccedilotildees de cada termo que se tornou fundamental para a anaacutelise dos dados
catalogados na comunidade Buscamos natildeo apenas registrar fatos mas analisar a relaccedilatildeo que
os termos possuem dentro dos aspectos sociais apresentando assuntos relacionados agrave religiatildeo
cultura e de identidade proporcionando assim o reconhecimento de conhecimentos
tradicionais preciosos para o estudo cientiacutefico atraveacutes dos saberes de um povo suas lutas sua
natureza e linguagem
Conhecida e reconhecida por sua biodiversidade Pimenteiras eacute identificada pelos
saberes sobre as plantas medicinais Os moradores da comunidade satildeo descendentes de negros
escravos conhecidos como quilombolas e muitos adquiriram de seus antepassados
conhecimentos sobre o uso das plantas para a cura dos males do corpo Assim sendo
procuramos nesse contexto apresentar a anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos da
comunidade de Pimenteiras considerando os aspectos da variaccedilatildeo terminoloacutegica na
linguagem suas motivaccedilotildees no ato de nomear e as relaccedilotildees associativas que geram novas
nomeaccedilotildees e tambeacutem novas variaccedilotildees por conseguinte abordamos os termos sobre as
plantas medicinais com foco na sua estrutura morfossintaacutetica observando que na variaccedilatildeo o
termo pode ou natildeo ser alterado em seu radical formando novas composiccedilotildees sejam elas
simples compostas ou complexas na sequecircncia desses estudos dos termos chegamos agrave
anaacutelise da definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas que de forma
subjetiva procurou descrever cada planta nas suas particularidades
A necessidade sociocultural humana de estabelecer relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
promove a accedilatildeo de transformar o vocabulaacuterio da liacutengua constantemente para o surgimento de
novas palavras Mas de onde vecircm as palavras Compreendendo que as palavras satildeo criadas de
93
forma consciente para dar nome agraves coisas entendemos que com o passar do tempo as
palavras sofrem transformaccedilotildees que trazem tambeacutem a modificaccedilatildeo no sentido Assim a
linguagem eacute o campo no qual o homem exprime seus sentimentos e pensamentos em uma
comunicaccedilatildeo interpessoal ou grupal construindo uma sociedade capaz de desenvolver sua
cultura e saber que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
No que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais analisamos inicialmente
se o domiacutenio estudado pertence apenas ao campo da medicina caseira Segundo a Norma da
ISO 1087 (2000) o domiacutenio eacute decidido como parte do saber cujos limites satildeo definidos
conforme um ponto de vista particular Em seguida acolhemos a definiccedilatildeo descritiva da
moradora Domingas que buscou de acordo com seus saberes definir os termos sobre as
plantas catalogados na regiatildeo de Pimenteiras
Os dados analisados nesse trabalho satildeo constituiacutedos no total de quarenta e dois (42)
termos que foram catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras Diante da quantidade descrita utilizaremos alguns termos em diferentes aspectos
a serem considerados Os elementos presentes na ficha terminoloacutegica de cada termo seratildeo
analisados a partir da definiccedilatildeo descritiva no contexto que a senhora Domingas expocircs sobre
as plantas para isso utilizamos um modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich
(1996) usado pela Universidade de Brasiacutelia (UNB) contendo os elementos constitutivos dos
termos para uma melhor visualizaccedilatildeo dos lexemas e de seus elementos constituintes
analisando junto a isso a variaccedilatildeo de alguns termos que estatildeo relacionados de forma
associativa com certa caracteriacutestica da planta Isso se faz importante para melhor
compreendermos as nomeaccedilotildees e as significaccedilotildees descritas pela moradora nesse processo de
nomeaccedilatildeo relacionado ao conhecimento de mundo dos moradores da comunidade de
Pimenteiras
Com base nos estudos socioterminoloacutegicos explanados nesse trabalho dissertativo
analisamos as particularidades de cada termo demonstrando as definiccedilotildees descritas sobre as
caracteriacutesticas das plantas medicinais de Pimenteiras junto a isso apresentamos as imagens
das plantas registradas durante a pesquisa de campo na comunidade Para cada termo
apresentado utilizamos duas (02) imagens registradas em seu ambiente natural uma com a
imagem integral da planta e a segunda imagem com uma especialidade da planta No total
ocorreu o registro das folhas das plantas Isso se faz importante para tambeacutem verificarmos as
especificidades de cada planta no seu aspecto anatocircmico
Para tratar das questotildees da variaccedilatildeo existente sobre os termos das plantas medicinais
de Pimenteiras tomamos como contexto de anaacutelise somente os termos catalogados sobre as
94
plantas pesquisadas na comunidade por meio da moradora Domingas Com o objetivo de
examinar as variaccedilotildees destes termos foram necessaacuterios diversos encontros para cataloga-los
registrar as imagens das plantas e gravar as definiccedilotildees descritivas pela senhora Domingas
Assim os objetos desse estudo satildeo os termos sobre as plantas medicinais utilizados pelos
moradores da regiatildeo no seu contexto social
A quantidade de termos sobre as plantas medicinais existentes na comunidade eacute
enorme entretanto dado o nuacutemero de termos sobre as plantas medicinais e de suas variantes
na linguagem especializada metodologicamente trabalhamos com um total de quarenta e dois
(42) termos que foram coletados registrados em imagens e definidos em fichas
terminoloacutegicas Pesquisando a origem dessas variantes atribuiacutedas aos termos sobre as plantas
medicinais percebemos que o seu surgimento ocorre das mais variadas formas possiacuteveis O
principal modo de formaccedilatildeo das variantes eacute a partir da associaccedilatildeo relacionada com a forma
tamanho cor e funccedilatildeo das plantas medicinais As formaccedilotildees geradas por relaccedilotildees associativas
satildeo caracteriacutesticas que pertencem naturalmente agrave Terminologia
Assim vejamos uma sequecircncia das anaacutelises dos termos sobre as plantas medicinais
da comunidade de Pimenteiras observando suas imagens como tambeacutem seus elementos
constitutivos na ficha terminoloacutegica de cada termo descrito no contexto da moradora
Domingas Neste capiacutetulo apresentamos doze (12) termos de um total de quarenta e dois (42)
Os demais se encontram nos apecircndices deste trabalho Por meio da ficha terminoloacutegica criada
por Faulstich (1996) contendo a definiccedilatildeo descritiva da moradora Domingas observamos os
aspectos relacionados ao clima origem caracteriacutesticas da espeacutecie formas e utilidade
medicinal de cada planta catalogada Alguns termos apresentaram variantes e nesse acircmbito
compreendemos as relaccedilotildees associativas do nome com as caracteriacutesticas das plantas
Observemos na sequecircncia a anaacutelise dos termos catalogados na comunidade de
Pimenteiras
51 MUCURACAacute
Haacute muito tempo o ser humano cria e utiliza as palavras para expressar designar
conceitos objetos e processos de diferentes campos do conhecimento tudo isso eacute feito por
meio da linguagem A linguagem verbal eacute uma entidade social que possui aspectos materiais e
simboacutelicos que estatildeo ligados agrave consciecircncia e agrave subjetividade humana em que cada falante
95
compartilha seus saberes por meio da liacutengua A liacutengua tem uma estrutura imutaacutevel e apesar
disso estaacute em constante variaccedilatildeo eacute um instrumento que pode causar emancipaccedilatildeo e poder
um objeto do conhecimento em que inuacutemeros modelos teoacutericos surgiram com a pretensatildeo de
descrever e explicar sua essecircncia
Os moradores da comunidade de Pimenteiras demonstram em sua linguagem o
saber de uma cultura rica e distintiva Podemos perceber na anaacutelise dos termos as
particularidades que evidenciam tal grandeza Observemos na anaacutelise do termo ldquoMucuraraacuterdquo
por meio da ficha terminoloacutegica a descriccedilatildeo subjetiva que a moradora quilombola expocircs
sobre cada planta catalogada Vejamos
TERMO 01 ndash ldquoMUCURACAacuterdquo
Fotografia 14 ndash Mucuracaacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 15 ndashFolha do Mucuracaacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
96
Quadro 01 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute
Lx Lexema Mucuracaacute
V Variante Tipi
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Co Contexto eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que pra
espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode
plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal () primeiro tinha aquele
problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do
mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia doseacuteh e pra isso aquela enjoaccedilatildeo aquele
aborrecimento isso taacuteele eacute bem pequenhinho ele eacute uma planta tambeacutem neacuteele eacute
pequeno a folha ele eacute que nem a japana ele eacute do mesmo modelo da japana assim neacuteele eacute pequeno folhinha dele eacute bem escurinha bem escura assim verdinho escuro
afolhinha dele neacuteeacuteh da folha e do pau e da raiz ( )ele eacute grande ele no maacuteximo que
tem eacute trecircs palmo se ele tiver trecircs palmo neacuteele eacute conhecido por dois nomes mucuracaacute
e tipi tipe sim o maranhense praticamente o maranhense soacute conhece po tipi nois
paraense que conhece por mucuracaacute natildeo soacute o nome que mudanum sei tambeim natildeo
tambeim natildeo o cheiro dele tambeim eacute muito forte eacute o cheiro dele um ser cheiro assim
de alho querado e com muitas horas assim tem um alho que a gente quebra com
muitas horas deixa assim e vai cheirar pois assim que eacute o cheiro dele assim um cheiro
forte mucuracaacute mucuracaacutecom cheiro muito forte parece alho usadomuitu forti
Fc Fonte do
Contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas a casca do caule e a raiz
Fu Formas de uso
Usada na forma de chaacutes e para fazer banhos contra febre dor de cabeccedila mal olhado quebrante
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota O termo eacute conhecido como ldquoTipirdquo (falado no Estado do Maranhatildeo)
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Os dados apresentados na ficha terminoloacutegica sobre o termo ldquoMucuracaacuterdquo explanam
as caracteriacutesticas pertencentes agrave espeacutecie em seu contexto social Por ser uma planta de cheiro
forte e marcante eacute utilizada em banhos para as enfermidades do corpo e da alma Conhecida
tambeacutem pela variante ldquoTipirdquo suas utilidades medicinais vatildeo aleacutem dos benefiacutecios agrave sauacutede pois
eacute uma planta usada para afastar problemas espirituais como quebrante e questotildees negativas
contra a alma O fato de cultivar a planta proacutexima agrave casa tem o significado de proteccedilatildeo
espiritual aos moradores da comunidade de Pimenteiras Observemos no contexto apresentado
por Domingas
[] eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que
pra espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode
plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal ( ) primeiro tinha aquele
97
problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia [] (informaccedilatildeo verbal)56
Aleacutem da definiccedilatildeo descritiva do termo ldquoMucuracaacuterdquo utilizamos tambeacutem como
anaacutelise dos termos o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com as
informaccedilotildees especiacuteficas sobre os elementos presentes em cada termo Este formato da ficha
terminoloacutegica eacute importante para melhor visualizaccedilatildeo dos dados analisados pois observamos
cada informaccedilatildeo contida sobre os termos catalogados aleacutem da definiccedilatildeo descrita pela senhora
Domingas Os aspectos pertinentes na ficha satildeo o Lexema (Lx) as Variantes (V) a
Classificaccedilatildeo Gramatical (Cg) o Contexto (Co) a Fonte do Contexto (Fc) as Partes de Uso
(Pu) Formas de Uso (Fu) a Finalidade (Fn) os Dados do Informante (Di) os Dados do
Pesquisador (Dp) Notas (Nt) e a Data da Coleta (Dc)
Observamos que nos estudos atuais da liacutengua o leacutexico estende-se para aleacutem da
Terminologia e chega aos estudos da Sociolinguiacutestica57
e da Etnolinguiacutestica58
pois a liacutengua
de modo geral reflete marcas sociais e culturais dos falantes Assim observemos na
sequecircncia os demais termos e suas anaacutelises identificando as caracteriacutesticas de um povo e de
sua liacutengua
52 ERVA DE JABUTI
Nos estudos do termo sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras o aspecto socioterminoloacutegico eacute muito importante pois o termo pode apresentar
variaccedilotildees por vezes dentro de uma mesma aacuterea de especialidade Esse conceito traz um olhar
novo com perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural a respeito dos termos analisados sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras mostrando as influecircncias da cultura negra na
linguagem No que compete ao aspecto da linguagem Travaglia (2002 p 23) expotildee que ldquoa
linguagem eacute pois um lugar de interaccedilatildeo humana de interaccedilatildeo comunicativa pela produccedilatildeo de
efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e em um
56Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoMucuracaacuterdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015 57Sociolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda as relaccedilotildees entre liacutengua e sociedade e daacute ecircnfase ao caraacuteter
institucional das liacutenguas Eacute o estudo do comportamento linguiacutestico dos membros de uma comunidade e de como
ele eacute determinado pelas relaccedilotildees sociais culturais e econocircmicas existentes
58Etnolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda a relaccedilatildeo da linguagem e a cultura das comunidades A etnologia eacute o estudo antropoloacutegico dos povos e sua cultura analisando sua linguagem e como ela estaacute
relacionada agraves peculiaridades da vida primitiva suas crenccedilas e folclores
98
contexto soacutecio-histoacuterico e ideoloacutegicordquo Observemos as variaccedilotildees ocorrentes com o termo
ldquoErva de Jabutirdquo
TERMO 02 ndash ldquoERVA DE JABUTIrdquo
Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti
Lx Lexema Erva de Jabuti
V Variantes Coraccedilatildeo de Jabuti Coraccedilatildeozinho Comida de Jabuti
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto ela eacute uma planta di todu cantu tantu ambienti abertu ou fechadu ela daacute ela ela eacute
uma planta assim pequenauma erva ( ) ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela
eacute um formatu dum coraccedilatildeu coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu
grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha
neacute ela num eacute dessas avres assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua
dela a folhinha dela tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa
cheia di aacutegua eacute uma folha assim ( ) ela num ela num eacute aquela folha seca assim durinha
fina ela eacute uma folhinha assim bem gordinha cheinha neacute tantu faz a folha comu us
galhinhus dela ela bota uma uma bajizinha uma bajizinha forma dum duma baji di
pimenta du reinu soacute qui eacute bem piquininha eacute naquela forma da baji di pimenta du reinu
sabi neacute cumeacute aquela baginha assim soacute que eacute bem piquininha ( ) bem zititinha porque ela ela eacute uma planta pequena ela tem aqueli formatu da pimenta mais ela eacute miudinha eacute
teacute que ela eacute uma planta nativa tambeacutem ela num eacute assim uma planta cuidada ela eacute
nativa e assim nos quin no quintau ela gosta muitu de nascer im quintal eacuteh sozinha
eacute num precisa cultivar ela eacute ela eacute du quintau ela eacute assim du canteru ela nasce nu
canteru assim ela nascifriu ambiente frio daacute mais com certeza( )
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e os talos da planta
Fu Formas de Usada na forma de chaacutes para Ameba
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti
99
uso
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Os nomes tecircm relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas das plantas nos aspectos da funccedilatildeo e do
formato
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Com o termo ldquoErva de Jabutirdquo observamos que a planta apresenta mais de uma
variaccedilatildeo para a mesma palavra Algumas estatildeo relacionadas com a forma e tamanho daiacute suas
variantes serem conhecidas como ldquoCoraccedilatildeo de Jabutirdquo ou ldquoCoraccedilatildeozinhordquo o termo variante
tambeacutem possui relaccedilatildeo com a funccedilatildeo de servir de alimento para o animal por isso recebe a
terminologia de ldquoComida de Jabutirdquo Podemos perceber como a linguagem especializada
utilizada pelos moradores quilombolas de Pimenteiras apresenta variantes formadas pela
relaccedilatildeo associativa com as caracteriacutesticas descritas sobre as plantas medicinais da regiatildeo
Vejamos no contexto abaixo
[] ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela eacute um formatu dum coraccedilatildeu
coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha neacute ela num eacute dessas avres
assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua dela a folhinha dela
tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa cheia di aacutegua eacute uma
folha assim [](informaccedilatildeo verbal)59
Os termos e suas variantes estatildeo relacionados com a aacuterea de saber dos moradores
quilombolas sobre as plantas medicinais Nesse contexto os saberes de um povo se
manifestam e satildeo preservados na linguagem especializada e por conseguinte marcam os
conhecimentos tradicionais dos moradores de Pimenteiras Nas relaccedilotildees sociais da
comunidade as pessoas vivenciam de forma individual e coletiva sua linguagem Assim
vejamos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo considerado um conhecimento novo para os
moradores de Pimenteiras
59Transcriccedilatildeo Grafematica do termo ldquoErva de Jabutirdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015
100
53 NONI
Para a Terminologia o termo eacute a denominaccedilatildeo de um conceito que tem no
conhecimento especializado uma expressatildeo comunicativa cognitiva e complexa pois natildeo haacute
conhecimento especializado sem uma terminologia Assim Benveniste (1989 p 252) expotildee
que ldquoUma ciecircncia soacute comeccedila a existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e
em que impotildee seus conceitos atraveacutes de sua denominaccedilatildeo Ela natildeo tem outro meio de
estabelecer sua legitimidade senatildeo por especificar seu objeto denominando-o []rdquo Notemos
assim a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo e suas caracteriacutesticas na ficha terminoloacutegica
TERMO 03 ndash ldquoNONIrdquo
Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni
Lx Lexema Noni
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Co Contexto eacutehnoni eacute famoso ele ele cura ocacircncer neacuteentau ele previne ele nem cura como
prenine o cacircncer neacuteeacuteh o suco eacute na garrafada eu praticamente uso na garrafada
toda as minhas guarrafadas eu colo eacute mais natildeo garrafada ele natildeo fica fedorento natildeo
porque na garrafada a gente ponha ele verde e rodela a rodelinha e coloca pra secar e na hora da garrafada a gente tritura ele bem bem miudinho e bota na garrafada
ele natildeo fica natildeo tem gosto de nada agora o suco dele ele ele maduro have maria eacute
muito ruiacute neacute((sorriu)) eacuteh mas ele eacute assim mas na garrafada a gente pode usar ele
ninguei nem percebe se tem ele eacute muito assim ele eacute muito eacute um remeacutedio que ele eacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 19 ndash Folha do Noni Fotografia 18 ndash Noni
101
muito bom e ele ele assim nem tanto cura como previne as doenccedila como eacute bom pra
inflamaccedilatildeo pra infecccedilatildeo eacute muito rui neacuteaiacute a inflamaccedilatildeo ela vira infecccedilatildeo e aiacute eacute muito
bom pra usar ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que
eu conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais
trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute ela eacute uma planta e o fruto dele a
folha dele eacute bem grande bem grande a folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma
lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os frutos dele neacute((sorriu)) pois eacute ((sorriu))
pois eacute eacute soacute usa o fruto e pra isso e um da nunca ouviu falar eacute soacute e o fruto mesmo ela
ela conhece eacuteh que neacutea gente usa neacutea gente usa direito ela ajunta pra mim por
que peacute no meu quintau natildeo tem tambeacutem natildeo natildeo tem natildeo ela sempre a gente leva
daiacute
Fc Fonte
docontexto
A informante
Pu Partes de
uso
Eacute utilizado o fruto e as folhas em sucos e na garrafada
Fu Formas de
uso
Corta as rodelas da fruta colocando para secar e depois triturar para usar na
garrafada serve para curar e prevenir o cacircncer inflamaccedilotildees e infecccedilotildees
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Considerada uma planta nova foi inserida haacute pouco tempo no contexto da comunidade
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoNonirdquo eacute um substantivo masculino que tem como definiccedilatildeo ser uma planta
de fruto e folhas grandes O fruto eacute descrito pela moradora de Pimenteiras com a aparecircncia de
uma ldquolagartardquo Segundo Domingas ldquoo fruto dele a folha dele eacute bem grande bem grande a
folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os
frutos dele neacute ((sorriu))rdquo (informaccedilatildeo verbal)60
A planta eacute novidade para a moradora de Pimenteiras seu saber veio atraveacutes de
cursos por meio da associaccedilatildeo quilombola da comunidade sobre o poder das plantas O Noni
eacute utilizado na garrafada como anti-inflamatoacuterio e tambeacutem como aliado contra o cacircncer Nesse
contexto o conhecimento sobre a planta foi absorvido pelos moradores da regiatildeo e integrado
como parte dos saberes sobre as plantas medicinais Observemos abaixo
[] ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute
novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que eu
conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais
trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute [] (informaccedilatildeo verbal)61
60 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015 61Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
102
O que motiva o surgimento de um termo eacute a necessidade de nomear as novas
descobertas tecnoloacutegicas e cientiacuteficas direcionadas sempre a uma aacuterea especiacutefica do
conhecimento Segundo os estudos de Araujo (2006) o termo tem uma ldquodimensatildeo linguiacutestica
comunicativa e cognitiva e uma estrutura complexardquo O termo adquire uma feiccedilatildeo
terminoloacutegica porque integra um saber especializado ao lado de contextos no campo das
ciecircncias e das teacutecnicas ele tambeacutem possui uma dimensatildeo linguiacutestica por configurar um
comportamento lexical especializado e ainda uma dimensatildeo cognitiva por manifestar seu
conhecimento especializado
Por assim observar o termo eacute parte do componente linguiacutestico como tambeacutem eacute uma
unidade terminoloacutegica e ainda eacute um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saberVejamos
assim o componente linguiacutestico do termo ldquoPatacardquo
54 PATACA
A liacutengua eacute uma estrutura que estaacute sempre em transformaccedilatildeo desse modo a variaccedilatildeo
eacute um elemento muito importante para entendermos a existecircncia de diferenccedilas no modo como
uma liacutengua eacute usada em uma comunidade Assim como o ldquoNonirdquo o termo ldquoPatacardquo eacute um saber
novo para a comunidade de Pimenteiras adquirido por meio das relaccedilotildees sociais Observemos
abaixo sua anaacutelise
TERMO 04 ndash ldquoPATACArdquo
Fotografia 20 ndash Pataca
Fotografia 21 ndash Folha da Pataca
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
103
Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca
Lx Lexema Pataca
Cg Classe Gramatical
Substantivo feminino
Co Contexto eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacuteela me parece que
ela veio da iacutendia parasse neacuteela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de beacuteleacutem
que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta
sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu tenho um
pezinho laacute em casa ela eu natildeo que tamanho que o peacute taacute desse tamanho eu natildeo sei se daacute
grande natildeo eu daacute nunca viacute ela natildeo eacute nem daqui neacutemas ela eacute boa pra remautismo se
buta na de aacutelcool pra passar no lugar que taacute afetado do remautismo foi essa senhora
issi isso isso teacute agora eu eu ainda natildeo procurei pra ela cumo eacute que se usa porque ela
me deu tipo assim uma raiz tipo uma coisa assim nera num sei que era aquilo que ela
me deu ainda falta eu conversar com ela que pra mim procuraraacute cumeacute que se usa se eacute
a folha num era o que eacute eu pensei de ser ou o fruto ou a raiz dela natildeo natildeo natildeo tem natildeo natildeo veio mesmo que pra mim ela eacute recente neacuteeacute soacute folha soacute folha mas ela eacute muito
remeacutedio ela ela veio de longe essa essa pataca noacutes tiremos foto porque ela no meu
quintau neacuteela eacute remeacutedio agente tirou isso isso eacute verdade eacute depois me diz hum hum
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Natildeo sabe ao certo o que utilizar se eacute a folha caule ou fruto
Fu Formas de
uso
Tem a noccedilatildeo de usar com o aacutelcool na regiatildeo que estaacute com reumatismo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A informante recebeu a planta de outra pessoa natildeo sabe como usar poreacutem sabe que
serve contra o reumatismo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Sem saber o valor medicinal da Pataca a moradora traz para o ambiente da
comunidade um novo conhecimento adquirido pelo contato com outras pessoas sobre o uso da
planta que eacute conhecida pela sua importacircncia contra o reumatismo
O termo ldquoPatacardquo eacute considerado um substantivo feminino com uma estrutura
simples devido agrave presenccedila de um uacutenico radical No que concerne ao gecircnero na definiccedilatildeo a
moradora conduz sua fala no feminino referindo-se ao termo como a planta que foi inserida
haacute pouco tempo no contexto da comunidade segundo a senhora Domingas
[] eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacute ela me parece
que ela veio da iacutendia parasse neacute ela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de
beacuteleacutem que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu
tenho um pezinho laacute em casa [] (informaccedilatildeo verbal)62
62Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPatacardquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
104
Somos seres humanos formados pela interaccedilatildeo pelo contato que temos com as
pessoas com o ambiente com a cultura enfim eacute atraveacutes da accedilatildeo de produccedilatildeo da linguagem
que somos constituiacutedos como indiviacuteduos sociais Ao analisarmos os termos das plantas
medicinais catalogadas na comunidade de Pimenteira pretendemos ver como essas unidades
se constituem e que fatores extralinguiacutesticos sociais e culturais interferem e determinam essa
terminologia Barbosa (2001) expotildee que ldquoesse tipo de linguagem usa vocabulaacuterios teacutecnico-
cientiacuteficos e especializados mostrando que eles estatildeo no niacutevel de uma forma natildeo apenas
linguiacutestica mas tambeacutem socioculturalrdquo Assim completa expondo que
Considerando o conjunto de obras lexicograacuteficas e terminoloacutegico-terminograacuteficas
produzidas em eacutepocas mais recentes diriacuteamos que natildeo se tem muita clareza quanto
agraves fronteiras conceptuais denominativas definicionais dos tipos desses textos natildeo
obstante o estaacutegio avanccedilado em que se encontram neste fim de seacuteculo as pesquisas
das ciecircncias da palavra nessas aacutereas natildeo obstante igualmente a existecircncia de
numerosos organismos e obras de normalizaccedilatildeo terminoloacutegica em diferentes paiacuteses
que natildeo conseguiram assegurar para certos conceitos uma terminologia de
Terminologia uniforme e consensual (BARBOSA 2001 p 26)
Analisamos na sequecircncia o termo ldquoPau-de-muquemrdquo que eacute tambeacutem conhecido pelas
variantes ldquoAssa-peixerdquo ou ldquoMata pastordquo
55 PAU-DE-MUQUEM
Diferente da palavra o termo possui sempre relaccedilatildeo com o significado dentro de um
contexto de domiacutenio ou seja estaacute sempre contextualizado em um determinado campo de
conhecimento Nesse contexto seu conteuacutedo especiacutefico encontra-se em uma situaccedilatildeo de uso
particular Krieger (2001 p 69) nos afirma que ldquoo reconhecimento sem duacutevida incontestaacutevel
do componente conceitual na constituiccedilatildeo do fenocircmeno terminoloacutegico responde fortemente
pelas interpretaccedilotildees de que um termo eacute uma unidade de conhecimentordquo
Uma unidade de conhecimento que estaacute em contiacutenuo relacionamento com seu
significado e que segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos (CABREacute 1993) Assim
caracterizamos o termo Contudo que criteacuterios podemos seguir para a seleccedilatildeo dessas unidades
de especialidades Antes de observar se os termos sobre as plantas medicinais pertencem ou
natildeo ao domiacutenio da especialidade percebemos que a definiccedilatildeo de um termo sempre seraacute o
ponto de partida pois os contextos de uso nos estudos teoacutericos da terminologia tornam-se
105
vaacutelidos para descrever e recolher os termos dentro do campo de ocorrecircncia do saber
especializado Observemos entatildeo como ocorre as variaccedilotildees no termo ldquoPau-de-muquemrdquo
TERMO 05 ndash ldquoPAU-DE-MUQUEM
Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-De-Muquem
Lx Lexema Pau-de-muquem
V Variante Assa-peixe ou Mata pasto
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto eacute o mesmo accedilapeixe sim eacute a mesma coisa eacute uma arve eacute uma arve nativa tambeacutem ela
do tempo ela eacute diz que ela eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacutefazer o
lambedor dela o xarope o lambedor eacute a mesma coisa do charope neacuteda folha buta ela pra ferver ferver inteacuter quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua
quando ele reduzir pra meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel
dipreferente o mel pra essas coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar
toamando que eacute pra tosse a irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o
lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo
neacutequando tivesse bem sequinha esfarelava na comida e comia eacute ela disse queeu
num sei tambeacutem isso daiacute ((sorriu)) ela eacute assim ela eacute grande assim ela eacute grande assim
a ponta dela eacute mais larga soacute () diferente da a potinha dela eacute bem larguinha a ponta
dela pra ponta ela eacute mais larga e pro pezinho da folha eacute mais estretinha quase que eacute
pois eacute assim tambeacutem numa moita num nasce soacute uma ave nasce varas varas ela eacute boa
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem
106
de filhar assim a volta dela brolha muita aiacute tambeacutem tem uns que chamam mata pasto
neacute mata pasto tem gente que manca ela gosta de nascer meio do capinzal aiacute ela gosta () eacute tem gente que cha pasta pasto sem mas eacute conhecido mesmo bem por accedila peixe e
pau de muqueacutem nos conhecemos por esse nome lambedor isso eacute pra tosse natildeo natildeo ela
tambeacutem chama de mata pastu porque nasce assim no meio do capim
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas
Fu Formas de
uso
Para tosse fazer o lambedor (ferver as folhas na agua ateacute apurar depois acrescenta o
mel) Para renite (fritar as folhas em oacuteleo triturar e colocar na comida)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Eacute conhecido tambeacutem como assa-peixe ou mata pasto
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando o termo ldquoPau-de-muquemrdquo entendemos que as variantes ldquoAssa-peixerdquo e
ldquoMata pastordquo tambeacutem deveriam ser analisadas no aspecto gramatical com isso observamos
que os termos e suas variantes satildeo sintagmas terminoloacutegicos masculinos Eacute interessante notar
que as variantes apresentam a mesma composiccedilatildeo em sua formaccedilatildeo podendo ser utilizadas no
mesmo contexto Nesse aspecto Faulstich (1999) explica que haacute formalizaccedilatildeo da sinoniacutemia
terminoloacutegica em que as variantes satildeo coocorrentes ou seja ldquorelaciona o sentido de dois ou
mais termos com significados idecircnticos e podem coocorrer em um mesmo contexto sem que
haja alteraccedilatildeo no plano do conteuacutedordquo
No que concerne agrave definiccedilatildeo descrita sobre o termo e suas variaccedilotildees a planta eacute usada
para tosses e renites sendo que para cada situaccedilatildeo o modo de processar eacute particular
Observamos que as distintas formas de nomear a planta medicinal coincidem no preparo para
as diferentes enfermidades a serem tratadas assim expotildee a senhora Domingas
[] eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacute fazer o lambedor dela o xarope o
lambedor eacute a mesma coisa do charope neacute da folha buta ela pra ferver ferver inteacuter
quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua quando ele reduzir pra
meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel dipreferente o mel pra essas
coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar toamando que eacute pra tosse a
irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo neacute quando tivesse bem sequinha
esfarelava na comida e comia eacute ela disse que eu num sei tambeacutem isso daiacute
((sorriu))[] (informaccedilatildeo verbal)63
63Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPau-de-muquemrdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
107
Considerar o termo dentro do ambiente social que as pessoas utilizam a linguagem
esta eacute a base da Socioterminologia que analisa a variaccedilatildeo social do termo antes tido como
invariaacutevel Com isso procuramos examinar como a variaccedilatildeo ocorre dentro das mudanccedilas na
sociedade lugar em que o termo eacute gerado eacute usado eacute modificado Ao falar sobre
Socioterminologia Faulstich (2006 p 27) expotildee que
Para falar de socioterminologia eacute preciso antes de tudo situar a terminologia no
espaccedilo da interaccedilatildeo social No Brasil por exemplo a histoacuteria da terminologia se confunde com a formaccedilatildeo da sociedade brasileira por meio da mistura de falares dos
habitantes naturais da terra e dos que para caacute vieram Vejam-se nos dicionaacuterios
termos da fauna e da flora como indicadores da terminologia indiacutegena no portuguecircs
brasileiro () Assim sendo natildeo eacute novidade dizer que a diversidade da cultura
brasileira aparece refletida na terminologia cotidiana
Um dos maiores aspectos da Socioterminologia exposto por Faulstich (2006) eacute ldquoter
na base da pesquisa a variaccedilatildeo linguiacutestica dos termos no meio social e por consequecircncia
entender a mudanccedila terminoloacutegica como mecanismo resultante da pragmaacutetica discursivardquo
Assim no que diz respeito agraves mudanccedilas no termo a pesquisadora explica que a ldquovariaccedilatildeo
deve levar em consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de comunicaccedilatildeo de uma determinada aacuterea
que dependem das circunstacircncias de emissatildeo dos interlocutores do meio pelo qual se daacute a
comunicaccedilatildeo entre outrosrdquo (FAUSLTICH 2006 apud BLANCO 2010 p 4)
Vejamos na sequecircncia como ocorre a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo
56 VASSOURA DE BOTAtildeO
Nos estudos da linguagem humana os usos de palavras especiacuteficas para situaccedilotildees em
especial vecircm sendo ampliados de acordo com as mudanccedilas de uso da liacutengua tais palavras
recebem as seguintes nomenclaturas leacutexico especializado termo teacutecnico-cientiacutefico termo
unidade lexical terminoloacutegica unidade lexical especializada unidade lexical temaacutetica
unidade de conhecimento unidade de compreensatildeo unidade de significaccedilatildeo especializada ou
vocabulaacuterio (ARAUacuteJO 2006)
Ao utilizarmos os termos com sentido aproximado do objeto nomeado fazemos uma
associaccedilatildeo com certa caracteriacutestica correspondente ao nome dado Nesse contexto ldquoa relaccedilatildeo
associativa eacute uma relaccedilatildeo entre dois conceitos que natildeo pertencem agrave mesma estrutura hieraacuterquica
ainda que sejam proacuteximos do ponto de vista semacircntico ou contextualrdquo (TESAURO 2006 p 11)
108
Nesse acircmbito vejamos a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo cujo nome segundo a
descriccedilatildeo de Domingas possui relaccedilatildeo com a planta nomeada
TERMO 06 ndash ldquoVASSOURA DE BOTAtildeOrdquo
Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo
Lx Lexema Vassoura de botatildeo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto ela eacute boa pra quela eacute verme gearde neacutegearde que eacute do estamagu que eacute de
ameba eacute pra ela que ela eacute bom eacute a gente faz a gente faz tambeacutem tintura piacuteula dela de
vassoura de botatildeoeacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que ela
assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim ao
redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela
agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota outra
aqui ateacute trecircs quatro assim isso hurum isso sim sim eacute isso isso eacute chamo vassoura de
butatildeo eacute a folha com tudo aquilo tudo tudo isso eacute pequeninha eacute isso hurum e tambeacutem eacute
e uma fez noacutes fizemos eacute pumada disseram quera era boa pra ela ela diz antiplamatoacuterio
a gente fez a pumada neacutecatamos tudinho a folhinha butamos pra fritar nu na gordura vegetal e depois transformamos na pomada mas isso aiacute ningueacutem tem dizer
assim ele foi bom porque ningueacutem usou a gente um pouco soacute pra demonstraccedilatildeo isso
foi pela pastoral da crianccedila neacuteaquela pretinha que foi ensinar noacutes a gente fez vaacuterias
mas a gente fez soacute um pouquinho num
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e o botatildeo da flor
Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo Fotografia 25 ndash Folha da Vassoura de botatildeo
Fonte Dado registrado durante a pesquisa Fonte Dado registrado durante a pesquisa
109
Fu Formas de
uso
Usada para vermes amebas no estocircmago atraveacutes de tintura piacutelulas anti-inflamatoacuterio
(ferver as folhas e o botatildeo em gordura vegetal para transformar em pomada)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem aspecto de uma pequena vassoura invertida
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoVassoura de Botatildeordquo eacute um sintagma terminoloacutegico feminino formado pela
composiccedilatildeo de palavras Em sua estrutura o termo apresenta uma complexidade formada pela
presenccedila de dois radicais no acircmbito da definiccedilatildeo do termo verificamos que haacute uma relaccedilatildeo
associativa do nome da planta com a aparecircncia que ela possui como expotildee Domingas
[] vassoura de botatildeo eacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que
ela assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim
ao redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela
agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota
outra aqui ateacute trecircs quatro [] (informaccedilatildeo verbal)64
Com o formato de uma vassoura invertida o termo ldquoVassoura de Botatildeordquo estaacute
relacionado com o aspecto que o objeto nomeado possui Nesse campo de estudo Faulstich
(1999) explica que nas relaccedilotildees associativas haacute uma sequecircncia que estaacute conectada com a
experiecircncia contiacutenua entre o tempo e espaccedilo Assim a ldquounidade terminoloacutegica pode ter ou
pode assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha
nos contextos de ocorrecircnciardquo (FAULSTICH apud CRUZ 2014 sem paginaccedilatildeo)
Vejamos assim algumas plantas que apresentam relaccedilotildees associativas nos seus
nomes quanto agrave forma tamanho cor e funccedilatildeo medicinal como eacute o caso do termo ldquoNambu
Tutanordquo
57 NAMBU TUTANO
Na Liacutengua podemos utilizar as palavras em diferentes relaccedilotildees de sentidos nos mais
diversos contextos Nesse processo denominado polissecircmico encontramos termos que
64
Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
110
possuem formaccedilotildees utilizadas no acircmbito geral de uso da liacutengua assim como termos
especiacuteficos no uso especializado da linguagem
Nesse aspecto verificamos que a comunidade de Pimenteiras apresenta variaccedilotildees
para um mesmo termo sobre as plantas medicinais ocorridas pela relaccedilatildeo associativa com as
caracteriacutesticas pertencentes a cada espeacutecie nomeada Verifiquemos a anaacutelise do termo abaixo
TERMO 07 ndash ldquoNAMBU TUTANOrdquo
Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano
Lx Lexema Nambu Tutano
Va Variante Batata Roxa
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto eacute uma planta eli eacute eli eacute piquininhu eli daacute assim eim forma di cebola di planta
assim qui eli eacute soacute que eli a folha eli natildeu teim caulei natildeu daqui qui eli nasci eli jaacute
nasci as folhas natildeu eli num teim qui a batata a cebola di planta neacute qui eacute assim ela jaacute
vai nascendu a folha duma folha eacute qui neim a cebola duma folha jaacute bota outra folha
dotra folha jaacute vai botandu qui neacute batatinha em baixu eacute natildeu natildeu teim cauli natildeu eacute soacute
folha i batataa folha eacute a folha teim a folha di accedilaizeiru neacute qui eacute assim ai teim as
folinhas qui agarra nu talu du accedilaizeiru eacute daqueli formatu da folha du accedilaizeiru natildeu
natildeu eacute beim compridona eacute assim a folha deli mais ou menus dum palmu qui eacute assim a folinha deli natildeu natildeo sei por que ela eacute abertinha teim a folha di cebola porque a
folha cebola eacute toda eacute inteira comu digu logu eacute rolicinha e ela num ela eacute ela eacute eacute ela eacute
folinha ela eacute folha assim ela eacute abertinha folha aberta folha assim folha aberta folha
qui tem a accedilaizera qui teim a folha dela qui eacute assim agora a dela eacute qui neim aquela
folha di accedilaizeiru assim qui ( )nasci daqueli talu assim pois eacute a folha dela babosa
num teim a babosa qui eacute uma folha aberta neacute eacute folha mais eacute aberta neacute assim qui eacute du
batatatildeu ela num eacute aquela folha inteira folha roliccedila assim ela eacute uma folha aberta natildeo
eacute seca qui nem di accedilaizeru mermu eacute seca mermu eacute usa soacute a batata natildeo
Fotografia 26 ndash Nambu Tutano Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
111
piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute roxinha tambeacuteim batata roxa
porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu
jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute qui neim a cebola capa sobri capa a
capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu
vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu mas ela eacute assim de capinha nambu tutanu
isso daacutei eu conhe caacute a minha voacute i minha matildei tambeacuteim nambu tutanu qui quandu eu mi
criei ela jaacute tinha neacute ( ) issu aqui eacute nambu tutanu porque as veiz quandu aparecia
aquela pessoa doenti crianccedila doenti neacute vai ver nambu tutanu vai arrancar aqueli
pesinhu ali vocirc fazer remeacutediu ai a genti ia arrancar i por issu qui deru u nomi ai eu
achu qui veim dus avocircs delis dus tataravoacute sabi laacute neacute aprendemus com elis eacute eacute mesmu
nomi cebolinha eacute batata roxa nambu tutanu mesmu nomi
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
A raiz em formato de batata
Fu Formas de uso
Chaacutes para diversas doenccedilas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A variante Batata Roxa vem do formato da raiz que parece uma batata em camadas
como cebola na cor roxa
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando o termo ldquoNambu Tutanordquo observamos que possui a variante ldquoBatata
Roxardquo Na anaacutelise por meio da ficha terminoloacutegica na definiccedilatildeo descritiva de cada planta
medicinal verificou-se que os termos e suas variantes tecircm particularidades importantes para
este estudo Desta forma no termo ldquoNambu tutanordquo notou-se que sua variante ldquobatata roxardquo
possui relaccedilatildeo associativa com a forma ou seja a planta apresenta formato de uma batata de
cor roxa por isso a presumiacutevel relaccedilatildeo com a variante do termo Observemos abaixo
[] eacute usa soacute a batata natildeo piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute
roxinha tambeacuteim batata roxa porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a
batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti
comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute
qui neim a cebola capa sobri capa a capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu
mas ela eacute assim de capinha[] (informaccedilatildeo verbal)65
Sabemos que na configuraccedilatildeo atual a Terminologia vai muito aleacutem da elaboraccedilatildeo
de dicionaacuterios na aacuterea Muitos autores consideram o conhecimento nas liacutenguas especializadas
como um rico campo de conhecimento Faulstich (1995) explica que o saber eacute construiacutedo de
forma individual e coletiva num processo no qual o sujeito interage com a realidade as
65Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNambu Tutanordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
112
pessoas e o ambiente sociocultural Isso nos revela que a Socioterminologia jaacute era prenuacutencio
para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de natureza social ou
seja ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo no universo da terminologia revelam peculiaridades
proacuteprias a serem estudadas pela disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para
a sistematizaccedilatildeo de termos e de variantesrdquo (FAULSTICH 1995 p 281)
Na sequecircncia analisemos o termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo
58 QUEBRA PEDRA ROXO
Em seus estudos Faulstich (1995) aborda aspectos relevantes dentre os quais
destaca a diferenccedila entre lexema e termo Para a pesquisadora o lexema eacute ldquouma unidade
lexical do domiacutenio do leacutexico geral da liacutengua um termo eacute tambeacutem uma unidade lexical mas
tiacutepico de variado domiacutenio de vocabulaacuterio cientiacutefico e teacutecnicordquo (FAULSTICH 1995 sem
paginaccedilatildeo) Por ser o lexema uma unidade da liacutengua comum Faulstich explica que ele eacute
portador de conotaccedilotildees psicoloacutegicas e sociais que lhe proporcionam a multiplicaccedilatildeo de
significados e a presenccedila da polissemia que por correspondecircncia daacute lugar agrave sinoniacutemia
Diante do contexto funcional a autora destaca que o ldquolexema delineia seu caraacuteter semacircntico e
lexicograacutefico a partir da estrutura paradigmaacutetica porque satildeo as oposiccedilotildees distintivas que
delimitam a configuraccedilatildeo semacircntica e marcam o valor do lexemardquo (FAULSTICH 1994 p
314)
Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo que o sentido estaacute
relacionado ao nome Durante as pesquisas realizadas natildeo encontramos a espeacutecie na cor roxa
para o registro de imagens mas a informante apresentou sua definiccedilatildeo descritiva de forma
subjetiva para que pudeacutessemos verificar as especificidades do termo na ficha terminoloacutegica
Assim observemos
Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo
Lx Lexema Quebra Pedra Roxo
Va Variante Comer de Rola
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto comecirc di rola essi du roxu eacute porque to dizendu eacute eli eacute soacute um formatu du mermu jeitu
qui eacute u brancu eacute soacute muda a cor eli eacute roxinhu por que teim u brancu i teim roxu essi comecirc di rola noacutes conhecemu assim comecirc di rola roxu u quebra pedra eacute quebra pedra
brancu mas eli eacute soacute um formatu u formatu qui eacute u quebra pedra brancu eacute u roxu
beim piquinininha du tamaninhu eacute du mesmu jeitu mesmu jeitinhu aiacute porque qui
113
eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu du otru neacute soacute qui
adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela trevoada di rolinha qui
levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas bichinhas gosta di taacute aqui
porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u
matu eacute du mermu jeitu du brancu eli daacute por certus tempu quandu chega nu veratildeu eli
eli morri soacute qui eacute assim quandu eli nasci muitu qui nu meu roccediladu jaacute nasceu muitu
assim chega qui eu ficava tomandu di conta assim la quasi num nascia neim um otru
matu era soacute por conta deli mermu laacute porque eacute beim encostadinhu dotru neacute assim um
tipu um canteru laacute quasi num nasci otru matu eu sei qui as bichinha gostavu di taacute laacute si
alimentandu da sementinha da folhinha delis minha voacute nois conhecemus com ela
comecirc di rola assim noacutes comu crianccedila vovoacute u qui eacute issu comeacute u nomi dissu ela era uma
velhinha muita pacienti isso ai eacute comecirc di rola( ) porque assim a rolinha quandu chega
aqui as bichinha num si levantu assim ai comecirc di rola pra qui servi vovoacute issu aqui eacute remeacutediu eacute eacute sim eacute remeacutediu( ) prus rins tambeacuteim neacute qui antis a genti fazia dessi assim
quebra pedra fazia mas noacutes conhecemu mais por comecirc di rola a depois qui era quebra
pedra a eacute remeacutediu pa pa quem teim pedras nu rins podi fazer u chaacute dela i tomar agora
eu jaacute usu comu( ) eu jaacute usu na garrafada jaacute bota na garrafada u brancu porque
nois jaacute tivemu uma uma oficina um treinamentu qui uma mulher vei di macapaacute e diz
qui u u bom mermu eacute u brancu qui eacute u quebra pedra di verdadi assim pru pru pedra nu
rim neacute porque eli jaacute porque nois dizia assim( ) teca porque u nomi dela era teca teca
noacutes dizia qui era u roxu ela dissi natildeu u roxu natildeu teim muita serventia eli servi mas u
brancu porque eacute u quebra pedra di verdadi eacute u brancu porque u nomi deli eacute quebra
pedra mermu eacute essi qui eacute bom aiacute eu dissi olha noacutes usa na garrafada ela dissi podi
usari natildeu teim poblema nenhuma comi tambeacuteim mais eacute assim eacute porque aqueli tempu tinha mais passarinhu noacutes via mais tinha mais du roxu assim nu roccediladu eacute mais du roxu
elas tavu mais ondi tava o quebra pedra du roxinhu eacute
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para problemas nos rins
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dores nos rins
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Conhecido tambeacutem por comer de rola porque os paacutessaros preferem a roxinha que a
branca
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Quanto ao termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo sua variaccedilatildeo ocorre com relaccedilatildeo associativa
com a funccedilatildeo que a planta tem ou seja a planta serve de alimento para certa espeacutecie de
paacutessaro assim o termo eacute tambeacutem chamado pela variante ldquoComer de Rolardquo por ser o alimento
que os paacutessaros ldquorolinhasrdquo preferem
[] aiacute porque qui eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu
du otru neacute soacute qui adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu
di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela
trevoada di rolinha qui levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas
114
bichinhas gosta di taacute aqui porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u matu [] (informaccedilatildeo verbal)66
O termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo tambeacutem possui relaccedilatildeo associativa com sua funccedilatildeo
Na sabedoria popular a planta serve para tirar ldquoquebrarrdquo as pedras nos rins No que se refere
ao termo Faulstich esclarece que ao ser colocado no mundo da linguagem cientiacutefica e
teacutecnica ldquoo termo assume o estatuto de unidade lexical definida e eacute naturalmente uniacutevocardquo
(FAULSTICH 1994 p 315) Ou seja haveria um uacutenico conceito para um termo uacutenico com
uacutenica definiccedilatildeo Entretanto se ocorressem conceitos e definiccedilotildees diferentes para um mesmo
termo Faulstich adverte que ocorreria o que ela denomina posteriormente de variaccedilatildeo
terminoloacutegica ou seja havendo um novo termo um novo conceito com uma nova definiccedilatildeo
ocorreria a variaccedilatildeo No entanto ldquose esse mesmo termo vier a funcionar num outro contexto
como equivalente graacutefico de um jaacute existente mas natildeo equivalente semacircntico propiciaraacute a
homoniacutemia terminoloacutegicardquo (FAULSTICH 1990 sem paginaccedilatildeo)
Observemos na sequecircncia outro termo e sua anaacutelise
59 PARATUDO
Faulstich (1990) chama a atenccedilatildeo para a anaacutelise do termo no discurso pois eacute no
discurso que se estrutura a significaccedilatildeo semacircntica e terminoloacutegica Ela destaca que a natureza
epistemoloacutegica do lexema e do termo se fundamenta no alcance dos objetivos de cada um ou
seja para a lexicologia pertence agrave construccedilatildeo de um modelo de componente do leacutexico da
gramaacutetica jaacute a terminologia devido seu caraacuteter de intersecccedilatildeo com a lexicologia morfologia
e a semacircntica prestigia termos da linguagem cientiacutefica e teacutecnica Assim o limite entre lexema
e termo estaacute amparado nos recursos metodoloacutegicos da lexicologia e da terminologia Para
Faulstich (1994 p 317)
O resultado praacutetico da lexicologia teoacuterica e descritiva serve de ponto de partida para
o trabalho lexicograacutefico na elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios de liacutengua geral o resultado praacutetico da terminologia especializada aplica-se agrave terminografia na constituiccedilatildeo de
dicionaacuterios especializados
66Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
115
Diante desse contexto analisamos que o termo conhecido tambeacutem como sinocircnimo de
unidade terminoloacutegica designa um conceito da linguagem de uso especial Segundo Andrade
(et al 1998 p 191)
Tal como as palavras do leacutexico geral os termos satildeo unidades siacutegnicas distintivas e
significativas ao mesmo tempo apresentando-se de forma tatildeo natural no discurso
especializado quanto as palavras nos discursos que se valem da liacutengua comum
como forma de expressatildeo
Assim observemos que o termo ldquoParatudordquo passou por uma distinccedilatildeo particular
vejamos
TERMO 09 ndash ldquoPARATUDOrdquo
Fotografia 28 ndash Paratudo Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo
Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo
Lx Lexema Paratudo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto eacuteh paratudo paratudo isso eacuteuma aacutervore uma aacutervore bem grande ela eacute uma aacutervore
bem grande ela eacute boa pra febre diprimeiro quando dava aquela febre de malaacuteria era
uma febre muito antiga que chamava por outro nome conhecida por outro neacuteela era
soacute o que curava ela eacute amargo amargo a casca dela a casca a gente usa eacute a casca iai a minha matildee tirava pra gente tomar o chaacute mas pra febre era primeiro lugar eacute febre ama
diprimeiro chamava febre amarela agora a pessoa diz que eacute a mesma malaacuteria o
pessoa digo neacuteera a uacutenica que curava era dava um tipo de febre que dava tudo tipo
de remeacutedio ih num passava aiacute eacute soacute a gente dando tudo heacute cumeccedilava sis maacute que era
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
116
esse tipo dessa febre que dava neacuteporque a malaacuteria eacute assim comeccedila daacute em seguida
aqueles horaacuterios o pessoal jaacute disconfia que a malaacuteria neacutee assim eacute era essa essa tipo
dessa febre iai a mamatildee fazia o chaacute paratudo mas ele eacute uma aacutervore ele eacute nativo ele eacute uma aacutervore muita bem grande bem grandona ela eacute nativa ela daacute em qualquer canto
num carece plantar paratudo eu natildeo sei porque os antigos ( )porque eu acho que
parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque essa febre amarela inha matildee
contava era assim febre muito perigosa diprimeiro neacuteera uma febre muita perigosa
que quase quando dava com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho
que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a
febre aiacute butaru paratudo eu acho neacuteela eacute mais alta tem umas que daacute mais alta no
lugar quela cresce mesmo ela eacute bem alta soacute soacute quela natildeo eacute grossana sempre ela eacute fina
ela natildeo eacute grossa natildeo sempre ela fina natildeo ela eacute bem comprindona mas ela eacute fina soacute a
casca soacute a casca
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Utiliza-se apenas a casca da aacutervore
Fu Formas de
uso
Usada na forma de chaacutes para febre amarela malaacuteria
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo ldquoParatudordquo significa que parava todos os sintomas da febre amarela
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando a classe gramatical do termo ldquoParatudordquo vemos que se trata de um
sintagma terminoloacutegico feminino devido a informante se direcionar ao feminino quando
descreve chamando de aacutervore O termo estaacute escrito na forma agrupada essa junccedilatildeo ocorreu
na liacutengua pelo processo de justaposiccedilatildeo o qual Pottier (1978) chama de composiccedilatildeo
composta Isto provavelmente ocorreu pela significaccedilatildeo que o termo adquiriu nas geraccedilotildees
anteriores pois segundo a definiccedilatildeo de Domingas
[] porque os antigos ( ) porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso
neacute paratudo porque essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito
perigosa diprimeiro neacute era uma febre muita perigosa que quase quando dava
com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram
esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo eu acho neacute[] (informaccedilatildeo verbal)67
Na histoacuteria descrita pela moradora quando seus antepassados adquiriam a febre
amarela ou malaacuteria tinham febres persistentes em horaacuterio programado Dificilmente
conseguiam eliminar seus sintomas a natildeo ser quando utilizavam a planta ldquoParatudordquo ou seja
ldquoparava tudordquo Assim o termo foi absorvido com o poder de parar todos os sintomas das
enfermidades contraiacutedas
67Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
117
[] porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque
essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito perigosa diprimeiro
neacuteera uma febre muita perigosa que quase quando dava com febre amarela que
natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo []
(informaccedilao verbal)68
Nesse contexto Faulstich (1995) considera que as ldquovariantes satildeo resultado dos
diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica fazem
do termordquo assim absorvida como medicamento que trouxe a cura de tudo a cura de todos os
sintomas da febre amarela ou da malaacuteria o termo eacute conhecido e usado na linguagem dos
moradores como planta que cura e para tudo escrito na forma composta
Seguimos na anaacutelise dos termos sobre as plantas medicinais com a anaacutelise
morfoloacutegica de alguns termos apresentando as imagens registradas durante a pesquisa de
campo juntamente com a definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas
utilizando para isso o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com os
elementos constitutivos dos termos para melhor visualizarmos seus dados
Na sequecircncia verifiquemos a anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo
510 GERGELIM BRANCO
A partir das investigaccedilotildees sobre as relaccedilotildees associativas entre os signos linguiacutesticos
surgem teorias em direccedilatildeo ao campo semacircntico que eacute considerado como o universo
linguiacutestico das palavras Em intersecccedilatildeo com o campo conceitual universo das ideias
segundo Robin (1977) o processo de conceptualizaccedilatildeo do mundo exterior chamado de
campo conceptual surge na mente humana pelo deciframento linguiacutestico dos conceitos e
categorias abstratas que eacute parte do campo leacutexico-semacircntico
Notando tais aspectos na estrutura do campo leacutexico-semacircntico e morfossintaacutetico do
termo este apresenta em alguns casos uma estrutura simples complexa ou composta Na
estrutura simples o termo eacute constituiacutedo de apenas um radical jaacute nos termos complexos e
compostos apresentam dois ou mais radicais Nos termos compostos a presenccedila do hiacutefen
diferencia-o do termo complexo ndash que natildeo possui o hiacutefen ndash poreacutem ocorrem processos de
composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras Na comunicaccedilatildeo
68 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
118
especializada o que predomina satildeo os termos complexos por serem capazes de assumir
diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo
reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico
Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo que sua estrutura eacute
composta por dois radicais sem a presenccedila de hiacutefen senatildeo vejamos
TERMO 10 - GERGELIM BRANCO
Fotografia 30 ndash Gergelim Branco Fotografia 31 ndashFolha do Gergelim Branco
Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco
Lx Lexema Gergelim branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Co Contexto eacuteh hurum eacute da eacute a mesma da mesma mesma tipo do mesmo soacute muda a cor eacute eacute da
semente eacute com certeza a arve eacute mesmo jeito vocecirc soacute vai sabe na hora que cai a
sementinha dela neacute ela eacute meacutedia ela eacute eacute plante do rodado ela pela sementinha () no
rosado soacute vai colher ela quando eacute na tempo de colher que a gente vai colher ela bota
pra secar aiacute vira ela bota pra secar ela soacute tem que buta ela pra secar de ponta pra
cima aiacute ela vai ce porque ela vai vai secando e e aqueles aqueles cachopinhas aqueles frutinho dela vatildeo vatildeo abrindo tudinho se ele tever de ponta pra baixo ele vai abrindo e
vai caindo ele tem que que taacute todo tempo neacute e fica guardada quando a gente vira a
pontionha dele pra baixo ele derrama eacute ele e ele eacute eacute a semente olha dhione eacute ela serve
pra um monte de coisa ( ) ela serve pra avece que daacute pra fazer massage ela serve pra
febre ela serve pra diarreia ela serve pra moragia a sementinha ela ser muito varo eacute
vaacuteria coisa que ela natildeo eacute o sumo da sementinha a gente pega bota ela pra esquentar
um pouco eacute raacutepido tem que ser raacutepido porque ela eacute uma sementinha muita graacutegil que
se demorar ela vai queimar esquenta ela quando ela taacute boa ela tem um cheiro assim
tatildeo ela muda de cheiro aiacute tira ela e pisa hoje em dia eacute mais pra mais normal eacuteo
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
119
lotificador neacute bota eacute ti e bota um pouco de aacutegua tira o leite grosso o leite dele sai
uma deliacutecia assim o leite grosso aiacute vocecirc pode se for pruma febre vocecirc pode toma uma ou duas culher vai depender da idade da crianccedila ou do da adulto sei laacute moragia
tambeacutem e pra ai se ai tanto ele serve pra remeacutedio cume ele eacute grande alimentaccedilatildeo ele eacute
alimentaccedilatildeo pra mim eu uso ele cumo alimentaccedilatildeo o gergelim como alimentaccedilatildeo e
porque assim no por remeacutedio ougaque eacute mais o gergelim preto pra remeacutedio pra
remeacutedio mas pra mim tanto faz pra mim tanto faz com certeza agora cumo eu tocirc
dizendo pode usar o preto mas de preferencia o preto de preferencia o preto mas num
tendo o preto o branco tambeacutem serve ele eacute a mesma coisa mas agora comu eu tocirc
dizendo eu uso o gergelim laacute em casa quando eu tenho eu uso pra minha pra mim
tomar meu cafeacute de mnhatilde comu ele eacute muito gostoso quando eu tiver um pouquinho que
agora eu tenho a minha roccedila quando tiver um poquim eu vou trazer um poquim da
paccediloca pra ((sorriu)) ele tem caccedilo eacute () anram sim urum isso eacute neacute pois eacute sim sim hurum
((sorriu)) acho que sim natildeo natildeo sei dizer natildeo mas eu acho que eacute pelo tamanhinho dele neacute que eacute uma semente muito eacute vou tomar poquim eacute isso
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
A sementinha contida na flor eacute usada para diversos problemas de sauacutede e tambeacutem
como alimento
Fu Formas de
uso
A sementinha secada e triturada para retirar o leite serve para derrame cerebral
hemorragias febre diarreia massagens e como alimento
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Segundo a informante o gergelim preto eacute melhor mas ela utiliza tambeacutem o gergelim
branco
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
No termo complexo Gergelim Branco aconteceu a formaccedilatildeo de termos pela
composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja o termo eacute formado por duas ou mais palavras que satildeo
independentes entre si no processo de formaccedilatildeo e que juntas formam um novo significado
uma nova palavra Quanto ao estudo gramatical dos termos complexos eles satildeo formados por
um elemento base que eacute o substantivo e em seguida por outra palavra que demonstra a
qualidade ou especificidade do primeiro podendo ser um adjetivo Por exemplo em
ldquoGergelim Brancordquo o substantivo eacute ldquoGergelimrdquo e ldquoBrancordquo eacute a particularidade na cor que
esse substantivo tem ou seja eacute um adjetivo
Observando as particularidades do termo ldquoGergelim Brancordquo vejamos na sequecircncia
a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo
120
511 URUCUM VERMELHO
Tomando os estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) sobre a estrutura do termo
percebemos que cada um a seu modo explana sobre o mesmo conceito Na explanaccedilatildeo de
Barros (2007 p 399) ela apresenta que
Termo simples unidade terminoloacutegica constituiacuteda por um uacutenico lexema
independente do processo de formaccedilatildeo deste Termo complexo unidade formada
por composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja por um grupo de lexemas e morfemas
gramaticais (palavras nocionais e gramaticais) natildeo ligadas por hiacutefen tambeacutem
independente do processo de formaccedilatildeo dos termos Termo composto unidade
terminoloacutegica formada por dois ou mais lexemas que se encontram em situaccedilatildeo de
natildeo-autonomia representada graficamente pela utilizaccedilatildeo do hiacutefen
Em Pottier (1978) a nomenclatura utilizada eacute lexia69
que eacute a menor unidade
funcional e significativa do discurso seja ele de forma oral ou escrita Para o pesquisador a
lexia nasce da relaccedilatildeo associativa entre seus elementos Quando utilizamos um termo em
determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo
internalizadas na liacutengua que por ser um sistema dinacircmico passa a ser enriquecida com
neologismos Assim no que compete aos estudos de Pottier o pesquisador apresenta como
modelo trecircs tipos de lexias sendo elas simples compostas e complexas (CAMPOS 2007)
As lexias simples70
satildeo conhecidas como a menor unidade lexemaacutetica ou palavra
tradicional que junto de outras lexias simples formam outras unidades lexemaacuteticas
conhecidas como palavras compostas Na lexia complexa ocorre uma sequecircncia de palavras
em grau maior de complexidade chamado de lexicalizaccedilatildeo Esta seria quando um sintagma se
torna uma unidade lexical autocircnoma Consequentemente Genouvrier amp Peytard (1974)
esclarecem melhor as lexias complexas de Pottier expondo em outras palavras que elas satildeo
formadas pelo agrupamento de lexias simples com classes gramaticais diferentes que resultam
em expressotildees generalizadas e estereotipadas (CAMPOS 2007)
Vejamos nesse contexto a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo
69 Lexia eacute nome geral para qualquer unidade lexemaacutetica nos estudo de Pottier (1978)
70 Vale ressaltar que Cabreacute (1993) no aspecto da forma tambeacutem classificou os termos de acordo com os nuacutemeros de morfemas existentes na palavra assim classificava-os em simples para um morfema e complexo para dois ou
mais morfemas Os complexos eram ainda subdivididos em termos derivados e termos compostos
121
TERMO 11 - URUCUM VERMELHO
Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho Fotografia 33 ndashFolha do Urucum Vermelho
Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho
Lx Lexema Urucum Vermelho
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto eacuteh uma planta natildeo ela eacute caseira eacute clima frio a folha eacute grande eacute form e re
redonda formatu dum coraccedilatildeo a semente dela ela coloca a ah o copinho a
caixinha dentro da caixinha tem a semetinha bem redondinha bem miudinha a
sementinha dela a flor eacute um rosiozinho eacuteh rosu claro eacuteh um ela eacute pequena
uma flor meacutedia num eacute grande nau e nem tatildeo (sita) o caule vai depende eacute dumaaa ele sendo bem bem bem velho bem maduro o caule dele eacute assim duma uns dois
palmos di grussura em roda tem tens uns que ate dessa grussura ((fazendo gestos
com as matildeos)) da duas matildeos cheia tem umas que da ateacute trecircs metro vai depender
da tem umas que daacute olha ela ela serve assim ela eacute tempero serve pra
temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol colesterol ela gente pega faz o
vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o vinho e toma em jijum ela linima o
colesterol e soacute da sementi a gente pega semente agente abre a pega a cachopinha
abre ela tira a semeti amassa um pouco com agua ai coa e toma em jejum pra curar o
colesterol
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Usada a sementinha encontrada no ldquocopinhordquo da planta retirar o vinho da semente
Fu Formas de
uso
Serve para dar a cor avermelhada na comida eacute um tempero para o colesterol eacute feito o
vinho da sementinha
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Eacute uma planta medicinal e usada tambeacutem como condimento
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
122
O ldquoUrucum Vermelhordquo eacute uma planta usada nos alimentos e com propriedades
medicinais principalmente relacionadas agrave problemas com o colesterol
[] ela eacute tempero serve pra temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol
colesterol ela gente pega faz o vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o
vinho e toma em jijum ela linima o colesterol e soacute da sementi a gente pega
semente agente abre a pega a cachopinha abre ela tira a semeti amassa um pouco
com agua ai coa e toma em jejum pra curar o colesterol [] (informaccedilatildeo verbal)71
Considerado em sua estrutura como termo complexo o Urucum Vermelho eacute formado
pela composiccedilatildeo sintagmaacutetica de duas palavras independentes entre si Poreacutem juntas formam
uma nova palavra com nova significaccedilatildeo No estudo gramatical do termo Urucum Vermelho
o elemento base eacute o substantivo ldquoUrucumrdquo que vem seguido pelo adjetivo ldquoVermelhordquo
indicativo de uma caracteriacutestica proacutepria da planta Verificando os aspectos da estrutura dos
termos observemos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoErva de Passarinhordquo
512 ERVA DE PASSARINHO
Segundo Cabreacute (1993) os termos compostos satildeo denominados tambeacutem como
sintagmas terminoloacutegicos que podem ser formados por uma construccedilatildeo sintagmaacutetica mais
complexa que pertencem a classe de palavras diversas
Diante das explanaccedilotildees sobre a estrutura do termo notamos que tanto Barros como
Pottier apresentam semelhanccedilas nas explicaccedilotildees No entanto Barros acrescenta ainda que os
termos compostos podem passar pelo processo de aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Nesse sentido
a pesquisadora expotildee que
A composiccedilatildeo eacute a nosso ver um processo que pode marcar a formaccedilatildeo tanto de
termos simples quanto de termos complexos (sintagmaacuteticos) Por esse motivo eacute
temeraacuterio distinguir de modo categoacuterico termos simples complexos e compostos quando se trata dos tradicionais processos de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo sem hiacutefen
(BARROS 2007 p 400)
Com tais fundamentos analisamos os termos sobre as plantas de uso medicinal da
comunidade de Pimenteiras na estrutura morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica de alguns termos
catalogados Observamos que na maioria dos casos natildeo haacute a presenccedila do hiacutefen na
71Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoUrucum Vermelhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
123
composiccedilatildeo dos termos compostos que ocorreram expressivamente atraveacutes do processo de
aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Assim observemos o termo ldquoErva de Passarinhordquo
TERMO 12 - ERVA DE PASSARINHO
Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho
Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho
Lx Lexema Erva de Passarinho
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Co Contexto ela eacute uma erva mermu ( ) ela daacute em cima nus galhu dus pau ( )da outras arvris
eacutena eacuteeacuteh ela eacute rastera ela ela eacute si agarra ali nu galhu neacute dali ela vai vai aumentandu a tendecircncia deli eacute matar ela ( ) ateacute qui as vez quandu ela si ela si
apropria mermu muitu na arvri ela mata a outra arvri ela mataeacute natildeu ela eacute
nativaporque us passarinhu qui eacute assim natildeu sei como eacute neacute mais us passarinhu qui
veim qui faz u cococirc ali dali nasci a sementinha ali nu galhu du pau i dali forma a erva
di passarinhu uns diz qui eacute assim eu natildeu sei porque porque ela eacute nativa ela nasci
assimqui podi ter a sementi i nascieacute porque eacute porque ela nasci ai eu eu vi falar
assim agora eu natildeu sei si tambeacutem nasci ali du limu neacute neacute limu porque ela sempri daacute na
arvri ela num eacute nunca eu vi daacute nu chatildeo eacute ela daacute nu limoeiru ela daacute na cueira ela daacute na
na nu nu na laranjera ela daacute em toda essa arvri assim ela daacuteeacute ela daacute eacuteachu qui eacute
em qualquer momentu qualquer arvri qui ela si apropriar qui ela gostar neacute ela daacute i aiacute
a a ( ) ela tem os galim dela em forma di um cipoacute eacute assim us galhu dela i a folha dela
tambeacuteim ela eacute media uma folha assim tambeacuteim qui ela num uma folha seca natilde eacute uma folha sempri assim cheinhagordinha issuela eacute meacutedia tambeacuteim ela num eacute tatildeu
piquinininha natildeu natildeu eacute daquelas folhau formatu dela eacute assim mermu eacute quasi igual
assim meia compridim meia redonda ela num tem formatu assim di otra coisa naueacute
uma folha eacuteeacute tipu uma folha di jambreru eacute um pocu maior di que essi ai neacutenatildeu
dessi aqui dessi aqui neacutesim issu( ) maior tem umas qui da maior tem umas qui daacute
maior porque ela daacute igualtem veiz qui quandu ela nasci muitu qui ela vai
aumentandu aumentandu assim neacute ai tem vez que porque a minha matildee sempri dizia
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
124
assim oacute bora tirar essa erva di passarinhu porque si natildeo ela vai matar uma laranjera
uma cuiera ela da nu cafezal nu cafeeru tambeacuteim ela da nu limoeru ela daacute ela daacute nu da outra eacute eacute com certezaela mata eacute vai depender di elaa folha a folhaeacute i juntu
com certeza ela neacute uma folha assim num eacute bem redonda mas tambeim num eacute tatildeu
comprida ela eacute uma assim uma folha larga beim largaela tem umas bajezinhas
tambeacuteim ela bota umas bajezinhas bem muiditinhas tambeacuteim uns carocinhusnatildeu eu
da nunca vi si eacute uma erva di passarinhu eu da nunca vi mas diz qui eli si alimenta
daquela sementinhaeacute usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui
chama cansaccedilo neacute que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u
chaacutea minha voacute dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem
toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu
iscondidu pra num saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela
dizia assim oacute a erva di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo
mas quem toma nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para ldquocansaccedilordquo asma
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O chaacute deve ser tomado sem a pessoa saber para que sirva e que planta eacute feito o chaacute
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoErva de Passarinhordquo possui uma estrutura composta por dois radicais
relacionados pelo aspecto da preposiccedilatildeo Sendo uma planta que se hospeda em outras plantas
para viver eacute o alimento preferencial dos paacutessaros daiacute a relaccedilatildeo associativa com a funccedilatildeo que
o nome possui No trato medicinal a planta eacute usada em pessoas com cansaccedilo poreacutem segundo
a crenccedila de seus antepassados a pessoa toma o chaacute sem saber o que eacute nem para que serve O
termo eacute assim descrito pela senhora Domingas
[] usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui chama cansaccedilo neacute
que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u chaacutea minha voacute
dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu iscondidu pra num
saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela dizia assim oacute a erva
di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo mas quem toma
nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute
u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute(informaccedilatildeo verbal)72
Observamos que cada termo possui uma definiccedilatildeo particular a cada planta as formas
de uso os contextos em que ocorre a variaccedilatildeo as relaccedilotildees associativas as crenccedilas em torno
72Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoErva de Passarinhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
125
da cura e as composiccedilotildees formativas dos termos apresentados Alguns termos vieram de
geraccedilotildees passadas outros entraram no contexto da comunidade de Pimenteiras atraveacutes de
novos saberes Diante de tudo que foi exposto eacute importante percebermos que a compreensatildeo
da linguagem de especialidade pode ocorrer com o entendimento de que os termos natildeo satildeo
isolados Segundo Cruz (2014 p 104) os termos ldquonem derivam sua existecircncia apenas de um
arcabouccedilo loacutegico-conceptual mas se manifestam circulam e exercem sua funccedilatildeo em situaccedilatildeo
em uso efetivordquo
Para que o pesquisador possa se familiarizar com seu objeto de pesquisa eacute necessaacuterio
realizar leituras preacutevias sobre o assunto e manter discussotildees com profissionais da regiatildeo
pesquisada Particularmente no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal compreendemos
que durante muitos anos o homem sempre utilizou os recursos naturais para sua sobrevivecircncia
e bem estar na terra e eacute por meio das plantas que surgem os mais diversos produtos
indispensaacuteveis agrave vida humana em todas as eacutepocas
No que concerne ao uso dessas plantas na medicina tradicional hoje os
medicamentos obtidos a partir de substacircncias ativas vindas das plantas satildeo utilizados na
medicina complementar73
Diante disso eacute importante salientar que as populaccedilotildees que vivem
em regiotildees pouco povoadas e com restriccedilatildeo das necessidades fundamentais como sauacutede e
educaccedilatildeo fazem dos recursos naturais os mais utilizados possiacuteveis a fim de garantir os
cuidados necessaacuterios com o bem-estar do corpo e da alma
Culturalmente as praacuteticas com o uso popular de plantas medicinais satildeo uma
realidade em muitas comunidades que as tecircm como alternativa para a conservaccedilatildeo da sauacutede
Entretanto a continuidade desse saber eacute ameaccedilada pela interferecircncia de fatores externos
relacionados ao dinamismo social como a exposiccedilatildeo das comunidades e de sua cultura diante
das facilidades da sociedade moderna a destruiccedilatildeo dos recursos naturais a invasatildeo de novos
elementos culturais que desmotivam a vida tradicional e o conhecimento empiacuterico que eacute
patrimocircnio de valor inestimaacutevel agraves futuras geraccedilotildees Aleacutem disso os estudos cientiacuteficos
direcionados agraves plantas utilizadas pelas comunidades tradicionais satildeo ainda insipientes
(HOEFFEL 2011)
Boa parte do conhecimento popular estaacute mantido em fontes orais isto causa certa
inseguranccedila e desconfianccedila nos dados a serem transcritos Poreacutem o contato direto com os
moradores e seus saberes nos fez crer que as histoacuterias orais satildeo fonte de vida e que de acordo
com a histoacuteria transpotildeem geraccedilotildees e eternizam os novos conhecimentos A verdade eacute que as
73 Uso de medicamentos feitos a partir de substacircncias ativas das plantas isto ocorre em tratamentos de doenccedilas
crocircnicas devido aos efeitos colaterais dos medicamentos potentes
126
ameaccedilas agrave biodiversidade natildeo tem precedentes na histoacuteria da humanidade diversas espeacutecies
nunca estiveram tatildeo ameaccediladas de extinccedilatildeo Junto a isto a cultura dessas comunidades
tambeacutem sofre mudanccedilas constantes que as fazem perder a identidade social que as compotildeem
A perda dos elementos naturais e da cultura identitaacuteria dos conhecimentos
tradicionais empobrece cada vez mais nossa cultura em geral nossa sauacutede e nossos saberes
Diante disso eacute premente que busquemos alcanccedilar esses povos para conhecer registrar e
preservar saberes importantes para a sociedade em geral Nesse contexto a comunidade
remanescente de quilombola de Pimenteiras eacute um exemplo a ser observado por agregar valor
em seus aspectos regionais culturais e de saberes sobre o poder medicinal das plantas Eacute na
comunidade e nos seus moradores que se veem a necessidade de conhecer registrar e
preservar o conhecimento tradicional que fora repassado entre as geraccedilotildees Sabendo disso
buscamos por meio dos estudos socioterminoloacutegicos analisar os termos catalogados sobre as
plantas de uso medicinal da comunidade Tais saberes de grande valor para o conhecimento
cientiacutefico satildeo preservados pelos relatos orais de moradores remanescentes de quilombo
O conhecimento sobre as plantas medicinais pode ser observado pelo trabalho diaacuterio
que os moradores possuem na comunidade com as plantas Esse processo vai desde a
plantaccedilatildeo ateacute a venda dos produtos obtidos por meio da manipulaccedilatildeo das plantas Os cuidados
com o solo a aacutegua o sol os horaacuterios adequados para a colheita das plantas as partes a serem
usadas como as folhas raiz entrecasca flor galhos sementes fruto seiva e tambeacutem o
tratamento dado as plantas para a venda de produtos feitos pelos moradores tais como a
garrafada a multimistura pomadas e oacuteleos tudo eacute parte do contexto de saberes que os
moradores possuem sobre as plantas medicinais
Finalizamos assim observando a forte relaccedilatildeo existente entre os termos sobre as
plantas medicinais com o contexto social no qual estatildeo inseridas com os saberes adquiridos
no passado e no presente com a cultura com a Liacutengua e por conseguinte com a origem
negra que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem marcando assim a
identidade do povo quilombola
127
6 CONCLUSAtildeO
Este trabalho dissertativo se propocircs na anaacutelise dos termos sobre as plantas de uso
medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras ndash PA localizada na
cidade de Santa Luzia do Paraacute na Rodovia BR 316 (Paraacute ndash Maranhatildeo) regiatildeo do Rio Caeteacute
A partir das consideraccedilotildees sobre os termos catalogados pelos moradores quilombolas
pudemos observar e perceber que os saberes transmitidos entre as geraccedilotildees permanecem
fortes no seio da comunidade de forma que todo o conhecimento sobre as plantas medicinais
tem caraacuteter identitaacuterio ao povo de Pimenteiras
Conhecemos cada termo catalogado a fim de perceber as influecircncias da cultura negra
na linguagem popular e especializada sobre as plantas A presenccedila do gecircnero feminino nesse
contexto de conhecimento foi determinante para conseguirmos identificar as espeacutecies coletar
as imagens de cada planta e catalogar os termos sobre as plantas medicinais registrados pelos
moradores
Todos noacutes pensamos falamos lemos e escrevemos as palavras que herdamos em
meio aos saberes coletivos jaacute consolidados no tempo e espaccedilo Por meio da nossa Liacutengua as
palavras satildeo transmitidas e enredadas em significaccedilotildees Eacute atraveacutes dessa heranccedila com os
vocaacutebulos que a liacutengua abrange os saberes coletivos culturais e de significados produzidos
nos contextos de fala Ao nomearmos classificarmos categorizarmos e registrarmos as
experiecircncias vividas noacutes seres humanos criamos palavras e sintaxes ao contarmos e
recontarmos nossas histoacuterias
Por meio da Liacutengua fundamentamos nossa identidade eacute pelas palavras que
organizamos nossas crenccedilas e nomeamos nossos valores um saber que continua em
crescimento e transformaccedilatildeo atraveacutes do conhecimento da linguagem que herdamos e
transmitimos para as geraccedilotildees porvindouras Assim ressaltamos que as definiccedilotildees descritas
sobre os termos analisados sua variaccedilatildeo nos termos na linguagem representada nos saberes
sua motivaccedilatildeo sua estrutura e suas relaccedilotildees associativas constituiram-se relevantes para
percebermos as analogias da liacutengua com a cultura popular transmitida entre as geraccedilotildees
sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
Levando em consideraccedilatildeo que os termos sobre as plantas medicinais fazem parte de
uma especificidade da linguagem e que no caso em especial analisamos o termo na sua
estrutura socioterminoloacutegica entendemos que o conhecimento popular proveniente das
atividades tradicionais dos moradores quilombolas na regiatildeo foi o percurso trilhado para nos
128
conduzir nesse trabalho dissertativo de forma a considerar as abordagens socioterminoloacutegicas
de grandes pesquisadores Os estudos sobre a variaccedilatildeo nos termos sobre as plantas medicinais
tambeacutem foi fundamental para analisarmos cada palavra dentro de um contexto de uso social
histoacuterico e cultural com a finalidade de conhecer e ateacute resgatar os termos no acircmbito
sociocultural no qual estatildeo inseridos
A metodologia utilizada no decorrer do trabalho de campo nos proporcionou melhor
conhecimento sobre a comunidade em estudo pois do ponto de vista etnograacutefico eacute preciso
estar laacute para aprofundarmos sobre os saberes da comunidade e interagirmos in loco para
compreendermos a dinacircmica do trabalho e da vida a partir da qual o homem do campo
constroacutei seus saberes Os dados catalogados sobre as plantas medicinais nos fizeram conhecer
mais profundamente os saberes sobre as plantas que apresentamos no repertoacuterio terminoloacutegico
coletado composto por quarenta e dois (42) termos catalogados com suas respectivas
imagens
Aleacutem dos termos catalogados foi necessaacuterio registrar os dados orais ocorridos
durantes as diversas entrevistas da pesquisa de campo utilizando os recursos computacionais
como o Transana para efetuarmos a transcriccedilatildeo Grafemaacutetica das entrevistas realizadas Isto
foi indispensaacutevel para compreendermos melhor os aspectos que contornam o termo e
tambeacutem para a definiccedilatildeo descritiva de cada termo catalogado pois no contexto discursivo
podemos entender melhor cada palavra e suas significaccedilotildees no estudo socioterminoloacutegico
No percurso desse trabalho buscamos natildeo apenas a interpretaccedilatildeo ou anaacutelise dos
termos catalogados mas tambeacutem observar a construccedilatildeo dos saberes dos moradores como um
aspecto marcante na identidade da comunidade quilombola Essa nova visatildeo sobre os termos
nos trouxe um perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural mostrando as influecircncias da cultura negra na
linguagem de uso particular sobre as plantas medicinais
Eacute por meio da Liacutengua que os moradores quilombolas de Pimenteiras refletem as
caracteriacutesticas da identidade cultural entre a planta e as caracteriacutesticas que especializam cada
espeacutecie mas eacute na variaccedilatildeo da liacutengua que os termos se relacionam com as aacutereas de
conhecimento que os moradores possuem sobre as plantas medicinais O movimento
constante da linguagem atribui o princiacutepio fundamental da liacutengua que eacute a comunicaccedilatildeo
presente no contexto dos saberes de um povo e manifestado na preservaccedilatildeo da linguagem
atraveacutes da valorizaccedilatildeo por seus falantes
Nesse sentido quando associamos o saber especializado ao contexto de campo das
ciecircncias e das teacutecnicas temos no termo uma feiccedilatildeo terminoloacutegica na qual ele assume uma
dimensatildeo linguiacutestica e cognitiva no comportamento lexical especializado e na manifestaccedilatildeo
129
desse conhecimento Notamos assim que o termo eacute parte do componente linguiacutestico de tal
modo como eacute uma unidade terminoloacutegica e um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber
Portanto ao referirmos as plantas de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras
percebemos que o domiacutenio estudado pertence ao campo da medicina caseira como consta na
Norma da ISO 1087 explicando que o domiacutenio eacute definido por um ponto de vista particular no
qual os limites satildeo definidos pelo saber particular da moradora Domingas
Ao verificarmos a definiccedilatildeo descritiva dos termos a senhora Domingas expocircs de
acordo com seus saberes uma relaccedilatildeo associativa entre a planta com o objeto nomeado Nas
explicaccedilotildees de Faulstich (1995 p 36) o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e
coletiva num processo de interaccedilatildeo entre o sujeito a realidade as pessoas e o ambiente
sociocultural revelando que a Socioterminologia eacute desenvolvida no cunho funcionalista de
natureza social Nos casos em que ocorrem caracterizaccedilotildees de conceitos e definiccedilotildees para um
mesmo termo Faulstich lembra que ocorre a variaccedilatildeo terminoloacutegica em que um novo termo
um novo conceito traz uma nova definiccedilatildeo
Com respeito agrave relaccedilatildeo associativa na forma ou na funccedilatildeo das plantas medicinais
esta faz parte da natureza e concepccedilatildeo dos termos estudados Notamos que a estrutura
morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica do termo apresentado tambeacutem como unidade
terminoloacutegica foi explanada por alguns autores tais como Araujo (2006) que verificou os
termos em sua estrutura leacutexico-semacircntica com uma constituiccedilatildeo simples contendo a presenccedila
de apenas um radical e uma composiccedilatildeo composta e complexa quando apresentam dois ou
mais radicais Andrade (1998) por sua vez explica que na estrutura do termo composto temos
a presenccedila do hiacutefen diferenciando-se do termo complexo que natildeo possui o hiacutefen Poreacutem
haveraacute processos de composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras
Com base nos estudos dos autores citados vemos que os termos catalogados sobre as plantas
de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras possuem na sua estrutura formaccedilatildeo simples
com apenas um radical formaccedilatildeo complexa com a presenccedila de mais de um radical e
composta nos quais ocorre o processo de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo
Nossa anaacutelise foi constituiacuteda por doze (12) termos de plantas de uso medicinal
catalogadas pelos moradores quilombolas de Pimenteiras de um total de quarenta e dois (42)
termos As apreciaccedilotildees desses dados da pesquisa passaram por diferentes estudos sobre o
termo levamos em consideraccedilatildeo natildeo apenas as caracteriacutesticas gramaticais que o compotildee
mas principalmente analisamos as definiccedilotildees descritivas da senhora Domingas utilizando
para isso o modelo de ficha terminoloacutegica de Faulstich para melhor visualizaccedilatildeo dos
elementos constitutivos do termo
130
Eacute nessa compreensatildeo sobre o que motiva ou associa a nomeaccedilatildeo dos termos que
vemos a reflexatildeo sobre o conhecimento que os moradores possuem da proacutepria linguagem
suas relaccedilotildees com a natureza as influecircncias e transferecircncia de saberes entre as geraccedilotildees e as
caracteriacutesticas marcantes que tornam a comunidade de Pimenteiras uacutenica em sua identidade
como lugar das plantas medicinais
Perante tudo que foi explanado sobre a pesquisa efetuada na comunidade de
Pimenteiras acreditamos ter dado um grande passo neste estudo fascinante e envolvente sobre
a histoacuteria cultura e saber de um povo um povo que desperta nosso desejo de conhecimento
de buscar outros caminhos nos estudos Socioterminoloacutegicos e em muitos outros estudos
cientiacuteficos que reconheccedilam e valorizem os saberes e cultura da comunidade de Pimenteiras
Os termos analisados neste trabalho dissertativo nos trazem resultados interessantes
quanto agraves influecircncias da cultura negra que por longos periacuteodos da histoacuteria sofreu e ainda
sofre retaliaccedilotildees e preconceito por contra da escravidatildeo pois ainda hoje um preconceito
mascarado sobrevive Brookshau (1983 p 12) expotildee que ldquoo negro mesmo antes de ser
escravizado tinha um defeito que para muitos serviu de justificativa para sua escravidatildeo e esse
defeito era sua corrdquo A cor negra na cultura ocidental sempre teve uma conotaccedilatildeo negativa em
oposiccedilatildeo ao branco que eacute definido com o sentido de limpo e puro A presenccedila dos africanos em
nosso paiacutes contribuiu natildeo soacute na nossa cultura mas tambeacutem na formaccedilatildeo do tipo fiacutesico
brasileiro Somos um povo diversificado na cultura na danccedila no biotipo fiacutesico no sincretismo
religioso nas comidas tiacutepicas na influecircncia indumentaacuteria no gecircnero forte da mulher no uso das
plantas e consequentemente na liacutengua
Tanta influecircncia sucedida do negro contribuiu muito para a formaccedilatildeo da nossa
nacionalidade Segundo o antropoacutelogo Arthur Ramos (1942) eacute inocente e sem base cientiacutefica
querer caracterizar a questatildeo racial no Brasil pois todos noacutes somos formados de contatos
humanos que se processaram no paiacutes que natildeo se limitaram apenas aos grupos de negros
brancos e iacutendios somos derivados deles Nossa liacutengua em especial eacute o reflexo de noacutes mesmos
por manifestarmos e expressarmos nossa proacutepria existecircncia Assim ainda que carregados de
dificuldades e escravidatildeo o negro trouxe-nos a forccedila e riqueza de sua cultura que hoje
podemos dizer eacute um dos pilares da nossa identidade nacional
Diante de tantas riquezas sobre as influecircncias do negro da comunidade de Pimenteiras
esperamos que o estudo em questatildeo seja uacutetil agravequeles que se interessem pelo assunto e queiram
conhecer melhor o universo que envolve essa cultura popular e socioterminoloacutegica das plantas
medicinais da comunidade pois natildeo poderiacuteamos deixar ocultada a sabedoria popular sobre as
plantas medicinais precisaacutevamos conhececirc-la observaacute-la analisaacute-la prestigiaacute-la e repassaacute-la
131
para aqueles que buscam natildeo apenas saber mas sobretudo valorizar a sabedoria tradicional
preservada na linguagem como identidade dos moradores quilombolas de Pimenteiras
132
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APEcircNDICE A ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Domingas Alves do
Nascimento
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA
CAMPUS DE BRAGANCcedilA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA
FICHA DE ENTREVISTA COM OS MORADORES REMANESCENTES DE
QUILOMBOLA NA COMUNIDADE DA PIMENTEIRA - PA
A) Entrevistado
1Nome
2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino
3 Endereccedilo
4 Idade(anos)
5 Quantas pessoas habitam a casa
6 Naturalidade
7 Ocupaccedilatildeo principal
8 A Principal fonte de renda
9 Escolaridade
10 Vive na comunidade a quanto tempo
11 Seus pais avoacutes jaacute moraram ou moram na comunidade
12 De onde vieram (Cidade - UF)
13 Tipo de habitaccedilatildeo
14 Haacute quanto tempo mora aqui
15 Como era aqui quando a famiacutelia ou vocecirc chegou
16 Qual a sua origem De onde veio
B) Termo Quilombola
1 Como descobriu que tens descendecircncia de Quilombola
2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc
3 Qual o significado de ser Quilombola para sua comunidade
4 Qual sentimento tem pela palavra Quilombola
5 Houve algum tipo de dIscriminaccedilatildeo sobre a descendecircncia Quilombola
6 Reconhecem os direitos que possuem sobre ser Quilombola
7 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre essa Associaccedilatildeo
8 O que acha da comunidade da Pimenteira
9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc
C) Ervas e Plantas Medicinais
1 Faz uso de Plantas Medicinais ( ) Sim ( ) Natildeo
2 Quem passou o conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo de plantas
3 Quando tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda a quem vocecirc recorre
4 Como obteacutem as plantas que utiliza
5 Quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia
6 Quais partes satildeo utilizadas
7 Qual a melhor forma de preparo para cada planta
144
8 Como se usa
D) Dados sobre o manejo do quintal
1 Quais espeacutecies de plantas e ervas cultiva em casa e por quecirc
2 Como denomina o espaccedilo proacuteximo agrave sua casa
3 Quem cuida desse espaccedilo
4 Quais plantas vocecirc tem em seu quintal
5 Vocecirc consome as plantas que cultiva
6 Vocecirc realiza alguma atividade de compra e venda dessas plantas
7 Vocecirc compartilha essas plantas com algueacutem
8 Se vocecirc natildeo as tem onde vocecirc vai procurar
9 O que estaacute faltando em seu quintal
10 O que o quintal representa para vocecirc e para sua famiacutelia
E) Dados sobre o conhecimento e a transmissatildeo do mesmo
1 As plantas que vocecirc tecircm em seu quintal servem para quecirc
( ) alimento ( ) remeacutedio ( ) ritual ndash religioso ( ) decorativo ( ) brincadeira ( ) outros
2 Com quem vocecirc tomou ldquogostordquo por plantas Onde aprendeu o que sabe
3 E vocecirc ensina isso para algueacutem
4 Quais plantas satildeo mais usadas
5 Para que utiliza estas plantas
6 Faz uso de medicamentos das farmaacutecias Sim( ) Natildeo( ) Agraves vezes( ) Nunca( )
7 Quais E por quecirc
8 Possui alguma doenccedila Sim ( ) Natildeo ( )
9 Qual (is)
10 Jaacute ocorreu algum caso de doenccedilas curadas pelo uso das ervas e plantas
11 Vocecirc acredita no poder das ervas e plantas ou nos remeacutedios de farmaacutecia Por quecirc
12 O que eacute a Garrafada
13 Para que serve a Garrafada Quais as propriedades de cura que proporciona
14 Como eacute o preparo da Garrafada E que ervas possuem dentro
15 Com quem aprendeu a fazer a Garrafada e outros remeacutedios caseiros
145
APEcircNDICE B ndash Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Domingas Alves do Nascimento
entrevista do dia 19 de outubro de 2014
L1 data de nascimento
L2 dia vinte e oito (de outubro)
L1 ( )
L2 dia vinte e oito
L1 JAacute aqui a gente pode dizer qual eacute o endereccedilo
L2 pode
L1 ((muitos ruiacutedos de vento)) entatildeo hoje a senhora tem quantos anos
L2 (cinquenta e um) natildeo cinquenta e cinquenta neh
L1 hoje a senhora tem cinquenta
L2 cinquenta
L1 quantas pessoas moram na sua casa
L2 somos seis
L1 seis a senhora eacute paraense qual eacute sua naturalidade
L2 paraense
L1 paraense mesmo qual eacute a sua principal ocupaccedilatildeo (no) trabalho
L2 agricultura
L1 qual a principal fonte de renda com que a senhora ganha dinheiro
L2 ahh (assim) com a minha atividade eacute (arrancar) malva ( ) com a malva ou do accedilaiacute
eacute uma ( ) muito (dessa aiacute) e meus trabalhos de ( ) pra mim mesmo o que eu estou fazendo eacute
esse neh
L1 hum rum
L2 ( ) bastante eacute muito encomendado
L1 e remeacutedio caseiro
L2 remeacutedio caseiro
L1 a senhora tem que escolaridade ateacute que seacuterie a senhora estudou
L2 soacute a primeira
L1 primeira seacuterie
L2 que no meu tempo era muito difiacutecil neh a gente morava aqui aiacute eu daqui com uma
leacutegua quando quando eu comeccedilei a estudar eu tava com QUINZE anos eu com
dezessseis (eu me ajuntei)
L1 hum rum
L2 aiacute pronto meu marido lutou lutou mas eu pra mim foi muita dificuldade eu jaacute sou
dona de famiacutelia ia deixar a minha casa pra mim andar essa distacircncia todinha aiacute eu natildeo quis
ele pelejou pelejou meu sogro natildeo natildeo se eu (tivesse) na casa do papai tudo bem aiacute tava
ruim ele trabalhava me e eu sai eu tinha que sair seis horas da manhatilde que eacute daqui laacute na beira
do rio eacute uma leacutegua de aiacute natildeo tinha como eu preparar o almoccedilo neh chegava de tarde
cansada e aiacute eu natildeo estudei mais ( ) e era muito difiacutecil muito difiacutecil meus irmatildeos
nehnhum soacute tem eu neh meus irmatildeos soacute tem um que tem a quarta seacuterie um ou eacute dois
(por causa da dificuldade)
L1 a senhora vive na comunidade haacute quanto tempo
L2 e eu nasci e me criei aqui assim EU NASCI aqui eu natildeo nascci aqui mas foi aqui
perto neh depois que taacute com
[
L1 entatildeo desde receacutem nascida a senhora mora aqui
L2 hum rum
L1 taacute (palavras dirigidas a terceiros) eacute os pais da senhora (voz de terceiro) ou os
avoacutes eles jaacute moraram ou moram na comunidade eu quer quero que a senhora conte a
trajetoacuteria deles eles jaacute moraram aqui como eacute como foi
146
L2 natildeo assim eacute eles jaacute moraram essa minha matildee eacute falecida soacute meu pai dessas dessa
dessas turmadas soacute meu pai que ainda ainda eacute vivo neh eles assim eles moram ( )
quando eles na juventude deles eles moravam na outra comunidade
L1 (narcisa)
L2 narcisa sim aiacute de laacute eles casaram meus primeiros irmatildeos nasceram laacute e eu jaacute foi
L1 hum rum
L2 ateacute o quarto irmatildeo nasceu laacute ainda do outro lado do rio guamaacute ( ) do outro lado aiacute
quando eu vim de assim laacute a ge era muita gente aiacute eles botavam o (roccedilado) natildeo tinha mais
como o produto neh e naquele tempo natildeo tinha esse negoacutecio de adubo natildeo existia aiacute
por aqui era mato que eles caccedilavam aiacute meu avocirc disque queria vir botar um roccedilado pra caacute aiacute
parece que os vizinhos jaacute ficavam dizendo laacute que a mata tava pouca a capoeira jaacute natildeo dava
muita produccedilatildeo aiacute eles andavam na mata disse que vinham botar um roccedilado pra caacute mas
como era assim a mata natildeo tinha ele foi laacute em oureacutem pegou um papel fez um
requerimento pegou um papel aiacute laacute com a assinatura laacute nesse tempo tinha feito natildeo sei de
quem eacute laacute mais laacute aiacute foi falou para o genro dele era trecircs genro que ele tinha ele soacute
tinha um filho e trecircs filhas nem vi as filhas todas casaram (netinho) jaacute tava pro
prosperando familiacutea aiacute ele chegou laacute e disse bem se vocecircs quiserem botar um roccedilado pra
mata para o (centro) ( ) agora a gente vai porque a gente taacute com a autorizaccedilatildeo na matildeo aiacute
eles vieram botar o primeiro roccedilado aiacute acharam MUIto longe taacute indo e vindo indo e vindo
todo dia neh aiacute eles fizeram um barracatildeo pra eles todos fizeram um barraco aiacute jaacute
traziam a famiacutelia pra ficar mais PERto pra fazer o almoccedilo pra ajudar ((tosse)) pra ajudar
porque a gente trabalha tambeacutem no roccedilado neh aiacute veio vinha primeiro a vovoacute sempre
ficava laacute neh que era a mais velha ficava laacute com os outros netos e vinha as filhas com uns
uns ajudar os maridos aiacute nisso aiacute foram se acostumando se acostumando e a a produccedilatildeo
foi aumentando assim a renda eles gostaram muito do do (canto) aiacute pronto j5aacute foram fazendo
casa pra morar aiacute foi que eles vieram veio veio quatro famiacutelia meu avocirc com os trecircs
filhos que vieram ( ) fizeram o barracatildeo dele laacute a casa laacute depois jaacute foram aumentando
fazendo a sepaccedilatildeo da casa que aquele tempo era no barro neh fazia primeiro era a casa de
palha que eacute eacute esse matinho aiacute oacute tubim pois eacute esse taacute cobriu a casa com esse daiacute mas
eacute uma excelente cobertura que eacute frio que soacute aiacute faziam a tapaccedilatildeo repartida de barro neh
aiacute cada quase jaacute moravam no seu no na na sua propriedade localidade ( ) barracatildeo na
sua casa aiacute daiacute que foram foram chegando os netos foram crescendo foram procurando
familiacutea e foram casando fazendo casa perto que eu tenho dois um primeiro meu
irmatildeo casou fez a casa lacuteperto do papai depois o segundo casou fez perto tambeacutem e a
minha irmatilde que eacute comadre ( ) que eacute a mais velha casou o marido dela tambeacutem natildeo levou
ela para o lugar dele ELE foi pra caacute neh aiacute a famiacutelia foi aumentando a minha matildee taacute
com dez anos jaacute falecida
L1 de onde eles vieram assim a origem dos dos seu pais
L2 a minha matildee ela veio de origem do negro dos escravos neh
L1 natildeo eu digo assim o estado eles satildeo paraenses
L2 eles satildeo paraenses
[
L1 todos eles
L2 todos eles satildeo paraenses
L1 natildeo tem nenhum
[
L2 natildeo natildeo de mistura natildeo que eu saiba natildeo se se tem mas natildeo chegou no
meu conhecimento que a a mamatildee ela contava muita histoacuteria assim a minha voacute muita
histoacuteria assim de quando eles eram crianccedila de quando eles eram ado adolescente jovem
mas eles nunca disseram que era que era de outra assim sempre ( )
L1 e na qual era o tipo de habi de de habitaccedilatildeo que eles tinham que a senhora
147
falou qual era como era a casa
L2 deles
L1 hum rum
L2 era sempre assim dessa palha a cobertura e ao redor era empalhada tambeacutem soacute
que eu natildeo cheguei a conhecer assim empalhada natildeo do barro eu ainda me lembro muito
bem a cobertura tambeacutem agora empalhado da mesma mesma coisa neh que eles
faziam assim mas eu natildeo me lembro natildeo mas a minha matildee contava que era assim
L1 a cobertura era empalhada
L2 a ccobertura era da (albim) e ao redor tambeacutem pra fazer a separaccedilatildeo neh
L1 era albim
L2 da albim tambeacutem era cercado com albim assim feita a separaccedilatildeo sim pelo menos o
quarto da onde dormiam neh
L1 hum rum mas em volta natildeo era barro era assim empalhado neh
[
L2 hum rum era empalhado
era
L1 entatildeo haacute quanto tempo ele eles o seu pai ainda eacute vivo
L2 eacute papai eacute
L1 haacute quanto tempo moram aqui
L2 eu tocirc com aqui neste lugar ou assim
L1 aqui na pimenteira
L2 na pimenteira taacute com umas umas faixa de uns quarenta anos
L1 quarenta
L2 assim quando veio da narcisa logo quando veio da narcisa
L1 sim
L2 ah taacute com seus cinquenta porque mais de cinquenta quase seus sessenta porque eu tocirc
com cinquenta e um e eu jaacute jaacute sou da da aquarta filha que nasceu aqui jaacute soacute que natildeo
era pra esse mesmo lugar neh era aqui o cajueiro mas eacute mesmo ( ) a gente se mudou
quando eles vieram de laacute ( ) laacute papai natildeo gostou muito de laacute porque esse tempo ele criava
umas vacas que era amarrada assim na corda e laacute eacute muita (acidentado) daacute mais de que
aqui neh aiacute tinha um um homem que morava bem ali assim aiacute era muito colega do
papai e aiacute aqui esse tempo um tempo veio uma tinha uma casa que que davam aula era
bem aiacute chamavam o carro da prefeitura aiacute a mulher foi embora a professora foi embora aiacute
ficou desocupada aiacute esse homem cedeu para o papai seu Raimundo laacute na pimenteira ali
adonde perto de onde eu moro uma pertenccedila ao ao terreno de vocecircs por quecirc que natildeo vai
embora pra laacute aiacute foi que noacutes viemos de laacute do cajueiro mas fica aqui proacuteximo neh aiacute
fizemos a abertura aiacute daiacute
[
L1 entatildeo vocecircs satildeo os primeiros moradores aqui
L2 somos meu pai eacute primeiro morador
[
L1 como eles ele conta como era aqui quando a famiacutelia
veio quando vocecircs chegaram aqui como era como era essa aqui essa aacuterea toda
L2 aqui aqui mesmo eu me lembro jaacute quando eu cheguei aqui quando noacutes viemos do cajueiro
pra caacute eu me lembro eu jaacute me alembro eu acho que eu estava com uns sei cinco a seis anos
mas eu jaacute me alembro aqui era todo tudo capoeira que a mata era logo bem aqui
proacuteximo nossos primeiros roccedilados foi muito proacuteximo de qualquer uma crianccedila ia laacute no
roccedilado tirar o milho tirar buscar uma melancia qualquer um que queira era muito perto
a mata era proacutexima isso era capoeira isso aqui tinha soacute um uns caminhinho que os
meninos iam aacutes vezes para o roccedilado um uma coisa era tudo era sombra natildeo tinha
natildeo era natildeo tinha essa abertura aiacute esse garapeacute era a coisa mais linda do mundo era esse
148
garapeacute que a gente toma banho porque era capoeira neh era capoeira era era sombra
aiacute aiacute a gente ia tomava banho quando noacutes era crianccedila noacutes tomava aiacute quando tava um
tempatildeo de chuva assim noacutes jaacute ficava alegre porque sabia que ele ia crescer e noacutes gostava
muito de tomar banho na aacutegua grande e aiacute qundo passava a chuva noacutes pedia pra o papai e pra
mamatildee e noacutes ia tomava muito banho agora natildeo agora natildeo presta pra tomar banho
nenhum porque ( ) daiacute da da daqui da boca dele ateacute quase na cabeceira desse jeito aiacute natildeo
presta mais pra tomar banho
L1 a a sua origem mesmo eacute paraense a senhora veio de laacute a senhora veio da narcisa
aliaacutes a senhora nasceu na narcisa
L2 natildeo natildeo eu jaacute nasci ali no
[
L1 no cajueiro
L2 hum rum
L1 certo veio da narcisa moro morou um tempo no cajueiro e agora
[ [
L2 ( ) no cajueiro e ( ) ( ) porque assim
( ) bem pertinho daqui natildeo daacute dois quilocircmetros daqui laacute
L1 taacute agora vamos eacute ter quando foi que a senhora descobriu que tem uma a
descendecircncia de quilombola
L2 porque a minha voacute di dizia neh a minha voacute contava pra noacutes que ele ela eacute ela vinha
dessa descendecircncia que os avocircs delas AVOcirc da minha avoacute era os escravos
L1 como ela soube como ela como ela sabia disso
L2 porque ( ) contavam pra ela neh a matildee dela contava pra ela aiacute ela a matildee dela jaacute
passava pra ela e ela jaacute passava pra noacutes porque euu ainda me alembro muito da minha voacute ela
mamatildee contava ( ) MAIS era ela que contava que ela dizia que ela os avoacutes dela contavam
que (eram) dqquele tempo de de ficar amarrado de ser accediloitado neh aiacute ela ia
repassando pra noacutes
L1 os avoacutes dela passaram por isso viveram esse periacuteodo
L2 natildeo os avoacutes dela eacute que contavam que os outros ates dele neh
[
L1 antes os antes dele que ( )
L2 an ram eacute isso
L1 entatildeo eacute satildeo os seus tataravoacutes (digamos assim)
L2 isso acho que ism
L1 que viveram essa eacutepoca da escravidatildeo
L2 hum rum
L1 mas essa eacutepoca da escravidatildeo aqui nessa regiatildeo natildeo
L2 natildeo natildeo era aqui
L1 onde
L2 isso aiacute eu natildeo sei dizer adonde era natildeo natildeo me alembro se ela disse mas eu natildeo sei (
) se era na narcisa se era noutro (canto) natildeo sei natildeo ( ) sei que eles eram dessa dessa
dessa descendecircncia mas eu natildeo sei dizer da onde eacute
L1 dona Domingas o que eacute ser quilombola qual o significado dessa palavra pra
senhora
L2 e eu essa eu natildeo entendo muito bem muito bem eu natildeo entendo por isso que eu queria
que o ( ) tivesse aqui que ele entende mais melhor do que eu ele jaacute fez ( ) estudo ele ( ) mais
do que eu neh que ele passou ele passou seis anos assim presidente da associaccedilatildeo parte
que ele tem mais conhecimento mas natildeo ( ) ele taacute pra rua mas ser quilombola acho que eacute
ser vem dessa descendecircncia e assim das (coisas) tradicional as coisas da natureza
aprender e viver com a natureza eu acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre
assim vendo os iacutendios porque os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu
149
acho que ser quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima
da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as coisas
pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende as coisas com a
natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque aquele tempo dos dos dos
negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de leitura (nada nada) MAS com a natureza
eles aprendiam alguma coisa
L1 qual eacute o significado de ser quilombola pra comunidade o que a comunidade
pensa a senhora sabe dizer
L2 natildeo tambeacutem natildeo natildeo sei dizer natildeo ( ) eu eu soacute sei dizer que eacute eacute eacute eacute eacute uma um
tipo que eles quase juntocom o iacutendio com os iacutendios eles descobriram o Brasil neh
porque quem descobriu o Brasil mesmo foi os iacutendios neh e jaacute como aquele pessoal
naquele tempo ele jaacute viviam tambeacutem acho que eles ajudaram os iacutendios descobrir o Brasil
tambeacutem acho que ( ) soacute um soacute sei dizer que os negros ele ele eacute (federal) neh
L1 humrum
L2 ele eacute (federal) ele ele tem todo direito com certeza ele tem o direito (estremo) soacute
que soacute aqui ateacute hoje a gente natildeo tem ( ) ainda o conhecimento de tanto direito que a gente
tem tem muitas coisas ainda escondido por debaixo do tapete que ainda natildeo chega no
conhecimento de muita gente que aacutes vezes ele eacute quilombola ele eacute NEGRO mas ele ainda natildeo
tem conhecimento dele ser negro ele ainda fica dizendo que ele natildeo eacute negro porque pra
tem gente assim que pensa que dizer negro eacute aqueles escravos daquele outro tempo ah
negro jaacute tempo de negro jaacute passou era aquele tempo aiacute natildeo aqui mesmo na minha
comunidade tem gente assim porque ele eacute negro eacute da mesma famiacutelia eacute da mesma mas ele
ainda natildeo pensa dizer que ele eacute negro porque ainda ainda taacute na mente dele que o negro eacute
daquele outro tempo
[
L1 eacute aquele negro escravo
L2 aquele negro escravo aquele negro pobre daqui que natildeo tem nada como ainda tem na
mente deles mas natildeo eacute o negro eacute eacute ele foi muito reconhecido neh e tem muito eacute soacute
que eu eu disse pra o (Isaldo) (Isaldo) tu tem muito mais conhecimento no dia que a Edilene
vir eu precisava que tu tivesse laacute porque eu sei que ele tem MAIS esse conhecimento (tem)
que agora no dia vinte de novembro a gente vai fazer uma atividade aqui neh (ontem eu
fui) dizer pra Nazareacute Nazareacute eu queria que cecirc fosse pra cecirc daacute uma palestra laacute na (tal)
comunidade saber muita gente saber que (eacute negro) e eu quero aprender tambeacutem mais e tem
muita gente que natildeo sabe nem um pouquinho o tanto que eu sei ( ) a gente vai fazer no dia
vinte de novembro eacute a nossa ( ) eacute soacute neh (a santa jaacute veio) aqui em casa aiacute a gente
pensou ia ser era pra ser amanhatilde dia vinte de novem de outubro aiacute eu fiquei pensaando e
disse Isaldo PORQUE porque o Isaldo era presidente era meu irmatildeo mas eu eu me
comunico muito com ele tudo que eu quero fazer eu pergunto pra ele Isaldo porque noacutes
num num faz no dia no dia vinte de novembro que eacute o dia da consciecircncia negra neh
aiacute ele disse natildeo sei natildeo vai ( ) no dia de semana eu digo ( ) meio de semana mas eacute eacute
feriado pra noacutes eacute feriado e po quecirc que a gente natildeo faz aiacute ele disse seraacute que vai daacute algueacutem
digo a gente convida outra comunidade quilombola neh que venham participar junto
com noacutes aiacute fizemos uma reuniatildeo por isso que eu digo que de vez em quando noacutes estamos
reunindo eacute eacute por causa disso neh aiacute fizemos uma reuniatildeo aiacute joguei a proposta aacuteiacute todo
mundo aceitou mas soacute meu marido que natildeo porque ele quer ( ) como eacute que uma pessoa vem
que eacute meio de semana digo vem sim ( ) se falado com o tempo ageitam um carro neh a
gente taacute chamando querendo chamar os ( ) (olha) que eu jaacute passei com o Dinho que eacute
secretaacuterio de cultura neh ele jaacute veio aqui logo quando ele ele ( ) scretaacuterio ele veio aqui
aiacute ele procurou qual era a atividade qual era qual era as (futuras) ( ) dizendo pra ele aiacute
ele disse que quando fosse dessa soacute anda ele queria pra mim participar com bem tempo
antes antes ele queria ele ia (ajudar) da maneira que ele pudesse mas isso aiacute tem
150
fevereiro parece marccedilo (aiacute quando foi) essa semana eu passei com ele ele disse que jaacute
correu atraacutes de umas ( ) pra ajudar neh aiacute tem aquele outro Anderson tambeacutem ele ele
sempre ele liga pra caacute diz que ele quer ajudar tambeacutem ele quer vir aqui ( ) PRA
AJUDAR E A GENTE TAacute VENDO ASSIM REUNINDO PRA VEcirc COMO Eacute QUE
NOacuteS VAMOS FAZER sobre alimentaccedilatildeo porque quando foi ontem noacutes tava nessa
reuniatildeo nessa reuniatildeo vem vaacuteria vem gente de vaacuterias comunidades quilombola porque
vem tipitimga vem (presidente de laacute) vem jacareacutequara ( ) vem da mariana que eacute noutro
municiacutepio mas vem tambeacutem neh ele faz parte da rede bragantina E AIacute EU QUANDO eu
lancei a proposta laacute na reuniatildeo todo mundo (quer vir) pra caacutetipitinga quer vir
jacarequara quer vir ( ) quer vir agora eu jaacute tocirc imaginando eacute alimentaccedilatildeo como eacute que noacutes
vamos fazer pra alimentaccedilatildeo desse povo de querer vir eu quero aiacute jaacute fica pensando neh aiacute
a mulher ( ) dona Maria disse que vir tambeacutem aiacute amanhatilde natildeo ( ) pode ter muita gente
eles disseram que natildeo ia daacute nigueacutem noacutes temos muita gente que quer vir aiacute noacutes vamos pensar
como eacute que noacutes vamos fazer ( ) que eacute o dia da consciecircncia negra tem muita gente aqui que
natildeo sabe ( ) assim neh ( )
[
L1 a senhora me
convida taacute
L2 jaacute taacute convidada ( ) (risos) jaacute taacute convidada a gente tem uns convites ali neh que a gente
preparou uns convites aiacute ficou pra mim sentar na comunidade vecirc como eacute que vai ser pra
gente entregar os convites mas (a senhora) natildeo esqueccedila jaacute anota aiacute (eu lhe aviso) dia vinte de
novembro
L1 vai ser o dia todo
L2 eacute o dia todo porque assim taacute na programaccedilatildeo primeiro porque a gente todo ano faz
a reza neh primeiro uma pequena procissatildeo pega a santinha numa casa se organiza aiacute
vai quando chega na igreja reza tem ano que noacutes reza aqui tem ano que ( ) o pessoal
gostam porque eacute mais ventilosa neh aiacute eles vem aqui aiacute reza daiacute serve o almoccedilo daiacute se
tiver um leilatildeozinho leilatildeo um bingo aiacute a tarde eacute partida de futebol como os meninos tem
essa ajuda aiacute capoeira eles vatildeo paresentar capoeira a Andresa ela disse hoje ah matildee eu vou
ajeitar as meninas pra noacutes apresentar um uma danccedila laacute uma danccedila de (carimboacute) aiacute a gente
taacute vendo assim ( ) ser um dia festivo um dia de todas as atividades se querer outros
gruupos doutra comunidade se tiver um grupo que queira apresentar alguma coisa vai ter
tambeacutem espaccedilo
L1 vou daacute uma ideias depois qual sentimento assim SENTIMENTO sentimento o quecirc
que a senhora sente quando pela palavra por essa por essa palavra que que que fala
quilombola
L2 assim o meu sentimento
L1 hum rum
L2 eu gostar eu gosto ( ) me se se sinto muito bem
L1 se sente
[
L2 ( ) bem com certeza
L1 taacute essa pergunta tambeacutem eacute um pouco jaacute houve algum tipo de des discriminaccedilatildeo
L2 jaacute
L1 sobre a sua descendecircncia sobre a palavra quilombola
[
L2 jaacute
L1 o que foi
L2 eacute agora que natildeo agora jaacute recente que natildeo neh mas antes quando a gente (informava)
( ) a a associaccedilatildeo aqui quilombola quando descubriram porque isso aiacute veio veio assim
descubrir que era que era quilombola porque na narcisa laacute e eacute a a matriz neh como
151
a minha matildee veio pra caacute aiacute laacute formaram a associaccedilatildeo aiacute o meu meu primo ficou dizendo
olha tem mais gente porque assim quilombola eacute assim adonde cecirc tem parente porque
noacutes tem irmatilde no guajaraacute cigano aqui pro pra paragominas (natildeo) ipixuna neh mas a
hora que eles chegar aqui o lugar deles tatildeo aqui aiacute esse subrinho da mamatildee ficou dizendo
olha eu tenho uma tia que ela mora aqui que era aqui na pimenteira ela mora daqui natildeo sei
quantos quilocircmetros se um dia ela vir pra caacute tem lugar dela aqui disse tem com certeza o
lugar dela taacute aqui ela natildeo nasceu aqui aiacute tudo bem quando foi um dia ele veio passear
aqui aiacute ele foi disse pra mamatildee que se ( ) contou laacute a situaccedilatildeo neh aiacute eu disse que tem que
que cecirc tem que cecircs tatildeo pra caacute mas (vocecircs fazem parte laacute da narcisa) o dia que cecirc quirer ir
laacute ai a mamatildee disse natildeo pra laacute eu natildeo vou laacute se um dia elas quererem vir aqui esse pessoal
quererem vir aqui pra gente conversar ( ) conversar a gente conversa aiacute num belo dia de
domingo chegou trecircs umas quatro pessoas ( ) aiacute chamaram a mamatildee e ele perguntaram se
a mamatildee queria ir pra narcisa a mamatildee disse que natildeo aiacute se (mas) a mamatildee fazia parte do
quilomBOLA da da da associaccedilatildeo laacute da narcisica AIacute soacute que (naquele) tempo tinha
celebraccedilatildeo aiacute o (coacutedigo) que ficava com ( ) neh ficava muito na frente assim aiacute ela disse
que aqui natildeo formava porque quilombola eacute uma pessoa eacute negro que sabe contar o que vem
das tradiccedilatildeo de primeiro e esses que tavam na frente assim era era gente branca e sabia
que eles natildeo sabiam natildeo tinham nada com a ver com quilombola ( ) neh aiacute ( ) daqui aiacute o
(chaga) disse eles natildeo disseram aqui pra noacutes disseram laacute pra o chaga ah chaga laacute parece que
vai ser difiacutecil formar uma associaccedilatildeo de quilombola porque laacute quem taacute na frente mais satildeo
os brancos e laacute natildeo tem nada a ver com com negro a gente faz pergunta eles natildeo sabem
nada ( ) mas aiacute no decorrer do tempo a gente foi foi pegando conhecimento (eles vieram
aqui) mas naquele tempo a gente era muito criticado naquele tempo ( ) muito criticado bem
dizer assim ah bora entrar na associaccedilatildeo ( ) ah ( ) entrar na associaccedilatildeo pra ser negro eu
natildeo quero ser negro vocecircs querem ser diziam neh ( ) aacutes vezes assim (minhas
cunhadas) querem ser negro eu natildeo quero ser negro eu natildeo vou entrar na associaccedilatildeo
negoacutecio de ser negro negro neh escravo aiacute eles comeccedilavam assim fazer caccediloagem
diziam pra ser pra ser pobre mais de que era aacutes vezes eles diziam neh ser negro pra ser
pobre mais de que eacute noacutes jaacute somos pobres ainda ser mais pobre ( ) natildeo era assim natildeo aiacute desse
tempo agora agora recente natildeo a gente natildeo vecirc mais essas coisas mas logo no comeccedilo a
gente via dizia que negro era aquele um que andava sujo que andava com a unha suja que
andava com o cabelo sem pentear neh ((risos)) tinha gente que dizia aiacute eu jaacute ouvi muito
agora natildeo agora esses tempos natildeo ouvi mais acho que jaacute chegou no conhecimento neh
aquele que natildeo tinha nada pra comer ((risos))
L1 eacute com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas a senhora conhece reconhece que
vocecircs tem esse direito direitos
L2 eu conheccedilo um pouco
L1 quais
L2 assim a gente tem direito ((pigarreio)) assim numas pro porque assim eu natildeo
sei quase lecirc neh mas do pouquinho que eu sei a gente pega o estatuto aiacute um estatuto que
que foi tirado em on em Beleacutem foi feito um estatuto neh a gente tem vaacuterios direitos a
gente que AINDA NAtildeO CONHECE bem qual eacute os direitos que a gente tem e aiacute quando a
gente faz reuniatildeo sempre eu digo gente a gente tem que pegar aquele estatuto pra gente lecirc pra
gente discubrir qual eacute o tanto direito que a gente tem nos noacutes tem tanto direito mas noacutes veve
escondido laacute noacutes veve ainda natildeo taacute no conhecimento nosso pra saber o tanto direito que
a gente tem porque se a gente descobrir o tanto direito que a gente tem o direito que a gente
tem eacute um direito muito grande neh Eacute MUITO
[
L1 vocecircs tem o estatuto
L2 tem
L1 hum pra comunidade toda
152
L2 isso
L1 quem eacute que que ler esse estatuto fica na matildeo de quem
L2 aqui em casa taacute aqui mas sempre quando eu digo assim olha bora fazer uma reuniatildeo pra
lecirc o estatuto pra todo mundo mas sempre eacute naquela correria mai a gente vai lecirc custa muito
bora cuidar nas outra coisas no que tem fazer aiacute
L1 como vocecircs conseguiram esse estatuto
L2 noacutes noacutes fizemos assim neh da comunidade na comunidade escrevemos o que
era que noacutes queria dentro da comunidade qual era as leis que noacutes ia botar aiacute foram
escrevendo e levaram pra registrar
L1 ah eacute o estatuto
L2 da associaccedilatildeo
L1 da comunidade
L2 da comunidade sim da associaccedilatildeo
L1 ah da asso-ci-a-ccedilatildeo da pimenteira
[ [
L2 da associaccedilatildeo isso hum rum
L1 dos quilombolas da pimenteira
L2 isso
L1 hum natildeo eu digo assim o estatuto que eu falo eacute da da da de quem eacute
quilombola
L2 natildeo
L1 esse a senhora natildeo conhce
[
L2 natildeo natildeo esse daiacute natildeo
L1 hum agora sim existe alguma associaccedilatildeo na comunidade e eu queria que a senhora
falasse da associaccedilatildeocomo foi que veio essa ideia da da associaccedilatildeo como foi que surgiu
como foi que ces criaram por que criaram
L2 eacute eacute essa aiacute comeccedilou a gente a gente tinha jaacute era comunidade neh antes da
associaccedilatildeo era comunidade aiacute veio um um professor da universidade era ateacute cardoso o
nome dele aiacute ele aiacute comeccedilou (entrar) pequenos projetozinho assim pra caacute mas assim
feito jaacute assim pouquinho natildeo era que nem primeiro fez um projeto do duma casa de
farinha atraveacutes do da pastoral da crianccedila natildeo natildeo natildeo existia associaccedilatildeo foi um pequeno
projeto ( ) da pastoral da crianccedila aiacute depois um projeto de nesse tempo da casa de forno
veio um um caititu pra ralar mandioca e um motosserra aiacute depois um pequeno projeto
pro gado mas tudo da pastoral da crianccedila neh a gente faz aquele grupo de mulheres de
pessoas pra pra fazer um grupo e fazer as vaacuterias assinaturas pra ir pra laacute e o projeto vir
mas natildeo era associaccedilatildeo ningueacutem tinha nada de associaccedilatildeo estatuto nem ata nem nada ai
depois veio um zinho de do pimental um pequeno pimental neh umas estaquinhas
assim pra gente formar um (feijoalzinho) aiacute foi esse tempo foi que o professor cardoso
veio comeccedilar ( ) ele era teacutecnico neh pra daacute assistecircncia e aiacute ele comeccedilou a dizer olha porque
vocecircs num num formam uma associaccedilatildeo ( ) (vocecircs devem formar uma associaccedilatildeo) que se
vocecircs formarem uma associaccedilatildeo vocecircs tem vocecircs tem mais forccedila pra puxar as coisas mais
aiacute a gente comeccedilava a perguntar assim nesse tempo o ( ) ele ele era muito bem
introsado aqui com noacutes agora natildeo agora ele separou-se neh teve uma desavenccedila aiacute ele
nunca mais participou de nada aqui aiacute ele a gente comeccedilava a fazer pergunta pra ele
professor como eacute que faz a associaccedilatildeo eacute pra gente formar AIacute ELE comeccedilou a incentivar a
gente olha a gente faz a gente comeccedila a fazer umas pequenas reuniAtildeO na reuniatildeo a
gente depois que jaacute po jaacute tiver um bom conhecimento da reuniatildeo a gente vai escolher
o o presidente o secretaacuterio o tesoureiro aiacute vai daacute uma mensalidade que eacute pra gente
fazer a ATA QUE Eacute PRA REGISTRAR essa ata e a a associaccedilatildeo fica registrada e foi aiacute
que noacutes comeccedilamos neh sentava aiacute bora descutir como eacute que noacutes vai fazer pra noacutes ter
153
ter seguranccedila pra gente ficar mais junto aiacute fundemo a associaccedilatildeo foi aiacute isso aiacute que eu
tocirc dizendo que tem o estatuto desse tempo neh aiacute quem eacute o o presidente tal dia noacutes faz a
reuniatildeo pra escolher o presidente aiacute foi foi meu irmatildeo que foi a primeira vez e eu fiquei
como tesoureira e o ( ) era secretaacuterio e aiacute fomos formando a associaccedilatildeo quando a
gente jaacute tinha conhecimento (do que) era quilombola aiacute aiacute aa Nazareacute com Vicente jaacute tava
muito bem colocado conhecimento neh aiacute eles eles foram ajudando noacutes ateacute agora
ainda ainda somos muito mais que parceiro ( )
[
L1 ela
hoje tem c-n-pj
L2 a nossa comunidade
L1 natildeo a associaccedilatildeo
L2 tem
L1 taacute tudo ok
L2 taacute natildeo isso aiacute que eu digo que taacute atrasado neh ai taacute atrasado ateacute a gente pagava
ficou pagando vaacuterios anos quando foi nessa nessa mudanccedila porque assim na nossa
no nosso estatuto ela ( ) nenhum presidente podia passar quatro anos neh aiacute passou os
quatros anos fizemos a eleiccedilatildeo de NOVO foi ele DE NOVO ( ) assumiu de novo aiacute
depois venceu os quatro anos aiacute comecemos e pensar quem eacute que fica aiacute fica naquela
confusatildeo eu natildeo quero outro tambeacutem ah eu tambeacutem natildeo quero aiacute pronto vamos ( ) duas
vezes por ano duzentos reais pra noacutes pagar laacute anual neh aiacute nisso aiacute fomo esquecendo
fomo esquecendo de de de pagar os nossos deacutebitos aiacute quando EU fizemos a eleiccedilatildeo de
novo aiacute foi eu AIacute PRA noacutes reconhecer essa essa essa ATA da nossa nova diretoria
passou mais de ano essa multa jaacute tava laacute neh passou mais de ano soacute pra reconhecer quando
noacutes fomos reconhecer tivemos dinheiro PRA reconhecer a ata mas natildeo tivemos pra noacutes
pagar a nossa a nossa cnpj laacute na ( ) e nisso aiacute foi indo e aiacute agora eu jaacute corri com esses
documentos pra pra fazer saber pra pra a gente saber quanto eacute que noacutes deve
quanto eacute que a nossa pendecircncia o valor ainda natildeo foi descoberto tem vaacuterias coisas que
a gente eacute uma multazinha dum canto eacute uma multazinha do outro e a gente ainda natildeo
descobriu e hoje temos falta do recurso neh aiacute a gente jaacute ateacute sentou uma vez pra pensar
pra tirar uma madeira neh (vender) pra poder fazer os pagamanetos dessas dessa
dessa desse cnpj ( )
[
L1 haacute quanto tempo a a associaccedilatildeo esxiste desde
quan do dia que ela foi criada
[
L2 eacute eacute isso aiacute ela foi craida em em abril de dois mil e cinco parece que foi em
dois mil e cinco NAtildeO MAS ela foi registrada em dois mil e seis noacutes noacutes formemos dois mil
e conco neh aiacute passou aqueles tempos todo a gente se organizando daqui ela foi registrada
em dois mil e sete uma coisa a gente montar uma coisa a gente faz vaacuterias reuniatildeo neh
daacute certo pra tal dia daacute certo ( ) dia aiacute faz uma reuniatildeo aacutes vezes falta o presidente falta o
o o o secretaacuterio aiacute natildeo taacute bora deixar outro dia aiacute nisso o tempo vai passando mas ela
foi registrada em dois mil e ( )
L1 vocecircs jaacute conseguiram alguma coisa atraveacutes da associaccedilatildeo
L2 jaacute
L1 o que
L2 jaacute jaacute conseguimo um accedilude primeiro essa saber primeiro foi o accedilude neh foi
um projeto esse accedilude foi soacute que foi assim em parceria foi aqui e jacareacutequara porque o
tempo que formou aqui formou jacareacutequara aiacute a gente foi feito um projeto soacute para as duas
comunidades a a aqui aqui foi um accedilude laacute nem sei o que foi esse accedilude a gente ele ( )
fazer fez muito bem cada cada um um um mecircs um dia fica na responsabilidade de um
154
neh pra colocar os tratar dos peixes mas sempre fica aquilo sempre tem um soacutecio que
que natildeo nem liga pra ele tanto faz a gente trabalhar em comunidade negoacutecio de
associaccedilatildeo eacute eacute meio pesado eacute meio difiacutecil carece da gente ter muita paciecircncia aiacute vai com
a gente ia (despescar) o accedilude neh a gente juntava todo mundo iam pra laacute e era uma
danaccedilatildeo de menino sei que pegava os peixes a gente repartia noacutes ainda fomos umas trecircs
vezes ainda em santa luzia ( ) neh aiacute
L1 esse accedilude eacute aqui proacuteximo
L2 natildeo ele fica aqui ele ele secou ele esbandalhou deixa eu contar o restinho dele aiacute neh
quando dava chuva ele a gente tinha que ter um cuidado laacute porque ele tapava a boca do
cano carece da gente taacute limpanndo laacute quando se descuidava ele vazava por cima quando natildeo
ele queria estourar aiacute quando foi num dia fomos pegar peixe quando terminemo de
pegar o peixe que eles terminaram laacute laacute vem o tempatildeo foi chuva que entrou pela noite
chuveu (ainda) aiacute o meu irmatildeo esse (Isaldo) ainda ficou laacute lutando pra tapar neh e gente bora
ficar aqui passar essa chuva aqui porque noacutes natildeo vamos daacute conta desse accedilude ele jaacute tava
muito cheiatildeo mas os outros nem quase se incomodaram estavam mais ( ) neh e ai
ele ainda lutou lutou mas ele natildeo deu conta que quando foi de manhatilde ele amanheceu
estourado ESTOURADO mesmo grande grande que assim aiacute noacutes ainda fizemos vaacuterios
motiratildeo pra noacutes ir laacute manual braccedilal era homem era mulher era menino tentemo tapar
ele mas natildeo firmou quando veiio a chuva ( ) foi manual mesmo neh aiacute natildeo firmou estourou
taacute laacute estourado a gente jaacute pediu vaacuterias vezes assim fazer outro projeto pra gente
(reconseguir) mas ainda natildeo deu certo natildeo aiacute com noacutes com essas pendecircncias que noacutes tem e
agora que noacutes tava noacutes fizemos um projeto que veio um projeto daqui natildeo sei se vocecircs
tinham conhecimento daquele (fundo) ( )
L1 natildeo ( ) fundo
L2 fundo do (dema) neh eu tenho um um projeto que ( ) especificamente com a
indiacutegena e quilombola neh a gente fez mas a teacute hoje a gente natildeo tem seguuranccedila se foi
aprovado por causa dessa tendencia que a associaccedilatildeo taacute pendente
L1 hum rum dema neh
L2 fundo dema
L1 agora seguindo aqui o que a senhora acha da pimenteira da comunidade da
pimenteira
L2 assim que eu acho assim de de de de melhoria de ( )
L1 natildeo o quecirc que a senhora acha assim pensa da comunidade gosta natildeo gosta o quecirc
que a senhora o que pensa daqui
L2 natildeo eu gosto gosto acho bom soacute tem um uma coisa que natildeo que natildeo gosto muito
eacute eacute sobre obediecircncia aqui neh que nem todos aacutes vezes os soacutecios mesmos
desobedecem alguma coisa que a gente aacutes vezes conversa na reuniatildeo anota tudo
bonitinho aiacute a pessoa passa por cima da lei que a gente coloca que nem assim porque
assim aqui eacute eacute noacutes se diz coletivo neh nossa terra eacute coletiva a gente num tempo desse
que eacute o tempo eacute a evocadora do accedilaiacute a gente fica dizendo olha gente pra noacutes ter o maacuteximo
cuidado de com accedilaiacute aquele quando subir naquele naquela aacutervore naquele cacho que taacute
verde a gente ( ) deixa laacute que o outro vem e tira mas ainda tem gente que aacutes vezes soacute taacute
verde ele joga pedra joga no chatildeo aiacute nem ele nem o outro isso aiacute noacutes tem toda nossa
reuniatildeo a gente fala mas ainda natildeo conseguimos isso aiacute eu natildeo gosto disso daiacute natildeo outra eacute eacute
no veneno no garapeacute neh noacutes jaacute lutemos muito jaacute pelejemos bora deixar de botar aqui
botavam timboacute neh no no garapeacute a gente ( ) esse daiacute taacute quase eliminado esse daiacute taacute mais
ou menos natildeo taacute muito neh ainda tem gente que coloca mas vem de outra comunidade
no escuro de noite aiacute bota o pessoal vatildeo laacute eacute soacute peixe morto mas natildeoo eacute da nossa (tem) o
garapeacute aiacute vem gente doutro canto que a gente natildeo sabe nem quem eacute ( ) agora o accedilaiacute eacute da
proacutepria comunidade eacute noacutes mesmos os proacuteprios ( ) satildeo assim noacutes aqui pra noacutes noacutes tira quase
soacute pra tomar aqui dessa desse desse coletivo noacutes tira pra tomar ALGUMAS vezes que a
155
gente vende agora pra vender assim noacutes tem o nosso terreno particular neh que fica haacute
dois quilocircmetros daqui pra vender sempre eles tiram de laacute tempo da colheita de murubru
que a gente vende tambeacutem neh eacute outra outra eacute outra eacute quase que nem o (murumuru)
QUE NEM o accedilaiacute um jaacute vai entra na aacuterea do outro outro jaacute vai disque teve um tempo que
carregaram ateacute o jaacute tinham deixado juntado o outro foi laacute carregou (risos) e a gente
fica dizendo gente bora bora ver a aacuterea eacute grande eu quando porque qaundo foi pra
se cadastrar no murumuru soacute eu e o Isaldo que se cadastremo neh aiacute eu jaacute tava na aacuterea
coletiva que era soacute noacutes depois que todo mundo quase aqui se cadastrou eu natildeo ajunto mais
noacutes ajunta do nosso terreno eu jaacute deixo aqui pra eles porque os outros natildeo tem terreno
particuular soacute eacute eu e o meu irmatildeo que tem outro (outro) terreno particular o resto tudo
tudo atividade deles eacute dentro dessa dessa aacuterea coletiva neh
L2 hum rum
L1 e a gente sempre fica dizendo olha bora escolher uma aacuterea que fique mais perto da
nossa roccedila da nossa casa pra tu ir deixa daquele outro pro outro mas eles sempre eles ainda
ficam entrando na na aacuterea ningueacutem tem terreno de dizer esse aqui eacute o meu mas a gente
deve respeitar neh a aacuterea o que fique mais perto da casa do outro MAS natildeo acontece
isso e eacute uma coisa isso daiacute eu natildeo gosto tambeacutem porque num fica desarespeitando
SOacute QUE num daacute briga natildeo daacute assim confusatildeo mas acuteacuteas vezes ficam dizendo ahh eu
tinha ttal coisa assim e assim quando eu fui olhar rapaz jaacute tinham levado meu cacho de accedilaiacute
foi olhar em tal accedilaiacutezal assim jaacute tinham levado eu passei laacute no no tal accedilaizal assim
assim porque cada qual tem os seus nomes assim passei laacute adonde natildeo sei adonde rapaz
laacute eacute um estrago de accedilaiacute estrago de accedilaiacute que tava cada cacho grande jogado laacute no chatildeo
mesma coisa eacute os ( ) daiacute neh que natildeo eacute bom e eacute gente daqui mesmo proacutepprio satildeo soacutecio
da natildeo eacute doutro canto natildeo da da associaccedilatildeo da comunidade
L1 tens orgulho da comunidade
L2 tenho
L1 por que
L2 porque ela eacute reconhecida ( ) eacute reconhecida ela eacute muito falada nessa comunidade
muito muito mesmo muita gente jaacute jaacute jaacute veio aqui muita gente e atraveacutes da associaccedilatildeo
eu jaacute fui tambeacutem vaacuterios canto fuui muito encontro em Beleacutem jaacute foi no em Acaraacute
municipiacuteo de Acaraacute jaacute fui em Tomeacute accedilu atraveacutes da associaccedilatildeo eacute por isso que eu tenho
orgulho
L1 ok agora a gente vai pra uma outra etapa uma etapa da sua aacuterea faz uso das plantas
medicinais a senhora utiliza tambeacutem
L2 com certeza
L1 quem passou esse conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo das plantas
L2 hum rum
L1 pra senhora
L2 a minha voacute e a minha matildee minha voacute da parte da minha matildee da os meus avoacutes da
parte do meu pai natildeo conheci nenhum agora da parte da minha matildee conheci todos dois
L1 quem tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda quando a senhora tem um
problema de sauacutede eacute e decide procurar ajuda a quem recorre
L2 olha eu mesmo quando a sauacutede problema meu mesmo
[ [
L1 sua sua
L2 eu recorro a eu mesmo ateacute agora graccedilas agrave Deus ainda natildeo ainda natildeo deu deu
recorrer a ningueacutem eu mesmo neh com meus
L1 meacutedico
L2 ateacute agora natildeo ateacute agora eu jaacute fui na matildeo de meacutedico pra cirurgia pra me operar
neh natildeo ter mais
[
156
L1 de que
L2 pra natildeo ter mais
L1 filho
L2 hum rum a minha caccedilula eu eu queria ser operada aiacute foi mas de laacute pra caacute FOI A
UacuteNICA VEZ que ateacute agora tocirc com cinquenta e um anos mas num AacuteS VEZES faccedilo umas
consultinha assim quando a doutora vinha uma uma doutora aiacute ( ) aacutes vezes ela passava um
remeacutedinho mas eu quase nem tomava natildeo chegava assim a tomar
L1 ok como obteacutem as plantas que utilizacomo eacute que a senhora consegue essas plantas
L2 como eacute que eu consigo
L1 hum run
L2 eacute aacutes vezes eacute arrumando com outro colega trocando neh aacutes vezes eu natildeo tenho
daquela daquela planta aacutes vezes eu consigo ( ) troco como a dona Nazareacute a dona
Nazareacute ela ela tem muita planta ela tem muita ela eacute muita chegado neh aiacute a gente se
ela natildeo tem da marca que eu tenho eu jaacute dou daquele que eu tenho ela jaacute me ( ) aquele um
que tem que agora a gente taacute fazendo um monte de mistura natildeo sei se vocecircs tem
conhecimento da ( ) mistura neh
L1 hum rum
L2 aiacute a gente taacute fazendo assim ela laacute ela ela tem a semente de girasol e o farelo MAS
ela tem o farelo do poacute do arroz aqui na na comunidade eu jaacute levo a a a o poacute da casca
da da maca da folha da macaxeira da o gengili aiacute de laacute a gente jaacute faz todo junto jaacute
mistura jaacute eacute uma troca neh que a gente ( ) e aiacute eacute muito bom que ela a dia vinte e sete
vinte e oito de setembro noacutes tava num encontro do alimentaccedilatildeo alternativa aiacute era
um doutora clara ela eacute japonesa do japatildeo e aiacute ela tava dizendo quem come alimento
taacute comendo alimentaccedilatildeo e taacute comendo remeacutedio porque jaacute taacute comendo aquela alimentaccedilatildeo
que jaacute saiu do remeacutedio jaacute taacute ( ) mistura que ela ensinou neh e aiacute ela ficou ensinando
vaacuterias coisas que noacutes temos aqui que a gente deixa se perder aiacute joga fora e ela disse
que enquanto vocecircs tatildeo comendo aquilo vocecircs jaacute estatildeo se prevenindo vocEcircs jaacute tatildeo comendo
remeacutedio num carece vocecircs taacute laacute na farmaacutecia comprando remeacutedio pra vocecircs vocecircs jaacute tatildeo
comendo tatildeo se alimentando e tatildeo e eacute como eacute muita mistura ela ensinou tucupi que ela
ensinou que o tucupi eacute muito bom todo tipo de verdura ela ensinou e a gente a gente taacute
fazendo essa essa experiecircncia com a nazareacute e aiacute taacute dando certo ateacute agora muita mistura
noacutes tamo fazendo ela taacute vendendo MUITO MUITO muito
L1 ok quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia
L2 eacute o elixiparigoacute arruda a catinga de mulata a babosa tambeacutem mastruz
L1 hum rum
L2 corama
L1 hum rum
L2 (risos) vamos correr agora daqui em
L1 parece
L2 essas satildeo as plantas as
[
L1 satildeo as que mais usam neh
L2 hum rum isso natildeo tem aquele amor crescido tambeacutem ( )
L1 quais satildeo as partes da planta ou das ervas que a senhora mais utiliza satildeo utilizadas
L2 eacute eacute assim eacute das eacute as folhas e as casca mas dessa dessa uma que eu tocirc dizendo toda eacute
a folha dessas uma que eu disse agora ( ) pequenas soacute daacute de usar as coisas ( )
[
L1 a
maioria satildeo folhas e cascas
L2 isso
157
APEcircNDICE C ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Maria de Nazareacute
Reis
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA
CAMPUS DE BRAGANCcedilA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA
FICHA DE ENTREVISTA COM A SENHORA NAZAREacute
A) Entrevistado
1Nome
2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino
3 Endereccedilo
4 Idade(anos)
6 Naturalidade
7 Ocupaccedilatildeo principal
8 A Principal fonte de renda
9 Escolaridade
10 Haacute quanto tempo vive em Santa Luzia do Paraacute
11 Tens envolvimento com algum oacutergatildeo filantropia ou associaccedilatildeo Qual
12 Qual a sua origem De onde veio
13 Como conheceu a comunidade de Pimenteiras e haacute quanto tempo
14 Qual seu envolvimento com a comunidade
15 O que pensas da comunidade de Pimenteiras
16 Que significado ou representaccedilatildeo a comunidade de Pimenteiras possui para a senhora e
para o CEDENPA
17 Como estaacute o processo de titularidade da terra de Pimenteiras
18 Quais benefiacutecios a comunidade ganharaacute com a titularidade da terra
19 Na sua visatildeo o que marca a identidade da comunidade
20 Qual sua relaccedilatildeo com a comunidade e com os moradores da regiatildeo
B) Termo Quilombola
1 Como ocorreu o descobrimento sobre a descendecircncia quilombola dos moradores de
Pimenteiras
2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc
3 Na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de que
sejam descendentes de quilombolas
4Nos relatos dos moradores houve algum tipo de discriminaccedilatildeo contra eles sobre a
descendecircncia Quilombola
5 Com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas os moradores reconhecem os direitos que
possuem sobre ser Quilombola
6 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade
7 A senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre
essa Associaccedilatildeo
8 O que acha da comunidade da Pimenteira
9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc
10 Como procede a prova de ser ou natildeo quilombola Tem relaccedilatildeo com preservaccedilatildeo da
cultura para ser reconhecido
158
11 Houve grupos que desistiram do processo de identificaccedilatildeo devido a ausecircncia das
caracteriacutesticas culturais
12 Em Santa Luzia do Paraacute quais comunidades satildeo consideradas quilombolas e quais
possuem a titulaccedilatildeo da terra
13 O que caracteriza um quilombola
14 Qual o significado de reconhecer comunidades quilombolas Suas origens
15 Ser quilombola traz ainda caracteriacutestica de discriminaccedilatildeo Desigualdade racial
16 Quais outros direitos sem ser o da terra satildeo legiacutetimos aos quilombolas
17 Com relaccedilatildeo agraves Universidades quais contribuiccedilotildees podem ter para as comunidades
tradicionais
C) Plantas Medicinais
1 A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) incentiva os uso de medicamentos vindos de
produtos naturais devido a maioria da populaccedilatildeo natildeo ter acesso aos medicamentos de
farmaacutecia Nesse contexto a senhora acha que as ervas satildeo importantes
2 As ervas e as plantas servem para quecirc
3 Na sua concepccedilatildeo porque tantas pessoas satildeo atraiacutedas pela praacutetica de uso medicinal das
plantas
4 A senhora faz uso de chaacutes para o tratamento de doenccedilas
5 Muitos meacutedicos natildeo apoiam o uso de medicamentos caseiros Qual sua opiniatildeo
6 Haacute comunidades que trabalham com o uso das ervas medicinais
7 Como soube do uso das ervas pelos moradores de Pimenteiras
8 Na sua concepccedilatildeo o que marca a identidade da comunidade de Pimenteiras Satildeo as plantas
medicinais Satildeo os remanescentes de quilombolas Haacute outra caracteriacutestica
9 A senhora faz uso das plantas medicinais
10 Sobre a catalogaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinaisqual sua relaccedilatildeo ou influecircncia
nesse contexto
11 Como ocorreu o processo de catalogaccedilatildeo dos termos e por quecirc
12 Haacute moradores da comunidade de Pimenteiras que participam da cooperativa e produccedilatildeo
de medicamentos caseiros Como eacute esse processo
13 A senhora realiza alguma atividade de compra ou venda das plantas e produtos caseiros
14 A senhora conhece algum caso de cura de doenccedila atraveacutes do uso caseiro das plantas
15 Acredita no poder das plantas
16 Quanto aos produtos das farmaacutecias o que pensas
17 O que eacute a garrafada e a multimistura
18 Qual a relaccedilatildeo com a moradora Domingas E os trabalhos que ela mesma produz
19 O que eacute o trabalho com o bioenergeacutetico e porque acabou
20 Qual envolvimento da associaccedilatildeo com as plantas medicinais
21 O trabalho com as plantas medicinais eacute praticado apenas pelas mulheres Os homens natildeo
se envolvem Por quecirc
159
APEcircNDICE D - Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Maria de Nazareacute Reis entrevista
no dia 26 de setembro de 2014
L1 seu nome
L2 Maria de Nazareacute Reis de ( )
L1 data de nascimento
L2 vinte e cinco do sete de mil novecentos e cinquenta e dois
L1 endereccedilo
L2 rua tiradentes sessenta e dois
L1 idade
L2 sessenta e dois
L1 naturalidade
L2 beleacutem do Paraacute Brasil
L1 a sua ocupaccedilatildeo principal
L2 eu sou a minha prof eu sou formada neh como engenehira agrocircnoma e a minha
ocupaccedilatildeo eacute acessoria aos grupos produtivos grupo de mulheres grupos de associaccedilotildees
cooperativas de agricultores familiares dentro da rede bragantina
L1 entatildeo eacute em que trabalha essas ( )
L2 como
L1 em que trabalha
L2 eacute principalmente na aacuterea alimentar na aacuterea de nutriccedilatildeo na aacuterea de ( ) na aacuterea de
organizaccedilatildeo popular na aacuterea de de incentivo a produccedilatildeo (agroecoloacutegica)
L1 haacute quanto tempo mora em santa luzia
L2 santa luzia dois mil e cinco para dois mil e catorze nove anos neh a parti da data que
eu casei fiquei aqui ((risos))
L1 tens contatao com algum oacutergatildeo ou filantropia
L2 sim
L1 qual
L2 oacutergatildeo eacute centro de estudo de defesa do ( ) do Paraacute a filantropia tem obras sociais da
diocese de Braganccedila tem (imenso) neh vaacuterios ((risos)) melhor dizendo natildeo eacute imenso natildeo
vaacuterios
L1 qual a sua origem de onde de onde a senhora veio
L2 eu sou de Beleacutem nasci e me criei em Beleacutem mas desde que me formei sempre
trabalhei em comunidades rurais agricultura familiar (me formei) em mil novecentos e
sessenta e seis
L1 como conheceu a comunidade pimenteira e haacute quanto tempo
L2 eu (queria) nove anos neh quando eu conheci a partir de quando eu vim morar pra caacute
aliaacutes foi ateacute antes de nove anos porque como temos a escola neh a escola de alternacircncia
para os jovens agricultores em dois mil no ano dois mil quando a gente iniciou teve
dois alunos da pimenteira que foram aluno da escola hum e aiacute jaacute cheguei dentro da da
praacutetica da pedagogia da alternacircncia noacutes visitamos as familias desses alunos na comunidade
entatildeo a partir daiacute eu conheci a comunidade
L1 qual eacute o seu envolvimento com a comunidade
L2 como acessoria neh nos grupos produtivos como eu falei que a a associaccedilatildeo ela faz
parte ela integra a rede bragantina da ( ) solidaacuteria e ela dentro dessa integraccedilatildeo a
gente eacute eacute como acessoria dentro do do por ela ser uma comunidade quilombola tem
um uma referecircncia dentro do centro de estudo e defesa do meio do Paraacute que eu
represento aqui na regiatildeo neh entatildeo atraveacutes do sedenpa a gente faz essa acessoria
viabiliza alguns alguns momentos projeta poliacuteticas puacuteblicas que satildeo disponiveis
especiacuteficas para essas comunidades
L1 o que a senhora acha da comunidade de pimenteiras
160
L2 em que sentido
L1 eacute o quecirc que ela o quecirc que a comunidade traz assim na representaccedilatildeo o quecirc que
ela representa assim pro sedenpa o quecirc que ela representa pra senhora assim ela tem algum
significado
L2 olha ela a comunidade ela ela eacute significativa ainda em biodiversidade neh a
gente tem rio tem ainda uma floresa ainda tem modo de produccedilatildeo ((tosse))eacute eacute ainda
tem o modo de produccedilatildeo muito assim pro proacuteximo da produccedilatildeo sustentaacutevel neh entatildeo
eacute muito significativo nesses aspectos que vamos dizer se afinam com o projeto que o
sedenpa defende que a escola ( ) defende neh o projeto de sustentabilidade eacute tendo
como ator e protagonista os agricultores e as agricultoras familiares
L1 entatildeo a senhora tem orgulho da comunidade
L2 sim ela eacute realmente uma comunidade que vale a pena investir o conviacutevio tambeacutem (eu
dou soacute apoio) laacute para eles ((risos))
L1 e como estaacute o processo de titularizaccedilatildeo da terra
L2 o processo taacute em andamento neh ainda nem a gente sabe
[
L1 natildeo finalizou
L2 ainda natildeo finalizou a gente sabe que eacute muito demorado neh e agora no final do mecircs de
agosto a gente enviou uma carta pra associaccedilatildeo noacutes juntos JUNTOS com a associaccedilatildeo
neh a a entregamos uma protocolamos uma carta no incra pra que eles viessem na
comunidade pra dizer em que peacute estaacute o processo porque o asseacutedio sobretudo nessa eacutepoca
de roccedilado muito grande os fazendeiros estatildeo confinante colocam fogo o fogo entra na
mata neh muitas vezes gente da proacutepria comunidade que natildeo tem assim eacute eacute tem a
cabeccedila do opressor neh como Paulo Freire costuma dizer aiacute querem fazer negociaccedilatildeo com
terra ainda bem que a comunidade tem lideranccedilas fortes neh que consegue
enfrentar e freiar mas realmente as titulaccedilatildeo eacute uma uma uma questatildeo assim muito
latente que eacute eacute facilita essas esses desvios neh de de de pessoas da comunidade
querendo vender terra onde confinantes que pretendem de uma form ou de outra tentar
enfraquecer a comunidade expulsar enfim
L1 o que a comunidade vai ganhar com essa titularizaccedilatildeo
L2 eu acho que ganha principalmente a confianccedila neh de de a confianccedila de ser donos
legais da terra e de jaacute se jaacute se sentem donos da terra mas hoje tudo tudo vocecirc tem que
ter papel neh ((risos)) entatildeo eu acho que isso vai ser muito positivo pra eles neh quando
tiver essa titulaccedilatildeo
L1 e o que marca assim a identidade de pimenteira assim na sua visatildeo
L2 na minha visatildeo eacute a
L1 quando fala em pimenteira assim
L2 lembra assim como eu jaacute falei pra vocecirc neh a biodiversidade O USO dessa
biodiversidade neh embora que jaacute tivesse um pouco assim sendo relegada neh
pelos in pelas pessoas do locais devido a essa essa ausecircncia de incentivo ausecircncia de
poliacuteticas puacuteblicas neh agora que comeccedilam despertar pra valorizar o artesanato que essas
pessoas produzem ah o que existe na mata que eles podem ainda taacute utilizando como
pra sua sauacutede pra seu alimento entatildeo isso daacute daacute marca a pimenteira neh e graccedilas agrave deus
a gente taacute conseguindo resgatar com o apoio da rede bragantina do sedenpa da escola
atraveacutes da formaccedilatildeo e de curso e de pessoas que a gente traz aqui eles participam as
mulheres os jovens os adultos isso tem ajudado eles perceberem que eles estatildeo no meio
ainda de uma RIQUEZA neh que ainda tem viabilidade sustentabilidade as
geraccedilotildees que ali nascem enfim
L1 qual eacute a sua relaccedilatildeo com os moradores da comunidade
L2 como assim
L1 como eacute o acontato se tem um contato direto se eacute um contato
161
[ [
L2 olhe eacute o contato a
gente procura sempre canalizar via associaccedilatildeo via lideranccedila por aqui pra natildeo
individualizar eacute a gente cecirc sabe como eacute a as pessoas o ser humano tem tendecircncia a se
aproximar dialogar sentar com aqueles com que eles se afinam aqueles que a gente natildeo
simpatiza a gente nem olha ((risos)) pelo contraacuterio neh entatildeo a gente procura fazer
TER como (ouvir) isso eacute eacute problemaacutetico quando isso acontece neh vocecirc conhece laacute a
comunidade vocecirc sabe que ali tem lideranccedilas que ao longo dos anos sempre ficaram
assim se tipo coman-dan-do a comunidade neh e que inclusive natildeo satildeo natildeo satildeo da do
da da da raiz das pessoas que chegaram laacute natildeo saotilde da da da famiacutelia tronco dos
dos negros neh dos afrodescendentes que eles estatildeo mas que tinham o controle muito
grande era uma celebraccedilatildeo era fazia um fazia outro neh e isso ainda eacute eacute
preocupante neh entatildeo a gente procura ter como referecircncia a associaccedilatildeo a gente natildeo manda
um o convite ou chama fulano presidente ( ) da associaccedilatildeo vem aqui natildeooacute isso aqui eacute
pra associaccedilatildeo AHH ASSOCIACcedilAtildeO entatildeo taacute se referindo ao conjunto das pessoas que estatildeo
ali organizadas neh eacute claro que na comunidade alguns natildeo estatildeo participando da
associaccedilatildeo mas pra noacutes a referecircncia eacute a associaccedilatildeo esses que estatildeo fora olha tatildeo fora por
que querem por sua livre e espontacircnea vontade tambeacutem natildeo eacute obrigado a entrar ateacute
porque foram vocecircs que criaram POREacuteM a referecircncia pra noacutes eacute a associaccedilatildeo eles tem sido
ateacute dificultoso porque infelizmente no oacutergatildeo no no nas no no nos oacutergatildeos puacuteblicos
neh seja do municiacutepio seja do estado muitas vezes se cria essa relaccedilatildeo pessoal pega
aquela lideranccedila neh ahh entatildeo a gente fica sempre batendo olha eacute associaccedilatildeo eacute associaccedilatildeo
mas eacute natildeo eacute faacutecil ((risos))
L1 como descobriu que os moradores de pimenteira eles tem descendecircncia quilombolas
L2 bem a gente em princiacutepio eles contaram a histoacuteria deles neh que eles tem uma eles
satildeo uma parentela da narcisa neh que se desmenbrou e andando nas terras vieram
parar aqui tanto que eles satildeo muito vizinho satildeo parente mesmos neh e depois quando
eles comeccedilaram quando foi instituiacuteda instituiacuteda natildeo quando foi colocada em praacutetica
neh o artigo cento e sessenta e oito da constituiccedilatildeo neh pelo presidente Lula aiacute se
comeccedilou a ver a saber sim noacutes tem uma histoacuteria essa histoacuteria taacute sendo esquecida taacute sendo
relegada neh e o proacuteprio incra neh por vamos dizer assim por uma exigecircncia de
titulaccedilatildeo a proacutepria fundaccedilatildeo palmares eles fizeram neh o levantamento antropoloacutegico na
comunidade entendeu entatildeo eles constataram que realmente eles tem uma um passado
neh que foi dessa desse refuacutegio dos negros neh pras beiras dos rios pras matas pra
criar suas moradias e manter suas suas tradiccedilotildees
L1 o que eacute ser quilombola e qual o significado dessa palavra pra senhora
L2 pra mim neh pra mim o que eacute ser quilombola pra mim oacute pra mim acho que ser
quilombola eacute principalmente conhecer a sua histoacuteria assumir a sua histoacuteria trazer a
sua histoacuteria para o presente neh e colo evidenciar essa histoacuteria seja atraveacutes da das
suas praacuteticas do seu jeito de ser neh
L1 eacute na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de
ser quilombola
L2 com estranheza neh porque ser quilombola como eu falei pra vocecirc eacute assumir sua sua
identidade sua histoacuteria neh entatildeo essa histoacuteria natildeo eacute contada na escola os livros natildeo trazem
isso neh as as figuras que tem no livro eacute sempre a figura da menina loirinha neh natildeo eacute
a figura da pra ensinar o alfabeto Eacute A UVA NAtildeO Eacute O CARAacute que eles conhecem de
LONGOS anos neh e por aiacute vai entatildeo eles receberam assim neh alguns jaacute se apresentam
dizendo eusou fulano de tal moro na comunidade quilombola tal mas eacute alguns neh diz
eu sou fulano de tal moro na pimenteira neh significa que ainda tem um coisa que eles
natildeo natildeo que eles faccedilam de propoacutesito mas que eles ainda num neh conseguem neh
assumir colocar isso AFIRMAR isso significa pra noacutes uma afirmaccedilatildeo que nem todos
162
fazem mas a gente entende porque eles passaram e sofreram toda essa essa histoacuteria
NAtildeO SOacute eles como negro no Brasil sempre teve vergonha de ser negro por uma sociedade
brasileira que neh entre aspas se diz que natildeo eacute racista mas que tem um racismo hoje a
gente taacute vendo neh sendo provocado sendo questionado na sociedade a gente vecirc claramente
neh posiccedilotildees racistas na nossa sociedade
L1 com relaccedilatildeo aos moradores eles relataram algum tipo de descriminaccedilatildeo com relaccedilatildeo
a descendecircncia deles
L2 sim laacute e aqui nas escolas inclusive o caso aqui das escola eles me eacute me
trouxeram conhecimento do caso aiacute noacutes fizemos uma carta pra diretora da escola daqui
pelo sedempa assinamos (porque) o sedempa estadual e mandamos pra diretora pra que
ela tomasse providecircncia porque senatildeo a gente ia ter que tomar providecircncias legais e as
providecircncias legais todo mundo sabe neh que racismo eacute crime neh eu acredito que
depois pelo menos as meninas de laacute em geral isso soacute soacute eacute denunciado por pessoas que jaacute
tem uma uma certa consciecircncia natildeo sei claro que talvez ainda tenha caso de racismo na
escola mas que todo mundo fica calado neh assume aquela aquele aquela aquele
GESTO como normal como uma questatildeo de infecomo ser inferior aiacute num eacute assim
L1 e com relaccedilatildeo aos direitos os moradores reconhecem eles conhecem os seus
direitos como quilombolas
L2 sim aos poucos a a medida que as questotildees vatildeo vatildeo surgindo por exemplo tem uma
questatildeo da terra olha quilombola tem direito a terra legalizada eles conhecem neh a
medida que as poliacuteticas puacuteblicas aproximam do dia a dia do concreto deles eles vatildeo
tomando esse esse conhecimento natildeo eacute dizer que eles cochecem tudo natildeo neh
porque tem coisas que agora por exemplo vestibular das cotas neh que eacute recente quer
desligar ((risos))
((corte de gravaccedilatildeo))
L1 entatildeo voltando a pergunta o que acha eacute com relaccedilatildeo aos moradores como eacute que eles
reconhecem se eles reconhecem a a questatildeo dos direitos possuem sobre ser quilombola
L2 pois eacute como noacutes estaacutevamos eacute colocando neh eacute eles reconhecem a medida que eles vatildeo
sentindo na praacutetica vendo na praacutetica neh seja a questatildeo da terra aacutes vezes eles escutam
na televisatildeo mas como se eles natildeo vatildeo atraacutes ou se eles natildeo se colocam como detentores
daquele direito isso parece que eacute o processo mais demorado neh o exemplo eacute agora o
vestibular das cotas neh que da pimenteira teve soacute um ano que fez uma menina daqui
que ela morava aqui em santa luzia neh ela eacute filha de dona Domingas e agora esse ano
tem uma que taacute fazendo neh aliaacutes que taacute querendo fazer mas ontem ateacute dei uma bronca
um pouco nela porque eles aacutes vezes eles quererm priorizar festa em vez do estudo e a
a no caso da educaccedilatildeo neh que assim mais eacute assim muito fazer cumprir exige
um grau de mobilizaccedilatildeo e ateacute de articulaccedilatildeo no iniacutecio do ano por exemplo a professora da
comunidade laacute do do broca que tem a turma parece que daacute natildeo sei tem algumas turmas
que vatildeo o ocircnibos leva ela para o broca neh esse pessoal tava quarenta e poucos dias
porque natildeo teve transporte aiacute a professora me ligou e disse olha o pessoal da pimenteira
taacute sem aula eles tem direito a educaccedilatildeo ao transporte e eles natildeo tatildeo (vindo) pra aula eu
digo ah eacute liguei mas o que eacute que taacute acontecendo que vocecircs natildeo procuraram natildeo a gente
vai vai vai atraacutes mas eles ficaram de mandar o transporte se natildeo natildeo chegar essa semana
a gente vai sabe muitas vezes eacute uma acomodaccedilatildeo pprincipalmente no caso do da
educaccedilatildeo neh que a gente vecirc natildeo eacute soacute laacute na cidade educaccedilatildeo em santa luzia tem um
tem um retrocesso assim horrivel neh e por ai vai se eles eles sabem que tem o
direito neh alimentaccedilatildeo escolar eles sabem que tem o direito de vender ateacute com com
o valor superior ao neh para os quilombolas dentro do programa nacional da da
alimentaccedilatildeo escolar por lei eles tem direito a um valor mais alto na me na alimentaccedilatildeo
escolar neh mas eles natildeo vatildeo atraacutes quando o gestor fa tem sensibilidade daacute quando
163
natildeo tem diz que tem que ser igual pra todo mundo como eacute que taacute acontecendo agora
entatildeo eacute assim muito muito difacuteacuteicil porque isso exige uma grande mobilizaccedilatildeo
organizaccedilatildeo neh que eacute um processo educativo contiacutenuo o pessoal vem de uma histoacuteria de
de sempre ficar relegado e acha que vai ficar a vida inteira relegado mesmo que tenha
poliacuteticas puacuteblicas que tenham ( ) direito seus neh e que realmente natildeo eacute faacutecil soacute pra eles
soacute pra ilustrar neh ( ) sei que vocecirc vai transcrever a gente taacute numa luta que a gente
ficou desde do da da saiacuteda do prefeito louro a gente ficou com sem receber dos
produtos que a gente entregava para alimentaccedilatildeo escolar neh que ateacute hoje taacute na justiccedila
ainda mas isso a gente tem que ir atraacutes de advogado de um e de outro numa comunidade natildeo
eacute faacutecil se natildeo for acessoria dificilmente eles vatildeo atraacutes disso entatildeo daiacute uma uma questatildeo
assim que natildeo eacute NAtildeO Eacute SOacute que depende dependa soacute deles neh mas que depende de
todos um uma relaccedilatildeo social que eles possam construir e que essa relaccedilatildeo social possa
neh ajudaacute-lo nessa nessa luta por isso que eu perguntei pra vocecirc olha a gente vai
precisar da tua ajuda tem que somar forccedila com a gente nessa histoacuteria porque se natildeo difiacutecil
L1 eacute a senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade
L2 sim
L1 fale um pouco sobre essa associaccedilatildeo
L2 entatildeo a associaccedilatildeo eles tinham algum (embriatildeo) de associaccedilatildeo que natildeo era assim
vamos dizer legalizada entatildeo pra eles darem prosseguimento a que natildeo era tambeacutem
criada como associaccedilatildeo quilombola era associaccedilatildeo que foram assim acho que
incentivadas antes deu chegar aqui ela jaacute tava por laacute com a questatildeo de (FNO) essa coisa toda
neh DEPOIS pra ele se legalizarem como quilombola o tinha um programa em
Beleacutem o programa raiacutezes neh que eles elaboraram mais ou menos com o apoio de advogados
no estatuto padratildeo que pudesse orientar quais os termos que deveriam ter no estatuto
neh que que eacute eacute passariam por um processo legal pra depois ser levado para cartoacuterio
pra um e pra outro entatildeo a nossa contribuiccedilatildeo foi muito nesse sentido de mostrar olha
a resoluccedilatildeo um meia oito da da constituiccedilatildeo resoluccedilatildeo natildeo o artigo um meia oito da
constituiccedilatildeo brasileira ele fala isso e isso alguns desses pontos tem que taacute constando aqui
natildeo citando a a a o decreto o artigo laacute da constituiccedilatildeo mas coisas que tatildeo citam
laacute que satildeo direitos (principalmente) na questatildeo da da dos recursos naturais da da da
venda da terra enfim entatildeo a ajuda foi mais nesse sentido de ajudar eles entenderem a questatildeo
legal neh juridicamente legal pra poder encaminhar registro pra porque depois
esses documentos no caso vatildeo pra incra vatildeo pra interpa quando eacute o caso de terra do estado
vai para fundaccedilatildeo palmares pra poder obter a certificaccedilatildeo entatildeo a contribuiccedilatildeo foi muito
nesse campo mais legal da da legalizaccedilatildeo
L1 hum rum e mais assim como eacute a questatildeo de de provar que eacute quilombola
isso eacute difiacutecil eacute uma situaccedilatildeo que AH eles tem uma caracteriacutestica quilombola ou eles
satildeo quilombolas mas aiacute pra o processo de ( ) eacute muito eacute muito dificil pelo que eu percebo
L2 a titulaccedilatildeo da terra
L1 sim
L2 eacute porque depende do estado neh no sentido mais amplo laacute no caso eacute oacutergatildeo federal a
aacuterea neh
L1 hum rum
L2 as outras comunidades que tem aqui foram aacuterea do estado entatildeo cecirc sabe que o
estado tem uma esfera burocraacutetica muito pesada neh e aiacute vai tem que vir antropoacutelogos pra
fazer a o levantamento histoacuterico da famiacutelia pra vecirc quais foram as histoacuterias enfim pra ter
esse reconhecimento natildeo eacute soacute assumir
L1 aiacute no caso pra pra provar essa questatildeo de quilombola neh com relaccedilatildeo a
preservaccedilatildeo da cultura
L2 hum rum
L1 isso ajuda no sentido do reconhecimento
164
L2 ajuda porque quando eu nunca fiz um levantamento antropoloacutegico ateacute porque natildeo sou
antropoacuteloga mas ( ) eu fiquei sabendo de outras comunidades e tambeacutem ouvindo assim
uma uma pessoa que teve aqui da fundaccedilatildeo palmares eles fazem todo esse traccedilo todo
esse perfil da CULtura dos santos que valorizam das ladainhas que ainda fazem
entendeu entatildeo tudo isso taacute presente na na identificaccedilatildeo neh na identificaccedilatildeo e e
reconhecimento da da comunidade como sendo afrodescendente
L1 hum devido a isso a senhora tem conhecimento de algum grupo que tenha desisitido
do processo de identificaccedilatildeo por perceberem que natildeo tem mais assim essas
caracteriacutesticas
L2 hum natildeo bem aqui natildeo tenho esse conhecimento tem alguns que ainda tatildeo um
(bocado) deles ainda tatildeo na luta pela terra neh mas eles jaacute tem essa identidade assumida
neh eu natildeo tenho natildeo algum que tenha desistido
L1 eacute com relaccedilatildeo a uma fora
L2 ((risos))
L1 mas assim com relaccedilatildeo quilombola quais quais comunidades aqui em santa luzia satildeo
comunidades consideradas quilombolas
L2 pimenteira jacareacutequara tipitinga e trecircs voltas que jaacute estatildeo vamos dizer assm com o
processo praticamente concluiacutedo tipitinga jacareacutequara jaacute com a titulaccedilatildeo neh
L1 jaacute estatildeo com a titulaccedilatildeo
[
L2 jaacute estatildeo intitulados trecircs voltas ainda pendende eacute pimenteira tambeacutem
taacute ainda pendente das que eu sei satildeo essas
L1 o que caracteriza um quilombola hoje
L2 hum hum ((risos)) eacute eacute uma eacute uma mistura neh porque eacute as pessoas vatildeo
incorporando haacutebitos da sociedade (mais geral) porque ele natildeo taacute isolado neh ele taacute no
meio o meio externo influencia comportamento haacutebitos neh entatildeo a a cultura eacute acho
que eacute uma coisa que ajuda mais a identificar os haacutebitos alimentares e a cultura o uso
dos recursos como a gente tava falando entatildeo foi por ai que a gente taacute trabalhando esse
projeto de fortalecimento com as mulheres de valorizaccedilatildeo da cultura eles chegavam
aqui o caraacute por exemplo eacute um alimento que todo mundo tem natildeo eacute soacute em comunidade
quilombolaque tem neh mas as pessoas tinham vergonha de chegar aqui pra oferecer um
quilo de caraacute que eacute um alimento neh
L1 hum rum
L2 as pessoas tinham vergonha de usar um chaacute uma erva (ia) para o posto de sauacutede
neh entatildeo a gente taacute procurando valorizar essa cultura justamente naquilo que doacutei na
barriga ou doacutei no corpo neh pra que eles possam
L1 por que reconhecer quilombos qual eacute o significado de reconhecer essas
comunidades
L2 eu penso que eacute um signi eacute um significado importante para o Brasil neh que a
populaccedilatildeo brasileira eacute foi formada por esse por esse povo que foi trazido pra caacute que
teve toda essa miscigenaccedilatildeo que ainda tem as suas raiacutezes muito assim latente na
religiosidade popular neh embora tenha sido muito quebrada neh com o catolicismo
romano mas que eu acho que eacute importante pra populaccedilatildeo brasileira neh reconhecer a
sua origem a sua histoacuteria a sua cultura mesmo os que tatildeo na cidade satildeo tem uma boa parte
que satildeo negros negros neh entatildeo natildeo pode esquecer essa histoacuteria o povo que esquece
sua histoacuteria ((ruiacutedo)) eacute um povo fadado a ficar mercecirc de qualquer vento neh e hoje a
devido esse processo de de colonizaccedilatildeo pesada que teve natildeo soacute aqui no Brasil mas acho
que no mundo inteiro as pessoas comeccedilam a ateacute um parecircnteses fecha ai teu teu
gravador que natildeo eacute coisa assim da da pesquisa
L1 hum rum
L2 que esses islatilde neh esses grupos mulccedilumanos que tatildeo ( ) eu fiquei assim horrorizada
165
que eles postam assim na internet neh eu ( ) a facebook mas a gente abrir esse mesenger e
aiacute outro dia tava passando aqui na tele na tv Brasil que a gente assisti muito aqui neh e tava
falando que esse povo eles pra eles cultu poliacutetica eacute religiatildeo econocircmia uma coisa soacute
eles natildeo fazem distinccedilatildeo como eacute no Ocidente cultura ocidental natildeo eacute natildeo tem a ideia
desagregada neh entatildeo isso natildeo foi a toa essa desagregaccedilatildeo natildeo foi a toa essa
fragmentaccedilatildeo cultural e hoje esses grupos que satildeo minorias tatildeo procurando
reconstituir isso neh e muitas vezes usando da violecircncia usando da forccedila a gente fica
chocado mas quan-tos anos ele vem sofrendo de neh de colonizaccedilatildeo eu-ropeia
colonizaccedilatildeo dos Estados Unidos massacre e tudo mais aiacute esses grupos hoje estatildeo atraacutes
dessa identidade muitas vezes a pessoa vecirc violencia pela violecircncia natildeo vai atraacutes da
HISTOacuteRIA que que gerou aquela violecircncia neh
L1 a origem
L2 a origem enfim entatildeo acho que tem um pouco tem um paralelo que daacute pra pintar
neh L1 aiacute nesse nesse nesse aspecto a gente chama neh um pouco a questatildeo da
desigualdade racial
L2 eacute
L1 e entatildeo eacute um ponto tambeacutem que traz essa perspectiva do do fato de ser
quilombola tambeacutem ter a margem neh essa essa
L2 hum rum
L1 essa caracteriacutestica neh
L2 isso
L1 nesse aspecto como eacute que a senhora vecirc essa questatildeo da desigualdade mesmo racial
L2 eacute algo assim que ainda vai se passar por um processo histoacuterico que tem um
fundamento principalmente na na educaccedilatildeo neh se noacutes tivermos educaccedilatildeo que possa
eacute eacute comeccedilar a desmistificar essa desigualdade neh esse racismo seja pelo cor seja pela
opccedilatildeo religiosa seja pela opccedilatildeo sexual isso ajuda mas a escola ainda se se esse
debate (natildeo eacute presente) neh aiacute o o debate que vocecirc vecirc o natildeo eacute debate neh a televisatildeo
talvez mostrando (aquele) racismo neh eacute homossexual que foi espancado que foi
mor-to entatildeo um negro que foi preso neh enfim entatildeo ateacute que isso
realmente mude essa configuraccedilatildeo eu acredito que soacute um processo educativo amplo
infelizmente o processo educativo mesmo com toda a discussatildeo que taacute hoje colocada mas
ainda eacute o processo educativo do do do letramento neh o processo em discussatildeo pra
formaccedilatildeo de cidadania entatildeo se natildeo tem esse processo educativo nessa perspectiva do
ser cidadatildeo aiacute ainda temos que passar por muitas geraccedilotildees pra poder chegar uma neh
uma sociedade sem racismo ( ) sem desigualdade
L1 que tipo de outro benefiacutecio eacute legiacutetimo sem ser o da terra
L2 hum rum
L1 pa-ra os quilombolas
L2 aleacutem do da da terra temos a questatildeo da educaccedilatildeo a prioridade em determinadas
questotildees de sauacutede puacuteblica neh tem um um caso que eacute muito muito quase que especiacutefico
embora aconteccedila no ( ) da anemia ( ) neh que eles tem que ter tratamento diferenciado
acesso diferenciado a sauacutede mas talvez muitos por natildeo conhecer natildeo sabem muitas vezes
nem sabe que tem o problema neh que eacute a anemia ( ) entatildeo acho que esses direitos tem
que o direito tambeacutem do do dos terreiros neh os terreiros sempre foram demonizados
e que eacute uma uma expressatildeo da religiosidade neh mas satildeo direitos que natildeo vatildeo ser
faacutecil de serem conquistados porque se vc tem uma comunidade que taacute reconhecida como
quilombola aqui essas pessoas tem relaccedilatildeo de vizinhanccedila que outras comunidades que natildeo
satildeo quilombolas neh entatildeo se elas estatildeo fazendo laacute um terreiro os os que natildeo satildeo
quilombola podem ateacute ir laacute frequentar pedir um chaacute pedir uma uma reza na cabeccedila MAS
noacutes sempre colocar neh como natildeo aquilo ali eles fazem cruz ( ) neh
L1 hum rum ( )
166
L2 penso que eacute isso neh seus direitos
L1 e com relaccedilatildeo ao papel da universidade como se se a senhora vecirc essa contribuiccedilatildeo
da universidade sobre as comunidades tradicionais
L2 ahh o papel da universidade eacute muito importante mas como a gente tava dizendo
a pouco tem a diversidade tambeacutem dentro da universidade neh a universidade em
constituiccedilatildeo de ensino soacute pra te daacute um exemplo acho que ainda tenho ai um caso assim
horrivel de racismo que teve na universidade federal do Paraacute com uma soacute natildeo lembro se ( )
eacute professor de laacute a Cristina Chaves natildeo sei se tu conhece aiacute ela ficou assim tatildeo
chocada mandou carta a gente enfim ( ) nessa hora ( ) mobilizaccedilatildeo vai passando carta um
pra o outro neh eu natildeo sei te relatar assim mais mas foi com o professor ateacute neh
teve tinha uma discussatildeo com os alunos E o professor claramente (externalisou) posiccedilatildeo
de racismo entatildeo a universidade ela taacute formando neh e taacute taacute formando profissionais
mas dentro desses profissionais se esse debate tambeacutem natildeo eacute levado as ppessoas entram laacute
vindo da escola da educaccedilatildeo baacutesica neh sem essa formaccedilatildeo neh entatildeo se ela chega
na universidade e a universidade natildeo procura pelo menos eacute vecirc ou colocar na nessa
questatildeo neh aiacute eacute complicado neh vai continuar o cidadatildeo ou cidadatilde com essas
praacuteticas MUITO IMPORTANTE entatildeo o papel da universidade nesse processo AS COTAS
por exemplo parece que o os uacuteltimos estado deles do sitema de cotas foi aqui o Paraacute neh
e olha que nem ( ) passado mi teve uma menina da narcisa que fez a prova neh ela foi
selecionada que ela eacute ateacute professora na (comunidade) eacute uma moccedila muito aplicada e eles
vem aqui neh a gente foi fez a inscriccedilatildeo da Francisca e tal a Francisca foi selecionada ela
voltou comigo para fazer o negoacutecio da declaraccedilatildeo neh que eu digito claro que natildeo sou eu
que assino quem assina eacute a ( ) ai fizemos a declaraccedilatildeo mandamos no dia que essa menina
foi se inscrever chegou laacute E DEIXA estar que a menina laacute do sedempa da ( ) tinha me
avisado ahh Francisca passou ahh que bom porque aacutes vezes a gente fica sem
comunicaccedilatildeo aqui de internet neh aiacute me disseram a nota que ela tinha tirado ela passou foi
classificada Francisca tu passastes no dia que essa moccedila foi pra Braganccedila fazer a matriacutecula
dela olha chegou laacute natildeo num passou Francisca tu passastes natilde-o arreda o peacute daiacute pelo
amor de deus grande favor que tu vai me fazer tu vai enfrentar esse povo deixa aiacute taacute por
azar nesse dia mal a gente coonseguia mandar mensagem por esses telefones aqui de santa
luzia liguei para a professora Georgina vocecirc conhece neh a professora Georgina olha ( )
eu tocirc em Beleacutem aqui me consultando mas diga pra ( ) nuacutemero ligar liga pra natildeo sei quem
uma hora da tarde eu acho que ele viu que ela ficou laacute e natildeo arredou o peacute encontraram laacute
natildeo sei quem depois que fui saber que natildeo era soacute o caso dela a professora ( ) tava com uma
lista de gente que ela tava tentando resolver por conta de eles inventavam um inventavam
outra pra natildeo matricular sabe eu disse olha ( ) a luta do negro eacute essa pensa que jaacute
acabou a discriminaccedilatildeo a desigualdade tu taacute vendo na praacutetica natildeo abre matildeo fica aiacute noacutes
vamos pertubar enfim eles vatildeo a tua vaga taacute garantida tu passastes menina tu fostes
classificada entendeu sei que graccedilas a deus ela ta laacute na UFPA em braganccedila neh tem
dois do tipitinga tambeacutem que tatildeo laacute tem dois do jacarequara esse ano tem uma turma maior
por por coincidecircncia ((risos)) agora o sedempa e a (malu) conseguiram na casa da
linguagem que eacute da fundaccedilatildeo curro velho professores eles vatildeo fazer trecircs poacutelos de PRE-
paraccedilatildeo e redaccedilatildeo por isso que desculpa por isso que eu te perguntei mas tu jaacute chegasse
((risos)) que eacute a moccedila que eu tocirc esperando ela chega agora meio dia que ela me ligou ontem
disse olha eu vou no ocircnibos das nove eu digo taacute tudo bem ela vai ficar saacutebado e domingo
na escola soacute treinando essa turminha em redaccedilatildeo pra eles fazerem o seletivo mas eu tocirc
dizendo pra eles oacute vocecircs tem que lecirc o ano inteiro vatildeo lendo vatildeo treinando os alunos da
escola que ainda tatildeo fazendo o primeiro do EJA neh eles natildeo satildeo obrigados a fazer mas
a gente taacute ateacute incentivando pra eles verem como eacute a prova neh a fazerem a prova e tudo
haacute uma dificuldade mas tem tem que entatildeo eacute isso neh desculpa que eu falo muito acabo
ateacute me perdendo (natildeo sei se tocirc respondendo o que tu tem)
167
[
L1 natildeo taacute sim
L2 hum ( )
L1 hum rum
L2 mas a desigualadade neh nesse campo aiacute eacute bem presente quando eles vatildeo tentar
(essa) universidade hum se preparem eu digo olhem se preparem pra brigar ((risos)) se
vocecircs natildeo brigarem natildeo vatildeo esperar soacute que o sedempa mande carta que a professora Zeacutelia (
) VOCEcircS TEM tambeacutem que brigar junto gente senatildeo natildeo tem combate
L1 verdade agora a gente vai pra um outra caracteriacutestica da entrevista que eacute com relaccedilatildeo as
ervas e plantas
L2 hum rum
L1 ( ) entatildeo a gente sabe que a organizaccedilatildeo mundial da sauacutede ela ela incentiva o uso
desses produtos neh desses produtos naturais porque a maioria da populaccedilatildeo ela natildeo tem
acesso a medicina de farmaacutecia
L2 hum rum
L1 ai nesse contexto a senhora acha que as ervas elas satildeo importantes
L2 eu digo as ervas e o saber neh num tem como dissociar o saber sobre o uso das
ervas entatildeo acho que eles satildeo satildeo realmente importantes e satildeo eacute muito importante que
a gente faccedila valer esse esforccedilo isso que a gente taacute fazendo VEM fazendo pra que as pessoas
voltem a valorizar porque taacute sendo mui-to ( ) mais comum a pirataria taacute dentro neh
e a apropriaccedilatildeo desses saber tambeacutem tatildeo muito forte a gente tem um exemplo aqui no
municiacutepio na regiatildeo da natura neh que compra desse pessoal (murumuru) neh que a
gente sabe que compra noacutes fizemos em dois mil e dez haacute quatro anos atraacutes um projeto
que se alchama chamava alfabetizaccedilatildeo e negritude pra alfabetizar adultos que ainda
num natildeo sabiam ler nem escrever ainda neh e aiacute foi um projeto pequeno que o sedempa
conseguiu recur-so aiacute veio uma amiga nossa treinamos as monitoras inclusive essa
menina que passou foi umas das treinandas neh e enfim fizemos com muito es-for-ccedilo
neh os recursos era pequeno sabe a menina veio essa professora que tambeacutem eacute uma
professora muito comprometida trabalha em Beleacutem e a gente vinha e ela vinha e taacute
passado recom graccedilas aacute deus conseguimos tem depoimentos assim interessantes de
pessoas que se alfabetizaram neh que hoje CONTInuaram estudar neh tatildeo num MAS
eu digo sempre olha vocecircs tem que abrir o olho a natura nunca deu um laacutepis UM
LAacutePIS pra essas comunidades pra ajudar nesse processo vai laacute tirar os recursos que tem
e pronto neh no nosso caso aqui eacute murumuru mas a gente tem casos por ai que eles estatildeo
mandando o pessoal plantar priprioca (esturaque) sabe agora jaacute tatildeo aqui procurando
outras coisas eu digo olha soacute vou entrar soacute vamos entrar se for pra sentar na mesa e
discutir de igual pra igual se natildeo for eu aconselho vocecircs natildeo irem mas se vocecircs quiserem
ir natildeo posso proibir neh se vocecircs acharem que eacute soacute o olhar do dinheiro vatildeo mas se vocecircs
acharem que tambeacutem passa por um reconhecer aquilo que vocecircs fazem aquilo que vocecircs
tem que vocecircs vocecircs guardaram de geraccedilotildees aiacute a histoacuteria muda neh a histoacuteria muda a
gente senta com eles mas de igual pra igual esse negoacutecio de vir aqui raspar e tudo e natildeo
darem nada de retorno entatildeo natildeo eacute por aiacute ENTAtildeO Eacute IMPORTANTE eacute eacute eacute necessaacuterio
que outros profissionais se engajem no sentido de mostrar a importancia dessas ervas
agora dia vinte e cinco de julho vinte quatro e vinte cinco de julho noacutes fizemos uma oficina
sobre oo uso de fitoteraacutepicos neh aquelas ateacute pra fortalecer o trabalho desse grupo de
mulheres neh e enfim a (bolsa cortou) assim vaacuterios casos sobre isso
L1 as er-vas e as plan-tas elas servem pra que
L2 ah soacute vocecirc perguntando pra elas ((risos)) elas vatildeo te dizer assim um LE-QUE neh
((risos))
L1 um leque ( )
L2 eacute um leque
168
L1 por que tanta gente ela eacute eacute atraiacuteda neh pra essa praacutetica de uso da das plantas das
ervas
L2 aacutes vezes por estar mais proacuteximo aacutes vezes por uma um passar de informaccedilatildeo neh
entre famiacutelias entre parentes vizinhos neh que que comeccedilam a usar a partir dessas
informaccedilotildees acho que a importacircncia eacute por ai
L1 eacute o que a senhora acha do uso de chaacutes no tratamento das doenccedilas
L2 eacute bom neh aacutes vezes as pessoas usam pela indicaccedilatildeo do saber popular agora com a
questatildeo do que taacute sendo colocada da do do ministeacuterio da sauacutede da anvisa neh jaacute
se precisa ter determinados cuidados MAS a gente vecirc que eacute um comeacutercio que soacute cresce
neh olha por exemplo elas fazem aqui a garrafada tem um parece que dois produtos que
elas colocam que natildeo tem aqui e a gente tem que comprar naquelas casas de ervas em
Beleacutem neh entatildeo eu quando vou pra Beleacutem eu docirc esse apoio eu fiquei horrorizada de vecirc o
quanto aumentou o nuacutemero de caso e vendendo essas ervas ali em Beleacutem e uma vez
eu tava laacute esperando que tinha muita gente pra ser atendido aiacute a mulher perguntou mas ( ) a
vendedora que vai receitando ahh minha nossa senhora ((risos)) entatildeo soacute taacute crescendo
esse esse uso dessas plantas neh dessas ervas enfim ( )
[
L1 talvez por isso existem
meacutedicos hoje que natildeo apoiam natildeo dizem que natildeo fa natildeo eacute bom
L2 eacute
L1 no caso desse uso natildeo ser (nada)
[
L2 hum rumdiscriminado algumas vezes a a formaccedilatildeo
deles eacute totalmente elitista neh que dis natildeo reconhece que o saber natildeo eacute soacute o saber
acadecircmico dele neh mas tem que saber o das pessoas neh e tudo isso que dicer de certo
modo vai encontra de encontro neh a a uma praacutetica de dominaccedilatildeo de mais de
quinhentos anos cau-sa is natildeo soacute estranheza mas tambeacutem causa essa divulgaccedilatildeo
contraacuteria neh vocecircs natildeo sei se vocecircs assistiram eu natildeo assistir ateacute porque essa rede
globo eu natildeo assisto embora algumas vezes passe alguma coisa que preste ((risos)) a gente
natildeo pode generalizar neh mas que aquele Bruno Varela neh EU fiquei sabendo
porque eu faccedilo bioenergeacutetico em Beleacutem neh eu durmo em Beleacutem ( ) jaacute faccedilo haacute mais
de quinze anos de bioenergeacutetico eu faccedilo meus exames cliacutenicos neh com o meacutedico
(omeopata) que ele ele vou laacute com plano de sauacutede e faccedilo exames de sangue fezes e urina
porque eles natildeo podem me guardar isso eu tenho que ser o se natildeo tivesse teria que fazer
particular e aiacute nesse dia que eu fui no bioenergeacutetico elas tavam comentando que ele acabou
com a babosa mas colo fez uma propaganda assim horriacutevel neh eu digo meu deus do ceacuteu
um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo que eacute a rede globo tu imagina a repercussatildeo que isso teve
quer dizer que se vocecirc natildeo tem pessoas pra ir contra isso neh aiacute pronto a rede globo que
diz eacute verdade o que ela taacute passando sabe entatildeo taacute por traacutes dele a multinacional que patrocina
a rede globo taacute por traacutes ENes neh eacute uma rede poderosa de de de controle neh
controle econocircmico controle poliacutetico que patrocina tudo isso neh entatildeo natildeo eacute faacutecil
L1 existe outras comunidades que trabalham com o uso de ervas
L2 assim de forma sistemaacutetica aqui na re-gi-atildeo natildeo conheccedilo mas no dia a dia com certeza
que trabalhe e usam ervas PARticiparam desse curso que eu falei pra vocecirc dessa oficina as
outras comunidades que satildeo daiacute de bragantina de ViSEU de augusto cocircrrea natildeo de
viseu e de cachoeira do piriaacute elas estiveram aqui neh aiacute a gente comeccedilou olha bora
comeccedilar botar em praacutetica assim de forma mais estruturada e tudo elas disseram que iatildeo
comeccedilar a fazer aqui na comunidade mesmo neh
L1 hum rum
L2 vecirc se vatildeo
L1 como a senhora soube do uso das ervas pelos moradores da pimenteira
169
L2 a gen-te conversando neh aacutes vezes tatildeo laacute e ahh isso aqui eacute um chaacute aacutes vezes mesmo
chegaram agora ahh isso aqui eacute uma planta Eacute isso aqui eacute uma planta e aiacute ela na conversa
muitas vezes espontacircnea elas vatildeo falando aiacute quando a gente comeccedilou esse trabalho na
pimenteira noacutes dissemos bora fazer do do bioergeacutetico neh bora fazer um
inventaacuterio um (herbaacuterio) do que tem aqui umbora aiacute uma amiga minha de Beleacutem era
bioacuteloga ela tava formada ela natildeo tava trabalhando era uma pessoa muito disponiacutevel neh aiacute
eu falei com ela ela disse ahh ( ) ela veio ficou uns trecircs dias na pimenteira soacute ao redor ela
natildeo andou a comunidade toda ela fez um registro de oitenta plantas plantas medicinais a
gente ateacute tem esse esse herbaacuterio neh digitado tudo direitinho no herbaacuterio a identificaccedilatildeo
das plantas ela anota aiacute elas iatildeo olha isso aqui eacute isso serve pra isso sabe (bons) tempos eacute
sim a gente ficou
L1 na sua concepccedilatildeo a o que marca a identidade da comunidade pimenteira satildeo as
ervas satildeo os quilombolas por que haacute outra caracteriacutestica
L2 eu digo que satildeo a a biodiversidade que tem laacute presente neh e dentro dessa
biodiversidade estatildeo as ervas neh estatildeo as ervas estaacute o accedilaiacute enfim porque eles vivem dessa
biodiversidade acho que isso que marca ainda eacute uma comunidade que tem uma uma
sustentaccedilatildeo ainda muito assim vinculada a biodiversidade que tem laacute e laacute vocecirc tem o
solo tem o rio tem as ervas neh tem a floresta onde eles enfim eacute esse ainda eacute
eacuteclaro que hoje todos oscomunidades tem gente que eacute funcionaacuterio puacuteblico (talvez) laacute
natildeo tenha ningueacutem da comunidade porque a dona neneacutem eacute agente de sauacutede mas ela natildeo eacute da
comunidade tem tem bolsa famiacutelia tem aposentados mas ainda eacute uma comuni que marca eacute
a biodiversidade que ainda eacute muito forte laacute dentro taacute
L1 a senhora faz uso das plantas medicinais
L2 faccedilo lhe mostrar minha receita ( ) de energeacutetico ((riso)) as minhas garrafadas que eu tomo
tambeacutem
L1 eacute qual eacute a sua relaccedilatildeo ou (fluecircncia) nessa catalogaccedilatildeo dos termos quando eu falo
termos eu falo das ervas das plantas
[
L2 das ervas
L1 dos nomes delas neh sobre as plantas (medicinais) pelos moradores
L2 assim eacute
L1 como ocorreu esse processo
L2 ess especifi a gente iniciou como eu falei para vocecirc neh no iniacutecio do trabalho em dois
mil e oito foi o primeiro mandato do governo Lula que teve o projeto a gente comeccedilou a
neh teve o apoio pra fazer isso noacutes comeccedilamos a fazer aiacute o nosso o nosso incentivo o
nosso trabalho PRIMEIRO tentar daacute uma uma visibilidade mas uma visibilidade
assim com certo com certo grau de informaccedilatildeo aiacute por exemplo deixa eu pegar aqui pra te
mostrar a dona Domingas faz laacute a tintura de de de deixa eu pegar aqui ( ) laacute de Beleacutem
(quando a gente sai do serviccedilo compra laacute mesmo) ( ) entatildeo apre uma apresentaccedilatildeo do
produto mesmo que ele seja mas ele taacute numa embalagem adequada ele taacute identificado neh
a garrafada neh aiacute a gente coloca produto fitoteraacutepico artesanal o que tem aqui dentro a
composiccedilatildeo a data que foi fabricada e aqui o nome neh centro popular mil sauacutede das
mulheres da associaccedilatildeo remanescente quilombo da pimenteira coloca os contatos sabe
que as pessoas ligam ou pra dar sugestatildeo ou pra pedir como jaacute aconteceu ( )uma queria
uma garrafada personalizada outra ((risos)) tem todas esses esses detalhes neh entatildeo a
contribuiccedilatildeo eacute nesse sentido pra que esse produto chegue ao consumidor num grau de
confiabilidade pelas informaccedilotildees que tem dizendo quem faz entendeu o endereccedilo pra
contato entatildeo eacute muito assim ali na associaccedilatildeo tem mais das ervas todinha
L1 existem moradores na pimenteira que participam da cooperativa com a produccedilatildeo dos
medicamentos com as ervas como eacute esse processo
L2 tem a aiacute soacute um detalhe neh a associaccedilatildeo neh ( ) na cooperativa neh
170
L1 hum
L2 eacute eles contribuem neh com a aacutes vezes identificando por exemplo tem uma planta
laacute que no iniacutecio desse trabalho a gente identificou que eacute o bacuri e eles disse que eacute bom
pra glaucoma e tambeacutem o meacutedico neh amigo nosso disse realmente essa planta ela tem
esse poder neh e aiacute ela ( ) faz um coliacuterio antigamente assim assim assim soacute que taacute
acabando MEU DEUS do ceacuteu aiacute depois ela ( ) esse morador ELE esse homem ele veio pra caacute
ela taacute aqui na cidade agora ( ) esse homem laacute neh que a gente ( ) no carro levou ateacute laacute de
carro ( ) ele tentar ( ) porque ela disse que ela natildeo sabe ( ) ele sabe neh aiacute ela disse noacutes
temos que ir laacute com esse homem aiacute quem aleacutem de identificar esse capim sabe laacute saber se
esse homem natildeo tem que a gente natildeo pode deixar se perder inclusive viu Edileuza (da
outra vez que tu vir) com a gente eacute assim a gente taacute querendo criar a casa do ( ) ( )
no no no na linguagem ( ) eacute aquele idoso que transmite as histoacuterias ( ) pra outros neh ( )
aiacute a dona Maria do Carmo que tamb5eacutem eacute afrodescendente ela do lado tem uma feacutezinha
fui laacute em ( ) ahh bora fazer o seu Severino que vocecirc conhece neh laacute do do tipitinga ele
tem o sonho de fazer a festa de satildeo miguel que laacute eles fazem (nossa senhora de santana) ( )
religiosidade catolicismo neh aiacute ele disse bora Cilene bora ver o que a gente faz eacute em
setembro soacute que sem ah natildeo eu acho que eacute amanhatilde dia de satildeo miguel vinte e nove neh
amanhatilde natildeo eacute por esses dias vamos fazer noacutes vamos comeccedilar se reunindo os os ( ) a
velharada toda ((risos)) falei assim pra ele mas pra isso tem que ter um carro pra pegar esse
povo pegar laacute na pimenteira pegar num canto pegar no outro pra ir pra o cristo agora
fiquei sabendo que padre (quebrou o feno) aiacute vamos (vecirc) esse pessoal todinho porque
tem que ter um carro pra levar e trazer eles ou ou ( ) a gente pode se ( ) passo laacute na
num no tipitinga ou algo enfim mas o importante eacute reunir essa (velharada) toda pra
ouvir as histoacuterias dele animar natildeo deixar eles assim soacute O IDOSO QUE taacute precisando de
cuidado de ( ) tomar o remeacutedio na hora certa mas que ele se sinta um idoso ainda uacutetil pra
sociedade pra vocecircs pra comunidade neh mas natildeo foi possiacutevel fazer esse ano por conta de
milhares de compromissos neh tudo isso neh quantas vezes tu me ligasse eu tava
acompanhando tambeacutem o trabalho da doutora Kiara Brandatildeo nas comunidades aqui e
mas mas ainda natildeo saiu esse plano da nossa cabeccedila neh de fazer essa ( ) natildeo sei se a
gente vai fazer setembro do ano que vem mas a gente tem que (comeccedilar) ( ) o importante
que a gente comece a pegar esse pessoal e tentar neh o pai da dona Domingas que tava
te falando eacute soacute ela aiacute ela nem participa mas agora ela tem que cuidar dele que ele jaacute taacute
muito idoso e tudo TEM PESSOAS que daqui haacute um tempo pode ser ateacute que a gente faccedila
nossa viagem antes dele mas a gente sabe neh que de repente natildeo vai mais contar com eles
pronto vai embora um patrimocircnio toda uma histoacuteria um saber que ficou pra traz neh e isso
nas comunidades quilombolas eacute importante aacutes vezes o pessoal me perguntA mais tem olha
vatildeo laacute pergunta pros idosos que estatildeo laacute porque eu natildeo tenho (todo) neh eu ajudo eles
na a tentar resgatar essa histoacuteria escrever essa histoacuteria mas eu natildeo tenho todas as
informaccedilotildees ateacute porque eu natildeo faccedilo soacute isso eu tenho MIL compromissos ((risos)) de de
trabalho pra fazer neh entatildeo se vocecirc puder contribuir com a gente nesse aspecto acho que
vai ser bom
L1 com certeza eacute a senhora realiza alguma atividade de compra e venda das plantas
L2 como rede bragantina a gente faz neh a compra dos produtos e a venda no caso
fitofitoteraacutepico e elas produzem a rede bragantina soacute faz a comercializaccedilatildeo neh elas
mesmos traz as ervas elas preparam aiacute o que que a gente faz aqui embalagem neh eacute
identificaccedilatildeo quando a gente quer botar mais informaccedilotildees ou ateacute qualificar mais
aquele material a gente entra em contato com profissionais pra que eles possam ( ) como eacute
o caso desse dessa oficina que teve de fitoteraacutepico neh que (veio) uma farmacecircutica de
Macapaacute neh que ela trabalha no instituto (tumucumar) que eacute tambeacutem no ( ) de Macapaacute e aiacute
soacute que dois ou trecircs dias com a gente foi assim maravilhoso eu saiacute encantadad neh com
muita informaccedilatildeo que ela passou ( ) a contribuiccedilatildeo eacute quando a gente comercializa
171
L1 vocecirc jaacute conhece algum caso assim de doenccedila de cura atraveacutes das ervas
L2 das ervas elas conhecem neh elas me falam de um bocado natildeo sei de se me lembro
agora neh MAS EU praticamente eu me trato com as ervas graccedilas a deus nunca tive uma
doenccedila assim grave neh mas ( ) eu me sinto bem
L1 hum rum
L2 neh o (vicente) tambeacutem mesmo ele sendo europeu ( ) a gente faz junto esse
bioenergeacutetico aiacute a gente toma aqui em casa direto eacute fitoteraacutepico
L1 entatildeo a senhora acredita no poder das ervas e das plantas
L2 sim sim
L1 ma MAS OU ele se igualaria a a questatildeo das farmaacutecias
L2 assim eu num digo acreditar porque acreditar eacute uma questatildeo de feacute neh e isso natildeo eacute
religiatildeo eacute uma eacute um fato neh entatildeo eiu uso e me sinto bem neh eacute natildeo sou muito de ( )
ateacute meu pai neh e-le usava muito ervas acho que se a gente tem na na histoacuteria da gente
na histoacuteria de vida e eu uso e assim a palavra como eu disse acreditar natildeo eacute muito
adequada porque acho que crecirc ou natildeo crecirc eacute uma questatildeo de feacute neh eacute uma questatildeo de ( ) a
gente usa e daacute certo acho que eacute um pouco isso neh esses dias a gente estava aqui com a
doutora Clara Brandatildeo e ela vinha de longos anos falando sobre o uso da multimistura
neh natildeo sei se vocecircs jaacute ouviram neh falar na multimistura AIacute ela tava ano passado ela
veio fez oficina com o grupo esse ano a gente chamou esse grupo foi ateacute quarta feira que
vocecirc disse que chamamos o grupo que teve ano passado e mais outras novatas neh que
ainda natildeo tinham assisitido palestra com ela e aiacute a gente ( ) ano passado deu testemunho se
usaram natildeo usaram tudo natildeo soacute a multimistura mas tudo que elas colocaram em praacutetica a
partir daquilo que olha teve depoimentos assim estarrecedores no sentido assim perplexo
bonito no sentido de que deu certo de que funcionou mudarem o haacutebito alimentar adotaram
multimistura sabe a economia domeacutestica que fizeram que passaram a consumir de uma
certa maneira e de um certo modo foi assim ( ) se perdeu neh ( ) uma oportunidade do
trabalho ((risos))
L1 entatildeo no caso o que eacute a garrafada e o que eacute a multimistura
L2 oacute tem que perguntar pra ela ((risos)) dona Maria taacute logo ali noacutes vamos laacute e tu pegunta pra
ela taacute bom da garrafada a multimistura eacute complemento alimentar de feito a base
de de produtos tem valor nutricional alto disponiacutevel principalmente para os mais pobres
porque agora natildeo principalmente na nossa regiatildeo mas o a a base dela eacute o farelo de arroz
a folha da da macaxeira neh e o gerginlim a folha da macaxeira eacute riquissiacutema em
vitamina A ( ) se tu quiseres eu te mostro
L1 an ram
L2 a o gerginlim eacute riquissiacutemo em caacutelcio neh aiacute quando ( ) olha tem ( ) gerginlim
preto ai eu fui levei laacute pra ela ele eacute mais rico ateacute do que o branco ainda tem todo o
material desse projeto aiacute na ( ) a doutora Clara produziu e a fundaccedilatildeo banco do brasil
publicou (a gente) fez o material infelizmente olha essa aqui eacute a tabela nutricional
tem aboacutebora arroz (colido) (as pessoas acham que pode comprar melhor) ( ) que tanto
ele tem de calcio neh ela compara sempre com o leite da vaca entatildeo ele leva esses trecircs
produtos aqui a vitamina C
L1 hum rum
L2 e a vitamina A que taacute presente em valor altissiacutemo na folha da mandioca neh o calcio
que taacute presente altiacutessimo no gerginlim ferro tambeacutem e ( ) olha que o tanto de ferro que
tem no farelo aleacutem da vitamina do complexo B neh B1 B2 ( ) assim com toda
complexo B neh essas trecircs quando a gente mistura ela eacute basicamente essas trecircs produtos
aqui entatildeo ele eacute complexo alimentar ele natildeo eacute um remeacutedio neh e eacute tem casos
assim do resultado dele que nem tava dizendo a FILHA DELA ela passou numa aiacute que ela
tinha ido ali no postinho aquele que tem ali naquela rua neh ( ) aiacute a gente tava laacute e ele
disse (Leacuteia) tem multimistura tem (quero um pouco) de multimistura eu disse (ela jaacute tava
172
perto) de ter neneacutem a a Geacutessica e agora eu tava (dando) depoimento que a a
doutora Clauacutedia tava falando neh olha trabalho de parto sangramento quem usa multimistura
natildeo tem isso neh e ela disse olha minha filha duas horas de trabalho de parto ela
teve teve sangramento natildeo teve natildeo sei o que natildeo sabe E EU assim ( ) soacute ela
tomou dois meses antes soacute e eu acredito que foi essa mulher que disse neh EU
ACREDITO que foi muito da alimentaccedilatildeo dela que comeccedilou a controlar essa senhora pra te
ter ideia quando eu convidei ela ano passado neh ( ) soacute fala em doenccedila neh aiacute disse
( ) olha a doutora Clauacutedia Brandatildeo vem aqui vai ter uma oficina expliquei neh aiacute ela disse
assim ah eu vou vecirc e comeccedilou a choradeira neh aiacute (eu insisti) taacute bom ( ) eu sei que
realmente vocecirc natildeo pode porque tambeacutem neh (continuei) insistindo eu sei que isso
ano passado neh a ( ) me ligou OI olha ( ) ah que oacutetimo acho que vocecirc natildeo vai se
arrepender e eu vou jaacute laacute a a eacute quarta feira agora neh dois dias atraacutes ela disse que natildeo tinha
se arrenpendido de natildeo ter ido deu o depoimento dela tudo que ela tem o que aconteceu
com a filha dela ateacute convidei ela pra me ajudar a fazer ali no bairro neh pras mulheres
novatas que foram entatildeo assim a multimistura ela tem esse potencial dentro dessa
composiccedilatildeo que ela tem neh e doenccedila degenerativa eu sei ( ) doutora Clara neh setenta e
dois anos com trecircs ou quatro cabelos brancos ((risos)) em toda disposiccedilatildeo soacute tem um
problema no joelho neh que ela anda assim puxando ( ) que de vez em quando ela tem que
taacute sentada mas uma disposiccedilatildeo que nem eu tocirc tendo mais ((risos)) jaacute taacute me fazendo inveja
ontem eu tava uma caco porque essa semana foi assim pesada pra organizar tudo neh ainda
fui com ela pra Beleacutem agora ela fica em Beleacutem ateacute aman ateacute domingo domingo ela jaacute
retorna pra Brasiacutelia que ela mora em Brasiliacutea
L1 ah
L2 que a mistura a multimistura eacute tudo isso aleacutem de produto ela tem que contar neh
como eacute que as pessoas que usam taacute se sentindo e a garrafada vocecirc pergunta pra ela ((risos))
melhor fonte
L1 a garrafada eu conversei com a Domingas
L2 foi
L1 porque ela faz neh ela produz a garrafada pra pra associaccedilatildeo neh
L2 isso
L1 entatildeo na na pimenteira o siacutembolo digamos assim que que trabalha com ervas que
produz que faz esse esse trabalho eacute a a Domingas
L2 a Domingas os outros tambeacutem eacute assim
[
L1 ( ) pessoa
L2 olha eacute isso que eu tava lhe dizendo eles devem usar sim em casa um chaacute um remeacutedio
mas assim jaacute produzindo com certo padratildeo com uma certa orientaccedilatildeo era um grupo de
trecircs quatro neh
L1 hum rum
L2 uma foi pra Paragominas por problemas familiares a outra eu digo que taacute cuidando do
pai mas digo que ela natildeo taacute Nica quando tu puder tu vem natildeo vai ficar de fora ( ) e e a
Irma a outra llaacute que aacutes vezes tem problema de de de desentendimento neh que que
desentedeu mas natildeo ( ) pelo menos eles se falam eles brigam mmas depois se entendem por
llaacute neh aiacute
[
L1 foi foi por causa disso que acabou o bioenergeacutetico na (comunidade)
L2 natildeoeu acho que natildeo natildeo foi por conta disso foi porque eacute a filha dela se interessou
mas assim aacutes vezes ele esse pessoal tem dificuldade de de dar um comando quando eacute
uma coisa assim mas acho que natildeo foi por isso natildeo tatildeo paradas neh quando que
quando o pessoal vai laacute elas fazem pessoal dali da ( ) inclusive eu tocirc incentivando ela
retomar consulta mas soacute que ( ) voltar treinar gente de novo entendeu porque o pessoal
173
vai laacute se consultar o pessoal das (bandeiras)
L1 eu tinha ateacute falado pra ela da irmatilde Edna em Capanema
L2 hum rum
L1 se tinha a possibilidade da irmatilde Edna ir na comunidade falar sobre o projeto
L2 ah que bom vocecirc conseguisse isso ( ) porque elas fizeram com um grupo de Beleacutem
[
L1 ela
diisse que vem sim
L2 vem pois eacute se vocecirc puder trazer vai ser oacutetimo porque eu tocirc insistindo pra ela retomar
porque ela taacute vendendo muita garrafada na redondeza pomada neh que ela fazia
pomada de cabacinha de uma certa maneira quando vinha essa farmacecircutica ela taacute fazendo
de uma outra maneira e tatildeo vendendo assim bastante a pomada de andiroba com cabacinha
L1 e todos estatildeo aqui na na na associaccedilatildeo
[
L2 estatildeo ai na associaccedilatildeo ((risos)) estatildeo ai na associaccedilatildeo
entatildeo a dona Domingas temos que retomar as consultas porque porque tinha que ter um
horaacuterio planejado e aacutes vezes na comunidade elas tinham dificuldade pra marcar um horaacuterio
elas ficavam laacute eu digo oacute mas vocecircs tem que ter paciecircncia tem que habituar o povo neh tem
que treinar as pessoas neh que aacutes vezes tem a ( ) que natildeo esperam satildeo elas que vatildeo ajudar
tem a roupa que taacute laacute no igarapeacute elas que vatildeo lavar ( ) vocecircs fazem um horaacuterio uma vez soacute
por semana neh e vamos tentar vamos retomar porque vocecircs estatildeo com o espaccedilo
construiacutedo TUDO reconstruiacutedo natildeo daacute pra abandonar que natildeo fica bem nem pra vocecircs
nem pra quem patrocinou o ( ) olha a minha cara ateacute eu mas a de vocecircs tambeacutem ((risos))
L1 entatildeo a a o trabalho com as plantas eacute uma caracteristica praticamente da mulher
L2 da mulher
L1 os homens natildeo se envolvem
L2 natildeo se envolvem tem os homens que sabem neh por exemplo laacute em tipitinga tem um que
eacute
L1 nem na produccedilatildeo
L2 aquela aquela tes natildeo natildeo na produccedilatildeo das plantas sim eles conhecem eles
guardam mas eacute mais assim eacute um perfil mesmo da mulher uma especificidade da mulher
no tipitinga tem um um senhor um homem que ele benze ele reza mas eu acho que ele tem
vergonha de se expor ainda natildeo tive tempo de me dedicar laacute com eles e dizer natildeo olha noacutes
vamos laacute o senhor tem que assumir sua sabe seu saber neh o senhor pode ouvir das
pessoas enfim ainda natildeo tive tempo de sentar com ele
L1 no caso no jacarequara natildeo tem neh essa caracteristica de trabalho com as plantas neh
L2 natildeo natildeo tem elas ateacute participavam do encontro soacute que ( ) comunidade e vejam se tem
algueacutem que quer fazer isso e aiacute vocecircs se quiserem a gente taacute aqui pra apoiar pra comeccedilar
a defender os passos tem a o grupo da pimneteira junto com o grupo que taacute na (outra vila)
que jaacute taacute mais adiantado pode ir laacute com vocecircs enfim daacute os primeiros passos SE VOCEcircS
quiserem fazer laacute faccedilam laacute se natildeo aqui tem uma infraestrutura melhor em termos de material
de local de fogatildeo de panela de um e de outro vocecircs podem fazer aqui como ela vem
uma vez na semana ela vem e faz aqui a pomada a garrafada enfim
L1 a dona Domingas vem pra
L2 fazer aqui aacutes vezes ela faz laacute
L1 an ram
L2 mas a grande parte do que eacute vendido aqui que eacute levado pra Beleacutem el vem fazer aqui
que ela ( ) junto com a dona Maria
[
L1 entatildeo ela eacute a
L2 eacute
174
L1 ( ) articulaccedilatildeo
L2 eacute ela eacute articuladora da ( ) dessa produccedilatildeo eacute
L1 ocirc Nazareacute brigada
L2 de nada espero ter atendido neh a sua
L1 com certeza
L2 ( ) aprofundar esse conhecimento aprofndar esse esse saber e principlamente contribuir
com essas comunidades neh com esses povos que precisam mesmo dessa desse apoio
da academia neh que a gente natildeo fique soacute na um trabalho de produccedilatildeo laacute ah taacute
bonito o seu trabalho pesquisa tal mas que isso possa realmente retornar pr essas pessoas neh
e que elsa possam se apropriar cada vez mais com seguranccedila de tudo isso
L1 taacute com certeza
175
APEcircNCICE E ndash Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento
Ladainha a Nossa Senhora
Nossa Senhora do Livramento
Matildee de Deus nossa Matildee
e padroeira de nossa Paroacutequia
Com o olhar confiante vos contemplamos
Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos
Dirigimo-nos a voacutes como filhos
porque necessitamos do vosso auxiacutelio
Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados
apoiados e guiados pela matildeo materna
Renovai-nos espiritualmente
para que saibamos enxergar a vida mais bela
Levantai-nos para caminhar sem medo
nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo
para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna
Nossa querida Matildee
Nossa Senhora do Livramento
abenccediloai-nos e guardai-nos junto de vosso coraccedilatildeo
e conduzi-nos ao coraccedilatildeo eterno e amoroso do Pai Ameacutem
ldquoNossa Senhora do Livramento
Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da almardquo
Senhor tende piedade de noacutes
Jesus Cristo tende piedade de noacutes
Senhor tende piedade de noacutes
Jesus Cristo ouvi-nos
Jesus Cristo atendei-nos
Pai Celeste que sois Deus tende piedade de noacutes
Filho Redentor do mundo que sois Deus tende piedade de noacutes
Espiacuterito Santo que sois Deus tende piedade de noacutes
Santiacutessima Trindade que sois um soacute Deus tende piedade de noacutes
Santa Maria rogai por noacutes
Santa Matildee de Deus
Santa Virgem das virgens
Matildee de Jesus Cristo
Matildee da divina graccedila
Matildee puriacutessima
Matildee castiacutessima
Matildee Imaculada
Matildee intemerata
Matildee amaacutevel
Matildee admiraacutevel
Matildee do bom conselho
176
Matildee do Criador
Matildee do Salvador
Virgem prudentiacutessima
Virgem veneraacutevel
Virgem louvaacutevel
Virgem poderosa
Virgem clemente
Virgem fiel
Espelho de justiccedila
Sede da sabedoria
Causa da nossa alegria
Vaso espiritual
Vaso digno de honra
Vaso insigne de devoccedilatildeo
Rosa miacutestica
Torre de David
Torre de marfim
Casa de ouro
Arca da alianccedila
Porta do Ceacuteu
Estrela da manhatilde
Sauacutede dos enfermos
Refuacutegio dos pecadores
Consoladora dos aflitos
Auxiacutelio dos cristatildeos
Rainha dos Anjos
Rainha dos Patriarcas
Rainha dos Profetas
Rainha dos Apoacutestolos
Rainha dos Maacutertires
Rainha dos Confessores
Rainha das Virgens
Rainha de todos os santos
Rainha concebida sem pecado original
Rainha assunta ao Ceacuteu
Rainha do sacratiacutessimo Rosaacuterio
Rainha da Paz
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo perdoai-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo ouvi-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo tende piedade de noacutes
Rogai por noacutes santa Matildee de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpeacutetua
sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-aventurada sempre
Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da eterna alegria Por
Cristo nosso Senhor Ameacutem
177
APEcircNDICE F ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoAlgodatildeo Roxordquo
Fotografia 36 ndashAlgodatildeo Roxo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 13 ALGODAtildeO ROXO
Lx Lexema Algodatildeo roxo
V Variantes Algodatildeo Branco ou Algodatildeo Preto
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo o algodatildeo rocho ele serve eacute pra () pra moragia pra remautismo tambeacutem faz o chaacute
tintura dele tal de efusatildeo eacute fazer a tintura neacute todo jeito se quiser fazer o chaacute faz a
tintura que usa gotinhas isso e pra moragia eacute tira o sumo da folha pra moragia da folha e uma eacute a haacute aquela dentro da sementinha dela da dentro da sementinha tem tipo
uma lanzinha assim dentro da sementinha pode quebrar a sementinha dela hurum
mas soacute que eacute um pouco maiozinha natildeo porque assim dentro da semente do algodatildeo a
gente tira ele tem dentro da sementinha dele a gente passa passa a sementinha tem
uma uma lanzinha assim tipo uma lanzinha neacute eacute o proacuteprio olho dele eacute o proacuteprio
adonde nasce sim aquilo aliacute eacute bom pra febre ele eacute bom pa pa febre instestinal crianda
do algodatildeo isso tanto faz ele ser o roxo como ser o branco como ser ele eacute bom para
isso tambeacutem febre do algodatildeo ele eacute um ele ele cresce te acho que tiacute trecircs volta de
quatro metros de altura ele ele eacute na terra que se daacute bem ele fica bastante
compundinho assim haacute a folha dele natildeo natildeo eacute aiacute ele tem de trecircs trecircs cor tem o branco
tem um que eacute meio roxinho tem algodatildeo branco algodatildeo roxo algodatildeo preto ((tosse)) da folha da folha da folha eacute ela eacute mais roxeada o algodatildeo branco a folha dele eacute
branca o algodatildeo roxo a folha dele eacute eacute roxeada e o algodatildeo preto ele eacute mas preto eacute
mas escuro hurum isso a folha a folha eacute os frutos eacute eacute soacute mesmo mesmo jeito a flor eacute soacute
um jeito tambeacutem hurum a cor isso isso serve mas o bom eacute o algodatildeo roxo e o algodatildeo
preto que o melhor de todos mas quando natildeo tem esses outros esses uns serve o
algodatildeo branco neacute eacute o chazinho a gente tira aquela sementinha parte a semente dele
dentro da sementinha natildeo tem cumo assim que nem uma lanzinha iai quando parte
bota pra ferver e daacute o chazinho soacute eacute uma febre instestinal daacute no intestino ele eacute ele eacute
uma folha assim o meio dela arendodada e tem trecircs de trecircs bicos grande os bicos
delas satildeo mas eacute eacute trepadeira mas isso eacute natildeo isso eacute uma arve
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
178
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e o algodatildeo que estaacute dentro da semente
Fu Formas de uso
Usada para hemorragias (fazer a efusatildeo com as folhas para tirar a tintura) o mesmo processo serve para reumatismo o algodatildeo dentro da semente eacute usado em chaacutes para
febre intestinal
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Haacute espeacutecies de algodatildeo branco e algodatildeo preto a cor da folha eacute determinante
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
179
APEcircNDICE G ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoArichi de Parigoacuterdquo
Fotografia 37 ndash Arichi de Parigoacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 14 ARICHI DE PARIGOacute
Lx Lexema Arichi de Parigoacute
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacute eacuteh uma planta que ela daacute ela daacute assim ela natildeo daacute muito alta ela daacute quase assim tipo rasteira mas num eacute bem rasteira ela bota muito assim os galhos os galhos cae
assim forma moita a folhinha dela eacute penem folha de canala um mesmo a folhinha de
canela iai ela eacute boa tambeacutem pra fazer tintura pra achar quem natildeo gosta de usar
tintura porque a tintura leva o aacutelcool toda tintura tem que ter o aacutelcool neacute tem que
ter natildeo eacute feita soacute no aacutelcool os que natildeo gostam da tintura usa o chaacute natildeo da folha a
gente pega tira a a tintura a gente pega assim pego o aacutelcool taacute qui e pega a folha
tritura tudinho coloca aqui dentro do aacutelcool com quinzi dias passando quinzi dias o
aacutelcool natildeo vai estrogar aiacute fica muda muda certeza aiacute despois coa brota no seus
vidrinhos pra usar as gotinhas () quando ela estiver com mal estaacute uma comida que faz
mal tiver assim com estomago cheio tem comida neacute ai bota a aacutegua comu o uso da
da farmaacutecia tem tem eacute o caseiro eacute natildeo natildeo sei natildeo eacute isso que eu tava dizendo eacute o
erichi de parigoreacute neacute eacute assim se comeu sentiu que a comida faz mal a assim enpachada conquela mal de gases eacute fazer isso num quiser fazer o chaacute das folhinhas
usa a tintura porque por isso eu em casa uso a tintura porque assim eu eu faccedilo deixo
ali quando taacute no ponto eu cou tudo ajeito tudinho e boto no vidrinho de gotinha neacute
que nos a gente tem vidrinho de gotinha e bota laacute se algueacutem precisar jaacute taacute pronto
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Utilizar as folhas para mal estar no estocircmago
Fu Formas de
uso
Chaacutes da folha tintura (deixa de molho no aacutelcool por 15 dias) para estocircmago
empachado tanto o chaacute como gotas da tintura
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
180
APEcircNDICE H ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoBabosardquo
Fotografia 38 ndashBabosa com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 15 BABOSA
Lx Lexema Babosa
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ((SORRIU)) eacuteh por causa da baba e ela eacute antiflamatoacuterio eacute essa mais eacuteeacute aquela goma
aquela gosma tem neacute a gente pega ela tira aqueles coise assim aquela goma dela
aquela coisa a parte de dentro vocecirc essa pode usa na guarrafada pode usar e no chaacute
fazer chaacute da folha assim se num quiser butar a folha inteira pode tirar essa baba pode
tomar usar em ferimento tiver um ferimento em golpe uma ferimento pode pegar bater
aquiloali butar tipo um plasticozinho aliacute pra disiflamar sim e pode tomar tanto bote
em cima pode tomar eacute ela eacute muito boa pra cabelo tambeacutem neacute pra fazer o cabelo da
gente desenvolver a babosa neacute ela eacute boa tambeacutem eacute pra eacute cacircncer () ela eacute muita boa tambeacutem pra cura o cacircncer a babosa
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Usar a baba da folha para inflamaccedilotildees ferimentos garrafada cacircncer crescimento do
cabelo
Fu Formas de
uso
Utiliza-se a baba em chaacutes garrafada ou direto na aacuterea inflamada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
181
APEcircNDICE I ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoBatatatildeordquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 16 BATATAtildeO Lx Lexema Batatatildeo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Masculino
Df Definiccedilatildeo natildeu eli eacute ambienti fechadu abertu mas eli natildeu eacute di vasueli eacute du chatildeu du chatildeu
assimnatildeu eli eacute eli eacute um cipoacute eli nasci aqui aqui eli cresci ( ) du maracujaacute maracujazeiru eli vai si agarrandu aqui vai tendu matu aqui eli via indu por cima matu i vai indu vai
caminhandu ateacute ondiporque na a a batata deli eacute um batatatildeu eacute uma batata mermu forma duma mandioca forma duma batata doci assim que eacute ai por issu colocaru u nomi
batatatildeoeacute a batatanatildeu nunca vi falar das folha eacute a batata aquela batata a genti vai laacute nu peacute deli i arranca eli cava qui eli qui eli daacute bastanti profundu eli natildeu eacute soacute assim da genti
chegar i puxar tem qui cavar com uma enchada pra tirar a batata eu jaacute vi ateacute uma ateacute dessi tamanhu assim neacute aiacute aquela batata a genti veimem pois eacute ela eu jaacute vi uma ateacute qui a minha
cunhada arrancou era bastanti grandona ela laacute aiacute a genti fatia ela a rodelinha e bota pra secar aiacute depois qui tiver seco a genti bota no liquidificador nu pilatildeu pisa i faz aquela
tapioquinha pra usar eacute ou nu mingau ou qui seja na comida ou si quizer pra fazer arreaccedilatildeu
eacute a genti toma eli mais avutadu neacute faz um chatilde bem forti toma eli faz arreaccedilatildeu mas essi dai eu nunca vi a minha voacute qui dizia que fazia mas eu nunca fez eu mesma neacute mas a minha voacute
dizia qui elis faziam u batatatildeu i quandu a genti taacute com problema nu sangui a genti toma assim us pocu por que eli tantu eli pru sagui da genti eli faz assim normaliza u sangui
da genti si a gente tiver com sangui fraco demais eli aumenta si tiver forti eacute uma erva qui eli normaliza u sangui da genti pra mulher qui taacute graacutevida eacute muitu bom tomar tambeim eli
faz limpeza nu sangui da genti eli faz limpeza nu sangui tem muitu genti assim crianccedila que tem muita assim qualquer coisinha daacute aquelis ferimentus neacute qui aacute a crianccedila tem problema
nu sangui aacute entatildeu eacute muitu bom tomar qui eli faz a limpeza nu sangui eli purifica u sanguitem folha tem flor a folha dela eacute quasi qui neim assim u formatu dum coraccedilatildeu
assim pu pesinhu da folha eacute larguinhu i paacute pontinha da folha eacute beim istreitinhu natildeu ela eacute pequenininha meacutedia ela eacute meacutedia ela eacute menas di qui a folha da vaca menor aiacute natildeu natildeu qui
neim folha de batata qui nem uma folha di bataba neacute batata doci ela eacute daqueli formatu soacute qui sempri a folha da batata eacute trecircs trecircs dedu trecircs sepraccedilatildeu trecircs parti ela eacute soacute uma pu
pesinhu da folha eacute largu paacute pontinha ela eacute estreita a flor delasim a flor dela ela coloca a flor aqui aiacute a flor abri a flor eacute assim uma flor tipu quasi qui nem a flor du maracujaacute
tambeim ela fica uma flor por aqui eu nem sei neim dizer comu eacute qui eacute a flor dela mais ela fica ela abri assim ai fica dentru fica aqueli miolinhu assim ai ela bota aqueli fica tipo a du
girassol assim qui eacute a florzinha dela neacute nu formatu du girassolsim issuela eacute meiu amarelada assim uma cor parda i sempri eli bota flor sempri nu veratildeu tambeacuteim quandu eli
botaela eacute du veratildeu ela nasci aqui nu invernu aiacute ela vai crescendu quandu ela taacute crescendu a batata dela taacute verdi aiacute quandu ela eacute que nem o caraacute quandu ela vai morrendu
eacute qui a batata taacute boa di arrancar nu veratildeu taacuteboa eacute porque nu veratildeu eacute qui ela taacute eacute qui ela ta madura a batata dela qui eacute pra genti arrancar por que nu inverno ela ( )i isso isso seca
as folhas seca e aiacute a batata ta madura boa di arrancar
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
A raiacutez eacute usada para purificar o sangue hemorragias fraqueza
Fu Formas de uso
A raiacutez eacute seca e triturada em poacute para usar como massa em minguaus ou o chaacute bem forte da raiacutez
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome vem do tamanho da raiacutez que eacute no formato de batata com dimensatildeo grande
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
182
APEcircNDICE J ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCapitiuacuterdquo
Fotografia 39 ndashCapitiuacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 17 CAPITIUacute
Lx Lexema Capitiuacute
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo ((sorriu)) o capitiuacute eacute uma arve nativa ela natildeo eacute uma planta ela eacute nativa ela eacute () no
cerrado eacutela a folha dela eacute grande ela eacute quenem a arve do cafeacute eacute grande a folha eacute do
mesmo modelo da folha de cafeacute aiacute pra do de cabeccedila tiver aquela doacute de cabeccedila enjoada
que natildeo passa qualquer doe a cabeccedila do nada tem gente que tem muita doacute de cabeccedila
eu graccedilas a Deus num so muito assim natildeo mas tem gente neacute hocirc minha cabeccedila docirc so
serve com doacute de cabeccedila isso a gente pega ela monte de folha quebratudinho bota pra ferver deixa no cereno quando eacute de manhatilde banha a cabeccedila muito bom pra tirar
aborrecimento aquela dozinha esse outro eacute chaacute mas natildeo eacute pra tomar o chaacute e soacute pra
lavar a cabeccedila eacute o banho de cabeccedila que a gente chama neacute eacute soacute pra isso que eu sei a
serventia eu sei pra isso que noacutes fazia capitiu eacute por assim ele eacute um pitiu num eacute cheiro
so se panha assim e cheirar tu vai dizer que o banho dele vai ficar daquele emo jeito
mas muda o cheiro dele cruacute eacute um jeito mas depois que ferve ele muda o cheiro dele ele
cruacute e pitiuacute jaacute taacute dizendo capitiu eacute assim um cheiro de peixe sei laacute um cheiro assim ele eacute
pitiu mesmo mas o cheiro dele depois de cozinhado ele natildeo fica ele muda pode banhar
a cabeccedila que ele fica assim sempre recedendo o cabelo da gente
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de cabeccedila enjoo e enxaquecas
Fu Formas de
uso
Chaacutes para banhar a cabeccedila (depois de ferver as folhas deixar no sereno da noite lavar a
cabeccedila na manhatilde cedo)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta na forma natural tem cheiro muito forte pitiuacute
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
183
APEcircNDICE L - Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCarrapicho Agudordquo
Fotografia 40 ndashCarrapicho Agudo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 18 CARRAPICHO AGUDO
Lx Lexema Carrapicho Agudo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico masculino
Df Definiccedilatildeo esse um eli tem eli eli cresci assim ateacute um metru i meiu di altura assim eu jaacute vi neacute
mais eli vai ateacute uns certus tempu eli eli si acaba tambeacutem eli num eacute num eacute uma arvri
que permanenci ali por certus tempu natildeo eli eli sempri eli nasci nu periacuteodu da
chuva aiacute quandu vai chegandu u secu eli eli jaacute vai si acabandu eli comeccedila a botar flor
botar as sementinhas daiacute a tendencia deli eacute morrer cai aqueli um pra nascer otru di
novu eli eli eacute nativu tambeacutem neacute eli num fica eli num fica uma arvri eli permaneci doi um ano dois ano soacute uma arvri natildeo eli morri aqueli um nasci otru di novu ele eacute uma
arvri qui eli cresci i eli bota uns galinho ele fica todu espalhadinhu assim os galhu deli
na ponta dos galhu eacute qui eli bota a sementinha deli tipo uma uma esporinha por aqui
tem com certeza qui tem assim por essa nessa invasatildeo neacute eu tenhu certeza tenhu toda
certeza qui tem esse matu eacute a folha deli eacute uma palmazinha eacute eacute assim uma folha
assim aiacute ela eacute toda repartidinha toda repartidinha toda uma samambaia sabi u qui eacute
samambaia ela eacute daqueli formatu di samambaia eacute toda repartidinha isso toda toda
partidinha assim a folhinha dele ( ) bota folha daiacute tem sai pedacim pra todo canto
assim a folha deli a flozinha deli eacute quandu antis deli abrir us carrapichim fica
abertinha eacute amarelinha ( ) u miolim da flor eacute amarelim neacute a depois qui qui ela abri qui
ela fica assim () ela bota florzinha agora assim eacute aquelis carrapichim qui eacute tudu agarradu quandu agenti qui eli taacute maduru agenti passa assim eli jaacute si agarra na ropa
da genti aquela isporinha nu fimzim daqueli coizinha tem aquela esporinha qui si
agarra na genti eacute na folha na flor dela eacute a sementi aquilu eacute a semente u carrapichu
qui agenti chama eacute a sementi neacute qui aqueli qui cai no chatildeu qui nasci otru natildeu eacute da
raiz da avre eacute da raiz eacute da raiz arranca eli aiacute lava rapa alguma qui seji e cuzinha i
faz o chaacute natildeu eli eacute assim qui nem na grussura dum dedu eli ateacute qui eli eacute uma avre
assim quandu assim a terra eacute boa qui eacute uma terra assim bem neacute eli eli daacute um tamanhu
assim dum metru i meio por aiacute assim neacute quandu eacute aquela terrinha meia meia cansada
meia meia batida meia dura assim eli eli cresci pequenu mas eli cresci eu jaacute vi assim
jaacute vai dependecirc da terra ela eacute uma achu qui ela eacute uma erva uma erva ela eacute du fri du
friu porque ateacute quandu chega a eacutepoca du veratildeu ela morri neacute ela nasci ( ) um tempu
dessi du veratildeu qui jaacute si passo u veratildeu laacute vocecirc passava laacute ela tava toda mortinha assim soacute os carrapichim dentro agora com a chuva qui ta dandu ela jaacute ela jaacute caiu agora ela
