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UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO
FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO
A IGREJA METODISTA E SUA AO PASTORAL
FRENTE AO FENMENO DO ENVELHECIMENTO
POPULACIONAL BRASILEIRO
por
Paulo Dias Nogueira
So Bernardo do Campo julho de 2009
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UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO
FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO
A IGREJA METODISTA E SUA AO PASTORAL
FRENTE AO FENMENO DO ENVELHECIMENTO
POPULACIONAL BRASILEIRO
por
Paulo Dias Nogueira
Orientador Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva Dissertao apresentada em cumprimento parcial s exigncias do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio, para obteno do grau de Mestre.
So Bernardo do Campo julho de 2009
FICHA CATALOGRFICA
N689 Nogueira, Paulo Dias A Igreja Metodista e sua ao pastoral frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro /-- So Bernardo do Campo, 2009. 202fl. Dissertao (Mestrado em Cincias da Religio) Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Ps Cincias da Religio da Universidade Metodista de So Paulo, So Bernardo do Campo Bibliografia Orientao de: Geoval Jacinto da Silva 1. Envelhecimento 2. Idosos - Brasil 3. Aconselhamento pastoral - Idoso I. Ttulo CDD 259.3
Dedicatria
minha famlia
Valria e Beatriz
Com carinho.
Agradecimentos
CAPES pela concesso da Bolsa de Estudos;
Ao Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva, que alm de mestre foi pastor e bispo
durante este tempo;
Aos professores/as e funcionrios/as desta escola que sempre me trataram
com respeito e dignidade;
Ao meu amigo Mrcio Divino de Oliveira que foi o grande incentivador desta
jornada;
Aos amigos Samir Borges da Silva e Natanael Pereira do Lago, pastores das
Igrejas pesquisadas, que foram acolhedores e prestativos;
Catedral Metodista de Piracicaba que com carinho me acompanhou e
incentivou durante o percurso;
Ao compadre Ronalde, comadre Priscila e sobrinha-torta Carla pelo apoio
nos momentos difceis;
Ao Hilkias pelo auxlio prestado no lanamento dos dados da pesquisa;
Darlene Schtzer que solidariamente corrigiu parte do trabalho;
Abigail Daneluz que gentilmente traduziu o abstract;
Aos muitos amigos que fiz pelo caminho.
BANCA EXAMINADORA
________________________________
Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva
Presidente - UMESP
________________________________
Prof. Dr. Clvis Pinto de Castro
UNIMEP
_______________________________
Prof. Dr. Ronaldo Sathler Rosa
UMESP
NOGUEIRA, P. Dias. A Igreja Metodista e sua Ao Pastoral frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro. Dissertao. Programa de Ps Graduao em Cincias da Religio - Faculdade de Humanidades e Direito; Universidade Metodista de So Paulo - UMESP - 2009.
SINOPSE
O envelhecimento populacional uma realidade mundial. No caso do
Brasil pode-se afirmar que este fenmeno tem trazido novos desafios para o
governo e para a sociedade como um todo. A Igreja Metodista, como parte
dessa sociedade, uma comunidade de f que apresenta em seus
documentos uma proposta pastoral de forte engajamento nas questes sociais.
Diante disso, esta pesquisa se prope a analisar a Ao Pastoral da Igreja
Metodista frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro. Para
elaborao da mesma utiliza-se de dois mtodos de procedimento: o mtodo
histrico, para o primeiro e o segundo captulos, e o mtodo estatstico para o
terceiro. No primeiro captulo so abordados os conceitos e os preconceitos
relativos velhice e ao envelhecimento; apresentada uma anlise
demogrfica do envelhecimento populacional brasileiro; e por fim so, tecido
breves comentrios sobre a velhice frente o neoliberalismo. No segundo
captulo so apresentados um breve histrico e a conceituao de termos
relevantes para a pesquisa: Teologia Prtica, Pastoral, Prxis e Igreja
Metodista. Por fim, no terceiro captulo, apresenta-se a anlise e discusso dos
resultados da pesquisa de campo realizada em trs igrejas, cujo objetivo
aferir em seu cotidiano qual tem sido, efetivamente, a Ao Pastoral da Igreja
Metodista frente ao fenmeno do envelhecimento populacional. Nas
consideraes finais do trabalho, de posse dos resultados da pesquisa
apresenta-se algumas pistas pastorais para uma ao com e para os idosos.
Palavras-chave: Velhice, Envelhecimento, Pastoral, Prxis, Misso
NOGUEIRA, Paulo Dias. The Methodist Church and Its Pastoral Action towards the Brazilian Population Aging Phenomenon. So Bernardo do Campo, 2009. Dissertation (Masters of Religion Sciences) Faculty of Humanities and Law, Methodist University of So Paulo (UMESP).
ABSTRACT
Population aging is of great concern worldwide. In Brazil, such
phenomenon has brought new challenges to the government and to the society
as a whole. The Methodist Church, as part of this society, holds a strong
commitment to social issues with a Pastoral proposal entitled Plan for the Life
and Mission of the Church (PLMC). Therefore, the aim of this study was to
analyze the Pastoral action of the Methodist Church towards the Brazilian
population aging phenomenon. This study included a historical method,
according to Lakatos (1991), for the first and second chapters; and a statistical
one for the third chapter. In the first chapter, the concepts and prejudices
related to old age and aging were addressed, considering a demographic
analysis of the Brazilian population aging as well as brief comments on the old
age towards neoliberalism. The second chapter was aimed at a brief history
and concept of relevant terms to research: Practical Theology, Pastoral, Praxis
and Methodist Church. Finally, the third chapter involved an analysis and
discussion of the results of field research conducted in three churches to assess
what Pastoral action the Methodist Church has been taking towards the
population aging phenomenon. The results of this study showed that the
Methodist Church has been pastorally acting in an irrelevant manner towards
this phenomenon, suggesting that further studies are needed to provide the
elderly population with more information on aging using key Pastoral
approaches.
Keywords: Old Age, Aging, Pastoral, Praxis, Mission.
SIGLRIO
ANG - Associao Nacional de Geriatria
CE - Colgio Episcopal
CEBs - Comunidades Eclesiais de Base
Cedi - Centro Ecumnico de Documentao e Informao
Cela - Conferncia Evanglica Latino-Americana
CMI - Conselho Mundial de Igrejas
CMP - Catedral Metodista de Piracicaba
Conic - Conselho Nacional de Igrejas Crists
EC - Expositor Cristo
EI - Estatuto do Idoso
EN - Evangelii Nuntiandi
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IM - Igreja Metodista
IMCC - Igreja Metodista Central de Campinas
IMCERP - Igreja Metodista Central de Ribeiro Preto
ISAL - Junta de Igreja e Sociedade na Amrica Latina
LOAS - Lei Orgnica de Assistncia Social
LXX - Septuaginta
MPAS - Ministrio da Previdncia e Assistncia Social
MRE - Ministrio das Relaes Exteriores
ONG - Organizao no Governamental
ONU - Organizao das Naes Unidas
PAI - Plano de Assistncia ao Idoso
PNDH - Plano Nacional de Direitos Humanos
PNI - Plano Nacional do Idoso
RE - Regio Eclesistica
SEDH - Secretaria Especial dos Direitos Humanos
LISTA DE TABELAS, GRAFICOS, FOTOS E MAPAS
TABELAS
TABELA 1: Populao, total e de 60 anos ou mais de idade e proporo de idosos, segundo continentes e pases - 1990/1999.
40
TABELA 2: Distribuio percentual da populao, por grupos de idade - 1940-2000.
40
TABELA 3: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios 1970, 1980, 1991 e 2000.
41
TABELA 4: Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000.
42
TABELA 5: Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, do sexo masculino, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000.
42
TABELA 6: Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, do sexo feminino, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000.
42
TABELA 7: Brasil - Expectativa de vida ao nascer e ganhos no perodo - 1900 2020.
45
TABELA 8: Brasil - Expectativa de vida ao nascer e ganhos no perodo - 1991 2000.
45
TABELA 9: Populao residente, por situao do domiclio e sexo, segundo as Grandes Regies e as Unidades da Federao - Brasil - Grandes Regies comparativo 2001 com 2007.
47
TABELA 10: Pastorais na Amrica Latina (Gustavo Gutierrez) 69
TABELA 11: Aspectos da realidade sociopoltica brasileira e da realidade eclesial metodista (incio da dcada de 1980).
92
TABELA 12: Classificao das Regies Eclesisticas e Missionrias da Igreja Metodista, conforme mapa 1.
97
TABELA 13: Total de Metodistas Arrolados Gnero e Regio Eclesistica (Clrigos e Leigos).
99
GRFICOS
GRFICO 1: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios (1970)
41
GRFICO 2: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios (1980)
41
GRFICO 3: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios (1990)
41
GRFICO 4: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios (2000)
41
GRFICO 5: Total de Metodistas Arrolados - valor absoluto. 99
GRFICO 6: Total de Metodistas Arrolados - porcentagem. 99
GRFICO 7: Nmero de membros arrolados no Distrito de Piracicaba 111
GRFICO 8: Metodistas no professos - CMP 111
GRFICO 9: Escola Dominical Central - CMP 112
GRFICO 10: Escola Dominical Chcara - CMP 112
GRFICO 11: Sociedades - CMP 112
GRFICO 12: Ministrios locais - CMP 113
GRFICO 13: Nmero de membros arrolados no Distrito de Campinas 115
GRFICO 14: Metodistas no professos - IMCC 116
GRFICO 15: Escola Dominical - IMCC 116
GRFICO 16: Sociedades - IMCC 116
GRFICO 17: Ministrios locais - IMCC 117
GRFICO 18: Nmero de membros arrolados no Distrito de Ribeiro Preto 119
GRFICO 19: Metodistas no professos - IMCERP 120
GRFICO 20: Escola Dominical - IMCERP 121
GRFICO 21: Sociedades - IMCERP 121
GRFICO 22: Ministrios locais - IMCERP 121
GRFICO 23: Gnero e faixa etria geral - nmeros absolutos (1) 123
GRFICO 24: Gnero e faixa etria geral - nmeros absolutos (2) 123
GRFICO 25: Gnero e faixa etria geral - porcentagem 124
GRFICO 26: Gnero e faixa etria - IMCC 124
GRFICO 27: Faixa etria - porcentagem (1) - IMCC 125
GRFICO 28: Faixa etria - porcentagem (2) - IMCC 125
GRFICO 29: Gnero e faixa etria - CMP 125
GRFICO 30: Faixa etria - porcentagem (1) - CMP 125
GRFICO 31: Faixa etria - porcentagem (2) - CMP 125
GRFICO 32: Gnero e faixa etria - IMCERP 126
GRFICO 33: Faixa etria - porcentagem (1) - IMCERP 126
GRFICO 34: Faixa etria - porcentagem (2) - IMCERP 126
GRFICO 35: Tempo de freqncia na igreja local - geral (absoluto) 127
GRFICO 36: Tempo de freqncia na igreja local - geral (porcentagem) 127
GRFICO 37: Tempo de freqncia na igreja local - geral - masculino 128
GRFICO 38: Tempo de freqncia na igreja local - geral - feminino 128
GRFICO 39: Tempo de freqncia na igreja local - IMCC (absoluto) 128
GRFICO 40: Tempo de freqncia na igreja local - IMCC (porcentagem) 128
GRFICO 41: Tempo de freqncia na igreja local - IMCC - masculino 129
GRFICO 42: Tempo de freqncia na igreja local - IMCC - feminino 129
GRFICO 43: Tempo de freqncia na igreja local - CMP (absoluto) 129
GRFICO 44: Tempo de freqncia na igreja local - CMP (porcentagem) 129
GRFICO 45: Tempo de freqncia na igreja local - CMP - masculino 130
GRFICO 46: Tempo de freqncia na igreja local - CMP - feminino 130
GRFICO 47: Tempo de freqncia na igreja local - IMCERP (absoluto) 130
GRFICO 48: Tempo de freqncia na igreja local - IMCERP (porcentagem) 130
GRFICO 49: Tempo de freqncia na igreja local - IMCERP - masculino 131
GRFICO 50: Tempo de freqncia na igreja local - IMCERP - feminino 131
GRFICO 51: Tempo de freqncia - gnero e idade - geral 131
GRFICO 52: Leitura do Estatuto do Idoso - geral (absoluto) 132
GRFICO 53: Leitura do Estatuto do Idoso - geral (porcentagem) 132
GRFICO 54: Leitura do Estatuto do Idoso - IMCC (porcentagem) 132
GRFICO 55: Leitura do Estatuto do Idoso - CMP (porcentagem) 133
GRFICO 56: Leitura do Estatuto do Idoso - IMCERP (porcentagem) 133
GRFICO 57: Escola Dominical - geral (absoluto) 135
GRFICO 58: Escola Dominical - geral (porcentagem) 136
GRFICO 59: Escola Dominical - IMCC (porcentagem) 136
GRFICO 60: Escola Dominical - CMP (porcentagem) 136
GRFICO 61: Escola Dominical - IMCERP (porcentagem) 136
GRFICO 62: Escola Dominical - estudo dos temas - geral (absoluto) 136
GRFICO 63: Cultos, encontros e seminrios - geral (absoluto) 137
GRFICO 64: Cultos, encontros e seminrios - geral (porcentagem) 138
GRFICO 65: Cultos, encontros e seminrios - IMCC (porcentagem) 138
GRFICO 66: Cultos, encontros e seminrios - CMP (porcentagem) 138
GRFICO 67: Cultos, encontros e seminrios - IMCERP (porcentagem) 138
GRFICO 68: Artigos, estudos e pastorais - geral (absoluto) 139
GRFICO 69: Artigos, estudos e pastorais - geral (porcentagem) 140
GRFICO 70: Artigos, estudos e pastorais - geral (no responderam) 140
GRFICO 71: Artigos, estudos e pastorais - IMCC (porcentagem) 140
GRFICO 72: Artigos, estudos e pastorais- CMP (porcentagem) 140
GRFICO 73: Artigos, estudos e pastorais- CMP (porcentagem) 140
GRFICO 74: Boletim Informativo - geral (absoluto) 141
GRFICO 75: Boletim Informativo - geral (porcentagem) 141
GRFICO 76: Expositor Cristo - geral (absoluto) 141
GRFICO 77: Expositor Cristo - geral (porcentagem) 141
GRFICO 78: Voz Missionria - geral (absoluto) 142
GRFICO 79: Voz Missionria - geral (porcentagem) sim/no 142
GRFICO 80: Voz Missionria - geral (porcentagem) por igreja 142
GRFICO 81: Revistas da Escola Dominical - geral (porcentagem) 143
GRFICO 82: Revistas da Escola Dominical - geral (absoluto) 143
GRFICO 83: Sermes - geral (absoluto) 144
GRFICO 84: Sermes - geral (porcentagem) 144
GRFICO 85: Sermes - IMCC (porcentagem) 144
GRFICO 86: Sermes - CMP (porcentagem) 145
GRFICO 77: Sermes - IMCERP (porcentagem) 145
GRFICO 88: Estatuto do Idoso - contato (absoluto) 145
GRFICO 89: Carta do Colgio Episcopal (porcentagem) 146
GRFICO 90: Parceria com outras instituies -sim/no (porcentagem) 147
GRFICO 91: Parceria com outras instituies - quais (porcentagem) 147
FOTOS
FOTO 1: IMCC aplicao do questionrio (1) 107
FOTO 2: IMCC aplicao do questionrio (2) 107
FOTO 3: IMCC aplicao do questionrio (3) 107
FOTO 4: CMP aplicao do questionrio (1) 107
FOTO 5: CMP aplicao do questionrio (2) 107
FOTO 6: CMP aplicao do questionrio (3) 107
FOTO 7: IMCERP aplicao do questionrio (1) 107
FOTO 8: IMCERP aplicao do questionrio (2) 107
FOTO 9: IMCERP aplicao do questionrio (3) 107
FOTO 10: Fachada do Templo - CMP 108
FOTO 11: Fachada do Templo - IMCC 114
FOTO 12: Fachada do Templo - IMCERP 118
MAPAS
Mapa do Brasil apontando as Regies Eclesisticas e Missionrias da Igreja Metodista, conforme classificao da tabela 12.
97
SUMRIO
INTRODUO 18
CAPITULO I - O envelhecimento populacional brasileiro 24
1.1. O envelhecimento e a velhice uma abordagem bblico-teolgico-pastoral
24
1.2. O envelhecimento e a velhice na contemporaneidade conceitos e preconceitos
32
1.3. O envelhecimento populacional brasileiro uma anlise demogrfica
39
1.4. O envelhecimento populacional na agenda das polticas pblicas
48
1.4.1. A agenda internacional 49
1.4.2. A agenda nacional 52
1.5. A velhice e o neoliberalismo
54
CAPITULO II - Histricos e definies: conceitos norteadores da pesquisa (teologia prtica, pastoral, prxis, igreja metodista).
58
2.1. Teologia Prtica 59
2.1.1. Teologia Pastoral - breve histrico e especificidades 60
2.1.2. Teologia Prtica - breve histrico e especificidades 63
2.2. Pastoral 65
2.2.1. Pastoral - breve histrico e conceituao 66
2.3. Prxis 72
2.3.1. Prxis - conceitos gerais 72
2.3.2. Prxis - segundo Casiano Floristn 78
2.4. Igreja Metodista um breve histrico (Inglaterra, EUA e Brasil)
82
2.4.1. Metodismo na Inglaterra 82
2.4.2. Metodismo nos E.U.A. 84
2.4.3 Metodismo no Brasil 85
2.5. Igreja Metodista Proposta Pastoral (PVMI) 90
2.6. Igreja Metodista Organizao Administrativo-Geogrfica 97
2.7. Consideraes sobre o captulo
100
CAPTULO III - A ao pastoral da igreja metodista frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro apresentao, anlise e interpretao dos dados da pesquisa de campo.
103
3.1. Procedimentos Metodolgicos 103
3.2. Breve histrico e caracterizao das Igrejas Pesquisadas 108
3.2.1.Catedral Metodista de Piracicaba 108
3.2.2.Igreja Metodista Central de Campinas 114
3.2.3. Igreja Metodista Central de Ribeiro Preto 118
3.3. Anlise e interpretao dos Dados 122
3.3.1. Perfil dos entrevistados 122
3.3.1.1. Idade, sexo e tempo de membresia 123
3.3.1.2. Conhecimentos gerais sobre o tema 132
3.3.2. Ao Pastoral da Igreja na tica dos entrevistados 133
3.3.2.1. Escola Dominical 134
3.3.2.2. Cultos, Encontros e Seminrios 137
3.3.2.3. Peridicos da Igreja Metodista 138
3.3.2.3.1 Boletim da Igreja local 141
3.3.2.1.2. Expositor Cristo 141
3.3.2.1.3. Voz Missionria 142
3.3.2.1.4. Revistas da Escola Dominical 143
3.3.2.4. Sermes 143
3.3.2.5. Ao Docente - Estatuto do Idoso 145
3.3.3. Opinies e sugestes dos entrevistados quanto prxis pastoral da IM frente ao fenmeno do envelhecimento populacional.
146
3.4. Consideraes finais sobre o captulo 148
CONSIDERAES FINAIS 150
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 159
ANEXOS 178
Anexo 1 - Termo de consentimento livre e esclarecido 179
Anexo 2 - Questionrio (Pesquisa de Campo) 181
Anexo 3 - Parecer consubstanciado do CEP-UMESP 183
Anexo 4 - Relatrio de Estatstica Igreja Local 2008 (CMP) 184
Anexo 5 - Relatrio de Estatstica Igreja Local 2008 (IMCC) 188
Anexo 6 - Relatrio de Estatstica Igreja Local 2008 (IMCERP) 192
Anexo 7 - Total de Membros - Estatsticas 2007 (Nacional) 196
Anexo 8 - Total de Membros - Estatsticas 2008 (5 RE) 197
Anexo 9 - Regimento da Escola Dominical - Igreja Metodista. 200
INTRODUO
O presente trabalho, que se insere na rea de Prxis Religiosa e
Sociedade do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio da
Universidade Metodista de So Paulo se prope a analisar a Ao Pastoral da
Igreja Metodista frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro.
Quando comecei a me interessar pelos estudos do envelhecimento e da
velhice, algumas pessoas me questionavam como um jovem poderia se
interessar por um tema como este. Ouvi expresses como: Voc to novinho
estudando sobre os velhos? Vai estudar uma coisa mais interessante, Voc
louco, as pessoas querendo fugir da velhice e voc querendo ficar perto dela,
outros ainda diziam, Trabalhar com velho fcil, eles s esto esperando para
morrer. Desde o incio percebi as dificuldades para falar sobre a velhice, sendo
um jovem. Simone de Beauvoir, na introduo de sua monumental obra sobre
a velhice, relata algo muito parecido: "Quando eu digo que trabalho num ensaio
sobre a velhice, quase sempre as pessoas exclamam: Que idia!... Mas voc
no velha!... Que tema triste..."1
1 BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003.p. 08.
19
Meu interesse por estudos gerontolgicos e, especialmente, pelo
desenvolvimento desta pesquisa fruto de minha formao teolgica e prtica
pastoral. Assim que comecei os estudos teolgicos, com apenas 19 anos de
idade, fui seminarista em uma igreja da cidade de Campinas-SP, localizada no
bairro de So Bernardo. Era uma pequena comunidade composta por pessoas
idosas. Nela tive minha primeira experincia de conviver e pastorear idosos.