vai nascer ela ela vai nascer tudim quando aiacute ela crece ali aiacute aiacute quando ir che
chegando o veratildeo eacute eacutepoca qui ela vai morrer di novu qui o carrapichu dela cai nu
chatildeu daiacute ele nasce outro vem outro vem nativa eacute ela eacute nativa
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
184
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Eacute usada a raiz da planta
Fu Formas de
uso
Usada na forma de chaacutes para Icteriacutecia (amarelo da pele nas crianccedilas)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
185
APEcircNDICE M ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCatinga de Mulatardquo
Fotografia 41 ndashCatinga de Mulata com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 19 CATINGA DE MULATA
Lx Lexema Catinga de mulata
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo tem eu acho muita cheirosa eacute catinga de mulata num sei porque mulata eacute uma coisa
que mulata neacute jaacute sabe eacute caatiga de mulata eacute eacute o contraacuterio pra dizer cheiro de mulata
((sorriu)) por mim se fosse eu que fosse colocar num colocar num colocava catinga eacute
ela tem um cheiro forte pois eacute se fosse no meu caso fosse butar nome natildeo ia dizer
catinga a dizer cheiro de mulata mas eacute catinga de mulata eacute eacute pra varas coisas tambeacutem
eacute pra febre doacute de cabeccedila doacute de estamagu isso ela eacute uma planta eacute natildeo ela faz mas natildeo e
muito disiflamatoacuterio que eu tenho conhecimento dele ser desiflamatoacuterio natildeo ela eacute
assim pra bo despachar gases dentro da gente bom pra isso pra doacute de cabeccedila tambeacutem
eacute bom pra tudo isso tambeacutem ela eacute pequena desse modelo catinga de mulata desse
moledo dessa grande ai sim natildeo desse outro laacute come eacute o nome estoraque neacute isso ai manjericatildeo ele eacute pequeno soacute a folhinha dela eacute maiozinha um pouquinho mas
arendondada um pouquinho um poquinho mas eacute esse modelo eacute natildeo mas se tu natildeo
conhece assim se nem conhece a planta num vai conhecer pelo cheiro porque esse
aqui esse aqui eacute mais eacute mais durinho a catinga de mulata ela eacute mais ela eacute mais copada
e mais assim comueacute que eu quero dizer assim eacute mais fraacutegil o galhim dela pra quebrar
ela eacute assim mais ragadinho mais assim eacute delicado sim eacute esse daqui natildeo a gente ve que
ele ele eacute tipo uma madeira tipo assim neacute bem assim mas durinho e a catinga de
mulata ela eacute mas quanto mais ela eacute adubada que ela fi mas ela fica eacute ((sorriu)) eu
acho que porque ela eacute muita dengosa a catinga de mulata ((sorriu))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas caule e raiz satildeo usados para febre dor de cabeccedila no estocircmago
desinflamatoacuterio e gases estomacais
Fu Formas de uso
Chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem cheiro agradaacutevel catinga seria o antocircnimo de cheirosa
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
186
APEcircNDICE N - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCibalenardquo
Fotografia 42 ndashCibalena com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 20 CIBALENA
Lx Lexema Cibalena
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh eacuteh uma planta que nem a cidreira do mesmo modelo da cidreira tudo do um a
cidrera folha os galhos dela ela e brom bom pra febre doacute de cabeccedila tambeacutem neacute que
a cibalena na na farmaacutecia ela nu eacute bom pra febre pra febre pra doacute ela eacute do mesmo
jeito tambeacutem hurum o chaacute o chaacute eacute da folha do mais eacute das folha das folhas das arve ( )
natildeo tambeacutem natildeo
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para dores de cabeccedila febre e dores em geral
Fu Formas de
uso
Chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
187
APEcircNDICE O ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCoraminardquo
Fotografia 43 ndashCoramina com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 21 CORAMINA
Lx Lexema Coramina
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva ela eacute na natildeo ela eacute caseira ela e do frio do frio eacuteh ela essa daiacute
eu natildeo sei dizer muito bem o formato dela eacute e e a minha voacute dizia que era muito pro
problema de coraccedilatildeo tivesse sofrendo do coraccedilatildeo probremas aqueles agonia aquelas coisa fizesse o chaacute dela pra tomar mais soacute que eu natildeo conheccedilo bem essa
planta natildeo jaacute nu sei dizer isso aqui eacute o coramina soacute qui a minha voacute dizia assim o
coramina eacute bom pra quem tem o problema de coraccedilatildeo aquelas ferruaduras num tem
dar umas dor umas ferrruada ela dizia que era muito bom pra soacute sei que eacute bom
pra isso pra coraccedilatildeo olha com certeza
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas para problemas no coraccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes para dores no coraccedilatildeo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
188
APEcircNDICE P ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCrista de Galordquo
Fotografia 44 ndash Crista de Galo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 22 CRISTA DE GALO
Lx Lexema Criacutesta de galo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo esse daiacute eu natildeo vou dizer com garrafa porque eu nunca fez aquilo que eu nunca fez
num tenho assim um uma seguranccedila pra remeacutedio assim eacute eacute assim que os outros diz neacute
coquei ele como remeacutedio porque os outros que me indicaram ele eacute bom pra coraccedilatildeo
que tem problema de coraccedilatildeo coraccedilatildeo de bate acelerado bate num se que ele eacute bom
pra fazer o chaacute da crista da da flor da flor mesmo hurum mas soacute assim foi indicado
por o outra pessoa assim que tambeacutem tem conhecimento neacutew aiacute diz tambeacutem ela eacute que
nem uma criacutesta de galo ela daacute assim () uma os pezinhos dela agora aqui ela faz tipo
um folhinho uma coisa assim neacute espanhadinho e aiacute tem uns peacutenhinhos assim no pezinho da folha tem uns peacutenhinhos isso isso hurum natildeo eu tenho eacute assim que os outro
jaacute me indicou
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Eacute utilizada a flor da planta que tem formato de crista de galo para coraccedilatildeo acelerado
ou problemas do coraccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Pode ser feito o chaacute da flor ou usado na garrafada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
189
APEcircNDICE Q ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoErvatildeordquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 23 ERVAtildeO Lx Lexema Ervatildeo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva nativa eliele eacuteh do baixo do alagadoele nunca da assim no seco
natildeosempre ele daacute no lugar que eacute molhadoumiduclima molhado eacutemas se
tiverela precisa da quele ambiente que esteja molhado que ta assim com aquela
parte da lama daquela agua grossaela natildeu eacuteh da terra seca da terra limpa assime
num so da em aguada na quela agua que esteja misturado com aquela terracom
aquele limu que ela gostaela eacute pequenaela eacute fina tambeacutem assim o caulizim dela ela
sim eacute de quina tem umas quinalzinho a folha dela eacute cumpridinha estreita e ela eacute boa
pra tomar ela nunca fez ela eacute boa pra dor de cabeccedilafazer o chaacutefaz o cha da
folhapega tudim elebota pra cozinhar e deixa no sereno e di manhatilde banha a cabeccedila vai usando assim diretamentetem umas dor de cabeccedila encravadaa minha
cabeccedila nu passa nu sei o queuma dor de cabeccedila enjuada eacuteh fazer isso aiacutenatildeo sei
porque desse nome de ervatildeo natildeo sei porque eacute uma ervaela num eacute tatildeo grande pra ser
ervatildeoela num eacute tao grande ela tem uma florzinha bem pequenininhabem
roxinhabem piquinininhamas eacute folhamais tem um tem que ela tem as florzinhas
bem piquinininha bem roxinha
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e enxaqueca
Fu Formas de
uso
O chaacute das folhas e depois repousando no sereno da noite a cabeccedila eacute lavada com o chaacute
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
190
APEcircNDICE R - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoEucaliptordquo
Fotografia 45 ndashEucalipto com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 24 EUCALIPTO
Lx Lexema Eucaliacutepto
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ele eacute uma arvenha tambeacutem ele natildeo da muito do que eu conheccedilo num sei se tem uns eacute
natildeo ela natildeo eacute muito pequena ela eacute meacutedio ela num eacute muito pequena natildeo ela eacute boa pra
febre a gente usa ela pra febre o chaacute comu eu tocirc dizendo eu assim uso mas as tintutas
eu gosto de fazer mais as tinturas pra febre pode o chaacute isso pode pode fazer o chaacute e
pode usar a tintura pra febre eacute e pra febre eacute natildeo natildeo tambeacutem num sei natildeo nunca viacute flor dela nunca vi soacute soacute folhas compridas bem compridi compridinha comprida assim
com a ponta fina ela eacute estreita ela natildeo eacute largona natildeo ela eacute estreita pezinho da natildeo
((sorriu)) hurum conhece a vinagreira conhece vinagreira () soacute que ela eacute pouco
diferente soacute uma folha da vinagreira dela do eucalipto num tem uma folha aqui que
compara mas ela eacute assim olha assim cabeccedila assim e a ponta dela eacute mais fina o pezinho
dela eacute mais larguim e pontinha dela eacute () ((sorriu))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Utiliza as folhas para febre em geral
Fu Formas de
uso
Chaacutes e tinturas para febre
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a moradora referir-se agrave aacutervore
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
191
APEcircNDICE S ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoGeniporanardquo
Fotografia 46 ndash Geniporana com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 25 GENIPORANA
Lx Lexema Geninporana
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo um noacutes jaacute fazemos tudo isso em ((sorriu)) seraacute que nu taacute adoccedilado ((sorriu)) eacute um uma
arve nativa eacute ( ) e ela eacute tambeacutem assim modelo do cafeacute da arve do cafeacute ( ) eacute a mesma coisa
tambeacutem a folha dele eacute assim isso aiacute ele eacute bom pra picade di inseto cobra de copiatildeo essas coisas neacutew tiar o sumo da do caulhe dele tirar assim tirar aquela casca o entrecasca eacute bom
o entrecasca aquele do de cima ela natildeo natildeo a gente tira o sumo a gente faz assim tira o entrecasca dela daacute uma raspada assim assim meio pra sair tipo uma bucha assim ai bota
uma aacutegua isso ((sorriu)) eacute acho que ((sorriu)) eacute hurum eacute divide ser eacute u acho eacute eu acho metade dessa coisa eacute assim os indiacuteos que descobriu esse nome neacute que os indiacuteos para () eacute
os indiacuteos que que sabe porque esse nome porque assim os meu irmatildeo que eles aprenderam com meu pai porque meu pai tem sangue indiacutegena ele fazia ( ) ( ) aiacute meus irmatildeo eu
aprendia com meus irmatildeo papai ensinava neacute ai ele aprendia ele fazia porque assim vocecirc pega uma vara uma varinha assim vocecirc enrola ele aqui o tanto vocecirc podir natildeo quebra
natildeo fica do mesmo jeito do arco do iacutendio aiacute eu acho que ele tem relaccedilatildeo com os iacutendios que colocaram esse nome tavez neacute porque esse daiacute eu sei assim ele natildeo quebra neacute vocecirc
pega aqui ele num quebra ele eacute ele eacute isso vai depender da grussura dele tambeacutem neacute horriacutevel hurum isso hurum pra cortar o veneno ((sorriu))
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Utilizados a folhas entrecasca e caule para picadas de insetos cobra escorpiatildeo
Fu Formas de
uso
Do caule eacute retirado o sumo (colocado de molho na agua)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
192
APEcircNDICE T ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoHortelanzinhordquo
Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELANZINHO
Lx Lexema Hortelanzinho
V Variante Malvarisco
Cg Classe Gramatical Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo oh hortelanzinho eacute desse eu chamo pra esse hortelam sim porque assim tem
tem uma parinca que eacute hortelam tambeacutem eacute o grande aiacute tem desse pocha entatildeo
hortelam pimenta hortelam roxo e tem o hortelanzinho que eacute o hortelam nenecirc
que eacute o hortelam nenecirc hortelam nenecirc e esse eacute o hortelanzinho que eu chamo porque depois desse daiacute () hortelam sim grande eacute a folha dele grande eacute o
mesmo malvarisco isso eacute sim e tem o hortelam nnecirc eacute o menor de todas isso isso
essa daiacute tanto faz se da outra dessa dai serve para tomar chaacute serve pra butar nu
suco ela serve pode pegar o suco de qualquer coisa de limatildeo sei laacute du que for e
bater uma folhinha dele junto fazer charope eacute e memu coisa de hortelam nenecirc o
nenecirc ele eacute proprio pra nenecirc mesmo crianccedila mesmo eacute do tamanho e da cor
porque o hortelam nenecirc ele eacute branquinho ele num eacute roxinho ele eacute assim natildeo a
folha tudo que nem essa arve que taacute aiacute disse daqui natildeo o hortelazinho ele eacute
roxinho isso ele eacute roxinho o hortelam nenecirc eacute tudo assim eacute folha eacute o galhim dele
eacute tido assim eacute isso o hortelam grande jaacute eacute maior as folha dele eacute tido assim eacute tem
eacute eacute maior a folha dele eacute mais grossa a folha dele eacute bem grossa e serve tambeacutem pra o comu tempero comu por enquanto agora eu tenho hurum eacute neacute o hortelam
grande eacute daquele mesmo modelo o hortelam grande eacute eu acho que num sei natildeo
num sei e num sei dizer cume se tem doutro tipo tipo neacute eu soacute conheccedilo essa
trecircs tipo agora num sei se muda o nome desse mesmo do hortelanzinho eacute a
mesma pimenta num sei natildeo () natildeo
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas nos chaacutes e sucos
Fu Formas de uso Chaacutes xaropes e em sucos
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Tambeacutem conhecido pela variante malvarisco
Dc Data da Coleta 04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
193
APEcircNDICE U ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoHortelatilde Neneacutemrdquo
Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELAtilde NENEacuteM
Lx Lexema HortelatildeNeneacutem
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo porque ele eacuteh mais miudim doque todas do que os outros eacute ela eacute mais a folha dele eacute
do mesmo mesmo formato desse mesmo modelo soacute que ele eacute miudinho ele bran sim soacute
que ele eacute miudinho e eacute jaacute ele eacute roxinho esse daqui eacute roxinho esse um eacute branco tambeacutem
hurum mas ndem eacute natildeo eacute hortelam ela eacute mais pequenininha ele eacute todo assim
branquinho assim essa folha dessa coisa assim ele natildeo eacute roxinho assim natildeo eu tenho
laacute em casa eacute fazer chaacute pra bebe recenacido quando faze gripado tossindo injuado eacute
bom fazer chazinho pra daacute charope eacute isso neacute tosse com certeza eacute mesma coisa hurum eacute eu acho que ela eacute proacutepria pra crianccedila pra bebecirc mesmo pra bebecirc eacuteh quela eacute
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para gripes e tosses em receacutem-nascidos
Fu Formas de
uso
Chaacutes e xaropes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
194
APEcircNDICE V ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoJambu Roxordquo
Fotografia 48 ndashJambu Roxo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 27 JAMBU ROXO
Lx Lexema Jambu roxo
Va Variante Jamburana
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo planta rasteira do molhado de clima uacutemido eacute a mesma coisa que agente comi no
tacaca que faz eh a cor ela eacute nativa de tempu umidu ela serve pra do de
estomagu figadu quando com algum problema no figadu assim cuando consegue
almoccedila e num consegue janta aquilo parece que num desfaz parece todo tempu
cheio eacute problema nu figadu tem de faze o cha eacute de folha de flor com raiz com tudo o
importante eacute lavar bem lavadim e botas pra ferver com tudo e toma o cha a flozinha e amarelinha bem amarelinha mais do que o outro eacute bem amarelinha quase
roxinha eacute um poco menorzinha
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas flor raiz tudo bem lavado
Fu Formas de
uso
Utiliza-se o chaacute para dores no estocircmago problemas de digestatildeo e no fiacutegado
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A cor da flor amarela bem forte diferencia as espeacutecies
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
195
APEcircNDICE X ndash Informaccedilotildees gerais sobre o termo ldquoJenipapordquo
Fotografia 49 ndash Jenipapo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 28 JENIPAPO
Lx Lexema Jenipapo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma arve muita grande nativa tambeacutem ela nativa ela eacute grande tem fruto e do
fruto que a gente faz ela eacute o u o genipapo ele eacute rico em vitamina pra anemia agora que
eacute difiacutecil achar uma gente que diga que gosta num gostei natildeo o cheiro dele eacute muito
forte do fruto dele eacute forte o cheiro aquele cheiro eacute um cheiro forte mesmo assim comu coisa assim tava comu assim um litro de cinquenta e um assim que eacute o cheiro dele tem
gente que num gosta daquele mas ele eacute rico em vitamina pra quem taacute aneacutemico pra ele
eacute muito bom () ele eacute assim deste tamanho laranja isso quando ele taacute verde ele eacute duro
quando cai ele eacute mole ele fica eacute o suco pega ele eacute expreme bota accediluacutecar e pra tomar o
suco dele tirando disso fazer o licor tambeacutem eu uso laacute em casa mas pra fazer licor a
gente bota no aacutelcool no cinquenta e umo aiacute mas eacute mas mas aiacute depois a gente faz uma
garrafa de accediluacutecar diminui e diminui isso aiacute eacute pra bebida isso bebida pra quem gosta
de () o fruto o suco do fruto pra remeacutedio eacute tambeacutem assim ce tiver eacute uma rasgadura
uma qualquer coisa porque num sei se tu jaacute viu crianccedila que fica assim cum umbigo
grande assim a gente coloca o dedo a gente coloca o dedo a gente sente que aquele
que rasgado um vai laacute na arvore do jenipapo a arve dele tando vivo verde tira um tampinho da casca e vai aperta trecircs vezes no imbgo da crianccedila e vai coloca la dentro
tampinho no mesmo canto aiacute aiacute conforme aquele tampinho vai colocando vai sarando
ali ai vai diminuindo a a rasgadura na inbigo isso aiacute eu tenho poque eu fiz pro meu
filho ficar bom hoje ele eacuteh rapaz num tem quem diga o que ele era nunca passei com
meacutedico pra dizer doutor me diga o que eacute o que eacute o que isso nunca natildeo foi isso remeacutedio
que ensinavam natildeo riacute sim tuacute vai laacute um tampim assim neacute vai uma comparaccedilatildeo teacute
mede o tamanho do imbigo aqui e vai mede laacute no no quarto tira o tamanhinho que eacute e
vai aperta trecircs vezes aquele pedacinho de casca no umbigo e vai cola laacute de novo bota
no mesmo cantim deixa laacute ficar coladinho aiacute aquela casca vai cola de nova e colando
aliacute a ela ela assadura vai colando vai diminuindo neacute eu fiz com meu filho me
ensinavam neacute e eu fazia hurum
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de Casca para problemas no umbigo e frutos para bebidas
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
196
uso
Fu Formas de
uso
O fruto maduro eacute usado para fazer licor (accediluacutecar e bebida alcooacutelica) uso da casca para
rasgadura problemas no umbigo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
197
APEcircNDICE Y ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMamatildeordquo
Fotografia 50 ndash Mamatildeo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 29 MAMAtildeO
Lx Lexema Mamatildeo
Cg Classe Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo uh mamatildeo tanto ele eacute vitamina neacute ele eacute rico em vitamina o mamatildeo pra crianccedila pra idoso pra tudo eh como a semente dela eacute muito bom agente faze eh remeacutedio pra
coloca verme cum a sementi dele pega a sementi dele seca bem sequinha assim bem
seguinha agente torra ela bem torradinha ai soca bemai bota um poco demassa de
trigo de farinha de trigo ai da uma misturadinha ai faz um modelo dumas piulinha eh
muito bom prafazer as piulinha pra tomar pra verminose
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
A fruta eacute consumida como alimento e as sementes satildeo trituradas para uso medicinal
Fu Formas de
uso
As sementes satildeo trituradas misturadas com trigo e feitas as piacutelulas contra as vermes
em crianccedilas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
198
APEcircNDICE Z ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMangueirardquo
Fotografia 51 ndash Mangueira com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 30 MANGUEIRA
Lx Lexema Mangueira
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Feminino
Df Definiccedilatildeo a mangueira ela eacute bem grandi eacuteh uma planta tambeacutem ela eacute caseira agora ela eacute
muito boa de nascer todo quase caroccedilo dela nasce neacute e nu clima frio eacuteh num frio eacute folha comprida estreita bem comprida e estreita a semete eacute uma semente bem
grande que que ta que ta dentro do fruto neacute eacute assim um pouco chata a manga eacute a
manga eacuteh tem tem tem flor dela flor ela coloca assim uma assim tipo uma bage
uma coisa assim uma flor assim assim uns pivatildeozim neacute e vai colocando as flor dela
e a flor dela eacute bem piquinhinha as depois o fruto nasce dali da flor ele vai crescendo
eacuteh ela eacute uma arvore bem grandi cauli bem grosso eacute muito grande ela uns cinco
metros acho que ateacute mais de cinco metru ela eacute bem grande noacutes usa ela praa
diarreia quando ta com muita diarreia e eh fazer o cha da do entre casca pra
diarreia e pra tosse tambeacutem fazer o lambedor eacute do entre casca tirar aquele entre
casca do caule por que aquela casca de cima natildeo serve pra nada ai ah madeira
tambeacutem eacute o entre casca ai tira e faz o lambedo ela eacute travosa eacute travosa eacute ela eacute menos travosa que uh uh cajoeiro eacute amarela o cajoeiro eacute vermelho tomu cha
ou entatildeo faz o xarope o lambedo como diz o xarope o xarope eacute um pouco mais
grosso a gente tira o entre casca se tira ele bem limpinho se tiver o cuidado num
carece lavar se sair um sujinhu tem que lavar e bota pra cozinhar as depois que
tira agua que para eacuteh coa ele e colocao mel o accediluacutecar que eacute pra ele ficar assim tipo
dum xarope vai apurando ai tira coloca num vidro bem limpo e fica tomando isso eacute
pra crianccedila quando ta gripadu com tosse o xarope e pra diareacuteia eacute o chaacute faz o cha
dele e toma nois usa
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Para diarreia e tosse eacute usado o entre casca
Fu Formas de
uso
Para diarreia eacute feito o cha do entre casca para tosse e gripe eacute feito o ldquolambedorrdquo o
xarope eacute feito do cozimento do entre casca com o accediluacutecar
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
199
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
200
APEcircNDICE AA ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMaracujaacuterdquo
Fotografia 52 ndash Maracujaacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 31 MARACUJAacute
Lx Lexema Maracujaacute
Cg Classe Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo maracujaacute eacute folha eacute a fruta eacute a flor tudo serve eacute uma planta ela eacute caseira
maracujaacute ela da em todo todo clima mas eacute melhor eacute no frio mais ela da em todos
todo tempo ela sempre ela daacute a folha eacute redonda eacute assim num eacute redonda natildeo
tem trecircs parte a folha dela do maracujaacute ela eacute bem grandi tem trecircs partes trecircs
separaccedilatildeo assim trecircs dedo como nois diz assim ela natildeo eacute redonda trecircs biquinho
tudo junto com certeza eacute uma folha meacutedia e a sementinha dela eacute chatinha eacuteh
dentro do fruto bota o fruto e dentro uma sementinha a folha dela eacute bem grandi
afror dela eacute bem grandi assim eacuteh rouxinha assim aberandu o branco e por
dentro do miolinho eacuteh rouxinho cabeludinho o caule eacute fino eacuteh um cipoacute ela daacute
assim ela eacute grandi por que se ela pegar uma planta sobe inteacute de acordo com a
planta ela vai botando os galhos ai ela vai subindo ela serve pra eacuteh pressatildeo auta ela ela eacute calmante o maracujaacute ela eacute calmante e tanto faz ser a folha
comu a flor Comu uh suco dela a fruta ela eacute calmante qualquer parte se natildeo
tiver o fruto pra genti tomar o suco fazer o chaacute da folha se tiver a fror pode fazer
o chaacute que ela eacute calmante pra quem ta com estressi pra quem ta com falta de sonu
a gente pode usar de tudo aleacutem disso de tem muita vitamina no suco e muita genti que
tem muito estressi muita pressatildeo alta pode usar o chaacute pode usar o suco
diretamente eu digo isso por que eu gosto muito e o chaacute eacute o suco que eu mais gosto
in ateacute agora eu to com cinquenta e dois anos e nunca aumentou minha pressatildeo graccedilas
Deus natildeo tenho pressatildeo alta ah eu gosto muito eacute o suco que eu mais gosto ela da
sempre
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Folhas e flores satildeo usadas como calmantes baixar a pressatildeo alta e diminuir o estresse
Fu Formas de
uso
Os chaacutes das folhas e da flor como o suco do fruto
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a informante referir-se a planta
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
201
APEcircNDICE BB ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMastruzrdquo
Fotografia 53 ndash Mastruz com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 32 MASTRUZ
Lx Lexema Mastruz
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Masculino
Df Definiccedilatildeo olha eli eacute du ele eacute du friumais eli eacute du friu mas eli num eacute aquela aquela qui gosta
muitu du friu eli gosta du friu mais eli gosta tambeim bastanti da quinturadus dois eacute
ele num eacute eli eacute tem a sementinha delinatildeo eli daacute em qualquer ambienti eli daacute nu vasu
eli daacute chatildeo nu abertu nu fechadu nu quintau fora du quintal nu nu como eacutenu vazu em
todu jeitu eli daacute u mastruz eacute em todu jeitu pega eli joga a sementi aqui eli nasci daiacute eli
vai crescer si eli eli tem bastanti duraccedilatildeu eli dura um ano mais di um anu neacute soacute qui eacute
assim cai a sementinha deli tambeacuteim aqueli um jaacute morreu vai ficandu velhu vai
morrendu e u otru jaacute vai nascendu aqui u mastrus eli eli eacute assim eacute na terra qui eli si daacute eacute dificilmenti eli eli si acabar porque nasci a sementinha deli assim eacute bem
pequenininha bem pequenininha mais eli antis daqueli sementinha cair eli jaacute nasci
aqui eli jaacute nasci demais aiela eacute alta muita alta natildeu mas ela daacute por aqui assim ela daacute
ateacute um metru menus dum metru um poquinhu neacute as veiz ela ela bota galinhu tambeacutem
por todu cantu as vezis quandu eacute uma terra boa ela fica bonitanatildeu ela eacute planta
caseira ela num eacute nativa natildeu ela eacute caseiraeacute compridinha a folha dela eacute compridinha
eacute soacute uma folinha i tem uns dedinhus assim qui sai uns biquinhus assim uns
bordadinhus neacute na folinha delaa flor dela eu nunca vi a flor dela bota sementinha a
flor dela eu natildeu sei comu eacute qui eacute neacute tem a sementinha a sementinha eacute agarradinha
tudu ali pela galhu dela pelu nu tronquinhu da folha dela ela jaacute bota aqueli galinhu i eacute
aqueli galinhu jaacute vai botandu a sementinha a sementinha dela eacute bem pequenininha bem uma coisinha muita muidinha mesmu( )mastruz eli tem dois nomi mastruz i erva
santa maria neacuteerva santa maria natildeu noacutes aprendemos assim pelu livru eu conheci por
mastruz mesmu aiacute depois quandu veiu um livru qui era pra gente estudar erva-santa
maria erva santa maria a genti foi ver tava laacute a fotu deli i conhecemus qui eacute o mesmu
mastruz
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para machucados anti-inflamatoacuterio
Fu Formas de
uso
As folhas satildeo amassadas e colocadas no local do ferimento ingerido ou o chaacute das
folhas
Fn Finalidade Medicinal
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
202
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
203
APEcircNDICE CCndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMelatildeo de Satildeo Caetanordquo
Fotografia 54 ndash Melatildeo de Satildeo Caetano com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 33 MELAtildeO SAtildeO CAETANO
Lx Lexema Melatildeo Satildeo Caetano
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Df Definiccedilatildeo esse ai eacuteh nativo eacute uma verele eacuteh um cipozinho beim do tipo uma trepadeira ele vai a donde tem uma arviele se apodera pra ele sobre pra laacute onde tem uma
arvoreele se pega tambeacutem ele eacuteh do clima friodo invernomais no veratildeo ele
sempre somi ele eacuteh nativo tambei ele num eacute uma planta assim ele eacuteh nativo no
roccedilado quando a gente botou no roccedilado pra genti plantar assim gosta de nascer
aiacute ele eacuteh assim ver uma arvore assim ele se apodera pra subir ele eacuteh um
cipozinho bem fininhovive junto com a planta natildeo natildeo ele eacuteh muito durativo
vai vai um certo ponto quando o veratildeo acocha muito ele fracassaeacuteh ele fica
assim bem fraquinhele eacuteh assimo jeito dele e que nem maxixe assimquando
ele taacute pegando o maxixequando agenti planta nu nu geral ele fica que ele rama
assimeacuteh o melau satildeo caetano as folhinha dele eacute pequena menor que a folha de
maxixeredondinha eacute eacuteredondinhaos galinhu delo cipozim eacuteh bem finin me
daacute aquele cipoacute eacuteh bem mais fino que o cipoacute do maracujaacute muito bem mais fininhofininho mesmo eacute eacutehela bota uma florzinha amarelinha soacute uma
florzinha amarela ( ) ai despois o frutinho deleele bota um frutinho pequeninho
eacute eacuteh assim peludinho que nem uns picozinhus quem nem maxixe redondinho
assimtambeacutem meteacute agora num sei dizer se serve pra alguma coisa faz o
remeacutedio da folhaeacuteh o chaacuteeu uso na garrafadaservipra inframaccedilatildeo
tudotodo tipo de inflamaccedilaotildeai eu pego eleeu seco e bem sequinho na
sombra ai eu uso na garrafadana garrafada que eu usopor isso eu digo as
mias garrafadas todo tipo de remeacutedio eu coloco laacuteque serve pra uma
coisaser pra outrao frutuquando ta maduro eacuteh amarelinhuquando ta
verdi parece maxixequando taacute ele amadurece fica amarelinhusimamarelo
melau satildeo caetanonatildeo sei dizer
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas na garrafada para inflamaccedilotildees
Fu Formas de uso O cha das folhas para inflamaccedilotildees e tambeacutem as folhas secas satildeo usadas na
garrafada para todo tipo de inflamaccedilatildeo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Domingas Alves de Sousa 53 anos
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
204
Informante
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Quando a planta esta verde tem aparecircncia de maxixe quando maduro na cor amarela tem aspecto de um melatildeo pequeno
Dc Data da Coleta 04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
205
APEcircNDICE DD ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMortinha Miuacutedardquo
Fotografia 55 ndash Mortinha Miuacuteda com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 34 MORTINHA MIUacuteDA
Lx Lexema Mortinha Miuacuteda
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh ela eacute parente da mortinha peluda porque eacute nativa que nem a outra ela eacute
nativa ela num eacute uma planta que a genti planta ela nasce sozinha ateacute eh eacuteh
uma erva ela eacute nativa ela eacute medicina por isso que eu digo que eacute uma erva
uma erva nativa ela daacute assim ela gosta de todos os climas clima frio clima quente porque laacute perto de casa tem uma arvi eh todo tempo tau so um jeito ser
veratildeo ou seja inverno sempre no inverno ela muda um pouquinho por que claro neacute
num seca mas daacute eacuteh todo clima ela gosta mortinha miuacuteda eacute porque ela eacute bem
piquinininha a folha dela chama mortinha miuacuteda porque ela daacute mortinha folha
mais muidinha que existi eacute ela eacute menor ainda que a erva do jabuti menor ainda
ela eacute uma folhinha ela ela eacuteh meia compridinha ela num eacute bem redondadinha natildeo
ela eacute compridinha a folha dela eacute bem miudinha agora ela sim ela eacute mortinha
porque eacute uma arve tatildeo bonitinha a genti coidando dela ela eacute uma arve bem
bunitinha porque ela daacute meio baixa ela eacute copodinha formatu duma arve de
jambreiro ela toda cheinha tem flor a flor dela eacute bem miudinha miuditinha
(risos) natildeo sei nem bem dizer eacute porque assim bem pequenininha eacute pequenininha a
florzinha dela acho que tem sementi ainda natildeo prestei atenccedilatildeo mais com certeza ela tem sementinha a mortinha miuacuteda eacute lisa a folha dela eacute menor ela eacute
liso eacuteh essa outra mortinha peluda daacute mais alto essa eacute muito baixinha a mortinha
peluda eacute maior a folha eacute maior o olho dela quando ta sim que ela brota o olho
novo eacute bem rosiozinhu da peluda essa uma natildeo eacute toda soacute verdinha la perto da
minha casa tem uma grande dessa arvore dessa arve eu jaacute perguei um filhim dela
assim assim que ela nasce ela brota o filho dela eu tirei plantei bem pertinho de
casa ta bem bonitinho nois aprendemus com a minha avoacute quando uma mulher
ganhava neneacuten neacute que natildeo tinha aquele coiso de trazer pro hospital e tudo elas
fazia o chaacute pra tomar porque a mortinha miuacuteda faz a limpeza do utro da mulher
por dentro da mulher neacute aiacute ela fazia o chaacute aiacute durante assim um eacuteh quinze dias
vinte dias ela ficava fazendo o chaacute soacute natildeo era soacute dela pegava um monte de ervas pegava a mortinha pega gengibre pegava um monte de coisas assim que elas sabiu
e fazia u chaacute e nisso ficavam tomando planta que desinflamasse isso isso ela faziau
soacute soacute que eu faccedilu o chaacute dela ela num eacute tatildeo travoso assim mas ela tem esse poder
de desinflamar a pessoa e eu conheci muito a minha matildee que a minha voacute quando a
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
206
mamatildee teve os filhos que eu jaacute me lembrava que depois de mim ela teve cinco filhos
depois de mim neacute e nesse um eu via ela fazer esses chaacute todo dia ela fazia o chaacute too dia num era o negocio de botar nesse tempo nem existia geladeira nu
exista neacute aiacute a minhacutevoacute era assim quando a minha matildee ganhava filho cada uma
hora que ela ia comer antes da refeiccedilatildeo ela tomava o chaacute de manhatilde meio dia e
de tarde e a noite ela fazia aquele chaacute antes da refeiccedilatildeo feito da folha pegava
assim tipo uns galinho bem fininho tambeacutem ele tirava aquele galinho quebrava
colocava tudinho na panelinha e cozinhava e dava e sempre nois era curiosa e
perguntava voacute pra qui eacute isso pra que servi quando ela tava fazendu uma uma
velinha muita paciente a vovoacute minha filha isso que eacute pra mulher que tem filho tem
que tomar isso tem que tomar isso que eacute remeacutedio pra fazer limpeza nois via ela
fazer soacute do resguardo quando tava de resguardo essa outra mortinha peluda fazia
assim um probrema di di menstruaccedilatildeo neacute qui eu disse naquele dia pega assim
aquelas folhas bem vermelha folha dela novinha eacute bem vermelha enrolava nas folhas colocava embaixo da cinza quando jaacute tivesse mole espremia e tirava aquele
suco aquele caldo e colocava um pouco de cachaccedila e tomava pra normaliza jaacute
conheci por mortinha nunca perguntei ela tinha a mortinha miuacuteda esse nome
de mortinha eacute porque ela eacute bem miudinha tatildeo insensivelsinha ela eacute tatildeo eu
acho essas outras porque todas elas eacute mortinha neacute mortinha de morte ((
risos))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para o poacutes-parto e regular menstruaccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Usar o chaacute para limpeza do uacutetero e diminuir o sangramento na menstruaccedilatildeo tirando o
sumo da folha e misturando na cachaccedila
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo mortinha estaacute relacionado ao tamanho da planta que eacute bem delicada
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
207
APEcircNDICE EE ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMortinha Peludardquo
Fotografia 56 ndash Mortinha Peluda com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 35 MORTINHA PELUDA
Lx Lexema Mortinha Peluda
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Df Definiccedilatildeo natildeu natildeu eacute a morti essa uma eacute a vida num eacute a morti natildeu erraru neacute pra butari a vida
butaru mortinhaeacute mais achu qui eacute ela eacute nativa tambeacuteim ela eacute uma arvri mais jaacute jaacute
bastanti maior eacute uma arvri ela trepa bastanti grandi a arvri dela u cauli dela eu jaacute
vi ate dessa grussura asim neacute teacute dessa grussura assim ela daacute na capueira tambeacuteim
assim numa capueira ela daacute na mata assim eu sei qui ela eacute nativa mais eu nunca vi ela
na mata veju eacute na capueira natildeo menor daacute menor eacute eu jaacute vi menor num sei si ela
teim eacute nativa nativa eacute qualquer clima di qualquer ambienti ela nasci podi ser baxu
podi ser terra seca ela daacute a folhinha dela eacute compridinha tambeacuteim compridinha
larguinha i a flor eu da nunca vi a flor dela eu natildeu sei dizer eu natildeu sei dizer neacute sei qui ela assim u olhu dela assim qui ela brota qui ela taacute renovada u olhu dela assim bas eacute
bem vermelhu u olhu dela assim aquela folha nova eacute beim vermelhinhu beim vermelhu
vermelhu mesmu mortinha peluda porque ela eacute cheiu di pelinhu uma uma us
galhinhu a a os galhu dela assim aquelis galhinhu ( ) eacute cheiu di pelinhu natildeu num eacute a
folha eacute eacute us talinhu us talinhu assim umrum issu natildeu nau nau eacute eacute lisu eacute lisu eacute
paacute folha qui eacute peludinhu eacute teim aquelis pelinhu mais eacute pouquin neacute por issu qui
chamu mortinha porque ela teim varus varus tipu ai pra pra mudar ai butaru mortinha
peluda mortinha( ) qui daacute beim piquininhinha mermu qui a folinha deli eacute qui neim
aqueli mato ali ai teim di otra mortinha qui eacute a vauacutena qui teim aquela qui bota uma
frutinha bem vauacutena qui chama crianccedila gosta di comer daacute muitu nu pastu negociu di
pasto assim di juquira eacute vauacutena a crianccedilada comi qui ela ela daacute qui neim num teim
azeitona essas bicha aqui comeacute nau natildeu eu nunca vi natildeu nunca vi a frutinha dela mas com certeza ela bota porque assim ela ela eacute nativa as veiz genti num vai laacute vecirc
naquela eacutepoca ela ta sim num acompanha ai por issu qui eacute mortinha peluda porque
tocirc dizendu assim tem varus tipu di mortinha i cada uma teim um nomi a mortinha
peluda a mortinha essa outra qui eacute a lisa qui eacute a vauacutena qui eu to dizendu neacute as folha
dela as folha dela satildeo igual eacute eacute muita muita muita folha muita ela eacute uma arvri
assim qui ela daacute qui ela ispalha galinhu pra todu cantu pra todu cantu ela sai galho
dela assim ai( ) i aiacute ela eacute ela eacute uma arvri travosa ela eacute travosa ela presta tantu pra
mulher eacute fazer banhu di assei u neacute ela eacute bom issu travosu sim natildeu num eacute
normau eacute eacute a folha nova dela aquela folha du quandu brota aquela folha nova qui ela
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
208
fica assim beim vermelinha i pra assim mulher quandu taacute na menopausa qui as veiz
passa daacute assim passa du dia da menstruaccedilatildeu dela passa assim por que assim teim mulher quandu taacute im menopausa assim sempri assim passa assim neacute mais dia ai
assim ai minha matildei sempri fazia assim oacute i ensinava pega aquelas folhinha da mortinha
peluda i lava ela beim beim lavadinhu i embrulha numa folha di guarimatilde i bota numa
cinza dibaixu da cinza assim pra quilu assim amulecer natildeu secar pra ficar assim pra
depois qui tiver ali sequinha qui tiver moli qui tiver cozinhadu tira dali espremi i bota
um pocu di cachaccedila i tomaela solta ela ela solta ela depois dela taacute ali neacute com aqueli
suou qui ela ta ali abafadu ela soa ela amoleci ai bota um pocu di cachaccedila i toma
tinha genti qui iacutea na casa da mamatildeie i dizia assim qui tava com essi poblema neacute as
veiz era menopausa i as mulheacute natildeu tinha essi conhecimentu qui era menopausa aiacute elas
ficavu afrontada pensava assim qui jaacute era um comeccedilu di hemorragia issu tudo neacute ( )
conversandu ( ) ai eu aprendi cum a mamatildei quandu foi certus tempus neacute ( ) issu eacute
aiacute um tempu taacute cum mas ou menus um anu i pocu eu tinha uma minha colega tava assim colega da minha minina inte filha da parenti ali du antoniu froz ali neta du
finadu antoniu froz neacute ela procuro ela mando i a dominga eu to passandu mau ela
morava nu broca ela ligo si eu num sabia di um remeacutediu por que ela jaacute tinha tomadu
tanta da garrafada qui a matildei dela tinha feitu i ela tava com essi poblema mais ela eacute
nova mulher du primeiru filhu ela taacute cum vinti dois anus pareci ela taacute cum essi
poblema ichi to seim coragi pra nada si eu num sabia ensinar um remeacutediu eu dissi a (
) natildeu eu natildeu sei ensinar remeacutediu a tua matildei porque a matildei dela trabalha com garrafada
tambeacuteim neacute a a mamatildeie fez uma garrafada pra mim eu fez foi pioraacute apioraacute mais
dominga eu to ateacute com medu i eu num quiria ir negociu di cirurgia eu num quiria di
jeitu nenhum natildeu queru mi consultar ai eu peguei ensinei vou ensinar um remeacutediu qui
a mamatildei ensinava pra mulher ai eu peguei fez uma garrafinha neacute i mandei pra ela mandei u remeacutediu i feiz uma cartinha ensinandu comu ela fazia dissi adriani natildeu vou
fazer aqui porque pra mim fazer aqui tu mora longi ela morava nu broca aiacute eu mandei
pelu carru di alunu ai depois qui eu vi ela dissi dominga graccedilas a deus aqueli remeacutediu
foi em primeiru lugar pra mim seraacute qui feiz beim feiz beim qui ichi eu neim foi neim mi
consultar aqueli remeacutediu ela mi dissi neacute ela fazia assim quandu us otru ensinavu pra
ela neacute ai ela jaacute aprendeu com voacute com a matildei dela e aiacute ela fazia natildeu eacute issu eacute ela fazia
cum eu achu qui ela jaacute aprendeu com a voacute dela cum a matildei ai prontu ela jaacute faziu aqueli
remeacutediu dava certu aiacute elas iam so passandu di voacute passar pra matildee matildei passar pra filhu
filhu jaacute passa prus netu aiacute jaacute vai
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas para problemas com a menstruaccedilao hemorragia e menopausa
Fu Formas de
uso
Utiliza-se a folha embrulhada na folha da guarimatilde esquentando no fogo depois eacute
espremida e colocada na cachaccedila
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Existem vaacuterios tipos de mortinha a planta com a folha lisa eacute chamada Vauacutena
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
209
APEcircNDICE FF ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPata de Vacardquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 36 PATA DE VACA
Lx Lexema Pata de vaca
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh abertu amplu eacute ela eacute eacute mais du friu ela eacute uma forma di pata de vaca memu
ela daacute assim neacute ela assim aiacute ela reparti uma folha ela tem dois divisatildeo uma forma
duma pata di vaca mermu ela eacuteh meacutedia ela natildeu eacuteh tatildeu pequininha mas natildeu eacuteh tatildeu
grandi tambeacutem eacuteh meacutedia eu nunca vi a flo dela porque eu essa arvre laacute diabe laacute nu
nossu setor ela duro pocus tempu ela natildeu duro tantus tempu natildeu ela natildeu chego a bota
flo eacuteh essi um eli num era tatildeu piquininhu mais eli num era tatildeo grossatildeu diabet eli era
porque ela ela foi num era era uma arvri nova porque eacute comu eu contei qui meu irmatildeo elimino ela antis du tempu meu irmatildeu num sei u qui aconteceu or mininu cortaru ela
num chegoacute a si forma eu num sei dize u tamanhu dela a grussura dela i eu diabet da
nunca vi ela im otru cantu pra mim dize oacute isso aqui eu vi essa uma laacute im casa qui foi teacute
um meu colega qui levo pra casa i deu um galhu pa minha irmatilde aiacute ela plantocirc i aiacute ela
tava jaacute um bom tamanhu aiacute agenti num tinha um diabetete di qui ela era assim tatildeo
assim valiosa neacute eli eli chegoacute diabete assim oacute diab aqui eacute remeacutediu mais eli num disse
pra qui era i pra quecirc natildeu naqueli tempu agenti num tinha ainda muita diabetete di
assim fazecirc iab assim essi tipu di trabalhu remeacutediu garrafada essas coisa aiacute ela plantocirc
laacute i soacute sei qui iab sei qui laacute a folha dela eacute assim () i ela ela creceu numa boa altura
agora achu qui aquilu inda nu era u tamanhu dela assim diabetete neacute achu qui ela
inda ia crececirc mais ela eacute meacutedia eacute uma planta eacute ela eacute uma planta eacute meacutedia eacute
meacutedia cum certeza ela eacute uma planta meacutedia natildeu soacute o cauli a folha isso agente usa a folha dela pra remeacutediu i a casca pra fazecirc u chaacute pra diabete neacute () me diabet qui ela eacute
boa pra diabete ela eacute folha i casca
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo utilizadas as folhas e o caule para Diabetes
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome tem relaccedilatildeo com o formato da folha (pata de vaca)
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
210
APEcircNDICE GG ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeacute de Galinhardquo
Fotografia 57ndashPeacute de Galinha com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 37 PEacute DE GALINHA
Lx Lexema Peacute de Galinha
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminologico Feminino
Df Definiccedilatildeo ela eacute uma erva ela eacute uma erva ela eacute nativa ela daacute nu pastu assim neacute tipu um capim
ela eacute um capim( ) soacute qui ela daacute u formatu di um peacute di galinha mermu ela nasci aqui u
pezim deli ali ela ispalha mais naquela a dondi ela espalha ali us pezim eacute qui ela bota
a sementinha uma pequena semetinha tambeacuteim beim piquenininha ela eacute mais ou
menus meiu palmu assim beim miudinha teim sim sim ela bota o caulizinhu qui eacute u
peacute di u formatu di uma perna di galinha mermu u formatinho neacute bota aqueli caulizinhu ai na pontinha deli qui ela espalha u pezinhu aquelas folinha prum ladu i pra otru fica
nu formatu di um peacute di galinha eacute eacute issu eacute nu invernu eacute eim qualquer tempu eacute
qualquer cantu ela daacute achu qui eacute por causa du formatu noacuteis conhecemus tambeacuteim
cum ela neacute cum ela queacute dizer quandu otra pessoa tava com dor di denti ela mandava
fazer u chaacute assim quandu tava com aquela dor di denti assim cum inchaccedilu aiacute ela
mandava fazer u chaacute faz u chaacute du peacute di galinha pra fazia u chaacute esfriava i tomava ali ( )
porque naqueli tempu edilene era difiacutecil assim ah qualquer coisa ir pru hospital
qualquer coisinha aqueli tempu natildeo tinha aacute cecirc eacutesi natildeu tinha aqui era muitu difiacutecil pra
genti vir aqui pra paacute neacute uma consulta uma coisa a minha voacute a minha matildei num foru
acostumada assim qualquer coisinha taacute nu hospital qualquer coisinha sentia uma dor
di cabeccedila ah eu vou pru hospital vou pru hospital di jeitu ninhum num era dessi jeitu natildeu a minha voacute eu conheci ela qui eu tocirc com cinquenta anu cinquenta i dois anu eu
nunca vi ela dizendu assim eu queru ir pru hospital eu tocirc cuma dor di cabeccedila eu tocirc
cuma dor di barriga eu tocirc com uma diarreia eu queru eacute ir pru hospital nunca ouvi
nunca nunca nunca sabi comu eu nunca vi soacute remeacutediu caseru agora fossi na casa
dela neacute ela ( ) uma panelinha di barru qui ela usava panelinha di barru aiacute di manhatilde
ela preparava ela pegava eacute denti di alhu quandu natildeu tinha u denti era casca du alhu
um bucadu di coisa mastruz botava laacute aiacute cozinhava noacuteis chegava laacute qui noacutes era
curiosa neacutevovoacute pra qui eacute issu aqui eacute pra mim beber mais u qui eacute que secirc tem voacute nada
meu filhu issu eacute remeacutediu mermu mi deu na cabeccedila deu fazer as vezis ela dizia assim eu
amanheci assim com uma dozinha nu meu estocircmagu uma coisa um ventu uma coisa
assim quasi naquilu eli si curavu naquilu ela nunca foi eu nunca vi ela num hospital natildeu assim dizendu eu queru ir eu vou mi consultar mi levu pra mi consultar nunca eu
mais saudia era ela quandu adoeceu foi pra morrer velhinha jaacute quandu ela adoeceu
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
211
foi pra morrer i ela foi assim ela caiu aiacute sI bateu neacute ai u titiu ainda ainda quis levar
ela pra consulta pru hospital ela num quiz ir di jeitu nenhum ela dissi qui natildeu adiantava ela ir qui ela sabia qui ela natildeu ficava boa era tempu dela morrer i ela jaacute
tava velha di idadi ela jaacute andava devagarinhu u titiu anda feiz umas consulta assim
pra ela foi consultar i trouxi umas injeccedilatildeo mais ela natildeu ficou boa mermu mais natildeu
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de dente e inchaccedilo na boca
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dores de inchaccedilos nos dentes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem aspecto de um peacute de galinha
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
212
APEcircNDICE HH ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeatildeo Brancordquo
Fotografia 58 ndash Peatildeo Branco com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 38 PEAtildeO BRANCO
Lx Lexema Peatildeo Branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma planta eacute caseira clima tantu faz ela gostalugar que eleela ela gosta
tantu faz eacuteh aela eacute bem resistente inverno veratildeo veratildeo ela eacute resistente ela sim a
folhadela eacute media ela eacute redondafolha dela verdio fruto delaelabota assim
tipohum tipo caixinho ai dentro da da daquele cachu da a sementi neacutebota as
sementinhas e quando a genti pega dentro aquela caixinha tem sementinha delaque
a gente abre o remeacutedio e a sementi dela que eacuteh o remeacutedio ela da o cacho bota o cacho
assimas pontinhas daqueles coisinhus assimbota o fruto ai dentro do fruto
daquelas daquelas cachopinhos parte que taacute a sementinha a sementinha preta dela
ela bemeacuteh a sementi que usa no caso do peau a folha dela eacute remeacutedio prano caso ta com dor de cabeccedila uma ma tontura mucha a folha dela a folha do peatildeo branco
mucha um pouco no fogo passa um pouco de alho e coloca na testa e pra tontura
neacuteminha voacute fazia cuando algueacutem com tontura fazia issoaiacute o leite dele que a genti
corta assim o caule dele sai dele uma aguazinha eacute e tambeacutem muito esse noacutedia se pegar
na roupa da genti tem que ter muito coidadu usar o leitiele aiacute si tiver crianccedila que
tiver ferida na boca antau dor de denti muito celente pra usar o leiti corta o leitizim
dele bota numa esponjinha de algodatildeo e coloca no denti ferida na tambeacutem eacute bom
tambeacutem agenti pega apara o leiti dele bota um pouquim de sal e coloca na boca da
crianccedilaa sementi delea genti pega a semnetinha dele aquela sementi num eacuteh tao
pequenininha ela eacute muito bem maior que a sementi de urucumbem maiora genti pega
elaeh uma crianccedila tiver com tossetiver ehproblema daquela asmaela servi pru bucado de coisas as veis febre as veis fartiu a crianccedila num quer comerse pega ele
assim parte aquele sementinha tem o coidado de tirar a folhinha porque agenti fica
olhando assim agenti percebi a folhinha dele que ta dentro daquela sementinhauma
folhinha dentroassim pra nascer neacuteaquela folhinha assim quando ela ela agenti
parte jaacute percebi a folhinha jaacute ta li aquela folhinha agenti tem que tirar tudinhu na
mimpega uma faca tira tudinhu e pega aquela sementinhaela eacute que nem uma coco
que nem um coquinho assim neacuteaquela massinha ai pega faz umbota ela pra
assarbotaela fica amelinhaai pega pisa pisa e da pra crianccedila pouco tambeacutem
neacutemuito natildeo porque se der muito ele da um acesso de vomito que eacute forte eacutehisso aiacute
eacute remeacutedio mas neacute todo mundo que sabe fazer e eacute difiacutecil de ensinar pro outra pessoa
fazer remeacutedio caseiro tem essa ciecircncia neacutepurque a genti natildeo sabendo fazeragenti
ateacute evita de ensinar pra uma pessoa porque ele natildeo tem costume de fazerele tem
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
213
ciecircncia remeacutedio caseirotem chaacute que a genti pode beber o tanto que fornatildeo ta nem
aimas agortem remeacutedio caseiroo peatildeoo peatildeo eacute muitoa mimha matildee fazia pra nois agenti comeccedila a tossirnois era muito neacuteuins tussindu as veis gripadu ela
tiravaela tirava aquela folhapegava uma pontinha da faca ehmae o que eacute isso
no crianccedila curiosa sabe coma eacute neeh olhe isso eacute afolha que tem que tirar se comer
com essa folha morre ela dizia neacuteeacute veneno essa folha tem que tirar e assava so as
bandinhas ela pegava um espetinhu fazia uns espetinhos bem fininhu botava pra
assar so na quentura despois ela moiacutea assimdava para nois comerquando dava
certo ela misturava com qualquer coisaquando dava certo quando natildeo dava
assim quando nois jaacute era entendidopor meus filhos eu nunca fizeu jaacute comimais
eu nunca fiz nuca cheguei a fazer eu sei fazereu sei preparar do jeito que minha matildee
fazia pra nois nunca dava nunca dava mais de uma sementicom a folhinha muito
coidado com aquela folhinha de dentro da sementi
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e tontura Do caule eacute retirado um leite para dor de dente feridas na boca A semente eacute usada para febres e vocircmitos
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dor de cabeccedila para tontura a folha eacute esquentada com um
alho e colocada na lateral dos olhos O caule tem um leite que eacute retirado para colocar
com um pouco de sal nos casos de dores no dente ou feridas na boca Dentro da
cachopinha da planta tem a sementinha que eacute assada e triturada para acessos de
vocircmitos e febres
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Dentro da sementinha da planta existe uma folhinha bem pequena que deve ser retirada
para o preparo do remeacutedio segundo seu saber a folhinha eacute venenosa por isso nem
todos sabem preparar a medicaccedilatildeo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
214
APEcircNDICE II ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoQuebra Pedra Brancordquo
Fotografia 59 ndash Quebra Pera Branco com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 39 QUEBRA PEDRA BRANCO
Lx Lexema Quebra Pedra Branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminologico Feminino
Df Definiccedilatildeo eacute uma erva uma erva ela eacute ela achu qui pertenci um poquinhu friu um puquinhu
quenti ela tambeacuteim daacute assim ela tambeacuteim daacute nessa eacutepoca assim di natildeu muita chuva
natildeu muitu sol sempri ela ela gosta di daacute i ai tambeacuteim ela ela eacute nativa tambeacuteim ela
nasci assim tambeacuteim pelu quintau nu canteru sozinha ela nasci e ai quandu chega u
veratildeu qui eacute u veratildeu aperta muitu aqueli veratildeu di novembru dezembru ela morri ela si acaba natildeu ela eacute assim num teim u cuminhu di planta u cuminhu di planta jaacute viu u
cuminhu di planta natildeu natildeu sim sim sim () aqueli cuminhu qui a genti planta nu
canteru neacute pois eacute eli eacute daqueli jeitu eacute u formatu da di cuminhu sim sim sim pois eacute
natildeo mais quandu a genti dexa eli crescer eli da sementi eacute eli num cresci porque
quandu chega aquela eacutepoca a genti tem qui arrancar pra planta otru pra genti vender
daqueli jeitu neacute mais deixandu eli sementa i a a quebra pedra eli fica na formatu di
duma arvri di cuminhu di planta i ai eli a folha deli eacute beim muiditinha eli eacute eli eacute uma
avre assim pequeninha tambeacuteim e a a folha deli eacute bem miudititita assim a folhinha
deli mais ou menu eacute a folhinha daacute muita piquinininha tambeacutem mas daacute florzinha
dela beim miudititita ela teim teim teim natildeu natildeu natildeo natildeo eacute uma plantinha
piquinininha mas eacute uma planta eacute qui neim qui neim u cheiru verdi qui nem u cheiru verdi eu nunca vi u cheiru verdi assim di flor neacute mas eu jaacute vi mas eli eacute qui neim u
cheiru verdi assim a avrinha deli ai daacute daacute us galhinhu daacute as folhinhas beim miuditita
assim porque eli distroacutei as pedra di rim neacute achu qui eacute por issu qui u nomi deli eacute
quebra pedra quebra pedra eu aprendi nu livru tambeacuteim nu livru foi qui eu
aprendi issu foi a minha matildei i minha voacute a minha matildei i minha voacute qui muitas dessa
essa daiacute agenti sabia dessi nomi quebra pedra agora natildeu sabia a importacircncia qui eli
tinha mas u nomi a genti jaacute sabia por que ela eacute branquinha a a folha porque teim di
duas marca tem du roxu i teim du branquinhu i u bom eacute o que eacute branquinha
piquininha i branquinha i du roxu eli eacute du mesmu formatu mas soacute qui eli eacute roxinhu
tambeacuteim eacute a folha eacute a folha a raiz i assim a genti arranca ela tudu i lava i bota pra
fazer u chaacute deli completu folha cum raiz cum tudu
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de As folhas satildeo usadas para problemas renais
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
215
uso
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes contra as pedras nos rins e na garrafada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome da planta tem relaccedilatildeo com a funccedilatildeo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
216
APEcircNDICE JJ ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoSalsardquo
Fotografia 60 ndash Salsa com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 40 SALSA Lx Lexema Salsa
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo natildeu a salsa di remeacutediu eacute otra ela eacute du ela tantu faiz pra ela ela gostu du du mais
ela eacute du ambienti mais friu um tempu dessi( ) ela ela podi passar u veratildeu mas ela num
morri mais natildeu ela fica assim meia fraquinha amareladinha mais ela num morri
quandu chega u invernu ela renova tudim ela fica toda renovada e ai a folha dela eacute
bastanti grandi tambeacuteim eacute assim num formatu dum coraccedilatildeu tambeacuteim ela soacute qui ela eacute
mais grandi e eacute eacute um cipoacute tambeacuteim ela eacute cipoacute quandu quandu daacute certu dela subi ela
sobi mais ela eacute du chatildeu du chatildeu eacute du chatildeu natildeu natildeu eacute sobi eacute eacute si ela ver otra otra
planta ela sobi i aqui ela jaacute bota u cipoacute ela jaacute jaacute sobi aqui se der certu prela descer i
ela vai dandu cipoacute i vai dandu raiacutezes nu cipoacute i vai i pegandu vai indu ela num eacute aquela
raiz soacute nu peacute dela natildeu ela vai botaacute nu u cipoacute i vai i vai raizandu issu daiacute eu num sei dizer eu conheccedilu por essi nomi ( ) eacute porque natildeu eacute ela eacute nativa eacute eacute nativa teacute nu
lugar qui ela daacute qui ela nasci eacute difiacutecil ela ateacute si acabar natildeu soacute salsa eacute eacute eacute porque
a du temperu ela eacute qui neim cheiru verdi neacute du mesmu jeitu du cheiru verdi a salsa du
temperu i essa uma natildeu ela eacute um cipoacute ela daacute assim pertu di casa teim uma a genti
luta paacute acabar essi comecirc di rola ocirc ocirc essi que daacute eli daacute mais nu roccediladu eacute elas vatildeu
a salsa teim muitu laacute pertu di casa ela chega nu terreru eu cortu eu arrancu soacute qui ela
eacute difiacutecil dela si acabar ela fica escondidinha ela fica to dizendu nu veratildeu ela fica
amarelada soacute qui ela num si acaba pa dizecirc morreu natildeo noacuteis arranca noacuteis corta ela
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas em alimentos
Fu Formas de
uso
Usam-se as folhas como cheiro verde serve para dar sabor no alimento
Fn Finalidade Tempero
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
217
APEcircNDICE LL ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoVassourinhardquo
Fotografia 61ndashVassourinha com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 41 VASSOURINHA Lx Lexema Vassourinha
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ela eacute nativa ela nasci tambeacuteim nu paacute assim terreru nu quintal sempri a vassorinha
sempri ela gosta mais assim assim du molhadinhu du uacutemidu eacute mais nu veratildeu ela eacute
bastanti resistenti tambeacuteim nu veratildeu eacute com certeza eacute natildeu uma arvrizinha tambeacuteim
uma arvri piquinininha mas ela eacute arvri num eacute rastera natildeu num eacute grama ela eacute formatu
duma vassora bota arvrinha aqui daqui espalha us nasci us galinhhu neacute ela espalha aiacute teim a folha dela eacute qui neim a folha di mastruz ela eacute mais menas mais eacute u mesmu
formatu da folha di mastruz assim eacute uma folinha uma folinha com com um frizadinhu
assim soacute qui pequena eacute menozinha um pocu du qui a folha di mastruz i aiacute a sementinha
dela eacute beim pequenininha tambeacuteim daacute umas bolinha assim umas bolinha qui neim um
pirulituzinhu uma coisa soacute qui eacute beim piquininha neacute aiacute ela bota a sementinha dela
tambeacuteim sim a florzinha dela eacute assim meia roxinha beim piquininha a florzinha dela
bem piquininha assim meia roxinha branquinha assim um roxozinhu claru eu
aprendi com a minha voacute tambeacuteim com us meus tiu inteacute quandu quandu eu tinha um tiu
vinha a ser tiu da mamatildei a genti considerava qui neim avoacute eli eli benzia dor denti aiacute
quandu eli chegava uma pessoa laacute agrave eu vim aqui pra oce benzer meu denti eli taacute
doendu num sei u quecirc eli mandava vai apanhar uma vassorinha um galhinhu di
vassorinha pra mim com aqueli cum aqueli galhinhu di vassorinha qui eli fazia u trabalhu deli assim benzia neacute ai agenti aprendeu aiacute as depois ai tinha veiz qui eli fazia
eu fazia aqueli trabalhu ai depois as veiz eli dizia olha au chegar na tua casa pega
dois dois trecircis pontinhas di folha di vassorinha i pisa com pouquin di sal i coloca
quandu u denti tinha aqueli coisa neacute aquela furadu neacute bota um pouquin di sal i coloca
ai genti fazia era u remeacutediu qui eli mandava i ficava bom ai conheci por vassorinha
porque a vovoacute tambeacuteim dizia qui era era um vassorinha porque eacute eacute pa ensinar crianccedila
pequenu tira um galhu di vassorinha i meti nais costa dessi safadu por qui galhu di
vassorinha num doacutei muitu eacute pra ensinar crianccedila pequena neacute aiacute tinha qui dizer assim
ai tambeacuteim antigamenti ar mulher faziu vassora pra varrer da planta apanhava
dondi tinha muitu neacute apanhavu ela i amarravu assim aqueli fexu aqueli monti i botavu
num cabu di pau i faziu vassora pra varre dondi num natildeu natildeu ela eacute beim ela eacute beim uma uma beim cheinha eacute uma plantinha pequeninha mais ela eacute cheia ela eacute quasi qui
neim u mastruz( ) eacute u mastruz eli espalha mais eli eli eli cresci assim mais grandi eli
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
218
bota mais assim eli fica maioacute a a vassorinha ela eacute um formatu di uma arvri di
jambreru soacute qui eacute piquininha mais eacute naqueli formatinhu qui ela eacute di jambreru nativa eacute pra alergia tambeacuteim eacute banhu fazer u banhu dela qui eacute pra
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de dente
Fu Formas de
uso
Pega-se a folhinha amassa com sal e coloca em cima do dente
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta era usada como vassoura pelas mulheres por ser bem encorpada aleacutem disso
usava para disciplinar as crianccedilas e tambeacutem em rezas pelo tio
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
1
ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO
Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade
Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do
Paraacute - PA
Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do
Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Orientadora Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas
BRAGANCcedilA-PARAacute
2015
2
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFPA
___________________________________________________________________________
Salomatildeo Antonia Edylane Milomes 1978 ndash
Estudo terminoloacutegico das plantas medicinais da comunidade remanescente de
quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do Paraacute - PA Antonia Edylane Milomes Salomatildeo -
2015
Orientadora Raimunda Benedita Cristina Caldas
Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal do Paraacute Campus de Braganccedila
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia Braganccedila 2015
1 Linguagem e Liacutenguas 2 Plantas medicinais -Terminologia 3 Palavras e
expressotildees 4 Quilombos - Santa Luzia do Paraacute(PA) 5 Quilombolas - Santa Luzia do
Paraacute(PA) I Tiacutetulo
CDD 23 ed 4014
___________________________________________________________________________
3
ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO
Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade
Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do
Paraacute - PA
Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo
em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do
Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Aacuterea de concentraccedilatildeo Leitura e Traduccedilatildeo Cultural
Aprovada em ______ ______ ______
Conceito _________________________
Parecer Final ______________________
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas (UFPA-Campus de Braganccedila)
Orientadora
________________________________________________
Prof Dr Elias Mauriacutecio da Silva Rodrigues (UFRA-Campus Capanema)
Membro Externo
_________________________________________________
Profordf Drordf Tabita Fernandes da Silva (UFPA-Campus de Braganccedila)
Membro Interno
_________________________________________________
Profordf Drordf Carmen Luacutecia Reis Rodrigues (UFPA-Campus de Castanhal)
Suplente
4
Dedico este trabalho ao meu esposo
Haroldo Jorge e minha filha Maria
Lorenna pelo apoio incondicional e
constante incentivo Aos meus familiares e
amigos pela paciecircncia incentivo e
amizade
5
AGRADECIMENTOS
A DEUS
Ele colocou pessoas tatildeo especiais a meu lado sem as quais natildeo conseguiria alcanccedilar e nem
superar as dificuldades dessa caminhada Meu eterno louvor e gratidatildeo ao Senhor de minha
alma Obrigada sempre
Agrave Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas
Por acreditar em mim me mostrar o caminho da ciecircncia por ser exemplo de profissional e de
mulher a qual sempre seraacute modelo na minha vida Muitiacutessimo obrigada
Aos Professores
Profa Dra Raimunda Benedita Cristina Caldas Prof Dr Guumlnter Karl Pressler Profa Dra
Sylvia Maria Trusen Profa Dra Carmen Lucia Reis Rodrigues Profa Dra Tabita Fernandes
da Silva Profa Dra Roberta Alexandrina da Silva Prof Dr Joseacute Guilherme dos Santos
Fernandes Prof Dr Pedro Petit Pentildearrocha Profa Dra Georgina Negratildeo Kalife Cordeiro
Prof Dr Flavio Leonel Abreu da Silveira Prof Dr Luis Junior Costa Saraiva Prof Dr
Salomao Antonio Mufarrej Hage Profa Dra Nilsa Brito Ribeiro Profa Dra Maria do
Perpetuo Socorro Galvatildeo Simotildees pelas contribuiccedilotildees nas disciplinas ministradas e no curso
em geral Obrigada a todos
Ao Prof Dr Elias Mauriacutecio
Pela amizade que transcende ao tempo pelo incentivo e contribuiccedilatildeo para que eu pudesse
realizar esse sonho Meu sincero e especial obrigada
Ao Prof Dr Jair Cecim
Que me fortaleceu e me fez tentar natildeo ser a melhor mas fazer o melhor de mim Obrigada
Agrave senhora Domingas Alves
Suas contribuiccedilotildees foram basilares nesse estudo Sempre disponiacutevel e disposta a ajudar com
seus saberes a senhora me fez enxergar que existe um mundo infinito de conhecimentos que
ultrapassam geraccedilotildees atraveacutes das lutas e das conquistas alcanccediladas pela forccedila de um povo
Muito obrigada por tudo
Agrave senhora Nazareacute Guirard
Que se mostrou incansaacutevel e atenciosa contribuindo significativamente com informaccedilotildees
fundamentais nos trabalhos com as plantas e respeito agrave natureza Sempre obrigada
Aos moradores quilombolas de Pimenteiras
Por me receberem e acolherem na comunidade respeitando e contribuindo espontaneamente
para que o trabalho demonstrasse sua histoacuteria e identidade Todos merecem meu eterno
agradecimento
6
Aos meus pais Zaqueu Alves e Lucia Salomatildeo
A quem amo muito obrigada pelo carinho paciecircncia e incentivo Meu infinito
agradecimento Amo muito vocecircs
Aos meus irmatildeos Joseacute Weliton e Maria Helem
Pela dedicaccedilatildeo e auxiacutelio nos momentos difiacuteceis vividos em nossas vidas Obrigada
Ao meu esposo Haroldo Jorge
Meu amor que sempre acreditou em minha capacidade meu companheiro que se dedicou
espontaneamente a me acompanhar ajudar e me equilibrar nos momentos de dificuldades
Devido ao seu companheirismo amizade paciecircncia compreensatildeo apoio alegria e amor este
trabalho pocircde ser concretizado Obrigada por ter feito do meu sonho o nosso sonho Te amo
Agrave minha pequena e amada filha Maria Lorenna
Sua presenccedila em minha vida trouxe um incentivo a mais para continuar Natildeo eacute por mim mas
por vocecirc meu amor que sempre busco alcanccedilar e ser o melhor Amo vocecirc meu cheirinho
As amigas Alaiacutece Pereira Alcilene Morais Sara do Socorro
Que diretamente fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando Meu
eterno agradecimento pela amizade Valeu meninas
As amigas do Mestrado
Pelos momentos divididos juntos especialmente agrave Myrceia agrave Michelly Adriana Elizabete e
Aldilene que se tornaram verdadeiras amigas e tornaram mais leve meu trabalho Obrigada
por dividir comigo as anguacutestias e alegrias e ouvirem minhas bobagens Foi bom poder contar
com vocecircs
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Por abrir as portas para que eu pudesse realizar este sonho que eacute a minha Dissertaccedilatildeo de
Mestrado Vocecircs proporcionaram-me mais que a busca de conhecimento teacutecnico e cientiacutefico
mas uma liccedilatildeo de vida Ningueacutem vence sozinho OBRIGADA A TODOS
7
ldquoHaacute um casamento que ainda natildeo foi feito no Brasil entre o saber
acadecircmico e o saber popular O saber popular nasce da experiecircncia
sofrida dos mil jeitos de sobreviver com poucos recursos O saber
acadecircmico nasce do estudo bebendo de muitas fontes Quando esses
dois saberes se unirem seremos invenciacuteveisrdquo
Leonardo Boff (1938)
8
RESUMO
O presente trabalho traz um levantamento dos termos sobre as plantas de uso medicinais
catalogados e utilizados pelos moradores remanescentes de quilombola da comunidade de
Pimenteiras pertencente agrave cidade de Santa Luzia do Paraacute no Estado do Paraacute cujo
procedimento de anaacutelise parte de conhecer as praacuteticas dos saberes no fazer uso das plantas
medicinais nessa comunidade Foram elencados aspectos relacionados com a comunidade
suas origens e seus saberes sobre as plantas medicinais que se tornaram siacutembolo de
identificaccedilatildeo cultural dos moradores quilombolas Assim nosso propoacutesito eacute mostrar que a
linguagem eacute algo que identifica e marca as caracteriacutesticas de um grupo ou de um indiviacuteduo
do mesmo modo que a liacutengua de especialidade sobre as plantas de uso medicinal utilizada
pelos moradores quilombolas revela uma identidade cultural forte desse grupo Os estudos
terminoloacutegicos de Krieger e Finatto (2004) serviram de base para analisarmos os termos e
suas especificidades no contexto particular da linguagem assim como a abordagem
socioterminoloacutegica de Faulstich (1994 1995 1996 2001 2003 2006) propiciou observar
por meio dos termos suas construccedilotildees variaccedilotildees e definiccedilotildees no que concerne ao
conhecimento repassado entre as geraccedilotildees Construiacutemos este trabalho utilizando uma
metodologia com instrumentos usados antes durante e apoacutes a pesquisa para a anaacutelise dos
dados coletados Os recursos da informaacutetica entrevistas transcriccedilotildees de diaacutelogos orais fichas
terminoloacutegicas e registro de imagens foram alguns dos meacutetodos usados na construccedilatildeo do
trabalho Em suma observamos que o saber da cura por meio das plantas medicinais estaacute
preservado na memoacuteria e na liacutengua dos moradores quilombolas da comunidade de
Pimenteiras
Palavras-chave Plantas Medicinais Saber Tradicional Identidade Cultural Terminologia
Socioterminologia Termo
9
ABSTRACT
This paper presents a survey of the terms on the medicinal use of plants cataloged and used by
the remaining residents of Pimenteiras community maroon belonging to the city of Santa
Luzia do Paraacute in the state of Para whose analysis procedure of knowing the practices of
knowledge to make use of medicinal plants in this community Aspects of the community
were listed their origins and their knowledge about medicinal plants that have become a
symbol of cultural identification of quilombo residents So our purpose is to show that
language is something that identifies and marks the characteristics of a group or an individual
just as the specialty of language on the medicinal use of plants used by the quilombo residents
reveals a strong cultural identity of this group The terminology studies Krieger and Finatto
(2004) formed the basis for reviewing the terms and their specificities in the particular context
of language as well as socioterminological approach Faulstich (1994 1995 1996 2001
2003 2006) led to observe through terms of their buildings variations and definitions
concerning the knowledge passed on between generations We developed this work using a
methodology tools used before during and after searching for the analysis of the collected
data computers resources interviews oral dialogue transcripts terminology records image
recording these were some of the methods used in the development of the work In short we
see that the knowledge of healing through herbs are preserved in memory and language of the
quilombo residents in Pimenteiras community
Keywords Medicinal Plants Traditional knowledge Cultural identity Terminology
Socioterminology Term
10
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade 33
Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras 33
Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas 34
Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada 35
Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda 36
Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas 37
Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento 37
Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena 44
Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico 44
Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o
funcionamento do organismo 45
Fotografia 11 ndash Salsa dissecada 45
Fotografia 12 ndash Canela dissecada 46
Fotografia 13 ndash Vinagreira dissecada 46
Fotografia 14 ndash Mucuracaacute 95
Fotografia 15 ndash Folha do Mucuracaacute 95
Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti 98
Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti 98
Fotografia 18 ndash Noni 100
Fotografia 19 ndash Folha do Noni 100
Fotografia 20 ndash Pataca 102
Fotografia 21 ndash Folha da Pataca 102
Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata Pasto 105
Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem 105
Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo 108
Fotografia 25 ndash Folha de Vassoura de botatildeo 108
Fotografia 26 ndash Nambu Tutano 110
Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano 110
Fotografia 28 ndash Paratudo 115
Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo 115
Fotografia 30 ndash Gergelim Branco 118
Fotografia 31 ndash Folha do Gergelim Branco 118
Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho 121
Fotografia 33 ndash Folha do Urucum Vermelho 121
Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho 123
Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho 123
11
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute 96
Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti 98
Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni 100
Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca 103
Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-de-Muquem 105
Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo 108
Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano 110
Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo 112
Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo 115
Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco 118
Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho 121
Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho 123
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 PIMENTEIRA OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA 18
21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA 19
211 Remanescentes o que restou 22
212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras 25
22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO 28
221 Ladainha agrave Nossa Senhora do Livramento 31
222 AQUAFAP O desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola
nos saberes das plantas medicinais 39
223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico 42
23
SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM
PIMENTEIRAS 47
231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes 51
232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais 53
233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes 55
234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais 58
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 61
31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL 62
311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular 65
32
A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS
ESPECIALIZADOS 68
321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada 70
33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL 73
331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da
Socioterminologia 76
332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico 79
4 METODOLOGIA 85
41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE
PIMENTEIRAS 86
42 A PESQUISA DE CAMPO 87
43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS
DADOS 89
431 Entrevistas 89
432 Recursos de anaacutelise dos dados 90
433 Termos Catalogados 90
5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE
UM POVO 92
51 MUCURACAacute 94
52 ERVA DE JABUTI 97
53 NONI 100
54 PATACA 102
55 PAU-DE-MUQUEM 104
56 VASSOURA DE BOTAtildeO 107
57 NAMBU TUTANO 109
58 QUEBRA PEDRA ROXO 112
59 PARATUDO 114
13
510 GERGELIM BRANCO 117
511 URUCUM VERMELHO 120
512 ERVA DE PASSARINHO 122
6 CONCLUSAtildeO 127 REFEREcircNCIAS 132 APEcircNDICES 143
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
ldquoSou apenas um escritor Um cultivador Um jardineiro Um florista A minha
felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me
excita quando acabo de as colherrdquo
Joaquim Pessoa (1948)
A liacutengua traz em seu contexto a identidade cultural de um povo A partir desta
questatildeo procuramos discorrer na presente dissertaccedilatildeo sobre o ldquoEstudo Terminoloacutegico das
Plantas Medicinais da Comunidade Remanescente de Quilombola de Pimenteiras em Santa
Luzia do Paraacute ndash PArdquo As experiecircncias vividas em grande parte de minha vida na cidade de
Santa Luzia do Paraacute me fizeram conhecer diversas comunidades proacuteximas agrave regiatildeo
comunidades com caracteriacutesticas fortes que marcam a identidade dos moradores e de toda
sociedade luziense
Por conhecer e vivenciar os saberes e a cultura das comunidades de Santa Luzia do
Paraacute escolhemos particularmente a comunidade de Pimenteiras por ser uma regiatildeo rica em
sua biodiversidade e por querer mostrar os saberes que os moradores quilombolas possuem
sobre a terra suas origens e seus saberes medicinais Contribuiu para o levantamento da
pesquisa a receptividade dos moradores de Pimenteiras que permitiram conhecer melhor sua
cultura diversidade na natureza e seus anseios de conseguir a titularidade da terra quilombola
A comunidade de Pimenteiras fica localizada na regiatildeo rural de Santa Luzia do Paraacute
a cerca de 30 km de distacircncia da cidade em uma estrada sem asfalto com caminho de difiacutecil
acesso o que inviabiliza agrave populaccedilatildeo desta comunidade assistecircncia agraves suas necessidades
baacutesicas Formada por moradores de origem quilombola muitas famiacutelias chegaram a este local
haacute muitos anos tendo saiacutedo da comunidade de Narciacutesea na cidade de Capitatildeo Poccedilo ndash PA em
busca de melhorias para o sustento de suas famiacutelias Pimenteiras eacute uma comunidade cujos
moradores buscam por meio do conhecimento e valorizaccedilatildeo de suas raiacutezes fortalecer seus
viacutenculos com a terra e a natureza a sua volta Deste contato especial com a natureza os
moradores conhecem e utilizam seus saberes na aacuterea da medicina tradicional
O saber da cura por meio da medicina popular continua preservado no falar dos
moradores remanescentes de quilombolas pelas informaccedilotildees sobre a influecircncia negra e
tambeacutem indiacutegena A manipulaccedilatildeo os cuidados com as plantas a forma de cultivo as relaccedilotildees
associativas nos nomes das plantas medicinais vecircm de longas geraccedilotildees que sofreram e
15
sobreviveram com a ajuda da natureza Eacute diante do saber preservado na liacutengua dos moradores
quilombolas que desenvolvemos este estudo sobre os termos das plantas medicinais
Com o intuito de conservar o saber das geraccedilotildees mais antigas um pequeno grupo da
comunidade quilombola registrou amostras de plantas medicinais da regiatildeo em que vivem
cada espeacutecie com os nomes de uso popular que os moradores conhecem pois observamos
que dentre os nomes registrados para uma mesma espeacutecie de planta ocorrem variaccedilotildees na
nomemclatura
Entender como uma comunidade guarda e preserva seus saberes por meio da liacutengua eacute
de suma importacircncia para o andamento deste estudo de cunho popular e cientiacutefico
Compreender como a liacutengua se mistura e se reinventa nos usos de um povo eacute o que mais
chama nossa atenccedilatildeo nos aspectos dos estudos do termo Levando em consideraccedilatildeo que
nenhuma Liacutengua eacute homogecircnea efetivamos um pequeno estudo sobre a liacutengua suas relaccedilotildees e
interferecircncias na sociedade Percebemos que a utilizaccedilatildeo das plantas medicinais eacute uma praacutetica
universal na medicina popular pois eacute o resultado do acuacutemulo de conhecimentos empiacutericos
sobre a accedilatildeo dos vegetais por diversos grupos eacutetnicos
No decorrer dos estudos observamos que haacute diversas expressotildees populares
direcionadas ao uso dos vegetais para a sauacutede tais como ervas caseiras folhas medicinais
vegetais medicinais ervas medicinais e plantas medicinais Estas diferentes expressotildees dos
termos ocorre por questotildees culturais que variam de uma comunidade para outra De modo
particular utilizamos neste trabalho os termos ldquoplantas de uso medicinalrdquo ou ldquoplantas
medicinaisrdquo Por fazer parte do falar de uma comunidade os termos catalogados sobre as
plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras foram analisados no contexto da linguagem
de especialidade que eacute campo de estudo da Terminologia
Dentre as ciecircncias que estudam o leacutexico a Terminologia1 estuda um subconjunto da
liacutengua relacionado a uma aacuterea especiacutefica do conhecimento humano esse subconjunto eacute
composto por signos especializados que chamamos de termos Quando o uso da liacutengua passa
por um processo de transformaccedilatildeo no qual certas palavras adquirem uma significaccedilatildeo dentro
de um domiacutenio de conhecimento particular entre um grupo de falantes que compartilham da
mesma aacuterea de conhecimento essa particularizaccedilatildeo eacute de domiacutenio da linguagem de
especialidade e o termo eacute seu objeto de uso
Eacute nesse contexto que a Terminologia direciona seu olhar ao fator social na anaacutelise
dos dados linguiacutesticos Com isso surge a Socioterminologia como um campo teoacuterico e
1 Haacute uma tendecircncia a convencionar que Terminologiagrafada com T maiuacutesculo eacute indicativa de campo de
conhecimento e com t minuacutesculo eacute referente ao conjunto de termos de uma especialidade (KRIEGER 2004)
16
aplicado que segundo Faulstich (1995) eacute uma releitura da terminologia tradicional que
incorpora aos estudos do termo o aparato social considerando nesse aspecto os fatores de
variaccedilatildeo linguiacutestica Gaudin (1993) tambeacutem edificou seus estudos terminoloacutegicos por meio de
outras aacutereas de conhecimento como a Sociolinguiacutestica e a Sociologia campos amplamente
estudados pela Socioterminologia que observa a dimensatildeo social na comunicaccedilatildeo
especializada sem estar separada dos discursos em que os termos emergem
O estudo do termo diante da perspectiva socioterminoloacutegica traz o registro e anaacutelise
das variantes da linguagem de especialidade De acordo com Faulstich (1995 p 285) ldquoo
princiacutepio subjacente da pesquisa socioterminoloacutegica eacute o registro da(s) variante(s) que leva em
conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico em que os termos circulam []rdquo
Em consideraccedilatildeo ao que foi explanado este trabalho tem o proacuteposito de verificar os
registros dos termos analisando e identificando os usos de domiacutenio dos mesmos sobre as
plantas medicinais que por conseguinte distinguem a comunidade de Pimenteiras Assim
selecionamos como objeto de estudo os termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
que foram catalogadas pelos moradores quilombolas quando criaram o projeto do
Bioenergeacutetico na regiatildeo Muitos dos termos alistados possuem nomenclatura diferenciada em
relaccedilatildeo aos usos comuns da liacutengua Essas particularidades vieram de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo com
o repasse dos saberes entre famiacutelias e amigos principalmente entre as mulheres Sob o prisma
dos pressupostos da Terminologia e da Socioterminologia daremos enfoque no processo de
constituiccedilatildeo do leacutexico semacircntico conceitual dos termos sobre as plantas medicinais de
Pimenteiras observando se este saber especializado sobre as plantas traz traccedilos da identidade
cultural dos moradores quilombolas
Por uma questatildeo didaacutetica nosso trabalho dissertativo foi organizado em cinco
capiacutetulos No primeiro capiacutetulo oferecemos uma visatildeo geral sobre o presente estudo a ser
direcionado para a anaacutelise dos dados registrados nessa dissertaccedilatildeo explicando alguns
conceitos baacutesicos que seratildeo fundamentais para situar a localidade os sujeitos envolvidos no
estudo dos termos relativos agrave comunidade e as plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras
No segundo capiacutetulo apresentamos os aspectos relacionados agrave comunidade de
Pimenteiras suas origens ndash quilombola e da comunidade ndash os remanescentes de Pimenteiras
a cultura religiosa ao lado de suas lutas pela terra Em seguida apresentaremos o trabalho
com o Bioenergeacutetico e o iniacutecio do processo de catalogaccedilatildeo dos termos analisando as relaccedilotildees
entre o saber e o conhecimento para a construccedilatildeo dos sujeitos de saberes Demarca-se
tambeacutem a presenccedila do gecircnero feminino preponderante nas relaccedilotildees com o conhecimento
17
tradicional nesse contexto representado por Domingas Alves do Nascimento como uma
grande personalidade na comunidade e responsaacutevel por buscar sempre ampliar os saberes que
possui sobre as plantas fazendo com que a comunidade de Pimenteiras tenha como identidade
cultural seus saberes preservados e utilizados entre as geraccedilotildees afrodescendentes
No terceiro capiacutetulo expomos a base teoacuterica deste trabalho ancorada nos estudos
Terminoloacutegicos e Socioterminoloacutegicos verificando assim questotildees sobre a importacircncia da
liacutengua na identidade cultural de um povo Em seguida reconhecemos o valor das plantas
medicinais para o conhecimento cientiacutefico e popular como tambeacutem nos aspectos relacionados
agraves ciecircncias do termo tais como a Terminologia e a Socioterminologia fundamentais para
compreendermos a importacircncia da terminologia nos estudos especializados da liacutengua assim
como o estudo do Termo como base para o estudo socioterminoloacutegico
No quarto capiacutetulo abordamos sobre os procedimentos utilizados na pesquisa de
campo na comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras apontando os objetivos
gerais e especiacuteficos do trabalho relatando sobre as entrevistas a catalogaccedilatildeo dos termos sobre
as plantas medicinais os recursos utilizados para o tratamento dos dados e em seguida o
organograma do conhecimento sobre a cultura das plantas medicinais
Todo o processo de estudo percorrido nesta dissertaccedilatildeo culminaraacute no quinto capiacutetulo
no qual apresentamos a anaacutelise Socioterminoloacutegica dos termos de Pimenteiras Nesse
capiacutetulo seguimos algumas etapas na anaacutelise do termo no contexto da variaccedilatildeo terminoloacutegica
observando a linguagem como representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras e os
aspectos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinais Mostramos como os
termos variam de acordo com as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos aleacutem de analisar
se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade medicinal verificando
por meio da definiccedilatildeo de cada termo sua descriccedilatildeo dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber
especializado
Diante das variaccedilotildees dos termos e portanto das diversas definiccedilotildees utilizamos no
processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Enilde Faulstich uma
amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees sobre os termos verificando o aspecto da
funcionalidade do termo dentro da linguagem especializada Com isso observamos que o
conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras eacute a marca de seus
antepassados sua identidade sua histoacuteria de sua linguagem especializada diante da
diversidade na natureza
A partir de agora iniciamos os estudos natildeo apenas dos termos sobre as plantas
medicinais mas sobretudo sobre a histoacuteria de um povo que busca viver e vencer as
18
dificuldades histoacutericas passadas entre as geraccedilotildees para que hoje seus registros sejam
marcados pelas conquistas alcanccediladas e as futuras
2 PIMENTEIRA2 OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA
ldquoPodemos dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de
identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator
extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo em sirdquo
Michel Pollak (1992)
Desde os primeiros focos de resistecircncia dos africanos contra a escravidatildeo colonial os
estudos sobre os negros constitui assunto relevante principalmente na formaccedilatildeo de
comunidades afrodescendentes mais conhecidas como Quilombos3
No que diz respeito aos afrodescendentes4 a comunidade de Pimenteiras eacute uma das
muitas comunidades formadas por famiacutelias quilombolas os moradores da regiatildeo chegaram haacute
muito tempo da comunidade de Narciacutesea localizada na regiatildeo de Capitatildeo Poccedilo ndash PA
Pesquisas da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares5 apontam que o maior nuacutemero de
associaccedilotildees quilombolas se encontra nas regiotildees do Paraacute e Maranhatildeo chegando a cerca de
100 comunidades existentes nessas aacutereas Sabe-se que natildeo haacute comunidades em isolamento
total existe sempre uma relaccedilatildeo contiacutenua entre os sujeitos e com o meio em que vivem No
caso da comunidade de Pimenteiras isso natildeo eacute diferente proacuteximas agrave regiatildeo existem outras
comunidades que tambeacutem vivenciam a falta de recursos que possam melhorar a vida dos
moradores no campo As comunidades como Broca Piquiaacute Cantam Fuzil natildeo tecircm
2O termo Pimenteira no singular refere-se agraveterra em que vivem os moradores remanescentes de Quilombo
Pimenteiras no plural refere-se agrave comunidade Tabela sobre a comunidade no site
httpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501 3Quilombo eacute o nome dado no Brasil aos locais de refuacutegio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o
periacuteodo colonial e imperial Nesses locais os escravos passavam a viver em liberdade criando novas relaccedilotildees
sociais Muitos quilombos existiram no Brasil e centenas deles ainda existem formando o que hoje eacute chamado de comunidades quilombolas 4Afrodescendente eacute aquele que eacute ou que descende de famiacutelia ou indiviacuteduo vindo do negro africano 5A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares eacute uma entidade puacuteblica brasileira vinculada ao Ministeacuterio da Cultura A entidade
teve seu Estatuto aprovado pelo Decreto nordm 418 de 10 de janeiro de 1992 e tem como missatildeo os preceitos
constitucionais de reforccedilos agrave cidadania agrave identidade agrave accedilatildeo e agrave memoacuteria dos segmentos eacutetnicos dos grupos
formadores da sociedade brasileira aleacutem de fomentar o direito de acesso agrave cultura e agrave indispensaacutevel accedilatildeo do
Estado na preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees afro-brasileiras No artigo 1ordma Lei institui que se promova a
preservaccedilatildeo dos valores culturais sociais e econocircmicos decorrentes da influecircncia negra na formaccedilatildeo da
sociedade brasileira Preocupada com a igualdade racial e com a valorizaccedilatildeo das manifestaccedilotildees de matriz
africana a Palmares formula e implanta poliacuteticas puacuteblicas que potencializam a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra
brasileira nos processos de desenvolvimento do Paiacutes Foi o primeiro oacutergatildeo federal criado para promover a preservaccedilatildeo a proteccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo da cultura negra Pesquisa feita no dia 10012015 as 1155h no site
httpwwwpalmaresgovbr
19
moradores com descendecircncia quilombola mas assim como em Pimenteiras os moradores
natildeo permanecem ldquoestaacuteticosrdquo no tempo todos possuem caracteriacutesticas particulares que
distinguem suas identidades pois a vida eacute dinacircmica
O negro se mostra figura atuante isto estaacute presente nos estudos de Salles (1988 p 67
apud WAGLEY 1977 e GALVAtildeO 1955) que expotildee
Encontraram o negro solidaacuterio com o iacutendio nas vicissitudes sociais Natildeo importa se
negro autecircntico ou se iacutendio autecircntico O passaporte da autenticidade naquele
contexto jaacute havia perdido tocircda ou quase tocircda importacircncia Ambos despojados dos
seus padrotildees culturais quebrados definitivamente amalgamados numa nova cultura
resultante da fusatildeo de trecircs componentes eacutetnicos O processo de desenvolvimento
dessa cultura visto superficialmente eacute pouco acelerado Visto poreacutem em
profundidade mostra-se extremamente ativo Sobretudo no que diz respeito agraves convergecircncias culturais
Visualizando por este acircngulo a figura do negro observaremos no toacutepico seguinte as
origens e significados dos termos Quilombola e Remanescente para que possamos identificar
as marcas de um povo que lutou e alcanccedilou sua liberdade Em seguida verificaremos com
mais sagacidade os estudos de Vicente Salles e Ilka Boaventura Leite sobre o negro
observando sua histoacuteria suas conquistas e as influecircncias do negro no Paraacute e na comunidade
de Pimenteiras em particular
21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA
Iniciamos este assunto com a pergunta que muitos ainda hoje fazem e nem todos
respondem ndash Quem satildeo os negros Entretanto de forma mais profunda responderemos agrave
seguinte pergunta ndash Quem satildeo os Quilombolas
Alguns autores constituem uma anaacutelise do termo e com isso explicam que a palavra
quilombo se refere a um tipo de instituiccedilatildeo sociopoliacutetica militar conhecida na Aacutefrica Central
principalmente na regiatildeo constituiacuteda pela atual Repuacuteblica Democraacutetica do Congo (Zaire) e
Angola conforme expotildee o professor Kabengele Munanga6 (1995) Para ele a expressatildeo
6 KabengeleMunanga eacute Graduado em Antropologia Cultural pela UniversiteacuteOfficielle Du Congo agrave Lubumbashi
(1969) e Doutorado em Ciecircncias Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de Satildeo Paulo (1977)
Atualmente eacute professor titular da Universidade de Satildeo Paulo Tem experiecircncia na aacuterea de Antropologia com ecircnfase em Antropologia das Populaccedilotildees Afro-Brasileiras atuando principalmente nos seguintes temas racismo
identidade identidade negra Aacutefrica e Brasil
20
quilombo vem de ldquoochilombordquo em um dialeto de Angola a professora Leite7 (2000) por sua
vez apresenta que sua etimologia significa ldquobantordquo e exprime ldquoacampamento guerreiro na
florestardquo e foi difundida no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios
decretos e atos visando referir-se agraves integraccedilotildees de apoio muacutetuo criadas pelos ldquorebeldesrdquo ao
sistema escravocrata e agraves suas reaccedilotildees lutas e organizaccedilotildees pelo fim da escravidatildeo no paiacutes
Natildeo obstante esta palavra significou libertaccedilatildeo e conquistas para os libertos alcanccedilando
amplas dimensotildees e conteuacutedos
No decorrer da histoacuteria diversas circunstacircncias envolvendo o negro demonstraram
grandes lutas contra os vaacuterios artifiacutecios de expropriaccedilatildeo de seus corpos bens e direitos Eacute
nesse contexto de servidatildeo do negro diante do homem branco que Salles (1988 p 203) expotildee
O processo tradicional da busca de liberdade consistiu invariavelmente na fuga para
os matos onde os negros se reuniam solidaacuterios entre si e formavam os quilombos
A fuga deve ter sido no comeccedilo soluccedilatildeo bastante difiacutecil e arriscada aleacutem de
empreitada individual Na floresta o negro se achava sozinho Agraves vezes conseguia
chegar a alguma aldeia indiacutegena e por sorte acabava vivendo amistosamente com
os silviacutecolas Bandeava-se desta forma para grupos totalmente estranhos e que com
ele soacute tinha um traccedilo comum o oacutedio ao branco dominador Haacute na crocircnica da
escravidatildeo muitos casos ilustrativos e que destroem o mito da incompatibilidade
eacutetnica
Os negros enfrentaram muitos questionamentos sobre a legitimidade de se acomodar
num lugar cujo espaccedilo pudesse ser organizado conforme suas condiccedilotildees valores e praacuteticas
culturais A repressatildeo ao negro fez com que ele fosse segregado das praacuteticas sociais Hoje esta
exclusatildeo estaacute demonstrada nos censos econocircmicos e nos mais recentes levantamentos
socioeconocircmicos realizados no paiacutes (HASENBALG SILVA 1988) Somente no Brasil apoacutes
a aboliccedilatildeo em 1888 os negros sofrem com a desqualificaccedilatildeo de sua cor sendo ignorados pelo
poder puacuteblico nos lugares em que habitam desprovidos das necessidades baacutesicas de todo ser
humano Eacute diante desta realidade que Leite (2000) expotildee que os descendentes de africanos
nos uacuteltimos vinte anos tecircm procurado se organizar em associaccedilotildees quilombolas
reivindicando o direito agrave permanecircncia e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas
e cultivadas para moradia e sustento da famiacutelia bem como o livre exerciacutecio de suas praacuteticas
crenccedilas e valores apreciados em sua especificidade Diante disto Leite (2000 p 335)
prossegue
7 Ilka Boaventura Leite eacute professora do Departamento e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Antropologia da
Universidade Federal de Santa Catarina fundadora e coordenadora do NUER (Nuacutecleo de Estudos de Identidades
e Relaccedilotildees Intereacutetnicas) Suas pesquisas estatildeo situadas nas aacutereas de teoria antropoloacutegica literatura de viagem
relaccedilotildees intereacutetnicas etnologia afro-brasileira arte e etnicidade Tem publicado artigos sobre literatura de viagens cultura e identidade negra quilombos direitos eacutetnicos poliacuteticas de identidade arte e diaacutespora africana
periacutecias antropoloacutegicas
21
Tudo isto se esclarece quando entra em cena a noccedilatildeo de quilombo como forma de
organizaccedilatildeo de luta de espaccedilo conquistado e mantido atraveacutes de geraccedilotildees O
quilombo entatildeo na atualidade significa para esta parcela da sociedade brasileira
sobretudo um direito a ser reconhecido e natildeo propriamente e apenas um passado a ser rememorado Inaugura uma espeacutecie de demanda ou nova pauta na poliacutetica
nacional afrodescendentes partidos poliacuteticos cientistas e militantes satildeo chamados a
definir o que vem a ser o quilombo e quem satildeo os quilombolas
O simples ato de apropriaccedilatildeo da terra para viver passou a significar um ato de luta e
guerra Assim pensar na questatildeo territorial faz discorrer tambeacutem na definiccedilatildeo sobre o termo
ldquoQuilombordquo ndash que reporta agrave visatildeo distorcida de negros fugitivos ndash e abordar as diferentes
situaccedilotildees que cobriram a existecircncia de Terras de Quilombos no Brasil Para isto Almeida
(1998 p 14) expotildee que eacute necessaacuterio que ldquonos libertemos da definiccedilatildeo arqueoloacutegica associada
ao termo Quilombordquo Segundo o autor as comunidades Quilombolas sempre estabeleceram
uma clara rede de interaccedilatildeo com as sociedades locais contestando o estereoacutetipo do isolamento
geograacutefico A qualidade e intensidade da interaccedilatildeo foi o que possibilitou a construccedilatildeo de uma
configuraccedilatildeo social cuja autonomia tinha tambeacutem suporte nessa dinacircmica de relaccedilotildees sociais
e nas formas de usar e ocupar a terra (ALMEIDA 1988 p 18)
Na conceituaccedilatildeo e significaccedilatildeo da palavra Quilombo Siqueira e Nascimento (1987)
apud Leite (1999 p 15) explicam que no Brasil a tradiccedilatildeo popular apresenta muitas
variaccedilotildees no significado da referida palavra
[] ora associado a um lugar (ldquoquilombo era um estabelecimento singularrdquo) ora a
um povo que vive neste lugar (ldquoas vaacuterias etnias que o compotildeemrdquo) ou a
manifestaccedilotildees populares (ldquofestas de ruardquo) ou ao local de uma praacutetica condenada
pela sociedade (ldquolugar puacuteblico onde se instala uma casa de prostitutasrdquo) ou a um
conflito (uma ldquogrande confusatildeordquo) ou a uma relaccedilatildeo social (ldquouma uniatildeordquo) ou ainda a um sistema econocircmico (ldquolocalizaccedilatildeo fronteiriccedila com relevo e condiccedilotildees climaacuteticas
comuns na maioria dos casosrdquo)
Para Leite (2000) a quantidade de significados faz com que o uso do termo
demonstre uma grande variedade de experiecircncias que generalizam o fenocircmeno enquanto
dimensatildeo poliacutetica de uma formaccedilatildeo social diversa em que evidenciam a persistecircncia das mais
diversas manifestaccedilotildees de resistecircncia e luta que os negros delinearam em toda a nossa
histoacuteria Eacute nesse contexto que Leite (2000 p 338) assim conclui
[] inicia-se a longa etapa de construccedilatildeo da identidade destes grupos seja pela
formalizaccedilatildeo da diferenciaccedilatildeo eacutetnico-cultural no acircmbito local regional e nacional
seja pela consolidaccedilatildeo de um tipo especiacutefico de segregaccedilatildeo social e residencial dos
negros chegando ateacute os dias atuais []
22
A variaccedilatildeo de significados para o termo quilombo traz a construccedilatildeo de um povo que
busca constantemente por seus direitos contudo o que significa o termo remanescente
Verificaremos no toacutepico seguinte especificamente as discussotildees em torno do significado da
palavra ldquoremanescesterdquo no contexto do negro
211 Remanescentes o que restou
No que concerne ao significado do termo remanescente a autora Leite (2000 p 9)
nos apresenta o seguinte contexto
A expressatildeo ldquoremanescente das comunidades de quilombosrdquo que emerge na
Assembleacuteia Constituinte de 1988 eacute tributaacuteria natildeo somente dos pleitos por tiacutetulos
fundiaacuterios mas de uma discussatildeo mais ampla travada nos movimentos negros e
entre parlamentares envolvidos com a luta anti-racista O quilombo eacute trazido
novamente ao debate para fazer frente a um tipo de reivindicaccedilatildeo que agrave eacutepoca alude
a uma ldquodiacutevidardquo que a naccedilatildeo brasileira teria para com os afro-brasileiros em
consequumlecircncia da escravidatildeo natildeo exclusivamente para falar em propriedade
fundiaacuteria
A expressatildeo ldquoremanescenterdquo surge como forma de reinvindicaccedilatildeo por uma eacutepoca em
que a naccedilatildeo brasileira teria certo dever com os afrodescendentes pela grande escravidatildeo e
sofrimento vivido no periacuteodo da aboliccedilatildeo contudo segundo os estudos de Leite (1996 p
341) o termo remete tambeacutem a algo em extinccedilatildeo que estaacute em processo de desaparecimento
Mas foi principalmente porque a expressatildeo natildeo correspondia agrave autodenominaccedilatildeo destes
mesmos grupos e por se tratar de uma identidade ainda a ser politicamente construiacuteda que
tantos questionamentos foram suscitados Eacute nesse impasse da significaccedilatildeo e nomeaccedilatildeo dos
remanescentes de quilombolas que Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia8 (ABA) convocada
pelo Ministeacuterio Puacuteblico reuniu em outubro de 1994 o Grupo de Trabalho sobre Comunidades
Negras Rurais e elaborou um conceito de ldquoremanescente de quilombordquo ficando assim
definido
8A Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia (ABA) eacute a mais antiga das associaccedilotildees cientiacuteficas existentes no paiacutes
na aacuterea das ciecircncias sociais ocupando hoje um papel de destaque na conduccedilatildeo de questotildees relacionadas agraves
poliacuteticas puacuteblicas referentes agrave educaccedilatildeo agrave accedilatildeo social e agrave defesa dos direitos humanos No decorrer de sua
histoacuteria ela tem sido voz atuante em defesa das minorias eacutetnicas dos discriminados e posicionando-se consistentemente contra a injusticcedila social Pesquisado em 11012015 as 2345h no site
httpwwwportalabantorgbrindexphpinstitucionalfeatures
23
[] contemporaneamente portanto o termo natildeo se referia a resiacuteduos arqueoloacutegicos de ocupaccedilatildeo temporal ou de comprovaccedilatildeo bioloacutegica Tratava-se de desfazer a ideacuteia
de isolamento e de populaccedilatildeo homogecircnea ou como decorrente de processos
insurrecionais O documento posicionava-se criticamente em relaccedilatildeo a uma visatildeo
estaacutetica do quilombo evidenciando seu aspecto contemporacircneo organizacional
relacional e dinacircmico bem como a variabilidade das experiecircncias capazes de serem
amplamente abarcadas pela ressemantizaccedilatildeo do quilombo na atualidade Ou seja
mais do que uma realidade inequiacutevoca o quilombo deveria ser pensado como um
conceito que abarca uma experiecircncia historicamente situada na formaccedilatildeo social
brasileira (LEITE 2000 p 341-342)
No que diz respeito aos direitos sobre a terra o Brasil em comparaccedilatildeo com outros
paiacuteses que claramente obtiveram conquistas poliacuteticas e territoriais talvez seja o uacutenico que natildeo
resolveu formalmente a questatildeo dos direitos territoriais das suas comunidades negras
tradicionais O direito agrave terra que as comunidades atribuem eacute vital pois a concepccedilatildeo da terra
enquanto territoacuterio socialmente ocupado eacute a chave para a vida desses grupos Sobre isso
Chagas (2001 p 228) informa que a aplicaccedilatildeo do direito constitucional se daacute tambeacutem
atraveacutes da titulaccedilatildeo dessas aacutereas
[] para estar em consonacircncia com a viabilizaccedilatildeo de um padratildeo de existecircncia que
seja compatiacutevel e que assegure a vida nos seus proacuteprios termos significaria menos
quantificar ou traccedilar meramente um espaccedilo fiacutesico esvaziado de seu sentido social e
mais justamente recuperar a ideacuteia de que estes espaccedilos sociais estatildeo qualificados e
atravessados por redes de relaccedilotildees que postas em curso garantem a proacutepria
permanecircncia do grupo neste territoacuterio
No trecho citado por Chagas (2001) eacute demonstrada a preocupaccedilatildeo no que se refere
aos remanescentes das comunidades dos quilombos que vecircm sofrendo com o processo de
reconhecimento dos direitos assegurados constitucionalmente nota-se o quanto eacute necessaacuterio
um diaacutelogo com as praacuteticas culturais de cada grupo envolvido auxiliando as comunidades no
autorreconhecimento das populaccedilotildees remanescentes de quilombola Eacute a busca pelo direito agrave
terra direito agrave vida no campo de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado
agrave margem da vida em sociedade
Completando este diaacutelogo com Marques (2004) confere-se que o modo de vida dos
povos do campo eacute entendido como uma configuraccedilatildeo bastante dinacircmica e que soacute pode ser
compreendida a partir de sua inserccedilatildeo na sociedade ndash que hoje inclui as relaccedilotildees sociais que
ocupam as comunidades camponesas na sociedade moderna capitalista ndash percebendo a relaccedilatildeo
entre tradiccedilatildeo e modernidade e qual lugar ocupam os povos de vidas tradicionais
Os quilombos reforccedilavam as lutas contra a escravidatildeo mostrando um tipo de
organizaccedilatildeo social mais justa cuja resistecircncia se manifestou de diversas formas entre greves
de fome violecircncia e fugas Segundo Freitas (1982 p 210) essas fugas mais organizadas e
coletivizadas deram origem ao Quilombo dos Palmares
24
O ldquoQuilombo dos Palmaresrdquo foi a manifestaccedilatildeo mais eloquente do discurso anti-
escravista dos negros brasileiros nos quase trecircs seacuteculos da escravidatildeo representando
um marco na resistecircncia negra A resoluccedilatildeo tomada na Serra da Barriga ldquode morrer
antes de aceitar a escravidatildeordquo demonstra a essecircncia da mensagem que os negros de Palmares deixaram Retomando a reflexatildeo hegeliana ldquoO Amo natildeo eacute Amo senatildeo
pelo fato de que possui um Escravo que o reconhece como talrdquo
Freitas (1982 p 43) explana que os escravos que se refugiavam em Palmares apoacutes
algum tempo escondidos nas serras deixaram de viver escondidos e reconquistaram sua
dignidade como seres humanos O autor prossegue expondo
Os escravos plantavam milho feijatildeo mandioca cana-de-accediluacutecar batata legumes Duas semanas antes do plantio preparavam o terreno com grandes queimadas A
preparaccedilatildeo das terras a semeadura e a colheita era realizada de maneira coletiva
Celebravam o teacutermino da colheita com uma semana inteira de festejos em que todos
folgavam danccedilavam comiam e bebiam Mantinham muitos pomares com uma
variedade de aacutervores frutiacuteferas (1982 p 45)
Durante minhas visitas agrave comunidade remanescente de quilombolas de Pimenteiras o
contato com os moradores levantou muitos questionamentos sobre o entendimento e
significaccedilatildeo do termo quilombola Os mais velhos guardam na memoacuteria recordaccedilotildees de um
periacuteodo no qual seus antepassados viveram e sofreram os accediloites do chicote da escravidatildeo os
adolescentes por sua vez vivem o embate entre aceitar ou natildeo a descendecircncia Aceitando
suas origens alcanccedilam direitos reservados aos negros como o direito de cotas nas
universidades jaacute nos momentos em que os sentimentos de exclusatildeo discriminaccedilatildeo e rejeiccedilatildeo
se tornam maiores nos espaccedilos sociais os mais jovens natildeo se veem e natildeo se orgulham de sua
origem afrodescendente
Na anaacutelise do contexto vivido na comunidade o sentimento que se faz presente nos
mais jovens eacute o fato de que ser homem negro significa ser excluiacutedo e discriminado pelos
colegas da escola Muitos relataram situaccedilotildees de desrespeito natildeo apenas pela cor da pele mas
pelo termo ldquoquilombolardquo A respeito da discriminaccedilatildeo racial sobre os quilombolas Leite
(2000 p 349) comenta que
O ato de aquilombar-se ou seja de organizar-se contra qualquer atitude ou sistema
opressivo passa a ser portanto nos dias atuais a chama reacesa para na condiccedilatildeo
contemporacircnea dar sentido estimular fortalecer a luta contra a discriminaccedilatildeo e seus
efeitos Vem agora iluminar uma parte do passado aquele que salta aos olhos pela
enfaacutetica referecircncia contida nas estatiacutesticas onde os negros satildeo a maioria dos socialmente excluiacutedos Quilombo vem a ser portanto o mote principal para se
discutir uma parte da cidadania negada
25
Diante das discussotildees feitas seguiremos abordando sobre os remanescentes de
quilombola da comunidade de Pimenteiras sua localizaccedilatildeo e os problemas sobre a titularidade
da terra que se tornou algo de extrema importacircncia aos moradores dessa regiatildeo
212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras
Eacute importante frisar que na atualidade a dimensatildeo de luta dos homens negros pela
liberdade foi muito importante para que a cultura afrodescendente se desenvolvesse com
maior fruiccedilatildeo Na Amazocircnia a presenccedila do negro eacute assunto desprezado em termos da
importacircncia insignificante que teria essa mesma presenccedila Segundo Salles (1988) a matildeo-de-
obra faacutecil era abundante e era a uacutenica que poderia mobilizar com sucesso imediato a matildeo-de-
obra dos iacutendios9
Nos estudos sobre a Amazocircnia Salles (1988) expotildee sobre a substituiccedilatildeo do iacutendio
pelo negro na lavoura que natildeo foi tatildeo necessaacuteria na regiatildeo como no restante do Brasil a
presenccedila insistente do iacutendio em muitos trabalhos com a terra deu ao negro a possibilidade de
influir profundamente na civilizaccedilatildeo brasileira criando um tipo de economia em que o
indiacutegena teve grande participaccedilatildeo (CHAMBOULEYRON 2006) No entanto os escritos do
autor natildeo abandonam a significaccedilatildeo do negro na Amazocircnia durante o regime da escravidatildeo o
negro deixou sua personalidade sua etnia e sua cultura na constituiccedilatildeo da economia agraacuteria
Diante disso discorrer sobre os quilombolas no cenaacuterio poliacutetico atual eacute conversar
sobre luta poliacutetica uma reflexatildeo cientiacutefica em processo de construccedilatildeo Hoje cerca de trecircs mil
comunidades quilombolas10
vivem natildeo apenas na Amazocircnia mas em todo o territoacuterio
9 Em tempos do descobrimento do Brasil a necessidade de braccedilos para cortar e transportar o pau-brasil para o
litoral fez com que os portugueses impusessem aos iacutendios o trabalho compulsoacuterio Em meados de 1550 a
decisatildeo de incrementar o traacutefico da Aacutefrica para o Brasil tornou a escravidatildeo do negro mais interessante e
econocircmica para a Coroa portuguesa Apesar de ter sido tatildeo forte e cruel a escravidatildeo do negro africano a
escravidatildeo do iacutendio teve pouco conhecimento e historicamente ficou em segundo lugar Pesquisa feita no dia
10022015 as 1001hs no site httpwwwklickeducacaocombrconteudopagina06313POR-1245-9282-00html 10Ateacute hoje natildeo haacute certeza sobre o nuacutemero de comunidades quilombolas existentes no Brasil mas estima-se que
haacute pelo menos trecircs mil em todo o territoacuterio nacional localizadas principalmente nos estados doAmazonas
Alagoas Amapaacute Bahia Cearaacute Maranhatildeo Minas Gerais Paraacute Pernambuco Tocantins e outros Os estados
brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades quilombolas satildeo a Bahia o Maranhatildeo Minas
Gerais e o Paraacute Segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial
(Seppir) e do Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) oacutergatildeos responsaacuteveis pela
identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos quilombolas
existem atualmente mais de setecentas comunidades oficialmente registradas pela Fundaccedilatildeo Palmares do
Ministeacuterio da Cultura e mais de duzentos processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em andamento envolvendo mais
de trezentas comunidades espalhadas por 24 estados brasileiros Retirado do texto de GASPAR Luacutecia Quilombolas Pesquisa Escolar Online Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Recife Disponiacutevel em
lthttpbasiliofundajgovbrpesquisaescolargt Acesso em 15022015 as 1230hs
26
nacional no entanto muitas terras natildeo possuem ainda o reconhecimento devido No estado do
Paraacute segundo dados pesquisados satildeo reconhecidas duzentos e quarenta (240)11
comunidades
remanescentes de Quilombo
As conquistas para alcanccedilar o direito pela titulaccedilatildeo de terra de quilombo vecircm do
cumprimento do Artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias da Constituiccedilatildeo Federal12
cuja redaccedilatildeo expotildee o seguinte ldquoAos remanescentes das comunidades de quilombos que
estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir
lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)
Com a instituiccedilatildeo deste Leopoldo e Morais (2005 p 3) explanam em seu artigo
sobre territorialidade que muitas lutas e manifestaccedilotildees poliacuteticas tecircm apoiado ou desprovido as
comunidades quilombolas do seu direito agrave terra Leopoldo e Morais (2005 p 1) ressaltam que
ldquoos criteacuterios adotados para o reconhecimento das comunidades quilombolas tecircm sido alvo de
constantes criacuteticas entre esses diferentes atoresrdquo Embora pareccedila pertinente equiparar a
questatildeo do direito agraves terras de quilombos com as terras indiacutegenas ambas satildeo semelhantes
apenas quanto aos desafios e embates jaacute visiacuteveis na questatildeo da identificaccedilatildeo e na definiccedilatildeo
dos sujeitos de direito
No diagrama da fronteira eacutetnico-cultural o Brasil esteve sempre marcado pela
preservaccedilatildeo do territoacuterio invadido e ocupado por inuacutemeros conflitos de terra que remontam
aos dias atuais13
Natildeo muito distante de uma realidade de lutas pelos direitos dos negros os
moradores remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras lutam haacute muito
tempo pelo reconhecimento da terra Localizada na regiatildeo rural da cidade de Santa Luzia do
Paraacute14
a comunidade fica situada em local de difiacutecil acesso situaccedilatildeo que piora muito nos
periacuteodos de chuva causando transtornos aos moradores que veem limitadas suas
necessidades humanas baacutesicas
Vejamos abaixo o mapa da Regiatildeo do Guamaacute onde fica localizada a cidade de Santa
Luzia do Paraacute Rodeada por outras cidades como Capanema Oureacutem Capitatildeo Poccedilo Garrafatildeo
do Norte Cachoeira do Piriaacute Nova Esperanccedila do Piriaacute e tambeacutem Terras Indiacutegenas ocupadas
pelos iacutendios Tembeacute a comunidade de Pimenteiras fica no centro da regiatildeo da cidade de Santa
Luzia do Paraacute como mostra a figura
11 Disponiacutevel em httpwwwcpisporgbrcomunidadeshtmli_brasil_pahtml Pesquisado dia 01052013 as
1933 h 12 Pesquisa no site wwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaohtm em 16122014 as 1633hs 13 Atualmente destaca-se a luta do MST ndash Movimento dos Sem Terra no Brasil ndash que constitui um dos maiores
movimentos sociais do paiacutes com 15 anos de existecircncia nos 23 estados da federaccedilatildeo Maiores informaccedilotildees
consultar o site httpwwwmstorgbr 14Santa Luzia do Paraacute eacute uma cidade brasileira localizada no estado do Paraacute na microrregiatildeo do Guamaacute e na
mesorregiatildeo do Nordeste Paraense
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Mapa 01 ndash Regiatildeo do Guamaacute Cidade de Santa Luzia do Paraacute Comunidade de Pimenteiras
Fonte IBGE15
Com relaccedilatildeo agrave titularidade da terra como Quilombola o processo continua em
tracircmite nos oacutergatildeos responsaacuteveis Os moradores da comunidade de Pimenteiras vivem agrave espera
da validaccedilatildeo do processo de identificaccedilatildeo e reconhecimento de suas origens valorizaccedilatildeo de
sua cultura e direito ao territoacuterio quilombola Segundo relatos dos moradores um dos motivos
para o impasse no processo seria a presenccedila de pecuaristas e agricultores natildeo remanescentes
de quilombo que vivem na regiatildeo e cultivam nas terras Estas pessoas devem ser indenizadas
pelos espaccedilos de terra que possuem a fim de que o direito dos quilombos tenha garantia de
integralidade das terras Logo a seguir encontram-se as informaccedilotildees de forma resumida sobre
o andamento do pedido de reconhecimento da terra em Pimenteiras
Tabela 1 ndash Titulaccedilatildeo da terra da comunidade de Pimenteiras
FICHA RESUMO DO TERRITOacuteRIO
Nome da Terra Pimenteira
Nome da(s) Comunidade(s) Pimenteiras
Municiacutepio Santa Luzia do Paraacute
Unidade da Federaccedilatildeo Paraacute
Populaccedilatildeo 24 famiacutelias
Dimensatildeo Territorial -
Etapa do processo de titulaccedilatildeo Certidatildeo Fundaccedilatildeo Cultural Palmares
Superintendecircncia Responsaacutevel SR 01 Paraacute
Data da Uacuteltima Atualizaccedilatildeo 30052014
Fonte Comissatildeo Proacute-iacutendio de Satildeo Paulo16
15 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150655ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completas
28
Os moradores da comunidade de Pimenteiras sofrem com o processo de
reconhecimento de seus direitos que satildeo assegurados constitucionalmente Para eles
reconhecer a terra eacute importante pois reconhece a existecircncia de uma populaccedilatildeo remanescente
quilombola de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado agrave margem da vida
em sociedade que busca mais do que o direito agrave terra busca o direito agrave vida no campo
Conhecer a cultura de um povo faz com que ele seja reconhecido e valorizado por
suas caracteriacutesticas em particular Diante disso conheceremos no toacutepico seguinte um pouco
da histoacuteria da comunidade de Pimenteiras aleacutem de sua tradicional manifestaccedilatildeo cultural que
eacute a Ladainha a Nossa Senhora do Livramento uma cerimocircnia em agradecimento pelas preces
atendidas do povo daquela comunidade
22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO
Nos encontros ocorridos na comunidade de Pimenteiras nos deparamos com alguns
moradores que haacute pouco tempo natildeo conheciam sua descendecircncia negra e tampouco os
significados que cercam o termo Quilombola Por meio das histoacuterias transmitidas de seus
antepassados e de pesquisadores envolvidos com o Centro de Estudos e Defesa do Negro do
Paraacute (CEDENPA)17
os moradores passaram a se reconhecer como remanescentes de
quilombo de forma orgulhosa no entanto confusos Isto se deve ao fato de que a comunidade
de Pimenteiras vive hoje com o estigma de seus ancestrais escravizados e sem entender seus
reais valores culturais e histoacutericos
Nesse acircmbito Leite (2000 p 339) levanta um questionamento significativo sobre o
termo quilombola Ela explica que
Desde os anos 30 algumas vozes militantes18
defendem fortemente a ideacuteia de
reparaccedilatildeo da aboliccedilatildeo como ldquoum processo inacabadordquo e da ldquodiacutevidardquo em dois
16Disponiacutevel emlthttpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501gt
17O CEDENPA eacute uma Entidade sem fins lucrativos sem viacutenculos poliacutetico-partidaacuterios fundada em 10 de agosto
de 1980 e legalizada em 27 de abril de 1982 que a partir do Estado do Paraacute vem contribuindo no processo de superaccedilatildeo do racismo preconceito e discriminaccedilatildeo que produzem a desigualdades soacutecio raciais de gecircnero e
outras prejudicando sobretudo a populaccedilatildeo negra e indiacutegena em todos os aspectos da sociedade brasileira
Pesquisado em 22062015 as 955hs no site httpwwwcedenpaorgbr
18 Abdias do Nascimento atual senador da Repuacuteblica reescreve suas teses na deacutecada de 80 defendidas desde os
anos 30 quando inicia sua militacircncia O seu quilombismo reivindica uma memoacuteria anterior ao traacutefico e agrave
escravizaccedilatildeo dos africanos Escreve ldquoo quilombismo busca no presente e no futuro e atua por um mundo melhor para os africanos nas Ameacutericasrdquo Resume suas teses do quilombismo em 16 itens O primeiro deles define o
quilombismo como um movimento poliacutetico dos negros brasileiros visando a implantaccedilatildeo de um Estado Nacional
29
planos a herdada dos antigos senhores e a marca que ficou em forma de estigma seus efeitos simboacutelicos geradores de novas situaccedilotildees de exclusatildeo A exclusatildeo como
fato e como siacutembolo Os militantes procuram ver o conceito de quilombo como um
elemento aglutinador capaz de expressar de nortear aquelas pautas consideradas
cruciais agrave mudanccedila de dar sustentaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo da identidade negra ainda
fragmentada pelo modelo de desenvolvimento do Brasil apoacutes a aboliccedilatildeo da
escravatura
O contato com os moradores nos fez refletir sobre os diversos questionamentos a
respeito do entendimento e significaccedilatildeo que as pessoas da regiatildeo tinham sobre a palavra
quilombola Os adolescentes com o conhecimento adquirido na escola relataram que ser
quilombola significava ser negro mas alguns natildeo se consideravam quilombolas porque a pele
natildeo era tatildeo escura Ao refletir sobre isto percebemos que o sentimento presente nos mais
jovens eacute de exclusatildeo ser homem negro significa ser excluiacutedo discriminado e rejeitado pelos
colegas da escola Esse mesmo sentimento ocorre com o termo quilombola que traz para o
contexto atual as marcas de uma eacutepoca de escravidatildeo e de maus tratos contra pessoas de pele
escura Para muitos o sentimento com relaccedilatildeo ao nome Quilombola traz um significado
doloroso Nesse ponto Leite (2000 p 342) salienta
Enquanto uma expressatildeo da identidade grupal o significante ldquonegrordquo vai somando
em seu percurso tudo aquilo que adveacutem de tal experiecircncia ou seja elementos de
inclusatildeo (que mantecircm o grupo unido em estrateacutegias de solidariedade e
reciprocidade) e tambeacutem de segregaccedilatildeo (ou seja a desqualificaccedilatildeo a depreciaccedilatildeo e
a estereotipia) Os sentidos do termo e as experiecircncias nele circunscritas revelam sua ambiguidade por um lado a marginalizaccedilatildeo por outro a forccedila simboacutelica
demonstrada no seu persistente poder aglutinador vindo a configurar ou expressar
uma identidade social e a nortear inclusive poliacuteticas de grupos
De outro modo o conceito negativo sobre a etnia quilombola perpassa tambeacutem pelos
moradores de Pimenteiras que possuem um vasto conhecimento sobre os espaccedilos que
ocupam na regiatildeo com sua rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias geraccedilotildees Os saberes
sobre a natureza satildeo de extrema importacircncia para as diversas aacutereas da ciecircncia conferindo na
forma pela qual pensam classificam e utilizam seus recursos
Contudo o acesso agrave comunidade eacute difiacutecil a uacutenica estrada existente para chegar agrave
comunidade natildeo eacute asfaltada e no trajeto visualizam-se diversas fazendas com gado campos
abertos depois mata fechada com grandes serras que ladeiam a comunidade Durante a
viagem satildeo percorridos aproximadamente 30 quilocircmetros em relevo bastante acidentado
Quilombista inspirado no modelo da Repuacuteblica de Palmares no seacuteculo XVI e em outros quilombos que
existiram e ainda existem Esclarece que natildeo se trata de um modelo segregacionista mas de um movimento que
advoga o poder poliacutetico realmente democraacutetico que implica a presenccedila da maioria afro-brasileira em todos os
niacuteveis desse poder Veja-se Nascimento (1991 21-26 apud Leite 2000 p339 a 340)
30
Ao chegar agrave comunidade percebi que a presenccedila mais forte eacute da natureza na sua
biodiversidade e das terras utilizadas para o cultivo da mandioca feijatildeo e pimenta Existe
tambeacutem o plantio de Murumuru19
cuja produccedilatildeo ocorre devido ao interesse da empresa
Natura20
pela compra do fruto
A comunidade de Pimenteiras possui uma relaccedilatildeo natildeo somente com os
conhecimentos agriacutecolas e o cultivo de plantas mas tambeacutem com os recursos naturais que
estatildeo ligados a estes levando em consideraccedilatildeo as informaccedilotildees sobre a natureza e os valores
de sua cultura e tradiccedilatildeo local A comunidade em estudo tem na mata fechada sua principal
fonte de recursos naturais A variedade de espeacutecies vegetais eacute muito grande ocasionando uma
afinidade dos moradores com a natureza de forma muito forte e antiga
Eacute nesse encontro entre os moradores quilombolas e a natureza que muitos saberes
culturais locais foram e satildeo desenvolvidos sem quaisquer recursos tecnoloacutegicos ou
assistecircncia Esta eacute uma das caracteriacutesticas que marcam a comunidade identificando e
classificando o ambiente em que vivem Eacute uma maneira de auto identificaccedilatildeo e auto definiccedilatildeo
da proacutepria comunidade enquanto grupo social particular que produz saberes sobre a natureza
forjando de maneira inconsciente sua identidade cultural
Mas como se originou a comunidade e o nome Pimenteira Durante as visitas feitas agrave
comunidade as histoacuterias que os moradores contam eacute que haacute muito tempo o pai de Domingas
o senhor Raimundo Cordeiro dos Santos queria fazer as preparaccedilotildees de pais e padrinhos21
para o batizado de uma crianccedila Como na comunidade natildeo havia igreja ou qualquer
representaccedilatildeo religiosa que pudesse ajudar na preparaccedilatildeo ele foi ateacute outra comunidade
chamada Fuzil para falar com o padre chamado Zeacute Doca Devido agrave distacircncia o senhor saiacutea
agraves 2h da madrugada e chegava ao local agraves 5h O padre observando as dificuldades propocircs
que algueacutem da comunidade com certo grau de conhecimento pudesse fazer os ensinamentos
aos moradores
No dia da celebraccedilatildeo do batismo o padre foi ateacute a casa do senhor para batizar a
crianccedila e orientar os moradores a iniciarem as celebraccedilotildees e construir um locar onde
pudessem rezar Assim haacute cerca de 40 anos uma igreja foi construiacuteda no local e os
19 Originaacuterio da Regiatildeo Amazocircnica Ele cresce espontaneamente nas matas do Paraacute Eacute encontrado ao longo dos
rios e em aacutereas inundadas em formaccedilotildees florestais densas ou semiabertas O fruto eacute um coco de coloraccedilatildeo
avermelhada Seu caroccedilo encerra uma amecircndoa dura que fica envolta por uma polpa amarelada comestiacutevel e
levemente adocicada O oacuteleo extraiacutedo da semente de murumuru possui propriedades altamente emolientes 20A Natura eacute um empresa brasileira que trabalha no setor de higiene pessoal perfumaria e cosmeacuteticos e tambeacutem
no segmento da venda direta dos produtos 21 O encontro de preparaccedilatildeo dos pais e padrinhos deve ser uma autecircntica obra de evangelizaccedilatildeo tendo por meta anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para proporcionar o encontro pessoal com Cristo na Comunidade Esses
satildeo preceitos da Igreja Catoacutelica relatados pelo Paacuteroco Elias de Santa Luzia do Paraacute
31
moradores passaram a receber visitas do sacerdote mecircs a mecircs A presenccedila religiosa fez com
que a comunidade de Pimenteiras fosse visualizada e tivesse entatildeo sua origem
Com relaccedilatildeo ao nome Pimenteira o termo surgiu de histoacuterias contadas pelos avocircs do
pai de Domingas trilhando pelos rios e matas da regiatildeo da Narciacutesea eles saiacuteam em busca de
caccedila e pesca formando os ranchos22
na beira do rio Guamaacute Nessas viagens levavam alguns
mantimentos necessaacuterios por passarem muitos dias caccedilando Dentre os alimentos levados a
pimenta natildeo podia faltar Quando retornavam deixavam agrave beira do rio as sementes da
pimenta que traziam elas brotavam e cresciam quando voltavam ao mesmo local de pesca
tinham como referecircncia o peacute de pimenta Assim comeccedilaram a chamar o local de ldquoigarapeacute da
pimentardquo (informaccedilatildeo verbal)23
que com o tempo passou a ser local de moradia para essas
pessoas vindas da Narciacutesea Surgiu assim o nome Pimenteira que deu origem agrave comunidade
remanescente de quilombola
Eacute diante dessa relaccedilatildeo com a natureza que os moradores quilombolas vivem e
reproduzem anualmente o evento cultural ldquoLadainha a Nossa Senhora do Livramentordquo como
ato de feacute agradecimento e preservaccedilatildeo dos fazeres de seus antepassados Eacute o que veremos no
toacutepico seguinte no qual esse momento cultural da comunidade de Pimenteiras seraacute abordado
com maiores detalhes
221 Ladainha a Nossa Senhora do Livramento
Em comemoraccedilatildeo ao ldquoDia da Consciecircncia Negra24
rdquo 20 de novembro os moradores
de Pimenteiras iniciaram um processo de valorizaccedilatildeo e rememoraccedilatildeo de suas crenccedilas
religiosas Segundo relatos dos mais antigos a celebraccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento
veio antes da existecircncia da comunidade de Pimenteiras Nas histoacuterias contadas pela moradora
Domingas tudo comeccedilou com sua avoacute materna a senhora Joana Pornusena dos Santos (in
memoacuteria) que acompanhando o marido no roccedilado presenciou a existecircncia de muitos
perigos O avocirc de Domingas trabalhando na terra solicitou em oraccedilatildeo agrave Senhora do
22 Rancho era o termo popular usado para designar a toca que eles faziam na beira do rio 23A histoacuteria sobre a origem do nome Pimenteira veio dos relatos informais da moradora DomingasTais histoacuterias
natildeo puderam ser transcritas a pedido da moradora 24
O Dia da Consciecircncia Negra eacute uma data celebrada no Brasil no dia 20 de novembro Este dia estaacute incluiacutedo na
semana da Consciecircncia Negra e tem como objetivo um reflexatildeo sobre a introduccedilatildeo dos negros na sociedade
brasileira O dia 20 de novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares data na qual morreu lutando pela liberdade do seu povo no Brasil Pesquisado no site httpwwwsignificadoscombrdia-
da-consciencia-negra
32
Livramento que o protegesse e tambeacutem sua famiacutelia dos acidentes e da morte que aconteciam
no roccedilado Como forma de agradecimento pela graccedila alcanccedilada ao final dos trabalhos com a
terra o avocirc prometeu que celebraria uma cerimocircnia religiosa em homenagem agrave Santa Este
gesto de agradecimento se perpetuou entre as geraccedilotildees e hoje a Ladainha continua preservada
nas matildeos da moradora Domingas
Passada entre as geraccedilotildees da famiacutelia de Domingas a Ladainha possui forte relaccedilatildeo
com o saber das plantas medicinais As flores colocadas sobre altar ou as plantas com cheiro
agradaacutevel usadas durante a cerimocircnia consideradas bentas eram guardadas para serem
utilizadas na forma de chaacutes para a cura das doenccedilas Na Ladainha plantas como manjericatildeo
catinga de mulata canela e hortelatilde satildeo empregadas na cerimocircnia com aacutegua para as pessoas se
benzerem Este ritual natildeo ocorria na eacutepoca da avoacute de Domingas Nas primeiras cerimocircnias a
Ladainha era comemorada com o canto em latim Adolfo era o nome da pessoa que entoava a
oraccedilatildeo sem o uso de livros
Com o passar dos anos ocorreram mudanccedilas como forma de atrair os jovens para a
celebraccedilatildeo Isto fez com que aleacutem da Ladainha do almoccedilo e da presenccedila da imagem da
Senhora do Livramento fosse incluiacuteda uma procissatildeo pela comunidade com o uso de fitas em
volta da imagem o uso da aacutegua com as plantas aromaacuteticas e uma festa como forma da
juventude participar na celebraccedilatildeo Outro aspecto importante que mudou nesses anos foi a
substituiccedilatildeo do canto em latim pela oraccedilatildeo encontrada no livro do Catecismo da Igreja
Catoacutelica que conteacutem a Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento Isto se deve ao fato de que os
jovens natildeo tiveram interesse de aprender a Ladainha em latim No entanto esta possui grande
significaccedilatildeo para a comunidade pois representa a feacute sendo renovada a cada ano Eacute o momento
em que os moradores contam suas histoacuterias e reencontram outras comunidades tambeacutem de
remanescentes de quilombolas eacute o momento em que a comunidade de Pimenteiras eacute
valorizada pela cultura e pelos saberes tradicionais das plantas
Vejamos abaixo algumas imagens da celebraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento
que ocorre anualmente na comunidade de Pimenteiras as quais exibem uma forma de
agradecimento e comemoraccedilatildeo pelas colheitas alcanccediladas durante o ano
33
Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade
Fonte Dados da pesquisa 2014
Ano apoacutes ano todos os moradores se reuacutenem numa grande festa cultural e religiosa
que traz consigo as lutas de um povo que trabalha a terra e marcam profundamente a
identidade da comunidade A data foi escolhida como forma de memorizar as grandes lutas jaacute
vividas pelos negros em prol da liberdade e dos direitos dos afrodescendentes
Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras
Fonte Dados da pesquisa 2014
34
Em comemoraccedilatildeo ao Dia da Consciecircncia Negra outras comunidades quilombolas
satildeo convidadas e prestigiam a comunidade e a Santa reverenciada A comunidade de
Pimenteiras eacute tambeacutem muito conhecida pelo festejo agrave Senhora do Livramento alimentos e
muacutesicas satildeo oferecidos durante o dia e a noite a todos que vecircm para comemorar a data tatildeo
significativa ao povo quilombola
Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas
FonteDados da pesquisa 2014
35
Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada
FonteDados da pesquisa 2014
O povo quilombola eacute um povo alegre que gosta de muacutesica e de danccedila O canto estaacute
sempre presente em seu cotidiano e nas festas da comunidade A cerimocircnia relata a vida as
lutas e a esperanccedila de melhorias para os moradores Eacute atraveacutes da religiosidade que
demonstram todo cuidado e respeito pela terra Na Ladainha a presenccedila da feacute catoacutelica vem
misturada com a forccedila dos tambores e das cordas dos violotildees Eacute nesse conjunto de
movimentos que as histoacuterias de luta de um povo satildeo recontadas sobre a terra a produccedilatildeo
agriacutecola e a identidade dos moradores que transcorrem no festejo
36
Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda
Fonte Dados da pesquisa2014
A festa tradicional eacute resultado de influecircncias negras indiacutegenas e catoacutelicas A
comunidade corteja a Santa do Livramento e as riquezas obtidas durante o ano A fartura estaacute
simbolizada nas oferendas apresentadas durante a celebraccedilatildeo quando satildeo colocados diversos
produtos cultivados na regiatildeo O ritual festivo entrecruza e atravessa ritmos vozes e jogos em
um sistema de imagens da festa popular no qual fim e recomeccedilo dialogam em um estado
coletivo de alegria A festa eacute a passagem do tempo demarcada pela colheita que tem uma
funccedilatildeo renovadora
Durante a cerimocircnia a senhora Libacircnia dos Santos Cunha eacute quem reza e conduz o
cortejo Considerada mais importante que o padre a senhora vem de outra comunidade mas
seu comando direciona o canto da Ladainha A atividade religiosa marca a passagem de
tempo do cultivo da terra significando a oportunidade de reunir pessoas de diversas
comunidades conjugando feacute alegria poliacutetica e reencontros entre familiares e amigos
Enquanto comungam os festejos os moradores discutem tambeacutem o futuro da comunidade
A festa popular eacute demorada e marcada por uma sucessiva e deliciosa comilanccedila
divulgando a abundacircncia e a fartura no ano que passou A celebraccedilatildeo eacute o momento no qual
evocam o poder dos mais velhos legitimam as famiacutelias abrem espaccedilo para os mais novos e
transmitem experiecircncias profundas
37
Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas
Fonte Dados da pesquisa 2014
Os antepassados satildeo lembrados nas praacuteticas cotidianas a famiacutelia eacute evocada na
presenccedila importante da mulher que simboliza o papel de geradora O papel feminino nas
questotildees poliacuteticas reforccedila essa ideia a senhora Domingas direciona junto a outras mulheres
todo o ritual a Nossa Senhora do Livramento aleacutem dos cuidados com a comida e de
participaccedilatildeo nas questotildees poliacuteticas da comunidade
Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento
Fonte Dados da pesquisa 2014
38
Vinda de origem portuguesa a devoccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento surgiu de
uma graccedila alcanccedilada haacute cerca de 50 anos por um agricultor quilombola que invocou o
livramento de todo o mal durante os trabalhos na lavoura A promessa eacute renovada todos os
anos com uma homenagem agrave Santa Tal culto foi tomado e seguido por todos os moradores da
comunidade e hoje comemoram a feacute por meio da graccedila alcanccedilada Logo abaixo segue um
trecho da Ladainha utilizada na celebraccedilatildeo agrave Senhora do Livramento na comunidade de
Pimenteiras A oraccedilatildeo completa se encontra no apecircndice ao final deste trabalho
Ladainha a Nossa Senhora do Livramento (fragmento)
Nossa Senhora do Livramento
Matildee de Deus nossa Matildee
e padroeira de nossa Paroacutequia
Com o olhar confiante vos contemplamos
Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos
Dirigimo-nos a voacutes como filhos
porque necessitamos do vosso auxiacutelio
Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados
apoiados e guiados pela matildeo materna
Renovai-nos espiritualmente
para que saibamos enxergar a vida mais bela
Levantai-nos para caminhar sem medo
nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo
para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna
[]
Nossa Senhora do Livramento
Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da alma
[]
Rogai por noacutes santa Matildee de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos
perpeacutetua sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-
aventurada sempre Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da
eterna alegria Por Cristo Nosso Senhor Ameacutem
Apoacutes verificarmos um pouco da cultura religiosa dos remanescentes de quilombola
de Pimenteira abordaremos no toacutepico seguinte as lutas que os moradores vivenciam e as
muitas conquistas alcanccediladas apoacutes a criaccedilatildeo e fundaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Quilombola dos
Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP)
39
222 AQUAFAP o desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola nos
saberes das plantas medicinais
Sabendo que uma associaccedilatildeo25
eacute uma iniciativa formal ou informal que reuacutene
pessoas fiacutesicas ou outras sociedades legais com objetivos comuns que visam superar as
dificuldades e gerar benefiacutecios para os seus membros a Associaccedilatildeo Quilombola dos
Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP) foi criada pelos moradores da
comunidade no intuito de legalizar e alcanccedilar seus projetos De forma geral qualquer que seja
o tipo ou os objetivos para sua criaccedilatildeo pode-se dizer que a associaccedilatildeo eacute uma forma de
legalizar a uniatildeo de pessoas em torno de seus interesses e que sua constituiccedilatildeo permite
alcanccedilar condiccedilotildees melhores do que os indiviacuteduos teriam isoladamente para a realizaccedilatildeo dos
seus planos Assim toda associaccedilatildeo eacute a forma mais baacutesica para se organizar juridicamente um
grupo de pessoas para a concretizaccedilatildeo de desiacutegnios comuns Seus princiacutepios enquadram-se na
doutrina de que juntos podemos encontrar soluccedilotildees melhores para os conflitos que a vida em
sociedade nos apresenta
Pensando nisso os moradores remanescentes de quilombo conheceram sonharam e
concretizaram o plano de fundar uma entidade que representasse e conseguisse alcanccedilar seus
objetivos de melhoria de vida diante das muitas dificuldades enfrentadas na comunidade ante
o descaso dos governos Historicamente os quilombolas satildeo um grupo que juntos
conseguiram a tatildeo aspirada liberdade hoje essa luta continua na busca de direitos negados no
contexto histoacuterico como se pode conferir a respeito
Quilombo natildeo significou apenas um lugar de refuacutegio de escravos fugidos mas a
organizaccedilatildeo de uma sociedade livre formada de ldquohomens e mulheres que se recusavam viver sob o regime da escravidatildeo e desenvolviam accedilotildees de rebeldia e de
luta contra esse sistemardquo (MUNANGA GOMES 2006)
Considerada como berccedilo dos remanescentes de quilombolas a comunidade Narciacutesea
possui grande nuacutemero de pessoas descendentes de negros Nos relatos contados pela moradora
Domingas sua matildee dona Otiacutelia veio da Narciacutesea muito tempo atraacutes em busca de terras para
o cultivo Apoacutes muitas viagens dona Otiacutelia junto de sua famiacutelia decidiu criar raiacutezes na regiatildeo
25 O significado do termo foi refletido sobre pesquisa feita no site httpwwwasaescorgindexphpa-
associacaoo-que-e-uma-associacao
40
da Pimenteira Depois de sua instalaccedilatildeo representantes do CEDENPA e do MALUNGU26
vieram da Narciacutesea para saber os motivos que levaram a senhora a se mudar da regiatildeo
Segundo relatos os motivos foram o fato de casar e desejar trabalhar na terra para viver
melhor Sabe-se que
Muitas comunidades foram formadas apoacutes a promulgaccedilatildeo da Lei Aacuteurea que
extinguiu a escravidatildeo por uma forte razatildeo era a uacutenica possibilidade do negro
viver em liberdade em um espaccedilo onde sua cultura natildeo era desprezada sendo
possiacutevel por isso preservar a dignidade (MUNANGA GOMES 2006)
Muitas pessoas ajudaram os moradores da comunidade de Pimenteiras a conhecer
suas origens Foi com dona Otiacutelia que souberam da remanescecircncia de quilombo jaacute com o
padre Rafael27
os moradores desenvolveram projetos via Pastoral da Igreja mas foi com o
senhor e professor Cardoso28
que os moradores conheceram o que era uma associaccedilatildeo e quais
seus benefiacutecios Orientados por este senhor alguns moradores conseguiram adquirir
documentos de identificaccedilatildeo que natildeo possuiacuteam aleacutem disso foram orientados a fundar uma
associaccedilatildeo quilombola para conseguir melhorias para a comunidade Com a ajuda da senhora
Nazareacute29
os documentos e atas da associaccedilatildeo foram registrados e legalizados
Atraveacutes da legalizaccedilatildeo da associaccedilatildeo os moradores deram iniacutecio agrave titularidade da
terra Representantes do CEDENPA MALUNGU e INCRA visitaram diversas vezes a
comunidade com entrevistas e a verificaccedilatildeo das limitaccedilotildees de terra para o processo de
titularidade Hoje o processo continua em andamento devido aos muitos impasses na regiatildeo
como por exemplo a presenccedila de agricultores natildeo quilombolas com terra na comunidade de
Pimenteiras
Passadas quase duas deacutecadas da publicaccedilatildeo do artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal de
1988 e quatro anos da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 48872003 que regulamenta o
processo de identificaccedilatildeo reconhecimento demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombolas atualmente a luta
continua nos acircmbitos juriacutedico e educacional (SILVA 2000)
26A Palavra Malungu vem de origem africana significa COMPANHEIRO Assim lado a lado lutamos pela
garantia de nossos direitos e pelo reconhecimento social dos quilombolas A Coordenaccedilatildeo Estadual das
Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Paraacute foi oficialmente fundada em marccedilo de
2004 como uma organizaccedilatildeo sem fins lucrativos e econocircmicos para representar as comunidades quilombolas do
ParaacutePesquisa no site httpsmalunguparawordpresscom
27 Paacuteroco da cidade de Santa Luzia do Paraacute na deacutecada de 80 28Professor que foi enviado pelo CEDENPA para orientar os moradores de Pimenteiras nos anos 90 29Maria de Nazareacute Reis Ghirard eacute professora engenheira agrocircnoma e representante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Paraacute ndash CEDENPA aleacutem de outros oacutergatildeos direcionados na preservaccedilatildeo da biodiversidade de
comunidades da regiatildeo aleacutem de desenvolver trabalhos de valorizaccedilatildeo da mulher e do negro
41
O dia 03 de dezembro de 2007 eacute a data de abertura da AQUAFAP Muitas
dificuldades ocorreram para conseguir documentar algumas pessoas da comunidade natildeo
ajudaram mas a maioria se empenhou e buscou realizar tal objetivo Desde entatildeo muitos
projetos foram criados dentre os quais o Bioenergeacutetico e os trabalhos com as plantas que
surgiram via associaccedilatildeo
Com o auxiacutelio da professora Nazareacute e o conhecimento jaacute existente sobre as plantas
medicinais os moradores estudaram e trabalharam na comunidade com tal saber Futuramente
os moradores desejam conseguir pela AQUAFAP um projeto de preservaccedilatildeo e
reflorestamento na regiatildeo da Pimenteira direcionado ao Fundo Dema30 poreacutem o impasse
continua na definiccedilatildeo da titularidade da terra Hoje a associaccedilatildeo eacute tida com algo de grande
valor aos moradores da comunidade devido ao grande conhecimento e oportunidades de
melhorias para todos Muitos estatildeo engajados natildeo apenas com a associaccedilatildeo mas tambeacutem com
questotildees da Igreja e principalmente com as plantas medicinais que mesmo tendo paralisado
o trabalho com o Bioenergeacutetico os saberes adquiridos se multiplicam e propagam uma
valorizaccedilatildeo maior dos saberes sobre as plantas
Detentores de um patrimocircnio cultural rico e valoroso poreacutem desconhecido de
muitos as comunidades remanescentes de quilombolas satildeo formadas de grupos
sociais cuja identidade eacutetnica constitui a base de suas vivecircncias cotidianas bem
como das accedilotildees poliacuteticas levadas a feito pelas entidades que lutam pelos seus
direitos (SILVA 2000)
Eacute perante tamanha riqueza de conhecimento que veremos no toacutepico seguinte como o
trabalho com o Bioenergeacutetico deixou intensos saberes sobre as plantas de uso medicinal que
marcaram profundamente a vida dos moradores da Pimenteira e se tornaram uma identidade
para a comunidade e seus moradores
30O Fundo Dema Quilombolas do Paraacute ou Fundo Dema de Apoio agraves Comunidades Quilombolas do Paraacute surgiu
em 2008 numa dinacircmica interativa entre a Coordenaccedilatildeo das Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de
Quilombolos (Malungu) Fase AmazocircniaFundo Dema e Fundaccedilatildeo Ford para a constituiccedilatildeo de uma linha de
accedilatildeo e financiamentos voltada exclusivamente para as comunidades quilombolas do Paraacute Sua criaccedilatildeo respondeu
a uma demanda especiacutefica por entender que essas comunidades demonstram uma dinacircmica emancipatoacuteria uacutenica
aleacutem de se constituiacuterem como um segmento importante das populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia Paraense Tem
por objetivo promover a conquista dos DhESCArsquos (Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais) das comunidades quilombolas e contribuir para a consolidaccedilatildeo da articulaccedilatildeo estadual da Malungu
na conquista e garantia destes direitos Pesquisa no site httpwwwfundodemaorgbr
42
223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico
Buscar a natureza para sanar as enfermidades eacute um procedimento antigo que ateacute os
dias atuais persiste especialmente em comunidade e grupos eacutetnicos distantes dos recursos das
cidades tais como a sauacutede Eacute comum vermos pessoas fazendo uso de plantas medicinais em
rituais religiosos como tambeacutem no tratamento de doenccedilas por vezes eacute o uacutenico recurso
terapecircutico usado Em muitas regiotildees e ateacute mesmo nas grandes cidades as plantas medicinais
satildeo comercializadas em feiras livres comeacutercio popular e nos quintais de nossas casas Em
Beleacutem por exemplo no mercado do Ver-o-Peso temos o banho de cheiro31
que eacute preparado
com o uso de diversas plantas aromaacuteticas e muito procurado pelas pessoas para melhorar
aspectos da vida amor dinheiro e a cura de doenccedilas
Observando a cultura popular quanto agrave eficaacutecia das plantas medicinais percebemos
que haacute uma divulgaccedilatildeo dos valores terapecircuticos das plantas mesmo natildeo tendo informaccedilotildees
das propriedades quiacutemicas Assim pessoas de todo o mundo manteacutem a praacutetica do consumo
fitoteraacutepico validando as informaccedilotildees terapecircuticas que foram acumuladas ao longo dos
seacuteculos sobre as plantas medicinais Segundo Pinheiro (2002 p 16)
a grande procura pelas Terapias Alternativas eacute resultado de vaacuterios aspectos O que
chama mais a atenccedilatildeo eacute que grande parte das pessoas jaacute passou pelo tratamento da
medicina tradicional e natildeo tiveram os resultados que esperavam Mas quando se fala
em Terapia Alternativa no Brasil eacute preciso esclarecer que se trata na maioria dos
casos de praacuteticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina Apenas a
homeopatia e a acupuntura satildeo reconhecidas como especialidades meacutedicas Mas alguns ramos das Terapias Alternativas cobrem aacutereas que a medicina convencional
despreza e que em muitos casos podem ser uma uacutenica e uacutetil complementaccedilatildeo ao
tratamento convencional
Para Levi Strauss (1970 p 51) ldquoquando uma accedilatildeo terapecircutica natildeo alcanccedila o
resultado esperado a feacute e a crenccedila no sistema permanecem pois elas satildeo sempre coletivasrdquo O
que persiste nesses saberes eacute a crenccedila de que haveraacute a melhora ou cura das doenccedilas por meio
dos medicamentos naturais Dentre as praacuteticas alternativas de sauacutede uma muito conhecida eacute a
Bioenergeacutetica32
Esse meacutetodo requer alguns requisitos importantes para seu uso segundo
Barbieri (2008 p 18)
31 As principais plantas usadas para fazer o banho de cheiro segundo seus nomes populares satildeo catinga de mulata
chama abre caminho vindica manjericatildeo manjerona de angola alecrim de angola trevo da sorte trevo do mar japana
branca priprioca aleacutem de oacuteleos de jasmin uirapuru e patchouli 32 Bioenergeacutetica eacute a energia da vida Eacute uma nova teacutecnica de diagnoacutestico e tratamento de doenccedilas baseada na sabedoria do inconsciente humano Esta sabedoria segundo garantem eminentes psicoacutelogos eacute inata e igual para
todos portanto natildeo depende de nenhum estudo mas nos foi infundida por Deus no momento da concepccedilatildeo Eacute
43
O praticante deve ter um bom conhecimento de anatomia e fisiologia para conhecer
os pontos do exame bem como o funcionamento do organismo Ter conhecimento
da energia e de como ela age e reage no organismo conhecer os princiacutepios baacutesicos
da energia e exercitar-se energeticamente treinar com os dedos para ter domiacutenio do campo energeacutetico fazer parceria com um companheiro (a) como o (a) qual
estabelece uma sintonia energeacutetica possibilitando seguranccedila nos testes
O meacutetodo da Bioenergeacutetica originaacuterio do processo de desintoxicaccedilatildeo do corpo pelo
Biosauacutede eacute um procedimento realizado atraveacutes do bioteste ndash ou o teste do anel ndash que revela
problemas de sauacutede presentes no paciente O teste possibilita que a pessoa qualificada tenha
uma visatildeo especiacutefica de todos os pontos a serem cuidados O tratamento eacute feito a base de
plantas medicinais argila alimentaccedilatildeo saudaacutevel e banhos O Biosauacutede ou meacutetodo do
Bioenergeacutetico trata o corpo por completo33
Conhecendo os benefiacutecios que o Bioenergeacutetico pode trazer a senhora Nazareacute propocircs
para os moradores da Pimenteira criar um projeto que pudesse realizar esse trabalho na
comunidade pois alguns moradores jaacute possuiacuteam conhecimento sobre o uso das plantas
medicinais Assim o Bioenergeacutetico foi um dos projetos criados pela AQUAFAP Alguns
ficaram com receio desse trabalho outros moradores receberam bem a proposta e valorizaram
o trabalho que durou em meacutedia um ano
Muitas plantas nativas e caseiras foram cultivadas e catalogadas nesse periacuteodo As
pessoas que foram preparadas por meio do curso de Bioenergeacutetico ficaram cerca de dois anos
estudando pelo CEDENPA eram elas a irmatilde da Domingas Maria Ilene Alves do Nascimento
a senhora Maria Valdenira de Sousa Zacarias e a senhora Maria Zenir dos Santos Castro
Estas pessoas foram a Beleacutem para fazer o curso do Bioenergeacutetico com orientaccedilatildeo da senhora
Nazareacute e adquiriram diversos conhecimentos dentre os quais saber qual doenccedila havia no
corpo de algueacutem
Contudo com o passar dos trabalhos ocorreram desavenccedilas e as pessoas agrave frente do
projeto foram perdendo o interesse e por fim natildeo continuaram em busca de melhorar e
ampliar esse saber e aos poucos pararam de executar o Bioenergeacutetico na comunidade Hoje
um meacutetodo simples que se utiliza apenas dos dedos das matildeos entrelaccediladas em forma de anel feito por duas
pessoas examinadoras Tambeacutem usa uma vareta de metal para encostar na pessoa a ser examinada Pesquisado
no dia 03122014 as 2311hs no site httpwwwjaimebruningcombrbio_saudephp
33 Durante a consulta o paciente eacute submetido ao teste bioenergeacutetico no qual um profissional da equipe faz um
elo usando os dedos polegar e indicador enquanto outro da equipe tambeacutem faz um anel em cada uma de suas
matildeos entrelaccedilando os dedos do outro Com um arame ou metal que conduza corrente um deles vai tocando os
pontos de checagem a matildeo reagiraacute de forma diferente em cada novo toque Quando tocar um oacutergatildeo sadio o imatilde
seraacute mais forte Pesquisado no dia 30072015 as 1734hs no sitehttpwwwcurapelanaturezacombr201103biosaude-desintoxicacao-e-energizacaohtml
44
muitos na comunidade sentem a falta e tem a necessidade de serem tratados por esse saber
mas as pessoas foram instruiacutedas a natildeo transmitirem esse saber para outros e pararam os
trabalhos O local era chamando de ldquoCentro Popular Biosauacutede Pornusenardquo em homenagem agrave
avoacute da senhora Domingas Vejamos abaixo a imagem do local onde antes era realizado o
trabalhado com o bioenergeacutetico e que hoje eacute lugar de encontros para os associados da
AQUAFAP
Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena
Fonte Dados da pesquisa 2013
O centro popular eacute equipado com geladeira armaacuterio fogatildeo mesas e principalmente
o cataacutelogo com as amostras e os nomes das plantas colhidas pelos moradores da comunidade
para a realizaccedilatildeo do trabalho com o Bioenergeacutetico As imagens a seguir satildeo do local onde
ocorriam os trabalhos e tambeacutem a mesa que conteacutem os desenhos da anatomia e fisiologia do
organismo humano
Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico
Fonte Dados da pesquisa 2013
45
Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o funcionamento do organismo
Fonte Dados da pesquisa 2013
O cataacutelogo com amostras das plantas nativas e caseiras da comunidade de
Pimenteiras eacute um acervo rico de informaccedilotildees relacionadas com a biodiversidade da regiatildeo Os
nomes estatildeo escritos de acordo com o saber que os moradores possuem sobre a liacutengua escrita
o que traz maior qualidade nos estudos sobre os termos das plantas escritos pelos moradores
da comunidade quilombola Observemos abaixo algumas plantas dissecadas de forma
tradicional e nomeadas no cataacutelogo
Fotografia 11 ndash Salsa dissecada
Fonte Dados da pesquisa 2013
46
Fotografia 12 ndash Canela dissecada
Fonte Dados da pesquisa 2013
Fotografia 13 ndashVinagreira dissecada
Fonte Dados da pesquisa ano 2013
Observamos que o trabalho com o Bioenergeacutetico proporcionou grande riqueza de
dados os quais objetivamos analisar e conhecer mais profundamente no intuito de contribuir
47
para os estudos cientiacuteficos da Liacutengua por meio dos saberes tradicionais Entretanto o que eacute
conhecimento e o que eacute saber Esse e outros aspectos seratildeo observados no capiacutetulo seguinte
no qual abordaremos as diferenciaccedilotildees entre Conhecimento e Saber
Apontando na comunidade tradicional os sujeitos de saberes bem como a presenccedila
do gecircnero nesses saberes sobre as plantas medicinais incluindo especificamente a detentora
do saber das plantas que eacute a senhora Domingas para finalmente observarmos como tais
saberes constituem a identidade cultural da comunidade quilombola de Pimenteiras
23 SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM PIMENTEIRAS
A partir da compreensatildeo dos saberes como praacuteticas discursivas Michel Foucault
(2009)34
depreende que nesse discurso os termos Saber35
e Conhecimento36
geralmente satildeo
palavras utilizadas no senso comum como sinocircnimas Analisamos que a palavra ldquosaberrdquo
significa ter conhecimento de algo teoacuterico ou praacutetico eacute uma habilidade resultante da
experiecircncia da praacutetica da sabedoria e da cultura O saber eacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito que
sabe e o objeto a ser conhecido eacute um sentimento de seguranccedila que se produz quando se tem
consciecircncia dessa relaccedilatildeo posta em movimento numa dada realidade Jaacute o termo
34 Michel Foucault foi um filoacutesofo historiador das ideias teoacuterico social filoacutelogo e criacutetico literaacuterio Suas teorias abordam a relaccedilatildeo entre poder e conhecimento como eles satildeo usados como uma forma de controle social por
meio de instituiccedilotildees sociais 35Saber - Verbo Transitivo direto transitivo indireto e intransitivo 1conhecer ser ou estar informado ter
conhecimento de 2ter conhecimentos especiacuteficos (teoacutericos ou praacuteticos) 3estar convencido de ter a certeza de
(coisas presentes e futuras) prever pressentir 4ter forccedila meacuterito meio capacidade ou possibilidade de 5ter
habilidade jeito etc para 6poder explicar compreender 7ser capaz de conseguir 8guardar na memoacuteria
decorar 9indagar perguntar 10julgar considerar ter como 11fazer jus a merecer 12ter gosto de lembrar o
sabor de ter sabor ser saacutepido 13soma de conhecimentos adquiridos sabedoria cultura erudiccedilatildeo 14prudecircncia e
sensatez ao agir experiecircncia 15capacidade resultante da experiecircncia praacutetica 36Conhecimento- Substantivo masculino Ato ou efeito de conhecer 1 O ato ou a atividade de conhecer
realizado por meio da razatildeo eou da experiecircncia 11ato ou efeito de apreender intelectualmente de perceber um
fato ou uma verdade cogniccedilatildeo percepccedilatildeo 12Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato estado ou condiccedilatildeo de compreender entendimento 2 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa conhecida 21Derivaccedilatildeo por extensatildeo de
sentido Domiacutenio teoacuterico ou praacutetico de um assunto uma arte uma ciecircncia uma teacutecnica etc competecircncia
experiecircncia praacutetica 3 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia Faculdade de conhecer 4 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido
Intuiccedilatildeo pressentimento ou outra forma de cogniccedilatildeo 5 Fato de reconhecer uma coisa como adrede sabida ou
conhecida reconhecimento 6 Familiaridade (com uma coisa ou uma pessoa) adquirida pela experiecircncia 7
Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Ato ou efeito de estabelecer uma relaccedilatildeo com algueacutem em grau de
intimidade variaacutevel mas ger menor que na amizade 8 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Pessoa com quem se
estabeleceu uma ligeira relaccedilatildeo pessoal ou que pelo menos se sabe de quem se trata 9 Derivaccedilatildeo por extensatildeo
de sentido Uso formal Diacronismo antigo Relaccedilatildeo carnal do homem e da mulher 10 Derivaccedilatildeo por
extensatildeo de sentido Uso formal Diacronismo antigo Noccedilatildeo que cada um tem de sua proacutepria existecircncia e das
pessoas familiares coisas fatos do dia-a-dia consciecircncia lucidez 11 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato ou condiccedilatildeo de estar ciente ou consciente de (algo) 12 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa que se conhece de
que se sabe de que se estaacute informado ciente ou consciente []
48
ldquoconhecimentordquo eacute o ato de conhecer algo por meio da razatildeo ou da experiecircncia eacute portanto o
domiacutenio de um assunto teoacuterico ou praacutetico a ser adquirido (SILVA 2009 p 263)
Observamos que as palavras Saber e Conhecimento sugerem uma relaccedilatildeo do sujeito
com o objeto conhecido ou a ser conhecido Essa relaccedilatildeo do sujeito com o objeto ocorre pela
familiarizaccedilatildeo do sentido com o componente a ser compreendido assim Saber e
Conhecimento satildeo palavras tomadas no dicionaacuterio como sinocircnimas Ambas significam
experiecircncia ciecircncia percepccedilatildeo informaccedilatildeo e ato de conhecer
Entretanto no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras as palavras saber e conhecimento natildeo teratildeo significaccedilatildeo semelhante Isto se
confirma nos estudos de Foucault (1987) sobre a relaccedilatildeo de poder e saber O autor ressalta a
ideia de que na produccedilatildeo dos saberes haacute sempre uma dependecircncia muacutetua entre estas
categorias Para ele natildeo haacute saber sem estar tocado pelas complexas relaccedilotildees de poder mas
essas relaccedilotildees se constituem em conjunto com a produccedilatildeo dos saberes (FREITAS 2005)
Eacute nesse contexto de poder que Foucault diferencia o conceito de saber e de
conhecimento Para o pesquisador o conhecimento eacute a constituiccedilatildeo de discurso sobre classe
de objetos passiacuteveis de se conhecer ou seja cognosciacuteveis que satildeo construiacutedos pelo processo
de racionalizaccedilatildeo identificaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo dos objetos Jaacute o saber segundo o
pesquisador eacute um processo flexiacutevel que sofre mudanccedilas durante o trabalho de conhecer
enquanto o conhecimento eacute carregado e estagnado
Foucault ainda explica que o sujeito cognitivo eacute marcado por sua cultura pelos
aspectos externos e de uma memoacuteria que atravessa o tempo atraveacutes das significaccedilotildees
pensamentos e desejos no acircmbito do conhecimento (ALMEIDA 2012) Com base nesses
estudos compreendemos que os saberes dos moradores da comunidade de Pimenteiras satildeo
construiacutedos constantemente nas relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridos culturalmente
Observamos que a palavra conhecimento eacute uma verdade preacute-construiacuteda linear
imoacutevel independente do contexto no qual seraacute processada No decorrer dos questionamentos
compreendemos que a palavra conhecimento se refere a situaccedilotildees objetivas e teoacutericas que
devidamente sistematizadas datildeo lugar agrave ciecircncia A palavra saber por sua vez pode referir-se
a situaccedilotildees tanto objetivas como subjetivas tanto teoacutericas quanto praacuteticas eacute como se a palavra
conhecimento coubesse dentro da palavra saber e natildeo o contraacuterio
Para nos ajudar na compreensatildeo desses termos citamos Zubiri (1974) que em seus
estudos mostra que o homem tem um modo de experiecircncia com as coisas de uma maneira
simples e uacutenica Eacute um saber que toca no iacutentimo de cada coisa natildeo eacute a percepccedilatildeo de cada uma
de suas caracteriacutesticas eacute uma espeacutecie de sentido do ser Eacute a experiecircncia que temos com o
49
objeto colocando-o no espiacuterito Desta forma Monteil (1985 apud Charlot 2000 p 61) assim
distingue
O conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal ligada agrave atividade de um
sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas como tal eacute intransmissiacutevel estaacute
ldquosob a primazia da subjetividaderdquo Assim como a informaccedilatildeo o saber estaacute ldquosob a
primazia da objetividaderdquo mas eacute uma informaccedilatildeo de que o sujeito se apropria
Desse ponto de vista eacute tambeacutem conhecimento poreacutem desvinculado do ldquoinvoacutelucro
dogmaacutetico no qual a subjetividade tende a instalaacute-lordquo O saber eacute produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos eacute construiacutedo em ldquoquadros metodoloacutegicosrdquo
Pode portanto ldquoentrar na ordem do objetordquo e torna-se entatildeo ldquoum produto
comunicaacutevelrdquo uma ldquoinformaccedilatildeo disponiacutevel para outrem
Saber natildeo eacute soacute entender a veracidade das coisas desde os seus princiacutepios haacute
necessidade de se conquistar realmente a posse da ldquorealidaderdquo Esta posse da ldquorealidaderdquo
permite colocar o conhecimento em accedilatildeo num determinado contexto o que ocasiona a
construccedilatildeo do saber pois natildeo basta apreendermos a ldquoverdade da realidaderdquo (conhecimento) eacute
necessaacuterio construirmos a ldquorealidade da verdaderdquo (saber) (MOTA 2008)
Para Schlanger (1978 apud Charlot 2000) saber e conhecimento mantecircm uma
pertinente relaccedilatildeo de interaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto Para ele a anaacutelise parece pertinente
ao dizer que natildeo haacute ldquosaberrdquo sem relaccedilatildeo entre sujeito e objeto outros sujeitos e outras
realidades A confrontaccedilatildeo pessoal do sujeito apropriado de conhecimentos numa realidade
especiacutefica e singular implica na atividade do sujeito de produzir saberes Schlanger (1978
apud CHARLOT 2000 p 22) expotildee que ldquoO saber eacute uma relaccedilatildeo um produto e um
resultado relaccedilatildeo do sujeito que conhece com seu mundo resultado dessa interaccedilatildeordquo
Enquanto o conhecimento para o pesquisador eacute exatamente a obtenccedilatildeo de uma imagem
cognitiva interna de uma verdade independente de uma realidade estabelecida pela relaccedilatildeo
cognitiva interna e ativa do sujeito sobre o objeto Assim o objeto de conhecimento eacute
qualquer realidade externa ao indiviacuteduo que atraveacutes do ato intelectual torna-se interna
O saber por sua vez necessita de uma relaccedilatildeo natildeo soacute interna do indiviacuteduo sobre o
objeto mas uma relaccedilatildeo entre esse sujeito seu conhecimento e uma dada realidade ou
contexto Por conta disso vemos o saber como o movimento do conhecimento em contato
com um determinado contexto numa dada realidade confrontando suas muacuteltiplas faces
transcendendo o conhecimento jaacute consolidado reinventando-o recriando-o e traduzindo-o
conforme as necessidades imperadas pelas circunstacircncias (SCHLANGER 1978 apud
CHARLOT 2000)
O saber e o conhecimento satildeo formas de relacionamento com a realidade formas de
dizer de pensar de ser e de estar no mundo e com o mundo Eacute com estas explanaccedilotildees sobre o
que individualiza o saber que entenderemos os saberes da comunidade de Pimenteiras
50
saberes de um povo que durante seacuteculos lutou para alcanccedilar sua liberdade seu direito agrave terra e
seu espaccedilo na sociedade Eacute pertinente ao ser humano a sobrevivecircncia por isso para Brandatildeo
(1993 p 20 apud PELAES 2010)
Haacute a necessidade de sobrevivecircncia do homem que cria mecanismos para se adaptar aos desafios da natureza Com isso o homem desenvolve meios de sobrevivecircncia
bens de uso e bens de troca dentro de um cenaacuterio de interaccedilotildees Tais homens atuam
como indiviacuteduos sujeitos do mundo da cultura pessoas que segundo o autor satildeo
agentes culturais e atores sociais convivendo em cenaacuterios da cultura
Em vista da necessidade de sobrevivecircncia os remanescentes de Quilombola da
comunidade de Pimenteiras possuem e utilizam os saberes que foram adquiridos de seus
antepassados sobre a manipulaccedilatildeo das plantas medicinais a fim de alcanccedilar a cura de
doenccedilas Tendo em vista as dificuldades de acesso aos recursos de sauacutede eles buscaram na
natureza as espeacutecies vegetais mais apropriadas para sua alimentaccedilatildeo ou para a cura de seus
males entre as geraccedilotildees
Apesar de muitas plantas serem uacuteteis ao homem existem aquelas que produzem
substacircncias toacutexicas ou venenosas assim eacute preciso saber bem as caracteriacutesticas de cada planta
para poder usaacute-la como remeacutedio Eacute comum se ouvir dizer que o uso das plantas medicinais ldquose
natildeo fizer bem mal natildeo faraacuterdquo poreacutem natildeo eacute bem assim Do ponto de vista cientiacutefico o saber
sobre as plantas ainda eacute um campo pouco estudado e difundido no paiacutes Apesar da riqueza da
flora brasileira os estudos na aacuterea ficam mais restritos agrave antropologia
O uso inadequado das plantas poderaacute trazer efeitos indesejados e por vezes ateacute a
morte do indiviacuteduo Eacute imprescindiacutevel ter conhecimento natildeo somente das plantas mas tambeacutem
das doenccedilas para fazer a seleccedilatildeo correta da planta a ser utilizada de acordo com a forma de
uso a frequecircncia a quantidade a idade e o metabolismo de cada pessoa Enfim os saberes
das plantas e os conhecimentos cientiacuteficos podem juntos contribuir para a sauacutede e bem estar
dos moradores da comunidade de Pimenteiras aleacutem de preservar sua cultura como identidade
cultural de um povo
Da distinccedilatildeo entre saber e conhecimento iremos ao toacutepico seguinte no qual
abordaremos a comunidade tradicional e os sujeitos de saberes sobre as plantas medicinais
Quem satildeo e o que caracteriza as comunidades tradicionais Que aspectos marcam sua
identidade como sujeitos de saberes Ou seja eacute a construccedilatildeo do sujeito atraveacutes do saber
adquirido entre as geraccedilotildees
51
231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes
Entendemos que o conhecimento eacute construiacutedo a partir do acuacutemulo de experiecircncias
vivenciadas no acircmbito fiacutesico e social Nas populaccedilotildees tradicionais37
que satildeo estas
constituiacutedas por grupos comunitaacuterios humanos os quais na sua maioria vivem no meio rural
habitando determinado territoacuterio com seus haacutebitos usos e costumes o conhecimento eacute
construiacutedo a partir da relaccedilatildeo com o meio em que vivem inserindo no ecossistema
preservaccedilatildeo significaccedilatildeo ressignificaccedilatildeo valores e saberes que seratildeo transmitidos de geraccedilatildeo
em geraccedilatildeo por procedimentos educativos tradicionais
Alguns aspectos diferenciam as populaccedilotildees tradicionais das populaccedilotildees natildeo
tradicionais tais como pouca acumulaccedilatildeo de bens apropriaccedilatildeo do espaccedilo natural estrateacutegias
de sobrevivecircncia a partir do conhecimento de fontes naturais adquiridas entre as geraccedilotildees e
vivecircncias com o meio aleacutem da construccedilatildeo de um modo de vida de acordo com os ciclos dos
recursos que a natureza oferece
As comunidades tradicionais se reconhecem como pertencentes a um grupo social
particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de cada grupo Assim
as sociedades tradicionais se apresentam mais homogecircneas do que as comunidades natildeo
tradicionais pois ocupam aacutereas de pouca densidade populacional com atividades agriacutecolas
festas culturais e cultos religiosos que funcionam como fator de aglutinaccedilatildeo social
Estas comunidades desenvolvem seus saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a
natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia de seu grupo Castro (2000 p 169)
compreende que as accedilotildees praticadas pelo homem e os mecanismos de intervenccedilatildeo na natureza
satildeo frutos do acuacutemulo de experiecircncias vivenciadas no meio e de saberes reelaborados no meio
social atraveacutes das geraccedilotildees
Nesse contexto observamos que a comunidade tradicional de Pimenteiras conteacutem
saberes conduzidos entre as geraccedilotildees e preservado de acordo com os costumes culturais que
os moradores quilombolas adquiriram com o passar do tempo tais saberes satildeo denominados
de conhecimento popular
O conhecimento popular agraves vezes denominado senso comum natildeo se distingue do
conhecimento cientiacutefico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto a ser conhecido O
que os diferencia eacute a forma o modo ou o meacutetodo do conhecer (LAKATTOS MARCONI
37 Art 3ordm Decreto nordm 6040 de 7 de fevereiro de 2007 presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva instituiu a Poliacutetica
Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT)
52
1991) Saber que determinada planta necessita de uma quantidade de aacutegua pode ser um
conhecimento verdadeiro e comprovado contudo isso natildeo o torna cientiacutefico Para haver
cientificidade eacute necessaacuterio ir mais aleacutem eacute preciso conhecer a natureza dos vegetais sua
composiccedilatildeo seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espeacutecie
da outra Assim demonstra-se que a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico caminho de acesso ao
conhecimento e agrave verdade e que um mesmo objeto como uma planta um mineral ou uma
comunidade pode ser objeto de estudo tanto para a ciecircncia quanto para o homem comum ou
seja o que caracteriza o conhecimento cientiacutefico do saber popular eacute a forma de observaccedilatildeo
(BUNGE 1974)
Eacute a partir da observaccedilatildeo que os saberes sobre as ervas e plantas foram adquiridos
entre as geraccedilotildees e hoje muitas comunidades tradicionais utilizam os recursos caseiros para
curar e amenizar as doenccedilas Segundo Bunge (1974 p 20) a Ciecircncia aspira pela
racionalidade e objetividade isto soacute eacute atingido de forma muito limitada O conhecimento
popular por sua vez busca o comum o corrente e o espontacircneo de conhecer algo que soacute se
adquire no trato direto com as coisas e com os seres humanos Para o autor o conhecimento
popular caracteriza-se pelo superficial sensitivo subjetivo assistemaacutetico e acriacutetico (ANDER-
EGG 1978)
No campo do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais este eacute um
saber que acompanha o movimento histoacuterico e cultural da humanidade Transmitido
oralmente de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo esses conhecimentos sobre as plantas medicinais
constituiacuteram o alicerce do conhecimento tradicional Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o
saber tradicional sobre as plantas medicinais passou a ser desvalorizado fato que
consequentemente causou a desvalorizaccedilatildeo cultural das comunidades tradicionais que as
utilizavam
Assim valorizar esse conhecimento estaacute intimamente ligado ao fortalecimento
cultural e identitaacuterio de uma dada comunidade Segundo Gallois (2006) o saber tradicional eacute
um conhecimento que deve ser respeitado pois eacute transmitido oralmente entre as geraccedilotildees
com praacuteticas e inovaccedilotildees e natildeo como um simples repositoacuterio de conhecimentos do passado A
praacutetica de uso das plantas medicinais tanto para cura fiacutesica quanto espiritual faz parte das
relaccedilotildees que os moradores da comunidade de Pimenteiras apreenderam ao longo do tempo na
observaccedilatildeo da natureza consigo mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas
de cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita
relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais
53
Conhecer as praacuteticas ancestrais de utilizaccedilatildeo das plantas medicinais ainda existentes
na comunidade de Pimenteiras aleacutem de conduzir a uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do saber
tradicional com o conhecimento cientiacutefico eacute aspecto relevante para fortalecer a identidade de
um povo A comunidade utiliza o saber tradicional sobre as plantas medicinais nas suas
praacuteticas cotidianas cuidando da sauacutede apesar disso ela ainda necessita compreender a
importacircncia deste saber para o fortalecimento da sua identidade cultural e construir um
diaacutelogo entre os saberes existentes na regiatildeo com o conhecimento cientiacutefico
Os saberes existentes sobre as plantas satildeo sem duacutevida uma forte marca na
comunidade de Pimenteiras Sobretudo vale destacar que na grande maioria das famiacutelias tal
saber eacute transmitido pelo gecircnero feminino As mulheres adultas e idosas satildeo as que mais se
destacam no acervo de conhecimento sobre as plantas Com isso observamos que o
conhecimento das plantas medicinais eacute ancestral e natural entre as geraccedilotildees femininas ou
seja as pessoas mais velhas satildeo consideradas as ldquoguardiatildesrdquo dos saberes de cura por meio das
plantas medicinais satildeo elas que conhecem os usos das plantas e perpetuam esse
conhecimento agraves geraccedilotildees posteriores
Em consideraccedilatildeo agraves moradoras quilombolas da comunidade de Pimenteiras que
perpetuaram tatildeo valoroso conhecimento e proporcionaram preservar os saberes das plantas
medicinais trataremos no toacutepico seguinte os aspectos referentes agrave presenccedila do gecircnero
feminino nos saberes sobre a plantas da comunidade de Pimenteiras
232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais
As plantas medicinais sempre fizeram parte da histoacuteria de muitos povos na
antiguidade Muito antes de frequentar as farmaacutecias para buscar o aliacutevio de alguma dor
buscamos em nossos quintais ou nas matas uma determinada planta que por conselho dos
mais velhos poderia resolver o problema Com o passar dos tempos diversos povos
utilizaram as plantas medicinais de diferentes formas Os portugueses quando chegaram ao
Brasil jaacute desfrutavam o poder das plantas medicinais os indiacutegenas por sua vez contribuiacuteram
muito com o conhecimento que jaacute possuiacuteam das plantas usadas como remeacutedio e alimento
Desse modo existem muitas maneiras de empregar as plantas no uso medicinal tais
como chaacutes garrafadas xaropes defumadores e banhos e nessas diferentes formas de uso das
54
plantas a grande diversidade de espeacutecies vegetais na Amazocircnia traz marcas da presenccedila
feminina no domiacutenio dos saberes sobre as plantas Segundo Rodrigues (2008 p 2)
Diante dessa sociodiversidade nos contextos amazocircnicos nosso recorte de apreensatildeo
da realidade busca perceber as afirmaccedilotildees quanto aos papeacuteis sociais empregados a
mulheres e homens no domiacutenio de um saber o das plantas medicinais apreender
diante desse contexto como se apresentam as relaccedilotildees de poder em relaccedilatildeo ao
conhecimento e demonstrar a visatildeo mercadoloacutegica sobre os conhecimentos
tradicionais que se apropria da oacutetica patriarcalista reafirmadora de estereoacutetipos que
naturaliza as relaccedilotildees sociais e portanto como tais aspectos influem diretamente
nas questotildees soacutecio-culturais da sauacutede popularcoletiva e no acircmbito de poliacuteticas
sociais
As plantas medicinais satildeo usadas haacute milecircnios como fonte de cura Apesar de a Idade
Meacutedia ser conhecida como Idade das Trevas foi uma eacutepoca em que a Europa Medieval sofreu
uma forte mudanccedila nos haacutebitos alimentares Nessa eacutepoca os vegetais passaram a ser pouco
consumidos havendo preferecircncia para as carnes patildees e frutas Com isso o conhecimento
sobre as plantas ficou armazenado nas matildeos da Igreja Catoacutelica que utilizava-os apenas para a
medicina e a praacutetica espiritual
As mulheres desse periacuteodo que possuiacutessem certo conhecimento sobre as plantas
medicinais para curar as enfermidades nos familiares eram fortemente rejeitadas julgadas e
condenadas como pecadoras e hereges eram mortas agrave fogueira pois na visatildeo da Igreja quem
tivesse tal conhecimento enganava as leis divinas com rituais que iam contra os seus
preceitos Assim vaacuterias mulheres foram perseguidas e acusadas de bruxaria e por
conseguinte foram assassinadas pela praacutetica de suas crenccedilas e cultura
As mulheres foram em grande nuacutemero acusadas de bruxaria e em consequumlecircncia
desmoralizadas ou tiveram que aceitar como espuacuterios e iliacutecitos os seus saberes
aqueles que compartilhavam com outras mulheres na convivecircncia entre matildees e
filhas uma geraccedilatildeo apoacutes outra (TELLES apud RAGO FUNARI 2008 p81)
Ao observarmos a relaccedilatildeo entre a presenccedila feminina com o saber sobre as plantas
verificamos que a autoridade no conhecimento pode revelar mais que uma praacutetica cultural e
histoacuterica predominante agraves mulheres Esta praacutetica revela um contexto domeacutestico no qual o
trabalho das mulheres eacute revestido pelas relaccedilotildees de poder Em casa o saber o uso e o manejo
das plantas medicinais eacute algo predominante ao gecircnero feminino Essa observaccedilatildeo estaacute
relacionada com as diferenccedilas entre gecircneros e na divisatildeo social e sexual Pelo fato de ser
ldquoobrigadardquo a cuidar dos filhos a mulher tem por extensatildeo a preocupaccedilatildeo maior em saber dos
usos de plantas medicinais por estar diretamente ligada ao sentimento de zelo sauacutede e bem
estar da famiacutelia
55
Nesse contexto as plantas medicinais normalmente satildeo manejadas em quintais
espaccedilo considerado parte do ambiente domeacutestico e feminino assim como o cuidado com os
filhos que natildeo eacute visto como ldquotrabalhordquo Nas observaccedilotildees de Gonccedilalves a accedilatildeo de trabalhar
com as plantas estaacute relacionada ao seguinte conceito ldquoTrata-se da forma como cada cultura
lida com as diferenccedilas entre os sexos alocando a cada um deles determinados atributos e agrave
maneira como estes atributos satildeo valorados socialmenterdquo (GONCcedilALVES 1998 p 51)
Assim pode-se afirmar que eacute comum ao gecircnero feminino conhecer e saber utilizar as
plantas medicinais como forma de prevenccedilatildeo e bem estar proacuteprio e comunitaacuterio Para a
mulher ter propriedade no conhecimento das plantas medicinais estaacute relacionado com o
cuidado aos filhos afinal isto representa o principal motivo para ter aprendido com a matildee a
avoacute a tia ou a vizinha eacute uma ldquoheranccedila de saberrdquo da transmissatildeo frequente entre as geraccedilotildees
e de transmissatildeo entre as mulheres
Como bem menciona Tosi (1998) o fato de que as bruxas eram mulheres que
detinham conhecimentos eram mulheres saacutebias de conhecimentos empiacutericos que praticavam
desde eacutepocas ancestrais demonstra um pouco desse trajeto sobre o saber das plantas
medicinais que passou por geraccedilotildees femininas as quais foram tidas como guardiatildes do saber
Nas comunidades tradicionais as mulheres tambeacutem guardam tais saberes medicinais
das plantas Assim seguiremos no toacutepico seguinte tratando especificamente sobre uma
moradora da comunidade de Pimenteira uma mulher que ateacute os dias atuais traz saberes de
suas ancestrais como forma de perpetuar e preservar um conhecimento que hoje identifica um
povo
233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes
A confianccedila em alcanccedilar a cura de diversas enfermidades do corpo por meio do uso
medicinal de plantas eacute um conhecimento conservado entre as geraccedilotildees femininas na regiatildeo da
Pimenteira Avoacutes matildees filhas e netas constituem um ciacuterculo no qual os saberes tecircm sido
repassados entre as geraccedilotildees
As mulheres da comunidade de Pimenteiras vivem o costume de cuidar da casa
educar os filhos e ajudar os maridos nos trabalhos da roccedila Elas satildeo encarregadas de muitas
atividades dentre as quais o manejo da terra para auxiliar o marido nas atividades da
agricultura eacute bastante comum No entanto o contraacuterio natildeo ocorre ou seja os homens natildeo
56
cuidam dos filhos natildeo preparam as refeiccedilotildees e nem manipulam as plantas para o uso
medicinal
A heranccedila do saber sobre o uso das plantas medicinais eacute puramente feminina devido
aos cuidados que as mulheres quilombolas possuem com os filhos com a casa e com a terra
Rodrigues (2008 p 4) expotildee sobre a importacircncia dos saberes tradicionais guardados pelas
mulheres nas comunidades para a preservaccedilatildeo da cultura de um povo
[] na medida em que o conhecimento da natureza a partir dos conhecimentos
tradicionais sobre o uso de plantas medicinais eacute manipulaacutevel tanto por mulheres e
homens ambos tecircm um reconhecimento de uma cultura proacutexima da natureza que
natildeo os menospreza pelo contraacuterio em suas localidades satildeo considerados
importantes pelo saber que detecircm primordialmente no que tange a sauacutede
coletivapopular []
Os remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras vivem e lutam pelo
direito agrave terra e agrave preservaccedilatildeo dos valores e saberes da regiatildeo Sabemos que cerca de oito
milhotildees de brasileiros fazem parte de comunidades tradicionais dentre as quais uma meacutedia de
dois milhotildees38
correspondem a remanescentes de quilombo De acordo com o Decreto de nordm
604039
de 07 de fevereiro de 2007 os povos e comunidades tradicionais satildeo grupos
culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais possuindo formas proacuteprias de
organizaccedilatildeo social ocupando e usando os recursos naturais como condiccedilatildeo de sobrevivecircncia
da sua reproduccedilatildeo cultural social e religiosa com inovaccedilotildees nas praacuteticas geradas e
transmitidas pela tradiccedilatildeo Nos relatos da senhora Domingas ser quilombola eacute algo
relacionado com a natureza e a terra conforme se pode observar em um trecho transcrito de
sua fala
[] mas ser quilombola acho que eacute ser vem dessa descendecircncia e assim das
(coisas) tradicional as coisas da natureza aprender e viver com a natureza eu
acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre assim vendo os iacutendios porque
os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu acho que ser
quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as
coisas pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende
as coisas com a natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque
aquele tempo dos dos dos negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de
leitura (nada nada) MAS com a natureza eles aprendiam alguma coisa
(informaccedilatildeo verbal)40
38Informaccedilatildeo contida no Centro de documentaccedilatildeo Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES 2008) Site
httpwwwcedefesorgbr
39 Institui a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) 40Depoimento da senhora Domingas transcrito de forma grafemaacutetica em Pimenteiras outubro de 2014
57
Eacute fato que nem todos os moradores fazem uso do conhecimento sobre as plantas mas
os que preservam este saber satildeo referecircncia na comunidade para as demais localidades da
regiatildeo como eacute o caso da senhora Domingas Alves do Nascimento41
Moradora de origem
quilombola ela eacute conhecedora do poder medicinal das plantas vivendo da agricultura e das
vendas dos produtos feitos com as plantas como a garrafada multimistura e pomadas Devido
agrave forte relaccedilatildeo com a terra ela cultiva suas ervas e plantas em casa como meio de
proporcionar a sauacutede de seus familiares e de seu povo A senhora Domingas eacute uma pessoa
desinibida trabalhadora e aacutevida pelo conhecimento medicinal das plantas Na entrevista a
moradora escolheu seu quintal como espaccedilo para conversar o local possui muitas plantas
aacutervores sombra e vento forte De forma acolhedora e sorridente algo marcante em sua
personalidade Domingas demonstrou grande acolhimento e bem estar durante a conversa
pois Apesar de sua pouca escolaridade eacute uma grande contadora de histoacuterias com forccedila e
determinaccedilatildeo no que diz
Domingas luta pelos direitos de seu povo buscando recursos que viabilizem
melhorias para a comunidade sua relaccedilatildeo com a terra veio de seus ancestrais que vieram da
comunidade de Narciacutesea para por suas raiacutezes na comunidade de Pimenteiras42
Durante a
conversa Domingas falou de suas origens sua famiacutelia da Associaccedilatildeo da titulaccedilatildeo da terra de
seu trabalho na lavoura e do saber sobre as plantas Este aspecto eacute o que mais chama a
atenccedilatildeo devido ao grande conhecimento demonstrado a respeito das plantas medicinais
A moradora de Pimenteiras vive na comunidade rural haacute cerca de cinquenta anos
Durante esse tempo muitos saberes de seus antepassados sobre as plantas medicinais foram
repassados Sua avoacute materna ndash senhora Joana Pornusena dos Santos ndash e sua matildee ndash senhora
Otiacutelia Alves do Nascimento ndash eram sabedoras do uso de chaacutes para a cura de males do corpo e
da alma Com o passar dos anos o conhecimento da senhora Domingas sobre as plantas
passou a ser muito importante para a comunidade local e visualizado por cooperativas e
organizaccedilotildees como o CEDENPA e pela Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria43
A partir
41
Em entrevista realizada em 19 de outubro de 2014 a moradora de Pimenteiras Domingas em seu discurso
apresentou saberes de um povo que se manteacutem com os recursos da natureza procurando preservar o ambiente
em que vive Para realizar esta pesquisa foi necessaacuterio registrar a conversa com a senhora Domingas atraveacutes de
fichas com perguntas variadas sobre sua histoacuteria a comunidade e o uso medicinal das plantasDepois foi
indispensaacutevel a gravaccedilatildeo do som e imagem da entrevistada para na sequecircncia analisar seu discurso que foi
transcrito de forma grafemaacutetica Com esse material transcrito fizemosa anaacutelise de um discurso repleto de saberes
de um povo historicamente deixado agrave margem social
42 Pimenteiras possui este nome devido agraves grandes plantaccedilotildees de pimenta existente na eacutepoca dos avocircs de
Domingas 43
A Rede Bragantina reuacutene atualmente vinte e sete organizaccedilotildees membros que trabalham por uma cultura de
sustentabilidade a partir de novas relaccedilotildees econocircmicas afetivas de gecircnero e etnia no sentido da existecircncia
humana Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria Artes amp Sabores tem o objetivo de produzir com respeito agraves
58
desse contexto a moradora foi orientada para aprimorar seus saberes sobre as plantas fazendo
cursos de aproveitamento e utilizaccedilatildeo dos alimentos para a sauacutede
Conhecer mais e aprimorar o conhecimento sobre as plantas medicinais vai ao
encontro dos saberes adquiridos entre as geraccedilotildees de mulheres com quem Domingas
conviveu O trabalho com as plantas eacute muito importante para a moradora a ponto que hoje o
saber sobre as plantas eacute algo que identifica a comunidade de Pimenteiras No toacutepico seguinte
veremos como a comunidade atualmente eacute conhecida pela forte relaccedilatildeo dos moradores com a
terra com as tradiccedilotildees e suas praacuteticas culturais proacuteprias e portanto identitaacuterias
234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais
Tudo aquilo que eacute construiacutedo pelo ser humano incluindo os mitos os siacutembolos os
ritos todas as crenccedilas todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento de um
povo eacute o que marca as especificidades de cada comunidade ou seja sua Cultura A definiccedilatildeo
do conceito de cultura atualmente se tornou difiacutecil pois ela pode ser estudada sob diversos
pontos de vista Eacute necessaacuterio portanto escolher uma perspectiva para poder defini-la
Desse modo analisamos os estudos de Cuche (1999) que descreve o processo
evolutivo como uma questatildeo de adaptaccedilatildeo do homem de acordo com a geneacutetica do meio
ambiente natural para uma adaptaccedilatildeo cultural dos primeiros homens Segundo o pesquisador
a noccedilatildeo de cultura era compreendida no seu sentido amplo e desde seu aparecimento no
seacuteculo XVIII suscitou constantes debates contraditoacuterios com a ideia moderna da cultura da
eacutepoca fazendo oposiccedilatildeo com a noccedilatildeo de sociedade no mesmo campo significativo
Nesse aspecto Cuche (1999 p 10) relata que ldquoA cultura permite ao homem natildeo
somente adaptar-se a seu meio mas tambeacutem adaptar este meio ao proacuteprio homem as suas
necessidades e seus projetos Em suma a cultura torna possiacutevel a transformaccedilatildeo da naturezardquo
Conhecer profundamente a comunidade de Pimenteiras trouxe forte significaccedilatildeo no
campo dos estudos cientiacuteficos e principalmente no campo dos saberes populares pois
permitiu analisar os aspectos culturais que permeiam e identificam a regiatildeo A partir disso
conhecer a cultura de um povo significa conhecer e valorizar a nossa cultura como
autoafirmaccedilatildeo do que somos Examinar como foi formada a palavra o conceito cientiacutefico que
culturas agraves sinergias da natureza valorizando os agroecosistemas locais na perspectiva da seguranccedila alimentar e
desenvolvimento sustentaacutevel Veja o site httpamazoniaemredeblogspotcombr
59
dela depende localizar sua origem e evoluccedilatildeo semacircntica evidenciam assim os laccedilos que
existem entre a histoacuteria da palavra cultura e a histoacuteria das ideias Se pensada como um
conjunto de ideias valores e conhecimentos cultura traz dentro de si em primeiro lugar a
dimensatildeo do passado Muitos conhecimentos foram herdados de outras geraccedilotildees e a cada
tempo que passa mais conhecimento eacute acumulado Eacute extraordinaacuterio como a nossa memoacuteria
fica cada vez mais enriquecida pois o tempo passa e a memoacuteria cresce proporcionalmente
(CUCHE 1999) Logo eacute sensato valorizar a identidade cultural de um povo pois atraveacutes dela
alcanccedilamos as diversas histoacuterias de nossos antepassados (CUCHE 1999)
Frente a tudo que foi explanado compreendemos que a comunidade de Pimenteiras
pode ser definida como comunidade tradicional pois eacute culturalmente diferenciada Assim
nessa construccedilatildeo da identidade coletiva do grupo os siacutembolos os saberes as tradiccedilotildees estatildeo
ligados agrave reproduccedilatildeo cultural social e econocircmica da comunidade que aleacutem de tudo tem
como consequecircncia a proteccedilatildeo da biodiversidade local Ao compreenderem que os recursos
naturais satildeo esgotaacuteveis e valiosos para a sauacutede os moradores da comunidade de Pimenteiras
buscam preservar e proteger os saberes sobre as plantas medicinais a ponto de construir sua
identidade cultural nesse domiacutenio
Eacute assim que a comunidade tradicional de Pimenteiras eacute conhecida e se reconhece
como pertencente a um grupo social particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e
reconstruccedilatildeo de um grupo A comunidade remanescente de quilombola desenvolve seus
saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia
de seu grupo (CASTRO 2000) Por isso eacute necessaacuterio conhecer e respeitar os saberes
preservados na memoacuteria de um povo juntamente com o ambiente natural em que vivem
A valorizaccedilatildeo do conhecimento popular estaacute intimamente ligada ao fortalecimento
cultural e identitaacuterio da comunidade de Pimenteiras que por sua vez faz da praacutetica de uso das
plantas medicinais a simboacutelica relaccedilatildeo que os moradores desenvolveram ao longo do tempo
com a natureza com eles mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas de
cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita
relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais que constituem a identidade
cultural de um povo (BADKE 2008)
Observando os aspectos que marcam a identidade cultural da comunidade de
Pimenteiras passaremos no capiacutetulo seguinte agrave fundamentaccedilatildeo desse estudo sobre os termos
catalogados das plantas medicinais da comunidade analisando a importacircncia do legado de
identidade e cultura popular Para isto seratildeo consideradas as especificidades das plantas
medicinais diante do saber cientiacutefico e da sabedoria tradicional analisados por meio da aacutervore
60
de domiacutenio Em seguida daremos continuidadeaos estudos sobre as ciecircncias do termo e a
terminologia nas especialidades da nomeaccedilatildeo das plantas medicinais Junto a este estudo
abordaremos as particularidades da Terminologia ateacute a Socioterminologia como fundamentos
essenciais para o estudo do termo das plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
61
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Neste capiacutetulo apresentamos os fundamentos teoacutericos deste trabalho buscando os
conhecimentos sobre Liacutengua Terminologia Socioterminologia e Termo Segundo Perini
(2010 p 01-02) a liacutengua eacute ldquoum sistema programado em nosso ceacuterebro que essencialmente
estabelece uma relaccedilatildeo entre os esquemas mentais que formam nossa compreensatildeo do mundo
e um coacutedigo que os representa de maneira perceptiacutevel aos sentidosrdquo A liacutengua eacute caracterizada
como sistema de grande complexidade que envolve regras leacutexicos expressotildees e clichecircs que
se encontram enraizados na cultura Eacute por meio dela que manifestamos exteriormente nossa
capacidade humana de utilizar a linguagem
A terminologia por sua vez eacute a ciecircncia que ldquotoma o leacutexico especializado ou
temaacutetico que eacute composto pelos termos teacutecnico-cientiacuteficos como seu objeto principal de
estudos e de aplicaccedilotildees Eacute uma aacuterea que recorta do universo leacutexico os termos teacutecnico-
cientiacuteficosrdquo (KRIEGER 2011 p 443) Os estudos terminoloacutegicos atuais tecircm enfatizado a
perspectiva social dos termos assim a Socioterminologia eacute tambeacutem parte de tais estudos da
Terminologia Faulstich (1995) explica que a socioterminologia eacute uma disciplina descritiva
que estuda o termo na perspectiva linguiacutestica da interaccedilatildeo social ldquoeacute a disciplina que se ocupa
da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguumliacutesticas dos termos em diferentes tipos
de situaccedilatildeo de uso da liacutenguardquo (FAULSTICH 1995 p 1)
Para Sager (1998 apud DIAS 2000 p 90) a terminologia tida como teoria ldquoeacute um
conjunto de premissas argumentos e conclusotildees necessaacuterio para explicar o relacionamento
entre conceitos e termos especializadosrdquo Jaacute como praacutetica a terminologia ldquoeacute um conjunto de
meacutetodos e atividades voltado para coleta descriccedilatildeo processamento e apresentaccedilatildeo de termos
como produto eacute um conjunto de termos ou vocabulaacuterio de uma determinada especialidaderdquo
O termo por sua vez apresenta trecircs concepccedilotildees Segundo os estudos de Cabreacute (1995
apud DIAS 2000 p 90) tem-se a concepccedilatildeo linguiacutestica de que os termos satildeo uma forma de
saber ou seja ldquoos termos satildeo o conjunto de signos linguumliacutesticos que constituem um
subconjunto dentro do componente leacutexico da gramaacutetica de determinada pessoardquo No campo da
filosofia o termo eacute uma forma de conhecer em que ldquoa terminologia eacute um conjunto de
unidades cognitivas que representam o conhecimento especializadordquo Finalmente o termo eacute
uma forma de transferir e comunicar pois ldquoa terminologia eacute o conjunto das unidades de
expressatildeo e comunicaccedilatildeo que permitem transferir o pensamento especializadordquo
62
Cada aacuterea de conhecimento aborda seus termos de forma diferente e especializada
Assim na primeira parte desse capiacutetulo apresentaremos algumas compreensotildees sobre a
importacircncia da Liacutengua na identidade cultural dos moradores da comunidade de Pimenteiras
cuja cultura conhecemos por meio da anaacutelise da linguagem especializada sobre as plantas
medicinais No toacutepico seguinte verificaremos os aspectos sobre o conhecimento cientiacutefico e
popular a respeito das plantas de uso medicinal considerando que estas marcam e identificam
a comunidade quilombola Para isto utilizamos um organograma expondo as particularidades
de saber sobre as plantas medicinais no acircmbito cientiacutefico e popular
Na sequecircncia apresentamos a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o saber
popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras trazendo os aspectos
sobre a importacircncia da Terminologia nos estudos especializados da nomeaccedilatildeo Seguimos a
discussatildeo apresentando os pontos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos na linguagem
especializada de grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos Com isso notamos a
importacircncia de analisar a variaccedilatildeo terminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais da
comunidade de Pimenteiras
Em seguida examinamos os assuntos que passaram a ser considerados importantes
nos estudos terminoloacutegicos ndash a liacutengua no social ndash e compreendemos o funcionamento da
linguagem especializada no contexto social da comunidade tendo para isto a contribuiccedilatildeo da
Socioterminologia nos estudos dos termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
Logo depois seguimos com o assunto trazendo discussotildees sobre a necessidade de
valorizar os termos no ambiente discursivo pragmaacutetico e social propondo um diaacutelogo entre
as aacutereas do conhecimento uma vez que por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos eacute possiacutevel
valorizar e popularizar o conhecimento sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
Em seguida apresentamos o foco principal deste estudo o termo Observamos que os
estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais no processo de anaacutelise da natureza e da
descriccedilatildeo das particularidades pertencentes aos termos que eacute a base do estudo Terminoloacutegico
sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL
Ao refletirmos sobre os aspectos da Liacutengua na comunidade remanescente de
quilombola de Pimenteiras observamos que conhecer a liacutengua de um povo eacute tambeacutem
63
conhecer sua identidade Ressaltamos que a liacutengua eacute um sistema complexo e para entendecirc-lo eacute
indispensaacutevel primeiro conhecer o leacutexico pois ele reflete as heranccedilas dialetos marcas sociais
e culturais dos seus falantes Para Coelho e Mesquita (2013 p 25) a liacutengua nasceu da
necessidade de comunicaccedilatildeo entre os homens e ldquopermitiu ao ser humano interagir
verbalmente com o outro exteriorizando seus pensamentos expressando-se comunicando-se
por meio da fala da escrita e de outras formas de linguagemrdquo Segundo as autoras ldquoas
relaccedilotildees sociais estreitaram-se e as ideias a cultura as ideologias e os conhecimentos
puderam ser amplamente difundidosrdquo (COELHO MESQUITA 2013 p 25) A Liacutengua
facilita a comunicaccedilatildeo entre as pessoas e contribui para a realidade que temos hoje marcada
pela troca de conhecimento e disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees pois pessoas de uma localidade
podem conhecer a cultura de outras
A liacutengua envolve todas as accedilotildees e pensamentos humanos e possibilita ao indiviacuteduo
exercer influecircncias ou ser influenciado pelo outro desempenhar seu papel social na
sociedade relacionar-se como os demais participar na construccedilatildeo de conhecimentos
e da cultura (COELHO E MESQUITA 2013 p 25)
No campo da liacutengua percebemos que os moradores quilombolas da comunidade de
Pimenteiras apresentam grande saber sobre o uso medicinal das plantas devido ao vasto
conhecimento que seus antepassados possuiacuteam sobre a flora e a fauna Diante disso ao
nomear as coisas e o meio que os rodeiam os moradores de Pimenteiras formam e expressam
a sua histoacuteria sua cultura sua liacutengua e sua identidade Eacute a liacutengua que ao carregar valores e
ideologias imprime na accedilatildeo de nomear que eacute cercada de escolhas sociais e culturais a marca
de identidade do falante (LEIRO sd) Eacute a partir principalmente dessas concepccedilotildees que se
desenvolve uma reflexatildeo acerca das relaccedilotildees ideoloacutegicas que as denominaccedilotildees de algumas
plantas de uso medicinal podem possuir
O nome natildeo eacute dado de forma aleatoacuteria sempre quer dizer algo nomear eacute uma
relaccedilatildeo complexa com a significaccedilatildeo que denota grande polecircmica e inquietaccedilatildeo entre os
pesquisadores Assim quando pensamos em nomear e no que o nome significaraacute logo
imaginamos alguma qualificaccedilatildeo que sirva para marcar as coisas pessoas e lugares que lhes
sejam exclusivos pois os significados dos nomes organizam e classificam as formas de
perceber a realidade aleacutem de estarem ligados diretamente com a cultura de uma dada
comunidade (MOREIRA 2012)
Coelho e Mesquita (2013) explicam que na liacutengua entram constantemente leacutexicos
novos enquanto que outros caem em desuso devido agrave liacutengua estar sujeita a mudanccedilas O
conhecimento em relaccedilatildeo agraves plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras chama a
64
atenccedilatildeo porque eacute um modo de preservaacute-las jaacute que muitas das plantas utilizadas como
medicamento jaacute se perderam por natildeo existir nada escrito Para Coelho e Mesquita
Os indiviacuteduos satildeo inseridos na teia social por meio da liacutengua Eacute ela quem vai
possibilitar-lhes o contato com a cultura com as ideologias com as identidades
tornando-se um instrumento para que eles possam interagir linguiacutestica e socialmente
com seus semelhantes (2013 p 27)
A liacutengua tem grande importacircncia para a sobrevivecircncia da cultura de uma localidade
visto que eacute atraveacutes dela que se faz a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade (COELHO
MESQUITA 2013)
A transmissatildeo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo do conhecimento sobre o uso das plantas
medicinais na comunidade de Pimenteiras soacute foi possiacutevel graccedilas agrave linguagem oral Apesar
disso muitos jovens deixam de lado o conhecimento sobre as plantas Esse posicionamento
deprecia o saber local e a identidade cultural dos habitantes de Pimenteiras fator que justifica
a persistecircncia de muitos moradores antigos na preservaccedilatildeo deste saber
Desde jaacute compreendemos que a identidade cultural coletiva na qual um grupo
compartilha as mesmas atitudes as mesmas crenccedilas e os mesmos comportamentos formados
no tempo e no espaccedilo eacute forjada pela interaccedilatildeo de segmentos eacutetnicos e sociais Carvalho
(2003 natildeo paginado) aponta trecircs sentidos de identidade cultural
Na percepccedilatildeo objetiva a identidade cultural de um indiviacuteduo ou grupo define-se a
partir de um conjunto de criteacuterios determinantes a origem comum a liacutengua a
cultura a religiatildeo a psicologia coletiva a ligaccedilatildeo a um territoacuterio etc e um grupo
sem estes criteacuterios natildeo pode reivindicar uma identidade cultural autecircntica Na
percepccedilatildeo subjetiva a identidade etnocultural natildeo eacute mais que um sentimento de pertenccedila ou uma identificaccedilatildeo com uma coletividade mais ou menos imaginaacuteria Na
percepccedilatildeo mais lata a identidade de cada indiviacuteduo natildeo se restringe ou circunscreve
agrave identificaccedilatildeo com um grupo determinado mas eacute sim o somatoacuterio de todos os
valores adquiridos ao longo da existecircncia e estaacute em constante construccedilatildeo e
transformaccedilatildeo
Eacute pela coletividade que podemos observar que a comunidade de Pimenteiras busca
preservar sua identidade e conhecimento pelas plantas medicinais por meio dos moradores
mais antigos Mas eacute tambeacutem por meio dos mais jovens que novos saberes satildeo inseridos na
comunidade como forma de renovaccedilatildeo da cultura quilombola e consequentemente da
liacutengua pois segundo Hjelmslev (1975 p 1)
A linguagem eacute o instrumento graccedilas ao qual o homem modela seu pensamento seus
sentimentos suas emoccedilotildees seus esforccedilos sua vontade e seus atos o instrumento
graccedilas ao qual ele influencia e eacute influenciado a base uacuteltima e mais profunda
da sociedade humana
65
Diante disto entendemos que a identidade cultural define cada um de noacutes e
particularmente na comunidade de Pimenteiras eacute o que diferencia e distingue os moradores
da regiatildeo Nesse contexto o conhecimento popular sobre as plantas medicinais eacute algo que traz
a marca de um povo que preserva e utiliza seus saberes Assim apresentamos na seccedilatildeo
seguinte os aspectos relacionados ao conhecimento das plantas medicinais no acircmbito do
conhecimento cientiacutefico e popular utilizando como recurso de melhor visualizaccedilatildeo o
organograma sobre as plantas medicinais
311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular
Ao utilizarmos as plantas para fins diversos relembramos de nossos antepassados
mais distantes que usavam as plantas como recurso para a cura de doenccedilas Sabemos das
inuacutemeras funccedilotildees que elas podem assumir desde alimentaccedilatildeo ateacute o uso em construccedilotildees
vestuaacuterio e como jaacute foi citado para fins medicinais Por muito tempo as antigas civilizaccedilotildees
usufruiacuteram o grande poder que as plantas possuem Segundo relatos de Tomazzoni et al
(2006 natildeo paginado) os hebreus egiacutepcios e assiacuterios cultivavam plantas medicinais desde o
ano 2300 aC adquirindo durante suas expediccedilotildees vaacuterias espeacutecies das quais se produziam
medicamentos para males diversos
Com o passar dos tempos o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais foi
transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e hoje mesmo com o avanccedilo na medicina moderna
muitos ainda utilizam desse saber sobre as plantas no tratamento de doenccedilas Por isso natildeo se
pode deixar agrave margem o conhecimento tradicional sobre as plantas de uso medicinal pois essa
forma de conhecimento faz parte da nossa cultura Construiacutemos e desenvolvemos o
conhecimento em nossas praacuteticas diaacuterias assim denomina Borda (1984 p 48) ldquoconhecimento
praacutetico empiacuterico que ao longo dos seacuteculos tem possibilitado enquanto meios naturais
diretos que as pessoas sobrevivam criem interpretem produzam e trabalhemrdquo
Todas as informaccedilotildees acumuladas ao longo do tempo por uma determinada
comunidade em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas seus valores e sua cultura vivenciada e
experimentada satildeo consideradas em contexto do conhecimento tradicional Sendo variaacutevel e
abalaacutevel o saber popular eacute modificado e reformulado pela comunidade em que estatildeo inseridos
(KOVALSKI et al 2010) Segundo Diegues et al (2000 p 30) o conhecimento tradicional eacute
66
ldquocomo o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural sobrenatural
transmitido oralmente de geraccedilatildeo em geraccedilatildeordquo
Para Dickmann e Dickmann (2008 p 70) ldquoo saber popular eacute entendido como aquele
adquirido nas lutas que natildeo estaacute escrito nos livros aquele que eacute fruto das vaacuterias experiecircncias
vividas e convividas em tempos e espaccedilos diversos na histoacuteria do povordquo O conhecimento
popular estaacute relacionado com o povo com o individual que eacute transmitido entre as geraccedilotildees
por experiecircncias proacuteprias recebe este nome popular por natildeo haver uma explicaccedilatildeo digamos
ldquoloacutegicardquo de como as coisas funcionam de como uma pessoa sabe que tem de ser feito assim
porque viu algueacutem fazendo e deu certo sem saber explicar ldquocientificamenterdquo como funciona
O conhecimento popular seria uma espeacutecie de educaccedilatildeo informal e suas principais
caracteriacutesticas satildeo a superficialidade sensibilidade subjetividade e independecircncia do valor do
conhecimento criacutetico Jaacute o conhecimento tradicional estaacute relacionado com a tradiccedilatildeo de um
grupo envolvendo saberes empiacutericos com praacuteticas crenccedilas e costumes passados de pais para
filhos dentro desse grupo (KOVALSKI et al 2010)
Diante dos conceitos apresentados podemos compreender que a valorizaccedilatildeo dos
conhecimentos tradicionais e populares de um determinado grupo eacute muito importante pois
aleacutem de resgatar os saberes quase esquecidos no tempo proporciona tambeacutem o
fortalecimento e a difusatildeo destes saberes para a sociedade Assim vale citar uma passagem de
Chassot na qual o autor resgata tais saberes e teacutecnicas utilizadas por pessoas simples mas que
possuem um valor inestimaacutevel
[] o pescador solitaacuterio que encontramos em silenciosas meditaccedilotildees sabendo onde
e quando deve jogar a tarrafa tambeacutem tem saberes importantes A lavadeira que
sabe escolher a aacutegua para os lavados tem os segredos para remover manchas mais renitentes ou conhece as melhores horas de sol para o coaro A parteira que os anos
tornaram doutora conhece a influecircncia da lua nos nascimentos e tambeacutem o chaacute que
acalmaraacute as coacutelicas do receacutem nascido A benzedeira natildeo apenas faz rezas maacutegicas
que afastam o mau-olhado ela conhece chaacutes para curar o cobreiro que o
dermatologista diagnostica como herpes-zoster O explorador de aacuteguas que indica o
local propiacutecio para se abrir um poccedilo ante o vergar de sua forquilha de pessegueiro
tem conhecimentos de hidrologia que natildeo podem ser simplesmente rejeitados (2006
p 221)
Outras formas de conhecimento foram por muito tempo ignoradas pelos cientistas
hoje a situaccedilatildeo eacute diferente Para Marconi e Lakatos (2005) ldquo[] a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico
caminho de acesso ao conhecimento e agrave verdaderdquo nos estudos de Posey (1987) e em
pesquisas feitas pelos Etnoecoacutelogos44
e Etnobioacutelogos45
sobre as comunidades tradicionais
44 A Etnoecologia eacute uma nova disciplina hiacutebrida transdisciplinar e poacutes-normal que valoriza os conhecimentos
milenares das comunidades sobre a natureza Para maior conhecimento pesquisar no site
67
observamos que haacute um resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes populares que chamam cada vez
mais a atenccedilatildeo com novas reflexotildees sobre os paradigmas jaacute existentes provocando com isso
resultados positivos para o conhecimento cientiacutefico
O fato eacute que os estudos recentes sobre o conhecimento popular tecircm ganhado
importacircncia para o nosso proacuteprio benefiacutecio Assim Silva (2002 p 26) expotildee que ldquo[] os
estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular tecircm merecido atenccedilatildeo
cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm oferecendo agraves ciecircncias do
homemrdquo
No que concerne ao conhecimento cientiacutefico este eacute consagrado por passar por
inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute ser considerada ciecircncia Nas palavras de Lopes (1999) o
conhecimento cientiacutefico trata-se de
Todo conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por
excelecircncia sem influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e
provado a partir dos dados da experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (1999 p106)
Nas explanaccedilotildees de Cunha (2007) os saberes populares podem acolher com a
mesma intensidade explicaccedilotildees diversas de um mesmo fenocircmeno por um mesmo grupo de
pessoas ou comunidade pois eacute atraveacutes da observaccedilatildeo que as diferenccedilas se fazem tecircnues entre
o conhecimento popular e o cientiacutefico
No que concerne ao conhecimento referente ao mundo vegetal o uso de plantas com
propriedades terapecircuticas vem de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo devido ao contato com o meio ambiente
que as famiacutelias possuiacuteam Segundo Newall (2002) os fatores que influenciam o uso das
plantas com fins terapecircuticos vecircm do baixo niacutevel de vida da populaccedilatildeo junto ao alto custo
dos medicamentos Com isso os saberes acumulados durante seacuteculos satildeo mantidos na praacutetica
fitoteraacutepica
Contudo o uso popular das plantas natildeo eacute suficiente para legitimar sua eficaacutecia e
seguranccedila como medicamento Este uso tem de passar pela experimentaccedilatildeo comprovada
diante dos benefiacutecios que possam conter (BADKE 2008)
No entanto o uso medicinal das plantas eacute uma das praacuteticas mais antigas no trato de
enfermidades no homem e isso proveacutem do conhecimento popular Para Diegues e Arruda
httpwwwantropologiasocialcombra-etnoecologia-uma-ciencia-pos-normal-que-estuda-as-sabedorias-
tradicionaispdf 45 A Etnobiologia eacute o estudo cientiacutefico da dinacircmica de relacionamentos entre as pessoas e seus grupos culturais e o meio ambiente desde o passado ateacute o tempo presente Para maior aprofundamento no assunto visitar o site
httpwwwetnobiologiaorgindexphp
68
(2001) o conhecimento tradicional soacute pode ser interpretado dentro do contexto cultural em
que eacute gerado Entretanto vemos que a modernidade traz novos modos de vida que estatildeo
desvinculados das tradiccedilotildees populares Com as grandes mudanccedilas entre as realidades
culturais o contato com o outro passa a ser visto de forma diferente o outro pode ser
percebido como superior e a cultura de um grupo pode ser desvalorizada omitida negada e
esquecida (CASTELLS 1999)
Na comunidade de Pimenteiras os uacutenicos recursos medicinais vecircm do conhecimento
tradicional do saber das plantas que aleacutem de proporcionar benefiacutecios agrave sauacutede do corpo e
tambeacutem da alma possui um significado cultural para a comunidade No entanto a
continuidade dessas praacuteticas estaacute ameaccedilada por diversos fatores ligados ao dinamismo social
agrave economia e agrave cultura externa
Contudo eacute necessaacuterio indagar qual a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o
saber popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras O que eacute
Terminologia Buscamos no toacutepico seguinte responder tais questionamentos direcionados ao
campo de conhecimento cientiacutefico na seara dos estudos terminoloacutegicos a serem explanados
sobre as plantas medicinais
32A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS ESPECIALIZADOS
Segundo a anaacutelise de Vygotsky (1896-1934) uma palavra que natildeo representa uma
ideia eacute algo morto da mesma forma que uma ideia natildeo incorporada em palavras natildeo passa de
uma sombra Nomear significa pois dar vida ao ser nomeado Haacute muito tempo o homem cria
e utiliza as palavras para nomear conceitos objetos e processos nas diversas aacutereas do
conhecimento Ao nomear as realidades que nos cercam cria-se um universo que passa a ser
desvendado pela linguagem Nessa construccedilatildeo do real a liacutengua revela aspectos que marcam
os sujeitos produzindo distinccedilotildees que particularizam os objetos e identificam os traccedilos da
cultura de um povo
Refletindo sobre os aspectos da linguagem de um povo podemos analisar diferentes
termos utilizados para nomear e particularizar o objeto nomeado Nesse acircmbito os estudos
cientiacuteficos direcionados agrave Terminologia crescem cada vez mais em pesquisas na aacuterea da
linguagem especializada O leacutexico de uma liacutengua eacute uma forma de registrar o conhecimento do
mundo a nossa volta ao darmos nomes agraves coisas identificamos as semelhanccedilas e os traccedilos
69
distintivos que individualizam cada objeto a ser nomeado por meio de estruturas que o
homem cria no mundo atraveacutes das palavras ou termos46
Entretanto agrave medida que vivemos
novas realidades surgem e satildeo criadas ampliando assim o leacutexico com novas dimensotildees
impossiacuteveis de serem registradas e descritas por meio de um dicionaacuterio
Diante dos questionamentos sobre a nomeaccedilatildeo surge como ciecircncia a Terminologia
inicialmente frente agrave necessidade de uma padronizaccedilatildeo da linguagem ou seja de
normatizaccedilatildeo da Liacutengua devido ao grande desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico ocorrido
no decorrer da histoacuteria humana A Terminologia conforme afirma Rondeau eacute a linguagem
especializada que haacute seacuteculos faz parte da linguagem humana
A terminologia natildeo eacute um fenocircmeno recente Com efeito tatildeo longe quanto se
remonte na histoacuteria do homem desde que se manifesta a linguagem nos
encontramos em presenccedila de liacutenguas de especialidade eacute assim que se encontra a
terminologia dos filoacutesofos gregos a liacutengua de negoacutecios dos comerciantes cretas os
vocaacutebulos especializados da arte militar etc (RONDEAU 1984 apud KRIEGER
FINATTO 2004 p 24)
Assim observa-se que na Liacutengua o ato de nomear tem sua forma natural de ser e
por isso segue rigorosamente sua natureza de fazer Os nomes mudam porque sempre se pode
acrescentar ou tirar letras de sua forma Contudo todos os nomes vecircm de acordos ou
convenccedilotildees entre os falantes sendo que em cada grupo social e cultural os nomes variam de
acordo com o que estiver convencionado pelo grupo Deste modo os nomes variam de povo
para povo de falante para falante porque seguem a tradiccedilatildeo natural de se nomear (PLATAtildeO
1973)
O modo como organizamos as nossas relaccedilotildees e comportamentos numa comunidade
especiacutefica pode ser percebido dentro do contexto social em que a linguagem eacute aplicada das
escolhas que fazemos dos nossos valores culturais das nossas normas de comportamento e
ateacute mesmo na nossa proacutepria filosofia de vida Eacute atraveacutes dos estudos terminoloacutegicos que
podemos analisar o modo como cada pessoa cada grupo social cada comunidade molda a
linguagem ao lado de suas bases culturais discursos e objetivo na comunicaccedilatildeo
Perante agraves variantes dentro da Liacutengua a terminologia em todo seu desenvolvimento
e reconhecimento de valor apresenta hoje um estudo sobre a comunicaccedilatildeo especializada
dentro do contexto social no qual privilegia a variaccedilatildeo dos termos como constitutivos do
discurso este estudo recebe o nome de Socioterminologia
46 O termo eacute o elemento linguiacutestico que constitui a expressatildeo lexical dos saberes especializados Eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da produccedilatildeo do saber ou seja a univocidade da comunicaccedilatildeo especializada eacute
favorecida pelo uso dos termos
70
A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma
terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua
aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das
praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis
porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam
entre trabalho e linguagem (GAUDIN 1993 p 216)
Diante das exposiccedilotildees feitas sobre a Terminologia seguiremos no toacutepico abaixo com
os pontos relacionados a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada campo este de
grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos A partir dele observamos qual a
importacircncia de analisar a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras
321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada
Sabendo que o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e coletiva num
processo no qual o sujeito interage com a realidade as pessoas e o ambiente sociocultural
Faulstich (1995 p 281) afirma que no campo da linguagem ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo
no universo da terminologia revelam peculiaridades proacuteprias a serem estudadas pela
disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para a sistematizaccedilatildeo de termos e de
variantesrdquo
Percebendo que a linguagem especializada natildeo eacute uma liacutengua artificial e sim uma
realizaccedilatildeo da liacutengua natural que possui todas as particularidades pertencentes a qualquer
liacutengua viva observou-se que as diferenciaccedilotildees ocorridas na linguagem vecircm da diversidade
dos discursos na liacutengua e na cultura de cada povo No que concerne ao termo linguagem
especializada Finatto explica que
Uso o termo linguagem especializada e natildeo ldquolinguagem de especialidaderdquo por
entender que natildeo haveria uma ldquoposserdquo estrita dessa linguagem pelo usuaacuterio ou pela
aacuterea de saberconhecimento Entendo que eacute a linguagem que se faz diferenciada ela
se altera em alguns de seus formatos pela accedilatildeo dos sujeitos envolvidos e pelas condiccedilotildees pragmaacutetico-linguumliacutesticas e situacionais da comunicaccedilatildeo entre profissionais
(FINATTO 2004 p 342)
Quanto agrave existecircncia de variantes terminoloacutegicas Faulstich (2001 p 22) defende que
dependendo da funccedilatildeo realizada nos contextos o termo pode assumir diversos valores
71
ldquoConsideramos mais uma vez que variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a
comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica faz do termordquo (FAULSTICH
2OO1 p 22)
Faulstich (2001 p 21) explica que a Socioterminologia eacute necessaacuteria para analisar os
termos variantes dentro de uma metodologia particular Para a autora a Socioterminologia jaacute
era prenuacutencio para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de
natureza social Em suas pesquisas em 1995 e em estudos posteriores em 1996 e 1998
apresenta os fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos da variaccedilatildeo em terminologia Contudo eacute
somente em 1999 que a pesquisadora propotildee uma teoria da variaccedilatildeo com base numa nova
proposiccedilatildeo de anaacutelise do termo sob a perspectiva sincrocircnica e diacrocircnica
Segundo a pesquisadora as variantes terminoloacutegicas classificam-se de acordo com
sua natureza linguiacutestica e ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas variantes eacute tarefa da socioterminologia
cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da diversidade de termos que ocorrem nos planos
vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo (FAULSTICH 2006 p 29)
Seguindo um modelo funcionalista que tem como objeto cientiacutefico descrever e
explicar os proacuteprios fenocircmenos linguiacutesticos Faulstich (1996 p 1 apud CRUZ 2013 p 32)
explica que no exame da funcionalidade socioterminoloacutegica no qual a base de dados eacute a
linguagem especializada a variaccedilatildeo social do termo ocorre nos diversos niacuteveis hieraacuterquicos
do discurso cientiacutefico (CRUZ 2013 p 32)
Cruz (2013 p 35) explica que ldquoa variaccedilatildeo ocorre pela accedilatildeo do movimento gradual
do termo no tempo e no espaccedilo provocada pela funccedilatildeo de uma dada variaacutevelrdquo Observando
todos esses aspectos Faulstich (1998 p 13) amplia a tipologia das variantes trazendo assim
as variantes concorrente47
as variantes coocorrentes48
e as variantes competitivas49
Nesse
campo Cruz (2013 p 34) expotildee que
As variantes terminoloacutegicas concorrentes no qual se inscrevem os dois grupos de
tipologias apresentados anteriormente a saber as variantes terminoloacutegicas linguiacutesticas e as variantes terminoloacutegicas de registro as variantes terminoloacutegicas
coocorrentes e as variantes terminoloacutegicas competitivas
Ao compreender as diferentes variaccedilotildees dentro dos diversos discursos da Liacutengua
Cruz (2013) explica que para a construccedilatildeo da Teoria da Variaccedilatildeo em Terminologia Faulstich
47 Tambeacutem chamada de ldquoVariante formalrdquo as variantes concorrentes satildeo aquelas que podem concorrer entre si e
permanecer como tais no estrato ou que podem concorrer para a mudanccedila 48As variantes coocorrentes ou ldquoSinoniacutemias terminoloacutegicasrdquo satildeo aquelas que tecircm duas ou mais denominaccedilotildees
para um mesmo referente 49 ldquoEmpreacutestimos linguiacutesticosrdquo ou variantes competitivas satildeo aquelas que relacionam significados entre itens
lexicais de liacutenguas diferentes quer dizer itens lexicais de uma liacutengua B preenchem lacunas de uma liacutengua A
72
(2001 p 54) levou em conta que a unidade terminoloacutegica o termo ldquopode assumir diferentes
valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha nos contextos de
ocorrecircnciardquo Com efeito o termo seraacute funcional dentro de uma linguagem especializada
porque assumiraacute uma funccedilatildeo especiacutefica de determinado valor de acordo com o contexto de
uso Sob um ponto de vista socioterminoloacutegico Faulstich restaura a ideia de que a variaccedilatildeo eacute
tambeacutem um fenocircmeno terminoloacutegico e que o seu estudo deve ser desenvolvido no acircmbito da
terminologia (CRUZ 2013 p 39-40)
Compreendendo que eacute na linguagem que ocorre frequentemente a variaccedilatildeo
terminoloacutegica no que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais observamos que os
diferentes fatores sociais culturais e histoacutericos interferem na variaccedilatildeo terminoloacutegica
reafirmando um caraacuteter especiacutefico na linguagem de uso dos moradores da regiatildeo de
Pimenteiras Ao estudar as unidades terminoloacutegicas de um determinado domiacutenio Faulstich
(2006 p 27) explica que as condiccedilotildees sociais em que a comunicaccedilatildeo dessas unidades ocorre
seratildeo estudadas pela Socioterminologia
Para falar de terminologia em sentido mais estrito quer dizer de terminologia como
disciplina que sistematiza termos e conceitos eacute preciso falar tambeacutem do discurso de
onde proveacutem Neste caso excetuando o linguajar corriqueiro que como jaacute se disse
apresenta grande quantidade de terminologias usadas no dia-a-dia eacute preciso
considerar que pelo menos trecircs discursos estatildeo na base da produccedilatildeo terminoloacutegica
isso porque nenhum termo eacute usado fora da situaccedilatildeo discursiva em que eacute criado
Assim sendo discursos de diversas naturezas como o cientiacutefico o teacutecnico e o de
vulgarizaccedilatildeo satildeo a fonte natural de onde emergem os termos usados nas
comunicaccedilotildees entre profissionais Muitos desses termos entram vulgarizados no leacutexico comum por meio dos mais diversos recursos como a metaacutefora a elipse a co-
referecircncia entre outros sem por isso perderem o sentido de base Eacute este sentido
que ativa o senso comum e difunde o conceito original
O movimento do termo na linguagem especializada eacute explicado pela
Socioterminologia que tem como base a variaccedilatildeo do termo no campo social que antes era
visto como invariaacutevel Nesse sentido a variaccedilatildeo e as mudanccedilas na sociedade provocam
transformaccedilotildees no termo que eacute gerado usado e modificado
Faulstich (1995 p 7) valoriza a Socioterminologia como uma nova abordagem para
anaacutelise do termo na comunicaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica Contudo adverte que a
Socioterminologia ldquonatildeo eacute de fato uma disciplina derivada da sociolinguiacutestica poreacutem natildeo se
pode negar que eacute a visatildeo mais flexiacutevel da sociedade e da comunidade que conduz os
especialistas em terminologia a esse novo percursordquo Diante disso em sua anaacutelise a
pesquisadora acrescenta que
73
Como ramo da terminologia a socioterminologia eacute um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos
a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da
elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a
sociedade (2006 p 30)
Sabendo que os termos da linguagem especializada estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo seja no
tempo espaccedilo ou na sociedade a variaccedilatildeo nos estudos terminoloacutegicos ndash por exemplo os
termos de uso popular sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras ndash passa a ser
reconhecida como fenocircmeno natural descrita e analisada de forma cientiacutefica pela
Socioterminologia Perceber como os termos sobre as plantas medicinais passam pela
variaccedilatildeo de seus elementos eacute tambeacutem entender a cultura histoacuteria e identidade de um povo
pois eacute por meio do estudo da variaccedilatildeo dos termos de Pimenteiras que compreendemos as
constantes mudanccedilas e evoluccedilotildees que acontecem com os moradores da regiatildeo trazendo assim
o entendimento sobre os domiacutenios de especialidade na Liacutengua que distinguem a trajetoacuteria
identitaacuteria dos quilombolas
Diante do que foi explanado ateacute aqui examinaremos na seccedilatildeo seguinte como as
questotildees ocorridas no acircmbito social passaram a ser consideradas relevantes nos estudos
terminoloacutegicos ou seja a necessidade de compreender o funcionamento da linguagem
especializada no contexto social da comunidade de Pimenteiras tendo a contribuiccedilatildeo da
Socioterminologia nesse estudo sobre os termos das plantas medicinais
33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL
A anaacutelise dos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade
de Pimenteiras por via dos estudos socioterminoloacutegicos se deu a partir da necessidade de
compreender como a liacutengua funciona no contexto na comunidade pois observamos que toda
sociedade se encontra em constante transformaccedilatildeo e com ela a linguagem eacute vista como uma
das mais fortes interventoras nos comportamentos sociais
Sabendo que a Socioterminologia privilegia os aspectos sociais da linguagem de
especialidade e preocupa-se com os aspectos sociais e variacionista da liacutengua ou melhor com
o uso real da linguagem especializada Faulstich apresenta a Socioterminologia como um
ramo da Terminologia que
74
Se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as
circunstacircncias da elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a
terminologia e a sociedade (2006 p 29)
A Socioterminologia se baseia na observaccedilatildeo do funcionamento da linguagem e no
estudo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos termos Com a posiccedilatildeo de disciplina de
caraacuteter teoacuterico e natildeo somente de um meacutetodo analiacutetico aplicado a Socioterminologia contribui
para o desenvolvimento de pesquisas teoacuterico-praacuteticas que levem em conta o termo e suas
variantes Como praacutetica do trabalho terminoloacutegico a Socioterminologia segundo Faulstich
(1995) fundamenta-se na anaacutelise das condiccedilotildees de circulaccedilatildeo do termo no funcionamento da
linguagem Com caraacuteter descritivo a Socioterminologia estuda o termo sob o aspecto da
linguiacutestica na interaccedilatildeo social no qual sua pesquisa deve ter o auxiacutelio dos criteacuterios da
variaccedilatildeo e da mudanccedila dos termos no meio social como tambeacutem dos princiacutepios etnograacuteficos
que trazem os conceitos interacionistas entre os membros da sociedade No contexto da
variaccedilatildeo terminoloacutegica Faulstich (1995) explica que
O termo perde cada vez mais sua caracteriacutestica de entidade uniacutevoca em favor de
uma interpretaccedilatildeo variacionista que considera as diversidades de comunicaccedilatildeo entre
pessoal de direccedilatildeo de setores administrativos de setores de pesquisa de produccedilatildeo e
de comercializaccedilatildeo dentro das empresas o meio mais adequado para a descriccedilatildeo dos
termos cientiacuteficos e teacutecnicos
Essa interpretaccedilatildeo socioterminoacutelogica vem da etnografia que tem por base o caraacuteter
interacionista ou seja o engajamento entre as pessoas e a influecircncia muacutetua de uns para com
os outros no contexto social Faulstich (1995) explica que ao registrar as variaccedilotildees ocorridas
no campo social deve-se levar em conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico
em que os termos circulam
Diante dos conceitos explanados sobre os aspectos da variaccedilatildeo observa-se que a
Socioterminologia focaliza os dados terminoloacutegicos na pluralidade da liacutengua constituindo
normas que evidenciam o uso da variaccedilatildeo Assim Faulstich (2006) expotildee que ldquoas variantes
decorrem de uso em contextos discursivos de diferentes niacuteveis do movimento da liacutengua no
percurso histoacuterico de empreacutestimos de usos regionais entre outras categorias desde que
mantenham o significado implicadordquo
Observamos assim que a Socioterminologia assume um caraacuteter descritivo na
linguagem especializada em uso dando maior ecircnfase agrave comunicaccedilatildeo que traz em seu contexto
manifestaccedilotildees discursivas que necessitam dos elementos da variaccedilatildeo (GAUDIN 1993)
Segundo Barros (2004 p 69) o pesquisador Gaudin (1993) expotildee que eacute fundamental para a
75
Socioterminologia levar em consideraccedilatildeo o uso dos termos e situar a linguagem especializada
em seu contexto social Desse modo ldquoa praacutetica terminoloacutegica eacute inseparaacutevel tanto do
conhecimento do espaccedilo da accedilatildeo onde ela se daacute quanto das praacuteticas de linguagem que visam
modificar ou assegurarrdquo (GAUDIN 1993 p 212 apud BARROS 2004 p 69)
Nas pesquisas de Faulstich (1995) o termo em estudos anteriores deveria ser uma
unidade denotativa sem relaccedilotildees sinoniacutemicas ou polissecircmicas Hoje a praacutetica terminoloacutegica
demonstra que um mesmo conceito poderaacute ser expresso por termos que apresentem variaccedilotildees
sejam elas morfoloacutegicas regionais ou socioprofissionais Eacute este o princiacutepio subjacente agrave
Socioterminologia conforme exposto pela pesquisadora
A socioterminologia eacute portanto um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o
conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na
planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da elaboraccedilatildeo
desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a sociedade
(FAULSTICH 2006)
Nos estudos socioterminoloacutegicos como jaacute foi mencionado a base eacute a anaacutelise das
condiccedilotildees de funcionamento dos termos como elementos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dentro
de um sistema linguiacutestico e socialTais elementos foram adquiridos por meio dos princiacutepios da
sociolinguiacutestica sob a perspectiva da variaccedilatildeo e dos princiacutepios etnograacuteficos que vem da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo social Com caraacuteter descritivo e social a Socioterminologia defende
uma variaccedilatildeo sociodiscursiva na linguagem terminoloacutegica Segundo Faulstich (2001 p 22)
ldquoas variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social
linguumliacutestica e geograacutefica fazem do termordquo Nesse acircmbito a comunicaccedilatildeo deve ser observada in
vivo devido agrave funccedilatildeo do contexto social pragmaacutetico e discursivo no qual os termos circulam
isto se opotildee intensamente ao condicionamento in vitro imposto pela teoria wusteriana
Analisamos assim que a base dos estudos socioterminoloacutegicos estaacute na variaccedilatildeo e na
etnografia de ordem interativa ou seja os termos catalogados sobre as plantas medicinais da
comunidade de Pimenteiras foram analisados nos diferentes niacuteveis sociais e culturais em que
ocorrem Verificamos que na linguagem especializada sobre as plantas medicinais os termos
deixam de ser uma unidade uniacutevoca para serem meditados na interpretaccedilatildeo variacionista em
que a comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade eacute motivada por diferentes termos para
um mesmo conceito ou por vaacuterios conceitos para um mesmo termo
Diante de tais aspectos precisamos conhecer e analisar os contextos sociais
religiosos culturais de gecircnero e da identidade quilombola nos quais a linguagem ocorre
tomando como foco os saberes medicinais sobre as plantas da regiatildeo respeitando e analisando
76
por meio dos estudos socioterminoloacutegicos os termos catalogados pelos moradores sem
interferir no estado natural desse objeto de estudo a fim de garantir a fidelidade dos dados e
dos resultados alcanccedilados na pesquisa de campo A Socioterminologia eacute pois uma ciecircncia
que reconhece a variaccedilatildeo terminoloacutegica
A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma
terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua
aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das
praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis
porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam
entre trabalho e linguagem (GAUDIN apud FAULSTICH 2006 p216)
Compreendendo que a variaccedilatildeo eacute um fator universal da linguagem humana e que
esse mesmo fator tambeacutem estaacute presente na linguagem especializada verificamos em Gaudin
(1993 p 16) que ldquoa socioterminologia pode levar em conta o real do funcionamento da
linguagem e restituir toda sua dimensatildeo social agraves praacuteticas linguageiras concernentesrdquo Apoacutes
essas discussotildees notamos a necessidade de valorizar os termos no ambiente discursivo
pragmaacutetico e social em que satildeo produzidos trazendo um diaacutelogo entre as aacutereas de saber Eacute
por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos que podemos valorizar e divulgar o conhecimento
popular sobre as plantas medicinais dos moradores da comunidade de Pimenteiras assunto
este que apresentamos no toacutepico seguinte
331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da Socioterminologia
Compreendemos que o conhecimento eacute uma expressatildeo utilizada para demonstrar
toda a experiecircncia adquirida ateacute o presente momento na histoacuteria do ser humano Somos a
soma das invenccedilotildees pensamentos criaccedilotildees da mente humana Soacutecrates (470-399 aC apud
PESSANHA 1980) jaacute dizia que o verdadeiro conhecimento vem de dentro de noacutes que natildeo eacute
encontrado apenas nos documentos mas tambeacutem nos processos e nas praacuteticas dos grupos
humanos que por meio das experiecircncias acumuladas entre as geraccedilotildees aumentam a
produtividade e conquista de novas oportunidades de conhecer
Etimologicamente a palavra conhecimento eacute derivada do latim cognitio que
significa ato ou accedilatildeo de aprender Nesse sentido aprender eacute a capacidade de absorvermos
atraveacutes dos sentidos as experiecircncias externas e a partir delas acrescentar novos
77
conhecimentos Na medida em que evoluiacutemos percebemos que o conhecimento eacute o meio que
processa o envolvimento humano com os dados e informaccedilotildees dessa accedilatildeo de conhecer que eacute
tatildeo fundamental a todos noacutes pois que algueacutem deu o conhecimento a um contexto a um
significado a uma interpretaccedilatildeo que refletiu sobre o saber e acrescentou a ele sua proacutepria
sabedoria
A abrangecircncia que o termo ldquoconhecimentordquo possui eacute muito importante para
compreendermos nossa proacutepria vivecircncia de conhecer o mundo que nos rodeia Diante desse
contexto observamos que existem definiccedilotildees diferentes para cada campo do conhecimento
Tomando os estudos de Marcondes (2001) percebemos os seguintes tipos de conhecimento
O Conhecimento Cientiacutefico que vem das leis e sistemas que explicam de modo
racional com base na experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo investigaccedilatildeo e na loacutegica sistemaacutetica do que
esta sendo observado Lopes (1999 p 106) escreve que o conhecimento cientiacutefico eacute ldquotodo
conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por excelecircncia sem
influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e provado a partir dos dados da
experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e experimentaccedilatildeordquo Esta aacuterea do conhecimento eacute
extremamente analiacutetica e objetiva Tendo relaccedilatildeo com a racionalidade suas anaacutelises satildeo
importantes no processo de construccedilatildeo do saber cientiacutefico de forma que suas caracteriacutesticas
se tornam praticamente uma antiacutetese ao conhecimento popular
O Conhecimento Popular ou Empiacuterico tambeacutem conhecido como tradicional tem
relaccedilatildeo com a hereditariedade cultura e senso comum do homem Eacute uma forma de reflexatildeo
passiva acriacutetica e assistemaacutetica que vai aleacutem da subjetividade e superficialidade Estaacute baseado
nas experiecircncias vividas ou observadas pelo homem sem teacutecnicas ou meacutetodos O
conhecimento ocorre pelo uso dos sentidos podendo ser passiacutevel ao erro dedutivo por ter
mais questotildees pessoais do que cientiacuteficas
O Conhecimento Filosoacutefico estaacute relacionado agrave ideias e conceitos que satildeo construiacutedos
pela busca da verdade do mundo atraveacutes da indagaccedilatildeo priorizando assim um olhar sobre a
condiccedilatildeo humana Existem questotildees que somente a capacidade humana de refletir e raciocinar
podem responder assuntos que nem a ciecircncia consegue pois satildeo temas inerentes ao homem
A racionalizaccedilatildeo eacute o principal instrumento de uso com isso pode-se dizer que este
conhecimento eacute reflexivo loacutegico criacutetico racional e subjetivo
O Conhecimento Teoloacutegico por sua vez esta direcionado para conhecer e provar a
existecircncia de Deus e dos textos escritos na Biacuteblia tomando-os como verdades incontestaacuteveis
Obtido atraveacutes das ideias e axiomas da feacute tenta responder as questotildees inerentes ao homem em
relaccedilatildeo agrave sua existecircncia atraveacutes da concepccedilatildeo divina do mundo
78
Perante os tipos de conhecimentos expostos percebemos que em todo lugar que
olhamos o homem eacute capaz de criar meacutetodos de entendimento de tudo aquilo que ele absorve
do ambiente em que vive Assim observamos que na comunidade de Pimenteiras os
moradores quilombolas obtiveram o conhecimento sobre as plantas medicinais por meio do
conhecimento popular atraveacutes da relaccedilatildeo com sua cultura local seus antepassados e com sua
Liacutengua de modo a construir experiecircncias que ateacute hoje comungam com sua identidade
Nesse sentido somos a soma de nossa heranccedila bioloacutegica social e histoacuterica sendo
atraveacutes da linguagem e da cultura que nos constituiacutemos em seres com a capacidade de
conhecer e de adquirir conhecimento Por isso liacutengua eacute mais do que instrumento de
conhecimento ela eacute constitutiva dele Para Matos (2011 p 3) ldquoa liacutengua eacute incubadora da
identidade reproduz significados que se deslocam afetados pela memoacuteria e eacute submetida ao
movimento da ideologia imposto pela histoacuteria estando portanto atrelada a aspetos poliacuteticos e
eacuteticosrdquo
No que concerne agrave Liacutengua analisamos que o conhecimento sobre seu funcionamento
eacute fundamental para noacutes falantes Esse conhecimento estaacute impliacutecito em nosso ser e vem de
uma capacidade que nos permite apreender e dominar a liacutengua que utilizamos O
conhecimento linguiacutestico eacute parte de todos noacutes falantes de uma determinada liacutengua ou seja eacute
parte do nosso saber porque nascemos com essa capacidade
Assim como a liacutengua a Terminologia eacute tambeacutem uma praacutetica cognitiva linguiacutestica e
social Boulanger (2001 p 13 apud Rodrigues 2010 p 33) explica que a Terminologia ldquoeacute
uma praacutetica cognitiva na medida em que repousa sobre o conhecimento eacute uma praacutetica
linguiacutestica devido agrave noccedilatildeo termo ou praacutetica social especializada na medida em que o saber
circula em todas as sociedades humanasrdquo Eacute diante desse conhecimento da linguagem de
especialidade no contexto social que a Socioterminologia surge para identificar e analisar os
saberes especializados na liacutengua
Eacute evidente que o conhecimento cientiacutefico se faz necessaacuterio ao estudo terminoloacutegico
aqui proposto sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras Entretanto o
conhecimento popular transmitido entre as geraccedilotildees quilombolas eacute basilar para esta pesquisa
pois eacute a partir deste saber tradicional que buscamos analisar sob o olhar Socioterminoloacutegico
os elementos relacionados aos termos sobre as plantas medicinais Popularizar e valorizar o
conhecimento tradicional por meio do saber cientiacutefico eacute fundamental para conhecermos as
diversidades em nossa liacutengua como tambeacutem de nossa cultura
Observamos que o conhecimento cientiacutefico eacute aquele que pode ser provado atraveacutes de
inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute que seja incorporado pela ciecircncia Para Marconi e Lakatos
79
(2003 p 75) o conhecimento cientiacutefico ldquo[] eacute transmitido por intermeacutedio de treinamento
apropriado sendo um conhecimento obtido de modo racional conduzido por meio de
procedimentos cientiacuteficosrdquo
Com relaccedilatildeo ao conhecimento popular este por um longo tempo foi ignorado pelos
cientistas Entretanto hoje a situaccedilatildeo eacute diferente pois segundo Posey (1987) eacute por meio do
resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes tradicionais que surgem novas reflexotildees que datildeo grande
importacircncia desses saberes para o nosso proacuteprio benefiacutecio Diante disso Silva (2002 p 26)
argumenta que ldquo[] os estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular
tecircm merecido atenccedilatildeo cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm
oferecendo agraves ciecircncias do homemrdquo
Eacute fato e natildeo desmerecemos que o conhecimento cientiacutefico tecircm um papel muito
importante para a nossa cultura no entanto eacute preciso acolher com a mesma intensidade os
saberes populares para buscarmos compreender e analisar as diferentes culturas e linguagem
especializadas pois ldquo[] o que leva um ao conhecimento cientiacutefico e outro ao vulgar ou
popular eacute a forma de observaccedilatildeordquo (MARCONI LAKATOS 2005 p 76) Para isso a
Socioterminologia como ciecircncia busca analisar e fazer dialogar os diversos aspectos
relacionados agrave linguagem especializada levando em consideraccedilatildeo o acircmbito social em que
circundam os termos sobre os saberes populares das plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras
Diante desse contexto percebemos o quanto eacute importante analisarmos os termos
sobre as plantas medicinais do ponto de vista discursivo no uso concreto da linguagem
teacutecnica com caraacuteter variacionista e como os estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais
nesse processo Eacute por meio de seus meacutetodos de anaacutelise e descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de
variaccedilatildeo no contexto social e linguiacutestico que seguimos no toacutepico seguinte nas discussotildees
sobre o termo base do estudo socioterminoloacutegico
332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico
Segundo os estudos de Krieger e Finatto (2004) o termo eacute o elemento linguiacutestico que
constitui a expressatildeo lexical do saber especializado eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da
produccedilatildeo dos saberes De forma concisa entendemos que a palavra e o termo satildeo unidades
parecidas ao serem descritas por um conjunto de caracteriacutesticas linguiacutesticas sistemaacuteticas
80
referindo-se a um elemento da realidade A palavra ao tomar parte de um acircmbito
especializado eacute considerada um termo e a carga semacircntica confere no aspecto linguiacutestico o
que o diferencia da palavra
O termo caracteriza-se no sentido de que para uma noccedilatildeo dada haacute teoricamente uma uacutenica denominaccedilatildeo Esta caracteriacutestica do termo se funda sobre um postulado
da terminologia o da relaccedilatildeo de univocidade entre denominaccedilatildeo (significante) e
noccedilatildeo (significado relaccedilatildeo do tipo reflexiva) (RONDEAU apud KRIEGER 2004 p
77)
Sendo um objeto de estudo das ciecircncias terminoloacutegicas o termo eacute investigado numa
dimensatildeo pragmaacutetica discursiva e sociolinguiacutestica Faulstich (2006) explica que a teoria da
variaccedilatildeo terminoloacutegica propotildee uma releitura da definiccedilatildeo do objeto de estudo da
Socioterminologia que eacute o termo Para a autora (2006 p 28) ldquouma unidade terminoloacutegica
pode ter ou assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel
desempenha nos contextos de ocorrecircnciardquo
Nos estudos de Rodrigues (2010 p 36) o termo pode ser apreendido como um signo
que encontra funcionalidade na linguagem de especialidade como uma entidade variante que
se apoia nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo social e como um item do leacutexico especializado que
passa por processos de evoluccedilatildeo Desta forma o termo eacute visto como fenocircmeno linguiacutestico
variaacutevel que encontra na terminologia diferentes resultados de uso dos falantes nos diversos
contextos sociais geograacuteficos e linguiacutesticos Diante disso Gouadec (apud KRIEGER 2004 p
77) expotildee que ldquoum termo eacute uma unidade linguiacutestica que designa um conceito um objeto ou
um processo O termo eacute a unidade de designaccedilatildeo de elementos do universo percebido ou
concebido Ele raramente se confunde com a palavra ortograacuteficardquo
Considerando o princiacutepio da variaccedilatildeo em toda a sua dimensatildeo o pesquisador
Rodrigues (2010) acrescenta que o termo passa a ser visualizado como uma unidade lexical
que sofre todas as implicaccedilotildees sistecircmicas e contextuais proacuteprias a qualquer palavra no
contexto comunicativo da liacutengua Para Barros (apud KRIEGER FINATTO 2004) o termo eacute
uma unidade do leacutexico com conteuacutedo especiacutefico dentro de um domiacutenio tambeacutem particular
que pode ser descrito e analisado em diferentes aspectos relacionados ao significante e
significado agraves relaccedilotildees com outros termos e ao ponto de vista sociolinguiacutestico com isso
observamos que haveraacute melhor sustentaccedilatildeo teoacuterica ao trabalho estudado na comunidade de
Pimenteiras
Por ser um objeto de estudo da Socioterminologia Gaudin (1993) lembra que deve
haver uma aproximaccedilatildeo discursiva dos termos pois segundo o pesquisador as unidades
81
terminoloacutegicas devem ser analisadas em sua condiccedilatildeo de produccedilatildeo discursiva e de interaccedilatildeo
entre conhecimentos No que concerne ao conhecimento ele eacute sempre foi e seraacute uma forma
moacutevel de cultura De forma cientiacutefica ou de saber popular o conhecimento humano chega a
cada geraccedilatildeo a cada comunidade com a marca dos tempos povos e lugares por onde passou
Eacute atraveacutes da transferecircncia do conhecimento por meio da Liacutengua que as sociedades se formam
as tradiccedilotildees dos povos sofrem mudanccedilas ou satildeo abolidas em troca de outras Contudo eacute pelo
aparecimento de novos conceitos e pela aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos que outras capacidades
cognitivas se desenvolvem e formam outros conhecimentos
Sabendo que o conhecimento pode tambeacutem ser transmitido por meio da linguagem
verificaremos na anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais os
aspectos relacionados agrave representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras pois
compreendemos que eacute por meio da linguagem que criamos expressamos e designamos os
conceitos e objetos nos diversos campos de conhecimento
Nos estudos de Cruz (2014 p 98) ela expotildee que ldquoos termos satildeo criados e se
desenvolvem em uma liacutengua concreta porque as ideias processos ou objetos que esses termos
designam foram criados pela sociedade que deles se utilizardquo Ela explica que os termos satildeo
resultado de convenccedilotildees ou preferecircncias individuais possuindo relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas
do objeto nomeado Eacute nesse campo que as anaacutelises dessas carateriacutesticas satildeo necessaacuterias para
observar se as denominaccedilotildees satildeo fruto de ideias do conhecimento da aacuterea ou por modismos
(CRUZ 2014)
No campo da linguagem percebemos que os termos sobre as plantas medicinais satildeo
utilizados na comunidade de Pimenteiras atraveacutes da interaccedilatildeo entre a cultura a natureza e as
origens de um povo que transmitiu seus conhecimentos entre as geraccedilotildees por meio da liacutengua
Atraveacutes das concepccedilotildees explanadas sobre a linguagem ldquopodemos dizer que uma terminologia
natildeo se insere em uma liacutengua mas em uma linguagem especiacutefica desenvolvida a partir de um
universo de discurso criado por uma comunidade em um dado campo do saberrdquo (SANTOS
2010 p 06)
Nesse contexto Krieger e Finatto (2004 p75) explicam que ldquoo termo ou unidade
terminoloacutegica eacute simultaneamente elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber e componente
linguiacutestico cujas propriedades favorecem a univocidade da comunicaccedilatildeo especializadardquo
Por ter um caraacuteter natural os termos funcionam como um elemento dos sistemas
linguiacutesticos que estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo sendo esta inerente em qualquer liacutengua a variaccedilatildeo
terminoloacutegica ocorre no acircmbito do uso especializado Nesse sentido Cruz (2012) expotildee que a
82
comunicaccedilatildeo especializada de melhor qualidade eacute construiacuteda a partir do reconhecimento da
naturalidade e inerecircncia da variaccedilatildeo terminoloacutegica como um tipo de variaccedilatildeo linguiacutestica
Na anaacutelise socioterminoloacutegica verificamos alguns aspectos da variaccedilatildeo dos termos
sobre as plantas medicinais de Pimenteiras mostrando como os termos variam de acordo com
as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos observando na linguagem especializada a
naturalidade e inerecircncia presentes nos termos a serem analisados proporcionando a
particularizaccedilatildeo e identidade da comunidade
Por ser uma unidade de conhecimento que estaacute constantemente se relacionando com
seu significado o termo segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos Assim antes de analisar
se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade verificamos que a
definiccedilatildeo deles eacute muito importante para o contexto de uso dos estudos teoacutericos da
Socioterminologia que descreve os termos dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber
especializado Segundo os estudos de Lara (2004 p 93) ldquouma definiccedilatildeo eacute um enunciado que
descreve um conceito permitindo diferenciaacute-lo de outros conceitos associadosrdquo Sager (1990
apud LARA 2004 p 93) expotildee ainda que ldquoa definiccedilatildeo eacute uma explanaccedilatildeo aceita do
significado especializado de itens lexicais cuja ocorrecircncia pode ser documentada em vaacuterias
fontesrdquo Diante disso utilizamos no percurso da anaacutelise dos termos medicinais sobre as
plantas a definiccedilatildeo do saber subjetivo de uma moradora da regiatildeo de Pimenteiras
Nos estudos da definiccedilatildeo terminoloacutegica dos termos Lara (2004 p 94) contribui
expondo que ldquoa definiccedilatildeo terminoloacutegica eacute classificadora hierarquizante estruturante
relaciona-se agrave definiccedilatildeo da coisardquo ou seja a definiccedilatildeo natildeo eacute uacutenica ela varia de acordo com a
fonte escolhida Assim procuramos nos estudos socioterminoloacutegicos trazer a definiccedilatildeo dos
termos sobre as plantas medicinais pois a Socioterminologia ldquoeacute uma disciplina que se ocupa
da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguiacutesticas dos termos em diferentes tipos
de situaccedilatildeo de uso da liacutengua nos diversos niacuteveis e planos hieraacuterquicos do discursordquo (CRUZ
2012 p 100)
Cruz acrescenta que nos estudos de Faulstich (1998) ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas
variantes eacute tarefa da Socioterminologia cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da
diversidade de termos que ocorrem nos planos vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo
Perante a diversidade dos termos e consequentemente da variaccedilatildeo em suas definiccedilotildees
utilizamos no processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Faulstich
(1996) uma amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees tidas sobre os termos a partir
da variaccedilatildeo terminoloacutegica que fundamenta os dados a serem analisados
83
Nos estudos de Cruz (2014 p113) sobre a variaccedilatildeo dos termos a pesquisadora
explica que ldquoo processo de variaccedilatildeo se daacute dentro de um construto teoacuterico em que variaacuteveis
produzem variantes que funcionam nas liacutenguas de acordo com as funccedilotildees que elas venham a
ter no discurso de especialidade ou na liacutengua comumrdquo Nos estudos socioterminoloacutegicos
Faulstich (1995 apud CRUZ 2012) propotildee uma abordagem funcionalista do termo que eacute a
base da pesquisa socioterminoloacutegica defendendo uma estreita relaccedilatildeo entre termo e variaccedilatildeo
Outro postulado defendido por Faulstich (1998 1999) eacute sobre a anaacutelise do termo que deve
ser visto sob duas perspectivas sincrocircnica e diacrocircnica assim ela resume que
Termos satildeo signos que encontram sua funcionalidade nas linguagens de especia-
lidade de acordo com a dinacircmica das liacutenguas satildeo entidades variantes porque fazem
parte de situaccedilotildees comunicativas distintas satildeo itens do leacutexico especializado que
passam por evoluccedilotildees por isso devem ser analisados no plano sincrocircnico e no plano diacrocircnico das liacutenguas (FAULSTICH 1999 p 28)
Outro aspecto importante a ser mencionado eacute com relaccedilatildeo agrave estrutura do termo que
pode se apresentar de forma simples complexa ou composta Esse campo leacutexico-semacircntico e
morfossintaacutetico do termo eacute tomado pelos estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) que
explanam sobre a estrutura simples constituiacuteda de um radical e por estruturas complexas e
compostas em que ocorre a presenccedila de dois ou mais radicais diferenciados pela presenccedila do
hiacutefen nos termos compostos enquanto que nos termos complexos ocorre os processos de
composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo50
ou justaposiccedilatildeo51
das palavras No caso da
comunicaccedilatildeo especializada o que predomina satildeo os termos complexos por poder assumir
diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo
reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico
Quando utilizamos um termo num determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e
permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo internalizadas na liacutengua que por ser um
sistema dinacircmico passa a ser enriquecida por neologismos Assim veremos que os estudos de
Pottier (1978) e de Barros (2007) sobre o termo no que concerne agrave sua estrutura
morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica satildeo caracterizadas como simples compostas ou
complexas
Em presenccedila das concepccedilotildees explanadas sobre o termo observamos que o
conhecimento que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem sobre as plantas
50Aglutinaccedilatildeoconsiste na junccedilatildeo de duas ou mais palavras com o objetivo de formar uma terceira palavra poreacutem
uma delas ou as duas sofreraacute alguma mudanccedila na sua forma ganhando ou perdendo letras fonemas ou
morfemas
51Justaposiccedilatildeo satildeo as palavras apenas justapostas uma ao lado da outra e estando juntas formaratildeo uma terceira
palavra Neste caso as palavras ficam intactas natildeo perdendo nenhum item da sua forma
84
medicinais satildeo as marcas de seus antepassados de sua identidade de sua histoacuteria como
quilombolas satildeo marcas de sua linguagem diante da diversidade na natureza Natildeo usamos a
liacutengua sempre da mesma forma mas adequamos nossa linguagem agrave situaccedilatildeo comunicativa em
que estamos inseridos Assim os usos que fazemos em nossa liacutengua satildeo o reflexo tambeacutem
da nossa proacutepria histoacuteria Nesse contexto damos iniacutecio no capiacutetulo seguinte sobre a
metodologia utilizada para fundamentar esta pesquisa levando em consideraccedilatildeo os objetivos
as etapas da pesquisa as pessoas e as dificuldades encontradas no percurso do trabalho
85
4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo apresentamos os motivos escolhas e as etapas metodoloacutegicas feitas
durante a pesquisa de campo na comunidade de Pimenteiras As fases para a constituiccedilatildeo
deste trabalho dissertativo tecircm suas bases nos estudos da Socioterminologia com o uso de
instrumentos tecnoloacutegicos antes durante e apoacutes o trabalho de campo Dentre as ferramentas
tecnoloacutegicas empregadas utilizamos diversas entrevistas transcriccedilotildees dos diaacutelogos e registro
de dados sobre os termos medicinais das plantas As ferramentas usadas foram o Software
Transana52
as fichas terminoloacutegicas gravador de voz maacutequina fotograacutefica e questionaacuterios
usados nas entrevistas Eacute fato que muitas dificuldades surgiram no percurso do trabalho
apesar disso a coleta dos dados foi imprescindiacutevel para a pesquisa sobre os termos das plantas
de uso medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras
41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE
PIMENTEIRAS
Realizar uma investigaccedilatildeo baseada na pesquisa de campo supotildee planejar previamente
o curso a seguir na construccedilatildeo do trabalho Eacute fato que o pesquisador encontra diversos
imprevistos que dificultam a pesquisa a ser realizada Compreendendo isso optamos em
conhecer participar e analisar a comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras no
setor das plantas medicinais Observamos que as condiccedilotildees naturais do tempo
influenciarammuito na pesquisa aleacutem da dificuldades encontradas no trajeto ateacute a
comunidade Apesar disso a riqueza em informaccedilotildees a biodiversidade da regiatildeo e o
consentimento dos moradores para a realizaccedilatildeo da pesquisa proporcionaram maior firmeza
para a continuidade do trabalho
Na intenccedilatildeo de fornecer dados confiaacuteveis e de qualidade para esse estudo buscamos
visitar e manter contato contiacutenuo com os moradores da comunidade de Pimenteiras Cada
52 O Transana foi criado por pesquisadores e para pesquisadores a fim de atender as necessidades profissionais
de quem executa entrevistas com trabalhos de campo pode serusado em diversas aacutereas do conhecimento mas
nessa pesquisa de base socioterminoloacutegica nosso estudo eacute constituiacutedo de um corpus de liacutengua oral As vantagens
do software eacute que oferece a visualizaccedilatildeo de vaacuterias janelas como o aacuteudio viacutedeo transcriccedilatildeo base de dados e visualizaccedilatildeo do material a ser transcrito isto proporciona maior seguranccedila e agilidade no processo
86
encontro foi planejado ora com entrevistas gravadas e filmadas ora com registro de fotos e
coleta de dados sobre as plantas Tudo no intuito de conhecer descrever e analisar os dados
com maior seguranccedila e veracidade pois cada ponto foi imprescindiacutevel para a fundamentaccedilatildeo
do trabalho dissertativo
Os dados sobre as plantas de uso medicinal foram organizados por alguns moradores
da regiatildeo durante os trabalhos com o Bioenergeacutetico de acordo com o saber que possuem
Estes dados foram catalogados e analisados dentro do contexto socioterminoloacutegico da
pesquisa em questatildeo Nosso intuito eacute analisar o saber popular sobre os termos catalogados das
plantas de uso medicinal levando em consideraccedilatildeo a linguagem especializada dos termos
medicinais adquiridos pelo repasse entre as geraccedilotildees pela relaccedilatildeo com a natureza e por
saberes conseguidos pelo contato com outros conhecimentos de caraacuteter cientiacutefico sobre o
poder de cura das plantas
A comunidade remanescente de quilombo de Pimenteiras estaacute localizada na regiatildeo
agriacutecola da cidade de Santa Luzia do Paraacute distante 30 km da cidade Hoje cerca de vinte oito
(28) famiacutelias vivem na comunidade sobrevivendo da agricultura criaccedilatildeo de gado e accedilaiacute
Devido agrave sua localizaccedilatildeo em aacuterea rural os moradores de Pimenteiras vivem do plantio e dos
saberes que possuem sobre as plantas medicinais devido agrave distacircncia e dificuldades para
conseguir tratamento meacutedico o saber sobre as plantas de uso medicinal tornou-se recurso
indispensaacutevel no trato das muitas doenccedilas A partir disso alguns moradores quilombolas
trabalharam por algum tempo com o Bioenergeacutetico nesse periacuteodo foram orientados por
representantes do CEDENPA para coletar amostras de plantas no trato medicinal Junto agraves
amostras os moradores escreveram os nomes de cada planta de acordo com o saber que
adquiriram com seus antepassados
Aleacutem da quantidade de conhecimento que a comunidade possui a particularidade
linguiacutestica sobre os nomes de cada planta de uso medicinal eacute muito importante nesse estudo
Por isso foram necessaacuterios diversos encontros com os moradores para conhecer e colher
maiores informaccedilotildees para esse trabalho A comunidade de Pimenteiras estaacute constituiacuteda de
expressivos elementos culturais que vecircm desde a proacutepria descendecircncia quilombola ateacute o
saber que possuem sobre as plantas por meio da valorizaccedilatildeo e fortalecimento de sua memoacuteria
coletiva Seus moradores apesar das inuacutemeras dificuldades e preconceitos vividos buscam
preservar sua identidade e serem reconhecidos pela sociedade pois a interaccedilatildeo participativa
entre os diferentes saberes existentes na comunidade promove um sentimento de
pertencimento diante das diferenccedilas culturais que devem ser respeitadas e apreciadas
87
Entendemos que o conhecimento eacute algo que estaacute em constante construccedilatildeo e
reconstruccedilatildeo e que as influecircncias que vivemos ajustam esse processo Particularmente o
conhecimento dos moradores da comunidade de Pimenteiras estaacute nessa frequecircncia que se
interpotildee entre os saberes vindos de geraccedilotildees passadas combinadas agrave presenccedila de novos
conhecimentos Diante da imensa contribuiccedilatildeo ao conhecimento cientiacutefico eacute respeitaacutevel
buscar conhecer os saberes vindos dos moradores remanescentes de quilombo para que os
mesmos sejam reconhecidos como identidade cultural sobre as plantas
Objetivamos nesse trabalho analisar os termos catalogados sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras sob a perspectiva socioterminoloacutegica dos termos no
contexto da linguagem especializada dos moradores remanescentes de quilombo observando
os aspectos sociais culturais e religiosos em que estatildeo inseridos e assim compreendermos a
identidade do povo da regiatildeo Analisando os termos identificamos que no campo da
Socioterminologia as palavras registradas sobre as plantas medicinais fazem parte do domiacutenio
especializado da liacutengua e expressam uma forte identidade no universo sociocultural dos
moradores quilombolas de Pimenteiras fazendo com que a comunidade adquira traccedilos que
distinguem e identificam sua cultura
Os dados catalogados foram registrados transcritos e definidos de acordo com o
saber de um morador da comunidade de Pimenteiras Na anaacutelise socioterminoloacutegica dos
termos todos foram definidos e estruturados por meio de fichas terminoloacutegicas para melhor
visualizaccedilatildeo das unidades que compotildeem as palavras coletadas junto da definiccedilatildeo
adicionamos as imagens de cada termo nomeado
42 A PESQUISA DE CAMPO
Registrar os termos de uma linguagem especializada requer preservar a legitimidade
que cada indiviacuteduo possui no uso da liacutengua Durante o processo de pesquisa vaacuterias etapas
foram executadas para que as anaacutelises fossem alcanccediladas As pessoas foram muito
importantes para que o estudo se desenvolvesse ao longo desse periacuteodo de anaacutelise
socioterminoloacutegica dos termos
Como criteacuterio de seleccedilatildeo escolhemos uma (01) moradora remanescente de
quilombola da comunidade de Pimenteiras a senhora Domingas Alves do Nascimento pelo
conhecimento popular sobre as plantas medicinais que ela deteacutem e tambeacutem pelo fato de ser
88
uma das pessoas que coletaram amostras das plantas medicinais Aleacutem disso Domingas eacute
uma representante da associaccedilatildeo AQUAFAP que sempre realizar atividades relacionadas a
valorizaccedilatildeo e aos direitos dos moradores de Pimenteiras
No aspecto religioso ela sempre estaacute engajada na cerimocircnia em homenagem agrave Nossa
Senhora do Livramento e mesmo com tantos trabalhos a serem executados na comunidade a
moradora estaacute sempre disposta e atenta para fazer com que a comunidade tenha seus direitos
garantidos e sua cultura e preservada
Durante a pesquisa foram realizadas entrevistas com outras pessoas que forneceram
informaccedilotildees importantes sobre a histoacuteria religiatildeo e cultura dos moradores da comunidade de
Pimenteiras No entanto a moradora Domingas foi incansaacutevel em suas contribuiccedilotildees A partir
dela o interesse em pesquisar sobre os termos catalogados das plantas de uso medicinal se
tornou fascinante
Dona Domingas eacute uma mulher que respeita suas origens e utiliza os saberes
transmitidos por sua matildee e sua avoacute materna a ponto de ser conhecida na regiatildeo como a
ldquosenhora das ervasrdquo aleacutem de trabalhar na agricultura com o marido ela tambeacutem ajuda na
fabricaccedilatildeo de produtos naturais na associaccedilatildeo dos agricultores quilombolas de Santa Luzia do
Paraacute bem como realiza trabalhos relacionados com a comunidade e sua famiacutelia
Devido aos saberes que possui sobre as plantas Domingas recebe grande ajuda de
diversas pessoas que tambeacutem tecircm interesse pela cura atraveacutes das plantas medicinais como eacute o
caso da senhora Maria de Nazareacute Reis uma engenheira agrocircnoma que trabalha no CEDENPA
assessorando os grupos de mulheres associaccedilotildees cooperativas de agricultores rurais e
familiares dentro da Rede Bragantina atraveacutes de cursos direcionados agrave nutriccedilatildeo alimentaccedilatildeo
saudaacutevel agricultura familiar e uso das plantas para cura de doenccedilas como forma de
incentivo aos pequenos trabalhadores rurais sobre a Produccedilatildeo Agroecoloacutegica53
Vale ressaltar que os saberes que a moradora Domingas possui estatildeo preservados em
sua memoacuteria e que esse trabalho procura basicamente conhecer registar e analisar as
palavras no contexto da linguagem especializada sobre as plantas medicinais que satildeo de uso
natildeo apenas da senhora Domingas mas tambeacutem dos moradores quilombolas de Pimenteiras
No que concerne agraves dificuldades enfrentadas no percurso da pesquisa inicialmente o
acesso agrave comunidade foi o que trouxe mais problemas principalmente nos periacuteodos de chuva
Em muitos momentos foi necessaacuterio modificar o percurso a ser seguido e redirecionar novos
53 A agroecologia eacute uma ciecircncia que dialoga com as diversas dimensotildees do conviacutevio humano como a ecologia a
socioeconocircmica a cultura e sociopoliacutetica eacute o conhecimento que vai aleacutem da produccedilatildeo que se insere num sistema de transformaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de uma agricultura socialmente mais justa economicamente viaacutevel e
ecologicamente apropriada
89
planos para que a pesquisa continuasse Eacute fato que esse trabalho natildeo envolve um amplo
levantamento acerca dos conhecimentos e saberes contidos nos moradores de Pimenteiras
contudo essa eacute uma amostra diante das inuacutemeras possibilidades do conhecimento popular a
ser registrado
No percurso da pesquisa diversos instrumentos foram utilizados para registrar cada
elemento relacionado agrave comunidade e aos informantes como gravador de voz maacutequina
fotograacutefica para o registro de imagens fichas com questionaacuterios a serem respondidos pelas
informantes aplicativos para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica das gravaccedilotildees como o Transana e os
termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da regiatildeo elemento esse de grande
importacircncia na pesquisa
Diante das exposiccedilotildees apresentadas ressaltamos que os dados catalogados sobre os
termos das plantas medicinais satildeo a base deste trabalho que busca analisar sob o olhar
socioterminoloacutegico cerca de quarenta e dois (42) termos registrados e preservados por uma
das moradoras da comunidade Na sequecircncia observaremos a maneira como foram tratados
os dados catalogados para essa pesquisa
43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS
Considerando que o meacutetodo desta pesquisa procede de forma qualitativa em que se
analisam os dados catalogados dos termos sobre as plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras sob os estudos da Socioterminologia passaremos a expor os principais
procedimentos que foram utilizados para que os dados da pesquisa fossem registrados e
analisados
431 Entrevistas
No andamento da pesquisa diversas entrevistas formais e informais ocorreram com
as informantes As conversas formais foram registradas seguindo um fichaacuterio contendo
diversas perguntas relacionadas agrave comunidade quilombola e agraves plantas medicinais As
90
entrevistas foram armazenadas atraveacutes da gravaccedilatildeo de voz que posteriormente foi transcrita
de forma Grafemaacutetica54
As perguntas foram especiacuteficas para cada informante de acordo com o campo de
trabalho por eleela desenvolvido Por exemplo com a senhora Domingas foram direcionadas
perguntas sobre a famiacutelia comunidade descendecircncia saberes sobre as plantas e crenccedila nas
mesmas Aleacutem dessa entrevista houve tambeacutem a gravaccedilatildeo com a senhora Domingas sobre
as definiccedilotildees que a moradora possui de cada termo sobre as plantas medicinais A transcriccedilatildeo
com tais definiccedilotildees foi armazenada nas fichas terminoloacutegicas utilizadas para melhor
visualizaccedilatildeo dos dados registrados Todas essas informaccedilotildees estatildeo anexadas neste trabalho
mostrando os pontos relevantes que delineiam o caraacuteter da pesquisa
432 Recursos de anaacutelise dos dados
A transcriccedilatildeo grafemaacutetica foi executada atraveacutes do software Transana versatildeo 21255
gratuita para download que foi desenvolvido para analisar dados audiovisuais Este recurso
foi escolhido para que pudeacutessemos dar o tratamento adequado aos dados orais das gravaccedilotildees
obtidas em entrevistas Em seguida utilizamos por base as normas de transcriccedilatildeo de Koch
(1997) as transcriccedilotildees grafemaacuteticas foram feitas no software Transana devido o programa
permitir a conexatildeo entre o texto transcrito em momentos especiacuteficos do viacutedeo com o aacuteudio da
entrevista
433 Termos Catalogados
Com relaccedilatildeo aos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal pelos
moradores da comunidade quilombola de Pimenteiras usamos o registro das imagens junto
com as fichas terminoloacutegicas com as definiccedilotildees de cada termo Procuramos nesse momento
respeitar a forma escrita de cada termo registrado pelos moradores As amostras das plantas
54 Os dados registrados na Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica estatildeo nos apecircndices deste trabalho 55 Pesquisado em 11 de agosto de 2015 as 2231 hs no site httpwwwtransanaorgdownloadwhatsnewhtm
91
foram dissecadas com o uso de jornais pelos moradores na eacutepoca em que trabalharam com o
Bioenergeacutetico Ateacute hoje esse material estaacute guardado pela moradora Domingas
Durante a pesquisa registramos as imagens das plantas vivas em seu habitat natural
para que pudeacutessemos perceber as caracteriacutesticas de cada uma e consequentemente observar a
relaccedilatildeo com o nome que possuem Ao registrarmos as imagens das plantas outras espeacutecies
foram identificadas pelos moradores como medicinal isto ampliou a quantidade de termos
catalogados e possivelmente outros mais permanecem ocultos na regiatildeo Todos os termos
catalogados estatildeo nos apecircndices com as definiccedilotildees junto de suas respectivas imagens
92
5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE UM POVO
Compreender as pessoas como seres introduzidos em redes de significados pensar
nos sujeitos da maneira como eles se identificam entendendo as particularidades de sua
cultura vivenciando-a acompanhando-os em muitos momentos procurando entender o que
eles fazem e como fazem esse processo foi importante para compreender as distinccedilotildees dos
elementos que compotildeem dentro e fora a comunidade quanto aos saberes sobre as plantas de
uso medicinal observando que tais saberes constituem a identidade cultural dos moradores no
que diz respeito agrave biodiversidade na comunidade de Pimenteiras
Utilizamos uma metodologia vinda da observaccedilatildeo das praacuteticas sociais das
entrevistas com os sujeitos da pesquisa da catalogaccedilatildeo dos dados sobre as plantas e da
transcriccedilatildeo das definiccedilotildees de cada termo que se tornou fundamental para a anaacutelise dos dados
catalogados na comunidade Buscamos natildeo apenas registrar fatos mas analisar a relaccedilatildeo que
os termos possuem dentro dos aspectos sociais apresentando assuntos relacionados agrave religiatildeo
cultura e de identidade proporcionando assim o reconhecimento de conhecimentos
tradicionais preciosos para o estudo cientiacutefico atraveacutes dos saberes de um povo suas lutas sua
natureza e linguagem
Conhecida e reconhecida por sua biodiversidade Pimenteiras eacute identificada pelos
saberes sobre as plantas medicinais Os moradores da comunidade satildeo descendentes de negros
escravos conhecidos como quilombolas e muitos adquiriram de seus antepassados
conhecimentos sobre o uso das plantas para a cura dos males do corpo Assim sendo
procuramos nesse contexto apresentar a anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos da
comunidade de Pimenteiras considerando os aspectos da variaccedilatildeo terminoloacutegica na
linguagem suas motivaccedilotildees no ato de nomear e as relaccedilotildees associativas que geram novas
nomeaccedilotildees e tambeacutem novas variaccedilotildees por conseguinte abordamos os termos sobre as
plantas medicinais com foco na sua estrutura morfossintaacutetica observando que na variaccedilatildeo o
termo pode ou natildeo ser alterado em seu radical formando novas composiccedilotildees sejam elas
simples compostas ou complexas na sequecircncia desses estudos dos termos chegamos agrave
anaacutelise da definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas que de forma
subjetiva procurou descrever cada planta nas suas particularidades
A necessidade sociocultural humana de estabelecer relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
promove a accedilatildeo de transformar o vocabulaacuterio da liacutengua constantemente para o surgimento de
novas palavras Mas de onde vecircm as palavras Compreendendo que as palavras satildeo criadas de
93
forma consciente para dar nome agraves coisas entendemos que com o passar do tempo as
palavras sofrem transformaccedilotildees que trazem tambeacutem a modificaccedilatildeo no sentido Assim a
linguagem eacute o campo no qual o homem exprime seus sentimentos e pensamentos em uma
comunicaccedilatildeo interpessoal ou grupal construindo uma sociedade capaz de desenvolver sua
cultura e saber que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
No que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais analisamos inicialmente
se o domiacutenio estudado pertence apenas ao campo da medicina caseira Segundo a Norma da
ISO 1087 (2000) o domiacutenio eacute decidido como parte do saber cujos limites satildeo definidos
conforme um ponto de vista particular Em seguida acolhemos a definiccedilatildeo descritiva da
moradora Domingas que buscou de acordo com seus saberes definir os termos sobre as
plantas catalogados na regiatildeo de Pimenteiras
Os dados analisados nesse trabalho satildeo constituiacutedos no total de quarenta e dois (42)
termos que foram catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras Diante da quantidade descrita utilizaremos alguns termos em diferentes aspectos
a serem considerados Os elementos presentes na ficha terminoloacutegica de cada termo seratildeo
analisados a partir da definiccedilatildeo descritiva no contexto que a senhora Domingas expocircs sobre
as plantas para isso utilizamos um modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich
(1996) usado pela Universidade de Brasiacutelia (UNB) contendo os elementos constitutivos dos
termos para uma melhor visualizaccedilatildeo dos lexemas e de seus elementos constituintes
analisando junto a isso a variaccedilatildeo de alguns termos que estatildeo relacionados de forma
associativa com certa caracteriacutestica da planta Isso se faz importante para melhor
compreendermos as nomeaccedilotildees e as significaccedilotildees descritas pela moradora nesse processo de
nomeaccedilatildeo relacionado ao conhecimento de mundo dos moradores da comunidade de
Pimenteiras
Com base nos estudos socioterminoloacutegicos explanados nesse trabalho dissertativo
analisamos as particularidades de cada termo demonstrando as definiccedilotildees descritas sobre as
caracteriacutesticas das plantas medicinais de Pimenteiras junto a isso apresentamos as imagens
das plantas registradas durante a pesquisa de campo na comunidade Para cada termo
apresentado utilizamos duas (02) imagens registradas em seu ambiente natural uma com a
imagem integral da planta e a segunda imagem com uma especialidade da planta No total
ocorreu o registro das folhas das plantas Isso se faz importante para tambeacutem verificarmos as
especificidades de cada planta no seu aspecto anatocircmico
Para tratar das questotildees da variaccedilatildeo existente sobre os termos das plantas medicinais
de Pimenteiras tomamos como contexto de anaacutelise somente os termos catalogados sobre as
94
plantas pesquisadas na comunidade por meio da moradora Domingas Com o objetivo de
examinar as variaccedilotildees destes termos foram necessaacuterios diversos encontros para cataloga-los
registrar as imagens das plantas e gravar as definiccedilotildees descritivas pela senhora Domingas
Assim os objetos desse estudo satildeo os termos sobre as plantas medicinais utilizados pelos
moradores da regiatildeo no seu contexto social
A quantidade de termos sobre as plantas medicinais existentes na comunidade eacute
enorme entretanto dado o nuacutemero de termos sobre as plantas medicinais e de suas variantes
na linguagem especializada metodologicamente trabalhamos com um total de quarenta e dois
(42) termos que foram coletados registrados em imagens e definidos em fichas
terminoloacutegicas Pesquisando a origem dessas variantes atribuiacutedas aos termos sobre as plantas
medicinais percebemos que o seu surgimento ocorre das mais variadas formas possiacuteveis O
principal modo de formaccedilatildeo das variantes eacute a partir da associaccedilatildeo relacionada com a forma
tamanho cor e funccedilatildeo das plantas medicinais As formaccedilotildees geradas por relaccedilotildees associativas
satildeo caracteriacutesticas que pertencem naturalmente agrave Terminologia
Assim vejamos uma sequecircncia das anaacutelises dos termos sobre as plantas medicinais
da comunidade de Pimenteiras observando suas imagens como tambeacutem seus elementos
constitutivos na ficha terminoloacutegica de cada termo descrito no contexto da moradora
Domingas Neste capiacutetulo apresentamos doze (12) termos de um total de quarenta e dois (42)
Os demais se encontram nos apecircndices deste trabalho Por meio da ficha terminoloacutegica criada
por Faulstich (1996) contendo a definiccedilatildeo descritiva da moradora Domingas observamos os
aspectos relacionados ao clima origem caracteriacutesticas da espeacutecie formas e utilidade
medicinal de cada planta catalogada Alguns termos apresentaram variantes e nesse acircmbito
compreendemos as relaccedilotildees associativas do nome com as caracteriacutesticas das plantas
Observemos na sequecircncia a anaacutelise dos termos catalogados na comunidade de
Pimenteiras
51 MUCURACAacute
Haacute muito tempo o ser humano cria e utiliza as palavras para expressar designar
conceitos objetos e processos de diferentes campos do conhecimento tudo isso eacute feito por
meio da linguagem A linguagem verbal eacute uma entidade social que possui aspectos materiais e
simboacutelicos que estatildeo ligados agrave consciecircncia e agrave subjetividade humana em que cada falante
95
compartilha seus saberes por meio da liacutengua A liacutengua tem uma estrutura imutaacutevel e apesar
disso estaacute em constante variaccedilatildeo eacute um instrumento que pode causar emancipaccedilatildeo e poder
um objeto do conhecimento em que inuacutemeros modelos teoacutericos surgiram com a pretensatildeo de
descrever e explicar sua essecircncia
Os moradores da comunidade de Pimenteiras demonstram em sua linguagem o
saber de uma cultura rica e distintiva Podemos perceber na anaacutelise dos termos as
particularidades que evidenciam tal grandeza Observemos na anaacutelise do termo ldquoMucuraraacuterdquo
por meio da ficha terminoloacutegica a descriccedilatildeo subjetiva que a moradora quilombola expocircs
sobre cada planta catalogada Vejamos
TERMO 01 ndash ldquoMUCURACAacuterdquo
Fotografia 14 ndash Mucuracaacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 15 ndashFolha do Mucuracaacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
96
Quadro 01 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute
Lx Lexema Mucuracaacute
V Variante Tipi
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Co Contexto eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que pra
espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode
plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal () primeiro tinha aquele
problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do
mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia doseacuteh e pra isso aquela enjoaccedilatildeo aquele
aborrecimento isso taacuteele eacute bem pequenhinho ele eacute uma planta tambeacutem neacuteele eacute
pequeno a folha ele eacute que nem a japana ele eacute do mesmo modelo da japana assim neacuteele eacute pequeno folhinha dele eacute bem escurinha bem escura assim verdinho escuro
afolhinha dele neacuteeacuteh da folha e do pau e da raiz ( )ele eacute grande ele no maacuteximo que
tem eacute trecircs palmo se ele tiver trecircs palmo neacuteele eacute conhecido por dois nomes mucuracaacute
e tipi tipe sim o maranhense praticamente o maranhense soacute conhece po tipi nois
paraense que conhece por mucuracaacute natildeo soacute o nome que mudanum sei tambeim natildeo
tambeim natildeo o cheiro dele tambeim eacute muito forte eacute o cheiro dele um ser cheiro assim
de alho querado e com muitas horas assim tem um alho que a gente quebra com
muitas horas deixa assim e vai cheirar pois assim que eacute o cheiro dele assim um cheiro
forte mucuracaacute mucuracaacutecom cheiro muito forte parece alho usadomuitu forti
Fc Fonte do
Contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas a casca do caule e a raiz
Fu Formas de uso
Usada na forma de chaacutes e para fazer banhos contra febre dor de cabeccedila mal olhado quebrante
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota O termo eacute conhecido como ldquoTipirdquo (falado no Estado do Maranhatildeo)
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Os dados apresentados na ficha terminoloacutegica sobre o termo ldquoMucuracaacuterdquo explanam
as caracteriacutesticas pertencentes agrave espeacutecie em seu contexto social Por ser uma planta de cheiro
forte e marcante eacute utilizada em banhos para as enfermidades do corpo e da alma Conhecida
tambeacutem pela variante ldquoTipirdquo suas utilidades medicinais vatildeo aleacutem dos benefiacutecios agrave sauacutede pois
eacute uma planta usada para afastar problemas espirituais como quebrante e questotildees negativas
contra a alma O fato de cultivar a planta proacutexima agrave casa tem o significado de proteccedilatildeo
espiritual aos moradores da comunidade de Pimenteiras Observemos no contexto apresentado
por Domingas
[] eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que
pra espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode
plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal ( ) primeiro tinha aquele
97
problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia [] (informaccedilatildeo verbal)56
Aleacutem da definiccedilatildeo descritiva do termo ldquoMucuracaacuterdquo utilizamos tambeacutem como
anaacutelise dos termos o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com as
informaccedilotildees especiacuteficas sobre os elementos presentes em cada termo Este formato da ficha
terminoloacutegica eacute importante para melhor visualizaccedilatildeo dos dados analisados pois observamos
cada informaccedilatildeo contida sobre os termos catalogados aleacutem da definiccedilatildeo descrita pela senhora
Domingas Os aspectos pertinentes na ficha satildeo o Lexema (Lx) as Variantes (V) a
Classificaccedilatildeo Gramatical (Cg) o Contexto (Co) a Fonte do Contexto (Fc) as Partes de Uso
(Pu) Formas de Uso (Fu) a Finalidade (Fn) os Dados do Informante (Di) os Dados do
Pesquisador (Dp) Notas (Nt) e a Data da Coleta (Dc)
Observamos que nos estudos atuais da liacutengua o leacutexico estende-se para aleacutem da
Terminologia e chega aos estudos da Sociolinguiacutestica57
e da Etnolinguiacutestica58
pois a liacutengua
de modo geral reflete marcas sociais e culturais dos falantes Assim observemos na
sequecircncia os demais termos e suas anaacutelises identificando as caracteriacutesticas de um povo e de
sua liacutengua
52 ERVA DE JABUTI
Nos estudos do termo sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras o aspecto socioterminoloacutegico eacute muito importante pois o termo pode apresentar
variaccedilotildees por vezes dentro de uma mesma aacuterea de especialidade Esse conceito traz um olhar
novo com perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural a respeito dos termos analisados sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras mostrando as influecircncias da cultura negra na
linguagem No que compete ao aspecto da linguagem Travaglia (2002 p 23) expotildee que ldquoa
linguagem eacute pois um lugar de interaccedilatildeo humana de interaccedilatildeo comunicativa pela produccedilatildeo de
efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e em um
56Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoMucuracaacuterdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015 57Sociolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda as relaccedilotildees entre liacutengua e sociedade e daacute ecircnfase ao caraacuteter
institucional das liacutenguas Eacute o estudo do comportamento linguiacutestico dos membros de uma comunidade e de como
ele eacute determinado pelas relaccedilotildees sociais culturais e econocircmicas existentes
58Etnolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda a relaccedilatildeo da linguagem e a cultura das comunidades A etnologia eacute o estudo antropoloacutegico dos povos e sua cultura analisando sua linguagem e como ela estaacute
relacionada agraves peculiaridades da vida primitiva suas crenccedilas e folclores
98
contexto soacutecio-histoacuterico e ideoloacutegicordquo Observemos as variaccedilotildees ocorrentes com o termo
ldquoErva de Jabutirdquo
TERMO 02 ndash ldquoERVA DE JABUTIrdquo
Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti
Lx Lexema Erva de Jabuti
V Variantes Coraccedilatildeo de Jabuti Coraccedilatildeozinho Comida de Jabuti
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto ela eacute uma planta di todu cantu tantu ambienti abertu ou fechadu ela daacute ela ela eacute
uma planta assim pequenauma erva ( ) ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela
eacute um formatu dum coraccedilatildeu coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu
grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha
neacute ela num eacute dessas avres assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua
dela a folhinha dela tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa
cheia di aacutegua eacute uma folha assim ( ) ela num ela num eacute aquela folha seca assim durinha
fina ela eacute uma folhinha assim bem gordinha cheinha neacute tantu faz a folha comu us
galhinhus dela ela bota uma uma bajizinha uma bajizinha forma dum duma baji di
pimenta du reinu soacute qui eacute bem piquininha eacute naquela forma da baji di pimenta du reinu
sabi neacute cumeacute aquela baginha assim soacute que eacute bem piquininha ( ) bem zititinha porque ela ela eacute uma planta pequena ela tem aqueli formatu da pimenta mais ela eacute miudinha eacute
teacute que ela eacute uma planta nativa tambeacutem ela num eacute assim uma planta cuidada ela eacute
nativa e assim nos quin no quintau ela gosta muitu de nascer im quintal eacuteh sozinha
eacute num precisa cultivar ela eacute ela eacute du quintau ela eacute assim du canteru ela nasce nu
canteru assim ela nascifriu ambiente frio daacute mais com certeza( )
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e os talos da planta
Fu Formas de Usada na forma de chaacutes para Ameba
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti
99
uso
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Os nomes tecircm relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas das plantas nos aspectos da funccedilatildeo e do
formato
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Com o termo ldquoErva de Jabutirdquo observamos que a planta apresenta mais de uma
variaccedilatildeo para a mesma palavra Algumas estatildeo relacionadas com a forma e tamanho daiacute suas
variantes serem conhecidas como ldquoCoraccedilatildeo de Jabutirdquo ou ldquoCoraccedilatildeozinhordquo o termo variante
tambeacutem possui relaccedilatildeo com a funccedilatildeo de servir de alimento para o animal por isso recebe a
terminologia de ldquoComida de Jabutirdquo Podemos perceber como a linguagem especializada
utilizada pelos moradores quilombolas de Pimenteiras apresenta variantes formadas pela
relaccedilatildeo associativa com as caracteriacutesticas descritas sobre as plantas medicinais da regiatildeo
Vejamos no contexto abaixo
[] ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela eacute um formatu dum coraccedilatildeu
coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha neacute ela num eacute dessas avres
assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua dela a folhinha dela
tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa cheia di aacutegua eacute uma
folha assim [](informaccedilatildeo verbal)59
Os termos e suas variantes estatildeo relacionados com a aacuterea de saber dos moradores
quilombolas sobre as plantas medicinais Nesse contexto os saberes de um povo se
manifestam e satildeo preservados na linguagem especializada e por conseguinte marcam os
conhecimentos tradicionais dos moradores de Pimenteiras Nas relaccedilotildees sociais da
comunidade as pessoas vivenciam de forma individual e coletiva sua linguagem Assim
vejamos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo considerado um conhecimento novo para os
moradores de Pimenteiras
59Transcriccedilatildeo Grafematica do termo ldquoErva de Jabutirdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015
100
53 NONI
Para a Terminologia o termo eacute a denominaccedilatildeo de um conceito que tem no
conhecimento especializado uma expressatildeo comunicativa cognitiva e complexa pois natildeo haacute
conhecimento especializado sem uma terminologia Assim Benveniste (1989 p 252) expotildee
que ldquoUma ciecircncia soacute comeccedila a existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e
em que impotildee seus conceitos atraveacutes de sua denominaccedilatildeo Ela natildeo tem outro meio de
estabelecer sua legitimidade senatildeo por especificar seu objeto denominando-o []rdquo Notemos
assim a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo e suas caracteriacutesticas na ficha terminoloacutegica
TERMO 03 ndash ldquoNONIrdquo
Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni
Lx Lexema Noni
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Co Contexto eacutehnoni eacute famoso ele ele cura ocacircncer neacuteentau ele previne ele nem cura como
prenine o cacircncer neacuteeacuteh o suco eacute na garrafada eu praticamente uso na garrafada
toda as minhas guarrafadas eu colo eacute mais natildeo garrafada ele natildeo fica fedorento natildeo
porque na garrafada a gente ponha ele verde e rodela a rodelinha e coloca pra secar e na hora da garrafada a gente tritura ele bem bem miudinho e bota na garrafada
ele natildeo fica natildeo tem gosto de nada agora o suco dele ele ele maduro have maria eacute
muito ruiacute neacute((sorriu)) eacuteh mas ele eacute assim mas na garrafada a gente pode usar ele
ninguei nem percebe se tem ele eacute muito assim ele eacute muito eacute um remeacutedio que ele eacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 19 ndash Folha do Noni Fotografia 18 ndash Noni
101
muito bom e ele ele assim nem tanto cura como previne as doenccedila como eacute bom pra
inflamaccedilatildeo pra infecccedilatildeo eacute muito rui neacuteaiacute a inflamaccedilatildeo ela vira infecccedilatildeo e aiacute eacute muito
bom pra usar ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que
eu conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais
trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute ela eacute uma planta e o fruto dele a
folha dele eacute bem grande bem grande a folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma
lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os frutos dele neacute((sorriu)) pois eacute ((sorriu))
pois eacute eacute soacute usa o fruto e pra isso e um da nunca ouviu falar eacute soacute e o fruto mesmo ela
ela conhece eacuteh que neacutea gente usa neacutea gente usa direito ela ajunta pra mim por
que peacute no meu quintau natildeo tem tambeacutem natildeo natildeo tem natildeo ela sempre a gente leva
daiacute
Fc Fonte
docontexto
A informante
Pu Partes de
uso
Eacute utilizado o fruto e as folhas em sucos e na garrafada
Fu Formas de
uso
Corta as rodelas da fruta colocando para secar e depois triturar para usar na
garrafada serve para curar e prevenir o cacircncer inflamaccedilotildees e infecccedilotildees
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Considerada uma planta nova foi inserida haacute pouco tempo no contexto da comunidade
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoNonirdquo eacute um substantivo masculino que tem como definiccedilatildeo ser uma planta
de fruto e folhas grandes O fruto eacute descrito pela moradora de Pimenteiras com a aparecircncia de
uma ldquolagartardquo Segundo Domingas ldquoo fruto dele a folha dele eacute bem grande bem grande a
folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os
frutos dele neacute ((sorriu))rdquo (informaccedilatildeo verbal)60
A planta eacute novidade para a moradora de Pimenteiras seu saber veio atraveacutes de
cursos por meio da associaccedilatildeo quilombola da comunidade sobre o poder das plantas O Noni
eacute utilizado na garrafada como anti-inflamatoacuterio e tambeacutem como aliado contra o cacircncer Nesse
contexto o conhecimento sobre a planta foi absorvido pelos moradores da regiatildeo e integrado
como parte dos saberes sobre as plantas medicinais Observemos abaixo
[] ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute
novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que eu
conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais
trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute [] (informaccedilatildeo verbal)61
60 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015 61Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
102
O que motiva o surgimento de um termo eacute a necessidade de nomear as novas
descobertas tecnoloacutegicas e cientiacuteficas direcionadas sempre a uma aacuterea especiacutefica do
conhecimento Segundo os estudos de Araujo (2006) o termo tem uma ldquodimensatildeo linguiacutestica
comunicativa e cognitiva e uma estrutura complexardquo O termo adquire uma feiccedilatildeo
terminoloacutegica porque integra um saber especializado ao lado de contextos no campo das
ciecircncias e das teacutecnicas ele tambeacutem possui uma dimensatildeo linguiacutestica por configurar um
comportamento lexical especializado e ainda uma dimensatildeo cognitiva por manifestar seu
conhecimento especializado
Por assim observar o termo eacute parte do componente linguiacutestico como tambeacutem eacute uma
unidade terminoloacutegica e ainda eacute um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saberVejamos
assim o componente linguiacutestico do termo ldquoPatacardquo
54 PATACA
A liacutengua eacute uma estrutura que estaacute sempre em transformaccedilatildeo desse modo a variaccedilatildeo
eacute um elemento muito importante para entendermos a existecircncia de diferenccedilas no modo como
uma liacutengua eacute usada em uma comunidade Assim como o ldquoNonirdquo o termo ldquoPatacardquo eacute um saber
novo para a comunidade de Pimenteiras adquirido por meio das relaccedilotildees sociais Observemos
abaixo sua anaacutelise
TERMO 04 ndash ldquoPATACArdquo
Fotografia 20 ndash Pataca
Fotografia 21 ndash Folha da Pataca
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
103
Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca
Lx Lexema Pataca
Cg Classe Gramatical
Substantivo feminino
Co Contexto eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacuteela me parece que
ela veio da iacutendia parasse neacuteela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de beacuteleacutem
que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta
sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu tenho um
pezinho laacute em casa ela eu natildeo que tamanho que o peacute taacute desse tamanho eu natildeo sei se daacute
grande natildeo eu daacute nunca viacute ela natildeo eacute nem daqui neacutemas ela eacute boa pra remautismo se
buta na de aacutelcool pra passar no lugar que taacute afetado do remautismo foi essa senhora
issi isso isso teacute agora eu eu ainda natildeo procurei pra ela cumo eacute que se usa porque ela
me deu tipo assim uma raiz tipo uma coisa assim nera num sei que era aquilo que ela
me deu ainda falta eu conversar com ela que pra mim procuraraacute cumeacute que se usa se eacute
a folha num era o que eacute eu pensei de ser ou o fruto ou a raiz dela natildeo natildeo natildeo tem natildeo natildeo veio mesmo que pra mim ela eacute recente neacuteeacute soacute folha soacute folha mas ela eacute muito
remeacutedio ela ela veio de longe essa essa pataca noacutes tiremos foto porque ela no meu
quintau neacuteela eacute remeacutedio agente tirou isso isso eacute verdade eacute depois me diz hum hum
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Natildeo sabe ao certo o que utilizar se eacute a folha caule ou fruto
Fu Formas de
uso
Tem a noccedilatildeo de usar com o aacutelcool na regiatildeo que estaacute com reumatismo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A informante recebeu a planta de outra pessoa natildeo sabe como usar poreacutem sabe que
serve contra o reumatismo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Sem saber o valor medicinal da Pataca a moradora traz para o ambiente da
comunidade um novo conhecimento adquirido pelo contato com outras pessoas sobre o uso da
planta que eacute conhecida pela sua importacircncia contra o reumatismo
O termo ldquoPatacardquo eacute considerado um substantivo feminino com uma estrutura
simples devido agrave presenccedila de um uacutenico radical No que concerne ao gecircnero na definiccedilatildeo a
moradora conduz sua fala no feminino referindo-se ao termo como a planta que foi inserida
haacute pouco tempo no contexto da comunidade segundo a senhora Domingas
[] eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacute ela me parece
que ela veio da iacutendia parasse neacute ela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de
beacuteleacutem que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu
tenho um pezinho laacute em casa [] (informaccedilatildeo verbal)62
62Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPatacardquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
104
Somos seres humanos formados pela interaccedilatildeo pelo contato que temos com as
pessoas com o ambiente com a cultura enfim eacute atraveacutes da accedilatildeo de produccedilatildeo da linguagem
que somos constituiacutedos como indiviacuteduos sociais Ao analisarmos os termos das plantas
medicinais catalogadas na comunidade de Pimenteira pretendemos ver como essas unidades
se constituem e que fatores extralinguiacutesticos sociais e culturais interferem e determinam essa
terminologia Barbosa (2001) expotildee que ldquoesse tipo de linguagem usa vocabulaacuterios teacutecnico-
cientiacuteficos e especializados mostrando que eles estatildeo no niacutevel de uma forma natildeo apenas
linguiacutestica mas tambeacutem socioculturalrdquo Assim completa expondo que
Considerando o conjunto de obras lexicograacuteficas e terminoloacutegico-terminograacuteficas
produzidas em eacutepocas mais recentes diriacuteamos que natildeo se tem muita clareza quanto
agraves fronteiras conceptuais denominativas definicionais dos tipos desses textos natildeo
obstante o estaacutegio avanccedilado em que se encontram neste fim de seacuteculo as pesquisas
das ciecircncias da palavra nessas aacutereas natildeo obstante igualmente a existecircncia de
numerosos organismos e obras de normalizaccedilatildeo terminoloacutegica em diferentes paiacuteses
que natildeo conseguiram assegurar para certos conceitos uma terminologia de
Terminologia uniforme e consensual (BARBOSA 2001 p 26)
Analisamos na sequecircncia o termo ldquoPau-de-muquemrdquo que eacute tambeacutem conhecido pelas
variantes ldquoAssa-peixerdquo ou ldquoMata pastordquo
55 PAU-DE-MUQUEM
Diferente da palavra o termo possui sempre relaccedilatildeo com o significado dentro de um
contexto de domiacutenio ou seja estaacute sempre contextualizado em um determinado campo de
conhecimento Nesse contexto seu conteuacutedo especiacutefico encontra-se em uma situaccedilatildeo de uso
particular Krieger (2001 p 69) nos afirma que ldquoo reconhecimento sem duacutevida incontestaacutevel
do componente conceitual na constituiccedilatildeo do fenocircmeno terminoloacutegico responde fortemente
pelas interpretaccedilotildees de que um termo eacute uma unidade de conhecimentordquo
Uma unidade de conhecimento que estaacute em contiacutenuo relacionamento com seu
significado e que segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos (CABREacute 1993) Assim
caracterizamos o termo Contudo que criteacuterios podemos seguir para a seleccedilatildeo dessas unidades
de especialidades Antes de observar se os termos sobre as plantas medicinais pertencem ou
natildeo ao domiacutenio da especialidade percebemos que a definiccedilatildeo de um termo sempre seraacute o
ponto de partida pois os contextos de uso nos estudos teoacutericos da terminologia tornam-se
105
vaacutelidos para descrever e recolher os termos dentro do campo de ocorrecircncia do saber
especializado Observemos entatildeo como ocorre as variaccedilotildees no termo ldquoPau-de-muquemrdquo
TERMO 05 ndash ldquoPAU-DE-MUQUEM
Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-De-Muquem
Lx Lexema Pau-de-muquem
V Variante Assa-peixe ou Mata pasto
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto eacute o mesmo accedilapeixe sim eacute a mesma coisa eacute uma arve eacute uma arve nativa tambeacutem ela
do tempo ela eacute diz que ela eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacutefazer o
lambedor dela o xarope o lambedor eacute a mesma coisa do charope neacuteda folha buta ela pra ferver ferver inteacuter quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua
quando ele reduzir pra meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel
dipreferente o mel pra essas coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar
toamando que eacute pra tosse a irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o
lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo
neacutequando tivesse bem sequinha esfarelava na comida e comia eacute ela disse queeu
num sei tambeacutem isso daiacute ((sorriu)) ela eacute assim ela eacute grande assim ela eacute grande assim
a ponta dela eacute mais larga soacute () diferente da a potinha dela eacute bem larguinha a ponta
dela pra ponta ela eacute mais larga e pro pezinho da folha eacute mais estretinha quase que eacute
pois eacute assim tambeacutem numa moita num nasce soacute uma ave nasce varas varas ela eacute boa
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem
106
de filhar assim a volta dela brolha muita aiacute tambeacutem tem uns que chamam mata pasto
neacute mata pasto tem gente que manca ela gosta de nascer meio do capinzal aiacute ela gosta () eacute tem gente que cha pasta pasto sem mas eacute conhecido mesmo bem por accedila peixe e
pau de muqueacutem nos conhecemos por esse nome lambedor isso eacute pra tosse natildeo natildeo ela
tambeacutem chama de mata pastu porque nasce assim no meio do capim
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas
Fu Formas de
uso
Para tosse fazer o lambedor (ferver as folhas na agua ateacute apurar depois acrescenta o
mel) Para renite (fritar as folhas em oacuteleo triturar e colocar na comida)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Eacute conhecido tambeacutem como assa-peixe ou mata pasto
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando o termo ldquoPau-de-muquemrdquo entendemos que as variantes ldquoAssa-peixerdquo e
ldquoMata pastordquo tambeacutem deveriam ser analisadas no aspecto gramatical com isso observamos
que os termos e suas variantes satildeo sintagmas terminoloacutegicos masculinos Eacute interessante notar
que as variantes apresentam a mesma composiccedilatildeo em sua formaccedilatildeo podendo ser utilizadas no
mesmo contexto Nesse aspecto Faulstich (1999) explica que haacute formalizaccedilatildeo da sinoniacutemia
terminoloacutegica em que as variantes satildeo coocorrentes ou seja ldquorelaciona o sentido de dois ou
mais termos com significados idecircnticos e podem coocorrer em um mesmo contexto sem que
haja alteraccedilatildeo no plano do conteuacutedordquo
No que concerne agrave definiccedilatildeo descrita sobre o termo e suas variaccedilotildees a planta eacute usada
para tosses e renites sendo que para cada situaccedilatildeo o modo de processar eacute particular
Observamos que as distintas formas de nomear a planta medicinal coincidem no preparo para
as diferentes enfermidades a serem tratadas assim expotildee a senhora Domingas
[] eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacute fazer o lambedor dela o xarope o
lambedor eacute a mesma coisa do charope neacute da folha buta ela pra ferver ferver inteacuter
quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua quando ele reduzir pra
meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel dipreferente o mel pra essas
coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar toamando que eacute pra tosse a
irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo neacute quando tivesse bem sequinha
esfarelava na comida e comia eacute ela disse que eu num sei tambeacutem isso daiacute
((sorriu))[] (informaccedilatildeo verbal)63
63Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPau-de-muquemrdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
107
Considerar o termo dentro do ambiente social que as pessoas utilizam a linguagem
esta eacute a base da Socioterminologia que analisa a variaccedilatildeo social do termo antes tido como
invariaacutevel Com isso procuramos examinar como a variaccedilatildeo ocorre dentro das mudanccedilas na
sociedade lugar em que o termo eacute gerado eacute usado eacute modificado Ao falar sobre
Socioterminologia Faulstich (2006 p 27) expotildee que
Para falar de socioterminologia eacute preciso antes de tudo situar a terminologia no
espaccedilo da interaccedilatildeo social No Brasil por exemplo a histoacuteria da terminologia se confunde com a formaccedilatildeo da sociedade brasileira por meio da mistura de falares dos
habitantes naturais da terra e dos que para caacute vieram Vejam-se nos dicionaacuterios
termos da fauna e da flora como indicadores da terminologia indiacutegena no portuguecircs
brasileiro () Assim sendo natildeo eacute novidade dizer que a diversidade da cultura
brasileira aparece refletida na terminologia cotidiana
Um dos maiores aspectos da Socioterminologia exposto por Faulstich (2006) eacute ldquoter
na base da pesquisa a variaccedilatildeo linguiacutestica dos termos no meio social e por consequecircncia
entender a mudanccedila terminoloacutegica como mecanismo resultante da pragmaacutetica discursivardquo
Assim no que diz respeito agraves mudanccedilas no termo a pesquisadora explica que a ldquovariaccedilatildeo
deve levar em consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de comunicaccedilatildeo de uma determinada aacuterea
que dependem das circunstacircncias de emissatildeo dos interlocutores do meio pelo qual se daacute a
comunicaccedilatildeo entre outrosrdquo (FAUSLTICH 2006 apud BLANCO 2010 p 4)
Vejamos na sequecircncia como ocorre a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo
56 VASSOURA DE BOTAtildeO
Nos estudos da linguagem humana os usos de palavras especiacuteficas para situaccedilotildees em
especial vecircm sendo ampliados de acordo com as mudanccedilas de uso da liacutengua tais palavras
recebem as seguintes nomenclaturas leacutexico especializado termo teacutecnico-cientiacutefico termo
unidade lexical terminoloacutegica unidade lexical especializada unidade lexical temaacutetica
unidade de conhecimento unidade de compreensatildeo unidade de significaccedilatildeo especializada ou
vocabulaacuterio (ARAUacuteJO 2006)
Ao utilizarmos os termos com sentido aproximado do objeto nomeado fazemos uma
associaccedilatildeo com certa caracteriacutestica correspondente ao nome dado Nesse contexto ldquoa relaccedilatildeo
associativa eacute uma relaccedilatildeo entre dois conceitos que natildeo pertencem agrave mesma estrutura hieraacuterquica
ainda que sejam proacuteximos do ponto de vista semacircntico ou contextualrdquo (TESAURO 2006 p 11)
108
Nesse acircmbito vejamos a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo cujo nome segundo a
descriccedilatildeo de Domingas possui relaccedilatildeo com a planta nomeada
TERMO 06 ndash ldquoVASSOURA DE BOTAtildeOrdquo
Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo
Lx Lexema Vassoura de botatildeo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto ela eacute boa pra quela eacute verme gearde neacutegearde que eacute do estamagu que eacute de
ameba eacute pra ela que ela eacute bom eacute a gente faz a gente faz tambeacutem tintura piacuteula dela de
vassoura de botatildeoeacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que ela
assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim ao
redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela
agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota outra
aqui ateacute trecircs quatro assim isso hurum isso sim sim eacute isso isso eacute chamo vassoura de
butatildeo eacute a folha com tudo aquilo tudo tudo isso eacute pequeninha eacute isso hurum e tambeacutem eacute
e uma fez noacutes fizemos eacute pumada disseram quera era boa pra ela ela diz antiplamatoacuterio
a gente fez a pumada neacutecatamos tudinho a folhinha butamos pra fritar nu na gordura vegetal e depois transformamos na pomada mas isso aiacute ningueacutem tem dizer
assim ele foi bom porque ningueacutem usou a gente um pouco soacute pra demonstraccedilatildeo isso
foi pela pastoral da crianccedila neacuteaquela pretinha que foi ensinar noacutes a gente fez vaacuterias
mas a gente fez soacute um pouquinho num
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e o botatildeo da flor
Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo Fotografia 25 ndash Folha da Vassoura de botatildeo
Fonte Dado registrado durante a pesquisa Fonte Dado registrado durante a pesquisa
109
Fu Formas de
uso
Usada para vermes amebas no estocircmago atraveacutes de tintura piacutelulas anti-inflamatoacuterio
(ferver as folhas e o botatildeo em gordura vegetal para transformar em pomada)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem aspecto de uma pequena vassoura invertida
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoVassoura de Botatildeordquo eacute um sintagma terminoloacutegico feminino formado pela
composiccedilatildeo de palavras Em sua estrutura o termo apresenta uma complexidade formada pela
presenccedila de dois radicais no acircmbito da definiccedilatildeo do termo verificamos que haacute uma relaccedilatildeo
associativa do nome da planta com a aparecircncia que ela possui como expotildee Domingas
[] vassoura de botatildeo eacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que
ela assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim
ao redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela
agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota
outra aqui ateacute trecircs quatro [] (informaccedilatildeo verbal)64
Com o formato de uma vassoura invertida o termo ldquoVassoura de Botatildeordquo estaacute
relacionado com o aspecto que o objeto nomeado possui Nesse campo de estudo Faulstich
(1999) explica que nas relaccedilotildees associativas haacute uma sequecircncia que estaacute conectada com a
experiecircncia contiacutenua entre o tempo e espaccedilo Assim a ldquounidade terminoloacutegica pode ter ou
pode assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha
nos contextos de ocorrecircnciardquo (FAULSTICH apud CRUZ 2014 sem paginaccedilatildeo)
Vejamos assim algumas plantas que apresentam relaccedilotildees associativas nos seus
nomes quanto agrave forma tamanho cor e funccedilatildeo medicinal como eacute o caso do termo ldquoNambu
Tutanordquo
57 NAMBU TUTANO
Na Liacutengua podemos utilizar as palavras em diferentes relaccedilotildees de sentidos nos mais
diversos contextos Nesse processo denominado polissecircmico encontramos termos que
64
Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
110
possuem formaccedilotildees utilizadas no acircmbito geral de uso da liacutengua assim como termos
especiacuteficos no uso especializado da linguagem
Nesse aspecto verificamos que a comunidade de Pimenteiras apresenta variaccedilotildees
para um mesmo termo sobre as plantas medicinais ocorridas pela relaccedilatildeo associativa com as
caracteriacutesticas pertencentes a cada espeacutecie nomeada Verifiquemos a anaacutelise do termo abaixo
TERMO 07 ndash ldquoNAMBU TUTANOrdquo
Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano
Lx Lexema Nambu Tutano
Va Variante Batata Roxa
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto eacute uma planta eli eacute eli eacute piquininhu eli daacute assim eim forma di cebola di planta
assim qui eli eacute soacute que eli a folha eli natildeu teim caulei natildeu daqui qui eli nasci eli jaacute
nasci as folhas natildeu eli num teim qui a batata a cebola di planta neacute qui eacute assim ela jaacute
vai nascendu a folha duma folha eacute qui neim a cebola duma folha jaacute bota outra folha
dotra folha jaacute vai botandu qui neacute batatinha em baixu eacute natildeu natildeu teim cauli natildeu eacute soacute
folha i batataa folha eacute a folha teim a folha di accedilaizeiru neacute qui eacute assim ai teim as
folinhas qui agarra nu talu du accedilaizeiru eacute daqueli formatu da folha du accedilaizeiru natildeu
natildeu eacute beim compridona eacute assim a folha deli mais ou menus dum palmu qui eacute assim a folinha deli natildeu natildeo sei por que ela eacute abertinha teim a folha di cebola porque a
folha cebola eacute toda eacute inteira comu digu logu eacute rolicinha e ela num ela eacute ela eacute eacute ela eacute
folinha ela eacute folha assim ela eacute abertinha folha aberta folha assim folha aberta folha
qui tem a accedilaizera qui teim a folha dela qui eacute assim agora a dela eacute qui neim aquela
folha di accedilaizeiru assim qui ( )nasci daqueli talu assim pois eacute a folha dela babosa
num teim a babosa qui eacute uma folha aberta neacute eacute folha mais eacute aberta neacute assim qui eacute du
batatatildeu ela num eacute aquela folha inteira folha roliccedila assim ela eacute uma folha aberta natildeo
eacute seca qui nem di accedilaizeru mermu eacute seca mermu eacute usa soacute a batata natildeo
Fotografia 26 ndash Nambu Tutano Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
111
piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute roxinha tambeacuteim batata roxa
porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu
jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute qui neim a cebola capa sobri capa a
capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu
vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu mas ela eacute assim de capinha nambu tutanu
isso daacutei eu conhe caacute a minha voacute i minha matildei tambeacuteim nambu tutanu qui quandu eu mi
criei ela jaacute tinha neacute ( ) issu aqui eacute nambu tutanu porque as veiz quandu aparecia
aquela pessoa doenti crianccedila doenti neacute vai ver nambu tutanu vai arrancar aqueli
pesinhu ali vocirc fazer remeacutediu ai a genti ia arrancar i por issu qui deru u nomi ai eu
achu qui veim dus avocircs delis dus tataravoacute sabi laacute neacute aprendemus com elis eacute eacute mesmu
nomi cebolinha eacute batata roxa nambu tutanu mesmu nomi
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
A raiz em formato de batata
Fu Formas de uso
Chaacutes para diversas doenccedilas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A variante Batata Roxa vem do formato da raiz que parece uma batata em camadas
como cebola na cor roxa
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando o termo ldquoNambu Tutanordquo observamos que possui a variante ldquoBatata
Roxardquo Na anaacutelise por meio da ficha terminoloacutegica na definiccedilatildeo descritiva de cada planta
medicinal verificou-se que os termos e suas variantes tecircm particularidades importantes para
este estudo Desta forma no termo ldquoNambu tutanordquo notou-se que sua variante ldquobatata roxardquo
possui relaccedilatildeo associativa com a forma ou seja a planta apresenta formato de uma batata de
cor roxa por isso a presumiacutevel relaccedilatildeo com a variante do termo Observemos abaixo
[] eacute usa soacute a batata natildeo piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute
roxinha tambeacuteim batata roxa porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a
batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti
comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute
qui neim a cebola capa sobri capa a capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu
mas ela eacute assim de capinha[] (informaccedilatildeo verbal)65
Sabemos que na configuraccedilatildeo atual a Terminologia vai muito aleacutem da elaboraccedilatildeo
de dicionaacuterios na aacuterea Muitos autores consideram o conhecimento nas liacutenguas especializadas
como um rico campo de conhecimento Faulstich (1995) explica que o saber eacute construiacutedo de
forma individual e coletiva num processo no qual o sujeito interage com a realidade as
65Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNambu Tutanordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
112
pessoas e o ambiente sociocultural Isso nos revela que a Socioterminologia jaacute era prenuacutencio
para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de natureza social ou
seja ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo no universo da terminologia revelam peculiaridades
proacuteprias a serem estudadas pela disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para
a sistematizaccedilatildeo de termos e de variantesrdquo (FAULSTICH 1995 p 281)
Na sequecircncia analisemos o termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo
58 QUEBRA PEDRA ROXO
Em seus estudos Faulstich (1995) aborda aspectos relevantes dentre os quais
destaca a diferenccedila entre lexema e termo Para a pesquisadora o lexema eacute ldquouma unidade
lexical do domiacutenio do leacutexico geral da liacutengua um termo eacute tambeacutem uma unidade lexical mas
tiacutepico de variado domiacutenio de vocabulaacuterio cientiacutefico e teacutecnicordquo (FAULSTICH 1995 sem
paginaccedilatildeo) Por ser o lexema uma unidade da liacutengua comum Faulstich explica que ele eacute
portador de conotaccedilotildees psicoloacutegicas e sociais que lhe proporcionam a multiplicaccedilatildeo de
significados e a presenccedila da polissemia que por correspondecircncia daacute lugar agrave sinoniacutemia
Diante do contexto funcional a autora destaca que o ldquolexema delineia seu caraacuteter semacircntico e
lexicograacutefico a partir da estrutura paradigmaacutetica porque satildeo as oposiccedilotildees distintivas que
delimitam a configuraccedilatildeo semacircntica e marcam o valor do lexemardquo (FAULSTICH 1994 p
314)
Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo que o sentido estaacute
relacionado ao nome Durante as pesquisas realizadas natildeo encontramos a espeacutecie na cor roxa
para o registro de imagens mas a informante apresentou sua definiccedilatildeo descritiva de forma
subjetiva para que pudeacutessemos verificar as especificidades do termo na ficha terminoloacutegica
Assim observemos
Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo
Lx Lexema Quebra Pedra Roxo
Va Variante Comer de Rola
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto comecirc di rola essi du roxu eacute porque to dizendu eacute eli eacute soacute um formatu du mermu jeitu
qui eacute u brancu eacute soacute muda a cor eli eacute roxinhu por que teim u brancu i teim roxu essi comecirc di rola noacutes conhecemu assim comecirc di rola roxu u quebra pedra eacute quebra pedra
brancu mas eli eacute soacute um formatu u formatu qui eacute u quebra pedra brancu eacute u roxu
beim piquinininha du tamaninhu eacute du mesmu jeitu mesmu jeitinhu aiacute porque qui
113
eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu du otru neacute soacute qui
adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela trevoada di rolinha qui
levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas bichinhas gosta di taacute aqui
porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u
matu eacute du mermu jeitu du brancu eli daacute por certus tempu quandu chega nu veratildeu eli
eli morri soacute qui eacute assim quandu eli nasci muitu qui nu meu roccediladu jaacute nasceu muitu
assim chega qui eu ficava tomandu di conta assim la quasi num nascia neim um otru
matu era soacute por conta deli mermu laacute porque eacute beim encostadinhu dotru neacute assim um
tipu um canteru laacute quasi num nasci otru matu eu sei qui as bichinha gostavu di taacute laacute si
alimentandu da sementinha da folhinha delis minha voacute nois conhecemus com ela
comecirc di rola assim noacutes comu crianccedila vovoacute u qui eacute issu comeacute u nomi dissu ela era uma
velhinha muita pacienti isso ai eacute comecirc di rola( ) porque assim a rolinha quandu chega
aqui as bichinha num si levantu assim ai comecirc di rola pra qui servi vovoacute issu aqui eacute remeacutediu eacute eacute sim eacute remeacutediu( ) prus rins tambeacuteim neacute qui antis a genti fazia dessi assim
quebra pedra fazia mas noacutes conhecemu mais por comecirc di rola a depois qui era quebra
pedra a eacute remeacutediu pa pa quem teim pedras nu rins podi fazer u chaacute dela i tomar agora
eu jaacute usu comu( ) eu jaacute usu na garrafada jaacute bota na garrafada u brancu porque
nois jaacute tivemu uma uma oficina um treinamentu qui uma mulher vei di macapaacute e diz
qui u u bom mermu eacute u brancu qui eacute u quebra pedra di verdadi assim pru pru pedra nu
rim neacute porque eli jaacute porque nois dizia assim( ) teca porque u nomi dela era teca teca
noacutes dizia qui era u roxu ela dissi natildeu u roxu natildeu teim muita serventia eli servi mas u
brancu porque eacute u quebra pedra di verdadi eacute u brancu porque u nomi deli eacute quebra
pedra mermu eacute essi qui eacute bom aiacute eu dissi olha noacutes usa na garrafada ela dissi podi
usari natildeu teim poblema nenhuma comi tambeacuteim mais eacute assim eacute porque aqueli tempu tinha mais passarinhu noacutes via mais tinha mais du roxu assim nu roccediladu eacute mais du roxu
elas tavu mais ondi tava o quebra pedra du roxinhu eacute
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para problemas nos rins
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dores nos rins
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Conhecido tambeacutem por comer de rola porque os paacutessaros preferem a roxinha que a
branca
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Quanto ao termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo sua variaccedilatildeo ocorre com relaccedilatildeo associativa
com a funccedilatildeo que a planta tem ou seja a planta serve de alimento para certa espeacutecie de
paacutessaro assim o termo eacute tambeacutem chamado pela variante ldquoComer de Rolardquo por ser o alimento
que os paacutessaros ldquorolinhasrdquo preferem
[] aiacute porque qui eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu
du otru neacute soacute qui adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu
di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela
trevoada di rolinha qui levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas
114
bichinhas gosta di taacute aqui porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u matu [] (informaccedilatildeo verbal)66
O termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo tambeacutem possui relaccedilatildeo associativa com sua funccedilatildeo
Na sabedoria popular a planta serve para tirar ldquoquebrarrdquo as pedras nos rins No que se refere
ao termo Faulstich esclarece que ao ser colocado no mundo da linguagem cientiacutefica e
teacutecnica ldquoo termo assume o estatuto de unidade lexical definida e eacute naturalmente uniacutevocardquo
(FAULSTICH 1994 p 315) Ou seja haveria um uacutenico conceito para um termo uacutenico com
uacutenica definiccedilatildeo Entretanto se ocorressem conceitos e definiccedilotildees diferentes para um mesmo
termo Faulstich adverte que ocorreria o que ela denomina posteriormente de variaccedilatildeo
terminoloacutegica ou seja havendo um novo termo um novo conceito com uma nova definiccedilatildeo
ocorreria a variaccedilatildeo No entanto ldquose esse mesmo termo vier a funcionar num outro contexto
como equivalente graacutefico de um jaacute existente mas natildeo equivalente semacircntico propiciaraacute a
homoniacutemia terminoloacutegicardquo (FAULSTICH 1990 sem paginaccedilatildeo)
Observemos na sequecircncia outro termo e sua anaacutelise
59 PARATUDO
Faulstich (1990) chama a atenccedilatildeo para a anaacutelise do termo no discurso pois eacute no
discurso que se estrutura a significaccedilatildeo semacircntica e terminoloacutegica Ela destaca que a natureza
epistemoloacutegica do lexema e do termo se fundamenta no alcance dos objetivos de cada um ou
seja para a lexicologia pertence agrave construccedilatildeo de um modelo de componente do leacutexico da
gramaacutetica jaacute a terminologia devido seu caraacuteter de intersecccedilatildeo com a lexicologia morfologia
e a semacircntica prestigia termos da linguagem cientiacutefica e teacutecnica Assim o limite entre lexema
e termo estaacute amparado nos recursos metodoloacutegicos da lexicologia e da terminologia Para
Faulstich (1994 p 317)
O resultado praacutetico da lexicologia teoacuterica e descritiva serve de ponto de partida para
o trabalho lexicograacutefico na elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios de liacutengua geral o resultado praacutetico da terminologia especializada aplica-se agrave terminografia na constituiccedilatildeo de
dicionaacuterios especializados
66Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
115
Diante desse contexto analisamos que o termo conhecido tambeacutem como sinocircnimo de
unidade terminoloacutegica designa um conceito da linguagem de uso especial Segundo Andrade
(et al 1998 p 191)
Tal como as palavras do leacutexico geral os termos satildeo unidades siacutegnicas distintivas e
significativas ao mesmo tempo apresentando-se de forma tatildeo natural no discurso
especializado quanto as palavras nos discursos que se valem da liacutengua comum
como forma de expressatildeo
Assim observemos que o termo ldquoParatudordquo passou por uma distinccedilatildeo particular
vejamos
TERMO 09 ndash ldquoPARATUDOrdquo
Fotografia 28 ndash Paratudo Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo
Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo
Lx Lexema Paratudo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto eacuteh paratudo paratudo isso eacuteuma aacutervore uma aacutervore bem grande ela eacute uma aacutervore
bem grande ela eacute boa pra febre diprimeiro quando dava aquela febre de malaacuteria era
uma febre muito antiga que chamava por outro nome conhecida por outro neacuteela era
soacute o que curava ela eacute amargo amargo a casca dela a casca a gente usa eacute a casca iai a minha matildee tirava pra gente tomar o chaacute mas pra febre era primeiro lugar eacute febre ama
diprimeiro chamava febre amarela agora a pessoa diz que eacute a mesma malaacuteria o
pessoa digo neacuteera a uacutenica que curava era dava um tipo de febre que dava tudo tipo
de remeacutedio ih num passava aiacute eacute soacute a gente dando tudo heacute cumeccedilava sis maacute que era
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
116
esse tipo dessa febre que dava neacuteporque a malaacuteria eacute assim comeccedila daacute em seguida
aqueles horaacuterios o pessoal jaacute disconfia que a malaacuteria neacutee assim eacute era essa essa tipo
dessa febre iai a mamatildee fazia o chaacute paratudo mas ele eacute uma aacutervore ele eacute nativo ele eacute uma aacutervore muita bem grande bem grandona ela eacute nativa ela daacute em qualquer canto
num carece plantar paratudo eu natildeo sei porque os antigos ( )porque eu acho que
parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque essa febre amarela inha matildee
contava era assim febre muito perigosa diprimeiro neacuteera uma febre muita perigosa
que quase quando dava com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho
que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a
febre aiacute butaru paratudo eu acho neacuteela eacute mais alta tem umas que daacute mais alta no
lugar quela cresce mesmo ela eacute bem alta soacute soacute quela natildeo eacute grossana sempre ela eacute fina
ela natildeo eacute grossa natildeo sempre ela fina natildeo ela eacute bem comprindona mas ela eacute fina soacute a
casca soacute a casca
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Utiliza-se apenas a casca da aacutervore
Fu Formas de
uso
Usada na forma de chaacutes para febre amarela malaacuteria
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo ldquoParatudordquo significa que parava todos os sintomas da febre amarela
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando a classe gramatical do termo ldquoParatudordquo vemos que se trata de um
sintagma terminoloacutegico feminino devido a informante se direcionar ao feminino quando
descreve chamando de aacutervore O termo estaacute escrito na forma agrupada essa junccedilatildeo ocorreu
na liacutengua pelo processo de justaposiccedilatildeo o qual Pottier (1978) chama de composiccedilatildeo
composta Isto provavelmente ocorreu pela significaccedilatildeo que o termo adquiriu nas geraccedilotildees
anteriores pois segundo a definiccedilatildeo de Domingas
[] porque os antigos ( ) porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso
neacute paratudo porque essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito
perigosa diprimeiro neacute era uma febre muita perigosa que quase quando dava
com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram
esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo eu acho neacute[] (informaccedilatildeo verbal)67
Na histoacuteria descrita pela moradora quando seus antepassados adquiriam a febre
amarela ou malaacuteria tinham febres persistentes em horaacuterio programado Dificilmente
conseguiam eliminar seus sintomas a natildeo ser quando utilizavam a planta ldquoParatudordquo ou seja
ldquoparava tudordquo Assim o termo foi absorvido com o poder de parar todos os sintomas das
enfermidades contraiacutedas
67Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
117
[] porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque
essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito perigosa diprimeiro
neacuteera uma febre muita perigosa que quase quando dava com febre amarela que
natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo []
(informaccedilao verbal)68
Nesse contexto Faulstich (1995) considera que as ldquovariantes satildeo resultado dos
diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica fazem
do termordquo assim absorvida como medicamento que trouxe a cura de tudo a cura de todos os
sintomas da febre amarela ou da malaacuteria o termo eacute conhecido e usado na linguagem dos
moradores como planta que cura e para tudo escrito na forma composta
Seguimos na anaacutelise dos termos sobre as plantas medicinais com a anaacutelise
morfoloacutegica de alguns termos apresentando as imagens registradas durante a pesquisa de
campo juntamente com a definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas
utilizando para isso o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com os
elementos constitutivos dos termos para melhor visualizarmos seus dados
Na sequecircncia verifiquemos a anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo
510 GERGELIM BRANCO
A partir das investigaccedilotildees sobre as relaccedilotildees associativas entre os signos linguiacutesticos
surgem teorias em direccedilatildeo ao campo semacircntico que eacute considerado como o universo
linguiacutestico das palavras Em intersecccedilatildeo com o campo conceitual universo das ideias
segundo Robin (1977) o processo de conceptualizaccedilatildeo do mundo exterior chamado de
campo conceptual surge na mente humana pelo deciframento linguiacutestico dos conceitos e
categorias abstratas que eacute parte do campo leacutexico-semacircntico
Notando tais aspectos na estrutura do campo leacutexico-semacircntico e morfossintaacutetico do
termo este apresenta em alguns casos uma estrutura simples complexa ou composta Na
estrutura simples o termo eacute constituiacutedo de apenas um radical jaacute nos termos complexos e
compostos apresentam dois ou mais radicais Nos termos compostos a presenccedila do hiacutefen
diferencia-o do termo complexo ndash que natildeo possui o hiacutefen ndash poreacutem ocorrem processos de
composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras Na comunicaccedilatildeo
68 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
118
especializada o que predomina satildeo os termos complexos por serem capazes de assumir
diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo
reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico
Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo que sua estrutura eacute
composta por dois radicais sem a presenccedila de hiacutefen senatildeo vejamos
TERMO 10 - GERGELIM BRANCO
Fotografia 30 ndash Gergelim Branco Fotografia 31 ndashFolha do Gergelim Branco
Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco
Lx Lexema Gergelim branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Co Contexto eacuteh hurum eacute da eacute a mesma da mesma mesma tipo do mesmo soacute muda a cor eacute eacute da
semente eacute com certeza a arve eacute mesmo jeito vocecirc soacute vai sabe na hora que cai a
sementinha dela neacute ela eacute meacutedia ela eacute eacute plante do rodado ela pela sementinha () no
rosado soacute vai colher ela quando eacute na tempo de colher que a gente vai colher ela bota
pra secar aiacute vira ela bota pra secar ela soacute tem que buta ela pra secar de ponta pra
cima aiacute ela vai ce porque ela vai vai secando e e aqueles aqueles cachopinhas aqueles frutinho dela vatildeo vatildeo abrindo tudinho se ele tever de ponta pra baixo ele vai abrindo e
vai caindo ele tem que que taacute todo tempo neacute e fica guardada quando a gente vira a
pontionha dele pra baixo ele derrama eacute ele e ele eacute eacute a semente olha dhione eacute ela serve
pra um monte de coisa ( ) ela serve pra avece que daacute pra fazer massage ela serve pra
febre ela serve pra diarreia ela serve pra moragia a sementinha ela ser muito varo eacute
vaacuteria coisa que ela natildeo eacute o sumo da sementinha a gente pega bota ela pra esquentar
um pouco eacute raacutepido tem que ser raacutepido porque ela eacute uma sementinha muita graacutegil que
se demorar ela vai queimar esquenta ela quando ela taacute boa ela tem um cheiro assim
tatildeo ela muda de cheiro aiacute tira ela e pisa hoje em dia eacute mais pra mais normal eacuteo
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
119
lotificador neacute bota eacute ti e bota um pouco de aacutegua tira o leite grosso o leite dele sai
uma deliacutecia assim o leite grosso aiacute vocecirc pode se for pruma febre vocecirc pode toma uma ou duas culher vai depender da idade da crianccedila ou do da adulto sei laacute moragia
tambeacutem e pra ai se ai tanto ele serve pra remeacutedio cume ele eacute grande alimentaccedilatildeo ele eacute
alimentaccedilatildeo pra mim eu uso ele cumo alimentaccedilatildeo o gergelim como alimentaccedilatildeo e
porque assim no por remeacutedio ougaque eacute mais o gergelim preto pra remeacutedio pra
remeacutedio mas pra mim tanto faz pra mim tanto faz com certeza agora cumo eu tocirc
dizendo pode usar o preto mas de preferencia o preto de preferencia o preto mas num
tendo o preto o branco tambeacutem serve ele eacute a mesma coisa mas agora comu eu tocirc
dizendo eu uso o gergelim laacute em casa quando eu tenho eu uso pra minha pra mim
tomar meu cafeacute de mnhatilde comu ele eacute muito gostoso quando eu tiver um pouquinho que
agora eu tenho a minha roccedila quando tiver um poquim eu vou trazer um poquim da
paccediloca pra ((sorriu)) ele tem caccedilo eacute () anram sim urum isso eacute neacute pois eacute sim sim hurum
((sorriu)) acho que sim natildeo natildeo sei dizer natildeo mas eu acho que eacute pelo tamanhinho dele neacute que eacute uma semente muito eacute vou tomar poquim eacute isso
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
A sementinha contida na flor eacute usada para diversos problemas de sauacutede e tambeacutem
como alimento
Fu Formas de
uso
A sementinha secada e triturada para retirar o leite serve para derrame cerebral
hemorragias febre diarreia massagens e como alimento
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Segundo a informante o gergelim preto eacute melhor mas ela utiliza tambeacutem o gergelim
branco
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
No termo complexo Gergelim Branco aconteceu a formaccedilatildeo de termos pela
composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja o termo eacute formado por duas ou mais palavras que satildeo
independentes entre si no processo de formaccedilatildeo e que juntas formam um novo significado
uma nova palavra Quanto ao estudo gramatical dos termos complexos eles satildeo formados por
um elemento base que eacute o substantivo e em seguida por outra palavra que demonstra a
qualidade ou especificidade do primeiro podendo ser um adjetivo Por exemplo em
ldquoGergelim Brancordquo o substantivo eacute ldquoGergelimrdquo e ldquoBrancordquo eacute a particularidade na cor que
esse substantivo tem ou seja eacute um adjetivo
Observando as particularidades do termo ldquoGergelim Brancordquo vejamos na sequecircncia
a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo
120
511 URUCUM VERMELHO
Tomando os estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) sobre a estrutura do termo
percebemos que cada um a seu modo explana sobre o mesmo conceito Na explanaccedilatildeo de
Barros (2007 p 399) ela apresenta que
Termo simples unidade terminoloacutegica constituiacuteda por um uacutenico lexema
independente do processo de formaccedilatildeo deste Termo complexo unidade formada
por composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja por um grupo de lexemas e morfemas
gramaticais (palavras nocionais e gramaticais) natildeo ligadas por hiacutefen tambeacutem
independente do processo de formaccedilatildeo dos termos Termo composto unidade
terminoloacutegica formada por dois ou mais lexemas que se encontram em situaccedilatildeo de
natildeo-autonomia representada graficamente pela utilizaccedilatildeo do hiacutefen
Em Pottier (1978) a nomenclatura utilizada eacute lexia69
que eacute a menor unidade
funcional e significativa do discurso seja ele de forma oral ou escrita Para o pesquisador a
lexia nasce da relaccedilatildeo associativa entre seus elementos Quando utilizamos um termo em
determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo
internalizadas na liacutengua que por ser um sistema dinacircmico passa a ser enriquecida com
neologismos Assim no que compete aos estudos de Pottier o pesquisador apresenta como
modelo trecircs tipos de lexias sendo elas simples compostas e complexas (CAMPOS 2007)
As lexias simples70
satildeo conhecidas como a menor unidade lexemaacutetica ou palavra
tradicional que junto de outras lexias simples formam outras unidades lexemaacuteticas
conhecidas como palavras compostas Na lexia complexa ocorre uma sequecircncia de palavras
em grau maior de complexidade chamado de lexicalizaccedilatildeo Esta seria quando um sintagma se
torna uma unidade lexical autocircnoma Consequentemente Genouvrier amp Peytard (1974)
esclarecem melhor as lexias complexas de Pottier expondo em outras palavras que elas satildeo
formadas pelo agrupamento de lexias simples com classes gramaticais diferentes que resultam
em expressotildees generalizadas e estereotipadas (CAMPOS 2007)
Vejamos nesse contexto a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo
69 Lexia eacute nome geral para qualquer unidade lexemaacutetica nos estudo de Pottier (1978)
70 Vale ressaltar que Cabreacute (1993) no aspecto da forma tambeacutem classificou os termos de acordo com os nuacutemeros de morfemas existentes na palavra assim classificava-os em simples para um morfema e complexo para dois ou
mais morfemas Os complexos eram ainda subdivididos em termos derivados e termos compostos
121
TERMO 11 - URUCUM VERMELHO
Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho Fotografia 33 ndashFolha do Urucum Vermelho
Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho
Lx Lexema Urucum Vermelho
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto eacuteh uma planta natildeo ela eacute caseira eacute clima frio a folha eacute grande eacute form e re
redonda formatu dum coraccedilatildeo a semente dela ela coloca a ah o copinho a
caixinha dentro da caixinha tem a semetinha bem redondinha bem miudinha a
sementinha dela a flor eacute um rosiozinho eacuteh rosu claro eacuteh um ela eacute pequena
uma flor meacutedia num eacute grande nau e nem tatildeo (sita) o caule vai depende eacute dumaaa ele sendo bem bem bem velho bem maduro o caule dele eacute assim duma uns dois
palmos di grussura em roda tem tens uns que ate dessa grussura ((fazendo gestos
com as matildeos)) da duas matildeos cheia tem umas que da ateacute trecircs metro vai depender
da tem umas que daacute olha ela ela serve assim ela eacute tempero serve pra
temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol colesterol ela gente pega faz o
vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o vinho e toma em jijum ela linima o
colesterol e soacute da sementi a gente pega semente agente abre a pega a cachopinha
abre ela tira a semeti amassa um pouco com agua ai coa e toma em jejum pra curar o
colesterol
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Usada a sementinha encontrada no ldquocopinhordquo da planta retirar o vinho da semente
Fu Formas de
uso
Serve para dar a cor avermelhada na comida eacute um tempero para o colesterol eacute feito o
vinho da sementinha
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Eacute uma planta medicinal e usada tambeacutem como condimento
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
122
O ldquoUrucum Vermelhordquo eacute uma planta usada nos alimentos e com propriedades
medicinais principalmente relacionadas agrave problemas com o colesterol
[] ela eacute tempero serve pra temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol
colesterol ela gente pega faz o vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o
vinho e toma em jijum ela linima o colesterol e soacute da sementi a gente pega
semente agente abre a pega a cachopinha abre ela tira a semeti amassa um pouco
com agua ai coa e toma em jejum pra curar o colesterol [] (informaccedilatildeo verbal)71
Considerado em sua estrutura como termo complexo o Urucum Vermelho eacute formado
pela composiccedilatildeo sintagmaacutetica de duas palavras independentes entre si Poreacutem juntas formam
uma nova palavra com nova significaccedilatildeo No estudo gramatical do termo Urucum Vermelho
o elemento base eacute o substantivo ldquoUrucumrdquo que vem seguido pelo adjetivo ldquoVermelhordquo
indicativo de uma caracteriacutestica proacutepria da planta Verificando os aspectos da estrutura dos
termos observemos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoErva de Passarinhordquo
512 ERVA DE PASSARINHO
Segundo Cabreacute (1993) os termos compostos satildeo denominados tambeacutem como
sintagmas terminoloacutegicos que podem ser formados por uma construccedilatildeo sintagmaacutetica mais
complexa que pertencem a classe de palavras diversas
Diante das explanaccedilotildees sobre a estrutura do termo notamos que tanto Barros como
Pottier apresentam semelhanccedilas nas explicaccedilotildees No entanto Barros acrescenta ainda que os
termos compostos podem passar pelo processo de aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Nesse sentido
a pesquisadora expotildee que
A composiccedilatildeo eacute a nosso ver um processo que pode marcar a formaccedilatildeo tanto de
termos simples quanto de termos complexos (sintagmaacuteticos) Por esse motivo eacute
temeraacuterio distinguir de modo categoacuterico termos simples complexos e compostos quando se trata dos tradicionais processos de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo sem hiacutefen
(BARROS 2007 p 400)
Com tais fundamentos analisamos os termos sobre as plantas de uso medicinal da
comunidade de Pimenteiras na estrutura morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica de alguns termos
catalogados Observamos que na maioria dos casos natildeo haacute a presenccedila do hiacutefen na
71Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoUrucum Vermelhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
123
composiccedilatildeo dos termos compostos que ocorreram expressivamente atraveacutes do processo de
aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Assim observemos o termo ldquoErva de Passarinhordquo
TERMO 12 - ERVA DE PASSARINHO
Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho
Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho
Lx Lexema Erva de Passarinho
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Co Contexto ela eacute uma erva mermu ( ) ela daacute em cima nus galhu dus pau ( )da outras arvris
eacutena eacuteeacuteh ela eacute rastera ela ela eacute si agarra ali nu galhu neacute dali ela vai vai aumentandu a tendecircncia deli eacute matar ela ( ) ateacute qui as vez quandu ela si ela si
apropria mermu muitu na arvri ela mata a outra arvri ela mataeacute natildeu ela eacute
nativaporque us passarinhu qui eacute assim natildeu sei como eacute neacute mais us passarinhu qui
veim qui faz u cococirc ali dali nasci a sementinha ali nu galhu du pau i dali forma a erva
di passarinhu uns diz qui eacute assim eu natildeu sei porque porque ela eacute nativa ela nasci
assimqui podi ter a sementi i nascieacute porque eacute porque ela nasci ai eu eu vi falar
assim agora eu natildeu sei si tambeacutem nasci ali du limu neacute neacute limu porque ela sempri daacute na
arvri ela num eacute nunca eu vi daacute nu chatildeo eacute ela daacute nu limoeiru ela daacute na cueira ela daacute na
na nu nu na laranjera ela daacute em toda essa arvri assim ela daacuteeacute ela daacute eacuteachu qui eacute
em qualquer momentu qualquer arvri qui ela si apropriar qui ela gostar neacute ela daacute i aiacute
a a ( ) ela tem os galim dela em forma di um cipoacute eacute assim us galhu dela i a folha dela
tambeacuteim ela eacute media uma folha assim tambeacuteim qui ela num uma folha seca natilde eacute uma folha sempri assim cheinhagordinha issuela eacute meacutedia tambeacuteim ela num eacute tatildeu
piquinininha natildeu natildeu eacute daquelas folhau formatu dela eacute assim mermu eacute quasi igual
assim meia compridim meia redonda ela num tem formatu assim di otra coisa naueacute
uma folha eacuteeacute tipu uma folha di jambreru eacute um pocu maior di que essi ai neacutenatildeu
dessi aqui dessi aqui neacutesim issu( ) maior tem umas qui da maior tem umas qui daacute
maior porque ela daacute igualtem veiz qui quandu ela nasci muitu qui ela vai
aumentandu aumentandu assim neacute ai tem vez que porque a minha matildee sempri dizia
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
124
assim oacute bora tirar essa erva di passarinhu porque si natildeo ela vai matar uma laranjera
uma cuiera ela da nu cafezal nu cafeeru tambeacuteim ela da nu limoeru ela daacute ela daacute nu da outra eacute eacute com certezaela mata eacute vai depender di elaa folha a folhaeacute i juntu
com certeza ela neacute uma folha assim num eacute bem redonda mas tambeim num eacute tatildeu
comprida ela eacute uma assim uma folha larga beim largaela tem umas bajezinhas
tambeacuteim ela bota umas bajezinhas bem muiditinhas tambeacuteim uns carocinhusnatildeu eu
da nunca vi si eacute uma erva di passarinhu eu da nunca vi mas diz qui eli si alimenta
daquela sementinhaeacute usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui
chama cansaccedilo neacute que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u
chaacutea minha voacute dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem
toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu
iscondidu pra num saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela
dizia assim oacute a erva di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo
mas quem toma nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para ldquocansaccedilordquo asma
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O chaacute deve ser tomado sem a pessoa saber para que sirva e que planta eacute feito o chaacute
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoErva de Passarinhordquo possui uma estrutura composta por dois radicais
relacionados pelo aspecto da preposiccedilatildeo Sendo uma planta que se hospeda em outras plantas
para viver eacute o alimento preferencial dos paacutessaros daiacute a relaccedilatildeo associativa com a funccedilatildeo que
o nome possui No trato medicinal a planta eacute usada em pessoas com cansaccedilo poreacutem segundo
a crenccedila de seus antepassados a pessoa toma o chaacute sem saber o que eacute nem para que serve O
termo eacute assim descrito pela senhora Domingas
[] usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui chama cansaccedilo neacute
que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u chaacutea minha voacute
dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu iscondidu pra num
saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela dizia assim oacute a erva
di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo mas quem toma
nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute
u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute(informaccedilatildeo verbal)72
Observamos que cada termo possui uma definiccedilatildeo particular a cada planta as formas
de uso os contextos em que ocorre a variaccedilatildeo as relaccedilotildees associativas as crenccedilas em torno
72Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoErva de Passarinhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
125
da cura e as composiccedilotildees formativas dos termos apresentados Alguns termos vieram de
geraccedilotildees passadas outros entraram no contexto da comunidade de Pimenteiras atraveacutes de
novos saberes Diante de tudo que foi exposto eacute importante percebermos que a compreensatildeo
da linguagem de especialidade pode ocorrer com o entendimento de que os termos natildeo satildeo
isolados Segundo Cruz (2014 p 104) os termos ldquonem derivam sua existecircncia apenas de um
arcabouccedilo loacutegico-conceptual mas se manifestam circulam e exercem sua funccedilatildeo em situaccedilatildeo
em uso efetivordquo
Para que o pesquisador possa se familiarizar com seu objeto de pesquisa eacute necessaacuterio
realizar leituras preacutevias sobre o assunto e manter discussotildees com profissionais da regiatildeo
pesquisada Particularmente no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal compreendemos
que durante muitos anos o homem sempre utilizou os recursos naturais para sua sobrevivecircncia
e bem estar na terra e eacute por meio das plantas que surgem os mais diversos produtos
indispensaacuteveis agrave vida humana em todas as eacutepocas
No que concerne ao uso dessas plantas na medicina tradicional hoje os
medicamentos obtidos a partir de substacircncias ativas vindas das plantas satildeo utilizados na
medicina complementar73
Diante disso eacute importante salientar que as populaccedilotildees que vivem
em regiotildees pouco povoadas e com restriccedilatildeo das necessidades fundamentais como sauacutede e
educaccedilatildeo fazem dos recursos naturais os mais utilizados possiacuteveis a fim de garantir os
cuidados necessaacuterios com o bem-estar do corpo e da alma
Culturalmente as praacuteticas com o uso popular de plantas medicinais satildeo uma
realidade em muitas comunidades que as tecircm como alternativa para a conservaccedilatildeo da sauacutede
Entretanto a continuidade desse saber eacute ameaccedilada pela interferecircncia de fatores externos
relacionados ao dinamismo social como a exposiccedilatildeo das comunidades e de sua cultura diante
das facilidades da sociedade moderna a destruiccedilatildeo dos recursos naturais a invasatildeo de novos
elementos culturais que desmotivam a vida tradicional e o conhecimento empiacuterico que eacute
patrimocircnio de valor inestimaacutevel agraves futuras geraccedilotildees Aleacutem disso os estudos cientiacuteficos
direcionados agraves plantas utilizadas pelas comunidades tradicionais satildeo ainda insipientes
(HOEFFEL 2011)
Boa parte do conhecimento popular estaacute mantido em fontes orais isto causa certa
inseguranccedila e desconfianccedila nos dados a serem transcritos Poreacutem o contato direto com os
moradores e seus saberes nos fez crer que as histoacuterias orais satildeo fonte de vida e que de acordo
com a histoacuteria transpotildeem geraccedilotildees e eternizam os novos conhecimentos A verdade eacute que as
73 Uso de medicamentos feitos a partir de substacircncias ativas das plantas isto ocorre em tratamentos de doenccedilas
crocircnicas devido aos efeitos colaterais dos medicamentos potentes
126
ameaccedilas agrave biodiversidade natildeo tem precedentes na histoacuteria da humanidade diversas espeacutecies
nunca estiveram tatildeo ameaccediladas de extinccedilatildeo Junto a isto a cultura dessas comunidades
tambeacutem sofre mudanccedilas constantes que as fazem perder a identidade social que as compotildeem
A perda dos elementos naturais e da cultura identitaacuteria dos conhecimentos
tradicionais empobrece cada vez mais nossa cultura em geral nossa sauacutede e nossos saberes
Diante disso eacute premente que busquemos alcanccedilar esses povos para conhecer registrar e
preservar saberes importantes para a sociedade em geral Nesse contexto a comunidade
remanescente de quilombola de Pimenteiras eacute um exemplo a ser observado por agregar valor
em seus aspectos regionais culturais e de saberes sobre o poder medicinal das plantas Eacute na
comunidade e nos seus moradores que se veem a necessidade de conhecer registrar e
preservar o conhecimento tradicional que fora repassado entre as geraccedilotildees Sabendo disso
buscamos por meio dos estudos socioterminoloacutegicos analisar os termos catalogados sobre as
plantas de uso medicinal da comunidade Tais saberes de grande valor para o conhecimento
cientiacutefico satildeo preservados pelos relatos orais de moradores remanescentes de quilombo
O conhecimento sobre as plantas medicinais pode ser observado pelo trabalho diaacuterio
que os moradores possuem na comunidade com as plantas Esse processo vai desde a
plantaccedilatildeo ateacute a venda dos produtos obtidos por meio da manipulaccedilatildeo das plantas Os cuidados
com o solo a aacutegua o sol os horaacuterios adequados para a colheita das plantas as partes a serem
usadas como as folhas raiz entrecasca flor galhos sementes fruto seiva e tambeacutem o
tratamento dado as plantas para a venda de produtos feitos pelos moradores tais como a
garrafada a multimistura pomadas e oacuteleos tudo eacute parte do contexto de saberes que os
moradores possuem sobre as plantas medicinais
Finalizamos assim observando a forte relaccedilatildeo existente entre os termos sobre as
plantas medicinais com o contexto social no qual estatildeo inseridas com os saberes adquiridos
no passado e no presente com a cultura com a Liacutengua e por conseguinte com a origem
negra que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem marcando assim a
identidade do povo quilombola
127
6 CONCLUSAtildeO
Este trabalho dissertativo se propocircs na anaacutelise dos termos sobre as plantas de uso
medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras ndash PA localizada na
cidade de Santa Luzia do Paraacute na Rodovia BR 316 (Paraacute ndash Maranhatildeo) regiatildeo do Rio Caeteacute
A partir das consideraccedilotildees sobre os termos catalogados pelos moradores quilombolas
pudemos observar e perceber que os saberes transmitidos entre as geraccedilotildees permanecem
fortes no seio da comunidade de forma que todo o conhecimento sobre as plantas medicinais
tem caraacuteter identitaacuterio ao povo de Pimenteiras
Conhecemos cada termo catalogado a fim de perceber as influecircncias da cultura negra
na linguagem popular e especializada sobre as plantas A presenccedila do gecircnero feminino nesse
contexto de conhecimento foi determinante para conseguirmos identificar as espeacutecies coletar
as imagens de cada planta e catalogar os termos sobre as plantas medicinais registrados pelos
moradores
Todos noacutes pensamos falamos lemos e escrevemos as palavras que herdamos em
meio aos saberes coletivos jaacute consolidados no tempo e espaccedilo Por meio da nossa Liacutengua as
palavras satildeo transmitidas e enredadas em significaccedilotildees Eacute atraveacutes dessa heranccedila com os
vocaacutebulos que a liacutengua abrange os saberes coletivos culturais e de significados produzidos
nos contextos de fala Ao nomearmos classificarmos categorizarmos e registrarmos as
experiecircncias vividas noacutes seres humanos criamos palavras e sintaxes ao contarmos e
recontarmos nossas histoacuterias
Por meio da Liacutengua fundamentamos nossa identidade eacute pelas palavras que
organizamos nossas crenccedilas e nomeamos nossos valores um saber que continua em
crescimento e transformaccedilatildeo atraveacutes do conhecimento da linguagem que herdamos e
transmitimos para as geraccedilotildees porvindouras Assim ressaltamos que as definiccedilotildees descritas
sobre os termos analisados sua variaccedilatildeo nos termos na linguagem representada nos saberes
sua motivaccedilatildeo sua estrutura e suas relaccedilotildees associativas constituiram-se relevantes para
percebermos as analogias da liacutengua com a cultura popular transmitida entre as geraccedilotildees
sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
Levando em consideraccedilatildeo que os termos sobre as plantas medicinais fazem parte de
uma especificidade da linguagem e que no caso em especial analisamos o termo na sua
estrutura socioterminoloacutegica entendemos que o conhecimento popular proveniente das
atividades tradicionais dos moradores quilombolas na regiatildeo foi o percurso trilhado para nos
128
conduzir nesse trabalho dissertativo de forma a considerar as abordagens socioterminoloacutegicas
de grandes pesquisadores Os estudos sobre a variaccedilatildeo nos termos sobre as plantas medicinais
tambeacutem foi fundamental para analisarmos cada palavra dentro de um contexto de uso social
histoacuterico e cultural com a finalidade de conhecer e ateacute resgatar os termos no acircmbito
sociocultural no qual estatildeo inseridos
A metodologia utilizada no decorrer do trabalho de campo nos proporcionou melhor
conhecimento sobre a comunidade em estudo pois do ponto de vista etnograacutefico eacute preciso
estar laacute para aprofundarmos sobre os saberes da comunidade e interagirmos in loco para
compreendermos a dinacircmica do trabalho e da vida a partir da qual o homem do campo
constroacutei seus saberes Os dados catalogados sobre as plantas medicinais nos fizeram conhecer
mais profundamente os saberes sobre as plantas que apresentamos no repertoacuterio terminoloacutegico
coletado composto por quarenta e dois (42) termos catalogados com suas respectivas
imagens
Aleacutem dos termos catalogados foi necessaacuterio registrar os dados orais ocorridos
durantes as diversas entrevistas da pesquisa de campo utilizando os recursos computacionais
como o Transana para efetuarmos a transcriccedilatildeo Grafemaacutetica das entrevistas realizadas Isto
foi indispensaacutevel para compreendermos melhor os aspectos que contornam o termo e
tambeacutem para a definiccedilatildeo descritiva de cada termo catalogado pois no contexto discursivo
podemos entender melhor cada palavra e suas significaccedilotildees no estudo socioterminoloacutegico
No percurso desse trabalho buscamos natildeo apenas a interpretaccedilatildeo ou anaacutelise dos
termos catalogados mas tambeacutem observar a construccedilatildeo dos saberes dos moradores como um
aspecto marcante na identidade da comunidade quilombola Essa nova visatildeo sobre os termos
nos trouxe um perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural mostrando as influecircncias da cultura negra na
linguagem de uso particular sobre as plantas medicinais
Eacute por meio da Liacutengua que os moradores quilombolas de Pimenteiras refletem as
caracteriacutesticas da identidade cultural entre a planta e as caracteriacutesticas que especializam cada
espeacutecie mas eacute na variaccedilatildeo da liacutengua que os termos se relacionam com as aacutereas de
conhecimento que os moradores possuem sobre as plantas medicinais O movimento
constante da linguagem atribui o princiacutepio fundamental da liacutengua que eacute a comunicaccedilatildeo
presente no contexto dos saberes de um povo e manifestado na preservaccedilatildeo da linguagem
atraveacutes da valorizaccedilatildeo por seus falantes
Nesse sentido quando associamos o saber especializado ao contexto de campo das
ciecircncias e das teacutecnicas temos no termo uma feiccedilatildeo terminoloacutegica na qual ele assume uma
dimensatildeo linguiacutestica e cognitiva no comportamento lexical especializado e na manifestaccedilatildeo
129
desse conhecimento Notamos assim que o termo eacute parte do componente linguiacutestico de tal
modo como eacute uma unidade terminoloacutegica e um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber
Portanto ao referirmos as plantas de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras
percebemos que o domiacutenio estudado pertence ao campo da medicina caseira como consta na
Norma da ISO 1087 explicando que o domiacutenio eacute definido por um ponto de vista particular no
qual os limites satildeo definidos pelo saber particular da moradora Domingas
Ao verificarmos a definiccedilatildeo descritiva dos termos a senhora Domingas expocircs de
acordo com seus saberes uma relaccedilatildeo associativa entre a planta com o objeto nomeado Nas
explicaccedilotildees de Faulstich (1995 p 36) o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e
coletiva num processo de interaccedilatildeo entre o sujeito a realidade as pessoas e o ambiente
sociocultural revelando que a Socioterminologia eacute desenvolvida no cunho funcionalista de
natureza social Nos casos em que ocorrem caracterizaccedilotildees de conceitos e definiccedilotildees para um
mesmo termo Faulstich lembra que ocorre a variaccedilatildeo terminoloacutegica em que um novo termo
um novo conceito traz uma nova definiccedilatildeo
Com respeito agrave relaccedilatildeo associativa na forma ou na funccedilatildeo das plantas medicinais
esta faz parte da natureza e concepccedilatildeo dos termos estudados Notamos que a estrutura
morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica do termo apresentado tambeacutem como unidade
terminoloacutegica foi explanada por alguns autores tais como Araujo (2006) que verificou os
termos em sua estrutura leacutexico-semacircntica com uma constituiccedilatildeo simples contendo a presenccedila
de apenas um radical e uma composiccedilatildeo composta e complexa quando apresentam dois ou
mais radicais Andrade (1998) por sua vez explica que na estrutura do termo composto temos
a presenccedila do hiacutefen diferenciando-se do termo complexo que natildeo possui o hiacutefen Poreacutem
haveraacute processos de composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras
Com base nos estudos dos autores citados vemos que os termos catalogados sobre as plantas
de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras possuem na sua estrutura formaccedilatildeo simples
com apenas um radical formaccedilatildeo complexa com a presenccedila de mais de um radical e
composta nos quais ocorre o processo de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo
Nossa anaacutelise foi constituiacuteda por doze (12) termos de plantas de uso medicinal
catalogadas pelos moradores quilombolas de Pimenteiras de um total de quarenta e dois (42)
termos As apreciaccedilotildees desses dados da pesquisa passaram por diferentes estudos sobre o
termo levamos em consideraccedilatildeo natildeo apenas as caracteriacutesticas gramaticais que o compotildee
mas principalmente analisamos as definiccedilotildees descritivas da senhora Domingas utilizando
para isso o modelo de ficha terminoloacutegica de Faulstich para melhor visualizaccedilatildeo dos
elementos constitutivos do termo
130
Eacute nessa compreensatildeo sobre o que motiva ou associa a nomeaccedilatildeo dos termos que
vemos a reflexatildeo sobre o conhecimento que os moradores possuem da proacutepria linguagem
suas relaccedilotildees com a natureza as influecircncias e transferecircncia de saberes entre as geraccedilotildees e as
caracteriacutesticas marcantes que tornam a comunidade de Pimenteiras uacutenica em sua identidade
como lugar das plantas medicinais
Perante tudo que foi explanado sobre a pesquisa efetuada na comunidade de
Pimenteiras acreditamos ter dado um grande passo neste estudo fascinante e envolvente sobre
a histoacuteria cultura e saber de um povo um povo que desperta nosso desejo de conhecimento
de buscar outros caminhos nos estudos Socioterminoloacutegicos e em muitos outros estudos
cientiacuteficos que reconheccedilam e valorizem os saberes e cultura da comunidade de Pimenteiras
Os termos analisados neste trabalho dissertativo nos trazem resultados interessantes
quanto agraves influecircncias da cultura negra que por longos periacuteodos da histoacuteria sofreu e ainda
sofre retaliaccedilotildees e preconceito por contra da escravidatildeo pois ainda hoje um preconceito
mascarado sobrevive Brookshau (1983 p 12) expotildee que ldquoo negro mesmo antes de ser
escravizado tinha um defeito que para muitos serviu de justificativa para sua escravidatildeo e esse
defeito era sua corrdquo A cor negra na cultura ocidental sempre teve uma conotaccedilatildeo negativa em
oposiccedilatildeo ao branco que eacute definido com o sentido de limpo e puro A presenccedila dos africanos em
nosso paiacutes contribuiu natildeo soacute na nossa cultura mas tambeacutem na formaccedilatildeo do tipo fiacutesico
brasileiro Somos um povo diversificado na cultura na danccedila no biotipo fiacutesico no sincretismo
religioso nas comidas tiacutepicas na influecircncia indumentaacuteria no gecircnero forte da mulher no uso das
plantas e consequentemente na liacutengua
Tanta influecircncia sucedida do negro contribuiu muito para a formaccedilatildeo da nossa
nacionalidade Segundo o antropoacutelogo Arthur Ramos (1942) eacute inocente e sem base cientiacutefica
querer caracterizar a questatildeo racial no Brasil pois todos noacutes somos formados de contatos
humanos que se processaram no paiacutes que natildeo se limitaram apenas aos grupos de negros
brancos e iacutendios somos derivados deles Nossa liacutengua em especial eacute o reflexo de noacutes mesmos
por manifestarmos e expressarmos nossa proacutepria existecircncia Assim ainda que carregados de
dificuldades e escravidatildeo o negro trouxe-nos a forccedila e riqueza de sua cultura que hoje
podemos dizer eacute um dos pilares da nossa identidade nacional
Diante de tantas riquezas sobre as influecircncias do negro da comunidade de Pimenteiras
esperamos que o estudo em questatildeo seja uacutetil agravequeles que se interessem pelo assunto e queiram
conhecer melhor o universo que envolve essa cultura popular e socioterminoloacutegica das plantas
medicinais da comunidade pois natildeo poderiacuteamos deixar ocultada a sabedoria popular sobre as
plantas medicinais precisaacutevamos conhececirc-la observaacute-la analisaacute-la prestigiaacute-la e repassaacute-la
131
para aqueles que buscam natildeo apenas saber mas sobretudo valorizar a sabedoria tradicional
preservada na linguagem como identidade dos moradores quilombolas de Pimenteiras
132
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APEcircNDICE A ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Domingas Alves do
Nascimento
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA
CAMPUS DE BRAGANCcedilA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA
FICHA DE ENTREVISTA COM OS MORADORES REMANESCENTES DE
QUILOMBOLA NA COMUNIDADE DA PIMENTEIRA - PA
A) Entrevistado
1Nome
2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino
3 Endereccedilo
4 Idade(anos)
5 Quantas pessoas habitam a casa
6 Naturalidade
7 Ocupaccedilatildeo principal
8 A Principal fonte de renda
9 Escolaridade
10 Vive na comunidade a quanto tempo
11 Seus pais avoacutes jaacute moraram ou moram na comunidade
12 De onde vieram (Cidade - UF)
13 Tipo de habitaccedilatildeo
14 Haacute quanto tempo mora aqui
15 Como era aqui quando a famiacutelia ou vocecirc chegou
16 Qual a sua origem De onde veio
B) Termo Quilombola
1 Como descobriu que tens descendecircncia de Quilombola
2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc
3 Qual o significado de ser Quilombola para sua comunidade
4 Qual sentimento tem pela palavra Quilombola
5 Houve algum tipo de dIscriminaccedilatildeo sobre a descendecircncia Quilombola
6 Reconhecem os direitos que possuem sobre ser Quilombola
7 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre essa Associaccedilatildeo
8 O que acha da comunidade da Pimenteira
9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc
C) Ervas e Plantas Medicinais
1 Faz uso de Plantas Medicinais ( ) Sim ( ) Natildeo
2 Quem passou o conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo de plantas
3 Quando tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda a quem vocecirc recorre
4 Como obteacutem as plantas que utiliza
5 Quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia
6 Quais partes satildeo utilizadas
7 Qual a melhor forma de preparo para cada planta
144
8 Como se usa
D) Dados sobre o manejo do quintal
1 Quais espeacutecies de plantas e ervas cultiva em casa e por quecirc
2 Como denomina o espaccedilo proacuteximo agrave sua casa
3 Quem cuida desse espaccedilo
4 Quais plantas vocecirc tem em seu quintal
5 Vocecirc consome as plantas que cultiva
6 Vocecirc realiza alguma atividade de compra e venda dessas plantas
7 Vocecirc compartilha essas plantas com algueacutem
8 Se vocecirc natildeo as tem onde vocecirc vai procurar
9 O que estaacute faltando em seu quintal
10 O que o quintal representa para vocecirc e para sua famiacutelia
E) Dados sobre o conhecimento e a transmissatildeo do mesmo
1 As plantas que vocecirc tecircm em seu quintal servem para quecirc
( ) alimento ( ) remeacutedio ( ) ritual ndash religioso ( ) decorativo ( ) brincadeira ( ) outros
2 Com quem vocecirc tomou ldquogostordquo por plantas Onde aprendeu o que sabe
3 E vocecirc ensina isso para algueacutem
4 Quais plantas satildeo mais usadas
5 Para que utiliza estas plantas
6 Faz uso de medicamentos das farmaacutecias Sim( ) Natildeo( ) Agraves vezes( ) Nunca( )
7 Quais E por quecirc
8 Possui alguma doenccedila Sim ( ) Natildeo ( )
9 Qual (is)
10 Jaacute ocorreu algum caso de doenccedilas curadas pelo uso das ervas e plantas
11 Vocecirc acredita no poder das ervas e plantas ou nos remeacutedios de farmaacutecia Por quecirc
12 O que eacute a Garrafada
13 Para que serve a Garrafada Quais as propriedades de cura que proporciona
14 Como eacute o preparo da Garrafada E que ervas possuem dentro
15 Com quem aprendeu a fazer a Garrafada e outros remeacutedios caseiros
145
APEcircNDICE B ndash Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Domingas Alves do Nascimento
entrevista do dia 19 de outubro de 2014
L1 data de nascimento
L2 dia vinte e oito (de outubro)
L1 ( )
L2 dia vinte e oito
L1 JAacute aqui a gente pode dizer qual eacute o endereccedilo
L2 pode
L1 ((muitos ruiacutedos de vento)) entatildeo hoje a senhora tem quantos anos
L2 (cinquenta e um) natildeo cinquenta e cinquenta neh
L1 hoje a senhora tem cinquenta
L2 cinquenta
L1 quantas pessoas moram na sua casa
L2 somos seis
L1 seis a senhora eacute paraense qual eacute sua naturalidade
L2 paraense
L1 paraense mesmo qual eacute a sua principal ocupaccedilatildeo (no) trabalho
L2 agricultura
L1 qual a principal fonte de renda com que a senhora ganha dinheiro
L2 ahh (assim) com a minha atividade eacute (arrancar) malva ( ) com a malva ou do accedilaiacute
eacute uma ( ) muito (dessa aiacute) e meus trabalhos de ( ) pra mim mesmo o que eu estou fazendo eacute
esse neh
L1 hum rum
L2 ( ) bastante eacute muito encomendado
L1 e remeacutedio caseiro
L2 remeacutedio caseiro
L1 a senhora tem que escolaridade ateacute que seacuterie a senhora estudou
L2 soacute a primeira
L1 primeira seacuterie
L2 que no meu tempo era muito difiacutecil neh a gente morava aqui aiacute eu daqui com uma
leacutegua quando quando eu comeccedilei a estudar eu tava com QUINZE anos eu com
dezessseis (eu me ajuntei)
L1 hum rum
L2 aiacute pronto meu marido lutou lutou mas eu pra mim foi muita dificuldade eu jaacute sou
dona de famiacutelia ia deixar a minha casa pra mim andar essa distacircncia todinha aiacute eu natildeo quis
ele pelejou pelejou meu sogro natildeo natildeo se eu (tivesse) na casa do papai tudo bem aiacute tava
ruim ele trabalhava me e eu sai eu tinha que sair seis horas da manhatilde que eacute daqui laacute na beira
do rio eacute uma leacutegua de aiacute natildeo tinha como eu preparar o almoccedilo neh chegava de tarde
cansada e aiacute eu natildeo estudei mais ( ) e era muito difiacutecil muito difiacutecil meus irmatildeos
nehnhum soacute tem eu neh meus irmatildeos soacute tem um que tem a quarta seacuterie um ou eacute dois
(por causa da dificuldade)
L1 a senhora vive na comunidade haacute quanto tempo
L2 e eu nasci e me criei aqui assim EU NASCI aqui eu natildeo nascci aqui mas foi aqui
perto neh depois que taacute com
[
L1 entatildeo desde receacutem nascida a senhora mora aqui
L2 hum rum
L1 taacute (palavras dirigidas a terceiros) eacute os pais da senhora (voz de terceiro) ou os
avoacutes eles jaacute moraram ou moram na comunidade eu quer quero que a senhora conte a
trajetoacuteria deles eles jaacute moraram aqui como eacute como foi
146
L2 natildeo assim eacute eles jaacute moraram essa minha matildee eacute falecida soacute meu pai dessas dessa
dessas turmadas soacute meu pai que ainda ainda eacute vivo neh eles assim eles moram ( )
quando eles na juventude deles eles moravam na outra comunidade
L1 (narcisa)
L2 narcisa sim aiacute de laacute eles casaram meus primeiros irmatildeos nasceram laacute e eu jaacute foi
L1 hum rum
L2 ateacute o quarto irmatildeo nasceu laacute ainda do outro lado do rio guamaacute ( ) do outro lado aiacute
quando eu vim de assim laacute a ge era muita gente aiacute eles botavam o (roccedilado) natildeo tinha mais
como o produto neh e naquele tempo natildeo tinha esse negoacutecio de adubo natildeo existia aiacute
por aqui era mato que eles caccedilavam aiacute meu avocirc disque queria vir botar um roccedilado pra caacute aiacute
parece que os vizinhos jaacute ficavam dizendo laacute que a mata tava pouca a capoeira jaacute natildeo dava
muita produccedilatildeo aiacute eles andavam na mata disse que vinham botar um roccedilado pra caacute mas
como era assim a mata natildeo tinha ele foi laacute em oureacutem pegou um papel fez um
requerimento pegou um papel aiacute laacute com a assinatura laacute nesse tempo tinha feito natildeo sei de
quem eacute laacute mais laacute aiacute foi falou para o genro dele era trecircs genro que ele tinha ele soacute
tinha um filho e trecircs filhas nem vi as filhas todas casaram (netinho) jaacute tava pro
prosperando familiacutea aiacute ele chegou laacute e disse bem se vocecircs quiserem botar um roccedilado pra
mata para o (centro) ( ) agora a gente vai porque a gente taacute com a autorizaccedilatildeo na matildeo aiacute
eles vieram botar o primeiro roccedilado aiacute acharam MUIto longe taacute indo e vindo indo e vindo
todo dia neh aiacute eles fizeram um barracatildeo pra eles todos fizeram um barraco aiacute jaacute
traziam a famiacutelia pra ficar mais PERto pra fazer o almoccedilo pra ajudar ((tosse)) pra ajudar
porque a gente trabalha tambeacutem no roccedilado neh aiacute veio vinha primeiro a vovoacute sempre
ficava laacute neh que era a mais velha ficava laacute com os outros netos e vinha as filhas com uns
uns ajudar os maridos aiacute nisso aiacute foram se acostumando se acostumando e a a produccedilatildeo
foi aumentando assim a renda eles gostaram muito do do (canto) aiacute pronto j5aacute foram fazendo
casa pra morar aiacute foi que eles vieram veio veio quatro famiacutelia meu avocirc com os trecircs
filhos que vieram ( ) fizeram o barracatildeo dele laacute a casa laacute depois jaacute foram aumentando
fazendo a sepaccedilatildeo da casa que aquele tempo era no barro neh fazia primeiro era a casa de
palha que eacute eacute esse matinho aiacute oacute tubim pois eacute esse taacute cobriu a casa com esse daiacute mas
eacute uma excelente cobertura que eacute frio que soacute aiacute faziam a tapaccedilatildeo repartida de barro neh
aiacute cada quase jaacute moravam no seu no na na sua propriedade localidade ( ) barracatildeo na
sua casa aiacute daiacute que foram foram chegando os netos foram crescendo foram procurando
familiacutea e foram casando fazendo casa perto que eu tenho dois um primeiro meu
irmatildeo casou fez a casa lacuteperto do papai depois o segundo casou fez perto tambeacutem e a
minha irmatilde que eacute comadre ( ) que eacute a mais velha casou o marido dela tambeacutem natildeo levou
ela para o lugar dele ELE foi pra caacute neh aiacute a famiacutelia foi aumentando a minha matildee taacute
com dez anos jaacute falecida
L1 de onde eles vieram assim a origem dos dos seu pais
L2 a minha matildee ela veio de origem do negro dos escravos neh
L1 natildeo eu digo assim o estado eles satildeo paraenses
L2 eles satildeo paraenses
[
L1 todos eles
L2 todos eles satildeo paraenses
L1 natildeo tem nenhum
[
L2 natildeo natildeo de mistura natildeo que eu saiba natildeo se se tem mas natildeo chegou no
meu conhecimento que a a mamatildee ela contava muita histoacuteria assim a minha voacute muita
histoacuteria assim de quando eles eram crianccedila de quando eles eram ado adolescente jovem
mas eles nunca disseram que era que era de outra assim sempre ( )
L1 e na qual era o tipo de habi de de habitaccedilatildeo que eles tinham que a senhora
147
falou qual era como era a casa
L2 deles
L1 hum rum
L2 era sempre assim dessa palha a cobertura e ao redor era empalhada tambeacutem soacute
que eu natildeo cheguei a conhecer assim empalhada natildeo do barro eu ainda me lembro muito
bem a cobertura tambeacutem agora empalhado da mesma mesma coisa neh que eles
faziam assim mas eu natildeo me lembro natildeo mas a minha matildee contava que era assim
L1 a cobertura era empalhada
L2 a ccobertura era da (albim) e ao redor tambeacutem pra fazer a separaccedilatildeo neh
L1 era albim
L2 da albim tambeacutem era cercado com albim assim feita a separaccedilatildeo sim pelo menos o
quarto da onde dormiam neh
L1 hum rum mas em volta natildeo era barro era assim empalhado neh
[
L2 hum rum era empalhado
era
L1 entatildeo haacute quanto tempo ele eles o seu pai ainda eacute vivo
L2 eacute papai eacute
L1 haacute quanto tempo moram aqui
L2 eu tocirc com aqui neste lugar ou assim
L1 aqui na pimenteira
L2 na pimenteira taacute com umas umas faixa de uns quarenta anos
L1 quarenta
L2 assim quando veio da narcisa logo quando veio da narcisa
L1 sim
L2 ah taacute com seus cinquenta porque mais de cinquenta quase seus sessenta porque eu tocirc
com cinquenta e um e eu jaacute jaacute sou da da aquarta filha que nasceu aqui jaacute soacute que natildeo
era pra esse mesmo lugar neh era aqui o cajueiro mas eacute mesmo ( ) a gente se mudou
quando eles vieram de laacute ( ) laacute papai natildeo gostou muito de laacute porque esse tempo ele criava
umas vacas que era amarrada assim na corda e laacute eacute muita (acidentado) daacute mais de que
aqui neh aiacute tinha um um homem que morava bem ali assim aiacute era muito colega do
papai e aiacute aqui esse tempo um tempo veio uma tinha uma casa que que davam aula era
bem aiacute chamavam o carro da prefeitura aiacute a mulher foi embora a professora foi embora aiacute
ficou desocupada aiacute esse homem cedeu para o papai seu Raimundo laacute na pimenteira ali
adonde perto de onde eu moro uma pertenccedila ao ao terreno de vocecircs por quecirc que natildeo vai
embora pra laacute aiacute foi que noacutes viemos de laacute do cajueiro mas fica aqui proacuteximo neh aiacute
fizemos a abertura aiacute daiacute
[
L1 entatildeo vocecircs satildeo os primeiros moradores aqui
L2 somos meu pai eacute primeiro morador
[
L1 como eles ele conta como era aqui quando a famiacutelia
veio quando vocecircs chegaram aqui como era como era essa aqui essa aacuterea toda
L2 aqui aqui mesmo eu me lembro jaacute quando eu cheguei aqui quando noacutes viemos do cajueiro
pra caacute eu me lembro eu jaacute me alembro eu acho que eu estava com uns sei cinco a seis anos
mas eu jaacute me alembro aqui era todo tudo capoeira que a mata era logo bem aqui
proacuteximo nossos primeiros roccedilados foi muito proacuteximo de qualquer uma crianccedila ia laacute no
roccedilado tirar o milho tirar buscar uma melancia qualquer um que queira era muito perto
a mata era proacutexima isso era capoeira isso aqui tinha soacute um uns caminhinho que os
meninos iam aacutes vezes para o roccedilado um uma coisa era tudo era sombra natildeo tinha
natildeo era natildeo tinha essa abertura aiacute esse garapeacute era a coisa mais linda do mundo era esse
148
garapeacute que a gente toma banho porque era capoeira neh era capoeira era era sombra
aiacute aiacute a gente ia tomava banho quando noacutes era crianccedila noacutes tomava aiacute quando tava um
tempatildeo de chuva assim noacutes jaacute ficava alegre porque sabia que ele ia crescer e noacutes gostava
muito de tomar banho na aacutegua grande e aiacute qundo passava a chuva noacutes pedia pra o papai e pra
mamatildee e noacutes ia tomava muito banho agora natildeo agora natildeo presta pra tomar banho
nenhum porque ( ) daiacute da da daqui da boca dele ateacute quase na cabeceira desse jeito aiacute natildeo
presta mais pra tomar banho
L1 a a sua origem mesmo eacute paraense a senhora veio de laacute a senhora veio da narcisa
aliaacutes a senhora nasceu na narcisa
L2 natildeo natildeo eu jaacute nasci ali no
[
L1 no cajueiro
L2 hum rum
L1 certo veio da narcisa moro morou um tempo no cajueiro e agora
[ [
L2 ( ) no cajueiro e ( ) ( ) porque assim
( ) bem pertinho daqui natildeo daacute dois quilocircmetros daqui laacute
L1 taacute agora vamos eacute ter quando foi que a senhora descobriu que tem uma a
descendecircncia de quilombola
L2 porque a minha voacute di dizia neh a minha voacute contava pra noacutes que ele ela eacute ela vinha
dessa descendecircncia que os avocircs delas AVOcirc da minha avoacute era os escravos
L1 como ela soube como ela como ela sabia disso
L2 porque ( ) contavam pra ela neh a matildee dela contava pra ela aiacute ela a matildee dela jaacute
passava pra ela e ela jaacute passava pra noacutes porque euu ainda me alembro muito da minha voacute ela
mamatildee contava ( ) MAIS era ela que contava que ela dizia que ela os avoacutes dela contavam
que (eram) dqquele tempo de de ficar amarrado de ser accediloitado neh aiacute ela ia
repassando pra noacutes
L1 os avoacutes dela passaram por isso viveram esse periacuteodo
L2 natildeo os avoacutes dela eacute que contavam que os outros ates dele neh
[
L1 antes os antes dele que ( )
L2 an ram eacute isso
L1 entatildeo eacute satildeo os seus tataravoacutes (digamos assim)
L2 isso acho que ism
L1 que viveram essa eacutepoca da escravidatildeo
L2 hum rum
L1 mas essa eacutepoca da escravidatildeo aqui nessa regiatildeo natildeo
L2 natildeo natildeo era aqui
L1 onde
L2 isso aiacute eu natildeo sei dizer adonde era natildeo natildeo me alembro se ela disse mas eu natildeo sei (
) se era na narcisa se era noutro (canto) natildeo sei natildeo ( ) sei que eles eram dessa dessa
dessa descendecircncia mas eu natildeo sei dizer da onde eacute
L1 dona Domingas o que eacute ser quilombola qual o significado dessa palavra pra
senhora
L2 e eu essa eu natildeo entendo muito bem muito bem eu natildeo entendo por isso que eu queria
que o ( ) tivesse aqui que ele entende mais melhor do que eu ele jaacute fez ( ) estudo ele ( ) mais
do que eu neh que ele passou ele passou seis anos assim presidente da associaccedilatildeo parte
que ele tem mais conhecimento mas natildeo ( ) ele taacute pra rua mas ser quilombola acho que eacute
ser vem dessa descendecircncia e assim das (coisas) tradicional as coisas da natureza
aprender e viver com a natureza eu acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre
assim vendo os iacutendios porque os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu
149
acho que ser quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima
da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as coisas
pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende as coisas com a
natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque aquele tempo dos dos dos
negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de leitura (nada nada) MAS com a natureza
eles aprendiam alguma coisa
L1 qual eacute o significado de ser quilombola pra comunidade o que a comunidade
pensa a senhora sabe dizer
L2 natildeo tambeacutem natildeo natildeo sei dizer natildeo ( ) eu eu soacute sei dizer que eacute eacute eacute eacute eacute uma um
tipo que eles quase juntocom o iacutendio com os iacutendios eles descobriram o Brasil neh
porque quem descobriu o Brasil mesmo foi os iacutendios neh e jaacute como aquele pessoal
naquele tempo ele jaacute viviam tambeacutem acho que eles ajudaram os iacutendios descobrir o Brasil
tambeacutem acho que ( ) soacute um soacute sei dizer que os negros ele ele eacute (federal) neh
L1 humrum
L2 ele eacute (federal) ele ele tem todo direito com certeza ele tem o direito (estremo) soacute
que soacute aqui ateacute hoje a gente natildeo tem ( ) ainda o conhecimento de tanto direito que a gente
tem tem muitas coisas ainda escondido por debaixo do tapete que ainda natildeo chega no
conhecimento de muita gente que aacutes vezes ele eacute quilombola ele eacute NEGRO mas ele ainda natildeo
tem conhecimento dele ser negro ele ainda fica dizendo que ele natildeo eacute negro porque pra
tem gente assim que pensa que dizer negro eacute aqueles escravos daquele outro tempo ah
negro jaacute tempo de negro jaacute passou era aquele tempo aiacute natildeo aqui mesmo na minha
comunidade tem gente assim porque ele eacute negro eacute da mesma famiacutelia eacute da mesma mas ele
ainda natildeo pensa dizer que ele eacute negro porque ainda ainda taacute na mente dele que o negro eacute
daquele outro tempo
[
L1 eacute aquele negro escravo
L2 aquele negro escravo aquele negro pobre daqui que natildeo tem nada como ainda tem na
mente deles mas natildeo eacute o negro eacute eacute ele foi muito reconhecido neh e tem muito eacute soacute
que eu eu disse pra o (Isaldo) (Isaldo) tu tem muito mais conhecimento no dia que a Edilene
vir eu precisava que tu tivesse laacute porque eu sei que ele tem MAIS esse conhecimento (tem)
que agora no dia vinte de novembro a gente vai fazer uma atividade aqui neh (ontem eu
fui) dizer pra Nazareacute Nazareacute eu queria que cecirc fosse pra cecirc daacute uma palestra laacute na (tal)
comunidade saber muita gente saber que (eacute negro) e eu quero aprender tambeacutem mais e tem
muita gente que natildeo sabe nem um pouquinho o tanto que eu sei ( ) a gente vai fazer no dia
vinte de novembro eacute a nossa ( ) eacute soacute neh (a santa jaacute veio) aqui em casa aiacute a gente
pensou ia ser era pra ser amanhatilde dia vinte de novem de outubro aiacute eu fiquei pensaando e
disse Isaldo PORQUE porque o Isaldo era presidente era meu irmatildeo mas eu eu me
comunico muito com ele tudo que eu quero fazer eu pergunto pra ele Isaldo porque noacutes
num num faz no dia no dia vinte de novembro que eacute o dia da consciecircncia negra neh
aiacute ele disse natildeo sei natildeo vai ( ) no dia de semana eu digo ( ) meio de semana mas eacute eacute
feriado pra noacutes eacute feriado e po quecirc que a gente natildeo faz aiacute ele disse seraacute que vai daacute algueacutem
digo a gente convida outra comunidade quilombola neh que venham participar junto
com noacutes aiacute fizemos uma reuniatildeo por isso que eu digo que de vez em quando noacutes estamos
reunindo eacute eacute por causa disso neh aiacute fizemos uma reuniatildeo aiacute joguei a proposta aacuteiacute todo
mundo aceitou mas soacute meu marido que natildeo porque ele quer ( ) como eacute que uma pessoa vem
que eacute meio de semana digo vem sim ( ) se falado com o tempo ageitam um carro neh a
gente taacute chamando querendo chamar os ( ) (olha) que eu jaacute passei com o Dinho que eacute
secretaacuterio de cultura neh ele jaacute veio aqui logo quando ele ele ( ) scretaacuterio ele veio aqui
aiacute ele procurou qual era a atividade qual era qual era as (futuras) ( ) dizendo pra ele aiacute
ele disse que quando fosse dessa soacute anda ele queria pra mim participar com bem tempo
antes antes ele queria ele ia (ajudar) da maneira que ele pudesse mas isso aiacute tem
150
fevereiro parece marccedilo (aiacute quando foi) essa semana eu passei com ele ele disse que jaacute
correu atraacutes de umas ( ) pra ajudar neh aiacute tem aquele outro Anderson tambeacutem ele ele
sempre ele liga pra caacute diz que ele quer ajudar tambeacutem ele quer vir aqui ( ) PRA
AJUDAR E A GENTE TAacute VENDO ASSIM REUNINDO PRA VEcirc COMO Eacute QUE
NOacuteS VAMOS FAZER sobre alimentaccedilatildeo porque quando foi ontem noacutes tava nessa
reuniatildeo nessa reuniatildeo vem vaacuteria vem gente de vaacuterias comunidades quilombola porque
vem tipitimga vem (presidente de laacute) vem jacareacutequara ( ) vem da mariana que eacute noutro
municiacutepio mas vem tambeacutem neh ele faz parte da rede bragantina E AIacute EU QUANDO eu
lancei a proposta laacute na reuniatildeo todo mundo (quer vir) pra caacutetipitinga quer vir
jacarequara quer vir ( ) quer vir agora eu jaacute tocirc imaginando eacute alimentaccedilatildeo como eacute que noacutes
vamos fazer pra alimentaccedilatildeo desse povo de querer vir eu quero aiacute jaacute fica pensando neh aiacute
a mulher ( ) dona Maria disse que vir tambeacutem aiacute amanhatilde natildeo ( ) pode ter muita gente
eles disseram que natildeo ia daacute nigueacutem noacutes temos muita gente que quer vir aiacute noacutes vamos pensar
como eacute que noacutes vamos fazer ( ) que eacute o dia da consciecircncia negra tem muita gente aqui que
natildeo sabe ( ) assim neh ( )
[
L1 a senhora me
convida taacute
L2 jaacute taacute convidada ( ) (risos) jaacute taacute convidada a gente tem uns convites ali neh que a gente
preparou uns convites aiacute ficou pra mim sentar na comunidade vecirc como eacute que vai ser pra
gente entregar os convites mas (a senhora) natildeo esqueccedila jaacute anota aiacute (eu lhe aviso) dia vinte de
novembro
L1 vai ser o dia todo
L2 eacute o dia todo porque assim taacute na programaccedilatildeo primeiro porque a gente todo ano faz
a reza neh primeiro uma pequena procissatildeo pega a santinha numa casa se organiza aiacute
vai quando chega na igreja reza tem ano que noacutes reza aqui tem ano que ( ) o pessoal
gostam porque eacute mais ventilosa neh aiacute eles vem aqui aiacute reza daiacute serve o almoccedilo daiacute se
tiver um leilatildeozinho leilatildeo um bingo aiacute a tarde eacute partida de futebol como os meninos tem
essa ajuda aiacute capoeira eles vatildeo paresentar capoeira a Andresa ela disse hoje ah matildee eu vou
ajeitar as meninas pra noacutes apresentar um uma danccedila laacute uma danccedila de (carimboacute) aiacute a gente
taacute vendo assim ( ) ser um dia festivo um dia de todas as atividades se querer outros
gruupos doutra comunidade se tiver um grupo que queira apresentar alguma coisa vai ter
tambeacutem espaccedilo
L1 vou daacute uma ideias depois qual sentimento assim SENTIMENTO sentimento o quecirc
que a senhora sente quando pela palavra por essa por essa palavra que que que fala
quilombola
L2 assim o meu sentimento
L1 hum rum
L2 eu gostar eu gosto ( ) me se se sinto muito bem
L1 se sente
[
L2 ( ) bem com certeza
L1 taacute essa pergunta tambeacutem eacute um pouco jaacute houve algum tipo de des discriminaccedilatildeo
L2 jaacute
L1 sobre a sua descendecircncia sobre a palavra quilombola
[
L2 jaacute
L1 o que foi
L2 eacute agora que natildeo agora jaacute recente que natildeo neh mas antes quando a gente (informava)
( ) a a associaccedilatildeo aqui quilombola quando descubriram porque isso aiacute veio veio assim
descubrir que era que era quilombola porque na narcisa laacute e eacute a a matriz neh como
151
a minha matildee veio pra caacute aiacute laacute formaram a associaccedilatildeo aiacute o meu meu primo ficou dizendo
olha tem mais gente porque assim quilombola eacute assim adonde cecirc tem parente porque
noacutes tem irmatilde no guajaraacute cigano aqui pro pra paragominas (natildeo) ipixuna neh mas a
hora que eles chegar aqui o lugar deles tatildeo aqui aiacute esse subrinho da mamatildee ficou dizendo
olha eu tenho uma tia que ela mora aqui que era aqui na pimenteira ela mora daqui natildeo sei
quantos quilocircmetros se um dia ela vir pra caacute tem lugar dela aqui disse tem com certeza o
lugar dela taacute aqui ela natildeo nasceu aqui aiacute tudo bem quando foi um dia ele veio passear
aqui aiacute ele foi disse pra mamatildee que se ( ) contou laacute a situaccedilatildeo neh aiacute eu disse que tem que
que cecirc tem que cecircs tatildeo pra caacute mas (vocecircs fazem parte laacute da narcisa) o dia que cecirc quirer ir
laacute ai a mamatildee disse natildeo pra laacute eu natildeo vou laacute se um dia elas quererem vir aqui esse pessoal
quererem vir aqui pra gente conversar ( ) conversar a gente conversa aiacute num belo dia de
domingo chegou trecircs umas quatro pessoas ( ) aiacute chamaram a mamatildee e ele perguntaram se
a mamatildee queria ir pra narcisa a mamatildee disse que natildeo aiacute se (mas) a mamatildee fazia parte do
quilomBOLA da da da associaccedilatildeo laacute da narcisica AIacute soacute que (naquele) tempo tinha
celebraccedilatildeo aiacute o (coacutedigo) que ficava com ( ) neh ficava muito na frente assim aiacute ela disse
que aqui natildeo formava porque quilombola eacute uma pessoa eacute negro que sabe contar o que vem
das tradiccedilatildeo de primeiro e esses que tavam na frente assim era era gente branca e sabia
que eles natildeo sabiam natildeo tinham nada com a ver com quilombola ( ) neh aiacute ( ) daqui aiacute o
(chaga) disse eles natildeo disseram aqui pra noacutes disseram laacute pra o chaga ah chaga laacute parece que
vai ser difiacutecil formar uma associaccedilatildeo de quilombola porque laacute quem taacute na frente mais satildeo
os brancos e laacute natildeo tem nada a ver com com negro a gente faz pergunta eles natildeo sabem
nada ( ) mas aiacute no decorrer do tempo a gente foi foi pegando conhecimento (eles vieram
aqui) mas naquele tempo a gente era muito criticado naquele tempo ( ) muito criticado bem
dizer assim ah bora entrar na associaccedilatildeo ( ) ah ( ) entrar na associaccedilatildeo pra ser negro eu
natildeo quero ser negro vocecircs querem ser diziam neh ( ) aacutes vezes assim (minhas
cunhadas) querem ser negro eu natildeo quero ser negro eu natildeo vou entrar na associaccedilatildeo
negoacutecio de ser negro negro neh escravo aiacute eles comeccedilavam assim fazer caccediloagem
diziam pra ser pra ser pobre mais de que era aacutes vezes eles diziam neh ser negro pra ser
pobre mais de que eacute noacutes jaacute somos pobres ainda ser mais pobre ( ) natildeo era assim natildeo aiacute desse
tempo agora agora recente natildeo a gente natildeo vecirc mais essas coisas mas logo no comeccedilo a
gente via dizia que negro era aquele um que andava sujo que andava com a unha suja que
andava com o cabelo sem pentear neh ((risos)) tinha gente que dizia aiacute eu jaacute ouvi muito
agora natildeo agora esses tempos natildeo ouvi mais acho que jaacute chegou no conhecimento neh
aquele que natildeo tinha nada pra comer ((risos))
L1 eacute com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas a senhora conhece reconhece que
vocecircs tem esse direito direitos
L2 eu conheccedilo um pouco
L1 quais
L2 assim a gente tem direito ((pigarreio)) assim numas pro porque assim eu natildeo
sei quase lecirc neh mas do pouquinho que eu sei a gente pega o estatuto aiacute um estatuto que
que foi tirado em on em Beleacutem foi feito um estatuto neh a gente tem vaacuterios direitos a
gente que AINDA NAtildeO CONHECE bem qual eacute os direitos que a gente tem e aiacute quando a
gente faz reuniatildeo sempre eu digo gente a gente tem que pegar aquele estatuto pra gente lecirc pra
gente discubrir qual eacute o tanto direito que a gente tem nos noacutes tem tanto direito mas noacutes veve
escondido laacute noacutes veve ainda natildeo taacute no conhecimento nosso pra saber o tanto direito que
a gente tem porque se a gente descobrir o tanto direito que a gente tem o direito que a gente
tem eacute um direito muito grande neh Eacute MUITO
[
L1 vocecircs tem o estatuto
L2 tem
L1 hum pra comunidade toda
152
L2 isso
L1 quem eacute que que ler esse estatuto fica na matildeo de quem
L2 aqui em casa taacute aqui mas sempre quando eu digo assim olha bora fazer uma reuniatildeo pra
lecirc o estatuto pra todo mundo mas sempre eacute naquela correria mai a gente vai lecirc custa muito
bora cuidar nas outra coisas no que tem fazer aiacute
L1 como vocecircs conseguiram esse estatuto
L2 noacutes noacutes fizemos assim neh da comunidade na comunidade escrevemos o que
era que noacutes queria dentro da comunidade qual era as leis que noacutes ia botar aiacute foram
escrevendo e levaram pra registrar
L1 ah eacute o estatuto
L2 da associaccedilatildeo
L1 da comunidade
L2 da comunidade sim da associaccedilatildeo
L1 ah da asso-ci-a-ccedilatildeo da pimenteira
[ [
L2 da associaccedilatildeo isso hum rum
L1 dos quilombolas da pimenteira
L2 isso
L1 hum natildeo eu digo assim o estatuto que eu falo eacute da da da de quem eacute
quilombola
L2 natildeo
L1 esse a senhora natildeo conhce
[
L2 natildeo natildeo esse daiacute natildeo
L1 hum agora sim existe alguma associaccedilatildeo na comunidade e eu queria que a senhora
falasse da associaccedilatildeocomo foi que veio essa ideia da da associaccedilatildeo como foi que surgiu
como foi que ces criaram por que criaram
L2 eacute eacute essa aiacute comeccedilou a gente a gente tinha jaacute era comunidade neh antes da
associaccedilatildeo era comunidade aiacute veio um um professor da universidade era ateacute cardoso o
nome dele aiacute ele aiacute comeccedilou (entrar) pequenos projetozinho assim pra caacute mas assim
feito jaacute assim pouquinho natildeo era que nem primeiro fez um projeto do duma casa de
farinha atraveacutes do da pastoral da crianccedila natildeo natildeo natildeo existia associaccedilatildeo foi um pequeno
projeto ( ) da pastoral da crianccedila aiacute depois um projeto de nesse tempo da casa de forno
veio um um caititu pra ralar mandioca e um motosserra aiacute depois um pequeno projeto
pro gado mas tudo da pastoral da crianccedila neh a gente faz aquele grupo de mulheres de
pessoas pra pra fazer um grupo e fazer as vaacuterias assinaturas pra ir pra laacute e o projeto vir
mas natildeo era associaccedilatildeo ningueacutem tinha nada de associaccedilatildeo estatuto nem ata nem nada ai
depois veio um zinho de do pimental um pequeno pimental neh umas estaquinhas
assim pra gente formar um (feijoalzinho) aiacute foi esse tempo foi que o professor cardoso
veio comeccedilar ( ) ele era teacutecnico neh pra daacute assistecircncia e aiacute ele comeccedilou a dizer olha porque
vocecircs num num formam uma associaccedilatildeo ( ) (vocecircs devem formar uma associaccedilatildeo) que se
vocecircs formarem uma associaccedilatildeo vocecircs tem vocecircs tem mais forccedila pra puxar as coisas mais
aiacute a gente comeccedilava a perguntar assim nesse tempo o ( ) ele ele era muito bem
introsado aqui com noacutes agora natildeo agora ele separou-se neh teve uma desavenccedila aiacute ele
nunca mais participou de nada aqui aiacute ele a gente comeccedilava a fazer pergunta pra ele
professor como eacute que faz a associaccedilatildeo eacute pra gente formar AIacute ELE comeccedilou a incentivar a
gente olha a gente faz a gente comeccedila a fazer umas pequenas reuniAtildeO na reuniatildeo a
gente depois que jaacute po jaacute tiver um bom conhecimento da reuniatildeo a gente vai escolher
o o presidente o secretaacuterio o tesoureiro aiacute vai daacute uma mensalidade que eacute pra gente
fazer a ATA QUE Eacute PRA REGISTRAR essa ata e a a associaccedilatildeo fica registrada e foi aiacute
que noacutes comeccedilamos neh sentava aiacute bora descutir como eacute que noacutes vai fazer pra noacutes ter
153
ter seguranccedila pra gente ficar mais junto aiacute fundemo a associaccedilatildeo foi aiacute isso aiacute que eu
tocirc dizendo que tem o estatuto desse tempo neh aiacute quem eacute o o presidente tal dia noacutes faz a
reuniatildeo pra escolher o presidente aiacute foi foi meu irmatildeo que foi a primeira vez e eu fiquei
como tesoureira e o ( ) era secretaacuterio e aiacute fomos formando a associaccedilatildeo quando a
gente jaacute tinha conhecimento (do que) era quilombola aiacute aiacute aa Nazareacute com Vicente jaacute tava
muito bem colocado conhecimento neh aiacute eles eles foram ajudando noacutes ateacute agora
ainda ainda somos muito mais que parceiro ( )
[
L1 ela
hoje tem c-n-pj
L2 a nossa comunidade
L1 natildeo a associaccedilatildeo
L2 tem
L1 taacute tudo ok
L2 taacute natildeo isso aiacute que eu digo que taacute atrasado neh ai taacute atrasado ateacute a gente pagava
ficou pagando vaacuterios anos quando foi nessa nessa mudanccedila porque assim na nossa
no nosso estatuto ela ( ) nenhum presidente podia passar quatro anos neh aiacute passou os
quatros anos fizemos a eleiccedilatildeo de NOVO foi ele DE NOVO ( ) assumiu de novo aiacute
depois venceu os quatro anos aiacute comecemos e pensar quem eacute que fica aiacute fica naquela
confusatildeo eu natildeo quero outro tambeacutem ah eu tambeacutem natildeo quero aiacute pronto vamos ( ) duas
vezes por ano duzentos reais pra noacutes pagar laacute anual neh aiacute nisso aiacute fomo esquecendo
fomo esquecendo de de de pagar os nossos deacutebitos aiacute quando EU fizemos a eleiccedilatildeo de
novo aiacute foi eu AIacute PRA noacutes reconhecer essa essa essa ATA da nossa nova diretoria
passou mais de ano essa multa jaacute tava laacute neh passou mais de ano soacute pra reconhecer quando
noacutes fomos reconhecer tivemos dinheiro PRA reconhecer a ata mas natildeo tivemos pra noacutes
pagar a nossa a nossa cnpj laacute na ( ) e nisso aiacute foi indo e aiacute agora eu jaacute corri com esses
documentos pra pra fazer saber pra pra a gente saber quanto eacute que noacutes deve
quanto eacute que a nossa pendecircncia o valor ainda natildeo foi descoberto tem vaacuterias coisas que
a gente eacute uma multazinha dum canto eacute uma multazinha do outro e a gente ainda natildeo
descobriu e hoje temos falta do recurso neh aiacute a gente jaacute ateacute sentou uma vez pra pensar
pra tirar uma madeira neh (vender) pra poder fazer os pagamanetos dessas dessa
dessa desse cnpj ( )
[
L1 haacute quanto tempo a a associaccedilatildeo esxiste desde
quan do dia que ela foi criada
[
L2 eacute eacute isso aiacute ela foi craida em em abril de dois mil e cinco parece que foi em
dois mil e cinco NAtildeO MAS ela foi registrada em dois mil e seis noacutes noacutes formemos dois mil
e conco neh aiacute passou aqueles tempos todo a gente se organizando daqui ela foi registrada
em dois mil e sete uma coisa a gente montar uma coisa a gente faz vaacuterias reuniatildeo neh
daacute certo pra tal dia daacute certo ( ) dia aiacute faz uma reuniatildeo aacutes vezes falta o presidente falta o
o o o secretaacuterio aiacute natildeo taacute bora deixar outro dia aiacute nisso o tempo vai passando mas ela
foi registrada em dois mil e ( )
L1 vocecircs jaacute conseguiram alguma coisa atraveacutes da associaccedilatildeo
L2 jaacute
L1 o que
L2 jaacute jaacute conseguimo um accedilude primeiro essa saber primeiro foi o accedilude neh foi
um projeto esse accedilude foi soacute que foi assim em parceria foi aqui e jacareacutequara porque o
tempo que formou aqui formou jacareacutequara aiacute a gente foi feito um projeto soacute para as duas
comunidades a a aqui aqui foi um accedilude laacute nem sei o que foi esse accedilude a gente ele ( )
fazer fez muito bem cada cada um um um mecircs um dia fica na responsabilidade de um
154
neh pra colocar os tratar dos peixes mas sempre fica aquilo sempre tem um soacutecio que
que natildeo nem liga pra ele tanto faz a gente trabalhar em comunidade negoacutecio de
associaccedilatildeo eacute eacute meio pesado eacute meio difiacutecil carece da gente ter muita paciecircncia aiacute vai com
a gente ia (despescar) o accedilude neh a gente juntava todo mundo iam pra laacute e era uma
danaccedilatildeo de menino sei que pegava os peixes a gente repartia noacutes ainda fomos umas trecircs
vezes ainda em santa luzia ( ) neh aiacute
L1 esse accedilude eacute aqui proacuteximo
L2 natildeo ele fica aqui ele ele secou ele esbandalhou deixa eu contar o restinho dele aiacute neh
quando dava chuva ele a gente tinha que ter um cuidado laacute porque ele tapava a boca do
cano carece da gente taacute limpanndo laacute quando se descuidava ele vazava por cima quando natildeo
ele queria estourar aiacute quando foi num dia fomos pegar peixe quando terminemo de
pegar o peixe que eles terminaram laacute laacute vem o tempatildeo foi chuva que entrou pela noite
chuveu (ainda) aiacute o meu irmatildeo esse (Isaldo) ainda ficou laacute lutando pra tapar neh e gente bora
ficar aqui passar essa chuva aqui porque noacutes natildeo vamos daacute conta desse accedilude ele jaacute tava
muito cheiatildeo mas os outros nem quase se incomodaram estavam mais ( ) neh e ai
ele ainda lutou lutou mas ele natildeo deu conta que quando foi de manhatilde ele amanheceu
estourado ESTOURADO mesmo grande grande que assim aiacute noacutes ainda fizemos vaacuterios
motiratildeo pra noacutes ir laacute manual braccedilal era homem era mulher era menino tentemo tapar
ele mas natildeo firmou quando veiio a chuva ( ) foi manual mesmo neh aiacute natildeo firmou estourou
taacute laacute estourado a gente jaacute pediu vaacuterias vezes assim fazer outro projeto pra gente
(reconseguir) mas ainda natildeo deu certo natildeo aiacute com noacutes com essas pendecircncias que noacutes tem e
agora que noacutes tava noacutes fizemos um projeto que veio um projeto daqui natildeo sei se vocecircs
tinham conhecimento daquele (fundo) ( )
L1 natildeo ( ) fundo
L2 fundo do (dema) neh eu tenho um um projeto que ( ) especificamente com a
indiacutegena e quilombola neh a gente fez mas a teacute hoje a gente natildeo tem seguuranccedila se foi
aprovado por causa dessa tendencia que a associaccedilatildeo taacute pendente
L1 hum rum dema neh
L2 fundo dema
L1 agora seguindo aqui o que a senhora acha da pimenteira da comunidade da
pimenteira
L2 assim que eu acho assim de de de de melhoria de ( )
L1 natildeo o quecirc que a senhora acha assim pensa da comunidade gosta natildeo gosta o quecirc
que a senhora o que pensa daqui
L2 natildeo eu gosto gosto acho bom soacute tem um uma coisa que natildeo que natildeo gosto muito
eacute eacute sobre obediecircncia aqui neh que nem todos aacutes vezes os soacutecios mesmos
desobedecem alguma coisa que a gente aacutes vezes conversa na reuniatildeo anota tudo
bonitinho aiacute a pessoa passa por cima da lei que a gente coloca que nem assim porque
assim aqui eacute eacute noacutes se diz coletivo neh nossa terra eacute coletiva a gente num tempo desse
que eacute o tempo eacute a evocadora do accedilaiacute a gente fica dizendo olha gente pra noacutes ter o maacuteximo
cuidado de com accedilaiacute aquele quando subir naquele naquela aacutervore naquele cacho que taacute
verde a gente ( ) deixa laacute que o outro vem e tira mas ainda tem gente que aacutes vezes soacute taacute
verde ele joga pedra joga no chatildeo aiacute nem ele nem o outro isso aiacute noacutes tem toda nossa
reuniatildeo a gente fala mas ainda natildeo conseguimos isso aiacute eu natildeo gosto disso daiacute natildeo outra eacute eacute
no veneno no garapeacute neh noacutes jaacute lutemos muito jaacute pelejemos bora deixar de botar aqui
botavam timboacute neh no no garapeacute a gente ( ) esse daiacute taacute quase eliminado esse daiacute taacute mais
ou menos natildeo taacute muito neh ainda tem gente que coloca mas vem de outra comunidade
no escuro de noite aiacute bota o pessoal vatildeo laacute eacute soacute peixe morto mas natildeoo eacute da nossa (tem) o
garapeacute aiacute vem gente doutro canto que a gente natildeo sabe nem quem eacute ( ) agora o accedilaiacute eacute da
proacutepria comunidade eacute noacutes mesmos os proacuteprios ( ) satildeo assim noacutes aqui pra noacutes noacutes tira quase
soacute pra tomar aqui dessa desse desse coletivo noacutes tira pra tomar ALGUMAS vezes que a
155
gente vende agora pra vender assim noacutes tem o nosso terreno particular neh que fica haacute
dois quilocircmetros daqui pra vender sempre eles tiram de laacute tempo da colheita de murubru
que a gente vende tambeacutem neh eacute outra outra eacute outra eacute quase que nem o (murumuru)
QUE NEM o accedilaiacute um jaacute vai entra na aacuterea do outro outro jaacute vai disque teve um tempo que
carregaram ateacute o jaacute tinham deixado juntado o outro foi laacute carregou (risos) e a gente
fica dizendo gente bora bora ver a aacuterea eacute grande eu quando porque qaundo foi pra
se cadastrar no murumuru soacute eu e o Isaldo que se cadastremo neh aiacute eu jaacute tava na aacuterea
coletiva que era soacute noacutes depois que todo mundo quase aqui se cadastrou eu natildeo ajunto mais
noacutes ajunta do nosso terreno eu jaacute deixo aqui pra eles porque os outros natildeo tem terreno
particuular soacute eacute eu e o meu irmatildeo que tem outro (outro) terreno particular o resto tudo
tudo atividade deles eacute dentro dessa dessa aacuterea coletiva neh
L2 hum rum
L1 e a gente sempre fica dizendo olha bora escolher uma aacuterea que fique mais perto da
nossa roccedila da nossa casa pra tu ir deixa daquele outro pro outro mas eles sempre eles ainda
ficam entrando na na aacuterea ningueacutem tem terreno de dizer esse aqui eacute o meu mas a gente
deve respeitar neh a aacuterea o que fique mais perto da casa do outro MAS natildeo acontece
isso e eacute uma coisa isso daiacute eu natildeo gosto tambeacutem porque num fica desarespeitando
SOacute QUE num daacute briga natildeo daacute assim confusatildeo mas acuteacuteas vezes ficam dizendo ahh eu
tinha ttal coisa assim e assim quando eu fui olhar rapaz jaacute tinham levado meu cacho de accedilaiacute
foi olhar em tal accedilaiacutezal assim jaacute tinham levado eu passei laacute no no tal accedilaizal assim
assim porque cada qual tem os seus nomes assim passei laacute adonde natildeo sei adonde rapaz
laacute eacute um estrago de accedilaiacute estrago de accedilaiacute que tava cada cacho grande jogado laacute no chatildeo
mesma coisa eacute os ( ) daiacute neh que natildeo eacute bom e eacute gente daqui mesmo proacutepprio satildeo soacutecio
da natildeo eacute doutro canto natildeo da da associaccedilatildeo da comunidade
L1 tens orgulho da comunidade
L2 tenho
L1 por que
L2 porque ela eacute reconhecida ( ) eacute reconhecida ela eacute muito falada nessa comunidade
muito muito mesmo muita gente jaacute jaacute jaacute veio aqui muita gente e atraveacutes da associaccedilatildeo
eu jaacute fui tambeacutem vaacuterios canto fuui muito encontro em Beleacutem jaacute foi no em Acaraacute
municipiacuteo de Acaraacute jaacute fui em Tomeacute accedilu atraveacutes da associaccedilatildeo eacute por isso que eu tenho
orgulho
L1 ok agora a gente vai pra uma outra etapa uma etapa da sua aacuterea faz uso das plantas
medicinais a senhora utiliza tambeacutem
L2 com certeza
L1 quem passou esse conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo das plantas
L2 hum rum
L1 pra senhora
L2 a minha voacute e a minha matildee minha voacute da parte da minha matildee da os meus avoacutes da
parte do meu pai natildeo conheci nenhum agora da parte da minha matildee conheci todos dois
L1 quem tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda quando a senhora tem um
problema de sauacutede eacute e decide procurar ajuda a quem recorre
L2 olha eu mesmo quando a sauacutede problema meu mesmo
[ [
L1 sua sua
L2 eu recorro a eu mesmo ateacute agora graccedilas agrave Deus ainda natildeo ainda natildeo deu deu
recorrer a ningueacutem eu mesmo neh com meus
L1 meacutedico
L2 ateacute agora natildeo ateacute agora eu jaacute fui na matildeo de meacutedico pra cirurgia pra me operar
neh natildeo ter mais
[
156
L1 de que
L2 pra natildeo ter mais
L1 filho
L2 hum rum a minha caccedilula eu eu queria ser operada aiacute foi mas de laacute pra caacute FOI A
UacuteNICA VEZ que ateacute agora tocirc com cinquenta e um anos mas num AacuteS VEZES faccedilo umas
consultinha assim quando a doutora vinha uma uma doutora aiacute ( ) aacutes vezes ela passava um
remeacutedinho mas eu quase nem tomava natildeo chegava assim a tomar
L1 ok como obteacutem as plantas que utilizacomo eacute que a senhora consegue essas plantas
L2 como eacute que eu consigo
L1 hum run
L2 eacute aacutes vezes eacute arrumando com outro colega trocando neh aacutes vezes eu natildeo tenho
daquela daquela planta aacutes vezes eu consigo ( ) troco como a dona Nazareacute a dona
Nazareacute ela ela tem muita planta ela tem muita ela eacute muita chegado neh aiacute a gente se
ela natildeo tem da marca que eu tenho eu jaacute dou daquele que eu tenho ela jaacute me ( ) aquele um
que tem que agora a gente taacute fazendo um monte de mistura natildeo sei se vocecircs tem
conhecimento da ( ) mistura neh
L1 hum rum
L2 aiacute a gente taacute fazendo assim ela laacute ela ela tem a semente de girasol e o farelo MAS
ela tem o farelo do poacute do arroz aqui na na comunidade eu jaacute levo a a a o poacute da casca
da da maca da folha da macaxeira da o gengili aiacute de laacute a gente jaacute faz todo junto jaacute
mistura jaacute eacute uma troca neh que a gente ( ) e aiacute eacute muito bom que ela a dia vinte e sete
vinte e oito de setembro noacutes tava num encontro do alimentaccedilatildeo alternativa aiacute era
um doutora clara ela eacute japonesa do japatildeo e aiacute ela tava dizendo quem come alimento
taacute comendo alimentaccedilatildeo e taacute comendo remeacutedio porque jaacute taacute comendo aquela alimentaccedilatildeo
que jaacute saiu do remeacutedio jaacute taacute ( ) mistura que ela ensinou neh e aiacute ela ficou ensinando
vaacuterias coisas que noacutes temos aqui que a gente deixa se perder aiacute joga fora e ela disse
que enquanto vocecircs tatildeo comendo aquilo vocecircs jaacute estatildeo se prevenindo vocEcircs jaacute tatildeo comendo
remeacutedio num carece vocecircs taacute laacute na farmaacutecia comprando remeacutedio pra vocecircs vocecircs jaacute tatildeo
comendo tatildeo se alimentando e tatildeo e eacute como eacute muita mistura ela ensinou tucupi que ela
ensinou que o tucupi eacute muito bom todo tipo de verdura ela ensinou e a gente a gente taacute
fazendo essa essa experiecircncia com a nazareacute e aiacute taacute dando certo ateacute agora muita mistura
noacutes tamo fazendo ela taacute vendendo MUITO MUITO muito
L1 ok quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia
L2 eacute o elixiparigoacute arruda a catinga de mulata a babosa tambeacutem mastruz
L1 hum rum
L2 corama
L1 hum rum
L2 (risos) vamos correr agora daqui em
L1 parece
L2 essas satildeo as plantas as
[
L1 satildeo as que mais usam neh
L2 hum rum isso natildeo tem aquele amor crescido tambeacutem ( )
L1 quais satildeo as partes da planta ou das ervas que a senhora mais utiliza satildeo utilizadas
L2 eacute eacute assim eacute das eacute as folhas e as casca mas dessa dessa uma que eu tocirc dizendo toda eacute
a folha dessas uma que eu disse agora ( ) pequenas soacute daacute de usar as coisas ( )
[
L1 a
maioria satildeo folhas e cascas
L2 isso
157
APEcircNDICE C ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Maria de Nazareacute
Reis
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA
CAMPUS DE BRAGANCcedilA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA
FICHA DE ENTREVISTA COM A SENHORA NAZAREacute
A) Entrevistado
1Nome
2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino
3 Endereccedilo
4 Idade(anos)
6 Naturalidade
7 Ocupaccedilatildeo principal
8 A Principal fonte de renda
9 Escolaridade
10 Haacute quanto tempo vive em Santa Luzia do Paraacute
11 Tens envolvimento com algum oacutergatildeo filantropia ou associaccedilatildeo Qual
12 Qual a sua origem De onde veio
13 Como conheceu a comunidade de Pimenteiras e haacute quanto tempo
14 Qual seu envolvimento com a comunidade
15 O que pensas da comunidade de Pimenteiras
16 Que significado ou representaccedilatildeo a comunidade de Pimenteiras possui para a senhora e
para o CEDENPA
17 Como estaacute o processo de titularidade da terra de Pimenteiras
18 Quais benefiacutecios a comunidade ganharaacute com a titularidade da terra
19 Na sua visatildeo o que marca a identidade da comunidade
20 Qual sua relaccedilatildeo com a comunidade e com os moradores da regiatildeo
B) Termo Quilombola
1 Como ocorreu o descobrimento sobre a descendecircncia quilombola dos moradores de
Pimenteiras
2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc
3 Na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de que
sejam descendentes de quilombolas
4Nos relatos dos moradores houve algum tipo de discriminaccedilatildeo contra eles sobre a
descendecircncia Quilombola
5 Com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas os moradores reconhecem os direitos que
possuem sobre ser Quilombola
6 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade
7 A senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre
essa Associaccedilatildeo
8 O que acha da comunidade da Pimenteira
9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc
10 Como procede a prova de ser ou natildeo quilombola Tem relaccedilatildeo com preservaccedilatildeo da
cultura para ser reconhecido
158
11 Houve grupos que desistiram do processo de identificaccedilatildeo devido a ausecircncia das
caracteriacutesticas culturais
12 Em Santa Luzia do Paraacute quais comunidades satildeo consideradas quilombolas e quais
possuem a titulaccedilatildeo da terra
13 O que caracteriza um quilombola
14 Qual o significado de reconhecer comunidades quilombolas Suas origens
15 Ser quilombola traz ainda caracteriacutestica de discriminaccedilatildeo Desigualdade racial
16 Quais outros direitos sem ser o da terra satildeo legiacutetimos aos quilombolas
17 Com relaccedilatildeo agraves Universidades quais contribuiccedilotildees podem ter para as comunidades
tradicionais
C) Plantas Medicinais
1 A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) incentiva os uso de medicamentos vindos de
produtos naturais devido a maioria da populaccedilatildeo natildeo ter acesso aos medicamentos de
farmaacutecia Nesse contexto a senhora acha que as ervas satildeo importantes
2 As ervas e as plantas servem para quecirc
3 Na sua concepccedilatildeo porque tantas pessoas satildeo atraiacutedas pela praacutetica de uso medicinal das
plantas
4 A senhora faz uso de chaacutes para o tratamento de doenccedilas
5 Muitos meacutedicos natildeo apoiam o uso de medicamentos caseiros Qual sua opiniatildeo
6 Haacute comunidades que trabalham com o uso das ervas medicinais
7 Como soube do uso das ervas pelos moradores de Pimenteiras
8 Na sua concepccedilatildeo o que marca a identidade da comunidade de Pimenteiras Satildeo as plantas
medicinais Satildeo os remanescentes de quilombolas Haacute outra caracteriacutestica
9 A senhora faz uso das plantas medicinais
10 Sobre a catalogaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinaisqual sua relaccedilatildeo ou influecircncia
nesse contexto
11 Como ocorreu o processo de catalogaccedilatildeo dos termos e por quecirc
12 Haacute moradores da comunidade de Pimenteiras que participam da cooperativa e produccedilatildeo
de medicamentos caseiros Como eacute esse processo
13 A senhora realiza alguma atividade de compra ou venda das plantas e produtos caseiros
14 A senhora conhece algum caso de cura de doenccedila atraveacutes do uso caseiro das plantas
15 Acredita no poder das plantas
16 Quanto aos produtos das farmaacutecias o que pensas
17 O que eacute a garrafada e a multimistura
18 Qual a relaccedilatildeo com a moradora Domingas E os trabalhos que ela mesma produz
19 O que eacute o trabalho com o bioenergeacutetico e porque acabou
20 Qual envolvimento da associaccedilatildeo com as plantas medicinais
21 O trabalho com as plantas medicinais eacute praticado apenas pelas mulheres Os homens natildeo
se envolvem Por quecirc
159
APEcircNDICE D - Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Maria de Nazareacute Reis entrevista
no dia 26 de setembro de 2014
L1 seu nome
L2 Maria de Nazareacute Reis de ( )
L1 data de nascimento
L2 vinte e cinco do sete de mil novecentos e cinquenta e dois
L1 endereccedilo
L2 rua tiradentes sessenta e dois
L1 idade
L2 sessenta e dois
L1 naturalidade
L2 beleacutem do Paraacute Brasil
L1 a sua ocupaccedilatildeo principal
L2 eu sou a minha prof eu sou formada neh como engenehira agrocircnoma e a minha
ocupaccedilatildeo eacute acessoria aos grupos produtivos grupo de mulheres grupos de associaccedilotildees
cooperativas de agricultores familiares dentro da rede bragantina
L1 entatildeo eacute em que trabalha essas ( )
L2 como
L1 em que trabalha
L2 eacute principalmente na aacuterea alimentar na aacuterea de nutriccedilatildeo na aacuterea de ( ) na aacuterea de
organizaccedilatildeo popular na aacuterea de de incentivo a produccedilatildeo (agroecoloacutegica)
L1 haacute quanto tempo mora em santa luzia
L2 santa luzia dois mil e cinco para dois mil e catorze nove anos neh a parti da data que
eu casei fiquei aqui ((risos))
L1 tens contatao com algum oacutergatildeo ou filantropia
L2 sim
L1 qual
L2 oacutergatildeo eacute centro de estudo de defesa do ( ) do Paraacute a filantropia tem obras sociais da
diocese de Braganccedila tem (imenso) neh vaacuterios ((risos)) melhor dizendo natildeo eacute imenso natildeo
vaacuterios
L1 qual a sua origem de onde de onde a senhora veio
L2 eu sou de Beleacutem nasci e me criei em Beleacutem mas desde que me formei sempre
trabalhei em comunidades rurais agricultura familiar (me formei) em mil novecentos e
sessenta e seis
L1 como conheceu a comunidade pimenteira e haacute quanto tempo
L2 eu (queria) nove anos neh quando eu conheci a partir de quando eu vim morar pra caacute
aliaacutes foi ateacute antes de nove anos porque como temos a escola neh a escola de alternacircncia
para os jovens agricultores em dois mil no ano dois mil quando a gente iniciou teve
dois alunos da pimenteira que foram aluno da escola hum e aiacute jaacute cheguei dentro da da
praacutetica da pedagogia da alternacircncia noacutes visitamos as familias desses alunos na comunidade
entatildeo a partir daiacute eu conheci a comunidade
L1 qual eacute o seu envolvimento com a comunidade
L2 como acessoria neh nos grupos produtivos como eu falei que a a associaccedilatildeo ela faz
parte ela integra a rede bragantina da ( ) solidaacuteria e ela dentro dessa integraccedilatildeo a
gente eacute eacute como acessoria dentro do do por ela ser uma comunidade quilombola tem
um uma referecircncia dentro do centro de estudo e defesa do meio do Paraacute que eu
represento aqui na regiatildeo neh entatildeo atraveacutes do sedenpa a gente faz essa acessoria
viabiliza alguns alguns momentos projeta poliacuteticas puacuteblicas que satildeo disponiveis
especiacuteficas para essas comunidades
L1 o que a senhora acha da comunidade de pimenteiras
160
L2 em que sentido
L1 eacute o quecirc que ela o quecirc que a comunidade traz assim na representaccedilatildeo o quecirc que
ela representa assim pro sedenpa o quecirc que ela representa pra senhora assim ela tem algum
significado
L2 olha ela a comunidade ela ela eacute significativa ainda em biodiversidade neh a
gente tem rio tem ainda uma floresa ainda tem modo de produccedilatildeo ((tosse))eacute eacute ainda
tem o modo de produccedilatildeo muito assim pro proacuteximo da produccedilatildeo sustentaacutevel neh entatildeo
eacute muito significativo nesses aspectos que vamos dizer se afinam com o projeto que o
sedenpa defende que a escola ( ) defende neh o projeto de sustentabilidade eacute tendo
como ator e protagonista os agricultores e as agricultoras familiares
L1 entatildeo a senhora tem orgulho da comunidade
L2 sim ela eacute realmente uma comunidade que vale a pena investir o conviacutevio tambeacutem (eu
dou soacute apoio) laacute para eles ((risos))
L1 e como estaacute o processo de titularizaccedilatildeo da terra
L2 o processo taacute em andamento neh ainda nem a gente sabe
[
L1 natildeo finalizou
L2 ainda natildeo finalizou a gente sabe que eacute muito demorado neh e agora no final do mecircs de
agosto a gente enviou uma carta pra associaccedilatildeo noacutes juntos JUNTOS com a associaccedilatildeo
neh a a entregamos uma protocolamos uma carta no incra pra que eles viessem na
comunidade pra dizer em que peacute estaacute o processo porque o asseacutedio sobretudo nessa eacutepoca
de roccedilado muito grande os fazendeiros estatildeo confinante colocam fogo o fogo entra na
mata neh muitas vezes gente da proacutepria comunidade que natildeo tem assim eacute eacute tem a
cabeccedila do opressor neh como Paulo Freire costuma dizer aiacute querem fazer negociaccedilatildeo com
terra ainda bem que a comunidade tem lideranccedilas fortes neh que consegue
enfrentar e freiar mas realmente as titulaccedilatildeo eacute uma uma uma questatildeo assim muito
latente que eacute eacute facilita essas esses desvios neh de de de pessoas da comunidade
querendo vender terra onde confinantes que pretendem de uma form ou de outra tentar
enfraquecer a comunidade expulsar enfim
L1 o que a comunidade vai ganhar com essa titularizaccedilatildeo
L2 eu acho que ganha principalmente a confianccedila neh de de a confianccedila de ser donos
legais da terra e de jaacute se jaacute se sentem donos da terra mas hoje tudo tudo vocecirc tem que
ter papel neh ((risos)) entatildeo eu acho que isso vai ser muito positivo pra eles neh quando
tiver essa titulaccedilatildeo
L1 e o que marca assim a identidade de pimenteira assim na sua visatildeo
L2 na minha visatildeo eacute a
L1 quando fala em pimenteira assim
L2 lembra assim como eu jaacute falei pra vocecirc neh a biodiversidade O USO dessa
biodiversidade neh embora que jaacute tivesse um pouco assim sendo relegada neh
pelos in pelas pessoas do locais devido a essa essa ausecircncia de incentivo ausecircncia de
poliacuteticas puacuteblicas neh agora que comeccedilam despertar pra valorizar o artesanato que essas
pessoas produzem ah o que existe na mata que eles podem ainda taacute utilizando como
pra sua sauacutede pra seu alimento entatildeo isso daacute daacute marca a pimenteira neh e graccedilas agrave deus
a gente taacute conseguindo resgatar com o apoio da rede bragantina do sedenpa da escola
atraveacutes da formaccedilatildeo e de curso e de pessoas que a gente traz aqui eles participam as
mulheres os jovens os adultos isso tem ajudado eles perceberem que eles estatildeo no meio
ainda de uma RIQUEZA neh que ainda tem viabilidade sustentabilidade as
geraccedilotildees que ali nascem enfim
L1 qual eacute a sua relaccedilatildeo com os moradores da comunidade
L2 como assim
L1 como eacute o acontato se tem um contato direto se eacute um contato
161
[ [
L2 olhe eacute o contato a
gente procura sempre canalizar via associaccedilatildeo via lideranccedila por aqui pra natildeo
individualizar eacute a gente cecirc sabe como eacute a as pessoas o ser humano tem tendecircncia a se
aproximar dialogar sentar com aqueles com que eles se afinam aqueles que a gente natildeo
simpatiza a gente nem olha ((risos)) pelo contraacuterio neh entatildeo a gente procura fazer
TER como (ouvir) isso eacute eacute problemaacutetico quando isso acontece neh vocecirc conhece laacute a
comunidade vocecirc sabe que ali tem lideranccedilas que ao longo dos anos sempre ficaram
assim se tipo coman-dan-do a comunidade neh e que inclusive natildeo satildeo natildeo satildeo da do
da da da raiz das pessoas que chegaram laacute natildeo saotilde da da da famiacutelia tronco dos
dos negros neh dos afrodescendentes que eles estatildeo mas que tinham o controle muito
grande era uma celebraccedilatildeo era fazia um fazia outro neh e isso ainda eacute eacute
preocupante neh entatildeo a gente procura ter como referecircncia a associaccedilatildeo a gente natildeo manda
um o convite ou chama fulano presidente ( ) da associaccedilatildeo vem aqui natildeooacute isso aqui eacute
pra associaccedilatildeo AHH ASSOCIACcedilAtildeO entatildeo taacute se referindo ao conjunto das pessoas que estatildeo
ali organizadas neh eacute claro que na comunidade alguns natildeo estatildeo participando da
associaccedilatildeo mas pra noacutes a referecircncia eacute a associaccedilatildeo esses que estatildeo fora olha tatildeo fora por
que querem por sua livre e espontacircnea vontade tambeacutem natildeo eacute obrigado a entrar ateacute
porque foram vocecircs que criaram POREacuteM a referecircncia pra noacutes eacute a associaccedilatildeo eles tem sido
ateacute dificultoso porque infelizmente no oacutergatildeo no no nas no no nos oacutergatildeos puacuteblicos
neh seja do municiacutepio seja do estado muitas vezes se cria essa relaccedilatildeo pessoal pega
aquela lideranccedila neh ahh entatildeo a gente fica sempre batendo olha eacute associaccedilatildeo eacute associaccedilatildeo
mas eacute natildeo eacute faacutecil ((risos))
L1 como descobriu que os moradores de pimenteira eles tem descendecircncia quilombolas
L2 bem a gente em princiacutepio eles contaram a histoacuteria deles neh que eles tem uma eles
satildeo uma parentela da narcisa neh que se desmenbrou e andando nas terras vieram
parar aqui tanto que eles satildeo muito vizinho satildeo parente mesmos neh e depois quando
eles comeccedilaram quando foi instituiacuteda instituiacuteda natildeo quando foi colocada em praacutetica
neh o artigo cento e sessenta e oito da constituiccedilatildeo neh pelo presidente Lula aiacute se
comeccedilou a ver a saber sim noacutes tem uma histoacuteria essa histoacuteria taacute sendo esquecida taacute sendo
relegada neh e o proacuteprio incra neh por vamos dizer assim por uma exigecircncia de
titulaccedilatildeo a proacutepria fundaccedilatildeo palmares eles fizeram neh o levantamento antropoloacutegico na
comunidade entendeu entatildeo eles constataram que realmente eles tem uma um passado
neh que foi dessa desse refuacutegio dos negros neh pras beiras dos rios pras matas pra
criar suas moradias e manter suas suas tradiccedilotildees
L1 o que eacute ser quilombola e qual o significado dessa palavra pra senhora
L2 pra mim neh pra mim o que eacute ser quilombola pra mim oacute pra mim acho que ser
quilombola eacute principalmente conhecer a sua histoacuteria assumir a sua histoacuteria trazer a
sua histoacuteria para o presente neh e colo evidenciar essa histoacuteria seja atraveacutes da das
suas praacuteticas do seu jeito de ser neh
L1 eacute na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de
ser quilombola
L2 com estranheza neh porque ser quilombola como eu falei pra vocecirc eacute assumir sua sua
identidade sua histoacuteria neh entatildeo essa histoacuteria natildeo eacute contada na escola os livros natildeo trazem
isso neh as as figuras que tem no livro eacute sempre a figura da menina loirinha neh natildeo eacute
a figura da pra ensinar o alfabeto Eacute A UVA NAtildeO Eacute O CARAacute que eles conhecem de
LONGOS anos neh e por aiacute vai entatildeo eles receberam assim neh alguns jaacute se apresentam
dizendo eusou fulano de tal moro na comunidade quilombola tal mas eacute alguns neh diz
eu sou fulano de tal moro na pimenteira neh significa que ainda tem um coisa que eles
natildeo natildeo que eles faccedilam de propoacutesito mas que eles ainda num neh conseguem neh
assumir colocar isso AFIRMAR isso significa pra noacutes uma afirmaccedilatildeo que nem todos
162
fazem mas a gente entende porque eles passaram e sofreram toda essa essa histoacuteria
NAtildeO SOacute eles como negro no Brasil sempre teve vergonha de ser negro por uma sociedade
brasileira que neh entre aspas se diz que natildeo eacute racista mas que tem um racismo hoje a
gente taacute vendo neh sendo provocado sendo questionado na sociedade a gente vecirc claramente
neh posiccedilotildees racistas na nossa sociedade
L1 com relaccedilatildeo aos moradores eles relataram algum tipo de descriminaccedilatildeo com relaccedilatildeo
a descendecircncia deles
L2 sim laacute e aqui nas escolas inclusive o caso aqui das escola eles me eacute me
trouxeram conhecimento do caso aiacute noacutes fizemos uma carta pra diretora da escola daqui
pelo sedempa assinamos (porque) o sedempa estadual e mandamos pra diretora pra que
ela tomasse providecircncia porque senatildeo a gente ia ter que tomar providecircncias legais e as
providecircncias legais todo mundo sabe neh que racismo eacute crime neh eu acredito que
depois pelo menos as meninas de laacute em geral isso soacute soacute eacute denunciado por pessoas que jaacute
tem uma uma certa consciecircncia natildeo sei claro que talvez ainda tenha caso de racismo na
escola mas que todo mundo fica calado neh assume aquela aquele aquela aquele
GESTO como normal como uma questatildeo de infecomo ser inferior aiacute num eacute assim
L1 e com relaccedilatildeo aos direitos os moradores reconhecem eles conhecem os seus
direitos como quilombolas
L2 sim aos poucos a a medida que as questotildees vatildeo vatildeo surgindo por exemplo tem uma
questatildeo da terra olha quilombola tem direito a terra legalizada eles conhecem neh a
medida que as poliacuteticas puacuteblicas aproximam do dia a dia do concreto deles eles vatildeo
tomando esse esse conhecimento natildeo eacute dizer que eles cochecem tudo natildeo neh
porque tem coisas que agora por exemplo vestibular das cotas neh que eacute recente quer
desligar ((risos))
((corte de gravaccedilatildeo))
L1 entatildeo voltando a pergunta o que acha eacute com relaccedilatildeo aos moradores como eacute que eles
reconhecem se eles reconhecem a a questatildeo dos direitos possuem sobre ser quilombola
L2 pois eacute como noacutes estaacutevamos eacute colocando neh eacute eles reconhecem a medida que eles vatildeo
sentindo na praacutetica vendo na praacutetica neh seja a questatildeo da terra aacutes vezes eles escutam
na televisatildeo mas como se eles natildeo vatildeo atraacutes ou se eles natildeo se colocam como detentores
daquele direito isso parece que eacute o processo mais demorado neh o exemplo eacute agora o
vestibular das cotas neh que da pimenteira teve soacute um ano que fez uma menina daqui
que ela morava aqui em santa luzia neh ela eacute filha de dona Domingas e agora esse ano
tem uma que taacute fazendo neh aliaacutes que taacute querendo fazer mas ontem ateacute dei uma bronca
um pouco nela porque eles aacutes vezes eles quererm priorizar festa em vez do estudo e a
a no caso da educaccedilatildeo neh que assim mais eacute assim muito fazer cumprir exige
um grau de mobilizaccedilatildeo e ateacute de articulaccedilatildeo no iniacutecio do ano por exemplo a professora da
comunidade laacute do do broca que tem a turma parece que daacute natildeo sei tem algumas turmas
que vatildeo o ocircnibos leva ela para o broca neh esse pessoal tava quarenta e poucos dias
porque natildeo teve transporte aiacute a professora me ligou e disse olha o pessoal da pimenteira
taacute sem aula eles tem direito a educaccedilatildeo ao transporte e eles natildeo tatildeo (vindo) pra aula eu
digo ah eacute liguei mas o que eacute que taacute acontecendo que vocecircs natildeo procuraram natildeo a gente
vai vai vai atraacutes mas eles ficaram de mandar o transporte se natildeo natildeo chegar essa semana
a gente vai sabe muitas vezes eacute uma acomodaccedilatildeo pprincipalmente no caso do da
educaccedilatildeo neh que a gente vecirc natildeo eacute soacute laacute na cidade educaccedilatildeo em santa luzia tem um
tem um retrocesso assim horrivel neh e por ai vai se eles eles sabem que tem o
direito neh alimentaccedilatildeo escolar eles sabem que tem o direito de vender ateacute com com
o valor superior ao neh para os quilombolas dentro do programa nacional da da
alimentaccedilatildeo escolar por lei eles tem direito a um valor mais alto na me na alimentaccedilatildeo
escolar neh mas eles natildeo vatildeo atraacutes quando o gestor fa tem sensibilidade daacute quando
163
natildeo tem diz que tem que ser igual pra todo mundo como eacute que taacute acontecendo agora
entatildeo eacute assim muito muito difacuteacuteicil porque isso exige uma grande mobilizaccedilatildeo
organizaccedilatildeo neh que eacute um processo educativo contiacutenuo o pessoal vem de uma histoacuteria de
de sempre ficar relegado e acha que vai ficar a vida inteira relegado mesmo que tenha
poliacuteticas puacuteblicas que tenham ( ) direito seus neh e que realmente natildeo eacute faacutecil soacute pra eles
soacute pra ilustrar neh ( ) sei que vocecirc vai transcrever a gente taacute numa luta que a gente
ficou desde do da da saiacuteda do prefeito louro a gente ficou com sem receber dos
produtos que a gente entregava para alimentaccedilatildeo escolar neh que ateacute hoje taacute na justiccedila
ainda mas isso a gente tem que ir atraacutes de advogado de um e de outro numa comunidade natildeo
eacute faacutecil se natildeo for acessoria dificilmente eles vatildeo atraacutes disso entatildeo daiacute uma uma questatildeo
assim que natildeo eacute NAtildeO Eacute SOacute que depende dependa soacute deles neh mas que depende de
todos um uma relaccedilatildeo social que eles possam construir e que essa relaccedilatildeo social possa
neh ajudaacute-lo nessa nessa luta por isso que eu perguntei pra vocecirc olha a gente vai
precisar da tua ajuda tem que somar forccedila com a gente nessa histoacuteria porque se natildeo difiacutecil
L1 eacute a senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade
L2 sim
L1 fale um pouco sobre essa associaccedilatildeo
L2 entatildeo a associaccedilatildeo eles tinham algum (embriatildeo) de associaccedilatildeo que natildeo era assim
vamos dizer legalizada entatildeo pra eles darem prosseguimento a que natildeo era tambeacutem
criada como associaccedilatildeo quilombola era associaccedilatildeo que foram assim acho que
incentivadas antes deu chegar aqui ela jaacute tava por laacute com a questatildeo de (FNO) essa coisa toda
neh DEPOIS pra ele se legalizarem como quilombola o tinha um programa em
Beleacutem o programa raiacutezes neh que eles elaboraram mais ou menos com o apoio de advogados
no estatuto padratildeo que pudesse orientar quais os termos que deveriam ter no estatuto
neh que que eacute eacute passariam por um processo legal pra depois ser levado para cartoacuterio
pra um e pra outro entatildeo a nossa contribuiccedilatildeo foi muito nesse sentido de mostrar olha
a resoluccedilatildeo um meia oito da da constituiccedilatildeo resoluccedilatildeo natildeo o artigo um meia oito da
constituiccedilatildeo brasileira ele fala isso e isso alguns desses pontos tem que taacute constando aqui
natildeo citando a a a o decreto o artigo laacute da constituiccedilatildeo mas coisas que tatildeo citam
laacute que satildeo direitos (principalmente) na questatildeo da da dos recursos naturais da da da
venda da terra enfim entatildeo a ajuda foi mais nesse sentido de ajudar eles entenderem a questatildeo
legal neh juridicamente legal pra poder encaminhar registro pra porque depois
esses documentos no caso vatildeo pra incra vatildeo pra interpa quando eacute o caso de terra do estado
vai para fundaccedilatildeo palmares pra poder obter a certificaccedilatildeo entatildeo a contribuiccedilatildeo foi muito
nesse campo mais legal da da legalizaccedilatildeo
L1 hum rum e mais assim como eacute a questatildeo de de provar que eacute quilombola
isso eacute difiacutecil eacute uma situaccedilatildeo que AH eles tem uma caracteriacutestica quilombola ou eles
satildeo quilombolas mas aiacute pra o processo de ( ) eacute muito eacute muito dificil pelo que eu percebo
L2 a titulaccedilatildeo da terra
L1 sim
L2 eacute porque depende do estado neh no sentido mais amplo laacute no caso eacute oacutergatildeo federal a
aacuterea neh
L1 hum rum
L2 as outras comunidades que tem aqui foram aacuterea do estado entatildeo cecirc sabe que o
estado tem uma esfera burocraacutetica muito pesada neh e aiacute vai tem que vir antropoacutelogos pra
fazer a o levantamento histoacuterico da famiacutelia pra vecirc quais foram as histoacuterias enfim pra ter
esse reconhecimento natildeo eacute soacute assumir
L1 aiacute no caso pra pra provar essa questatildeo de quilombola neh com relaccedilatildeo a
preservaccedilatildeo da cultura
L2 hum rum
L1 isso ajuda no sentido do reconhecimento
164
L2 ajuda porque quando eu nunca fiz um levantamento antropoloacutegico ateacute porque natildeo sou
antropoacuteloga mas ( ) eu fiquei sabendo de outras comunidades e tambeacutem ouvindo assim
uma uma pessoa que teve aqui da fundaccedilatildeo palmares eles fazem todo esse traccedilo todo
esse perfil da CULtura dos santos que valorizam das ladainhas que ainda fazem
entendeu entatildeo tudo isso taacute presente na na identificaccedilatildeo neh na identificaccedilatildeo e e
reconhecimento da da comunidade como sendo afrodescendente
L1 hum devido a isso a senhora tem conhecimento de algum grupo que tenha desisitido
do processo de identificaccedilatildeo por perceberem que natildeo tem mais assim essas
caracteriacutesticas
L2 hum natildeo bem aqui natildeo tenho esse conhecimento tem alguns que ainda tatildeo um
(bocado) deles ainda tatildeo na luta pela terra neh mas eles jaacute tem essa identidade assumida
neh eu natildeo tenho natildeo algum que tenha desistido
L1 eacute com relaccedilatildeo a uma fora
L2 ((risos))
L1 mas assim com relaccedilatildeo quilombola quais quais comunidades aqui em santa luzia satildeo
comunidades consideradas quilombolas
L2 pimenteira jacareacutequara tipitinga e trecircs voltas que jaacute estatildeo vamos dizer assm com o
processo praticamente concluiacutedo tipitinga jacareacutequara jaacute com a titulaccedilatildeo neh
L1 jaacute estatildeo com a titulaccedilatildeo
[
L2 jaacute estatildeo intitulados trecircs voltas ainda pendende eacute pimenteira tambeacutem
taacute ainda pendente das que eu sei satildeo essas
L1 o que caracteriza um quilombola hoje
L2 hum hum ((risos)) eacute eacute uma eacute uma mistura neh porque eacute as pessoas vatildeo
incorporando haacutebitos da sociedade (mais geral) porque ele natildeo taacute isolado neh ele taacute no
meio o meio externo influencia comportamento haacutebitos neh entatildeo a a cultura eacute acho
que eacute uma coisa que ajuda mais a identificar os haacutebitos alimentares e a cultura o uso
dos recursos como a gente tava falando entatildeo foi por ai que a gente taacute trabalhando esse
projeto de fortalecimento com as mulheres de valorizaccedilatildeo da cultura eles chegavam
aqui o caraacute por exemplo eacute um alimento que todo mundo tem natildeo eacute soacute em comunidade
quilombolaque tem neh mas as pessoas tinham vergonha de chegar aqui pra oferecer um
quilo de caraacute que eacute um alimento neh
L1 hum rum
L2 as pessoas tinham vergonha de usar um chaacute uma erva (ia) para o posto de sauacutede
neh entatildeo a gente taacute procurando valorizar essa cultura justamente naquilo que doacutei na
barriga ou doacutei no corpo neh pra que eles possam
L1 por que reconhecer quilombos qual eacute o significado de reconhecer essas
comunidades
L2 eu penso que eacute um signi eacute um significado importante para o Brasil neh que a
populaccedilatildeo brasileira eacute foi formada por esse por esse povo que foi trazido pra caacute que
teve toda essa miscigenaccedilatildeo que ainda tem as suas raiacutezes muito assim latente na
religiosidade popular neh embora tenha sido muito quebrada neh com o catolicismo
romano mas que eu acho que eacute importante pra populaccedilatildeo brasileira neh reconhecer a
sua origem a sua histoacuteria a sua cultura mesmo os que tatildeo na cidade satildeo tem uma boa parte
que satildeo negros negros neh entatildeo natildeo pode esquecer essa histoacuteria o povo que esquece
sua histoacuteria ((ruiacutedo)) eacute um povo fadado a ficar mercecirc de qualquer vento neh e hoje a
devido esse processo de de colonizaccedilatildeo pesada que teve natildeo soacute aqui no Brasil mas acho
que no mundo inteiro as pessoas comeccedilam a ateacute um parecircnteses fecha ai teu teu
gravador que natildeo eacute coisa assim da da pesquisa
L1 hum rum
L2 que esses islatilde neh esses grupos mulccedilumanos que tatildeo ( ) eu fiquei assim horrorizada
165
que eles postam assim na internet neh eu ( ) a facebook mas a gente abrir esse mesenger e
aiacute outro dia tava passando aqui na tele na tv Brasil que a gente assisti muito aqui neh e tava
falando que esse povo eles pra eles cultu poliacutetica eacute religiatildeo econocircmia uma coisa soacute
eles natildeo fazem distinccedilatildeo como eacute no Ocidente cultura ocidental natildeo eacute natildeo tem a ideia
desagregada neh entatildeo isso natildeo foi a toa essa desagregaccedilatildeo natildeo foi a toa essa
fragmentaccedilatildeo cultural e hoje esses grupos que satildeo minorias tatildeo procurando
reconstituir isso neh e muitas vezes usando da violecircncia usando da forccedila a gente fica
chocado mas quan-tos anos ele vem sofrendo de neh de colonizaccedilatildeo eu-ropeia
colonizaccedilatildeo dos Estados Unidos massacre e tudo mais aiacute esses grupos hoje estatildeo atraacutes
dessa identidade muitas vezes a pessoa vecirc violencia pela violecircncia natildeo vai atraacutes da
HISTOacuteRIA que que gerou aquela violecircncia neh
L1 a origem
L2 a origem enfim entatildeo acho que tem um pouco tem um paralelo que daacute pra pintar
neh L1 aiacute nesse nesse nesse aspecto a gente chama neh um pouco a questatildeo da
desigualdade racial
L2 eacute
L1 e entatildeo eacute um ponto tambeacutem que traz essa perspectiva do do fato de ser
quilombola tambeacutem ter a margem neh essa essa
L2 hum rum
L1 essa caracteriacutestica neh
L2 isso
L1 nesse aspecto como eacute que a senhora vecirc essa questatildeo da desigualdade mesmo racial
L2 eacute algo assim que ainda vai se passar por um processo histoacuterico que tem um
fundamento principalmente na na educaccedilatildeo neh se noacutes tivermos educaccedilatildeo que possa
eacute eacute comeccedilar a desmistificar essa desigualdade neh esse racismo seja pelo cor seja pela
opccedilatildeo religiosa seja pela opccedilatildeo sexual isso ajuda mas a escola ainda se se esse
debate (natildeo eacute presente) neh aiacute o o debate que vocecirc vecirc o natildeo eacute debate neh a televisatildeo
talvez mostrando (aquele) racismo neh eacute homossexual que foi espancado que foi
mor-to entatildeo um negro que foi preso neh enfim entatildeo ateacute que isso
realmente mude essa configuraccedilatildeo eu acredito que soacute um processo educativo amplo
infelizmente o processo educativo mesmo com toda a discussatildeo que taacute hoje colocada mas
ainda eacute o processo educativo do do do letramento neh o processo em discussatildeo pra
formaccedilatildeo de cidadania entatildeo se natildeo tem esse processo educativo nessa perspectiva do
ser cidadatildeo aiacute ainda temos que passar por muitas geraccedilotildees pra poder chegar uma neh
uma sociedade sem racismo ( ) sem desigualdade
L1 que tipo de outro benefiacutecio eacute legiacutetimo sem ser o da terra
L2 hum rum
L1 pa-ra os quilombolas
L2 aleacutem do da da terra temos a questatildeo da educaccedilatildeo a prioridade em determinadas