Ainda no perodo de estudos fui nomeado como pastor acadmico para a Igreja
Metodista em Amparo-SP. Nesta comunidade havia um grande nmero de
idosos e l tive minhas primeiras experincias de desenvolver uma ao
pastoral mais prxima a eles. Aps minha formatura, recebi nomeao
episcopal para a Igreja Metodista em Rondonpolis-MT. Esta foi a nica igreja
que pastoreei, cuja populao idosa era muito pequena. Aps trs anos de
trabalho fui transferido para a Igreja Metodista em Marlia-SP, nesta, a
populao idosa era muito expressiva e atuante. Atualmente estou pastoreando
a Catedral Metodista de Piracicaba-SP, cuja comunidade composta por
muitos idosos.
Iniciei minhas atividades pastorais, ainda como seminarista, em 1989 e
passados vinte anos estou dissertando sobre um dos temas que mais me
chamou a ateno na vida da igreja: a falta de uma Pastoral voltada para as
pessoas idosas. Tenho verificado em minha experincia ministerial que a igreja
desenvolve pastorais voltadas para a infncia e a juventude, porm parece
ignorar a presena, a ao e as limitaes dos idosos na sociedade. Parece-
nos que as programaes das Igrejas so voltadas, em sua maioria, para os
jovens e as crianas.
Somado minha experincia pastoral e a percepo pessoal de que a
igreja parecia no produzir uma pastoral voltada para o idoso, veio minha
descoberta de que o envelhecimento populacional uma realidade mundial, e
que no Brasil este fenmeno tem trazido novos desafios para o governo e para
a sociedade como um todo. Foram estes fatores que me motivaram a
pesquisar o tema.
20
Para a elaborao desta pesquisa foram utilizados dois mtodos de
procedimento: o mtodo histrico e o mtodo estatstico. Eva Maria Lakatos
define os dois da seguinte forma:
MTODO HISTRICO (...) consiste em investigar acontecimentos, processos e instituies do passado para verificar a sua influncia na sociedade de hoje, pois as instituies alcanaram sua forma atual atravs de alteraes de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada poca.2 MTODO ESTATSTICO (...) fundamenta-se na utilizao da teoria estatstica das probabilidades. Suas concluses apresentam grande probabilidade de serem verdadeiras, embora admitam certa margem de erro. A manipulao estatstica permite comprovar as relaes dos fenmenos entre si, e obter generalizaes sobre sua natureza, ocorrncia ou significado.3
Nos dois primeiros captulos foi utilizado o mtodo histrico e a
metodologia da pesquisa foi bibliogrfica. No terceiro captulo o mtodo
utilizado foi o estatstico e a metodologia da pesquisa a quantitativa, seguindo o
mtodo survey descritivo, atravs da aplicao de um questionrio estruturado
cuja populao-alvo so os membros da Igreja Metodista com 60 anos ou mais
de idade. Reconhecendo ser impraticvel entrevistar todos os metodistas
idosos do Brasil decidiu-se pela pesquisa por amostragem, uma das
caractersticas do mtodo de survey. No terceiro captulo sero melhor
especificados os procedimentos metodolgicos. Como visto, a pesquisa foi
dividida em trs captulos.
No primeiro captulo, com o objetivo de apresentar o fenmeno do
envelhecimento populacional e seus desafios para a sociedade, sero
apresentados os seguintes subitens: O envelhecimento e a velhice uma
abordagem bblico-teolgico-pastoral, onde sero destacados dois conceitos
bblicos de ancio: zqn (hebraico) e presbytero (grego). No segundo subitem,
intitulado O envelhecimento e a velhice na contemporaneidade conceitos e
preconceitos, sero abordados alguns conceitos que tem demonstrado
2 LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia Cientfica. So Paulo: Atlas, 1983, p.79. 3 Ibid.
21
distores do que seja verdadeiramente a velhice por sua dependncia
excessiva do modelo biomdico (biomedicalizao da velhice). No terceiro
subitem, intitulado: O envelhecimento populacional brasileiro uma anlise
demogrfica, sero apresentados dados estatsticos que comprovam o
fenmeno do envelhecimento populacional. No quarto subitem, O
envelhecimento populacional na agenda das polticas pblicas, para
compreender os desafios provenientes deste fenmeno e saber como o
governo tem tratado o tema, sero feitos alguns apontamentos das agendas
nacional e internacional sobre o envelhecimento populacional. Para concluir o
primeiro captulo, ser realizada uma breve reflexo sobre a sociedade
neoliberal e sua relao com os idosos
No segundo, por reconhecer que a pesquisa utilizar ferramentas da
Teologia Prtica, principalmente a apresentada por Casiano Floristn, ser
apresentado um breve histrico e a conceituao de alguns termos relevantes,
para esta pesquisa: Teologia Prtica, Teologia Pastoral, Pastoral, Prxis, Igreja
Metodista. Para compreender a especificidade da Teologia Prtica, ser
apresentado um breve histrico e sua conceituao, procurando diferenci-la
da Teologia Pastoral, pois as duas, muitas vezes, foram confundidas no
decorrer da histria. Para esclarecer o significado da expresso Ao
Pastoral neste trabalho, ser apresentado um breve histrico do termo
Pastoral e o desenvolvimento do conceito no contexto da Amrica Latina.
Quanto utilizao do termo prxis no contexto deste trabalho, ser
apresentado, ainda que sucintamente, seu significado etimolgico, sua
utilizao e compreenso a partir do senso comum (conscincia comum da
prxis), o desenvolvimento e a elaborao do conceito filosfico (conscincia
filosfica da prxis), e mais especificamente, o conceito de prxis segundo
Casiano Floristn. Com o objetivo de apresentar a Igreja Metodista, sero
realizados breves apontamentos sobre sua histria, estrutura geogrfico-
organizacional e proposta Pastoral.
Reconhecendo que o envelhecimento populacional brasileiro um
fenmeno que tem apresentado novos desafios para a sociedade e em
particular para a misso da igreja (1 captulo) e que a Igreja Metodista tem
uma proposta pastoral libertadora e transformadora que leva em considerao
22
a importncia do engajamento social (2 captulo), o terceiro captulo realizar
uma pesquisa de campo com o objetivo de aferir qual tem sido a ao pastoral
da Igreja Metodista frente a este fenmeno segundo a percepo dos idosos
que freqentam as igrejas locais. Diante da Populao-Alvo, composta por
todos os metodistas com 60 anos ou mais, espalhada pelas oito Regies
Eclesisticas/Missionrias, optou-se pela Quinta RE, nesta, pelos distritos de
Campinas, Piracicaba e Ribeiro Preto, e nestes pelas igrejas centrais das
cidades sedes dos distritos: Catedral Metodista de Piracicaba (CMP); Igreja
Metodista Central de Campinas (IMCC) e (Igreja Metodista Central de Ribeiro
Preto (IMCERP). A opo por estas comunidades como amostras para o
estudo no foi aleatria, mas sim, por responderem aos seguintes quesitos: 1)
Igrejas com mais de 90 anos de vida e misso, demonstrando assim
estabilidade organizacional e administrativa; 2) igrejas com uma forte presena
da populao idosa, permitindo, assim, verificar se a comunidade onde ela est
tem refletido sobre o fenmeno do envelhecimento populacional e seus
desafios para igreja; e 3) Igrejas situadas em cidades do estado de So Paulo
cuja populao excede a 350 mil habitantes, reconhecendo que estes
municpios esto numa regio desenvolvida do pas, onde as pessoas tm um
maior acesso a informaes e formao escolar.
Ainda que a Igreja Metodista tenha uma proposta Pastoral de
engajamento social (PVMI), verificar-se- atravs dos resultados da pesquisa,
que, na percepo e ao dos idosos entrevistados, o fenmeno do
envelhecimento populacional e seus desafios no tem feito parte da agenda
missionria da Igreja. As poucas aes que existem so tmidas e voltadas
para a prpria comunidade de f. Diante disso, nas consideraes finais foram
propostas algumas pistas pastorais para uma ao COM e PARA os idosos.
Reconhece-se ser pretensioso, num espao exguo de dissertao, querer
definir aes pastorais para a Igreja Metodista frente ao fenmeno, por isso
deve-se ressaltar que o objetivo ser de apenas delinear algumas pistas. Para
tal, ser levado em considerao: 1) os desafios provenientes do fenmeno do
envelhecimento populacional brasileiro; 2) os resultados da pesquisa de
campo; 3) o conceito de Prxis Pastoral (criadora, reflexiva, libertadora e
radical), bem como, os eixos para a ao Pastoral da Igreja (Misso - Kerigma;
23
Catequese Didaskalia; Liturgia Leitourgia; Comunho Koinonia; Servio
Diakonia) apresentados por Casiano Floristn; e 4) a proposta pastoral da
Igreja Metodista contida no Plano para a Vida e a Misso da Igreja (PVMI).
CAPTULO I
O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL
Para melhor compreender o fenmeno do envelhecimento populacional
bem como a concepo de velhice que se tem na atualidade, subdividiu-se
este captulo com os seguintes temas: o envelhecimento e a velhice uma
abordagem bblico-teolgico-pastoral; o envelhecimento e a velhice na
contemporaneidade conceitos e preconceitos; o envelhecimento populacional
brasileiro uma anlise demogrfica; o envelhecimento populacional na
agenda das polticas pblicas; e por fim, a velhice e o neoliberalismo.
1.1. O envelhecimento e a velhice uma abordagem bblico-teolgico-
pastoral
Delimitar teoricamente o incio do envelhecimento, bem como o conceito
de velhice tem sido um ponto de divergncia entre os pesquisadores, os
legisladores e a populao de forma geral.
H uma tendncia em muitas pessoas em colocar no mesmo patamar a
velhice e o envelhecimento. A confuso destes termos fortalece uma iluso de
25
salvao em que, pretensamente, s os velhos envelhecem... e j que os
velhos so os outros...!.1 Continua Messy:
O envelhecimento no a velhice, como uma imagem no se reduz a uma etapa. O envelhecimento um processo irreversvel, que se inscreve no tempo. Comea com o nascimento e acaba na destruio do indivduo. (...) Os significados so inseparveis. (...) Se o envelhecimento o tempo da idade que avana, a velhice o da idade avanada, entende-se, em direo morte".2
J que velho sempre o outro, muitas pessoas se assustam quando so
chamadas de velhas pela primeira vez3. A percepo da velhice, na maioria
das vezes, acontece de "fora para dentro". o outro que reconhece a velhice;
o espelho que mostra as mudanas; so situaes do cotidiano que
apresentam o fato novo.
Nesse sentido vlido dizer que, tanto a velhice, quanto o momento em
que ela se d, no so rgidos, variam de pessoa para pessoa, de acordo com
o seu histrico de vida.