questotildees de sauacutede puacuteblica neh tem um um caso que eacute muito muito quase que especiacutefico
embora aconteccedila no ( ) da anemia ( ) neh que eles tem que ter tratamento diferenciado
acesso diferenciado a sauacutede mas talvez muitos por natildeo conhecer natildeo sabem muitas vezes
nem sabe que tem o problema neh que eacute a anemia ( ) entatildeo acho que esses direitos tem
que o direito tambeacutem do do dos terreiros neh os terreiros sempre foram demonizados
e que eacute uma uma expressatildeo da religiosidade neh mas satildeo direitos que natildeo vatildeo ser
faacutecil de serem conquistados porque se vc tem uma comunidade que taacute reconhecida como
quilombola aqui essas pessoas tem relaccedilatildeo de vizinhanccedila que outras comunidades que natildeo
satildeo quilombolas neh entatildeo se elas estatildeo fazendo laacute um terreiro os os que natildeo satildeo
quilombola podem ateacute ir laacute frequentar pedir um chaacute pedir uma uma reza na cabeccedila MAS
noacutes sempre colocar neh como natildeo aquilo ali eles fazem cruz ( ) neh
L1 hum rum ( )
166
L2 penso que eacute isso neh seus direitos
L1 e com relaccedilatildeo ao papel da universidade como se se a senhora vecirc essa contribuiccedilatildeo
da universidade sobre as comunidades tradicionais
L2 ahh o papel da universidade eacute muito importante mas como a gente tava dizendo
a pouco tem a diversidade tambeacutem dentro da universidade neh a universidade em
constituiccedilatildeo de ensino soacute pra te daacute um exemplo acho que ainda tenho ai um caso assim
horrivel de racismo que teve na universidade federal do Paraacute com uma soacute natildeo lembro se ( )
eacute professor de laacute a Cristina Chaves natildeo sei se tu conhece aiacute ela ficou assim tatildeo
chocada mandou carta a gente enfim ( ) nessa hora ( ) mobilizaccedilatildeo vai passando carta um
pra o outro neh eu natildeo sei te relatar assim mais mas foi com o professor ateacute neh
teve tinha uma discussatildeo com os alunos E o professor claramente (externalisou) posiccedilatildeo
de racismo entatildeo a universidade ela taacute formando neh e taacute taacute formando profissionais
mas dentro desses profissionais se esse debate tambeacutem natildeo eacute levado as ppessoas entram laacute
vindo da escola da educaccedilatildeo baacutesica neh sem essa formaccedilatildeo neh entatildeo se ela chega
na universidade e a universidade natildeo procura pelo menos eacute vecirc ou colocar na nessa
questatildeo neh aiacute eacute complicado neh vai continuar o cidadatildeo ou cidadatilde com essas
praacuteticas MUITO IMPORTANTE entatildeo o papel da universidade nesse processo AS COTAS
por exemplo parece que o os uacuteltimos estado deles do sitema de cotas foi aqui o Paraacute neh
e olha que nem ( ) passado mi teve uma menina da narcisa que fez a prova neh ela foi
selecionada que ela eacute ateacute professora na (comunidade) eacute uma moccedila muito aplicada e eles
vem aqui neh a gente foi fez a inscriccedilatildeo da Francisca e tal a Francisca foi selecionada ela
voltou comigo para fazer o negoacutecio da declaraccedilatildeo neh que eu digito claro que natildeo sou eu
que assino quem assina eacute a ( ) ai fizemos a declaraccedilatildeo mandamos no dia que essa menina
foi se inscrever chegou laacute E DEIXA estar que a menina laacute do sedempa da ( ) tinha me
avisado ahh Francisca passou ahh que bom porque aacutes vezes a gente fica sem
comunicaccedilatildeo aqui de internet neh aiacute me disseram a nota que ela tinha tirado ela passou foi
classificada Francisca tu passastes no dia que essa moccedila foi pra Braganccedila fazer a matriacutecula
dela olha chegou laacute natildeo num passou Francisca tu passastes natilde-o arreda o peacute daiacute pelo
amor de deus grande favor que tu vai me fazer tu vai enfrentar esse povo deixa aiacute taacute por
azar nesse dia mal a gente coonseguia mandar mensagem por esses telefones aqui de santa
luzia liguei para a professora Georgina vocecirc conhece neh a professora Georgina olha ( )
eu tocirc em Beleacutem aqui me consultando mas diga pra ( ) nuacutemero ligar liga pra natildeo sei quem
uma hora da tarde eu acho que ele viu que ela ficou laacute e natildeo arredou o peacute encontraram laacute
natildeo sei quem depois que fui saber que natildeo era soacute o caso dela a professora ( ) tava com uma
lista de gente que ela tava tentando resolver por conta de eles inventavam um inventavam
outra pra natildeo matricular sabe eu disse olha ( ) a luta do negro eacute essa pensa que jaacute
acabou a discriminaccedilatildeo a desigualdade tu taacute vendo na praacutetica natildeo abre matildeo fica aiacute noacutes
vamos pertubar enfim eles vatildeo a tua vaga taacute garantida tu passastes menina tu fostes
classificada entendeu sei que graccedilas a deus ela ta laacute na UFPA em braganccedila neh tem
dois do tipitinga tambeacutem que tatildeo laacute tem dois do jacarequara esse ano tem uma turma maior
por por coincidecircncia ((risos)) agora o sedempa e a (malu) conseguiram na casa da
linguagem que eacute da fundaccedilatildeo curro velho professores eles vatildeo fazer trecircs poacutelos de PRE-
paraccedilatildeo e redaccedilatildeo por isso que desculpa por isso que eu te perguntei mas tu jaacute chegasse
((risos)) que eacute a moccedila que eu tocirc esperando ela chega agora meio dia que ela me ligou ontem
disse olha eu vou no ocircnibos das nove eu digo taacute tudo bem ela vai ficar saacutebado e domingo
na escola soacute treinando essa turminha em redaccedilatildeo pra eles fazerem o seletivo mas eu tocirc
dizendo pra eles oacute vocecircs tem que lecirc o ano inteiro vatildeo lendo vatildeo treinando os alunos da
escola que ainda tatildeo fazendo o primeiro do EJA neh eles natildeo satildeo obrigados a fazer mas
a gente taacute ateacute incentivando pra eles verem como eacute a prova neh a fazerem a prova e tudo
haacute uma dificuldade mas tem tem que entatildeo eacute isso neh desculpa que eu falo muito acabo
ateacute me perdendo (natildeo sei se tocirc respondendo o que tu tem)
167
[
L1 natildeo taacute sim
L2 hum ( )
L1 hum rum
L2 mas a desigualadade neh nesse campo aiacute eacute bem presente quando eles vatildeo tentar
(essa) universidade hum se preparem eu digo olhem se preparem pra brigar ((risos)) se
vocecircs natildeo brigarem natildeo vatildeo esperar soacute que o sedempa mande carta que a professora Zeacutelia (
) VOCEcircS TEM tambeacutem que brigar junto gente senatildeo natildeo tem combate
L1 verdade agora a gente vai pra um outra caracteriacutestica da entrevista que eacute com relaccedilatildeo as
ervas e plantas
L2 hum rum
L1 ( ) entatildeo a gente sabe que a organizaccedilatildeo mundial da sauacutede ela ela incentiva o uso
desses produtos neh desses produtos naturais porque a maioria da populaccedilatildeo ela natildeo tem
acesso a medicina de farmaacutecia
L2 hum rum
L1 ai nesse contexto a senhora acha que as ervas elas satildeo importantes
L2 eu digo as ervas e o saber neh num tem como dissociar o saber sobre o uso das
ervas entatildeo acho que eles satildeo satildeo realmente importantes e satildeo eacute muito importante que
a gente faccedila valer esse esforccedilo isso que a gente taacute fazendo VEM fazendo pra que as pessoas
voltem a valorizar porque taacute sendo mui-to ( ) mais comum a pirataria taacute dentro neh
e a apropriaccedilatildeo desses saber tambeacutem tatildeo muito forte a gente tem um exemplo aqui no
municiacutepio na regiatildeo da natura neh que compra desse pessoal (murumuru) neh que a
gente sabe que compra noacutes fizemos em dois mil e dez haacute quatro anos atraacutes um projeto
que se alchama chamava alfabetizaccedilatildeo e negritude pra alfabetizar adultos que ainda
num natildeo sabiam ler nem escrever ainda neh e aiacute foi um projeto pequeno que o sedempa
conseguiu recur-so aiacute veio uma amiga nossa treinamos as monitoras inclusive essa
menina que passou foi umas das treinandas neh e enfim fizemos com muito es-for-ccedilo
neh os recursos era pequeno sabe a menina veio essa professora que tambeacutem eacute uma
professora muito comprometida trabalha em Beleacutem e a gente vinha e ela vinha e taacute
passado recom graccedilas aacute deus conseguimos tem depoimentos assim interessantes de
pessoas que se alfabetizaram neh que hoje CONTInuaram estudar neh tatildeo num MAS
eu digo sempre olha vocecircs tem que abrir o olho a natura nunca deu um laacutepis UM
LAacutePIS pra essas comunidades pra ajudar nesse processo vai laacute tirar os recursos que tem
e pronto neh no nosso caso aqui eacute murumuru mas a gente tem casos por ai que eles estatildeo
mandando o pessoal plantar priprioca (esturaque) sabe agora jaacute tatildeo aqui procurando
outras coisas eu digo olha soacute vou entrar soacute vamos entrar se for pra sentar na mesa e
discutir de igual pra igual se natildeo for eu aconselho vocecircs natildeo irem mas se vocecircs quiserem
ir natildeo posso proibir neh se vocecircs acharem que eacute soacute o olhar do dinheiro vatildeo mas se vocecircs
acharem que tambeacutem passa por um reconhecer aquilo que vocecircs fazem aquilo que vocecircs
tem que vocecircs vocecircs guardaram de geraccedilotildees aiacute a histoacuteria muda neh a histoacuteria muda a
gente senta com eles mas de igual pra igual esse negoacutecio de vir aqui raspar e tudo e natildeo
darem nada de retorno entatildeo natildeo eacute por aiacute ENTAtildeO Eacute IMPORTANTE eacute eacute eacute necessaacuterio
que outros profissionais se engajem no sentido de mostrar a importancia dessas ervas
agora dia vinte e cinco de julho vinte quatro e vinte cinco de julho noacutes fizemos uma oficina
sobre oo uso de fitoteraacutepicos neh aquelas ateacute pra fortalecer o trabalho desse grupo de
mulheres neh e enfim a (bolsa cortou) assim vaacuterios casos sobre isso
L1 as er-vas e as plan-tas elas servem pra que
L2 ah soacute vocecirc perguntando pra elas ((risos)) elas vatildeo te dizer assim um LE-QUE neh
((risos))
L1 um leque ( )
L2 eacute um leque
168
L1 por que tanta gente ela eacute eacute atraiacuteda neh pra essa praacutetica de uso da das plantas das
ervas
L2 aacutes vezes por estar mais proacuteximo aacutes vezes por uma um passar de informaccedilatildeo neh
entre famiacutelias entre parentes vizinhos neh que que comeccedilam a usar a partir dessas
informaccedilotildees acho que a importacircncia eacute por ai
L1 eacute o que a senhora acha do uso de chaacutes no tratamento das doenccedilas
L2 eacute bom neh aacutes vezes as pessoas usam pela indicaccedilatildeo do saber popular agora com a
questatildeo do que taacute sendo colocada da do do ministeacuterio da sauacutede da anvisa neh jaacute
se precisa ter determinados cuidados MAS a gente vecirc que eacute um comeacutercio que soacute cresce
neh olha por exemplo elas fazem aqui a garrafada tem um parece que dois produtos que
elas colocam que natildeo tem aqui e a gente tem que comprar naquelas casas de ervas em
Beleacutem neh entatildeo eu quando vou pra Beleacutem eu docirc esse apoio eu fiquei horrorizada de vecirc o
quanto aumentou o nuacutemero de caso e vendendo essas ervas ali em Beleacutem e uma vez
eu tava laacute esperando que tinha muita gente pra ser atendido aiacute a mulher perguntou mas ( ) a
vendedora que vai receitando ahh minha nossa senhora ((risos)) entatildeo soacute taacute crescendo
esse esse uso dessas plantas neh dessas ervas enfim ( )
[
L1 talvez por isso existem
meacutedicos hoje que natildeo apoiam natildeo dizem que natildeo fa natildeo eacute bom
L2 eacute
L1 no caso desse uso natildeo ser (nada)
[
L2 hum rumdiscriminado algumas vezes a a formaccedilatildeo
deles eacute totalmente elitista neh que dis natildeo reconhece que o saber natildeo eacute soacute o saber
acadecircmico dele neh mas tem que saber o das pessoas neh e tudo isso que dicer de certo
modo vai encontra de encontro neh a a uma praacutetica de dominaccedilatildeo de mais de
quinhentos anos cau-sa is natildeo soacute estranheza mas tambeacutem causa essa divulgaccedilatildeo
contraacuteria neh vocecircs natildeo sei se vocecircs assistiram eu natildeo assistir ateacute porque essa rede
globo eu natildeo assisto embora algumas vezes passe alguma coisa que preste ((risos)) a gente
natildeo pode generalizar neh mas que aquele Bruno Varela neh EU fiquei sabendo
porque eu faccedilo bioenergeacutetico em Beleacutem neh eu durmo em Beleacutem ( ) jaacute faccedilo haacute mais
de quinze anos de bioenergeacutetico eu faccedilo meus exames cliacutenicos neh com o meacutedico
(omeopata) que ele ele vou laacute com plano de sauacutede e faccedilo exames de sangue fezes e urina
porque eles natildeo podem me guardar isso eu tenho que ser o se natildeo tivesse teria que fazer
particular e aiacute nesse dia que eu fui no bioenergeacutetico elas tavam comentando que ele acabou
com a babosa mas colo fez uma propaganda assim horriacutevel neh eu digo meu deus do ceacuteu
um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo que eacute a rede globo tu imagina a repercussatildeo que isso teve
quer dizer que se vocecirc natildeo tem pessoas pra ir contra isso neh aiacute pronto a rede globo que
diz eacute verdade o que ela taacute passando sabe entatildeo taacute por traacutes dele a multinacional que patrocina
a rede globo taacute por traacutes ENes neh eacute uma rede poderosa de de de controle neh
controle econocircmico controle poliacutetico que patrocina tudo isso neh entatildeo natildeo eacute faacutecil
L1 existe outras comunidades que trabalham com o uso de ervas
L2 assim de forma sistemaacutetica aqui na re-gi-atildeo natildeo conheccedilo mas no dia a dia com certeza
que trabalhe e usam ervas PARticiparam desse curso que eu falei pra vocecirc dessa oficina as
outras comunidades que satildeo daiacute de bragantina de ViSEU de augusto cocircrrea natildeo de
viseu e de cachoeira do piriaacute elas estiveram aqui neh aiacute a gente comeccedilou olha bora
comeccedilar botar em praacutetica assim de forma mais estruturada e tudo elas disseram que iatildeo
comeccedilar a fazer aqui na comunidade mesmo neh
L1 hum rum
L2 vecirc se vatildeo
L1 como a senhora soube do uso das ervas pelos moradores da pimenteira
169
L2 a gen-te conversando neh aacutes vezes tatildeo laacute e ahh isso aqui eacute um chaacute aacutes vezes mesmo
chegaram agora ahh isso aqui eacute uma planta Eacute isso aqui eacute uma planta e aiacute ela na conversa
muitas vezes espontacircnea elas vatildeo falando aiacute quando a gente comeccedilou esse trabalho na
pimenteira noacutes dissemos bora fazer do do bioergeacutetico neh bora fazer um
inventaacuterio um (herbaacuterio) do que tem aqui umbora aiacute uma amiga minha de Beleacutem era
bioacuteloga ela tava formada ela natildeo tava trabalhando era uma pessoa muito disponiacutevel neh aiacute
eu falei com ela ela disse ahh ( ) ela veio ficou uns trecircs dias na pimenteira soacute ao redor ela
natildeo andou a comunidade toda ela fez um registro de oitenta plantas plantas medicinais a
gente ateacute tem esse esse herbaacuterio neh digitado tudo direitinho no herbaacuterio a identificaccedilatildeo
das plantas ela anota aiacute elas iatildeo olha isso aqui eacute isso serve pra isso sabe (bons) tempos eacute
sim a gente ficou
L1 na sua concepccedilatildeo a o que marca a identidade da comunidade pimenteira satildeo as
ervas satildeo os quilombolas por que haacute outra caracteriacutestica
L2 eu digo que satildeo a a biodiversidade que tem laacute presente neh e dentro dessa
biodiversidade estatildeo as ervas neh estatildeo as ervas estaacute o accedilaiacute enfim porque eles vivem dessa
biodiversidade acho que isso que marca ainda eacute uma comunidade que tem uma uma
sustentaccedilatildeo ainda muito assim vinculada a biodiversidade que tem laacute e laacute vocecirc tem o
solo tem o rio tem as ervas neh tem a floresta onde eles enfim eacute esse ainda eacute
eacuteclaro que hoje todos oscomunidades tem gente que eacute funcionaacuterio puacuteblico (talvez) laacute
natildeo tenha ningueacutem da comunidade porque a dona neneacutem eacute agente de sauacutede mas ela natildeo eacute da
comunidade tem tem bolsa famiacutelia tem aposentados mas ainda eacute uma comuni que marca eacute
a biodiversidade que ainda eacute muito forte laacute dentro taacute
L1 a senhora faz uso das plantas medicinais
L2 faccedilo lhe mostrar minha receita ( ) de energeacutetico ((riso)) as minhas garrafadas que eu tomo
tambeacutem
L1 eacute qual eacute a sua relaccedilatildeo ou (fluecircncia) nessa catalogaccedilatildeo dos termos quando eu falo
termos eu falo das ervas das plantas
[
L2 das ervas
L1 dos nomes delas neh sobre as plantas (medicinais) pelos moradores
L2 assim eacute
L1 como ocorreu esse processo
L2 ess especifi a gente iniciou como eu falei para vocecirc neh no iniacutecio do trabalho em dois
mil e oito foi o primeiro mandato do governo Lula que teve o projeto a gente comeccedilou a
neh teve o apoio pra fazer isso noacutes comeccedilamos a fazer aiacute o nosso o nosso incentivo o
nosso trabalho PRIMEIRO tentar daacute uma uma visibilidade mas uma visibilidade
assim com certo com certo grau de informaccedilatildeo aiacute por exemplo deixa eu pegar aqui pra te
mostrar a dona Domingas faz laacute a tintura de de de deixa eu pegar aqui ( ) laacute de Beleacutem
(quando a gente sai do serviccedilo compra laacute mesmo) ( ) entatildeo apre uma apresentaccedilatildeo do
produto mesmo que ele seja mas ele taacute numa embalagem adequada ele taacute identificado neh
a garrafada neh aiacute a gente coloca produto fitoteraacutepico artesanal o que tem aqui dentro a
composiccedilatildeo a data que foi fabricada e aqui o nome neh centro popular mil sauacutede das
mulheres da associaccedilatildeo remanescente quilombo da pimenteira coloca os contatos sabe
que as pessoas ligam ou pra dar sugestatildeo ou pra pedir como jaacute aconteceu ( )uma queria
uma garrafada personalizada outra ((risos)) tem todas esses esses detalhes neh entatildeo a
contribuiccedilatildeo eacute nesse sentido pra que esse produto chegue ao consumidor num grau de
confiabilidade pelas informaccedilotildees que tem dizendo quem faz entendeu o endereccedilo pra
contato entatildeo eacute muito assim ali na associaccedilatildeo tem mais das ervas todinha
L1 existem moradores na pimenteira que participam da cooperativa com a produccedilatildeo dos
medicamentos com as ervas como eacute esse processo
L2 tem a aiacute soacute um detalhe neh a associaccedilatildeo neh ( ) na cooperativa neh
170
L1 hum
L2 eacute eles contribuem neh com a aacutes vezes identificando por exemplo tem uma planta
laacute que no iniacutecio desse trabalho a gente identificou que eacute o bacuri e eles disse que eacute bom
pra glaucoma e tambeacutem o meacutedico neh amigo nosso disse realmente essa planta ela tem
esse poder neh e aiacute ela ( ) faz um coliacuterio antigamente assim assim assim soacute que taacute
acabando MEU DEUS do ceacuteu aiacute depois ela ( ) esse morador ELE esse homem ele veio pra caacute
ela taacute aqui na cidade agora ( ) esse homem laacute neh que a gente ( ) no carro levou ateacute laacute de
carro ( ) ele tentar ( ) porque ela disse que ela natildeo sabe ( ) ele sabe neh aiacute ela disse noacutes
temos que ir laacute com esse homem aiacute quem aleacutem de identificar esse capim sabe laacute saber se
esse homem natildeo tem que a gente natildeo pode deixar se perder inclusive viu Edileuza (da
outra vez que tu vir) com a gente eacute assim a gente taacute querendo criar a casa do ( ) ( )
no no no na linguagem ( ) eacute aquele idoso que transmite as histoacuterias ( ) pra outros neh ( )
aiacute a dona Maria do Carmo que tamb5eacutem eacute afrodescendente ela do lado tem uma feacutezinha
fui laacute em ( ) ahh bora fazer o seu Severino que vocecirc conhece neh laacute do do tipitinga ele
tem o sonho de fazer a festa de satildeo miguel que laacute eles fazem (nossa senhora de santana) ( )
religiosidade catolicismo neh aiacute ele disse bora Cilene bora ver o que a gente faz eacute em
setembro soacute que sem ah natildeo eu acho que eacute amanhatilde dia de satildeo miguel vinte e nove neh
amanhatilde natildeo eacute por esses dias vamos fazer noacutes vamos comeccedilar se reunindo os os ( ) a
velharada toda ((risos)) falei assim pra ele mas pra isso tem que ter um carro pra pegar esse
povo pegar laacute na pimenteira pegar num canto pegar no outro pra ir pra o cristo agora
fiquei sabendo que padre (quebrou o feno) aiacute vamos (vecirc) esse pessoal todinho porque
tem que ter um carro pra levar e trazer eles ou ou ( ) a gente pode se ( ) passo laacute na
num no tipitinga ou algo enfim mas o importante eacute reunir essa (velharada) toda pra
ouvir as histoacuterias dele animar natildeo deixar eles assim soacute O IDOSO QUE taacute precisando de
cuidado de ( ) tomar o remeacutedio na hora certa mas que ele se sinta um idoso ainda uacutetil pra
sociedade pra vocecircs pra comunidade neh mas natildeo foi possiacutevel fazer esse ano por conta de
milhares de compromissos neh tudo isso neh quantas vezes tu me ligasse eu tava
acompanhando tambeacutem o trabalho da doutora Kiara Brandatildeo nas comunidades aqui e
mas mas ainda natildeo saiu esse plano da nossa cabeccedila neh de fazer essa ( ) natildeo sei se a
gente vai fazer setembro do ano que vem mas a gente tem que (comeccedilar) ( ) o importante
que a gente comece a pegar esse pessoal e tentar neh o pai da dona Domingas que tava
te falando eacute soacute ela aiacute ela nem participa mas agora ela tem que cuidar dele que ele jaacute taacute
muito idoso e tudo TEM PESSOAS que daqui haacute um tempo pode ser ateacute que a gente faccedila
nossa viagem antes dele mas a gente sabe neh que de repente natildeo vai mais contar com eles
pronto vai embora um patrimocircnio toda uma histoacuteria um saber que ficou pra traz neh e isso
nas comunidades quilombolas eacute importante aacutes vezes o pessoal me perguntA mais tem olha
vatildeo laacute pergunta pros idosos que estatildeo laacute porque eu natildeo tenho (todo) neh eu ajudo eles
na a tentar resgatar essa histoacuteria escrever essa histoacuteria mas eu natildeo tenho todas as
informaccedilotildees ateacute porque eu natildeo faccedilo soacute isso eu tenho MIL compromissos ((risos)) de de
trabalho pra fazer neh entatildeo se vocecirc puder contribuir com a gente nesse aspecto acho que
vai ser bom
L1 com certeza eacute a senhora realiza alguma atividade de compra e venda das plantas
L2 como rede bragantina a gente faz neh a compra dos produtos e a venda no caso
fitofitoteraacutepico e elas produzem a rede bragantina soacute faz a comercializaccedilatildeo neh elas
mesmos traz as ervas elas preparam aiacute o que que a gente faz aqui embalagem neh eacute
identificaccedilatildeo quando a gente quer botar mais informaccedilotildees ou ateacute qualificar mais
aquele material a gente entra em contato com profissionais pra que eles possam ( ) como eacute
o caso desse dessa oficina que teve de fitoteraacutepico neh que (veio) uma farmacecircutica de
Macapaacute neh que ela trabalha no instituto (tumucumar) que eacute tambeacutem no ( ) de Macapaacute e aiacute
soacute que dois ou trecircs dias com a gente foi assim maravilhoso eu saiacute encantadad neh com
muita informaccedilatildeo que ela passou ( ) a contribuiccedilatildeo eacute quando a gente comercializa
171
L1 vocecirc jaacute conhece algum caso assim de doenccedila de cura atraveacutes das ervas
L2 das ervas elas conhecem neh elas me falam de um bocado natildeo sei de se me lembro
agora neh MAS EU praticamente eu me trato com as ervas graccedilas a deus nunca tive uma
doenccedila assim grave neh mas ( ) eu me sinto bem
L1 hum rum
L2 neh o (vicente) tambeacutem mesmo ele sendo europeu ( ) a gente faz junto esse
bioenergeacutetico aiacute a gente toma aqui em casa direto eacute fitoteraacutepico
L1 entatildeo a senhora acredita no poder das ervas e das plantas
L2 sim sim
L1 ma MAS OU ele se igualaria a a questatildeo das farmaacutecias
L2 assim eu num digo acreditar porque acreditar eacute uma questatildeo de feacute neh e isso natildeo eacute
religiatildeo eacute uma eacute um fato neh entatildeo eiu uso e me sinto bem neh eacute natildeo sou muito de ( )
ateacute meu pai neh e-le usava muito ervas acho que se a gente tem na na histoacuteria da gente
na histoacuteria de vida e eu uso e assim a palavra como eu disse acreditar natildeo eacute muito
adequada porque acho que crecirc ou natildeo crecirc eacute uma questatildeo de feacute neh eacute uma questatildeo de ( ) a
gente usa e daacute certo acho que eacute um pouco isso neh esses dias a gente estava aqui com a
doutora Clara Brandatildeo e ela vinha de longos anos falando sobre o uso da multimistura
neh natildeo sei se vocecircs jaacute ouviram neh falar na multimistura AIacute ela tava ano passado ela
veio fez oficina com o grupo esse ano a gente chamou esse grupo foi ateacute quarta feira que
vocecirc disse que chamamos o grupo que teve ano passado e mais outras novatas neh que
ainda natildeo tinham assisitido palestra com ela e aiacute a gente ( ) ano passado deu testemunho se
usaram natildeo usaram tudo natildeo soacute a multimistura mas tudo que elas colocaram em praacutetica a
partir daquilo que olha teve depoimentos assim estarrecedores no sentido assim perplexo
bonito no sentido de que deu certo de que funcionou mudarem o haacutebito alimentar adotaram
multimistura sabe a economia domeacutestica que fizeram que passaram a consumir de uma
certa maneira e de um certo modo foi assim ( ) se perdeu neh ( ) uma oportunidade do
trabalho ((risos))
L1 entatildeo no caso o que eacute a garrafada e o que eacute a multimistura
L2 oacute tem que perguntar pra ela ((risos)) dona Maria taacute logo ali noacutes vamos laacute e tu pegunta pra
ela taacute bom da garrafada a multimistura eacute complemento alimentar de feito a base
de de produtos tem valor nutricional alto disponiacutevel principalmente para os mais pobres
porque agora natildeo principalmente na nossa regiatildeo mas o a a base dela eacute o farelo de arroz
a folha da da macaxeira neh e o gerginlim a folha da macaxeira eacute riquissiacutema em
vitamina A ( ) se tu quiseres eu te mostro
L1 an ram
L2 a o gerginlim eacute riquissiacutemo em caacutelcio neh aiacute quando ( ) olha tem ( ) gerginlim
preto ai eu fui levei laacute pra ela ele eacute mais rico ateacute do que o branco ainda tem todo o
material desse projeto aiacute na ( ) a doutora Clara produziu e a fundaccedilatildeo banco do brasil
publicou (a gente) fez o material infelizmente olha essa aqui eacute a tabela nutricional
tem aboacutebora arroz (colido) (as pessoas acham que pode comprar melhor) ( ) que tanto
ele tem de calcio neh ela compara sempre com o leite da vaca entatildeo ele leva esses trecircs
produtos aqui a vitamina C
L1 hum rum
L2 e a vitamina A que taacute presente em valor altissiacutemo na folha da mandioca neh o calcio
que taacute presente altiacutessimo no gerginlim ferro tambeacutem e ( ) olha que o tanto de ferro que
tem no farelo aleacutem da vitamina do complexo B neh B1 B2 ( ) assim com toda
complexo B neh essas trecircs quando a gente mistura ela eacute basicamente essas trecircs produtos
aqui entatildeo ele eacute complexo alimentar ele natildeo eacute um remeacutedio neh e eacute tem casos
assim do resultado dele que nem tava dizendo a FILHA DELA ela passou numa aiacute que ela
tinha ido ali no postinho aquele que tem ali naquela rua neh ( ) aiacute a gente tava laacute e ele
disse (Leacuteia) tem multimistura tem (quero um pouco) de multimistura eu disse (ela jaacute tava
172
perto) de ter neneacutem a a Geacutessica e agora eu tava (dando) depoimento que a a
doutora Clauacutedia tava falando neh olha trabalho de parto sangramento quem usa multimistura
natildeo tem isso neh e ela disse olha minha filha duas horas de trabalho de parto ela
teve teve sangramento natildeo teve natildeo sei o que natildeo sabe E EU assim ( ) soacute ela
tomou dois meses antes soacute e eu acredito que foi essa mulher que disse neh EU
ACREDITO que foi muito da alimentaccedilatildeo dela que comeccedilou a controlar essa senhora pra te
ter ideia quando eu convidei ela ano passado neh ( ) soacute fala em doenccedila neh aiacute disse
( ) olha a doutora Clauacutedia Brandatildeo vem aqui vai ter uma oficina expliquei neh aiacute ela disse
assim ah eu vou vecirc e comeccedilou a choradeira neh aiacute (eu insisti) taacute bom ( ) eu sei que
realmente vocecirc natildeo pode porque tambeacutem neh (continuei) insistindo eu sei que isso
ano passado neh a ( ) me ligou OI olha ( ) ah que oacutetimo acho que vocecirc natildeo vai se
arrepender e eu vou jaacute laacute a a eacute quarta feira agora neh dois dias atraacutes ela disse que natildeo tinha
se arrenpendido de natildeo ter ido deu o depoimento dela tudo que ela tem o que aconteceu
com a filha dela ateacute convidei ela pra me ajudar a fazer ali no bairro neh pras mulheres
novatas que foram entatildeo assim a multimistura ela tem esse potencial dentro dessa
composiccedilatildeo que ela tem neh e doenccedila degenerativa eu sei ( ) doutora Clara neh setenta e
dois anos com trecircs ou quatro cabelos brancos ((risos)) em toda disposiccedilatildeo soacute tem um
problema no joelho neh que ela anda assim puxando ( ) que de vez em quando ela tem que
taacute sentada mas uma disposiccedilatildeo que nem eu tocirc tendo mais ((risos)) jaacute taacute me fazendo inveja
ontem eu tava uma caco porque essa semana foi assim pesada pra organizar tudo neh ainda
fui com ela pra Beleacutem agora ela fica em Beleacutem ateacute aman ateacute domingo domingo ela jaacute
retorna pra Brasiacutelia que ela mora em Brasiliacutea
L1 ah
L2 que a mistura a multimistura eacute tudo isso aleacutem de produto ela tem que contar neh
como eacute que as pessoas que usam taacute se sentindo e a garrafada vocecirc pergunta pra ela ((risos))
melhor fonte
L1 a garrafada eu conversei com a Domingas
L2 foi
L1 porque ela faz neh ela produz a garrafada pra pra associaccedilatildeo neh
L2 isso
L1 entatildeo na na pimenteira o siacutembolo digamos assim que que trabalha com ervas que
produz que faz esse esse trabalho eacute a a Domingas
L2 a Domingas os outros tambeacutem eacute assim
[
L1 ( ) pessoa
L2 olha eacute isso que eu tava lhe dizendo eles devem usar sim em casa um chaacute um remeacutedio
mas assim jaacute produzindo com certo padratildeo com uma certa orientaccedilatildeo era um grupo de
trecircs quatro neh
L1 hum rum
L2 uma foi pra Paragominas por problemas familiares a outra eu digo que taacute cuidando do
pai mas digo que ela natildeo taacute Nica quando tu puder tu vem natildeo vai ficar de fora ( ) e e a
Irma a outra llaacute que aacutes vezes tem problema de de de desentendimento neh que que
desentedeu mas natildeo ( ) pelo menos eles se falam eles brigam mmas depois se entendem por
llaacute neh aiacute
[
L1 foi foi por causa disso que acabou o bioenergeacutetico na (comunidade)
L2 natildeoeu acho que natildeo natildeo foi por conta disso foi porque eacute a filha dela se interessou
mas assim aacutes vezes ele esse pessoal tem dificuldade de de dar um comando quando eacute
uma coisa assim mas acho que natildeo foi por isso natildeo tatildeo paradas neh quando que
quando o pessoal vai laacute elas fazem pessoal dali da ( ) inclusive eu tocirc incentivando ela
retomar consulta mas soacute que ( ) voltar treinar gente de novo entendeu porque o pessoal
173
vai laacute se consultar o pessoal das (bandeiras)
L1 eu tinha ateacute falado pra ela da irmatilde Edna em Capanema
L2 hum rum
L1 se tinha a possibilidade da irmatilde Edna ir na comunidade falar sobre o projeto
L2 ah que bom vocecirc conseguisse isso ( ) porque elas fizeram com um grupo de Beleacutem
[
L1 ela
diisse que vem sim
L2 vem pois eacute se vocecirc puder trazer vai ser oacutetimo porque eu tocirc insistindo pra ela retomar
porque ela taacute vendendo muita garrafada na redondeza pomada neh que ela fazia
pomada de cabacinha de uma certa maneira quando vinha essa farmacecircutica ela taacute fazendo
de uma outra maneira e tatildeo vendendo assim bastante a pomada de andiroba com cabacinha
L1 e todos estatildeo aqui na na na associaccedilatildeo
[
L2 estatildeo ai na associaccedilatildeo ((risos)) estatildeo ai na associaccedilatildeo
entatildeo a dona Domingas temos que retomar as consultas porque porque tinha que ter um
horaacuterio planejado e aacutes vezes na comunidade elas tinham dificuldade pra marcar um horaacuterio
elas ficavam laacute eu digo oacute mas vocecircs tem que ter paciecircncia tem que habituar o povo neh tem
que treinar as pessoas neh que aacutes vezes tem a ( ) que natildeo esperam satildeo elas que vatildeo ajudar
tem a roupa que taacute laacute no igarapeacute elas que vatildeo lavar ( ) vocecircs fazem um horaacuterio uma vez soacute
por semana neh e vamos tentar vamos retomar porque vocecircs estatildeo com o espaccedilo
construiacutedo TUDO reconstruiacutedo natildeo daacute pra abandonar que natildeo fica bem nem pra vocecircs
nem pra quem patrocinou o ( ) olha a minha cara ateacute eu mas a de vocecircs tambeacutem ((risos))
L1 entatildeo a a o trabalho com as plantas eacute uma caracteristica praticamente da mulher
L2 da mulher
L1 os homens natildeo se envolvem
L2 natildeo se envolvem tem os homens que sabem neh por exemplo laacute em tipitinga tem um que
eacute
L1 nem na produccedilatildeo
L2 aquela aquela tes natildeo natildeo na produccedilatildeo das plantas sim eles conhecem eles
guardam mas eacute mais assim eacute um perfil mesmo da mulher uma especificidade da mulher
no tipitinga tem um um senhor um homem que ele benze ele reza mas eu acho que ele tem
vergonha de se expor ainda natildeo tive tempo de me dedicar laacute com eles e dizer natildeo olha noacutes
vamos laacute o senhor tem que assumir sua sabe seu saber neh o senhor pode ouvir das
pessoas enfim ainda natildeo tive tempo de sentar com ele
L1 no caso no jacarequara natildeo tem neh essa caracteristica de trabalho com as plantas neh
L2 natildeo natildeo tem elas ateacute participavam do encontro soacute que ( ) comunidade e vejam se tem
algueacutem que quer fazer isso e aiacute vocecircs se quiserem a gente taacute aqui pra apoiar pra comeccedilar
a defender os passos tem a o grupo da pimneteira junto com o grupo que taacute na (outra vila)
que jaacute taacute mais adiantado pode ir laacute com vocecircs enfim daacute os primeiros passos SE VOCEcircS
quiserem fazer laacute faccedilam laacute se natildeo aqui tem uma infraestrutura melhor em termos de material
de local de fogatildeo de panela de um e de outro vocecircs podem fazer aqui como ela vem
uma vez na semana ela vem e faz aqui a pomada a garrafada enfim
L1 a dona Domingas vem pra
L2 fazer aqui aacutes vezes ela faz laacute
L1 an ram
L2 mas a grande parte do que eacute vendido aqui que eacute levado pra Beleacutem el vem fazer aqui
que ela ( ) junto com a dona Maria
[
L1 entatildeo ela eacute a
L2 eacute
174
L1 ( ) articulaccedilatildeo
L2 eacute ela eacute articuladora da ( ) dessa produccedilatildeo eacute
L1 ocirc Nazareacute brigada
L2 de nada espero ter atendido neh a sua
L1 com certeza
L2 ( ) aprofundar esse conhecimento aprofndar esse esse saber e principlamente contribuir
com essas comunidades neh com esses povos que precisam mesmo dessa desse apoio
da academia neh que a gente natildeo fique soacute na um trabalho de produccedilatildeo laacute ah taacute
bonito o seu trabalho pesquisa tal mas que isso possa realmente retornar pr essas pessoas neh
e que elsa possam se apropriar cada vez mais com seguranccedila de tudo isso
L1 taacute com certeza
175
APEcircNCICE E ndash Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento
Ladainha a Nossa Senhora
Nossa Senhora do Livramento
Matildee de Deus nossa Matildee
e padroeira de nossa Paroacutequia
Com o olhar confiante vos contemplamos
Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos
Dirigimo-nos a voacutes como filhos
porque necessitamos do vosso auxiacutelio
Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados
apoiados e guiados pela matildeo materna
Renovai-nos espiritualmente
para que saibamos enxergar a vida mais bela
Levantai-nos para caminhar sem medo
nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo
para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna
Nossa querida Matildee
Nossa Senhora do Livramento
abenccediloai-nos e guardai-nos junto de vosso coraccedilatildeo
e conduzi-nos ao coraccedilatildeo eterno e amoroso do Pai Ameacutem
ldquoNossa Senhora do Livramento
Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da almardquo
Senhor tende piedade de noacutes
Jesus Cristo tende piedade de noacutes
Senhor tende piedade de noacutes
Jesus Cristo ouvi-nos
Jesus Cristo atendei-nos
Pai Celeste que sois Deus tende piedade de noacutes
Filho Redentor do mundo que sois Deus tende piedade de noacutes
Espiacuterito Santo que sois Deus tende piedade de noacutes
Santiacutessima Trindade que sois um soacute Deus tende piedade de noacutes
Santa Maria rogai por noacutes
Santa Matildee de Deus
Santa Virgem das virgens
Matildee de Jesus Cristo
Matildee da divina graccedila
Matildee puriacutessima
Matildee castiacutessima
Matildee Imaculada
Matildee intemerata
Matildee amaacutevel
Matildee admiraacutevel
Matildee do bom conselho
176
Matildee do Criador
Matildee do Salvador
Virgem prudentiacutessima
Virgem veneraacutevel
Virgem louvaacutevel
Virgem poderosa
Virgem clemente
Virgem fiel
Espelho de justiccedila
Sede da sabedoria
Causa da nossa alegria
Vaso espiritual
Vaso digno de honra
Vaso insigne de devoccedilatildeo
Rosa miacutestica
Torre de David
Torre de marfim
Casa de ouro
Arca da alianccedila
Porta do Ceacuteu
Estrela da manhatilde
Sauacutede dos enfermos
Refuacutegio dos pecadores
Consoladora dos aflitos
Auxiacutelio dos cristatildeos
Rainha dos Anjos
Rainha dos Patriarcas
Rainha dos Profetas
Rainha dos Apoacutestolos
Rainha dos Maacutertires
Rainha dos Confessores
Rainha das Virgens
Rainha de todos os santos
Rainha concebida sem pecado original
Rainha assunta ao Ceacuteu
Rainha do sacratiacutessimo Rosaacuterio
Rainha da Paz
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo perdoai-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo ouvi-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo tende piedade de noacutes
Rogai por noacutes santa Matildee de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpeacutetua
sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-aventurada sempre
Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da eterna alegria Por
Cristo nosso Senhor Ameacutem
177
APEcircNDICE F ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoAlgodatildeo Roxordquo
Fotografia 36 ndashAlgodatildeo Roxo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 13 ALGODAtildeO ROXO
Lx Lexema Algodatildeo roxo
V Variantes Algodatildeo Branco ou Algodatildeo Preto
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo o algodatildeo rocho ele serve eacute pra () pra moragia pra remautismo tambeacutem faz o chaacute
tintura dele tal de efusatildeo eacute fazer a tintura neacute todo jeito se quiser fazer o chaacute faz a
tintura que usa gotinhas isso e pra moragia eacute tira o sumo da folha pra moragia da folha e uma eacute a haacute aquela dentro da sementinha dela da dentro da sementinha tem tipo
uma lanzinha assim dentro da sementinha pode quebrar a sementinha dela hurum
mas soacute que eacute um pouco maiozinha natildeo porque assim dentro da semente do algodatildeo a
gente tira ele tem dentro da sementinha dele a gente passa passa a sementinha tem
uma uma lanzinha assim tipo uma lanzinha neacute eacute o proacuteprio olho dele eacute o proacuteprio
adonde nasce sim aquilo aliacute eacute bom pra febre ele eacute bom pa pa febre instestinal crianda
do algodatildeo isso tanto faz ele ser o roxo como ser o branco como ser ele eacute bom para
isso tambeacutem febre do algodatildeo ele eacute um ele ele cresce te acho que tiacute trecircs volta de
quatro metros de altura ele ele eacute na terra que se daacute bem ele fica bastante
compundinho assim haacute a folha dele natildeo natildeo eacute aiacute ele tem de trecircs trecircs cor tem o branco
tem um que eacute meio roxinho tem algodatildeo branco algodatildeo roxo algodatildeo preto ((tosse)) da folha da folha da folha eacute ela eacute mais roxeada o algodatildeo branco a folha dele eacute
branca o algodatildeo roxo a folha dele eacute eacute roxeada e o algodatildeo preto ele eacute mas preto eacute
mas escuro hurum isso a folha a folha eacute os frutos eacute eacute soacute mesmo mesmo jeito a flor eacute soacute
um jeito tambeacutem hurum a cor isso isso serve mas o bom eacute o algodatildeo roxo e o algodatildeo
preto que o melhor de todos mas quando natildeo tem esses outros esses uns serve o
algodatildeo branco neacute eacute o chazinho a gente tira aquela sementinha parte a semente dele
dentro da sementinha natildeo tem cumo assim que nem uma lanzinha iai quando parte
bota pra ferver e daacute o chazinho soacute eacute uma febre instestinal daacute no intestino ele eacute ele eacute
uma folha assim o meio dela arendodada e tem trecircs de trecircs bicos grande os bicos
delas satildeo mas eacute eacute trepadeira mas isso eacute natildeo isso eacute uma arve
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
178
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e o algodatildeo que estaacute dentro da semente
Fu Formas de uso
Usada para hemorragias (fazer a efusatildeo com as folhas para tirar a tintura) o mesmo processo serve para reumatismo o algodatildeo dentro da semente eacute usado em chaacutes para
febre intestinal
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Haacute espeacutecies de algodatildeo branco e algodatildeo preto a cor da folha eacute determinante
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
179
APEcircNDICE G ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoArichi de Parigoacuterdquo
Fotografia 37 ndash Arichi de Parigoacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 14 ARICHI DE PARIGOacute
Lx Lexema Arichi de Parigoacute
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacute eacuteh uma planta que ela daacute ela daacute assim ela natildeo daacute muito alta ela daacute quase assim tipo rasteira mas num eacute bem rasteira ela bota muito assim os galhos os galhos cae
assim forma moita a folhinha dela eacute penem folha de canala um mesmo a folhinha de
canela iai ela eacute boa tambeacutem pra fazer tintura pra achar quem natildeo gosta de usar
tintura porque a tintura leva o aacutelcool toda tintura tem que ter o aacutelcool neacute tem que
ter natildeo eacute feita soacute no aacutelcool os que natildeo gostam da tintura usa o chaacute natildeo da folha a
gente pega tira a a tintura a gente pega assim pego o aacutelcool taacute qui e pega a folha
tritura tudinho coloca aqui dentro do aacutelcool com quinzi dias passando quinzi dias o
aacutelcool natildeo vai estrogar aiacute fica muda muda certeza aiacute despois coa brota no seus
vidrinhos pra usar as gotinhas () quando ela estiver com mal estaacute uma comida que faz
mal tiver assim com estomago cheio tem comida neacute ai bota a aacutegua comu o uso da
da farmaacutecia tem tem eacute o caseiro eacute natildeo natildeo sei natildeo eacute isso que eu tava dizendo eacute o
erichi de parigoreacute neacute eacute assim se comeu sentiu que a comida faz mal a assim enpachada conquela mal de gases eacute fazer isso num quiser fazer o chaacute das folhinhas
usa a tintura porque por isso eu em casa uso a tintura porque assim eu eu faccedilo deixo
ali quando taacute no ponto eu cou tudo ajeito tudinho e boto no vidrinho de gotinha neacute
que nos a gente tem vidrinho de gotinha e bota laacute se algueacutem precisar jaacute taacute pronto
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Utilizar as folhas para mal estar no estocircmago
Fu Formas de
uso
Chaacutes da folha tintura (deixa de molho no aacutelcool por 15 dias) para estocircmago
empachado tanto o chaacute como gotas da tintura
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
180
APEcircNDICE H ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoBabosardquo
Fotografia 38 ndashBabosa com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 15 BABOSA
Lx Lexema Babosa
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ((SORRIU)) eacuteh por causa da baba e ela eacute antiflamatoacuterio eacute essa mais eacuteeacute aquela goma
aquela gosma tem neacute a gente pega ela tira aqueles coise assim aquela goma dela
aquela coisa a parte de dentro vocecirc essa pode usa na guarrafada pode usar e no chaacute
fazer chaacute da folha assim se num quiser butar a folha inteira pode tirar essa baba pode
tomar usar em ferimento tiver um ferimento em golpe uma ferimento pode pegar bater
aquiloali butar tipo um plasticozinho aliacute pra disiflamar sim e pode tomar tanto bote
em cima pode tomar eacute ela eacute muito boa pra cabelo tambeacutem neacute pra fazer o cabelo da
gente desenvolver a babosa neacute ela eacute boa tambeacutem eacute pra eacute cacircncer () ela eacute muita boa tambeacutem pra cura o cacircncer a babosa
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Usar a baba da folha para inflamaccedilotildees ferimentos garrafada cacircncer crescimento do
cabelo
Fu Formas de
uso
Utiliza-se a baba em chaacutes garrafada ou direto na aacuterea inflamada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
181
APEcircNDICE I ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoBatatatildeordquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 16 BATATAtildeO Lx Lexema Batatatildeo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Masculino
Df Definiccedilatildeo natildeu eli eacute ambienti fechadu abertu mas eli natildeu eacute di vasueli eacute du chatildeu du chatildeu
assimnatildeu eli eacute eli eacute um cipoacute eli nasci aqui aqui eli cresci ( ) du maracujaacute maracujazeiru eli vai si agarrandu aqui vai tendu matu aqui eli via indu por cima matu i vai indu vai
caminhandu ateacute ondiporque na a a batata deli eacute um batatatildeu eacute uma batata mermu forma duma mandioca forma duma batata doci assim que eacute ai por issu colocaru u nomi
batatatildeoeacute a batatanatildeu nunca vi falar das folha eacute a batata aquela batata a genti vai laacute nu peacute deli i arranca eli cava qui eli qui eli daacute bastanti profundu eli natildeu eacute soacute assim da genti
chegar i puxar tem qui cavar com uma enchada pra tirar a batata eu jaacute vi ateacute uma ateacute dessi tamanhu assim neacute aiacute aquela batata a genti veimem pois eacute ela eu jaacute vi uma ateacute qui a minha
cunhada arrancou era bastanti grandona ela laacute aiacute a genti fatia ela a rodelinha e bota pra secar aiacute depois qui tiver seco a genti bota no liquidificador nu pilatildeu pisa i faz aquela
tapioquinha pra usar eacute ou nu mingau ou qui seja na comida ou si quizer pra fazer arreaccedilatildeu
eacute a genti toma eli mais avutadu neacute faz um chatilde bem forti toma eli faz arreaccedilatildeu mas essi dai eu nunca vi a minha voacute qui dizia que fazia mas eu nunca fez eu mesma neacute mas a minha voacute
dizia qui elis faziam u batatatildeu i quandu a genti taacute com problema nu sangui a genti toma assim us pocu por que eli tantu eli pru sagui da genti eli faz assim normaliza u sangui
da genti si a gente tiver com sangui fraco demais eli aumenta si tiver forti eacute uma erva qui eli normaliza u sangui da genti pra mulher qui taacute graacutevida eacute muitu bom tomar tambeim eli
faz limpeza nu sangui da genti eli faz limpeza nu sangui tem muitu genti assim crianccedila que tem muita assim qualquer coisinha daacute aquelis ferimentus neacute qui aacute a crianccedila tem problema
nu sangui aacute entatildeu eacute muitu bom tomar qui eli faz a limpeza nu sangui eli purifica u sanguitem folha tem flor a folha dela eacute quasi qui neim assim u formatu dum coraccedilatildeu
assim pu pesinhu da folha eacute larguinhu i paacute pontinha da folha eacute beim istreitinhu natildeu ela eacute pequenininha meacutedia ela eacute meacutedia ela eacute menas di qui a folha da vaca menor aiacute natildeu natildeu qui
neim folha de batata qui nem uma folha di bataba neacute batata doci ela eacute daqueli formatu soacute qui sempri a folha da batata eacute trecircs trecircs dedu trecircs sepraccedilatildeu trecircs parti ela eacute soacute uma pu
pesinhu da folha eacute largu paacute pontinha ela eacute estreita a flor delasim a flor dela ela coloca a flor aqui aiacute a flor abri a flor eacute assim uma flor tipu quasi qui nem a flor du maracujaacute
tambeim ela fica uma flor por aqui eu nem sei neim dizer comu eacute qui eacute a flor dela mais ela fica ela abri assim ai fica dentru fica aqueli miolinhu assim ai ela bota aqueli fica tipo a du
girassol assim qui eacute a florzinha dela neacute nu formatu du girassolsim issuela eacute meiu amarelada assim uma cor parda i sempri eli bota flor sempri nu veratildeu tambeacuteim quandu eli
botaela eacute du veratildeu ela nasci aqui nu invernu aiacute ela vai crescendu quandu ela taacute crescendu a batata dela taacute verdi aiacute quandu ela eacute que nem o caraacute quandu ela vai morrendu
eacute qui a batata taacute boa di arrancar nu veratildeu taacuteboa eacute porque nu veratildeu eacute qui ela taacute eacute qui ela ta madura a batata dela qui eacute pra genti arrancar por que nu inverno ela ( )i isso isso seca
as folhas seca e aiacute a batata ta madura boa di arrancar
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
A raiacutez eacute usada para purificar o sangue hemorragias fraqueza
Fu Formas de uso
A raiacutez eacute seca e triturada em poacute para usar como massa em minguaus ou o chaacute bem forte da raiacutez
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome vem do tamanho da raiacutez que eacute no formato de batata com dimensatildeo grande
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
182
APEcircNDICE J ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCapitiuacuterdquo
Fotografia 39 ndashCapitiuacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 17 CAPITIUacute
Lx Lexema Capitiuacute
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo ((sorriu)) o capitiuacute eacute uma arve nativa ela natildeo eacute uma planta ela eacute nativa ela eacute () no
cerrado eacutela a folha dela eacute grande ela eacute quenem a arve do cafeacute eacute grande a folha eacute do
mesmo modelo da folha de cafeacute aiacute pra do de cabeccedila tiver aquela doacute de cabeccedila enjoada
que natildeo passa qualquer doe a cabeccedila do nada tem gente que tem muita doacute de cabeccedila
eu graccedilas a Deus num so muito assim natildeo mas tem gente neacute hocirc minha cabeccedila docirc so
serve com doacute de cabeccedila isso a gente pega ela monte de folha quebratudinho bota pra ferver deixa no cereno quando eacute de manhatilde banha a cabeccedila muito bom pra tirar
aborrecimento aquela dozinha esse outro eacute chaacute mas natildeo eacute pra tomar o chaacute e soacute pra
lavar a cabeccedila eacute o banho de cabeccedila que a gente chama neacute eacute soacute pra isso que eu sei a
serventia eu sei pra isso que noacutes fazia capitiu eacute por assim ele eacute um pitiu num eacute cheiro
so se panha assim e cheirar tu vai dizer que o banho dele vai ficar daquele emo jeito
mas muda o cheiro dele cruacute eacute um jeito mas depois que ferve ele muda o cheiro dele ele
cruacute e pitiuacute jaacute taacute dizendo capitiu eacute assim um cheiro de peixe sei laacute um cheiro assim ele eacute
pitiu mesmo mas o cheiro dele depois de cozinhado ele natildeo fica ele muda pode banhar
a cabeccedila que ele fica assim sempre recedendo o cabelo da gente
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de cabeccedila enjoo e enxaquecas
Fu Formas de
uso
Chaacutes para banhar a cabeccedila (depois de ferver as folhas deixar no sereno da noite lavar a
cabeccedila na manhatilde cedo)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta na forma natural tem cheiro muito forte pitiuacute
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
183
APEcircNDICE L - Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCarrapicho Agudordquo
Fotografia 40 ndashCarrapicho Agudo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 18 CARRAPICHO AGUDO
Lx Lexema Carrapicho Agudo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico masculino
Df Definiccedilatildeo esse um eli tem eli eli cresci assim ateacute um metru i meiu di altura assim eu jaacute vi neacute
mais eli vai ateacute uns certus tempu eli eli si acaba tambeacutem eli num eacute num eacute uma arvri
que permanenci ali por certus tempu natildeo eli eli sempri eli nasci nu periacuteodu da
chuva aiacute quandu vai chegandu u secu eli eli jaacute vai si acabandu eli comeccedila a botar flor
botar as sementinhas daiacute a tendencia deli eacute morrer cai aqueli um pra nascer otru di
novu eli eli eacute nativu tambeacutem neacute eli num fica eli num fica uma arvri eli permaneci doi um ano dois ano soacute uma arvri natildeo eli morri aqueli um nasci otru di novu ele eacute uma
arvri qui eli cresci i eli bota uns galinho ele fica todu espalhadinhu assim os galhu deli
na ponta dos galhu eacute qui eli bota a sementinha deli tipo uma uma esporinha por aqui
tem com certeza qui tem assim por essa nessa invasatildeo neacute eu tenhu certeza tenhu toda
certeza qui tem esse matu eacute a folha deli eacute uma palmazinha eacute eacute assim uma folha
assim aiacute ela eacute toda repartidinha toda repartidinha toda uma samambaia sabi u qui eacute
samambaia ela eacute daqueli formatu di samambaia eacute toda repartidinha isso toda toda
partidinha assim a folhinha dele ( ) bota folha daiacute tem sai pedacim pra todo canto
assim a folha deli a flozinha deli eacute quandu antis deli abrir us carrapichim fica
abertinha eacute amarelinha ( ) u miolim da flor eacute amarelim neacute a depois qui qui ela abri qui
ela fica assim () ela bota florzinha agora assim eacute aquelis carrapichim qui eacute tudu agarradu quandu agenti qui eli taacute maduru agenti passa assim eli jaacute si agarra na ropa
da genti aquela isporinha nu fimzim daqueli coizinha tem aquela esporinha qui si
agarra na genti eacute na folha na flor dela eacute a sementi aquilu eacute a semente u carrapichu
qui agenti chama eacute a sementi neacute qui aqueli qui cai no chatildeu qui nasci otru natildeu eacute da
raiz da avre eacute da raiz eacute da raiz arranca eli aiacute lava rapa alguma qui seji e cuzinha i
faz o chaacute natildeu eli eacute assim qui nem na grussura dum dedu eli ateacute qui eli eacute uma avre
assim quandu assim a terra eacute boa qui eacute uma terra assim bem neacute eli eli daacute um tamanhu
assim dum metru i meio por aiacute assim neacute quandu eacute aquela terrinha meia meia cansada
meia meia batida meia dura assim eli eli cresci pequenu mas eli cresci eu jaacute vi assim
jaacute vai dependecirc da terra ela eacute uma achu qui ela eacute uma erva uma erva ela eacute du fri du
friu porque ateacute quandu chega a eacutepoca du veratildeu ela morri neacute ela nasci ( ) um tempu
dessi du veratildeu qui jaacute si passo u veratildeu laacute vocecirc passava laacute ela tava toda mortinha assim soacute os carrapichim dentro agora com a chuva qui ta dandu ela jaacute ela jaacute caiu agora ela
vai nascer ela ela vai nascer tudim quando aiacute ela crece ali aiacute aiacute quando ir che
chegando o veratildeo eacute eacutepoca qui ela vai morrer di novu qui o carrapichu dela cai nu
chatildeu daiacute ele nasce outro vem outro vem nativa eacute ela eacute nativa
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
184
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Eacute usada a raiz da planta
Fu Formas de
uso
Usada na forma de chaacutes para Icteriacutecia (amarelo da pele nas crianccedilas)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
185
APEcircNDICE M ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCatinga de Mulatardquo
Fotografia 41 ndashCatinga de Mulata com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 19 CATINGA DE MULATA
Lx Lexema Catinga de mulata
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo tem eu acho muita cheirosa eacute catinga de mulata num sei porque mulata eacute uma coisa
que mulata neacute jaacute sabe eacute caatiga de mulata eacute eacute o contraacuterio pra dizer cheiro de mulata
((sorriu)) por mim se fosse eu que fosse colocar num colocar num colocava catinga eacute
ela tem um cheiro forte pois eacute se fosse no meu caso fosse butar nome natildeo ia dizer
catinga a dizer cheiro de mulata mas eacute catinga de mulata eacute eacute pra varas coisas tambeacutem
eacute pra febre doacute de cabeccedila doacute de estamagu isso ela eacute uma planta eacute natildeo ela faz mas natildeo e
muito disiflamatoacuterio que eu tenho conhecimento dele ser desiflamatoacuterio natildeo ela eacute
assim pra bo despachar gases dentro da gente bom pra isso pra doacute de cabeccedila tambeacutem
eacute bom pra tudo isso tambeacutem ela eacute pequena desse modelo catinga de mulata desse
moledo dessa grande ai sim natildeo desse outro laacute come eacute o nome estoraque neacute isso ai manjericatildeo ele eacute pequeno soacute a folhinha dela eacute maiozinha um pouquinho mas
arendondada um pouquinho um poquinho mas eacute esse modelo eacute natildeo mas se tu natildeo
conhece assim se nem conhece a planta num vai conhecer pelo cheiro porque esse
aqui esse aqui eacute mais eacute mais durinho a catinga de mulata ela eacute mais ela eacute mais copada
e mais assim comueacute que eu quero dizer assim eacute mais fraacutegil o galhim dela pra quebrar
ela eacute assim mais ragadinho mais assim eacute delicado sim eacute esse daqui natildeo a gente ve que
ele ele eacute tipo uma madeira tipo assim neacute bem assim mas durinho e a catinga de
mulata ela eacute mas quanto mais ela eacute adubada que ela fi mas ela fica eacute ((sorriu)) eu
acho que porque ela eacute muita dengosa a catinga de mulata ((sorriu))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas caule e raiz satildeo usados para febre dor de cabeccedila no estocircmago
desinflamatoacuterio e gases estomacais
Fu Formas de uso
Chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem cheiro agradaacutevel catinga seria o antocircnimo de cheirosa
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
186
APEcircNDICE N - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCibalenardquo
Fotografia 42 ndashCibalena com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 20 CIBALENA
Lx Lexema Cibalena
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh eacuteh uma planta que nem a cidreira do mesmo modelo da cidreira tudo do um a
cidrera folha os galhos dela ela e brom bom pra febre doacute de cabeccedila tambeacutem neacute que
a cibalena na na farmaacutecia ela nu eacute bom pra febre pra febre pra doacute ela eacute do mesmo
jeito tambeacutem hurum o chaacute o chaacute eacute da folha do mais eacute das folha das folhas das arve ( )
natildeo tambeacutem natildeo
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para dores de cabeccedila febre e dores em geral
Fu Formas de
uso
Chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
187
APEcircNDICE O ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCoraminardquo
Fotografia 43 ndashCoramina com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 21 CORAMINA
Lx Lexema Coramina
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva ela eacute na natildeo ela eacute caseira ela e do frio do frio eacuteh ela essa daiacute
eu natildeo sei dizer muito bem o formato dela eacute e e a minha voacute dizia que era muito pro
problema de coraccedilatildeo tivesse sofrendo do coraccedilatildeo probremas aqueles agonia aquelas coisa fizesse o chaacute dela pra tomar mais soacute que eu natildeo conheccedilo bem essa
planta natildeo jaacute nu sei dizer isso aqui eacute o coramina soacute qui a minha voacute dizia assim o
coramina eacute bom pra quem tem o problema de coraccedilatildeo aquelas ferruaduras num tem
dar umas dor umas ferrruada ela dizia que era muito bom pra soacute sei que eacute bom
pra isso pra coraccedilatildeo olha com certeza
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas para problemas no coraccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes para dores no coraccedilatildeo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
188
APEcircNDICE P ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCrista de Galordquo
Fotografia 44 ndash Crista de Galo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 22 CRISTA DE GALO
Lx Lexema Criacutesta de galo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo esse daiacute eu natildeo vou dizer com garrafa porque eu nunca fez aquilo que eu nunca fez
num tenho assim um uma seguranccedila pra remeacutedio assim eacute eacute assim que os outros diz neacute
coquei ele como remeacutedio porque os outros que me indicaram ele eacute bom pra coraccedilatildeo
que tem problema de coraccedilatildeo coraccedilatildeo de bate acelerado bate num se que ele eacute bom
pra fazer o chaacute da crista da da flor da flor mesmo hurum mas soacute assim foi indicado
por o outra pessoa assim que tambeacutem tem conhecimento neacutew aiacute diz tambeacutem ela eacute que
nem uma criacutesta de galo ela daacute assim () uma os pezinhos dela agora aqui ela faz tipo
um folhinho uma coisa assim neacute espanhadinho e aiacute tem uns peacutenhinhos assim no pezinho da folha tem uns peacutenhinhos isso isso hurum natildeo eu tenho eacute assim que os outro
jaacute me indicou
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Eacute utilizada a flor da planta que tem formato de crista de galo para coraccedilatildeo acelerado
ou problemas do coraccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Pode ser feito o chaacute da flor ou usado na garrafada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
189
APEcircNDICE Q ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoErvatildeordquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 23 ERVAtildeO Lx Lexema Ervatildeo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva nativa eliele eacuteh do baixo do alagadoele nunca da assim no seco
natildeosempre ele daacute no lugar que eacute molhadoumiduclima molhado eacutemas se
tiverela precisa da quele ambiente que esteja molhado que ta assim com aquela
parte da lama daquela agua grossaela natildeu eacuteh da terra seca da terra limpa assime
num so da em aguada na quela agua que esteja misturado com aquela terracom
aquele limu que ela gostaela eacute pequenaela eacute fina tambeacutem assim o caulizim dela ela
sim eacute de quina tem umas quinalzinho a folha dela eacute cumpridinha estreita e ela eacute boa
pra tomar ela nunca fez ela eacute boa pra dor de cabeccedilafazer o chaacutefaz o cha da
folhapega tudim elebota pra cozinhar e deixa no sereno e di manhatilde banha a cabeccedila vai usando assim diretamentetem umas dor de cabeccedila encravadaa minha
cabeccedila nu passa nu sei o queuma dor de cabeccedila enjuada eacuteh fazer isso aiacutenatildeo sei
porque desse nome de ervatildeo natildeo sei porque eacute uma ervaela num eacute tatildeo grande pra ser
ervatildeoela num eacute tao grande ela tem uma florzinha bem pequenininhabem
roxinhabem piquinininhamas eacute folhamais tem um tem que ela tem as florzinhas
bem piquinininha bem roxinha
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e enxaqueca
Fu Formas de
uso
O chaacute das folhas e depois repousando no sereno da noite a cabeccedila eacute lavada com o chaacute
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
190
APEcircNDICE R - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoEucaliptordquo
Fotografia 45 ndashEucalipto com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 24 EUCALIPTO
Lx Lexema Eucaliacutepto
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ele eacute uma arvenha tambeacutem ele natildeo da muito do que eu conheccedilo num sei se tem uns eacute
natildeo ela natildeo eacute muito pequena ela eacute meacutedio ela num eacute muito pequena natildeo ela eacute boa pra
febre a gente usa ela pra febre o chaacute comu eu tocirc dizendo eu assim uso mas as tintutas
eu gosto de fazer mais as tinturas pra febre pode o chaacute isso pode pode fazer o chaacute e
pode usar a tintura pra febre eacute e pra febre eacute natildeo natildeo tambeacutem num sei natildeo nunca viacute flor dela nunca vi soacute soacute folhas compridas bem compridi compridinha comprida assim
com a ponta fina ela eacute estreita ela natildeo eacute largona natildeo ela eacute estreita pezinho da natildeo
((sorriu)) hurum conhece a vinagreira conhece vinagreira () soacute que ela eacute pouco
diferente soacute uma folha da vinagreira dela do eucalipto num tem uma folha aqui que
compara mas ela eacute assim olha assim cabeccedila assim e a ponta dela eacute mais fina o pezinho
dela eacute mais larguim e pontinha dela eacute () ((sorriu))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Utiliza as folhas para febre em geral
Fu Formas de
uso
Chaacutes e tinturas para febre
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a moradora referir-se agrave aacutervore
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
191
APEcircNDICE S ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoGeniporanardquo
Fotografia 46 ndash Geniporana com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 25 GENIPORANA
Lx Lexema Geninporana
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo um noacutes jaacute fazemos tudo isso em ((sorriu)) seraacute que nu taacute adoccedilado ((sorriu)) eacute um uma
arve nativa eacute ( ) e ela eacute tambeacutem assim modelo do cafeacute da arve do cafeacute ( ) eacute a mesma coisa
tambeacutem a folha dele eacute assim isso aiacute ele eacute bom pra picade di inseto cobra de copiatildeo essas coisas neacutew tiar o sumo da do caulhe dele tirar assim tirar aquela casca o entrecasca eacute bom
o entrecasca aquele do de cima ela natildeo natildeo a gente tira o sumo a gente faz assim tira o entrecasca dela daacute uma raspada assim assim meio pra sair tipo uma bucha assim ai bota
uma aacutegua isso ((sorriu)) eacute acho que ((sorriu)) eacute hurum eacute divide ser eacute u acho eacute eu acho metade dessa coisa eacute assim os indiacuteos que descobriu esse nome neacute que os indiacuteos para () eacute
os indiacuteos que que sabe porque esse nome porque assim os meu irmatildeo que eles aprenderam com meu pai porque meu pai tem sangue indiacutegena ele fazia ( ) ( ) aiacute meus irmatildeo eu
aprendia com meus irmatildeo papai ensinava neacute ai ele aprendia ele fazia porque assim vocecirc pega uma vara uma varinha assim vocecirc enrola ele aqui o tanto vocecirc podir natildeo quebra
natildeo fica do mesmo jeito do arco do iacutendio aiacute eu acho que ele tem relaccedilatildeo com os iacutendios que colocaram esse nome tavez neacute porque esse daiacute eu sei assim ele natildeo quebra neacute vocecirc
pega aqui ele num quebra ele eacute ele eacute isso vai depender da grussura dele tambeacutem neacute horriacutevel hurum isso hurum pra cortar o veneno ((sorriu))
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Utilizados a folhas entrecasca e caule para picadas de insetos cobra escorpiatildeo
Fu Formas de
uso
Do caule eacute retirado o sumo (colocado de molho na agua)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
192
APEcircNDICE T ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoHortelanzinhordquo
Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELANZINHO
Lx Lexema Hortelanzinho
V Variante Malvarisco
Cg Classe Gramatical Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo oh hortelanzinho eacute desse eu chamo pra esse hortelam sim porque assim tem
tem uma parinca que eacute hortelam tambeacutem eacute o grande aiacute tem desse pocha entatildeo
hortelam pimenta hortelam roxo e tem o hortelanzinho que eacute o hortelam nenecirc
que eacute o hortelam nenecirc hortelam nenecirc e esse eacute o hortelanzinho que eu chamo porque depois desse daiacute () hortelam sim grande eacute a folha dele grande eacute o
mesmo malvarisco isso eacute sim e tem o hortelam nnecirc eacute o menor de todas isso isso
essa daiacute tanto faz se da outra dessa dai serve para tomar chaacute serve pra butar nu
suco ela serve pode pegar o suco de qualquer coisa de limatildeo sei laacute du que for e
bater uma folhinha dele junto fazer charope eacute e memu coisa de hortelam nenecirc o
nenecirc ele eacute proprio pra nenecirc mesmo crianccedila mesmo eacute do tamanho e da cor
porque o hortelam nenecirc ele eacute branquinho ele num eacute roxinho ele eacute assim natildeo a
folha tudo que nem essa arve que taacute aiacute disse daqui natildeo o hortelazinho ele eacute
roxinho isso ele eacute roxinho o hortelam nenecirc eacute tudo assim eacute folha eacute o galhim dele
eacute tido assim eacute isso o hortelam grande jaacute eacute maior as folha dele eacute tido assim eacute tem
eacute eacute maior a folha dele eacute mais grossa a folha dele eacute bem grossa e serve tambeacutem pra o comu tempero comu por enquanto agora eu tenho hurum eacute neacute o hortelam
grande eacute daquele mesmo modelo o hortelam grande eacute eu acho que num sei natildeo
num sei e num sei dizer cume se tem doutro tipo tipo neacute eu soacute conheccedilo essa
trecircs tipo agora num sei se muda o nome desse mesmo do hortelanzinho eacute a
mesma pimenta num sei natildeo () natildeo
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas nos chaacutes e sucos
Fu Formas de uso Chaacutes xaropes e em sucos
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Tambeacutem conhecido pela variante malvarisco
Dc Data da Coleta 04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
193
APEcircNDICE U ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoHortelatilde Neneacutemrdquo
Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELAtilde NENEacuteM
Lx Lexema HortelatildeNeneacutem
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo porque ele eacuteh mais miudim doque todas do que os outros eacute ela eacute mais a folha dele eacute
do mesmo mesmo formato desse mesmo modelo soacute que ele eacute miudinho ele bran sim soacute
que ele eacute miudinho e eacute jaacute ele eacute roxinho esse daqui eacute roxinho esse um eacute branco tambeacutem
hurum mas ndem eacute natildeo eacute hortelam ela eacute mais pequenininha ele eacute todo assim
branquinho assim essa folha dessa coisa assim ele natildeo eacute roxinho assim natildeo eu tenho
laacute em casa eacute fazer chaacute pra bebe recenacido quando faze gripado tossindo injuado eacute
bom fazer chazinho pra daacute charope eacute isso neacute tosse com certeza eacute mesma coisa hurum eacute eu acho que ela eacute proacutepria pra crianccedila pra bebecirc mesmo pra bebecirc eacuteh quela eacute
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para gripes e tosses em receacutem-nascidos
Fu Formas de
uso
Chaacutes e xaropes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
194
APEcircNDICE V ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoJambu Roxordquo
Fotografia 48 ndashJambu Roxo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 27 JAMBU ROXO
Lx Lexema Jambu roxo
Va Variante Jamburana
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo planta rasteira do molhado de clima uacutemido eacute a mesma coisa que agente comi no
tacaca que faz eh a cor ela eacute nativa de tempu umidu ela serve pra do de
estomagu figadu quando com algum problema no figadu assim cuando consegue
almoccedila e num consegue janta aquilo parece que num desfaz parece todo tempu
cheio eacute problema nu figadu tem de faze o cha eacute de folha de flor com raiz com tudo o
importante eacute lavar bem lavadim e botas pra ferver com tudo e toma o cha a flozinha e amarelinha bem amarelinha mais do que o outro eacute bem amarelinha quase
roxinha eacute um poco menorzinha
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas flor raiz tudo bem lavado
Fu Formas de
uso
Utiliza-se o chaacute para dores no estocircmago problemas de digestatildeo e no fiacutegado
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A cor da flor amarela bem forte diferencia as espeacutecies
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
195
APEcircNDICE X ndash Informaccedilotildees gerais sobre o termo ldquoJenipapordquo
Fotografia 49 ndash Jenipapo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 28 JENIPAPO
Lx Lexema Jenipapo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma arve muita grande nativa tambeacutem ela nativa ela eacute grande tem fruto e do
fruto que a gente faz ela eacute o u o genipapo ele eacute rico em vitamina pra anemia agora que
eacute difiacutecil achar uma gente que diga que gosta num gostei natildeo o cheiro dele eacute muito
forte do fruto dele eacute forte o cheiro aquele cheiro eacute um cheiro forte mesmo assim comu coisa assim tava comu assim um litro de cinquenta e um assim que eacute o cheiro dele tem
gente que num gosta daquele mas ele eacute rico em vitamina pra quem taacute aneacutemico pra ele
eacute muito bom () ele eacute assim deste tamanho laranja isso quando ele taacute verde ele eacute duro
quando cai ele eacute mole ele fica eacute o suco pega ele eacute expreme bota accediluacutecar e pra tomar o
suco dele tirando disso fazer o licor tambeacutem eu uso laacute em casa mas pra fazer licor a
gente bota no aacutelcool no cinquenta e umo aiacute mas eacute mas mas aiacute depois a gente faz uma
garrafa de accediluacutecar diminui e diminui isso aiacute eacute pra bebida isso bebida pra quem gosta
de () o fruto o suco do fruto pra remeacutedio eacute tambeacutem assim ce tiver eacute uma rasgadura
uma qualquer coisa porque num sei se tu jaacute viu crianccedila que fica assim cum umbigo
grande assim a gente coloca o dedo a gente coloca o dedo a gente sente que aquele
que rasgado um vai laacute na arvore do jenipapo a arve dele tando vivo verde tira um tampinho da casca e vai aperta trecircs vezes no imbgo da crianccedila e vai coloca la dentro
tampinho no mesmo canto aiacute aiacute conforme aquele tampinho vai colocando vai sarando
ali ai vai diminuindo a a rasgadura na inbigo isso aiacute eu tenho poque eu fiz pro meu
filho ficar bom hoje ele eacuteh rapaz num tem quem diga o que ele era nunca passei com
meacutedico pra dizer doutor me diga o que eacute o que eacute o que isso nunca natildeo foi isso remeacutedio
que ensinavam natildeo riacute sim tuacute vai laacute um tampim assim neacute vai uma comparaccedilatildeo teacute
mede o tamanho do imbigo aqui e vai mede laacute no no quarto tira o tamanhinho que eacute e
vai aperta trecircs vezes aquele pedacinho de casca no umbigo e vai cola laacute de novo bota
no mesmo cantim deixa laacute ficar coladinho aiacute aquela casca vai cola de nova e colando
aliacute a ela ela assadura vai colando vai diminuindo neacute eu fiz com meu filho me
ensinavam neacute e eu fazia hurum
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de Casca para problemas no umbigo e frutos para bebidas
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
196
uso
Fu Formas de
uso
O fruto maduro eacute usado para fazer licor (accediluacutecar e bebida alcooacutelica) uso da casca para
rasgadura problemas no umbigo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
197
APEcircNDICE Y ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMamatildeordquo
Fotografia 50 ndash Mamatildeo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 29 MAMAtildeO
Lx Lexema Mamatildeo
Cg Classe Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo uh mamatildeo tanto ele eacute vitamina neacute ele eacute rico em vitamina o mamatildeo pra crianccedila pra idoso pra tudo eh como a semente dela eacute muito bom agente faze eh remeacutedio pra
coloca verme cum a sementi dele pega a sementi dele seca bem sequinha assim bem
seguinha agente torra ela bem torradinha ai soca bemai bota um poco demassa de
trigo de farinha de trigo ai da uma misturadinha ai faz um modelo dumas piulinha eh
muito bom prafazer as piulinha pra tomar pra verminose
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
A fruta eacute consumida como alimento e as sementes satildeo trituradas para uso medicinal
Fu Formas de
uso
As sementes satildeo trituradas misturadas com trigo e feitas as piacutelulas contra as vermes
em crianccedilas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
198
APEcircNDICE Z ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMangueirardquo
Fotografia 51 ndash Mangueira com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 30 MANGUEIRA
Lx Lexema Mangueira
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Feminino
Df Definiccedilatildeo a mangueira ela eacute bem grandi eacuteh uma planta tambeacutem ela eacute caseira agora ela eacute
muito boa de nascer todo quase caroccedilo dela nasce neacute e nu clima frio eacuteh num frio eacute folha comprida estreita bem comprida e estreita a semete eacute uma semente bem
grande que que ta que ta dentro do fruto neacute eacute assim um pouco chata a manga eacute a
manga eacuteh tem tem tem flor dela flor ela coloca assim uma assim tipo uma bage
uma coisa assim uma flor assim assim uns pivatildeozim neacute e vai colocando as flor dela
e a flor dela eacute bem piquinhinha as depois o fruto nasce dali da flor ele vai crescendo
eacuteh ela eacute uma arvore bem grandi cauli bem grosso eacute muito grande ela uns cinco
metros acho que ateacute mais de cinco metru ela eacute bem grande noacutes usa ela praa
diarreia quando ta com muita diarreia e eh fazer o cha da do entre casca pra
diarreia e pra tosse tambeacutem fazer o lambedor eacute do entre casca tirar aquele entre
casca do caule por que aquela casca de cima natildeo serve pra nada ai ah madeira
tambeacutem eacute o entre casca ai tira e faz o lambedo ela eacute travosa eacute travosa eacute ela eacute menos travosa que uh uh cajoeiro eacute amarela o cajoeiro eacute vermelho tomu cha
ou entatildeo faz o xarope o lambedo como diz o xarope o xarope eacute um pouco mais
grosso a gente tira o entre casca se tira ele bem limpinho se tiver o cuidado num
carece lavar se sair um sujinhu tem que lavar e bota pra cozinhar as depois que
tira agua que para eacuteh coa ele e colocao mel o accediluacutecar que eacute pra ele ficar assim tipo
dum xarope vai apurando ai tira coloca num vidro bem limpo e fica tomando isso eacute
pra crianccedila quando ta gripadu com tosse o xarope e pra diareacuteia eacute o chaacute faz o cha
dele e toma nois usa
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Para diarreia e tosse eacute usado o entre casca
Fu Formas de
uso
Para diarreia eacute feito o cha do entre casca para tosse e gripe eacute feito o ldquolambedorrdquo o
xarope eacute feito do cozimento do entre casca com o accediluacutecar
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
199
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
200
APEcircNDICE AA ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMaracujaacuterdquo
Fotografia 52 ndash Maracujaacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 31 MARACUJAacute
Lx Lexema Maracujaacute
Cg Classe Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo maracujaacute eacute folha eacute a fruta eacute a flor tudo serve eacute uma planta ela eacute caseira
maracujaacute ela da em todo todo clima mas eacute melhor eacute no frio mais ela da em todos
todo tempo ela sempre ela daacute a folha eacute redonda eacute assim num eacute redonda natildeo
tem trecircs parte a folha dela do maracujaacute ela eacute bem grandi tem trecircs partes trecircs
separaccedilatildeo assim trecircs dedo como nois diz assim ela natildeo eacute redonda trecircs biquinho
tudo junto com certeza eacute uma folha meacutedia e a sementinha dela eacute chatinha eacuteh
dentro do fruto bota o fruto e dentro uma sementinha a folha dela eacute bem grandi
afror dela eacute bem grandi assim eacuteh rouxinha assim aberandu o branco e por
dentro do miolinho eacuteh rouxinho cabeludinho o caule eacute fino eacuteh um cipoacute ela daacute
assim ela eacute grandi por que se ela pegar uma planta sobe inteacute de acordo com a
planta ela vai botando os galhos ai ela vai subindo ela serve pra eacuteh pressatildeo auta ela ela eacute calmante o maracujaacute ela eacute calmante e tanto faz ser a folha
comu a flor Comu uh suco dela a fruta ela eacute calmante qualquer parte se natildeo
tiver o fruto pra genti tomar o suco fazer o chaacute da folha se tiver a fror pode fazer
o chaacute que ela eacute calmante pra quem ta com estressi pra quem ta com falta de sonu
a gente pode usar de tudo aleacutem disso de tem muita vitamina no suco e muita genti que
tem muito estressi muita pressatildeo alta pode usar o chaacute pode usar o suco
diretamente eu digo isso por que eu gosto muito e o chaacute eacute o suco que eu mais gosto
in ateacute agora eu to com cinquenta e dois anos e nunca aumentou minha pressatildeo graccedilas
Deus natildeo tenho pressatildeo alta ah eu gosto muito eacute o suco que eu mais gosto ela da
sempre
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Folhas e flores satildeo usadas como calmantes baixar a pressatildeo alta e diminuir o estresse
Fu Formas de
uso
Os chaacutes das folhas e da flor como o suco do fruto
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a informante referir-se a planta
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
201
APEcircNDICE BB ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMastruzrdquo
Fotografia 53 ndash Mastruz com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 32 MASTRUZ
Lx Lexema Mastruz
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Masculino
Df Definiccedilatildeo olha eli eacute du ele eacute du friumais eli eacute du friu mas eli num eacute aquela aquela qui gosta
muitu du friu eli gosta du friu mais eli gosta tambeim bastanti da quinturadus dois eacute
ele num eacute eli eacute tem a sementinha delinatildeo eli daacute em qualquer ambienti eli daacute nu vasu
eli daacute chatildeo nu abertu nu fechadu nu quintau fora du quintal nu nu como eacutenu vazu em
todu jeitu eli daacute u mastruz eacute em todu jeitu pega eli joga a sementi aqui eli nasci daiacute eli
vai crescer si eli eli tem bastanti duraccedilatildeu eli dura um ano mais di um anu neacute soacute qui eacute
assim cai a sementinha deli tambeacuteim aqueli um jaacute morreu vai ficandu velhu vai
morrendu e u otru jaacute vai nascendu aqui u mastrus eli eli eacute assim eacute na terra qui eli si daacute eacute dificilmenti eli eli si acabar porque nasci a sementinha deli assim eacute bem
pequenininha bem pequenininha mais eli antis daqueli sementinha cair eli jaacute nasci
aqui eli jaacute nasci demais aiela eacute alta muita alta natildeu mas ela daacute por aqui assim ela daacute
ateacute um metru menus dum metru um poquinhu neacute as veiz ela ela bota galinhu tambeacutem
por todu cantu as vezis quandu eacute uma terra boa ela fica bonitanatildeu ela eacute planta
caseira ela num eacute nativa natildeu ela eacute caseiraeacute compridinha a folha dela eacute compridinha
eacute soacute uma folinha i tem uns dedinhus assim qui sai uns biquinhus assim uns
bordadinhus neacute na folinha delaa flor dela eu nunca vi a flor dela bota sementinha a
flor dela eu natildeu sei comu eacute qui eacute neacute tem a sementinha a sementinha eacute agarradinha
tudu ali pela galhu dela pelu nu tronquinhu da folha dela ela jaacute bota aqueli galinhu i eacute
aqueli galinhu jaacute vai botandu a sementinha a sementinha dela eacute bem pequenininha bem uma coisinha muita muidinha mesmu( )mastruz eli tem dois nomi mastruz i erva
santa maria neacuteerva santa maria natildeu noacutes aprendemos assim pelu livru eu conheci por
mastruz mesmu aiacute depois quandu veiu um livru qui era pra gente estudar erva-santa
maria erva santa maria a genti foi ver tava laacute a fotu deli i conhecemus qui eacute o mesmu
mastruz
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para machucados anti-inflamatoacuterio
Fu Formas de
uso
As folhas satildeo amassadas e colocadas no local do ferimento ingerido ou o chaacute das
folhas
Fn Finalidade Medicinal
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
202
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
203
APEcircNDICE CCndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMelatildeo de Satildeo Caetanordquo
Fotografia 54 ndash Melatildeo de Satildeo Caetano com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 33 MELAtildeO SAtildeO CAETANO
Lx Lexema Melatildeo Satildeo Caetano
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Df Definiccedilatildeo esse ai eacuteh nativo eacute uma verele eacuteh um cipozinho beim do tipo uma trepadeira ele vai a donde tem uma arviele se apodera pra ele sobre pra laacute onde tem uma
arvoreele se pega tambeacutem ele eacuteh do clima friodo invernomais no veratildeo ele
sempre somi ele eacuteh nativo tambei ele num eacute uma planta assim ele eacuteh nativo no
roccedilado quando a gente botou no roccedilado pra genti plantar assim gosta de nascer
aiacute ele eacuteh assim ver uma arvore assim ele se apodera pra subir ele eacuteh um
cipozinho bem fininhovive junto com a planta natildeo natildeo ele eacuteh muito durativo
vai vai um certo ponto quando o veratildeo acocha muito ele fracassaeacuteh ele fica
assim bem fraquinhele eacuteh assimo jeito dele e que nem maxixe assimquando
ele taacute pegando o maxixequando agenti planta nu nu geral ele fica que ele rama
assimeacuteh o melau satildeo caetano as folhinha dele eacute pequena menor que a folha de
maxixeredondinha eacute eacuteredondinhaos galinhu delo cipozim eacuteh bem finin me
daacute aquele cipoacute eacuteh bem mais fino que o cipoacute do maracujaacute muito bem mais fininhofininho mesmo eacute eacutehela bota uma florzinha amarelinha soacute uma
florzinha amarela ( ) ai despois o frutinho deleele bota um frutinho pequeninho
eacute eacuteh assim peludinho que nem uns picozinhus quem nem maxixe redondinho
assimtambeacutem meteacute agora num sei dizer se serve pra alguma coisa faz o
remeacutedio da folhaeacuteh o chaacuteeu uso na garrafadaservipra inframaccedilatildeo
tudotodo tipo de inflamaccedilaotildeai eu pego eleeu seco e bem sequinho na
sombra ai eu uso na garrafadana garrafada que eu usopor isso eu digo as
mias garrafadas todo tipo de remeacutedio eu coloco laacuteque serve pra uma
coisaser pra outrao frutuquando ta maduro eacuteh amarelinhuquando ta
verdi parece maxixequando taacute ele amadurece fica amarelinhusimamarelo
melau satildeo caetanonatildeo sei dizer
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas na garrafada para inflamaccedilotildees
Fu Formas de uso O cha das folhas para inflamaccedilotildees e tambeacutem as folhas secas satildeo usadas na
garrafada para todo tipo de inflamaccedilatildeo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Domingas Alves de Sousa 53 anos
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
204
Informante
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Quando a planta esta verde tem aparecircncia de maxixe quando maduro na cor amarela tem aspecto de um melatildeo pequeno
Dc Data da Coleta 04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
205
APEcircNDICE DD ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMortinha Miuacutedardquo
Fotografia 55 ndash Mortinha Miuacuteda com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 34 MORTINHA MIUacuteDA
Lx Lexema Mortinha Miuacuteda
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh ela eacute parente da mortinha peluda porque eacute nativa que nem a outra ela eacute
nativa ela num eacute uma planta que a genti planta ela nasce sozinha ateacute eh eacuteh
uma erva ela eacute nativa ela eacute medicina por isso que eu digo que eacute uma erva
uma erva nativa ela daacute assim ela gosta de todos os climas clima frio clima quente porque laacute perto de casa tem uma arvi eh todo tempo tau so um jeito ser
veratildeo ou seja inverno sempre no inverno ela muda um pouquinho por que claro neacute
num seca mas daacute eacuteh todo clima ela gosta mortinha miuacuteda eacute porque ela eacute bem
piquinininha a folha dela chama mortinha miuacuteda porque ela daacute mortinha folha
mais muidinha que existi eacute ela eacute menor ainda que a erva do jabuti menor ainda
ela eacute uma folhinha ela ela eacuteh meia compridinha ela num eacute bem redondadinha natildeo
ela eacute compridinha a folha dela eacute bem miudinha agora ela sim ela eacute mortinha
porque eacute uma arve tatildeo bonitinha a genti coidando dela ela eacute uma arve bem
bunitinha porque ela daacute meio baixa ela eacute copodinha formatu duma arve de
jambreiro ela toda cheinha tem flor a flor dela eacute bem miudinha miuditinha
(risos) natildeo sei nem bem dizer eacute porque assim bem pequenininha eacute pequenininha a
florzinha dela acho que tem sementi ainda natildeo prestei atenccedilatildeo mais com certeza ela tem sementinha a mortinha miuacuteda eacute lisa a folha dela eacute menor ela eacute
liso eacuteh essa outra mortinha peluda daacute mais alto essa eacute muito baixinha a mortinha
peluda eacute maior a folha eacute maior o olho dela quando ta sim que ela brota o olho
novo eacute bem rosiozinhu da peluda essa uma natildeo eacute toda soacute verdinha la perto da
minha casa tem uma grande dessa arvore dessa arve eu jaacute perguei um filhim dela
assim assim que ela nasce ela brota o filho dela eu tirei plantei bem pertinho de
casa ta bem bonitinho nois aprendemus com a minha avoacute quando uma mulher
ganhava neneacuten neacute que natildeo tinha aquele coiso de trazer pro hospital e tudo elas
fazia o chaacute pra tomar porque a mortinha miuacuteda faz a limpeza do utro da mulher
por dentro da mulher neacute aiacute ela fazia o chaacute aiacute durante assim um eacuteh quinze dias
vinte dias ela ficava fazendo o chaacute soacute natildeo era soacute dela pegava um monte de ervas pegava a mortinha pega gengibre pegava um monte de coisas assim que elas sabiu
e fazia u chaacute e nisso ficavam tomando planta que desinflamasse isso isso ela faziau
soacute soacute que eu faccedilu o chaacute dela ela num eacute tatildeo travoso assim mas ela tem esse poder
de desinflamar a pessoa e eu conheci muito a minha matildee que a minha voacute quando a
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
206
mamatildee teve os filhos que eu jaacute me lembrava que depois de mim ela teve cinco filhos
depois de mim neacute e nesse um eu via ela fazer esses chaacute todo dia ela fazia o chaacute too dia num era o negocio de botar nesse tempo nem existia geladeira nu
exista neacute aiacute a minhacutevoacute era assim quando a minha matildee ganhava filho cada uma
hora que ela ia comer antes da refeiccedilatildeo ela tomava o chaacute de manhatilde meio dia e
de tarde e a noite ela fazia aquele chaacute antes da refeiccedilatildeo feito da folha pegava
assim tipo uns galinho bem fininho tambeacutem ele tirava aquele galinho quebrava
colocava tudinho na panelinha e cozinhava e dava e sempre nois era curiosa e
perguntava voacute pra qui eacute isso pra que servi quando ela tava fazendu uma uma
velinha muita paciente a vovoacute minha filha isso que eacute pra mulher que tem filho tem
que tomar isso tem que tomar isso que eacute remeacutedio pra fazer limpeza nois via ela
fazer soacute do resguardo quando tava de resguardo essa outra mortinha peluda fazia
assim um probrema di di menstruaccedilatildeo neacute qui eu disse naquele dia pega assim
aquelas folhas bem vermelha folha dela novinha eacute bem vermelha enrolava nas folhas colocava embaixo da cinza quando jaacute tivesse mole espremia e tirava aquele
suco aquele caldo e colocava um pouco de cachaccedila e tomava pra normaliza jaacute
conheci por mortinha nunca perguntei ela tinha a mortinha miuacuteda esse nome
de mortinha eacute porque ela eacute bem miudinha tatildeo insensivelsinha ela eacute tatildeo eu
acho essas outras porque todas elas eacute mortinha neacute mortinha de morte ((
risos))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para o poacutes-parto e regular menstruaccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Usar o chaacute para limpeza do uacutetero e diminuir o sangramento na menstruaccedilatildeo tirando o
sumo da folha e misturando na cachaccedila
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo mortinha estaacute relacionado ao tamanho da planta que eacute bem delicada
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
207
APEcircNDICE EE ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMortinha Peludardquo
Fotografia 56 ndash Mortinha Peluda com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 35 MORTINHA PELUDA
Lx Lexema Mortinha Peluda
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Df Definiccedilatildeo natildeu natildeu eacute a morti essa uma eacute a vida num eacute a morti natildeu erraru neacute pra butari a vida
butaru mortinhaeacute mais achu qui eacute ela eacute nativa tambeacuteim ela eacute uma arvri mais jaacute jaacute
bastanti maior eacute uma arvri ela trepa bastanti grandi a arvri dela u cauli dela eu jaacute
vi ate dessa grussura asim neacute teacute dessa grussura assim ela daacute na capueira tambeacuteim
assim numa capueira ela daacute na mata assim eu sei qui ela eacute nativa mais eu nunca vi ela
na mata veju eacute na capueira natildeo menor daacute menor eacute eu jaacute vi menor num sei si ela
teim eacute nativa nativa eacute qualquer clima di qualquer ambienti ela nasci podi ser baxu
podi ser terra seca ela daacute a folhinha dela eacute compridinha tambeacuteim compridinha
larguinha i a flor eu da nunca vi a flor dela eu natildeu sei dizer eu natildeu sei dizer neacute sei qui ela assim u olhu dela assim qui ela brota qui ela taacute renovada u olhu dela assim bas eacute
bem vermelhu u olhu dela assim aquela folha nova eacute beim vermelhinhu beim vermelhu
vermelhu mesmu mortinha peluda porque ela eacute cheiu di pelinhu uma uma us
galhinhu a a os galhu dela assim aquelis galhinhu ( ) eacute cheiu di pelinhu natildeu num eacute a
folha eacute eacute us talinhu us talinhu assim umrum issu natildeu nau nau eacute eacute lisu eacute lisu eacute
paacute folha qui eacute peludinhu eacute teim aquelis pelinhu mais eacute pouquin neacute por issu qui
chamu mortinha porque ela teim varus varus tipu ai pra pra mudar ai butaru mortinha
peluda mortinha( ) qui daacute beim piquininhinha mermu qui a folinha deli eacute qui neim
aqueli mato ali ai teim di otra mortinha qui eacute a vauacutena qui teim aquela qui bota uma
frutinha bem vauacutena qui chama crianccedila gosta di comer daacute muitu nu pastu negociu di
pasto assim di juquira eacute vauacutena a crianccedilada comi qui ela ela daacute qui neim num teim
azeitona essas bicha aqui comeacute nau natildeu eu nunca vi natildeu nunca vi a frutinha dela mas com certeza ela bota porque assim ela ela eacute nativa as veiz genti num vai laacute vecirc
naquela eacutepoca ela ta sim num acompanha ai por issu qui eacute mortinha peluda porque
tocirc dizendu assim tem varus tipu di mortinha i cada uma teim um nomi a mortinha
peluda a mortinha essa outra qui eacute a lisa qui eacute a vauacutena qui eu to dizendu neacute as folha
dela as folha dela satildeo igual eacute eacute muita muita muita folha muita ela eacute uma arvri
assim qui ela daacute qui ela ispalha galinhu pra todu cantu pra todu cantu ela sai galho
dela assim ai( ) i aiacute ela eacute ela eacute uma arvri travosa ela eacute travosa ela presta tantu pra
mulher eacute fazer banhu di assei u neacute ela eacute bom issu travosu sim natildeu num eacute
normau eacute eacute a folha nova dela aquela folha du quandu brota aquela folha nova qui ela
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
208
fica assim beim vermelinha i pra assim mulher quandu taacute na menopausa qui as veiz
passa daacute assim passa du dia da menstruaccedilatildeu dela passa assim por que assim teim mulher quandu taacute im menopausa assim sempri assim passa assim neacute mais dia ai
assim ai minha matildei sempri fazia assim oacute i ensinava pega aquelas folhinha da mortinha
peluda i lava ela beim beim lavadinhu i embrulha numa folha di guarimatilde i bota numa
cinza dibaixu da cinza assim pra quilu assim amulecer natildeu secar pra ficar assim pra
depois qui tiver ali sequinha qui tiver moli qui tiver cozinhadu tira dali espremi i bota
um pocu di cachaccedila i tomaela solta ela ela solta ela depois dela taacute ali neacute com aqueli
suou qui ela ta ali abafadu ela soa ela amoleci ai bota um pocu di cachaccedila i toma
tinha genti qui iacutea na casa da mamatildeie i dizia assim qui tava com essi poblema neacute as
veiz era menopausa i as mulheacute natildeu tinha essi conhecimentu qui era menopausa aiacute elas
ficavu afrontada pensava assim qui jaacute era um comeccedilu di hemorragia issu tudo neacute ( )
conversandu ( ) ai eu aprendi cum a mamatildei quandu foi certus tempus neacute ( ) issu eacute
aiacute um tempu taacute cum mas ou menus um anu i pocu eu tinha uma minha colega tava assim colega da minha minina inte filha da parenti ali du antoniu froz ali neta du
finadu antoniu froz neacute ela procuro ela mando i a dominga eu to passandu mau ela
morava nu broca ela ligo si eu num sabia di um remeacutediu por que ela jaacute tinha tomadu
tanta da garrafada qui a matildei dela tinha feitu i ela tava com essi poblema mais ela eacute
nova mulher du primeiru filhu ela taacute cum vinti dois anus pareci ela taacute cum essi
poblema ichi to seim coragi pra nada si eu num sabia ensinar um remeacutediu eu dissi a (
) natildeu eu natildeu sei ensinar remeacutediu a tua matildei porque a matildei dela trabalha com garrafada
tambeacuteim neacute a a mamatildeie fez uma garrafada pra mim eu fez foi pioraacute apioraacute mais
dominga eu to ateacute com medu i eu num quiria ir negociu di cirurgia eu num quiria di
jeitu nenhum natildeu queru mi consultar ai eu peguei ensinei vou ensinar um remeacutediu qui
a mamatildei ensinava pra mulher ai eu peguei fez uma garrafinha neacute i mandei pra ela mandei u remeacutediu i feiz uma cartinha ensinandu comu ela fazia dissi adriani natildeu vou
fazer aqui porque pra mim fazer aqui tu mora longi ela morava nu broca aiacute eu mandei
pelu carru di alunu ai depois qui eu vi ela dissi dominga graccedilas a deus aqueli remeacutediu
foi em primeiru lugar pra mim seraacute qui feiz beim feiz beim qui ichi eu neim foi neim mi
consultar aqueli remeacutediu ela mi dissi neacute ela fazia assim quandu us otru ensinavu pra
ela neacute ai ela jaacute aprendeu com voacute com a matildei dela e aiacute ela fazia natildeu eacute issu eacute ela fazia
cum eu achu qui ela jaacute aprendeu com a voacute dela cum a matildei ai prontu ela jaacute faziu aqueli
remeacutediu dava certu aiacute elas iam so passandu di voacute passar pra matildee matildei passar pra filhu
filhu jaacute passa prus netu aiacute jaacute vai
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas para problemas com a menstruaccedilao hemorragia e menopausa
Fu Formas de
uso
Utiliza-se a folha embrulhada na folha da guarimatilde esquentando no fogo depois eacute
espremida e colocada na cachaccedila
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Existem vaacuterios tipos de mortinha a planta com a folha lisa eacute chamada Vauacutena
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
209
APEcircNDICE FF ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPata de Vacardquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 36 PATA DE VACA
Lx Lexema Pata de vaca
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh abertu amplu eacute ela eacute eacute mais du friu ela eacute uma forma di pata de vaca memu
ela daacute assim neacute ela assim aiacute ela reparti uma folha ela tem dois divisatildeo uma forma
duma pata di vaca mermu ela eacuteh meacutedia ela natildeu eacuteh tatildeu pequininha mas natildeu eacuteh tatildeu
grandi tambeacutem eacuteh meacutedia eu nunca vi a flo dela porque eu essa arvre laacute diabe laacute nu
nossu setor ela duro pocus tempu ela natildeu duro tantus tempu natildeu ela natildeu chego a bota
flo eacuteh essi um eli num era tatildeu piquininhu mais eli num era tatildeo grossatildeu diabet eli era
porque ela ela foi num era era uma arvri nova porque eacute comu eu contei qui meu irmatildeo elimino ela antis du tempu meu irmatildeu num sei u qui aconteceu or mininu cortaru ela
num chegoacute a si forma eu num sei dize u tamanhu dela a grussura dela i eu diabet da
nunca vi ela im otru cantu pra mim dize oacute isso aqui eu vi essa uma laacute im casa qui foi teacute
um meu colega qui levo pra casa i deu um galhu pa minha irmatilde aiacute ela plantocirc i aiacute ela
tava jaacute um bom tamanhu aiacute agenti num tinha um diabetete di qui ela era assim tatildeo
assim valiosa neacute eli eli chegoacute diabete assim oacute diab aqui eacute remeacutediu mais eli num disse
pra qui era i pra quecirc natildeu naqueli tempu agenti num tinha ainda muita diabetete di
assim fazecirc iab assim essi tipu di trabalhu remeacutediu garrafada essas coisa aiacute ela plantocirc
laacute i soacute sei qui iab sei qui laacute a folha dela eacute assim () i ela ela creceu numa boa altura
agora achu qui aquilu inda nu era u tamanhu dela assim diabetete neacute achu qui ela
inda ia crececirc mais ela eacute meacutedia eacute uma planta eacute ela eacute uma planta eacute meacutedia eacute
meacutedia cum certeza ela eacute uma planta meacutedia natildeu soacute o cauli a folha isso agente usa a folha dela pra remeacutediu i a casca pra fazecirc u chaacute pra diabete neacute () me diabet qui ela eacute
boa pra diabete ela eacute folha i casca
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo utilizadas as folhas e o caule para Diabetes
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome tem relaccedilatildeo com o formato da folha (pata de vaca)
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
210
APEcircNDICE GG ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeacute de Galinhardquo
Fotografia 57ndashPeacute de Galinha com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 37 PEacute DE GALINHA
Lx Lexema Peacute de Galinha
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminologico Feminino
Df Definiccedilatildeo ela eacute uma erva ela eacute uma erva ela eacute nativa ela daacute nu pastu assim neacute tipu um capim
ela eacute um capim( ) soacute qui ela daacute u formatu di um peacute di galinha mermu ela nasci aqui u
pezim deli ali ela ispalha mais naquela a dondi ela espalha ali us pezim eacute qui ela bota
a sementinha uma pequena semetinha tambeacuteim beim piquenininha ela eacute mais ou
menus meiu palmu assim beim miudinha teim sim sim ela bota o caulizinhu qui eacute u
peacute di u formatu di uma perna di galinha mermu u formatinho neacute bota aqueli caulizinhu ai na pontinha deli qui ela espalha u pezinhu aquelas folinha prum ladu i pra otru fica
nu formatu di um peacute di galinha eacute eacute issu eacute nu invernu eacute eim qualquer tempu eacute
qualquer cantu ela daacute achu qui eacute por causa du formatu noacuteis conhecemus tambeacuteim
cum ela neacute cum ela queacute dizer quandu otra pessoa tava com dor di denti ela mandava
fazer u chaacute assim quandu tava com aquela dor di denti assim cum inchaccedilu aiacute ela
mandava fazer u chaacute faz u chaacute du peacute di galinha pra fazia u chaacute esfriava i tomava ali ( )
porque naqueli tempu edilene era difiacutecil assim ah qualquer coisa ir pru hospital
qualquer coisinha aqueli tempu natildeo tinha aacute cecirc eacutesi natildeu tinha aqui era muitu difiacutecil pra
genti vir aqui pra paacute neacute uma consulta uma coisa a minha voacute a minha matildei num foru
acostumada assim qualquer coisinha taacute nu hospital qualquer coisinha sentia uma dor
di cabeccedila ah eu vou pru hospital vou pru hospital di jeitu ninhum num era dessi jeitu natildeu a minha voacute eu conheci ela qui eu tocirc com cinquenta anu cinquenta i dois anu eu
nunca vi ela dizendu assim eu queru ir pru hospital eu tocirc cuma dor di cabeccedila eu tocirc
cuma dor di barriga eu tocirc com uma diarreia eu queru eacute ir pru hospital nunca ouvi
nunca nunca nunca sabi comu eu nunca vi soacute remeacutediu caseru agora fossi na casa
dela neacute ela ( ) uma panelinha di barru qui ela usava panelinha di barru aiacute di manhatilde
ela preparava ela pegava eacute denti di alhu quandu natildeu tinha u denti era casca du alhu
um bucadu di coisa mastruz botava laacute aiacute cozinhava noacuteis chegava laacute qui noacutes era
curiosa neacutevovoacute pra qui eacute issu aqui eacute pra mim beber mais u qui eacute que secirc tem voacute nada
meu filhu issu eacute remeacutediu mermu mi deu na cabeccedila deu fazer as vezis ela dizia assim eu
amanheci assim com uma dozinha nu meu estocircmagu uma coisa um ventu uma coisa
assim quasi naquilu eli si curavu naquilu ela nunca foi eu nunca vi ela num hospital natildeu assim dizendu eu queru ir eu vou mi consultar mi levu pra mi consultar nunca eu
mais saudia era ela quandu adoeceu foi pra morrer velhinha jaacute quandu ela adoeceu
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
211
foi pra morrer i ela foi assim ela caiu aiacute sI bateu neacute ai u titiu ainda ainda quis levar
ela pra consulta pru hospital ela num quiz ir di jeitu nenhum ela dissi qui natildeu adiantava ela ir qui ela sabia qui ela natildeu ficava boa era tempu dela morrer i ela jaacute
tava velha di idadi ela jaacute andava devagarinhu u titiu anda feiz umas consulta assim
pra ela foi consultar i trouxi umas injeccedilatildeo mais ela natildeu ficou boa mermu mais natildeu
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de dente e inchaccedilo na boca
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dores de inchaccedilos nos dentes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem aspecto de um peacute de galinha
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
212
APEcircNDICE HH ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeatildeo Brancordquo
Fotografia 58 ndash Peatildeo Branco com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 38 PEAtildeO BRANCO
Lx Lexema Peatildeo Branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma planta eacute caseira clima tantu faz ela gostalugar que eleela ela gosta
tantu faz eacuteh aela eacute bem resistente inverno veratildeo veratildeo ela eacute resistente ela sim a
folhadela eacute media ela eacute redondafolha dela verdio fruto delaelabota assim
tipohum tipo caixinho ai dentro da da daquele cachu da a sementi neacutebota as
sementinhas e quando a genti pega dentro aquela caixinha tem sementinha delaque
a gente abre o remeacutedio e a sementi dela que eacuteh o remeacutedio ela da o cacho bota o cacho
assimas pontinhas daqueles coisinhus assimbota o fruto ai dentro do fruto
daquelas daquelas cachopinhos parte que taacute a sementinha a sementinha preta dela
ela bemeacuteh a sementi que usa no caso do peau a folha dela eacute remeacutedio prano caso ta com dor de cabeccedila uma ma tontura mucha a folha dela a folha do peatildeo branco
mucha um pouco no fogo passa um pouco de alho e coloca na testa e pra tontura
neacuteminha voacute fazia cuando algueacutem com tontura fazia issoaiacute o leite dele que a genti
corta assim o caule dele sai dele uma aguazinha eacute e tambeacutem muito esse noacutedia se pegar
na roupa da genti tem que ter muito coidadu usar o leitiele aiacute si tiver crianccedila que
tiver ferida na boca antau dor de denti muito celente pra usar o leiti corta o leitizim
dele bota numa esponjinha de algodatildeo e coloca no denti ferida na tambeacutem eacute bom
tambeacutem agenti pega apara o leiti dele bota um pouquim de sal e coloca na boca da
crianccedilaa sementi delea genti pega a semnetinha dele aquela sementi num eacuteh tao
pequenininha ela eacute muito bem maior que a sementi de urucumbem maiora genti pega
elaeh uma crianccedila tiver com tossetiver ehproblema daquela asmaela servi pru bucado de coisas as veis febre as veis fartiu a crianccedila num quer comerse pega ele
assim parte aquele sementinha tem o coidado de tirar a folhinha porque agenti fica
olhando assim agenti percebi a folhinha dele que ta dentro daquela sementinhauma
folhinha dentroassim pra nascer neacuteaquela folhinha assim quando ela ela agenti
parte jaacute percebi a folhinha jaacute ta li aquela folhinha agenti tem que tirar tudinhu na
mimpega uma faca tira tudinhu e pega aquela sementinhaela eacute que nem uma coco
que nem um coquinho assim neacuteaquela massinha ai pega faz umbota ela pra
assarbotaela fica amelinhaai pega pisa pisa e da pra crianccedila pouco tambeacutem
neacutemuito natildeo porque se der muito ele da um acesso de vomito que eacute forte eacutehisso aiacute
eacute remeacutedio mas neacute todo mundo que sabe fazer e eacute difiacutecil de ensinar pro outra pessoa
fazer remeacutedio caseiro tem essa ciecircncia neacutepurque a genti natildeo sabendo fazeragenti
ateacute evita de ensinar pra uma pessoa porque ele natildeo tem costume de fazerele tem
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
213
ciecircncia remeacutedio caseirotem chaacute que a genti pode beber o tanto que fornatildeo ta nem
aimas agortem remeacutedio caseiroo peatildeoo peatildeo eacute muitoa mimha matildee fazia pra nois agenti comeccedila a tossirnois era muito neacuteuins tussindu as veis gripadu ela
tiravaela tirava aquela folhapegava uma pontinha da faca ehmae o que eacute isso
no crianccedila curiosa sabe coma eacute neeh olhe isso eacute afolha que tem que tirar se comer
com essa folha morre ela dizia neacuteeacute veneno essa folha tem que tirar e assava so as
bandinhas ela pegava um espetinhu fazia uns espetinhos bem fininhu botava pra
assar so na quentura despois ela moiacutea assimdava para nois comerquando dava
certo ela misturava com qualquer coisaquando dava certo quando natildeo dava
assim quando nois jaacute era entendidopor meus filhos eu nunca fizeu jaacute comimais
eu nunca fiz nuca cheguei a fazer eu sei fazereu sei preparar do jeito que minha matildee
fazia pra nois nunca dava nunca dava mais de uma sementicom a folhinha muito
coidado com aquela folhinha de dentro da sementi
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e tontura Do caule eacute retirado um leite para dor de dente feridas na boca A semente eacute usada para febres e vocircmitos
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dor de cabeccedila para tontura a folha eacute esquentada com um
alho e colocada na lateral dos olhos O caule tem um leite que eacute retirado para colocar
com um pouco de sal nos casos de dores no dente ou feridas na boca Dentro da
cachopinha da planta tem a sementinha que eacute assada e triturada para acessos de
vocircmitos e febres
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Dentro da sementinha da planta existe uma folhinha bem pequena que deve ser retirada
para o preparo do remeacutedio segundo seu saber a folhinha eacute venenosa por isso nem
todos sabem preparar a medicaccedilatildeo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
214
APEcircNDICE II ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoQuebra Pedra Brancordquo
Fotografia 59 ndash Quebra Pera Branco com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 39 QUEBRA PEDRA BRANCO
Lx Lexema Quebra Pedra Branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminologico Feminino
Df Definiccedilatildeo eacute uma erva uma erva ela eacute ela achu qui pertenci um poquinhu friu um puquinhu
quenti ela tambeacuteim daacute assim ela tambeacuteim daacute nessa eacutepoca assim di natildeu muita chuva
natildeu muitu sol sempri ela ela gosta di daacute i ai tambeacuteim ela ela eacute nativa tambeacuteim ela
nasci assim tambeacuteim pelu quintau nu canteru sozinha ela nasci e ai quandu chega u
veratildeu qui eacute u veratildeu aperta muitu aqueli veratildeu di novembru dezembru ela morri ela si acaba natildeu ela eacute assim num teim u cuminhu di planta u cuminhu di planta jaacute viu u
cuminhu di planta natildeu natildeu sim sim sim () aqueli cuminhu qui a genti planta nu
canteru neacute pois eacute eli eacute daqueli jeitu eacute u formatu da di cuminhu sim sim sim pois eacute
natildeo mais quandu a genti dexa eli crescer eli da sementi eacute eli num cresci porque
quandu chega aquela eacutepoca a genti tem qui arrancar pra planta otru pra genti vender
daqueli jeitu neacute mais deixandu eli sementa i a a quebra pedra eli fica na formatu di
duma arvri di cuminhu di planta i ai eli a folha deli eacute beim muiditinha eli eacute eli eacute uma
avre assim pequeninha tambeacuteim e a a folha deli eacute bem miudititita assim a folhinha
deli mais ou menu eacute a folhinha daacute muita piquinininha tambeacutem mas daacute florzinha
dela beim miudititita ela teim teim teim natildeu natildeu natildeo natildeo eacute uma plantinha
piquinininha mas eacute uma planta eacute qui neim qui neim u cheiru verdi qui nem u cheiru verdi eu nunca vi u cheiru verdi assim di flor neacute mas eu jaacute vi mas eli eacute qui neim u
cheiru verdi assim a avrinha deli ai daacute daacute us galhinhu daacute as folhinhas beim miuditita
assim porque eli distroacutei as pedra di rim neacute achu qui eacute por issu qui u nomi deli eacute
quebra pedra quebra pedra eu aprendi nu livru tambeacuteim nu livru foi qui eu
aprendi issu foi a minha matildei i minha voacute a minha matildei i minha voacute qui muitas dessa
essa daiacute agenti sabia dessi nomi quebra pedra agora natildeu sabia a importacircncia qui eli
tinha mas u nomi a genti jaacute sabia por que ela eacute branquinha a a folha porque teim di
duas marca tem du roxu i teim du branquinhu i u bom eacute o que eacute branquinha
piquininha i branquinha i du roxu eli eacute du mesmu formatu mas soacute qui eli eacute roxinhu
tambeacuteim eacute a folha eacute a folha a raiz i assim a genti arranca ela tudu i lava i bota pra
fazer u chaacute deli completu folha cum raiz cum tudu
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de As folhas satildeo usadas para problemas renais
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
215
uso
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes contra as pedras nos rins e na garrafada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome da planta tem relaccedilatildeo com a funccedilatildeo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
216
APEcircNDICE JJ ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoSalsardquo
Fotografia 60 ndash Salsa com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 40 SALSA Lx Lexema Salsa
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo natildeu a salsa di remeacutediu eacute otra ela eacute du ela tantu faiz pra ela ela gostu du du mais
ela eacute du ambienti mais friu um tempu dessi( ) ela ela podi passar u veratildeu mas ela num
morri mais natildeu ela fica assim meia fraquinha amareladinha mais ela num morri
quandu chega u invernu ela renova tudim ela fica toda renovada e ai a folha dela eacute
bastanti grandi tambeacuteim eacute assim num formatu dum coraccedilatildeu tambeacuteim ela soacute qui ela eacute
mais grandi e eacute eacute um cipoacute tambeacuteim ela eacute cipoacute quandu quandu daacute certu dela subi ela
sobi mais ela eacute du chatildeu du chatildeu eacute du chatildeu natildeu natildeu eacute sobi eacute eacute si ela ver otra otra
planta ela sobi i aqui ela jaacute bota u cipoacute ela jaacute jaacute sobi aqui se der certu prela descer i
ela vai dandu cipoacute i vai dandu raiacutezes nu cipoacute i vai i pegandu vai indu ela num eacute aquela
raiz soacute nu peacute dela natildeu ela vai botaacute nu u cipoacute i vai i vai raizandu issu daiacute eu num sei dizer eu conheccedilu por essi nomi ( ) eacute porque natildeu eacute ela eacute nativa eacute eacute nativa teacute nu
lugar qui ela daacute qui ela nasci eacute difiacutecil ela ateacute si acabar natildeu soacute salsa eacute eacute eacute porque
a du temperu ela eacute qui neim cheiru verdi neacute du mesmu jeitu du cheiru verdi a salsa du
temperu i essa uma natildeu ela eacute um cipoacute ela daacute assim pertu di casa teim uma a genti
luta paacute acabar essi comecirc di rola ocirc ocirc essi que daacute eli daacute mais nu roccediladu eacute elas vatildeu
a salsa teim muitu laacute pertu di casa ela chega nu terreru eu cortu eu arrancu soacute qui ela
eacute difiacutecil dela si acabar ela fica escondidinha ela fica to dizendu nu veratildeu ela fica
amarelada soacute qui ela num si acaba pa dizecirc morreu natildeo noacuteis arranca noacuteis corta ela
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas em alimentos
Fu Formas de
uso
Usam-se as folhas como cheiro verde serve para dar sabor no alimento
Fn Finalidade Tempero
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
217
APEcircNDICE LL ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoVassourinhardquo
Fotografia 61ndashVassourinha com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 41 VASSOURINHA Lx Lexema Vassourinha
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ela eacute nativa ela nasci tambeacuteim nu paacute assim terreru nu quintal sempri a vassorinha
sempri ela gosta mais assim assim du molhadinhu du uacutemidu eacute mais nu veratildeu ela eacute
bastanti resistenti tambeacuteim nu veratildeu eacute com certeza eacute natildeu uma arvrizinha tambeacuteim
uma arvri piquinininha mas ela eacute arvri num eacute rastera natildeu num eacute grama ela eacute formatu
duma vassora bota arvrinha aqui daqui espalha us nasci us galinhhu neacute ela espalha aiacute teim a folha dela eacute qui neim a folha di mastruz ela eacute mais menas mais eacute u mesmu
formatu da folha di mastruz assim eacute uma folinha uma folinha com com um frizadinhu
assim soacute qui pequena eacute menozinha um pocu du qui a folha di mastruz i aiacute a sementinha
dela eacute beim pequenininha tambeacuteim daacute umas bolinha assim umas bolinha qui neim um
pirulituzinhu uma coisa soacute qui eacute beim piquininha neacute aiacute ela bota a sementinha dela
tambeacuteim sim a florzinha dela eacute assim meia roxinha beim piquininha a florzinha dela
bem piquininha assim meia roxinha branquinha assim um roxozinhu claru eu
aprendi com a minha voacute tambeacuteim com us meus tiu inteacute quandu quandu eu tinha um tiu
vinha a ser tiu da mamatildei a genti considerava qui neim avoacute eli eli benzia dor denti aiacute
quandu eli chegava uma pessoa laacute agrave eu vim aqui pra oce benzer meu denti eli taacute
doendu num sei u quecirc eli mandava vai apanhar uma vassorinha um galhinhu di
vassorinha pra mim com aqueli cum aqueli galhinhu di vassorinha qui eli fazia u trabalhu deli assim benzia neacute ai agenti aprendeu aiacute as depois ai tinha veiz qui eli fazia
eu fazia aqueli trabalhu ai depois as veiz eli dizia olha au chegar na tua casa pega
dois dois trecircis pontinhas di folha di vassorinha i pisa com pouquin di sal i coloca
quandu u denti tinha aqueli coisa neacute aquela furadu neacute bota um pouquin di sal i coloca
ai genti fazia era u remeacutediu qui eli mandava i ficava bom ai conheci por vassorinha
porque a vovoacute tambeacuteim dizia qui era era um vassorinha porque eacute eacute pa ensinar crianccedila
pequenu tira um galhu di vassorinha i meti nais costa dessi safadu por qui galhu di
vassorinha num doacutei muitu eacute pra ensinar crianccedila pequena neacute aiacute tinha qui dizer assim
ai tambeacuteim antigamenti ar mulher faziu vassora pra varrer da planta apanhava
dondi tinha muitu neacute apanhavu ela i amarravu assim aqueli fexu aqueli monti i botavu
num cabu di pau i faziu vassora pra varre dondi num natildeu natildeu ela eacute beim ela eacute beim uma uma beim cheinha eacute uma plantinha pequeninha mais ela eacute cheia ela eacute quasi qui
neim u mastruz( ) eacute u mastruz eli espalha mais eli eli eli cresci assim mais grandi eli
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
218
bota mais assim eli fica maioacute a a vassorinha ela eacute um formatu di uma arvri di
jambreru soacute qui eacute piquininha mais eacute naqueli formatinhu qui ela eacute di jambreru nativa eacute pra alergia tambeacuteim eacute banhu fazer u banhu dela qui eacute pra
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de dente
Fu Formas de
uso
Pega-se a folhinha amassa com sal e coloca em cima do dente
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta era usada como vassoura pelas mulheres por ser bem encorpada aleacutem disso
usava para disciplinar as crianccedilas e tambeacutem em rezas pelo tio
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
2
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFPA
___________________________________________________________________________
Salomatildeo Antonia Edylane Milomes 1978 ndash
Estudo terminoloacutegico das plantas medicinais da comunidade remanescente de
quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do Paraacute - PA Antonia Edylane Milomes Salomatildeo -
2015
Orientadora Raimunda Benedita Cristina Caldas
Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal do Paraacute Campus de Braganccedila
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia Braganccedila 2015
1 Linguagem e Liacutenguas 2 Plantas medicinais -Terminologia 3 Palavras e
expressotildees 4 Quilombos - Santa Luzia do Paraacute(PA) 5 Quilombolas - Santa Luzia do
Paraacute(PA) I Tiacutetulo
CDD 23 ed 4014
___________________________________________________________________________
3
ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO
Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade
Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do
Paraacute - PA
Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo
em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do
Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Aacuterea de concentraccedilatildeo Leitura e Traduccedilatildeo Cultural
Aprovada em ______ ______ ______
Conceito _________________________
Parecer Final ______________________
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas (UFPA-Campus de Braganccedila)
Orientadora
________________________________________________
Prof Dr Elias Mauriacutecio da Silva Rodrigues (UFRA-Campus Capanema)
Membro Externo
_________________________________________________
Profordf Drordf Tabita Fernandes da Silva (UFPA-Campus de Braganccedila)
Membro Interno
_________________________________________________
Profordf Drordf Carmen Luacutecia Reis Rodrigues (UFPA-Campus de Castanhal)
Suplente
4
Dedico este trabalho ao meu esposo
Haroldo Jorge e minha filha Maria
Lorenna pelo apoio incondicional e
constante incentivo Aos meus familiares e
amigos pela paciecircncia incentivo e
amizade
5
AGRADECIMENTOS
A DEUS
Ele colocou pessoas tatildeo especiais a meu lado sem as quais natildeo conseguiria alcanccedilar e nem
superar as dificuldades dessa caminhada Meu eterno louvor e gratidatildeo ao Senhor de minha
alma Obrigada sempre
Agrave Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas
Por acreditar em mim me mostrar o caminho da ciecircncia por ser exemplo de profissional e de
mulher a qual sempre seraacute modelo na minha vida Muitiacutessimo obrigada
Aos Professores
Profa Dra Raimunda Benedita Cristina Caldas Prof Dr Guumlnter Karl Pressler Profa Dra
Sylvia Maria Trusen Profa Dra Carmen Lucia Reis Rodrigues Profa Dra Tabita Fernandes
da Silva Profa Dra Roberta Alexandrina da Silva Prof Dr Joseacute Guilherme dos Santos
Fernandes Prof Dr Pedro Petit Pentildearrocha Profa Dra Georgina Negratildeo Kalife Cordeiro
Prof Dr Flavio Leonel Abreu da Silveira Prof Dr Luis Junior Costa Saraiva Prof Dr
Salomao Antonio Mufarrej Hage Profa Dra Nilsa Brito Ribeiro Profa Dra Maria do
Perpetuo Socorro Galvatildeo Simotildees pelas contribuiccedilotildees nas disciplinas ministradas e no curso
em geral Obrigada a todos
Ao Prof Dr Elias Mauriacutecio
Pela amizade que transcende ao tempo pelo incentivo e contribuiccedilatildeo para que eu pudesse
realizar esse sonho Meu sincero e especial obrigada
Ao Prof Dr Jair Cecim
Que me fortaleceu e me fez tentar natildeo ser a melhor mas fazer o melhor de mim Obrigada
Agrave senhora Domingas Alves
Suas contribuiccedilotildees foram basilares nesse estudo Sempre disponiacutevel e disposta a ajudar com
seus saberes a senhora me fez enxergar que existe um mundo infinito de conhecimentos que
ultrapassam geraccedilotildees atraveacutes das lutas e das conquistas alcanccediladas pela forccedila de um povo
Muito obrigada por tudo
Agrave senhora Nazareacute Guirard
Que se mostrou incansaacutevel e atenciosa contribuindo significativamente com informaccedilotildees
fundamentais nos trabalhos com as plantas e respeito agrave natureza Sempre obrigada
Aos moradores quilombolas de Pimenteiras
Por me receberem e acolherem na comunidade respeitando e contribuindo espontaneamente
para que o trabalho demonstrasse sua histoacuteria e identidade Todos merecem meu eterno
agradecimento
6
Aos meus pais Zaqueu Alves e Lucia Salomatildeo
A quem amo muito obrigada pelo carinho paciecircncia e incentivo Meu infinito
agradecimento Amo muito vocecircs
Aos meus irmatildeos Joseacute Weliton e Maria Helem
Pela dedicaccedilatildeo e auxiacutelio nos momentos difiacuteceis vividos em nossas vidas Obrigada
Ao meu esposo Haroldo Jorge
Meu amor que sempre acreditou em minha capacidade meu companheiro que se dedicou
espontaneamente a me acompanhar ajudar e me equilibrar nos momentos de dificuldades
Devido ao seu companheirismo amizade paciecircncia compreensatildeo apoio alegria e amor este
trabalho pocircde ser concretizado Obrigada por ter feito do meu sonho o nosso sonho Te amo
Agrave minha pequena e amada filha Maria Lorenna
Sua presenccedila em minha vida trouxe um incentivo a mais para continuar Natildeo eacute por mim mas
por vocecirc meu amor que sempre busco alcanccedilar e ser o melhor Amo vocecirc meu cheirinho
As amigas Alaiacutece Pereira Alcilene Morais Sara do Socorro
Que diretamente fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando Meu
eterno agradecimento pela amizade Valeu meninas
As amigas do Mestrado
Pelos momentos divididos juntos especialmente agrave Myrceia agrave Michelly Adriana Elizabete e
Aldilene que se tornaram verdadeiras amigas e tornaram mais leve meu trabalho Obrigada
por dividir comigo as anguacutestias e alegrias e ouvirem minhas bobagens Foi bom poder contar
com vocecircs
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Por abrir as portas para que eu pudesse realizar este sonho que eacute a minha Dissertaccedilatildeo de
Mestrado Vocecircs proporcionaram-me mais que a busca de conhecimento teacutecnico e cientiacutefico
mas uma liccedilatildeo de vida Ningueacutem vence sozinho OBRIGADA A TODOS
7
ldquoHaacute um casamento que ainda natildeo foi feito no Brasil entre o saber
acadecircmico e o saber popular O saber popular nasce da experiecircncia
sofrida dos mil jeitos de sobreviver com poucos recursos O saber
acadecircmico nasce do estudo bebendo de muitas fontes Quando esses
dois saberes se unirem seremos invenciacuteveisrdquo
Leonardo Boff (1938)
8
RESUMO
O presente trabalho traz um levantamento dos termos sobre as plantas de uso medicinais
catalogados e utilizados pelos moradores remanescentes de quilombola da comunidade de
Pimenteiras pertencente agrave cidade de Santa Luzia do Paraacute no Estado do Paraacute cujo
procedimento de anaacutelise parte de conhecer as praacuteticas dos saberes no fazer uso das plantas
medicinais nessa comunidade Foram elencados aspectos relacionados com a comunidade
suas origens e seus saberes sobre as plantas medicinais que se tornaram siacutembolo de
identificaccedilatildeo cultural dos moradores quilombolas Assim nosso propoacutesito eacute mostrar que a
linguagem eacute algo que identifica e marca as caracteriacutesticas de um grupo ou de um indiviacuteduo
do mesmo modo que a liacutengua de especialidade sobre as plantas de uso medicinal utilizada
pelos moradores quilombolas revela uma identidade cultural forte desse grupo Os estudos
terminoloacutegicos de Krieger e Finatto (2004) serviram de base para analisarmos os termos e
suas especificidades no contexto particular da linguagem assim como a abordagem
socioterminoloacutegica de Faulstich (1994 1995 1996 2001 2003 2006) propiciou observar
por meio dos termos suas construccedilotildees variaccedilotildees e definiccedilotildees no que concerne ao
conhecimento repassado entre as geraccedilotildees Construiacutemos este trabalho utilizando uma
metodologia com instrumentos usados antes durante e apoacutes a pesquisa para a anaacutelise dos
dados coletados Os recursos da informaacutetica entrevistas transcriccedilotildees de diaacutelogos orais fichas
terminoloacutegicas e registro de imagens foram alguns dos meacutetodos usados na construccedilatildeo do
trabalho Em suma observamos que o saber da cura por meio das plantas medicinais estaacute
preservado na memoacuteria e na liacutengua dos moradores quilombolas da comunidade de
Pimenteiras
Palavras-chave Plantas Medicinais Saber Tradicional Identidade Cultural Terminologia
Socioterminologia Termo
9
ABSTRACT
This paper presents a survey of the terms on the medicinal use of plants cataloged and used by
the remaining residents of Pimenteiras community maroon belonging to the city of Santa
Luzia do Paraacute in the state of Para whose analysis procedure of knowing the practices of
knowledge to make use of medicinal plants in this community Aspects of the community
were listed their origins and their knowledge about medicinal plants that have become a
symbol of cultural identification of quilombo residents So our purpose is to show that
language is something that identifies and marks the characteristics of a group or an individual
just as the specialty of language on the medicinal use of plants used by the quilombo residents
reveals a strong cultural identity of this group The terminology studies Krieger and Finatto
(2004) formed the basis for reviewing the terms and their specificities in the particular context
of language as well as socioterminological approach Faulstich (1994 1995 1996 2001
2003 2006) led to observe through terms of their buildings variations and definitions
concerning the knowledge passed on between generations We developed this work using a
methodology tools used before during and after searching for the analysis of the collected
data computers resources interviews oral dialogue transcripts terminology records image
recording these were some of the methods used in the development of the work In short we
see that the knowledge of healing through herbs are preserved in memory and language of the
quilombo residents in Pimenteiras community
Keywords Medicinal Plants Traditional knowledge Cultural identity Terminology
Socioterminology Term
10
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade 33
Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras 33
Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas 34
Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada 35
Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda 36
Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas 37
Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento 37
Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena 44
Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico 44
Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o
funcionamento do organismo 45
Fotografia 11 ndash Salsa dissecada 45
Fotografia 12 ndash Canela dissecada 46
Fotografia 13 ndash Vinagreira dissecada 46
Fotografia 14 ndash Mucuracaacute 95
Fotografia 15 ndash Folha do Mucuracaacute 95
Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti 98
Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti 98
Fotografia 18 ndash Noni 100
Fotografia 19 ndash Folha do Noni 100
Fotografia 20 ndash Pataca 102
Fotografia 21 ndash Folha da Pataca 102
Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata Pasto 105
Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem 105
Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo 108
Fotografia 25 ndash Folha de Vassoura de botatildeo 108
Fotografia 26 ndash Nambu Tutano 110
Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano 110
Fotografia 28 ndash Paratudo 115
Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo 115
Fotografia 30 ndash Gergelim Branco 118
Fotografia 31 ndash Folha do Gergelim Branco 118
Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho 121
Fotografia 33 ndash Folha do Urucum Vermelho 121
Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho 123
Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho 123
11
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute 96
Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti 98
Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni 100
Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca 103
Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-de-Muquem 105
Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo 108
Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano 110
Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo 112
Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo 115
Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco 118
Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho 121
Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho 123
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 PIMENTEIRA OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA 18
21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA 19
211 Remanescentes o que restou 22
212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras 25
22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO 28
221 Ladainha agrave Nossa Senhora do Livramento 31
222 AQUAFAP O desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola
nos saberes das plantas medicinais 39
223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico 42
23
SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM
PIMENTEIRAS 47
231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes 51
232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais 53
233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes 55
234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais 58
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 61
31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL 62
311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular 65
32
A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS
ESPECIALIZADOS 68
321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada 70
33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL 73
331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da
Socioterminologia 76
332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico 79
4 METODOLOGIA 85
41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE
PIMENTEIRAS 86
42 A PESQUISA DE CAMPO 87
43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS
DADOS 89
431 Entrevistas 89
432 Recursos de anaacutelise dos dados 90
433 Termos Catalogados 90
5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE
UM POVO 92
51 MUCURACAacute 94
52 ERVA DE JABUTI 97
53 NONI 100
54 PATACA 102
55 PAU-DE-MUQUEM 104
56 VASSOURA DE BOTAtildeO 107
57 NAMBU TUTANO 109
58 QUEBRA PEDRA ROXO 112
59 PARATUDO 114
13
510 GERGELIM BRANCO 117
511 URUCUM VERMELHO 120
512 ERVA DE PASSARINHO 122
6 CONCLUSAtildeO 127 REFEREcircNCIAS 132 APEcircNDICES 143
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
ldquoSou apenas um escritor Um cultivador Um jardineiro Um florista A minha
felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me
excita quando acabo de as colherrdquo
Joaquim Pessoa (1948)
A liacutengua traz em seu contexto a identidade cultural de um povo A partir desta
questatildeo procuramos discorrer na presente dissertaccedilatildeo sobre o ldquoEstudo Terminoloacutegico das
Plantas Medicinais da Comunidade Remanescente de Quilombola de Pimenteiras em Santa
Luzia do Paraacute ndash PArdquo As experiecircncias vividas em grande parte de minha vida na cidade de
Santa Luzia do Paraacute me fizeram conhecer diversas comunidades proacuteximas agrave regiatildeo
comunidades com caracteriacutesticas fortes que marcam a identidade dos moradores e de toda
sociedade luziense
Por conhecer e vivenciar os saberes e a cultura das comunidades de Santa Luzia do
Paraacute escolhemos particularmente a comunidade de Pimenteiras por ser uma regiatildeo rica em
sua biodiversidade e por querer mostrar os saberes que os moradores quilombolas possuem
sobre a terra suas origens e seus saberes medicinais Contribuiu para o levantamento da
pesquisa a receptividade dos moradores de Pimenteiras que permitiram conhecer melhor sua
cultura diversidade na natureza e seus anseios de conseguir a titularidade da terra quilombola
A comunidade de Pimenteiras fica localizada na regiatildeo rural de Santa Luzia do Paraacute
a cerca de 30 km de distacircncia da cidade em uma estrada sem asfalto com caminho de difiacutecil
acesso o que inviabiliza agrave populaccedilatildeo desta comunidade assistecircncia agraves suas necessidades
baacutesicas Formada por moradores de origem quilombola muitas famiacutelias chegaram a este local
haacute muitos anos tendo saiacutedo da comunidade de Narciacutesea na cidade de Capitatildeo Poccedilo ndash PA em
busca de melhorias para o sustento de suas famiacutelias Pimenteiras eacute uma comunidade cujos
moradores buscam por meio do conhecimento e valorizaccedilatildeo de suas raiacutezes fortalecer seus
viacutenculos com a terra e a natureza a sua volta Deste contato especial com a natureza os
moradores conhecem e utilizam seus saberes na aacuterea da medicina tradicional
O saber da cura por meio da medicina popular continua preservado no falar dos
moradores remanescentes de quilombolas pelas informaccedilotildees sobre a influecircncia negra e
tambeacutem indiacutegena A manipulaccedilatildeo os cuidados com as plantas a forma de cultivo as relaccedilotildees
associativas nos nomes das plantas medicinais vecircm de longas geraccedilotildees que sofreram e
15
sobreviveram com a ajuda da natureza Eacute diante do saber preservado na liacutengua dos moradores
quilombolas que desenvolvemos este estudo sobre os termos das plantas medicinais
Com o intuito de conservar o saber das geraccedilotildees mais antigas um pequeno grupo da
comunidade quilombola registrou amostras de plantas medicinais da regiatildeo em que vivem
cada espeacutecie com os nomes de uso popular que os moradores conhecem pois observamos
que dentre os nomes registrados para uma mesma espeacutecie de planta ocorrem variaccedilotildees na
nomemclatura
Entender como uma comunidade guarda e preserva seus saberes por meio da liacutengua eacute
de suma importacircncia para o andamento deste estudo de cunho popular e cientiacutefico
Compreender como a liacutengua se mistura e se reinventa nos usos de um povo eacute o que mais
chama nossa atenccedilatildeo nos aspectos dos estudos do termo Levando em consideraccedilatildeo que
nenhuma Liacutengua eacute homogecircnea efetivamos um pequeno estudo sobre a liacutengua suas relaccedilotildees e
interferecircncias na sociedade Percebemos que a utilizaccedilatildeo das plantas medicinais eacute uma praacutetica
universal na medicina popular pois eacute o resultado do acuacutemulo de conhecimentos empiacutericos
sobre a accedilatildeo dos vegetais por diversos grupos eacutetnicos
No decorrer dos estudos observamos que haacute diversas expressotildees populares
direcionadas ao uso dos vegetais para a sauacutede tais como ervas caseiras folhas medicinais
vegetais medicinais ervas medicinais e plantas medicinais Estas diferentes expressotildees dos
termos ocorre por questotildees culturais que variam de uma comunidade para outra De modo
particular utilizamos neste trabalho os termos ldquoplantas de uso medicinalrdquo ou ldquoplantas
medicinaisrdquo Por fazer parte do falar de uma comunidade os termos catalogados sobre as
plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras foram analisados no contexto da linguagem
de especialidade que eacute campo de estudo da Terminologia
Dentre as ciecircncias que estudam o leacutexico a Terminologia1 estuda um subconjunto da
liacutengua relacionado a uma aacuterea especiacutefica do conhecimento humano esse subconjunto eacute
composto por signos especializados que chamamos de termos Quando o uso da liacutengua passa
por um processo de transformaccedilatildeo no qual certas palavras adquirem uma significaccedilatildeo dentro
de um domiacutenio de conhecimento particular entre um grupo de falantes que compartilham da
mesma aacuterea de conhecimento essa particularizaccedilatildeo eacute de domiacutenio da linguagem de
especialidade e o termo eacute seu objeto de uso
Eacute nesse contexto que a Terminologia direciona seu olhar ao fator social na anaacutelise
dos dados linguiacutesticos Com isso surge a Socioterminologia como um campo teoacuterico e
1 Haacute uma tendecircncia a convencionar que Terminologiagrafada com T maiuacutesculo eacute indicativa de campo de
conhecimento e com t minuacutesculo eacute referente ao conjunto de termos de uma especialidade (KRIEGER 2004)
16
aplicado que segundo Faulstich (1995) eacute uma releitura da terminologia tradicional que
incorpora aos estudos do termo o aparato social considerando nesse aspecto os fatores de
variaccedilatildeo linguiacutestica Gaudin (1993) tambeacutem edificou seus estudos terminoloacutegicos por meio de
outras aacutereas de conhecimento como a Sociolinguiacutestica e a Sociologia campos amplamente
estudados pela Socioterminologia que observa a dimensatildeo social na comunicaccedilatildeo
especializada sem estar separada dos discursos em que os termos emergem
O estudo do termo diante da perspectiva socioterminoloacutegica traz o registro e anaacutelise
das variantes da linguagem de especialidade De acordo com Faulstich (1995 p 285) ldquoo
princiacutepio subjacente da pesquisa socioterminoloacutegica eacute o registro da(s) variante(s) que leva em
conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico em que os termos circulam []rdquo
Em consideraccedilatildeo ao que foi explanado este trabalho tem o proacuteposito de verificar os
registros dos termos analisando e identificando os usos de domiacutenio dos mesmos sobre as
plantas medicinais que por conseguinte distinguem a comunidade de Pimenteiras Assim
selecionamos como objeto de estudo os termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
que foram catalogadas pelos moradores quilombolas quando criaram o projeto do
Bioenergeacutetico na regiatildeo Muitos dos termos alistados possuem nomenclatura diferenciada em
relaccedilatildeo aos usos comuns da liacutengua Essas particularidades vieram de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo com
o repasse dos saberes entre famiacutelias e amigos principalmente entre as mulheres Sob o prisma
dos pressupostos da Terminologia e da Socioterminologia daremos enfoque no processo de
constituiccedilatildeo do leacutexico semacircntico conceitual dos termos sobre as plantas medicinais de
Pimenteiras observando se este saber especializado sobre as plantas traz traccedilos da identidade
cultural dos moradores quilombolas
Por uma questatildeo didaacutetica nosso trabalho dissertativo foi organizado em cinco
capiacutetulos No primeiro capiacutetulo oferecemos uma visatildeo geral sobre o presente estudo a ser
direcionado para a anaacutelise dos dados registrados nessa dissertaccedilatildeo explicando alguns
conceitos baacutesicos que seratildeo fundamentais para situar a localidade os sujeitos envolvidos no
estudo dos termos relativos agrave comunidade e as plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras
No segundo capiacutetulo apresentamos os aspectos relacionados agrave comunidade de
Pimenteiras suas origens ndash quilombola e da comunidade ndash os remanescentes de Pimenteiras
a cultura religiosa ao lado de suas lutas pela terra Em seguida apresentaremos o trabalho
com o Bioenergeacutetico e o iniacutecio do processo de catalogaccedilatildeo dos termos analisando as relaccedilotildees
entre o saber e o conhecimento para a construccedilatildeo dos sujeitos de saberes Demarca-se
tambeacutem a presenccedila do gecircnero feminino preponderante nas relaccedilotildees com o conhecimento
17
tradicional nesse contexto representado por Domingas Alves do Nascimento como uma
grande personalidade na comunidade e responsaacutevel por buscar sempre ampliar os saberes que
possui sobre as plantas fazendo com que a comunidade de Pimenteiras tenha como identidade
cultural seus saberes preservados e utilizados entre as geraccedilotildees afrodescendentes
No terceiro capiacutetulo expomos a base teoacuterica deste trabalho ancorada nos estudos
Terminoloacutegicos e Socioterminoloacutegicos verificando assim questotildees sobre a importacircncia da
liacutengua na identidade cultural de um povo Em seguida reconhecemos o valor das plantas
medicinais para o conhecimento cientiacutefico e popular como tambeacutem nos aspectos relacionados
agraves ciecircncias do termo tais como a Terminologia e a Socioterminologia fundamentais para
compreendermos a importacircncia da terminologia nos estudos especializados da liacutengua assim
como o estudo do Termo como base para o estudo socioterminoloacutegico
No quarto capiacutetulo abordamos sobre os procedimentos utilizados na pesquisa de
campo na comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras apontando os objetivos
gerais e especiacuteficos do trabalho relatando sobre as entrevistas a catalogaccedilatildeo dos termos sobre
as plantas medicinais os recursos utilizados para o tratamento dos dados e em seguida o
organograma do conhecimento sobre a cultura das plantas medicinais
Todo o processo de estudo percorrido nesta dissertaccedilatildeo culminaraacute no quinto capiacutetulo
no qual apresentamos a anaacutelise Socioterminoloacutegica dos termos de Pimenteiras Nesse
capiacutetulo seguimos algumas etapas na anaacutelise do termo no contexto da variaccedilatildeo terminoloacutegica
observando a linguagem como representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras e os
aspectos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinais Mostramos como os
termos variam de acordo com as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos aleacutem de analisar
se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade medicinal verificando
por meio da definiccedilatildeo de cada termo sua descriccedilatildeo dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber
especializado
Diante das variaccedilotildees dos termos e portanto das diversas definiccedilotildees utilizamos no
processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Enilde Faulstich uma
amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees sobre os termos verificando o aspecto da
funcionalidade do termo dentro da linguagem especializada Com isso observamos que o
conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras eacute a marca de seus
antepassados sua identidade sua histoacuteria de sua linguagem especializada diante da
diversidade na natureza
A partir de agora iniciamos os estudos natildeo apenas dos termos sobre as plantas
medicinais mas sobretudo sobre a histoacuteria de um povo que busca viver e vencer as
18
dificuldades histoacutericas passadas entre as geraccedilotildees para que hoje seus registros sejam
marcados pelas conquistas alcanccediladas e as futuras
2 PIMENTEIRA2 OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA
ldquoPodemos dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de
identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator
extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo em sirdquo
Michel Pollak (1992)
Desde os primeiros focos de resistecircncia dos africanos contra a escravidatildeo colonial os
estudos sobre os negros constitui assunto relevante principalmente na formaccedilatildeo de
comunidades afrodescendentes mais conhecidas como Quilombos3
No que diz respeito aos afrodescendentes4 a comunidade de Pimenteiras eacute uma das
muitas comunidades formadas por famiacutelias quilombolas os moradores da regiatildeo chegaram haacute
muito tempo da comunidade de Narciacutesea localizada na regiatildeo de Capitatildeo Poccedilo ndash PA
Pesquisas da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares5 apontam que o maior nuacutemero de
associaccedilotildees quilombolas se encontra nas regiotildees do Paraacute e Maranhatildeo chegando a cerca de
100 comunidades existentes nessas aacutereas Sabe-se que natildeo haacute comunidades em isolamento
total existe sempre uma relaccedilatildeo contiacutenua entre os sujeitos e com o meio em que vivem No
caso da comunidade de Pimenteiras isso natildeo eacute diferente proacuteximas agrave regiatildeo existem outras
comunidades que tambeacutem vivenciam a falta de recursos que possam melhorar a vida dos
moradores no campo As comunidades como Broca Piquiaacute Cantam Fuzil natildeo tecircm
2O termo Pimenteira no singular refere-se agraveterra em que vivem os moradores remanescentes de Quilombo
Pimenteiras no plural refere-se agrave comunidade Tabela sobre a comunidade no site
httpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501 3Quilombo eacute o nome dado no Brasil aos locais de refuacutegio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o
periacuteodo colonial e imperial Nesses locais os escravos passavam a viver em liberdade criando novas relaccedilotildees
sociais Muitos quilombos existiram no Brasil e centenas deles ainda existem formando o que hoje eacute chamado de comunidades quilombolas 4Afrodescendente eacute aquele que eacute ou que descende de famiacutelia ou indiviacuteduo vindo do negro africano 5A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares eacute uma entidade puacuteblica brasileira vinculada ao Ministeacuterio da Cultura A entidade
teve seu Estatuto aprovado pelo Decreto nordm 418 de 10 de janeiro de 1992 e tem como missatildeo os preceitos
constitucionais de reforccedilos agrave cidadania agrave identidade agrave accedilatildeo e agrave memoacuteria dos segmentos eacutetnicos dos grupos
formadores da sociedade brasileira aleacutem de fomentar o direito de acesso agrave cultura e agrave indispensaacutevel accedilatildeo do
Estado na preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees afro-brasileiras No artigo 1ordma Lei institui que se promova a
preservaccedilatildeo dos valores culturais sociais e econocircmicos decorrentes da influecircncia negra na formaccedilatildeo da
sociedade brasileira Preocupada com a igualdade racial e com a valorizaccedilatildeo das manifestaccedilotildees de matriz
africana a Palmares formula e implanta poliacuteticas puacuteblicas que potencializam a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra
brasileira nos processos de desenvolvimento do Paiacutes Foi o primeiro oacutergatildeo federal criado para promover a preservaccedilatildeo a proteccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo da cultura negra Pesquisa feita no dia 10012015 as 1155h no site
httpwwwpalmaresgovbr
19
moradores com descendecircncia quilombola mas assim como em Pimenteiras os moradores
natildeo permanecem ldquoestaacuteticosrdquo no tempo todos possuem caracteriacutesticas particulares que
distinguem suas identidades pois a vida eacute dinacircmica
O negro se mostra figura atuante isto estaacute presente nos estudos de Salles (1988 p 67
apud WAGLEY 1977 e GALVAtildeO 1955) que expotildee
Encontraram o negro solidaacuterio com o iacutendio nas vicissitudes sociais Natildeo importa se
negro autecircntico ou se iacutendio autecircntico O passaporte da autenticidade naquele
contexto jaacute havia perdido tocircda ou quase tocircda importacircncia Ambos despojados dos
seus padrotildees culturais quebrados definitivamente amalgamados numa nova cultura
resultante da fusatildeo de trecircs componentes eacutetnicos O processo de desenvolvimento
dessa cultura visto superficialmente eacute pouco acelerado Visto poreacutem em
profundidade mostra-se extremamente ativo Sobretudo no que diz respeito agraves convergecircncias culturais
Visualizando por este acircngulo a figura do negro observaremos no toacutepico seguinte as
origens e significados dos termos Quilombola e Remanescente para que possamos identificar
as marcas de um povo que lutou e alcanccedilou sua liberdade Em seguida verificaremos com
mais sagacidade os estudos de Vicente Salles e Ilka Boaventura Leite sobre o negro
observando sua histoacuteria suas conquistas e as influecircncias do negro no Paraacute e na comunidade
de Pimenteiras em particular
21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA
Iniciamos este assunto com a pergunta que muitos ainda hoje fazem e nem todos
respondem ndash Quem satildeo os negros Entretanto de forma mais profunda responderemos agrave
seguinte pergunta ndash Quem satildeo os Quilombolas
Alguns autores constituem uma anaacutelise do termo e com isso explicam que a palavra
quilombo se refere a um tipo de instituiccedilatildeo sociopoliacutetica militar conhecida na Aacutefrica Central
principalmente na regiatildeo constituiacuteda pela atual Repuacuteblica Democraacutetica do Congo (Zaire) e
Angola conforme expotildee o professor Kabengele Munanga6 (1995) Para ele a expressatildeo
6 KabengeleMunanga eacute Graduado em Antropologia Cultural pela UniversiteacuteOfficielle Du Congo agrave Lubumbashi
(1969) e Doutorado em Ciecircncias Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de Satildeo Paulo (1977)
Atualmente eacute professor titular da Universidade de Satildeo Paulo Tem experiecircncia na aacuterea de Antropologia com ecircnfase em Antropologia das Populaccedilotildees Afro-Brasileiras atuando principalmente nos seguintes temas racismo
identidade identidade negra Aacutefrica e Brasil
20
quilombo vem de ldquoochilombordquo em um dialeto de Angola a professora Leite7 (2000) por sua
vez apresenta que sua etimologia significa ldquobantordquo e exprime ldquoacampamento guerreiro na
florestardquo e foi difundida no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios
decretos e atos visando referir-se agraves integraccedilotildees de apoio muacutetuo criadas pelos ldquorebeldesrdquo ao
sistema escravocrata e agraves suas reaccedilotildees lutas e organizaccedilotildees pelo fim da escravidatildeo no paiacutes
Natildeo obstante esta palavra significou libertaccedilatildeo e conquistas para os libertos alcanccedilando
amplas dimensotildees e conteuacutedos
No decorrer da histoacuteria diversas circunstacircncias envolvendo o negro demonstraram
grandes lutas contra os vaacuterios artifiacutecios de expropriaccedilatildeo de seus corpos bens e direitos Eacute
nesse contexto de servidatildeo do negro diante do homem branco que Salles (1988 p 203) expotildee
O processo tradicional da busca de liberdade consistiu invariavelmente na fuga para
os matos onde os negros se reuniam solidaacuterios entre si e formavam os quilombos
A fuga deve ter sido no comeccedilo soluccedilatildeo bastante difiacutecil e arriscada aleacutem de
empreitada individual Na floresta o negro se achava sozinho Agraves vezes conseguia
chegar a alguma aldeia indiacutegena e por sorte acabava vivendo amistosamente com
os silviacutecolas Bandeava-se desta forma para grupos totalmente estranhos e que com
ele soacute tinha um traccedilo comum o oacutedio ao branco dominador Haacute na crocircnica da
escravidatildeo muitos casos ilustrativos e que destroem o mito da incompatibilidade
eacutetnica
Os negros enfrentaram muitos questionamentos sobre a legitimidade de se acomodar
num lugar cujo espaccedilo pudesse ser organizado conforme suas condiccedilotildees valores e praacuteticas
culturais A repressatildeo ao negro fez com que ele fosse segregado das praacuteticas sociais Hoje esta
exclusatildeo estaacute demonstrada nos censos econocircmicos e nos mais recentes levantamentos
socioeconocircmicos realizados no paiacutes (HASENBALG SILVA 1988) Somente no Brasil apoacutes
a aboliccedilatildeo em 1888 os negros sofrem com a desqualificaccedilatildeo de sua cor sendo ignorados pelo
poder puacuteblico nos lugares em que habitam desprovidos das necessidades baacutesicas de todo ser
humano Eacute diante desta realidade que Leite (2000) expotildee que os descendentes de africanos
nos uacuteltimos vinte anos tecircm procurado se organizar em associaccedilotildees quilombolas
reivindicando o direito agrave permanecircncia e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas
e cultivadas para moradia e sustento da famiacutelia bem como o livre exerciacutecio de suas praacuteticas
crenccedilas e valores apreciados em sua especificidade Diante disto Leite (2000 p 335)
prossegue
7 Ilka Boaventura Leite eacute professora do Departamento e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Antropologia da
Universidade Federal de Santa Catarina fundadora e coordenadora do NUER (Nuacutecleo de Estudos de Identidades
e Relaccedilotildees Intereacutetnicas) Suas pesquisas estatildeo situadas nas aacutereas de teoria antropoloacutegica literatura de viagem
relaccedilotildees intereacutetnicas etnologia afro-brasileira arte e etnicidade Tem publicado artigos sobre literatura de viagens cultura e identidade negra quilombos direitos eacutetnicos poliacuteticas de identidade arte e diaacutespora africana
periacutecias antropoloacutegicas
21
Tudo isto se esclarece quando entra em cena a noccedilatildeo de quilombo como forma de
organizaccedilatildeo de luta de espaccedilo conquistado e mantido atraveacutes de geraccedilotildees O
quilombo entatildeo na atualidade significa para esta parcela da sociedade brasileira
sobretudo um direito a ser reconhecido e natildeo propriamente e apenas um passado a ser rememorado Inaugura uma espeacutecie de demanda ou nova pauta na poliacutetica
nacional afrodescendentes partidos poliacuteticos cientistas e militantes satildeo chamados a
definir o que vem a ser o quilombo e quem satildeo os quilombolas
O simples ato de apropriaccedilatildeo da terra para viver passou a significar um ato de luta e
guerra Assim pensar na questatildeo territorial faz discorrer tambeacutem na definiccedilatildeo sobre o termo
ldquoQuilombordquo ndash que reporta agrave visatildeo distorcida de negros fugitivos ndash e abordar as diferentes
situaccedilotildees que cobriram a existecircncia de Terras de Quilombos no Brasil Para isto Almeida
(1998 p 14) expotildee que eacute necessaacuterio que ldquonos libertemos da definiccedilatildeo arqueoloacutegica associada
ao termo Quilombordquo Segundo o autor as comunidades Quilombolas sempre estabeleceram
uma clara rede de interaccedilatildeo com as sociedades locais contestando o estereoacutetipo do isolamento
geograacutefico A qualidade e intensidade da interaccedilatildeo foi o que possibilitou a construccedilatildeo de uma
configuraccedilatildeo social cuja autonomia tinha tambeacutem suporte nessa dinacircmica de relaccedilotildees sociais
e nas formas de usar e ocupar a terra (ALMEIDA 1988 p 18)
Na conceituaccedilatildeo e significaccedilatildeo da palavra Quilombo Siqueira e Nascimento (1987)
apud Leite (1999 p 15) explicam que no Brasil a tradiccedilatildeo popular apresenta muitas
variaccedilotildees no significado da referida palavra
[] ora associado a um lugar (ldquoquilombo era um estabelecimento singularrdquo) ora a
um povo que vive neste lugar (ldquoas vaacuterias etnias que o compotildeemrdquo) ou a
manifestaccedilotildees populares (ldquofestas de ruardquo) ou ao local de uma praacutetica condenada
pela sociedade (ldquolugar puacuteblico onde se instala uma casa de prostitutasrdquo) ou a um
conflito (uma ldquogrande confusatildeordquo) ou a uma relaccedilatildeo social (ldquouma uniatildeordquo) ou ainda a um sistema econocircmico (ldquolocalizaccedilatildeo fronteiriccedila com relevo e condiccedilotildees climaacuteticas
comuns na maioria dos casosrdquo)
Para Leite (2000) a quantidade de significados faz com que o uso do termo
demonstre uma grande variedade de experiecircncias que generalizam o fenocircmeno enquanto
dimensatildeo poliacutetica de uma formaccedilatildeo social diversa em que evidenciam a persistecircncia das mais
diversas manifestaccedilotildees de resistecircncia e luta que os negros delinearam em toda a nossa
histoacuteria Eacute nesse contexto que Leite (2000 p 338) assim conclui
[] inicia-se a longa etapa de construccedilatildeo da identidade destes grupos seja pela
formalizaccedilatildeo da diferenciaccedilatildeo eacutetnico-cultural no acircmbito local regional e nacional
seja pela consolidaccedilatildeo de um tipo especiacutefico de segregaccedilatildeo social e residencial dos
negros chegando ateacute os dias atuais []
22
A variaccedilatildeo de significados para o termo quilombo traz a construccedilatildeo de um povo que
busca constantemente por seus direitos contudo o que significa o termo remanescente
Verificaremos no toacutepico seguinte especificamente as discussotildees em torno do significado da
palavra ldquoremanescesterdquo no contexto do negro
211 Remanescentes o que restou
No que concerne ao significado do termo remanescente a autora Leite (2000 p 9)
nos apresenta o seguinte contexto
A expressatildeo ldquoremanescente das comunidades de quilombosrdquo que emerge na
Assembleacuteia Constituinte de 1988 eacute tributaacuteria natildeo somente dos pleitos por tiacutetulos
fundiaacuterios mas de uma discussatildeo mais ampla travada nos movimentos negros e
entre parlamentares envolvidos com a luta anti-racista O quilombo eacute trazido
novamente ao debate para fazer frente a um tipo de reivindicaccedilatildeo que agrave eacutepoca alude
a uma ldquodiacutevidardquo que a naccedilatildeo brasileira teria para com os afro-brasileiros em
consequumlecircncia da escravidatildeo natildeo exclusivamente para falar em propriedade
fundiaacuteria
A expressatildeo ldquoremanescenterdquo surge como forma de reinvindicaccedilatildeo por uma eacutepoca em
que a naccedilatildeo brasileira teria certo dever com os afrodescendentes pela grande escravidatildeo e
sofrimento vivido no periacuteodo da aboliccedilatildeo contudo segundo os estudos de Leite (1996 p
341) o termo remete tambeacutem a algo em extinccedilatildeo que estaacute em processo de desaparecimento
Mas foi principalmente porque a expressatildeo natildeo correspondia agrave autodenominaccedilatildeo destes
mesmos grupos e por se tratar de uma identidade ainda a ser politicamente construiacuteda que
tantos questionamentos foram suscitados Eacute nesse impasse da significaccedilatildeo e nomeaccedilatildeo dos
remanescentes de quilombolas que Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia8 (ABA) convocada
pelo Ministeacuterio Puacuteblico reuniu em outubro de 1994 o Grupo de Trabalho sobre Comunidades
Negras Rurais e elaborou um conceito de ldquoremanescente de quilombordquo ficando assim
definido
8A Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia (ABA) eacute a mais antiga das associaccedilotildees cientiacuteficas existentes no paiacutes
na aacuterea das ciecircncias sociais ocupando hoje um papel de destaque na conduccedilatildeo de questotildees relacionadas agraves
poliacuteticas puacuteblicas referentes agrave educaccedilatildeo agrave accedilatildeo social e agrave defesa dos direitos humanos No decorrer de sua
histoacuteria ela tem sido voz atuante em defesa das minorias eacutetnicas dos discriminados e posicionando-se consistentemente contra a injusticcedila social Pesquisado em 11012015 as 2345h no site
httpwwwportalabantorgbrindexphpinstitucionalfeatures
23
[] contemporaneamente portanto o termo natildeo se referia a resiacuteduos arqueoloacutegicos de ocupaccedilatildeo temporal ou de comprovaccedilatildeo bioloacutegica Tratava-se de desfazer a ideacuteia
de isolamento e de populaccedilatildeo homogecircnea ou como decorrente de processos
insurrecionais O documento posicionava-se criticamente em relaccedilatildeo a uma visatildeo
estaacutetica do quilombo evidenciando seu aspecto contemporacircneo organizacional
relacional e dinacircmico bem como a variabilidade das experiecircncias capazes de serem
amplamente abarcadas pela ressemantizaccedilatildeo do quilombo na atualidade Ou seja
mais do que uma realidade inequiacutevoca o quilombo deveria ser pensado como um
conceito que abarca uma experiecircncia historicamente situada na formaccedilatildeo social
brasileira (LEITE 2000 p 341-342)
No que diz respeito aos direitos sobre a terra o Brasil em comparaccedilatildeo com outros
paiacuteses que claramente obtiveram conquistas poliacuteticas e territoriais talvez seja o uacutenico que natildeo
resolveu formalmente a questatildeo dos direitos territoriais das suas comunidades negras
tradicionais O direito agrave terra que as comunidades atribuem eacute vital pois a concepccedilatildeo da terra
enquanto territoacuterio socialmente ocupado eacute a chave para a vida desses grupos Sobre isso
Chagas (2001 p 228) informa que a aplicaccedilatildeo do direito constitucional se daacute tambeacutem
atraveacutes da titulaccedilatildeo dessas aacutereas
[] para estar em consonacircncia com a viabilizaccedilatildeo de um padratildeo de existecircncia que
seja compatiacutevel e que assegure a vida nos seus proacuteprios termos significaria menos
quantificar ou traccedilar meramente um espaccedilo fiacutesico esvaziado de seu sentido social e
mais justamente recuperar a ideacuteia de que estes espaccedilos sociais estatildeo qualificados e
atravessados por redes de relaccedilotildees que postas em curso garantem a proacutepria
permanecircncia do grupo neste territoacuterio
No trecho citado por Chagas (2001) eacute demonstrada a preocupaccedilatildeo no que se refere
aos remanescentes das comunidades dos quilombos que vecircm sofrendo com o processo de
reconhecimento dos direitos assegurados constitucionalmente nota-se o quanto eacute necessaacuterio
um diaacutelogo com as praacuteticas culturais de cada grupo envolvido auxiliando as comunidades no
autorreconhecimento das populaccedilotildees remanescentes de quilombola Eacute a busca pelo direito agrave
terra direito agrave vida no campo de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado
agrave margem da vida em sociedade
Completando este diaacutelogo com Marques (2004) confere-se que o modo de vida dos
povos do campo eacute entendido como uma configuraccedilatildeo bastante dinacircmica e que soacute pode ser
compreendida a partir de sua inserccedilatildeo na sociedade ndash que hoje inclui as relaccedilotildees sociais que
ocupam as comunidades camponesas na sociedade moderna capitalista ndash percebendo a relaccedilatildeo
entre tradiccedilatildeo e modernidade e qual lugar ocupam os povos de vidas tradicionais
Os quilombos reforccedilavam as lutas contra a escravidatildeo mostrando um tipo de
organizaccedilatildeo social mais justa cuja resistecircncia se manifestou de diversas formas entre greves
de fome violecircncia e fugas Segundo Freitas (1982 p 210) essas fugas mais organizadas e
coletivizadas deram origem ao Quilombo dos Palmares
24
O ldquoQuilombo dos Palmaresrdquo foi a manifestaccedilatildeo mais eloquente do discurso anti-
escravista dos negros brasileiros nos quase trecircs seacuteculos da escravidatildeo representando
um marco na resistecircncia negra A resoluccedilatildeo tomada na Serra da Barriga ldquode morrer
antes de aceitar a escravidatildeordquo demonstra a essecircncia da mensagem que os negros de Palmares deixaram Retomando a reflexatildeo hegeliana ldquoO Amo natildeo eacute Amo senatildeo
pelo fato de que possui um Escravo que o reconhece como talrdquo
Freitas (1982 p 43) explana que os escravos que se refugiavam em Palmares apoacutes
algum tempo escondidos nas serras deixaram de viver escondidos e reconquistaram sua
dignidade como seres humanos O autor prossegue expondo
Os escravos plantavam milho feijatildeo mandioca cana-de-accediluacutecar batata legumes Duas semanas antes do plantio preparavam o terreno com grandes queimadas A
preparaccedilatildeo das terras a semeadura e a colheita era realizada de maneira coletiva
Celebravam o teacutermino da colheita com uma semana inteira de festejos em que todos
folgavam danccedilavam comiam e bebiam Mantinham muitos pomares com uma
variedade de aacutervores frutiacuteferas (1982 p 45)
Durante minhas visitas agrave comunidade remanescente de quilombolas de Pimenteiras o
contato com os moradores levantou muitos questionamentos sobre o entendimento e
significaccedilatildeo do termo quilombola Os mais velhos guardam na memoacuteria recordaccedilotildees de um
periacuteodo no qual seus antepassados viveram e sofreram os accediloites do chicote da escravidatildeo os
adolescentes por sua vez vivem o embate entre aceitar ou natildeo a descendecircncia Aceitando
suas origens alcanccedilam direitos reservados aos negros como o direito de cotas nas
universidades jaacute nos momentos em que os sentimentos de exclusatildeo discriminaccedilatildeo e rejeiccedilatildeo
se tornam maiores nos espaccedilos sociais os mais jovens natildeo se veem e natildeo se orgulham de sua
origem afrodescendente
Na anaacutelise do contexto vivido na comunidade o sentimento que se faz presente nos
mais jovens eacute o fato de que ser homem negro significa ser excluiacutedo e discriminado pelos
colegas da escola Muitos relataram situaccedilotildees de desrespeito natildeo apenas pela cor da pele mas
pelo termo ldquoquilombolardquo A respeito da discriminaccedilatildeo racial sobre os quilombolas Leite
(2000 p 349) comenta que
O ato de aquilombar-se ou seja de organizar-se contra qualquer atitude ou sistema
opressivo passa a ser portanto nos dias atuais a chama reacesa para na condiccedilatildeo
contemporacircnea dar sentido estimular fortalecer a luta contra a discriminaccedilatildeo e seus
efeitos Vem agora iluminar uma parte do passado aquele que salta aos olhos pela
enfaacutetica referecircncia contida nas estatiacutesticas onde os negros satildeo a maioria dos socialmente excluiacutedos Quilombo vem a ser portanto o mote principal para se
discutir uma parte da cidadania negada
25
Diante das discussotildees feitas seguiremos abordando sobre os remanescentes de
quilombola da comunidade de Pimenteiras sua localizaccedilatildeo e os problemas sobre a titularidade
da terra que se tornou algo de extrema importacircncia aos moradores dessa regiatildeo
212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras
Eacute importante frisar que na atualidade a dimensatildeo de luta dos homens negros pela
liberdade foi muito importante para que a cultura afrodescendente se desenvolvesse com
maior fruiccedilatildeo Na Amazocircnia a presenccedila do negro eacute assunto desprezado em termos da
importacircncia insignificante que teria essa mesma presenccedila Segundo Salles (1988) a matildeo-de-
obra faacutecil era abundante e era a uacutenica que poderia mobilizar com sucesso imediato a matildeo-de-
obra dos iacutendios9
Nos estudos sobre a Amazocircnia Salles (1988) expotildee sobre a substituiccedilatildeo do iacutendio
pelo negro na lavoura que natildeo foi tatildeo necessaacuteria na regiatildeo como no restante do Brasil a
presenccedila insistente do iacutendio em muitos trabalhos com a terra deu ao negro a possibilidade de
influir profundamente na civilizaccedilatildeo brasileira criando um tipo de economia em que o
indiacutegena teve grande participaccedilatildeo (CHAMBOULEYRON 2006) No entanto os escritos do
autor natildeo abandonam a significaccedilatildeo do negro na Amazocircnia durante o regime da escravidatildeo o
negro deixou sua personalidade sua etnia e sua cultura na constituiccedilatildeo da economia agraacuteria
Diante disso discorrer sobre os quilombolas no cenaacuterio poliacutetico atual eacute conversar
sobre luta poliacutetica uma reflexatildeo cientiacutefica em processo de construccedilatildeo Hoje cerca de trecircs mil
comunidades quilombolas10
vivem natildeo apenas na Amazocircnia mas em todo o territoacuterio
9 Em tempos do descobrimento do Brasil a necessidade de braccedilos para cortar e transportar o pau-brasil para o
litoral fez com que os portugueses impusessem aos iacutendios o trabalho compulsoacuterio Em meados de 1550 a
decisatildeo de incrementar o traacutefico da Aacutefrica para o Brasil tornou a escravidatildeo do negro mais interessante e
econocircmica para a Coroa portuguesa Apesar de ter sido tatildeo forte e cruel a escravidatildeo do negro africano a
escravidatildeo do iacutendio teve pouco conhecimento e historicamente ficou em segundo lugar Pesquisa feita no dia
10022015 as 1001hs no site httpwwwklickeducacaocombrconteudopagina06313POR-1245-9282-00html 10Ateacute hoje natildeo haacute certeza sobre o nuacutemero de comunidades quilombolas existentes no Brasil mas estima-se que
haacute pelo menos trecircs mil em todo o territoacuterio nacional localizadas principalmente nos estados doAmazonas
Alagoas Amapaacute Bahia Cearaacute Maranhatildeo Minas Gerais Paraacute Pernambuco Tocantins e outros Os estados
brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades quilombolas satildeo a Bahia o Maranhatildeo Minas
Gerais e o Paraacute Segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial
(Seppir) e do Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) oacutergatildeos responsaacuteveis pela
identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos quilombolas
existem atualmente mais de setecentas comunidades oficialmente registradas pela Fundaccedilatildeo Palmares do
Ministeacuterio da Cultura e mais de duzentos processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em andamento envolvendo mais
de trezentas comunidades espalhadas por 24 estados brasileiros Retirado do texto de GASPAR Luacutecia Quilombolas Pesquisa Escolar Online Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Recife Disponiacutevel em
lthttpbasiliofundajgovbrpesquisaescolargt Acesso em 15022015 as 1230hs
26
nacional no entanto muitas terras natildeo possuem ainda o reconhecimento devido No estado do
Paraacute segundo dados pesquisados satildeo reconhecidas duzentos e quarenta (240)11
comunidades
remanescentes de Quilombo
As conquistas para alcanccedilar o direito pela titulaccedilatildeo de terra de quilombo vecircm do
cumprimento do Artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias da Constituiccedilatildeo Federal12
cuja redaccedilatildeo expotildee o seguinte ldquoAos remanescentes das comunidades de quilombos que
estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir
lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)
Com a instituiccedilatildeo deste Leopoldo e Morais (2005 p 3) explanam em seu artigo
sobre territorialidade que muitas lutas e manifestaccedilotildees poliacuteticas tecircm apoiado ou desprovido as
comunidades quilombolas do seu direito agrave terra Leopoldo e Morais (2005 p 1) ressaltam que
ldquoos criteacuterios adotados para o reconhecimento das comunidades quilombolas tecircm sido alvo de
constantes criacuteticas entre esses diferentes atoresrdquo Embora pareccedila pertinente equiparar a
questatildeo do direito agraves terras de quilombos com as terras indiacutegenas ambas satildeo semelhantes
apenas quanto aos desafios e embates jaacute visiacuteveis na questatildeo da identificaccedilatildeo e na definiccedilatildeo
dos sujeitos de direito
No diagrama da fronteira eacutetnico-cultural o Brasil esteve sempre marcado pela
preservaccedilatildeo do territoacuterio invadido e ocupado por inuacutemeros conflitos de terra que remontam
aos dias atuais13
Natildeo muito distante de uma realidade de lutas pelos direitos dos negros os
moradores remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras lutam haacute muito
tempo pelo reconhecimento da terra Localizada na regiatildeo rural da cidade de Santa Luzia do
Paraacute14
a comunidade fica situada em local de difiacutecil acesso situaccedilatildeo que piora muito nos
periacuteodos de chuva causando transtornos aos moradores que veem limitadas suas
necessidades humanas baacutesicas
Vejamos abaixo o mapa da Regiatildeo do Guamaacute onde fica localizada a cidade de Santa
Luzia do Paraacute Rodeada por outras cidades como Capanema Oureacutem Capitatildeo Poccedilo Garrafatildeo
do Norte Cachoeira do Piriaacute Nova Esperanccedila do Piriaacute e tambeacutem Terras Indiacutegenas ocupadas
pelos iacutendios Tembeacute a comunidade de Pimenteiras fica no centro da regiatildeo da cidade de Santa
Luzia do Paraacute como mostra a figura
11 Disponiacutevel em httpwwwcpisporgbrcomunidadeshtmli_brasil_pahtml Pesquisado dia 01052013 as
1933 h 12 Pesquisa no site wwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaohtm em 16122014 as 1633hs 13 Atualmente destaca-se a luta do MST ndash Movimento dos Sem Terra no Brasil ndash que constitui um dos maiores
movimentos sociais do paiacutes com 15 anos de existecircncia nos 23 estados da federaccedilatildeo Maiores informaccedilotildees
consultar o site httpwwwmstorgbr 14Santa Luzia do Paraacute eacute uma cidade brasileira localizada no estado do Paraacute na microrregiatildeo do Guamaacute e na
mesorregiatildeo do Nordeste Paraense
27
Mapa 01 ndash Regiatildeo do Guamaacute Cidade de Santa Luzia do Paraacute Comunidade de Pimenteiras
Fonte IBGE15
Com relaccedilatildeo agrave titularidade da terra como Quilombola o processo continua em
tracircmite nos oacutergatildeos responsaacuteveis Os moradores da comunidade de Pimenteiras vivem agrave espera
da validaccedilatildeo do processo de identificaccedilatildeo e reconhecimento de suas origens valorizaccedilatildeo de
sua cultura e direito ao territoacuterio quilombola Segundo relatos dos moradores um dos motivos
para o impasse no processo seria a presenccedila de pecuaristas e agricultores natildeo remanescentes
de quilombo que vivem na regiatildeo e cultivam nas terras Estas pessoas devem ser indenizadas
pelos espaccedilos de terra que possuem a fim de que o direito dos quilombos tenha garantia de
integralidade das terras Logo a seguir encontram-se as informaccedilotildees de forma resumida sobre
o andamento do pedido de reconhecimento da terra em Pimenteiras
Tabela 1 ndash Titulaccedilatildeo da terra da comunidade de Pimenteiras
FICHA RESUMO DO TERRITOacuteRIO
Nome da Terra Pimenteira
Nome da(s) Comunidade(s) Pimenteiras
Municiacutepio Santa Luzia do Paraacute
Unidade da Federaccedilatildeo Paraacute
Populaccedilatildeo 24 famiacutelias
Dimensatildeo Territorial -
Etapa do processo de titulaccedilatildeo Certidatildeo Fundaccedilatildeo Cultural Palmares
Superintendecircncia Responsaacutevel SR 01 Paraacute
Data da Uacuteltima Atualizaccedilatildeo 30052014
Fonte Comissatildeo Proacute-iacutendio de Satildeo Paulo16
15 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150655ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completas
28
Os moradores da comunidade de Pimenteiras sofrem com o processo de
reconhecimento de seus direitos que satildeo assegurados constitucionalmente Para eles
reconhecer a terra eacute importante pois reconhece a existecircncia de uma populaccedilatildeo remanescente
quilombola de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado agrave margem da vida
em sociedade que busca mais do que o direito agrave terra busca o direito agrave vida no campo
Conhecer a cultura de um povo faz com que ele seja reconhecido e valorizado por
suas caracteriacutesticas em particular Diante disso conheceremos no toacutepico seguinte um pouco
da histoacuteria da comunidade de Pimenteiras aleacutem de sua tradicional manifestaccedilatildeo cultural que
eacute a Ladainha a Nossa Senhora do Livramento uma cerimocircnia em agradecimento pelas preces
atendidas do povo daquela comunidade
22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO
Nos encontros ocorridos na comunidade de Pimenteiras nos deparamos com alguns
moradores que haacute pouco tempo natildeo conheciam sua descendecircncia negra e tampouco os
significados que cercam o termo Quilombola Por meio das histoacuterias transmitidas de seus
antepassados e de pesquisadores envolvidos com o Centro de Estudos e Defesa do Negro do
Paraacute (CEDENPA)17
os moradores passaram a se reconhecer como remanescentes de
quilombo de forma orgulhosa no entanto confusos Isto se deve ao fato de que a comunidade
de Pimenteiras vive hoje com o estigma de seus ancestrais escravizados e sem entender seus
reais valores culturais e histoacutericos
Nesse acircmbito Leite (2000 p 339) levanta um questionamento significativo sobre o
termo quilombola Ela explica que
Desde os anos 30 algumas vozes militantes18
defendem fortemente a ideacuteia de
reparaccedilatildeo da aboliccedilatildeo como ldquoum processo inacabadordquo e da ldquodiacutevidardquo em dois
16Disponiacutevel emlthttpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501gt
17O CEDENPA eacute uma Entidade sem fins lucrativos sem viacutenculos poliacutetico-partidaacuterios fundada em 10 de agosto
de 1980 e legalizada em 27 de abril de 1982 que a partir do Estado do Paraacute vem contribuindo no processo de superaccedilatildeo do racismo preconceito e discriminaccedilatildeo que produzem a desigualdades soacutecio raciais de gecircnero e
outras prejudicando sobretudo a populaccedilatildeo negra e indiacutegena em todos os aspectos da sociedade brasileira
Pesquisado em 22062015 as 955hs no site httpwwwcedenpaorgbr
18 Abdias do Nascimento atual senador da Repuacuteblica reescreve suas teses na deacutecada de 80 defendidas desde os
anos 30 quando inicia sua militacircncia O seu quilombismo reivindica uma memoacuteria anterior ao traacutefico e agrave
escravizaccedilatildeo dos africanos Escreve ldquoo quilombismo busca no presente e no futuro e atua por um mundo melhor para os africanos nas Ameacutericasrdquo Resume suas teses do quilombismo em 16 itens O primeiro deles define o
quilombismo como um movimento poliacutetico dos negros brasileiros visando a implantaccedilatildeo de um Estado Nacional
29
planos a herdada dos antigos senhores e a marca que ficou em forma de estigma seus efeitos simboacutelicos geradores de novas situaccedilotildees de exclusatildeo A exclusatildeo como
fato e como siacutembolo Os militantes procuram ver o conceito de quilombo como um
elemento aglutinador capaz de expressar de nortear aquelas pautas consideradas
cruciais agrave mudanccedila de dar sustentaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo da identidade negra ainda
fragmentada pelo modelo de desenvolvimento do Brasil apoacutes a aboliccedilatildeo da
escravatura
O contato com os moradores nos fez refletir sobre os diversos questionamentos a
respeito do entendimento e significaccedilatildeo que as pessoas da regiatildeo tinham sobre a palavra
quilombola Os adolescentes com o conhecimento adquirido na escola relataram que ser
quilombola significava ser negro mas alguns natildeo se consideravam quilombolas porque a pele
natildeo era tatildeo escura Ao refletir sobre isto percebemos que o sentimento presente nos mais
jovens eacute de exclusatildeo ser homem negro significa ser excluiacutedo discriminado e rejeitado pelos
colegas da escola Esse mesmo sentimento ocorre com o termo quilombola que traz para o
contexto atual as marcas de uma eacutepoca de escravidatildeo e de maus tratos contra pessoas de pele
escura Para muitos o sentimento com relaccedilatildeo ao nome Quilombola traz um significado
doloroso Nesse ponto Leite (2000 p 342) salienta
Enquanto uma expressatildeo da identidade grupal o significante ldquonegrordquo vai somando
em seu percurso tudo aquilo que adveacutem de tal experiecircncia ou seja elementos de
inclusatildeo (que mantecircm o grupo unido em estrateacutegias de solidariedade e
reciprocidade) e tambeacutem de segregaccedilatildeo (ou seja a desqualificaccedilatildeo a depreciaccedilatildeo e
a estereotipia) Os sentidos do termo e as experiecircncias nele circunscritas revelam sua ambiguidade por um lado a marginalizaccedilatildeo por outro a forccedila simboacutelica
demonstrada no seu persistente poder aglutinador vindo a configurar ou expressar
uma identidade social e a nortear inclusive poliacuteticas de grupos
De outro modo o conceito negativo sobre a etnia quilombola perpassa tambeacutem pelos
moradores de Pimenteiras que possuem um vasto conhecimento sobre os espaccedilos que
ocupam na regiatildeo com sua rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias geraccedilotildees Os saberes
sobre a natureza satildeo de extrema importacircncia para as diversas aacutereas da ciecircncia conferindo na
forma pela qual pensam classificam e utilizam seus recursos
Contudo o acesso agrave comunidade eacute difiacutecil a uacutenica estrada existente para chegar agrave
comunidade natildeo eacute asfaltada e no trajeto visualizam-se diversas fazendas com gado campos
abertos depois mata fechada com grandes serras que ladeiam a comunidade Durante a
viagem satildeo percorridos aproximadamente 30 quilocircmetros em relevo bastante acidentado
Quilombista inspirado no modelo da Repuacuteblica de Palmares no seacuteculo XVI e em outros quilombos que
existiram e ainda existem Esclarece que natildeo se trata de um modelo segregacionista mas de um movimento que
advoga o poder poliacutetico realmente democraacutetico que implica a presenccedila da maioria afro-brasileira em todos os
niacuteveis desse poder Veja-se Nascimento (1991 21-26 apud Leite 2000 p339 a 340)
30
Ao chegar agrave comunidade percebi que a presenccedila mais forte eacute da natureza na sua
biodiversidade e das terras utilizadas para o cultivo da mandioca feijatildeo e pimenta Existe
tambeacutem o plantio de Murumuru19
cuja produccedilatildeo ocorre devido ao interesse da empresa
Natura20
pela compra do fruto
A comunidade de Pimenteiras possui uma relaccedilatildeo natildeo somente com os
conhecimentos agriacutecolas e o cultivo de plantas mas tambeacutem com os recursos naturais que
estatildeo ligados a estes levando em consideraccedilatildeo as informaccedilotildees sobre a natureza e os valores
de sua cultura e tradiccedilatildeo local A comunidade em estudo tem na mata fechada sua principal
fonte de recursos naturais A variedade de espeacutecies vegetais eacute muito grande ocasionando uma
afinidade dos moradores com a natureza de forma muito forte e antiga
Eacute nesse encontro entre os moradores quilombolas e a natureza que muitos saberes
culturais locais foram e satildeo desenvolvidos sem quaisquer recursos tecnoloacutegicos ou
assistecircncia Esta eacute uma das caracteriacutesticas que marcam a comunidade identificando e
classificando o ambiente em que vivem Eacute uma maneira de auto identificaccedilatildeo e auto definiccedilatildeo
da proacutepria comunidade enquanto grupo social particular que produz saberes sobre a natureza
forjando de maneira inconsciente sua identidade cultural
Mas como se originou a comunidade e o nome Pimenteira Durante as visitas feitas agrave
comunidade as histoacuterias que os moradores contam eacute que haacute muito tempo o pai de Domingas
o senhor Raimundo Cordeiro dos Santos queria fazer as preparaccedilotildees de pais e padrinhos21
para o batizado de uma crianccedila Como na comunidade natildeo havia igreja ou qualquer
representaccedilatildeo religiosa que pudesse ajudar na preparaccedilatildeo ele foi ateacute outra comunidade
chamada Fuzil para falar com o padre chamado Zeacute Doca Devido agrave distacircncia o senhor saiacutea
agraves 2h da madrugada e chegava ao local agraves 5h O padre observando as dificuldades propocircs
que algueacutem da comunidade com certo grau de conhecimento pudesse fazer os ensinamentos
aos moradores
No dia da celebraccedilatildeo do batismo o padre foi ateacute a casa do senhor para batizar a
crianccedila e orientar os moradores a iniciarem as celebraccedilotildees e construir um locar onde
pudessem rezar Assim haacute cerca de 40 anos uma igreja foi construiacuteda no local e os
19 Originaacuterio da Regiatildeo Amazocircnica Ele cresce espontaneamente nas matas do Paraacute Eacute encontrado ao longo dos
rios e em aacutereas inundadas em formaccedilotildees florestais densas ou semiabertas O fruto eacute um coco de coloraccedilatildeo
avermelhada Seu caroccedilo encerra uma amecircndoa dura que fica envolta por uma polpa amarelada comestiacutevel e
levemente adocicada O oacuteleo extraiacutedo da semente de murumuru possui propriedades altamente emolientes 20A Natura eacute um empresa brasileira que trabalha no setor de higiene pessoal perfumaria e cosmeacuteticos e tambeacutem
no segmento da venda direta dos produtos 21 O encontro de preparaccedilatildeo dos pais e padrinhos deve ser uma autecircntica obra de evangelizaccedilatildeo tendo por meta anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para proporcionar o encontro pessoal com Cristo na Comunidade Esses
satildeo preceitos da Igreja Catoacutelica relatados pelo Paacuteroco Elias de Santa Luzia do Paraacute
31
moradores passaram a receber visitas do sacerdote mecircs a mecircs A presenccedila religiosa fez com
que a comunidade de Pimenteiras fosse visualizada e tivesse entatildeo sua origem
Com relaccedilatildeo ao nome Pimenteira o termo surgiu de histoacuterias contadas pelos avocircs do
pai de Domingas trilhando pelos rios e matas da regiatildeo da Narciacutesea eles saiacuteam em busca de
caccedila e pesca formando os ranchos22
na beira do rio Guamaacute Nessas viagens levavam alguns
mantimentos necessaacuterios por passarem muitos dias caccedilando Dentre os alimentos levados a
pimenta natildeo podia faltar Quando retornavam deixavam agrave beira do rio as sementes da
pimenta que traziam elas brotavam e cresciam quando voltavam ao mesmo local de pesca
tinham como referecircncia o peacute de pimenta Assim comeccedilaram a chamar o local de ldquoigarapeacute da
pimentardquo (informaccedilatildeo verbal)23
que com o tempo passou a ser local de moradia para essas
pessoas vindas da Narciacutesea Surgiu assim o nome Pimenteira que deu origem agrave comunidade
remanescente de quilombola
Eacute diante dessa relaccedilatildeo com a natureza que os moradores quilombolas vivem e
reproduzem anualmente o evento cultural ldquoLadainha a Nossa Senhora do Livramentordquo como
ato de feacute agradecimento e preservaccedilatildeo dos fazeres de seus antepassados Eacute o que veremos no
toacutepico seguinte no qual esse momento cultural da comunidade de Pimenteiras seraacute abordado
com maiores detalhes
221 Ladainha a Nossa Senhora do Livramento
Em comemoraccedilatildeo ao ldquoDia da Consciecircncia Negra24
rdquo 20 de novembro os moradores
de Pimenteiras iniciaram um processo de valorizaccedilatildeo e rememoraccedilatildeo de suas crenccedilas
religiosas Segundo relatos dos mais antigos a celebraccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento
veio antes da existecircncia da comunidade de Pimenteiras Nas histoacuterias contadas pela moradora
Domingas tudo comeccedilou com sua avoacute materna a senhora Joana Pornusena dos Santos (in
memoacuteria) que acompanhando o marido no roccedilado presenciou a existecircncia de muitos
perigos O avocirc de Domingas trabalhando na terra solicitou em oraccedilatildeo agrave Senhora do
22 Rancho era o termo popular usado para designar a toca que eles faziam na beira do rio 23A histoacuteria sobre a origem do nome Pimenteira veio dos relatos informais da moradora DomingasTais histoacuterias
natildeo puderam ser transcritas a pedido da moradora 24
O Dia da Consciecircncia Negra eacute uma data celebrada no Brasil no dia 20 de novembro Este dia estaacute incluiacutedo na
semana da Consciecircncia Negra e tem como objetivo um reflexatildeo sobre a introduccedilatildeo dos negros na sociedade
brasileira O dia 20 de novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares data na qual morreu lutando pela liberdade do seu povo no Brasil Pesquisado no site httpwwwsignificadoscombrdia-
da-consciencia-negra
32
Livramento que o protegesse e tambeacutem sua famiacutelia dos acidentes e da morte que aconteciam
no roccedilado Como forma de agradecimento pela graccedila alcanccedilada ao final dos trabalhos com a
terra o avocirc prometeu que celebraria uma cerimocircnia religiosa em homenagem agrave Santa Este
gesto de agradecimento se perpetuou entre as geraccedilotildees e hoje a Ladainha continua preservada
nas matildeos da moradora Domingas
Passada entre as geraccedilotildees da famiacutelia de Domingas a Ladainha possui forte relaccedilatildeo
com o saber das plantas medicinais As flores colocadas sobre altar ou as plantas com cheiro
agradaacutevel usadas durante a cerimocircnia consideradas bentas eram guardadas para serem
utilizadas na forma de chaacutes para a cura das doenccedilas Na Ladainha plantas como manjericatildeo
catinga de mulata canela e hortelatilde satildeo empregadas na cerimocircnia com aacutegua para as pessoas se
benzerem Este ritual natildeo ocorria na eacutepoca da avoacute de Domingas Nas primeiras cerimocircnias a
Ladainha era comemorada com o canto em latim Adolfo era o nome da pessoa que entoava a
oraccedilatildeo sem o uso de livros
Com o passar dos anos ocorreram mudanccedilas como forma de atrair os jovens para a
celebraccedilatildeo Isto fez com que aleacutem da Ladainha do almoccedilo e da presenccedila da imagem da
Senhora do Livramento fosse incluiacuteda uma procissatildeo pela comunidade com o uso de fitas em
volta da imagem o uso da aacutegua com as plantas aromaacuteticas e uma festa como forma da
juventude participar na celebraccedilatildeo Outro aspecto importante que mudou nesses anos foi a
substituiccedilatildeo do canto em latim pela oraccedilatildeo encontrada no livro do Catecismo da Igreja
Catoacutelica que conteacutem a Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento Isto se deve ao fato de que os
jovens natildeo tiveram interesse de aprender a Ladainha em latim No entanto esta possui grande
significaccedilatildeo para a comunidade pois representa a feacute sendo renovada a cada ano Eacute o momento
em que os moradores contam suas histoacuterias e reencontram outras comunidades tambeacutem de
remanescentes de quilombolas eacute o momento em que a comunidade de Pimenteiras eacute
valorizada pela cultura e pelos saberes tradicionais das plantas
Vejamos abaixo algumas imagens da celebraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento
que ocorre anualmente na comunidade de Pimenteiras as quais exibem uma forma de
agradecimento e comemoraccedilatildeo pelas colheitas alcanccediladas durante o ano
33
Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade
Fonte Dados da pesquisa 2014
Ano apoacutes ano todos os moradores se reuacutenem numa grande festa cultural e religiosa
que traz consigo as lutas de um povo que trabalha a terra e marcam profundamente a
identidade da comunidade A data foi escolhida como forma de memorizar as grandes lutas jaacute
vividas pelos negros em prol da liberdade e dos direitos dos afrodescendentes
Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras
Fonte Dados da pesquisa 2014
34
Em comemoraccedilatildeo ao Dia da Consciecircncia Negra outras comunidades quilombolas
satildeo convidadas e prestigiam a comunidade e a Santa reverenciada A comunidade de
Pimenteiras eacute tambeacutem muito conhecida pelo festejo agrave Senhora do Livramento alimentos e
muacutesicas satildeo oferecidos durante o dia e a noite a todos que vecircm para comemorar a data tatildeo
significativa ao povo quilombola
Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas
FonteDados da pesquisa 2014
35
Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada
FonteDados da pesquisa 2014
O povo quilombola eacute um povo alegre que gosta de muacutesica e de danccedila O canto estaacute
sempre presente em seu cotidiano e nas festas da comunidade A cerimocircnia relata a vida as
lutas e a esperanccedila de melhorias para os moradores Eacute atraveacutes da religiosidade que
demonstram todo cuidado e respeito pela terra Na Ladainha a presenccedila da feacute catoacutelica vem
misturada com a forccedila dos tambores e das cordas dos violotildees Eacute nesse conjunto de
movimentos que as histoacuterias de luta de um povo satildeo recontadas sobre a terra a produccedilatildeo
agriacutecola e a identidade dos moradores que transcorrem no festejo
36
Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda
Fonte Dados da pesquisa2014
A festa tradicional eacute resultado de influecircncias negras indiacutegenas e catoacutelicas A
comunidade corteja a Santa do Livramento e as riquezas obtidas durante o ano A fartura estaacute
simbolizada nas oferendas apresentadas durante a celebraccedilatildeo quando satildeo colocados diversos
produtos cultivados na regiatildeo O ritual festivo entrecruza e atravessa ritmos vozes e jogos em
um sistema de imagens da festa popular no qual fim e recomeccedilo dialogam em um estado
coletivo de alegria A festa eacute a passagem do tempo demarcada pela colheita que tem uma
funccedilatildeo renovadora
Durante a cerimocircnia a senhora Libacircnia dos Santos Cunha eacute quem reza e conduz o
cortejo Considerada mais importante que o padre a senhora vem de outra comunidade mas
seu comando direciona o canto da Ladainha A atividade religiosa marca a passagem de
tempo do cultivo da terra significando a oportunidade de reunir pessoas de diversas
comunidades conjugando feacute alegria poliacutetica e reencontros entre familiares e amigos
Enquanto comungam os festejos os moradores discutem tambeacutem o futuro da comunidade
A festa popular eacute demorada e marcada por uma sucessiva e deliciosa comilanccedila
divulgando a abundacircncia e a fartura no ano que passou A celebraccedilatildeo eacute o momento no qual
evocam o poder dos mais velhos legitimam as famiacutelias abrem espaccedilo para os mais novos e
transmitem experiecircncias profundas
37
Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas
Fonte Dados da pesquisa 2014
Os antepassados satildeo lembrados nas praacuteticas cotidianas a famiacutelia eacute evocada na
presenccedila importante da mulher que simboliza o papel de geradora O papel feminino nas
questotildees poliacuteticas reforccedila essa ideia a senhora Domingas direciona junto a outras mulheres
todo o ritual a Nossa Senhora do Livramento aleacutem dos cuidados com a comida e de
participaccedilatildeo nas questotildees poliacuteticas da comunidade
Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento
Fonte Dados da pesquisa 2014
38
Vinda de origem portuguesa a devoccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento surgiu de
uma graccedila alcanccedilada haacute cerca de 50 anos por um agricultor quilombola que invocou o
livramento de todo o mal durante os trabalhos na lavoura A promessa eacute renovada todos os
anos com uma homenagem agrave Santa Tal culto foi tomado e seguido por todos os moradores da
comunidade e hoje comemoram a feacute por meio da graccedila alcanccedilada Logo abaixo segue um
trecho da Ladainha utilizada na celebraccedilatildeo agrave Senhora do Livramento na comunidade de
Pimenteiras A oraccedilatildeo completa se encontra no apecircndice ao final deste trabalho
Ladainha a Nossa Senhora do Livramento (fragmento)
Nossa Senhora do Livramento
Matildee de Deus nossa Matildee
e padroeira de nossa Paroacutequia
Com o olhar confiante vos contemplamos
Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos
Dirigimo-nos a voacutes como filhos
porque necessitamos do vosso auxiacutelio
Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados
apoiados e guiados pela matildeo materna
Renovai-nos espiritualmente
para que saibamos enxergar a vida mais bela
Levantai-nos para caminhar sem medo
nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo
para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna
[]
Nossa Senhora do Livramento
Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da alma
[]
Rogai por noacutes santa Matildee de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos
perpeacutetua sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-
aventurada sempre Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da
eterna alegria Por Cristo Nosso Senhor Ameacutem
Apoacutes verificarmos um pouco da cultura religiosa dos remanescentes de quilombola
de Pimenteira abordaremos no toacutepico seguinte as lutas que os moradores vivenciam e as
muitas conquistas alcanccediladas apoacutes a criaccedilatildeo e fundaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Quilombola dos
Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP)
39
222 AQUAFAP o desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola nos
saberes das plantas medicinais
Sabendo que uma associaccedilatildeo25
eacute uma iniciativa formal ou informal que reuacutene
pessoas fiacutesicas ou outras sociedades legais com objetivos comuns que visam superar as
dificuldades e gerar benefiacutecios para os seus membros a Associaccedilatildeo Quilombola dos
Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP) foi criada pelos moradores da
comunidade no intuito de legalizar e alcanccedilar seus projetos De forma geral qualquer que seja
o tipo ou os objetivos para sua criaccedilatildeo pode-se dizer que a associaccedilatildeo eacute uma forma de
legalizar a uniatildeo de pessoas em torno de seus interesses e que sua constituiccedilatildeo permite
alcanccedilar condiccedilotildees melhores do que os indiviacuteduos teriam isoladamente para a realizaccedilatildeo dos
seus planos Assim toda associaccedilatildeo eacute a forma mais baacutesica para se organizar juridicamente um
grupo de pessoas para a concretizaccedilatildeo de desiacutegnios comuns Seus princiacutepios enquadram-se na
doutrina de que juntos podemos encontrar soluccedilotildees melhores para os conflitos que a vida em
sociedade nos apresenta
Pensando nisso os moradores remanescentes de quilombo conheceram sonharam e
concretizaram o plano de fundar uma entidade que representasse e conseguisse alcanccedilar seus
objetivos de melhoria de vida diante das muitas dificuldades enfrentadas na comunidade ante
o descaso dos governos Historicamente os quilombolas satildeo um grupo que juntos
conseguiram a tatildeo aspirada liberdade hoje essa luta continua na busca de direitos negados no
contexto histoacuterico como se pode conferir a respeito
Quilombo natildeo significou apenas um lugar de refuacutegio de escravos fugidos mas a
organizaccedilatildeo de uma sociedade livre formada de ldquohomens e mulheres que se recusavam viver sob o regime da escravidatildeo e desenvolviam accedilotildees de rebeldia e de
luta contra esse sistemardquo (MUNANGA GOMES 2006)
Considerada como berccedilo dos remanescentes de quilombolas a comunidade Narciacutesea
possui grande nuacutemero de pessoas descendentes de negros Nos relatos contados pela moradora
Domingas sua matildee dona Otiacutelia veio da Narciacutesea muito tempo atraacutes em busca de terras para
o cultivo Apoacutes muitas viagens dona Otiacutelia junto de sua famiacutelia decidiu criar raiacutezes na regiatildeo
25 O significado do termo foi refletido sobre pesquisa feita no site httpwwwasaescorgindexphpa-
associacaoo-que-e-uma-associacao
40
da Pimenteira Depois de sua instalaccedilatildeo representantes do CEDENPA e do MALUNGU26
vieram da Narciacutesea para saber os motivos que levaram a senhora a se mudar da regiatildeo
Segundo relatos os motivos foram o fato de casar e desejar trabalhar na terra para viver
melhor Sabe-se que
Muitas comunidades foram formadas apoacutes a promulgaccedilatildeo da Lei Aacuteurea que
extinguiu a escravidatildeo por uma forte razatildeo era a uacutenica possibilidade do negro
viver em liberdade em um espaccedilo onde sua cultura natildeo era desprezada sendo
possiacutevel por isso preservar a dignidade (MUNANGA GOMES 2006)
Muitas pessoas ajudaram os moradores da comunidade de Pimenteiras a conhecer
suas origens Foi com dona Otiacutelia que souberam da remanescecircncia de quilombo jaacute com o
padre Rafael27
os moradores desenvolveram projetos via Pastoral da Igreja mas foi com o
senhor e professor Cardoso28
que os moradores conheceram o que era uma associaccedilatildeo e quais
seus benefiacutecios Orientados por este senhor alguns moradores conseguiram adquirir
documentos de identificaccedilatildeo que natildeo possuiacuteam aleacutem disso foram orientados a fundar uma
associaccedilatildeo quilombola para conseguir melhorias para a comunidade Com a ajuda da senhora
Nazareacute29
os documentos e atas da associaccedilatildeo foram registrados e legalizados
Atraveacutes da legalizaccedilatildeo da associaccedilatildeo os moradores deram iniacutecio agrave titularidade da
terra Representantes do CEDENPA MALUNGU e INCRA visitaram diversas vezes a
comunidade com entrevistas e a verificaccedilatildeo das limitaccedilotildees de terra para o processo de
titularidade Hoje o processo continua em andamento devido aos muitos impasses na regiatildeo
como por exemplo a presenccedila de agricultores natildeo quilombolas com terra na comunidade de
Pimenteiras
Passadas quase duas deacutecadas da publicaccedilatildeo do artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal de
1988 e quatro anos da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 48872003 que regulamenta o
processo de identificaccedilatildeo reconhecimento demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombolas atualmente a luta
continua nos acircmbitos juriacutedico e educacional (SILVA 2000)
26A Palavra Malungu vem de origem africana significa COMPANHEIRO Assim lado a lado lutamos pela
garantia de nossos direitos e pelo reconhecimento social dos quilombolas A Coordenaccedilatildeo Estadual das
Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Paraacute foi oficialmente fundada em marccedilo de
2004 como uma organizaccedilatildeo sem fins lucrativos e econocircmicos para representar as comunidades quilombolas do
ParaacutePesquisa no site httpsmalunguparawordpresscom
27 Paacuteroco da cidade de Santa Luzia do Paraacute na deacutecada de 80 28Professor que foi enviado pelo CEDENPA para orientar os moradores de Pimenteiras nos anos 90 29Maria de Nazareacute Reis Ghirard eacute professora engenheira agrocircnoma e representante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Paraacute ndash CEDENPA aleacutem de outros oacutergatildeos direcionados na preservaccedilatildeo da biodiversidade de
comunidades da regiatildeo aleacutem de desenvolver trabalhos de valorizaccedilatildeo da mulher e do negro
41
O dia 03 de dezembro de 2007 eacute a data de abertura da AQUAFAP Muitas
dificuldades ocorreram para conseguir documentar algumas pessoas da comunidade natildeo
ajudaram mas a maioria se empenhou e buscou realizar tal objetivo Desde entatildeo muitos
projetos foram criados dentre os quais o Bioenergeacutetico e os trabalhos com as plantas que
surgiram via associaccedilatildeo
Com o auxiacutelio da professora Nazareacute e o conhecimento jaacute existente sobre as plantas
medicinais os moradores estudaram e trabalharam na comunidade com tal saber Futuramente
os moradores desejam conseguir pela AQUAFAP um projeto de preservaccedilatildeo e
reflorestamento na regiatildeo da Pimenteira direcionado ao Fundo Dema30 poreacutem o impasse
continua na definiccedilatildeo da titularidade da terra Hoje a associaccedilatildeo eacute tida com algo de grande
valor aos moradores da comunidade devido ao grande conhecimento e oportunidades de
melhorias para todos Muitos estatildeo engajados natildeo apenas com a associaccedilatildeo mas tambeacutem com
questotildees da Igreja e principalmente com as plantas medicinais que mesmo tendo paralisado
o trabalho com o Bioenergeacutetico os saberes adquiridos se multiplicam e propagam uma
valorizaccedilatildeo maior dos saberes sobre as plantas
Detentores de um patrimocircnio cultural rico e valoroso poreacutem desconhecido de
muitos as comunidades remanescentes de quilombolas satildeo formadas de grupos
sociais cuja identidade eacutetnica constitui a base de suas vivecircncias cotidianas bem
como das accedilotildees poliacuteticas levadas a feito pelas entidades que lutam pelos seus
direitos (SILVA 2000)
Eacute perante tamanha riqueza de conhecimento que veremos no toacutepico seguinte como o
trabalho com o Bioenergeacutetico deixou intensos saberes sobre as plantas de uso medicinal que
marcaram profundamente a vida dos moradores da Pimenteira e se tornaram uma identidade
para a comunidade e seus moradores
30O Fundo Dema Quilombolas do Paraacute ou Fundo Dema de Apoio agraves Comunidades Quilombolas do Paraacute surgiu
em 2008 numa dinacircmica interativa entre a Coordenaccedilatildeo das Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de
Quilombolos (Malungu) Fase AmazocircniaFundo Dema e Fundaccedilatildeo Ford para a constituiccedilatildeo de uma linha de
accedilatildeo e financiamentos voltada exclusivamente para as comunidades quilombolas do Paraacute Sua criaccedilatildeo respondeu
a uma demanda especiacutefica por entender que essas comunidades demonstram uma dinacircmica emancipatoacuteria uacutenica
aleacutem de se constituiacuterem como um segmento importante das populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia Paraense Tem
por objetivo promover a conquista dos DhESCArsquos (Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais) das comunidades quilombolas e contribuir para a consolidaccedilatildeo da articulaccedilatildeo estadual da Malungu
na conquista e garantia destes direitos Pesquisa no site httpwwwfundodemaorgbr
42
223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico
Buscar a natureza para sanar as enfermidades eacute um procedimento antigo que ateacute os
dias atuais persiste especialmente em comunidade e grupos eacutetnicos distantes dos recursos das
cidades tais como a sauacutede Eacute comum vermos pessoas fazendo uso de plantas medicinais em
rituais religiosos como tambeacutem no tratamento de doenccedilas por vezes eacute o uacutenico recurso
terapecircutico usado Em muitas regiotildees e ateacute mesmo nas grandes cidades as plantas medicinais
satildeo comercializadas em feiras livres comeacutercio popular e nos quintais de nossas casas Em
Beleacutem por exemplo no mercado do Ver-o-Peso temos o banho de cheiro31
que eacute preparado
com o uso de diversas plantas aromaacuteticas e muito procurado pelas pessoas para melhorar
aspectos da vida amor dinheiro e a cura de doenccedilas
Observando a cultura popular quanto agrave eficaacutecia das plantas medicinais percebemos
que haacute uma divulgaccedilatildeo dos valores terapecircuticos das plantas mesmo natildeo tendo informaccedilotildees
das propriedades quiacutemicas Assim pessoas de todo o mundo manteacutem a praacutetica do consumo
fitoteraacutepico validando as informaccedilotildees terapecircuticas que foram acumuladas ao longo dos
seacuteculos sobre as plantas medicinais Segundo Pinheiro (2002 p 16)
a grande procura pelas Terapias Alternativas eacute resultado de vaacuterios aspectos O que
chama mais a atenccedilatildeo eacute que grande parte das pessoas jaacute passou pelo tratamento da
medicina tradicional e natildeo tiveram os resultados que esperavam Mas quando se fala
em Terapia Alternativa no Brasil eacute preciso esclarecer que se trata na maioria dos
casos de praacuteticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina Apenas a
homeopatia e a acupuntura satildeo reconhecidas como especialidades meacutedicas Mas alguns ramos das Terapias Alternativas cobrem aacutereas que a medicina convencional
despreza e que em muitos casos podem ser uma uacutenica e uacutetil complementaccedilatildeo ao
tratamento convencional
Para Levi Strauss (1970 p 51) ldquoquando uma accedilatildeo terapecircutica natildeo alcanccedila o
resultado esperado a feacute e a crenccedila no sistema permanecem pois elas satildeo sempre coletivasrdquo O
que persiste nesses saberes eacute a crenccedila de que haveraacute a melhora ou cura das doenccedilas por meio
dos medicamentos naturais Dentre as praacuteticas alternativas de sauacutede uma muito conhecida eacute a
Bioenergeacutetica32
Esse meacutetodo requer alguns requisitos importantes para seu uso segundo
Barbieri (2008 p 18)
31 As principais plantas usadas para fazer o banho de cheiro segundo seus nomes populares satildeo catinga de mulata
chama abre caminho vindica manjericatildeo manjerona de angola alecrim de angola trevo da sorte trevo do mar japana
branca priprioca aleacutem de oacuteleos de jasmin uirapuru e patchouli 32 Bioenergeacutetica eacute a energia da vida Eacute uma nova teacutecnica de diagnoacutestico e tratamento de doenccedilas baseada na sabedoria do inconsciente humano Esta sabedoria segundo garantem eminentes psicoacutelogos eacute inata e igual para
todos portanto natildeo depende de nenhum estudo mas nos foi infundida por Deus no momento da concepccedilatildeo Eacute
43
O praticante deve ter um bom conhecimento de anatomia e fisiologia para conhecer
os pontos do exame bem como o funcionamento do organismo Ter conhecimento
da energia e de como ela age e reage no organismo conhecer os princiacutepios baacutesicos
da energia e exercitar-se energeticamente treinar com os dedos para ter domiacutenio do campo energeacutetico fazer parceria com um companheiro (a) como o (a) qual
estabelece uma sintonia energeacutetica possibilitando seguranccedila nos testes
O meacutetodo da Bioenergeacutetica originaacuterio do processo de desintoxicaccedilatildeo do corpo pelo
Biosauacutede eacute um procedimento realizado atraveacutes do bioteste ndash ou o teste do anel ndash que revela
problemas de sauacutede presentes no paciente O teste possibilita que a pessoa qualificada tenha
uma visatildeo especiacutefica de todos os pontos a serem cuidados O tratamento eacute feito a base de
plantas medicinais argila alimentaccedilatildeo saudaacutevel e banhos O Biosauacutede ou meacutetodo do
Bioenergeacutetico trata o corpo por completo33
Conhecendo os benefiacutecios que o Bioenergeacutetico pode trazer a senhora Nazareacute propocircs
para os moradores da Pimenteira criar um projeto que pudesse realizar esse trabalho na
comunidade pois alguns moradores jaacute possuiacuteam conhecimento sobre o uso das plantas
medicinais Assim o Bioenergeacutetico foi um dos projetos criados pela AQUAFAP Alguns
ficaram com receio desse trabalho outros moradores receberam bem a proposta e valorizaram
o trabalho que durou em meacutedia um ano
Muitas plantas nativas e caseiras foram cultivadas e catalogadas nesse periacuteodo As
pessoas que foram preparadas por meio do curso de Bioenergeacutetico ficaram cerca de dois anos
estudando pelo CEDENPA eram elas a irmatilde da Domingas Maria Ilene Alves do Nascimento
a senhora Maria Valdenira de Sousa Zacarias e a senhora Maria Zenir dos Santos Castro
Estas pessoas foram a Beleacutem para fazer o curso do Bioenergeacutetico com orientaccedilatildeo da senhora
Nazareacute e adquiriram diversos conhecimentos dentre os quais saber qual doenccedila havia no
corpo de algueacutem
Contudo com o passar dos trabalhos ocorreram desavenccedilas e as pessoas agrave frente do
projeto foram perdendo o interesse e por fim natildeo continuaram em busca de melhorar e
ampliar esse saber e aos poucos pararam de executar o Bioenergeacutetico na comunidade Hoje
um meacutetodo simples que se utiliza apenas dos dedos das matildeos entrelaccediladas em forma de anel feito por duas
pessoas examinadoras Tambeacutem usa uma vareta de metal para encostar na pessoa a ser examinada Pesquisado
no dia 03122014 as 2311hs no site httpwwwjaimebruningcombrbio_saudephp
33 Durante a consulta o paciente eacute submetido ao teste bioenergeacutetico no qual um profissional da equipe faz um
elo usando os dedos polegar e indicador enquanto outro da equipe tambeacutem faz um anel em cada uma de suas
matildeos entrelaccedilando os dedos do outro Com um arame ou metal que conduza corrente um deles vai tocando os
pontos de checagem a matildeo reagiraacute de forma diferente em cada novo toque Quando tocar um oacutergatildeo sadio o imatilde
seraacute mais forte Pesquisado no dia 30072015 as 1734hs no sitehttpwwwcurapelanaturezacombr201103biosaude-desintoxicacao-e-energizacaohtml
44
muitos na comunidade sentem a falta e tem a necessidade de serem tratados por esse saber
mas as pessoas foram instruiacutedas a natildeo transmitirem esse saber para outros e pararam os
trabalhos O local era chamando de ldquoCentro Popular Biosauacutede Pornusenardquo em homenagem agrave
avoacute da senhora Domingas Vejamos abaixo a imagem do local onde antes era realizado o
trabalhado com o bioenergeacutetico e que hoje eacute lugar de encontros para os associados da
AQUAFAP
Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena
Fonte Dados da pesquisa 2013
O centro popular eacute equipado com geladeira armaacuterio fogatildeo mesas e principalmente
o cataacutelogo com as amostras e os nomes das plantas colhidas pelos moradores da comunidade
para a realizaccedilatildeo do trabalho com o Bioenergeacutetico As imagens a seguir satildeo do local onde
ocorriam os trabalhos e tambeacutem a mesa que conteacutem os desenhos da anatomia e fisiologia do
organismo humano
Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico
Fonte Dados da pesquisa 2013
45
Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o funcionamento do organismo
Fonte Dados da pesquisa 2013
O cataacutelogo com amostras das plantas nativas e caseiras da comunidade de
Pimenteiras eacute um acervo rico de informaccedilotildees relacionadas com a biodiversidade da regiatildeo Os
nomes estatildeo escritos de acordo com o saber que os moradores possuem sobre a liacutengua escrita
o que traz maior qualidade nos estudos sobre os termos das plantas escritos pelos moradores
da comunidade quilombola Observemos abaixo algumas plantas dissecadas de forma
tradicional e nomeadas no cataacutelogo
Fotografia 11 ndash Salsa dissecada
Fonte Dados da pesquisa 2013
46
Fotografia 12 ndash Canela dissecada
Fonte Dados da pesquisa 2013
Fotografia 13 ndashVinagreira dissecada
Fonte Dados da pesquisa ano 2013
Observamos que o trabalho com o Bioenergeacutetico proporcionou grande riqueza de
dados os quais objetivamos analisar e conhecer mais profundamente no intuito de contribuir
47
para os estudos cientiacuteficos da Liacutengua por meio dos saberes tradicionais Entretanto o que eacute
conhecimento e o que eacute saber Esse e outros aspectos seratildeo observados no capiacutetulo seguinte
no qual abordaremos as diferenciaccedilotildees entre Conhecimento e Saber
Apontando na comunidade tradicional os sujeitos de saberes bem como a presenccedila
do gecircnero nesses saberes sobre as plantas medicinais incluindo especificamente a detentora
do saber das plantas que eacute a senhora Domingas para finalmente observarmos como tais
saberes constituem a identidade cultural da comunidade quilombola de Pimenteiras
23 SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM PIMENTEIRAS
A partir da compreensatildeo dos saberes como praacuteticas discursivas Michel Foucault
(2009)34
depreende que nesse discurso os termos Saber35
e Conhecimento36
geralmente satildeo
palavras utilizadas no senso comum como sinocircnimas Analisamos que a palavra ldquosaberrdquo
significa ter conhecimento de algo teoacuterico ou praacutetico eacute uma habilidade resultante da
experiecircncia da praacutetica da sabedoria e da cultura O saber eacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito que
sabe e o objeto a ser conhecido eacute um sentimento de seguranccedila que se produz quando se tem
consciecircncia dessa relaccedilatildeo posta em movimento numa dada realidade Jaacute o termo
34 Michel Foucault foi um filoacutesofo historiador das ideias teoacuterico social filoacutelogo e criacutetico literaacuterio Suas teorias abordam a relaccedilatildeo entre poder e conhecimento como eles satildeo usados como uma forma de controle social por
meio de instituiccedilotildees sociais 35Saber - Verbo Transitivo direto transitivo indireto e intransitivo 1conhecer ser ou estar informado ter
conhecimento de 2ter conhecimentos especiacuteficos (teoacutericos ou praacuteticos) 3estar convencido de ter a certeza de
(coisas presentes e futuras) prever pressentir 4ter forccedila meacuterito meio capacidade ou possibilidade de 5ter
habilidade jeito etc para 6poder explicar compreender 7ser capaz de conseguir 8guardar na memoacuteria
decorar 9indagar perguntar 10julgar considerar ter como 11fazer jus a merecer 12ter gosto de lembrar o
sabor de ter sabor ser saacutepido 13soma de conhecimentos adquiridos sabedoria cultura erudiccedilatildeo 14prudecircncia e
sensatez ao agir experiecircncia 15capacidade resultante da experiecircncia praacutetica 36Conhecimento- Substantivo masculino Ato ou efeito de conhecer 1 O ato ou a atividade de conhecer
realizado por meio da razatildeo eou da experiecircncia 11ato ou efeito de apreender intelectualmente de perceber um
fato ou uma verdade cogniccedilatildeo percepccedilatildeo 12Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato estado ou condiccedilatildeo de compreender entendimento 2 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa conhecida 21Derivaccedilatildeo por extensatildeo de
sentido Domiacutenio teoacuterico ou praacutetico de um assunto uma arte uma ciecircncia uma teacutecnica etc competecircncia
experiecircncia praacutetica 3 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia Faculdade de conhecer 4 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido
Intuiccedilatildeo pressentimento ou outra forma de cogniccedilatildeo 5 Fato de reconhecer uma coisa como adrede sabida ou
conhecida reconhecimento 6 Familiaridade (com uma coisa ou uma pessoa) adquirida pela experiecircncia 7
Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Ato ou efeito de estabelecer uma relaccedilatildeo com algueacutem em grau de
intimidade variaacutevel mas ger menor que na amizade 8 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Pessoa com quem se
estabeleceu uma ligeira relaccedilatildeo pessoal ou que pelo menos se sabe de quem se trata 9 Derivaccedilatildeo por extensatildeo
de sentido Uso formal Diacronismo antigo Relaccedilatildeo carnal do homem e da mulher 10 Derivaccedilatildeo por
extensatildeo de sentido Uso formal Diacronismo antigo Noccedilatildeo que cada um tem de sua proacutepria existecircncia e das
pessoas familiares coisas fatos do dia-a-dia consciecircncia lucidez 11 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato ou condiccedilatildeo de estar ciente ou consciente de (algo) 12 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa que se conhece de
que se sabe de que se estaacute informado ciente ou consciente []
48
ldquoconhecimentordquo eacute o ato de conhecer algo por meio da razatildeo ou da experiecircncia eacute portanto o
domiacutenio de um assunto teoacuterico ou praacutetico a ser adquirido (SILVA 2009 p 263)
Observamos que as palavras Saber e Conhecimento sugerem uma relaccedilatildeo do sujeito
com o objeto conhecido ou a ser conhecido Essa relaccedilatildeo do sujeito com o objeto ocorre pela
familiarizaccedilatildeo do sentido com o componente a ser compreendido assim Saber e
Conhecimento satildeo palavras tomadas no dicionaacuterio como sinocircnimas Ambas significam
experiecircncia ciecircncia percepccedilatildeo informaccedilatildeo e ato de conhecer
Entretanto no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras as palavras saber e conhecimento natildeo teratildeo significaccedilatildeo semelhante Isto se
confirma nos estudos de Foucault (1987) sobre a relaccedilatildeo de poder e saber O autor ressalta a
ideia de que na produccedilatildeo dos saberes haacute sempre uma dependecircncia muacutetua entre estas
categorias Para ele natildeo haacute saber sem estar tocado pelas complexas relaccedilotildees de poder mas
essas relaccedilotildees se constituem em conjunto com a produccedilatildeo dos saberes (FREITAS 2005)
Eacute nesse contexto de poder que Foucault diferencia o conceito de saber e de
conhecimento Para o pesquisador o conhecimento eacute a constituiccedilatildeo de discurso sobre classe
de objetos passiacuteveis de se conhecer ou seja cognosciacuteveis que satildeo construiacutedos pelo processo
de racionalizaccedilatildeo identificaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo dos objetos Jaacute o saber segundo o
pesquisador eacute um processo flexiacutevel que sofre mudanccedilas durante o trabalho de conhecer
enquanto o conhecimento eacute carregado e estagnado
Foucault ainda explica que o sujeito cognitivo eacute marcado por sua cultura pelos
aspectos externos e de uma memoacuteria que atravessa o tempo atraveacutes das significaccedilotildees
pensamentos e desejos no acircmbito do conhecimento (ALMEIDA 2012) Com base nesses
estudos compreendemos que os saberes dos moradores da comunidade de Pimenteiras satildeo
construiacutedos constantemente nas relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridos culturalmente
Observamos que a palavra conhecimento eacute uma verdade preacute-construiacuteda linear
imoacutevel independente do contexto no qual seraacute processada No decorrer dos questionamentos
compreendemos que a palavra conhecimento se refere a situaccedilotildees objetivas e teoacutericas que
devidamente sistematizadas datildeo lugar agrave ciecircncia A palavra saber por sua vez pode referir-se
a situaccedilotildees tanto objetivas como subjetivas tanto teoacutericas quanto praacuteticas eacute como se a palavra
conhecimento coubesse dentro da palavra saber e natildeo o contraacuterio
Para nos ajudar na compreensatildeo desses termos citamos Zubiri (1974) que em seus
estudos mostra que o homem tem um modo de experiecircncia com as coisas de uma maneira
simples e uacutenica Eacute um saber que toca no iacutentimo de cada coisa natildeo eacute a percepccedilatildeo de cada uma
de suas caracteriacutesticas eacute uma espeacutecie de sentido do ser Eacute a experiecircncia que temos com o
49
objeto colocando-o no espiacuterito Desta forma Monteil (1985 apud Charlot 2000 p 61) assim
distingue
O conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal ligada agrave atividade de um
sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas como tal eacute intransmissiacutevel estaacute
ldquosob a primazia da subjetividaderdquo Assim como a informaccedilatildeo o saber estaacute ldquosob a
primazia da objetividaderdquo mas eacute uma informaccedilatildeo de que o sujeito se apropria
Desse ponto de vista eacute tambeacutem conhecimento poreacutem desvinculado do ldquoinvoacutelucro
dogmaacutetico no qual a subjetividade tende a instalaacute-lordquo O saber eacute produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos eacute construiacutedo em ldquoquadros metodoloacutegicosrdquo
Pode portanto ldquoentrar na ordem do objetordquo e torna-se entatildeo ldquoum produto
comunicaacutevelrdquo uma ldquoinformaccedilatildeo disponiacutevel para outrem
Saber natildeo eacute soacute entender a veracidade das coisas desde os seus princiacutepios haacute
necessidade de se conquistar realmente a posse da ldquorealidaderdquo Esta posse da ldquorealidaderdquo
permite colocar o conhecimento em accedilatildeo num determinado contexto o que ocasiona a
construccedilatildeo do saber pois natildeo basta apreendermos a ldquoverdade da realidaderdquo (conhecimento) eacute
necessaacuterio construirmos a ldquorealidade da verdaderdquo (saber) (MOTA 2008)
Para Schlanger (1978 apud Charlot 2000) saber e conhecimento mantecircm uma
pertinente relaccedilatildeo de interaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto Para ele a anaacutelise parece pertinente
ao dizer que natildeo haacute ldquosaberrdquo sem relaccedilatildeo entre sujeito e objeto outros sujeitos e outras
realidades A confrontaccedilatildeo pessoal do sujeito apropriado de conhecimentos numa realidade
especiacutefica e singular implica na atividade do sujeito de produzir saberes Schlanger (1978
apud CHARLOT 2000 p 22) expotildee que ldquoO saber eacute uma relaccedilatildeo um produto e um
resultado relaccedilatildeo do sujeito que conhece com seu mundo resultado dessa interaccedilatildeordquo
Enquanto o conhecimento para o pesquisador eacute exatamente a obtenccedilatildeo de uma imagem
cognitiva interna de uma verdade independente de uma realidade estabelecida pela relaccedilatildeo
cognitiva interna e ativa do sujeito sobre o objeto Assim o objeto de conhecimento eacute
qualquer realidade externa ao indiviacuteduo que atraveacutes do ato intelectual torna-se interna
O saber por sua vez necessita de uma relaccedilatildeo natildeo soacute interna do indiviacuteduo sobre o
objeto mas uma relaccedilatildeo entre esse sujeito seu conhecimento e uma dada realidade ou
contexto Por conta disso vemos o saber como o movimento do conhecimento em contato
com um determinado contexto numa dada realidade confrontando suas muacuteltiplas faces
transcendendo o conhecimento jaacute consolidado reinventando-o recriando-o e traduzindo-o
conforme as necessidades imperadas pelas circunstacircncias (SCHLANGER 1978 apud
CHARLOT 2000)
O saber e o conhecimento satildeo formas de relacionamento com a realidade formas de
dizer de pensar de ser e de estar no mundo e com o mundo Eacute com estas explanaccedilotildees sobre o
que individualiza o saber que entenderemos os saberes da comunidade de Pimenteiras
50
saberes de um povo que durante seacuteculos lutou para alcanccedilar sua liberdade seu direito agrave terra e
seu espaccedilo na sociedade Eacute pertinente ao ser humano a sobrevivecircncia por isso para Brandatildeo
(1993 p 20 apud PELAES 2010)
Haacute a necessidade de sobrevivecircncia do homem que cria mecanismos para se adaptar aos desafios da natureza Com isso o homem desenvolve meios de sobrevivecircncia
bens de uso e bens de troca dentro de um cenaacuterio de interaccedilotildees Tais homens atuam
como indiviacuteduos sujeitos do mundo da cultura pessoas que segundo o autor satildeo
agentes culturais e atores sociais convivendo em cenaacuterios da cultura
Em vista da necessidade de sobrevivecircncia os remanescentes de Quilombola da
comunidade de Pimenteiras possuem e utilizam os saberes que foram adquiridos de seus
antepassados sobre a manipulaccedilatildeo das plantas medicinais a fim de alcanccedilar a cura de
doenccedilas Tendo em vista as dificuldades de acesso aos recursos de sauacutede eles buscaram na
natureza as espeacutecies vegetais mais apropriadas para sua alimentaccedilatildeo ou para a cura de seus
males entre as geraccedilotildees
Apesar de muitas plantas serem uacuteteis ao homem existem aquelas que produzem
substacircncias toacutexicas ou venenosas assim eacute preciso saber bem as caracteriacutesticas de cada planta
para poder usaacute-la como remeacutedio Eacute comum se ouvir dizer que o uso das plantas medicinais ldquose
natildeo fizer bem mal natildeo faraacuterdquo poreacutem natildeo eacute bem assim Do ponto de vista cientiacutefico o saber
sobre as plantas ainda eacute um campo pouco estudado e difundido no paiacutes Apesar da riqueza da
flora brasileira os estudos na aacuterea ficam mais restritos agrave antropologia
O uso inadequado das plantas poderaacute trazer efeitos indesejados e por vezes ateacute a
morte do indiviacuteduo Eacute imprescindiacutevel ter conhecimento natildeo somente das plantas mas tambeacutem
das doenccedilas para fazer a seleccedilatildeo correta da planta a ser utilizada de acordo com a forma de
uso a frequecircncia a quantidade a idade e o metabolismo de cada pessoa Enfim os saberes
das plantas e os conhecimentos cientiacuteficos podem juntos contribuir para a sauacutede e bem estar
dos moradores da comunidade de Pimenteiras aleacutem de preservar sua cultura como identidade
cultural de um povo
Da distinccedilatildeo entre saber e conhecimento iremos ao toacutepico seguinte no qual
abordaremos a comunidade tradicional e os sujeitos de saberes sobre as plantas medicinais
Quem satildeo e o que caracteriza as comunidades tradicionais Que aspectos marcam sua
identidade como sujeitos de saberes Ou seja eacute a construccedilatildeo do sujeito atraveacutes do saber
adquirido entre as geraccedilotildees
51
231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes
Entendemos que o conhecimento eacute construiacutedo a partir do acuacutemulo de experiecircncias
vivenciadas no acircmbito fiacutesico e social Nas populaccedilotildees tradicionais37
que satildeo estas
constituiacutedas por grupos comunitaacuterios humanos os quais na sua maioria vivem no meio rural
habitando determinado territoacuterio com seus haacutebitos usos e costumes o conhecimento eacute
construiacutedo a partir da relaccedilatildeo com o meio em que vivem inserindo no ecossistema
preservaccedilatildeo significaccedilatildeo ressignificaccedilatildeo valores e saberes que seratildeo transmitidos de geraccedilatildeo
em geraccedilatildeo por procedimentos educativos tradicionais
Alguns aspectos diferenciam as populaccedilotildees tradicionais das populaccedilotildees natildeo
tradicionais tais como pouca acumulaccedilatildeo de bens apropriaccedilatildeo do espaccedilo natural estrateacutegias
de sobrevivecircncia a partir do conhecimento de fontes naturais adquiridas entre as geraccedilotildees e
vivecircncias com o meio aleacutem da construccedilatildeo de um modo de vida de acordo com os ciclos dos
recursos que a natureza oferece
As comunidades tradicionais se reconhecem como pertencentes a um grupo social
particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de cada grupo Assim
as sociedades tradicionais se apresentam mais homogecircneas do que as comunidades natildeo
tradicionais pois ocupam aacutereas de pouca densidade populacional com atividades agriacutecolas
festas culturais e cultos religiosos que funcionam como fator de aglutinaccedilatildeo social
Estas comunidades desenvolvem seus saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a
natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia de seu grupo Castro (2000 p 169)
compreende que as accedilotildees praticadas pelo homem e os mecanismos de intervenccedilatildeo na natureza
satildeo frutos do acuacutemulo de experiecircncias vivenciadas no meio e de saberes reelaborados no meio
social atraveacutes das geraccedilotildees
Nesse contexto observamos que a comunidade tradicional de Pimenteiras conteacutem
saberes conduzidos entre as geraccedilotildees e preservado de acordo com os costumes culturais que
os moradores quilombolas adquiriram com o passar do tempo tais saberes satildeo denominados
de conhecimento popular
O conhecimento popular agraves vezes denominado senso comum natildeo se distingue do
conhecimento cientiacutefico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto a ser conhecido O
que os diferencia eacute a forma o modo ou o meacutetodo do conhecer (LAKATTOS MARCONI
37 Art 3ordm Decreto nordm 6040 de 7 de fevereiro de 2007 presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva instituiu a Poliacutetica
Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT)
52
1991) Saber que determinada planta necessita de uma quantidade de aacutegua pode ser um
conhecimento verdadeiro e comprovado contudo isso natildeo o torna cientiacutefico Para haver
cientificidade eacute necessaacuterio ir mais aleacutem eacute preciso conhecer a natureza dos vegetais sua
composiccedilatildeo seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espeacutecie
da outra Assim demonstra-se que a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico caminho de acesso ao
conhecimento e agrave verdade e que um mesmo objeto como uma planta um mineral ou uma
comunidade pode ser objeto de estudo tanto para a ciecircncia quanto para o homem comum ou
seja o que caracteriza o conhecimento cientiacutefico do saber popular eacute a forma de observaccedilatildeo
(BUNGE 1974)
Eacute a partir da observaccedilatildeo que os saberes sobre as ervas e plantas foram adquiridos
entre as geraccedilotildees e hoje muitas comunidades tradicionais utilizam os recursos caseiros para
curar e amenizar as doenccedilas Segundo Bunge (1974 p 20) a Ciecircncia aspira pela
racionalidade e objetividade isto soacute eacute atingido de forma muito limitada O conhecimento
popular por sua vez busca o comum o corrente e o espontacircneo de conhecer algo que soacute se
adquire no trato direto com as coisas e com os seres humanos Para o autor o conhecimento
popular caracteriza-se pelo superficial sensitivo subjetivo assistemaacutetico e acriacutetico (ANDER-
EGG 1978)
No campo do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais este eacute um
saber que acompanha o movimento histoacuterico e cultural da humanidade Transmitido
oralmente de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo esses conhecimentos sobre as plantas medicinais
constituiacuteram o alicerce do conhecimento tradicional Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o
saber tradicional sobre as plantas medicinais passou a ser desvalorizado fato que
consequentemente causou a desvalorizaccedilatildeo cultural das comunidades tradicionais que as
utilizavam
Assim valorizar esse conhecimento estaacute intimamente ligado ao fortalecimento
cultural e identitaacuterio de uma dada comunidade Segundo Gallois (2006) o saber tradicional eacute
um conhecimento que deve ser respeitado pois eacute transmitido oralmente entre as geraccedilotildees
com praacuteticas e inovaccedilotildees e natildeo como um simples repositoacuterio de conhecimentos do passado A
praacutetica de uso das plantas medicinais tanto para cura fiacutesica quanto espiritual faz parte das
relaccedilotildees que os moradores da comunidade de Pimenteiras apreenderam ao longo do tempo na
observaccedilatildeo da natureza consigo mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas
de cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita
relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais
53
Conhecer as praacuteticas ancestrais de utilizaccedilatildeo das plantas medicinais ainda existentes
na comunidade de Pimenteiras aleacutem de conduzir a uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do saber
tradicional com o conhecimento cientiacutefico eacute aspecto relevante para fortalecer a identidade de
um povo A comunidade utiliza o saber tradicional sobre as plantas medicinais nas suas
praacuteticas cotidianas cuidando da sauacutede apesar disso ela ainda necessita compreender a
importacircncia deste saber para o fortalecimento da sua identidade cultural e construir um
diaacutelogo entre os saberes existentes na regiatildeo com o conhecimento cientiacutefico
Os saberes existentes sobre as plantas satildeo sem duacutevida uma forte marca na
comunidade de Pimenteiras Sobretudo vale destacar que na grande maioria das famiacutelias tal
saber eacute transmitido pelo gecircnero feminino As mulheres adultas e idosas satildeo as que mais se
destacam no acervo de conhecimento sobre as plantas Com isso observamos que o
conhecimento das plantas medicinais eacute ancestral e natural entre as geraccedilotildees femininas ou
seja as pessoas mais velhas satildeo consideradas as ldquoguardiatildesrdquo dos saberes de cura por meio das
plantas medicinais satildeo elas que conhecem os usos das plantas e perpetuam esse
conhecimento agraves geraccedilotildees posteriores
Em consideraccedilatildeo agraves moradoras quilombolas da comunidade de Pimenteiras que
perpetuaram tatildeo valoroso conhecimento e proporcionaram preservar os saberes das plantas
medicinais trataremos no toacutepico seguinte os aspectos referentes agrave presenccedila do gecircnero
feminino nos saberes sobre a plantas da comunidade de Pimenteiras
232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais
As plantas medicinais sempre fizeram parte da histoacuteria de muitos povos na
antiguidade Muito antes de frequentar as farmaacutecias para buscar o aliacutevio de alguma dor
buscamos em nossos quintais ou nas matas uma determinada planta que por conselho dos
mais velhos poderia resolver o problema Com o passar dos tempos diversos povos
utilizaram as plantas medicinais de diferentes formas Os portugueses quando chegaram ao
Brasil jaacute desfrutavam o poder das plantas medicinais os indiacutegenas por sua vez contribuiacuteram
muito com o conhecimento que jaacute possuiacuteam das plantas usadas como remeacutedio e alimento
Desse modo existem muitas maneiras de empregar as plantas no uso medicinal tais
como chaacutes garrafadas xaropes defumadores e banhos e nessas diferentes formas de uso das
54
plantas a grande diversidade de espeacutecies vegetais na Amazocircnia traz marcas da presenccedila
feminina no domiacutenio dos saberes sobre as plantas Segundo Rodrigues (2008 p 2)
Diante dessa sociodiversidade nos contextos amazocircnicos nosso recorte de apreensatildeo
da realidade busca perceber as afirmaccedilotildees quanto aos papeacuteis sociais empregados a
mulheres e homens no domiacutenio de um saber o das plantas medicinais apreender
diante desse contexto como se apresentam as relaccedilotildees de poder em relaccedilatildeo ao
conhecimento e demonstrar a visatildeo mercadoloacutegica sobre os conhecimentos
tradicionais que se apropria da oacutetica patriarcalista reafirmadora de estereoacutetipos que
naturaliza as relaccedilotildees sociais e portanto como tais aspectos influem diretamente
nas questotildees soacutecio-culturais da sauacutede popularcoletiva e no acircmbito de poliacuteticas
sociais
As plantas medicinais satildeo usadas haacute milecircnios como fonte de cura Apesar de a Idade
Meacutedia ser conhecida como Idade das Trevas foi uma eacutepoca em que a Europa Medieval sofreu
uma forte mudanccedila nos haacutebitos alimentares Nessa eacutepoca os vegetais passaram a ser pouco
consumidos havendo preferecircncia para as carnes patildees e frutas Com isso o conhecimento
sobre as plantas ficou armazenado nas matildeos da Igreja Catoacutelica que utilizava-os apenas para a
medicina e a praacutetica espiritual
As mulheres desse periacuteodo que possuiacutessem certo conhecimento sobre as plantas
medicinais para curar as enfermidades nos familiares eram fortemente rejeitadas julgadas e
condenadas como pecadoras e hereges eram mortas agrave fogueira pois na visatildeo da Igreja quem
tivesse tal conhecimento enganava as leis divinas com rituais que iam contra os seus
preceitos Assim vaacuterias mulheres foram perseguidas e acusadas de bruxaria e por
conseguinte foram assassinadas pela praacutetica de suas crenccedilas e cultura
As mulheres foram em grande nuacutemero acusadas de bruxaria e em consequumlecircncia
desmoralizadas ou tiveram que aceitar como espuacuterios e iliacutecitos os seus saberes
aqueles que compartilhavam com outras mulheres na convivecircncia entre matildees e
filhas uma geraccedilatildeo apoacutes outra (TELLES apud RAGO FUNARI 2008 p81)
Ao observarmos a relaccedilatildeo entre a presenccedila feminina com o saber sobre as plantas
verificamos que a autoridade no conhecimento pode revelar mais que uma praacutetica cultural e
histoacuterica predominante agraves mulheres Esta praacutetica revela um contexto domeacutestico no qual o
trabalho das mulheres eacute revestido pelas relaccedilotildees de poder Em casa o saber o uso e o manejo
das plantas medicinais eacute algo predominante ao gecircnero feminino Essa observaccedilatildeo estaacute
relacionada com as diferenccedilas entre gecircneros e na divisatildeo social e sexual Pelo fato de ser
ldquoobrigadardquo a cuidar dos filhos a mulher tem por extensatildeo a preocupaccedilatildeo maior em saber dos
usos de plantas medicinais por estar diretamente ligada ao sentimento de zelo sauacutede e bem
estar da famiacutelia
55
Nesse contexto as plantas medicinais normalmente satildeo manejadas em quintais
espaccedilo considerado parte do ambiente domeacutestico e feminino assim como o cuidado com os
filhos que natildeo eacute visto como ldquotrabalhordquo Nas observaccedilotildees de Gonccedilalves a accedilatildeo de trabalhar
com as plantas estaacute relacionada ao seguinte conceito ldquoTrata-se da forma como cada cultura
lida com as diferenccedilas entre os sexos alocando a cada um deles determinados atributos e agrave
maneira como estes atributos satildeo valorados socialmenterdquo (GONCcedilALVES 1998 p 51)
Assim pode-se afirmar que eacute comum ao gecircnero feminino conhecer e saber utilizar as
plantas medicinais como forma de prevenccedilatildeo e bem estar proacuteprio e comunitaacuterio Para a
mulher ter propriedade no conhecimento das plantas medicinais estaacute relacionado com o
cuidado aos filhos afinal isto representa o principal motivo para ter aprendido com a matildee a
avoacute a tia ou a vizinha eacute uma ldquoheranccedila de saberrdquo da transmissatildeo frequente entre as geraccedilotildees
e de transmissatildeo entre as mulheres
Como bem menciona Tosi (1998) o fato de que as bruxas eram mulheres que
detinham conhecimentos eram mulheres saacutebias de conhecimentos empiacutericos que praticavam
desde eacutepocas ancestrais demonstra um pouco desse trajeto sobre o saber das plantas
medicinais que passou por geraccedilotildees femininas as quais foram tidas como guardiatildes do saber
Nas comunidades tradicionais as mulheres tambeacutem guardam tais saberes medicinais
das plantas Assim seguiremos no toacutepico seguinte tratando especificamente sobre uma
moradora da comunidade de Pimenteira uma mulher que ateacute os dias atuais traz saberes de
suas ancestrais como forma de perpetuar e preservar um conhecimento que hoje identifica um
povo
233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes
A confianccedila em alcanccedilar a cura de diversas enfermidades do corpo por meio do uso
medicinal de plantas eacute um conhecimento conservado entre as geraccedilotildees femininas na regiatildeo da
Pimenteira Avoacutes matildees filhas e netas constituem um ciacuterculo no qual os saberes tecircm sido
repassados entre as geraccedilotildees
As mulheres da comunidade de Pimenteiras vivem o costume de cuidar da casa
educar os filhos e ajudar os maridos nos trabalhos da roccedila Elas satildeo encarregadas de muitas
atividades dentre as quais o manejo da terra para auxiliar o marido nas atividades da
agricultura eacute bastante comum No entanto o contraacuterio natildeo ocorre ou seja os homens natildeo
56
cuidam dos filhos natildeo preparam as refeiccedilotildees e nem manipulam as plantas para o uso
medicinal
A heranccedila do saber sobre o uso das plantas medicinais eacute puramente feminina devido
aos cuidados que as mulheres quilombolas possuem com os filhos com a casa e com a terra
Rodrigues (2008 p 4) expotildee sobre a importacircncia dos saberes tradicionais guardados pelas
mulheres nas comunidades para a preservaccedilatildeo da cultura de um povo
[] na medida em que o conhecimento da natureza a partir dos conhecimentos
tradicionais sobre o uso de plantas medicinais eacute manipulaacutevel tanto por mulheres e
homens ambos tecircm um reconhecimento de uma cultura proacutexima da natureza que
natildeo os menospreza pelo contraacuterio em suas localidades satildeo considerados
importantes pelo saber que detecircm primordialmente no que tange a sauacutede
coletivapopular []
Os remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras vivem e lutam pelo
direito agrave terra e agrave preservaccedilatildeo dos valores e saberes da regiatildeo Sabemos que cerca de oito
milhotildees de brasileiros fazem parte de comunidades tradicionais dentre as quais uma meacutedia de
dois milhotildees38
correspondem a remanescentes de quilombo De acordo com o Decreto de nordm
604039
de 07 de fevereiro de 2007 os povos e comunidades tradicionais satildeo grupos
culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais possuindo formas proacuteprias de
organizaccedilatildeo social ocupando e usando os recursos naturais como condiccedilatildeo de sobrevivecircncia
da sua reproduccedilatildeo cultural social e religiosa com inovaccedilotildees nas praacuteticas geradas e
transmitidas pela tradiccedilatildeo Nos relatos da senhora Domingas ser quilombola eacute algo
relacionado com a natureza e a terra conforme se pode observar em um trecho transcrito de
sua fala
[] mas ser quilombola acho que eacute ser vem dessa descendecircncia e assim das
(coisas) tradicional as coisas da natureza aprender e viver com a natureza eu
acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre assim vendo os iacutendios porque
os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu acho que ser
quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as
coisas pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende
as coisas com a natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque
aquele tempo dos dos dos negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de
leitura (nada nada) MAS com a natureza eles aprendiam alguma coisa
(informaccedilatildeo verbal)40
38Informaccedilatildeo contida no Centro de documentaccedilatildeo Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES 2008) Site
httpwwwcedefesorgbr
39 Institui a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) 40Depoimento da senhora Domingas transcrito de forma grafemaacutetica em Pimenteiras outubro de 2014
57
Eacute fato que nem todos os moradores fazem uso do conhecimento sobre as plantas mas
os que preservam este saber satildeo referecircncia na comunidade para as demais localidades da
regiatildeo como eacute o caso da senhora Domingas Alves do Nascimento41
Moradora de origem
quilombola ela eacute conhecedora do poder medicinal das plantas vivendo da agricultura e das
vendas dos produtos feitos com as plantas como a garrafada multimistura e pomadas Devido
agrave forte relaccedilatildeo com a terra ela cultiva suas ervas e plantas em casa como meio de
proporcionar a sauacutede de seus familiares e de seu povo A senhora Domingas eacute uma pessoa
desinibida trabalhadora e aacutevida pelo conhecimento medicinal das plantas Na entrevista a
moradora escolheu seu quintal como espaccedilo para conversar o local possui muitas plantas
aacutervores sombra e vento forte De forma acolhedora e sorridente algo marcante em sua
personalidade Domingas demonstrou grande acolhimento e bem estar durante a conversa
pois Apesar de sua pouca escolaridade eacute uma grande contadora de histoacuterias com forccedila e
determinaccedilatildeo no que diz
Domingas luta pelos direitos de seu povo buscando recursos que viabilizem
melhorias para a comunidade sua relaccedilatildeo com a terra veio de seus ancestrais que vieram da
comunidade de Narciacutesea para por suas raiacutezes na comunidade de Pimenteiras42
Durante a
conversa Domingas falou de suas origens sua famiacutelia da Associaccedilatildeo da titulaccedilatildeo da terra de
seu trabalho na lavoura e do saber sobre as plantas Este aspecto eacute o que mais chama a
atenccedilatildeo devido ao grande conhecimento demonstrado a respeito das plantas medicinais
A moradora de Pimenteiras vive na comunidade rural haacute cerca de cinquenta anos
Durante esse tempo muitos saberes de seus antepassados sobre as plantas medicinais foram
repassados Sua avoacute materna ndash senhora Joana Pornusena dos Santos ndash e sua matildee ndash senhora
Otiacutelia Alves do Nascimento ndash eram sabedoras do uso de chaacutes para a cura de males do corpo e
da alma Com o passar dos anos o conhecimento da senhora Domingas sobre as plantas
passou a ser muito importante para a comunidade local e visualizado por cooperativas e
organizaccedilotildees como o CEDENPA e pela Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria43
A partir
41
Em entrevista realizada em 19 de outubro de 2014 a moradora de Pimenteiras Domingas em seu discurso
apresentou saberes de um povo que se manteacutem com os recursos da natureza procurando preservar o ambiente
em que vive Para realizar esta pesquisa foi necessaacuterio registrar a conversa com a senhora Domingas atraveacutes de
fichas com perguntas variadas sobre sua histoacuteria a comunidade e o uso medicinal das plantasDepois foi
indispensaacutevel a gravaccedilatildeo do som e imagem da entrevistada para na sequecircncia analisar seu discurso que foi
transcrito de forma grafemaacutetica Com esse material transcrito fizemosa anaacutelise de um discurso repleto de saberes
de um povo historicamente deixado agrave margem social
42 Pimenteiras possui este nome devido agraves grandes plantaccedilotildees de pimenta existente na eacutepoca dos avocircs de
Domingas 43
A Rede Bragantina reuacutene atualmente vinte e sete organizaccedilotildees membros que trabalham por uma cultura de
sustentabilidade a partir de novas relaccedilotildees econocircmicas afetivas de gecircnero e etnia no sentido da existecircncia
humana Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria Artes amp Sabores tem o objetivo de produzir com respeito agraves
58
desse contexto a moradora foi orientada para aprimorar seus saberes sobre as plantas fazendo
cursos de aproveitamento e utilizaccedilatildeo dos alimentos para a sauacutede
Conhecer mais e aprimorar o conhecimento sobre as plantas medicinais vai ao
encontro dos saberes adquiridos entre as geraccedilotildees de mulheres com quem Domingas
conviveu O trabalho com as plantas eacute muito importante para a moradora a ponto que hoje o
saber sobre as plantas eacute algo que identifica a comunidade de Pimenteiras No toacutepico seguinte
veremos como a comunidade atualmente eacute conhecida pela forte relaccedilatildeo dos moradores com a
terra com as tradiccedilotildees e suas praacuteticas culturais proacuteprias e portanto identitaacuterias
234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais
Tudo aquilo que eacute construiacutedo pelo ser humano incluindo os mitos os siacutembolos os
ritos todas as crenccedilas todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento de um
povo eacute o que marca as especificidades de cada comunidade ou seja sua Cultura A definiccedilatildeo
do conceito de cultura atualmente se tornou difiacutecil pois ela pode ser estudada sob diversos
pontos de vista Eacute necessaacuterio portanto escolher uma perspectiva para poder defini-la
Desse modo analisamos os estudos de Cuche (1999) que descreve o processo
evolutivo como uma questatildeo de adaptaccedilatildeo do homem de acordo com a geneacutetica do meio
ambiente natural para uma adaptaccedilatildeo cultural dos primeiros homens Segundo o pesquisador
a noccedilatildeo de cultura era compreendida no seu sentido amplo e desde seu aparecimento no
seacuteculo XVIII suscitou constantes debates contraditoacuterios com a ideia moderna da cultura da
eacutepoca fazendo oposiccedilatildeo com a noccedilatildeo de sociedade no mesmo campo significativo
Nesse aspecto Cuche (1999 p 10) relata que ldquoA cultura permite ao homem natildeo
somente adaptar-se a seu meio mas tambeacutem adaptar este meio ao proacuteprio homem as suas
necessidades e seus projetos Em suma a cultura torna possiacutevel a transformaccedilatildeo da naturezardquo
Conhecer profundamente a comunidade de Pimenteiras trouxe forte significaccedilatildeo no
campo dos estudos cientiacuteficos e principalmente no campo dos saberes populares pois
permitiu analisar os aspectos culturais que permeiam e identificam a regiatildeo A partir disso
conhecer a cultura de um povo significa conhecer e valorizar a nossa cultura como
autoafirmaccedilatildeo do que somos Examinar como foi formada a palavra o conceito cientiacutefico que
culturas agraves sinergias da natureza valorizando os agroecosistemas locais na perspectiva da seguranccedila alimentar e
desenvolvimento sustentaacutevel Veja o site httpamazoniaemredeblogspotcombr
59
dela depende localizar sua origem e evoluccedilatildeo semacircntica evidenciam assim os laccedilos que
existem entre a histoacuteria da palavra cultura e a histoacuteria das ideias Se pensada como um
conjunto de ideias valores e conhecimentos cultura traz dentro de si em primeiro lugar a
dimensatildeo do passado Muitos conhecimentos foram herdados de outras geraccedilotildees e a cada
tempo que passa mais conhecimento eacute acumulado Eacute extraordinaacuterio como a nossa memoacuteria
fica cada vez mais enriquecida pois o tempo passa e a memoacuteria cresce proporcionalmente
(CUCHE 1999) Logo eacute sensato valorizar a identidade cultural de um povo pois atraveacutes dela
alcanccedilamos as diversas histoacuterias de nossos antepassados (CUCHE 1999)
Frente a tudo que foi explanado compreendemos que a comunidade de Pimenteiras
pode ser definida como comunidade tradicional pois eacute culturalmente diferenciada Assim
nessa construccedilatildeo da identidade coletiva do grupo os siacutembolos os saberes as tradiccedilotildees estatildeo
ligados agrave reproduccedilatildeo cultural social e econocircmica da comunidade que aleacutem de tudo tem
como consequecircncia a proteccedilatildeo da biodiversidade local Ao compreenderem que os recursos
naturais satildeo esgotaacuteveis e valiosos para a sauacutede os moradores da comunidade de Pimenteiras
buscam preservar e proteger os saberes sobre as plantas medicinais a ponto de construir sua
identidade cultural nesse domiacutenio
Eacute assim que a comunidade tradicional de Pimenteiras eacute conhecida e se reconhece
como pertencente a um grupo social particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e
reconstruccedilatildeo de um grupo A comunidade remanescente de quilombola desenvolve seus
saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia
de seu grupo (CASTRO 2000) Por isso eacute necessaacuterio conhecer e respeitar os saberes
preservados na memoacuteria de um povo juntamente com o ambiente natural em que vivem
A valorizaccedilatildeo do conhecimento popular estaacute intimamente ligada ao fortalecimento
cultural e identitaacuterio da comunidade de Pimenteiras que por sua vez faz da praacutetica de uso das
plantas medicinais a simboacutelica relaccedilatildeo que os moradores desenvolveram ao longo do tempo
com a natureza com eles mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas de
cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita
relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais que constituem a identidade
cultural de um povo (BADKE 2008)
Observando os aspectos que marcam a identidade cultural da comunidade de
Pimenteiras passaremos no capiacutetulo seguinte agrave fundamentaccedilatildeo desse estudo sobre os termos
catalogados das plantas medicinais da comunidade analisando a importacircncia do legado de
identidade e cultura popular Para isto seratildeo consideradas as especificidades das plantas
medicinais diante do saber cientiacutefico e da sabedoria tradicional analisados por meio da aacutervore
60
de domiacutenio Em seguida daremos continuidadeaos estudos sobre as ciecircncias do termo e a
terminologia nas especialidades da nomeaccedilatildeo das plantas medicinais Junto a este estudo
abordaremos as particularidades da Terminologia ateacute a Socioterminologia como fundamentos
essenciais para o estudo do termo das plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
61
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Neste capiacutetulo apresentamos os fundamentos teoacutericos deste trabalho buscando os
conhecimentos sobre Liacutengua Terminologia Socioterminologia e Termo Segundo Perini
(2010 p 01-02) a liacutengua eacute ldquoum sistema programado em nosso ceacuterebro que essencialmente
estabelece uma relaccedilatildeo entre os esquemas mentais que formam nossa compreensatildeo do mundo
e um coacutedigo que os representa de maneira perceptiacutevel aos sentidosrdquo A liacutengua eacute caracterizada
como sistema de grande complexidade que envolve regras leacutexicos expressotildees e clichecircs que
se encontram enraizados na cultura Eacute por meio dela que manifestamos exteriormente nossa
capacidade humana de utilizar a linguagem
A terminologia por sua vez eacute a ciecircncia que ldquotoma o leacutexico especializado ou
temaacutetico que eacute composto pelos termos teacutecnico-cientiacuteficos como seu objeto principal de
estudos e de aplicaccedilotildees Eacute uma aacuterea que recorta do universo leacutexico os termos teacutecnico-
cientiacuteficosrdquo (KRIEGER 2011 p 443) Os estudos terminoloacutegicos atuais tecircm enfatizado a
perspectiva social dos termos assim a Socioterminologia eacute tambeacutem parte de tais estudos da
Terminologia Faulstich (1995) explica que a socioterminologia eacute uma disciplina descritiva
que estuda o termo na perspectiva linguiacutestica da interaccedilatildeo social ldquoeacute a disciplina que se ocupa
da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguumliacutesticas dos termos em diferentes tipos
de situaccedilatildeo de uso da liacutenguardquo (FAULSTICH 1995 p 1)
Para Sager (1998 apud DIAS 2000 p 90) a terminologia tida como teoria ldquoeacute um
conjunto de premissas argumentos e conclusotildees necessaacuterio para explicar o relacionamento
entre conceitos e termos especializadosrdquo Jaacute como praacutetica a terminologia ldquoeacute um conjunto de
meacutetodos e atividades voltado para coleta descriccedilatildeo processamento e apresentaccedilatildeo de termos
como produto eacute um conjunto de termos ou vocabulaacuterio de uma determinada especialidaderdquo
O termo por sua vez apresenta trecircs concepccedilotildees Segundo os estudos de Cabreacute (1995
apud DIAS 2000 p 90) tem-se a concepccedilatildeo linguiacutestica de que os termos satildeo uma forma de
saber ou seja ldquoos termos satildeo o conjunto de signos linguumliacutesticos que constituem um
subconjunto dentro do componente leacutexico da gramaacutetica de determinada pessoardquo No campo da
filosofia o termo eacute uma forma de conhecer em que ldquoa terminologia eacute um conjunto de
unidades cognitivas que representam o conhecimento especializadordquo Finalmente o termo eacute
uma forma de transferir e comunicar pois ldquoa terminologia eacute o conjunto das unidades de
expressatildeo e comunicaccedilatildeo que permitem transferir o pensamento especializadordquo
62
Cada aacuterea de conhecimento aborda seus termos de forma diferente e especializada
Assim na primeira parte desse capiacutetulo apresentaremos algumas compreensotildees sobre a
importacircncia da Liacutengua na identidade cultural dos moradores da comunidade de Pimenteiras
cuja cultura conhecemos por meio da anaacutelise da linguagem especializada sobre as plantas
medicinais No toacutepico seguinte verificaremos os aspectos sobre o conhecimento cientiacutefico e
popular a respeito das plantas de uso medicinal considerando que estas marcam e identificam
a comunidade quilombola Para isto utilizamos um organograma expondo as particularidades
de saber sobre as plantas medicinais no acircmbito cientiacutefico e popular
Na sequecircncia apresentamos a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o saber
popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras trazendo os aspectos
sobre a importacircncia da Terminologia nos estudos especializados da nomeaccedilatildeo Seguimos a
discussatildeo apresentando os pontos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos na linguagem
especializada de grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos Com isso notamos a
importacircncia de analisar a variaccedilatildeo terminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais da
comunidade de Pimenteiras
Em seguida examinamos os assuntos que passaram a ser considerados importantes
nos estudos terminoloacutegicos ndash a liacutengua no social ndash e compreendemos o funcionamento da
linguagem especializada no contexto social da comunidade tendo para isto a contribuiccedilatildeo da
Socioterminologia nos estudos dos termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
Logo depois seguimos com o assunto trazendo discussotildees sobre a necessidade de
valorizar os termos no ambiente discursivo pragmaacutetico e social propondo um diaacutelogo entre
as aacutereas do conhecimento uma vez que por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos eacute possiacutevel
valorizar e popularizar o conhecimento sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
Em seguida apresentamos o foco principal deste estudo o termo Observamos que os
estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais no processo de anaacutelise da natureza e da
descriccedilatildeo das particularidades pertencentes aos termos que eacute a base do estudo Terminoloacutegico
sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL
Ao refletirmos sobre os aspectos da Liacutengua na comunidade remanescente de
quilombola de Pimenteiras observamos que conhecer a liacutengua de um povo eacute tambeacutem
63
conhecer sua identidade Ressaltamos que a liacutengua eacute um sistema complexo e para entendecirc-lo eacute
indispensaacutevel primeiro conhecer o leacutexico pois ele reflete as heranccedilas dialetos marcas sociais
e culturais dos seus falantes Para Coelho e Mesquita (2013 p 25) a liacutengua nasceu da
necessidade de comunicaccedilatildeo entre os homens e ldquopermitiu ao ser humano interagir
verbalmente com o outro exteriorizando seus pensamentos expressando-se comunicando-se
por meio da fala da escrita e de outras formas de linguagemrdquo Segundo as autoras ldquoas
relaccedilotildees sociais estreitaram-se e as ideias a cultura as ideologias e os conhecimentos
puderam ser amplamente difundidosrdquo (COELHO MESQUITA 2013 p 25) A Liacutengua
facilita a comunicaccedilatildeo entre as pessoas e contribui para a realidade que temos hoje marcada
pela troca de conhecimento e disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees pois pessoas de uma localidade
podem conhecer a cultura de outras
A liacutengua envolve todas as accedilotildees e pensamentos humanos e possibilita ao indiviacuteduo
exercer influecircncias ou ser influenciado pelo outro desempenhar seu papel social na
sociedade relacionar-se como os demais participar na construccedilatildeo de conhecimentos
e da cultura (COELHO E MESQUITA 2013 p 25)
No campo da liacutengua percebemos que os moradores quilombolas da comunidade de
Pimenteiras apresentam grande saber sobre o uso medicinal das plantas devido ao vasto
conhecimento que seus antepassados possuiacuteam sobre a flora e a fauna Diante disso ao
nomear as coisas e o meio que os rodeiam os moradores de Pimenteiras formam e expressam
a sua histoacuteria sua cultura sua liacutengua e sua identidade Eacute a liacutengua que ao carregar valores e
ideologias imprime na accedilatildeo de nomear que eacute cercada de escolhas sociais e culturais a marca
de identidade do falante (LEIRO sd) Eacute a partir principalmente dessas concepccedilotildees que se
desenvolve uma reflexatildeo acerca das relaccedilotildees ideoloacutegicas que as denominaccedilotildees de algumas
plantas de uso medicinal podem possuir
O nome natildeo eacute dado de forma aleatoacuteria sempre quer dizer algo nomear eacute uma
relaccedilatildeo complexa com a significaccedilatildeo que denota grande polecircmica e inquietaccedilatildeo entre os
pesquisadores Assim quando pensamos em nomear e no que o nome significaraacute logo
imaginamos alguma qualificaccedilatildeo que sirva para marcar as coisas pessoas e lugares que lhes
sejam exclusivos pois os significados dos nomes organizam e classificam as formas de
perceber a realidade aleacutem de estarem ligados diretamente com a cultura de uma dada
comunidade (MOREIRA 2012)
Coelho e Mesquita (2013) explicam que na liacutengua entram constantemente leacutexicos
novos enquanto que outros caem em desuso devido agrave liacutengua estar sujeita a mudanccedilas O
conhecimento em relaccedilatildeo agraves plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras chama a
64
atenccedilatildeo porque eacute um modo de preservaacute-las jaacute que muitas das plantas utilizadas como
medicamento jaacute se perderam por natildeo existir nada escrito Para Coelho e Mesquita
Os indiviacuteduos satildeo inseridos na teia social por meio da liacutengua Eacute ela quem vai
possibilitar-lhes o contato com a cultura com as ideologias com as identidades
tornando-se um instrumento para que eles possam interagir linguiacutestica e socialmente
com seus semelhantes (2013 p 27)
A liacutengua tem grande importacircncia para a sobrevivecircncia da cultura de uma localidade
visto que eacute atraveacutes dela que se faz a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade (COELHO
MESQUITA 2013)
A transmissatildeo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo do conhecimento sobre o uso das plantas
medicinais na comunidade de Pimenteiras soacute foi possiacutevel graccedilas agrave linguagem oral Apesar
disso muitos jovens deixam de lado o conhecimento sobre as plantas Esse posicionamento
deprecia o saber local e a identidade cultural dos habitantes de Pimenteiras fator que justifica
a persistecircncia de muitos moradores antigos na preservaccedilatildeo deste saber
Desde jaacute compreendemos que a identidade cultural coletiva na qual um grupo
compartilha as mesmas atitudes as mesmas crenccedilas e os mesmos comportamentos formados
no tempo e no espaccedilo eacute forjada pela interaccedilatildeo de segmentos eacutetnicos e sociais Carvalho
(2003 natildeo paginado) aponta trecircs sentidos de identidade cultural
Na percepccedilatildeo objetiva a identidade cultural de um indiviacuteduo ou grupo define-se a
partir de um conjunto de criteacuterios determinantes a origem comum a liacutengua a
cultura a religiatildeo a psicologia coletiva a ligaccedilatildeo a um territoacuterio etc e um grupo
sem estes criteacuterios natildeo pode reivindicar uma identidade cultural autecircntica Na
percepccedilatildeo subjetiva a identidade etnocultural natildeo eacute mais que um sentimento de pertenccedila ou uma identificaccedilatildeo com uma coletividade mais ou menos imaginaacuteria Na
percepccedilatildeo mais lata a identidade de cada indiviacuteduo natildeo se restringe ou circunscreve
agrave identificaccedilatildeo com um grupo determinado mas eacute sim o somatoacuterio de todos os
valores adquiridos ao longo da existecircncia e estaacute em constante construccedilatildeo e
transformaccedilatildeo
Eacute pela coletividade que podemos observar que a comunidade de Pimenteiras busca
preservar sua identidade e conhecimento pelas plantas medicinais por meio dos moradores
mais antigos Mas eacute tambeacutem por meio dos mais jovens que novos saberes satildeo inseridos na
comunidade como forma de renovaccedilatildeo da cultura quilombola e consequentemente da
liacutengua pois segundo Hjelmslev (1975 p 1)
A linguagem eacute o instrumento graccedilas ao qual o homem modela seu pensamento seus
sentimentos suas emoccedilotildees seus esforccedilos sua vontade e seus atos o instrumento
graccedilas ao qual ele influencia e eacute influenciado a base uacuteltima e mais profunda
da sociedade humana
65
Diante disto entendemos que a identidade cultural define cada um de noacutes e
particularmente na comunidade de Pimenteiras eacute o que diferencia e distingue os moradores
da regiatildeo Nesse contexto o conhecimento popular sobre as plantas medicinais eacute algo que traz
a marca de um povo que preserva e utiliza seus saberes Assim apresentamos na seccedilatildeo
seguinte os aspectos relacionados ao conhecimento das plantas medicinais no acircmbito do
conhecimento cientiacutefico e popular utilizando como recurso de melhor visualizaccedilatildeo o
organograma sobre as plantas medicinais
311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular
Ao utilizarmos as plantas para fins diversos relembramos de nossos antepassados
mais distantes que usavam as plantas como recurso para a cura de doenccedilas Sabemos das
inuacutemeras funccedilotildees que elas podem assumir desde alimentaccedilatildeo ateacute o uso em construccedilotildees
vestuaacuterio e como jaacute foi citado para fins medicinais Por muito tempo as antigas civilizaccedilotildees
usufruiacuteram o grande poder que as plantas possuem Segundo relatos de Tomazzoni et al
(2006 natildeo paginado) os hebreus egiacutepcios e assiacuterios cultivavam plantas medicinais desde o
ano 2300 aC adquirindo durante suas expediccedilotildees vaacuterias espeacutecies das quais se produziam
medicamentos para males diversos
Com o passar dos tempos o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais foi
transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e hoje mesmo com o avanccedilo na medicina moderna
muitos ainda utilizam desse saber sobre as plantas no tratamento de doenccedilas Por isso natildeo se
pode deixar agrave margem o conhecimento tradicional sobre as plantas de uso medicinal pois essa
forma de conhecimento faz parte da nossa cultura Construiacutemos e desenvolvemos o
conhecimento em nossas praacuteticas diaacuterias assim denomina Borda (1984 p 48) ldquoconhecimento
praacutetico empiacuterico que ao longo dos seacuteculos tem possibilitado enquanto meios naturais
diretos que as pessoas sobrevivam criem interpretem produzam e trabalhemrdquo
Todas as informaccedilotildees acumuladas ao longo do tempo por uma determinada
comunidade em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas seus valores e sua cultura vivenciada e
experimentada satildeo consideradas em contexto do conhecimento tradicional Sendo variaacutevel e
abalaacutevel o saber popular eacute modificado e reformulado pela comunidade em que estatildeo inseridos
(KOVALSKI et al 2010) Segundo Diegues et al (2000 p 30) o conhecimento tradicional eacute
66
ldquocomo o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural sobrenatural
transmitido oralmente de geraccedilatildeo em geraccedilatildeordquo
Para Dickmann e Dickmann (2008 p 70) ldquoo saber popular eacute entendido como aquele
adquirido nas lutas que natildeo estaacute escrito nos livros aquele que eacute fruto das vaacuterias experiecircncias
vividas e convividas em tempos e espaccedilos diversos na histoacuteria do povordquo O conhecimento
popular estaacute relacionado com o povo com o individual que eacute transmitido entre as geraccedilotildees
por experiecircncias proacuteprias recebe este nome popular por natildeo haver uma explicaccedilatildeo digamos
ldquoloacutegicardquo de como as coisas funcionam de como uma pessoa sabe que tem de ser feito assim
porque viu algueacutem fazendo e deu certo sem saber explicar ldquocientificamenterdquo como funciona
O conhecimento popular seria uma espeacutecie de educaccedilatildeo informal e suas principais
caracteriacutesticas satildeo a superficialidade sensibilidade subjetividade e independecircncia do valor do
conhecimento criacutetico Jaacute o conhecimento tradicional estaacute relacionado com a tradiccedilatildeo de um
grupo envolvendo saberes empiacutericos com praacuteticas crenccedilas e costumes passados de pais para
filhos dentro desse grupo (KOVALSKI et al 2010)
Diante dos conceitos apresentados podemos compreender que a valorizaccedilatildeo dos
conhecimentos tradicionais e populares de um determinado grupo eacute muito importante pois
aleacutem de resgatar os saberes quase esquecidos no tempo proporciona tambeacutem o
fortalecimento e a difusatildeo destes saberes para a sociedade Assim vale citar uma passagem de
Chassot na qual o autor resgata tais saberes e teacutecnicas utilizadas por pessoas simples mas que
possuem um valor inestimaacutevel
[] o pescador solitaacuterio que encontramos em silenciosas meditaccedilotildees sabendo onde
e quando deve jogar a tarrafa tambeacutem tem saberes importantes A lavadeira que
sabe escolher a aacutegua para os lavados tem os segredos para remover manchas mais renitentes ou conhece as melhores horas de sol para o coaro A parteira que os anos
tornaram doutora conhece a influecircncia da lua nos nascimentos e tambeacutem o chaacute que
acalmaraacute as coacutelicas do receacutem nascido A benzedeira natildeo apenas faz rezas maacutegicas
que afastam o mau-olhado ela conhece chaacutes para curar o cobreiro que o
dermatologista diagnostica como herpes-zoster O explorador de aacuteguas que indica o
local propiacutecio para se abrir um poccedilo ante o vergar de sua forquilha de pessegueiro
tem conhecimentos de hidrologia que natildeo podem ser simplesmente rejeitados (2006
p 221)
Outras formas de conhecimento foram por muito tempo ignoradas pelos cientistas
hoje a situaccedilatildeo eacute diferente Para Marconi e Lakatos (2005) ldquo[] a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico
caminho de acesso ao conhecimento e agrave verdaderdquo nos estudos de Posey (1987) e em
pesquisas feitas pelos Etnoecoacutelogos44
e Etnobioacutelogos45
sobre as comunidades tradicionais
44 A Etnoecologia eacute uma nova disciplina hiacutebrida transdisciplinar e poacutes-normal que valoriza os conhecimentos
milenares das comunidades sobre a natureza Para maior conhecimento pesquisar no site
67
observamos que haacute um resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes populares que chamam cada vez
mais a atenccedilatildeo com novas reflexotildees sobre os paradigmas jaacute existentes provocando com isso
resultados positivos para o conhecimento cientiacutefico
O fato eacute que os estudos recentes sobre o conhecimento popular tecircm ganhado
importacircncia para o nosso proacuteprio benefiacutecio Assim Silva (2002 p 26) expotildee que ldquo[] os
estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular tecircm merecido atenccedilatildeo
cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm oferecendo agraves ciecircncias do
homemrdquo
No que concerne ao conhecimento cientiacutefico este eacute consagrado por passar por
inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute ser considerada ciecircncia Nas palavras de Lopes (1999) o
conhecimento cientiacutefico trata-se de
Todo conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por
excelecircncia sem influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e
provado a partir dos dados da experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (1999 p106)
Nas explanaccedilotildees de Cunha (2007) os saberes populares podem acolher com a
mesma intensidade explicaccedilotildees diversas de um mesmo fenocircmeno por um mesmo grupo de
pessoas ou comunidade pois eacute atraveacutes da observaccedilatildeo que as diferenccedilas se fazem tecircnues entre
o conhecimento popular e o cientiacutefico
No que concerne ao conhecimento referente ao mundo vegetal o uso de plantas com
propriedades terapecircuticas vem de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo devido ao contato com o meio ambiente
que as famiacutelias possuiacuteam Segundo Newall (2002) os fatores que influenciam o uso das
plantas com fins terapecircuticos vecircm do baixo niacutevel de vida da populaccedilatildeo junto ao alto custo
dos medicamentos Com isso os saberes acumulados durante seacuteculos satildeo mantidos na praacutetica
fitoteraacutepica
Contudo o uso popular das plantas natildeo eacute suficiente para legitimar sua eficaacutecia e
seguranccedila como medicamento Este uso tem de passar pela experimentaccedilatildeo comprovada
diante dos benefiacutecios que possam conter (BADKE 2008)
No entanto o uso medicinal das plantas eacute uma das praacuteticas mais antigas no trato de
enfermidades no homem e isso proveacutem do conhecimento popular Para Diegues e Arruda
httpwwwantropologiasocialcombra-etnoecologia-uma-ciencia-pos-normal-que-estuda-as-sabedorias-
tradicionaispdf 45 A Etnobiologia eacute o estudo cientiacutefico da dinacircmica de relacionamentos entre as pessoas e seus grupos culturais e o meio ambiente desde o passado ateacute o tempo presente Para maior aprofundamento no assunto visitar o site
httpwwwetnobiologiaorgindexphp
68
(2001) o conhecimento tradicional soacute pode ser interpretado dentro do contexto cultural em
que eacute gerado Entretanto vemos que a modernidade traz novos modos de vida que estatildeo
desvinculados das tradiccedilotildees populares Com as grandes mudanccedilas entre as realidades
culturais o contato com o outro passa a ser visto de forma diferente o outro pode ser
percebido como superior e a cultura de um grupo pode ser desvalorizada omitida negada e
esquecida (CASTELLS 1999)
Na comunidade de Pimenteiras os uacutenicos recursos medicinais vecircm do conhecimento
tradicional do saber das plantas que aleacutem de proporcionar benefiacutecios agrave sauacutede do corpo e
tambeacutem da alma possui um significado cultural para a comunidade No entanto a
continuidade dessas praacuteticas estaacute ameaccedilada por diversos fatores ligados ao dinamismo social
agrave economia e agrave cultura externa
Contudo eacute necessaacuterio indagar qual a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o
saber popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras O que eacute
Terminologia Buscamos no toacutepico seguinte responder tais questionamentos direcionados ao
campo de conhecimento cientiacutefico na seara dos estudos terminoloacutegicos a serem explanados
sobre as plantas medicinais
32A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS ESPECIALIZADOS
Segundo a anaacutelise de Vygotsky (1896-1934) uma palavra que natildeo representa uma
ideia eacute algo morto da mesma forma que uma ideia natildeo incorporada em palavras natildeo passa de
uma sombra Nomear significa pois dar vida ao ser nomeado Haacute muito tempo o homem cria
e utiliza as palavras para nomear conceitos objetos e processos nas diversas aacutereas do
conhecimento Ao nomear as realidades que nos cercam cria-se um universo que passa a ser
desvendado pela linguagem Nessa construccedilatildeo do real a liacutengua revela aspectos que marcam
os sujeitos produzindo distinccedilotildees que particularizam os objetos e identificam os traccedilos da
cultura de um povo
Refletindo sobre os aspectos da linguagem de um povo podemos analisar diferentes
termos utilizados para nomear e particularizar o objeto nomeado Nesse acircmbito os estudos
cientiacuteficos direcionados agrave Terminologia crescem cada vez mais em pesquisas na aacuterea da
linguagem especializada O leacutexico de uma liacutengua eacute uma forma de registrar o conhecimento do
mundo a nossa volta ao darmos nomes agraves coisas identificamos as semelhanccedilas e os traccedilos
69
distintivos que individualizam cada objeto a ser nomeado por meio de estruturas que o
homem cria no mundo atraveacutes das palavras ou termos46
Entretanto agrave medida que vivemos
novas realidades surgem e satildeo criadas ampliando assim o leacutexico com novas dimensotildees
impossiacuteveis de serem registradas e descritas por meio de um dicionaacuterio
Diante dos questionamentos sobre a nomeaccedilatildeo surge como ciecircncia a Terminologia
inicialmente frente agrave necessidade de uma padronizaccedilatildeo da linguagem ou seja de
normatizaccedilatildeo da Liacutengua devido ao grande desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico ocorrido
no decorrer da histoacuteria humana A Terminologia conforme afirma Rondeau eacute a linguagem
especializada que haacute seacuteculos faz parte da linguagem humana
A terminologia natildeo eacute um fenocircmeno recente Com efeito tatildeo longe quanto se
remonte na histoacuteria do homem desde que se manifesta a linguagem nos
encontramos em presenccedila de liacutenguas de especialidade eacute assim que se encontra a
terminologia dos filoacutesofos gregos a liacutengua de negoacutecios dos comerciantes cretas os
vocaacutebulos especializados da arte militar etc (RONDEAU 1984 apud KRIEGER
FINATTO 2004 p 24)
Assim observa-se que na Liacutengua o ato de nomear tem sua forma natural de ser e
por isso segue rigorosamente sua natureza de fazer Os nomes mudam porque sempre se pode
acrescentar ou tirar letras de sua forma Contudo todos os nomes vecircm de acordos ou
convenccedilotildees entre os falantes sendo que em cada grupo social e cultural os nomes variam de
acordo com o que estiver convencionado pelo grupo Deste modo os nomes variam de povo
para povo de falante para falante porque seguem a tradiccedilatildeo natural de se nomear (PLATAtildeO
1973)
O modo como organizamos as nossas relaccedilotildees e comportamentos numa comunidade
especiacutefica pode ser percebido dentro do contexto social em que a linguagem eacute aplicada das
escolhas que fazemos dos nossos valores culturais das nossas normas de comportamento e
ateacute mesmo na nossa proacutepria filosofia de vida Eacute atraveacutes dos estudos terminoloacutegicos que
podemos analisar o modo como cada pessoa cada grupo social cada comunidade molda a
linguagem ao lado de suas bases culturais discursos e objetivo na comunicaccedilatildeo
Perante agraves variantes dentro da Liacutengua a terminologia em todo seu desenvolvimento
e reconhecimento de valor apresenta hoje um estudo sobre a comunicaccedilatildeo especializada
dentro do contexto social no qual privilegia a variaccedilatildeo dos termos como constitutivos do
discurso este estudo recebe o nome de Socioterminologia
46 O termo eacute o elemento linguiacutestico que constitui a expressatildeo lexical dos saberes especializados Eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da produccedilatildeo do saber ou seja a univocidade da comunicaccedilatildeo especializada eacute
favorecida pelo uso dos termos
70
A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma
terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua
aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das
praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis
porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam
entre trabalho e linguagem (GAUDIN 1993 p 216)
Diante das exposiccedilotildees feitas sobre a Terminologia seguiremos no toacutepico abaixo com
os pontos relacionados a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada campo este de
grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos A partir dele observamos qual a
importacircncia de analisar a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras
321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada
Sabendo que o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e coletiva num
processo no qual o sujeito interage com a realidade as pessoas e o ambiente sociocultural
Faulstich (1995 p 281) afirma que no campo da linguagem ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo
no universo da terminologia revelam peculiaridades proacuteprias a serem estudadas pela
disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para a sistematizaccedilatildeo de termos e de
variantesrdquo
Percebendo que a linguagem especializada natildeo eacute uma liacutengua artificial e sim uma
realizaccedilatildeo da liacutengua natural que possui todas as particularidades pertencentes a qualquer
liacutengua viva observou-se que as diferenciaccedilotildees ocorridas na linguagem vecircm da diversidade
dos discursos na liacutengua e na cultura de cada povo No que concerne ao termo linguagem
especializada Finatto explica que
Uso o termo linguagem especializada e natildeo ldquolinguagem de especialidaderdquo por
entender que natildeo haveria uma ldquoposserdquo estrita dessa linguagem pelo usuaacuterio ou pela
aacuterea de saberconhecimento Entendo que eacute a linguagem que se faz diferenciada ela
se altera em alguns de seus formatos pela accedilatildeo dos sujeitos envolvidos e pelas condiccedilotildees pragmaacutetico-linguumliacutesticas e situacionais da comunicaccedilatildeo entre profissionais
(FINATTO 2004 p 342)
Quanto agrave existecircncia de variantes terminoloacutegicas Faulstich (2001 p 22) defende que
dependendo da funccedilatildeo realizada nos contextos o termo pode assumir diversos valores
71
ldquoConsideramos mais uma vez que variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a
comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica faz do termordquo (FAULSTICH
2OO1 p 22)
Faulstich (2001 p 21) explica que a Socioterminologia eacute necessaacuteria para analisar os
termos variantes dentro de uma metodologia particular Para a autora a Socioterminologia jaacute
era prenuacutencio para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de
natureza social Em suas pesquisas em 1995 e em estudos posteriores em 1996 e 1998
apresenta os fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos da variaccedilatildeo em terminologia Contudo eacute
somente em 1999 que a pesquisadora propotildee uma teoria da variaccedilatildeo com base numa nova
proposiccedilatildeo de anaacutelise do termo sob a perspectiva sincrocircnica e diacrocircnica
Segundo a pesquisadora as variantes terminoloacutegicas classificam-se de acordo com
sua natureza linguiacutestica e ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas variantes eacute tarefa da socioterminologia
cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da diversidade de termos que ocorrem nos planos
vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo (FAULSTICH 2006 p 29)
Seguindo um modelo funcionalista que tem como objeto cientiacutefico descrever e
explicar os proacuteprios fenocircmenos linguiacutesticos Faulstich (1996 p 1 apud CRUZ 2013 p 32)
explica que no exame da funcionalidade socioterminoloacutegica no qual a base de dados eacute a
linguagem especializada a variaccedilatildeo social do termo ocorre nos diversos niacuteveis hieraacuterquicos
do discurso cientiacutefico (CRUZ 2013 p 32)
Cruz (2013 p 35) explica que ldquoa variaccedilatildeo ocorre pela accedilatildeo do movimento gradual
do termo no tempo e no espaccedilo provocada pela funccedilatildeo de uma dada variaacutevelrdquo Observando
todos esses aspectos Faulstich (1998 p 13) amplia a tipologia das variantes trazendo assim
as variantes concorrente47
as variantes coocorrentes48
e as variantes competitivas49
Nesse
campo Cruz (2013 p 34) expotildee que
As variantes terminoloacutegicas concorrentes no qual se inscrevem os dois grupos de
tipologias apresentados anteriormente a saber as variantes terminoloacutegicas linguiacutesticas e as variantes terminoloacutegicas de registro as variantes terminoloacutegicas
coocorrentes e as variantes terminoloacutegicas competitivas
Ao compreender as diferentes variaccedilotildees dentro dos diversos discursos da Liacutengua
Cruz (2013) explica que para a construccedilatildeo da Teoria da Variaccedilatildeo em Terminologia Faulstich
47 Tambeacutem chamada de ldquoVariante formalrdquo as variantes concorrentes satildeo aquelas que podem concorrer entre si e
permanecer como tais no estrato ou que podem concorrer para a mudanccedila 48As variantes coocorrentes ou ldquoSinoniacutemias terminoloacutegicasrdquo satildeo aquelas que tecircm duas ou mais denominaccedilotildees
para um mesmo referente 49 ldquoEmpreacutestimos linguiacutesticosrdquo ou variantes competitivas satildeo aquelas que relacionam significados entre itens
lexicais de liacutenguas diferentes quer dizer itens lexicais de uma liacutengua B preenchem lacunas de uma liacutengua A
72
(2001 p 54) levou em conta que a unidade terminoloacutegica o termo ldquopode assumir diferentes
valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha nos contextos de
ocorrecircnciardquo Com efeito o termo seraacute funcional dentro de uma linguagem especializada
porque assumiraacute uma funccedilatildeo especiacutefica de determinado valor de acordo com o contexto de
uso Sob um ponto de vista socioterminoloacutegico Faulstich restaura a ideia de que a variaccedilatildeo eacute
tambeacutem um fenocircmeno terminoloacutegico e que o seu estudo deve ser desenvolvido no acircmbito da
terminologia (CRUZ 2013 p 39-40)
Compreendendo que eacute na linguagem que ocorre frequentemente a variaccedilatildeo
terminoloacutegica no que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais observamos que os
diferentes fatores sociais culturais e histoacutericos interferem na variaccedilatildeo terminoloacutegica
reafirmando um caraacuteter especiacutefico na linguagem de uso dos moradores da regiatildeo de
Pimenteiras Ao estudar as unidades terminoloacutegicas de um determinado domiacutenio Faulstich
(2006 p 27) explica que as condiccedilotildees sociais em que a comunicaccedilatildeo dessas unidades ocorre
seratildeo estudadas pela Socioterminologia
Para falar de terminologia em sentido mais estrito quer dizer de terminologia como
disciplina que sistematiza termos e conceitos eacute preciso falar tambeacutem do discurso de
onde proveacutem Neste caso excetuando o linguajar corriqueiro que como jaacute se disse
apresenta grande quantidade de terminologias usadas no dia-a-dia eacute preciso
considerar que pelo menos trecircs discursos estatildeo na base da produccedilatildeo terminoloacutegica
isso porque nenhum termo eacute usado fora da situaccedilatildeo discursiva em que eacute criado
Assim sendo discursos de diversas naturezas como o cientiacutefico o teacutecnico e o de
vulgarizaccedilatildeo satildeo a fonte natural de onde emergem os termos usados nas
comunicaccedilotildees entre profissionais Muitos desses termos entram vulgarizados no leacutexico comum por meio dos mais diversos recursos como a metaacutefora a elipse a co-
referecircncia entre outros sem por isso perderem o sentido de base Eacute este sentido
que ativa o senso comum e difunde o conceito original
O movimento do termo na linguagem especializada eacute explicado pela
Socioterminologia que tem como base a variaccedilatildeo do termo no campo social que antes era
visto como invariaacutevel Nesse sentido a variaccedilatildeo e as mudanccedilas na sociedade provocam
transformaccedilotildees no termo que eacute gerado usado e modificado
Faulstich (1995 p 7) valoriza a Socioterminologia como uma nova abordagem para
anaacutelise do termo na comunicaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica Contudo adverte que a
Socioterminologia ldquonatildeo eacute de fato uma disciplina derivada da sociolinguiacutestica poreacutem natildeo se
pode negar que eacute a visatildeo mais flexiacutevel da sociedade e da comunidade que conduz os
especialistas em terminologia a esse novo percursordquo Diante disso em sua anaacutelise a
pesquisadora acrescenta que
73
Como ramo da terminologia a socioterminologia eacute um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos
a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da
elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a
sociedade (2006 p 30)
Sabendo que os termos da linguagem especializada estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo seja no
tempo espaccedilo ou na sociedade a variaccedilatildeo nos estudos terminoloacutegicos ndash por exemplo os
termos de uso popular sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras ndash passa a ser
reconhecida como fenocircmeno natural descrita e analisada de forma cientiacutefica pela
Socioterminologia Perceber como os termos sobre as plantas medicinais passam pela
variaccedilatildeo de seus elementos eacute tambeacutem entender a cultura histoacuteria e identidade de um povo
pois eacute por meio do estudo da variaccedilatildeo dos termos de Pimenteiras que compreendemos as
constantes mudanccedilas e evoluccedilotildees que acontecem com os moradores da regiatildeo trazendo assim
o entendimento sobre os domiacutenios de especialidade na Liacutengua que distinguem a trajetoacuteria
identitaacuteria dos quilombolas
Diante do que foi explanado ateacute aqui examinaremos na seccedilatildeo seguinte como as
questotildees ocorridas no acircmbito social passaram a ser consideradas relevantes nos estudos
terminoloacutegicos ou seja a necessidade de compreender o funcionamento da linguagem
especializada no contexto social da comunidade de Pimenteiras tendo a contribuiccedilatildeo da
Socioterminologia nesse estudo sobre os termos das plantas medicinais
33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL
A anaacutelise dos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade
de Pimenteiras por via dos estudos socioterminoloacutegicos se deu a partir da necessidade de
compreender como a liacutengua funciona no contexto na comunidade pois observamos que toda
sociedade se encontra em constante transformaccedilatildeo e com ela a linguagem eacute vista como uma
das mais fortes interventoras nos comportamentos sociais
Sabendo que a Socioterminologia privilegia os aspectos sociais da linguagem de
especialidade e preocupa-se com os aspectos sociais e variacionista da liacutengua ou melhor com
o uso real da linguagem especializada Faulstich apresenta a Socioterminologia como um
ramo da Terminologia que
74
Se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as
circunstacircncias da elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a
terminologia e a sociedade (2006 p 29)
A Socioterminologia se baseia na observaccedilatildeo do funcionamento da linguagem e no
estudo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos termos Com a posiccedilatildeo de disciplina de
caraacuteter teoacuterico e natildeo somente de um meacutetodo analiacutetico aplicado a Socioterminologia contribui
para o desenvolvimento de pesquisas teoacuterico-praacuteticas que levem em conta o termo e suas
variantes Como praacutetica do trabalho terminoloacutegico a Socioterminologia segundo Faulstich
(1995) fundamenta-se na anaacutelise das condiccedilotildees de circulaccedilatildeo do termo no funcionamento da
linguagem Com caraacuteter descritivo a Socioterminologia estuda o termo sob o aspecto da
linguiacutestica na interaccedilatildeo social no qual sua pesquisa deve ter o auxiacutelio dos criteacuterios da
variaccedilatildeo e da mudanccedila dos termos no meio social como tambeacutem dos princiacutepios etnograacuteficos
que trazem os conceitos interacionistas entre os membros da sociedade No contexto da
variaccedilatildeo terminoloacutegica Faulstich (1995) explica que
O termo perde cada vez mais sua caracteriacutestica de entidade uniacutevoca em favor de
uma interpretaccedilatildeo variacionista que considera as diversidades de comunicaccedilatildeo entre
pessoal de direccedilatildeo de setores administrativos de setores de pesquisa de produccedilatildeo e
de comercializaccedilatildeo dentro das empresas o meio mais adequado para a descriccedilatildeo dos
termos cientiacuteficos e teacutecnicos
Essa interpretaccedilatildeo socioterminoacutelogica vem da etnografia que tem por base o caraacuteter
interacionista ou seja o engajamento entre as pessoas e a influecircncia muacutetua de uns para com
os outros no contexto social Faulstich (1995) explica que ao registrar as variaccedilotildees ocorridas
no campo social deve-se levar em conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico
em que os termos circulam
Diante dos conceitos explanados sobre os aspectos da variaccedilatildeo observa-se que a
Socioterminologia focaliza os dados terminoloacutegicos na pluralidade da liacutengua constituindo
normas que evidenciam o uso da variaccedilatildeo Assim Faulstich (2006) expotildee que ldquoas variantes
decorrem de uso em contextos discursivos de diferentes niacuteveis do movimento da liacutengua no
percurso histoacuterico de empreacutestimos de usos regionais entre outras categorias desde que
mantenham o significado implicadordquo
Observamos assim que a Socioterminologia assume um caraacuteter descritivo na
linguagem especializada em uso dando maior ecircnfase agrave comunicaccedilatildeo que traz em seu contexto
manifestaccedilotildees discursivas que necessitam dos elementos da variaccedilatildeo (GAUDIN 1993)
Segundo Barros (2004 p 69) o pesquisador Gaudin (1993) expotildee que eacute fundamental para a
75
Socioterminologia levar em consideraccedilatildeo o uso dos termos e situar a linguagem especializada
em seu contexto social Desse modo ldquoa praacutetica terminoloacutegica eacute inseparaacutevel tanto do
conhecimento do espaccedilo da accedilatildeo onde ela se daacute quanto das praacuteticas de linguagem que visam
modificar ou assegurarrdquo (GAUDIN 1993 p 212 apud BARROS 2004 p 69)
Nas pesquisas de Faulstich (1995) o termo em estudos anteriores deveria ser uma
unidade denotativa sem relaccedilotildees sinoniacutemicas ou polissecircmicas Hoje a praacutetica terminoloacutegica
demonstra que um mesmo conceito poderaacute ser expresso por termos que apresentem variaccedilotildees
sejam elas morfoloacutegicas regionais ou socioprofissionais Eacute este o princiacutepio subjacente agrave
Socioterminologia conforme exposto pela pesquisadora
A socioterminologia eacute portanto um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o
conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na
planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da elaboraccedilatildeo
desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a sociedade
(FAULSTICH 2006)
Nos estudos socioterminoloacutegicos como jaacute foi mencionado a base eacute a anaacutelise das
condiccedilotildees de funcionamento dos termos como elementos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dentro
de um sistema linguiacutestico e socialTais elementos foram adquiridos por meio dos princiacutepios da
sociolinguiacutestica sob a perspectiva da variaccedilatildeo e dos princiacutepios etnograacuteficos que vem da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo social Com caraacuteter descritivo e social a Socioterminologia defende
uma variaccedilatildeo sociodiscursiva na linguagem terminoloacutegica Segundo Faulstich (2001 p 22)
ldquoas variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social
linguumliacutestica e geograacutefica fazem do termordquo Nesse acircmbito a comunicaccedilatildeo deve ser observada in
vivo devido agrave funccedilatildeo do contexto social pragmaacutetico e discursivo no qual os termos circulam
isto se opotildee intensamente ao condicionamento in vitro imposto pela teoria wusteriana
Analisamos assim que a base dos estudos socioterminoloacutegicos estaacute na variaccedilatildeo e na
etnografia de ordem interativa ou seja os termos catalogados sobre as plantas medicinais da
comunidade de Pimenteiras foram analisados nos diferentes niacuteveis sociais e culturais em que
ocorrem Verificamos que na linguagem especializada sobre as plantas medicinais os termos
deixam de ser uma unidade uniacutevoca para serem meditados na interpretaccedilatildeo variacionista em
que a comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade eacute motivada por diferentes termos para
um mesmo conceito ou por vaacuterios conceitos para um mesmo termo
Diante de tais aspectos precisamos conhecer e analisar os contextos sociais
religiosos culturais de gecircnero e da identidade quilombola nos quais a linguagem ocorre
tomando como foco os saberes medicinais sobre as plantas da regiatildeo respeitando e analisando
76
por meio dos estudos socioterminoloacutegicos os termos catalogados pelos moradores sem
interferir no estado natural desse objeto de estudo a fim de garantir a fidelidade dos dados e
dos resultados alcanccedilados na pesquisa de campo A Socioterminologia eacute pois uma ciecircncia
que reconhece a variaccedilatildeo terminoloacutegica
A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma
terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua
aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das
praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis
porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam
entre trabalho e linguagem (GAUDIN apud FAULSTICH 2006 p216)
Compreendendo que a variaccedilatildeo eacute um fator universal da linguagem humana e que
esse mesmo fator tambeacutem estaacute presente na linguagem especializada verificamos em Gaudin
(1993 p 16) que ldquoa socioterminologia pode levar em conta o real do funcionamento da
linguagem e restituir toda sua dimensatildeo social agraves praacuteticas linguageiras concernentesrdquo Apoacutes
essas discussotildees notamos a necessidade de valorizar os termos no ambiente discursivo
pragmaacutetico e social em que satildeo produzidos trazendo um diaacutelogo entre as aacutereas de saber Eacute
por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos que podemos valorizar e divulgar o conhecimento
popular sobre as plantas medicinais dos moradores da comunidade de Pimenteiras assunto
este que apresentamos no toacutepico seguinte
331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da Socioterminologia
Compreendemos que o conhecimento eacute uma expressatildeo utilizada para demonstrar
toda a experiecircncia adquirida ateacute o presente momento na histoacuteria do ser humano Somos a
soma das invenccedilotildees pensamentos criaccedilotildees da mente humana Soacutecrates (470-399 aC apud
PESSANHA 1980) jaacute dizia que o verdadeiro conhecimento vem de dentro de noacutes que natildeo eacute
encontrado apenas nos documentos mas tambeacutem nos processos e nas praacuteticas dos grupos
humanos que por meio das experiecircncias acumuladas entre as geraccedilotildees aumentam a
produtividade e conquista de novas oportunidades de conhecer
Etimologicamente a palavra conhecimento eacute derivada do latim cognitio que
significa ato ou accedilatildeo de aprender Nesse sentido aprender eacute a capacidade de absorvermos
atraveacutes dos sentidos as experiecircncias externas e a partir delas acrescentar novos
77
conhecimentos Na medida em que evoluiacutemos percebemos que o conhecimento eacute o meio que
processa o envolvimento humano com os dados e informaccedilotildees dessa accedilatildeo de conhecer que eacute
tatildeo fundamental a todos noacutes pois que algueacutem deu o conhecimento a um contexto a um
significado a uma interpretaccedilatildeo que refletiu sobre o saber e acrescentou a ele sua proacutepria
sabedoria
A abrangecircncia que o termo ldquoconhecimentordquo possui eacute muito importante para
compreendermos nossa proacutepria vivecircncia de conhecer o mundo que nos rodeia Diante desse
contexto observamos que existem definiccedilotildees diferentes para cada campo do conhecimento
Tomando os estudos de Marcondes (2001) percebemos os seguintes tipos de conhecimento
O Conhecimento Cientiacutefico que vem das leis e sistemas que explicam de modo
racional com base na experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo investigaccedilatildeo e na loacutegica sistemaacutetica do que
esta sendo observado Lopes (1999 p 106) escreve que o conhecimento cientiacutefico eacute ldquotodo
conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por excelecircncia sem
influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e provado a partir dos dados da
experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e experimentaccedilatildeordquo Esta aacuterea do conhecimento eacute
extremamente analiacutetica e objetiva Tendo relaccedilatildeo com a racionalidade suas anaacutelises satildeo
importantes no processo de construccedilatildeo do saber cientiacutefico de forma que suas caracteriacutesticas
se tornam praticamente uma antiacutetese ao conhecimento popular
O Conhecimento Popular ou Empiacuterico tambeacutem conhecido como tradicional tem
relaccedilatildeo com a hereditariedade cultura e senso comum do homem Eacute uma forma de reflexatildeo
passiva acriacutetica e assistemaacutetica que vai aleacutem da subjetividade e superficialidade Estaacute baseado
nas experiecircncias vividas ou observadas pelo homem sem teacutecnicas ou meacutetodos O
conhecimento ocorre pelo uso dos sentidos podendo ser passiacutevel ao erro dedutivo por ter
mais questotildees pessoais do que cientiacuteficas
O Conhecimento Filosoacutefico estaacute relacionado agrave ideias e conceitos que satildeo construiacutedos
pela busca da verdade do mundo atraveacutes da indagaccedilatildeo priorizando assim um olhar sobre a
condiccedilatildeo humana Existem questotildees que somente a capacidade humana de refletir e raciocinar
podem responder assuntos que nem a ciecircncia consegue pois satildeo temas inerentes ao homem
A racionalizaccedilatildeo eacute o principal instrumento de uso com isso pode-se dizer que este
conhecimento eacute reflexivo loacutegico criacutetico racional e subjetivo
O Conhecimento Teoloacutegico por sua vez esta direcionado para conhecer e provar a
existecircncia de Deus e dos textos escritos na Biacuteblia tomando-os como verdades incontestaacuteveis
Obtido atraveacutes das ideias e axiomas da feacute tenta responder as questotildees inerentes ao homem em
relaccedilatildeo agrave sua existecircncia atraveacutes da concepccedilatildeo divina do mundo
78
Perante os tipos de conhecimentos expostos percebemos que em todo lugar que
olhamos o homem eacute capaz de criar meacutetodos de entendimento de tudo aquilo que ele absorve
do ambiente em que vive Assim observamos que na comunidade de Pimenteiras os
moradores quilombolas obtiveram o conhecimento sobre as plantas medicinais por meio do
conhecimento popular atraveacutes da relaccedilatildeo com sua cultura local seus antepassados e com sua
Liacutengua de modo a construir experiecircncias que ateacute hoje comungam com sua identidade
Nesse sentido somos a soma de nossa heranccedila bioloacutegica social e histoacuterica sendo
atraveacutes da linguagem e da cultura que nos constituiacutemos em seres com a capacidade de
conhecer e de adquirir conhecimento Por isso liacutengua eacute mais do que instrumento de
conhecimento ela eacute constitutiva dele Para Matos (2011 p 3) ldquoa liacutengua eacute incubadora da
identidade reproduz significados que se deslocam afetados pela memoacuteria e eacute submetida ao
movimento da ideologia imposto pela histoacuteria estando portanto atrelada a aspetos poliacuteticos e
eacuteticosrdquo
No que concerne agrave Liacutengua analisamos que o conhecimento sobre seu funcionamento
eacute fundamental para noacutes falantes Esse conhecimento estaacute impliacutecito em nosso ser e vem de
uma capacidade que nos permite apreender e dominar a liacutengua que utilizamos O
conhecimento linguiacutestico eacute parte de todos noacutes falantes de uma determinada liacutengua ou seja eacute
parte do nosso saber porque nascemos com essa capacidade
Assim como a liacutengua a Terminologia eacute tambeacutem uma praacutetica cognitiva linguiacutestica e
social Boulanger (2001 p 13 apud Rodrigues 2010 p 33) explica que a Terminologia ldquoeacute
uma praacutetica cognitiva na medida em que repousa sobre o conhecimento eacute uma praacutetica
linguiacutestica devido agrave noccedilatildeo termo ou praacutetica social especializada na medida em que o saber
circula em todas as sociedades humanasrdquo Eacute diante desse conhecimento da linguagem de
especialidade no contexto social que a Socioterminologia surge para identificar e analisar os
saberes especializados na liacutengua
Eacute evidente que o conhecimento cientiacutefico se faz necessaacuterio ao estudo terminoloacutegico
aqui proposto sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras Entretanto o
conhecimento popular transmitido entre as geraccedilotildees quilombolas eacute basilar para esta pesquisa
pois eacute a partir deste saber tradicional que buscamos analisar sob o olhar Socioterminoloacutegico
os elementos relacionados aos termos sobre as plantas medicinais Popularizar e valorizar o
conhecimento tradicional por meio do saber cientiacutefico eacute fundamental para conhecermos as
diversidades em nossa liacutengua como tambeacutem de nossa cultura
Observamos que o conhecimento cientiacutefico eacute aquele que pode ser provado atraveacutes de
inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute que seja incorporado pela ciecircncia Para Marconi e Lakatos
79
(2003 p 75) o conhecimento cientiacutefico ldquo[] eacute transmitido por intermeacutedio de treinamento
apropriado sendo um conhecimento obtido de modo racional conduzido por meio de
procedimentos cientiacuteficosrdquo
Com relaccedilatildeo ao conhecimento popular este por um longo tempo foi ignorado pelos
cientistas Entretanto hoje a situaccedilatildeo eacute diferente pois segundo Posey (1987) eacute por meio do
resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes tradicionais que surgem novas reflexotildees que datildeo grande
importacircncia desses saberes para o nosso proacuteprio benefiacutecio Diante disso Silva (2002 p 26)
argumenta que ldquo[] os estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular
tecircm merecido atenccedilatildeo cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm
oferecendo agraves ciecircncias do homemrdquo
Eacute fato e natildeo desmerecemos que o conhecimento cientiacutefico tecircm um papel muito
importante para a nossa cultura no entanto eacute preciso acolher com a mesma intensidade os
saberes populares para buscarmos compreender e analisar as diferentes culturas e linguagem
especializadas pois ldquo[] o que leva um ao conhecimento cientiacutefico e outro ao vulgar ou
popular eacute a forma de observaccedilatildeordquo (MARCONI LAKATOS 2005 p 76) Para isso a
Socioterminologia como ciecircncia busca analisar e fazer dialogar os diversos aspectos
relacionados agrave linguagem especializada levando em consideraccedilatildeo o acircmbito social em que
circundam os termos sobre os saberes populares das plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras
Diante desse contexto percebemos o quanto eacute importante analisarmos os termos
sobre as plantas medicinais do ponto de vista discursivo no uso concreto da linguagem
teacutecnica com caraacuteter variacionista e como os estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais
nesse processo Eacute por meio de seus meacutetodos de anaacutelise e descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de
variaccedilatildeo no contexto social e linguiacutestico que seguimos no toacutepico seguinte nas discussotildees
sobre o termo base do estudo socioterminoloacutegico
332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico
Segundo os estudos de Krieger e Finatto (2004) o termo eacute o elemento linguiacutestico que
constitui a expressatildeo lexical do saber especializado eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da
produccedilatildeo dos saberes De forma concisa entendemos que a palavra e o termo satildeo unidades
parecidas ao serem descritas por um conjunto de caracteriacutesticas linguiacutesticas sistemaacuteticas
80
referindo-se a um elemento da realidade A palavra ao tomar parte de um acircmbito
especializado eacute considerada um termo e a carga semacircntica confere no aspecto linguiacutestico o
que o diferencia da palavra
O termo caracteriza-se no sentido de que para uma noccedilatildeo dada haacute teoricamente uma uacutenica denominaccedilatildeo Esta caracteriacutestica do termo se funda sobre um postulado
da terminologia o da relaccedilatildeo de univocidade entre denominaccedilatildeo (significante) e
noccedilatildeo (significado relaccedilatildeo do tipo reflexiva) (RONDEAU apud KRIEGER 2004 p
77)
Sendo um objeto de estudo das ciecircncias terminoloacutegicas o termo eacute investigado numa
dimensatildeo pragmaacutetica discursiva e sociolinguiacutestica Faulstich (2006) explica que a teoria da
variaccedilatildeo terminoloacutegica propotildee uma releitura da definiccedilatildeo do objeto de estudo da
Socioterminologia que eacute o termo Para a autora (2006 p 28) ldquouma unidade terminoloacutegica
pode ter ou assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel
desempenha nos contextos de ocorrecircnciardquo
Nos estudos de Rodrigues (2010 p 36) o termo pode ser apreendido como um signo
que encontra funcionalidade na linguagem de especialidade como uma entidade variante que
se apoia nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo social e como um item do leacutexico especializado que
passa por processos de evoluccedilatildeo Desta forma o termo eacute visto como fenocircmeno linguiacutestico
variaacutevel que encontra na terminologia diferentes resultados de uso dos falantes nos diversos
contextos sociais geograacuteficos e linguiacutesticos Diante disso Gouadec (apud KRIEGER 2004 p
77) expotildee que ldquoum termo eacute uma unidade linguiacutestica que designa um conceito um objeto ou
um processo O termo eacute a unidade de designaccedilatildeo de elementos do universo percebido ou
concebido Ele raramente se confunde com a palavra ortograacuteficardquo
Considerando o princiacutepio da variaccedilatildeo em toda a sua dimensatildeo o pesquisador
Rodrigues (2010) acrescenta que o termo passa a ser visualizado como uma unidade lexical
que sofre todas as implicaccedilotildees sistecircmicas e contextuais proacuteprias a qualquer palavra no
contexto comunicativo da liacutengua Para Barros (apud KRIEGER FINATTO 2004) o termo eacute
uma unidade do leacutexico com conteuacutedo especiacutefico dentro de um domiacutenio tambeacutem particular
que pode ser descrito e analisado em diferentes aspectos relacionados ao significante e
significado agraves relaccedilotildees com outros termos e ao ponto de vista sociolinguiacutestico com isso
observamos que haveraacute melhor sustentaccedilatildeo teoacuterica ao trabalho estudado na comunidade de
Pimenteiras
Por ser um objeto de estudo da Socioterminologia Gaudin (1993) lembra que deve
haver uma aproximaccedilatildeo discursiva dos termos pois segundo o pesquisador as unidades
81
terminoloacutegicas devem ser analisadas em sua condiccedilatildeo de produccedilatildeo discursiva e de interaccedilatildeo
entre conhecimentos No que concerne ao conhecimento ele eacute sempre foi e seraacute uma forma
moacutevel de cultura De forma cientiacutefica ou de saber popular o conhecimento humano chega a
cada geraccedilatildeo a cada comunidade com a marca dos tempos povos e lugares por onde passou
Eacute atraveacutes da transferecircncia do conhecimento por meio da Liacutengua que as sociedades se formam
as tradiccedilotildees dos povos sofrem mudanccedilas ou satildeo abolidas em troca de outras Contudo eacute pelo
aparecimento de novos conceitos e pela aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos que outras capacidades
cognitivas se desenvolvem e formam outros conhecimentos
Sabendo que o conhecimento pode tambeacutem ser transmitido por meio da linguagem
verificaremos na anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais os
aspectos relacionados agrave representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras pois
compreendemos que eacute por meio da linguagem que criamos expressamos e designamos os
conceitos e objetos nos diversos campos de conhecimento
Nos estudos de Cruz (2014 p 98) ela expotildee que ldquoos termos satildeo criados e se
desenvolvem em uma liacutengua concreta porque as ideias processos ou objetos que esses termos
designam foram criados pela sociedade que deles se utilizardquo Ela explica que os termos satildeo
resultado de convenccedilotildees ou preferecircncias individuais possuindo relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas
do objeto nomeado Eacute nesse campo que as anaacutelises dessas carateriacutesticas satildeo necessaacuterias para
observar se as denominaccedilotildees satildeo fruto de ideias do conhecimento da aacuterea ou por modismos
(CRUZ 2014)
No campo da linguagem percebemos que os termos sobre as plantas medicinais satildeo
utilizados na comunidade de Pimenteiras atraveacutes da interaccedilatildeo entre a cultura a natureza e as
origens de um povo que transmitiu seus conhecimentos entre as geraccedilotildees por meio da liacutengua
Atraveacutes das concepccedilotildees explanadas sobre a linguagem ldquopodemos dizer que uma terminologia
natildeo se insere em uma liacutengua mas em uma linguagem especiacutefica desenvolvida a partir de um
universo de discurso criado por uma comunidade em um dado campo do saberrdquo (SANTOS
2010 p 06)
Nesse contexto Krieger e Finatto (2004 p75) explicam que ldquoo termo ou unidade
terminoloacutegica eacute simultaneamente elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber e componente
linguiacutestico cujas propriedades favorecem a univocidade da comunicaccedilatildeo especializadardquo
Por ter um caraacuteter natural os termos funcionam como um elemento dos sistemas
linguiacutesticos que estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo sendo esta inerente em qualquer liacutengua a variaccedilatildeo
terminoloacutegica ocorre no acircmbito do uso especializado Nesse sentido Cruz (2012) expotildee que a
82
comunicaccedilatildeo especializada de melhor qualidade eacute construiacuteda a partir do reconhecimento da
naturalidade e inerecircncia da variaccedilatildeo terminoloacutegica como um tipo de variaccedilatildeo linguiacutestica
Na anaacutelise socioterminoloacutegica verificamos alguns aspectos da variaccedilatildeo dos termos
sobre as plantas medicinais de Pimenteiras mostrando como os termos variam de acordo com
as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos observando na linguagem especializada a
naturalidade e inerecircncia presentes nos termos a serem analisados proporcionando a
particularizaccedilatildeo e identidade da comunidade
Por ser uma unidade de conhecimento que estaacute constantemente se relacionando com
seu significado o termo segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos Assim antes de analisar
se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade verificamos que a
definiccedilatildeo deles eacute muito importante para o contexto de uso dos estudos teoacutericos da
Socioterminologia que descreve os termos dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber
especializado Segundo os estudos de Lara (2004 p 93) ldquouma definiccedilatildeo eacute um enunciado que
descreve um conceito permitindo diferenciaacute-lo de outros conceitos associadosrdquo Sager (1990
apud LARA 2004 p 93) expotildee ainda que ldquoa definiccedilatildeo eacute uma explanaccedilatildeo aceita do
significado especializado de itens lexicais cuja ocorrecircncia pode ser documentada em vaacuterias
fontesrdquo Diante disso utilizamos no percurso da anaacutelise dos termos medicinais sobre as
plantas a definiccedilatildeo do saber subjetivo de uma moradora da regiatildeo de Pimenteiras
Nos estudos da definiccedilatildeo terminoloacutegica dos termos Lara (2004 p 94) contribui
expondo que ldquoa definiccedilatildeo terminoloacutegica eacute classificadora hierarquizante estruturante
relaciona-se agrave definiccedilatildeo da coisardquo ou seja a definiccedilatildeo natildeo eacute uacutenica ela varia de acordo com a
fonte escolhida Assim procuramos nos estudos socioterminoloacutegicos trazer a definiccedilatildeo dos
termos sobre as plantas medicinais pois a Socioterminologia ldquoeacute uma disciplina que se ocupa
da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguiacutesticas dos termos em diferentes tipos
de situaccedilatildeo de uso da liacutengua nos diversos niacuteveis e planos hieraacuterquicos do discursordquo (CRUZ
2012 p 100)
Cruz acrescenta que nos estudos de Faulstich (1998) ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas
variantes eacute tarefa da Socioterminologia cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da
diversidade de termos que ocorrem nos planos vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo
Perante a diversidade dos termos e consequentemente da variaccedilatildeo em suas definiccedilotildees
utilizamos no processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Faulstich
(1996) uma amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees tidas sobre os termos a partir
da variaccedilatildeo terminoloacutegica que fundamenta os dados a serem analisados
83
Nos estudos de Cruz (2014 p113) sobre a variaccedilatildeo dos termos a pesquisadora
explica que ldquoo processo de variaccedilatildeo se daacute dentro de um construto teoacuterico em que variaacuteveis
produzem variantes que funcionam nas liacutenguas de acordo com as funccedilotildees que elas venham a
ter no discurso de especialidade ou na liacutengua comumrdquo Nos estudos socioterminoloacutegicos
Faulstich (1995 apud CRUZ 2012) propotildee uma abordagem funcionalista do termo que eacute a
base da pesquisa socioterminoloacutegica defendendo uma estreita relaccedilatildeo entre termo e variaccedilatildeo
Outro postulado defendido por Faulstich (1998 1999) eacute sobre a anaacutelise do termo que deve
ser visto sob duas perspectivas sincrocircnica e diacrocircnica assim ela resume que
Termos satildeo signos que encontram sua funcionalidade nas linguagens de especia-
lidade de acordo com a dinacircmica das liacutenguas satildeo entidades variantes porque fazem
parte de situaccedilotildees comunicativas distintas satildeo itens do leacutexico especializado que
passam por evoluccedilotildees por isso devem ser analisados no plano sincrocircnico e no plano diacrocircnico das liacutenguas (FAULSTICH 1999 p 28)
Outro aspecto importante a ser mencionado eacute com relaccedilatildeo agrave estrutura do termo que
pode se apresentar de forma simples complexa ou composta Esse campo leacutexico-semacircntico e
morfossintaacutetico do termo eacute tomado pelos estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) que
explanam sobre a estrutura simples constituiacuteda de um radical e por estruturas complexas e
compostas em que ocorre a presenccedila de dois ou mais radicais diferenciados pela presenccedila do
hiacutefen nos termos compostos enquanto que nos termos complexos ocorre os processos de
composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo50
ou justaposiccedilatildeo51
das palavras No caso da
comunicaccedilatildeo especializada o que predomina satildeo os termos complexos por poder assumir
diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo
reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico
Quando utilizamos um termo num determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e
permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo internalizadas na liacutengua que por ser um
sistema dinacircmico passa a ser enriquecida por neologismos Assim veremos que os estudos de
Pottier (1978) e de Barros (2007) sobre o termo no que concerne agrave sua estrutura
morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica satildeo caracterizadas como simples compostas ou
complexas
Em presenccedila das concepccedilotildees explanadas sobre o termo observamos que o
conhecimento que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem sobre as plantas
50Aglutinaccedilatildeoconsiste na junccedilatildeo de duas ou mais palavras com o objetivo de formar uma terceira palavra poreacutem
uma delas ou as duas sofreraacute alguma mudanccedila na sua forma ganhando ou perdendo letras fonemas ou
morfemas
51Justaposiccedilatildeo satildeo as palavras apenas justapostas uma ao lado da outra e estando juntas formaratildeo uma terceira
palavra Neste caso as palavras ficam intactas natildeo perdendo nenhum item da sua forma
84
medicinais satildeo as marcas de seus antepassados de sua identidade de sua histoacuteria como
quilombolas satildeo marcas de sua linguagem diante da diversidade na natureza Natildeo usamos a
liacutengua sempre da mesma forma mas adequamos nossa linguagem agrave situaccedilatildeo comunicativa em
que estamos inseridos Assim os usos que fazemos em nossa liacutengua satildeo o reflexo tambeacutem
da nossa proacutepria histoacuteria Nesse contexto damos iniacutecio no capiacutetulo seguinte sobre a
metodologia utilizada para fundamentar esta pesquisa levando em consideraccedilatildeo os objetivos
as etapas da pesquisa as pessoas e as dificuldades encontradas no percurso do trabalho
85
4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo apresentamos os motivos escolhas e as etapas metodoloacutegicas feitas
durante a pesquisa de campo na comunidade de Pimenteiras As fases para a constituiccedilatildeo
deste trabalho dissertativo tecircm suas bases nos estudos da Socioterminologia com o uso de
instrumentos tecnoloacutegicos antes durante e apoacutes o trabalho de campo Dentre as ferramentas
tecnoloacutegicas empregadas utilizamos diversas entrevistas transcriccedilotildees dos diaacutelogos e registro
de dados sobre os termos medicinais das plantas As ferramentas usadas foram o Software
Transana52
as fichas terminoloacutegicas gravador de voz maacutequina fotograacutefica e questionaacuterios
usados nas entrevistas Eacute fato que muitas dificuldades surgiram no percurso do trabalho
apesar disso a coleta dos dados foi imprescindiacutevel para a pesquisa sobre os termos das plantas
de uso medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras
41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE
PIMENTEIRAS
Realizar uma investigaccedilatildeo baseada na pesquisa de campo supotildee planejar previamente
o curso a seguir na construccedilatildeo do trabalho Eacute fato que o pesquisador encontra diversos
imprevistos que dificultam a pesquisa a ser realizada Compreendendo isso optamos em
conhecer participar e analisar a comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras no
setor das plantas medicinais Observamos que as condiccedilotildees naturais do tempo
influenciarammuito na pesquisa aleacutem da dificuldades encontradas no trajeto ateacute a
comunidade Apesar disso a riqueza em informaccedilotildees a biodiversidade da regiatildeo e o
consentimento dos moradores para a realizaccedilatildeo da pesquisa proporcionaram maior firmeza
para a continuidade do trabalho
Na intenccedilatildeo de fornecer dados confiaacuteveis e de qualidade para esse estudo buscamos
visitar e manter contato contiacutenuo com os moradores da comunidade de Pimenteiras Cada
52 O Transana foi criado por pesquisadores e para pesquisadores a fim de atender as necessidades profissionais
de quem executa entrevistas com trabalhos de campo pode serusado em diversas aacutereas do conhecimento mas
nessa pesquisa de base socioterminoloacutegica nosso estudo eacute constituiacutedo de um corpus de liacutengua oral As vantagens
do software eacute que oferece a visualizaccedilatildeo de vaacuterias janelas como o aacuteudio viacutedeo transcriccedilatildeo base de dados e visualizaccedilatildeo do material a ser transcrito isto proporciona maior seguranccedila e agilidade no processo
86
encontro foi planejado ora com entrevistas gravadas e filmadas ora com registro de fotos e
coleta de dados sobre as plantas Tudo no intuito de conhecer descrever e analisar os dados
com maior seguranccedila e veracidade pois cada ponto foi imprescindiacutevel para a fundamentaccedilatildeo
do trabalho dissertativo
Os dados sobre as plantas de uso medicinal foram organizados por alguns moradores
da regiatildeo durante os trabalhos com o Bioenergeacutetico de acordo com o saber que possuem
Estes dados foram catalogados e analisados dentro do contexto socioterminoloacutegico da
pesquisa em questatildeo Nosso intuito eacute analisar o saber popular sobre os termos catalogados das
plantas de uso medicinal levando em consideraccedilatildeo a linguagem especializada dos termos
medicinais adquiridos pelo repasse entre as geraccedilotildees pela relaccedilatildeo com a natureza e por
saberes conseguidos pelo contato com outros conhecimentos de caraacuteter cientiacutefico sobre o
poder de cura das plantas
A comunidade remanescente de quilombo de Pimenteiras estaacute localizada na regiatildeo
agriacutecola da cidade de Santa Luzia do Paraacute distante 30 km da cidade Hoje cerca de vinte oito
(28) famiacutelias vivem na comunidade sobrevivendo da agricultura criaccedilatildeo de gado e accedilaiacute
Devido agrave sua localizaccedilatildeo em aacuterea rural os moradores de Pimenteiras vivem do plantio e dos
saberes que possuem sobre as plantas medicinais devido agrave distacircncia e dificuldades para
conseguir tratamento meacutedico o saber sobre as plantas de uso medicinal tornou-se recurso
indispensaacutevel no trato das muitas doenccedilas A partir disso alguns moradores quilombolas
trabalharam por algum tempo com o Bioenergeacutetico nesse periacuteodo foram orientados por
representantes do CEDENPA para coletar amostras de plantas no trato medicinal Junto agraves
amostras os moradores escreveram os nomes de cada planta de acordo com o saber que
adquiriram com seus antepassados
Aleacutem da quantidade de conhecimento que a comunidade possui a particularidade
linguiacutestica sobre os nomes de cada planta de uso medicinal eacute muito importante nesse estudo
Por isso foram necessaacuterios diversos encontros com os moradores para conhecer e colher
maiores informaccedilotildees para esse trabalho A comunidade de Pimenteiras estaacute constituiacuteda de
expressivos elementos culturais que vecircm desde a proacutepria descendecircncia quilombola ateacute o
saber que possuem sobre as plantas por meio da valorizaccedilatildeo e fortalecimento de sua memoacuteria
coletiva Seus moradores apesar das inuacutemeras dificuldades e preconceitos vividos buscam
preservar sua identidade e serem reconhecidos pela sociedade pois a interaccedilatildeo participativa
entre os diferentes saberes existentes na comunidade promove um sentimento de
pertencimento diante das diferenccedilas culturais que devem ser respeitadas e apreciadas
87
Entendemos que o conhecimento eacute algo que estaacute em constante construccedilatildeo e
reconstruccedilatildeo e que as influecircncias que vivemos ajustam esse processo Particularmente o
conhecimento dos moradores da comunidade de Pimenteiras estaacute nessa frequecircncia que se
interpotildee entre os saberes vindos de geraccedilotildees passadas combinadas agrave presenccedila de novos
conhecimentos Diante da imensa contribuiccedilatildeo ao conhecimento cientiacutefico eacute respeitaacutevel
buscar conhecer os saberes vindos dos moradores remanescentes de quilombo para que os
mesmos sejam reconhecidos como identidade cultural sobre as plantas
Objetivamos nesse trabalho analisar os termos catalogados sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras sob a perspectiva socioterminoloacutegica dos termos no
contexto da linguagem especializada dos moradores remanescentes de quilombo observando
os aspectos sociais culturais e religiosos em que estatildeo inseridos e assim compreendermos a
identidade do povo da regiatildeo Analisando os termos identificamos que no campo da
Socioterminologia as palavras registradas sobre as plantas medicinais fazem parte do domiacutenio
especializado da liacutengua e expressam uma forte identidade no universo sociocultural dos
moradores quilombolas de Pimenteiras fazendo com que a comunidade adquira traccedilos que
distinguem e identificam sua cultura
Os dados catalogados foram registrados transcritos e definidos de acordo com o
saber de um morador da comunidade de Pimenteiras Na anaacutelise socioterminoloacutegica dos
termos todos foram definidos e estruturados por meio de fichas terminoloacutegicas para melhor
visualizaccedilatildeo das unidades que compotildeem as palavras coletadas junto da definiccedilatildeo
adicionamos as imagens de cada termo nomeado
42 A PESQUISA DE CAMPO
Registrar os termos de uma linguagem especializada requer preservar a legitimidade
que cada indiviacuteduo possui no uso da liacutengua Durante o processo de pesquisa vaacuterias etapas
foram executadas para que as anaacutelises fossem alcanccediladas As pessoas foram muito
importantes para que o estudo se desenvolvesse ao longo desse periacuteodo de anaacutelise
socioterminoloacutegica dos termos
Como criteacuterio de seleccedilatildeo escolhemos uma (01) moradora remanescente de
quilombola da comunidade de Pimenteiras a senhora Domingas Alves do Nascimento pelo
conhecimento popular sobre as plantas medicinais que ela deteacutem e tambeacutem pelo fato de ser
88
uma das pessoas que coletaram amostras das plantas medicinais Aleacutem disso Domingas eacute
uma representante da associaccedilatildeo AQUAFAP que sempre realizar atividades relacionadas a
valorizaccedilatildeo e aos direitos dos moradores de Pimenteiras
No aspecto religioso ela sempre estaacute engajada na cerimocircnia em homenagem agrave Nossa
Senhora do Livramento e mesmo com tantos trabalhos a serem executados na comunidade a
moradora estaacute sempre disposta e atenta para fazer com que a comunidade tenha seus direitos
garantidos e sua cultura e preservada
Durante a pesquisa foram realizadas entrevistas com outras pessoas que forneceram
informaccedilotildees importantes sobre a histoacuteria religiatildeo e cultura dos moradores da comunidade de
Pimenteiras No entanto a moradora Domingas foi incansaacutevel em suas contribuiccedilotildees A partir
dela o interesse em pesquisar sobre os termos catalogados das plantas de uso medicinal se
tornou fascinante
Dona Domingas eacute uma mulher que respeita suas origens e utiliza os saberes
transmitidos por sua matildee e sua avoacute materna a ponto de ser conhecida na regiatildeo como a
ldquosenhora das ervasrdquo aleacutem de trabalhar na agricultura com o marido ela tambeacutem ajuda na
fabricaccedilatildeo de produtos naturais na associaccedilatildeo dos agricultores quilombolas de Santa Luzia do
Paraacute bem como realiza trabalhos relacionados com a comunidade e sua famiacutelia
Devido aos saberes que possui sobre as plantas Domingas recebe grande ajuda de
diversas pessoas que tambeacutem tecircm interesse pela cura atraveacutes das plantas medicinais como eacute o
caso da senhora Maria de Nazareacute Reis uma engenheira agrocircnoma que trabalha no CEDENPA
assessorando os grupos de mulheres associaccedilotildees cooperativas de agricultores rurais e
familiares dentro da Rede Bragantina atraveacutes de cursos direcionados agrave nutriccedilatildeo alimentaccedilatildeo
saudaacutevel agricultura familiar e uso das plantas para cura de doenccedilas como forma de
incentivo aos pequenos trabalhadores rurais sobre a Produccedilatildeo Agroecoloacutegica53
Vale ressaltar que os saberes que a moradora Domingas possui estatildeo preservados em
sua memoacuteria e que esse trabalho procura basicamente conhecer registar e analisar as
palavras no contexto da linguagem especializada sobre as plantas medicinais que satildeo de uso
natildeo apenas da senhora Domingas mas tambeacutem dos moradores quilombolas de Pimenteiras
No que concerne agraves dificuldades enfrentadas no percurso da pesquisa inicialmente o
acesso agrave comunidade foi o que trouxe mais problemas principalmente nos periacuteodos de chuva
Em muitos momentos foi necessaacuterio modificar o percurso a ser seguido e redirecionar novos
53 A agroecologia eacute uma ciecircncia que dialoga com as diversas dimensotildees do conviacutevio humano como a ecologia a
socioeconocircmica a cultura e sociopoliacutetica eacute o conhecimento que vai aleacutem da produccedilatildeo que se insere num sistema de transformaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de uma agricultura socialmente mais justa economicamente viaacutevel e
ecologicamente apropriada
89
planos para que a pesquisa continuasse Eacute fato que esse trabalho natildeo envolve um amplo
levantamento acerca dos conhecimentos e saberes contidos nos moradores de Pimenteiras
contudo essa eacute uma amostra diante das inuacutemeras possibilidades do conhecimento popular a
ser registrado
No percurso da pesquisa diversos instrumentos foram utilizados para registrar cada
elemento relacionado agrave comunidade e aos informantes como gravador de voz maacutequina
fotograacutefica para o registro de imagens fichas com questionaacuterios a serem respondidos pelas
informantes aplicativos para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica das gravaccedilotildees como o Transana e os
termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da regiatildeo elemento esse de grande
importacircncia na pesquisa
Diante das exposiccedilotildees apresentadas ressaltamos que os dados catalogados sobre os
termos das plantas medicinais satildeo a base deste trabalho que busca analisar sob o olhar
socioterminoloacutegico cerca de quarenta e dois (42) termos registrados e preservados por uma
das moradoras da comunidade Na sequecircncia observaremos a maneira como foram tratados
os dados catalogados para essa pesquisa
43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS
Considerando que o meacutetodo desta pesquisa procede de forma qualitativa em que se
analisam os dados catalogados dos termos sobre as plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras sob os estudos da Socioterminologia passaremos a expor os principais
procedimentos que foram utilizados para que os dados da pesquisa fossem registrados e
analisados
431 Entrevistas
No andamento da pesquisa diversas entrevistas formais e informais ocorreram com
as informantes As conversas formais foram registradas seguindo um fichaacuterio contendo
diversas perguntas relacionadas agrave comunidade quilombola e agraves plantas medicinais As
90
entrevistas foram armazenadas atraveacutes da gravaccedilatildeo de voz que posteriormente foi transcrita
de forma Grafemaacutetica54
As perguntas foram especiacuteficas para cada informante de acordo com o campo de
trabalho por eleela desenvolvido Por exemplo com a senhora Domingas foram direcionadas
perguntas sobre a famiacutelia comunidade descendecircncia saberes sobre as plantas e crenccedila nas
mesmas Aleacutem dessa entrevista houve tambeacutem a gravaccedilatildeo com a senhora Domingas sobre
as definiccedilotildees que a moradora possui de cada termo sobre as plantas medicinais A transcriccedilatildeo
com tais definiccedilotildees foi armazenada nas fichas terminoloacutegicas utilizadas para melhor
visualizaccedilatildeo dos dados registrados Todas essas informaccedilotildees estatildeo anexadas neste trabalho
mostrando os pontos relevantes que delineiam o caraacuteter da pesquisa
432 Recursos de anaacutelise dos dados
A transcriccedilatildeo grafemaacutetica foi executada atraveacutes do software Transana versatildeo 21255
gratuita para download que foi desenvolvido para analisar dados audiovisuais Este recurso
foi escolhido para que pudeacutessemos dar o tratamento adequado aos dados orais das gravaccedilotildees
obtidas em entrevistas Em seguida utilizamos por base as normas de transcriccedilatildeo de Koch
(1997) as transcriccedilotildees grafemaacuteticas foram feitas no software Transana devido o programa
permitir a conexatildeo entre o texto transcrito em momentos especiacuteficos do viacutedeo com o aacuteudio da
entrevista
433 Termos Catalogados
Com relaccedilatildeo aos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal pelos
moradores da comunidade quilombola de Pimenteiras usamos o registro das imagens junto
com as fichas terminoloacutegicas com as definiccedilotildees de cada termo Procuramos nesse momento
respeitar a forma escrita de cada termo registrado pelos moradores As amostras das plantas
54 Os dados registrados na Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica estatildeo nos apecircndices deste trabalho 55 Pesquisado em 11 de agosto de 2015 as 2231 hs no site httpwwwtransanaorgdownloadwhatsnewhtm
91
foram dissecadas com o uso de jornais pelos moradores na eacutepoca em que trabalharam com o
Bioenergeacutetico Ateacute hoje esse material estaacute guardado pela moradora Domingas
Durante a pesquisa registramos as imagens das plantas vivas em seu habitat natural
para que pudeacutessemos perceber as caracteriacutesticas de cada uma e consequentemente observar a
relaccedilatildeo com o nome que possuem Ao registrarmos as imagens das plantas outras espeacutecies
foram identificadas pelos moradores como medicinal isto ampliou a quantidade de termos
catalogados e possivelmente outros mais permanecem ocultos na regiatildeo Todos os termos
catalogados estatildeo nos apecircndices com as definiccedilotildees junto de suas respectivas imagens
92
5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE UM POVO
Compreender as pessoas como seres introduzidos em redes de significados pensar
nos sujeitos da maneira como eles se identificam entendendo as particularidades de sua
cultura vivenciando-a acompanhando-os em muitos momentos procurando entender o que
eles fazem e como fazem esse processo foi importante para compreender as distinccedilotildees dos
elementos que compotildeem dentro e fora a comunidade quanto aos saberes sobre as plantas de
uso medicinal observando que tais saberes constituem a identidade cultural dos moradores no
que diz respeito agrave biodiversidade na comunidade de Pimenteiras
Utilizamos uma metodologia vinda da observaccedilatildeo das praacuteticas sociais das
entrevistas com os sujeitos da pesquisa da catalogaccedilatildeo dos dados sobre as plantas e da
transcriccedilatildeo das definiccedilotildees de cada termo que se tornou fundamental para a anaacutelise dos dados
catalogados na comunidade Buscamos natildeo apenas registrar fatos mas analisar a relaccedilatildeo que
os termos possuem dentro dos aspectos sociais apresentando assuntos relacionados agrave religiatildeo
cultura e de identidade proporcionando assim o reconhecimento de conhecimentos
tradicionais preciosos para o estudo cientiacutefico atraveacutes dos saberes de um povo suas lutas sua
natureza e linguagem
Conhecida e reconhecida por sua biodiversidade Pimenteiras eacute identificada pelos
saberes sobre as plantas medicinais Os moradores da comunidade satildeo descendentes de negros
escravos conhecidos como quilombolas e muitos adquiriram de seus antepassados
conhecimentos sobre o uso das plantas para a cura dos males do corpo Assim sendo
procuramos nesse contexto apresentar a anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos da
comunidade de Pimenteiras considerando os aspectos da variaccedilatildeo terminoloacutegica na
linguagem suas motivaccedilotildees no ato de nomear e as relaccedilotildees associativas que geram novas
nomeaccedilotildees e tambeacutem novas variaccedilotildees por conseguinte abordamos os termos sobre as
plantas medicinais com foco na sua estrutura morfossintaacutetica observando que na variaccedilatildeo o
termo pode ou natildeo ser alterado em seu radical formando novas composiccedilotildees sejam elas
simples compostas ou complexas na sequecircncia desses estudos dos termos chegamos agrave
anaacutelise da definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas que de forma
subjetiva procurou descrever cada planta nas suas particularidades
A necessidade sociocultural humana de estabelecer relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
promove a accedilatildeo de transformar o vocabulaacuterio da liacutengua constantemente para o surgimento de
novas palavras Mas de onde vecircm as palavras Compreendendo que as palavras satildeo criadas de
93
forma consciente para dar nome agraves coisas entendemos que com o passar do tempo as
palavras sofrem transformaccedilotildees que trazem tambeacutem a modificaccedilatildeo no sentido Assim a
linguagem eacute o campo no qual o homem exprime seus sentimentos e pensamentos em uma
comunicaccedilatildeo interpessoal ou grupal construindo uma sociedade capaz de desenvolver sua
cultura e saber que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
No que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais analisamos inicialmente
se o domiacutenio estudado pertence apenas ao campo da medicina caseira Segundo a Norma da
ISO 1087 (2000) o domiacutenio eacute decidido como parte do saber cujos limites satildeo definidos
conforme um ponto de vista particular Em seguida acolhemos a definiccedilatildeo descritiva da
moradora Domingas que buscou de acordo com seus saberes definir os termos sobre as
plantas catalogados na regiatildeo de Pimenteiras
Os dados analisados nesse trabalho satildeo constituiacutedos no total de quarenta e dois (42)
termos que foram catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras Diante da quantidade descrita utilizaremos alguns termos em diferentes aspectos
a serem considerados Os elementos presentes na ficha terminoloacutegica de cada termo seratildeo
analisados a partir da definiccedilatildeo descritiva no contexto que a senhora Domingas expocircs sobre
as plantas para isso utilizamos um modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich
(1996) usado pela Universidade de Brasiacutelia (UNB) contendo os elementos constitutivos dos
termos para uma melhor visualizaccedilatildeo dos lexemas e de seus elementos constituintes
analisando junto a isso a variaccedilatildeo de alguns termos que estatildeo relacionados de forma
associativa com certa caracteriacutestica da planta Isso se faz importante para melhor
compreendermos as nomeaccedilotildees e as significaccedilotildees descritas pela moradora nesse processo de
nomeaccedilatildeo relacionado ao conhecimento de mundo dos moradores da comunidade de
Pimenteiras
Com base nos estudos socioterminoloacutegicos explanados nesse trabalho dissertativo
analisamos as particularidades de cada termo demonstrando as definiccedilotildees descritas sobre as
caracteriacutesticas das plantas medicinais de Pimenteiras junto a isso apresentamos as imagens
das plantas registradas durante a pesquisa de campo na comunidade Para cada termo
apresentado utilizamos duas (02) imagens registradas em seu ambiente natural uma com a
imagem integral da planta e a segunda imagem com uma especialidade da planta No total
ocorreu o registro das folhas das plantas Isso se faz importante para tambeacutem verificarmos as
especificidades de cada planta no seu aspecto anatocircmico
Para tratar das questotildees da variaccedilatildeo existente sobre os termos das plantas medicinais
de Pimenteiras tomamos como contexto de anaacutelise somente os termos catalogados sobre as
94
plantas pesquisadas na comunidade por meio da moradora Domingas Com o objetivo de
examinar as variaccedilotildees destes termos foram necessaacuterios diversos encontros para cataloga-los
registrar as imagens das plantas e gravar as definiccedilotildees descritivas pela senhora Domingas
Assim os objetos desse estudo satildeo os termos sobre as plantas medicinais utilizados pelos
moradores da regiatildeo no seu contexto social
A quantidade de termos sobre as plantas medicinais existentes na comunidade eacute
enorme entretanto dado o nuacutemero de termos sobre as plantas medicinais e de suas variantes
na linguagem especializada metodologicamente trabalhamos com um total de quarenta e dois
(42) termos que foram coletados registrados em imagens e definidos em fichas
terminoloacutegicas Pesquisando a origem dessas variantes atribuiacutedas aos termos sobre as plantas
medicinais percebemos que o seu surgimento ocorre das mais variadas formas possiacuteveis O
principal modo de formaccedilatildeo das variantes eacute a partir da associaccedilatildeo relacionada com a forma
tamanho cor e funccedilatildeo das plantas medicinais As formaccedilotildees geradas por relaccedilotildees associativas
satildeo caracteriacutesticas que pertencem naturalmente agrave Terminologia
Assim vejamos uma sequecircncia das anaacutelises dos termos sobre as plantas medicinais
da comunidade de Pimenteiras observando suas imagens como tambeacutem seus elementos
constitutivos na ficha terminoloacutegica de cada termo descrito no contexto da moradora
Domingas Neste capiacutetulo apresentamos doze (12) termos de um total de quarenta e dois (42)
Os demais se encontram nos apecircndices deste trabalho Por meio da ficha terminoloacutegica criada
por Faulstich (1996) contendo a definiccedilatildeo descritiva da moradora Domingas observamos os
aspectos relacionados ao clima origem caracteriacutesticas da espeacutecie formas e utilidade
medicinal de cada planta catalogada Alguns termos apresentaram variantes e nesse acircmbito
compreendemos as relaccedilotildees associativas do nome com as caracteriacutesticas das plantas
Observemos na sequecircncia a anaacutelise dos termos catalogados na comunidade de
Pimenteiras
51 MUCURACAacute
Haacute muito tempo o ser humano cria e utiliza as palavras para expressar designar
conceitos objetos e processos de diferentes campos do conhecimento tudo isso eacute feito por
meio da linguagem A linguagem verbal eacute uma entidade social que possui aspectos materiais e
simboacutelicos que estatildeo ligados agrave consciecircncia e agrave subjetividade humana em que cada falante
95
compartilha seus saberes por meio da liacutengua A liacutengua tem uma estrutura imutaacutevel e apesar
disso estaacute em constante variaccedilatildeo eacute um instrumento que pode causar emancipaccedilatildeo e poder
um objeto do conhecimento em que inuacutemeros modelos teoacutericos surgiram com a pretensatildeo de
descrever e explicar sua essecircncia
Os moradores da comunidade de Pimenteiras demonstram em sua linguagem o
saber de uma cultura rica e distintiva Podemos perceber na anaacutelise dos termos as
particularidades que evidenciam tal grandeza Observemos na anaacutelise do termo ldquoMucuraraacuterdquo
por meio da ficha terminoloacutegica a descriccedilatildeo subjetiva que a moradora quilombola expocircs
sobre cada planta catalogada Vejamos
TERMO 01 ndash ldquoMUCURACAacuterdquo
Fotografia 14 ndash Mucuracaacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 15 ndashFolha do Mucuracaacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
96
Quadro 01 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute
Lx Lexema Mucuracaacute
V Variante Tipi
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Co Contexto eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que pra
espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode
plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal () primeiro tinha aquele
problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do
mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia doseacuteh e pra isso aquela enjoaccedilatildeo aquele
aborrecimento isso taacuteele eacute bem pequenhinho ele eacute uma planta tambeacutem neacuteele eacute
pequeno a folha ele eacute que nem a japana ele eacute do mesmo modelo da japana assim neacuteele eacute pequeno folhinha dele eacute bem escurinha bem escura assim verdinho escuro
afolhinha dele neacuteeacuteh da folha e do pau e da raiz ( )ele eacute grande ele no maacuteximo que
tem eacute trecircs palmo se ele tiver trecircs palmo neacuteele eacute conhecido por dois nomes mucuracaacute
e tipi tipe sim o maranhense praticamente o maranhense soacute conhece po tipi nois
paraense que conhece por mucuracaacute natildeo soacute o nome que mudanum sei tambeim natildeo
tambeim natildeo o cheiro dele tambeim eacute muito forte eacute o cheiro dele um ser cheiro assim
de alho querado e com muitas horas assim tem um alho que a gente quebra com
muitas horas deixa assim e vai cheirar pois assim que eacute o cheiro dele assim um cheiro
forte mucuracaacute mucuracaacutecom cheiro muito forte parece alho usadomuitu forti
Fc Fonte do
Contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas a casca do caule e a raiz
Fu Formas de uso
Usada na forma de chaacutes e para fazer banhos contra febre dor de cabeccedila mal olhado quebrante
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota O termo eacute conhecido como ldquoTipirdquo (falado no Estado do Maranhatildeo)
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Os dados apresentados na ficha terminoloacutegica sobre o termo ldquoMucuracaacuterdquo explanam
as caracteriacutesticas pertencentes agrave espeacutecie em seu contexto social Por ser uma planta de cheiro
forte e marcante eacute utilizada em banhos para as enfermidades do corpo e da alma Conhecida
tambeacutem pela variante ldquoTipirdquo suas utilidades medicinais vatildeo aleacutem dos benefiacutecios agrave sauacutede pois
eacute uma planta usada para afastar problemas espirituais como quebrante e questotildees negativas
contra a alma O fato de cultivar a planta proacutexima agrave casa tem o significado de proteccedilatildeo
espiritual aos moradores da comunidade de Pimenteiras Observemos no contexto apresentado
por Domingas
[] eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que
pra espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode
plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal ( ) primeiro tinha aquele
97
problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia [] (informaccedilatildeo verbal)56
Aleacutem da definiccedilatildeo descritiva do termo ldquoMucuracaacuterdquo utilizamos tambeacutem como
anaacutelise dos termos o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com as
informaccedilotildees especiacuteficas sobre os elementos presentes em cada termo Este formato da ficha
terminoloacutegica eacute importante para melhor visualizaccedilatildeo dos dados analisados pois observamos
cada informaccedilatildeo contida sobre os termos catalogados aleacutem da definiccedilatildeo descrita pela senhora
Domingas Os aspectos pertinentes na ficha satildeo o Lexema (Lx) as Variantes (V) a
Classificaccedilatildeo Gramatical (Cg) o Contexto (Co) a Fonte do Contexto (Fc) as Partes de Uso
(Pu) Formas de Uso (Fu) a Finalidade (Fn) os Dados do Informante (Di) os Dados do
Pesquisador (Dp) Notas (Nt) e a Data da Coleta (Dc)
Observamos que nos estudos atuais da liacutengua o leacutexico estende-se para aleacutem da
Terminologia e chega aos estudos da Sociolinguiacutestica57
e da Etnolinguiacutestica58
pois a liacutengua
de modo geral reflete marcas sociais e culturais dos falantes Assim observemos na
sequecircncia os demais termos e suas anaacutelises identificando as caracteriacutesticas de um povo e de
sua liacutengua
52 ERVA DE JABUTI
Nos estudos do termo sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras o aspecto socioterminoloacutegico eacute muito importante pois o termo pode apresentar
variaccedilotildees por vezes dentro de uma mesma aacuterea de especialidade Esse conceito traz um olhar
novo com perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural a respeito dos termos analisados sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras mostrando as influecircncias da cultura negra na
linguagem No que compete ao aspecto da linguagem Travaglia (2002 p 23) expotildee que ldquoa
linguagem eacute pois um lugar de interaccedilatildeo humana de interaccedilatildeo comunicativa pela produccedilatildeo de
efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e em um
56Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoMucuracaacuterdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015 57Sociolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda as relaccedilotildees entre liacutengua e sociedade e daacute ecircnfase ao caraacuteter
institucional das liacutenguas Eacute o estudo do comportamento linguiacutestico dos membros de uma comunidade e de como
ele eacute determinado pelas relaccedilotildees sociais culturais e econocircmicas existentes
58Etnolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda a relaccedilatildeo da linguagem e a cultura das comunidades A etnologia eacute o estudo antropoloacutegico dos povos e sua cultura analisando sua linguagem e como ela estaacute
relacionada agraves peculiaridades da vida primitiva suas crenccedilas e folclores
98
contexto soacutecio-histoacuterico e ideoloacutegicordquo Observemos as variaccedilotildees ocorrentes com o termo
ldquoErva de Jabutirdquo
TERMO 02 ndash ldquoERVA DE JABUTIrdquo
Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti
Lx Lexema Erva de Jabuti
V Variantes Coraccedilatildeo de Jabuti Coraccedilatildeozinho Comida de Jabuti
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto ela eacute uma planta di todu cantu tantu ambienti abertu ou fechadu ela daacute ela ela eacute
uma planta assim pequenauma erva ( ) ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela
eacute um formatu dum coraccedilatildeu coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu
grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha
neacute ela num eacute dessas avres assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua
dela a folhinha dela tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa
cheia di aacutegua eacute uma folha assim ( ) ela num ela num eacute aquela folha seca assim durinha
fina ela eacute uma folhinha assim bem gordinha cheinha neacute tantu faz a folha comu us
galhinhus dela ela bota uma uma bajizinha uma bajizinha forma dum duma baji di
pimenta du reinu soacute qui eacute bem piquininha eacute naquela forma da baji di pimenta du reinu
sabi neacute cumeacute aquela baginha assim soacute que eacute bem piquininha ( ) bem zititinha porque ela ela eacute uma planta pequena ela tem aqueli formatu da pimenta mais ela eacute miudinha eacute
teacute que ela eacute uma planta nativa tambeacutem ela num eacute assim uma planta cuidada ela eacute
nativa e assim nos quin no quintau ela gosta muitu de nascer im quintal eacuteh sozinha
eacute num precisa cultivar ela eacute ela eacute du quintau ela eacute assim du canteru ela nasce nu
canteru assim ela nascifriu ambiente frio daacute mais com certeza( )
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e os talos da planta
Fu Formas de Usada na forma de chaacutes para Ameba
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti
99
uso
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Os nomes tecircm relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas das plantas nos aspectos da funccedilatildeo e do
formato
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Com o termo ldquoErva de Jabutirdquo observamos que a planta apresenta mais de uma
variaccedilatildeo para a mesma palavra Algumas estatildeo relacionadas com a forma e tamanho daiacute suas
variantes serem conhecidas como ldquoCoraccedilatildeo de Jabutirdquo ou ldquoCoraccedilatildeozinhordquo o termo variante
tambeacutem possui relaccedilatildeo com a funccedilatildeo de servir de alimento para o animal por isso recebe a
terminologia de ldquoComida de Jabutirdquo Podemos perceber como a linguagem especializada
utilizada pelos moradores quilombolas de Pimenteiras apresenta variantes formadas pela
relaccedilatildeo associativa com as caracteriacutesticas descritas sobre as plantas medicinais da regiatildeo
Vejamos no contexto abaixo
[] ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela eacute um formatu dum coraccedilatildeu
coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha neacute ela num eacute dessas avres
assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua dela a folhinha dela
tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa cheia di aacutegua eacute uma
folha assim [](informaccedilatildeo verbal)59
Os termos e suas variantes estatildeo relacionados com a aacuterea de saber dos moradores
quilombolas sobre as plantas medicinais Nesse contexto os saberes de um povo se
manifestam e satildeo preservados na linguagem especializada e por conseguinte marcam os
conhecimentos tradicionais dos moradores de Pimenteiras Nas relaccedilotildees sociais da
comunidade as pessoas vivenciam de forma individual e coletiva sua linguagem Assim
vejamos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo considerado um conhecimento novo para os
moradores de Pimenteiras
59Transcriccedilatildeo Grafematica do termo ldquoErva de Jabutirdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015
100
53 NONI
Para a Terminologia o termo eacute a denominaccedilatildeo de um conceito que tem no
conhecimento especializado uma expressatildeo comunicativa cognitiva e complexa pois natildeo haacute
conhecimento especializado sem uma terminologia Assim Benveniste (1989 p 252) expotildee
que ldquoUma ciecircncia soacute comeccedila a existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e
em que impotildee seus conceitos atraveacutes de sua denominaccedilatildeo Ela natildeo tem outro meio de
estabelecer sua legitimidade senatildeo por especificar seu objeto denominando-o []rdquo Notemos
assim a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo e suas caracteriacutesticas na ficha terminoloacutegica
TERMO 03 ndash ldquoNONIrdquo
Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni
Lx Lexema Noni
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Co Contexto eacutehnoni eacute famoso ele ele cura ocacircncer neacuteentau ele previne ele nem cura como
prenine o cacircncer neacuteeacuteh o suco eacute na garrafada eu praticamente uso na garrafada
toda as minhas guarrafadas eu colo eacute mais natildeo garrafada ele natildeo fica fedorento natildeo
porque na garrafada a gente ponha ele verde e rodela a rodelinha e coloca pra secar e na hora da garrafada a gente tritura ele bem bem miudinho e bota na garrafada
ele natildeo fica natildeo tem gosto de nada agora o suco dele ele ele maduro have maria eacute
muito ruiacute neacute((sorriu)) eacuteh mas ele eacute assim mas na garrafada a gente pode usar ele
ninguei nem percebe se tem ele eacute muito assim ele eacute muito eacute um remeacutedio que ele eacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 19 ndash Folha do Noni Fotografia 18 ndash Noni
101
muito bom e ele ele assim nem tanto cura como previne as doenccedila como eacute bom pra
inflamaccedilatildeo pra infecccedilatildeo eacute muito rui neacuteaiacute a inflamaccedilatildeo ela vira infecccedilatildeo e aiacute eacute muito
bom pra usar ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que
eu conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais
trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute ela eacute uma planta e o fruto dele a
folha dele eacute bem grande bem grande a folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma
lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os frutos dele neacute((sorriu)) pois eacute ((sorriu))
pois eacute eacute soacute usa o fruto e pra isso e um da nunca ouviu falar eacute soacute e o fruto mesmo ela
ela conhece eacuteh que neacutea gente usa neacutea gente usa direito ela ajunta pra mim por
que peacute no meu quintau natildeo tem tambeacutem natildeo natildeo tem natildeo ela sempre a gente leva
daiacute
Fc Fonte
docontexto
A informante
Pu Partes de
uso
Eacute utilizado o fruto e as folhas em sucos e na garrafada
Fu Formas de
uso
Corta as rodelas da fruta colocando para secar e depois triturar para usar na
garrafada serve para curar e prevenir o cacircncer inflamaccedilotildees e infecccedilotildees
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Considerada uma planta nova foi inserida haacute pouco tempo no contexto da comunidade
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoNonirdquo eacute um substantivo masculino que tem como definiccedilatildeo ser uma planta
de fruto e folhas grandes O fruto eacute descrito pela moradora de Pimenteiras com a aparecircncia de
uma ldquolagartardquo Segundo Domingas ldquoo fruto dele a folha dele eacute bem grande bem grande a
folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os
frutos dele neacute ((sorriu))rdquo (informaccedilatildeo verbal)60
A planta eacute novidade para a moradora de Pimenteiras seu saber veio atraveacutes de
cursos por meio da associaccedilatildeo quilombola da comunidade sobre o poder das plantas O Noni
eacute utilizado na garrafada como anti-inflamatoacuterio e tambeacutem como aliado contra o cacircncer Nesse
contexto o conhecimento sobre a planta foi absorvido pelos moradores da regiatildeo e integrado
como parte dos saberes sobre as plantas medicinais Observemos abaixo
[] ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute
novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que eu
conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais
trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute [] (informaccedilatildeo verbal)61
60 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015 61Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
102
O que motiva o surgimento de um termo eacute a necessidade de nomear as novas
descobertas tecnoloacutegicas e cientiacuteficas direcionadas sempre a uma aacuterea especiacutefica do
conhecimento Segundo os estudos de Araujo (2006) o termo tem uma ldquodimensatildeo linguiacutestica
comunicativa e cognitiva e uma estrutura complexardquo O termo adquire uma feiccedilatildeo
terminoloacutegica porque integra um saber especializado ao lado de contextos no campo das
ciecircncias e das teacutecnicas ele tambeacutem possui uma dimensatildeo linguiacutestica por configurar um
comportamento lexical especializado e ainda uma dimensatildeo cognitiva por manifestar seu
conhecimento especializado
Por assim observar o termo eacute parte do componente linguiacutestico como tambeacutem eacute uma
unidade terminoloacutegica e ainda eacute um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saberVejamos
assim o componente linguiacutestico do termo ldquoPatacardquo
54 PATACA
A liacutengua eacute uma estrutura que estaacute sempre em transformaccedilatildeo desse modo a variaccedilatildeo
eacute um elemento muito importante para entendermos a existecircncia de diferenccedilas no modo como
uma liacutengua eacute usada em uma comunidade Assim como o ldquoNonirdquo o termo ldquoPatacardquo eacute um saber
novo para a comunidade de Pimenteiras adquirido por meio das relaccedilotildees sociais Observemos
abaixo sua anaacutelise
TERMO 04 ndash ldquoPATACArdquo
Fotografia 20 ndash Pataca
Fotografia 21 ndash Folha da Pataca
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
103
Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca
Lx Lexema Pataca
Cg Classe Gramatical
Substantivo feminino
Co Contexto eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacuteela me parece que
ela veio da iacutendia parasse neacuteela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de beacuteleacutem
que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta
sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu tenho um
pezinho laacute em casa ela eu natildeo que tamanho que o peacute taacute desse tamanho eu natildeo sei se daacute
grande natildeo eu daacute nunca viacute ela natildeo eacute nem daqui neacutemas ela eacute boa pra remautismo se
buta na de aacutelcool pra passar no lugar que taacute afetado do remautismo foi essa senhora
issi isso isso teacute agora eu eu ainda natildeo procurei pra ela cumo eacute que se usa porque ela
me deu tipo assim uma raiz tipo uma coisa assim nera num sei que era aquilo que ela
me deu ainda falta eu conversar com ela que pra mim procuraraacute cumeacute que se usa se eacute
a folha num era o que eacute eu pensei de ser ou o fruto ou a raiz dela natildeo natildeo natildeo tem natildeo natildeo veio mesmo que pra mim ela eacute recente neacuteeacute soacute folha soacute folha mas ela eacute muito
remeacutedio ela ela veio de longe essa essa pataca noacutes tiremos foto porque ela no meu
quintau neacuteela eacute remeacutedio agente tirou isso isso eacute verdade eacute depois me diz hum hum
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Natildeo sabe ao certo o que utilizar se eacute a folha caule ou fruto
Fu Formas de
uso
Tem a noccedilatildeo de usar com o aacutelcool na regiatildeo que estaacute com reumatismo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A informante recebeu a planta de outra pessoa natildeo sabe como usar poreacutem sabe que
serve contra o reumatismo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Sem saber o valor medicinal da Pataca a moradora traz para o ambiente da
comunidade um novo conhecimento adquirido pelo contato com outras pessoas sobre o uso da
planta que eacute conhecida pela sua importacircncia contra o reumatismo
O termo ldquoPatacardquo eacute considerado um substantivo feminino com uma estrutura
simples devido agrave presenccedila de um uacutenico radical No que concerne ao gecircnero na definiccedilatildeo a
moradora conduz sua fala no feminino referindo-se ao termo como a planta que foi inserida
haacute pouco tempo no contexto da comunidade segundo a senhora Domingas
[] eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacute ela me parece
que ela veio da iacutendia parasse neacute ela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de
beacuteleacutem que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu
tenho um pezinho laacute em casa [] (informaccedilatildeo verbal)62
62Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPatacardquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
104
Somos seres humanos formados pela interaccedilatildeo pelo contato que temos com as
pessoas com o ambiente com a cultura enfim eacute atraveacutes da accedilatildeo de produccedilatildeo da linguagem
que somos constituiacutedos como indiviacuteduos sociais Ao analisarmos os termos das plantas
medicinais catalogadas na comunidade de Pimenteira pretendemos ver como essas unidades
se constituem e que fatores extralinguiacutesticos sociais e culturais interferem e determinam essa
terminologia Barbosa (2001) expotildee que ldquoesse tipo de linguagem usa vocabulaacuterios teacutecnico-
cientiacuteficos e especializados mostrando que eles estatildeo no niacutevel de uma forma natildeo apenas
linguiacutestica mas tambeacutem socioculturalrdquo Assim completa expondo que
Considerando o conjunto de obras lexicograacuteficas e terminoloacutegico-terminograacuteficas
produzidas em eacutepocas mais recentes diriacuteamos que natildeo se tem muita clareza quanto
agraves fronteiras conceptuais denominativas definicionais dos tipos desses textos natildeo
obstante o estaacutegio avanccedilado em que se encontram neste fim de seacuteculo as pesquisas
das ciecircncias da palavra nessas aacutereas natildeo obstante igualmente a existecircncia de
numerosos organismos e obras de normalizaccedilatildeo terminoloacutegica em diferentes paiacuteses
que natildeo conseguiram assegurar para certos conceitos uma terminologia de
Terminologia uniforme e consensual (BARBOSA 2001 p 26)
Analisamos na sequecircncia o termo ldquoPau-de-muquemrdquo que eacute tambeacutem conhecido pelas
variantes ldquoAssa-peixerdquo ou ldquoMata pastordquo
55 PAU-DE-MUQUEM
Diferente da palavra o termo possui sempre relaccedilatildeo com o significado dentro de um
contexto de domiacutenio ou seja estaacute sempre contextualizado em um determinado campo de
conhecimento Nesse contexto seu conteuacutedo especiacutefico encontra-se em uma situaccedilatildeo de uso
particular Krieger (2001 p 69) nos afirma que ldquoo reconhecimento sem duacutevida incontestaacutevel
do componente conceitual na constituiccedilatildeo do fenocircmeno terminoloacutegico responde fortemente
pelas interpretaccedilotildees de que um termo eacute uma unidade de conhecimentordquo
Uma unidade de conhecimento que estaacute em contiacutenuo relacionamento com seu
significado e que segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos (CABREacute 1993) Assim
caracterizamos o termo Contudo que criteacuterios podemos seguir para a seleccedilatildeo dessas unidades
de especialidades Antes de observar se os termos sobre as plantas medicinais pertencem ou
natildeo ao domiacutenio da especialidade percebemos que a definiccedilatildeo de um termo sempre seraacute o
ponto de partida pois os contextos de uso nos estudos teoacutericos da terminologia tornam-se
105
vaacutelidos para descrever e recolher os termos dentro do campo de ocorrecircncia do saber
especializado Observemos entatildeo como ocorre as variaccedilotildees no termo ldquoPau-de-muquemrdquo
TERMO 05 ndash ldquoPAU-DE-MUQUEM
Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-De-Muquem
Lx Lexema Pau-de-muquem
V Variante Assa-peixe ou Mata pasto
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto eacute o mesmo accedilapeixe sim eacute a mesma coisa eacute uma arve eacute uma arve nativa tambeacutem ela
do tempo ela eacute diz que ela eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacutefazer o
lambedor dela o xarope o lambedor eacute a mesma coisa do charope neacuteda folha buta ela pra ferver ferver inteacuter quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua
quando ele reduzir pra meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel
dipreferente o mel pra essas coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar
toamando que eacute pra tosse a irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o
lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo
neacutequando tivesse bem sequinha esfarelava na comida e comia eacute ela disse queeu
num sei tambeacutem isso daiacute ((sorriu)) ela eacute assim ela eacute grande assim ela eacute grande assim
a ponta dela eacute mais larga soacute () diferente da a potinha dela eacute bem larguinha a ponta
dela pra ponta ela eacute mais larga e pro pezinho da folha eacute mais estretinha quase que eacute
pois eacute assim tambeacutem numa moita num nasce soacute uma ave nasce varas varas ela eacute boa
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem
106
de filhar assim a volta dela brolha muita aiacute tambeacutem tem uns que chamam mata pasto
neacute mata pasto tem gente que manca ela gosta de nascer meio do capinzal aiacute ela gosta () eacute tem gente que cha pasta pasto sem mas eacute conhecido mesmo bem por accedila peixe e
pau de muqueacutem nos conhecemos por esse nome lambedor isso eacute pra tosse natildeo natildeo ela
tambeacutem chama de mata pastu porque nasce assim no meio do capim
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas
Fu Formas de
uso
Para tosse fazer o lambedor (ferver as folhas na agua ateacute apurar depois acrescenta o
mel) Para renite (fritar as folhas em oacuteleo triturar e colocar na comida)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Eacute conhecido tambeacutem como assa-peixe ou mata pasto
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando o termo ldquoPau-de-muquemrdquo entendemos que as variantes ldquoAssa-peixerdquo e
ldquoMata pastordquo tambeacutem deveriam ser analisadas no aspecto gramatical com isso observamos
que os termos e suas variantes satildeo sintagmas terminoloacutegicos masculinos Eacute interessante notar
que as variantes apresentam a mesma composiccedilatildeo em sua formaccedilatildeo podendo ser utilizadas no
mesmo contexto Nesse aspecto Faulstich (1999) explica que haacute formalizaccedilatildeo da sinoniacutemia
terminoloacutegica em que as variantes satildeo coocorrentes ou seja ldquorelaciona o sentido de dois ou
mais termos com significados idecircnticos e podem coocorrer em um mesmo contexto sem que
haja alteraccedilatildeo no plano do conteuacutedordquo
No que concerne agrave definiccedilatildeo descrita sobre o termo e suas variaccedilotildees a planta eacute usada
para tosses e renites sendo que para cada situaccedilatildeo o modo de processar eacute particular
Observamos que as distintas formas de nomear a planta medicinal coincidem no preparo para
as diferentes enfermidades a serem tratadas assim expotildee a senhora Domingas
[] eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacute fazer o lambedor dela o xarope o
lambedor eacute a mesma coisa do charope neacute da folha buta ela pra ferver ferver inteacuter
quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua quando ele reduzir pra
meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel dipreferente o mel pra essas
coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar toamando que eacute pra tosse a
irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo neacute quando tivesse bem sequinha
esfarelava na comida e comia eacute ela disse que eu num sei tambeacutem isso daiacute
((sorriu))[] (informaccedilatildeo verbal)63
63Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPau-de-muquemrdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
107
Considerar o termo dentro do ambiente social que as pessoas utilizam a linguagem
esta eacute a base da Socioterminologia que analisa a variaccedilatildeo social do termo antes tido como
invariaacutevel Com isso procuramos examinar como a variaccedilatildeo ocorre dentro das mudanccedilas na
sociedade lugar em que o termo eacute gerado eacute usado eacute modificado Ao falar sobre
Socioterminologia Faulstich (2006 p 27) expotildee que
Para falar de socioterminologia eacute preciso antes de tudo situar a terminologia no
espaccedilo da interaccedilatildeo social No Brasil por exemplo a histoacuteria da terminologia se confunde com a formaccedilatildeo da sociedade brasileira por meio da mistura de falares dos
habitantes naturais da terra e dos que para caacute vieram Vejam-se nos dicionaacuterios
termos da fauna e da flora como indicadores da terminologia indiacutegena no portuguecircs
brasileiro () Assim sendo natildeo eacute novidade dizer que a diversidade da cultura
brasileira aparece refletida na terminologia cotidiana
Um dos maiores aspectos da Socioterminologia exposto por Faulstich (2006) eacute ldquoter
na base da pesquisa a variaccedilatildeo linguiacutestica dos termos no meio social e por consequecircncia
entender a mudanccedila terminoloacutegica como mecanismo resultante da pragmaacutetica discursivardquo
Assim no que diz respeito agraves mudanccedilas no termo a pesquisadora explica que a ldquovariaccedilatildeo
deve levar em consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de comunicaccedilatildeo de uma determinada aacuterea
que dependem das circunstacircncias de emissatildeo dos interlocutores do meio pelo qual se daacute a
comunicaccedilatildeo entre outrosrdquo (FAUSLTICH 2006 apud BLANCO 2010 p 4)
Vejamos na sequecircncia como ocorre a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo
56 VASSOURA DE BOTAtildeO
Nos estudos da linguagem humana os usos de palavras especiacuteficas para situaccedilotildees em
especial vecircm sendo ampliados de acordo com as mudanccedilas de uso da liacutengua tais palavras
recebem as seguintes nomenclaturas leacutexico especializado termo teacutecnico-cientiacutefico termo
unidade lexical terminoloacutegica unidade lexical especializada unidade lexical temaacutetica
unidade de conhecimento unidade de compreensatildeo unidade de significaccedilatildeo especializada ou
vocabulaacuterio (ARAUacuteJO 2006)
Ao utilizarmos os termos com sentido aproximado do objeto nomeado fazemos uma
associaccedilatildeo com certa caracteriacutestica correspondente ao nome dado Nesse contexto ldquoa relaccedilatildeo
associativa eacute uma relaccedilatildeo entre dois conceitos que natildeo pertencem agrave mesma estrutura hieraacuterquica
ainda que sejam proacuteximos do ponto de vista semacircntico ou contextualrdquo (TESAURO 2006 p 11)
108
Nesse acircmbito vejamos a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo cujo nome segundo a
descriccedilatildeo de Domingas possui relaccedilatildeo com a planta nomeada
TERMO 06 ndash ldquoVASSOURA DE BOTAtildeOrdquo
Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo
Lx Lexema Vassoura de botatildeo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto ela eacute boa pra quela eacute verme gearde neacutegearde que eacute do estamagu que eacute de
ameba eacute pra ela que ela eacute bom eacute a gente faz a gente faz tambeacutem tintura piacuteula dela de
vassoura de botatildeoeacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que ela
assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim ao
redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela
agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota outra
aqui ateacute trecircs quatro assim isso hurum isso sim sim eacute isso isso eacute chamo vassoura de
butatildeo eacute a folha com tudo aquilo tudo tudo isso eacute pequeninha eacute isso hurum e tambeacutem eacute
e uma fez noacutes fizemos eacute pumada disseram quera era boa pra ela ela diz antiplamatoacuterio
a gente fez a pumada neacutecatamos tudinho a folhinha butamos pra fritar nu na gordura vegetal e depois transformamos na pomada mas isso aiacute ningueacutem tem dizer
assim ele foi bom porque ningueacutem usou a gente um pouco soacute pra demonstraccedilatildeo isso
foi pela pastoral da crianccedila neacuteaquela pretinha que foi ensinar noacutes a gente fez vaacuterias
mas a gente fez soacute um pouquinho num
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e o botatildeo da flor
Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo Fotografia 25 ndash Folha da Vassoura de botatildeo
Fonte Dado registrado durante a pesquisa Fonte Dado registrado durante a pesquisa
109
Fu Formas de
uso
Usada para vermes amebas no estocircmago atraveacutes de tintura piacutelulas anti-inflamatoacuterio
(ferver as folhas e o botatildeo em gordura vegetal para transformar em pomada)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem aspecto de uma pequena vassoura invertida
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoVassoura de Botatildeordquo eacute um sintagma terminoloacutegico feminino formado pela
composiccedilatildeo de palavras Em sua estrutura o termo apresenta uma complexidade formada pela
presenccedila de dois radicais no acircmbito da definiccedilatildeo do termo verificamos que haacute uma relaccedilatildeo
associativa do nome da planta com a aparecircncia que ela possui como expotildee Domingas
[] vassoura de botatildeo eacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que
ela assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim
ao redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela
agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota
outra aqui ateacute trecircs quatro [] (informaccedilatildeo verbal)64
Com o formato de uma vassoura invertida o termo ldquoVassoura de Botatildeordquo estaacute
relacionado com o aspecto que o objeto nomeado possui Nesse campo de estudo Faulstich
(1999) explica que nas relaccedilotildees associativas haacute uma sequecircncia que estaacute conectada com a
experiecircncia contiacutenua entre o tempo e espaccedilo Assim a ldquounidade terminoloacutegica pode ter ou
pode assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha
nos contextos de ocorrecircnciardquo (FAULSTICH apud CRUZ 2014 sem paginaccedilatildeo)
Vejamos assim algumas plantas que apresentam relaccedilotildees associativas nos seus
nomes quanto agrave forma tamanho cor e funccedilatildeo medicinal como eacute o caso do termo ldquoNambu
Tutanordquo
57 NAMBU TUTANO
Na Liacutengua podemos utilizar as palavras em diferentes relaccedilotildees de sentidos nos mais
diversos contextos Nesse processo denominado polissecircmico encontramos termos que
64
Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
110
possuem formaccedilotildees utilizadas no acircmbito geral de uso da liacutengua assim como termos
especiacuteficos no uso especializado da linguagem
Nesse aspecto verificamos que a comunidade de Pimenteiras apresenta variaccedilotildees
para um mesmo termo sobre as plantas medicinais ocorridas pela relaccedilatildeo associativa com as
caracteriacutesticas pertencentes a cada espeacutecie nomeada Verifiquemos a anaacutelise do termo abaixo
TERMO 07 ndash ldquoNAMBU TUTANOrdquo
Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano
Lx Lexema Nambu Tutano
Va Variante Batata Roxa
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto eacute uma planta eli eacute eli eacute piquininhu eli daacute assim eim forma di cebola di planta
assim qui eli eacute soacute que eli a folha eli natildeu teim caulei natildeu daqui qui eli nasci eli jaacute
nasci as folhas natildeu eli num teim qui a batata a cebola di planta neacute qui eacute assim ela jaacute
vai nascendu a folha duma folha eacute qui neim a cebola duma folha jaacute bota outra folha
dotra folha jaacute vai botandu qui neacute batatinha em baixu eacute natildeu natildeu teim cauli natildeu eacute soacute
folha i batataa folha eacute a folha teim a folha di accedilaizeiru neacute qui eacute assim ai teim as
folinhas qui agarra nu talu du accedilaizeiru eacute daqueli formatu da folha du accedilaizeiru natildeu
natildeu eacute beim compridona eacute assim a folha deli mais ou menus dum palmu qui eacute assim a folinha deli natildeu natildeo sei por que ela eacute abertinha teim a folha di cebola porque a
folha cebola eacute toda eacute inteira comu digu logu eacute rolicinha e ela num ela eacute ela eacute eacute ela eacute
folinha ela eacute folha assim ela eacute abertinha folha aberta folha assim folha aberta folha
qui tem a accedilaizera qui teim a folha dela qui eacute assim agora a dela eacute qui neim aquela
folha di accedilaizeiru assim qui ( )nasci daqueli talu assim pois eacute a folha dela babosa
num teim a babosa qui eacute uma folha aberta neacute eacute folha mais eacute aberta neacute assim qui eacute du
batatatildeu ela num eacute aquela folha inteira folha roliccedila assim ela eacute uma folha aberta natildeo
eacute seca qui nem di accedilaizeru mermu eacute seca mermu eacute usa soacute a batata natildeo
Fotografia 26 ndash Nambu Tutano Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
111
piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute roxinha tambeacuteim batata roxa
porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu
jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute qui neim a cebola capa sobri capa a
capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu
vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu mas ela eacute assim de capinha nambu tutanu
isso daacutei eu conhe caacute a minha voacute i minha matildei tambeacuteim nambu tutanu qui quandu eu mi
criei ela jaacute tinha neacute ( ) issu aqui eacute nambu tutanu porque as veiz quandu aparecia
aquela pessoa doenti crianccedila doenti neacute vai ver nambu tutanu vai arrancar aqueli
pesinhu ali vocirc fazer remeacutediu ai a genti ia arrancar i por issu qui deru u nomi ai eu
achu qui veim dus avocircs delis dus tataravoacute sabi laacute neacute aprendemus com elis eacute eacute mesmu
nomi cebolinha eacute batata roxa nambu tutanu mesmu nomi
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
A raiz em formato de batata
Fu Formas de uso
Chaacutes para diversas doenccedilas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A variante Batata Roxa vem do formato da raiz que parece uma batata em camadas
como cebola na cor roxa
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando o termo ldquoNambu Tutanordquo observamos que possui a variante ldquoBatata
Roxardquo Na anaacutelise por meio da ficha terminoloacutegica na definiccedilatildeo descritiva de cada planta
medicinal verificou-se que os termos e suas variantes tecircm particularidades importantes para
este estudo Desta forma no termo ldquoNambu tutanordquo notou-se que sua variante ldquobatata roxardquo
possui relaccedilatildeo associativa com a forma ou seja a planta apresenta formato de uma batata de
cor roxa por isso a presumiacutevel relaccedilatildeo com a variante do termo Observemos abaixo
[] eacute usa soacute a batata natildeo piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute
roxinha tambeacuteim batata roxa porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a
batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti
comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute
qui neim a cebola capa sobri capa a capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu
mas ela eacute assim de capinha[] (informaccedilatildeo verbal)65
Sabemos que na configuraccedilatildeo atual a Terminologia vai muito aleacutem da elaboraccedilatildeo
de dicionaacuterios na aacuterea Muitos autores consideram o conhecimento nas liacutenguas especializadas
como um rico campo de conhecimento Faulstich (1995) explica que o saber eacute construiacutedo de
forma individual e coletiva num processo no qual o sujeito interage com a realidade as
65Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNambu Tutanordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
112
pessoas e o ambiente sociocultural Isso nos revela que a Socioterminologia jaacute era prenuacutencio
para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de natureza social ou
seja ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo no universo da terminologia revelam peculiaridades
proacuteprias a serem estudadas pela disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para
a sistematizaccedilatildeo de termos e de variantesrdquo (FAULSTICH 1995 p 281)
Na sequecircncia analisemos o termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo
58 QUEBRA PEDRA ROXO
Em seus estudos Faulstich (1995) aborda aspectos relevantes dentre os quais
destaca a diferenccedila entre lexema e termo Para a pesquisadora o lexema eacute ldquouma unidade
lexical do domiacutenio do leacutexico geral da liacutengua um termo eacute tambeacutem uma unidade lexical mas
tiacutepico de variado domiacutenio de vocabulaacuterio cientiacutefico e teacutecnicordquo (FAULSTICH 1995 sem
paginaccedilatildeo) Por ser o lexema uma unidade da liacutengua comum Faulstich explica que ele eacute
portador de conotaccedilotildees psicoloacutegicas e sociais que lhe proporcionam a multiplicaccedilatildeo de
significados e a presenccedila da polissemia que por correspondecircncia daacute lugar agrave sinoniacutemia
Diante do contexto funcional a autora destaca que o ldquolexema delineia seu caraacuteter semacircntico e
lexicograacutefico a partir da estrutura paradigmaacutetica porque satildeo as oposiccedilotildees distintivas que
delimitam a configuraccedilatildeo semacircntica e marcam o valor do lexemardquo (FAULSTICH 1994 p
314)
Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo que o sentido estaacute
relacionado ao nome Durante as pesquisas realizadas natildeo encontramos a espeacutecie na cor roxa
para o registro de imagens mas a informante apresentou sua definiccedilatildeo descritiva de forma
subjetiva para que pudeacutessemos verificar as especificidades do termo na ficha terminoloacutegica
Assim observemos
Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo
Lx Lexema Quebra Pedra Roxo
Va Variante Comer de Rola
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto comecirc di rola essi du roxu eacute porque to dizendu eacute eli eacute soacute um formatu du mermu jeitu
qui eacute u brancu eacute soacute muda a cor eli eacute roxinhu por que teim u brancu i teim roxu essi comecirc di rola noacutes conhecemu assim comecirc di rola roxu u quebra pedra eacute quebra pedra
brancu mas eli eacute soacute um formatu u formatu qui eacute u quebra pedra brancu eacute u roxu
beim piquinininha du tamaninhu eacute du mesmu jeitu mesmu jeitinhu aiacute porque qui
113
eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu du otru neacute soacute qui
adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela trevoada di rolinha qui
levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas bichinhas gosta di taacute aqui
porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u
matu eacute du mermu jeitu du brancu eli daacute por certus tempu quandu chega nu veratildeu eli
eli morri soacute qui eacute assim quandu eli nasci muitu qui nu meu roccediladu jaacute nasceu muitu
assim chega qui eu ficava tomandu di conta assim la quasi num nascia neim um otru
matu era soacute por conta deli mermu laacute porque eacute beim encostadinhu dotru neacute assim um
tipu um canteru laacute quasi num nasci otru matu eu sei qui as bichinha gostavu di taacute laacute si
alimentandu da sementinha da folhinha delis minha voacute nois conhecemus com ela
comecirc di rola assim noacutes comu crianccedila vovoacute u qui eacute issu comeacute u nomi dissu ela era uma
velhinha muita pacienti isso ai eacute comecirc di rola( ) porque assim a rolinha quandu chega
aqui as bichinha num si levantu assim ai comecirc di rola pra qui servi vovoacute issu aqui eacute remeacutediu eacute eacute sim eacute remeacutediu( ) prus rins tambeacuteim neacute qui antis a genti fazia dessi assim
quebra pedra fazia mas noacutes conhecemu mais por comecirc di rola a depois qui era quebra
pedra a eacute remeacutediu pa pa quem teim pedras nu rins podi fazer u chaacute dela i tomar agora
eu jaacute usu comu( ) eu jaacute usu na garrafada jaacute bota na garrafada u brancu porque
nois jaacute tivemu uma uma oficina um treinamentu qui uma mulher vei di macapaacute e diz
qui u u bom mermu eacute u brancu qui eacute u quebra pedra di verdadi assim pru pru pedra nu
rim neacute porque eli jaacute porque nois dizia assim( ) teca porque u nomi dela era teca teca
noacutes dizia qui era u roxu ela dissi natildeu u roxu natildeu teim muita serventia eli servi mas u
brancu porque eacute u quebra pedra di verdadi eacute u brancu porque u nomi deli eacute quebra
pedra mermu eacute essi qui eacute bom aiacute eu dissi olha noacutes usa na garrafada ela dissi podi
usari natildeu teim poblema nenhuma comi tambeacuteim mais eacute assim eacute porque aqueli tempu tinha mais passarinhu noacutes via mais tinha mais du roxu assim nu roccediladu eacute mais du roxu
elas tavu mais ondi tava o quebra pedra du roxinhu eacute
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para problemas nos rins
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dores nos rins
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Conhecido tambeacutem por comer de rola porque os paacutessaros preferem a roxinha que a
branca
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Quanto ao termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo sua variaccedilatildeo ocorre com relaccedilatildeo associativa
com a funccedilatildeo que a planta tem ou seja a planta serve de alimento para certa espeacutecie de
paacutessaro assim o termo eacute tambeacutem chamado pela variante ldquoComer de Rolardquo por ser o alimento
que os paacutessaros ldquorolinhasrdquo preferem
[] aiacute porque qui eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu
du otru neacute soacute qui adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu
di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela
trevoada di rolinha qui levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas
114
bichinhas gosta di taacute aqui porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u matu [] (informaccedilatildeo verbal)66
O termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo tambeacutem possui relaccedilatildeo associativa com sua funccedilatildeo
Na sabedoria popular a planta serve para tirar ldquoquebrarrdquo as pedras nos rins No que se refere
ao termo Faulstich esclarece que ao ser colocado no mundo da linguagem cientiacutefica e
teacutecnica ldquoo termo assume o estatuto de unidade lexical definida e eacute naturalmente uniacutevocardquo
(FAULSTICH 1994 p 315) Ou seja haveria um uacutenico conceito para um termo uacutenico com
uacutenica definiccedilatildeo Entretanto se ocorressem conceitos e definiccedilotildees diferentes para um mesmo
termo Faulstich adverte que ocorreria o que ela denomina posteriormente de variaccedilatildeo
terminoloacutegica ou seja havendo um novo termo um novo conceito com uma nova definiccedilatildeo
ocorreria a variaccedilatildeo No entanto ldquose esse mesmo termo vier a funcionar num outro contexto
como equivalente graacutefico de um jaacute existente mas natildeo equivalente semacircntico propiciaraacute a
homoniacutemia terminoloacutegicardquo (FAULSTICH 1990 sem paginaccedilatildeo)
Observemos na sequecircncia outro termo e sua anaacutelise
59 PARATUDO
Faulstich (1990) chama a atenccedilatildeo para a anaacutelise do termo no discurso pois eacute no
discurso que se estrutura a significaccedilatildeo semacircntica e terminoloacutegica Ela destaca que a natureza
epistemoloacutegica do lexema e do termo se fundamenta no alcance dos objetivos de cada um ou
seja para a lexicologia pertence agrave construccedilatildeo de um modelo de componente do leacutexico da
gramaacutetica jaacute a terminologia devido seu caraacuteter de intersecccedilatildeo com a lexicologia morfologia
e a semacircntica prestigia termos da linguagem cientiacutefica e teacutecnica Assim o limite entre lexema
e termo estaacute amparado nos recursos metodoloacutegicos da lexicologia e da terminologia Para
Faulstich (1994 p 317)
O resultado praacutetico da lexicologia teoacuterica e descritiva serve de ponto de partida para
o trabalho lexicograacutefico na elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios de liacutengua geral o resultado praacutetico da terminologia especializada aplica-se agrave terminografia na constituiccedilatildeo de
dicionaacuterios especializados
66Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
115
Diante desse contexto analisamos que o termo conhecido tambeacutem como sinocircnimo de
unidade terminoloacutegica designa um conceito da linguagem de uso especial Segundo Andrade
(et al 1998 p 191)
Tal como as palavras do leacutexico geral os termos satildeo unidades siacutegnicas distintivas e
significativas ao mesmo tempo apresentando-se de forma tatildeo natural no discurso
especializado quanto as palavras nos discursos que se valem da liacutengua comum
como forma de expressatildeo
Assim observemos que o termo ldquoParatudordquo passou por uma distinccedilatildeo particular
vejamos
TERMO 09 ndash ldquoPARATUDOrdquo
Fotografia 28 ndash Paratudo Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo
Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo
Lx Lexema Paratudo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto eacuteh paratudo paratudo isso eacuteuma aacutervore uma aacutervore bem grande ela eacute uma aacutervore
bem grande ela eacute boa pra febre diprimeiro quando dava aquela febre de malaacuteria era
uma febre muito antiga que chamava por outro nome conhecida por outro neacuteela era
soacute o que curava ela eacute amargo amargo a casca dela a casca a gente usa eacute a casca iai a minha matildee tirava pra gente tomar o chaacute mas pra febre era primeiro lugar eacute febre ama
diprimeiro chamava febre amarela agora a pessoa diz que eacute a mesma malaacuteria o
pessoa digo neacuteera a uacutenica que curava era dava um tipo de febre que dava tudo tipo
de remeacutedio ih num passava aiacute eacute soacute a gente dando tudo heacute cumeccedilava sis maacute que era
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
116
esse tipo dessa febre que dava neacuteporque a malaacuteria eacute assim comeccedila daacute em seguida
aqueles horaacuterios o pessoal jaacute disconfia que a malaacuteria neacutee assim eacute era essa essa tipo
dessa febre iai a mamatildee fazia o chaacute paratudo mas ele eacute uma aacutervore ele eacute nativo ele eacute uma aacutervore muita bem grande bem grandona ela eacute nativa ela daacute em qualquer canto
num carece plantar paratudo eu natildeo sei porque os antigos ( )porque eu acho que
parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque essa febre amarela inha matildee
contava era assim febre muito perigosa diprimeiro neacuteera uma febre muita perigosa
que quase quando dava com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho
que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a
febre aiacute butaru paratudo eu acho neacuteela eacute mais alta tem umas que daacute mais alta no
lugar quela cresce mesmo ela eacute bem alta soacute soacute quela natildeo eacute grossana sempre ela eacute fina
ela natildeo eacute grossa natildeo sempre ela fina natildeo ela eacute bem comprindona mas ela eacute fina soacute a
casca soacute a casca
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Utiliza-se apenas a casca da aacutervore
Fu Formas de
uso
Usada na forma de chaacutes para febre amarela malaacuteria
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo ldquoParatudordquo significa que parava todos os sintomas da febre amarela
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando a classe gramatical do termo ldquoParatudordquo vemos que se trata de um
sintagma terminoloacutegico feminino devido a informante se direcionar ao feminino quando
descreve chamando de aacutervore O termo estaacute escrito na forma agrupada essa junccedilatildeo ocorreu
na liacutengua pelo processo de justaposiccedilatildeo o qual Pottier (1978) chama de composiccedilatildeo
composta Isto provavelmente ocorreu pela significaccedilatildeo que o termo adquiriu nas geraccedilotildees
anteriores pois segundo a definiccedilatildeo de Domingas
[] porque os antigos ( ) porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso
neacute paratudo porque essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito
perigosa diprimeiro neacute era uma febre muita perigosa que quase quando dava
com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram
esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo eu acho neacute[] (informaccedilatildeo verbal)67
Na histoacuteria descrita pela moradora quando seus antepassados adquiriam a febre
amarela ou malaacuteria tinham febres persistentes em horaacuterio programado Dificilmente
conseguiam eliminar seus sintomas a natildeo ser quando utilizavam a planta ldquoParatudordquo ou seja
ldquoparava tudordquo Assim o termo foi absorvido com o poder de parar todos os sintomas das
enfermidades contraiacutedas
67Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
117
[] porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque
essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito perigosa diprimeiro
neacuteera uma febre muita perigosa que quase quando dava com febre amarela que
natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo []
(informaccedilao verbal)68
Nesse contexto Faulstich (1995) considera que as ldquovariantes satildeo resultado dos
diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica fazem
do termordquo assim absorvida como medicamento que trouxe a cura de tudo a cura de todos os
sintomas da febre amarela ou da malaacuteria o termo eacute conhecido e usado na linguagem dos
moradores como planta que cura e para tudo escrito na forma composta
Seguimos na anaacutelise dos termos sobre as plantas medicinais com a anaacutelise
morfoloacutegica de alguns termos apresentando as imagens registradas durante a pesquisa de
campo juntamente com a definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas
utilizando para isso o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com os
elementos constitutivos dos termos para melhor visualizarmos seus dados
Na sequecircncia verifiquemos a anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo
510 GERGELIM BRANCO
A partir das investigaccedilotildees sobre as relaccedilotildees associativas entre os signos linguiacutesticos
surgem teorias em direccedilatildeo ao campo semacircntico que eacute considerado como o universo
linguiacutestico das palavras Em intersecccedilatildeo com o campo conceitual universo das ideias
segundo Robin (1977) o processo de conceptualizaccedilatildeo do mundo exterior chamado de
campo conceptual surge na mente humana pelo deciframento linguiacutestico dos conceitos e
categorias abstratas que eacute parte do campo leacutexico-semacircntico
Notando tais aspectos na estrutura do campo leacutexico-semacircntico e morfossintaacutetico do
termo este apresenta em alguns casos uma estrutura simples complexa ou composta Na
estrutura simples o termo eacute constituiacutedo de apenas um radical jaacute nos termos complexos e
compostos apresentam dois ou mais radicais Nos termos compostos a presenccedila do hiacutefen
diferencia-o do termo complexo ndash que natildeo possui o hiacutefen ndash poreacutem ocorrem processos de
composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras Na comunicaccedilatildeo
68 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
118
especializada o que predomina satildeo os termos complexos por serem capazes de assumir
diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo
reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico
Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo que sua estrutura eacute
composta por dois radicais sem a presenccedila de hiacutefen senatildeo vejamos
TERMO 10 - GERGELIM BRANCO
Fotografia 30 ndash Gergelim Branco Fotografia 31 ndashFolha do Gergelim Branco
Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco
Lx Lexema Gergelim branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Co Contexto eacuteh hurum eacute da eacute a mesma da mesma mesma tipo do mesmo soacute muda a cor eacute eacute da
semente eacute com certeza a arve eacute mesmo jeito vocecirc soacute vai sabe na hora que cai a
sementinha dela neacute ela eacute meacutedia ela eacute eacute plante do rodado ela pela sementinha () no
rosado soacute vai colher ela quando eacute na tempo de colher que a gente vai colher ela bota
pra secar aiacute vira ela bota pra secar ela soacute tem que buta ela pra secar de ponta pra
cima aiacute ela vai ce porque ela vai vai secando e e aqueles aqueles cachopinhas aqueles frutinho dela vatildeo vatildeo abrindo tudinho se ele tever de ponta pra baixo ele vai abrindo e
vai caindo ele tem que que taacute todo tempo neacute e fica guardada quando a gente vira a
pontionha dele pra baixo ele derrama eacute ele e ele eacute eacute a semente olha dhione eacute ela serve
pra um monte de coisa ( ) ela serve pra avece que daacute pra fazer massage ela serve pra
febre ela serve pra diarreia ela serve pra moragia a sementinha ela ser muito varo eacute
vaacuteria coisa que ela natildeo eacute o sumo da sementinha a gente pega bota ela pra esquentar
um pouco eacute raacutepido tem que ser raacutepido porque ela eacute uma sementinha muita graacutegil que
se demorar ela vai queimar esquenta ela quando ela taacute boa ela tem um cheiro assim
tatildeo ela muda de cheiro aiacute tira ela e pisa hoje em dia eacute mais pra mais normal eacuteo
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
119
lotificador neacute bota eacute ti e bota um pouco de aacutegua tira o leite grosso o leite dele sai
uma deliacutecia assim o leite grosso aiacute vocecirc pode se for pruma febre vocecirc pode toma uma ou duas culher vai depender da idade da crianccedila ou do da adulto sei laacute moragia
tambeacutem e pra ai se ai tanto ele serve pra remeacutedio cume ele eacute grande alimentaccedilatildeo ele eacute
alimentaccedilatildeo pra mim eu uso ele cumo alimentaccedilatildeo o gergelim como alimentaccedilatildeo e
porque assim no por remeacutedio ougaque eacute mais o gergelim preto pra remeacutedio pra
remeacutedio mas pra mim tanto faz pra mim tanto faz com certeza agora cumo eu tocirc
dizendo pode usar o preto mas de preferencia o preto de preferencia o preto mas num
tendo o preto o branco tambeacutem serve ele eacute a mesma coisa mas agora comu eu tocirc
dizendo eu uso o gergelim laacute em casa quando eu tenho eu uso pra minha pra mim
tomar meu cafeacute de mnhatilde comu ele eacute muito gostoso quando eu tiver um pouquinho que
agora eu tenho a minha roccedila quando tiver um poquim eu vou trazer um poquim da
paccediloca pra ((sorriu)) ele tem caccedilo eacute () anram sim urum isso eacute neacute pois eacute sim sim hurum
((sorriu)) acho que sim natildeo natildeo sei dizer natildeo mas eu acho que eacute pelo tamanhinho dele neacute que eacute uma semente muito eacute vou tomar poquim eacute isso
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
A sementinha contida na flor eacute usada para diversos problemas de sauacutede e tambeacutem
como alimento
Fu Formas de
uso
A sementinha secada e triturada para retirar o leite serve para derrame cerebral
hemorragias febre diarreia massagens e como alimento
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Segundo a informante o gergelim preto eacute melhor mas ela utiliza tambeacutem o gergelim
branco
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
No termo complexo Gergelim Branco aconteceu a formaccedilatildeo de termos pela
composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja o termo eacute formado por duas ou mais palavras que satildeo
independentes entre si no processo de formaccedilatildeo e que juntas formam um novo significado
uma nova palavra Quanto ao estudo gramatical dos termos complexos eles satildeo formados por
um elemento base que eacute o substantivo e em seguida por outra palavra que demonstra a
qualidade ou especificidade do primeiro podendo ser um adjetivo Por exemplo em
ldquoGergelim Brancordquo o substantivo eacute ldquoGergelimrdquo e ldquoBrancordquo eacute a particularidade na cor que
esse substantivo tem ou seja eacute um adjetivo
Observando as particularidades do termo ldquoGergelim Brancordquo vejamos na sequecircncia
a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo
120
511 URUCUM VERMELHO
Tomando os estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) sobre a estrutura do termo
percebemos que cada um a seu modo explana sobre o mesmo conceito Na explanaccedilatildeo de
Barros (2007 p 399) ela apresenta que
Termo simples unidade terminoloacutegica constituiacuteda por um uacutenico lexema
independente do processo de formaccedilatildeo deste Termo complexo unidade formada
por composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja por um grupo de lexemas e morfemas
gramaticais (palavras nocionais e gramaticais) natildeo ligadas por hiacutefen tambeacutem
independente do processo de formaccedilatildeo dos termos Termo composto unidade
terminoloacutegica formada por dois ou mais lexemas que se encontram em situaccedilatildeo de
natildeo-autonomia representada graficamente pela utilizaccedilatildeo do hiacutefen
Em Pottier (1978) a nomenclatura utilizada eacute lexia69
que eacute a menor unidade
funcional e significativa do discurso seja ele de forma oral ou escrita Para o pesquisador a
lexia nasce da relaccedilatildeo associativa entre seus elementos Quando utilizamos um termo em
determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo
internalizadas na liacutengua que por ser um sistema dinacircmico passa a ser enriquecida com
neologismos Assim no que compete aos estudos de Pottier o pesquisador apresenta como
modelo trecircs tipos de lexias sendo elas simples compostas e complexas (CAMPOS 2007)
As lexias simples70
satildeo conhecidas como a menor unidade lexemaacutetica ou palavra
tradicional que junto de outras lexias simples formam outras unidades lexemaacuteticas
conhecidas como palavras compostas Na lexia complexa ocorre uma sequecircncia de palavras
em grau maior de complexidade chamado de lexicalizaccedilatildeo Esta seria quando um sintagma se
torna uma unidade lexical autocircnoma Consequentemente Genouvrier amp Peytard (1974)
esclarecem melhor as lexias complexas de Pottier expondo em outras palavras que elas satildeo
formadas pelo agrupamento de lexias simples com classes gramaticais diferentes que resultam
em expressotildees generalizadas e estereotipadas (CAMPOS 2007)
Vejamos nesse contexto a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo
69 Lexia eacute nome geral para qualquer unidade lexemaacutetica nos estudo de Pottier (1978)
70 Vale ressaltar que Cabreacute (1993) no aspecto da forma tambeacutem classificou os termos de acordo com os nuacutemeros de morfemas existentes na palavra assim classificava-os em simples para um morfema e complexo para dois ou
mais morfemas Os complexos eram ainda subdivididos em termos derivados e termos compostos
121
TERMO 11 - URUCUM VERMELHO
Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho Fotografia 33 ndashFolha do Urucum Vermelho
Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho
Lx Lexema Urucum Vermelho
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto eacuteh uma planta natildeo ela eacute caseira eacute clima frio a folha eacute grande eacute form e re
redonda formatu dum coraccedilatildeo a semente dela ela coloca a ah o copinho a
caixinha dentro da caixinha tem a semetinha bem redondinha bem miudinha a
sementinha dela a flor eacute um rosiozinho eacuteh rosu claro eacuteh um ela eacute pequena
uma flor meacutedia num eacute grande nau e nem tatildeo (sita) o caule vai depende eacute dumaaa ele sendo bem bem bem velho bem maduro o caule dele eacute assim duma uns dois
palmos di grussura em roda tem tens uns que ate dessa grussura ((fazendo gestos
com as matildeos)) da duas matildeos cheia tem umas que da ateacute trecircs metro vai depender
da tem umas que daacute olha ela ela serve assim ela eacute tempero serve pra
temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol colesterol ela gente pega faz o
vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o vinho e toma em jijum ela linima o
colesterol e soacute da sementi a gente pega semente agente abre a pega a cachopinha
abre ela tira a semeti amassa um pouco com agua ai coa e toma em jejum pra curar o
colesterol
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Usada a sementinha encontrada no ldquocopinhordquo da planta retirar o vinho da semente
Fu Formas de
uso
Serve para dar a cor avermelhada na comida eacute um tempero para o colesterol eacute feito o
vinho da sementinha
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Eacute uma planta medicinal e usada tambeacutem como condimento
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
122
O ldquoUrucum Vermelhordquo eacute uma planta usada nos alimentos e com propriedades
medicinais principalmente relacionadas agrave problemas com o colesterol
[] ela eacute tempero serve pra temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol
colesterol ela gente pega faz o vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o
vinho e toma em jijum ela linima o colesterol e soacute da sementi a gente pega
semente agente abre a pega a cachopinha abre ela tira a semeti amassa um pouco
com agua ai coa e toma em jejum pra curar o colesterol [] (informaccedilatildeo verbal)71
Considerado em sua estrutura como termo complexo o Urucum Vermelho eacute formado
pela composiccedilatildeo sintagmaacutetica de duas palavras independentes entre si Poreacutem juntas formam
uma nova palavra com nova significaccedilatildeo No estudo gramatical do termo Urucum Vermelho
o elemento base eacute o substantivo ldquoUrucumrdquo que vem seguido pelo adjetivo ldquoVermelhordquo
indicativo de uma caracteriacutestica proacutepria da planta Verificando os aspectos da estrutura dos
termos observemos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoErva de Passarinhordquo
512 ERVA DE PASSARINHO
Segundo Cabreacute (1993) os termos compostos satildeo denominados tambeacutem como
sintagmas terminoloacutegicos que podem ser formados por uma construccedilatildeo sintagmaacutetica mais
complexa que pertencem a classe de palavras diversas
Diante das explanaccedilotildees sobre a estrutura do termo notamos que tanto Barros como
Pottier apresentam semelhanccedilas nas explicaccedilotildees No entanto Barros acrescenta ainda que os
termos compostos podem passar pelo processo de aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Nesse sentido
a pesquisadora expotildee que
A composiccedilatildeo eacute a nosso ver um processo que pode marcar a formaccedilatildeo tanto de
termos simples quanto de termos complexos (sintagmaacuteticos) Por esse motivo eacute
temeraacuterio distinguir de modo categoacuterico termos simples complexos e compostos quando se trata dos tradicionais processos de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo sem hiacutefen
(BARROS 2007 p 400)
Com tais fundamentos analisamos os termos sobre as plantas de uso medicinal da
comunidade de Pimenteiras na estrutura morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica de alguns termos
catalogados Observamos que na maioria dos casos natildeo haacute a presenccedila do hiacutefen na
71Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoUrucum Vermelhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
123
composiccedilatildeo dos termos compostos que ocorreram expressivamente atraveacutes do processo de
aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Assim observemos o termo ldquoErva de Passarinhordquo
TERMO 12 - ERVA DE PASSARINHO
Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho
Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho
Lx Lexema Erva de Passarinho
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Co Contexto ela eacute uma erva mermu ( ) ela daacute em cima nus galhu dus pau ( )da outras arvris
eacutena eacuteeacuteh ela eacute rastera ela ela eacute si agarra ali nu galhu neacute dali ela vai vai aumentandu a tendecircncia deli eacute matar ela ( ) ateacute qui as vez quandu ela si ela si
apropria mermu muitu na arvri ela mata a outra arvri ela mataeacute natildeu ela eacute
nativaporque us passarinhu qui eacute assim natildeu sei como eacute neacute mais us passarinhu qui
veim qui faz u cococirc ali dali nasci a sementinha ali nu galhu du pau i dali forma a erva
di passarinhu uns diz qui eacute assim eu natildeu sei porque porque ela eacute nativa ela nasci
assimqui podi ter a sementi i nascieacute porque eacute porque ela nasci ai eu eu vi falar
assim agora eu natildeu sei si tambeacutem nasci ali du limu neacute neacute limu porque ela sempri daacute na
arvri ela num eacute nunca eu vi daacute nu chatildeo eacute ela daacute nu limoeiru ela daacute na cueira ela daacute na
na nu nu na laranjera ela daacute em toda essa arvri assim ela daacuteeacute ela daacute eacuteachu qui eacute
em qualquer momentu qualquer arvri qui ela si apropriar qui ela gostar neacute ela daacute i aiacute
a a ( ) ela tem os galim dela em forma di um cipoacute eacute assim us galhu dela i a folha dela
tambeacuteim ela eacute media uma folha assim tambeacuteim qui ela num uma folha seca natilde eacute uma folha sempri assim cheinhagordinha issuela eacute meacutedia tambeacuteim ela num eacute tatildeu
piquinininha natildeu natildeu eacute daquelas folhau formatu dela eacute assim mermu eacute quasi igual
assim meia compridim meia redonda ela num tem formatu assim di otra coisa naueacute
uma folha eacuteeacute tipu uma folha di jambreru eacute um pocu maior di que essi ai neacutenatildeu
dessi aqui dessi aqui neacutesim issu( ) maior tem umas qui da maior tem umas qui daacute
maior porque ela daacute igualtem veiz qui quandu ela nasci muitu qui ela vai
aumentandu aumentandu assim neacute ai tem vez que porque a minha matildee sempri dizia
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
124
assim oacute bora tirar essa erva di passarinhu porque si natildeo ela vai matar uma laranjera
uma cuiera ela da nu cafezal nu cafeeru tambeacuteim ela da nu limoeru ela daacute ela daacute nu da outra eacute eacute com certezaela mata eacute vai depender di elaa folha a folhaeacute i juntu
com certeza ela neacute uma folha assim num eacute bem redonda mas tambeim num eacute tatildeu
comprida ela eacute uma assim uma folha larga beim largaela tem umas bajezinhas
tambeacuteim ela bota umas bajezinhas bem muiditinhas tambeacuteim uns carocinhusnatildeu eu
da nunca vi si eacute uma erva di passarinhu eu da nunca vi mas diz qui eli si alimenta
daquela sementinhaeacute usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui
chama cansaccedilo neacute que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u
chaacutea minha voacute dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem
toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu
iscondidu pra num saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela
dizia assim oacute a erva di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo
mas quem toma nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para ldquocansaccedilordquo asma
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O chaacute deve ser tomado sem a pessoa saber para que sirva e que planta eacute feito o chaacute
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoErva de Passarinhordquo possui uma estrutura composta por dois radicais
relacionados pelo aspecto da preposiccedilatildeo Sendo uma planta que se hospeda em outras plantas
para viver eacute o alimento preferencial dos paacutessaros daiacute a relaccedilatildeo associativa com a funccedilatildeo que
o nome possui No trato medicinal a planta eacute usada em pessoas com cansaccedilo poreacutem segundo
a crenccedila de seus antepassados a pessoa toma o chaacute sem saber o que eacute nem para que serve O
termo eacute assim descrito pela senhora Domingas
[] usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui chama cansaccedilo neacute
que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u chaacutea minha voacute
dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu iscondidu pra num
saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela dizia assim oacute a erva
di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo mas quem toma
nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute
u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute(informaccedilatildeo verbal)72
Observamos que cada termo possui uma definiccedilatildeo particular a cada planta as formas
de uso os contextos em que ocorre a variaccedilatildeo as relaccedilotildees associativas as crenccedilas em torno
72Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoErva de Passarinhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
125
da cura e as composiccedilotildees formativas dos termos apresentados Alguns termos vieram de
geraccedilotildees passadas outros entraram no contexto da comunidade de Pimenteiras atraveacutes de
novos saberes Diante de tudo que foi exposto eacute importante percebermos que a compreensatildeo
da linguagem de especialidade pode ocorrer com o entendimento de que os termos natildeo satildeo
isolados Segundo Cruz (2014 p 104) os termos ldquonem derivam sua existecircncia apenas de um
arcabouccedilo loacutegico-conceptual mas se manifestam circulam e exercem sua funccedilatildeo em situaccedilatildeo
em uso efetivordquo
Para que o pesquisador possa se familiarizar com seu objeto de pesquisa eacute necessaacuterio
realizar leituras preacutevias sobre o assunto e manter discussotildees com profissionais da regiatildeo
pesquisada Particularmente no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal compreendemos
que durante muitos anos o homem sempre utilizou os recursos naturais para sua sobrevivecircncia
e bem estar na terra e eacute por meio das plantas que surgem os mais diversos produtos
indispensaacuteveis agrave vida humana em todas as eacutepocas
No que concerne ao uso dessas plantas na medicina tradicional hoje os
medicamentos obtidos a partir de substacircncias ativas vindas das plantas satildeo utilizados na
medicina complementar73
Diante disso eacute importante salientar que as populaccedilotildees que vivem
em regiotildees pouco povoadas e com restriccedilatildeo das necessidades fundamentais como sauacutede e
educaccedilatildeo fazem dos recursos naturais os mais utilizados possiacuteveis a fim de garantir os
cuidados necessaacuterios com o bem-estar do corpo e da alma
Culturalmente as praacuteticas com o uso popular de plantas medicinais satildeo uma
realidade em muitas comunidades que as tecircm como alternativa para a conservaccedilatildeo da sauacutede
Entretanto a continuidade desse saber eacute ameaccedilada pela interferecircncia de fatores externos
relacionados ao dinamismo social como a exposiccedilatildeo das comunidades e de sua cultura diante
das facilidades da sociedade moderna a destruiccedilatildeo dos recursos naturais a invasatildeo de novos
elementos culturais que desmotivam a vida tradicional e o conhecimento empiacuterico que eacute
patrimocircnio de valor inestimaacutevel agraves futuras geraccedilotildees Aleacutem disso os estudos cientiacuteficos
direcionados agraves plantas utilizadas pelas comunidades tradicionais satildeo ainda insipientes
(HOEFFEL 2011)
Boa parte do conhecimento popular estaacute mantido em fontes orais isto causa certa
inseguranccedila e desconfianccedila nos dados a serem transcritos Poreacutem o contato direto com os
moradores e seus saberes nos fez crer que as histoacuterias orais satildeo fonte de vida e que de acordo
com a histoacuteria transpotildeem geraccedilotildees e eternizam os novos conhecimentos A verdade eacute que as
73 Uso de medicamentos feitos a partir de substacircncias ativas das plantas isto ocorre em tratamentos de doenccedilas
crocircnicas devido aos efeitos colaterais dos medicamentos potentes
126
ameaccedilas agrave biodiversidade natildeo tem precedentes na histoacuteria da humanidade diversas espeacutecies
nunca estiveram tatildeo ameaccediladas de extinccedilatildeo Junto a isto a cultura dessas comunidades
tambeacutem sofre mudanccedilas constantes que as fazem perder a identidade social que as compotildeem
A perda dos elementos naturais e da cultura identitaacuteria dos conhecimentos
tradicionais empobrece cada vez mais nossa cultura em geral nossa sauacutede e nossos saberes
Diante disso eacute premente que busquemos alcanccedilar esses povos para conhecer registrar e
preservar saberes importantes para a sociedade em geral Nesse contexto a comunidade
remanescente de quilombola de Pimenteiras eacute um exemplo a ser observado por agregar valor
em seus aspectos regionais culturais e de saberes sobre o poder medicinal das plantas Eacute na
comunidade e nos seus moradores que se veem a necessidade de conhecer registrar e
preservar o conhecimento tradicional que fora repassado entre as geraccedilotildees Sabendo disso
buscamos por meio dos estudos socioterminoloacutegicos analisar os termos catalogados sobre as
plantas de uso medicinal da comunidade Tais saberes de grande valor para o conhecimento
cientiacutefico satildeo preservados pelos relatos orais de moradores remanescentes de quilombo
O conhecimento sobre as plantas medicinais pode ser observado pelo trabalho diaacuterio
que os moradores possuem na comunidade com as plantas Esse processo vai desde a
plantaccedilatildeo ateacute a venda dos produtos obtidos por meio da manipulaccedilatildeo das plantas Os cuidados
com o solo a aacutegua o sol os horaacuterios adequados para a colheita das plantas as partes a serem
usadas como as folhas raiz entrecasca flor galhos sementes fruto seiva e tambeacutem o
tratamento dado as plantas para a venda de produtos feitos pelos moradores tais como a
garrafada a multimistura pomadas e oacuteleos tudo eacute parte do contexto de saberes que os
moradores possuem sobre as plantas medicinais
Finalizamos assim observando a forte relaccedilatildeo existente entre os termos sobre as
plantas medicinais com o contexto social no qual estatildeo inseridas com os saberes adquiridos
no passado e no presente com a cultura com a Liacutengua e por conseguinte com a origem
negra que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem marcando assim a
identidade do povo quilombola
127
6 CONCLUSAtildeO
Este trabalho dissertativo se propocircs na anaacutelise dos termos sobre as plantas de uso
medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras ndash PA localizada na
cidade de Santa Luzia do Paraacute na Rodovia BR 316 (Paraacute ndash Maranhatildeo) regiatildeo do Rio Caeteacute
A partir das consideraccedilotildees sobre os termos catalogados pelos moradores quilombolas
pudemos observar e perceber que os saberes transmitidos entre as geraccedilotildees permanecem
fortes no seio da comunidade de forma que todo o conhecimento sobre as plantas medicinais
tem caraacuteter identitaacuterio ao povo de Pimenteiras
Conhecemos cada termo catalogado a fim de perceber as influecircncias da cultura negra
na linguagem popular e especializada sobre as plantas A presenccedila do gecircnero feminino nesse
contexto de conhecimento foi determinante para conseguirmos identificar as espeacutecies coletar
as imagens de cada planta e catalogar os termos sobre as plantas medicinais registrados pelos
moradores
Todos noacutes pensamos falamos lemos e escrevemos as palavras que herdamos em
meio aos saberes coletivos jaacute consolidados no tempo e espaccedilo Por meio da nossa Liacutengua as
palavras satildeo transmitidas e enredadas em significaccedilotildees Eacute atraveacutes dessa heranccedila com os
vocaacutebulos que a liacutengua abrange os saberes coletivos culturais e de significados produzidos
nos contextos de fala Ao nomearmos classificarmos categorizarmos e registrarmos as
experiecircncias vividas noacutes seres humanos criamos palavras e sintaxes ao contarmos e
recontarmos nossas histoacuterias
Por meio da Liacutengua fundamentamos nossa identidade eacute pelas palavras que
organizamos nossas crenccedilas e nomeamos nossos valores um saber que continua em
crescimento e transformaccedilatildeo atraveacutes do conhecimento da linguagem que herdamos e
transmitimos para as geraccedilotildees porvindouras Assim ressaltamos que as definiccedilotildees descritas
sobre os termos analisados sua variaccedilatildeo nos termos na linguagem representada nos saberes
sua motivaccedilatildeo sua estrutura e suas relaccedilotildees associativas constituiram-se relevantes para
percebermos as analogias da liacutengua com a cultura popular transmitida entre as geraccedilotildees
sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
Levando em consideraccedilatildeo que os termos sobre as plantas medicinais fazem parte de
uma especificidade da linguagem e que no caso em especial analisamos o termo na sua
estrutura socioterminoloacutegica entendemos que o conhecimento popular proveniente das
atividades tradicionais dos moradores quilombolas na regiatildeo foi o percurso trilhado para nos
128
conduzir nesse trabalho dissertativo de forma a considerar as abordagens socioterminoloacutegicas
de grandes pesquisadores Os estudos sobre a variaccedilatildeo nos termos sobre as plantas medicinais
tambeacutem foi fundamental para analisarmos cada palavra dentro de um contexto de uso social
histoacuterico e cultural com a finalidade de conhecer e ateacute resgatar os termos no acircmbito
sociocultural no qual estatildeo inseridos
A metodologia utilizada no decorrer do trabalho de campo nos proporcionou melhor
conhecimento sobre a comunidade em estudo pois do ponto de vista etnograacutefico eacute preciso
estar laacute para aprofundarmos sobre os saberes da comunidade e interagirmos in loco para
compreendermos a dinacircmica do trabalho e da vida a partir da qual o homem do campo
constroacutei seus saberes Os dados catalogados sobre as plantas medicinais nos fizeram conhecer
mais profundamente os saberes sobre as plantas que apresentamos no repertoacuterio terminoloacutegico
coletado composto por quarenta e dois (42) termos catalogados com suas respectivas
imagens
Aleacutem dos termos catalogados foi necessaacuterio registrar os dados orais ocorridos
durantes as diversas entrevistas da pesquisa de campo utilizando os recursos computacionais
como o Transana para efetuarmos a transcriccedilatildeo Grafemaacutetica das entrevistas realizadas Isto
foi indispensaacutevel para compreendermos melhor os aspectos que contornam o termo e
tambeacutem para a definiccedilatildeo descritiva de cada termo catalogado pois no contexto discursivo
podemos entender melhor cada palavra e suas significaccedilotildees no estudo socioterminoloacutegico
No percurso desse trabalho buscamos natildeo apenas a interpretaccedilatildeo ou anaacutelise dos
termos catalogados mas tambeacutem observar a construccedilatildeo dos saberes dos moradores como um
aspecto marcante na identidade da comunidade quilombola Essa nova visatildeo sobre os termos
nos trouxe um perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural mostrando as influecircncias da cultura negra na
linguagem de uso particular sobre as plantas medicinais
Eacute por meio da Liacutengua que os moradores quilombolas de Pimenteiras refletem as
caracteriacutesticas da identidade cultural entre a planta e as caracteriacutesticas que especializam cada
espeacutecie mas eacute na variaccedilatildeo da liacutengua que os termos se relacionam com as aacutereas de
conhecimento que os moradores possuem sobre as plantas medicinais O movimento
constante da linguagem atribui o princiacutepio fundamental da liacutengua que eacute a comunicaccedilatildeo
presente no contexto dos saberes de um povo e manifestado na preservaccedilatildeo da linguagem
atraveacutes da valorizaccedilatildeo por seus falantes
Nesse sentido quando associamos o saber especializado ao contexto de campo das
ciecircncias e das teacutecnicas temos no termo uma feiccedilatildeo terminoloacutegica na qual ele assume uma
dimensatildeo linguiacutestica e cognitiva no comportamento lexical especializado e na manifestaccedilatildeo
129
desse conhecimento Notamos assim que o termo eacute parte do componente linguiacutestico de tal
modo como eacute uma unidade terminoloacutegica e um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber
Portanto ao referirmos as plantas de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras
percebemos que o domiacutenio estudado pertence ao campo da medicina caseira como consta na
Norma da ISO 1087 explicando que o domiacutenio eacute definido por um ponto de vista particular no
qual os limites satildeo definidos pelo saber particular da moradora Domingas
Ao verificarmos a definiccedilatildeo descritiva dos termos a senhora Domingas expocircs de
acordo com seus saberes uma relaccedilatildeo associativa entre a planta com o objeto nomeado Nas
explicaccedilotildees de Faulstich (1995 p 36) o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e
coletiva num processo de interaccedilatildeo entre o sujeito a realidade as pessoas e o ambiente
sociocultural revelando que a Socioterminologia eacute desenvolvida no cunho funcionalista de
natureza social Nos casos em que ocorrem caracterizaccedilotildees de conceitos e definiccedilotildees para um
mesmo termo Faulstich lembra que ocorre a variaccedilatildeo terminoloacutegica em que um novo termo
um novo conceito traz uma nova definiccedilatildeo
Com respeito agrave relaccedilatildeo associativa na forma ou na funccedilatildeo das plantas medicinais
esta faz parte da natureza e concepccedilatildeo dos termos estudados Notamos que a estrutura
morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica do termo apresentado tambeacutem como unidade
terminoloacutegica foi explanada por alguns autores tais como Araujo (2006) que verificou os
termos em sua estrutura leacutexico-semacircntica com uma constituiccedilatildeo simples contendo a presenccedila
de apenas um radical e uma composiccedilatildeo composta e complexa quando apresentam dois ou
mais radicais Andrade (1998) por sua vez explica que na estrutura do termo composto temos
a presenccedila do hiacutefen diferenciando-se do termo complexo que natildeo possui o hiacutefen Poreacutem
haveraacute processos de composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras
Com base nos estudos dos autores citados vemos que os termos catalogados sobre as plantas
de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras possuem na sua estrutura formaccedilatildeo simples
com apenas um radical formaccedilatildeo complexa com a presenccedila de mais de um radical e
composta nos quais ocorre o processo de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo
Nossa anaacutelise foi constituiacuteda por doze (12) termos de plantas de uso medicinal
catalogadas pelos moradores quilombolas de Pimenteiras de um total de quarenta e dois (42)
termos As apreciaccedilotildees desses dados da pesquisa passaram por diferentes estudos sobre o
termo levamos em consideraccedilatildeo natildeo apenas as caracteriacutesticas gramaticais que o compotildee
mas principalmente analisamos as definiccedilotildees descritivas da senhora Domingas utilizando
para isso o modelo de ficha terminoloacutegica de Faulstich para melhor visualizaccedilatildeo dos
elementos constitutivos do termo
130
Eacute nessa compreensatildeo sobre o que motiva ou associa a nomeaccedilatildeo dos termos que
vemos a reflexatildeo sobre o conhecimento que os moradores possuem da proacutepria linguagem
suas relaccedilotildees com a natureza as influecircncias e transferecircncia de saberes entre as geraccedilotildees e as
caracteriacutesticas marcantes que tornam a comunidade de Pimenteiras uacutenica em sua identidade
como lugar das plantas medicinais
Perante tudo que foi explanado sobre a pesquisa efetuada na comunidade de
Pimenteiras acreditamos ter dado um grande passo neste estudo fascinante e envolvente sobre
a histoacuteria cultura e saber de um povo um povo que desperta nosso desejo de conhecimento
de buscar outros caminhos nos estudos Socioterminoloacutegicos e em muitos outros estudos
cientiacuteficos que reconheccedilam e valorizem os saberes e cultura da comunidade de Pimenteiras
Os termos analisados neste trabalho dissertativo nos trazem resultados interessantes
quanto agraves influecircncias da cultura negra que por longos periacuteodos da histoacuteria sofreu e ainda
sofre retaliaccedilotildees e preconceito por contra da escravidatildeo pois ainda hoje um preconceito
mascarado sobrevive Brookshau (1983 p 12) expotildee que ldquoo negro mesmo antes de ser
escravizado tinha um defeito que para muitos serviu de justificativa para sua escravidatildeo e esse
defeito era sua corrdquo A cor negra na cultura ocidental sempre teve uma conotaccedilatildeo negativa em
oposiccedilatildeo ao branco que eacute definido com o sentido de limpo e puro A presenccedila dos africanos em
nosso paiacutes contribuiu natildeo soacute na nossa cultura mas tambeacutem na formaccedilatildeo do tipo fiacutesico
brasileiro Somos um povo diversificado na cultura na danccedila no biotipo fiacutesico no sincretismo
religioso nas comidas tiacutepicas na influecircncia indumentaacuteria no gecircnero forte da mulher no uso das
plantas e consequentemente na liacutengua
Tanta influecircncia sucedida do negro contribuiu muito para a formaccedilatildeo da nossa
nacionalidade Segundo o antropoacutelogo Arthur Ramos (1942) eacute inocente e sem base cientiacutefica
querer caracterizar a questatildeo racial no Brasil pois todos noacutes somos formados de contatos
humanos que se processaram no paiacutes que natildeo se limitaram apenas aos grupos de negros
brancos e iacutendios somos derivados deles Nossa liacutengua em especial eacute o reflexo de noacutes mesmos
por manifestarmos e expressarmos nossa proacutepria existecircncia Assim ainda que carregados de
dificuldades e escravidatildeo o negro trouxe-nos a forccedila e riqueza de sua cultura que hoje
podemos dizer eacute um dos pilares da nossa identidade nacional
Diante de tantas riquezas sobre as influecircncias do negro da comunidade de Pimenteiras
esperamos que o estudo em questatildeo seja uacutetil agravequeles que se interessem pelo assunto e queiram
conhecer melhor o universo que envolve essa cultura popular e socioterminoloacutegica das plantas
medicinais da comunidade pois natildeo poderiacuteamos deixar ocultada a sabedoria popular sobre as
plantas medicinais precisaacutevamos conhececirc-la observaacute-la analisaacute-la prestigiaacute-la e repassaacute-la
131
para aqueles que buscam natildeo apenas saber mas sobretudo valorizar a sabedoria tradicional
preservada na linguagem como identidade dos moradores quilombolas de Pimenteiras
132
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APEcircNDICE A ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Domingas Alves do
Nascimento
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA
CAMPUS DE BRAGANCcedilA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA
FICHA DE ENTREVISTA COM OS MORADORES REMANESCENTES DE
QUILOMBOLA NA COMUNIDADE DA PIMENTEIRA - PA
A) Entrevistado
1Nome
2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino
3 Endereccedilo
4 Idade(anos)
5 Quantas pessoas habitam a casa
6 Naturalidade
7 Ocupaccedilatildeo principal
8 A Principal fonte de renda
9 Escolaridade
10 Vive na comunidade a quanto tempo
11 Seus pais avoacutes jaacute moraram ou moram na comunidade
12 De onde vieram (Cidade - UF)
13 Tipo de habitaccedilatildeo
14 Haacute quanto tempo mora aqui
15 Como era aqui quando a famiacutelia ou vocecirc chegou
16 Qual a sua origem De onde veio
B) Termo Quilombola
1 Como descobriu que tens descendecircncia de Quilombola
2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc
3 Qual o significado de ser Quilombola para sua comunidade
4 Qual sentimento tem pela palavra Quilombola
5 Houve algum tipo de dIscriminaccedilatildeo sobre a descendecircncia Quilombola
6 Reconhecem os direitos que possuem sobre ser Quilombola
7 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre essa Associaccedilatildeo
8 O que acha da comunidade da Pimenteira
9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc
C) Ervas e Plantas Medicinais
1 Faz uso de Plantas Medicinais ( ) Sim ( ) Natildeo
2 Quem passou o conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo de plantas
3 Quando tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda a quem vocecirc recorre
4 Como obteacutem as plantas que utiliza
5 Quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia
6 Quais partes satildeo utilizadas
7 Qual a melhor forma de preparo para cada planta
144
8 Como se usa
D) Dados sobre o manejo do quintal
1 Quais espeacutecies de plantas e ervas cultiva em casa e por quecirc
2 Como denomina o espaccedilo proacuteximo agrave sua casa
3 Quem cuida desse espaccedilo
4 Quais plantas vocecirc tem em seu quintal
5 Vocecirc consome as plantas que cultiva
6 Vocecirc realiza alguma atividade de compra e venda dessas plantas
7 Vocecirc compartilha essas plantas com algueacutem
8 Se vocecirc natildeo as tem onde vocecirc vai procurar
9 O que estaacute faltando em seu quintal
10 O que o quintal representa para vocecirc e para sua famiacutelia
E) Dados sobre o conhecimento e a transmissatildeo do mesmo
1 As plantas que vocecirc tecircm em seu quintal servem para quecirc
( ) alimento ( ) remeacutedio ( ) ritual ndash religioso ( ) decorativo ( ) brincadeira ( ) outros
2 Com quem vocecirc tomou ldquogostordquo por plantas Onde aprendeu o que sabe
3 E vocecirc ensina isso para algueacutem
4 Quais plantas satildeo mais usadas
5 Para que utiliza estas plantas
6 Faz uso de medicamentos das farmaacutecias Sim( ) Natildeo( ) Agraves vezes( ) Nunca( )
7 Quais E por quecirc
8 Possui alguma doenccedila Sim ( ) Natildeo ( )
9 Qual (is)
10 Jaacute ocorreu algum caso de doenccedilas curadas pelo uso das ervas e plantas
11 Vocecirc acredita no poder das ervas e plantas ou nos remeacutedios de farmaacutecia Por quecirc
12 O que eacute a Garrafada
13 Para que serve a Garrafada Quais as propriedades de cura que proporciona
14 Como eacute o preparo da Garrafada E que ervas possuem dentro
15 Com quem aprendeu a fazer a Garrafada e outros remeacutedios caseiros
145
APEcircNDICE B ndash Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Domingas Alves do Nascimento
entrevista do dia 19 de outubro de 2014
L1 data de nascimento
L2 dia vinte e oito (de outubro)
L1 ( )
L2 dia vinte e oito
L1 JAacute aqui a gente pode dizer qual eacute o endereccedilo
L2 pode
L1 ((muitos ruiacutedos de vento)) entatildeo hoje a senhora tem quantos anos
L2 (cinquenta e um) natildeo cinquenta e cinquenta neh
L1 hoje a senhora tem cinquenta
L2 cinquenta
L1 quantas pessoas moram na sua casa
L2 somos seis
L1 seis a senhora eacute paraense qual eacute sua naturalidade
L2 paraense
L1 paraense mesmo qual eacute a sua principal ocupaccedilatildeo (no) trabalho
L2 agricultura
L1 qual a principal fonte de renda com que a senhora ganha dinheiro
L2 ahh (assim) com a minha atividade eacute (arrancar) malva ( ) com a malva ou do accedilaiacute
eacute uma ( ) muito (dessa aiacute) e meus trabalhos de ( ) pra mim mesmo o que eu estou fazendo eacute
esse neh
L1 hum rum
L2 ( ) bastante eacute muito encomendado
L1 e remeacutedio caseiro
L2 remeacutedio caseiro
L1 a senhora tem que escolaridade ateacute que seacuterie a senhora estudou
L2 soacute a primeira
L1 primeira seacuterie
L2 que no meu tempo era muito difiacutecil neh a gente morava aqui aiacute eu daqui com uma
leacutegua quando quando eu comeccedilei a estudar eu tava com QUINZE anos eu com
dezessseis (eu me ajuntei)
L1 hum rum
L2 aiacute pronto meu marido lutou lutou mas eu pra mim foi muita dificuldade eu jaacute sou
dona de famiacutelia ia deixar a minha casa pra mim andar essa distacircncia todinha aiacute eu natildeo quis
ele pelejou pelejou meu sogro natildeo natildeo se eu (tivesse) na casa do papai tudo bem aiacute tava
ruim ele trabalhava me e eu sai eu tinha que sair seis horas da manhatilde que eacute daqui laacute na beira
do rio eacute uma leacutegua de aiacute natildeo tinha como eu preparar o almoccedilo neh chegava de tarde
cansada e aiacute eu natildeo estudei mais ( ) e era muito difiacutecil muito difiacutecil meus irmatildeos
nehnhum soacute tem eu neh meus irmatildeos soacute tem um que tem a quarta seacuterie um ou eacute dois
(por causa da dificuldade)
L1 a senhora vive na comunidade haacute quanto tempo
L2 e eu nasci e me criei aqui assim EU NASCI aqui eu natildeo nascci aqui mas foi aqui
perto neh depois que taacute com
[
L1 entatildeo desde receacutem nascida a senhora mora aqui
L2 hum rum
L1 taacute (palavras dirigidas a terceiros) eacute os pais da senhora (voz de terceiro) ou os
avoacutes eles jaacute moraram ou moram na comunidade eu quer quero que a senhora conte a
trajetoacuteria deles eles jaacute moraram aqui como eacute como foi
146
L2 natildeo assim eacute eles jaacute moraram essa minha matildee eacute falecida soacute meu pai dessas dessa
dessas turmadas soacute meu pai que ainda ainda eacute vivo neh eles assim eles moram ( )
quando eles na juventude deles eles moravam na outra comunidade
L1 (narcisa)
L2 narcisa sim aiacute de laacute eles casaram meus primeiros irmatildeos nasceram laacute e eu jaacute foi
L1 hum rum
L2 ateacute o quarto irmatildeo nasceu laacute ainda do outro lado do rio guamaacute ( ) do outro lado aiacute
quando eu vim de assim laacute a ge era muita gente aiacute eles botavam o (roccedilado) natildeo tinha mais
como o produto neh e naquele tempo natildeo tinha esse negoacutecio de adubo natildeo existia aiacute
por aqui era mato que eles caccedilavam aiacute meu avocirc disque queria vir botar um roccedilado pra caacute aiacute
parece que os vizinhos jaacute ficavam dizendo laacute que a mata tava pouca a capoeira jaacute natildeo dava
muita produccedilatildeo aiacute eles andavam na mata disse que vinham botar um roccedilado pra caacute mas
como era assim a mata natildeo tinha ele foi laacute em oureacutem pegou um papel fez um
requerimento pegou um papel aiacute laacute com a assinatura laacute nesse tempo tinha feito natildeo sei de
quem eacute laacute mais laacute aiacute foi falou para o genro dele era trecircs genro que ele tinha ele soacute
tinha um filho e trecircs filhas nem vi as filhas todas casaram (netinho) jaacute tava pro
prosperando familiacutea aiacute ele chegou laacute e disse bem se vocecircs quiserem botar um roccedilado pra
mata para o (centro) ( ) agora a gente vai porque a gente taacute com a autorizaccedilatildeo na matildeo aiacute
eles vieram botar o primeiro roccedilado aiacute acharam MUIto longe taacute indo e vindo indo e vindo
todo dia neh aiacute eles fizeram um barracatildeo pra eles todos fizeram um barraco aiacute jaacute
traziam a famiacutelia pra ficar mais PERto pra fazer o almoccedilo pra ajudar ((tosse)) pra ajudar
porque a gente trabalha tambeacutem no roccedilado neh aiacute veio vinha primeiro a vovoacute sempre
ficava laacute neh que era a mais velha ficava laacute com os outros netos e vinha as filhas com uns
uns ajudar os maridos aiacute nisso aiacute foram se acostumando se acostumando e a a produccedilatildeo
foi aumentando assim a renda eles gostaram muito do do (canto) aiacute pronto j5aacute foram fazendo
casa pra morar aiacute foi que eles vieram veio veio quatro famiacutelia meu avocirc com os trecircs
filhos que vieram ( ) fizeram o barracatildeo dele laacute a casa laacute depois jaacute foram aumentando
fazendo a sepaccedilatildeo da casa que aquele tempo era no barro neh fazia primeiro era a casa de
palha que eacute eacute esse matinho aiacute oacute tubim pois eacute esse taacute cobriu a casa com esse daiacute mas
eacute uma excelente cobertura que eacute frio que soacute aiacute faziam a tapaccedilatildeo repartida de barro neh
aiacute cada quase jaacute moravam no seu no na na sua propriedade localidade ( ) barracatildeo na
sua casa aiacute daiacute que foram foram chegando os netos foram crescendo foram procurando
familiacutea e foram casando fazendo casa perto que eu tenho dois um primeiro meu
irmatildeo casou fez a casa lacuteperto do papai depois o segundo casou fez perto tambeacutem e a
minha irmatilde que eacute comadre ( ) que eacute a mais velha casou o marido dela tambeacutem natildeo levou
ela para o lugar dele ELE foi pra caacute neh aiacute a famiacutelia foi aumentando a minha matildee taacute
com dez anos jaacute falecida
L1 de onde eles vieram assim a origem dos dos seu pais
L2 a minha matildee ela veio de origem do negro dos escravos neh
L1 natildeo eu digo assim o estado eles satildeo paraenses
L2 eles satildeo paraenses
[
L1 todos eles
L2 todos eles satildeo paraenses
L1 natildeo tem nenhum
[
L2 natildeo natildeo de mistura natildeo que eu saiba natildeo se se tem mas natildeo chegou no
meu conhecimento que a a mamatildee ela contava muita histoacuteria assim a minha voacute muita
histoacuteria assim de quando eles eram crianccedila de quando eles eram ado adolescente jovem
mas eles nunca disseram que era que era de outra assim sempre ( )
L1 e na qual era o tipo de habi de de habitaccedilatildeo que eles tinham que a senhora
147
falou qual era como era a casa
L2 deles
L1 hum rum
L2 era sempre assim dessa palha a cobertura e ao redor era empalhada tambeacutem soacute
que eu natildeo cheguei a conhecer assim empalhada natildeo do barro eu ainda me lembro muito
bem a cobertura tambeacutem agora empalhado da mesma mesma coisa neh que eles
faziam assim mas eu natildeo me lembro natildeo mas a minha matildee contava que era assim
L1 a cobertura era empalhada
L2 a ccobertura era da (albim) e ao redor tambeacutem pra fazer a separaccedilatildeo neh
L1 era albim
L2 da albim tambeacutem era cercado com albim assim feita a separaccedilatildeo sim pelo menos o
quarto da onde dormiam neh
L1 hum rum mas em volta natildeo era barro era assim empalhado neh
[
L2 hum rum era empalhado
era
L1 entatildeo haacute quanto tempo ele eles o seu pai ainda eacute vivo
L2 eacute papai eacute
L1 haacute quanto tempo moram aqui
L2 eu tocirc com aqui neste lugar ou assim
L1 aqui na pimenteira
L2 na pimenteira taacute com umas umas faixa de uns quarenta anos
L1 quarenta
L2 assim quando veio da narcisa logo quando veio da narcisa
L1 sim
L2 ah taacute com seus cinquenta porque mais de cinquenta quase seus sessenta porque eu tocirc
com cinquenta e um e eu jaacute jaacute sou da da aquarta filha que nasceu aqui jaacute soacute que natildeo
era pra esse mesmo lugar neh era aqui o cajueiro mas eacute mesmo ( ) a gente se mudou
quando eles vieram de laacute ( ) laacute papai natildeo gostou muito de laacute porque esse tempo ele criava
umas vacas que era amarrada assim na corda e laacute eacute muita (acidentado) daacute mais de que
aqui neh aiacute tinha um um homem que morava bem ali assim aiacute era muito colega do
papai e aiacute aqui esse tempo um tempo veio uma tinha uma casa que que davam aula era
bem aiacute chamavam o carro da prefeitura aiacute a mulher foi embora a professora foi embora aiacute
ficou desocupada aiacute esse homem cedeu para o papai seu Raimundo laacute na pimenteira ali
adonde perto de onde eu moro uma pertenccedila ao ao terreno de vocecircs por quecirc que natildeo vai
embora pra laacute aiacute foi que noacutes viemos de laacute do cajueiro mas fica aqui proacuteximo neh aiacute
fizemos a abertura aiacute daiacute
[
L1 entatildeo vocecircs satildeo os primeiros moradores aqui
L2 somos meu pai eacute primeiro morador
[
L1 como eles ele conta como era aqui quando a famiacutelia
veio quando vocecircs chegaram aqui como era como era essa aqui essa aacuterea toda
L2 aqui aqui mesmo eu me lembro jaacute quando eu cheguei aqui quando noacutes viemos do cajueiro
pra caacute eu me lembro eu jaacute me alembro eu acho que eu estava com uns sei cinco a seis anos
mas eu jaacute me alembro aqui era todo tudo capoeira que a mata era logo bem aqui
proacuteximo nossos primeiros roccedilados foi muito proacuteximo de qualquer uma crianccedila ia laacute no
roccedilado tirar o milho tirar buscar uma melancia qualquer um que queira era muito perto
a mata era proacutexima isso era capoeira isso aqui tinha soacute um uns caminhinho que os
meninos iam aacutes vezes para o roccedilado um uma coisa era tudo era sombra natildeo tinha
natildeo era natildeo tinha essa abertura aiacute esse garapeacute era a coisa mais linda do mundo era esse
148
garapeacute que a gente toma banho porque era capoeira neh era capoeira era era sombra
aiacute aiacute a gente ia tomava banho quando noacutes era crianccedila noacutes tomava aiacute quando tava um
tempatildeo de chuva assim noacutes jaacute ficava alegre porque sabia que ele ia crescer e noacutes gostava
muito de tomar banho na aacutegua grande e aiacute qundo passava a chuva noacutes pedia pra o papai e pra
mamatildee e noacutes ia tomava muito banho agora natildeo agora natildeo presta pra tomar banho
nenhum porque ( ) daiacute da da daqui da boca dele ateacute quase na cabeceira desse jeito aiacute natildeo
presta mais pra tomar banho
L1 a a sua origem mesmo eacute paraense a senhora veio de laacute a senhora veio da narcisa
aliaacutes a senhora nasceu na narcisa
L2 natildeo natildeo eu jaacute nasci ali no
[
L1 no cajueiro
L2 hum rum
L1 certo veio da narcisa moro morou um tempo no cajueiro e agora
[ [
L2 ( ) no cajueiro e ( ) ( ) porque assim
( ) bem pertinho daqui natildeo daacute dois quilocircmetros daqui laacute
L1 taacute agora vamos eacute ter quando foi que a senhora descobriu que tem uma a
descendecircncia de quilombola
L2 porque a minha voacute di dizia neh a minha voacute contava pra noacutes que ele ela eacute ela vinha
dessa descendecircncia que os avocircs delas AVOcirc da minha avoacute era os escravos
L1 como ela soube como ela como ela sabia disso
L2 porque ( ) contavam pra ela neh a matildee dela contava pra ela aiacute ela a matildee dela jaacute
passava pra ela e ela jaacute passava pra noacutes porque euu ainda me alembro muito da minha voacute ela
mamatildee contava ( ) MAIS era ela que contava que ela dizia que ela os avoacutes dela contavam
que (eram) dqquele tempo de de ficar amarrado de ser accediloitado neh aiacute ela ia
repassando pra noacutes
L1 os avoacutes dela passaram por isso viveram esse periacuteodo
L2 natildeo os avoacutes dela eacute que contavam que os outros ates dele neh
[
L1 antes os antes dele que ( )
L2 an ram eacute isso
L1 entatildeo eacute satildeo os seus tataravoacutes (digamos assim)
L2 isso acho que ism
L1 que viveram essa eacutepoca da escravidatildeo
L2 hum rum
L1 mas essa eacutepoca da escravidatildeo aqui nessa regiatildeo natildeo
L2 natildeo natildeo era aqui
L1 onde
L2 isso aiacute eu natildeo sei dizer adonde era natildeo natildeo me alembro se ela disse mas eu natildeo sei (
) se era na narcisa se era noutro (canto) natildeo sei natildeo ( ) sei que eles eram dessa dessa
dessa descendecircncia mas eu natildeo sei dizer da onde eacute
L1 dona Domingas o que eacute ser quilombola qual o significado dessa palavra pra
senhora
L2 e eu essa eu natildeo entendo muito bem muito bem eu natildeo entendo por isso que eu queria
que o ( ) tivesse aqui que ele entende mais melhor do que eu ele jaacute fez ( ) estudo ele ( ) mais
do que eu neh que ele passou ele passou seis anos assim presidente da associaccedilatildeo parte
que ele tem mais conhecimento mas natildeo ( ) ele taacute pra rua mas ser quilombola acho que eacute
ser vem dessa descendecircncia e assim das (coisas) tradicional as coisas da natureza
aprender e viver com a natureza eu acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre
assim vendo os iacutendios porque os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu
149
acho que ser quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima
da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as coisas
pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende as coisas com a
natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque aquele tempo dos dos dos
negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de leitura (nada nada) MAS com a natureza
eles aprendiam alguma coisa
L1 qual eacute o significado de ser quilombola pra comunidade o que a comunidade
pensa a senhora sabe dizer
L2 natildeo tambeacutem natildeo natildeo sei dizer natildeo ( ) eu eu soacute sei dizer que eacute eacute eacute eacute eacute uma um
tipo que eles quase juntocom o iacutendio com os iacutendios eles descobriram o Brasil neh
porque quem descobriu o Brasil mesmo foi os iacutendios neh e jaacute como aquele pessoal
naquele tempo ele jaacute viviam tambeacutem acho que eles ajudaram os iacutendios descobrir o Brasil
tambeacutem acho que ( ) soacute um soacute sei dizer que os negros ele ele eacute (federal) neh
L1 humrum
L2 ele eacute (federal) ele ele tem todo direito com certeza ele tem o direito (estremo) soacute
que soacute aqui ateacute hoje a gente natildeo tem ( ) ainda o conhecimento de tanto direito que a gente
tem tem muitas coisas ainda escondido por debaixo do tapete que ainda natildeo chega no
conhecimento de muita gente que aacutes vezes ele eacute quilombola ele eacute NEGRO mas ele ainda natildeo
tem conhecimento dele ser negro ele ainda fica dizendo que ele natildeo eacute negro porque pra
tem gente assim que pensa que dizer negro eacute aqueles escravos daquele outro tempo ah
negro jaacute tempo de negro jaacute passou era aquele tempo aiacute natildeo aqui mesmo na minha
comunidade tem gente assim porque ele eacute negro eacute da mesma famiacutelia eacute da mesma mas ele
ainda natildeo pensa dizer que ele eacute negro porque ainda ainda taacute na mente dele que o negro eacute
daquele outro tempo
[
L1 eacute aquele negro escravo
L2 aquele negro escravo aquele negro pobre daqui que natildeo tem nada como ainda tem na
mente deles mas natildeo eacute o negro eacute eacute ele foi muito reconhecido neh e tem muito eacute soacute
que eu eu disse pra o (Isaldo) (Isaldo) tu tem muito mais conhecimento no dia que a Edilene
vir eu precisava que tu tivesse laacute porque eu sei que ele tem MAIS esse conhecimento (tem)
que agora no dia vinte de novembro a gente vai fazer uma atividade aqui neh (ontem eu
fui) dizer pra Nazareacute Nazareacute eu queria que cecirc fosse pra cecirc daacute uma palestra laacute na (tal)
comunidade saber muita gente saber que (eacute negro) e eu quero aprender tambeacutem mais e tem
muita gente que natildeo sabe nem um pouquinho o tanto que eu sei ( ) a gente vai fazer no dia
vinte de novembro eacute a nossa ( ) eacute soacute neh (a santa jaacute veio) aqui em casa aiacute a gente
pensou ia ser era pra ser amanhatilde dia vinte de novem de outubro aiacute eu fiquei pensaando e
disse Isaldo PORQUE porque o Isaldo era presidente era meu irmatildeo mas eu eu me
comunico muito com ele tudo que eu quero fazer eu pergunto pra ele Isaldo porque noacutes
num num faz no dia no dia vinte de novembro que eacute o dia da consciecircncia negra neh
aiacute ele disse natildeo sei natildeo vai ( ) no dia de semana eu digo ( ) meio de semana mas eacute eacute
feriado pra noacutes eacute feriado e po quecirc que a gente natildeo faz aiacute ele disse seraacute que vai daacute algueacutem
digo a gente convida outra comunidade quilombola neh que venham participar junto
com noacutes aiacute fizemos uma reuniatildeo por isso que eu digo que de vez em quando noacutes estamos
reunindo eacute eacute por causa disso neh aiacute fizemos uma reuniatildeo aiacute joguei a proposta aacuteiacute todo
mundo aceitou mas soacute meu marido que natildeo porque ele quer ( ) como eacute que uma pessoa vem
que eacute meio de semana digo vem sim ( ) se falado com o tempo ageitam um carro neh a
gente taacute chamando querendo chamar os ( ) (olha) que eu jaacute passei com o Dinho que eacute
secretaacuterio de cultura neh ele jaacute veio aqui logo quando ele ele ( ) scretaacuterio ele veio aqui
aiacute ele procurou qual era a atividade qual era qual era as (futuras) ( ) dizendo pra ele aiacute
ele disse que quando fosse dessa soacute anda ele queria pra mim participar com bem tempo
antes antes ele queria ele ia (ajudar) da maneira que ele pudesse mas isso aiacute tem
150
fevereiro parece marccedilo (aiacute quando foi) essa semana eu passei com ele ele disse que jaacute
correu atraacutes de umas ( ) pra ajudar neh aiacute tem aquele outro Anderson tambeacutem ele ele
sempre ele liga pra caacute diz que ele quer ajudar tambeacutem ele quer vir aqui ( ) PRA
AJUDAR E A GENTE TAacute VENDO ASSIM REUNINDO PRA VEcirc COMO Eacute QUE
NOacuteS VAMOS FAZER sobre alimentaccedilatildeo porque quando foi ontem noacutes tava nessa
reuniatildeo nessa reuniatildeo vem vaacuteria vem gente de vaacuterias comunidades quilombola porque
vem tipitimga vem (presidente de laacute) vem jacareacutequara ( ) vem da mariana que eacute noutro
municiacutepio mas vem tambeacutem neh ele faz parte da rede bragantina E AIacute EU QUANDO eu
lancei a proposta laacute na reuniatildeo todo mundo (quer vir) pra caacutetipitinga quer vir
jacarequara quer vir ( ) quer vir agora eu jaacute tocirc imaginando eacute alimentaccedilatildeo como eacute que noacutes
vamos fazer pra alimentaccedilatildeo desse povo de querer vir eu quero aiacute jaacute fica pensando neh aiacute
a mulher ( ) dona Maria disse que vir tambeacutem aiacute amanhatilde natildeo ( ) pode ter muita gente
eles disseram que natildeo ia daacute nigueacutem noacutes temos muita gente que quer vir aiacute noacutes vamos pensar
como eacute que noacutes vamos fazer ( ) que eacute o dia da consciecircncia negra tem muita gente aqui que
natildeo sabe ( ) assim neh ( )
[
L1 a senhora me
convida taacute
L2 jaacute taacute convidada ( ) (risos) jaacute taacute convidada a gente tem uns convites ali neh que a gente
preparou uns convites aiacute ficou pra mim sentar na comunidade vecirc como eacute que vai ser pra
gente entregar os convites mas (a senhora) natildeo esqueccedila jaacute anota aiacute (eu lhe aviso) dia vinte de
novembro
L1 vai ser o dia todo
L2 eacute o dia todo porque assim taacute na programaccedilatildeo primeiro porque a gente todo ano faz
a reza neh primeiro uma pequena procissatildeo pega a santinha numa casa se organiza aiacute
vai quando chega na igreja reza tem ano que noacutes reza aqui tem ano que ( ) o pessoal
gostam porque eacute mais ventilosa neh aiacute eles vem aqui aiacute reza daiacute serve o almoccedilo daiacute se
tiver um leilatildeozinho leilatildeo um bingo aiacute a tarde eacute partida de futebol como os meninos tem
essa ajuda aiacute capoeira eles vatildeo paresentar capoeira a Andresa ela disse hoje ah matildee eu vou
ajeitar as meninas pra noacutes apresentar um uma danccedila laacute uma danccedila de (carimboacute) aiacute a gente
taacute vendo assim ( ) ser um dia festivo um dia de todas as atividades se querer outros
gruupos doutra comunidade se tiver um grupo que queira apresentar alguma coisa vai ter
tambeacutem espaccedilo
L1 vou daacute uma ideias depois qual sentimento assim SENTIMENTO sentimento o quecirc
que a senhora sente quando pela palavra por essa por essa palavra que que que fala
quilombola
L2 assim o meu sentimento
L1 hum rum
L2 eu gostar eu gosto ( ) me se se sinto muito bem
L1 se sente
[
L2 ( ) bem com certeza
L1 taacute essa pergunta tambeacutem eacute um pouco jaacute houve algum tipo de des discriminaccedilatildeo
L2 jaacute
L1 sobre a sua descendecircncia sobre a palavra quilombola
[
L2 jaacute
L1 o que foi
L2 eacute agora que natildeo agora jaacute recente que natildeo neh mas antes quando a gente (informava)
( ) a a associaccedilatildeo aqui quilombola quando descubriram porque isso aiacute veio veio assim
descubrir que era que era quilombola porque na narcisa laacute e eacute a a matriz neh como
151
a minha matildee veio pra caacute aiacute laacute formaram a associaccedilatildeo aiacute o meu meu primo ficou dizendo
olha tem mais gente porque assim quilombola eacute assim adonde cecirc tem parente porque
noacutes tem irmatilde no guajaraacute cigano aqui pro pra paragominas (natildeo) ipixuna neh mas a
hora que eles chegar aqui o lugar deles tatildeo aqui aiacute esse subrinho da mamatildee ficou dizendo
olha eu tenho uma tia que ela mora aqui que era aqui na pimenteira ela mora daqui natildeo sei
quantos quilocircmetros se um dia ela vir pra caacute tem lugar dela aqui disse tem com certeza o
lugar dela taacute aqui ela natildeo nasceu aqui aiacute tudo bem quando foi um dia ele veio passear
aqui aiacute ele foi disse pra mamatildee que se ( ) contou laacute a situaccedilatildeo neh aiacute eu disse que tem que