No decorrer dos tempos muitos conceitos e parmetros quanto ao
envelhecimento e a velhice, foram adotados e descartados. Atravs do
conhecimento de como as pessoas concebiam a velhice no passado, pode-se
perceber algumas heranas culturais que na atualidade influenciam na
compreenso do conceito que se faz da velhice e do envelhecimento
Beauvoir4 fez uma pesquisa minuciosa sobre a condio do velho nas
sociedades primitivas, destacando principalmente sua posio no contexto
social. Percebeu que diferentes posturas foram assumidas por estas
sociedades: algumas eliminavam seus velhos, outras os abandonavam at
morrerem, por outro lado, algumas, mesmo em situao de penria os
respeitavam e veneravam. Para a autora, para compreender a realidade e o
significado da velhice , portanto, indispensvel examinar qual o lugar nela
1 MESSY, J. A pessoa idosa no existe. So Paulo: Editora ALEPH, 1992. p. 17 2 Ibid., p.12 e 17 3 BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003. 4 Ibid.
26
atribudo aos velhos, qual a imagem que deles se tem em diferentes pocas e
em diferentes lugares.5
Provavelmente um dos textos mais antigos que discorre sobre a velhice
do filsofo e poeta egpcio Ptah-Hotep, escrito por volta de 2500 a.C, que
descreve assim o fim de um velho:
Vai dia a dia enfraquecendo: a vista baixa, as orelhas se tornam surdas; a fora declina; o corpo no encontra repouso, a boca se torna silenciosa e j no fala. Suas faculdades intelectuais se reduzem e tornam-lhe impossvel recordar hoje o que foi ontem. Doem-lhe todos os ossos. As ocupaes a que outrora se entregava com prazer s as realiza agora com dificuldade e desaparece o sentido do gosto. A velhice a pior desgraa que pode acometer um homem. O nariz se obstrui e nada mais se pode cheirar. 6
Ao escrever uma histria da velhice, Jean-Pierre Bois argumentou que,
no importava o perodo em que ela fosse abordada, o discurso sempre
passava por uma discusso de
[...] temas em oposio mas sem dvida complementares sabedoria e loucura, felicidade e tristeza, beleza e feira, virtudes e corrupes de idade e das pessoas idosas que exprimem duas aspiraes, a tentao de uma vida longa e a recusa das fraquezas clssicas da idade.7
No objetivo deste trabalho apresentar uma histria da velhice8,
porm, por tratar-se de uma pesquisa na rea de Prxis Religiosa e Sociedade
que pretende estudar a prtica missionria da Igreja Metodista frente ao
fenmeno do envelhecimento populacional, faz-se necessrio uma breve
abordagem bblico-teolgica sobre o envelhecimento e a velhice.
Pode-se afirmar que tanto a comunidade de Israel (descrita nos textos
do Antigo Testamento), quanto as comunidades crists do 1 sculo
(compostas por pessoas de vrios povos e naes, descritas no Novo
Testamento) tratavam os idosos com muito respeito. Voltando afirmao de 5 BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003. p. 41. 6 PTAH-HOTEP. Ensinamento de Ptah-hotep apud: Ibid, p. 103. 7BOIS, Jean-Pierre. Histoire de la vieillesse, Paris: PUF, 1994 apud: ALVES JNIOR. Edmundo de Drummond, A Pastoral do Envelhecimento Ativo. Tese Apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao Fsica da Universidade Gama Filho Como Requisito Parcial Obteno do Ttulo de Doutor em Educao Fsica. 2004. p. 24. 8 Para uma melhor compreenso da histria da velhice confira BEAUVOIR. Op. cit. e ALVES JNIOR. Op. cit.
27
Beauvoir, elas podem ser includas entre as sociedades da antiguidade que
valorizavam seus velhos, mesmo em casos de penrias.
Voltar os olhos para algumas afirmaes bblicas com respeito ao
envelhecimento e a velhice, buscando contextualiz-las, uma forma de
compreender o lugar do idoso na sociedade da poca.
No Antigo Testamento existem vrias palavras que podem ser
traduzidas por "velho" ou "velhice". Porm, neste momento optar-se- apenas
pela palavra hebraica zqn, por ser ela a mais citada entre todas. Derivada da
palavra zqn, barba, ela significa idoneidade e sabedoria provenientes de
uma vida farta de dias. Esta palavra aparece 167 vezes no plural (ancios) e 9
no singular (ancio). Na Septuaginta (LXX) ela foi traduzida por presbyteros.
Nos textos que narram o tempo do xodo, os ancios so apresentados
como importantes personagens, pessoas que recebiam tarefas especficas e
lideravam o povo sob a responsabilidade de Moiss:
Vai, ajunta os ancios de Israel e dize-lhes: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abrao, o Deus de Isaque e o Deus de Jac, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que vos tem sido feito no Egito. Portanto, disse eu: Far-vos-ei subir da aflio do Egito para a terra do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu, para uma terra que mana leite e mel. E ouviro a tua voz; e irs, com os ancios de Israel, ao rei do Egito e lhe dirs: O SENHOR, o Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de trs dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao SENHOR, nosso Deus. Eu sei, porm, que o rei do Egito no vos deixar ir se no for obrigado por mo forte. Portanto, estenderei a mo e ferirei o Egito com todos os meus prodgios que farei no meio dele; depois, vos deixar ir. Eu darei merc a este povo aos olhos dos egpcios; e, quando sairdes, no ser de mos vazias. Cada mulher pedir sua vizinha e sua hspeda jias de prata, e jias de ouro, e vestimentas; as quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas; e despojareis os egpcios. (xodo 3:16-22)9
Respondeu o SENHOR a Moiss: Passa adiante do povo e toma contigo alguns dos ancios de Israel, leva contigo em mo o bordo com que feriste o rio e vai. Eis que estarei ali diante de ti sobre a rocha em Horebe; ferirs a rocha, e dela sair gua, e o povo beber. Moiss assim o fez na presena
9 BBLIA SAGRADA. Sociedade Bblica do Brasil. Traduzida em portugus por Joo Ferreira de Almeida. So Paulo, 2000. (edio revista e atualizada)
28
dos ancios de Israel. E chamou o nome daquele lugar Mass e Merib, por causa da contenda dos filhos de Israel e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Est o SENHOR no meio de ns ou no? (xodo 17:5-7)10
Disse tambm Deus a Moiss: Sobe ao SENHOR, tu, e Aro, e Nadabe, e Abi, e setenta dos ancios de Israel; e adorai de longe. S Moiss se chegar ao SENHOR; os outros no se chegaro, nem o povo subir com ele. Veio, pois, Moiss e referiu ao povo todas as palavras do SENHOR e todos os estatutos; ento, todo o povo respondeu a uma voz e disse: Tudo o que falou o SENHOR faremos. (xodo 24:1-3)11
Durante o perodo da monarquia os ancios formavam o Conselho Real.
Decidiam sobre os acordos de paz ou os atos de guerra. Em muitos momentos
assumiam funes judicirias:
Disse ainda Aitofel a Absalo: Deixa-me escolher doze mil homens, e me disporei, e perseguirei Davi esta noite. Assalt-lo-ei, enquanto est cansado e frouxo de mos; espant-lo-ei; fugir todo o povo que est com ele; ento, matarei apenas o rei. Farei voltar a ti todo o povo; pois a volta de todos depende daquele a quem procuras matar; assim, todo o povo estar em paz. O parecer agradou a Absalo e a todos os ancios de Israel... Disse Husai a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: Assim e assim aconselhou Aitofel a Absalo e aos ancios de Israel; porm assim e assim aconselhei eu. (2 Samuel 17:1-4,15)12
Ento, o rei de Israel chamou todos os ancios da sua terra e lhes disse: Notai e vede como este homem procura o mal; pois me mandou exigir minhas mulheres, meus filhos, minha prata e meu ouro, e no lho neguei. Todos os ancios e todo o povo lhe disseram: No lhe ds ouvidos, nem o consintas. (1 Reis 20:7-8)13
Mas, havendo algum que aborrece a seu prximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e o fere de golpe mortal, e se acolhe em uma dessas cidades, os ancios da sua cidade enviaro a tir-lo dali e a entreg-lo na mo do vingador do sangue, para que morra. No o olhars com piedade; antes, exterminars de Israel a culpa do sangue inocente, para que te v bem. (Deuteronmio 19:10-13)14
No perodo do Exlio Babilnico o povo de Israel no tinha uma liderana
oficial, sendo assim os ancios eram os nicos a exercerem autoridade sobre o
10 BBLIA SAGRADA. Sociedade Bblica do Brasil. Traduzida em portugus por Joo Ferreira de Almeida. So Paulo, 2000. (edio revista e atualizada) 11 Ibid. 12 Ibid. 13 Ibid. 14 Ibid.
29
povo. Quando retornaram Palestina, o povo estabeleceu em cada cidade um
conselho de ancios, formando assim, o Sindrio.15 Sobre o Sindrio, esclarece
Morin:
O Sindrio no remonta a Moiss... tem sua origem nos Conselhos de Ancios de que o Sumo Sacerdote se cercou, desde os tempos da dominao Persa. O chefe da sinagoga era escolhido entre os ancios. Cabia-lhes zelar pelo prdio e pela ordem das assemblias, dirigir as preces e os cantos, designar as intervenes.16
No Novo Testamento, verifica-se a participao ativa dos ancios
(presbyteros) no Sindrio ao lado dos escribas e sacerdotes:
Ento, vieram de Jerusalm a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: Por que transgridem os teus discpulos a tradio dos ancios? Pois no lavam as mos, quando comem. (Mateus 15:1-2)17
Ora, reuniram-se a Jesus os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalm. E, vendo que alguns dos discpulos dele comiam po com as mos impuras, isto , por lavar (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradio dos ancios, no comem sem lavar cuidadosamente as mos; quando voltam da praa, no comem sem se aspergirem; e h muitas outras coisas que receberam para observar, como a lavagem de copos, jarros e vasos de metal {e camas}), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que no andam os teus discpulos de conformidade com a tradio dos ancios, mas comem com as mos por lavar? (Marcos 7:1-5)18
No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalm as autoridades, os ancios e os escribas com o sumo sacerdote Ans, Caifs, Joo, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote; e, pondo-os perante eles, os argiram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto? Ento, Pedro, cheio do Esprito Santo, lhes disse: Autoridades do povo e ancios...(Atos 4:5-8)19
Pode-se afirmar que a sociedade israelita em seus vrios momentos
histricos sempre respeitou e reverenciou os idosos, reconhecendo neles
idoneidade e sabedoria.
15 SANCHEZ, R. Enciclopdia de la Bblia. Barcelona, Garriga, 1963, p. 489. 16 MORIN, E. Jesus e as Estruturas de seu tempo. So Paulo: Paulinas, 1984. p. 103 e 133 17 BBLIA SAGRADA. Op. cit. 18 Ibid. 19 SOCIEDADE BBLICA DO BRASIL. Bblia Sagrada. Traduzida em portugus por Joo Ferreira de Almeida. So Paulo, 2000. (edio revista e atualizada).
30
A igreja primitiva, conhecida atravs dos textos do Novo Testamento,
seguir a mesma tradio da sociedade israelita, valorizando os ancios
(presbyteros) e dando-lhes lugar de destaque e liderana nas comunidades
nascentes. Menoud afirmar: os presbteros dirigem a igreja na ausncia dos
apstolos e em colaborao com eles em sua presena. Este o caso por
ocasio do conclio de Jerusalm (Atos 15) e mais tarde quando Paulo chega
pela ltima vez na cidade santa (Atos 21:28).20
Por sua idade e experincia o ancio era respeitado e sua opinio
valorizada; ele participava das principais decises da comunidade; era
responsvel pela administrao, o ensino e o governo da igreja:21
Alguns indivduos que desceram da Judia ensinavam aos irmos: Se no vos circuncidardes segundo o costume de Moiss, no podeis ser salvos. Tendo havido, da parte de Paulo e Barnab, contenda e no pequena discusso com eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalm, aos apstolos e presbteros, com respeito a esta questo. Enviados, pois, e at certo ponto acompanhados pela igreja, atravessaram as provncias da Fencia e Samaria e, narrando a converso dos gentios, causaram grande alegria a todos os irmos. Tendo eles chegado a Jerusalm, foram bem recebidos pela igreja, pelos apstolos e pelos presbteros e relataram tudo o que Deus fizera com eles.( Atos 15:1-4)22
Rogo, pois, aos presbteros que h entre vs, eu, presbtero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glria que h de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que h entre vs, no por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por srdida ganncia, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescvel coroa da glria. (1 Pedro 5:1-4)23
Pode-se afirmar que tal como na sociedade israelita, as comunidades
crists primitivas tambm valorizaram o ancio dando-lhe lugar de destaque e
liderana. Tanto o Antigo, quanto o Novo Testamento registraram este fato.
20 MENOUD, in: ALLMEN, Jean J. Von & colaboradores. Vocabulrio Bblico. 3 Ed. So Paulo: ASTE, 2001. p. 253. 21 Ibid., p. 252-256 22 BBLIA SAGRADA. Sociedade Bblica do Brasil. Traduzida em portugus por Joo Ferreira de Almeida. So Paulo, 2000. (edio revista e atualizada). 23 Ibid.
31
Como j foi afirmado, existem outras palavras para designar velho e a
velhice, mas em nossa pesquisa optamos pelas palavras zqn (hebraico) e
presbyteros (grego). Porm, para que no se tenha uma viso distorcida da
compreenso bblica da velhice e do envelhecimento importante afirmar que
existem abordagens bblicas mais otimistas (idealistas) da que foi apresentada,
bem como tambm, outras mais pessimistas. Born nos ajuda nesta
compreenso quando nos afirma:
Uma viso idealista v na velhice uma gloriosa coroa (Pv. 16:31) e admira a sua experincia (Ecl. 25:6) sabedoria e compreenso (J 12:12; 15:9s; Ecl. 25: 4ss) e seus vastos conhecimentos (J 8:18ss). Por isso, Dn 7:9 no hesita em apresentar Deus, por causa de sua existncia desde toda a eternidade, como um ancio, e Pv. 16: 31 ousa chamar a velhice de uma bela recompensa; em Is. 65:20 e Zc. 8:4 a velhice tem at o seu lugar no quadro da felicidade escatolgica. Porm, a Bblia tambm d palavra velhoum sentido bastante pejorativo como, por exemplo, no NT quando Paulo se refere ao velho homem, alienado de Deus e ao novo homem, reconciliado com Deus, porm, esse termo no se refere idade cronolgica. A Bblia pinta a velhice em cores sombrias: a vida vai se enfraquecendo (Gn. 27:12; 1Rs 14:4), o calor do corpo vai diminuindo (1Rs 1:1), sofre-se de reumatismo ((1Rs 15:23), a alegria vital vai se esmorecendo (2Sm 19:36ss), no se tem mais energias para medidas vigorosas, a potncia para gerar filhos est morta (Gn 18:11ss; Lc 1:18; Rm 4:19).24
A sociedade contempornea, regida por uma filosofia neoliberal que
reduz o homem a um ser econmico (produtor, investidor e consumidor)25,
exclui aqueles que no tenham condies materiais de produzir, investir ou
consumir no Mercado. Dentre estes excludos, encontramos os idosos que ao
longo do tempo e da histria foram perdendo seu espao de respeito e
contribuio social. Como afirmou Beauvoir, , para compreender a realidade e
o significado da velhice , portanto, indispensvel examinar qual o lugar nela
atribudo aos velhos, qual a imagem que deles se tem em diferentes pocas e
em diferentes lugares.26
24 BORN, A. Van Den. Dicionrio Enciclopdico da Bblia. Petrpolis: Vozes, 1971. p. 1546. 25 SUNG, Jung Mo. Sementes de Esperana. Petropolis: Vozes, 2005 p. 98-99 26 BEAUVOIR. Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003, p.41
32
1.2. O envelhecimento e a velhice na contemporaneidade conceitos
e preconceitos
O tema do envelhecimento e da velhice na contemporaneidade pode ser
abordado de vrias formas. Neste trabalho, optou-se por apresentar as
distores provenientes do uso do modelo biomdico27 na compreenso e
conceituao destes termos, por compreender que a construo social da
velhice a partir dos mesmos, tem focalizado no idoso as doenas e suas
limitaes fsico-qumicas. Isto leva a associao da velhice a doenas,
anormalidades e limitaes. O idoso muito mais que suas doenas e suas
limitaes fsico-qumicas.
Antes, propriamente, de abordar o tema da biomedicalizao da velhice,
far-se- uma breve introduo questo epistemolgica. Isto de fundamental
importncia para que se verifique a mudana de paradigma epistemolgico no
decorrer da histria, quando a cincia passa a ser considerada em alguns
crculos, como sinnimo da nica verdade.
O conhecimento cientfico, como ele entendido hoje, fruto do sculo
XIX. Antes disso o que se tinha eram estudantes da natureza em busca de
uma filosofia da natureza ou uma histria natural.28 Segundo Filoramo e
Prandi:
O sculo XIX caracterizou-se por um processo de ramificao das cincias naturais e das cincias humanas, em meio s profundas transformaes por que passou o Ocidente, em seu conjunto. A revoluo industrial, em seu interior, e as conquistas coloniais, em seu exterior, colocaram a cultura europia diante de novas exigncias de definio da prpria capacidade de leitura tanto da sociedade ocidental quanto das sociedades com as quais o ocidente havia estabelecido relaes de domnio e intercambio.29
27 Utilizar-se- como referencial terico o texto NERI, A. L. Biomedicalizao da velhice: distores cognitivas relacionadas ao uso de modelo biomdico na pesquisa gerontolgica. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p.11-22. 28 HARRISON, Peter. Cincia e Religio: Construindo os Limites. in: Revista de Estudos da Religio. no 1, 2007, p. 1 29 FILORAMO, Giovani e PRANDI, Carlo. As Cincias das Religies. So Paulo: Paulus, 2007 p. 06.
33
Para Sommerman no sculo XII iniciou-se uma grande ruptura na viso
cosmolgica, antropolgica e epistemolgica da elite europia, que a levou no
decorrer dos sculos seguintes...
... de uma perspectiva multidimensional (que chamarei de tradicional) do cosmos e do ser humano, apoiada no mito judaico-cristo e na filosofia platnica, para uma perspectiva e teoria do conhecimento cada vez mais racionais e empricas, o que levou a estrutura circular das disciplinas que se alimentavam mutuamente para permitir a compreenso do todo a uma reduo e fragmentao do saber.30
Essas rupturas levaram a uma separao crescente entre a tradio, a
religio, a filosofia, e a cincia nos sculos seguintes. Verifica-se que nos
sculos XV, XVI e XVII, alguns pensadores (Coprnico31, Galileu32, Newton33),
baseando-se em epistemologias racionalistas ou empiristas, estabeleceram os
fundamentos da cincia moderna, ao mesmo tempo quantitativa e
experimental.34
Sobre este processo de mudana epistemolgica, afirma Morin:
... a tradio crtica, nascida da filosofia, em Atenas, cinco sculos antes de nossa era, interrompida cinco sculos depois na nossa era, foi reconstituda com o Renascimento; foi no
30 SOMMERMAN, Amrico. Inter ou transdisciplinaridade?: da fragmentao disciplinar ao novo dilogo entre os saberes. So Paulo: Paulus, 2006. p. 09. 31 Nicolau Coprnico (1473-1543) - astrnomo polons: Revolucionou o pensamento ocidental atravs do sistema heliocntrico. Quando afirmou que a Terra se move em torno do Sol, em 1543, o cientista no apenas divulgou um novo postulado cientfico. O que Coprnico provocou foi uma revoluo no pensamento ocidental, ao tirar pela primeira vez o homem do centro do Universo. At ento, a teoria geocntrica de Ptolomeu, em que tudo gira em volta da terra, era a verdade que guiava a filosofia, a cincia e a religio. Fonte: Enciclopedia Italiana di Scienze, Lettere ed Arti (Treccani) - http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u202.jhtm (visitado em 23 de abril de 2009). 32 Galileu Galilei (1564-1642) - Responsvel por uma revoluo na fsica e na astronomia. Dentre as vrias contribuies cincia destacam-se: o binculo, a balana hidrosttica, o compasso geomtrico, uma rgua calculadora e o termobaroscpio. Em 1609, construiu um telescpio muito melhor que os existentes na poca. A partir de suas descobertas astronmicas, defendeu a tese de Coprnico de que a Terra no ficava no centro do Universo. Fonte: Enciclopedia Italiana di Scienze, Lettere ed Arti (Treccani) - http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u202.jhtm (visitado em 23 de abril de 2009). 33 Isaac Newton (1642-1727) Lanou as bases da cincia moderna travs de Princpios Matemticos da Cincia Natural. Ao observar uma ma caindo de uma rvore, ele comeou a pensar que a fora que havia puxado a fruta para a terra seria a mesma que impedia a Lua de escapar de sua rbita. Descobriu a lei da gravitao universal. Foi a primeira vez que uma lei fsica foi aplicada tanto a objetos terrestres quanto a corpos celestes. Ao firmar esse princpio, Newton eliminou a dependncia da ao divina e influenciou profundamente o pensamento filosfico do sculo 18, dando incio cincia moderna. http://educacao.uol.com.br/biografias/ ult1789u549.jhtm (visitado em 23 de abril de 2009). 34 SOMMERMAN. Op cit. p. 09.
34
primeiro caldo de cultura da cincia que se destacou como um ramo da filosofia mas que, mesmo assim, obedece a essa tradio crtica que marcou a histria ocidental e que hoje em dia se universaliza atravs da difuso da cincia no mundo.35
Outro fator a se destacar que juntamente com estas rupturas
epistemolgicas (tradio, religio, filosofia e cincia) acontecer uma
mudana na resposta relativa a qual o conhecimento verdadeiro. A partir de
ento, o conhecimento nascido da cincia passou a ser o detentor da verdade.