que cecirc tem que cecircs tatildeo pra caacute mas (vocecircs fazem parte laacute da narcisa) o dia que cecirc quirer ir
laacute ai a mamatildee disse natildeo pra laacute eu natildeo vou laacute se um dia elas quererem vir aqui esse pessoal
quererem vir aqui pra gente conversar ( ) conversar a gente conversa aiacute num belo dia de
domingo chegou trecircs umas quatro pessoas ( ) aiacute chamaram a mamatildee e ele perguntaram se
a mamatildee queria ir pra narcisa a mamatildee disse que natildeo aiacute se (mas) a mamatildee fazia parte do
quilomBOLA da da da associaccedilatildeo laacute da narcisica AIacute soacute que (naquele) tempo tinha
celebraccedilatildeo aiacute o (coacutedigo) que ficava com ( ) neh ficava muito na frente assim aiacute ela disse
que aqui natildeo formava porque quilombola eacute uma pessoa eacute negro que sabe contar o que vem
das tradiccedilatildeo de primeiro e esses que tavam na frente assim era era gente branca e sabia
que eles natildeo sabiam natildeo tinham nada com a ver com quilombola ( ) neh aiacute ( ) daqui aiacute o
(chaga) disse eles natildeo disseram aqui pra noacutes disseram laacute pra o chaga ah chaga laacute parece que
vai ser difiacutecil formar uma associaccedilatildeo de quilombola porque laacute quem taacute na frente mais satildeo
os brancos e laacute natildeo tem nada a ver com com negro a gente faz pergunta eles natildeo sabem
nada ( ) mas aiacute no decorrer do tempo a gente foi foi pegando conhecimento (eles vieram
aqui) mas naquele tempo a gente era muito criticado naquele tempo ( ) muito criticado bem
dizer assim ah bora entrar na associaccedilatildeo ( ) ah ( ) entrar na associaccedilatildeo pra ser negro eu
natildeo quero ser negro vocecircs querem ser diziam neh ( ) aacutes vezes assim (minhas
cunhadas) querem ser negro eu natildeo quero ser negro eu natildeo vou entrar na associaccedilatildeo
negoacutecio de ser negro negro neh escravo aiacute eles comeccedilavam assim fazer caccediloagem
diziam pra ser pra ser pobre mais de que era aacutes vezes eles diziam neh ser negro pra ser
pobre mais de que eacute noacutes jaacute somos pobres ainda ser mais pobre ( ) natildeo era assim natildeo aiacute desse
tempo agora agora recente natildeo a gente natildeo vecirc mais essas coisas mas logo no comeccedilo a
gente via dizia que negro era aquele um que andava sujo que andava com a unha suja que
andava com o cabelo sem pentear neh ((risos)) tinha gente que dizia aiacute eu jaacute ouvi muito
agora natildeo agora esses tempos natildeo ouvi mais acho que jaacute chegou no conhecimento neh
aquele que natildeo tinha nada pra comer ((risos))
L1 eacute com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas a senhora conhece reconhece que
vocecircs tem esse direito direitos
L2 eu conheccedilo um pouco
L1 quais
L2 assim a gente tem direito ((pigarreio)) assim numas pro porque assim eu natildeo
sei quase lecirc neh mas do pouquinho que eu sei a gente pega o estatuto aiacute um estatuto que
que foi tirado em on em Beleacutem foi feito um estatuto neh a gente tem vaacuterios direitos a
gente que AINDA NAtildeO CONHECE bem qual eacute os direitos que a gente tem e aiacute quando a
gente faz reuniatildeo sempre eu digo gente a gente tem que pegar aquele estatuto pra gente lecirc pra
gente discubrir qual eacute o tanto direito que a gente tem nos noacutes tem tanto direito mas noacutes veve
escondido laacute noacutes veve ainda natildeo taacute no conhecimento nosso pra saber o tanto direito que
a gente tem porque se a gente descobrir o tanto direito que a gente tem o direito que a gente
tem eacute um direito muito grande neh Eacute MUITO
[
L1 vocecircs tem o estatuto
L2 tem
L1 hum pra comunidade toda
152
L2 isso
L1 quem eacute que que ler esse estatuto fica na matildeo de quem
L2 aqui em casa taacute aqui mas sempre quando eu digo assim olha bora fazer uma reuniatildeo pra
lecirc o estatuto pra todo mundo mas sempre eacute naquela correria mai a gente vai lecirc custa muito
bora cuidar nas outra coisas no que tem fazer aiacute
L1 como vocecircs conseguiram esse estatuto
L2 noacutes noacutes fizemos assim neh da comunidade na comunidade escrevemos o que
era que noacutes queria dentro da comunidade qual era as leis que noacutes ia botar aiacute foram
escrevendo e levaram pra registrar
L1 ah eacute o estatuto
L2 da associaccedilatildeo
L1 da comunidade
L2 da comunidade sim da associaccedilatildeo
L1 ah da asso-ci-a-ccedilatildeo da pimenteira
[ [
L2 da associaccedilatildeo isso hum rum
L1 dos quilombolas da pimenteira
L2 isso
L1 hum natildeo eu digo assim o estatuto que eu falo eacute da da da de quem eacute
quilombola
L2 natildeo
L1 esse a senhora natildeo conhce
[
L2 natildeo natildeo esse daiacute natildeo
L1 hum agora sim existe alguma associaccedilatildeo na comunidade e eu queria que a senhora
falasse da associaccedilatildeocomo foi que veio essa ideia da da associaccedilatildeo como foi que surgiu
como foi que ces criaram por que criaram
L2 eacute eacute essa aiacute comeccedilou a gente a gente tinha jaacute era comunidade neh antes da
associaccedilatildeo era comunidade aiacute veio um um professor da universidade era ateacute cardoso o
nome dele aiacute ele aiacute comeccedilou (entrar) pequenos projetozinho assim pra caacute mas assim
feito jaacute assim pouquinho natildeo era que nem primeiro fez um projeto do duma casa de
farinha atraveacutes do da pastoral da crianccedila natildeo natildeo natildeo existia associaccedilatildeo foi um pequeno
projeto ( ) da pastoral da crianccedila aiacute depois um projeto de nesse tempo da casa de forno
veio um um caititu pra ralar mandioca e um motosserra aiacute depois um pequeno projeto
pro gado mas tudo da pastoral da crianccedila neh a gente faz aquele grupo de mulheres de
pessoas pra pra fazer um grupo e fazer as vaacuterias assinaturas pra ir pra laacute e o projeto vir
mas natildeo era associaccedilatildeo ningueacutem tinha nada de associaccedilatildeo estatuto nem ata nem nada ai
depois veio um zinho de do pimental um pequeno pimental neh umas estaquinhas
assim pra gente formar um (feijoalzinho) aiacute foi esse tempo foi que o professor cardoso
veio comeccedilar ( ) ele era teacutecnico neh pra daacute assistecircncia e aiacute ele comeccedilou a dizer olha porque
vocecircs num num formam uma associaccedilatildeo ( ) (vocecircs devem formar uma associaccedilatildeo) que se
vocecircs formarem uma associaccedilatildeo vocecircs tem vocecircs tem mais forccedila pra puxar as coisas mais
aiacute a gente comeccedilava a perguntar assim nesse tempo o ( ) ele ele era muito bem
introsado aqui com noacutes agora natildeo agora ele separou-se neh teve uma desavenccedila aiacute ele
nunca mais participou de nada aqui aiacute ele a gente comeccedilava a fazer pergunta pra ele
professor como eacute que faz a associaccedilatildeo eacute pra gente formar AIacute ELE comeccedilou a incentivar a
gente olha a gente faz a gente comeccedila a fazer umas pequenas reuniAtildeO na reuniatildeo a
gente depois que jaacute po jaacute tiver um bom conhecimento da reuniatildeo a gente vai escolher
o o presidente o secretaacuterio o tesoureiro aiacute vai daacute uma mensalidade que eacute pra gente
fazer a ATA QUE Eacute PRA REGISTRAR essa ata e a a associaccedilatildeo fica registrada e foi aiacute
que noacutes comeccedilamos neh sentava aiacute bora descutir como eacute que noacutes vai fazer pra noacutes ter
153
ter seguranccedila pra gente ficar mais junto aiacute fundemo a associaccedilatildeo foi aiacute isso aiacute que eu
tocirc dizendo que tem o estatuto desse tempo neh aiacute quem eacute o o presidente tal dia noacutes faz a
reuniatildeo pra escolher o presidente aiacute foi foi meu irmatildeo que foi a primeira vez e eu fiquei
como tesoureira e o ( ) era secretaacuterio e aiacute fomos formando a associaccedilatildeo quando a
gente jaacute tinha conhecimento (do que) era quilombola aiacute aiacute aa Nazareacute com Vicente jaacute tava
muito bem colocado conhecimento neh aiacute eles eles foram ajudando noacutes ateacute agora
ainda ainda somos muito mais que parceiro ( )
[
L1 ela
hoje tem c-n-pj
L2 a nossa comunidade
L1 natildeo a associaccedilatildeo
L2 tem
L1 taacute tudo ok
L2 taacute natildeo isso aiacute que eu digo que taacute atrasado neh ai taacute atrasado ateacute a gente pagava
ficou pagando vaacuterios anos quando foi nessa nessa mudanccedila porque assim na nossa
no nosso estatuto ela ( ) nenhum presidente podia passar quatro anos neh aiacute passou os
quatros anos fizemos a eleiccedilatildeo de NOVO foi ele DE NOVO ( ) assumiu de novo aiacute
depois venceu os quatro anos aiacute comecemos e pensar quem eacute que fica aiacute fica naquela
confusatildeo eu natildeo quero outro tambeacutem ah eu tambeacutem natildeo quero aiacute pronto vamos ( ) duas
vezes por ano duzentos reais pra noacutes pagar laacute anual neh aiacute nisso aiacute fomo esquecendo
fomo esquecendo de de de pagar os nossos deacutebitos aiacute quando EU fizemos a eleiccedilatildeo de
novo aiacute foi eu AIacute PRA noacutes reconhecer essa essa essa ATA da nossa nova diretoria
passou mais de ano essa multa jaacute tava laacute neh passou mais de ano soacute pra reconhecer quando
noacutes fomos reconhecer tivemos dinheiro PRA reconhecer a ata mas natildeo tivemos pra noacutes
pagar a nossa a nossa cnpj laacute na ( ) e nisso aiacute foi indo e aiacute agora eu jaacute corri com esses
documentos pra pra fazer saber pra pra a gente saber quanto eacute que noacutes deve
quanto eacute que a nossa pendecircncia o valor ainda natildeo foi descoberto tem vaacuterias coisas que
a gente eacute uma multazinha dum canto eacute uma multazinha do outro e a gente ainda natildeo
descobriu e hoje temos falta do recurso neh aiacute a gente jaacute ateacute sentou uma vez pra pensar
pra tirar uma madeira neh (vender) pra poder fazer os pagamanetos dessas dessa
dessa desse cnpj ( )
[
L1 haacute quanto tempo a a associaccedilatildeo esxiste desde
quan do dia que ela foi criada
[
L2 eacute eacute isso aiacute ela foi craida em em abril de dois mil e cinco parece que foi em
dois mil e cinco NAtildeO MAS ela foi registrada em dois mil e seis noacutes noacutes formemos dois mil
e conco neh aiacute passou aqueles tempos todo a gente se organizando daqui ela foi registrada
em dois mil e sete uma coisa a gente montar uma coisa a gente faz vaacuterias reuniatildeo neh
daacute certo pra tal dia daacute certo ( ) dia aiacute faz uma reuniatildeo aacutes vezes falta o presidente falta o
o o o secretaacuterio aiacute natildeo taacute bora deixar outro dia aiacute nisso o tempo vai passando mas ela
foi registrada em dois mil e ( )
L1 vocecircs jaacute conseguiram alguma coisa atraveacutes da associaccedilatildeo
L2 jaacute
L1 o que
L2 jaacute jaacute conseguimo um accedilude primeiro essa saber primeiro foi o accedilude neh foi
um projeto esse accedilude foi soacute que foi assim em parceria foi aqui e jacareacutequara porque o
tempo que formou aqui formou jacareacutequara aiacute a gente foi feito um projeto soacute para as duas
comunidades a a aqui aqui foi um accedilude laacute nem sei o que foi esse accedilude a gente ele ( )
fazer fez muito bem cada cada um um um mecircs um dia fica na responsabilidade de um
154
neh pra colocar os tratar dos peixes mas sempre fica aquilo sempre tem um soacutecio que
que natildeo nem liga pra ele tanto faz a gente trabalhar em comunidade negoacutecio de
associaccedilatildeo eacute eacute meio pesado eacute meio difiacutecil carece da gente ter muita paciecircncia aiacute vai com
a gente ia (despescar) o accedilude neh a gente juntava todo mundo iam pra laacute e era uma
danaccedilatildeo de menino sei que pegava os peixes a gente repartia noacutes ainda fomos umas trecircs
vezes ainda em santa luzia ( ) neh aiacute
L1 esse accedilude eacute aqui proacuteximo
L2 natildeo ele fica aqui ele ele secou ele esbandalhou deixa eu contar o restinho dele aiacute neh
quando dava chuva ele a gente tinha que ter um cuidado laacute porque ele tapava a boca do
cano carece da gente taacute limpanndo laacute quando se descuidava ele vazava por cima quando natildeo
ele queria estourar aiacute quando foi num dia fomos pegar peixe quando terminemo de
pegar o peixe que eles terminaram laacute laacute vem o tempatildeo foi chuva que entrou pela noite
chuveu (ainda) aiacute o meu irmatildeo esse (Isaldo) ainda ficou laacute lutando pra tapar neh e gente bora
ficar aqui passar essa chuva aqui porque noacutes natildeo vamos daacute conta desse accedilude ele jaacute tava
muito cheiatildeo mas os outros nem quase se incomodaram estavam mais ( ) neh e ai
ele ainda lutou lutou mas ele natildeo deu conta que quando foi de manhatilde ele amanheceu
estourado ESTOURADO mesmo grande grande que assim aiacute noacutes ainda fizemos vaacuterios
motiratildeo pra noacutes ir laacute manual braccedilal era homem era mulher era menino tentemo tapar
ele mas natildeo firmou quando veiio a chuva ( ) foi manual mesmo neh aiacute natildeo firmou estourou
taacute laacute estourado a gente jaacute pediu vaacuterias vezes assim fazer outro projeto pra gente
(reconseguir) mas ainda natildeo deu certo natildeo aiacute com noacutes com essas pendecircncias que noacutes tem e
agora que noacutes tava noacutes fizemos um projeto que veio um projeto daqui natildeo sei se vocecircs
tinham conhecimento daquele (fundo) ( )
L1 natildeo ( ) fundo
L2 fundo do (dema) neh eu tenho um um projeto que ( ) especificamente com a
indiacutegena e quilombola neh a gente fez mas a teacute hoje a gente natildeo tem seguuranccedila se foi
aprovado por causa dessa tendencia que a associaccedilatildeo taacute pendente
L1 hum rum dema neh
L2 fundo dema
L1 agora seguindo aqui o que a senhora acha da pimenteira da comunidade da
pimenteira
L2 assim que eu acho assim de de de de melhoria de ( )
L1 natildeo o quecirc que a senhora acha assim pensa da comunidade gosta natildeo gosta o quecirc
que a senhora o que pensa daqui
L2 natildeo eu gosto gosto acho bom soacute tem um uma coisa que natildeo que natildeo gosto muito
eacute eacute sobre obediecircncia aqui neh que nem todos aacutes vezes os soacutecios mesmos
desobedecem alguma coisa que a gente aacutes vezes conversa na reuniatildeo anota tudo
bonitinho aiacute a pessoa passa por cima da lei que a gente coloca que nem assim porque
assim aqui eacute eacute noacutes se diz coletivo neh nossa terra eacute coletiva a gente num tempo desse
que eacute o tempo eacute a evocadora do accedilaiacute a gente fica dizendo olha gente pra noacutes ter o maacuteximo
cuidado de com accedilaiacute aquele quando subir naquele naquela aacutervore naquele cacho que taacute
verde a gente ( ) deixa laacute que o outro vem e tira mas ainda tem gente que aacutes vezes soacute taacute
verde ele joga pedra joga no chatildeo aiacute nem ele nem o outro isso aiacute noacutes tem toda nossa
reuniatildeo a gente fala mas ainda natildeo conseguimos isso aiacute eu natildeo gosto disso daiacute natildeo outra eacute eacute
no veneno no garapeacute neh noacutes jaacute lutemos muito jaacute pelejemos bora deixar de botar aqui
botavam timboacute neh no no garapeacute a gente ( ) esse daiacute taacute quase eliminado esse daiacute taacute mais
ou menos natildeo taacute muito neh ainda tem gente que coloca mas vem de outra comunidade
no escuro de noite aiacute bota o pessoal vatildeo laacute eacute soacute peixe morto mas natildeoo eacute da nossa (tem) o
garapeacute aiacute vem gente doutro canto que a gente natildeo sabe nem quem eacute ( ) agora o accedilaiacute eacute da
proacutepria comunidade eacute noacutes mesmos os proacuteprios ( ) satildeo assim noacutes aqui pra noacutes noacutes tira quase
soacute pra tomar aqui dessa desse desse coletivo noacutes tira pra tomar ALGUMAS vezes que a
155
gente vende agora pra vender assim noacutes tem o nosso terreno particular neh que fica haacute
dois quilocircmetros daqui pra vender sempre eles tiram de laacute tempo da colheita de murubru
que a gente vende tambeacutem neh eacute outra outra eacute outra eacute quase que nem o (murumuru)
QUE NEM o accedilaiacute um jaacute vai entra na aacuterea do outro outro jaacute vai disque teve um tempo que
carregaram ateacute o jaacute tinham deixado juntado o outro foi laacute carregou (risos) e a gente
fica dizendo gente bora bora ver a aacuterea eacute grande eu quando porque qaundo foi pra
se cadastrar no murumuru soacute eu e o Isaldo que se cadastremo neh aiacute eu jaacute tava na aacuterea
coletiva que era soacute noacutes depois que todo mundo quase aqui se cadastrou eu natildeo ajunto mais
noacutes ajunta do nosso terreno eu jaacute deixo aqui pra eles porque os outros natildeo tem terreno
particuular soacute eacute eu e o meu irmatildeo que tem outro (outro) terreno particular o resto tudo
tudo atividade deles eacute dentro dessa dessa aacuterea coletiva neh
L2 hum rum
L1 e a gente sempre fica dizendo olha bora escolher uma aacuterea que fique mais perto da
nossa roccedila da nossa casa pra tu ir deixa daquele outro pro outro mas eles sempre eles ainda
ficam entrando na na aacuterea ningueacutem tem terreno de dizer esse aqui eacute o meu mas a gente
deve respeitar neh a aacuterea o que fique mais perto da casa do outro MAS natildeo acontece
isso e eacute uma coisa isso daiacute eu natildeo gosto tambeacutem porque num fica desarespeitando
SOacute QUE num daacute briga natildeo daacute assim confusatildeo mas acuteacuteas vezes ficam dizendo ahh eu
tinha ttal coisa assim e assim quando eu fui olhar rapaz jaacute tinham levado meu cacho de accedilaiacute
foi olhar em tal accedilaiacutezal assim jaacute tinham levado eu passei laacute no no tal accedilaizal assim
assim porque cada qual tem os seus nomes assim passei laacute adonde natildeo sei adonde rapaz
laacute eacute um estrago de accedilaiacute estrago de accedilaiacute que tava cada cacho grande jogado laacute no chatildeo
mesma coisa eacute os ( ) daiacute neh que natildeo eacute bom e eacute gente daqui mesmo proacutepprio satildeo soacutecio
da natildeo eacute doutro canto natildeo da da associaccedilatildeo da comunidade
L1 tens orgulho da comunidade
L2 tenho
L1 por que
L2 porque ela eacute reconhecida ( ) eacute reconhecida ela eacute muito falada nessa comunidade
muito muito mesmo muita gente jaacute jaacute jaacute veio aqui muita gente e atraveacutes da associaccedilatildeo
eu jaacute fui tambeacutem vaacuterios canto fuui muito encontro em Beleacutem jaacute foi no em Acaraacute
municipiacuteo de Acaraacute jaacute fui em Tomeacute accedilu atraveacutes da associaccedilatildeo eacute por isso que eu tenho
orgulho
L1 ok agora a gente vai pra uma outra etapa uma etapa da sua aacuterea faz uso das plantas
medicinais a senhora utiliza tambeacutem
L2 com certeza
L1 quem passou esse conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo das plantas
L2 hum rum
L1 pra senhora
L2 a minha voacute e a minha matildee minha voacute da parte da minha matildee da os meus avoacutes da
parte do meu pai natildeo conheci nenhum agora da parte da minha matildee conheci todos dois
L1 quem tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda quando a senhora tem um
problema de sauacutede eacute e decide procurar ajuda a quem recorre
L2 olha eu mesmo quando a sauacutede problema meu mesmo
[ [
L1 sua sua
L2 eu recorro a eu mesmo ateacute agora graccedilas agrave Deus ainda natildeo ainda natildeo deu deu
recorrer a ningueacutem eu mesmo neh com meus
L1 meacutedico
L2 ateacute agora natildeo ateacute agora eu jaacute fui na matildeo de meacutedico pra cirurgia pra me operar
neh natildeo ter mais
[
156
L1 de que
L2 pra natildeo ter mais
L1 filho
L2 hum rum a minha caccedilula eu eu queria ser operada aiacute foi mas de laacute pra caacute FOI A
UacuteNICA VEZ que ateacute agora tocirc com cinquenta e um anos mas num AacuteS VEZES faccedilo umas
consultinha assim quando a doutora vinha uma uma doutora aiacute ( ) aacutes vezes ela passava um
remeacutedinho mas eu quase nem tomava natildeo chegava assim a tomar
L1 ok como obteacutem as plantas que utilizacomo eacute que a senhora consegue essas plantas
L2 como eacute que eu consigo
L1 hum run
L2 eacute aacutes vezes eacute arrumando com outro colega trocando neh aacutes vezes eu natildeo tenho
daquela daquela planta aacutes vezes eu consigo ( ) troco como a dona Nazareacute a dona
Nazareacute ela ela tem muita planta ela tem muita ela eacute muita chegado neh aiacute a gente se
ela natildeo tem da marca que eu tenho eu jaacute dou daquele que eu tenho ela jaacute me ( ) aquele um
que tem que agora a gente taacute fazendo um monte de mistura natildeo sei se vocecircs tem
conhecimento da ( ) mistura neh
L1 hum rum
L2 aiacute a gente taacute fazendo assim ela laacute ela ela tem a semente de girasol e o farelo MAS
ela tem o farelo do poacute do arroz aqui na na comunidade eu jaacute levo a a a o poacute da casca
da da maca da folha da macaxeira da o gengili aiacute de laacute a gente jaacute faz todo junto jaacute
mistura jaacute eacute uma troca neh que a gente ( ) e aiacute eacute muito bom que ela a dia vinte e sete
vinte e oito de setembro noacutes tava num encontro do alimentaccedilatildeo alternativa aiacute era
um doutora clara ela eacute japonesa do japatildeo e aiacute ela tava dizendo quem come alimento
taacute comendo alimentaccedilatildeo e taacute comendo remeacutedio porque jaacute taacute comendo aquela alimentaccedilatildeo
que jaacute saiu do remeacutedio jaacute taacute ( ) mistura que ela ensinou neh e aiacute ela ficou ensinando
vaacuterias coisas que noacutes temos aqui que a gente deixa se perder aiacute joga fora e ela disse
que enquanto vocecircs tatildeo comendo aquilo vocecircs jaacute estatildeo se prevenindo vocEcircs jaacute tatildeo comendo
remeacutedio num carece vocecircs taacute laacute na farmaacutecia comprando remeacutedio pra vocecircs vocecircs jaacute tatildeo
comendo tatildeo se alimentando e tatildeo e eacute como eacute muita mistura ela ensinou tucupi que ela
ensinou que o tucupi eacute muito bom todo tipo de verdura ela ensinou e a gente a gente taacute
fazendo essa essa experiecircncia com a nazareacute e aiacute taacute dando certo ateacute agora muita mistura
noacutes tamo fazendo ela taacute vendendo MUITO MUITO muito
L1 ok quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia
L2 eacute o elixiparigoacute arruda a catinga de mulata a babosa tambeacutem mastruz
L1 hum rum
L2 corama
L1 hum rum
L2 (risos) vamos correr agora daqui em
L1 parece
L2 essas satildeo as plantas as
[
L1 satildeo as que mais usam neh
L2 hum rum isso natildeo tem aquele amor crescido tambeacutem ( )
L1 quais satildeo as partes da planta ou das ervas que a senhora mais utiliza satildeo utilizadas
L2 eacute eacute assim eacute das eacute as folhas e as casca mas dessa dessa uma que eu tocirc dizendo toda eacute
a folha dessas uma que eu disse agora ( ) pequenas soacute daacute de usar as coisas ( )
[
L1 a
maioria satildeo folhas e cascas
L2 isso
157
APEcircNDICE C ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Maria de Nazareacute
Reis
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA
CAMPUS DE BRAGANCcedilA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA
FICHA DE ENTREVISTA COM A SENHORA NAZAREacute
A) Entrevistado
1Nome
2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino
3 Endereccedilo
4 Idade(anos)
6 Naturalidade
7 Ocupaccedilatildeo principal
8 A Principal fonte de renda
9 Escolaridade
10 Haacute quanto tempo vive em Santa Luzia do Paraacute
11 Tens envolvimento com algum oacutergatildeo filantropia ou associaccedilatildeo Qual
12 Qual a sua origem De onde veio
13 Como conheceu a comunidade de Pimenteiras e haacute quanto tempo
14 Qual seu envolvimento com a comunidade
15 O que pensas da comunidade de Pimenteiras
16 Que significado ou representaccedilatildeo a comunidade de Pimenteiras possui para a senhora e
para o CEDENPA
17 Como estaacute o processo de titularidade da terra de Pimenteiras
18 Quais benefiacutecios a comunidade ganharaacute com a titularidade da terra
19 Na sua visatildeo o que marca a identidade da comunidade
20 Qual sua relaccedilatildeo com a comunidade e com os moradores da regiatildeo
B) Termo Quilombola
1 Como ocorreu o descobrimento sobre a descendecircncia quilombola dos moradores de
Pimenteiras
2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc
3 Na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de que
sejam descendentes de quilombolas
4Nos relatos dos moradores houve algum tipo de discriminaccedilatildeo contra eles sobre a
descendecircncia Quilombola
5 Com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas os moradores reconhecem os direitos que
possuem sobre ser Quilombola
6 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade
7 A senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre
essa Associaccedilatildeo
8 O que acha da comunidade da Pimenteira
9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc
10 Como procede a prova de ser ou natildeo quilombola Tem relaccedilatildeo com preservaccedilatildeo da
cultura para ser reconhecido
158
11 Houve grupos que desistiram do processo de identificaccedilatildeo devido a ausecircncia das
caracteriacutesticas culturais
12 Em Santa Luzia do Paraacute quais comunidades satildeo consideradas quilombolas e quais
possuem a titulaccedilatildeo da terra
13 O que caracteriza um quilombola
14 Qual o significado de reconhecer comunidades quilombolas Suas origens
15 Ser quilombola traz ainda caracteriacutestica de discriminaccedilatildeo Desigualdade racial
16 Quais outros direitos sem ser o da terra satildeo legiacutetimos aos quilombolas
17 Com relaccedilatildeo agraves Universidades quais contribuiccedilotildees podem ter para as comunidades
tradicionais
C) Plantas Medicinais
1 A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) incentiva os uso de medicamentos vindos de
produtos naturais devido a maioria da populaccedilatildeo natildeo ter acesso aos medicamentos de
farmaacutecia Nesse contexto a senhora acha que as ervas satildeo importantes
2 As ervas e as plantas servem para quecirc
3 Na sua concepccedilatildeo porque tantas pessoas satildeo atraiacutedas pela praacutetica de uso medicinal das
plantas
4 A senhora faz uso de chaacutes para o tratamento de doenccedilas
5 Muitos meacutedicos natildeo apoiam o uso de medicamentos caseiros Qual sua opiniatildeo
6 Haacute comunidades que trabalham com o uso das ervas medicinais
7 Como soube do uso das ervas pelos moradores de Pimenteiras
8 Na sua concepccedilatildeo o que marca a identidade da comunidade de Pimenteiras Satildeo as plantas
medicinais Satildeo os remanescentes de quilombolas Haacute outra caracteriacutestica
9 A senhora faz uso das plantas medicinais
10 Sobre a catalogaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinaisqual sua relaccedilatildeo ou influecircncia
nesse contexto
11 Como ocorreu o processo de catalogaccedilatildeo dos termos e por quecirc
12 Haacute moradores da comunidade de Pimenteiras que participam da cooperativa e produccedilatildeo
de medicamentos caseiros Como eacute esse processo
13 A senhora realiza alguma atividade de compra ou venda das plantas e produtos caseiros
14 A senhora conhece algum caso de cura de doenccedila atraveacutes do uso caseiro das plantas
15 Acredita no poder das plantas
16 Quanto aos produtos das farmaacutecias o que pensas
17 O que eacute a garrafada e a multimistura
18 Qual a relaccedilatildeo com a moradora Domingas E os trabalhos que ela mesma produz
19 O que eacute o trabalho com o bioenergeacutetico e porque acabou
20 Qual envolvimento da associaccedilatildeo com as plantas medicinais
21 O trabalho com as plantas medicinais eacute praticado apenas pelas mulheres Os homens natildeo
se envolvem Por quecirc
159
APEcircNDICE D - Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Maria de Nazareacute Reis entrevista
no dia 26 de setembro de 2014
L1 seu nome
L2 Maria de Nazareacute Reis de ( )
L1 data de nascimento
L2 vinte e cinco do sete de mil novecentos e cinquenta e dois
L1 endereccedilo
L2 rua tiradentes sessenta e dois
L1 idade
L2 sessenta e dois
L1 naturalidade
L2 beleacutem do Paraacute Brasil
L1 a sua ocupaccedilatildeo principal
L2 eu sou a minha prof eu sou formada neh como engenehira agrocircnoma e a minha
ocupaccedilatildeo eacute acessoria aos grupos produtivos grupo de mulheres grupos de associaccedilotildees
cooperativas de agricultores familiares dentro da rede bragantina
L1 entatildeo eacute em que trabalha essas ( )
L2 como
L1 em que trabalha
L2 eacute principalmente na aacuterea alimentar na aacuterea de nutriccedilatildeo na aacuterea de ( ) na aacuterea de
organizaccedilatildeo popular na aacuterea de de incentivo a produccedilatildeo (agroecoloacutegica)
L1 haacute quanto tempo mora em santa luzia
L2 santa luzia dois mil e cinco para dois mil e catorze nove anos neh a parti da data que
eu casei fiquei aqui ((risos))
L1 tens contatao com algum oacutergatildeo ou filantropia
L2 sim
L1 qual
L2 oacutergatildeo eacute centro de estudo de defesa do ( ) do Paraacute a filantropia tem obras sociais da
diocese de Braganccedila tem (imenso) neh vaacuterios ((risos)) melhor dizendo natildeo eacute imenso natildeo
vaacuterios
L1 qual a sua origem de onde de onde a senhora veio
L2 eu sou de Beleacutem nasci e me criei em Beleacutem mas desde que me formei sempre
trabalhei em comunidades rurais agricultura familiar (me formei) em mil novecentos e
sessenta e seis
L1 como conheceu a comunidade pimenteira e haacute quanto tempo
L2 eu (queria) nove anos neh quando eu conheci a partir de quando eu vim morar pra caacute
aliaacutes foi ateacute antes de nove anos porque como temos a escola neh a escola de alternacircncia
para os jovens agricultores em dois mil no ano dois mil quando a gente iniciou teve
dois alunos da pimenteira que foram aluno da escola hum e aiacute jaacute cheguei dentro da da
praacutetica da pedagogia da alternacircncia noacutes visitamos as familias desses alunos na comunidade
entatildeo a partir daiacute eu conheci a comunidade
L1 qual eacute o seu envolvimento com a comunidade
L2 como acessoria neh nos grupos produtivos como eu falei que a a associaccedilatildeo ela faz
parte ela integra a rede bragantina da ( ) solidaacuteria e ela dentro dessa integraccedilatildeo a
gente eacute eacute como acessoria dentro do do por ela ser uma comunidade quilombola tem
um uma referecircncia dentro do centro de estudo e defesa do meio do Paraacute que eu
represento aqui na regiatildeo neh entatildeo atraveacutes do sedenpa a gente faz essa acessoria
viabiliza alguns alguns momentos projeta poliacuteticas puacuteblicas que satildeo disponiveis
especiacuteficas para essas comunidades
L1 o que a senhora acha da comunidade de pimenteiras
160
L2 em que sentido
L1 eacute o quecirc que ela o quecirc que a comunidade traz assim na representaccedilatildeo o quecirc que
ela representa assim pro sedenpa o quecirc que ela representa pra senhora assim ela tem algum
significado
L2 olha ela a comunidade ela ela eacute significativa ainda em biodiversidade neh a
gente tem rio tem ainda uma floresa ainda tem modo de produccedilatildeo ((tosse))eacute eacute ainda
tem o modo de produccedilatildeo muito assim pro proacuteximo da produccedilatildeo sustentaacutevel neh entatildeo
eacute muito significativo nesses aspectos que vamos dizer se afinam com o projeto que o
sedenpa defende que a escola ( ) defende neh o projeto de sustentabilidade eacute tendo
como ator e protagonista os agricultores e as agricultoras familiares
L1 entatildeo a senhora tem orgulho da comunidade
L2 sim ela eacute realmente uma comunidade que vale a pena investir o conviacutevio tambeacutem (eu
dou soacute apoio) laacute para eles ((risos))
L1 e como estaacute o processo de titularizaccedilatildeo da terra
L2 o processo taacute em andamento neh ainda nem a gente sabe
[
L1 natildeo finalizou
L2 ainda natildeo finalizou a gente sabe que eacute muito demorado neh e agora no final do mecircs de
agosto a gente enviou uma carta pra associaccedilatildeo noacutes juntos JUNTOS com a associaccedilatildeo
neh a a entregamos uma protocolamos uma carta no incra pra que eles viessem na
comunidade pra dizer em que peacute estaacute o processo porque o asseacutedio sobretudo nessa eacutepoca
de roccedilado muito grande os fazendeiros estatildeo confinante colocam fogo o fogo entra na
mata neh muitas vezes gente da proacutepria comunidade que natildeo tem assim eacute eacute tem a
cabeccedila do opressor neh como Paulo Freire costuma dizer aiacute querem fazer negociaccedilatildeo com
terra ainda bem que a comunidade tem lideranccedilas fortes neh que consegue
enfrentar e freiar mas realmente as titulaccedilatildeo eacute uma uma uma questatildeo assim muito
latente que eacute eacute facilita essas esses desvios neh de de de pessoas da comunidade
querendo vender terra onde confinantes que pretendem de uma form ou de outra tentar
enfraquecer a comunidade expulsar enfim
L1 o que a comunidade vai ganhar com essa titularizaccedilatildeo
L2 eu acho que ganha principalmente a confianccedila neh de de a confianccedila de ser donos
legais da terra e de jaacute se jaacute se sentem donos da terra mas hoje tudo tudo vocecirc tem que
ter papel neh ((risos)) entatildeo eu acho que isso vai ser muito positivo pra eles neh quando
tiver essa titulaccedilatildeo
L1 e o que marca assim a identidade de pimenteira assim na sua visatildeo
L2 na minha visatildeo eacute a
L1 quando fala em pimenteira assim
L2 lembra assim como eu jaacute falei pra vocecirc neh a biodiversidade O USO dessa
biodiversidade neh embora que jaacute tivesse um pouco assim sendo relegada neh
pelos in pelas pessoas do locais devido a essa essa ausecircncia de incentivo ausecircncia de
poliacuteticas puacuteblicas neh agora que comeccedilam despertar pra valorizar o artesanato que essas
pessoas produzem ah o que existe na mata que eles podem ainda taacute utilizando como
pra sua sauacutede pra seu alimento entatildeo isso daacute daacute marca a pimenteira neh e graccedilas agrave deus
a gente taacute conseguindo resgatar com o apoio da rede bragantina do sedenpa da escola
atraveacutes da formaccedilatildeo e de curso e de pessoas que a gente traz aqui eles participam as
mulheres os jovens os adultos isso tem ajudado eles perceberem que eles estatildeo no meio
ainda de uma RIQUEZA neh que ainda tem viabilidade sustentabilidade as
geraccedilotildees que ali nascem enfim
L1 qual eacute a sua relaccedilatildeo com os moradores da comunidade
L2 como assim
L1 como eacute o acontato se tem um contato direto se eacute um contato
161
[ [
L2 olhe eacute o contato a
gente procura sempre canalizar via associaccedilatildeo via lideranccedila por aqui pra natildeo
individualizar eacute a gente cecirc sabe como eacute a as pessoas o ser humano tem tendecircncia a se
aproximar dialogar sentar com aqueles com que eles se afinam aqueles que a gente natildeo
simpatiza a gente nem olha ((risos)) pelo contraacuterio neh entatildeo a gente procura fazer
TER como (ouvir) isso eacute eacute problemaacutetico quando isso acontece neh vocecirc conhece laacute a
comunidade vocecirc sabe que ali tem lideranccedilas que ao longo dos anos sempre ficaram
assim se tipo coman-dan-do a comunidade neh e que inclusive natildeo satildeo natildeo satildeo da do
da da da raiz das pessoas que chegaram laacute natildeo saotilde da da da famiacutelia tronco dos
dos negros neh dos afrodescendentes que eles estatildeo mas que tinham o controle muito
grande era uma celebraccedilatildeo era fazia um fazia outro neh e isso ainda eacute eacute
preocupante neh entatildeo a gente procura ter como referecircncia a associaccedilatildeo a gente natildeo manda
um o convite ou chama fulano presidente ( ) da associaccedilatildeo vem aqui natildeooacute isso aqui eacute
pra associaccedilatildeo AHH ASSOCIACcedilAtildeO entatildeo taacute se referindo ao conjunto das pessoas que estatildeo
ali organizadas neh eacute claro que na comunidade alguns natildeo estatildeo participando da
associaccedilatildeo mas pra noacutes a referecircncia eacute a associaccedilatildeo esses que estatildeo fora olha tatildeo fora por
que querem por sua livre e espontacircnea vontade tambeacutem natildeo eacute obrigado a entrar ateacute
porque foram vocecircs que criaram POREacuteM a referecircncia pra noacutes eacute a associaccedilatildeo eles tem sido
ateacute dificultoso porque infelizmente no oacutergatildeo no no nas no no nos oacutergatildeos puacuteblicos
neh seja do municiacutepio seja do estado muitas vezes se cria essa relaccedilatildeo pessoal pega
aquela lideranccedila neh ahh entatildeo a gente fica sempre batendo olha eacute associaccedilatildeo eacute associaccedilatildeo
mas eacute natildeo eacute faacutecil ((risos))
L1 como descobriu que os moradores de pimenteira eles tem descendecircncia quilombolas
L2 bem a gente em princiacutepio eles contaram a histoacuteria deles neh que eles tem uma eles
satildeo uma parentela da narcisa neh que se desmenbrou e andando nas terras vieram
parar aqui tanto que eles satildeo muito vizinho satildeo parente mesmos neh e depois quando
eles comeccedilaram quando foi instituiacuteda instituiacuteda natildeo quando foi colocada em praacutetica
neh o artigo cento e sessenta e oito da constituiccedilatildeo neh pelo presidente Lula aiacute se
comeccedilou a ver a saber sim noacutes tem uma histoacuteria essa histoacuteria taacute sendo esquecida taacute sendo
relegada neh e o proacuteprio incra neh por vamos dizer assim por uma exigecircncia de
titulaccedilatildeo a proacutepria fundaccedilatildeo palmares eles fizeram neh o levantamento antropoloacutegico na
comunidade entendeu entatildeo eles constataram que realmente eles tem uma um passado
neh que foi dessa desse refuacutegio dos negros neh pras beiras dos rios pras matas pra
criar suas moradias e manter suas suas tradiccedilotildees
L1 o que eacute ser quilombola e qual o significado dessa palavra pra senhora
L2 pra mim neh pra mim o que eacute ser quilombola pra mim oacute pra mim acho que ser
quilombola eacute principalmente conhecer a sua histoacuteria assumir a sua histoacuteria trazer a
sua histoacuteria para o presente neh e colo evidenciar essa histoacuteria seja atraveacutes da das
suas praacuteticas do seu jeito de ser neh
L1 eacute na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de
ser quilombola
L2 com estranheza neh porque ser quilombola como eu falei pra vocecirc eacute assumir sua sua
identidade sua histoacuteria neh entatildeo essa histoacuteria natildeo eacute contada na escola os livros natildeo trazem
isso neh as as figuras que tem no livro eacute sempre a figura da menina loirinha neh natildeo eacute
a figura da pra ensinar o alfabeto Eacute A UVA NAtildeO Eacute O CARAacute que eles conhecem de
LONGOS anos neh e por aiacute vai entatildeo eles receberam assim neh alguns jaacute se apresentam
dizendo eusou fulano de tal moro na comunidade quilombola tal mas eacute alguns neh diz
eu sou fulano de tal moro na pimenteira neh significa que ainda tem um coisa que eles
natildeo natildeo que eles faccedilam de propoacutesito mas que eles ainda num neh conseguem neh
assumir colocar isso AFIRMAR isso significa pra noacutes uma afirmaccedilatildeo que nem todos
162
fazem mas a gente entende porque eles passaram e sofreram toda essa essa histoacuteria
NAtildeO SOacute eles como negro no Brasil sempre teve vergonha de ser negro por uma sociedade
brasileira que neh entre aspas se diz que natildeo eacute racista mas que tem um racismo hoje a
gente taacute vendo neh sendo provocado sendo questionado na sociedade a gente vecirc claramente
neh posiccedilotildees racistas na nossa sociedade
L1 com relaccedilatildeo aos moradores eles relataram algum tipo de descriminaccedilatildeo com relaccedilatildeo
a descendecircncia deles
L2 sim laacute e aqui nas escolas inclusive o caso aqui das escola eles me eacute me
trouxeram conhecimento do caso aiacute noacutes fizemos uma carta pra diretora da escola daqui
pelo sedempa assinamos (porque) o sedempa estadual e mandamos pra diretora pra que
ela tomasse providecircncia porque senatildeo a gente ia ter que tomar providecircncias legais e as
providecircncias legais todo mundo sabe neh que racismo eacute crime neh eu acredito que
depois pelo menos as meninas de laacute em geral isso soacute soacute eacute denunciado por pessoas que jaacute
tem uma uma certa consciecircncia natildeo sei claro que talvez ainda tenha caso de racismo na
escola mas que todo mundo fica calado neh assume aquela aquele aquela aquele
GESTO como normal como uma questatildeo de infecomo ser inferior aiacute num eacute assim
L1 e com relaccedilatildeo aos direitos os moradores reconhecem eles conhecem os seus
direitos como quilombolas
L2 sim aos poucos a a medida que as questotildees vatildeo vatildeo surgindo por exemplo tem uma
questatildeo da terra olha quilombola tem direito a terra legalizada eles conhecem neh a
medida que as poliacuteticas puacuteblicas aproximam do dia a dia do concreto deles eles vatildeo
tomando esse esse conhecimento natildeo eacute dizer que eles cochecem tudo natildeo neh
porque tem coisas que agora por exemplo vestibular das cotas neh que eacute recente quer
desligar ((risos))
((corte de gravaccedilatildeo))
L1 entatildeo voltando a pergunta o que acha eacute com relaccedilatildeo aos moradores como eacute que eles
reconhecem se eles reconhecem a a questatildeo dos direitos possuem sobre ser quilombola
L2 pois eacute como noacutes estaacutevamos eacute colocando neh eacute eles reconhecem a medida que eles vatildeo
sentindo na praacutetica vendo na praacutetica neh seja a questatildeo da terra aacutes vezes eles escutam
na televisatildeo mas como se eles natildeo vatildeo atraacutes ou se eles natildeo se colocam como detentores
daquele direito isso parece que eacute o processo mais demorado neh o exemplo eacute agora o
vestibular das cotas neh que da pimenteira teve soacute um ano que fez uma menina daqui
que ela morava aqui em santa luzia neh ela eacute filha de dona Domingas e agora esse ano
tem uma que taacute fazendo neh aliaacutes que taacute querendo fazer mas ontem ateacute dei uma bronca
um pouco nela porque eles aacutes vezes eles quererm priorizar festa em vez do estudo e a
a no caso da educaccedilatildeo neh que assim mais eacute assim muito fazer cumprir exige
um grau de mobilizaccedilatildeo e ateacute de articulaccedilatildeo no iniacutecio do ano por exemplo a professora da
comunidade laacute do do broca que tem a turma parece que daacute natildeo sei tem algumas turmas
que vatildeo o ocircnibos leva ela para o broca neh esse pessoal tava quarenta e poucos dias
porque natildeo teve transporte aiacute a professora me ligou e disse olha o pessoal da pimenteira
taacute sem aula eles tem direito a educaccedilatildeo ao transporte e eles natildeo tatildeo (vindo) pra aula eu
digo ah eacute liguei mas o que eacute que taacute acontecendo que vocecircs natildeo procuraram natildeo a gente
vai vai vai atraacutes mas eles ficaram de mandar o transporte se natildeo natildeo chegar essa semana
a gente vai sabe muitas vezes eacute uma acomodaccedilatildeo pprincipalmente no caso do da
educaccedilatildeo neh que a gente vecirc natildeo eacute soacute laacute na cidade educaccedilatildeo em santa luzia tem um
tem um retrocesso assim horrivel neh e por ai vai se eles eles sabem que tem o
direito neh alimentaccedilatildeo escolar eles sabem que tem o direito de vender ateacute com com
o valor superior ao neh para os quilombolas dentro do programa nacional da da
alimentaccedilatildeo escolar por lei eles tem direito a um valor mais alto na me na alimentaccedilatildeo
escolar neh mas eles natildeo vatildeo atraacutes quando o gestor fa tem sensibilidade daacute quando
163
natildeo tem diz que tem que ser igual pra todo mundo como eacute que taacute acontecendo agora
entatildeo eacute assim muito muito difacuteacuteicil porque isso exige uma grande mobilizaccedilatildeo
organizaccedilatildeo neh que eacute um processo educativo contiacutenuo o pessoal vem de uma histoacuteria de
de sempre ficar relegado e acha que vai ficar a vida inteira relegado mesmo que tenha
poliacuteticas puacuteblicas que tenham ( ) direito seus neh e que realmente natildeo eacute faacutecil soacute pra eles
soacute pra ilustrar neh ( ) sei que vocecirc vai transcrever a gente taacute numa luta que a gente
ficou desde do da da saiacuteda do prefeito louro a gente ficou com sem receber dos
produtos que a gente entregava para alimentaccedilatildeo escolar neh que ateacute hoje taacute na justiccedila
ainda mas isso a gente tem que ir atraacutes de advogado de um e de outro numa comunidade natildeo
eacute faacutecil se natildeo for acessoria dificilmente eles vatildeo atraacutes disso entatildeo daiacute uma uma questatildeo
assim que natildeo eacute NAtildeO Eacute SOacute que depende dependa soacute deles neh mas que depende de
todos um uma relaccedilatildeo social que eles possam construir e que essa relaccedilatildeo social possa
neh ajudaacute-lo nessa nessa luta por isso que eu perguntei pra vocecirc olha a gente vai
precisar da tua ajuda tem que somar forccedila com a gente nessa histoacuteria porque se natildeo difiacutecil
L1 eacute a senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade
L2 sim
L1 fale um pouco sobre essa associaccedilatildeo
L2 entatildeo a associaccedilatildeo eles tinham algum (embriatildeo) de associaccedilatildeo que natildeo era assim
vamos dizer legalizada entatildeo pra eles darem prosseguimento a que natildeo era tambeacutem
criada como associaccedilatildeo quilombola era associaccedilatildeo que foram assim acho que
incentivadas antes deu chegar aqui ela jaacute tava por laacute com a questatildeo de (FNO) essa coisa toda
neh DEPOIS pra ele se legalizarem como quilombola o tinha um programa em
Beleacutem o programa raiacutezes neh que eles elaboraram mais ou menos com o apoio de advogados
no estatuto padratildeo que pudesse orientar quais os termos que deveriam ter no estatuto
neh que que eacute eacute passariam por um processo legal pra depois ser levado para cartoacuterio
pra um e pra outro entatildeo a nossa contribuiccedilatildeo foi muito nesse sentido de mostrar olha
a resoluccedilatildeo um meia oito da da constituiccedilatildeo resoluccedilatildeo natildeo o artigo um meia oito da
constituiccedilatildeo brasileira ele fala isso e isso alguns desses pontos tem que taacute constando aqui
natildeo citando a a a o decreto o artigo laacute da constituiccedilatildeo mas coisas que tatildeo citam
laacute que satildeo direitos (principalmente) na questatildeo da da dos recursos naturais da da da
venda da terra enfim entatildeo a ajuda foi mais nesse sentido de ajudar eles entenderem a questatildeo
legal neh juridicamente legal pra poder encaminhar registro pra porque depois
esses documentos no caso vatildeo pra incra vatildeo pra interpa quando eacute o caso de terra do estado
vai para fundaccedilatildeo palmares pra poder obter a certificaccedilatildeo entatildeo a contribuiccedilatildeo foi muito
nesse campo mais legal da da legalizaccedilatildeo
L1 hum rum e mais assim como eacute a questatildeo de de provar que eacute quilombola
isso eacute difiacutecil eacute uma situaccedilatildeo que AH eles tem uma caracteriacutestica quilombola ou eles
satildeo quilombolas mas aiacute pra o processo de ( ) eacute muito eacute muito dificil pelo que eu percebo
L2 a titulaccedilatildeo da terra
L1 sim
L2 eacute porque depende do estado neh no sentido mais amplo laacute no caso eacute oacutergatildeo federal a
aacuterea neh
L1 hum rum
L2 as outras comunidades que tem aqui foram aacuterea do estado entatildeo cecirc sabe que o
estado tem uma esfera burocraacutetica muito pesada neh e aiacute vai tem que vir antropoacutelogos pra
fazer a o levantamento histoacuterico da famiacutelia pra vecirc quais foram as histoacuterias enfim pra ter
esse reconhecimento natildeo eacute soacute assumir
L1 aiacute no caso pra pra provar essa questatildeo de quilombola neh com relaccedilatildeo a
preservaccedilatildeo da cultura
L2 hum rum
L1 isso ajuda no sentido do reconhecimento
164
L2 ajuda porque quando eu nunca fiz um levantamento antropoloacutegico ateacute porque natildeo sou
antropoacuteloga mas ( ) eu fiquei sabendo de outras comunidades e tambeacutem ouvindo assim
uma uma pessoa que teve aqui da fundaccedilatildeo palmares eles fazem todo esse traccedilo todo
esse perfil da CULtura dos santos que valorizam das ladainhas que ainda fazem
entendeu entatildeo tudo isso taacute presente na na identificaccedilatildeo neh na identificaccedilatildeo e e
reconhecimento da da comunidade como sendo afrodescendente
L1 hum devido a isso a senhora tem conhecimento de algum grupo que tenha desisitido
do processo de identificaccedilatildeo por perceberem que natildeo tem mais assim essas
caracteriacutesticas
L2 hum natildeo bem aqui natildeo tenho esse conhecimento tem alguns que ainda tatildeo um
(bocado) deles ainda tatildeo na luta pela terra neh mas eles jaacute tem essa identidade assumida
neh eu natildeo tenho natildeo algum que tenha desistido
L1 eacute com relaccedilatildeo a uma fora
L2 ((risos))
L1 mas assim com relaccedilatildeo quilombola quais quais comunidades aqui em santa luzia satildeo
comunidades consideradas quilombolas
L2 pimenteira jacareacutequara tipitinga e trecircs voltas que jaacute estatildeo vamos dizer assm com o
processo praticamente concluiacutedo tipitinga jacareacutequara jaacute com a titulaccedilatildeo neh
L1 jaacute estatildeo com a titulaccedilatildeo
[
L2 jaacute estatildeo intitulados trecircs voltas ainda pendende eacute pimenteira tambeacutem
taacute ainda pendente das que eu sei satildeo essas
L1 o que caracteriza um quilombola hoje
L2 hum hum ((risos)) eacute eacute uma eacute uma mistura neh porque eacute as pessoas vatildeo
incorporando haacutebitos da sociedade (mais geral) porque ele natildeo taacute isolado neh ele taacute no
meio o meio externo influencia comportamento haacutebitos neh entatildeo a a cultura eacute acho
que eacute uma coisa que ajuda mais a identificar os haacutebitos alimentares e a cultura o uso
dos recursos como a gente tava falando entatildeo foi por ai que a gente taacute trabalhando esse
projeto de fortalecimento com as mulheres de valorizaccedilatildeo da cultura eles chegavam
aqui o caraacute por exemplo eacute um alimento que todo mundo tem natildeo eacute soacute em comunidade
quilombolaque tem neh mas as pessoas tinham vergonha de chegar aqui pra oferecer um
quilo de caraacute que eacute um alimento neh
L1 hum rum
L2 as pessoas tinham vergonha de usar um chaacute uma erva (ia) para o posto de sauacutede
neh entatildeo a gente taacute procurando valorizar essa cultura justamente naquilo que doacutei na
barriga ou doacutei no corpo neh pra que eles possam
L1 por que reconhecer quilombos qual eacute o significado de reconhecer essas
comunidades
L2 eu penso que eacute um signi eacute um significado importante para o Brasil neh que a
populaccedilatildeo brasileira eacute foi formada por esse por esse povo que foi trazido pra caacute que
teve toda essa miscigenaccedilatildeo que ainda tem as suas raiacutezes muito assim latente na
religiosidade popular neh embora tenha sido muito quebrada neh com o catolicismo
romano mas que eu acho que eacute importante pra populaccedilatildeo brasileira neh reconhecer a
sua origem a sua histoacuteria a sua cultura mesmo os que tatildeo na cidade satildeo tem uma boa parte
que satildeo negros negros neh entatildeo natildeo pode esquecer essa histoacuteria o povo que esquece
sua histoacuteria ((ruiacutedo)) eacute um povo fadado a ficar mercecirc de qualquer vento neh e hoje a
devido esse processo de de colonizaccedilatildeo pesada que teve natildeo soacute aqui no Brasil mas acho
que no mundo inteiro as pessoas comeccedilam a ateacute um parecircnteses fecha ai teu teu
gravador que natildeo eacute coisa assim da da pesquisa
L1 hum rum
L2 que esses islatilde neh esses grupos mulccedilumanos que tatildeo ( ) eu fiquei assim horrorizada
165
que eles postam assim na internet neh eu ( ) a facebook mas a gente abrir esse mesenger e
aiacute outro dia tava passando aqui na tele na tv Brasil que a gente assisti muito aqui neh e tava
falando que esse povo eles pra eles cultu poliacutetica eacute religiatildeo econocircmia uma coisa soacute
eles natildeo fazem distinccedilatildeo como eacute no Ocidente cultura ocidental natildeo eacute natildeo tem a ideia
desagregada neh entatildeo isso natildeo foi a toa essa desagregaccedilatildeo natildeo foi a toa essa
fragmentaccedilatildeo cultural e hoje esses grupos que satildeo minorias tatildeo procurando
reconstituir isso neh e muitas vezes usando da violecircncia usando da forccedila a gente fica
chocado mas quan-tos anos ele vem sofrendo de neh de colonizaccedilatildeo eu-ropeia
colonizaccedilatildeo dos Estados Unidos massacre e tudo mais aiacute esses grupos hoje estatildeo atraacutes
dessa identidade muitas vezes a pessoa vecirc violencia pela violecircncia natildeo vai atraacutes da
HISTOacuteRIA que que gerou aquela violecircncia neh
L1 a origem
L2 a origem enfim entatildeo acho que tem um pouco tem um paralelo que daacute pra pintar
neh L1 aiacute nesse nesse nesse aspecto a gente chama neh um pouco a questatildeo da
desigualdade racial
L2 eacute
L1 e entatildeo eacute um ponto tambeacutem que traz essa perspectiva do do fato de ser
quilombola tambeacutem ter a margem neh essa essa
L2 hum rum
L1 essa caracteriacutestica neh
L2 isso
L1 nesse aspecto como eacute que a senhora vecirc essa questatildeo da desigualdade mesmo racial
L2 eacute algo assim que ainda vai se passar por um processo histoacuterico que tem um
fundamento principalmente na na educaccedilatildeo neh se noacutes tivermos educaccedilatildeo que possa
eacute eacute comeccedilar a desmistificar essa desigualdade neh esse racismo seja pelo cor seja pela
opccedilatildeo religiosa seja pela opccedilatildeo sexual isso ajuda mas a escola ainda se se esse
debate (natildeo eacute presente) neh aiacute o o debate que vocecirc vecirc o natildeo eacute debate neh a televisatildeo
talvez mostrando (aquele) racismo neh eacute homossexual que foi espancado que foi
mor-to entatildeo um negro que foi preso neh enfim entatildeo ateacute que isso
realmente mude essa configuraccedilatildeo eu acredito que soacute um processo educativo amplo
infelizmente o processo educativo mesmo com toda a discussatildeo que taacute hoje colocada mas
ainda eacute o processo educativo do do do letramento neh o processo em discussatildeo pra
formaccedilatildeo de cidadania entatildeo se natildeo tem esse processo educativo nessa perspectiva do
ser cidadatildeo aiacute ainda temos que passar por muitas geraccedilotildees pra poder chegar uma neh
uma sociedade sem racismo ( ) sem desigualdade
L1 que tipo de outro benefiacutecio eacute legiacutetimo sem ser o da terra
L2 hum rum
L1 pa-ra os quilombolas
L2 aleacutem do da da terra temos a questatildeo da educaccedilatildeo a prioridade em determinadas
questotildees de sauacutede puacuteblica neh tem um um caso que eacute muito muito quase que especiacutefico
embora aconteccedila no ( ) da anemia ( ) neh que eles tem que ter tratamento diferenciado
acesso diferenciado a sauacutede mas talvez muitos por natildeo conhecer natildeo sabem muitas vezes
nem sabe que tem o problema neh que eacute a anemia ( ) entatildeo acho que esses direitos tem
que o direito tambeacutem do do dos terreiros neh os terreiros sempre foram demonizados
e que eacute uma uma expressatildeo da religiosidade neh mas satildeo direitos que natildeo vatildeo ser
faacutecil de serem conquistados porque se vc tem uma comunidade que taacute reconhecida como
quilombola aqui essas pessoas tem relaccedilatildeo de vizinhanccedila que outras comunidades que natildeo
satildeo quilombolas neh entatildeo se elas estatildeo fazendo laacute um terreiro os os que natildeo satildeo
quilombola podem ateacute ir laacute frequentar pedir um chaacute pedir uma uma reza na cabeccedila MAS
noacutes sempre colocar neh como natildeo aquilo ali eles fazem cruz ( ) neh
L1 hum rum ( )
166
L2 penso que eacute isso neh seus direitos
L1 e com relaccedilatildeo ao papel da universidade como se se a senhora vecirc essa contribuiccedilatildeo
da universidade sobre as comunidades tradicionais
L2 ahh o papel da universidade eacute muito importante mas como a gente tava dizendo
a pouco tem a diversidade tambeacutem dentro da universidade neh a universidade em
constituiccedilatildeo de ensino soacute pra te daacute um exemplo acho que ainda tenho ai um caso assim
horrivel de racismo que teve na universidade federal do Paraacute com uma soacute natildeo lembro se ( )
eacute professor de laacute a Cristina Chaves natildeo sei se tu conhece aiacute ela ficou assim tatildeo
chocada mandou carta a gente enfim ( ) nessa hora ( ) mobilizaccedilatildeo vai passando carta um
pra o outro neh eu natildeo sei te relatar assim mais mas foi com o professor ateacute neh
teve tinha uma discussatildeo com os alunos E o professor claramente (externalisou) posiccedilatildeo
de racismo entatildeo a universidade ela taacute formando neh e taacute taacute formando profissionais
mas dentro desses profissionais se esse debate tambeacutem natildeo eacute levado as ppessoas entram laacute
vindo da escola da educaccedilatildeo baacutesica neh sem essa formaccedilatildeo neh entatildeo se ela chega
na universidade e a universidade natildeo procura pelo menos eacute vecirc ou colocar na nessa
questatildeo neh aiacute eacute complicado neh vai continuar o cidadatildeo ou cidadatilde com essas
praacuteticas MUITO IMPORTANTE entatildeo o papel da universidade nesse processo AS COTAS
por exemplo parece que o os uacuteltimos estado deles do sitema de cotas foi aqui o Paraacute neh
e olha que nem ( ) passado mi teve uma menina da narcisa que fez a prova neh ela foi
selecionada que ela eacute ateacute professora na (comunidade) eacute uma moccedila muito aplicada e eles
vem aqui neh a gente foi fez a inscriccedilatildeo da Francisca e tal a Francisca foi selecionada ela
voltou comigo para fazer o negoacutecio da declaraccedilatildeo neh que eu digito claro que natildeo sou eu
que assino quem assina eacute a ( ) ai fizemos a declaraccedilatildeo mandamos no dia que essa menina
foi se inscrever chegou laacute E DEIXA estar que a menina laacute do sedempa da ( ) tinha me
avisado ahh Francisca passou ahh que bom porque aacutes vezes a gente fica sem
comunicaccedilatildeo aqui de internet neh aiacute me disseram a nota que ela tinha tirado ela passou foi
classificada Francisca tu passastes no dia que essa moccedila foi pra Braganccedila fazer a matriacutecula
dela olha chegou laacute natildeo num passou Francisca tu passastes natilde-o arreda o peacute daiacute pelo
amor de deus grande favor que tu vai me fazer tu vai enfrentar esse povo deixa aiacute taacute por
azar nesse dia mal a gente coonseguia mandar mensagem por esses telefones aqui de santa
luzia liguei para a professora Georgina vocecirc conhece neh a professora Georgina olha ( )
eu tocirc em Beleacutem aqui me consultando mas diga pra ( ) nuacutemero ligar liga pra natildeo sei quem
uma hora da tarde eu acho que ele viu que ela ficou laacute e natildeo arredou o peacute encontraram laacute
natildeo sei quem depois que fui saber que natildeo era soacute o caso dela a professora ( ) tava com uma
lista de gente que ela tava tentando resolver por conta de eles inventavam um inventavam
outra pra natildeo matricular sabe eu disse olha ( ) a luta do negro eacute essa pensa que jaacute
acabou a discriminaccedilatildeo a desigualdade tu taacute vendo na praacutetica natildeo abre matildeo fica aiacute noacutes
vamos pertubar enfim eles vatildeo a tua vaga taacute garantida tu passastes menina tu fostes
classificada entendeu sei que graccedilas a deus ela ta laacute na UFPA em braganccedila neh tem
dois do tipitinga tambeacutem que tatildeo laacute tem dois do jacarequara esse ano tem uma turma maior
por por coincidecircncia ((risos)) agora o sedempa e a (malu) conseguiram na casa da
linguagem que eacute da fundaccedilatildeo curro velho professores eles vatildeo fazer trecircs poacutelos de PRE-
paraccedilatildeo e redaccedilatildeo por isso que desculpa por isso que eu te perguntei mas tu jaacute chegasse
((risos)) que eacute a moccedila que eu tocirc esperando ela chega agora meio dia que ela me ligou ontem
disse olha eu vou no ocircnibos das nove eu digo taacute tudo bem ela vai ficar saacutebado e domingo
na escola soacute treinando essa turminha em redaccedilatildeo pra eles fazerem o seletivo mas eu tocirc
dizendo pra eles oacute vocecircs tem que lecirc o ano inteiro vatildeo lendo vatildeo treinando os alunos da
escola que ainda tatildeo fazendo o primeiro do EJA neh eles natildeo satildeo obrigados a fazer mas
a gente taacute ateacute incentivando pra eles verem como eacute a prova neh a fazerem a prova e tudo
haacute uma dificuldade mas tem tem que entatildeo eacute isso neh desculpa que eu falo muito acabo
ateacute me perdendo (natildeo sei se tocirc respondendo o que tu tem)
167
[
L1 natildeo taacute sim
L2 hum ( )
L1 hum rum
L2 mas a desigualadade neh nesse campo aiacute eacute bem presente quando eles vatildeo tentar
(essa) universidade hum se preparem eu digo olhem se preparem pra brigar ((risos)) se
vocecircs natildeo brigarem natildeo vatildeo esperar soacute que o sedempa mande carta que a professora Zeacutelia (
) VOCEcircS TEM tambeacutem que brigar junto gente senatildeo natildeo tem combate
L1 verdade agora a gente vai pra um outra caracteriacutestica da entrevista que eacute com relaccedilatildeo as
ervas e plantas
L2 hum rum
L1 ( ) entatildeo a gente sabe que a organizaccedilatildeo mundial da sauacutede ela ela incentiva o uso
desses produtos neh desses produtos naturais porque a maioria da populaccedilatildeo ela natildeo tem
acesso a medicina de farmaacutecia
L2 hum rum
L1 ai nesse contexto a senhora acha que as ervas elas satildeo importantes
L2 eu digo as ervas e o saber neh num tem como dissociar o saber sobre o uso das
ervas entatildeo acho que eles satildeo satildeo realmente importantes e satildeo eacute muito importante que
a gente faccedila valer esse esforccedilo isso que a gente taacute fazendo VEM fazendo pra que as pessoas
voltem a valorizar porque taacute sendo mui-to ( ) mais comum a pirataria taacute dentro neh
e a apropriaccedilatildeo desses saber tambeacutem tatildeo muito forte a gente tem um exemplo aqui no
municiacutepio na regiatildeo da natura neh que compra desse pessoal (murumuru) neh que a
gente sabe que compra noacutes fizemos em dois mil e dez haacute quatro anos atraacutes um projeto
que se alchama chamava alfabetizaccedilatildeo e negritude pra alfabetizar adultos que ainda
num natildeo sabiam ler nem escrever ainda neh e aiacute foi um projeto pequeno que o sedempa
conseguiu recur-so aiacute veio uma amiga nossa treinamos as monitoras inclusive essa
menina que passou foi umas das treinandas neh e enfim fizemos com muito es-for-ccedilo
neh os recursos era pequeno sabe a menina veio essa professora que tambeacutem eacute uma
professora muito comprometida trabalha em Beleacutem e a gente vinha e ela vinha e taacute
passado recom graccedilas aacute deus conseguimos tem depoimentos assim interessantes de
pessoas que se alfabetizaram neh que hoje CONTInuaram estudar neh tatildeo num MAS
eu digo sempre olha vocecircs tem que abrir o olho a natura nunca deu um laacutepis UM
LAacutePIS pra essas comunidades pra ajudar nesse processo vai laacute tirar os recursos que tem
e pronto neh no nosso caso aqui eacute murumuru mas a gente tem casos por ai que eles estatildeo
mandando o pessoal plantar priprioca (esturaque) sabe agora jaacute tatildeo aqui procurando
outras coisas eu digo olha soacute vou entrar soacute vamos entrar se for pra sentar na mesa e
discutir de igual pra igual se natildeo for eu aconselho vocecircs natildeo irem mas se vocecircs quiserem
ir natildeo posso proibir neh se vocecircs acharem que eacute soacute o olhar do dinheiro vatildeo mas se vocecircs
acharem que tambeacutem passa por um reconhecer aquilo que vocecircs fazem aquilo que vocecircs
tem que vocecircs vocecircs guardaram de geraccedilotildees aiacute a histoacuteria muda neh a histoacuteria muda a
gente senta com eles mas de igual pra igual esse negoacutecio de vir aqui raspar e tudo e natildeo
darem nada de retorno entatildeo natildeo eacute por aiacute ENTAtildeO Eacute IMPORTANTE eacute eacute eacute necessaacuterio
que outros profissionais se engajem no sentido de mostrar a importancia dessas ervas
agora dia vinte e cinco de julho vinte quatro e vinte cinco de julho noacutes fizemos uma oficina
sobre oo uso de fitoteraacutepicos neh aquelas ateacute pra fortalecer o trabalho desse grupo de
mulheres neh e enfim a (bolsa cortou) assim vaacuterios casos sobre isso
L1 as er-vas e as plan-tas elas servem pra que
L2 ah soacute vocecirc perguntando pra elas ((risos)) elas vatildeo te dizer assim um LE-QUE neh
((risos))
L1 um leque ( )
L2 eacute um leque
168
L1 por que tanta gente ela eacute eacute atraiacuteda neh pra essa praacutetica de uso da das plantas das
ervas
L2 aacutes vezes por estar mais proacuteximo aacutes vezes por uma um passar de informaccedilatildeo neh
entre famiacutelias entre parentes vizinhos neh que que comeccedilam a usar a partir dessas
informaccedilotildees acho que a importacircncia eacute por ai
L1 eacute o que a senhora acha do uso de chaacutes no tratamento das doenccedilas
L2 eacute bom neh aacutes vezes as pessoas usam pela indicaccedilatildeo do saber popular agora com a
questatildeo do que taacute sendo colocada da do do ministeacuterio da sauacutede da anvisa neh jaacute
se precisa ter determinados cuidados MAS a gente vecirc que eacute um comeacutercio que soacute cresce
neh olha por exemplo elas fazem aqui a garrafada tem um parece que dois produtos que
elas colocam que natildeo tem aqui e a gente tem que comprar naquelas casas de ervas em
Beleacutem neh entatildeo eu quando vou pra Beleacutem eu docirc esse apoio eu fiquei horrorizada de vecirc o
quanto aumentou o nuacutemero de caso e vendendo essas ervas ali em Beleacutem e uma vez
eu tava laacute esperando que tinha muita gente pra ser atendido aiacute a mulher perguntou mas ( ) a
vendedora que vai receitando ahh minha nossa senhora ((risos)) entatildeo soacute taacute crescendo
esse esse uso dessas plantas neh dessas ervas enfim ( )
[
L1 talvez por isso existem
meacutedicos hoje que natildeo apoiam natildeo dizem que natildeo fa natildeo eacute bom
L2 eacute
L1 no caso desse uso natildeo ser (nada)
[
L2 hum rumdiscriminado algumas vezes a a formaccedilatildeo
deles eacute totalmente elitista neh que dis natildeo reconhece que o saber natildeo eacute soacute o saber
acadecircmico dele neh mas tem que saber o das pessoas neh e tudo isso que dicer de certo
modo vai encontra de encontro neh a a uma praacutetica de dominaccedilatildeo de mais de
quinhentos anos cau-sa is natildeo soacute estranheza mas tambeacutem causa essa divulgaccedilatildeo
contraacuteria neh vocecircs natildeo sei se vocecircs assistiram eu natildeo assistir ateacute porque essa rede
globo eu natildeo assisto embora algumas vezes passe alguma coisa que preste ((risos)) a gente
natildeo pode generalizar neh mas que aquele Bruno Varela neh EU fiquei sabendo
porque eu faccedilo bioenergeacutetico em Beleacutem neh eu durmo em Beleacutem ( ) jaacute faccedilo haacute mais
de quinze anos de bioenergeacutetico eu faccedilo meus exames cliacutenicos neh com o meacutedico
(omeopata) que ele ele vou laacute com plano de sauacutede e faccedilo exames de sangue fezes e urina
porque eles natildeo podem me guardar isso eu tenho que ser o se natildeo tivesse teria que fazer
particular e aiacute nesse dia que eu fui no bioenergeacutetico elas tavam comentando que ele acabou
com a babosa mas colo fez uma propaganda assim horriacutevel neh eu digo meu deus do ceacuteu
um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo que eacute a rede globo tu imagina a repercussatildeo que isso teve
quer dizer que se vocecirc natildeo tem pessoas pra ir contra isso neh aiacute pronto a rede globo que
diz eacute verdade o que ela taacute passando sabe entatildeo taacute por traacutes dele a multinacional que patrocina
a rede globo taacute por traacutes ENes neh eacute uma rede poderosa de de de controle neh
controle econocircmico controle poliacutetico que patrocina tudo isso neh entatildeo natildeo eacute faacutecil
L1 existe outras comunidades que trabalham com o uso de ervas
L2 assim de forma sistemaacutetica aqui na re-gi-atildeo natildeo conheccedilo mas no dia a dia com certeza
que trabalhe e usam ervas PARticiparam desse curso que eu falei pra vocecirc dessa oficina as
outras comunidades que satildeo daiacute de bragantina de ViSEU de augusto cocircrrea natildeo de
viseu e de cachoeira do piriaacute elas estiveram aqui neh aiacute a gente comeccedilou olha bora
comeccedilar botar em praacutetica assim de forma mais estruturada e tudo elas disseram que iatildeo
comeccedilar a fazer aqui na comunidade mesmo neh
L1 hum rum
L2 vecirc se vatildeo
L1 como a senhora soube do uso das ervas pelos moradores da pimenteira
169
L2 a gen-te conversando neh aacutes vezes tatildeo laacute e ahh isso aqui eacute um chaacute aacutes vezes mesmo
chegaram agora ahh isso aqui eacute uma planta Eacute isso aqui eacute uma planta e aiacute ela na conversa
muitas vezes espontacircnea elas vatildeo falando aiacute quando a gente comeccedilou esse trabalho na
pimenteira noacutes dissemos bora fazer do do bioergeacutetico neh bora fazer um
inventaacuterio um (herbaacuterio) do que tem aqui umbora aiacute uma amiga minha de Beleacutem era
bioacuteloga ela tava formada ela natildeo tava trabalhando era uma pessoa muito disponiacutevel neh aiacute
eu falei com ela ela disse ahh ( ) ela veio ficou uns trecircs dias na pimenteira soacute ao redor ela
natildeo andou a comunidade toda ela fez um registro de oitenta plantas plantas medicinais a
gente ateacute tem esse esse herbaacuterio neh digitado tudo direitinho no herbaacuterio a identificaccedilatildeo
das plantas ela anota aiacute elas iatildeo olha isso aqui eacute isso serve pra isso sabe (bons) tempos eacute
sim a gente ficou
L1 na sua concepccedilatildeo a o que marca a identidade da comunidade pimenteira satildeo as
ervas satildeo os quilombolas por que haacute outra caracteriacutestica
L2 eu digo que satildeo a a biodiversidade que tem laacute presente neh e dentro dessa
biodiversidade estatildeo as ervas neh estatildeo as ervas estaacute o accedilaiacute enfim porque eles vivem dessa
biodiversidade acho que isso que marca ainda eacute uma comunidade que tem uma uma
sustentaccedilatildeo ainda muito assim vinculada a biodiversidade que tem laacute e laacute vocecirc tem o
solo tem o rio tem as ervas neh tem a floresta onde eles enfim eacute esse ainda eacute
eacuteclaro que hoje todos oscomunidades tem gente que eacute funcionaacuterio puacuteblico (talvez) laacute
natildeo tenha ningueacutem da comunidade porque a dona neneacutem eacute agente de sauacutede mas ela natildeo eacute da
comunidade tem tem bolsa famiacutelia tem aposentados mas ainda eacute uma comuni que marca eacute
a biodiversidade que ainda eacute muito forte laacute dentro taacute
L1 a senhora faz uso das plantas medicinais
L2 faccedilo lhe mostrar minha receita ( ) de energeacutetico ((riso)) as minhas garrafadas que eu tomo
tambeacutem
L1 eacute qual eacute a sua relaccedilatildeo ou (fluecircncia) nessa catalogaccedilatildeo dos termos quando eu falo
termos eu falo das ervas das plantas
[
L2 das ervas
L1 dos nomes delas neh sobre as plantas (medicinais) pelos moradores
L2 assim eacute
L1 como ocorreu esse processo
L2 ess especifi a gente iniciou como eu falei para vocecirc neh no iniacutecio do trabalho em dois
mil e oito foi o primeiro mandato do governo Lula que teve o projeto a gente comeccedilou a
neh teve o apoio pra fazer isso noacutes comeccedilamos a fazer aiacute o nosso o nosso incentivo o
nosso trabalho PRIMEIRO tentar daacute uma uma visibilidade mas uma visibilidade
assim com certo com certo grau de informaccedilatildeo aiacute por exemplo deixa eu pegar aqui pra te
mostrar a dona Domingas faz laacute a tintura de de de deixa eu pegar aqui ( ) laacute de Beleacutem
(quando a gente sai do serviccedilo compra laacute mesmo) ( ) entatildeo apre uma apresentaccedilatildeo do
produto mesmo que ele seja mas ele taacute numa embalagem adequada ele taacute identificado neh
a garrafada neh aiacute a gente coloca produto fitoteraacutepico artesanal o que tem aqui dentro a
composiccedilatildeo a data que foi fabricada e aqui o nome neh centro popular mil sauacutede das
mulheres da associaccedilatildeo remanescente quilombo da pimenteira coloca os contatos sabe
que as pessoas ligam ou pra dar sugestatildeo ou pra pedir como jaacute aconteceu ( )uma queria
uma garrafada personalizada outra ((risos)) tem todas esses esses detalhes neh entatildeo a
contribuiccedilatildeo eacute nesse sentido pra que esse produto chegue ao consumidor num grau de
confiabilidade pelas informaccedilotildees que tem dizendo quem faz entendeu o endereccedilo pra
contato entatildeo eacute muito assim ali na associaccedilatildeo tem mais das ervas todinha
L1 existem moradores na pimenteira que participam da cooperativa com a produccedilatildeo dos
medicamentos com as ervas como eacute esse processo
L2 tem a aiacute soacute um detalhe neh a associaccedilatildeo neh ( ) na cooperativa neh
170
L1 hum
L2 eacute eles contribuem neh com a aacutes vezes identificando por exemplo tem uma planta
laacute que no iniacutecio desse trabalho a gente identificou que eacute o bacuri e eles disse que eacute bom
pra glaucoma e tambeacutem o meacutedico neh amigo nosso disse realmente essa planta ela tem
esse poder neh e aiacute ela ( ) faz um coliacuterio antigamente assim assim assim soacute que taacute
acabando MEU DEUS do ceacuteu aiacute depois ela ( ) esse morador ELE esse homem ele veio pra caacute
ela taacute aqui na cidade agora ( ) esse homem laacute neh que a gente ( ) no carro levou ateacute laacute de
carro ( ) ele tentar ( ) porque ela disse que ela natildeo sabe ( ) ele sabe neh aiacute ela disse noacutes
temos que ir laacute com esse homem aiacute quem aleacutem de identificar esse capim sabe laacute saber se
esse homem natildeo tem que a gente natildeo pode deixar se perder inclusive viu Edileuza (da
outra vez que tu vir) com a gente eacute assim a gente taacute querendo criar a casa do ( ) ( )
no no no na linguagem ( ) eacute aquele idoso que transmite as histoacuterias ( ) pra outros neh ( )
aiacute a dona Maria do Carmo que tamb5eacutem eacute afrodescendente ela do lado tem uma feacutezinha
fui laacute em ( ) ahh bora fazer o seu Severino que vocecirc conhece neh laacute do do tipitinga ele
tem o sonho de fazer a festa de satildeo miguel que laacute eles fazem (nossa senhora de santana) ( )
religiosidade catolicismo neh aiacute ele disse bora Cilene bora ver o que a gente faz eacute em
setembro soacute que sem ah natildeo eu acho que eacute amanhatilde dia de satildeo miguel vinte e nove neh
amanhatilde natildeo eacute por esses dias vamos fazer noacutes vamos comeccedilar se reunindo os os ( ) a
velharada toda ((risos)) falei assim pra ele mas pra isso tem que ter um carro pra pegar esse
povo pegar laacute na pimenteira pegar num canto pegar no outro pra ir pra o cristo agora
fiquei sabendo que padre (quebrou o feno) aiacute vamos (vecirc) esse pessoal todinho porque
tem que ter um carro pra levar e trazer eles ou ou ( ) a gente pode se ( ) passo laacute na
num no tipitinga ou algo enfim mas o importante eacute reunir essa (velharada) toda pra
ouvir as histoacuterias dele animar natildeo deixar eles assim soacute O IDOSO QUE taacute precisando de
cuidado de ( ) tomar o remeacutedio na hora certa mas que ele se sinta um idoso ainda uacutetil pra
sociedade pra vocecircs pra comunidade neh mas natildeo foi possiacutevel fazer esse ano por conta de
milhares de compromissos neh tudo isso neh quantas vezes tu me ligasse eu tava
acompanhando tambeacutem o trabalho da doutora Kiara Brandatildeo nas comunidades aqui e
mas mas ainda natildeo saiu esse plano da nossa cabeccedila neh de fazer essa ( ) natildeo sei se a
gente vai fazer setembro do ano que vem mas a gente tem que (comeccedilar) ( ) o importante
que a gente comece a pegar esse pessoal e tentar neh o pai da dona Domingas que tava
te falando eacute soacute ela aiacute ela nem participa mas agora ela tem que cuidar dele que ele jaacute taacute
muito idoso e tudo TEM PESSOAS que daqui haacute um tempo pode ser ateacute que a gente faccedila
nossa viagem antes dele mas a gente sabe neh que de repente natildeo vai mais contar com eles
pronto vai embora um patrimocircnio toda uma histoacuteria um saber que ficou pra traz neh e isso
nas comunidades quilombolas eacute importante aacutes vezes o pessoal me perguntA mais tem olha
vatildeo laacute pergunta pros idosos que estatildeo laacute porque eu natildeo tenho (todo) neh eu ajudo eles
na a tentar resgatar essa histoacuteria escrever essa histoacuteria mas eu natildeo tenho todas as
informaccedilotildees ateacute porque eu natildeo faccedilo soacute isso eu tenho MIL compromissos ((risos)) de de
trabalho pra fazer neh entatildeo se vocecirc puder contribuir com a gente nesse aspecto acho que
vai ser bom
L1 com certeza eacute a senhora realiza alguma atividade de compra e venda das plantas
L2 como rede bragantina a gente faz neh a compra dos produtos e a venda no caso
fitofitoteraacutepico e elas produzem a rede bragantina soacute faz a comercializaccedilatildeo neh elas
mesmos traz as ervas elas preparam aiacute o que que a gente faz aqui embalagem neh eacute
identificaccedilatildeo quando a gente quer botar mais informaccedilotildees ou ateacute qualificar mais
aquele material a gente entra em contato com profissionais pra que eles possam ( ) como eacute
o caso desse dessa oficina que teve de fitoteraacutepico neh que (veio) uma farmacecircutica de
Macapaacute neh que ela trabalha no instituto (tumucumar) que eacute tambeacutem no ( ) de Macapaacute e aiacute
soacute que dois ou trecircs dias com a gente foi assim maravilhoso eu saiacute encantadad neh com
muita informaccedilatildeo que ela passou ( ) a contribuiccedilatildeo eacute quando a gente comercializa
171
L1 vocecirc jaacute conhece algum caso assim de doenccedila de cura atraveacutes das ervas
L2 das ervas elas conhecem neh elas me falam de um bocado natildeo sei de se me lembro
agora neh MAS EU praticamente eu me trato com as ervas graccedilas a deus nunca tive uma
doenccedila assim grave neh mas ( ) eu me sinto bem
L1 hum rum
L2 neh o (vicente) tambeacutem mesmo ele sendo europeu ( ) a gente faz junto esse
bioenergeacutetico aiacute a gente toma aqui em casa direto eacute fitoteraacutepico
L1 entatildeo a senhora acredita no poder das ervas e das plantas
L2 sim sim
L1 ma MAS OU ele se igualaria a a questatildeo das farmaacutecias
L2 assim eu num digo acreditar porque acreditar eacute uma questatildeo de feacute neh e isso natildeo eacute
religiatildeo eacute uma eacute um fato neh entatildeo eiu uso e me sinto bem neh eacute natildeo sou muito de ( )
ateacute meu pai neh e-le usava muito ervas acho que se a gente tem na na histoacuteria da gente
na histoacuteria de vida e eu uso e assim a palavra como eu disse acreditar natildeo eacute muito
adequada porque acho que crecirc ou natildeo crecirc eacute uma questatildeo de feacute neh eacute uma questatildeo de ( ) a
gente usa e daacute certo acho que eacute um pouco isso neh esses dias a gente estava aqui com a
doutora Clara Brandatildeo e ela vinha de longos anos falando sobre o uso da multimistura
neh natildeo sei se vocecircs jaacute ouviram neh falar na multimistura AIacute ela tava ano passado ela
veio fez oficina com o grupo esse ano a gente chamou esse grupo foi ateacute quarta feira que
vocecirc disse que chamamos o grupo que teve ano passado e mais outras novatas neh que
ainda natildeo tinham assisitido palestra com ela e aiacute a gente ( ) ano passado deu testemunho se
usaram natildeo usaram tudo natildeo soacute a multimistura mas tudo que elas colocaram em praacutetica a
partir daquilo que olha teve depoimentos assim estarrecedores no sentido assim perplexo
bonito no sentido de que deu certo de que funcionou mudarem o haacutebito alimentar adotaram
multimistura sabe a economia domeacutestica que fizeram que passaram a consumir de uma
certa maneira e de um certo modo foi assim ( ) se perdeu neh ( ) uma oportunidade do
trabalho ((risos))
L1 entatildeo no caso o que eacute a garrafada e o que eacute a multimistura
L2 oacute tem que perguntar pra ela ((risos)) dona Maria taacute logo ali noacutes vamos laacute e tu pegunta pra
ela taacute bom da garrafada a multimistura eacute complemento alimentar de feito a base
de de produtos tem valor nutricional alto disponiacutevel principalmente para os mais pobres
porque agora natildeo principalmente na nossa regiatildeo mas o a a base dela eacute o farelo de arroz
a folha da da macaxeira neh e o gerginlim a folha da macaxeira eacute riquissiacutema em
vitamina A ( ) se tu quiseres eu te mostro
L1 an ram
L2 a o gerginlim eacute riquissiacutemo em caacutelcio neh aiacute quando ( ) olha tem ( ) gerginlim
preto ai eu fui levei laacute pra ela ele eacute mais rico ateacute do que o branco ainda tem todo o
material desse projeto aiacute na ( ) a doutora Clara produziu e a fundaccedilatildeo banco do brasil
publicou (a gente) fez o material infelizmente olha essa aqui eacute a tabela nutricional
tem aboacutebora arroz (colido) (as pessoas acham que pode comprar melhor) ( ) que tanto
ele tem de calcio neh ela compara sempre com o leite da vaca entatildeo ele leva esses trecircs
produtos aqui a vitamina C
L1 hum rum
L2 e a vitamina A que taacute presente em valor altissiacutemo na folha da mandioca neh o calcio
que taacute presente altiacutessimo no gerginlim ferro tambeacutem e ( ) olha que o tanto de ferro que
tem no farelo aleacutem da vitamina do complexo B neh B1 B2 ( ) assim com toda
complexo B neh essas trecircs quando a gente mistura ela eacute basicamente essas trecircs produtos
aqui entatildeo ele eacute complexo alimentar ele natildeo eacute um remeacutedio neh e eacute tem casos
assim do resultado dele que nem tava dizendo a FILHA DELA ela passou numa aiacute que ela
tinha ido ali no postinho aquele que tem ali naquela rua neh ( ) aiacute a gente tava laacute e ele
disse (Leacuteia) tem multimistura tem (quero um pouco) de multimistura eu disse (ela jaacute tava
172
perto) de ter neneacutem a a Geacutessica e agora eu tava (dando) depoimento que a a
doutora Clauacutedia tava falando neh olha trabalho de parto sangramento quem usa multimistura
natildeo tem isso neh e ela disse olha minha filha duas horas de trabalho de parto ela
teve teve sangramento natildeo teve natildeo sei o que natildeo sabe E EU assim ( ) soacute ela
tomou dois meses antes soacute e eu acredito que foi essa mulher que disse neh EU
ACREDITO que foi muito da alimentaccedilatildeo dela que comeccedilou a controlar essa senhora pra te
ter ideia quando eu convidei ela ano passado neh ( ) soacute fala em doenccedila neh aiacute disse
( ) olha a doutora Clauacutedia Brandatildeo vem aqui vai ter uma oficina expliquei neh aiacute ela disse
assim ah eu vou vecirc e comeccedilou a choradeira neh aiacute (eu insisti) taacute bom ( ) eu sei que
realmente vocecirc natildeo pode porque tambeacutem neh (continuei) insistindo eu sei que isso
ano passado neh a ( ) me ligou OI olha ( ) ah que oacutetimo acho que vocecirc natildeo vai se
arrepender e eu vou jaacute laacute a a eacute quarta feira agora neh dois dias atraacutes ela disse que natildeo tinha
se arrenpendido de natildeo ter ido deu o depoimento dela tudo que ela tem o que aconteceu
com a filha dela ateacute convidei ela pra me ajudar a fazer ali no bairro neh pras mulheres
novatas que foram entatildeo assim a multimistura ela tem esse potencial dentro dessa
composiccedilatildeo que ela tem neh e doenccedila degenerativa eu sei ( ) doutora Clara neh setenta e
dois anos com trecircs ou quatro cabelos brancos ((risos)) em toda disposiccedilatildeo soacute tem um
problema no joelho neh que ela anda assim puxando ( ) que de vez em quando ela tem que
taacute sentada mas uma disposiccedilatildeo que nem eu tocirc tendo mais ((risos)) jaacute taacute me fazendo inveja
ontem eu tava uma caco porque essa semana foi assim pesada pra organizar tudo neh ainda
fui com ela pra Beleacutem agora ela fica em Beleacutem ateacute aman ateacute domingo domingo ela jaacute
retorna pra Brasiacutelia que ela mora em Brasiliacutea
L1 ah
L2 que a mistura a multimistura eacute tudo isso aleacutem de produto ela tem que contar neh
como eacute que as pessoas que usam taacute se sentindo e a garrafada vocecirc pergunta pra ela ((risos))
melhor fonte
L1 a garrafada eu conversei com a Domingas
L2 foi
L1 porque ela faz neh ela produz a garrafada pra pra associaccedilatildeo neh
L2 isso
L1 entatildeo na na pimenteira o siacutembolo digamos assim que que trabalha com ervas que
produz que faz esse esse trabalho eacute a a Domingas
L2 a Domingas os outros tambeacutem eacute assim
[
L1 ( ) pessoa
L2 olha eacute isso que eu tava lhe dizendo eles devem usar sim em casa um chaacute um remeacutedio
mas assim jaacute produzindo com certo padratildeo com uma certa orientaccedilatildeo era um grupo de
trecircs quatro neh
L1 hum rum
L2 uma foi pra Paragominas por problemas familiares a outra eu digo que taacute cuidando do
pai mas digo que ela natildeo taacute Nica quando tu puder tu vem natildeo vai ficar de fora ( ) e e a
Irma a outra llaacute que aacutes vezes tem problema de de de desentendimento neh que que
desentedeu mas natildeo ( ) pelo menos eles se falam eles brigam mmas depois se entendem por
llaacute neh aiacute
[
L1 foi foi por causa disso que acabou o bioenergeacutetico na (comunidade)
L2 natildeoeu acho que natildeo natildeo foi por conta disso foi porque eacute a filha dela se interessou
mas assim aacutes vezes ele esse pessoal tem dificuldade de de dar um comando quando eacute
uma coisa assim mas acho que natildeo foi por isso natildeo tatildeo paradas neh quando que
quando o pessoal vai laacute elas fazem pessoal dali da ( ) inclusive eu tocirc incentivando ela
retomar consulta mas soacute que ( ) voltar treinar gente de novo entendeu porque o pessoal
173
vai laacute se consultar o pessoal das (bandeiras)
L1 eu tinha ateacute falado pra ela da irmatilde Edna em Capanema
L2 hum rum
L1 se tinha a possibilidade da irmatilde Edna ir na comunidade falar sobre o projeto
L2 ah que bom vocecirc conseguisse isso ( ) porque elas fizeram com um grupo de Beleacutem
[
L1 ela
diisse que vem sim
L2 vem pois eacute se vocecirc puder trazer vai ser oacutetimo porque eu tocirc insistindo pra ela retomar
porque ela taacute vendendo muita garrafada na redondeza pomada neh que ela fazia
pomada de cabacinha de uma certa maneira quando vinha essa farmacecircutica ela taacute fazendo
de uma outra maneira e tatildeo vendendo assim bastante a pomada de andiroba com cabacinha
L1 e todos estatildeo aqui na na na associaccedilatildeo
[
L2 estatildeo ai na associaccedilatildeo ((risos)) estatildeo ai na associaccedilatildeo
entatildeo a dona Domingas temos que retomar as consultas porque porque tinha que ter um
horaacuterio planejado e aacutes vezes na comunidade elas tinham dificuldade pra marcar um horaacuterio
elas ficavam laacute eu digo oacute mas vocecircs tem que ter paciecircncia tem que habituar o povo neh tem
que treinar as pessoas neh que aacutes vezes tem a ( ) que natildeo esperam satildeo elas que vatildeo ajudar
tem a roupa que taacute laacute no igarapeacute elas que vatildeo lavar ( ) vocecircs fazem um horaacuterio uma vez soacute
por semana neh e vamos tentar vamos retomar porque vocecircs estatildeo com o espaccedilo
construiacutedo TUDO reconstruiacutedo natildeo daacute pra abandonar que natildeo fica bem nem pra vocecircs
nem pra quem patrocinou o ( ) olha a minha cara ateacute eu mas a de vocecircs tambeacutem ((risos))
L1 entatildeo a a o trabalho com as plantas eacute uma caracteristica praticamente da mulher
L2 da mulher
L1 os homens natildeo se envolvem
L2 natildeo se envolvem tem os homens que sabem neh por exemplo laacute em tipitinga tem um que
eacute
L1 nem na produccedilatildeo
L2 aquela aquela tes natildeo natildeo na produccedilatildeo das plantas sim eles conhecem eles
guardam mas eacute mais assim eacute um perfil mesmo da mulher uma especificidade da mulher
no tipitinga tem um um senhor um homem que ele benze ele reza mas eu acho que ele tem
vergonha de se expor ainda natildeo tive tempo de me dedicar laacute com eles e dizer natildeo olha noacutes
vamos laacute o senhor tem que assumir sua sabe seu saber neh o senhor pode ouvir das
pessoas enfim ainda natildeo tive tempo de sentar com ele
L1 no caso no jacarequara natildeo tem neh essa caracteristica de trabalho com as plantas neh
L2 natildeo natildeo tem elas ateacute participavam do encontro soacute que ( ) comunidade e vejam se tem
algueacutem que quer fazer isso e aiacute vocecircs se quiserem a gente taacute aqui pra apoiar pra comeccedilar
a defender os passos tem a o grupo da pimneteira junto com o grupo que taacute na (outra vila)
que jaacute taacute mais adiantado pode ir laacute com vocecircs enfim daacute os primeiros passos SE VOCEcircS
quiserem fazer laacute faccedilam laacute se natildeo aqui tem uma infraestrutura melhor em termos de material
de local de fogatildeo de panela de um e de outro vocecircs podem fazer aqui como ela vem
uma vez na semana ela vem e faz aqui a pomada a garrafada enfim
L1 a dona Domingas vem pra
L2 fazer aqui aacutes vezes ela faz laacute
L1 an ram
L2 mas a grande parte do que eacute vendido aqui que eacute levado pra Beleacutem el vem fazer aqui
que ela ( ) junto com a dona Maria
[
L1 entatildeo ela eacute a
L2 eacute
174
L1 ( ) articulaccedilatildeo
L2 eacute ela eacute articuladora da ( ) dessa produccedilatildeo eacute
L1 ocirc Nazareacute brigada
L2 de nada espero ter atendido neh a sua
L1 com certeza
L2 ( ) aprofundar esse conhecimento aprofndar esse esse saber e principlamente contribuir
com essas comunidades neh com esses povos que precisam mesmo dessa desse apoio
da academia neh que a gente natildeo fique soacute na um trabalho de produccedilatildeo laacute ah taacute
bonito o seu trabalho pesquisa tal mas que isso possa realmente retornar pr essas pessoas neh
e que elsa possam se apropriar cada vez mais com seguranccedila de tudo isso
L1 taacute com certeza
175
APEcircNCICE E ndash Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento
Ladainha a Nossa Senhora
Nossa Senhora do Livramento
Matildee de Deus nossa Matildee
e padroeira de nossa Paroacutequia
Com o olhar confiante vos contemplamos
Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos
Dirigimo-nos a voacutes como filhos
porque necessitamos do vosso auxiacutelio
Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados
apoiados e guiados pela matildeo materna
Renovai-nos espiritualmente
para que saibamos enxergar a vida mais bela
Levantai-nos para caminhar sem medo
nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo
para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna
Nossa querida Matildee
Nossa Senhora do Livramento
abenccediloai-nos e guardai-nos junto de vosso coraccedilatildeo
e conduzi-nos ao coraccedilatildeo eterno e amoroso do Pai Ameacutem
ldquoNossa Senhora do Livramento
Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da almardquo
Senhor tende piedade de noacutes
Jesus Cristo tende piedade de noacutes
Senhor tende piedade de noacutes
Jesus Cristo ouvi-nos
Jesus Cristo atendei-nos
Pai Celeste que sois Deus tende piedade de noacutes
Filho Redentor do mundo que sois Deus tende piedade de noacutes
Espiacuterito Santo que sois Deus tende piedade de noacutes
Santiacutessima Trindade que sois um soacute Deus tende piedade de noacutes
Santa Maria rogai por noacutes
Santa Matildee de Deus
Santa Virgem das virgens
Matildee de Jesus Cristo
Matildee da divina graccedila
Matildee puriacutessima
Matildee castiacutessima
Matildee Imaculada
Matildee intemerata
Matildee amaacutevel
Matildee admiraacutevel
Matildee do bom conselho
176
Matildee do Criador
Matildee do Salvador
Virgem prudentiacutessima
Virgem veneraacutevel
Virgem louvaacutevel
Virgem poderosa
Virgem clemente
Virgem fiel
Espelho de justiccedila
Sede da sabedoria
Causa da nossa alegria
Vaso espiritual
Vaso digno de honra
Vaso insigne de devoccedilatildeo
Rosa miacutestica
Torre de David
Torre de marfim
Casa de ouro
Arca da alianccedila
Porta do Ceacuteu
Estrela da manhatilde
Sauacutede dos enfermos
Refuacutegio dos pecadores
Consoladora dos aflitos
Auxiacutelio dos cristatildeos
Rainha dos Anjos
Rainha dos Patriarcas
Rainha dos Profetas
Rainha dos Apoacutestolos
Rainha dos Maacutertires
Rainha dos Confessores
Rainha das Virgens
Rainha de todos os santos
Rainha concebida sem pecado original
Rainha assunta ao Ceacuteu
Rainha do sacratiacutessimo Rosaacuterio
Rainha da Paz
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo perdoai-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo ouvi-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo tende piedade de noacutes
Rogai por noacutes santa Matildee de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpeacutetua
sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-aventurada sempre
Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da eterna alegria Por
Cristo nosso Senhor Ameacutem
177
APEcircNDICE F ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoAlgodatildeo Roxordquo
Fotografia 36 ndashAlgodatildeo Roxo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 13 ALGODAtildeO ROXO
Lx Lexema Algodatildeo roxo
V Variantes Algodatildeo Branco ou Algodatildeo Preto
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo o algodatildeo rocho ele serve eacute pra () pra moragia pra remautismo tambeacutem faz o chaacute
tintura dele tal de efusatildeo eacute fazer a tintura neacute todo jeito se quiser fazer o chaacute faz a
tintura que usa gotinhas isso e pra moragia eacute tira o sumo da folha pra moragia da folha e uma eacute a haacute aquela dentro da sementinha dela da dentro da sementinha tem tipo
uma lanzinha assim dentro da sementinha pode quebrar a sementinha dela hurum
mas soacute que eacute um pouco maiozinha natildeo porque assim dentro da semente do algodatildeo a
gente tira ele tem dentro da sementinha dele a gente passa passa a sementinha tem
uma uma lanzinha assim tipo uma lanzinha neacute eacute o proacuteprio olho dele eacute o proacuteprio
adonde nasce sim aquilo aliacute eacute bom pra febre ele eacute bom pa pa febre instestinal crianda
do algodatildeo isso tanto faz ele ser o roxo como ser o branco como ser ele eacute bom para
isso tambeacutem febre do algodatildeo ele eacute um ele ele cresce te acho que tiacute trecircs volta de
quatro metros de altura ele ele eacute na terra que se daacute bem ele fica bastante
compundinho assim haacute a folha dele natildeo natildeo eacute aiacute ele tem de trecircs trecircs cor tem o branco
tem um que eacute meio roxinho tem algodatildeo branco algodatildeo roxo algodatildeo preto ((tosse)) da folha da folha da folha eacute ela eacute mais roxeada o algodatildeo branco a folha dele eacute
branca o algodatildeo roxo a folha dele eacute eacute roxeada e o algodatildeo preto ele eacute mas preto eacute
mas escuro hurum isso a folha a folha eacute os frutos eacute eacute soacute mesmo mesmo jeito a flor eacute soacute
um jeito tambeacutem hurum a cor isso isso serve mas o bom eacute o algodatildeo roxo e o algodatildeo
preto que o melhor de todos mas quando natildeo tem esses outros esses uns serve o
algodatildeo branco neacute eacute o chazinho a gente tira aquela sementinha parte a semente dele
dentro da sementinha natildeo tem cumo assim que nem uma lanzinha iai quando parte
bota pra ferver e daacute o chazinho soacute eacute uma febre instestinal daacute no intestino ele eacute ele eacute
uma folha assim o meio dela arendodada e tem trecircs de trecircs bicos grande os bicos
delas satildeo mas eacute eacute trepadeira mas isso eacute natildeo isso eacute uma arve
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
178
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e o algodatildeo que estaacute dentro da semente
Fu Formas de uso
Usada para hemorragias (fazer a efusatildeo com as folhas para tirar a tintura) o mesmo processo serve para reumatismo o algodatildeo dentro da semente eacute usado em chaacutes para
febre intestinal
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Haacute espeacutecies de algodatildeo branco e algodatildeo preto a cor da folha eacute determinante
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
179
APEcircNDICE G ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoArichi de Parigoacuterdquo
Fotografia 37 ndash Arichi de Parigoacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 14 ARICHI DE PARIGOacute
Lx Lexema Arichi de Parigoacute
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacute eacuteh uma planta que ela daacute ela daacute assim ela natildeo daacute muito alta ela daacute quase assim tipo rasteira mas num eacute bem rasteira ela bota muito assim os galhos os galhos cae
assim forma moita a folhinha dela eacute penem folha de canala um mesmo a folhinha de
canela iai ela eacute boa tambeacutem pra fazer tintura pra achar quem natildeo gosta de usar
tintura porque a tintura leva o aacutelcool toda tintura tem que ter o aacutelcool neacute tem que
ter natildeo eacute feita soacute no aacutelcool os que natildeo gostam da tintura usa o chaacute natildeo da folha a
gente pega tira a a tintura a gente pega assim pego o aacutelcool taacute qui e pega a folha
tritura tudinho coloca aqui dentro do aacutelcool com quinzi dias passando quinzi dias o
aacutelcool natildeo vai estrogar aiacute fica muda muda certeza aiacute despois coa brota no seus
vidrinhos pra usar as gotinhas () quando ela estiver com mal estaacute uma comida que faz
mal tiver assim com estomago cheio tem comida neacute ai bota a aacutegua comu o uso da
da farmaacutecia tem tem eacute o caseiro eacute natildeo natildeo sei natildeo eacute isso que eu tava dizendo eacute o
erichi de parigoreacute neacute eacute assim se comeu sentiu que a comida faz mal a assim enpachada conquela mal de gases eacute fazer isso num quiser fazer o chaacute das folhinhas
usa a tintura porque por isso eu em casa uso a tintura porque assim eu eu faccedilo deixo
ali quando taacute no ponto eu cou tudo ajeito tudinho e boto no vidrinho de gotinha neacute
que nos a gente tem vidrinho de gotinha e bota laacute se algueacutem precisar jaacute taacute pronto
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Utilizar as folhas para mal estar no estocircmago
Fu Formas de
uso
Chaacutes da folha tintura (deixa de molho no aacutelcool por 15 dias) para estocircmago
empachado tanto o chaacute como gotas da tintura
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
180
APEcircNDICE H ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoBabosardquo
Fotografia 38 ndashBabosa com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 15 BABOSA
Lx Lexema Babosa
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ((SORRIU)) eacuteh por causa da baba e ela eacute antiflamatoacuterio eacute essa mais eacuteeacute aquela goma
aquela gosma tem neacute a gente pega ela tira aqueles coise assim aquela goma dela
aquela coisa a parte de dentro vocecirc essa pode usa na guarrafada pode usar e no chaacute
fazer chaacute da folha assim se num quiser butar a folha inteira pode tirar essa baba pode
tomar usar em ferimento tiver um ferimento em golpe uma ferimento pode pegar bater
aquiloali butar tipo um plasticozinho aliacute pra disiflamar sim e pode tomar tanto bote
em cima pode tomar eacute ela eacute muito boa pra cabelo tambeacutem neacute pra fazer o cabelo da
gente desenvolver a babosa neacute ela eacute boa tambeacutem eacute pra eacute cacircncer () ela eacute muita boa tambeacutem pra cura o cacircncer a babosa
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Usar a baba da folha para inflamaccedilotildees ferimentos garrafada cacircncer crescimento do
cabelo
Fu Formas de
uso
Utiliza-se a baba em chaacutes garrafada ou direto na aacuterea inflamada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
181
APEcircNDICE I ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoBatatatildeordquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 16 BATATAtildeO Lx Lexema Batatatildeo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Masculino
Df Definiccedilatildeo natildeu eli eacute ambienti fechadu abertu mas eli natildeu eacute di vasueli eacute du chatildeu du chatildeu
assimnatildeu eli eacute eli eacute um cipoacute eli nasci aqui aqui eli cresci ( ) du maracujaacute maracujazeiru eli vai si agarrandu aqui vai tendu matu aqui eli via indu por cima matu i vai indu vai
caminhandu ateacute ondiporque na a a batata deli eacute um batatatildeu eacute uma batata mermu forma duma mandioca forma duma batata doci assim que eacute ai por issu colocaru u nomi
batatatildeoeacute a batatanatildeu nunca vi falar das folha eacute a batata aquela batata a genti vai laacute nu peacute deli i arranca eli cava qui eli qui eli daacute bastanti profundu eli natildeu eacute soacute assim da genti
chegar i puxar tem qui cavar com uma enchada pra tirar a batata eu jaacute vi ateacute uma ateacute dessi tamanhu assim neacute aiacute aquela batata a genti veimem pois eacute ela eu jaacute vi uma ateacute qui a minha
cunhada arrancou era bastanti grandona ela laacute aiacute a genti fatia ela a rodelinha e bota pra secar aiacute depois qui tiver seco a genti bota no liquidificador nu pilatildeu pisa i faz aquela
tapioquinha pra usar eacute ou nu mingau ou qui seja na comida ou si quizer pra fazer arreaccedilatildeu
eacute a genti toma eli mais avutadu neacute faz um chatilde bem forti toma eli faz arreaccedilatildeu mas essi dai eu nunca vi a minha voacute qui dizia que fazia mas eu nunca fez eu mesma neacute mas a minha voacute
dizia qui elis faziam u batatatildeu i quandu a genti taacute com problema nu sangui a genti toma assim us pocu por que eli tantu eli pru sagui da genti eli faz assim normaliza u sangui
da genti si a gente tiver com sangui fraco demais eli aumenta si tiver forti eacute uma erva qui eli normaliza u sangui da genti pra mulher qui taacute graacutevida eacute muitu bom tomar tambeim eli
faz limpeza nu sangui da genti eli faz limpeza nu sangui tem muitu genti assim crianccedila que tem muita assim qualquer coisinha daacute aquelis ferimentus neacute qui aacute a crianccedila tem problema
nu sangui aacute entatildeu eacute muitu bom tomar qui eli faz a limpeza nu sangui eli purifica u sanguitem folha tem flor a folha dela eacute quasi qui neim assim u formatu dum coraccedilatildeu
assim pu pesinhu da folha eacute larguinhu i paacute pontinha da folha eacute beim istreitinhu natildeu ela eacute pequenininha meacutedia ela eacute meacutedia ela eacute menas di qui a folha da vaca menor aiacute natildeu natildeu qui
neim folha de batata qui nem uma folha di bataba neacute batata doci ela eacute daqueli formatu soacute qui sempri a folha da batata eacute trecircs trecircs dedu trecircs sepraccedilatildeu trecircs parti ela eacute soacute uma pu
pesinhu da folha eacute largu paacute pontinha ela eacute estreita a flor delasim a flor dela ela coloca a flor aqui aiacute a flor abri a flor eacute assim uma flor tipu quasi qui nem a flor du maracujaacute
tambeim ela fica uma flor por aqui eu nem sei neim dizer comu eacute qui eacute a flor dela mais ela fica ela abri assim ai fica dentru fica aqueli miolinhu assim ai ela bota aqueli fica tipo a du
girassol assim qui eacute a florzinha dela neacute nu formatu du girassolsim issuela eacute meiu amarelada assim uma cor parda i sempri eli bota flor sempri nu veratildeu tambeacuteim quandu eli
botaela eacute du veratildeu ela nasci aqui nu invernu aiacute ela vai crescendu quandu ela taacute crescendu a batata dela taacute verdi aiacute quandu ela eacute que nem o caraacute quandu ela vai morrendu
eacute qui a batata taacute boa di arrancar nu veratildeu taacuteboa eacute porque nu veratildeu eacute qui ela taacute eacute qui ela ta madura a batata dela qui eacute pra genti arrancar por que nu inverno ela ( )i isso isso seca
as folhas seca e aiacute a batata ta madura boa di arrancar
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
A raiacutez eacute usada para purificar o sangue hemorragias fraqueza
Fu Formas de uso
A raiacutez eacute seca e triturada em poacute para usar como massa em minguaus ou o chaacute bem forte da raiacutez
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome vem do tamanho da raiacutez que eacute no formato de batata com dimensatildeo grande
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
182
APEcircNDICE J ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCapitiuacuterdquo
Fotografia 39 ndashCapitiuacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 17 CAPITIUacute
Lx Lexema Capitiuacute
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo ((sorriu)) o capitiuacute eacute uma arve nativa ela natildeo eacute uma planta ela eacute nativa ela eacute () no
cerrado eacutela a folha dela eacute grande ela eacute quenem a arve do cafeacute eacute grande a folha eacute do
mesmo modelo da folha de cafeacute aiacute pra do de cabeccedila tiver aquela doacute de cabeccedila enjoada
que natildeo passa qualquer doe a cabeccedila do nada tem gente que tem muita doacute de cabeccedila
eu graccedilas a Deus num so muito assim natildeo mas tem gente neacute hocirc minha cabeccedila docirc so
serve com doacute de cabeccedila isso a gente pega ela monte de folha quebratudinho bota pra ferver deixa no cereno quando eacute de manhatilde banha a cabeccedila muito bom pra tirar
aborrecimento aquela dozinha esse outro eacute chaacute mas natildeo eacute pra tomar o chaacute e soacute pra
lavar a cabeccedila eacute o banho de cabeccedila que a gente chama neacute eacute soacute pra isso que eu sei a
serventia eu sei pra isso que noacutes fazia capitiu eacute por assim ele eacute um pitiu num eacute cheiro
so se panha assim e cheirar tu vai dizer que o banho dele vai ficar daquele emo jeito
mas muda o cheiro dele cruacute eacute um jeito mas depois que ferve ele muda o cheiro dele ele
cruacute e pitiuacute jaacute taacute dizendo capitiu eacute assim um cheiro de peixe sei laacute um cheiro assim ele eacute
pitiu mesmo mas o cheiro dele depois de cozinhado ele natildeo fica ele muda pode banhar
a cabeccedila que ele fica assim sempre recedendo o cabelo da gente
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de cabeccedila enjoo e enxaquecas
Fu Formas de
uso
Chaacutes para banhar a cabeccedila (depois de ferver as folhas deixar no sereno da noite lavar a
cabeccedila na manhatilde cedo)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta na forma natural tem cheiro muito forte pitiuacute
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
183
APEcircNDICE L - Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCarrapicho Agudordquo
Fotografia 40 ndashCarrapicho Agudo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 18 CARRAPICHO AGUDO
Lx Lexema Carrapicho Agudo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico masculino
Df Definiccedilatildeo esse um eli tem eli eli cresci assim ateacute um metru i meiu di altura assim eu jaacute vi neacute
mais eli vai ateacute uns certus tempu eli eli si acaba tambeacutem eli num eacute num eacute uma arvri
que permanenci ali por certus tempu natildeo eli eli sempri eli nasci nu periacuteodu da
chuva aiacute quandu vai chegandu u secu eli eli jaacute vai si acabandu eli comeccedila a botar flor
botar as sementinhas daiacute a tendencia deli eacute morrer cai aqueli um pra nascer otru di
novu eli eli eacute nativu tambeacutem neacute eli num fica eli num fica uma arvri eli permaneci doi um ano dois ano soacute uma arvri natildeo eli morri aqueli um nasci otru di novu ele eacute uma
arvri qui eli cresci i eli bota uns galinho ele fica todu espalhadinhu assim os galhu deli
na ponta dos galhu eacute qui eli bota a sementinha deli tipo uma uma esporinha por aqui
tem com certeza qui tem assim por essa nessa invasatildeo neacute eu tenhu certeza tenhu toda
certeza qui tem esse matu eacute a folha deli eacute uma palmazinha eacute eacute assim uma folha
assim aiacute ela eacute toda repartidinha toda repartidinha toda uma samambaia sabi u qui eacute
samambaia ela eacute daqueli formatu di samambaia eacute toda repartidinha isso toda toda
partidinha assim a folhinha dele ( ) bota folha daiacute tem sai pedacim pra todo canto
assim a folha deli a flozinha deli eacute quandu antis deli abrir us carrapichim fica
abertinha eacute amarelinha ( ) u miolim da flor eacute amarelim neacute a depois qui qui ela abri qui
ela fica assim () ela bota florzinha agora assim eacute aquelis carrapichim qui eacute tudu agarradu quandu agenti qui eli taacute maduru agenti passa assim eli jaacute si agarra na ropa
da genti aquela isporinha nu fimzim daqueli coizinha tem aquela esporinha qui si
agarra na genti eacute na folha na flor dela eacute a sementi aquilu eacute a semente u carrapichu
qui agenti chama eacute a sementi neacute qui aqueli qui cai no chatildeu qui nasci otru natildeu eacute da
raiz da avre eacute da raiz eacute da raiz arranca eli aiacute lava rapa alguma qui seji e cuzinha i
faz o chaacute natildeu eli eacute assim qui nem na grussura dum dedu eli ateacute qui eli eacute uma avre
assim quandu assim a terra eacute boa qui eacute uma terra assim bem neacute eli eli daacute um tamanhu
assim dum metru i meio por aiacute assim neacute quandu eacute aquela terrinha meia meia cansada
meia meia batida meia dura assim eli eli cresci pequenu mas eli cresci eu jaacute vi assim
jaacute vai dependecirc da terra ela eacute uma achu qui ela eacute uma erva uma erva ela eacute du fri du
friu porque ateacute quandu chega a eacutepoca du veratildeu ela morri neacute ela nasci ( ) um tempu
dessi du veratildeu qui jaacute si passo u veratildeu laacute vocecirc passava laacute ela tava toda mortinha assim soacute os carrapichim dentro agora com a chuva qui ta dandu ela jaacute ela jaacute caiu agora ela
vai nascer ela ela vai nascer tudim quando aiacute ela crece ali aiacute aiacute quando ir che
chegando o veratildeo eacute eacutepoca qui ela vai morrer di novu qui o carrapichu dela cai nu
chatildeu daiacute ele nasce outro vem outro vem nativa eacute ela eacute nativa
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
184
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Eacute usada a raiz da planta
Fu Formas de
uso
Usada na forma de chaacutes para Icteriacutecia (amarelo da pele nas crianccedilas)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
185
APEcircNDICE M ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCatinga de Mulatardquo
Fotografia 41 ndashCatinga de Mulata com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 19 CATINGA DE MULATA
Lx Lexema Catinga de mulata
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo tem eu acho muita cheirosa eacute catinga de mulata num sei porque mulata eacute uma coisa
que mulata neacute jaacute sabe eacute caatiga de mulata eacute eacute o contraacuterio pra dizer cheiro de mulata
((sorriu)) por mim se fosse eu que fosse colocar num colocar num colocava catinga eacute
ela tem um cheiro forte pois eacute se fosse no meu caso fosse butar nome natildeo ia dizer
catinga a dizer cheiro de mulata mas eacute catinga de mulata eacute eacute pra varas coisas tambeacutem
eacute pra febre doacute de cabeccedila doacute de estamagu isso ela eacute uma planta eacute natildeo ela faz mas natildeo e
muito disiflamatoacuterio que eu tenho conhecimento dele ser desiflamatoacuterio natildeo ela eacute
assim pra bo despachar gases dentro da gente bom pra isso pra doacute de cabeccedila tambeacutem
eacute bom pra tudo isso tambeacutem ela eacute pequena desse modelo catinga de mulata desse
moledo dessa grande ai sim natildeo desse outro laacute come eacute o nome estoraque neacute isso ai manjericatildeo ele eacute pequeno soacute a folhinha dela eacute maiozinha um pouquinho mas
arendondada um pouquinho um poquinho mas eacute esse modelo eacute natildeo mas se tu natildeo
conhece assim se nem conhece a planta num vai conhecer pelo cheiro porque esse
aqui esse aqui eacute mais eacute mais durinho a catinga de mulata ela eacute mais ela eacute mais copada
e mais assim comueacute que eu quero dizer assim eacute mais fraacutegil o galhim dela pra quebrar
ela eacute assim mais ragadinho mais assim eacute delicado sim eacute esse daqui natildeo a gente ve que
ele ele eacute tipo uma madeira tipo assim neacute bem assim mas durinho e a catinga de
mulata ela eacute mas quanto mais ela eacute adubada que ela fi mas ela fica eacute ((sorriu)) eu
acho que porque ela eacute muita dengosa a catinga de mulata ((sorriu))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas caule e raiz satildeo usados para febre dor de cabeccedila no estocircmago
desinflamatoacuterio e gases estomacais
Fu Formas de uso
Chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem cheiro agradaacutevel catinga seria o antocircnimo de cheirosa
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
186
APEcircNDICE N - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCibalenardquo
Fotografia 42 ndashCibalena com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 20 CIBALENA
Lx Lexema Cibalena
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh eacuteh uma planta que nem a cidreira do mesmo modelo da cidreira tudo do um a
cidrera folha os galhos dela ela e brom bom pra febre doacute de cabeccedila tambeacutem neacute que
a cibalena na na farmaacutecia ela nu eacute bom pra febre pra febre pra doacute ela eacute do mesmo
jeito tambeacutem hurum o chaacute o chaacute eacute da folha do mais eacute das folha das folhas das arve ( )
natildeo tambeacutem natildeo
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para dores de cabeccedila febre e dores em geral
Fu Formas de
uso
Chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
187
APEcircNDICE O ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCoraminardquo
Fotografia 43 ndashCoramina com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 21 CORAMINA
Lx Lexema Coramina
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva ela eacute na natildeo ela eacute caseira ela e do frio do frio eacuteh ela essa daiacute
eu natildeo sei dizer muito bem o formato dela eacute e e a minha voacute dizia que era muito pro
problema de coraccedilatildeo tivesse sofrendo do coraccedilatildeo probremas aqueles agonia aquelas coisa fizesse o chaacute dela pra tomar mais soacute que eu natildeo conheccedilo bem essa
planta natildeo jaacute nu sei dizer isso aqui eacute o coramina soacute qui a minha voacute dizia assim o
coramina eacute bom pra quem tem o problema de coraccedilatildeo aquelas ferruaduras num tem
dar umas dor umas ferrruada ela dizia que era muito bom pra soacute sei que eacute bom
pra isso pra coraccedilatildeo olha com certeza
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas para problemas no coraccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes para dores no coraccedilatildeo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
188
APEcircNDICE P ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCrista de Galordquo
Fotografia 44 ndash Crista de Galo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 22 CRISTA DE GALO
Lx Lexema Criacutesta de galo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo esse daiacute eu natildeo vou dizer com garrafa porque eu nunca fez aquilo que eu nunca fez
num tenho assim um uma seguranccedila pra remeacutedio assim eacute eacute assim que os outros diz neacute
coquei ele como remeacutedio porque os outros que me indicaram ele eacute bom pra coraccedilatildeo
que tem problema de coraccedilatildeo coraccedilatildeo de bate acelerado bate num se que ele eacute bom
pra fazer o chaacute da crista da da flor da flor mesmo hurum mas soacute assim foi indicado
por o outra pessoa assim que tambeacutem tem conhecimento neacutew aiacute diz tambeacutem ela eacute que
nem uma criacutesta de galo ela daacute assim () uma os pezinhos dela agora aqui ela faz tipo
um folhinho uma coisa assim neacute espanhadinho e aiacute tem uns peacutenhinhos assim no pezinho da folha tem uns peacutenhinhos isso isso hurum natildeo eu tenho eacute assim que os outro
jaacute me indicou
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Eacute utilizada a flor da planta que tem formato de crista de galo para coraccedilatildeo acelerado
ou problemas do coraccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Pode ser feito o chaacute da flor ou usado na garrafada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
189
APEcircNDICE Q ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoErvatildeordquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 23 ERVAtildeO Lx Lexema Ervatildeo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva nativa eliele eacuteh do baixo do alagadoele nunca da assim no seco
natildeosempre ele daacute no lugar que eacute molhadoumiduclima molhado eacutemas se
tiverela precisa da quele ambiente que esteja molhado que ta assim com aquela
parte da lama daquela agua grossaela natildeu eacuteh da terra seca da terra limpa assime
num so da em aguada na quela agua que esteja misturado com aquela terracom
aquele limu que ela gostaela eacute pequenaela eacute fina tambeacutem assim o caulizim dela ela
sim eacute de quina tem umas quinalzinho a folha dela eacute cumpridinha estreita e ela eacute boa
pra tomar ela nunca fez ela eacute boa pra dor de cabeccedilafazer o chaacutefaz o cha da
folhapega tudim elebota pra cozinhar e deixa no sereno e di manhatilde banha a cabeccedila vai usando assim diretamentetem umas dor de cabeccedila encravadaa minha
cabeccedila nu passa nu sei o queuma dor de cabeccedila enjuada eacuteh fazer isso aiacutenatildeo sei
porque desse nome de ervatildeo natildeo sei porque eacute uma ervaela num eacute tatildeo grande pra ser
ervatildeoela num eacute tao grande ela tem uma florzinha bem pequenininhabem
roxinhabem piquinininhamas eacute folhamais tem um tem que ela tem as florzinhas
bem piquinininha bem roxinha
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e enxaqueca
Fu Formas de
uso
O chaacute das folhas e depois repousando no sereno da noite a cabeccedila eacute lavada com o chaacute
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
190
APEcircNDICE R - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoEucaliptordquo
Fotografia 45 ndashEucalipto com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 24 EUCALIPTO
Lx Lexema Eucaliacutepto
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ele eacute uma arvenha tambeacutem ele natildeo da muito do que eu conheccedilo num sei se tem uns eacute
natildeo ela natildeo eacute muito pequena ela eacute meacutedio ela num eacute muito pequena natildeo ela eacute boa pra
febre a gente usa ela pra febre o chaacute comu eu tocirc dizendo eu assim uso mas as tintutas
eu gosto de fazer mais as tinturas pra febre pode o chaacute isso pode pode fazer o chaacute e
pode usar a tintura pra febre eacute e pra febre eacute natildeo natildeo tambeacutem num sei natildeo nunca viacute flor dela nunca vi soacute soacute folhas compridas bem compridi compridinha comprida assim
com a ponta fina ela eacute estreita ela natildeo eacute largona natildeo ela eacute estreita pezinho da natildeo
((sorriu)) hurum conhece a vinagreira conhece vinagreira () soacute que ela eacute pouco
diferente soacute uma folha da vinagreira dela do eucalipto num tem uma folha aqui que
compara mas ela eacute assim olha assim cabeccedila assim e a ponta dela eacute mais fina o pezinho
dela eacute mais larguim e pontinha dela eacute () ((sorriu))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Utiliza as folhas para febre em geral
Fu Formas de
uso
Chaacutes e tinturas para febre
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a moradora referir-se agrave aacutervore
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
191
APEcircNDICE S ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoGeniporanardquo
Fotografia 46 ndash Geniporana com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 25 GENIPORANA
Lx Lexema Geninporana
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo um noacutes jaacute fazemos tudo isso em ((sorriu)) seraacute que nu taacute adoccedilado ((sorriu)) eacute um uma
arve nativa eacute ( ) e ela eacute tambeacutem assim modelo do cafeacute da arve do cafeacute ( ) eacute a mesma coisa
tambeacutem a folha dele eacute assim isso aiacute ele eacute bom pra picade di inseto cobra de copiatildeo essas coisas neacutew tiar o sumo da do caulhe dele tirar assim tirar aquela casca o entrecasca eacute bom
o entrecasca aquele do de cima ela natildeo natildeo a gente tira o sumo a gente faz assim tira o entrecasca dela daacute uma raspada assim assim meio pra sair tipo uma bucha assim ai bota
uma aacutegua isso ((sorriu)) eacute acho que ((sorriu)) eacute hurum eacute divide ser eacute u acho eacute eu acho metade dessa coisa eacute assim os indiacuteos que descobriu esse nome neacute que os indiacuteos para () eacute
os indiacuteos que que sabe porque esse nome porque assim os meu irmatildeo que eles aprenderam com meu pai porque meu pai tem sangue indiacutegena ele fazia ( ) ( ) aiacute meus irmatildeo eu
aprendia com meus irmatildeo papai ensinava neacute ai ele aprendia ele fazia porque assim vocecirc pega uma vara uma varinha assim vocecirc enrola ele aqui o tanto vocecirc podir natildeo quebra
natildeo fica do mesmo jeito do arco do iacutendio aiacute eu acho que ele tem relaccedilatildeo com os iacutendios que colocaram esse nome tavez neacute porque esse daiacute eu sei assim ele natildeo quebra neacute vocecirc
pega aqui ele num quebra ele eacute ele eacute isso vai depender da grussura dele tambeacutem neacute horriacutevel hurum isso hurum pra cortar o veneno ((sorriu))
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Utilizados a folhas entrecasca e caule para picadas de insetos cobra escorpiatildeo
Fu Formas de
uso
Do caule eacute retirado o sumo (colocado de molho na agua)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
192
APEcircNDICE T ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoHortelanzinhordquo
Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELANZINHO
Lx Lexema Hortelanzinho
V Variante Malvarisco
Cg Classe Gramatical Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo oh hortelanzinho eacute desse eu chamo pra esse hortelam sim porque assim tem
tem uma parinca que eacute hortelam tambeacutem eacute o grande aiacute tem desse pocha entatildeo
hortelam pimenta hortelam roxo e tem o hortelanzinho que eacute o hortelam nenecirc
que eacute o hortelam nenecirc hortelam nenecirc e esse eacute o hortelanzinho que eu chamo porque depois desse daiacute () hortelam sim grande eacute a folha dele grande eacute o
mesmo malvarisco isso eacute sim e tem o hortelam nnecirc eacute o menor de todas isso isso
essa daiacute tanto faz se da outra dessa dai serve para tomar chaacute serve pra butar nu
suco ela serve pode pegar o suco de qualquer coisa de limatildeo sei laacute du que for e
bater uma folhinha dele junto fazer charope eacute e memu coisa de hortelam nenecirc o
nenecirc ele eacute proprio pra nenecirc mesmo crianccedila mesmo eacute do tamanho e da cor
porque o hortelam nenecirc ele eacute branquinho ele num eacute roxinho ele eacute assim natildeo a
folha tudo que nem essa arve que taacute aiacute disse daqui natildeo o hortelazinho ele eacute
roxinho isso ele eacute roxinho o hortelam nenecirc eacute tudo assim eacute folha eacute o galhim dele
eacute tido assim eacute isso o hortelam grande jaacute eacute maior as folha dele eacute tido assim eacute tem
eacute eacute maior a folha dele eacute mais grossa a folha dele eacute bem grossa e serve tambeacutem pra o comu tempero comu por enquanto agora eu tenho hurum eacute neacute o hortelam
grande eacute daquele mesmo modelo o hortelam grande eacute eu acho que num sei natildeo
num sei e num sei dizer cume se tem doutro tipo tipo neacute eu soacute conheccedilo essa
trecircs tipo agora num sei se muda o nome desse mesmo do hortelanzinho eacute a
mesma pimenta num sei natildeo () natildeo
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas nos chaacutes e sucos
Fu Formas de uso Chaacutes xaropes e em sucos
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Tambeacutem conhecido pela variante malvarisco
Dc Data da Coleta 04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
193
APEcircNDICE U ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoHortelatilde Neneacutemrdquo
Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELAtilde NENEacuteM
Lx Lexema HortelatildeNeneacutem
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo porque ele eacuteh mais miudim doque todas do que os outros eacute ela eacute mais a folha dele eacute
do mesmo mesmo formato desse mesmo modelo soacute que ele eacute miudinho ele bran sim soacute
que ele eacute miudinho e eacute jaacute ele eacute roxinho esse daqui eacute roxinho esse um eacute branco tambeacutem
hurum mas ndem eacute natildeo eacute hortelam ela eacute mais pequenininha ele eacute todo assim
branquinho assim essa folha dessa coisa assim ele natildeo eacute roxinho assim natildeo eu tenho
laacute em casa eacute fazer chaacute pra bebe recenacido quando faze gripado tossindo injuado eacute
bom fazer chazinho pra daacute charope eacute isso neacute tosse com certeza eacute mesma coisa hurum eacute eu acho que ela eacute proacutepria pra crianccedila pra bebecirc mesmo pra bebecirc eacuteh quela eacute
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para gripes e tosses em receacutem-nascidos
Fu Formas de
uso
Chaacutes e xaropes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
194
APEcircNDICE V ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoJambu Roxordquo
Fotografia 48 ndashJambu Roxo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 27 JAMBU ROXO
Lx Lexema Jambu roxo
Va Variante Jamburana
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo planta rasteira do molhado de clima uacutemido eacute a mesma coisa que agente comi no
tacaca que faz eh a cor ela eacute nativa de tempu umidu ela serve pra do de
estomagu figadu quando com algum problema no figadu assim cuando consegue
almoccedila e num consegue janta aquilo parece que num desfaz parece todo tempu
cheio eacute problema nu figadu tem de faze o cha eacute de folha de flor com raiz com tudo o
importante eacute lavar bem lavadim e botas pra ferver com tudo e toma o cha a flozinha e amarelinha bem amarelinha mais do que o outro eacute bem amarelinha quase
roxinha eacute um poco menorzinha
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas flor raiz tudo bem lavado
Fu Formas de
uso
Utiliza-se o chaacute para dores no estocircmago problemas de digestatildeo e no fiacutegado
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A cor da flor amarela bem forte diferencia as espeacutecies
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
195
APEcircNDICE X ndash Informaccedilotildees gerais sobre o termo ldquoJenipapordquo
Fotografia 49 ndash Jenipapo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 28 JENIPAPO
Lx Lexema Jenipapo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma arve muita grande nativa tambeacutem ela nativa ela eacute grande tem fruto e do
fruto que a gente faz ela eacute o u o genipapo ele eacute rico em vitamina pra anemia agora que
eacute difiacutecil achar uma gente que diga que gosta num gostei natildeo o cheiro dele eacute muito
forte do fruto dele eacute forte o cheiro aquele cheiro eacute um cheiro forte mesmo assim comu coisa assim tava comu assim um litro de cinquenta e um assim que eacute o cheiro dele tem
gente que num gosta daquele mas ele eacute rico em vitamina pra quem taacute aneacutemico pra ele
eacute muito bom () ele eacute assim deste tamanho laranja isso quando ele taacute verde ele eacute duro
quando cai ele eacute mole ele fica eacute o suco pega ele eacute expreme bota accediluacutecar e pra tomar o
suco dele tirando disso fazer o licor tambeacutem eu uso laacute em casa mas pra fazer licor a
gente bota no aacutelcool no cinquenta e umo aiacute mas eacute mas mas aiacute depois a gente faz uma
garrafa de accediluacutecar diminui e diminui isso aiacute eacute pra bebida isso bebida pra quem gosta
de () o fruto o suco do fruto pra remeacutedio eacute tambeacutem assim ce tiver eacute uma rasgadura
uma qualquer coisa porque num sei se tu jaacute viu crianccedila que fica assim cum umbigo
grande assim a gente coloca o dedo a gente coloca o dedo a gente sente que aquele
que rasgado um vai laacute na arvore do jenipapo a arve dele tando vivo verde tira um tampinho da casca e vai aperta trecircs vezes no imbgo da crianccedila e vai coloca la dentro
tampinho no mesmo canto aiacute aiacute conforme aquele tampinho vai colocando vai sarando
ali ai vai diminuindo a a rasgadura na inbigo isso aiacute eu tenho poque eu fiz pro meu
filho ficar bom hoje ele eacuteh rapaz num tem quem diga o que ele era nunca passei com
meacutedico pra dizer doutor me diga o que eacute o que eacute o que isso nunca natildeo foi isso remeacutedio
que ensinavam natildeo riacute sim tuacute vai laacute um tampim assim neacute vai uma comparaccedilatildeo teacute
mede o tamanho do imbigo aqui e vai mede laacute no no quarto tira o tamanhinho que eacute e
vai aperta trecircs vezes aquele pedacinho de casca no umbigo e vai cola laacute de novo bota
no mesmo cantim deixa laacute ficar coladinho aiacute aquela casca vai cola de nova e colando
aliacute a ela ela assadura vai colando vai diminuindo neacute eu fiz com meu filho me
ensinavam neacute e eu fazia hurum
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de Casca para problemas no umbigo e frutos para bebidas
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
196
uso
Fu Formas de
uso
O fruto maduro eacute usado para fazer licor (accediluacutecar e bebida alcooacutelica) uso da casca para
rasgadura problemas no umbigo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
197
APEcircNDICE Y ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMamatildeordquo
Fotografia 50 ndash Mamatildeo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 29 MAMAtildeO
Lx Lexema Mamatildeo
Cg Classe Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo uh mamatildeo tanto ele eacute vitamina neacute ele eacute rico em vitamina o mamatildeo pra crianccedila pra idoso pra tudo eh como a semente dela eacute muito bom agente faze eh remeacutedio pra
coloca verme cum a sementi dele pega a sementi dele seca bem sequinha assim bem
seguinha agente torra ela bem torradinha ai soca bemai bota um poco demassa de
trigo de farinha de trigo ai da uma misturadinha ai faz um modelo dumas piulinha eh
muito bom prafazer as piulinha pra tomar pra verminose
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
A fruta eacute consumida como alimento e as sementes satildeo trituradas para uso medicinal
Fu Formas de
uso
As sementes satildeo trituradas misturadas com trigo e feitas as piacutelulas contra as vermes
em crianccedilas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
198
APEcircNDICE Z ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMangueirardquo
Fotografia 51 ndash Mangueira com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 30 MANGUEIRA
Lx Lexema Mangueira
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Feminino
Df Definiccedilatildeo a mangueira ela eacute bem grandi eacuteh uma planta tambeacutem ela eacute caseira agora ela eacute
muito boa de nascer todo quase caroccedilo dela nasce neacute e nu clima frio eacuteh num frio eacute folha comprida estreita bem comprida e estreita a semete eacute uma semente bem
grande que que ta que ta dentro do fruto neacute eacute assim um pouco chata a manga eacute a
manga eacuteh tem tem tem flor dela flor ela coloca assim uma assim tipo uma bage
uma coisa assim uma flor assim assim uns pivatildeozim neacute e vai colocando as flor dela
e a flor dela eacute bem piquinhinha as depois o fruto nasce dali da flor ele vai crescendo
eacuteh ela eacute uma arvore bem grandi cauli bem grosso eacute muito grande ela uns cinco
metros acho que ateacute mais de cinco metru ela eacute bem grande noacutes usa ela praa
diarreia quando ta com muita diarreia e eh fazer o cha da do entre casca pra
diarreia e pra tosse tambeacutem fazer o lambedor eacute do entre casca tirar aquele entre
casca do caule por que aquela casca de cima natildeo serve pra nada ai ah madeira
tambeacutem eacute o entre casca ai tira e faz o lambedo ela eacute travosa eacute travosa eacute ela eacute menos travosa que uh uh cajoeiro eacute amarela o cajoeiro eacute vermelho tomu cha
ou entatildeo faz o xarope o lambedo como diz o xarope o xarope eacute um pouco mais
grosso a gente tira o entre casca se tira ele bem limpinho se tiver o cuidado num
carece lavar se sair um sujinhu tem que lavar e bota pra cozinhar as depois que
tira agua que para eacuteh coa ele e colocao mel o accediluacutecar que eacute pra ele ficar assim tipo
dum xarope vai apurando ai tira coloca num vidro bem limpo e fica tomando isso eacute
pra crianccedila quando ta gripadu com tosse o xarope e pra diareacuteia eacute o chaacute faz o cha
dele e toma nois usa
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Para diarreia e tosse eacute usado o entre casca
Fu Formas de
uso
Para diarreia eacute feito o cha do entre casca para tosse e gripe eacute feito o ldquolambedorrdquo o
xarope eacute feito do cozimento do entre casca com o accediluacutecar
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
199
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
200
APEcircNDICE AA ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMaracujaacuterdquo
Fotografia 52 ndash Maracujaacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 31 MARACUJAacute
Lx Lexema Maracujaacute
Cg Classe Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo maracujaacute eacute folha eacute a fruta eacute a flor tudo serve eacute uma planta ela eacute caseira
maracujaacute ela da em todo todo clima mas eacute melhor eacute no frio mais ela da em todos
todo tempo ela sempre ela daacute a folha eacute redonda eacute assim num eacute redonda natildeo
tem trecircs parte a folha dela do maracujaacute ela eacute bem grandi tem trecircs partes trecircs
separaccedilatildeo assim trecircs dedo como nois diz assim ela natildeo eacute redonda trecircs biquinho
tudo junto com certeza eacute uma folha meacutedia e a sementinha dela eacute chatinha eacuteh
dentro do fruto bota o fruto e dentro uma sementinha a folha dela eacute bem grandi
afror dela eacute bem grandi assim eacuteh rouxinha assim aberandu o branco e por
dentro do miolinho eacuteh rouxinho cabeludinho o caule eacute fino eacuteh um cipoacute ela daacute
assim ela eacute grandi por que se ela pegar uma planta sobe inteacute de acordo com a
planta ela vai botando os galhos ai ela vai subindo ela serve pra eacuteh pressatildeo auta ela ela eacute calmante o maracujaacute ela eacute calmante e tanto faz ser a folha
comu a flor Comu uh suco dela a fruta ela eacute calmante qualquer parte se natildeo
tiver o fruto pra genti tomar o suco fazer o chaacute da folha se tiver a fror pode fazer
o chaacute que ela eacute calmante pra quem ta com estressi pra quem ta com falta de sonu
a gente pode usar de tudo aleacutem disso de tem muita vitamina no suco e muita genti que
tem muito estressi muita pressatildeo alta pode usar o chaacute pode usar o suco
diretamente eu digo isso por que eu gosto muito e o chaacute eacute o suco que eu mais gosto
in ateacute agora eu to com cinquenta e dois anos e nunca aumentou minha pressatildeo graccedilas
Deus natildeo tenho pressatildeo alta ah eu gosto muito eacute o suco que eu mais gosto ela da
sempre
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Folhas e flores satildeo usadas como calmantes baixar a pressatildeo alta e diminuir o estresse
Fu Formas de
uso
Os chaacutes das folhas e da flor como o suco do fruto
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a informante referir-se a planta
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
201
APEcircNDICE BB ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMastruzrdquo
Fotografia 53 ndash Mastruz com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 32 MASTRUZ
Lx Lexema Mastruz
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Masculino
Df Definiccedilatildeo olha eli eacute du ele eacute du friumais eli eacute du friu mas eli num eacute aquela aquela qui gosta
muitu du friu eli gosta du friu mais eli gosta tambeim bastanti da quinturadus dois eacute
ele num eacute eli eacute tem a sementinha delinatildeo eli daacute em qualquer ambienti eli daacute nu vasu
eli daacute chatildeo nu abertu nu fechadu nu quintau fora du quintal nu nu como eacutenu vazu em
todu jeitu eli daacute u mastruz eacute em todu jeitu pega eli joga a sementi aqui eli nasci daiacute eli
vai crescer si eli eli tem bastanti duraccedilatildeu eli dura um ano mais di um anu neacute soacute qui eacute
assim cai a sementinha deli tambeacuteim aqueli um jaacute morreu vai ficandu velhu vai
morrendu e u otru jaacute vai nascendu aqui u mastrus eli eli eacute assim eacute na terra qui eli si daacute eacute dificilmenti eli eli si acabar porque nasci a sementinha deli assim eacute bem
pequenininha bem pequenininha mais eli antis daqueli sementinha cair eli jaacute nasci
aqui eli jaacute nasci demais aiela eacute alta muita alta natildeu mas ela daacute por aqui assim ela daacute
ateacute um metru menus dum metru um poquinhu neacute as veiz ela ela bota galinhu tambeacutem
por todu cantu as vezis quandu eacute uma terra boa ela fica bonitanatildeu ela eacute planta
caseira ela num eacute nativa natildeu ela eacute caseiraeacute compridinha a folha dela eacute compridinha
eacute soacute uma folinha i tem uns dedinhus assim qui sai uns biquinhus assim uns
bordadinhus neacute na folinha delaa flor dela eu nunca vi a flor dela bota sementinha a
flor dela eu natildeu sei comu eacute qui eacute neacute tem a sementinha a sementinha eacute agarradinha
tudu ali pela galhu dela pelu nu tronquinhu da folha dela ela jaacute bota aqueli galinhu i eacute
aqueli galinhu jaacute vai botandu a sementinha a sementinha dela eacute bem pequenininha bem uma coisinha muita muidinha mesmu( )mastruz eli tem dois nomi mastruz i erva
santa maria neacuteerva santa maria natildeu noacutes aprendemos assim pelu livru eu conheci por
mastruz mesmu aiacute depois quandu veiu um livru qui era pra gente estudar erva-santa
maria erva santa maria a genti foi ver tava laacute a fotu deli i conhecemus qui eacute o mesmu
mastruz
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para machucados anti-inflamatoacuterio
Fu Formas de
uso
As folhas satildeo amassadas e colocadas no local do ferimento ingerido ou o chaacute das
folhas
Fn Finalidade Medicinal
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
202
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
203
APEcircNDICE CCndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMelatildeo de Satildeo Caetanordquo
Fotografia 54 ndash Melatildeo de Satildeo Caetano com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 33 MELAtildeO SAtildeO CAETANO
Lx Lexema Melatildeo Satildeo Caetano
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Df Definiccedilatildeo esse ai eacuteh nativo eacute uma verele eacuteh um cipozinho beim do tipo uma trepadeira ele vai a donde tem uma arviele se apodera pra ele sobre pra laacute onde tem uma
arvoreele se pega tambeacutem ele eacuteh do clima friodo invernomais no veratildeo ele
sempre somi ele eacuteh nativo tambei ele num eacute uma planta assim ele eacuteh nativo no
roccedilado quando a gente botou no roccedilado pra genti plantar assim gosta de nascer
aiacute ele eacuteh assim ver uma arvore assim ele se apodera pra subir ele eacuteh um
cipozinho bem fininhovive junto com a planta natildeo natildeo ele eacuteh muito durativo
vai vai um certo ponto quando o veratildeo acocha muito ele fracassaeacuteh ele fica
assim bem fraquinhele eacuteh assimo jeito dele e que nem maxixe assimquando
ele taacute pegando o maxixequando agenti planta nu nu geral ele fica que ele rama
assimeacuteh o melau satildeo caetano as folhinha dele eacute pequena menor que a folha de
maxixeredondinha eacute eacuteredondinhaos galinhu delo cipozim eacuteh bem finin me
daacute aquele cipoacute eacuteh bem mais fino que o cipoacute do maracujaacute muito bem mais fininhofininho mesmo eacute eacutehela bota uma florzinha amarelinha soacute uma
florzinha amarela ( ) ai despois o frutinho deleele bota um frutinho pequeninho
eacute eacuteh assim peludinho que nem uns picozinhus quem nem maxixe redondinho
assimtambeacutem meteacute agora num sei dizer se serve pra alguma coisa faz o
remeacutedio da folhaeacuteh o chaacuteeu uso na garrafadaservipra inframaccedilatildeo
tudotodo tipo de inflamaccedilaotildeai eu pego eleeu seco e bem sequinho na
sombra ai eu uso na garrafadana garrafada que eu usopor isso eu digo as
mias garrafadas todo tipo de remeacutedio eu coloco laacuteque serve pra uma
coisaser pra outrao frutuquando ta maduro eacuteh amarelinhuquando ta
verdi parece maxixequando taacute ele amadurece fica amarelinhusimamarelo
melau satildeo caetanonatildeo sei dizer
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas na garrafada para inflamaccedilotildees
Fu Formas de uso O cha das folhas para inflamaccedilotildees e tambeacutem as folhas secas satildeo usadas na
garrafada para todo tipo de inflamaccedilatildeo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Domingas Alves de Sousa 53 anos
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
204
Informante
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Quando a planta esta verde tem aparecircncia de maxixe quando maduro na cor amarela tem aspecto de um melatildeo pequeno
Dc Data da Coleta 04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
205
APEcircNDICE DD ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMortinha Miuacutedardquo
Fotografia 55 ndash Mortinha Miuacuteda com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 34 MORTINHA MIUacuteDA
Lx Lexema Mortinha Miuacuteda
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh ela eacute parente da mortinha peluda porque eacute nativa que nem a outra ela eacute
nativa ela num eacute uma planta que a genti planta ela nasce sozinha ateacute eh eacuteh
uma erva ela eacute nativa ela eacute medicina por isso que eu digo que eacute uma erva
uma erva nativa ela daacute assim ela gosta de todos os climas clima frio clima quente porque laacute perto de casa tem uma arvi eh todo tempo tau so um jeito ser
veratildeo ou seja inverno sempre no inverno ela muda um pouquinho por que claro neacute
num seca mas daacute eacuteh todo clima ela gosta mortinha miuacuteda eacute porque ela eacute bem
piquinininha a folha dela chama mortinha miuacuteda porque ela daacute mortinha folha
mais muidinha que existi eacute ela eacute menor ainda que a erva do jabuti menor ainda
ela eacute uma folhinha ela ela eacuteh meia compridinha ela num eacute bem redondadinha natildeo
ela eacute compridinha a folha dela eacute bem miudinha agora ela sim ela eacute mortinha
porque eacute uma arve tatildeo bonitinha a genti coidando dela ela eacute uma arve bem
bunitinha porque ela daacute meio baixa ela eacute copodinha formatu duma arve de
jambreiro ela toda cheinha tem flor a flor dela eacute bem miudinha miuditinha
(risos) natildeo sei nem bem dizer eacute porque assim bem pequenininha eacute pequenininha a
florzinha dela acho que tem sementi ainda natildeo prestei atenccedilatildeo mais com certeza ela tem sementinha a mortinha miuacuteda eacute lisa a folha dela eacute menor ela eacute
liso eacuteh essa outra mortinha peluda daacute mais alto essa eacute muito baixinha a mortinha
peluda eacute maior a folha eacute maior o olho dela quando ta sim que ela brota o olho
novo eacute bem rosiozinhu da peluda essa uma natildeo eacute toda soacute verdinha la perto da
minha casa tem uma grande dessa arvore dessa arve eu jaacute perguei um filhim dela
assim assim que ela nasce ela brota o filho dela eu tirei plantei bem pertinho de
casa ta bem bonitinho nois aprendemus com a minha avoacute quando uma mulher
ganhava neneacuten neacute que natildeo tinha aquele coiso de trazer pro hospital e tudo elas
fazia o chaacute pra tomar porque a mortinha miuacuteda faz a limpeza do utro da mulher
por dentro da mulher neacute aiacute ela fazia o chaacute aiacute durante assim um eacuteh quinze dias
vinte dias ela ficava fazendo o chaacute soacute natildeo era soacute dela pegava um monte de ervas pegava a mortinha pega gengibre pegava um monte de coisas assim que elas sabiu
e fazia u chaacute e nisso ficavam tomando planta que desinflamasse isso isso ela faziau
soacute soacute que eu faccedilu o chaacute dela ela num eacute tatildeo travoso assim mas ela tem esse poder
de desinflamar a pessoa e eu conheci muito a minha matildee que a minha voacute quando a
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
206
mamatildee teve os filhos que eu jaacute me lembrava que depois de mim ela teve cinco filhos
depois de mim neacute e nesse um eu via ela fazer esses chaacute todo dia ela fazia o chaacute too dia num era o negocio de botar nesse tempo nem existia geladeira nu
exista neacute aiacute a minhacutevoacute era assim quando a minha matildee ganhava filho cada uma
hora que ela ia comer antes da refeiccedilatildeo ela tomava o chaacute de manhatilde meio dia e
de tarde e a noite ela fazia aquele chaacute antes da refeiccedilatildeo feito da folha pegava
assim tipo uns galinho bem fininho tambeacutem ele tirava aquele galinho quebrava
colocava tudinho na panelinha e cozinhava e dava e sempre nois era curiosa e
perguntava voacute pra qui eacute isso pra que servi quando ela tava fazendu uma uma
velinha muita paciente a vovoacute minha filha isso que eacute pra mulher que tem filho tem
que tomar isso tem que tomar isso que eacute remeacutedio pra fazer limpeza nois via ela
fazer soacute do resguardo quando tava de resguardo essa outra mortinha peluda fazia
assim um probrema di di menstruaccedilatildeo neacute qui eu disse naquele dia pega assim
aquelas folhas bem vermelha folha dela novinha eacute bem vermelha enrolava nas folhas colocava embaixo da cinza quando jaacute tivesse mole espremia e tirava aquele
suco aquele caldo e colocava um pouco de cachaccedila e tomava pra normaliza jaacute
conheci por mortinha nunca perguntei ela tinha a mortinha miuacuteda esse nome
de mortinha eacute porque ela eacute bem miudinha tatildeo insensivelsinha ela eacute tatildeo eu
acho essas outras porque todas elas eacute mortinha neacute mortinha de morte ((
risos))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para o poacutes-parto e regular menstruaccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Usar o chaacute para limpeza do uacutetero e diminuir o sangramento na menstruaccedilatildeo tirando o
sumo da folha e misturando na cachaccedila
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo mortinha estaacute relacionado ao tamanho da planta que eacute bem delicada
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
207
APEcircNDICE EE ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMortinha Peludardquo
Fotografia 56 ndash Mortinha Peluda com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 35 MORTINHA PELUDA
Lx Lexema Mortinha Peluda
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Df Definiccedilatildeo natildeu natildeu eacute a morti essa uma eacute a vida num eacute a morti natildeu erraru neacute pra butari a vida
butaru mortinhaeacute mais achu qui eacute ela eacute nativa tambeacuteim ela eacute uma arvri mais jaacute jaacute
bastanti maior eacute uma arvri ela trepa bastanti grandi a arvri dela u cauli dela eu jaacute
vi ate dessa grussura asim neacute teacute dessa grussura assim ela daacute na capueira tambeacuteim
assim numa capueira ela daacute na mata assim eu sei qui ela eacute nativa mais eu nunca vi ela
na mata veju eacute na capueira natildeo menor daacute menor eacute eu jaacute vi menor num sei si ela
teim eacute nativa nativa eacute qualquer clima di qualquer ambienti ela nasci podi ser baxu
podi ser terra seca ela daacute a folhinha dela eacute compridinha tambeacuteim compridinha
larguinha i a flor eu da nunca vi a flor dela eu natildeu sei dizer eu natildeu sei dizer neacute sei qui ela assim u olhu dela assim qui ela brota qui ela taacute renovada u olhu dela assim bas eacute
bem vermelhu u olhu dela assim aquela folha nova eacute beim vermelhinhu beim vermelhu
vermelhu mesmu mortinha peluda porque ela eacute cheiu di pelinhu uma uma us
galhinhu a a os galhu dela assim aquelis galhinhu ( ) eacute cheiu di pelinhu natildeu num eacute a
folha eacute eacute us talinhu us talinhu assim umrum issu natildeu nau nau eacute eacute lisu eacute lisu eacute
paacute folha qui eacute peludinhu eacute teim aquelis pelinhu mais eacute pouquin neacute por issu qui
chamu mortinha porque ela teim varus varus tipu ai pra pra mudar ai butaru mortinha
peluda mortinha( ) qui daacute beim piquininhinha mermu qui a folinha deli eacute qui neim
aqueli mato ali ai teim di otra mortinha qui eacute a vauacutena qui teim aquela qui bota uma
frutinha bem vauacutena qui chama crianccedila gosta di comer daacute muitu nu pastu negociu di
pasto assim di juquira eacute vauacutena a crianccedilada comi qui ela ela daacute qui neim num teim
azeitona essas bicha aqui comeacute nau natildeu eu nunca vi natildeu nunca vi a frutinha dela mas com certeza ela bota porque assim ela ela eacute nativa as veiz genti num vai laacute vecirc
naquela eacutepoca ela ta sim num acompanha ai por issu qui eacute mortinha peluda porque
tocirc dizendu assim tem varus tipu di mortinha i cada uma teim um nomi a mortinha
peluda a mortinha essa outra qui eacute a lisa qui eacute a vauacutena qui eu to dizendu neacute as folha
dela as folha dela satildeo igual eacute eacute muita muita muita folha muita ela eacute uma arvri
assim qui ela daacute qui ela ispalha galinhu pra todu cantu pra todu cantu ela sai galho
dela assim ai( ) i aiacute ela eacute ela eacute uma arvri travosa ela eacute travosa ela presta tantu pra
mulher eacute fazer banhu di assei u neacute ela eacute bom issu travosu sim natildeu num eacute
normau eacute eacute a folha nova dela aquela folha du quandu brota aquela folha nova qui ela
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
208
fica assim beim vermelinha i pra assim mulher quandu taacute na menopausa qui as veiz
passa daacute assim passa du dia da menstruaccedilatildeu dela passa assim por que assim teim mulher quandu taacute im menopausa assim sempri assim passa assim neacute mais dia ai
assim ai minha matildei sempri fazia assim oacute i ensinava pega aquelas folhinha da mortinha
peluda i lava ela beim beim lavadinhu i embrulha numa folha di guarimatilde i bota numa
cinza dibaixu da cinza assim pra quilu assim amulecer natildeu secar pra ficar assim pra
depois qui tiver ali sequinha qui tiver moli qui tiver cozinhadu tira dali espremi i bota
um pocu di cachaccedila i tomaela solta ela ela solta ela depois dela taacute ali neacute com aqueli
suou qui ela ta ali abafadu ela soa ela amoleci ai bota um pocu di cachaccedila i toma
tinha genti qui iacutea na casa da mamatildeie i dizia assim qui tava com essi poblema neacute as
veiz era menopausa i as mulheacute natildeu tinha essi conhecimentu qui era menopausa aiacute elas
ficavu afrontada pensava assim qui jaacute era um comeccedilu di hemorragia issu tudo neacute ( )
conversandu ( ) ai eu aprendi cum a mamatildei quandu foi certus tempus neacute ( ) issu eacute
aiacute um tempu taacute cum mas ou menus um anu i pocu eu tinha uma minha colega tava assim colega da minha minina inte filha da parenti ali du antoniu froz ali neta du
finadu antoniu froz neacute ela procuro ela mando i a dominga eu to passandu mau ela
morava nu broca ela ligo si eu num sabia di um remeacutediu por que ela jaacute tinha tomadu
tanta da garrafada qui a matildei dela tinha feitu i ela tava com essi poblema mais ela eacute
nova mulher du primeiru filhu ela taacute cum vinti dois anus pareci ela taacute cum essi
poblema ichi to seim coragi pra nada si eu num sabia ensinar um remeacutediu eu dissi a (
) natildeu eu natildeu sei ensinar remeacutediu a tua matildei porque a matildei dela trabalha com garrafada
tambeacuteim neacute a a mamatildeie fez uma garrafada pra mim eu fez foi pioraacute apioraacute mais
dominga eu to ateacute com medu i eu num quiria ir negociu di cirurgia eu num quiria di
jeitu nenhum natildeu queru mi consultar ai eu peguei ensinei vou ensinar um remeacutediu qui
a mamatildei ensinava pra mulher ai eu peguei fez uma garrafinha neacute i mandei pra ela mandei u remeacutediu i feiz uma cartinha ensinandu comu ela fazia dissi adriani natildeu vou
fazer aqui porque pra mim fazer aqui tu mora longi ela morava nu broca aiacute eu mandei
pelu carru di alunu ai depois qui eu vi ela dissi dominga graccedilas a deus aqueli remeacutediu
foi em primeiru lugar pra mim seraacute qui feiz beim feiz beim qui ichi eu neim foi neim mi
consultar aqueli remeacutediu ela mi dissi neacute ela fazia assim quandu us otru ensinavu pra
ela neacute ai ela jaacute aprendeu com voacute com a matildei dela e aiacute ela fazia natildeu eacute issu eacute ela fazia
cum eu achu qui ela jaacute aprendeu com a voacute dela cum a matildei ai prontu ela jaacute faziu aqueli
remeacutediu dava certu aiacute elas iam so passandu di voacute passar pra matildee matildei passar pra filhu
filhu jaacute passa prus netu aiacute jaacute vai
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas para problemas com a menstruaccedilao hemorragia e menopausa
Fu Formas de
uso
Utiliza-se a folha embrulhada na folha da guarimatilde esquentando no fogo depois eacute
espremida e colocada na cachaccedila
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Existem vaacuterios tipos de mortinha a planta com a folha lisa eacute chamada Vauacutena
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
209
APEcircNDICE FF ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPata de Vacardquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 36 PATA DE VACA
Lx Lexema Pata de vaca
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh abertu amplu eacute ela eacute eacute mais du friu ela eacute uma forma di pata de vaca memu
ela daacute assim neacute ela assim aiacute ela reparti uma folha ela tem dois divisatildeo uma forma
duma pata di vaca mermu ela eacuteh meacutedia ela natildeu eacuteh tatildeu pequininha mas natildeu eacuteh tatildeu
grandi tambeacutem eacuteh meacutedia eu nunca vi a flo dela porque eu essa arvre laacute diabe laacute nu
nossu setor ela duro pocus tempu ela natildeu duro tantus tempu natildeu ela natildeu chego a bota
flo eacuteh essi um eli num era tatildeu piquininhu mais eli num era tatildeo grossatildeu diabet eli era
porque ela ela foi num era era uma arvri nova porque eacute comu eu contei qui meu irmatildeo elimino ela antis du tempu meu irmatildeu num sei u qui aconteceu or mininu cortaru ela
num chegoacute a si forma eu num sei dize u tamanhu dela a grussura dela i eu diabet da
nunca vi ela im otru cantu pra mim dize oacute isso aqui eu vi essa uma laacute im casa qui foi teacute
um meu colega qui levo pra casa i deu um galhu pa minha irmatilde aiacute ela plantocirc i aiacute ela
tava jaacute um bom tamanhu aiacute agenti num tinha um diabetete di qui ela era assim tatildeo
assim valiosa neacute eli eli chegoacute diabete assim oacute diab aqui eacute remeacutediu mais eli num disse
pra qui era i pra quecirc natildeu naqueli tempu agenti num tinha ainda muita diabetete di
assim fazecirc iab assim essi tipu di trabalhu remeacutediu garrafada essas coisa aiacute ela plantocirc
laacute i soacute sei qui iab sei qui laacute a folha dela eacute assim () i ela ela creceu numa boa altura
agora achu qui aquilu inda nu era u tamanhu dela assim diabetete neacute achu qui ela
inda ia crececirc mais ela eacute meacutedia eacute uma planta eacute ela eacute uma planta eacute meacutedia eacute
meacutedia cum certeza ela eacute uma planta meacutedia natildeu soacute o cauli a folha isso agente usa a folha dela pra remeacutediu i a casca pra fazecirc u chaacute pra diabete neacute () me diabet qui ela eacute
boa pra diabete ela eacute folha i casca
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo utilizadas as folhas e o caule para Diabetes
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome tem relaccedilatildeo com o formato da folha (pata de vaca)
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
210
APEcircNDICE GG ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeacute de Galinhardquo
Fotografia 57ndashPeacute de Galinha com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 37 PEacute DE GALINHA
Lx Lexema Peacute de Galinha
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminologico Feminino
Df Definiccedilatildeo ela eacute uma erva ela eacute uma erva ela eacute nativa ela daacute nu pastu assim neacute tipu um capim
ela eacute um capim( ) soacute qui ela daacute u formatu di um peacute di galinha mermu ela nasci aqui u
pezim deli ali ela ispalha mais naquela a dondi ela espalha ali us pezim eacute qui ela bota
a sementinha uma pequena semetinha tambeacuteim beim piquenininha ela eacute mais ou
menus meiu palmu assim beim miudinha teim sim sim ela bota o caulizinhu qui eacute u
peacute di u formatu di uma perna di galinha mermu u formatinho neacute bota aqueli caulizinhu ai na pontinha deli qui ela espalha u pezinhu aquelas folinha prum ladu i pra otru fica
nu formatu di um peacute di galinha eacute eacute issu eacute nu invernu eacute eim qualquer tempu eacute
qualquer cantu ela daacute achu qui eacute por causa du formatu noacuteis conhecemus tambeacuteim
cum ela neacute cum ela queacute dizer quandu otra pessoa tava com dor di denti ela mandava
fazer u chaacute assim quandu tava com aquela dor di denti assim cum inchaccedilu aiacute ela
mandava fazer u chaacute faz u chaacute du peacute di galinha pra fazia u chaacute esfriava i tomava ali ( )
porque naqueli tempu edilene era difiacutecil assim ah qualquer coisa ir pru hospital
qualquer coisinha aqueli tempu natildeo tinha aacute cecirc eacutesi natildeu tinha aqui era muitu difiacutecil pra
genti vir aqui pra paacute neacute uma consulta uma coisa a minha voacute a minha matildei num foru
acostumada assim qualquer coisinha taacute nu hospital qualquer coisinha sentia uma dor
di cabeccedila ah eu vou pru hospital vou pru hospital di jeitu ninhum num era dessi jeitu natildeu a minha voacute eu conheci ela qui eu tocirc com cinquenta anu cinquenta i dois anu eu
nunca vi ela dizendu assim eu queru ir pru hospital eu tocirc cuma dor di cabeccedila eu tocirc
cuma dor di barriga eu tocirc com uma diarreia eu queru eacute ir pru hospital nunca ouvi
nunca nunca nunca sabi comu eu nunca vi soacute remeacutediu caseru agora fossi na casa
dela neacute ela ( ) uma panelinha di barru qui ela usava panelinha di barru aiacute di manhatilde
ela preparava ela pegava eacute denti di alhu quandu natildeu tinha u denti era casca du alhu
um bucadu di coisa mastruz botava laacute aiacute cozinhava noacuteis chegava laacute qui noacutes era
curiosa neacutevovoacute pra qui eacute issu aqui eacute pra mim beber mais u qui eacute que secirc tem voacute nada
meu filhu issu eacute remeacutediu mermu mi deu na cabeccedila deu fazer as vezis ela dizia assim eu
amanheci assim com uma dozinha nu meu estocircmagu uma coisa um ventu uma coisa
assim quasi naquilu eli si curavu naquilu ela nunca foi eu nunca vi ela num hospital natildeu assim dizendu eu queru ir eu vou mi consultar mi levu pra mi consultar nunca eu
mais saudia era ela quandu adoeceu foi pra morrer velhinha jaacute quandu ela adoeceu
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
211
foi pra morrer i ela foi assim ela caiu aiacute sI bateu neacute ai u titiu ainda ainda quis levar
ela pra consulta pru hospital ela num quiz ir di jeitu nenhum ela dissi qui natildeu adiantava ela ir qui ela sabia qui ela natildeu ficava boa era tempu dela morrer i ela jaacute
tava velha di idadi ela jaacute andava devagarinhu u titiu anda feiz umas consulta assim
pra ela foi consultar i trouxi umas injeccedilatildeo mais ela natildeu ficou boa mermu mais natildeu
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de dente e inchaccedilo na boca
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dores de inchaccedilos nos dentes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem aspecto de um peacute de galinha
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
212
APEcircNDICE HH ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeatildeo Brancordquo
Fotografia 58 ndash Peatildeo Branco com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 38 PEAtildeO BRANCO
Lx Lexema Peatildeo Branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma planta eacute caseira clima tantu faz ela gostalugar que eleela ela gosta
tantu faz eacuteh aela eacute bem resistente inverno veratildeo veratildeo ela eacute resistente ela sim a
folhadela eacute media ela eacute redondafolha dela verdio fruto delaelabota assim
tipohum tipo caixinho ai dentro da da daquele cachu da a sementi neacutebota as
sementinhas e quando a genti pega dentro aquela caixinha tem sementinha delaque
a gente abre o remeacutedio e a sementi dela que eacuteh o remeacutedio ela da o cacho bota o cacho
assimas pontinhas daqueles coisinhus assimbota o fruto ai dentro do fruto
daquelas daquelas cachopinhos parte que taacute a sementinha a sementinha preta dela
ela bemeacuteh a sementi que usa no caso do peau a folha dela eacute remeacutedio prano caso ta com dor de cabeccedila uma ma tontura mucha a folha dela a folha do peatildeo branco
mucha um pouco no fogo passa um pouco de alho e coloca na testa e pra tontura
neacuteminha voacute fazia cuando algueacutem com tontura fazia issoaiacute o leite dele que a genti
corta assim o caule dele sai dele uma aguazinha eacute e tambeacutem muito esse noacutedia se pegar
na roupa da genti tem que ter muito coidadu usar o leitiele aiacute si tiver crianccedila que
tiver ferida na boca antau dor de denti muito celente pra usar o leiti corta o leitizim
dele bota numa esponjinha de algodatildeo e coloca no denti ferida na tambeacutem eacute bom
tambeacutem agenti pega apara o leiti dele bota um pouquim de sal e coloca na boca da
crianccedilaa sementi delea genti pega a semnetinha dele aquela sementi num eacuteh tao
pequenininha ela eacute muito bem maior que a sementi de urucumbem maiora genti pega
elaeh uma crianccedila tiver com tossetiver ehproblema daquela asmaela servi pru bucado de coisas as veis febre as veis fartiu a crianccedila num quer comerse pega ele
assim parte aquele sementinha tem o coidado de tirar a folhinha porque agenti fica
olhando assim agenti percebi a folhinha dele que ta dentro daquela sementinhauma
folhinha dentroassim pra nascer neacuteaquela folhinha assim quando ela ela agenti
parte jaacute percebi a folhinha jaacute ta li aquela folhinha agenti tem que tirar tudinhu na
mimpega uma faca tira tudinhu e pega aquela sementinhaela eacute que nem uma coco
que nem um coquinho assim neacuteaquela massinha ai pega faz umbota ela pra
assarbotaela fica amelinhaai pega pisa pisa e da pra crianccedila pouco tambeacutem
neacutemuito natildeo porque se der muito ele da um acesso de vomito que eacute forte eacutehisso aiacute
eacute remeacutedio mas neacute todo mundo que sabe fazer e eacute difiacutecil de ensinar pro outra pessoa
fazer remeacutedio caseiro tem essa ciecircncia neacutepurque a genti natildeo sabendo fazeragenti
ateacute evita de ensinar pra uma pessoa porque ele natildeo tem costume de fazerele tem
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
213
ciecircncia remeacutedio caseirotem chaacute que a genti pode beber o tanto que fornatildeo ta nem
aimas agortem remeacutedio caseiroo peatildeoo peatildeo eacute muitoa mimha matildee fazia pra nois agenti comeccedila a tossirnois era muito neacuteuins tussindu as veis gripadu ela
tiravaela tirava aquela folhapegava uma pontinha da faca ehmae o que eacute isso
no crianccedila curiosa sabe coma eacute neeh olhe isso eacute afolha que tem que tirar se comer
com essa folha morre ela dizia neacuteeacute veneno essa folha tem que tirar e assava so as
bandinhas ela pegava um espetinhu fazia uns espetinhos bem fininhu botava pra
assar so na quentura despois ela moiacutea assimdava para nois comerquando dava
certo ela misturava com qualquer coisaquando dava certo quando natildeo dava
assim quando nois jaacute era entendidopor meus filhos eu nunca fizeu jaacute comimais
eu nunca fiz nuca cheguei a fazer eu sei fazereu sei preparar do jeito que minha matildee
fazia pra nois nunca dava nunca dava mais de uma sementicom a folhinha muito
coidado com aquela folhinha de dentro da sementi
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e tontura Do caule eacute retirado um leite para dor de dente feridas na boca A semente eacute usada para febres e vocircmitos
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dor de cabeccedila para tontura a folha eacute esquentada com um
alho e colocada na lateral dos olhos O caule tem um leite que eacute retirado para colocar
com um pouco de sal nos casos de dores no dente ou feridas na boca Dentro da
cachopinha da planta tem a sementinha que eacute assada e triturada para acessos de
vocircmitos e febres
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Dentro da sementinha da planta existe uma folhinha bem pequena que deve ser retirada
para o preparo do remeacutedio segundo seu saber a folhinha eacute venenosa por isso nem
todos sabem preparar a medicaccedilatildeo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
214
APEcircNDICE II ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoQuebra Pedra Brancordquo
Fotografia 59 ndash Quebra Pera Branco com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 39 QUEBRA PEDRA BRANCO
Lx Lexema Quebra Pedra Branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminologico Feminino
Df Definiccedilatildeo eacute uma erva uma erva ela eacute ela achu qui pertenci um poquinhu friu um puquinhu
quenti ela tambeacuteim daacute assim ela tambeacuteim daacute nessa eacutepoca assim di natildeu muita chuva
natildeu muitu sol sempri ela ela gosta di daacute i ai tambeacuteim ela ela eacute nativa tambeacuteim ela
nasci assim tambeacuteim pelu quintau nu canteru sozinha ela nasci e ai quandu chega u
veratildeu qui eacute u veratildeu aperta muitu aqueli veratildeu di novembru dezembru ela morri ela si acaba natildeu ela eacute assim num teim u cuminhu di planta u cuminhu di planta jaacute viu u
cuminhu di planta natildeu natildeu sim sim sim () aqueli cuminhu qui a genti planta nu
canteru neacute pois eacute eli eacute daqueli jeitu eacute u formatu da di cuminhu sim sim sim pois eacute
natildeo mais quandu a genti dexa eli crescer eli da sementi eacute eli num cresci porque
quandu chega aquela eacutepoca a genti tem qui arrancar pra planta otru pra genti vender
daqueli jeitu neacute mais deixandu eli sementa i a a quebra pedra eli fica na formatu di
duma arvri di cuminhu di planta i ai eli a folha deli eacute beim muiditinha eli eacute eli eacute uma
avre assim pequeninha tambeacuteim e a a folha deli eacute bem miudititita assim a folhinha
deli mais ou menu eacute a folhinha daacute muita piquinininha tambeacutem mas daacute florzinha
dela beim miudititita ela teim teim teim natildeu natildeu natildeo natildeo eacute uma plantinha
piquinininha mas eacute uma planta eacute qui neim qui neim u cheiru verdi qui nem u cheiru verdi eu nunca vi u cheiru verdi assim di flor neacute mas eu jaacute vi mas eli eacute qui neim u
cheiru verdi assim a avrinha deli ai daacute daacute us galhinhu daacute as folhinhas beim miuditita
assim porque eli distroacutei as pedra di rim neacute achu qui eacute por issu qui u nomi deli eacute
quebra pedra quebra pedra eu aprendi nu livru tambeacuteim nu livru foi qui eu
aprendi issu foi a minha matildei i minha voacute a minha matildei i minha voacute qui muitas dessa
essa daiacute agenti sabia dessi nomi quebra pedra agora natildeu sabia a importacircncia qui eli
tinha mas u nomi a genti jaacute sabia por que ela eacute branquinha a a folha porque teim di
duas marca tem du roxu i teim du branquinhu i u bom eacute o que eacute branquinha
piquininha i branquinha i du roxu eli eacute du mesmu formatu mas soacute qui eli eacute roxinhu
tambeacuteim eacute a folha eacute a folha a raiz i assim a genti arranca ela tudu i lava i bota pra
fazer u chaacute deli completu folha cum raiz cum tudu
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de As folhas satildeo usadas para problemas renais
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
215
uso
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes contra as pedras nos rins e na garrafada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome da planta tem relaccedilatildeo com a funccedilatildeo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
216
APEcircNDICE JJ ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoSalsardquo
Fotografia 60 ndash Salsa com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 40 SALSA Lx Lexema Salsa
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo natildeu a salsa di remeacutediu eacute otra ela eacute du ela tantu faiz pra ela ela gostu du du mais
ela eacute du ambienti mais friu um tempu dessi( ) ela ela podi passar u veratildeu mas ela num
morri mais natildeu ela fica assim meia fraquinha amareladinha mais ela num morri
quandu chega u invernu ela renova tudim ela fica toda renovada e ai a folha dela eacute
bastanti grandi tambeacuteim eacute assim num formatu dum coraccedilatildeu tambeacuteim ela soacute qui ela eacute
mais grandi e eacute eacute um cipoacute tambeacuteim ela eacute cipoacute quandu quandu daacute certu dela subi ela
sobi mais ela eacute du chatildeu du chatildeu eacute du chatildeu natildeu natildeu eacute sobi eacute eacute si ela ver otra otra
planta ela sobi i aqui ela jaacute bota u cipoacute ela jaacute jaacute sobi aqui se der certu prela descer i
ela vai dandu cipoacute i vai dandu raiacutezes nu cipoacute i vai i pegandu vai indu ela num eacute aquela
raiz soacute nu peacute dela natildeu ela vai botaacute nu u cipoacute i vai i vai raizandu issu daiacute eu num sei dizer eu conheccedilu por essi nomi ( ) eacute porque natildeu eacute ela eacute nativa eacute eacute nativa teacute nu
lugar qui ela daacute qui ela nasci eacute difiacutecil ela ateacute si acabar natildeu soacute salsa eacute eacute eacute porque
a du temperu ela eacute qui neim cheiru verdi neacute du mesmu jeitu du cheiru verdi a salsa du
temperu i essa uma natildeu ela eacute um cipoacute ela daacute assim pertu di casa teim uma a genti
luta paacute acabar essi comecirc di rola ocirc ocirc essi que daacute eli daacute mais nu roccediladu eacute elas vatildeu
a salsa teim muitu laacute pertu di casa ela chega nu terreru eu cortu eu arrancu soacute qui ela
eacute difiacutecil dela si acabar ela fica escondidinha ela fica to dizendu nu veratildeu ela fica
amarelada soacute qui ela num si acaba pa dizecirc morreu natildeo noacuteis arranca noacuteis corta ela
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas em alimentos
Fu Formas de
uso
Usam-se as folhas como cheiro verde serve para dar sabor no alimento
Fn Finalidade Tempero
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
217
APEcircNDICE LL ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoVassourinhardquo
Fotografia 61ndashVassourinha com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 41 VASSOURINHA Lx Lexema Vassourinha
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ela eacute nativa ela nasci tambeacuteim nu paacute assim terreru nu quintal sempri a vassorinha
sempri ela gosta mais assim assim du molhadinhu du uacutemidu eacute mais nu veratildeu ela eacute
bastanti resistenti tambeacuteim nu veratildeu eacute com certeza eacute natildeu uma arvrizinha tambeacuteim
uma arvri piquinininha mas ela eacute arvri num eacute rastera natildeu num eacute grama ela eacute formatu
duma vassora bota arvrinha aqui daqui espalha us nasci us galinhhu neacute ela espalha aiacute teim a folha dela eacute qui neim a folha di mastruz ela eacute mais menas mais eacute u mesmu
formatu da folha di mastruz assim eacute uma folinha uma folinha com com um frizadinhu
assim soacute qui pequena eacute menozinha um pocu du qui a folha di mastruz i aiacute a sementinha
dela eacute beim pequenininha tambeacuteim daacute umas bolinha assim umas bolinha qui neim um
pirulituzinhu uma coisa soacute qui eacute beim piquininha neacute aiacute ela bota a sementinha dela
tambeacuteim sim a florzinha dela eacute assim meia roxinha beim piquininha a florzinha dela
bem piquininha assim meia roxinha branquinha assim um roxozinhu claru eu
aprendi com a minha voacute tambeacuteim com us meus tiu inteacute quandu quandu eu tinha um tiu
vinha a ser tiu da mamatildei a genti considerava qui neim avoacute eli eli benzia dor denti aiacute
quandu eli chegava uma pessoa laacute agrave eu vim aqui pra oce benzer meu denti eli taacute
doendu num sei u quecirc eli mandava vai apanhar uma vassorinha um galhinhu di
vassorinha pra mim com aqueli cum aqueli galhinhu di vassorinha qui eli fazia u trabalhu deli assim benzia neacute ai agenti aprendeu aiacute as depois ai tinha veiz qui eli fazia
eu fazia aqueli trabalhu ai depois as veiz eli dizia olha au chegar na tua casa pega
dois dois trecircis pontinhas di folha di vassorinha i pisa com pouquin di sal i coloca
quandu u denti tinha aqueli coisa neacute aquela furadu neacute bota um pouquin di sal i coloca
ai genti fazia era u remeacutediu qui eli mandava i ficava bom ai conheci por vassorinha
porque a vovoacute tambeacuteim dizia qui era era um vassorinha porque eacute eacute pa ensinar crianccedila
pequenu tira um galhu di vassorinha i meti nais costa dessi safadu por qui galhu di
vassorinha num doacutei muitu eacute pra ensinar crianccedila pequena neacute aiacute tinha qui dizer assim
ai tambeacuteim antigamenti ar mulher faziu vassora pra varrer da planta apanhava
dondi tinha muitu neacute apanhavu ela i amarravu assim aqueli fexu aqueli monti i botavu
num cabu di pau i faziu vassora pra varre dondi num natildeu natildeu ela eacute beim ela eacute beim uma uma beim cheinha eacute uma plantinha pequeninha mais ela eacute cheia ela eacute quasi qui
neim u mastruz( ) eacute u mastruz eli espalha mais eli eli eli cresci assim mais grandi eli
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
218
bota mais assim eli fica maioacute a a vassorinha ela eacute um formatu di uma arvri di
jambreru soacute qui eacute piquininha mais eacute naqueli formatinhu qui ela eacute di jambreru nativa eacute pra alergia tambeacuteim eacute banhu fazer u banhu dela qui eacute pra
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de dente
Fu Formas de
uso
Pega-se a folhinha amassa com sal e coloca em cima do dente
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta era usada como vassoura pelas mulheres por ser bem encorpada aleacutem disso
usava para disciplinar as crianccedilas e tambeacutem em rezas pelo tio
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
3
ANTONIA EDYLANE MILOMES SALOMAtildeO
Estudo Terminoloacutegico das Plantas Medicinais da Comunidade
Remanescente de Quilombola de Pimenteiras Santa Luzia do
Paraacute - PA
Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo
em Linguagens e Saberes na Amazocircnia da Universidade Federal do
Paraacute - Campus de Braganccedila como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Aacuterea de concentraccedilatildeo Leitura e Traduccedilatildeo Cultural
Aprovada em ______ ______ ______
Conceito _________________________
Parecer Final ______________________
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas (UFPA-Campus de Braganccedila)
Orientadora
________________________________________________
Prof Dr Elias Mauriacutecio da Silva Rodrigues (UFRA-Campus Capanema)
Membro Externo
_________________________________________________
Profordf Drordf Tabita Fernandes da Silva (UFPA-Campus de Braganccedila)
Membro Interno
_________________________________________________
Profordf Drordf Carmen Luacutecia Reis Rodrigues (UFPA-Campus de Castanhal)
Suplente
4
Dedico este trabalho ao meu esposo
Haroldo Jorge e minha filha Maria
Lorenna pelo apoio incondicional e
constante incentivo Aos meus familiares e
amigos pela paciecircncia incentivo e
amizade
5
AGRADECIMENTOS
A DEUS
Ele colocou pessoas tatildeo especiais a meu lado sem as quais natildeo conseguiria alcanccedilar e nem
superar as dificuldades dessa caminhada Meu eterno louvor e gratidatildeo ao Senhor de minha
alma Obrigada sempre
Agrave Profordf Drordf Raimunda Benedita Cristina Caldas
Por acreditar em mim me mostrar o caminho da ciecircncia por ser exemplo de profissional e de
mulher a qual sempre seraacute modelo na minha vida Muitiacutessimo obrigada
Aos Professores
Profa Dra Raimunda Benedita Cristina Caldas Prof Dr Guumlnter Karl Pressler Profa Dra
Sylvia Maria Trusen Profa Dra Carmen Lucia Reis Rodrigues Profa Dra Tabita Fernandes
da Silva Profa Dra Roberta Alexandrina da Silva Prof Dr Joseacute Guilherme dos Santos
Fernandes Prof Dr Pedro Petit Pentildearrocha Profa Dra Georgina Negratildeo Kalife Cordeiro
Prof Dr Flavio Leonel Abreu da Silveira Prof Dr Luis Junior Costa Saraiva Prof Dr
Salomao Antonio Mufarrej Hage Profa Dra Nilsa Brito Ribeiro Profa Dra Maria do
Perpetuo Socorro Galvatildeo Simotildees pelas contribuiccedilotildees nas disciplinas ministradas e no curso
em geral Obrigada a todos
Ao Prof Dr Elias Mauriacutecio
Pela amizade que transcende ao tempo pelo incentivo e contribuiccedilatildeo para que eu pudesse
realizar esse sonho Meu sincero e especial obrigada
Ao Prof Dr Jair Cecim
Que me fortaleceu e me fez tentar natildeo ser a melhor mas fazer o melhor de mim Obrigada
Agrave senhora Domingas Alves
Suas contribuiccedilotildees foram basilares nesse estudo Sempre disponiacutevel e disposta a ajudar com
seus saberes a senhora me fez enxergar que existe um mundo infinito de conhecimentos que
ultrapassam geraccedilotildees atraveacutes das lutas e das conquistas alcanccediladas pela forccedila de um povo
Muito obrigada por tudo
Agrave senhora Nazareacute Guirard
Que se mostrou incansaacutevel e atenciosa contribuindo significativamente com informaccedilotildees
fundamentais nos trabalhos com as plantas e respeito agrave natureza Sempre obrigada
Aos moradores quilombolas de Pimenteiras
Por me receberem e acolherem na comunidade respeitando e contribuindo espontaneamente
para que o trabalho demonstrasse sua histoacuteria e identidade Todos merecem meu eterno
agradecimento
6
Aos meus pais Zaqueu Alves e Lucia Salomatildeo
A quem amo muito obrigada pelo carinho paciecircncia e incentivo Meu infinito
agradecimento Amo muito vocecircs
Aos meus irmatildeos Joseacute Weliton e Maria Helem
Pela dedicaccedilatildeo e auxiacutelio nos momentos difiacuteceis vividos em nossas vidas Obrigada
Ao meu esposo Haroldo Jorge
Meu amor que sempre acreditou em minha capacidade meu companheiro que se dedicou
espontaneamente a me acompanhar ajudar e me equilibrar nos momentos de dificuldades
Devido ao seu companheirismo amizade paciecircncia compreensatildeo apoio alegria e amor este
trabalho pocircde ser concretizado Obrigada por ter feito do meu sonho o nosso sonho Te amo
Agrave minha pequena e amada filha Maria Lorenna
Sua presenccedila em minha vida trouxe um incentivo a mais para continuar Natildeo eacute por mim mas
por vocecirc meu amor que sempre busco alcanccedilar e ser o melhor Amo vocecirc meu cheirinho
As amigas Alaiacutece Pereira Alcilene Morais Sara do Socorro
Que diretamente fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando Meu
eterno agradecimento pela amizade Valeu meninas
As amigas do Mestrado
Pelos momentos divididos juntos especialmente agrave Myrceia agrave Michelly Adriana Elizabete e
Aldilene que se tornaram verdadeiras amigas e tornaram mais leve meu trabalho Obrigada
por dividir comigo as anguacutestias e alegrias e ouvirem minhas bobagens Foi bom poder contar
com vocecircs
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguagens e Saberes na Amazocircnia
Por abrir as portas para que eu pudesse realizar este sonho que eacute a minha Dissertaccedilatildeo de
Mestrado Vocecircs proporcionaram-me mais que a busca de conhecimento teacutecnico e cientiacutefico
mas uma liccedilatildeo de vida Ningueacutem vence sozinho OBRIGADA A TODOS
7
ldquoHaacute um casamento que ainda natildeo foi feito no Brasil entre o saber
acadecircmico e o saber popular O saber popular nasce da experiecircncia
sofrida dos mil jeitos de sobreviver com poucos recursos O saber
acadecircmico nasce do estudo bebendo de muitas fontes Quando esses
dois saberes se unirem seremos invenciacuteveisrdquo
Leonardo Boff (1938)
8
RESUMO
O presente trabalho traz um levantamento dos termos sobre as plantas de uso medicinais
catalogados e utilizados pelos moradores remanescentes de quilombola da comunidade de
Pimenteiras pertencente agrave cidade de Santa Luzia do Paraacute no Estado do Paraacute cujo
procedimento de anaacutelise parte de conhecer as praacuteticas dos saberes no fazer uso das plantas
medicinais nessa comunidade Foram elencados aspectos relacionados com a comunidade
suas origens e seus saberes sobre as plantas medicinais que se tornaram siacutembolo de
identificaccedilatildeo cultural dos moradores quilombolas Assim nosso propoacutesito eacute mostrar que a
linguagem eacute algo que identifica e marca as caracteriacutesticas de um grupo ou de um indiviacuteduo
do mesmo modo que a liacutengua de especialidade sobre as plantas de uso medicinal utilizada
pelos moradores quilombolas revela uma identidade cultural forte desse grupo Os estudos
terminoloacutegicos de Krieger e Finatto (2004) serviram de base para analisarmos os termos e
suas especificidades no contexto particular da linguagem assim como a abordagem
socioterminoloacutegica de Faulstich (1994 1995 1996 2001 2003 2006) propiciou observar
por meio dos termos suas construccedilotildees variaccedilotildees e definiccedilotildees no que concerne ao
conhecimento repassado entre as geraccedilotildees Construiacutemos este trabalho utilizando uma
metodologia com instrumentos usados antes durante e apoacutes a pesquisa para a anaacutelise dos
dados coletados Os recursos da informaacutetica entrevistas transcriccedilotildees de diaacutelogos orais fichas
terminoloacutegicas e registro de imagens foram alguns dos meacutetodos usados na construccedilatildeo do
trabalho Em suma observamos que o saber da cura por meio das plantas medicinais estaacute
preservado na memoacuteria e na liacutengua dos moradores quilombolas da comunidade de
Pimenteiras
Palavras-chave Plantas Medicinais Saber Tradicional Identidade Cultural Terminologia
Socioterminologia Termo
9
ABSTRACT
This paper presents a survey of the terms on the medicinal use of plants cataloged and used by
the remaining residents of Pimenteiras community maroon belonging to the city of Santa
Luzia do Paraacute in the state of Para whose analysis procedure of knowing the practices of
knowledge to make use of medicinal plants in this community Aspects of the community
were listed their origins and their knowledge about medicinal plants that have become a
symbol of cultural identification of quilombo residents So our purpose is to show that
language is something that identifies and marks the characteristics of a group or an individual
just as the specialty of language on the medicinal use of plants used by the quilombo residents
reveals a strong cultural identity of this group The terminology studies Krieger and Finatto
(2004) formed the basis for reviewing the terms and their specificities in the particular context
of language as well as socioterminological approach Faulstich (1994 1995 1996 2001
2003 2006) led to observe through terms of their buildings variations and definitions
concerning the knowledge passed on between generations We developed this work using a
methodology tools used before during and after searching for the analysis of the collected
data computers resources interviews oral dialogue transcripts terminology records image
recording these were some of the methods used in the development of the work In short we
see that the knowledge of healing through herbs are preserved in memory and language of the
quilombo residents in Pimenteiras community
Keywords Medicinal Plants Traditional knowledge Cultural identity Terminology
Socioterminology Term
10
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade 33
Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras 33
Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas 34
Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada 35
Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda 36
Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas 37
Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento 37
Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena 44
Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico 44
Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o
funcionamento do organismo 45
Fotografia 11 ndash Salsa dissecada 45
Fotografia 12 ndash Canela dissecada 46
Fotografia 13 ndash Vinagreira dissecada 46
Fotografia 14 ndash Mucuracaacute 95
Fotografia 15 ndash Folha do Mucuracaacute 95
Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti 98
Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti 98
Fotografia 18 ndash Noni 100
Fotografia 19 ndash Folha do Noni 100
Fotografia 20 ndash Pataca 102
Fotografia 21 ndash Folha da Pataca 102
Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata Pasto 105
Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem 105
Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo 108
Fotografia 25 ndash Folha de Vassoura de botatildeo 108
Fotografia 26 ndash Nambu Tutano 110
Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano 110
Fotografia 28 ndash Paratudo 115
Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo 115
Fotografia 30 ndash Gergelim Branco 118
Fotografia 31 ndash Folha do Gergelim Branco 118
Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho 121
Fotografia 33 ndash Folha do Urucum Vermelho 121
Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho 123
Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho 123
11
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute 96
Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti 98
Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni 100
Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca 103
Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-de-Muquem 105
Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo 108
Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano 110
Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo 112
Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo 115
Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco 118
Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho 121
Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho 123
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 PIMENTEIRA OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA 18
21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA 19
211 Remanescentes o que restou 22
212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras 25
22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO 28
221 Ladainha agrave Nossa Senhora do Livramento 31
222 AQUAFAP O desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola
nos saberes das plantas medicinais 39
223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico 42
23
SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM
PIMENTEIRAS 47
231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes 51
232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais 53
233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes 55
234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais 58
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 61
31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL 62
311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular 65
32
A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS
ESPECIALIZADOS 68
321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada 70
33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL 73
331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da
Socioterminologia 76
332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico 79
4 METODOLOGIA 85
41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE
PIMENTEIRAS 86
42 A PESQUISA DE CAMPO 87
43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS
DADOS 89
431 Entrevistas 89
432 Recursos de anaacutelise dos dados 90
433 Termos Catalogados 90
5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE
UM POVO 92
51 MUCURACAacute 94
52 ERVA DE JABUTI 97
53 NONI 100
54 PATACA 102
55 PAU-DE-MUQUEM 104
56 VASSOURA DE BOTAtildeO 107
57 NAMBU TUTANO 109
58 QUEBRA PEDRA ROXO 112
59 PARATUDO 114
13
510 GERGELIM BRANCO 117
511 URUCUM VERMELHO 120
512 ERVA DE PASSARINHO 122
6 CONCLUSAtildeO 127 REFEREcircNCIAS 132 APEcircNDICES 143
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
ldquoSou apenas um escritor Um cultivador Um jardineiro Um florista A minha
felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me
excita quando acabo de as colherrdquo
Joaquim Pessoa (1948)
A liacutengua traz em seu contexto a identidade cultural de um povo A partir desta
questatildeo procuramos discorrer na presente dissertaccedilatildeo sobre o ldquoEstudo Terminoloacutegico das
Plantas Medicinais da Comunidade Remanescente de Quilombola de Pimenteiras em Santa
Luzia do Paraacute ndash PArdquo As experiecircncias vividas em grande parte de minha vida na cidade de
Santa Luzia do Paraacute me fizeram conhecer diversas comunidades proacuteximas agrave regiatildeo
comunidades com caracteriacutesticas fortes que marcam a identidade dos moradores e de toda
sociedade luziense
Por conhecer e vivenciar os saberes e a cultura das comunidades de Santa Luzia do
Paraacute escolhemos particularmente a comunidade de Pimenteiras por ser uma regiatildeo rica em
sua biodiversidade e por querer mostrar os saberes que os moradores quilombolas possuem
sobre a terra suas origens e seus saberes medicinais Contribuiu para o levantamento da
pesquisa a receptividade dos moradores de Pimenteiras que permitiram conhecer melhor sua
cultura diversidade na natureza e seus anseios de conseguir a titularidade da terra quilombola
A comunidade de Pimenteiras fica localizada na regiatildeo rural de Santa Luzia do Paraacute
a cerca de 30 km de distacircncia da cidade em uma estrada sem asfalto com caminho de difiacutecil
acesso o que inviabiliza agrave populaccedilatildeo desta comunidade assistecircncia agraves suas necessidades
baacutesicas Formada por moradores de origem quilombola muitas famiacutelias chegaram a este local
haacute muitos anos tendo saiacutedo da comunidade de Narciacutesea na cidade de Capitatildeo Poccedilo ndash PA em
busca de melhorias para o sustento de suas famiacutelias Pimenteiras eacute uma comunidade cujos
moradores buscam por meio do conhecimento e valorizaccedilatildeo de suas raiacutezes fortalecer seus
viacutenculos com a terra e a natureza a sua volta Deste contato especial com a natureza os
moradores conhecem e utilizam seus saberes na aacuterea da medicina tradicional
O saber da cura por meio da medicina popular continua preservado no falar dos
moradores remanescentes de quilombolas pelas informaccedilotildees sobre a influecircncia negra e
tambeacutem indiacutegena A manipulaccedilatildeo os cuidados com as plantas a forma de cultivo as relaccedilotildees
associativas nos nomes das plantas medicinais vecircm de longas geraccedilotildees que sofreram e
15
sobreviveram com a ajuda da natureza Eacute diante do saber preservado na liacutengua dos moradores
quilombolas que desenvolvemos este estudo sobre os termos das plantas medicinais
Com o intuito de conservar o saber das geraccedilotildees mais antigas um pequeno grupo da
comunidade quilombola registrou amostras de plantas medicinais da regiatildeo em que vivem
cada espeacutecie com os nomes de uso popular que os moradores conhecem pois observamos
que dentre os nomes registrados para uma mesma espeacutecie de planta ocorrem variaccedilotildees na
nomemclatura
Entender como uma comunidade guarda e preserva seus saberes por meio da liacutengua eacute
de suma importacircncia para o andamento deste estudo de cunho popular e cientiacutefico
Compreender como a liacutengua se mistura e se reinventa nos usos de um povo eacute o que mais
chama nossa atenccedilatildeo nos aspectos dos estudos do termo Levando em consideraccedilatildeo que
nenhuma Liacutengua eacute homogecircnea efetivamos um pequeno estudo sobre a liacutengua suas relaccedilotildees e
interferecircncias na sociedade Percebemos que a utilizaccedilatildeo das plantas medicinais eacute uma praacutetica
universal na medicina popular pois eacute o resultado do acuacutemulo de conhecimentos empiacutericos
sobre a accedilatildeo dos vegetais por diversos grupos eacutetnicos
No decorrer dos estudos observamos que haacute diversas expressotildees populares
direcionadas ao uso dos vegetais para a sauacutede tais como ervas caseiras folhas medicinais
vegetais medicinais ervas medicinais e plantas medicinais Estas diferentes expressotildees dos
termos ocorre por questotildees culturais que variam de uma comunidade para outra De modo
particular utilizamos neste trabalho os termos ldquoplantas de uso medicinalrdquo ou ldquoplantas
medicinaisrdquo Por fazer parte do falar de uma comunidade os termos catalogados sobre as
plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras foram analisados no contexto da linguagem
de especialidade que eacute campo de estudo da Terminologia
Dentre as ciecircncias que estudam o leacutexico a Terminologia1 estuda um subconjunto da
liacutengua relacionado a uma aacuterea especiacutefica do conhecimento humano esse subconjunto eacute
composto por signos especializados que chamamos de termos Quando o uso da liacutengua passa
por um processo de transformaccedilatildeo no qual certas palavras adquirem uma significaccedilatildeo dentro
de um domiacutenio de conhecimento particular entre um grupo de falantes que compartilham da
mesma aacuterea de conhecimento essa particularizaccedilatildeo eacute de domiacutenio da linguagem de
especialidade e o termo eacute seu objeto de uso
Eacute nesse contexto que a Terminologia direciona seu olhar ao fator social na anaacutelise
dos dados linguiacutesticos Com isso surge a Socioterminologia como um campo teoacuterico e
1 Haacute uma tendecircncia a convencionar que Terminologiagrafada com T maiuacutesculo eacute indicativa de campo de
conhecimento e com t minuacutesculo eacute referente ao conjunto de termos de uma especialidade (KRIEGER 2004)
16
aplicado que segundo Faulstich (1995) eacute uma releitura da terminologia tradicional que
incorpora aos estudos do termo o aparato social considerando nesse aspecto os fatores de
variaccedilatildeo linguiacutestica Gaudin (1993) tambeacutem edificou seus estudos terminoloacutegicos por meio de
outras aacutereas de conhecimento como a Sociolinguiacutestica e a Sociologia campos amplamente
estudados pela Socioterminologia que observa a dimensatildeo social na comunicaccedilatildeo
especializada sem estar separada dos discursos em que os termos emergem
O estudo do termo diante da perspectiva socioterminoloacutegica traz o registro e anaacutelise
das variantes da linguagem de especialidade De acordo com Faulstich (1995 p 285) ldquoo
princiacutepio subjacente da pesquisa socioterminoloacutegica eacute o registro da(s) variante(s) que leva em
conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico em que os termos circulam []rdquo
Em consideraccedilatildeo ao que foi explanado este trabalho tem o proacuteposito de verificar os
registros dos termos analisando e identificando os usos de domiacutenio dos mesmos sobre as
plantas medicinais que por conseguinte distinguem a comunidade de Pimenteiras Assim
selecionamos como objeto de estudo os termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
que foram catalogadas pelos moradores quilombolas quando criaram o projeto do
Bioenergeacutetico na regiatildeo Muitos dos termos alistados possuem nomenclatura diferenciada em
relaccedilatildeo aos usos comuns da liacutengua Essas particularidades vieram de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo com
o repasse dos saberes entre famiacutelias e amigos principalmente entre as mulheres Sob o prisma
dos pressupostos da Terminologia e da Socioterminologia daremos enfoque no processo de
constituiccedilatildeo do leacutexico semacircntico conceitual dos termos sobre as plantas medicinais de
Pimenteiras observando se este saber especializado sobre as plantas traz traccedilos da identidade
cultural dos moradores quilombolas
Por uma questatildeo didaacutetica nosso trabalho dissertativo foi organizado em cinco
capiacutetulos No primeiro capiacutetulo oferecemos uma visatildeo geral sobre o presente estudo a ser
direcionado para a anaacutelise dos dados registrados nessa dissertaccedilatildeo explicando alguns
conceitos baacutesicos que seratildeo fundamentais para situar a localidade os sujeitos envolvidos no
estudo dos termos relativos agrave comunidade e as plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras
No segundo capiacutetulo apresentamos os aspectos relacionados agrave comunidade de
Pimenteiras suas origens ndash quilombola e da comunidade ndash os remanescentes de Pimenteiras
a cultura religiosa ao lado de suas lutas pela terra Em seguida apresentaremos o trabalho
com o Bioenergeacutetico e o iniacutecio do processo de catalogaccedilatildeo dos termos analisando as relaccedilotildees
entre o saber e o conhecimento para a construccedilatildeo dos sujeitos de saberes Demarca-se
tambeacutem a presenccedila do gecircnero feminino preponderante nas relaccedilotildees com o conhecimento
17
tradicional nesse contexto representado por Domingas Alves do Nascimento como uma
grande personalidade na comunidade e responsaacutevel por buscar sempre ampliar os saberes que
possui sobre as plantas fazendo com que a comunidade de Pimenteiras tenha como identidade
cultural seus saberes preservados e utilizados entre as geraccedilotildees afrodescendentes
No terceiro capiacutetulo expomos a base teoacuterica deste trabalho ancorada nos estudos
Terminoloacutegicos e Socioterminoloacutegicos verificando assim questotildees sobre a importacircncia da
liacutengua na identidade cultural de um povo Em seguida reconhecemos o valor das plantas
medicinais para o conhecimento cientiacutefico e popular como tambeacutem nos aspectos relacionados
agraves ciecircncias do termo tais como a Terminologia e a Socioterminologia fundamentais para
compreendermos a importacircncia da terminologia nos estudos especializados da liacutengua assim
como o estudo do Termo como base para o estudo socioterminoloacutegico
No quarto capiacutetulo abordamos sobre os procedimentos utilizados na pesquisa de
campo na comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras apontando os objetivos
gerais e especiacuteficos do trabalho relatando sobre as entrevistas a catalogaccedilatildeo dos termos sobre
as plantas medicinais os recursos utilizados para o tratamento dos dados e em seguida o
organograma do conhecimento sobre a cultura das plantas medicinais
Todo o processo de estudo percorrido nesta dissertaccedilatildeo culminaraacute no quinto capiacutetulo
no qual apresentamos a anaacutelise Socioterminoloacutegica dos termos de Pimenteiras Nesse
capiacutetulo seguimos algumas etapas na anaacutelise do termo no contexto da variaccedilatildeo terminoloacutegica
observando a linguagem como representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras e os
aspectos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinais Mostramos como os
termos variam de acordo com as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos aleacutem de analisar
se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade medicinal verificando
por meio da definiccedilatildeo de cada termo sua descriccedilatildeo dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber
especializado
Diante das variaccedilotildees dos termos e portanto das diversas definiccedilotildees utilizamos no
processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Enilde Faulstich uma
amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees sobre os termos verificando o aspecto da
funcionalidade do termo dentro da linguagem especializada Com isso observamos que o
conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras eacute a marca de seus
antepassados sua identidade sua histoacuteria de sua linguagem especializada diante da
diversidade na natureza
A partir de agora iniciamos os estudos natildeo apenas dos termos sobre as plantas
medicinais mas sobretudo sobre a histoacuteria de um povo que busca viver e vencer as
18
dificuldades histoacutericas passadas entre as geraccedilotildees para que hoje seus registros sejam
marcados pelas conquistas alcanccediladas e as futuras
2 PIMENTEIRA2 OS SABERES NA IDENTIDADE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA
ldquoPodemos dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de
identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator
extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo em sirdquo
Michel Pollak (1992)
Desde os primeiros focos de resistecircncia dos africanos contra a escravidatildeo colonial os
estudos sobre os negros constitui assunto relevante principalmente na formaccedilatildeo de
comunidades afrodescendentes mais conhecidas como Quilombos3
No que diz respeito aos afrodescendentes4 a comunidade de Pimenteiras eacute uma das
muitas comunidades formadas por famiacutelias quilombolas os moradores da regiatildeo chegaram haacute
muito tempo da comunidade de Narciacutesea localizada na regiatildeo de Capitatildeo Poccedilo ndash PA
Pesquisas da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares5 apontam que o maior nuacutemero de
associaccedilotildees quilombolas se encontra nas regiotildees do Paraacute e Maranhatildeo chegando a cerca de
100 comunidades existentes nessas aacutereas Sabe-se que natildeo haacute comunidades em isolamento
total existe sempre uma relaccedilatildeo contiacutenua entre os sujeitos e com o meio em que vivem No
caso da comunidade de Pimenteiras isso natildeo eacute diferente proacuteximas agrave regiatildeo existem outras
comunidades que tambeacutem vivenciam a falta de recursos que possam melhorar a vida dos
moradores no campo As comunidades como Broca Piquiaacute Cantam Fuzil natildeo tecircm
2O termo Pimenteira no singular refere-se agraveterra em que vivem os moradores remanescentes de Quilombo
Pimenteiras no plural refere-se agrave comunidade Tabela sobre a comunidade no site
httpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501 3Quilombo eacute o nome dado no Brasil aos locais de refuacutegio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o
periacuteodo colonial e imperial Nesses locais os escravos passavam a viver em liberdade criando novas relaccedilotildees
sociais Muitos quilombos existiram no Brasil e centenas deles ainda existem formando o que hoje eacute chamado de comunidades quilombolas 4Afrodescendente eacute aquele que eacute ou que descende de famiacutelia ou indiviacuteduo vindo do negro africano 5A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares eacute uma entidade puacuteblica brasileira vinculada ao Ministeacuterio da Cultura A entidade
teve seu Estatuto aprovado pelo Decreto nordm 418 de 10 de janeiro de 1992 e tem como missatildeo os preceitos
constitucionais de reforccedilos agrave cidadania agrave identidade agrave accedilatildeo e agrave memoacuteria dos segmentos eacutetnicos dos grupos
formadores da sociedade brasileira aleacutem de fomentar o direito de acesso agrave cultura e agrave indispensaacutevel accedilatildeo do
Estado na preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees afro-brasileiras No artigo 1ordma Lei institui que se promova a
preservaccedilatildeo dos valores culturais sociais e econocircmicos decorrentes da influecircncia negra na formaccedilatildeo da
sociedade brasileira Preocupada com a igualdade racial e com a valorizaccedilatildeo das manifestaccedilotildees de matriz
africana a Palmares formula e implanta poliacuteticas puacuteblicas que potencializam a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra
brasileira nos processos de desenvolvimento do Paiacutes Foi o primeiro oacutergatildeo federal criado para promover a preservaccedilatildeo a proteccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo da cultura negra Pesquisa feita no dia 10012015 as 1155h no site
httpwwwpalmaresgovbr
19
moradores com descendecircncia quilombola mas assim como em Pimenteiras os moradores
natildeo permanecem ldquoestaacuteticosrdquo no tempo todos possuem caracteriacutesticas particulares que
distinguem suas identidades pois a vida eacute dinacircmica
O negro se mostra figura atuante isto estaacute presente nos estudos de Salles (1988 p 67
apud WAGLEY 1977 e GALVAtildeO 1955) que expotildee
Encontraram o negro solidaacuterio com o iacutendio nas vicissitudes sociais Natildeo importa se
negro autecircntico ou se iacutendio autecircntico O passaporte da autenticidade naquele
contexto jaacute havia perdido tocircda ou quase tocircda importacircncia Ambos despojados dos
seus padrotildees culturais quebrados definitivamente amalgamados numa nova cultura
resultante da fusatildeo de trecircs componentes eacutetnicos O processo de desenvolvimento
dessa cultura visto superficialmente eacute pouco acelerado Visto poreacutem em
profundidade mostra-se extremamente ativo Sobretudo no que diz respeito agraves convergecircncias culturais
Visualizando por este acircngulo a figura do negro observaremos no toacutepico seguinte as
origens e significados dos termos Quilombola e Remanescente para que possamos identificar
as marcas de um povo que lutou e alcanccedilou sua liberdade Em seguida verificaremos com
mais sagacidade os estudos de Vicente Salles e Ilka Boaventura Leite sobre o negro
observando sua histoacuteria suas conquistas e as influecircncias do negro no Paraacute e na comunidade
de Pimenteiras em particular
21 A ORIGEM DO TERMO QUILOMBOLA
Iniciamos este assunto com a pergunta que muitos ainda hoje fazem e nem todos
respondem ndash Quem satildeo os negros Entretanto de forma mais profunda responderemos agrave
seguinte pergunta ndash Quem satildeo os Quilombolas
Alguns autores constituem uma anaacutelise do termo e com isso explicam que a palavra
quilombo se refere a um tipo de instituiccedilatildeo sociopoliacutetica militar conhecida na Aacutefrica Central
principalmente na regiatildeo constituiacuteda pela atual Repuacuteblica Democraacutetica do Congo (Zaire) e
Angola conforme expotildee o professor Kabengele Munanga6 (1995) Para ele a expressatildeo
6 KabengeleMunanga eacute Graduado em Antropologia Cultural pela UniversiteacuteOfficielle Du Congo agrave Lubumbashi
(1969) e Doutorado em Ciecircncias Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de Satildeo Paulo (1977)
Atualmente eacute professor titular da Universidade de Satildeo Paulo Tem experiecircncia na aacuterea de Antropologia com ecircnfase em Antropologia das Populaccedilotildees Afro-Brasileiras atuando principalmente nos seguintes temas racismo
identidade identidade negra Aacutefrica e Brasil
20
quilombo vem de ldquoochilombordquo em um dialeto de Angola a professora Leite7 (2000) por sua
vez apresenta que sua etimologia significa ldquobantordquo e exprime ldquoacampamento guerreiro na
florestardquo e foi difundida no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios
decretos e atos visando referir-se agraves integraccedilotildees de apoio muacutetuo criadas pelos ldquorebeldesrdquo ao
sistema escravocrata e agraves suas reaccedilotildees lutas e organizaccedilotildees pelo fim da escravidatildeo no paiacutes
Natildeo obstante esta palavra significou libertaccedilatildeo e conquistas para os libertos alcanccedilando
amplas dimensotildees e conteuacutedos
No decorrer da histoacuteria diversas circunstacircncias envolvendo o negro demonstraram
grandes lutas contra os vaacuterios artifiacutecios de expropriaccedilatildeo de seus corpos bens e direitos Eacute
nesse contexto de servidatildeo do negro diante do homem branco que Salles (1988 p 203) expotildee
O processo tradicional da busca de liberdade consistiu invariavelmente na fuga para
os matos onde os negros se reuniam solidaacuterios entre si e formavam os quilombos
A fuga deve ter sido no comeccedilo soluccedilatildeo bastante difiacutecil e arriscada aleacutem de
empreitada individual Na floresta o negro se achava sozinho Agraves vezes conseguia
chegar a alguma aldeia indiacutegena e por sorte acabava vivendo amistosamente com
os silviacutecolas Bandeava-se desta forma para grupos totalmente estranhos e que com
ele soacute tinha um traccedilo comum o oacutedio ao branco dominador Haacute na crocircnica da
escravidatildeo muitos casos ilustrativos e que destroem o mito da incompatibilidade
eacutetnica
Os negros enfrentaram muitos questionamentos sobre a legitimidade de se acomodar
num lugar cujo espaccedilo pudesse ser organizado conforme suas condiccedilotildees valores e praacuteticas
culturais A repressatildeo ao negro fez com que ele fosse segregado das praacuteticas sociais Hoje esta
exclusatildeo estaacute demonstrada nos censos econocircmicos e nos mais recentes levantamentos
socioeconocircmicos realizados no paiacutes (HASENBALG SILVA 1988) Somente no Brasil apoacutes
a aboliccedilatildeo em 1888 os negros sofrem com a desqualificaccedilatildeo de sua cor sendo ignorados pelo
poder puacuteblico nos lugares em que habitam desprovidos das necessidades baacutesicas de todo ser
humano Eacute diante desta realidade que Leite (2000) expotildee que os descendentes de africanos
nos uacuteltimos vinte anos tecircm procurado se organizar em associaccedilotildees quilombolas
reivindicando o direito agrave permanecircncia e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas
e cultivadas para moradia e sustento da famiacutelia bem como o livre exerciacutecio de suas praacuteticas
crenccedilas e valores apreciados em sua especificidade Diante disto Leite (2000 p 335)
prossegue
7 Ilka Boaventura Leite eacute professora do Departamento e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Antropologia da
Universidade Federal de Santa Catarina fundadora e coordenadora do NUER (Nuacutecleo de Estudos de Identidades
e Relaccedilotildees Intereacutetnicas) Suas pesquisas estatildeo situadas nas aacutereas de teoria antropoloacutegica literatura de viagem
relaccedilotildees intereacutetnicas etnologia afro-brasileira arte e etnicidade Tem publicado artigos sobre literatura de viagens cultura e identidade negra quilombos direitos eacutetnicos poliacuteticas de identidade arte e diaacutespora africana
periacutecias antropoloacutegicas
21
Tudo isto se esclarece quando entra em cena a noccedilatildeo de quilombo como forma de
organizaccedilatildeo de luta de espaccedilo conquistado e mantido atraveacutes de geraccedilotildees O
quilombo entatildeo na atualidade significa para esta parcela da sociedade brasileira
sobretudo um direito a ser reconhecido e natildeo propriamente e apenas um passado a ser rememorado Inaugura uma espeacutecie de demanda ou nova pauta na poliacutetica
nacional afrodescendentes partidos poliacuteticos cientistas e militantes satildeo chamados a
definir o que vem a ser o quilombo e quem satildeo os quilombolas
O simples ato de apropriaccedilatildeo da terra para viver passou a significar um ato de luta e
guerra Assim pensar na questatildeo territorial faz discorrer tambeacutem na definiccedilatildeo sobre o termo
ldquoQuilombordquo ndash que reporta agrave visatildeo distorcida de negros fugitivos ndash e abordar as diferentes
situaccedilotildees que cobriram a existecircncia de Terras de Quilombos no Brasil Para isto Almeida
(1998 p 14) expotildee que eacute necessaacuterio que ldquonos libertemos da definiccedilatildeo arqueoloacutegica associada
ao termo Quilombordquo Segundo o autor as comunidades Quilombolas sempre estabeleceram
uma clara rede de interaccedilatildeo com as sociedades locais contestando o estereoacutetipo do isolamento
geograacutefico A qualidade e intensidade da interaccedilatildeo foi o que possibilitou a construccedilatildeo de uma
configuraccedilatildeo social cuja autonomia tinha tambeacutem suporte nessa dinacircmica de relaccedilotildees sociais
e nas formas de usar e ocupar a terra (ALMEIDA 1988 p 18)
Na conceituaccedilatildeo e significaccedilatildeo da palavra Quilombo Siqueira e Nascimento (1987)
apud Leite (1999 p 15) explicam que no Brasil a tradiccedilatildeo popular apresenta muitas
variaccedilotildees no significado da referida palavra
[] ora associado a um lugar (ldquoquilombo era um estabelecimento singularrdquo) ora a
um povo que vive neste lugar (ldquoas vaacuterias etnias que o compotildeemrdquo) ou a
manifestaccedilotildees populares (ldquofestas de ruardquo) ou ao local de uma praacutetica condenada
pela sociedade (ldquolugar puacuteblico onde se instala uma casa de prostitutasrdquo) ou a um
conflito (uma ldquogrande confusatildeordquo) ou a uma relaccedilatildeo social (ldquouma uniatildeordquo) ou ainda a um sistema econocircmico (ldquolocalizaccedilatildeo fronteiriccedila com relevo e condiccedilotildees climaacuteticas
comuns na maioria dos casosrdquo)
Para Leite (2000) a quantidade de significados faz com que o uso do termo
demonstre uma grande variedade de experiecircncias que generalizam o fenocircmeno enquanto
dimensatildeo poliacutetica de uma formaccedilatildeo social diversa em que evidenciam a persistecircncia das mais
diversas manifestaccedilotildees de resistecircncia e luta que os negros delinearam em toda a nossa
histoacuteria Eacute nesse contexto que Leite (2000 p 338) assim conclui
[] inicia-se a longa etapa de construccedilatildeo da identidade destes grupos seja pela
formalizaccedilatildeo da diferenciaccedilatildeo eacutetnico-cultural no acircmbito local regional e nacional
seja pela consolidaccedilatildeo de um tipo especiacutefico de segregaccedilatildeo social e residencial dos
negros chegando ateacute os dias atuais []
22
A variaccedilatildeo de significados para o termo quilombo traz a construccedilatildeo de um povo que
busca constantemente por seus direitos contudo o que significa o termo remanescente
Verificaremos no toacutepico seguinte especificamente as discussotildees em torno do significado da
palavra ldquoremanescesterdquo no contexto do negro
211 Remanescentes o que restou
No que concerne ao significado do termo remanescente a autora Leite (2000 p 9)
nos apresenta o seguinte contexto
A expressatildeo ldquoremanescente das comunidades de quilombosrdquo que emerge na
Assembleacuteia Constituinte de 1988 eacute tributaacuteria natildeo somente dos pleitos por tiacutetulos
fundiaacuterios mas de uma discussatildeo mais ampla travada nos movimentos negros e
entre parlamentares envolvidos com a luta anti-racista O quilombo eacute trazido
novamente ao debate para fazer frente a um tipo de reivindicaccedilatildeo que agrave eacutepoca alude
a uma ldquodiacutevidardquo que a naccedilatildeo brasileira teria para com os afro-brasileiros em
consequumlecircncia da escravidatildeo natildeo exclusivamente para falar em propriedade
fundiaacuteria
A expressatildeo ldquoremanescenterdquo surge como forma de reinvindicaccedilatildeo por uma eacutepoca em
que a naccedilatildeo brasileira teria certo dever com os afrodescendentes pela grande escravidatildeo e
sofrimento vivido no periacuteodo da aboliccedilatildeo contudo segundo os estudos de Leite (1996 p
341) o termo remete tambeacutem a algo em extinccedilatildeo que estaacute em processo de desaparecimento
Mas foi principalmente porque a expressatildeo natildeo correspondia agrave autodenominaccedilatildeo destes
mesmos grupos e por se tratar de uma identidade ainda a ser politicamente construiacuteda que
tantos questionamentos foram suscitados Eacute nesse impasse da significaccedilatildeo e nomeaccedilatildeo dos
remanescentes de quilombolas que Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia8 (ABA) convocada
pelo Ministeacuterio Puacuteblico reuniu em outubro de 1994 o Grupo de Trabalho sobre Comunidades
Negras Rurais e elaborou um conceito de ldquoremanescente de quilombordquo ficando assim
definido
8A Associaccedilatildeo Brasileira de Antropologia (ABA) eacute a mais antiga das associaccedilotildees cientiacuteficas existentes no paiacutes
na aacuterea das ciecircncias sociais ocupando hoje um papel de destaque na conduccedilatildeo de questotildees relacionadas agraves
poliacuteticas puacuteblicas referentes agrave educaccedilatildeo agrave accedilatildeo social e agrave defesa dos direitos humanos No decorrer de sua
histoacuteria ela tem sido voz atuante em defesa das minorias eacutetnicas dos discriminados e posicionando-se consistentemente contra a injusticcedila social Pesquisado em 11012015 as 2345h no site
httpwwwportalabantorgbrindexphpinstitucionalfeatures
23
[] contemporaneamente portanto o termo natildeo se referia a resiacuteduos arqueoloacutegicos de ocupaccedilatildeo temporal ou de comprovaccedilatildeo bioloacutegica Tratava-se de desfazer a ideacuteia
de isolamento e de populaccedilatildeo homogecircnea ou como decorrente de processos
insurrecionais O documento posicionava-se criticamente em relaccedilatildeo a uma visatildeo
estaacutetica do quilombo evidenciando seu aspecto contemporacircneo organizacional
relacional e dinacircmico bem como a variabilidade das experiecircncias capazes de serem
amplamente abarcadas pela ressemantizaccedilatildeo do quilombo na atualidade Ou seja
mais do que uma realidade inequiacutevoca o quilombo deveria ser pensado como um
conceito que abarca uma experiecircncia historicamente situada na formaccedilatildeo social
brasileira (LEITE 2000 p 341-342)
No que diz respeito aos direitos sobre a terra o Brasil em comparaccedilatildeo com outros
paiacuteses que claramente obtiveram conquistas poliacuteticas e territoriais talvez seja o uacutenico que natildeo
resolveu formalmente a questatildeo dos direitos territoriais das suas comunidades negras
tradicionais O direito agrave terra que as comunidades atribuem eacute vital pois a concepccedilatildeo da terra
enquanto territoacuterio socialmente ocupado eacute a chave para a vida desses grupos Sobre isso
Chagas (2001 p 228) informa que a aplicaccedilatildeo do direito constitucional se daacute tambeacutem
atraveacutes da titulaccedilatildeo dessas aacutereas
[] para estar em consonacircncia com a viabilizaccedilatildeo de um padratildeo de existecircncia que
seja compatiacutevel e que assegure a vida nos seus proacuteprios termos significaria menos
quantificar ou traccedilar meramente um espaccedilo fiacutesico esvaziado de seu sentido social e
mais justamente recuperar a ideacuteia de que estes espaccedilos sociais estatildeo qualificados e
atravessados por redes de relaccedilotildees que postas em curso garantem a proacutepria
permanecircncia do grupo neste territoacuterio
No trecho citado por Chagas (2001) eacute demonstrada a preocupaccedilatildeo no que se refere
aos remanescentes das comunidades dos quilombos que vecircm sofrendo com o processo de
reconhecimento dos direitos assegurados constitucionalmente nota-se o quanto eacute necessaacuterio
um diaacutelogo com as praacuteticas culturais de cada grupo envolvido auxiliando as comunidades no
autorreconhecimento das populaccedilotildees remanescentes de quilombola Eacute a busca pelo direito agrave
terra direito agrave vida no campo de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado
agrave margem da vida em sociedade
Completando este diaacutelogo com Marques (2004) confere-se que o modo de vida dos
povos do campo eacute entendido como uma configuraccedilatildeo bastante dinacircmica e que soacute pode ser
compreendida a partir de sua inserccedilatildeo na sociedade ndash que hoje inclui as relaccedilotildees sociais que
ocupam as comunidades camponesas na sociedade moderna capitalista ndash percebendo a relaccedilatildeo
entre tradiccedilatildeo e modernidade e qual lugar ocupam os povos de vidas tradicionais
Os quilombos reforccedilavam as lutas contra a escravidatildeo mostrando um tipo de
organizaccedilatildeo social mais justa cuja resistecircncia se manifestou de diversas formas entre greves
de fome violecircncia e fugas Segundo Freitas (1982 p 210) essas fugas mais organizadas e
coletivizadas deram origem ao Quilombo dos Palmares
24
O ldquoQuilombo dos Palmaresrdquo foi a manifestaccedilatildeo mais eloquente do discurso anti-
escravista dos negros brasileiros nos quase trecircs seacuteculos da escravidatildeo representando
um marco na resistecircncia negra A resoluccedilatildeo tomada na Serra da Barriga ldquode morrer
antes de aceitar a escravidatildeordquo demonstra a essecircncia da mensagem que os negros de Palmares deixaram Retomando a reflexatildeo hegeliana ldquoO Amo natildeo eacute Amo senatildeo
pelo fato de que possui um Escravo que o reconhece como talrdquo
Freitas (1982 p 43) explana que os escravos que se refugiavam em Palmares apoacutes
algum tempo escondidos nas serras deixaram de viver escondidos e reconquistaram sua
dignidade como seres humanos O autor prossegue expondo
Os escravos plantavam milho feijatildeo mandioca cana-de-accediluacutecar batata legumes Duas semanas antes do plantio preparavam o terreno com grandes queimadas A
preparaccedilatildeo das terras a semeadura e a colheita era realizada de maneira coletiva
Celebravam o teacutermino da colheita com uma semana inteira de festejos em que todos
folgavam danccedilavam comiam e bebiam Mantinham muitos pomares com uma
variedade de aacutervores frutiacuteferas (1982 p 45)
Durante minhas visitas agrave comunidade remanescente de quilombolas de Pimenteiras o
contato com os moradores levantou muitos questionamentos sobre o entendimento e
significaccedilatildeo do termo quilombola Os mais velhos guardam na memoacuteria recordaccedilotildees de um
periacuteodo no qual seus antepassados viveram e sofreram os accediloites do chicote da escravidatildeo os
adolescentes por sua vez vivem o embate entre aceitar ou natildeo a descendecircncia Aceitando
suas origens alcanccedilam direitos reservados aos negros como o direito de cotas nas
universidades jaacute nos momentos em que os sentimentos de exclusatildeo discriminaccedilatildeo e rejeiccedilatildeo
se tornam maiores nos espaccedilos sociais os mais jovens natildeo se veem e natildeo se orgulham de sua
origem afrodescendente
Na anaacutelise do contexto vivido na comunidade o sentimento que se faz presente nos
mais jovens eacute o fato de que ser homem negro significa ser excluiacutedo e discriminado pelos
colegas da escola Muitos relataram situaccedilotildees de desrespeito natildeo apenas pela cor da pele mas
pelo termo ldquoquilombolardquo A respeito da discriminaccedilatildeo racial sobre os quilombolas Leite
(2000 p 349) comenta que
O ato de aquilombar-se ou seja de organizar-se contra qualquer atitude ou sistema
opressivo passa a ser portanto nos dias atuais a chama reacesa para na condiccedilatildeo
contemporacircnea dar sentido estimular fortalecer a luta contra a discriminaccedilatildeo e seus
efeitos Vem agora iluminar uma parte do passado aquele que salta aos olhos pela
enfaacutetica referecircncia contida nas estatiacutesticas onde os negros satildeo a maioria dos socialmente excluiacutedos Quilombo vem a ser portanto o mote principal para se
discutir uma parte da cidadania negada
25
Diante das discussotildees feitas seguiremos abordando sobre os remanescentes de
quilombola da comunidade de Pimenteiras sua localizaccedilatildeo e os problemas sobre a titularidade
da terra que se tornou algo de extrema importacircncia aos moradores dessa regiatildeo
212 Os Remanescentes de Quilombolas de Pimenteiras
Eacute importante frisar que na atualidade a dimensatildeo de luta dos homens negros pela
liberdade foi muito importante para que a cultura afrodescendente se desenvolvesse com
maior fruiccedilatildeo Na Amazocircnia a presenccedila do negro eacute assunto desprezado em termos da
importacircncia insignificante que teria essa mesma presenccedila Segundo Salles (1988) a matildeo-de-
obra faacutecil era abundante e era a uacutenica que poderia mobilizar com sucesso imediato a matildeo-de-
obra dos iacutendios9
Nos estudos sobre a Amazocircnia Salles (1988) expotildee sobre a substituiccedilatildeo do iacutendio
pelo negro na lavoura que natildeo foi tatildeo necessaacuteria na regiatildeo como no restante do Brasil a
presenccedila insistente do iacutendio em muitos trabalhos com a terra deu ao negro a possibilidade de
influir profundamente na civilizaccedilatildeo brasileira criando um tipo de economia em que o
indiacutegena teve grande participaccedilatildeo (CHAMBOULEYRON 2006) No entanto os escritos do
autor natildeo abandonam a significaccedilatildeo do negro na Amazocircnia durante o regime da escravidatildeo o
negro deixou sua personalidade sua etnia e sua cultura na constituiccedilatildeo da economia agraacuteria
Diante disso discorrer sobre os quilombolas no cenaacuterio poliacutetico atual eacute conversar
sobre luta poliacutetica uma reflexatildeo cientiacutefica em processo de construccedilatildeo Hoje cerca de trecircs mil
comunidades quilombolas10
vivem natildeo apenas na Amazocircnia mas em todo o territoacuterio
9 Em tempos do descobrimento do Brasil a necessidade de braccedilos para cortar e transportar o pau-brasil para o
litoral fez com que os portugueses impusessem aos iacutendios o trabalho compulsoacuterio Em meados de 1550 a
decisatildeo de incrementar o traacutefico da Aacutefrica para o Brasil tornou a escravidatildeo do negro mais interessante e
econocircmica para a Coroa portuguesa Apesar de ter sido tatildeo forte e cruel a escravidatildeo do negro africano a
escravidatildeo do iacutendio teve pouco conhecimento e historicamente ficou em segundo lugar Pesquisa feita no dia
10022015 as 1001hs no site httpwwwklickeducacaocombrconteudopagina06313POR-1245-9282-00html 10Ateacute hoje natildeo haacute certeza sobre o nuacutemero de comunidades quilombolas existentes no Brasil mas estima-se que
haacute pelo menos trecircs mil em todo o territoacuterio nacional localizadas principalmente nos estados doAmazonas
Alagoas Amapaacute Bahia Cearaacute Maranhatildeo Minas Gerais Paraacute Pernambuco Tocantins e outros Os estados
brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades quilombolas satildeo a Bahia o Maranhatildeo Minas
Gerais e o Paraacute Segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial
(Seppir) e do Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) oacutergatildeos responsaacuteveis pela
identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos quilombolas
existem atualmente mais de setecentas comunidades oficialmente registradas pela Fundaccedilatildeo Palmares do
Ministeacuterio da Cultura e mais de duzentos processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em andamento envolvendo mais
de trezentas comunidades espalhadas por 24 estados brasileiros Retirado do texto de GASPAR Luacutecia Quilombolas Pesquisa Escolar Online Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Recife Disponiacutevel em
lthttpbasiliofundajgovbrpesquisaescolargt Acesso em 15022015 as 1230hs
26
nacional no entanto muitas terras natildeo possuem ainda o reconhecimento devido No estado do
Paraacute segundo dados pesquisados satildeo reconhecidas duzentos e quarenta (240)11
comunidades
remanescentes de Quilombo
As conquistas para alcanccedilar o direito pela titulaccedilatildeo de terra de quilombo vecircm do
cumprimento do Artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias da Constituiccedilatildeo Federal12
cuja redaccedilatildeo expotildee o seguinte ldquoAos remanescentes das comunidades de quilombos que
estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir
lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)
Com a instituiccedilatildeo deste Leopoldo e Morais (2005 p 3) explanam em seu artigo
sobre territorialidade que muitas lutas e manifestaccedilotildees poliacuteticas tecircm apoiado ou desprovido as
comunidades quilombolas do seu direito agrave terra Leopoldo e Morais (2005 p 1) ressaltam que
ldquoos criteacuterios adotados para o reconhecimento das comunidades quilombolas tecircm sido alvo de
constantes criacuteticas entre esses diferentes atoresrdquo Embora pareccedila pertinente equiparar a
questatildeo do direito agraves terras de quilombos com as terras indiacutegenas ambas satildeo semelhantes
apenas quanto aos desafios e embates jaacute visiacuteveis na questatildeo da identificaccedilatildeo e na definiccedilatildeo
dos sujeitos de direito
No diagrama da fronteira eacutetnico-cultural o Brasil esteve sempre marcado pela
preservaccedilatildeo do territoacuterio invadido e ocupado por inuacutemeros conflitos de terra que remontam
aos dias atuais13
Natildeo muito distante de uma realidade de lutas pelos direitos dos negros os
moradores remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras lutam haacute muito
tempo pelo reconhecimento da terra Localizada na regiatildeo rural da cidade de Santa Luzia do
Paraacute14
a comunidade fica situada em local de difiacutecil acesso situaccedilatildeo que piora muito nos
periacuteodos de chuva causando transtornos aos moradores que veem limitadas suas
necessidades humanas baacutesicas
Vejamos abaixo o mapa da Regiatildeo do Guamaacute onde fica localizada a cidade de Santa
Luzia do Paraacute Rodeada por outras cidades como Capanema Oureacutem Capitatildeo Poccedilo Garrafatildeo
do Norte Cachoeira do Piriaacute Nova Esperanccedila do Piriaacute e tambeacutem Terras Indiacutegenas ocupadas
pelos iacutendios Tembeacute a comunidade de Pimenteiras fica no centro da regiatildeo da cidade de Santa
Luzia do Paraacute como mostra a figura
11 Disponiacutevel em httpwwwcpisporgbrcomunidadeshtmli_brasil_pahtml Pesquisado dia 01052013 as
1933 h 12 Pesquisa no site wwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaohtm em 16122014 as 1633hs 13 Atualmente destaca-se a luta do MST ndash Movimento dos Sem Terra no Brasil ndash que constitui um dos maiores
movimentos sociais do paiacutes com 15 anos de existecircncia nos 23 estados da federaccedilatildeo Maiores informaccedilotildees
consultar o site httpwwwmstorgbr 14Santa Luzia do Paraacute eacute uma cidade brasileira localizada no estado do Paraacute na microrregiatildeo do Guamaacute e na
mesorregiatildeo do Nordeste Paraense
27
Mapa 01 ndash Regiatildeo do Guamaacute Cidade de Santa Luzia do Paraacute Comunidade de Pimenteiras
Fonte IBGE15
Com relaccedilatildeo agrave titularidade da terra como Quilombola o processo continua em
tracircmite nos oacutergatildeos responsaacuteveis Os moradores da comunidade de Pimenteiras vivem agrave espera
da validaccedilatildeo do processo de identificaccedilatildeo e reconhecimento de suas origens valorizaccedilatildeo de
sua cultura e direito ao territoacuterio quilombola Segundo relatos dos moradores um dos motivos
para o impasse no processo seria a presenccedila de pecuaristas e agricultores natildeo remanescentes
de quilombo que vivem na regiatildeo e cultivam nas terras Estas pessoas devem ser indenizadas
pelos espaccedilos de terra que possuem a fim de que o direito dos quilombos tenha garantia de
integralidade das terras Logo a seguir encontram-se as informaccedilotildees de forma resumida sobre
o andamento do pedido de reconhecimento da terra em Pimenteiras
Tabela 1 ndash Titulaccedilatildeo da terra da comunidade de Pimenteiras
FICHA RESUMO DO TERRITOacuteRIO
Nome da Terra Pimenteira
Nome da(s) Comunidade(s) Pimenteiras
Municiacutepio Santa Luzia do Paraacute
Unidade da Federaccedilatildeo Paraacute
Populaccedilatildeo 24 famiacutelias
Dimensatildeo Territorial -
Etapa do processo de titulaccedilatildeo Certidatildeo Fundaccedilatildeo Cultural Palmares
Superintendecircncia Responsaacutevel SR 01 Paraacute
Data da Uacuteltima Atualizaccedilatildeo 30052014
Fonte Comissatildeo Proacute-iacutendio de Satildeo Paulo16
15 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150655ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completas
28
Os moradores da comunidade de Pimenteiras sofrem com o processo de
reconhecimento de seus direitos que satildeo assegurados constitucionalmente Para eles
reconhecer a terra eacute importante pois reconhece a existecircncia de uma populaccedilatildeo remanescente
quilombola de um grupo eacutetnico racial que por anos foi explorado e deixado agrave margem da vida
em sociedade que busca mais do que o direito agrave terra busca o direito agrave vida no campo
Conhecer a cultura de um povo faz com que ele seja reconhecido e valorizado por
suas caracteriacutesticas em particular Diante disso conheceremos no toacutepico seguinte um pouco
da histoacuteria da comunidade de Pimenteiras aleacutem de sua tradicional manifestaccedilatildeo cultural que
eacute a Ladainha a Nossa Senhora do Livramento uma cerimocircnia em agradecimento pelas preces
atendidas do povo daquela comunidade
22 COMUNIDADE DE PIMENTEIRAS AS RAIacuteZES DE UM POVO