Edgar Morin ao abordar o tema sobre a verdade da cincia, dir:
Mas vamos questo da verdade cientfica, que foi central e continua a ser atualmente -, porque, durante muito tempo e ainda hoje, para muitos espritos, nossa concepo de cincia identificava-se com a verdade. A cincia parecia, finalmente, o nico lugar de certeza, de verdade certa, em relao ao mundo dos mitos, das idias filosficas, das crenas religiosas, das opinies. A verdade da cincia parecia indubitvel, visto que se baseava em verificaes, em confirmaes, numa multiplicao de observaes, que confirmavam sempre os mesmos dados. Nessa base, constituindo uma teoria cientfica uma construo lgica, e a coerncia lgica parecendo refletir a prpria coerncia do universo, a cincia no podia deixar de ser verdade.36
Por mais que a cincia tenha auxiliado na compreenso de muitas reas
da vida humana, ela no pode ser considerada a nica e a verdadeira forma de
conhecimento. No pelo fato de trazer em si a prova emprica (dados
verificados por diferentes observaes-experimentaes), bem como, a prova
lgica (coerncia terica) que ela poder se considerar detentora da nica
verdade. Para Morin,
O saber cientfico ... no s provisrio, mas tambm desemboca em profundos mistrios referentes ao Universo, Vida, ao nascimento dos ser humano. Aqui se abre um indecidvel, no qual intervm opes filosficas e crenas religiosas atravs de culturas e civilizaes.37
Outro esclarecimento importante a se fazer que dentro do prprio
campo epistemolgico da cincia nos deparamos com vrias abordagens de
35 MORIN, Edgar. Cincia com conscincia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 41 36 Ibid., p. 147-148 37 MORIN, Edgar. Os sete saberes necessrios educao do futuro. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: UNESCO, 2000. p. 13
35
um mesmo objeto de estudo. Um exemplo so as diversas formas de se
abordar a cincia do envelhecimento. Segundo Papalo:
A cincia do envelhecimento tem a responsabilidade de ser o centro do qual emanam suas ramificaes gerontologia social, gerontologia biomdica e geriatria que, em conjunto, atuam sobre os mltiplos aspectos do fenmeno do envelhecimento e suas conseqncias. 38
A gerontologia social aborda os aspectos no orgnicos, enquanto a
gerontologia biomdica e a geriatria abordam os aspectos orgnicos. Os
estudos da gerontologia social partem de pressupostos antropolgicos,
psicolgicos, legais, sociais, ambientais, econmicos, ticos e polticos de
sade. A geriatria, cujo objetivo principal curativo e preventivo, parte de
pressupostos estreitamente ligados a disciplinas mdicas, tais como:
neurologia, cardiologia, psiquiatria, pneumologia e outras. Isto levou a uma
especializao dos conhecimentos: neurogeriatria, psicogeriatria,
cardiogeriatria e neuropsicogeriatria, entre outras. J a gerontologia mdica
tem como objetivo principal estudar os fenmenos do envelhecimento, partindo
dos pressupostos da cincia mdica, porm focalizando na questo molecular
e celular. 39
Num pas como o Brasil que experimenta os desafios decorrentes do
crescimento da populao idosa40, mas que ao mesmo tempo vivencia o
avano e a consolidao da gerontologia e da geriatria como cincia e
profisso, faz-se necessrio uma reflexo sobre as origens e o impacto do
modelo biomdico sobre o estudo da velhice. Seguindo a mesma linha de
raciocnio que Morin, Nri afirmar:
O sculo XX assistiu consolidao do poder da medicina como campo profissional, como disciplina e como viso de
38 PAPALO, Matheus. O estudo da velhice: Histrico, Definio de Campo e Termos Bsicos. In: FREITAS, Elizabete Viana... [at al.] Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 7-8. 39 PAPALO, Matheus. O estudo da velhice: Histrico, Definio de Campo e Termos Bsicos. In: FREITAS, Elizabete Viana... et al.] Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 8-9. 40 Na segunda parte deste captulo sero apresentados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) que comprovam o crescimento da populao idosa no territrio brasileiro. Na terceira parte ser apresentada a agenda das polticas pblicas, internacional e nacional, demonstrando os desafios apresentados pelo fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro.
36
mundo. Em grande parte, esse poder deriva da associao que a medicina estabeleceu com a cincia, associao essa que legitima suas concepes e aes, bem como avaliza a sua influncia sobre a vida social. A ampla difuso do modelo biomdico sobre o envelhecimento afetou os rumos da pesquisa e da interveno com idosos, assim como influenciou atitudes, prticas e polticas sociais em relao velhice.41
Os gerontlogos sociais rejeitaram o modelo biomdico42 de anlise da
velhice, por entenderem ser este prejudicial para os idosos. Segundo eles a
associao entre velhice e doena expe os mais velhos a preconceitos e a
prticas discriminatrias diante de profissionais, de instituies e at mesmo de
pessoas leigas no assunto.
Ao abordar o conceito de biomedicalizao, Born afirmar: ... tem a ver
com o imenso poder da biomedicina como disciplina e viso de mundo, sua
capacidade para exercer influncia institucional, cientfica e social.43
Neri apresenta alguns equvocos frutos do conceito de velhice e
envelhecimento elaborado a partir do modelo biomdico.
... As principais distores cognitivas, para mim, so as seguintes: 1. supergeneralizao: a crena em que todos os idosos so doentes ou que a velhice uma doena; 2. supersimplificao: crena em que o envelhecimento um processo unitrio, que ocorre da mesma forma em todas as pessoas e com os mesmos resultados; 3. reducionismo: a crena em que o modelo biomdico d conta de explicar completa e satisfatoriamente o envelhecimento; 4. iluso pseudocientfica: crena em que todas as descobertas mdicas e tecnolgicas associadas ao prolongamento da vida apresentadas populao, com a chancela de laboratrio, tm base cientfica; 5. iluso sobre a imediaticidade da aplicao da pesquisa bsica: crena em que os produtos da pesquisa e da tecnologia que ajudam o enfrentamento dos males associados
41 NERI, A. L. Biomedicalizao da velhice: distores cognitivas relacionadas ao uso de modelo biomdico na pesquisa gerontolgica. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 11. 42 A expresso biomedicalizao do envelhecimento surgiu como uma reao dos gerontlogos sociais ao que julgavam ser uma exagerada e indevida ampliao do poder da medicina, tanto para explicar a velhice e o envelhecimento como para propor solues quer no mbito da pesquisa, quer no da interveno em sade e nas polticas sociais. Ibid. p. 12. 43 BORN, Tomiko. A Biomedicalizao da velhice: Implicaes socioculturais. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 22.
37
ao envelhecimento esto imediatamente ao alcance da mo de todas pessoas.44
A construo social da velhice a partir dos conceitos apresentados pela
biomedicalizao acaba por focalizar no idoso as doenas e suas limitaes
fsico-qumicas. O modelo mdico, ao associar doenas velhice, leva a
sociedade a manter imagens desta faixa etria como patologia ou
anormalidade45.
Ainda que a medicina tenha fornecido uma grande contribuio para o
conhecimento e o tratamento da velhice, por si s, sem levar em conta outras
reas do saber (outros pressupostos epistemolgicos), ela acaba por prejudicar
a construo do conhecimento. necessria a busca de uma compreenso da
velhice e do processo do envelhecimento que leve em conta a
multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade. Faz-se necessrio vencer a
barreira conceitual da biomedicalizao para se entender a velhice e o
processo de envelhecimento. importante que se invista na formao de
novas mentalidades com viso mais ampla e clara sobre as vrias facetas do
envelhecimento para combater os preconceitos sociais, profissionais e
cientficos em relao velhice.46
Neri apresenta dez manifestaes de preconceito a serem evitadas por
mdicos e no-mdicos no campo da gerontologia, em favor do progresso da
rea e do bem-estar dos idosos:
1) a associao incondicional entre velhice e doena e a conseqente legitimao da medicina como campo preferencial de pesquisa e de atuao em favor dos idosos;
44 NERI, A. L. Biomedicalizao da velhice: distores cognitivas relacionadas ao uso de modelo biomdico na pesquisa gerontolgica. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 13-14. 45 Estudos sistemticos, assim como observaes colhidas em grupo de idosos ou entre famlias revelam que a tendncia biomedicalizao da velhice atinge o pblico leigo em geral e o prprio grupo de idosos. Piadas correntes, assim como observaes sobre e dos prprios idosos costumam estar carregadas de imagens negativas da velhice, associadas a enfermidade e ao declnio fsico e mental irreversvel, perda da autonomia e ao aumento da dependncia. O prprio idoso, ao internalizar as imagens negativas da velhice pode tornar-se dependente e doente ou simplesmente assumir posturas ou desenvolver comportamentos considerados caractersticos de idosos. Ibid. p. 25. 46 MEDEIROS, S.L. Comentrios Finais. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 34
38
2) para efeito de pesquisa e da interveno, considerar pessoas de mais de sessenta anos como um grupo homogneo. Na verdade, a velhice comporta considervel variabilidade interindividual e abrange um perodo que pode ser muito longo, no decorrer do qual as limitaes e a fragilidade tendem a aumentar, o que faz dos velhos-jovens um grupo muito diferente dos velhos-velhos;
3) a disseminao da idia segundo o qual existem poucos recursos pessoais e pouca variabilidade na velhice, contrariando dados de pesquisas multidisciplinares;
4) a divulgao da noo de que a adoo de medidas individuais, tais como controle de dieta, cuidados com a sade, estilo de vida ativo e envolvimento social garantia de velhice bem-sucedida, mas sem a correta divulgao de que o efeito dessas variveis moderado por fatores intrnsecos, situacionais ou de histria de vida;
5) o fortalecimento do mito de que a medicina antienvelhecimento uma conquista ao alcance imediato das mos da maioria dos idosos, que tero a sua vida positivamente afetada pela adoo de medidas dessa natureza;
6) a insistncia na crena de que a boa longevidade uma conquista pessoal e que, assim, envelhecer bem ou mal uma questo de responsabilidade pessoal;
7) apontar o aumento do nmero de idosos na populao e a expanso da longevidade como geradoras de nus social e familiar que tender a recair sobre os mais jovens;
8) a apresentao da longevidade como um risco iminente sade econmica das famlias e da sociedade;
9) considerar a pesquisa comportamental e a social como empreendimentos de segunda linha, que pouco ou nada agregam ao conhecimento j existente;
10) apontar a pesquisa biomdica como a nica legtima em termos dos parmetros da cincia.47
A educao tem um papel fundamental no processo de mudana de
mentalidade. Ainda que venha a demorar ela pode ser um instrumento
poderoso na ampliao das formas de conhecimento, bem como na
47NERI, A. L. Biomedicalizao da velhice: distores cognitivas relacionadas ao uso de modelo biomdico na pesquisa gerontolgica. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 20-21
39
modificao das distores cognitivas associadas ao modelo biomdico em
relao velhice e o envelhecimento.