Nos encontros ocorridos na comunidade de Pimenteiras nos deparamos com alguns
moradores que haacute pouco tempo natildeo conheciam sua descendecircncia negra e tampouco os
significados que cercam o termo Quilombola Por meio das histoacuterias transmitidas de seus
antepassados e de pesquisadores envolvidos com o Centro de Estudos e Defesa do Negro do
Paraacute (CEDENPA)17
os moradores passaram a se reconhecer como remanescentes de
quilombo de forma orgulhosa no entanto confusos Isto se deve ao fato de que a comunidade
de Pimenteiras vive hoje com o estigma de seus ancestrais escravizados e sem entender seus
reais valores culturais e histoacutericos
Nesse acircmbito Leite (2000 p 339) levanta um questionamento significativo sobre o
termo quilombola Ela explica que
Desde os anos 30 algumas vozes militantes18
defendem fortemente a ideacuteia de
reparaccedilatildeo da aboliccedilatildeo como ldquoum processo inacabadordquo e da ldquodiacutevidardquo em dois
16Disponiacutevel emlthttpwwwcpisporgbrterrasaspficha_territorioaspxterra=iampTerraID=2501gt
17O CEDENPA eacute uma Entidade sem fins lucrativos sem viacutenculos poliacutetico-partidaacuterios fundada em 10 de agosto
de 1980 e legalizada em 27 de abril de 1982 que a partir do Estado do Paraacute vem contribuindo no processo de superaccedilatildeo do racismo preconceito e discriminaccedilatildeo que produzem a desigualdades soacutecio raciais de gecircnero e
outras prejudicando sobretudo a populaccedilatildeo negra e indiacutegena em todos os aspectos da sociedade brasileira
Pesquisado em 22062015 as 955hs no site httpwwwcedenpaorgbr
18 Abdias do Nascimento atual senador da Repuacuteblica reescreve suas teses na deacutecada de 80 defendidas desde os
anos 30 quando inicia sua militacircncia O seu quilombismo reivindica uma memoacuteria anterior ao traacutefico e agrave
escravizaccedilatildeo dos africanos Escreve ldquoo quilombismo busca no presente e no futuro e atua por um mundo melhor para os africanos nas Ameacutericasrdquo Resume suas teses do quilombismo em 16 itens O primeiro deles define o
quilombismo como um movimento poliacutetico dos negros brasileiros visando a implantaccedilatildeo de um Estado Nacional
29
planos a herdada dos antigos senhores e a marca que ficou em forma de estigma seus efeitos simboacutelicos geradores de novas situaccedilotildees de exclusatildeo A exclusatildeo como
fato e como siacutembolo Os militantes procuram ver o conceito de quilombo como um
elemento aglutinador capaz de expressar de nortear aquelas pautas consideradas
cruciais agrave mudanccedila de dar sustentaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo da identidade negra ainda
fragmentada pelo modelo de desenvolvimento do Brasil apoacutes a aboliccedilatildeo da
escravatura
O contato com os moradores nos fez refletir sobre os diversos questionamentos a
respeito do entendimento e significaccedilatildeo que as pessoas da regiatildeo tinham sobre a palavra
quilombola Os adolescentes com o conhecimento adquirido na escola relataram que ser
quilombola significava ser negro mas alguns natildeo se consideravam quilombolas porque a pele
natildeo era tatildeo escura Ao refletir sobre isto percebemos que o sentimento presente nos mais
jovens eacute de exclusatildeo ser homem negro significa ser excluiacutedo discriminado e rejeitado pelos
colegas da escola Esse mesmo sentimento ocorre com o termo quilombola que traz para o
contexto atual as marcas de uma eacutepoca de escravidatildeo e de maus tratos contra pessoas de pele
escura Para muitos o sentimento com relaccedilatildeo ao nome Quilombola traz um significado
doloroso Nesse ponto Leite (2000 p 342) salienta
Enquanto uma expressatildeo da identidade grupal o significante ldquonegrordquo vai somando
em seu percurso tudo aquilo que adveacutem de tal experiecircncia ou seja elementos de
inclusatildeo (que mantecircm o grupo unido em estrateacutegias de solidariedade e
reciprocidade) e tambeacutem de segregaccedilatildeo (ou seja a desqualificaccedilatildeo a depreciaccedilatildeo e
a estereotipia) Os sentidos do termo e as experiecircncias nele circunscritas revelam sua ambiguidade por um lado a marginalizaccedilatildeo por outro a forccedila simboacutelica
demonstrada no seu persistente poder aglutinador vindo a configurar ou expressar
uma identidade social e a nortear inclusive poliacuteticas de grupos
De outro modo o conceito negativo sobre a etnia quilombola perpassa tambeacutem pelos
moradores de Pimenteiras que possuem um vasto conhecimento sobre os espaccedilos que
ocupam na regiatildeo com sua rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias geraccedilotildees Os saberes
sobre a natureza satildeo de extrema importacircncia para as diversas aacutereas da ciecircncia conferindo na
forma pela qual pensam classificam e utilizam seus recursos
Contudo o acesso agrave comunidade eacute difiacutecil a uacutenica estrada existente para chegar agrave
comunidade natildeo eacute asfaltada e no trajeto visualizam-se diversas fazendas com gado campos
abertos depois mata fechada com grandes serras que ladeiam a comunidade Durante a
viagem satildeo percorridos aproximadamente 30 quilocircmetros em relevo bastante acidentado
Quilombista inspirado no modelo da Repuacuteblica de Palmares no seacuteculo XVI e em outros quilombos que
existiram e ainda existem Esclarece que natildeo se trata de um modelo segregacionista mas de um movimento que
advoga o poder poliacutetico realmente democraacutetico que implica a presenccedila da maioria afro-brasileira em todos os
niacuteveis desse poder Veja-se Nascimento (1991 21-26 apud Leite 2000 p339 a 340)
30
Ao chegar agrave comunidade percebi que a presenccedila mais forte eacute da natureza na sua
biodiversidade e das terras utilizadas para o cultivo da mandioca feijatildeo e pimenta Existe
tambeacutem o plantio de Murumuru19
cuja produccedilatildeo ocorre devido ao interesse da empresa
Natura20
pela compra do fruto
A comunidade de Pimenteiras possui uma relaccedilatildeo natildeo somente com os
conhecimentos agriacutecolas e o cultivo de plantas mas tambeacutem com os recursos naturais que
estatildeo ligados a estes levando em consideraccedilatildeo as informaccedilotildees sobre a natureza e os valores
de sua cultura e tradiccedilatildeo local A comunidade em estudo tem na mata fechada sua principal
fonte de recursos naturais A variedade de espeacutecies vegetais eacute muito grande ocasionando uma
afinidade dos moradores com a natureza de forma muito forte e antiga
Eacute nesse encontro entre os moradores quilombolas e a natureza que muitos saberes
culturais locais foram e satildeo desenvolvidos sem quaisquer recursos tecnoloacutegicos ou
assistecircncia Esta eacute uma das caracteriacutesticas que marcam a comunidade identificando e
classificando o ambiente em que vivem Eacute uma maneira de auto identificaccedilatildeo e auto definiccedilatildeo
da proacutepria comunidade enquanto grupo social particular que produz saberes sobre a natureza
forjando de maneira inconsciente sua identidade cultural
Mas como se originou a comunidade e o nome Pimenteira Durante as visitas feitas agrave
comunidade as histoacuterias que os moradores contam eacute que haacute muito tempo o pai de Domingas
o senhor Raimundo Cordeiro dos Santos queria fazer as preparaccedilotildees de pais e padrinhos21
para o batizado de uma crianccedila Como na comunidade natildeo havia igreja ou qualquer
representaccedilatildeo religiosa que pudesse ajudar na preparaccedilatildeo ele foi ateacute outra comunidade
chamada Fuzil para falar com o padre chamado Zeacute Doca Devido agrave distacircncia o senhor saiacutea
agraves 2h da madrugada e chegava ao local agraves 5h O padre observando as dificuldades propocircs
que algueacutem da comunidade com certo grau de conhecimento pudesse fazer os ensinamentos
aos moradores
No dia da celebraccedilatildeo do batismo o padre foi ateacute a casa do senhor para batizar a
crianccedila e orientar os moradores a iniciarem as celebraccedilotildees e construir um locar onde
pudessem rezar Assim haacute cerca de 40 anos uma igreja foi construiacuteda no local e os
19 Originaacuterio da Regiatildeo Amazocircnica Ele cresce espontaneamente nas matas do Paraacute Eacute encontrado ao longo dos
rios e em aacutereas inundadas em formaccedilotildees florestais densas ou semiabertas O fruto eacute um coco de coloraccedilatildeo
avermelhada Seu caroccedilo encerra uma amecircndoa dura que fica envolta por uma polpa amarelada comestiacutevel e
levemente adocicada O oacuteleo extraiacutedo da semente de murumuru possui propriedades altamente emolientes 20A Natura eacute um empresa brasileira que trabalha no setor de higiene pessoal perfumaria e cosmeacuteticos e tambeacutem
no segmento da venda direta dos produtos 21 O encontro de preparaccedilatildeo dos pais e padrinhos deve ser uma autecircntica obra de evangelizaccedilatildeo tendo por meta anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para proporcionar o encontro pessoal com Cristo na Comunidade Esses
satildeo preceitos da Igreja Catoacutelica relatados pelo Paacuteroco Elias de Santa Luzia do Paraacute
31
moradores passaram a receber visitas do sacerdote mecircs a mecircs A presenccedila religiosa fez com
que a comunidade de Pimenteiras fosse visualizada e tivesse entatildeo sua origem
Com relaccedilatildeo ao nome Pimenteira o termo surgiu de histoacuterias contadas pelos avocircs do
pai de Domingas trilhando pelos rios e matas da regiatildeo da Narciacutesea eles saiacuteam em busca de
caccedila e pesca formando os ranchos22
na beira do rio Guamaacute Nessas viagens levavam alguns
mantimentos necessaacuterios por passarem muitos dias caccedilando Dentre os alimentos levados a
pimenta natildeo podia faltar Quando retornavam deixavam agrave beira do rio as sementes da
pimenta que traziam elas brotavam e cresciam quando voltavam ao mesmo local de pesca
tinham como referecircncia o peacute de pimenta Assim comeccedilaram a chamar o local de ldquoigarapeacute da
pimentardquo (informaccedilatildeo verbal)23
que com o tempo passou a ser local de moradia para essas
pessoas vindas da Narciacutesea Surgiu assim o nome Pimenteira que deu origem agrave comunidade
remanescente de quilombola
Eacute diante dessa relaccedilatildeo com a natureza que os moradores quilombolas vivem e
reproduzem anualmente o evento cultural ldquoLadainha a Nossa Senhora do Livramentordquo como
ato de feacute agradecimento e preservaccedilatildeo dos fazeres de seus antepassados Eacute o que veremos no
toacutepico seguinte no qual esse momento cultural da comunidade de Pimenteiras seraacute abordado
com maiores detalhes
221 Ladainha a Nossa Senhora do Livramento
Em comemoraccedilatildeo ao ldquoDia da Consciecircncia Negra24
rdquo 20 de novembro os moradores
de Pimenteiras iniciaram um processo de valorizaccedilatildeo e rememoraccedilatildeo de suas crenccedilas
religiosas Segundo relatos dos mais antigos a celebraccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento
veio antes da existecircncia da comunidade de Pimenteiras Nas histoacuterias contadas pela moradora
Domingas tudo comeccedilou com sua avoacute materna a senhora Joana Pornusena dos Santos (in
memoacuteria) que acompanhando o marido no roccedilado presenciou a existecircncia de muitos
perigos O avocirc de Domingas trabalhando na terra solicitou em oraccedilatildeo agrave Senhora do
22 Rancho era o termo popular usado para designar a toca que eles faziam na beira do rio 23A histoacuteria sobre a origem do nome Pimenteira veio dos relatos informais da moradora DomingasTais histoacuterias
natildeo puderam ser transcritas a pedido da moradora 24
O Dia da Consciecircncia Negra eacute uma data celebrada no Brasil no dia 20 de novembro Este dia estaacute incluiacutedo na
semana da Consciecircncia Negra e tem como objetivo um reflexatildeo sobre a introduccedilatildeo dos negros na sociedade
brasileira O dia 20 de novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares data na qual morreu lutando pela liberdade do seu povo no Brasil Pesquisado no site httpwwwsignificadoscombrdia-
da-consciencia-negra
32
Livramento que o protegesse e tambeacutem sua famiacutelia dos acidentes e da morte que aconteciam
no roccedilado Como forma de agradecimento pela graccedila alcanccedilada ao final dos trabalhos com a
terra o avocirc prometeu que celebraria uma cerimocircnia religiosa em homenagem agrave Santa Este
gesto de agradecimento se perpetuou entre as geraccedilotildees e hoje a Ladainha continua preservada
nas matildeos da moradora Domingas
Passada entre as geraccedilotildees da famiacutelia de Domingas a Ladainha possui forte relaccedilatildeo
com o saber das plantas medicinais As flores colocadas sobre altar ou as plantas com cheiro
agradaacutevel usadas durante a cerimocircnia consideradas bentas eram guardadas para serem
utilizadas na forma de chaacutes para a cura das doenccedilas Na Ladainha plantas como manjericatildeo
catinga de mulata canela e hortelatilde satildeo empregadas na cerimocircnia com aacutegua para as pessoas se
benzerem Este ritual natildeo ocorria na eacutepoca da avoacute de Domingas Nas primeiras cerimocircnias a
Ladainha era comemorada com o canto em latim Adolfo era o nome da pessoa que entoava a
oraccedilatildeo sem o uso de livros
Com o passar dos anos ocorreram mudanccedilas como forma de atrair os jovens para a
celebraccedilatildeo Isto fez com que aleacutem da Ladainha do almoccedilo e da presenccedila da imagem da
Senhora do Livramento fosse incluiacuteda uma procissatildeo pela comunidade com o uso de fitas em
volta da imagem o uso da aacutegua com as plantas aromaacuteticas e uma festa como forma da
juventude participar na celebraccedilatildeo Outro aspecto importante que mudou nesses anos foi a
substituiccedilatildeo do canto em latim pela oraccedilatildeo encontrada no livro do Catecismo da Igreja
Catoacutelica que conteacutem a Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento Isto se deve ao fato de que os
jovens natildeo tiveram interesse de aprender a Ladainha em latim No entanto esta possui grande
significaccedilatildeo para a comunidade pois representa a feacute sendo renovada a cada ano Eacute o momento
em que os moradores contam suas histoacuterias e reencontram outras comunidades tambeacutem de
remanescentes de quilombolas eacute o momento em que a comunidade de Pimenteiras eacute
valorizada pela cultura e pelos saberes tradicionais das plantas
Vejamos abaixo algumas imagens da celebraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento
que ocorre anualmente na comunidade de Pimenteiras as quais exibem uma forma de
agradecimento e comemoraccedilatildeo pelas colheitas alcanccediladas durante o ano
33
Fotografia 01 ndash Iniacutecio da cerimocircnia na casa do morador mais antigo da comunidade
Fonte Dados da pesquisa 2014
Ano apoacutes ano todos os moradores se reuacutenem numa grande festa cultural e religiosa
que traz consigo as lutas de um povo que trabalha a terra e marcam profundamente a
identidade da comunidade A data foi escolhida como forma de memorizar as grandes lutas jaacute
vividas pelos negros em prol da liberdade e dos direitos dos afrodescendentes
Fotografia 02 ndash Procissatildeo pela comunidade de Pimenteiras
Fonte Dados da pesquisa 2014
34
Em comemoraccedilatildeo ao Dia da Consciecircncia Negra outras comunidades quilombolas
satildeo convidadas e prestigiam a comunidade e a Santa reverenciada A comunidade de
Pimenteiras eacute tambeacutem muito conhecida pelo festejo agrave Senhora do Livramento alimentos e
muacutesicas satildeo oferecidos durante o dia e a noite a todos que vecircm para comemorar a data tatildeo
significativa ao povo quilombola
Fotografia 03 ndash Imagem coberta de fitas coloridas pelas graccedilas alcanccediladas
FonteDados da pesquisa 2014
35
Fotografia 04 ndash Devoccedilatildeo e Feacute renovada
FonteDados da pesquisa 2014
O povo quilombola eacute um povo alegre que gosta de muacutesica e de danccedila O canto estaacute
sempre presente em seu cotidiano e nas festas da comunidade A cerimocircnia relata a vida as
lutas e a esperanccedila de melhorias para os moradores Eacute atraveacutes da religiosidade que
demonstram todo cuidado e respeito pela terra Na Ladainha a presenccedila da feacute catoacutelica vem
misturada com a forccedila dos tambores e das cordas dos violotildees Eacute nesse conjunto de
movimentos que as histoacuterias de luta de um povo satildeo recontadas sobre a terra a produccedilatildeo
agriacutecola e a identidade dos moradores que transcorrem no festejo
36
Fotografia 05 ndash Resultado da colheita em oferenda
Fonte Dados da pesquisa2014
A festa tradicional eacute resultado de influecircncias negras indiacutegenas e catoacutelicas A
comunidade corteja a Santa do Livramento e as riquezas obtidas durante o ano A fartura estaacute
simbolizada nas oferendas apresentadas durante a celebraccedilatildeo quando satildeo colocados diversos
produtos cultivados na regiatildeo O ritual festivo entrecruza e atravessa ritmos vozes e jogos em
um sistema de imagens da festa popular no qual fim e recomeccedilo dialogam em um estado
coletivo de alegria A festa eacute a passagem do tempo demarcada pela colheita que tem uma
funccedilatildeo renovadora
Durante a cerimocircnia a senhora Libacircnia dos Santos Cunha eacute quem reza e conduz o
cortejo Considerada mais importante que o padre a senhora vem de outra comunidade mas
seu comando direciona o canto da Ladainha A atividade religiosa marca a passagem de
tempo do cultivo da terra significando a oportunidade de reunir pessoas de diversas
comunidades conjugando feacute alegria poliacutetica e reencontros entre familiares e amigos
Enquanto comungam os festejos os moradores discutem tambeacutem o futuro da comunidade
A festa popular eacute demorada e marcada por uma sucessiva e deliciosa comilanccedila
divulgando a abundacircncia e a fartura no ano que passou A celebraccedilatildeo eacute o momento no qual
evocam o poder dos mais velhos legitimam as famiacutelias abrem espaccedilo para os mais novos e
transmitem experiecircncias profundas
37
Fotografia 06 ndash Becircnccedilatildeos com aacuteguas e plantas aromaacuteticas
Fonte Dados da pesquisa 2014
Os antepassados satildeo lembrados nas praacuteticas cotidianas a famiacutelia eacute evocada na
presenccedila importante da mulher que simboliza o papel de geradora O papel feminino nas
questotildees poliacuteticas reforccedila essa ideia a senhora Domingas direciona junto a outras mulheres
todo o ritual a Nossa Senhora do Livramento aleacutem dos cuidados com a comida e de
participaccedilatildeo nas questotildees poliacuteticas da comunidade
Fotografia 07 ndash Nossa Senhora do Livramento
Fonte Dados da pesquisa 2014
38
Vinda de origem portuguesa a devoccedilatildeo a Nossa Senhora do Livramento surgiu de
uma graccedila alcanccedilada haacute cerca de 50 anos por um agricultor quilombola que invocou o
livramento de todo o mal durante os trabalhos na lavoura A promessa eacute renovada todos os
anos com uma homenagem agrave Santa Tal culto foi tomado e seguido por todos os moradores da
comunidade e hoje comemoram a feacute por meio da graccedila alcanccedilada Logo abaixo segue um
trecho da Ladainha utilizada na celebraccedilatildeo agrave Senhora do Livramento na comunidade de
Pimenteiras A oraccedilatildeo completa se encontra no apecircndice ao final deste trabalho
Ladainha a Nossa Senhora do Livramento (fragmento)
Nossa Senhora do Livramento
Matildee de Deus nossa Matildee
e padroeira de nossa Paroacutequia
Com o olhar confiante vos contemplamos
Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos
Dirigimo-nos a voacutes como filhos
porque necessitamos do vosso auxiacutelio
Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados
apoiados e guiados pela matildeo materna
Renovai-nos espiritualmente
para que saibamos enxergar a vida mais bela
Levantai-nos para caminhar sem medo
nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo
para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna
[]
Nossa Senhora do Livramento
Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da alma
[]
Rogai por noacutes santa Matildee de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos
perpeacutetua sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-
aventurada sempre Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da
eterna alegria Por Cristo Nosso Senhor Ameacutem
Apoacutes verificarmos um pouco da cultura religiosa dos remanescentes de quilombola
de Pimenteira abordaremos no toacutepico seguinte as lutas que os moradores vivenciam e as
muitas conquistas alcanccediladas apoacutes a criaccedilatildeo e fundaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Quilombola dos
Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP)
39
222 AQUAFAP o desenvolvimento e valorizaccedilatildeo da comunidade quilombola nos
saberes das plantas medicinais
Sabendo que uma associaccedilatildeo25
eacute uma iniciativa formal ou informal que reuacutene
pessoas fiacutesicas ou outras sociedades legais com objetivos comuns que visam superar as
dificuldades e gerar benefiacutecios para os seus membros a Associaccedilatildeo Quilombola dos
Agricultores Familiares da Pimenteira (AQUAFAP) foi criada pelos moradores da
comunidade no intuito de legalizar e alcanccedilar seus projetos De forma geral qualquer que seja
o tipo ou os objetivos para sua criaccedilatildeo pode-se dizer que a associaccedilatildeo eacute uma forma de
legalizar a uniatildeo de pessoas em torno de seus interesses e que sua constituiccedilatildeo permite
alcanccedilar condiccedilotildees melhores do que os indiviacuteduos teriam isoladamente para a realizaccedilatildeo dos
seus planos Assim toda associaccedilatildeo eacute a forma mais baacutesica para se organizar juridicamente um
grupo de pessoas para a concretizaccedilatildeo de desiacutegnios comuns Seus princiacutepios enquadram-se na
doutrina de que juntos podemos encontrar soluccedilotildees melhores para os conflitos que a vida em
sociedade nos apresenta
Pensando nisso os moradores remanescentes de quilombo conheceram sonharam e
concretizaram o plano de fundar uma entidade que representasse e conseguisse alcanccedilar seus
objetivos de melhoria de vida diante das muitas dificuldades enfrentadas na comunidade ante
o descaso dos governos Historicamente os quilombolas satildeo um grupo que juntos
conseguiram a tatildeo aspirada liberdade hoje essa luta continua na busca de direitos negados no
contexto histoacuterico como se pode conferir a respeito
Quilombo natildeo significou apenas um lugar de refuacutegio de escravos fugidos mas a
organizaccedilatildeo de uma sociedade livre formada de ldquohomens e mulheres que se recusavam viver sob o regime da escravidatildeo e desenvolviam accedilotildees de rebeldia e de
luta contra esse sistemardquo (MUNANGA GOMES 2006)
Considerada como berccedilo dos remanescentes de quilombolas a comunidade Narciacutesea
possui grande nuacutemero de pessoas descendentes de negros Nos relatos contados pela moradora
Domingas sua matildee dona Otiacutelia veio da Narciacutesea muito tempo atraacutes em busca de terras para
o cultivo Apoacutes muitas viagens dona Otiacutelia junto de sua famiacutelia decidiu criar raiacutezes na regiatildeo
25 O significado do termo foi refletido sobre pesquisa feita no site httpwwwasaescorgindexphpa-
associacaoo-que-e-uma-associacao
40
da Pimenteira Depois de sua instalaccedilatildeo representantes do CEDENPA e do MALUNGU26
vieram da Narciacutesea para saber os motivos que levaram a senhora a se mudar da regiatildeo
Segundo relatos os motivos foram o fato de casar e desejar trabalhar na terra para viver
melhor Sabe-se que
Muitas comunidades foram formadas apoacutes a promulgaccedilatildeo da Lei Aacuteurea que
extinguiu a escravidatildeo por uma forte razatildeo era a uacutenica possibilidade do negro
viver em liberdade em um espaccedilo onde sua cultura natildeo era desprezada sendo
possiacutevel por isso preservar a dignidade (MUNANGA GOMES 2006)
Muitas pessoas ajudaram os moradores da comunidade de Pimenteiras a conhecer
suas origens Foi com dona Otiacutelia que souberam da remanescecircncia de quilombo jaacute com o
padre Rafael27
os moradores desenvolveram projetos via Pastoral da Igreja mas foi com o
senhor e professor Cardoso28
que os moradores conheceram o que era uma associaccedilatildeo e quais
seus benefiacutecios Orientados por este senhor alguns moradores conseguiram adquirir
documentos de identificaccedilatildeo que natildeo possuiacuteam aleacutem disso foram orientados a fundar uma
associaccedilatildeo quilombola para conseguir melhorias para a comunidade Com a ajuda da senhora
Nazareacute29
os documentos e atas da associaccedilatildeo foram registrados e legalizados
Atraveacutes da legalizaccedilatildeo da associaccedilatildeo os moradores deram iniacutecio agrave titularidade da
terra Representantes do CEDENPA MALUNGU e INCRA visitaram diversas vezes a
comunidade com entrevistas e a verificaccedilatildeo das limitaccedilotildees de terra para o processo de
titularidade Hoje o processo continua em andamento devido aos muitos impasses na regiatildeo
como por exemplo a presenccedila de agricultores natildeo quilombolas com terra na comunidade de
Pimenteiras
Passadas quase duas deacutecadas da publicaccedilatildeo do artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal de
1988 e quatro anos da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 48872003 que regulamenta o
processo de identificaccedilatildeo reconhecimento demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombolas atualmente a luta
continua nos acircmbitos juriacutedico e educacional (SILVA 2000)
26A Palavra Malungu vem de origem africana significa COMPANHEIRO Assim lado a lado lutamos pela
garantia de nossos direitos e pelo reconhecimento social dos quilombolas A Coordenaccedilatildeo Estadual das
Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Paraacute foi oficialmente fundada em marccedilo de
2004 como uma organizaccedilatildeo sem fins lucrativos e econocircmicos para representar as comunidades quilombolas do
ParaacutePesquisa no site httpsmalunguparawordpresscom
27 Paacuteroco da cidade de Santa Luzia do Paraacute na deacutecada de 80 28Professor que foi enviado pelo CEDENPA para orientar os moradores de Pimenteiras nos anos 90 29Maria de Nazareacute Reis Ghirard eacute professora engenheira agrocircnoma e representante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Paraacute ndash CEDENPA aleacutem de outros oacutergatildeos direcionados na preservaccedilatildeo da biodiversidade de
comunidades da regiatildeo aleacutem de desenvolver trabalhos de valorizaccedilatildeo da mulher e do negro
41
O dia 03 de dezembro de 2007 eacute a data de abertura da AQUAFAP Muitas
dificuldades ocorreram para conseguir documentar algumas pessoas da comunidade natildeo
ajudaram mas a maioria se empenhou e buscou realizar tal objetivo Desde entatildeo muitos
projetos foram criados dentre os quais o Bioenergeacutetico e os trabalhos com as plantas que
surgiram via associaccedilatildeo
Com o auxiacutelio da professora Nazareacute e o conhecimento jaacute existente sobre as plantas
medicinais os moradores estudaram e trabalharam na comunidade com tal saber Futuramente
os moradores desejam conseguir pela AQUAFAP um projeto de preservaccedilatildeo e
reflorestamento na regiatildeo da Pimenteira direcionado ao Fundo Dema30 poreacutem o impasse
continua na definiccedilatildeo da titularidade da terra Hoje a associaccedilatildeo eacute tida com algo de grande
valor aos moradores da comunidade devido ao grande conhecimento e oportunidades de
melhorias para todos Muitos estatildeo engajados natildeo apenas com a associaccedilatildeo mas tambeacutem com
questotildees da Igreja e principalmente com as plantas medicinais que mesmo tendo paralisado
o trabalho com o Bioenergeacutetico os saberes adquiridos se multiplicam e propagam uma
valorizaccedilatildeo maior dos saberes sobre as plantas
Detentores de um patrimocircnio cultural rico e valoroso poreacutem desconhecido de
muitos as comunidades remanescentes de quilombolas satildeo formadas de grupos
sociais cuja identidade eacutetnica constitui a base de suas vivecircncias cotidianas bem
como das accedilotildees poliacuteticas levadas a feito pelas entidades que lutam pelos seus
direitos (SILVA 2000)
Eacute perante tamanha riqueza de conhecimento que veremos no toacutepico seguinte como o
trabalho com o Bioenergeacutetico deixou intensos saberes sobre as plantas de uso medicinal que
marcaram profundamente a vida dos moradores da Pimenteira e se tornaram uma identidade
para a comunidade e seus moradores
30O Fundo Dema Quilombolas do Paraacute ou Fundo Dema de Apoio agraves Comunidades Quilombolas do Paraacute surgiu
em 2008 numa dinacircmica interativa entre a Coordenaccedilatildeo das Associaccedilotildees das Comunidades Remanescentes de
Quilombolos (Malungu) Fase AmazocircniaFundo Dema e Fundaccedilatildeo Ford para a constituiccedilatildeo de uma linha de
accedilatildeo e financiamentos voltada exclusivamente para as comunidades quilombolas do Paraacute Sua criaccedilatildeo respondeu
a uma demanda especiacutefica por entender que essas comunidades demonstram uma dinacircmica emancipatoacuteria uacutenica
aleacutem de se constituiacuterem como um segmento importante das populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia Paraense Tem
por objetivo promover a conquista dos DhESCArsquos (Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais) das comunidades quilombolas e contribuir para a consolidaccedilatildeo da articulaccedilatildeo estadual da Malungu
na conquista e garantia destes direitos Pesquisa no site httpwwwfundodemaorgbr
42
223 Como tudo comeccedilou o trabalho com o Bioenergeacutetico
Buscar a natureza para sanar as enfermidades eacute um procedimento antigo que ateacute os
dias atuais persiste especialmente em comunidade e grupos eacutetnicos distantes dos recursos das
cidades tais como a sauacutede Eacute comum vermos pessoas fazendo uso de plantas medicinais em
rituais religiosos como tambeacutem no tratamento de doenccedilas por vezes eacute o uacutenico recurso
terapecircutico usado Em muitas regiotildees e ateacute mesmo nas grandes cidades as plantas medicinais
satildeo comercializadas em feiras livres comeacutercio popular e nos quintais de nossas casas Em
Beleacutem por exemplo no mercado do Ver-o-Peso temos o banho de cheiro31
que eacute preparado
com o uso de diversas plantas aromaacuteticas e muito procurado pelas pessoas para melhorar
aspectos da vida amor dinheiro e a cura de doenccedilas
Observando a cultura popular quanto agrave eficaacutecia das plantas medicinais percebemos
que haacute uma divulgaccedilatildeo dos valores terapecircuticos das plantas mesmo natildeo tendo informaccedilotildees
das propriedades quiacutemicas Assim pessoas de todo o mundo manteacutem a praacutetica do consumo
fitoteraacutepico validando as informaccedilotildees terapecircuticas que foram acumuladas ao longo dos
seacuteculos sobre as plantas medicinais Segundo Pinheiro (2002 p 16)
a grande procura pelas Terapias Alternativas eacute resultado de vaacuterios aspectos O que
chama mais a atenccedilatildeo eacute que grande parte das pessoas jaacute passou pelo tratamento da
medicina tradicional e natildeo tiveram os resultados que esperavam Mas quando se fala
em Terapia Alternativa no Brasil eacute preciso esclarecer que se trata na maioria dos
casos de praacuteticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina Apenas a
homeopatia e a acupuntura satildeo reconhecidas como especialidades meacutedicas Mas alguns ramos das Terapias Alternativas cobrem aacutereas que a medicina convencional
despreza e que em muitos casos podem ser uma uacutenica e uacutetil complementaccedilatildeo ao
tratamento convencional
Para Levi Strauss (1970 p 51) ldquoquando uma accedilatildeo terapecircutica natildeo alcanccedila o
resultado esperado a feacute e a crenccedila no sistema permanecem pois elas satildeo sempre coletivasrdquo O
que persiste nesses saberes eacute a crenccedila de que haveraacute a melhora ou cura das doenccedilas por meio
dos medicamentos naturais Dentre as praacuteticas alternativas de sauacutede uma muito conhecida eacute a
Bioenergeacutetica32
Esse meacutetodo requer alguns requisitos importantes para seu uso segundo
Barbieri (2008 p 18)
31 As principais plantas usadas para fazer o banho de cheiro segundo seus nomes populares satildeo catinga de mulata
chama abre caminho vindica manjericatildeo manjerona de angola alecrim de angola trevo da sorte trevo do mar japana
branca priprioca aleacutem de oacuteleos de jasmin uirapuru e patchouli 32 Bioenergeacutetica eacute a energia da vida Eacute uma nova teacutecnica de diagnoacutestico e tratamento de doenccedilas baseada na sabedoria do inconsciente humano Esta sabedoria segundo garantem eminentes psicoacutelogos eacute inata e igual para
todos portanto natildeo depende de nenhum estudo mas nos foi infundida por Deus no momento da concepccedilatildeo Eacute
43
O praticante deve ter um bom conhecimento de anatomia e fisiologia para conhecer
os pontos do exame bem como o funcionamento do organismo Ter conhecimento
da energia e de como ela age e reage no organismo conhecer os princiacutepios baacutesicos
da energia e exercitar-se energeticamente treinar com os dedos para ter domiacutenio do campo energeacutetico fazer parceria com um companheiro (a) como o (a) qual
estabelece uma sintonia energeacutetica possibilitando seguranccedila nos testes
O meacutetodo da Bioenergeacutetica originaacuterio do processo de desintoxicaccedilatildeo do corpo pelo
Biosauacutede eacute um procedimento realizado atraveacutes do bioteste ndash ou o teste do anel ndash que revela
problemas de sauacutede presentes no paciente O teste possibilita que a pessoa qualificada tenha
uma visatildeo especiacutefica de todos os pontos a serem cuidados O tratamento eacute feito a base de
plantas medicinais argila alimentaccedilatildeo saudaacutevel e banhos O Biosauacutede ou meacutetodo do
Bioenergeacutetico trata o corpo por completo33
Conhecendo os benefiacutecios que o Bioenergeacutetico pode trazer a senhora Nazareacute propocircs
para os moradores da Pimenteira criar um projeto que pudesse realizar esse trabalho na
comunidade pois alguns moradores jaacute possuiacuteam conhecimento sobre o uso das plantas
medicinais Assim o Bioenergeacutetico foi um dos projetos criados pela AQUAFAP Alguns
ficaram com receio desse trabalho outros moradores receberam bem a proposta e valorizaram
o trabalho que durou em meacutedia um ano
Muitas plantas nativas e caseiras foram cultivadas e catalogadas nesse periacuteodo As
pessoas que foram preparadas por meio do curso de Bioenergeacutetico ficaram cerca de dois anos
estudando pelo CEDENPA eram elas a irmatilde da Domingas Maria Ilene Alves do Nascimento
a senhora Maria Valdenira de Sousa Zacarias e a senhora Maria Zenir dos Santos Castro
Estas pessoas foram a Beleacutem para fazer o curso do Bioenergeacutetico com orientaccedilatildeo da senhora
Nazareacute e adquiriram diversos conhecimentos dentre os quais saber qual doenccedila havia no
corpo de algueacutem
Contudo com o passar dos trabalhos ocorreram desavenccedilas e as pessoas agrave frente do
projeto foram perdendo o interesse e por fim natildeo continuaram em busca de melhorar e
ampliar esse saber e aos poucos pararam de executar o Bioenergeacutetico na comunidade Hoje
um meacutetodo simples que se utiliza apenas dos dedos das matildeos entrelaccediladas em forma de anel feito por duas
pessoas examinadoras Tambeacutem usa uma vareta de metal para encostar na pessoa a ser examinada Pesquisado
no dia 03122014 as 2311hs no site httpwwwjaimebruningcombrbio_saudephp
33 Durante a consulta o paciente eacute submetido ao teste bioenergeacutetico no qual um profissional da equipe faz um
elo usando os dedos polegar e indicador enquanto outro da equipe tambeacutem faz um anel em cada uma de suas
matildeos entrelaccedilando os dedos do outro Com um arame ou metal que conduza corrente um deles vai tocando os
pontos de checagem a matildeo reagiraacute de forma diferente em cada novo toque Quando tocar um oacutergatildeo sadio o imatilde
seraacute mais forte Pesquisado no dia 30072015 as 1734hs no sitehttpwwwcurapelanaturezacombr201103biosaude-desintoxicacao-e-energizacaohtml
44
muitos na comunidade sentem a falta e tem a necessidade de serem tratados por esse saber
mas as pessoas foram instruiacutedas a natildeo transmitirem esse saber para outros e pararam os
trabalhos O local era chamando de ldquoCentro Popular Biosauacutede Pornusenardquo em homenagem agrave
avoacute da senhora Domingas Vejamos abaixo a imagem do local onde antes era realizado o
trabalhado com o bioenergeacutetico e que hoje eacute lugar de encontros para os associados da
AQUAFAP
Fotografia 08 ndash Centro Popular Biosauacutede Pornusena
Fonte Dados da pesquisa 2013
O centro popular eacute equipado com geladeira armaacuterio fogatildeo mesas e principalmente
o cataacutelogo com as amostras e os nomes das plantas colhidas pelos moradores da comunidade
para a realizaccedilatildeo do trabalho com o Bioenergeacutetico As imagens a seguir satildeo do local onde
ocorriam os trabalhos e tambeacutem a mesa que conteacutem os desenhos da anatomia e fisiologia do
organismo humano
Fotografia 09 ndash Local de realizaccedilatildeo dos trabalhos com o bioenergeacutetico
Fonte Dados da pesquisa 2013
45
Fotografia 10 ndash Desenhos da anatomia e fisiologia para conhecer os pontos do exame e o funcionamento do organismo
Fonte Dados da pesquisa 2013
O cataacutelogo com amostras das plantas nativas e caseiras da comunidade de
Pimenteiras eacute um acervo rico de informaccedilotildees relacionadas com a biodiversidade da regiatildeo Os
nomes estatildeo escritos de acordo com o saber que os moradores possuem sobre a liacutengua escrita
o que traz maior qualidade nos estudos sobre os termos das plantas escritos pelos moradores
da comunidade quilombola Observemos abaixo algumas plantas dissecadas de forma
tradicional e nomeadas no cataacutelogo
Fotografia 11 ndash Salsa dissecada
Fonte Dados da pesquisa 2013
46
Fotografia 12 ndash Canela dissecada
Fonte Dados da pesquisa 2013
Fotografia 13 ndashVinagreira dissecada
Fonte Dados da pesquisa ano 2013
Observamos que o trabalho com o Bioenergeacutetico proporcionou grande riqueza de
dados os quais objetivamos analisar e conhecer mais profundamente no intuito de contribuir
47
para os estudos cientiacuteficos da Liacutengua por meio dos saberes tradicionais Entretanto o que eacute
conhecimento e o que eacute saber Esse e outros aspectos seratildeo observados no capiacutetulo seguinte
no qual abordaremos as diferenciaccedilotildees entre Conhecimento e Saber
Apontando na comunidade tradicional os sujeitos de saberes bem como a presenccedila
do gecircnero nesses saberes sobre as plantas medicinais incluindo especificamente a detentora
do saber das plantas que eacute a senhora Domingas para finalmente observarmos como tais
saberes constituem a identidade cultural da comunidade quilombola de Pimenteiras
23 SABER EOU CONHECIMENTO AS PLANTAS MEDICINAIS EM PIMENTEIRAS
A partir da compreensatildeo dos saberes como praacuteticas discursivas Michel Foucault
(2009)34
depreende que nesse discurso os termos Saber35
e Conhecimento36
geralmente satildeo
palavras utilizadas no senso comum como sinocircnimas Analisamos que a palavra ldquosaberrdquo
significa ter conhecimento de algo teoacuterico ou praacutetico eacute uma habilidade resultante da
experiecircncia da praacutetica da sabedoria e da cultura O saber eacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito que
sabe e o objeto a ser conhecido eacute um sentimento de seguranccedila que se produz quando se tem
consciecircncia dessa relaccedilatildeo posta em movimento numa dada realidade Jaacute o termo
34 Michel Foucault foi um filoacutesofo historiador das ideias teoacuterico social filoacutelogo e criacutetico literaacuterio Suas teorias abordam a relaccedilatildeo entre poder e conhecimento como eles satildeo usados como uma forma de controle social por
meio de instituiccedilotildees sociais 35Saber - Verbo Transitivo direto transitivo indireto e intransitivo 1conhecer ser ou estar informado ter
conhecimento de 2ter conhecimentos especiacuteficos (teoacutericos ou praacuteticos) 3estar convencido de ter a certeza de
(coisas presentes e futuras) prever pressentir 4ter forccedila meacuterito meio capacidade ou possibilidade de 5ter
habilidade jeito etc para 6poder explicar compreender 7ser capaz de conseguir 8guardar na memoacuteria
decorar 9indagar perguntar 10julgar considerar ter como 11fazer jus a merecer 12ter gosto de lembrar o
sabor de ter sabor ser saacutepido 13soma de conhecimentos adquiridos sabedoria cultura erudiccedilatildeo 14prudecircncia e
sensatez ao agir experiecircncia 15capacidade resultante da experiecircncia praacutetica 36Conhecimento- Substantivo masculino Ato ou efeito de conhecer 1 O ato ou a atividade de conhecer
realizado por meio da razatildeo eou da experiecircncia 11ato ou efeito de apreender intelectualmente de perceber um
fato ou uma verdade cogniccedilatildeo percepccedilatildeo 12Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato estado ou condiccedilatildeo de compreender entendimento 2 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa conhecida 21Derivaccedilatildeo por extensatildeo de
sentido Domiacutenio teoacuterico ou praacutetico de um assunto uma arte uma ciecircncia uma teacutecnica etc competecircncia
experiecircncia praacutetica 3 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia Faculdade de conhecer 4 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido
Intuiccedilatildeo pressentimento ou outra forma de cogniccedilatildeo 5 Fato de reconhecer uma coisa como adrede sabida ou
conhecida reconhecimento 6 Familiaridade (com uma coisa ou uma pessoa) adquirida pela experiecircncia 7
Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Ato ou efeito de estabelecer uma relaccedilatildeo com algueacutem em grau de
intimidade variaacutevel mas ger menor que na amizade 8 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Pessoa com quem se
estabeleceu uma ligeira relaccedilatildeo pessoal ou que pelo menos se sabe de quem se trata 9 Derivaccedilatildeo por extensatildeo
de sentido Uso formal Diacronismo antigo Relaccedilatildeo carnal do homem e da mulher 10 Derivaccedilatildeo por
extensatildeo de sentido Uso formal Diacronismo antigo Noccedilatildeo que cada um tem de sua proacutepria existecircncia e das
pessoas familiares coisas fatos do dia-a-dia consciecircncia lucidez 11 Derivaccedilatildeo por extensatildeo de sentido Fato ou condiccedilatildeo de estar ciente ou consciente de (algo) 12 Derivaccedilatildeo por metoniacutemia A coisa que se conhece de
que se sabe de que se estaacute informado ciente ou consciente []
48
ldquoconhecimentordquo eacute o ato de conhecer algo por meio da razatildeo ou da experiecircncia eacute portanto o
domiacutenio de um assunto teoacuterico ou praacutetico a ser adquirido (SILVA 2009 p 263)
Observamos que as palavras Saber e Conhecimento sugerem uma relaccedilatildeo do sujeito
com o objeto conhecido ou a ser conhecido Essa relaccedilatildeo do sujeito com o objeto ocorre pela
familiarizaccedilatildeo do sentido com o componente a ser compreendido assim Saber e
Conhecimento satildeo palavras tomadas no dicionaacuterio como sinocircnimas Ambas significam
experiecircncia ciecircncia percepccedilatildeo informaccedilatildeo e ato de conhecer
Entretanto no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras as palavras saber e conhecimento natildeo teratildeo significaccedilatildeo semelhante Isto se
confirma nos estudos de Foucault (1987) sobre a relaccedilatildeo de poder e saber O autor ressalta a
ideia de que na produccedilatildeo dos saberes haacute sempre uma dependecircncia muacutetua entre estas
categorias Para ele natildeo haacute saber sem estar tocado pelas complexas relaccedilotildees de poder mas
essas relaccedilotildees se constituem em conjunto com a produccedilatildeo dos saberes (FREITAS 2005)
Eacute nesse contexto de poder que Foucault diferencia o conceito de saber e de
conhecimento Para o pesquisador o conhecimento eacute a constituiccedilatildeo de discurso sobre classe
de objetos passiacuteveis de se conhecer ou seja cognosciacuteveis que satildeo construiacutedos pelo processo
de racionalizaccedilatildeo identificaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo dos objetos Jaacute o saber segundo o
pesquisador eacute um processo flexiacutevel que sofre mudanccedilas durante o trabalho de conhecer
enquanto o conhecimento eacute carregado e estagnado
Foucault ainda explica que o sujeito cognitivo eacute marcado por sua cultura pelos
aspectos externos e de uma memoacuteria que atravessa o tempo atraveacutes das significaccedilotildees
pensamentos e desejos no acircmbito do conhecimento (ALMEIDA 2012) Com base nesses
estudos compreendemos que os saberes dos moradores da comunidade de Pimenteiras satildeo
construiacutedos constantemente nas relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridos culturalmente
Observamos que a palavra conhecimento eacute uma verdade preacute-construiacuteda linear
imoacutevel independente do contexto no qual seraacute processada No decorrer dos questionamentos
compreendemos que a palavra conhecimento se refere a situaccedilotildees objetivas e teoacutericas que
devidamente sistematizadas datildeo lugar agrave ciecircncia A palavra saber por sua vez pode referir-se
a situaccedilotildees tanto objetivas como subjetivas tanto teoacutericas quanto praacuteticas eacute como se a palavra
conhecimento coubesse dentro da palavra saber e natildeo o contraacuterio
Para nos ajudar na compreensatildeo desses termos citamos Zubiri (1974) que em seus
estudos mostra que o homem tem um modo de experiecircncia com as coisas de uma maneira
simples e uacutenica Eacute um saber que toca no iacutentimo de cada coisa natildeo eacute a percepccedilatildeo de cada uma
de suas caracteriacutesticas eacute uma espeacutecie de sentido do ser Eacute a experiecircncia que temos com o
49
objeto colocando-o no espiacuterito Desta forma Monteil (1985 apud Charlot 2000 p 61) assim
distingue
O conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal ligada agrave atividade de um
sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas como tal eacute intransmissiacutevel estaacute
ldquosob a primazia da subjetividaderdquo Assim como a informaccedilatildeo o saber estaacute ldquosob a
primazia da objetividaderdquo mas eacute uma informaccedilatildeo de que o sujeito se apropria
Desse ponto de vista eacute tambeacutem conhecimento poreacutem desvinculado do ldquoinvoacutelucro
dogmaacutetico no qual a subjetividade tende a instalaacute-lordquo O saber eacute produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos eacute construiacutedo em ldquoquadros metodoloacutegicosrdquo
Pode portanto ldquoentrar na ordem do objetordquo e torna-se entatildeo ldquoum produto
comunicaacutevelrdquo uma ldquoinformaccedilatildeo disponiacutevel para outrem
Saber natildeo eacute soacute entender a veracidade das coisas desde os seus princiacutepios haacute
necessidade de se conquistar realmente a posse da ldquorealidaderdquo Esta posse da ldquorealidaderdquo
permite colocar o conhecimento em accedilatildeo num determinado contexto o que ocasiona a
construccedilatildeo do saber pois natildeo basta apreendermos a ldquoverdade da realidaderdquo (conhecimento) eacute
necessaacuterio construirmos a ldquorealidade da verdaderdquo (saber) (MOTA 2008)
Para Schlanger (1978 apud Charlot 2000) saber e conhecimento mantecircm uma
pertinente relaccedilatildeo de interaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto Para ele a anaacutelise parece pertinente
ao dizer que natildeo haacute ldquosaberrdquo sem relaccedilatildeo entre sujeito e objeto outros sujeitos e outras
realidades A confrontaccedilatildeo pessoal do sujeito apropriado de conhecimentos numa realidade
especiacutefica e singular implica na atividade do sujeito de produzir saberes Schlanger (1978
apud CHARLOT 2000 p 22) expotildee que ldquoO saber eacute uma relaccedilatildeo um produto e um
resultado relaccedilatildeo do sujeito que conhece com seu mundo resultado dessa interaccedilatildeordquo
Enquanto o conhecimento para o pesquisador eacute exatamente a obtenccedilatildeo de uma imagem
cognitiva interna de uma verdade independente de uma realidade estabelecida pela relaccedilatildeo
cognitiva interna e ativa do sujeito sobre o objeto Assim o objeto de conhecimento eacute
qualquer realidade externa ao indiviacuteduo que atraveacutes do ato intelectual torna-se interna
O saber por sua vez necessita de uma relaccedilatildeo natildeo soacute interna do indiviacuteduo sobre o
objeto mas uma relaccedilatildeo entre esse sujeito seu conhecimento e uma dada realidade ou
contexto Por conta disso vemos o saber como o movimento do conhecimento em contato
com um determinado contexto numa dada realidade confrontando suas muacuteltiplas faces
transcendendo o conhecimento jaacute consolidado reinventando-o recriando-o e traduzindo-o
conforme as necessidades imperadas pelas circunstacircncias (SCHLANGER 1978 apud
CHARLOT 2000)
O saber e o conhecimento satildeo formas de relacionamento com a realidade formas de
dizer de pensar de ser e de estar no mundo e com o mundo Eacute com estas explanaccedilotildees sobre o
que individualiza o saber que entenderemos os saberes da comunidade de Pimenteiras
50
saberes de um povo que durante seacuteculos lutou para alcanccedilar sua liberdade seu direito agrave terra e
seu espaccedilo na sociedade Eacute pertinente ao ser humano a sobrevivecircncia por isso para Brandatildeo
(1993 p 20 apud PELAES 2010)
Haacute a necessidade de sobrevivecircncia do homem que cria mecanismos para se adaptar aos desafios da natureza Com isso o homem desenvolve meios de sobrevivecircncia
bens de uso e bens de troca dentro de um cenaacuterio de interaccedilotildees Tais homens atuam
como indiviacuteduos sujeitos do mundo da cultura pessoas que segundo o autor satildeo
agentes culturais e atores sociais convivendo em cenaacuterios da cultura
Em vista da necessidade de sobrevivecircncia os remanescentes de Quilombola da
comunidade de Pimenteiras possuem e utilizam os saberes que foram adquiridos de seus
antepassados sobre a manipulaccedilatildeo das plantas medicinais a fim de alcanccedilar a cura de
doenccedilas Tendo em vista as dificuldades de acesso aos recursos de sauacutede eles buscaram na
natureza as espeacutecies vegetais mais apropriadas para sua alimentaccedilatildeo ou para a cura de seus
males entre as geraccedilotildees
Apesar de muitas plantas serem uacuteteis ao homem existem aquelas que produzem
substacircncias toacutexicas ou venenosas assim eacute preciso saber bem as caracteriacutesticas de cada planta
para poder usaacute-la como remeacutedio Eacute comum se ouvir dizer que o uso das plantas medicinais ldquose
natildeo fizer bem mal natildeo faraacuterdquo poreacutem natildeo eacute bem assim Do ponto de vista cientiacutefico o saber
sobre as plantas ainda eacute um campo pouco estudado e difundido no paiacutes Apesar da riqueza da
flora brasileira os estudos na aacuterea ficam mais restritos agrave antropologia
O uso inadequado das plantas poderaacute trazer efeitos indesejados e por vezes ateacute a
morte do indiviacuteduo Eacute imprescindiacutevel ter conhecimento natildeo somente das plantas mas tambeacutem
das doenccedilas para fazer a seleccedilatildeo correta da planta a ser utilizada de acordo com a forma de
uso a frequecircncia a quantidade a idade e o metabolismo de cada pessoa Enfim os saberes
das plantas e os conhecimentos cientiacuteficos podem juntos contribuir para a sauacutede e bem estar
dos moradores da comunidade de Pimenteiras aleacutem de preservar sua cultura como identidade
cultural de um povo
Da distinccedilatildeo entre saber e conhecimento iremos ao toacutepico seguinte no qual
abordaremos a comunidade tradicional e os sujeitos de saberes sobre as plantas medicinais
Quem satildeo e o que caracteriza as comunidades tradicionais Que aspectos marcam sua
identidade como sujeitos de saberes Ou seja eacute a construccedilatildeo do sujeito atraveacutes do saber
adquirido entre as geraccedilotildees
51
231 Comunidade Tradicional sujeitos de saberes
Entendemos que o conhecimento eacute construiacutedo a partir do acuacutemulo de experiecircncias
vivenciadas no acircmbito fiacutesico e social Nas populaccedilotildees tradicionais37
que satildeo estas
constituiacutedas por grupos comunitaacuterios humanos os quais na sua maioria vivem no meio rural
habitando determinado territoacuterio com seus haacutebitos usos e costumes o conhecimento eacute
construiacutedo a partir da relaccedilatildeo com o meio em que vivem inserindo no ecossistema
preservaccedilatildeo significaccedilatildeo ressignificaccedilatildeo valores e saberes que seratildeo transmitidos de geraccedilatildeo
em geraccedilatildeo por procedimentos educativos tradicionais
Alguns aspectos diferenciam as populaccedilotildees tradicionais das populaccedilotildees natildeo
tradicionais tais como pouca acumulaccedilatildeo de bens apropriaccedilatildeo do espaccedilo natural estrateacutegias
de sobrevivecircncia a partir do conhecimento de fontes naturais adquiridas entre as geraccedilotildees e
vivecircncias com o meio aleacutem da construccedilatildeo de um modo de vida de acordo com os ciclos dos
recursos que a natureza oferece
As comunidades tradicionais se reconhecem como pertencentes a um grupo social
particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de cada grupo Assim
as sociedades tradicionais se apresentam mais homogecircneas do que as comunidades natildeo
tradicionais pois ocupam aacutereas de pouca densidade populacional com atividades agriacutecolas
festas culturais e cultos religiosos que funcionam como fator de aglutinaccedilatildeo social
Estas comunidades desenvolvem seus saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a
natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia de seu grupo Castro (2000 p 169)
compreende que as accedilotildees praticadas pelo homem e os mecanismos de intervenccedilatildeo na natureza
satildeo frutos do acuacutemulo de experiecircncias vivenciadas no meio e de saberes reelaborados no meio
social atraveacutes das geraccedilotildees
Nesse contexto observamos que a comunidade tradicional de Pimenteiras conteacutem
saberes conduzidos entre as geraccedilotildees e preservado de acordo com os costumes culturais que
os moradores quilombolas adquiriram com o passar do tempo tais saberes satildeo denominados
de conhecimento popular
O conhecimento popular agraves vezes denominado senso comum natildeo se distingue do
conhecimento cientiacutefico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto a ser conhecido O
que os diferencia eacute a forma o modo ou o meacutetodo do conhecer (LAKATTOS MARCONI
37 Art 3ordm Decreto nordm 6040 de 7 de fevereiro de 2007 presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva instituiu a Poliacutetica
Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT)
52
1991) Saber que determinada planta necessita de uma quantidade de aacutegua pode ser um
conhecimento verdadeiro e comprovado contudo isso natildeo o torna cientiacutefico Para haver
cientificidade eacute necessaacuterio ir mais aleacutem eacute preciso conhecer a natureza dos vegetais sua
composiccedilatildeo seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espeacutecie
da outra Assim demonstra-se que a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico caminho de acesso ao
conhecimento e agrave verdade e que um mesmo objeto como uma planta um mineral ou uma
comunidade pode ser objeto de estudo tanto para a ciecircncia quanto para o homem comum ou
seja o que caracteriza o conhecimento cientiacutefico do saber popular eacute a forma de observaccedilatildeo
(BUNGE 1974)
Eacute a partir da observaccedilatildeo que os saberes sobre as ervas e plantas foram adquiridos
entre as geraccedilotildees e hoje muitas comunidades tradicionais utilizam os recursos caseiros para
curar e amenizar as doenccedilas Segundo Bunge (1974 p 20) a Ciecircncia aspira pela
racionalidade e objetividade isto soacute eacute atingido de forma muito limitada O conhecimento
popular por sua vez busca o comum o corrente e o espontacircneo de conhecer algo que soacute se
adquire no trato direto com as coisas e com os seres humanos Para o autor o conhecimento
popular caracteriza-se pelo superficial sensitivo subjetivo assistemaacutetico e acriacutetico (ANDER-
EGG 1978)
No campo do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais este eacute um
saber que acompanha o movimento histoacuterico e cultural da humanidade Transmitido
oralmente de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo esses conhecimentos sobre as plantas medicinais
constituiacuteram o alicerce do conhecimento tradicional Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o
saber tradicional sobre as plantas medicinais passou a ser desvalorizado fato que
consequentemente causou a desvalorizaccedilatildeo cultural das comunidades tradicionais que as
utilizavam
Assim valorizar esse conhecimento estaacute intimamente ligado ao fortalecimento
cultural e identitaacuterio de uma dada comunidade Segundo Gallois (2006) o saber tradicional eacute
um conhecimento que deve ser respeitado pois eacute transmitido oralmente entre as geraccedilotildees
com praacuteticas e inovaccedilotildees e natildeo como um simples repositoacuterio de conhecimentos do passado A
praacutetica de uso das plantas medicinais tanto para cura fiacutesica quanto espiritual faz parte das
relaccedilotildees que os moradores da comunidade de Pimenteiras apreenderam ao longo do tempo na
observaccedilatildeo da natureza consigo mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas
de cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita
relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais
53
Conhecer as praacuteticas ancestrais de utilizaccedilatildeo das plantas medicinais ainda existentes
na comunidade de Pimenteiras aleacutem de conduzir a uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do saber
tradicional com o conhecimento cientiacutefico eacute aspecto relevante para fortalecer a identidade de
um povo A comunidade utiliza o saber tradicional sobre as plantas medicinais nas suas
praacuteticas cotidianas cuidando da sauacutede apesar disso ela ainda necessita compreender a
importacircncia deste saber para o fortalecimento da sua identidade cultural e construir um
diaacutelogo entre os saberes existentes na regiatildeo com o conhecimento cientiacutefico
Os saberes existentes sobre as plantas satildeo sem duacutevida uma forte marca na
comunidade de Pimenteiras Sobretudo vale destacar que na grande maioria das famiacutelias tal
saber eacute transmitido pelo gecircnero feminino As mulheres adultas e idosas satildeo as que mais se
destacam no acervo de conhecimento sobre as plantas Com isso observamos que o
conhecimento das plantas medicinais eacute ancestral e natural entre as geraccedilotildees femininas ou
seja as pessoas mais velhas satildeo consideradas as ldquoguardiatildesrdquo dos saberes de cura por meio das
plantas medicinais satildeo elas que conhecem os usos das plantas e perpetuam esse
conhecimento agraves geraccedilotildees posteriores
Em consideraccedilatildeo agraves moradoras quilombolas da comunidade de Pimenteiras que
perpetuaram tatildeo valoroso conhecimento e proporcionaram preservar os saberes das plantas
medicinais trataremos no toacutepico seguinte os aspectos referentes agrave presenccedila do gecircnero
feminino nos saberes sobre a plantas da comunidade de Pimenteiras
232 A presenccedila do gecircnero nos saberes das plantas medicinais
As plantas medicinais sempre fizeram parte da histoacuteria de muitos povos na
antiguidade Muito antes de frequentar as farmaacutecias para buscar o aliacutevio de alguma dor
buscamos em nossos quintais ou nas matas uma determinada planta que por conselho dos
mais velhos poderia resolver o problema Com o passar dos tempos diversos povos
utilizaram as plantas medicinais de diferentes formas Os portugueses quando chegaram ao
Brasil jaacute desfrutavam o poder das plantas medicinais os indiacutegenas por sua vez contribuiacuteram
muito com o conhecimento que jaacute possuiacuteam das plantas usadas como remeacutedio e alimento
Desse modo existem muitas maneiras de empregar as plantas no uso medicinal tais
como chaacutes garrafadas xaropes defumadores e banhos e nessas diferentes formas de uso das
54
plantas a grande diversidade de espeacutecies vegetais na Amazocircnia traz marcas da presenccedila
feminina no domiacutenio dos saberes sobre as plantas Segundo Rodrigues (2008 p 2)
Diante dessa sociodiversidade nos contextos amazocircnicos nosso recorte de apreensatildeo
da realidade busca perceber as afirmaccedilotildees quanto aos papeacuteis sociais empregados a
mulheres e homens no domiacutenio de um saber o das plantas medicinais apreender
diante desse contexto como se apresentam as relaccedilotildees de poder em relaccedilatildeo ao
conhecimento e demonstrar a visatildeo mercadoloacutegica sobre os conhecimentos
tradicionais que se apropria da oacutetica patriarcalista reafirmadora de estereoacutetipos que
naturaliza as relaccedilotildees sociais e portanto como tais aspectos influem diretamente
nas questotildees soacutecio-culturais da sauacutede popularcoletiva e no acircmbito de poliacuteticas
sociais
As plantas medicinais satildeo usadas haacute milecircnios como fonte de cura Apesar de a Idade
Meacutedia ser conhecida como Idade das Trevas foi uma eacutepoca em que a Europa Medieval sofreu
uma forte mudanccedila nos haacutebitos alimentares Nessa eacutepoca os vegetais passaram a ser pouco
consumidos havendo preferecircncia para as carnes patildees e frutas Com isso o conhecimento
sobre as plantas ficou armazenado nas matildeos da Igreja Catoacutelica que utilizava-os apenas para a
medicina e a praacutetica espiritual
As mulheres desse periacuteodo que possuiacutessem certo conhecimento sobre as plantas
medicinais para curar as enfermidades nos familiares eram fortemente rejeitadas julgadas e
condenadas como pecadoras e hereges eram mortas agrave fogueira pois na visatildeo da Igreja quem
tivesse tal conhecimento enganava as leis divinas com rituais que iam contra os seus
preceitos Assim vaacuterias mulheres foram perseguidas e acusadas de bruxaria e por
conseguinte foram assassinadas pela praacutetica de suas crenccedilas e cultura
As mulheres foram em grande nuacutemero acusadas de bruxaria e em consequumlecircncia
desmoralizadas ou tiveram que aceitar como espuacuterios e iliacutecitos os seus saberes
aqueles que compartilhavam com outras mulheres na convivecircncia entre matildees e
filhas uma geraccedilatildeo apoacutes outra (TELLES apud RAGO FUNARI 2008 p81)
Ao observarmos a relaccedilatildeo entre a presenccedila feminina com o saber sobre as plantas
verificamos que a autoridade no conhecimento pode revelar mais que uma praacutetica cultural e
histoacuterica predominante agraves mulheres Esta praacutetica revela um contexto domeacutestico no qual o
trabalho das mulheres eacute revestido pelas relaccedilotildees de poder Em casa o saber o uso e o manejo
das plantas medicinais eacute algo predominante ao gecircnero feminino Essa observaccedilatildeo estaacute
relacionada com as diferenccedilas entre gecircneros e na divisatildeo social e sexual Pelo fato de ser
ldquoobrigadardquo a cuidar dos filhos a mulher tem por extensatildeo a preocupaccedilatildeo maior em saber dos
usos de plantas medicinais por estar diretamente ligada ao sentimento de zelo sauacutede e bem
estar da famiacutelia
55
Nesse contexto as plantas medicinais normalmente satildeo manejadas em quintais
espaccedilo considerado parte do ambiente domeacutestico e feminino assim como o cuidado com os
filhos que natildeo eacute visto como ldquotrabalhordquo Nas observaccedilotildees de Gonccedilalves a accedilatildeo de trabalhar
com as plantas estaacute relacionada ao seguinte conceito ldquoTrata-se da forma como cada cultura
lida com as diferenccedilas entre os sexos alocando a cada um deles determinados atributos e agrave
maneira como estes atributos satildeo valorados socialmenterdquo (GONCcedilALVES 1998 p 51)
Assim pode-se afirmar que eacute comum ao gecircnero feminino conhecer e saber utilizar as
plantas medicinais como forma de prevenccedilatildeo e bem estar proacuteprio e comunitaacuterio Para a
mulher ter propriedade no conhecimento das plantas medicinais estaacute relacionado com o
cuidado aos filhos afinal isto representa o principal motivo para ter aprendido com a matildee a
avoacute a tia ou a vizinha eacute uma ldquoheranccedila de saberrdquo da transmissatildeo frequente entre as geraccedilotildees
e de transmissatildeo entre as mulheres
Como bem menciona Tosi (1998) o fato de que as bruxas eram mulheres que
detinham conhecimentos eram mulheres saacutebias de conhecimentos empiacutericos que praticavam
desde eacutepocas ancestrais demonstra um pouco desse trajeto sobre o saber das plantas
medicinais que passou por geraccedilotildees femininas as quais foram tidas como guardiatildes do saber
Nas comunidades tradicionais as mulheres tambeacutem guardam tais saberes medicinais
das plantas Assim seguiremos no toacutepico seguinte tratando especificamente sobre uma
moradora da comunidade de Pimenteira uma mulher que ateacute os dias atuais traz saberes de
suas ancestrais como forma de perpetuar e preservar um conhecimento que hoje identifica um
povo
233 Domingas a relaccedilatildeo com a comunidade e com os saberes
A confianccedila em alcanccedilar a cura de diversas enfermidades do corpo por meio do uso
medicinal de plantas eacute um conhecimento conservado entre as geraccedilotildees femininas na regiatildeo da
Pimenteira Avoacutes matildees filhas e netas constituem um ciacuterculo no qual os saberes tecircm sido
repassados entre as geraccedilotildees
As mulheres da comunidade de Pimenteiras vivem o costume de cuidar da casa
educar os filhos e ajudar os maridos nos trabalhos da roccedila Elas satildeo encarregadas de muitas
atividades dentre as quais o manejo da terra para auxiliar o marido nas atividades da
agricultura eacute bastante comum No entanto o contraacuterio natildeo ocorre ou seja os homens natildeo
56
cuidam dos filhos natildeo preparam as refeiccedilotildees e nem manipulam as plantas para o uso
medicinal
A heranccedila do saber sobre o uso das plantas medicinais eacute puramente feminina devido
aos cuidados que as mulheres quilombolas possuem com os filhos com a casa e com a terra
Rodrigues (2008 p 4) expotildee sobre a importacircncia dos saberes tradicionais guardados pelas
mulheres nas comunidades para a preservaccedilatildeo da cultura de um povo
[] na medida em que o conhecimento da natureza a partir dos conhecimentos
tradicionais sobre o uso de plantas medicinais eacute manipulaacutevel tanto por mulheres e
homens ambos tecircm um reconhecimento de uma cultura proacutexima da natureza que
natildeo os menospreza pelo contraacuterio em suas localidades satildeo considerados
importantes pelo saber que detecircm primordialmente no que tange a sauacutede
coletivapopular []
Os remanescentes de quilombolas da comunidade de Pimenteiras vivem e lutam pelo
direito agrave terra e agrave preservaccedilatildeo dos valores e saberes da regiatildeo Sabemos que cerca de oito
milhotildees de brasileiros fazem parte de comunidades tradicionais dentre as quais uma meacutedia de
dois milhotildees38
correspondem a remanescentes de quilombo De acordo com o Decreto de nordm
604039
de 07 de fevereiro de 2007 os povos e comunidades tradicionais satildeo grupos
culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais possuindo formas proacuteprias de
organizaccedilatildeo social ocupando e usando os recursos naturais como condiccedilatildeo de sobrevivecircncia
da sua reproduccedilatildeo cultural social e religiosa com inovaccedilotildees nas praacuteticas geradas e
transmitidas pela tradiccedilatildeo Nos relatos da senhora Domingas ser quilombola eacute algo
relacionado com a natureza e a terra conforme se pode observar em um trecho transcrito de
sua fala
[] mas ser quilombola acho que eacute ser vem dessa descendecircncia e assim das
(coisas) tradicional as coisas da natureza aprender e viver com a natureza eu
acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre assim vendo os iacutendios porque
os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu acho que ser
quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as
coisas pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende
as coisas com a natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque
aquele tempo dos dos dos negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de
leitura (nada nada) MAS com a natureza eles aprendiam alguma coisa
(informaccedilatildeo verbal)40
38Informaccedilatildeo contida no Centro de documentaccedilatildeo Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES 2008) Site
httpwwwcedefesorgbr
39 Institui a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) 40Depoimento da senhora Domingas transcrito de forma grafemaacutetica em Pimenteiras outubro de 2014
57
Eacute fato que nem todos os moradores fazem uso do conhecimento sobre as plantas mas
os que preservam este saber satildeo referecircncia na comunidade para as demais localidades da
regiatildeo como eacute o caso da senhora Domingas Alves do Nascimento41
Moradora de origem
quilombola ela eacute conhecedora do poder medicinal das plantas vivendo da agricultura e das
vendas dos produtos feitos com as plantas como a garrafada multimistura e pomadas Devido
agrave forte relaccedilatildeo com a terra ela cultiva suas ervas e plantas em casa como meio de
proporcionar a sauacutede de seus familiares e de seu povo A senhora Domingas eacute uma pessoa
desinibida trabalhadora e aacutevida pelo conhecimento medicinal das plantas Na entrevista a
moradora escolheu seu quintal como espaccedilo para conversar o local possui muitas plantas
aacutervores sombra e vento forte De forma acolhedora e sorridente algo marcante em sua
personalidade Domingas demonstrou grande acolhimento e bem estar durante a conversa
pois Apesar de sua pouca escolaridade eacute uma grande contadora de histoacuterias com forccedila e
determinaccedilatildeo no que diz
Domingas luta pelos direitos de seu povo buscando recursos que viabilizem
melhorias para a comunidade sua relaccedilatildeo com a terra veio de seus ancestrais que vieram da
comunidade de Narciacutesea para por suas raiacutezes na comunidade de Pimenteiras42
Durante a
conversa Domingas falou de suas origens sua famiacutelia da Associaccedilatildeo da titulaccedilatildeo da terra de
seu trabalho na lavoura e do saber sobre as plantas Este aspecto eacute o que mais chama a
atenccedilatildeo devido ao grande conhecimento demonstrado a respeito das plantas medicinais
A moradora de Pimenteiras vive na comunidade rural haacute cerca de cinquenta anos
Durante esse tempo muitos saberes de seus antepassados sobre as plantas medicinais foram
repassados Sua avoacute materna ndash senhora Joana Pornusena dos Santos ndash e sua matildee ndash senhora
Otiacutelia Alves do Nascimento ndash eram sabedoras do uso de chaacutes para a cura de males do corpo e
da alma Com o passar dos anos o conhecimento da senhora Domingas sobre as plantas
passou a ser muito importante para a comunidade local e visualizado por cooperativas e
organizaccedilotildees como o CEDENPA e pela Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria43
A partir
41
Em entrevista realizada em 19 de outubro de 2014 a moradora de Pimenteiras Domingas em seu discurso
apresentou saberes de um povo que se manteacutem com os recursos da natureza procurando preservar o ambiente
em que vive Para realizar esta pesquisa foi necessaacuterio registrar a conversa com a senhora Domingas atraveacutes de
fichas com perguntas variadas sobre sua histoacuteria a comunidade e o uso medicinal das plantasDepois foi
indispensaacutevel a gravaccedilatildeo do som e imagem da entrevistada para na sequecircncia analisar seu discurso que foi
transcrito de forma grafemaacutetica Com esse material transcrito fizemosa anaacutelise de um discurso repleto de saberes
de um povo historicamente deixado agrave margem social
42 Pimenteiras possui este nome devido agraves grandes plantaccedilotildees de pimenta existente na eacutepoca dos avocircs de
Domingas 43
A Rede Bragantina reuacutene atualmente vinte e sete organizaccedilotildees membros que trabalham por uma cultura de
sustentabilidade a partir de novas relaccedilotildees econocircmicas afetivas de gecircnero e etnia no sentido da existecircncia
humana Rede Bragantina de Economia Solidaacuteria Artes amp Sabores tem o objetivo de produzir com respeito agraves
58
desse contexto a moradora foi orientada para aprimorar seus saberes sobre as plantas fazendo
cursos de aproveitamento e utilizaccedilatildeo dos alimentos para a sauacutede
Conhecer mais e aprimorar o conhecimento sobre as plantas medicinais vai ao
encontro dos saberes adquiridos entre as geraccedilotildees de mulheres com quem Domingas
conviveu O trabalho com as plantas eacute muito importante para a moradora a ponto que hoje o
saber sobre as plantas eacute algo que identifica a comunidade de Pimenteiras No toacutepico seguinte
veremos como a comunidade atualmente eacute conhecida pela forte relaccedilatildeo dos moradores com a
terra com as tradiccedilotildees e suas praacuteticas culturais proacuteprias e portanto identitaacuterias
234 A Identidade Cultural no saber sobre as plantas medicinais
Tudo aquilo que eacute construiacutedo pelo ser humano incluindo os mitos os siacutembolos os
ritos todas as crenccedilas todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento de um
povo eacute o que marca as especificidades de cada comunidade ou seja sua Cultura A definiccedilatildeo
do conceito de cultura atualmente se tornou difiacutecil pois ela pode ser estudada sob diversos
pontos de vista Eacute necessaacuterio portanto escolher uma perspectiva para poder defini-la
Desse modo analisamos os estudos de Cuche (1999) que descreve o processo
evolutivo como uma questatildeo de adaptaccedilatildeo do homem de acordo com a geneacutetica do meio
ambiente natural para uma adaptaccedilatildeo cultural dos primeiros homens Segundo o pesquisador
a noccedilatildeo de cultura era compreendida no seu sentido amplo e desde seu aparecimento no
seacuteculo XVIII suscitou constantes debates contraditoacuterios com a ideia moderna da cultura da
eacutepoca fazendo oposiccedilatildeo com a noccedilatildeo de sociedade no mesmo campo significativo
Nesse aspecto Cuche (1999 p 10) relata que ldquoA cultura permite ao homem natildeo
somente adaptar-se a seu meio mas tambeacutem adaptar este meio ao proacuteprio homem as suas
necessidades e seus projetos Em suma a cultura torna possiacutevel a transformaccedilatildeo da naturezardquo
Conhecer profundamente a comunidade de Pimenteiras trouxe forte significaccedilatildeo no
campo dos estudos cientiacuteficos e principalmente no campo dos saberes populares pois
permitiu analisar os aspectos culturais que permeiam e identificam a regiatildeo A partir disso
conhecer a cultura de um povo significa conhecer e valorizar a nossa cultura como
autoafirmaccedilatildeo do que somos Examinar como foi formada a palavra o conceito cientiacutefico que
culturas agraves sinergias da natureza valorizando os agroecosistemas locais na perspectiva da seguranccedila alimentar e
desenvolvimento sustentaacutevel Veja o site httpamazoniaemredeblogspotcombr
59
dela depende localizar sua origem e evoluccedilatildeo semacircntica evidenciam assim os laccedilos que
existem entre a histoacuteria da palavra cultura e a histoacuteria das ideias Se pensada como um
conjunto de ideias valores e conhecimentos cultura traz dentro de si em primeiro lugar a
dimensatildeo do passado Muitos conhecimentos foram herdados de outras geraccedilotildees e a cada
tempo que passa mais conhecimento eacute acumulado Eacute extraordinaacuterio como a nossa memoacuteria
fica cada vez mais enriquecida pois o tempo passa e a memoacuteria cresce proporcionalmente
(CUCHE 1999) Logo eacute sensato valorizar a identidade cultural de um povo pois atraveacutes dela
alcanccedilamos as diversas histoacuterias de nossos antepassados (CUCHE 1999)
Frente a tudo que foi explanado compreendemos que a comunidade de Pimenteiras
pode ser definida como comunidade tradicional pois eacute culturalmente diferenciada Assim
nessa construccedilatildeo da identidade coletiva do grupo os siacutembolos os saberes as tradiccedilotildees estatildeo
ligados agrave reproduccedilatildeo cultural social e econocircmica da comunidade que aleacutem de tudo tem
como consequecircncia a proteccedilatildeo da biodiversidade local Ao compreenderem que os recursos
naturais satildeo esgotaacuteveis e valiosos para a sauacutede os moradores da comunidade de Pimenteiras
buscam preservar e proteger os saberes sobre as plantas medicinais a ponto de construir sua
identidade cultural nesse domiacutenio
Eacute assim que a comunidade tradicional de Pimenteiras eacute conhecida e se reconhece
como pertencente a um grupo social particular que se estabelece pela identidade construccedilatildeo e
reconstruccedilatildeo de um grupo A comunidade remanescente de quilombola desenvolve seus
saberes na relaccedilatildeo com o outro e com a natureza fazendo cultura e garantindo a sobrevivecircncia
de seu grupo (CASTRO 2000) Por isso eacute necessaacuterio conhecer e respeitar os saberes
preservados na memoacuteria de um povo juntamente com o ambiente natural em que vivem
A valorizaccedilatildeo do conhecimento popular estaacute intimamente ligada ao fortalecimento
cultural e identitaacuterio da comunidade de Pimenteiras que por sua vez faz da praacutetica de uso das
plantas medicinais a simboacutelica relaccedilatildeo que os moradores desenvolveram ao longo do tempo
com a natureza com eles mesmos e com o mundo que os cerca Os saberes e praacuteticas de
cuidado com a sauacutede atrelados ao uso das plantas medicinais dizem respeito agrave estreita
relaccedilatildeo existente entre aspectos socioculturais e ambientais que constituem a identidade
cultural de um povo (BADKE 2008)
Observando os aspectos que marcam a identidade cultural da comunidade de
Pimenteiras passaremos no capiacutetulo seguinte agrave fundamentaccedilatildeo desse estudo sobre os termos
catalogados das plantas medicinais da comunidade analisando a importacircncia do legado de
identidade e cultura popular Para isto seratildeo consideradas as especificidades das plantas
medicinais diante do saber cientiacutefico e da sabedoria tradicional analisados por meio da aacutervore
60
de domiacutenio Em seguida daremos continuidadeaos estudos sobre as ciecircncias do termo e a
terminologia nas especialidades da nomeaccedilatildeo das plantas medicinais Junto a este estudo
abordaremos as particularidades da Terminologia ateacute a Socioterminologia como fundamentos
essenciais para o estudo do termo das plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
61
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
Neste capiacutetulo apresentamos os fundamentos teoacutericos deste trabalho buscando os
conhecimentos sobre Liacutengua Terminologia Socioterminologia e Termo Segundo Perini
(2010 p 01-02) a liacutengua eacute ldquoum sistema programado em nosso ceacuterebro que essencialmente
estabelece uma relaccedilatildeo entre os esquemas mentais que formam nossa compreensatildeo do mundo
e um coacutedigo que os representa de maneira perceptiacutevel aos sentidosrdquo A liacutengua eacute caracterizada
como sistema de grande complexidade que envolve regras leacutexicos expressotildees e clichecircs que
se encontram enraizados na cultura Eacute por meio dela que manifestamos exteriormente nossa
capacidade humana de utilizar a linguagem
A terminologia por sua vez eacute a ciecircncia que ldquotoma o leacutexico especializado ou
temaacutetico que eacute composto pelos termos teacutecnico-cientiacuteficos como seu objeto principal de
estudos e de aplicaccedilotildees Eacute uma aacuterea que recorta do universo leacutexico os termos teacutecnico-
cientiacuteficosrdquo (KRIEGER 2011 p 443) Os estudos terminoloacutegicos atuais tecircm enfatizado a
perspectiva social dos termos assim a Socioterminologia eacute tambeacutem parte de tais estudos da
Terminologia Faulstich (1995) explica que a socioterminologia eacute uma disciplina descritiva
que estuda o termo na perspectiva linguiacutestica da interaccedilatildeo social ldquoeacute a disciplina que se ocupa
da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguumliacutesticas dos termos em diferentes tipos
de situaccedilatildeo de uso da liacutenguardquo (FAULSTICH 1995 p 1)
Para Sager (1998 apud DIAS 2000 p 90) a terminologia tida como teoria ldquoeacute um
conjunto de premissas argumentos e conclusotildees necessaacuterio para explicar o relacionamento
entre conceitos e termos especializadosrdquo Jaacute como praacutetica a terminologia ldquoeacute um conjunto de
meacutetodos e atividades voltado para coleta descriccedilatildeo processamento e apresentaccedilatildeo de termos
como produto eacute um conjunto de termos ou vocabulaacuterio de uma determinada especialidaderdquo
O termo por sua vez apresenta trecircs concepccedilotildees Segundo os estudos de Cabreacute (1995
apud DIAS 2000 p 90) tem-se a concepccedilatildeo linguiacutestica de que os termos satildeo uma forma de
saber ou seja ldquoos termos satildeo o conjunto de signos linguumliacutesticos que constituem um
subconjunto dentro do componente leacutexico da gramaacutetica de determinada pessoardquo No campo da
filosofia o termo eacute uma forma de conhecer em que ldquoa terminologia eacute um conjunto de
unidades cognitivas que representam o conhecimento especializadordquo Finalmente o termo eacute
uma forma de transferir e comunicar pois ldquoa terminologia eacute o conjunto das unidades de
expressatildeo e comunicaccedilatildeo que permitem transferir o pensamento especializadordquo
62
Cada aacuterea de conhecimento aborda seus termos de forma diferente e especializada
Assim na primeira parte desse capiacutetulo apresentaremos algumas compreensotildees sobre a
importacircncia da Liacutengua na identidade cultural dos moradores da comunidade de Pimenteiras
cuja cultura conhecemos por meio da anaacutelise da linguagem especializada sobre as plantas
medicinais No toacutepico seguinte verificaremos os aspectos sobre o conhecimento cientiacutefico e
popular a respeito das plantas de uso medicinal considerando que estas marcam e identificam
a comunidade quilombola Para isto utilizamos um organograma expondo as particularidades
de saber sobre as plantas medicinais no acircmbito cientiacutefico e popular
Na sequecircncia apresentamos a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o saber
popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras trazendo os aspectos
sobre a importacircncia da Terminologia nos estudos especializados da nomeaccedilatildeo Seguimos a
discussatildeo apresentando os pontos relacionados agrave variaccedilatildeo dos termos na linguagem
especializada de grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos Com isso notamos a
importacircncia de analisar a variaccedilatildeo terminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais da
comunidade de Pimenteiras
Em seguida examinamos os assuntos que passaram a ser considerados importantes
nos estudos terminoloacutegicos ndash a liacutengua no social ndash e compreendemos o funcionamento da
linguagem especializada no contexto social da comunidade tendo para isto a contribuiccedilatildeo da
Socioterminologia nos estudos dos termos sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
Logo depois seguimos com o assunto trazendo discussotildees sobre a necessidade de
valorizar os termos no ambiente discursivo pragmaacutetico e social propondo um diaacutelogo entre
as aacutereas do conhecimento uma vez que por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos eacute possiacutevel
valorizar e popularizar o conhecimento sobre as plantas medicinais de Pimenteiras
Em seguida apresentamos o foco principal deste estudo o termo Observamos que os
estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais no processo de anaacutelise da natureza e da
descriccedilatildeo das particularidades pertencentes aos termos que eacute a base do estudo Terminoloacutegico
sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
31 A IMPORTAcircNCIA DA LIacuteNGUA NA IDENTIDADE CULTURAL
Ao refletirmos sobre os aspectos da Liacutengua na comunidade remanescente de
quilombola de Pimenteiras observamos que conhecer a liacutengua de um povo eacute tambeacutem
63
conhecer sua identidade Ressaltamos que a liacutengua eacute um sistema complexo e para entendecirc-lo eacute
indispensaacutevel primeiro conhecer o leacutexico pois ele reflete as heranccedilas dialetos marcas sociais
e culturais dos seus falantes Para Coelho e Mesquita (2013 p 25) a liacutengua nasceu da
necessidade de comunicaccedilatildeo entre os homens e ldquopermitiu ao ser humano interagir
verbalmente com o outro exteriorizando seus pensamentos expressando-se comunicando-se
por meio da fala da escrita e de outras formas de linguagemrdquo Segundo as autoras ldquoas
relaccedilotildees sociais estreitaram-se e as ideias a cultura as ideologias e os conhecimentos
puderam ser amplamente difundidosrdquo (COELHO MESQUITA 2013 p 25) A Liacutengua
facilita a comunicaccedilatildeo entre as pessoas e contribui para a realidade que temos hoje marcada
pela troca de conhecimento e disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees pois pessoas de uma localidade
podem conhecer a cultura de outras
A liacutengua envolve todas as accedilotildees e pensamentos humanos e possibilita ao indiviacuteduo
exercer influecircncias ou ser influenciado pelo outro desempenhar seu papel social na
sociedade relacionar-se como os demais participar na construccedilatildeo de conhecimentos
e da cultura (COELHO E MESQUITA 2013 p 25)
No campo da liacutengua percebemos que os moradores quilombolas da comunidade de
Pimenteiras apresentam grande saber sobre o uso medicinal das plantas devido ao vasto
conhecimento que seus antepassados possuiacuteam sobre a flora e a fauna Diante disso ao
nomear as coisas e o meio que os rodeiam os moradores de Pimenteiras formam e expressam
a sua histoacuteria sua cultura sua liacutengua e sua identidade Eacute a liacutengua que ao carregar valores e
ideologias imprime na accedilatildeo de nomear que eacute cercada de escolhas sociais e culturais a marca
de identidade do falante (LEIRO sd) Eacute a partir principalmente dessas concepccedilotildees que se
desenvolve uma reflexatildeo acerca das relaccedilotildees ideoloacutegicas que as denominaccedilotildees de algumas
plantas de uso medicinal podem possuir
O nome natildeo eacute dado de forma aleatoacuteria sempre quer dizer algo nomear eacute uma
relaccedilatildeo complexa com a significaccedilatildeo que denota grande polecircmica e inquietaccedilatildeo entre os
pesquisadores Assim quando pensamos em nomear e no que o nome significaraacute logo
imaginamos alguma qualificaccedilatildeo que sirva para marcar as coisas pessoas e lugares que lhes
sejam exclusivos pois os significados dos nomes organizam e classificam as formas de
perceber a realidade aleacutem de estarem ligados diretamente com a cultura de uma dada
comunidade (MOREIRA 2012)
Coelho e Mesquita (2013) explicam que na liacutengua entram constantemente leacutexicos
novos enquanto que outros caem em desuso devido agrave liacutengua estar sujeita a mudanccedilas O
conhecimento em relaccedilatildeo agraves plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras chama a
64
atenccedilatildeo porque eacute um modo de preservaacute-las jaacute que muitas das plantas utilizadas como
medicamento jaacute se perderam por natildeo existir nada escrito Para Coelho e Mesquita
Os indiviacuteduos satildeo inseridos na teia social por meio da liacutengua Eacute ela quem vai
possibilitar-lhes o contato com a cultura com as ideologias com as identidades
tornando-se um instrumento para que eles possam interagir linguiacutestica e socialmente
com seus semelhantes (2013 p 27)
A liacutengua tem grande importacircncia para a sobrevivecircncia da cultura de uma localidade
visto que eacute atraveacutes dela que se faz a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade (COELHO
MESQUITA 2013)
A transmissatildeo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo do conhecimento sobre o uso das plantas
medicinais na comunidade de Pimenteiras soacute foi possiacutevel graccedilas agrave linguagem oral Apesar
disso muitos jovens deixam de lado o conhecimento sobre as plantas Esse posicionamento
deprecia o saber local e a identidade cultural dos habitantes de Pimenteiras fator que justifica
a persistecircncia de muitos moradores antigos na preservaccedilatildeo deste saber
Desde jaacute compreendemos que a identidade cultural coletiva na qual um grupo
compartilha as mesmas atitudes as mesmas crenccedilas e os mesmos comportamentos formados
no tempo e no espaccedilo eacute forjada pela interaccedilatildeo de segmentos eacutetnicos e sociais Carvalho
(2003 natildeo paginado) aponta trecircs sentidos de identidade cultural
Na percepccedilatildeo objetiva a identidade cultural de um indiviacuteduo ou grupo define-se a
partir de um conjunto de criteacuterios determinantes a origem comum a liacutengua a
cultura a religiatildeo a psicologia coletiva a ligaccedilatildeo a um territoacuterio etc e um grupo
sem estes criteacuterios natildeo pode reivindicar uma identidade cultural autecircntica Na
percepccedilatildeo subjetiva a identidade etnocultural natildeo eacute mais que um sentimento de pertenccedila ou uma identificaccedilatildeo com uma coletividade mais ou menos imaginaacuteria Na
percepccedilatildeo mais lata a identidade de cada indiviacuteduo natildeo se restringe ou circunscreve
agrave identificaccedilatildeo com um grupo determinado mas eacute sim o somatoacuterio de todos os
valores adquiridos ao longo da existecircncia e estaacute em constante construccedilatildeo e
transformaccedilatildeo
Eacute pela coletividade que podemos observar que a comunidade de Pimenteiras busca
preservar sua identidade e conhecimento pelas plantas medicinais por meio dos moradores
mais antigos Mas eacute tambeacutem por meio dos mais jovens que novos saberes satildeo inseridos na
comunidade como forma de renovaccedilatildeo da cultura quilombola e consequentemente da
liacutengua pois segundo Hjelmslev (1975 p 1)
A linguagem eacute o instrumento graccedilas ao qual o homem modela seu pensamento seus
sentimentos suas emoccedilotildees seus esforccedilos sua vontade e seus atos o instrumento
graccedilas ao qual ele influencia e eacute influenciado a base uacuteltima e mais profunda
da sociedade humana
65
Diante disto entendemos que a identidade cultural define cada um de noacutes e
particularmente na comunidade de Pimenteiras eacute o que diferencia e distingue os moradores
da regiatildeo Nesse contexto o conhecimento popular sobre as plantas medicinais eacute algo que traz
a marca de um povo que preserva e utiliza seus saberes Assim apresentamos na seccedilatildeo
seguinte os aspectos relacionados ao conhecimento das plantas medicinais no acircmbito do
conhecimento cientiacutefico e popular utilizando como recurso de melhor visualizaccedilatildeo o
organograma sobre as plantas medicinais
311 Plantas Medicinais conhecimento cientiacutefico e popular
Ao utilizarmos as plantas para fins diversos relembramos de nossos antepassados
mais distantes que usavam as plantas como recurso para a cura de doenccedilas Sabemos das
inuacutemeras funccedilotildees que elas podem assumir desde alimentaccedilatildeo ateacute o uso em construccedilotildees
vestuaacuterio e como jaacute foi citado para fins medicinais Por muito tempo as antigas civilizaccedilotildees
usufruiacuteram o grande poder que as plantas possuem Segundo relatos de Tomazzoni et al
(2006 natildeo paginado) os hebreus egiacutepcios e assiacuterios cultivavam plantas medicinais desde o
ano 2300 aC adquirindo durante suas expediccedilotildees vaacuterias espeacutecies das quais se produziam
medicamentos para males diversos
Com o passar dos tempos o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais foi
transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo e hoje mesmo com o avanccedilo na medicina moderna
muitos ainda utilizam desse saber sobre as plantas no tratamento de doenccedilas Por isso natildeo se
pode deixar agrave margem o conhecimento tradicional sobre as plantas de uso medicinal pois essa
forma de conhecimento faz parte da nossa cultura Construiacutemos e desenvolvemos o
conhecimento em nossas praacuteticas diaacuterias assim denomina Borda (1984 p 48) ldquoconhecimento
praacutetico empiacuterico que ao longo dos seacuteculos tem possibilitado enquanto meios naturais
diretos que as pessoas sobrevivam criem interpretem produzam e trabalhemrdquo
Todas as informaccedilotildees acumuladas ao longo do tempo por uma determinada
comunidade em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas seus valores e sua cultura vivenciada e
experimentada satildeo consideradas em contexto do conhecimento tradicional Sendo variaacutevel e
abalaacutevel o saber popular eacute modificado e reformulado pela comunidade em que estatildeo inseridos
(KOVALSKI et al 2010) Segundo Diegues et al (2000 p 30) o conhecimento tradicional eacute
66
ldquocomo o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural sobrenatural
transmitido oralmente de geraccedilatildeo em geraccedilatildeordquo
Para Dickmann e Dickmann (2008 p 70) ldquoo saber popular eacute entendido como aquele
adquirido nas lutas que natildeo estaacute escrito nos livros aquele que eacute fruto das vaacuterias experiecircncias
vividas e convividas em tempos e espaccedilos diversos na histoacuteria do povordquo O conhecimento
popular estaacute relacionado com o povo com o individual que eacute transmitido entre as geraccedilotildees
por experiecircncias proacuteprias recebe este nome popular por natildeo haver uma explicaccedilatildeo digamos
ldquoloacutegicardquo de como as coisas funcionam de como uma pessoa sabe que tem de ser feito assim
porque viu algueacutem fazendo e deu certo sem saber explicar ldquocientificamenterdquo como funciona
O conhecimento popular seria uma espeacutecie de educaccedilatildeo informal e suas principais
caracteriacutesticas satildeo a superficialidade sensibilidade subjetividade e independecircncia do valor do
conhecimento criacutetico Jaacute o conhecimento tradicional estaacute relacionado com a tradiccedilatildeo de um
grupo envolvendo saberes empiacutericos com praacuteticas crenccedilas e costumes passados de pais para
filhos dentro desse grupo (KOVALSKI et al 2010)
Diante dos conceitos apresentados podemos compreender que a valorizaccedilatildeo dos
conhecimentos tradicionais e populares de um determinado grupo eacute muito importante pois
aleacutem de resgatar os saberes quase esquecidos no tempo proporciona tambeacutem o
fortalecimento e a difusatildeo destes saberes para a sociedade Assim vale citar uma passagem de
Chassot na qual o autor resgata tais saberes e teacutecnicas utilizadas por pessoas simples mas que
possuem um valor inestimaacutevel
[] o pescador solitaacuterio que encontramos em silenciosas meditaccedilotildees sabendo onde
e quando deve jogar a tarrafa tambeacutem tem saberes importantes A lavadeira que
sabe escolher a aacutegua para os lavados tem os segredos para remover manchas mais renitentes ou conhece as melhores horas de sol para o coaro A parteira que os anos
tornaram doutora conhece a influecircncia da lua nos nascimentos e tambeacutem o chaacute que
acalmaraacute as coacutelicas do receacutem nascido A benzedeira natildeo apenas faz rezas maacutegicas
que afastam o mau-olhado ela conhece chaacutes para curar o cobreiro que o
dermatologista diagnostica como herpes-zoster O explorador de aacuteguas que indica o
local propiacutecio para se abrir um poccedilo ante o vergar de sua forquilha de pessegueiro
tem conhecimentos de hidrologia que natildeo podem ser simplesmente rejeitados (2006
p 221)
Outras formas de conhecimento foram por muito tempo ignoradas pelos cientistas
hoje a situaccedilatildeo eacute diferente Para Marconi e Lakatos (2005) ldquo[] a ciecircncia natildeo eacute o uacutenico
caminho de acesso ao conhecimento e agrave verdaderdquo nos estudos de Posey (1987) e em
pesquisas feitas pelos Etnoecoacutelogos44
e Etnobioacutelogos45
sobre as comunidades tradicionais
44 A Etnoecologia eacute uma nova disciplina hiacutebrida transdisciplinar e poacutes-normal que valoriza os conhecimentos
milenares das comunidades sobre a natureza Para maior conhecimento pesquisar no site
67
observamos que haacute um resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes populares que chamam cada vez
mais a atenccedilatildeo com novas reflexotildees sobre os paradigmas jaacute existentes provocando com isso
resultados positivos para o conhecimento cientiacutefico
O fato eacute que os estudos recentes sobre o conhecimento popular tecircm ganhado
importacircncia para o nosso proacuteprio benefiacutecio Assim Silva (2002 p 26) expotildee que ldquo[] os
estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular tecircm merecido atenccedilatildeo
cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm oferecendo agraves ciecircncias do
homemrdquo
No que concerne ao conhecimento cientiacutefico este eacute consagrado por passar por
inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute ser considerada ciecircncia Nas palavras de Lopes (1999) o
conhecimento cientiacutefico trata-se de
Todo conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por
excelecircncia sem influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e
provado a partir dos dados da experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo (1999 p106)
Nas explanaccedilotildees de Cunha (2007) os saberes populares podem acolher com a
mesma intensidade explicaccedilotildees diversas de um mesmo fenocircmeno por um mesmo grupo de
pessoas ou comunidade pois eacute atraveacutes da observaccedilatildeo que as diferenccedilas se fazem tecircnues entre
o conhecimento popular e o cientiacutefico
No que concerne ao conhecimento referente ao mundo vegetal o uso de plantas com
propriedades terapecircuticas vem de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo devido ao contato com o meio ambiente
que as famiacutelias possuiacuteam Segundo Newall (2002) os fatores que influenciam o uso das
plantas com fins terapecircuticos vecircm do baixo niacutevel de vida da populaccedilatildeo junto ao alto custo
dos medicamentos Com isso os saberes acumulados durante seacuteculos satildeo mantidos na praacutetica
fitoteraacutepica
Contudo o uso popular das plantas natildeo eacute suficiente para legitimar sua eficaacutecia e
seguranccedila como medicamento Este uso tem de passar pela experimentaccedilatildeo comprovada
diante dos benefiacutecios que possam conter (BADKE 2008)
No entanto o uso medicinal das plantas eacute uma das praacuteticas mais antigas no trato de
enfermidades no homem e isso proveacutem do conhecimento popular Para Diegues e Arruda
httpwwwantropologiasocialcombra-etnoecologia-uma-ciencia-pos-normal-que-estuda-as-sabedorias-
tradicionaispdf 45 A Etnobiologia eacute o estudo cientiacutefico da dinacircmica de relacionamentos entre as pessoas e seus grupos culturais e o meio ambiente desde o passado ateacute o tempo presente Para maior aprofundamento no assunto visitar o site
httpwwwetnobiologiaorgindexphp
68
(2001) o conhecimento tradicional soacute pode ser interpretado dentro do contexto cultural em
que eacute gerado Entretanto vemos que a modernidade traz novos modos de vida que estatildeo
desvinculados das tradiccedilotildees populares Com as grandes mudanccedilas entre as realidades
culturais o contato com o outro passa a ser visto de forma diferente o outro pode ser
percebido como superior e a cultura de um grupo pode ser desvalorizada omitida negada e
esquecida (CASTELLS 1999)
Na comunidade de Pimenteiras os uacutenicos recursos medicinais vecircm do conhecimento
tradicional do saber das plantas que aleacutem de proporcionar benefiacutecios agrave sauacutede do corpo e
tambeacutem da alma possui um significado cultural para a comunidade No entanto a
continuidade dessas praacuteticas estaacute ameaccedilada por diversos fatores ligados ao dinamismo social
agrave economia e agrave cultura externa
Contudo eacute necessaacuterio indagar qual a contribuiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico para o
saber popular sobres as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras O que eacute
Terminologia Buscamos no toacutepico seguinte responder tais questionamentos direcionados ao
campo de conhecimento cientiacutefico na seara dos estudos terminoloacutegicos a serem explanados
sobre as plantas medicinais
32A IMPORTAcircNCIA DA TERMINOLOGIA NOS ESTUDOS ESPECIALIZADOS
Segundo a anaacutelise de Vygotsky (1896-1934) uma palavra que natildeo representa uma
ideia eacute algo morto da mesma forma que uma ideia natildeo incorporada em palavras natildeo passa de
uma sombra Nomear significa pois dar vida ao ser nomeado Haacute muito tempo o homem cria
e utiliza as palavras para nomear conceitos objetos e processos nas diversas aacutereas do
conhecimento Ao nomear as realidades que nos cercam cria-se um universo que passa a ser
desvendado pela linguagem Nessa construccedilatildeo do real a liacutengua revela aspectos que marcam
os sujeitos produzindo distinccedilotildees que particularizam os objetos e identificam os traccedilos da
cultura de um povo
Refletindo sobre os aspectos da linguagem de um povo podemos analisar diferentes
termos utilizados para nomear e particularizar o objeto nomeado Nesse acircmbito os estudos
cientiacuteficos direcionados agrave Terminologia crescem cada vez mais em pesquisas na aacuterea da
linguagem especializada O leacutexico de uma liacutengua eacute uma forma de registrar o conhecimento do
mundo a nossa volta ao darmos nomes agraves coisas identificamos as semelhanccedilas e os traccedilos
69
distintivos que individualizam cada objeto a ser nomeado por meio de estruturas que o
homem cria no mundo atraveacutes das palavras ou termos46
Entretanto agrave medida que vivemos
novas realidades surgem e satildeo criadas ampliando assim o leacutexico com novas dimensotildees
impossiacuteveis de serem registradas e descritas por meio de um dicionaacuterio
Diante dos questionamentos sobre a nomeaccedilatildeo surge como ciecircncia a Terminologia
inicialmente frente agrave necessidade de uma padronizaccedilatildeo da linguagem ou seja de
normatizaccedilatildeo da Liacutengua devido ao grande desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico ocorrido
no decorrer da histoacuteria humana A Terminologia conforme afirma Rondeau eacute a linguagem
especializada que haacute seacuteculos faz parte da linguagem humana
A terminologia natildeo eacute um fenocircmeno recente Com efeito tatildeo longe quanto se
remonte na histoacuteria do homem desde que se manifesta a linguagem nos
encontramos em presenccedila de liacutenguas de especialidade eacute assim que se encontra a
terminologia dos filoacutesofos gregos a liacutengua de negoacutecios dos comerciantes cretas os
vocaacutebulos especializados da arte militar etc (RONDEAU 1984 apud KRIEGER
FINATTO 2004 p 24)
Assim observa-se que na Liacutengua o ato de nomear tem sua forma natural de ser e
por isso segue rigorosamente sua natureza de fazer Os nomes mudam porque sempre se pode
acrescentar ou tirar letras de sua forma Contudo todos os nomes vecircm de acordos ou
convenccedilotildees entre os falantes sendo que em cada grupo social e cultural os nomes variam de
acordo com o que estiver convencionado pelo grupo Deste modo os nomes variam de povo
para povo de falante para falante porque seguem a tradiccedilatildeo natural de se nomear (PLATAtildeO
1973)
O modo como organizamos as nossas relaccedilotildees e comportamentos numa comunidade
especiacutefica pode ser percebido dentro do contexto social em que a linguagem eacute aplicada das
escolhas que fazemos dos nossos valores culturais das nossas normas de comportamento e
ateacute mesmo na nossa proacutepria filosofia de vida Eacute atraveacutes dos estudos terminoloacutegicos que
podemos analisar o modo como cada pessoa cada grupo social cada comunidade molda a
linguagem ao lado de suas bases culturais discursos e objetivo na comunicaccedilatildeo
Perante agraves variantes dentro da Liacutengua a terminologia em todo seu desenvolvimento
e reconhecimento de valor apresenta hoje um estudo sobre a comunicaccedilatildeo especializada
dentro do contexto social no qual privilegia a variaccedilatildeo dos termos como constitutivos do
discurso este estudo recebe o nome de Socioterminologia
46 O termo eacute o elemento linguiacutestico que constitui a expressatildeo lexical dos saberes especializados Eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da produccedilatildeo do saber ou seja a univocidade da comunicaccedilatildeo especializada eacute
favorecida pelo uso dos termos
70
A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma
terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua
aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das
praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis
porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam
entre trabalho e linguagem (GAUDIN 1993 p 216)
Diante das exposiccedilotildees feitas sobre a Terminologia seguiremos no toacutepico abaixo com
os pontos relacionados a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada campo este de
grande interesse nos estudos socioterminoloacutegicos A partir dele observamos qual a
importacircncia de analisar a variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras
321 A variaccedilatildeo dos termos na linguagem especializada
Sabendo que o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e coletiva num
processo no qual o sujeito interage com a realidade as pessoas e o ambiente sociocultural
Faulstich (1995 p 281) afirma que no campo da linguagem ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo
no universo da terminologia revelam peculiaridades proacuteprias a serem estudadas pela
disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para a sistematizaccedilatildeo de termos e de
variantesrdquo
Percebendo que a linguagem especializada natildeo eacute uma liacutengua artificial e sim uma
realizaccedilatildeo da liacutengua natural que possui todas as particularidades pertencentes a qualquer
liacutengua viva observou-se que as diferenciaccedilotildees ocorridas na linguagem vecircm da diversidade
dos discursos na liacutengua e na cultura de cada povo No que concerne ao termo linguagem
especializada Finatto explica que
Uso o termo linguagem especializada e natildeo ldquolinguagem de especialidaderdquo por
entender que natildeo haveria uma ldquoposserdquo estrita dessa linguagem pelo usuaacuterio ou pela
aacuterea de saberconhecimento Entendo que eacute a linguagem que se faz diferenciada ela
se altera em alguns de seus formatos pela accedilatildeo dos sujeitos envolvidos e pelas condiccedilotildees pragmaacutetico-linguumliacutesticas e situacionais da comunicaccedilatildeo entre profissionais
(FINATTO 2004 p 342)
Quanto agrave existecircncia de variantes terminoloacutegicas Faulstich (2001 p 22) defende que
dependendo da funccedilatildeo realizada nos contextos o termo pode assumir diversos valores
71
ldquoConsideramos mais uma vez que variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a
comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica faz do termordquo (FAULSTICH
2OO1 p 22)
Faulstich (2001 p 21) explica que a Socioterminologia eacute necessaacuteria para analisar os
termos variantes dentro de uma metodologia particular Para a autora a Socioterminologia jaacute
era prenuacutencio para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de
natureza social Em suas pesquisas em 1995 e em estudos posteriores em 1996 e 1998
apresenta os fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos da variaccedilatildeo em terminologia Contudo eacute
somente em 1999 que a pesquisadora propotildee uma teoria da variaccedilatildeo com base numa nova
proposiccedilatildeo de anaacutelise do termo sob a perspectiva sincrocircnica e diacrocircnica
Segundo a pesquisadora as variantes terminoloacutegicas classificam-se de acordo com
sua natureza linguiacutestica e ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas variantes eacute tarefa da socioterminologia
cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da diversidade de termos que ocorrem nos planos
vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo (FAULSTICH 2006 p 29)
Seguindo um modelo funcionalista que tem como objeto cientiacutefico descrever e
explicar os proacuteprios fenocircmenos linguiacutesticos Faulstich (1996 p 1 apud CRUZ 2013 p 32)
explica que no exame da funcionalidade socioterminoloacutegica no qual a base de dados eacute a
linguagem especializada a variaccedilatildeo social do termo ocorre nos diversos niacuteveis hieraacuterquicos
do discurso cientiacutefico (CRUZ 2013 p 32)
Cruz (2013 p 35) explica que ldquoa variaccedilatildeo ocorre pela accedilatildeo do movimento gradual
do termo no tempo e no espaccedilo provocada pela funccedilatildeo de uma dada variaacutevelrdquo Observando
todos esses aspectos Faulstich (1998 p 13) amplia a tipologia das variantes trazendo assim
as variantes concorrente47
as variantes coocorrentes48
e as variantes competitivas49
Nesse
campo Cruz (2013 p 34) expotildee que
As variantes terminoloacutegicas concorrentes no qual se inscrevem os dois grupos de
tipologias apresentados anteriormente a saber as variantes terminoloacutegicas linguiacutesticas e as variantes terminoloacutegicas de registro as variantes terminoloacutegicas
coocorrentes e as variantes terminoloacutegicas competitivas
Ao compreender as diferentes variaccedilotildees dentro dos diversos discursos da Liacutengua
Cruz (2013) explica que para a construccedilatildeo da Teoria da Variaccedilatildeo em Terminologia Faulstich
47 Tambeacutem chamada de ldquoVariante formalrdquo as variantes concorrentes satildeo aquelas que podem concorrer entre si e
permanecer como tais no estrato ou que podem concorrer para a mudanccedila 48As variantes coocorrentes ou ldquoSinoniacutemias terminoloacutegicasrdquo satildeo aquelas que tecircm duas ou mais denominaccedilotildees
para um mesmo referente 49 ldquoEmpreacutestimos linguiacutesticosrdquo ou variantes competitivas satildeo aquelas que relacionam significados entre itens
lexicais de liacutenguas diferentes quer dizer itens lexicais de uma liacutengua B preenchem lacunas de uma liacutengua A
72
(2001 p 54) levou em conta que a unidade terminoloacutegica o termo ldquopode assumir diferentes
valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha nos contextos de
ocorrecircnciardquo Com efeito o termo seraacute funcional dentro de uma linguagem especializada
porque assumiraacute uma funccedilatildeo especiacutefica de determinado valor de acordo com o contexto de
uso Sob um ponto de vista socioterminoloacutegico Faulstich restaura a ideia de que a variaccedilatildeo eacute
tambeacutem um fenocircmeno terminoloacutegico e que o seu estudo deve ser desenvolvido no acircmbito da
terminologia (CRUZ 2013 p 39-40)
Compreendendo que eacute na linguagem que ocorre frequentemente a variaccedilatildeo
terminoloacutegica no que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais observamos que os
diferentes fatores sociais culturais e histoacutericos interferem na variaccedilatildeo terminoloacutegica
reafirmando um caraacuteter especiacutefico na linguagem de uso dos moradores da regiatildeo de
Pimenteiras Ao estudar as unidades terminoloacutegicas de um determinado domiacutenio Faulstich
(2006 p 27) explica que as condiccedilotildees sociais em que a comunicaccedilatildeo dessas unidades ocorre
seratildeo estudadas pela Socioterminologia
Para falar de terminologia em sentido mais estrito quer dizer de terminologia como
disciplina que sistematiza termos e conceitos eacute preciso falar tambeacutem do discurso de
onde proveacutem Neste caso excetuando o linguajar corriqueiro que como jaacute se disse
apresenta grande quantidade de terminologias usadas no dia-a-dia eacute preciso
considerar que pelo menos trecircs discursos estatildeo na base da produccedilatildeo terminoloacutegica
isso porque nenhum termo eacute usado fora da situaccedilatildeo discursiva em que eacute criado
Assim sendo discursos de diversas naturezas como o cientiacutefico o teacutecnico e o de
vulgarizaccedilatildeo satildeo a fonte natural de onde emergem os termos usados nas
comunicaccedilotildees entre profissionais Muitos desses termos entram vulgarizados no leacutexico comum por meio dos mais diversos recursos como a metaacutefora a elipse a co-
referecircncia entre outros sem por isso perderem o sentido de base Eacute este sentido
que ativa o senso comum e difunde o conceito original
O movimento do termo na linguagem especializada eacute explicado pela
Socioterminologia que tem como base a variaccedilatildeo do termo no campo social que antes era
visto como invariaacutevel Nesse sentido a variaccedilatildeo e as mudanccedilas na sociedade provocam
transformaccedilotildees no termo que eacute gerado usado e modificado
Faulstich (1995 p 7) valoriza a Socioterminologia como uma nova abordagem para
anaacutelise do termo na comunicaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica Contudo adverte que a
Socioterminologia ldquonatildeo eacute de fato uma disciplina derivada da sociolinguiacutestica poreacutem natildeo se
pode negar que eacute a visatildeo mais flexiacutevel da sociedade e da comunidade que conduz os
especialistas em terminologia a esse novo percursordquo Diante disso em sua anaacutelise a
pesquisadora acrescenta que
73
Como ramo da terminologia a socioterminologia eacute um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos
a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da
elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a
sociedade (2006 p 30)
Sabendo que os termos da linguagem especializada estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo seja no
tempo espaccedilo ou na sociedade a variaccedilatildeo nos estudos terminoloacutegicos ndash por exemplo os
termos de uso popular sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras ndash passa a ser
reconhecida como fenocircmeno natural descrita e analisada de forma cientiacutefica pela
Socioterminologia Perceber como os termos sobre as plantas medicinais passam pela
variaccedilatildeo de seus elementos eacute tambeacutem entender a cultura histoacuteria e identidade de um povo
pois eacute por meio do estudo da variaccedilatildeo dos termos de Pimenteiras que compreendemos as
constantes mudanccedilas e evoluccedilotildees que acontecem com os moradores da regiatildeo trazendo assim
o entendimento sobre os domiacutenios de especialidade na Liacutengua que distinguem a trajetoacuteria
identitaacuteria dos quilombolas
Diante do que foi explanado ateacute aqui examinaremos na seccedilatildeo seguinte como as
questotildees ocorridas no acircmbito social passaram a ser consideradas relevantes nos estudos
terminoloacutegicos ou seja a necessidade de compreender o funcionamento da linguagem
especializada no contexto social da comunidade de Pimenteiras tendo a contribuiccedilatildeo da
Socioterminologia nesse estudo sobre os termos das plantas medicinais
33 SOCIOTERMINOLOGIA A LINGUAGEM NO AcircMBITO SOCIAL
A anaacutelise dos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade
de Pimenteiras por via dos estudos socioterminoloacutegicos se deu a partir da necessidade de
compreender como a liacutengua funciona no contexto na comunidade pois observamos que toda
sociedade se encontra em constante transformaccedilatildeo e com ela a linguagem eacute vista como uma
das mais fortes interventoras nos comportamentos sociais
Sabendo que a Socioterminologia privilegia os aspectos sociais da linguagem de
especialidade e preocupa-se com os aspectos sociais e variacionista da liacutengua ou melhor com
o uso real da linguagem especializada Faulstich apresenta a Socioterminologia como um
ramo da Terminologia que
74
Se propotildee a refinar o conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as
circunstacircncias da elaboraccedilatildeo desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a
terminologia e a sociedade (2006 p 29)
A Socioterminologia se baseia na observaccedilatildeo do funcionamento da linguagem e no
estudo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos termos Com a posiccedilatildeo de disciplina de
caraacuteter teoacuterico e natildeo somente de um meacutetodo analiacutetico aplicado a Socioterminologia contribui
para o desenvolvimento de pesquisas teoacuterico-praacuteticas que levem em conta o termo e suas
variantes Como praacutetica do trabalho terminoloacutegico a Socioterminologia segundo Faulstich
(1995) fundamenta-se na anaacutelise das condiccedilotildees de circulaccedilatildeo do termo no funcionamento da
linguagem Com caraacuteter descritivo a Socioterminologia estuda o termo sob o aspecto da
linguiacutestica na interaccedilatildeo social no qual sua pesquisa deve ter o auxiacutelio dos criteacuterios da
variaccedilatildeo e da mudanccedila dos termos no meio social como tambeacutem dos princiacutepios etnograacuteficos
que trazem os conceitos interacionistas entre os membros da sociedade No contexto da
variaccedilatildeo terminoloacutegica Faulstich (1995) explica que
O termo perde cada vez mais sua caracteriacutestica de entidade uniacutevoca em favor de
uma interpretaccedilatildeo variacionista que considera as diversidades de comunicaccedilatildeo entre
pessoal de direccedilatildeo de setores administrativos de setores de pesquisa de produccedilatildeo e
de comercializaccedilatildeo dentro das empresas o meio mais adequado para a descriccedilatildeo dos
termos cientiacuteficos e teacutecnicos
Essa interpretaccedilatildeo socioterminoacutelogica vem da etnografia que tem por base o caraacuteter
interacionista ou seja o engajamento entre as pessoas e a influecircncia muacutetua de uns para com
os outros no contexto social Faulstich (1995) explica que ao registrar as variaccedilotildees ocorridas
no campo social deve-se levar em conta os contextos social situacional espacial e linguiacutestico
em que os termos circulam
Diante dos conceitos explanados sobre os aspectos da variaccedilatildeo observa-se que a
Socioterminologia focaliza os dados terminoloacutegicos na pluralidade da liacutengua constituindo
normas que evidenciam o uso da variaccedilatildeo Assim Faulstich (2006) expotildee que ldquoas variantes
decorrem de uso em contextos discursivos de diferentes niacuteveis do movimento da liacutengua no
percurso histoacuterico de empreacutestimos de usos regionais entre outras categorias desde que
mantenham o significado implicadordquo
Observamos assim que a Socioterminologia assume um caraacuteter descritivo na
linguagem especializada em uso dando maior ecircnfase agrave comunicaccedilatildeo que traz em seu contexto
manifestaccedilotildees discursivas que necessitam dos elementos da variaccedilatildeo (GAUDIN 1993)
Segundo Barros (2004 p 69) o pesquisador Gaudin (1993) expotildee que eacute fundamental para a
75
Socioterminologia levar em consideraccedilatildeo o uso dos termos e situar a linguagem especializada
em seu contexto social Desse modo ldquoa praacutetica terminoloacutegica eacute inseparaacutevel tanto do
conhecimento do espaccedilo da accedilatildeo onde ela se daacute quanto das praacuteticas de linguagem que visam
modificar ou assegurarrdquo (GAUDIN 1993 p 212 apud BARROS 2004 p 69)
Nas pesquisas de Faulstich (1995) o termo em estudos anteriores deveria ser uma
unidade denotativa sem relaccedilotildees sinoniacutemicas ou polissecircmicas Hoje a praacutetica terminoloacutegica
demonstra que um mesmo conceito poderaacute ser expresso por termos que apresentem variaccedilotildees
sejam elas morfoloacutegicas regionais ou socioprofissionais Eacute este o princiacutepio subjacente agrave
Socioterminologia conforme exposto pela pesquisadora
A socioterminologia eacute portanto um ramo da terminologia que se propotildee a refinar o
conhecimento dos discursos especializados cientiacuteficos e teacutecnicos a auxiliar na
planificaccedilatildeo linguumliacutestica e a oferecer recursos sobre as circunstacircncias da elaboraccedilatildeo
desses discursos ao explorar as ligaccedilotildees entre a terminologia e a sociedade
(FAULSTICH 2006)
Nos estudos socioterminoloacutegicos como jaacute foi mencionado a base eacute a anaacutelise das
condiccedilotildees de funcionamento dos termos como elementos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dentro
de um sistema linguiacutestico e socialTais elementos foram adquiridos por meio dos princiacutepios da
sociolinguiacutestica sob a perspectiva da variaccedilatildeo e dos princiacutepios etnograacuteficos que vem da
interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo social Com caraacuteter descritivo e social a Socioterminologia defende
uma variaccedilatildeo sociodiscursiva na linguagem terminoloacutegica Segundo Faulstich (2001 p 22)
ldquoas variantes satildeo resultantes dos diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social
linguumliacutestica e geograacutefica fazem do termordquo Nesse acircmbito a comunicaccedilatildeo deve ser observada in
vivo devido agrave funccedilatildeo do contexto social pragmaacutetico e discursivo no qual os termos circulam
isto se opotildee intensamente ao condicionamento in vitro imposto pela teoria wusteriana
Analisamos assim que a base dos estudos socioterminoloacutegicos estaacute na variaccedilatildeo e na
etnografia de ordem interativa ou seja os termos catalogados sobre as plantas medicinais da
comunidade de Pimenteiras foram analisados nos diferentes niacuteveis sociais e culturais em que
ocorrem Verificamos que na linguagem especializada sobre as plantas medicinais os termos
deixam de ser uma unidade uniacutevoca para serem meditados na interpretaccedilatildeo variacionista em
que a comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade eacute motivada por diferentes termos para
um mesmo conceito ou por vaacuterios conceitos para um mesmo termo
Diante de tais aspectos precisamos conhecer e analisar os contextos sociais
religiosos culturais de gecircnero e da identidade quilombola nos quais a linguagem ocorre
tomando como foco os saberes medicinais sobre as plantas da regiatildeo respeitando e analisando
76
por meio dos estudos socioterminoloacutegicos os termos catalogados pelos moradores sem
interferir no estado natural desse objeto de estudo a fim de garantir a fidelidade dos dados e
dos resultados alcanccedilados na pesquisa de campo A Socioterminologia eacute pois uma ciecircncia
que reconhece a variaccedilatildeo terminoloacutegica
A socioterminologia com o suposto de que deseja ultrapassar os limites de uma
terminologia ldquode escrivatildeordquo deve localizar a gecircnese dos termos sua recepccedilatildeo sua
aceitaccedilatildeo mas tambeacutem as causas do insucesso e as do sucesso no acircmbito das
praacuteticas linguumliacutesticas e sociais concretas dos homens que empregam tais termos Estas praacuteticas satildeo essencialmente aquelas que se exercem nas esferas de atividade Eis
porque a socioterminologia devia reencontrar as reflexotildees nos laccedilos que se criam
entre trabalho e linguagem (GAUDIN apud FAULSTICH 2006 p216)
Compreendendo que a variaccedilatildeo eacute um fator universal da linguagem humana e que
esse mesmo fator tambeacutem estaacute presente na linguagem especializada verificamos em Gaudin
(1993 p 16) que ldquoa socioterminologia pode levar em conta o real do funcionamento da
linguagem e restituir toda sua dimensatildeo social agraves praacuteticas linguageiras concernentesrdquo Apoacutes
essas discussotildees notamos a necessidade de valorizar os termos no ambiente discursivo
pragmaacutetico e social em que satildeo produzidos trazendo um diaacutelogo entre as aacutereas de saber Eacute
por meio dos estudos Socioterminoloacutegicos que podemos valorizar e divulgar o conhecimento
popular sobre as plantas medicinais dos moradores da comunidade de Pimenteiras assunto
este que apresentamos no toacutepico seguinte
331 A valorizaccedilatildeo e popularizaccedilatildeo do conhecimento popular agrave luz da Socioterminologia
Compreendemos que o conhecimento eacute uma expressatildeo utilizada para demonstrar
toda a experiecircncia adquirida ateacute o presente momento na histoacuteria do ser humano Somos a
soma das invenccedilotildees pensamentos criaccedilotildees da mente humana Soacutecrates (470-399 aC apud
PESSANHA 1980) jaacute dizia que o verdadeiro conhecimento vem de dentro de noacutes que natildeo eacute
encontrado apenas nos documentos mas tambeacutem nos processos e nas praacuteticas dos grupos
humanos que por meio das experiecircncias acumuladas entre as geraccedilotildees aumentam a
produtividade e conquista de novas oportunidades de conhecer
Etimologicamente a palavra conhecimento eacute derivada do latim cognitio que
significa ato ou accedilatildeo de aprender Nesse sentido aprender eacute a capacidade de absorvermos
atraveacutes dos sentidos as experiecircncias externas e a partir delas acrescentar novos
77
conhecimentos Na medida em que evoluiacutemos percebemos que o conhecimento eacute o meio que
processa o envolvimento humano com os dados e informaccedilotildees dessa accedilatildeo de conhecer que eacute
tatildeo fundamental a todos noacutes pois que algueacutem deu o conhecimento a um contexto a um
significado a uma interpretaccedilatildeo que refletiu sobre o saber e acrescentou a ele sua proacutepria
sabedoria
A abrangecircncia que o termo ldquoconhecimentordquo possui eacute muito importante para
compreendermos nossa proacutepria vivecircncia de conhecer o mundo que nos rodeia Diante desse
contexto observamos que existem definiccedilotildees diferentes para cada campo do conhecimento
Tomando os estudos de Marcondes (2001) percebemos os seguintes tipos de conhecimento
O Conhecimento Cientiacutefico que vem das leis e sistemas que explicam de modo
racional com base na experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo investigaccedilatildeo e na loacutegica sistemaacutetica do que
esta sendo observado Lopes (1999 p 106) escreve que o conhecimento cientiacutefico eacute ldquotodo
conhecimento objetivo verdadeiro em termos absolutos natildeo ideoloacutegico por excelecircncia sem
influecircncia da subjetividade e fundamentalmente descoberto e provado a partir dos dados da
experiecircncia adquiridos por observaccedilatildeo e experimentaccedilatildeordquo Esta aacuterea do conhecimento eacute
extremamente analiacutetica e objetiva Tendo relaccedilatildeo com a racionalidade suas anaacutelises satildeo
importantes no processo de construccedilatildeo do saber cientiacutefico de forma que suas caracteriacutesticas
se tornam praticamente uma antiacutetese ao conhecimento popular
O Conhecimento Popular ou Empiacuterico tambeacutem conhecido como tradicional tem
relaccedilatildeo com a hereditariedade cultura e senso comum do homem Eacute uma forma de reflexatildeo
passiva acriacutetica e assistemaacutetica que vai aleacutem da subjetividade e superficialidade Estaacute baseado
nas experiecircncias vividas ou observadas pelo homem sem teacutecnicas ou meacutetodos O
conhecimento ocorre pelo uso dos sentidos podendo ser passiacutevel ao erro dedutivo por ter
mais questotildees pessoais do que cientiacuteficas
O Conhecimento Filosoacutefico estaacute relacionado agrave ideias e conceitos que satildeo construiacutedos
pela busca da verdade do mundo atraveacutes da indagaccedilatildeo priorizando assim um olhar sobre a
condiccedilatildeo humana Existem questotildees que somente a capacidade humana de refletir e raciocinar
podem responder assuntos que nem a ciecircncia consegue pois satildeo temas inerentes ao homem
A racionalizaccedilatildeo eacute o principal instrumento de uso com isso pode-se dizer que este
conhecimento eacute reflexivo loacutegico criacutetico racional e subjetivo
O Conhecimento Teoloacutegico por sua vez esta direcionado para conhecer e provar a
existecircncia de Deus e dos textos escritos na Biacuteblia tomando-os como verdades incontestaacuteveis
Obtido atraveacutes das ideias e axiomas da feacute tenta responder as questotildees inerentes ao homem em
relaccedilatildeo agrave sua existecircncia atraveacutes da concepccedilatildeo divina do mundo
78
Perante os tipos de conhecimentos expostos percebemos que em todo lugar que
olhamos o homem eacute capaz de criar meacutetodos de entendimento de tudo aquilo que ele absorve
do ambiente em que vive Assim observamos que na comunidade de Pimenteiras os
moradores quilombolas obtiveram o conhecimento sobre as plantas medicinais por meio do
conhecimento popular atraveacutes da relaccedilatildeo com sua cultura local seus antepassados e com sua
Liacutengua de modo a construir experiecircncias que ateacute hoje comungam com sua identidade
Nesse sentido somos a soma de nossa heranccedila bioloacutegica social e histoacuterica sendo
atraveacutes da linguagem e da cultura que nos constituiacutemos em seres com a capacidade de
conhecer e de adquirir conhecimento Por isso liacutengua eacute mais do que instrumento de
conhecimento ela eacute constitutiva dele Para Matos (2011 p 3) ldquoa liacutengua eacute incubadora da
identidade reproduz significados que se deslocam afetados pela memoacuteria e eacute submetida ao
movimento da ideologia imposto pela histoacuteria estando portanto atrelada a aspetos poliacuteticos e
eacuteticosrdquo
No que concerne agrave Liacutengua analisamos que o conhecimento sobre seu funcionamento
eacute fundamental para noacutes falantes Esse conhecimento estaacute impliacutecito em nosso ser e vem de
uma capacidade que nos permite apreender e dominar a liacutengua que utilizamos O
conhecimento linguiacutestico eacute parte de todos noacutes falantes de uma determinada liacutengua ou seja eacute
parte do nosso saber porque nascemos com essa capacidade
Assim como a liacutengua a Terminologia eacute tambeacutem uma praacutetica cognitiva linguiacutestica e
social Boulanger (2001 p 13 apud Rodrigues 2010 p 33) explica que a Terminologia ldquoeacute
uma praacutetica cognitiva na medida em que repousa sobre o conhecimento eacute uma praacutetica
linguiacutestica devido agrave noccedilatildeo termo ou praacutetica social especializada na medida em que o saber
circula em todas as sociedades humanasrdquo Eacute diante desse conhecimento da linguagem de
especialidade no contexto social que a Socioterminologia surge para identificar e analisar os
saberes especializados na liacutengua
Eacute evidente que o conhecimento cientiacutefico se faz necessaacuterio ao estudo terminoloacutegico
aqui proposto sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras Entretanto o
conhecimento popular transmitido entre as geraccedilotildees quilombolas eacute basilar para esta pesquisa
pois eacute a partir deste saber tradicional que buscamos analisar sob o olhar Socioterminoloacutegico
os elementos relacionados aos termos sobre as plantas medicinais Popularizar e valorizar o
conhecimento tradicional por meio do saber cientiacutefico eacute fundamental para conhecermos as
diversidades em nossa liacutengua como tambeacutem de nossa cultura
Observamos que o conhecimento cientiacutefico eacute aquele que pode ser provado atraveacutes de
inuacutemeras experimentaccedilotildees ateacute que seja incorporado pela ciecircncia Para Marconi e Lakatos
79
(2003 p 75) o conhecimento cientiacutefico ldquo[] eacute transmitido por intermeacutedio de treinamento
apropriado sendo um conhecimento obtido de modo racional conduzido por meio de
procedimentos cientiacuteficosrdquo
Com relaccedilatildeo ao conhecimento popular este por um longo tempo foi ignorado pelos
cientistas Entretanto hoje a situaccedilatildeo eacute diferente pois segundo Posey (1987) eacute por meio do
resgate e valorizaccedilatildeo dos saberes tradicionais que surgem novas reflexotildees que datildeo grande
importacircncia desses saberes para o nosso proacuteprio benefiacutecio Diante disso Silva (2002 p 26)
argumenta que ldquo[] os estudos do conhecimento tradicional em especial a medicina popular
tecircm merecido atenccedilatildeo cada vez maior devido ao contingente de informaccedilotildees que vecircm
oferecendo agraves ciecircncias do homemrdquo
Eacute fato e natildeo desmerecemos que o conhecimento cientiacutefico tecircm um papel muito
importante para a nossa cultura no entanto eacute preciso acolher com a mesma intensidade os
saberes populares para buscarmos compreender e analisar as diferentes culturas e linguagem
especializadas pois ldquo[] o que leva um ao conhecimento cientiacutefico e outro ao vulgar ou
popular eacute a forma de observaccedilatildeordquo (MARCONI LAKATOS 2005 p 76) Para isso a
Socioterminologia como ciecircncia busca analisar e fazer dialogar os diversos aspectos
relacionados agrave linguagem especializada levando em consideraccedilatildeo o acircmbito social em que
circundam os termos sobre os saberes populares das plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras
Diante desse contexto percebemos o quanto eacute importante analisarmos os termos
sobre as plantas medicinais do ponto de vista discursivo no uso concreto da linguagem
teacutecnica com caraacuteter variacionista e como os estudos Socioterminoloacutegicos satildeo fundamentais
nesse processo Eacute por meio de seus meacutetodos de anaacutelise e descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de
variaccedilatildeo no contexto social e linguiacutestico que seguimos no toacutepico seguinte nas discussotildees
sobre o termo base do estudo socioterminoloacutegico
332 Termo a base do estudo Socioterminoloacutegico
Segundo os estudos de Krieger e Finatto (2004) o termo eacute o elemento linguiacutestico que
constitui a expressatildeo lexical do saber especializado eacute a unidade terminoloacutegica constituinte da
produccedilatildeo dos saberes De forma concisa entendemos que a palavra e o termo satildeo unidades
parecidas ao serem descritas por um conjunto de caracteriacutesticas linguiacutesticas sistemaacuteticas
80
referindo-se a um elemento da realidade A palavra ao tomar parte de um acircmbito
especializado eacute considerada um termo e a carga semacircntica confere no aspecto linguiacutestico o
que o diferencia da palavra
O termo caracteriza-se no sentido de que para uma noccedilatildeo dada haacute teoricamente uma uacutenica denominaccedilatildeo Esta caracteriacutestica do termo se funda sobre um postulado
da terminologia o da relaccedilatildeo de univocidade entre denominaccedilatildeo (significante) e
noccedilatildeo (significado relaccedilatildeo do tipo reflexiva) (RONDEAU apud KRIEGER 2004 p
77)
Sendo um objeto de estudo das ciecircncias terminoloacutegicas o termo eacute investigado numa
dimensatildeo pragmaacutetica discursiva e sociolinguiacutestica Faulstich (2006) explica que a teoria da
variaccedilatildeo terminoloacutegica propotildee uma releitura da definiccedilatildeo do objeto de estudo da
Socioterminologia que eacute o termo Para a autora (2006 p 28) ldquouma unidade terminoloacutegica
pode ter ou assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel
desempenha nos contextos de ocorrecircnciardquo
Nos estudos de Rodrigues (2010 p 36) o termo pode ser apreendido como um signo
que encontra funcionalidade na linguagem de especialidade como uma entidade variante que
se apoia nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo social e como um item do leacutexico especializado que
passa por processos de evoluccedilatildeo Desta forma o termo eacute visto como fenocircmeno linguiacutestico
variaacutevel que encontra na terminologia diferentes resultados de uso dos falantes nos diversos
contextos sociais geograacuteficos e linguiacutesticos Diante disso Gouadec (apud KRIEGER 2004 p
77) expotildee que ldquoum termo eacute uma unidade linguiacutestica que designa um conceito um objeto ou
um processo O termo eacute a unidade de designaccedilatildeo de elementos do universo percebido ou
concebido Ele raramente se confunde com a palavra ortograacuteficardquo
Considerando o princiacutepio da variaccedilatildeo em toda a sua dimensatildeo o pesquisador
Rodrigues (2010) acrescenta que o termo passa a ser visualizado como uma unidade lexical
que sofre todas as implicaccedilotildees sistecircmicas e contextuais proacuteprias a qualquer palavra no
contexto comunicativo da liacutengua Para Barros (apud KRIEGER FINATTO 2004) o termo eacute
uma unidade do leacutexico com conteuacutedo especiacutefico dentro de um domiacutenio tambeacutem particular
que pode ser descrito e analisado em diferentes aspectos relacionados ao significante e
significado agraves relaccedilotildees com outros termos e ao ponto de vista sociolinguiacutestico com isso
observamos que haveraacute melhor sustentaccedilatildeo teoacuterica ao trabalho estudado na comunidade de
Pimenteiras
Por ser um objeto de estudo da Socioterminologia Gaudin (1993) lembra que deve
haver uma aproximaccedilatildeo discursiva dos termos pois segundo o pesquisador as unidades
81
terminoloacutegicas devem ser analisadas em sua condiccedilatildeo de produccedilatildeo discursiva e de interaccedilatildeo
entre conhecimentos No que concerne ao conhecimento ele eacute sempre foi e seraacute uma forma
moacutevel de cultura De forma cientiacutefica ou de saber popular o conhecimento humano chega a
cada geraccedilatildeo a cada comunidade com a marca dos tempos povos e lugares por onde passou
Eacute atraveacutes da transferecircncia do conhecimento por meio da Liacutengua que as sociedades se formam
as tradiccedilotildees dos povos sofrem mudanccedilas ou satildeo abolidas em troca de outras Contudo eacute pelo
aparecimento de novos conceitos e pela aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos que outras capacidades
cognitivas se desenvolvem e formam outros conhecimentos
Sabendo que o conhecimento pode tambeacutem ser transmitido por meio da linguagem
verificaremos na anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos sobre as plantas medicinais os
aspectos relacionados agrave representaccedilatildeo dos saberes da comunidade de Pimenteiras pois
compreendemos que eacute por meio da linguagem que criamos expressamos e designamos os
conceitos e objetos nos diversos campos de conhecimento
Nos estudos de Cruz (2014 p 98) ela expotildee que ldquoos termos satildeo criados e se
desenvolvem em uma liacutengua concreta porque as ideias processos ou objetos que esses termos
designam foram criados pela sociedade que deles se utilizardquo Ela explica que os termos satildeo
resultado de convenccedilotildees ou preferecircncias individuais possuindo relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas
do objeto nomeado Eacute nesse campo que as anaacutelises dessas carateriacutesticas satildeo necessaacuterias para
observar se as denominaccedilotildees satildeo fruto de ideias do conhecimento da aacuterea ou por modismos
(CRUZ 2014)
No campo da linguagem percebemos que os termos sobre as plantas medicinais satildeo
utilizados na comunidade de Pimenteiras atraveacutes da interaccedilatildeo entre a cultura a natureza e as
origens de um povo que transmitiu seus conhecimentos entre as geraccedilotildees por meio da liacutengua
Atraveacutes das concepccedilotildees explanadas sobre a linguagem ldquopodemos dizer que uma terminologia
natildeo se insere em uma liacutengua mas em uma linguagem especiacutefica desenvolvida a partir de um
universo de discurso criado por uma comunidade em um dado campo do saberrdquo (SANTOS
2010 p 06)
Nesse contexto Krieger e Finatto (2004 p75) explicam que ldquoo termo ou unidade
terminoloacutegica eacute simultaneamente elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber e componente
linguiacutestico cujas propriedades favorecem a univocidade da comunicaccedilatildeo especializadardquo
Por ter um caraacuteter natural os termos funcionam como um elemento dos sistemas
linguiacutesticos que estatildeo sujeitos agrave variaccedilatildeo sendo esta inerente em qualquer liacutengua a variaccedilatildeo
terminoloacutegica ocorre no acircmbito do uso especializado Nesse sentido Cruz (2012) expotildee que a
82
comunicaccedilatildeo especializada de melhor qualidade eacute construiacuteda a partir do reconhecimento da
naturalidade e inerecircncia da variaccedilatildeo terminoloacutegica como um tipo de variaccedilatildeo linguiacutestica
Na anaacutelise socioterminoloacutegica verificamos alguns aspectos da variaccedilatildeo dos termos
sobre as plantas medicinais de Pimenteiras mostrando como os termos variam de acordo com
as associaccedilotildees ocorridas entre seus elementos observando na linguagem especializada a
naturalidade e inerecircncia presentes nos termos a serem analisados proporcionando a
particularizaccedilatildeo e identidade da comunidade
Por ser uma unidade de conhecimento que estaacute constantemente se relacionando com
seu significado o termo segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos Assim antes de analisar
se os termos sobre as plantas satildeo ou natildeo de domiacutenio de especialidade verificamos que a
definiccedilatildeo deles eacute muito importante para o contexto de uso dos estudos teoacutericos da
Socioterminologia que descreve os termos dentro do conjunto de ocorrecircncia do saber
especializado Segundo os estudos de Lara (2004 p 93) ldquouma definiccedilatildeo eacute um enunciado que
descreve um conceito permitindo diferenciaacute-lo de outros conceitos associadosrdquo Sager (1990
apud LARA 2004 p 93) expotildee ainda que ldquoa definiccedilatildeo eacute uma explanaccedilatildeo aceita do
significado especializado de itens lexicais cuja ocorrecircncia pode ser documentada em vaacuterias
fontesrdquo Diante disso utilizamos no percurso da anaacutelise dos termos medicinais sobre as
plantas a definiccedilatildeo do saber subjetivo de uma moradora da regiatildeo de Pimenteiras
Nos estudos da definiccedilatildeo terminoloacutegica dos termos Lara (2004 p 94) contribui
expondo que ldquoa definiccedilatildeo terminoloacutegica eacute classificadora hierarquizante estruturante
relaciona-se agrave definiccedilatildeo da coisardquo ou seja a definiccedilatildeo natildeo eacute uacutenica ela varia de acordo com a
fonte escolhida Assim procuramos nos estudos socioterminoloacutegicos trazer a definiccedilatildeo dos
termos sobre as plantas medicinais pois a Socioterminologia ldquoeacute uma disciplina que se ocupa
da identificaccedilatildeo e da categorizaccedilatildeo das variantes linguiacutesticas dos termos em diferentes tipos
de situaccedilatildeo de uso da liacutengua nos diversos niacuteveis e planos hieraacuterquicos do discursordquo (CRUZ
2012 p 100)
Cruz acrescenta que nos estudos de Faulstich (1998) ldquoa sistematizaccedilatildeo dessas
variantes eacute tarefa da Socioterminologia cujo estatuto fica assegurado pela anaacutelise da
diversidade de termos que ocorrem nos planos vertical horizontal e temporal da liacutenguardquo
Perante a diversidade dos termos e consequentemente da variaccedilatildeo em suas definiccedilotildees
utilizamos no processo de anaacutelise o modelo de ficha terminoloacutegica postulado por Faulstich
(1996) uma amostra para melhor visualizaccedilatildeo das informaccedilotildees tidas sobre os termos a partir
da variaccedilatildeo terminoloacutegica que fundamenta os dados a serem analisados
83
Nos estudos de Cruz (2014 p113) sobre a variaccedilatildeo dos termos a pesquisadora
explica que ldquoo processo de variaccedilatildeo se daacute dentro de um construto teoacuterico em que variaacuteveis
produzem variantes que funcionam nas liacutenguas de acordo com as funccedilotildees que elas venham a
ter no discurso de especialidade ou na liacutengua comumrdquo Nos estudos socioterminoloacutegicos
Faulstich (1995 apud CRUZ 2012) propotildee uma abordagem funcionalista do termo que eacute a
base da pesquisa socioterminoloacutegica defendendo uma estreita relaccedilatildeo entre termo e variaccedilatildeo
Outro postulado defendido por Faulstich (1998 1999) eacute sobre a anaacutelise do termo que deve
ser visto sob duas perspectivas sincrocircnica e diacrocircnica assim ela resume que
Termos satildeo signos que encontram sua funcionalidade nas linguagens de especia-
lidade de acordo com a dinacircmica das liacutenguas satildeo entidades variantes porque fazem
parte de situaccedilotildees comunicativas distintas satildeo itens do leacutexico especializado que
passam por evoluccedilotildees por isso devem ser analisados no plano sincrocircnico e no plano diacrocircnico das liacutenguas (FAULSTICH 1999 p 28)
Outro aspecto importante a ser mencionado eacute com relaccedilatildeo agrave estrutura do termo que
pode se apresentar de forma simples complexa ou composta Esse campo leacutexico-semacircntico e
morfossintaacutetico do termo eacute tomado pelos estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) que
explanam sobre a estrutura simples constituiacuteda de um radical e por estruturas complexas e
compostas em que ocorre a presenccedila de dois ou mais radicais diferenciados pela presenccedila do
hiacutefen nos termos compostos enquanto que nos termos complexos ocorre os processos de
composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo50
ou justaposiccedilatildeo51
das palavras No caso da
comunicaccedilatildeo especializada o que predomina satildeo os termos complexos por poder assumir
diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo
reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico
Quando utilizamos um termo num determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e
permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo internalizadas na liacutengua que por ser um
sistema dinacircmico passa a ser enriquecida por neologismos Assim veremos que os estudos de
Pottier (1978) e de Barros (2007) sobre o termo no que concerne agrave sua estrutura
morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica satildeo caracterizadas como simples compostas ou
complexas
Em presenccedila das concepccedilotildees explanadas sobre o termo observamos que o
conhecimento que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem sobre as plantas
50Aglutinaccedilatildeoconsiste na junccedilatildeo de duas ou mais palavras com o objetivo de formar uma terceira palavra poreacutem
uma delas ou as duas sofreraacute alguma mudanccedila na sua forma ganhando ou perdendo letras fonemas ou
morfemas
51Justaposiccedilatildeo satildeo as palavras apenas justapostas uma ao lado da outra e estando juntas formaratildeo uma terceira
palavra Neste caso as palavras ficam intactas natildeo perdendo nenhum item da sua forma
84
medicinais satildeo as marcas de seus antepassados de sua identidade de sua histoacuteria como
quilombolas satildeo marcas de sua linguagem diante da diversidade na natureza Natildeo usamos a
liacutengua sempre da mesma forma mas adequamos nossa linguagem agrave situaccedilatildeo comunicativa em
que estamos inseridos Assim os usos que fazemos em nossa liacutengua satildeo o reflexo tambeacutem
da nossa proacutepria histoacuteria Nesse contexto damos iniacutecio no capiacutetulo seguinte sobre a
metodologia utilizada para fundamentar esta pesquisa levando em consideraccedilatildeo os objetivos
as etapas da pesquisa as pessoas e as dificuldades encontradas no percurso do trabalho
85
4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo apresentamos os motivos escolhas e as etapas metodoloacutegicas feitas
durante a pesquisa de campo na comunidade de Pimenteiras As fases para a constituiccedilatildeo
deste trabalho dissertativo tecircm suas bases nos estudos da Socioterminologia com o uso de
instrumentos tecnoloacutegicos antes durante e apoacutes o trabalho de campo Dentre as ferramentas
tecnoloacutegicas empregadas utilizamos diversas entrevistas transcriccedilotildees dos diaacutelogos e registro
de dados sobre os termos medicinais das plantas As ferramentas usadas foram o Software
Transana52
as fichas terminoloacutegicas gravador de voz maacutequina fotograacutefica e questionaacuterios
usados nas entrevistas Eacute fato que muitas dificuldades surgiram no percurso do trabalho
apesar disso a coleta dos dados foi imprescindiacutevel para a pesquisa sobre os termos das plantas
de uso medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras
41 PLANEJAMENTO DA PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE DE
PIMENTEIRAS
Realizar uma investigaccedilatildeo baseada na pesquisa de campo supotildee planejar previamente
o curso a seguir na construccedilatildeo do trabalho Eacute fato que o pesquisador encontra diversos
imprevistos que dificultam a pesquisa a ser realizada Compreendendo isso optamos em
conhecer participar e analisar a comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras no
setor das plantas medicinais Observamos que as condiccedilotildees naturais do tempo
influenciarammuito na pesquisa aleacutem da dificuldades encontradas no trajeto ateacute a
comunidade Apesar disso a riqueza em informaccedilotildees a biodiversidade da regiatildeo e o
consentimento dos moradores para a realizaccedilatildeo da pesquisa proporcionaram maior firmeza
para a continuidade do trabalho
Na intenccedilatildeo de fornecer dados confiaacuteveis e de qualidade para esse estudo buscamos
visitar e manter contato contiacutenuo com os moradores da comunidade de Pimenteiras Cada
52 O Transana foi criado por pesquisadores e para pesquisadores a fim de atender as necessidades profissionais
de quem executa entrevistas com trabalhos de campo pode serusado em diversas aacutereas do conhecimento mas
nessa pesquisa de base socioterminoloacutegica nosso estudo eacute constituiacutedo de um corpus de liacutengua oral As vantagens
do software eacute que oferece a visualizaccedilatildeo de vaacuterias janelas como o aacuteudio viacutedeo transcriccedilatildeo base de dados e visualizaccedilatildeo do material a ser transcrito isto proporciona maior seguranccedila e agilidade no processo
86
encontro foi planejado ora com entrevistas gravadas e filmadas ora com registro de fotos e
coleta de dados sobre as plantas Tudo no intuito de conhecer descrever e analisar os dados
com maior seguranccedila e veracidade pois cada ponto foi imprescindiacutevel para a fundamentaccedilatildeo
do trabalho dissertativo
Os dados sobre as plantas de uso medicinal foram organizados por alguns moradores
da regiatildeo durante os trabalhos com o Bioenergeacutetico de acordo com o saber que possuem
Estes dados foram catalogados e analisados dentro do contexto socioterminoloacutegico da
pesquisa em questatildeo Nosso intuito eacute analisar o saber popular sobre os termos catalogados das
plantas de uso medicinal levando em consideraccedilatildeo a linguagem especializada dos termos
medicinais adquiridos pelo repasse entre as geraccedilotildees pela relaccedilatildeo com a natureza e por
saberes conseguidos pelo contato com outros conhecimentos de caraacuteter cientiacutefico sobre o
poder de cura das plantas
A comunidade remanescente de quilombo de Pimenteiras estaacute localizada na regiatildeo
agriacutecola da cidade de Santa Luzia do Paraacute distante 30 km da cidade Hoje cerca de vinte oito
(28) famiacutelias vivem na comunidade sobrevivendo da agricultura criaccedilatildeo de gado e accedilaiacute
Devido agrave sua localizaccedilatildeo em aacuterea rural os moradores de Pimenteiras vivem do plantio e dos
saberes que possuem sobre as plantas medicinais devido agrave distacircncia e dificuldades para
conseguir tratamento meacutedico o saber sobre as plantas de uso medicinal tornou-se recurso
indispensaacutevel no trato das muitas doenccedilas A partir disso alguns moradores quilombolas
trabalharam por algum tempo com o Bioenergeacutetico nesse periacuteodo foram orientados por
representantes do CEDENPA para coletar amostras de plantas no trato medicinal Junto agraves
amostras os moradores escreveram os nomes de cada planta de acordo com o saber que
adquiriram com seus antepassados
Aleacutem da quantidade de conhecimento que a comunidade possui a particularidade
linguiacutestica sobre os nomes de cada planta de uso medicinal eacute muito importante nesse estudo
Por isso foram necessaacuterios diversos encontros com os moradores para conhecer e colher
maiores informaccedilotildees para esse trabalho A comunidade de Pimenteiras estaacute constituiacuteda de
expressivos elementos culturais que vecircm desde a proacutepria descendecircncia quilombola ateacute o
saber que possuem sobre as plantas por meio da valorizaccedilatildeo e fortalecimento de sua memoacuteria
coletiva Seus moradores apesar das inuacutemeras dificuldades e preconceitos vividos buscam
preservar sua identidade e serem reconhecidos pela sociedade pois a interaccedilatildeo participativa
entre os diferentes saberes existentes na comunidade promove um sentimento de
pertencimento diante das diferenccedilas culturais que devem ser respeitadas e apreciadas
87
Entendemos que o conhecimento eacute algo que estaacute em constante construccedilatildeo e
reconstruccedilatildeo e que as influecircncias que vivemos ajustam esse processo Particularmente o
conhecimento dos moradores da comunidade de Pimenteiras estaacute nessa frequecircncia que se
interpotildee entre os saberes vindos de geraccedilotildees passadas combinadas agrave presenccedila de novos
conhecimentos Diante da imensa contribuiccedilatildeo ao conhecimento cientiacutefico eacute respeitaacutevel
buscar conhecer os saberes vindos dos moradores remanescentes de quilombo para que os
mesmos sejam reconhecidos como identidade cultural sobre as plantas
Objetivamos nesse trabalho analisar os termos catalogados sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras sob a perspectiva socioterminoloacutegica dos termos no
contexto da linguagem especializada dos moradores remanescentes de quilombo observando
os aspectos sociais culturais e religiosos em que estatildeo inseridos e assim compreendermos a
identidade do povo da regiatildeo Analisando os termos identificamos que no campo da
Socioterminologia as palavras registradas sobre as plantas medicinais fazem parte do domiacutenio
especializado da liacutengua e expressam uma forte identidade no universo sociocultural dos
moradores quilombolas de Pimenteiras fazendo com que a comunidade adquira traccedilos que
distinguem e identificam sua cultura
Os dados catalogados foram registrados transcritos e definidos de acordo com o
saber de um morador da comunidade de Pimenteiras Na anaacutelise socioterminoloacutegica dos
termos todos foram definidos e estruturados por meio de fichas terminoloacutegicas para melhor
visualizaccedilatildeo das unidades que compotildeem as palavras coletadas junto da definiccedilatildeo
adicionamos as imagens de cada termo nomeado
42 A PESQUISA DE CAMPO
Registrar os termos de uma linguagem especializada requer preservar a legitimidade
que cada indiviacuteduo possui no uso da liacutengua Durante o processo de pesquisa vaacuterias etapas
foram executadas para que as anaacutelises fossem alcanccediladas As pessoas foram muito
importantes para que o estudo se desenvolvesse ao longo desse periacuteodo de anaacutelise
socioterminoloacutegica dos termos
Como criteacuterio de seleccedilatildeo escolhemos uma (01) moradora remanescente de
quilombola da comunidade de Pimenteiras a senhora Domingas Alves do Nascimento pelo
conhecimento popular sobre as plantas medicinais que ela deteacutem e tambeacutem pelo fato de ser
88
uma das pessoas que coletaram amostras das plantas medicinais Aleacutem disso Domingas eacute
uma representante da associaccedilatildeo AQUAFAP que sempre realizar atividades relacionadas a
valorizaccedilatildeo e aos direitos dos moradores de Pimenteiras
No aspecto religioso ela sempre estaacute engajada na cerimocircnia em homenagem agrave Nossa
Senhora do Livramento e mesmo com tantos trabalhos a serem executados na comunidade a
moradora estaacute sempre disposta e atenta para fazer com que a comunidade tenha seus direitos
garantidos e sua cultura e preservada
Durante a pesquisa foram realizadas entrevistas com outras pessoas que forneceram
informaccedilotildees importantes sobre a histoacuteria religiatildeo e cultura dos moradores da comunidade de
Pimenteiras No entanto a moradora Domingas foi incansaacutevel em suas contribuiccedilotildees A partir
dela o interesse em pesquisar sobre os termos catalogados das plantas de uso medicinal se
tornou fascinante
Dona Domingas eacute uma mulher que respeita suas origens e utiliza os saberes
transmitidos por sua matildee e sua avoacute materna a ponto de ser conhecida na regiatildeo como a
ldquosenhora das ervasrdquo aleacutem de trabalhar na agricultura com o marido ela tambeacutem ajuda na
fabricaccedilatildeo de produtos naturais na associaccedilatildeo dos agricultores quilombolas de Santa Luzia do
Paraacute bem como realiza trabalhos relacionados com a comunidade e sua famiacutelia
Devido aos saberes que possui sobre as plantas Domingas recebe grande ajuda de
diversas pessoas que tambeacutem tecircm interesse pela cura atraveacutes das plantas medicinais como eacute o
caso da senhora Maria de Nazareacute Reis uma engenheira agrocircnoma que trabalha no CEDENPA
assessorando os grupos de mulheres associaccedilotildees cooperativas de agricultores rurais e
familiares dentro da Rede Bragantina atraveacutes de cursos direcionados agrave nutriccedilatildeo alimentaccedilatildeo
saudaacutevel agricultura familiar e uso das plantas para cura de doenccedilas como forma de
incentivo aos pequenos trabalhadores rurais sobre a Produccedilatildeo Agroecoloacutegica53
Vale ressaltar que os saberes que a moradora Domingas possui estatildeo preservados em
sua memoacuteria e que esse trabalho procura basicamente conhecer registar e analisar as
palavras no contexto da linguagem especializada sobre as plantas medicinais que satildeo de uso
natildeo apenas da senhora Domingas mas tambeacutem dos moradores quilombolas de Pimenteiras
No que concerne agraves dificuldades enfrentadas no percurso da pesquisa inicialmente o
acesso agrave comunidade foi o que trouxe mais problemas principalmente nos periacuteodos de chuva
Em muitos momentos foi necessaacuterio modificar o percurso a ser seguido e redirecionar novos
53 A agroecologia eacute uma ciecircncia que dialoga com as diversas dimensotildees do conviacutevio humano como a ecologia a
socioeconocircmica a cultura e sociopoliacutetica eacute o conhecimento que vai aleacutem da produccedilatildeo que se insere num sistema de transformaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de uma agricultura socialmente mais justa economicamente viaacutevel e
ecologicamente apropriada
89
planos para que a pesquisa continuasse Eacute fato que esse trabalho natildeo envolve um amplo
levantamento acerca dos conhecimentos e saberes contidos nos moradores de Pimenteiras
contudo essa eacute uma amostra diante das inuacutemeras possibilidades do conhecimento popular a
ser registrado
No percurso da pesquisa diversos instrumentos foram utilizados para registrar cada
elemento relacionado agrave comunidade e aos informantes como gravador de voz maacutequina
fotograacutefica para o registro de imagens fichas com questionaacuterios a serem respondidos pelas
informantes aplicativos para a transcriccedilatildeo grafemaacutetica das gravaccedilotildees como o Transana e os
termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal da regiatildeo elemento esse de grande
importacircncia na pesquisa
Diante das exposiccedilotildees apresentadas ressaltamos que os dados catalogados sobre os
termos das plantas medicinais satildeo a base deste trabalho que busca analisar sob o olhar
socioterminoloacutegico cerca de quarenta e dois (42) termos registrados e preservados por uma
das moradoras da comunidade Na sequecircncia observaremos a maneira como foram tratados
os dados catalogados para essa pesquisa
43 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS
Considerando que o meacutetodo desta pesquisa procede de forma qualitativa em que se
analisam os dados catalogados dos termos sobre as plantas medicinais da comunidade de
Pimenteiras sob os estudos da Socioterminologia passaremos a expor os principais
procedimentos que foram utilizados para que os dados da pesquisa fossem registrados e
analisados
431 Entrevistas
No andamento da pesquisa diversas entrevistas formais e informais ocorreram com
as informantes As conversas formais foram registradas seguindo um fichaacuterio contendo
diversas perguntas relacionadas agrave comunidade quilombola e agraves plantas medicinais As
90
entrevistas foram armazenadas atraveacutes da gravaccedilatildeo de voz que posteriormente foi transcrita
de forma Grafemaacutetica54
As perguntas foram especiacuteficas para cada informante de acordo com o campo de
trabalho por eleela desenvolvido Por exemplo com a senhora Domingas foram direcionadas
perguntas sobre a famiacutelia comunidade descendecircncia saberes sobre as plantas e crenccedila nas
mesmas Aleacutem dessa entrevista houve tambeacutem a gravaccedilatildeo com a senhora Domingas sobre
as definiccedilotildees que a moradora possui de cada termo sobre as plantas medicinais A transcriccedilatildeo
com tais definiccedilotildees foi armazenada nas fichas terminoloacutegicas utilizadas para melhor
visualizaccedilatildeo dos dados registrados Todas essas informaccedilotildees estatildeo anexadas neste trabalho
mostrando os pontos relevantes que delineiam o caraacuteter da pesquisa
432 Recursos de anaacutelise dos dados
A transcriccedilatildeo grafemaacutetica foi executada atraveacutes do software Transana versatildeo 21255
gratuita para download que foi desenvolvido para analisar dados audiovisuais Este recurso
foi escolhido para que pudeacutessemos dar o tratamento adequado aos dados orais das gravaccedilotildees
obtidas em entrevistas Em seguida utilizamos por base as normas de transcriccedilatildeo de Koch
(1997) as transcriccedilotildees grafemaacuteticas foram feitas no software Transana devido o programa
permitir a conexatildeo entre o texto transcrito em momentos especiacuteficos do viacutedeo com o aacuteudio da
entrevista
433 Termos Catalogados
Com relaccedilatildeo aos termos catalogados sobre as plantas de uso medicinal pelos
moradores da comunidade quilombola de Pimenteiras usamos o registro das imagens junto
com as fichas terminoloacutegicas com as definiccedilotildees de cada termo Procuramos nesse momento
respeitar a forma escrita de cada termo registrado pelos moradores As amostras das plantas
54 Os dados registrados na Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica estatildeo nos apecircndices deste trabalho 55 Pesquisado em 11 de agosto de 2015 as 2231 hs no site httpwwwtransanaorgdownloadwhatsnewhtm
91
foram dissecadas com o uso de jornais pelos moradores na eacutepoca em que trabalharam com o
Bioenergeacutetico Ateacute hoje esse material estaacute guardado pela moradora Domingas
Durante a pesquisa registramos as imagens das plantas vivas em seu habitat natural
para que pudeacutessemos perceber as caracteriacutesticas de cada uma e consequentemente observar a
relaccedilatildeo com o nome que possuem Ao registrarmos as imagens das plantas outras espeacutecies
foram identificadas pelos moradores como medicinal isto ampliou a quantidade de termos
catalogados e possivelmente outros mais permanecem ocultos na regiatildeo Todos os termos
catalogados estatildeo nos apecircndices com as definiccedilotildees junto de suas respectivas imagens
92
5 ANAacuteLISE DOS TERMOS DE PIMENTEIRAS A IDENTIDADE DE UM POVO
Compreender as pessoas como seres introduzidos em redes de significados pensar
nos sujeitos da maneira como eles se identificam entendendo as particularidades de sua
cultura vivenciando-a acompanhando-os em muitos momentos procurando entender o que
eles fazem e como fazem esse processo foi importante para compreender as distinccedilotildees dos
elementos que compotildeem dentro e fora a comunidade quanto aos saberes sobre as plantas de
uso medicinal observando que tais saberes constituem a identidade cultural dos moradores no
que diz respeito agrave biodiversidade na comunidade de Pimenteiras
Utilizamos uma metodologia vinda da observaccedilatildeo das praacuteticas sociais das
entrevistas com os sujeitos da pesquisa da catalogaccedilatildeo dos dados sobre as plantas e da
transcriccedilatildeo das definiccedilotildees de cada termo que se tornou fundamental para a anaacutelise dos dados
catalogados na comunidade Buscamos natildeo apenas registrar fatos mas analisar a relaccedilatildeo que
os termos possuem dentro dos aspectos sociais apresentando assuntos relacionados agrave religiatildeo
cultura e de identidade proporcionando assim o reconhecimento de conhecimentos
tradicionais preciosos para o estudo cientiacutefico atraveacutes dos saberes de um povo suas lutas sua
natureza e linguagem
Conhecida e reconhecida por sua biodiversidade Pimenteiras eacute identificada pelos
saberes sobre as plantas medicinais Os moradores da comunidade satildeo descendentes de negros
escravos conhecidos como quilombolas e muitos adquiriram de seus antepassados
conhecimentos sobre o uso das plantas para a cura dos males do corpo Assim sendo
procuramos nesse contexto apresentar a anaacutelise socioterminoloacutegica dos termos da
comunidade de Pimenteiras considerando os aspectos da variaccedilatildeo terminoloacutegica na
linguagem suas motivaccedilotildees no ato de nomear e as relaccedilotildees associativas que geram novas
nomeaccedilotildees e tambeacutem novas variaccedilotildees por conseguinte abordamos os termos sobre as
plantas medicinais com foco na sua estrutura morfossintaacutetica observando que na variaccedilatildeo o
termo pode ou natildeo ser alterado em seu radical formando novas composiccedilotildees sejam elas
simples compostas ou complexas na sequecircncia desses estudos dos termos chegamos agrave
anaacutelise da definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas que de forma
subjetiva procurou descrever cada planta nas suas particularidades
A necessidade sociocultural humana de estabelecer relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
promove a accedilatildeo de transformar o vocabulaacuterio da liacutengua constantemente para o surgimento de
novas palavras Mas de onde vecircm as palavras Compreendendo que as palavras satildeo criadas de
93
forma consciente para dar nome agraves coisas entendemos que com o passar do tempo as
palavras sofrem transformaccedilotildees que trazem tambeacutem a modificaccedilatildeo no sentido Assim a
linguagem eacute o campo no qual o homem exprime seus sentimentos e pensamentos em uma
comunicaccedilatildeo interpessoal ou grupal construindo uma sociedade capaz de desenvolver sua
cultura e saber que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
No que diz respeito aos termos sobre as plantas medicinais analisamos inicialmente
se o domiacutenio estudado pertence apenas ao campo da medicina caseira Segundo a Norma da
ISO 1087 (2000) o domiacutenio eacute decidido como parte do saber cujos limites satildeo definidos
conforme um ponto de vista particular Em seguida acolhemos a definiccedilatildeo descritiva da
moradora Domingas que buscou de acordo com seus saberes definir os termos sobre as
plantas catalogados na regiatildeo de Pimenteiras
Os dados analisados nesse trabalho satildeo constituiacutedos no total de quarenta e dois (42)
termos que foram catalogados sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras Diante da quantidade descrita utilizaremos alguns termos em diferentes aspectos
a serem considerados Os elementos presentes na ficha terminoloacutegica de cada termo seratildeo
analisados a partir da definiccedilatildeo descritiva no contexto que a senhora Domingas expocircs sobre
as plantas para isso utilizamos um modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich
(1996) usado pela Universidade de Brasiacutelia (UNB) contendo os elementos constitutivos dos
termos para uma melhor visualizaccedilatildeo dos lexemas e de seus elementos constituintes
analisando junto a isso a variaccedilatildeo de alguns termos que estatildeo relacionados de forma
associativa com certa caracteriacutestica da planta Isso se faz importante para melhor
compreendermos as nomeaccedilotildees e as significaccedilotildees descritas pela moradora nesse processo de
nomeaccedilatildeo relacionado ao conhecimento de mundo dos moradores da comunidade de
Pimenteiras
Com base nos estudos socioterminoloacutegicos explanados nesse trabalho dissertativo
analisamos as particularidades de cada termo demonstrando as definiccedilotildees descritas sobre as
caracteriacutesticas das plantas medicinais de Pimenteiras junto a isso apresentamos as imagens
das plantas registradas durante a pesquisa de campo na comunidade Para cada termo
apresentado utilizamos duas (02) imagens registradas em seu ambiente natural uma com a
imagem integral da planta e a segunda imagem com uma especialidade da planta No total
ocorreu o registro das folhas das plantas Isso se faz importante para tambeacutem verificarmos as
especificidades de cada planta no seu aspecto anatocircmico
Para tratar das questotildees da variaccedilatildeo existente sobre os termos das plantas medicinais
de Pimenteiras tomamos como contexto de anaacutelise somente os termos catalogados sobre as
94
plantas pesquisadas na comunidade por meio da moradora Domingas Com o objetivo de
examinar as variaccedilotildees destes termos foram necessaacuterios diversos encontros para cataloga-los
registrar as imagens das plantas e gravar as definiccedilotildees descritivas pela senhora Domingas
Assim os objetos desse estudo satildeo os termos sobre as plantas medicinais utilizados pelos
moradores da regiatildeo no seu contexto social
A quantidade de termos sobre as plantas medicinais existentes na comunidade eacute
enorme entretanto dado o nuacutemero de termos sobre as plantas medicinais e de suas variantes
na linguagem especializada metodologicamente trabalhamos com um total de quarenta e dois
(42) termos que foram coletados registrados em imagens e definidos em fichas
terminoloacutegicas Pesquisando a origem dessas variantes atribuiacutedas aos termos sobre as plantas
medicinais percebemos que o seu surgimento ocorre das mais variadas formas possiacuteveis O
principal modo de formaccedilatildeo das variantes eacute a partir da associaccedilatildeo relacionada com a forma
tamanho cor e funccedilatildeo das plantas medicinais As formaccedilotildees geradas por relaccedilotildees associativas
satildeo caracteriacutesticas que pertencem naturalmente agrave Terminologia
Assim vejamos uma sequecircncia das anaacutelises dos termos sobre as plantas medicinais
da comunidade de Pimenteiras observando suas imagens como tambeacutem seus elementos
constitutivos na ficha terminoloacutegica de cada termo descrito no contexto da moradora
Domingas Neste capiacutetulo apresentamos doze (12) termos de um total de quarenta e dois (42)
Os demais se encontram nos apecircndices deste trabalho Por meio da ficha terminoloacutegica criada
por Faulstich (1996) contendo a definiccedilatildeo descritiva da moradora Domingas observamos os
aspectos relacionados ao clima origem caracteriacutesticas da espeacutecie formas e utilidade
medicinal de cada planta catalogada Alguns termos apresentaram variantes e nesse acircmbito
compreendemos as relaccedilotildees associativas do nome com as caracteriacutesticas das plantas
Observemos na sequecircncia a anaacutelise dos termos catalogados na comunidade de
Pimenteiras
51 MUCURACAacute
Haacute muito tempo o ser humano cria e utiliza as palavras para expressar designar
conceitos objetos e processos de diferentes campos do conhecimento tudo isso eacute feito por
meio da linguagem A linguagem verbal eacute uma entidade social que possui aspectos materiais e
simboacutelicos que estatildeo ligados agrave consciecircncia e agrave subjetividade humana em que cada falante
95
compartilha seus saberes por meio da liacutengua A liacutengua tem uma estrutura imutaacutevel e apesar
disso estaacute em constante variaccedilatildeo eacute um instrumento que pode causar emancipaccedilatildeo e poder
um objeto do conhecimento em que inuacutemeros modelos teoacutericos surgiram com a pretensatildeo de
descrever e explicar sua essecircncia
Os moradores da comunidade de Pimenteiras demonstram em sua linguagem o
saber de uma cultura rica e distintiva Podemos perceber na anaacutelise dos termos as
particularidades que evidenciam tal grandeza Observemos na anaacutelise do termo ldquoMucuraraacuterdquo
por meio da ficha terminoloacutegica a descriccedilatildeo subjetiva que a moradora quilombola expocircs
sobre cada planta catalogada Vejamos
TERMO 01 ndash ldquoMUCURACAacuterdquo
Fotografia 14 ndash Mucuracaacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 15 ndashFolha do Mucuracaacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
96
Quadro 01 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Mucuracaacute
Lx Lexema Mucuracaacute
V Variante Tipi
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Co Contexto eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que pra
espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode
plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal () primeiro tinha aquele
problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do
mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia doseacuteh e pra isso aquela enjoaccedilatildeo aquele
aborrecimento isso taacuteele eacute bem pequenhinho ele eacute uma planta tambeacutem neacuteele eacute
pequeno a folha ele eacute que nem a japana ele eacute do mesmo modelo da japana assim neacuteele eacute pequeno folhinha dele eacute bem escurinha bem escura assim verdinho escuro
afolhinha dele neacuteeacuteh da folha e do pau e da raiz ( )ele eacute grande ele no maacuteximo que
tem eacute trecircs palmo se ele tiver trecircs palmo neacuteele eacute conhecido por dois nomes mucuracaacute
e tipi tipe sim o maranhense praticamente o maranhense soacute conhece po tipi nois
paraense que conhece por mucuracaacute natildeo soacute o nome que mudanum sei tambeim natildeo
tambeim natildeo o cheiro dele tambeim eacute muito forte eacute o cheiro dele um ser cheiro assim
de alho querado e com muitas horas assim tem um alho que a gente quebra com
muitas horas deixa assim e vai cheirar pois assim que eacute o cheiro dele assim um cheiro
forte mucuracaacute mucuracaacutecom cheiro muito forte parece alho usadomuitu forti
Fc Fonte do
Contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas a casca do caule e a raiz
Fu Formas de uso
Usada na forma de chaacutes e para fazer banhos contra febre dor de cabeccedila mal olhado quebrante
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota O termo eacute conhecido como ldquoTipirdquo (falado no Estado do Maranhatildeo)
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Os dados apresentados na ficha terminoloacutegica sobre o termo ldquoMucuracaacuterdquo explanam
as caracteriacutesticas pertencentes agrave espeacutecie em seu contexto social Por ser uma planta de cheiro
forte e marcante eacute utilizada em banhos para as enfermidades do corpo e da alma Conhecida
tambeacutem pela variante ldquoTipirdquo suas utilidades medicinais vatildeo aleacutem dos benefiacutecios agrave sauacutede pois
eacute uma planta usada para afastar problemas espirituais como quebrante e questotildees negativas
contra a alma O fato de cultivar a planta proacutexima agrave casa tem o significado de proteccedilatildeo
espiritual aos moradores da comunidade de Pimenteiras Observemos no contexto apresentado
por Domingas
[] eacuteh ele eacute bom pra febre pra passar a febre pra doacute de cabeccedila tambeacutem e diz que
pra espantar mal olhado teve uma coisa neacuteque natildeo esteja dando muito certo pode
plantar o mucuracaacute no quintau e usar isso aiacute o pessoal ( ) primeiro tinha aquele
97
problema haacutemeu filho taacute com quebrante mau olhado natildeo sei que faz o banho do mucuracaacute neacuteisso aiacute eacute experiecircncia [] (informaccedilatildeo verbal)56
Aleacutem da definiccedilatildeo descritiva do termo ldquoMucuracaacuterdquo utilizamos tambeacutem como
anaacutelise dos termos o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com as
informaccedilotildees especiacuteficas sobre os elementos presentes em cada termo Este formato da ficha
terminoloacutegica eacute importante para melhor visualizaccedilatildeo dos dados analisados pois observamos
cada informaccedilatildeo contida sobre os termos catalogados aleacutem da definiccedilatildeo descrita pela senhora
Domingas Os aspectos pertinentes na ficha satildeo o Lexema (Lx) as Variantes (V) a
Classificaccedilatildeo Gramatical (Cg) o Contexto (Co) a Fonte do Contexto (Fc) as Partes de Uso
(Pu) Formas de Uso (Fu) a Finalidade (Fn) os Dados do Informante (Di) os Dados do
Pesquisador (Dp) Notas (Nt) e a Data da Coleta (Dc)
Observamos que nos estudos atuais da liacutengua o leacutexico estende-se para aleacutem da
Terminologia e chega aos estudos da Sociolinguiacutestica57
e da Etnolinguiacutestica58
pois a liacutengua
de modo geral reflete marcas sociais e culturais dos falantes Assim observemos na
sequecircncia os demais termos e suas anaacutelises identificando as caracteriacutesticas de um povo e de
sua liacutengua
52 ERVA DE JABUTI
Nos estudos do termo sobre as plantas de uso medicinal da comunidade de
Pimenteiras o aspecto socioterminoloacutegico eacute muito importante pois o termo pode apresentar
variaccedilotildees por vezes dentro de uma mesma aacuterea de especialidade Esse conceito traz um olhar
novo com perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural a respeito dos termos analisados sobre as plantas
medicinais da comunidade de Pimenteiras mostrando as influecircncias da cultura negra na
linguagem No que compete ao aspecto da linguagem Travaglia (2002 p 23) expotildee que ldquoa
linguagem eacute pois um lugar de interaccedilatildeo humana de interaccedilatildeo comunicativa pela produccedilatildeo de
efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e em um
56Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoMucuracaacuterdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015 57Sociolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda as relaccedilotildees entre liacutengua e sociedade e daacute ecircnfase ao caraacuteter
institucional das liacutenguas Eacute o estudo do comportamento linguiacutestico dos membros de uma comunidade e de como
ele eacute determinado pelas relaccedilotildees sociais culturais e econocircmicas existentes
58Etnolinguiacutestica eacute o ramo da linguiacutestica que estuda a relaccedilatildeo da linguagem e a cultura das comunidades A etnologia eacute o estudo antropoloacutegico dos povos e sua cultura analisando sua linguagem e como ela estaacute
relacionada agraves peculiaridades da vida primitiva suas crenccedilas e folclores
98
contexto soacutecio-histoacuterico e ideoloacutegicordquo Observemos as variaccedilotildees ocorrentes com o termo
ldquoErva de Jabutirdquo
TERMO 02 ndash ldquoERVA DE JABUTIrdquo
Quadro 2 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Jabuti
Lx Lexema Erva de Jabuti
V Variantes Coraccedilatildeo de Jabuti Coraccedilatildeozinho Comida de Jabuti
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto ela eacute uma planta di todu cantu tantu ambienti abertu ou fechadu ela daacute ela ela eacute
uma planta assim pequenauma erva ( ) ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela
eacute um formatu dum coraccedilatildeu coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu
grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha
neacute ela num eacute dessas avres assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua
dela a folhinha dela tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa
cheia di aacutegua eacute uma folha assim ( ) ela num ela num eacute aquela folha seca assim durinha
fina ela eacute uma folhinha assim bem gordinha cheinha neacute tantu faz a folha comu us
galhinhus dela ela bota uma uma bajizinha uma bajizinha forma dum duma baji di
pimenta du reinu soacute qui eacute bem piquininha eacute naquela forma da baji di pimenta du reinu
sabi neacute cumeacute aquela baginha assim soacute que eacute bem piquininha ( ) bem zititinha porque ela ela eacute uma planta pequena ela tem aqueli formatu da pimenta mais ela eacute miudinha eacute
teacute que ela eacute uma planta nativa tambeacutem ela num eacute assim uma planta cuidada ela eacute
nativa e assim nos quin no quintau ela gosta muitu de nascer im quintal eacuteh sozinha
eacute num precisa cultivar ela eacute ela eacute du quintau ela eacute assim du canteru ela nasce nu
canteru assim ela nascifriu ambiente frio daacute mais com certeza( )
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e os talos da planta
Fu Formas de Usada na forma de chaacutes para Ameba
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 16 ndash Erva de Jabuti Fotografia 17 ndash Folha da Erva de Jabuti
99
uso
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Os nomes tecircm relaccedilatildeo com as caracteriacutesticas das plantas nos aspectos da funccedilatildeo e do
formato
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Com o termo ldquoErva de Jabutirdquo observamos que a planta apresenta mais de uma
variaccedilatildeo para a mesma palavra Algumas estatildeo relacionadas com a forma e tamanho daiacute suas
variantes serem conhecidas como ldquoCoraccedilatildeo de Jabutirdquo ou ldquoCoraccedilatildeozinhordquo o termo variante
tambeacutem possui relaccedilatildeo com a funccedilatildeo de servir de alimento para o animal por isso recebe a
terminologia de ldquoComida de Jabutirdquo Podemos perceber como a linguagem especializada
utilizada pelos moradores quilombolas de Pimenteiras apresenta variantes formadas pela
relaccedilatildeo associativa com as caracteriacutesticas descritas sobre as plantas medicinais da regiatildeo
Vejamos no contexto abaixo
[] ela eacute pequena uma erva pequena a folha dela eacute um formatu dum coraccedilatildeu
coraccedilatildeu di jabuti mesmu natildeu ela num eacute num eacute tipu grama assim ela eacute piquininha mas ela ela num eacute rastera assim soacute qui ela eacute piquininha neacute ela num eacute dessas avres
assim grandi natildeo ela ela assim por aqui assim aiacute a agua dela a folhinha dela
tambeacutem eacute uma folhinha assim espelhosinha assim comu coisa cheia di aacutegua eacute uma
folha assim [](informaccedilatildeo verbal)59
Os termos e suas variantes estatildeo relacionados com a aacuterea de saber dos moradores
quilombolas sobre as plantas medicinais Nesse contexto os saberes de um povo se
manifestam e satildeo preservados na linguagem especializada e por conseguinte marcam os
conhecimentos tradicionais dos moradores de Pimenteiras Nas relaccedilotildees sociais da
comunidade as pessoas vivenciam de forma individual e coletiva sua linguagem Assim
vejamos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo considerado um conhecimento novo para os
moradores de Pimenteiras
59Transcriccedilatildeo Grafematica do termo ldquoErva de Jabutirdquodescrito pela senhora Domingas ano 2015
100
53 NONI
Para a Terminologia o termo eacute a denominaccedilatildeo de um conceito que tem no
conhecimento especializado uma expressatildeo comunicativa cognitiva e complexa pois natildeo haacute
conhecimento especializado sem uma terminologia Assim Benveniste (1989 p 252) expotildee
que ldquoUma ciecircncia soacute comeccedila a existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e
em que impotildee seus conceitos atraveacutes de sua denominaccedilatildeo Ela natildeo tem outro meio de
estabelecer sua legitimidade senatildeo por especificar seu objeto denominando-o []rdquo Notemos
assim a anaacutelise do termo ldquoNonirdquo e suas caracteriacutesticas na ficha terminoloacutegica
TERMO 03 ndash ldquoNONIrdquo
Quadro 3 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Noni
Lx Lexema Noni
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Co Contexto eacutehnoni eacute famoso ele ele cura ocacircncer neacuteentau ele previne ele nem cura como
prenine o cacircncer neacuteeacuteh o suco eacute na garrafada eu praticamente uso na garrafada
toda as minhas guarrafadas eu colo eacute mais natildeo garrafada ele natildeo fica fedorento natildeo
porque na garrafada a gente ponha ele verde e rodela a rodelinha e coloca pra secar e na hora da garrafada a gente tritura ele bem bem miudinho e bota na garrafada
ele natildeo fica natildeo tem gosto de nada agora o suco dele ele ele maduro have maria eacute
muito ruiacute neacute((sorriu)) eacuteh mas ele eacute assim mas na garrafada a gente pode usar ele
ninguei nem percebe se tem ele eacute muito assim ele eacute muito eacute um remeacutedio que ele eacute
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 19 ndash Folha do Noni Fotografia 18 ndash Noni
101
muito bom e ele ele assim nem tanto cura como previne as doenccedila como eacute bom pra
inflamaccedilatildeo pra infecccedilatildeo eacute muito rui neacuteaiacute a inflamaccedilatildeo ela vira infecccedilatildeo e aiacute eacute muito
bom pra usar ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que
eu conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais
trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute ela eacute uma planta e o fruto dele a
folha dele eacute bem grande bem grande a folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma
lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os frutos dele neacute((sorriu)) pois eacute ((sorriu))
pois eacute eacute soacute usa o fruto e pra isso e um da nunca ouviu falar eacute soacute e o fruto mesmo ela
ela conhece eacuteh que neacutea gente usa neacutea gente usa direito ela ajunta pra mim por
que peacute no meu quintau natildeo tem tambeacutem natildeo natildeo tem natildeo ela sempre a gente leva
daiacute
Fc Fonte
docontexto
A informante
Pu Partes de
uso
Eacute utilizado o fruto e as folhas em sucos e na garrafada
Fu Formas de
uso
Corta as rodelas da fruta colocando para secar e depois triturar para usar na
garrafada serve para curar e prevenir o cacircncer inflamaccedilotildees e infecccedilotildees
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Considerada uma planta nova foi inserida haacute pouco tempo no contexto da comunidade
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoNonirdquo eacute um substantivo masculino que tem como definiccedilatildeo ser uma planta
de fruto e folhas grandes O fruto eacute descrito pela moradora de Pimenteiras com a aparecircncia de
uma ldquolagartardquo Segundo Domingas ldquoo fruto dele a folha dele eacute bem grande bem grande a
folha dele e o fruto dele tambeacutem ele eacute tipo uma lagata assim daacute uns olhinhos mais assim os
frutos dele neacute ((sorriu))rdquo (informaccedilatildeo verbal)60
A planta eacute novidade para a moradora de Pimenteiras seu saber veio atraveacutes de
cursos por meio da associaccedilatildeo quilombola da comunidade sobre o poder das plantas O Noni
eacute utilizado na garrafada como anti-inflamatoacuterio e tambeacutem como aliado contra o cacircncer Nesse
contexto o conhecimento sobre a planta foi absorvido pelos moradores da regiatildeo e integrado
como parte dos saberes sobre as plantas medicinais Observemos abaixo
[] ele eacute uma planta ele eacute uma planta entatildeo ele eacute uma planta novata pra mim ele eacute
novata pra mim ele eacute uma planta neacutepra mim tocirc com quase dez anos que eu
conheci ele foi no tempo da irmatilde amelha quando a irmatilde amelha tava mais
trabalhando por aqui foi que ela descobriu isso daiacute [] (informaccedilatildeo verbal)61
60 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015 61Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNonirdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
102
O que motiva o surgimento de um termo eacute a necessidade de nomear as novas
descobertas tecnoloacutegicas e cientiacuteficas direcionadas sempre a uma aacuterea especiacutefica do
conhecimento Segundo os estudos de Araujo (2006) o termo tem uma ldquodimensatildeo linguiacutestica
comunicativa e cognitiva e uma estrutura complexardquo O termo adquire uma feiccedilatildeo
terminoloacutegica porque integra um saber especializado ao lado de contextos no campo das
ciecircncias e das teacutecnicas ele tambeacutem possui uma dimensatildeo linguiacutestica por configurar um
comportamento lexical especializado e ainda uma dimensatildeo cognitiva por manifestar seu
conhecimento especializado
Por assim observar o termo eacute parte do componente linguiacutestico como tambeacutem eacute uma
unidade terminoloacutegica e ainda eacute um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saberVejamos
assim o componente linguiacutestico do termo ldquoPatacardquo
54 PATACA
A liacutengua eacute uma estrutura que estaacute sempre em transformaccedilatildeo desse modo a variaccedilatildeo
eacute um elemento muito importante para entendermos a existecircncia de diferenccedilas no modo como
uma liacutengua eacute usada em uma comunidade Assim como o ldquoNonirdquo o termo ldquoPatacardquo eacute um saber
novo para a comunidade de Pimenteiras adquirido por meio das relaccedilotildees sociais Observemos
abaixo sua anaacutelise
TERMO 04 ndash ldquoPATACArdquo
Fotografia 20 ndash Pataca
Fotografia 21 ndash Folha da Pataca
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
103
Quadro 4 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pataca
Lx Lexema Pataca
Cg Classe Gramatical
Substantivo feminino
Co Contexto eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacuteela me parece que
ela veio da iacutendia parasse neacuteela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de beacuteleacutem
que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta
sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu tenho um
pezinho laacute em casa ela eu natildeo que tamanho que o peacute taacute desse tamanho eu natildeo sei se daacute
grande natildeo eu daacute nunca viacute ela natildeo eacute nem daqui neacutemas ela eacute boa pra remautismo se
buta na de aacutelcool pra passar no lugar que taacute afetado do remautismo foi essa senhora
issi isso isso teacute agora eu eu ainda natildeo procurei pra ela cumo eacute que se usa porque ela
me deu tipo assim uma raiz tipo uma coisa assim nera num sei que era aquilo que ela
me deu ainda falta eu conversar com ela que pra mim procuraraacute cumeacute que se usa se eacute
a folha num era o que eacute eu pensei de ser ou o fruto ou a raiz dela natildeo natildeo natildeo tem natildeo natildeo veio mesmo que pra mim ela eacute recente neacuteeacute soacute folha soacute folha mas ela eacute muito
remeacutedio ela ela veio de longe essa essa pataca noacutes tiremos foto porque ela no meu
quintau neacuteela eacute remeacutedio agente tirou isso isso eacute verdade eacute depois me diz hum hum
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Natildeo sabe ao certo o que utilizar se eacute a folha caule ou fruto
Fu Formas de
uso
Tem a noccedilatildeo de usar com o aacutelcool na regiatildeo que estaacute com reumatismo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A informante recebeu a planta de outra pessoa natildeo sabe como usar poreacutem sabe que
serve contra o reumatismo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Sem saber o valor medicinal da Pataca a moradora traz para o ambiente da
comunidade um novo conhecimento adquirido pelo contato com outras pessoas sobre o uso da
planta que eacute conhecida pela sua importacircncia contra o reumatismo
O termo ldquoPatacardquo eacute considerado um substantivo feminino com uma estrutura
simples devido agrave presenccedila de um uacutenico radical No que concerne ao gecircnero na definiccedilatildeo a
moradora conduz sua fala no feminino referindo-se ao termo como a planta que foi inserida
haacute pouco tempo no contexto da comunidade segundo a senhora Domingas
[] eacuteh essa pataca tambeacutem ela eacute recente pra mim ela eacute recente neacute ela me parece
que ela veio da iacutendia parasse neacute ela veio da iacutendia eu conheci que uma pessoa de
beacuteleacutem que quando sabia que eu fazia remeacutedio ela me disse que ia me deixar sem uma planta sem um peacute disso daiacute ela me deu primeiro um pedaccedilo da raiz e agora eu
tenho um pezinho laacute em casa [] (informaccedilatildeo verbal)62
62Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPatacardquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
104
Somos seres humanos formados pela interaccedilatildeo pelo contato que temos com as
pessoas com o ambiente com a cultura enfim eacute atraveacutes da accedilatildeo de produccedilatildeo da linguagem
que somos constituiacutedos como indiviacuteduos sociais Ao analisarmos os termos das plantas
medicinais catalogadas na comunidade de Pimenteira pretendemos ver como essas unidades
se constituem e que fatores extralinguiacutesticos sociais e culturais interferem e determinam essa
terminologia Barbosa (2001) expotildee que ldquoesse tipo de linguagem usa vocabulaacuterios teacutecnico-
cientiacuteficos e especializados mostrando que eles estatildeo no niacutevel de uma forma natildeo apenas
linguiacutestica mas tambeacutem socioculturalrdquo Assim completa expondo que
Considerando o conjunto de obras lexicograacuteficas e terminoloacutegico-terminograacuteficas
produzidas em eacutepocas mais recentes diriacuteamos que natildeo se tem muita clareza quanto
agraves fronteiras conceptuais denominativas definicionais dos tipos desses textos natildeo
obstante o estaacutegio avanccedilado em que se encontram neste fim de seacuteculo as pesquisas
das ciecircncias da palavra nessas aacutereas natildeo obstante igualmente a existecircncia de
numerosos organismos e obras de normalizaccedilatildeo terminoloacutegica em diferentes paiacuteses
que natildeo conseguiram assegurar para certos conceitos uma terminologia de
Terminologia uniforme e consensual (BARBOSA 2001 p 26)
Analisamos na sequecircncia o termo ldquoPau-de-muquemrdquo que eacute tambeacutem conhecido pelas
variantes ldquoAssa-peixerdquo ou ldquoMata pastordquo
55 PAU-DE-MUQUEM
Diferente da palavra o termo possui sempre relaccedilatildeo com o significado dentro de um
contexto de domiacutenio ou seja estaacute sempre contextualizado em um determinado campo de
conhecimento Nesse contexto seu conteuacutedo especiacutefico encontra-se em uma situaccedilatildeo de uso
particular Krieger (2001 p 69) nos afirma que ldquoo reconhecimento sem duacutevida incontestaacutevel
do componente conceitual na constituiccedilatildeo do fenocircmeno terminoloacutegico responde fortemente
pelas interpretaccedilotildees de que um termo eacute uma unidade de conhecimentordquo
Uma unidade de conhecimento que estaacute em contiacutenuo relacionamento com seu
significado e que segue criteacuterios pragmaacuteticos e comunicativos (CABREacute 1993) Assim
caracterizamos o termo Contudo que criteacuterios podemos seguir para a seleccedilatildeo dessas unidades
de especialidades Antes de observar se os termos sobre as plantas medicinais pertencem ou
natildeo ao domiacutenio da especialidade percebemos que a definiccedilatildeo de um termo sempre seraacute o
ponto de partida pois os contextos de uso nos estudos teoacutericos da terminologia tornam-se
105
vaacutelidos para descrever e recolher os termos dentro do campo de ocorrecircncia do saber
especializado Observemos entatildeo como ocorre as variaccedilotildees no termo ldquoPau-de-muquemrdquo
TERMO 05 ndash ldquoPAU-DE-MUQUEM
Quadro 5 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Pau-De-Muquem
Lx Lexema Pau-de-muquem
V Variante Assa-peixe ou Mata pasto
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto eacute o mesmo accedilapeixe sim eacute a mesma coisa eacute uma arve eacute uma arve nativa tambeacutem ela
do tempo ela eacute diz que ela eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacutefazer o
lambedor dela o xarope o lambedor eacute a mesma coisa do charope neacuteda folha buta ela pra ferver ferver inteacuter quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua
quando ele reduzir pra meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel
dipreferente o mel pra essas coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar
toamando que eacute pra tosse a irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o
lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo
neacutequando tivesse bem sequinha esfarelava na comida e comia eacute ela disse queeu
num sei tambeacutem isso daiacute ((sorriu)) ela eacute assim ela eacute grande assim ela eacute grande assim
a ponta dela eacute mais larga soacute () diferente da a potinha dela eacute bem larguinha a ponta
dela pra ponta ela eacute mais larga e pro pezinho da folha eacute mais estretinha quase que eacute
pois eacute assim tambeacutem numa moita num nasce soacute uma ave nasce varas varas ela eacute boa
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 22 ndash Pau-de-muquem Assa-peixe ou Mata
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
Fotografia 23 ndash Folha do Pau-de-muquem
106
de filhar assim a volta dela brolha muita aiacute tambeacutem tem uns que chamam mata pasto
neacute mata pasto tem gente que manca ela gosta de nascer meio do capinzal aiacute ela gosta () eacute tem gente que cha pasta pasto sem mas eacute conhecido mesmo bem por accedila peixe e
pau de muqueacutem nos conhecemos por esse nome lambedor isso eacute pra tosse natildeo natildeo ela
tambeacutem chama de mata pastu porque nasce assim no meio do capim
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas
Fu Formas de
uso
Para tosse fazer o lambedor (ferver as folhas na agua ateacute apurar depois acrescenta o
mel) Para renite (fritar as folhas em oacuteleo triturar e colocar na comida)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Eacute conhecido tambeacutem como assa-peixe ou mata pasto
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando o termo ldquoPau-de-muquemrdquo entendemos que as variantes ldquoAssa-peixerdquo e
ldquoMata pastordquo tambeacutem deveriam ser analisadas no aspecto gramatical com isso observamos
que os termos e suas variantes satildeo sintagmas terminoloacutegicos masculinos Eacute interessante notar
que as variantes apresentam a mesma composiccedilatildeo em sua formaccedilatildeo podendo ser utilizadas no
mesmo contexto Nesse aspecto Faulstich (1999) explica que haacute formalizaccedilatildeo da sinoniacutemia
terminoloacutegica em que as variantes satildeo coocorrentes ou seja ldquorelaciona o sentido de dois ou
mais termos com significados idecircnticos e podem coocorrer em um mesmo contexto sem que
haja alteraccedilatildeo no plano do conteuacutedordquo
No que concerne agrave definiccedilatildeo descrita sobre o termo e suas variaccedilotildees a planta eacute usada
para tosses e renites sendo que para cada situaccedilatildeo o modo de processar eacute particular
Observamos que as distintas formas de nomear a planta medicinal coincidem no preparo para
as diferentes enfermidades a serem tratadas assim expotildee a senhora Domingas
[] eacute muito boa pra tosse taacute conquela tosse neacute fazer o lambedor dela o xarope o
lambedor eacute a mesma coisa do charope neacute da folha buta ela pra ferver ferver inteacuter
quando ela buta assim pro litro de aguaacute com litro de agua quando ele reduzir pra
meio a gente escore a folha fora aiacute bota accediluacutecar o mel dipreferente o mel pra essas
coisas e preferente o mel aiacute faz o lambedor pra ficar toamando que eacute pra tosse a
irmatilde nelha ensina ateacute que rinte natildeo quisesse fazer o lambedor pegasse as folhas lavasse bem lavadinho butasse pra fitar no oacuteleo neacute quando tivesse bem sequinha
esfarelava na comida e comia eacute ela disse que eu num sei tambeacutem isso daiacute
((sorriu))[] (informaccedilatildeo verbal)63
63Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoPau-de-muquemrdquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
107
Considerar o termo dentro do ambiente social que as pessoas utilizam a linguagem
esta eacute a base da Socioterminologia que analisa a variaccedilatildeo social do termo antes tido como
invariaacutevel Com isso procuramos examinar como a variaccedilatildeo ocorre dentro das mudanccedilas na
sociedade lugar em que o termo eacute gerado eacute usado eacute modificado Ao falar sobre
Socioterminologia Faulstich (2006 p 27) expotildee que
Para falar de socioterminologia eacute preciso antes de tudo situar a terminologia no
espaccedilo da interaccedilatildeo social No Brasil por exemplo a histoacuteria da terminologia se confunde com a formaccedilatildeo da sociedade brasileira por meio da mistura de falares dos
habitantes naturais da terra e dos que para caacute vieram Vejam-se nos dicionaacuterios
termos da fauna e da flora como indicadores da terminologia indiacutegena no portuguecircs
brasileiro () Assim sendo natildeo eacute novidade dizer que a diversidade da cultura
brasileira aparece refletida na terminologia cotidiana
Um dos maiores aspectos da Socioterminologia exposto por Faulstich (2006) eacute ldquoter
na base da pesquisa a variaccedilatildeo linguiacutestica dos termos no meio social e por consequecircncia
entender a mudanccedila terminoloacutegica como mecanismo resultante da pragmaacutetica discursivardquo
Assim no que diz respeito agraves mudanccedilas no termo a pesquisadora explica que a ldquovariaccedilatildeo
deve levar em consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de comunicaccedilatildeo de uma determinada aacuterea
que dependem das circunstacircncias de emissatildeo dos interlocutores do meio pelo qual se daacute a
comunicaccedilatildeo entre outrosrdquo (FAUSLTICH 2006 apud BLANCO 2010 p 4)
Vejamos na sequecircncia como ocorre a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo
56 VASSOURA DE BOTAtildeO
Nos estudos da linguagem humana os usos de palavras especiacuteficas para situaccedilotildees em
especial vecircm sendo ampliados de acordo com as mudanccedilas de uso da liacutengua tais palavras
recebem as seguintes nomenclaturas leacutexico especializado termo teacutecnico-cientiacutefico termo
unidade lexical terminoloacutegica unidade lexical especializada unidade lexical temaacutetica
unidade de conhecimento unidade de compreensatildeo unidade de significaccedilatildeo especializada ou
vocabulaacuterio (ARAUacuteJO 2006)
Ao utilizarmos os termos com sentido aproximado do objeto nomeado fazemos uma
associaccedilatildeo com certa caracteriacutestica correspondente ao nome dado Nesse contexto ldquoa relaccedilatildeo
associativa eacute uma relaccedilatildeo entre dois conceitos que natildeo pertencem agrave mesma estrutura hieraacuterquica
ainda que sejam proacuteximos do ponto de vista semacircntico ou contextualrdquo (TESAURO 2006 p 11)
108
Nesse acircmbito vejamos a anaacutelise do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo cujo nome segundo a
descriccedilatildeo de Domingas possui relaccedilatildeo com a planta nomeada
TERMO 06 ndash ldquoVASSOURA DE BOTAtildeOrdquo
Quadro 6 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Vassoura de Botatildeo
Lx Lexema Vassoura de botatildeo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto ela eacute boa pra quela eacute verme gearde neacutegearde que eacute do estamagu que eacute de
ameba eacute pra ela que ela eacute bom eacute a gente faz a gente faz tambeacutem tintura piacuteula dela de
vassoura de botatildeoeacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que ela
assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim ao
redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela
agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota outra
aqui ateacute trecircs quatro assim isso hurum isso sim sim eacute isso isso eacute chamo vassoura de
butatildeo eacute a folha com tudo aquilo tudo tudo isso eacute pequeninha eacute isso hurum e tambeacutem eacute
e uma fez noacutes fizemos eacute pumada disseram quera era boa pra ela ela diz antiplamatoacuterio
a gente fez a pumada neacutecatamos tudinho a folhinha butamos pra fritar nu na gordura vegetal e depois transformamos na pomada mas isso aiacute ningueacutem tem dizer
assim ele foi bom porque ningueacutem usou a gente um pouco soacute pra demonstraccedilatildeo isso
foi pela pastoral da crianccedila neacuteaquela pretinha que foi ensinar noacutes a gente fez vaacuterias
mas a gente fez soacute um pouquinho num
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e o botatildeo da flor
Fotografia 24 ndash Vassoura de botatildeo Fotografia 25 ndash Folha da Vassoura de botatildeo
Fonte Dado registrado durante a pesquisa Fonte Dado registrado durante a pesquisa
109
Fu Formas de
uso
Usada para vermes amebas no estocircmago atraveacutes de tintura piacutelulas anti-inflamatoacuterio
(ferver as folhas e o botatildeo em gordura vegetal para transformar em pomada)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem aspecto de uma pequena vassoura invertida
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoVassoura de Botatildeordquo eacute um sintagma terminoloacutegico feminino formado pela
composiccedilatildeo de palavras Em sua estrutura o termo apresenta uma complexidade formada pela
presenccedila de dois radicais no acircmbito da definiccedilatildeo do termo verificamos que haacute uma relaccedilatildeo
associativa do nome da planta com a aparecircncia que ela possui como expotildee Domingas
[] vassoura de botatildeo eacute a gente faz assim ela eacute que nem uma vassourinha soacute que
ela assim a redor no dela na arvinha dela e a flozinha dela o butatildeozim galhim assim
ao redor do tipo uns butatildeo ne quatro eacute aqui isso aqui no casu aqui eacute a avezinha dela
agora aqui no caso bota uma flozinha uma sementinha aqui a redo aqui ela bota
outra aqui ateacute trecircs quatro [] (informaccedilatildeo verbal)64
Com o formato de uma vassoura invertida o termo ldquoVassoura de Botatildeordquo estaacute
relacionado com o aspecto que o objeto nomeado possui Nesse campo de estudo Faulstich
(1999) explica que nas relaccedilotildees associativas haacute uma sequecircncia que estaacute conectada com a
experiecircncia contiacutenua entre o tempo e espaccedilo Assim a ldquounidade terminoloacutegica pode ter ou
pode assumir diferentes valores de acordo com a funccedilatildeo que uma dada variaacutevel desempenha
nos contextos de ocorrecircnciardquo (FAULSTICH apud CRUZ 2014 sem paginaccedilatildeo)
Vejamos assim algumas plantas que apresentam relaccedilotildees associativas nos seus
nomes quanto agrave forma tamanho cor e funccedilatildeo medicinal como eacute o caso do termo ldquoNambu
Tutanordquo
57 NAMBU TUTANO
Na Liacutengua podemos utilizar as palavras em diferentes relaccedilotildees de sentidos nos mais
diversos contextos Nesse processo denominado polissecircmico encontramos termos que
64
Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoVassoura de Botatildeordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
110
possuem formaccedilotildees utilizadas no acircmbito geral de uso da liacutengua assim como termos
especiacuteficos no uso especializado da linguagem
Nesse aspecto verificamos que a comunidade de Pimenteiras apresenta variaccedilotildees
para um mesmo termo sobre as plantas medicinais ocorridas pela relaccedilatildeo associativa com as
caracteriacutesticas pertencentes a cada espeacutecie nomeada Verifiquemos a anaacutelise do termo abaixo
TERMO 07 ndash ldquoNAMBU TUTANOrdquo
Quadro 7 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Nambu Tutano
Lx Lexema Nambu Tutano
Va Variante Batata Roxa
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto eacute uma planta eli eacute eli eacute piquininhu eli daacute assim eim forma di cebola di planta
assim qui eli eacute soacute que eli a folha eli natildeu teim caulei natildeu daqui qui eli nasci eli jaacute
nasci as folhas natildeu eli num teim qui a batata a cebola di planta neacute qui eacute assim ela jaacute
vai nascendu a folha duma folha eacute qui neim a cebola duma folha jaacute bota outra folha
dotra folha jaacute vai botandu qui neacute batatinha em baixu eacute natildeu natildeu teim cauli natildeu eacute soacute
folha i batataa folha eacute a folha teim a folha di accedilaizeiru neacute qui eacute assim ai teim as
folinhas qui agarra nu talu du accedilaizeiru eacute daqueli formatu da folha du accedilaizeiru natildeu
natildeu eacute beim compridona eacute assim a folha deli mais ou menus dum palmu qui eacute assim a folinha deli natildeu natildeo sei por que ela eacute abertinha teim a folha di cebola porque a
folha cebola eacute toda eacute inteira comu digu logu eacute rolicinha e ela num ela eacute ela eacute eacute ela eacute
folinha ela eacute folha assim ela eacute abertinha folha aberta folha assim folha aberta folha
qui tem a accedilaizera qui teim a folha dela qui eacute assim agora a dela eacute qui neim aquela
folha di accedilaizeiru assim qui ( )nasci daqueli talu assim pois eacute a folha dela babosa
num teim a babosa qui eacute uma folha aberta neacute eacute folha mais eacute aberta neacute assim qui eacute du
batatatildeu ela num eacute aquela folha inteira folha roliccedila assim ela eacute uma folha aberta natildeo
eacute seca qui nem di accedilaizeru mermu eacute seca mermu eacute usa soacute a batata natildeo
Fotografia 26 ndash Nambu Tutano Fotografia 27 ndash Folha do Nambu Tutano
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
111
piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute roxinha tambeacuteim batata roxa
porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu
jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute qui neim a cebola capa sobri capa a
capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu
vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu mas ela eacute assim de capinha nambu tutanu
isso daacutei eu conhe caacute a minha voacute i minha matildei tambeacuteim nambu tutanu qui quandu eu mi
criei ela jaacute tinha neacute ( ) issu aqui eacute nambu tutanu porque as veiz quandu aparecia
aquela pessoa doenti crianccedila doenti neacute vai ver nambu tutanu vai arrancar aqueli
pesinhu ali vocirc fazer remeacutediu ai a genti ia arrancar i por issu qui deru u nomi ai eu
achu qui veim dus avocircs delis dus tataravoacute sabi laacute neacute aprendemus com elis eacute eacute mesmu
nomi cebolinha eacute batata roxa nambu tutanu mesmu nomi
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
A raiz em formato de batata
Fu Formas de uso
Chaacutes para diversas doenccedilas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A variante Batata Roxa vem do formato da raiz que parece uma batata em camadas
como cebola na cor roxa
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando o termo ldquoNambu Tutanordquo observamos que possui a variante ldquoBatata
Roxardquo Na anaacutelise por meio da ficha terminoloacutegica na definiccedilatildeo descritiva de cada planta
medicinal verificou-se que os termos e suas variantes tecircm particularidades importantes para
este estudo Desta forma no termo ldquoNambu tutanordquo notou-se que sua variante ldquobatata roxardquo
possui relaccedilatildeo associativa com a forma ou seja a planta apresenta formato de uma batata de
cor roxa por isso a presumiacutevel relaccedilatildeo com a variante do termo Observemos abaixo
[] eacute usa soacute a batata natildeo piquininhaeacute piquininha menor di que uma cebola i eacute
roxinha tambeacuteim batata roxa porque eacute roxinha essi nambu tutanu eli eacute roxu a
batatinha deli eacute roxa completamenti qui neim daquela cebolinha roxa qui a genti
comiasim sim assim qui eacute dessi mesmu jeitu natildeu eli eacute mais moli eacute queli queli eacute
qui neim a cebola capa sobri capa a capinha as camadinha tudu eacute roxu tudu eacute roxu natildeu natildeu nau eacute mais tudu eacute roxu vocecirc tira uma capinha eacute roxu tudu eacute roxu
mas ela eacute assim de capinha[] (informaccedilatildeo verbal)65
Sabemos que na configuraccedilatildeo atual a Terminologia vai muito aleacutem da elaboraccedilatildeo
de dicionaacuterios na aacuterea Muitos autores consideram o conhecimento nas liacutenguas especializadas
como um rico campo de conhecimento Faulstich (1995) explica que o saber eacute construiacutedo de
forma individual e coletiva num processo no qual o sujeito interage com a realidade as
65Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoNambu Tutanordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
112
pessoas e o ambiente sociocultural Isso nos revela que a Socioterminologia jaacute era prenuacutencio
para o desenvolvimento de uma Terminologia de cunho funcionalista e de natureza social ou
seja ldquoas caracteriacutesticas de variaccedilatildeo no universo da terminologia revelam peculiaridades
proacuteprias a serem estudadas pela disciplina Socioterminologia que requer meacutetodo proacuteprio para
a sistematizaccedilatildeo de termos e de variantesrdquo (FAULSTICH 1995 p 281)
Na sequecircncia analisemos o termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo
58 QUEBRA PEDRA ROXO
Em seus estudos Faulstich (1995) aborda aspectos relevantes dentre os quais
destaca a diferenccedila entre lexema e termo Para a pesquisadora o lexema eacute ldquouma unidade
lexical do domiacutenio do leacutexico geral da liacutengua um termo eacute tambeacutem uma unidade lexical mas
tiacutepico de variado domiacutenio de vocabulaacuterio cientiacutefico e teacutecnicordquo (FAULSTICH 1995 sem
paginaccedilatildeo) Por ser o lexema uma unidade da liacutengua comum Faulstich explica que ele eacute
portador de conotaccedilotildees psicoloacutegicas e sociais que lhe proporcionam a multiplicaccedilatildeo de
significados e a presenccedila da polissemia que por correspondecircncia daacute lugar agrave sinoniacutemia
Diante do contexto funcional a autora destaca que o ldquolexema delineia seu caraacuteter semacircntico e
lexicograacutefico a partir da estrutura paradigmaacutetica porque satildeo as oposiccedilotildees distintivas que
delimitam a configuraccedilatildeo semacircntica e marcam o valor do lexemardquo (FAULSTICH 1994 p
314)
Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo que o sentido estaacute
relacionado ao nome Durante as pesquisas realizadas natildeo encontramos a espeacutecie na cor roxa
para o registro de imagens mas a informante apresentou sua definiccedilatildeo descritiva de forma
subjetiva para que pudeacutessemos verificar as especificidades do termo na ficha terminoloacutegica
Assim observemos
Quadro 8 ndash Ficha Terminoloacutegica do termo Quebra Pedra Roxo
Lx Lexema Quebra Pedra Roxo
Va Variante Comer de Rola
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Co Contexto comecirc di rola essi du roxu eacute porque to dizendu eacute eli eacute soacute um formatu du mermu jeitu
qui eacute u brancu eacute soacute muda a cor eli eacute roxinhu por que teim u brancu i teim roxu essi comecirc di rola noacutes conhecemu assim comecirc di rola roxu u quebra pedra eacute quebra pedra
brancu mas eli eacute soacute um formatu u formatu qui eacute u quebra pedra brancu eacute u roxu
beim piquinininha du tamaninhu eacute du mesmu jeitu mesmu jeitinhu aiacute porque qui
113
eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu du otru neacute soacute qui
adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela trevoada di rolinha qui
levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas bichinhas gosta di taacute aqui
porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u
matu eacute du mermu jeitu du brancu eli daacute por certus tempu quandu chega nu veratildeu eli
eli morri soacute qui eacute assim quandu eli nasci muitu qui nu meu roccediladu jaacute nasceu muitu
assim chega qui eu ficava tomandu di conta assim la quasi num nascia neim um otru
matu era soacute por conta deli mermu laacute porque eacute beim encostadinhu dotru neacute assim um
tipu um canteru laacute quasi num nasci otru matu eu sei qui as bichinha gostavu di taacute laacute si
alimentandu da sementinha da folhinha delis minha voacute nois conhecemus com ela
comecirc di rola assim noacutes comu crianccedila vovoacute u qui eacute issu comeacute u nomi dissu ela era uma
velhinha muita pacienti isso ai eacute comecirc di rola( ) porque assim a rolinha quandu chega
aqui as bichinha num si levantu assim ai comecirc di rola pra qui servi vovoacute issu aqui eacute remeacutediu eacute eacute sim eacute remeacutediu( ) prus rins tambeacuteim neacute qui antis a genti fazia dessi assim
quebra pedra fazia mas noacutes conhecemu mais por comecirc di rola a depois qui era quebra
pedra a eacute remeacutediu pa pa quem teim pedras nu rins podi fazer u chaacute dela i tomar agora
eu jaacute usu comu( ) eu jaacute usu na garrafada jaacute bota na garrafada u brancu porque
nois jaacute tivemu uma uma oficina um treinamentu qui uma mulher vei di macapaacute e diz
qui u u bom mermu eacute u brancu qui eacute u quebra pedra di verdadi assim pru pru pedra nu
rim neacute porque eli jaacute porque nois dizia assim( ) teca porque u nomi dela era teca teca
noacutes dizia qui era u roxu ela dissi natildeu u roxu natildeu teim muita serventia eli servi mas u
brancu porque eacute u quebra pedra di verdadi eacute u brancu porque u nomi deli eacute quebra
pedra mermu eacute essi qui eacute bom aiacute eu dissi olha noacutes usa na garrafada ela dissi podi
usari natildeu teim poblema nenhuma comi tambeacuteim mais eacute assim eacute porque aqueli tempu tinha mais passarinhu noacutes via mais tinha mais du roxu assim nu roccediladu eacute mais du roxu
elas tavu mais ondi tava o quebra pedra du roxinhu eacute
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para problemas nos rins
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dores nos rins
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Conhecido tambeacutem por comer de rola porque os paacutessaros preferem a roxinha que a
branca
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Quanto ao termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo sua variaccedilatildeo ocorre com relaccedilatildeo associativa
com a funccedilatildeo que a planta tem ou seja a planta serve de alimento para certa espeacutecie de
paacutessaro assim o termo eacute tambeacutem chamado pela variante ldquoComer de Rolardquo por ser o alimento
que os paacutessaros ldquorolinhasrdquo preferem
[] aiacute porque qui eu dizia comecirc di rola por eli eacute nativu eli eacute assim du mermu jeitu
du otru neacute soacute qui adondi nasci muitu qui nu roccediladu nasci muitu as rolinha gostavu
di taacute laacute a genti podia chegar adondi tinha muito assim podia chegar qui era aquela
trevoada di rolinha qui levantava di laacute i ai as veiz noacutes dizia assim porque qui essas
114
bichinhas gosta di taacute aqui porque elis gostu di taacute cumendu a sementinha a folhinha neacute eacute ela gosta di taacute ali eacute u matu [] (informaccedilatildeo verbal)66
O termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo tambeacutem possui relaccedilatildeo associativa com sua funccedilatildeo
Na sabedoria popular a planta serve para tirar ldquoquebrarrdquo as pedras nos rins No que se refere
ao termo Faulstich esclarece que ao ser colocado no mundo da linguagem cientiacutefica e
teacutecnica ldquoo termo assume o estatuto de unidade lexical definida e eacute naturalmente uniacutevocardquo
(FAULSTICH 1994 p 315) Ou seja haveria um uacutenico conceito para um termo uacutenico com
uacutenica definiccedilatildeo Entretanto se ocorressem conceitos e definiccedilotildees diferentes para um mesmo
termo Faulstich adverte que ocorreria o que ela denomina posteriormente de variaccedilatildeo
terminoloacutegica ou seja havendo um novo termo um novo conceito com uma nova definiccedilatildeo
ocorreria a variaccedilatildeo No entanto ldquose esse mesmo termo vier a funcionar num outro contexto
como equivalente graacutefico de um jaacute existente mas natildeo equivalente semacircntico propiciaraacute a
homoniacutemia terminoloacutegicardquo (FAULSTICH 1990 sem paginaccedilatildeo)
Observemos na sequecircncia outro termo e sua anaacutelise
59 PARATUDO
Faulstich (1990) chama a atenccedilatildeo para a anaacutelise do termo no discurso pois eacute no
discurso que se estrutura a significaccedilatildeo semacircntica e terminoloacutegica Ela destaca que a natureza
epistemoloacutegica do lexema e do termo se fundamenta no alcance dos objetivos de cada um ou
seja para a lexicologia pertence agrave construccedilatildeo de um modelo de componente do leacutexico da
gramaacutetica jaacute a terminologia devido seu caraacuteter de intersecccedilatildeo com a lexicologia morfologia
e a semacircntica prestigia termos da linguagem cientiacutefica e teacutecnica Assim o limite entre lexema
e termo estaacute amparado nos recursos metodoloacutegicos da lexicologia e da terminologia Para
Faulstich (1994 p 317)
O resultado praacutetico da lexicologia teoacuterica e descritiva serve de ponto de partida para
o trabalho lexicograacutefico na elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios de liacutengua geral o resultado praacutetico da terminologia especializada aplica-se agrave terminografia na constituiccedilatildeo de
dicionaacuterios especializados
66Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoQuebra Pedra Roxordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
115
Diante desse contexto analisamos que o termo conhecido tambeacutem como sinocircnimo de
unidade terminoloacutegica designa um conceito da linguagem de uso especial Segundo Andrade
(et al 1998 p 191)
Tal como as palavras do leacutexico geral os termos satildeo unidades siacutegnicas distintivas e
significativas ao mesmo tempo apresentando-se de forma tatildeo natural no discurso
especializado quanto as palavras nos discursos que se valem da liacutengua comum
como forma de expressatildeo
Assim observemos que o termo ldquoParatudordquo passou por uma distinccedilatildeo particular
vejamos
TERMO 09 ndash ldquoPARATUDOrdquo
Fotografia 28 ndash Paratudo Fotografia 29 ndash Folha do Paratudo
Quadro 9 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Paratudo
Lx Lexema Paratudo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto eacuteh paratudo paratudo isso eacuteuma aacutervore uma aacutervore bem grande ela eacute uma aacutervore
bem grande ela eacute boa pra febre diprimeiro quando dava aquela febre de malaacuteria era
uma febre muito antiga que chamava por outro nome conhecida por outro neacuteela era
soacute o que curava ela eacute amargo amargo a casca dela a casca a gente usa eacute a casca iai a minha matildee tirava pra gente tomar o chaacute mas pra febre era primeiro lugar eacute febre ama
diprimeiro chamava febre amarela agora a pessoa diz que eacute a mesma malaacuteria o
pessoa digo neacuteera a uacutenica que curava era dava um tipo de febre que dava tudo tipo
de remeacutedio ih num passava aiacute eacute soacute a gente dando tudo heacute cumeccedilava sis maacute que era
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
116
esse tipo dessa febre que dava neacuteporque a malaacuteria eacute assim comeccedila daacute em seguida
aqueles horaacuterios o pessoal jaacute disconfia que a malaacuteria neacutee assim eacute era essa essa tipo
dessa febre iai a mamatildee fazia o chaacute paratudo mas ele eacute uma aacutervore ele eacute nativo ele eacute uma aacutervore muita bem grande bem grandona ela eacute nativa ela daacute em qualquer canto
num carece plantar paratudo eu natildeo sei porque os antigos ( )porque eu acho que
parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque essa febre amarela inha matildee
contava era assim febre muito perigosa diprimeiro neacuteera uma febre muita perigosa
que quase quando dava com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho
que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a
febre aiacute butaru paratudo eu acho neacuteela eacute mais alta tem umas que daacute mais alta no
lugar quela cresce mesmo ela eacute bem alta soacute soacute quela natildeo eacute grossana sempre ela eacute fina
ela natildeo eacute grossa natildeo sempre ela fina natildeo ela eacute bem comprindona mas ela eacute fina soacute a
casca soacute a casca
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Utiliza-se apenas a casca da aacutervore
Fu Formas de
uso
Usada na forma de chaacutes para febre amarela malaacuteria
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo ldquoParatudordquo significa que parava todos os sintomas da febre amarela
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Analisando a classe gramatical do termo ldquoParatudordquo vemos que se trata de um
sintagma terminoloacutegico feminino devido a informante se direcionar ao feminino quando
descreve chamando de aacutervore O termo estaacute escrito na forma agrupada essa junccedilatildeo ocorreu
na liacutengua pelo processo de justaposiccedilatildeo o qual Pottier (1978) chama de composiccedilatildeo
composta Isto provavelmente ocorreu pela significaccedilatildeo que o termo adquiriu nas geraccedilotildees
anteriores pois segundo a definiccedilatildeo de Domingas
[] porque os antigos ( ) porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso
neacute paratudo porque essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito
perigosa diprimeiro neacute era uma febre muita perigosa que quase quando dava
com febre amarela que natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram
esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo eu acho neacute[] (informaccedilatildeo verbal)67
Na histoacuteria descrita pela moradora quando seus antepassados adquiriam a febre
amarela ou malaacuteria tinham febres persistentes em horaacuterio programado Dificilmente
conseguiam eliminar seus sintomas a natildeo ser quando utilizavam a planta ldquoParatudordquo ou seja
ldquoparava tudordquo Assim o termo foi absorvido com o poder de parar todos os sintomas das
enfermidades contraiacutedas
67Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
117
[] porque eu acho que parava a febre mesmo era pra isso neacuteparatudo porque
essa febre amarela inha matildee contava era assim febre muito perigosa diprimeiro
neacuteera uma febre muita perigosa que quase quando dava com febre amarela que
natildeo tinha cura essas coisas eu acho que por isso butaram esse nome que foi o uacutenico a uacutenica coisa que que que eliminava a febre aiacute butaru paratudo []
(informaccedilao verbal)68
Nesse contexto Faulstich (1995) considera que as ldquovariantes satildeo resultado dos
diferentes usos que a comunidade em sua diversidade social linguiacutestica e geograacutefica fazem
do termordquo assim absorvida como medicamento que trouxe a cura de tudo a cura de todos os
sintomas da febre amarela ou da malaacuteria o termo eacute conhecido e usado na linguagem dos
moradores como planta que cura e para tudo escrito na forma composta
Seguimos na anaacutelise dos termos sobre as plantas medicinais com a anaacutelise
morfoloacutegica de alguns termos apresentando as imagens registradas durante a pesquisa de
campo juntamente com a definiccedilatildeo descritiva dos termos relatados pela senhora Domingas
utilizando para isso o modelo de ficha terminoloacutegica criado por Faulstich (1996) com os
elementos constitutivos dos termos para melhor visualizarmos seus dados
Na sequecircncia verifiquemos a anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo
510 GERGELIM BRANCO
A partir das investigaccedilotildees sobre as relaccedilotildees associativas entre os signos linguiacutesticos
surgem teorias em direccedilatildeo ao campo semacircntico que eacute considerado como o universo
linguiacutestico das palavras Em intersecccedilatildeo com o campo conceitual universo das ideias
segundo Robin (1977) o processo de conceptualizaccedilatildeo do mundo exterior chamado de
campo conceptual surge na mente humana pelo deciframento linguiacutestico dos conceitos e
categorias abstratas que eacute parte do campo leacutexico-semacircntico
Notando tais aspectos na estrutura do campo leacutexico-semacircntico e morfossintaacutetico do
termo este apresenta em alguns casos uma estrutura simples complexa ou composta Na
estrutura simples o termo eacute constituiacutedo de apenas um radical jaacute nos termos complexos e
compostos apresentam dois ou mais radicais Nos termos compostos a presenccedila do hiacutefen
diferencia-o do termo complexo ndash que natildeo possui o hiacutefen ndash poreacutem ocorrem processos de
composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras Na comunicaccedilatildeo
68 Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoParatudordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
118
especializada o que predomina satildeo os termos complexos por serem capazes de assumir
diferenccedilas na quantidade de nuacutemeros das unidades lexicais que formam a palavra sendo
reconhecido como termo sintagmaacutetico ou sintagma terminoloacutegico
Podemos observar na anaacutelise do termo ldquoGergelim Brancordquo que sua estrutura eacute
composta por dois radicais sem a presenccedila de hiacutefen senatildeo vejamos
TERMO 10 - GERGELIM BRANCO
Fotografia 30 ndash Gergelim Branco Fotografia 31 ndashFolha do Gergelim Branco
Quadro 10 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Gergelim Branco
Lx Lexema Gergelim branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Co Contexto eacuteh hurum eacute da eacute a mesma da mesma mesma tipo do mesmo soacute muda a cor eacute eacute da
semente eacute com certeza a arve eacute mesmo jeito vocecirc soacute vai sabe na hora que cai a
sementinha dela neacute ela eacute meacutedia ela eacute eacute plante do rodado ela pela sementinha () no
rosado soacute vai colher ela quando eacute na tempo de colher que a gente vai colher ela bota
pra secar aiacute vira ela bota pra secar ela soacute tem que buta ela pra secar de ponta pra
cima aiacute ela vai ce porque ela vai vai secando e e aqueles aqueles cachopinhas aqueles frutinho dela vatildeo vatildeo abrindo tudinho se ele tever de ponta pra baixo ele vai abrindo e
vai caindo ele tem que que taacute todo tempo neacute e fica guardada quando a gente vira a
pontionha dele pra baixo ele derrama eacute ele e ele eacute eacute a semente olha dhione eacute ela serve
pra um monte de coisa ( ) ela serve pra avece que daacute pra fazer massage ela serve pra
febre ela serve pra diarreia ela serve pra moragia a sementinha ela ser muito varo eacute
vaacuteria coisa que ela natildeo eacute o sumo da sementinha a gente pega bota ela pra esquentar
um pouco eacute raacutepido tem que ser raacutepido porque ela eacute uma sementinha muita graacutegil que
se demorar ela vai queimar esquenta ela quando ela taacute boa ela tem um cheiro assim
tatildeo ela muda de cheiro aiacute tira ela e pisa hoje em dia eacute mais pra mais normal eacuteo
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
119
lotificador neacute bota eacute ti e bota um pouco de aacutegua tira o leite grosso o leite dele sai
uma deliacutecia assim o leite grosso aiacute vocecirc pode se for pruma febre vocecirc pode toma uma ou duas culher vai depender da idade da crianccedila ou do da adulto sei laacute moragia
tambeacutem e pra ai se ai tanto ele serve pra remeacutedio cume ele eacute grande alimentaccedilatildeo ele eacute
alimentaccedilatildeo pra mim eu uso ele cumo alimentaccedilatildeo o gergelim como alimentaccedilatildeo e
porque assim no por remeacutedio ougaque eacute mais o gergelim preto pra remeacutedio pra
remeacutedio mas pra mim tanto faz pra mim tanto faz com certeza agora cumo eu tocirc
dizendo pode usar o preto mas de preferencia o preto de preferencia o preto mas num
tendo o preto o branco tambeacutem serve ele eacute a mesma coisa mas agora comu eu tocirc
dizendo eu uso o gergelim laacute em casa quando eu tenho eu uso pra minha pra mim
tomar meu cafeacute de mnhatilde comu ele eacute muito gostoso quando eu tiver um pouquinho que
agora eu tenho a minha roccedila quando tiver um poquim eu vou trazer um poquim da
paccediloca pra ((sorriu)) ele tem caccedilo eacute () anram sim urum isso eacute neacute pois eacute sim sim hurum
((sorriu)) acho que sim natildeo natildeo sei dizer natildeo mas eu acho que eacute pelo tamanhinho dele neacute que eacute uma semente muito eacute vou tomar poquim eacute isso
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
A sementinha contida na flor eacute usada para diversos problemas de sauacutede e tambeacutem
como alimento
Fu Formas de
uso
A sementinha secada e triturada para retirar o leite serve para derrame cerebral
hemorragias febre diarreia massagens e como alimento
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Segundo a informante o gergelim preto eacute melhor mas ela utiliza tambeacutem o gergelim
branco
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
No termo complexo Gergelim Branco aconteceu a formaccedilatildeo de termos pela
composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja o termo eacute formado por duas ou mais palavras que satildeo
independentes entre si no processo de formaccedilatildeo e que juntas formam um novo significado
uma nova palavra Quanto ao estudo gramatical dos termos complexos eles satildeo formados por
um elemento base que eacute o substantivo e em seguida por outra palavra que demonstra a
qualidade ou especificidade do primeiro podendo ser um adjetivo Por exemplo em
ldquoGergelim Brancordquo o substantivo eacute ldquoGergelimrdquo e ldquoBrancordquo eacute a particularidade na cor que
esse substantivo tem ou seja eacute um adjetivo
Observando as particularidades do termo ldquoGergelim Brancordquo vejamos na sequecircncia
a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo
120
511 URUCUM VERMELHO
Tomando os estudos de Barros (2007) e Pottier (1978) sobre a estrutura do termo
percebemos que cada um a seu modo explana sobre o mesmo conceito Na explanaccedilatildeo de
Barros (2007 p 399) ela apresenta que
Termo simples unidade terminoloacutegica constituiacuteda por um uacutenico lexema
independente do processo de formaccedilatildeo deste Termo complexo unidade formada
por composiccedilatildeo sintagmaacutetica ou seja por um grupo de lexemas e morfemas
gramaticais (palavras nocionais e gramaticais) natildeo ligadas por hiacutefen tambeacutem
independente do processo de formaccedilatildeo dos termos Termo composto unidade
terminoloacutegica formada por dois ou mais lexemas que se encontram em situaccedilatildeo de
natildeo-autonomia representada graficamente pela utilizaccedilatildeo do hiacutefen
Em Pottier (1978) a nomenclatura utilizada eacute lexia69
que eacute a menor unidade
funcional e significativa do discurso seja ele de forma oral ou escrita Para o pesquisador a
lexia nasce da relaccedilatildeo associativa entre seus elementos Quando utilizamos um termo em
determinado contexto por meio da inserccedilatildeo e permanecircncia desse leacutexico novas palavras seratildeo
internalizadas na liacutengua que por ser um sistema dinacircmico passa a ser enriquecida com
neologismos Assim no que compete aos estudos de Pottier o pesquisador apresenta como
modelo trecircs tipos de lexias sendo elas simples compostas e complexas (CAMPOS 2007)
As lexias simples70
satildeo conhecidas como a menor unidade lexemaacutetica ou palavra
tradicional que junto de outras lexias simples formam outras unidades lexemaacuteticas
conhecidas como palavras compostas Na lexia complexa ocorre uma sequecircncia de palavras
em grau maior de complexidade chamado de lexicalizaccedilatildeo Esta seria quando um sintagma se
torna uma unidade lexical autocircnoma Consequentemente Genouvrier amp Peytard (1974)
esclarecem melhor as lexias complexas de Pottier expondo em outras palavras que elas satildeo
formadas pelo agrupamento de lexias simples com classes gramaticais diferentes que resultam
em expressotildees generalizadas e estereotipadas (CAMPOS 2007)
Vejamos nesse contexto a anaacutelise do termo ldquoUrucum Vermelhordquo
69 Lexia eacute nome geral para qualquer unidade lexemaacutetica nos estudo de Pottier (1978)
70 Vale ressaltar que Cabreacute (1993) no aspecto da forma tambeacutem classificou os termos de acordo com os nuacutemeros de morfemas existentes na palavra assim classificava-os em simples para um morfema e complexo para dois ou
mais morfemas Os complexos eram ainda subdivididos em termos derivados e termos compostos
121
TERMO 11 - URUCUM VERMELHO
Fotografia 32 ndash Urucum Vermelho Fotografia 33 ndashFolha do Urucum Vermelho
Quadro 11 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Urucum Vermelho
Lx Lexema Urucum Vermelho
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Co Contexto eacuteh uma planta natildeo ela eacute caseira eacute clima frio a folha eacute grande eacute form e re
redonda formatu dum coraccedilatildeo a semente dela ela coloca a ah o copinho a
caixinha dentro da caixinha tem a semetinha bem redondinha bem miudinha a
sementinha dela a flor eacute um rosiozinho eacuteh rosu claro eacuteh um ela eacute pequena
uma flor meacutedia num eacute grande nau e nem tatildeo (sita) o caule vai depende eacute dumaaa ele sendo bem bem bem velho bem maduro o caule dele eacute assim duma uns dois
palmos di grussura em roda tem tens uns que ate dessa grussura ((fazendo gestos
com as matildeos)) da duas matildeos cheia tem umas que da ateacute trecircs metro vai depender
da tem umas que daacute olha ela ela serve assim ela eacute tempero serve pra
temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol colesterol ela gente pega faz o
vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o vinho e toma em jijum ela linima o
colesterol e soacute da sementi a gente pega semente agente abre a pega a cachopinha
abre ela tira a semeti amassa um pouco com agua ai coa e toma em jejum pra curar o
colesterol
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
Usada a sementinha encontrada no ldquocopinhordquo da planta retirar o vinho da semente
Fu Formas de
uso
Serve para dar a cor avermelhada na comida eacute um tempero para o colesterol eacute feito o
vinho da sementinha
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Eacute uma planta medicinal e usada tambeacutem como condimento
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
122
O ldquoUrucum Vermelhordquo eacute uma planta usada nos alimentos e com propriedades
medicinais principalmente relacionadas agrave problemas com o colesterol
[] ela eacute tempero serve pra temperar comida e tambeacutem serve pra colesterol
colesterol ela gente pega faz o vinho das sementinhas dela eacute das sementes faz o
vinho e toma em jijum ela linima o colesterol e soacute da sementi a gente pega
semente agente abre a pega a cachopinha abre ela tira a semeti amassa um pouco
com agua ai coa e toma em jejum pra curar o colesterol [] (informaccedilatildeo verbal)71
Considerado em sua estrutura como termo complexo o Urucum Vermelho eacute formado
pela composiccedilatildeo sintagmaacutetica de duas palavras independentes entre si Poreacutem juntas formam
uma nova palavra com nova significaccedilatildeo No estudo gramatical do termo Urucum Vermelho
o elemento base eacute o substantivo ldquoUrucumrdquo que vem seguido pelo adjetivo ldquoVermelhordquo
indicativo de uma caracteriacutestica proacutepria da planta Verificando os aspectos da estrutura dos
termos observemos na sequecircncia a anaacutelise do termo ldquoErva de Passarinhordquo
512 ERVA DE PASSARINHO
Segundo Cabreacute (1993) os termos compostos satildeo denominados tambeacutem como
sintagmas terminoloacutegicos que podem ser formados por uma construccedilatildeo sintagmaacutetica mais
complexa que pertencem a classe de palavras diversas
Diante das explanaccedilotildees sobre a estrutura do termo notamos que tanto Barros como
Pottier apresentam semelhanccedilas nas explicaccedilotildees No entanto Barros acrescenta ainda que os
termos compostos podem passar pelo processo de aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Nesse sentido
a pesquisadora expotildee que
A composiccedilatildeo eacute a nosso ver um processo que pode marcar a formaccedilatildeo tanto de
termos simples quanto de termos complexos (sintagmaacuteticos) Por esse motivo eacute
temeraacuterio distinguir de modo categoacuterico termos simples complexos e compostos quando se trata dos tradicionais processos de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo sem hiacutefen
(BARROS 2007 p 400)
Com tais fundamentos analisamos os termos sobre as plantas de uso medicinal da
comunidade de Pimenteiras na estrutura morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica de alguns termos
catalogados Observamos que na maioria dos casos natildeo haacute a presenccedila do hiacutefen na
71Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoUrucum Vermelhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
123
composiccedilatildeo dos termos compostos que ocorreram expressivamente atraveacutes do processo de
aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo Assim observemos o termo ldquoErva de Passarinhordquo
TERMO 12 - ERVA DE PASSARINHO
Fotografia 34 ndash Erva de Passarinho Fotografia 35 ndash Folha da Erva de Passarinho
Quadro 12 ndash Ficha terminoloacutegica do termo Erva de Passarinho
Lx Lexema Erva de Passarinho
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Co Contexto ela eacute uma erva mermu ( ) ela daacute em cima nus galhu dus pau ( )da outras arvris
eacutena eacuteeacuteh ela eacute rastera ela ela eacute si agarra ali nu galhu neacute dali ela vai vai aumentandu a tendecircncia deli eacute matar ela ( ) ateacute qui as vez quandu ela si ela si
apropria mermu muitu na arvri ela mata a outra arvri ela mataeacute natildeu ela eacute
nativaporque us passarinhu qui eacute assim natildeu sei como eacute neacute mais us passarinhu qui
veim qui faz u cococirc ali dali nasci a sementinha ali nu galhu du pau i dali forma a erva
di passarinhu uns diz qui eacute assim eu natildeu sei porque porque ela eacute nativa ela nasci
assimqui podi ter a sementi i nascieacute porque eacute porque ela nasci ai eu eu vi falar
assim agora eu natildeu sei si tambeacutem nasci ali du limu neacute neacute limu porque ela sempri daacute na
arvri ela num eacute nunca eu vi daacute nu chatildeo eacute ela daacute nu limoeiru ela daacute na cueira ela daacute na
na nu nu na laranjera ela daacute em toda essa arvri assim ela daacuteeacute ela daacute eacuteachu qui eacute
em qualquer momentu qualquer arvri qui ela si apropriar qui ela gostar neacute ela daacute i aiacute
a a ( ) ela tem os galim dela em forma di um cipoacute eacute assim us galhu dela i a folha dela
tambeacuteim ela eacute media uma folha assim tambeacuteim qui ela num uma folha seca natilde eacute uma folha sempri assim cheinhagordinha issuela eacute meacutedia tambeacuteim ela num eacute tatildeu
piquinininha natildeu natildeu eacute daquelas folhau formatu dela eacute assim mermu eacute quasi igual
assim meia compridim meia redonda ela num tem formatu assim di otra coisa naueacute
uma folha eacuteeacute tipu uma folha di jambreru eacute um pocu maior di que essi ai neacutenatildeu
dessi aqui dessi aqui neacutesim issu( ) maior tem umas qui da maior tem umas qui daacute
maior porque ela daacute igualtem veiz qui quandu ela nasci muitu qui ela vai
aumentandu aumentandu assim neacute ai tem vez que porque a minha matildee sempri dizia
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014 Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
124
assim oacute bora tirar essa erva di passarinhu porque si natildeo ela vai matar uma laranjera
uma cuiera ela da nu cafezal nu cafeeru tambeacuteim ela da nu limoeru ela daacute ela daacute nu da outra eacute eacute com certezaela mata eacute vai depender di elaa folha a folhaeacute i juntu
com certeza ela neacute uma folha assim num eacute bem redonda mas tambeim num eacute tatildeu
comprida ela eacute uma assim uma folha larga beim largaela tem umas bajezinhas
tambeacuteim ela bota umas bajezinhas bem muiditinhas tambeacuteim uns carocinhusnatildeu eu
da nunca vi si eacute uma erva di passarinhu eu da nunca vi mas diz qui eli si alimenta
daquela sementinhaeacute usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui
chama cansaccedilo neacute que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u
chaacutea minha voacute dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem
toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu
iscondidu pra num saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela
dizia assim oacute a erva di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo
mas quem toma nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute
Fc Fonte do
contexto
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para ldquocansaccedilordquo asma
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O chaacute deve ser tomado sem a pessoa saber para que sirva e que planta eacute feito o chaacute
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa 2014
O termo ldquoErva de Passarinhordquo possui uma estrutura composta por dois radicais
relacionados pelo aspecto da preposiccedilatildeo Sendo uma planta que se hospeda em outras plantas
para viver eacute o alimento preferencial dos paacutessaros daiacute a relaccedilatildeo associativa com a funccedilatildeo que
o nome possui No trato medicinal a planta eacute usada em pessoas com cansaccedilo poreacutem segundo
a crenccedila de seus antepassados a pessoa toma o chaacute sem saber o que eacute nem para que serve O
termo eacute assim descrito pela senhora Domingas
[] usada em chaacute pra quem sofri demais daquela canseira qui chama cansaccedilo neacute
que eacute a asma ai a genti faz u chaacute dela pra daacute pra crianccedila tomar u chaacutea minha voacute
dizia qui quem toma u chaacute dela nunca a di saber qui diz qui quem toma remeacutediu pra asma a pessoa natildeo podi saber neacute teim qui tomar assim meiu iscondidu pra num
saber u qui eacute qui si natildeo num faz beim aiacute a minha voacute sempri ela dizia assim oacute a erva
di passarinhu eacute bom para cansaccedilu qui naqueli tempu era cansaccedilo mas quem toma
nunca a di saber porque si nunca vai ficar bom teim qui tomaacute iscondidu si perguntaacute
u qui eacute olha diz qui eacute otra coisa pra nunca eli saber u qui eacute(informaccedilatildeo verbal)72
Observamos que cada termo possui uma definiccedilatildeo particular a cada planta as formas
de uso os contextos em que ocorre a variaccedilatildeo as relaccedilotildees associativas as crenccedilas em torno
72Transcriccedilatildeo Grafemaacutetica do termo ldquoErva de Passarinhordquo descrito pela senhora Domingas ano 2015
125
da cura e as composiccedilotildees formativas dos termos apresentados Alguns termos vieram de
geraccedilotildees passadas outros entraram no contexto da comunidade de Pimenteiras atraveacutes de
novos saberes Diante de tudo que foi exposto eacute importante percebermos que a compreensatildeo
da linguagem de especialidade pode ocorrer com o entendimento de que os termos natildeo satildeo
isolados Segundo Cruz (2014 p 104) os termos ldquonem derivam sua existecircncia apenas de um
arcabouccedilo loacutegico-conceptual mas se manifestam circulam e exercem sua funccedilatildeo em situaccedilatildeo
em uso efetivordquo
Para que o pesquisador possa se familiarizar com seu objeto de pesquisa eacute necessaacuterio
realizar leituras preacutevias sobre o assunto e manter discussotildees com profissionais da regiatildeo
pesquisada Particularmente no que diz respeito agraves plantas de uso medicinal compreendemos
que durante muitos anos o homem sempre utilizou os recursos naturais para sua sobrevivecircncia
e bem estar na terra e eacute por meio das plantas que surgem os mais diversos produtos
indispensaacuteveis agrave vida humana em todas as eacutepocas
No que concerne ao uso dessas plantas na medicina tradicional hoje os
medicamentos obtidos a partir de substacircncias ativas vindas das plantas satildeo utilizados na
medicina complementar73
Diante disso eacute importante salientar que as populaccedilotildees que vivem
em regiotildees pouco povoadas e com restriccedilatildeo das necessidades fundamentais como sauacutede e
educaccedilatildeo fazem dos recursos naturais os mais utilizados possiacuteveis a fim de garantir os
cuidados necessaacuterios com o bem-estar do corpo e da alma
Culturalmente as praacuteticas com o uso popular de plantas medicinais satildeo uma
realidade em muitas comunidades que as tecircm como alternativa para a conservaccedilatildeo da sauacutede
Entretanto a continuidade desse saber eacute ameaccedilada pela interferecircncia de fatores externos
relacionados ao dinamismo social como a exposiccedilatildeo das comunidades e de sua cultura diante
das facilidades da sociedade moderna a destruiccedilatildeo dos recursos naturais a invasatildeo de novos
elementos culturais que desmotivam a vida tradicional e o conhecimento empiacuterico que eacute
patrimocircnio de valor inestimaacutevel agraves futuras geraccedilotildees Aleacutem disso os estudos cientiacuteficos
direcionados agraves plantas utilizadas pelas comunidades tradicionais satildeo ainda insipientes
(HOEFFEL 2011)
Boa parte do conhecimento popular estaacute mantido em fontes orais isto causa certa
inseguranccedila e desconfianccedila nos dados a serem transcritos Poreacutem o contato direto com os
moradores e seus saberes nos fez crer que as histoacuterias orais satildeo fonte de vida e que de acordo
com a histoacuteria transpotildeem geraccedilotildees e eternizam os novos conhecimentos A verdade eacute que as
73 Uso de medicamentos feitos a partir de substacircncias ativas das plantas isto ocorre em tratamentos de doenccedilas
crocircnicas devido aos efeitos colaterais dos medicamentos potentes
126
ameaccedilas agrave biodiversidade natildeo tem precedentes na histoacuteria da humanidade diversas espeacutecies
nunca estiveram tatildeo ameaccediladas de extinccedilatildeo Junto a isto a cultura dessas comunidades
tambeacutem sofre mudanccedilas constantes que as fazem perder a identidade social que as compotildeem
A perda dos elementos naturais e da cultura identitaacuteria dos conhecimentos
tradicionais empobrece cada vez mais nossa cultura em geral nossa sauacutede e nossos saberes
Diante disso eacute premente que busquemos alcanccedilar esses povos para conhecer registrar e
preservar saberes importantes para a sociedade em geral Nesse contexto a comunidade
remanescente de quilombola de Pimenteiras eacute um exemplo a ser observado por agregar valor
em seus aspectos regionais culturais e de saberes sobre o poder medicinal das plantas Eacute na
comunidade e nos seus moradores que se veem a necessidade de conhecer registrar e
preservar o conhecimento tradicional que fora repassado entre as geraccedilotildees Sabendo disso
buscamos por meio dos estudos socioterminoloacutegicos analisar os termos catalogados sobre as
plantas de uso medicinal da comunidade Tais saberes de grande valor para o conhecimento
cientiacutefico satildeo preservados pelos relatos orais de moradores remanescentes de quilombo
O conhecimento sobre as plantas medicinais pode ser observado pelo trabalho diaacuterio
que os moradores possuem na comunidade com as plantas Esse processo vai desde a
plantaccedilatildeo ateacute a venda dos produtos obtidos por meio da manipulaccedilatildeo das plantas Os cuidados
com o solo a aacutegua o sol os horaacuterios adequados para a colheita das plantas as partes a serem
usadas como as folhas raiz entrecasca flor galhos sementes fruto seiva e tambeacutem o
tratamento dado as plantas para a venda de produtos feitos pelos moradores tais como a
garrafada a multimistura pomadas e oacuteleos tudo eacute parte do contexto de saberes que os
moradores possuem sobre as plantas medicinais
Finalizamos assim observando a forte relaccedilatildeo existente entre os termos sobre as
plantas medicinais com o contexto social no qual estatildeo inseridas com os saberes adquiridos
no passado e no presente com a cultura com a Liacutengua e por conseguinte com a origem
negra que os moradores da comunidade de Pimenteiras possuem marcando assim a
identidade do povo quilombola
127
6 CONCLUSAtildeO
Este trabalho dissertativo se propocircs na anaacutelise dos termos sobre as plantas de uso
medicinal da comunidade remanescente de quilombola de Pimenteiras ndash PA localizada na
cidade de Santa Luzia do Paraacute na Rodovia BR 316 (Paraacute ndash Maranhatildeo) regiatildeo do Rio Caeteacute
A partir das consideraccedilotildees sobre os termos catalogados pelos moradores quilombolas
pudemos observar e perceber que os saberes transmitidos entre as geraccedilotildees permanecem
fortes no seio da comunidade de forma que todo o conhecimento sobre as plantas medicinais
tem caraacuteter identitaacuterio ao povo de Pimenteiras
Conhecemos cada termo catalogado a fim de perceber as influecircncias da cultura negra
na linguagem popular e especializada sobre as plantas A presenccedila do gecircnero feminino nesse
contexto de conhecimento foi determinante para conseguirmos identificar as espeacutecies coletar
as imagens de cada planta e catalogar os termos sobre as plantas medicinais registrados pelos
moradores
Todos noacutes pensamos falamos lemos e escrevemos as palavras que herdamos em
meio aos saberes coletivos jaacute consolidados no tempo e espaccedilo Por meio da nossa Liacutengua as
palavras satildeo transmitidas e enredadas em significaccedilotildees Eacute atraveacutes dessa heranccedila com os
vocaacutebulos que a liacutengua abrange os saberes coletivos culturais e de significados produzidos
nos contextos de fala Ao nomearmos classificarmos categorizarmos e registrarmos as
experiecircncias vividas noacutes seres humanos criamos palavras e sintaxes ao contarmos e
recontarmos nossas histoacuterias
Por meio da Liacutengua fundamentamos nossa identidade eacute pelas palavras que
organizamos nossas crenccedilas e nomeamos nossos valores um saber que continua em
crescimento e transformaccedilatildeo atraveacutes do conhecimento da linguagem que herdamos e
transmitimos para as geraccedilotildees porvindouras Assim ressaltamos que as definiccedilotildees descritas
sobre os termos analisados sua variaccedilatildeo nos termos na linguagem representada nos saberes
sua motivaccedilatildeo sua estrutura e suas relaccedilotildees associativas constituiram-se relevantes para
percebermos as analogias da liacutengua com a cultura popular transmitida entre as geraccedilotildees
sobre as plantas medicinais da comunidade de Pimenteiras
Levando em consideraccedilatildeo que os termos sobre as plantas medicinais fazem parte de
uma especificidade da linguagem e que no caso em especial analisamos o termo na sua
estrutura socioterminoloacutegica entendemos que o conhecimento popular proveniente das
atividades tradicionais dos moradores quilombolas na regiatildeo foi o percurso trilhado para nos
128
conduzir nesse trabalho dissertativo de forma a considerar as abordagens socioterminoloacutegicas
de grandes pesquisadores Os estudos sobre a variaccedilatildeo nos termos sobre as plantas medicinais
tambeacutem foi fundamental para analisarmos cada palavra dentro de um contexto de uso social
histoacuterico e cultural com a finalidade de conhecer e ateacute resgatar os termos no acircmbito
sociocultural no qual estatildeo inseridos
A metodologia utilizada no decorrer do trabalho de campo nos proporcionou melhor
conhecimento sobre a comunidade em estudo pois do ponto de vista etnograacutefico eacute preciso
estar laacute para aprofundarmos sobre os saberes da comunidade e interagirmos in loco para
compreendermos a dinacircmica do trabalho e da vida a partir da qual o homem do campo
constroacutei seus saberes Os dados catalogados sobre as plantas medicinais nos fizeram conhecer
mais profundamente os saberes sobre as plantas que apresentamos no repertoacuterio terminoloacutegico
coletado composto por quarenta e dois (42) termos catalogados com suas respectivas
imagens
Aleacutem dos termos catalogados foi necessaacuterio registrar os dados orais ocorridos
durantes as diversas entrevistas da pesquisa de campo utilizando os recursos computacionais
como o Transana para efetuarmos a transcriccedilatildeo Grafemaacutetica das entrevistas realizadas Isto
foi indispensaacutevel para compreendermos melhor os aspectos que contornam o termo e
tambeacutem para a definiccedilatildeo descritiva de cada termo catalogado pois no contexto discursivo
podemos entender melhor cada palavra e suas significaccedilotildees no estudo socioterminoloacutegico
No percurso desse trabalho buscamos natildeo apenas a interpretaccedilatildeo ou anaacutelise dos
termos catalogados mas tambeacutem observar a construccedilatildeo dos saberes dos moradores como um
aspecto marcante na identidade da comunidade quilombola Essa nova visatildeo sobre os termos
nos trouxe um perfil soacutecio-linguiacutestico-cultural mostrando as influecircncias da cultura negra na
linguagem de uso particular sobre as plantas medicinais
Eacute por meio da Liacutengua que os moradores quilombolas de Pimenteiras refletem as
caracteriacutesticas da identidade cultural entre a planta e as caracteriacutesticas que especializam cada
espeacutecie mas eacute na variaccedilatildeo da liacutengua que os termos se relacionam com as aacutereas de
conhecimento que os moradores possuem sobre as plantas medicinais O movimento
constante da linguagem atribui o princiacutepio fundamental da liacutengua que eacute a comunicaccedilatildeo
presente no contexto dos saberes de um povo e manifestado na preservaccedilatildeo da linguagem
atraveacutes da valorizaccedilatildeo por seus falantes
Nesse sentido quando associamos o saber especializado ao contexto de campo das
ciecircncias e das teacutecnicas temos no termo uma feiccedilatildeo terminoloacutegica na qual ele assume uma
dimensatildeo linguiacutestica e cognitiva no comportamento lexical especializado e na manifestaccedilatildeo
129
desse conhecimento Notamos assim que o termo eacute parte do componente linguiacutestico de tal
modo como eacute uma unidade terminoloacutegica e um elemento constitutivo da produccedilatildeo do saber
Portanto ao referirmos as plantas de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras
percebemos que o domiacutenio estudado pertence ao campo da medicina caseira como consta na
Norma da ISO 1087 explicando que o domiacutenio eacute definido por um ponto de vista particular no
qual os limites satildeo definidos pelo saber particular da moradora Domingas
Ao verificarmos a definiccedilatildeo descritiva dos termos a senhora Domingas expocircs de
acordo com seus saberes uma relaccedilatildeo associativa entre a planta com o objeto nomeado Nas
explicaccedilotildees de Faulstich (1995 p 36) o conhecimento eacute construiacutedo de forma individual e
coletiva num processo de interaccedilatildeo entre o sujeito a realidade as pessoas e o ambiente
sociocultural revelando que a Socioterminologia eacute desenvolvida no cunho funcionalista de
natureza social Nos casos em que ocorrem caracterizaccedilotildees de conceitos e definiccedilotildees para um
mesmo termo Faulstich lembra que ocorre a variaccedilatildeo terminoloacutegica em que um novo termo
um novo conceito traz uma nova definiccedilatildeo
Com respeito agrave relaccedilatildeo associativa na forma ou na funccedilatildeo das plantas medicinais
esta faz parte da natureza e concepccedilatildeo dos termos estudados Notamos que a estrutura
morfossintaacutetica e leacutexico-semacircntica do termo apresentado tambeacutem como unidade
terminoloacutegica foi explanada por alguns autores tais como Araujo (2006) que verificou os
termos em sua estrutura leacutexico-semacircntica com uma constituiccedilatildeo simples contendo a presenccedila
de apenas um radical e uma composiccedilatildeo composta e complexa quando apresentam dois ou
mais radicais Andrade (1998) por sua vez explica que na estrutura do termo composto temos
a presenccedila do hiacutefen diferenciando-se do termo complexo que natildeo possui o hiacutefen Poreacutem
haveraacute processos de composiccedilatildeo formados pela aglutinaccedilatildeo ou justaposiccedilatildeo das palavras
Com base nos estudos dos autores citados vemos que os termos catalogados sobre as plantas
de uso medicinal da comunidade de Pimenteiras possuem na sua estrutura formaccedilatildeo simples
com apenas um radical formaccedilatildeo complexa com a presenccedila de mais de um radical e
composta nos quais ocorre o processo de aglutinaccedilatildeo e justaposiccedilatildeo
Nossa anaacutelise foi constituiacuteda por doze (12) termos de plantas de uso medicinal
catalogadas pelos moradores quilombolas de Pimenteiras de um total de quarenta e dois (42)
termos As apreciaccedilotildees desses dados da pesquisa passaram por diferentes estudos sobre o
termo levamos em consideraccedilatildeo natildeo apenas as caracteriacutesticas gramaticais que o compotildee
mas principalmente analisamos as definiccedilotildees descritivas da senhora Domingas utilizando
para isso o modelo de ficha terminoloacutegica de Faulstich para melhor visualizaccedilatildeo dos
elementos constitutivos do termo
130
Eacute nessa compreensatildeo sobre o que motiva ou associa a nomeaccedilatildeo dos termos que
vemos a reflexatildeo sobre o conhecimento que os moradores possuem da proacutepria linguagem
suas relaccedilotildees com a natureza as influecircncias e transferecircncia de saberes entre as geraccedilotildees e as
caracteriacutesticas marcantes que tornam a comunidade de Pimenteiras uacutenica em sua identidade
como lugar das plantas medicinais
Perante tudo que foi explanado sobre a pesquisa efetuada na comunidade de
Pimenteiras acreditamos ter dado um grande passo neste estudo fascinante e envolvente sobre
a histoacuteria cultura e saber de um povo um povo que desperta nosso desejo de conhecimento
de buscar outros caminhos nos estudos Socioterminoloacutegicos e em muitos outros estudos
cientiacuteficos que reconheccedilam e valorizem os saberes e cultura da comunidade de Pimenteiras
Os termos analisados neste trabalho dissertativo nos trazem resultados interessantes
quanto agraves influecircncias da cultura negra que por longos periacuteodos da histoacuteria sofreu e ainda
sofre retaliaccedilotildees e preconceito por contra da escravidatildeo pois ainda hoje um preconceito
mascarado sobrevive Brookshau (1983 p 12) expotildee que ldquoo negro mesmo antes de ser
escravizado tinha um defeito que para muitos serviu de justificativa para sua escravidatildeo e esse
defeito era sua corrdquo A cor negra na cultura ocidental sempre teve uma conotaccedilatildeo negativa em
oposiccedilatildeo ao branco que eacute definido com o sentido de limpo e puro A presenccedila dos africanos em
nosso paiacutes contribuiu natildeo soacute na nossa cultura mas tambeacutem na formaccedilatildeo do tipo fiacutesico
brasileiro Somos um povo diversificado na cultura na danccedila no biotipo fiacutesico no sincretismo
religioso nas comidas tiacutepicas na influecircncia indumentaacuteria no gecircnero forte da mulher no uso das
plantas e consequentemente na liacutengua
Tanta influecircncia sucedida do negro contribuiu muito para a formaccedilatildeo da nossa
nacionalidade Segundo o antropoacutelogo Arthur Ramos (1942) eacute inocente e sem base cientiacutefica
querer caracterizar a questatildeo racial no Brasil pois todos noacutes somos formados de contatos
humanos que se processaram no paiacutes que natildeo se limitaram apenas aos grupos de negros
brancos e iacutendios somos derivados deles Nossa liacutengua em especial eacute o reflexo de noacutes mesmos
por manifestarmos e expressarmos nossa proacutepria existecircncia Assim ainda que carregados de
dificuldades e escravidatildeo o negro trouxe-nos a forccedila e riqueza de sua cultura que hoje
podemos dizer eacute um dos pilares da nossa identidade nacional
Diante de tantas riquezas sobre as influecircncias do negro da comunidade de Pimenteiras
esperamos que o estudo em questatildeo seja uacutetil agravequeles que se interessem pelo assunto e queiram
conhecer melhor o universo que envolve essa cultura popular e socioterminoloacutegica das plantas
medicinais da comunidade pois natildeo poderiacuteamos deixar ocultada a sabedoria popular sobre as
plantas medicinais precisaacutevamos conhececirc-la observaacute-la analisaacute-la prestigiaacute-la e repassaacute-la
131
para aqueles que buscam natildeo apenas saber mas sobretudo valorizar a sabedoria tradicional
preservada na linguagem como identidade dos moradores quilombolas de Pimenteiras
132
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143
APEcircNDICE A ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Domingas Alves do
Nascimento
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA
CAMPUS DE BRAGANCcedilA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA
FICHA DE ENTREVISTA COM OS MORADORES REMANESCENTES DE
QUILOMBOLA NA COMUNIDADE DA PIMENTEIRA - PA
A) Entrevistado
1Nome
2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino
3 Endereccedilo
4 Idade(anos)
5 Quantas pessoas habitam a casa
6 Naturalidade
7 Ocupaccedilatildeo principal
8 A Principal fonte de renda
9 Escolaridade
10 Vive na comunidade a quanto tempo
11 Seus pais avoacutes jaacute moraram ou moram na comunidade
12 De onde vieram (Cidade - UF)
13 Tipo de habitaccedilatildeo
14 Haacute quanto tempo mora aqui
15 Como era aqui quando a famiacutelia ou vocecirc chegou
16 Qual a sua origem De onde veio
B) Termo Quilombola
1 Como descobriu que tens descendecircncia de Quilombola
2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc
3 Qual o significado de ser Quilombola para sua comunidade
4 Qual sentimento tem pela palavra Quilombola
5 Houve algum tipo de dIscriminaccedilatildeo sobre a descendecircncia Quilombola
6 Reconhecem os direitos que possuem sobre ser Quilombola
7 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre essa Associaccedilatildeo
8 O que acha da comunidade da Pimenteira
9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc
C) Ervas e Plantas Medicinais
1 Faz uso de Plantas Medicinais ( ) Sim ( ) Natildeo
2 Quem passou o conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo de plantas
3 Quando tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda a quem vocecirc recorre
4 Como obteacutem as plantas que utiliza
5 Quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia
6 Quais partes satildeo utilizadas
7 Qual a melhor forma de preparo para cada planta
144
8 Como se usa
D) Dados sobre o manejo do quintal
1 Quais espeacutecies de plantas e ervas cultiva em casa e por quecirc
2 Como denomina o espaccedilo proacuteximo agrave sua casa
3 Quem cuida desse espaccedilo
4 Quais plantas vocecirc tem em seu quintal
5 Vocecirc consome as plantas que cultiva
6 Vocecirc realiza alguma atividade de compra e venda dessas plantas
7 Vocecirc compartilha essas plantas com algueacutem
8 Se vocecirc natildeo as tem onde vocecirc vai procurar
9 O que estaacute faltando em seu quintal
10 O que o quintal representa para vocecirc e para sua famiacutelia
E) Dados sobre o conhecimento e a transmissatildeo do mesmo
1 As plantas que vocecirc tecircm em seu quintal servem para quecirc
( ) alimento ( ) remeacutedio ( ) ritual ndash religioso ( ) decorativo ( ) brincadeira ( ) outros
2 Com quem vocecirc tomou ldquogostordquo por plantas Onde aprendeu o que sabe
3 E vocecirc ensina isso para algueacutem
4 Quais plantas satildeo mais usadas
5 Para que utiliza estas plantas
6 Faz uso de medicamentos das farmaacutecias Sim( ) Natildeo( ) Agraves vezes( ) Nunca( )
7 Quais E por quecirc
8 Possui alguma doenccedila Sim ( ) Natildeo ( )
9 Qual (is)
10 Jaacute ocorreu algum caso de doenccedilas curadas pelo uso das ervas e plantas
11 Vocecirc acredita no poder das ervas e plantas ou nos remeacutedios de farmaacutecia Por quecirc
12 O que eacute a Garrafada
13 Para que serve a Garrafada Quais as propriedades de cura que proporciona
14 Como eacute o preparo da Garrafada E que ervas possuem dentro
15 Com quem aprendeu a fazer a Garrafada e outros remeacutedios caseiros
145
APEcircNDICE B ndash Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Domingas Alves do Nascimento
entrevista do dia 19 de outubro de 2014
L1 data de nascimento
L2 dia vinte e oito (de outubro)
L1 ( )
L2 dia vinte e oito
L1 JAacute aqui a gente pode dizer qual eacute o endereccedilo
L2 pode
L1 ((muitos ruiacutedos de vento)) entatildeo hoje a senhora tem quantos anos
L2 (cinquenta e um) natildeo cinquenta e cinquenta neh
L1 hoje a senhora tem cinquenta
L2 cinquenta
L1 quantas pessoas moram na sua casa
L2 somos seis
L1 seis a senhora eacute paraense qual eacute sua naturalidade
L2 paraense
L1 paraense mesmo qual eacute a sua principal ocupaccedilatildeo (no) trabalho
L2 agricultura
L1 qual a principal fonte de renda com que a senhora ganha dinheiro
L2 ahh (assim) com a minha atividade eacute (arrancar) malva ( ) com a malva ou do accedilaiacute
eacute uma ( ) muito (dessa aiacute) e meus trabalhos de ( ) pra mim mesmo o que eu estou fazendo eacute
esse neh
L1 hum rum
L2 ( ) bastante eacute muito encomendado
L1 e remeacutedio caseiro
L2 remeacutedio caseiro
L1 a senhora tem que escolaridade ateacute que seacuterie a senhora estudou
L2 soacute a primeira
L1 primeira seacuterie
L2 que no meu tempo era muito difiacutecil neh a gente morava aqui aiacute eu daqui com uma
leacutegua quando quando eu comeccedilei a estudar eu tava com QUINZE anos eu com
dezessseis (eu me ajuntei)
L1 hum rum
L2 aiacute pronto meu marido lutou lutou mas eu pra mim foi muita dificuldade eu jaacute sou
dona de famiacutelia ia deixar a minha casa pra mim andar essa distacircncia todinha aiacute eu natildeo quis
ele pelejou pelejou meu sogro natildeo natildeo se eu (tivesse) na casa do papai tudo bem aiacute tava
ruim ele trabalhava me e eu sai eu tinha que sair seis horas da manhatilde que eacute daqui laacute na beira
do rio eacute uma leacutegua de aiacute natildeo tinha como eu preparar o almoccedilo neh chegava de tarde
cansada e aiacute eu natildeo estudei mais ( ) e era muito difiacutecil muito difiacutecil meus irmatildeos
nehnhum soacute tem eu neh meus irmatildeos soacute tem um que tem a quarta seacuterie um ou eacute dois
(por causa da dificuldade)
L1 a senhora vive na comunidade haacute quanto tempo
L2 e eu nasci e me criei aqui assim EU NASCI aqui eu natildeo nascci aqui mas foi aqui
perto neh depois que taacute com
[
L1 entatildeo desde receacutem nascida a senhora mora aqui
L2 hum rum
L1 taacute (palavras dirigidas a terceiros) eacute os pais da senhora (voz de terceiro) ou os
avoacutes eles jaacute moraram ou moram na comunidade eu quer quero que a senhora conte a
trajetoacuteria deles eles jaacute moraram aqui como eacute como foi
146
L2 natildeo assim eacute eles jaacute moraram essa minha matildee eacute falecida soacute meu pai dessas dessa
dessas turmadas soacute meu pai que ainda ainda eacute vivo neh eles assim eles moram ( )
quando eles na juventude deles eles moravam na outra comunidade
L1 (narcisa)
L2 narcisa sim aiacute de laacute eles casaram meus primeiros irmatildeos nasceram laacute e eu jaacute foi
L1 hum rum
L2 ateacute o quarto irmatildeo nasceu laacute ainda do outro lado do rio guamaacute ( ) do outro lado aiacute
quando eu vim de assim laacute a ge era muita gente aiacute eles botavam o (roccedilado) natildeo tinha mais
como o produto neh e naquele tempo natildeo tinha esse negoacutecio de adubo natildeo existia aiacute
por aqui era mato que eles caccedilavam aiacute meu avocirc disque queria vir botar um roccedilado pra caacute aiacute
parece que os vizinhos jaacute ficavam dizendo laacute que a mata tava pouca a capoeira jaacute natildeo dava
muita produccedilatildeo aiacute eles andavam na mata disse que vinham botar um roccedilado pra caacute mas
como era assim a mata natildeo tinha ele foi laacute em oureacutem pegou um papel fez um
requerimento pegou um papel aiacute laacute com a assinatura laacute nesse tempo tinha feito natildeo sei de
quem eacute laacute mais laacute aiacute foi falou para o genro dele era trecircs genro que ele tinha ele soacute
tinha um filho e trecircs filhas nem vi as filhas todas casaram (netinho) jaacute tava pro
prosperando familiacutea aiacute ele chegou laacute e disse bem se vocecircs quiserem botar um roccedilado pra
mata para o (centro) ( ) agora a gente vai porque a gente taacute com a autorizaccedilatildeo na matildeo aiacute
eles vieram botar o primeiro roccedilado aiacute acharam MUIto longe taacute indo e vindo indo e vindo
todo dia neh aiacute eles fizeram um barracatildeo pra eles todos fizeram um barraco aiacute jaacute
traziam a famiacutelia pra ficar mais PERto pra fazer o almoccedilo pra ajudar ((tosse)) pra ajudar
porque a gente trabalha tambeacutem no roccedilado neh aiacute veio vinha primeiro a vovoacute sempre
ficava laacute neh que era a mais velha ficava laacute com os outros netos e vinha as filhas com uns
uns ajudar os maridos aiacute nisso aiacute foram se acostumando se acostumando e a a produccedilatildeo
foi aumentando assim a renda eles gostaram muito do do (canto) aiacute pronto j5aacute foram fazendo
casa pra morar aiacute foi que eles vieram veio veio quatro famiacutelia meu avocirc com os trecircs
filhos que vieram ( ) fizeram o barracatildeo dele laacute a casa laacute depois jaacute foram aumentando
fazendo a sepaccedilatildeo da casa que aquele tempo era no barro neh fazia primeiro era a casa de
palha que eacute eacute esse matinho aiacute oacute tubim pois eacute esse taacute cobriu a casa com esse daiacute mas
eacute uma excelente cobertura que eacute frio que soacute aiacute faziam a tapaccedilatildeo repartida de barro neh
aiacute cada quase jaacute moravam no seu no na na sua propriedade localidade ( ) barracatildeo na
sua casa aiacute daiacute que foram foram chegando os netos foram crescendo foram procurando
familiacutea e foram casando fazendo casa perto que eu tenho dois um primeiro meu
irmatildeo casou fez a casa lacuteperto do papai depois o segundo casou fez perto tambeacutem e a
minha irmatilde que eacute comadre ( ) que eacute a mais velha casou o marido dela tambeacutem natildeo levou
ela para o lugar dele ELE foi pra caacute neh aiacute a famiacutelia foi aumentando a minha matildee taacute
com dez anos jaacute falecida
L1 de onde eles vieram assim a origem dos dos seu pais
L2 a minha matildee ela veio de origem do negro dos escravos neh
L1 natildeo eu digo assim o estado eles satildeo paraenses
L2 eles satildeo paraenses
[
L1 todos eles
L2 todos eles satildeo paraenses
L1 natildeo tem nenhum
[
L2 natildeo natildeo de mistura natildeo que eu saiba natildeo se se tem mas natildeo chegou no
meu conhecimento que a a mamatildee ela contava muita histoacuteria assim a minha voacute muita
histoacuteria assim de quando eles eram crianccedila de quando eles eram ado adolescente jovem
mas eles nunca disseram que era que era de outra assim sempre ( )
L1 e na qual era o tipo de habi de de habitaccedilatildeo que eles tinham que a senhora
147
falou qual era como era a casa
L2 deles
L1 hum rum
L2 era sempre assim dessa palha a cobertura e ao redor era empalhada tambeacutem soacute
que eu natildeo cheguei a conhecer assim empalhada natildeo do barro eu ainda me lembro muito
bem a cobertura tambeacutem agora empalhado da mesma mesma coisa neh que eles
faziam assim mas eu natildeo me lembro natildeo mas a minha matildee contava que era assim
L1 a cobertura era empalhada
L2 a ccobertura era da (albim) e ao redor tambeacutem pra fazer a separaccedilatildeo neh
L1 era albim
L2 da albim tambeacutem era cercado com albim assim feita a separaccedilatildeo sim pelo menos o
quarto da onde dormiam neh
L1 hum rum mas em volta natildeo era barro era assim empalhado neh
[
L2 hum rum era empalhado
era
L1 entatildeo haacute quanto tempo ele eles o seu pai ainda eacute vivo
L2 eacute papai eacute
L1 haacute quanto tempo moram aqui
L2 eu tocirc com aqui neste lugar ou assim
L1 aqui na pimenteira
L2 na pimenteira taacute com umas umas faixa de uns quarenta anos
L1 quarenta
L2 assim quando veio da narcisa logo quando veio da narcisa
L1 sim
L2 ah taacute com seus cinquenta porque mais de cinquenta quase seus sessenta porque eu tocirc
com cinquenta e um e eu jaacute jaacute sou da da aquarta filha que nasceu aqui jaacute soacute que natildeo
era pra esse mesmo lugar neh era aqui o cajueiro mas eacute mesmo ( ) a gente se mudou
quando eles vieram de laacute ( ) laacute papai natildeo gostou muito de laacute porque esse tempo ele criava
umas vacas que era amarrada assim na corda e laacute eacute muita (acidentado) daacute mais de que
aqui neh aiacute tinha um um homem que morava bem ali assim aiacute era muito colega do
papai e aiacute aqui esse tempo um tempo veio uma tinha uma casa que que davam aula era
bem aiacute chamavam o carro da prefeitura aiacute a mulher foi embora a professora foi embora aiacute
ficou desocupada aiacute esse homem cedeu para o papai seu Raimundo laacute na pimenteira ali
adonde perto de onde eu moro uma pertenccedila ao ao terreno de vocecircs por quecirc que natildeo vai
embora pra laacute aiacute foi que noacutes viemos de laacute do cajueiro mas fica aqui proacuteximo neh aiacute
fizemos a abertura aiacute daiacute
[
L1 entatildeo vocecircs satildeo os primeiros moradores aqui
L2 somos meu pai eacute primeiro morador
[
L1 como eles ele conta como era aqui quando a famiacutelia
veio quando vocecircs chegaram aqui como era como era essa aqui essa aacuterea toda
L2 aqui aqui mesmo eu me lembro jaacute quando eu cheguei aqui quando noacutes viemos do cajueiro
pra caacute eu me lembro eu jaacute me alembro eu acho que eu estava com uns sei cinco a seis anos
mas eu jaacute me alembro aqui era todo tudo capoeira que a mata era logo bem aqui
proacuteximo nossos primeiros roccedilados foi muito proacuteximo de qualquer uma crianccedila ia laacute no
roccedilado tirar o milho tirar buscar uma melancia qualquer um que queira era muito perto
a mata era proacutexima isso era capoeira isso aqui tinha soacute um uns caminhinho que os
meninos iam aacutes vezes para o roccedilado um uma coisa era tudo era sombra natildeo tinha
natildeo era natildeo tinha essa abertura aiacute esse garapeacute era a coisa mais linda do mundo era esse
148
garapeacute que a gente toma banho porque era capoeira neh era capoeira era era sombra
aiacute aiacute a gente ia tomava banho quando noacutes era crianccedila noacutes tomava aiacute quando tava um
tempatildeo de chuva assim noacutes jaacute ficava alegre porque sabia que ele ia crescer e noacutes gostava
muito de tomar banho na aacutegua grande e aiacute qundo passava a chuva noacutes pedia pra o papai e pra
mamatildee e noacutes ia tomava muito banho agora natildeo agora natildeo presta pra tomar banho
nenhum porque ( ) daiacute da da daqui da boca dele ateacute quase na cabeceira desse jeito aiacute natildeo
presta mais pra tomar banho
L1 a a sua origem mesmo eacute paraense a senhora veio de laacute a senhora veio da narcisa
aliaacutes a senhora nasceu na narcisa
L2 natildeo natildeo eu jaacute nasci ali no
[
L1 no cajueiro
L2 hum rum
L1 certo veio da narcisa moro morou um tempo no cajueiro e agora
[ [
L2 ( ) no cajueiro e ( ) ( ) porque assim
( ) bem pertinho daqui natildeo daacute dois quilocircmetros daqui laacute
L1 taacute agora vamos eacute ter quando foi que a senhora descobriu que tem uma a
descendecircncia de quilombola
L2 porque a minha voacute di dizia neh a minha voacute contava pra noacutes que ele ela eacute ela vinha
dessa descendecircncia que os avocircs delas AVOcirc da minha avoacute era os escravos
L1 como ela soube como ela como ela sabia disso
L2 porque ( ) contavam pra ela neh a matildee dela contava pra ela aiacute ela a matildee dela jaacute
passava pra ela e ela jaacute passava pra noacutes porque euu ainda me alembro muito da minha voacute ela
mamatildee contava ( ) MAIS era ela que contava que ela dizia que ela os avoacutes dela contavam
que (eram) dqquele tempo de de ficar amarrado de ser accediloitado neh aiacute ela ia
repassando pra noacutes
L1 os avoacutes dela passaram por isso viveram esse periacuteodo
L2 natildeo os avoacutes dela eacute que contavam que os outros ates dele neh
[
L1 antes os antes dele que ( )
L2 an ram eacute isso
L1 entatildeo eacute satildeo os seus tataravoacutes (digamos assim)
L2 isso acho que ism
L1 que viveram essa eacutepoca da escravidatildeo
L2 hum rum
L1 mas essa eacutepoca da escravidatildeo aqui nessa regiatildeo natildeo
L2 natildeo natildeo era aqui
L1 onde
L2 isso aiacute eu natildeo sei dizer adonde era natildeo natildeo me alembro se ela disse mas eu natildeo sei (
) se era na narcisa se era noutro (canto) natildeo sei natildeo ( ) sei que eles eram dessa dessa
dessa descendecircncia mas eu natildeo sei dizer da onde eacute
L1 dona Domingas o que eacute ser quilombola qual o significado dessa palavra pra
senhora
L2 e eu essa eu natildeo entendo muito bem muito bem eu natildeo entendo por isso que eu queria
que o ( ) tivesse aqui que ele entende mais melhor do que eu ele jaacute fez ( ) estudo ele ( ) mais
do que eu neh que ele passou ele passou seis anos assim presidente da associaccedilatildeo parte
que ele tem mais conhecimento mas natildeo ( ) ele taacute pra rua mas ser quilombola acho que eacute
ser vem dessa descendecircncia e assim das (coisas) tradicional as coisas da natureza
aprender e viver com a natureza eu acho que eacute porque eu eu assim fiquei sempre
assim vendo os iacutendios porque os iacutendios ele vive muito da natureza das coisas natural e eu
149
acho que ser quilomboa eacute a mesma coisa tambeacutem eacute viver da natureza aprender (viu) o clima
da natureza porque a gente sendo assim parando pra pensar a natureza ensina as coisas
pra gente neh a gente a gente ficar no silecircncio da gente a gente aprende as coisas com a
natureza eu acho que eacute isso que vem de de quilombola porque aquele tempo dos dos dos
negros eles natildeo tinham conhecimento de nada de leitura (nada nada) MAS com a natureza
eles aprendiam alguma coisa
L1 qual eacute o significado de ser quilombola pra comunidade o que a comunidade
pensa a senhora sabe dizer
L2 natildeo tambeacutem natildeo natildeo sei dizer natildeo ( ) eu eu soacute sei dizer que eacute eacute eacute eacute eacute uma um
tipo que eles quase juntocom o iacutendio com os iacutendios eles descobriram o Brasil neh
porque quem descobriu o Brasil mesmo foi os iacutendios neh e jaacute como aquele pessoal
naquele tempo ele jaacute viviam tambeacutem acho que eles ajudaram os iacutendios descobrir o Brasil
tambeacutem acho que ( ) soacute um soacute sei dizer que os negros ele ele eacute (federal) neh
L1 humrum
L2 ele eacute (federal) ele ele tem todo direito com certeza ele tem o direito (estremo) soacute
que soacute aqui ateacute hoje a gente natildeo tem ( ) ainda o conhecimento de tanto direito que a gente
tem tem muitas coisas ainda escondido por debaixo do tapete que ainda natildeo chega no
conhecimento de muita gente que aacutes vezes ele eacute quilombola ele eacute NEGRO mas ele ainda natildeo
tem conhecimento dele ser negro ele ainda fica dizendo que ele natildeo eacute negro porque pra
tem gente assim que pensa que dizer negro eacute aqueles escravos daquele outro tempo ah
negro jaacute tempo de negro jaacute passou era aquele tempo aiacute natildeo aqui mesmo na minha
comunidade tem gente assim porque ele eacute negro eacute da mesma famiacutelia eacute da mesma mas ele
ainda natildeo pensa dizer que ele eacute negro porque ainda ainda taacute na mente dele que o negro eacute
daquele outro tempo
[
L1 eacute aquele negro escravo
L2 aquele negro escravo aquele negro pobre daqui que natildeo tem nada como ainda tem na
mente deles mas natildeo eacute o negro eacute eacute ele foi muito reconhecido neh e tem muito eacute soacute
que eu eu disse pra o (Isaldo) (Isaldo) tu tem muito mais conhecimento no dia que a Edilene
vir eu precisava que tu tivesse laacute porque eu sei que ele tem MAIS esse conhecimento (tem)
que agora no dia vinte de novembro a gente vai fazer uma atividade aqui neh (ontem eu
fui) dizer pra Nazareacute Nazareacute eu queria que cecirc fosse pra cecirc daacute uma palestra laacute na (tal)
comunidade saber muita gente saber que (eacute negro) e eu quero aprender tambeacutem mais e tem
muita gente que natildeo sabe nem um pouquinho o tanto que eu sei ( ) a gente vai fazer no dia
vinte de novembro eacute a nossa ( ) eacute soacute neh (a santa jaacute veio) aqui em casa aiacute a gente
pensou ia ser era pra ser amanhatilde dia vinte de novem de outubro aiacute eu fiquei pensaando e
disse Isaldo PORQUE porque o Isaldo era presidente era meu irmatildeo mas eu eu me
comunico muito com ele tudo que eu quero fazer eu pergunto pra ele Isaldo porque noacutes
num num faz no dia no dia vinte de novembro que eacute o dia da consciecircncia negra neh
aiacute ele disse natildeo sei natildeo vai ( ) no dia de semana eu digo ( ) meio de semana mas eacute eacute
feriado pra noacutes eacute feriado e po quecirc que a gente natildeo faz aiacute ele disse seraacute que vai daacute algueacutem
digo a gente convida outra comunidade quilombola neh que venham participar junto
com noacutes aiacute fizemos uma reuniatildeo por isso que eu digo que de vez em quando noacutes estamos
reunindo eacute eacute por causa disso neh aiacute fizemos uma reuniatildeo aiacute joguei a proposta aacuteiacute todo
mundo aceitou mas soacute meu marido que natildeo porque ele quer ( ) como eacute que uma pessoa vem
que eacute meio de semana digo vem sim ( ) se falado com o tempo ageitam um carro neh a
gente taacute chamando querendo chamar os ( ) (olha) que eu jaacute passei com o Dinho que eacute
secretaacuterio de cultura neh ele jaacute veio aqui logo quando ele ele ( ) scretaacuterio ele veio aqui
aiacute ele procurou qual era a atividade qual era qual era as (futuras) ( ) dizendo pra ele aiacute
ele disse que quando fosse dessa soacute anda ele queria pra mim participar com bem tempo
antes antes ele queria ele ia (ajudar) da maneira que ele pudesse mas isso aiacute tem
150
fevereiro parece marccedilo (aiacute quando foi) essa semana eu passei com ele ele disse que jaacute
correu atraacutes de umas ( ) pra ajudar neh aiacute tem aquele outro Anderson tambeacutem ele ele
sempre ele liga pra caacute diz que ele quer ajudar tambeacutem ele quer vir aqui ( ) PRA
AJUDAR E A GENTE TAacute VENDO ASSIM REUNINDO PRA VEcirc COMO Eacute QUE
NOacuteS VAMOS FAZER sobre alimentaccedilatildeo porque quando foi ontem noacutes tava nessa
reuniatildeo nessa reuniatildeo vem vaacuteria vem gente de vaacuterias comunidades quilombola porque
vem tipitimga vem (presidente de laacute) vem jacareacutequara ( ) vem da mariana que eacute noutro
municiacutepio mas vem tambeacutem neh ele faz parte da rede bragantina E AIacute EU QUANDO eu
lancei a proposta laacute na reuniatildeo todo mundo (quer vir) pra caacutetipitinga quer vir
jacarequara quer vir ( ) quer vir agora eu jaacute tocirc imaginando eacute alimentaccedilatildeo como eacute que noacutes
vamos fazer pra alimentaccedilatildeo desse povo de querer vir eu quero aiacute jaacute fica pensando neh aiacute
a mulher ( ) dona Maria disse que vir tambeacutem aiacute amanhatilde natildeo ( ) pode ter muita gente
eles disseram que natildeo ia daacute nigueacutem noacutes temos muita gente que quer vir aiacute noacutes vamos pensar
como eacute que noacutes vamos fazer ( ) que eacute o dia da consciecircncia negra tem muita gente aqui que
natildeo sabe ( ) assim neh ( )
[
L1 a senhora me
convida taacute
L2 jaacute taacute convidada ( ) (risos) jaacute taacute convidada a gente tem uns convites ali neh que a gente
preparou uns convites aiacute ficou pra mim sentar na comunidade vecirc como eacute que vai ser pra
gente entregar os convites mas (a senhora) natildeo esqueccedila jaacute anota aiacute (eu lhe aviso) dia vinte de
novembro
L1 vai ser o dia todo
L2 eacute o dia todo porque assim taacute na programaccedilatildeo primeiro porque a gente todo ano faz
a reza neh primeiro uma pequena procissatildeo pega a santinha numa casa se organiza aiacute
vai quando chega na igreja reza tem ano que noacutes reza aqui tem ano que ( ) o pessoal
gostam porque eacute mais ventilosa neh aiacute eles vem aqui aiacute reza daiacute serve o almoccedilo daiacute se
tiver um leilatildeozinho leilatildeo um bingo aiacute a tarde eacute partida de futebol como os meninos tem
essa ajuda aiacute capoeira eles vatildeo paresentar capoeira a Andresa ela disse hoje ah matildee eu vou
ajeitar as meninas pra noacutes apresentar um uma danccedila laacute uma danccedila de (carimboacute) aiacute a gente
taacute vendo assim ( ) ser um dia festivo um dia de todas as atividades se querer outros
gruupos doutra comunidade se tiver um grupo que queira apresentar alguma coisa vai ter
tambeacutem espaccedilo
L1 vou daacute uma ideias depois qual sentimento assim SENTIMENTO sentimento o quecirc
que a senhora sente quando pela palavra por essa por essa palavra que que que fala
quilombola
L2 assim o meu sentimento
L1 hum rum
L2 eu gostar eu gosto ( ) me se se sinto muito bem
L1 se sente
[
L2 ( ) bem com certeza
L1 taacute essa pergunta tambeacutem eacute um pouco jaacute houve algum tipo de des discriminaccedilatildeo
L2 jaacute
L1 sobre a sua descendecircncia sobre a palavra quilombola
[
L2 jaacute
L1 o que foi
L2 eacute agora que natildeo agora jaacute recente que natildeo neh mas antes quando a gente (informava)
( ) a a associaccedilatildeo aqui quilombola quando descubriram porque isso aiacute veio veio assim
descubrir que era que era quilombola porque na narcisa laacute e eacute a a matriz neh como
151
a minha matildee veio pra caacute aiacute laacute formaram a associaccedilatildeo aiacute o meu meu primo ficou dizendo
olha tem mais gente porque assim quilombola eacute assim adonde cecirc tem parente porque
noacutes tem irmatilde no guajaraacute cigano aqui pro pra paragominas (natildeo) ipixuna neh mas a
hora que eles chegar aqui o lugar deles tatildeo aqui aiacute esse subrinho da mamatildee ficou dizendo
olha eu tenho uma tia que ela mora aqui que era aqui na pimenteira ela mora daqui natildeo sei
quantos quilocircmetros se um dia ela vir pra caacute tem lugar dela aqui disse tem com certeza o
lugar dela taacute aqui ela natildeo nasceu aqui aiacute tudo bem quando foi um dia ele veio passear
aqui aiacute ele foi disse pra mamatildee que se ( ) contou laacute a situaccedilatildeo neh aiacute eu disse que tem que
que cecirc tem que cecircs tatildeo pra caacute mas (vocecircs fazem parte laacute da narcisa) o dia que cecirc quirer ir
laacute ai a mamatildee disse natildeo pra laacute eu natildeo vou laacute se um dia elas quererem vir aqui esse pessoal
quererem vir aqui pra gente conversar ( ) conversar a gente conversa aiacute num belo dia de
domingo chegou trecircs umas quatro pessoas ( ) aiacute chamaram a mamatildee e ele perguntaram se
a mamatildee queria ir pra narcisa a mamatildee disse que natildeo aiacute se (mas) a mamatildee fazia parte do
quilomBOLA da da da associaccedilatildeo laacute da narcisica AIacute soacute que (naquele) tempo tinha
celebraccedilatildeo aiacute o (coacutedigo) que ficava com ( ) neh ficava muito na frente assim aiacute ela disse
que aqui natildeo formava porque quilombola eacute uma pessoa eacute negro que sabe contar o que vem
das tradiccedilatildeo de primeiro e esses que tavam na frente assim era era gente branca e sabia
que eles natildeo sabiam natildeo tinham nada com a ver com quilombola ( ) neh aiacute ( ) daqui aiacute o
(chaga) disse eles natildeo disseram aqui pra noacutes disseram laacute pra o chaga ah chaga laacute parece que
vai ser difiacutecil formar uma associaccedilatildeo de quilombola porque laacute quem taacute na frente mais satildeo
os brancos e laacute natildeo tem nada a ver com com negro a gente faz pergunta eles natildeo sabem
nada ( ) mas aiacute no decorrer do tempo a gente foi foi pegando conhecimento (eles vieram
aqui) mas naquele tempo a gente era muito criticado naquele tempo ( ) muito criticado bem
dizer assim ah bora entrar na associaccedilatildeo ( ) ah ( ) entrar na associaccedilatildeo pra ser negro eu
natildeo quero ser negro vocecircs querem ser diziam neh ( ) aacutes vezes assim (minhas
cunhadas) querem ser negro eu natildeo quero ser negro eu natildeo vou entrar na associaccedilatildeo
negoacutecio de ser negro negro neh escravo aiacute eles comeccedilavam assim fazer caccediloagem
diziam pra ser pra ser pobre mais de que era aacutes vezes eles diziam neh ser negro pra ser
pobre mais de que eacute noacutes jaacute somos pobres ainda ser mais pobre ( ) natildeo era assim natildeo aiacute desse
tempo agora agora recente natildeo a gente natildeo vecirc mais essas coisas mas logo no comeccedilo a
gente via dizia que negro era aquele um que andava sujo que andava com a unha suja que
andava com o cabelo sem pentear neh ((risos)) tinha gente que dizia aiacute eu jaacute ouvi muito
agora natildeo agora esses tempos natildeo ouvi mais acho que jaacute chegou no conhecimento neh
aquele que natildeo tinha nada pra comer ((risos))
L1 eacute com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas a senhora conhece reconhece que
vocecircs tem esse direito direitos
L2 eu conheccedilo um pouco
L1 quais
L2 assim a gente tem direito ((pigarreio)) assim numas pro porque assim eu natildeo
sei quase lecirc neh mas do pouquinho que eu sei a gente pega o estatuto aiacute um estatuto que
que foi tirado em on em Beleacutem foi feito um estatuto neh a gente tem vaacuterios direitos a
gente que AINDA NAtildeO CONHECE bem qual eacute os direitos que a gente tem e aiacute quando a
gente faz reuniatildeo sempre eu digo gente a gente tem que pegar aquele estatuto pra gente lecirc pra
gente discubrir qual eacute o tanto direito que a gente tem nos noacutes tem tanto direito mas noacutes veve
escondido laacute noacutes veve ainda natildeo taacute no conhecimento nosso pra saber o tanto direito que
a gente tem porque se a gente descobrir o tanto direito que a gente tem o direito que a gente
tem eacute um direito muito grande neh Eacute MUITO
[
L1 vocecircs tem o estatuto
L2 tem
L1 hum pra comunidade toda
152
L2 isso
L1 quem eacute que que ler esse estatuto fica na matildeo de quem
L2 aqui em casa taacute aqui mas sempre quando eu digo assim olha bora fazer uma reuniatildeo pra
lecirc o estatuto pra todo mundo mas sempre eacute naquela correria mai a gente vai lecirc custa muito
bora cuidar nas outra coisas no que tem fazer aiacute
L1 como vocecircs conseguiram esse estatuto
L2 noacutes noacutes fizemos assim neh da comunidade na comunidade escrevemos o que
era que noacutes queria dentro da comunidade qual era as leis que noacutes ia botar aiacute foram
escrevendo e levaram pra registrar
L1 ah eacute o estatuto
L2 da associaccedilatildeo
L1 da comunidade
L2 da comunidade sim da associaccedilatildeo
L1 ah da asso-ci-a-ccedilatildeo da pimenteira
[ [
L2 da associaccedilatildeo isso hum rum
L1 dos quilombolas da pimenteira
L2 isso
L1 hum natildeo eu digo assim o estatuto que eu falo eacute da da da de quem eacute
quilombola
L2 natildeo
L1 esse a senhora natildeo conhce
[
L2 natildeo natildeo esse daiacute natildeo
L1 hum agora sim existe alguma associaccedilatildeo na comunidade e eu queria que a senhora
falasse da associaccedilatildeocomo foi que veio essa ideia da da associaccedilatildeo como foi que surgiu
como foi que ces criaram por que criaram
L2 eacute eacute essa aiacute comeccedilou a gente a gente tinha jaacute era comunidade neh antes da
associaccedilatildeo era comunidade aiacute veio um um professor da universidade era ateacute cardoso o
nome dele aiacute ele aiacute comeccedilou (entrar) pequenos projetozinho assim pra caacute mas assim
feito jaacute assim pouquinho natildeo era que nem primeiro fez um projeto do duma casa de
farinha atraveacutes do da pastoral da crianccedila natildeo natildeo natildeo existia associaccedilatildeo foi um pequeno
projeto ( ) da pastoral da crianccedila aiacute depois um projeto de nesse tempo da casa de forno
veio um um caititu pra ralar mandioca e um motosserra aiacute depois um pequeno projeto
pro gado mas tudo da pastoral da crianccedila neh a gente faz aquele grupo de mulheres de
pessoas pra pra fazer um grupo e fazer as vaacuterias assinaturas pra ir pra laacute e o projeto vir
mas natildeo era associaccedilatildeo ningueacutem tinha nada de associaccedilatildeo estatuto nem ata nem nada ai
depois veio um zinho de do pimental um pequeno pimental neh umas estaquinhas
assim pra gente formar um (feijoalzinho) aiacute foi esse tempo foi que o professor cardoso
veio comeccedilar ( ) ele era teacutecnico neh pra daacute assistecircncia e aiacute ele comeccedilou a dizer olha porque
vocecircs num num formam uma associaccedilatildeo ( ) (vocecircs devem formar uma associaccedilatildeo) que se
vocecircs formarem uma associaccedilatildeo vocecircs tem vocecircs tem mais forccedila pra puxar as coisas mais
aiacute a gente comeccedilava a perguntar assim nesse tempo o ( ) ele ele era muito bem
introsado aqui com noacutes agora natildeo agora ele separou-se neh teve uma desavenccedila aiacute ele
nunca mais participou de nada aqui aiacute ele a gente comeccedilava a fazer pergunta pra ele
professor como eacute que faz a associaccedilatildeo eacute pra gente formar AIacute ELE comeccedilou a incentivar a
gente olha a gente faz a gente comeccedila a fazer umas pequenas reuniAtildeO na reuniatildeo a
gente depois que jaacute po jaacute tiver um bom conhecimento da reuniatildeo a gente vai escolher
o o presidente o secretaacuterio o tesoureiro aiacute vai daacute uma mensalidade que eacute pra gente
fazer a ATA QUE Eacute PRA REGISTRAR essa ata e a a associaccedilatildeo fica registrada e foi aiacute
que noacutes comeccedilamos neh sentava aiacute bora descutir como eacute que noacutes vai fazer pra noacutes ter
153
ter seguranccedila pra gente ficar mais junto aiacute fundemo a associaccedilatildeo foi aiacute isso aiacute que eu
tocirc dizendo que tem o estatuto desse tempo neh aiacute quem eacute o o presidente tal dia noacutes faz a
reuniatildeo pra escolher o presidente aiacute foi foi meu irmatildeo que foi a primeira vez e eu fiquei
como tesoureira e o ( ) era secretaacuterio e aiacute fomos formando a associaccedilatildeo quando a
gente jaacute tinha conhecimento (do que) era quilombola aiacute aiacute aa Nazareacute com Vicente jaacute tava
muito bem colocado conhecimento neh aiacute eles eles foram ajudando noacutes ateacute agora
ainda ainda somos muito mais que parceiro ( )
[
L1 ela
hoje tem c-n-pj
L2 a nossa comunidade
L1 natildeo a associaccedilatildeo
L2 tem
L1 taacute tudo ok
L2 taacute natildeo isso aiacute que eu digo que taacute atrasado neh ai taacute atrasado ateacute a gente pagava
ficou pagando vaacuterios anos quando foi nessa nessa mudanccedila porque assim na nossa
no nosso estatuto ela ( ) nenhum presidente podia passar quatro anos neh aiacute passou os
quatros anos fizemos a eleiccedilatildeo de NOVO foi ele DE NOVO ( ) assumiu de novo aiacute
depois venceu os quatro anos aiacute comecemos e pensar quem eacute que fica aiacute fica naquela
confusatildeo eu natildeo quero outro tambeacutem ah eu tambeacutem natildeo quero aiacute pronto vamos ( ) duas
vezes por ano duzentos reais pra noacutes pagar laacute anual neh aiacute nisso aiacute fomo esquecendo
fomo esquecendo de de de pagar os nossos deacutebitos aiacute quando EU fizemos a eleiccedilatildeo de
novo aiacute foi eu AIacute PRA noacutes reconhecer essa essa essa ATA da nossa nova diretoria
passou mais de ano essa multa jaacute tava laacute neh passou mais de ano soacute pra reconhecer quando
noacutes fomos reconhecer tivemos dinheiro PRA reconhecer a ata mas natildeo tivemos pra noacutes
pagar a nossa a nossa cnpj laacute na ( ) e nisso aiacute foi indo e aiacute agora eu jaacute corri com esses
documentos pra pra fazer saber pra pra a gente saber quanto eacute que noacutes deve
quanto eacute que a nossa pendecircncia o valor ainda natildeo foi descoberto tem vaacuterias coisas que
a gente eacute uma multazinha dum canto eacute uma multazinha do outro e a gente ainda natildeo
descobriu e hoje temos falta do recurso neh aiacute a gente jaacute ateacute sentou uma vez pra pensar
pra tirar uma madeira neh (vender) pra poder fazer os pagamanetos dessas dessa
dessa desse cnpj ( )
[
L1 haacute quanto tempo a a associaccedilatildeo esxiste desde
quan do dia que ela foi criada
[
L2 eacute eacute isso aiacute ela foi craida em em abril de dois mil e cinco parece que foi em
dois mil e cinco NAtildeO MAS ela foi registrada em dois mil e seis noacutes noacutes formemos dois mil
e conco neh aiacute passou aqueles tempos todo a gente se organizando daqui ela foi registrada
em dois mil e sete uma coisa a gente montar uma coisa a gente faz vaacuterias reuniatildeo neh
daacute certo pra tal dia daacute certo ( ) dia aiacute faz uma reuniatildeo aacutes vezes falta o presidente falta o
o o o secretaacuterio aiacute natildeo taacute bora deixar outro dia aiacute nisso o tempo vai passando mas ela
foi registrada em dois mil e ( )
L1 vocecircs jaacute conseguiram alguma coisa atraveacutes da associaccedilatildeo
L2 jaacute
L1 o que
L2 jaacute jaacute conseguimo um accedilude primeiro essa saber primeiro foi o accedilude neh foi
um projeto esse accedilude foi soacute que foi assim em parceria foi aqui e jacareacutequara porque o
tempo que formou aqui formou jacareacutequara aiacute a gente foi feito um projeto soacute para as duas
comunidades a a aqui aqui foi um accedilude laacute nem sei o que foi esse accedilude a gente ele ( )
fazer fez muito bem cada cada um um um mecircs um dia fica na responsabilidade de um
154
neh pra colocar os tratar dos peixes mas sempre fica aquilo sempre tem um soacutecio que
que natildeo nem liga pra ele tanto faz a gente trabalhar em comunidade negoacutecio de
associaccedilatildeo eacute eacute meio pesado eacute meio difiacutecil carece da gente ter muita paciecircncia aiacute vai com
a gente ia (despescar) o accedilude neh a gente juntava todo mundo iam pra laacute e era uma
danaccedilatildeo de menino sei que pegava os peixes a gente repartia noacutes ainda fomos umas trecircs
vezes ainda em santa luzia ( ) neh aiacute
L1 esse accedilude eacute aqui proacuteximo
L2 natildeo ele fica aqui ele ele secou ele esbandalhou deixa eu contar o restinho dele aiacute neh
quando dava chuva ele a gente tinha que ter um cuidado laacute porque ele tapava a boca do
cano carece da gente taacute limpanndo laacute quando se descuidava ele vazava por cima quando natildeo
ele queria estourar aiacute quando foi num dia fomos pegar peixe quando terminemo de
pegar o peixe que eles terminaram laacute laacute vem o tempatildeo foi chuva que entrou pela noite
chuveu (ainda) aiacute o meu irmatildeo esse (Isaldo) ainda ficou laacute lutando pra tapar neh e gente bora
ficar aqui passar essa chuva aqui porque noacutes natildeo vamos daacute conta desse accedilude ele jaacute tava
muito cheiatildeo mas os outros nem quase se incomodaram estavam mais ( ) neh e ai
ele ainda lutou lutou mas ele natildeo deu conta que quando foi de manhatilde ele amanheceu
estourado ESTOURADO mesmo grande grande que assim aiacute noacutes ainda fizemos vaacuterios
motiratildeo pra noacutes ir laacute manual braccedilal era homem era mulher era menino tentemo tapar
ele mas natildeo firmou quando veiio a chuva ( ) foi manual mesmo neh aiacute natildeo firmou estourou
taacute laacute estourado a gente jaacute pediu vaacuterias vezes assim fazer outro projeto pra gente
(reconseguir) mas ainda natildeo deu certo natildeo aiacute com noacutes com essas pendecircncias que noacutes tem e
agora que noacutes tava noacutes fizemos um projeto que veio um projeto daqui natildeo sei se vocecircs
tinham conhecimento daquele (fundo) ( )
L1 natildeo ( ) fundo
L2 fundo do (dema) neh eu tenho um um projeto que ( ) especificamente com a
indiacutegena e quilombola neh a gente fez mas a teacute hoje a gente natildeo tem seguuranccedila se foi
aprovado por causa dessa tendencia que a associaccedilatildeo taacute pendente
L1 hum rum dema neh
L2 fundo dema
L1 agora seguindo aqui o que a senhora acha da pimenteira da comunidade da
pimenteira
L2 assim que eu acho assim de de de de melhoria de ( )
L1 natildeo o quecirc que a senhora acha assim pensa da comunidade gosta natildeo gosta o quecirc
que a senhora o que pensa daqui
L2 natildeo eu gosto gosto acho bom soacute tem um uma coisa que natildeo que natildeo gosto muito
eacute eacute sobre obediecircncia aqui neh que nem todos aacutes vezes os soacutecios mesmos
desobedecem alguma coisa que a gente aacutes vezes conversa na reuniatildeo anota tudo
bonitinho aiacute a pessoa passa por cima da lei que a gente coloca que nem assim porque
assim aqui eacute eacute noacutes se diz coletivo neh nossa terra eacute coletiva a gente num tempo desse
que eacute o tempo eacute a evocadora do accedilaiacute a gente fica dizendo olha gente pra noacutes ter o maacuteximo
cuidado de com accedilaiacute aquele quando subir naquele naquela aacutervore naquele cacho que taacute
verde a gente ( ) deixa laacute que o outro vem e tira mas ainda tem gente que aacutes vezes soacute taacute
verde ele joga pedra joga no chatildeo aiacute nem ele nem o outro isso aiacute noacutes tem toda nossa
reuniatildeo a gente fala mas ainda natildeo conseguimos isso aiacute eu natildeo gosto disso daiacute natildeo outra eacute eacute
no veneno no garapeacute neh noacutes jaacute lutemos muito jaacute pelejemos bora deixar de botar aqui
botavam timboacute neh no no garapeacute a gente ( ) esse daiacute taacute quase eliminado esse daiacute taacute mais
ou menos natildeo taacute muito neh ainda tem gente que coloca mas vem de outra comunidade
no escuro de noite aiacute bota o pessoal vatildeo laacute eacute soacute peixe morto mas natildeoo eacute da nossa (tem) o
garapeacute aiacute vem gente doutro canto que a gente natildeo sabe nem quem eacute ( ) agora o accedilaiacute eacute da
proacutepria comunidade eacute noacutes mesmos os proacuteprios ( ) satildeo assim noacutes aqui pra noacutes noacutes tira quase
soacute pra tomar aqui dessa desse desse coletivo noacutes tira pra tomar ALGUMAS vezes que a
155
gente vende agora pra vender assim noacutes tem o nosso terreno particular neh que fica haacute
dois quilocircmetros daqui pra vender sempre eles tiram de laacute tempo da colheita de murubru
que a gente vende tambeacutem neh eacute outra outra eacute outra eacute quase que nem o (murumuru)
QUE NEM o accedilaiacute um jaacute vai entra na aacuterea do outro outro jaacute vai disque teve um tempo que
carregaram ateacute o jaacute tinham deixado juntado o outro foi laacute carregou (risos) e a gente
fica dizendo gente bora bora ver a aacuterea eacute grande eu quando porque qaundo foi pra
se cadastrar no murumuru soacute eu e o Isaldo que se cadastremo neh aiacute eu jaacute tava na aacuterea
coletiva que era soacute noacutes depois que todo mundo quase aqui se cadastrou eu natildeo ajunto mais
noacutes ajunta do nosso terreno eu jaacute deixo aqui pra eles porque os outros natildeo tem terreno
particuular soacute eacute eu e o meu irmatildeo que tem outro (outro) terreno particular o resto tudo
tudo atividade deles eacute dentro dessa dessa aacuterea coletiva neh
L2 hum rum
L1 e a gente sempre fica dizendo olha bora escolher uma aacuterea que fique mais perto da
nossa roccedila da nossa casa pra tu ir deixa daquele outro pro outro mas eles sempre eles ainda
ficam entrando na na aacuterea ningueacutem tem terreno de dizer esse aqui eacute o meu mas a gente
deve respeitar neh a aacuterea o que fique mais perto da casa do outro MAS natildeo acontece
isso e eacute uma coisa isso daiacute eu natildeo gosto tambeacutem porque num fica desarespeitando
SOacute QUE num daacute briga natildeo daacute assim confusatildeo mas acuteacuteas vezes ficam dizendo ahh eu
tinha ttal coisa assim e assim quando eu fui olhar rapaz jaacute tinham levado meu cacho de accedilaiacute
foi olhar em tal accedilaiacutezal assim jaacute tinham levado eu passei laacute no no tal accedilaizal assim
assim porque cada qual tem os seus nomes assim passei laacute adonde natildeo sei adonde rapaz
laacute eacute um estrago de accedilaiacute estrago de accedilaiacute que tava cada cacho grande jogado laacute no chatildeo
mesma coisa eacute os ( ) daiacute neh que natildeo eacute bom e eacute gente daqui mesmo proacutepprio satildeo soacutecio
da natildeo eacute doutro canto natildeo da da associaccedilatildeo da comunidade
L1 tens orgulho da comunidade
L2 tenho
L1 por que
L2 porque ela eacute reconhecida ( ) eacute reconhecida ela eacute muito falada nessa comunidade
muito muito mesmo muita gente jaacute jaacute jaacute veio aqui muita gente e atraveacutes da associaccedilatildeo
eu jaacute fui tambeacutem vaacuterios canto fuui muito encontro em Beleacutem jaacute foi no em Acaraacute
municipiacuteo de Acaraacute jaacute fui em Tomeacute accedilu atraveacutes da associaccedilatildeo eacute por isso que eu tenho
orgulho
L1 ok agora a gente vai pra uma outra etapa uma etapa da sua aacuterea faz uso das plantas
medicinais a senhora utiliza tambeacutem
L2 com certeza
L1 quem passou esse conhecimento sobre a utilizaccedilatildeo das plantas
L2 hum rum
L1 pra senhora
L2 a minha voacute e a minha matildee minha voacute da parte da minha matildee da os meus avoacutes da
parte do meu pai natildeo conheci nenhum agora da parte da minha matildee conheci todos dois
L1 quem tem problema de sauacutede e decide procurar ajuda quando a senhora tem um
problema de sauacutede eacute e decide procurar ajuda a quem recorre
L2 olha eu mesmo quando a sauacutede problema meu mesmo
[ [
L1 sua sua
L2 eu recorro a eu mesmo ateacute agora graccedilas agrave Deus ainda natildeo ainda natildeo deu deu
recorrer a ningueacutem eu mesmo neh com meus
L1 meacutedico
L2 ateacute agora natildeo ateacute agora eu jaacute fui na matildeo de meacutedico pra cirurgia pra me operar
neh natildeo ter mais
[
156
L1 de que
L2 pra natildeo ter mais
L1 filho
L2 hum rum a minha caccedilula eu eu queria ser operada aiacute foi mas de laacute pra caacute FOI A
UacuteNICA VEZ que ateacute agora tocirc com cinquenta e um anos mas num AacuteS VEZES faccedilo umas
consultinha assim quando a doutora vinha uma uma doutora aiacute ( ) aacutes vezes ela passava um
remeacutedinho mas eu quase nem tomava natildeo chegava assim a tomar
L1 ok como obteacutem as plantas que utilizacomo eacute que a senhora consegue essas plantas
L2 como eacute que eu consigo
L1 hum run
L2 eacute aacutes vezes eacute arrumando com outro colega trocando neh aacutes vezes eu natildeo tenho
daquela daquela planta aacutes vezes eu consigo ( ) troco como a dona Nazareacute a dona
Nazareacute ela ela tem muita planta ela tem muita ela eacute muita chegado neh aiacute a gente se
ela natildeo tem da marca que eu tenho eu jaacute dou daquele que eu tenho ela jaacute me ( ) aquele um
que tem que agora a gente taacute fazendo um monte de mistura natildeo sei se vocecircs tem
conhecimento da ( ) mistura neh
L1 hum rum
L2 aiacute a gente taacute fazendo assim ela laacute ela ela tem a semente de girasol e o farelo MAS
ela tem o farelo do poacute do arroz aqui na na comunidade eu jaacute levo a a a o poacute da casca
da da maca da folha da macaxeira da o gengili aiacute de laacute a gente jaacute faz todo junto jaacute
mistura jaacute eacute uma troca neh que a gente ( ) e aiacute eacute muito bom que ela a dia vinte e sete
vinte e oito de setembro noacutes tava num encontro do alimentaccedilatildeo alternativa aiacute era
um doutora clara ela eacute japonesa do japatildeo e aiacute ela tava dizendo quem come alimento
taacute comendo alimentaccedilatildeo e taacute comendo remeacutedio porque jaacute taacute comendo aquela alimentaccedilatildeo
que jaacute saiu do remeacutedio jaacute taacute ( ) mistura que ela ensinou neh e aiacute ela ficou ensinando
vaacuterias coisas que noacutes temos aqui que a gente deixa se perder aiacute joga fora e ela disse
que enquanto vocecircs tatildeo comendo aquilo vocecircs jaacute estatildeo se prevenindo vocEcircs jaacute tatildeo comendo
remeacutedio num carece vocecircs taacute laacute na farmaacutecia comprando remeacutedio pra vocecircs vocecircs jaacute tatildeo
comendo tatildeo se alimentando e tatildeo e eacute como eacute muita mistura ela ensinou tucupi que ela
ensinou que o tucupi eacute muito bom todo tipo de verdura ela ensinou e a gente a gente taacute
fazendo essa essa experiecircncia com a nazareacute e aiacute taacute dando certo ateacute agora muita mistura
noacutes tamo fazendo ela taacute vendendo MUITO MUITO muito
L1 ok quais satildeo as plantas mais utilizadas pela sua famiacutelia
L2 eacute o elixiparigoacute arruda a catinga de mulata a babosa tambeacutem mastruz
L1 hum rum
L2 corama
L1 hum rum
L2 (risos) vamos correr agora daqui em
L1 parece
L2 essas satildeo as plantas as
[
L1 satildeo as que mais usam neh
L2 hum rum isso natildeo tem aquele amor crescido tambeacutem ( )
L1 quais satildeo as partes da planta ou das ervas que a senhora mais utiliza satildeo utilizadas
L2 eacute eacute assim eacute das eacute as folhas e as casca mas dessa dessa uma que eu tocirc dizendo toda eacute
a folha dessas uma que eu disse agora ( ) pequenas soacute daacute de usar as coisas ( )
[
L1 a
maioria satildeo folhas e cascas
L2 isso
157
APEcircNDICE C ndash Questionaacuterio utilizado na entrevista com a senhora Maria de Nazareacute
Reis
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash PA
CAMPUS DE BRAGANCcedilA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LINGUAGENS E SABERES NA AMAZOcircNIA
FICHA DE ENTREVISTA COM A SENHORA NAZAREacute
A) Entrevistado
1Nome
2 Data de nascimento Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino
3 Endereccedilo
4 Idade(anos)
6 Naturalidade
7 Ocupaccedilatildeo principal
8 A Principal fonte de renda
9 Escolaridade
10 Haacute quanto tempo vive em Santa Luzia do Paraacute
11 Tens envolvimento com algum oacutergatildeo filantropia ou associaccedilatildeo Qual
12 Qual a sua origem De onde veio
13 Como conheceu a comunidade de Pimenteiras e haacute quanto tempo
14 Qual seu envolvimento com a comunidade
15 O que pensas da comunidade de Pimenteiras
16 Que significado ou representaccedilatildeo a comunidade de Pimenteiras possui para a senhora e
para o CEDENPA
17 Como estaacute o processo de titularidade da terra de Pimenteiras
18 Quais benefiacutecios a comunidade ganharaacute com a titularidade da terra
19 Na sua visatildeo o que marca a identidade da comunidade
20 Qual sua relaccedilatildeo com a comunidade e com os moradores da regiatildeo
B) Termo Quilombola
1 Como ocorreu o descobrimento sobre a descendecircncia quilombola dos moradores de
Pimenteiras
2 O que eacute ser Quilombola Qual o significado dessa palavra para vocecirc
3 Na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de que
sejam descendentes de quilombolas
4Nos relatos dos moradores houve algum tipo de discriminaccedilatildeo contra eles sobre a
descendecircncia Quilombola
5 Com relaccedilatildeo aos direitos dos quilombolas os moradores reconhecem os direitos que
possuem sobre ser Quilombola
6 Existe alguma Associaccedilatildeo na comunidade
7 A senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade Fale sobre
essa Associaccedilatildeo
8 O que acha da comunidade da Pimenteira
9 Tens orgulho da comunidade da Pimenteira Por quecirc
10 Como procede a prova de ser ou natildeo quilombola Tem relaccedilatildeo com preservaccedilatildeo da
cultura para ser reconhecido
158
11 Houve grupos que desistiram do processo de identificaccedilatildeo devido a ausecircncia das
caracteriacutesticas culturais
12 Em Santa Luzia do Paraacute quais comunidades satildeo consideradas quilombolas e quais
possuem a titulaccedilatildeo da terra
13 O que caracteriza um quilombola
14 Qual o significado de reconhecer comunidades quilombolas Suas origens
15 Ser quilombola traz ainda caracteriacutestica de discriminaccedilatildeo Desigualdade racial
16 Quais outros direitos sem ser o da terra satildeo legiacutetimos aos quilombolas
17 Com relaccedilatildeo agraves Universidades quais contribuiccedilotildees podem ter para as comunidades
tradicionais
C) Plantas Medicinais
1 A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) incentiva os uso de medicamentos vindos de
produtos naturais devido a maioria da populaccedilatildeo natildeo ter acesso aos medicamentos de
farmaacutecia Nesse contexto a senhora acha que as ervas satildeo importantes
2 As ervas e as plantas servem para quecirc
3 Na sua concepccedilatildeo porque tantas pessoas satildeo atraiacutedas pela praacutetica de uso medicinal das
plantas
4 A senhora faz uso de chaacutes para o tratamento de doenccedilas
5 Muitos meacutedicos natildeo apoiam o uso de medicamentos caseiros Qual sua opiniatildeo
6 Haacute comunidades que trabalham com o uso das ervas medicinais
7 Como soube do uso das ervas pelos moradores de Pimenteiras
8 Na sua concepccedilatildeo o que marca a identidade da comunidade de Pimenteiras Satildeo as plantas
medicinais Satildeo os remanescentes de quilombolas Haacute outra caracteriacutestica
9 A senhora faz uso das plantas medicinais
10 Sobre a catalogaccedilatildeo dos termos sobre as plantas medicinaisqual sua relaccedilatildeo ou influecircncia
nesse contexto
11 Como ocorreu o processo de catalogaccedilatildeo dos termos e por quecirc
12 Haacute moradores da comunidade de Pimenteiras que participam da cooperativa e produccedilatildeo
de medicamentos caseiros Como eacute esse processo
13 A senhora realiza alguma atividade de compra ou venda das plantas e produtos caseiros
14 A senhora conhece algum caso de cura de doenccedila atraveacutes do uso caseiro das plantas
15 Acredita no poder das plantas
16 Quanto aos produtos das farmaacutecias o que pensas
17 O que eacute a garrafada e a multimistura
18 Qual a relaccedilatildeo com a moradora Domingas E os trabalhos que ela mesma produz
19 O que eacute o trabalho com o bioenergeacutetico e porque acabou
20 Qual envolvimento da associaccedilatildeo com as plantas medicinais
21 O trabalho com as plantas medicinais eacute praticado apenas pelas mulheres Os homens natildeo
se envolvem Por quecirc
159
APEcircNDICE D - Transcriccedilatildeo grafemaacutetica da senhora Maria de Nazareacute Reis entrevista
no dia 26 de setembro de 2014
L1 seu nome
L2 Maria de Nazareacute Reis de ( )
L1 data de nascimento
L2 vinte e cinco do sete de mil novecentos e cinquenta e dois
L1 endereccedilo
L2 rua tiradentes sessenta e dois
L1 idade
L2 sessenta e dois
L1 naturalidade
L2 beleacutem do Paraacute Brasil
L1 a sua ocupaccedilatildeo principal
L2 eu sou a minha prof eu sou formada neh como engenehira agrocircnoma e a minha
ocupaccedilatildeo eacute acessoria aos grupos produtivos grupo de mulheres grupos de associaccedilotildees
cooperativas de agricultores familiares dentro da rede bragantina
L1 entatildeo eacute em que trabalha essas ( )
L2 como
L1 em que trabalha
L2 eacute principalmente na aacuterea alimentar na aacuterea de nutriccedilatildeo na aacuterea de ( ) na aacuterea de
organizaccedilatildeo popular na aacuterea de de incentivo a produccedilatildeo (agroecoloacutegica)
L1 haacute quanto tempo mora em santa luzia
L2 santa luzia dois mil e cinco para dois mil e catorze nove anos neh a parti da data que
eu casei fiquei aqui ((risos))
L1 tens contatao com algum oacutergatildeo ou filantropia
L2 sim
L1 qual
L2 oacutergatildeo eacute centro de estudo de defesa do ( ) do Paraacute a filantropia tem obras sociais da
diocese de Braganccedila tem (imenso) neh vaacuterios ((risos)) melhor dizendo natildeo eacute imenso natildeo
vaacuterios
L1 qual a sua origem de onde de onde a senhora veio
L2 eu sou de Beleacutem nasci e me criei em Beleacutem mas desde que me formei sempre
trabalhei em comunidades rurais agricultura familiar (me formei) em mil novecentos e
sessenta e seis
L1 como conheceu a comunidade pimenteira e haacute quanto tempo
L2 eu (queria) nove anos neh quando eu conheci a partir de quando eu vim morar pra caacute
aliaacutes foi ateacute antes de nove anos porque como temos a escola neh a escola de alternacircncia
para os jovens agricultores em dois mil no ano dois mil quando a gente iniciou teve
dois alunos da pimenteira que foram aluno da escola hum e aiacute jaacute cheguei dentro da da
praacutetica da pedagogia da alternacircncia noacutes visitamos as familias desses alunos na comunidade
entatildeo a partir daiacute eu conheci a comunidade
L1 qual eacute o seu envolvimento com a comunidade
L2 como acessoria neh nos grupos produtivos como eu falei que a a associaccedilatildeo ela faz
parte ela integra a rede bragantina da ( ) solidaacuteria e ela dentro dessa integraccedilatildeo a
gente eacute eacute como acessoria dentro do do por ela ser uma comunidade quilombola tem
um uma referecircncia dentro do centro de estudo e defesa do meio do Paraacute que eu
represento aqui na regiatildeo neh entatildeo atraveacutes do sedenpa a gente faz essa acessoria
viabiliza alguns alguns momentos projeta poliacuteticas puacuteblicas que satildeo disponiveis
especiacuteficas para essas comunidades
L1 o que a senhora acha da comunidade de pimenteiras
160
L2 em que sentido
L1 eacute o quecirc que ela o quecirc que a comunidade traz assim na representaccedilatildeo o quecirc que
ela representa assim pro sedenpa o quecirc que ela representa pra senhora assim ela tem algum
significado
L2 olha ela a comunidade ela ela eacute significativa ainda em biodiversidade neh a
gente tem rio tem ainda uma floresa ainda tem modo de produccedilatildeo ((tosse))eacute eacute ainda
tem o modo de produccedilatildeo muito assim pro proacuteximo da produccedilatildeo sustentaacutevel neh entatildeo
eacute muito significativo nesses aspectos que vamos dizer se afinam com o projeto que o
sedenpa defende que a escola ( ) defende neh o projeto de sustentabilidade eacute tendo
como ator e protagonista os agricultores e as agricultoras familiares
L1 entatildeo a senhora tem orgulho da comunidade
L2 sim ela eacute realmente uma comunidade que vale a pena investir o conviacutevio tambeacutem (eu
dou soacute apoio) laacute para eles ((risos))
L1 e como estaacute o processo de titularizaccedilatildeo da terra
L2 o processo taacute em andamento neh ainda nem a gente sabe
[
L1 natildeo finalizou
L2 ainda natildeo finalizou a gente sabe que eacute muito demorado neh e agora no final do mecircs de
agosto a gente enviou uma carta pra associaccedilatildeo noacutes juntos JUNTOS com a associaccedilatildeo
neh a a entregamos uma protocolamos uma carta no incra pra que eles viessem na
comunidade pra dizer em que peacute estaacute o processo porque o asseacutedio sobretudo nessa eacutepoca
de roccedilado muito grande os fazendeiros estatildeo confinante colocam fogo o fogo entra na
mata neh muitas vezes gente da proacutepria comunidade que natildeo tem assim eacute eacute tem a
cabeccedila do opressor neh como Paulo Freire costuma dizer aiacute querem fazer negociaccedilatildeo com
terra ainda bem que a comunidade tem lideranccedilas fortes neh que consegue
enfrentar e freiar mas realmente as titulaccedilatildeo eacute uma uma uma questatildeo assim muito
latente que eacute eacute facilita essas esses desvios neh de de de pessoas da comunidade
querendo vender terra onde confinantes que pretendem de uma form ou de outra tentar
enfraquecer a comunidade expulsar enfim
L1 o que a comunidade vai ganhar com essa titularizaccedilatildeo
L2 eu acho que ganha principalmente a confianccedila neh de de a confianccedila de ser donos
legais da terra e de jaacute se jaacute se sentem donos da terra mas hoje tudo tudo vocecirc tem que
ter papel neh ((risos)) entatildeo eu acho que isso vai ser muito positivo pra eles neh quando
tiver essa titulaccedilatildeo
L1 e o que marca assim a identidade de pimenteira assim na sua visatildeo
L2 na minha visatildeo eacute a
L1 quando fala em pimenteira assim
L2 lembra assim como eu jaacute falei pra vocecirc neh a biodiversidade O USO dessa
biodiversidade neh embora que jaacute tivesse um pouco assim sendo relegada neh
pelos in pelas pessoas do locais devido a essa essa ausecircncia de incentivo ausecircncia de
poliacuteticas puacuteblicas neh agora que comeccedilam despertar pra valorizar o artesanato que essas
pessoas produzem ah o que existe na mata que eles podem ainda taacute utilizando como
pra sua sauacutede pra seu alimento entatildeo isso daacute daacute marca a pimenteira neh e graccedilas agrave deus
a gente taacute conseguindo resgatar com o apoio da rede bragantina do sedenpa da escola
atraveacutes da formaccedilatildeo e de curso e de pessoas que a gente traz aqui eles participam as
mulheres os jovens os adultos isso tem ajudado eles perceberem que eles estatildeo no meio
ainda de uma RIQUEZA neh que ainda tem viabilidade sustentabilidade as
geraccedilotildees que ali nascem enfim
L1 qual eacute a sua relaccedilatildeo com os moradores da comunidade
L2 como assim
L1 como eacute o acontato se tem um contato direto se eacute um contato
161
[ [
L2 olhe eacute o contato a
gente procura sempre canalizar via associaccedilatildeo via lideranccedila por aqui pra natildeo
individualizar eacute a gente cecirc sabe como eacute a as pessoas o ser humano tem tendecircncia a se
aproximar dialogar sentar com aqueles com que eles se afinam aqueles que a gente natildeo
simpatiza a gente nem olha ((risos)) pelo contraacuterio neh entatildeo a gente procura fazer
TER como (ouvir) isso eacute eacute problemaacutetico quando isso acontece neh vocecirc conhece laacute a
comunidade vocecirc sabe que ali tem lideranccedilas que ao longo dos anos sempre ficaram
assim se tipo coman-dan-do a comunidade neh e que inclusive natildeo satildeo natildeo satildeo da do
da da da raiz das pessoas que chegaram laacute natildeo saotilde da da da famiacutelia tronco dos
dos negros neh dos afrodescendentes que eles estatildeo mas que tinham o controle muito
grande era uma celebraccedilatildeo era fazia um fazia outro neh e isso ainda eacute eacute
preocupante neh entatildeo a gente procura ter como referecircncia a associaccedilatildeo a gente natildeo manda
um o convite ou chama fulano presidente ( ) da associaccedilatildeo vem aqui natildeooacute isso aqui eacute
pra associaccedilatildeo AHH ASSOCIACcedilAtildeO entatildeo taacute se referindo ao conjunto das pessoas que estatildeo
ali organizadas neh eacute claro que na comunidade alguns natildeo estatildeo participando da
associaccedilatildeo mas pra noacutes a referecircncia eacute a associaccedilatildeo esses que estatildeo fora olha tatildeo fora por
que querem por sua livre e espontacircnea vontade tambeacutem natildeo eacute obrigado a entrar ateacute
porque foram vocecircs que criaram POREacuteM a referecircncia pra noacutes eacute a associaccedilatildeo eles tem sido
ateacute dificultoso porque infelizmente no oacutergatildeo no no nas no no nos oacutergatildeos puacuteblicos
neh seja do municiacutepio seja do estado muitas vezes se cria essa relaccedilatildeo pessoal pega
aquela lideranccedila neh ahh entatildeo a gente fica sempre batendo olha eacute associaccedilatildeo eacute associaccedilatildeo
mas eacute natildeo eacute faacutecil ((risos))
L1 como descobriu que os moradores de pimenteira eles tem descendecircncia quilombolas
L2 bem a gente em princiacutepio eles contaram a histoacuteria deles neh que eles tem uma eles
satildeo uma parentela da narcisa neh que se desmenbrou e andando nas terras vieram
parar aqui tanto que eles satildeo muito vizinho satildeo parente mesmos neh e depois quando
eles comeccedilaram quando foi instituiacuteda instituiacuteda natildeo quando foi colocada em praacutetica
neh o artigo cento e sessenta e oito da constituiccedilatildeo neh pelo presidente Lula aiacute se
comeccedilou a ver a saber sim noacutes tem uma histoacuteria essa histoacuteria taacute sendo esquecida taacute sendo
relegada neh e o proacuteprio incra neh por vamos dizer assim por uma exigecircncia de
titulaccedilatildeo a proacutepria fundaccedilatildeo palmares eles fizeram neh o levantamento antropoloacutegico na
comunidade entendeu entatildeo eles constataram que realmente eles tem uma um passado
neh que foi dessa desse refuacutegio dos negros neh pras beiras dos rios pras matas pra
criar suas moradias e manter suas suas tradiccedilotildees
L1 o que eacute ser quilombola e qual o significado dessa palavra pra senhora
L2 pra mim neh pra mim o que eacute ser quilombola pra mim oacute pra mim acho que ser
quilombola eacute principalmente conhecer a sua histoacuteria assumir a sua histoacuteria trazer a
sua histoacuteria para o presente neh e colo evidenciar essa histoacuteria seja atraveacutes da das
suas praacuteticas do seu jeito de ser neh
L1 eacute na sua concepccedilatildeo como os moradores da comunidade receberam a informaccedilatildeo de
ser quilombola
L2 com estranheza neh porque ser quilombola como eu falei pra vocecirc eacute assumir sua sua
identidade sua histoacuteria neh entatildeo essa histoacuteria natildeo eacute contada na escola os livros natildeo trazem
isso neh as as figuras que tem no livro eacute sempre a figura da menina loirinha neh natildeo eacute
a figura da pra ensinar o alfabeto Eacute A UVA NAtildeO Eacute O CARAacute que eles conhecem de
LONGOS anos neh e por aiacute vai entatildeo eles receberam assim neh alguns jaacute se apresentam
dizendo eusou fulano de tal moro na comunidade quilombola tal mas eacute alguns neh diz
eu sou fulano de tal moro na pimenteira neh significa que ainda tem um coisa que eles
natildeo natildeo que eles faccedilam de propoacutesito mas que eles ainda num neh conseguem neh
assumir colocar isso AFIRMAR isso significa pra noacutes uma afirmaccedilatildeo que nem todos
162
fazem mas a gente entende porque eles passaram e sofreram toda essa essa histoacuteria
NAtildeO SOacute eles como negro no Brasil sempre teve vergonha de ser negro por uma sociedade
brasileira que neh entre aspas se diz que natildeo eacute racista mas que tem um racismo hoje a
gente taacute vendo neh sendo provocado sendo questionado na sociedade a gente vecirc claramente
neh posiccedilotildees racistas na nossa sociedade
L1 com relaccedilatildeo aos moradores eles relataram algum tipo de descriminaccedilatildeo com relaccedilatildeo
a descendecircncia deles
L2 sim laacute e aqui nas escolas inclusive o caso aqui das escola eles me eacute me
trouxeram conhecimento do caso aiacute noacutes fizemos uma carta pra diretora da escola daqui
pelo sedempa assinamos (porque) o sedempa estadual e mandamos pra diretora pra que
ela tomasse providecircncia porque senatildeo a gente ia ter que tomar providecircncias legais e as
providecircncias legais todo mundo sabe neh que racismo eacute crime neh eu acredito que
depois pelo menos as meninas de laacute em geral isso soacute soacute eacute denunciado por pessoas que jaacute
tem uma uma certa consciecircncia natildeo sei claro que talvez ainda tenha caso de racismo na
escola mas que todo mundo fica calado neh assume aquela aquele aquela aquele
GESTO como normal como uma questatildeo de infecomo ser inferior aiacute num eacute assim
L1 e com relaccedilatildeo aos direitos os moradores reconhecem eles conhecem os seus
direitos como quilombolas
L2 sim aos poucos a a medida que as questotildees vatildeo vatildeo surgindo por exemplo tem uma
questatildeo da terra olha quilombola tem direito a terra legalizada eles conhecem neh a
medida que as poliacuteticas puacuteblicas aproximam do dia a dia do concreto deles eles vatildeo
tomando esse esse conhecimento natildeo eacute dizer que eles cochecem tudo natildeo neh
porque tem coisas que agora por exemplo vestibular das cotas neh que eacute recente quer
desligar ((risos))
((corte de gravaccedilatildeo))
L1 entatildeo voltando a pergunta o que acha eacute com relaccedilatildeo aos moradores como eacute que eles
reconhecem se eles reconhecem a a questatildeo dos direitos possuem sobre ser quilombola
L2 pois eacute como noacutes estaacutevamos eacute colocando neh eacute eles reconhecem a medida que eles vatildeo
sentindo na praacutetica vendo na praacutetica neh seja a questatildeo da terra aacutes vezes eles escutam
na televisatildeo mas como se eles natildeo vatildeo atraacutes ou se eles natildeo se colocam como detentores
daquele direito isso parece que eacute o processo mais demorado neh o exemplo eacute agora o
vestibular das cotas neh que da pimenteira teve soacute um ano que fez uma menina daqui
que ela morava aqui em santa luzia neh ela eacute filha de dona Domingas e agora esse ano
tem uma que taacute fazendo neh aliaacutes que taacute querendo fazer mas ontem ateacute dei uma bronca
um pouco nela porque eles aacutes vezes eles quererm priorizar festa em vez do estudo e a
a no caso da educaccedilatildeo neh que assim mais eacute assim muito fazer cumprir exige
um grau de mobilizaccedilatildeo e ateacute de articulaccedilatildeo no iniacutecio do ano por exemplo a professora da
comunidade laacute do do broca que tem a turma parece que daacute natildeo sei tem algumas turmas
que vatildeo o ocircnibos leva ela para o broca neh esse pessoal tava quarenta e poucos dias
porque natildeo teve transporte aiacute a professora me ligou e disse olha o pessoal da pimenteira
taacute sem aula eles tem direito a educaccedilatildeo ao transporte e eles natildeo tatildeo (vindo) pra aula eu
digo ah eacute liguei mas o que eacute que taacute acontecendo que vocecircs natildeo procuraram natildeo a gente
vai vai vai atraacutes mas eles ficaram de mandar o transporte se natildeo natildeo chegar essa semana
a gente vai sabe muitas vezes eacute uma acomodaccedilatildeo pprincipalmente no caso do da
educaccedilatildeo neh que a gente vecirc natildeo eacute soacute laacute na cidade educaccedilatildeo em santa luzia tem um
tem um retrocesso assim horrivel neh e por ai vai se eles eles sabem que tem o
direito neh alimentaccedilatildeo escolar eles sabem que tem o direito de vender ateacute com com
o valor superior ao neh para os quilombolas dentro do programa nacional da da
alimentaccedilatildeo escolar por lei eles tem direito a um valor mais alto na me na alimentaccedilatildeo
escolar neh mas eles natildeo vatildeo atraacutes quando o gestor fa tem sensibilidade daacute quando
163
natildeo tem diz que tem que ser igual pra todo mundo como eacute que taacute acontecendo agora
entatildeo eacute assim muito muito difacuteacuteicil porque isso exige uma grande mobilizaccedilatildeo
organizaccedilatildeo neh que eacute um processo educativo contiacutenuo o pessoal vem de uma histoacuteria de
de sempre ficar relegado e acha que vai ficar a vida inteira relegado mesmo que tenha
poliacuteticas puacuteblicas que tenham ( ) direito seus neh e que realmente natildeo eacute faacutecil soacute pra eles
soacute pra ilustrar neh ( ) sei que vocecirc vai transcrever a gente taacute numa luta que a gente
ficou desde do da da saiacuteda do prefeito louro a gente ficou com sem receber dos
produtos que a gente entregava para alimentaccedilatildeo escolar neh que ateacute hoje taacute na justiccedila
ainda mas isso a gente tem que ir atraacutes de advogado de um e de outro numa comunidade natildeo
eacute faacutecil se natildeo for acessoria dificilmente eles vatildeo atraacutes disso entatildeo daiacute uma uma questatildeo
assim que natildeo eacute NAtildeO Eacute SOacute que depende dependa soacute deles neh mas que depende de
todos um uma relaccedilatildeo social que eles possam construir e que essa relaccedilatildeo social possa
neh ajudaacute-lo nessa nessa luta por isso que eu perguntei pra vocecirc olha a gente vai
precisar da tua ajuda tem que somar forccedila com a gente nessa histoacuteria porque se natildeo difiacutecil
L1 eacute a senhora contribuiu de alguma forma para criar a associaccedilatildeo na comunidade
L2 sim
L1 fale um pouco sobre essa associaccedilatildeo
L2 entatildeo a associaccedilatildeo eles tinham algum (embriatildeo) de associaccedilatildeo que natildeo era assim
vamos dizer legalizada entatildeo pra eles darem prosseguimento a que natildeo era tambeacutem
criada como associaccedilatildeo quilombola era associaccedilatildeo que foram assim acho que
incentivadas antes deu chegar aqui ela jaacute tava por laacute com a questatildeo de (FNO) essa coisa toda
neh DEPOIS pra ele se legalizarem como quilombola o tinha um programa em
Beleacutem o programa raiacutezes neh que eles elaboraram mais ou menos com o apoio de advogados
no estatuto padratildeo que pudesse orientar quais os termos que deveriam ter no estatuto
neh que que eacute eacute passariam por um processo legal pra depois ser levado para cartoacuterio
pra um e pra outro entatildeo a nossa contribuiccedilatildeo foi muito nesse sentido de mostrar olha
a resoluccedilatildeo um meia oito da da constituiccedilatildeo resoluccedilatildeo natildeo o artigo um meia oito da
constituiccedilatildeo brasileira ele fala isso e isso alguns desses pontos tem que taacute constando aqui
natildeo citando a a a o decreto o artigo laacute da constituiccedilatildeo mas coisas que tatildeo citam
laacute que satildeo direitos (principalmente) na questatildeo da da dos recursos naturais da da da
venda da terra enfim entatildeo a ajuda foi mais nesse sentido de ajudar eles entenderem a questatildeo
legal neh juridicamente legal pra poder encaminhar registro pra porque depois
esses documentos no caso vatildeo pra incra vatildeo pra interpa quando eacute o caso de terra do estado
vai para fundaccedilatildeo palmares pra poder obter a certificaccedilatildeo entatildeo a contribuiccedilatildeo foi muito
nesse campo mais legal da da legalizaccedilatildeo
L1 hum rum e mais assim como eacute a questatildeo de de provar que eacute quilombola
isso eacute difiacutecil eacute uma situaccedilatildeo que AH eles tem uma caracteriacutestica quilombola ou eles
satildeo quilombolas mas aiacute pra o processo de ( ) eacute muito eacute muito dificil pelo que eu percebo
L2 a titulaccedilatildeo da terra
L1 sim
L2 eacute porque depende do estado neh no sentido mais amplo laacute no caso eacute oacutergatildeo federal a
aacuterea neh
L1 hum rum
L2 as outras comunidades que tem aqui foram aacuterea do estado entatildeo cecirc sabe que o
estado tem uma esfera burocraacutetica muito pesada neh e aiacute vai tem que vir antropoacutelogos pra
fazer a o levantamento histoacuterico da famiacutelia pra vecirc quais foram as histoacuterias enfim pra ter
esse reconhecimento natildeo eacute soacute assumir
L1 aiacute no caso pra pra provar essa questatildeo de quilombola neh com relaccedilatildeo a
preservaccedilatildeo da cultura
L2 hum rum
L1 isso ajuda no sentido do reconhecimento
164
L2 ajuda porque quando eu nunca fiz um levantamento antropoloacutegico ateacute porque natildeo sou
antropoacuteloga mas ( ) eu fiquei sabendo de outras comunidades e tambeacutem ouvindo assim
uma uma pessoa que teve aqui da fundaccedilatildeo palmares eles fazem todo esse traccedilo todo
esse perfil da CULtura dos santos que valorizam das ladainhas que ainda fazem
entendeu entatildeo tudo isso taacute presente na na identificaccedilatildeo neh na identificaccedilatildeo e e
reconhecimento da da comunidade como sendo afrodescendente
L1 hum devido a isso a senhora tem conhecimento de algum grupo que tenha desisitido
do processo de identificaccedilatildeo por perceberem que natildeo tem mais assim essas
caracteriacutesticas
L2 hum natildeo bem aqui natildeo tenho esse conhecimento tem alguns que ainda tatildeo um
(bocado) deles ainda tatildeo na luta pela terra neh mas eles jaacute tem essa identidade assumida
neh eu natildeo tenho natildeo algum que tenha desistido
L1 eacute com relaccedilatildeo a uma fora
L2 ((risos))
L1 mas assim com relaccedilatildeo quilombola quais quais comunidades aqui em santa luzia satildeo
comunidades consideradas quilombolas
L2 pimenteira jacareacutequara tipitinga e trecircs voltas que jaacute estatildeo vamos dizer assm com o
processo praticamente concluiacutedo tipitinga jacareacutequara jaacute com a titulaccedilatildeo neh
L1 jaacute estatildeo com a titulaccedilatildeo
[
L2 jaacute estatildeo intitulados trecircs voltas ainda pendende eacute pimenteira tambeacutem
taacute ainda pendente das que eu sei satildeo essas
L1 o que caracteriza um quilombola hoje
L2 hum hum ((risos)) eacute eacute uma eacute uma mistura neh porque eacute as pessoas vatildeo
incorporando haacutebitos da sociedade (mais geral) porque ele natildeo taacute isolado neh ele taacute no
meio o meio externo influencia comportamento haacutebitos neh entatildeo a a cultura eacute acho
que eacute uma coisa que ajuda mais a identificar os haacutebitos alimentares e a cultura o uso
dos recursos como a gente tava falando entatildeo foi por ai que a gente taacute trabalhando esse
projeto de fortalecimento com as mulheres de valorizaccedilatildeo da cultura eles chegavam
aqui o caraacute por exemplo eacute um alimento que todo mundo tem natildeo eacute soacute em comunidade
quilombolaque tem neh mas as pessoas tinham vergonha de chegar aqui pra oferecer um
quilo de caraacute que eacute um alimento neh
L1 hum rum
L2 as pessoas tinham vergonha de usar um chaacute uma erva (ia) para o posto de sauacutede
neh entatildeo a gente taacute procurando valorizar essa cultura justamente naquilo que doacutei na
barriga ou doacutei no corpo neh pra que eles possam
L1 por que reconhecer quilombos qual eacute o significado de reconhecer essas
comunidades
L2 eu penso que eacute um signi eacute um significado importante para o Brasil neh que a
populaccedilatildeo brasileira eacute foi formada por esse por esse povo que foi trazido pra caacute que
teve toda essa miscigenaccedilatildeo que ainda tem as suas raiacutezes muito assim latente na
religiosidade popular neh embora tenha sido muito quebrada neh com o catolicismo
romano mas que eu acho que eacute importante pra populaccedilatildeo brasileira neh reconhecer a
sua origem a sua histoacuteria a sua cultura mesmo os que tatildeo na cidade satildeo tem uma boa parte
que satildeo negros negros neh entatildeo natildeo pode esquecer essa histoacuteria o povo que esquece
sua histoacuteria ((ruiacutedo)) eacute um povo fadado a ficar mercecirc de qualquer vento neh e hoje a
devido esse processo de de colonizaccedilatildeo pesada que teve natildeo soacute aqui no Brasil mas acho
que no mundo inteiro as pessoas comeccedilam a ateacute um parecircnteses fecha ai teu teu
gravador que natildeo eacute coisa assim da da pesquisa
L1 hum rum
L2 que esses islatilde neh esses grupos mulccedilumanos que tatildeo ( ) eu fiquei assim horrorizada
165
que eles postam assim na internet neh eu ( ) a facebook mas a gente abrir esse mesenger e
aiacute outro dia tava passando aqui na tele na tv Brasil que a gente assisti muito aqui neh e tava
falando que esse povo eles pra eles cultu poliacutetica eacute religiatildeo econocircmia uma coisa soacute
eles natildeo fazem distinccedilatildeo como eacute no Ocidente cultura ocidental natildeo eacute natildeo tem a ideia
desagregada neh entatildeo isso natildeo foi a toa essa desagregaccedilatildeo natildeo foi a toa essa
fragmentaccedilatildeo cultural e hoje esses grupos que satildeo minorias tatildeo procurando
reconstituir isso neh e muitas vezes usando da violecircncia usando da forccedila a gente fica
chocado mas quan-tos anos ele vem sofrendo de neh de colonizaccedilatildeo eu-ropeia
colonizaccedilatildeo dos Estados Unidos massacre e tudo mais aiacute esses grupos hoje estatildeo atraacutes
dessa identidade muitas vezes a pessoa vecirc violencia pela violecircncia natildeo vai atraacutes da
HISTOacuteRIA que que gerou aquela violecircncia neh
L1 a origem
L2 a origem enfim entatildeo acho que tem um pouco tem um paralelo que daacute pra pintar
neh L1 aiacute nesse nesse nesse aspecto a gente chama neh um pouco a questatildeo da
desigualdade racial
L2 eacute
L1 e entatildeo eacute um ponto tambeacutem que traz essa perspectiva do do fato de ser
quilombola tambeacutem ter a margem neh essa essa
L2 hum rum
L1 essa caracteriacutestica neh
L2 isso
L1 nesse aspecto como eacute que a senhora vecirc essa questatildeo da desigualdade mesmo racial
L2 eacute algo assim que ainda vai se passar por um processo histoacuterico que tem um
fundamento principalmente na na educaccedilatildeo neh se noacutes tivermos educaccedilatildeo que possa
eacute eacute comeccedilar a desmistificar essa desigualdade neh esse racismo seja pelo cor seja pela
opccedilatildeo religiosa seja pela opccedilatildeo sexual isso ajuda mas a escola ainda se se esse
debate (natildeo eacute presente) neh aiacute o o debate que vocecirc vecirc o natildeo eacute debate neh a televisatildeo
talvez mostrando (aquele) racismo neh eacute homossexual que foi espancado que foi
mor-to entatildeo um negro que foi preso neh enfim entatildeo ateacute que isso
realmente mude essa configuraccedilatildeo eu acredito que soacute um processo educativo amplo
infelizmente o processo educativo mesmo com toda a discussatildeo que taacute hoje colocada mas
ainda eacute o processo educativo do do do letramento neh o processo em discussatildeo pra
formaccedilatildeo de cidadania entatildeo se natildeo tem esse processo educativo nessa perspectiva do
ser cidadatildeo aiacute ainda temos que passar por muitas geraccedilotildees pra poder chegar uma neh
uma sociedade sem racismo ( ) sem desigualdade
L1 que tipo de outro benefiacutecio eacute legiacutetimo sem ser o da terra
L2 hum rum
L1 pa-ra os quilombolas
L2 aleacutem do da da terra temos a questatildeo da educaccedilatildeo a prioridade em determinadas
questotildees de sauacutede puacuteblica neh tem um um caso que eacute muito muito quase que especiacutefico
embora aconteccedila no ( ) da anemia ( ) neh que eles tem que ter tratamento diferenciado
acesso diferenciado a sauacutede mas talvez muitos por natildeo conhecer natildeo sabem muitas vezes
nem sabe que tem o problema neh que eacute a anemia ( ) entatildeo acho que esses direitos tem
que o direito tambeacutem do do dos terreiros neh os terreiros sempre foram demonizados
e que eacute uma uma expressatildeo da religiosidade neh mas satildeo direitos que natildeo vatildeo ser
faacutecil de serem conquistados porque se vc tem uma comunidade que taacute reconhecida como
quilombola aqui essas pessoas tem relaccedilatildeo de vizinhanccedila que outras comunidades que natildeo
satildeo quilombolas neh entatildeo se elas estatildeo fazendo laacute um terreiro os os que natildeo satildeo
quilombola podem ateacute ir laacute frequentar pedir um chaacute pedir uma uma reza na cabeccedila MAS
noacutes sempre colocar neh como natildeo aquilo ali eles fazem cruz ( ) neh
L1 hum rum ( )
166
L2 penso que eacute isso neh seus direitos
L1 e com relaccedilatildeo ao papel da universidade como se se a senhora vecirc essa contribuiccedilatildeo
da universidade sobre as comunidades tradicionais
L2 ahh o papel da universidade eacute muito importante mas como a gente tava dizendo
a pouco tem a diversidade tambeacutem dentro da universidade neh a universidade em
constituiccedilatildeo de ensino soacute pra te daacute um exemplo acho que ainda tenho ai um caso assim
horrivel de racismo que teve na universidade federal do Paraacute com uma soacute natildeo lembro se ( )
eacute professor de laacute a Cristina Chaves natildeo sei se tu conhece aiacute ela ficou assim tatildeo
chocada mandou carta a gente enfim ( ) nessa hora ( ) mobilizaccedilatildeo vai passando carta um
pra o outro neh eu natildeo sei te relatar assim mais mas foi com o professor ateacute neh
teve tinha uma discussatildeo com os alunos E o professor claramente (externalisou) posiccedilatildeo
de racismo entatildeo a universidade ela taacute formando neh e taacute taacute formando profissionais
mas dentro desses profissionais se esse debate tambeacutem natildeo eacute levado as ppessoas entram laacute
vindo da escola da educaccedilatildeo baacutesica neh sem essa formaccedilatildeo neh entatildeo se ela chega
na universidade e a universidade natildeo procura pelo menos eacute vecirc ou colocar na nessa
questatildeo neh aiacute eacute complicado neh vai continuar o cidadatildeo ou cidadatilde com essas
praacuteticas MUITO IMPORTANTE entatildeo o papel da universidade nesse processo AS COTAS
por exemplo parece que o os uacuteltimos estado deles do sitema de cotas foi aqui o Paraacute neh
e olha que nem ( ) passado mi teve uma menina da narcisa que fez a prova neh ela foi
selecionada que ela eacute ateacute professora na (comunidade) eacute uma moccedila muito aplicada e eles
vem aqui neh a gente foi fez a inscriccedilatildeo da Francisca e tal a Francisca foi selecionada ela
voltou comigo para fazer o negoacutecio da declaraccedilatildeo neh que eu digito claro que natildeo sou eu
que assino quem assina eacute a ( ) ai fizemos a declaraccedilatildeo mandamos no dia que essa menina
foi se inscrever chegou laacute E DEIXA estar que a menina laacute do sedempa da ( ) tinha me
avisado ahh Francisca passou ahh que bom porque aacutes vezes a gente fica sem
comunicaccedilatildeo aqui de internet neh aiacute me disseram a nota que ela tinha tirado ela passou foi
classificada Francisca tu passastes no dia que essa moccedila foi pra Braganccedila fazer a matriacutecula
dela olha chegou laacute natildeo num passou Francisca tu passastes natilde-o arreda o peacute daiacute pelo
amor de deus grande favor que tu vai me fazer tu vai enfrentar esse povo deixa aiacute taacute por
azar nesse dia mal a gente coonseguia mandar mensagem por esses telefones aqui de santa
luzia liguei para a professora Georgina vocecirc conhece neh a professora Georgina olha ( )
eu tocirc em Beleacutem aqui me consultando mas diga pra ( ) nuacutemero ligar liga pra natildeo sei quem
uma hora da tarde eu acho que ele viu que ela ficou laacute e natildeo arredou o peacute encontraram laacute
natildeo sei quem depois que fui saber que natildeo era soacute o caso dela a professora ( ) tava com uma
lista de gente que ela tava tentando resolver por conta de eles inventavam um inventavam
outra pra natildeo matricular sabe eu disse olha ( ) a luta do negro eacute essa pensa que jaacute
acabou a discriminaccedilatildeo a desigualdade tu taacute vendo na praacutetica natildeo abre matildeo fica aiacute noacutes
vamos pertubar enfim eles vatildeo a tua vaga taacute garantida tu passastes menina tu fostes
classificada entendeu sei que graccedilas a deus ela ta laacute na UFPA em braganccedila neh tem
dois do tipitinga tambeacutem que tatildeo laacute tem dois do jacarequara esse ano tem uma turma maior
por por coincidecircncia ((risos)) agora o sedempa e a (malu) conseguiram na casa da
linguagem que eacute da fundaccedilatildeo curro velho professores eles vatildeo fazer trecircs poacutelos de PRE-
paraccedilatildeo e redaccedilatildeo por isso que desculpa por isso que eu te perguntei mas tu jaacute chegasse
((risos)) que eacute a moccedila que eu tocirc esperando ela chega agora meio dia que ela me ligou ontem
disse olha eu vou no ocircnibos das nove eu digo taacute tudo bem ela vai ficar saacutebado e domingo
na escola soacute treinando essa turminha em redaccedilatildeo pra eles fazerem o seletivo mas eu tocirc
dizendo pra eles oacute vocecircs tem que lecirc o ano inteiro vatildeo lendo vatildeo treinando os alunos da
escola que ainda tatildeo fazendo o primeiro do EJA neh eles natildeo satildeo obrigados a fazer mas
a gente taacute ateacute incentivando pra eles verem como eacute a prova neh a fazerem a prova e tudo
haacute uma dificuldade mas tem tem que entatildeo eacute isso neh desculpa que eu falo muito acabo
ateacute me perdendo (natildeo sei se tocirc respondendo o que tu tem)
167
[
L1 natildeo taacute sim
L2 hum ( )
L1 hum rum
L2 mas a desigualadade neh nesse campo aiacute eacute bem presente quando eles vatildeo tentar
(essa) universidade hum se preparem eu digo olhem se preparem pra brigar ((risos)) se
vocecircs natildeo brigarem natildeo vatildeo esperar soacute que o sedempa mande carta que a professora Zeacutelia (
) VOCEcircS TEM tambeacutem que brigar junto gente senatildeo natildeo tem combate
L1 verdade agora a gente vai pra um outra caracteriacutestica da entrevista que eacute com relaccedilatildeo as
ervas e plantas
L2 hum rum
L1 ( ) entatildeo a gente sabe que a organizaccedilatildeo mundial da sauacutede ela ela incentiva o uso
desses produtos neh desses produtos naturais porque a maioria da populaccedilatildeo ela natildeo tem
acesso a medicina de farmaacutecia
L2 hum rum
L1 ai nesse contexto a senhora acha que as ervas elas satildeo importantes
L2 eu digo as ervas e o saber neh num tem como dissociar o saber sobre o uso das
ervas entatildeo acho que eles satildeo satildeo realmente importantes e satildeo eacute muito importante que
a gente faccedila valer esse esforccedilo isso que a gente taacute fazendo VEM fazendo pra que as pessoas
voltem a valorizar porque taacute sendo mui-to ( ) mais comum a pirataria taacute dentro neh
e a apropriaccedilatildeo desses saber tambeacutem tatildeo muito forte a gente tem um exemplo aqui no
municiacutepio na regiatildeo da natura neh que compra desse pessoal (murumuru) neh que a
gente sabe que compra noacutes fizemos em dois mil e dez haacute quatro anos atraacutes um projeto
que se alchama chamava alfabetizaccedilatildeo e negritude pra alfabetizar adultos que ainda
num natildeo sabiam ler nem escrever ainda neh e aiacute foi um projeto pequeno que o sedempa
conseguiu recur-so aiacute veio uma amiga nossa treinamos as monitoras inclusive essa
menina que passou foi umas das treinandas neh e enfim fizemos com muito es-for-ccedilo
neh os recursos era pequeno sabe a menina veio essa professora que tambeacutem eacute uma
professora muito comprometida trabalha em Beleacutem e a gente vinha e ela vinha e taacute
passado recom graccedilas aacute deus conseguimos tem depoimentos assim interessantes de
pessoas que se alfabetizaram neh que hoje CONTInuaram estudar neh tatildeo num MAS
eu digo sempre olha vocecircs tem que abrir o olho a natura nunca deu um laacutepis UM
LAacutePIS pra essas comunidades pra ajudar nesse processo vai laacute tirar os recursos que tem
e pronto neh no nosso caso aqui eacute murumuru mas a gente tem casos por ai que eles estatildeo
mandando o pessoal plantar priprioca (esturaque) sabe agora jaacute tatildeo aqui procurando
outras coisas eu digo olha soacute vou entrar soacute vamos entrar se for pra sentar na mesa e
discutir de igual pra igual se natildeo for eu aconselho vocecircs natildeo irem mas se vocecircs quiserem
ir natildeo posso proibir neh se vocecircs acharem que eacute soacute o olhar do dinheiro vatildeo mas se vocecircs
acharem que tambeacutem passa por um reconhecer aquilo que vocecircs fazem aquilo que vocecircs
tem que vocecircs vocecircs guardaram de geraccedilotildees aiacute a histoacuteria muda neh a histoacuteria muda a
gente senta com eles mas de igual pra igual esse negoacutecio de vir aqui raspar e tudo e natildeo
darem nada de retorno entatildeo natildeo eacute por aiacute ENTAtildeO Eacute IMPORTANTE eacute eacute eacute necessaacuterio
que outros profissionais se engajem no sentido de mostrar a importancia dessas ervas
agora dia vinte e cinco de julho vinte quatro e vinte cinco de julho noacutes fizemos uma oficina
sobre oo uso de fitoteraacutepicos neh aquelas ateacute pra fortalecer o trabalho desse grupo de
mulheres neh e enfim a (bolsa cortou) assim vaacuterios casos sobre isso
L1 as er-vas e as plan-tas elas servem pra que
L2 ah soacute vocecirc perguntando pra elas ((risos)) elas vatildeo te dizer assim um LE-QUE neh
((risos))
L1 um leque ( )
L2 eacute um leque
168
L1 por que tanta gente ela eacute eacute atraiacuteda neh pra essa praacutetica de uso da das plantas das
ervas
L2 aacutes vezes por estar mais proacuteximo aacutes vezes por uma um passar de informaccedilatildeo neh
entre famiacutelias entre parentes vizinhos neh que que comeccedilam a usar a partir dessas
informaccedilotildees acho que a importacircncia eacute por ai
L1 eacute o que a senhora acha do uso de chaacutes no tratamento das doenccedilas
L2 eacute bom neh aacutes vezes as pessoas usam pela indicaccedilatildeo do saber popular agora com a
questatildeo do que taacute sendo colocada da do do ministeacuterio da sauacutede da anvisa neh jaacute
se precisa ter determinados cuidados MAS a gente vecirc que eacute um comeacutercio que soacute cresce
neh olha por exemplo elas fazem aqui a garrafada tem um parece que dois produtos que
elas colocam que natildeo tem aqui e a gente tem que comprar naquelas casas de ervas em
Beleacutem neh entatildeo eu quando vou pra Beleacutem eu docirc esse apoio eu fiquei horrorizada de vecirc o
quanto aumentou o nuacutemero de caso e vendendo essas ervas ali em Beleacutem e uma vez
eu tava laacute esperando que tinha muita gente pra ser atendido aiacute a mulher perguntou mas ( ) a
vendedora que vai receitando ahh minha nossa senhora ((risos)) entatildeo soacute taacute crescendo
esse esse uso dessas plantas neh dessas ervas enfim ( )
[
L1 talvez por isso existem
meacutedicos hoje que natildeo apoiam natildeo dizem que natildeo fa natildeo eacute bom
L2 eacute
L1 no caso desse uso natildeo ser (nada)
[
L2 hum rumdiscriminado algumas vezes a a formaccedilatildeo
deles eacute totalmente elitista neh que dis natildeo reconhece que o saber natildeo eacute soacute o saber
acadecircmico dele neh mas tem que saber o das pessoas neh e tudo isso que dicer de certo
modo vai encontra de encontro neh a a uma praacutetica de dominaccedilatildeo de mais de
quinhentos anos cau-sa is natildeo soacute estranheza mas tambeacutem causa essa divulgaccedilatildeo
contraacuteria neh vocecircs natildeo sei se vocecircs assistiram eu natildeo assistir ateacute porque essa rede
globo eu natildeo assisto embora algumas vezes passe alguma coisa que preste ((risos)) a gente
natildeo pode generalizar neh mas que aquele Bruno Varela neh EU fiquei sabendo
porque eu faccedilo bioenergeacutetico em Beleacutem neh eu durmo em Beleacutem ( ) jaacute faccedilo haacute mais
de quinze anos de bioenergeacutetico eu faccedilo meus exames cliacutenicos neh com o meacutedico
(omeopata) que ele ele vou laacute com plano de sauacutede e faccedilo exames de sangue fezes e urina
porque eles natildeo podem me guardar isso eu tenho que ser o se natildeo tivesse teria que fazer
particular e aiacute nesse dia que eu fui no bioenergeacutetico elas tavam comentando que ele acabou
com a babosa mas colo fez uma propaganda assim horriacutevel neh eu digo meu deus do ceacuteu
um veiacuteculo de comunicaccedilatildeo que eacute a rede globo tu imagina a repercussatildeo que isso teve
quer dizer que se vocecirc natildeo tem pessoas pra ir contra isso neh aiacute pronto a rede globo que
diz eacute verdade o que ela taacute passando sabe entatildeo taacute por traacutes dele a multinacional que patrocina
a rede globo taacute por traacutes ENes neh eacute uma rede poderosa de de de controle neh
controle econocircmico controle poliacutetico que patrocina tudo isso neh entatildeo natildeo eacute faacutecil
L1 existe outras comunidades que trabalham com o uso de ervas
L2 assim de forma sistemaacutetica aqui na re-gi-atildeo natildeo conheccedilo mas no dia a dia com certeza
que trabalhe e usam ervas PARticiparam desse curso que eu falei pra vocecirc dessa oficina as
outras comunidades que satildeo daiacute de bragantina de ViSEU de augusto cocircrrea natildeo de
viseu e de cachoeira do piriaacute elas estiveram aqui neh aiacute a gente comeccedilou olha bora
comeccedilar botar em praacutetica assim de forma mais estruturada e tudo elas disseram que iatildeo
comeccedilar a fazer aqui na comunidade mesmo neh
L1 hum rum
L2 vecirc se vatildeo
L1 como a senhora soube do uso das ervas pelos moradores da pimenteira
169
L2 a gen-te conversando neh aacutes vezes tatildeo laacute e ahh isso aqui eacute um chaacute aacutes vezes mesmo
chegaram agora ahh isso aqui eacute uma planta Eacute isso aqui eacute uma planta e aiacute ela na conversa
muitas vezes espontacircnea elas vatildeo falando aiacute quando a gente comeccedilou esse trabalho na
pimenteira noacutes dissemos bora fazer do do bioergeacutetico neh bora fazer um
inventaacuterio um (herbaacuterio) do que tem aqui umbora aiacute uma amiga minha de Beleacutem era
bioacuteloga ela tava formada ela natildeo tava trabalhando era uma pessoa muito disponiacutevel neh aiacute
eu falei com ela ela disse ahh ( ) ela veio ficou uns trecircs dias na pimenteira soacute ao redor ela
natildeo andou a comunidade toda ela fez um registro de oitenta plantas plantas medicinais a
gente ateacute tem esse esse herbaacuterio neh digitado tudo direitinho no herbaacuterio a identificaccedilatildeo
das plantas ela anota aiacute elas iatildeo olha isso aqui eacute isso serve pra isso sabe (bons) tempos eacute
sim a gente ficou
L1 na sua concepccedilatildeo a o que marca a identidade da comunidade pimenteira satildeo as
ervas satildeo os quilombolas por que haacute outra caracteriacutestica
L2 eu digo que satildeo a a biodiversidade que tem laacute presente neh e dentro dessa
biodiversidade estatildeo as ervas neh estatildeo as ervas estaacute o accedilaiacute enfim porque eles vivem dessa
biodiversidade acho que isso que marca ainda eacute uma comunidade que tem uma uma
sustentaccedilatildeo ainda muito assim vinculada a biodiversidade que tem laacute e laacute vocecirc tem o
solo tem o rio tem as ervas neh tem a floresta onde eles enfim eacute esse ainda eacute
eacuteclaro que hoje todos oscomunidades tem gente que eacute funcionaacuterio puacuteblico (talvez) laacute
natildeo tenha ningueacutem da comunidade porque a dona neneacutem eacute agente de sauacutede mas ela natildeo eacute da
comunidade tem tem bolsa famiacutelia tem aposentados mas ainda eacute uma comuni que marca eacute
a biodiversidade que ainda eacute muito forte laacute dentro taacute
L1 a senhora faz uso das plantas medicinais
L2 faccedilo lhe mostrar minha receita ( ) de energeacutetico ((riso)) as minhas garrafadas que eu tomo
tambeacutem
L1 eacute qual eacute a sua relaccedilatildeo ou (fluecircncia) nessa catalogaccedilatildeo dos termos quando eu falo
termos eu falo das ervas das plantas
[
L2 das ervas
L1 dos nomes delas neh sobre as plantas (medicinais) pelos moradores
L2 assim eacute
L1 como ocorreu esse processo
L2 ess especifi a gente iniciou como eu falei para vocecirc neh no iniacutecio do trabalho em dois
mil e oito foi o primeiro mandato do governo Lula que teve o projeto a gente comeccedilou a
neh teve o apoio pra fazer isso noacutes comeccedilamos a fazer aiacute o nosso o nosso incentivo o
nosso trabalho PRIMEIRO tentar daacute uma uma visibilidade mas uma visibilidade
assim com certo com certo grau de informaccedilatildeo aiacute por exemplo deixa eu pegar aqui pra te
mostrar a dona Domingas faz laacute a tintura de de de deixa eu pegar aqui ( ) laacute de Beleacutem
(quando a gente sai do serviccedilo compra laacute mesmo) ( ) entatildeo apre uma apresentaccedilatildeo do
produto mesmo que ele seja mas ele taacute numa embalagem adequada ele taacute identificado neh
a garrafada neh aiacute a gente coloca produto fitoteraacutepico artesanal o que tem aqui dentro a
composiccedilatildeo a data que foi fabricada e aqui o nome neh centro popular mil sauacutede das
mulheres da associaccedilatildeo remanescente quilombo da pimenteira coloca os contatos sabe
que as pessoas ligam ou pra dar sugestatildeo ou pra pedir como jaacute aconteceu ( )uma queria
uma garrafada personalizada outra ((risos)) tem todas esses esses detalhes neh entatildeo a
contribuiccedilatildeo eacute nesse sentido pra que esse produto chegue ao consumidor num grau de
confiabilidade pelas informaccedilotildees que tem dizendo quem faz entendeu o endereccedilo pra
contato entatildeo eacute muito assim ali na associaccedilatildeo tem mais das ervas todinha
L1 existem moradores na pimenteira que participam da cooperativa com a produccedilatildeo dos
medicamentos com as ervas como eacute esse processo
L2 tem a aiacute soacute um detalhe neh a associaccedilatildeo neh ( ) na cooperativa neh
170
L1 hum
L2 eacute eles contribuem neh com a aacutes vezes identificando por exemplo tem uma planta
laacute que no iniacutecio desse trabalho a gente identificou que eacute o bacuri e eles disse que eacute bom
pra glaucoma e tambeacutem o meacutedico neh amigo nosso disse realmente essa planta ela tem
esse poder neh e aiacute ela ( ) faz um coliacuterio antigamente assim assim assim soacute que taacute
acabando MEU DEUS do ceacuteu aiacute depois ela ( ) esse morador ELE esse homem ele veio pra caacute
ela taacute aqui na cidade agora ( ) esse homem laacute neh que a gente ( ) no carro levou ateacute laacute de
carro ( ) ele tentar ( ) porque ela disse que ela natildeo sabe ( ) ele sabe neh aiacute ela disse noacutes
temos que ir laacute com esse homem aiacute quem aleacutem de identificar esse capim sabe laacute saber se
esse homem natildeo tem que a gente natildeo pode deixar se perder inclusive viu Edileuza (da
outra vez que tu vir) com a gente eacute assim a gente taacute querendo criar a casa do ( ) ( )
no no no na linguagem ( ) eacute aquele idoso que transmite as histoacuterias ( ) pra outros neh ( )
aiacute a dona Maria do Carmo que tamb5eacutem eacute afrodescendente ela do lado tem uma feacutezinha
fui laacute em ( ) ahh bora fazer o seu Severino que vocecirc conhece neh laacute do do tipitinga ele
tem o sonho de fazer a festa de satildeo miguel que laacute eles fazem (nossa senhora de santana) ( )
religiosidade catolicismo neh aiacute ele disse bora Cilene bora ver o que a gente faz eacute em
setembro soacute que sem ah natildeo eu acho que eacute amanhatilde dia de satildeo miguel vinte e nove neh
amanhatilde natildeo eacute por esses dias vamos fazer noacutes vamos comeccedilar se reunindo os os ( ) a
velharada toda ((risos)) falei assim pra ele mas pra isso tem que ter um carro pra pegar esse
povo pegar laacute na pimenteira pegar num canto pegar no outro pra ir pra o cristo agora
fiquei sabendo que padre (quebrou o feno) aiacute vamos (vecirc) esse pessoal todinho porque
tem que ter um carro pra levar e trazer eles ou ou ( ) a gente pode se ( ) passo laacute na
num no tipitinga ou algo enfim mas o importante eacute reunir essa (velharada) toda pra
ouvir as histoacuterias dele animar natildeo deixar eles assim soacute O IDOSO QUE taacute precisando de
cuidado de ( ) tomar o remeacutedio na hora certa mas que ele se sinta um idoso ainda uacutetil pra
sociedade pra vocecircs pra comunidade neh mas natildeo foi possiacutevel fazer esse ano por conta de
milhares de compromissos neh tudo isso neh quantas vezes tu me ligasse eu tava
acompanhando tambeacutem o trabalho da doutora Kiara Brandatildeo nas comunidades aqui e
mas mas ainda natildeo saiu esse plano da nossa cabeccedila neh de fazer essa ( ) natildeo sei se a
gente vai fazer setembro do ano que vem mas a gente tem que (comeccedilar) ( ) o importante
que a gente comece a pegar esse pessoal e tentar neh o pai da dona Domingas que tava
te falando eacute soacute ela aiacute ela nem participa mas agora ela tem que cuidar dele que ele jaacute taacute
muito idoso e tudo TEM PESSOAS que daqui haacute um tempo pode ser ateacute que a gente faccedila
nossa viagem antes dele mas a gente sabe neh que de repente natildeo vai mais contar com eles
pronto vai embora um patrimocircnio toda uma histoacuteria um saber que ficou pra traz neh e isso
nas comunidades quilombolas eacute importante aacutes vezes o pessoal me perguntA mais tem olha
vatildeo laacute pergunta pros idosos que estatildeo laacute porque eu natildeo tenho (todo) neh eu ajudo eles
na a tentar resgatar essa histoacuteria escrever essa histoacuteria mas eu natildeo tenho todas as
informaccedilotildees ateacute porque eu natildeo faccedilo soacute isso eu tenho MIL compromissos ((risos)) de de
trabalho pra fazer neh entatildeo se vocecirc puder contribuir com a gente nesse aspecto acho que
vai ser bom
L1 com certeza eacute a senhora realiza alguma atividade de compra e venda das plantas
L2 como rede bragantina a gente faz neh a compra dos produtos e a venda no caso
fitofitoteraacutepico e elas produzem a rede bragantina soacute faz a comercializaccedilatildeo neh elas
mesmos traz as ervas elas preparam aiacute o que que a gente faz aqui embalagem neh eacute
identificaccedilatildeo quando a gente quer botar mais informaccedilotildees ou ateacute qualificar mais
aquele material a gente entra em contato com profissionais pra que eles possam ( ) como eacute
o caso desse dessa oficina que teve de fitoteraacutepico neh que (veio) uma farmacecircutica de
Macapaacute neh que ela trabalha no instituto (tumucumar) que eacute tambeacutem no ( ) de Macapaacute e aiacute
soacute que dois ou trecircs dias com a gente foi assim maravilhoso eu saiacute encantadad neh com
muita informaccedilatildeo que ela passou ( ) a contribuiccedilatildeo eacute quando a gente comercializa
171
L1 vocecirc jaacute conhece algum caso assim de doenccedila de cura atraveacutes das ervas
L2 das ervas elas conhecem neh elas me falam de um bocado natildeo sei de se me lembro
agora neh MAS EU praticamente eu me trato com as ervas graccedilas a deus nunca tive uma
doenccedila assim grave neh mas ( ) eu me sinto bem
L1 hum rum
L2 neh o (vicente) tambeacutem mesmo ele sendo europeu ( ) a gente faz junto esse
bioenergeacutetico aiacute a gente toma aqui em casa direto eacute fitoteraacutepico
L1 entatildeo a senhora acredita no poder das ervas e das plantas
L2 sim sim
L1 ma MAS OU ele se igualaria a a questatildeo das farmaacutecias
L2 assim eu num digo acreditar porque acreditar eacute uma questatildeo de feacute neh e isso natildeo eacute
religiatildeo eacute uma eacute um fato neh entatildeo eiu uso e me sinto bem neh eacute natildeo sou muito de ( )
ateacute meu pai neh e-le usava muito ervas acho que se a gente tem na na histoacuteria da gente
na histoacuteria de vida e eu uso e assim a palavra como eu disse acreditar natildeo eacute muito
adequada porque acho que crecirc ou natildeo crecirc eacute uma questatildeo de feacute neh eacute uma questatildeo de ( ) a
gente usa e daacute certo acho que eacute um pouco isso neh esses dias a gente estava aqui com a
doutora Clara Brandatildeo e ela vinha de longos anos falando sobre o uso da multimistura
neh natildeo sei se vocecircs jaacute ouviram neh falar na multimistura AIacute ela tava ano passado ela
veio fez oficina com o grupo esse ano a gente chamou esse grupo foi ateacute quarta feira que
vocecirc disse que chamamos o grupo que teve ano passado e mais outras novatas neh que
ainda natildeo tinham assisitido palestra com ela e aiacute a gente ( ) ano passado deu testemunho se
usaram natildeo usaram tudo natildeo soacute a multimistura mas tudo que elas colocaram em praacutetica a
partir daquilo que olha teve depoimentos assim estarrecedores no sentido assim perplexo
bonito no sentido de que deu certo de que funcionou mudarem o haacutebito alimentar adotaram
multimistura sabe a economia domeacutestica que fizeram que passaram a consumir de uma
certa maneira e de um certo modo foi assim ( ) se perdeu neh ( ) uma oportunidade do
trabalho ((risos))
L1 entatildeo no caso o que eacute a garrafada e o que eacute a multimistura
L2 oacute tem que perguntar pra ela ((risos)) dona Maria taacute logo ali noacutes vamos laacute e tu pegunta pra
ela taacute bom da garrafada a multimistura eacute complemento alimentar de feito a base
de de produtos tem valor nutricional alto disponiacutevel principalmente para os mais pobres
porque agora natildeo principalmente na nossa regiatildeo mas o a a base dela eacute o farelo de arroz
a folha da da macaxeira neh e o gerginlim a folha da macaxeira eacute riquissiacutema em
vitamina A ( ) se tu quiseres eu te mostro
L1 an ram
L2 a o gerginlim eacute riquissiacutemo em caacutelcio neh aiacute quando ( ) olha tem ( ) gerginlim
preto ai eu fui levei laacute pra ela ele eacute mais rico ateacute do que o branco ainda tem todo o
material desse projeto aiacute na ( ) a doutora Clara produziu e a fundaccedilatildeo banco do brasil
publicou (a gente) fez o material infelizmente olha essa aqui eacute a tabela nutricional
tem aboacutebora arroz (colido) (as pessoas acham que pode comprar melhor) ( ) que tanto
ele tem de calcio neh ela compara sempre com o leite da vaca entatildeo ele leva esses trecircs
produtos aqui a vitamina C
L1 hum rum
L2 e a vitamina A que taacute presente em valor altissiacutemo na folha da mandioca neh o calcio
que taacute presente altiacutessimo no gerginlim ferro tambeacutem e ( ) olha que o tanto de ferro que
tem no farelo aleacutem da vitamina do complexo B neh B1 B2 ( ) assim com toda
complexo B neh essas trecircs quando a gente mistura ela eacute basicamente essas trecircs produtos
aqui entatildeo ele eacute complexo alimentar ele natildeo eacute um remeacutedio neh e eacute tem casos
assim do resultado dele que nem tava dizendo a FILHA DELA ela passou numa aiacute que ela
tinha ido ali no postinho aquele que tem ali naquela rua neh ( ) aiacute a gente tava laacute e ele
disse (Leacuteia) tem multimistura tem (quero um pouco) de multimistura eu disse (ela jaacute tava
172
perto) de ter neneacutem a a Geacutessica e agora eu tava (dando) depoimento que a a
doutora Clauacutedia tava falando neh olha trabalho de parto sangramento quem usa multimistura
natildeo tem isso neh e ela disse olha minha filha duas horas de trabalho de parto ela
teve teve sangramento natildeo teve natildeo sei o que natildeo sabe E EU assim ( ) soacute ela
tomou dois meses antes soacute e eu acredito que foi essa mulher que disse neh EU
ACREDITO que foi muito da alimentaccedilatildeo dela que comeccedilou a controlar essa senhora pra te
ter ideia quando eu convidei ela ano passado neh ( ) soacute fala em doenccedila neh aiacute disse
( ) olha a doutora Clauacutedia Brandatildeo vem aqui vai ter uma oficina expliquei neh aiacute ela disse
assim ah eu vou vecirc e comeccedilou a choradeira neh aiacute (eu insisti) taacute bom ( ) eu sei que
realmente vocecirc natildeo pode porque tambeacutem neh (continuei) insistindo eu sei que isso
ano passado neh a ( ) me ligou OI olha ( ) ah que oacutetimo acho que vocecirc natildeo vai se
arrepender e eu vou jaacute laacute a a eacute quarta feira agora neh dois dias atraacutes ela disse que natildeo tinha
se arrenpendido de natildeo ter ido deu o depoimento dela tudo que ela tem o que aconteceu
com a filha dela ateacute convidei ela pra me ajudar a fazer ali no bairro neh pras mulheres
novatas que foram entatildeo assim a multimistura ela tem esse potencial dentro dessa
composiccedilatildeo que ela tem neh e doenccedila degenerativa eu sei ( ) doutora Clara neh setenta e
dois anos com trecircs ou quatro cabelos brancos ((risos)) em toda disposiccedilatildeo soacute tem um
problema no joelho neh que ela anda assim puxando ( ) que de vez em quando ela tem que
taacute sentada mas uma disposiccedilatildeo que nem eu tocirc tendo mais ((risos)) jaacute taacute me fazendo inveja
ontem eu tava uma caco porque essa semana foi assim pesada pra organizar tudo neh ainda
fui com ela pra Beleacutem agora ela fica em Beleacutem ateacute aman ateacute domingo domingo ela jaacute
retorna pra Brasiacutelia que ela mora em Brasiliacutea
L1 ah
L2 que a mistura a multimistura eacute tudo isso aleacutem de produto ela tem que contar neh
como eacute que as pessoas que usam taacute se sentindo e a garrafada vocecirc pergunta pra ela ((risos))
melhor fonte
L1 a garrafada eu conversei com a Domingas
L2 foi
L1 porque ela faz neh ela produz a garrafada pra pra associaccedilatildeo neh
L2 isso
L1 entatildeo na na pimenteira o siacutembolo digamos assim que que trabalha com ervas que
produz que faz esse esse trabalho eacute a a Domingas
L2 a Domingas os outros tambeacutem eacute assim
[
L1 ( ) pessoa
L2 olha eacute isso que eu tava lhe dizendo eles devem usar sim em casa um chaacute um remeacutedio
mas assim jaacute produzindo com certo padratildeo com uma certa orientaccedilatildeo era um grupo de
trecircs quatro neh
L1 hum rum
L2 uma foi pra Paragominas por problemas familiares a outra eu digo que taacute cuidando do
pai mas digo que ela natildeo taacute Nica quando tu puder tu vem natildeo vai ficar de fora ( ) e e a
Irma a outra llaacute que aacutes vezes tem problema de de de desentendimento neh que que
desentedeu mas natildeo ( ) pelo menos eles se falam eles brigam mmas depois se entendem por
llaacute neh aiacute
[
L1 foi foi por causa disso que acabou o bioenergeacutetico na (comunidade)
L2 natildeoeu acho que natildeo natildeo foi por conta disso foi porque eacute a filha dela se interessou
mas assim aacutes vezes ele esse pessoal tem dificuldade de de dar um comando quando eacute
uma coisa assim mas acho que natildeo foi por isso natildeo tatildeo paradas neh quando que
quando o pessoal vai laacute elas fazem pessoal dali da ( ) inclusive eu tocirc incentivando ela
retomar consulta mas soacute que ( ) voltar treinar gente de novo entendeu porque o pessoal
173
vai laacute se consultar o pessoal das (bandeiras)
L1 eu tinha ateacute falado pra ela da irmatilde Edna em Capanema
L2 hum rum
L1 se tinha a possibilidade da irmatilde Edna ir na comunidade falar sobre o projeto
L2 ah que bom vocecirc conseguisse isso ( ) porque elas fizeram com um grupo de Beleacutem
[
L1 ela
diisse que vem sim
L2 vem pois eacute se vocecirc puder trazer vai ser oacutetimo porque eu tocirc insistindo pra ela retomar
porque ela taacute vendendo muita garrafada na redondeza pomada neh que ela fazia
pomada de cabacinha de uma certa maneira quando vinha essa farmacecircutica ela taacute fazendo
de uma outra maneira e tatildeo vendendo assim bastante a pomada de andiroba com cabacinha
L1 e todos estatildeo aqui na na na associaccedilatildeo
[
L2 estatildeo ai na associaccedilatildeo ((risos)) estatildeo ai na associaccedilatildeo
entatildeo a dona Domingas temos que retomar as consultas porque porque tinha que ter um
horaacuterio planejado e aacutes vezes na comunidade elas tinham dificuldade pra marcar um horaacuterio
elas ficavam laacute eu digo oacute mas vocecircs tem que ter paciecircncia tem que habituar o povo neh tem
que treinar as pessoas neh que aacutes vezes tem a ( ) que natildeo esperam satildeo elas que vatildeo ajudar
tem a roupa que taacute laacute no igarapeacute elas que vatildeo lavar ( ) vocecircs fazem um horaacuterio uma vez soacute
por semana neh e vamos tentar vamos retomar porque vocecircs estatildeo com o espaccedilo
construiacutedo TUDO reconstruiacutedo natildeo daacute pra abandonar que natildeo fica bem nem pra vocecircs
nem pra quem patrocinou o ( ) olha a minha cara ateacute eu mas a de vocecircs tambeacutem ((risos))
L1 entatildeo a a o trabalho com as plantas eacute uma caracteristica praticamente da mulher
L2 da mulher
L1 os homens natildeo se envolvem
L2 natildeo se envolvem tem os homens que sabem neh por exemplo laacute em tipitinga tem um que
eacute
L1 nem na produccedilatildeo
L2 aquela aquela tes natildeo natildeo na produccedilatildeo das plantas sim eles conhecem eles
guardam mas eacute mais assim eacute um perfil mesmo da mulher uma especificidade da mulher
no tipitinga tem um um senhor um homem que ele benze ele reza mas eu acho que ele tem
vergonha de se expor ainda natildeo tive tempo de me dedicar laacute com eles e dizer natildeo olha noacutes
vamos laacute o senhor tem que assumir sua sabe seu saber neh o senhor pode ouvir das
pessoas enfim ainda natildeo tive tempo de sentar com ele
L1 no caso no jacarequara natildeo tem neh essa caracteristica de trabalho com as plantas neh
L2 natildeo natildeo tem elas ateacute participavam do encontro soacute que ( ) comunidade e vejam se tem
algueacutem que quer fazer isso e aiacute vocecircs se quiserem a gente taacute aqui pra apoiar pra comeccedilar
a defender os passos tem a o grupo da pimneteira junto com o grupo que taacute na (outra vila)
que jaacute taacute mais adiantado pode ir laacute com vocecircs enfim daacute os primeiros passos SE VOCEcircS
quiserem fazer laacute faccedilam laacute se natildeo aqui tem uma infraestrutura melhor em termos de material
de local de fogatildeo de panela de um e de outro vocecircs podem fazer aqui como ela vem
uma vez na semana ela vem e faz aqui a pomada a garrafada enfim
L1 a dona Domingas vem pra
L2 fazer aqui aacutes vezes ela faz laacute
L1 an ram
L2 mas a grande parte do que eacute vendido aqui que eacute levado pra Beleacutem el vem fazer aqui
que ela ( ) junto com a dona Maria
[
L1 entatildeo ela eacute a
L2 eacute
174
L1 ( ) articulaccedilatildeo
L2 eacute ela eacute articuladora da ( ) dessa produccedilatildeo eacute
L1 ocirc Nazareacute brigada
L2 de nada espero ter atendido neh a sua
L1 com certeza
L2 ( ) aprofundar esse conhecimento aprofndar esse esse saber e principlamente contribuir
com essas comunidades neh com esses povos que precisam mesmo dessa desse apoio
da academia neh que a gente natildeo fique soacute na um trabalho de produccedilatildeo laacute ah taacute
bonito o seu trabalho pesquisa tal mas que isso possa realmente retornar pr essas pessoas neh
e que elsa possam se apropriar cada vez mais com seguranccedila de tudo isso
L1 taacute com certeza
175
APEcircNCICE E ndash Oraccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Livramento
Ladainha a Nossa Senhora
Nossa Senhora do Livramento
Matildee de Deus nossa Matildee
e padroeira de nossa Paroacutequia
Com o olhar confiante vos contemplamos
Como exemplo guia e protetora dos filhos devotos
Dirigimo-nos a voacutes como filhos
porque necessitamos do vosso auxiacutelio
Soacute em pensar que temos Matildee junto de Deus sentimo-nos reanimados
apoiados e guiados pela matildeo materna
Renovai-nos espiritualmente
para que saibamos enxergar a vida mais bela
Levantai-nos para caminhar sem medo
nas tribulaccedilotildees da vida Dai-nos vossa matildeo
para que acertemos o caminho da salvaccedilatildeo eterna
Nossa querida Matildee
Nossa Senhora do Livramento
abenccediloai-nos e guardai-nos junto de vosso coraccedilatildeo
e conduzi-nos ao coraccedilatildeo eterno e amoroso do Pai Ameacutem
ldquoNossa Senhora do Livramento
Livrai-nos de todos os perigos do corpo e da almardquo
Senhor tende piedade de noacutes
Jesus Cristo tende piedade de noacutes
Senhor tende piedade de noacutes
Jesus Cristo ouvi-nos
Jesus Cristo atendei-nos
Pai Celeste que sois Deus tende piedade de noacutes
Filho Redentor do mundo que sois Deus tende piedade de noacutes
Espiacuterito Santo que sois Deus tende piedade de noacutes
Santiacutessima Trindade que sois um soacute Deus tende piedade de noacutes
Santa Maria rogai por noacutes
Santa Matildee de Deus
Santa Virgem das virgens
Matildee de Jesus Cristo
Matildee da divina graccedila
Matildee puriacutessima
Matildee castiacutessima
Matildee Imaculada
Matildee intemerata
Matildee amaacutevel
Matildee admiraacutevel
Matildee do bom conselho
176
Matildee do Criador
Matildee do Salvador
Virgem prudentiacutessima
Virgem veneraacutevel
Virgem louvaacutevel
Virgem poderosa
Virgem clemente
Virgem fiel
Espelho de justiccedila
Sede da sabedoria
Causa da nossa alegria
Vaso espiritual
Vaso digno de honra
Vaso insigne de devoccedilatildeo
Rosa miacutestica
Torre de David
Torre de marfim
Casa de ouro
Arca da alianccedila
Porta do Ceacuteu
Estrela da manhatilde
Sauacutede dos enfermos
Refuacutegio dos pecadores
Consoladora dos aflitos
Auxiacutelio dos cristatildeos
Rainha dos Anjos
Rainha dos Patriarcas
Rainha dos Profetas
Rainha dos Apoacutestolos
Rainha dos Maacutertires
Rainha dos Confessores
Rainha das Virgens
Rainha de todos os santos
Rainha concebida sem pecado original
Rainha assunta ao Ceacuteu
Rainha do sacratiacutessimo Rosaacuterio
Rainha da Paz
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo perdoai-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo ouvi-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo tende piedade de noacutes
Rogai por noacutes santa Matildee de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Oremos Senhor Deus noacutes Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpeacutetua
sauacutede de alma e de corpo e que pela gloriosa intercessatildeo da bem-aventurada sempre
Virgem Maria sejamos livres da tristeza do seacuteculo e gozemos da eterna alegria Por
Cristo nosso Senhor Ameacutem
177
APEcircNDICE F ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoAlgodatildeo Roxordquo
Fotografia 36 ndashAlgodatildeo Roxo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 13 ALGODAtildeO ROXO
Lx Lexema Algodatildeo roxo
V Variantes Algodatildeo Branco ou Algodatildeo Preto
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo o algodatildeo rocho ele serve eacute pra () pra moragia pra remautismo tambeacutem faz o chaacute
tintura dele tal de efusatildeo eacute fazer a tintura neacute todo jeito se quiser fazer o chaacute faz a
tintura que usa gotinhas isso e pra moragia eacute tira o sumo da folha pra moragia da folha e uma eacute a haacute aquela dentro da sementinha dela da dentro da sementinha tem tipo
uma lanzinha assim dentro da sementinha pode quebrar a sementinha dela hurum
mas soacute que eacute um pouco maiozinha natildeo porque assim dentro da semente do algodatildeo a
gente tira ele tem dentro da sementinha dele a gente passa passa a sementinha tem
uma uma lanzinha assim tipo uma lanzinha neacute eacute o proacuteprio olho dele eacute o proacuteprio
adonde nasce sim aquilo aliacute eacute bom pra febre ele eacute bom pa pa febre instestinal crianda
do algodatildeo isso tanto faz ele ser o roxo como ser o branco como ser ele eacute bom para
isso tambeacutem febre do algodatildeo ele eacute um ele ele cresce te acho que tiacute trecircs volta de
quatro metros de altura ele ele eacute na terra que se daacute bem ele fica bastante
compundinho assim haacute a folha dele natildeo natildeo eacute aiacute ele tem de trecircs trecircs cor tem o branco
tem um que eacute meio roxinho tem algodatildeo branco algodatildeo roxo algodatildeo preto ((tosse)) da folha da folha da folha eacute ela eacute mais roxeada o algodatildeo branco a folha dele eacute
branca o algodatildeo roxo a folha dele eacute eacute roxeada e o algodatildeo preto ele eacute mas preto eacute
mas escuro hurum isso a folha a folha eacute os frutos eacute eacute soacute mesmo mesmo jeito a flor eacute soacute
um jeito tambeacutem hurum a cor isso isso serve mas o bom eacute o algodatildeo roxo e o algodatildeo
preto que o melhor de todos mas quando natildeo tem esses outros esses uns serve o
algodatildeo branco neacute eacute o chazinho a gente tira aquela sementinha parte a semente dele
dentro da sementinha natildeo tem cumo assim que nem uma lanzinha iai quando parte
bota pra ferver e daacute o chazinho soacute eacute uma febre instestinal daacute no intestino ele eacute ele eacute
uma folha assim o meio dela arendodada e tem trecircs de trecircs bicos grande os bicos
delas satildeo mas eacute eacute trepadeira mas isso eacute natildeo isso eacute uma arve
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
178
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas e o algodatildeo que estaacute dentro da semente
Fu Formas de uso
Usada para hemorragias (fazer a efusatildeo com as folhas para tirar a tintura) o mesmo processo serve para reumatismo o algodatildeo dentro da semente eacute usado em chaacutes para
febre intestinal
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Haacute espeacutecies de algodatildeo branco e algodatildeo preto a cor da folha eacute determinante
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
179
APEcircNDICE G ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoArichi de Parigoacuterdquo
Fotografia 37 ndash Arichi de Parigoacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 14 ARICHI DE PARIGOacute
Lx Lexema Arichi de Parigoacute
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacute eacuteh uma planta que ela daacute ela daacute assim ela natildeo daacute muito alta ela daacute quase assim tipo rasteira mas num eacute bem rasteira ela bota muito assim os galhos os galhos cae
assim forma moita a folhinha dela eacute penem folha de canala um mesmo a folhinha de
canela iai ela eacute boa tambeacutem pra fazer tintura pra achar quem natildeo gosta de usar
tintura porque a tintura leva o aacutelcool toda tintura tem que ter o aacutelcool neacute tem que
ter natildeo eacute feita soacute no aacutelcool os que natildeo gostam da tintura usa o chaacute natildeo da folha a
gente pega tira a a tintura a gente pega assim pego o aacutelcool taacute qui e pega a folha
tritura tudinho coloca aqui dentro do aacutelcool com quinzi dias passando quinzi dias o
aacutelcool natildeo vai estrogar aiacute fica muda muda certeza aiacute despois coa brota no seus
vidrinhos pra usar as gotinhas () quando ela estiver com mal estaacute uma comida que faz
mal tiver assim com estomago cheio tem comida neacute ai bota a aacutegua comu o uso da
da farmaacutecia tem tem eacute o caseiro eacute natildeo natildeo sei natildeo eacute isso que eu tava dizendo eacute o
erichi de parigoreacute neacute eacute assim se comeu sentiu que a comida faz mal a assim enpachada conquela mal de gases eacute fazer isso num quiser fazer o chaacute das folhinhas
usa a tintura porque por isso eu em casa uso a tintura porque assim eu eu faccedilo deixo
ali quando taacute no ponto eu cou tudo ajeito tudinho e boto no vidrinho de gotinha neacute
que nos a gente tem vidrinho de gotinha e bota laacute se algueacutem precisar jaacute taacute pronto
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Utilizar as folhas para mal estar no estocircmago
Fu Formas de
uso
Chaacutes da folha tintura (deixa de molho no aacutelcool por 15 dias) para estocircmago
empachado tanto o chaacute como gotas da tintura
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
180
APEcircNDICE H ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoBabosardquo
Fotografia 38 ndashBabosa com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 15 BABOSA
Lx Lexema Babosa
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ((SORRIU)) eacuteh por causa da baba e ela eacute antiflamatoacuterio eacute essa mais eacuteeacute aquela goma
aquela gosma tem neacute a gente pega ela tira aqueles coise assim aquela goma dela
aquela coisa a parte de dentro vocecirc essa pode usa na guarrafada pode usar e no chaacute
fazer chaacute da folha assim se num quiser butar a folha inteira pode tirar essa baba pode
tomar usar em ferimento tiver um ferimento em golpe uma ferimento pode pegar bater
aquiloali butar tipo um plasticozinho aliacute pra disiflamar sim e pode tomar tanto bote
em cima pode tomar eacute ela eacute muito boa pra cabelo tambeacutem neacute pra fazer o cabelo da
gente desenvolver a babosa neacute ela eacute boa tambeacutem eacute pra eacute cacircncer () ela eacute muita boa tambeacutem pra cura o cacircncer a babosa
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Usar a baba da folha para inflamaccedilotildees ferimentos garrafada cacircncer crescimento do
cabelo
Fu Formas de
uso
Utiliza-se a baba em chaacutes garrafada ou direto na aacuterea inflamada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
181
APEcircNDICE I ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoBatatatildeordquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 16 BATATAtildeO Lx Lexema Batatatildeo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Masculino
Df Definiccedilatildeo natildeu eli eacute ambienti fechadu abertu mas eli natildeu eacute di vasueli eacute du chatildeu du chatildeu
assimnatildeu eli eacute eli eacute um cipoacute eli nasci aqui aqui eli cresci ( ) du maracujaacute maracujazeiru eli vai si agarrandu aqui vai tendu matu aqui eli via indu por cima matu i vai indu vai
caminhandu ateacute ondiporque na a a batata deli eacute um batatatildeu eacute uma batata mermu forma duma mandioca forma duma batata doci assim que eacute ai por issu colocaru u nomi
batatatildeoeacute a batatanatildeu nunca vi falar das folha eacute a batata aquela batata a genti vai laacute nu peacute deli i arranca eli cava qui eli qui eli daacute bastanti profundu eli natildeu eacute soacute assim da genti
chegar i puxar tem qui cavar com uma enchada pra tirar a batata eu jaacute vi ateacute uma ateacute dessi tamanhu assim neacute aiacute aquela batata a genti veimem pois eacute ela eu jaacute vi uma ateacute qui a minha
cunhada arrancou era bastanti grandona ela laacute aiacute a genti fatia ela a rodelinha e bota pra secar aiacute depois qui tiver seco a genti bota no liquidificador nu pilatildeu pisa i faz aquela
tapioquinha pra usar eacute ou nu mingau ou qui seja na comida ou si quizer pra fazer arreaccedilatildeu
eacute a genti toma eli mais avutadu neacute faz um chatilde bem forti toma eli faz arreaccedilatildeu mas essi dai eu nunca vi a minha voacute qui dizia que fazia mas eu nunca fez eu mesma neacute mas a minha voacute
dizia qui elis faziam u batatatildeu i quandu a genti taacute com problema nu sangui a genti toma assim us pocu por que eli tantu eli pru sagui da genti eli faz assim normaliza u sangui
da genti si a gente tiver com sangui fraco demais eli aumenta si tiver forti eacute uma erva qui eli normaliza u sangui da genti pra mulher qui taacute graacutevida eacute muitu bom tomar tambeim eli
faz limpeza nu sangui da genti eli faz limpeza nu sangui tem muitu genti assim crianccedila que tem muita assim qualquer coisinha daacute aquelis ferimentus neacute qui aacute a crianccedila tem problema
nu sangui aacute entatildeu eacute muitu bom tomar qui eli faz a limpeza nu sangui eli purifica u sanguitem folha tem flor a folha dela eacute quasi qui neim assim u formatu dum coraccedilatildeu
assim pu pesinhu da folha eacute larguinhu i paacute pontinha da folha eacute beim istreitinhu natildeu ela eacute pequenininha meacutedia ela eacute meacutedia ela eacute menas di qui a folha da vaca menor aiacute natildeu natildeu qui
neim folha de batata qui nem uma folha di bataba neacute batata doci ela eacute daqueli formatu soacute qui sempri a folha da batata eacute trecircs trecircs dedu trecircs sepraccedilatildeu trecircs parti ela eacute soacute uma pu
pesinhu da folha eacute largu paacute pontinha ela eacute estreita a flor delasim a flor dela ela coloca a flor aqui aiacute a flor abri a flor eacute assim uma flor tipu quasi qui nem a flor du maracujaacute
tambeim ela fica uma flor por aqui eu nem sei neim dizer comu eacute qui eacute a flor dela mais ela fica ela abri assim ai fica dentru fica aqueli miolinhu assim ai ela bota aqueli fica tipo a du
girassol assim qui eacute a florzinha dela neacute nu formatu du girassolsim issuela eacute meiu amarelada assim uma cor parda i sempri eli bota flor sempri nu veratildeu tambeacuteim quandu eli
botaela eacute du veratildeu ela nasci aqui nu invernu aiacute ela vai crescendu quandu ela taacute crescendu a batata dela taacute verdi aiacute quandu ela eacute que nem o caraacute quandu ela vai morrendu
eacute qui a batata taacute boa di arrancar nu veratildeu taacuteboa eacute porque nu veratildeu eacute qui ela taacute eacute qui ela ta madura a batata dela qui eacute pra genti arrancar por que nu inverno ela ( )i isso isso seca
as folhas seca e aiacute a batata ta madura boa di arrancar
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
A raiacutez eacute usada para purificar o sangue hemorragias fraqueza
Fu Formas de uso
A raiacutez eacute seca e triturada em poacute para usar como massa em minguaus ou o chaacute bem forte da raiacutez
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome vem do tamanho da raiacutez que eacute no formato de batata com dimensatildeo grande
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
182
APEcircNDICE J ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCapitiuacuterdquo
Fotografia 39 ndashCapitiuacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 17 CAPITIUacute
Lx Lexema Capitiuacute
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo ((sorriu)) o capitiuacute eacute uma arve nativa ela natildeo eacute uma planta ela eacute nativa ela eacute () no
cerrado eacutela a folha dela eacute grande ela eacute quenem a arve do cafeacute eacute grande a folha eacute do
mesmo modelo da folha de cafeacute aiacute pra do de cabeccedila tiver aquela doacute de cabeccedila enjoada
que natildeo passa qualquer doe a cabeccedila do nada tem gente que tem muita doacute de cabeccedila
eu graccedilas a Deus num so muito assim natildeo mas tem gente neacute hocirc minha cabeccedila docirc so
serve com doacute de cabeccedila isso a gente pega ela monte de folha quebratudinho bota pra ferver deixa no cereno quando eacute de manhatilde banha a cabeccedila muito bom pra tirar
aborrecimento aquela dozinha esse outro eacute chaacute mas natildeo eacute pra tomar o chaacute e soacute pra
lavar a cabeccedila eacute o banho de cabeccedila que a gente chama neacute eacute soacute pra isso que eu sei a
serventia eu sei pra isso que noacutes fazia capitiu eacute por assim ele eacute um pitiu num eacute cheiro
so se panha assim e cheirar tu vai dizer que o banho dele vai ficar daquele emo jeito
mas muda o cheiro dele cruacute eacute um jeito mas depois que ferve ele muda o cheiro dele ele
cruacute e pitiuacute jaacute taacute dizendo capitiu eacute assim um cheiro de peixe sei laacute um cheiro assim ele eacute
pitiu mesmo mas o cheiro dele depois de cozinhado ele natildeo fica ele muda pode banhar
a cabeccedila que ele fica assim sempre recedendo o cabelo da gente
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de cabeccedila enjoo e enxaquecas
Fu Formas de
uso
Chaacutes para banhar a cabeccedila (depois de ferver as folhas deixar no sereno da noite lavar a
cabeccedila na manhatilde cedo)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta na forma natural tem cheiro muito forte pitiuacute
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
183
APEcircNDICE L - Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCarrapicho Agudordquo
Fotografia 40 ndashCarrapicho Agudo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 18 CARRAPICHO AGUDO
Lx Lexema Carrapicho Agudo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico masculino
Df Definiccedilatildeo esse um eli tem eli eli cresci assim ateacute um metru i meiu di altura assim eu jaacute vi neacute
mais eli vai ateacute uns certus tempu eli eli si acaba tambeacutem eli num eacute num eacute uma arvri
que permanenci ali por certus tempu natildeo eli eli sempri eli nasci nu periacuteodu da
chuva aiacute quandu vai chegandu u secu eli eli jaacute vai si acabandu eli comeccedila a botar flor
botar as sementinhas daiacute a tendencia deli eacute morrer cai aqueli um pra nascer otru di
novu eli eli eacute nativu tambeacutem neacute eli num fica eli num fica uma arvri eli permaneci doi um ano dois ano soacute uma arvri natildeo eli morri aqueli um nasci otru di novu ele eacute uma
arvri qui eli cresci i eli bota uns galinho ele fica todu espalhadinhu assim os galhu deli
na ponta dos galhu eacute qui eli bota a sementinha deli tipo uma uma esporinha por aqui
tem com certeza qui tem assim por essa nessa invasatildeo neacute eu tenhu certeza tenhu toda
certeza qui tem esse matu eacute a folha deli eacute uma palmazinha eacute eacute assim uma folha
assim aiacute ela eacute toda repartidinha toda repartidinha toda uma samambaia sabi u qui eacute
samambaia ela eacute daqueli formatu di samambaia eacute toda repartidinha isso toda toda
partidinha assim a folhinha dele ( ) bota folha daiacute tem sai pedacim pra todo canto
assim a folha deli a flozinha deli eacute quandu antis deli abrir us carrapichim fica
abertinha eacute amarelinha ( ) u miolim da flor eacute amarelim neacute a depois qui qui ela abri qui
ela fica assim () ela bota florzinha agora assim eacute aquelis carrapichim qui eacute tudu agarradu quandu agenti qui eli taacute maduru agenti passa assim eli jaacute si agarra na ropa
da genti aquela isporinha nu fimzim daqueli coizinha tem aquela esporinha qui si
agarra na genti eacute na folha na flor dela eacute a sementi aquilu eacute a semente u carrapichu
qui agenti chama eacute a sementi neacute qui aqueli qui cai no chatildeu qui nasci otru natildeu eacute da
raiz da avre eacute da raiz eacute da raiz arranca eli aiacute lava rapa alguma qui seji e cuzinha i
faz o chaacute natildeu eli eacute assim qui nem na grussura dum dedu eli ateacute qui eli eacute uma avre
assim quandu assim a terra eacute boa qui eacute uma terra assim bem neacute eli eli daacute um tamanhu
assim dum metru i meio por aiacute assim neacute quandu eacute aquela terrinha meia meia cansada
meia meia batida meia dura assim eli eli cresci pequenu mas eli cresci eu jaacute vi assim
jaacute vai dependecirc da terra ela eacute uma achu qui ela eacute uma erva uma erva ela eacute du fri du
friu porque ateacute quandu chega a eacutepoca du veratildeu ela morri neacute ela nasci ( ) um tempu
dessi du veratildeu qui jaacute si passo u veratildeu laacute vocecirc passava laacute ela tava toda mortinha assim soacute os carrapichim dentro agora com a chuva qui ta dandu ela jaacute ela jaacute caiu agora ela
vai nascer ela ela vai nascer tudim quando aiacute ela crece ali aiacute aiacute quando ir che
chegando o veratildeo eacute eacutepoca qui ela vai morrer di novu qui o carrapichu dela cai nu
chatildeu daiacute ele nasce outro vem outro vem nativa eacute ela eacute nativa
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
184
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Eacute usada a raiz da planta
Fu Formas de
uso
Usada na forma de chaacutes para Icteriacutecia (amarelo da pele nas crianccedilas)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
185
APEcircNDICE M ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCatinga de Mulatardquo
Fotografia 41 ndashCatinga de Mulata com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 19 CATINGA DE MULATA
Lx Lexema Catinga de mulata
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo tem eu acho muita cheirosa eacute catinga de mulata num sei porque mulata eacute uma coisa
que mulata neacute jaacute sabe eacute caatiga de mulata eacute eacute o contraacuterio pra dizer cheiro de mulata
((sorriu)) por mim se fosse eu que fosse colocar num colocar num colocava catinga eacute
ela tem um cheiro forte pois eacute se fosse no meu caso fosse butar nome natildeo ia dizer
catinga a dizer cheiro de mulata mas eacute catinga de mulata eacute eacute pra varas coisas tambeacutem
eacute pra febre doacute de cabeccedila doacute de estamagu isso ela eacute uma planta eacute natildeo ela faz mas natildeo e
muito disiflamatoacuterio que eu tenho conhecimento dele ser desiflamatoacuterio natildeo ela eacute
assim pra bo despachar gases dentro da gente bom pra isso pra doacute de cabeccedila tambeacutem
eacute bom pra tudo isso tambeacutem ela eacute pequena desse modelo catinga de mulata desse
moledo dessa grande ai sim natildeo desse outro laacute come eacute o nome estoraque neacute isso ai manjericatildeo ele eacute pequeno soacute a folhinha dela eacute maiozinha um pouquinho mas
arendondada um pouquinho um poquinho mas eacute esse modelo eacute natildeo mas se tu natildeo
conhece assim se nem conhece a planta num vai conhecer pelo cheiro porque esse
aqui esse aqui eacute mais eacute mais durinho a catinga de mulata ela eacute mais ela eacute mais copada
e mais assim comueacute que eu quero dizer assim eacute mais fraacutegil o galhim dela pra quebrar
ela eacute assim mais ragadinho mais assim eacute delicado sim eacute esse daqui natildeo a gente ve que
ele ele eacute tipo uma madeira tipo assim neacute bem assim mas durinho e a catinga de
mulata ela eacute mas quanto mais ela eacute adubada que ela fi mas ela fica eacute ((sorriu)) eu
acho que porque ela eacute muita dengosa a catinga de mulata ((sorriu))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas caule e raiz satildeo usados para febre dor de cabeccedila no estocircmago
desinflamatoacuterio e gases estomacais
Fu Formas de uso
Chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem cheiro agradaacutevel catinga seria o antocircnimo de cheirosa
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
186
APEcircNDICE N - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCibalenardquo
Fotografia 42 ndashCibalena com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 20 CIBALENA
Lx Lexema Cibalena
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh eacuteh uma planta que nem a cidreira do mesmo modelo da cidreira tudo do um a
cidrera folha os galhos dela ela e brom bom pra febre doacute de cabeccedila tambeacutem neacute que
a cibalena na na farmaacutecia ela nu eacute bom pra febre pra febre pra doacute ela eacute do mesmo
jeito tambeacutem hurum o chaacute o chaacute eacute da folha do mais eacute das folha das folhas das arve ( )
natildeo tambeacutem natildeo
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para dores de cabeccedila febre e dores em geral
Fu Formas de
uso
Chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
187
APEcircNDICE O ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoCoraminardquo
Fotografia 43 ndashCoramina com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 21 CORAMINA
Lx Lexema Coramina
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva ela eacute na natildeo ela eacute caseira ela e do frio do frio eacuteh ela essa daiacute
eu natildeo sei dizer muito bem o formato dela eacute e e a minha voacute dizia que era muito pro
problema de coraccedilatildeo tivesse sofrendo do coraccedilatildeo probremas aqueles agonia aquelas coisa fizesse o chaacute dela pra tomar mais soacute que eu natildeo conheccedilo bem essa
planta natildeo jaacute nu sei dizer isso aqui eacute o coramina soacute qui a minha voacute dizia assim o
coramina eacute bom pra quem tem o problema de coraccedilatildeo aquelas ferruaduras num tem
dar umas dor umas ferrruada ela dizia que era muito bom pra soacute sei que eacute bom
pra isso pra coraccedilatildeo olha com certeza
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas para problemas no coraccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes para dores no coraccedilatildeo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
188
APEcircNDICE P ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoCrista de Galordquo
Fotografia 44 ndash Crista de Galo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 22 CRISTA DE GALO
Lx Lexema Criacutesta de galo
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo esse daiacute eu natildeo vou dizer com garrafa porque eu nunca fez aquilo que eu nunca fez
num tenho assim um uma seguranccedila pra remeacutedio assim eacute eacute assim que os outros diz neacute
coquei ele como remeacutedio porque os outros que me indicaram ele eacute bom pra coraccedilatildeo
que tem problema de coraccedilatildeo coraccedilatildeo de bate acelerado bate num se que ele eacute bom
pra fazer o chaacute da crista da da flor da flor mesmo hurum mas soacute assim foi indicado
por o outra pessoa assim que tambeacutem tem conhecimento neacutew aiacute diz tambeacutem ela eacute que
nem uma criacutesta de galo ela daacute assim () uma os pezinhos dela agora aqui ela faz tipo
um folhinho uma coisa assim neacute espanhadinho e aiacute tem uns peacutenhinhos assim no pezinho da folha tem uns peacutenhinhos isso isso hurum natildeo eu tenho eacute assim que os outro
jaacute me indicou
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Eacute utilizada a flor da planta que tem formato de crista de galo para coraccedilatildeo acelerado
ou problemas do coraccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Pode ser feito o chaacute da flor ou usado na garrafada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
189
APEcircNDICE Q ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoErvatildeordquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 23 ERVAtildeO Lx Lexema Ervatildeo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma erva nativa eliele eacuteh do baixo do alagadoele nunca da assim no seco
natildeosempre ele daacute no lugar que eacute molhadoumiduclima molhado eacutemas se
tiverela precisa da quele ambiente que esteja molhado que ta assim com aquela
parte da lama daquela agua grossaela natildeu eacuteh da terra seca da terra limpa assime
num so da em aguada na quela agua que esteja misturado com aquela terracom
aquele limu que ela gostaela eacute pequenaela eacute fina tambeacutem assim o caulizim dela ela
sim eacute de quina tem umas quinalzinho a folha dela eacute cumpridinha estreita e ela eacute boa
pra tomar ela nunca fez ela eacute boa pra dor de cabeccedilafazer o chaacutefaz o cha da
folhapega tudim elebota pra cozinhar e deixa no sereno e di manhatilde banha a cabeccedila vai usando assim diretamentetem umas dor de cabeccedila encravadaa minha
cabeccedila nu passa nu sei o queuma dor de cabeccedila enjuada eacuteh fazer isso aiacutenatildeo sei
porque desse nome de ervatildeo natildeo sei porque eacute uma ervaela num eacute tatildeo grande pra ser
ervatildeoela num eacute tao grande ela tem uma florzinha bem pequenininhabem
roxinhabem piquinininhamas eacute folhamais tem um tem que ela tem as florzinhas
bem piquinininha bem roxinha
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e enxaqueca
Fu Formas de
uso
O chaacute das folhas e depois repousando no sereno da noite a cabeccedila eacute lavada com o chaacute
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
190
APEcircNDICE R - Informaccedilotildees gerais do termo ldquoEucaliptordquo
Fotografia 45 ndashEucalipto com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 24 EUCALIPTO
Lx Lexema Eucaliacutepto
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ele eacute uma arvenha tambeacutem ele natildeo da muito do que eu conheccedilo num sei se tem uns eacute
natildeo ela natildeo eacute muito pequena ela eacute meacutedio ela num eacute muito pequena natildeo ela eacute boa pra
febre a gente usa ela pra febre o chaacute comu eu tocirc dizendo eu assim uso mas as tintutas
eu gosto de fazer mais as tinturas pra febre pode o chaacute isso pode pode fazer o chaacute e
pode usar a tintura pra febre eacute e pra febre eacute natildeo natildeo tambeacutem num sei natildeo nunca viacute flor dela nunca vi soacute soacute folhas compridas bem compridi compridinha comprida assim
com a ponta fina ela eacute estreita ela natildeo eacute largona natildeo ela eacute estreita pezinho da natildeo
((sorriu)) hurum conhece a vinagreira conhece vinagreira () soacute que ela eacute pouco
diferente soacute uma folha da vinagreira dela do eucalipto num tem uma folha aqui que
compara mas ela eacute assim olha assim cabeccedila assim e a ponta dela eacute mais fina o pezinho
dela eacute mais larguim e pontinha dela eacute () ((sorriu))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Utiliza as folhas para febre em geral
Fu Formas de
uso
Chaacutes e tinturas para febre
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a moradora referir-se agrave aacutervore
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
191
APEcircNDICE S ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoGeniporanardquo
Fotografia 46 ndash Geniporana com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 25 GENIPORANA
Lx Lexema Geninporana
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo um noacutes jaacute fazemos tudo isso em ((sorriu)) seraacute que nu taacute adoccedilado ((sorriu)) eacute um uma
arve nativa eacute ( ) e ela eacute tambeacutem assim modelo do cafeacute da arve do cafeacute ( ) eacute a mesma coisa
tambeacutem a folha dele eacute assim isso aiacute ele eacute bom pra picade di inseto cobra de copiatildeo essas coisas neacutew tiar o sumo da do caulhe dele tirar assim tirar aquela casca o entrecasca eacute bom
o entrecasca aquele do de cima ela natildeo natildeo a gente tira o sumo a gente faz assim tira o entrecasca dela daacute uma raspada assim assim meio pra sair tipo uma bucha assim ai bota
uma aacutegua isso ((sorriu)) eacute acho que ((sorriu)) eacute hurum eacute divide ser eacute u acho eacute eu acho metade dessa coisa eacute assim os indiacuteos que descobriu esse nome neacute que os indiacuteos para () eacute
os indiacuteos que que sabe porque esse nome porque assim os meu irmatildeo que eles aprenderam com meu pai porque meu pai tem sangue indiacutegena ele fazia ( ) ( ) aiacute meus irmatildeo eu
aprendia com meus irmatildeo papai ensinava neacute ai ele aprendia ele fazia porque assim vocecirc pega uma vara uma varinha assim vocecirc enrola ele aqui o tanto vocecirc podir natildeo quebra
natildeo fica do mesmo jeito do arco do iacutendio aiacute eu acho que ele tem relaccedilatildeo com os iacutendios que colocaram esse nome tavez neacute porque esse daiacute eu sei assim ele natildeo quebra neacute vocecirc
pega aqui ele num quebra ele eacute ele eacute isso vai depender da grussura dele tambeacutem neacute horriacutevel hurum isso hurum pra cortar o veneno ((sorriu))
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Utilizados a folhas entrecasca e caule para picadas de insetos cobra escorpiatildeo
Fu Formas de
uso
Do caule eacute retirado o sumo (colocado de molho na agua)
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
192
APEcircNDICE T ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoHortelanzinhordquo
Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELANZINHO
Lx Lexema Hortelanzinho
V Variante Malvarisco
Cg Classe Gramatical Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo oh hortelanzinho eacute desse eu chamo pra esse hortelam sim porque assim tem
tem uma parinca que eacute hortelam tambeacutem eacute o grande aiacute tem desse pocha entatildeo
hortelam pimenta hortelam roxo e tem o hortelanzinho que eacute o hortelam nenecirc
que eacute o hortelam nenecirc hortelam nenecirc e esse eacute o hortelanzinho que eu chamo porque depois desse daiacute () hortelam sim grande eacute a folha dele grande eacute o
mesmo malvarisco isso eacute sim e tem o hortelam nnecirc eacute o menor de todas isso isso
essa daiacute tanto faz se da outra dessa dai serve para tomar chaacute serve pra butar nu
suco ela serve pode pegar o suco de qualquer coisa de limatildeo sei laacute du que for e
bater uma folhinha dele junto fazer charope eacute e memu coisa de hortelam nenecirc o
nenecirc ele eacute proprio pra nenecirc mesmo crianccedila mesmo eacute do tamanho e da cor
porque o hortelam nenecirc ele eacute branquinho ele num eacute roxinho ele eacute assim natildeo a
folha tudo que nem essa arve que taacute aiacute disse daqui natildeo o hortelazinho ele eacute
roxinho isso ele eacute roxinho o hortelam nenecirc eacute tudo assim eacute folha eacute o galhim dele
eacute tido assim eacute isso o hortelam grande jaacute eacute maior as folha dele eacute tido assim eacute tem
eacute eacute maior a folha dele eacute mais grossa a folha dele eacute bem grossa e serve tambeacutem pra o comu tempero comu por enquanto agora eu tenho hurum eacute neacute o hortelam
grande eacute daquele mesmo modelo o hortelam grande eacute eu acho que num sei natildeo
num sei e num sei dizer cume se tem doutro tipo tipo neacute eu soacute conheccedilo essa
trecircs tipo agora num sei se muda o nome desse mesmo do hortelanzinho eacute a
mesma pimenta num sei natildeo () natildeo
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas nos chaacutes e sucos
Fu Formas de uso Chaacutes xaropes e em sucos
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Tambeacutem conhecido pela variante malvarisco
Dc Data da Coleta 04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
193
APEcircNDICE U ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoHortelatilde Neneacutemrdquo
Fotografia 47 ndash Hortelatilde Neneacutem com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 26 HORTELAtilde NENEacuteM
Lx Lexema HortelatildeNeneacutem
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo porque ele eacuteh mais miudim doque todas do que os outros eacute ela eacute mais a folha dele eacute
do mesmo mesmo formato desse mesmo modelo soacute que ele eacute miudinho ele bran sim soacute
que ele eacute miudinho e eacute jaacute ele eacute roxinho esse daqui eacute roxinho esse um eacute branco tambeacutem
hurum mas ndem eacute natildeo eacute hortelam ela eacute mais pequenininha ele eacute todo assim
branquinho assim essa folha dessa coisa assim ele natildeo eacute roxinho assim natildeo eu tenho
laacute em casa eacute fazer chaacute pra bebe recenacido quando faze gripado tossindo injuado eacute
bom fazer chazinho pra daacute charope eacute isso neacute tosse com certeza eacute mesma coisa hurum eacute eu acho que ela eacute proacutepria pra crianccedila pra bebecirc mesmo pra bebecirc eacuteh quela eacute
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para gripes e tosses em receacutem-nascidos
Fu Formas de
uso
Chaacutes e xaropes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
194
APEcircNDICE V ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoJambu Roxordquo
Fotografia 48 ndashJambu Roxo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 27 JAMBU ROXO
Lx Lexema Jambu roxo
Va Variante Jamburana
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo planta rasteira do molhado de clima uacutemido eacute a mesma coisa que agente comi no
tacaca que faz eh a cor ela eacute nativa de tempu umidu ela serve pra do de
estomagu figadu quando com algum problema no figadu assim cuando consegue
almoccedila e num consegue janta aquilo parece que num desfaz parece todo tempu
cheio eacute problema nu figadu tem de faze o cha eacute de folha de flor com raiz com tudo o
importante eacute lavar bem lavadim e botas pra ferver com tudo e toma o cha a flozinha e amarelinha bem amarelinha mais do que o outro eacute bem amarelinha quase
roxinha eacute um poco menorzinha
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo usadas as folhas flor raiz tudo bem lavado
Fu Formas de
uso
Utiliza-se o chaacute para dores no estocircmago problemas de digestatildeo e no fiacutegado
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A cor da flor amarela bem forte diferencia as espeacutecies
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
195
APEcircNDICE X ndash Informaccedilotildees gerais sobre o termo ldquoJenipapordquo
Fotografia 49 ndash Jenipapo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 28 JENIPAPO
Lx Lexema Jenipapo
Cg Classe
Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma arve muita grande nativa tambeacutem ela nativa ela eacute grande tem fruto e do
fruto que a gente faz ela eacute o u o genipapo ele eacute rico em vitamina pra anemia agora que
eacute difiacutecil achar uma gente que diga que gosta num gostei natildeo o cheiro dele eacute muito
forte do fruto dele eacute forte o cheiro aquele cheiro eacute um cheiro forte mesmo assim comu coisa assim tava comu assim um litro de cinquenta e um assim que eacute o cheiro dele tem
gente que num gosta daquele mas ele eacute rico em vitamina pra quem taacute aneacutemico pra ele
eacute muito bom () ele eacute assim deste tamanho laranja isso quando ele taacute verde ele eacute duro
quando cai ele eacute mole ele fica eacute o suco pega ele eacute expreme bota accediluacutecar e pra tomar o
suco dele tirando disso fazer o licor tambeacutem eu uso laacute em casa mas pra fazer licor a
gente bota no aacutelcool no cinquenta e umo aiacute mas eacute mas mas aiacute depois a gente faz uma
garrafa de accediluacutecar diminui e diminui isso aiacute eacute pra bebida isso bebida pra quem gosta
de () o fruto o suco do fruto pra remeacutedio eacute tambeacutem assim ce tiver eacute uma rasgadura
uma qualquer coisa porque num sei se tu jaacute viu crianccedila que fica assim cum umbigo
grande assim a gente coloca o dedo a gente coloca o dedo a gente sente que aquele
que rasgado um vai laacute na arvore do jenipapo a arve dele tando vivo verde tira um tampinho da casca e vai aperta trecircs vezes no imbgo da crianccedila e vai coloca la dentro
tampinho no mesmo canto aiacute aiacute conforme aquele tampinho vai colocando vai sarando
ali ai vai diminuindo a a rasgadura na inbigo isso aiacute eu tenho poque eu fiz pro meu
filho ficar bom hoje ele eacuteh rapaz num tem quem diga o que ele era nunca passei com
meacutedico pra dizer doutor me diga o que eacute o que eacute o que isso nunca natildeo foi isso remeacutedio
que ensinavam natildeo riacute sim tuacute vai laacute um tampim assim neacute vai uma comparaccedilatildeo teacute
mede o tamanho do imbigo aqui e vai mede laacute no no quarto tira o tamanhinho que eacute e
vai aperta trecircs vezes aquele pedacinho de casca no umbigo e vai cola laacute de novo bota
no mesmo cantim deixa laacute ficar coladinho aiacute aquela casca vai cola de nova e colando
aliacute a ela ela assadura vai colando vai diminuindo neacute eu fiz com meu filho me
ensinavam neacute e eu fazia hurum
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de Casca para problemas no umbigo e frutos para bebidas
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
196
uso
Fu Formas de
uso
O fruto maduro eacute usado para fazer licor (accediluacutecar e bebida alcooacutelica) uso da casca para
rasgadura problemas no umbigo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
197
APEcircNDICE Y ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMamatildeordquo
Fotografia 50 ndash Mamatildeo com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 29 MAMAtildeO
Lx Lexema Mamatildeo
Cg Classe Gramatical
Substantivo masculino
Df Definiccedilatildeo uh mamatildeo tanto ele eacute vitamina neacute ele eacute rico em vitamina o mamatildeo pra crianccedila pra idoso pra tudo eh como a semente dela eacute muito bom agente faze eh remeacutedio pra
coloca verme cum a sementi dele pega a sementi dele seca bem sequinha assim bem
seguinha agente torra ela bem torradinha ai soca bemai bota um poco demassa de
trigo de farinha de trigo ai da uma misturadinha ai faz um modelo dumas piulinha eh
muito bom prafazer as piulinha pra tomar pra verminose
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
A fruta eacute consumida como alimento e as sementes satildeo trituradas para uso medicinal
Fu Formas de
uso
As sementes satildeo trituradas misturadas com trigo e feitas as piacutelulas contra as vermes
em crianccedilas
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
198
APEcircNDICE Z ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMangueirardquo
Fotografia 51 ndash Mangueira com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 30 MANGUEIRA
Lx Lexema Mangueira
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Feminino
Df Definiccedilatildeo a mangueira ela eacute bem grandi eacuteh uma planta tambeacutem ela eacute caseira agora ela eacute
muito boa de nascer todo quase caroccedilo dela nasce neacute e nu clima frio eacuteh num frio eacute folha comprida estreita bem comprida e estreita a semete eacute uma semente bem
grande que que ta que ta dentro do fruto neacute eacute assim um pouco chata a manga eacute a
manga eacuteh tem tem tem flor dela flor ela coloca assim uma assim tipo uma bage
uma coisa assim uma flor assim assim uns pivatildeozim neacute e vai colocando as flor dela
e a flor dela eacute bem piquinhinha as depois o fruto nasce dali da flor ele vai crescendo
eacuteh ela eacute uma arvore bem grandi cauli bem grosso eacute muito grande ela uns cinco
metros acho que ateacute mais de cinco metru ela eacute bem grande noacutes usa ela praa
diarreia quando ta com muita diarreia e eh fazer o cha da do entre casca pra
diarreia e pra tosse tambeacutem fazer o lambedor eacute do entre casca tirar aquele entre
casca do caule por que aquela casca de cima natildeo serve pra nada ai ah madeira
tambeacutem eacute o entre casca ai tira e faz o lambedo ela eacute travosa eacute travosa eacute ela eacute menos travosa que uh uh cajoeiro eacute amarela o cajoeiro eacute vermelho tomu cha
ou entatildeo faz o xarope o lambedo como diz o xarope o xarope eacute um pouco mais
grosso a gente tira o entre casca se tira ele bem limpinho se tiver o cuidado num
carece lavar se sair um sujinhu tem que lavar e bota pra cozinhar as depois que
tira agua que para eacuteh coa ele e colocao mel o accediluacutecar que eacute pra ele ficar assim tipo
dum xarope vai apurando ai tira coloca num vidro bem limpo e fica tomando isso eacute
pra crianccedila quando ta gripadu com tosse o xarope e pra diareacuteia eacute o chaacute faz o cha
dele e toma nois usa
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Para diarreia e tosse eacute usado o entre casca
Fu Formas de
uso
Para diarreia eacute feito o cha do entre casca para tosse e gripe eacute feito o ldquolambedorrdquo o
xarope eacute feito do cozimento do entre casca com o accediluacutecar
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
199
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
200
APEcircNDICE AA ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMaracujaacuterdquo
Fotografia 52 ndash Maracujaacute com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 31 MARACUJAacute
Lx Lexema Maracujaacute
Cg Classe Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo maracujaacute eacute folha eacute a fruta eacute a flor tudo serve eacute uma planta ela eacute caseira
maracujaacute ela da em todo todo clima mas eacute melhor eacute no frio mais ela da em todos
todo tempo ela sempre ela daacute a folha eacute redonda eacute assim num eacute redonda natildeo
tem trecircs parte a folha dela do maracujaacute ela eacute bem grandi tem trecircs partes trecircs
separaccedilatildeo assim trecircs dedo como nois diz assim ela natildeo eacute redonda trecircs biquinho
tudo junto com certeza eacute uma folha meacutedia e a sementinha dela eacute chatinha eacuteh
dentro do fruto bota o fruto e dentro uma sementinha a folha dela eacute bem grandi
afror dela eacute bem grandi assim eacuteh rouxinha assim aberandu o branco e por
dentro do miolinho eacuteh rouxinho cabeludinho o caule eacute fino eacuteh um cipoacute ela daacute
assim ela eacute grandi por que se ela pegar uma planta sobe inteacute de acordo com a
planta ela vai botando os galhos ai ela vai subindo ela serve pra eacuteh pressatildeo auta ela ela eacute calmante o maracujaacute ela eacute calmante e tanto faz ser a folha
comu a flor Comu uh suco dela a fruta ela eacute calmante qualquer parte se natildeo
tiver o fruto pra genti tomar o suco fazer o chaacute da folha se tiver a fror pode fazer
o chaacute que ela eacute calmante pra quem ta com estressi pra quem ta com falta de sonu
a gente pode usar de tudo aleacutem disso de tem muita vitamina no suco e muita genti que
tem muito estressi muita pressatildeo alta pode usar o chaacute pode usar o suco
diretamente eu digo isso por que eu gosto muito e o chaacute eacute o suco que eu mais gosto
in ateacute agora eu to com cinquenta e dois anos e nunca aumentou minha pressatildeo graccedilas
Deus natildeo tenho pressatildeo alta ah eu gosto muito eacute o suco que eu mais gosto ela da
sempre
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
Folhas e flores satildeo usadas como calmantes baixar a pressatildeo alta e diminuir o estresse
Fu Formas de
uso
Os chaacutes das folhas e da flor como o suco do fruto
Fn Finalidade Medicinal e Alimento
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo encontra-se no feminino devido a informante referir-se a planta
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
201
APEcircNDICE BB ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMastruzrdquo
Fotografia 53 ndash Mastruz com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 32 MASTRUZ
Lx Lexema Mastruz
Cg Classe
Gramatical
Substantivo Masculino
Df Definiccedilatildeo olha eli eacute du ele eacute du friumais eli eacute du friu mas eli num eacute aquela aquela qui gosta
muitu du friu eli gosta du friu mais eli gosta tambeim bastanti da quinturadus dois eacute
ele num eacute eli eacute tem a sementinha delinatildeo eli daacute em qualquer ambienti eli daacute nu vasu
eli daacute chatildeo nu abertu nu fechadu nu quintau fora du quintal nu nu como eacutenu vazu em
todu jeitu eli daacute u mastruz eacute em todu jeitu pega eli joga a sementi aqui eli nasci daiacute eli
vai crescer si eli eli tem bastanti duraccedilatildeu eli dura um ano mais di um anu neacute soacute qui eacute
assim cai a sementinha deli tambeacuteim aqueli um jaacute morreu vai ficandu velhu vai
morrendu e u otru jaacute vai nascendu aqui u mastrus eli eli eacute assim eacute na terra qui eli si daacute eacute dificilmenti eli eli si acabar porque nasci a sementinha deli assim eacute bem
pequenininha bem pequenininha mais eli antis daqueli sementinha cair eli jaacute nasci
aqui eli jaacute nasci demais aiela eacute alta muita alta natildeu mas ela daacute por aqui assim ela daacute
ateacute um metru menus dum metru um poquinhu neacute as veiz ela ela bota galinhu tambeacutem
por todu cantu as vezis quandu eacute uma terra boa ela fica bonitanatildeu ela eacute planta
caseira ela num eacute nativa natildeu ela eacute caseiraeacute compridinha a folha dela eacute compridinha
eacute soacute uma folinha i tem uns dedinhus assim qui sai uns biquinhus assim uns
bordadinhus neacute na folinha delaa flor dela eu nunca vi a flor dela bota sementinha a
flor dela eu natildeu sei comu eacute qui eacute neacute tem a sementinha a sementinha eacute agarradinha
tudu ali pela galhu dela pelu nu tronquinhu da folha dela ela jaacute bota aqueli galinhu i eacute
aqueli galinhu jaacute vai botandu a sementinha a sementinha dela eacute bem pequenininha bem uma coisinha muita muidinha mesmu( )mastruz eli tem dois nomi mastruz i erva
santa maria neacuteerva santa maria natildeu noacutes aprendemos assim pelu livru eu conheci por
mastruz mesmu aiacute depois quandu veiu um livru qui era pra gente estudar erva-santa
maria erva santa maria a genti foi ver tava laacute a fotu deli i conhecemus qui eacute o mesmu
mastruz
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para machucados anti-inflamatoacuterio
Fu Formas de
uso
As folhas satildeo amassadas e colocadas no local do ferimento ingerido ou o chaacute das
folhas
Fn Finalidade Medicinal
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
202
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
203
APEcircNDICE CCndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMelatildeo de Satildeo Caetanordquo
Fotografia 54 ndash Melatildeo de Satildeo Caetano com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 33 MELAtildeO SAtildeO CAETANO
Lx Lexema Melatildeo Satildeo Caetano
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Masculino
Df Definiccedilatildeo esse ai eacuteh nativo eacute uma verele eacuteh um cipozinho beim do tipo uma trepadeira ele vai a donde tem uma arviele se apodera pra ele sobre pra laacute onde tem uma
arvoreele se pega tambeacutem ele eacuteh do clima friodo invernomais no veratildeo ele
sempre somi ele eacuteh nativo tambei ele num eacute uma planta assim ele eacuteh nativo no
roccedilado quando a gente botou no roccedilado pra genti plantar assim gosta de nascer
aiacute ele eacuteh assim ver uma arvore assim ele se apodera pra subir ele eacuteh um
cipozinho bem fininhovive junto com a planta natildeo natildeo ele eacuteh muito durativo
vai vai um certo ponto quando o veratildeo acocha muito ele fracassaeacuteh ele fica
assim bem fraquinhele eacuteh assimo jeito dele e que nem maxixe assimquando
ele taacute pegando o maxixequando agenti planta nu nu geral ele fica que ele rama
assimeacuteh o melau satildeo caetano as folhinha dele eacute pequena menor que a folha de
maxixeredondinha eacute eacuteredondinhaos galinhu delo cipozim eacuteh bem finin me
daacute aquele cipoacute eacuteh bem mais fino que o cipoacute do maracujaacute muito bem mais fininhofininho mesmo eacute eacutehela bota uma florzinha amarelinha soacute uma
florzinha amarela ( ) ai despois o frutinho deleele bota um frutinho pequeninho
eacute eacuteh assim peludinho que nem uns picozinhus quem nem maxixe redondinho
assimtambeacutem meteacute agora num sei dizer se serve pra alguma coisa faz o
remeacutedio da folhaeacuteh o chaacuteeu uso na garrafadaservipra inframaccedilatildeo
tudotodo tipo de inflamaccedilaotildeai eu pego eleeu seco e bem sequinho na
sombra ai eu uso na garrafadana garrafada que eu usopor isso eu digo as
mias garrafadas todo tipo de remeacutedio eu coloco laacuteque serve pra uma
coisaser pra outrao frutuquando ta maduro eacuteh amarelinhuquando ta
verdi parece maxixequando taacute ele amadurece fica amarelinhusimamarelo
melau satildeo caetanonatildeo sei dizer
Fd Fonte de Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso As folhas satildeo usadas na garrafada para inflamaccedilotildees
Fu Formas de uso O cha das folhas para inflamaccedilotildees e tambeacutem as folhas secas satildeo usadas na
garrafada para todo tipo de inflamaccedilatildeo
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Domingas Alves de Sousa 53 anos
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
204
Informante
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash
PPGLSA)
Nt Nota Quando a planta esta verde tem aparecircncia de maxixe quando maduro na cor amarela tem aspecto de um melatildeo pequeno
Dc Data da Coleta 04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
205
APEcircNDICE DD ndash Informaccedilotildees gerais do termo ldquoMortinha Miuacutedardquo
Fotografia 55 ndash Mortinha Miuacuteda com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 34 MORTINHA MIUacuteDA
Lx Lexema Mortinha Miuacuteda
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh ela eacute parente da mortinha peluda porque eacute nativa que nem a outra ela eacute
nativa ela num eacute uma planta que a genti planta ela nasce sozinha ateacute eh eacuteh
uma erva ela eacute nativa ela eacute medicina por isso que eu digo que eacute uma erva
uma erva nativa ela daacute assim ela gosta de todos os climas clima frio clima quente porque laacute perto de casa tem uma arvi eh todo tempo tau so um jeito ser
veratildeo ou seja inverno sempre no inverno ela muda um pouquinho por que claro neacute
num seca mas daacute eacuteh todo clima ela gosta mortinha miuacuteda eacute porque ela eacute bem
piquinininha a folha dela chama mortinha miuacuteda porque ela daacute mortinha folha
mais muidinha que existi eacute ela eacute menor ainda que a erva do jabuti menor ainda
ela eacute uma folhinha ela ela eacuteh meia compridinha ela num eacute bem redondadinha natildeo
ela eacute compridinha a folha dela eacute bem miudinha agora ela sim ela eacute mortinha
porque eacute uma arve tatildeo bonitinha a genti coidando dela ela eacute uma arve bem
bunitinha porque ela daacute meio baixa ela eacute copodinha formatu duma arve de
jambreiro ela toda cheinha tem flor a flor dela eacute bem miudinha miuditinha
(risos) natildeo sei nem bem dizer eacute porque assim bem pequenininha eacute pequenininha a
florzinha dela acho que tem sementi ainda natildeo prestei atenccedilatildeo mais com certeza ela tem sementinha a mortinha miuacuteda eacute lisa a folha dela eacute menor ela eacute
liso eacuteh essa outra mortinha peluda daacute mais alto essa eacute muito baixinha a mortinha
peluda eacute maior a folha eacute maior o olho dela quando ta sim que ela brota o olho
novo eacute bem rosiozinhu da peluda essa uma natildeo eacute toda soacute verdinha la perto da
minha casa tem uma grande dessa arvore dessa arve eu jaacute perguei um filhim dela
assim assim que ela nasce ela brota o filho dela eu tirei plantei bem pertinho de
casa ta bem bonitinho nois aprendemus com a minha avoacute quando uma mulher
ganhava neneacuten neacute que natildeo tinha aquele coiso de trazer pro hospital e tudo elas
fazia o chaacute pra tomar porque a mortinha miuacuteda faz a limpeza do utro da mulher
por dentro da mulher neacute aiacute ela fazia o chaacute aiacute durante assim um eacuteh quinze dias
vinte dias ela ficava fazendo o chaacute soacute natildeo era soacute dela pegava um monte de ervas pegava a mortinha pega gengibre pegava um monte de coisas assim que elas sabiu
e fazia u chaacute e nisso ficavam tomando planta que desinflamasse isso isso ela faziau
soacute soacute que eu faccedilu o chaacute dela ela num eacute tatildeo travoso assim mas ela tem esse poder
de desinflamar a pessoa e eu conheci muito a minha matildee que a minha voacute quando a
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
206
mamatildee teve os filhos que eu jaacute me lembrava que depois de mim ela teve cinco filhos
depois de mim neacute e nesse um eu via ela fazer esses chaacute todo dia ela fazia o chaacute too dia num era o negocio de botar nesse tempo nem existia geladeira nu
exista neacute aiacute a minhacutevoacute era assim quando a minha matildee ganhava filho cada uma
hora que ela ia comer antes da refeiccedilatildeo ela tomava o chaacute de manhatilde meio dia e
de tarde e a noite ela fazia aquele chaacute antes da refeiccedilatildeo feito da folha pegava
assim tipo uns galinho bem fininho tambeacutem ele tirava aquele galinho quebrava
colocava tudinho na panelinha e cozinhava e dava e sempre nois era curiosa e
perguntava voacute pra qui eacute isso pra que servi quando ela tava fazendu uma uma
velinha muita paciente a vovoacute minha filha isso que eacute pra mulher que tem filho tem
que tomar isso tem que tomar isso que eacute remeacutedio pra fazer limpeza nois via ela
fazer soacute do resguardo quando tava de resguardo essa outra mortinha peluda fazia
assim um probrema di di menstruaccedilatildeo neacute qui eu disse naquele dia pega assim
aquelas folhas bem vermelha folha dela novinha eacute bem vermelha enrolava nas folhas colocava embaixo da cinza quando jaacute tivesse mole espremia e tirava aquele
suco aquele caldo e colocava um pouco de cachaccedila e tomava pra normaliza jaacute
conheci por mortinha nunca perguntei ela tinha a mortinha miuacuteda esse nome
de mortinha eacute porque ela eacute bem miudinha tatildeo insensivelsinha ela eacute tatildeo eu
acho essas outras porque todas elas eacute mortinha neacute mortinha de morte ((
risos))
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo utilizadas para o poacutes-parto e regular menstruaccedilatildeo
Fu Formas de
uso
Usar o chaacute para limpeza do uacutetero e diminuir o sangramento na menstruaccedilatildeo tirando o
sumo da folha e misturando na cachaccedila
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O termo mortinha estaacute relacionado ao tamanho da planta que eacute bem delicada
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
207
APEcircNDICE EE ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoMortinha Peludardquo
Fotografia 56 ndash Mortinha Peluda com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 35 MORTINHA PELUDA
Lx Lexema Mortinha Peluda
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Df Definiccedilatildeo natildeu natildeu eacute a morti essa uma eacute a vida num eacute a morti natildeu erraru neacute pra butari a vida
butaru mortinhaeacute mais achu qui eacute ela eacute nativa tambeacuteim ela eacute uma arvri mais jaacute jaacute
bastanti maior eacute uma arvri ela trepa bastanti grandi a arvri dela u cauli dela eu jaacute
vi ate dessa grussura asim neacute teacute dessa grussura assim ela daacute na capueira tambeacuteim
assim numa capueira ela daacute na mata assim eu sei qui ela eacute nativa mais eu nunca vi ela
na mata veju eacute na capueira natildeo menor daacute menor eacute eu jaacute vi menor num sei si ela
teim eacute nativa nativa eacute qualquer clima di qualquer ambienti ela nasci podi ser baxu
podi ser terra seca ela daacute a folhinha dela eacute compridinha tambeacuteim compridinha
larguinha i a flor eu da nunca vi a flor dela eu natildeu sei dizer eu natildeu sei dizer neacute sei qui ela assim u olhu dela assim qui ela brota qui ela taacute renovada u olhu dela assim bas eacute
bem vermelhu u olhu dela assim aquela folha nova eacute beim vermelhinhu beim vermelhu
vermelhu mesmu mortinha peluda porque ela eacute cheiu di pelinhu uma uma us
galhinhu a a os galhu dela assim aquelis galhinhu ( ) eacute cheiu di pelinhu natildeu num eacute a
folha eacute eacute us talinhu us talinhu assim umrum issu natildeu nau nau eacute eacute lisu eacute lisu eacute
paacute folha qui eacute peludinhu eacute teim aquelis pelinhu mais eacute pouquin neacute por issu qui
chamu mortinha porque ela teim varus varus tipu ai pra pra mudar ai butaru mortinha
peluda mortinha( ) qui daacute beim piquininhinha mermu qui a folinha deli eacute qui neim
aqueli mato ali ai teim di otra mortinha qui eacute a vauacutena qui teim aquela qui bota uma
frutinha bem vauacutena qui chama crianccedila gosta di comer daacute muitu nu pastu negociu di
pasto assim di juquira eacute vauacutena a crianccedilada comi qui ela ela daacute qui neim num teim
azeitona essas bicha aqui comeacute nau natildeu eu nunca vi natildeu nunca vi a frutinha dela mas com certeza ela bota porque assim ela ela eacute nativa as veiz genti num vai laacute vecirc
naquela eacutepoca ela ta sim num acompanha ai por issu qui eacute mortinha peluda porque
tocirc dizendu assim tem varus tipu di mortinha i cada uma teim um nomi a mortinha
peluda a mortinha essa outra qui eacute a lisa qui eacute a vauacutena qui eu to dizendu neacute as folha
dela as folha dela satildeo igual eacute eacute muita muita muita folha muita ela eacute uma arvri
assim qui ela daacute qui ela ispalha galinhu pra todu cantu pra todu cantu ela sai galho
dela assim ai( ) i aiacute ela eacute ela eacute uma arvri travosa ela eacute travosa ela presta tantu pra
mulher eacute fazer banhu di assei u neacute ela eacute bom issu travosu sim natildeu num eacute
normau eacute eacute a folha nova dela aquela folha du quandu brota aquela folha nova qui ela
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
208
fica assim beim vermelinha i pra assim mulher quandu taacute na menopausa qui as veiz
passa daacute assim passa du dia da menstruaccedilatildeu dela passa assim por que assim teim mulher quandu taacute im menopausa assim sempri assim passa assim neacute mais dia ai
assim ai minha matildei sempri fazia assim oacute i ensinava pega aquelas folhinha da mortinha
peluda i lava ela beim beim lavadinhu i embrulha numa folha di guarimatilde i bota numa
cinza dibaixu da cinza assim pra quilu assim amulecer natildeu secar pra ficar assim pra
depois qui tiver ali sequinha qui tiver moli qui tiver cozinhadu tira dali espremi i bota
um pocu di cachaccedila i tomaela solta ela ela solta ela depois dela taacute ali neacute com aqueli
suou qui ela ta ali abafadu ela soa ela amoleci ai bota um pocu di cachaccedila i toma
tinha genti qui iacutea na casa da mamatildeie i dizia assim qui tava com essi poblema neacute as
veiz era menopausa i as mulheacute natildeu tinha essi conhecimentu qui era menopausa aiacute elas
ficavu afrontada pensava assim qui jaacute era um comeccedilu di hemorragia issu tudo neacute ( )
conversandu ( ) ai eu aprendi cum a mamatildei quandu foi certus tempus neacute ( ) issu eacute
aiacute um tempu taacute cum mas ou menus um anu i pocu eu tinha uma minha colega tava assim colega da minha minina inte filha da parenti ali du antoniu froz ali neta du
finadu antoniu froz neacute ela procuro ela mando i a dominga eu to passandu mau ela
morava nu broca ela ligo si eu num sabia di um remeacutediu por que ela jaacute tinha tomadu
tanta da garrafada qui a matildei dela tinha feitu i ela tava com essi poblema mais ela eacute
nova mulher du primeiru filhu ela taacute cum vinti dois anus pareci ela taacute cum essi
poblema ichi to seim coragi pra nada si eu num sabia ensinar um remeacutediu eu dissi a (
) natildeu eu natildeu sei ensinar remeacutediu a tua matildei porque a matildei dela trabalha com garrafada
tambeacuteim neacute a a mamatildeie fez uma garrafada pra mim eu fez foi pioraacute apioraacute mais
dominga eu to ateacute com medu i eu num quiria ir negociu di cirurgia eu num quiria di
jeitu nenhum natildeu queru mi consultar ai eu peguei ensinei vou ensinar um remeacutediu qui
a mamatildei ensinava pra mulher ai eu peguei fez uma garrafinha neacute i mandei pra ela mandei u remeacutediu i feiz uma cartinha ensinandu comu ela fazia dissi adriani natildeu vou
fazer aqui porque pra mim fazer aqui tu mora longi ela morava nu broca aiacute eu mandei
pelu carru di alunu ai depois qui eu vi ela dissi dominga graccedilas a deus aqueli remeacutediu
foi em primeiru lugar pra mim seraacute qui feiz beim feiz beim qui ichi eu neim foi neim mi
consultar aqueli remeacutediu ela mi dissi neacute ela fazia assim quandu us otru ensinavu pra
ela neacute ai ela jaacute aprendeu com voacute com a matildei dela e aiacute ela fazia natildeu eacute issu eacute ela fazia
cum eu achu qui ela jaacute aprendeu com a voacute dela cum a matildei ai prontu ela jaacute faziu aqueli
remeacutediu dava certu aiacute elas iam so passandu di voacute passar pra matildee matildei passar pra filhu
filhu jaacute passa prus netu aiacute jaacute vai
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas para problemas com a menstruaccedilao hemorragia e menopausa
Fu Formas de
uso
Utiliza-se a folha embrulhada na folha da guarimatilde esquentando no fogo depois eacute
espremida e colocada na cachaccedila
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Existem vaacuterios tipos de mortinha a planta com a folha lisa eacute chamada Vauacutena
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
209
APEcircNDICE FF ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPata de Vacardquo
[natildeo haacute registro da imagem]
FICHA TERMINOLOacuteGICA 36 PATA DE VACA
Lx Lexema Pata de vaca
Cg Classe
Gramatical
Sintagma terminoloacutegico feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh abertu amplu eacute ela eacute eacute mais du friu ela eacute uma forma di pata de vaca memu
ela daacute assim neacute ela assim aiacute ela reparti uma folha ela tem dois divisatildeo uma forma
duma pata di vaca mermu ela eacuteh meacutedia ela natildeu eacuteh tatildeu pequininha mas natildeu eacuteh tatildeu
grandi tambeacutem eacuteh meacutedia eu nunca vi a flo dela porque eu essa arvre laacute diabe laacute nu
nossu setor ela duro pocus tempu ela natildeu duro tantus tempu natildeu ela natildeu chego a bota
flo eacuteh essi um eli num era tatildeu piquininhu mais eli num era tatildeo grossatildeu diabet eli era
porque ela ela foi num era era uma arvri nova porque eacute comu eu contei qui meu irmatildeo elimino ela antis du tempu meu irmatildeu num sei u qui aconteceu or mininu cortaru ela
num chegoacute a si forma eu num sei dize u tamanhu dela a grussura dela i eu diabet da
nunca vi ela im otru cantu pra mim dize oacute isso aqui eu vi essa uma laacute im casa qui foi teacute
um meu colega qui levo pra casa i deu um galhu pa minha irmatilde aiacute ela plantocirc i aiacute ela
tava jaacute um bom tamanhu aiacute agenti num tinha um diabetete di qui ela era assim tatildeo
assim valiosa neacute eli eli chegoacute diabete assim oacute diab aqui eacute remeacutediu mais eli num disse
pra qui era i pra quecirc natildeu naqueli tempu agenti num tinha ainda muita diabetete di
assim fazecirc iab assim essi tipu di trabalhu remeacutediu garrafada essas coisa aiacute ela plantocirc
laacute i soacute sei qui iab sei qui laacute a folha dela eacute assim () i ela ela creceu numa boa altura
agora achu qui aquilu inda nu era u tamanhu dela assim diabetete neacute achu qui ela
inda ia crececirc mais ela eacute meacutedia eacute uma planta eacute ela eacute uma planta eacute meacutedia eacute
meacutedia cum certeza ela eacute uma planta meacutedia natildeu soacute o cauli a folha isso agente usa a folha dela pra remeacutediu i a casca pra fazecirc u chaacute pra diabete neacute () me diabet qui ela eacute
boa pra diabete ela eacute folha i casca
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
Satildeo utilizadas as folhas e o caule para Diabetes
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome tem relaccedilatildeo com o formato da folha (pata de vaca)
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
210
APEcircNDICE GG ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeacute de Galinhardquo
Fotografia 57ndashPeacute de Galinha com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 37 PEacute DE GALINHA
Lx Lexema Peacute de Galinha
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminologico Feminino
Df Definiccedilatildeo ela eacute uma erva ela eacute uma erva ela eacute nativa ela daacute nu pastu assim neacute tipu um capim
ela eacute um capim( ) soacute qui ela daacute u formatu di um peacute di galinha mermu ela nasci aqui u
pezim deli ali ela ispalha mais naquela a dondi ela espalha ali us pezim eacute qui ela bota
a sementinha uma pequena semetinha tambeacuteim beim piquenininha ela eacute mais ou
menus meiu palmu assim beim miudinha teim sim sim ela bota o caulizinhu qui eacute u
peacute di u formatu di uma perna di galinha mermu u formatinho neacute bota aqueli caulizinhu ai na pontinha deli qui ela espalha u pezinhu aquelas folinha prum ladu i pra otru fica
nu formatu di um peacute di galinha eacute eacute issu eacute nu invernu eacute eim qualquer tempu eacute
qualquer cantu ela daacute achu qui eacute por causa du formatu noacuteis conhecemus tambeacuteim
cum ela neacute cum ela queacute dizer quandu otra pessoa tava com dor di denti ela mandava
fazer u chaacute assim quandu tava com aquela dor di denti assim cum inchaccedilu aiacute ela
mandava fazer u chaacute faz u chaacute du peacute di galinha pra fazia u chaacute esfriava i tomava ali ( )
porque naqueli tempu edilene era difiacutecil assim ah qualquer coisa ir pru hospital
qualquer coisinha aqueli tempu natildeo tinha aacute cecirc eacutesi natildeu tinha aqui era muitu difiacutecil pra
genti vir aqui pra paacute neacute uma consulta uma coisa a minha voacute a minha matildei num foru
acostumada assim qualquer coisinha taacute nu hospital qualquer coisinha sentia uma dor
di cabeccedila ah eu vou pru hospital vou pru hospital di jeitu ninhum num era dessi jeitu natildeu a minha voacute eu conheci ela qui eu tocirc com cinquenta anu cinquenta i dois anu eu
nunca vi ela dizendu assim eu queru ir pru hospital eu tocirc cuma dor di cabeccedila eu tocirc
cuma dor di barriga eu tocirc com uma diarreia eu queru eacute ir pru hospital nunca ouvi
nunca nunca nunca sabi comu eu nunca vi soacute remeacutediu caseru agora fossi na casa
dela neacute ela ( ) uma panelinha di barru qui ela usava panelinha di barru aiacute di manhatilde
ela preparava ela pegava eacute denti di alhu quandu natildeu tinha u denti era casca du alhu
um bucadu di coisa mastruz botava laacute aiacute cozinhava noacuteis chegava laacute qui noacutes era
curiosa neacutevovoacute pra qui eacute issu aqui eacute pra mim beber mais u qui eacute que secirc tem voacute nada
meu filhu issu eacute remeacutediu mermu mi deu na cabeccedila deu fazer as vezis ela dizia assim eu
amanheci assim com uma dozinha nu meu estocircmagu uma coisa um ventu uma coisa
assim quasi naquilu eli si curavu naquilu ela nunca foi eu nunca vi ela num hospital natildeu assim dizendu eu queru ir eu vou mi consultar mi levu pra mi consultar nunca eu
mais saudia era ela quandu adoeceu foi pra morrer velhinha jaacute quandu ela adoeceu
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
211
foi pra morrer i ela foi assim ela caiu aiacute sI bateu neacute ai u titiu ainda ainda quis levar
ela pra consulta pru hospital ela num quiz ir di jeitu nenhum ela dissi qui natildeu adiantava ela ir qui ela sabia qui ela natildeu ficava boa era tempu dela morrer i ela jaacute
tava velha di idadi ela jaacute andava devagarinhu u titiu anda feiz umas consulta assim
pra ela foi consultar i trouxi umas injeccedilatildeo mais ela natildeu ficou boa mermu mais natildeu
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de dente e inchaccedilo na boca
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dores de inchaccedilos nos dentes
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta tem aspecto de um peacute de galinha
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
212
APEcircNDICE HH ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoPeatildeo Brancordquo
Fotografia 58 ndash Peatildeo Branco com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 38 PEAtildeO BRANCO
Lx Lexema Peatildeo Branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminoloacutegico Feminino
Df Definiccedilatildeo eacuteh uma planta eacute caseira clima tantu faz ela gostalugar que eleela ela gosta
tantu faz eacuteh aela eacute bem resistente inverno veratildeo veratildeo ela eacute resistente ela sim a
folhadela eacute media ela eacute redondafolha dela verdio fruto delaelabota assim
tipohum tipo caixinho ai dentro da da daquele cachu da a sementi neacutebota as
sementinhas e quando a genti pega dentro aquela caixinha tem sementinha delaque
a gente abre o remeacutedio e a sementi dela que eacuteh o remeacutedio ela da o cacho bota o cacho
assimas pontinhas daqueles coisinhus assimbota o fruto ai dentro do fruto
daquelas daquelas cachopinhos parte que taacute a sementinha a sementinha preta dela
ela bemeacuteh a sementi que usa no caso do peau a folha dela eacute remeacutedio prano caso ta com dor de cabeccedila uma ma tontura mucha a folha dela a folha do peatildeo branco
mucha um pouco no fogo passa um pouco de alho e coloca na testa e pra tontura
neacuteminha voacute fazia cuando algueacutem com tontura fazia issoaiacute o leite dele que a genti
corta assim o caule dele sai dele uma aguazinha eacute e tambeacutem muito esse noacutedia se pegar
na roupa da genti tem que ter muito coidadu usar o leitiele aiacute si tiver crianccedila que
tiver ferida na boca antau dor de denti muito celente pra usar o leiti corta o leitizim
dele bota numa esponjinha de algodatildeo e coloca no denti ferida na tambeacutem eacute bom
tambeacutem agenti pega apara o leiti dele bota um pouquim de sal e coloca na boca da
crianccedilaa sementi delea genti pega a semnetinha dele aquela sementi num eacuteh tao
pequenininha ela eacute muito bem maior que a sementi de urucumbem maiora genti pega
elaeh uma crianccedila tiver com tossetiver ehproblema daquela asmaela servi pru bucado de coisas as veis febre as veis fartiu a crianccedila num quer comerse pega ele
assim parte aquele sementinha tem o coidado de tirar a folhinha porque agenti fica
olhando assim agenti percebi a folhinha dele que ta dentro daquela sementinhauma
folhinha dentroassim pra nascer neacuteaquela folhinha assim quando ela ela agenti
parte jaacute percebi a folhinha jaacute ta li aquela folhinha agenti tem que tirar tudinhu na
mimpega uma faca tira tudinhu e pega aquela sementinhaela eacute que nem uma coco
que nem um coquinho assim neacuteaquela massinha ai pega faz umbota ela pra
assarbotaela fica amelinhaai pega pisa pisa e da pra crianccedila pouco tambeacutem
neacutemuito natildeo porque se der muito ele da um acesso de vomito que eacute forte eacutehisso aiacute
eacute remeacutedio mas neacute todo mundo que sabe fazer e eacute difiacutecil de ensinar pro outra pessoa
fazer remeacutedio caseiro tem essa ciecircncia neacutepurque a genti natildeo sabendo fazeragenti
ateacute evita de ensinar pra uma pessoa porque ele natildeo tem costume de fazerele tem
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
213
ciecircncia remeacutedio caseirotem chaacute que a genti pode beber o tanto que fornatildeo ta nem
aimas agortem remeacutedio caseiroo peatildeoo peatildeo eacute muitoa mimha matildee fazia pra nois agenti comeccedila a tossirnois era muito neacuteuins tussindu as veis gripadu ela
tiravaela tirava aquela folhapegava uma pontinha da faca ehmae o que eacute isso
no crianccedila curiosa sabe coma eacute neeh olhe isso eacute afolha que tem que tirar se comer
com essa folha morre ela dizia neacuteeacute veneno essa folha tem que tirar e assava so as
bandinhas ela pegava um espetinhu fazia uns espetinhos bem fininhu botava pra
assar so na quentura despois ela moiacutea assimdava para nois comerquando dava
certo ela misturava com qualquer coisaquando dava certo quando natildeo dava
assim quando nois jaacute era entendidopor meus filhos eu nunca fizeu jaacute comimais
eu nunca fiz nuca cheguei a fazer eu sei fazereu sei preparar do jeito que minha matildee
fazia pra nois nunca dava nunca dava mais de uma sementicom a folhinha muito
coidado com aquela folhinha de dentro da sementi
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de uso
As folhas satildeo usadas para dores de cabeccedila e tontura Do caule eacute retirado um leite para dor de dente feridas na boca A semente eacute usada para febres e vocircmitos
Fu Formas de
uso
Faz-se o chaacute das folhas para dor de cabeccedila para tontura a folha eacute esquentada com um
alho e colocada na lateral dos olhos O caule tem um leite que eacute retirado para colocar
com um pouco de sal nos casos de dores no dente ou feridas na boca Dentro da
cachopinha da planta tem a sementinha que eacute assada e triturada para acessos de
vocircmitos e febres
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota Dentro da sementinha da planta existe uma folhinha bem pequena que deve ser retirada
para o preparo do remeacutedio segundo seu saber a folhinha eacute venenosa por isso nem
todos sabem preparar a medicaccedilatildeo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
214
APEcircNDICE II ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoQuebra Pedra Brancordquo
Fotografia 59 ndash Quebra Pera Branco com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 39 QUEBRA PEDRA BRANCO
Lx Lexema Quebra Pedra Branco
Cg Classe
Gramatical
Sintagma Terminologico Feminino
Df Definiccedilatildeo eacute uma erva uma erva ela eacute ela achu qui pertenci um poquinhu friu um puquinhu
quenti ela tambeacuteim daacute assim ela tambeacuteim daacute nessa eacutepoca assim di natildeu muita chuva
natildeu muitu sol sempri ela ela gosta di daacute i ai tambeacuteim ela ela eacute nativa tambeacuteim ela
nasci assim tambeacuteim pelu quintau nu canteru sozinha ela nasci e ai quandu chega u
veratildeu qui eacute u veratildeu aperta muitu aqueli veratildeu di novembru dezembru ela morri ela si acaba natildeu ela eacute assim num teim u cuminhu di planta u cuminhu di planta jaacute viu u
cuminhu di planta natildeu natildeu sim sim sim () aqueli cuminhu qui a genti planta nu
canteru neacute pois eacute eli eacute daqueli jeitu eacute u formatu da di cuminhu sim sim sim pois eacute
natildeo mais quandu a genti dexa eli crescer eli da sementi eacute eli num cresci porque
quandu chega aquela eacutepoca a genti tem qui arrancar pra planta otru pra genti vender
daqueli jeitu neacute mais deixandu eli sementa i a a quebra pedra eli fica na formatu di
duma arvri di cuminhu di planta i ai eli a folha deli eacute beim muiditinha eli eacute eli eacute uma
avre assim pequeninha tambeacuteim e a a folha deli eacute bem miudititita assim a folhinha
deli mais ou menu eacute a folhinha daacute muita piquinininha tambeacutem mas daacute florzinha
dela beim miudititita ela teim teim teim natildeu natildeu natildeo natildeo eacute uma plantinha
piquinininha mas eacute uma planta eacute qui neim qui neim u cheiru verdi qui nem u cheiru verdi eu nunca vi u cheiru verdi assim di flor neacute mas eu jaacute vi mas eli eacute qui neim u
cheiru verdi assim a avrinha deli ai daacute daacute us galhinhu daacute as folhinhas beim miuditita
assim porque eli distroacutei as pedra di rim neacute achu qui eacute por issu qui u nomi deli eacute
quebra pedra quebra pedra eu aprendi nu livru tambeacuteim nu livru foi qui eu
aprendi issu foi a minha matildei i minha voacute a minha matildei i minha voacute qui muitas dessa
essa daiacute agenti sabia dessi nomi quebra pedra agora natildeu sabia a importacircncia qui eli
tinha mas u nomi a genti jaacute sabia por que ela eacute branquinha a a folha porque teim di
duas marca tem du roxu i teim du branquinhu i u bom eacute o que eacute branquinha
piquininha i branquinha i du roxu eli eacute du mesmu formatu mas soacute qui eli eacute roxinhu
tambeacuteim eacute a folha eacute a folha a raiz i assim a genti arranca ela tudu i lava i bota pra
fazer u chaacute deli completu folha cum raiz cum tudu
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de As folhas satildeo usadas para problemas renais
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
215
uso
Fu Formas de
uso
Na forma de chaacutes contra as pedras nos rins e na garrafada
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota O nome da planta tem relaccedilatildeo com a funccedilatildeo
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
216
APEcircNDICE JJ ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoSalsardquo
Fotografia 60 ndash Salsa com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 40 SALSA Lx Lexema Salsa
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo natildeu a salsa di remeacutediu eacute otra ela eacute du ela tantu faiz pra ela ela gostu du du mais
ela eacute du ambienti mais friu um tempu dessi( ) ela ela podi passar u veratildeu mas ela num
morri mais natildeu ela fica assim meia fraquinha amareladinha mais ela num morri
quandu chega u invernu ela renova tudim ela fica toda renovada e ai a folha dela eacute
bastanti grandi tambeacuteim eacute assim num formatu dum coraccedilatildeu tambeacuteim ela soacute qui ela eacute
mais grandi e eacute eacute um cipoacute tambeacuteim ela eacute cipoacute quandu quandu daacute certu dela subi ela
sobi mais ela eacute du chatildeu du chatildeu eacute du chatildeu natildeu natildeu eacute sobi eacute eacute si ela ver otra otra
planta ela sobi i aqui ela jaacute bota u cipoacute ela jaacute jaacute sobi aqui se der certu prela descer i
ela vai dandu cipoacute i vai dandu raiacutezes nu cipoacute i vai i pegandu vai indu ela num eacute aquela
raiz soacute nu peacute dela natildeu ela vai botaacute nu u cipoacute i vai i vai raizandu issu daiacute eu num sei dizer eu conheccedilu por essi nomi ( ) eacute porque natildeu eacute ela eacute nativa eacute eacute nativa teacute nu
lugar qui ela daacute qui ela nasci eacute difiacutecil ela ateacute si acabar natildeu soacute salsa eacute eacute eacute porque
a du temperu ela eacute qui neim cheiru verdi neacute du mesmu jeitu du cheiru verdi a salsa du
temperu i essa uma natildeu ela eacute um cipoacute ela daacute assim pertu di casa teim uma a genti
luta paacute acabar essi comecirc di rola ocirc ocirc essi que daacute eli daacute mais nu roccediladu eacute elas vatildeu
a salsa teim muitu laacute pertu di casa ela chega nu terreru eu cortu eu arrancu soacute qui ela
eacute difiacutecil dela si acabar ela fica escondidinha ela fica to dizendu nu veratildeu ela fica
amarelada soacute qui ela num si acaba pa dizecirc morreu natildeo noacuteis arranca noacuteis corta ela
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas em alimentos
Fu Formas de
uso
Usam-se as folhas como cheiro verde serve para dar sabor no alimento
Fn Finalidade Tempero
Di Dados do Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
217
APEcircNDICE LL ndash Informaccedilotildeesgerais do termo ldquoVassourinhardquo
Fotografia 61ndashVassourinha com detalhe da folha
FICHA TERMINOLOacuteGICA 41 VASSOURINHA Lx Lexema Vassourinha
Cg Classe
Gramatical
Substantivo feminino
Df Definiccedilatildeo ela eacute nativa ela nasci tambeacuteim nu paacute assim terreru nu quintal sempri a vassorinha
sempri ela gosta mais assim assim du molhadinhu du uacutemidu eacute mais nu veratildeu ela eacute
bastanti resistenti tambeacuteim nu veratildeu eacute com certeza eacute natildeu uma arvrizinha tambeacuteim
uma arvri piquinininha mas ela eacute arvri num eacute rastera natildeu num eacute grama ela eacute formatu
duma vassora bota arvrinha aqui daqui espalha us nasci us galinhhu neacute ela espalha aiacute teim a folha dela eacute qui neim a folha di mastruz ela eacute mais menas mais eacute u mesmu
formatu da folha di mastruz assim eacute uma folinha uma folinha com com um frizadinhu
assim soacute qui pequena eacute menozinha um pocu du qui a folha di mastruz i aiacute a sementinha
dela eacute beim pequenininha tambeacuteim daacute umas bolinha assim umas bolinha qui neim um
pirulituzinhu uma coisa soacute qui eacute beim piquininha neacute aiacute ela bota a sementinha dela
tambeacuteim sim a florzinha dela eacute assim meia roxinha beim piquininha a florzinha dela
bem piquininha assim meia roxinha branquinha assim um roxozinhu claru eu
aprendi com a minha voacute tambeacuteim com us meus tiu inteacute quandu quandu eu tinha um tiu
vinha a ser tiu da mamatildei a genti considerava qui neim avoacute eli eli benzia dor denti aiacute
quandu eli chegava uma pessoa laacute agrave eu vim aqui pra oce benzer meu denti eli taacute
doendu num sei u quecirc eli mandava vai apanhar uma vassorinha um galhinhu di
vassorinha pra mim com aqueli cum aqueli galhinhu di vassorinha qui eli fazia u trabalhu deli assim benzia neacute ai agenti aprendeu aiacute as depois ai tinha veiz qui eli fazia
eu fazia aqueli trabalhu ai depois as veiz eli dizia olha au chegar na tua casa pega
dois dois trecircis pontinhas di folha di vassorinha i pisa com pouquin di sal i coloca
quandu u denti tinha aqueli coisa neacute aquela furadu neacute bota um pouquin di sal i coloca
ai genti fazia era u remeacutediu qui eli mandava i ficava bom ai conheci por vassorinha
porque a vovoacute tambeacuteim dizia qui era era um vassorinha porque eacute eacute pa ensinar crianccedila
pequenu tira um galhu di vassorinha i meti nais costa dessi safadu por qui galhu di
vassorinha num doacutei muitu eacute pra ensinar crianccedila pequena neacute aiacute tinha qui dizer assim
ai tambeacuteim antigamenti ar mulher faziu vassora pra varrer da planta apanhava
dondi tinha muitu neacute apanhavu ela i amarravu assim aqueli fexu aqueli monti i botavu
num cabu di pau i faziu vassora pra varre dondi num natildeu natildeu ela eacute beim ela eacute beim uma uma beim cheinha eacute uma plantinha pequeninha mais ela eacute cheia ela eacute quasi qui
neim u mastruz( ) eacute u mastruz eli espalha mais eli eli eli cresci assim mais grandi eli
Fonte Dado registrado durante a pesquisa 2014
218
bota mais assim eli fica maioacute a a vassorinha ela eacute um formatu di uma arvri di
jambreru soacute qui eacute piquininha mais eacute naqueli formatinhu qui ela eacute di jambreru nativa eacute pra alergia tambeacuteim eacute banhu fazer u banhu dela qui eacute pra
Fd Fonte de
Definiccedilatildeo
A informante
Pu Partes de
uso
As folhas satildeo usadas para dor de dente
Fu Formas de
uso
Pega-se a folhinha amassa com sal e coloca em cima do dente
Fn Finalidade Medicinal
Di Dados do
Informante
Domingas Alves de Sousa 53 anos
Dp Dados do
Pesquisador
SALOMAtildeO A E M (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute ndash UFPA ndash PPGLSA)
Nt Nota A planta era usada como vassoura pelas mulheres por ser bem encorpada aleacutem disso
usava para disciplinar as crianccedilas e tambeacutem em rezas pelo tio
Dc Data da
Coleta
04022014
Fonte Dados catalogados durante a pesquisa ano 2014