1.3. O envelhecimento populacional brasileiro uma anlise
demogrfica.
A busca pela longevidade tem feito parte dos sonhos da populao
mundial ao longo da Histria. Analisando o sculo XX, principalmente as cinco
ltimas dcadas, possvel verificar que avanos sociais e cientficos
contriburam para que este sonho se aproximasse da realidade. O
envelhecimento populacional, portanto, se tornou um fenmeno mundial.
Andrews afirma:
O crescimento da populao de idosos, em nmeros absolutos e relativos, um fenmeno mundial e est ocorrendo a um nvel sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhes de idosos no mundo e, j em 1998, quase cinco dcadas depois, este contingente alcanava 579 milhes de pessoas, um crescimento de quase 8 milhes de pessoas idosas por ano. As projees indicam que, em 2050, a populao idosa ser de 1 900 milho de pessoas, montante equivalente populao infantil de 0 a 14 anos de idade48
Verifica-se atravs de dados estatsticos que nas ltimas dcadas houve
um crescimento da populao idosa de forma mais acentuada nos pases em
desenvolvimento, porm este nmero ainda proporcionalmente inferior ao
dos pases desenvolvidos49. Na Tabela 1 possvel perceber que o Brasil
assume uma posio intermediria no conjunto de pases da Amrica Latina,
com 8,6% de idosos em relao populao total. Nota-se tambm uma
grande diversidade na proporo de idosos neste conjunto de pases, variando
de 6,4% na Venezuela at 17,1% no Uruguai. Quanto aos pases europeus
constatam-se propores mais elevadas de idosos, chegando a um contingente
de 1/5 da populao.
48 IBGE 2000. Perfil dos Idosos apud: ANDREWS, Garry A. Los desafos del proceso de envejecimiento en las sociedades de hoy y del futuro. In: Encuentro Latinoamericano y caribeno sobre las personas de edad, 1999, Santiago. Anais... Santiago: CELADE, 2000. p. 247. 49 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Perfil dos idosos responsveis pelos domiclios no Brasil 2000 Estudos & Pesquisas, informao demogrfica e socioeconmica (no 9). Rio de Janeiro: IBGE, 2002. p. 12.
40
O Brasil, como pas em desenvolvimento, no foge regra, est
envelhecendo rapidamente. Se em 1940 tinha 42% de sua populao com
idade inferior a 15 anos, no ano 2000 chegou a uma porcentagem de 29,6%, e
segundo dados do IBGE e projees da Organizao Mundial da Sade,
chegar em 2020 a uma proporo de apenas 24,3%. Em contrapartida, a
populao de 60 anos ou mais passou de 4,1%, em 1940, para 8,6% em 2000,
projetando-se para 2020, uma proporo de 12%. Confira tabela 2.
Tabela 01 - Populao, total e de 60 anos ou mais de idade e proporo de idosos, segundo continentes e pases - 1990/1999
Continentes
e Pases Populao
total Populao
60 anos ou mais Proporo
de idosos (%)
sia China 1.242.799.000 133.954.000 10,8 Japo 126.486.000 28.222.000 22,3 Europa
Alemanha 82.057.379 17.927.000 21,8 Frana 57 526 521 11.305.622 19,7 Itlia 57.563.354 13.299.830 23,1 Reino Unido 59.008.634 12.051.946 20,4 Amrica do Norte Canad 30.301.185 4.950.593 16,3 Estados Unidos 280.298.524 44.670.193 15,9 Amrica Latina Argentina 34.768.457 4.584.300 13,2
Brasil 169.799.170 14.536.029 8,6
Chile 15.017.760 1.513.486 10,1 Colmbia 41.589.017 2.813.328 6,8 Cuba 11.065.878 1.439.245 13,0 Equador 11.936.858 792.982 6,6 Mxico 91.158.290 5.969.643 6,5 Peru 24.800.768 1.737.326 7,0 Uruguai 3.313.239 567.565 17,1 Venezuela 23.242.435 1.483.817 6,4
Fontes: Demographic yearbook 1999. New York: United Nations, 1999; IBGE, Censo Demogrfico 2000.
Tabela 02 - Distribuio percentual da populao, por grupos de idade - 1940-2000
Grandes Regies
Distribuio percentual da populao, por grupos de idade (%)
0 a 14 anos 15 a 59 anos 60 anos ou mais 1940 2000 1940 2000 1940 2000
Brasil 42,9 29,6 53,0 61,8 4,1 8,6
Norte 42,3 37,2 54,3 57,3 3,4 5,5
Nordeste 42,3 33,0 52,4 58,6 4,3 8,4
Sudeste 42,4 26,7 53,6 64,0 4,0 9,3 Sul 43,8 27,5 52,2 63,3 4,0 9,2
Centro-oeste 44,5 29,9 52,5 63,5 3,0 6,6 Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 1940/2000.
41
Analisando seus quatro ltimos censos demogrficos (1970, 1980, 1991
e 2000) possvel perceber que o crescimento da populao idosa tem se
acelerado. De 5,07% da populao geral em 1970, passou para 6,07% em
1980, depois para 7,30 em 1990, chegando a 8,56% em 2000. Verifica-se um
crescimento real de 3,49% desta faixa etria em relao populao geral.
(confira a tabela 03)
Tabela 03 - Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios 1970, 1980, 1991 e 2000.
Grupos etrios
Anos Ano do recenseamento
1970 1980 1991 2000 0-14 42,10 38,24 34,73 29,60 15-59 52,83 55,69 57,97 61,84 60 e + 5,07 6,07 7,30 8,56 Total 100,00 100,00 100,00 100,00
Fontes: IBGE Censo demogrfico 1970, 1980, 1991 e 2000
Grfico 01 Grfico 02
Grfico 03 Grfico 04
Dirigindo o olhar para os dois ltimos censos demogrficos, verifica-se
que em dados absolutos, a populao de 60 anos ou mais de idade, era
10.722.705 em 1991 chegando a 14.536.029 em 2000. Deste montante,
4.931.425 homens e 5.791.280 mulheres em 1991 e 6.533.784 homens e
42
8.002.245 em 2000. Ou seja, o nmero de idosos aumentou em quase 4
milhes de pessoas numa s dcada, sendo que a porcentagem de mulheres
maior que a de homens. Este fenmeno denominado de Feminizao da
Velhice.50 (Confira as tabelas abaixo)
Tabela 04 - Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000
Grandes Regies e
Unidades da Federao
Populao residente
total
Populao residente de 60 anos ou mais de idade, por sexo
Total Grupos de idade (%)
Absoluto Relativo 60 a 64 65 a 69
70 a 74
75 ou mais
Brasil - 1991 146.825.475 10.722.705 7,3 2,5 1,9 1,3 1,6
Brasil - 2000 169.799.170 14.536.029 8,6 2,7 2,1 1,6 2,1 Fontes: IBGE Censo demogrfico 1991 e 2000
Tabela 05 - Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, do sexo masculino, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000
Grandes Regies e
Unidades da Federao
Populao residente de 60 anos ou mais de idade, por sexo
Homem Grupos de idade (%)
60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 ou mais
Brasil - 1991 4 931 425 1 715 601 1 308 343 872 424 1 035 057
Brasil - 2000 6 533 784 2 153 209 1 639 325 1 229 329 1 511 921 Fontes: IBGE Censo demogrfico 1991 e 2000
Tabela 06 - Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, do sexo feminino, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000
Grandes Regies e
Unidades da Federao
Populao residente de 60 anos ou mais de idade, por sexo
Mulher Grupos de idade (%)
60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 ou mais
Brasil - 1991 5 791 280 1 921 257 1 467 717 1 017 494 1 384 812
Brasil - 2000 8 002 245 2 447 720 1 941 781 1 512 973 2 099 771 Fontes: IBGE Censo demogrfico 1991 e 2000
50 Para uma melhor compreenso do tema Feminizao da Velhice consultar: CAMARANO, Ana Amlia [et al.] . Como vive o idoso brasileiro?. In: CAMARANO, A A (org). Os novos idosos brasileiros muito alm dos 60?, Rio de Janeiro, IPEA, 2004; ou BERQU, Consideraes sobre o envelhecimento da populao no Brasil. In: NERI, A. L. e DEBERT, G. G. Velhice e Sociedade. Campinas: Papirus, 1999.
43
Constata-se que o ritmo do crescimento da populao idosa mais
acelerado que de outras faixas etrias. Esta alterao demogrfica deve-se ao
progressivo declnio nas taxas de fecundidade e de mortalidade Nas palavras
de Camarano,
O crescimento relativamente mais elevado do contingente idoso resultado de suas mais altas taxas de crescimento, em face da alta fecundidade prevalecente no passado comparativamente atual e reduo da mortalidade. Enquanto o envelhecimento populacional significa mudanas na estrutura etria, a queda da mortalidade um processo que se inicia no momento do nascimento e altera a vida do indivduo, as estruturas familiares e a sociedade.51
Relativamente diminuio da taxa de fecundidade, pode-se apresentar
entre outros motivos, a ao pedaggica por parte da sociedade e do governo
na busca de auxiliar o planejamento familiar e o avano da medicina com a
descoberta de vrios mtodos contraceptivos, permitindo ao casal uma relao
sexual com baixo risco de gravidez.52. Ramos tambm apresentar alguns
motivos:
As razes para a mudana do padro reprodutivo no Brasil so vrias. De um lado, fruto do processo de urbanizao da populao brasileira, temos uma necessidade crescente de limitao da famlia ditada pelo "modus vivendi" dos grandes centros urbanos (principalmente em um contexto de crise econmica), caracterizado entre outras coisas por uma progressiva incorporao da mulher fora de trabalho. 53
Kalache explica de forma sucinta a dinmica do fenmeno do
envelhecimento da populao, a partir da diminuio nas taxas de fecundidade
e mortalidade:
Em grande parte, o aumento atual do nmero de pessoas idosas em pases menos desenvolvidos decorrente do alto nmero de nascimentos durante as primeiras dcadas deste sculo, associado a um progressivo decrscimo nas taxas de
51 CAMARANO, Ana Amlia. Envelhecimento da Populao Brasileira: Uma Contribuio Demogrfica. In: Freitas, Elizabete Viana... [at al.] Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 88. 52 Diante desta afirmao deve se ressaltar, que nem toda a populao brasileira tem acesso ao processo pedaggico de planejamento familiar, bem como, ao conhecimento dos mais variados mtodos contraceptivos. Outro ponto a se destacar que pelo fato de estar esclarecida, no significa que tenha condies econmicas para implementar estes mtodos. 53 RAMOS, L.R. et al. Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira. Rev. Sade pbl., S. Paulo, 21: p. 213, 1987
44
mortalidades. Da mesma forma, o envelhecimento da populao de pases europeus das ltimas dcadas se deve a taxas de natalidade relativamente altas no primeiro quarto do sculo associadas a taxas decrescentes de mortalidades em todos os grupos etrios. Em seguida as taxas de natalidade decaram, fazendo com que a proporo de adultos progressivamente aumentasse. O processo portanto dinmico; para que uma populao envelhea necessrio primeiro que nasam muitas crianas, segundo que as mesmas sobrevivam at idades avanadas e que, simultaneamente, o nmero de nascimentos diminua. Com isso a entrada de jovens na populao decresce, e a proporo daqueles que sobreviveram at idades mais avanadas passa a crescer. As taxas de fertilidade da maioria dos pases esto em declnio. No entanto, mesmo um rpido declnio nas mesmas, como por exemplo o que atualmente se verifica no Brasil (decrscimo de mais de um tero entre 1970 e 1980 e ainda mais acentuado desde ento Ramos e col.18 1987), no se traduz necessariamente em imediato envelhecimento da populao em termos relativos. Ainda que a vida mdia do brasileiro tenha aumentado muito nesse final de sculo, as altas taxas de fertilidade do passado prximo ainda se refletiro nas pirmides populacionais das prximas dcadas. Isso se deve ao efeito tardio do alto nmero de nascimentos h 40, 30 ou 20 anos uma populao jovem numerosa, que sobreviveu at a idade reprodutiva. Mesmo que eles tenham poucos filhos, o efeito multiplicador ainda manifestado por algum tempo.54
Com relao diminuio da taxa de mortalidade pode-se apresentar o
avano da medicina e da tecnologia como as grandes responsveis. Este
avano tem permitido um prolongamento da vida, elevando assim o ndice de
expectativa de vida do brasileiro. Este ndice elevou-se de 34 anos, em 1900,
para 68,6 anos, em 2000, e estima-se que ser de 72 anos, em 2020. Confira
tabela 07.
Ao analisar, especificamente, os dois ltimos Censos Demogrficos
(1991-2000) verifica-se que a expectativa de vida subiu em 2 anos e seis
meses, passando de 66 anos, em 1991, para 68 anos e 6 meses em 2000.
Durante esta dcada (1991/2000), os homens tiveram um ganho de 27 meses
e 12 dias de vida, as mulheres aumentaram sua expectativa em 34 meses e 8
dias (Confira tabela abaixo). Nota-se que as mulheres so mais longevas que
os homens. Em 1991, elas possuam uma vida mdia ao nascer 7,2 anos
superior dos homens, j em 2000 esse diferencial passou para 7,8 anos.
Para Mota a disparidade desses nmeros resulta do fato de que as mortes 54 KALACHE, A. et al. O envelhecimento da populao mundial. Um desafio novo. Rev. Sade pbl., S. Paulo, 21:200-10, 1987p. 204-205.
45
decorrentes de homicdios e acidentes, em especial na faixa de 15 a 35 anos
de idade, so maiores entre homens do que entre as mulheres55. Confira tabela
08.
Tabela 07 - Brasil - Expectativa de vida ao nascer e ganhos no perodo - 1991 - 2000
Anos de Referncia Ambos os sexos
1900 34,0 1950 43,3
1991 66,0
1998 68,1
1999 68,4
2000 68,6 2020 72,0
Fontes: IBGE Censo demogrfico 1900,1950, 1991 e 2000
Tabela 08 - Brasil - Expectativa de vida ao nascer e ganhos no perodo - 1991 - 2000
Anos de
Referncia Ambos os
sexos Homens Mulheres
1991 66,0 62,6 69.8 1998 68,1 64,4 72,0 1999 68,4 64,6 72,3 2000 68,6 64,8 72,6 Ganhos na Expectativa de vida ao nascer - 1991-2000 Em anos 2,59 2,26 2,84 Em meses 31,08 27,12 34,08
Fontes: IBGE Censo demogrfico 1900,1950, 1991 e 2000
55 MOTA, Maria Luiza dos Santos. A Terceira Idade e seus direitos. So Paulo: Seprosp, Fesesp, CNS, 2005. p. 06
46
Observa-se atualmente que a taxa de mortalidade dos idosos a que
tem experimentado a maior queda, o que tem levado ao aumento da populao
idosa.56. Segundo Camarano, a populao mais idosa, ou seja, as pessoas
com idade acima de 80 anos a que tem apresentado a maior taxa de
crescimento. Isso aponta para a heterogeneidade do grupo idoso, encontrando-
se pessoas com diferena de idade que chegam a trs dcadas.
Com a finalidade de atualizar alguns dados do ltimo censo demogrfico
efetuado no ano de 2000, estabeleceu-se uma tabela baseada na Contagem
Populacional57 realizada em 2007 (confira tabela 09). Atravs dela possvel
verificar um crescimento estimado de 14.188.121 pessoas nestes sete anos.
Proporcionalmente, o grupo de idosos tambm cresceu, porm, no se tem
nmeros precisos. O que se pode afirmar que pelas projees, os nmeros
de idosos continuaro a crescer nas prximas dcadas.
Ainda que a diminuio das taxas de fecundidade e de mortalidade,
tenha sido resultado de polticas e incentivos promovidos pela sociedade e pelo
estado, visando responder s necessidades de uma poca58, ela levou a um
envelhecimento progressivo da populao brasileira. Este envelhecimento
populacional tem gerado novos desafios, e conseqentemente, a necessidade
de novas polticas pblicas.
56 CAMARANO, Ana Amlia. Envelhecimento da Populao Brasileira: Uma Contribuio Demogrfica. In: Freitas, Elizabete Viana... [at al.] Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 88. 57 Para compreender a forma como o Brasil realiza seu censo demogrfico, bem como entender o que seja Contagem Populacional, confira a introduo do documento: Contagem Populacional 2007 do IBGE em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/default.shtm. 58 Na dcada de sessenta o crescimento populacional mundial alcanou seu nvel mximo, sendo considerado o mais alto de toda a histria da humanidade. Diante disso, a Organizao mundial da sade (ONU) realizou algumas conferncias para refletir sobre o tema, intituladas: Conferncia mundial sobre populao. A 1 Conferncia aconteceu em Bucareste (Romnia) no ano de 1974, tendo como eixo central criar mecanismos que pudessem conter o crescimento demogrfico que estava em ritmo acelerado. A 2 Conferncia aconteceu na cidade do Mxico em 1984 e tambm trouxe temas relativos preocupao com o crescimento populacional: fecundidade e famlia, distribuio das populaes, migraes e desenvolvimento, mortalidade e polticas de sade. A 3 Conferncia ocorreu em 1994, na cidade do Cairo (Egito), quando diante das aes tomadas nos anos anteriores, os participantes reviram suas polticas e propostas. Em alguns pases foram implantadas medidas de esterilizao e abortos forados com o objetivo de conter o crescimento demogrfico. Nesta ltima, tratou-se do tema natalidade como uma responsabilidade da famlia, levando-se em conta que a prpria famlia quem se planeja (planejamento familiar).
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. Tabela 09 - Populao residente, por situao do domiclio e sexo, segundo as Grandes Regies e as Unidades da
Federao - Brasil - Grandes Regies comparativo 2001 com 2007
C enso 2001 Contagem da Populao 2007
Total Homens Mulheres Total Estimado
Total recenseado
Homens Mulheres
Brasil 169 799 170 83 576 015 86 223 155 183 987 291 108 765 413
Norte 12 900 704 6 533 555 6 367 149 14 623 316 12 259 438
Rondnia 1.379.787 708.140 671.647 1 453 756 1 453 756 733 811 709 923
Acre 557.526 280.983 276.543 655 385 655 385 329 001 323 752
Amazonas 2.812.557 1.414.367 1.398.190 3 221 939 3 221 939 1 592 067 1 565 850
Roraima 324.397 166.037 158.360 395 725 395 725 195 275 189 046
Par 6.192.307 3.132.768 3.059.539 7 065 573 4 701 695 2 405 662 2 241 306
Amap 477.032 239.453 237.579 587 311 587 311 292 024 290 337
Tocantins (2) 1.157.098 591.807 565.291 1 243 627 1 243 627 626 434 602 339
Nordeste 47 741 711 23 413 914 24 327 797 51 534 406 40 060 034
Maranho 5.651.475 2.812.681 2.838.794 6 118 995 6 118 995 3 021 226 3 052 375
Piau 2.843.278 1.398.290 1.444.988 3 032 421 3 032 421 1 481 576 1 529 053
Cear 7.430.661 3.628.474 3.802.187 8 185 286 4 820 630 2 398 046 2 404 540
Rio Grande do Norte 2.776.782 1.359.953 1.416.829 3 013 740 3 013 740 1 457 143 1 517 826
Paraba 3.443.825 1.671.978 1.771.847 3 641 395 3 641 395 1 754 525 1 855 119
Pernambuco 7.918.344 3.826.657 4.091.687 8 485 386 5 030 277 2 452 542 2 546 413
Alagoas (2) 2.822.621 1.378.942 1.443.679 3 037 103 3 037 103 1 472 429 1 545 366
Sergipe 1.784.475 874.906 909.569 1 939 426 1 939 426 936 306 981 208
Bahia (2) 13.070.250 6.462.033 6.608.217 14 080 654 9 426 047 4 708 275 4 671 364
Sudeste 72 412 411 35 426 091 36 986 320 77 873 120 31 077 361
Minas Gerais 17.891.494 8.851.587 9.039.907 19 273 506 12 597 121 6 265 664 6 269 402
Esprito Santo 3.097.232 1.534.806 1.562.426 3 351 669 1 702 365 847 307 840 237
Rio de Janeiro 14.391.282 6.900.335 7.490.947 15 420 375 3 302 474 1 610 466 1 666 529
So Paulo (2) 37.032.403 18.139.363 18.893.040 39 827 570 13 475 401 6 681 557 6 693 364
Sul 25 107 616 12 401 450 12 706 166 26 733 595 16 842 791
Paran (2) 9.563.458 4.737.420 4.826.038 10 284 503 6 262 285 3 107 256 3 122 367
Santa Catarina 5.356.360 2.669.311 2.687.049 5 866 252 4 307 161 2 142 129 2 143 822
Rio Grande do Sul 10.187.798 4.994.719 5.193.079 10 582 840 6 273 345 3 095 615 3 150 909
Centro-Oeste 11 636 728 5 801 005 5 835 723 13 222 854 8 525 413
Mato Grosso do Sul 2.078.001 1.040.024 1.037.977 2 265 274 2 265 274 1 122 705 1 129 179
Mato Grosso 2.504.353 1.287.187 1.217.166 2 854 642 2 854 642 1 452 153 1 377 327
Gois 5.003.228 2.492.438 2.510.790 5 647 035 3 405 497 1 702 655 1 667 722
Distrito Federal (3) 2.051.146 981.356 1.069.790 2 455 903
Fontes: IBGE Censo demogrfico 2001 e Contagem Populacional 2007
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1.4. O envelhecimento populacional na agenda das polticas pblicas
Diante dos muitos desafios provenientes do fenmeno do
envelhecimento populacional, a Organizao das Naes Unidas (ONU), bem
como diversos pases do m